terça-feira, 26 de novembro de 2013

{clube-do-e-livro} AUGUSTO VIVE, VIAJORES DA LUZ E ELES VOLTARAM - CHICO XAVIER (412-413-414




Olá, pessoal:

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{clube-do-e-livro} CHICO XAVIER - BAUDE CASOS E AMIZADE






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JOSE IDEAL




 

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{clube-do-e-livro} CHICO XAVIER - BAUDE CASOS E AMIZADE






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{clube-do-e-livro} TAÇA DE LUZ, CHICO XAVIER PEDE LICENÇA, MÃOS MARCADAS(336-337-338)





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'TUDO QUE É BOM E ENGRADECE O HOMEM DEVE SER DIVULGADO!

PENSE NISSO! ASSIM CONSTRUIREMOS UM MUNDO MELHOR."

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' A MAIOR CARIDADE QUE SE PODE FAZER É A DIVULGAÇÃO DA DOUTRINA ESPÍRITA" EMMANUEL

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segunda-feira, 25 de novembro de 2013

{clube-do-e-livro} CHICO XAVIER - AUTA DE SOUZA E CRIANÇAS NO ALÉM




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{clube-do-e-livro} AMOR SEM DEUS, RECADOS DO ALÉM E ENXUGANDO LÁGRIMAS - CHICO XAVIER (376-377-378)





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{clube-do-e-livro} CHICO XAVIER - ESCRÍNIO DE LUZ, SEGUE-ME E ENCONTRO DE PAZ (340-341-342)






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{clube-do-e-livro} LIVROS: PACIÊNCIA,DIARIO DE BENÇÃOS, ANTENAS DE LUZ - CHICO XAVIER(442-443-444)





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{clube-do-e-livro} LIVRO: LOJA DE ALEGRIA, ESPERANÇA E VIDA - CHICO XAVIER (471-472)





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{clube-do-e-livro} AMOR E LUZ, COISAS DESTE MUNDO, CHICO XAVIER EM GOIÂNIA - CHICO XAVIER(372-373-374)





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{clube-do-e-livro} CHICO XAVIER - TINTINO ... O ESPETÁCULO CONTINUA





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{clube-do-e-livro} CHICO XAVIER - ASTRONAUTA DO ALÉM, ENTRE DUAS VIDAS, RETRATOS DA VIDA





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{clube-do-e-livro} CHICO XAVIER -DIÁLOGO DOS VIVOS, CALENDÁRIO ESPÍRITA, INSTRUMENTOS DO TEMPO(349-350-351)






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domingo, 24 de novembro de 2013

{clube-do-e-livro} IRMÃO, NOTÍCIAS DO ALÉM E VIDA NO ALÉM - CHICO XAVIER(406-407-408)





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{clube-do-e-livro} COMPANHEIRO,MARIA DOLORES E MOMENTOS DE OUTRO - CHICO XAVIER(369-370-371)



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{clube-do-e-livro} N°59 PENSAMENTO E VIDA - CHICO XAVIER (268)




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{clube-do-e-livro} Livro : o Esperanto como Revelação - Chico Xavier

O ESPERANTO
COMO
REVELAÇÃO
FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
Ditado pelo Espírito
Francisco Valdomiro Lorenz



Psicografou esta mensagem,
A 19 de janeiro de 1959, em uberaba, brasil.




1
INDICE



O ESPERANTO COMO REVELAÇÃO

I
Alem Da Morte

II
Problema Da Linguagem
Na Espiritualidade

III
Disparidade De Linguagens E Separação Dos Espiritos

IV
Necessidade De Uma Lingua Internacional

V
Criação Do Esperanto Entre Os Espiritos

VI
Criação Do Esperanto Entre Os Homens

VII
Contribuição Mediúnica Na Difusão Do Esperanto

VIII
Exigencias Da Solidariedade

IX
Idioma Internacional E Religião Universal

X
Em Saudação




2
I
ALEM DA MORTE


Despertando, fora da roupagem constringente do corpo físico, e sobrepujando-nos à
comoção natural do processo liberatório da alma, insopitável anseio de expansão nos excita.

Compelidos a reajustar o quadro informativo das definições teológicas, acordamos e,
reconhecendo o impositivo da própria renovação, sonhamos perlustrar os caminhos do
mundo.

Conhecer, enfim, a Terra! Auscultar-lhe a ancianidade e a grandeza! Penetrar a cultura
dos povos e sentir-lhes de perto o conjunto de tradições e lendas, crenças e costumes!

Não apenas escutar as palavras que se pronunciam agora nas ruínas de Tebas ou nos templos
de Benares, nas ruas de Atenas ou nos santos lugares de Jerusalém, nas relíquias de Roma ou
nos campos da França, mas também assinalar, de viva voz, os apontamentos dos arquivistas
do espírito, que velam pela sabedoria do Egito e protegem o Mânava Dharma Sastra ou as
Leis de Manu da Índia Bramânica, que sustentam os registos das anotações de Sócrates e das
lições originais de Jesus, e que nos poderão revelar os editos dos imperadores romanos e
repetir as palavras de Vercingetórix, o herói gaulês, quando se rendeu aos soldados de Júlio
César para
adornar-lhe o triunfo!...

Quem, na euforia do veículo espiritual rarefeito, não aspirará a transportar-se, de
surpresa em surpresa, nos domínios da inteligência, como a falena, ébria de liberdade e de luz,
volitando de flor em flor?




3
II
PROBLEMA DA LINGUAGEM
NA ESPIRITUALIDADE


Na esfera imediata à moradia humana, porém, o problema da linguagem é daqueles
que mais nos afligem o senso íntimo.

O idioma simbólico prevalece, com efeito, para as grandes comunidades dos Espíritos
em mais nobre ascensão.

O império da arte pura é aí a sublimação permanente da Natureza.

A música diviniza a frase e a pintura acrisola a imagem, esculpindo-se monumentos
que falam e gravando-se poemas que fulguram, através da associação de cores e sons, no
assombroso quimismo do pensamento.

Entretanto, essa residência de numes, semelhante aos Campos Elísios da tradição
mitológica, situa-se muito além do lar humano em que nos florescem as esperanças.

Ainda aqui, aos milhões, não obstante se nos descerrem horizontes renovadores,
achamonos separados pela barreira lingüística.

Vanguardeiros do progresso, como é justo, adquirem contacto com idiomas nobres ou
dominam dialetos aqui e acolá; isso, no entanto, com reduzido rendimento no trabalho
educativo que se propõem efetuar.

Para isso, os mais credenciados, do ponto de vista moral, reencarnam-se nos países e
regiões que lhes granjeiam devoção afetiva, com sacrifício participando do patrimônio
cultural que os caracteriza, gastando decênios para a esses torrões ofertar esse ou aquele
recurso de aperfeiçoamento às próprias concepções.

Isso porque a palavra pronunciada ou escrita é e será ainda, por milênios, o agente de
transmissão dos valores do espírito, estabelecendo a comunhão das almas, a caminho da
Grande Luz, nas zonas de aprendizado em que se nos desenvolvem as lutas evolutivas.




4
III
DISPARIDADE DE LINGUAGENS E SEPARAÇÃO
DOS ESPIRITOS



Nas linhas inferiores da Terra, os seres de caráter rudimentar, pelo primitivismo das
manifestações que os singularizam, correspondem-se facilmente uns com os outros.

Os bovinos de uma pastagem síria berram de modo análogo aos brutos da mesma
espécie numa estância chilena, e o gemido de um cão em Londres é idêntico, em tudo, ao
choro esganiçado de um cão em Tóquio.

Do fonema, porém, à linguagem articulada, vigem milhares de séculos, marcando a
peregrinação da inteligência.

Se o animal, diante do homem, está limitado no cubículo da interjeição, o homem,
perante o anjo, ainda está preso ao cárcere verbalístico.

Por essa razão, entre as criaturas encarnadas e entre as criaturas desencarnadas, apesar
da reflexão mental inconteste, a linguagem é veículo ao plasma criador do pensamento,
estendendo-o ou enquistando-o, conforme o raio de ação em que se demarca.

As conquistas de um povo estão, desse modo, encerradas com ele, em seu mundo
idiomático, retardando-se, indefinidamente, a permuta providencial que faria das nações mais
cultas mentoras diretas das que respiram na retaguarda.

À face disso, o Oriente e o Ocidente sempre nutriram entre si profundas antinomias e
raças diversas se digladiam, desde longevas civilizações, restritas à faixa das idéias que lhes
são próprias, cristalizadas na hegemonia política ou religiosa, mantendo guerras periódicas de
perseguições e extermínio, em que largas possibilidades de tempo são sacrificadas ao deserto
do afastamento, no qual a ignorância se converte em perigoso verdugo, embora os princípios
redentores, formulados pelos pioneiros da evolução, convocando as pátrias terrestres ao
aprimoramento e à fraternidade, repousem nas bibliotecas preciosas e bolorentas, à feição de
mortos ilustres.




5
IV
NECESSIDADE
DE UMA LINGUA INTERNACIONAL



Urgia, desse modo, não apenas para o ajuste de humanas cogitações, a criação de uma
língua auxiliar que interligasse os territórios do espírito. Um sistema de comunhão que
exonerasse os lidadores do avanço intelectual de maiores entraves para o acesso aos tipos
mais altos de cultura...

Ansiavam milhões de almas pela libertação das algemas lingüísticas que lhes
mumificavam as expressões.

Espíritos habilitados a vôos amplos, nos céus da ciência e da arte, da instrução e da
indústria, restringiam-se aos preceitos e ritos mentais dos tratos de gleba em que agiam ou
renasciam, sufocados no círculo angusto de parco vocabulário, quais pássaros de majestoso
poder, aprisionados na férrea gaiola da insipiência.

Grandes comunidades imperiais, quais a Rússia e a Grã-Bretanha, mostravam-se
divididas por línguas várias e múltiplos dialetos, afigurando-se como corpos gigantescos em
que o sangue mental circulasse deficiente.

E além da paisagem propriamente terrestre, as criaturas libertas do carro físico, se
excepcionalmente evoluídas, no intervalo das reencarnações necessárias, via de regra não
conseguiam transcender a fronteira de realizações dos grupos raciais a que se viam jungidas.

Inteligências dos conjuntos asiáticos, africanos, ameríndios, latinos, eslavos, saxônios
e de outros agrupamentos permutavam aquisições, imolando cabedais insubstituíveis de
tempo.

Verificando as imensas dificuldades para o intercâmbio de tribos e povos
desencarnados, especialistas espirituais de fonética, etimologia e onomatopéia empreenderam
a formação de um idioma internacional para entendimento rápido nas regiões espaciais
vizinhas do Globo, multiplicando, em vão, tentames e experiências, até que um dos grandes
missionários da Luz, consagrado à concórdia, tomou a si o exame e a solução do problema.




6
V
CRIAÇÃO DO ESPERANTO
ENTRE OS ESPIRITOS


Novas perspectivas descerram-se, promissoras.

Cercando-se de assessores eficientes, o construtor da unificação iniciou dilatados
estudos e, conjugando as mais conhecidas raízes idiomáticas de vários povos, concretizou, em
quase meio século de trabalho, a sublime realização.

Auxiliado pelas numerosas equipes de colaboradores que se lhe afinavam com o ideal,
o gênio da confraternização humana, que conhecemos por Lázaro Luís Zamenhof, engenhara,
com a inspiração divina, o prodígio do Esperanto, estabelecendo-se a instituição de academias
respectivas, nos planos espirituais conexos às nações mais cultas do Planeta.




7
VI
CRIAÇÃO DO ESPERANTO
ENTRE OS HOMENS



Reconhecido o primor de mecanismo da língua que nascera por fator exato de
aproximação das coletividades espirituais, avizinha-se o século XIX com enorme programa de
serviço renovador.

Caem bastiões do fanatismo e da ignorância.

A pesquisa científica desvela novos rumos à mente popular.

Aprestam-se enviados ao campo físico para o congraçamento dos homens.

O barco de Fulton, a locomotiva de Stephenson, o telégrafo elétrico de Morse, o
aparelho de Bell, as fotografias animadas dos irmãos Lumière, a linotipo de Mergenthaler e as
ondas de Hertz prenunciam o submarino e o transatlântico, o automóvel moderno e o avião, o
cinema e a grande imprensa, o telefone, a radiofonia e a televisão da atualidade.

As profecias de Maxwell desbravam caminhos para as ciências atômicas.

No cenário de resplendentes promessas, Allan Kardec, na missão de Codificador do
Espiritismo, desvenda novos continentes de luz ao espírito humano, operando a revivescência
do Cristianismo, e, tão logo se lhe derramam na Terra as claridades do primeiro livro
revelador, em 1857, decide-se a reencarnação do grande mensageiro da fraternidade.

Corporifica-se Zamenhof, em 1859, num lar da Polônia, então associada ao Império
Moscovita, cujos povos congregados falavam e escreviam em quase duzentas línguas
diversas.

Retomando gradualmente as potencialidades que o enriqueciam na Esfera Superior,
sentese amparado pelos mesmos amigos que o ajudaram na constituição do idioma
internacional.

E, ante as farpas da crítica e sob os latejos da ingratidão, atormentado, incompreendido
pela maioria dos contemporâneos, ferido por muitos e apedrejado em seus sentimentos mais
caros, recompõe o Esperanto para os povos terrestres, encetando nova estrada para a
unificação mundial.




8
VII
CONTRIBUIÇÃO MEDIÚNICA
NA DIFUSÃO DO ESPERANTO


Estranha-se comumente a atitude de muitos estudiosos desencarnados, recomendando,
através de canais mediúnicos, o estudo da língua internacional.

Decerto que o Esperanto não é disciplina religiosa, mas fascinante chave de percepção,
descortinando filões inesgotáveis de cultura superior.

Facilitar o entendimento é ato de caridade, e construir o futuro é serviço de confiança.

Qualquer viagem, além das fronteiras em que nos desenvolvemos no torrão de berço, exige
preparação.

É inútil providenciar passaporte em favor de um analfabeto para inspeção demorada
aos cursos da Universidade de Paris, tanto quanto desagradável colocar alguém nas telas
maravilhosas do inverno suíço sem um trapo de lã.

Aprender Esperanto, ensiná-lo, praticá-lo e divulgá-lo é contribuir para a edificação do
Mundo Unido.




9
VIII
EXIGENCIAS DA SOLIDARIEDADE



As criaturas que hoje se amesendam com o pão da carne serão amanhã as criaturas da
vida real, acomodando-se, obrigatoriamente, aos valores do espírito.

Desembaraçadas do coche físico, ainda mesmo quando temporariamente imobilizadas
nas idéias antropocêntricas que lhes alimentavam os dias, acabarão apreendendo o imperativo
da própria libertação, abrindo janelas interiores que lhes ventilem os pensamentos.

Se um homem comum da atualidade, ocupando um avião a jato, pode retirar-se da
América, descansar na África e conciliar negócios na Europa, no espaço de algumas horas,
precisa senhorear várias línguas ou remunerar diferentes intérpretes para movimentar-se com
segurança e proveito, imaginemos o homem desencarnado, na complexidade das sensações
novas que o tomam de assalto, quando a ruptura da represa sensorial lhe extravasa os sentidos.
A sede de comunicação e de solidariedade requeima-lhe o cérebro e comprime-lhe o coração.

É imprescindível falar e ouvir, perceber e compreender, desonerar-se de
condicionamentos antigos, quebrar velhas fórmulas, ajustar-se a mais amplas dimensões,
expungir o passado e partir de si mesmo.




10
IX
IDIOMA INTERNACIONAL
E RELIGIÃO UNIVERSAL


Atendamos, desse modo, nós outros, espiritualistas e espíritas, encarnados e
desencarnados, ao incremento do Esperanto, em simultaneidade com o esforço de restaurar as
colunas do Cristianismo, por santuário vivo da Religião Universal, em bases de amor e
sabedoria, no terreno da Bondade Imensurável de Deus e Sua Justiça indefectível.

Não importa estejamos, na condição de coidealistas do Esperanto, em sintonia com os
nossos irmãos católicos, reformistas, ortodoxos, bramanistas, budistas, israelitas, sintoístas,
maometanos, zoroastristas, ateus e de quaisquer outras confissões e convicções, porquanto, as
correntes de idéias, como as fontes de níveis diversos que deságuam invariavelmente no mar,
alcançam sempre o oceano da realidade imutável, em cujas águas as advertências da evolução
nos impõem o reconhecimento da própria humildade ante a grandeza da vida, com a
impersonalização de nossa fé.

Desfraldemos, assim, o estandarte verde por símbolo de união!

Em qualquer idade, aprendamos!

Incompreendidos, prossigamos!

Alegres, perseveremos!

Esperanto quer dizer "o que espera".

Marchando e servindo, crendo e amando, imperturbáveis, esperaremos.




11
X
EM SAUDAÇÃO


E agora, Zamenhof,
Que um século termina
Sobre a tua chegada
Ao mundo em transição,
Saudamos-te a grandeza
Em preito reverente.
Depois que deste aos homens
A mensagem de luz
Do Esperanto sublime,
Guerras encarniçadas
Açoitaram de novo
As nações divididas.
Mas do fundo da noite
Em que a discórdia alonga
Azorragues de treva,
A estrela que acendeste
Em verde resplendente
Anuncia a união.
E nós, Esperantistas,
Trabalhando, dispersos,
No chão de todo o Globo,
Repetimos contigo:
-- Louvado seja Deus!
Bendito seja o amor!...




12


Obrigado Marilza

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Muita paz !

 Bezerra

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sábado, 23 de novembro de 2013

{clube-do-e-livro} O ESPÍRITO DE CORNÉLIO PIRES, ENTRE IRMÃOS DE OUTRAS TERRAS - CHICO XAVIER(299-300)




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{clube-do-e-livro} CARTAS E CRÔNICAS, ANTOLOGIA MEDIUNICA DO NATAL - CHICO XAVIER(298-299)




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{clube-do-e-livro} PALAVRAS DE VIDA ETERNA E ESTUDE E VIVA - CHICO XAVIER(296-297)




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{clube-do-e-livro} Livro: Liberação - Salvador Gentile



LIBERAÇÃO
SALVADOR GENTILe

(Romance)

ASSOCIAÇÃO ESPÍRITA CHRISTOPHER SMITH, RUA LUIZA DE SAN MARCO, 171, BAIRRO SANTA EFIGÊNIA CAIXA POSTAL 584
BELO HORIZONTE, MG

AGOSTO DE 2011




1 Nas malhas da obsessão


Logo que entrei no pequeno salão do Centro Espírita em companhia de Arquimedes, que iria me proporcionar uma quinzena de estudos junto às instituições terrenas,
às quais estava vinculado na tarefa de desobsessão, impressionou-me a fisionomia e o aspecto geral de um senhor, de meia-idade , que se achava sentado numa poltrona
à espera de atendimento. Naquele horário o Sr. José Pedro Donato, respeitável trabalhador da casa, na equipe dos tarefeiros encarnados, atendia as pessoas que o
procurassem, orientando-as em seus problemas pessoais, com base nos esclarecimentos proporcionados pela Doutrina Espírita, no socorro imediato, através dos passes,
e na triagem, para os serviços assistenciais na instituição. Detentor de várias faculdades mediúnicas, entre elas a vidência e audiência, com tais recursos, podia
orientar, com segurança, quantos lhe viessem procurar a ajuda. Logo em seguida, saiu uma senhora da sala de consulta e convidaram o cavalheiro, que me sensibilizara,
para o atendimento. Levantou-se com dificuldade, e, na sua expressão de tristeza, viam-se-lhe sinais evidentes de cansaço e de esgotamento. Pensei que por me registrar
o interesse pelo consulente, Arquimedes convidou-me:


- Vamos começar nossas observações a partir do acompanhamento do caso do nosso irmão, que se dirige à consulta, e me parece sob o guante de violento processo obsessivo.

Segui-o, maquinalmente, sem qualquer comentário, e adentramos, juntos, a saleta provida apenas de pequena escrivaninha, onde se acomodava José Pedro, e tosca cadeira
já ocupada pelo consulente.

- Chamo-me Antônio Serra, tenho quarenta e cinco anos, dedico-me ao comércio e resido nesta cidade. Vim procurá-lo em face de informação de um amigo, que já se beneficiou
da sua ajuda - disse, atendendo à indagação inicial.

Notei, desde logo, que José Pedro se concentrava, esforçando-se para penetrar os pensamentos do consulente e analisá-los, quando se aproximou
entidade de elevada
hierarquia, que lhe orientava a tarefa.

- Este é o nosso irmão Sérgio, de quem lhe falei, e que vai estagiar comigo por uma quinzena - disse Arquimedes, ao amigo, em me apresentando.

- Muito bem! Chamo-me Orlando e estou à sua inteira disposição,quanto às tarefas que desenvolvo nesta casa -, falou, estendendo-me, fraternalmente, a mão. Mas,
vamos
ao trabalho.

Acercou-se de José Pedro, que não o via, e, tocando-lhe a fronte, dilatou-se-lhe a percepção visual. Foi quando o médium viu vasta rede de tênues fios escuros que,
saindo da cabeça e da nuca da criatura a ser atendida, se alongava pelo recinto até a rua, evidenciando a presença nas proximidades, de um espírito obsessor.


Através do pensamento, pediu ajuda aos seus Guias Espirituais, para que lhe trouxessem o algoz,que estava à distância.

Qual se fora sugado por forte ímã, num átimo, compareceu infeliz Espírito que, de pronto, se enlaçou no enfermo, alheio à nossa presença, que não identificava.

Mas, tendo entrado no campo da percepção visual do médium, e vendo este que o Espírito procurava se senhorear das faculdades do enfermo, em estreito processo obsessivo,
preparou-se para iniciar breve interrogatório mental:

- Vamos! meu amigo, fale, se puder, através da sua vítima. Por que o persegue? Que mal lhe fez? Que pretende?

O Espírito não revelava muita lucidez, mas, via-se-lhe, na atuação, que se desincumbia bem no processo em que se impunha ao obsidiado. Mostrou pavorosa carantonha
e, parecendo que estava sendo obrigado a responder, falou com aparente calma, o que José Pedro ouvia pelos canais da audiência.

- Estou sendo pago para atormentá-lo. Pretendo desencarná-lo em breve, cumprindo minha missão, conquanto a mim, não tenha feito nada, nem de bom nem de mau.

- Quanto lhe estão pagando?

- Isso não é da sua conta.

- Em nome de quem você age?

- Uma senhora fez negócio com meu chefe que, por sua vez incumbiu-me da tarefa. Não me pergunte o nome, porque não sei. São detalhes que não me interessam.

- Por que não deixa em paz essa criatura, que nada lhe fez de mal?

- Não posso. Tenho compromisso a zelar e estou preso em função do processo do qual aceitei ser um dos executores. Minha parte é controlar-lhe a mente, a fim de
enlouquecê-lo.

- Veja, meu irmão, que já é um erro revidar mal com mal, estabelecer processo de vingança, por mais justo que, aparentemente sejam os motivos. E eis o amigo fazendo-se
de braço vingador de terceira pessoa! Não pensou que, amanhã, será punido por isso? Que deverá recolher o mal que semeou, acrescido muitas vezes?

- Nada tenho a perder. Pior do que me encontro não posso ficar. Estou escravizado e faço isso para manter-me em pé, a troco de comida e alguma proteção.

- proteção?

- Sim, tenho inimigos ferozes que são mantidos à distância.

- Por quem? Pela Organização?

- Sim. E é bom que comece a pensar nisso, pois está se metendo com forças que desconhece. Não seja intrometido e cuide da sua própria vida, se não quiser vê-la perder-se
também.

- Não temo. Tenho os bons Espíritos para me ajudar.

- Cuidado. Os encarnados estão mais para nós do que para eles, uma vez que a matéria lhes impõe um jugo muito forte, arrastando-os, naturalmente, para a sombra.

- O amigo conhece muito!

- São noções elementares, que recebemos nas instruções que a organização nos dá.

- Que organização é essa?

- Nada posso dizer-lhe a respeito.

- Não gostaria de fazer o bem e viver em paz e feliz?

- Não tenho escolha. Estou escravizado e não tenho forças para reagir; aliás, por isso mesmo, por não ter forças, é que estou nessa situação.

- Nunca se lembrou de Deus, nosso Pai, de Jesus nosso Mestre, e dos Espíritos bons que protegem as criaturas?

- Muitas vezes lembrei e muitas vezes pedi, entretanto nunca obtive qualquer resposta. Essa gente deve andar bem ocupada...

- Talvez não tenha pedido com o coração, ou não merecesse, naquele momento, esse socorro. Quer fazer um negócio conosco?

- Que negócio?

- Nosso Centro é dirigido por Espíritos benevolentes, que ajudam o semelhante desejoso de progredir e de ser feliz. Numa demonstração de carinho e de boa vontade,
você deixa em paz nosso amigo Serra, e nós pedimos proteção para você e apoio para que se eleve a melhor posição.

- Quem garante isso? Se eu trair a organização, liquidam comigo.

- Nós garantimos.

- Nós quem?Só vejo você.

- Há aqui outros Espíritos que você não vê, que estão fora da sua faixa vibratória e, portanto, da sua percepção. Vamos fazer uma coisa:Você nos autoriza a pedir
proteção e socorro e, se for atendido, deixa sua vítima em paz?

- Tudo bem.

- Então, procure ajudar,mentalmente, para que se eleve na sua posição vibratória. Vou orar. Ore comigo.

E José Pedro passou a pronunciar belíssima e comovedora prece, envolvendo o
perseguidor temível, que, aos poucos, se integrou nela, vendo Orlando, o dirigente espiritual
do médium, que lhe sorria e lhe oferecia os braços para estreitá-lo. Sentiu-se envolvido por fluidos tranqüilizantes e experimentou tão doce paz, que pensou que
iria desmaiar. Caminhou para Orlando, que o acolheu nos braços, e desfaleceu.

Orlando entregou-o a outros servidores da casa, que o conduziram para um posto de assistência próximo.

Estando a situação controlada, José Pedro passou a aplicar passe em Antônio Serra, a fim de alijar-lhe a carga de fluidos pesados de que o Espírito se fazia portador.

Terminado o passe, Serra sentiu-se mais senhor de si e extremamente aliviado.

- Agora está tudo bem - disse-lhe José Pedro, procurando acalmá-lo, e pô-lo à vontade.

- Que aconteceu comigo? Parece que adormeci. Perdoe-me a indelicadeza. Mas o fato é que ando tão fraco e cansado, que acabo adormecendo em qualquer lugar.

- Não foi nada. Como está se sentindo agora?

- Mais aliviado. Contudo, sinto um calor muito grande; um Peso tremendo nas costas, e muita dificuldade para manter a serenidade do próprio pensamento.

- Tenha fé, creio que vamos poder ajudá-lo. O amigo deve freqüentar nossa instituição, que abre as portas todas as noites, especialmente quando haja trabalho de
assistência, através dos passes. O ideal será que venha ao Centro, assiduamente, pelo menos por um certo período, para que possa assistir aos nossos cursos, e se
esclarecer acerca da problemática da vida e do Espírito. Isso irá ajudá-lo muito na compreensão dos problemas que lhe dizem respeito. Tem inimigos?

- Que eu saiba, não tenho.

- Não teve nenhum relacionamento negativo com alguém? Alguma mulher, por exemplo?

O consulente empalideceu, vacilou temendo responder, e envergonhado de fazê-lo.

- Devo confessar - disse finalmente -, que tive um caso com uma jovem que trabalhava em minha firma. Mas ninguém ficou sabendo disso. Aliás, nunca ninguém ao menos
suspeitou, pois, sou pessoa que goza de boa reputação, apesar do desvio que reconheço.

- E como terminou esse caso?

- Bem, a jovem foi tomando muita confiança, com algumas intimidades diante dos outros, e fui obrigado a pedir que solicitasse demissão, embora continuasse a pagar-lhe
o salário, por fora.

E depois?

- Longe dela, da sua influência e presença constantes, consegui refletir melhor e perceber a tolice que fizera, com esquecimento da minha família, e dos meus deveres
de cidadão honrado. Fui espaçando nossos encontros, diminuindo-lhe as generosas propinas, o que gerou muitas ameaças da sua
parte, até que, amedrontado, e também
revoltado, rompi definitivamente. Não sei se foi remorso, mas, embora não saiba explicar, passado pouco tempo, minha vida começou a mudar, minha casa, antes tão
acolhedora, parece-me um ambiente hostil; minha saúde, sempre firme, começou a balançar, inclusive com problemas quanto às minhas funções genésicas; meus negócios
não vão bem, e, de repente, parece-me que não me conheço: Às vezes, sinto que sou outra pessoa.

- O amigo está descrevendo um autêntico quadro obsessivo.

- Que é isso?

- A presença e influência de Espíritos,interessados em destruí-lo.

- Destruir-me, por quê?

- Bem, essa é uma resposta que deveremos adiar, até que nos seja possível definir as coisas.O que posso recomendar-lhe, desde logo, é que procure orar, pelo menos
à noite, antes de dormir, e pela manhã, ao levantar-se, pedindo a ajuda e a proteção dos bons Espíritos,a fim de que eles possam, socorrê-lo com a assistência indispensável.

- O senhor acredita que poderei ficar bom?

- Claro que sim. Basta que nos ajude, tendo fé em Deus, e mantendo o seu pensamento em alto nível moral.

- Como assim?

- Pensando apenas em coisas boas,que elevam e dignificam. Essa atitude mantém os maus Espíritos longe, evitando-lhes a influência perniciosa.

- Mas já lhe disse que, às vezes, não consigo reconhecer-me.

- Isso vai melhorar. Não desanime nunca, e isto é importante. Poderemos ajudá-lo, mas precisamos da sua adesão total. Esforce-se, ao máximo, para dominar sua própria
mente, e expulsar qualquer influência negativa externa, de Espíritos malfazejos.

- E como faço para repelir essa influência estranha?

- É muito simples. Quando nós pensamos, elaboramos o nosso pensamento do jeito que nos interessa e na direção que nos propomos. Quando um pensamento nos vem à
mente,
sem esse esforço e sem essa intenção, é porque não é nosso, mas, sim, estão no-lo impondo de fora para dentro. Entendeu?

- Penso que sim. Mas, como devo reagir?

- Percebendo a intromissão mental, deve varrê-la da mente, opondo-lhe o seu próprio pensamento: de repente, lhe vem a mente a figura de uma mulher que você associa
a alguém que conhece, com forte carga de sensualidade. Você não estava querendo pensar nisso, nem essa pessoa estava na sua cogitação. É uma clara
intromissão mental,
muito comum, e um dos principais artifícios, que os obsessores usam para conduzirem a pessoa a posição extremamente negativa. Aí você reage e expulsa a idéia da
cabeça, pensando na sua casa,por exemplo, em alguém da sua família, ou orando,mas se impondo ao seu campo mental.

- Diante dessa explicação,me dou conta de que,por mim mesmo, nada tenho, pensado. Que há intromissão permanente em minha mente,pois, além de pensar em coisas absurdas,
com as quais nada tenho, e, às vezes, causam-me medo de loucura, geralmente, são coisas nas quais,eu mesmo, não desejaria pensar.

- Aí está a opressão mental declarada.O amigo precisa lutar contra isso, da maneira simples que lhe expliquei. Vai ver como se reconhecerá melhor, e será mais dono
de si mesmo.

- Realmente, pensei que estivesse enlouquecendo.

- Deixe disso. Fique sabendo que, pelo menos, noventa e nove por cento das pessoas, são, constantemente, oprimidas mentalmente, umas mais, outras menos, porém, todos
nós, com aquela pequeníssima exceção, estamos debaixo da pressão constante das mentes do mundo espiritual inferior. Nesse oceano de energias mentais, negativas e
perturbadoras,quem quiser viver, realmente viver, deve montar guarda, vigiar a própria mente, para não ser tragado. Daí o orai e vigiai que Jesus recomendou a seus
discípulos e, por extensão, a todos nós, os que peregrinamos pelo mundo carnal.

