tag:blogger.com,1999:blog-58048631415819111732024-03-13T23:01:42.421-07:00Universo das Mensagens e das MusicasCapixabahttp://www.blogger.com/profile/13630360338415941372noreply@blogger.comBlogger11726125tag:blogger.com,1999:blog-5804863141581911173.post-87178171900702200252024-03-02T10:53:00.000-08:002024-03-02T10:55:51.333-08:00{clube-do-e-livro} Olhos vazios A capa do livro Olhos vazios Olhos vazios Charlie Donlea<div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr" class="gmail_attr"><br></div><br><br><div dir="auto">ELA MUDOU O NOME E A APARÊNCIA... MAS NADA PODE APAGAR O QUE TESTEMUNHOU. Alex Armstrong mudou tudo sobre si mesma: seu nome, sua aparência, sua história. Ela não é mais a adolescente aterrorizada que apareceu na TV, algemada, sendo conduzida da casa onde vivia até a noite em que sua família foi massacrada. Apelidada de Olhar Vazio pela imprensa, ela foi acusada dos assassinatos, teve a vida duramente exposta pelos veículos de comunicação, mas lutou com todas as suas forças para limpar o seu nome. Dez anos se passaram e Alex nunca parou de procurar pela verdade, mesmo tendo de esconder sua identidade da horda de fanáticos por crimes reais e repórteres desesperados por qualquer notícia sobre seu paradeiro. Agora como investigadora, ela trabalha incansavelmente para garantir justiça para outros acusados. Pessoas como Matthew Claymore, que é suspeito do desaparecimento da namorada, uma estudante de jornalismo chamada Laura McAllister. Laura estava prestes a divulgar uma grande história sobre estupro e acobertamentos em sua faculdade. Alex acredita que Matthew é inocente e descobre revelações impressionantes sobre o corpo docente da universidade, alunos e pais poderosos dispostos a fazer qualquer coisa para proteger os filhos. Mas ao iniciar sua investigação, Alex encontra conexões surpreendentes com o assassinato da própria família. Por mais diferentes que os crimes possam parecer... *** Este é um thriller explosivo que você não conseguirá largar.</div> <p></p> --<br><br> </div><br clear="all"><div><br><br><div class="gmail_quote"><div dir="ltr" class="gmail_attr">--<br>De: <strong class="gmail_sendername" dir="auto">Márcia Regina Munhoz</strong> </div></div></div><br><div dir="ltr" class="gmail_signature" data-smartmail="gmail_signature"><div dir="ltr"><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Abraços fraternos!</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial"> </span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Bezerra</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Blog de livros</span></p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Blog de vídeos</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Meu canal:</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=JMmHjF86UCU&t=84s" target="_blank">https://www.youtube.com/watch?v=JMmHjF86UCU&t=84s</a><br></p></div></div></div> <p></p> -- <br /> -- <br /> Seja bem vindo ao Clube do e-livro<br /> <br /> Não esqueça de mandar seus links para lista .<br /> Boas Leituras e obrigado por participar do nosso grupo.<br /> ==========================================================<br /> Conheça nosso grupo Cotidiano:<br /> <a href="http://groups.google.com.br/group/cotidiano">http://groups.google.com.br/group/cotidiano</a><br /> <br /> Muitos arquivos e filmes.<br /> ==========================================================<br /> <br /> <br /> Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "clube do e-livro" em Grupos do Google.<br /> Para postar neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro@googlegroups.com<br /> Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro-unsubscribe@googlegroups.com<br /> Para ver mais opções, visite este grupo em <a href="http://groups.google.com.br/group/clube-do-e">http://groups.google.com.br/group/clube-do-e</a>-<br /> --- <br /> Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "clube do e-livro" dos Grupos do Google.<br /> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para <a href="mailto:clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com">clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com</a>.<br /> Para acessar essa discussão na Web, acesse <a href="https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhkc%2BE7S9YsFKZTi0jaj88F%3DGWNa_1gcBBq7LdvKyrvrQA%40mail.gmail.com?utm_medium=email&utm_source=footer">https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhkc%2BE7S9YsFKZTi0jaj88F%3DGWNa_1gcBBq7LdvKyrvrQA%40mail.gmail.com</a>.<br /> Capixabahttp://www.blogger.com/profile/13630360338415941372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5804863141581911173.post-41700426481175142372024-02-27T16:42:00.000-08:002024-02-27T16:44:32.066-08:00{clube-do-e-livro} Passaros feridos de Colleen McCullough<div dir="ltr"><br><div class="gmail_quote"><div dir="ltr" class="gmail_attr"><br>De: <strong class="gmail_sendername" dir="auto">Victor Almeida</strong></div><div dir="ltr">Passaros feridos<br>de Colleen McCullough<br><br>SINOPSE<br>A história dos Cleary começa no início do século XX, prolonga-se por quase sessenta anos e decorre no grandioso cenário natural, quase selvagem, do interior da Austrália. É aqui que três gerações desta família vão experimentar a alegria e enfrentar a tragédia, em vidas que vão ganhando contornos numa terra dura, mas de grande beleza.<br><br>Um épico de luta e sacrifício, uma celebração da liberdade que cada um tem a coragem de escolher para si, Pássaros Feridos é acima de tudo uma história de amor memorável — a história de Meggie e do padre Ralph —, um amor que se estende por uma vida inteira e sobre o qual paira, inexorável, o sentido da justiça divina. Personagens inesquecíveis que vão ao encontro do destino como os pássaros da lenda australiana, que procuram os espinhos com os quais se entregam à morte, num romance que foi e continua a ser um verdadeiro fenómeno e que alcançou a categoria dos clássicos.<br></div> <p></p><br> --- <br><br> </div><br clear="all"><div><br></div><span class="gmail_signature_prefix">-- </span><br><div dir="ltr" class="gmail_signature" data-smartmail="gmail_signature"><div dir="ltr"><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Abraços fraternos!</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial"> </span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Bezerra</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Blog de livros</span></p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Blog de vídeos</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Meu canal:</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=JMmHjF86UCU&t=84s" target="_blank">https://www.youtube.com/watch?v=JMmHjF86UCU&t=84s</a><br></p></div></div></div> <p></p> -- <br /> -- <br /> Seja bem vindo ao Clube do e-livro<br /> <br /> Não esqueça de mandar seus links para lista .<br /> Boas Leituras e obrigado por participar do nosso grupo.<br /> ==========================================================<br /> Conheça nosso grupo Cotidiano:<br /> <a href="http://groups.google.com.br/group/cotidiano">http://groups.google.com.br/group/cotidiano</a><br /> <br /> Muitos arquivos e filmes.<br /> ==========================================================<br /> <br /> <br /> Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "clube do e-livro" em Grupos do Google.<br /> Para postar neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro@googlegroups.com<br /> Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro-unsubscribe@googlegroups.com<br /> Para ver mais opções, visite este grupo em <a href="http://groups.google.com.br/group/clube-do-e">http://groups.google.com.br/group/clube-do-e</a>-<br /> --- <br /> Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "clube do e-livro" dos Grupos do Google.<br /> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para <a href="mailto:clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com">clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com</a>.<br /> Para acessar essa discussão na Web, acesse <a href="https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKh%3D8Nv7SQMJ2vzMACvtd3%3DE%2B_acEAWeLc_RUh9QAnQ6wCg%40mail.gmail.com?utm_medium=email&utm_source=footer">https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKh%3D8Nv7SQMJ2vzMACvtd3%3DE%2B_acEAWeLc_RUh9QAnQ6wCg%40mail.gmail.com</a>.<br /> Capixabahttp://www.blogger.com/profile/13630360338415941372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5804863141581911173.post-53767211002103090502024-02-27T16:30:00.000-08:002024-02-27T16:32:13.390-08:00{clube-do-e-livro} Lançamento : Flores Púrpuras da Redenção -Lourdes Carolina Gagete<div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><br><div dir="ltr"><div style="font-size:small"><br></div><div class="gmail_quote"><div dir="ltr" class="gmail_attr"><br></div><br><br><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div><div><font size="4">Olá, pessoal:</font></div><div><font size="4"> Este é mais um livro de nossa campanha de doação de livros espíritas e não espíritas para atender aos deficientes visuais.</font></div></div><div><font size="4"> Agradecemos ao Irmão Fernando Santos pela doação e digitalização.</font></div></div></div><div dir="ltr"><span style="color:rgb(0,0,0);font-family:Arial"><font size="4"> Pedimos não divulguem em canais públicos ou Facebook. Esta nossa distribuição é para atender aos deficientes visuais em canais específicos.</font></span></div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiFOynW0g4di5Xa5R9pqzQifVVjFECsi539FtQ3QdNGNxjrXhOQ7olAY1w2tVC-eyoHRgIDQS9RtdMpkpgl2TYS3UWSjOu9TWdS2ubNM5mRXFFa8tshAbZtxqFN2oMhQxbt7bVvV2YcB8zFRYJcxLAf70Znjc4rdvRJacgRloUy0i-2UsHo4NofGLhbYFA"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiFOynW0g4di5Xa5R9pqzQifVVjFECsi539FtQ3QdNGNxjrXhOQ7olAY1w2tVC-eyoHRgIDQS9RtdMpkpgl2TYS3UWSjOu9TWdS2ubNM5mRXFFa8tshAbZtxqFN2oMhQxbt7bVvV2YcB8zFRYJcxLAf70Znjc4rdvRJacgRloUy0i-2UsHo4NofGLhbYFA=s320" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_7340444146113957122" /></a><br><div dir="ltr"><span style="font-size:large;color:rgb(80,0,80)">Grupo Allan Kardec lança hoje mais um livro digital !</span></div><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr" style="color:rgb(80,0,80)"><font size="4">Desejamos a todos uma boa leitura !</font></div><div dir="ltr" style="color:rgb(80,0,80)"><font size="4"><br></font></div><div style="color:rgb(80,0,80)"><font size="4">Flores Púrpuras da Redenção -Lourdes Carolina </font></div><div dir="ltr" style="color:rgb(80,0,80)"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgSop7Opz8jI822qw44EXP1kpXvsR6MUFbblhjSHliIvdXgBHWCJaqgPvM4-CHfM9VanYwxOkoBfvaiQJ0fLYbzwpGvb0ZfQIWmZ4qCPQkbV-ftwQBz6eoSGlCfBNHgpWvdfnumoXGvrgd1kXaHGufvoIXqtKROZ791aevQWpTRl4SDLwzKHCJVFzp5eRk"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgSop7Opz8jI822qw44EXP1kpXvsR6MUFbblhjSHliIvdXgBHWCJaqgPvM4-CHfM9VanYwxOkoBfvaiQJ0fLYbzwpGvb0ZfQIWmZ4qCPQkbV-ftwQBz6eoSGlCfBNHgpWvdfnumoXGvrgd1kXaHGufvoIXqtKROZ791aevQWpTRl4SDLwzKHCJVFzp5eRk=s320" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_7340444162126576802" /></a><span style="color:rgb(34,34,34)"></span><br></div></div></div></div></div></div></div></div><div><span style="color:rgb(0,0,0);font-family:Arial"><font size="4">Sinopse:</font></span></div><div><span style="color:rgb(0,0,0);font-family:Arial"><font size="4">Diante da necessidade de aprendizado e reparação de erros cometidos em existência anterior, duas almas, ainda na Colônia Espiritual que os acolhera, se preparam deliberadamente, para uma nova existência</font></span></div><div></div><div><span style="color:rgb(0,0,0);font-family:Arial;font-size:large">Lançado pelo Grupo Allan Kardec : </span></div><div><p><font color="#000000" face="Arial"><font size="4"><a href="https://groups.google.com/forum/?hl=pt-br#!forum/grupo-espirita-allan-kardec" target="_blank">https://groups.google.com/forum/?hl=pt-br#!forum/grupo-espirita-allan-kardec</a></font></font></p><p><font color="#000000" face="Arial" style="font-size:large">Nosso grupo parceiro Mente Aberta :</font></p><p><a href="https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/grupo-de-livros-mente-aberta" target="_blank">https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/grupo-de-livros-mente-abert</a></p></div><div><span style="color:rgb(0,0,0);font-family:Arial"><font size="4"><br></font></span></div><div><span style="color:rgb(0,0,0);font-family:Arial"><font size="4"><br></font></span></div><div><span style="color:rgb(0,0,0);font-family:Arial"><font size="4"><br></font></span></div></div> </div><br clear="all"><div><br></div><span class="gmail_signature_prefix">-- </span><br><div dir="ltr" class="gmail_signature" data-smartmail="gmail_signature"><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"> <p><br></p><p><br></p><p><br></p><p>BLOG DOS AMIGOS: DE REGINALDO</p><p class="MsoNormal">BLOG DE TELENOVELAS</p><p class="MsoNormal"><a href="https://blogdetelenovelas.blogspot.com/" target="_blank">https://blogdetelenovelas.blogspot.com/</a></p><p class="MsoNormal"> </p><p class="MsoNormal">BLOG DO SÉRGIO GALDINO</p><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10.5pt;line-height:107%;font-family:Roboto">Sergio Galdino</span><br style="color:rgba(0,0,0,0.87)"> <br style="color:rgba(0,0,0,0.87)"> <a href="http://blogdevariedades1.blogspot.com.br/?zx=4ef263e49f1f0aa2" target="_blank"><span style="font-size:10.5pt;line-height:107%;font-family:Roboto;color:rgb(26,115,232)">http://blogdevariedades1.blogspot.com.br/?zx=4ef263e49f1f0aa2</span></a></p><p> <br></p> <p> <span style="color:rgb(29,34,40);font-family:Helvetica,sans-serif;font-size:10pt">Blog do Moisés</span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 8pt;line-height:107%;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:10pt;line-height:107%;font-family:Helvetica,sans-serif;color:rgb(29,34,40)"> <br> </span><a href="http://blogdefilmesminisserieseseriados.blogspot.com.br/" style="color:blue" target="_blank"><span style="font-size:10pt;line-height:107%;font-family:Helvetica,sans-serif;color:rgb(25,106,212);background-image:initial;background-position:initial;background-size:initial;background-repeat:initial;background-origin:initial;background-clip:initial">http://blogdefilmesminisserieseseriados.blogspot.com.br/</span></a></p> </div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div> <p></p><br> </div><br class="gmail-Apple-interchange-newline"><br>De: <strong class="gmail_sendername" dir="auto">Reginaldo Mendes</strong> <br class="gmail-Apple-interchange-newline"><div><br></div><span class="gmail_signature_prefix">-- </span><br><div dir="ltr" class="gmail_signature" data-smartmail="gmail_signature"><div dir="ltr"><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Abraços fraternos!</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial"> </span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Bezerra</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Blog de livros</span></p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Blog de vídeos</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Meu canal:</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=JMmHjF86UCU&t=84s" target="_blank">https://www.youtube.com/watch?v=JMmHjF86UCU&t=84s</a><br></p></div></div></div> <p></p> -- <br /> -- <br /> Seja bem vindo ao Clube do e-livro<br /> <br /> Não esqueça de mandar seus links para lista .<br /> Boas Leituras e obrigado por participar do nosso grupo.<br /> ==========================================================<br /> Conheça nosso grupo Cotidiano:<br /> <a href="http://groups.google.com.br/group/cotidiano">http://groups.google.com.br/group/cotidiano</a><br /> <br /> Muitos arquivos e filmes.<br /> ==========================================================<br /> <br /> <br /> Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "clube do e-livro" em Grupos do Google.<br /> Para postar neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro@googlegroups.com<br /> Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro-unsubscribe@googlegroups.com<br /> Para ver mais opções, visite este grupo em <a 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<br>
<br>Jos� Mart�
<br>_ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ _ __ ___ _ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __
<br>Fonte: Instituto de Filosofia de Cuba
<br>_ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ _ __ ___ _ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __
<br>
<br>Mis amigos saben c�mo se me salieron estos versos del coraz�n. Fue
<br>aquel invierno de angustia, en que por ignorancia, o por fe fan�tica, o por
<br>miedo, o por cortes�a, se reunieron en Washington, bajo el �guila temible,
<br>los pueblos hispanoamericanos. �Cu�l de nosotros ha olvidado aquel escudo,
<br>el escudo en que el �guila de Monterrey y de Chapultepec, el �guila de L�pez
<br>y de Walker, apretaba en sus garras los pabellones todos de la Am�rica? Y la
<br>agon�a en que viv�, hasta que pude confirmar la cautela y el br�o de nuestros
<br>pueblos; y el horror y verg�enza en que me tuvo el temor leg�timo de que
<br>pudi�ramos los cubanos, con manos parricidas, ayudar el plan insensato de
<br>apartar a Cuba, para bien �nico de un nuevo amo disimulado, de la patria
<br>que la reclama y en ella se completa, de la patria hispanoamericana, me
<br>quitaron las fuerzas mermadas por dolores injustos. Me ech� el m�dico al
<br>monte: corr�an arroyos, y se cerraban las nubes: escrib� versos. A veces ruge
<br>el mar, y revienta la ola, en la noche negra, contra las rocas del castillo
<br>ensangrentado: a veces susurra la abeja, merodeando entre las flores.
<br>Jos� Mart�, 1891
<br>
<br>I
<br>Yo soy un hombre sincero
<br>De donde crece la palma.
<br>Y antes de morirme quiero
<br>Echar mis versos del alma.
<br>Yo vengo de todas partes,
<br>Y hacia todas partes voy:
<br>Arte soy entre las artes,
<br>En los montes, monte soy.
<br>Yo s� los nombres extra�os
<br>De las yerbas y las flores,
<br>
<br>Y de mortales enga�os,
<br>Y de sublimes dolores.
<br>Yo he visto en la noche oscura
<br>Llover sobre mi cabeza
<br>Los rayos de lumbre pura
<br>De la divina belleza.
<br>Alas nacer vi en los hombros
<br>De las mujeres hermosas:
<br>Y salir de los escombros,
<br>Volando las mariposas.
<br>He visto vivir a un hombre
<br>Con el pu�al al costado,
<br>Sin decir jam�s el nombre
<br>De aqu�lla que lo ha matado.
<br>R�pida como un reflejo,
<br>Dos veces vi el alma, dos: Cuando muri� el pobre viejo, Cuando ella me dijo adi�s.
<br>Tembl� una vez -en la reja,
<br>A la entrada de la vi�a,-
<br>Cuando la b�rbara abeja
<br>Pic� en la frente a mi ni�a.
<br>Goc� una vez, de tal suerte
<br>Que goc� cual nunca: cuando La sentencia de mi muerte
<br>Ley� el alcalde llorando.
<br>Oigo un suspiro, a trav�s
<br>De las tierras y la mar,
<br>Y no es un suspiro. -es
<br>Que mi hijo va a despertar.
<br>Si dicen que del joyero
<br>Tome la joya mejor,
<br>Tomo a un amigo sincero
<br>Y pongo a un lado el amor.
<br>Yo he Visto al �guila herida
<br>Volar al azul sereno,
<br>Y morir en su guarida
<br>La v�bora del veneno.
<br>Yo s� bien que cuando el mundo
<br>Cede, l�vido, al descanso,
<br>Sobre el silencio profundo
<br>Murmura el arroyo manso.
<br>
<br>Yo he puesto la mano osada
<br>De horror y j�bilo yerta,
<br>Sobre la estrella apagada
<br>Que cay� frente a mi puerta.
<br>Oculto en mi pecho bravo
<br>La pena que me lo hiere:
<br>El hijo de un pueblo esclavo
<br>Vive por �l, calla y muere.
<br>Todo es hermoso y constante, Todo es m�sica y raz�n,
<br>Y todo, como el diamante,
<br>Antes que luz es carb�n.
<br>Yo s� que el necio se entierra
<br>Con gran lujo y con gran llanto, -
<br>Y que no hay fruta en la tierra
<br>Como la del camposanto.
<br>Callo, y entiendo, y me quito
<br>La pompa del rimador:
<br>Cuelgo de un �rbol marchito
<br>Mi muceta de doctor.
<br>II
<br>Yo s� de Egipto y Nigricia,
<br>Y de Persia y Xenophonte;
<br>Y prefiero la caricia
<br>Del aire fresco del monte.
<br>Yo s� de las historias viejas
<br>Del hombre y de sus rencillas;
<br>Y prefiero las abejas
<br>Volando en las campanillas.
<br>Yo s� del canto del viento
<br>En las ramas vocingleras:
<br>Nadie me diga que miento,
<br>Que lo prefiero de veras.
<br>Yo s� de un gamo aterrado
<br>Que vuelve al redil, y expira, -
<br>Y de un coraz�n cansado
<br>Que muere oscuro y sin ira.
<br>III
<br>Odio la m�scara y vicio
<br>Del corredor de mi hotel:
<br>
<br>Me vuelvo al manso bullicio
<br>De mi monte de laurel.
<br>Con los pobres de la tierra
<br>Quiero yo mi suerte echar:
<br>El arroyo de la sierra
<br>Me complace m�s que el mar.
<br>Denle al vano el oro tierno
<br>Que arde y brilla en el crisol:
<br>A m� denme el bosque eterno
<br>Cuando rompe en �l el Sol.
<br>Yo he visto el oro hecho tierra
<br>Barbullendo en la redoma:
<br>Prefiero estar en la sierra
<br>Cuando vuela una paloma.
<br>
<br>Busca el obispo de Espa�a
<br>Pilares para su altar;
<br>�En mi templo, en la monta�a,
<br>El �lamo es el pilar!
<br>Y la alfombra es puro helecho,
<br>Y los muros abedul,
<br>Y la luz viene del techo,
<br>Del techo de cielo azul.
<br>El obispo, por la noche,
<br>Sale, despacio, a cantar:
<br>Monta, callado, en su coche,
<br>Que es la pi�a de un pinar.
<br>Las jacas de su carroza
<br>Son dos p�jaros azules:
<br>Y canta el aire y retoza,
<br>Y cantan los abedules.
<br>Duermo en mi cama de roca
<br>Mi sue�o dulce y profundo:
<br>Roza una abeja mi boca
<br>Y crece en mi cuerpo el mundo.
<br>Brillan las grandes molduras
<br>Al fuego de la ma�ana
<br>Que ti�e las colgaduras
<br>De rosa, violeta y grana.
<br>
<br>El clar�n, solo en el monte,
<br>Canta al primer arrebol:
<br>La gasa del horizonte
<br>Prende, de un aliento, el Sol.
<br>�D�ganle al obispo ciego,
<br>Al viejo obispo de Espa�a
<br>Que venga, que venga luego,
<br>A mi templo, a la monta�a!
<br>IV
<br>Yo visitar� anhelante
<br>Los rincones donde a solas
<br>Estuvimos yo y mi amante
<br>Retozando con las olas.
<br>Solos los dos estuvimos,
<br>Solos, con la compa�a
<br>De dos p�jaros que vimos
<br>Meterse en la gruta umbr�a.
<br>Y ella, clavando los ojos,
<br>En la pareja ligera,
<br>Deshizo los lirios rojos
<br>Que le dio la jardinera.
<br>La madreselva olorosa
<br>Cogi� con sus manos ella,
<br>Y una madama graciosa,
<br>Y un jazm�n como una estrella.
<br>Yo quise, diestro y gal�n,
<br>Abrirle su quitasol;
<br>Y ella me dijo: "�Qu� af�n!
<br>�Si hoy me gusta ver el Sol!".
<br>"Nunca m�s altos he visto
<br>Estos nobles robledales:
<br>Aqu� debe estar el Cristo
<br>Porque est�n las catedrales."
<br>"Ya s� d�nde ha de venir
<br>Mi ni�a a la comuni�n;
<br>De blanco la he de vestir
<br>Con un gran sombrero al�n."
<br>Despu�s, del calor al peso,
<br>Entramos por el camino,
<br>Y nos d�bamos un beso
<br>En cuanto sonaba un trino.
<br>
<br>�Volver�, cual quien no existe
<br>Al lago mudo y helado:
<br>Clavar� la quilla triste:
<br>Posar� el remo callado!
<br>V
<br>Si ves un monte de espumas
<br>Es mi verso lo que ves:
<br>Mi verso es un monte, y es
<br>Un abanico de plumas.
<br>Mi verso es como un pu�al
<br>Que por el pu�o echa flor:
<br>Mi verso es un surtidor
<br>Que da un agua de coral.
<br>Mi verso es de un verde claro
<br>Y de un carm�n encendido:
<br>Mi verso es un ciervo herido
<br>Que busca en el monte amparo.
<br>Mi verso al valiente agrada:
<br>Mi verso, breve y sincero,
<br>Es del vigor del acero
<br>Con que se funde la espada.
<br>VI
<br>Si quieren que de este mundo
<br>Lleve una memoria grata,
<br>Llevar�, padre profundo
<br>Tu cabellera de plata.
<br>Si quieren por gran favor,
<br>Que lleve m�s, llevar�
<br>La copia que hizo el pintor
<br>De la hermana que ador�.
<br>Si quieren que a la otra vida
<br>Me lleve todo un tesoro,
<br>�Llevo la trenza escondida
<br>Que guardo en mi caja de oro!
<br>VII
<br>Para Arag�n, en Espa�a
<br>Tengo yo en mi coraz�n
<br>Un lugar todo Arag�n,
<br>Franco, fiero, fiel, sin sa�a.
<br>
<br>Si quiere un tonto saber
<br>Por qu� lo tengo, le digo
<br>Que all� tuve un buen amigo,
<br>Que all� quise a una mujer.
<br>All�, en la vega florida
<br>La de la heroica defensa
<br>Por mantener lo que piensa
<br>Juega la gente la vida.
<br>Y si un alcalde lo aprieta
<br>O lo enoja un rey cazurro,
<br>Calza la manta el baturro
<br>Y muere con su escopeta.
<br>Quiero a la tierra amarilla
<br>Que ba�a el Ebro lodoso:
<br>Quiero el Pilar azuloso
<br>De Lanuza y de Padilla.
<br>
<br>Estimo a quien de un rev�s
<br>Echa por tierra a un tirano:
<br>Lo estimo, si es un cubano;
<br>Lo estimo, si aragon�s.
<br>Amo los patios sombr�os
<br>Con escaleras bordadas;
<br>Amo las naves calladas
<br>Y los conventos vac�os.
<br>Amo la tierra florida,
<br>Musulmana o espa�ola,
<br>Donde rompi� su corola
<br>La poca flor de mi vida.
<br>VIII
<br>Yo tengo un amigo muerto
<br>Que suele venirme a ver:
<br>Mi amigo se sienta, y canta;
<br>Canta en voz que ha de doler.
<br>"En un ave de dos alas
<br>"Bogo por el cielo azul:
<br>"Un ala del ave es negra
<br>"Otra de oro Carib�.
<br>"El coraz�n es un loco
<br>"Que no sabe de un color:
<br>
<br>"O es su amor de dos colores,
<br>"O dice que no es amor.
<br>"Hay una loca m�s fiera
<br>"Que el coraz�n infeliz:
<br>"La que le chup� la sangre
<br>"Y se ech� luego a re�r.
<br>"Coraz�n que lleva rota
<br>"El ancla fiel del hogar,
<br>"Va como barca perdida,
<br>"Que no sabe a d�nde va."
<br>En cuanto llega a esta angustia
<br>Rompe el muerto a maldecir:
<br>Le amanso el cr�neo, lo acuesto;
<br>Acuesto al muerto a dormir.
<br>IX
<br>Quiero, a la sombra de un ala,
<br>Contar este cuento en flor:
<br>La ni�a de Guatemala,
<br>La que se muri� de amor.
<br>Eran de lirios los ramos,
<br>Y las orlas de reseda
<br>Y de jazm�n: la enterramos
<br>En una caja de seda.
<br>.. Ella dio al desmemoriado
<br>Una almohadilla de olor:
<br>El volvi�, volvi� casado:
<br>Ella se muri� de amor.
<br>Iban carg�ndola en andas
<br>Obispos y embajadores:
<br>Detr�s iba el pueblo en tandas,
<br>Todo cargado de flores.
<br>..Ella, Por volverlo a ver,
<br>Sali� a verlo al mirador:
<br>El volvi� con su mujer:
<br>Ella se muri� de amor.
<br>Como de bronce candente
<br>Al beso de despedida
<br>Era su frente �la frente
<br>Que m�s he amado en la vida!
<br>
<br>..Se entr� de tarde en el r�o,
<br>La sac� muerta el doctor:
<br>Dicen que muri� de fr�o:
<br>Yo s� que muri� de amor.
<br>All�, en la b�veda helada,
<br>La pusieron en dos bancos;
<br>Bes� su mano afilada,
<br>Bes� sus zapatos blancos.
<br>Callado, al oscurecer,
<br>Me llam� el enterrador:
<br>�Nunca m�s he vuelto a ver
<br>A la que muri� de amor!
<br>X
<br>El alma tr�mula y sola
<br>Padece al anochecer:
<br>Hay baile; vamos a ver
<br>La bailarina espa�ola.
<br>Han hecho bien en quitar
<br>El bander�n de la acera;
<br>Porque si est� la bandera,
<br>No s�, yo no puedo entrar.
<br>Ya llega la bailarina:
<br>Soberbia y p�lida llega :
<br>�C�mo dicen que es gallega?
<br>Pues dicen mal: es divina.
<br>Lleva un sombrero torero
<br>Y una capa carmes�:
<br>�Lo mismo que un alel�
<br>Que se pusiese un sombrero!
<br>Se ve, de paso, la ceja,
<br>Ceja de mora traidora:
<br>Y la mirada, de mora;
<br>Y como nieve la oreja.
<br>Preludian, bajan la luz,
<br>Y sale en bata y mant�n,
<br>La virgen de la Asunci�n
<br>Bailando un baile andaluz.
<br>Alza, retando, la frente;
<br>Cr�zase al hombro la manta:
<br>En arco el brazo levanta;
<br>Mueve despacio el pie ardiente.
<br>
<br>Repica con los tacones
<br>El tablado zalamera,
<br>Como si la tabla fuera
<br>Tablado te corazones.
<br>Y va el convite creciendo
<br>En las llamas de los ojos,
<br>Y el manto de flecos rojos
<br>Se va en el aire meciendo.
<br>S�bito, de un salto arranca;
<br>H�rtase, se quiebra, gira;
<br>Abre en dos la cachemira,
<br>Ofrece la bata blanca.
<br>El cuerpo cede y ondea;
<br>La bata abierta provoca,
<br>Es una rosa la boca;
<br>Lentamente taconea.
<br>Recoge, de un d�bil giro,
<br>El manto de flecos rojos:
<br>Se va, cerrando los ojos,
<br>Se va, como en un suspiro...
<br>Baila muy bien la espa�ola,
<br>Es blanco y rojo el mant�n:
<br>�Vuelve, fosca, a su rinc�n
<br>El alma tr�mula y sola!
<br>XI
<br>Yo tengo un paje muy fiel
<br>Que me cuida y que me gru�e,
<br>Y al salir, me limpia y bru�e
<br>Mi corona de laurel.
<br>Yo tengo un paje ejemplar
<br>Que no come, que no duerme,
<br>Y que se acurruca a verme
<br>Trabajar, y sollozar.
<br>Salgo y el vil se desliza
<br>Y en mi bolsillo aparece,
<br>Vuelvo, y el terco me ofrece
<br>Una taza de ceniza.
<br>Si duermo, al rayar el d�a
<br>Se sienta junto a mi cama;
<br>Si escribo, sangre derrama
<br>Mi paje en la escriban�a.
<br>
<br>Mi paje, hombre de respeto.
<br>Al andar casta�etea;
<br>Hiela mi paje, y chispea;
<br>Mi paje es un esqueleto.
<br>XII
<br>En el bote iba remando
<br>Por el lago seductor,
<br>Con el sol que era oro puro
<br>Y en el alma m�s de un sol.
<br>Y a mis pies vi de repente,
<br>Ofendido del hedor
<br>Un pez muerto, un pez hediondo
<br>En el bote remador
<br>
<br>XIII
<br>Por donde abunda la malva
<br>Y da el camino un rodeo,
<br>Iba un �ngel de paseo
<br>Con una cabeza calva.
<br>Del casta�ar por la zona
<br>La pareja se perd�a;
<br>La calva resplandec�a
<br>Lo mismo que una corona.
<br>Sonaba el hacha en lo espeso
<br>Y cruz� un ave volando;
<br>Pero no se sabe cu�ndo
<br>Se dieron el primer beso.
<br>Era rubio el �ngel; era
<br>El de la calva radiosa,
<br>Como el tronco a que amorosa
<br>Se prende la enredadera.
<br>XIV
<br>Yo no puedo olvidar nunca
<br>La ma�anita de oto�o
<br>En que le sali� un reto�o
<br>A la pobre rama trunca.
<br>La ma�anita en que, en vano,
<br>Junto a la estufa apagada,
<br>
<br>Una ni�a enamorada
<br>Le tendi� al viejo la mano.
<br>XV
<br>Vino el m�dico amarillo
<br>A darme su medicina,
<br>Con una mano cetrina
<br>Y la otra mano al bolsillo:
<br>�Yo tengo all� en un rinc�n
<br>Un m�dico que no manca
<br>Con una mano muy blanca
<br>Y otra mano al coraz�n!
<br>Viene, de blusa y casquete,
<br>El grave del repostero,
<br>A preguntarme si quiero
<br>O M�laga o Pajarete:
<br>�D�ganle a la repostera
<br>Que ha tanto tiempo no he visto,
<br>Que me tenga un beso listo
<br>Al entrar la primavera!
<br>XVI
<br>En el alf�izar calado
<br>De la ventana moruna,
<br>P�lido como la luna,
<br>Medita un enamorado.
<br>P�lida, en su canap�
<br>De seda t�rtola y roja,
<br>Eva, callada, deshoja
<br>Una violeta en el t�.
<br>XVII
<br>Es rubia: el cabello suelto
<br>Da m�s luz al ojo moro:
<br>Voy, desde entonces, envuelto
<br>En un torbellino de oro.
<br>La abeja estival que zumba
<br>M�s �gil por la flor nueva,
<br>No dice, como antes, "tumba";
<br>"Eva" dice: todo es "Eva".
<br>Bajo, en lo oscuro, al temido
<br>Raudal de la catarata;
<br>
<br>�Y brilla el iris, tendido
<br>Sobre las hojas de plata!
<br>Miro, ce�udo, la agreste
<br>Pompa del monte irritado:
<br>�Y en el alma azul celeste
<br>Brota un jacinto rosado!
<br>Voy, por el bosque, a paseo
<br>A la laguna vecina;
<br>Y entre las ramas la veo,
<br>Y por el agua camina.
<br>La serpiente del jard�n
<br>Silba, escupe, y se resbala
<br>Por su agujero: el clar�n
<br>Me tiende, trinando, el ala.
<br>
<br>�Arpa soy, salterio soy
<br>Donde vibra el Universo;
<br>Vengo del sol, y al sol voy;
<br>Soy el amor: soy el verso!
<br>XVIII
<br>El alfiler de Eva loca
<br>Es hecho del oro oscuro
<br>Que lo sac� un hombre puro
<br>Del coraz�n de una roca.
<br>Un p�jaro tentador
<br>Le trajo en el pico ayer
<br>Un relumbrante alfiler
<br>De pasta y de similor.
<br>Eva se prendi� al oscuro
<br>Talle el diamante embustero:
<br>Y ech� en el alfiletero
<br>El alfiler de oro puro.
<br>XIX
<br>Por tus ojos encendidos
<br>Y lo mal puesto de un broche,
<br>Pens� que estuviste anoche
<br>Jugando a juegos prohibidos.
<br>Te odi� por vil y alevosa;
<br>Te odi� con odio de muerte;
<br>
<br>N�usea me daba de verte
<br>Tan villana y tan hermosa.
<br>Y por la esquela que vi
<br>Sin saber c�mo ni cuando,
<br>S� que estuviste llorando
<br>Toda la noche por m�.
<br>XX
<br>Mi amor del aire se azora;
<br>Eva es rubia, falsa es Eva;
<br>Viene una nube, y se lleva
<br>Mi amor que gime y que llora.
<br>Se lleva mi amor que llora
<br>Esa nube que se va;
<br>Eva me ha sido traidora;
<br>�Eva me consolar�!
<br>XXI
<br>Ayer la vi en el sal�n
<br>De los pintores, y ayer
<br>Detr�s de aquella mujer
<br>Se me salt� el coraz�n.
<br>Sentada en el suelo rudo
<br>Est� en el lienzo;
<br>dormido Al pie, el esposo rendido;
<br>Al seno el ni�o desnudo.
<br>Sobre unas briznas de paja
<br>Se ven mendrugos mondados;
<br>Le cuelga el manto a los lados,
<br>Lo mismo que una mortaja.
<br>No nace en el torvo suelo
<br>Ni una viola, ni una espiga:
<br>Muy lejos, la casa amiga,
<br>Muy triste y oscuro el cielo.
<br>�Esa es la hermosa mujer
<br>Que me rob� el coraz�n
<br>En el soberbio sal�n
<br>De los pintores de ayer!
<br>XXII
<br>Estoy en el baile extra�o
<br>De polaina y casaqu�n
<br>
<br>Que dan, del a�o hacia el fin,
<br>Los cazadores del a�o.
<br>Una duquesa violeta
<br>Va con un frac colorado;
<br>Marca un vizconde pintado
<br>El tiempo en la pandereta.
<br>Y pasan las chupas rojas
<br>Pasan los tules de fuego,
<br>Como delante de un ciego
<br>Pasan volando las hojas.
<br>XXIII
<br>Yo quiero salir del mundo
<br>Por la puerta natural:
<br>En un carro de hojas verdes
<br>A morir me han de llevar.
<br>No me pongan en lo oscuro
<br>A morir como un traidor;
<br>Yo soy bueno, y como bueno
<br>Morir� de cara al Sol!
<br>XXIV
<br>S� de un pintor atrevido
<br>Que sale a pintar contento
<br>Sobre la tela del viento
<br>Y la espuma del olvido.
<br>Yo s� de un pintor gigante,
<br>El de divinos colores,
<br>Puesto a pintarle las flores
<br>A una corbeta mercante.
<br>Yo s� de un pobre pintor
<br>Que mira el agua al pintar,
<br>- El agua ronca del mar,-
<br>Con un entra�able amor.
<br>XXV
<br>�Yo pienso cuando me alegro
<br>Como un escolar sencillo,
<br>En el canario amarillo,
<br>Que tiene el ojo tan negro!
<br>�Yo quiero, cuando me muera
<br>Sin patria, pero sin amo,
<br>
<br>Tener en mi losa un ramo
<br>De flores, y una bandera!
<br>XXVI
<br>Yo que vivo, aunque me he muerto,
<br>Soy un gran descubridor,
<br>Porque anoche he descubierto
<br>La medicina de amor.
<br>Cuando al peso de la cruz
<br>El hombre morir resuelve,
<br>Sale a hacer bien, lo hace, y vuelve
<br>Como de un ba�o de luz.
<br>XXVII
<br>El enemigo brutal
<br>Nos pone fuego a la casa;
<br>El sable la calle arrasa,
<br>A la luna tropical.
<br>Pocos salieron ilesos
<br>Del sable del espa�ol;
<br>La calle, al salir el sol,
<br>Era un reguero de sesos.
<br>Pasa, entre balas, un coche:
<br>Entran, llorando, a una muerta;
<br>Llama una mano a la puerta
<br>En lo negro de la noche.
<br>No hay bala que no taladre
<br>El port�n; y la mujer
<br>Que llama, me ha dado el ser;
<br>Me viene a buscar mi madre.
<br>A la boca de la muerte,
<br>Los valientes habaneros
<br>Se quitaron los sombreros
<br>Ante la matrona fuerte.
<br>Y despu�s que nos besamos
<br>Como dos locos, me dijo:
<br>"Vamos pronto, vamos, hijo;
<br>La luna est� sola: vamos."
<br>XXVIII
<br>Por la tumba del cortijo
<br>Donde est� el padre enterrado,
<br>
<br>Pasa el hijo, de soldado
<br>Del invasor; pasa el hijo.
<br>El padre, un bravo en la guerra,
<br>Envuelto en su pabell�n
<br>Alzase; y de un bofet�n
<br>lo tiende, muerto, por tierra.
<br>El rayo reluce; zumba
<br>El viento por el cortijo;
<br>El padre recoge al hijo,
<br>Y se lo lleva a la tumba.
<br>XXIX
<br>La imagen del rey, por ley
<br>Lleva el papel del Estado;
<br>El ni�o fue fusilado
<br>Por los fusiles del rey.
<br>Festejar el santo es ley
<br>Del rey; en la fiesta santa
<br>�La hermana del ni�o canta
<br>Ante la imagen del rey!
<br>XXX
<br>El rayo surca, sangriento,
<br>El l�brego nubarr�n:
<br>Echa el barco, ciento a ciento,
<br>Los negros por el port�n.
<br>El viento, fiero, quebraba
<br>Los alm�cigos copudos;
<br>Andaba la hilera, andaba,
<br>De los esclavos desnudos.
<br>El temporal sacud�a
<br>Los barracones henchidos;
<br>Una madre con su cr�a
<br>Pasaba dando alaridos.
<br>Rojo, como en el desierto,
<br>sali� el sol al horizonte;
<br>Y alumbr� a un esclavo muerto,
<br>Colgado a un seibo del monte.
<br>Un ni�o lo vio: tembl�
<br>De pasi�n por los que gimen;
<br>Y, al pie del muerto, jur�
<br>Lavar con su sangre el crimen!
<br>
<br>XXXI
<br>Para modelo de un dios
<br>El pintor lo envi� a pedir:
<br>�Para eso no! �para ir,
<br>Patria, a servirse los dos!
<br>Bien estar� en la pintura
<br>El hijo que amo y bendigo:
<br>�Mejor en la ceja oscura,
<br>Cara a cara al enemigo!
<br>Es rubio, es fuerte, es garz�n
<br>De nobleza natural:
<br>�Hijo, por la luz natal!
<br>�Hijo, por el pabell�n!
<br>
<br>Vamos, pues, hijo viril;
<br>Vamos los dos; si yo muero,
<br>Me besas: si t�... �prefiero
<br>Verte muerto a verte vil
<br>XXXI
<br>En el negro callej�n
<br>Donde en tinieblas paseo,
<br>Alzo los ojos, y veo
<br>La iglesia, erguida, a un rinc�n.
<br>�Ser� misterio?
<br>�Ser� Revelaci�n y poder?
<br>�Ser�, rodilla, el deber
<br>De postrarse? �Qu� ser�?
<br>Tiembla la noche: en la parra
<br>Muerde el gusano el reto�o;
<br>Grazna, llamando al oto�o
<br>La hueca y hosca cigarra.
<br>Graznan dos: atento al d�o
<br>Alzo los ojos y veo
<br>Que la iglesia del paseo
<br>Tiene la forma de un b�ho.
<br>XXXIII
<br>De mi desdicha espantosa
<br>Siento, �oh estrellas!, que muero;
<br>
<br>Yo quiero vivir, yo quiero
<br>Ver a una mujer hermosa.
<br>El cabello, como un casco,
<br>Le corona el rostro bello:
<br>Brilla su negro cabello
<br>Como un sable de Damasco.
<br>�Aqu�lla? ...Pues pon la hiel
<br>Del mundo entero en un haz,
<br>Y t�llala en cuerpo, y haz,
<br>Un alma entera de hiel!
<br>�Esta?... Pues �sta infeliz
<br>Lleva escarpines rosados,
<br>Y los labios colorados,
<br>Y la cara de barniz.
<br>
<br>El alma l�gubre grita:
<br>"�Mujer, maldita mujer!"
<br>�No s� yo qui�n pueda ser
<br>Entre las dos la maldita!
<br>XXXIV
<br>�Penas! �Qui�n osa decir
<br>Que tengo yo penas?
<br>Luego, Despu�s del rayo, y del fuego,
<br>Tendr� tiempo de sufrir.
<br>Yo s� de un pesar profundo
<br>Entre las penas sin nombres:
<br>�La esclavitud de los hombres
<br>Es la gran pena del mundo!
<br>Hay montes, y hay que subir
<br>Los montes altos; �despu�s
<br>Veremos, alma, qui�n es
<br>Quien te me ha puesto al morir!
<br>XXXV
<br>�Qu� importa que tu pu�al
<br>Se me clave en el ri�n?
<br>�Tengo mis versos, que son
<br>M�s fuerte que tu pu�al!
<br>�Qu� importa que este dolor
<br>Seque el mar y nuble el cielo?
<br>
<br>El verso, dulce consuelo,
<br>Nace al lado del dolor.
<br>XXXVI
<br>Ya s�: de carne se puede
<br>Hacer una flor; se puede,
<br>Con el poder del cari�o,
<br>Hacer un cielo, �y un ni�o!
<br>De carne se hace tambi�n
<br>El alacr�n; y tambi�n
<br>El gusano de la rosa,
<br>Y la lechuza espantosa.
<br>XXXVII
<br>Aqu� est� el pecho, mujer,
<br>Que ya s� que lo herir�s;
<br>�M�s grande debiera ser,
<br>Para que lo hirieses m�s!
<br>Porque noto, alma torcida,
<br>Que en mi pecho milagroso,
<br>Mientras m�s honda la herida,
<br>Es mi canto m�s hermoso.
<br>XXXVIII
<br>�Del tirano? Del tirano
<br>Di todo, �di m�s!; y clava
<br>Con furia de mano esclava
<br>Sobre su oprobio al tirano.
<br>�Del error? Pues del error
<br>Di el antro, di las veredas
<br>Oscuras: di cuanto puedas
<br>Del tirano y del error.
<br>�De mujer? Pues puede ser
<br>Que mueras de su mordida;
<br>�Pero no empa�es tu vida
<br>Diciendo mal de mujer!
<br>XXXIX
<br>Cultivo una rosa blanca
<br>En julio como en enero,
<br>Para el amigo sincero
<br>Que me da su mano franca.
<br>
<br>Y para el cruel que me arranca
<br>El coraz�n con que vivo,
<br>Cardo ni oruga cultivo;
<br>Cultivo la rosa blanca.
<br>XL
<br>Pinta mi amigo el pintor
<br>Sus angelones dorados,
<br>En nubes arrodillados,
<br>Con soles alrededor.
<br>P�nteme con sus pinceles
<br>Los angelitos medrosos
<br>Que me trajeron, piadosos,
<br>Sus dos ramos de claveles.
<br>XLI
<br>Cuando me vino el honor
<br>De la tierra generosa,
<br>No pens� en Blanca ni en Rosa
<br>Ni en lo grande del favor.
<br>Pens� en el pobre artillero
<br>Que est� en la tumba, callado;
<br>Pens� en mi padre, el soldado;
<br>Pens� en mi padre, el obrero.
<br>Cuando lleg� la pomposa
<br>Carta, en su noble cubierta,
<br>Pens� en la tumba desierta
<br>No pens� en Blanca ni en Rosa.
<br>XLII
<br>En el extra�o bazar
<br>Del amor, junto a la mar,
<br>La perla triste y sin par
<br>Le toc� por suerte a Agar.
<br>Agar de tanto tenerla
<br>Al pecho, de tanto verla
<br>Agar, lleg� a aborrecerla;
<br>Maj�, tir� al mar la perla.
<br>Y cuando Agar, venenosa
<br>De in�til furia, y llorosa,
<br>Pidi� al mar la perla hermosa,
<br>Dijo la mar borrascosa:
<br>
<br>"�Qu� hiciste, torpe, qu� hiciste
<br>De la perla que tuviste?
<br>La majaste, me la diste;
<br>Yo guardo la perla triste."
<br>XLIII
<br>Mucho, se�ora, dar�a
<br>Por tender sobre tu espalda
<br>Tu cabellera brav�a,
<br>Tu cabellera de gualda:
<br>Despacio la tender�a,
<br>Callado la besar�a.
<br>Por sobre la oreja fina
<br>Baja lustroso el cabello,
<br>Lo mismo que una cortina
<br>Que se levanta hacia el cuello.
<br>La oreja es obra divina
<br>De porcelana de China.
<br>Mucho, se�ora te diera
<br>Por desenredar el nudo
<br>De tu roja cabellera
<br>Sobre tu cuello desnudo:
<br>Muy despacio la esparciera
<br>Hilo por hilo la abriera.
<br>XLIV
<br>Tiene el leopardo un abrigo
<br>En su monte seco y pardo:
<br>Yo tengo m�s que el leopardo
<br>Porque tengo un buen amigo.
<br>Duerme, como en un juguete,
<br>La mushma en su cojinete
<br>De arte del Jap�n yo digo:
<br>"No hay coj�n como un amigo".
<br>Tiene el conde su abolengo;
<br>Tiene la aurora el mendigo;
<br>Tiene ala el ave: �yo tengo
<br>All� en M�xico un amigo!
<br>Tiene el se�or presidente
<br>Un jard�n con una fuente,
<br>
<br>Y un tesoro en oro y trigo:
<br>Tengo m�s, tengo un amigo.
<br>XLV
<br>Sue�o con claustros de m�rmol
<br>Donde en silencio divino
<br>Los h�roes, de pie, reposan:
<br>�De noche, a la luz del alma,
<br>Hablo con ellos; de noche!
<br>Est�n en fila: paseo
<br>Entre las filas: las manos
<br>De piedra les beso: abren
<br>Los ojos de piedra: mueven
<br>Los labios de piedra: tiemblan
<br>Las barbas de piedra: empu�an
<br>La espada de piedra: lloran
<br>�Vibra la espada en la vaina!
<br>Mudo, les beso la mano.
<br>�Hablo con ellos, de noche!
<br>Est�n en fila: paseo
<br>Entre las filas: lloroso
<br>Me abrazo a un m�rmol:
<br>"�Oh, m�rmol
<br>Dicen que beben tus hijos
<br>Su propia sangre en las copas Venenosas de sus due�os!
<br>�Que hablan la lengua podrida
<br>De sus rufianes! Que comen
<br>Juntos el pan del oprobio,
<br>En la mesa ensangrentada!
<br>Que pierden en lengua in�til
<br>El �ltimo fuego! �Dicen,
<br>Oh m�rmol, m�rmol dormido,
<br>Que ya se ha muerto tu raza!"
<br>�chame en tierra de un bote
<br>El h�roe que abrazo: me ase
<br>Del cuello: barre la tierra
<br>Con mi cabeza: levanta
<br>El brazo, �el brazo
<br>Le luce lo mismo que un sol!: resuena
<br>La piedra: buscan el cinto
<br>Las manos blancas: del soplo
<br>Saltan los hombres de m�rmol!
<br>XLVI
<br>Vierte, coraz�n, tu pena
<br>Donde no te llegue a ver,
<br>Por soberbia, y por no ser
<br>Motivo de pena ajena.
<br>
<br>Yo te quiero, verso amigo,
<br>Porque cuando siento el pecho
<br>Ya muy cargado y deshecho,
<br>Parto la carga contigo.
<br>T� me sufres, t� aposentas
<br>En tu regazo amoroso,
<br>Todo mi amor doloroso,
<br>Todas mis ansias y afrentas.
<br>T�, porque yo pueda en calma
<br>Amar y hacer bien, consientes
<br>En enturbiar tus corrientes
<br>Con cuanto me agobia el alma.
<br>T�, porque yo cruce fiero
<br>La tierra, y sin odio, y puro,
<br>Te arrastras, p�lido y duro,
<br>Mi amoroso compa�ero.
<br>Mi vida as� se encamina
<br>Al cielo limpia y serena,
<br>Y tu me cargas mi pena
<br>Con tu paciencia divina.
<br>Y porque mi cruel costumbre
<br>De echarme en ti te desv�a
<br>De tu dichosa armon�a
<br>Y natural mansedumbre;
<br>Porque mis penas arrojo
<br>Sobre tu seno, y lo azotan,
<br>Y tu corriente alborotan,
<br>Y ac�, l�vido, all� rojo,
<br>Blanco all� como la muerte,
<br>Ora arremetes y ruges,
<br>Ora con el peso crujes
<br>De un dolor m�s que t� fuerte,
<br>�Habr�, como me aconseja
<br>Un coraz�n mal nacido,
<br>De dejar en el olvido
<br>A aquel que nunca me deja?
<br>�Verso, nos hablan de un Dios
<br>A donde van los difuntos:
<br>Verso, o nos condenan juntos,
<br>O nos salvamos los dos!
<br>
<br>
<br> <div dir="ltr"><br><div class="gmail_quote"><div dir="ltr" class="gmail_attr"><br>De: <strong class="gmail_sendername" dir="auto">gisele sobreira</strong> </div><br>--<br> </div><br clear="all"><div><br></div><span class="gmail_signature_prefix">-- </span><br><div dir="ltr" class="gmail_signature" data-smartmail="gmail_signature"><div dir="ltr"><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Abraços fraternos!</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial"> </span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Bezerra</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Blog de livros</span></p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Blog de vídeos</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Meu canal:</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk" target="_blank">https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk</a><br></p></div></div></div> <p></p> -- <br /> -- <br /> Seja bem vindo ao Clube do e-livro<br /> <br /> Não esqueça de mandar seus links para lista .<br /> Boas Leituras e obrigado por participar do nosso grupo.<br /> ==========================================================<br /> Conheça nosso grupo Cotidiano:<br /> <a href="http://groups.google.com.br/group/cotidiano">http://groups.google.com.br/group/cotidiano</a><br /> <br /> Muitos arquivos e filmes.<br /> ==========================================================<br /> <br /> <br /> Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "clube do e-livro" em Grupos do Google.<br /> Para postar neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro@googlegroups.com<br /> Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro-unsubscribe@googlegroups.com<br /> Para ver mais opções, visite este grupo em <a href="http://groups.google.com.br/group/clube-do-e">http://groups.google.com.br/group/clube-do-e</a>-<br /> --- <br /> Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "clube do e-livro" dos Grupos do Google.<br /> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para <a href="mailto:clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com">clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com</a>.<br /> Para ver essa discussão na Web, acesse <a href="https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKh%3DBvq6gHuRkTXg32XuAXpNm0Z6YL6nSjvHOoy-tXqVCUg%40mail.gmail.com?utm_medium=email&utm_source=footer">https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKh%3DBvq6gHuRkTXg32XuAXpNm0Z6YL6nSjvHOoy-tXqVCUg%40mail.gmail.com</a>.<br /> Capixabahttp://www.blogger.com/profile/13630360338415941372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5804863141581911173.post-39692649594293282042023-09-22T16:40:00.000-07:002023-09-22T16:42:32.048-07:00{clube-do-e-livro} Versos - Augusto Gil.txt
<br>Versos
<br>de Augusto Gil
<br>
<br>1898
<br>
<br>
<br>�NDICE
<br>
<br>Dedicat�ria
<br>Pref�cio
<br>
<br>� LUZ DO AMOR
<br>
<br>Introdu��o
<br>As tricanas de Coimbra
<br>Trova de saudade Cantigas
<br>?!
<br>Art.o 1056� do C�digo Civil
<br>Marta e Maria
<br>Carta a des'oras
<br>Balada outonal
<br>Conselhos
<br>Words, Words
<br>Nunca!
<br>
<br>� LUZ DA VIDA
<br>
<br>Amor desfeito
<br>Primavera
<br>O Edital
<br>Amor sadio
<br>Hora mortis
<br>Tarde aziaga
<br>Carta a Diogo Peres
<br>Um fragmento das Fen�cias, de Eur�pedes
<br>
<br>
<br>
<br>
<br>Ao Alberto da Silva
<br>
<br>
<br>Alberto
<br>
<br>Que, muito breve, os claros olhos de mulher que te iluminam a vida poisem, junto dos teus, nas p�ginas que te ofere�o. Como �s bondoso, e meu amigo, h�s-de julgar que as est� lendo... Nem que lhe fosse poss�vel, sentindo-te a boca, ali, t�o perto, preocupar-se com palavras de outrem! E como o que a tua voz proferir, ter� para a seu cora��o de noiva, sabor mais doce que todos os versos do mundo, podes dizer-lhe - mentido - que este livro tem algum valor.
<br>
<br>Abril de 1898.
<br>
<br>Augusto
<br>
<br>
<br>
<br>PREF�CIO
<br>
<br>Naquele tempo, em Coimbra, havia a mais perturbadora barafunda no tocante a literatura. Eu chamo-lhe assim, agora, para engalan�-la um pouco, � nossa balbuciante literatice...
<br>�ramos, em arte, babosamente l�ricos. Em pol�tica, �ramos, quando menos, furiosamente republicanos.
<br>Como concili�vamos a derrancada sanha de iconoclastas do trono e do altar com o d�lcido misticismo das nossas ora��es de amor em que abrang�amos, � S�o Francisco de Assis, numa piedosa universalidade, tudo e todos - desde as tricaninhas do chafariz da Feira, �s quais emprest�vamos a inoc�ncia das virgens de Fra Ang�lico, at� �s brutas feras de goela hiante que, para n�s, � falta de outros aut�nticos exemplares, eram os lentes? N�o me lembro e, se me recordasse, com certeza que n�o perceberia!
<br>O que nunca me esqueceu, foi uma noite de conjura (ouviam-se trov�es reboantes e rasgavam-se rel�mpagos sinistros para as bandas de Montemor) em que Bas�lio Teles nos convocou para darmos a um plano revolucion�rio, que estava na forja, o concurso her�ico da academia. Dissemos-lhe que sim, mas impusemos condi��es tremendas. Quer�amos uma Rep�blica jacobin�ssima, que irrompesse, com a tr�gica beleza duma V�nus vermelha, de entre iracundos vagalh�es de sangue, ao rugido repercutente do canh�o e ao crepitante estralejar de inumer�veis, de infinitas balas...
<br>Decret�mos tamb�m que a academia marchasse, em armas, sobre o Bu�aco. Para qu�? Porque motivos de arguta e subtil estrat�gia? Provavelmente por acharmos que a avan�ada para o Bu�aco marcava tom, dava sainete. O Bu�aco. al�m de hist�rico, � lend�rio. Consequentemente, o nosso lugar, de espingarda � cara e de soneto engatilhado, era l�!...
<br>Assentes nisto, e quando os conspirantes �amos saindo, cada um � sua toca, ocorreu-me que estava a servir a monarquia, como administrador de concelho, o coitado dum amigo meu. E logo, pressuroso, arrepiei caminho para expor, alvoro�adamente, a Bas�lio Teles o �bice complicado que surgira. E o grande pensador, j� em ceroulas e prestes a recolher-se ao leito, poisando em mim o seu penetrante e l�mpido olhar, onde uma chispa de bondosa ironia fulgiu, assegurou-me perempt�rio:
<br>- O homem fica. Boa noite.
<br>Harmonizara-se tudo. Um dil�vio de fogo e de morte arrasaria, de l�s a l�s, a carcomida estrutura da pol�tica portuguesa; era por�m poupada, qual monte Ararat, a administra��o do concelho da Guarda. Bas�lio, nosso ap�stolo, assim o prometera. Que saudade!...
<br>E ora aqui t�m como sab�amos tecer, numa parodoxal conjun��o, o arreganho de implac�veis revolucion�rios com a columbina ternura de poetastros compassivos...
<br>A esta disparidade, entre a nossa grita enrouquecente, quando se tratava da Coisa P�blica, e o nosso mavioso choradinho, em r� menor, quando ascend�amos � regi�o do sentimento estreme, outra e mais contrastante sobrevinha: a atmosfera liter�ria era agitada por opostos, desvairados ventos e, nos v�rtices de encontro, n�s remoinh�vamos, incertos, em sarabanda de folhas secas.
<br>Ainda sopravam as lufadas da velha escola rom�ntica, que o pulm�o portugu�s aspira sempre com vol�pia. Musset entontecia-nos.
<br>Floresciam ainda, como cris�ntemos nas despedidas do Outono, uns restos de parnasianismo... Gautier encantava-nos.
<br>Nas recentes p�ginas do S�, n�o se aquietara de todo o latejar da gesta��o ansiosa, nem secara inteiramente o febril suor de tuberculose que as orvalhara. Ant�nio Nobre atra�a-nos, em vertigem, como uma cova funda, negra e funda, onde .a morte cantasse de sereia, angelical e mal�vola, inimiga e maternal...
<br>Da fonte umbrosa da tradi��o, manava, perpetuamente dessedentadora e cantante, a doce linfa da poesia nacional... Jo�o de Deus era adorado.
<br>Rez�vamos de. cor, por noites de lua plena, os poemas inapag�veis dos Simples. Junqueiro maravilhava-nos; e ante os sonetos de Antero, t�o profundos e solenes, curv�vamos a fronte, meditativos e tristes.
<br>Na sua torre de marfim, Eug�nio de Castro, em dalm�tica de brocado, desferia na teorba de oiro, com dedos p�lidos e �geis, trechos de suprema virtuosidade. Ouv�amo-lo, enlevados... Mas quando entrava, como qualquer, de redingote, na Havaneza, eu fingia ignor�-lo inteiramente, conquanto nunca o largasse de olho, para dele n�o perder nem a vaga sombra dum gesto...
<br>Juntem agora um rol int�rmino de novidades abstrusas e transit�rias que vinham de Fran�a, em caixotes, mensalmente: instrumentismo, simbolismo, decadentismo, neo-religiosismo... Com todos aqueles diabos de exporta��o, como foi, Virgem Santissima, que a gente n�o endoideceu?
<br>N�s �ramos, portanto, um bando de falenas atra�das por lumes v�rios. N�s �ramos, por consequ�ncia, uma aula de aprendizes de rabeca...
<br>Todavia, num misto de rid�cula petul�ncia e de confiante impetuosidade, cada lib�lula se julgava uma �guia e cada violinista um Sarasate. Certa madrugada, no Lobo, que era um caf� da. rua da Sofia com excelente cerveja a copo e p�ssima literatura a granel, pusemo-nos a desancar, de l�ngua, todas as celebridades do oassado e do presente, desde o hipot�tico Homero at� ao professor Bernardo de Albuquerque do Amaral Cardoso a quem atribu�mos, caluniosamente, a autoria das Pandectas... Pelos s�culos fora, pela velha �sia adiante, pela Europa abaixo, pela Am�rica acima, por onde quer que nome fulgente ou obra radiosa tivesse logrado perpetua��o, houve um descalabro geral! Nenhum �dolo ficou sem grossa esmurradela e se, no fim, concedemos, por m�tuo consenso, que nalguns de n�s borbotava talento a rodos, foi por pensarmos, cada qual, que seria aborrecido estar sozinho na imortalidade, sem ningu�m para a palestra. Tais improp�rios e tais dislates berr�mos, que o Dr. Quim Martins, um doutor a valer, dos de capelo e borla, que nos dava a honra e o proveito da sua prestigiosa camaradagem, exclamou, l� do fundo da sala, sacudido por uma destas gargalhadas absolutas em que tudo ri, todas as faculdades da alma e todas as c�lulas do corpo:
<br>- Oh filhos, mas voc�s est�o escandalosamente idiotas...
<br>O que n�s est�vamos, com perd�o de vossel�ncias, era muit�ssimo b�bedos. Quando aquilo nos passava, logo sacud�amos, das sand�lias, a poeirada vil da prosa e nos al��vamos para os espa�os inter-astrais do lirismo, em atitude santan�ria, de m�os postas e olhos em alvo...
<br>Claro � que o meu pobre livro se ressente de quanto vim apontando, ao descoordenado acaso da mem�ria. Est� cheio de hesita��es, de influ�ncias, de artificialidades, de exageros, de f�teis brilhos de alquime que eu tomava por oiro de lei. Mas est� nele, tamb�m, a minha melhor desculpa: a idade soalheira e azul em que s� tinha dois cabelos brancos. E, por sinal, que os aproveitei, contente, para um triste soneto com pretens�es a haml�tico.
<br>De qualquer coisa que houvesse nestas p�ginas de menos mau, os vinte anos que decorreram desde o seu aparecimento desgastaram e ressequiram a melhor parte. E se me retorquirem que, na poesia, a beleza perfeita nunca descora, nem engelha, nem se deforma, concorde afirmo que � assim. Eu sei! Com que irrepar�vel e desalentada m�goa o sei...
<br>
<br>Lisboa, 1919.
<br>
<br>A.G.
<br>
<br>
<br>
<br>
<br>� Luz do Amor
<br>
<br>
<br>
<br>
<br>
<br>INTRODU��O
<br>
<br>Suspiros, cuidados
<br>Paix�es de querer.
<br>Se tomam dobrados
<br>Meu bem, sem vos ver.
<br>
<br>GARCIA DE RESENDE
<br>
<br>
<br>Versos meus, alado bando
<br>De trigueiras andorinhas,
<br>Ide onde ela, de meu mando,
<br>A dizer-lhe como eu ando,
<br>A dar-lhe visitas minhas...
<br>
<br>Oh minha a�rea embaixada
<br>Adeus, adeus, parti breve
<br>N�o dilateis a jornada.
<br>Seja a hora da chegada
<br>Antes do tempo da neve...
<br>
<br>L� tereis, � sua beira,
<br>Luz e sol como em Agosto.
<br>O seu olhar � fogueira
<br>Que at� a torna trigueira
<br>E queima-lhe a pel' do rosto...
<br>
<br>Quando a sede vos tomar,
<br>Dizei-lhe da minha m�goa,
<br>Contai-lhe do meu penar,
<br>Que ela ent�o p�e-se a chorar
<br>E bebereis essa �gua...
<br>
<br>Os beijos que ela vos der
<br>Servir-vos-�o de sustento.
<br>Que inveja me fazeis ter...
<br>Ai quem pudera viver
<br>Viver do mesmo alimento!
<br>
<br>J� bailam ao vento norte
<br>As folhas pelos caminhos.
<br>O frio d�-vos a morte...
<br>Erguei-vos num voo forte,
<br>Guie-vos Deus, passarinhos!...
<br>
<br>Coimbra
<br>
<br>
<br>
<br>�S TRICANAS DE COIMBRA
<br>
<br>
<br>Raparigas: n�o vos fieis nestes versas escritos numa hora de crep�sculo, espiritual e casta. Amai, amai estouvadamente. Que as vossas bocas se esvaziem de beijos, que os vossos peitos entumes�am de leite, que os vossos ventres frutifiquem...
<br>
<br>Tricaninhas de olhar opalescente,
<br>De riso claro, e soronal aspeito,
<br>Quando, por noites de luar dormente,
<br>Capas ao ombro, bandolins ao peito,
<br>
<br>Vos passarem � porta os estudantes,
<br>Que o vosso cora��o n�o bata mais
<br>Rapidamente que batia dantes;
<br>
<br>Que o vosso cora��o de cera branda,
<br>Ganhe a tenacidade dos metais,
<br>Quando o trinar dolente da ciranda,
<br>Passar na rua aonde v�s morais.
<br>
<br>Considerai nas vossas companheiras
<br>Que tantos sonhos atearam quando
<br>Bailavam invioladas nas fogueiras:
<br>
<br>Olhai a Elvira, de olhos cor de mel,
<br>De tran�a farta e de sorriso brando,
<br>Vede como o setim da sua pele,
<br>- T�o lindo que era, agora vai murchando...
<br>
<br>E aquela, meio ing�nua, meio louca,
<br>A Assun��ozita de perfil hebreu
<br>Que j� tem rugas a afeiar-lhe a boca.
<br>
<br>E diz que a sua boca envelheceu
<br>Na lide, na fadiga permanente
<br>Dos beijos que emprestou e recebeu
<br>Com largos juros, usurariamente...
<br>
<br>E a Isabelinha, essa de olhar de anidro,
<br>Que p�s nas almas dos que a viram perto
<br>Os sulcos que o diamante faz no vidro...
<br>
<br>E a J�lia, macerada como as santas,
<br>Esbelta e leve como um l�rio aberto,
<br>E tantas outras tricaninhas, tantas...
<br>- Foi a ciranda que as perdeu, de certo.
<br>
<br>Tiveram, como v�s, um rosto lindo,
<br>Bocas em flor, o colo ondeando esp'ran�a,
<br>E olhos que as vissem, iam-nas seguindo,
<br>
<br>Seguindo at� ao mais que a vista alcan�a...
<br>Ergueram-lhes os poetas, em louvor,
<br>Como trof�us na ponta duma lan�a,
<br>Sonetos, madrigais, odes de amor...
<br>
<br>Guitarras fl�beis e viol�es chorosos
<br>Passavam, alta noite, �s suas portas,
<br>Pedindo beijos, insinuando gozos...
<br>
<br>E escutavam ext�ticas, absortas,
<br>- Os olhos incendidos como brasas -
<br>Vozes cantando-as, pelas horas mortas,
<br>Numa car�cia de ruflantes asas...
<br>
<br>E deixou-se embalar naquelas trovas
<br>Ligeiras, fementidas, perturbantes,
<br>O seu amor de raparigas novas...
<br>
<br>As capas negras desses estudantes,
<br>Capas escuras como po�os fundos,
<br>Fizeram-lhe sonhar ideais distantes,
<br>Outros c�us, outros astros, novos mundos...
<br>
<br>Depois... depois, entre saudades e ais
<br>(Que isto de amores, pouca dura tem)
<br>Foram-se embora, n�o voltaram mais!
<br>
<br>Igual destino hemos de ter, tamb�m...
<br>
<br>Coimbra
<br>
<br>
<br>
<br>TROVA DE SAUDADE
<br>
<br>
<br>Cora��o que palpitas, calmo e certo,
<br>Num alto monte da sagrada Beira,
<br>Perto do c�u (que Deus quer t�-lo perto)
<br>Longe de mim, para que eu mais lhe queira;
<br>
<br>Bondoso cora��o de rapariga
<br>Que o ritmo indicaste � minha trova,
<br>E que eu n�o lembro sem que te bem-diga
<br>Que eu n�o bem-digo sem que me comova;
<br>
<br>Cora��o que por mim pulsas distante
<br>E essa dist�ncia ligas na saudade
<br>Que embala as minhas noites de estudante
<br>E ampara a minha triste mocidade;
<br>
<br>Que estes versos te v�o dizer de rastros
<br>A �nsia, a viva f� com que os compus:
<br>Ergue-os um pouco - e chegar�o aos astros,
<br>Contempla-os bem - e ench�-los-�s de luz.
<br>
<br>Que te poisem depois sobre a mem�ria
<br>E fiquem l� dormindo morte quieta...
<br>Ser� ent�o a minha hora de gl�ria
<br>E a vaidade dir-me-� que sou poeta.
<br>
<br>E que um dia, na paz do nosso lar,
<br>Nalguma tarde morna de Ver�o,
<br>Os oi�a despertar, ressuscitar
<br>Na tua linda voz, meu cora��o!
<br>
<br>Recostada a cabe�a ao gr�cil busto,
<br>Ao colo aben�oado que te encerra,
<br>Eu pensarei ent�o que Deus � justo
<br>- E que h� felicidade sobre a terra...
<br>
<br>Coimbra
<br>
<br>
<br>
<br>?!
<br>
<br>
<br>Ao Teixeira de Pascoaes
<br>
<br>Na ronda das quimeras � meu par
<br>Algu�m que se parece intensamente
<br>Na maneira de olhar, ao teu olhar.
<br>
<br>� no resto, por�m, t�o diferente
<br>Como a luz das estrelas o � do luar,
<br>Ou como o luar, do sol resplandecente.
<br>
<br>A �guia, contam, p'ra poder ganhar
<br>A enorme altura a que s� �guias v�o,
<br>Procura uma emin�ncia em que agitar
<br>
<br>As asas que a sustentam na amplid�o:
<br>Sucede assim tamb�m ao pensamento,
<br>Sucede assim tamb�m ao cora��o...
<br>
<br>Se reparando em mim, te d� contento
<br>Ver, nos teus olhos sempre, os meus pregados,
<br>N�o fica l� pregado o sentimento...
<br>
<br>Esse anda por espa�os constelados
<br>Seguindo a vaga forma, o rosto brando
<br>Da que h� de redimir os meus cuidados,
<br>
<br>Esse anda, l� por longe entre-sonhando
<br>A alma a quem est'alma corresponde
<br>E que hei-de achar na vida, n�o sei quando,
<br>
<br>- Na vida, n�o sei quando, nem sei onde...
<br>
<br>
<br>
<br>CANTIGAS
<br>
<br>
<br>Ao Jo�o Palma
<br>
<br>
<br>Cordas de prata, subi...
<br>T�o alto cantarei eu
<br>Que me oi�am pedir por ti
<br>Os anjos que est�o no c�u.
<br>
<br>Teus olhos, contas escuras,
<br>S�o duas av�-marias
<br>Dum ros�rio de amarguras
<br>Que eu rezo todos os dias.
<br>
<br>Se queres que eu te n�o queira,
<br>Pede a Deus p'ra que me chame;
<br>Pois nem Deus, de outra maneira,
<br>Consegue que te n�o ame.
<br>
<br>Que mata o sonho do amor
<br>Diz uma trova p'ra a�
<br>Eu passo muito melhor
<br>Desde que gosto de ti...
<br>
<br>Amas a Nosso Senhor
<br>Que morreu por toda a gente,
<br>E a mim n�o me tens amor
<br>Que morro por ti somente!
<br>
<br>O teu olhar desleal
<br>Cora��es queima por gosto.
<br>Vou cham�-lo ao tribunal
<br>Por crime de fogo posto...
<br>
<br>Cantai mais devagarinho,
<br>Rapazes, ao seu postigo.
<br>N�o sei porqu�, adivinho
<br>Que est� sonhando comigo...
<br>
<br>O tempo corre de leve
<br>E fogem leves as penas,
<br>Tendo as tuas m�os de neve
<br>Entre as minhas m�os morenas.
<br>
<br>Dizes que � desigual
<br>Este amor. Nunca o supus!
<br>Mas olha: a sombra, afinal,
<br>� um efeito da luz...
<br>
<br>Raparigas tomai tento,
<br>Cachopas, n�o vos fieis.
<br>Cantigas leva-as o vento
<br>Cartas de amor, s�o pap�is
<br>
<br>As tuas m�os, que ser�?
<br>� milagre, ou anemia?
<br>Sempre o luar nelas d�,
<br>Mesmo que seja meio dia!
<br>
<br>Amor! Amor! Longo estudo,
<br>E uma lei, s�, desvendada:
<br>Em quem ama, � mais que tudo
<br>Em quem amou, quase nada...
<br>
<br>De certo os anjos do c�u
<br>N�o t�m asas de plumas.
<br>Que os teus ombros vi-os eu
<br>N�o havia l� nenhumas.
<br>
<br>Resume-se a coisa pouca
<br>Toda a minha aspira��o:
<br>Poder dar � tua boca
<br>Os meus beijos e o meu p�o...
<br>
<br>Mais alta a voz se me afoite,
<br>A m�goa dos dias meus,
<br>Oi�am-na os astros da noite,
<br>Suba aos ouvidos de Deus!
<br>
<br>
<br>
<br>ART.o 1056� DO C�DIGO CIVIL
<br>
<br>
<br>Ao Chico Patr�cio
<br>
<br>
<br>Oi�a, vizinha: o melhor
<br>� combinarmos o modo
<br>De acabar com este amor
<br>Que me toma o tempo todo.
<br>
<br>Passo os meus dias a v�-la
<br>Bordar ao p� da sacada.
<br>N�o me tiro da janela
<br>N�o leio, n�o fa�o nada...
<br>
<br>O seu trabalho � mais brando,
<br>N�o lhe prende o pensamento,
<br>Vai conversando, bordando
<br>E acirrando o meu tormento...
<br>
<br>O meu, n�o: abro um artigo
<br>De lei, mas nunca o acabo,
<br>Pois dou de cara consigo
<br>E mando as leis ao diabo.
<br>
<br>Ao diabo mando as leis
<br>Com excep��o dum artigo:
<br>O mil e cinquenta e seis...
<br>Quer conhec�-lo? Eu lho digo:
<br>
<br>"Casamento � um contrato
<br>Perp�tuo". Este adjectivo
<br>Transmuda o mais lindo pacto
<br>Num trambolho repulsivo.
<br>
<br>"Perp�tuo!" Repare bem
<br>Que artigo cheio de puas.
<br>Ainda se n�o fosse al�m
<br>Duma semana, ou de duas...
<br>
<br>Olhe: tivesse eu mandato
<br>De legislar e poria:
<br>Casamento � um contrato
<br>Duma hora - at� um dia...
<br>
<br>Mas n�o tenho. � pois melhor
<br>Combinarmos algum modo
<br>De acabar com este amor
<br>Que me toma o tempo todo.
<br>
<br>
<br>
<br>MARTA E MARIA
<br>
<br>
<br>Anda t�o preso o nosso amor a aquela
<br>Doce morena e devotada amiga,
<br>Que ao lembrar-me. de ti, lembro-me dela,
<br>E nunca o meu afecto vos desliga.
<br>
<br>A simboliza��o do ideal engaste
<br>Das vossas almas, logra a mente dar-ma
<br>Imaginando, a abrir, numa s� haste,
<br>Uma violeta roxa, outra de Parma,
<br>
<br>A roxa � ela, modestinha e santa,
<br>Tu, a violeta de nevada alvura.
<br>A jarra adonde ess'haste se levanta
<br>Que � o meu cora��o se me figura...
<br>
<br>Nem desligar-vos eu pudera, embora
<br>O pretendesse. A tua boa irm�
<br>� neste amor, nesta ansiada aurora,
<br>O que � na aurora, a estrela da manh�...
<br>
<br>Nem vos pudera desunir. Se a vejo
<br>Aparecer, quando um de n�s a invoca,
<br>Pacificante como um longo beijo
<br>Que unisse a tua boca � minha boca...
<br>
<br>Se nas horas amargas e desertas
<br>De f'lecidade, vem o seu carinho,
<br>Como um anjo lirial de asas abertas,
<br>A aplanar-nos a agrura do caminho...
<br>
<br>Se a face dela, miudinha e doente,
<br>Reflecte quanto ao nosso amor assiste:
<br>Somos felizes, mostra-se contente,
<br>E vendo-nos sofrer, sente-se triste...
<br>
<br>Por isso a minha alma vos alia
<br>Num s� amor, que em tr�s destinos �
<br>O que as duas irm�s Marta e Maria
<br>Foram para Jesus de Nazar�.
<br>
<br>
<br>
<br>CARTA A DES'ORAS
<br>
<br>
<br>Senhora Viscondessa.
<br> O seu decote
<br>Excedeu tanto o que rezava a fama,
<br>Que mal a vi surgir no camarote
<br>Perdi o fio, a tessitura ao drama...
<br>
<br>E a impress�o no resto da plateia,
<br>Pode a Senhora crer, n�o foi mais fraca.
<br>O seu busto gentil de Galatea.
<br>Gerou pecados rubros como a laca.
<br>
<br>Contou-me at� um musculoso mo�o
<br>Audaz e rude e leal, tipo da Beira,
<br>Que tinha uma dor forte no pesco�o
<br>De se voltar p'ra v�-la na cadeira...
<br>
<br>Frases licenciosas e brutais
<br>Trocavam-se baixinho. E olhares torvos
<br>Binoculavam os seus ombros reais,
<br>Famintos e vorazes como corvos.
<br>
<br>Registo uma excep��o aos meus assombros
<br>Que n�o foram, assim, concupiscentes.
<br>Os meus olhos poisaram nos seus ombros
<br>como em um casal de rolas inocentes...
<br>
<br>A mim o que me enleou de todo a vista
<br>Foi um doce atractivo espiritual.
<br>Isso que abrasa os nervos dum artista:
<br>- O ineditismo, o novo, o original...
<br>
<br>Isso... as ignotas, as estranhas normas
<br>Que as almas tomam, do alto c�u, vizinhas,
<br>Originando a orquestra��o das formas
<br>E a melodia s�mplice das linhas...
<br>
<br>Isso que a alma sempre adora e quer,
<br>A aspira��o que nela ascende e medra:
<br>O novo - seja um verso, uma mulher,
<br>Ou o friso delicado duma pedra...
<br>
<br>Como os artistas nunca se d�o bem,
<br>Vivi sempre com Deus muito de esguelha.
<br>Mas vi-a e reconhe�o que Deus tem
<br>A espa�os, um bocado de centelha...
<br>
<br>A espa�os digo, que ordinariamente
<br>� duma inestesia lament�vel.
<br>O luar de agosto � lindo realmente.
<br>Um joanete, por�m, � detest�vel...
<br>
<br>Eu, sem vaidade afirmo e sem despeito,
<br>Com a franqueza altiva que me impele:
<br>Fazia um mundo muito mais perfeito
<br>- Se tivesse algum fiat dos d'Ele...
<br>
<br>Ia dizendo... ah!... que a sua entrada
<br>No benef�cio donde vim agora
<br>Deixou-me uma impress�o acentuada
<br>Intensa, el�ctrica, dominadora.
<br>
<br>Vaidosa, como �, vai j� supor
<br>Que esteja por a� apaixonado.
<br>Engano... Um claro e firme e brando amor
<br>Me traz, desde crian�a, aprisionado...
<br>
<br>Gerou-se-me num monte alto e distante,
<br>Causou-mo algu�m de olhar alacre e mo�o
<br>Que � nesta obscuridade de estudante
<br>A luz do sol iluminando um po�o...
<br>
<br>Mas para que me escreve, ent�o? Dir�.
<br>A falar-lhe a verdade, nem eu sei;
<br>Talvez por ser o melhor modo que h�
<br>De lhe dizer que a vi - e que gostei...
<br>
<br>
<br>
<br>BALADA OUTONAL
<br>
<br>
<br>Palidazinha de olhos magoados
<br>E rosto exangue, cor de marfim,
<br>Que estranhos dores, que ideais tombados,
<br>Palidazinha de olhos magoados,
<br>Te envelheceram t�o cedo assim?
<br>
<br>Palidazinha de olhos magoados
<br>Que conjecturas teu rosto d�...
<br>Tiveste amores mal compensados,
<br>Palidazinha de olhos magoados,
<br>Morreu-te o noivo? Quem sabe l�?...
<br>
<br>Palidazinha de olhos magoados
<br>E olheiras roxas como violetas
<br>Onde os tu poisas, poisam cuidados,
<br>Palidazinha de olhos magoados.
<br>Se encaras homens, ficam poetas...
<br>
<br>Palidazinha de olhos magoados
<br>A morte aumenta a f�nebre escolha
<br>De corpos n�beis e inviolados,
<br>Palidazinha de olhos magoados,
<br>No fim do outono, ao cair da folha...
<br>
<br>Palidazinha de olhos magoados
<br>E de vinte anos, que n�o tens mais,
<br>Conta-te a morte entre os convidados,
<br>Palidazinha de olhos magoados,
<br>Nos pa�os dela que s�o covais...
<br>
<br>Palidazinha de olhos magoados
<br>Fica no mundo, n�o queiras ir...
<br>Secam os l�rios pelos eirados,
<br>Palidazinha de olhos magoados,
<br>E a primavera torna-os a abrir...
<br>
<br>Palidazinha de olhos magoados
<br>Sacode as m�goas do cora��o.
<br>Esquece os dias atormentados,
<br>Palidazinha de olhos magoados,
<br>Que atr�s de tempos, tempos vir�o...
<br>
<br>Palidazinha de olhos magoados
<br>A vida � bela. Linda �s tamb�m.
<br>E se morreres, anos passados,
<br>Palidazinha de olhos magoados,
<br>- H�-de esquecer-te a tua pr�pria m�e...
<br>
<br>
<br>CONSELHOS...
<br>
<br>
<br>Cora��o ambicioso,
<br>Deixa-a l�! Anda comigo...
<br>Por um amor duvidoso,
<br>N�o deixes um bom amigo.
<br>
<br>V� que n�o vale a mudan�a
<br>E repara que � loucura
<br>Teres ainda esperan�a
<br>Depois de tanta amargura...
<br>
<br>E j� � tempo de emenda,
<br>De saberes ante-m�o
<br>Que � cada nova contenda
<br>Mais outra desilus�o.
<br>
<br>O tempo da "Minha Dama"
<br>Desfez-se com o passado.
<br>Agora j� se n�o ama
<br>Sen�o com bom ordenado...
<br>
<br>Deixa-te de experi�ncias,
<br>Nenhuma lei o amor guia...
<br>A mais banal das ci�ncias
<br>� a tal psicologia.
<br>
<br>Para qu� armares em s�bio
<br>De ar cansado e grave modo,
<br>Se a simples curva dum l�bio
<br>Te p�e doidinho de todo?...
<br>
<br>Reflecte que � menos s�rio,
<br>Menos pr�prio dessa idade
<br>Embrenhar's-te no mist�rio
<br>� procura da verdade...
<br>
<br>Eu sei que n�o �s atreito
<br>� solid�o, sei-o bem;
<br>Mas indo para o seu peito
<br>- Ficas sozinho tamb�m...
<br>
<br>
<br>
<br>WORDS, WORDS...
<br>
<br>
<br>Ao Guedes Teixeira
<br>
<br>
<br>Contam que em pequenino costumava,
<br>Ao ver-me num cristal reproduzido,
<br>Beijar a pr�pria boca, em que julgava
<br>Ver a boca de algu�m desconhecido
<br>
<br>Cresci. Amei-a. E t�o alheio andava,
<br>No sonho por seus olhos promovido,
<br>Que em vez de cartas que ela me enviava,
<br>Eu lia o que trazia no sentido...
<br>
<br>Rodou o tempo. Estou doente e velho...
<br>Agora, se me acerco dum espelho...
<br>Oh meus cabelos, noto que alvejais...
<br>
<br>E as cartas dela, se as releio agora,
<br>S� vejo por aquelas linhas fora
<br>Palavras e palavras... Nada mais!
<br>
<br>
<br>
<br>NUNCA!
<br>
<br>Sugerido pelo bronze Di�genes
<br>da Senhora duquesa de Palrnela.
<br>
<br>
<br>Erguei at� � fronte em noite escura,
<br>Duma l�mpada acesa, a luz arfante.
<br>Em tomo a v�s, baila uma sombra escura
<br>E a luz vai projectar-se para avante.
<br>
<br>Sustendo a l�mpada a igual altura,
<br>Correi depois para essa luz brilhante;
<br>A treva, aos vossos p�s corre segura,
<br>E a luz sempre a fugir, sempre distante...
<br>
<br>Poetas! Eis aqui simbolizada
<br>Na sombra, a nossa m�goa inominada,
<br>Na luz, o al�m, como um clar�o no mar...
<br>
<br>Na sombra, a permanente, a eterna dor,
<br>Na luz, a aspira��o dum grande amor
<br>Que nunca, nunca havemos de alcan�ar...
<br>
<br>
<br>
<br>
<br>
<br>� Luz da Vida
<br>
<br>
<br>Ao Dr. Lopo de Carvalho
<br>
<br>
<br>
<br>AMOR DESFEITO
<br>
<br>
<br>"Se um cora��o de mulher te faz sofrer, procura o amor de outra mulher."
<br>
<br>BEL.
<br>
<br>Ao Afonso Lopes Vieira
<br>
<br>
<br>Comp�e-te um pouco. Baixa mais o rosto
<br>Para que possa v�-lo sem me erguer.
<br>(Se uma alma da mulher nos d� desgosto
<br>Procura-se a afei��o de outra mulher...)
<br>
<br>N�o estou bem ainda... (� que no amor,
<br>A vontade n�o basta para t�-lo)
<br>Olha: talvez assim fique melhor
<br>Passa os teus dedos pelo meu cabelo...
<br>
<br>� agrad�vel... (mas, se a outra fosse
<br>Quem me fizesse este dormente afago,
<br>Sentiria fugir num sonho doce
<br>A dor amarga, o fundo mal que trago).
<br>
<br>Adoro a m�sica. Desce-me � alma
<br>Profundamente, e todo me quebranta.
<br>Ergue a voz de oiro, na amplitude calma,
<br>Ergue a voz de oiro, minha amiga. Canta...
<br>
<br>Canta o Pieta Signori, de Stradella,
<br>M�sica ungida dum amor de eleito,
<br>Como � dolente! (Se lha ouvisse a ela
<br>Perdoava-lhe quanto me tem feito...)
<br>
<br>Que azul o das tuas veias! � a cor
<br>De que eu mais gosto essa do azul delido.
<br>(Quando uma noite me falou de amor
<br>Era dum tom igual o seu vestido...)
<br>
<br>Repara numa estrela, al�m, que est�
<br>Junto da lua... a outra... p'ra direita...
<br>Leva dez anos a chegar-nos c�
<br>A branda luz que a sua face deita.
<br>
<br>Pode bem suceder que esteja morto,
<br>Escuro e frio, aquele sol distante.
<br>No entretanto, o teu olhar absorto
<br>V�-lhe um brilho silente e palpitante.
<br>
<br>Tive tamb�m no �ntimo do peito
<br>Um astro a arder que se apagou depois
<br>- As saudades dum amor desfeito
<br>- S�o luz que fica de apagados s�is...
<br>
<br>E, agora, em v�o procura o meu desejo
<br>Ver um sol novo em cristalinos c�us...
<br>S� a luz vaga das saudades vejo!
<br>
<br>Estou com febre. Boa noite. Adeus!
<br>
<br>
<br>
<br>PRIMAVERA
<br>
<br>
<br>Ao Alexandre Braga
<br>
<br>
<br>Faz hoje um lindo sol peninsular.
<br>� o dia mais bonito dos deste ano.
<br>Encanta a vista a transpar�ncia do ar
<br>E o c�u � dum azul napolitano.
<br>
<br>Um galho de roseira florescente
<br>Que a aragem faz bater-me na janela
<br>Parece mesmo estar chamando a gente
<br>E oferecer o aroma, os bot�es dela...
<br>
<br>Ergo a vidra�a � luz fulgente e amiga,
<br>Colho uma rosa meia aberta e branca.
<br>Coloco-a em �gua numa jarra antiga
<br>E ponho a jarra sobre a minha banca;
<br>
<br>Mal na mesa a coloco, d�-se um caso
<br>Que � de gerar o mais estranho enlevo:
<br>A rosa, debru�ada sobre o vaso,
<br>Vai perfumando e lendo o que eu escrevo...
<br>
<br>Do canto onde trabalho, v�-se o rio,
<br>Atrav�s dos chor�es curvos das margens,
<br>Seguir pausada, como um rei sombrio
<br>Por dupla fila de inclinados pagens...
<br>
<br>E aquela massa de �guas alterosa
<br>�, na doce paisagem, destoante
<br>Como, numa boceta leve e airosa,
<br>Um verso austero do divino Dante,
<br>
<br>Porque � um terno id�lio tudo o mais,
<br>Porque � tudo o restante ing�nuo e ledo:
<br>A virginal brancura dos casais,
<br>O verde tenro e novo do arvoredo.
<br>
<br>Nas hortas e valados, nos caminhos,
<br>Cruzam-se vozes l�mpidas cantando,
<br>Vozes de melros no himeneu dos ninhos,
<br>Notas alegres como um vinho brando...
<br>
<br>E a ondula��o das cearas onde os meus
<br>Olhos alongo, num degrau da serra,
<br>Lembra-me as invis�veis m�os de Deus
<br>Acariciando as produ��es da terra...
<br>
<br>
<br>
<br>O EDITAL
<br>
<br>
<br>A Jo�o de Deus Ramos
<br>
<br>(versos escritos para uma festa escolar.)
<br>
<br>
<br>Manuel era um petiz de palmo e meio
<br>(Ou pouco mais teria, na verdade)
<br>De rosto moreninho e olhar cheio
<br>De inteligente e en�rgica bondade.
<br>
<br>Orgulhava-se dele o professor...
<br>No porte e no saber era o primeiro.
<br>Lia nos livros que nem um doutor,
<br>Fazia contas que nem um banqueiro...
<br>
<br>Ora uma vez ia o Manuel passando
<br>Junto ao adro da igreja. Aproximou-se
<br>E viu � porta principal um bando
<br>De homens a olhar o quer que fosse.
<br>
<br>Empurravam-se todos em tropel
<br>Ansiosos por saberem, cada qual,
<br>O que vinha a dizer certo papel
<br>Pregado com obreias no portal...
<br>
<br>Mais contribui��es! Supunha um.
<br>� pr'�s sortes, talvez.., outro volvia.
<br>Quantas suposi��es! Por�m nenhum
<br>Sabia ao certo o que o papel dizia.
<br>
<br>Nenhum (e eram vinte os assistentes)
<br>Sabia ler aqueles riscos pretos.
<br>Vinte homens e talvez inteligentes
<br>Mas todos, que tristeza - analfabetos!...
<br>
<br>Furou Manuel por entre aquela gente
<br>Ansiosa, comprimida, amalgamada,
<br>Como uma formiguinha diligente
<br>Por um massi�o de erva emaranhada.
<br>
<br>Furou e conseguiu chegar adiante.
<br>Ergueu-se nos pezitos para ver,
<br>Mas o edital estava t�o distante,
<br>L� tanto em cima, que o n�o p�de ler.
<br>
<br>Um dos do bando agarrou-o ent�o
<br>E levantou-o com as m�os possantes
<br>E calejadas de cavarem p�o...
<br>Houve um sil�ncio entre os circunstantes.
<br>
<br>E numa clara voz melodiosa
<br>A alegre e insinuante criancinha
<br>P�s-se a dizer, �quela gente ansiosa,
<br>Correntemente o que o edital continha
<br>
<br>Regressava o abade do passal
<br>A caminho da sua moradia.
<br>Como era j� idoso e via mal,
<br>Acercou-se para ver o que haveria...
<br>
<br>E deparou com esse quadro lindo
<br>Duma crian�a a ler a homens feitos,
<br>Dum pequenino c�rebro espargindo
<br>Luz naqueles c�rebros imperfeitos...
<br>
<br>Transpareceu no rosto ao bom abade
<br>Um doce e espiritual contentamento
<br>E a sua boca, fonte de verdade,
<br>Disse estas frases com um brando acento:
<br>
<br>Olhai, amigos, quanto pode o ensino...
<br>Sois homens; alguns, pais, e at� av�s,
<br>Pois s� por saber ler, este menino
<br>- � j� maior do que nenhum de v�s!
<br>
<br>
<br>
<br>AMOR SADIO
<br>
<br>
<br>A Silva Pinto
<br>
<br>Sem adjectivos, que a luz do sol n�o precisa de candeias.
<br>
<br>
<br>Versos, v�o l� faz�-los sem cabala,
<br>Pegar-se numa pena e escrever de
<br>Maneira igual a aquela em que se fala...
<br>- Dizem que � imitar Ces�rio Verde!
<br>
<br>V� a gente largar a todo o pano
<br>No luminoso mar do natural,
<br>Ser simples, ser sincero, ser humano...
<br>- � d'el-rei que n�o � original!
<br>
<br>Mas sendo eu homem para n�o magoar-me
<br>Da mofa iconoclasta do caf�,
<br>Por que motivo � que hei-de contrariar-me.
<br>Cantando o nosso amor como n�o �?
<br>
<br>Para que urdir est�ncias em balata
<br>E atribuir-te uma nobreza antiga,
<br>Se os teus vestidos s�o de l� barata
<br>E se �s uma saud�vel rapariga?!
<br>
<br>Para que hei-de esconder os meus desejos,
<br>Falsificar um grande amor perfeito.
<br>Se gosto imensamente dos teus beijos
<br>E � minha uma metade do teu leito?!
<br>
<br>Para que hei-de chamar inviolado
<br>E dizer fino um ventre que o � grosso,
<br>Se ele anda h� sete meses fecundado
<br>E se vive, l� dentro, um filho nosso?!
<br>
<br>Por que invocar, como descanso e abrigo,
<br>A morte negra contra tanta dor...
<br>Se a vida � boa quando estou contigo,
<br>Se � junto a mim que tu est�s melhor?!
<br>
<br>Por que n�o p�r num verso claro e presto,
<br>T�o simplesmente como � boca vem,
<br>(E diz mais isto do que tudo o resto)
<br>Que te amo muito, que te quero bem?!
<br>
<br>Eu sei! Tomando assim ares banais,
<br>Coloco entraves � celebridade...
<br>- Mas nem que a gl�ria n�o tivesse mais
<br>Que aturar poetas com a minha idade!
<br>
<br>
<br>
<br>HORA MORTIS
<br>
<br>
<br>� mem�ria de Ant�nio Proen�a
<br>de Oliveira, que morreu mo�o.
<br>
<br>
<br>O meio dia da vida!
<br>A sombra diminu�da
<br>Quanto a sombra o pode ser...
<br>
<br>Tudo � luz e esp'ran�a ainda...
<br>Dizei se h� hora mais linda
<br>Para parar - e morrer?...
<br>
<br>Quando o sol mais alto vai.
<br>Faz-se a treva, a noite cai
<br>- E o que foi... j� n�o existe;
<br>
<br>Acaso h� morte melhor
<br>Que a sem tarde e sem sol-p�r
<br>- E sem crep�sculo triste?...
<br>
<br>Viveu-se pouco? Que importa!
<br>Para se fechar a porta
<br>� vida, o momento � esse;
<br>
<br>Quem morre na mocidade
<br>Deixa mais longa saudade,
<br>S� muito mais tarde esquece...
<br>
<br>Morte amiga a que ele teve!
<br>Caminhou tanto ao de leve,
<br>Chegou-se t�o devagar,
<br>
<br>Feriu-o t�o de repente,
<br>T�o subtil, t�o docemente,
<br>Que o matou sem o magoar...
<br>
<br>
<br>
<br>TARDE AZIAGA
<br>
<br>
<br>Ao Mariano Font�o
<br>
<br>
<br>Como nuvem de l�grimas, pairando
<br>Sobre os tectos esguios da cidade,
<br>Vai-se morosamente desdobrando
<br>Um grande v�u de sombra e de humidade.
<br>
<br>Alteio os olhos para o c�u nevoento
<br>E um s�mil triste, uma impress�o me acode,
<br>Trazendo-me � ideia o sofrimento
<br>De algu�m que quer chorar - mas que n�o pode.
<br>
<br>A n�voa faz-me mal, p�e-me doente,
<br>Torna-me os nervos moles, anormais,
<br>E estes sinos dobrando lentamente,
<br>Ainda me abatem e entristecem mais.
<br>
<br>Sigo, rua fora, a ver se me distraio.
<br>Entro para um caf�. Jogo o bilhar.
<br>Trazem-me um boque. � detest�vel. Saio.
<br>E os sinos que n�o deixam de tocar!
<br>
<br>Inquiro duns amigos que est�o juntos
<br>(Amigos?! A amizade o que ser�?)
<br>Por quem dobram os sinos a defuntos.
<br>Penaliza-me a nova que um me d�.
<br>
<br>Morreu a filha a um vendedor de panos
<br>Que empresta a juros de cinquenta ao m�s.
<br>E o pai h�-de viver por largos anos...
<br>Oh justi�a de Deus, como tu �s!
<br>
<br>Not�cias que se prendem com a morte
<br>Causam maior pavor num dia assim.
<br>Para reagir, para fazer de forte,
<br>Ponho-me a gracejar de mim pr'a mim:
<br>
<br>� costume na noite de finados.
<br>Iluminar a cova em que se reza.
<br>Eu, desde j�, dispenso tais cuidados,
<br>Nunca pude dormir de vela acesa.
<br>
<br>E a quem � minha breve morte assista
<br>Na aldeia sertaneja, onde hei-de ser
<br>O melhor poeta e pior legista,
<br>Com antecipa��o dou a saber
<br>
<br>Que n�o quero flores no coval
<br>Onde estes ossos forem residir.
<br>A medicina prova que faz mal
<br>T�-las a gente em quartos de dormir...
<br>
<br>*
<br>* *
<br>
<br>Estaco � porta duma mercearia.
<br>Chamo um garoto e compro uma gazeta.
<br>Deito os olhos � folha. Que arrelia!
<br>Toda a p�gina vem de tarja preta.
<br>
<br>Um trunfo dominante, do governo,
<br>Passa de trem, numa andadura lesta.
<br>Que triste coisa andar a p� no inverno...
<br>Mal empregado trem p'ra aquela besta!
<br>
<br>Com modos de palerma que me irritam
<br>P�ra um rapaz e diz-me: - Ol�! doutor!
<br>Coitado, � um dos raros que acreditam
<br>Que eu tenha um poucochinho de valor...
<br>
<br>Tomando um ar cansado e presumido
<br>Digo-lhe coisas para me entreter
<br>E dou-lhe como pronto, conclu�do,
<br>Um livro que ainda tenho por fazer.
<br>
<br>Despe�o-me. "S�o horas de abalar,
<br>Que a li��o � dif�cil e comprida".
<br>Para que diabo � que eu me hei-de formar,
<br>Se nunca hei-de ser gente nesta vida?
<br>
<br>Caminho para casa a passo lento;
<br>Talvez que lendo um pouco fique bem...
<br>Antes eu n�o tivesse algum talento
<br>E fosse o parvo alegre que al�m vem.
<br>
<br>Sobem-me ideias negras � mem�ria.
<br>Evocando saudades do passado,
<br>Lembra-me, de repente, certa hist�ria
<br>Que prova o meu destino malfadado:
<br>
<br>O santo velho que � meu pai, plantou
<br>Um abrunheiro e disse � teu, Augusto.
<br>Pois nem uma s� vez frutificou
<br>O pobrezinho, desgra�ado arbusto!
<br>
<br>Mais sinos! E a dobrarem! Fico pior:
<br>Um mau pressentimento me atordoa:
<br>- Que a minha noiva me n�o tem amor -
<br>Oh meu fiel, meu doce amor... perdoa.
<br>
<br>Entro no quarto e vejo um sobrescrito.
<br>Curvo-me a ler. Carta de minha m�e.
<br>Louvado seja Deus, que este maldito,
<br>Este agoirento dia - findou bem...
<br>
<br>
<br>
<br>CARTA A DIOGO PERES
<br>
<br>
<br>Noite de c�es. Dezembro. No braseiro
<br>S� restam, do carv�o, cinzas agora.
<br>Rufa nos vidros, como num pandeiro,
<br>A neve. E o vento, pelas frinchas fora,
<br>Zumbe sinistro, estr�dulo, agoureiro...
<br>
<br>Para escrever a carta que te envio,
<br>Desentorpe�o as m�os � luz da vela
<br>Mal fabricada, com que me alumio.
<br>O inverno, aqui, neste degrau da Estrela
<br>Nem tu calculas como � triste e frio!
<br>
<br>Pedes-me que te conte com vagar
<br>O que � feito de mim, que rumo sigo.
<br>S� novidades m�s te posso dar,
<br>Que a boa-sorte p�s-se a mal comigo
<br>E n�o h� modo de a reconquistar.
<br>
<br>Sinto-me, dia a dia, mais doente.
<br>Perdi de todo o esp�rito, a fa�sca.
<br>Tornei-me bronco, in�til, indif'rente
<br>E gasto as tardes a jogar a bisca
<br>Num clube reles e de reles gente!
<br>
<br>Lembras-te dos meus planos de estudante
<br>Da envaidecida e da segura f�
<br>Que eu tinha de romper, futuro adiante,
<br>O caminho da vida - a ponta-p� -
<br>Numa altivez honesta e confortante?...
<br>
<br>Essa quimera triunfal de mo�o
<br>Ai meu amigo que diversa foi
<br>Da negra realidade em que me estro�o!
<br>Pretendia lutar como um her�i
<br>E agora quero andar e mal o posso...
<br>
<br>O m�dico, entre os �ntimos, confessa
<br>Que a minha vida a pouco meses deita.
<br>Espero em Deus por�m que me aconte�a
<br>Seguindo � risca o que ele me receita,
<br>Que a morte venha muito mais depressa...
<br>
<br>Queimei em �lcool todo o meu vigor,
<br>Gastei em beijos toda a mocidade;
<br>E como f�cil era de supor,
<br>Nem no �lcool achei felicidade
<br>Nem nesses beijos encontrei o amor...
<br>
<br>Da bo�mia noct�mbula e mesquinha,
<br>O resultado estou agora a v�-lo
<br>Na tortura sem par que me definha:
<br>Tenho cheio de brancas o cabelo
<br>E uma mielite a apodrecer-me a espinha...
<br>
<br>Pois apesar do p�vido estendal
<br>Que nestes versos arripiantes deixo
<br>- Ang�stias de amansarem um chacal,
<br>M�goa capaz de amolecer um seixo -
<br>H� gente por a� que me quer mal!
<br>
<br>Com alguns, n�o obstante, reparti
<br>Metade da minh'alma e do meu ......
<br>Nas lutas que tiveram combati
<br>Com um ardor, com uma exalta��o,
<br>Que nunca em pugnas minhas consegui...
<br>
<br>Quando lhes veio o dia da vit�ria
<br>E do prest�gio que o dinheiro alcan�a
<br>Entre gente venal e transit�ria,
<br>Lan�aram-me cal�nias por lembran�a
<br>E rudes vitup�rios por mem�ria...
<br>
<br>*
<br>* *
<br>
<br>Quanto �s rimas de amor para a morena
<br>Por quem eu tinha um t�o subido int'resse
<br>Ainda n�o tive uma �poca serena
<br>Na qual placidamente as compusesse.
<br>Nem as farei, talvez. N�o vale a pena...
<br>
<br>Seis horas da manh�. Escrevo a custo.
<br>Sinto gelar-me a carne e o pensamento.
<br>A neve n�o cessou e infunde susto
<br>O f�nebre clamor que faz o vento.
<br>Adeus, Diogo. Vou deitar-me.
<br>
<br>Augusto.
<br>
<br>
<br>
<br>UM FRAGMENTO
<br>DAS FEN�CIAS, DE EUR�PEDES
<br>
<br>Segundo a par�frase de Rivollet
<br>
<br>
<br>Pra�a da Acr�pole, em Atenas. Ao fundo, ergue-se o pal�cio real, encimado por um terra�o para onde d� acesso exterior uma escadaria de cedro. � direita, um caminho para as muralhas e para a plan�cie. � esquerda, uma vereda que sobe para um horizonte de colinas arborizadas. P�r do sol.
<br>
<br>CENA I
<br>
<br>Coro das fen�cias - Coro dos velhos tebanos - Coro das tebanas
<br>
<br>
<br>AS FEN�CIAS:
<br>
<br>Findou, enfim, a extenuante rota!...
<br>Para servir o claro Deus Apolo,
<br>Venho da �sia c�lida e remota...
<br>
<br>Deixei as margens pl�cidas de Tiro,
<br>Com brandas curvas como as do meu colo
<br>E grutas, cada qual � um retiro
<br>
<br>Mais calmo que os meus bra�os embalantes...
<br>Nelas se v�o repercutir e ecoar
<br>Os saudosos, l�nguidos descantes
<br>
<br>Dos marinheiros que de pandas velas
<br>Largam do porto para o inquieto mar,
<br>Olhando os olhos de oiro das estrelas...
<br>
<br>E quantos deles, nessa incerta viagem
<br>Em que somente os encaminham astros,
<br>N�o ficam submergidos na voragem!
<br>
<br>Quantos, soltando impreca��es e ais,
<br>J� sem leme e sem velas e sem mastros
<br>Partiram, mas n�o voltam nunca mais...
<br>
<br>Eu sou a virgem de cabelos flavos
<br>E de altos seios de alabastro quente
<br>Que o ilustre Endor, bravo dos bravos,
<br>
<br>Oferta ao vosso Deus omnipotente...
<br>Endor governa junto ao mar divino
<br>Que numa onda milagrosa e albente
<br>
<br>Gerou, certa manh� de efl�vios cheia,
<br>O puro corpo deslumbrante e fino
<br>Da m�e do Amor, a esbelta Citereia,
<br>
<br>Mandou Endor aos meus cansados passos
<br>Que viessem at� v�s, gentis tebanos...
<br>De tanto andar trazia os membros lassos,
<br>
<br>Que at� num homem para a guerra feito
<br>A for�a � pouca nestes poucos anos...
<br>Mas o meu corpo n�bil e perfeito
<br>
<br>Banhei-o, quando a casta luz do dia
<br>Escureceu a derradeira estrela,
<br>E voltou-me o vigor, esta alegria
<br>
<br>De me sentir purificada e bela...
<br>O sol desceu num glorioso ocaso
<br>E estou ansiosa de pisar, de v�-la
<br>
<br>A sagrada montanha do Parnaso,
<br>Onde perpetuamente o gelo alveja,
<br>E cujo cimo altivo � sempre raso
<br>
<br>De nuvens, coroando-o como a um rei...
<br>Guiai-me at� l� e consenti que o veja
<br>Que para isso tanto caminhei...
<br>
<br>Conduzi-me ao local das profecias
<br>Aonde P�tia sacrifica e ora...
<br>Cantemos todos as rituais teorias,
<br>
<br>Levai-me a ver a desnastrada tran�a
<br>De Moenada. � chegada enfim a hora!
<br>Mas nem um s� de tantos v�s avan�a?
<br>
<br>Olhai o poente de oiro de rubis.
<br>Dentro de pouco a noite vai descer
<br>- E v�s tebanos nem sequer me ouvis!
<br>
<br>Assim � que tratais uma mulher?
<br>
<br>OS VELHOS:
<br>
<br>Virgem de Tiro, oh linda imagem de Afrodita
<br>Regressa ao teu pa�s: deixa a p�tria maldita
<br>De Tebas. O que soa nesta nossa terra
<br>N�o s�o hinos de paz, � o clamor da guerra;
<br>E este ocaso, a fulgir de rubras claridades,
<br>� um clar�o de morte, o inc�ndio das cidades...
<br>
<br>AS FEN�CIAS:
<br>
<br>Que fado esquivo e incerto, que destino inf'liz
<br>�dipo, oh grande rei, paira no teu pa�s?...
<br>
<br>OS VELHOS:
<br>
<br>Por Zeus! A tua boca de estrangeira amiga
<br>Esse nome execrando nunca mais o diga!...
<br>O solo onde tal homem haja posto os p�s,
<br>Silvas e urtigas cubram-no, de l�s a l�s!
<br>E que o imundo colear de todos os r�pteis
<br>Suma todo o vest�gio dos seus passos vis! ...
<br>
<br>AS FEN�CIAS:
<br>
<br>O que fez ele ent�o?
<br>
<br>AS TEBANAS:
<br>
<br> O incesto e o parric�dio.
<br>Largo tempo reinou, potente e venerado,
<br>- Assassino do pai e com a m�e casado!
<br>Mas um deus tutelar de tudo nos advertiu
<br>E ao vento da revolta, o rei tremeu - caiu!
<br>
<br>AS FEN�CIAS:
<br>
<br>Se ele culposo est�, ou inocente,
<br>T�o s� aos deuses discerni-lo � dado.
<br>Por isso eu o sa�do reverente:
<br>P'ra mim � mais que um rei - � desgra�ado...
<br>
<br>OS VELHOS:
<br>
<br>Mulher, em vez do nome que lhe deste,
<br>Chama-lhe antes maldito e fel da terra.
<br>Por ele s�, nos assolou a peste,
<br>Por ele s�, est� bramindo a guerra!...
<br>
<br>AS TEBANAS:
<br>
<br>Desesperado por sofrer o mal
<br>Que, a si pr�prio, se deu em puni��o,
<br>Excomungou os filhos, e a final
<br>Rompeu a guerra entre um e outro irm�o...
<br>
<br>OS VELHOS:
<br>
<br>Tremendo ambos que esse voto odiento
<br>O ouvisse alguma potestade
<br>Fizeram ante Apolo o juramento
<br>De n�o viverem juntos na cidade;
<br>
<br>E combinaram alternar o mando
<br>Da nossa gente respeitosa e forte
<br>Ora um, ora o outro, governando
<br>At� que um deles o chamasse a morte...
<br>
<br>Polin�cio afastou-se por um ano
<br>Ao fim do qual, conforme combinara,
<br>Quis o s�lio ocupar de rei tebano
<br>Por tempo igual a aquele em que o deixara.
<br>
<br>Conquanto, da palavra permutada,
<br>A testemunha fosse todo o c�u,
<br>Eteoclo quebrou a f� jurada
<br>E se rei era, rei permaneceu...
<br>
<br>E Polin�cio, com os mais amargos
<br>Despeitos a roer-lhe o cora��o,
<br>Parte, pede socorro � gente de Argos
<br>E arrasta uma incont�vel multid�o...
<br>
<br>E agora as sete portas desta linda
<br>E leal cidade, inveja das demais,
<br>V�o ser fechadas com fragor, � vinda
<br>Das hordas inimigas e brutais!
<br>
<br>AS TEBANAS:
<br>
<br>Roubando a paz que � bem melhor que a vida
<br>Ai de n�s! sanguin�rias turbas multas
<br>Convergem para a guerra fratricida
<br>Com setas, lan�as, gl�dios, catapultas!...
<br>
<br>OS VELHOS:
<br>
<br>Felizes tempos os da mocidade!
<br>J� se extinguiu em n�s toda a bravura
<br>E, como aves a fugir da tempestade
<br>Para os ninhos ocultos na verdura,
<br>
<br>Viemos para a frente destes pa�os
<br>Onde cuidam do velho - e com que amor! ...
<br>Jocasta a esposa de enrugados tra�os
<br>E a filha, Ant�gona - a bondade em flor.
<br>
<br>Velha rainha dos cabelos alvos
<br>Ante o nosso clamor, porque n�o vens?
<br>Que ela intervenha e ficaremos salvos.
<br>N�o h� pedir, como o pedir das m�es...
<br>
<br>Que alcance a paz com os seus bons conselhos
<br>Que ela erga, bem alto, a triste voz,
<br>Que ela rogue aos dois filhos, de joelhos,
<br>Piedade de si pr�prios e de n�s!
<br>
<br>
<br>CENA II
<br>
<br>Os mesmos e Jocasta, � entrada do Pal�cio
<br>
<br>JOCASTA:
<br>
<br>Porque � que eu vivo ainda oh anci�os tebanos?
<br>Pois n�o bastava j� aos deuses desumanos
<br>O que vivi, e o que sofri, e o que chorei?
<br>Pois � preciso ainda que outra e negra lei
<br>Do meu destino ensanguentado e triste
<br>Me chegue a este horror de m�e que assiste
<br>A uma luta de abutres, derimida entre
<br>Dois filhos que eu gerei, que trouxe no meu ventre!
<br>Oh ceptro de raia, emblema naufragado
<br>Num crime que por mim n�o foi, sequer, sonhado!
<br>Oh sorte miseranda, oh infortunada vida
<br>De v�tima inocente, e, para sempre, unida
<br>� dura expia��o de atroz pecado alheio!
<br>
<br>Est'alma j� morrera (a tumba era o meu seio...)
<br>Faltava s� a morte � carne que a reveste
<br>E junto ao velho rei eu aguardava-a neste
<br>Pal�cio que o remorso ocupa do alto ao fundo...
<br>E o rei, como eu, tamb�m j� morto para o mundo,
<br>Ansiava a toda a hora, a hora demorada
<br>De n�o lembrar, de n�o sofrer - do nada...
<br>Farrapo de mulher amarfanhado e vil,
<br>Comparava-me � fera entrada no covil
<br>Para poder, l� dentro, agonizar em paz...
<br>Mas toda a minha dor ainda n�o foi bastante,
<br>E brada-me o destino: Adiante! Adiante! Adiante!
<br>A lei da vida humana, a lei mais firme e forte
<br>� sofrer sempre - sempre e mais! - at� � morte...
<br>
<br>AS FEN�CIAS, curvando-se:
<br>
<br>Minh'alma te venera, oh m�e, e te deplora...
<br>Ela � como a folhagem duma �rvore sonora
<br>Que geme e que se estorce com sinais de dor
<br>Quando a rajada agita as outras em redor.
<br>Se estivesses contente, alegre estava j�.
<br>Assim, como est�s triste, triste contigo esta...
<br>
<br>OS VELHOS:
<br>
<br>Liberta a nossa terra! E dize tu, que �s m�e,
<br>Qual �, dos filhos teus, o rei que nos conv�m...
<br>
<br>JOCASTA:
<br>
<br>Seja! Vou ressurgir da morte em que vivia.
<br>A noite vai impor-se ao tempestuoso dia.
<br>Reis v�os, com tronos de vaidade e de utopia
<br>Eu rainha e eu m�e - a dupla majestade,
<br>Cit�-los-ei perante mim...
<br>
<br>A um velho:
<br>
<br> Oh velho escuta:
<br>O sofrimento � como a �guia que perscruta
<br>Das alturas do c�u o fervilhar da Terra.
<br>Adivinhei-te, anci�o. Quero evitar a guerra...
<br>Mal que uma vaga luz floriu sobre o nascente
<br>- Seja de bom agoiro o rir dum inocente! -
<br>Mandei por emiss�rio �s hostes dos argianos
<br>Um jovem cujo ardor se contrap�e aos anos...
<br>� Menoceu, filho de Cr�on meu irm�o;
<br>Da minha ra�a pois, e de alta condi��o.
<br>De certo j� chegou �s tendas flamulantes
<br>Que se erguem da planura. E Polin�cio, antes
<br>Que outra manh� � de hoje lhe suceda,
<br>Vir� ocultamente e por oculta v'reda
<br>At� � porta que abre para a cidadela.
<br>E prestes se h�-de abrir. Comprei a sentinela...
<br>E envolvido na treva e abafando os passos
<br>Cair� na terna claridade dos meus bra�os...
<br>E a paz h�-de surgir nessa bendita hora!
<br>O que � que um filho nega - � m�e, quando ela chora?
<br>Mas fecha ao meu segredo, a tua fala, amigo,
<br>E encosta-te ao bord�o e vem pedir comigo
<br>Que piedosamente abram os seus ouvidos
<br>Os deuses para n�s h� tanto ensurdecidos...
<br>
<br>(Entra no pal�cio seguida pelos velhos e pelas tebanas)
<br>
<br>
<br>
<br>CENA III
<br>
<br>As Fen�cias, em dois meios coros
<br>
<br>
<br>1� MEIO CORO:
<br>
<br>Deus da Ira e do Furor
<br>Escuta o nosso clamor
<br>E suspende o gesto forte;
<br>Afasta destas muralhas
<br>O furac�o das batalhas,
<br>O torvo abutre da morte...
<br>
<br>Revibra o ar, treme a terra
<br>Ao som dos carros de guerra...
<br>Fulge um gl�dio em cada m�o.
<br>E de tanto mo�o altivo
<br>Que nesta p�tria est� vivo,
<br>Amanh� quantos o est�o?...
<br>
<br>Corpos belos como Apoio
<br>Tombar�o, mordendo o solo
<br>Entre improp�rios e insultos,
<br>E as pobres m�es desgrenhadas
<br>Vir�o chorar, debru�adas
<br>Sobre os filhos insepultos...
<br>
<br>2� MEIO CORO:
<br>
<br>Ainda � tempo! � tempo ainda!
<br>V� como a terra est� linda,
<br>E como a amar tudo nos chama.
<br>Olha as �rvores noivando,
<br>Olha as fontes conversando,
<br>Tudo vive e estua - e ama!...
<br>
<br>Deixa a terra, sobe ao c�u,
<br>Ou se a terra mereceu
<br>Ter um deus na Primavera,
<br>
<br>Atravessa o manso mar
<br>E volta de novo a amar
<br>Para a ilha de Citera...
<br>
<br>Que te importa a humana vasa
<br>Quando Afrodite se abrasa
<br>Na �nsia com que te quer?
<br>Tapa, num beijo, o seu riso...
<br>Do seu ventre claro e liso
<br>Outro Amor volte a nascer...
<br>
<br>(Saem pela vereda da esquerda)
<br>
<br>
<br>CENA IV
<br>
<br>O Pedagogo, depois Ant�gona e Menoceu
<br>
<br>
<br>O PEDAGOGO:
<br>
<br>A pra�a est� deserta...
<br>
<br>A Menoceu:
<br> Antes que venha algu�m,
<br>Segue a formosa Ant�gona, oh Menoceu, e vem
<br>
<br>ANT�GONA, ao mesmo:
<br>
<br>Filho de Cr�on, meu ousado e doce amigo,
<br>Que vontade de ver-te e de falar contigo!
<br>Pedi consentimento a minha m�e. Subamos.
<br>E que ambos, finalmente, � tua boca ou�amos
<br>A viva descri��o do ex�rcito que avan�a
<br>Em coleios de serpe que se estira e lan�a
<br>Esfuziante contra a presa...
<br> Quantos s�o
<br>Os chefes? Tu contaste-os?
<br>
<br>Ao Pedagogo:
<br>
<br> D�-me a tua m�o...
<br>
<br>A Menoceu:
<br>
<br>H� gente? V�...
<br> Tebas escusa de saber que eu,
<br>Menina e mo�a, abandonei o gineceu...
<br>
<br>MENOCEU:
<br>
<br>Ningu�m...
<br>
<br>ANT�GONA:
<br>
<br> Vamos ent�o ao alto do terra�o
<br>Abrange-se de l� um dilatado espa�o
<br>E todo o acampamento...
<br>
<br>(Sobem os tr�s)
<br>
<br> Oh natureza,
<br>Que semeador sombrio e cheio de fereza
<br>Andou no plaino inteiro e em todo o cerro,
<br>Em vez do p�o que nutre a semear o ferro?...
<br>Quem foi? Quem foi que nessas veigas usurpadas
<br>Searas fez brotar de r�tilas espadas?
<br>Que deus de alto 'poder, e g�nio torvo e escuro,
<br>Dum jacto, fez florir jardins de bronze duro?...
<br>O que � feito de v�s oh pl�cidas clareiras
<br>Do bosque, aonde eu ia, e mais as companheiras,
<br>A cantar e bailar? Oh entusiasmos ledos
<br>Dos nossos juvenis e c�ndidos folguedos!
<br>Fontes onde eu bebi, espelhos de �gua pura,
<br>Calmais presentemente a �vida secura
<br>De estrangeiros hostis, dos seus corc�is de guerra...
<br>M�sera P�tria! Infanda Tebas! Pobre terra!
<br>Rodas rolando e o rijo p� de homens brutais
<br>Dizimaram, num dia, hortas, verg�is, trigais!...
<br>E calcam impiamente os t�mulos sagrados
<br>De mortos que ainda em n�s est�o ressuscitados!
<br>E quanto mais se estende o meu nublado olhar
<br>Mais tendas v� surgir, mais armas v� brilhar...
<br>E, ante esta invas�o da terra que amo tanto,
<br>O que mais cresce em mim, n�o � rancor - � espanto!
<br>
<br>O PEDAGOGO:
<br>
<br>V�s um gigante al�m? Esse brutal colosso
<br>Venceu, como se fora um estreito fosso
<br>Do est�dio, as duas margens do Dirceu num salto!
<br>E aquela turba que em clamor t�o alto
<br>O segue e aplaude s�o os miceanos
<br>Coura�ados de puas. Menos que medianos,
<br>Parecem vis pigmeus � volta dum Tit�.
<br>
<br>MENOCEU:
<br>
<br>� Hipom�don, rei de Lena e alma v�...
<br>Traz o nome no escudo e leio-lhe daqui...
<br>
<br>ANT�GONA:
<br>
<br>Arrogante Hipom�don! Caia sobre ti
<br>Esmagadoramente - a pior das maldi��es!
<br>Jurou que levaria, escrava e com grilh�es.
<br>Para um pa�s estranho a minha ilustre m�e;
<br>E �s filhas da cidade amea�a-nos tamb�m
<br>Da escravid�o... Oh claro Apolo, antes decidas,
<br>Reproduzir em n�s a sorte das niobidas.
<br>Aponta as tuas setas para o nosso peito...
<br>Ver�s em cada boca um riso satisfeito.
<br>A P�tria � para a alma o mesmo encantamento
<br>Que � para o nosso olhar o azul do firmamento.
<br>
<br>Repara noutro chefe, alambicado, terno
<br>Como Ad�nis. Vota ao fundo inferno
<br>A sorte nossa. Tem gesto de mulher
<br>E a sua voz � de �guia esgani�ada. Quer
<br>Aos muros da cidade rui-los e arras�-los
<br>E seme�-la de aveia para os seus cavalos...
<br>Ouvis-lhe o insultuoso desafio? Olhai:
<br>Enquanto nos amea�a e vocifera, vai
<br>Tangendo sobre o escudo a espada rutilante
<br>Num ritmo guerreiro.
<br>
<br>MENOCEU:
<br>
<br> � filho de Atalante
<br>E um dos reis da Arg�lida. � Partenopeu!...
<br>
<br>ANT�GONA:
<br>
<br>Atalante, a formosa ninfa que abateu
<br>Dum s� e rijo golpe o cerdo apavorante
<br>Que em Calidon deixou mem�ria sempre viva,
<br>A ninfa musculosa e de alma compassiva
<br>Que a Eros n�o reagiu e que Eros tornou m�e
<br>Dum rei afeminado e insultador. Pois bem!
<br>Que o monstro de Calidon ressuscite e lute
<br>Com enraivada f�ria, assoladora e treda;
<br>Que avance e cres�a e dobre e nunca retroceda,
<br>Abrindo nos sitiantes h�rrida matan�a
<br>E assim, no filho vil, a m�e sinta a vingan�a...
<br>
<br>O PEDAGOGO:
<br>
<br>In�til velho! A voz do medo ou�o-a a dizer-me
<br>Que os deuses v�o deixar, o nosso povo, inerme...
<br>
<br>ANT�GONA, a Menoceu:
<br>
<br>Indica a este olhar e a este cora��o
<br>A tenda pertencente ao meu amado irm�o...
<br>
<br>MENOCEU:
<br>
<br>Olha-o. Est� sentado, pensativo e s�,
<br>
<br>Junto � campa de Zetos, nosso her�ico av�.
<br>
<br>ANT�GONA:
<br>
<br>Vejo-te agora... �s tu!... Ou antes � algu�m
<br>Que tem, do que tu foste, a luz que a sombra tem...
<br>Pois � aquele rosto angustiado, oh Zeus,
<br>O que a sorrir, quando partiu, me disse adeus?...
<br>Fosse eu a nuvem alta que al�m vem do mar,
<br>Fosse eu a aragem que a transporta no ar,
<br>Fosse eu o esbelto cisne em que encarnou outrora
<br>Um deus, e erguer-me-ia j�, espa�o em fora,
<br>E voaria e voaria direitinha
<br>A reunir num beijo a tua boca e a minha...
<br>E s� de te beijar se acalmaria logo
<br>A febre que em teus l�bios arde - como um fogo...
<br>Quem pudera cingir o teu pesco�o, irm�o,
<br>E aconchegar-te a mim, ao peito, ao cora��o!
<br>Ou abra�ar-me aos teus joelhos e, chorando,
<br>Ungir a tua dor num choro longo e brando!...
<br>
<br>A Menoceu:
<br>
<br>Repara: p�s-se em p�, como se nos notasse...
<br>Que belo que ele est�, assim, visto de face!
<br>Dir-se-ia que nos fita... e o brilho que fulgura
<br>No capacete de oiro e no oiro da armadura
<br>D�o-lhe um aspecto, mais que her�ico: - ingente.
<br>N�o � t�o lindo o sol � hora do nascente...
<br>
<br>MENOCEU:
<br>
<br>O la�o que at� hoje uniu nossos destinos
<br>Desde o tempo inocente em que �ramos meninos
<br>Que nunca se desate pela vida adiante...
<br>Que esta nossa amizade l�mpida e constante
<br>Seja o seguro arn�s, impenetr�vel, forte,
<br>
<br>(abra�ando-a)
<br>
<br>Que nos guarde na vida, assim, at� � morte...
<br>
<br>ANT�GONA:
<br>
<br>Oh Menoceu onde est�o eles, os distantes dias
<br>Em que, ao meu lado, rindo, as margens percorrias
<br>Do sempre verde e sempre id�lico Dirceu?...
<br>Como v�o longe as tardes em que tu e eu
<br>V�amos reflectir-se, olhando a �gua pura,
<br>Os teus cabelos de oiro e a minha tran�a escura!...
<br>
<br>MENOCEU:
<br>
<br>Dias sem uma sombra de cuidado, ou mal,
<br>Dias que tinham sempre um amanh� igual...
<br>�ramos como um par -, alado par bem-dito
<br>De andorinhas alegres voando no infinito!
<br>Colheu-nos o tuf�o no di�fano caminho...
<br>Onde encontrar ref�gio, onde encontrar um ninho
<br>Sen�o nesta afei��o que h� tanto nos prendeu?
<br>Estreitemo-nos bem! Abracemo-nos mais!
<br>O sol volta a brilhar depois dos vendavais...
<br>
<br>Principia a anoitecer
<br>
<br>O PEDAGOGO:
<br>
<br>Como um le�o que desce, vagaroso e nobre
<br>Dos altos da montanha, cai a noite sobre
<br>Os campos, sacudindo e espalhando em torno
<br>A sua juba escura, no ar silente e morno...
<br>
<br>Descem do terra�o
<br>
<br>ANT�GONA, ao Pedagogo:
<br>
<br>Ele vir�? Dize-mo tu, oh venerando velho
<br>Que juntas, ao saber, o bem do bom conselho...
<br>
<br>MENOCEU:
<br>
<br>Quando a mensagem leu - e leu-a, mal lha dei, -
<br>Poisou a m�o no altar e respondeu: irei.
<br>
<br>ANT�GONA:
<br>
<br>Ah Menoceu que dia incerto surgir�
<br>Das trevas que do c�u v�m baixinho j�! ...
<br>Um susto igual descora as nossas frontes p�lidas
<br>E s�o, as nossas almas, t�midas cris�lidas
<br>Em que um receio igual se gera e nutre e aumenta...
<br>Sacode-nos aos dois a f�ria da tormenta;
<br>Raminhos fr�geis de �rvore abalada e alta
<br>Que sofrem juntamente o mal da alheia falta...
<br>Id�ntico destino a ambos nos prendeu:
<br>Sorris quando eu sorrio - e choras a quando eu!...
<br>
<br>O PEDAGOGO:
<br>
<br>Oh Inoc�ncia - estrela da manh� da vida -
<br>Que sempre, em ambos eles, a tua luz incida!...
<br>
<br>ANT�GONA:
<br>
<br>Regressa ao teu pal�cio, Menoceu.
<br>� tarde... E pede ao deus do gl�dio de ouro que nos guarde
<br>E nos defenda e nos reanime e nos afoite...
<br>Como n�o ter piedade ouvindo soar na noite
<br>Um aflitivo choro de crian�a?!...
<br>
<br> Adeus...
<br>
<br>MENOCEU:
<br>
<br>Adeus irm� - astro do c�u... beijo de Zeus...
<br>
<br>
<br>Ant�gona volta para o pal�cio. Menoceu afasta-se pelo caminho � D.
<br>
<br>
<br>O PEDAGOGO:
<br>
<br>H�men, oh pequenino deus gracioso e lesto
<br>Que para sempre enleias, num furtivo gesto,
<br>Os cora��es humanos em grilh�es floreais;
<br>H�men, oh irm�o de Eros, se causais
<br>Menos cru�is amor's que os desse irm�o cruel
<br>Que encobre a dor e a morte em seu falar de mel;
<br>De nenhum deles, nunca, o teu olhar desvies,
<br>Guia-os perpetuamente e docemente os guies
<br>A esse mo�o esbelto e a aquela eb�rnea flor,
<br>Que se amam - n�o sonhando ainda o que � o amor...
<br>
<br>51
<br>
<br><div dir="ltr"><br><br><div class="gmail_quote"><div dir="ltr" class="gmail_attr"><br>De: <strong class="gmail_sendername" dir="auto">gisele sobreira</strong> <br></div><br><br>-- <br><br></div><div><br></div><span class="gmail_signature_prefix">-- </span><br><div dir="ltr" class="gmail_signature" data-smartmail="gmail_signature"><div dir="ltr"><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Abraços fraternos!</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial"> </span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Bezerra</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Blog de livros</span></p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Blog de vídeos</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Meu canal:</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk" target="_blank">https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk</a><br></p></div></div></div> <p></p> -- <br /> -- <br /> Seja bem vindo ao Clube do e-livro<br /> <br /> Não esqueça de mandar seus links para lista .<br /> Boas Leituras e obrigado por participar do nosso grupo.<br /> ==========================================================<br /> Conheça nosso grupo Cotidiano:<br /> <a href="http://groups.google.com.br/group/cotidiano">http://groups.google.com.br/group/cotidiano</a><br /> <br /> Muitos arquivos e filmes.<br /> ==========================================================<br /> <br /> <br /> Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "clube do e-livro" em Grupos do Google.<br /> Para postar neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro@googlegroups.com<br /> Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro-unsubscribe@googlegroups.com<br /> Para ver mais opções, visite este grupo em <a href="http://groups.google.com.br/group/clube-do-e">http://groups.google.com.br/group/clube-do-e</a>-<br /> --- <br /> Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "clube do e-livro" dos Grupos do Google.<br /> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para <a href="mailto:clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com">clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com</a>.<br /> Para ver essa discussão na Web, acesse <a href="https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhn3OnVuK7X97UXkgyjhL8f2VomZ7QqTr%2BVnAgohr7U4fA%40mail.gmail.com?utm_medium=email&utm_source=footer">https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhn3OnVuK7X97UXkgyjhL8f2VomZ7QqTr%2BVnAgohr7U4fA%40mail.gmail.com</a>.<br /> Capixabahttp://www.blogger.com/profile/13630360338415941372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5804863141581911173.post-57242533440970355502023-09-22T16:38:00.000-07:002023-09-22T16:41:04.932-07:00{clube-do-e-livro} Lançamento: O Espírita do Século XXI - Alkindar de Oliveira - Formatos: Pdf. epub, mobi e txtQuando lemos Kardec dizendo (Obras
<br>P�stumas - Projeto 1868) que devemos
<br>"Popularizar o Espiritismo, divulgando-o
<br>numa larga escala nos jornais de maior
<br>circula��o"; Quando lemos Eur�pedes
<br>Barsanulfo (Esp�rito) dizendo "J� somos os
<br>trabalhadores de �ltima hora, n�o temos
<br>mais tempo, quanto mais fizermos ainda �
<br>pouco diante de todo o trabalho que se faz
<br>necess�rio."; Quando lemos Herculano
<br>Pires dizendo "Se os esp�ritas soubessem o
<br>que � o Centro Esp�rita, quais s�o
<br>realmente sua fun��o e sua significa��o, o
<br>Espiritismo seria hoje o mais importante
<br>movimento cultural e espiritual da terra.";
<br>Quando vemos Joanna de Angelis sendo
<br>obrigada a criar a express�o "esp�rita
<br>espiritizado", que nada mais � do que "o
<br>verdadeiro esp�rita", o que denota que
<br>estamos tornando-nos "esp�ritas
<br>igrejeiros", perdendo a ess�ncia do que �
<br>ser esp�rita; Quando lemos no livro
<br>Tormentos da Obsess�o, Editora Leal
<br>(Divaldo Pereira Franco / Manoel
<br>Philomeno de Miranda) que Eur�pedes
<br>Barsanulfo criou na espiritualidade
<br>Sanat�rios cuja �nica e exclusiva clientela �
<br>composta de esp�ritas arrependidos, isto �,
<br>de esp�ritas que quando encarnados n�o
<br>entenderam o que � ser esp�rita;
<br>conclu�mos que:
<br>
<br>Est� certo Cairbar Schutel (Esp�rito)
<br>dizendo "Os esp�ritas est�o em um
<br>momento grave, n�o de suas lutas pessoais
<br>propriamente, mas de seu engajamento na
<br>tarefa com a qual se comprometeram antes
<br>da atual experi�ncia no corpo."
<br>
<br>
<br>PROJETO ORAR
<br>
<br>
<br>
<br>
<br>Arte: Gerson Reis e Ci�a Japiassu (Est�dio Japiassu Reis)
<br>Revis�o: Miguel de Jesus Sardano
<br>Capa: Rubens C. Ruban Santos
<br>Fotolito: WE Reprodu��es Gr�ficas
<br>Impress�o: Liz Gr�fica Editora
<br>
<br>Ia
<br>
<br> Edi��o - 2001
<br>
<br>Impresso no Brasil
<br>
<br>Printed in Brazil
<br>
<br>ebm
<br>
<br>editoro
<br>
<br>EBM - Editora Bezerra de Menezes
<br>Rua Silveiras, 17 - Vila Guiomar - Santo Andr�/SP
<br>Tel: (11) 4438-2947
<br>
<br>
<br>Nenhuma parte desta publica��o poder� ser reproduzida, guardada
<br>pelo sistema "retrieval" ou transmitida de qualquer modo ou por
<br>qualquer outro meio, seja eletr�nico, mec�nico, de fotoc�pia, de
<br>grava��o, ou outros, sem pr�via autoriza��o por escrito da Editora.
<br>
<br>Dados Internacionais de Cataloga��o na Publica��o (CIP)
<br>(C�mara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
<br>
<br>Oliveira, Alk�ndar de
<br>
<br>O esp�rita do s�culo XXI : projeto orar /
<br>Alk�ndar de Oliveira. � S�o Paulo : Editora
<br>Bezerra de Menezes, 2001.
<br>
<br>1. Esp�ritas 2. Espiritismo 3. Lideran�a
<br>4. Ora��o I. T�tulo.
<br>01-5836 CDD-133.901
<br>
<br>�ndices para cat�logo sistem�tico:
<br>
<br>1. Doutrina esp�rita 133.901
<br>
<br>"Se os esp�ritas soubessem o que � o Centro
<br>Esp�rita, quais s�o realmente a sua fun��o e
<br>a sua significa��o, o Espiritismo seria hoje o
<br>mais importante movimento cultural e
<br>espiritual da terra."
<br>
<br>Herculano Pires
<br>
<br>
<br>INDICE
<br>
<br>INTRODU��O
<br>
<br> 9
<br>
<br>PARTE A
<br>As CRIAN�AS - CAP�TULO ESPECIAL
<br>
<br> 11
<br>RESPONSABILIDADE PREMENTE DO ESP�RITA:
<br>BEM EDUCAR AS CRIAN�AS
<br>
<br> 13
<br>UM BOM IN�CIO
<br>
<br> 15
<br>PRECE DO EDUCADOR
<br>
<br> 18
<br>A EDUCA��O PELA NATUREZA
<br>
<br> 19
<br>
<br>PARTE B
<br>
<br>REFLEX�ES SOBRE A LIDERAN�A ESP�RITA
<br>
<br> 23
<br>O DIRIGENTE ESP�RITA EFICIENTE E O DIRIGENTE ESP�RITA
<br>EFICIENTE E EFICAZ
<br>
<br> 25
<br>O ESP�RITA "FAZEDOR"
<br>
<br> 28
<br>ESTAR�O CORRETOS NOSSOS ATUAIS CONCEITOS
<br>DE LIDERAN�A ESP�RITA?
<br>
<br> 30
<br>O FUTURO (OU "O PRESENTE"?)
<br>
<br> 36
<br>O MUNDO EM QUE VIVEMOS
<br>
<br> 36
<br>UMA REVOLU��O QUE ADMINISTRA A SI MESMA
<br>
<br> 39
<br>LEMBREMOS DE HERCULANO PIRES
<br>
<br> 43
<br>UMA PERGUNTA
<br>
<br> 44
<br>OUTRA PERGUNTA
<br>
<br> 44
<br>
<br>PARTE C
<br>
<br>PROJETO ORA R
<br>
<br> 47
<br>OUSADIA NA DIVULGA��O
<br>
<br> 49
<br>ONDE EST�O OS ESP�RITAS?
<br>
<br> 51
<br>O IMPORTANTE N�O � A QUANTIDADE, � A QUALIDADE
<br>
<br> 53
<br>
<br>
<br>O QUE DIZEM OS GRANDES MESTRES SOBRE
<br>A DOUTRINA ESP�RITA?
<br>
<br>
<br> 55
<br>ESTAMOS FALANDO PARA N�S MESMOS
<br>
<br> 58
<br>REDE BOA NOVA DE R�DIO: UM GRANDE IMPULSO PARA A
<br>COMUNICA��O SOCIAL ESP�RITA
<br>
<br> 62
<br>RESPEITO �S DEMAIS INSTITUI��ES
<br>
<br> 67
<br>COMO AGIR CONTRA OS ATAQUES AO ESPIRITISMO
<br>
<br> 69
<br>� POSS�VEL MOSTRAR O QUE � O ESPIRITISMO SEM DESRESPEITAR
<br>AS DEMAIS INSTITUI��ES
<br>
<br> 73
<br>ADMINISTRA��O EFICAZ
<br>
<br> 79
<br>Os 5 PROCEDIMENTOS DO L�DER EFICAZ
<br>
<br> 81
<br>DESAFIAR O ESTABELECIDO
<br>
<br> 86
<br>INSPIRAR UMA VIS�O COMPARTILHADA
<br>
<br> 93
<br>PERMITIR QUE OS OUTROS AJAM
<br>
<br> 97
<br>APONTAR O CAMINHO
<br>
<br> 99
<br>ENCORAJAR O CORA��O
<br>
<br> 104
<br>RELACIONAMENTO HARMONIOSO
<br>
<br> 113
<br>CONSEQ��NCIA DO RELACIONAMENTO DESARMONIOSO:
<br>DIVULGA��O NEGATIVA DO ESPIRITISMO
<br>
<br> 114
<br>A MALEDIC�NCIA
<br>
<br> 118
<br>ESTOU BEM COMIGO MESMO?
<br>
<br> 122
<br>DIRETRIZES PARA ALCAN�AR O RELACIONAMENTO HARMONIOSO
<br>
<br> 124
<br>APELO � UNI�O
<br>
<br> 124
<br>As TR�S REGRAS B�SICAS DA EFICIENTE
<br>COMUNICA��O INTERPESSOAL
<br>
<br> 126
<br>TEXTOS PARA REFLEX�O
<br>
<br> 133
<br>SUGEST�ES DE ESTUDOS E LEITURAS PARA O L�DER ESP�RITA
<br>
<br> 141
<br>
<br>
<br>INTRODU��O
<br>
<br>
<br>n�o muito tempo passou pelos meus
<br>olhos a frase de Herculano Pires que diz: "Se os esp�ritas
<br>soubessem o que � o Centro Esp�rita, quais s�o realmente sua
<br>fun��o e sua significa��o, o Espiritismo seria hoje o mais
<br>importante movimento cultural e espiritual da terra". Essa
<br>frase foi, para mim, um daqueles tantos instantes de
<br>encantamento que o Espiritismo proporciona aos seus
<br>seguidores.
<br>
<br>Com esse coment�rio de Herculano Pires na mente,
<br>comecei a me fazer algumas perguntas:
<br>
<br>"Por que o Espiritismo ainda n�o � o mais importante
<br>movimento cultural e espiritual da terra?"
<br>"Por que o Espiritismo, uma Doutrina evolucionista, ainda
<br>n�o alcan�ou o grande p�blico?"
<br>"Por que, para muitos n�o-esp�ritas, o Espiritismo tem a ver erroneamente
<br>- com galinha preta e vela acesa nas esquinas ?"
<br>
<br>As respostas n�o demoraram a surgir.
<br>
<br>Como minha profiss�o � ministrar treinamentos
<br>empresariais nas �reas de lideran�a, comunica��o e
<br>comportamento, comecei a perceber, de forma clara e
<br>inequ�voca, que o problema n�o est�, como todos n�s
<br>sabemos, na Doutrina Esp�rita. O problema est�,
<br>principalmente, no modelo de lideran�a adotado pelo
<br>movimento esp�rita.
<br>
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>Enquanto o mundo sofre profundas transforma��es,
<br>enquanto o Espiritismo demonstra cada vez mais ser uma
<br>doutrina atual e sempre evolucionista, o movimento esp�rita,
<br>no contraponto, n�o evolui.
<br>
<br>Salvo raras exce��es, a Lideran�a esp�rita adota o mesmo
<br>modelo de lideran�a de 20, 30, 40 anos passados. Nesse
<br>intervalo de tempo quase tudo sofreu uma dram�tica
<br>transforma��o, mas o movimento esp�rita mant�m-se arcaico.
<br>N�o aproveita a tecnologia existente, compraz-se com
<br>audit�rios obsoletos e desconfort�veis, n�o utiliza as for�as da
<br>uni�o, da criatividade e da administra��o eficazes para
<br>solucionar os problemas relacionados com a falta de dinheiro,
<br>al�m de n�o ter e, por conseq��ncia, n�o adotar uma did�tica
<br>envolvente e adequada para evangelizar, de forma motivadora,
<br>as crian�as e os jovens (que ser�o os futuros l�deres esp�ritas).
<br>
<br>Uma vez constatada essa realidade, procurei escrever um
<br>texto isento - tanto quanto poss�vel - de opini�es pessoais.
<br>Procurei me basear em Kardec, em fatos comprovados por
<br>s�rias pesquisas e em realidades que o tempo comprovou.
<br>
<br>Consciente de que ningu�m � dono da verdade, ao escrever
<br>procurei me comportar mais como um espectador de uma
<br>realidade do que um opinador. Pela boa repercuss�o da apostila
<br>Orar (que antecedeu e originou este livro), acredito que estas
<br>p�ginas poder�o ser mais uma das tantas formas que o
<br>Movimento Esp�rita tem, e passa a ter, de refletir sobre sua
<br>forma de atua��o.
<br>
<br>Torcendo para que este Projeto Orar possa interessar n�o
<br>somente aos dirigentes e aos l�deres, mas tamb�m a todos os
<br>amantes da causa esp�rita, coloco-me, caro leitor, � sua
<br>disposi��o para troca de id�ias.
<br>
<br>Alk�ndar de Oliveira
<br>
<br>INTRODU��O
<br>
<br>
<br>PARTE A
<br>
<br>As CRIAN�AS
<br>
<br>Cap�tulo Especial
<br>
<br>APARTE A deste livro enfoca um tema que
<br>n�o faz parte dos quatro itens do Projeto Orar: a educa��o
<br>infantil. Este at� poderia ser assunto para um outro
<br>livro. Acontece que talvez voc�, caro leitor, seja dirigente
<br>de um Centro Esp�rita ou integre sua Diretoria (haja vista
<br>que este livro � dirigido � lideran�a esp�rita). Com leitores
<br>assim t�o importantes, n�o poderia perder a oportunidade
<br>de falar sobre a grande responsabilidade que n�s, esp�ritas,
<br>temos em rela��o � educa��o infantil. Como as crian�as
<br>s�o seres especiais, denominei este cap�tulo
<br>introdut�rio de Cap�tulo Especial, denomina��o esta que
<br>ficar� mais do que justificada no decorrer do texto.
<br>
<br>
<br>As CRIAN�AS
<br>
<br>A-1
<br>
<br>RESPONSABILIDADE PREMENTE DO ESP�RITA:
<br>BEM EDUCAR AS CRIAN�AS
<br>
<br>oc� j� reparou como as crian�as de hoje s�o muito
<br>inteligentes?
<br>
<br>
<br>At� poder�amos afirmar que sempre foi assim. As
<br>crian�as, mesmo em gera��es passadas, sempre demonstraram
<br>ter um esp�rito mais irrequieto, mais
<br>questionador e mais criativo do que o adulto. Mas, numa
<br>an�lise imparcial, dispensando at� mesmo uma percep��o
<br>agu�ada, iremos constatar, pela simples observa��o,
<br>que as crian�as de hoje s�o muito mais inteligentes
<br>que as crian�as das gera��es passadas.
<br>
<br>Sabe por que as crian�as de hoje s�o muito mais
<br>inteligentes do que as crian�as das gera��es passadas?
<br>
<br>A resposta est� no fato de que os esp�ritos que hoje
<br>reencarnam s�o esp�ritos especiais. Voc�, caro leitor amigo,
<br>pode at� pensar: Como voc�, o autor deste texto,
<br>pode com seguran�a fazer tal afirma��o?
<br>
<br>A base dessa afirma��o, al�m da mera observa��o
<br>do comportamento de uma crian�a em que qualquer
<br>pessoa atenta constata essa mudan�a, � o esclarecimento
<br>de Joanna de Angelis em seu livro Momentos de harmonia1.
<br>
<br>No cap�tulo 10 diz Joanna de Angelis:
<br>'Ao inv�s de um cataclismo que ceife as vidas e aniquile
<br>a sociedade e a Terra, d�-se, neste momento, a re
<br>
<br>
<br>1 Psicografado por Divaldo Pereira Franco e editado em 1991
<br>pela Editora Leal.
<br>
<br>13
<br>
<br>
<br>0 ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>nova��o do Planeta, gra�as � qualidade dos Esp�ritos que
<br>come�am a habit�-la, enriquecidos de t�tulos de
<br>enobrecimento e de interesse fraternal.
<br>
<br>Os campe�es da maldade, os mercen�rios a servi�o
<br>do crime, os fomentadores da guerra e da hediondez, os
<br>traficantes de vidas e de drogas alucinantes, ceder�o espa�o
<br>no orbe para os construtores do Bem e da Verdade
<br>em nome do Amor."
<br>
<br>Essa � uma das informa��es mais alentadoras que
<br>poder�amos ter na atualidade: "d�-se, neste momento,
<br>a renova��o do Planeta, gra�as � qualidade dos Esp�ritos
<br>que come�am a habit�-la".
<br>
<br>Bem, j� que Joanna de Angelis fez tal afirma��o, ent�o
<br>n�s agora podemos cruzar os bra�os, n�o podemos?
<br>
<br>Insistindo na pergunta: se um esp�rito iluminado,
<br>como o de nossa educadora Joanna de Angelis, afirma
<br>que os esp�ritos rebeldes, os esp�ritos inferiores, ser�o
<br>naturalmente substitu�dos por esp�ritos mais evolu�dos,
<br>melhorando, sem cat�strofes, a condi��o espiritual de
<br>nosso planeta, cabe a n�s, esp�ritas, fazer o qu�? Cruzarmos
<br>os bra�os e deixarmos o tempo passar?
<br>
<br>N�o.
<br>Cruzar os bra�os � nos omitir nesse momento t�o
<br>especial.
<br>A pr�pria Joanna de Angelis, complementando seu
<br>texto acima, diz o que nos cabe fazer:
<br>
<br>'At� esse momento, cabe, aos verdadeiros obreiros
<br>do Senhor, a tarefa de auto-ilumina��o e constante investiga��o,
<br>que demonstre e confirme a excel�ncia da
<br>vida, num comportamento �tico pela verdade, que favorece
<br>com est�mulos superiores a eclos�o e a vig�ncia
<br>do amor nos cora��es".
<br>
<br>De forma clara, Joanna de Angelis passa aos verda
<br>
<br>
<br>14 Parte A
<br>
<br>
<br>As Crian�as
<br>
<br>deiros esp�ritas a incumb�ncia de preparar o ambiente a
<br>essas crian�as que est�o nascendo. Como?
<br>
<br>Ela nos d� as dicas: "numa tarefa de auto-ilumina��o
<br>e constante investiga��o, que demonstre e confirme a
<br>excel�ncia da vida". E acrescenta ainda: "num comportamento
<br>�tico pela verdade".
<br>
<br>Se assim procedermos iremos favorecer "com est�mulos
<br>superiores a eclos�o e a vig�ncia do amor nos cora��es"
<br>(no cora��o dos esp�ritos que est�o reencarnando e no
<br>dos "obreiros do Senhor").
<br>
<br>Em decorr�ncia da nossa omiss�o podemos retardar
<br>a eclos�o desse novo e maravilhoso mundo que se
<br>avizinha. N�o basta nascerem esp�ritos mais evolu�dos.
<br>� preciso que haja excelentes escolas e boa educa��o familiar
<br>para fazerem eclodir o amor que esses novos esp�ritos
<br>reencarnantes trazem em seu cora��o.
<br>
<br>� um trabalho herc�leo, mas que precisa ter in�cio.
<br>Se come�armos a agir, a espiritualidade nos ajudar�.
<br>
<br>A-2
<br>
<br>
<br>BOM IN�CIO
<br>
<br>
<br>om base no tema RESPONSABILIDADE PREMENTE DO
<br>ESP�RITA: BEM EDUCAR AS CRIAN�AS, sugiro, para que voc�
<br>atenha-se ainda mais � import�ncia e � urg�ncia da boa
<br>educa��o, que leia os seguintes livros:
<br>
<br>1. BONILHA, Pedro. Quem � seu filho. Editora Didier.
<br>Este � o best-seller da Editora Esp�rita Didier, fone
<br>PARTE A
<br>
<br>
<br>0 ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>(17) 421-2176). � o livro mais vendido de todos os editados
<br>pela Didier. Seu autor conseguiu de forma magistral
<br>apresentar um caminho l�gico e simples para bem
<br>educarmos nossos filhos. � um livro que todos os pais e
<br>educadores deveriam ter como um dos livros de cabeceira.
<br>Pedro Bonilha, al�m de sua not�ria capacidade,
<br>certamente estava iluminado pelo alto ao escrever o livro.
<br>Embora n�o seja professor (ele � odontologista na
<br>cidade de Jales-SP), utilizou rara e invej�vel did�tica.
<br>INCONTRI, Dora. A educa��o segundo o Espiritismo.
<br>Edi��es FEESP
<br>
<br>Tive o prazer de participar de algumas das aulas
<br>semanais que nossa irm� esp�rita e renomada educadora,
<br>Dora Incontri, ministra no seu Instituto Esp�rita de
<br>Estudos Pedag�gicos (fone 0XX11 539-5674. End.: Rua
<br>Estado de Israel, 192, CEP: 04.022-000 - S�o Paulo-SP).
<br>Pena que as constantes viagens que realizo impediram-
<br>me de dar continuidade �queles maravilhosos
<br>ensinamentos. Naquelas aulas conheci uma EDUCADORA
<br>ESP�RITA. Assim, com letras mai�sculas mesmo. Esse
<br>seu livro � excelente.
<br>
<br>INCONTRI, Dora. Pestalozzi -educa��o e �tica. Editora
<br>Scipione.
<br>
<br>Nesse livro, Dora Incontri, mestre em Filosofia e Hist�ria
<br>da Educa��o pela USP al�m de ser tamb�m jornalista
<br>e escritora, "estabelece um marco na pesquisa
<br>pedag�gica nacional. Ao contr�rio do interesse que
<br>Pestalozzi desperta internacionalmente, em nosso meio
<br>acad�mico n�o havia nenhum trabalho sobre esse importante
<br>educador". Com essas palavras, o professor
<br>Luiz Jean Lauand inicia o pref�cio do livro em quest�o,
<br>
<br>16 PARTE A
<br>
<br>
<br>As CRIAN�AS
<br>
<br>o qual, para n�s,
<br>esp�ritas, deve ser leitura obrigat�ria.
<br>INCONTRI, Dora. Textos pedag�gicos de Hippolyte Leon
<br>Denizard Rivail. Editora Comenius.
<br>Melhor do que comentar o livro � transcrever o in�cio
<br>da apresenta��o elaborado por Dora Incontri:
<br>"Nos idos de 92, estava eu em Paris e, junto com
<br>minha m�e, fomos em busca dos textos de Rivail/Kardec,
<br>na Biblioteca Nacional. Na sofreguid�o da pesquisa,
<br>atiramo-nos aos arquivos e encontramos dezenas de t�tulos.
<br>Os textos did�tico-pedag�gicos e os esp�ritas. Os
<br>primeiros de Rivail, os segundos de Kardec. A maioria
<br>em variadas edi��es. E na sala especial, onde se examinam
<br>as obras raras, debru�amo-nos emocionadas sobre
<br>aqueles livros amarelados. Era mais do que a
<br>satisfa��o de pesquisador. Era o reencontrar da alma deste
<br>ap�stolo, �s vezes t�o menosprezado pela cultura
<br>pern�stica do nosso tempo e at� por alguns que se dizem
<br>seus disc�pulos.
<br>
<br>� noite, no quarto do hotel, s� pude traduzir a experi�ncia
<br>em poesia:
<br>
<br>ENCONTRO COM RIVAIL
<br>
<br>Manuseio os s�culos
<br>e solto os g�nios ben�volos,
<br>engarrafados nas letras.
<br>E eis-te aqui.
<br>Volita nas p�ginas
<br>a tua serenidade.
<br>
<br>
<br>Considero que esses textos, que ora apresentamos
<br>pela primeira vez em nossa l�ngua, provocar�o sensa��o
<br>semelhante naqueles que admiram o codificador do
<br>Espiritismo".
<br>
<br>PARTE A 17
<br>
<br>
<br>O ESPIRITA DO S�CULO XX I
<br>
<br>Voc� percebeu, caro leitor, que sou f� de Dora Incontri.
<br>
<br>Como n�o admirar uma pessoa que dedica seus textos,
<br>suas palestras, seus trabalhos, sua vida para o aprimoramento
<br>da educa��o?
<br>
<br>Veja o texto a seguir transcrito da p�gina 6 do livro
<br>
<br>A educa��o segundo o Espiritismo.
<br>
<br>A-3
<br>
<br>RECE DO EDUCADOR
<br>(Dora Incontri)
<br>
<br>
<br>Que eu possa me debru�ar sobre cada crian�a e
<br>sobre cada jovem com a rever�ncia que deve animar
<br>minha alma diante de toda criatura tua!
<br>
<br>Que eu respeite em cada ser humano de que me
<br>aproximar o sagrado direito de ele pr�prio construir
<br>seu ser e escolher seu pensar!
<br>
<br>Que eu n�o deseje me apoderar do esp�rito de
<br>ningu�m, imprimindo-lhe meus caprichos e meus
<br>desejos pessoais, nem exigindo qualquer recompensa
<br>por aquilo que devo lhe dar de alma para alma!
<br>
<br>Que eu saiba acender o impulso do progresso,
<br>encontrando o f�o condutor de desenvolvimento de
<br>cada um, dando-lhes o que eles j� possuem en�o
<br>sabem, fazendo-os surpreenderem-se consigo mesmos!
<br>
<br>Que eu me impregne de infinita paci�ncia, de
<br>inquebrant�vel perseveran�a e de suprema for�a
<br>interior para me manter sob o meu pr�prio dom�nio,
<br>
<br>PARTE A
<br>
<br>
<br>As Crian�as
<br>
<br>sem deixar flutuar meu esp�rito ao sabor das
<br>circunst�ncias! Mas que minha seguran�a n�o seja
<br>dogmatismo e inflexibilidade e que minha serenidade
<br>n�o seja morma�o espiritual!
<br>
<br>Que eu passe por todos, sem nenhuma arrog�ncia e
<br>sem pretens�o � verdade absoluta, mas que deixe em
<br>cada um, uma marca inesquec�vel, por ter transmitido
<br>alguma centelha de verdade e todo o meu amor!"
<br>
<br>A seguir leia um texto educativo do Esp�rito Tagore,
<br>no qual fica claro como seria para as crian�as a escola ideal.
<br>
<br>A-4
<br>
<br>A EDUCA��O PELA NATUREZA
<br>(Tagore)
<br>
<br>
<br>e esperais que o mundo se apazigue e que a
<br>luz venha habitar o cora��o dos homens, deixai que as
<br>crian�as bebam livremente do fluxo da vida e se banhem
<br>nas margens da M�e Natureza. Deixai-as florir sob a
<br>car�cia do sol. Que elas percorram os prados, se molhem
<br>nos riachos e se deitem na relva. Que apreciem as
<br>estrelas, antes de saber cont�-las, e que olhem como os
<br>insetos se movem, antes de dissec�-los. N�o as tranqueis
<br>nessas caixas de concreto, n�o as obrigueis � rigidez do
<br>corpo e n�o lhes imponhais f�rmulas prontas ao esp�rito!
<br>
<br>Mas nem por isso abandonai-as a elas pr�prias, distantes
<br>do olhar atento de quem as ama. Que este amor
<br>n�o tema por elas, para n�o lhes arrancar a autonomia
<br>
<br>PARTE A 19
<br>
<br>
<br>O ESPIRITA Do S�CULO XXI
<br>
<br>e as experi�ncias vitais; mas que esse amor observe, compreenda
<br>e acompanhe; participe do embevecimento divino
<br>que toda crian�a sente, redescobrindo
<br>verdadeiramente o mundo a que veio.
<br>
<br>V�s mesmos, t�o atados �s corriqueiras repeti��es
<br>do dia-a-dia, relaxai as correntes da sociedade intrincada
<br>em que gozais tantas superficialidades e entregai-vos �
<br>contempla��o da vida. Ide v�s tamb�m, descal�os, com
<br>as crian�as, sentir de novo o sabor da terra molhada e a
<br>aura et�rea do vento...
<br>
<br>S� a partir dessa liga��o visceral com a natureza, podeis
<br>falar em qualquer forma de Educa��o. Se esperais que algumas
<br>crian�as se tornem artistas, se para isso vieram,
<br>como n�o deix�-las expandir-se intimamente com o Deus
<br>poeta, que entreteceu o poema da vida; com o Deus m�sico,
<br>que inventou a melodia dos bosques e com o Deus
<br>pintor, que semeou luzes e cores em todo o universo?
<br>
<br>Se credes que renascer�o cientistas entre v�s, como
<br>n�o permitir que eles se debrucem desde cedo no livro
<br>da Natureza, para saber interpretar as leis da mat�ria e
<br>do esp�rito?
<br>
<br>Se contais com futuros reformadores da sociedade
<br>humana, como n�o os fazer se embeber na harmonia
<br>dos cosmos?
<br>
<br>E se vislumbrais diferentes l�deres da religi�o e da
<br>espiritualidade, haver� melhor templo que o da Natureza,
<br>que n�o estreita a concep��o de Deus em dogmas e
<br>sistemas e n�o acabrunha a rever�ncia religiosa entre as
<br>paredes de uma igreja?
<br>
<br>Aboli definitivamente tantas clausuras, tantas torturas,
<br>tantas imposi��es ao esp�rito sedento, vibrante,
<br>criativo da crian�a! Deixai que elas se expandam, se espantem,
<br>se entusiasmem, se lancem � vida com a ener
<br>
<br>
<br>20 PARTE A
<br>
<br>
<br>As CRIAN�AS
<br>
<br>gia que muitos de v�s procurais em v�o, desiludidos
<br>pela sociedade que vos massacra, pela civiliza��o de concreto
<br>que vos enregela!
<br>
<br>N�o precisais com isso renegar as conquistas, que
<br>j� acumulastes na bagagem da Hist�ria! Mas porque
<br>pisastes na Lua e porque sondais os espa�os, maior deve
<br>ser vossa integra��o com o universo. E porque
<br>manipulais computadores, maior deve ser vossa rever�ncia
<br>diante da chama do esp�rito, infinita potencialidade
<br>se projetando para as estrelas!
<br>
<br>Jamais atingireis a conscientiza��o pretendida das
<br>doen�as que afetam vosso sistema ecol�gico, se n�o
<br>trouxerdes de volta a crian�a para se educar em meio �
<br>natureza, pela natureza, com a natureza. Pois ningu�m
<br>tomar� conta daquilo que n�o conhece, que n�o vivencia
<br>cotidianamente e de que n�o pode prescindir numa
<br>intera��o total e m�stica.
<br>
<br>Ultrajais a Deus, quando feris a natureza, e ultrajais
<br>a v�s mesmos, mas quem vos pode fazer compreender
<br>isso se n�o experimentardes com toda a alma a presen�a
<br>divina em todas as coisas e vossa unidade com o todo?
<br>
<br>Voltai ao campo, se quiserdes salvar o planeta e
<br>fazei de vossas crian�as guardi�s de uma heran�a que
<br>elas desde j� possam usufruir e que n�o lhes seja alheia
<br>e separada..."
<br>
<br>Psicografia de Tagore pela m�dium Dora Incontri.
<br>Texto extra�do do livro A educa��o segundo o Espiritismo.
<br>
<br>
<br>
<br>
<br>PARTE B
<br>
<br>REFLEX�ES SOBRE A
<br>
<br>
<br>IDERAN�A Esp�rita
<br>
<br>"O problema nunca � como ter
<br>pensamentos novos e inovadores na
<br>cabe�a, mas como tirar os velhos."
<br>
<br>Dee Hock
<br>
<br>
<br>REFLEX�ES SOBRE A LIDERAN�A ESP�RITA
<br>
<br>B-l
<br>
<br>O DIRIGENTE ESP�RITA EFICIENTE E O
<br>DIRIGENTE ESP�RITA EFICIENTE E EFICAZ
<br>
<br>D e modo comparativo podemos dizer que, como
<br>nosso corpo humano, o Espiritismo tem cabe�a, tronco,
<br>membros superiores (bra�os e m�os) e membros inferiores
<br>(pernas e p�s).
<br>
<br>A CABE�A
<br>
<br>A cabe�a, por conter nosso c�rebro, representa a ilumina��o.
<br>� nela que nossa mente utiliza o instrumento
<br>cerebral para com o tempo fazer brilhar nossa luz.
<br>
<br>No Centro Esp�rita a cabe�a representa a evangeliza��o.
<br>
<br>O TRONCO
<br>
<br>O tronco, por conter nosso aparelho digestivo, representa
<br>a assist�ncia social necess�ria.
<br>
<br>Um par�ntese: lembremos que a assist�ncia social
<br>no Centro Esp�rita � importante e necess�ria, mas a
<br>evangeliza��o, al�m de necess�ria, � fundamental. Centro
<br>Esp�rita que presta assist�ncia social mas n�o
<br>evangeliza os assistidos est� cuidando apenas do importante,
<br>mas se esquece do fundamental. E ambas (a
<br>importante assist�ncia social e a evangeliza��o fundamental)
<br>s�o necess�rias.
<br>
<br>OS MEMBRO S SUPERIORES
<br>
<br>Os membros superiores - nossos bra�os e m�os
<br>
<br>
<br>PARTI- B
<br>
<br> 25
<br>
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XX I
<br>
<br>por estabelecer o contato com o pr�ximo (um aperto de
<br>m�o, um abra�o carinhoso), representa o relacionamento
<br>harmonioso necess�rio entre os integrantes de um Centro
<br>Esp�rita.
<br>
<br>OS MEMBRO S INFERIORES
<br>
<br>Os membros inferiores - pernas e p�s - por assegurar
<br>o nosso caminhar, representa a divulga��o necess�ria
<br>da Doutrina Esp�rita. � preciso caminhar tamb�m
<br>fora do Centro Esp�rita. � fundamental fazer como Jesus
<br>fazia: levar a Boa Nova para outras terras.
<br>
<br>O dirigente esp�rita que trabalha com
<br>
<br>a CABE�A,
<br>
<br>O TRONCO e
<br>
<br>OS MEMBRO S SUPERIORES,
<br>
<br>mas n�o trabalha com os MEMBRO S INFERIORES,
<br>
<br>� um dirigente eficiente.
<br>
<br>O dirigente esp�rita que trabalha com
<br>
<br>a CABE�A,
<br>
<br>O TRONCO e
<br>
<br>OS MEMBRO S SUPERIORES
<br>
<br>e tamb�m com os MEMBROS INFERIORES
<br>
<br>� um dirigente eficiente e eficaz.
<br>
<br>A diferen�a b�sica entre um dirigente esp�rita
<br>eficiente e um dirigente esp�rita eficiente e eficaz
<br>� que esse �ltimo, ao contr�rio do primeiro, n�o se
<br>isola no seu Centro Esp�rita.
<br>
<br>O dirigente esp�rita eficiente e eficaz, al�m
<br>de procurar relacionar-se bem com o pessoal do seu Centro
<br>Esp�rita, preocupa-se em irmanar-se com os demais
<br>
<br>26 PARTE B
<br>
<br>
<br>REFLEX�ES SOBRE A LIDERAN�A ESP�RITA
<br>
<br>Centros Esp�ritas, e mais: divulga a Doutrina al�m-
<br>muro, isto �, divulga-a para toda a comunidade, inclusive
<br>para os n�o-esp�ritas (sem proselitismo e com
<br>respeito �s demais institui��es).
<br>
<br>O dirigente esp�rita eficiente cuida muito bem
<br>do Centro Esp�rita que dirige. Mas s� do Centro Esp�rita
<br>que dirige.
<br>
<br>O dirigente esp�rita eficiente e eficaz cuida
<br>muito bem do Centro Esp�rita que dirige e - ao mesmo
<br>tempo - procura integr�-lo com os demais Centros Esp�ritas.
<br>
<br>
<br>O dirigente esp�rita eficiente n�o divulga o
<br>Espiritismo para os n�o-esp�ritas.
<br>
<br>O dirigente esp�rita eficiente e eficaz divulga
<br>o Espiritismo tamb�m para os n�o-esp�ritas (respeitando,
<br>no entanto, a cren�a que professam).
<br>
<br>O dirigente esp�rita eficiente preocupa-se com
<br>a uni�o do pessoal do seu Centro Esp�rita.
<br>
<br>O dirigente esp�rita eficiente e eficaz, al�m
<br>de preocupar-se com a uni�o do pessoal do seu Centro
<br>Esp�rita, tem como uma de suas metas fundamentais a
<br>uni�o do seu Centro com os demais.
<br>
<br>Voc� � um
<br>
<br>dirigente esp�rita eficiente
<br>
<br>ou um
<br>
<br>dirigente esp�rita eficiente e eficaz?
<br>
<br>PARTE B
<br>
<br> 27
<br>
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA Do S�CULO XXI
<br>
<br>O ESPIRITA FAZEDOR
<br>
<br>caro leitor, hoje muitos n�o-esp�ritas t�m uma
<br>id�ia totalmente deformada do que � o Espiritismo. Associam-
<br>no com seitas outras, que as respeitamos, mas
<br>que, com exce��o do natural fen�meno medi�nico, nada
<br>tem a ver com nossa doutrina.
<br>
<br>Hoje o verdadeiro Espiritismo (por que temos que
<br>escrever "verdadeiro" Espiritismo?) ainda �, sejamos sinceros,
<br>desconhecido pela maioria das pessoas.
<br>
<br>Voltemos ao passado.
<br>
<br>Qual era, nas primeiras d�cadas do s�culo XX, a
<br>rea��o da popula��o brasileira em rela��o ao Espiritismo?
<br>
<br>
<br>Eu n�o estava l�. Mas d� para imaginar como era.
<br>Num pa�s predominantemente cat�lico, onde os preconceitos
<br>eram ainda mais evidentes e absurdos do que hoje,
<br>dizer-se "esp�rita" era, metaforicamente falando, colocar
<br>a corda no pesco�o.
<br>
<br>Imagine numa �poca como aquela algu�m atrever-
<br>se a abrir uma Escola Esp�rita num pa�s eminentemente
<br>cat�lico. Imagine ainda, para ampliar a dificuldade, abrir
<br>essa Escola Esp�rita no estado - naquela �poca - mais
<br>cat�lico do pa�s, Minas Gerais. Imagine, vamos continuar
<br>ampliando a dificuldade, que essa pessoa resolvesse,
<br>de maneira ostensiva, p�r o nome de Allan Kardec na
<br>denomina��o da escola?
<br>
<br>Um louco, muitos poderiam dizer.
<br>
<br>PARTE B
<br>
<br>
<br>REFLEX�ES SOBRE A LIDERAN�A ESP�RITA
<br>
<br>Um "fazedor", n�s esp�ritas temos que afirmar.
<br>
<br>Eur�pedes Barsanulfo, com a cria��o do Col�gio Esp�rita
<br>Allan Kardec, deu naquela �poca um exemplo do
<br>que � um esp�rita "fazedor".
<br>
<br>Esp�rita "fazedor" � aquele em que voc� consegue
<br>ler em sua testa a palavra: resultados.
<br>
<br>Ele procura impacientemente alcan�ar:
<br>
<br>RESULTADOS
<br>
<br>Ele faz palestra, participa de congressos esp�ritas,
<br>mas n�o abandona sua boa obsess�o:
<br>
<br>RESULTADOS
<br>
<br>E o que proponho a voc�, caro leitor, � que seja um
<br>esp�rita "fazedor".
<br>
<br>O Espiritismo alcan�ar� o espa�o que merece n�o
<br>pelos esp�ritas participantes e organizadores de congressos
<br>(que, diga-se de passagem, s�o necess�rios), n�o pelos
<br>esp�ritas que proferem palestras interessantes e
<br>escrevem belos textos (tamb�m necess�rios). O Espiritismo
<br>alcan�ar� o espa�o que merece por interm�dio dos
<br>esp�ritas fazedores.
<br>
<br>Seja um esp�rita "fazedor".
<br>
<br>PARTE B 29
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XX I
<br>
<br>B-3
<br>
<br>ESTAR�O CORRETOS NOSSOS ATUAIS
<br>CONCEITOS DE LIDERAN�A ESP�RITA?
<br>
<br>Caro irm�o esp�rita, ser� que nossos conceitos de
<br>lideran�a esp�rita n�o merecem reflex�es e altera��es?
<br>
<br>Ser� que n�o est� na hora de rever mos aqueles velhos
<br>conceitos e, quem sabe, adotarmos novos procedimentos?
<br>
<br>
<br>Ser� que n�o est� na hora de deixarmos de ser chefes
<br>de Centros Esp�ritas e passarmos a ser l�deres? (Lembre-
<br>se: o chefe imp�e respeito; o l�der o conquista.)
<br>
<br>Um bom come�o para despertar o l�der que h� em
<br>voc�: imagine que seus s�lidos conceitos de lideran�a esp�rita
<br>podem estar errados ou desatualizados.
<br>
<br>L�deres renomados cometeram erros crassos e hist�ricos
<br>(veja a seguir).
<br>
<br>Ser� que, como l�deres esp�ritas,
<br>todas as nossas atitudes e nossas normas
<br>de conduta est�o corretas?
<br>
<br>Ken Olsen, fundador da Digital, em 1977 disse: "N�o
<br>h� motivo para algu�m ter um computador em casa".
<br>
<br>Ken Olsen errou.
<br>
<br>Em 1958, o astr�nomo ingl�s dr. Woolsey pro
<br>
<br>
<br>30 PARTE B
<br>
<br>
<br>REFLEX�ES SOBRE A LIDERAN�A ESP�RITA
<br>
<br>clamou: "As viagens espaciais n�o t�m nenhuma expectativa
<br>de sucesso. S�o uma completa bobagem".
<br>
<br>O dr. Woolsey errou.
<br>
<br>"At� julho sai da moda". Frase da revista Variety, sobre
<br>o rock'n'roll, em mar�o de 1956.
<br>A revista Variety errou.
<br>
<br>Em 1946 Dary F. Zanuck, presidente da 20th
<br>Century Fox disse: Ap�s seis meses, a televis�o n�o se
<br>manter� no mercado que porventura houver conquistado.
<br>As pessoas logo ficar�o enjoadas de contemplar todas as
<br>noites uma caixa de madeira".
<br>
<br>Dary Zanuck errou.
<br>
<br>. Em 1945, antes da bomba de Hiroshima, Vannevar
<br>Bush, um assessor presidencial, avisou: A bomba nunca
<br>vai explodir, e estou falando na condi��o de um 'expert' em
<br>explosivos".
<br>
<br>Bush errou.
<br>
<br>Thomas Watson, presidente do conselho de administra��o
<br>da IBM, em 1943 afirmou: "Acho que no mercado
<br>mundial h� lugar talvez para cinco computadores".
<br>
<br>Watson errou.
<br>
<br>"O Jap�o jamais vai aliar-se ao Eixo", garantiu quem
<br>tinha autoridade para garantir, o general Douglas Mac
<br>Arthur, em 27 de setembro de 1940, v�spera da dita
<br>alian�a.
<br>
<br>O general Mac Arthur errou.
<br>
<br>Em 1939 o jornal The New York Times opinou: "A
<br>televis�o nunca far� s�ria concorr�ncia ao r�dio porque
<br>
<br>PARTE B
<br>
<br>
<br>O ESPIRITA DO S�CULO XX I
<br>
<br>as pessoas precisam sentar e fixar os olhos na tela. A
<br>fam�lia americana n�o tem tempo para isso".
<br>The New York Times errou.
<br>
<br>Harry Warner, da Warner Bros., opinou, em 1927,
<br>quando o cinema falado ainda engatinhava e o cinema
<br>mudo era o grande sucesso: "Quem � que quer ouvir atores
<br>falando?"
<br>
<br>Warner errou.
<br>
<br>Henry Ford, quando os seus primeiros carros foram
<br>fabricados, afirmou que jamais um carro atingiria
<br>velocidade superior a 60 quil�metros por hora.
<br>
<br>Henry Ford errou.
<br>
<br>Palavras do presidente do Michigan Savings Bank
<br>ao aconselhar o advogado de Henry Ford a n�o investir
<br>na Ford Motor Company: "O cavalo veio para ficar, mas
<br>
<br>o
<br>autom�vel � apenas uma novidade passageira".
<br>O presidente do Michigan Savings Bank errou.
<br>S�cios da David Sarnoff, em respostas a convites
<br>para investir em r�dio na d�cada de 20: "A caixa musical
<br>sem fio n�o tem valor comercial. Quem pagaria por mensagens
<br>enviadas a ningu�m em especial?"
<br>
<br>A David Sarnoff errou.
<br>
<br>O grande Edouard Manet comentou com o tamb�m
<br>grande Claude Monet: "Esse rapaz Auguste Renoir n�o tem o
<br>menor talento. Diga a ele para desistir de pintar".
<br>
<br>Manet errou.
<br>
<br>Em
<br>1902 o escritor ingl�s H.G. Wells comentou:
<br>
<br>32 PARTE B
<br>
<br>
<br>REFLEX�ES SOBRE A LIDERAN�A ESP�RITA
<br>
<br>"Recuso-me a acreditar que um submarino fa�a outra
<br>coisa al�m de afundar no mar e asfixiar sua tripula��o".
<br>
<br>Wells errou.
<br>
<br>Em 1902 um artigo na Harper's Weekly proclamava:
<br>"A constru��o real de estradas destinadas a ve�culos
<br>motorizados n�o � esperada para um futuro pr�ximo, a despeito
<br>de muitos rumores nesse sen tido ".
<br>
<br>O autor do artigo citado errou.
<br>
<br>"O Raio X � uma mistifica��o". Frase dita em 1900
<br>por Lord Kelvin, f�sico e presidente da British Royal
<br>Society of Science.
<br>
<br>Lord Kelvin errou.
<br>
<br>Em 1900 a revista American Cinematographer comentou:
<br>"O cinema sonoro � uma novidade que durar�
<br>uma temporada".
<br>
<br>A revista American Cinematographer errou.
<br>
<br>Marshal Ferdinand Foch, professor de estrat�gia da
<br>Escola Superior de Guerra da Fran�a disse: Avi�es s�o
<br>brinquedos interessantes, mas sem nenhum valor militar".