- O que o amigo me diz é muito sério, mas, não é nada fácil manter-se a cima das coisas inferiores do mundo. Estando debaixo dessa vara de suplício, vejo o quanto
somos frágeis, e a maneira fácil com que nos arrastam. De um momento para outro, sem que, sequer, tivesse tempo de cogitar das coisas e fazer uma escolha, parece
que alguém faz essa escolha por nós e nos impõe fatos consumados, terríveis. O meu problema central foi assim. Um momento rápido de arrastamento, e me vi a braços
com um drama, do qual nunca cogitei nem desejei, ganhando um inferno, que me consome.

- É bom que esteja tomando consciência disso, porque cabe-lhe lutar muito, recusar sua mente à opressão mental externa. Nós podemos ajudá-lo, e muito, mas, sem a
sua adesão total e a sua reação constante, pouco conseguiremos.

- Graças a Deus, pudemos ter esta conversa, e pude conscientizar-me de tudo. Não fora isso, no ritmo que vinha, logo conheceria a falência material e moral, e o
desmoronamento da minha família e do meu lar.


- Meu amigo, não desanime nunca; lute sempre, com a melhor intenção e com as forças construtivas do bem. Ganhe amigos e evite inimigos. Se é certo que um coração
que nos ama, nos alimenta e nos encoraja, um coração que nos odeia, será sempre terrível força destrutiva a nos provar a resistência interior, com muitas chances
de triunfo, porque nem sempre estamos vigilantes.

Arquimedes convidou-me a aproximar-me, e depois de pedir-me para que aguçasse a visão, indicou-me, colados às costas do enfermo, e disfarçados em duas leves corcundas,
dois ovóides ligados de maneira profunda no infeliz.

- Este ovóide, que abriga um Espírito que se enlameou nos desvarios do sexo, acabando por perder o membro viril em terrível doença, está ligado aqui na medula espinhal,
ao feixe de nervos que controlam o aparelho genésico, e trabalha com o fim deliberado de levar o obsidiado, à completa impotência sexual. Este segundo ovóide, que
se vê também ligado na medula, agasalha Espírito criminoso na Terra, e que terminou seus dias atacado de artrose generalizada, e tem por finalidade levar o enfermo
a se enfermar nas pernas, com destaque para os joelhos. Além disso, se você fizer um exame mais acurado, vai perceber que estes dois intrusos sugam todas as energias
da vítima. Ainda há pouco, nosso irmão foi beneficiado por luminoso passe, que lhe deu forças, das quais quase nada mais lhe resta, porque já foram, em parte,
apropriada
pelos obsessores, que se alimentam com a sua energia.

- Incrível!

- Estas duas entidades fazem o trabalho fundamental e contínuo de sugar-lhe a energia vital e produzir alterações na sua saúde, atendendo à solicitação da pessoa
que o odeia, e está levando a cabo esta vingança.

- E aquele espírito que lhe foi desligado?

- Seu papel era de coadjuvante do processo. Encarregava-se de controlar-lhe as emoções, assim como das pessoas que o rodeiam, a fim de proporcionar-lhe aborrecimentos
e conflitos, constantes, mantendo-o sob tensão continuada, para que não sentisse qualquer espaço de liberdade mental, que lhe ensejasse a mais leve reação, até chegar
à loucura. Levado de roldão, vem acumulando desânimo, já estando próximo das fronteiras do desespero.

- Bem, mas agora está livre dele!

- Dele sim, porque o nosso desventurado amigo obsessor vai passar a receber a nossa assistência, com vistas a recuperá-lo.

- Um salto assim tão grande!

- Nada, pelo que sabemos, dá saltos. Ocorre que, como acontece com a maioria de todos nós, nosso irmão tem seu círculo afetivo e, dentro dele, pessoas que estão
intercedendo para tirá-lo dessa situação; além de que, como vimos, ele mesmo aderiu à mudança.

- Quer dizer que, assistindo-se uma vítima, beneficiam-se os algozes?

- Não se esqueça de que somos todos irmãos e merecemos, da Misericórdia Divina, o mesmo carinho e consideração. Quantos estiverem no nosso raio de atuação, e se
dispuserem a ser ajudados, ou estejam recomendados por intercessão, serão socorridos. De outra parte, lembre-se de que qualquer repercussão, num processo obsessivo,
condiciona-se à culpa do obsidiado. Sem dúvida que, nosso amigo, invigilante, estabeleceu ligações deploráveis, que não se rompem facilmente, e pelas quais terá
que pagar um preço, às vezes, como no caso, muito elevado, porque a pessoa com quem se comprometeu é excessivamente má, além de estar profundamente ligada à malta
que lhe executa a vontade perversa.

- Acaso esse Espírito que o assediava será substituído?

- Sem nenhuma dúvida.

- E o que vem a ser a mencionada Organização?

- É uma instituição que atua nestes planos inferiores, entre as muitas que existem, e que, à maneira das quadrilhas do campo físico, empresta projetos criminosos,
igual ao que temos sob observação.

- Realmente, parece-me crime autêntico.

- Como não! Estão produzindo danos imensos, tanto ao patrimônio financeiro, quanto ao físico e ao moral do nosso irmão, que, se não for socorrido, acabará desencarnando
pelo efeito maléfico dessas entidades, que o perseguem. Um verdadeiro homicídio.

- E ganham alguma coisa com isso?

- Decerto que sim. Ninguém se move, nestes planos inferiores, sem que haja um lucro, ou uma remuneração qualquer. Os valores, por aqui, pesam mais do que as moedas
de ouro, com as quais podemos comprar os objetos dos nossos caprichos, quando na carne. Todo esse serviço prestado, vai ser pago com lágrimas de sofrimento na servidão
mais aviltante, ou dizendo mais claro, a pessoa se entrega a si mesma, com todas as suas faculdades, em pagamento do trabalho que lhe prestam. É, mais ou menos,
como vender a alma às forças do mal, parafraseando conhecida expressão terrena.

- Há pouco, nosso amigo, afastado, disse que trabalhava a troco de proteção. Como entender isso?

- De forma natural. Não existem, no mundo material, organizações que proporcionam proteção, a pessoas e estabelecimentos, para livrá-los dos criminosos? E, por outro
lado, não existem quadrilhas que vendem proteção contra outros criminosos, e até mesmo extorquem para que, elas mesmas, deixem de prejudicar? O quadro aqui é o mesmo,
aliás, mais agravado, em face da maior liberdade dos malfeitores. As muitas organizações existentes se respeitam, mas, às vezes, entram em guerra e lutam, tal como
acontece com as quadrilhas de encarnados, na disputa de vantagens para seus grupos, no domínio que intentam impor.

- E esses ovóides, por qual processo se engajaram na Organização e estão a seu serviço?

- Geralmente, pela execução de obséquios de alta significação que lhes foram prestados, atendendo aos seus desejos criminosos. São Espíritos excessivamente maus,
que, não contentes com o mal que eles próprios faziam, diretamente, ainda se valeram do concurso desta Organização das sombras, para estendê-lo com mais eficiência
e horror. Uma vez desencarnados, são reduzidos, por processos hipnóticos, a essas formas humilhantes e são armazenados à espera de utilização. Quando surge um cliente,
que exige tortura maior, são ligados magneticamente, à pretensa vítima, sobre a qual exercem a influência deletéria de sua própria posição, de forma automática.
Também aceitam com facilidade, programação mental. Tendo em vista que giram num círculo estreitíssimo de atividade mental, são hipnotizados para imporem, ao encarnado,
um determinado pensamento, assim como um texto a ser repetido, lembrando-lhe de fato que lhe mantenha vivo o sentimento de culpa, que é a porta que dá acesso ao
processo obsessivo.

- Incrível, como agem com precisão e requintada técnica! Quando as pessoas puderem saber o alto preço que pagam, pelo mal que fazem, talvez o bem passe a imperar
com mais amplitude. E ninguém interfere na ação das sombras? Aqui, na Crosta, não há autoridade constituída para coibir os abusos e crimes?

- Ora, Sérgio, organização, disciplina, i respeito, são qualidades próprias de Espíritos que já se elevaram, mais acima destas sombrias paragens, e vivem com responsabilidade
diante da vida. A autoridade, aqui, está personificada naquele que pode mais. é a lei da força. Quem pode dominar, domina, quem não pode, obedece; quem não obedece
é escravizado. Quem trai ou se rebela, desafiando a força, pode ser preso e supliciado por largo tempo; ao nosso redor, e abaixo de nossos pés, existem, talvez,
milhões de Espíritos encarcerados, vampirizados e seviciados por outros. Se o insurreto, ou o traidor,tiver alta dose de culpas, alta carga negativa, pode ser reduzido
a ovóide.

- Então, aqui há um ditador?

- Não; há muitos ditadores, do mesmo modo que, na terra, há muitas organizações do mal e do crime. Cada um tem a sua área de influência.

- Estarão, pois, os homens encarnados, em melhores condições do que os Espíritos que os rodeiam?

- Não se esqueça de que, na carne, existem Espíritos encarnados di todas as categorias, até as mais sublimadas. Esses Espíritos exercem influência sobre os demais
e impõem a Lei, que força a disciplina e o respeito, para que a sociedade, embora heterogênea e com mais Espíritos Inferiores do que superiores, possa viver em relativa
paz. Aqui, no plano espiritual, funciona a lei da atração. Os Espíritos são atraídos para as regiões e
companhias que se afinam com o seu estado vibratório, de maneira
automática, qual do dial do rádio onde determinada frequência sintoniza determinada emissora. E essa lei funciona tanto no desprendimento temporário, durante o
sono,
quanto na hora da morte, quando a alma se desliga definitivamente do corpo.

- Como funciona esse processo na hora da morte do corpo físico?

- Se a pessoa, quando encarnada, já estava sob o domínio de um Espírito das sombras, esse domínio continuará, agora com mais intensidade, e, dependendo da qualidade
dessa ligação, poderá ser arrastada para grandes sofrimentos, a menos que alguém, com méritos para tanto, interceda em seu favor. Esse é um dos momentos mais importantes,
para nós todos, quanto à colheita do bem, ou do mal, que plantamos. Os que não tiverem corações reconhecidos para recebê-los, na passagem, que se preparem, pois,
estão sujeitos a arrastamentos para situações inimagináveis de sofrimento. Talvez por isso é que a Doutrina Espírita preveniu, desde logo, que fora da caridade não
há salvação. O homem deve fazer o bem que puder, para conseguir muitos amigos, muitos corações que o ajudem nesse transe difícil, quando nossos inimigos desencarnados
nos esperam para o _ajuste _de _contas, ou quando, simplesmente, podemos ser envolvidos e arrastados por Espíritos malfazejos.

- Na verdade, as pessoas encarnadas não desconhecem o mal e as suas conseqüências. As leis terrenas prevêem pesadas penas aos criminosos, chegando, em alguns países,
a imporem a pena de morte; no entanto, a criminalidade não recua e parece até acentuar-se. Penso que só depois que sentiu, em si mesmo, as funestas conseqüências
espirituais dos atos criminosos, e disso se conscientiza, é que o Espírito sufoca os seus impulsos ferozes, e passa a atuar no sentido do bem. O seu projeto de escrever
um livro, relatando todos esses pungentes dramas, que faceamos no nosso trabalho de assistência, é muito louvável, vai ajudar a muita gente para que deixe de gerar
forças maléficas, ou tenha noção delas para defender-se, mas não guarde a pretensão de que as suas palavras, por mais claras que sejam, consigam varrer o mal de
sobre a Terra. Não basta conhecer o problema, é preciso conscientizá-lo, para passar à sua solução.

- Este não me parece um processo obsessivo comum.

- Diria, antes, tratar-se de processo especializado, e de proporções mais amplas. O assédio espiritual comum, que costumamos chamar de _obsessão, se dá quando um
Espírito, por si mesmo, e em razão de laços de ódio ou de incompreensão, se liga ao Espírito encarnado, impondo-lhe seus pensamentos e emoções, causando-lhe prejuízo,
não só ao seu estado de consciência como também ao seu estado físico. Se vai pensar em algo, sofre a interferência do pensamento do Espírito, que lhe está imantado,
e fica na situação de não ser dono de si mesmo por inteiro. Às vezes, quando existem laços de ódio
profundos, e a culpa do paciente é grande, o Espírito interveniente
pode subjugá-lo, inteiramente, anulando-lhe a vontade. No caso com que nos defrontamos, vemos quadro diferente. Um Espírito encarnado, que quer desencadear um processo
de vingança, empresta os serviços de uma organização especializada das sombras, que vai se encarregar, em seu nome, por sua conta, de ser o seu braço vingador, segundo
a sua vontade, procurando prestar-lhe os serviços requeridos.

- E como se acerta esse contrato? Durante o sono?

- Os laços iniciais ocorrem quando a pessoa começa a alimentar desejos de vingança e atraem os empreiteiros do mal, que lhe alimentam o ódio. Durante o sono, pode-se
dizer que acontece o aspecto formal do pacto, quando o encarnado é defrontado pelos _amigos que o querem _ajudar a resolver o problema e obtêm a sua adesão, para
agirem em seu nome. Na generalidade dos casos, ocorre assim.

- E a assistência, como se desencadeia? Esse nosso amigo vai ser socorrido, para que sirva de lição viva, em razão do nosso programa de estudos?

- Certamente que não. Sou um trabalhador da casa, integrando a equipe espiritual que aqui atua. Nosso irmão vem em busca de socorro, batido que está pelo sofrimento,
e, por outro lado, estamos atendendo à petição de sua filha, Espírito de acentuadas virtudes e méritos espirituais, que o convenceu de procurar a consulta e aconselhamento
do nosso amigo José Pedro. Qualquer um dos dois motivos, seria suficiente para desencadear o trabalho assistencial e, com a soma dos dois, contamos com a adesão
do paciente e o apoio, no lar, de sua filha, que, como verá, também vai entrar com sua parte no processo.

**


Voltamos a centralizar nossas atenções na consulta, que se delineava em fase final.

- O amigo conhece o espiritismo? - perguntou José Pedro.

- Realmente, assoberbado pela minha atividade comercial, e pelos compromissos do lar, não tive chance de conhecer a Doutrina Espírita. Mas tenho uma filha, Ruth,
que é adepta fervorosa e está ligada às atividades de um Centro Espírita.

- Deste Centro? - atalhou José Pedro.

- Não, mas de uma instituição localizada em outro bairro.

- Suponho que ela disponha de uma biblioteca Espírita...

- Oh! Sim, e com muitos volumes, que lê, avidamente.

- Será interessante que você leia alguns livros básicos, para ter idéia dos Espíritos e do seu mundo, porque isso ajudará muito na solução do seu problema pessoal.
Sugiro que peça a Ruth para orientá-lo nesse sentido. Porque, se o amigo puder
compreender melhor o significado das coisas que lhe sugerimos, com vistas ao seu restabelecimento,
tudo ficará mais fácil.

- Tudo bem. Vou me interessar pela leitura, e pedir o apoio de minha filha.

- quanto a sua freqüência, aos trabalhos do Centro, gostaria de acompanhar sua filha, ou pode freqüentar a nossa instituição?

- Prefiro freqüentar esta casa, pois, creio que, assim ficarei mais à vontade.

- Neste caso, vamos nos encontrar sempre, uma vez que estou quase todas as noites aqui, principalmente nos dias de passes. Esperarei continuar trocando idéias e,
conversando, vou poder orientá-lo no que for possível. Pode ficar tranqüilo que, com a ajuda de Deus e dos bons Espíritos, tudo se resolverá a contento, em tempo
breve.

José Pedro levantou-se, dando por finda a entrevista, despedindo-se de Antônio Serra, com fraternal abraço, que comoveu o consulente.



Antônio ganhou a rua, andando firme e mais aliviado. A entrevista lhe produziu resultados benéficos, pois, abriu-lhe um horizonte de esperanças novas. Ia repensando
as palavras de José Pedro, uma a uma, avaliando-as, sentindo-lhes a lógica e o elevado grau de fraternidade cristã.

Não tinha, ainda, vencido a primeira esquina, e dois espíritos, com ares de vadios e de semblante duro, se acercaram dele, um de cada lado, e passaram a gritar-lhe
no ouvido:

- Você precisa é de médico, e não de bruxo! Essa cantilena de espírita não vai ajudar e m nada. Não perca tempo. Trate de sua saúde, pelos caminhos corretos do consultório
e do hospital. De outro modo, vai acabar morrendo.

Antônio não lhes ouvia a voz, mas percebia-se, em sua fisionomia, que uma onda de dúvidas começava a varrer-lhe a cabeça, transtornando-lhe os pensamentos.

- Aí está a Organização presente - informou Arquimedes. O amigo retido já encontrou substitutos para martelarem a mente do enfermo. Daqui há pouco, talvez, nem consiga
se lembrar de tudo o que ouviu, apesar de que, intimamente, já tomou a deliberação de seguir a orientação de José Pedro, até o fim.

- Que coisa triste para ser vista! Se já não conhecesse alguma coisa sobre a lei de causa e efeito, talvez estivesse, agora, questionando a bondade de deus, que
permite, a esses malfeitores, estarem confundindo e supliciando um homem enfermo, incapaz de defender-se da agressão.

- Uma coisa, porém, é certa: nosso amigo, com os esclarecimentos de José Pedro, que lhe levantou também o ânimo, já não é presa tão fácil. Veja que os malfeitores
não conseguem se ligar com a sua mente, como estava antes o outro, que foi desalojado. Ainda que muito leve, já esboçou uma reação.

Continuamos a caminhar, acompanhando o trio, que se deslocava, sem muita pressa, em direção a outro bairro até que, finalmente, Antônio se dirigiu para uma casa,
que logo deduzimos ser a sua.

Efetivamente, tirou a chave do bolso, e abriu a porta, entrando, sozinho. Os malfeitores se detiveram, gesticulando e proferindo imprecações.

- Não podem atravessar a barreira magnética, gerada pelas orações e bons pensamentos de outros componentes do grupo familiar - informou Arquimedes.

- Mas, e os ovóides? - obtemperei -, por que não foram impedidos de entrar?

- Isso já é outro problema. Ocorre que estão plantados no perispírito hospedeiro, igual a um parasita se
enraiza numa árvore, por exemplo. Até que, num momento
oportuno,
sejam convenientemente desligados, fazem parte integrante da personalidade de Antônio, se assim podemos nos expressar, para figurar que compartilham, de certo modo,
o mesmo corpo e o mesmo clima mental.

- Por que o médium vidente não os viu?

- Você também não havia notado a presença deles. É que se acham em singular situação, que se costuma chamar de _segunda _morte.

- Em que consiste essa _segunda _morte?

- Quando a pessoa desencarna, perde o corpo físico e lhe restam o perispírito e o Espírito. Ao reentrar no Mundo dos Espíritos, o perispírito reveste-se da matéria
própria do plano em que estagia, e em harmonia com a sua posição evolutiva, cujo padrão vibratório nele se expressa. Refazendo conceitos, para se evitarem enganos,
não podemos dizer que o Espírito desencarnado possui apenas perispírito e Espírito; é que, o que chamamos perispírito, segundo a definição kardequiana, na verdade,
se compõe de duas partes: uma, mais material, composta da matéria da esfera em que se encontra, e que é o corpo espiritual; outra, mais etérea, servindo de ligação
entre o corpo espiritual e o Espírito, que já foi definida com o nome de corpo mental (1). O corpo mental preside à formação do corpo espiritual, do mesmo modo que
no homem encarnado, o perispírito preside à formação do corpo físico (2). Individualizando um Espírito desencarnado, portanto, restabelece-se, em suma, o mesmo
trio:
corpo espiritual, corpo mental e Espírito. Pela semelhança do processo, quando o Espírito desencarnado perde, por qualquer circunstância, o seu corpo
mais denso, embora de matéria, para nós, quintessenciada, diz-se que é a sua segunda morte.

(1) e (2) EVOLUÇÃO EM DOIS MUNDOS, André Luiz, Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, 8ª edição, FEB, 1985, Primeira Parte, Cap. II, p. 25.

- Temos, então, a repetição precisa do processo de desencarnação comum?

- Não precisamente. Na morte comum, perde-se o corpo físico, ou de carne, de modo irremediável, pois este se decompõe, a matéria correspondente não pode ser restaurada,
e a ligação, do Espírito, não pode ser restabelecida. Só se adquire outro corpo de carne através do processo reencarnatório. No caso da segunda morte, basta que,
por processos mentais e eletromagnéticos, se revista o corpo mental da matéria do plano em que se adapta, por afinidade vibratória, e o Ser readquire a sua posição
natural.

- Se entendi o mecanismo, quer dizer que, técnica e logicamente, embora o corpo mental seja sempre o mesmo, apenas mais sutilizado, teremos tantos corpos quantas
sejam as esferas que devamos ultrapassar, em nossa caminhada? Se são sete as esferas espirituais, ao redor do Globo Terrestre, e a partir da Crosta, quer dizer que,
na prática, até que consigamos percorrer todo o caminho da evolução terrestre, teremos sete corpos físicos, diferenciados apenas na qualidade da matéria que os compõe?

- É a dedução natural, tendo em vista o mecanismo contínuo que nos preside à evolução. Teremos, sucessivamente, corpos mais rarefeitos, corpo mental mais etéreo,
e Espírito cada vez mais sublimado. Oportunamente, se for possível, analisaremos melhor o assunto. Para o momento, voltemos à pergunta quanto ao fato de o médium
não ter visto os ovóides.

- Está bem. Aliás, creio que já compreendi o motivo. O médium é capaz de ver a matéria do plano espiritual que o cerca; se, no ovóide, não há essa matéria, logo,
não poderia mesmo vê-la.

- É isso. E pelo mesmo motivo, você necessitou dilatar o seu campo perceptivo para registrar-lhes a presença.

- Tudo me parece muito lógico e fascinante. No entanto, será que os meus leitores compreenderão essas notícias?

Arquimedes olhou-me e sorriu.

Enquanto os obsessores tomavam outro rumo, regressamos ao centro, onde Arquimedes tinha outros compromissos, aguardando-lhe a presença.



II - CONHECENDO OS PROBLEMAS


Eram quase dezessete horas, quando nos aproximamos da casa onde residia Sílvia, a personagem principal do drama sob a nossa observação.

De repente, um Espírito, com ares de debochado, assomou à janela e gritou para a turba, que estava na vizinhança, gesticulando para que viessem. Num instante, a
malta, estacionada nas cercanias, em louca correria, invadiu a casa, causando-me espanto.

Arquimedes, acostumado a ladear esses espíritos, em razão do seu trabalho assistencial, mantinha-se sereno e, quando se completou a invasão, convidou-me para entrar.

- Vamos, a casa está franqueada a todos. Prepare-se, no entanto, para presenciar algo que, posso apostar, você nunca chegou, sequer, a pensar que seria possível
ocorrer. Essa turba está querendo divertir-se.

Entramos. O ambiente era horrível. Um cheiro acre dominava, causando impressão
disconfortante. A multidão de Espíritos, que tomou de assalto a casa, se apinhava
em um cômodo, mais no fundo, que, de longe, dava a impressão de ser um quarto de banho. As emanações mentais, daquela malta desvairada, era algo indescritível e
deprimente. Sentia dificuldade para manter-me em pé ou locomover-me. Arquimedes percebeu-me o despreparo.

- Vamos, anime-se. Embora deprimente, esta é uma cena comum no dia-a-dia das pessoas levianas e inconseqüentes, que se entregam às paixões doentias. É falta de educação
invadir a intimidade de quem quer que seja, contudo, estamos em missão de estudos, que poderá vir a ser muito proveitosa esclarecendo as pessoas para que cenas como
esta, escasseiem cada vez mais. Ninguém nos vê, de maneira que você pode estudar o fato pelo ângulo que quiser.

Aproximei-me da porta de espaçoso banheiro, completamente lotado pelos Espíritos invasores, restando apenas um pequeno círculo central, como fora um palco, onde
uma bela e jovem mulher se movia, em meneios lascivos, abraçada por um Espírito de feições horríveis. O espetáculo era dantesco. A jovem se deslocava em passos sensuais,
passando a mão pelo corpo nu, procurando excitar-se. Tinha as pálpebras cerradas, como quem devaneia, mergulhando em extraordinária fantasia de prazer. A multidão
estava estática, em silêncio, integrando-se na sensualidade do momento.

Faltam palavras para retratar o quadro terrível, que se desdobrava diante dos meus olhos, nascidos dos desejos desenfreados daquela jovem. A sua mente irresponsável
devia estar tentando fixar a imagem de algum homem, da sua predileção, contudo, era criatura de aspecto quase animalesco, que lhe sorvia e desfrutava as emoções.

Quando o espetáculo parecia atingir seu clímax, Arquimedes tocou-me o braço, convidando-me para sairmos.

- Meu Deus! - exclamei -, nunca pensei presenciar cenas tão estranhas! Nunca imaginei tais conseqüências, como resultado dos devaneios sensuais de uma jovem!

- Que quer você, meu amigo? Se a dona da casa mantém a porta aberta, e atrai aqueles que estão na mesma faixa vibratória, na qual deliberadamente se coloca, o resultado
está consentâneo com a realidade. Quem quiser conviver com Espíritos puros, que procure melhorar as próprias condições morais. Pela mesma lei, quem se compraz em
mergulhar no pântano das emoções grosseiras, que se prepare para conviver com os Espíritos das sombras. É a lei da atração, ou da afinidade vibratória. A Humanidade
invisível, que povoa a Crosta, e esperas mais abaixo dela, se nutre dos Espíritos encarnados, sugando-lhes as energias vitais, arrastando-os para que lhes satisfaçam
os vícios de toda espécie, sorvendo as emanações mentais deletérias, que geram imagens de vida momentânea e peso específico, que são para eles indispensável alimento.
Esse é o motivo principal da luta da sombra contra a luz. Cada pessoa espiritualizada, é como se fosse uma vaquinha a menos no curral, para lhes fornecer o leite
insubstituível. Imagine uma população na proporção de cinco para um, de desencarnados e encarnados, e verá, desde logo, o que representa, para a sombra, o potencial
de cada ser encarnado, ser, teoricamente, compartilhado por cinco.

O raciocínio era lógico demais, contudo, sentia pena daquela mulher, jovem e bonita, entregue a si mesma, e incapaz de conter os seus impulsos.

De repente, abriu-se a porta do banheiro e Sílvia, vestindo luxuoso roupão de banho, saiu, um tanto abatida, em direção ao quarto. A turba seguia-lhe os passos,
e tudo fazia crer que invadiria, também, a intimidade do quarto de dormir. Quando a jovem passou por nós, Arquimedes estendeu a destra, e imperceptível raio magnético
se interpôs à frente da multidão. O primeiro Espírito invasor, chocando-se com a barreira magnética, dando a impressão de que sofrera o impacto de uma descarga,
pulou para trás, exclamando, surpreso:

- Epa! Aqui tem _anjo. Vamos dar o fora, pessoal!

Num instante, a sala se esvaziou, restando apenas nós dois. Entramos no quarto. Sílvia estava deitada, parecendo extenuada. Pobrezinha - pensei -, nem imagina quanta
energia lhe vampirizaram e, pior de tudo, pela riqueza da permuta de sensações lascivas, quanto iria se afundar, cada vez mais, nesse processo de intercâmbio deplorável.

- Arquimedes, custa-me crer que essa jovem seja má, vendo-a assim tão abandonada! Não seria vítima de pura ignorância?

- Antes fosse, meu amigo! Você deve estar influenciado pela beleza dos seus traços fisionômicos. _Quem _vê _cara, _não _vê _coração, diz a sabedoria popular. Ela
não tardará em se mostrar tal qual é.

As palavras do instrutor pareceram proféticas, ou moveram Sílvia, porque, virando-se na cama, deparou com a foto, emoldurada, do nosso conhecido e desventurado amigo
Antônio Serra. Dando a impressão de que uma corrente elétrica lhe atravessasse o corpo, saltou da cama, qual leoa acuada e como se fora leve, igual uma pluma. Apanhou
a foto, crispou-lhe os dedos sobre o vidro reluzente, como se quisesse despedaçar aquele homem, e, com a face transtornada pelo ódio, pôs-se a vociferar:

- Canalha! Ingrato! Velho sujo e indecente! Depois que se fartou de mim, lança-me ao lixo? Você vai me pagar caro! Quero vê-lo numa cadeira de rodas, a comida há
de descer-lhe, igual a fogo, pela goela! Mulher nenhuma desfrutará da sua condição de homem, porque vou pedir para que o tornem incapaz! Seu dinheiro não lhe servirá
para nada. Só libertarei você quando ajoelhar-se aos meus pés e satisfizer todos os meus caprichos de mulher. Não! Não vou perder a oportunidade, que se me abriu,
para conquistar tudo o que eu quero!

À medida que esbravejava, Sílvia foi se desfigurando, seus traços fisionômicos se endureceram, sua expressão se assemelhava à de uma fera, e os olhos retratavam
um brilho sinistro. A metamorfose era constrangedora, porém, real; de repente, a jovem se nos apresentava, pelo que se notava, em sua personalidade efetiva, e já
não me parecia nem jovem e nem bonita, mas, muito ao contrário, fazia-me lembrar a imagem de uma bruxa.

O impulso de ódio provocou-lhe uma onda de sangue, a percorrer-lhe todo o corpo, transmitindo-lhe calor, que lhe ruborizava as faces. Deixou-se arrastar pela emoção
e cansou. Sentou-se um momento, na cama, e já se levantou em direção a pequeno bar, armado num canto da estante, de onde tirou um frasco de uísque. Afoita, despejou
gordo gole num copo, enchendo-o pela metade, e sorveu todo o líquido de uma só vez. Via-se, pela sua reação, que a bebida queimava-lhe a garganta, contudo, dentro
de curto espaço de tempo, aquietou-se. Parou um instante, copo pendente na mão, com a outra mão na testa, igual a quem procura decidir por qual caminho enveredar,
e, de súbito, começou a desabotoar o roupão, dando a entender que iria vestir-se.

Arquimedes convidou-me a sair do quarto, com simples gesto de cabeça. Ganhamos a rua.

- Ufa! - desabafei. Já não suportava mais o peso do ambiente, e o ar repugnante, que estava obrigado a respirar.


- Vamos caminhar um pouco. Voltaremos mais tarde, quando Sílvia estiver repousando, para tentarmos, se possível, um entendimento, em favor do nosso amigo Antônio
Serra.


**

Eram vinte e três horas, quando regressamos.

Sílvia já havia se recolhido e começava a se envolver nas malhas do sono. No vestíbulo, antecâmara do quarto de dormir, havia um pequeno sofá para duas pessoas,
do tipo conhecido como _namoradeira. Sentamo-nos. Deveríamos esperar que Sílvia, mergulhada em sono mais profundo, deixasse o corpo físico. Nesse ponto pretendíamos
abordá-la, fraternalmente, intentando apaziguá-la, com relação aos seus sentimentos, em face da deserção de Antônio, do compromisso afetivo que iniciou de vontade
própria.

Talvez porque tivesse hábitos regulares, pouco antes de se erguer do corpo físico, duas entidades da Organização, que identificamos pelas suas insígnias, compareceram
na casa e passaram, também, a aguardar o comparecimento de Sílvia, fora do vaso carnal.

Passavam quarenta minutos da meia noite, quando Sílvia assomou à porta do quarto.

Não quis acreditar no que os meus olhos viam. Embora guardasse identidade em alguns traços, aquela não podia, de forma alguma, ser a alma de Sílvia. Era um monstro.
O seu rosto parecia ter se alongado, procurando, mais ou menos, a forma da cabeça de uma serpente, e as rugas, que o cobriam davam-lhe aparência de pessoa de muito
mais idade; os braços eram peludos e alongados, pendendo dos dedos, delgados e crespos, longas unhas encurvadas,
lembrando garras de águia; o corpo dava a impressão
de estar recoberto de matéria lamacenta.

- É ela mesma - confirmou Arquimedes ante o meu espanto. O corpo de carne, bem conformado e jovem, no caso, não muda a hediondez do Espírito, a retratar-se no perispírito.
Essa é Sílvia autêntica, sem qualquer retoque. A mulher que o destino colocou no caminho de Antônio Serra, e que o aprisionou em suas malhas de sombra.

- Meu Deus! Mas o perispírito, geralmente, não acompanha o retrato do corpo físico?