<br>
<br>Marshal Foch errou.
<br>
<br>Em 1895 Lord Kelvin afirmou: "A m�quina voadora
<br>mais pesada que o ar � imposs�vel".
<br>
<br>Lord Kelvin errou.
<br>
<br>Augusto Lumi�re afirmou em 1895 a respeito de
<br>seu pr�prio invento: "O cinema ser� encarado por algum
<br>tempo como uma curiosidade cient�fica, mas n�o tem futuro
<br>comercial".
<br>
<br>Lumi�re errou.
<br>
<br>PARTE B 33
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>Em 1888 a empresa alem� Zeiss dominava o mercado
<br>mundial de fotografia. Foi quando surgiu a c�mara
<br>Kodak Browsnie e o presidente da Zeiss comentou: "�
<br>um modismo est�pido. Vai passar em tr�s anos".
<br>
<br>O presidente da Zeiss errou.
<br>
<br>Coment�rio feito em 1879 pelo professor Erasmus
<br>Wilson, da Universidade de Oxford: "Quando a Exposi��o
<br>de Paris acabar, ningu�m mais ouvir� falar em luz el�trica ".
<br>
<br>Erasmus Wilson errou.
<br>
<br>Em 1878, Jean Boillaud, da Academia Francesa de
<br>Ci�ncias, fez a seguinte afirma��o a respeito do fon�grafo
<br>inventado por Thomas Edison: "� totalmente imposs�vel
<br>que os nobres �rg�os da fala humana sejam substitu�dos
<br>por um insens�vel e ign�bil metal".
<br>
<br>Jean Boillaud errou.
<br>
<br>Em 1878 a Western Union rejeitou os direitos sobre
<br>a patente do telefone com a seguinte declara��o: "Que
<br>uso a empresa poderia fazer desse brinquedo el�trico?"
<br>
<br>A Western Union errou.
<br>
<br>Coment�rio feito em 1872 por Pierre Pochet, professor
<br>de fisiologia em Toulouse: "A teoria dos germes de
<br>Louis Pasteur � uma fic��o rid�cula".
<br>
<br>Pierre Pochet errou.
<br>
<br>Em 173 7 Johan Aldof Sheibe, conhecido compositor
<br>e cr�tico de m�sica alem�o, afirmou: As composi��es
<br>de Bach s�o desprovidas de beleza, harmonia e claridade
<br>mel�dica".
<br>
<br>Sheibe errou.
<br>
<br>34 PARTE B
<br>
<br>
<br>REFLEX�ES SOBRE A LIDERAN�A ESP�RITA
<br>
<br>O famoso violinista e compositor alem�o Louis
<br>Spohr opinou, ap�s a primeira audi��o da Quinta Sinfonia
<br>de Beethoven: "Uma orgia de sons vulgares".
<br>
<br>Spohr errou.
<br>
<br>Palavras de Albrechtsber, professor de composi��o
<br>de Beethoven: "Beethoven nunca aprendeu nem aprender�
<br>coisa alguma. Como compositor � um caso perdido".
<br>
<br>Albrechtsber errou.
<br>
<br>No tempo de Colombo, o comit� de assessoramento
<br>dos reis Fernando e Isabel de Espanha escreveu: "Tantos
<br>s�culos ap�s a Cria��o, � improv�vel que possa encontrar
<br>terras ainda desconhecidas com algum valor".
<br>
<br>Fernando e Isabel erraram.
<br>
<br>Em 1899, Charles Duell, respons�vel pelo servi�o
<br>americano de patentes, ao sugerir que seu departamento
<br>fosse extinto, afirmou: "Tudo o que tinha que ser inventado
<br>j� foi inventado".
<br>
<br>Charlles Duell errou.
<br>
<br>Se tantas pessoas ilustres erraram
<br>em suas "firmes opini�es",
<br>ser� que tamb�m n�s n�o estamos
<br>errando em muitas das nossas
<br>firmes opini�es sobre nosso
<br>modelo de lideran�a esp�rita?
<br>
<br>PARTE B
<br>
<br>
<br>O ESPIRITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>O FUTURO
<br>(ou "o PRESENTE"?)
<br>
<br>executivo norte-americano entregou aos seus
<br>principais gerentes quatro cen�rios hipot�ticos e um cen�rio
<br>real, adaptado de um artigo do Wall Street Journal.
<br>Pediu-lhes para que dissessem depois da an�lise qual deles
<br>parecia mais inveross�mel. Qual deles os gerentes acharam
<br>mais dif�cil de acreditar? O real, veiculado pelo jornal.
<br>
<br>Ser� que n�s, esp�ritas, estamos conscientes do momento
<br>especial que nossa Terra est� passando?
<br>
<br>B-5
<br>
<br>O MUNDO EM QUE VIVEMOS
<br>
<br>(Extra�do dos livros "Competindo Pelo Futuro,
<br>Hamel e Prahalad, Editora Campus e
<br>"Energia Emocional", Milton de Oliveira,
<br>Editora Makron Books)
<br>
<br>
<br>.Listamos no limite - e para alguns ser� a beira
<br>de um precip�cio - de uma revolu��o t�o profunda quanto
<br>a que deu origem � industria moderna."
<br>
<br>Estamos vivendo a revolu��o ambiental, a revolu��o
<br>gen�tica, a revolu��o de materiais, a revolu��o digi
<br>
<br>
<br>36 PARTE B
<br>
<br>
<br>REFLEX�ES SOBREDA LIDERAN�A ESPIRITA
<br>
<br>tal e, acima de tudo, a revolu��o da informa��o.
<br>Setores inteiramente novos, hoje ainda em gesta��o,
<br>logo estar�o nascendo.
<br>
<br>Entre os setores em fase pr�-natal est�o:
<br>
<br>1. A micro-rob�tica: rob�s miniaturizados
<br>constru�dos a partir de part�culas at�micas capazes de,
<br>entre outras coisas, desobstruir art�rias esclerosadas;
<br>2. A tradu��o mec�nica - dispositivos eletr�nicos e
<br>outros aparelhos que traduzir�o simultaneamente conversas
<br>entre pessoas que falam l�nguas diferentes;
<br>3. Vias digitais de comunica��o que permitir�o acesso
<br>instant�neo, sem sair de casa, a todos os recursos
<br>mundiais de conhecimento e entretenimento;
<br>4. Sistemas subterr�neos automatizados de distribui��o
<br>urbana que reduzir�o o congestionamento do
<br>tr�fego;
<br>5. Salas de reuni�es "virtuais" que eliminar�o a necessidade
<br>e o inc�modo das viagens a�reas;
<br>6. Materiais biomim�ticos que reproduzir�o as propriedades
<br>maravilhosas de materiais encontrados na natureza;
<br>7. Mecanismos de comunica��o pessoal baseados
<br>em sat�lites que permitir�o "telefonar para casa" de qualquer
<br>lugar do planeta;
<br>8. M�quinas capazes de emo��o, racioc�nio e aprendizado
<br>que interagir�o com os seres humanos de modos
<br>inteiramente novos;
<br>9. Bio-remedia��o: organismos desenhados que ajudar�o
<br>a limpar o meio ambiente;
<br>10. Autom�veis com sistemas de navega��o a bordo
<br>e sistemas para evitar colis�es;
<br>PARTE B 37
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XX I
<br>
<br>11. Livros eletr�nicos e curr�culo acad�mico
<br>multim�dia, personalizado;
<br>12. Cirurgias realizadas em locais isolados por um
<br>rob� movido a controle remoto;
<br>13. Preven��o de doen�as pela terapia de reposi��o
<br>de genes.
<br>Na f�sica atual:
<br>
<br>14. O determinismo mecanicista convive com as teorias
<br>das probabilidades;
<br>15. A vis�o do universo bem ordenado � substitu�do
<br>pela teoria do caos;
<br>16. As no��es de tempo e espa�o absolutos s�o
<br>relativizadas e reavaliadas;
<br>17. A globalidade toma o lugar do reducionismo;
<br>18. Os fen�menos deixam de ser aut�nomos e passam
<br>a ser vistos como interdependentes de centenas de
<br>outros eventos;
<br>19. A mat�ria vira energia;
<br>20. O arcabou�o te�rico da f�sica cl�ssica � posto
<br>em debate;
<br>21. Os conceitos de realidade e objetividade convivem
<br>com os conceitos de inter subjetividade e subjetividade
<br>descritiva;
<br>22. Desaparece a verdade absoluta e tudo passa a
<br>ser aceito como descri��es de fen�menos, com base em
<br>certa refer�ncia de linguagem, o que provoca a morte
<br>do autoritaritarismo cient�fico;
<br>23. A ci�ncia e os cientistas s�o desmistificados como
<br>donos da verdade absoluta;
<br>24. A verdade torna-se uma met�fora - ou seja,
<br>podem existir tantas verdades proporcionais �s diferentes
<br>linguagens criadas.
<br>38 PARTE B
<br>
<br>
<br>REFLEX�ES SOBRE A LIDERAN�A ESP�RITA
<br>
<br>Ao mesmo tempo, profundas mudan�as hist�ricas
<br>ocorrem no mundo contempor�neo:
<br>
<br>25. A revolu��o da inform�tica e da rob�tica;
<br>26. A revolu��o da biotecnologia;
<br>27. A degrada��o ambiental provocada pela industrializa��o
<br>desordenada;
<br>28. O efeito estufa;
<br>29. O fim da guerra fria;
<br>30. O aparecimento de organismos supranacionais
<br>no controle dos estados nacionais;
<br>31. A superpopula��o no Terceiro Mundo;
<br>32. A revolu��o financeira internacional;
<br>33. O fortalecimento das empresas multinacionais;
<br>34. As desregulamenta��es alfandeg�rias;
<br>35. Os novos tratados internacionais de importa��o
<br>e exporta��o.
<br>B-6
<br>
<br>uMA REVOLU��O OUE
<br>ADMINISTRA A SI MESMA 2
<br>
<br>
<br>ara tentar entender os fatos que perturbam
<br>
<br>o mundo, � �til pensarmos no sistema global em termos
<br>muito simples: como uma gal�xia de quatro blo2
<br>Extra�do do livro O mundo na corda bamba, Greider, Gera��o
<br>Editorial.
<br>
<br>PARTE B 39
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>cos de poderes amplos e em competi��o uns com os
<br>outros. A vit�ria ou o fracasso de cada um deles influencia
<br>nos acontecimentos.
<br>
<br>Primeiro bloco de poder: 0 TRABALHADOR
<br>
<br>Segundo bloco de poder:
<br>
<br>OS GOVERNOS NACIONAIS
<br>Terceiro bloco de poder:
<br>
<br>AS MULTINACIONAIS
<br>Quarto bloco de poder:
<br>
<br>
<br>0 CAPITAL FINANCEIRO
<br>
<br>Primeiro bloco de poder: O TRABALHADOR
<br>
<br>O maior e mais �bvio perdedor, nesse caso, � o trabalhador,
<br>tanto os sindicatos de trabalhadores organizados
<br>quanto os assalariados individuais de um modo
<br>geral. Os sal�rios est�o subindo ou descendo pelo mundo
<br>afora, mas os trabalhadores, em ambos os extremos
<br>da economia global, perderam substancialmente o controle
<br>de seus mercados de trabalho e das condi��es de
<br>emprego. 'Agora o capital tem asas", explicou sucintamente
<br>o financista de Nova York, Robert A. Johnson.
<br>"O capital pode lidar com 20 mercados de trabalho ao
<br>mesmo tempo e escolher entre eles. O trabalho fica fixado
<br>em um s� lugar. Assim, o poder se deslocou."
<br>
<br>Segundo bloco de poder: OS GOVERNOS NACIONAIS
<br>
<br>Os governos nacionais, da mesma forma, perderam
<br>terreno no conjunto; muitos deles recuaram em
<br>rela��o � tentativa de exercer seu poder sobre o com�rcio
<br>e as finan�as, cedendo implicitamente ao esp�rito revolucion�rio.
<br>Nas economias mais avan�adas, muitos
<br>governos tornaram-se meros comerciantes e promove
<br>
<br>
<br>40 PARTE B
<br>
<br>
<br>REFLEX�ES SOBRE A LIDERAN�A ESPIRITA
<br>
<br>ram a fortuna de suas pr�prias multinacionais na esperan�a
<br>de que isso lhes fornecesse o n�cleo de prosperidade
<br>que permite a todo mundo manter-se na superficie.
<br>A prova mais clara de que tal estrat�gia n�o est� funcionando
<br>� a condi��o dos mercados de trabalho dos pa�ses
<br>mais pr�speros: desemprego em massa ou sal�rios
<br>reais em decl�nio e, em alguns casos, a ocorr�ncia desses
<br>dois efeitos prejudiciais.
<br>
<br>Terceiro bloco de poder: AS MULTINACIONAIS
<br>
<br>As multinacionais s�o, coletivamente, os m�sculos
<br>e o c�rebro desse novo sistema, os engenheiros que constroem
<br>as brilhantes redes de um novo relacionamento.
<br>Foi o seu sucesso com a globaliza��o que enfraqueceu o
<br>trabalho e degradou o controle governamental. Algumas
<br>corpora��es muito h�beis j� se reorganizam para serem
<br>aquilo que os futuristas dos neg�cios denominam de "a
<br>corpora��o virtual", um tipo de companhia t�o dispersa
<br>que se assemelha aos g�nglios de um sistema nervoso:
<br>um c�rebro ligado a muitos n�dulos distantes, mas
<br>sem muita subst�ncia corp�rea em seu centro.
<br>
<br>Apesar da flexibilidade e for�a, as multinacionais s�o,
<br>isoladamente, inseguras. At� mesmo os mais robustos gigantes
<br>industriais s�o muito vulner�veis e fracassam
<br>em se adaptar aos imperativos da redu��o de custos e
<br>da melhoria nas taxas de retorno. Por tr�s das fachadas
<br>das multinacionais existe uma genu�na ang�stia.
<br>
<br>Quarto bloco de poder: 0 CAPITAL FINANCEIRO
<br>
<br>O Robespierre dessa revolu��o � o capital financeiro.
<br>Seus princ�pios s�o transparentes e puros: aumen-
<br>
<br>PARTE B
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>tar ao m�ximo o retorno do capital sem se importar
<br>com a identidade nacional ou com as conseq��ncias
<br>pol�ticas e sociais. As finan�as globais agem coletivamente,
<br>como quem refor�a de maneira desinteressada
<br>esses imperativos, da mesma forma que o Comit� de
<br>Salva��o P�blica presidia o Terror (embora os historiadores
<br>observem que os revolucion�rios de Robespierre
<br>perseguiam o objetivo oposto de reduzir as grandes desigualdades
<br>da riqueza).
<br>
<br>Como descobriram os jacobinos durante a Revolu��o
<br>Francesa, s�o sempre os mais zelosos defensores
<br>dos novos valores, os mais respeitadores dos princ�pios,
<br>que, em �ltima an�lise, correm os riscos maiores
<br>num ambiente revolucion�rio. Quando Robespierre
<br>fez as coisas erradas, foi guilhotinado diante de uma
<br>multid�o ululante.
<br>
<br>At� mesmo os jogadores mais poderosos - tit�s das
<br>finan�as ou multinacionais que popularmente s�o encarados
<br>como dem�nios - s�o transformados em pigmeus
<br>pelo sistema e est�o sujeito �s suas mais duras e
<br>impiedosas conseq��ncias. Descrever a estrutura de poder
<br>do sistema global n�o implica que haja algu�m encarregado
<br>de administrar essa revolu��o. A revolu��o
<br>administra a si mesma."
<br>
<br>Caro irm�o esp�rita,
<br>ser� que n�o est� na hora de n�s,
<br>l�deres esp�ritas, implantarmos o quinto
<br>e definitivo bloco de poder, que n�o aparece
<br>no texto acima, que � o
<br>
<br>
<br>PODER DA TERCEIRA REVELA��O?
<br>
<br>42 PARTE B
<br>
<br>
<br>REFLEX�ES SOBRE A LIDERAN�A ESP�RITA
<br>
<br>B-7
<br>
<br>
<br>os esp�ritas soubessem o que � o Centro
<br>Esp�rita, quais s�o realmente sua fun��o e sua significa��o,
<br>o Espiritismo seria hoje o mais importante
<br>movimento cultural e espiritual da terra."
<br>
<br>Herculano Pires
<br>
<br>Mas quem foi Herculano Pires?
<br>
<br>Vejamos o que Emmanuel comentou sobre ele:
<br>
<br>"O metro que melhor mediu Kardec."
<br>'A maior intelig�ncia esp�rita contempor�nea."
<br>
<br>
<br>Agora que j� relembramos quem foi Herculano Pires,
<br>vamos reler Herculano Pires:
<br>
<br>"Se os esp�ritas soubessem o que � o Centro
<br>Esp�rita, quais s�o realmente sua fun��o e sua significa��o,
<br>o Espiritismo seria hoje o mais importante
<br>movimento cultural e espiritual da terra".
<br>
<br>Ser�, ent�o, que n�s, l�deres esp�ritas, estamos realmente
<br>cumprindo com nossa miss�o?
<br>
<br>Ser� que estamos fazendo do movimento esp�rita o
<br>maior movimento cultural e espiritual da terra?
<br>
<br>
<br>
<br>O ESPIRITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>B-8
<br>
<br>UMA PERGUNTA
<br>
<br>
<br>ergunta 642 de O Livro dos Esp�ritos:
<br>Bastar� n�o fazer o mal para ser agrad�vel a Deus e
<br>assegurar sua posi��o futura?
<br>
<br>Resposta dos Esp�ritos:
<br>
<br>N�o, � preciso fazer o bem no limite de suas for�as,
<br>porque cada um responder� por todo o mal que resulte
<br>do bem que n�o haja feito.
<br>
<br>B-9
<br>
<br>
<br>Pergunta 932 de O Livro dos Esp�ritos:
<br>
<br>Por que no mundo os maus t�o freq�entemente sobrepujam
<br>os bons em influ�ncia?
<br>
<br>Resposta dos Esp�ritos:
<br>
<br>Pela fraqueza dos bons, os maus s�o intrigantes e
<br>audaciosos, os bons s�o t�midos. Quando estes o quiserem
<br>dominar�o.
<br>
<br>44 PARTE B
<br>
<br>
<br>REFLEX�ES SOBRE A LIDERAN�A ESP�RITA
<br>
<br>Ser� que n�s, os seguidores e
<br>propagadores da TERCEIRA REVELA��O,
<br>n�o dever�amos ser mais audaciosos?
<br>
<br>Qual a sa�da?
<br>
<br>Como sermos esp�ritas, ou l�deres esp�ritas, mais
<br>audaciosos?
<br>
<br>Como sermos esp�ritas, ou l�deres esp�ritas,
<br>"fazedores"?
<br>
<br>PARTE B
<br>
<br>
<br>PARTE C
<br>
<br>PROJETO ORAR
<br>
<br>
<br>
<br>PROJETO OR A R - OUSADIA NA DIVULGA��O
<br>
<br>PROJETO ORAR
<br>
<br>
<br>PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO.. O.RAR = OUSADIANA DIVULGA��O
<br>
<br>C-1A
<br>
<br>ONDE EST�O OS ESP�RITAS?
<br>
<br>No final de 1998 li num jornal esp�rita a afirma��o
<br>que "o Espiritismo � a doutrina que mais cresce em
<br>nosso pa�s"\\\
<br>
<br>Ser�?
<br>
<br>Alguns meses antes havia conversado com uma irm�
<br>esp�rita e exemplar batalhadora que me havia dito que
<br>em sua cidade (Jandira, na regi�o da grande S�o Paulo),
<br>havia 70 igrejas evang�licas e 2 (!!!) Centros Esp�ritas.
<br>
<br>Onde, de fato, est�o os esp�ritas?
<br>
<br>Abraham Lincoln, l�der que a hist�ria consagrou,
<br>disse que "se pud�ssemos saber primeiramente onde estamos
<br>e para onde nos dirigimos, ter�amos a no��o do que fazer e
<br>poder�amos julgar a melhor maneira para tal".
<br>
<br>Que tal seguir o conselho de Abraham Lincoln?
<br>Vamos l�. Vamos procurar saber primeiro "onde
<br>estamos".
<br>Primeiro, vamos partir do fato constatado em pesquisa
<br>feita pela TV Manchete nos idos de 1997:
<br>
<br>82% dos brasileiros cr�em na reencarna��o.
<br>
<br>Depois dessa constata��o, usemos a l�gica:
<br>
<br>Se 82% dos brasileiros cr�em na reencarna��o, ent�o
<br>a maioria dos brasileiros professa o Espiritismo ou
<br>outra doutrina reencarnacionista.
<br>
<br>PARTE C
<br>
<br> 51
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>Mas a realidade � bem diferente do que a l�gica
<br>nos dita:
<br>
<br>A maioria da popula��o brasileira � cat�lica.
<br>
<br>Interessante!!!
<br>
<br>Estamos com a faca e o queijo na m�o, uma vez
<br>que a maioria da popula��o cr� na reencarna��o, mas
<br>n�o estamos sendo eficazes. Somos uma minoria. E
<br>bota minoria nisso!!! Constate, a seguir, como de fato
<br>isso � real:
<br>
<br>Um dos mais s�rios institutos de pesquisas do
<br>pa�s, o Datafolha, fez, em julho de 1998, uma pesquisa
<br>para a revista �poca com o objetivo de chegar ao
<br>n�mero de seguidores das diversas religi�es do pa�s. Resultado
<br>da pesquisa:
<br>
<br>CAT�LICOS: 121,8 milh�es
<br>EVANG�LICOS: 12,4 milh�es
<br>JUDEUS: 86 mil
<br>UMBANDA E CANDOMBL�: 648 mil
<br>OUTRAS: 2,1 milh�es
<br>
<br>Esse foi o resultado da pesquisa.
<br>Epa? Mas e os esp�ritas? N�o apareceram na pesquisa?
<br>Apareceram sim.
<br>Onde?
<br>No item OUTRAS!!!
<br>Isso mesmo. No item OUTRAS.
<br>Fa�amos aqui um par�ntese:
<br>Voc� reparou que todas as vezes que h� um fato
<br>
<br>
<br>religioso em destaque a imprensa entrevista autoridades
<br>cat�licas, pastores evang�licos, rabinos, mas
<br>nunca entrevistam esp�ritas?
<br>
<br>52 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO ORAR - OUSADIA N A DIVULGA��O
<br>
<br>Preconceito da imprensa?
<br>N�o.
<br>Acontece que os cat�licos, os evang�licos e os ju
<br>
<br>
<br>deus t�m assessoria de imprensa.
<br>Os esp�ritas t�m assessoria de imprensa?
<br>�, meu irm�o...
<br>Num pa�s onde nas novelas de televis�o se ouve
<br>
<br>freq�entemente os artistas falarem "na minha pr�xima
<br>reencarna��o..."
<br>Num pa�s que tem Chico Xavier (um dos maiores
<br>vendedores de livros do mundo);
<br>Num pa�s de Divaldo Pereira Franco (quem no Brasil
<br>leva aos audit�rios mais p�blico do que ele?);
<br>Num pa�s onde a maioria das pessoas acredita na
<br>reencarna��o...
<br>
<br>... onde est�o os esp�ritas?
<br>
<br>
<br>IMPORTANTE N�O � A QUANTIDADE,
<br>
<br>� A QUALIDADE
<br>
<br>
<br>vez em quando ou�o alguns esp�ritas dizerem:
<br>"O importante n�o � a quantidade de Centros Esp�ritas,
<br>� a qualidade". Ser� que ao dizerem isso n�o se est�
<br>afirmando tamb�m que o Espiritismo n�o veio para o
<br>mundo, mas para um grupo de privilegiados? Ser� que
<br>a Terceira Revela��o destina-se somente para n�s?
<br>
<br>PARTE C
<br>
<br>53
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>O que ser� que Kardec quis dizer quando escreveu
<br>que dev�amos popularizar o Espiritismo? (veja esse texto
<br>de Kardec no pr�ximo cap�tulo).
<br>
<br>No meu tempo de crian�a as Casas Pernambucanas
<br>eram a rede de lojas mais popular do Brasil. Por qu�?
<br>Porque era a rede de lojas com maior n�mero de filiais.
<br>Pergunto: se as Casas Pernambucanas daquela �poca tivessem
<br>poucas lojas ser� que elas teriam sido populares
<br>como foram?
<br>
<br>Ser� que dizer que "o importante n�o � a quantidade
<br>de Centros Esp�ritas, mas a qualidade"'n�o seria uma maneira
<br>c�moda de justificarmos nossa falta de a��o na
<br>efetiva difus�o do Espiritismo? Refiro-me sobre a possibilidade
<br>de sermos respons�veis pelo eventual retardamento
<br>da difus�o da Doutrina Esp�rita. (Veja o texto
<br>"Os obreiros do Senhor", cap�tulo XX, de O Evangelho
<br>Segundo o Espiritismo.)
<br>
<br>Ser� que n�o seria melhor dizer, pela import�ncia
<br>dos princ�pios esp�ritas (para o mundo), que "o importante
<br>�a qualidade e a quantidade"!
<br>
<br>Outros argumentam: "� preciso esperar melhorar qualitativamente
<br>os Centros Esp�ritas para s� ent�o divulgarmos
<br>intensamente nossa Doutrina".
<br>
<br>Ser�?
<br>
<br>Penso que precisamos trabalhar com o que temos.
<br>Uma coisa � pensar e sonhar com o ideal, outra � fazer o
<br>poss�vel.
<br>
<br>Pensar que primeiro � preciso melhorar a qualidade
<br>dos Centros Esp�ritas para s� depois divulgar melhor a
<br>doutrina � algo semelhante � atitude de um governador
<br>de Estado que resolve, oferecer vagas �s escolas p�blicas
<br>s� depois que todo o corpo docente melhorar a qualidade
<br>de ensino! E semelhante ao fato de come�armos a
<br>
<br>54 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO ORAR - OUSADIA N A DIVULGA��O
<br>
<br>ensinar as pessoas que � preciso primeiro conseguir amar
<br>ao pr�ximo como a si mesmo, para s� depois come�ar a
<br>fazer a caridade!
<br>
<br>Uma pergunta:
<br>
<br>Sabendo que os disc�pulos de Jesus eram pessoas
<br>simples, comuns, sem destaque social ou cultural, pescadores,
<br>Jesus esperou que eles melhorassem qualitativamente
<br>para ent�o os convidar a segui-lo?
<br>
<br>Esperar at� ficarmos prontos para s� ent�o come�ar
<br>a trabalhar � uma grande ilus�o.
<br>
<br>N�s nunca estamos - nem estaremos - "prontos".
<br>
<br>N�s nunca seremos um produto acabado.
<br>
<br>E o mesmo ocorre com os Centros Esp�ritas: sempre
<br>haver� alguma defici�ncia. Mas � preciso trabalhar.
<br>E preciso divulgar nossa doutrina.
<br>E de forma ousada!
<br>
<br>c-1 c
<br>
<br>O
<br>
<br>QUE DIZEM OS GRANDES MESTRES
<br>SOBRE A DOUTRINA ESP�RITA?
<br>
<br>
<br>elementos devem concorrer para o progresso
<br>do Espiritismo; estes s�o: o estabelecimento te�rico
<br>da Doutrina e os meios para populariz�-la.
<br>
<br>"Uma publicidade, numa larga escala, feita nos jornais
<br>mais divulgados, levaria ao mundo inteiro, e at�
<br>aos lugares mais recuados, o conhecimento das id�ias
<br>esp�ritas, faria nascer o desejo de aprofund�-lo, e, mul
<br>
<br>
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO XXI
<br>
<br>tiplicando os adeptos, imporia sil�ncio aos detratores
<br>que logo deveriam ceder diante do ascendente da opini�o."
<br>
<br>ALLAN KARDEC, Obras P�stumas - Projeto 1868.
<br>
<br>Voc� percebeu que Allan Kardec falou em "populari
<br>
<br>
<br>zar a Doutrina"?
<br>
<br>E o que � popularizar?
<br>Certamente "popularizar a Doutrina" n�o � haver Centros
<br>Esp�ritas apenas para alguns poucos escolhidos.
<br>Voc� percebeu que Allan Kardec tamb�m falou em
<br>
<br>"uma publicidade, numa larga escala, feita nos jornais
<br>mais divulgados"?
<br>
<br>Voc� j� leu alguma publicidade esp�rita nos jornais
<br>
<br>Folha deS. Paulo, O Estado de S.Paulo, O Globo, Jornal do
<br>
<br>Brasil, que s�o os jornais mais divulgados?
<br>
<br>Estamos sendo esp�ritas "fazedores" ou "faladores"?
<br>
<br>Uma pergunta: se na �poca em que viveu Allan
<br>Kardec houvesse televis�o, ser� que ele n�o teria dito
<br>"uma publicidade, numa larga escala, feita nos jornais
<br>mais divulgados e nos canais de televis�o de maior
<br>audi�ncia"?
<br>
<br>Certamente que sim, pois a Doutrina Esp�rita �
<br>evolutiva.
<br>
<br>Voc� j� viu alguma publicidade de dois minutos por
<br>semana nos intervalos do Jornal Nacional explicando,
<br>de forma did�tica e criativa, o que � o Espiritismo?
<br>
<br>Isso � car�ssimo. Certo. Mas nada que a criatividade e
<br>a uni�o de todas as associa��es esp�ritas representativas
<br>n�o pudessem resolver. A solu��o � uni�o e criatividade.
<br>
<br>Dois minutos por semana na televis�o, em hor�rio
<br>nobre, durante seis meses faria todos conhecerem o que
<br>� o verdadeiro Espiritismo. E as igrejas que contam
<br>inverdades sobre nossa doutrina teriam que explicar para
<br>seus seguidores tudo o que falaram de impropriedades.
<br>
<br>56 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO O R A R -OUSADIA NA DIVULGA��O
<br>
<br>Seria uma revolu��o cultural Al�m do que, aumentaria
<br>substancialmente os seguidores do Espiritismo.
<br>Mas o que se v� no meio esp�rita? For�as se aglutinando
<br>para terem atitudes "fazedoras"?
<br>
<br>N�o.
<br>
<br>O que se v� s�o institui��es e associa��es representativas
<br>do Espiritismo trabalharem geralmente dentro
<br>de quatro paredes, sem abrirem os olhos para a necessidade
<br>do trabalho esp�rita l� fora, no mundo que circunda
<br>suas quatro paredes.
<br>
<br>Um curso de criatividade cairia muito bem a todos
<br>n�s que, de alguma forma, atuamos na lideran�a esp�rita.
<br>Pois, assim, ver�amos muitas novas id�ias aflorarem,
<br>ajudando-nos a sermos esp�ritas "fazedores".
<br>
<br>Os dois coment�rios a seguir refor�am a necessidade
<br>de mudan�a, de inova��es:
<br>
<br>"Divulgar em cada programa de r�dio, televis�o ou
<br>programas outros de expans�o doutrin�ria, conceitos e
<br>p�ginas d�s obras fundamentais do Espiritismo. A base
<br>� indispens�vel em qualquer edifica��o."
<br>
<br>ANDR� LUIZ, "Conduta Esp�rita".
<br>
<br>"Na hora da inform�tica com os seus valiosos recursos,
<br>o esp�rita n�o se pode marginalizar sob pretexto
<br>pueril em que se disfar�a a timidez, o desamor � causa
<br>ou a indiferen�a pela divulga��o, porquanto o �nico
<br>ant�doto � m� Imprensa, na sua v�ria express�o, � a
<br>aplica��o dos postulados esp�ritas, hoje ainda ignorados
<br>e confundidos com as supersti��es, crendices, sofrendo
<br>as velhas conota��es infelizes com que o
<br>caluniaram no passado, aguardando ser despojado das
<br>mazelas que lhe atiraram os fr�volos e os d�spotas, os
<br>fan�ticos e os de m�-f�, quanto os que se apoiavam nos
<br>
<br>PARTE C
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>interesses subalternos, inconfess�veis...
<br>
<br>Hora de mentalidades abertas �s informa��es de toda
<br>ordem, este � o nosso momento de programar tarefas,
<br>fomentar a divulga��o por todos os meios, tornando-
<br>se cada companheiro honesto e dedicado, nova 'carta-
<br>viva', para a estrutura��o de um homem melhor,
<br>portanto, de uma sociedade mais justa, uma humanidade
<br>mais feliz".
<br>
<br>VIANNA DE CARVALHO, "Reflex�es Esp�ritas".
<br>
<br>
<br>STAMOS FALANDO PARA N�S MESMOS
<br>
<br>
<br>erto amigo esp�rita disse-me: "Alk�ndar, n�s
<br>estamos falando para n�s mesmos". E � verdade. Enquanto
<br>Jesus divulgava sua doutrina procurando atingir um
<br>p�blico cada vez maior, n�s nos contentamos com nossos
<br>congressos fechados e com nossas palestras para o
<br>nosso pessoal.
<br>
<br>Sabe quantas r�dios Esp�ritas existem no Brasil?
<br>
<br>N�o ultrapassa cinco.
<br>
<br>Isso mesmo. Quatro ou cinco.
<br>
<br>Dizendo de outro modo: em torno de 0,20 r�dio
<br>esp�rita por Estado!
<br>Talvez seja porque n�o d� Ibope.
<br>Engano de quem assim pensa. Est�, sim, faltando
<br>
<br>ousadia aos esp�ritas. H� uma crescente - e muito mal
<br>explorada - demanda.
<br>
<br>PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO ORAR-OUSADIA NA DIVULGA��O
<br>
<br>Vejamos se programas esp�ritas d�o Ibope:
<br>
<br>A Federa��o Esp�rita do Paran� comprou o espa�o
<br>de uma hora em uma das r�dios FM de Curitiba, Paran�,
<br>para levar ao ar um programa esp�rita. Resultado: l�der
<br>do hor�rio. Em Itajub�, Minas Gerais, h� na R�dio local
<br>um programa semanal esp�rita de 30 minutos, tamb�m
<br>l�der do hor�rio. A R�dio Esp�rita do Rio de Janeiro transmite
<br>aos domingos pela manh� um programa esp�rita
<br>de uma hora, tamb�m l�der do hor�rio.
<br>
<br>Por que n�o seguirmos esses modelos?
<br>
<br>Como vimos, existem sim algumas medidas em prol
<br>da divulga��o da Doutrina Esp�rita. Mas s�o - por enquanto
<br>- medidas isoladas.
<br>
<br>Veja um exemplo de sucesso na cidade do Rio de
<br>Janeiro: a Capemi patrocina, aos domingos pela manh�,
<br>um programa esp�rita na TV Bandeirantes com
<br>uma hora de dura��o. � O Despertar do Terceiro Mil�nio.
<br>Certa vez, seu coordenador, o excelente orador Geraldo
<br>Guimar�es, disse-me: 'Alk�ndar, s� estamos perdendo
<br>para o Globo Rural. O nosso programa j� est� em segundo
<br>lugar em audi�ncia no Rio de Janeiro!" Veja s� como
<br>de fato demanda existe.
<br>
<br>Outra boa not�cia: h� pouco tempo soube que o
<br>programa coordenado por Geraldo Guimar�es e produzido
<br>pela excelente equipe de Joel Vaz (que � um dos
<br>entrevistadores do programa) j� n�o est� mais em segundo
<br>lugar em audi�ncia. Est� em PRIMEIRO! J� passou
<br>o Globo Rural!
<br>
<br>Uma outra boa not�cia s�o as mudan�as que est�o
<br>ocorrendo na r�dio Boa Nova. Mudan�as t�o importantes
<br>e ben�ficas para o Espiritismo que at� merecem
<br>um cap�tulo � parte (vide pr�ximo cap�tulo).
<br>
<br>Se quisermos deixar de falar somente para n�s mes-
<br>
<br>PARTEC 59
<br>
<br>
<br>O ESPIRITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>mos, temos que valorizar mais o r�dio e a televis�o. Geraldo
<br>Guimar�es me contou que em sua vida deve ter feito
<br>mais de 3 mil palestras esp�ritas para um p�blico aproximado
<br>de 150 mil pessoas. Em mais de 40 anos de orat�ria
<br>esp�rita conseguiu atingir um p�blico de 150 mil pessoas.
<br>No programa em que coordena na TV Bandeirantes-RIO,
<br>com uma hora de dura��o, quando participa fala para
<br>600 mil pessoas!!! Veja bem: em uma hora de programa
<br>Geraldo Guimar�es atinge um p�blico quatro vezes maior
<br>que seus 40 anos de prega��o!!!
<br>
<br>Por que n�o utilizamos a for�a da televis�o?
<br>
<br>Se Jesus voltasse � Terra, que m�dia ser� que utilizaria
<br>para atingir o maior p�blico poss�vel?
<br>Isso. Voc� acertou: Televis�o.
<br>O cap�tulo 5 do livro Boa Nova transcreve as nor
<br>
<br>
<br>mas de a��o que Jesus passou aos seus disc�pulos para
<br>que realizassem a concretiza��o dos ideais crist�os. Em
<br>dado momento Jesus falou aos seus disc�pulos:
<br>
<br>"O que vos ensino em particular, difundi-o publicamente;
<br>porque o que agora escutais aos ouvidos ser� o objeto
<br>de vossas prega��es de cima dos telhados". (Vide Mateus
<br>10:27, "Os doze e sua miss�o".)
<br>
<br>Numa interpreta��o atual, ser� que a express�o
<br>"vossas prega��es de cima dos telhados" n�o poderia ser
<br>uma antevis�o da necessidade de divulga��o pela televis�o?
<br>Porque o que hoje vemos em cima dos telhados s�o
<br>antenas de televis�o. N�o s�o?
<br>
<br>Uma outra boa not�cia � que a Sociedade Esp�rita de
<br>Divulga��o e Assist�ncia (Seda), que aos domingos das
<br>10 �s 12 horas transmite o programa Espiritismo Via
<br>Sat�lite, recebeu |Ja Embratel o canal TV SAT Digital.
<br>Agora s� falta a uni�o dos esp�ritas na elabora��o de um
<br>bom trabalho a ser apresentado por esse canal.
<br>
<br>60 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO ORAR-OUSADIA NA DIVULGA��O
<br>
<br>Uma pergunta:
<br>
<br>Por que no estado de S�o Paulo, o mais rico do pa�s,
<br>n�o tem na televis�o um programa esp�rita num bom
<br>hor�rio?
<br>
<br>Para quem n�o sabe, no livro Tormentos da Obsess�o,
<br>psicografado por Divaldo Pereira Franco, pelo Esp�rito
<br>Manoel Philomeno de Miranda, informa que na d�cada de
<br>30 foi criado na Espiritualidade o Hospital Esperan�a, pelo
<br>abnegado Esp�rito Eur�pedes Barsanulfo, cuja principal clientela
<br>� formada por esp�ritas desencarnados arrependidos.
<br>Esp�ritas que n�o entenderam, quando na terra, que ser
<br>esp�rita � uma miss�o.
<br>
<br>Diz Allan Kardec no cap�tulo XVIII do livro A G�nese:
<br>
<br>"Pelo seu poder moralizador, por suas tend�ncias
<br>progressistas, pela amplitude de suas vistas, pela generalidade
<br>das quest�es que abrange, o Espiritismo � mais
<br>apto do que qualquer outra doutrina a secundar o movimento
<br>de regenera��o."
<br>
<br>Se o Espiritismo �, como diz Kardec, a Doutrina
<br>"mais apta a secundar o movimento de regenera��o"
<br>(que se avizinha), ser� que devemos manter apenas
<br>conosco - seguidores do Espiritismo � esse vast�ssimo
<br>conhecimento que a Doutrina Esp�rita proporciona?
<br>
<br>Aten��o: na �poca da revis�o deste livro para sua prepara��o
<br>e edi��o, o programa O Despertar do Terceiro Mil�nio,
<br>passou a chamar-se Despertar de um Mundo e deixou
<br>de ser transmitido pela TV Bandeirantes. Hoje � transmitido
<br>pela TVE canal 2 - Rede Brasil e parab�lica canal 3
<br>(frequ�ncia 3670Mhz), aos domingos, das 7h �s 8h.
<br>
<br>Uma importante observa��o:
<br>
<br>N�o pense, caro leitor, que esse empenho em despertar
<br>a import�ncia da divulga��o da Doutrina Esp�rita
<br>seja porque creio que todos devam ser esp�ritas. N�o
<br>
<br>PARTE C
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>� isso. Penso que a Terceira Revela��o n�o pode caminhar
<br>timidamente como est� ocorrendo. Afinal de contas,
<br>� a Terceira Revela��o. As pessoas n�o precisam
<br>ser esp�ritas, mas todos devem ter conhecimento dos
<br>postulados esp�ritas.
<br>
<br>Algu�m j� disse que:
<br>
<br>O Espiritismo n�o ser� a religi�o do futuro,
<br>mas o futuro das religi�es.
<br>
<br>E isso � tudo.
<br>
<br>C-1E
<br>
<br>
<br>o t�tulo e o subt�tulo acima, inicia-se o artigo
<br>da Revista Crist� de Espiritismo (edi��o n�mero 3). Veja a
<br>seguir, a transcri��o do texto original extra�do da revista.
<br>"Primeiro de outubro de 1999.
<br>
<br>Nesta data, o movimento esp�rita brasileiro ganhou
<br>um novo impulso na divulga��o da doutrina Esp�rita
<br>codificada por Allan Kardec: nasceu a Rede de R�dio Boa
<br>Nova, a primeira Rede de R�dio Esp�rita a utilizar os siste
<br>
<br>
<br>62 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO ORAR -OUSADIA NA DIVULGA��O
<br>
<br>mas mais modernos de comunica��o eletr�nica via sat�lite
<br>para todo o Brasil.
<br>
<br>Os sistemas de gera��o via sat�lite empregam
<br>tecnologia digital possibilitando desde a transmiss�o, de
<br>qualquer ponto do pa�s, at� a capta��o dos sinais, com
<br>qualidade jamais alcan�ada em transmiss�es convencionais.
<br>Atrav�s das antenas parab�licas, o ouvinte tem a
<br>sensa��o de estar recebendo uma programa��o local,
<br>mesmo que esteja sendo produzida e gerada a mil quil�metros
<br>de dist�ncia.
<br>
<br>E � com este objetivo, de acabar com as dist�ncias e
<br>dificuldades na divulga��o esp�rita, que a Funda��o Esp�rita
<br>Andr� Luiz est� implantando a Rede Boa Nova de
<br>R�dio. Inicialmente a Rede Boa Nova de R�dio estar� integrando
<br>as suas emissoras pr�prias: R�dio Boa Nova,
<br>que tem um raio de alcance em toda a Grande S�o Paulo,
<br>R�dio CBN Clube de Sorocaba, atingindo uma boa
<br>parte da regi�o sudoeste do Estado de S�o Paulo e o
<br>BRASILSAT, atrav�s do Canal de Leiloa��o (Canal do Boi)
<br>que cobre o Brasil e parte da Am�rica Latina. O segundo
<br>passo da Rede Boa Nova � criar parcerias com outras
<br>emissoras de r�dio em todo o Brasil, para retransmitir a
<br>programa��o da Rede Boa Nova, total ou parcialmente,
<br>como j� acontece com a emissora AM 870 - R�dio Cidade,
<br>Juazeiro/Petrolina.
<br>
<br>No Congresso Brasileiro de Radiodifus�o, realizado
<br>em Foz do Igua�u, no Paran�, foram feitos v�rios contatos
<br>e alguns grupos j� se mostraram interessados.
<br>
<br>COLABORADORES
<br>
<br>Al�m de r�dios e das parab�licas, estamos pensando
<br>nos Centros Esp�ritas espalhados pelo Brasil. Quere-
<br>
<br>PARTE C 63
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>mos distribuir a nossa programa��o, fonte de estudo e
<br>atualiza��o da Doutrina, para que cada Centro Esp�rita
<br>possa ter um kit com parab�lica e receptor para que
<br>possam acompanhar, atrav�s de grupos de ouvintes e
<br>de estudo, os trabalhos realizados nos programas da Rede
<br>Boa Nova com os grandes trabalhadores do Espiritismo
<br>brasileiro, como Divaldo Pereira Franco, S�rgio Felipe de
<br>Oliveira, Marlene Nobre, Jether Jacomini Filho, Caio
<br>Salama, Reynaldo Leite, Erc�lia Zilli, �der F�varo, Nelson
<br>Moraes, Nena Galves, Alberto Calvo, Ad�o Nonato,
<br>Zilda Moretti, Kau Mascarenhas, Am�lcar Del Chiaro
<br>Filho, Marco Antonio Palmieri, Jorge Andr�a, En�as
<br>Canhadas, Miguel de Jesus, Suzete Amorim, Ana Gaspar
<br>e muitos outros que hoje participam da nossa programa��o.
<br>Para isso, criaremos parcerias, com fornecedores
<br>para viabilizar e disponibilizar esses kits.
<br>
<br>A programa��o da Rede Boa Nova ser� baseada em
<br>produ��es de sua equipe pr�pria e de v�rias entidades
<br>representativas do movimento esp�rita brasileiro, como
<br>a Associa��o M�dico Esp�rita (AME), Federa��o Esp�rita
<br>do Estado de S�o Paulo (FEESP), Uni�o das Sociedades
<br>Esp�ritas (USE), Associa��o Brasileira de Psic�logos Esp�ritas
<br>(ABRAPE), Associa��o Brasileira de Divulgadores
<br>Esp�ritas (ABRADE), somando mais de 150 colaboradores
<br>empenhados em produzir os mais variados programas
<br>de cunho esp�rita em todos os n�veis de
<br>conhecimento.
<br>
<br>A REALIDADE DE UM SONHO
<br>
<br>Nasce a Rede Boa Nova de R�dio, um dos projetos
<br>de comunica��o � dist�ncia da Funda��o Esp�rita Andr�
<br>Luiz. A orienta��o espiritual recebida nos prim�rdios da
<br>
<br>64 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO ORAR-OUSADIA N A DIVULGA��O
<br>
<br>R�dio, de levar a mensagem esp�rita pelos telhados, hoje,
<br>com a Rede Boa Nova, est� se tornando realidade."
<br>
<br>Caro leitor, o texto acima merece ser relido com aten��o.
<br>Nele voc� encontrar� oportunidades v�rias de ser
<br>parceiro atuante nas propostas da Rede Boa Nova, ainda
<br>que n�o trabalhe numa esta��o de r�dio.
<br>
<br>Para sua informa��o:
<br>
<br>R�dio Boa Nova - AM 1450
<br>Grande S�o Paulo
<br>Osmar Marsili
<br>Jether Jacomini Filho
<br>Pabx: (11) 6457-7000;
<br>Fax: (11) 6457-8085
<br>www. radioboanova. com. br
<br>
<br>
<br>Radio Boa Nova - AM 1080
<br>Sorocaba - SP
<br>Gast�o de Lima Netto
<br>Marcos Lima Netto
<br>Pabx: (15) 232-6205 ou 232-2422;
<br>Fax: (15) 232-2214
<br>
<br>
<br>
<br>65
<br>
<br>
<br>
<br>PROJETO ORAR
<br>
<br>
<br>
<br>PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO ORAR-RESPEITO �S DEMAIS INSTITUI��ES
<br>
<br>C-2A
<br>
<br>COMO AGIR CONTRA OS ATAOUES
<br>AO ESPIRITISMO
<br>
<br>
<br>sua televis�o de madrugada. Com o seu con
<br>
<br>
<br>trole, escolha aquele canal em que um l�der religioso
<br>entrevista uma pessoa do povo. Voc� vai ouvir mais ou
<br>menos o seguinte di�logo:
<br>
<br>"Ent�o a senhora se arrependeu de ter sido esp�rita?
<br>
<br>" � Sim, me arrependi. Foi um dos momentos de
<br>minha vida em que tudo dava errado e eu n�o sabia
<br>por qu�.
<br>
<br>"E agora que a senhora est� em nossa Igreja, como
<br>est� sua vida?
<br>
<br>" � Agora, com Jesus no meu cora��o, tudo mudou.
<br>Consegui emprego, consegui comprar minha casa
<br>pr�pria e sou uma pessoa muito mais feliz.
<br>
<br>" Ent�o o Espiritismo prejudicou a senhora?
<br>
<br>" � Prejudicou. Hoje eu vejo que o Espiritismo �
<br>coisa do dem�nio. Se pudesse diria para todos os esp�ritas
<br>conhecerem a nossa Igreja, onde Jesus � o nosso Mestre
<br>e Senhor. Os esp�ritas precisam enxergar que o seu
<br>mestre � o dem�nio."
<br>
<br>PARTE C
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO
<br>
<br> XXI
<br>
<br>Depois de ouvir tudo isso, n�s, esp�ritas, ficamos
<br>imaginando: "Que desconhecimento sobre o Espiritismo!"
<br>
<br>Um par�ntese: voc� se lembra, caro leitor, quando
<br>em um dos programas de televis�o chutaram a imagem
<br>cat�lica de Nossa Senhora Aparecida? Voc� se lembra da
<br>intensa e imensa rea��o dos cat�licos de todo o Brasil?
<br>Voc� se lembra dos insistentes notici�rios da televis�o e
<br>dos inflamados artigos de jornais e revistas sobre o assunto?
<br>
<br>
<br>A rea��o de todos foi impressionante!
<br>
<br>H� tempos n�o se via tamanha como��o em nosso
<br>pa�s. O chute na imagem de Nossa Senhora era assunto
<br>nas escolas, nos bares, em todos os lugares.
<br>
<br>Agora reflita comigo:
<br>Voc� j� imaginou que todos os dias determinados
<br>pastores chutam nossa Doutrina?
<br>
<br>Por terem chutado uma �nica vez uma imagem, os
<br>cat�licos e toda a m�dia brasileira prontamente reagiram.
<br>E n�s, que estamos sendo chutados todos os dias,
<br>
<br>estamos reagindo?
<br>
<br>Poder�amos pensar que existem duas alternativas
<br>para resolver essa situa��o cr�tica de ataque di�rio epersistente
<br>ao Espiritismo:
<br>
<br>A primeira:
<br>
<br>Culpar o pastor e obrig�-lo a nos dar uma satisfa��o
<br>sobre o fato de desrespeitar publicamente, de maneira
<br>infame e inculta a Doutrina que professamos.
<br>
<br>A segunda:
<br>
<br>Divulgar melhor nossa Doutrina.
<br>
<br>Agirmos de acordo com a primeira alternativa ge
<br>
<br>
<br>70 PARTE C
<br>
<br>
<br>raria pol�mica. E pol�mica gera pol�mica, que por sua
<br>vez gera pol�mica...
<br>
<br>Divulgar melhor nossa Doutrina � a solu��o.
<br>
<br>Vamos recapitular o que diz Allan Kardec:
<br>
<br>"Uma publicidade, numa larga escala, feita nos jornais
<br>mais divulgados, levaria ao mundo inteiro, e at� aos
<br>lugares mais recuados, o conhecimento das id�ias esp�ritas,
<br>faria nascer o desejo de aprofund�-los e, multiplicando
<br>os adeptos, imporia sil�ncio aos detratores que
<br>logo deveriam ceder diante do ascendente da opini�o".
<br>
<br>Vale a pena rever tamb�m as palavras de Vianna de
<br>Carvalho:
<br>
<br>"Na hora da inform�tica com os seus valiosos recursos,
<br>o esp�rita n�o se pode marginalizar, sob pretextos
<br>pueris em que se disfar�a a timidez, o desamor �
<br>causa ou a indiferen�a pela divulga��o, porquanto o
<br>�nico ant�doto � m� imprensa, na sua v�ria express�o,
<br>� a aplica��o dos postulados esp�ritas, hoje ainda ignorados
<br>e confundidos com as supersti��es, crendices. Eles
<br>sofrem as velhas conota��es infelizes com que o caluniaram
<br>no passado, aguardando ser despojado das mazelas
<br>que lhe atiraram tanto os fr�volos e os d�spotas, os
<br>fan�ticos e os de m�-f�, quanto os que se apoiavam nos
<br>interesses subalternos, inconfess�veis...
<br>
<br>"Hora de mentalidades abertas �s informa��es de
<br>toda ordem; este � o nosso momento de programar tarefas,
<br>fomentar a divulga��o por todos os meios, tornando-
<br>se cada companheiro honesto e dedicado, nova
<br>'carta viva', para a estrutura��o de um homem melhor
<br>e, portanto, de uma sociedade mais justa, uma humanidade
<br>mais feliz."
<br>
<br>PARTE C
<br>
<br> 71
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>Complementa ainda Vianna de Carvalho: "Como
<br>n�o �l�cito fomentar debates ou gerar discuss�es improdutivas,
<br>cabem, freq�entemente, sempre que poss�veis, as
<br>honestas informa��es entre Doutrina Esp�rita e Doutrinas
<br>Espiritualistas, pr�tica esp�rita e pr�ticas
<br>medi�nicas, opini�es esp�ritas e opini�es median�micas..."
<br>
<br>Kardec e Vianna de Carvalho nos mostram que gerar
<br>pol�micas, criar discuss�es improdutivas a nada levam.
<br>Procurar discutir no mesmo n�vel dos detratores �
<br>agir como eles. E errar como eles.
<br>Nossa tarefa � melhor divulgar a Doutrina e respeitar
<br>todas as religi�es.
<br>
<br>Uma eficiente e eficaz divulga��o do Espiritismo,
<br>como disse Kardec, "imporia sil�ncio aos detratores que
<br>logo deveriam ceder diante do ascendente da opini�o".
<br>
<br>Portanto, qual deve ser nossa postura ao divulgar
<br>nossa Doutrina?
<br>Ao procurar divulgar nossa Doutrina, devemos faz�-la:
<br>
<br>Sem proselitismo,
<br>com ousadia e sensatez.
<br>
<br>
<br>tendo sempre em mente que nossa postura tem que ser a:
<br>
<br>Do conhecimento,
<br>da �tica,
<br>da dignidade e
<br>da boa a��o.
<br>
<br>72 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO ORAR-RESPEITO �S DEMAIS INSTITUI��ES
<br>
<br>C-2B
<br>
<br>� POSS�VEL -MOSTRAR O QUE � O
<br>ESPIRITISMO SEM DESRESPEITAR AS
<br>DEMAIS INSTITUI��ES
<br>
<br>caro irm�o esp�rita, o texto que voc� vai ler a
<br>seguir demonstra como � poss�vel divulgar a nossa Doutrina
<br>sem desrespeitar as demais institui��es religiosas.
<br>
<br>O objetivo do texto a seguir � mostrar ao n�o-esp�rita
<br>o que o Espiritismo "n�o � e n�o faz".
<br>
<br>Sabemos que o n�o-esp�rita muitas vezes tem preconceitos
<br>em rela��o ao Espiritismo os quais o impedem
<br>de conhecer uma Doutrina essencialmente
<br>esclarecedora e, por conseq��ncia, consoladora e
<br>libertadora.
<br>
<br>Esse tesouro - o Espiritismo - n�o pode ficar s� em
<br>nossas m�os.
<br>
<br>� comum no nosso meio comentarmos a famosa
<br>frase de Emmanuel: "A maior caridade que se pode fazer
<br>para a Doutrina Esp�rita � a sua pr�pria divulga��o".
<br>
<br>Se assim �, e se achar que o conte�do do texto a
<br>seguir seja merecedor, divulgue-o.
<br>Procure, dentro de suas possibilidades:
<br>
<br>1. Public�-lo em jornais n�o-esp�ritas;
<br>2. Public�-lo em jornais esp�ritas que tenham
<br>(tamb�m) p�blico n�o-esp�ritas;
<br>3. Tirar c�pias e encaminh�-las a Centros Esp�ritas
<br>de sua regi�o, orientando-os a proceder
<br>conforme itens 1 e 2 acima.
<br>O autor e a Doutrina agradecem.
<br>
<br>c
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XX I
<br>
<br>ESPIRITISMO, COISA DO DEM�NIO?
<br>
<br>Alk�ndar de Oliveira
<br>
<br>Sou esp�rita. Respeito todas as religi�es que t�m
<br>Deus como o Pai maior. Vejo os integrantes das demais
<br>religi�es como diletos irm�os. Nem poderia ser diferente.
<br>Se somos filhos do mesmo Deus, por que professar
<br>diferentes religi�es impediria de nos ver como irm�os?
<br>
<br>E como irm�o do caro leitor, aproveito essa oportunidade
<br>para trazer � tona alguns conceitos - ou preconceitos
<br>- equivocados em rela��o ao Espiritismo.
<br>
<br>Caro irm�o leitor, n�o tenho o intuito de convert�lo
<br>ao Espiritismo. Se voc� se encontrou no catolicismo
<br>ou no protestantismo, para que mudar de religi�o?
<br>
<br>N�s, esp�ritas, muito valorizamos o catolicismo. Podemos
<br>dizer que o catolicismo � a religi�o m�e. N�o
<br>fossem a for�a, a coragem, a f� e a determina��o dos
<br>primeiros cat�licos, as palavras do nosso Mestre Jesus
<br>n�o teriam chegado aos nossos dias. A humanidade
<br>muito deve ao catolicismo.
<br>
<br>Tamb�m respeitamos e valorizamos o protestantismo.
<br>Quando o homem ficou mais preocupado com a
<br>religi�o externa, isto �, valorizava mais a forma do que
<br>
<br>o conte�do, foi o protestantismo que chacoalhou uma
<br>situa��o de in�rcia e reavivou as palavras do Mestre.
<br>Mas por que alguns - n�o todos - cat�licos e pro
<br>
<br>
<br>74 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO O R A R -RESPEITO AS DEMAIS INSTITUI��ES
<br>
<br>testantes, nossos diletos irm�os, insistem em dizer que
<br>
<br>o
<br>"o Espiritismo � coisa do dem�nio"?
<br>Jesus disse: "Pelos frutos conhecereis a �rvore".
<br>Os esp�ritas, como outros religiosos, t�m como principal
<br>meta procurar seguir, com as limita��es pr�prias
<br>da natureza humana, os preceitos de Jesus em sua m�xima
<br>"amar a Deus sobre todas as coisas e ao pr�ximo
<br>como a si mesmo".
<br>
<br>Que dem�nio � esse que inspira os esp�ritas ao amor
<br>a Deus e ao pr�ximo?
<br>Os esp�ritas, como outros religiosos, acreditam na realidade
<br>maior da vida: "Fora da caridade n�o h� salva��o".
<br>Que dem�nio � esse que inspira os esp�ritas a fazer
<br>caridade ao pr�ximo?
<br>
<br>Os esp�ritas t�m por princ�pio a valoriza��o e o respeito
<br>�s demais religi�es, todas consideradas diferentes
<br>ferramentas idealizadas pelo mesmo Arquiteto.
<br>
<br>Que dem�nio � esse que inspira os esp�ritas �
<br>fraternidade e solidariedade entre integrantes de religi�es
<br>muitas vezes sustentadas em dogmas ou em faces
<br>da verdade conflitantes entre si?
<br>
<br>Que dem�nio � esse que, onde h� diverg�ncia de opini�es,
<br>procura unir em vez de semear a disc�rdia?
<br>
<br>Os verdadeiros esp�ritas, aqueles que seguem os preceitos
<br>m�ximos da Doutrina, tem como rotina em sua
<br>vida o esfor�o pela sua transforma��o moral. Isto �,
<br>conhece-se o verdadeiro esp�rita pelo seu cont�nuo esfor�o
<br>em se transformar moralmente.
<br>
<br>Que dem�nio � esse que inspira os esp�ritas � constante
<br>preocupa��o com sua eleva��o moral?
<br>
<br>Caro irm�o leitor, reflitamos:
<br>
<br>Que dem�nio � esse que fala em amor, caridade,
<br>
<br>solidariedade, fraternidade e em transforma��o moral?
<br>
<br>PARTE C
<br>
<br> 75
<br>
<br>
<br>
<br>O ESPIRITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>S� n�o v�, como disse nosso Mestre Jesus, quem
<br>n�o tem olhos para ver.
<br>
<br>Por favor, n�o entenda que o objetivo deste artigo �
<br>a sua convers�o. Se � voc� um bom cat�lico, continue a
<br>s�-lo. Se voc� professa uma das diversas religi�es protestantes,
<br>mantenha sua convic��o. Mas se voc� � dos
<br>que dizem que "o Espiritismo � coisa do dem�nio", procure
<br>- sem abandonar sua religi�o - pelo menos estudar
<br>alguns livros esp�ritas. A cr�tica gratuita, sem an�lise,
<br>sem estudo profundo, n�o deve fazer parte de nossos
<br>atos. D� a si mesmo o direito de conhecer melhor o seu
<br>objeto de cr�tica. Estude.
<br>
<br>� importante dizer que a denomina��o "Espiritismo"
<br>assumiu conota��es que n�o correspondem � real
<br>ess�ncia da Doutrina codificada pelo educador Allan
<br>Kardec e que se sustenta no Evangelho do Nosso Senhor
<br>Jesus Cristo.
<br>
<br>No Espiritismo n�o h� queima de vela, incenso, "trabalhos",
<br>magias, imagens ou outros rituais. Muitas pessoas
<br>n�o-esp�ritas, muitas pessoas mesmo, imaginam
<br>
<br>- sem antes pesquisar - que o Espiritismo manifesta-se
<br>por tudo que nele n�o existe, como os exemplos citados
<br>(queima de vela, incenso, "trabalhos", magias, culto a
<br>imagens, rituais etc).
<br>Muitas religi�es que se autodenominam esp�ritas
<br>n�o o s�o de fato.
<br>
<br>O templo do Espiritismo � o templo do estudo, do
<br>amor e da caridade.
<br>
<br>Sempre houve pessoas que n�o acreditavam ou tinham
<br>uma opini�o deformada sobre o Espiritismo.
<br>
<br>William Crookes, o extraordin�rio pai da f�sica contempor�nea,
<br>o homem que descobriu o t�lio, a mat�ria
<br>radiante, a quem se deve os pr�domos da f�sica nuclear
<br>
<br>76 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO ORAR-RESPEITO �S DEMAIS INSTITUI��ES
<br>
<br>da atualidade, chegou a dizer textualmente:
<br>
<br>"Eu era ura materialista absoluto e, depois de investigar
<br>em profundidade cient�fica os fen�menos
<br>medi�nicos, eu afirmo que eles j� n�o s�o poss�veis: eles
<br>s�o reais!"
<br>
<br>C�sar Lombroso, depois de examinar a mediunidade
<br>de Eus�pia Paladino, disse estas palavras:
<br>
<br>"Quando me lembro do que eu e meus colegas zomb�vamos
<br>daqueles que acreditavam no Espiritismo, coro
<br>de vergonha, porque hoje eu tamb�m sou esp�rita! A
<br>evid�ncia dos fatos dobrou a minha convic��o negativa".
<br>
<br>E ainda Cronwell Varley, o que lan�ou sobre o mundo
<br>as linhas da telegrafia e da telefonia internacional, os
<br>cabos transoce�nicos, teve a coragem de dizer:
<br>
<br>"Somente negam os fen�menos esp�ritas aqueles que
<br>n�o se deram ao trabalho de os estudar. Eu n�o conhe�o
<br>um s� exemplo de algu�m que os haja estudado que
<br>n�o se tenha rendido � sua evid�ncia".
<br>
<br>N�o, N�o precisa se tornar esp�rita. Mas estude o
<br>Espiritismo antes de o criticar.
<br>
<br>E lembremo-nos que todos, independentemente de
<br>religi�es, somos filhos do mesmo Deus e devemos
<br>irmanarmo-nos, unirmo-nos pelo bem comum, pelo
<br>amor ao pr�ximo, pelos atos de solidariedade humana.
<br>
<br>Ningu�m � dono da Verdade Absoluta. Todas as religi�es
<br>s�rias s�o de Deus. Deus se manifesta de muitas
<br>formas e por meio de diversas religi�es. Respeitemo-nos
<br>mutuamente, cheguemo-nos mais perto uns dos outros;
<br>s� assim seremos dignos de sermos chamados filhos
<br>de Deus.
<br>
<br>Para encerrar, leiamos a letra a seguir, musicada pelo
<br>admir�vel cantor cat�lico Padre Zezinho, um hino ao respeito
<br>e � uni�o dos seguidores das mais diversas religi�es:
<br>
<br>PARTE C
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>
<br>Que todos n�s,
<br>que acreditamos em Deus,
<br>saibamos viver em paz e dialogar!
<br>Que todos n�s,
<br>que cremos que Deus �Pai,
<br>saibamos nos respeitar e nos abra�ar!
<br>
<br>Filhos do Universo,
<br>
<br>filhos do mesmo amor,
<br>
<br>saibamos ouvir uns aos outros,
<br>
<br>ouvir o que o outro nos tem a dizer.
<br>
<br>E, sem combater,
<br>
<br>sem desmerecer,
<br>
<br>primeiro escutar,
<br>
<br>depois discordar,
<br>
<br>por fim celebrar e orar.
<br>
<br>E adorar e servir a Deus.
<br>
<br>E ajudar e ajudar as pessoas...
<br>e respeitados ateus!
<br>... pra sermos filhos de Deus "
<br>
<br>78 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO ORAR
<br>
<br>
<br>
<br>O Cap�tulo C-3, que voc� ver� a seguir, � transcri��o
<br>parcial de minha apostila sobre o tema Lideran�a, utilizado nos
<br>treinamentos que ministro em empresas. Portanto, ele n�o � um
<br>texto religioso. Voc� perceber� que o conte�do de todos os textos
<br>s�o direcionados para assuntos relacionados com lideran�a
<br>empresarial, mas veja s� que coisa boa, muito do que vai ler
<br>poder� ser aplicado no seu Centro Esp�rita.
<br>
<br>Este texto, al�m de poder ser aplicado no movimento
<br>esp�rita, lhe fornecer� mais elementos para tornar sua empresa
<br>ainda mais justa e mais humana, o que levar� a cumprir
<br>ainda melhor a fun��o social de toda empresa.
<br>
<br>Fa�a bom uso deste texto em sua empresa e no Centro Esp�rita.
<br>
<br>PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO ORA R - ADMINISTRA��O EFICAZ
<br>
<br>C-3A
<br>
<br>
<br>PROCEDIMENTOS DO
<br>L�DER EFICAZ
<br>
<br>warren Bennis, professor em�rito da Universidade
<br>do Sul da Calif�rnia, quando disse "se voc� n�o
<br>est� confuso, n�o sabe o que est� acontecendo", retratou
<br>com rara fidelidade a situa��o do executivo de hoje,
<br>que tem a perplexa vis�o de um mundo n�o mais de
<br>possibilidades, mas de probabilidades. O executivo moderno,
<br>at�nito, v� as informa��es surgirem em cascata
<br>� sua frente e muitas delas conflitam entre si.
<br>
<br>O que fazer?
<br>Que informa��es selecionar?
<br>Em quais informa��es acreditar?
<br>Qual seria o caminho - ou os caminhos - a seguir?
<br>Muitas perguntas e muitas respostas. Como chegar
<br>a um porto seguro?
<br>Em intenso trabalho de leitura, estudo e pesquisa
<br>em mais de 40 dos melhores livros de lideran�a e administra��o,
<br>consegui achar um caminho coerente, l�gico
<br>e comprovadamente eficaz.
<br>Minha inten��o era encontrar procedimentos que
<br>um executivo l�der deveria seguir e que fosse consenso,
<br>ou a s�ntese, dos melhores livros. Felizmente chegou �s
<br>minhas m�os o livro Desafio da lideran�a, de Kouzes e
<br>Posner, Editora Campus. Esse livro foi escrito com base
<br>em pesquisas realizadas durante 11 anos em 4 continentes
<br>com aproximadamente 60 mil pessoas (10 mil
<br>
<br>PARTE C
<br>
<br>
<br>O ESPIRITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>l�deres e 50 mil seguidores). Confrontando os dados do
<br>livro citado com os melhores livros que li, tive o prazer
<br>de perceber que todos falam a mesma coisa, utilizando
<br>palavras e informa��es diferentes, mas apontando os
<br>mesmos caminhos. Quais s�o esses caminhos? � o que
<br>veremos a seguir.
<br>
<br>Kouzes e Posner, por meio de suas pesquisas, apontam
<br>5 caminhos, ou procedimentos, do l�der eficaz. Esses
<br>caminhos encontram resson�ncia na melhor
<br>literatura de lideran�a e administra��o.
<br>
<br>S�o eles:
<br>
<br>1. Desafiar o estabelecido;
<br>2. Inspirar uma vis�o compartilhada;
<br>3. Permitir que os outros ajam;
<br>4. Apontar o caminho;
<br>5. Encorajar o cora��o.
<br>Antes de irmos ao cap�tulo seguinte, deixe-me fazer
<br>algumas considera��es.
<br>
<br>Alguns esp�ritas sentem uma verdadeira ojeriza
<br>quando algu�m coloca o estilo de lideran�a empresarial
<br>como modelo � lideran�a esp�rita. Sentem-se indignados
<br>por justapor a uma entidade religiosa t�cnicas empresariais
<br>que visam sobretudo ao lucro financeiro.
<br>
<br>Essa vis�o tem raz�o de ser.
<br>
<br>Ou melhor, essa vis�o teve raz�o de ser.
<br>
<br>Durante muito tempo, a lideran�a empresarial foi
<br>calcada no respeito imposto, e n�o no respeito conquistado.
<br>Durante muito tempo o l�der empresarial via cada
<br>funcion�rio corno uma m�quina �til � finalidade da empresa,
<br>e n�o como um ser humano merecedor de considera��o.
<br>Durante muito tempo o l�der n�o era l�der. Era
<br>
<br>82 PARTE C
<br>
<br>
<br>. PROJETO ORAR-ADMINISTRA��O EFICAZ
<br>
<br>gerente, era chefe. Ele n�o liderava, ele mandava. Foram
<br>os tempos nos quais as id�ias administrativas e gerenciais
<br>de Frederick Taylor imperavam.
<br>
<br>Hoje tudo mudou.
<br>Ou melhor, hoje tudo est� mudando numa velocidade
<br>impressionante.
<br>
<br>Hoje os l�deres empresariais descobriram que a �nica
<br>forma de manter a empresa viva e em crescimento �
<br>valorizando o trabalho em equipe. E para valorizar o
<br>trabalho em equipe � preciso, por conseq��ncia, valorizar
<br>os integrantes da equipe, que s�o seres humanos e
<br>n�o m�quinas.
<br>
<br>A vis�o de lideran�a sofreu uma mudan�a de 180
<br>graus.
<br>
<br>No passado, era posi��o sensata do l�der esp�rita sentir
<br>verdadeira ojeriza por algu�m que falasse em adotar
<br>no seu Centro Esp�rita modelo de lideran�a empresarial.
<br>Pensava sabiamente o l�der esp�rita de ontem: "E o respeito
<br>ao, ser humano como fica?"
<br>
<br>Se, no passado recente, a preven��o do l�der esp�rita
<br>era sinal de sensatez, hoje essa preven��o, ou preconceito,
<br>n�o � mais sinal de sensatez, mas de desconhecimento.
<br>Desconhecimento dos procedimentos da atual
<br>lideran�a empresarial.
<br>
<br>De modo t�nue, mas gradativo e firme, os princ�pios
<br>do nosso Mestre Jesus est�o come�ando a ser aplicados
<br>em muitas empresas.
<br>
<br>N�o ria.
<br>
<br>� verdade o que estou dizendo.
<br>
<br>Em alguns anos muitos v�o enxergar que as "modernas"
<br>t�cnicas de lideran�a nada mais s�o do que
<br>corol�rios dos princ�pios preconizados por Jesus.
<br>Quer um exemplo?
<br>
<br>PARTE C 83
<br>
<br>
<br>O ESPIRITA DO S�CULO XX I
<br>
<br>Como voc� viu neste cap�tulo, os pesquisadores e autores
<br>Kouzes e Posner chegaram, depois de intensa e s�ria
<br>pesquisa, aos 5 procedimentos do l�der eficaz, a saber:
<br>
<br>1. Desafiar o estabelecido;
<br>2. Inspirar uma vis�o compartilhada;
<br>3. Permitir que os outros ajam;
<br>4. Apontar o caminho;
<br>5. Encorajar o cora��o.
<br>Raciocine comigo: ser� que esses procedimentos, descobertos
<br>n�o por religiosos, mas por pesquisadores empresariais,
<br>n�o t�m rela��o direta com o estilo de lideran�a
<br>do nosso Mestre Jesus?
<br>
<br>Vejamos a correla��o que h� entre cada um dos procedimentos
<br>acima e a vis�o de lideran�a do nosso Mestre:
<br>
<br>DESAFIAR O ESTABELECIDO
<br>
<br>Se h� um ser que tenha, de forma plena e concreta,
<br>desafiado o estabelecido, este ser foi Jesus.
<br>
<br>INSPIRAR UMA VIS�O COMPARTILHADA
<br>
<br>Durante toda a sua vida terrena Jesus conviveu de
<br>forma intensa com seus doze disc�pulos (sua equipe),
<br>para que todos adquirissem uma vis�o �nica do que �
<br>viver em plenitude. Jesus, em suas reuni�es, tinha sempre
<br>o objetivo de inspirar uma vis�o compartilhada. E
<br>sua sede pela vis�o compartilhada se estendia muito al�m
<br>da sua equipe (seus disc�pulos). Sua id�ia de vis�o compartilhada
<br>era universal, isto �, seu objetivo era e ainda
<br>� que toda a humanidade compartilhasse de sua vis�o
<br>de mundo.
<br>
<br>84 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO ORAR-ADMINISTRA��O EFICAZ
<br>
<br>PERMITIR QUE OS OUTROS AJAM
<br>
<br>Durante toda sua vida terrena Jesus preparou sua
<br>equipe.
<br>
<br>Jesus preparou os seus disc�pulos para qu�?
<br>
<br>Para que agissem.
<br>
<br>Jesus sabia: para que suas palavras e a��es encontrassem
<br>eco, era necess�rio - e imprescind�vel - permitir
<br>que outros agissem. O objetivo de Jesus sempre foi descentralizar
<br>o Seu trabalho, tendo cada vez mais adeptos
<br>que agissem de acordo com o esp�rito humanit�rio que
<br>pregava e exemplificava.
<br>
<br>APONTAR O CAMINHO
<br>
<br>Quando Jesus disse ser necess�rio "amar a Deus sobre
<br>todas as coisas e ao pr�ximo como a si mesmo", ele
<br>soube apontar o caminho, e de forma magistral.
<br>
<br>ENCORAJAR O CORA��O
<br>
<br>Jesus, em sua passagem terrena, amou a todos, em
<br>todos os instantes. Jesus pregou e viveu o amor em sua
<br>plenitude. Jesus soube, como ningu�m, encorajar o cora��o
<br>de quem O seguia.
<br>
<br>Bem, agora vamos nos conscientizar de uma vez
<br>por todas: se antes, dentro do Centro Esp�rita, era sinal
<br>de sensatez ter preconceito contra a utiliza��o dos procedimentos
<br>da lideran�a empresarial, hoje j� n�o � mais
<br>sinal de sensatez, mas de desconhecimento (ou de teimosia!).
<br>
<br>
<br>A diferen�a b�sica entre o l�der empresarial e o l�der
<br>esp�rita � que aquele visa ao lucro financeiro e este visa
<br>ao lucro do dever cumprido em rela��o aos objetivos do
<br>Espiritismo.
<br>
<br>Agora que voc� passou a ter uma vis�o melhor do
<br>
<br>PARTE C
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA
<br>
<br> DO S�CULO XXI
<br>
<br>assunto em quest�o, continuemos a falar sobre lideran�a
<br>empresarial para que voc� possa adaptar os procedimentos
<br>de lideran�a a seguir �s necessidades do Centro
<br>Esp�rita. Sem preconceito!
<br>
<br>C-3B
<br>
<br>
<br>trabalho rotineiro afasta o trabalho n�o
<br>rotineiro e asfixia at� � morte, todo planejamento
<br>criativo e todas as mudan�as fundamentais."
<br>
<br>Warren Bennis, professor da
<br>Universidade do Sul da Calif�rnia
<br>
<br>"Marketing e inova��o s�o as �nicas fun��es
<br>b�sicas em business. Marketing e inova��o produzem
<br>resultados, todo o resto s�o custos."
<br>
<br>Peter Drucker
<br>
<br>Desafiar o estabelecido � quebrar paradigmas. � f�cil
<br>quebrar paradigmas? N�o. Quebrar paradigmas �
<br>tarefa somente para o l�der eficaz. Mas o qu�, ou como
<br>�, o l�der eficaz?
<br>
<br>O l�der eficaz � ousado.
<br>O l�der eficaz estabelce a cont�nua aprendizagem como
<br>meta priorit�ria em sua vida.
<br>
<br>86 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO O R A R - ADMINISTRA��O EFICAZ
<br>
<br>
<br>O l�der eficaz, como disseram Kouzes e Posner, "s�o
<br>pessoas que almejam penetrar no desconhecido".
<br>Enfim, o l�der eficaz, por quebrar paradigmas, desafia
<br>o estabelecido.
<br>
<br>APRENDER COM OS ERROS
<br>
<br>'Acredito que a qualidade geral do trabalho melhora
<br>quando damos �s pessoas a oportunidade de errar."
<br>Mike Markkula, presidente do Conselho da Apple
<br>Computer.
<br>
<br>"Somos extremamente tolerantes com os erros. O
<br>nosso lema � o seguinte: o maior pecado � n�o tomarmos
<br>decis�o. Tome a decis�o; se estiver errada, corrigimos
<br>depois. Mas tome! N�o pergunte para ningu�m."
<br>
<br>Salles, presidente da Xerox do Brasil.
<br>
<br>M. Maidique em seu artigo "The new product
<br>learning cycle" ( "O ciclo de aprendizado do novo produto")
<br>escreveu a memor�vel afirma��o:
<br>"O sucesso n�o produz o sucesso, mas o fracasso.
<br>O que produz o sucesso � o erro".
<br>
<br>Do livro Desafio da lideran�a vem o seguinte texto
<br>em coment�rio � frase de M. Maidique: "Se este conselho
<br>-ode M. Maidique - lhe parece completamente absurdo,
<br>pense na carreira de muitos vencedores famosos:
<br>
<br>P Martina Navratilova perdeu 21 de suas primeiras
<br>24 partidas contra sua arqui-rival Chris Evert. Ela ent�o
<br>resolveu bater de modo mais livre sobre os pon tos cr�ticos e a
<br>partir da� derrotou Evert em 35 dos 57jogos seguintes;
<br>
<br>P R.H. Macy fracassou no com�rcio varejista sete vezes
<br>
<br>PARTE C
<br>
<br> 87
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>antes que sua loja de Nova York se tornasse um sucesso;
<br>
<br>P Abraham Lincoln fracassou duas vezes nos neg�cios e
<br>foi derrotado em seis elei��es antes de se eleger presidente
<br>dos Estados Unidos;
<br>
<br>P O primeiro livro infantil de TheodorS. Geisel, mais
<br>conhecido como dr. Seuss, foi rejeitado por 23 editoras. O
<br>vig�simo quarto vendeu seis milh�es de exemplares."
<br>
<br>SETE INFORMA��ES B�SICAS
<br>SOBRE PARADIGMAS
<br>
<br>Primeira:
<br>
<br>� algo comum.
<br>
<br>Obedecemos a um paradigma em tudo o que fazemos,
<br>e isso constitui um conjunto de regras que estabelecem
<br>um modelo ou padr�o.
<br>
<br>Segunda:
<br>
<br>� algo �til.
<br>Estabelecer regras facilita o caminho rumo a determinado
<br>objetivo.
<br>
<br>Terceira:
<br>
<br>� algo in�til.
<br>
<br>Torna-se in�til quando transformamos o paradigma
<br>em "o" paradigma. Em outras palavras, isso ocorre
<br>quando valorizamos demasiadamente o antigo
<br>paradigma sem atentarmos que um pr�ximo - e �til paradigma
<br>possa estar a caminho.
<br>
<br>Quarta:
<br>
<br>Criar novos paradigmas � recome�ar do "zero".
<br>
<br>8 8 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO ORAR -ADMINISTMC�O EFICAZ
<br>
<br>Um novo paradigma, para quem o abra�a com entusiasmo,
<br>� uma nova porta que se escancara � frente. �
<br>um novo desafio apaixonante.
<br>
<br>Quinta:
<br>
<br>Quem cria novos paradigmas geralmente � o pessoal
<br>de fora.
<br>
<br>O fato de a pessoa conviver com o paradigma atual
<br>muitas vezes a torna cega sobre as possibilidades de novos
<br>procedimentos.
<br>
<br>Sexta:
<br>
<br>Os pioneiros dos novos paradigmas t�m de ser corajosos.
<br>
<br>
<br>Os novos paradigmas sempre estimulam resist�ncia
<br>� sua aplica��o. Os pioneiros dos novos paradigmas
<br>devem ser persistentes.
<br>
<br>S�tima:
<br>
<br>A maneira menos dif�cil de visualizar um novo
<br>paradigma � enxergar os limites do atual paradigma.
<br>
<br>E para enxergar os limites do atual paradigma h�
<br>uma pergunta-chave que voc� deve fazer a si mesmo:
<br>"O que hoje � imposs�vel fazer na empresa, mas se fosse
<br>poss�vel significaria um grande salto?"
<br>
<br>Lembre-se:
<br>
<br>Muita coisa que era imposs�vel no passado hoje �
<br>algo totalmente poss�vel e trivial. Isso nos leva a concluir
<br>que o imposs�vel hoje poder� tornar-se o padr�o
<br>do futuro. A natureza nos ensina que o imposs�vel
<br>muitas vezes est� apenas na nossa mente. Um exemplo:
<br>como podem dois gases mais leves que o ar e amigos
<br>do fogo tornarem-se - como num passe de m�gica
<br>
<br>PARTE C 89
<br>
<br>
<br>O ESPIRITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>- em algo mais pesado que o ar e inimigos do fogo?
<br>A resposta? Junte duas por��es de hidrog�nio com
<br>uma por��o de oxig�nio para ver o que acontece:
<br>
<br>�gua = H20
<br>
<br>DESAFIAR O ESTABELECIDO
<br>ALGUNS CASOS
<br>
<br>a) No in�cio do s�culo XX a esposa do sr. Hugo Bentz,
<br>irritada com o p� de caf� assentado no fundo da x�cara,
<br>recortou um papel e criou o primeiro filtro de papel. A
<br>sra. Melitta Bentz, por desafiar o estabelecido, iniciava
<br>ent�o um imp�rio hoje conhecido como Melitta Filtros
<br>de Papel, que fatura em todo o mundo mais de 1,5 bilh�o
<br>de d�lares ao ano.
<br>
<br>b) Certa vez, ao ministrar um curso de comunica��o
<br>verbal a um grupo de propagandistas de uma ind�stria
<br>farmac�utica, conheci o jovem Marco "Bala".
<br>Esse seu apelido deve-se ao fato de que, em todas as
<br>visitas que faz aos seus m�dicos, presenteia-os com uma
<br>singela bala ou um pequeno tablete de chocolate. Uma
<br>atitude simples e simp�tica que certamente o destaca
<br>entre os demais propagandistas.
<br>
<br>c) A finlandesa,.Nokia pulou de um faturamento de
<br>2,1 bilh�es de d�lares em 1993 para 8,7 bilh�es em 1997.
<br>Esse crescimento de 300 por cento deve-se a v�rios fatores,
<br>dentre eles destaca-se a implanta��o de fun��es
<br>
<br>90
<br>
<br>c
<br>
<br>PROJETO ORAR -ADMINISTRA��O EFICAZ
<br>
<br>rod�zio entre seus executivos. Isso significa que um executivo
<br>n�o permanece muito tempo na mesma fun��o,
<br>pois como disse Jorma Ollila, presidente da Nokia:
<br>
<br>"Quando um executivo est� h� muito tempo fazendo
<br>a mesma coisa, fica cego para as mudan�as que
<br>ocorrem no mundo exterior."
<br>
<br>d) No Banco Bozano, Simonsen qualquer funcion�rio
<br>pode conversar com o presidente. Basta marcar
<br>hor�rio com a secret�ria.
<br>
<br>e) O Lloyds Bank, segundo a revista The Economist,
<br>� um dos bancos mais valorizados do mundo. Sua estrat�gia:
<br>enquanto a maioria dos grandes bancos ampliava
<br>as opera��es internacionais, o Lloyds, desafiando
<br>
<br>o estabelecido, reduziu as opera��es internacionais e concentrou
<br>sua atua��o no Reino Unido. Esse procedimento
<br>propiciou-lhe ganho de foco, posicionou-o como l�der
<br>em n�mero de ag�ncias e gerou em 1997 o extraordin�rio
<br>lucro de 5,2 bilh�es de d�lares.
<br>f) Mudar o estabelecido � quebrar paradigmas. Do
<br>livro Por que as equipes n�o funcionam, de Robbins e Finley,
<br>Editora Campus:
<br>
<br>"�s vezes uma fogueira vem a calhar. Isto � essencialmente
<br>o que aconteceu nas duas grandes hist�rias
<br>de sucesso automobil�stico da �ltima d�cada, a do
<br>Taurus, da Ford, e a do Saturn, da GM. A Ford e a GM
<br>voltaram-se para suas respectivas bases e decidiram que
<br>estas estavam confusas e atrapalhadas demais para que
<br>algo pudesse ser constru�do sobre elas, e assim criaram
<br>divis�es inteiramente novas, deram uma nova e honesta
<br>partida na �rea pol�tica e de procedimentos. Essa nova
<br>
<br>PARTE C 91
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>partida concedeu a ambos esses projetos de equipes de
<br>ponta uma vitalidade fant�stica e uma vantagem inicial
<br>em dire��o ao sucesso".
<br>
<br>g) Do livro Intelig�ncia Emocional na Empresa, de
<br>Cooper e Sawaf, Editora Campus: "A rede de hot�is Ritz-
<br>Carlton, uma das poucas detentoras do pr�mio da Qualidade
<br>Malcolm Baldrige no setor de presta��o de servi�os,
<br>promove intensamente a confian�a como o n�cleo de sua
<br>cultura organizacional. Cada funcion�rio do Ritz-Carlton,
<br>inclusive os mensageiros juniores, pode gastar at� 2.000
<br>d�lares de uma vez para resolver o problema de um h�spede.
<br>Sem perguntas".
<br>
<br>h) "No Southwest Airlines, a oitava entre as maiores
<br>companhias a�reas dos Estados Unidos, a conf�an�a desempenha
<br>um papel-chave para torn�-la a mais solidamente
<br>lucrativa empresa de transportes que repetidamente vem obtendo
<br>as melhores classif�ca��es do Departamento de Transportes
<br>dos Estados Unidos no que se refere � pontualidade
<br>dos v�os, melhor manuseio da bagagem e menor n�mero de
<br>reclama��es. Na Southivest, os clientes v�m em segundo lugar
<br>(os funcion�rios est�o em primeiro); o diretor-executivo
<br>Herb Kelleher enfatiza continuamente a conf�an�a como uma
<br>for�a impulsionadora - estendendo-a para todo o pessoal
<br>da companhia".
<br>
<br>i) "Crise obriga Xerox a contratar funcion�rios "
<br>
<br>A manchete acima de um artigo do jornal O Estado
<br>de S.Paulo relata que � pol�tica da subsidi�ria brasileira
<br>da Xerox investir nos per�odos de crise.
<br>
<br>Por qu�?
<br>As palavras do diretor-geral da Xerox, sr. Sales, esclarece:
<br>
<br>
<br>92 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO ORAR -ADMINISTRA��O EFICAZ
<br>
<br>"Sempre que h� uma crise aumentamos nossa for�a
<br>de vendas, porque s�o nesses momentos que elevamos
<br>nossa participa��o no mercado. N�s crescemos em
<br>todas as crises".
<br>
<br>Caro leitor, voc� viu at� agora o primeiro dos
<br>5 PROCEDIMENTOS DO L�DER EFICAZ:
<br>� DESAFIAR O ESTABELECIDO.
<br>
<br>
<br>Atente agora ao segundo procedimento do l�der
<br>eficaz.
<br>
<br>C-3 c
<br>
<br>LNSPIRAR UMA VIS�O COMPARTILHADA
<br>
<br>ivemos uma �poca em que assumir riscos � a
<br>
<br>V
<br>
<br>t�nica. E para assumir riscos os l�deres precisam do apoio
<br>dos liderados. Estes, em �ltima an�lise, por fazerem parte
<br>da estrutura empresarial, tamb�m precisam abra�ar os
<br>riscos.
<br>
<br>Os liderados s� assumem riscos se compartilharem
<br>da vis�o da empresa e, ao mesmo tempo, ter l�deres que
<br>inspiram credibilidade e confian�a. Como as empresas
<br>tendem a perecer se n�o gerarem ou adaptarem-se �s
<br>mudan�as e como todo processo de mudan�a envolve
<br>riscos e as pessoas s� se arriscam nas condi��es citadas,
<br>� imperativo que os fatores credibilidade, confian�a e vis�o
<br>compartilhada fa�am parte dos prop�sitos do l�der eficaz.
<br>
<br>
<br>93
<br>
<br>
<br>O ESPIRITA DO S�CULO XX I
<br>
<br>Para que, uma vez conquistada, a vis�o compartilhada
<br>n�o morra, � necess�rio que todo o pessoal seja
<br>suprido de informa��es, pois, como bem disse Jach
<br>Welch, "as empresas n�o s�o complicadas. As complica��es
<br>surgem quando as pessoas n�o t�m acesso �s
<br>informa��es de que necessitam".
<br>
<br>O mesmo Jack Welch, visando a desenvolver a vis�o
<br>compartilhada em todo o seu pessoal, estabeleceu o programa
<br>Work-Out. Para melhor compreend�-lo, leiamos o
<br>coment�rio de Welch sobre sua din�mica e meta b�sica:
<br>
<br>"O Work-Out tem uma meta pr�tica e uma meta
<br>intelectual. O objetivo pr�tico � livrar-se de milhares de
<br>maus h�bitos acumulados desde a funda��o da General
<br>Electric. Como voc� iria querer mudar de uma casa depois
<br>de 112 anos? Pense no que haveria nos arm�rios e
<br>no s�t�o - aqueles sapatos que voc� usaria para pintar
<br>a casa na pr�xima primavera, embora saiba que nunca
<br>voltar� a pint�-la. Temos 112 anos de arm�rios e s�t�os
<br>nessa empresa. Queremos esvazi�-los, come�ar com uma
<br>casa totalmente nova, iniciar tudo de novo.
<br>
<br>A segunda coisa que queremos fazer, a parte intelectual,
<br>tem in�cio ao colocarmos os l�deres de cada empresa
<br>da organiza��o diante de cerca de cem de seus
<br>funcion�rios, de oito a dez vezes por ano, para que eles
<br>ou�am o que seu pessoal pensa a respeito da empresa, o
<br>que eles apreciam e n�o apreciam em rela��o ao seu trabalho,
<br>sobre a maneira como s�o avaliados em rela��o �
<br>maneira como empregam seu tempo. O Work-Out expor�
<br>os l�deres �s vibra��es de suas empresas - opini�es,
<br>sentimentos, emo��es, ressentimentos; n�o teorias abstratas
<br>de organiza��o e gerenciamento.
<br>
<br>Enfim, estamos falando em redefinir o relacionamento
<br>entre chefe e subordinado. Queremos chegar a
<br>
<br>94 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO. O RA R -ADMINISTRA��O EFICAZ
<br>
<br>um ponto em que as pessoas desafiem seus chefes a
<br>cada dia: "Por que o senhor exige que eu fa�a coisas
<br>in�teis? Por que o senhor n�o permite que fa�a aquilo
<br>que o senhor n�o deveria estar fazendo, o que o deixaria
<br>livre para cuidar de outros afazeres e criar? Essa � a fun��o
<br>de um l�der - criar, n�o controlar. Confie que eu
<br>cumpra a minha fun��o e n�o me fa�a perder todo o
<br>meu tempo tentando chegar a um acordo com voc� em
<br>rela��o � quest�o do controle."
<br>
<br>Mas como conseguir que as pessoas se comuniquem
<br>com tanta sinceridade? Re�na-as em uma sala e fa�a
<br>com que elas debatam o assunto.
<br>
<br>Essas sess�es do Work-Out, e eu j� participei de v�rias,
<br>criam todo tipo de din�mica pessoal. H� pessoas
<br>que comparecem e se escondem. Outras n�o gostam do
<br>jantar organizado por n�o conseguirem se relacionar
<br>com os demais participantes. Existem aquelas que aparecem
<br>por se sentirem na obriga��o de prestigiar. Com a
<br>continua��o das reuni�es, no entanto, aumenta o n�mero
<br>de pessoas que criam coragem para se manifestar.
<br>A norma passar� a ser aquele que diz: "Droga, n�o
<br>estamos conseguindo. Vamos nos engajar nisso". Hoje,
<br>a norma na maioria das empresas, n�o apenas na G.E.,
<br>� n�o levantar quest�es fundamentais com um chefe nem
<br>em p�blico nem em ambiente em que n�o haja
<br>autoconfian�a. Esse processo vai gerar fun��es mais realizadoras
<br>e recompensadoras. A qualidade da vida profissional
<br>apresentar� uma melhoria radical."
<br>
<br>O publicit�rio Marcelo Ponzoni, diretor da Rae,
<br>MP Comunica��o, visando a elaborar um plano de
<br>metas para o ano de 1999, distribuiu a seu pessoal
<br>um memorando com as seguintes informa��es e perguntas
<br>(que certamente � um procedimento criativo
<br>
<br>PARTE C
<br>
<br> 95
<br>
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>para inspirar vis�o compartilhada):
<br>Nome do funcion�rio;
<br>�rea de atua��o;
<br>Retrospectiva do ano no seu ponto de vista;
<br>Como voc� entende os objetivos da empresa?
<br>Quais seus objetivos pessoais e profissionais?
<br>Se ocupasse um cargo acima o que faria?
<br>Cite alguns problemas da empresa e apresente suas
<br>
<br>solu��es.
<br>Cite algumas id�ias que trariam benef�cios para voc�
<br>e, conseq�entemente, para a empresa.
<br>
<br>Se voc� fosse respons�vel pelos recursos financeiros
<br>para investimentos da empresa, em qual �rea e onde o
<br>faria?
<br>
<br>Quais cursos gostaria de fazer e quanto custam?
<br>Quais itens gostaria que fossem mais esclarecidos
<br>dentro da empresa?
<br>O que voc� faria para mudar o aspecto visual da
<br>
<br>empresa?
<br>D� sugest�o de um tipo de evento social por m�s.
<br>Observa��o: na aplica��o desse question�rio � fun
<br>
<br>
<br>damental que as respostas sejam baseadas na sinceridade.
<br>E a sinceridade nas respostas do pessoal s� estar�
<br>presente se o l�der inspirar confian�a e credibilidade, que
<br>� o caso do diretor Marcelo Ponzoni.
<br>
<br>Caro leitor, voc� viu at� agora dois dos
<br>5 PROCEDIMENTOS DO L�DER EFICAZ:
<br>
<br>
<br>� DESAFIAR O ESTABELECIDO
<br>� INSPIRAR UMA VIS�O COMPARTILHADA.
<br>Agora vem o terceiro procedimento do l�der eficaz.
<br>
<br>96 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO ORAR - ADMINISTRA��O EFICAZ
<br>
<br>C-3D
<br>
<br>ERMITIR QUE OS OUTROS AJAM
<br>
<br>
<br>homem a quem � negada a oportunidade
<br>
<br>de tomar decis�es de import�ncia come�a a consi
<br>
<br>
<br>derar importantes as decis�es que ele pode tomar.
<br>
<br>Torna-se exigente com os arquivos, preocupa-se
<br>
<br>se os l�pis est�o bem apontados, fica ansioso em ve
<br>
<br>
<br>rificar se as janelas est�o abertas ou fechadas, incli
<br>
<br>
<br>na-se a usar l�pis de duas ou tr�s cores diferentes."
<br>
<br>Parkinson
<br>
<br>"Os l�deres permitem que as pessoas ajam n�o pela
<br>concentra��o de poderes, mas por sua dispers�o. Quando
<br>as pessoas t�m maior poder de decis�o, mais autoridade
<br>e mais informa��o, elas tendem mais a utilizar suas
<br>energias para produzir resultados extraordin�rios."
<br>
<br>Essa afirma��o de Kouzes e Posner p�e em evid�ncia
<br>a necessidade de delegar poderes e responsabilidades.
<br>A pessoa com poder � mais ousada, � mais din�mica. E
<br>isso � cient�fico: o exerc�cio do poder altera a bioqu�mica
<br>do c�rebro, estimulando a produ��o do neurotransmissor
<br>serotonina, o horm�nio que regula o humor, a impetuosidade,
<br>a auto-estima, a mem�ria e a agressividade
<br>do indiv�duo.
<br>
<br>Para permitir que os outros ajam, o l�der precisa
<br>conhecer os princ�pios da lideran�a situacional. Do livro
<br>Al�m da intelig�ncia emocional de Roberto Lira Miranda,
<br>Editora Campus, transcrevo:
<br>
<br>"Uma das mais importantes contribui��es da Teo-
<br>
<br>PARTE C
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XX I
<br>
<br>ria da Lideran�a Situacional, desenvolvida por Paul
<br>Hersey e Kenneth Blanchard, foi chamar a aten��o para
<br>
<br>o fato de que n�o existe e n�o pode existir ura �nico
<br>estilo ideal de lideran�a ou, conseq�entemente, um padr�o
<br>de comportamento r�gido para o l�der ideal.
<br>Alguns l�deres acreditam mais em um padr�o autorit�rio
<br>e diretivo, outros defendem uma gest�o francamente
<br>democr�tica e participativa. A maior parte fica
<br>no meio-termo.
<br>
<br>A Lideran�a Situacional prop�s -e com isso tornou-
<br>se o modelo de maior sucesso em todo o mundo que
<br>o comportamento ideal do l�der n�o pode depender
<br>de suas convic��es ou personalidade, mas sim da situa��o
<br>espec�fica atravessada pelo grupo liderado e no n�vel
<br>de maturidade ou prontid�o (compet�ncia e motiva��o
<br>= saber e querer) de cada subordinado para o manejo
<br>dessa situa��o.
<br>
<br>Planejador, controlador, fazedor, condutor,
<br>inspirador ou idealizador. N�o importa qual seja seu
<br>perfil dominante, seu sucesso como l�der ser� determinado
<br>pela sua capacidade de ajustar seu comportamento
<br>�s necessidades situacionais espec�ficas de cada um
<br>de seus subordinados".
<br>
<br>Permita que os outros ajam e multiplicar� a qualidade
<br>e o desempenho do seu pessoal.
<br>
<br>Caro leitor, voc� viu at� agora tr�s dos
<br>
<br>5 PROCEDIMENTOS DO L�DER EFICAZ
<br>
<br>� DESAFIAR O ESTABELECIDO;
<br>INSPIRAR UMA VIS�O COMPARTILHADA;
<br>� PERMITIR QUE OS OUTROS AJAM.
<br>Agora vem o quarto procedimento do l�der eficaz.
<br>
<br>98 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO O R A R. - .ADMINISTRA��O EFICAZ ...
<br>
<br>C-3E
<br>
<br>APONTAR O CAMINHO
<br>
<br>Na primeira reuni�o de um rec�m-empossado
<br>presidente de grande empresa multinacional com seus
<br>diretores, estes ouviram do seu novo l�der: "Nossa empresa
<br>est� precisando de disciplina e criatividade. Da disciplina
<br>eu cuido". Quer forma mais clara do que essa
<br>para apontar o caminho?
<br>
<br>Mas aten��o: apontar o caminho n�o � simplesmente
<br>dizer o que deve ser feito. Apontar o caminho exige do
<br>l�der atitudes di�rias que reforcem seu ponto de vista.
<br>
<br>Elaborar - pela intensa participa��o do pessoal -a
<br>declara��o de miss�o da empresa � uma maneira de apontar
<br>o caminho. Explica Stephen R. Covey em seu livro
<br>Lideran�a baseada em princ�pios, Editora Campus:
<br>
<br>"A sua declara��o de miss�o deve lidar com as quatro
<br>necessidades b�sicas humanas:
<br>
<br>1- Necessidade econ�mica ou financeira;
<br>
<br>2- Necessidade social ou de relacionamento;
<br>
<br>3- Necessidade psicol�gica ou de crescimento e
<br>
<br>4- Necessidade espiritual ou de contribui��o.
<br>
<br>A maioria das declara��es de miss�o n�o lida com
<br>as quatro necessidades. Muitas omitem o aspecto psicol�gico
<br>ou a necessidade de crescimento e desenvolvimento
<br>humano. Algumas se omitem quanto �s rela��es
<br>em que todos lucram, n�o mencionam a eq�idade nas
<br>compensa��es econ�micas e o compromisso para com
<br>um conjunto de princ�pios ou valores e para com o
<br>
<br>PARTE C
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>
<br>servi�o e a contribui��o � comunidade, aos fornecedores
<br>e aos clientes, propriet�rios e empregados.
<br>
<br>Esse problema cr�nico assemelha-se a um iceberg
<br>submerso. Se a empresa tem uma 'miss�o' de qualquer
<br>esp�cie, o problema n�o est� claramente evidenciado os
<br>executivos podem n�o ver que a miss�o n�o est� sendo
<br>profundamente compartilhada. Mas a falta de vis�o
<br>de valores compartilhados � um 'prato cheio' para quase
<br>todos os outros problemas".
<br>
<br>APONTAR O CAMINHO
<br>ALGUNS CASOS
<br>
<br>a) Um dos bancos mais valorizados do mundo, o
<br>Lloyds Bank, tem em seu presidente, Sir Brian Pitman,
<br>uma marca hist�rica: Sir Pitman � considerado por analistas
<br>internacionais o melhor banqueiro ingl�s do p�s-
<br>guerra. Quando empossado como presidente, em 1983
<br>(e no cargo at� hoje), soube apontar o caminho de forma
<br>clara e num�rica; seu objetivo tem sido dobrar o valor
<br>das a��es a cada tr�s anos e, desde que assumiu o cargo,
<br>alcan�ou-o consistentemente (Fonte: revista Exame).
<br>
<br>b) Sanford Weill, presidente da megafus�o Tavellers
<br>Bank e Citicorp, que gerou o Citigroup, tem em sua sala
<br>um quadro facilmente vis�vel no qual seus diretores, em
<br>todas as reuni�es, podem ler O presidente n�o est� contente.
<br>
<br>c) Jack Welch, presidente da G.E. e um dos l�deres
<br>mais respeitados do mundo, t�o logo assumiu sua fun��o
<br>na empresa, divulgou ao seu corpo de trabalho dos
<br>
<br>100 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO O RA R - .ADMINISTRA��O EFICAZ
<br>
<br>quatro cantos do mundo: "A.G.E. em tudo que faz deve ser
<br>a primeira ou a segunda em termos globais".
<br>
<br>d) "Vamos colocar um honrem na lua."
<br>Essa frase dita por John Kennedy � um dos exemplos
<br>mais concretos de como apontar o caminho.
<br>
<br>Kennedy poderia ter dito: 'Acho que vamos colocar
<br>um homem na Lua", mas preferiu falar com convic��o e
<br>vis�o a cl�ssica e afirmativa frase: "Vamos colocar um
<br>homem na Lua".
<br>
<br>A MELHOR OP��O!
<br>
<br>APONTAR O CAMINHO POR MEIO
<br>DE UMA MEXA AUDACIOSA
<br>
<br>O l�der precisa apontar caminho procurando estabelecer
<br>uma meta audaciosa, pois como bem disse Collins
<br>e Jerry Fbrras, em seu livro Feitas para durar, Editora Rocco:
<br>
<br>"Uma META AUDACIOSA envolve as pessoas pega-
<br>as de jeito. � algo concreto, excitante, voltado para
<br>algo altamente espec�fico. As pessoas a 'pegam no ar';
<br>s�o necess�rias poucas ou nenhuma explica��o".
<br>
<br>No citado livro os autores definem alguns pontos
<br>que devem estar presentes ao definir uma META AUDACIOSA
<br>para a sua empresa:
<br>
<br>a) Uma META AUDACIOSA deve ser t�o clara e estimulante
<br>de modo que precise de pouca ou nenhuma
<br>explica��o. Lembre: uma META AUDACIOSA � uma meta
<br>
<br>- como escalar uma montanha ou ir � Lua -, n�o uma
<br>'declara��o'. Se as pessoas n�o se sentirem motivadas
<br>com ela, ent�o n�o � uma META AUDACIOSA.
<br>PARTE C 101
<br>
<br>
<br>O ESPIRITA DO S�CULO XX I
<br>
<br>Uma META AUDACIOSA deve estar muito longe da
<br>zona de conforto. As pessoas da organiza��o t�m que
<br>ter motivos para acreditar que podem atingir a meta,
<br>no entanto esta deve exigir esfor�os her�icos e talvez
<br>at� um pouco de sorte - como no caso da IBM 360 e do
<br>Boeing 707.
<br>
<br>Uma META AUDACIOSA deve ser t�o ousada e estimulante
<br>por si s� de modo a continuar estimulando o
<br>progresso mesmo que os l�deres da organiza��o desapare�am
<br>antes da sua conclus�o - como ocorreu com o
<br>Citibank e a Wal-Mart.
<br>
<br>Uma META AUDACIOSA corre o risco inerente de,
<br>uma vez atingida, fazer com que a organiza��o empaque
<br>e fique vivendo a s�ndrome do 'chegamos l�', como aconteceu
<br>com a Ford nos anos 20. Uma empresa tem que
<br>estar preparada para evitar isso com METAS AUDACIOSAS
<br>cont�nuas. Ela tamb�m deve complement�-las com
<br>outros m�todos para estimular o progresso.
<br>
<br>Por fim, e o mais importante, uma META AUDACIOSA
<br>deve ser coerente com a ideologia central da empresa."
<br>Concluindo, para motivar o pessoal:
<br>
<br>Apontar o caminho � �timo - e necess�rio;
<br>Apontar o caminho com uma
<br>META AUDACIOSA � melhor ainda.
<br>
<br>
<br>FA�A UMA NOVA POLENTA
<br>
<br>Quando uma empresa implanta, por exemplo, o ISO
<br>9000, ela passa - durante o processo de implanta��o
<br>
<br>
<br>
<br>
<br>PROJETO ORA R - ADMINISTRA��O EFICAZ
<br>
<br>por uma saud�vel efervesc�ncia. Uma boa lideran�a sabe
<br>aproveitar o objetivo comum a ser alcan�ado e energizar
<br>todo o seu pessoal. Nessa fase, a motiva��o costuma
<br>estar presente. � um momento de saud�veis, e �s vezes
<br>�speras, discuss�es, � o momento da vis�o compartilhada,
<br>� o momento de desafiar o estabelecido, � o momento
<br>em que todos sabem qual foi o caminho
<br>apontado, � o momento da motiva��o cont�nua. At� que,
<br>num dado instante, o processo se completa, o objetivo �
<br>atingido, e a empresa recebe o certificado ISO 9000.
<br>
<br>A partir da� haver� um certo esmorecimento por
<br>parte do pessoal. A motiva��o desaparece, pois n�o h�
<br>mais caminho sendo apontado. O objetivo j� foi atingido.
<br>
<br>Se a lideran�a n�o se ativer a essa quest�o, a tend�ncia
<br>� a empresa come�ar a descer os degraus da compet�ncia,
<br>da criatividade e da produtividade.
<br>
<br>O processo citado � semelhante ao ato de fazer polenta.
<br>
<br>� preciso colocar os ingredientes na panela e ent�o
<br>come�ar a mexer, mexer e mexer sem parar. Mexer a
<br>polenta �, de forma an�loga, aquele momento em que a
<br>empresa tem todo o seu pessoal energizado pelo fato de
<br>estarem unidos para atingir um objetivo comum.
<br>
<br>Ent�o a polenta fica pronta.
<br>
<br>O cozinheiro n�o tem mais o que mexer.
<br>
<br>E o momento de aproveitar o que foi feito. � o momento
<br>de comer a polenta. Esque�a o que foi feito e
<br>coma a polenta. Se n�o a comer, seis horas depois ela j�
<br>n�o estar� mais t�o saborosa. No dia seguinte come�ara
<br>a azedar.
<br>
<br>De forma semelhante, quando um determinado processo
<br>se conclui na empresa, coma-o, isto �, saboreie-o
<br>e esque�a-o. N�o fique cantando os louros da vit�ria. �
<br>passado.
<br>
<br>PARTE C 103
<br>
<br>
<br>O ESPIRITA DO S�CULO XX I
<br>
<br>E invente alguma outra coisa.
<br>
<br>Se n�o fizer isso, em pouco tempo sua empresa come�ar�
<br>a ficar insossa e logo, logo ir� azedar.
<br>Fa�a uma nova polenta.
<br>Sua empresa n�o pode deixar de fazer polenta. Ao
<br>
<br>acabar uma polenta, comece a fazer outra.
<br>
<br>E agora, fa�a bastante polenta. E que seja numa panela
<br>bem grande. Assim voc� passar� muito mais tempo
<br>tendo que mexer. Em outras palavras, estabele�a uma
<br>meta audaciosa para sua empresa. Assim o seu pessoal
<br>ficar� energizado durante muito mais tempo.
<br>
<br>Caro leitor, voc� viu at� agora quatro dos
<br>5 PROCEDIMENTOS DO L�DER EFICAZ:
<br>
<br>
<br>� DESAFIAR O ESTABELECIDO
<br>� INSPIRAR UMA VIS�O COMPARTILHADA;
<br>� PERMITIR OUE OS OUTROS AJAM;
<br>� APONTAR O CAMINHO
<br>Agora vem o quinto e �ltimo procedimento do l�der
<br>eficaz.
<br>
<br>C-3F
<br>
<br>ENCORAJAR O CORA��O
<br>
<br>"O verdadeiro l�der se preocupa com as pessoas.
<br>
<br>O l�der coloca o bem-estar dos seguidores no mesmo
<br>n�vel que o seu.
<br>
<br>104 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO O R AR -ADMINISTRA��O EFICAZ
<br>
<br>Assim, a lideran�a esclarecida requer um senso de
<br>inclus�o e de presta��o de servi�o, n�o de ego�smo.
<br>
<br>E por que o l�der se preocupa?
<br>
<br>Porque ele sabe do potencial que existe em cada um
<br>de n�s. Ele respeita esses poderes e sentimentos n�o-
<br>liberados... O l�der quer dar for�a a essas pessoas, libertar
<br>esse potencial oculto. As pessoas sentem isso de
<br>maneira intuitiva. Elas n�o s�o tolas nem burras. N�o
<br>podem ser enganadas por muito tempo.
<br>
<br>Elas sabem de cora��o que o verdadeiro l�der merece
<br>confian�a.
<br>Por isso se comprometem. Voluntariamente. Com
<br>toda a mente, corpo e cora��o.
<br>Grandes vit�rias s�o alcan�adas no cora��o das pessoas."
<br>
<br>
<br>Robert Vanourek:
<br>
<br>"Os verdadeiros l�deres travam contato com o cora��o
<br>e a mente das pessoas, n�o apenas com suas m�os e
<br>seus bolsos."
<br>
<br>"Por n�o empregarem o cora��o das pessoas, as empresas
<br>perdem um retorno precioso do investimento que nelas
<br>fazem."
<br>
<br>Kouzes e Posner
<br>
<br>A NATUREZA HUMANA
<br>
<br>No emaranhado de informa��es que um l�der recebe,
<br>ele fica em d�vida ao definir um foco de atua��o em
<br>rela��o � sua influ�ncia junto aos seus liderados. S�o
<br>tantas as op��es, que o l�der pensa: "Por onde come�ar?"
<br>
<br>PAKTE C 105
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>Comece respeitando a natureza humana.
<br>Como respeitar a natureza humana � o que veremos
<br>a seguir.
<br>
<br>O VERBO AMAR
<br>
<br>'Amar tanto a seus produtos, servi�os, seguidores,
<br>clientes, consumidores e seu trabalho talvez seja o mais
<br>bem guardado dos segredos da lideran�a."
<br>
<br>Quando Kouzes e Posner, ap�s exaustivas e intensas
<br>pesquisas, afirmaram a cita��o acima, deixaram claro
<br>que uma das maiores descobertas da lideran�a moderna
<br>� o fato de o amor ser a mais perfeita ferramenta de
<br>neg�cios. Esse "novo" conceito vira de pernas para o ar
<br>
<br>o que at� h� pouco se acreditava: o fato de o ramo de
<br>neg�cios ser racionalista e calculista.
<br>Hoje devemos afirmar que o ramo de neg�cios � -e
<br>deve ser - racionalista e calculista sim. Mas n�o somente.
<br>O ramo de neg�cios necessita, al�m da racionalidade
<br>e do calculismo, que s�o sua base l�gica, de uma boa
<br>dose de amor na conviv�ncia humana.
<br>
<br>Portanto, encorajar o cora��o dos seus seguidores �
<br>uma das atitudes imprescind�veis dos verdadeiros l�deres.
<br>
<br>CONFIAN�A
<br>
<br>Para encorajar o cora��o, o l�der precisa inspirar confian�a
<br>e credibilidade nos seus liderados. Stephen R.
<br>Covey diz em seu livro Lideran�a baseada em princ�pios:
<br>"A confian�a � o fundamento de todos os relacionamentos e
<br>organiza��es eficazes".
<br>
<br>106 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO O R A R -ADMINISTRA��O EFICAZ
<br>
<br>Disse ainda Covey que inspira confian�a o l�der que
<br>tem duas qualidades essenciais: car�ter e compet�ncia.
<br>
<br>Seguindo a linha de pensamento de Covey, os autores
<br>do livro Desafio da lideran�a, Kouzes e Posner questionaram,
<br>em pesquisa feita com mais de 20 mil pessoas
<br>em quatro continentes, quais seriam as caracter�sticas
<br>b�sicas de um l�der admirado. Em outras palavras, quais
<br>as principais caracter�sticas de um l�der que inspira confian�a.
<br>A seguir, o resultado da pesquisa.
<br>
<br>CARACTER�STICAS DO L�DER ADMIRADO
<br>OU DO L�DER QUE INSPIRA CONFIAN�A
<br>(em seq��ncia de import�ncia):
<br>
<br>� HONESTO;
<br>
<br>ANTECIPA OS ACONTECIMENTOS;
<br>
<br>� INSPIRADOR;
<br>
<br>� COMPETENTE.
<br>
<br>ENCORAJAR O CORA��O
<br>ALGUNS CASOS
<br>
<br>a) TERAPIA DA SOLIDARIEDADE
<br>
<br>Peter Drucker sempre defendeu a tese de que as pessoas
<br>que executam trabalhos solid�rios na comunidade
<br>(visita a orfanatos, asilos etc.) s�o mais produtivas nas
<br>empresas. Essa realidade constatada em v�rias empresas
<br>deve-se ao fato de que os indiv�duos que convivem
<br>com o sofrimento alheio (e procuram reduzir esse sofrimento)
<br>desenvolvem em si qualidades pr�prias dos gran-
<br>
<br>PARTE C
<br>
<br>107
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>des homens: solidariedade, fraternidade, amor e respeito
<br>ao pr�ximo. Tais qualidades, postas em pr�tica na
<br>empresa, certamente evitar�o melindres no contato
<br>interpessoal, al�m do que torna as pessoas que executam
<br>trabalhos solid�rios mais respons�veis e, como conseq��ncia
<br>de tudo isso, passam a ser mais produtivas.
<br>
<br>b) ESPIRITUALIDADE NAS EMPRESAS
<br>
<br>O Los Angeles Times relata que num encontro de l�deres
<br>empresarias de alto n�vel com Dalai-Lama a pergunta
<br>base dos empres�rios foi: ''Como podemos introduzir
<br>mais �tica e espiritualidade em nossos neg�cios e em nossa
<br>vida cotidiana?"
<br>
<br>Numa pesquisa feita pela Fortune, americanos com
<br>rendimentos acima de 100 mil d�lares foram instados a
<br>citar seus her�is. Madre Teresa foi uma das pessoas mencionadas
<br>com maior freq��ncia.
<br>
<br>O assunto espiritualidade nas empresas j� tomou
<br>corpo, j� se cristaliza. A dimens�o espiritual do ser humano
<br>� o item que j� faz parte dos rotineiros treinamentos
<br>empresariais. J� n�o se discute a validade do
<br>tema, mas como o implantar.
<br>
<br>O homem espiritual � o homem reto, digno,
<br>respeitador dos direitos alheios. O homem espiritual trabalha
<br>em equipe. O homem espiritual valoriza e usa a intui��o.
<br>Por tudo isso, o homem espiritual � mais produtivo.
<br>
<br>No livro O redespertar espiritual no trabalho, Editora
<br>Nova Era, seu autor, Jack Hawley, evidencia a diferen�a
<br>entre religi�o e espiritualide:
<br>
<br>"RELIGI�O:
<br>
<br>Produto de um determinado tempo e local;
<br>
<br>Destinado a um grupo;
<br>
<br>108 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO ORAR -ADMINISTRA��O EFICAZ
<br>
<br>Concentra-se mais no caminho para o objetivo; c�
<br>
<br>
<br>digos de conduta;
<br>Um sistema de pensamento;
<br>Um conjunto de cren�as, rituais e cerim�nias desti
<br>
<br>
<br>nado a ajudar no progresso ao longo do caminho;
<br>Institui��es e organiza��es;
<br>Uma comunidade para compartilhar os fardos e as
<br>
<br>alegrias da vida;
<br>Um modo de vida."
<br>
<br>"ESPIRITUALIDADE:
<br>O objetivo, mais do que o caminho;
<br>Destinada ao indiv�duo; uma jornada pessoal, par
<br>
<br>
<br>ticular;
<br>Cont�m elementos comuns a todas as religi�es
<br>
<br>(amor, cren�a, regras b�sicas e assim por diante);
<br>Uma aventura em dire��o � nossa origem individual;
<br>Um estado al�m dos sentidos (al�m at� mesmo do
<br>
<br>pensamento);
<br>Investiga��o em dire��o ao Eu verdadeiro;
<br>A transi��o da incerteza para a clareza."
<br>
<br>c) A REGRA DE OURO
<br>
<br>Do livro Viver bem � simples, n�s � que complicamos,
<br>Alk�ndar de Oliveira, Editora Didier:
<br>
<br>"Imagine um grande empres�rio que al�m de ser
<br>um homem de sucesso tamb�m fosse um vision�rio.
<br>Imagine que esse homem, mundialmente conhecido, resolvesse
<br>pesquisar o porqu� do sucesso, isto �, resolvesse
<br>pesquisar qual seria a raz�o de determinadas pessoas
<br>destacaram-se pessoal e profissionalmente enquanto
<br>outras ficam � margem da sociedade.
<br>
<br>Imagine ainda que, para conseguir tal intento, esse
<br>
<br>PARTE C 109
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>empres�rio financiasse todas as despesas dessa pesquisa
<br>durante 25 anos. Durante 25 anos (um quarto
<br>de s�culo!) seriam entrevistadas pessoas de sucesso.
<br>Durante 25 anos seriam catalogadas e pesquisadas as
<br>respostas dessas pessoas para se chegar a um denominador
<br>comum.
<br>
<br>Se tal ocorresse, seria uma pesquisa ser�ssima. E o
<br>resultado dessa pesquisa deveria ser leitura e estudo obrigat�rio
<br>de todas as pessoas e de todas as escolas.
<br>
<br>Mas ser� que existiu um empres�rio com tal disposi��o
<br>e vis�o de futuro?
<br>
<br>Existiu. Seu nome: Andrew Carnegie. Um dos propulsores
<br>do progresso dos Estados Unidos da Am�rica
<br>do Norte. Um legend�rio homem de neg�cios.
<br>
<br>Andrew Carnegie financiou essa pesquisa e colocou
<br>� frente dela uma pessoa cujos estudos tornaram-na
<br>tamb�m legend�ria. Um nome respeitado por todos os
<br>consultores e pessoal ligado a treinamento e desenvolvimento
<br>humano: Napoleon Hill.
<br>
<br>Napoleon Hill em seu livro A lei do triunfo, Editora
<br>Jos� Oympio, ensina-nos em 16 li��es como ser um
<br>homem de sucesso. Uma dessas li��es � denominada
<br>por ele de REGRA DE OURO e, conforme palavras dele
<br>mesmo, deve ser a base de toda conduta humana.
<br>
<br>Qual � a regra de ouro?
<br>"NUNCA FAREI AOS OUTROS AQUILO QUE N�O
<br>DESEJARIA QUE ME FIZESSEM."
<br>
<br>Decepcionou-se? Esperava mais que isso? Mas creia,
<br>a� est� o princ�pio dos princ�pios. A� est� a base real das
<br>pessoas que realmente s�o um sucesso. Essa regra funciona
<br>como uma alavanca m�gica. Aplique-a e se surpreender�
<br>com os resultados alcan�ados.
<br>
<br>Como aplicar a regra de ouro?
<br>
<br>110 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO O R A R - ADMINISTRA��O. EFICAZ
<br>
<br>Usemos a empatia. Antes de falarmos ou agirmos,
<br>coloquemo-nos no lugar do pr�ximo. Criemos o h�bito
<br>de nos colocar no lugar do pr�ximo e ent�o ficar� f�cil
<br>aplicar a regra de ouro.
<br>
<br>UMA IMPORTANTE OBSERVA��O!
<br>
<br>Cara irm�, caro irm�o esp�rita, precisamos sair da
<br>mesmice.
<br>
<br>Sabemos, pelas palavras de Kardec, que o Espiritismo
<br>� uma Doutrina inovadora. No entanto, de forma
<br>paradoxal, o movimento esp�rita mant�m-se muito atrasado
<br>em termos de conceitos de lideran�a. N�o se inova.
<br>
<br>Li em abril de 1999 um editorial, redigido por um
<br>dos destacados l�deres esp�ritas brasileiros, que me preocupou,
<br>apesar do alt�ssimo conte�do, que �, ali�s, caracter�stica
<br>marcante dos textos do referido l�der.
<br>
<br>Preocupou-me porque dizia o autor do editorial que
<br>
<br>o Espiritismo deveria tomar cuidado em n�o seguir as
<br>inova��es que est�o surgindo.
<br>� bem verdade que o autor tem l� suas raz�es. Se
<br>sairmos seguindo e adotando tudo o que aparecer de
<br>inovador, corremos o risco de desfigurar nossa Doutrina
<br>(tem gente que chega a acreditar que inovar � n�o seguir
<br>Kardec!!!). Por isso, devemos sim tomar cuidado com as
<br>diversas "inova��es" que est�o surgindo. Cautela, bom
<br>senso e caldo de galinha n�o fazem mal a ningu�m.
<br>
<br>Mas acontece que o autor generalizou. Ele n�o
<br>enfocou que dever�amos tomar cuidado com certas inova��es.
<br>Ele generalizou, repito. Deu a entender que devemos
<br>deixar tudo como est�, que est� tudo bem e pareceu-
<br>me, pelas suas palavras - que o Espiritismo est�
<br>
<br>PARTE C 111
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>no caminho certo. Se olharmos com olhos de quem observa
<br>o Espiritismo de fora para dentro (n�o somente de
<br>dentro para fora), perceberemos nitidamente que uma
<br>das caracter�sticas marcantes do movimento esp�rita atual
<br>� a aus�ncia de medidas ousadas, conseq��ncia da
<br>presen�a de l�deres eficientes mas n�o eficazes.
<br>
<br>Portanto, irm�os esp�ritas, vamos inovar, vamos ser
<br>ousados, vamos sair da mesmice. Como?
<br>
<br>Basta seguirmos os 5 procedimentos do
<br>l�der eficaz, mencionados nos cap�tulos anteriores:
<br>� DESAFIAR O ESTABELECIDO;
<br>� INSPIRAR UMA VIS�O COMPARTILHADA;
<br>� PERMITIR QUE OS OUTROS AJAM;
<br>� APONTAR O CAMINHO;
<br>� ENCORAJAR O CORA��O.
<br>
<br>
<br>Estude as atitudes de Jesus e de Kardec e descubra
<br>que ambos foram ousados -e como foram ousados!
<br>Ambos aplicaram todos os 5 procedimentos do l�der eficaz.
<br>
<br>E n�s? Estamos sendo ousados?
<br>
<br>Estamos sendo l�deres eficazes?
<br>
<br>112 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO ORAR
<br>
<br>
<br>
<br>"Um dos maiores obst�culos capazes
<br>de retardar a propaga��o da Doutrina,
<br>seria a falta de unidade."
<br>
<br>Allan Kardec
<br>
<br>PARTE C 113
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>C-4A
<br>
<br>CONSEQ��NCIA DO RELACIONAMENTO
<br>DESARMONIOSO:
<br>DIVULGA��O NEGATIVA DO ESPIRITISMO
<br>
<br>Comentei logo nos primeiros cap�tulos desta apostila
<br>a import�ncia de utilizar certa ousadia na divulga��o
<br>da Doutrina Esp�rita. Acontece que, infelizmente,
<br>alguns companheiros esp�ritas est�o sendo ousados onde
<br>n�o deveriam ser.
<br>
<br>Explico: existem ve�culos de divulga��o esp�rita (jornais,
<br>revistas, televis�o) que divulgam em seus artigos
<br>ou programas as diverg�ncias existentes entre os esp�ritas,
<br>seja no campo das id�ias, seja no campo pessoal.
<br>Talvez, repito, "talvez" esses pol�micos artigos ou programas
<br>at� pudessem ser �teis � divulga��o de nossa
<br>amada Doutrina se seus autores ou apresentadores soubessem
<br>colocar em seus textos o respeito e a caridade
<br>que devem existir tamb�m entre os esp�ritas. Mas o que
<br>se v� s�o palavras ferinas, com pseudo-sustenta��o em
<br>raz�es "l�gicas".
<br>
<br>� verdade que existem no meio esp�rita muitos procedimentos
<br>que merecem corre��es ou mudan�as. O Movimento
<br>Esp�rita comete erros, como qualquer outro
<br>movimento religioso. Por qu�? Porque somos seres imperfeitos,
<br>portanto, pass�veis de erros. Mas procurar corrigir
<br>ou tentar corrigir erros dos outros com ofensas �,
<br>no m�nimo, falta de bom senso e, pior, contraria o princ�pio
<br>harm�nico do Espiritismo.
<br>
<br>114 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO ORAR -- RELACIONAMENTO HARMONIOSO
<br>
<br>H� algum tempo li num jornal esp�rita um ferino e
<br>indelicado artigo com ferrenhas cr�ticas a um preeminente
<br>esp�rita. Al�m de mim, mt�tas outras pessoas leram
<br>aquele artigo, inclusive alguns pastores protestantes. Foi
<br>um prato cheio para eles. Se, sem motivos, aquela fac��o
<br>do protestantismo gosta de criticar o Espiritismo,
<br>imagine s� tendo fatos reais para criticar...
<br>
<br>O que fizeram os pastores com aquele "rico" material
<br>em suas m�os? Pois bem, em rede nacional, divulgaram
<br>em seu canal de televis�o o mencionado artigo
<br>enfatizando o fato de que "nem os pr�prios esp�ritas se
<br>entendem". Pena que o autor daquele artigo do jornal
<br>esp�rita n�o conhece e n�o aplica aquele antigo ditado:
<br>"Roupa suja se lava em casa". E, por desconhec�-lo, pre
<br>
<br>
<br>judicou a divulga��o do Espiritismo.
<br>
<br>Algum tempo depois da ocorr�ncia do incidente,
<br>uma das revistas esp�ritas mais tradicionais do pa�s escreveu
<br>um bel�ssimo editorial enfocando os erros cometidos
<br>por alguns �rg�os esp�ritas, em rela��o �s cr�ticas entre
<br>esp�ritas. Alertava sobre a necessidade de haver maior
<br>compreens�o e bom senso entre os esp�ritas. Foi um texto
<br>respeitoso e muito bem escrito. Um alerta necess�rio.
<br>
<br>Mas veja s�, caro leitor, em abril de 1999 tive o
<br>desprazer de ler nessa mesma conceituada revista esp�rita
<br>a qual havia alertado os demais ve�culos de comunica��o
<br>esp�rita sobre os malef�cios da m� imprensa, um
<br>artigo em que ela cometia o mesmo erro que antes condenara.
<br>Essa revista tamb�m esqueceu que "roupa suja
<br>se lava em casa". Fez ela um desservi�o � divulga��o da
<br>Doutrina. E, pela sua import�ncia e tradi��o no meio
<br>esp�rita, o desservi�o dessa revista foi imenso.
<br>
<br>Existem diverg�ncias entre padres, uma vez que s�o
<br>humanos.
<br>
<br>
<br>115
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>Existem diverg�ncias entre pastores protestantes,
<br>uma vez que s�o humanos.
<br>Existem diverg�ncias entre esp�ritas, uma vez que
<br>somos humanos.
<br>Mas voc� j� leu em algum jornal ou revista cat�lica
<br>
<br>ou protestante alguma cr�tica aos seus seguidores?
<br>Certamente n�o.
<br>Eles t�m uma assessoria de imprensa que os orien
<br>
<br>
<br>ta: "Roupa suja se lava em casa". O que o leitor quer ler
<br>s�o textos consoladores e n�o discuss�es ef�meras nas
<br>quais o ego e a maledic�ncia do autor predominam.
<br>
<br>Diz Kardec, com sua sabedoria e bom senso (vide O
<br>Livro dos M�diuns, cap�tulo XXIX, item 348):
<br>
<br>"As reuni�es que se ocupam exclusivamente das comunica��es
<br>inteligentes e as que se dedicam ao estudo
<br>das manifesta��es f�sicas t�m cada uma sua miss�o; nem
<br>uma nem outra estaria no verdadeiro esp�rito do Espiritismo,
<br>se se olhassem mal, e aquela que atirasse a primeira
<br>pedra na outra, provaria s� com isso a m�
<br>influ�ncia que a domina; todas devem concorrer, embora
<br>por caminhos diferentes, ao objetivo comum, que
<br>� a procura e a propaga��o da verdade; seu antagonismo,
<br>que n�o seria sen�o um efeito do orgulho superexcitado,
<br>fornecendo armas aos detratores, n�o poderia sen�o pre
<br>
<br>
<br>judicar a causa que pretendem defender".
<br>Adaptando o texto de Kardec para a quest�o da m�
<br>imprensa esp�rita, o que se v� hoje, com alguma freq��ncia,
<br>excetuando a boa imprensa esp�rita que h�, e
<br>em bom n�mero, s�o autores ou apresentadores de televis�o
<br>que fornecem armas aos detratores da Doutrina
<br>Esp�rita.
<br>Diz o Esp�rito F�nelon (vide O Livro dos M�diuns,
<br>cap�tulo XXXI, item 13):
<br>
<br>PARTE C
<br>
<br>116
<br>
<br>
<br>PROJETO O R A R -RELACIONAMENTO HARMONIOSO
<br>
<br>"Perguntastes se a multiplicidade de grupos, em uma
<br>mesma localidade, n�o poderia engendrar rivalidades desagrad�veis
<br>para a Doutrinal! A isso responderei que
<br>aqueles que est�o imbu�dos dos verdadeiros princ�pios
<br>desta Doutrina v�em irm�os em todos os esp�ritas e n�o
<br>rivais; aqueles que vissem outras reuni�es com olhos
<br>de ci�me, provariam que h� entre eles id�ia preconcebida
<br>de ci�me, provariam que h� entre eles id�ia preconcebida
<br>de interesse ou de amor-pr�prio e que n�o est�o
<br>guiados pelo amor da verdade.
<br>
<br>Asseguro-vos que se essas pessoas estivessem entre
<br>v�s, a� semeariam logo a perturba��o e a desuni�o. O
<br>verdadeiro Espiritismo tem por divisa benevol�ncia e
<br>caridade, exclui toda outra rivalidade que n�o seja a do
<br>bem que se pode fazer; todos os grupos que se inscreveram
<br>sob a sua bandeira poder�o se estender a m�o como
<br>bons vizinhos, que n�o s�o menos amigos, embora n�o
<br>habitem a mesma casa.
<br>
<br>Os que pretendem ter os melhores Esp�ritos por guia
<br>devem prov�-lo, mostrando os melhores sentimentos;
<br>que haja, pois, entre eles, luta, mas luta de grandeza de
<br>alma, de abnega��o, de bondade e de humildade; aquele
<br>que lan�asse a pedra em outro, provaria s� por isso que
<br>� solicitado pelos maus Esp�ritos. A natureza dos sentimentos
<br>que dois homens manifestem a respeito um do
<br>outro � a pedra de toque que faz conhecer a natureza
<br>dos Esp�ritos que os assistem".
<br>
<br>Tomemos muito cuidado com a pedra que eventualmente
<br>atiramos nos nossos irm�os esp�ritas, pois, repetindo
<br>a frase final de Fen�lon: "A natureza dos sentimentos
<br>que dois homens manifestem a respeito um do outro �a pedra
<br>de toque que faz conhecer a natureza dos Esp�ritos que
<br>os assistem".
<br>
<br>
<br>117
<br>
<br>
<br>O ESPIRITA DO S�CULO XX I
<br>
<br>
<br>A MALEDIC�NCIA
<br>
<br>cara(o) irm�(o) esp�rita:
<br>
<br>A maledic�ncia - o falar mal dos outros - � um dos
<br>maiores males do nosso s�culo.
<br>
<br>Ser� que gostamos de falar mal dos outros?
<br>
<br>Ser� que quando afirmamos:
<br>
<br>"N�o estou falando mal de fulano. S� estou dizendo a
<br>verdade", na realidade n�o estamos encobertando nosso
<br>prazer de falar mal?
<br>
<br>Conhecer-se a si mesmo. Esse � o caminho para o
<br>nosso aprimoramento.
<br>
<br>E com o objetivo de nos conhecermos melhor, sugiro
<br>tirar c�pias das folhas seguintes e aplicar este teste
<br>de autoconhecimento aos integrantes dos grupos de estudos
<br>do Centro Esp�rita em que voc� atua.
<br>
<br>Antes de aplicar o teste � conveniente ressaltar aos
<br>que se propuserem a participar que este � um teste de
<br>autoconhecimento particular. Isto �, ningu�m precisa
<br>nem deve comentar o resultado. O objetivo maior � fazer
<br>cada pessoa conhecer-se melhor e refletir sobre as
<br>conseq��ncias nefastas da maledic�ncia.
<br>
<br>Ap�s a aplica��o do teste e obten��o dos resultados,
<br>fa�a reflex�es com seu grupo de estudo sobre:
<br>
<br>1. A pergunta 903 de O Livro dos Esp�ritos.
<br>1. As frases seguintes:
<br>"N�o h� institutos de pesquisas no mundo capazes
<br>de avaliar a quantidade de infort�nio e delitos desenca
<br>
<br>
<br>118
<br>
<br>
<br>
<br>PROJETO ORAR-RELACIONAMENTO HARMONIOSO
<br>
<br>deados entre os homens, anualmente, resultantes de impress�es
<br>falsas proclamadas como verdadeiras".
<br>
<br>W. Vieira, T�cnicas de viver
<br>"O tempo que se perde na cr�tica pode ser usado em
<br>constru��o."
<br>
<br>F. C. Xavier, Sinal verde.
<br>FA�A SEU PR�PRIO TESTE:
<br>
<br>EU E A MALEDIC�NCIA*
<br>
<br>1. Ao surgir, numa conversa, coment�rios sobre
<br>um deslize de algu�m, voc� se interessa em ouvir?
<br>QUAL A SUA ATITUDE?
<br>(0) Faz perguntas
<br>(5) Ouve apenas
<br>(10) Corta a conversa
<br>2. Ao saber de uma infidelidade de parente ou
<br>pessoa amiga, apressa-se em levar a not�cia adiante?
<br>QUAL A SUA ATITUDE?
<br>(0) Comenta com outros
<br>(5) Pensa em falar, mas silencia
<br>(10) Pondera e cala
<br>3. Acha divertido e participa animadamente das
<br>fofocas entre amigos(as)? QUAL A SUA ATITUDE?
<br>(0) Participa contribuindo
<br>(5) Apenas ouve e ri
<br>(10) Evita as fofocas
<br>* Extra�do do Jornal O Trevo, de julho de 1978. Autoria de Ney
<br>Prieto Peres.
<br>PARTE C 119
<br>
<br>
<br>0_ ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>4. Escandaliza-se ao saber de ocorr�ncias escabrosas
<br>envolvendo pessoas conhecidas? QUAL A
<br>SUA ATITUDE?
<br>(0) Arregala os olhos exclama
<br>(5) comenta com outros
<br>(10) N�o se envolve e silencia
<br>5. Sente-se atra�do(a) pelas conversas ou not�cias
<br>sobre desastres e crimes passionais? QUAL A
<br>SUA ATITUDE?
<br>(0) Busca avidamente
<br>(5) Apenas ouve e l�
<br>(10) Evita ouvir e ler
<br>6. Comenta com outros os defeitos de algu�m
<br>por quem sente qualquer antipatia? QUAL A SUA
<br>ATITUDE?
<br>(0) Acentua os defeitos
<br>(5) N�o chega a comentar
<br>(10) Evita ver os defeitos
<br>7. Sente, �s vezes, incontrol�vel impulso e deixa
<br>transparecer aos outros um assunto reservado,
<br>confiado por pessoa de sua intimidade? QUAL A
<br>SUA ATITUDE?
<br>(0) N�o resiste e fala
<br>(5) Apenas sente vontade de falar
<br>(10) Nem sente vontade, nem fala
<br>8. D� ouvidos a conversas sobre problemas causados
<br>por companheiros, no �mbito do Centro Esp�rita
<br>em que colabora? QUAL A SUA ATITUDE?
<br>(0) Comenta e d� ouvidos
<br>(5) Ouve e silencia
<br>(10) Pondera com toler�ncia
<br>120 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO .ORAR - Relacionamento HARMONIOSO
<br>
<br>9. Algu�m lhe diz: "N�o gosto de fulano",
<br>"beltrano � mal-encarado e presun�oso". Tendo
<br>oportunidade, voc� conta � pessoa em quest�o o
<br>que ouviu? QUAL A SUA ATITUDE?
<br>(0) N�o resiste e transmite o que soube
<br>(5) Apenas sente vontade de contar
<br>(10) N�o conta
<br>10. Usa, por vezes, express�es do tipo: "Aquele
<br>cara � um chato", "veja o que beltrano me fez",
<br>"fulano s� quer ser o bom" etc? QUAL A SUA ATITUDE?
<br>(0) N�o resiste e comenta sua opini�o
<br>(5) Tem sua opini�o, mas n�o comenta
<br>(10) Procura ver o lado bom da pessoa
<br>AVALIE-SE COMO SEGUE:
<br>
<br>Adicione as pontua��es que est�o dentro dos pa
<br>
<br>
<br>r�nteses que voc� assinalou.
<br>Fa�a a soma.
<br>Veja o resultado:
<br>
<br>De 90 a 100 pontos: muito bom, excelente
<br>resultado.
<br>
<br>De 70 a 89 pontos: bom, mas deve se cuidar.
<br>
<br>De 40 a 69 pontos: sofr�vel, lute bastante.
<br>
<br>De 0 a 39 pontos: sem coment�rios, esforce-se
<br>ao m�ximo.
<br>
<br>PARTE C 121
<br>
<br>
<br>O ESPIRITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>C-4c
<br>
<br>ESTOU BEM COMIGO MESMO?
<br>
<br>Circule com caneta sua auto-avalia��o para cada
<br>um dos itens abaixo (quanto maior a avalia��o, mais
<br>voc� � uma pessoa de bem com a vida e consigo mesma).
<br>
<br>1. Sou mais de drenar o charco do que de maldiz�-lo?
<br>123456789 10
<br>2. Acho que, em rela��o �s li��es que me passam,
<br>devo procurar aplic�-las em mim, em vez de pensar que
<br>servem mais para os outros?
<br>123456789 10
<br>
<br>3. Sou mais de solucionar problemas do que de os
<br>cultivar?
<br>123456789 10
<br>
<br>4. Sou mais de trabalhar para obter �xito do que de
<br>querer �xito antes do trabalho?
<br>123456789 10
<br>
<br>5. Sou mais de olhar para o alto, onde fulguram os
<br>astros, do que para baixo, onde repousam o p� e a lama?
<br>1234 56 789 10
<br>
<br>6. Sou mais de usar o bom senso frente �s
<br>122 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO O RAR -RELACIONAMENTO HARMONIOSO
<br>
<br>incompreens�es do que de me perturbar com elas?
<br>123456789 10
<br>
<br>7. Sou mais de viver e irradiar alegria para conseguir
<br>a paz do que de ter pensamentos e atitudes
<br>derrotistas que prejudicam a paz e a harmonia?
<br>123456789 10
<br>
<br>8. Sou mais de refor�ar os atos positivos dos outros
<br>do que ficar falando mal dos meus colegas, subordinados
<br>ou chefes?
<br>123456789 10
<br>
<br>9. Sou mais de procurar me melhorar continuamente
<br>do que de cultivar a autopiedade?
<br>123456789 10
<br>
<br>10. Sou mais de persistir do que de desistir da luta?
<br>123456789 10
<br>SOME E COMPARE O RESULTADO COM A AVALIA��O
<br>ABAIXO:
<br>
<br>80 a 100: Estou otimamente bem
<br>70 a 79: Estou muito bem
<br>50 a 69: Estou regularmente bem
<br>30 a 49: Preciso modificar urgentemente parte
<br>
<br>dos meus pensamentos e atitudes
<br>1 a 29: Preciso dar uma guinada de 180� em
<br>minha vida.
<br>
<br>PARTE C 123
<br>
<br>
<br>O ESPIRITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>C-4
<br>
<br>
<br>O RELACIONAMENTO HARMONIOSO
<br>
<br>
<br>
<br>Ter como meta o perfeito entendimento entre irm�os.
<br>
<br>SEGUNDA:
<br>
<br>Entender que somos imperfeitos. Portanto, o perfeito
<br>entendimento n�o ocorrer� a curto prazo.
<br>
<br>TERCEIRA:
<br>
<br>Ter consci�ncia de que, se a curto prazo n�o houver
<br>perfeito entendimento, conseq�entemente existir�o conflitos
<br>interpessoais.
<br>
<br>QUARTA:
<br>
<br>Havendo conflitos interpessoais devemos:
<br>
<br>� Evitar os conflitos indesej�veis;
<br>� Administrar os conflitos desej�veis.
<br>C-4E
<br>
<br>
<br>ELO � UNI�O
<br>
<br>
<br>1 Texto psicografado por Dora Incontri, na abertura do
<br>10� Congresso Estadual do Espiritismo, em S�o Paulo - 29/5/97.
<br>
<br>124 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO ORA R -RELACIONAMENTO HARMONIOSO
<br>
<br>congra�ados! Que ela brote com for�a e sinceridade
<br>nos cora��es desejosos de contribuir de fato para a
<br>
<br>semeadura das luzes do amanh�!
<br>
<br>O mundo, como sabeis, atravessa momentos de
<br>crise intensa, em que as consci�ncias desorientadas est�o
<br>em busca de um roteiro que lhes restitua a f� na
<br>humanidade, a id�ia do Ser Supremo e a nitidez dos
<br>valores morais.
<br>
<br>Ora, o Espiritismo representa o equil�brio de uma
<br>Doutrina que esclarece, conforta e satisfaz os anseios da
<br>raz�o e as car�ncias do sentimento.
<br>
<br>Muitas das almas humanas nem sequer se d�o
<br>conta das pr�prias necessidades espirituais e procuram,
<br>em falsas teorias ou em arremedos doutrin�rio-
<br>filos�ficos, a resposta �s suas inquieta��es.
<br>
<br>Mas se o Espiritismo oferece essa resposta, se indica
<br>
<br>o roteiro e � a mais poderosa luz entregue aos homens,
<br>para lhes preparar o futuro, � pelos esp�ritas que o
<br>Espiritismo se realiza no mundo. � pelos esp�ritas que a
<br>filosofia esp�rita se dirige � raz�o moderna; que a religi�o
<br>esp�rita se aninhe nos cora��es e que a ci�ncia esp�rita
<br>prossiga e se firme nas intelig�ncias e nos espa�os em
<br>que o homem ergue suas edifica��es culturais.
<br>Por isso, s�o os esp�ritas que devem estar � altura do
<br>legado de Kardec e do Esp�rito da Verdade! Sois v�s que
<br>deveis esquecer melindres, dissens�es e o entrechoque
<br>de opini�es pessoais para levantar o Espiritismo aos
<br>olhos do terceiro mil�nio, com a dignidade e a for�a
<br>que ele merece!
<br>
<br>Que as diverg�ncias moment�neas se dissolvam
<br>ao influxo do grande ideal de levar ao planeta a vis�o
<br>de um futuro melhor, baseado numa consci�ncia
<br>espiritual!
<br>
<br>PARTE C 125
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>N�o malbarateis o tesouro recebido e ligai-vos
<br>permanentemente �s falanges de Jesus, que zela pela
<br>evolu��o terrena com o mesmo amor da primeira
<br>hora e espera instrumentos fi�is e humildes para se
<br>fazer sentir na Terra!
<br>
<br>Que Deus vos aben�oe e permane�a nesse
<br>movimento, que encerra em seu seio as sementes da
<br>espiritualidade superior!
<br>
<br>Bezerra
<br>
<br>C-4F
<br>
<br>
<br>TR�S REGRAS B�SICAS DA
<br>
<br>EFICIENTE COMUNICA��O INTERPESSOAL
<br>
<br>
<br>TODO MUNDO TEM RAZ�O
<br>
<br>Mesmo quando nosso pr�ximo emite opini�es ou
<br>argumentos contradit�rios, sem o racioc�nio l�gico ideal,
<br>ele tem sua raz�o, mesmo que esta se fundamente
<br>em uma premissa falsa.
<br>
<br>Para expormos nossos argumentos com maior propriedade
<br>temos que, obrigatoriamente, refletir sobre a
<br>raz�o do pr�ximo em vez de, como a maioria procede,
<br>tentar expor incontinente a nossa raz�o.
<br>
<br>E para melhor entendermos e respeitarmos a raz�o
<br>do pr�ximo, mesmo que n�o concordemos, uma qualidade
<br>deve estar presente em n�s:
<br>
<br>126 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO ORAR -RELACIONAMENTO HARMONIOSO
<br>
<br>A EMPATIA
<br>
<br>Empatia � a capacidade que todo comunicador tem,
<br>ou deve desenvolver, de colocar-se no lugar do ouvinte.
<br>
<br>Voc� n�o fala para paredes ou cadeiras. Voc� fala
<br>para seres pensantes, divagadores por natureza. Se o
<br>ouvinte n�o se interessar pelo assunto, a� sim voc� passar�
<br>a falar para paredes ou cadeiras.
<br>
<br>Essa qualidade deve estar presente no bom comunicador.
<br>Ele deve ser emp�tico, o que significa a preocupa��o
<br>de colocar-se no lugar do outro ao transmitir a mensagem,
<br>saber como e o que o outro gostaria de ouvir.
<br>
<br>Quando se fala para uma pessoa o comunicador
<br>deve estar atento �s diferen�as individuais, que constituem
<br>as principais causas dos insucessos dos
<br>comunicadores n�o-habilidosos.
<br>
<br>Como exemplo do uso da empatia, veja a seguir parte
<br>do livro Fazer acontecer, de J�lio Ribeiro, Editora Cultura.
<br>
<br>"...Tomemos por hip�tese uma companhia que resolve
<br>lan�ar um novo produto para completar a sua linha
<br>de inseticidas. O pensamento 'com esse produto vamos
<br>nos tornar l�deres na categoria' enche o diretor de
<br>marketing de entusiasmo. Mas n�o necessariamente o
<br>vendedor. Para ele, o novo produto representa mais um
<br>item na sua lista. Mais uma cota para preencher. Mais
<br>tempo com cada cliente. A troco de que ele vai aderir?
<br>
<br>Talvez a coisa possa mudar de figura numa conversa
<br>do tipo:
<br>
<br>� Manolo, o que voc� acha de a gente colocar na
<br>linha de inseticidas um produto que ajude a vender os
<br>outros? Estava pensando que, sem uma mata-baratas,
<br>nossa linha est� incompleta. O cliente tem que comprar
<br>produto por produto. T� com vontade de completar a
<br>PARTE C 127
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>linha com o melhor mata-baratas do mercado. A id�ia �
<br>permitir ao vendedor oferecer uma linha completa. Se der
<br>certo, o vendedor pode faturar mais, em menos tempo,
<br>com menos esfor�o. Al�m disso, se o cliente comprar a
<br>linha completa, a gente tira a concorr�ncia da jogada. O
<br>cliente passa a comprar s� do vendedor. O que voc� acha?
<br>
<br>Se o Manolo e sua equipe tiverem que se entusiasmar,
<br>acho mais prov�vel que se liguem a alguma coisa
<br>que lhes traga benef�cios. E isso � verdade para a equipe
<br>da f�brica, para a diretoria, a mulher do caf�, os clientes,
<br>as ag�ncias de propaganda e todas as pessoas que de
<br>uma forma ou de outra possam colaborar para que os
<br>objetivos sejam atingidos".
<br>
<br>Saber que todo mundo tem raz�o n�o implica em
<br>dizer que todos est�o certos. Ter raz�o � ter a sua verdade
<br>particular, a qual, por ser relativa, nunca � a verdade
<br>total ou absoluta.
<br>
<br>"Toda verdade tem tr�s faces: uma, a verdade como
<br>voc� a v�; outra, como eu a vejo; e a terceira, a verdadeira."
<br>
<br>Nahum Maneia
<br>
<br>"Levei a vida inteira para descobrir que os outros
<br>tem suas raz�es."
<br>
<br>Chesterton
<br>
<br>"Quando me preparo para discutir com um homem,
<br>passo um ter�o do tempo pensando em mim - no que vou
<br>dizer - e dois ter�os pensando nele e no que vai dizer."
<br>
<br>Abraham Lincoln
<br>
<br>"A resist�ncia a uma id�ia nova aumenta na propor��o
<br>do quadrado de sua import�ncia."
<br>
<br>Lei de Russel
<br>
<br>128 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO ORAR -RELACIONAMENTO HARMONIOSO
<br>
<br>A segunda regra da COMUNICA��O INTERPESSOAL
<br>
<br>LEI DO REFOR�O POSITIVO
<br>
<br>Vamos esclarecer a import�ncia de elogiar - refor�ar
<br>- o que o nosso pr�ximo faz de correto, de positivo.
<br>
<br>Para entender melhor, veja parte do livro Fazer
<br>acontecer.
<br>
<br>"N�o se esque�a de ser sempre um ca�ador de acertos,
<br>n�o de erros.
<br>
<br>� tolice apontar constantemente os erros da equipe,
<br>esperando que com isso ela n�o erre mais. E melhor
<br>estimular os acertos, para que o grupo fique desejoso
<br>de acertar sempre. Uma equipe assustada, em vez de
<br>tentar fazer o que � o melhor para resolver os problemas
<br>da empresa, passa a tentar adivinhar aquilo que o
<br>cliente quer.
<br>
<br>Quando a equipe sabe que o seu trabalho � apreciado,
<br>passa a trabalhar bem, por simples satisfa��o pessoal.
<br>� quando fica at� de madrugada para tentar uma
<br>solu��o melhor; � quando negocia uma vez mais um
<br>plano de m�dia para conseguir condi��es que nem o cliente
<br>esperava; � quando fica alegre por algu�m ter gostado
<br>do trabalho criativo".
<br>
<br>A melhor f�rmula para uma cr�tica construtiva � a
<br>F�rmula PNP (Positivo/Negativo/Positivo), isto �, ao
<br>criticar construtivamente algu�m:
<br>
<br>Comece e termine dizendo coisas positivas; Insira a
<br>cr�tica entre as coisas positivas.
<br>
<br>Exemplos:
<br>
<br>Errado (NPN):
<br>
<br>"Voc� errou. Geralmente n�o erra. Mas n�o deveria
<br>ter cometido esse erro t�o banal."
<br>
<br>PARTE C 129
<br>
<br>
<br>O ESPIRITA DO . S ECU LO X XI
<br>
<br>Certo (PNP):
<br>
<br>"Voc� � um �timo profissional. Hoje errou nesse projeto.
<br>Mas o importante � que geralmente voc� acerta."
<br>
<br>Refor�ar o positivo � tamb�m saber escolher as palavras
<br>adequadas. Veja os exemplos do Dr. Tom Mcdougal
<br>(dentista): um mestre no uso de palavras positivas:
<br>
<br>ELE FALA EM VEZ DE
<br>
<br>Cancelamento Mudan�a de hor�rio
<br>Sala de espera Sala de recep��o
<br>Pagar Combinar o tratamento
<br>Cuspir Esvaziar a boca
<br>Passar o motor Preparar o dente
<br>Inje��o Pequena picada
<br>Sentir� dor Sentir� certo desconforto
<br>
<br>A terceira regra da COMUNICA��O INTERPESSOAL
<br>
<br>LEI DA N�O-RESIST�NCIA
<br>
<br>Quando nosso pr�ximo est� nervoso, intempestivo,
<br>fora de si, qualquer tentativa de conversa firme resultar�
<br>em discuss�o improdutiva.
<br>
<br>Nesse caso, o correto � ceder, dominar nossos impulsos,
<br>adiar a discuss�o para o momento em que ele
<br>estiver mais calmo.
<br>
<br>O texto abaixo esclarece melhor o que � a lei da n�o-
<br>resist�ncia.
<br>
<br>"O tronco de bambu se ergue ereto, forte e conserva o
<br>esp�rito s�bio ao se deixar levar suavemente pela natureza.
<br>
<br>Quando o vento o a�oita com rudeza, nunca resiste;
<br>cede e se dobra acompanhando o fluir natural, por�m
<br>nunca se quebra.
<br>
<br>S� se vence cedendo."
<br>
<br>130 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO OR A R -RELACIONAMENTO HARMONIOSO
<br>
<br>A SEGUNDA MILHA
<br>
<br>Texto de Irm�o Jos� (esp�rito)
<br>
<br>"Se algu�m te obrigar a andar uma milha, vai com
<br>ele duas."
<br>(Mateus, 5:41)
<br>
<br>A compreens�o � um estado superior da alma.
<br>Aquele que compreende est� sempre disposto a ceder
<br>e esperar.
<br>
<br>Quando Jesus nos recomenda uma caminhada mais
<br>longa com quem nos obriga a acompanh�-lo durante
<br>certo trecho de caminho, o Mestre faz um apelo � nossa
<br>capacidade de compreens�o.
<br>
<br>Se f�ssemos ofertar �s pessoas somente o que elas
<br>pr�prias nos ofertassem, n�o sair�amos do lugar em
<br>mat�ria de entendimento.
<br>
<br>Algu�m deve tomar a iniciativa de renunciar em
<br>benef�cio da paz.
<br>
<br>Dentro do lar, diariamente somos chamados a longas
<br>caminhadas na estrada do perd�o.
<br>
<br>No relacionamento com o pr�ximo, carecemos de
<br>andar muitas l�guas por dia, no que diz respeito � solidariedade
<br>fraternal.
<br>
<br>Nas tarefas profissionais que abra�amos, torna-se
<br>imprescind�vel a perseveran�a diuturna, se logramos alcan�ar
<br>o �xito almejado.
<br>
<br>No combate �s imperfei��es que trazemos no �ntimo
<br>do ser, n�o podemos esmorecer logo nos primeiros
<br>passos da marcha redentora.
<br>
<br>PARTE C
<br>
<br>131
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>Na seara do bem, a vida nos pede para que percorramos
<br>exaustivas trilhas, aprendendo a contornar obst�culos.
<br>
<br>
<br>Quem mais caminha mais oportunidades encontra.
<br>Muita gente desiste de seguir adiante quando estava
<br>prestes a concluir a jornada.
<br>H� quem desista da compreens�o no exato momento
<br>de colher os frutos de tal semeadura.
<br>
<br>Aconselhando-nos uma caminhada al�m das expectativas
<br>de quem a ela nos obrigasse, Jesus, uma vez mais,
<br>revela-se profundo conhecedor da alma humana...
<br>
<br>� que doando aos outros o que os outros n�o esperam
<br>de n�s, estimulamo-os � reflex�o sobre nosso gesto
<br>de maior desprendimento.
<br>
<br>Daremos a eles uma prova de nossa capacidade de
<br>ir al�m das exig�ncias, porque a segunda milha � aquele
<br>trecho da jornada em que as mudan�as que esperamos
<br>operar nos outros podem acontecer.
<br>
<br>A primeira milha � a do dever, da obriga��o, j� que
<br>todos os que vivemos em sociedade somos exortados ao
<br>m�nimo de esfor�o pela conviv�ncia pac�fica.
<br>
<br>A segunda milha � a que Jesus aguarda que percorramos
<br>ao lado dos companheiros intolerantes e arbitr�rios,
<br>exigentes e orgulhosos, pois � justamente nela que
<br>os nossos exemplos come�am a falar mais alto, tocando-
<br>lhes a alma.
<br>
<br>Portanto, n�o reclamemos de cansa�o.
<br>
<br>Como Jesus, que ainda agora prossegue conosco
<br>na expectativa de que mudemos, caminhemos com os
<br>amigos de nossa estrada quantas milhas forem necess�rias,
<br>se efetivamente desejamos v�-los transformados.
<br>
<br>Pelo modo de carregar a cruz, antes mesmo de alcan�ar
<br>o topo do Calv�rio, Jesus j� havia modificado
<br>
<br>132
<br>
<br>
<br>
<br>PROJETO ORAR -RELACIONAMENTO HARMONIOSO
<br>
<br>dezenas de pessoas que lhe acompanhavam o mart�rio
<br>silencioso e, ainda hoje, aquela segunda milha percorrida
<br>pelo Cristo permanece como um apelo eloq�ente �
<br>consci�ncia de toda a Humanidade.
<br>
<br>C-4 G
<br>
<br>
<br>1 . O Espiritismo � o mais revolucion�rio projeto
<br>filos�fico-cient�fico com conseq��ncia religiosa que o
<br>mundo j� conheceu.
<br>Nenhum acontecimento social, hist�rico, filos�fico,
<br>cient�fico, religioso pode se comparar, em termos de
<br>import�ncia, com o advento do Espiritismo.
<br>
<br>Algu�m at� poderia dizer: "A vinda de Cristo foi um advento
<br>mais importante do que o surgimento do Espiritismo''.
<br>
<br>Ser�?
<br>
<br>Ser� que para um construtor de pr�dios a base s�lida
<br>de sua obra, isto �, a estrutura de concreto que vai sustentar
<br>o edif�cio � mais importante do que a obra final?
<br>
<br>Ser� que se esse mesmo construtor s� assentar a
<br>base s�lida, mas n�o concluir o edif�cio, este teria
<br>serventia?
<br>
<br>Ser� que para nosso Mestre Jesus a fundamental
<br>obra b�sica que Ele construiu com Sua presen�a na Terra
<br>� mais importante que Sua obra te�rica completa,
<br>que � o Espiritismo?
<br>
<br>PARTE C 133
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>Todos os adventos religiosos, filos�ficos e cient�ficos
<br>que implicaram uma maior compreens�o da vinda
<br>de Jesus � Terra foram importantes. N�o vou excluir o
<br>m�rito de nenhum deles. A vinda de Jesus, por exemplo,
<br>foi um momento inesquecivelmente memor�vel
<br>para o nosso planeta. Mas a vinda de Jesus foi o necess�rio
<br>anteparo para o futuro surgimento da Terceira Revela��o,
<br>pelo surgimento do Esp�rito Consolador, que �
<br>
<br>o Espiritismo. Em nada essa realidade elimina os m�ritos
<br>de Jesus, pois para quem no momento desta leitura
<br>come�a a conjeturar conceitos ou preconceitos discordantes
<br>ao que estou dizendo, vale a pena relembrar: o
<br>Espiritismo � obra de Jesus.
<br>O Espiritismo n�o � obra de Allan Kardec.
<br>
<br>Kardec foi o eficiente e afinado instrumento da bondade
<br>e da vontade de Jesus.
<br>Kardec foi o codificador do Espiritismo, n�o o criador.
<br>Jesus � o Mestre.
<br>Portanto, caro leitor, acredito que agora ficamos de
<br>
<br>bem, pois voc� percebeu que n�o estou desvalorizando
<br>Jesus, pelo contr�rio, estou refor�ando a amplitude de
<br>Suas obras terrenas.
<br>
<br>Mas a s�ntese dessa reflex�o � a consci�ncia que cada
<br>um de n�s deve ter de que o Espiritismo constitui o mais
<br>revolucion�rio projeto filos�fico-cient�fico com conseq��ncia
<br>religiosa que o mundo j� conheceu.
<br>
<br>***
<br>
<br>2. Certa vez participei como palestrante convidado
<br>de um semin�rio esp�rita e nosso objetivo era procurar
<br>caminhos para a melhor evolu��o do Espiritismo. Lan134
<br>PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO ORA R - RELACIONAMENTO HARMONIOSO
<br>
<br>cei algumas id�ias que, segundo pesquisa posterior feita
<br>pela pr�pria comiss�o organizadora, foram aprovadas
<br>pelo p�blico.
<br>
<br>Um dos respons�veis pelo evento, julgando que minhas
<br>id�ias poderiam ser postas em pr�tica, convidou-
<br>me para ir a Bras�lia e a outras regi�es do pa�s para
<br>come�armos um intenso movimento com a finalidade
<br>de divulg�-las melhor.
<br>
<br>Aceitei o desafio prontamente.
<br>
<br>Desde 1997 aguardo a concretiza��o do que foi combinado.
<br>A coisa ficou s� no convite.
<br>N�s, os participantes daquele semin�rio, perdemos
<br>tempo.
<br>
<br>Houve um intenso trabalho pr�vio para organizar
<br>
<br>o semin�rio, os palestrantes investiram horas ou dias
<br>de estudo e preparo.
<br>
<br>Para qu�?
<br>
<br>Para nada.
<br>
<br>Parece que o objetivo era apenas a realiza��o do semin�rio.
<br>
<br>
<br>Percebi, mais uma vez, que o Movimento Esp�rita �
<br>bom (n�o vou dizer �timo) para preparar previamente
<br>um congresso ou semin�rio, � regular (n�o vou dizer
<br>bom) para fazer acontecer o congresso ou semin�rio, mas
<br>n�o � eficaz para tirar do semin�rio conclus�es e a��es
<br>pr�ticas, pr�prias de pessoas fazedoras.
<br>
<br>Interessante � que tenho percebido que ap�s o t�rmino
<br>de um Congresso a preocupa��o maior passa a
<br>ser a prepara��o do pr�ximo Congresso. E as a��es conseq�entes
<br>de um Congresso como ficam?
<br>
<br>Nos treinamentos que dou em empresas, a parte
<br>mais importante n�o � o preparo pr�vio do evento; a
<br>
<br>PARTE C 135
<br>
<br>
<br>O ESPIRITA DO S�CULO XXI
<br>
<br>parte mais importante tamb�m n�o � o evento em si; a
<br>parte mais importante s�o as a��es pr�ticas p�s-evento.
<br>Ser� que no Movimento Esp�rita tamb�m n�o poderia
<br>ser assim?
<br>
<br>3. N�s, esp�ritas, sabemos que existem Centros Esp�ritas
<br>(que assim se autodenominam) que trabalham
<br>com cromoterapia, florais de Bach etc. e conseguem bons
<br>resultados de curas. Fazem os doentes sa�rem f�sica e
<br>mentalmente recuperados. Cabe a n�s, esp�ritas, respeitar
<br>as mais diversas modalidades e formas de cura. S�o
<br>meios �teis de minimizar o sofrimento alheio.
<br>Se temos por obriga��o respeitar a forma dos outros
<br>agirem (n�o devemos respeitar o livre arb�trio?) e at�
<br>elogiar o fato de descobrirem mais uma maneira de ajudar
<br>a quem precisa, temos, por outro o lado, o direito de
<br>pedir aos l�deres dessas institui��es para n�o as denominar
<br>de Centros Esp�ritas.
<br>
<br>Releia Kardec.
<br>
<br>Voc�, caro irm�o, assim agindo, com o nobre prop�sito
<br>de ajudar ao pr�ximo, prejudica o foco do Espiritismo,
<br>al�m de levar as pessoas a acreditarem que Espiritismo
<br>e Casa de Recupera��o s�o a mesma coisa. Ou seja, o doente
<br>vai at� o lugar em raz�o de um mal f�sico ou espiritual,
<br>cura-se, e depois volta para sua resid�ncia esquecendo-se
<br>completamente da import�ncia do Centro Esp�rita em sua
<br>vida. Talvez esse doente rec�m-curado nem mesmo tenha
<br>acesso � profundidade da Doutrina Esp�rita, que � o que
<br>ocorre na maioria das vezes.
<br>
<br>136 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO O R A R -RELACIONAMENTO HARMONIOSO
<br>
<br>O bom l�der sabe que determinar o foco � o passo
<br>fundamental para conseguir sucesso em sua empreitada.
<br>
<br>N�o pense que o Espiritismo n�o seja uma Casa
<br>de Recupera��o. Ele o �, sim. Mas atua como um meio,
<br>n�o como um fim. A pessoa que imagina o Centro
<br>Esp�rita principalmente como uma Casa de Recupera��o,
<br>tem uma vis�o desfocada do Espiritismo.
<br>
<br>Uma Casa de Recupera��o atende um doente por
<br>um tempo determinado, at� que ele se cure.
<br>
<br>O Espiritismo n�o � uma Casa de Recupera��o, apesar
<br>de poder e dever agir como tal (mas repito, como
<br>um meio, n�o como um fim). O Espiritismo � sim, uma
<br>Escola, que tem o objetivo de educar - para sempre, e
<br>n�o por um tempo determinado - o esp�rito imortal.
<br>
<br>Por que hoje muitos indiv�duos procuram o Centro
<br>Esp�rita para se curar de um mal qualquer, e depois
<br>de curados n�o voltam mais?
<br>
<br>Porque o Espiritismo est�, de forma err�nea, vendendo
<br>essa imagem de Casa de Recupera��o.
<br>
<br>Adotar cromoterapia, florais de Bach etc. �
<br>desfocar o Espiritismo. � n�o abrir os olhos do indiv�duo
<br>ao profundo conhecimento e entendimento que
<br>a Doutrina Esp�rita pode a ele proporcionar por toda
<br>a sua vida imortal, e n�o apenas por um momento
<br>em que precisou ser curado de determinado mal.
<br>
<br>Se quiser, caro irm�o, continue a adotar a
<br>cromoterapia, divulgue e aplique os florais de Bach,
<br>sabemos que existem muitas formas de sermos �teis
<br>� Humanidade, mas, por favor, mude o nome de sua
<br>institui��o. Para o bem da exata compreens�o do que
<br>� o Espiritismo, n�o a denomine de Centro Esp�rita.
<br>
<br>
<br>PARTE C 137
<br>
<br>
<br>O ESP�RITA DO S�CULO XX I
<br>
<br>Para bem delinear o que n�o � um Centro Esp�rita,
<br>transcrevo a seguir um artigo da Revista Esp�rita de Campos,
<br>que esclarece o que o Espiritismo n�o adota e n�o
<br>pratica.
<br>
<br>No Espiritismo n�o se adotam atos, objetos, cultos
<br>exteriores e muitos outros, como:
<br>
<br>Exorcismo para afastar maus esp�ritos;
<br>
<br>Sacrif�cios de animais e de seres humanos;
<br>
<br>Rituais de inicia��o de qualquer esp�cie ou natureza;
<br>
<br>Paramentos, uniformes ou roupas especiais;
<br>
<br>Altares, imagens, andores ou outros objetos materiais;
<br>
<br>
<br>Promessas, despachos, riscadura de cruzes e pontos,
<br>pr�tica de atos materiais oriundos de quaisquer
<br>outras concep��es religiosas ou filos�ficas;
<br>
<br>Rituais e encena��es extravagantes de modo a impressionar
<br>o p�blico;
<br>
<br>Elabora��o de hor�scopo, exerc�cio da cartomancia
<br>e outras pr�ticas similares;
<br>
<br>Administra��o de sacramentos, como batizados e
<br>casamentos, concess�o de indulg�ncias e sess�es f�nebres
<br>ou reuni�es especiais para preces particulares a
<br>desencarnados;
<br>
<br>138 PARTE C
<br>
<br>
<br>PROJETO ORA R- RELACIONAMENTO HARMONIOSO
<br>
<br>Talism�s, amuletos, ora��es miraculosas, bentinhos,
<br>escapul�rios, breves ou quaisquer outros objetos e coisas
<br>semelhantes;
<br>
<br>Pagamento ou retribui��o de qualquer natureza por
<br>benef�cio recebido;
<br>
<br>Atendimento de interesses materiais para "abrir caminhos";
<br>
<br>
<br>Dan�as, prociss�es e atos an�logos;
<br>
<br>Hinos ou cantos em l�nguas mortas ou ex�ticas;
<br>
<br>Incenso, mirra, fumo, velas ou subst�ncias outras
<br>que induzam a pr�ticas de rituais;
<br>
<br>Qualquer bebida alco�lica.
<br>
<br>
<br>PARTE C 139
<br>
<br>
<br>SUGEST�ES DE ESTUDOS E LEITURAS
<br>PARA o L�DER ESP�RITA
<br>
<br>O l�der esp�rita, al�m de ler os livros que nosso meio
<br>oferece, precisa ler outros livros. Por esta raz�o incluo, no
<br>item c, abaixo, sugest�es de bons livros n�o esp�ritas.
<br>
<br>As sugest�es a seguir s�o temporais, isto �, est�o
<br>circunscritas � pesquisa feita pelo autor na �poca da reda��o
<br>deste livro. Obviamente no intervalo de tempo
<br>entre a reda��o do livro e a sua leitura, muitos outros
<br>excelentes livros foram editados.
<br>
<br>a) LITERATURA FUNDAMENTAL
<br>
<br>1 .Todos os livros das Obras B�sicas e artigos da Revista
<br>Esp�rita de Allan Kardec;
<br>2.Todos os livros de autoria de Emmanuel, Andr�
<br>Luiz, Joanna de Angelis e outros de n�veis equivalentes;
<br>
<br>b) LITERATURA IMPORTANT�SSIMA
<br>
<br>Todos os livros de Herculano Pires, Jorge Andrea,
<br>Le�n Denis, Richard Simonetti, Wilson Garcia, Cairbar
<br>Schutel, Hem�nio C. Miranda, Carlos Rizzini, Yvonne
<br>
<br>A. Pereira (m�dium), Suely Caldas Schubert (m�dium)
<br>entre outros equivalentes.
<br>ARRUDA, Luzia Helena Mathias. A vontade. Edi��es
<br>CELD.
<br>BONILHA, Pedro. Quem � seu filho. Editora Didier.
<br>CAF�, S�nia. O livro das atitudes. Pensamento.
<br>
<br>141
<br>
<br>
<br>O Espirita do S�CULO XXI
<br>
<br>CARVALHO, Vianna de. � luz do espiritismo. Alvorada.
<br>CARVALHO, Vianna. Enfoques esp�ritas. Capemi
<br>Editora.
<br>GUIMAR�ES, Luiz P. Nosso Lar. Vademecum Esp�rita.
<br>INCONTRI, Dora. A educa��o segundo o Espiritismo.
<br>FEESP
<br>Irm�o Jos� (Carlos Bacelli). Evangelho e doutrina. Editora
<br>Didier.
<br>Irm�o Jos� (Carlos Bacelli). Passo a passo. Editora
<br>Didier.
<br>LEAL, Vianna de Carvalho (Divaldo Pereira Franco).
<br>
<br>Reflex�es esp�ritas.
<br>MENDON�A, Jer�nimo. Crep�sculo de um cora��o.
<br>Rumo Editora.
<br>SILVA, Carlos Eduardo da. Guia orientativo ao expositor
<br>esp�rita. FEESP
<br>VIEIRA, Guaracy Paran� Leal (Divaldo Pereira Franco).
<br>Perfis da vida.
<br>Esp�ritos Diversos (Carlos Bacelli).Perseveran�a. Editora
<br>Didier.
<br>
<br>c) LITERATURA IMPORTANTE
<br>
<br>ALMEIDA, Napole�o Mendes de. Dicion�rio de quest�es
<br>vern�culas. Caminho Suave.
<br>BLANCHARD, Kenneth e JOHNSON, Spencer. O ge
<br>
<br>
<br>rente minuto. Record.
<br>BRANDEN, Nathaniel. Auto-estima e os seus seis pilares.
<br>Saraiva.
<br>CAMERON, J�lia. Guia pr�tico para a criatividade.
<br>Ediouro.
<br>
<br>142
<br>
<br>
<br>
<br>SUGEST�ES DE ESTUDOS E LEITURAS RARA O L�DER ESP�RITA
<br>
<br>CAMPOS, Vicente Falconi. TQC - controle da qualidade
<br>total. Funda��o Christiano Ottoni.
<br>CANFIELD, Jack e MILLER, Jacqueline. Cora��o no
<br>trabalho. Ediouro.
<br>CARNEGIE, Dale. Como evitar preocupa��es e come�ar
<br>a viver. Record.
<br>CARNEGIE, Dale. Como fazer amigos e influenciar pessoas.
<br>Record.
<br>COVEY, Stephen R. Os 7 h�bitos das pessoas muito
<br>eficazes. Best Seiler.
<br>DEEP, Sam e SUSSMAN, Lyle. Torne-se um l�der eficaz.
<br>Campus.
<br>GIBLIN, Les. Como ter seguran�a epoder nas rela��es
<br>
<br>com as pessoas. Maltese.
<br>GOSS, Tracy. A �ltima palavra em poder. Rocco.
<br>HAMEL, Gary e PRAHALAD, C. K. Competindo pelo
<br>
<br>futuro. Campus.
<br>HATAKEYAMA, Yoshio. A revolu��o dos gerentes. FCO.
<br>1 FiAWLEY, Jack. O redespertar espiritual no trabalho.
<br>Nova Era.
<br>JONES, Laurie Beth. Jesus CEO: com Jesus no cora��o
<br>
<br>da empresa. Ediouro.
<br>KONDO, Yoshio. Motiva��o humana. Gente.
<br>KOUZES e POSNER. O desafio da lideran�a. Campus.
<br>MALTZ, Maxwell. Liberte sua personalidade.
<br>
<br>Summus Editorial.
<br>MARGERISON, Charles e MCCANN, Dick.
<br>
<br>Gerenciamento de equipes. Saraiva.
<br>MASUR, Jandira. O frio pode ser quente? �tica.
<br>MIRANDA, Roberto Lira. Al�m da intelig�ncia emoci
<br>
<br>
<br>onal. Campus.
<br>OLIVEIRA, Alk�ndar de. Curso de Comunica��o Verbal
<br>(apostila).
<br>
<br>143
<br>
<br>
<br>. O Esp�rita do S�culo XXI ; , ._
<br>
<br>OLIVEIRA, Alk�ndar de. Viver bem � simples, n�s � que
<br>
<br>complicamos. Editora Didier
<br>OLIVEIRA, Marques. Como conquistar falando.
<br>
<br>Ediouro.
<br>OLIVEIRA, Milton de. Energia emocional. Makron
<br>
<br>Books.
<br>PORTER, Michael. Estrat�gia competitiva. Campus.
<br>RIBEIRO, J�lio. Fazer acontecer. Cultura.
<br>ROHDEN, Huberto. O serm�o da montanha. Martin
<br>
<br>Claret.
<br>STEWART, Thomas A. Capital intelectual. Campus.
<br>WEILL, Pierre. O corpo fala. Vozes.
<br>WEILL, Pierre.Rela��es humanas na fam�lia e no tra
<br>
<br>
<br>balho. Vozes.
<br>
<br>144
<br>
<br>
<br>ALK�NDAR DE OLIVEIRA,
<br>fundador e professor da
<br>Escola de L�deres, de Orat�ria
<br>e Vendas, � especialista em
<br>treinamentos e consultorias
<br>empresariais nas �reas de
<br>comunica��o, comportamento,
<br>motiva��o, criatividade e
<br>lideran�a. � consultor de
<br>empresas, conferencista e
<br>professor de comunica��o
<br>verbal, al�m de ministrar
<br>semin�rios no meio esp�rita.
<br>
<br>Graduado na �rea de
<br>Exatas, concluiu estudos
<br>circulares superiores em
<br>did�tica do ensino e psicologia
<br>da aprendizagem. E criador
<br>do m�todo Auto-Estima em
<br>Altae Resultados 100%. Entre
<br>seus clientes est�o a Aventis
<br>Pharma, McDonald's,
<br>Mercedes-Benz do Brasil,
<br>Tramontina e Volkswagen
<br>Servi�os. E autor
<br>de Torne Poss�vel o Imposs�vel,
<br>Viver � Simples, N�s � Que
<br>Complicamos, Espiritualidade
<br>na Empresa e Trabalho
<br>Volunt�rio na Casa Esp�rita.