- Geralmente, sim. Mas, estamos diante de um caso excepcional. Como lhe informei, o processo de assistência foi iniciado, a partir dos insistentes pedidos de Ruth,
filha de Antônio, e estou no caso há dias. Tive oportunidade de pesquisar e colocar-me a par de certos detalhes, quanto aos personagens da trama, que se desdobra
aos nossos olhos. Sílvia, infelizmente, é um Espírito tremendamente endurecido. Vive, há muito tempo, estacionada nas faixas do ódio e da revolta. Antes de se reencarnar,
integrava essas falanges de Espíritos malfazejos, inclusive fazia parte dessa quadrilha imensa, que se autodenomina Organização. Tinha mórbido prazer em assustar,
para melhor se impor, às suas vítimas, e seu aspecto era uma cópia, muito mais triste, do que a que está à nossa frente, e que vai retomando gradativamente.

- E a assistência para a encarnação, com toda a sua preparação prévia, orientada pelos bons Espíritos, não ajudou-a em nada?

- Sua reencarnação foi promovida por especialistas da Organização.

- Dispõem eles de poderes para isso?

- E por que não? O processo, em si mesmo, no nível de automatismo que o realizam, não oferece muita dificuldade.

- E como conseguem a adesão dos futuros pais?

- Nem sempre necessitam dessa formalidade, pois, há pessoas, e muitas, infelizmente, que não se fazem respeitar, ou não merecem respeito, e que acabam colaborando
com essas organizações das sombras.

- Como assim?

- No caso de Sílvia, por exemplo, foi intromissão no lar de um casal leviano, apesar da boa formação que receberam, mas que só mais tarde aproveitaram. Na época,
jovens e inconseqüentes, formava na opinião _moderna de liberalidade sexual. Tudo o que não ofendesse a nenhum dos dois era bom, essa a regra. A intimidade conjugal
não se diferenciava muito dos quadros deprimentes que se vêem nos prostíbulos; verdadeiras bacanais, que fariam inveja aos mais licenciosos romanos. As conseqüências,
naturalmente, eram as mesmas que presenciamos há pouco, no quarto de banho: portas abertas, para quem quisesse entrar, e intimidade conjugal transformada em espetáculo
público. Numa dessas orgias conjugais, a senhora concebeu, e os Espíritos, que livremente acompanhavam a vida doméstica, ligaram ao ovo o Espírito que conhecemos
sob o nome de Sílvia.

- E como reagiu o casal?

- A ligação de um Espírito de tal condição, desde o início, produziu tremendo impacto na mãe que, se era leviana, não albergava maus sentimentos. A diferença de
padrão vibratório, entre mãe e filha era brutal. O estado mental da gestante preocupava a todos, porque a mudança do seu temperamento alarmava. A encarnação periclitou,
muitas vezes, mas os Espíritos da Organização permaneciam vigilantes para lhe evitarem o insucesso. Quando esta se completou, com o nascimento, a mãe, aliviada de
tal fardo dentro de si mesma, pôde voltar ao seu estado normal. A criança desenvolveu-se com todo o carinho, apesar de intrusa, e, à medida que o Espírito se senhoreava
das funções orgânicas, a sua maldade se punha à mostra. O casal pagou alto preço pela sua invigilância. Mas Sílvia não se sentia bem naquele lar, onde os pais procuravam,
agora, respirar em climas mentais mais altos. Tão logo começou a receber algum dinheiro, de namorados generosos, deixou o lar, mudou-se para outra cidade, e alugou
esta casa, onde mora só, sem interferência de ninguém, levando a vida que lhe apraz.

- Pobre menina!

- Disse bem. Pobre menina! Ainda não completou vinte e dois anos, na presente encarnação, e já chegou a este estado deplorável.

- Venham aqui, vocês! - gritou Sílvia, asperamente, para os dois Espíritos que a aguardavam. Vão buscar aquele canalha que foi meu amante. Quero-o aqui, aos meus
pés.

Notei que a jovem infundia terror até àqueles Espíritos endurecidos, acostumados com a ferocidade imperante no plano no qual circulavam. Saíram depressa.

Não demorou muito e a porta se abriu. Algo foi atirado com violência para dentro; como se tivesse sido apanhado pelos dois brutamontes, pelas pernas e pelos braços,
para ser atirado, Antônio estatelou de barriga ao chão, bem aos pés de Sílvia que, altiva e feroz, moveu os lábios num tímido sorriso de satisfação, ao ver o homem
humilhado aos seus pés.

- E então, senhor Antônio Serra, vai voltar para mim? Honrar as juras de amor com as quais você seduziu uma criança, que estava na sua dependência econômica? Onde
está o patrão generoso e amante ardente?

- Sílvia, por favor, libere-me! Perdoe-me se a ofendi, se a prejudiquei! Cometi um erro terrível, esquecendo dos meus compromissos anteriores.

- Por que não se lembrou, quando me envolveu com a sua lábia, de que era homem casado e pai de filhos da minha idade? Só agora se lembra disso, para se desculpar
e fugir?

- Por favor, Sílvia, reconheço meu erro e peço-lhe perdão!

- É muito fácil pedir perdão. E eu, como fico?

- Procurarei reparar meu erro com algum dinheiro!

- Ah! Quer comprar-me! Seu ouro compra tudo! Não quero esse dinheiro, seu velho sovina! Quero você na minha casa. Quero humilhá-lo, como você me humilhou, enxotando-me.
Couro nele! - Gritou aos capangas, profundamente irritada com o diálogo.

Nesse momento, Antônio estava ajoelhado, com o rosto entre as mãos, que encostavam no chão.

Os homens avançaram, desabotoaram os cintos, que eram espécie de corda, trançada e rija. Antônio se aquietou à espera dos golpes; parecia estar acostumado àquele
suplício.

- Quatro, para começar - vociferou a mulher.

Os golpes, alternados e cadenciados, alcançaram a vítima na altura dos rins, de ambos os lados; fazia força para agüentá-los, mas não podia deixar de soltar curtos,
mas angustiantes gemidos.

- Entenda, Sílvia, não posso mais continuar com você...

- Mais seis, porque, pelo que vejo, as outras pouco adiantaram! - Gritou possessa.

E os golpes se sucederam do mesmo modo, só que, agora, podia-se notar que Antônio perdia forças, estava exausto pelo esforço.

- Levem-no e, e que prossiga, com mais rigor, o processo de reparação.

Os homens apanharam Antônio, por debaixo do seu braço, ergueram-no, e arrastaram-no para a rua.

Seguimos atrás. Antônio mal podia caminhar. Deixaram-no andar por si mesmo, porém, vendo que não conseguia, ampararam-no de novo. Chegados à casa, pararam diante
da porta, e da barreira magnética que lhes impedia a entrada. Pegaram-no pelos braços e pelas pernas, um de cada lado, deram dois ou três impulsos e o arremessaram,
violentamente, para dentro da casa.

**

- Que mulher perversa! - Exclamei, enquanto caminhava, não podendo sopitar a minha indignação com as cenas que presenciara. - E essa surra? Antônio parecia sentir
muita dor a cada golpe!

- Não há do que se admirar. Cenas piores do que essas aparecem nos filmes policiais, que invadem os lares através da televisão. Quanto à dor, embora Antônio esteja
sob a impressão da carne, não se pode desconhecer que o seu perispírito é de matéria igual à das cordas com as quais foi golpeado, e essas, naturalmente, lhe produziram
dano.

- Quais vão ser as conseqüências dessa surra? Vai refletir-se no corpo físico?

- Claro que vai afetá-lo. Quando acordar, sentirá dores agudas nas costas, a refletir-se na região dos rins. Talvez passe o dia todo na cama, se não for convenientemente
socorrido.

- Por que não retomou o corpo, quando foi supliciado? O normal, diante do perigo, seria fazê-lo, não é?

- Sim, mas, de um lado, Antônio está sob a ação de sedativos, ministrados pelo médico, e, de outro lado, sofre o controle dos seus perseguidores, contra os quais
não tem forças para lutar.

- Fiquei admirado ao ouvir Sílvia acusar Antônio de tê-la seduzido e enganado com falsas promessas. Foi isso mesmo que ocorreu?

- Nada disso. Ela procura aumentar-lhe a culpa para dominá-lo melhor. Na realidade, ela planejou cuidadosamente toda a trama. Insinuou-se, progressivamente, e com
muita cautela. Facilitou algumas roçadas de corpo a corpo, quando se cruzavam, bem assim algumas oportunidades para conversarem. Vestia-se com sensualidade, a fim
de ser notada. Certo dia, fizeram uma festa, num restaurante, em comemoração ao aniversário da casa comercial, e Sílvia acabou desafiando Antônio a dançar com ela.
Este, ingenuamente, aceitou o convite e, quando o sentiu nos braços, com alguns copos de vinho na cabeça, largou o corpo no corpo do parceiro e aí começou tudo.
Antônio, tomado de surpresa, aceitou o jogo.

Dançaram outras vezes, e a intimidade cresceu ao ponto de levá-la, de automóvel, para casa. No entrar para conhecer, acabou se envolvendo, definitivamente, apaixonando-se
e criando todo esse problema.

- Notei que Sílvia não está informada da iniciativa de Antônio, procurando um Centro Espírita, ou seja, apoio para sair dessa enrascada.

- Penso que não interessa à Organização, que lhe presta serviço, informá-la de qualquer fracasso, principalmente em face dos vínculos existentes, de longo tempo,
entre eles. Como o faria qualquer organização terrena, vão absorver o prejuízo e seguir adiante, agora com mais cuidado.

**

Arremessado com violência, Antônio caiu no hall de entrada da sua casa, quase nos braços de Ruth e de Ana, sua esposa, que o aguardavam, ansiosas, desligadas do
corpo físico.

Quando entramos, Ruth, sentada no chão, já tinha-lhe a cabeça recostada em seu regaço, e alisava-lhe os cabelos grisalhos, com ternura.

- Elas sabem o que está acontecendo?

- Na qualidade de Espíritos, e desligadas do corpo físico, sim. Que quer você, meu amigo? Quando os membros de uma família se amam, sentem prazer em conviver juntos;
ao desprenderem-se, durante o sono, continuam esse convívio, em nível mais elevado, principalmente no caso dos nossos amigos, que são pessoas boas, honradas, embora
suscetíveis de se enganarem, como todos nós.

- Pelo que vejo, não se revoltaram com o procedimento de Antônio.

- Quando libertos do corpo, vemos as coisas com mais lucidez, e podemos julgá-las com mais segurança.

- Se soubessem disso no plano físico, agiriam do mesmo modo?

- Creio que não, porque não teriam o conhecimento integral dos fatos, a lucidez a que me referi.

- E esse conhecimento não se reflete, de nenhum modo, no plano físico?

- Em parte, sim. Diante da situação deprimida e enfermiça de Antônio, o inconsciente, às vezes, ameaça liberar a informação, para justificar logicamente o insucesso
do amigo.

- Mamãe, ajude-me a colocar o papai na cama - disse a jovem, cujas faces estavam molhadas de lágrimas reluzentes.

Ergueram Antônio, com todo o cuidado, e, aos seus gemidos, se angustiaram procurando melhor maneira de segurá-lo, até que o acomodaram na cama, ao lado do corpo
físico.

Depois - ó maravilha! - Ruth ergueu ardente oração a Jesus, suplicando socorro para o pai, ali vencido e supliciado. Ana associou-se a ela, e as duas mulheres se
transformaram em dois pequenos sóis, com realce para Ruth, ao mesmo tempo que, sobre Antônio, descia uma chuva de eflúvios, que lhes jorravam do coração.

Antônio, aliviado, acomodou-se no corpo e, sem acordar, prosseguiu dormindo, em sono reparador.

A um sinal de Arquimedes, fizemo-nos visíveis às duas mulheres.

Diante da luz que se irradiava de Arquimedes, Ruth comoveu-se e prostrou-se de joelhos.

- Oh! Obrigada, Senhor! Vejo que minhas preces foram ouvidas! Mensageiros de Deus, ajudem meu paizinho a sair dessa perseguição terrível! Sabemos que ele tem culpa,
mas o castigo nos parece desproporcionado. Embora tenhamos alguns conhecimentos acerca da espiritualidade que nos cerca, não sabemos como agir, como ajudar de maneira
eficiente. Papai se nos mostra arredio, esquisito...

- Levante-se, filha. Somos seus irmãos, nada mais. Sim, suas preces foram ouvidas e estamos nos movimentando para ajudá-las na solução do problema. Antônio esteve
em um Centro Espírita, pedindo orientação e nosso concurso, o esforço de todos nós, deve dar ênfase ao seu progresso no conhecimento espírita, que nos será o mais
poderoso auxiliar, no seu fortalecimento. Espontaneamente, vai pedir sua orientação para programar os estudos; Facilita-lhe os livros mais apropriados, para que
ganhemos tempo, e a sua adesão total. Consagrem-lhe todo o apoio, muita compreensão, e procurem fazer com que ele se sinta bem em casa.

- Sim, meu irmão em Jesus, prometo fazer de tudo para ajudar papai, e lhe sou imensamente grata pela assistência que lhe vai ser proporcionada. Que Deus o recompense.

- Fica tranqüila, que tudo se resolverá em breve.

Ruth e Ana, emocionadas, regressaram ao plano físico e despertaram, felizes, tentando recompor, na mente, as alegrias daqueles momentos.


III - COMO CAMINHA O MAL


No dia seguinte, eram quase quatro horas, quando Arquimedes me convidou para breve passagem pela casa de Sílvia.

Naturalmente, pensei desde logo, iremos presenciar alguma coisa importante, com vistas ao nosso trabalho de assistência.

De fato. Por indicação de pessoa de suas relações, Sílvia chamou à sua casa, médium muito conhecida no bairro, que ajudava a resolver muitos problemas das pessoas,
com seus recursos espirituais. Já estivera outras vezes, e voltava a pedido da jovem.

Sílvia a aguardava impaciente, e com ela ficamos a fim de acompanhar a entrevista.

Não demorou muito e uma senhora, de meia idade, tez morena, e relativamente gorda, acionou a campainha da porta, sendo atendida prontamente pela moça.

- Oh! Dona Maria das Dores, ando tão nervosa com a minha situação, que me parece caminhar de mal para pior.

- O que houve, minha filha?

- É que o Serra está se afastando cada vez mais de mim. Sinto que vou perder a sua proteção. Chego até pensar que os Espíritos, que a assistem, não estão fazendo
nada por mim, porque não noto qualquer melhora no nosso relacionamento; muito pelo contrário, nosso relacionamento está cada vez mais difícil...

- Que é isso, menina! Você precisa confiar nos Espíritos. Eles nunca me decepcionaram. Acontece que cada pessoa tem a sua área de proteção, e nem sempre é fácil
romper essas defesas. Tenha calma, que o tempo tudo resolve.

- A senhora sempre diz isso, mas o tempo passa e não resolve nada. Já estou ficando desanimada, desesperada mesmo.

- Vou incorporar meu guia; converse com ele, peça orientação, e você vai ver que ele lhe explicará tudo, e que tudo está se processando dentro do possível.

As duas se concentraram e a médium evocou seu guia espiritual.

Prontamente, compareceu um Espírito da Organização, que se aproximou e senhoreou-lhe as faculdades.

Olhei, admirado, para Arquimedes, que, compreendendo a minha surpresa, elucidou:

- Realmente, o guia de nossa irmã é um Espírito que pertence a essa organização das sombras, e lhe presta serviço. Vemos, aqui, uma outra modalidade de empreita
do mal: de um Espírito encarnado para um Espírito desencarnado, através de um médium. É uma modalidade de pacto mais séria, delicada, porque deliberadamente aceita
pelo tomador de serviços, que não age iludido, e, vemos, exige eficiência. O compromisso é bastante claro, e as conseqüências pesarão na economia espiritual da nossa
desventurada irmã.

- Que deseja nossa amiga? - perguntou o Espírito comunicante.

- Quero saber como está meu caso.

- Está tudo bem encaminhado.

- Não me parece, porque o meu relacionamento com o Serra não está bom.

- Ora, as coisas não se fazem da noite para o dia, embora tenhamos muitos Espíritos trabalhando no seu caso, para atender aos seus interesses. Estamos apertando
o cerco e, de um momento para o outro, o peixe cairá, definitivamente, nas redes. Tenha paciência, porque você vai vencer a demanda.

- Está bem, vou aguardar mais algum tempo, vou tentar me controlar. A verdade é que estou passando por dificuldades financeiras e, daqui há pouco, talvez precise
sair me vendendo, pelas ruas, a troco de comida.

- Não exagere. Serra é generoso e não deixa faltar nada a você. Seja mais cordial, atenciosa e alegre com ele, e, com isso, os laços que ainda existem, entre os
dois, não se romperão de uma vez. Pode confiar. Adeus.

A entidade afastou-se. A médium se recompôs e procurou acalmar Sílvia.

- E então, minha filha, mais encorajada, agora?

- Nem tanto, mas me parece que não há outro remédio senão esperar, esperar. Isso me irrita e me cansa; todavia, que seja.

Em seguida, Sílvia procurou sua bolsa, de onde tirou dez cruzados novos, que entregou à medianeira, que se retirou.

- Essa é a parte dela no negócio - esclareceu Arquimedes.

- Quer dizer que, materialmente, só ela é quem ganha, enquanto uma falange de Espíritos vai trabalhar para atender o serviço?

- Exato, mas, por sua vez, um dia, ela mesma deverá prestar serviço em benefício dos demais, que a ajudam agora. Está recebendo, adiantadamente, por coisas que lhe
serão exigidas no futuro.

- Não vejo o que os Espíritos obsessores, e empreiteiros, ganham de sua parte...

- Estes estão vinculados às quadrilhas, à sua direção, e dela recebem favores de alguma espécie, assim como ocorre no plano físico. E a direção, por sua vez, tem
sua paga no poder que desfruta e nas regalias decorrentes do poder.

- Parece-me tão pouco.

- No entanto, é o móvel que aciona as criaturas terrestres. Não vemos, por exemplo, uma pessoa dedicar muito e precioso tempo para treinar em determinado esporte,
a fim de competir, ganhar medalhas, e projetar o seu nome?

- É verdade. No fundo, a maioria luta para se impor sobre os outros, ou destacar-se mais do que os outros.

Sílvia saiu e nós a seguimos. Seu carro estava parado na rua. Montou, e, por nossa vez, nos aboletamos no banco traseiro. A motorista dirigia nervosa, serpenteando
no trânsito para passar sempre à frente.

- Interessante! - apontei - as pessoas cometem tantas imprudências apenas pelo gosto da ultrapassagem. Nossa amiga não está trabalhando nem dirigindo-se a compromisso
urgente, no entanto, guia negligentemente. Já que estamos estudando o problema da obsessão, penso que os Espíritos, usando esse mau costume dos motoristas, poderiam
provocar muitos desastres.

- E provocam. A maioria esmagadora dos desastres rodoviários é provocada pelos Espíritos obsessores, seja atuando diretamente sobre o obsidiado, seja sobre os motoristas,
que faceiam com ele. O veículo tem sido arma eficiente para os vingadores espirituais, facilitando-lhes a eliminação das suas vítimas ou, quando menos, a sua mutilação
ou sofrimento.

Sílvia, de repente, encostou o carro no meio-fio e parou. Do lado oposto da calçada, estava o estabelecimento comercial de Antônio Serra, que se movimentava, lá
dentro, entre as mercadorias.

Sílvia tinha os olhos postos nele e, talvez em razão da ligação mental de ambos, Antônio voltou-se e identificou-a. A jovem fez sinal com a cabeça, e seguiu um pouco
mais adiante, a fim de escapar do raio visual dos empregados da empresa, que a conheciam.

Antônio saiu, muito nervoso, atravessou a rua e, procurando disfarçar, se aproximou.

- Preciso de dinheiro, urgente. Não tenho nem para comer. Não queria procurá-lo de novo, porém, ainda não arrumei emprego. Você pode me arranjar algum?

- Os negócios vão mal, Sílvia. Minhas vendas caíram demais, vou até demitir alguns empregados.

- Tudo bem! Mas, o que preciso não dá para quebrar a firma. Arranje-me, pelo menos, cem cruzados novos, emprestados, pois, vou devolvê-los em breve.

Antônio meneou a cabeça, afirmativamente, e a moça, aliviada, começou a tamborilar com os dedos no volante do carro, até que o homem, retornando com um envelope
na mão, lho entregou.

Por iniciativa de Arquimedes, descemos do auto.

- Tchau, querido. Quando sentir saudades do meu carinho, procure-me. Ainda o espero, diariamente.

Pressionou o acelerador e se foi, deixando nosso amigo, na calçada, pensativo e preocupado. Quando o carro desapareceu numa esquina, voltou à casa comercial. Seguimo-lo.

Arquimedes me indicou, diante das portas da loja, alguns Espíritos integrados na vingança de Sílvia. Quando alguém intentava entrar no estabelecimento, debruçavam
sobre a pessoa e cochichavam algo no seu ouvido. A pessoa parava, hesitante, às vezes, entrava, às vezes, voltava a caminhar pela calçada. Dentro do estabelecimento,
outros espíritos, também, atuavam na tentativa de prejudicar. Se a pessoa conseguia entrar, aqueles influenciavam-nas, falavam no seu ouvido, e elas acabavam não
comprando.

- Está vendo? Os empreiteiros do mal levam a sério o seu trabalho, ao passo que, os que poderiam fazer o bem, arrumam mil desculpas para se esquivarem. Se Antônio
ficar entregue a si mesmo, por mais tempo, vai arruinar-se.

- Meu Deus! Nunca pensei que a opressão fosse tanta. Mas essa moça não vê que se Antônio quebrar, ela perde a galinha dos ovos de ouro?

- Sílvia sabe que já perdeu a galinha dos ovos de ouro. Vai explorar até onde puder, contudo, a sua mente perversa deseja a ruína do
ex-amante.

Antônio havia entrado no escritório, que ficava em dependência dos fundos. Para lá nos dirigimos. Sentado, junto à sua mesa de trabalho, meditava, preocupado. Via-se
que sua tensão era alta, e pouco faltava para pôr-se a chorar. Nisso, tocou o telefone: era Ruth. Quando Arquimedes identificou a interlocutora, aproximou-se do
comerciante, colocou a mão sobre sua fronte e passou a inspirá-lo, revivendo a conversa que teve com José Pedro. O assunto da conversa não era importante, mas a
filha, ao final, deve ter perguntado como ele se sentia, porque respondeu informando que estava bem, embora sentisse alguma dor nas costas, no entanto, menos do
que pela manhã. Sob o impulso de Arquimedes, falou à jovem que tinha interesse em conhecer a Doutrina Espírita e pediu-lhe que lhe selecionasse alguns livros para
iniciar o estudo, convidando-a, finalmente, para que o acompanhasse até o Centro Espírita, onde militava José
Pedro. Deve ter sido apoiado em tudo, porque desligou
o telefone, com um sorriso de satisfação nos lábios.

Achei interessante como algumas palavras apenas, daquela jovem, haviam produzido efeito tão benéfico no ânimo do pai. Oh! O amor! Que força extraordinária tem as
suas vibrações!

- Por aqui está tudo bem! Vamo-nos.

- E essa súcia de Espíritos que está prejudicando o comércio da casa, não podemos espantá-la?

- Até que poderíamos. Mas, prefiro agir de uma só vez. Estamos fazendo um reconhecimento, avaliando a extensão do problema, para depois resolvê-lo. Preciso tentar
um entendimento com Sílvia, antes de tudo, porque se apagarmos o foco do fogo, o incêndio será debelado.

Arquimedes pretendia conversar com Sílvia, assim que esta deixasse o corpo físico, no estado de sono.

Chegamos em sua casa em torno da meia-noite. Acomodamo-nos no vestíbulo, passando pelos mesmos dois Espíritos, da noite anterior, que montavam guarda na sala, segundo
pude deduzir. Não demorou muito e a jovem, liberta do envoltório corporal, apareceu na porta. Estávamos preparados para sermos vistos por ela.

- Quem são vocês? O que querem em minha casa? Quem lhes deu autorização para invadirem meu lar?

As perguntas eram feitas com rispidez incrível, com voz carregada de vibrações pesadas.

- Estamos vindo da parte de Eduardo, seu avô materno, que nos solicitou ajudá-la, visto que passa por momentos difíceis, anda muito nervosa e está assumindo graves
compromissos, cujas conseqüências não pode avaliar. Sou Arquimedes e este é Sérgio, que me acompanha.

- Estou bem. Tenho alguns problemas passageiros, mas não quero meu avô envolvido neles.

- Pois é, ele está apreensivo com o seu relacionamento com um senhor, chamado Antônio Serra.

- Escute, amigo, pelo seu jeito de bonzinho, acho que você está mais interessado em ajudar o Antônio do que a mim. Aliás, já tenho muita gente me ajudando. Agradeço,
mas dispenso a sua ajuda. - respondeu, agora, séria, e mostrando sinais de irritação.

- Tudo bem, você é livre para escolher os próprios caminhos, contudo, sendo amigos de seu avô, estaremos sempre por perto, para, eventualmente, ajudá-la no que for
possível.

- Obrigada. Agora, retirem-se, por favor. Tenho amigos me esperando para providências inadiáveis.

Despedimo-nos e nos retiramos.

Sabíamos quais seriam essas providências. Dentro em pouco, iriam buscar Antônio para, novamente, oprimi-lo e surrá-lo.

Trasladamo-nos, rapidamente, para a casa da vítima.

Antônio, fora do corpo físico, confabulava com a filha e a esposa, recostado em confortável sofá. Estivera no centro Espírita, recebera a ajuda através do passe
abençoado e das preces, lera algumas páginas de O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO, que o confortaram, e a sua disposição já era bem outra.

Daí há instantes, os cúmplices de Sílvia começaram a chamá-lo, desde o lado de fora da casa, tentando atraí-lo magneticamente, com a ajuda dos ovóides, que lhe estavam
incrustados.

Antônio agitou-se, demonstrou súbito mal-estar, parecendo relutar em atender o chamado. As mulheres se emocionaram, pedindo-lhe que orasse e resistisse. Mas a pressão
da sombra era grande, e ele não conseguia articular uma prece.

Foi quando Arquimedes se aproximou, e, movimentando os braços, estabeleceu uma capa magnética ao seu redor, igual a um casulo de luz. Antônio aquietou-se, relaxou
e deixou algumas lágrimas rolarem pela face. Deduzi que havia sentido a ajuda inesperada, e comoveu-se. Era o segundo golpe dado contra o esquema dos empreiteiros
do mal.

Lá fora, os malfeitores também sentiram a interferência.

- Entrou _anjo na conversa - disse um deles -, vamos falar com o chefe.

Dirigiram-se para um barracão abandonado, não muito longe dali, e fomos em sua companhia.

Notei o quanto é triste e significativo o abandono. Vidros quebrados, teias de aranha em profusão, desde o teto, ratos, insetos e mais insetos, o que com um pouco
de limpeza e uso constante, poderia se mostrar belo edifício, parecia um ambiente próprio para filmes de horror.

Estava divagando e observando, quando defrontamos um Espírito de feições duras, e aura vermelho-pardacenta. Era o chefe da região, sob cuja supervisão estavam todos
os membros da Organização.

- Tivemos problemas com o caso Sílvia. O seu ex-amante, hoje, está protegido por _anjos. Não pudemos atraí-lo, apesar de todos os nossos esforços. A casa ainda
está
protegida por barreiras magnéticas, em razão da filha e da esposa.

- Outra vez! Precisamos apressar as providências, senão, daqui a pouco, não o alcançaremos mais. O que sugerem?

- Acho que esse suplício noturno, a que Sílvia o submete, não vai adiantar nada, em face do apoio que tem em casa. Transforma-se em vítima ostensiva, com castigo
desproporcionado, e vão aparecer _anjos em profusão para defendê-lo. Na minha opinião, devemos nos restringir a minar-lhe a saúde, física e financeira.

- Realmente, não sei porque essa mulher teima em repetir esses castigos noturnos. Você tem toda razão. Vamos conversar com ela.

Ato contínuo, seguiram, os três, à casa de Sílvia, acompanhados, de perto, por nós.

A jovem estava impaciente, porque os sequazes não voltavam, demorando-se como nunca ocorreu. Andava de um lado para o outro, praguejando, mordia os lábios e estendia,
de vez em quando, os olhos no retrato de Antônio, que estava no quarto, para mentalizá-lo melhor e dirigir-lhe dardos de perturbação.

Quando entramos, todos, sobressaltou-se em vendo o chefe de serviço que acompanhava os dois companheiros, sem Antônio. Antes que xingasse e explodisse, o chefe tomou-lhe
a frente.

- Sílvia, seu ex-amante já esteve num Centro Espírita, e lá perdemos um dos nossos, que desertou. Agora, meus auxiliares foram buscá-lo, e nada conseguiram, porque
há interferências de _anjos e, neste caso, nossa ação é anulada. Achamos que esse suplício, que toda a noite você teima em lhe impor, está tornando-o resistente
e fazendo com que demonstre muito sofrimento, despertando piedade, que atrai ajuda, que não nos convém.

- Estou pagando para que executem o trabalho como combinamos, e isso inclui esse encontro diário. Preciso descarregar diretamente meu ódio sobre ele.

- Que ódio, se você está querendo que volte para sua companhia?

- Sim, mas para humilhá-lo, E é para humilhá-lo que quero vê-lo aos meus pés, apanhando para aprender.

- Vou consultar meus superiores. Você vai acabar pondo tudo a perder. Já temos interferências poderosas, e não quero assumir a responsabilidade por eventual fracasso.

- Está bem, está bem! - concordou a jovem, prevendo dificuldades no diz-que-diz, que se desencadearia. Mas, veja bem, é preciso que apertem o cerco, porque tenho
muita pressa em resolver este assunto.

Arquimedes olhou-me, significativamente. Havíamos conseguido mais um ponto a nosso favor, estando Antônio livre daquele suplício.



IV - A DEFESA CONTRA O MAL

Estávamos no Centro Espírita, onde Arquimedes se desincumbia das suas tarefas de assistência, integrado em intensos preparativos, com vistas à reunião de desobsessão
que, naquela noite, era o programa da casa.

Inúmeros companheiros, alguns com aparelhagem adequada, limpavam o recinto dos resíduos da emanação mental de pessoas encarnadas e desencarnadas, que freqüentavam
a casa, dando a impressão, que, antes, desinfetavam, para, depois, perfumarem o ambiente, tamanha a modificação que se fazia sentir ao derredor, como se o isolassem
do peso da matéria mental umbralina, que reinava lá fora.

Em salas contíguas, com as saídas protegidas por barreiras magnéticas, já se aglomeravam alguns Espíritos, trazidos pelos tarefeiros da casa, para os entendimentos
necessários, a fim de tentar resolver os casos de obsessão que estavam sendo tratados. Embora se pudesse notar, pela expressão terrível desses espíritos, de que
ali estavam a contragosto, e mesmo com revolta, pareciam contidos em suas manifestações, e não promoviam nenhum tipo de distúrbio ou alarido.


Sabia que eram Espíritos ligados a processos obsessivos e que, se as condições fossem propícias, seriam levados ao entendimento através de instrumentos mediúnicos,
no processo que se costuma chamar _doutrinação, quando são constrangidos a dialogar com o dirigente encarnado, que, na verdade, faz o papel de mediador, ou conciliador,
entre o obsessor e a vítima e, muitas vezes, entre aquele e entidades que se lhe afeiçoam e que perseguem sua renúncia ao processo de vingança, em benefício próprio.

- Vejo que os preparativos são enormes e que já se acham, praticamente, definidos os Espíritos comunicantes, com vistas à doutrinação. Diga-me, já está inteiramente
feita a programação dos trabalhos? Ainda não registrei a presença de nenhum tarefeiro encarnado para requerer providência. Não são eles que, indiretamente, elaboram
a pauta?

- De um lado não se esqueça de que eles estão sempre acompanhados de seus guias ou protetores, e que, assim, conhecemos, inteiramente, as suas intenções. Por outro
lado, o amigo sabe que nós, os Espíritos ligados à tarefa, na verdade, é que selecionamos os casos, encaminhando as pessoas, quando o momento nos parece propício,
para o contato com os nossos amigos pelos condutos da inspiração ou da ação magnética. Se nenhum dos integrantes da equipe faltar, por motivo de última hora, a programação
se cumprirá totalmente.