<br>
<br>Contato com o Autor:
<br>
<br><a href="mailto:alkindar@zaz.com.br">alkindar@zaz.com.br</a>
<br>
<br>
<br><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr" class="gmail_attr"><br>De: <strong class="gmail_sendername" dir="auto">Reginaldo Mendes</strong> ,</div><br><div dir="ltr"><div style="font-size:small"><br></div><div class="gmail_quote"><br><br><div dir="ltr"><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif">Olá, pessoal:</span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif"> Este é mais um livro de nossa campanha de doação e digitalização de livros para atender aos deficientes visuais.</span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif"> Agradecemos ao irmão José Bernadino pela doação e ao irmão Fernando Santos pela digitalização.<br></span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:14pt;font-family:Arial,sans-serif;color:black"> Pedimos que não divulguem em canais públicos ou Facebook. Esta nossa distribuição é para atender aos deficientes visuais em canais específicos.</span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:14pt;font-family:Arial,sans-serif;color:black"><br></span></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjl9i6AXx8f7iaFicz7BMzzZgo5ES9mcRZvcMyipwdUDzm0BrcDbgEOnq3-Qjvmlo1pq206C2IkC0vaaRM7GJR7yjoIngCQW4A35NLE6F2EWYS_ib2K2oHCE3AURxLOzPLxrpVwpMgLc_0p8ZWh8FOUhSzabTSMcXQMIGa9siEDNKt2ZtjYrtEyTpyw9TA"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjl9i6AXx8f7iaFicz7BMzzZgo5ES9mcRZvcMyipwdUDzm0BrcDbgEOnq3-Qjvmlo1pq206C2IkC0vaaRM7GJR7yjoIngCQW4A35NLE6F2EWYS_ib2K2oHCE3AURxLOzPLxrpVwpMgLc_0p8ZWh8FOUhSzabTSMcXQMIGa9siEDNKt2ZtjYrtEyTpyw9TA=s320" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_7281799507444856514" /></a><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;font-size:large">O Grupo Allan Kardec lança hoje mais um livro digital !</span><br></p><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><font size="4">Desejamos a todos uma boa leitura !</font></div><div dir="ltr"><font size="4"><br></font></div><font size="4">O Espírita do Século XXI - Alkindar de Oliveira</font></div><div dir="ltr"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg59xC376VqxZx6Dw-bl_aLmAfUN-9eebGDre_kkl04WRb_f01Td7bGwi_1UWRl71zWh_KK96koWvMpqXZDIOl3YpSEWlmW0PeqqPMnDdsZiOaUEYxD1N3EacH3cWQ069lFzEIZRiIgLFhajj-kEUgIkTLGTjRrJ2s2p1lJ9uMcNiqMTmwaQWagfZl6iE8"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg59xC376VqxZx6Dw-bl_aLmAfUN-9eebGDre_kkl04WRb_f01Td7bGwi_1UWRl71zWh_KK96koWvMpqXZDIOl3YpSEWlmW0PeqqPMnDdsZiOaUEYxD1N3EacH3cWQ069lFzEIZRiIgLFhajj-kEUgIkTLGTjRrJ2s2p1lJ9uMcNiqMTmwaQWagfZl6iE8=s320" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_7281799519773607298" /></a><br></div><div><font size="4">Sinopse:</font></div><div><font size="4">Com o propósito de mostrar caminhos para abraçarmos nossos sérios compromissos de espíritas, este livro expõe e explica os principais procedimentos para divulgar a Doutrina Espírita</font></div><div><br></div><div><div id="m_-2130088805245609542m_8743960173553189502m_5244413531554168849gmail-:13g" style="direction:ltr;margin:8px 0px 0px;padding:0px;font-size:0.875rem;font-family:"Google Sans",Roboto,RobotoDraft,Helvetica,Arial,sans-serif"><div id="m_-2130088805245609542m_8743960173553189502m_5244413531554168849gmail-:13f" style="font-variant-numeric:normal;font-variant-east-asian:normal;font-variant-alternates:normal;font-kerning:auto;font-feature-settings:normal;font-stretch:normal;font-size:small;line-height:1.5;font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;overflow:hidden"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;color:rgb(80,0,80);line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:large;color:rgb(0,0,0);font-family:Arial">Lançado pelo Grupo Allan Kardec : </span></p><p><font color="#000000" face="Arial"><font size="4"><a href="https://groups.google.com/forum/?hl=pt-br#!forum/grupo-espirita-allan-kardec" target="_blank">https://groups.google.com/forum/?hl=pt-br#!forum/grupo-espirita-allan-kardec</a></font></font></p><p><font color="#000000" face="Arial" style="font-size:large">Nosso grupo parceiro Mente Aberta :</font></p><p><a href="https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/grupo-de-livros-mente-aberta" target="_blank">https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/grupo-de-livros-mente-aberta</a></p></div></div></div></div></div></div></div></div><div></div><div></div><div></div></div></div><div id="m_-2130088805245609542m_8743960173553189502m_5244413531554168849gmail-:zx" style="font-size:0.875rem;margin:15px 0px;clear:both;font-family:"Google Sans",Roboto,RobotoDraft,Helvetica,Arial,sans-serif"><br></div></div></div></div></div></div></div></div> </div><br clear="all"><div><br></div><span class="gmail_signature_prefix">-- </span><br><div dir="ltr" class="gmail_signature" data-smartmail="gmail_signature"><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"> <p><br></p><p><br></p><p><br></p><p>BLOG DOS AMIGOS DO REGINALDO</p><p class="MsoNormal">BLOG DE TELENOVELAS</p><p class="MsoNormal"><a href="https://blogdetelenovelas.blogspot.com/" target="_blank">https://blogdetelenovelas.blogspot.com/</a></p><p class="MsoNormal"> </p><p class="MsoNormal">BLOG DO SÉRGIO GALDINO</p><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10.5pt;line-height:107%;font-family:Roboto">Sergio Galdino</span><br style="color:rgba(0,0,0,0.87)"> <br style="color:rgba(0,0,0,0.87)"> <a href="http://blogdevariedades1.blogspot.com.br/?zx=4ef263e49f1f0aa2" target="_blank"><span style="font-size:10.5pt;line-height:107%;font-family:Roboto;color:rgb(26,115,232)">http://blogdevariedades1.blogspot.com.br/?zx=4ef263e49f1f0aa2</span></a></p><p> <br></p> <p> </p></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div><div><br></div><span class="gmail_signature_prefix">-- </span><br><div dir="ltr" class="gmail_signature" data-smartmail="gmail_signature"><div dir="ltr"><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Abraços fraternos!</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial"> </span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Bezerra</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Blog de livros</span></p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Blog de vídeos</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Meu canal:</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk" target="_blank">https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk</a><br></p></div></div></div> <p></p> -- <br /> -- <br /> Seja bem vindo ao Clube do e-livro<br /> <br /> Não esqueça de mandar seus links para lista .<br /> Boas Leituras e obrigado por participar do nosso grupo.<br /> ==========================================================<br /> Conheça nosso grupo Cotidiano:<br /> <a href="http://groups.google.com.br/group/cotidiano">http://groups.google.com.br/group/cotidiano</a><br /> <br /> Muitos arquivos e filmes.<br /> ==========================================================<br /> <br /> <br /> Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "clube do e-livro" em Grupos do Google.<br /> Para postar neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro@googlegroups.com<br /> Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro-unsubscribe@googlegroups.com<br /> Para ver mais opções, visite este grupo em <a href="http://groups.google.com.br/group/clube-do-e">http://groups.google.com.br/group/clube-do-e</a>-<br /> --- <br /> Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "clube do e-livro" dos Grupos do Google.<br /> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para <a href="mailto:clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com">clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com</a>.<br /> Para ver essa discussão na Web, acesse <a href="https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhmLRED67xuJ4PdDdMFtDG-xf3%3DAqRBHj7RLpCxkUj7sDA%40mail.gmail.com?utm_medium=email&utm_source=footer">https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhmLRED67xuJ4PdDdMFtDG-xf3%3DAqRBHj7RLpCxkUj7sDA%40mail.gmail.com</a>.<br /> Capixabahttp://www.blogger.com/profile/13630360338415941372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5804863141581911173.post-13933023305066087982023-09-22T16:37:00.000-07:002023-09-22T16:39:40.428-07:00{clube-do-e-livro} Lançamento : A Última Convidada - Josué Montello -Formatos : epub,mobi,pdf e txtA �ltima convidada
<br>
<br>Ao fim de sucessivos estudos cr�ticos
<br>sobre a obra romanesca de Josu� Montello,
<br>Alceu Amoroso Lima (Trist�o de Athayde)
<br>n�o hesitou em reconhecer que o mestre
<br>de Noite sobre Alc�ntara, Os tambores de S�o
<br>Lu�s, O sil�ncio da confiss�o, Uma varanda
<br>sobre o sil�ncio, Cais da sagra��o, � um dos
<br>que mais sabem tra�ar, de modo magistral,
<br>entre nossos romancistas consagrados, o
<br>plano de um romance.
<br>
<br>Este seu novo romance, A �LTIMA
<br>CONVIDADA , confirma plenamente o ju�zo
<br>de nosso maior cr�tico.
<br>
<br>Iniciada a leitura de A �LTIMA
<br>CONVIDADA, logo o leitor se v� envolvido
<br>por sua trama, no crescente interesse da
<br>narrativa, e a� est� o ponto fundamental da
<br>arte do grande narrador.
<br>
<br>L�mpido, senhor de uma prosa
<br>transparente e transl�cida, que � tamb�m um
<br>modelo de l�ngua portuguesa, Josu� Montello
<br>s� reclama para si a gl�ria de ser um
<br>contador de hist�rias, aliciando
<br>gradativamente o seu leitor e
<br>proporcionando-lhe, com o fluxo narrativo
<br>de seu romance, uma nova penetra��o nos
<br>mist�rios da consci�ncia humana.
<br>
<br>Sem repetir-se, sem buscar o efeito f�cil
<br>de lances meramente apelativos, sem desviar-
<br>se do caminho que se tra�ou, ajustando seus
<br>romances � melhor tradi��o narrativa, a que
<br>incorporou as solu��es t�cnicas modernas,
<br>ajust�veis aos valores fundamentais do
<br>romance como g�nero liter�rio de express�o
<br>popular, Josu� Montello construiu toda uma
<br>vasta saga romanesca, na qual se refletem os
<br>problemas da condi��o humana, enquanto
<br>indiv�duo ou personagem, e os valores da
<br>condi��o social, enquanto n�cleo coletivo
<br>de conte�do pol�tico.
<br>
<br>A �LTIMA CONVIDADA incorpora �
<br>saga montelliana um elemento novo � o da
<br>transcend�ncia dessa mesma condi��o,
<br>privativo do pr�prio ser humano, e presente
<br>em obras cl�ssicas da literatura universal,
<br>como em The tum of the screw, de Henry
<br>James. Ou seja: algo em que esse ser vai al�m
<br>de si mesmo, na consci�ncia de seus pr�prios
<br>enigmas e mist�rios.
<br>
<br>
<br>JOSU� MONTELLO
<br>
<br>
<br>A Ultima
<br>
<br>
<br>Convidada.
<br>
<br>
<br>ROMANCE
<br>
<br>A
<br>
<br>
<br>EDITORA
<br>NOVA
<br>FRONTEIRA
<br>
<br>
<br>
<br>
<br>� 1989, by Josu� Montello
<br>
<br>
<br>Direitos de edi��o da obra em l�ngua portuguesa adquiridos pela
<br>EDITORA NOVA FRONTEIRA S/A
<br>Rua Bambina, 25 - CEP 22251 - Botafogo - Tel.: 286-7822
<br>Endere�o telegr�fico: NEOFRONT - Telex: 34695 ENFS BR
<br>Rio de Janeiro, RJ
<br>
<br>
<br>Revis�o tipogr�fica
<br>IZIDORO R. MARTINS
<br>HENRIQUE TARNAPOLSKY
<br>�LVARO TAVARES
<br>
<br>CIP-Brasil. Cataloga��o-na-fonte
<br>Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
<br>
<br>
<br>Montello, Josu�, 1917
<br>
<br>
<br>M781u A �ltima convidada: romance / Josu� Montello. � Rio de Janeiro :
<br>Nova Fronteira, 1989.
<br>(Romances de autores nacionais)
<br>
<br>1. Romance brasileiro. 1. T�tulo. II. S�rie
<br>CDD - 869.93
<br>89-0218 CDU - 869.0(81)-3
<br>
<br>
<br>Ao Sebasti�o Lacerda,
<br>amigo e companheiro,
<br>este romance � dedicado.
<br>
<br>
<br>PREF�CIO
<br>
<br>Olho na dire��o da amiga e companheira. Est� a um canto,
<br>nesta sala aconchegada, que � tamb�m o ch�o de minha
<br>semeadura. Recolheu-se ali, pelo meio da tarde, para terminar
<br>de ler os originais deste romance. Falo-lhe, e n�o me ouve, concentrada
<br>na leitura. Por fim, j� com a luz que se recolhe, ergue
<br>para mim os olhos �midos, e um sorriso bom, alto e superior
<br>se alastra no seu rosto.
<br>
<br>Jamais aspirei a outra recompensa para o meu trabalho.
<br>E a verdade � que nunca me debrucei tanto sobre um romance
<br>como o fiz com este. Primeiro, o longo tempo em que passei
<br>com ele na consci�ncia, constante, imperativo. Depois, no amplo
<br>sil�ncio de minhas madrugadas, as sucessivas reda��es do
<br>mesmo texto, emendando, cortando, acrescentando, sempre
<br>atento a esta obstinada inclina��o � transpar�ncia, ao equil�brio
<br>e � simplicidade objetiva, sem perder de vista a m�sica
<br>da frase.
<br>
<br>Por fim, a certeza �ntima de que o romance, retocado, polido,
<br>trabalhado, constitu�a uma realidade aut�noma que de
<br>mim se desprendera, enquanto se aproximava a saudade do porfiado
<br>esfor�o para lhe dar meu sangue, minhas emo��es e minha
<br>vida. � verdade: agora n�o � mais meu. H� de viver por
<br>si, com a sua simplicidade e as suas limita��es, como um pequeno
<br>ser obscuro e solit�rio que se perde na multid�o.
<br>
<br>Ao todo, neste meu canto, com igual obstina��o, j� s�o
<br>18 romances, um diferente do outro, cada qual ajustado ao conjunto,
<br>com o mesmo rigor, o mesmo cuidado. O primeiro deles,
<br>Janelas fechadas, escrito aos vinte anos, foi refundido aos
<br>cinq�enta: da primeira edi��o, s� restaram algumas linhas do
<br>
<br>7
<br>
<br>
<br>come�o, outras do fim, e o mesmo drama, e as mesmas personagens,
<br>como se eu houvesse reconstru�do a casa inteira,
<br>conservando-Ihe os moradores. Ganhou com isso. Estava matinal
<br>demais. Assim, sim: podia continuar o seu caminho.
<br>
<br>De vez em quando, ao longo deste meu paciente itiner�rio,
<br>tenho ouvido louvores generosos e compreensivos, que
<br>guardo comigo, na sele��o dos meus pap�is, e tamb�m censuras
<br>aguerridas, que sempre interpretei benevolentemente, sabendo
<br>que tenho meu c�digo, meu modo de ser, como prop�sito
<br>e como roteiro. Agora, suponho, j� devo ser julgado pelo
<br>conjunto. Bom? Mau? Queixem-se a Deus os que tiverem queixas.
<br>Foi assim que Deus quis que eu fizesse. E eu fiz.
<br>
<br>Vai aqui um bom exemplo ilustrativo da restri��o sum�ria:
<br>"A fragilidade do livro � que seu autor n�o � um escritor.
<br>Seu estilo � por vezes indeciso, incorreto e vulgar."
<br>
<br>Excessivo? �spero demais? Um momento, por favor. Essa
<br>censura nada tem a ver comigo nem com qualquer um de
<br>meus romances. N�o, n�o tem. O autor censurado � Flaubert;
<br>
<br>o romance, Madame Bovary. Saiu em Paris, em Le F�garo, em
<br>28 de junho de 1857.
<br>Obrigado.
<br>
<br>J. M.
<br>Paris, 1988.
<br>
<br>8
<br>
<br>
<br>Le roman est l'expression de la conscience
<br>humaine.
<br>
<br>FRAN�OIS MAURIAC, Ma conception du
<br>roman
<br>
<br>La vie est le plus grand des romanciers, mais
<br>elle ne sait pas �crire. Elle jette en vrac des richesses
<br>extraordinaires � celui qui sait s'en servir.
<br>Au romancier d'y puiser et de rendre tout
<br>cela intelligible.
<br>
<br>JULIEN GREEN, L'Arc-en-ciel
<br>
<br>
<br>PRIMEIRA PARTE
<br>
<br>Les choses ont diverses qualit�s, et l'�me
<br>diverses inclinations; car rien n 'est simple de
<br>ce qui s'offre � l'�me, et l'�me ne s'offre jamais
<br>simple � aucun sujet. De l� vient qu'on
<br>pleure et qu'on rit d'une m�me chose.
<br>
<br>PASCAL, Pens�es
<br>
<br>Et, une demi-heure apr�s, la pens�e qu 'il
<br>�tait temps de chercher le sommeil m'�veillait;
<br>je voulais poser le volume que je croyais avoir
<br>encore dans les mains et souffler la lumi�re;
<br>je n'avais pas cess� en dormant de faire des
<br>r�flexions sur ce que je venais de lire, mais ces
<br>r�flexions avaient pris un tour un peu
<br>particulier.
<br>
<br>MARCEL PROUST, A la recherche du
<br>temps perdu
<br>
<br>
<br>PRIMEIRO CAP�TULO
<br>
<br>1
<br>
<br>Todas as noites, sempre que apagava a l�mpada de cabeceira,
<br>o mesmo receio das longas horas de ins�nia lhe subia
<br>� consci�ncia, e ela permanecia quieta, um pouco de lado, repetindo
<br>os velhos expedientes que lhe tinham ensinado, ou que
<br>ela pr�pria inventara, na perp�tua ast�cia para adormecer: a
<br>sucess�o dos pinheiros na floresta infinita; os patos que formavam
<br>uma longa fila nas �guas da lagoa, nadando na mesma
<br>dire��o, um atr�s do outro; os palitos que ela ia tirando
<br>de uma caixa de f�sforos, no cuidado de esvazi�-la sem pressa,
<br>metodicamente; os soldados que desfilavam com o mesmo
<br>passo, o mesmo uniforme, a mesma carabina ao ombro, e iam
<br>marchando ao som dos mesmos tambores: tam-tam, ratapl�;
<br>tam-tam, ratapl�.
<br>
<br>Por vezes, gra�as a esses recursos mentais, o sono lhe vinha,
<br>e ela resvalava da vig�lia para o sonho, sem sentir a transi��o
<br>misteriosa. E era sempre o mesmo sono mitigado, de duas
<br>a tr�s horas, no m�ximo quatro. Logo lhe vinha a vontade de
<br>alongar o p� para fora da cama, tateando o tapete do ch�o
<br>em busca das sand�lias. Antes, olhava o rel�gio de cabeceira,
<br>guardado dentro da gaveta para que n�o a despertasse com seu
<br>tique-taque nervoso. Se j� passava das quatro horas, continuava
<br>a leitura interrompida no momento em que se alongara na cama,
<br>na esperan�a de adormecer. Em caso contr�rio, tornava
<br>a apagar a l�mpada, acomodava-se novamente no leito, e ficava
<br>a ouvir a respira��o do Rodrigo, ali ao seu lado, em pleno
<br>sono.
<br>
<br>13
<br>
<br>
<br>Raras vezes o sono lhe voltava. Quando n�o vinha, Patr�cia
<br>tratava de permanecer quieta, na vig�lia da madrugada. Mas
<br>s� raramente permanecia assim por mais uma hora, n�o tardando
<br>a ouvir os ru�dos da manh� que despontava com a primeira
<br>claridade t�mida, o bater de um port�o, o ru�do de passos
<br>na cal�ada da rua, o latido dos c�es, o sopro da vira��o
<br>nas �rvores do parque, at� que se calava o silvo estridente do
<br>apito dos guardas de seguran�a, na ronda noturna em volta
<br>da casa.
<br>
<br>Como acontecia com freq��ncia n�o ter o marido ao S �U
<br>lado, sempre �s voltas com as viagens para Nova Iorque, para
<br>Londres, para Roma, para Buenos Aires, para o Rio de Janeiro,
<br>a servi�o de suas empresas, ela acabara por habituar-se a
<br>dormir sozinha, na vasta cama e no quarto espa�oso, protegida
<br>pelo crucifixo da parede, e pelo ter�ozinho de prata, sob
<br>
<br>o travesseiro.
<br>Ainda bem que o Rodrigo n�o tardava a regressar. Por
<br>vezes, no seu ir e vir, fazia-lhe esta surpresa: ela, ao despertar,
<br>dava com ele ali, j� adormecido. Ou ent�o lhe ouvia os passos
<br>na escada, o ranger da chave na porta, e levantava-se, radiante,
<br>ansiosa, para ir ao seu encontro, quase despida pela incid�ncia
<br>da luz na transpar�ncia da camisola.
<br>
<br>E como sabia que ele sempre a queria, quando voltava das
<br>viagens, ajudava-o a p�r o pijama; ia buscar-lhe os dois dedos
<br>de u�sque; preparava-lhe um sandu�che; ouvia-lhe as novidades;
<br>recebia as lembran�as; esperava que ele fosse ao banheiro;
<br>escutava o ru�do da escova de dentes, depois o ranger
<br>da porta que voltava a descerrar-se com o mesmo rangido da
<br>dobradi�a.
<br>
<br>J� ela o aguardava, nua, sob o len�ol.
<br>
<br>A excita��o da entrega, demorada, por vezes repetida,
<br>alvoro�ava-lhe os sentidos, e ela voltava depois a ler, sabendo
<br>que entraria pela madrugada com o livro nas m�os.
<br>
<br>Desta vez, enquanto ele dormia, como se o sono profundo
<br>o fosse levando noite afora, Patr�cia apanhou ao acaso, na
<br>mesa-de-cabeceira, um dos romances que ele lhe havia trazido,
<br>e deu por si na capela da igreja de S�o Jorge, em Nova
<br>Iorque, assistindo ao casamento de Kay Leilans Strong com
<br>
<br>14
<br>
<br>
<br>Harold Petersen. Logo se lembrou, com saudade, de seu pr�prio
<br>casamento, n�o numa capelinha, como o de Kay, mas no
<br>altar-mor da catedral g�tica onde fora batizada. Assim como
<br>Kay, na capela, tivera a presen�a das colegas de turma, uma
<br>semana depois de deixar a universidade, ela, Patr�cia, tamb�m
<br>pudera ver � sua volta, na vasta nave da catedral repleta de convidados,
<br>as colegas da Escola Normal.
<br>
<br>E com o romance de Mary McCarthy aberto sobre o peito,
<br>Patr�cia levou alguns momentos im�vel, de olhos no ar, sentindo
<br>crescer em seu �ntimo a saudade de si mesma, como se
<br>voltasse para tr�s a roda do tempo. Esqueceu a sua ins�nia,
<br>deixou de ouvir o espa�ado latir dos c�es nas alamedas do parque,
<br>n�o escutou o apito dos guardas, n�o se distraiu com o
<br>ru�do de passos na cal�ada, toda ela concentrada nas colegas
<br>que ia recordando, no uniforme de saia azul e blusa branca,
<br>cada qual no seu lugar na sala de aula � a vasta sala de esquina,
<br>com quatro janelas de frente, outras quatro � esquerda,
<br>todas recolhendo a claridade e o bul�cio das ruas que ali se
<br>encontravam, no aclive da ladeira.
<br>
<br>Um come�o de arrepio crispou-lhe o corpo, como se, l�
<br>fora, o tempo fosse mudar, e ela olhou em volta, � procura
<br>da camisola: l� estava, no bra�o da poltrona. No momento de
<br>tornar a vesti-la, olhou-se no espelho grande, � sua frente. O
<br>Rodrigo tinha raz�o: ningu�m lhe daria a idade verdadeira, com
<br>aqueles seios altos e rijos, aquela cinturinha, aqueles quadris,
<br>aquelas coxas, aqueles cabelos negros. Contente consigo mesma,
<br>ergueu os bra�os acima da cabe�a, deixou cair a camisola
<br>ao longo do corpo.
<br>
<br>Antes de deitar-se, recomp�s o gesto do marido, ainda despido,
<br>a alongar o bra�o at� a mesa-de-cabeceira, para trazer
<br>dali o copo de u�sque, que sorveu em dois goles, e a cigarreira
<br>de prata, da qual tirara o cigarro para o canto da boca. Em
<br>seguida, sentado na borda do leito, acendeu o isqueiro. E foi
<br>ent�o que ele lhe observou, ainda com a chama diante dos
<br>olhos:
<br>
<br>� Com esse teu corpo, ningu�m d� a tua idade.
<br>E ela, jubilosa:
<br>� Eu s� queria que visses a cara de espanto de minha mas15
<br>
<br>
<br>
<br>sagista quando eu lhe disse que ia fazer quarenta anos. Arregalou
<br>os olhos, levantou as sobrancelhas, duvidando: "N�o,
<br>n�o pode ser, D. Patr�cia." E eu tive de repetir, s�ria, para ela
<br>acreditar.
<br>
<br>Sentado na cama, ele acabou de abotoar o pijama, sempre
<br>com o cigarro pendente dos l�bios. Via-se-lhe o ar saciado
<br>na placidez do rosto cheio, no brilho dos olhos sonolentos, na
<br>agilidade das m�os cabeludas. E alongando-se na cama, ap�s
<br>esmagar o cigarro no cinzeiro:
<br>
<br>� Tamb�m a mim ningu�m d� cinq�enta anos. Tu que
<br>o digas.
<br>Ela riu alto, sentindo-lhe a mal�cia. E no mesmo tom, com
<br>o mesmo riso:
<br>� Ainda bem que eu te acompanhei.
<br>Rodrigo repetiu a risada, afagando-lhe a coxa nua, que
<br>se estendia a seu lado, enquanto ela tratava de afastar-lhe o
<br>bra�o, como no temor de que ambos voltassem a se excitar:
<br>
<br>� Agora, trata de dormir.
<br>E p�de ver que o marido, assim que cerrou as p�lpebras,
<br>mergulhou no sono profundo, passageiro tranq�ilo na imensid�o
<br>da noite. Afagou-lhe os cabelos revoltos, cobriu-lhe os
<br>ombros com a ponta do len�ol, demorou uns momentos a
<br>admirar-lhe o semblante pl�cido, j� com os fios da barba come�ando
<br>a apontar.
<br>
<br>De costas para o espelho, Patr�cia estendeu a vista para
<br>
<br>o marido, j� com a camisola descida para os p�s descal�os.
<br>Tornando � cama, retomou a leitura do romance. E voltou a
<br>ver as colegas da Escola Normal, no grupo de companheiras
<br>de Kay Strong.
<br>2
<br>
<br>Ouvindo bater o rel�gio do sal�o, vagaroso, ressoante,
<br>espantou-se, fechou o livro. Duas horas? N�o podia permanecer
<br>acordada, lendo, madrugada afora. Do contr�rio, pela ma
<br>
<br>
<br>16
<br>
<br>
<br>nh�, n�o sentiria disposi��o para dar a volta ao parque e mergulhar
<br>na piscina. Al�m do mais, seus olhos come�avam a arder
<br>com a luz do abajur.
<br>
<br>J� havia lido boa parte do romance. A despeito das interrup��es
<br>sucessivas, sempre descobria concord�ncias entre as
<br>colegas de Kay e as suas colegas da Escola Normal, como se
<br>a vida de l� e a vida daqui, n�o obstante os contrastes naturais,
<br>caprichassem em multiplicar identidades e analogias. O
<br>caso da Lottie, deflorada pelo maluc�o do Dick num quartinho
<br>de s�t�o, devia ser igual ao caso da Carminha, deflorada
<br>pelo maluco do Pierre, dois meses antes da formatura dela,
<br>e de que lhe resultaram a gravidez e o casamento precipitado.
<br>
<br>E conclu�a, j� com o livro fechado:
<br>
<br>� Tamb�m o Pierre morava num apartamentinho apertado,
<br>de onde saiu para o apartamento da Carminha, que fazia
<br>quest�o de morar com os pais, como filha �nica. Para viver
<br>at� hoje � custa dela, coitada.
<br>Antes de apagar a l�mpada, Patr�cia tornou a olhar em
<br>volta para ver se tudo estava em ordem. Iria dormir? Ou continuaria
<br>a debater-se com a sua ins�nia, contra a qual lutara
<br>por mais de dez anos, tomando sempre o mesmo tranq�ilizante,
<br>que s� lhe proporcionava o sonozinho mitigado e o gosto amargo
<br>da saliva matinal, al�m de pesadelos freq�entes nos quais
<br>se perdia por vielas estranhas, a p�, sem saber como voltar para
<br>casa.
<br>
<br>Ainda bem que o Dr. Nuno Vaz, pouco antes de partir
<br>de vez para os Estados Unidos, contratado pela cl�nica Mayo,
<br>lhe dera o conselho exato, � mesa do jantar, quando a conversa
<br>resvalou para as ins�nias rebeldes, de que tamb�m se queixava
<br>o Embaixador americano:
<br>
<br>� Eu aconselho os meus clientes a terem paci�ncia. Paci�ncia
<br>com o pr�prio corpo. Ele � que sabe o sono e o descanso
<br>de que precisa. Rem�dio para dormir s� nos casos graves
<br>em que a ins�nia j� � um sintoma patol�gico. Fora da�, n�o.
<br>E para o velho pintor, de gravata � Lavalli�re, que parecia
<br>ter o gosto e a vaidade de seus cabelos brancos:
<br>
<br>� Sobretudo em casos como o seu. Ou como o meu. Sim,
<br>sim, como o meu: depois de certa idade, Deus nos diminui o
<br>17
<br>
<br>
<br>sono para nos aumentar a vida. E muita gente, sem saber disso,
<br>teima em tomar rem�dio para dormir, como se a vig�lia n�o
<br>fosse um pr�mio, ou uma d�diva, quando a vida vai encurtando.
<br>
<br>Ela, Patr�cia, batera-lhe palmas. E a mesa toda a acompanhou,
<br>enquanto o Dr. Nuno Vaz torcia as pontas do bigode,
<br>com jeito de quem exibisse a bela cabe�a precocemente
<br>grisalha.
<br>
<br>Nesse mesmo dia, Patr�cia pusera de lado o tranq�ilizante.
<br>Noites seguidas, obstinara-se em dispens�-lo, e o certo � que,
<br>ao fim de quase uma semana, acabara mesmo por adormecer.
<br>Passara pelo mesmo sono leve, de que despertara descansada,
<br>com disposi��o para a piscina e o parque. Ap�s o almo�o, alongava
<br>o corpo na cama ou no sof�, para a sonol�ncia da sesta.
<br>E � noite s� recorria � metade do tranq�ilizante se alguma preocupa��o
<br>lhe alvoro�ava os nervos.
<br>
<br>Ainda ouvindo ressoar o rel�gio do sal�o, chegou a quebrar
<br>o comprimido para tom�-lo, mas de pronto o rep�s na
<br>gaveta da mesa-de-cabeceira, alertada por um come�o de sonol�ncia.
<br>Deu curso ao bocejo na palma da m�o, enquanto
<br>volvia-a pensar que dentro de tr�s meses estaria a completar
<br>quarenta anos � a que correspondiam os dezoito de seu casamento.
<br>
<br>
<br>Antes de apagar a luz do abajur, puxou mais para cima
<br>
<br>o len�ol, tornando a cobrir os ombros de Rodrigo, que parecia
<br>ir longe no seu sono de pedra. Beijou-lhe a cabe�a, correu
<br>a m�o suave pela testa espa�osa, sem que ele sentisse.
<br>� � mesmo o meu menino � reconheceu, maternalmente.
<br>E j� � espera do sono, vendo apenas a claridade vermelha
<br>da lampadazinha do orat�rio, no aposento cont�guo, cerrou
<br>de manso as p�lpebras, novamente a pensar nos seus quarenta
<br>anos.
<br>
<br>� Eu, Patr�cia, j� quarentona, parecendo ter menos de
<br>trinta. Esta mesma que aqui est�. Menina de sa�de delicada,
<br>que faltava muito � escola p�blica e era a primeira da classe,
<br>sempre a dar trabalho � M�e Ded�. E que depois ficou forte,
<br>saud�vel, com os cuidados que ela teve comigo, com seus ch�s,
<br>com as suas gemadas. En�rgica. Decidida. Bonita. Sempre ao
<br>lado da filha. Costurando, cantando, cozinhando. Gra�as a ela,
<br>18
<br>
<br>
<br>me formei, casei, sou feliz. S� n�o lhe dei o neto com que tanto
<br>sonhou. Fazia milagres com seus doces e suas costuras. Muito
<br>orgulhosa. Nada queria receber do marido, que a deixara por
<br>uma loura alta, de fala estrangeira. A mesma que atendia o
<br>telefone quando eu tinha de falar com meu pai. E eu s� falava
<br>sem M�e Ded� saber. Nunca deixei que ela soubesse. A vida
<br>� tamb�m assim. Paci�ncia. Cada qual com seus segredos.
<br>
<br>Via M�e Ded�, com o ferro de engomar, passando-lhe o
<br>uniforme, tarde, na noite de estio. Ela, Patr�cia, a um lado da
<br>mesa, a preparar-se para a prova do dia seguinte, j� quase no
<br>fim do curso, e M�e Ded�, na outra cabeceira, alisando a saia
<br>pregueada que a filha vestir� pela manh�.
<br>
<br>De repente, M�e Ded� deixa o ferro no descanso de metal.
<br>E olha Patr�cia, que se mant�m de cabe�a baixa:
<br>
<br>� Escuta aqui: que hist�ria � essa que a m�e da Simone
<br>me contou, � tarde, pelo telefone, querendo gritar comigo? Tomaste
<br>o namorado da Simone? Brigaste com ela? Eu disse �
<br>m�e da Simone que n�o sabia de nada. E tive de falar alto com
<br>ela, quando quis falar mal de ti. Acabei batendo com o telefone
<br>no ouvido dela.
<br>Patr�cia ergue o olhar, com as m�os sobre o caderno de
<br>apontamentos para a prova, sentindo que seu cora��o se acelerou;
<br>mas acaba por dar por si subindo a escadinha estreita
<br>na piscina, no Clube de Regatas, ao sol da manh� alta. Sobe
<br>depressa, apoiando-se no corrim�o de ferro, com o vento leve
<br>a arrepiar-lhe a epiderme, para atirar-se da ponta do trampolim.
<br>Antes do salto, olha � sua volta, e de s�bito arranja o olhar,
<br>para simular que n�o est� vendo.
<br>
<br>� � ele, sim � reconhece, identificando o senhor moreno,
<br>de ar juvenil, camisa aberta sobre o peito cabeludo, e que
<br>assesta em sua dire��o a m�quina fotogr�fica, parado na borda
<br>da piscina.
<br>J� fez trinta anos, e parece ter vinte e cinco, ou menos,
<br>assim �gil, decidido, com o tom moreno do rosto a emergir
<br>do costume claro, muito bem talhado. Ela o conhece de fotografia,
<br>mostrada pela Simone. Ele, por seu lado, d� a impress�o
<br>de que tamb�m a conhece, e l� de baixo lhe faz um gesto
<br>
<br>19
<br>
<br>
<br>para que espere um momento. Logo corrige a abertura do diafragma,
<br>ajustando-o � claridade excessiva:
<br>
<br>� Agora � ordena-lhe.
<br>Ela se projeta � frente, descrevendo a curva harmoniosa,
<br>e vem descendo para o espelho da �gua, senhora de seu corpo
<br>e de seus movimentos: mergulha de cabe�a, sempre fletindo
<br>os bra�os, e emerge mais adiante, sempre seguida pelo olho
<br>da m�quina, que vai repetindo as fotos, taque, taque, e Patr�cia
<br>vem vindo, a exibir-se.
<br>
<br>Enquanto nada, ela v� que ele percorre a borda da piscina,
<br>trope�a, consegue equilibrar-se, e toda a figura compacta
<br>e �gil est� nos olhos atentos que seguem as bra�adas de Patr�cia,
<br>recolhendo os flagrantes, seguindo o corpo perfeito que
<br>vem agora nadando de costas, com algo de vol�pia ostensiva
<br>na harmonia com que o sexo reflui, coberto pelo maio azul,
<br>quase negro, acompanhando as coxas morenas que ora se contraem,
<br>ora se distendem, na cintila��o do sol sobre a pele
<br>molhada.
<br>
<br>E ele, como se s� ent�o lhe lembrasse o nome:
<br>
<br>� Um momento mais, Patr�cia.
<br>E perto, como em d�vida:
<br>� Voc� n�o � a Patr�cia? J� sabe quem sou eu?
<br>Ela sustou a bra�ada, ergueu a cabe�a:
<br>� Rodrigo � confirmou.
<br>E ele, feliz:
<br>� Bati a foto quando voc� disse meu nome. Agora, somos
<br>amigos.
<br>Patr�cia ergueu mais o bra�o direito, acenando-lhe, como
<br>num adeus, e outra vez mergulhou, e outra vez alcan�ou o outro
<br>lado da piscina, assim que voltou ao lume da �gua, para
<br>nadar novamente, j� agora com a cabe�a levantada, e sorrindo.
<br>Ele corria, batia outras fotos; voltava, sempre de m�quina
<br>assestada. Correndo, trocou duas vezes o filme; teve uma id�ia
<br>instant�nea: subiu ao trampolim, e de l� continuou a fotografar
<br>Patr�cia, tomado agora de uma alegria transbordante, rindo
<br>alto, gesticulando, at� que a viu acercar-se da borda de ladrilhos,
<br>para sair.
<br>
<br>E Patr�cia n�o p�de deixar de rir ao ver que, subindo pe
<br>
<br>
<br>20
<br>
<br>
<br>la escadinha de metal, j� ele se postara � sua frente, de bra�o
<br>estendido, para lhe dar a m�o nos �ltimos degraus:
<br>
<br>� Suas fotograf�as v�o ficar sensacionais, Patr�cia. Sensa-
<br>cio-nais, pode crer. As mais belas que j� tirei.
<br>E abrindo a toalha de felpo, que magicamente lhe apareceu
<br>no ombro direito, por cima da manga do palet�, envolveu
<br>Patr�cia pelas costas:
<br>
<br>� Com sua licen�a.
<br>Por�m ela, com rapidez, desvencilhou-se das m�os que lhe
<br>enxugavam as esp�duas, pondo-se de frente, com toda a naturalidade,
<br>enquanto ele, a olh�-la nos olhos, tratava de aplaudila,
<br>rindo alto:
<br>
<br>� Muito bem, muito bem. � assim mesmo que se deve
<br>fazer. Se eu teimasse, devia bater-me nas m�os intrometidas.
<br>Gostei. Parab�ns.
<br>E desfazendo o riso:
<br>
<br>� Daqui, assim que cheguei, telefonei para a Simone. Foi
<br>a D. Zita que atendeu. A Simone n�o podia me falar. Acordara
<br>com a famosa enxaqueca. N�o sairia do quarto. Quando melhorasse,
<br>me telefonava.
<br>Patr�cia enxugava os cabelos. E de costas:
<br>
<br>� Ela n�o lhe disse que vir�amos juntas?
<br>� Disse, e eu adivinhei que voc� era voc�, tanto pelo que
<br>me disse a Simone, quanto por essa tran�a comprida, que parece
<br>com a dela. Posso elogiar? Como voc� � bonita! Agora,
<br>quando eu tamb�m disser que voc� � linda, tenho a prova na
<br>m�o: exibo as fotografias que tirei.
<br>Bateu outra foto:
<br>
<br>� Mais uma para a cole��o. Assim, enxugando os p�s.
<br>Mais outra. Outra mais. Assim, tornando a enxugar a tran�a.
<br>E ela, inclinando a cabe�a, olhando-o de lado:
<br>
<br>� Ponto final. Agora, vou me vestir.
<br>Caminhou para a cabina, no andar lento e certo que ele
<br>acompanhou, ainda falando, � dist�ncia de um passo:
<br>
<br>� Minha prima Simone n�o tem jeito. Com ela n�o se
<br>pode contar. Olhe que cancelei v�rios compromissos desta manh�
<br>para vir aqui. Eu venho e ela n�o aparece. N�o aparece,
<br>mas acabei premiado, conhecendo voc�, Patr�cia. Ganhei meu
<br>21
<br>
<br>
<br>dia. S� o dia? N�o. Mais. Muito mais. Posso lhe fazer um convite?
<br>N�o se importa de almo�ar comigo? Aqui, ou no Jockey?
<br>
<br>Patr�cia, sempre sorrindo, n�o aquiesceu nem recusou, j�
<br>� porta da cabina; pediu licen�a, entrou, ainda envolta na toalha
<br>longa que lhe ca�a sobre as esp�duas, ramalhuda, descendo
<br>para os joelhos, quase a ro�ar os p�s.
<br>
<br>3
<br>
<br>Embora longe do sal�o, ela acompanhava agora, por cima
<br>dos ru�dos circundantes, o tique-taque solene do rel�gio,
<br>e esse ru�do, por ser do tempo que ia fluindo, madrugada adentro,
<br>impedia-a de resvalar para o sono, bem mais que o ressonar
<br>do marido, ali ao seu lado.
<br>
<br>Pensou em voltar � leitura, assim que ouviu bater pelas
<br>tr�s horas. Uma leve sonol�ncia, que de pronto lhe pesou as
<br>p�lpebras, levou-a perto, bem perto mesmo, quase ao derradeiro
<br>espa�o da vig�lia consciente, e ela teria transposto a fronteira
<br>misteriosa e impercept�vel, que se transforma em sono profundo,
<br>se a madrugada, l� fora, n�o houvesse trazido consigo,
<br>exatamente naquele momento, a repentina pancada de chuva
<br>que sacudiu as �rvores do parque e tamborilou na vidra�a das
<br>janelas, como se quisesse for�ar as r�tulas cerradas.
<br>
<br>Patr�cia acendeu a l�mpada ao seu lado e foi experimentar
<br>os ferrolhos das janelas circundantes, para ver se estavam
<br>bem fechadas. De volta � cama, tornou a pegar no livro, para
<br>retomar-lhe a leitura, mas mudou de id�ia: o melhor era continuar
<br>quieta, com a luz apagada, ouvindo cair a chuva. E nisto
<br>se p�s a lembrar a recep��o de seu �ltimo anivers�rio, com trezentos
<br>e doze convidados, acesas as luzes do parque, as mesas
<br>armadas entre o quiosque e a piscina, na noite de lua nova.
<br>
<br>Ela e o marido tinham pensado, de in�cio, em dispor as
<br>mesas no varand�o que circundava a casa e abria sobre o jardim
<br>e o parque. Mas o Rodrigo, sempre otimista, acabara por
<br>voltar atr�s:
<br>
<br>22
<br>
<br>
<br>� N�o, n�o vai chover. As mesas ficam mesmo onde est�o.
<br>S�o Pedro, que � nosso amigo, n�o nos vai estragar a festa.
<br>L� embaixo, no jardim e no parque, com as lanternas vermelhas,
<br>a orquestra tocando n^i coreto, tudo tem outra beleza.
<br>A beleza que voc� merece, Patr�cia.
<br>Na manh� desse dia, ao acordar, ela havia encontrado na
<br>mesa-de-cabeceira a surpresa do brilhante facetado de seu anel
<br>mais rico. Depois, ao longo de todo o dia, tinha sido, mais
<br>uma vez, o nunca-acabar de corbelhas, telegramas, presentes,
<br>cart�es, telefonemas, enquanto ia pela casa e pelo parque o
<br>alvoro�o da noite que se aproximava.
<br>
<br>Pelo meio da tarde, como se fosse um aviso, havia ca�do
<br>uma chuva leve, que n�o tardara a desfazer-se. O c�u chegara
<br>a abrir-se em claridade de estio. Sobreviera outra nuvem escura,
<br>antes que a noite ca�sse; mas a chuva, desta vez, s� tornara
<br>a borrifar as mesas, acompanhada por uma rajada de vento
<br>�mido, que balan�ara as lanternas e as �rvores, com poucos
<br>respingos. Por fim, j� noite entrada, as largas nesgas de amplid�o
<br>pontilhada de estrelas tinham dado a certeza de que tudo
<br>ia correr bem.
<br>
<br>Do alto da escada de m�rmore sobre o parque, assim que
<br>a noite chegou, Patr�cia e o marido ficaram bom tempo a olhar,
<br>embevecidos, a harmoniosa disposi��o das mesas, as luzes refletidas
<br>no espelho de �gua da piscina, o brilho das folhas dos
<br>castanheiros na incid�ncia das lanternas coloridas, o coreto preparado
<br>para os m�sicos, e foi ela quem falou primeiro, ap�s
<br>um sil�ncio de irreprim�vel emo��o:
<br>
<br>� Deus tem sido muito bom para n�s, Rodrigo.
<br>Rodrigo perfilou o dedo indicador defronte dos l�bios,
<br>enquanto aumentava os olhos risonhos, alarmado:
<br>
<br>� Fala baixo. Essas coisas n�o se dizem em voz alta. Fica
<br>quieta. Quanto mais sil�ncio, melhor.
<br>E riu forte, estremecendo o busto espa�oso, a atra�-la para
<br>si, carinhosamente, como a proteg�-la com seu bra�o forte
<br>e a sua fortuna:
<br>
<br>� Eu te preveni, quando nos casamos, que seria sempre
<br>assim.
<br>� E vai continuar a ser, Rodrigo.
<br>23
<br>
<br>
<br>E a noite estrelada, parecendo curvar-se sobre as �rvores
<br>mais altas, com uma ou outra rajada extempor�nea, acolheu
<br>todos os convidados, deixou que estes ocupassem os seus lugares;
<br>permitiu que a orquestra se acomodasse no coreto; que
<br>
<br>o N�ncio sentasse ao lado do Presidente da Rep�blica; abriu
<br>caminho ao bal� dos gar�ons e � vigil�ncia dos guardas, at�
<br>que, j� perto da meia-noite, o tempo fechou, escondendo a foice
<br>da lua, sacudindo a poeira do ch�o, tomado de uma f�ria instant�nea.
<br>As lanternas acesas balan�aram, como enlouquecidas.
<br>Os galhos das �rvores, tamb�m desvairados, pareciam vergalhar
<br>o vento que os sacudia, e este sibilava, rugia, assobiava,
<br>zinia, no paroxismo de uma f�ria cont�nua. Por um momento,
<br>na confus�o ambiente, reinou a perplexidade, sem que
<br>se soubesse ao certo se era um vendaval passageiro ou se era
<br>realmente o come�o da borrasca. A orquestra, como contagiada
<br>pela loucura do mau tempo, pusera-se a tocar uma rumba
<br>sacudida, em que os compassos se ajustavam aos repel�es da
<br>ventania, por entre o som da bateria e o tinir dos pratos met�licos
<br>e das caba�as. Os gar�ons corriam de um lado para outro,
<br>a princ�pio para apanhar os card�pios que as rajadas faziam
<br>voar, depois para acudir aos convidados que se levantavam
<br>das mesas, atordoados pelas pancadas do vento e pela chuva
<br>forte que repentinamente desabara, ainda com os m�sicos
<br>tocando no abrigo do coreto. E tanto o Rodrigo quanto a Patr�cia,
<br>j� molhados, iam orientando os amigos, que tratavam
<br>de subir para o abrigo do varand�o da casa, atropelando-se
<br>nos degraus da escada:
<br>� Por aqui, por aqui.
<br>Ouviam-se gritos, risadas e lamentos, enquanto o temporal
<br>rugia, mais �spero, desvairadamente. Afinal, a orquestra
<br>parou de tocar, a luz apagou de repente, tornou a voltar, e foi
<br>nesse momento que Patr�cia avistou o gordo diplomata, acompanhado
<br>pela imensa Embaixatriz (muito mais enxundiosa do
<br>que ele), ainda ao meio dos degraus, subindo devagar, cautelosamente,
<br>pesadamente, porque a gorda senhora, coitada, n�o
<br>podia subir mais depressa, e precisava de amparo.
<br>
<br>Subia, e bufava:
<br>
<br>� Ai, meu Deus, � o dil�vio.
<br>24
<br>
<br>
<br>E o Embaixador, segurando-lhe o bra�o roli�o:
<br>
<br>� Olha o degrau, Encarnaci�n. Olha o degrau.
<br>Ela gemia mais alto, e tornava a bufar, alarmada agora
<br>com os rel�mpagos e os trov�es, enquanto o espa�oso diplomata
<br>insistia em adverti-la sobre os degraus molhados:
<br>
<br>� Cuidado. V� onde pisas.
<br>O pior de tudo, entretanto, foi c� em cima, quando a vasta
<br>senhora, escorrendo �gua pelo dorso, pelas pernas, pelos
<br>bra�os, e com o ch�peu de plumas praticamente desfeito na
<br>cabe�a despenteada, quis ir ao toalete, alegando que n�o se
<br>sentia bem.
<br>
<br>� Ai, Jesus, acudi-me. Acudi-me, Se�or de los Milagros.
<br>Estou a desfazer-me. Por favor. Depressa.
<br>Patr�cia dera por si a lev�-la para o seu pr�prio banheiro,
<br>e com a Embaixatriz gemendo e bufando atravessou o sal�o,
<br>depois o gabinete do Rodrigo, a saleta, a sala de m�sica, o quarto
<br>de dormir, a saleta do orat�rio barroco, at� escancarar de
<br>golpe a porta larga por onde a imensa senhora passou, de m�os
<br>no ventre, angustiada.
<br>
<br>E j� instalada no vaso, a Se�ora Encarnaci�n aumentou
<br>os olhos redondos, suplicando:
<br>
<br>� A porta. Feche a porta.
<br>S� ent�o come�ou a despir a roupa encharcada. Exagerado
<br>pelo espelho da parede fronteira, o corpanzil disforme, que
<br>se derramava sobre si mesmo, com o ventre fl�cido, os bra�os
<br>fl�cidos, as n�degas fl�cidas, as coxas fl�cidas, os seios fl�cidos
<br>apertados no suti� debruado de renda, pareceu ainda mais
<br>grotesco, esparramado no assento ex�guo, pr�prio para quadris
<br>normais.
<br>
<br>J� despida, aquietou-se por alguns instantes, inclinando
<br>a cabe�a, baixando os olhos, na vergonha gaiata dos pr�prios
<br>ru�dos incontrol�veis. E ao ver que Patr�cia lhe trazia o roup�o
<br>do Rodrigo � largo, comprido, ramalhudo � n�o conseguiu
<br>reprimir o riso:
<br>
<br>� E eu vou caber a� dentro? Que esperan�a! Isso queria
<br>eu, minha boa amiga. Isso queria eu. E o Embaixador tamb�m.
<br>Recolhendo depressa o riso, tinha agora o ar de uma foca
<br>de castigo, e foi assim que a Patr�cia a deixou, resignada, hu
<br>
<br>
<br>25
<br>
<br>
<br>milde, � espera de que o motorista da Embaixada lhe trouxesse
<br>outro vestido.
<br>
<br>Patr�cia muda de posi��o na cama, sente-se tentada a tomar
<br>outro peda�o de tranq�ilizante, mas permanece quieta,
<br>sempre � espera do sono, e d� por si no alto da escada, vendo
<br>sair os convidados, ainda com o vento a sibilar forte, sob as
<br>cordas da chuva, enquanto ela diz ao Rodrigo, que est� de volta,
<br>j� no �ltimo degrau, depois de ter posto no mesmo carro, l�
<br>embaixo, o N�ncio Apost�lico e o Embaixador de Portugal:
<br>
<br>� Recep��o, ao ar livre, nunca mais.
<br>E ele, fechando o guarda-chuva:
<br>� Mas � a primeira vez, em quase vinte anos, que a chuva
<br>nos desmancha a festa. Ano que vem, n�o vai chover.
<br>4
<br>
<br>Na madrugada longa, sempre o sibilo do vento sacudindo
<br>as �rvores. Espa�adamente, por cima do tique-taque do rel�gio
<br>do sal�o, o trilo dos apitos com que os guardas se comunicam,
<br>na ronda da casa. De vez em quando, o latido de um
<br>dos c�es, logo respondido pelos outros. E como eram tr�s dinamarqueses,
<br>ferozes, agil�ssimos, metiam medo, correndo em
<br>sil�ncio, arremetendo, assustando. Um deles, dias antes, havia
<br>saltado para o pesco�o de um homem magro e louro, no momento
<br>em que este, armado de uma faca, pulara o muro do
<br>fundo do parque: rosnando, com as patas no peito do ladr�o,
<br>
<br>o canzarr�o negro o mantivera imobilizado, enquanto os dois
<br>outros latiam, at� que os guardas acudiram, levando dali a figura
<br>l�vida, de olhos crescidos, a sangrar no meio do pesco�o,
<br>sempre alarmado com o mastim que o seguia de orelhas fitas,
<br>a cauda ca�da, pronto a novo arremesso, na alameda que contornava
<br>a casa.
<br>Agora, s� o ladrido solto, espa�ado, ora para o lado da
<br>capela, ora para o lado da piscina, ora tamb�m na dire��o do
<br>jardim, com o quebrar de um galho, o rumor de um carro na
<br>
<br>26
<br>
<br>
<br>rua, o soar de passos na cal�ada. E ali no quarto, na noite que
<br>ia fluindo, vagarosa, intermin�vel, a respira��o cadenciada do
<br>Rodrigo, como esquecido de si mesmo, � direita da cama, imerso
<br>no sono exemplar.
<br>
<br>Mais uma vez, debatendo-se para adormecer, Patr�cia muda
<br>de posi��o, alongando o corpo, com os bra�os estirados,
<br>n�o querendo sentir a pulsa��o do sangue na t�mpora direita.
<br>De relance, na penumbra escassa, quase negra, tornou a distinguir
<br>a l�mpada vermelha do orat�rio, o contorno dos m�veis
<br>� sua volta, o vulto do marido sob o len�ol.
<br>
<br>Grande Rodrigo, paciente Rodrigo. Vinte anos ali ao seu
<br>lado, no intervalo das viagens. N�o se cansava, sempre de bom
<br>humor, prestativo, sol�cito, j� de cabelos grisalhos, sem dizer
<br>a ningu�m que havia estudado em Harvard nem aceitar ser Ministro
<br>de Finan�as ou de Economia, todas as vezes em que as
<br>crises do pa�s ganhavam espa�o na primeira p�gina dos jornais.
<br>Sempre acertando em cheio nos neg�cios. No entanto,
<br>calado, de olhos pensativos, parecia �s vezes ausente, fora do
<br>mundo, enquanto rodava no dedo indicador a corrente do chaveirinho
<br>de prata.
<br>
<br>Na certa, aproveitou a viagem a Nova Iorque para comprar
<br>os dois presentes que daria � mulher da� a tr�s meses: um,
<br>pelo anivers�rio; outro, pelo casamento. Cada qual mais rico,
<br>mais bonito. E Patr�cia, de p�lpebras entrecerradas, pergunta
<br>a si mesma, quieta:
<br>
<br>� Desta vez, que � que ter� comprado?
<br>Novo colar? A placa de platina? A pulseira de brilhantes?
<br>Ou o diadema? Sim, o diadema. Deve ter sido o diadema.
<br>Parecido com o que lhe dera como presente de noiva? Ou mais
<br>bonito? Mais bonito, com certeza.
<br>
<br>Patr�cia vem vindo devagar, na passadeira longa que vai
<br>do altar-mor aos umbrais do adro, apoiando-se no bra�o do
<br>Tio Belarmino, ancho, orgulhoso, de peito cheio e alto, e que
<br>parecia exibir o fraque luzidio, espalhando em redor um cheiro
<br>acre de naftalina e �gua-de-col�nia. Ao fundo, no altar desafogado,
<br>o adorno das rosas brancas e das rosas vermelhas
<br>por entre os c�rios acesos. Acesos tamb�m os lampad�rios. �
<br>frente do altar, o robusto Padre Otaviano, resplandecente nos
<br>
<br>27
<br>
<br>
<br>paramentos novos, dava a impress�o de ter pintado as bochechas,
<br>de t�o vermelhas e papudas. M�e Ded�, de chap�u de
<br>pluma. Do outro lado, esguia, quase seca, com o cabelo penteado
<br>para o alto, Tante Genevi�ve, que chegou pelo fim da
<br>tarde, de Genebra, j� pronta para o casamento, e assesta o lornh�o
<br>de ouro para o portal do adro enquanto Patr�cia vem vindo,
<br>por entre os l�rios que marginam a passadeira, na extremidade
<br>das duas orlas de bancos repletos, com a m�sica suave
<br>enchendo a nave imensa, logo acompanhada pelas vozes do
<br>coro.
<br>
<br>N�o, n�o � sonho, no hiato da consci�ncia fatigada, mas
<br>realidade viva, trazida pela mem�ria, e que permite a Patr�cia
<br>rever o Rodrigo, ao p� do altar, quase ao lado do Padre Otaviano,
<br>forte, compacto, o cravo aberto na lapela do fraque, �
<br>espera da noiva � da noiva que vem vindo emocionada, a arrastar
<br>na passadeira a cauda do vestido, e a quem por fim d�
<br>a m�o, como se fossem tornar a dan�ar a valsa inaugural do
<br>baile de formatura.
<br>
<br>Ah, a emo��o pura desse instante, umedecendo-lhe os
<br>olhos, disparando-lhe o cora��o: Tio Belarmino vai afastar-
<br>se, para ficar ao lado de M�e Ded�, e Rodrigo vem postar-se
<br>ao lado dela, Patr�cia, ambos de frente para o Padre Otaviano,
<br>que tem agora um ar embevecido, com as m�os no ventre
<br>alto, os olhos em �xtase, a cabe�a inclinada.
<br>
<br>Perto do altar, Patr�cia tinha visto de relance, � sua direita,
<br>quase toda a turma da Escola Normal, nos quatro primeiros
<br>bancos da nave. Das vinte e tantas colegas, poucas haviam
<br>faltado. Algumas, enchapeladas; outras, bem penteadas, e todas
<br>no melhor vestido, e risonhas, a sorrirem, a piscarem os
<br>olhos, a lhe acenarem, tamb�m emocionadas, de olhos �midos,
<br>ouvindo o �rg�o que encheu a nave com a melodia de
<br>Schumann, enquanto a noiva vem vindo, vagarosa, sempre a
<br>amparar-se no bra�o do Tio Belarmino, e olha para o noivo,
<br>que desceu o primeiro degrau do altar, a adiantar o bra�o sol�cito
<br>para lhe dar a m�o. Olham-se nos olhos, e � nesse momento
<br>que, de s�bito, ela se lembra da Simone, na reclus�o
<br>do sanat�rio, longe dali, e pede a Deus por ela.
<br>
<br>Depois, ao fim da cerim�nia, j� com a alian�a, o bra�o
<br>
<br>28
<br>
<br>
<br>no bra�o do Rodrigo, Patr�cia sorri para um lado, sorri para
<br>o outro, abrindo o cortejo que desfila pela passadeira na dire��o
<br>da porta do adro, e � mais ligeiro e firme o seu passo. N�o,
<br>a emo��o da formatura n�o foi assim, mesmo quando leu o
<br>seu discurso, em nome da turma: nunca imaginou que a felicidade
<br>completa, agora que tinha o seu marido, a sua casa, e
<br>tantos amigos em seu redor, tamb�m a fizesse chorar. Reprime
<br>o pranto, sentindo a garganta apertar, e for�a o sorriso,
<br>e acena com a m�o enluvada, sempre a pedir a Deus que a
<br>proteja.
<br>
<br>L� adiante, em vez de sair ao adro, dobra � direita, seguindo
<br>os ademanes e o comando do mestre-de-cerim�nias,
<br>e vai postar-se no espa�o amplo que precede a nave, quase �
<br>entrada do batist�rio, e � ali que os noivos se postam, sorrindo,
<br>acenando, falando baixo, no desfile dos cumprimentos. Um
<br>por um, passo a passo, os convidados se aproximam, e apertam-
<br>lhe a m�o, e a abra�am, e a beijam, e falam-lhe ao p� da orelha,
<br>risonhos, expansivos, enquanto cresce o burburinho das
<br>vozes e dos risos, como se todos eles houvessem perdido a contri��o
<br>e a cerim�nia, dentro da igreja.
<br>
<br>Mas n�o foram as colegas da Escola Normal as primeiras
<br>amigas a se aproximar da noiva, no vagaroso escoar da fila
<br>de cumprimentos. Todo um conjunto de figuras estranhas, que
<br>Patr�cia s� se lembrava de ter visto no foyer do Teatro da �pera,
<br>nas duas vezes em que ali fora com o Rodrigo, agora ali
<br>estava, � frente da fila imensa, exibindo fraques, j�ias e decotes,
<br>rindo alto, falando alto, muito � vontade dentro da igreja.
<br>Patr�cia s� os revia de relance, toda ela � procura das companheiras,
<br>que afinal despontaram com ar de alvoro�o. E j� estavam
<br>perto, � dist�ncia de dois metros, quando uma figura
<br>magra, alta, o rosto picado de sardas por baixo dos olhos, quase
<br>sem seios, o vestido a lhe descer para as pernas longas, entrou
<br>por uma das portas laterais do adro, e veio vindo depressa,
<br>como se quisesse corrigir o atraso com que chegava, caminhando
<br>diretamente para a noiva, decidida e risonha, at� que se postou
<br>� frente de Patr�cia, passando � frente da senhora encha-
<br>pelada, que lhe assestou o lornh�o de cabo de madrep�rola,
<br>limitando-se a resmungar:
<br>
<br>29
<br>
<br>
<br>� Se n�o estou enganada, h� uma fila para os cumprimentos.
<br>Mas j� Patr�cia sorria, estendendo as m�os contentes para
<br>a colega intrat�vel, que sempre a mantivera distante, com
<br>a repulsa de seu �dio tenaz e inexplic�vel:
<br>
<br>� Evangelina, que alegria!
<br>E a outra, for�ando o sorriso teatral enquanto prendia as
<br>m�os afetuosas da noiva, e curvando-se, a falar-lhe ao p� da
<br>orelha:
<br>
<br>� N�o me convidaste para teu casamento, e fizeste bem.
<br>Mas eu vim aqui de prop�sito. Para te dizer que a Simone, h�
<br>duas semanas, est� entre a vida e a morte, no sanat�rio. E a
<br>culpada �s tu, que lhe tomaste o noivo. Nunca me enganei contigo,
<br>Patr�cia.
<br>E largou-lhe as m�os, dando-lhe as costas, r�pida, expedita,
<br>sempre risonha, para sair pela porta por onde havia entrado,
<br>enquanto Patr�cia, dominando-se, conseguiu sorrir para
<br>a Inezita, a Fl�via, a Paula, a Corina, que ainda estavam
<br>longe, sem ter visto a Evangelina entrar e sair, e que sorriam
<br>e falavam, como se trouxessem at� ali a anima��o e o alvoro�o
<br>da sala de aula, quando faltava o professor.
<br>
<br>30
<br>
<br>
<br>SEGUNDO CAP�TULO
<br>
<br>1
<br>
<br>Quando despertou, j� era dia alto.
<br>
<br>Embora as cortinas fechadas teimassem em prolongar a
<br>madrugada, impedindo que entrasse no quarto a luz das janelas
<br>sobre o parque, Patr�cia facilmente concluiu que, ao contr�rio
<br>das outras noites, em que s� passava pelo sono, havia
<br>dormido profundamente, tanto assim que levou uns momentos
<br>para vir � tona de si mesma. Fora ela que apagara a l�mpada
<br>de cabeceira? E que deixara ao p� do abajur o romance que
<br>andara lendo, no correr da madrugada?
<br>
<br>Ao seu lado, n�o estava mais o Rodrigo. E como o marido
<br>costumava levantar-se ap�s oito horas de sono compacto,
<br>gastando outra hora em barbear-se e banhar-se, agu�ou o ouvido,
<br>por cima dos ru�dos circundantes, para ver se estaria a
<br>vestir-se no quarto cont�guo. Nada ouvindo, sentou-se na borda
<br>da cama. Enquanto tateava o ch�o, � procura das sand�lias
<br>de cetim, viu ali, do outro lado, os chinelos do Rodrigo; na
<br>poltrona de canto, o pijama dele. Concluiu, levantando-se: o
<br>Rodrigo, vendo-a adormecida, preferira deix�-la quieta, e j�
<br>estaria no escrit�rio para a reuni�o das nove horas.
<br>
<br>Achou gra�a na situa��o nova:
<br>
<br>� E eu, aqui na cama, dormindo como um urso polar.
<br>Ao correr a cortina, recebeu no rosto, em cheio, a luz viva
<br>que jorrou da vidra�a desimpedida, e exclamou, com
<br>espanto:
<br>
<br>� Meu Deus, n�o � verdade!
<br>O sono profundo fizera-lhe bem. N�o sentia o torpor das
<br>31
<br>
<br>
<br>manh�s pregui�osas; tampouco experimentava a sensa��o �
<br>que espa�adamente a afligia, como um resto de pesadelo �
<br>de que se achava no fundo de um po�o, vendo a claridade forte
<br>c� em cima, sem saber como subir. A impress�o de bem-
<br>estar estendia-se-lhe por todo o corpo, trazendo consigo uns
<br>longes de sensualidade. Esticou os bra�os, distendeu as pernas,
<br>bocejou na costa da m�o, com os punhos cerrados, e estremeceu
<br>o busto, sacudindo os seios soltos, como a tirar de si,
<br>noutro bocejo vagaroso, o friozinho da madrugada.
<br>
<br>E foi sem pressa, meticulosamente, que p�s um pouco de
<br>ordem � sua volta, recolhendo das cadeiras as pe�as de roupa,
<br>juntando do ch�o o travesseiro que resvalara para o tapete, acendendo
<br>e apagando a l�mpada do abajur. Por �ltimo, puxou
<br>para os cantos a cortina da outra janela, e logo a luz, ainda
<br>mais viva, destacou os quadros nas paredes, a c�moda de fechos
<br>dourados, os espelhos que ampliavam ainda mais a pe�a
<br>ampla, o grande lustre que parecia alvoro�ar a claridade na
<br>cintila��o dos pingentes de cristal. No soalho de t�buas corridas,
<br>os belos tapetes que trouxera da P�rsia. Sobre a coluna
<br>de m�rmore, no �ngulo da parede, ao lado da janela, a menina
<br>nua atribu�da a Gobineau.
<br>
<br>Tudo em seu lugar, Patr�cia pensou em calcar a campainha
<br>da cama para que a Rosa viesse encher-lhe a banheira. Mudou
<br>de id�ia. Para que alvoro�ar a criada portuguesa com a
<br>estrid�ncia do chamado, se podia, ela pr�pria, deixar correr
<br>a �gua t�pida com que se banharia?
<br>
<br>No banheiro, antes de come�ar a despir-se, ligou o r�dio,
<br>e j� foi ouvindo o jornal das dez horas que se despiu. Nua,
<br>cedeu, como sempre, ao gosto de olhar-se ao espelho, de corpo
<br>inteiro. Antes de olhar-se de frente, contente com as linhas
<br>de seu corpo, cedeu � ponta de medo, que freq�entemente a
<br>assustava, e apalpou os seios, temerosa de algum ponto endurecido
<br>que urgiria mostrar ao m�dico. Nada encontrando, respirou,
<br>aliviada. E esse al�vio a predisp�s para bem admirar a
<br>mulher nua que o espelho lhe mostrava, sem uma ruga no rosto,
<br>sem ac�mulo de gordura nos quadris, sem uma veiazinha
<br>saliente, em suma: com o corpo dos vinte anos. N�o apenas
<br>seu corpo o tempo havia respeitado � respeitara tamb�m seu
<br>
<br>32
<br>
<br>
<br>gosto de viver na sua casa, sem deixar de ir com o marido a
<br>recep��es, coquet�is, missas, teatros, casamentos, embarques,
<br>desembarques, mas dispensando-se de acompanh�-lo nas viagens
<br>de servi�o ou de neg�cio.
<br>
<br>� J� conhe�o o mundo inteiro � justificava-se.
<br>Depois, enquanto a �gua subia para a borda da banheira,
<br>lembrou-se de ir buscar no quarto o romance de Mary
<br>McCarthy, para continuar a l�-lo durante o banho. Com o robe
<br>de chambre por cima dos ombros, descerrou de manso a
<br>porta, agu�ou o ouvido, deu uma carreirinha at� a mesa-decabeceira,
<br>meio curva, quase agachada, instintivamente escondendo
<br>o sexo com a m�o espalmada. De volta, j� na banheira,
<br>viu que o marido, pela marca da folha dobrada, havia lido tamb�m
<br>boa parte do volume enquanto ela dormia.
<br>
<br>Sentindo a tepidez da �gua, na banheira quase repleta,
<br>anteviu o que ia acontecer, mais uma vez:
<br>
<br>� Com a tal leitura din�mica, o Rodrigo vai acabar de
<br>ler o livro antes de mim. Depois, como sempre, n�o sossegar�
<br>enquanto n�o me contar como o romance acaba.
<br>Alongou mais as pernas, inclinando bem o corpo, sem se
<br>descuidar de proteger o livro, e retomou-lhe a leitura. Mas n�o
<br>tardou a desprender-se do texto, ainda com os olhos percorrendo
<br>as linhas impressas, e foi recordando as companheiras
<br>da Escola Normal, ora na sala de aula, ora no p�tio do recreio,
<br>ora subindo a escada, ora saindo da classe, todas no uniforme
<br>azul e branco, meia preta, sapato preto. Assim reunidas,
<br>compunham um grupo de companheiras que a festa da
<br>formatura terminaria por dispersar. Enquanto no romance o
<br>grupo se limitava a oito, incluindo a Kay, subia a mais, bem
<br>mais, o da Escola Normal. Incluindo a Simone. A estranha,
<br>a esquiva Simone. A Simone que tudo lhe contava, inclusive
<br>a paix�o pelo Rodrigo. A Simone que de repente desaparecia,
<br>fechada, muda, sempre um mist�rio, e linda. Sim, a mais linda
<br>da classe, mesmo quando reaparecia, l�vida, olhos pisados,
<br>falando baixo, andando devagar.
<br>
<br>Vinte e muitas companheiras... Agora dispersas, cada qual
<br>com a sua vida e o seu destino. De umas, n�o tinha not�cia,
<br>como se o tempo as houvesse apagado. De outras, sabia ape
<br>
<br>
<br>33
<br>
<br>
<br>nas por alto. Umas, casadas; outras, divorciadas. Quantas permaneceriam
<br>solteiras? A Corina, morta. A Adriana, morta.
<br>A Neide, morta? Outras mais teriam morrido? Quantas morariam
<br>ainda ali? Quantas teriam ido embora para pequenas cidades
<br>ou para outros pa�ses? E os velhos mestres, que fim teriam
<br>levado? Dois tinham morrido. E os outros, por onde andariam?
<br>O gordo Fritz, seu mestre de ingl�s e alem�o, agora
<br>hemipl�gico, tinha optado por um abrigo de velhos, que a pr�pria
<br>Patr�cia havia ajudado a conseguir, com o apoio do Rodrigo,
<br>enquanto a Silveirinha, miudinha, apertadinha, repetia
<br>as opera��es pl�sticas, inconformada com as inj�rias da idade.
<br>
<br>E Patr�cia, de repente, erguendo mais a cabe�a, com um
<br>brilho nos olhos rasgados, decidindo-se:
<br>
<br>� Vou reunir meu grupo na festa dos meus quarenta anos!
<br>Ergueu mais o corpo, p�s o livro na prateleira da parede.
<br>E enquanto completava o banho, lavando-se,.ensaboando-se,
<br>continuou a compor de cabe�a o seu projeto. Sim, era isso que
<br>ia fazer. Trazer as colegas. Todas? Mesmo a Evangelina? E por
<br>que n�o? O tempo j� teria apagado o �dio est�pido que as
<br>separava. Mandar-lhe-ia o convite. Ela que decidisse por si.
<br>Depois de vinte anos,, ningu�m � mais a mesma pessoa.
<br>
<br>Ao fim do banho, quando j� ia terminando de enxugar-se,
<br>parou o movimento da toalha nas axilas, desviou o olhar para
<br>um �ngulo do banheiro, alheada dali, enquanto reconhecia,
<br>a falar para si mesma, que n�o podia convidar a Simone. N�o,
<br>n�o podia. Ou melhor: poder, podia; mas n�o devia. Simone
<br>iria ofender-se, ainda que reconhecesse, com o convite diante
<br>dos olhos, que este era apenas uma formalidade.
<br>
<br>E Patr�cia, enxugando os cabelos:
<br>
<br>� N�o, n�o mando o convite.
<br>E ficou a pensar que a pobre da Simone, t�o linda, t�o
<br>esquiva, t�o estranha, n�o poderia deixar de deprimir-se, no
<br>confronto dos dois destinos: o dela, Simone, prisioneira do Sanat�rio,
<br>j� conformada em passar reclusa o resto da vida, e
<br>
<br>o dela, Patr�cia, ali, na sua casa, indo aonde quisesse, rica, bonita,
<br>cortejada, e com seus carros, e seus criados, e muitas amigas,
<br>sempre bem-faladgi nos jornais e nas revistas, freq�entando
<br>o Jockey Clube, com assinatura da �pera, convidada para
<br>34
<br>
<br>
<br>as recep��es no Pal�cio do Governo, e devendo tudo isso ao
<br>Rodrigo, o Rodrigo que poderia ter casado com a Simone.
<br>E para dar a si mesma uma ponta de m�goa:
<br>
<br>� Mas sem um filho e a debater-me com a minha ins�nia
<br>tenaz.
<br>2
<br>
<br>Ap�s o almo�o, na saleta que lhe servia de escrit�rio, Patr�cia
<br>n�o se fechou no quarto, para a sesta de todos os dias,
<br>nem se reclinou ali mesmo, no sof� ao p� da janela, para o
<br>descanso de alguns minutos, no friozinho da tarde: saiu diretamente
<br>da mesa para o fundo da casa, sob o olhar intrigado
<br>do Ludovico, que recolhia o guardanapo e a x�cara do caf�,
<br>com o l�bio inferior meio ca�do e duas rugas verticais no meio
<br>da testa.
<br>
<br>No aposento das coisas velhas, onde se amontoavam trastes,
<br>pap�is, livros, revistas, figurinos antigos, caixas de chap�u,
<br>malas, o ba� de couro tauxiado da av� Mer�cia, a m�quina
<br>de costura de M�e Ded�, num confuso cafarnaum de
<br>breguessos abandonados e esquecidos, Patr�cia n�o tardou a
<br>dar com o quadro de formatura, por cima de uma estante, coberto
<br>de poeira.
<br>
<br>� Aqui est� ele! � exclamou.
<br>Soprou o p�, e enquanto a nuvem toldava o ar � sua frente,
<br>viveu a emo��o de rever-se por tr�s do vidro embaciado,
<br>de uniforme, no meio de tantas colegas, entre lembran�as esmaecidas,
<br>a que repentinamente ia dando nitidez e colorido,
<br>como se corresse sobre elas uma camada de verniz.
<br>
<br>E querendo rir, j� de volta � saleta, com as m�os afastadas
<br>segurando o quadro pela moldura:
<br>
<br>� Sou eu mesma que estou aqui? Com estes olhos espantados?
<br>E este cabelo? Eu, Patr�cia? E foi desse jeito, com ar
<br>de mo�a da ro�a, que o Rodrigo gostou de mim, a ponto de
<br>jurar que s� comigo se casaria? Sou eu mesma, meu Deus?
<br>E depois de um sil�ncio:
<br>
<br>35
<br>
<br>
<br>� E aqui est� a Simone. Sempre bonita e s�ria, j� com
<br>algo estranho no olhar. E esta express�o misteriosa, que sempre
<br>me intrigou. E estamos juntas, como de prop�sito, ela e
<br>eu, at� mesmo neste quadro. Mas j� ela n�o falava comigo.
<br>Eu, por meu lado, me esquivava dela, n�o podendo mais lhe
<br>falar. Cada qual para seu lado.
<br>Por mais que tentasse desviar os olhos para o rosto das
<br>outras colegas, ou dos velhos professores, voltava a fixar-se no
<br>semblante da Simone, grave, levemente sombreado, o cabelo
<br>liso corrido para tr�s, e aquele risco das sobrancelhas quase
<br>unidas, mais sofrimento que reflex�o. E enquanto olhava a Simone,
<br>lembrou que era esta mais velha que ela, Patr�cia. Portanto:
<br>j� na casa dos quarenta anos, como a Paula, a Silveirinha
<br>e a Inezita, que tinham evitado festas e not�cias, nos seus
<br>anivers�rios.
<br>
<br>E concluiu:
<br>
<br>� A Simone � capaz de ter passado o anivers�rio dela
<br>trancada no quarto, calada, sem querer ver ningu�m.
<br>� noite, ali mesmo, ao fim do jantar, mostrou o quadro
<br>ao Rodrigo, e ele tamb�m riu alto, reconhecendo este rosto,
<br>este outro, aquele, outro mais; sorrindo dos penteados; rindo
<br>mais diante dos semblantes que n�o identificava; apontando
<br>para as pastinhas fora de moda.
<br>
<br>Mas recolheu o riso, grave, pensativo, diante do retrato
<br>da Simone, e comentou, sem desfitar o rosto que o olhava de
<br>frente:
<br>
<br>� N�o preciso rever, hoje, a Simone, para afirmar que
<br>ela, depois de tantos anos, est� igual a esta fotografia. Se mudou,
<br>foi muito pouco. Bonita, e altiva, sem perder o ar sofrido.
<br>Sofrido e estranho. Sempre a conheci assim. Mesmo menina.
<br>Diferente das outras. Como se tivesse consci�ncia, desde
<br>cedo, de n�o se parecer com ningu�m. Tia Zita (era assim
<br>que eu a chamava, por ser grande amiga de minha m�e, sempre
<br>na nossa casa) costumava me dizer, ao tempo em que fazia
<br>tudo para que eu me casasse com a Simone: � "Voc�, com seu
<br>g�nio, pode ter paci�ncia com a minha filha. Pode. Com um pouco
<br>de boa vontade. E n�� vai se arrepender. As crises dela v�m
<br>e passam. Mais de um m�dico j� me disse que tudo vai passar
<br>36
<br>
<br>
<br>com o casamento. Eu acredito. Mano Abelardo, pouco antes
<br>de morrer, ainda me dizia que voc� n�o podia deixar de casar
<br>com a Simone. Simone nunca teve namorado. E adora voc�.
<br>Fora das crises, Simone � outra pessoa. Humana, comunicativa,
<br>alegre. Uma j�ia de menina." � Assim mesmo. Sempre
<br>repetindo a mesma coisa. Eu, �s voltas com os meus neg�cios,
<br>ia ver Tia Zita de vez em quando. Tia Zita adivinhava minha
<br>chegada. Telefonava logo, marcava o almo�o ou o jantar na
<br>casa dela, com a Simone do meu lado. Uma vez, apareci de
<br>improviso, por minha pr�pria iniciativa. Encontrei Simone fechada,
<br>sem querer ver ningu�m. Foi em v�o que lhe bati na
<br>porta do quarto. N�o me atendeu. Conversei sobre o caso dela
<br>com o Nuno Vaz, e ele me perguntou se eu teria tempo e
<br>paci�ncia para ser enfermeiro da Simone. Na verdade, eu nunca
<br>tinha pensado seriamente em me casar com ela. Gostava
<br>dela, achava-a muito bonita, mas da� n�o passava. Ela, n�o;
<br>sempre achou que teria de ser minha mulher. Tudo isso eu te
<br>disse, lealmente, no dia em que te levei para almo�ar no Jockey
<br>Clube.
<br>
<br>E Patr�cia, atalhando:
<br>
<br>� O famoso dia do encontro na piscina.
<br>Rodrigo completou:
<br>� Em que a Simone ficou de ir e n�o apareceu.
<br>E alongando o bra�o por cima do bra�o da poltrona, segurou
<br>a m�o de Patr�cia, num impulso de ternura:
<br>
<br>� E em que eu te disse que me casaria contigo depois de
<br>ter uma conversa clara com ela e com D. Zita. E tive. No mesmo
<br>dia, � noite. Simone me ouviu, calada, de cabe�a baixa.
<br>Em sil�ncio deixou a sala. Foi a hora de eu falar com a D. Zita.
<br>D. Zita exaltou-se. Chegou a me sacudir pelos ombros. Os
<br>olhos crescidos, a veia do pesco�o aumentada. De repente, mudou:
<br>p�s-se a chorar, defronte de mim. Que eu tivesse pena
<br>da Simone. Que a filha era capaz de cometer um desatino, e
<br>o culpado seria eu.
<br>Patr�cia ergueu mais a cabe�a:
<br>� Mas isso tu n�o me contaste. Estou sabendo agora.
<br>� Para que ia contar? N�o contei a ningu�m. Levantei-me
<br>do sof� para ir embora. D. Zita me segurou pelo bra�o. Desfi37
<br>
<br>
<br>
<br>gurada. Pat�tica. Novamente exaltada. N�o consentia que eu
<br>sa�sse. Tinha de tornar a falar com Simone, dando o dito por
<br>n�o dito. Fiquei firme. N�o, isso n�o. Mas s� consegui sair
<br>dali por volta da meia-noite, depois de outros gritos de D. Zita.
<br>Acompanhou-me at� a porta, aos berros. Nisto a Simone
<br>apareceu, segurou a m�e pelo bra�o, puxou-a para dentro de
<br>casa, bateu a porta. Eu, na cal�ada da rua, respirei, aliviado.
<br>Meti-me num t�xi, mandei-me para meu quarto de hotel.
<br>
<br>Suspirou, levantando-se; foi at� a porta. E voltando-se,
<br>com os olhos em Patr�cia:
<br>
<br>� Um m�s depois, eu te trouxe aqui, com M�e Ded�, para
<br>que visses a casa que eu mandara reformar. N�o me esque�o
<br>de tua emo��o quando entraste. Olhavas tudo em sil�ncio,
<br>com ar de espanto.
<br>E Patr�cia, com uma luz nova no olhar:
<br>
<br>� Mas a emo��o maior foi quando me fizeste abrir o
<br>guarda-roupa, as arcas e a c�moda, e dei com todo o meu enxoval.
<br>Nada faltava. Nem mesmo o chinelinho de cetim na medida
<br>de meu p�.
<br>E tanto ele quanto ela, por alguns momentos, de m�os
<br>dadas, permaneceram calados, at� que ele a envolveu nos bra�os
<br>reconhecidos, beijando-lhe os cabelos, apertando-a contra
<br>si, enquanto o Ludovico ia fechando no sal�o as janelas
<br>sobre a rua, por entre o ru�do dos ferrolhos e o bater das
<br>portadas.
<br>
<br>3
<br>
<br>A mais alta havia acabado de completar doze anos; a outra,
<br>quase isso. Mas, quatro meses depois, teriam a mesma idade,
<br>e foi na fila do p�tio, em plena confus�o de in�meras caras
<br>desconhecidas, que se encontraram pela primeira vez, ambas
<br>com o mesmo cabelo atado por uma fita, rente � cabe�a,
<br>e descendo solto para as costas, os seios t�midos sob a blusa
<br>branca do uniforme. A mais alta, de rosto ovalado, grandes
<br>
<br>38
<br>
<br>
<br>olhos pensativos, parecia mais confusa, enquanto a outra, de
<br>cara redonda, morena, olhos levemente obl�quos, dava a impress�o
<br>de ser mais expedita: as duas no fim da fila, trazidas
<br>at� ali pela mesma professora, e quase a rirem, no alvoro�o
<br>de tantas companheiras que tamb�m esperavam pelo bater da
<br>sineta para subir a escada que levava �s salas de aula, no primeiro
<br>pavimento.
<br>
<br>E a morena, assim que a sineta bateu para a posi��o de
<br>sentido:
<br>
<br>� Como te chamas?
<br>� Simone. E tu?
<br>� Patr�cia. Vamos para a mesma classe. � a primeira vez
<br>que venho aqui.
<br>� Vais ser professora? Eu, n�o: vou me formar por me
<br>formar.
<br>E a outra, sorrindo:
<br>
<br>� Eu mesma escolhi a Escola Normal. Tamb�m estudaste
<br>na escola p�blica?
<br>� N�o. Fiz o curso prim�rio em casa, com a minha m�e.
<br>E quando souberam que moravam em ruas paralelas, com
<br>a casa de uma a continuar o quintal da casa da outra, riram
<br>alto, as duas, j� na subida da escada.
<br>
<br>No primeiro dia, sentaram juntas na carteira de dois lugares,
<br>perto da janela sobre a rua. Foi a professora � severa,
<br>de �culos, os cabelos grisalhos apanhados para a nuca � que
<br>as separou, ao v�-las conversando e rindo, longe da li��o. Voltaram
<br>a juntar-se � hora do recreio, no mesmo p�tio arborizado.
<br>E como um carro trazia a Simone, para busc�-la ao fim
<br>das aulas, passou tamb�m a trazer e a levar de volta a Patr�cia.
<br>
<br>Mesmo depois que Patr�cia se mudou para uma casa menor,
<br>na ruazinha dos arredores, quase toda em ladeira, as duas
<br>continuaram a brincar os mesmos brinquedos (os �ltimos), a
<br>preparar os mesmos deveres, a ir ver os mesmos filmes, a trocar
<br>as confid�ncias mais �ntimas, como quando a Simone levou
<br>Patr�cia para o fundo do p�tio, sob a gameleira esgalhada,
<br>e ali lhe contou, s�ria, antes de rir, com a m�o diante da
<br>boca:
<br>
<br>39
<br>
<br>
<br>� Apareceram. Esta noite. Quase me assustei, querendo
<br>chamar minha m�e, quando vi a calcinha suja de sangue.
<br>E a Patr�cia, tamb�m rindo:
<br>
<br>� As minhas apareceram ano passado.
<br>E logo ajudou a Simone a subir a escada com cautela, ambas
<br>graves, compenetradas, como se estivessem a levar a s�rio
<br>a rotina da natureza.
<br>
<br>Ainda bem que M�e Ded� n�o quis aceitar os vestidos da
<br>Simone que a D. Zita insistira em transferir para a Patr�cia,
<br>com a justificativa de que a filha j� se havia enjoado deles. E
<br>era como se ainda lhe ouvisse a voz, na sala de visitas:
<br>
<br>� Est�o novos, como se tivessem chegado da costureira.
<br>Simone � que n�o gosta de sair v�rias vezes com o mesmo
<br>vestido.
<br>E M�e Ded�, cortando o oferecimento:
<br>
<br>� E Patr�cia, por seu lado, s� gosta de usar os vestidos
<br>que eu mesma fa�o.
<br>Entretanto, quanto ao mais, souberam ter os mesmos gostos:
<br>admirando os mesmos artistas de cinema, cantarolando
<br>as mesmas can��es, preferindo as mesmas disciplinas,
<br>entusiasmando-se pelos mesmos livros � os livros que uma
<br>lia depois da outra, ou que liam juntas, rindo alto quando chegavam
<br>juntas ao fim da p�gina. As notas de aula, se nem sempre
<br>eram as mesmas, por vezes se equilibravam, ou se alternavam,
<br>de modo que, no conjunto, como que se revezavam, ora
<br>uma, ora outra, com a preval�ncia final das notas da Simone,
<br>que sempre alcan�ava o fim do ano no primeiro lugar.
<br>
<br>Se n�o compartiram os vestidos, por intransig�ncia de M�e
<br>Ded�, que tamb�m tivera a sua casa espa�osa, e baixela, e m�veis
<br>de estilo, e piano de cauda, e carro � porta, compartiram
<br>os livros de leitura, o estudo particular da l�ngua inglesa, a professora
<br>de piano, na casa da Simone, j� que esta recorrera ao
<br>argumento de ter a sa�de mais fr�gil para que o estudo fosse
<br>ali. Quanto aos livros, at� mesmo M�e Ded� acabava por l�los
<br>tamb�m, quando a filha n�o estava em casa, mas com este
<br>cuidado: envolvia-os,' sempre, antes de l�-los em papel celofane,
<br>com o nome da Simone no pedacinho de papel em bran
<br>
<br>
<br>40
<br>
<br>
<br>co colado na capa. E alertava Patr�cia para devolv�-los assim
<br>que chegavam � derradeira p�gina.
<br>
<br>Aos domingos, como a igreja era perto, iam as duas � missa
<br>a p�, como a p� iam ao cinema do bairro, sobretudo no per�odo
<br>de ferias, a que acrescentavam os passeios de bicicleta, no
<br>Parque da Cidade, e as idas � praia, se M�e Ded� podia
<br>acompanh�-las.
<br>
<br>Ah, a alegria de se telefonarem, por vezes noite alta, ou
<br>em horas extremamente matinais, para uma contar � outra a
<br>�ltima novidade. E como riam, e como cochichavam, por vezes
<br>recorrendo � l�ngua do p, que M�e Ded� lhes ensinara:
<br>
<br>� Com-p-pas-p-sas-p-te-p-a-p-noi-p-te?
<br>De um momento para outro, quando as duas andavam
<br>perto dos vinte anos, e eram mo�as, j� podendo ter o seu emprego
<br>e a sua casa � o rompimento imprevisto, com o sil�ncio
<br>de uma e o sil�ncio de outra, e o telefone mudo, e ambas
<br>retra�das, evitando o nome da outra.
<br>
<br>Deus tinha visto que ela, Patr�cia, passara a noite em claro,
<br>depois que a Simone, quase de madrugada, lhe contara,
<br>aos prantos, que o Rodrigo tinha acabado de sair de sua casa,
<br>ao fim de longa conversa com ela e com M�e Ded�, e em que
<br>deixara claro que, com ela, Simone, n�o se casaria. Que tudo
<br>quanto havia ocorrido entre eles n�o passara de compromisso
<br>de inf�ncia, sem validade � hora das decis�es definitivas. Amigos,
<br>sim; mas noivos, n�o.
<br>
<br>E Patr�cia, em sil�ncio, a recolher-lhe o pranto convulso.