Nessa altura, chegaram algumas pessoas, que acionaram a iluminação interior, com luzes discretas, fazendo funcionar um equipamento eletrônico reproduzindo músicas
gravadas em fitas, enchendo-se o ambiente de melodias clássicas inesquecíveis.

A equipe de trabalhadores encarnados compunha-se de dez pessoas, sendo três médiuns falantes semiconscientes e um médium inconsciente, estes todos para incorporarem
os Espíritos que deveriam se comunicar; cinco companheiros de posição mental sadia que serviriam para o apoio fluídico, e um médium vidente e audiente, que se incumbiria
de dirigir os trabalhos, e que não é outro senão o nosso amigo José Pedro, que conhecemos quando atendia a Antônio Serra.

À medida que os encarnados iam chegando, tomavam o seu lugar, ao derredor da mesa, e entravam em preparação, mergulhando na meditação e na prece.

Eram exatamente vinte horas, presentes todos os tarefeiros encarnados, quando José Pedro abriu o trabalho, com comovedora prece em benefício daqueles que sofrem,
especialmente sob a espada impiedosa, e quase sempre traiçoeira, dos processos de vingança, que resultam nos casos de obsessão. Orlando, seu protetor, estava ao
seu lado, e lhe inspirava as palavras, que fluíam carregadas de forte emotividade, atraindo a resposta do Alto, pois, suave melodia encheu o ambiente e flores de
luz despejavam-se sobre os presentes, formando uma festa de claridades e vibrações sublimes.

Estavam presentes entidades de elevada hierarquia, algumas com tarefas a desempenhar no programa de assistência, outras interessadas na solução de casos particulares,
relativos a processos dolorosos com pessoas queridas, constantes da pauta.

Finda aprece, e transcorridos alguns minutos, após o êxtase que a chuva de luz provocou em todos, percebi que José Pedro tinha as suas faculdades em fase de intensa
ampliação, vendo e ouvindo o plano espiritual coexistente. Orlando, expressando a direção espiritual dos trabalhos, falava-lhe, baixinho, junto ao ouvido, quero
crer, dando-lhe as instruções iniciais.

Arquimedes postou-se junto à médium inconsciente, a fim de assisti-la, nos momentos do transe, ajudando-a no controle da instrumentação física, que seria cedida
aos comunicantes. Permaneci ao seu lado, observando.

Nisso, dois integrantes da equipe espiritual, mantendo fortemente presa, tomando-a pelos braços, aproximaram uma senhora, de expressão dura e em agitado estado de
revolta, para o contato inicial com um dos médiuns conscientes presentes, um jovem de cerca de vinte e cinco anos. Colocaram a mulher ao seu lado, do lado esquerdo,
e, enquanto um mantinha o médium sob a sua ação magnética a fim de adequar-lhe o campo vibratório ao estado da comunicante, o outro atuava sobre esta de modo a acalmá-la
e ajustá-la melhor para o intercâmbio.

Em breves minutos, parecia que o perispírito do médium e do Espírito se interpenetravam parcialmente, com destaque para a região das espáduas, onde se notava uma
ligação mais forte, e a cabeça do medianeiro.

- Deixem-me em paz! Que querem de mim? - gritou o Espírito, pela boca do médium.

- Seja bem-vinda, minha irmã - falou José Pedro, com suavidade, creio que já nos conhecemos da casa da nossa desventurada amiga Carolina, que você mantém sob terrível
processo de vingança, aniquilando-lhe as forças e provocando-lhe os mais incríveis contratempos. Por que isso, minha irmã? Não sabe, você, que o mal que semeamos
se abaterá, mais cedo ou mais tarde, sobre nós mesmos? Se essa irmã lhe ofendeu, perdoa, e, com isso, você será bem mais feliz, desfrutará de um prazer mais legítimo
e suave, que vem do amor.

- Como você disse, ela semeou e está colhendo. É a lei que está se cumprindo - redargüiu a senhora opressora, firme e impassível.

Mas, a lei, para se cumprir, não necessita que nos vinguemos. A Justiça Divina, que acompanha os nossos atos, tem recursos para punir os culpados, sem as chamas
do ódio que não resolvem o processo. Aí está o seu equívoco, minha irmã - sentenciou o doutrinador.

- Balela. Ninguém vinha castigá-la e, por isso, resolvi eu mesma infligir-lhe o castigo.

- Mas, na verdade, quem está sendo mais castigada é você. Veja, que, mesmo sendo Espírito, com o Universo à frente, ainda está arraigada à carne, presa à nossa irmã
infeliz, talvez mais infeliz do que ela, pois, enquanto aquela resgata uma provável dívida, você está contraindo outro pesado débito. E esse estado de ânimo, essa
angústia, essa tristeza em que você se consome, sem a mais ligeira fresta para entrada de luz e alegria, que a reduz, praticamente, a um estado de animalidade, pode
ser chamado de felicidade? Vamos, minha amiga, liberte-se...

Esse é um problema meu. O ódio, hoje, me alimenta, é a minha motivação e o meu universo. Nada mais quero do que fazer justiça e, como disse, uso as minhas próprias
mãos porque não apareceu, em meu socorro, a justiça de Deus.

- Não diga isso, minha irmã. A justiça de Deus é perfeita. Discuta comigo o seu caso. Vamos examiná-lo com serenidade e, garanto, você vai mudar de idéia. Diga-me,
como nasceu esse ódio.

- Pois bem! Você vai ver que tenho motivos de sobra para a cobrança de faço. Essa víbora, era minha irmã, dez anos mais nova do que eu. Quando morreram os nossos
pais, e ficamos órfãos, eu fiquei no lugar deles e acabei de criar essa ingrata, como se lhe fora mãe. Quando casei, levei-a comigo, para o meu lar, junto ao meu
marido. Pois veja que essa ingrata se enamorou dele e passou a envolvê-lo de mil maneiras sem que eu percebesse, e sem que ele se dispusesse à infidelidade. Essa
serpente trabalhava num hospital, no setor de enfermagem, e se aproveitando da oportunidade de fazer-me curativos na cabeça, em razão de um corte profundo, que ganhei
em uma queda, aplicou-me uma gaze impregnada de material contaminado com puz. A infecção se manifestou violentamente e, quando meu marido procurou o médico, era
tarde demais. Deixei-lhe o campo livre e, é fácil imaginar, estando os dois sozinhos, acabaram se casando. Quando vim a descobrir a trama, brotou em mim este ódio
imenso e, desde então, me agarrei a ela, e não a deixarei até que desencarne...

- Esse tipo de conflito, minha irmã, sempre tem ligação com o passado. Vou pedir aos nossos Amigos Espirituais para que levantem o véu do passado, e mostrem os fatos
que estejam relacionados com esse drama atual.

José Pedro recomendou ao grupo de apoio que fornecesse material, mentalizando, diante do Espírito comunicante, uma tela fluídica. Dentro em pouco, cada um passou
a expelir matéria esbranquiçada, que era recolhida pelos Espíritos instrutores que manipularam uma tela de mais ou menos, um metro por um metro e vinte centímetros.

A senhora comunicante acompanhava tudo com muito interesse e algum espanto, quando, de repente, a tela se transformou num quadro vivo, como se fora cinema, onde
ela se movimentava, dentro da noite, acompanhada de um homem, de condição inferior e olhar sinistro. Chegaram a uma casa de vastas proporções e abrindo a porta,
deu entrada ao homem, que se esgueirou, sorrateiramente, entrando no quarto onde dormia uma jovem de seus quinze anos. Acercou-se dela e, num golpe ultrarrápido,
envolveu-lhe no pescoço um cordel que levava em mãos, e estrangulou-a sem que pudesse esboçar qualquer defesa, ou proferir qualquer palavra. Dir-se-ia que morreu
dormindo. Enrolou a menina num lençol, jogou o fardo no ombro e, passando pela senhora, que lhe entregou uma bolsa, saiu dentro da noite, enterrando o cadáver distante
da casa, em pequeno capão de mato, onde ninguém iria descobrir.

A senhora era tia da jovem, e amante de seu pai, desde que lhe morrera a esposa. Apesar de viúvo, recusava a casar-se por causa da filha, que adorava a mãe e a tinha
na lembrança sempre viva. A tia pensava, também, na fortuna que adviria da herança e que lhe escaparia como amante. Removido o empecilho, depois de algum tempo do
desaparecimento inexplicado da filha, e de longas e exaustivas buscas, acabou se casando com a assassina.

Quando a tela se apagou, José Pedro que acompanhava o seu desenrolar pela vidência, diante da senhora comunicante, fortemente emocionada, argumentou:

- Viu, minha irmã, onde está a raiz de seu drama? Ambiciosa, para satisfação de seus planos, você não titubeou em cortar a vida de uma criança que o destino lhe
colocou em mãos. Um amigo espiritual está me dizendo que a Bondade Divina permitiu que ambas viessem ligadas pelos laços consanguíneos para que, na qualidade de
irmãs, pudessem apagar o passado. Infelizmente, nossa Carolina não resistiu aos mecanismos do inconsciente, e o ódio do passado levou-a ao crime. De qualquer forma,
se você entende que se deve pagar olho por olho e pelas próprias mãos da vítima, nada tem a reclamar, porque está colhendo o que semeou, pagando uma dívida. E tem
mais: você deve é ajudar Carolina porque há muita possibilidade de que reencarne na qualidade de sua neta, com oportunidade para que ela faça muito por você e venham
a se amar, acima de qualquer interesse material, resolvendo o conflito entre ambas.

A senhora pôs-se a chorar e pedir perdão a Deus, e, tendo José Pedro pedido que acompanhasse alguns companheiros que a cercavam, afastou-se do médium, que saiu do
transe.

A sessão prosseguia, e era vez, agora, de se apresentar um Espírito dos mais revoltados, entre os que foram trazidos para o entendimento fraterno.

Os obreiros espirituais da casa aproximaram-no de outro médium, procurando ajudar a adequação fluídica entre o médium e o comunicante, através do seu próprio concurso
magnético e o aproveitamento dos fluidos dos encarnados. Tendo José Pedro notado, pela vidência, que a ligação se completara, entabulou conversa com o espírito.

- Meu irmão, seja bem-vindo. Estamos aqui para ajudá-lo no que for possível.

- Perdão, mas, não dá para acreditar, uma vez que me trouxeram à força. Estou perplexo, porque nada lhes fiz, nada lhes devo, e não entendo com que direito me constrangeram
a vir até aqui, atrapalhando a minha tarefa pessoal. Bela ajuda!

- Mais tarde o amigo vai entender que se trata mesmo de uma ajuda, real e valiosa. Já o conheço de vista. Notei a sua presença na casa do nosso irmão Diamantino
Póvoas, onde você se empenha em aniquilá-lo, sob o jugo de terrível vingança, que executa friamente. Fui aplicar-lhe passes para compensar e neutralizar a sua ação.

- Conheço-lhe toda a família, e não me consta que o senhor faça parte dela. De onde vem o seu interesse, para interferir no nosso caso?

- É que o nosso irmão Diamantino solicitou a nossa ajuda e, juntamente com ele, solicitamos a ajuda de nossos Amigos Espirituais, que, naturalmente, o trouxeram
até aqui. Agora, sou eu quem pergunto: por que está empenhado em arrasar, moral, física e financeiramente, aquele irmão? Que laços terríveis tem esse ódio? Que mal
ele lhe fez?



- Ah! Vejo que o amigo é inteligente: notou que ele deve ter me feito algum mal, para gerar este ódio. Claro, ele me fez muito mal, não só a mim, como a toda a minha
família.

- Nesta existência? - atalhou José Pedro.

- Não. Foi na minha última encarnação, há duzentos e cinqüenta anos atrás. Durante todo esse tempo, não lhe tenho dado trégua. Algumas pessoas do nosso plano de
vida, com muitos recursos espirituais, conseguiram tirá-lo, por duas vezes, das minhas unhas, reencarnando-o. A nossa ligação é muito profunda, e posso dizer que
ele sente a minha falta, acostumado que está ao martírio que lhe imponho, a título de resgate do mal que me fez.

- Meu Deus! E você, não esgotou o seu ódio? Não lhe dá pena vê-lo assim vencido e atormentado, durante mais de dois séculos?

- Pena? Isso é uma coisa que ele nunca teve com ninguém, ou melhor, de uns tempos para cá, com as lições do meu ódio, ele vem descobrindo que não está sozinho no
mundo, que existem outras pessoas, e que essas outras pessoas também têm família, e aspiram a ser felizes.

- Quer dizer, o sofrimento está ajudando o seu progresso?


- Infelizmente, é isso. Às vezes fico irritado e penso em deixar que role por si mesmo, porque o seu coração está muito mais para o abismo do que para a luz. Ele
dá a impressão de ser humilde, porque não tem saúde e nem poder.

- Sem querer ser indiscreto, mas, para matéria de estudo, que mal lhe fez? O amigo pode nos contar os lances dessa triste história?

- Oh, não! Não peça isso! Se for obrigado a rememorar aqueles dias fatídicos, creio que meu coração se encherá de tanto ódio que muitos séculos não consumirão.

- Não teremos chegado na hora de terminar esse processo doloroso? O irmão já percebeu que ele é o único a ganhar, porque está pagando pesada dívida e evoluindo à
custa do sofrimento, enquanto que você, meu amigo, está estacionado Há duzentos e cinqüenta anos, e contraindo, por sua vez, tremendo débito que lhe exigirá, talvez,
muitos outros séculos para resgatar.

- Para mim, parece que tudo foi ontem.

- Mas, vejo cansaço em sua expressão fisionômica.

- Realmente, estou algo cansado, cuidando, diuturnamente, desse animal, mas, ainda não estou saciado... Agora, peço, deixem-me ir. Poderemos até conversar outras
vezes, porém, hoje, já não agüento falar desse assunto.

- Como quiser, meu irmão. Que Jesus o ilumine e acompanhe seus passos, ajudando-o a meditar sobre a vida e os problemas de amor e ódio, felicidade e sofrimento,
que são as nossas alternativas no caminho.

O Espírito se afastou do médium, e não pude sopitar uma pergunta a Arquimedes:

- Isso me parece caso de traição amorosa. Estou certo?

- Não. Embora essa motivação seja a raiz da maioria dos processos obsessivos, aqui, pelo que posso alçar, deve existir uma ligação com os problemas da Inquisição,
das épocas da opressão da Igreja sobre o povo. Mas, não tentemos mentalizar nada, a fim de não prejudicarmos o nosso amigo, que poderia mergulhar, de novo, no passado.

Orlando deve ter percebido a intenção de José Pedro, de perguntar sobre o caso Antônio Serra, porque pediu a Arquimedes que se incorporasse na médium inconsciente.

Arquimedes tocou-a nos ombros e o Espírito, da jovem, se afastou do corpo, postando-se ao lado, enquanto o instrutor senhoreava-se de todas as suas faculdades. O
corpo emprestado, o Espírito da médium e Arquimedes, pareciam fundidos dentro de um globo de luz, no qual se interagiam.



Assim que o doutrinador percebeu a incorporação do instrutor, de pronto, feriu o assunto, que o preocupava:

- Estou com um caso, do nosso irmão Antônio Serra, que me parece muito difícil, desconfiando de que está sob a ação de muitos Espíritos obsessores. Gostaria que
o irmão me esclarecesse algo, a respeito, e me sugerisse algumas providências, na ajuda que estou disposto a dar-lhe.

- Já estamos tratando do assunto. Realmente, ele está sob o fogo cerrado de uma organização das sombras, com a situação se complicando, dia a dia. Recomende ao nosso
amigo que continue o estudo da Doutrina e não deixe de frequentar as sessões de passes, quando poderemos ajudá-lo, na restauração e manutenção das suas forças
orgânicas.

- Ainda que fosse um pouco de cada vez, essa falange não poderia ser trazida para a nossa sessão de desobsessão?

- Estamos providenciando. Na próxima semana, talvez, iniciaremos o socorro mais direto aos obsessores.

- Que problemas outros tem Serra, para estar sob o assédio de uma falange de espíritos?

- O problema dele você conhece. Ocorre que a jovem, à qual inadvertidamente, se ligou, acabou atraindo, em sua ajuda, contra o nosso amigo, a organização das sombras.
Muitas facetas, dos problemas, não aparecem porque se desenrolam durante a noite, nos momentos de desprendimento, quando o Espírito está parcialmente livre. Mas,
não se assuste, tudo sairá bem; a Bondade Divina tem recursos inexauríveis de amor, para abrandar os sofrimentos e erguer-nos para a felicidade e a luz.

Arquimedes se despediu e a sessão continuou com outras comunicações, para a doutrinação, despontando, em quase todos os casos, a inveja e o ciúme, como a motivação
de todos os conflitos.

Encerrados os trabalhos, Orlando se aproximou de nós e abraçando-me, perguntou:

- Nestes primeiros contatos com o mundo espiritual, aqui na crosta, qual é a sua impressão?

- Estou algo desapontado com a constatação de tantas ações más.

- Não podemos perder de vista que estamos em pleno Umbral, onde o mal impera, e que, mesmo entre os encarnados, a porcentagem de Espíritos bons é muito pequena,
no estágio atual da Humanidade.

- Isso é verdade, mas, vejo que os mais sagrados laços afetivos, de repente, são torpedeados pelos mais rasteiros interesses.

- Na raiz de tudo, está o eterno problema da inveja, que a ninguém reconhece o direito de ter uma coisa, a mais, e desfrutá-la. O invejoso libera uma energia, altamente
negativa, que se dirige sobre o invejado, e as pessoas que o cercam, envenenando-lhe o ambiente, fornecendo material para que seus inimigos desencarnados atuem sobre
todos, a partir das pessoas mais sensíveis. Mesmo que não existam esses inimigos, tão só e emanação mental de inveja, basta para perturbar, enfraquecer, desanimar,
as pessoas que alcança, pelos seus efeitos deletérios.

- Além da inveja, pareceu-me haver muito ódio nos corações ofensores.

- Quando a inveja enlouquece, se transforma em ódio, e aquela emanação mental deletéria se transforma numa bomba, de alto poder explosivo, que causa, inclusive,
a morte. Se os Espíritos dessem conhecimento, ao mundo material, de quantas pessoas que desencarnam, ou são arrastadas para longos períodos de sofrimento, sob a
força destrutiva dos pensamentos de inveja e de ódio, a Humanidade entraria em pânico, pois a extirpação desses males, profundamente arraigados no Espírito encarnado,
demorará séculos e mais séculos.

- Agora, que estou vendo, com os meus próprios olhos, não posso duvidar disso, e, se me for permitido, vou procurar alertar meus leitores, para que nunca façam e
nem despejem o mal para quem quer que seja, especialmente, os próprios inimigos.

- E eu vou orar, para que ouçam a sua voz, dos ouvidos para o coração - rematou Orlando, sorrindo, talvez da minha inocente esperança, e deixando-nos à vontade.

- Orlando tem razão, Sérgio. A inveja é filha do orgulho, que nos leva a querer ser mais do que somos, e, sempre mais do que são os outros. Ou somos os maiores,
ou ninguém mais poderá ser feliz; essa a conseqüência do orgulho, na sua feição de inveja.

- A inveja que ataca, ainda me parece pior do que a vingança que retribui, porque, no geral, a pessoa invejada nada faz ao invejoso, e, quase sempre, o desconhece,
nem sabe de onde vem a opressão mental, ou que suas dificuldades se originam de inveja.

- Também penso assim. Afinal, o que os outros conquistam, todos nós podemos conquistar e, a vitória dos demais, deveria ser estímulo para a nossa luta, ao invés
de nos atirar, numa luta inglória, contra os que lutaram e venceram, tão só porque venceram.

- Por isso mesmo, dizem que o invejoso é incapaz e covarde. Incapaz, porque não se julga capaz de alcançar o que os outros alcançam, e, covarde, porque age na sombra,
destruindo sem aparecer e sem motivo justo.

- Mas deverá pagar alto preço por isso.

- O ideal será que ninguém sofra e, assim, que ninguém pague.

- Embora distante, isso é futuro. Até lá, compete-nos amparar os injustiçados, para que não sofram sem motivo justo, e ajudar os opressores, para que se tornem melhores,
e usem sua força em seu próprio benefício, e não para destruir os outros.

- Francamente, não havia pensado nisso. Na verdade, o opressor, além de não usar o seu dom de viver, e o tempo precioso, para a própria edificação, perde tempo,
e luta para contrair pesadas dívidas, que deverá pagar com muitas lágrimas.


V - AS SOMBRAS EM AÇÃO


Eram oito horas da manhã, em ponto, quando Antônio Serra abriu seu estabelecimento comercial.

Já nos achávamos à sua espera. Também os Espíritos, encarregados de prejudicar-lhe a atividade, já estavam apostos, na expectativa de que surgissem os eventuais
clientes.

Iria começar a nossa reação, mais estreita, contra o assédio das sombras, na vida daquele homem, que havia sido colocado sob nossa responsabilidade, quanto à sua
defesa.

Duas entidades caminhavam pela calçada, uma na frente da outra, daqui para lá e de lá para cá, quando Arquimedes foi abordado por um Espírito da Natureza, dos ´que
trabalham com o Cristo, e lhe solicitou permissão para dar-me uma demonstração de como se inicia qualquer desavença entre os seres humanos, predispondo-se a mostrar-me
o seguinte: após mentalizar a ponta do pé, vendo o Espírito perseguidor, que ia à frente, bastante distraído, em companhia de outra entidade espiritual, aplicou-lhe
forte golpe na coxa direita.

Ao impacto, o Espírito saltou de susto e indignação. Sem perguntar nada, porque, para ele, era óbvio que o golpe havia sido aplicado pelo companheiro, arrojou-se
sobre ele, qual se fora uma fera, derrubando-o no solo, engalfinhando-se, os dois, em violenta luta corporal.

O outro, o agredido, sem poder perceber o que se passava, uma vez que a agressão foi rápida, e sem qualquer explicação nem por isso deixou de defender-se, rolava
com o desafeto pelo chão, procurando esquivar-se, dos seus golpes, e, por sua vez, golpeá-lo de todos os modos. Colhido de surpresa, e até que pudesse concatenar
as suas idéias, saiu com nítida desvantagem na refrega, mas já se recuperava, para se impor.

Os companheiros de equipe, que logo acorreram, rodeando-nos na expectativa do desenrolar da luta, não fizeram o mínimo gesto para separá-los. Apenas torciam, incitando-os
à disputa corporal, tomando partido de um ou do outro lado.

Foi quando o agredido, que já se via quase dominado, sacou de longo e fino punhal, golpeando o adversário nas costas, uma, duas, três vezes, até que os amigos, atônitos,
ante o rápido desfecho, resolveram intervir e apartá-los.

A entidade ferida, jazia na sarjeta, de bruços, com sangue que brotava das feridas abertas, jorrando em grosso fio vermelho.

Os companheiros, enquanto alguns detinham o agressor, tomaram o ferido nos braços e saíram, em desabalada carreira, em busca de socorro.

A luta foi rápida. Olhei para Arquimedes, perplexo, com os olhos procurando explicações. Afinal, o pontapé, dado como simples exemplo, havia desencadeado a cena
de sangue, e já me sentia terrivelmente culpado, por não ter evitado o desfecho do entrevero, quando o instrutor, sorrindo, esclareceu:

- Meu amigo, estamos numa espécie de guerra, usando nossa própria estratégia de luta. O golpe não teria maior repercussão se o agredido, com cautela, tivesse pedido
alguma explicação ao outro, podendo, muito bem, ter desfeito o equívoco que permitimos fosse provocado. As conseqüências, assim, correm por sua conta exclusiva.
Não precisa se inquietar, além disso, o Espírito da Natureza atendeu a meu pedido de ação, e não tomou qualquer iniciativa por conta própria.

- Não estaríamos usando suas mesmas armas, que recriminamos, da traição e da mentira?

- Ainda que fosse assim, parece-me que, usando as mesmas armas do adversário, estamos numa luta justa e limpa; claro, não perdendo de vista que lutamos em defesa
de pessoas injustamente oprimidas.

Olhando a poça de sangue vermelho no chão, como se estivéssemos no plano físico, assaltou-me a preocupação de que meus futuros leitores talvez não estivessem em
condições de entender o fato.

Arquimedes, que me acompanhava o pensamento, veio em meu socorro.

- Diga que o corpo espiritual, que chamam de perispírito, é um organismo vivo, à feição do corpo físico, apenas diferenciado, em sua estrutura, na massa que o compõe,
em razão da sua natureza vibratória. A vida não dá saltos, mas, continua integralmente, apenas ressalvada a natureza da matéria, que nos estrutura o corpo, e as
leis que a regem e que, naturalmente, não são inteiramente as mesmas. Explique que temos lágrimas para chorar, temos sangue nas veias (1) e se ingerimos alguma coisa,
que deixe restos, precisamos eliminá-los, quase tudo no mesmo figurino terreno, e tanto mais semelhante a ele quanto mais materializado estivermos.

(1) A menina Sandra R. Muniz, em carta dirigida à sua avó, como se vêm em ESTAMOS NO ALÉM (Francisco cândido Xavier, Espíritos Diversos,
ed. IDE, p. 51), diz textualmente:
"Aqui me mudaram todo o sangue, não sei se você pode compreender isso, mas é assim mesmo". Ver também MISSIONÁRIOS DA LUZ (André Luiz, 21, e., FEB. C. 11, p. 141
e
142) e GRATIDÃO E PAZ (Espíritos Diversos, 1ª ed. IDE, p. 92), ambos recebidos por Francisco C. Xavier.

- Isso vai assustar muita gente.

- Por que pensa assim?

- Porque eu mesmo, apesar de espiritualista, tremeria nas bases, só em pensar que o flagelo das doenças, e as nossas fraquezas físicas, não desaparecem no túmulo.

- Seria apenas uma perplexidade momentânea. O raciocínio lógico, fatalmente, conduziria logo à compreensão de que os nossos problemas, de ordem física, se extinguem
à medida que deixamos de nos sentir _corpo, para nos sentirmos exclusivamente _Espíritos, ou melhor, quando a nossa natureza material vai cedendo lugar à nossa natureza
espiritual.

Ia aprofundar o assunto, que me pareceu interessante, mas, Arquimedes, indicando-me o fluxo de pessoas que vinham pela calçada, pediu-me para que anotasse a diferença
do comportamento dos transeuntes, sem a influência perniciosa da súcia que os espantava.

De repente, começaram a entrar clientes na loja, que acabavam comprando alguma coisa. À medida que o estabelecimento ia se repletando de gente, as pessoas que passavam,
atraídas pela curiosidade, ante o aglomerado que se formou, também acabavam entrando.

Facilitado pelo fato de que os preços estavam baixos, pois Antônio os remarcou para tentar a retomada das vendas, estas cresciam, para alegria de todos, desde as
balconistas, que estavam desanimadas com o pouco resultado a que chegaram, com movimento quase a zero.

- Que beleza! Nunca imaginei que alguém pudesse ir à ruína com tanta facilidade, tão só pela ação de Espíritos malfazejos, como constatei aqui. Agora, Antônio vai
se recuperar facilmente.

- Não tão fácil assim. Daqui a pouco, os malfeitores estarão de volta, e vão tentar a mesma interferência. Vamos ter trabalho para o dia todo.

- De que forma vamos reagir, quando retornarem?

- Pelo método mais recomendado ante a ação de obsessores: vamos cansá-los, vencê-los pela exaustão. Quando tentarem gritar nos ouvidos dos clientes em potencial,
para afastá-los, vamos envolver-lhes a cabeça, com fina rede magnética, da nossa criação mental, que os isole da influência.

Não demorou muito tempo, e o grupo de malfeitores retornou para a loja, a fim de executar o seu trabalho persuasivo. Vendo-a repleta de gente, com muitas pessoas
entrando, e outras saindo, sobraçando pacotes de mercadorias adquiridas, ali no negócio condenado e perseguido, uma voz de comando logo se ergueu:

- Vamos ao trabalho! Vejam como perdemos terreno rapidamente. Se o chefe constatar este abandono,estaremos fritos.

E a súcia se lançou à luta, gritando nos ouvidos das pessoas, fora da loja, e dentro dela, para que não entrassem ou comprassem. Por mais que gritassem, e ameaçassem,
ninguém mais atendia-lhes ao apelo, continuando o movimento fervilhante, e as vendas num crescendo.

Quando tudo ia nesse ritmo, Sílvia apontou com seu carro na esquina e, vendo o grande ajuntamento de gente dentro da loja, diminuiu-lhe a marcha para constatar o
que se passava.

Notou muitas pessoas saindo com compras, ficou possessa de raiva, praguejou no mais baixo calão, e seguiu, à toda velocidade, a fim de não ter que presenciar mais
nada.

- Caramba! Ali está Sílvia, - disse um dos Espíritos, indicando-a aos demais. - Está louca da vida com o nosso fracasso. Esta noite, se puder, vai nos esganar.

Depois de algumas horas de tentativas frustradas, quando já tinham gasto todo o arsenal de truques que sabiam, ouviu-se, de novo, a voz do líder:

- Aqui tem mão de _anjo! Não é possível que, de um momento para outro, sem mais nem menos, percamos todo o nosso poder de interferência e persuasão. Continuem tentando.
Vou falar com o chefe.

Já estava cansado de tanto armar e desarmar o capacete protetor, mas, valia a pena o esforço diante da frustração dos nossos adversários, e do volume de vendas que
a loja realizava.

Não demorou muito, e surgiu o comandante, aquele mesmo Espírito que conheci no armazém abandonado. Parou, calmo, analisando os fatos, tentando decifrar o enigma.

- Realmente, aqui deve ter _anjos atrapalhando, esses covardes que não se mostram para lutar, frente a frente, usando seus poderes magnéticos para fugirem. Mostrem-se,
seus palhaços!

Claro que não iríamos nos mostrar. A ira do chefe era sinal evidente de que já aceitava ter perdido a luta.

- Vamos embora. Vou pedir novas instruções. Voltaremos amanhã, - gritou gesticulando para que seus asseclas o seguissem.

- Pronto! Ganhamos mais uma batalha. Já se fora...

- É o que você pensa. Esses Espíritos são manhosos; aliás, eram manhosos na carne. Pensam que, com essa declaração solene, vamos nos retirar deixando-lhes campo
livre, para que retornem à ação maléfica.

Arquimedes tinha razão. Não demorou uma hora, e eis a turba de volta, arrojando-se sobre os transeuntes.

Voltamos a agir, e as tentativas do grupo não produziam qualquer resultado. Ninguém lhes dava ouvidos. Mas não desistiram. Penso que, eles também, queriam vencer-nos
pelo cansaço.

Não foi fácil sustentar aquela luta intensa. Às vezes, quando o volume de pessoas era muito grande, não dávamos conta de proteger a todas e, algumas delas, eram
influenciadas, e se afastavam.

No final do dia, nossa vitória se mostrava esmagadora. Estávamos felizes com a felicidade do nosso amigo Serra e de seus empregados, todos atônitos com o grande
movimento.

Já sozinho, ao fechar a loja, de olhos molhados, viam-se na tela mental do comerciante as cenas dos seus contatos com José Pedro, que lhe prometera ajuda e proteção.
E, embora baixinho, ouvi quando disse, comovido:

- Obrigado, meu Deus!

****

Passava da meia-noite quando chegamos à casa de Sílvia, que não havia, ainda, se desprendido do corpo físico. Mas não demorou muito para surgir, com a carantonha
disforme e vermelha de ódio.

Ganhou a rua e seguímo-la, a passos rápidos, porque ela demonstrava pressa, queria desabafar, cobrar atenção e eficiência. Chegando ao barracão abandonado, varou
os escombros e detritos, indo diretamente onde se encontrava o responsável pela operação, na área.

- O que está acontecendo com você?Venderam-se para a parte contrária?? Ainda há pouco, impediram-me de aliviar-me surrando aquele patife durante a noite. Hoje, passei
pela sua casa comercial e vi, estarrecida, um tremendo movimento de vendas que num só dia, creio capaz de recuperar-lhe as finanças de todo este tempo de intervenção.
Estou pagando e exijo uma explicação razoável.