<br>Por fim, este remate desesperado:
<br>
<br>� Assim mesmo, Patr�cia. Tive vontade de mat�-lo. Mas
<br>me contive. Calada o tempo todo, a olhar para ele. Sou eu que
<br>vou me matar, Patr�cia. Eu, Simone. Tudo acabou para mim.
<br>Tudo. Juro-te que me mato.
<br>Pela manh�, ap�s a noite imensa, a debater-se com o seu
<br>desespero e a sua culpa, Patr�cia aparecera rta Escola Normal
<br>com os olhos pisados, p�lida, as sobrancelhas contra�das, disposta
<br>a abrir-se com a Simone, s� as duas, ao fundo do p�tio,
<br>para inteir�-la do encontro na piscina do clube, do almo�o no
<br>Jockey, da longa caminhada a p� at� o Parque da Cidade a
<br>conversar com o Rodrigo. Entretanto, de si para si, ela sabia
<br>
<br>41
<br>
<br>
<br>que Simone estaria em casa, fechada no quarto, �s escuras,
<br>sem ver ningu�m, sem aparecer para ningu�m. E se ela se matasse,
<br>como havia jurado?
<br>
<br>Pensara em recorrer ao Padre Revoredo. Mas onde
<br>encontr�-lo? J� fazia mais de seis meses que n�o o via, ou na
<br>sua casa, ou na casa de Simone. Gordo, bochechudo, fala mansa,
<br>batina empoeirada, n�o se sabendo ao certo onde morava,
<br>ora aparecendo dias seguidos, para almo�ar e jantar, ora desaparecendo
<br>de vez, meses a fio, sem que se soubesse por onde
<br>andava. E j� ia telefonar, dali mesmo da Escola Normal,
<br>para M�e Ded�, a ver se esta conseguia localizar o padre, quando
<br>a figura esguia da Simone surgiu do outro lado do p�tio.
<br>
<br>Patr�cia caminhou ao seu encontro, tardando o passo, enquanto
<br>a outra, aligeirando o seu, veio vindo depressa, de modo
<br>que foi ainda ao fundo do p�tio que se defrontaram. E a um
<br>passo apenas, Patr�cia notou o semblante desfigurado da Simone,
<br>tenso, um brilho de �dio nas pupilas:
<br>
<br>� Simone � chamou-a, como se quisesse cont�-la.
<br>Num relance, em sil�ncio, como se n�o pudesse falar, ou
<br>se as palavras lhe faltassem, Simone afastou a m�o direita, com
<br>incr�vel rapidez, e trouxe-a de volta, com igual impulso, batendo
<br>em cheio no rosto de Patr�cia, sem lhe dar tempo de
<br>esquivar-se, e ia voltar o bra�o, no mesmo impulso da brutalidade
<br>e da ira, para repetir a pancada, mas Patr�cia, tamb�m
<br>r�pida, segurou-lhe o bra�o agressivo, prendeu-lhe simultaneamente
<br>o outro punho, en�rgica, decidida, com toda a for�a de
<br>que era capaz, e a imobilizou, a olh�-la de frente, arquejando,
<br>rosto contra rosto, a menos de um palmo; depois, atirando-
<br>lhe os bra�os para os lados, calada, os dentes cerrados, deu-
<br>lhe as costas, subiu a escada que levava ao pavimento da sala
<br>de aula.
<br>Mas n�o entrou na sala: seguiu pelo corredor longo, entrou
<br>na secretaria, pediu licen�a para falar ao telefone. Com
<br>a m�o tr�mula, fez a liga��o, errando o n�mero. Afinal,
<br>dominando-se, tornou a discar, esperou o sinal da chamada.
<br>E quando o Rodrigo atendeu:
<br>
<br>� Sou eu, Patr�cia. � para lhe dizer que sim, que caso
<br>42
<br>
<br>
<br>com voc�. Apare�a l� em casa, amanh�, para falar com a minha
<br>m�e. Hoje mesmo converso com ela.
<br>
<br>E ainda sentia o rosto em fogo, vermelho, com os cinco
<br>dedos da outra na epiderme, quando saiu � rua, caminhando
<br>depressa na cal�ada coberta de sol.
<br>
<br>43
<br>
<br>
<br>TERCEIRO CAP�TULO
<br>
<br>1
<br>
<br>Como havia recomendado ao Ludovico que deixasse na
<br>poltrona o quadro de formatura, ali estava este, banhado pela
<br>claridade da janela, junto � escrivaninha de mogno, em cujas
<br>gavetinhas de segredo ela guardava os seus pap�is, incluindo
<br>os card�pios que recortava dos jornais.
<br>
<br>Patr�cia gostava daquele canto na imensid�o da casa, sobretudo
<br>se acompanhada pela surdina de seus concertos prediletos.
<br>E como amava a ordem, cada coisa em seu lugar, fazia
<br>tudo com m�todo, na mesa bem arrumada e bem disposta.
<br>
<br>Agora, com o quadro � sua frente, na luz forte da tarde,
<br>ela abrangia as colegas de turma e os professores, al�m da rechonchuda
<br>diretora, que ostentava um pente espanhol � altura
<br>da nuca, muito cabeluda e compenetrada. Que fim teria levado
<br>esta D. Carmita? Sabia-se que, j� quarentona, de forte
<br>bu�o azulado, tinha casado de repente com um militar robusto
<br>que poderia ser seu filho. E como se afastara da escola para
<br>viver com o seu amor tempor�o, dela n�o mais se soubera, dando
<br>agora a impress�o de ter sido desfeita pelo tempo.
<br>
<br>Da outra poltrona, olhando para o quadro, na dist�ncia
<br>de menos de dois metros, Patr�cia sentia que lhe volvia � consci�ncia,
<br>n�o apenas toda a sua turma, no ano da formatura,
<br>mas tamb�m os mestres, a sala de aula, o bater da sineta, o
<br>ru�do dos passos nos degraus da escada, e mais que tudo, n�tida,
<br>inconfund�vel, possessiva � a Simone. Com o mesmo penteado,
<br>do come�o ao fim do curso. A mesma eleg�ncia. A mesma
<br>consci�ncia de sua singularidade e de sua beleza. Afetuo
<br>
<br>
<br>45
<br>
<br>
<br>sa e inacess�vel. Como que envolta no seu pr�prio mist�rio,
<br>que a intimidade e o conv�vio n�o penetravam. Ora cordata,
<br>ora inflex�vel.
<br>
<br>Ali estava, magrinho, de bigode negro, gravata negra de
<br>la�o derramado, o bom do Professor Marinho, t�o fino quanto
<br>um l�pis ou um pincel, e que debalde tentara conseguir da
<br>Simone que posasse uma tarde, na pr�pria escola, para lhe pintar
<br>o retrato. Tamb�m o Professor Jansen, que todos os anos
<br>preparava o grupo que representava uma pequena pe�a no teatrinho
<br>da Escola Normal, em v�o ensaiara convencer a Simone a
<br>aceitar um papel de realce, que lhe sobressa�sse a beleza. N�o, de
<br>modo algum. Mesmo com a interven��o de D. Carmita. E com
<br>
<br>o empenho do Padre Godinho, que lhe dava a comunh�o. N�o
<br>estava ali para exibir-se. E quando fora a vez de Patr�cia, que
<br>tamb�m instara com ela para que fizesse o papel de Nossa Senhora,
<br>na Pastoral do velho Avertano, a recusa ainda havia sido
<br>mais veemente:
<br>� Se insistes com isso, nunca mais falo contigo!
<br>E n�o falaria. Como n�o falara mais com a Adriana, que
<br>se recusara a trocar de lugar com ela, para que ficasse ao lado
<br>de Patr�cia, mesmo sabendo que esta continuara a se dar com
<br>a outra. E foi preciso que Adriana perdesse o pai, num desastre
<br>de autom�vel, para que Simone aparecesse no vel�rio, levando
<br>ao morto, gravemente, compungidamente, a bra�ada de
<br>rosas que entregou � filha, na capela repleta de companheiras.
<br>
<br>Pobre Adriana, de rosto redondo, olhos grandes, sempre
<br>espantada, como a adivinhar que a vida lhe seria hostil, dando-
<br>lhe a morte est�pida, que ningu�m saberia explicar � um m�s
<br>depois da formatura, � noite, enquanto dormia, e de que somente
<br>ficara vest�gio na janela do quarto escancarada e no len�ol
<br>da cama empapado de sangue.
<br>
<br>Ao lado da Adriana, a Neide, de que nunca mais tivera
<br>not�cia. Do outro lado, a Paula. A querida Paula, junto da Inezita,
<br>tamb�m querida. A Gilda, que fora morar na Su��a. Esta
<br>seria mesmo a Fl�via? Sim, ela mesma, com o cabelo curto
<br>e a pastinha. Ou seria esta outra, tamb�m de pastinha? N�o,
<br>esta � a Vera.
<br>
<br>E voltando a sorrir, Patr�cia desviou um pouco a cabe�a,
<br>
<br>46
<br>
<br>
<br>para dar mais luz ao quadro enquanto tornava a olhar a si mesma,
<br>no retratinho ao lado da Simone:
<br>
<br>� Sim, sou eu mesma. Eu, Patr�cia. E foi assim que o
<br>Rodrigo se apaixonou por mim. Como, n�o sei. E por que a
<br>Simone � minha direita, se j� n�o nos fal�vamos?
<br>Deu de ombros, sabendo que n�o saberia responder: apenas
<br>lhe ficara na consci�ncia o rosto da Simone, acusativo, a
<br>olh�-la de frente. Sempre a Simone. A mesma Simone. A despeito
<br>do tempo transcorrido, continuava a lembrar-se dela como
<br>se a houvesse visto momentos antes, com aquele mesmo
<br>cabelo, aquela mesma altivez, a mesma sombra leve por baixo,
<br>dos olhos, sempre bonita.
<br>
<br>O velho Avertano, gordo, bovino, a papada querendo
<br>cobrir-lhe o la�o da gravata, filtrava as pupilas mansas pela
<br>fresta das p�lpebras, no recorte oval do retratinho em preto
<br>e branco, como se fosse come�ar a li��o do fim da tarde, com
<br>as m�os entrela�adas por baixo do ventre, no estrado da sala
<br>de aula:
<br>
<br>� Minhas amiguinhas... E futuras professoras...
<br>O Professor Fritz, com a mesma roupa azul do come�o
<br>ao fim do ano, permanecera fiel ao traje surrado, j� exalando
<br>um cheirinho teimoso de suor e poeira, alto, meio curvo, as
<br>su��as tufadas no rosto comprido, ainda conservava, na fotografia
<br>levemente desbotada, o ar de noivo cr�nico com que sorria
<br>para a senhora enchapelada que o vinha buscar, todos os
<br>dias, � porta da Escola Normal, para seguirem, rua abaixo,
<br>muito unidos, como dois namorados adolescentes.
<br>
<br>Patr�cia ouvia-lhe a voz rouca:
<br>
<br>� O ingl�s, como sabem minhas alunas, � a chave do saber.
<br>Ningu�m pode ensinar meninos sem conhecer a l�ngua de
<br>Shakespeare.
<br>De vez em quando a mesma frase. Com o mesmo ar afetuoso
<br>e solene, enquanto enrolava na m�o imensa o cigarrinho
<br>de palha.
<br>
<br>Conquanto n�o mais existisse o velho pr�dio da Escola
<br>Normal, que vinha do outro s�culo, com seu bonito beiral dando
<br>a volta ao quarteir�o e seu renque de janelas com sacadas
<br>de ferro, e que fora demolido em poucos dias, com protestos
<br>
<br>47
<br>
<br>
<br>nos jornais, Patr�cia o recompunha sem esfor�o, naturalmente,
<br>e revia as duas cari�tides ladeando a escada, o portal de
<br>m�rmore, o mastro da bandeira, o p�tio, as amendoeiras, o
<br>repuxo em que lavavam as m�os e o rosto nos dias de calor,
<br>as salas de aula, a sala da congrega��o � com a mesa comprida,
<br>os cadeir�es tauxiados, os retratos a �leo nas paredes
<br>circundantes, todos de beca, solen�ssimos.
<br>
<br>Por que tinham posto abaixo o velho pr�dio, com a sua
<br>imensa varanda de leques coloridos, para construir em seu lugar
<br>um espig�o de vinte andares, sem beleza, sem eleg�ncia,
<br>com a inj�ria suplementar de um letreiro luminoso l� em cima?
<br>Ainda bem que sempre evitava passar por l�, mesmo para
<br>encurtar caminho. Ou ent�o, se passava, cerrava os olhos,
<br>at� sentir que a volta da rua ficara para tr�s.
<br>
<br>Com os olhos no quadro, e a m�o direita segurando o l�pis
<br>sobre o bloco de papel, Patr�cia se dispunha a preparar a
<br>rela��o das colegas que ia convidar quando refletiu que, de
<br>muitas delas, n�o teria o endere�o, al�m de n�o saber, ao certo,
<br>quais as que estariam casadas, solteiras, vi�vas ou divorciadas.
<br>De pronto lhe acudiu recorrer � Fl�via Turbino, que
<br>tudo sabia e de tudo entendia, na sua condi��o de poeta e jornalista.
<br>Mas mudou de id�ia. N�o: se a Fl�via conhecia gente
<br>importante, n�o conheceria gente de vida apagada ou modesta,
<br>que n�o ia a recep��es, a coquet�is, a corridas no Jockey,
<br>a regatas, a vernissages, a lan�amentos de livros, com direito
<br>ao nome nos jornais.
<br>
<br>E de repente, numa ilumina��o:
<br>
<br>� A Inezita. A Inezita � que pode me ajudar.
<br>Veio mais � frente, curvando-se para a poltrona, a olhar
<br>de perto o quadro, e descobriu a Inezita no pen�ltimo lugar
<br>da segunda fila. Sim, era ela. N�o podia deixar de ser. E resvalou
<br>a vista emocionada, mais uma vez, por todo o quadro,
<br>para voltar � figurinha que parecia querer atravessar o vidro
<br>da moldura, magra, pesco�o alto, quase desarrumada, em contraste
<br>com a Inezita de hoje, bem vestida, esportiva, �s voltas
<br>com sucessivas campanhas sociais, e que freq�entemente lhe
<br>telefonava, com a mesma determina��o e o mesmo empenho,
<br>numa voz contente, quase rouca:
<br>
<br>48
<br>
<br>
<br>� Mais uma caridadezinha, Patr�cia. Sei que n�o vais me
<br>dizer n�o. Deus, l� em cima, est� tomando nota.
<br>Patr�cia, invariavelmente, atendia com gosto, com entusiasmo,
<br>sem esperar que a outra viesse ao seu encontro: fazia
<br>com que seu motorista, acompanhado pelo grave Ludovico,
<br>fosse ter com ela no mesmo dia, mandando-lhe o dobro do
<br>que havia pedido, para receber logo depois o mesmo agradecimento
<br>efusivo:
<br>
<br>� Foste maravilhosa, Patr�cia. Ma-ra-vi-lho-sa. Deus est�
<br>me ouvindo. J� entreguei o donativo ao Cardeal. Ele faz
<br>quest�o de te ver. Prepara-te. Eu sempre digo isto, sem que ele
<br>va. Desta vez, vai.
<br>Curioso: a caridade constante, quase profissional, longe
<br>de dar � figura nervosa da Inezita o equil�brio das sensibilidades
<br>realizadas, como que a tornava mais efusiva, mais loquaz,
<br>ao mesmo tempo em que a ia envelhecendo precocemente, nas
<br>rugas, na flacidez, nas manchas das m�os, em contraste com
<br>a vivacidade dos olhos brilhantes, em que a beleza da juventude
<br>parecia ter o seu reduto, no brilho vivo, no verde vivo.
<br>No todo, ainda era jovem, gra�as sobretudo aos olhos; mas
<br>j� tivera de recorrer ao cirurgi�o pl�stico para eliminar um come�o
<br>de papada destoante e intrometida. E como era loquaz
<br>por natureza, falando com todo o corpo em movimento, com
<br>�nfase nas m�os, como que voltava ao tempo da sala de aula,
<br>sempre que se expandia, no impulso de seus entusiasmos.
<br>
<br>Patr�cia a chamou pelo telefone, duas vezes seguidas, repetindo
<br>o n�mero que constava de seus apontamentos. Como
<br>ningu�m atendesse, rep�s o fone no gancho.
<br>
<br>Foi nesse momento que o Ludovico apareceu � porta da
<br>saleta, abra�ado a uma imensa caixa de papel�o. E parado, antes
<br>de entrar, ainda com a caixa contra o ventre:
<br>
<br>� Uma boa surpresa, Sra. D. Patr�cia.
<br>E Patr�cia, com uma express�o de espanto no rosto
<br>contra�do:
<br>
<br>� Onde estava essa caixa, Ludovico? N�o � a caixa em
<br>que M�e Ded� guardava os
<br>meus pap�is?
<br>E ele, feliz:
<br>
<br>� A pr�pria. Estava no s�t�o, muito bem escondida, des49
<br>
<br>
<br>
<br>de que morreu M�e Ded�. Como minha patroa n�o se consolava,
<br>chorando sempre, guardei a caixa ali, por ordem do Dr.
<br>Rodrigo. Agora, que o tempo j� passou, a emo��o de ontem,
<br>com os olhos molhados, � a lembran�a de hoje, com os olhos
<br>enxutos � como diz n�o sei quem.
<br>
<br>Suspirou alto, j� com a caixa sobre um tamborete, perto
<br>do quadro de formatura. E inclinando a cabe�a para um lado,
<br>com as m�os unidas:
<br>
<br>� Quando vi a senhora a olhar o quadro de formatura,
<br>com saudade de seu tempo de mocinha, me lembrei de lhe trazer
<br>esta caixa.
<br>Patr�cia passou o resto da tarde a revolver recorda��es nos
<br>pap�is que ia tirando dali. No entanto, ali n�o estava a sua
<br>turma. S� a Simone. Sempre a Simone. E as duas juntas. Muito
<br>amigas. De m�os dadas, falavam alto, riam alto, cochichavam,
<br>escondiam-se, sa�am � rua, conversavam ao telefone, corriam
<br>nas alamedas do bosque, paravam diante do repuxo ao meio
<br>da pra�a, pedalavam as bicicletas, alvoro�avam os p�ssaros do
<br>viveiro batendo na tela, imitavam a arara do vizinho, ou ent�o
<br>entravam pela noite, ora na casa de uma, ora na casa de
<br>outra, repassando as notas de aula para a prova da manh�
<br>seguinte.
<br>
<br>Houve mesmo um momento em que Patr�cia voltou a sentir
<br>a m�o da Simone na sua testa, nos seus cabelos, no seu rosto,
<br>e ambas se olharam, bem perto, rosto contra rosto, at� que
<br>se abra�aram, demoradamente, e era a Simone quem dizia,
<br>emocionada:
<br>
<br>� Que bom que fosse assim, sempre assim, para o resto
<br>da vida.
<br>Mas n�o fora. De um momento para outro, imprevistamente,
<br>por ast�cia do destino, o desencontro, a ruptura. De
<br>in�cio, uma sensa��o de surpresa, de vazio, de perplexidade,
<br>que por vezes, � noite, no sono breve, o sonho interrompia,
<br>restituindo a Patr�cia o rosto, as m�os, a voz de Simone. Depois
<br>a dist�ncia, o sil�ncio, at� sobrevir a saudade magoada
<br>com que ia buscar, nos guardados da mem�ria, as imagens de
<br>outrora, n�tidas, indel�veis. Nessas horas, suspirava, alteava os
<br>ombros, deixava cair os bra�os, sabendo que nunca mais, na
<br>
<br>50
<br>
<br>
<br>volta da rua, acenaria para Simone, que de longe a seguia, no
<br>port�o de sua casa.
<br>
<br>2
<br>
<br>Por fora, com as pl�sticas a que se havia submetido, n�o
<br>era a mesma Inezita do retrato do quadro de formatura. Do
<br>narizinho arrebitado, que tanta zombaria lhe custara durante
<br>
<br>o curso, s� restava a parte superior, com as narinas corrigidas
<br>e a ponta afilada. Desaparecera o come�o de papada que lhe
<br>arredondava o queixo. E como tinha os olhos inclinados, parecia
<br>agora uma oriental, no exotismo de sua beleza retocada.
<br>O salto dos sapatos, aumentando-lhe o tamanho, n�o chegara
<br>a alterar-lhe a figura mi�da e bem proporcionada, com as pernas
<br>bem-feitas, real�adas pelas meias pretas.
<br>E chegando-se para a ponta da cadeira, defronte da mesa
<br>do ch�, adiantou para a asa da x�cara a m�o canhota:
<br>
<br>� Parece mentira. Eu e tu moramos na mesma cidade,
<br>no mesmo bairro, falamos sempre pelo telefone, e a gente quase
<br>n�o se v�. A �ltima vez que estive aqui foi ano passado. J�
<br>te disse: me chama, que eu venho. Sou a Inezita de sempre. S�
<br>n�o fui mais tua amiga quando fizemos o nosso curso porque
<br>a Simone te monopolizava. Eras propriedade dela. De mais
<br>ningu�m. Bem que eu queria. Com este mesmo gosto da vida.
<br>Este mesmo temperamento. Meu marido costuma dizer que
<br>eu n�o sa� dos quinze anos. Por dentro. Por fora, vou tratando
<br>de conter os exageros da natureza.
<br>E recuando a cadeira, a afastar-se da mesinha de ch�:
<br>
<br>� Ai! Fiz bobagem: molhei a toalha! E quase me molho.
<br>A culpada foi esta torrada gostosa. O pior � que manchei
<br>tua toalha de linho. N�o te preocupes: a mancha sai. Antigamente
<br>n�o sa�a. Hoje, felizmente, sai. Com um detergente novo,
<br>que tira mancha na hora.
<br>Rep�s a cadeira no lugar, apossou-se de outra torrada,
<br>segurando-lhe a ponta, entre o indicador e o polegar, com os
<br>
<br>51
<br>
<br>
<br>outros dedos levantados; molhou-a no ch�, de leve, meticulosamente,
<br>e levou-a � boca, para mord�-la com gosto, como encantada
<br>com o ru�do da mastiga��o vagarosa.
<br>
<br>E tentando reprimir o riso:
<br>
<br>� Minha m�e sempre diz que eu, para tudo, sou apressada;
<br>s� n�o sou apressada para comer. E � verdade. Comer,
<br>para mim, � um rito. Mastigo bem, engulo bem, sinto que a
<br>comida me cai bem aqui dentro. J� meu novo marido � diferente:
<br>n�o come � engole.
<br>Veio mais para perto de Patr�cia, falando-lhe junto �
<br>orelha:
<br>
<br>� Na cama tamb�m. J� ralhei com ele.
<br>E riu alto, de boca cheia, com a mal�cia nas pupilas, enquanto
<br>Patr�cia a fitava, contraindo os l�bios para reprimir o
<br>riso, que tamb�m lhe subira aos olhos, com o mesmo brilho
<br>de mal�cia.
<br>
<br>E foi Patr�cia que, de repente, recolheu de todo o riso, erguendo
<br>a cabe�a, para perguntar:
<br>
<br>� J� sabes que dentro de dois meses vou fazer quarenta
<br>anos? � verdade.
<br>Quarentona. Como tu. Como a Paula.
<br>E a Inezita, com o indicador diante dos l�bios:
<br>
<br>� Psiu. Mato tem olhos, paredes t�m ouvidos. Fica
<br>calada.
<br>E Patr�cia, prosseguindo:
<br>
<br>� Quarenta anos � repetiu. � E quero reunir aqui, nesse
<br>dia, numa grande festa, toda a nossa turma. Incluindo os
<br>professores.
<br>Num �nico impulso, � maneira do brinquedo que se desprende
<br>da mola que o ret�m, Inezita saltou da cadeira, quase
<br>a derramar o resto do ch� na barra do vestido:
<br>
<br>� O que est�s me dizendo, Patr�cia? Isso n�o � uma id�ia
<br>como outra qualquer. � uma inspira��o divina. Uma lembran�a
<br>genial.
<br>Estava agora de p�, transfigurada, e p�s-se a andar pela
<br>saleta, entre a janela e a porta sobre o sal�o, quase a esbarrar
<br>no Ludovico, que aguardava o momento em que iria desfazer
<br>a mesa do ch�, grave, mudo, expedito, certamente a disfar�ar
<br>a curiosidade natural, ao acdmodar, uma a uma, as pe�as na
<br>
<br>52
<br>
<br>
<br>bandeja, dobrando cuidadosamente a toalha, recolhendo os
<br>guardanapos, como se estivesse a representar, impecavelmente,
<br>o seu papel de mordomo.
<br>
<br>E Inezita, de frente para a janela e de costas para Patr�cia,
<br>toda entregue ao frenesi da imagina��o:
<br>
<br>� N�o, eu n�o acredito. Todas n�s, reunidas, como na
<br>noite da formatura? � o m�ximo. O m�ximo. Para vir nas revistas.
<br>Para ser, falado no estrangeiro.
<br>E de frente para a outra, mais exaltada e borbulhante:
<br>
<br>� E com os nossos uniformes, Patr�cia! Por que n�o? Sim
<br>senhora: todas de uniforme! Que � que custa fazer um novo
<br>uniforme? Menos que um vestido de soir�e. Blusa branca, saia
<br>azul, a gravatinha tamb�m azul, sapato preto de fivela prateada,
<br>meia curta, a saia abaixo do joelho, como se f�ssemos novamente
<br>quintanistas da Escola Normal. Tem paci�ncia: se ningu�m
<br>topar o uniforme, eu topo. Venho aqui com o meu. E
<br>tu vais ver o sucesso que vou fazer. Ah, Patr�cia, tua id�ia me
<br>deixou maluca. Deixou. Meu marido vai ficar tonto e os filhos
<br>assim, de boca aberta. Juro por Deus que estou sonhando.
<br>Assim. De p�. Me apalpa. Me pega. V� se sou eu mesma
<br>que estou aqui.
<br>Ludovico, depois de olhar em volta, como para ver se nada
<br>lhe faltava, retardou a sa�da da saleta, terminou por apoiar
<br>a bandeja repleta na m�o espalmada, e saiu ao corredor, sem
<br>diminuir ou atenuar a sua eleg�ncia e a sua solenidade, ap�s
<br>dizer, com um leve aceno da cabe�a curiosa:
<br>
<br>� Com licen�a.
<br>E Inezita, ainda exaltada:
<br>� E foi para me deixares assim, toda arrepiada de emo��o,
<br>que me chamaste aqui, Patr�cia? Se foi por isso, n�o sei
<br>como te agradecer. J� sei que esta noite n�o vou dormir.
<br>Patr�cia segurou-a pelos ombros:
<br>
<br>� Mas n�o foi s� por isso que te chamei. Preciso de ti
<br>para me ajudar nas consultas e nos convites. Eu perdi de vista
<br>muitas de nossas colegas. Umas, n�o se aproximam de mim,
<br>supondo que eu mudei; outras afastaram-se por motivos que
<br>n�o desejo nem quero aprofundar. Como sou a mesma, passo
<br>53
<br>
<br>
<br>por cima de tudo, e estendo a m�o a todas, como se ainda estiv�ssemos
<br>na sala de aula.
<br>
<br>Inezita deu ao rosto uma express�o s�ria. Pestanejou, correu
<br>a costa da m�o direita pelos olhos �midos. E erguendo o
<br>olhar:
<br>
<br>� Sabes que me emocionei, Patr�cia? � verdade. Senti os
<br>olhos �midos, as m�os frias. Um belo gesto, o teu. Muito bonito.
<br>Parab�ns. E vai ser linda a tua festa, Patr�cia. A nossa
<br>festa. Porque ser� tamb�m nossa. De nossa turma. De cada
<br>uma de n�s. E se fiz�ssemos a mesma festa de dez em dez anos?
<br>J� pensaste? Todas n�s reunidas de novo. At� sermos um bando
<br>de velhinhas, cada qual com a sua bengala?
<br>Sa�ram da saleta do ch�, entraram no pequeno gabinete
<br>de Patr�cia, precedidas pelo Ludovico, que puxava agora as cortinas
<br>para recolher a derradeira luz da tarde.
<br>
<br>E ele, para Patr�cia:
<br>
<br>� Quer que acenda os abajures, senhora?
<br>� Assim est� bem, Ludovico. Quando escurecer, eu mesma
<br>acendo.
<br>Pode ir. Se precisar de voc�, eu chamo.
<br>E Ludovico, curvando-se:
<br>
<br>� A senhora manda; eu obede�o.
<br>Tornou a empertigar-se, ganhou o corredor alargando o
<br>passo; l� adiante, cerrou a porta.
<br>Inezita olhava agora em seu redor, calada, compenetrada,
<br>acercando-se das paredes para olhar de perto o quadro e
<br>a assinatura respectiva, correndo a m�o inquieta pelo bronze
<br>das estatuetas, louvando o bom gosto dos m�veis, admirando
<br>exaltadamente os tapetes.
<br>
<br>E de repente, perto da escrivaninha, ao dar com o quadro
<br>de formatura sobre os bra�os da cadeira:
<br>
<br>� Igual ao meu. Quando quero ter saudades, corro os
<br>olhos por todas n�s, e sinto o cora��o apertar. Um dia, meu
<br>marido ralhou comigo, quando me viu de olhos molhados diante
<br>deste quadro. N�s � que sabemos o que isto significa para
<br>n�s. D� vontade de voltar para tr�s. �s vezes, penso: como
<br>seria bom se o tempo, em vez de ser um mist�rio, fosse uma
<br>maquininha de manivela � girava para frente, o tempo avan�ava;
<br>girava para tr�s, o tempo voltava ao passado.
<br>54
<br>
<br>
<br>Suspirou alto:
<br>
<br>� Depois, reconheci: a maquininha est� dentro da gente.
<br>Agora mesmo, girou para tr�s.
<br>E numa voz mais viva:
<br>
<br>� Queres mesmo que venham todas � festa, como na noite
<br>da formatura?
<br>E parando no meio da saleta, de costas para o quadro,
<br>sombreou o rosto, com dois tra�os verticais a lhe subirem para o
<br>meio da testa; levou assim uns momentos, com os olhos no
<br>ar, como voltada para si mesma. Ergueu depois o olhar:
<br>
<br>� Tamb�m a Simone, Patr�cia?
<br>� Simone, n�o; podia ofender-se, se a convidasse. Para
<br>meu casamento, M�e Ded�, distraidamente, mandou-lhe um
<br>convite, e foi devolvido no mesmo dia, rasgado ao meio.
<br>E Inezita, passado um sil�ncio:
<br>
<br>� Voc�s eram t�o amigas. De repente, a vida muda. Cada
<br>uma de n�s sabe de si. O que tem de ser, tem de ser. N�o
<br>depende de nossa vontade. Eras tu que tinhas de casar com
<br>o Rodrigo. Destino � destino. Ponto final. Deus manda, a gente
<br>obedece.
<br>E sentando-se na cadeira de palhinha, que puxou para perto
<br>de Patr�cia, de modo a continuar a olhar a outra de frente:
<br>
<br>� J� te disse que fui ver a Simone? Fui. Criei coragem,
<br>e fui. Nestes vinte anos, ela sempre me escreveu. Pelo menos
<br>duas vezes: uma, pelo Natal; outra, no dia de meus anos. Cartas
<br>longas, bem escritas. Sempre parecendo conformada, e at�
<br>forte, aceitando a reclus�o. Na �ltima carta, o tom era diferente:
<br>com uma ponta de revolta, cansada da vida. Tive a impress�o
<br>de que se despedia de mim. Peguei meu carro, no fim
<br>de semana, e me mandei para l�, com o marido do meu lado.
<br>Grande borrasca pelo caminho, um frio de doer, e eu subindo
<br>a serra. Seis horas de viagem dif�cil. Afinal, chegamos. Arranjamos
<br>quarto no �nico hotel da aldeia, e ali passamos a
<br>noite, olhando de longe, numa esplanada, as luzes do Sanat�rio.
<br>De manh�, sozinha, subi at� l�. Subida dif�cil, de muitas
<br>voltas, com o carro a gemer nas curvas fechadas, at� que me
<br>vi l� em cima. Uma vista deslumbrante. Nunca vi paisagem
<br>t�o linda. Mas a se fechar em volta da gente, tornando mais
<br>55
<br>
<br>
<br>forte o sentimento da solid�o. Solid�o absoluta. Pelo menos
<br>para mim, nos primeiros momentos. Na portaria, quando disse
<br>da visita que pretendia fazer, levaram-me ao m�dico de plant�o,
<br>que me disse n�o ser poss�vel ver a Simone. Foi franco,
<br>quando eu lhe expliquei quem eu era: ela tentara matar-se, cortando
<br>os pulsos, fazia uma semana.
<br>
<br>Patr�cia desencostou-se da poltrona, como se fosse
<br>levantar:
<br>
<br>� Ela tentou matar-se? A Simone?
<br>� E era a segunda vez que fazia isso. Na primeira, ficara
<br>entre a vida e a morte, durante mais de m�s. Atirara-se l� de
<br>cima, do alto de uma pedra, ao fundo do vale. S� n�o morreu
<br>porque, na queda, caiu sobre uma �rvore, e ali ficou presa, com
<br>a clav�cula fraturada, traumatismo craniano, escoria��es em
<br>todo o corpo. Isso foi h� dez anos.
<br>E Patr�cia, desolada:
<br>
<br>� E eu n�o soube de nada. Ningu�m me falou.
<br>� Eu tamb�m n�o soube. Nem ela, nas cartas que me escreveu
<br>depois, aludiu ao fato. Eu as reli, h� pouco tempo. Pelo
<br>contr�rio: tinham um tom jovial, meio s�rio, meio brincalh�o,
<br>sem deixar transparecer a crise em que se debatia. Na
<br>segunda vez, foi diferente, me disse o m�dico. Passara uns tempos
<br>deprimida, fechada no quarto, recusando alimentar-se.
<br>� Exatamente como nas crises que testemunhei, quando
<br>�ramos amigas � reconheceu Patr�cia, ainda de sobrancelhas
<br>alteadas. � Nessas ocasi�es, nem com a m�e queria falar. S�
<br>falava comigo. E quando falava. E assim mesmo, no fim da
<br>crise.
<br>E Inezita:
<br>
<br>� Agora, ouve o resto. Pedi ao m�dico que fosse dizer
<br>a Simone que eu estava ali: se ela pudesse me receber, gostaria
<br>de v�-la. Ele relutou, j� sabendo a resposta: Simone n�o queria
<br>ver ningu�m. Mesmo os m�dicos. Mesmo as enfermeiras.
<br>Insisti com ele. N�o tardou a voltar, de rosto aberto. Simone
<br>ia me receber. S� me pedia que esperasse uns momentos. Da�
<br>a pouco, ela pr�pria veio ter comigo, na sala de espera. Assustei-
<br>me. Parecia mais alta, muito esguia, muito branca, uma ruga
<br>funda entre o canto da boca e a asa do nariz, os olhos enor56
<br>
<br>
<br>
<br>mes. Levou-me para a outra ala do pavilh�o onde tem seus aposentos.
<br>Vi-lhe nos punhos a gaze do curativo. De rosto alegre,
<br>me trouxe pela m�o, abriu a porta sobre o quarto amplo, a
<br>que se ligava uma sala. Nada, ali, lembrava uma casa de sa�de,
<br>a n�o ser o conjunto de aparelhos na trave da cama e mais
<br>
<br>o suporte de ferro para o tubo de soro. Quadros nas paredes,
<br>duas estantes repletas de livros, uma cadeira pregui�osa na sala,
<br>defronte do aparelho de televis�o, um grupo estofado, um
<br>par de poltronas como esta, cortinas nas tr�s janelas, tapetes,
<br>uma mesa redonda com uma floreira, o aparelho de som, a
<br>discoteca, a estante dos videocassetes. Tubo bem cuidado. O
<br>suporte para os jornais e as revistas. E mais esta surpresa, que
<br>eu quase te contei: um jornal dobrado, com o teu retrato e o
<br>retrato do Rodrigo na primeira p�gina.
<br>E Patr�cia, quase a levantar-se:
<br>
<br>� Foi na �poca do desastre de autom�vel, no Vale das
<br>Grutas, quando ele e eu escapamos por milagre. Ela te perguntou
<br>por n�s?
<br>� Fui eu que lhe confirmei o que o jornal contava: todos
<br>morreram, menos voc�s. Ela me ouviu em sil�ncio. Eu,
<br>para mudar de assunto, perguntei-lhe como se sentia naquele
<br>isolamento, longe das antigas colegas. Ela me respondeu sem
<br>hesitar: bem. Nada lhe faltava. A compreens�o dos m�dicos,
<br>o desvelo das enfermeiras, a solicitude dos empregados. Como
<br>se a dona do Sanat�rio fosse ela.
<br>� Em parte, � � atalhou Patr�cia. � O Rodrigo soube,
<br>por um amigo, que ela, assim que recebeu a heran�a da m�e
<br>(e n�o foi pouca coisa), passou-a para o Sanat�rio.
<br>E Inezita:
<br>
<br>� Eu acredito que, mesmo sem isso, ela se sentiria em
<br>casa. Gostava daquele isolamento, daquele sil�ncio, daquelas
<br>alturas. Levou-me para olhar o vale, de uma das janelas. Nunca
<br>vi nada mais lindo. J� o sol ia desfazendo o mau tempo,
<br>e mostrava as �rvores verdes, a curva do rio, a faixa da estrada,
<br>as montanhas, as casas de teto pontudo nas encostas, e
<br>o sussurro do vento macio que n�o parava de soprar. Sa� de
<br>l� de noite, para me encontrar no hotel com o meu marido.
<br>Na manh� seguinte, voltei para c�. Voltei de alma tranq�ila.
<br>57
<br>
<br>
<br>Simone estava muito bem entregue. Passara-lhe a crise. Voltara
<br>a ser alegre. Risonha. Lembrou o tempo da Escola Normal,
<br>as colegas, os professores.
<br>
<br>Patr�cia n�o conteve a pergunta:
<br>
<br>� Falou em mim?
<br>� N�o, n�o tocou no teu nome. Mas n�o deixou transparecer
<br>qualquer amargura. Ela pr�pria aludiu � sua tentativa
<br>de suic�dio. Fora um momento de fraqueza. Passara. J� pedira
<br>perd�o a Deus. Com a ajuda de um padre, que de vez em
<br>quando vai v�-la, e � tamb�m teu amigo.
<br>E Patr�cia:
<br>
<br>� O Padre Revoredo?
<br>� O Padre Revoredo � confirmou Inezita, acabando de
<br>recompor o batom dos l�bios para ir embora.
<br>3
<br>
<br>Depois de ter o quadro, por v�rios dias, sobre os bra�os
<br>da cadeira, a um canto, perto da escrivaninha em que punha
<br>em dia a sua correspond�ncia social, Patr�cia revia-o agora,
<br>n�tido, objetivo, no quarto de dormir �s escuras, como se continuasse
<br>a t�-lo � sua frente, na claridade do dia, restituindo-
<br>lhe a imagem dos professores e das colegas de turma. Sobretudo
<br>das colegas.
<br>
<br>Com efeito, todas elas estavam ali, nas tr�s filas horizontais,
<br>seguidamente, lado a lado, quase a se tocarem, no diminuto
<br>espa�o do retratinho oval em preto e branco, com o nome
<br>por baixo. No seu caso, trazia esta indica��o a mais, por
<br>cima do retrato: oradora, em letras menores.
<br>
<br>Sim, ela pr�pria. Com dezenove anos. J� noiva do Rodrigo.
<br>Com os cabelos penteados por M�e Ded�. O rosto contente.
<br>O busto cheio. O par de brincos que o noivo lhe trouxera
<br>de Paris. Eles mesmos. Lindos.
<br>
<br>Agora, no quarto amplo, na imensid�o da cama de casal,
<br>debalde Patr�cia esperava pelo marido, que deveria ter vindo no
<br>
<br>58
<br>
<br>
<br>cair da noite, e n�o viera, nem lhe telefonara. E ap�s um suspiro,
<br>come�ando a afligir-se:
<br>
<br>� Que custava telefonar? Eu estaria mais tranq�ila.
<br>N�o, n�o se acostumada com as aus�ncias do Rodrigo.
<br>Queria-o sempre ali, do seu lado, para ter a m�o dele na sua
<br>e se sentir mais segura. N�o casara enganada. N�o. Sabia que,
<br>de momento, l� ia ele, num trem expresso, num helic�ptero,
<br>num avi�o de carreira, ou no seu pr�prio avi�o. Sempre �s voltas
<br>com mil neg�cios. Ainda bem que voltava de bom humor, vitorioso.
<br>Tudo dava certo.
<br>
<br>Desta vez, tinha sido a greve dos oper�rios na sua maior
<br>f�brica. Metera-se no bimotor, que ele mesmo pilotava, e l�
<br>se fora, por cima da serra, em companhia de um de seus gerentes.
<br>Ia decidido a p�r �gua fria na cabe�a dos exaltados e
<br>transigir at� encontrar com eles a boa solu��o harmoniosa.
<br>Com lealdade, e conversando, tudo seria resolvido. Dera-lhe
<br>um aviso, ainda no escrit�rio da cidade: voltaria, o mais tardar,
<br>no dia seguinte, no come�o da noite de lua.
<br>
<br>Estaria viajando �quela hora? N�o, n�o era poss�vel, j�
<br>que o tempo se toldara, na dire��o da serra, pelo cair da tarde.
<br>No dia seguinte, tinham um jantar na Embaixada da Fran�a.
<br>De black-tie. Como ia fazer, se ele n�o pudesse vir? Tinha horror
<br>de ir s�, como no jantar da Nunciatura. Com o Rodrigo,
<br>era outra coisa: sentia-se mais segura, mais protegida. S�, n�o.
<br>Daria uma desculpa, sobretudo se restassem treze � mesa, como
<br>no jantar do Presidente do Banco Nacional, quando n�o
<br>pudera vir a mulher do Ministro da Fazenda.
<br>
<br>De repente, Patr�cia se reanima, agu�ando o ouvido para
<br>
<br>o lado do port�o. Quem sabe se o Rodrigo n�o estaria chegando,
<br>mesmo com o tempo ruim? Era poss�vel. Por que n�o?
<br>Ele, contando sempre com a sua boa estrela, teria enfrentado o
<br>mau tempo, alegre, confiante. Como se estivesse no seu carro
<br>de passeio, de capota descida, na estrada asfaltada.
<br>Ela o havia acompanhado, h� tempo, numa das viagens
<br>do bimotor, e jurara nunca mais repetir semelhante aventura.
<br>Quase se tinham perdido no ponto mais alto da serra, passando
<br>pela garganta de um vale, debaixo de uma lua embaciada,
<br>com a chuva a bater na vidra�a da cabine de comando. Passa
<br>
<br>
<br>59
<br>
<br>
<br>ra a viagem rezando, de cora��o apertado. E preferira voltar
<br>de autom�vel, suportando as seis horas de mau caminho, sobre
<br>os calhaus da terra batida.
<br>
<br>Fora em v�o que tentara obter do Rodrigo que desistisse
<br>das viagens no bimotor. N�o, n�o podia � ele lhe replicara:
<br>precisava tomar decis�es urgentes, e que s� a ele competiam.
<br>Que ela n�o se afligisse. Deus gostava dele, e o protegia.
<br>
<br>Entretanto, por mais que reconhecesse, ao termo de sucessivas
<br>experi�ncias, que sim, que era verdade, tudo com ele
<br>dava certo, cedia freq�entemente ao mesmo temor, ao mesmo
<br>sobressalto, de nervos tensos e m�os frias, ouvindo o dorido
<br>ladrar dos c�es pela madrugada, nas alamedas do parque, ou
<br>
<br>o s�bito ramalhar das �rvores, a uma rajada mais forte, como
<br>se fosse um mau aviso: rezava, aconchegando na m�o nervosa
<br>o tercinho de prata � que havia sido bento por Paulo VI �
<br>e acabava reconhecendo que a serenidade lhe voltava, na seq��ncia
<br>das ora��es.
<br>Se as ora��es n�o bastavam, levantava-se, punha uma vela
<br>a mais no orat�rio barroco, e ali ficava, ajoelhada, como
<br>esquecida do tempo, at� que a confian�a lhe voltava.
<br>
<br>Agora, estendida ao comprido da cama, Patr�cia se acalma,
<br>sem recorrer ao ter�o ou � vela do orat�rio. A lembran�a
<br>n�tida do quadro de formatura consegue distra�-la, n�o obstante
<br>o latido dos c�es e o ramalhar das �rvores do parque.
<br>E ela vai vendo a Luc�lia, a Inezita, a Paula, a Dulce, a Fl�via...
<br>V� uma, v� outra, e de pronto as re�ne, e sobe com elas
<br>a escada do p�tio, e entra na sala de aula, na reversibilidade
<br>m�gica do tempo da Escola Normal.
<br>
<br>A saudade � mesmo isso, Patr�cia: a far�ndola das lembran�as,
<br>que n�s mesmos vamos buscar no fundo da mem�ria,
<br>e que refluem � tona das horas, mais belas, mais desejadas,
<br>como se dan�assem em ronda l�rica dentro de nosso mundo
<br>de impress�es indel�veis.
<br>
<br>E eis que volve � consci�ncia de Patr�cia, gordo, vermelho,
<br>o paletoz�o para os joelhos, a papada a cair-lhe por cima
<br>do colarinho, os olhinhos azuis, as m�os cabeludas, o bom do
<br>Professor Avertano, sempre � empurrar para o alto do nariz
<br>grosso os �culos de tartagura, que teimam em resvalar para
<br>
<br>60
<br>
<br>
<br>baixo, quase a cair. O mestre vem andando devagar, de cabe�a
<br>inclinada para o ch�o, sem conseguir ocultar a varicocele excessiva,
<br>que lhe avoluma a perna da cal�a. Parece trazer ali,
<br>envergonhado, do lado esquerdo, n�o o seu pobre p�nis j� murcho,
<br>mas algo bem maior, no exagero da bexiga cheia, prestes
<br>a derramar-se, e que ele, coitado, n�o sabe disfar�ar ou esconder,
<br>sobretudo quando anda, parecendo trocar as pernas contrafeitas.
<br>Riam-se dele os bed�is, zombavam dele os colegas,
<br>riam tamb�m as alunas, assim que o professor entrava na sala de
<br>aula, sem saber como dissimularia a deforma��o da natureza. E
<br>como subia ao estrado, ao fundo da sala, com os olhos de todas
<br>as alunas voltadas em sua dire��o, ficava uns minutos vermelho,
<br>encabulado, forcejando para manter erguidas as p�lpebras
<br>desconfiadas, at� que a sua voz suave e competente lhe
<br>suplantava a vergonha, e ele se empolgava pelo ponto, e sorria,
<br>e ria, e gracejava, senhor da mat�ria, contente de ensin�la,
<br>logo desfazendo o risozinho da classe, para s� ficar o interesse
<br>nos rostos que o olhavam, atentos � sua exposi��o.
<br>
<br>E a Simone, entrando no p�tio, em companhia da Patr�cia,
<br>ao ver o ch�o coberto por meio palmo de �gua, antes de
<br>dar pelo bombeiro que ia conseguindo conter o veio
<br>borbulhante:
<br>
<br>� Que � isto, Patr�cia?
<br>E a Paula, sentada ao meio da escada, de m�o no queixo:
<br>� Foi o Professor Avertano que esvaziou a bexiga.
<br>Riram as tr�s, alto. E o riso se alastrou pelas adjac�ncias,
<br>e riu a classe, e riu mesmo a D. Carmita, ap�s um momento
<br>de sisudez em que retesou os m�sculos da cara comprida, tentando
<br>conter-se.
<br>
<br>E esse riso voltou, mais forte, como se explodisse, no momento
<br>em que a Paula sussurrou, ao ver entrar o Professor
<br>Avertano, no seu passo envergonhado, com o mesmo volume
<br>sob a aba esquerda do palet�:
<br>
<br>� E ainda sobrou, minha gente.
<br>Com o corpo alongado ao comprido da cama, Patr�cia
<br>ri agora, enquanto a figura da Paula lhe reflui � mem�ria, esguia
<br>como uma flecha, vestida com exagero, duas tran�as ca�das
<br>para os seios apertados, o rosto pintalgado de sardas miu
<br>
<br>
<br>61
<br>
<br>
<br>dinhas, l�bios grossos, olhos peraltas, e de m�o no queixo, a
<br>apoiar o cotovelo no tampo da carteira, o ombro levantado,
<br>meio torta.
<br>
<br>E Patr�cia diz a si mesma:
<br>
<br>� Preciso tamb�m pedir � Paula que me ajude a localizar
<br>as colegas. A Inezita, s�, n�o d� conta de todas.
<br>E riu mais forte ao imaginar que a pr�pria Paula, j� quarentona,
<br>e no terceiro marido, certamente chamaria a si convidar
<br>o Professor Avertano, j� perto dos noventa anos, e ainda
<br>publicando nos jornais os seus artiguinhos de filosofia.
<br>
<br>Pela manh�, ap�s oito voltas no parque, Patr�cia mergulhou
<br>na piscina, nadou por quase uma hora, aproveitando o
<br>calor da manh�, e terminou por estender-se, ainda molhada,
<br>ao comprido da cadeira de lona, na pregui�a e no abandono
<br>do banho de sol.
<br>
<br>E foi ali, ao tomar o caf� trazido pela Rosa, que, mais uma
<br>vez, repassou de mem�ria o quadro de formatura. Em v�o tentou
<br>fixar-se na Paula, na Luc�lia, na Regina, na Graziela, querendo
<br>esquivar-se da mem�ria obsessiva da Simone, que sempre
<br>lhe voltava, mais n�tida e imperativa, no recorte oval da
<br>fotografia. Mas terminou por busc�-la, ela pr�pria, atra�da pelas
<br>lembran�as que lhe aflu�am � tona da consci�ncia. Sim, era
<br>bonita a estranha Simone, com o porte, a eleg�ncia, o garbo
<br>de seu feitio. No Sanat�rio, ainda seria assim? E por que n�o?
<br>Mesmo no quadro, sobressa�a. Caminhando, mal tocava o ch�o,
<br>como se seu corpo esguio levitasse. Do come�o ao fim do
<br>curso, o mesmo penteado: o cabelo colado ao cr�nio,
<br>uma risca a dividi-lo ao meio, e reunido por tr�s da cabe�a,
<br>� altura do pesco�o, na tran�a que lhe descia entre as esp�duas,
<br>negra, levemente ondulada.
<br>
<br>Por um momento, como que a viu na varanda do Sanat�rio,
<br>com o eterno penteado, o mesmo porte, a rosetinha de
<br>ouro nas orelhas, reclusa em si mesma, como alheada da vida
<br>circundante. Diferente de todas as colegas. Mas sem que fosse
<br>de prop�sito. Naturalmente. E por que, ali no quadro, a L�cia,
<br>a Dulce, a Fl�via, a Nadir, a Graziela estavam s�rias, enquanto
<br>a Justina e a Severacomo que iam explodir na gargalhada?
<br>A Evangelina, sisud�ssima. A Madalena e a Dulce, uma
<br>
<br>62
<br>
<br>
<br>ao lado da outra, reprimiam o riso. Onde a Regina? Ali, na
<br>ponta da primeira fila.
<br>
<br>Pobre Luc�lia, que tinha tentado matar-se, na �ltima prova
<br>do curso, por estar certa de que seria reprovada, e que acabara
<br>por ter a nota mais alta, na prova do Professor Avertano.
<br>Mas � na lembran�a da Nadir que Patr�cia se fixa, enquanto
<br>rep�e na bandeja a x�cara do caf�: v�-lhe o nariz grosso dividido
<br>ao meio, o bu�ozinho a lhe sombrear os cantos da boca,
<br>muito gorda, muito seio, os bra�os roli�os afastados dos quadris,
<br>e alegre, gostando de cantar.
<br>
<br>N�o fora a Nadir que morrera de modo est�pido, quando
<br>se partira a corda do balan�o em que se balan�ava e fora
<br>atirada por cima de um banco de cimento? Sim, ela mesma,
<br>dias depois da formatura. Morrera na ambul�ncia, antes de
<br>chegar ao Pronto-socorro, onde ela, Patr�cia, e mais a Madalena,
<br>a Suzete, a Graziela, a Luc�lia, a Rosana esperavam por
<br>sua chegada, certas de que tudo acabaria bem, com dois ou
<br>tr�s dias de hospital. Depois, quando a maca desceu da ambul�ncia,
<br>a caminho da capela mortu�ria, as seis se entreolharam,
<br>espantadas, n�o querendo crer no que estavam vendo,
<br>e foi ent�o que romperam a chorar, sem compreender, sem
<br>saber explicar.
<br>
<br>Os c�es ladram para o fundo do parque, por tr�s da capela,
<br>e Patr�cia se assusta, como se os latidos lhe trouxessem
<br>algum aviso. Bobagem. Deus � grande. E ela sacode os ombros,
<br>mesmo estendida na cadeira, para tirar de si qualquer
<br>sentimento de temor ou apreens�o. De noite o Rodrigo estar�
<br>de volta, sem que nada lhe tenha acontecido. Se n�o vier, certamente
<br>lhe telefonar� da pr�pria f�brica, para dizer que na
<br>manh� seguinte j� ter� regressado. Ela o quer ao seu lado, na
<br>outra cadeira de lona, � borda da piscina, aproveitando a manh�
<br>aberta, de c�u sem nuvens, escampado, e com este sol morno
<br>que a brisa da manh� faz mais suave, quase como um afago
<br>ou uma car�cia.
<br>
<br>Mas foi ao subir a escada, para vestir a cal�a e a blusa
<br>com que ultimamente passava o mais das horas em casa, que
<br>Patr�cia se lembrou da Madalena. N�o se recordava de seu retrato
<br>no quadro de formatura. Ou estaria enganada? Talvez
<br>
<br>63
<br>
<br>
<br>o houvesse visto, de relance, sem lhe dar aten��o. E assim que
<br>saiu do quarto, j� de saia e blusa, olhou de longe o quadro,
<br>antes de transpor a porta da saleta, � procura da Madalena,
<br>j� agora convencida de que ali n�o figurava o retratinho dela.
<br>E desapontada, ao dar com o rosto redondo que pareceu
<br>vir ao seu encontro, com o cabelo cortado em pastinha ao meio
<br>da testa:
<br>
<br>� Aqui est� ela. Feia e boa. Estr�bica e prestativa.
<br>Fora ela que lhe mandara o buqu� do casamento, todo
<br>de flores � m�o, na caixa de cartolina, e que se lhe ajustara
<br>ao vestido de noiva com o tom prateado de seus adornos. Onde,
<br>esse buqu�? T�-lo-ia dado a algu�m? Ou a M�e Ded� o
<br>teria guardado, com seu gosto de guardar tudo? Quando menos
<br>esperasse, daria com ele � assim como dera com a pr�pria
<br>Madalena, perto do Natal, numa loja de brinquedos.
<br>
<br>Pela manh�, ao olhar o calend�rio sobre a escrivaninha,
<br>lembrara-se de que a sobrinha da Rosa, a Nininha, t�o engra�ada,
<br>t�o bochechuda, estava fazendo seis anos. Seis aninhos,
<br>exatamente naquele dia, e n�o lhe comprara um presente! Ali
<br>estava, na sua letra, por baixo da data: Hoje, Nininha. Consultou
<br>o rel�gio, decidindo-se.
<br>
<br>E para o Ludovico, que ia chegando no v�o da porta:
<br>
<br>� Diga ao Expedito que vou ao centro da cidade. Agora.
<br>Na limusine ampla, separada do motorista pela divis�ria
<br>de vidro, n�o ligou a televis�o nem o r�dio. Entreabriu a janelinha,
<br>preferindo a brisa da manh� alta ao ar refrigerado, e
<br>procurou interessar-se pelas casas, pelas �rvores, pelas pessoas
<br>nas cal�adas, enquanto sentia que uma ponta de tristeza, quase
<br>uma queixa, lhe volvia � consci�ncia, com a m�goa de.n�o
<br>ter tido uma filha, mesmo gordinha, levemente estr�bica, como
<br>a da irm� da Rosa.
<br>
<br>E concluiu, abotoando e desabotoando a luva:
<br>
<br>� J� estaria mo�a, talvez casada, e eu av�, ou quase.
<br>P�s-se a rir para si mesma, batendo com a luva solta na
<br>palma da m�o, e prontamente fixou o pensamento no Rodrigo,
<br>que devia chegar � tarde, aproveitando o dia de sol vivo,
<br>sem perigo para sobrevoar a serra, se n�o chegasse pelo meio-
<br>dia, a tempo de almo�ar com ela.
<br>
<br>64
<br>
<br>
<br>E o Expedito, na cal�ada, abrindo-lhe a porta:
<br>
<br>� Fa�a o favor, D. Patr�cia.
<br>S� ent�o reparou que j� estava � porta da loja. Saltou depressa,
<br>depressa entrou no magazine, orientou-se para a se��o
<br>infantil. Ali, mais uma vez, olhando os vestidinhos nos manequins,
<br>os brinquedos, os chap�us de praia, os sapatinhos, os
<br>livros de hist�rias, tardou o passo, emocionada, com os olhos
<br>�midos; mas prontamente se refez, optando pela boneca de lou�a,
<br>� sua frente.
<br>
<br>Com a boneca nas m�os, olhando-a na luz fria que descia
<br>do teto sobre a sua cabe�a, tornou a pensar na filha que
<br>Deus n�o lhe tinha dado, � revelia de tanta ora��o e tanta promessa.
<br>Uma s�. Uma lhe bastaria. Sonhara ter mais, quando
<br>casara. Tr�s. Sim, teria sido o ideal. Tamb�m o Rodrigo sonhara
<br>com um filho. O filho a quem passaria, no momento
<br>pr�prio, as suas empresas, como o rei que transfere ao pr�ncipe
<br>a coroa e o imp�rio. A ela, Patr�cia, n�o lhe viera a filha
<br>nem o filho. E tanto que lutara, e tanto que sofrera, com os
<br>meses de hospital, com o tratamento demorado, para ao fim
<br>reconhecer que todo o seu instinto materno haveria de resumir-
<br>se � saudade de suas bonecas.
<br>
<br>E para a vendedora, que estava agora ao seu lado, sol�cita:
<br>
<br>� Quero esta. Fa�a um embrulho bem bonito.
<br>E foi ao balc�o, enquanto a vendedora acomodava na caixa
<br>comprida a boneca de lou�a, que se viu defronte da Madalena,
<br>mais gorda, baixinha, cheia de embrulhos. Ambas se puseram
<br>a rir, na surpresa do encontro. Madalena ergueu os bra�os
<br>roli�os, sem conter o espanto, deixando cair ao ch�o um
<br>urso de pel�cia:
<br>
<br>� Patr�cia! Voc� tamb�m por aqui?
<br>E quando soube que n�o era para uma filha que a outra
<br>estava a comprar boneca t�o linda, perguntou-lhe:
<br>
<br>� E tuas mesmo, quantas?
<br>� Nenhuma. Deus se esqueceu de mim.
<br>E Madalena, jubilosa:
<br>� Pois eu tive seis, Patr�cia. Seis. Todas mulheres. Uma
<br>escadinha. J� fiz promessa para n�o ter mais. Na hora das despesas,
<br>o dinheiro n�o chega. Haja vestido, haja meia, haja sa65
<br>
<br>
<br>
<br>pato, haja presente. Um horror. Mas, de noite, quando vejo
<br>todas elas nas caminhas, s� eu sei como sou feliz.
<br>
<br>4
<br>
<br>Patr�cia ouve o ru�do dos ferrolhos nas janelas do sal�o.
<br>Uma a uma, as janelas v�o sendo fechadas. De uma janela para
<br>outra, o ru�do dos passos do Ludovico, cheios, compenetrados.
<br>Por fim, acabado de fechar o sal�o, esses passos se repetem,
<br>se distanciam, at� que, l� adiante, no sil�ncio amplo, estala
<br>o comutador da luz, e os passos se apagam na passadeira
<br>do corredor.
<br>
<br>Ela olha o rel�gio. Quase dez e meia. E conclui, acerc�ndose
<br>da cama, ap�s alongar a vista para o vidro da janela, onde
<br>se recorta a claridade da lua cheia:
<br>
<br>� Se o Rodrigo n�o veio at� agora, s� vem amanh�.
<br>Sentada na borda da cama, com os p�s sobre as sand�lias,
<br>reza a ave-maria, a salve-rainha e o padre-nosso, enquanto
<br>pede a Deus que fa�a o Rodrigo voltar na tarde seguinte.
<br>
<br>� Na certa, as coisas l� pela f�brica se complicaram, e
<br>ele teve de ficar mais um dia. Amanh�, est� aqui. Com o favor
<br>de Deus. Ainda bem que avisei o Embaixador da Fran�a,
<br>que tamb�m esperava por ele.
<br>E como a luz do luar se estende sobre o ch�o do quarto,
<br>Patr�cia pensa em cerrar a portada; depois, muda de id�ia. Prefere
<br>agora a claridade macia, leitosa, que se espregui�a por cima
<br>do tapete. L� fora, deve fazer uma noite linda, com aquela
<br>luz cintilando nas folhas das castanheiras. Da� a pouco, naquele
<br>mesmo sil�ncio iluminado, vai come�ar o silvo dos apitos,
<br>na ronda da casa.
<br>
<br>De pernas estiradas ao comprido da cama, Patr�cia acende
<br>a l�mpada da mesa-de-cabeceira, tira da gaveta o livro de
<br>compromissos, perguntando a si mesma se, na noite seguinte,
<br>tem ou n�o um jantar fora, a que o Rodrigo deve tamb�m com
<br>
<br>
<br>66
<br>
<br>
<br>parecer. Sim, l� est�: jantar na Embaixada da Espanha. E este
<br>lembrete, na letra do Ludovico: mandar flores.
<br>
<br>Novamente deitada, sem a luz do abajur, Patr�cia fica a
<br>pensar no vestido que ir� vestir. Mas a claridade do luar, abrindo
<br>um ret�ngulo no ch�o espa�oso, at� quase os p�s da cama,
<br>leva-a a pensar que talvez naquele mesmo momento, com uma
<br>lua semelhante, a Simone estaria a olhar a noite, no quarto
<br>do Sanat�rio, rodeada de sil�ncios. Longe, na luz fosca, pelo
<br>vidro de uma janela, veria o recorte escuro da serra, com os
<br>picos empinados, a mata densa nas encostas; e um sil�ncio mais
<br>profundo em toda a volta, enchendo o vale, envolvendo o pavilh�o
<br>adormecido. E a Simone ali, prisioneira. N�o cont�m
<br>
<br>o impulso de piedade:
<br>� Coitada. E que vida est�pida, meu Deus!
<br>E eis que Patr�cia d� por si no terra�o da casa da Simone,
<br>� noite, com a lua imensa por tr�s do telhado da casa fronteira.
<br>As duas tinham vindo olhar a noite, chamadas por D. Zita:
<br>
<br>� Venham, venham ver. Nunca vi uma lua assim.
<br>Mas Simone, que vem at� o terra�o, n�o parece olhar a
<br>noite, embora tenha seguido Patr�cia, que D. Zita puxava pela
<br>m�o. Fica a um passo da outra, calada, os olhos opacos. Com
<br>os dedos entrela�ados por baixo dos seios, roda os polegares,
<br>tensa, como ausente. Resvala o olhar pelo c�u escampado, onde
<br>a lua enorme d� a impress�o de espregui�ar-se, e parece que
<br>nada v�, voltada para dentro de si mesma. E assim que a m�e
<br>as deixa, ouvindo o chamado distante da campainha do telefone,
<br>diz a Patr�cia, olhando-a de frente, com uma chispa de
<br>�dio nas pupilas aumentadas:
<br>
<br>� Estou esperando que me respondas. Fala.
<br>E Patr�cia, passado um momento:
<br>� Que � que queres que eu te diga? J� te disse tudo. Sa�
<br>com a Suzete, como sairia com a Nadir, com a Paula, com a
<br>Inezita.
<br>E Simone, olhando-a de frente:
<br>
<br>� N�o foste ao cinema com ela?
<br>� N�o.
<br>� Juras pela vida de tua m�e?
<br>67
<br>
<br>
<br>� Por que havia de jurar, se j� te disse que n�o fui? N�o
<br>basta o que eu te digo?
<br>E Simone, segurando-a pelos ombros:
<br>
<br>� Se foste ao cinema com a Suzete, n�o podes ir mais
<br>comigo. N�o, n�o podes. Eu n�o quero. N�o, n�o quero. Ou
<br>�s minha amiga, ou n�o �s. Eu n�o sou amiga de mais ningu�m.
<br>S� de ti, Patr�cia. As outras s�o minhas colegas. Tu,
<br>n�o. �s diferente. Minha amiga �s tu. N�o vou ao cinema com
<br>ningu�m, a n�o ser contigo. � contigo que passeio de bicicleta.
<br>Contigo � que estudo. Contigo vou para a escola, contigo
<br>eu volto. Para ti, n�o tenho segredos. E tu tens para mim. Tens.
<br>Olha bem para mim. Tens. E eu n�o quero isso. N�o, n�o quero.
<br>E toda aquela exalta��o, toda aquela ira, que a desfigurava,
<br>que lhe dava �s m�os uma for�a nervosa, como a cravar
<br>os dedos nos bra�os da Patr�cia, quase a agredi-la, fora de si,
<br>subitamente se alterou, e ela levou as m�os ao rosto, de costas,
<br>caminhando para o outro lado do terra�o, sacudida por uma
<br>crise de choro.
<br>
<br>E Patr�cia, tentando acalm�-la:
<br>
<br>� Juro que n�o fui ao cinema, Simone. Juro. Pela vida
<br>de minha m�e. N�o, n�o fui. A Suzete me convidou, mas eu
<br>n�o fui. Nem vou.
<br>Desde que tinham ido ao cinema pela primeira vez, a Simone
<br>lhe tinha dado a m�o, assim que as luzes apagaram. E
<br>durante todo o filme, sobretudo nas cenas de terror e de paix�o,
<br>trazia a m�o de Patr�cia para junto do seio esquerdo, para
<br>que sentisse como seu cora��o batia, sobretudo nos momentos
<br>em que os casais se uniam, tomados de medo, solid�rios,
<br>oscilando entre a vida e a morte.
<br>
<br>E Simone, justificando-se, numa das vezes em que a outra
<br>retra�ra o bra�o, como a esquivar-se:
<br>
<br>� H� momentos em que eu, se n�o sentir que tenho algu�m
<br>junto de mim, bem junto mesmo, sou capaz de sair do
<br>cinema, ou de gritar.
<br>E riram alto, as duas, voltando para casa, j� com a tarde
<br>declinando. No port�o, despediram-se; mas Simone exigiu que
<br>a Patr�cia esperasse por �ta, at� que, na volta da rua, lhe acenou,
<br>gritando:
<br>
<br>68
<br>
<br>
<br>� Mais tarde, me telefona.
<br>E como a outra tardou em telefonar, telefonou-lhe,
<br>queixando-se:
<br>
<br>� N�o gostas mais de mim, Patr�cia. J� faz meia hora
<br>que estou esperando que me telefones.
<br>E Patr�cia, cordata:
<br>
<br>� Mas eu j� ia telefonar, Simone.
<br>� Juras? Pela alma de teu pai? Pelo amor de tua m�e?
<br>Patr�cia respondeu com rapidez. Sim, sim, j� lhe dissera-
<br>isso uma por��q de vezes.
<br>E Simone, abrandando a queixa:
<br>
<br>� Mas tens de repetir. Quero ouvir de novo. Que � que
<br>te custa dizer outra vez? Fala. Estou esperando. Repete.
<br>J� Patr�cia sabia que, no dia seguinte, receberia um livro,
<br>ou um retratinho com dedicat�ria, ou um pensamento bem caligrafado
<br>num peda�o de cartolina, com um desenho a bico-
<br>de-pena. Um deles, que jamais esquecera, dizia assim: "N�o
<br>se pode ser boa amiga sem ralhar e ser logo perdoada." E este,
<br>que n�o podia repetir sem que seus olhos se umedecessem:
<br>"Deus me deu uma grande amiga para que eu tivesse a irm�
<br>que n�o me deu."
<br>
<br>Na �poca das provas, Patr�cia se mudava para a casa da
<br>Simone. Estudavam at� tarde, com a chave passada na porta
<br>do quarto: Simone, sentada na cama, com os p�s estirados no
<br>colch�o, as costas apoiadas no travesseiro; Patr�cia, defronte,
<br>na cadeira da escrivaninha, com os cotovelos no tampo da mesa,
<br>os olhos no comp�ndio. Uma lia, a outra repetia o texto lido.
<br>A janela escancarada sobre o quintal deserto trazia-lhes a luz
<br>e a vira��o da tarde.
<br>
<br>A m�e de Simone, por volta das quatro e meia, batia na
<br>porta trazendo o lanche das duas, quase sempre chocolate ou
<br>refresco com os sequilhos que a filha mastigava devagar, ruidosamente.
<br>Era o melhor momento da tarde, somente suplantado
<br>pela hora de dormir. Riam alto, trocavam confid�ncias
<br>em voz baixa, mais amigas, mais companheiras, como se o m�tuo
<br>segredo e a porta fechada favorecessem a intimidade que
<br>as unia e aconchegava.
<br>
<br>Fora exatamente numa dessas tardes de estudo (que, em
<br>
<br>
<br>69
<br>
<br>
<br>bora sendo de estudo, sempre passavam depressa), com o sol
<br>forte a querer entrar pela janela entrefechada, que a Simone,
<br>com um ar divertido, queixando-se do calor que a sufocava,
<br>tinha dado outra volta na chave da porta, para voltar dali com
<br>
<br>o vestido aberto sobre o busto muito branco e que ela, como
<br>arrependida, ou caindo em si, logo tratara de abotoar, sem deixar
<br>de sorrir para Patr�cia.
<br>Pela primeira vez Patr�cia lhe tinha visto os seios pequenos,
<br>livres do suti� que os protegia e resguardava, simples eleva��o
<br>suave do busto esbelto e muito alvo, com a mancha redonda,
<br>levemente azulada, em volta dos mamilos proeminentes.
<br>
<br>E Simone, acabando de abotoar a frente do vestido, ao
<br>ver que Patr�cia lhe sorria:
<br>
<br>� Eu tenho o corpo da menina-mo�a de m�rmore que
<br>est� defronte do Museu de Belas-Artes. Tu, n�o. �s mais cheia.
<br>Tens mais busto.
<br>E em seguida, de vista baixa, tardando os dedos no derradeiro
<br>bot�o, j� fechado:
<br>
<br>� Depois de minha m�e, quando eu era menina, �s a �nica
<br>pessoa que viu meu corpo. Mais ningu�m. E �s como se fosses
<br>eu mesma, defronte do espelho.
<br>S� ent�o Patr�cia se recordou de que, na v�spera, ali mesmo,
<br>ao trocar de roupa para deitar-se, tinha dado com os olhos
<br>de Simone a observ�-la, nos breves instantes em que, erguendo
<br>os bra�os, de frente para ela, deixara cair a camisola sobre
<br>os seios nus. Mesmo depois que apagara a luz, ainda via os
<br>mesmos olhos, sempre fixos e suspensos na imobilidade da surpresa,
<br>como em �xtase.
<br>
<br>E Simone, no sil�ncio da luz apagada:
<br>
<br>� Patr�cia, tu ser�s sempre minha amiga?
<br>� Sempre.
<br>� De mais ningu�m?
<br>Um sil�ncio.
<br>E Simone, alteando a cabe�a:
<br>� Responde, Patr�cia.
<br>� Sim.
<br>E Simone, ap�s outro sil�ncio:
<br>� Juras?
<br>70
<br>
<br>
<br>� Juro.
<br>� Eu tamb�m juro � tornou Simone, resvalando a cabe�a
<br>para o travesseiro, como aliviada.
<br>Foi perto do Natal, na fase dos �ltimos exames, que, noutra
<br>noite, no quarto fechado, Patr�cia p�de ver Simone inteiramente
<br>despida, entre a cama e o guarda-roupa, a princ�pio
<br>de frente, depois de costas, com a luz do abajur sobre seu corpo,
<br>como se quisesse mesmo ser vista. Tanto que, ao voltar a
<br>ficar de frente, olhou Patr�cia nos olhos, com ar de riso, a m�o
<br>esquerda segurando a camisola e a outra m�o espalmada diante
<br>do sexo. Em seguida, vestindo-se, perguntou-lhe, em tom
<br>brejeiro:
<br>
<br>� Que olhos s�o esses? Nunca me viste?
<br>E apagou depressa a luz enquanto Patr�cia respondia, com
<br>a cabe�a no travesseiro:
<br>
<br>� N�o.
<br>E ambas se puseram a rir.
<br>Depois, muito depois, j� no pen�ltimo ano do curso, Patr�cia
<br>tornaria a v�-la nua, tamb�m � noite, ali mesmo, quando
<br>ambas tinham ido � �pera pela primeira vez, no anivers�rio
<br>da Simone.
<br>
<br>Simone tirara o vestido longo, devagar, como se tardasse
<br>de prop�sito os movimentos: depois, despira a combina��o e
<br>a an�gua; por fim as meias, o suti� e a cal�a. Levara uns momentos
<br>parada ao meio do quarto, como a lembrar-se de onde
<br>deixara o pijama. E de repente, como se a lembran�a lhe
<br>acudisse:
<br>
<br>� Ah, j� sei: debaixo do travesseiro.
<br>E assim nua, sob a claridade viva que descia do lustre ao
<br>meio do aposento, cortou o quarto em diagonal at� a cama,
<br>e ali, sem pressa, vestiu com lentid�o o pijama de seda azul,
<br>que lhe caiu esplendidamente no corpo esguio e alvo, de seios
<br>rijos, cintura estreita, quadris amplos descendo para as pernas
<br>bem talhadas, dando a impress�o de exibir-se, mais uma
<br>vez, na consci�ncia de sua beleza.
<br>
<br>E para Patr�cia, que a olhava em sil�ncio:
<br>
<br>� Agora � a tua vez. Vamos. J� passa de meia-noite.
<br>Ajudou Patr�cia a despir-se, naturalmente, solicitamente,
<br>71
<br>
<br>
<br>com ares de irm� mais velha, entremeando ternura com fingida
<br>rispidez, dando-lhe leves safan�es para obrig�-la a aquietar-
<br>se; deu-lhe afinal o pijama, primeiro a blusa, depois a cal�a,
<br>tudo completado por uma palmada:
<br>
<br>� J� para a cama � ordenou-lhe.
<br>E ao ver Patr�cia encaminhar-se para o somi�, ao p� da
<br>janela, onde sempre dormia quando ali passava a noite:
<br>
<br>� A�, n�o. Na cama, j� disse.
<br>E como Patr�cia parecesse hesitar, parada perto do somi�,
<br>segurou-a pelo bra�o, levou-a at� a cama:
<br>
<br>� Deste lado; do outro lado, eu.
<br>Sempre imperativa, apagou o lustre, esperou que Patr�cia
<br>se acomodasse, sentou na borda da cama, de seu lado. E assim
<br>que apagou a l�mpada do abajur, na mesa-de-cabeceira,
<br>ordenou, alongando-se na paina do colch�o:
<br>
<br>� Agora, rezar.
<br>Em voz alta rezou a ave-maria e o padre-nosso, fez que
<br>a outra tamb�m rezasse, acompanhando-lhe as ora��es, e at�
<br>tarde, j� entrando pelo meio da madrugada, riram e conversaram
<br>sobre a �pera, sobre as toaletes, sobre o bar�tono e a prima-
<br>dona, esta muito gorda e peituda, aquele muito magro e calvo.
<br>S� despertaram por volta do meio-dia (porque era domingo
<br>e j� estavam de f�rias), quando D. Zita bateu na porta, repetidas
<br>vezes, chamando pela filha.
<br>De repente, como desfeitas por um sopro, as imagens antigas
<br>se desfazem, e Patr�cia alonga o olhar para o rel�gio de
<br>ponteiros luminosos, voltando a pensar no Rodrigo, que deveria
<br>ter chegado, e n�o chegou. Reconhece, quieta na cama:
<br>
<br>� Por ele, estaria aqui. Se n�o veio, � porque n�o p�de.
<br>Nas alamedas do parque, os c�es tornam a latir, no ermo
<br>e na paz da madrugada vagarosa. Silva o apito dos guardas
<br>de seguran�a, na ronda do parque. N�o se ouve o ru�do do
<br>vento na folhagem das �rvores. Na rua, para o lado do port�o,
<br>tamb�m h� sil�ncio. E eis que soa, longe, um piano bo�mio,
<br>tocando mal o prel�dio da Sonata ao luar.
<br>
<br>E Patr�cia, voltando a abrir as p�lpebras, novamente inquieta:
<br>por ser noite de plenil�nio, o Rodrigo se teria aventu
<br>
<br>
<br>72
<br>
<br>
<br>rado, mais uma vez, a atravessar a serra, �quelas horas mortas,
<br>no seu bimotor?
<br>Ela pr�pria responde:
<br>
<br>� Ele me prometeu que n�o faria isso. O que ele promete,
<br>faz. D� no que der.
<br>Mesmo sendo assim, ela alonga o bra�o, na penumbra do
<br>quarto, e tateia a mesa-de-cabeceira, sob a corola do abajur,
<br>� procura do seu tercinho de prata. J� vai acender a luz, quando
<br>por fim o encontra, com a ponta dos dedos, ao lado do
<br>romance de Mary McCarthy, que ainda n�o acabou de ler. Torceu
<br>a primeira conta, depois a segunda, a terceira, rezando em
<br>sil�ncio, mentalmente, enquanto o sono lhe cerrava as p�lpebras
<br>e afrouxava os dedos que seguravam o ter�o.
<br>
<br>73
<br>
<br>
<br>QUARTO CAP�TULO
<br>
<br>1
<br>
<br>Com rapidez fez a liga��o e esperou que a Inezita atendesse.
<br>E para a voz grossa, quase rouca, que n�o tardou a
<br>responder:
<br>
<br>� Inezita? Estou te acordando? � Patr�cia. Desculpa, se
<br>te tirei da cama. N�o tirei? Quando o Rodrigo viaja, pulo da
<br>cama com a primeira claridade do dia. Podes me ouvir? Se
<br>n�o podes, telefono mais tarde. Ontem, quando voltei da rua,
<br>te telefonei. Me disseram que tinhas ido ao lan�amento do novo
<br>livro da Paula. N�o, ela n�o me convidou.
<br>Ficou � escuta, de perna cruzada, envolta no penhoar corde-
<br>rosa, que a protegia do frio da manh�. E como sa�ra do
<br>banho, tinha ainda os cabelos �midos, que lhe desciam para
<br>os ombros.
<br>
<br>E assim que p�de falar:
<br>
<br>� Ontem, quando voltei para casa, encontrei na minha
<br>mesa o desenho do meu costureiro, o Custodinho, com o modelo
<br>do nosso traje para a recep��o aqui. Longo, branco, com
<br>um frisozinho azul, elegant�ssimo. E simples. Falei com ele sobre
<br>a id�ia do uniforme. Disse que ia pensar. Tinha outra id�ia.
<br>De tarde mandou-me o desenho. Lindo. Estilizando o uniforme.
<br>Quero que vejas. Eu gostei. Muito. Mas � preciso que tu
<br>gostes. Meu motorista vai te levar o desenho. Para mim, o Custodinho
<br>�, hoje, o nosso melhor costureiro. Passa os outros para
<br>tr�s. Longe. E ainda me mandou um bilhete, naquela letra
<br>exagerada que toma tr�s linhas do papel pautado. Assim: "�
<br>75
<br>
<br>
<br>o meu presente de anivers�rio, al�m das rosas de meu jardim,
<br>que ir�o no dia."
<br>Uma pausa para reprimir a emo��o.
<br>
<br>� Imagina com quem me encontrei, num magazine. Com
<br>a Madalena. Maltratada pela vida, e contente. Cheia de filhas.
<br>S� mulheres. Seis. Imagina. E comprando brinquedo para todas.
<br>Uma escadinha. Fiquei t�o emocionada que me esqueci
<br>de falar de nossa festa. J� lhe falaste? E com as outras?
<br>� J� falei com nove, come�ando pela Paula. Vibrou.
<br>Achou a id�ia estupenda. Genial. Mandou-te seu novo livro.
<br>Poesia. Ao jeito dela. Querendo ser moderna, sem deixar de
<br>ser antiga. Muita gente no lan�amento. Mas, da turma, s� eu
<br>e a Antonieta. Falei tamb�m com a Antonieta. Ficou de me
<br>responder depois. N�o sabe se tem outro compromisso, no mesmo
<br>dia. Acaba indo. Empurrada pelo marido, que adora festas.
<br>O marido estava l�. Engra�adinho, como sempre. E de gravata-
<br>borboleta. A gravata que a Simone odiava.
<br>� E as outras? � indagou Patr�cia, com impaci�ncia.
<br>� N�o vou te esconder: duas me receberam com pedras
<br>na m�o. S� faltaram me xingar. Com elas, n�o podemos contar.
<br>Foi muito bom que n�o lhe falasses: iam ser est�pidas contigo,
<br>mais do que foram comigo. A Nadir e a Ros�rio. Lembraste
<br>da Nadir? Meio estr�bica, alta, peito de t�bua de engomar.
<br>Casou e descasou. Casou e descasou. Um marido pior que o
<br>outro. N�o suporta ouvir falar na felicidade alheia. A tua lhe
<br>d� revolta. A minha, idem. J� era feia; piorou muito. Merecidamente.
<br>Respondeu-me em tom alto, quase aos berros; que
<br>n�o se presta a palha�adas. De ti quer dist�ncia. J� a risquei
<br>de nossa lista. A Ros�rio, sem ser agressiva, foi sarc�stica: sugeriu
<br>que tu e eu a esper�ssemos sentadas, porque tem compromisso
<br>com o filhinho da cozinheira, que faz anos no mesmo
<br>dia. N�o d�s import�ncia a isso. No fundo, � a inveja mesquinha.
<br>N�s duas lhe tiramos o sono. Deixa pra l�. Antes invejada
<br>que invejosa.
<br>Sil�ncio longo, de um lado e de outro, e que Patr�cia preencheu
<br>tateando o vidro da mesa, como em busca de algo em
<br>que ocupar a m�o impaciente, terminando por dobrar e desdobrar
<br>uma folha de papel na ponta dos dedos:
<br>
<br>76
<br>
<br>
<br>E prosseguindo:
<br>
<br>� A Nadir e a Ros�rio nunca foram comigo, desde o come�o
<br>do curso. Principalmente a Nadir. E eu fui ao casamento
<br>delas. Com a Simone, que me levou. No �ltimo ano da Escola
<br>Normal, antes da Simone brigar comigo.
<br>A Inezita, por seu lado, p�s-se a rir.
<br>E rindo e tossindo, como sufocada pelo cigarro:
<br>
<br>
<br>� Estou me lembrando que eu e a Paula, assim que a Nadir
<br>voltou �s aulas, j� casada, a levamos para o fundo do p�tio,
<br>por tr�s da amendoeira, e ali tentamos saber como tinha
<br>sido a noite de n�pcias. Ela p�s no ar a m�o espalmada,
<br>movendo-a de um lado para o outro, com um ar desapontado,
<br>e acabou confessando que tinha sido uma tourada. Mas
<br>a� a Ros�rio apareceu e levou a Nadir para o outro lado do
<br>p�tio, enquanto a Paula erguia a voz para perguntar se a chifrada
<br>tinha do�do. De longe, a Nadir respondeu, ladeando a
<br>boca com as m�os: � Muito. Mas gostei.
<br>Novo riso da Inezita. E ainda rindo e tossindo:
<br>
<br>� Deve ter sido por isso que a Ros�rio ficou solteira. Com
<br>medo da chifrada. Coitada. N�o sabe o que perdeu.
<br>E como se pusesse a m�o na boca para reprimir o
<br>coment�rio:
<br>
<br>� E eu aqui a dizer bobagem. Meu Deus, que horror! Vamos
<br>cuidar de n�s, que o tempo est� passando. Hoje, continuo
<br>as sondagens. Depois, tu mesma, com a minha lista, far�s
<br>os convites.
<br>J� ia despedir-se, pronta para desligar, quando outra lembran�a
<br>lhe acudiu. E cautelosa, medindo as palavras:
<br>
<br>� Viste, hoje, a coluna do Lucas Caetano? Leste a not�cia
<br>de tua festa? Houve alguma coisa entre voc�s? N�o? E por
<br>que ele diz, com todas as letras, que vais fazer quarenta anos?
<br>Isso n�o se faz.
<br>E Patr�cia, apressando-se:
<br>
<br>� Fui eu mesma que o autorizei a dizer. Sim, eu mesma.
<br>Uma pessoa feliz, que nega a idade, est� roubando a Deus. �,
<br>roubando: confessa que recebeu menos quando recebeu mais.
<br>Eu, mesmo sem ter tido um filho, me considero feliz, gra�as
<br>a tudo quanto Deus me deu. A come�ar pelo marido.
<br>77
<br>
<br>
<br>Riram alto, despedindo-se. Com o pensamento na Nadir
<br>e na Ros�rio, Patr�cia tardou uns momentos com o fone na
<br>m�o, como se tivesse ainda algo a dizer a Inezita. Mas, ouvindo
<br>o estalo do aparelho desligado, sacudiu o ombro, rep�s o
<br>fone no lugar.
<br>
<br>2
<br>
<br>Pela manh�, ali estivera o afinador do piano. Chegara cedo,
<br>com a sua cabeleira farta e a sua pasta de couro, e ficara
<br>at� tarde batendo teclas e torcendo cravelhas, a calcar nos pedais;
<br>por volta do meio-dia, levantou-se, sobra�ou a pasta.
<br>
<br>Foi na sa�da que ele, alto, mag�rrimo, meio curvo, como
<br>se baixasse a cabe�a para n�o bater nos pingentes do lustre,
<br>perguntou ao Ludovico se ia haver ali uma nova recep��o.
<br>
<br>� Sim � confirmou o mordomo.
<br>E j� no patamar da escada, com a porta entreaberta:
<br>� Pelos anos da Sra. D. Patr�cia.
<br>O afinador aumentou os olhos fundos, alteando as sobrancelhas.
<br>E apertando mais a pasta contra o peito:
<br>
<br>� N�o vir� para c� outro piano, trazido pela orquestra,
<br>para tocar no quiosque, como no ano passado? Nesse caso,
<br>voltarei aqui, um dia antes, para um repasse nos dois, antes
<br>da festa. N�o esque�a de me avisar.
<br>Ludovico manteve a cabe�a alta, � maneira do dono da
<br>casa, sem se impressionar com o ar solene do outro:
<br>
<br>� Eu lhe telefonarei com anteced�ncia.
<br>E quando tornou ao sal�o, para ir bater na porta do quarto
<br>da senhora e perguntar-lhe se queria que servisse o almo�o na
<br>saleta cont�gua ou na sala de jantar, deu com Patr�cia abrindo
<br>
<br>o piano, como se fosse tocar. Mas tudo quanto ela fez, com
<br>o Ludovico a dist�ncia, perfilado no v�o da porta, foi experimentar
<br>o som, premindo aqui uma tecla, ali outra, com ar
<br>aprovativo.
<br>E fechando a tampa do instrumento, cautelosamente:
<br>
<br>78
<br>
<br>
<br>� J� est�o prontos os convites, Ludovico?
<br>� As provas foram prometidas para amanh�. Eu mesmo
<br>irei busc�-las. V�o ficar bonitos.
<br>Felizmente, embora tivesse de almo�ar sozinha, j� o Rodrigo
<br>estava de volta, no escrit�rio da cidade. Ainda bem que
<br>se havia lembrado do in�cio do Festival de Chopin, no Teatro
<br>Municipal. Antecipara o regresso para ir com ela. Mais uma
<br>vez, trazia-lhe boas not�cias: reequipara uma das f�bricas; no
<br>fim do ano, reequiparia a outra. Chegaria cedo para o jantar.
<br>E como fizera boa viagem, no seu pr�prio avi�o, passara
<br>
<br>o comando ao piloto que o acompanhava, e pudera dormir
<br>a bordo, como se estivesse na pr�pria cama, em terra firme.
<br>Parecia-lhe que voltara aos vinte, aos trinta anos, com disposi��o
<br>para sair num veleiro, mar afora, sem se intimidar com
<br>as ondas que se alteavam � sua frente, rugindo, amea�ando,
<br>e que a quilha do barco rasgava de meio a meio, para deixar
<br>ap�s si um rastro de espuma.
<br>Antes de dizer ao Ludovico que almo�aria s�, na sua saleta,
<br>Patr�cia percorreu o sal�o, as salas cont�guas, acercou-se
<br>da janela para olhar o jardim na reverbera��o do meio-dia,
<br>saiu � varanda, olhou as alamedas limpas, a piscina rebrilhando
<br>na luz intensa, o quiosque pintado de novo, a escada de m�rmore
<br>muito limpa � sempre seguida pelo mordomo, que lhe
<br>acompanhava o olhar e as rea��es do rosto, � espera de um
<br>reparo, de uma ordem ou de um louvor, com a cabe�a meio
<br>inclinada, o l�bio inferior levemente ca�do.
<br>
<br>E de volta, novamente no sal�o:
<br>
<br>� Est� tudo em ordem, Ludovico. Diga isso mesmo �
<br>Rosa.
<br>Ele agradeceu, inclinando a cabe�a submissa, numa v�nia.
<br>E ainda de cabe�a baixa:
<br>
<br>� A aprova��o de minha senhora � o meu diploma.
<br>E mais tarde, j� servido o almo�o na mesa redonda ao
<br>p� da janela, na saleta de trabalho de Patr�cia, permaneceu
<br>em sil�ncio, de p�, entre a mesa e a porta, com o guardanapo
<br>a lhe pender do bra�o dobrado. Depois, como se o sil�ncio da
<br>patroa o estimulasse, conseguiu dizer, numa voz submissa e
<br>macia:
<br>
<br>79
<br>
<br>
<br>� Posso lhe falar? Obrigado. A senhora teve uma bela
<br>id�ia para a festa deste ano. Ontem, deitado, esperando o sono
<br>chegar, fiquei pensando: a vida, depois de certo tempo, �
<br>mesmo um quarto onde est�o guardadas as coisas velhas. Todos
<br>os dias, sem sentir, pomos nesse quarto uma lembran�a.
<br>Boa ou m�. Um belo dia, de repente, abre-se o quarto, deixa-
<br>se a luz entrar. E olha-se uma pe�a aqui, outra ali. Nessas horas,
<br>a saudade cresce, c� dentro, em nosso peito. O quadro de
<br>formatura mexeu com a senhora. Mexeu. Tocou fundo a alma
<br>de minha patroa, e lhe deu a id�ia da festa, que vai ser linda,
<br>lind�ssima, com as colegas, com os professores, e dando o que
<br>falar. Viu hoje a coluna do Lucas Caetano? Li cedinho, assim
<br>que o jornal chegou. J� me telefonaram. � verdade. O eletricista,
<br>para as l�mpadas do parque. O maestro, para saber se
<br>precisava trazer o piano. O homem dos fogos, para dizer que
<br>tem umas id�ias novas e que a senhora vai gostar. Superior aos
<br>fogos de Veneza, na televis�o.
<br>3
<br>
<br>Na poltrona, com os p�s no tamborete, tinha passado apenas
<br>pelo sono. Durante quinze minutos? Vinte? Olhou o rel�gio
<br>sobre a escrivaninha: j� passava de quatro e meia.
<br>
<br>E endireitando o busto, surpreendida:
<br>
<br>� N�o, n�o � poss�vel.
<br>Sim, era verdade � reconheceu: dormira cerca de duas
<br>horas, ali, no aconchego da poltrona, mais do que em geral
<br>dormia � noite, na cama, ao longo de seu sono breve que se
<br>repetia, t�nue, espa�ado, quase sem sonhos, e que ela ia juntando
<br>at� sentir, na vaga claridade das janelas sobre o parque,
<br>
<br>o fim da madrugada.
<br>E mais espantada, no esfor�o para avivar a imagem que
<br>a claridade da tarde empalidecia:
<br>
<br>� E sonhei com a Simone, o tempo todo.
<br>Mas n�o um sonho qualquer, urdido pela imagina��o entregue
<br>a si mesma, no abandono do sono prolongado � um
<br>
<br>80
<br>
<br>
<br>sonho, sim, composto de imagens reais, que tratava de confrontar
<br>agora com as lembran�as que a mem�ria lhe devolvia.
<br>
<br>� Ela mesma, como no tempo da Escola Normal, com
<br>os cabelos presos, caindo para as costas, e trazendo no alto
<br>uma fivela de prata. Sa�amos da igreja, depois do casamento
<br>de Nadir. Exatamente como tudo aconteceu.
<br>Revia-se na cal�ada da rua, ap�s descer a escada de pedra
<br>do adro, ao lado de Simone, ambas caladas. Deviam ter
<br>tomado o bonde, na volta da rua, j� que a Simone, ao chegarem
<br>� igreja, tinha dispensado o carro, mas era a p� que iam
<br>voltando. Ambas caladas. A Simone andando depressa. E Patr�cia,
<br>tr�s esquinas adiante, inconformada com a mudez da
<br>outra:
<br>
<br>� Mas por que � que est�s assim? Que foi que te fiz? Minha
<br>consci�ncia n�o me acusa de nada.
<br>Simone estacou de repente, num impulso, voltada para Patr�cia.
<br>E como havia parado ao p� do lampi�o, no c�rculo de
<br>luz vermelha que descia do vidro encardido, mostrava o rosto
<br>desfigurado, com um brilho mais vivo nos olhos negros, os cantos
<br>da boca quase ca�dos.
<br>
<br>E erguendo a voz exaltada:
<br>
<br>� Que � que me fizeste? E ainda me perguntas? N�o fui
<br>eu que fiquei o tempo todo na igreja a cochichar com a Ermelinda.
<br>N�o, n�o fui eu. Foste tu, Patr�cia. Tu. E que � que voc�s
<br>conversavam? Hem? Segredinhos. E ainda por cima rindo.
<br>As duas. E eu, ali ao lado, na ponta do banco, assistindo
<br>� cena. J� te disse uma vez, e agora repito: se queres ser amiga
<br>da Ermelinda, vai para o lado dela, e me deixa no meu canto,
<br>que eu tamb�m sei viver sozinha. N�o me v�s aos cochichos
<br>com ningu�m, principalmente quando estou contigo. Ou �s minha
<br>amiga, ou n�o �s.
<br>E Patr�cia, cordata:
<br>
<br>� N�o sejas boba, Simone. J� vou te dizer o que � que
<br>cochich�vamos. N�o h� mist�rio. Pelo contr�rio. A Ermelinda,
<br>com o bei�o, chamou minha aten��o para a cauda do vestido
<br>da Nadir, que tinha uma mancha na ponta, como se algu�m
<br>a houvesse pisado, em cheio, com o sapato sujo de terra.
<br>Ela riu, eu ri tamb�m. Depois falamos do noivo, metido
<br>81
<br>
<br>
<br>naquele fraque frouxo, como se a roupa n�o fosse dele. S� isso.
<br>Mais nada.
<br>
<br>A Simone abrandou o rosto r�spido. E menos exaltada:
<br>
<br>� .l� te disse que n�o gosto que cochiches com ningu�m,
<br>mesmo na minha presen�a. Volto a te dizer: nunca me viste
<br>metida num canto, com outra colega. Nunca. S� contigo. Me
<br>dou com todas; mas s� tu vais a minha casa. J� te disse que
<br>n�o quero ningu�m na tua. N�o, n�o quero. Sou assim. Nasci
<br>assim. Morro assim. Ponto final.
<br>Patr�cia alongou o bra�o:
<br>
<br>� Me d� essa m�o, Simone.
<br>E foi Patr�cia que a foi levando, de m�os dadas, na rua
<br>comprida, que os espa�ados lampi�es iluminavam.
<br>Logo depois, ambas entraram a rir, achando gra�a de si
<br>mesmas, e foi Simone quem prolongou o riso, dando o bra�o
<br>� outra, enquanto lhe dizia, por entre gargalhadas:
<br>
<br>� J� pensaste o quanto � rid�culo um casamento na igreja?
<br>Toda aquela gente ali, exibindo toaletes, cal�ando sapato
<br>alto, umas enchapeladas, outras penteadas com exagero, os homens
<br>de escuro, o padre com aquele vestido branco rendado
<br>por cima da batina, a fam�lia dos noivos no altar, o noivo de
<br>fraque com um cravo na lapela, e a noiva entrando, com um
<br>vestido de rabo, trazendo na m�o um buqu�, com duas menininhas
<br>na frente, mostrando o caminho do altar por cima da
<br>passadeira, e a m�sica tocando, e todo mundo de p�, a pensar
<br>que a pobrezinha, mais tarde, estar� despida, com um marmanjo
<br>por cima? J� pensaste? Todo mundo est� achando gra�a,
<br>por tr�s da cara de circunst�ncia.
<br>E Patr�cia, recolhendo o riso:
<br>
<br>� Eu acho bonita a cerim�nia. E fico emocionada. Fico.
<br>Por que � que vou negar? Fico. A m�sica, o bater do sino,
<br>o altar iluminado, tudo aquilo me comove.
<br>E Simone, tamb�m s�ria, como se n�o houvesse ouvido
<br>a explica��o da outra:
<br>
<br>� Mas estavas aos cochichos com a Ermelinda, e rindo
<br>quando a Nadir entrou, trazida pelo pai, grandalh�o, calvo,
<br>ar de a�ougueiro, mais nerv<|so do que a filha, sem saber se
<br>avan�ava primeiro um p� ou o outro, na passadeira vermelha,
<br>82
<br>
<br>
<br>ora parecendo que ia rir, ora que ia chorar, e metido num paletoz�o
<br>que lhe dava nos joelhos. N�o ficaste s�ria quando o
<br>pai e a filha passaram. N�o. Ficaste cochichando, mesmo depois
<br>que eu te dei uma cotovelada. Por qu�? Porque tudo aquilo
<br>� rid�culo, � gaiato, � caricato.
<br>
<br>� J� te .disse que ri com a mancha da cauda do vestido.
<br>� Riste do rid�culo, enquanto eu, danada contigo, amarrei
<br>a cara, com vontade de sair dali.
<br>E Patr�cia, tornando a prender-lhe o bra�o contra o seio:
<br>
<br>� Esquece isso. J� passou.
<br>Em sil�ncio atravessaram a rua. E um sil�ncio amplo, que
<br>parecia alarg�-la, acompanhou-as at� a cal�ada fronteira, quando
<br>a Simone, novamente s�ria, voltou a falar, agora de cabe�a
<br>baixa:
<br>
<br>� Eu, se algum dia me casasse, s� me casaria no civil.
<br>Quando muito, iria � igreja, no domingo seguinte, com o meu
<br>marido, para que o padre aben�oasse as alian�as.
<br>E Patr�cia, ap�s uma pausa:
<br>
<br>� E que fim levou o teu primo, que quer casar contigo?
<br>� O Rodrigo? N�o, n�o � primo, embora nos chamemos
<br>de primo e prima. A m�e dele � que foi colega de minha m�e,
<br>e ele me viu menininha. Quando eu nasci, a m�e dele e a minha
<br>disseram que eu ia casar com ele. J� o conheces? N�o �
<br>bonito, mas tem boa estampa. Muito inteligente. Riqu�ssimo.
<br>Tanto de parte do pai, que j� morreu, quanto de parte da m�e,
<br>que mora na Su��a. Fez o curso em Harvard, nos Estados Unidos.
<br>E vive viajando. De vez em quando vem por aqui. Quando
<br>vem, aparece l� em casa. Me chama tamb�m de minha noiva.
<br>Desde menina. Diz ele que, ano que vem, vai passar o mais
<br>de seu tempo aqui, morando numa casa enorme, que fica do
<br>outro lado da cidade, e vem do tempo do av� dele. J� estive
<br>l�, uma vez, levada por minha m�e, numa das aus�ncias do
<br>Rodrigo. � mesmo uma casa imensa, com um parque. Um dia
<br>destes, quando ele n�o estiver aqui, vamos l�.
<br>Patr�cia deixou passar outro sil�ncio:
<br>
<br>� E quando pensas em te casar?
<br>� Por minha m�e, eu me casava assim que terminasse o
<br>curso na Escola Normal. Por mim, vou protelando. Sempre.
<br>83
<br>
<br>
<br>Tive uma tia, irm� de meu pai, que levou noiva dezenove anos.
<br>Sim senhora: dezenove anos. Afinal, casou, e morreu no ano
<br>seguinte.
<br>
<br>E j� perto de casa, Simone segurou a m�o de Patr�cia:
<br>
<br>� O bom seria a gente ter sempre a mesma idade, como
<br>agora, e ser sempre amiga,
<br>como n�s somos.
<br>E quando abriu o port�o:
<br>
<br>� Hoje, dormes aqui. Deixa que eu mesma telefono para
<br>M�e Ded�.
<br>E Patr�cia, a despeito do longo tempo transcorrido, voltava
<br>a dar por si na cama espa�osa, � espera da Simone, que
<br>tomava o seu banho, no banheirinho ao lado, com a porta
<br>entreaberta.
<br>
<br>Enquanto ouvia o ru�do da �gua caindo do chuveiro, Patr�cia
<br>olhava em volta pensando que um dia ia ter um quarto
<br>como aquele, na sua casa, com seu marido � um quarto bem
<br>amplo, com uma janela sobre a noite estrelada, a escrivaninha,
<br>o somi�, a estante de livros, a televis�o pequenina, o aparelho
<br>de som, o guarda-roupa, a c�moda de argol�es de bronze,
<br>com um vaso de cer�mica azul ao lado do belo rel�gio italiano,
<br>que batia de leve, por toda uma semana, e dava as horas
<br>com um tinidozinho de cristal.
<br>
<br>E Simone, j� no quarto, ainda a enxugar-se:
<br>
<br>� Depois que nos formarmos, bem podias morar aqui.
<br>Juntas, o resto da vida. Sempre amigas. Pensa nisso.
<br>Patr�cia, que pensava no seu pr�prio casamento, mudou
<br>de posi��o na cama, com a m�o sob o rosto. E sonolenta, quase
<br>a dormir:
<br>
<br>� Vou pensar.
<br>4
<br>
<br>Ao v�-la entrar-lhe pelo quarto, com a barra da saia acima
<br>dos joelhos, toda de vermelho, o cabelo aberto, os olhos
<br>
<br>84
<br>
<br>
<br>aumentados pelo tra�o negro, Patr�cia ergueu a cabe�a, no esfor�o
<br>para identific�-la.
<br>
<br>E a outra, acompanhada pela Rosa:
<br>
<br>� N�o te levantes. Tua empregada me disse que passaste
<br>a tarde deitada, com um come�o de gripe. Fica onde est�s.
<br>Mas Patr�cia j� estava de p�, com as m�os � espera da companheira,
<br>esta tamb�m de bra�os abertos. Apertaram-se as
<br>m�os, abra�aram-se, seios contra seios, a um passo da cama
<br>revolta.
<br>
<br>E Patr�cia, afastando a outra para tornar a olh�-la:
<br>
<br>� Que alegria, Paula!
<br>� Que alegria, Patr�cia!
<br>E a Paula, com a m�o da Patr�cia sobre o cora��o:
<br>� V� como fiquei, com esta emo��o. Lembrando-me do
<br>p�tio, do corredor, da sala de aula. De tudo. Como no tempo
<br>da Escola Normal.
<br>E reprimindo a risada alta:
<br>
<br>� At� olhei para os lados, para ver se a Simone estava
<br>perto, n�o deixando que eu me aproximasse de ti.
<br>Riram alto, uma olhando a outra. Mas logo a mesma lembran�a
<br>lhes apagou o riso, e foi Paula, s�ria, quem falou por
<br>ambas, revelando o que as duas tinham pensado juntas:
<br>
<br>� Coitada da Simone. Rica, bonita, e condenada por ela
<br>mesma ao pres�dio de um Sanat�rio. Toda semana fa�o o projeto
<br>de ir por l�, para lhe fazer uma visita, e acabo n�o indo,
<br>com os atropelos em que vivo, �s voltas com a casa, com o
<br>novo marido, com o ex-marido, com os filhos, com os livros,
<br>com os amigos. Numa roda-viva.
<br>E instalando-se na poltrona, perto da janela, de pernas
<br>cruzadas, com o vestido repuxado para cima, como a exibir
<br>as coxas e o vermelho do sapato:
<br>
<br>� N�o mudaste nada, Patr�cia. Nada. Rigorosamente nada.
<br>Em compensa��o, eu, por meu lado, mudei muito. Aposto
<br>que foi pela voz que me reconheceste. J� � a segunda pl�stica
<br>que eu fa�o, nos �ltimos cinco anos, para melhorar o visual.
<br>Eu e a Inezita. At� parece que ela e eu estamos apostando,
<br>para ver, de n�s duas, quem muda mais. Tu, n�o. �s a mesma.
<br>A mesma Patr�cia da Escola Normal. Imagina que meu
<br>85
<br>
<br>
<br>novo marido n�o me reconheceu em nosso quadro de formatura.
<br>Tive de jurar que era eu mesma que estava ali, com uma
<br>cara de pateta. Vou em frente. Lutando. Vida de escritora �
<br>assim. Chamando a aten��o dos outros para mim, chamo tamb�m
<br>a aten��o do p�blico para meus livros. E vou furando.
<br>E mexendo-se muito, como se a poltrona n�o lhe bastasse:
<br>
<br>� Quando o tempo vem para cima de mim, com a maldade
<br>de seus estragos, j� estou � espera dele. N�o, n�o me entrego:
<br>me cuido, me aperto, me pinto, carrego na maquilagem,
<br>exagero a boca com o batom.
<br>Abandonou os olhos no ar, pensativa. E como se volvesse
<br>a si:
<br>
<br>� Sinto que h� em mim um excesso de vida que n�o se
<br>esgotou com a maternidade. E escrevo. Por impulso de vaidade?
<br>Pelo gosto de aparecer? De ver meu nome numa capa de
<br>livro, numa nota de revista, num artigo de jornal? Ou para
<br>aparecer na televis�o? Em parte, em parte. Porque a verdade
<br>mesmo � que escrevo por necessidade de escrever. Preciso
<br>transferir-me para a folha de papel. Tenho necessidade de passar
<br>adiante o que sinto, o que penso. N�o � que eu viva para escrever.
<br>N�o. Escrevo porque vivo, porque acumulei experi�ncias.
<br>E levantou-se, dando a impress�o repentina de que a poltrona
<br>n�o condizia com seu desassossego.
<br>
<br>� Minha briga maior � com o tempo. Sei que vou acabar
<br>perdendo, porque perder, nessa luta desigual, faz parte de
<br>nossa condi��o, mas n�o me entrego. Quando ele arma o bote,
<br>de olho em cima de mim, com seus caprichos, pronto a fazer
<br>de mim uma caricatura, me meto na cl�nica, vou ao massagista,
<br>entro na aula de gin�stica, mudo de costureiro, escolho
<br>os vestidos que me valorizem os seios e as pernas, como
<br>este, que d� uma gra�a nova � minha bundinha civilizada, e
<br>vou em frente. Inventei, s� para mim, um suti� que me levanta
<br>os seios por baixo, sem apert�-los, de modo que os biquinhos
<br>fiquem soltos, como se estivessem na janela, livres e felizes,
<br>e l� vou eu, neste meu requebrado de baiana com o tabuleiro
<br>na cabe�a, fazendo estragos nos olhos dos homens, que parecem
<br>ter fogo, soltando labaredas por tr�s de meus passos, quase
<br>a me obrigarem a apelar para o Corpo de Bombeiros.
<br>86
<br>
<br>
<br>E de volta, no mesmo requebro:
<br>
<br>� Ainda bem que arranjei agora um marido que � uma
<br>brasa. Mais mo�o do que n�s. Homem mesmo. O outro, que
<br>n�o conheceste, s� queria me encher a barriga, com um novo
<br>filho. Parei no terceiro e mandei o reprodutor passear. Pela vontade
<br>dele, eu acabava m�e de um col�gio. Arrebentada, de ventre
<br>ca�do, peito de vaca leiteira. O novo � outra coisa. De noite,
<br>enquanto estou sentada na cama escrevendo os meus poemas,
<br>ele, do meu lado, esquenta o motor, lendo revista de mulher
<br>nua. E fica por conta quando percebe que estou inspirada. Esse,
<br>sim, aqui para n�s, me derruba. Depois da batalha, durmo que
<br>� uma beleza, at� de manh�. Um sono s�. Quando me levanto,
<br>as olheiras � minhas famosas olheiras � me denunciam.
<br>E Patr�cia, sem conseguir reprimir de todo o riso:
<br>
<br>� E teus filhos? Ficaram contigo? Ou com o pai?
<br>� Nem comigo nem com o pai: com a mam�e. Av� � que
<br>tem mesmo paci�ncia para cuidar de menino. Aos s�bados e
<br>domingos, passeio com eles: sou o lado bom, o que d� sorvete,
<br>o que compra figurinhas, o que leva � praia e ao cinema.
<br>Nos outros dias, mam�e assume o posto. � bab�, m�e e av�,
<br>tudo junto. Na hora do car�o, ralha com energia; na hora do
<br>estudo, estuda com eles; na hora do col�gio, vai lev�-los e busc�los,
<br>feliz quando pensam que a m�e � ela. Tudo �s mil maravilhas.
<br>De noite, pelo telefone, faz o relat�rio do dia, e ela
<br>mesma se entende com o pai para as despesas que ultrapassam
<br>o que ele me d� como pens�o. Agora, vais achar gra�a:
<br>como meu ex-marido admira o meu talento de poeta, e sabe
<br>de cor meus poemas, � ele que paga a edi��o de meus livros.
<br>O outro marido, o atual, se encarrega das noites de aut�grafo.
<br>Eu �s vezes me ponho a rir, quando vejo que os dois est�o conversando
<br>no telefone sobre quem paga isto, quem paga aquilo.
<br>Cada um a querer fazer a vez do outro. Um encanto.
<br>E abrindo a imensa bolsa que lhe pendia do ombro
<br>esquerdo:
<br>
<br>� Vim trazer-te o meu novo livro. Est� sendo muito badalado.
<br>Principalmente pelos cronistas sociais. E eu vou faturando.
<br>Este livro foi o pretexto para que eu viesse aqui agradecer
<br>o convite que me foi feito pela Inezita. Virei � tua festa
<br>87
<br>
<br>
<br>com muito prazer, e de marido a tiracolo. � mais baixo que
<br>eu, mas se traja muito bem. Perfumado. Chiqu�rrimo. Unhas
<br>bem tratadas. Tanto fiz que botei um saltinho no sapato dele
<br>para ver se aumentava. N�o fez diferen�a. Quem nasceu baixinho,
<br>sempre ser� baixinho, mesmo em cima da mesa. N�o
<br>te rias. � verdade.
<br>
<br>E de s�bito, aumentando os olhos, ao reparar nos pap�is
<br>e fotografias sobre a cama, curvou-se, interessada:
<br>
<br>� N�o me digas, Patr�cia! Pap�is de nosso tempo? Retrato
<br>das companheiras de turma? N�o, n�o pode ser. Esta sou
<br>eu. Eu? Ser�? Com esse corpinho? Foi tua m�e que guardou
<br>tudo isto? Logo vi. M�e � m�e.
<br>E mais perto da luz, na claridade da janela:
<br>
<br>� Sim, sou eu. Olha como fiquei: de olhos molhados.
<br>Com saudade do que eu fui. Da turma. Do nosso tempo. Olha
<br>a Sofia. A Creusa. A Do Carmo. A Simone. Ela mesma. Tenho
<br>um retrato dela, tirado no Sanat�rio, h� pouco tempo.
<br>Voltou � luz da janela.
<br>
<br>� Recebi carta dela, com o retrato, agradecendo meu livro.
<br>Bem escrita. Carinhosa. Falando do nosso tempo. No retrato,
<br>parece mais magra. Alta. Ainda bonita. Toda de branco.
<br>Como uma vela de prociss�o. Daquelas grandes. Que a gente
<br>leva acesa na frente do andor. N�o estou debochando. N�o,
<br>n�o estou. Estou dando a id�ia. A Simone sempre me pareceu
<br>estranha. Mais perto do outro mundo que deste. Dava a impress�o
<br>de que tinha descido das nuvens quando entrava na
<br>sala de aula. Leve. Como se n�o tocasse no ch�o.
<br>Novamente sentada, espalhou-se na poltrona, alongou as
<br>pernas para um tamborete, cruzou os p�s, e assim reclinada,
<br>abriu a bolsa, tirou fora a cigarreira e o ma�o de cigarros, depois
<br>a piteira imensa, de boquilha dourada, espetou ali o cigarro,
<br>p�s a piteira entre os dentes, tornou a abrir a bolsa, tirou fora
<br>
<br>o isqueiro, ficou uns momentos com a chama diante dos olhos,
<br>afinal soprou
<br>a primeira fuma�a, contente, efusiva.
<br>E por tr�s da fuma�a, que se desfazia devagar:
<br>
<br>� N�o soubeste que a Simone, quando brigou contigo,
<br>quis ser minha amiga? � verdade. Quis ser. Ela, que parecia
<br>me evitar durante todo o curso, de repente me entrou pela ca88
<br>
<br>
<br>
<br>sa. Queria me levar a um concerto de piano. Na Sala Mozart.
<br>L� fui eu. N�o sou muito de m�sica cl�ssica, que n�o foi feita
<br>para mim. Prefiro mais o compositor popular, que faz a musiquinha
<br>dele batendo na caixa de f�sforos, do que as sonatas de
<br>Beethoven, com todas as maravilhas de que se fala. Queria que
<br>visses como se comportou a Simone. Do meu lado, de olhos
<br>baixos, as m�os entrela�adas, como se estivesse rezando o tempo
<br>todo. De repente, quando a orquestra parou, p�s-se de p�,
<br>aplaudindo. Aplaudindo, e gritando: � Bravo! � Gritei tamb�m.
<br>Foi a primeira e �ltima vez em que aplaudi Beethoven. Pois
<br>levei um car�o da Simone, quando voltava para casa. Que eu
<br>n�o devia ter aplaudido. Que at� tinha dormido. Sim, senhora.
<br>Um car�o completo. N�o gostei. Ela me segurou a m�o.
<br>Me pediu que a perdoasse. Precisava de uma amiga como eu.
<br>Era s�. N�o tinha uma irm�. E tanto fez, da� em diante, que
<br>quase eu acabava gostando de m�sica cl�ssica. De tarde, pelo
<br>telefone, me chamava. Mandava o carro dela me buscar. Ria,
<br>falava alto, contava casos. Nunca imaginei que, por tr�s daquela
<br>figura distante, houvesse um ser humano t�o comunicativo.
<br>Um dia, levou-me para a sala. Sentou-se ao piano. E foi
<br>tocando. Valsas de Chopin. Depois, Beethoven: a Sonata ao
<br>luar. O Bolero de Ravel. E eu ouvindo. Mas sem mudar de gosto.
<br>Fiel � minha valsinha. � minha polquinha. De repente, ela
<br>emendou o concerto de Brahms com um sambinha brasileiro.
<br>Incr�vel. Fiquei arrepiada. Uma maravilha. E quando acabou,
<br>voltou ao quarto dela comigo, segurou-me pelos ombros, e me
<br>disse: � Posso ser tua amiga. Como fui amiga de Patr�cia. Mas
<br>n�o podes ser amiga de mais ningu�m. S� de mim. � Ri alto.
<br>
<br>� E ela, mais s�ria: � N�o, n�o rias. Fica s�ria. � s�ria que
<br>estou te falando. � Patr�cia, eu tive medo dela. Medo de seus
<br>olhos. De seu rosto parado a prender o meu. Possessiva. Dominadora.
<br>Estranha. Mas consegui reagir. E fui franca. Amiga
<br>dela, sim, mas n�o com exclusividade. Senti que os olhos
<br>dela se umedeciam. E tive pena. Mas continuei firme. Simone
<br>n�o insistiu. Veio trazer-me � porta, mandou que o carro dela
<br>me levasse. E nunca mais me chamou. Tempos depois, no dia
<br>do meu anivers�rio, mandou-me flores. Com uma cartinha.
<br>Para dizer que continuava s�. Fui visit�-la. Fui eu que a con89
<br>
<br>
<br>
<br>venci a terminar o curso. A m�e dela, que se abriu comigo num
<br>momento em que a filha saiu do quarto, me contou, que a Simone
<br>havia passado dezesseis dias trancada, sem querer ver
<br>ningu�m.
<br>
<br>E novamente de p�:
<br>
<br>� Fiquei com pena da Simone. Fiquei. N�o te vou negar.
<br>Cheguei a pensar que ela pudesse cometer um desatino,
<br>t�o estranha ela estava, na sua revolta. Felizmente nada demais
<br>aconteceu. Ela acabou recebendo o diploma, foi para o Sanat�rio
<br>acompanhada pelo Padre Revoredo, que tamb�m conheces.
<br>Fiquei sem not�cias dela um bom tempo. Um belo
<br>dia, novamente no meu anivers�rio, chegou-me �s m�os um
<br>telegrama seu. Agradeci. Veio uma carta. Da� em diante, sempre
<br>que estou mais desafogada, escrevo para ela; ela me responde.
<br>Por isso, quando me falam que n�o foste correta com
<br>ela, sou a primeira a te defender. N�o. Isso n�o. Conhe�o as
<br>duas. Sobretudo a Simone. O Rodrigo, quando decidiu casar
<br>contigo, e n�o com ela, fez a op��o certa. Com ela, teria sido
<br>um desastre. A menos que Deus, por milagre, lhe mudasse a
<br>natureza.
<br>5
<br>
<br>Sempre a mesma ansiedade todas as vezes que o marido
<br>viajava. Debalde tentava distrair-se, ocupando o mais de seu
<br>tempo em pequenas coisas caseiras. Se esquecia a viagem por
<br>alguns momentos, logo a preocupa��o lhe voltava, teimosa,
<br>insinuativa, obrigando-a a recorrer a calmantes ou a insistir
<br>nas liga��es interurbanas, para saber se o Rodrigo j� estava
<br>no hotel. N�o compreendia por que os jornais davam tanto
<br>destaque aos loucos que punham bombas nas valises,
<br>abandonando-as nos aeroportos, ou insinuando-as na bagagem
<br>geral dos passageiros, sabendo que iam matar um pai, uma
<br>noiva, um filho, uma amiga, um irm�o, uma crian�a, um m�dico,
<br>friamente, implacavelmente. N�o, n�o compreendia.
<br>
<br>90
<br>
<br>
<br>Enquanto duravam as viagens do Rodrigo, evitava ler os
<br>jornais. Tamb�m n�o queria que ligassem na casa as televis�es
<br>e os r�dios. No sil�ncio que se fechava � sua volta, passava o
<br>dia sobressaltada. E mais inquieta se sentia, a s�s, no quarto,
<br>ao longo das noites infinitas. Ao passar pelo sono, despertava
<br>ao menor ru�do, e toda ela se concentrava nos ouvidos, sentada
<br>na cama, l�vida, � espreita de m�s not�cias, que felizmente
<br>nunca chegavam.
<br>
<br>Na volta do marido, contava-lhe o quanto havia sofrido.
<br>E ele, calmo, segurando-lhe as m�os �midas:
<br>
<br>� Meu amor, voc� n�o est� cansada de saber que nada
<br>de mau acontece comigo? Que Deus, l� em cima, olha sempre
<br>por mim?
<br>Sim, ela sabia. Mas algo persistia no seu esp�rito, acima
<br>de sua consci�ncia, e que de repente a alarmava, como um terror
<br>estranho, que suplantava a serenidade natural de seu esp�rito
<br>e que ela pr�pria n�o sabia entender e justificar. Sobretudo
<br>depois que, uma tarde, j� com o dia escurecendo, a pobre Rosa,
<br>sem conseguir conter-se, veio ter com ela:
<br>
<br>� Ah, D. Patr�cia, a senhora vai me perdoar, estou muito
<br>nervosa, preciso lhe falar. Imagine que, h� poucos momentos,
<br>houve aqui no aeroporto um tiroteio maluco, e h� muitos
<br>feridos e muitos mortos.
<br>L�vida, a boca entreaberta, Patr�cia permaneceu uns momentos
<br>sem a��o, tomada de pavor, sabendo que, exatamente
<br>nessa hora, o Rodrigo devia estar chegando. E o mesmo terror
<br>que a havia imobilizado, subitamente lhe deu for�as e ela
<br>desceu a escada do p�tio, correu � garagem, sem sequer trocar
<br>pelos sapatos de sair as sapatilhas caseiras, e saltou para
<br>
<br>o carro que ali estava, para correr ao aeroporto, indiferente
<br>� afli��o do Ludovico e da Rosa, ambos a lhe pedirem que se
<br>acalmasse, que esperasse um pouco, que nada de grave havia
<br>acontecido com o Senhor Doutor.
<br>E ela, sem lhes dar ouvido, a trazer o carro de marcha � r�:
<br>
<br>� Minha Nossa Senhora, me ajude!
<br>E j� ia transpor o port�o sobre a cal�ada da rua, quase
<br>a raspar uma das colunas do muro, quando o pr�prio Rodrigo
<br>lhe apareceu, saltando do carro que o fora buscar:
<br>
<br>91
<br>
<br>
<br>� Patr�cia, aqui estou.
<br>E todo ele sorria, e ria alto, e agitava as m�os efusivas,
<br>e sacudia a papada sobre o colarinho aberto, enquanto lhe contava,
<br>na subida da escada:
<br>
<br>� Deus, mais uma vez, olhou por mim. Imagina tu que
<br>eu, que nunca tomo caf�, desta vez tive vontade de tomar caf�
<br>no bar do aeroporto. E foi l�, mexendo minha x�cara, que de
<br>repente ouvi o estralar das balas, exatamente no sal�o onde
<br>eu tinha estado momentos antes. Sem esse caf�, eu a estas horas
<br>estava morto ou ferido.
<br>E fora buscar na adega, para o jantar, um vinho velho,
<br>que vinha do tempo de seu av�, para festejar a prote��o divina,
<br>depois de mandar dizer ao Padre Revoredo que cobriria,
<br>sozinho, as despesas totais de sua nova creche.
<br>
<br>Ela, entretanto, havia levado mais de um m�s para se refazer,
<br>a despeito dos calmantes, das ora��es, das idas � igreja,
<br>das longas conversas com seu m�dico, e mais de uma vez despertara
<br>aos prantos, em plena madrugada, a debater-se com
<br>os pesadelos que lhe avivavam novamente o medo, como um
<br>aviso ou uma premoni��o. Felizmente, ali mesmo, na sua casa,
<br>com o passar do tempo voltara a acalmar-se.
<br>
<br>Ainda bem que se reintegrava na sua paz, na sua vida tranq�ila,
<br>na consci�ncia de seu destino harmoniosamente realizado.
<br>Desoprimida, tornava aos concertos, � visita �s creches,
<br>aos desfiles de modas, �s recep��es diplom�ticas, sempre ao
<br>lado do Rodrigo, que se envaidecia de ir com ela, dando a impress�o
<br>de ficar repleto e loquaz caminhando ao seu lado. Ela,
<br>por sua vez, parecia esquecida da afli��o das viagens. E a verdade
<br>� que, por algum tempo, lograva superar esse medo, como
<br>se houvesse afinal alcan�ado, com obstinada paci�ncia, o
<br>pleno dom�nio de seus nervos.
<br>
<br>Essa plenitude se lhe estendia por todo o corpo, sobretudo
<br>na alegria do rosto, na luz dos olhos, na vivacidade da palavra,
<br>e ela telefonava, e chamava as amigas, e abria o seu sal�o,
<br>extrovertida, afetuosa, comunicativa � a ponto de pensar, mais
<br>de uma vez, em ligar para o Sanat�rio e informar-se sobre a
<br>Simone. Freq�entemente, n�o esperava que o Rodrigo a quisesse:
<br>j� nua, sob o len�ol, esperava por ele, e era com outro gosto, ou
<br>
<br>
<br>92
<br>
<br>
<br>tra vida, outra explos�o de sensualidade realizada, que por fim
<br>se entregava, mais companheira e mais mulher.
<br>
<br>Agora, na calma da tarde fosca, com o dia a se fechar
<br>sob a bruma que se esgar�ava por cima dos telhados e dos edif�cios,
<br>Patr�cia ouviu a chuva cair l� fora, precedida pelo ru�do
<br>da ventania. Sentada na poltrona, j� com o abajur aceso,
<br>ficou a ler salteadamente o romance de Mary McCarthy, com
<br>a impress�o de que a aten��o lhe fugia, sem poder concentrar-se
<br>na leitura. Acabou por fechar o livro, apoiou a nuca no espaldar
<br>da poltrona, de pernas estiradas, p�lpebras descidas, m�os
<br>no rega�o, tornando a ver a Paula, parada no vest�bulo, abotoando
<br>as luvas, e a lhe dizer, como se lhe contasse um segredo:
<br>
<br>� Sabe o que me disse a Carminha, depois de visitar a
<br>Simone no Sanat�rio? Que o lugar � muito bonito. E que ela
<br>n�o est� num quarto comum, como os outros pacientes. N�o.
<br>Est� numa su�te, onde tem tudo, at� piano. Um piano, Patr�cia.
<br>Quando ela se p�e a tocar, os m�dicos e as enfermeiras
<br>pedem sil�ncio. � a Simone que exige. Sempre a mesma Simone.
<br>Um dia destes, fa�o um poema para ela. Ser�s a primeira
<br>a ouvir.
<br>E j� no v�o da porta:
<br>
<br>� Chega de Simone. Um beijo.
<br>Tamb�m nos pap�is de M�e Ded� l� estava a Simone. Retratos,
<br>bilhetes, postais, e at� mesmo um caderninho de receitas
<br>de doce, na mesma letra firme e alta, com o t bem cortado,
<br>
<br>o rabinho do o para cima, a cedilha no lugar, tudo dentro de
<br>envelopes, e posto num envelope maior, amarrado por uma fita
<br>desbotada, com o la�o por cima do sobrescrito, e esta indica��o,
<br>na letra de M�e Ded�: Documentos antigos da Simone.
<br>E entre par�nteses: a maior amiga de minha filha.
<br>Continuaria a guardar tudo aquilo? Ou seria melhor dar-
<br>lhe fim, rasgando, queimando? N�o, n�o rasgaria nada, nada
<br>queimaria. Por que rasgar? Ou queimar? N�o, de modo algum.
<br>Recolheria tudo aquilo � gaveta da c�moda, no quarto
<br>das coisas velhas, inclusive o ma�o das partituras, do tempo
<br>em que ela, Patr�cia, tamb�m estudara piano, no mesmo curso,
<br>com a mesma professora da Simone.
<br>
<br>O piano da Simone... O famoso piano de cauda, quase
<br>
<br>93
<br>
<br>
<br>sempre coberto por uma capa escura, ocupando um canto da
<br>sala. Nele, s� a Simone tocava. Igual ao que ela, Patr�cia, comprara
<br>para o sal�o quando casara, e que permanecia fechado,
<br>com a capa de veludo. Imponente. Solene. S� descoberto nas
<br>noites de recep��o. Igual tamb�m, em sonoridade, ao piano
<br>da Simone. E que se ouvia longe, na volta da rua.
<br>
<br>E Patr�cia p�s-se a lembrar a D. Zita, falando baixo, para
<br>n�o ser ouvida pela filha:
<br>
<br>� Mandei te chamar para n�o te falar pelo telefone. Sobre
<br>a Simone. Aconteceu uma coisa estranha esta noite. Coisas
<br>de minha filha. Fiquei nervosa. Imagina que acordei, pela
<br>madrugada, ouvindo o piano aqui na sala. Olhei o rel�gio: faltavam
<br>dez minutos para as duas horas. E o piano, aqui, tocando.
<br>Pensei logo: ser� a Simone? A esta hora da madrugada?
<br>Pus o penhoar por cima da camisola, sempre ouvindo o
<br>piano, e vim at� aqui. Era ela, sim, tocando. S� com a camisola
<br>em cima do corpo, quase nua. Uma m�sica atr�s da outra.
<br>E depois de onze dias sem sair do quarto. Perguntei-lhe:
<br>� Que � isso, minha filha? Sabe voc� que horas s�o? Duas.
<br>Duas horas. E voc�, aqui, tocando. Por qu�? � Ela n�o me
<br>respondeu. Parecia son�mbula, sem me ouvir. Continuou tocando.
<br>Sem partitura. Tudo de mem�ria. Vim mais para perto.
<br>Bat,i-lhe no ombro, perguntei-lhe: � Est� me ouvindo, Simone?
<br>� Continuou calada, tocando. Pensei em pux�-la dali,
<br>mas me contive. N�o, n�o convinha. N�o se deve despertar
<br>de repente uma pessoa son�mbula. Afastei-me um pouco, fiquei
<br>olhando, n�o sabendo o que fazer. Nisto, ela parou de
<br>tocar, fechou o piano, cobriu-o com a capa, apagou a luz, e
<br>foi para o quarto, sem me responder, sem me olhar, como se
<br>n�o houvesse dado por mim. No quarto, fechou a porta, deu
<br>a volta na chave. E continua trancada.
<br>D. Zita ficou a olhar para Patr�cia, como se n�o soubesse
<br>mais o que dizer-lhe, os l�bios levemente tr�mulos, os olhos
<br>atarantados.
<br>E por fim, rompendo a chorar:
<br>
<br>� Que � que se passa com a minha filha?
<br>Patr�cia se levanta da poltrona, ouvindo o ru�do de um
<br>94
<br>
<br>
<br>carro no port�o, enquanto se desfaz subitamente a imagem de
<br>
<br>D. Zita, com as m�os no rosto, solu�ando. E reconhece:
<br>� O Rodrigo chegou.
<br>Patr�cia enche o peito, num suspiro longo, e seu cora��o
<br>se acelera. Puxa a cortina para olhar o port�o. Sim, � ele, no
<br>carro que vem subindo a rampa devagar.
<br>
<br>6
<br>
<br>Uma por uma, recolheu ao envelope pardo, sobrescritado
<br>por M�e Ded�, as fotografias que dali tirara: umas, suas;
<br>outras, de Simone; outras mais, de amigas e colegas que tinham
<br>ficado para tr�s, como que apagadas pela vida e pelo
<br>tempo.
<br>
<br>De vez em quando, ao recolh�-las ao velho abrigo de papel
<br>grosso, sustinha a m�o no ar, com a fotografia mais perto
<br>da luz, e sorria, ou ria, por entre relances de reminisc�ncias
<br>divertidas, ao dar por si segurando a m�o de Simone, ambas
<br>de ciganinha, muito pintadas, cada qual com seu pandeiro e
<br>seu vidro de lan�a-perfume, no primeiro baile de Carnaval a
<br>que tinham ido. Por sinal que Simone, voltando para casa, tinha
<br>jurado n�o voltar mais aos bailes do Cassino:
<br>
<br>� Um horror. Fiquei tonta. Comigo n�o contem mais para
<br>semelhante loucura. Festa, para mim, � outra coisa. Todos
<br>bem vestidos. Muita ordem. Cada qual no seu lugar.
<br>E como acabara de fazer treze anos, e ainda estava pintada
<br>e repleta de medalhas douradas, o seu ar sisudo destoava
<br>um pouco, fazendo rir a Patr�cia, que de pronto lhe confessou:
<br>
<br>� Eu gostei, Simone. Gostei de pular, de me misturar com
<br>os outros, de cantar, de segurar a m�o de quem n�o conhe�o.
<br>E Simone, grave, j� no seu quarto:
<br>
<br>� Ent�o vai sozinha. Vai, e n�o voltes mais aqui nem fales
<br>mais comigo. Ponto final.
<br>E a seguir, no impulso da ira reprimida, tirou fora a fantasia,
<br>lan�ou longe o lan�a-perfume e o pandeiro, e foi para
<br>
<br>95
<br>
<br>
<br>o banheiro, com uma toalha �mida, desfazer a pintura do rosto
<br>e depois tomar um banho, para tirar de seu corpo o suor alheio.
<br>Deitou-se, n�o deu boa-noite � Patr�cia.
<br>Patr�cia, cedo, assim que o dia come�ava a clarear, er
<br>
<br>
<br>gueu-se do somi�, fez depressa a sua toalete, sem ru�do, tam
<br>
<br>
<br>b�m calada. Iria embora sem despedir-se.
<br>
<br>E Simone, que a observava:
<br>
<br>� Patr�cia, diz a M�e Ded� que hoje eu vou dormir na
<br>tua casa.
<br>Ah, a primeira noite de amigas verdadeiras, no s�t�o da
<br>casa transformado em quarto da Patr�cia, com a Simone a achar
<br>tudo �timo (mesmo o banco de tr�s pernas e a cadeira de palhinha
<br>com o assento furado), e a fazer quest�o de manter a
<br>m�o de Patr�cia na sua, depois de acariciar-lhe o rosto, as esp�duas,
<br>o busto, sempre a dizer-lhe:
<br>
<br>� Eu te acho linda, Patr�cia.
<br>E de repente, erguendo a cabe�a, a segurar-lhe os ombros:
<br>� N�o gostei daquele rapaz alourado que passou o tempo
<br>todo te pondo lan�a-perfume. E tu, nele. S� n�o vim embora,
<br>na hora, para n�o fazer uma grosseria maior. Vou ser
<br>sincera contigo, Patr�cia: tu, se tiveres mesmo um namorado,
<br>ter� de ser escolhido por mim. Mas a verdade mesmo � que
<br>n�o quero que te cases. Teremos de ser amigas, sempre. Sempre.
<br>Pelo amor de Deus, n�o me abandones. Eu preciso ter uma
<br>'amiga. Sei que preciso. Sou fr�gil. Deus me fez assim.
<br>
<br>E tinha uma express�o t�o pat�tica na fisionomia transtornada,
<br>com a cabe�a erguida, o rosto vincado, as pupilas implorativas,
<br>que Patr�cia se limitou a traz�-la para perto de si,
<br>enxugando-lhe o rosto, com o bra�o esquerdo sob seus ombros,
<br>abra�ando-a carinhosamente, at� que lhe sentiu o choro
<br>manso e repetido, dizendo-lhe:
<br>
<br>� Tu �s tudo para mim, Patr�cia.
<br>� E tu tamb�m para mim, Simone.
<br>Como tudo isso ia longe, meu Deus! Sempre o mist�rio
<br>do tempo, que flui e desfigura, que passa e leva tudo, sem pressa,
<br>implacavelmente, como se dele emanasse a verdadeira e suprema
<br>lei do mundo, a que at� Deus teria obedecido. Patr�cia
<br>bem que o sentia, no confronto da realidade passada com a
<br>
<br>96
<br>
<br>
<br>realidade atual, enquanto crescia na sua consci�ncia a estranha
<br>id�ia de que o verdadeiro senhor do mundo � o Tempo.
<br>Que cria, que transforma, que destr�i, que n�o interrompe o
<br>seu fluir vagaroso, indiferente ao riso e � dor, � vida e � morte,
<br>mas que tamb�m enxuga os olhos dos infelizes e acalma
<br>a agonia dos desesperados, para restituir a cada um de n�s a
<br>serenidade diante das dores velhas, com os olhos enxutos diante
<br>de nossos mortos.
<br>
<br>Em vez de recolher ao envelope o retratinho de Carnaval,
<br>Patr�cia deixou-o de lado para mostr�-lo no dia seguinte, ou
<br>talvez no mesmo dia, � Inezita e � Paula, quando por ali voltassem.
<br>Um momento depois, mudou de id�ia. Nada disso. A
<br>vida flui, e � preciso deixar que ela se v�, envolta no seu mist�rio.
<br>Tanto a Paula quanto a Inezita se limitariam a achar gra�a
<br>na fotografia levemente amarelada, com um furinho de tra�a
<br>nos dois cantos superiores, sem que nada lhes dissesse, al�m
<br>das imagens que ali estavam, come�ando a apagar-se. A emo��o
<br>era apenas sua, privativa, �ntima, como um bem pessoal,
<br>que s� ela, Patr�cia, podia sentir e reviver. E com um suspiro
<br>leve, que n�o chegou a altear-lhe os seios, rep�s a fotografia
<br>no envelope, como se a restitu�sse ao passado. Ao seu pr�prio
<br>passado.
<br>
<br>Da� em diante repassou depressa as demais fotografias,
<br>e novamente a Simone refluiu das poses e dos instant�neos,
<br>sempre esguia, os olhos misteriosos e negros, a mesma risca
<br>no cabelo. Conquanto n�o passassem de imagens no papel,
<br>ora no port�o de casa, ora � borda do tanque, no Parque da
<br>Cidade, ou na cal�ada da rua, junto � bicicleta, tinham sempre
<br>um ar acusativo, que lhes advinha do rosto severo, mesmo
<br>quando sorria.
<br>
<br>De repente, ao v�-la montada num cavalo, com o rebenque
<br>a lhe pender do punho que segurava a r�dea, Patr�cia como
<br>que se crispou, intimidada. E reagindo:
<br>
<br>� Por que isso, meu Deus?
<br>Bem sabia que nada devia temer diante de Deus. O destino
<br>de cada um de n�s seria o destino de cada um de n�s, �
<br>revelia de nossa vontade e determina��o. Converg�ncia de vidas
<br>e situa��es, que talvez o pr�prio homem um dia haveria
<br>
<br>97
<br>
<br>
<br>de explicar, mas que suplantava a simples determina��o individual.
<br>Algo como o encontro de dois seres nas sombras do
<br>mesmo aposento e que se tocam, se apalpam, se reconhecem,
<br>enquanto a luz moment�nea mutuamente os revela, para seguirem
<br>juntos, atravessando a porta que se abre sobre um novo
<br>caminho.
<br>
<br>E o Ludovico, interrompendo-lhe o devaneio:
<br>
<br>� D� licen�a que eu lhe fale? N�o se aborrece comigo?
<br>E a um passo da escrivaninha, vendo quatro retratinhos
<br>de Patr�cia sobre o tampo da mesa, cada um correspondente
<br>� sua inf�ncia, � sua adolesc�ncia (na farda da Escola Normal),
<br>� �poca de seu casamento (no vestido de noiva) e ao momento
<br>atual (de bra�o com Rodrigo, na alameda do parque):
<br>
<br>� Telefonou h� pouco o senhor da tipografia. Pede-lhe
<br>mil desculpas, mas n�o achou boa a id�ia dos quatro retratinhos
<br>que a senhora quer p�r nos convites da recep��o. O melhor,
<br>para ele, � um simples tra�o leve, de tom azulado, reproduzindo
<br>esta casa, entre velhas �rvores. Sobre esse tra�o fino,
<br>o texto do convite. Na opini�o dele, quanto mais s�brio, mais
<br>bonito.
<br>E Patr�cia, ap�s um momento de sil�ncio, dando-lhe raz�o:
<br>
<br>� Diga-lhe que estou de acordo. O artista � ele.
<br>E ia fechar o envelope, j� com os quatro retratinhos ali
<br>dentro, quando deu com o retrato de Simone, ao lado do Padre
<br>Revoredo, de p�, junto do piano.
<br>
<br>7
<br>
<br>Estranho e misterioso Padre Revoredo, que ia embora, que
<br>de repente voltava, magro, seco, p�mulos salientes, olhos obl�quos,
<br>queimado de sol, ora de alpercatas, ora de sapatos cambados,
<br>com um riso permanente na cara chupada, e uma voz
<br>bonita, que enchia sem esfor�o a nave da igreja, na hora do
<br>serm�o dominical.
<br>
<br>Sabia grego, sabia latim, tocava piano, tocava viol�o, po
<br>
<br>
<br>98
<br>
<br>
<br>dendo executar uma valsa de Chopin na flautinha de bambu
<br>que trazia �s costas, na vasta sacola com que ia e vinha, na
<br>fase em que ningu�m sabia por onde andava o Padre Revoredo.
<br>
<br>Um dia, sem se saber por qu�, pusera a batina numa sacola
<br>de pl�stico e a deixara com uma carta na portaria do Pal�cio
<br>do Cardeal. E ele pr�prio, uma semana depois, fora busc�la,
<br>ali mesmo, humilde, n�o no peito, assim que o Cardeal o
<br>fizera vir � sua presen�a, ordenando-lhe:
<br>
<br>� Ajoelhe-se. Aqui. Defronte de mim. Baixe a cabe�a.
<br>Assim. E pe�a que eu interceda junto de Deus para que o perdoe.
<br>Queimei sua carta numa vela benta, rezando por voc�.
<br>E na mesma voz impositiva:
<br>
<br>� V� p�r de novo a batina, e volte aqui. Agora.
<br>S� ent�o Padre Revoredo viu o mesmo saco de pl�stico
<br>da confeitaria Progresso, em cima da arca da sacristia, aos p�s
<br>da imagem de S�o Francisco de Assis.
<br>Vestira a batina ali mesmo, por cima da cal�a e da camisa,
<br>e logo p�de ver, no reflexo do espelho � sua frente, que era
<br>de novo o Padre Revoredo, de ombros altos, batina escovada,
<br>restitu�do a si mesmo.
<br>Aproximou-se do Cardeal, tornou a ajoelhar-se, beijou-
<br>lhe o anel, e rompeu a chorar. Depois, pediu licen�a e p�s-se
<br>a tocar, na flautinha de bambu, o seu Hino � Nossa Senhora,
<br>que havia composto uma noite, quase de improviso, no bom
<br>tempo do Semin�rio.
<br>
<br>Tinha sido ele o respons�vel pela fase m�stica da Simone,
<br>levando-lhe livros religiosos, dando-lhe santinhos e medalhinhas,
<br>at� que ela, s�ria, com um ter�o a lhe pender do punho, confessou
<br>� Patr�cia, depois de passar a chave na porta do quarto:
<br>
<br>� Resolvi ser freira. Freira carmelita. De clausura.
<br>Abriu o guarda-roupa, mostrou-lhe o h�bito.
<br>E segurando Patr�cia pelos ombros, olhando-a no rosto:
<br>� E tu tamb�m vais ser. Vamos tomar o h�bito no mesmo
<br>dia.
<br>� Eu, n�o � replicou Patr�cia, com firmeza.
<br>Levaram quase um m�s sem se falar. E como era julho,
<br>pelo tempo das f�rias, doeu mais ainda a prova��o por que
<br>
<br>99
<br>
<br>
<br>ambas tinham passado, at� que Simone, em voz natural, como
<br>se nada houvesse acontecido, a chamou pelo telefone:
<br>
<br>� Vem aqui. Tenho uma novidade para te contar.
<br>E quem Patr�cia encontrou, � sua espera, assim que lhe
<br>entrou no quarto, foi outra Simone � de cabelo aparado, uma
<br>leve pintura nos l�bios, a saia do vestido acima dos joelhos,
<br>e risonha, com muita luz nos olhos, mais feminina, inteiramente
<br>diversa da Simone que ali estivera, ao lado do Padre
<br>Revoredo.
<br>
<br>Abra�aram-se, sem que pudessem falar. E ficariam mais
<br>tempo coladas, a se estreitarem contra os seios, chorando e rindo,
<br>se D. Zita, no corredor, n�o batesse na porta, para falar
<br>� filha:
<br>
<br>� Padre Revoredo passou por aqui para se despedir. Eu
<br>quis te chamar, ele n�o deixou. Disse que agora n�o sabe quando
<br>volta.
<br>Sumira, realmente, por mais de ano. E o estranho, o surpreendente,
<br>� que Simone nunca explicou � outra a sua crise
<br>m�stica nem lhe disse como tirara da cabe�a a determina��o
<br>de ser freira � s� lhe restando da devo��o exaltada o gosto
<br>de rezar em voz alta quando ouvia, longe, o sino da igreja,
<br>no larguinho do Parque da Cidade, bater pelas ave-marias.
<br>
<br>Foi D. Zita quem contou � Patr�cia, longe da filha:
<br>
<br>� Foi o pr�prio Padre Revoredo que ralhou com Simone,
<br>em tom alto, quando soube que ela, al�m de permanecer
<br>trancada no quarto, se recusava a alimentar-se, jejuando pela
<br>paz das almas. Bateu com for�a na porta, obrigou-a a abrir,
<br>escancarou-lhe o guarda-roupa, tirou dali o h�bito, meteu numa
<br>sacola os livros religiosos, tirou de cima da estante mais
<br>de vinte santos, s� deixando uma Nossa Senhora e o crucifixo,
<br>enquanto Simone, no fundo do quarto, junto da cama, com
<br>a m�o na boca, chorava baixinho, repetindo: � Me perdoe,
<br>Padre Revoredo, me perdoe. � E ele, ainda exaltado: � N�o
<br>tenho nada que perdoar. O culpado fui eu. Deus � paz, � perd�o,
<br>� alegria, � movimento. Trate de aproveitar a vida. Saia.
<br>Passeie. � E saiu de l� com tanta f�ria, trazendo a sacola e
<br>o h�bito, que nem se despediu de mim. S� se despediu na semana
<br>seguinte, mas sem querer ver a Simone. Ainda agora,
<br>100
<br>
<br>
<br>parece que estou ouvindo os passos dele no corredor, toque,
<br>toque, at� bater com for�a o port�o da cal�ada.
<br>
<br>Por fim, acelerando o movimento da m�o que recolhia
<br>as derradeiras fotografias ao bojo do envelope j� repleto, Patr�cia
<br>imobilizou diante dos olhos a foto colorida em que ela
<br>e Simone, � porta do Hospital Evang�lico, iam saindo � cal�ada,
<br>uma amparando a outra na descida do batente de pedra,
<br>com uma senhora gorda, de gorro branco, logo atr�s, ao lado
<br>de M�e Ded�.
<br>
<br>� Foi quando eu sa� do hospital, depois de minha opera��o
<br>� reconheceu Patr�cia, alvoro�ando-se.
<br>E todo um tropel de lembran�as lhe aflorou � consci�ncia,
<br>com o Dr. Murta � beira da cama, segurando-lhe a m�o
<br>l�vida, enquanto Simone, do outro lado, junto de M�e Ded�,
<br>mostrava os olhos crescidos, com ar alarmado.
<br>
<br>E foi Simone quem perguntou:
<br>
<br>� E � preciso oper�-la, Doutor?
<br>� I-me-di-a-ta-men-te � respondeu o m�dico, sempre segurando
<br>a m�o de Patr�cia. � Eu mesmo vou oper�-la, ainda
<br>hoje.
<br>Longe, o tinido inconfund�vel da sineta da ambul�ncia.
<br>Depois o quarto do hospital, pequeno, com a cama de ferro
<br>ao centro, o leito ex�guo para a acompanhante, o jarro azul
<br>com flores, o vers�culo b�blico na parede: "O Senhor � meu
<br>pastor, nada me faltar�." E a Simone, ali. Sempre. E � ela quem
<br>lhe pergunta, afagando-lhe a testa, alisando-lhe os cabelos:
<br>
<br>� N�o sentiste nada? A opera��o j� acabou. Estavas dormindo
<br>desde ontem. M�e Ded� foi � tua casa. Eu fiquei. Fui
<br>eu que vim contigo na ambul�ncia. Aposto que n�o te lembras.
<br>J� estavas dormindo. Um sono profundo.
<br>E com o rosto junto ao rosto de Patr�cia:
<br>
<br>� Eu assisti � opera��o. Com o meu tercinho na m�o.
<br>De longe. Mas de avental, m�scara e gorro, como os m�dicos
<br>e as enfermeiras. Te puseram em cima da mesa de opera��o.
<br>De um lado, o Dr. Murta. Do outro, um senhor gordo,
<br>tamb�m m�dico. Fechei os olhos quando o bisturi te cortou.
<br>Tive medo de desmaiar. Fechei os olhos, entreguei tudo a Deus.
<br>Confiante.
<br>101
<br>
<br>
<br>Segurou a m�o de Patr�cia, olhou-a em sil�ncio, como a
<br>lhe mostrar os olhos �midos, contra�dos e contentes, e que tamb�m
<br>sorriam, contendo o pranto na explos�o de alegria.
<br>
<br>� Padre Revoredo esteve aqui. Chegou na hora da opera��o.
<br>Ficou no corredor, andando de um lado para o outro.
<br>S� foi embora de manh�, quando voltaste para o quarto.
<br>As imagens se esbatem, desfazem-se, e s� as da Simone
<br>permanecem. Simone de costas, olhando a nesga da rua, longe,
<br>ao centro da janela. Simone a lhe dar a comida na colher
<br>cheia. Simone a olhar o frasco de soro. Simone a lhe tomar
<br>a temperatura. Simone a conversar com o Dr. Murta, grave,
<br>compenetrada. Simone a sair com ele para o corredor. Simone
<br>transpondo a porta do quarto, risonha, efusiva, a lhe dizer:
<br>
<br>� J� podes voltar para casa. Dr. Murta te deu alta hoje.
<br>Avisei M�e Ded�. Agora, adeus, hospital. Vida nova.
<br>Mesmo depois de fechar o envelope, atando-o com um
<br>el�stico para recolh�-lo aos guardados de M�e Ded�, Patr�cia
<br>alongou as recorda��es da Simone, ora ajudando-a a levantar-se
<br>da cama, ainda no hospital, ora amparando-a nos passeios por
<br>salas, quartos e corredores, assim que voltou para casa. Era
<br>uma Simone mais sol�cita, mais dedicada, mais amiga, com
<br>algo de materno na voz, nos cuidados, nos gestos, a ponto de
<br>levar M�e Ded�, uma tarde, com uma ponta de ci�me, a dizer
<br>� filha que �s vezes ficava em d�vida sobre~quem era mesmo
<br>a m�e de Patr�cia � se ela, se a Simone. E ambas se puseram
<br>a rir quando a Simone, voltando ao quarto com a bacia de
<br>�gua morna para lavar os p�s e as m�os da convalescente, fez
<br>sair M�e Ded�:
<br>
<br>� Patr�cia vai mudar de roupa. Depois eu chamo a
<br>senhora.
<br>8
<br>
<br>Ludovico foi ao encontro de Patr�cia, do outro lado da
<br>casa, no momento em que ela, no sal�o, corrigia a posi��o de
<br>
<br>102
<br>
<br>
<br>um quadro que o vento da manh� levemente inclinara, por tr�s
<br>do piano.
<br>E subindo um pouco o tom da voz:
<br>
<br>� Senhora, j� estafe a� os homens do tablado.
<br>Patr�cia voltou-se, com uma express�o de estranheza:
<br>� Tablado? Que tablado, Ludovico?
<br>Ludovico se fez mais grave, mais solene, sem deixar de associar
<br>� gravidade um t�nue tra�o de riso nos cantos da boca:
<br>
<br>� O Sr. Dr. Rodrigo n�o lhe disse nada? Pensei que lhe
<br>tinha falado. Com tanta provid�ncia a tomar, com tanta coisa
<br>na cabe�a, esqueceu-se. Mas vai falar. Com certeza.
<br>E Patr�cia, aproximando-se, mais intrigada:
<br>
<br>� N�o sei de nada. E continuo sem saber. Que hist�ria
<br>� essa,
<br>Ludovico? Anda. Fala.
<br>Ludovico ensaiou um passo, recuou, olhou para os lados:
<br>
<br>� Fa�a de conta que eu nada lhe disse.
<br>E baixando a voz, tornando a aproximar-se:
<br>� Vir� dan�ar aqui, no dia de seus anos, durante a recep��o,
<br>o Bal� Nacional. Inteiro. Com a grande orquestra. Mas
<br>fa�a de conta que eu nada lhe disse. Sil�ncio. Agora, eu me
<br>retiro. Com a sua licen�a.
<br>O Bal� Nacional vinha dan�ar ali, num tablado, do outro
<br>lado da piscina? No espelho da �gua l�mpida, a que os ladrilhos
<br>davam um tom azulado, iam refletir-se as luzes dos holofotes,
<br>enquanto dan�assem os bailarinos? E tudo para ela, e
<br>por ela, ao som da grande orquestra, que o Rodrigo tamb�m
<br>faria vir? E se chovesse? N�o choveria. Tudo daria certo, como
<br>tinha dado o seu casamento.
<br>
<br>E curvando o rosto sobre as m�os espalmadas:
<br>
<br>� Deus � bom para mim. Muito bom mesmo.
<br>E logo o contraste entre o seu destino e o destino de Simone,
<br>que poderia estar ali, no seu lugar, mais uma vez lhe
<br>afluiu � consci�ncia, enquanto imaginava a outra encerrada
<br>no seu quarto de Sanat�rio, sozinha, rodeada de sil�ncio. A
<br>Simone, certamente, pelas not�cias dos jornais e das revistas,
<br>pelos flagrantes da televis�o, pelas cartas das colegas que lhe
<br>escreviam, j� saberia de tudo. Da recep��o. Dos convidados.
<br>Do bal�. Da orquestra. Das toaletes. Do card�pio do jantar.
<br>
<br>103
<br>
<br>
<br>Da decora��o do parque. Do diadema de brilhante que o Rodrigo
<br>lhe daria. E mais dolorosa seria para a Simone a reclus�o
<br>opressiva, mesmo com seus discos, mesmo com seus livros,
<br>mesmo com o seu piano.
<br>
<br>E de pronto Patr�cia se refugiou na lembran�a de M�e Ded�,
<br>ali mesmo, � sua frente, a lhe dizer, em tom de reprimenda,
<br>quando j� ia pela casa o alvoro�o dos preparativos da primeira
<br>recep��o que ia dar:
<br>
<br>� Que absurdo � esse, Patr�cia? Que � que tem a Simone
<br>com a tua recep��o? Tens culpa dela estar no Sanat�rio? J�
<br>te disse, e repito agora, mais uma vez: n�o foste tu que lhe tomaste
<br>o Rodrigo, foi o Rodrigo que quis casar contigo. Nem
<br>ele tamb�m tem culpa de n�o ter casado com a Simone. N�o,
<br>n�o tem. Foi ela, com seu g�nio estranho, que n�o nasceu para
<br>casar. Al�m disso, tudo quanto aqui se faz, se faz por vontade
<br>de Deus. Foi o que te disse o Padre Revoredo, na minha
<br>presen�a. Agora, s� porque os jornais come�am a falar da festa
<br>que teu marido quer dar por teu anivers�rio, tornas a voltar
<br>com teus escr�pulos de consci�ncia? N�o v�s que � um absurdo?
<br>Um desprop�sito? Ou ser� que vais passar a vida a pensar
<br>na Simone? Por favor, acaba com isso!
<br>Sim, M�e Ded� tinha raz�o. Mas agora era diferente. Viriam
<br>as colegas da Escola Normal. Viriam os velhos professores.
<br>Somente ela, Simone, n�o seria convidada. Por um momento,
<br>levantando-se, Patr�cia pensou em voltar atr�s. S� convidaria
<br>os mesmos amigos das recep��es anteriores. Logo tornou
<br>a mudar de id�ia, acercando-se da janela sobre o parque.
<br>Como deixar de convidar as colegas e os professores, se os primeiros
<br>convites j� tinham sido feitos pela Paula e pela Inezita,
<br>e se a not�cia desses convites j� havia sido dada pelo Lucas Caetano,
<br>em destaque, com uma cercadura, na sua coluna social?
<br>
<br>Olhando dali, na dire��o da piscina, Patr�cia viu o Ludovico
<br>acompanhado por um senhor alto, que parecia medir o
<br>ch�o com os passos largos, no lugar em que o tablado ia ser
<br>montado. E de si para si, como se enraizasse no esp�rito a decis�o
<br>inflex�vel:
<br>
<br>� Convido as colegas, convido os professores. N�o, n�o
<br>volto atr�s. Acabou-se. Assunto encerado.
<br>104
<br>
<br>
<br>N�o precisou ler a folha de papel de linho, coberta de letras
<br>de imprensa, sem assinatura, para reconhecer o que continha,
<br>j� que todas as cartas an�nimas se parecem. Tamb�m
<br>Rodrigo as recebia, quase diariamente: corria os olhos em diagonal
<br>no papel, cauteloso, virava-o, via que n�o estava assinado,
<br>e logo acendia o isqueiro para convert�-lo em chama e cinza,
<br>que se desfaziam no cinzeiro de sua mesa de trabalho.
<br>
<br>Para ela, as cartas assim eram mais espa�adas. Levava semanas,
<br>e mesmo meses, sem receb�-las. De repente, finas, seladas,
<br>sem indica��o de remetente, ou com falsas indica��es,
<br>as cartas voltavam, variando de papel, variando de letra ou
<br>de tinta, mas sempre com a mesma acusa��o persistente, originada
<br>por uma data ou uma not�cia de jornal, sobre ela ou
<br>sobre seu marido.
<br>
<br>Assim: "J� fizeste a conta dos anos, dos meses, das semanas,
<br>dos dias em que tu, de teu lado, gozas a vida, enquanto
<br>a Simone, de quem lhe tomaste o noivo, padece num quarto
<br>de Sanat�rio? O que aqui se faz, aqui se paga. Espera o troco.
<br>A justi�a de Deus tarda, mas n�o falha."
<br>
<br>Ou ent�o, na correspond�ncia para o Rodrigo: "Vejo que
<br>continuas explorando o trabalho alheio. Os outros suam, nas
<br>tuas f�bricas, nas tuas empreitadas, e tu tomas fresco, metendo
<br>no bolso o dinheiro do suor alheio, como se Deus, l� em
<br>cima, n�o estivesse tomando nota. Mas o mundo vai mudar.
<br>E tu, na hora da mudan�a, estar�s na primeira lista dos que
<br>v�o pagar tudo no pared�o, ao lado de tua mulher. A Simone
<br>e eu estaremos l�. Vestidas de vermelho."
<br>
<br>Na v�spera, � noite, ao dobrar o jornal da tarde, depois
<br>de ler a not�cia dos preparativos para a recep��o dos quarenta
<br>anos de Patr�cia, Rodrigo se limitou a dizer a esta, demorando
<br>o bocejo:
<br>
<br>� Vem a� carta an�nima. Aguarda.
<br>105
<br>
<br>
<br>Logo na manh� seguinte, ap�s as suas voltas pelas alamedas,
<br>Patr�cia veio para a borda da piscina, cedo, antes que
<br>aparecessem os oper�rios para montarem o tablado, e estendeu-
<br>se na cadeira de lona, sob a corola de metal que lhe protegia
<br>
<br>o rosto contra o sol forte.
<br>Cedendo � leve sonol�ncia que sempre lhe vinha depois
<br>da caminhada, cerrou as p�lpebras, deixou-se estar quieta. Em
<br>seu redor a manh� ia crescendo, com muita luz, muito canto
<br>de p�ssaros, muito sussurro de vento, at� que, por cima dos
<br>ru�dos circundantes, ouviu os passos do Ludovico na escada.
<br>Alongou o olhar para ele e viu que trazia na m�o o correio
<br>e os jornais.
<br>E o Ludovico, mostrando-lhe as cartas:
<br>
<br>� Quer que abra os envelopes?
<br>Com um gesto, Patr�cia lhe disse que n�o. E mostrando
<br>o tamborete ao seu lado:
<br>� Deixe as cartas a�, com a esp�tula.
<br>E os passos dele ainda ressoavam na borda da piscina, voltando
<br>pelo caminho estreito e florido que levava � escada de
<br>m�rmore, quando Patr�cia segurou um envelope azul-claro, em
<br>fino papel de linho. Sentiu que seu cora��o se contra�a. Seus
<br>olhos percorreram o sobrescrito em caracteres de imprensa, muito
<br>bem desenhado, na tinta preta de uma esferogr�fica, e
<br>adivinhou:
<br>
<br>� � da Evangelina.
<br>Virou o envelope, em busca do remetente, e deu com o
<br>espa�o em branco. Por um momento, pensou em atirar a carta
<br>ao cesto de pap�is, rasgada em pedacinhos, sem l�-la. E como
<br>a curiosidade foi mais forte, avivando-lhe as pupilas,
<br>contraindo-lhe as sobrancelhas, empunhou a esp�tula,
<br>introduziu-lhe a ponta numa abertura lateral.
<br>
<br>A folha azul, muito bem dobrada, e mesmo perfumada,
<br>saiu de dentro do envelope, lembrando-lhe a feiticeira que emerge
<br>do gargalo da botija, no conto �rabe que tinha lido no tempo
<br>da Escola Normal. A princ�pio, com o rosto da princesa
<br>bonita; depois transfigurando-se, com o nariz adunco, o rosto
<br>enrugado, as m�os em garra, magra, os olhos duros, a voz rou
<br>
<br>
<br>106
<br>
<br>
<br>ca, que a Simone por vezes imitava para que ambas se pusessem
<br>a rir, tarde da noite, no tempo das provas.
<br>
<br>A vista inquieta de Patr�cia percorreu depressa as linhas
<br>sucessivas, e logo a m�o nervosa voltou a folha, com a mesma
<br>pressa, a mesma repulsa. N�o podia dar import�ncia �quele
<br>papel perverso. N�o, n�o podia. Tinha de rasg�-lo, de atir�-lo
<br>ao cesto, com asco, com nojo, sentindo que a revolta lhe afogueava
<br>o rosto. E no esfor�o para dominar-se:
<br>
<br>� N�o posso fazer o jogo da Evangelina.
<br>N�o, n�o podia. Por que irritar-se com semelhante mis�ria?
<br>Mas o papel acusativo continuava a teimar na sua m�o
<br>tr�mula. E se n�o fosse da Evangelina? Se fosse de outra colega,
<br>dissimulada, sonsa, fingida, e que, por um lado faria o papel
<br>de sua amiga, af�vel, risonha, sol�cita, enquanto por tr�s, perversamente,
<br>se deleitaria em desenhar aquelas letras, naquele
<br>papel, com aquela tinta, sabendo que ia feri-la no �ntimo de
<br>seu ser, com a mesma hist�ria, a mesma ladainha: Simone infeliz,
<br>num Sanat�rio, e ela, Patr�cia, casada, rica, naquela casa,
<br>e com sa�de, a lhe servir de contraste, depois de lhe tomar
<br>
<br>o noivo.
<br>Quase a palavra r�spida lhe saiu da boca, num protesto,
<br>num desabafo, mas Patr�cia conseguiu dominar-se, rasgando
<br>depressa a carta, o envelope, o selo, enquanto pensava na Ermelinda,
<br>na Dulce, na Teresa, na Doralice, e passando rapidamente
<br>de uma para outra, ao mesmo tempo em que repelia
<br>a suspeita, dizendo consigo, com o papel picado na concha
<br>da m�o:
<br>
<br>� N�o, n�o pode ser. Tem de ser outra.
<br>E perplexa, confusa, despejando o papel rasgado na lata
<br>em que o jardineiro tinha posto os ramos, as folhas secas e
<br>as flores murchas, na poda da manh�:
<br>
<br>� Mas quem? Quem, meu Deus?
<br>A Evangelina, n�o. O que tinha de fazer, fazia-o de frente,
<br>sem se esconder: pegaria o telefone, diria o que lhe viesse
<br>� ponta da l�ngua. Jamais ficaria a um canto, desenhando letras,
<br>para compor uma carta an�nima. Fazia-lhe essa justi�a.
<br>A Carmencita? Coitada, uma mosca morta. A Ros�lia? Que
<br>esperan�a! Ent�o quem? Toda a turma, incluindo a Inezita e
<br>
<br>107
<br>
<br>
<br>a Paula, subia-lhe � consci�ncia, � maneira da poeira que dan�a
<br>no ar ao longo da faixa de luz, e Patr�cia sombreou o olhar,
<br>apertando as t�mporas com a sensa��o opressiva de que a cabe�a
<br>lhe ia rebentar.
<br>
<br>Conquanto houvesse lido a carta de relance, com a sensa��o
<br>de que o ar lhe faltava, tinha-a apreendido em todo o
<br>seu conte�do, como se tornasse a t�-la diante dos olhos. Ao
<br>voltar a cadeira de lona para aproveitar a tepidez suave do sol
<br>da manh�, a mem�ria lhe restituiu textos esparsos da folha dobrada,
<br>e que a acusavam, a insultavam, um deles mais que todos,
<br>e que parecia ampliar-se � sua frente, suspenso no ar: "E
<br>pensas que alguma de n�s, que bem te conhecemos, vai assistir
<br>� tua palha�ada? Que nos prestamos, como cordeirinhos,
<br>ao capricho de tuas farsas? Todas n�s, a� na tua casa, de vestido
<br>comprido, em volta da rainha, que serias tu? � para isso
<br>que nos queres a�? Como se n�o soub�ssemos que a tua boa-
<br>vida custou a desgra�a da pobre Simone, condenada por tua
<br>trai��o a passar o resto de seus dias num Sanat�rio? Por favor,
<br>cria vergonha, j� que a idade n�o te deu sentimentos!"
<br>
<br>Sempre a Simone. Sempre. Como um eco. Como uma
<br>sombra. Tudo servindo de pretexto para lembr�-la, como se
<br>estivesse no ar, no ru�do do vento, na surpresa dos caminhos
<br>em seu redor. Por que isso, meu Deus? Por toda parte, ela. A
<br>cada momento, ela. A Simone onipresente. E como se n�o bastasse
<br>tudo quanto, � sua volta, constitu�a pretexto para sentila
<br>de volta, com a mesma palidez, os mesmos olhos negros,
<br>a mesma risca do cabelo, a mesma voz, sonhara com ela nas
<br>duas �ltimas noites. No sonho da v�spera, vira-a com tal nitidez
<br>que acordara assustada, com a impress�o perfeita de que
<br>Simone estava � sua frente, a lhe dizer:
<br>
<br>� Sim, sim, eu te odeio, Patr�cia. Se eu pudesse te matar,
<br>te matava. Te castigava. Te fazia sofrer. O que fizeste comigo,
<br>n�o se faz. �ramos mais que amigas: quase irm�s. Por
<br>ti eu daria a minha vida. Daria. Sei que daria.
<br>Viera mais para a frente, segurara-lhe os ombros. Patr�cia
<br>chegara a sentir-lhe a respira��o arfando e os seus dedos
<br>a lhe apertarem a carne, agressivos, enquanto a mesma voz de
<br>outrora, levemente alterada, subitamente crescia:
<br>
<br>108
<br>
<br>
<br>� O que me fizeste, h�s de pagar. Qualquer uma de nossas
<br>colegas podia ser incorreta comigo; tu, n�o.
<br>Durante todo o dia a carta cruel teimou no seu esp�rito,
<br>obsessiva, persistente, como se estivesse associada para sempre
<br>� sua mem�ria, e � noite, pela madrugada, entrou-lhe pelo
<br>sono, j� agora com a pr�pria Simone confirmando-lhe as
<br>mis�rias. T�o impetuosa foi a rea��o de Patr�cia, no impulso
<br>de sua corre��o e de seu brio, que deu por si sentada na cama,
<br>enquanto respondia � Simone.
<br>
<br>� E em que � que fui incorreta, se tu mesma me disseste
<br>que n�o te casarias? E se o Rodrigo tamb�m me disse que em
<br>hip�tese alguma se casaria contigo? E que tudo quanto tinha
<br>ocorrido entre voc�s n�o havia passado de uma troca de amabilidades
<br>e gentilezas? E mais: que, se por acaso, casasse contigo,
<br>na semana seguinte estaria separado, tanto por tua iniciativa
<br>quanto por iniciativa dele. Agora, me ouve: quando o
<br>Rodrigo me prop�s casamento, fiz que minha m�e conversasse
<br>com a tua, antes que eu te falasse. E quando eu ia te falar,
<br>no p�tio da Escola Normal, como foi que reagiste? Sim, como
<br>foi? Dando-me uma bofetada, antes que te contasse tudo.
<br>Eu podia te bater tamb�m, porque sou mais forte do que tu.
<br>Mas me limitei a te segurar os punhos, olhando-te de frente,
<br>com raiva, e tamb�m com pena de ti.
<br>Num sonho anterior estava ela, Patr�cia, numa esquina
<br>do centro da cidade, esperando pela Simone. O tempo passava,
<br>e a Simone n�o aparecia. J� come�ava a anoitecer. Teria
<br>de passar a noite ali, sempre � espera? Ou seria melhor ir embora?
<br>Os carros iam e vinham, com os �nibus repletos, sempre
<br>com o guarda de tr�nsito no meio da rua, a agitar os bra�os,
<br>soprando um apito � maneira de um regente disciplinando
<br>os ru�dos sucessivos que por vezes cresciam, nervosos, irritados,
<br>para abrandar um pouco, no breve hiato da mudan�a
<br>de sinais.
<br>
<br>E Patr�cia, na volta da rua, de uniforme, � espera. Debalde
<br>mudava a dire��o do olhar, esperando ver a Simone a cada
<br>instante. Afinal, quando a outra chegou, deu-lhe o bra�o, risonha,
<br>efusiva, para atravessarem a rua, e logo o sinal de tr�nsito
<br>mudou, de modo que toda a massa de ve�culos se precipi
<br>
<br>
<br>109
<br>
<br>
<br>tou sobre as duas � maneira de um rebanho de cavalos a galope.
<br>Um dos carros apanhou Simone, f�-la subir no ar para
<br>arremess�-la na outra cal�ada, por entre os gritos da Patr�cia,
<br>que de pronto despertara, suando muito, exausta, com a impress�o
<br>de que trazia a Simone nos bra�os, desacordada.
<br>
<br>E o Rodrigo, nesse momento, erguendo do travesseiro a
<br>cabe�a sonolenta, a olhar Patr�cia com espanto:
<br>
<br>� Que � que se passa contigo?
<br>� Tive um pesadelo. Sonhei com a Simone, desmaiada
<br>nos meus bra�os, e me pareceu que ela estava morta.
<br>Ele lhe trouxe um pouco de �gua, e foi sobre a Simone
<br>que ela e o Rodrigo conversaram no crep�sculo da madrugada,
<br>porque o novo dia j� vinha apontando, com a sua claridade
<br>fosca a se insinuar pelas vidra�as das janelas no quarto
<br>fechado.
<br>
<br>E ela, para ele, pela manh�, � mesa do caf�:
<br>
<br>� H� dias em que a todo momento me lembro da Simone.
<br>A cada instante parece que a tenho diante dos olhos. Tudo
<br>� pretexto para que me lembre dela. � como se a Simone estivesse
<br>aqui, ou na rua, ou no cinema, ou na �pera. J� a vi num
<br>t�xi. Na janela de um sobrado. E saindo de uma loja. Houve
<br>um dia em que telefonei para o Sanat�rio, sem dar meu nome,
<br>s� para saber se a Simone estava l�. Estava. Mas eu a tinha
<br>visto de relance, num segundo, aqui, e a perdera de vista. A verdade
<br>� que, apesar de tudo que houve entre n�s, h� momentos
<br>em que tenho saudade dela. Saudade, e pena.
<br>Tinha pena dela, realmente. Chegava mesmo a busc�-la
<br>em suas recorda��es, para lhe sentir a m�o fina e fria na sua
<br>m�o; fitar-lhe o rosto puro e belo, com um modo muito seu
<br>de voltar a cabe�a; olh�-la pelo canto dos olhos, prestimosa,
<br>desvelada, como s� ela sabia ser, sobretudo quando lhe dizia
<br>
<br>o nome, chamando-a, com a demora da voz na vogal mediana:
<br>� Patr����cia. � Como esquecer as m�sicas que a Simone
<br>tocava? Uma noite... Nunca esqueceria essa noite... Como se
<br>se tratasse de uma noite real, intensamente vivida. Simone, na
<br>camisola transparente, na sa�a repleta de colegas e de professores,
<br>estava sentada ao piano, alheada do mundo em seu re110
<br>
<br>
<br>
<br>dor, e tocava, e tocava, e tocava, at� que, j� com o dia faiando.
<br>D. Zita a tirou dali:
<br>
<br>� Venha mudar de roupa, minha filha. Voc� est� quase
<br>nua.
<br>E houve mesmo uma tarde (fazia agora tr�s meses) em que,
<br>de repente, Patr�cia deu por si, como outrora, subindo a escada
<br>do p�tio para a sala de aula, na companhia da Simone.
<br>Riam, falavam baixo, cochichando. Tudo n�tido, de uma nitidez
<br>real. Como se n�o fosse um simples capricho da mem�ria.
<br>E t�o forte, e t�o profundo, que ao se ver sentada na poltrona
<br>da saleta, com uma revista no rega�o, � espera do marido,
<br>Patr�cia entrela�ou os dedos sobre os seios, emocionada,
<br>e se p�s a chorar.
<br>
<br>111
<br>
<br>
<br>QUINTO CAP�TULO
<br>
<br>1
<br>
<br>Mais uma vez as cenas se repetiriam: ela, no quarto do
<br>hotel, sem saber o que faria de si mesma, depois de ter percorrido
<br>as lojas e butiques dos arredores, enquanto o Rodrigo andaria
<br>a tratar de seus neg�cios, freq�entemente sem dispor sequer
<br>de tempo para almo�arem juntos, no restaurante do pr�prio
<br>hotel. Ou ent�o, se a levava para almo�ar com ele, na companhia
<br>de banqueiros, clientes ou fornecedores, infinitamente
<br>maior era o t�dio em que ela se debatia, sem saber ao menos
<br>
<br>o que conversar.
<br>Por fim, acabara por dizer ao marido:
<br>� Prefiro ficar na minha cidade, na minha casa.
<br>Na verdade, ap�s tantos anos de casados, j� Patr�cia conhecia
<br>o mundo inteiro. Andara por terras pr�ximas e distantes,
<br>vira grandes e pequenas cidades, ora de avi�o, ora de navio,
<br>ora de trem, e mesmo de �nibus e de autom�vel, sempre
<br>com ele ao seu lado. Em Paris, chegara a passar seis meses seguidos.
<br>E outro tanto em Nova Iorque, em Roma, em Buenos
<br>Aires, no Rio de Janeiro.
<br>
<br>Entretanto, ainda por algum tempo, o Rodrigo insistiu em
<br>traz�-la consigo. Mas era debalde que lhe sugeria programas
<br>avulsos, como teatros, cinemas e pequenas excurs�es em grupo,
<br>nas ocasi�es em que Patr�cia preferia ficar no hotel.
<br>
<br>E uma noite, quando ele tinha ido repentinamente a Washington,
<br>a chamado do Departamento de Estado, deixando-a
<br>em Nova Iorque, ela recebera o telefonema do Ludovico, em
<br>meio � madrugada.
<br>
<br>113
<br>
<br>
<br>� Sou eu mesmo, D. Patr�cia. Queria falar primeiro com
<br>o Dr. Rodrigo. J� que o Dr. Rodrigo n�o est� a�, sou obrigado
<br>a falar mesmo com a senhora. Por favor, me perdoe o que lhe
<br>vou dizer. Tenho uma not�cia triste a lhe dar. Trist�ssima. Infelizmente.
<br>Dessas que nos ferem a alma. Que abalam. Que desorientam.
<br>Mas que tamb�m nada mais s�o do que a alta vontade
<br>de Deus.
<br>E ela, gritando, no auge do desespero:
<br>
<br>� Por favor, Ludovico: diga logo o que �.
<br>Um sil�ncio. Longo. Quase solene. E ele, em tom desolado:
<br>� Foi M�e Ded�, minha senhora. Est� com Deus. Melhor
<br>do que n�s. Descansou. Est� na mans�o dos justos, como
<br>diz o Padre Revoredo. Melhor do que n�s, neste vale de
<br>l�grimas.
<br>Ah, a luta dela para saber como tudo havia acontecido.
<br>O imprevisto. As horas passando. M�e Ded� no seu quarto.
<br>Ela, que sempre acordava muito cedo, e ia tomar na cozinha
<br>
<br>o seu primeiro caf�, para ir rezar na capelinha, se fazia bom
<br>tempo. Ou para andar pela varanda, dez minutos, vinte minutos,
<br>meia hora, em sil�ncio, torcendo as contas de seu ter�o,
<br>se o vento frio soprava ou se ca�a a chuva. Sempre o quarto
<br>fechado. E as horas passando.
<br>Ele, Ludovico, pensara chamar a Rosa, para bater-lhe na
<br>porta. De momento, a terr�vel suspeita. E se ainda acudisse
<br>em tempo? N�o: nada de descer para chamar a Rosa. Bateu
<br>uma vez, duas, tr�s. Forte. Chamando por M�e Ded�. Afinal,
<br>nervoso, com a chave-mestra, que abria todas as portas, tateara
<br>a fechadura, achara o orif�cio da chave, torcera a chave, e
<br>� sua frente, na luz forte da manh�, M�e Ded� ca�da ao ch�o,
<br>ao p� da cama. Morta. Infelizmente.
<br>
<br>E como remate, como em busca de um conforto para o
<br>pranto da filha, as palavras convictas:
<br>
<br>� Teve uma bela morte, D. Patr�cia. Morreu como um
<br>passarinho. A Rosa chamou o m�dico do Pronto-socorro. E
<br>ele confirmou tudo: um colapso card�aco. R�pido. Fulminante.
<br>A despeito do longo tempo transcorrido � mais de quinze
<br>anos �, Patr�cia recordava com nitidez a sua ang�stia no
<br>quarto do hotel, primeiro tentando localizar o Rodrigo em Wash
<br>
<br>
<br>114
<br>
<br>
<br>ington, para lhe pedir que viesse urgentemente ao seu encontro;
<br>depois, tentando conseguir uma passagem a�rea, nos avi�es
<br>que partiriam pela manh�, de modo que pudesse assistir ao
<br>sepultamento de M�e Ded�; S� quase ao fim da madrugada,
<br>acabara por falar com o Rodrigo; mas este, com todos os seus
<br>empenhos, nada conseguira, nem mesmo o pequeno avi�o que
<br>pretendera contratar para a viagem urgente. Foi ent�o que o
<br>marido lhe sugeriu mandarem embalsamar M�e Ded�, ao que
<br>a filha logo se op�s: que tudo seguisse as determina��es da
<br>natureza. De Nova Iorque, o Rodrigo orientara as provid�ncias
<br>finais do enterro, apenas com a assist�ncia do Padre Revoredo,
<br>sem coroas nem an�ncios f�nebres.