- Calma, Sílvia. Agora nosso homem ganhou proteção de Espíritos que não vemos e com os quais não podemos lutar. Estive o dia todo preocupado, buscando contornar
a situação. Procurei meus superiores, e a estratégia que nos resta é a de desestabilizar-lhe o apoio no lar, ao invés de nos concentrarmos na sua ruína financeira.
Claro que vamos continuar tentando prejudicar-lhe os negócios mas, a ordem, agora, É bater Serra em casa, e isso vai depender muito de você.

- De mim?

- Sim, de você. vamos gravar-lhe um procedimento mental, para que você o execute amanhã com segurança e determinação. Queremos que escreva uma carta, para sua filha,
denunciando-lhe o adultério. A menina é a sua principal base de sustentação e, se cair na revolta e no desânimo, passará, sem o saber, do nosso lado, com sua mãe.
Vamos apertar o cerco e para isso, necessitamos agarrá-lo à noite, durante o sono.

- Isso não vai adiantar nada. Conheço bem aquela garota. É cheia de piedade e vai perdoar o pai.

- Veremos. Mulher nenhuma gosta de ser enganada, e a filha adora o pai. Não a piedade que apague essa traição. Além disso, precisamos nos apressar, porque os _anjos
já estão nos atrapalhando bem.



- Pois bem! Farei a minha parte, contudo, não me venham com mais desculpas esfarrapadas, pois, se tornarem a fracassar, irei reclamar diretamente aos maiores da
Organização.

- Está bem. Viremos mais tarde para a programação hipnótica.

Sílvia, com a mesma velocidade que entrou
Saiu em direção à sua casa seguida por nós.

Depois que já estava confortavelmente instalada na poltrona de sua casa, fizemo-nos visíveis e varamos por sua porta.

- Ora! Ainda não aprenderam as mais comezinhas regras de educação que manda bater à porta, na casa alheia?
- Explodiu logo a jovem, fulminando-nos com olhar de revolta. Tenho pensado em vocês. Creio que são os intrusos que prejudicam os meus planos e a ação do meu pessoal.
Que têm vocês com isso?

- Já lhe disse, e insisto, que seu avô, Eduardo, pediu-nos que procurássemos ajudá-la, e rogamos que nos dê uma oportunidade, conversando.

- Não quero saber de vocês.Por favor, desapareçam! Saiam daqui!

- Seja razoável, Sílvia. Seu avô, que é pessoa amiga, está muito preocupado com os desdobramentos de seu caso com Serra, e pede que você recue da sua pretensão de
prejudicá-lo, ainda mais, assumindo compromissos muito sérios com o futuro.

- Prejudicá-lo ainda mais? Quer dizer que já prejudiquei o coitadinho! Não entra nas suas cabeças, que ele se aproveitou da sua condição de patrão para me submeter
aos seus caprichos de homem?Que fez, quando se sentiu saciado? Simplesmente expulsou-me, e perdi até o emprego, que era o meu ganha-pão.

- Não fantasie, Sílvia. Você planejou bem, e executou ainda melhor, a conquista desse homem.

- E daí? Ele é muito experiente, tem idade para ser meu pai, e deveria orientar-me, ao invés de submeter-me. Fora daqui! Não devo explicações a ninguém, e muito
menos quero ser julgada por quem quer que apareça, intrometido, na minha vida, ainda mesmo em nome de meu avô, a quem muito respeito. Fora!

Sílvia abriu a porta, e nós passamos. Assim que esta se fechou, com tremendo estrondo, fizemo-nos de novo invisíveis.

- Que mulher! Não dá qualquer chance para que possamos ajudá-la.

- O que ocorre, Sérgio, é que ela sabe que está errada, e não quer admitir isso. Numa conversa franca, não teria argumentos para sustentar seu capricho de penalizar
Antônio Serra.

- No momento estes contatos rápidos não são prejudiciais?

- Não. Agora ela tem consciência de que nós, e seu avô também, sabemos da sua trama. Embora não pareça, creio que isso vai pesar muito.

Voltamos ao quarto e, realmente, a jovem estava pensativa, talvez ruminando as palavras de Arquimedes. Foi quando entraram três Espíritos da Organização, sendo um
deles o chefe do setor, que foi logo dizendo:

- Viemos magnetizá-la, prepará-la para a ação fulminante de amanhã.

- Você acha que isso vai dar certo?

Ante a pergunta reticente, Josias, esse era o nome do chefe, ao que me pareceu, não quis assumir plenamente a responsabilidade pela providência um tanto drástica

- Isso é coisa que não garanto. O que sei é que se deseja mesmo levar avante a sua desforra, devemos agir com rapidez. Da minha parte, já ativei a ação dos ovóides
que implantamos em Serra, e logo vão aparecer os sintomas físicos dessa investida.

- Tudo bem. Não sou pessoa de recuar nos meus propósitos.

- Josias mandou que Sílvia se acomodasse numa poltrona, e, enquanto um dos magnetizadores aplicava-lhe passes do alto da cabeça até a nuca, passou a hipnotizá-la.

- Relaxe, relaxe! Conserve a sua mente igual a uma folha de papel em branco. Nada pense, não force a sua imaginação. Relaxe, relaxe! Para você, agora só existe a
minha voz, nada mais você ouve ao seu redor. Vou lhe ditar uma ordem que deve ser cumprida, amanhã cedo. Quando você se levantar, ao pegar a escova de dentes, sentirá
muita solidão, ódio imenso de Antônio Serra e necessidade de escrever uma carta. Sim, uma carta que vou lhe ditar nos ouvidos, no momento em que se sentar para escrever.
Essa é a ordem que eu, a voz que comandará a sua vontade, estou registrando na sua mente. Vou repetir.

E, depois de repetir várias vezes esse texto, enquanto Sílvia se mantinha em estado de sonolência, fez com que ela retomasse seu corpo para dele não mais sair,
durante o sono, naquela noite.



Sílvia, levantou-se, algo preocupada. Josias já estava ali à sua espera.

A jovem dirigiu-se à cozinha, levou ao fogo velho canecão com um pouco de água e passou a arrumar a mesa, para tomar o seu café, que preparou, em seguida, na base
de leite e café solúvel para ganhar tempo e porque vivia só.


Dali se dirigiu ao banheiro; lavou e enxugou o rosto, parou alguns instantes se contemplando no espelho, alisando a pele fresca e macia, como se lhe procurasse defeitos.
Abriu o pequeno armário de parede, dentro do qual estava o seu material de uso pessoal tomando, em uma das mãos, o tubo de pasta dentifrícia e, na outra, a escova
de dentes.



Nesse momento, sentiu um calafrio, pensou na morte e sentiu-se, profundamente só, entre aquelas quatro paredes, frias e silenciosas. Teve medo do futuro. A custo,
conseguiu escovar os dentes mas, enquanto assim fazia, seu pensamento voou para Antônio Serra.

- As coisas iam tão bem! - Pensou. Por que o amante a teria abandonado? Não lhe dera nenhuma explicação, convincente, e sem dúvida, foi um golpe muito baixo demiti-la
do emprego, depois, abandoná-la naquela situação que se agravava, dia a dia.

Josias se aproximou dela e a enlaçou, encostando cabeça com cabeça,como se lhe quisesse interpenetrar, mente a mente.

Sílvia, passou a alinhar, mentalmente, todas as suas dificuldades, debitando-as, todas, a Serra, e, num crescendo, foi se
enchendo de estranho ódio, que lhe escapava
do controle, excedendo aquele que sentia.

Precisava castigar o desertor ingrato. Mas, como agir para alcançá-lo? Não era justo que ela, e apenas ela, ficasse sozinha e desprotegida, enquanto o hipócrita
desfrutava do aconchego e da proteção da família, que enganava. Por que o adúltero e poderoso senhor deveria ficar impune, ao passo que ela, que lhe serviu de pasto
estava ali sem mais ninguém. - Oh, não!
- Pensou nervosa. -, Vou desgraçar com a sua família ou melhor, vou por os pingos nos is, para que, cada um, arque com a sua parcela de responsabilidade. Pensou
em Ruth, que Serra muito amava, e para quem o pai era um ídolo. Escreveria uma carta à jovem para que soubesse da verdadeira qualidade do pai, e ela, certamente,
iria depressa contar à mãe; sim, porque, nessa hora, a tendência da filha é defender a genitora. Estava traçado o plano e decidiu executá-lo.

Largou a escova de dentes, que parecia pesar muito entre os dedos, e, afoita, enxugou as mãos, dirigindo-se para pequeno console, de onde retirou algumas folhas
de papel e uma caneta esferográfica.

Sentou-se à mesa, e, sob a inspiração dominadora de Josias, escreveu, rápida, sucinta carta, que colocou em um envelope e fechou, ao contato molhado da língua.

Vestiu-se e saiu, levando a carta consigo. Dirigiu-se à casa de Serra. Eram mais ou menos, nove horas, e este já estava na sua loja comercial. Ruth ia à escola depois
do almoço. Parou o carro junto a um garoto, deu-lhe algumas instruções precisas e dinheiro. De onde estava, conseguia ver bem a porta da casa.

O menino tocou a campainha e, logo em seguida, Ruth abriu a porta. O garoto entregou-lhe a encomenda e saiu em desabalada carreira, antes que lhe fosse feita qualquer
pergunta.

A jovem assustou-se, tremeu, diante da inesperada fuga e, antes de vê-la, sentiu que havia algo estranho naquela carta.

Quando a porta se fechou, Sílvia, sorridente, acelerou o carro e sumiu. Agora era esperar o resultado da ofensiva.
****

Ruth, pressentindo algo ruim, ocultou a carta entre as vestes e partiu para o seu quarto, onde se trancou.

Colocou a carta sobre a penteadeira e sentou-se, trêmula, diante do espelho que a encimava.

Deixou correr alguns minutos, para refazer-se e criar coragem. A missiva, magnetizada pelo ódio, não poderia deixar de perturbar-lhe a alma sensível. Por isso, surgiram-lhe
o pressentimento.

Porque o menino se recusara a dizer quem o mandou e, além disso, fugiu, pensou em não ler a mensagem, em atirá-la no fogo, para que se consumisse.

Era, porém, jovem responsável. E se o pressentimento fosse falso? - pensou -. Talvez fosse alguém pedindo-lhe algum tipo de ajuda, como já lhe havia ocorrido antes.

Ruth permaneceu longos minutos nessa indecisão, entre a vontade de fugir, destruindo a carta, e o dever de assumir o que a vida lhe trazia, sem ela haver pedido.

Finalmente, pegou o envelope com a mão esquerda e, com a direita, retirou a carta. Desdobrou-a diante dos olhos, pondo-se a lê-la.

De repente, sem que houvesse tido tempo para ler tudo, amassou-a e jogou-a sobre o móvel trêmula e ofegante, levando a mão ao peito, como se houvesse sido atravessada
por agudo punhal.

Suas faces, que se cobriram de rubor, estampavam espanto e medo. De seus olhos correram lágrimas quentes, como lavas de um vulcão que se lhe tivesse explodido no
ser.

Meu Deus! Isso não é verdade, isso é calúnia! Protestou baixinho, enquanto se jogava sobre a cama e dava livre passagem à torrente de lágrimas, que lhe brotou do
coração angustiado.

Depois de mais ou menos meia hora, em que se sentiu incapaz de pensar, lembrou-se de sua mãe, e se recompôs, temerosa de que pudesse suscitar-lhe alguma preocupação,
diante de seu desespero pouco comum.

Dobrou a carta fatídica, ocultou-a o melhor que pôde, e retomou o seu dia-a-dia, procurando agir como se nada lhe tivesse acontecido.

Iria analisar bem as coisas, para que não tomasse decisão errada. Sentiu que o objetivo da carta era a destruição da sua família e, por isso, cabia-lhe agir com
cautela.

Vii Intriga versus amor

Acompanhamos, Arquimedes e eu, durante todo o dia, a nossa tutelada, que fora sacudida por violenta tempestade interior, de quem a vida, aparentemente, cobrava pesado
e prematuro tributo de compreensão humana e filial.

Enquanto transcorriam os minutos, sua mente vagou por todo o passado feliz. Revia o pai, atento a aos deveres do lar, como se fora um apóstolo. Sentia-lhe, de novo,
os seus carinhos de pai amoroso quando a enlaçava, e a ternura com a qual lhe domava os caprichos infantis. Adorava o genitor, por motivos justos, uma vez que dele
recolheu tantos transportes de afeto. Seu lar era um ninho da felicidade, verdadeira bênção de Deus, onde nunca experimentara um sofrimento sequer. Ponderou sobre
a camaradagem e afeto que uniam seus pais, e repelia a idéia de que algo tivesse mudado, de um momento para outro, abalando aquela base granítica, que lhe sustentava
o lar.

Era como sonhar acordada, divagando no passado e experimentando, de novo, tão doces e gratas emoções. O enlevo era tanto, que, por momentos, esqueceu-se do problema
presente, mas, logo em seguida, veio a sofrer intensa emoção, que tinha a força de tremendo terremoto a balançar as paredes de sua casa.

Lembrou-se dos últimos meses de seu pai. A princípio, estranhamente remoçado cantarolando às vezes, saindo da sua habitual posição de pessoa preocupada. Depois,
o seu nervosismo crescente, o abatimento que lhe comprometia a saúde, dia a dia. Atribuíra tudo à queda evidente dos seus negócios, mas, agora, repensava tudo e
admitia que, talvez, fosse outro o motivo, esse da denúncia torpe que a sacudira.

Um frio correu-lhe pelas costas, diante do pensamento que a assaltou: e se tudo fosse verdade? Como ficaria sua querida mãezinha? Como deveria se sentir, ela mesma,
que, conforme a notícia, tinha quase a mesma idade da suposta amante. Como agir? Condenar o pai? Desmascará-lo. Expô-lo à execração pública, ele que lhe dava tanta
proteção e carinho, que a amava profundamente? Que forças do destino eram aquelas, emergidas, de repente, como labaredas de fogo destruidor?

Durante todo o dia, a jovem tinha o rosto molhado por lágrimas furtivas, que tentava estancar, para não denunciar-se.

Na verdade estava se preparando, intensamente, para enfrentar o problema. Lembrou-se de José Pedro a quem endereçara o pai, quando o viu muito aflito e doente, e
decidiu consultá-lo. Usaria toda a franqueza, porque o amigo, acostumado com os problemas humanos, que tanto ajudava a solucionar ou mitigar, estaria em melhores
condições do que ela, para definir rumos a seguir, evitando qualquer prejuízo maior. Telefonou-lhe, quase no final da tarde e, tendo se disposto a atendê-la, rumou
para o encontro

- O que houve, minha filha, que a vejo tão nervosa?

- Surgiu-me um problema muito sério, diante do qual, sinceramente, não sei como agir. Por isso, vim procurar os conselhos da sua experiência. Recebi, hoje, pela
manhã, esta carta, - e a entregou trêmula.

José Pedro já conhecia o problema e sabia que caminhava para uma solução, mas, o conteúdo da carta, a vibração do ódio que a impregnava, entristeceu-o, o que foi
notado por Ruth.

- Que pena! Como pode existir gente assim!

- É verdade, que pena! Sempre há muito pouca gente para ajudar, mas, para destruir... - respondeu-lhe reticente o amigo, enquanto dobrava a carta -. Vamos partir
do pior. Digamos que seu pai tenha, realmente, se envolvido, inadvertidamente, com essa jovem. De
princípio, caminhemos com a lógica. Nós somos perfeitos? Claro
que não. Somos pois, suscetíveis de errarmos, de nos equivocarmos, em determinada situação. Isso nos leva ao entendimento de que, o caso, deveria ser tratado com
muita ponderação e tolerância, sem qualquer julgamento mais apressado. Vejamos os antecedentes. Serra, algum dia, negligenciou as suas obrigações no lar? Desligou-se
por momentos mesmo, afetivamente de sua família?

- Que eu saiba, não, - respondeu maquinalmente a jovem, que lhe acompanhava o raciocínio.

- Você, principalmente, que lhe domina as emoções, alguma vez sentiu que seu amor houvesse diminuído?

- Nunca. Papai sempre nos tratou com muito carinho e lutou como um gigante para manter-nos dentro de razoável conforto material.

- Os antecedentes são bons.

- Claro que são. Seria ingratidão, da minha parte, acusá-lo de qualquer negligência

- Então, podemos conceder, ao seu pai, um crédito muito grande de compreensão e reconhecimento, antes de julgá-lo, como ser humano, e não como algo divino e sujeito
à lei da infalibilidade, que é prerrogativa exclusiva de Deus. Digamos que, num momento de indecisão e fraqueza, ele tenha cedido à tentação. Se o condenarmos, a
situação se resolverá em benefício da família?

- Creio que não. Não sei como mamãe reagiria à notícia. Apesar de amá-lo muito, tenho certeza disso, ela também é humana.

- E você?

- Hoje pensei muito, e posso compreendê-lo, aceitar o seu erro.

- Pode perdoá-lo?

- Perdoá-lo de quê?nunca pediu-me conta dos seus atos. A situação me preocupa mais por ele, pela luta interior que deve estar travando, e que lhe mina a saúde. Não
sou dona do seu coração, embora entenda que a família é um compromisso, de mútuo devotamento, muito sério. No entanto, Não podemos
escravizar a ninguém. Vejo-o em
iminente perigo, de auto-destruição, e quero ajudá-lo. Por isso, vim aqui.

- Que Deus a abençoe, minha filha, pela lucidez e compreensão que demonstra!Faça isso, ajude-o.

- Mas como poderei fazê-lo?

- Sugiro que o procure e, sem assumir qualquer posição de julgamento mostre-lhe a carta, deixando que seu coração se extravase livremente. Transmita-lhe, no olhar,
essa sua disposição de apoio e compreensão. Creio que, com isso, metade do problema estará resolvido.

Dali mesmo, a jovem telefonou ao pai, pedindo que a esperasse, embora devesse chegar logo depois de fechada a loja.

José Pedro animou-a e oraram juntos, pedindo, aos Espíritos do Senhor que ajudassem na solução do problema.

Passavam dez minutos das seis da tarde, quando Ruth chegou à loja. Abraçou o pai, que a esperava, e beijou-lhe, ternamente, a fronte, dando-lhe testemunho do seu
carinho. Sentaram-se. Não sabia como começar. Houve um momento de indecisão, um vazio desconcertante.

- Que houve, minha filha?

- Antes, papai, leia esta carta, que recebi hoje.

Antônio Serra sentiu qualquer coisa de muito grave, e a carta pareceu-lhe pesar o mesmo peso do mundo. Desdobrou o papel e, de olhos espantados, depois tristes,
depois molhados, passou a ler, mentalmente:

"Querida Ruth.

Perdoe-me o anonimato. É que o assunto é muito escabroso, me dói muito feri-la, e não teria explicações detalhadas para dar-lhe, se fosse procurada.

Sei que, há alguns meses, seu pai, Antônio Serra, se envolveu com uma jovem que trabalhava na sua firma.

Segundo consta, ele a perseguia obstinadamente, ameaçou-a de dispensa, e tudo fez para seduzi-la.

A pobrezinha, que não tem pai, e nem mãe, vivendo só neste mundo tão difícil, acabou por render-se à sua sanha.

A infeliz chama-se Sílvia e mora à rua ..., onde você poderá encontrá-la, a qualquer hora do dia, pois, já não trabalha, vivendo às custas da bolsa generosa do seu
pai.

Não gostaria que você o visse: que quadro horrível! Um velho, de braços com uma menina que tem quase a sua idade, ou beijando-a, descaradamente, dentro do seu automóvel,
estacionado na via pública.

Que despudor! Como pode alguém trair a família, a esposa e a filha, com tanta desfaçatez?

Perdoe-me, querida, mas não agüentei calar-me. Sou mulher, e dói-me vê-la assim enganada.

Se você quiser prova disto, sei que amanhã, às duas horas da tarde, ela vai procurar seu pai, na loja, para pedir-lhe dinheiro, e grosso, para pagar-me cara jóia
que lhe vendi.

Uma amiga."

Antônio Serra não sabia onde enfiar a cabeça para esconder o rosto, e a sua vergonha, dos olhos da filha. Não tinha coragem de fitá-la.

As lágrimas lhe corriam pela face, ardentes e abundantes, enquanto lia aquela denúncia torpe e deformada. Tremia, e o papel chegava a farfalhar em suas mãos.

Ruth acompanhava-lhe as emoções, procurando dissimular as suas. Fazia uma força terrível para não cair em pranto também, abraçar o pai e enxugar-lhe as lágrimas,
que falavam, mais do que quaisquer palavras, da sua tristeza e do seu arrependimento.

Longos minutos correram, que pareciam eternidade, até que Serra se recompusesse, tomando o leme de si mesmo, depois de rolar nos vagalhões da sua vergonha, diante
da filha, que tanto amava, e que tanto o amava também.

- É verdade, minha filha, confesso que errei. Não culpo a ninguém, assumo toda a responsabilidade pelo que fiz. Fraquejei, e estou pagando alto preço por isso. Tenho
tentado desligar-me do problema; isso porém, não tem sido fácil. A gente cai num segundo, e parece que demora séculos para levantar-se. Perdoe-me, querida. Posso
avaliar a sua tremenda decepção, e acho justo que você esteja revoltada. Foi bom que acontecesse assim. Que alguém provocasse este entendimento, pois não sabia como
agir, como pedir socorro a alguém...

Serra não pôde continuar. As lágrimas jorravam-lhe dos olhos, aos borbotões; seu peito parecia estrangular-se, pela vergonha e desespero que lhe possuíam, inteiramente.
Dobrou a cabeça sobre a escrivaninha e chorou com fortes e repetidos soluços.

Ruth comoveu-se. Alisou os cabelos, que começavam a ficar grisalhos e, sem poder conter-se chorou, abraçada à cabeça paterna.

O quadro era comovente, e nos arrancou lágrimas, também, ao coração.

- Que menina valorosa! Mereceria este sofrimento?

- Sim, Sérgio. Ninguém carrega cruz alheia. Embora não se relacione com os personagens do instante, Ruth, no passado, deixou a família e comprometeu a existência
dos seus membros, assumindo pesada responsabilidade perante a vida. Conheço-lhe o valor e sei que vai ser fator decisivo na recuperação do genitor, que caiu nas
malhas de intrincado processo obsessivo. Isso apagará sua culpa pretérita, aliviará seu coração. Veja que até de uma aparente infelicidade podemos tirar proveito.

- Esse proveito de Ruth, por si só, não justifica o erro de Serra?

- claro que não. O erro do nosso amigo é compromisso seu, como a perseguição de Sílvia corre por sua conta. Isso não impede que a jovem, doando do que é seu, do
seu amor, alivie a alma de compromisso pretérito. Aconteceu porque aconteceu, e ela sai ganhando porque faz por merecer. Estamos, aqui, dentro dos estritos limites
da lei, que manda dar, a cada um, segundo as suas obras.

- Como vai ela ajudar o pai, daqui para a frente?

- Com o nosso apoio, vai ajudar o genitor a tomar algumas decisões importantes, no que respeita à ajuda espiritual de que necessita. Penso que devemos começar inspirando-a
para que procurem, de novo, nosso amigo José Pedro, pedindo-lhe ajuda. Este desencadeará, desde o plano físico, o processo de assistência, que livrará Serra do assédio
dos seus terríveis obsessores. Aguardemos.

Pai e filha continuavam abraçados e chorando, num desabafo necessário para expurgar os seus medos e angústias.

Em dado instante, Serra deu-se conta de que a filha, enquanto dividia as suas lágrimas, passava-lhe a mão na cabeça, ternamente, o que era evidência de que ela não
o condenava, não o repelia. Diante disso, se recompôs, enxugou as lágrimas, ergueu a cabeça da menina, que chorava, olhou-a nos olhos, e disse em tom suplicante:

- Minha filha, preciso da sua ajuda! Ajude-me, por favor, a resolver este drama!

- Conte comigo, papai.

- Não sei o que fazer, por onde começar...

- E se formos juntos conversar com José Pedro? Talvez nos indique algum caminho. Afinal, ele tem ajudado tanta gente a resolver problemas piores.

- Vou telefonar-lhe.

Enquanto Serra consultava sua agenda, em busca do número do telefone, e depois marcava encontro para logo mais, Ruth se recompunha enxugando as lágrimas, e ajeitando
os cabelos, que se desalinharam no desabafo emocional.

Saíram os dois, e nos acomodamos no banco traseiro do automóvel, seguindo-os para o encontro que, para nós, pelo menos, seria muito importante.

O telefonema do amigo, repletou José Pedro de alegria. Experiente na ajuda ao próximo,
sabia que, com a adesão de Ruth, e com a verdade entre ambos, Serra se recuperaria mais facilmente.

Antes que chegassem, concentrou-se e orou, em seu escritório, preparando-se para a tarefa que lhe caberia, dentro em pouco tempo.

Abraçou pai e filha, comovido, acomodou-os ao redor da sua mesa, e deu um tempo para que, um dos dois, iniciasse a conversação.

- José Pedro - disse Serra, rompendo o silêncio e iniciando o entendimento -, Ruth já conhece o meu problema e se dispôs, generosamente, a ajudar-me. Mas não sabemos
como agir. Viemos nos aconselhar com o amigo, quanto ao caminho que devemos seguir, e as medidas que devemos tomar.

- Antes de tudo, quero lembrar-lhes que o maior problema nosso está no plano espiritual no processo obsessivo e destruidor
desencadeado por uma organização da sombra.

- Que obsessão é essa? Perguntou a jovem assustada.

- É que Sílvia, diante da decisão do seu pai, de acabar com tudo, quanto ao seu relacionamento afetivo, efêmero e inconsciente pediu ajuda dos Espíritos das sombras,
para castigá-lo e fazê-lo voltar para junto dela.

Meu Deus! Existem tais organizações?

- E por que não? Do mesmo modo que os Espíritos do bem se aliam para ajudar a quem lhes pede, necessitando e merecendo, os Espíritos do mal, também se mancomunam
para fazerem o mal, que lhes solicitam.

- Meu Deus! Pensei que a coisa fosse mais simples. Como iremos lutar contra tantos Espíritos opressores? Quanto gastará, para que sejam doutrinados, um a um? Aliás,
a sessão de desobsessão, onde você atua, é capaz de receber esses Espíritos?

- Calma, Ruth! Lembre-se que estamos do lado da luz e do bem, contra os quais a sombra já mais prevalece. Claro que em nosso Centro, podemos socorrer os Espíritos
obsessores.

- Socorrer meu pai, você quer dizer?

- Não, socorrer os Espíritos obsessores, porque eles é que sofrem mais, estão no erro, assumindo pesadas responsabilidades, dívidas de difícil resgate. Desde que
eles encontre o caminho do bem, seu pai estará livre. Isso é lógico, porque não iremos guerrear com eles, mas, convidá-los para o entendimento oferecendo-lhes a
felicidade
e a paz.

Você não deixa de ter razão.

E, talvez porque Serra olhava-os de olhos assustados, José Pedro, abraçando-o, dirigiu-lhe a palavra:

- Mas, o amigo, como está fisicamente? Perguntou, saltando sobre o assunto.

- Hoje, despertei mais cansado e com muita dor no joelho direito.

- Deixa-me ver. Hummm, só no tocar se vê que está inflamado. Acomode-se aqui no sofá, que vou lhe fazer o passe.

Serra deitou-se, e Arquimedes recomendou-me que observasse atentamente. Ao redor do seu joelho havia um anel escuro, qual se tivesse enrolado muitas voltas de gaze
negra, e, desse material que, na verdade, mais parecia uma pasta, saíam chispas em direção do menisco e da junção dos ossos.

- De onde vem esse material todo, diante do nossos olhos?

- É segregado por um dos ovóides, plantados nas costas, e, se assim podemos nos expressar, vivificado pela energia mental de Sílvia e dos Espíritos que a ajudam.
De ontem para hoje, aceleraram o processo, temendo seu fracasso, em razão da nossa atuação.

José Pedro iniciava o passe. Deteve-se um instante com as mãos espalmadas sobre o joelho afetado. Delas saíam fluidos luminosos que, encontrando a pasta negra, a
derretiam, fazendo com que caíssem gotas e pedaços. Depois, passou as mãos, como se quisesse arrancar alguma coisa, e, o resto da pasta que sobrou, aderiu-lhe às
mãos. Como se tivesse observando tudo, do mesmo modo que uma pessoa que visse as mãos barrentas, roçou uma na outra e, nesse feito, o material soltou-lhe das mãos
e caiu no solo.

Serra, estava livre da ação nefasta, mas aquele material negativo, de alto poder de ação, estava todo ali, embora aos pedaços. Arquimedes abaixou-se, apanhou tudo
e, com o mesmo gesto de esfregar as mãos, dissolveu-o no espaço, para que Espíritos inferiores não o utilizassem mais.

Continuando o passe vimos que, agora, ao contrário de antes, o joelho do amigo estava protegido por um campo magnético luminoso, que o envolvia.

- Que interessante!

- Que houve? Sente-se melhor?

- Sim, não sinto quase mais nada.

- Se for preciso, amanhã darei novo passe. Creio que será o bastante para aliviá-lo, totalmente.

- O senhor não me disse nada, papai, dessa dor que sentia.


É que não queria, preocupá-la. Agora que está tudo esclarecido,creio que isso não mais acontecerá.

- Preocupar-me, por quê?Penso que assunto de doença não pode ser adiado, nem para daqui a pouco nem para mais tarde, e, muito menos, para amanhã.

- Desculpe-me mas agora está tudo bem.

Depois de afetuosa e alegre despedida, pai e filha, com nós dois, de carona, entraram no automóvel, rumando para sua casa onde nos acomodamos à espera, de logo mais
à noite, para encontro com os amigos encarnados fora do corpo físico.

****

Era quase uma hora, da madrugada, quando Serra e Ruth, desligados dos respectivos corpos físicos, que repousavam, dormindo, se encontraram na sala de visitas, onde
estávamos, embora não pudessem ver-nos. A jovem estava preocupada e, ao ver o pai, arrojou-se em seus braços, procurando envolvê-lo nas vibrações do seu afeto,
a fim de diminuir-lhe o peso da opressão mental que sofria.
Realmente, via-se-lhe no semblante, um esgotamento, à feição de profundo desânimo.

- Vamos, papai, tentar dialogar com Sílvia. Ela talvez nos atenda
Aos apelos e desista de continuar prejudicando-o desta maneira.

- Não creio que dê resultado. Aquela moça é dura demais, para comover-se ou desistir. Além disso, tenho
Medo de que, aproveitando-se da sua presença, entre nós dois, fira o seu coração generoso com calúnias, como já fez na carta.
No terreno em que ela está, não estamos à altura de enfrentá-la. Porque não aguardarmos a prometida intervenção acenada por José Pedro? Talvez isso resolva o
problema.

- O senhor tem razão. Não podemos ir juntos. Vou sozinha, falar-lhe de mulher para mulher. Não custa tentar.

- Não posso permitir isso. É loucura enfrentá-la. Somos muito ingênuos e não sabemos lidar com o mal.

- Não podemos esquecer, no entanto que não estamos sós,que o bem também existe. Se a coisa complicar, vou orar e pedir ajuda aos nossos amigos espirituais. Penso
que não me deixarão sozinha. Por favor, papai, não me peça para desistir, nem me impeça que eu saia.

Vendo a decisão da filha que, apesar de tudo, ia se expor para ajudá-lo, enfrentando forças que, ele mesmo, não podia resistir, emocionou-se e deixou rolar algumas
lágrimas.

A jovem não esperou mais, deu-lhe um beijo no rosto, e saiu.

Nós a seguimos.

Ia sem pressa, respirando fundo o ar fresco da madrugada, indiferente aos Espíritos da noite, que passavam em bandos, cantando ou fazendo arruaças, muitos deles
com garrafas de bebidas nas mãos.

No percurso ia tentando alinhar seu pensamento, programar a sua atuação, diante do problema que estava logo à frente.

Chegou à casa de Sílvia, que estava aberta, e a algazarra, lá dentro,era enorme. Música estridente enchia o ar, marcando o ritmo para diversos pares que dançavam,
pulando e contorcendo-se para acompanharem a cadência, agitadíssima, da música. Densa fumaça completava o quadro.

Ruth, diante do que via, e com o que não estava acostumada, vacilou. Pensou em recuar, deixar para outra oportunidade, quando Sílvia estivesse sozinha. E se ela
resolvesse ridicularizá-la, diante daquela turba, barulhenta e viciosa?Seu coração disparou. Já ia dar meia-volta, quando, a dona da casa, passando por perto, viu
um vulto na porta e veio averiguar.

Também ela teve medo, quando viu quem era. Conhecia o valor moral de Ruth e não gostaria de enfrentá-la. Precisava encontrar uma saída, e rapidamente.

Paradas as duas, uma diante da outra, foi Sílvia quem tomou a iniciativa.

- Minha querida, não sei se veio falar comigo; se assim for, veja que, no momento, não posso atendê-la. Estou dando uma pequena festa, e tenho a casa cheia, de amigos.
Que tal se deixarmos para amanhã à noite?

A jovem, que examinava a expressão espiritual da interlocutora, estava gelada de espanto e medo, diante da Sílvia que se lhe mostrava aos olhos. Deu graças a Deus,
quando esta lhe dispensou de pronto.

- Está bem, voltarei amanhã

Sílvia fechou a porta e Ruth, aliviada, virou-se e apertou o passo, para, distanciar-se dali o mais breve possível.

- Interessante - comentei -, as duas vacilaram, uma com medo da outra. Ruth não tinha condições espirituais para enfrentar a rival.

- Não se esqueça de que ela é um Espírito encarnado sujeito às garras da matéria, e que, nesse terreno, falta-lhe experiência para se impor. O maior homem do mundo
pode ser derrotado por um anão, que o colha de surpresa e que use arma mortífera. Ela nunca faria qualquer mal à outra, no entanto, esta não hesitaria, um segundo,
se precisasse recrutar todos os seus amigos para expulsá-la. Sílvia está em sua casa, em campo vibratório com o qual se afina plenamente, o que não ocorre com Ruth.
Mas foi bom que ela tivesse esta experiência, pudesse registrar melhor a verdadeira natureza da pessoa com quem está começando a lutar, em defesa do pai.

- Por que Sílvia não se aproveitou da situação?

- Porque já teve provas de que a jovem está sendo protegida por Espíritos superiores, e, numa refrega tão injusta, eles deveriam se fazer presentes, desmoralizando-a
perante os amigos.

- E o seu horrível aspecto? Sílvia não se impressionou com o fato da moça examiná-la e sentir medo.

- Ela não tem consciência do seu aspecto. Aliás, é muito comum uma pessoa ser velha e ter a impressão de ser jovem, ser feia e se ver bonita, mesmo diante do espelho.

- Você tem razão. Poucas pessoas, mesmo desencarnadas, têm plena consciência da realidade de si mesmas. Há poucos dias, fiz um curso sobre as implicações da _fantasia
_mental na vida das pessoas que ficam obrigadas a viverem o _ideal e a Realidade.

Ruth entrou em casa, acompanhada por nós.

Serra repousava no sofá, e, naquele momento, estava agitado, ao que se podia deduzir, por influência da ação deletéria dos ovóides, que lhe minavam as forças e perturbavam-lhe
a mente.

Ruth sentou-se na extremidade do móvel, acomodou a cabeça do pai no seu colo, afagando-lhe os cabelos e, mentalmente, preparava-se para orar, a fim de pedir socorro.

A medida que se concentrava, passou a irradiar viva luz, do peito e das mãos, que envolvia o pai e irradiava-se pelo ambiente.

Aquietamo-nos, buscando ouvir-lhe a súplica, para ajudá-la.

Sem articular palavras, começou a rogativa.

"Senhor Jesus!

Socorre-nos, nesta hora de provação, quando somos obrigados a colher os frutos amargos da nossa sementeira.

Nos dias de inconsciência e de maldade, plantamos desolação e ódio para satisfazermos, às vezes, meros caprichos passageiros.

Desrespeitamos lares, traímos amigos, distribuímos a enfermidade e a morte, em proveito da nossa ambição e do nosso orgulho, da nossa cobiça e do nosso egoísmo,
como se não existisse a Lei e pudéssemos passar impunes.

É verdade que, de certa forma, gozamos com as nossas torpes conquistas, e que, agora, deveríamos pagar, ceitil por ceitil, com lágrimas equivalentes.

Mas sabemos da Tua misericórdia, e ousamos pedir que nos ajude a acertarmos essas contas, que nos estão sendo pedidas, em execução forçada.

Dá-nos compreensão, para entendermos que só a nossa humildade e o nosso amor podem apagar o fogo devorador da vingança, sem que tenhamos de ser reduzidos a cinzas.

Que os nossos algozes, de hoje, tenham piedade de nós, e nos dêem tempo para pagar-lhes, com a moeda do nosso afeto e do nosso apoio.

Permite que Teus bondosos Mensageiros, que nos assistem sempre, inspirem-nos para que encontremos caminhos justos de reconciliação, e nos dêem forças para que resistamos
ao mal com o bem que somos capazes de fazer.

Sobretudo, Mestre, ampara meu pai, que está quase vencido, para que reaja, erga-se do seu desânimo e possa voltar a ser o sustentáculo de nós todos, que vivemos
sob a sua sombra amiga e tutelar.

- Ó senhor de bondade! Derrama, sobre nós o Teu Amor Infinito!"

A resposta não se fez esperar. Nesse instante, maravilhosa chuva, de gotas de safirina luz, se derramou sobre a cabeça da jovem e, dela fluía para o pai, em forma
de luz da mesma cor, penetrando-lhe o organismo todo.

Emocionados, deixamos a casa de Serra, para atendermos outros compromissos de Arquimedes junto aos seus protegidos encarnados.



VII - NA HORA DOS TESTEMUNHOS


Entramos num dia decisivo, no processo de assistência junto à família de Antônio Serra.

Quando chegamos ao seu estabelecimento comercial, logo depois que abriu as portas, lá encontramos Josias e seus asseclas, preparando-se para perturbar o movimento
de vendas.

A nossa intervenção provocando briga e tumulto entre os obsessores, deu ao seu chefe a certeza de que haviam Espíritos do Bem interferindo no seu trabalho. Por
isso,
decidiu permanecer, ele mesmo, à testa da empreitada.

A um sinal de Arquimedes, e fora do campo de percepção dos inimigos declarados, fizemo-nos visíveis, e nos acercamos do desolado Josias.

- Bom dia, - disse-lhe Arquimedes, amavelmente.

- bom dia; quem é você?

- Sou um amigo. Chamo-me Arquimedes, e este é nosso irmão Sérgio.

- Que deseja aqui?

- Sou amigo de Serra e pretendo ajudá-lo.

- Perde tempo e pode se dar mal.

- Acredito no diálogo e no entendimento.

- Não estamos interessados.

- Queremos a sua ajuda.

- Minha ajuda? Não vê que estou comprometido a fazer exatamente o contrário do que pretende?

- E o que ganha com isso?

- Vivo integrado numa organização muito forte, que me dá autoridade, proteção e assistência.

- Isso é tão pouco!

- Para mim é o bastante. Domino toda esta região.

- Mas não é dono de si mesmo e, pessoalmente, está estacionado, assumindo grandes compromissos e comprometendo o futuro.

- E quem é dono de si mesmo? Sempre estamos sob as ordens de alguém.

- A subordinação não é prejuízo. O que deve nos interessar é a sementeira que nos cabe, e a conseqüente colheita.

- Isso é problema meu.

- Realmente. Mas, poderíamos nos ajudar mutuamente.

- Mutuamente?

- Sim. Você nos ajudaria na solução do problema Antônio Serra e Sílvia, e nós ajudaríamos a você, em qualquer problema que possa ter, necessitando da ajuda dos Espíritos
superiores, entre os quais temos grandes amigos.

Josias vacilou. Olhou espantado para Arquimedes, olhos bem abertos, alongou-os para todos os lados, como quem espreita se há alguém na área de provável percepção,
engoliu em seco, e disse, baixinho:

- Agora tudo muda de figura. Tenho um problema muito sério para resolver, que eu mesmo não tenho forças para deslindar. Talvez aceite negociar, mas, exijo que primeiro
vocês me ajudem a solucionar a minha dificuldade, para que, depois, eu ajude a resolver a sua.

- Tudo bem! O que devemos fazer?

- Tenho uma filha encarnada, que se chama Flávia, no último mês de gestação, mas, que, ao que tudo indica, vai desencarnar, juntamente com seu rebento, minha neta,
se não for socorrida a tempo. Ela estava casada com um homem violento. Minha neta é Espírito amigo que deverá esperar-me, no futuro, para receber-me como filho.
Essa gestação, portanto, é a chave de meu futuro, e não pode fracassar. Acontece que Plínio, meu genro, vinha maltratando muito minha filha e, além disso, ligou-se
a outra mulher, porque a gravidez não lhe permitia o prazer pleno. Numa noite, bateu-lhe muito e, com medo que viesse a prejudicar a criança, me enfureci. Quando,
raivoso, saiu de casa, na sua moto, ganhei-lhe a garupa e o envolvi. No primeiro cruzamento, cobri-lhe os olhos com fluido deletério, que sempre temos, e o infeliz
se espatifou num caminhão que cortava sua frente, vindo a perder o corpo físico. Cego pelo ódio, não havia pensado que minha filha necessitava dele, para atender
às necessidades do lar e do seu estado. A morte do marido lhe causou tremendo choque, pelo medo de ficar sozinha, e levou-a para cama. O marido desencarnado, inconsciente
do que lhe aconteceu, foi atraído pelos seus pensamentos e se colou a ela sugando-lhe as poucas energias que acumula com a sua vida de pobreza. No plano físico,
ela não tem a quem recorrer. No plano espiritual, eu, que provoquei o tremendo problema, criminoso que sou, pedi socorro à Organização, à qual sirvo com destaque,
em face de alguns conhecimentos que acumulei. A fixação mental de minha filha é muito grande, e não conseguimos apartar os dois. A Organização me assegurou que de
um momento para outro, poderiam negociar com algum _anjo, numa troca de obséquios, e solucionaria meu problema. Já que apareceu a oportunidade, faço o negócio diretamente.

- Onde mora sua filha?

- Aqui perto, quase junto à casa de Serra.

- Leve-nos até lá.

Seguimos os três, e, percorridas algumas quadras, entramos por um corredor, que levava aos fundos, a acanhado quarto e cozinha, onde uma jovem mulher, deitada em
cama rústica, ardia em febre e chorava baixinho, em evidente estado de extrema fraqueza.

Arquimedes aproximou-se, tocou os ombros de Plínio, que estava agarrado à esposa doente, e disse-lhe, com acento de ternura:

- Plínio, meu filho, acorde, saia desse pesadelo. Ouça a minha voz, e volte-se para mim.

O moço, sob a forte influência magnética da mente de meu instrutor, moveu-se vagarosamente, soltou os braços com os quais enlaçava a esposa, e, pouco a pouco foi
se virando, até que conseguiu encarar Arquimedes.

- Você me conhece? - perguntou, a custo.

- Sim. Mas o que aconteceu com você?

- Creio que, não sei como, bati com a moto num caminhão e me machuquei muito. Preciso de ajuda.

- Quer que nós o conduzamos a um hospital?

- Por favor!

Arquimedes tomou-o nos braços, como se fosse um próprio filho, concentrou-se, envolvendo o jovem nas vibrações da sua vontade poderosa e do seu coração magnânimo,
e, em instantes, Plínio relaxou e adormeceu.

Recebi o fardo inesperado, e, segundo suas instruções, parti conduzindo o moço ao seguro posto de socorro que tínhamos em esfera próxima.

Quando regressei Arquimedes já havia conseguido debelar a febre de Flávia que, sem a ação nefasta do esposo, parecia mais calma e necessitada de repouso.

- Sérgio, vá, por favor, até a casa de serra e fique atento, ao lado de Ruth, até que ouça um alarido nesta porta. Quando isso acontecer, procure conduzir a jovem
até aqui, pois, pretendo que ela assuma o socorro de Flávia, encaminhando-a para o hospital. Vou fazer a moça gritar, pedindo socorro.

Não demorou muito, e ouvi os gritos angustiados de Flávia parecendo sair de terrível pesadelo. Os vizinhos se agitaram e correram, para ver o que era. Envolvi
Ruth,
e, a sua curiosidade natural, facilitou-me o trabalho. Esta abriu passagem entre as senhoras que acudiram, e, ao ver a jovem na cama, em condição de gestante, comoveu-se.

- Onde está seu marido?

- Meu marido morreu, há dois meses.

- E seus pais?

- Já não tenho pais, pois morreram.

- Você não tem ninguém?

- Ninguém.

- Permite que a leve para um hospital?

- Não tenho dinheiro algum para pagar a conta.

- Isso a gente arruma. Posso levá-la a um hospital?

- Quem é você?

- Sou Ruth Serra, e vivo aqui ao lado.

- Se você puder me ajudar, me ajude, pelo amor de Deus, pois não quero que meu filho morra.

A jovem bondosa pediu às senhoras presentes, que procurassem higienizar Flávia, trocar-lhe a roupa, e, se possível, preparar-lhe a mala para que a levasse ao hospital,
enquanto iria tirar seu carro da garagem. E saiu célere.

Eu havia me esquecido de Josias. Procurei-o e o divisei num canto, tremendo de emoção, quieto como se fora uma estátua e não estivesse compreendendo nada do que
estava se passando.

De repente, Ruth entrou apressada e, ajudada pelas vizinhas acomodou Flávia no banco do seu carro, e partiu.

Quando o carro dobrou a primeira esquina, voltamos ao aposento, e encontramos Josias chorando copiosamente.

- Meu Deus! Não é possível. Essa moça, que eu procurava destruir, pega minha filha nos braços e a socorre! Que caminhos do destino!

- Calma, Josias. Agora está tudo bem, e lhe prometo que vou acompanhar, pessoalmente, o
restabelecimento de Plínio e a gestação de Flávia. Descanse do seu problema.

- Agora, cabe-me fazer a minha parte - disse, limpando os olhos e as faces molhadas.

- Procure afastar os capangas da loja de Serra, não permitindo que o prejudiquem mais, e convença Sílvia a desistir da idéia de perseguir e prejudicar o ex-amante.

- Só isso?

- Para nós é o bastante.

- Nem sei se tenho o direito de invocar o nome de Deus, mas, que Deus vos pague pela caridade que fizeram.

- Ora, Josias, você viu que não fizemos quase nada. Foi apenas um pouco de amor, de desejo de ajudar.

- Com o poder que vejo, agora, que têm, por que não me subjulgaram, não me prenderam?

- Por que iríamos usar métodos violentos? Com calma, e um pouco de amor, tivemos a oportunidade de ajudar dois Espíritos, e ganhar amigos, além de solucionarmos
grandes problemas da família Serra, e permitir a Ruth, pagar a ajuda, com antecipação. Quer resultado melhor?

- Realmente, a gente nunca aprende, e procura os caminhos mais difíceis. A violência e o crime nunca ajudaram a ninguém. Nem resolvem problema algum, mas, ao contrário,
criam problemas maiores.

- Quando quiser palmilhar os outros caminhos, estaremos às suas ordens. para encaminhá-lo e
protegê-lo.

- Agora devo ficar aqui, para pagar minha dívida de gratidão. Depois, irei procurá-los.

- Caminhamos até a loja de Serra. Josias mandou que todos os seus asseclas se retirassem, porque ele, sozinho, daria conta do trabalho. Distribuiu-os para outras
incumbências, e entrou.

Serra estava no escritório, fazendo contas, preocupado com a queda das suas vendas, os prejuízos que se acumulavam e o dinheiro que começava a faltar para pagar
os compromissos.

- O telefone tocou. Era Ruth do outro lado da linha. Serra ouviu algum tempo, e depois respondeu:

- Parabéns! Você fez muito bem, minha filha. Providencie para que não lhe falte nada. Que hospital você está? (...). Está bem, irei aí e darei um cheque de cinqüenta
cruzados novos. Não tem importância, minha filha, eu me arrumarei com o dinheiro, tenho crédito, e Deus nos ajudará. Nossas vendas logo devem melhorar. (...). Está
bem, já vou indo.

Serra pegou o talão de cheques vestiu o paletó, deu algumas instruções ao encarregado da loja e saiu.

Josias chorava. Estava imóvel, petrificado, e as lágrimas lhe lavavam o rosto e o coração, caindo-lhe junto aos pés. Dava pena vê-lo. Tentei imaginar como deveria
se sentir alguém que recebesse, de suas vítimas, tantas expressões desinteressadas
De carinho.

O ex algoz olhou-nos, profundamente envergonhado, se recompôs e saiu para a calçada, para atrair clientes, a fim de começar a pagar a tremenda dívida em dinheiro,
que contraíra com Antônio Serra, e os prejuízos que lhe havia causado.

Saímos para atendermos outros compromissos, decididos a voltarmos, às duas horas da tarde, hora em que Sílvia havia prometido, na carta, dar a prova cabal a Ruth.


O movimento, na loja, era intenso. Josias continuava ativo, procurando convencer os
transeuntes a entrarem e comprarem e, pelo visto, estava obtendo sucesso, e bem
maior agora, no sentido do bem.

Serra, feliz, observava a agitação do pessoal, atendendo, conversando, vendendo, empacotando, depois de muito tempo de triste expectativa, quando os clientes pareciam
haver fugido, e o estabelecimento comercial dava a impressão de navio batido pela força da procela, e prestes a naufragar.

Sua felicidade também se dividia com a atitude de _Ruth, recolhendo em seus braços uma filha do infortúnio, procurando salvar duas vidas que o destino, certamente,
logo ceifaria, não fora o seu amor cristão.

Ruth nem viera almoçar em casa. Permanecera ao lado de Flávia, procurando confortá-la e atendê-la em todas as providências que se faziam necessárias.

Tudo ia bem.

Eram duas horas da tarde, quando um menino, dessas criaturinhas que perambulam pelas ruas, procurando ganhar o próprio sustento que lhe falta em casa, assomou à
porta, perguntou por Serra, dirigiu-se a ele, e informou que uma moça, Sílvia, o esperava, urgente, logo adiante.

Josias não havia notado o garoto, mergulhado que estava na tarefa de angariar clientes, mas, quando viu Serra preocupado, dirigir-se para o escritório, seguiu-o.

Nosso amigo foi apanhar o paletó para sair.

Nisso, o telefone tocou. Era Ruth.

- Sim, minha filha, ela está aí fora. Um menino acaba de avisar-me. Não, não vou dizer nada a ela, que conheço o teor da carta que você recebeu. Pode ficar tranqüila.
Não, também não vou lhe dar nenhum dinheiro. Sim, sim, vou tratá-la com todo o respeito para que não se enfureça ainda mais do que já está. E Flávia? Está melhor?
Ótimo, fique aí o quanto necessite para providenciar-lhe tudo. Se o médico disse que mãe e filho estão fora de perigo, isso já pode tranqüilizar-nos. Está bem, não
se preocupe. Telefone daqui a uns quinze minutos e dir-lhe-ei tudo o que aconteceu. Tchau, querida.

Serra largou o telefone, mais confortado.

Josias se emocionou, mais uma vez, até às lágrimas, ante o diálogo que o colocava a par da situação da filha, e da carinhosa assistência que estavam lhe proporcionando.
Antônio Serra e Ruth lhe ganharam, inteiramente, o coração e o reconhecimento.


Interessado em corresponder à afeição do inesperado benfeitor, seguiu Serra, para presenciar o diálogo com Sílvia.

- Como está, Sílvia? - perguntou Serra, abordando o automóvel pelo lado de fora, sem demonstrar
qualquer intenção de entrar.

- Passei só para vê-lo. Estava preocupada.

- Precisa de alguma coisa?

- No momento não. Como disse só queria velo, saber se está tudo bem.

- Obrigado, minha filha, pelo seu interesse

Josias, que lhe conhecia a verdadeira intenção, agora que mudara de lado, na sua luta inglória, podia ver-lhe a hipocrisia e analisar-lhe a frieza emocional. Num
primeiro momento, sentiu muita raiva, depois teve certa pena em ver aquela pobre moça caminhando por sendas tão enganosas e difíceis, cavando fundo poço sob os próprios
pés. Agora, teria, de cuidar dela - pensou -, de modo que não faça mais qualquer mal, nem a Ruth e nem ao seu pai, seus
benfeitores, que passaram a ser seus amigos.

- Está bem, Serra. Sua filha está na loja?

- Não, está
Num hospital, atendendo a pobre moça vizinha de nossa casa, que ficou mal, estando em processo de gestação. A pobrezinha não tem ninguém que cuide dela, pois,
com apenas vinte e cinco anos, já é viúva e não tem pais.

Sílvia, irritada, não gostou da informação. Então a menina não se preocupou com a carta? Por que não veio presenciar o encontro? Não teria lido, ainda, a mensagem
que lhe mandou? Não era possível. Que teria acontecido? Tinha certeza de que a encontraria por ali para certificar-se. Não podia crer que filha dedicada, como ela
era, num momento desses, não estivesse presente.

Relanceou os olhos, em todas as direções, procurando localizá-la em algum lugar furtivo, observando a cena. Mas não a viu, em lugar nenhum, irritou-se ainda mais.

- Que houve? Quer alguma coisa de Ruth?Por que pergunta por ela?

- por nada. Não quero nada com ela. Devo avisá-lo que, dentro de alguns dias, vou necessitar de mais dinheiro.

- Desculpe-me, Sílvia, mas não conte comigo. Os negócios vão mal.

- Mal? Estava vendo, daqui, que a sua loja está formigando de gente.

- É verdade, não sei o que houve, mas, hoje, vai indo bem. No entanto, preciso de muito tempo para recuperar-me.

- Mas deve ter entrado com bom dinheiro para internar aquela moça desconhecida no hospital.

- Ora, Sílvia, esse é um ato de fraternidade que, para atendê-la, venderia a própria roupa do corpo

- Se para ajudar uma sirigaita dessas, que deve ter se engravidado em orgias, você vende a roupa do corpo, trate de vendê-la logo, para ajudar-me, se não vai ver
o quanto lhe vai custar.

Josias não agüentou. Deu-lhe tremendo tapa na cara, com tamanha carga de ódio, que suas mãos quase se materializaram.

- Que é isso, Serra, você me bateu? - disse a jovem, levando a mão ao rosto.

- Eu? Eu, não. Como poderia bater-lhe se estou aqui fora?

Como se tivesse acumulado toda a carga negativa que Josias lhe transferira no bofetão, Sílvia olhou Serra bem no fundo dos olhos, com terrível expressão de ódio,
e, antes de pisar no acelerador, e sair,igual a um foguete, disse ao homem que não entendia nada do que estava se passando:

- Você me paga, canalha!

Se Antônio Serra tivesse olhado para o rosto de Sílvia, teria notado que, no local do bofetão, a pele estava meio avermelhada, e compreenderia o gesto da jovem,
levando a mão na parte afetada.

Serra, ante o inesperado, estava estático, aturdido, com os pensamentos em desalinho.

Josias olhou-o e penalizou-se. Afinal, o homem nada tinha feito e levou toda a culpa, com inevitável aumento de ódio da jovem.

Josias agora, era um aprendiz benfeitor e sentiu-se culpado, por lhe ter criado aquela situação infeliz. A sua impulsividade de Espírito violento já haviam gerado
muitos dissabores para a própria filha, agora socorrida. Por não saber conter-se, prejudicara o novo amigo que, na verdade, desejava ajudar.

Arquimedes e eu, seguindo Serra e Josias, rumamos para a loja, acompanhando o dia do nosso tutelado, a fim de prepará-lo para a reunião, logo mais, à noite, quando
receberia assistência espiritual, com vistas a debelar o processo obsessivo, ao qual estava submetido.

- É incrível como aquele bofetão atingiu a moça

- Ocorre que Sílvia e Josias estão ligados há algum tempo, sintonizados no mesmo propósito, do qual este só saiu hoje. Isso lhes dá condições especiais no intercâmbio,
que somados à materialidade altamente negativa da emissão de ódio, como vimos, por pouco não gerou energia suficiente para materializar-lhe a mão.

- Achei interessante o fato de Sílvia, não ter raciocinado, um só segundo, para identificar o agressor. Serra estava do lado de fora, com a cabeça abaixada, na janela,
e as mãos escoradas nesta, de modo que, nunca poderia ter esbofeteado a moça.

- Temos de considerar que Serra era a única pessoa encarnada, ao seu redor. Logo o tapa só poderia ter sido dado por ele. Esse é um raciocínio aparentemente mais
lógico do que a realidade do fato. Na verdade, quando nos indispomos com alguém, estabelecem-se laços negativos de interação mental, de sorte que, qualquer coisa
que a pessoa faça, interpretamos, geralmente, de modo negativo, ou seja, por gesto ofensivo.

- A expectativa que temos, em relação ao nosso semelhante, por outro lado, não influencia de forma a impor-lhe, ás vezes, determinado comportamento?

- Sim. Embora não haja manifestação física através da palavra falada, nosso pensamento, unicamente ele, pode alcançar a mente do nosso semelhante, impondo-lhe determinada
idéia, ou, simplesmente, sugerindo essa idéia, que interfere na sua apreciação dos fatos, ou determina-lhe uma ação.

- Por aí é que o relacionamento humano se complica. De uma parte, nos colocamos em posição defensiva contra alguém, prevenindo-nos ante suas ações, e o interpretamos
à nossa maneira, ao sabor da nossa prevenção. De outra parte, nosso pensamento, assim armado, pode influenciar-lhe a mente, provocando-lhe reações involuntárias
ou interpretações fora da sua realidade interior.

- Por isso mesmo, procurando sintetizar a fórmula de convivência social, a lei, desde os recuados tempos de Moisés,nos manda amar ao próximo. E porque os milênios
não bastaram para que o homem soubesse entender o que seja _amar _ao _próximo, veio Jesus que, exemplificando o Amor nos atos da sua vida, deu-nos um novo mandamento:
_amai-vos _uns _aos _outros _como _eu _vos _amei.

- Exato. Ao cristão compete seguir os ensinos e exemplos de Jesus, se espera que o mundo, onde vive, se transforme para melhor e, consequentemente, lhe proporcione
mais felicidade.

- Quanto nos custa aprender coisas tão simples! Exclamei, algo desanimado.

- Aparentemente simples, porque não é fácil, no estágio atual da humanidade, sair de dentro de nós mesmos para passarmos a considerar o nosso próximo. A nossa lógica
nos manda que, primeiro, atendamos, integralmente, todas as nossas necessidades individuais, para, depois, passarmos, se possível, a considerar a situação dos
nossos
semelhantes. A primeira premissa, no entanto, me parece errada e não se compatibiliza com a atitude cristã. As nossas necessidades, que devem ser satisfeitas, com
prioridade, são as necessidades fundamentais de todo ser humano, assim como a expectativa da nossa ajuda se limita a que atendamos, nos outros, as suas necessidades
básicas.

- Esse raciocínio pode nos levar a entender o endurecimento crescente do sentimento humano. Num mundo em grande expansão industrial, e conseqüente consumo, oferecendo-nos
multiplicados recursos de conforto, as nossas necessidades, para que alcancemos um estado de plena realização pessoal, vão aumentando dia a dia, numa velocidade
maior do que os nossos recursos de tempo e de bolso. O resultado disso é que, se nos arrogarmos o direito de desfrutar de todas as comodidades postas ao nosso alcance,
muito dificilmente conseguiremos atendê-las, não sobrando qualquer espaço para que venhamos a atender ao nosso próximo, que não satisfaça, sequer, as suas necessidades
fundamentais.

Íamos por essas divagações, quando o telefone tocou e Serra atendeu.

- Sim, filha, sou eu.

.......................

- Já esteve aqui e se foi.

..........................................


- Sim, perguntou por você e me parece que se irritou ao saber que você não estava.

...................................

- Espero-a aqui, mais tarde para irmos juntos ao encontro de José Pedro. Tchau, querida.

A tarde transcorreu sem qualquer fato imprevisto, com Antônio Serra, já mais aliviado da opressão, uma vez que ganhamos a colaboração de Josias.

VIII - _Desatando _os _laços _opressivos

Chegamos ao dia em que se realizaria o trabalho de desobsessão, no Centro Espírita onde José Pedro trabalhava. O dedicado tarefeiro, durante todo o dia, estivera
meditando sobre o caso Antônio Serra, esperando que, à noite, os espíritos Guias tratassem do assunto, providenciando a assistência adequada.

Era ele dirigente do trabalho e, por isso mesmo, e por sentir que o caso teria desfecho, preparava-se de modo a ser o mais útil possível.

Porque conhecia as virtudes e o grau de esclarecimento de Ruth, convidou-a para assistir aos trabalhos, o que não era comum.Por isso, quando cheguei, em companhia
de Arquimedes e Orlando, encontramos a jovem, sentada logo à frente, mergulhada em meditação e prece, nimbada por suave luz, que a envolvia. Seu pai, que a acompanhara,
permanecia em sala contígua, orando como lhe haviam instruído.

Porque dispúnhamos de tempo, perguntei a Orlando se podia dar-me algumas explicações a respeito do caso Antônio Serra.

- Dispomos de algum tempo,. O que o amigo deseja saber?

- Em primeiro lugar, em que consistirão as providências em favor de Serra?

- Quem planejou vingar-se, oprimindo-o com a ajuda de Espíritos inferiores, criou um processo mental que se alimenta dos constantes pensamentos da pessoa que inveja,
ou odeia, secundada pelas entidades espirituais, que com ela colaboram. Pode-se dizer que, essa concentração de forças negativas, se corporifica, porque as emanações
fluídicas, geradas pelas mentes que o perseguem, o envolvem e influem sobre o seu corpo e o seu Espírito, a fim de causar-lhe o mal desejado. O nosso trabalho consiste
em livrá-lo desse halo opressivo e ajudar os Espíritos que o oprimem.

- Com isso termina o processo opressivo?

- De certa forma, sim. Dispensada toda essa energia negativa que o envolve, que vem se acumulando, desde há muito, Serra se verá aliviado. Contudo, a pessoa vingadora,
continuará emitindo seus desejos doentios e, certamente, encontrará outros auxiliares, da mesma organização das sombras, ou de outras, se desejar seu concurso.

- E nunca terá solução?

- A solução dos processos de ódio está na reconciliação, no amor que nos deve reunir, uns aos outros, no perdão incondicional, exemplificado pelo Divino Mestre.

- E se não houver chance para a reconciliação, a vítima fica sujeita à eterna renovação do processo?

- Não é bem assim. A pessoa vingativa, quando é neutralizada a ação, recebe de volta, automaticamente, a força negativa que gerou, manteve, alimentou ou ampliou.
É o choque de retorno. Se tiver condições de resistir a ele, o que não é sempre fácil, pode tentar de novo, correndo os mesmos riscos e aumentando a sua conta de
prestação de serviço, com a organização das sombras que a apóia. Custar-lhe-á, pois, redobradas lágrimas...

- Mesmo que o projeto não se concretize, deverá pagar pelos serviços que lhe forem prestados?

- Claro. Não há nenhuma garantia de sucesso, pois, este também depende da ajuda da sua vontade, perseverante, de fazer o mal, quanto da não intervenção de Espíritos
superiores que, como no nosso caso, podem neutralizar a ação opressiva.

- É um jogo perigoso...

- Sim, e no qual o único perdedor certo é quem pratica, ou tenta praticar o mal. Sua culpa começa quando dá guarida ao ódio; dobra, quando faz o pacto com a sombra;
triplica quando continua agindo, e se multiplica, sobremaneira, se se concretiza o desejo maléfico.

- De que modo o culpado se isentará da culpa, ou melhor, da sua conseqüente colheita?

- De nenhum modo. Na lei não há isenção.

- E se a pessoa ofendida perdoar?

- Nem assim. Se não pagar o seu débito diretamente a ela, pagá-lo-á de outro modo, mas, sem dúvida, terá de arcar com as consequências, para aliviar-se, com o resgate
do sentimento de culpa, seja nessa existência, ou em existência posterior, seja aqui ou no mundo espiritual.

- Que compromisso sério!

- Seríssimo, meu amigo. Igualmente sério, porém, é o débito pela prestação de serviço, pelas sombras, que vai ser cobrado, assim que desencarnar, e que, geralmente,
importará na sua escravização por tempo que ninguém, em sã consciência, pode avaliar, pois, depende não só do trabalho feito, mas, também, da importância dos resultados
alcançados.

- Essa gente não deve saber nada acerca dessas conseqüências terríveis. Não terá, porventura, atenuante em razão dessa ignorância com que - e isso percebe-se -,
fazem
essas coisas?

- A Lei é clara. Dando um primado de amor, para a nossa conduta individual, ela nos ensina que _devemos _fazer _aos _outros _aquilo _que _desejamos _que _os _outros
_nos _façam. Garanto a você que, por mais ignorante que seja, nenhuma dessas pessoas que se vingam, ou querem destruir o semelhante em razão de simples e rasteiros
motivos de inveja, gostaria de receber, ela mesma, o mal que deseja para outros. Que atenuantes podem ter? Quando alguém já aceita o fato da sobrevivência do Espírito,
a sua possibilidade de comunicação e a eternidade da vida, já saiu do estado de incipiência espiritual, de posse que está dos mais lúcidos esclarecimentos atuais,
não havendo como se eximir da sua responsabilidade. A Lei, também, acentua que _será _dado, _a _cada _um, _segundo _as _suas _obras, o que equivale dizer que seremos
constrangidos a recolher o mal que semeamos. Quando a pessoa planeja uma ação nefasta destas, e decreta um mal terrível para o semelhante, está lançando uma semente
no solo do seu destino, que frutificará e, à maneira da semente de trigo, poderá lhe resultar na multiplicação de cem por um. Ninguém, depois, poderá estranhar a
colheita compulsória do mal que haja semeado, porque, se o lavrador lança à terra que aduba com a sua vontade, semente de trigo, não é justo que se espere ali, recolher
dourados cachos de arroz. Do mesmo modo, quem semeia o mal, não pode esquecer que a sua colheita, evidentemente, será o mal contra a si mesmo. Esse é o mecanismo
simples da vida, que todo o mundo conhece, e não pode causar surpresa a ninguém.

- realmente, a lógica não nos autoriza qualquer outra conclusão.

- Que ninguém tente se iludir...

- Como é neutralizada, ou desmanchada, essa ação maléfica?

- O primeiro passo será a liberação da vítima. Consistirá em livrá-la desse halo de energias negativas que retornarão, imediatamente, às fontes que as geraram, e
com as quais estiveram em sintonia constante. É o choque de retorno. As pessoas que geraram essas energias, passam a sofrer a sua influência deletéria, até que consigam
livrar-se dela. A segunda providência será desligar os ovóides que estão plantados no
perispírito de Serra e tentar esclarecer os Espíritos que o oprimem.

E, porque a sessão deveria se iniciar, Orlando calou-se e me fez sinal, com a cabeça, para que me aproximasse da mesa.

Feita a prece inicial, e com todos na expectativa do intercâmbio, foi trazido para junto de um dos médiuns, um Espírito que desconhecia o seu estado atual; tinha
ambas as mãos crispadas sobre o peito e, na boca, e em toda face, uma fixação de horrível grito de dor. Desencarnara em violento ataque de angina e, ultimamente,
se apegara a pobre homem, com o qual simpatizara e que, em face da sua atuação, passara, por sua vez, a sentir fortes dores no peito, acabando num hospital, requisitando
os favores de José Pedro.

Enquanto conversavam, na doutrinação, Orlando chamou Arquimedes e a mim e, nós três, nos dirigimos para onde estava Antônio Serra.

Orlando pôs-se a aplicar-lhe passe e, à medida que operava, ia se formando, suspensa no ar, naturalmente, controlada pelo magnetizador, negra bola fluídica, irradiando
luz escuro-pardacenta, que parecia ter vida, porque semelhava pulsar, a qual,
pressionada entre as mãos do instrutor, explodiu, desfazendo-se em raios que se perderam
no espaço, em várias direções e em blocos de diferentes densidades.

Nesse momento, sem que ninguém tivesse chamado, Josias, e mais de uma dezena de Espíritos, apareceram junto a nós, cambaleantes, atoleimados, envolvidos por pequena
e negra nuvem de força.

- Que é isso? - perguntei, baixinho, a Arquimedes -. Josias está do nosso lado. Ainda hoje nos auxiliou, na defesa de Serra.

- Acontece que, das forças que foram agora liberadas, uma parte era criação sua, e, portanto, da sua responsabilidade. E a teve de volta, sofrendo-lhe a influência.
Libertar-se delas, é um outro problema que deverá resolver.

- A sua disposição de passar para a defesa de Serra, não o livra dessas conseqüências?

- A justiça humana libera um criminoso confesso só porque, depois do crime, veio a se tornar melhor?

- Penso que não.

- Aqui ocorre o mesmo. Josias participou do processo opressivo, e está recebendo a parte que lhe corresponde. No entanto se o bem que já teve oportunidade de fazer,
em favor de Serra, fosse maior do que o mal que já lhe fez, sua consciência estaria liberada, e não seria vítima de retorno a que fez jus.

Josias, e seus acompanhantes, foram recolhidos a recinto apropriado a fim de aguardarem providências

Agora Orlando estava aplicando-lhe passes nas costas, em cima dos pulmões até a nuca, forçando o desligamento de um feixe de tênues fios fluídicos que, saindo de
cada ovóide, penetravam-lhe a medula espinhal e os órgãos vitais. Depois, como se estivesse lidando com uma placa de massa aderente, começou a afastá-la, com a
ponta
dos dedos, na volta inteira daquela anomalia que, semelhante a um parasita, estava grudada nas costas do nosso tutelado.

Depois de desligá-lo, inteiramente, entregou-o a Arquimedes, a fim de que fosse transportado, junto com o outro que, do mesmo modo, foi desligado, em seguida, para
uma instituição socorrista próxima onde seriam convenientemente tratados. Arquimedes passou os dois ovóides a um auxiliar e voltou para junto de nós.

Serra estava livre da opressão. Respirava, agora, fundo e aliviado.A pedido de Orlando, Arquimedes recolheu, dos participantes da mesa, regular quantidade de ectoplasma
que aquele derramou, sobre a vítima, a fim de restaurar-lhe, de alguma forma, a energia vital.

Quando regressamos à sala onde se desenrolavam os trabalhos de desobsessão, Orlando cochichou algo nos ouvidos de José Pedro e, pela sua expressão de alegria, deduzimos
que avisara o amigo de que o caso Serra estava sendo tratado.

José Pedro pediu, aos demais integrantes da mesa, que se concentrassem com firmeza, pois, passariam a tratar de um penoso caso de obsessão, do qual participava uma
legião de Espíritos inferiores, mas, que estava em seus últimos lances, sendo esse caso de interesse da confreira Ruth, presente a seu convite.

Em seguida, Josias foi constrangido a acercar-se de um médium, a fim de manifestar-se. O dirigente, então, passou a falar com Josias, que estava incorporado.

- Como se chama?

- Meu nome é Josias.

- Você participou desse processo obsessivo?

- Sim, até hoje, pela manhã. Eu comandava a ação no plano espiritual.

- E por que só até hoje, pela manhã? Foi destituído?

Não. Antônio serra, e sua filha Ruth, socorreram minha filha Flávia, que estava em grave estado de saúde, internando-a num hospital, e assumindo toda a carga da
sua despesa. Diante disso, comovi-me, e, agradecido, passei para o seu lado, afastando os Espíritos que o perseguiam.

Ruth sentiu um frio percorrer-lhe a espinha.

- Foi a mão de Deus! Pensou. Quando iria imaginar que estava socorrendo a filha de um algoz, e que isso iria ajudar tanto assim!

Josias comoveu-se, e também começou a chorar.

O dirigente se acercou dele, agora com mais intimidade e carinho, e lhe perguntou:

- Está arrependido, meu irmão?

- Sim. Estava prejudicando gente boa e honesta, para satisfazer aos projetos de vingança de Sílvia.

- Vai persistir no mal?

- Não sei.

- Por que não sabe?

- É que pertenço a uma organização, com a qual estou compromissado. Mas, se esses Espíritos amigos, que conheci hoje, me ajudarem, e me protegerem, deixo tudo
e
vou segui-los para procurar a minha regeneração.

- Que dizem eles?

- Que me ajudam.

- Então, pode segui-los.

- Posso, antes de sair, falar com Ruth?

- Sim.

- Perdoem-me pelo mal que lhes fiz. Confesso que era eu quem guiava a mão de Sílvia para escrever aquela carta, que tanto magoou-lhe o coração. Estava cego de ódio.
Acabei provocando o acidente que matou meu genro, para que ele não batesse mais na minha filha, e viesse a provocar a morte da minha neta, que, no futuro, poderá
me ajudar a regressar à carne. Na minha revolta, esqueci-me que, sem o marido, Flávia iria ficar só. Não podia fazer nada para ajudá-la e queria descarregar, fazendo
o mal, o meu desespero e o meu ódio. Quando vi que vocês, as vítimas que eu destruía, socorreram minha filha, com tanto amor, senti as mãos sujas, e compreendi o
quanto era mau. Pelo amor de Deus, perdoem-me.

Ruth tinha os olhos cheios de lágrimas, mas, pela cortina líquida que lhe molhava a retina, ainda pôde ver o sinal que o dirigente lhe fez, para que lhe falasse.

- Vai com deus, meu irmão. Nós te perdoamos e rogamos a Jesus que lhe dê a oportunidade de encontrar outros caminhos, de luz e de felicidade.

Josias agradeceu e deixou o médium, sendo amparado por mim e por Arquimedes; abraçamo-lo, prometendo ajudá-lo, encorajando-o para as novas lutas.

Ruth estava profundamente impressionada. Vira, de perto, as conseqüências da ação maléfica que dirigiram sobre seu pai, destroçando-lhe a vida que sentia ceder,
dia a dia, à doença e ao desânimo. A prova concreta que recebera, da força negativa de uma ligação de ódio, e do poder restaurador de um gesto de fraternidade, eram
lições que procurava interpretar, naqueles momentos de emoção, a fim de que se lhe gravassem, indelevelmente, na alma ingênua e boa.

Encerrados os trabalhos, Ruth procurou o pai, relatando-lhe todo o sucedido, abraçando-se ambos, em lágrimas.

A aparente coincidência de ter ajudado a filha do principal executor da vingança de Sílvia, e o alívio inexplicável que sentia agora, com a mente desperta e liberada,
e com a impressão de que lhe tivessem tirado tremendo fardo de sobre os ombros, eram fatos que, aturdido, não podia avaliar integralmente.

Pai e filha estavam abraçados e felizes.

José Pedro, o dedicado amigo, que havia sido o instrumento da Bondade Divina, para a solução do problema de serra, também estava exultante pelo desfecho, em nível
de vida espiritual, a que tinha chegado. Vendo-o com o semblante de quem não sabia se ajustar, entre a alegria de uma vitória e o susto de uma quase queda, aproximou-se
e, batendo, levemente, com a mão, em suas costas, disse-lhe:

- E então, Serra, como se sente?

- Incrivelmente leve e feliz. Parece-me que fui aliviado de uma espécie de capacete de aço, que me oprimisse a cabeça, e de um fardo, indescritível, que me pesava
muito nos ombros.

- Foi muita felicidade, a que muitos dão o nome de coincidência, que não existe, vocês terem socorrido logo a filha do Espírito que dirigia o processo opressivo
de vingança. Tenho a impressão de que isso nos valeu muito, porque sei, pela experiência que tenho, como é difícil afastar um Espírito obsessor do seu propósito
de destruição. Mas, agora, me parece que está tudo bem.

- Ainda temos que acertar a questão de Sílvia... - lembrou Ruth, reticente, procurando não ferir o pai, ou empanar a sua alegria, e o seu alívio, do momento.

- Essa parte, creio que será de mais fácil resolução. Vamos orar e, assim como Jesus nos abriu um caminho de reconciliação e apoio, junto de Josias, certamente,
no nosso esforço no bem de todos, nos ajudará a encontrar um jeito de aproximação, junto a Sílvia, com vistas a reparar-lhe o dano, que reclama.

Serra lembrou-se da ex-amante, que estava aprendendo a querer por filha do coração. Os seus poucos anos, a sua vida artificial e atribulada, as suas fantasiosas
e pueris ambições, necessitavam da compreensão e do apoio de um pai. Tinha necessidade de dar um outro rumo ao afeto que o ligava à jovem. Não fugiria dela, mas
não cederia um palmo para a volta ao relacionamento anterior. Com a ajuda de Jesus - pensou - transformaria aqueles laços de loucura em ligação fraterna e respeitável.

- José Pedro, - disse Ruth - devemos agradecer-lhe o apoio e as providências que tomou.

- Ora, deixe disso minha filha, Agradeça aos Espíritos que nos ajudaram. Veja a estrutura da assistência, pelos fatos que presenciamos. Não acredito que o singular
episódio do caso Flávia, Josias, tenha sido uma coincidência, uma casualidade. Os
benfeitores da casa, que tratavam das providências, devem ter conduzido vocês
ao
socorro da filha de Josias, sua vizinha - e aqui sim, pode ter havido coincidência - a fim de negociarem, com ele, a liberação do seu pai. Já conheço, mais ou menos,
esse tipo de Espírito, e sei que eles não cedem tão facilmente, com simples palavras. Não fora o socorro que ele recebeu, na sessão de Desobsessão, ele já mais
aceitaria,
qualquer sugestão do bem para iniciar a sua própria renovação. Agora, penso que esse é um aliado que vocês precisam conservar, continuando a socorrer Flávia, pelo
menos até que ela dê à luz, porque com a experiência que Josias, deve ter, quanto aos processos obsessivos, poderá defendê-los sempre, dos ataques das sombras.

- Estava pensando, antes que nos fizesse a recomendação, em levarmos avante o nosso apoio a menina, com quem Ruth simpatizou, e já se afeiçoou.

Os três amigos caminhavam conversando, em direção ao carro de Serra, e nós dois, Arquimedes, e eu, os acompanhávamos de perto, apreciando, por nossa vez, o desenrolar
da assistência

- Realmente, foi o ideal para o desfecho que tivemos, Flávia residir tão perto de Ruth, estar doente e sozinha, esperando um filho, e ser filha de Josias, pois ele
não seria fácil de conquistar. Daqui para frente tudo será melhor.

- Sílvia não me parece tão fácil assim. É obstinada e dura. Quando souber que o processo opressivo foi todo desfeito, vai ficar uma fera e vai querer começar de
novo.

- É muito cedo para qualquer avaliação mais profunda. Você viu quando a massa opressiva estourou e as forças negativas, de alto poder destrutivo, foram liberadas,
disparando em direção dos seus autores.

- E Josias, o que lhe acontecerá,diante da sua atitude?

- Com relação ao plano no qual estará, sob a tutela da equipe de Orlando vai ser assistido, convenientemente. Quanto ao choque de retorno, que lhe resultou em colheita
de perturbação, o perdão de Serra e de Ruth vai lhe valer o adiamento do resgate. Vai ser aliviado dos pesados fluidos da sua criação mental destruidora, receber
tratamento adequado e estudar, de modo a se converter, em breve, em valioso cooperador de Orlando no seu trabalho contra os atos criminosos da organização.

- Conhecendo-lhe os métodos e o pessoal que usa nessas paragens, Josias disporá de muitos recursos para realizar com eficiência a sua parte nos processos de assistência.

- E com respeito à Organização, qual será a sua situação?

- A de um traidor, junto a quadrilha de malfeitores.

- Se fosse na carne, seria executado friamente. E neste plano o que lhe acontecerá?

- Se fosse aprisionado hoje, teria que pagar alto preço, porque os traidores, nessas organizações do mal, como acontece às quadrilhas de malfeitores terrestres,
certamente, lhe imporiam a _segunda _morte, levando-o à inação para, com o tempo, se transformar em ovóide.

- Quais recursos seus algozes usariam para reduzi-lo a essa deplorável situação?

- Com referência aos seus depósitos mentais, que deveriam servir de substrato para o processo
hipnótico, não podemos perder de vista que Josias era, até agora, um
criminoso, de temperamento violento, e, além do assassinato do seu genro, que se lhe debita, participou de muitos processos obsessivos iguais aos que examinamos
neste caso. Demais disso, um Espírito duro, como ele o é, deve ter muitos crimes de existências passadas, que poderão ser exumados, pelos vingadores, da sua memória
espiritual, facilitando o seu aniquilamento. Essas organizações das sombras são implacáveis no caso de traição, ou simples deserção, a fim de que a punição sirva
de escarmento para os outros, e a sua autoridade seja respeitada.

- Como conseguiria despertar dessa _segunda _morte?

- O Espírito se vê fixado nos seus crimes e experimenta, indefinidamente, todas as angústias do seu desdobramento, com os quadros que seus verdugos desejam fixar,
para seu tormento. Não haverá, em sua mente, espaço para mais nada, a não ser para executar algum trabalho obsessivo, quando lhe acrescentam os conteúdos que desejam
infligir aos obsidiados. Nessa situação, o amigo há de convir que uma reação própria se torna muito difícil e, para que, por si mesmo, saia do flagelo, demora
muito tempo. Assim, geralmente, são libertados ou ressuscitados pelos Espíritos do bem, em momentos oportunos, como o que apreciamos a pouco.

- De que modo Josias vai enfrentá-los?


- Na verdade, enquanto ele não se edificar, mudando seu padrão vibratório, para sair desta esfera de influência, junto à Crosta terrestre, não terá qualquer condição
para enfrentar sozinho, a vingança da Organização. Depois, porém, como é natural, se imporá a qualquer Espírito que esteja a serviço do mal.

- Quer dizer, então, que isso levará muito tempo, até que possa trabalhar acompanhando as falanges do bem?

- Para enfrentar sozinho o poderio das sombras, sem dúvida, levará algum tempo, porque necessitará de verdadeira transformação interior. No tocante à sua cooperação,
junto à equipe de Orlando, acompanhando os demais, dentro de pouco tempo, já estará atuando. Lembre-se de que, com a ajuda de seus maiores, em razão da plasticidade
do corpo espiritual, poderá mudar, temporariamente, sua aparência, apenas fisionômica ou geral.

Nesse momento, o carro havia parado de fronte à porta de entrada da residência de Serra.

Descemos e entramos

Mal havia varado a porta, ana, muito nervosa, informou a Serra que haviam telefonado, várias vezes, do Hospital onde uma moça de nome Sílvia foi internada em estado
grave e o único endereço de referência, que encontraram com ela, foi um cartão pessoal seu. Querem que se comunique para ajudá-los a localizar a família.

Serra e Ruth estremeceram, estacando diante da surpreendente notícia. Quando conseguiram se refazer, deram sobre os calcanhares, e saíram novamente.

Olhei para Arquimedes, também emocionado pelo desfecho, e ele, muito calmo, como se aquele doloroso resultado fosse muito natural, convidou-me:

- o choque de retorno... vamos acompanhá-lo.


IX - O CHOQUE DE RETORNO

Necessitamos, caro leitor, retornar no tempo, a fim de acompanharmos os acontecimentos que envolveram nossa Sílvia, até o momento, já anunciado, do retorno de Serra
à sua casa, em companhia da filha, quando recebeu a notícia.

Naquela tarde, depois que a jovem se viu frustrada, diante da ausência de Ruth na sua ida até a loja do
ex-amante, quando esperava coroar o seu processo opressivo,
derrubando, sobre Serra, o peso da reação familiar, mergulhou em violento estado de revolta, que a irritava profundamente.

Sua mente fervia. Por que Ruth não compareceu para o flagrante que ela delineara? Não teria lido a carta-denúncia? Não era possível, mulher alguma seria tão negligente
a ponto de não ler uma carta, entregue naquelas condições.

Teve ela medo de enfrentar uma prova concreta da traição do pai?Ou seria que ela não era aquele modelo de virtude, que se apregoava, e tenha achado normal a prevaricação
do pai?

Essas perguntas angustiantes varavam-lhe a mente, continuamente, alimentando a sua tensão emocional.

Decorreram algumas horas em casa, estirada na cama, onde costumava desembrulhar a carga pesada da solidão, e, torturada pelas interrogações, com as quais procurava
justificar o inesperado, que não constava dos seus planos, chorou muito para desabafar a raiva que vibrava nas suas fibras, acionada pelo ódio, que lhe emergia do
coração.

Lembrava o tapa que recebera no carro, que debitava à conta de Serra, sentiu-se humilhada e vencida, como nunca estivera antes; mas reagiria, sob o impulso de pensamentos
de vingança, para se ver, de cabeça erguida enfrentando a todos e vencendo.

De repente, procurou sacudir todos aqueles pensamentos, aquelas interrogações, que lhe pareceram pueris e inúteis. Tomou ligeiro banho, para se reanimar, e se reintegrar
na sua verdadeira personalidade, segura e agressiva, de quem vai à luta para vencer qualquer tipo de adversário.

Eram mais de vinte e uma horas, quando saiu de carro, fazendo os pneus cantarem e arrancarem fumaça do asfalto, descarregando raiva nos pés.

Deu algumas voltas pela cidade para distrair-se. Os quadros, no entanto, eram os mesmos de sempre, e, naquela hora, o trânsito era irritante, pelas seguidas paradas
e a velocidade reduzida. Encaminhou-se para a rodovia estadual, que passava perto.

Queria gozar as emoções da velocidade e o vento fresco, na noite, que entrava, a bater-lhe no rosto como costumava fazer quando se sentia excitada, sacudida pela
cólera.

Por que deprimir-se? Talvez amanhã o seu plano retomasse o curso normal que estava esperando. Era apenas uma questão de tempo, Antônio Serra não agüentaria a opressão
que lhe infligia, por todos os lados.

Ia nessa certeza que, de alguma forma lhe era consoladora, sentindo o vento fresco acariciando-lhe o rosto e agitando-lhe os cabelos, quando, de repente, algo pareceu
oprimir-lhe a cabeça, roubando-lhe a visão. Assustou-se, quis reagir, mas sentiu-se paralisada. Foi uma fração de segundos, que se seguiu de tremendo estrondo e
do esmagamento do carro contra seu corpo.

Bateu, com o carro, atrás de um caminhão carregado de telhas. Entrou por debaixo da sua pesada carroceria e o auto se encolheu, no impacto, formando um monte de
ferro e chapas, enrugados e retorcidos.

Pedaços de vidro, do parabrisas, lhe cortaram o rosto e o pescoço, provocando algum sangramento. As suas pernas, no entanto, até a altura do joelho, estavam comprimidas
no meio da massa metálica informe em que se tornou seu automóvel. O volante lhe oprimia o peito, mantendo-a presa de encontro ao encosto do banco.

Ante o impacto, que foi violento o motorista do caminhão procurou o acostamento para ver o que havia ocorrido, arrastando o veículo que se lhe grudara na traseira.

Os veículos, que circulavam pela estrada, trataram de parar, a fim de socorrer as possíveis vítimas.

Sílvia sentia horrível e intensa dor. Seu corpo físico ofendido estava desmaiado, mas seu Espírito estava desperto, conquanto aturdido pelo inesperado desastre que
a surpreendia.

Sentiu as pernas presas, retidas no meio das latas e plásticos amassados. Num segundo, procurou avaliar as conseqüências daquele dano e, sem querer, se lembrou do
que planejara contra Serra, pretendendo levá-lo para uma cadeira de rodas. Seria o choque de retorno, do qual havia sido prevenida e não acreditara? Mas - pensou
- agora não era hora de cogitar disso. Precisava de socorro urgente, porque perdia sangue por muitos pontos e, sozinha, jamais conseguiria sair dali.

Ouvia pessoas, correndo e falando alto, emocionadas, como se estivessem tomadas pelo desespero. Um homem olhou pela janela do carro e recuou aterrado.

- Aqui tem uma moça e está presa entre as ferragens. Quem providencia o Corpo-de-Bombeiros?

- Eu posso, sou da cidade, sei onde está localizado e cuidarei dessa parte -, disse um jovem, subindo em seu carro e disparando dali.

Num instante, compacta multidão rodeava o carro acidentado, desesperada por fazer alguma coisa, apiedada da situação da jovem.

- Qual o estado da moça? - perguntou alguém.

A pessoa que estava mais próxima da janela, olhou, rapidamente, e informou:

- Está desmaiada, ou morta, porque seu corpo está largado.

- Respira?

- Respira.

- Vou para frente, e passo na cidade indo até o hospital providenciar uma ambulância e socorro médico - disse uma jovem que chorava, emocionada, pelo quadro desolador
que presenciara.

À medida que os minutos passavam, e pareciam eternidade, porque a dor, em suas pernas, era imensa, Sílvia ia readquirindo a consciência de si mesma, apesar do corpo
destroçado.

Quis chorar alto, gritar para que viessem que estava viva e providenciassem, mais depressa, o socorro desejado, mas, estava paralisada. Nada respondia aos seus estímulos
mentais.

Um pensamento atravessou-lhe a mente: terei morrido?Não, alguém disse que ela respirava, apesar de não sentir isso. Logo não estava morta. Estarei morrendo? Isso
era possível, porque não comandava o corpo.

Que situação esdrúxula! Estava interiormente desperta, registrando tudo ao redor, sentindo dor intensíssima, e, no entanto, não podia, mover um músculo.

Não sabia quanto tempo havia passado.

Sentia a ação de muitos homens, procurando um jeito de distorcer as chapas, liberar a porta para retirá-la.

Ouviu a sirene do carro dos bombeiros e, logo depois, sentia o cheiro de matéria queimada pelo fogo dos maçaricos usados pelos soldados. Mais alguns instantes, e
suas pernas estavam livres das ferragens e, seu peito oprimido, livre da ação do volante.

- Cuidado no pegá-la, porque está com as pernas muito quebradas. - alguém gritou, quase chorando, apiedado da linda jovem, tão castigada no horrendo desastre.

Sílvia percebeu dois braços musculosos passarem cuidadosamente, pelo seu corpo, um deles por debaixo do joelho e, o outro, pelas costas. Quando o piedoso soldado
do fogo tentou erguê-la, apesar do seu carinhoso cuidado, a dor multiplicou-se, ao infinito e o Espírito de Sílvia, que vinha reagindo para não
soçobrar, rendeu-se,
sendo beneficiado por espécie de sono, que lhe retirou o contato com a realidade
exterior.

Não ouviu mais nada.

****
Retomamos a atualidade da nossa narrativa, quando chegamos, com Serra e Ruth, no hospital.

Dirigiram-se, apressados, à portaria, e foi Serra, emocionado, quem feriu o assunto.

- Sou Antônio Serra, e daqui deste hospital, telefonaram em minha casa, solicitando o meu comparecimento em razão da internação de uma paciente, chamada Sílvia.

- Ah!, fui eu mesma quem telefonou. Não sabemos o seu endereço para avisar os pais, ou os familiares que tenha. O senhor pode nos informar?

- Sei que os seus pais moram em outra cidade, mas desconheço o seu endereço . Sei, também, que aqui ela não tem nenhum parente. Essa moça trabalhou em meu estabelecimento
comercial, por algum tempo.

É que necessitamos de alguém que se responsabilize pela sua internação.

- Somos seus amigos, podemos nos responsabilizar? - disse Ruth, avaliando as dificuldades do pai para tomar essa decisão.

- Claro que podem.

Antônio Serra olhou a filha com imenso carinho, e duas grossas lágrimas lhe rolaram dos olhos, apesar do imenso esforço que fez para não revelar a sua emoção. Que
alma extraordinária Deus lhe deu para iluminar seus caminhos! Nunca pensou que o amor ao semelhante tinha raízes tão profundas no coração da filha, conquanto lhe
reconhecesse os dotes de elevação espiritual.

- Como está a moça? - perguntou, quando conseguiu sair do seu deslumbramento paterno.

- Ao que consta, muito mal. Está, agora, na sala de operações, sendo examinada.

- Que partes lhe foram ofendidas?

- Principalmente as pernas, com muito prejuízo nos joelhos. Mas o volante machucou-lhe o peito. Fora disso, alguns cortes com vidro. Por favor, preencha esta ficha
- disse a atendente, passando um papel a Serra.

Atendidas as formalidades da internação, inclusive com o depósito em cheque, a título de garantia, a jovem entregou uma chave:

- Quando sair da operação, se tudo já estiver bem, a moça vai para o quarto dezoito, que dispõe de cama para um acompanhante. Seria interessante que o senhor providenciasse
roupas para ela. Em sua bolsa, encontramos este chaveiro; penso que alguma das chaves deve ser da sua casa.

- Sim, a chave da sua casa estava ali, pois, a conhecia muito bem - pensou Serra, quando pegou o chaveiro.

- Papai, eu posso ficar com Sílvia. Você me deixa em casa, para que jante e arrume alguma roupa, enquanto providencia as coisas dela.

- Nada podemos fazer aqui, no momento. Vamos então. Saíram os dois, afoitos, enquanto Arquimedes e eu nos dirigimos à sala de operação onde Sílvia estava sendo examinada.

Via-se que as lesões, nas suas pernas, eram muito grandes. Três médicos a examinavam, cuidadosamente, avaliando a grave situação, com vistas à decisão do caminho
a seguir, do qual não estava fora de cogitação eventual amputação, pelo menos, de uma das pernas, do joelho para baixo.

- Seria bom entrarmos em contato com o plantão espiritual da casa - disse Arquimedes, indicando-me que o procurasse.

Não precisei nem procurar. Nesse momento, Osvaldo, o médico espiritual, que vinha da nossa colônia, e era conhecido pessoal de Arquimedes, entrou no quarto, cumprimentou-nos,
e passou a a acompanhar a decisão da junta médica, que, após alguns minutos de
confabulação, chegou à conclusão de que, embora com risco de alguma complicação,
valia a pena tentar a recomposição dos ossos e dos ligamentos ofendidos.

- Tudo de acordo; as providências estão absolutamente certas e penso que tudo sairá bem. A meu ver, não precisará mais do que uma bengala para andar - informou Osvaldo.

Começaram os preparativos para o ato cirúrgico, e ali ficamos em conversa com o médico desencarnado.

- Muito trabalho aqui? - perguntei, procurando conversação que me propiciasse algum esclarecimento.

- O movimento aqui é grande e contínuo. Somos uma equipe de dez médicos e trinta enfermeiros, para o atendimento.

- O trabalho que realizam é apenas concernente aos diagnósticos e ajuda aos atos cirúrgicos?

- Essa é uma parte. Enxergamos mais, em face da nossa situação de desencarnados, e, por isso, geralmente,
interferimos na mente do colega para sugerir-lhe providências,
que não estava alcançando. Contudo, penso que a parte mais importante, da nossa tarefa, diz respeito ao tratamento do perispírito dos pacientes.

- Interessante. Quanto ao perispírito, quais providências geralmente, são tomadas?

- No caso de Sílvia, por exemplo, temos um quadro provocado de fora para dentro, afetando, primeiro, o corpo físico para, depois, refletir-se no corpo espiritual.
Nessas circunstâncias compete-nos fortalecer as células espirituais da parte ofendida, para que não se desequilibrem e propiciem melhor recuperação dos componentes
físicos. A maioria das enfermidades, no entanto, vem de dentro para fora - se assim podemos nos expressar, em vista do perispírito não estar _por _dentro -; nascem
no corpo espiritual e afetam o corpo físico, onde se instalam. As nossas providências no sentido de tratar a doença, no geral, consistem em aplicações magnéticas.
O corpo físico, em qualquer esfera de vida, em que estivermos, - entendendo-se que o Espírito desencarnado também tem o seu corpo físico, da matéria do plano em
que se manifesta, - é de natureza eletromagnética, estruturado sempre no apoio de vidas inferiores, que são as células de diferentes tipos, à feição do plano físico
que o compõem. Através do magnetismo, conseguimos realizar qualquer intervenção no corpo denso, seja para provocar doenças como fazem os Espíritos malfazejos, seja
para curá-las ou paliá-las, como fazem os Espíritos bons.

- Os Espíritos inferiores podem curar também?

- A força magnética é a mesma, resumindo-se tudo a uma questão de direção. Se a vontade que dirige o poder magnético está voltada para a destruição, o seu conteúdo
é maléfico; se, no entanto, está voltada para a restauração, para a cura, a sua ação é benéfica. Por isso, chamei de Espíritos malfazejos, aos que impõem a doença
e a morte.

- Pode me dar uma idéia do nascimento da enfermidade do corpo espiritual?

- Em linhas gerais, excetuadas as de natureza cármica, as enfermidades procedem de três fontes distintas. A mais importante, ao que me parece, diz respeito à atuação
dos Espíritos desencarnados sobre os encarnados, em processo que vão desde a vampirização comum, as delicadas flagelações da vingança. Alta porcentagem dos seres
humanos adoecem - e muitos chegam a desencarnar -, vítimas da ação predatória ou opressora dos Espíritos desencarnados de condição inferior. A segunda, resulta da
atividade mental, quando livre, do Espírito encarnado, em face do seu temperamento e da sua situação evolutiva, gerando desequilíbrios, ou diretamente, a própria
enfermidade quando se fixa mentalmente nela. A terceira fonte diz respeito às invasões de fora para dentro, não apenas de vírus, micróbios, etc, mas, também, de
fumo, bebidas alcoólicas e produtos tóxicos.

- Desculpe-me a pergunta, que faço com vistas aos meus leitores: mas, se os Espíritos superiores podem curar qualquer doença, por que não aliviam a humanidade deste
peso terrível, curando todo mundo?

- Determina a Lei que cada um seja o produto das suas próprias obras. Recebendo o corpo físico, nas bênçãos da reencarnação, compete-nos zelar por ele qual sagrado
depósito, recebido do Tesouro Divino, e do qual daremos contas, em momento oportuno. A doença não é um flagelo, mas, sim, uma resposta, à nossa própria ação, ou
à ação estranha que aceitamos sem resistência. Vê-se, portanto, que, em certo sentido, ela é um sinal, para que raciocinemos em busca do equilíbrio da preservação
do nosso patrimônio de natureza divina. Livrar os homens de suas enfermidades, de modo generalizado, tão logo apareçam,seria prestar-lhes um desserviço, porquanto,
abrir-lhes-ia as portas da indisciplina e do desregramento, em detrimento da sua educação e da sua marcha evolutiva. A nossa intervenção se soma aos seus esforços,
ao seu desejo de curar-se e, as´sim mesmo, quando apresente merecimento para receber o benefício, ou alguém, com méritos também, interceda por ele. No terreno em
que devem prevalecer o esforço e a responsabilidade pessoais, a Vida não dá nada de graça.

Osvaldo deveria atender a operação de Sílvia, prestes a se iniciar, e, por isso, polidamente, despediu-se de nós.

Dirigimo-nos ao quarto número dezoito, onde já se encontravam Ruth e seu pai, à espera do resultado da operação.

A filha pediu a Serra que lhe desse um espaço de alguns minutos, para que pudesse orar, e que, ele mesmo, procurasse se concentrar orando, por sua vez.

A jovem concentrou-se, recolheu-se interiormente, e sua mente começou a iluminar-se ao impulso da oração, muda para o plano físico, mas que ouvíamos plenamente articulada,
erguendo-se-lhe do coração fraterno por canto de esperança e de fé.

"Jesus amado!

Médico das almas decaídas que sofrem e que choram as amargas conseqüências de seus atos, de ignorância e rebeldia, ante a Lei que manda amarmo-nos, uns aos outros
e, juntos progredirmos nesta Escola do Infinito; tolera-nos, ainda, senhor, os passos vacilantes, as fraquezas que ainda ostentamos, o orgulho que envenena, o egoísmo
que empobrece, longe que estamos das leis justas da Vida, e abençoa-nos, senhor, hoje e sempre"!

Nesse momento, Ruth fez uma ligeira pausa; era um pequeno sol a irradiar-se em raios maravilhosos. Atraídos pela luz da oração, numerosos Espíritos, trabalhadores
da casa, compareceram com os enfermos desligados do corpo físico e, à medida que chegavam, postavam-se em posição de recolhimento, para acompanharem a rogativa.
Ruth, com os olhos voltados para o Alto, continuou:

"Senhor! Eis-nos, aqui, pedindo à Tua misericórdia de Pastor compassivo, que nos sustente neste trecho difícil da vida, nesta hora de desequilíbrio em reajuste,
para que possamos atravessá-lo, aproveitando-lhe as lições benditas, para que não venhamos mais a cair nos erros e nos desregramentos, que nos aniquilam a saúde,
física e mental, impondo-nos a doença e a suposição da morte, suposição, Senhor, porque a morte não existe.

Derrama sobre todos nós, os que nos acolhemos sob este teto de carinho, que lutamos para preservar a saúde e a vida, e que não estamos alheios à Tua indulgência,
às Tuas bênçãos de trabalho e de paz, para que nos fortaleçamos e nos reergamos para as refregas de cada dia, com novas chances de renovação e de progresso.

Assim seja".

Ruth recebia, do Alto, profusa chuva de fluidos luminosos, multicoloridos, que desciam até seu coração e se expandiam no ambiente, derramando-se sobre todos nós.
Todos se emocionaram, e, talvez porque os corações, ali presentes, se mostrassem agradecidos, antes que se extinguisse a luz que se derramava sobre a jovem, nova
chuva de flocos brilhantes se abateu sobre todos, principalmente sobre os enfermos semiliberados, que os absorviam, alojando-os nas regiões afetadas, dissipando
os fluidos pesados do desequilíbrio orgânico.

- São fluidos curativos - elucidou Arquimedes -, Dia virá em que os homens compreenderão o valor da prece e, em cada hospital, haverá um recinto especial para que
os doentes, guiados por um coração generoso, semelhante ao desta jovem, possam usufruir os benefícios do socorro espiritual, que tem recursos infinitos para restaurar
os mais combalidos organismos físicos.

- Na assistência que prestamos, no plano espiritual, não se incluem as orações coletivas?

- Claro que sim. Ocorre, porém, que, tendo em vista a natureza do corpo humano, seria preferível, e mais eficiente, se essas reuniões se fizessem no plano dos encarnados,
fluindo o benefício não apenas sobre o perispírito do enfermo, mas, também, sobre as próprias células físicas afetadas. Demais disso, se organizadas com o concurso
de pessoas sadias, para servirem de suporte, as suas energias irradiadas poderão ser transferidas para os enfermos, proporcionando curas admiráveis, na medida em
que essas energias sejam mais abundantes e mais especializadas.

Desfez-se a reunião e os enfermos voltaram para os corredores, nas suas cadeiras rodantes, apropriadas a cada caso.

Serra e a filha passaram a conversar, analisando todos os acontecimentos daquele dia agitadíssimo, mas que lhes foi de uma utilidade incrível, conquanto tivessem
que internar duas pessoas, naquele hospital.

Falaram de Flávia, da providencial interferência que tiveram, e prometiam visitá-la no outro dia, dividindo o tempo entre as duas.

Mas tinham uma nuvem de tristeza relacionada ao estado de Sílvia, que desconheciam, e, no entanto podiam avaliar pelas informações.

Assim, passaram horas, ansiosos, na expectativa de que a jovem saísse bem na operação, com o menor prejuízo possível ao seu veículo físico.

Eram quase duas horas da madrugada quando trouxeram Sílvia. Tinha as duas pernas engessadas e o rosto coberto com gaze, enrolada em forma de máscara. Estava inconsciente,
sob os efeitos da anestesia.

Acomodaram-na na cama, presa de tal forma que não pudesse, de nenhum modo, mover as pernas. Os enfermeiros ajeitaram os petrechos para a injeção contínua de soro
e plasma, e deram precisas instruções a Ruth, quanto aos cuidados que lhe cabiam.

Quando ficaram sozinhos, aproximaram-se do leito para analisarem melhor o quadro, aos seus olhos.

Aquelas impressões nos interessavam muito. A reação dos dois, diante daquela mulher que se lhes declarou inimiga, e marchou para a guerra destrutiva, eram importantes
para a solução do problema que nos dispúnhamos a resolver.

Depois de alguns minutos de muda observação, avaliando o estado deplorável da jovem vencida, aquelas duas almas nobres, ao invés de um sorriso de vitória, deixaram
que lágrimas ardentes lhes escorressem pelas faces, como se se tratasse de alma querida, passando por dura prova. Aliás, essa era a nossa expectativa.

Sílvia dormia profundamente.

Serra mandou que Ruth descansasse, e se dispôs a permanecer acordado, ao lado da cama da enferma.

Deixou o quarto em penumbra, clareado apenas por pequena lâmpada azul.

Observando a jovem, que tinha quase a mesma idade da filha, sentia-se um monstro desapiedado, que não hesitou em se aproveitar da solidão e do desamparo da menina.

É verdade que a moça tinha maus instintos, mas, não competia a ele, que tinha idade para lhe ser pai, reagir às suas investidas e reconduzi-la ao caminho do respeito
e do bem?

- Ah! Deus há de me dar forças para me converter num segundo pai desta menina, ajudando-a em tudo o que for possível - pensava, arrependido, agora, das suas aventuras
amorosas.

Estava certo de que já não conseguiria ser, novamente, seu amante. Laços de ternura lhe brotavam do coração, envolvendo a jovem enferma.

Arquimedes olhava, enternecido, as emoções de Serra, os seus propósitos de renovação e, voltando-se para mim, disse:

- Não acredito que o ódio de Sílvia resista ao amor de Serra e Ruth. Nosso caso caminha para um desfecho feliz, apesar da situação difícil desta jovem que, no entanto,
é momentânea. Vamos ver, enquanto esperamos, se podemos ser úteis aos trabalhadores da casa.

****

Eram quase nove horas da manhã, quando Sílvia abriu os olhos, e viu dois vultos, que se aproximavam, mais da cama. Estava meio aturdida e não conseguia, de pronto,
concatenar os pensamentos.

Sentia-se num leito, imobilizada. Quis mover-se e não podia. Doíam-lhe as pernas e o resto do corpo. Estava fraca e cansada. Sua mente, aos poucos, foi se clareando
e lembrou-se do acidente de carro e das cenas que se seguiram, até que a tomaram nos braços. Devia estar num hospital, trazida por mãos piedosas.

Quando ia conseguindo se recompor, intimamente, seu contato com o mundo, exterior foi se alargando. O quarto lhe parecia iluminar-se aos poucos, e tudo o que era
nebuloso, como se estivesse fora de foco, foi se delineando.

De repente, seus olhos pousaram em Ruth e no pai desta. Abriram-se, desmesuradamente, e tanto o pai quanto a filha, assim como nós, procuramos interpretar-lhe
a
reação.

O brilho dos seus olhos era de surpresa e perplexidade.

- Que é isto? Meus inimigos ao meu lado?Que desejam? Humilhar-me pela minha derrota? - pensou.


Ruth que lhe acompanhava o espanto, antes que Sílvia reagisse de qualquer forma, tomou-lhe as mãos, entre as suas, e disse, com extrema doçura:

- Sílvia querida, tudo está bem. Nós estamos aqui para ajudá-la no que for preciso. Veja em mim uma irmã e, em meu pai, um seu pai, renovado, querendo pagar, ao
seu coração, os seus erros, com a sua dedicação e o seu amparo. Não nos julgue ainda; dê-nos um tempo para demonstrarmos o nosso afeto. Não nos negue esta oportunidade
de testemunhos, a fim de que possamos desfazer quaisquer laços inferiores, que existam entre nós.

A voz de Ruth soava como um canto de amor, e seus olhos, marejados de lágrimas, penetravam fundo nos olhos da enferma, querendo transmitir-lhe as emoções daquela
hora de reencontro.

Era a primeira vez, em sua vida que Sílvia recebia manifestações de tanto afeto e de tanta humildade. Estava confusa; as palavras da jovem lhe chegavam de surpresa,
carregadas de uma vibração, que lhe era desconhecida.

- Seria possível que alguém, perseguido, abençoasse o perseguidor? - pensou.

Queria não acreditar no que ouvia, mas o magnetismo daquela jovem, a sua vibração de ternura, lhe pareciam autenticar as palavras. Ruth lhe pedira tempo para provar
seu afeto; ela também precisava de tempo para aceitar essa manifestação que se lhe afigurava um tanto estranha.

- Deixe-nos ficar ao seu lado, cuidando de você, suprindo todas as suas necessidades de ordem material?

Sílvia olhou nos olhos de Serra, e surpreendeu-se, também, com o brilho diferente. Já não a olhava com lascívia ou com desprezo, mas com ternura, como a lhe pedir
perdão.

Olhou para Ruth e, com algum esforço, balançou a cabeça em sinal afirmativo, sem, no entanto, deixar transparecer qualquer expressão de alegria.

X - FINALMENTE A PAZ

Passaram-se alguns dias, antes que regressássemos ao caso Serra, em companhia de Josias.

Fomos diretamente ao hospital, no quarto em que se achava Flávia, completamente recuperada, e prestes a deixar o nosocômio.

Serra e Ruth, sentados juntos à cama conversavam com a jovem, animando-a para sair e enfrentar a vida lá fora. Aquelas três almas já estavam ligadas por laços profundos
de simpatia.

- Estou muito feliz. Há alguns dias, estava à beira da morte, que levaria o meu filho, que ainda carrego comigo. Estava sozinha, no meu leito de dor. Muitas vezes,
tive desejo de atentar contra a minha vida, mas a responsabilidade de vir a ser mãe, graças a Deus, livrou-me, de tal loucura. Encontrei em vocês, um pai carinhoso
e uma irmã dedicada, que tudo têm feito por mim, como se eu fosse do seu próprio sangue. Deus haverá de recompensá-los por tanto bem que me fizeram e estão me fazendo.

- Deixe disso, querida, - disse Ruth, tomando a mão de Flávia entre as suas, numa demonstração de apoio e de carinho. Sei, no entanto, que você não está inteiramente
feliz. Quando lhe anunciei que hoje sairia do hospital, percebi uma sombra de preocupação em seus olhos. Pensei, pensei, e cheguei à conclusão de que está preocupada
com a hora em que tiver que sair e enfrentar, sozinha, a vida lá fora, nesse estado, e sem ninguém para ampará-la. Não é verdade?

Flávia tinha os olhos molhados. Olhou, reconhecida, para a jovem e confiou-lhe:

- Sim, é verdade. Não sei o que vai ser de mim, e logo mais, de nós. Estava pensando em recorrer a algum serviço assistencial do governo, e ia pedir seu apoio.

- Minha filha, - disse Serra, cortando-lhe a palavra. Hoje fizemos uma reunião em nossa casa, e decidimos convidá-la para vir morar conosco. Depois, que você der
à luz, poderá ajudar Ana e Ruth nos serviços de casa ou, talvez, trabalhar na minha loja. Ganhará o seu ordenado mensal, para atender as necessidades da sua pequena
família, e procuraremos ser a família maior que já não tem. Aceita?

Flávia emocionou-se. Nunca podia esperar que a bondade daquelas pessoas chegasse a tanto. Colhida de surpresa, a voz não lhe atendia ao impulso na garganta. Precisava
acalmar-se para responder.

Passou algum tempo e Ruth, aflita, perguntou-lhe:

Aceita?

- Claro ... que aceito. É que a emoção me embargou a voz. Precisei recuperar-me, para poder me expressar. Que Deus os abençoe. Que o Espírito de meu pai, que
tanto
me amava, tenha forças para ajudar-me, a pagar o quanto lhes devo.

Josias, chorando de alegria e de emoção, abraçou-se à filha e cobriu-a de beijos. Depois abraçou, demoradamente, a sua antiga vítima, e agora tão grande benfeitor,como
se procurasse infundir-lhe novas forças. Abraçou Ruth, e enternecido, depositou-lhe um beijo na testa.

- Você me parece muito feliz, Josias, - disse-lhe com um cordial tapinha nas costas.

- E como é grande a minha felicidade! Faz tão poucos dias, eu era um revoltado, tiranizando e oprimindo com ódio destruidor, desanimado que estava com a vida e com
os homens. De repente, duas das minhas vítimas me dão uma tremenda lição de amor, que mudou o rumo dos meus passos, passando à condição de meus benfeitores. Com
o gesto de amor, e com o desprendimento, com que socorreram Flávia, ensinaram-me mais do que mil compêndios de filosofia. Agora, vejam só, recolhem minha menina
em sua casa, como se fosse uma filha do coração.

- Quando menos esperamos, chega o nosso dia do reencontro, à maneira de filho pródigo, com a verdade, com a Bondade Divina, que nunca está longe de nós, mesmo
nos
dias cinzentos dos nossos desacertos. O amigo, cedeu um pouco, quando concordou em deixar o crime, embora estipulasse um preço, que me pareceu justo. A esse impulso
inicial, o senhor fez o resto, porque as coisas se sucederam de maneira que não supúnhamos, culminando na felicidade deste momento, da qual todos participamos. Além
disso, em breves dias, você voltará ao convívio da filha e destes nobres amigos, para defendê-los das arremetidas do mal a fim de que a vida lhes possa fluir mais
segura e mais tranqüila,- disse Arquimedes, bondoso.

- Oh! Quer dizer, que vou poder ficar ao lado deles, desfrutar-lhes o convívio?

- Exatamente. Assim terá, também, a oportunidade de pagar aos benfeitores, a dívida de gratidão que o amigo já contabilizou no livro da sua alma. Entende o mecanismo
da Justiça Divina? A _forças _das _coisas se encarrega de tudo ligar ou desligar, no momento oportuno. Ontem você ia à casa de Serra, na qualidade de verdugo,
para
oprimi-lo, em nome das sombras, amanhã voltará, na qualidade de amigo, para defendê-lo dessa mesma força sombria à qual servia.

O serviço de enfermagem entrou no quarto, a fim de preparar Flávia, para a saída. Depois de alguns minutos, a jovem deixou o hospital, em companhia de Antônio Serra
e de Josias. Todos felizes com o desfecho daquele caso inesperado.

Ruth se dirigiu para o quarto de Sílvia. Nós a seguimos.

Irradiava felicidade por todos os poros do seu corpo e da sua alma. Ganhara uma irmã, e logo teria uma criança, em casa, para repletá-la de alegria.

Sílvia ainda não havia cedido. Falava por monossílabos, arredia, desconfiada. Mergulhada na maldade, ainda não havia se convencido de que aquelas pessoas, que tentara
prejudicar, pudessem fazer tudo aquilo com amor, esquecidas dos seus atos.

Ruth entrou no quarto com tal expressão de alegria, que Sílvia se descontraiu, por alguns instantes, dizendo-lhe:

- Que houve? Ganhou na loteria?

- Melhor que isso, ganhei uma irmã. Convidamos Flávia para ir morar conosco,e ela aceitou. Foi agora mesmo, com papai, toda feliz. Imagine que, há apenas alguns
dias, nem a conhecia, e, agora, me parece alguém que conheço, há muito tempo, e que se liga ao meu coração. Sou Espírita, acredito na reencarnação e, portanto, na
existência de laços do passado que nos atraem uns aos outros. Mas, como se sente hoje?

Sílvia ouviu a manifestação da jovem entre surpresa e arrebatamento. Aquela moça era mesmo um caso estranho de amor, desse amor que ela nunca havia sentido. Tinha
de acreditar na sua sinceridade - pensava -, abandonando o coração.

- Estou bem - respondeu, depois de ligeira pausa.

- Não sente mais dores?

- Muito pouco. O que mais me incomoda é a impossibilidade de mover-me.

- Infelizmente, isso é necessário: de outro modo eu lhe aliviaria. Dói-me vê-la assim na cama.

- Seja sincera, Ruth, você gosta de mim?

A jovem não esperava a pergunta. Num segundo, achou que a outra, talvez, tivesse o direito de duvidar da sua sinceridade. Olhou bem nos olhos da interlocutora, com
a doçura que lhe era peculiar, enrubesceu e respondeu ternamente:

- Que pergunta, Sílvia!Perdoe-me se, em algum momento a tratei mal, de modo diferente ao meu desejo de ser útil. Por favor, diga-me: por que duvida do meu afeto?

- Acho muito estranho. Nunca me tratou assim, com tanto carinho, e sendo você uma pessoa a quem prejudiquei, assombra que isso não afetasse seu coração, que ainda
se disponha a a ajudar-me. Entenda: no mundo em que vivo, a sua atitude não tem lógica; por isso, tenho dificuldade em aceitar a sua sinceridade.

- Ora, Sílvia, - disse a moça com ternura -, a lógica da vida é que nos amemos uns aos outros, para que possamos viver em paz. Não há outra fórmula melhor para que
alcancemos a felicidade. Por que haveria eu de magoar-me, adoecer na revolta ou revidar, aumentando os laços de ódio, de difícil reparação? Aprendi, com a Doutrina
Espírita, que todos nós somos Espíritos imperfeitos, sujeitos ainda a nos equivocarmos, e, por isso devemos mos tolerar, uns aos outros, e perdoar setenta vezes,
sete vezes, conforme nos ensinou Jesus.

- Creio que estou muito distante dessa posição cristã, e não sei perdoar, ou tolerar, os que me fazem mal. Comigo é _olho _por _olho, _dente _por _dente; quem fez,
tem que pagar.

- Cuidado, minha querida, pois Jesus também nos preveniu de que, _com _a _mesma _medida _que _medirmos, _seremos _medidos, o que equivale a dizer que nos será aplicado
o mesmo princípio de justiça, que aplicamos nos outros. Entretanto, a Pena de Talião não está fora da cogitação da vida. É que esse princípio rigoroso devemos aplicar
a nós mesmos, no julgamento dos nossos atos, para que aceitemos, com humildade, as reparações que nos sejam pedidas. Ninguém se eximirá do mal, que haja praticado.

- Essa Doutrina do _dai _a _face _esquerda _a _quem _lhe _bata _na _direita, que é igual a do _perdoai _setenta _vezes, _sete _vezes, sempre me pareceu covardia.
A pessoa que nos bate, numa face, com o mesmo impulso, nos baterá na outra. Tenho experiência própria, quanto mais nos abaixamos, mais apanhamos.

- Não vou discutir com você, Sílvia. Devo respeitar o seu modo de pensar, que é uma resposta da sua natureza interior. Porém, posso lhe afirmar que, desde o momento
em que resolvi não passar recibo aos insultos de qualquer espécie, não tenho colecionado inimigos no meu caminho. Com esse modo de ser, penso que a bondade Divina
me retribui com uma paz, que julgo ser a verdadeira felicidade.

- O pior é que você me parece sincera!

- Pior por quê?



- porque se um exército resolver ajudar o seu inimigo e perdoá-lo, certamente será dizimado antes que manifeste a sua intenção. Porque nessa luta, do homem contra
o homem, no jogo dos interesses humanos, quem fraquejar, será esmagado.

- Escute, o argumento, à primeira vista, parece razoável; contudo, não se esqueça da sabedoria popular que nos ensina que _quando _um _não _quer, _dois _não _brigam.
Simplesmente, não declaro guerra a ninguém: declaro a paz. E sem inimigo não há luta.

- Sinto desejo de pôr à prova seu argumento, mas...

- Mas ... o quê?

- Poderia feri-la.

- Nem pense nisso.

- pois bem! Você aceitou o jogo. Fiz um processo em cima do seu pai, para que ele se arruinasse, econômica e fisicamente, e voltasse aos meus pés para humilhá-lo.
A carta anônima que você recebeu, fui eu mesma quem escreveu. Nesse intento, coloquei toda a minha energia, e contratei Espíritos da sombra para que executassem
meus desejos. Reconheço que não pode existir mal maior. Se você soubesse disso antes, teria me socorrido e dado a assistência que me deu?

Enquanto a jovem falava, tinha os olhos fincados nos de Ruth, procurando qualquer reação que não veio. Tanta serenidade lhe doeu. De que era feita aquela mulher?De
gelo?

- Sílvia, minha irmã, - iniciou Ruth, com ternura -. Digo-lhe que já sabia de tudo, com todos os pormenores. A Providência Divina, no entanto, ajuda aqueles que
se esforçam por serem bons. Há alguns dias, eu e meu pai, socorremos pobre moça viúva, em estado de gestação, que estava à beira da morte, e a salvamos. Daí a minha
alegria de hoje, quando ela deixa o hospital e vai para a nossa casa. Fomos num trabalho Espírita, onde meu pai foi aliviado da carga fluídica que lhe pesava e
dos Espíritos que o perseguiam. Qual foi a nossa surpresa, ao se apresentar o executor de seu desejo chamado Josias, pai de Flávia, que pediu-nos perdão e nos agradeceu
pelo bem que fizemos, sem o saber ou pretender, à sua filha aparentemente desvalida.O inimigo feroz, como ele mesmo se classificou, tornou-se nosso amigo, e promete,
doravante, defender-nos das arremetidas do mal.

- E o mal que ele chegou a fazer? Interrogou Sílvia, para cortar, um tanto desesperada, a argumentação da jovem.

- Desse mal, não quisemos reparação alguma. Se somos todos imperfeitos, quantas vezes teremos sido perdoados por nossas vítimas, ou viremos a sê-lo! Mas isso não
o exime diante da Justiça Divina, que age, matematicamente, pois ele se confessou sob os efeitos do choque de retorno, daquilo que havia feito, fardo esse que lhe
custará resgatar.

Choque de retorno? Essas palavras cortaram a mente de Sílvia qual raio incandescente. Estaria ela recebendo o impacto das forças destrutivas que gerou e nutriu?
Bem que havia sido avisada. Ficaria aleijada, como desejou a Serra, e miserável, sem recursos? Seu corpo estremeceu. Fechou os olhos para tentar conter o pranto,
que ameaçava brotar, na derrocada da sua fortaleza inteira. Mas, foi em vão, as lágrimas saíram molhando-lhe a face avermelhada pelos medicamentos. Ela se sentia
derrotada, humilhada.

- Chega, Ruth, chega! Agora entendi, tudo. A Justiça Divina está me cobrando olho por olho, dente por dente, usando a minha própria medida. Vejo que vou receber
todo o mal que desejei ao seu pai. Ficarei aleijada?

- Não querida, nem pense nisso. Estamos rezando para que você volte a ser perfeita. Dizem os médicos que, com um pouco de otimismo, que eu retifico para, com um
pouco de ajuda Divina, não necessitará mais do que uma bengala, para andar. Você nos reconhece por credores, o que nos dá o direito de rogar misericórdia em seu
benefício. Tudo vai sair bem.

Sílvia silenciou alguns instantes, olhando a jovem, que lhe parecia alguém de outro planeta, uma personalidade que não poderia existir na terra. Ruth olhou-a com
ternura, como costumava fazer, e lhe disse com muita meiguice:

- Acorde, Sílvia! Deus é amor. A vida é amor. O amor alimenta a nossas almas. Amemo-nos uns aos outros, e nada perturbará a nossa paz, a nossa felicidade, a nossa
alegria. Perdoemo-nos mutuamente, para que a vida nos perdoe, em nossos erros, imperfeitos que somos. Acredite no bem, e lute por ele, para que o bem lhe seja patrimônio
definitivo no coração. Nunca ouça as sugestões do mal, porque, num segundo, poderemos cair em abismos que nos exigirão
séculos de lutas e dores para deles sairmos.
Vivamos com inteligência. Se devemos colher o que plantamos, plantemos apenas o que seja justo, o que seja bom, para colhermos felicidade e alegria, paz e renovação.
Acredite em mim, Sílvia! - finalizou Ruth, beijando-lhe a face, com carinho.

A doce exortação de Ruth, caiu na alma daquela jovem que fora uma fera humana, como gotas frescas de água pura, apagando o incêndio devorador da sua revolta, e das
suas dúvidas fazendo vibrar-lhe as fibras íntimas, despertando-lhe as ternas emoções há longo tempo represadas, que chegaram aos olhos em forma de lágrimas ardentes.

- Perdoe-me, Ruth, perdoe-me! O seu coração generoso me abriu novos horizontes de esperanças. Tenho sido má, e vejo que tenho pago preço muito alto pela minha ignorância.
Se você pode ser tão justa e boa, também poderei chegar a ser assim, um dia. Vou lutar para isso, pois vejo na serenidade e ternura dos seus olhos, o quanto deve
ser bom, ser bom. Ajude-me. Corrija-me. Ensine-me. Quero aprender com você.

Arquimedes tinha os olhos úmidos! Olhou-me, feliz, e disse-me:

- Esta é uma verdadeira proeza. Que força tem o amor! Sílvia acaba de renascer para os caminhos da imarcescível luz. Que Deus a abençoe!

Não quis interromper os diálogos, para descrever as emoções daquela hora. Enquanto Ruth falava, nimbava-se de intensa luz, que se derramava sobre a enferma, penetrando-a
por todo o corpo, alimento Divino nascido daquele coração fraternal. Do alto, talvez pelas emoções de amigos daquelas duas personalidades da nossa história, derramava-se
chuva incessante de fluidos luminosos, que se concentravam em Ruth e fluíam sobre Sílvia, afrouxando-lhe a dureza anterior. O amor vitorioso retirava, do ódio vencido,
uma alma, triste e sombria, para os caminhos da renovação e da claridade. Aquelas duas mulheres, cujas vidas anteriores desconhecíamos, ligavam-se, naquele instante,
para toda a eternidade, por laços indestrutíveis.

Antônio Serra entrou, polidamente, no quarto, e encontrou as duas chorando, uma ao lado da outra.

Sentiu as vibrações do ambiente, e adivinhou logo que o amor sem reservas, de sua filha, havia vencido o endurecimento de Sílvia.

Aproximou-se, cauteloso, sentou-se ao lado de Ruth, e deixou que as moças se desabafassem, aguardando em silêncio.

Longos minutos correram, preservando aquele êxtase comovedor, até que as jovens, registrando a presença de Serra, procuraram recompor-se.

- Papai, Sílvia nos aceitou como amigos.

- Perdoe, Serra, pelo que fiz.

- Ora, minha filha, eu é que devo pedir-lhe perdão. Por favor, esqueçamos tudo o que ficou para trás.

Enquanto os três conversavam, curioso, perguntei a Arquimedes:

- E os pais de Sílvia?

- deverão chegar logo. Serra avisou-os do acontecido, e deverá recebê-los à tarde. Dependendo desse encontro, daremos nossa tarefa por encerrada. Quero ver a reação
de Sílvia. Se ela aceitar a amizade dos pais, como¨aceitou a de Serra e Ruth, sua renovação estará garantida. Senão, tendo em vista que ela está tão perto desse
sucesso, ficaremos um pouco mais, para ajudá-la.


Durante todo o dia, Sílvia e Ruth conversaram animadamente. Ruth explicava-lhe os fundamentos da Doutrina Espírita, que entusiasmava a ouvinte pela lógica dos seus
postulados. As perguntas se sucediam, em catadupa, e as respostas chegavam, temperadas na ingenuidade e ternura da jovem expositora.

Eram quase quatro e meia da tarde, quando Serra chegou, com cara de maroto, anunciando que tinha uma surpresa para as duas. Fazendo suspense, chegou à porta e fez
sinal para alguém. Em instantes, Célio e Marina, pais da enferma, entraram no quarto.

Era um momento crucial. Sílvia cravou os olhos nos olhos dos pais, e, surpresa, encontrou a mesma expressão de ternura que vira em Ruth.

Agora, entendia que foi ela quem não soubera valorizá-los.

- Papai! Mamãe! Que alegria vê-los aqui! Estava pensando em chamá-los e só não o fiz para não incomodar mais estas almas generosas, que tanto me têm ajudado.

Havia sinceridade nas palavras de Sílvia, e, mais surpresos do que nós, seus pais se lançaram sobre ela, numa torrente de perguntas e de beijos.

Agora tudo estava bem.

- esta foi uma das tarefas mais gratificante que já tive. A recuperação de Sílvia vale pela conquista de um exército opressor, e a sua transformação em fileiras
da paz, invertendo-lhe a direção do poder, do mal para o bem. Que Jesus abençoe esse punhado de almas renovadas! - pediu Arquimedes, enquanto saíamos, dando o caso
Serra-Sílvia, por encerrado.


Digitalizado por Alessandra Maria Paiva e Geralda germano Lopes

Agosto de 2011







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