<br>
<br>� missa de s�timo dia, celebrada pelo Cardeal na catedral
<br>g�tica, com a presen�a do Presidente da Rep�blica, n�o
<br>somente a nave ficara repleta, tamb�m pelo adro e pelas capelas
<br>laterais a multid�o se comprimia, e isto levou o Lucas Caetano
<br>a reconhecer que dificilmente haveria mais gente noutra
<br>cerim�nia religiosa, mesmo para uma boda ou para um Te
<br>Deum, ainda que cantasse a Maria Callas.
<br>
<br>E foi ao voltar da missa que Patr�cia comunicou ao Rodrigo
<br>a sua determina��o de n�o tornar a acompanh�-lo nas
<br>viagens de neg�cios:
<br>
<br>� Al�m de ficar s� no hotel, sem ter o que fazer, me sinto
<br>sobressaltada, assim que ou�o o telefone chamar. Na pen�ltima
<br>viagem, houve o come�o de inc�ndio na garagem; agora,
<br>morreu M�e Ded�. Antes do inc�ndio, morreu-nos o filho
<br>do jardineiro, que ajudava o pai. Prefiro ficar em casa � tua
<br>espera.
<br>Na casa imensa, tudo parecia impregnado da presen�a de
<br>M�e Ded�, notadamente seu quarto amplo, ao p� da escada
<br>em caracol que levava ao mirante, e que permaneceria fechado
<br>mais de anos, tal como a morta o deixara, com a cadeira
<br>de balan�o, a cama, a m�quina de costura, o Santo Ant�nio
<br>de sua devo��o, a c�moda de argol�es de bronze, o retrato de
<br>M�e Ded�, a �leo, entre as duas janelas, e mais a soberba papeleira
<br>em que ela guardava as receitas de doces, os recortes
<br>de jornais, as fotografias da filha, al�m da mesinha de centro
<br>com um jarro azul que ela pr�pria floria, todas as manh�s.
<br>
<br>115
<br>
<br>
<br>Consigo mesma, sem nada dizer ao Rodrigo, Patr�cia tinha
<br>a impress�o de que, ao descerrar o aposento, iria dar com
<br>M�e Ded� ca�da ao ch�o, ou ao comprido da cama, morta.
<br>E esse temor levava-a mesmo a desviar-se do corredor que levava
<br>� escada do mirante, como se quisesse ignorar aquela parte
<br>da casa. E o mais estranho � que, com o passar do tempo, esse
<br>medo persistia, por vezes mais intenso, n�o mais como uma
<br>suspeita, e sim como uma certeza.
<br>
<br>Meses a fio, Patr�cia continuou com a impress�o de que
<br>M�e Ded� permanecia na casa, com seus velhos h�bitos, ora
<br>sentada a um canto da varanda ensolarada, com seu bordado
<br>ou seu tric�; ora subindo a escada do parque, apoiando-se no
<br>corrim�o; ora saindo da capelinha, pelo fim da tarde, depois
<br>de ter rezado o seu ter�o.
<br>
<br>Mais de uma vez, sentada � escrivaninha, no aconchego
<br>de sua saleta, Patr�cia teve a certeza de que, se levantasse depressa
<br>a vista, iria dar com M�e Ded� na posi��o em que costumava
<br>ficar enquanto a filha escrevia � de p�, por tr�s do
<br>tampo corrido, com a m�o no queixo, vendo a pena correr no
<br>papel. Nessas ocasi�es sentia o cora��o acelerado, um frio estranho
<br>lhe percorria a espinha dorsal. Afinal, criando coragem,
<br>erguia o olhar. E s� via a claridade da janela, as �rvores
<br>do parque, a alameda por onde o vento passava.
<br>
<br>De noite, se estava s�, durante as viagens do Rodrigo, redobrava
<br>de ansiedade. Chegara a pensar em pedir � Rosa que
<br>lhe fizesse companhia; mas conseguira conter-se: n�o, de modo
<br>algum. Aflita, rezava por M�e Ded�, se ouvia passos, portas
<br>batendo, assobios do vento. Quando o marido voltava, nada
<br>lhe dizia, limitando-se a pedir-lhe que espa�asse as viagens.
<br>
<br>E de repente, numa tarde de domingo, o Rodrigo veio ter
<br>com ela, na sua saleta, para lhe dizer:
<br>
<br>� Hoje, indo ao mirante, por acaso, dei com o quarto
<br>de M�e Ded� fechado. E soube que est� fechado desde que ela
<br>morreu. Mandei abrir tudo, escancarei portas e janelas, para
<br>que ali entrasse o sol e o vento.
<br>E ante o sil�ncio de Patr�cia, que o olhava, at�nita:
<br>
<br>� A Rosa e o Ludovico foram r�pidos, com a ajuda de
<br>116
<br>
<br>
<br>um dos vigias da casa, e o certo � que, ao descer do mirante,
<br>j� tudo estava limpo e em ordem, com o quarto restitu�do �
<br>vida da casa.
<br>
<br>E com o cigarro no canto da boca, assim que acendeu o
<br>isqueiro:
<br>
<br>� A Rosa tirou dali as roupas velhas, para mandar a uma
<br>casa de caridade, e o Ludovico se encarregou de mudar a arruma��o
<br>dos m�veis, para dar uma fei��o mais desafogada ao
<br>quarto espa�oso. Agora quero que olhes tudo, para ver se est�
<br>a teu gosto.
<br>Ela se ergueu da poltrona, mais como uma aut�mata do
<br>que como um ser consciente, e saiu ao corredor, enquanto o
<br>Rodrigo lhe dizia, acompanhando-a:
<br>
<br>� Eu j� n�o me lembrava bem do retrato de M�e Ded�,
<br>que ali est�. � �timo. Da melhor qualidade. Acho at� que dev�amos
<br>lev�-lo para o sal�o, perto do piano.
<br>E Patr�cia, apressando o passo, como no receio de si
<br>pr�pria:
<br>
<br>� Mais tarde, Rodrigo.
<br>Perto da escada do mirante, ao ver escancarada a porta
<br>do quarto, ela quis parar, sentindo que as pernas lhe faltavam;
<br>mas amparou-se no bra�o do Rodrigo, reagindo. E como sempre
<br>viera at� ali, �quela mesma hora do cair da tarde, ver M�e
<br>Ded�, falar a M�e Ded�, levar M�e Ded� ao parque para uma
<br>volta longa nas alamedas, contornando a capelinha, ouvindo
<br>os p�ssaros, sentindo o vento que sacudia as folhas, vendo a
<br>luz se desfazer sobre as �guas da piscina, todas essas lembran�as
<br>lhe reflu�ram � consci�ncia, apertando-lhe o cora��o,
<br>gelando-lhe as m�os nervosas.
<br>
<br>E o Rodrigo, passando-lhe � frente, j� dentro do quarto,
<br>parado em frente ao retrato:
<br>
<br>� V� que maravilhas de cores, que perfei��o de tra�os,
<br>que harmonia de conjunto. N�o tenho d�vida: esse retrato de
<br>M�e Ded� � uma obra-prima.
<br>E enquanto ele falava, eloq�ente, efusivo, Patr�cia ia sentindo
<br>que seu pr�prio temor se desfazia, � medida que relanceava
<br>o olhar pela cama, pela papeleira, pela mesa de centro,
<br>pela poltroninha azul no canto da parede, com a impress�o
<br>
<br>117
<br>
<br>
<br>de que M�e Ded�, sentada naquele mesmo canto, de perna cruzada,
<br>o olhar suave que se transferira ao retrato, repetia a pergunta
<br>que tantas vezes fizera em voz alta:
<br>
<br>� Que estar� fazendo a pobre da Simone, neste momento,
<br>no Sanat�rio?
<br>E num suspiro longo, compadecida:
<br>
<br>� Tornei a sonhar com ela.
<br>2
<br>
<br>Realmente, apenas com o risco leve da casa e do parque,
<br>e mais o texto impresso no cursivo de tom azulado, nas duas
<br>folhas dobradas e altas, o convite n�o poderia ter sa�do melhor.
<br>O Rodrigo, sempre exigente em tudo, n�o hesitaria em
<br>aprov�-lo. Faria mais: telefonaria � gr�fica, para dar parab�ns
<br>ao artista que soubera fazer, de um pretexto t�o simples, aquela
<br>obra-prima.
<br>
<br>E para o Ludovico, que viera ter � piscina, sorridente, misterioso,
<br>com o convite na ponta dos dedos:
<br>
<br>� N�o podia ter ficado mais bonito.
<br>Ele agradeceu pelo gr�fico que se encarregara do trabalho,
<br>mas sem nada dizer, apenas ensaiando a v�nia com o movimento
<br>da cabe�a. E por fim, ap�s uma pausa:
<br>
<br>� Eu tamb�m penso assim. Com a sua permiss�o.
<br>Suspirou:
<br>� Agora vou ter o trabalho mais dif�cil, mais perigoso,
<br>mais complicado: a ordem da numera��o. S� eu sei o que sofro.
<br>Ano passado, s� porque lhe tocou o n�mero 26, o N�ncio
<br>Apost�lico reclamou, na hora em que lhe dei o chap�u, no fim
<br>da recep��o. Bateu-me nas costas com um sorriso for�ado que
<br>eu logo entendi: "� Ludovico, eu sou, aqui, o representante
<br>do Papa. Voc� n�o acha que Sua Santidade, como sucessor
<br>de S�o Pedro, merecia um n�mero mais baixo, logo depois do
<br>n�mero do Presidente da Rep�blica? Ou mesmo antes? Pense
<br>nisso. J� n�o digo como mordomo � como cat�lico."
<br>118
<br>
<br>
<br>Voltou a suspirar, com a prova do convite contra o peito,
<br>sorriu, resplandeceu:
<br>
<br>� Dei-lhe raz�o, senhora. E ele pr�prio me estendeu a
<br>m�o para que eu lhe beijasse o anel. Beijei, reverente. Deus,
<br>l� em cima, h� de ter visto. E h� de ter visto tamb�m a delicadeza
<br>com que ajudei Sua Excel�ncia Reverend�ssima a vestir
<br>a sua bonita capa. Uma senhora capa.
<br>Tornou a pedir licen�a, seguiu pela borda da piscina, meticuloso,
<br>vermelho e realizado, e adiante parou, como se uma
<br>lembran�a nova lhe acudisse; hesitou voltar, depois decidiu-
<br>se, e veio vindo na dire��o da cadeira pregui�osa em que Patr�cia
<br>tomava o seu banho de sol.
<br>
<br>Parou ainda distante:
<br>
<br>� A senhora permite que volte a lhe falar? N�o vai
<br>aborrecer-se com este velho mordomo? Eu sabia. Obrigado.
<br>Entre grave e risonho, deu mais quatro passos, solenes,
<br>repletos, pisando de leve, e novamente parou, a um metro da
<br>cadeira, com os olhos baixos, como a dar raz�o ao recato com
<br>que Patr�cia escondera as coxas na dobra da toalha:
<br>
<br>� Leu hoje a coluna do Sr. Lucas Caetano? Faz uma refer�ncia
<br>a mim, senhora. A mim. Quando a li, n�o quis acreditar.
<br>Eu, Ludovico Amarante, na coluna social? Fui � esquina,
<br>ao quiosque dos jornais, e comprei mais cinco. Com a tesourinha
<br>de unhas, cortei a not�cia, que aqui est�. Um exagero,
<br>senhora. Mas que d� gosto ler. Fiquei feliz. Fiquei. Ganhei
<br>o meu dia. O Sr. Lucas Caetano � mesmo um cavalheiro. Um
<br>cavalheiro. Chama-me pr�ncipe dos mordomos. E mais: diz que
<br>o respons�vel pela escolha dos vinhos em nossas recep��es sou
<br>eu. E como sou eu, a escolha n�o poder� ser melhor. Veja a
<br>senhora. Fiquei vermelho. Cheguei a cantarolar. S� sei que me
<br>esfor�o para tudo sair perfeito. Ou mais que perfeito.
<br>Esperou que Patr�cia lesse a not�cia, recebeu de volta o
<br>recorte, tratou de recolher outro louvor:
<br>
<br>� Muito bondoso o Sr. Lucas Caetano. Muito. E exagerado.
<br>Sou o primeiro a reconhecer e proclamar. N�o quero provocar
<br>ci�mes. Sei o que valho. Conhe�o o meu lugar.
<br>E Patr�cia, voltando a alongar as pernas na pregui�a da
<br>cadeira:
<br>
<br>119
<br>
<br>
<br>� A opini�o do Lucas Caetano � tamb�m a minha opini�o
<br>e a opini�o do Rodrigo, Ludovico. O louvor � merecido.
<br>Parab�ns.
<br>Ludovico ficou uns momentos de cabe�a inclinada, p�lpebras
<br>descidas, m�o no peito, no gozo mudo do elogio. E
<br>quando p�de falar:
<br>
<br>� N�o tenho palavras, senhora. N�o, n�o tenho. S� lhe
<br>posso dizer, para exprimir minha gratid�o, � que a vida � boa.
<br>N�o quero ser mais do que sou. N�o, n�o quero. Sou um homem
<br>simples, de pouco querer. E recebi de Deus mais do que
<br>pedi. Muito mais.
<br>Nova pausa. E tornando a erguer os olhos felizes:
<br>
<br>� Sabe a senhora com quem me encontrei hoje na casa
<br>dos vinhos? Com aquela Embaixatriz gorda, que a chuva molhou
<br>demais, no famoso temporal que fez toda gente correr
<br>aqui para cima. Me lembrei dela quando vinha subindo a escada
<br>do parque, e fiquei a rir sozinho, sem querer, enquanto
<br>me recordava do Sr. Embaixador, molhado como um pinto,
<br>a lhe segurar o bra�o e a lhe pedir: � Sobe mais depressa, Encarnaci�n.
<br>Por favor, mais depressa. � E ela: � Mais depressa
<br>como, se eu estou dando o m�ximo, com medo de escorregar
<br>e cair?
<br>Soltou por um momento o riso, que se lhe derramou pela
<br>cara aumentada, e de s�bito tornou a ficar s�rio:
<br>
<br>� Perd�o, Sra. D. Patr�cia. Mil perd�es. N�o sei como
<br>foi isso. N�o, n�o sei. Me desculpe. N�o devia ter rido. N�o,
<br>n�o devia.
<br>Os m�sculos do rosto, principalmente nos cantos da boca,
<br>pareciam tensos, no esfor�o para reprimir as emboscadas
<br>do riso aberto e frouxo, que estaria � flor da pele, pronto a
<br>novos arremessos, para desfazer-lhe num momento a sisudez
<br>obstinada. E essa obstina��o se fazia sentir nos dedos da m�o
<br>vigorosamente entrela�ados, e que se comprimiam, se apertavam,
<br>se contorciam, enquanto um leve vest�gio hilariante continuava
<br>a teimar na cara fechada, ao lume das pupilas.
<br>
<br>E ele, comprimindo contra as costelas o convite sobra�ado:
<br>
<br>� Como eu ia dizendo,�encontrei-me, na casa dos vinhos,
<br>com a Sra. Embaixatriz, a gorda, a que teve de mandar buscar
<br>120
<br>
<br>
<br>em casa um novo vestido. A Sra. Dona Encarnaci�n. Grande.
<br>Cheia de busto. Olhos redondos e pulados. Assim que ela me
<br>viu, na casa dos vinhos, a olhar o r�tulo das garrafas, bateu-
<br>me no bra�o com a ponta do leque e me perguntou se eu n�o
<br>era o mordomo daqui, como estava pensando. Confirmei. E
<br>ela, com o lornh�o na frente dos olhos: � Vais-me fazer um
<br>favor. Ou melhor: vais me dar um recadinho para a tua senhora
<br>e minha querida amiga Patricia. Quero que lhe digas que eu,
<br>que ia viajar na semana do anivers�rio dela, acompanhando
<br>meu marido, o Embaixador, chamado ao nosso pa�s pelo Presidente
<br>da Rep�blica (o novo, que assumiu h� dois meses), cancelei
<br>a viagem, juntamente com o meu marido, s� para estarmos
<br>aqui na grande noite da recep��o de nossa querida amiga.
<br>Ouviste bem? � Eu, para ser rigorosamente fiel, abri meu
<br>caderninho, tomei nota das palavras dela. Palavra de diplomata
<br>� palavra de diplomata. E ela, assim que eu ia fechando
<br>
<br>o caderninho: � Espera um momento. L� o que escreveste.
<br>� Li. E ela, aprovando: � � isso mesmo. Mas n�o te esque�as
<br>de dizer com for�a, na hora do recado, o nossa querida amiga.
<br>Com alma. Com calor.
<br>O riso teimoso, at� ent�o contido, irrompeu de chofre, �
<br>fei��o da pilha de enlatados que desmorona, e desfez num momento
<br>a sisudez do Ludovico, avermelhando-lhe a cara,
<br>escancarando-lhe a boca, e contagiando Patr�cia, que tamb�m
<br>se p�s a rir, balan�ando o corpo para a frente e para tr�s, ambos
<br>de olhos molhados, at� que o Ludovico, ainda rindo, e envergonhad�ssimo,
<br>atirou-se para a escada, como a fugir de si
<br>mesmo, e l� se foi, pulando os degraus de m�rmore, ainda �s
<br>gaitadas.
<br>
<br>Mais tarde, � hora em que ia fechar as janelas, reapareceu-
<br>lhe de cabe�a baixa, m�o no peito, pesaroso, para pedir � Sra.
<br>
<br>D. Patr�cia, como uma caridade, que lhe perdoasse a
<br>gargalhada.
<br>E sisudo, com ar abatido:
<br>
<br>� Isso nunca me aconteceu. Amanh� mesmo, cedo, vou
<br>ao m�dico.
<br>121
<br>
<br>
<br>3
<br>
<br>Ela riu alto, sacudindo para tr�s os cabelos soltos, sem
<br>se afastar do telefone. E reclinada na poltrona, com as pernas
<br>estiradas, os p�s descal�os, apoiando no tapete os calcanhares:
<br>
<br>� Tua lista de convidados est� diante de mim. Eu a recebi
<br>no meio da tarde, quando ia sair. Li-a no carro, a caminho
<br>da cidade. Tens sido maravilhosa, Inezita. E a Paula tamb�m.
<br>Sem voc�s duas, eu n�o saberia o que fazer. A Paula por um
<br>lado, tu pelo outro, e todas as colegas estar�o contactadas at�
<br>o fim da semana. Estupendo. Meus parab�ns. E olha que a
<br>nossa turma foi a maior de toda a hist�ria da Escola Normal.
<br>E ap�s uma pausa, endireitando-se na poltrona:
<br>
<br>� E a rea��o de todas? Boa? M�? Sofr�vel? Como a nota
<br>das provas?
<br>E ora crispando o semblante, ora desanuviando-o, sempre
<br>atenta, por vezes chegando mais para junto da orelha o
<br>aparelho como se quisesse ouvir melhor, manteve-se calada,
<br>escutando, sem ouvir os ru�dos da noite � sua volta, enquanto
<br>as sombras se iam adensando l� fora, no parque deserto, sob
<br>
<br>o c�u que se estrelava.
<br>E reagindo, ap�s uns momentos de perplexidade, em que
<br>reduziu os olhos a uma fresta horizontal, contraiu as p�lpebras:
<br>
<br>� Se h� quem n�o queira vir, paci�ncia. As outras vir�o.
<br>Achas que eu mesma deva telefonar, insistindo? Ou � melhor
<br>ficar quieta no meu canto, sem tomar conhecimento da recusa?
<br>E alteando a cabe�a, com um semblante crispado:
<br>
<br>� A Justina tamb�m? O que � que est�s me dizendo, Inezita!
<br>Meu Deus, que horror! A vontade que eu tenho � de telefonar
<br>para ela. N�o, n�o vou fazer isso. Fica descansada. Na
<br>Escola Normal, quando me afastei da Simone, quis tamb�m
<br>ser minha amiga. Foi a primeira que veio � minha casa, no
<br>dia em que a Simone me agrediu no p�tio do recreio. N�o, n�o
<br>� verdade. Nunca a Simone pagou meu col�gio. A mesada que
<br>meu pai me dava, e mais as costuras e bordados de M�e Ded�,
<br>atendiam perfeitamente � minha educa��o. Se a Simone me
<br>122
<br>
<br>
<br>dava �s vezes um livro, um vestido, um vidro de perfume, eu,
<br>do meu lado, tamb�m retribu�a, sem falar que era M�e Ded�
<br>que lhe fazia os vestidos, e sem nada cobrar. E que � que a
<br>Justina tem com isso? E depois de tantos anos? Risca a Justina.
<br>Que ela fique para l�, corri a sua inveja e o seu rancor, e
<br>eu, aqui, com o meu marido e a minha vida.
<br>
<br>Novo sil�ncio, longo, demorado, at� que o semblante de
<br>Patr�cia se descontraiu, querendo sorrir. E logo depois:
<br>
<br>� A Lourdes? Como n�o havia de me lembrar? Lembro-
<br>me, e muito. Muito alta, e de ombros ca�dos, peituda, voz grossa,
<br>o l�bio superior levantado mostrando os dentes, um sinal
<br>de cabelo no queixo. A Simone gostava de dizer, com ar de
<br>riso, que a Lourdes se parecia com o mamoeiro macho de seu
<br>quintal. E parecia mesmo. Alta, como se espiasse por cima do
<br>muro. Quando ria, desmanchava-se toda. Um dia, vendo-a rir,
<br>Simone comentou: � Hoje, � o mamoeiro na ventania.� Tu
<br>lhe telefonaste? E ela? Tamb�m perguntou pela Simone? Essa
<br>n�o perguntou? Ainda bem. Vamos l�: tu lhe falaste de meu
<br>convite, e ela? Como? N�o se lembrava de mim? N�o � poss�vel.
<br>Fez um ar de espanto, e perguntou: � Que Patr�cia? �
<br>Mas meu nome est� todo o dia nos jornais e nas revistas. Contado
<br>� o dia em que n�o se fala de mim no r�dio e na televis�o.
<br>Como � que a Lourdes se esqueceu de mim? E da�? Ficou
<br>de te telefonar, para poder pensar no assunto? Que calhorda.
<br>Se ela telefonar, para dizer que afinal lembrou quem � a Patr�cia,
<br>podes lhe dizer que, agora, sou eu que n�o me lembro dela.
<br>Logo reagiu, senhora de si:
<br>
<br>� N�o, n�o lhe digas nada. Se ela prefere ignorar-me como
<br>se n�o soubesse mais quem eu sou, eu por meu lado levo
<br>a vantagem de me lembrar dela. E com uma ponta de saudade.
<br>Assim que rep�s o fone no descanso do aparelho, Patr�cia
<br>sentiu necessidade de andar, de sair da sala, de espairecer,
<br>de respirar mais fundo, e p�s-se a caminhar ao comprido da
<br>varanda que acompanhava o fundo da casa, com seus lampi�es
<br>acesos, seus toldos, seus balan�os, suas cadeiras de vime, e por
<br>onde corria agora a vira��o da noite.
<br>
<br>De ouvido atento aos ru�dos do port�o, para sentir a chegada
<br>do marido, acabou por sentar-se num dos balan�os, e ali
<br>
<br>123
<br>
<br>
<br>ficou por uns momentos, escutando o rangido met�lico da corrente
<br>de ferro que segurava a prancha de madeira, sempre que
<br>ia e voltava, ia e voltava, apenas com a ponta do p� direito
<br>a apoiar-se nos mosaicos do ch�o.
<br>
<br>Por cima das �rvores, ao fundo da alameda que levava
<br>� capelinha, subia agora o risco de luz da lua nova, por entre
<br>
<br>o cricri dos grilos e o ru�do constante das folhas que o vento
<br>sacudia. Mais tarde, na casa adormecida, ouviria tamb�m o
<br>apito espa�ado da ronda noturna, o latido dos c�es, o rumor
<br>de um carro na dobra da rua, o ru�do ritmado de passos nas
<br>cal�adas, enquanto esperaria que o sono chegasse, pesando-
<br>lhe as p�lpebras.
<br>O sil�ncio circundante, as sombras aglomeradas no ermo
<br>do parque, as luzes refletidas nas �guas da piscina, o recorte
<br>do coreto, as �rvores im�veis, a suave vira��o da noite, tudo
<br>em seu redor lhe sugeria a serenidade e a paz, por�m seu rosto
<br>tornava a concentrar-se nos olhos parados, e ela acabou por
<br>sustar o movimento do balan�o, esquecida da inveja da Justina,
<br>do despeito da Lourdes, do �dio da Ermelinda, da ira da
<br>Simone, do p�tio do recreio, da sala de aula. E voltando a caminhar
<br>ao comprido da varanda, interrogou-se:
<br>
<br>� A Ros�rio? E eu n�o soube nada?
<br>Tornava a ouvir a voz da Inezita:
<br>� Voc� n�o soube mesmo nada, Patr�cia? Todos os jornais
<br>deram. Houve uma hora em que n�o se falou de outra coisa
<br>na cidade. Pois � verdade: matou a amante do marido. A nossa
<br>Ros�rio. Miudinha, calma, falando baixo, dando a impress�o
<br>de n�o ser capaz de matar uma mosca. E a verdade � que
<br>matou. Sabe onde? Na piscina do clube em que voc� conheceu
<br>seu marido. Sim senhora: no Clube de Regatas. Os dois
<br>estavam l�, na manh� de sol. A Ros�rio apareceu de repente,
<br>tirou da bolsa o rev�lver, deu um tiro nas costas da outra, guardou
<br>de novo o rev�lver, calma, olhando o sangue que ia avermelhando
<br>a �gua, enquanto o marido dela, que nadava tamb�m,
<br>procurou amparar a amante, que ia perdendo as for�as,
<br>como se fosse afundar. Em redor da Ros�rio, os gritos, a confus�o.
<br>E ela olhando. Foi presa na hora. No julgamento, confessou
<br>tudo. Como premedit�lo crime. Como se armou. Co124
<br>
<br>
<br>
<br>mo se exercitou no tiro. Como viu a outra morrer. Quando ouviu
<br>a senten�a, que a condenava a dezoito anos de cadeia, deu
<br>um grito, protestou. Procurei entrar em contato com ela, agora,
<br>por simples curiosidade, sabendo que n�o podemos convid�la.
<br>Parece que h� um v�u de mist�rio em volta dela. At� agora
<br>n�o consegui saber onde poderia encontr�-la. E isso quer dizer
<br>que, na nossa turma, temos a Simone no Sanat�rio, e a
<br>Ros�rio na cadeia.
<br>
<br>4
<br>
<br>O jantar s� para homens, na outra ala da casa, em homenagem
<br>ao Presidente do Banco de Boston, antigo colega do
<br>Rodrigo em Harvard, obrigara Patr�cia a isolar-se nos seus aposentos,
<br>j� preparada para dormir.
<br>
<br>Por quase uma hora, na salinha da televis�o, acompanhara
<br>
<br>o bal� de B�jart, em Leningrado, entretida com o bailado e
<br>a m�sica, sem deixar de ouvir, longe, as vozes confusas dos
<br>convidados, por entre risadas, exclama��es ruidosas, palmas,
<br>pigarros, tosses, tinidos de pratos e talheres, gargalhadas.
<br>E comentou, de si para si, desligando a televis�o:
<br>
<br>� Est�o mesmo alegres. O bom vinho, misturado com
<br>o champanhe,
<br>deu bons resultados.
<br>Entretanto, em seu �ntimo, embora compreendesse e mesmo
<br>estimulasse, detestava aquele tipo de jantar em que a dona
<br>da casa era sumariamente exclu�da. Gostaria de estar � mesa
<br>
<br>� com o Rodrigo numa cabeceira e ela na outra � conversando,
<br>servindo, dando pequenas ordens ao Ludovico, muito
<br>orgulhosa de seus pratos pintados � m�o e de seus talheres de
<br>prata inglesa, parecidos com os da Rainha Vit�ria.
<br>J� no quarto, metida no pijama de seda que t�o bem lhe
<br>ca�a, distraiu-se com o novo romance que o Rodrigo lhe havia
<br>trazido no �ltimo s�bado, grosso, compacto, de in�cio meio confuso,
<br>com seu mon�logo interior muito espichado, mas logo
<br>
<br>125
<br>
<br>
<br>repleto de vida, gra�as � Americana velhusca que desembarcava
<br>em Londres para pesquisar obras de arte.
<br>
<br>Cansando-se da leitura, com um leve ardor nos olhos, tardou
<br>uns momentos estirada ao comprido da cama, com a l�mpada
<br>acesa, sem saber se ligaria o r�dio para um programa de
<br>m�sica cl�ssica ou se esperaria pelo notici�rio das onze horas.
<br>�quela hora, ainda n�o tinha sono. Parecia-lhe, mesmo, que
<br>iria debater-se com o travesseiro e o len�ol, sem que a sonol�ncia
<br>lhe cerrasse as p�lpebras, a despeito do cuidado com que
<br>recusara, na confeitaria elegante, em companhia da Inezita,
<br>
<br>o ch� fin�ssimo que esta instara em oferecer-lhe, antes de contar-
<br>lhe a novidade de sua nova conversa com a Lourdes.
<br>Era como se a outra estivesse de novo � sua frente, com
<br>
<br>o decote do vestido a lhe descer por entre os seios soltos, as
<br>unhas vermelhas, a pastinha ao meio da testa, as pulseiras largas
<br>tilintando nos punhos, enquanto as m�os torturavam as
<br>dobras do guardanapo:
<br>� N�o pense que fui eu que lhe telefonei. N�o, n�o fui.
<br>Tinha gra�a que eu a chamasse. Pois sim. Foi ela que me telefonou,
<br>com outra voz, outro tom. N�o parecia a mesma pessoa.
<br>Assim que ela disse seu nome, fingi surpresa e espanto,
<br>como se n�o soubesse quem era, e perguntei: � Quem? Lourdes?
<br>Que Lourdes? � E depois que ela se identificou: � Ah,
<br>� voc�, Lourdes? Pode falar. � Assim mesmo. Serrando de cima.
<br>E ela, macia, macia: � Olha, pode dizer � Patr�cia que
<br>iremos � festa dela. Eu e meu marido. Pode mandar o convite.
<br>Sempre ouvindo o ru�do de vozes e de talheres na sala de
<br>jantar, Patr�cia abre a gaveta da mesa-de-cabeceira, tira dali
<br>a folha de papel dobrada com o telefone de todas as colegas,
<br>que a Paula lhe mandou. Corre o dedo indicador pela lista,
<br>guarda de mem�ria o n�mero, e logo o mesmo dedo �gil faz
<br>girar o disco do aparelho, que n�o tarda a repetir o ru�do da
<br>chamada, uma, duas, quatro vezes, at� que uma voz de sono,
<br>meio irritada, interrompe o ru�do:
<br>
<br>� Al�. Pode falar.
<br>E Patr�cia:
<br>� Lourdes?
<br>� Eu mesma.
<br>126
<br>
<br>
<br>� Sou eu. Patr�cia.
<br>E a Lourdes, fria:
<br>� Quem?
<br>� Patr�cia. Tua colega da Escola Normal.
<br>Um sil�ncio.
<br>E a Lourdes, no mesmo tom:
<br>� Sim. �s ordens.
<br>Novo sil�ncio.
<br>E Patr�cia, dominando-se:
<br>� A Inezita me deu hoje tuas not�cias. Me disse que vir�s
<br>ao jantar em que eu e meu marido desejamos reunir nossa turma,
<br>no pretexto de meu anivers�rio. Digo pretexto, e digo bem.
<br>Porque a raz�o mesma � a alegria de estarmos juntas, como
<br>no bom tempo de nossa juventude.
<br>E a Lourdes, cortante:
<br>
<br>� Tempo que eu sempre detestei. E com raz�o. Porque
<br>� a idade em que a gente � boba. Em que n�o � mais menina,
<br>mas tamb�m ainda n�o � mulher. Felizmente, para mim, passou,
<br>e j� vai longe. Gra�as a Deus.
<br>E antes que Patr�cia replicasse:
<br>
<br>� A Inezita me disse que a Simone n�o ir�. � pena. Devia
<br>ir. Deviam ir a Ermelinda, que tamb�m n�o morre de amores
<br>por voc�, mas era t�o aluna quanto n�s duas, e a Evangelina,
<br>que te detestava, e ainda detesta.
<br>Patr�cia deixou passar um sil�ncio. E em seguida:
<br>
<br>� Por mim, elas viriam. S� n�o v�m porque fazem quest�o
<br>de me detestar. E detestar sem raz�o, porque nunca lhes
<br>fiz mal.
<br>Outro sil�ncio, bem mais longo.
<br>E a Lourdes, dando � voz ferina o tom adequado:
<br>
<br>
<br>� Mas o caso da Simone � diferente. Totalmente diferente.
<br>Foi voc� que lhe fez mal. Tomando-lhe o namorado, que
<br>hoje � seu marido. Ou estou enganada? A fonte que eu tenho
<br>� boa: a pr�pria Simone.
<br>O primeiro impulso de Patr�cia, afastando da orelha o auscultador
<br>para desligar o aparelho, ela conseguiu cont�-lo. N�o,
<br>n�o podia interromper o di�logo de modo irrepar�vel. E repondo
<br>o auscultador na orelha:
<br>
<br>127
<br>
<br>
<br>� Ela tem a vers�o dela, eu tenho a minha. O que posso
<br>dizer a voc� � que a hist�ria verdadeira � diferente. A minha
<br>faz mais sentido, posso-lhe assegurar. Um dia, conversaremos.
<br>E a Lourdes, ap�s um risinho breve:
<br>
<br>� N�o creio que a sua vers�o me conven�a. A da Simone,
<br>sim, caiu bem dentro de mim. Mas n�o � por isso que vou
<br>deixar de ir � sua festa. Vou. Mande o convite para duas pessoas:
<br>eu vou, com o meu novo namorado. Que n�o tomei de
<br>ningu�m, veja bem. Novinho. Tem dezoito anos. A idade ideal
<br>para ser par de uma quarentona que se cuida.
<br>Patr�cia cortou a conversa:
<br>
<br>� Boa noite.
<br>� Boa noite.
<br>Por alguns momentos, de olhos cerrados, tentou reprimir
<br>a ira que lhe crispava as m�os. P�lida, amparou a testa, v�rias
<br>vezes respirou fundo, at� que a serenidade lhe voltou, ainda
<br>de m�os frias.
<br>
<br>Tornando a estender-se ao comprido da cama, ficou uns
<br>momentos im�vel, como se a revolta a prostrasse, sabendo de
<br>antem�o que iria debater-se com o sono esquivo, antes que,
<br>por fim, lhe viesse a leve sonol�ncia, t�nue, mitigada, que a
<br>dissociaria do mundo circundante. Permaneceu quieta, sempre
<br>ouvindo os ru�dos da sala de jantar, sob a vaga claridade
<br>avermelhada e fosca que vinha da pe�a cont�gua, com a luz
<br>da l�mpada do orat�rio. E o sentimento da m�goa imerecida,
<br>que se aprofundava no seu ser, como se o revolvesse e torturasse,
<br>enchia-lhe o peito com a respira��o irregular, enquanto
<br>seu pulso se acelerava. At� quando iriam repetir a seu respeito
<br>a mesma argui��o irritante e perversa de que ela havia tomado
<br>o noivo da Simone. Sempre a mesma ladainha. Sempre a
<br>estafada m�sica do velho realejo. E por qu�, meu Deus? Velhinha
<br>que fosse, haveria de ouvi-la, insinuativa, cortante, maligna,
<br>tenaz, cabendo sempre � Simone o papel de v�tima, e
<br>a ela, Patr�cia, o papel sujo, torpe, desonesto, indigno, que o
<br>contraste dos destinos s� fazia confirmar. No �ntimo, de si para
<br>si, a Paula tamb�m pensaria assim? E igualmente a Inezita,
<br>embora n�o lhe falassem? Podia ser. Por que n�o? Toda gente
<br>pensaria tamb�m assim. Toda. Como se o mundo inteiro a con
<br>
<br>
<br>128
<br>
<br>
<br>denasse, incluindo o Ludovico, a Rosa, os vizinhos, os velhos
<br>professores da Escola Normal. Mesmo o Lucas Caetano. O Cardeal.
<br>Os Embaixadores. Os amigos do Rodrigo. Os s�cios do
<br>Jockey. E ela, que ia fazer, �quela altura da vida, para que a
<br>verdade fosse restabelecida? Dizer que tudo n�o passava de um
<br>exagero da Simone, como afirmava e reconhecia o Rodrigo?
<br>Ou pior ainda: que este, arguto como era, jamais casaria com
<br>Simone, por saber de seu temperamento estranho, que a reclus�o
<br>do Sanat�rio confirmava? N�o, n�o podia passar a vida
<br>a dar satisfa��es �s colegas, como se estas tivessem o direito
<br>de lhe julgar os atos e o destino. Isso n�o.
<br>
<br>E mudando de posi��o no cavado da cama:
<br>
<br>� Ponto final. Acabou-se.
<br>Deu de ombros, sacudiu de si a lembran�a. Mas esta voltou,
<br>logo a seguir, imperativa, teimosa, e Lourdes lhe entrou
<br>pelo sono, com seu riso, com sua cara comprida, com seus olhinhos
<br>perversos, atravessando o p�tio da Escola Normal.
<br>
<br>5
<br>
<br>Dois dias infinitos com a imagem da Neide a tortur�-la
<br>de modo obsessivo. Tamb�m ela, a Neide, a esquivar-se, como
<br>se n�o quisesse vir? Tomando o partido da Evangelina, com
<br>seu �dio est�pido? Seria poss�vel? E por que n�o, se a vida
<br>est� pontilhada de tais surpresas? De si para si, reagia: n�o
<br>podia ser. Se n�o podia ser, por que n�o voltara a telefonar
<br>para a Paula, como havia prometido?
<br>
<br>E revia a Paula, ali mesmo, no sal�o, a lhe dizer, desapontada:
<br>
<br>
<br>� Falei com a pr�pria Neide, s�bado, como te disse. Ela
<br>ficou de me telefonar, � noite, para me dar uma resposta. N�o
<br>deu. Tornei a lhe telefonar. N�o estava em casa. Voltei a chamar.
<br>A mesma resposta. Ontem, quando telefonei, j� era quase
<br>meia-noite. N�o estava. Deixei meu nome. N�o me chamou.
<br>Pelo visto, n�o vai chamar.
<br>129
<br>
<br>
<br>E desabotoando a luva, � altura do punho, olhando Patr�cia:
<br>
<br>
<br>� Por que tu mesma n�o lhe telefonas? Com a Lourdes,
<br>deu certo. Depois da estupidez com que te tratou, ela pr�pria
<br>te telefonou, para se desculpar. Que n�o estava bem, quando
<br>lhe falaste. N�o foi isso? E mudou. Da �gua para o vinho. No
<br>final das contas, somos da mesma turma, e a turma � a turma.
<br>Por mais que uma inveje a outra, acaba prevalecendo, em
<br>todas n�s, a saudade de n�s mesmas, e tudo se acomoda por
<br>cima das rivalidades bobas.
<br>Patr�cia ergueu os ombros, suspirou, afastou as m�os desoladas.
<br>E como o piano estava aberto, ensaiou aqui uma nota,
<br>ali outra, distraidamente, at� que tornou a se voltar para
<br>a Paula, rodando depressa o banco girat�rio, de costas para
<br>
<br>o teclado:
<br>� Muito antes de conhecer a Simone, conheci a Neide.
<br>Cedo, fomos amigas: eu, com sete anos; ela, com seis. Neide
<br>morava numa vila, ao lado de minha casa. Brincamos juntas,
<br>estudamos juntas. M�e Ded� j� separada de meu pai; Neide,
<br>filha de um Major do Ex�rcito, vi�vo. Era M�e Ded� que
<br>cuidava dela nas horas em que o pai passava fora. Como se
<br>fosse uma outra filha. Quando o Major foi transferido, levou
<br>a Neide daqui. S� voltei a v�-la no terceiro ano da Escola Normal.
<br>N�o a reconheci. Estava alta, forte, bonitona, quase noiva.
<br>O Major tinha conseguido voltar para c�, j� promovido
<br>a Coronel. Neide, que tamb�m fazia o curso de professora na
<br>cidadezinha em que o pai servia, chegou aqui com a fama de
<br>boa aluna.
<br>E a Paula, atalhando:
<br>
<br>� Mas quase foi reprovada, no fim do ano.
<br>� Ela e o pai vieram � nossa casa. J� eu era amiga da
<br>Simone. Simone n�o gostou dela. Foi em v�o que tentei
<br>aproxim�-las. Para ajudar a Neide nas provas, n�o foi f�cil,
<br>com a ojeriza da Simone. Mas ajudei-a, e ela passou de ano,
<br>gra�as aos meus livros e aos meus apontamentos de aula. A
<br>Simone quase brigou comigo. At� M�e Ded� teve de interferir
<br>para evitar que nos afast�ssemos. Acabei me afastando da Neide
<br>para n�o romper com a Simone. Lamentei muito. Mas a Si130
<br>
<br>
<br>
<br>mone, como voc� sabe, tinha um g�nio possessivo: quem fosse
<br>amiga dela, n�o podia ser amiga de mais ningu�m. Sofri
<br>muito. Ela tamb�m sofreu. Sempre tive pena dela. Como ainda
<br>tenho. At� hoje.
<br>
<br>E passado um momento:
<br>
<br>� H� pessoas dif�ceis. A Simone sempre foi assim. Dific�lima.
<br>Sem voc� saber ao certo como se comportar com ela.
<br>Mas tamb�m, na hora do sacrif�cio e da dedica��o, ningu�m
<br>a superava. Ningu�m. Sou a primeira a reconhecer. A Neide
<br>se retraiu em tempo. E fez bem. Guardei comigo, durante todos
<br>estes anos, a saudade da Neide. Por que havia de negar
<br>ou de esconder? � verdade. Saudade de nosso tempo de meninas.
<br>De n�s duas cantando no coral da escola p�blica. De seu
<br>carinho por mim. Do sorriso que lhe apertava os olhos castanhos,
<br>reduzidos a uma linha, com as sobrancelhas unidas. Os
<br>famosos olhos horizontais de que ach�vamos gra�a. Ao meu
<br>casamento ela n�o foi, mas a madrasta dela, D. Corina, me
<br>mandou uma toalha bordada em nome da filha. Neide foi para
<br>fora, como professora. Quando voltou, n�o me procurou.
<br>Ou, se procurou, n�o me encontrou. Eu, por meu lado, com
<br>a vida que levo, deixei de saber dela. Agora, esta resposta: n�o
<br>est�, n�o est�, n�o est�.
<br>A Paula aproveitou-lhe o sil�ncio:
<br>
<br>� Se n�o quer vir, que n�o venha. Eu � que n�o vou mais
<br>telefonar para ela. Tudo tem seu limite. Ensaia telefonar-lhe,
<br>tu mesma. � poss�vel que ela atenda. N�o custa experimentar.
<br>E Patr�cia, preocupada:
<br>
<br>� Agora?
<br>� Agora.
<br>Passaram as duas � saleta cont�gua, onde o telefone, por
<br>cima da escrivaninha por arrumar, parecia esperar por elas,
<br>quieto.
<br>
<br>E a Paula, consultando depressa o caderninho de endere�os,
<br>em busca do n�mero do telefone:
<br>
<br>� A Evangelina, com seu �dio mesquinho, � capaz de estar
<br>telefonando para as colegas, tentando impedir que elas venham.
<br>Com certeza j� convenceu a Neide. E a boba, influen131
<br>
<br>
<br>
<br>ciada pela mesquinharia da outra, prefere mandar dizer que
<br>n�o est� a responder que n�o vem.
<br>
<br>P�s o auscultador na orelha, esperou a chamada, girou
<br>
<br>o disco, passou o aparelho � Patr�cia:
<br>� Est� chamando.
<br>E quando Patr�cia perguntou pela Neide, a voz distante
<br>respondeu com outra pergunta:
<br>
<br>� Quem quer falar com ela?
<br>� Uma amiga.
<br>E a voz distante, aproximando-se:
<br>� N�o est�.
<br>E desligou.
<br>Patr�cia, com ar desapontado, ainda com o fone na m�o:
<br>� A mesma resposta: n�o est�.
<br>Sempre fitando a Paula com uma express�o de melancolia,
<br>rep�s o auscultador no lugar. Depois, sentando-se numa
<br>cadeira de bra�os, cruzou as pernas, ficou a balan�ar a ponta
<br>do p� suspenso. E toda ela, durante alguns momentos, pareceu
<br>concentrar-se no rosto tenso e contrafeito que mordia o
<br>l�bio inferior.
<br>
<br>E a Paula, retocando os l�bios com a ponta do batom para
<br>ir embora:
<br>
<br>� Quando a gente � mo�a, e passa alguns anos juntas,
<br>a se encontrar todo dia na sala de aula, a estudar as mesmas
<br>li��es, a ouvir os mesmos professores, a usar o mesmo uniforme,
<br>tem a impress�o de que nossos destinos ser�o parecidos,
<br>cada qual seguindo o seu caminho. Depois, � medida que vamos
<br>vivendo, tudo � diferente. Ningu�m � igual a ningu�m.
<br>E ante o ar abatido, e em sil�ncio, com que a outra a escutava:
<br>
<br>
<br>� Esquece a Neide, Patr�cia. E pensa nas que vir�o aqui
<br>com alegria, como eu, como a Inezita. Fazes bem em nos reunir
<br>de novo. Se n�o tivessem posto abaixo o velho pr�dio da
<br>nossa Escola Normal, para levantar o monstrengo que l� est�,
<br>com trinta e dois andares, eu te propunha que nos reun�ssemos
<br>no audit�rio de nossa formatura. N�o existindo mais o
<br>audit�rio, � a tua casa que tem espa�o para nos acolher.
<br>Patr�cia, emocionando-se:
<br>
<br>132
<br>
<br>
<br>� Minha casa sempre foi a casa de todas. E continuar�
<br>a ser. Mesmo das que n�o gostam de mim. Por minha vontade,
<br>toda a turma estaria aqui. Mesmo a Evangelina.
<br>E sentindo no olhar da Paula a restri��o impulsiva:
<br>
<br>� Com exclus�o da Simone. Mas n�o por mim � por
<br>ela, que talvez n�o se sentisse bem aqui nesta casa. S� por isso.
<br>E tanto no resto do dia, como tamb�m em boa parte da
<br>noite, e mais no dia seguinte, e ainda no outro dia, continuou
<br>a pensar na Neide, como se esta fosse agora indispens�vel �
<br>sua festa e � sua vida. A afei��o da inf�ncia parecia volver-lhe
<br>� consci�ncia, imperativa, e era debalde que a atirava de si,
<br>briosamente, sofredoramente. Por que insistir em procura? a
<br>Neide, se esta lhe fugia?
<br>
<br>Ao fim da semana, exatamente quando j� se sentia mais
<br>segura de si, foi da Neide que tornou a lembrar-se, assim que
<br>ouviu, longe, ao sair do banho, o chamado repetido da campainha
<br>do telefone.
<br>
<br>E uma voz clara e afetuosa, como que vinda de sua inf�ncia,
<br>ressoou-lhe ao ouvido, assim que segurou o aparelho:
<br>
<br>� E a Patr�cia? Sou eu, a Neide.
<br>E ap�s um sil�ncio:
<br>� Parece mentira. Depois de tanto tempo. Desculpa se
<br>tardei a falar. A Paula me telefonou sobre teu anivers�rio. Fiquei
<br>de dar-lhe uma resposta, mas perdi o telefone dela, que
<br>n�o encontrei no cat�logo. Ela voltou a me telefonar, sem que
<br>eu pudesse responder. Numa das vezes foi meu filho que atendeu;
<br>noutra, foi um amigo que de vez em quando nos visita.
<br>Hoje tive id�ia de te telefonar. Com surpresa, dei com teu telefone
<br>no cat�logo, no nome de teu marido. H� cinco minutos.
<br>Novo sil�ncio.
<br>E Patr�cia:
<br>
<br>
<br>� Estou te esperando para nossa festa.
<br>� Fiquei emocionada por ver que tamb�m te lembraste
<br>de mim. Com muito gosto eu iria, se pudesse, mas n�o posso.
<br>Por v�rias raz�es. A principal � que � noite eu tamb�m trabalho.
<br>A rigor mesmo, trabalho o dia inteiro. Desde que me levanto
<br>at� que me deito. Ensinando menino, cuidando da casa.
<br>Aqui, sou eu que fa�o tudo.
<br>133
<br>
<br>
<br>Patr�cia adivinhou-lhe as m�os vermelhas da �gua quente,
<br>no tanque de lavar ou na torneira da cozinha, �s voltas com
<br>as obriga��es de casa, e na sala de aula, mal vestida, emendando
<br>as horas no trabalho de ensinar alunos rebeldes, com
<br>paci�ncia, na mesma voz suave. E pediu-lhe, ado�ando a fala:
<br>
<br>� Mas eu quero te ver, Neide. Vou � tua casa.
<br>� N�o, n�o venhas. Sou eu que vou a�. Antes do teu anivers�rio.
<br>S�bado, pelo fim da tarde, pode ser? � a hora em
<br>que tenho uma pausa no meu trabalho.
<br>E no s�bado, pelo fim da tarde, foi a pr�pria Patr�cia que
<br>veio ao seu encontro, assim que soou, forte, a campainha do
<br>port�o, prevenindo-a da chegada da visita. Do patamar da escada
<br>avistou a Neide, c� embaixo, j� dentro da alameda, acompanhada
<br>pelo guarda de seguran�a, e desceu depressa os degraus,
<br>para subirem juntas.
<br>
<br>Sim, era a mesma Neide, maltratada agora pela vida e pelo
<br>tempo, no seu melhor vestido, com o mesmo rosto cheio, as
<br>mesmas covinhas laterais, os olhos ainda reduzidos ao mesmo
<br>risco horizontal enquanto os l�bios sorriam, mostrando os dentes
<br>pequeninos e brancos.
<br>
<br>E Patr�cia, segurando-lhe o bra�o, enquanto subiam:
<br>
<br>� Estou contente de te rever. Muito. Como se estivesse
<br>te levando para ver M�e Ded�.
<br>L� em cima, na pequena sala aconchegada, as duas se olharam
<br>de frente, em sil�ncio, por alguns momentos, ambas de
<br>olhos molhados. Afinal, puseram-se a rir, uma a segurar as
<br>m�os da outra, at� que se abra�aram, rompendo a chorar.
<br>
<br>E Patr�cia, afastando-se, quando dominou a emo��o:
<br>
<br>� Parece mentira, Neide. Aqui, na mesma cidade, sem
<br>nos vermos durante tantos anos, e ambas amigas, amigas de
<br>inf�ncia.
<br>Neide abriu a bolsa, j� sentada na poltrona, tirou o len�o
<br>e, rindo, p�s-se a enxugar os olhos, enquanto Patr�cia, ainda
<br>de p�, enxugava os seus com a costa das m�os.
<br>
<br>E Neide, com dois retratinhos na ponta dos dedos:
<br>
<br>� S�o meus filhos. Ele, com dezessete anos; ela, com
<br>quinze. Ela, Celi, parece com o pai; ele, Olavinho, parece co134
<br>
<br>
<br>
<br>migo. Uns amores. Por eles, fa�o tudo. Com eles, dou-me por
<br>bem paga do muito que tenho sofrido.
<br>
<br>E a longa confiss�o veio a seguir, naturalmente, fluentemente,
<br>sem nada omitir ou esconder. Ora Neide deixava cair
<br>os ombros, como esmagada e vencida, ora endireitava a cabe�a,
<br>resoluta, destemida, erguendo as p�lpebras, dando mais lume
<br>ao olhar. E por fim, correndo o len�o pela testa, este remate:
<br>
<br>� E a� tens tu minha vida. Vida de luta sem tr�gua. H�
<br>oito anos e nove meses que n�o tenho not�cias do Fabiano. Saiu
<br>de casa e n�o voltou. Morreu? Est� vivo? N�o sei. H� dois
<br>anos, cansada de esperar, tive um caso com o irm�o dele, que
<br>sempre ia me ver. Tamb�m ele tem um problema, com a mulher
<br>na casa de sa�de, a dizer que � santa e que conversa com
<br>Deus, de igual para igual. Tive pena dele. Juntei meus desalentos
<br>com os desalentos do Jo�o Henrique e acabei reconhecendo
<br>que n�s dois t�nhamos direito a um pouco de carinho.
<br>Conversei com a minha filha, conversei com o meu filho, e os
<br>dois nos deram raz�o. Hoje, bem ou mal, sou feliz. Eu ajudo
<br>o Jo�o Henrique, Jo�o Henrique me ajuda, e o tempo vai passando.
<br>Minha madrasta, por sua pr�pria iniciativa, est� hoje
<br>numa cl�nica geri�trica. Aos s�bados, o Jo�o Henrique vai
<br>busc�-la para passar o fim de semana conosco. Na segunda-feira,
<br>a caminho do col�gio, levo-a de volta.
<br>Voltou a estender as m�os para Patr�cia, firmando os p�s
<br>no tapete:
<br>
<br>� O Jo�o Henrique e eu n�o vamos a parte alguma. Enquanto
<br>n�o encontrarmos uma solu��o legal para nosso caso,
<br>ficamos no nosso canto, quietos, nos s�bados e nos domingos,
<br>jogando biriba ou vendo televis�o. � por isso, s� por isso,
<br>que n�o estarei aqui, entre as colegas, na noite do teu anivers�rio.
<br>Sorriu suavemente, alargando a boca, diminuindo os olhos,
<br>abrindo a covinha das bochechas, e toda ela, por alguns momentos,
<br>aos olhos de Patr�cia, volveu � Neide da inf�ncia e
<br>juventude, com a mesma inoc�ncia de outrora, a mesma bondade,
<br>a mesma aceita��o da vida.
<br>
<br>E Patr�cia, segurando-lhe as m�os frias:
<br>
<br>� Eu te compreendo. E te dou raz�o.
<br>135
<br>
<br>
<br>Mais uma vez o sono tardava, dando a Patr�cia a impress�o
<br>de que tornaria a passar a noite na mesma vig�lia torturante.
<br>Debalde cerrou os olhos, concentrando-se na id�ia de
<br>que ia mesmo dormir; da� a momentos, insensivelmente, entreabriu
<br>as p�lpebras, dispon�vel para a vida consciente, at� voltar
<br>a acender a l�mpada de cabeceira, para volver � leitura.
<br>
<br>Por vezes, no esfor�o para atrair o sono, ligava o radiozinho
<br>ao seu lado, sob o cone de luz do abajur, buscando uma
<br>esta��o de m�sica cl�ssica. Com freq��ncia, concentrava a aten��o
<br>no concerto ou na sonata, e com isto se sentia mais desperta.
<br>
<br>
<br>Ap�s uma nova conversa com a Inezita, por quase toda
<br>a manh�, j� sabia, entre professores e colegas, quem viria, quem
<br>n�o viria. Agora, era deixar que o tempo passasse, trazendo
<br>em seu bojo a noite do anivers�rio, com o parque iluminado,
<br>as mesas sob as �rvores, as lanternas pendentes, a �gua da piscina
<br>refletindo o tablado, o piano da orquestra no coreto, e
<br>mais o rebuli�o da casa, na expectativa da chegada dos convidados,
<br>com a excita��o dos criados e dos gar�ons, dos guardas
<br>de seguran�a e dos porteiros, tudo sob o olhar severo do
<br>Ludovico, que assumia nessas ocasi�es uma postura de regente,
<br>ouvindo tudo, olhando tudo, e a tudo acudindo, grave, rigoroso,
<br>j� com a corrente e a medalha que lhe caracterizariam
<br>
<br>o papel de arauto, para anunciar, c� no alto, � entrada do sal�o,
<br>na sua bela voz reboante, o nome e o t�tulo de cada convidado.
<br>Patr�cia passara uma tarde distra�da, a princ�pio na abertura
<br>de uma exposi��o de artesanato, na Casa do Menino Pobre;
<br>depois, em companhia do Rodrigo, no coquetel que este
<br>oferecera a Mister Goldwing; por fim, ap�s o jantar, somente
<br>ela e o marido, na saleta da televis�o, tinham ficado � espera
<br>
<br>136
<br>
<br>
<br>do programa das dez e meia, quando passariam os flagrantes
<br>do coquetel.
<br>
<br>Felizmente, j� ouvindo o telefone chamar, tinha podido
<br>ver esses flagrantes, logo sucedidos pela figura suave do Papa,
<br>dando o seu apoio e a sua b�n��o a uma campanha de caridade;
<br>nisto o Ludovico apareceu � porta, atencioso, s�rio, para
<br>perguntar-lhe:
<br>
<br>� Madame pode atender � Sra. D. Neide?
<br>Antes de ir atender, Patr�cia aconchegou as almofadas no
<br>sof�, para apoiar a cabe�a sonolenta do Rodrigo. E na saleta
<br>cont�gua, com o telefone diante do rosto, sentada na poltrona
<br>de canto, abriu a conversa em tom efusivo:
<br>
<br>� Que bom voc� telefonar, Neide. Pensei muito em voc�
<br>esta tarde. Rodrigo quer ajudar seu marido. Um de nossos advogados
<br>vai lhe telefonar, para ver se pode ser �til a voc�s. N�o,
<br>n�o me d�s trabalho. Pelo contr�rio: ficaremos muito contentes,
<br>se pudermos te ajudar.
<br>E a Neide:
<br>
<br>� Obrigada por tudo. Mas n�o � por isso que estou telefonando.
<br>N�o. Estou telefonando para te dizer que tive not�cias
<br>da Simone, ontem, vindas do Sanat�rio. Escreveu-me. Para
<br>me dar parab�ns pelo meu anivers�rio.
<br>E Patr�cia, atalhando:
<br>
<br>� Quando foi? Semana passada? Por que n�o me falaste,
<br>Neide? Eu teria uma grande alegria em ir a� te dar meu abra�o
<br>e conhecer o Jo�o Henrique. Ah, foi antes de vires aqui?
<br>Quando? Agora guardei a data. Fiquei atenta.
<br>E a Neide, no tom novidadeiro:
<br>
<br>� Agora vais cair da nuvem com o que te vou dizer. Na
<br>carta, refere-se ao teu anivers�rio. Disse que leu a not�cia nos
<br>jornais daqui, que sempre recebe. Falou tamb�m da recep��o.
<br>Mas sem aprovar nem discordar. Somente uma refer�ncia. Com
<br>o g�nio esquisito que ela tem, j� foi uma grande coisa.
<br>Uma pausa, como a abrir espa�o para a revela��o seguinte:
<br>� Eu hoje liguei para ela. Estava repousando. H� poucos
<br>minutos, ela me ligou. Ela mesma. Gostei de falar com
<br>ela. Serena. Calma. Naturalmente amadurecida. J� sabia de
<br>meu caso, n�o sei por quem. Deu-me conselhos, apoiou-me.
<br>137
<br>
<br>
<br>Muito segura. Ultimamente, para encher as horas vazias, come�ou
<br>a pintar, orientada por um senhor austr�aco que est�
<br>internado l�, na companhia da mulher. Prometeu mandar-me
<br>um quadro assim que se sentir mais segura. S� houve um momento
<br>em que se emocionou: foi quando lhe falei do Professor
<br>Fritz, que j� n�o reconhece ningu�m, e a quem os meninos
<br>perseguem quando sai � rua, todo de preto, com um cravo
<br>na botoeira.
<br>
<br>E Patr�cia, com surpresa:
<br>
<br>� O Fritz? Est� assim? Coitado. Tamb�m sinto saudades
<br>dele. Sempre gostou de mim e da Simone. Nunca deixava
<br>de nos trazer uma lembran�a, quando volt�vamos das f�rias.
<br>Deu-me as obras de Byron, num volume em papel-biblia, e as
<br>de Shakespeare, tamb�m num volume, no mesmo papel, no
<br>mesmo formato, para a Simone. Chamava-nos, a mim e a ela,
<br>as suas prediletas. Usava peruca.
<br>E Neide, completando:
<br>
<br>� E pintava o bigode e as sobrancelhas. Quando eu o vi,
<br>da �ltima vez, estava de pijama na rua, de chinelos, sem a peruca.
<br>Um pobre velho. Irreconhec�vel. Deu-me pena. Falei-lhe,
<br>perguntei se n�o se lembrava de mim. Disse-me que n�o. J�
<br>n�o se lembra de ningu�m. E o curioso � que foi em ingl�s que
<br>me falou. A Simone tomou nota do endere�o dele. Quer ajud�lo.
<br>O pobre velho um dia destes morre, sem aviso nos jornais.
<br>Um sil�ncio entre as duas.
<br>E Patr�cia, como se falasse para si mesma:
<br>
<br>
<br>� Tamb�m vou fazer alguma coisa por ele.
<br>Num relance, deu por si na sala de aula, com o Fritz, maneiroso,
<br>faceiro, a segurar o giz na ponta dos dedos:
<br>
<br>� Vejam bem a palavra que escrevi no quadro-negro: Darling.
<br>Abram bem o a, para dar luz ao voc�bulo. Assim: darling.
<br>Isto �: querido, querida. Daaarling. Com luz. Com sentimento.
<br>E para a Simone:
<br>
<br>� Minha boa amiga: fa�a o favor de repetir, cerrando os
<br>olhos, amorosamente, como se falasse � pessoa amada: darling.
<br>E depois que a Simone repetiu, o velho cerrou tamb�m
<br>os olhos, suspirou, dando mesmo a impress�o de que um sen
<br>
<br>
<br>138
<br>
<br>
<br>timento vivo de amor, de paix�o, de carinho, subindo-lhe ao
<br>rosto encovado, lhe dominava a figura mal-nutrida, de olhos
<br>fundos, num �xtase puro, quase divino.
<br>
<br>Ao sa�rem da classe, com o bater da sineta chamando para
<br>o recreio, todas as alunas vinham repetindo o darling do
<br>Professor Fritz, com os mesmos olhos cerrados, a mesma entona��o
<br>caricata, as mesmas sobrancelhas erguidas, a que se
<br>seguiam as risadas abertas, demoradas.
<br>
<br>S� a Simone, s�ria, se fechou em sil�ncio. E l� embaixo,
<br>
<br>parando � entrada do p�tio, reagiu, amparando-se no bra�o
<br>
<br>de Patr�cia:
<br>
<br>� Parem com isso! N�o sejam est�pidas!
<br>E para Patr�cia, desfigurada:
<br>� Tu tamb�m, p�ra de rir! N�o quero que rias! N�o, n�o
<br>quero!
<br>Nunca, antes disso, Patr�cia a tinha visto desfigurada pela
<br>ira. O rosto alongado, coberto por uma palidez de pergaminho,
<br>com os olhos im�veis, sem brilho, dois riscos verticais entre
<br>as sobrancelhas, parecia de pedra, como esculpido. A m�o esquerda,
<br>fechando-se no bra�o de Patr�cia, mantinha-se contra�da,
<br>crispando-se de tal modo que as unhas davam a impress�o
<br>de que iam romper-lhe a manga do uniforme, enquanto
<br>a m�o direita, com o punho cerrado, se conservava � altura
<br>do peito, em postura agressiva.
<br>
<br>E Patr�cia, tentando acalm�-la:
<br>
<br>� Esquece isso, Simone. A vida � mais importante que
<br>uma brincadeira de sala de aula.
<br>E estimulada pelo sil�ncio da outra, que ia atravessando
<br>
<br>o p�tio, com o mesmo semblante hirto e contra�do:
<br>� Pronto, deixei de rir. N�o se fala mais no Fritz.
<br>No entanto, o pr�prio nome do professor, dando-lhe de
<br>repente a impress�o da moeda que risca a vidra�a, descontraiu
<br>
<br>o rosto de Patr�cia, na imin�ncia de restituir-lhe o frouxo de
<br>riso, logo contido pelo olhar da outra, que pareceu trespass�la,
<br>duro, r�spido, afiado como a ponta de um punhal. As duas
<br>seguiram em sil�ncio at� o outro lado do p�tio, onde o banco
<br>vazio as esperava. Patr�cia sentou, fez que a Simone sentasse,
<br>e ali ficaram por mais de hora, sem que Simone sa�sse de seu
<br>139
<br>
<br>
<br>mutismo, como ausente, fechada no seu pr�prio mundo, � revelia
<br>da insist�ncia com que Patr�cia tentava reter-lhe a m�o
<br>contra�da sobre o rega�o. E foi tamb�m em v�o que, segurando-
<br>Jhe o bra�o, quis lev�-la para a sala de aula, obedecendo ao
<br>toque da sineta que chamava por elas:
<br>
<br>� Vamos, Simone. Todas j� subiram. Agora, temos prova.
<br>N�o te aborre�as por uma bobagem. Vem comigo.
<br>O rosto de Simone, menos duro, deu a impress�o de que
<br>cedia � raz�o, desanuviando-se, enquanto as duas galgavam
<br>a escada, depois de atravessarem o p�tio vazio. L� no alto, entretanto,
<br>como se a aproxima��o da sala de aula lhe restitu�sse
<br>toda a ira, Simone orientou seus passos na dire��o da sa�da,
<br>para ir embora.
<br>
<br>E Patr�cia, com espanto:
<br>
<br>� Aonde vais?
<br>E como a sineta voltava a bater, para a entrada do professor
<br>na sala de aula, deixou-a ir, correu para a classe. E soube,
<br>� noite, pela m�e de Simone, em tom desolado, que Simone
<br>se fechara no quarto, n�o querendo ver ningu�m.
<br>
<br>E Patr�cia, para a Neide, voltando a falar-lhe ao telefone:
<br>
<br>� Por causa desse Fritz, Simone permaneceu trancada durante
<br>oito dias.
<br>Nem comigo quis falar.
<br>E a Neide, fechando a conversa:
<br>
<br>� E quando voltou � classe, um m�s depois, n�o falou
<br>com nenhuma de n�s. S� voltou a falar quando morreu a m�e
<br>da Ros�rio: foi ela que comprou as flores, para que cada uma
<br>de n�s n�o aparecesse no vel�rio com as m�os vazias. E todas
<br>n�s nos emocionamos ainda mais quando vimos ali o Professor
<br>Fritz, todo de preto, solen�ssimo, com um ramo de rosas
<br>igual ao nosso.
<br>7
<br>
<br>Ela descera ao jardim para falar ao jardineiro sobre as flores.
<br>Agora s� faltavam algumas semanas. Mais um pouco,
<br>e o anivers�rio estaria ali)" com a casa repleta de convidados.
<br>
<br>140
<br>
<br>
<br>E o velho Anfr�sio, calmo:
<br>
<br>� N�o se preocupe. Tudo estar� pronto a tempo e a hora.
<br>Contei os jarros, medi as floreiras, separei os canteiros. Desta
<br>vez, fique tranq�ila: n�o vam%s precisar de recorrer aos floristas.
<br>Basta a prata da casa. J� disse isso mesmo ao Dr. Rodrigo.
<br>Na luz alta da manh�, sem uma nuvem no c�u escampado,
<br>a temperatura continuava branda, com leves arrepios de
<br>frio quando a vira��o soprava. Mesmo as velhas mangueiras
<br>ao longo da alameda que ia dar na capelinha haviam florido
<br>de repente, em sinal de que haveria muita manga madura antes
<br>do fim do ano. No ar, o leve sussurro das abelhas.
<br>
<br>E Patr�cia, como quem n�o sabe guardar segredo:
<br>
<br>� Vim buscar as mais bonitas rosas de seus canteiros para
<br>a minha mesa, Seu Anfr�sio. Faz hoje vinte e um anos que conheci
<br>o Rodrigo. Muito cedo, fui com ele ao Clube de Regatas
<br>onde nos conhecemos. Nadei na piscina onde ele me viu pela
<br>primeira vez. Rodrigo, por seu lado, bateu as mesmas fotos
<br>que tirou de mim naquele dia.
<br>O velho Anfr�sio encheu devagar o peito, levantou o chap�u
<br>para o alto da testa. E quando p�de falar:
<br>
<br>� Vinte e um anos... Foi ontem... Tudo passa depressa...
<br>Tudo...
<br>� a vida. � a vida.
<br>E enquanto podava as roseiras, para compor o buqu�:
<br>
<br>� Quer dizer que minha patroa conheceu o senhor doutor
<br>no Clube de Regatas? Ora muito bem. Por acaso? Ou sabiam
<br>que se iam encontrar?
<br>A tesoura repetia o seu taque-taque, cortando os ramos
<br>que as rosas enfeitavam e que o velho Anfr�sio ia passando
<br>� outra m�o, como indiferente aos espinhos que o picavam.
<br>
<br>E o velho, passando a outra roseira:
<br>
<br>� Ora muito bem. Quer dizer ent�o que foi uma amiga
<br>que os aproximou? Parece-me que j� me tinham falado. E essa
<br>amiga da Sra. D. Patr�cia vem sempre aqui? Ah, n�o vem?
<br>Fora, na rua lavada de sol matinal, o ru�do de um carro
<br>passando. E esse mesmo ru�do a desfazer-se, por entre outros
<br>ru�dos circunstantes, at� que o sil�ncio deixou ouvir de novo
<br>
<br>o taque-taque da tesoura.
<br>141
<br>
<br>
<br>E o Anfr�sio, como se a curiosidade o estimulasse:
<br>
<br>� Foi sua colega na Escola Normal? E o que foi feito
<br>dela?
<br>Patr�cia, com rapidez, como se fugisse da pergunta:
<br>
<br>� N�o precisa cortar mais, Seu Anfr�sio. Bastam essas.
<br>A floreira � pequena. Realmente est�o lindas. E cheirosas.
<br>Parado na orla do canteiro, o velho parecia ter recolhido
<br>o olhar, como intrigado, enquanto Patr�cia acomodava os ramos
<br>na m�o cautelosa, sem olhar para o jardineiro. E quando
<br>olhou, ele tamb�m sustentou o olhar curioso, de modo que ambos
<br>se fitaram, apenas por um momento, um rapid�ssimo momento,
<br>sem palavras, s� restando no ar transl�cido o fulgor
<br>castanho dos olhos do velho, perspicazes e astuciosos, levemente
<br>acusativos.
<br>
<br>E Patr�cia, de si para si, subindo os degraus da escada,
<br>com os ramos de rosas frescas contra o seio:
<br>
<br>� Ele sabe do meu caso com a Simone. Sabe. Fiz bem
<br>em cortar a conversa. E por que n�o lhe contei tudo? Devia
<br>ter contado. Mas contado por qu�, se n�o tenho de dar satisfa��es
<br>de minha vida? Era o que faltava: ter de explicar aos
<br>empregados da casa o que se passou entre mim e a Simone,
<br>h� mais de vinte anos.
<br>Deu de ombros, acelerou a subida, e viu ent�o que, no
<br>patamar, como se tamb�m lhe houvesse acompanhado os passos,
<br>e escutado a conversa com o jardineiro, o Ludovico lhe
<br>sorria, expansivo, cheio de si.
<br>
<br>E ele, como se disfar�asse:
<br>
<br>� Flores para o grande dia? Muito bem, D. Patr�cia! Eu
<br>j� ia busc�-las. Est�o lindas, essas rosas. Lind�ssimas. Sobretudo
<br>as vermelhas. E os bot�es que j� come�am a abrir. Realmente,
<br>o nosso Anfr�sio � um artista. Um verdadeiro artista.
<br>E j� na sala de jantar, aberta-agora � plena luz da manh�
<br>de sol, ao ver que Patr�cia insistia em acomodar as flores na
<br>floreira de prata:
<br>
<br>� Dando-se esse trabalho, minha senhora? N�o vou dizer
<br>que lhe cedo a vez. N�o, isso n�o. Sei que o dia de hoje
<br>� um grande dia. Sei. Mas quero tamb�m que saiba que eu teria
<br>muito gosto em compor a floreira, com rosas t�o lindas,
<br>142
<br>
<br>
<br>num dia t�o importante para a senhora, para o Dr. Rodrigo
<br>e para n�s que aqui trabalhamos.
<br>
<br>E recolhendo as duas folhas verdes que haviam ca�do sobre
<br>o linho da toalha de crivo:
<br>
<br>� O Dr. Rodrigo lhe deixou um recado. Que estar� aqui,
<br>pouco antes de uma hora, para irem almo�ar no Jockey Clube.
<br>J� reservou a mesa. Exatamente a mesma em que almo�aram
<br>h� vinte e um anos.
<br>E ap�s um sil�ncio, ao notar que Patr�cia parecia emocionar-
<br>se:
<br>
<br>� O Dr. Rodrigo tem delicadezas que s� ele sabe ter. E
<br>a senhora tamb�m. Foi isso mesmo que eu disse � Rosa, n�o
<br>faz quinze minutos. E olhe que n�o � de hoje que eu conhe�o
<br>o Dr. Rodrigo.
<br>Prestimoso, tirou do bolso traseiro da cal�a uma tesoura.
<br>E acercando-se, adiantou a m�o para os ramos de rosas que
<br>ainda jaziam sobre a mesa:
<br>
<br>� A senhora me d� licen�a?
<br>E podando os ramos, um a um, meticulosamente, para
<br>pass�-los � Patr�cia, que continuava a compor a floreira:
<br>
<br>� N�o sei quem disse que a vida de cada um de n�s �
<br>um romance. Tamb�m penso assim. Fazendo um par�ntese: antigamente
<br>eu lia romances � noite, � espera do sono; hoje, leio
<br>jornais. Mas continuo a pensar que a vida de cada um de n�s
<br>� um romance. A da senhora � um bel�ssimo romance. Dos mais
<br>belos que eu conhe�o. Isso mesmo me dizia, ontem, o velho
<br>Anfr�sio, que foi jardineiro do pai do Dr. Rodrigo nesta mesma
<br>casa, antes da senhora casar.
<br>E como se quisesse ir mais adiante, na correnteza das revela��es:
<br>
<br>
<br>� Realmente: um bel�ssimo romance. Com muita coisa
<br>sensacional. Em que � Deus mesmo que interfere. Sim senhora:
<br>parab�ns.
<br>E Patr�cia, desviando o olhar para o rosto do Ludovico:
<br>
<br>� Voc� ouviu falar de uma colega minha, parenta do Dr.
<br>Rodrigo, e que esteve aqui, almo�ando nesta mesma mesa, antes
<br>de eu me casar?
<br>Ludovico, apanhado pela surpresa da pergunta, fez um
<br>
<br>143
<br>
<br>
<br>gesto vago, espichou o l�bio inferior, moveu as m�os unidas,
<br>com o olhar para o ch�o, como se revolvesse a mem�ria.
<br>E erguendo o olhar:
<br>
<br>� Ouvi, D. Patr�cia. E dou-lhe a fonte: o Anfr�sio. Mas
<br>para louvar a senhora. Para dizer que a outra era fechada, orgulhosa.
<br>Ao passo que a senhora � dada, fala com todos n�s.
<br>A outra mo�a veio aqui uma �nica vez. Percorreu toda a casa,
<br>andou pelo parque, foi � capelinha, foi olhar as roseiras do
<br>Anfr�sio; depois subiu, trazendo o buque de rosas que ele lhe
<br>deu. Quando o Dr. Rodrigo, logo depois da morte do outro
<br>jardineiro, trouxe de volta o velho Anfr�sio, o velho Anfr�sio
<br>pensou que a mulher do Dr. Rodrigo era a tal mo�a, meio parenta
<br>dele, e n�o a senhora.
<br>Patr�cia acomodou depressa na floreira os �ltimos ramos,
<br>ouvindo o rel�gio do sal�o dar as horas. Onze e meia! E ainda
<br>tinha de mudar de roupa. Vestiria o velho vestido do primeiro
<br>encontro? E por que n�o, se o Rodrigo fazia quest�o
<br>de usar o mesmo costume claro que o alfaiate viera afrouxando
<br>a cada ano, para ajust�-lo ao seu corpo? Na verdade, j�
<br>
<br>o vestido dela era o quinto, da mesma fazenda, do mesmo feitio,
<br>com as mesmas medidas. Ao olhar-se no espelho, com ele
<br>no corpo, n�o podia deixar de lembrar-se da Simone, que sempre
<br>lhe dizia:
<br>� Os tons claros � que te sentam melhor.
<br>E fora a Simone que lhe escolhera o casaquinho e a saia, pela
<br>sugest�o do figurino, a que M�e Ded� havia fielmente obedecido.
<br>Realmente, no contraste com o tom da fazenda, seu rosto
<br>e seu colo pareciam mais morenos, ganhando outra beleza,
<br>bem viva, bem tropical.
<br>
<br>O espelho grande do guarda-roupa, com a porta escancarada,
<br>fez Patr�cia mais uma vez se reencontrar. Assim, agora,
<br>n�o diferia muito do retratinho do quadro de formatura.
<br>Menos ainda se trocasse o casaquinho e a saia pela blusa e a
<br>saia do uniforme.
<br>
<br>O Rodrigo, quando deu com ela j� pronta, � sua espera,
<br>levantou as sobrancelhas, escancarou o sorriso, abriu os bra�os:
<br>
<br>� Vamos come�ar tudo de novo? � perguntou, abrindo
<br>a risada.
<br>144
<br>
<br>
<br>E abra�ando-a longamente, reconhecidamente:
<br>
<br>� S� eu sei o quanto te devo, querida, como paz, como
<br>tranq�ilidade, como vida realizada.
<br>E foi j� perto do Jockey, na subida da ladeira, que de repente,
<br>ao acender o cigarro, ele lhe disse:
<br>
<br>� Sabes de quem me lembrei h� pouco, quando ia te buscar?
<br>Da Simone. Foi como se a tivesse novamente diante de
<br>mim, exaltada, r�spida, na �ltima vez em que a vi. Mas s� durou
<br>um momento essa exalta��o. Logo se conteve, domin�ndose.
<br>E afastou-se em sil�ncio, como a atriz que se retira do palco,
<br>senhora de si, para receber na sala ao lado uma visita de
<br>cerim�nia. Nunca pude entender a sua mudan�a instant�nea,
<br>sobretudo quando penso na brutalidade dela contigo, no p�tio
<br>da Escola Normal.
<br>Patr�cia limitou-se a apertar-lhe a m�o, com este
<br>coment�rio:
<br>
<br>� Foi pena. Eu tamb�m pensei nela.
<br>Ia dizer que outros pensavam tamb�m. Como o velho Anfr�sio.
<br>Como o Ludovico; mas se recolheu ao sil�ncio enquanto
<br>abotoava e desabotoava uma das luvas, olhando em frente
<br>a tarde nova, que se abria com muita luz.
<br>
<br>8
<br>
<br>At� a luz que descia do vitral, para estender-se em tons
<br>coloridos sobre a toalha, os pratos, os talheres, o jarro florido,
<br>parecia ser a mesma, no mesmo canto tranq�ilo, com a
<br>janela aberta sobre o prado verde e deserto, rodeado de montanhas.
<br>
<br>
<br>E o mesmo gar�om, agora de cabelo grisalho, mais gordo,
<br>com o mesmo bigodinho louro aparado rente:
<br>
<br>� Tamb�m pedi ao nosso pianista que tocasse as m�sicas
<br>que o Dr. Rodrigo escolheu.
<br>Sorriu, baixando levemente as p�lpebras, a exibir o dente
<br>de ouro de que parecia orgulhar-se:
<br>
<br>145
<br>
<br>
<br>� N�o foi f�cil achar todas elas, porque o pianista � agora
<br>jovem e s� gosta de tocar m�sicas modernas. Eu pr�prio o ajudei
<br>a dar com as m�sicas que o doutor escolheu.
<br>E enquanto o Rodrigo desdobrava o guardanapo sobre as
<br>pernas, sorridente, triunfante, Patr�cia, emocionada, alongou
<br>o olhar para o pianista negro, que logo se levantou do banco
<br>do piano, fez-lhe uma v�nia, de m�o no peito, respeitoso, polido,
<br>e voltou a sentar-se, j� com as m�os no teclado.
<br>
<br>Entretanto, n�o obstante a repeti��o do mesmo canto, do
<br>mesmo servi�o, do mesmo traje, do mesmo gar�om, e agora
<br>das mesmas m�sicas, algo havia mudado, no sal�o, nas pessoas
<br>que ocupavam as mesas cont�guas, na execu��o das velhas
<br>melodias, at� que o velho gar�om, voltando para acabar
<br>de compor a mesa, p�s-se a dizer:
<br>
<br>� J� sabe o Dr. Rodrigo que perdemos o nosso chefe?
<br>Perdemos. De repente, aqui mesmo, anteontem. Felizmente j�
<br>o restaurante ia fechando e s� restava no sal�o aquele senhor
<br>alto, que sempre adormece, ali mesmo, depois do jantar.
<br>Chamou-se o Pronto-socorro, mas j� era tarde. O corpo teve
<br>de sair pela porta dos fundos, quando s� n�s, os empregados,
<br>est�vamos aqui. A imprensa n�o soube.
<br>E enquanto o Rodrigo, com as m�os quietas na borda da
<br>mesa, se limitava a ouvir, olhando o rosto do gar�om, como
<br>indiferente, Patr�cia ergueu mais a cabe�a, sentindo que seu
<br>cora��o se acelerava � id�ia de que a morte passara por ali,
<br>com sua surpresa, com seu rigor implac�vel.
<br>
<br>E ela, para o marido, assim que o gar�om se afastou, levando
<br>consigo o seu semblante pesaroso:
<br>
<br>� Eu me lembro dele. Gordo, baixo, o cabelo penteado
<br>para o lado, os olhos mi�dos, muito atencioso. Era ele pr�prio
<br>que vinha preparar, com um gorro alto, aqui ao lado, no
<br>fim do jantar, o meu crepe suzete. Tinha as m�os cabeludas,
<br>que parecia exibir quando acendia o �lcool na frigideira. Depois,
<br>diante das labaredas, ficava de frente para mim, segurando
<br>o garfo e a colher com que ia tostando a massa de trigo.
<br>E era ele que me servia, depois de me pedir licen�a para
<br>aproximar-se.
<br>O Rodrigo, contagiado pelas lembran�as:
<br>
<br>146
<br>
<br>
<br>� E ia embora, acompanhado pelo mesmo ajudante que
<br>lhe carregava os apetrechos, assim que me servia.
<br>E Patr�cia, completando:
<br>
<br>� Mas voltava � hora do\af�, sorridente, maneiroso, para
<br>saber se tudo tinha sa�do ao nosso gosto. Ele tamb�m fazia
<br>parte de nosso passado. De repente, me emocionei.
<br>E como o piano havia calado, com o pianista a mudar
<br>a partitura, houve um sil�ncio instant�neo por entre as raras
<br>vozes e o tinido dos talheres na lou�a dos pratos. Em seguida,
<br>as vozes e os ru�dos se ampliaram, e at� mesmo l� fora, como
<br>trazido pelo vento que agitava as �rvores circundantes, o prado
<br>se encheu com o alvoro�o e o frenesi dos cavalos que vinham
<br>galopando, no primeiro p�reo da tarde. Soou uma sineta,
<br>o alto-falante anunciou o cavalo vencedor, e logo voltou
<br>ao sal�o o rumor das vozes e dos talheres que a corrida subitamente
<br>interrompera.
<br>
<br>E o Rodrigo, como se de repente a lembran�a lhe acudisse:
<br>
<br>� Sabes quem esteve comigo esta manh� no escrit�rio?
<br>O Padre Revoredo. Chegou ontem, volta hoje. S� veio aqui para
<br>receber a ajuda que lhe damos para seus pobres. Aumentei-a,
<br>sem ele me pedir. Ficou de te ver pelo fim da tarde, depois de
<br>uma entrevista com o Cardeal. Se puder. Convidei-o para jantar
<br>conosco. N�o podia. Tem compromisso para jantar com
<br>os frades, no Convento do Carmo.
<br>E erguendo o olhar:
<br>
<br>� Soubeste que a Simone esteve muito doente? Esteve.
<br>Cora��o. Quase foi operada. Chegou a ir daqui um m�dico.
<br>N�o foi preciso traz�-la para c�. L� mesmo, com os aparelhos
<br>que o m�dico daqui levou, conseguiu debelar a crise, e adiar
<br>a opera��o. Disse-me o Padre Revoredo que o caso dela � mais
<br>com Deus, l� em cima, do que com o cirurgi�o, c� embaixo.
<br>A Simone. Sempre a Simone. Onipresente. Como a
<br>intrometer-se nas conversas. Como a aparecer de modo inopinado.
<br>Ali. L� fora. No parque. Na rua. Dentro de casa. Por
<br>toda parte.
<br>
<br>E Patr�cia, indiferente ao piano que voltara a tocar:
<br>
<br>� A Neide, quando conversou comigo, me falou da doen�a
<br>da Simone, mas como uma coisa passageira. Ali�s, com a
<br>147
<br>
<br>
<br>Simone n�o se pode dizer, com exatid�o, que ela tem isto ou
<br>aquilo. Pelo menos antigamente era assim. Quando menina,
<br>pelo que me disse a m�e dela, foi desenganada v�rias vezes.
<br>Na Escola Normal, durante o curso, tamb�m. Da� a dias estava
<br>bem; estava �tima.
<br>
<br>Agora, por�m, Patr�cia subitamente se afligia, sabendo-a
<br>longe e s�, sem parentes, sem as antigas companheiras. E
<br>imaginava-a, altas horas, debatendo-se numa crise repentina,
<br>a clamar por socorro, com a m�o nervosa premindo a campainha
<br>� cabeceira da cama.
<br>
<br>E passado um momento, com os olhos no ar:
<br>
<br>� Tenho pena dela. Muita.
<br>Sentia a Simone refluir, mais uma vez, � tona de suas lembran�as,
<br>ali, com o Rodrigo � sua frente, j� a servir-se do consome,
<br>como alheia ao mundo que a rodeava. No Clube de Regatas
<br>tinha-se lembrado dela com a mais absoluta nitidez, e
<br>� revelia do tempo transcorrido � como se tornasse a v�-la, n�tida,
<br>objetiva, no transe de uma alucina��o. N�o precisava da
<br>realidade ambiente para que a Simone repontasse na sua consci�ncia,
<br>tal qual era, tal qual havia sido. Na cadeira de lona,
<br>� borda da piscina. Caminhando ao seu lado, no Parque da
<br>Cidade. Sentada num dos bancos de ferro desse mesmo parque,
<br>a olhar o balou�o das crian�as. Correndo ao seu encontro
<br>na cal�ada de casa, se por vezes se atrasava uns minutos
<br>na hora marcada para o cinema ou o teatro. Na fila predileta
<br>do cinema. No lugar cativo da quinta fila do teatro. As duas.
<br>Sempre as duas.
<br>
<br>V�rias vezes, come�ando a afligir-se com a freq��ncia das
<br>evoca��es, Patr�cia havia ensaiado afast�-las de si, no temor
<br>de uma obsess�o. Pensava nas bochechas ca�das do Professor
<br>Avertano. Na pantera nervosa do Jardim Zool�gico. Na emo��o
<br>do primeiro encontro com o Rodrigo. E eis que a Simone
<br>reflu�a ao lume das lembran�as, como se todas elas a contivessem,
<br>amalgamada � sua pr�pria subst�ncia, mesmo as que
<br>correspondiam � fase anterior ou posterior � da Escola Normal.
<br>Ou pelo contraste, ou pela concord�ncia, ou mesmo ainda
<br>sem uma raz�o mnen^pnica explic�vel, l� vinha a Simone,
<br>esguia, l�vida, imperativa. Por vezes constitu�a apenas uma ima
<br>
<br>
<br>148
<br>
<br>
<br>gem vaga e moment�nea, que n�o tardava a ganhar nitidez,
<br>at� prevalecer como recorda��o dominante. Ou era j� a imagem
<br>solit�ria, no pr�prio centro das evoca��es.
<br>
<br>Patr�cia, com um suspiro fundo, acabava sorrindo, rendida
<br>� preval�ncia da Simone, reconhecendo, mais uma vez, que
<br>n�o se libertaria dela. Como algo que estaria acima de sua vontade.
<br>E ela pr�pria ia finalmente ao seu encontro, ati�ando as
<br>lembran�as. Simone ao seu lado, na carteira dupla da sala de
<br>aula. Simone � sua espera, no port�o sobre a cal�ada da rua.
<br>Simone na casa dela, Patr�cia, provando o novo vestido que
<br>M�e Ded� acabara de fazer. Simone metida no seu quarto, sem
<br>responder aos seus apelos para que abrisse a porta e lhe falasse.
<br>Simone respondendo sem um erro ou uma hesita��o �s perguntas
<br>da prova oral. Simone no primeiro lugar da prova escrita.
<br>Simone entrando na sala de aula. Simone saindo da sala
<br>de aula. Com o mesmo porte. Silenciosa. Pisando sem ru�do
<br>as t�buas do ch�o. Simone e ela na biblioteca. Lendo os mesmos
<br>livros, uma ao lado da outra. Assistindo �s partidas de
<br>v�lei da Escola Normal, ambas a se protegerem, dando-se as
<br>m�os no momento em que a girafa da Celinha atirava ao ar,
<br>por cima da rede, seus saques indefens�veis. Simone no quarto,
<br>trocando de roupa. Ela e Simone confiando-se os m�tuos
<br>segredos, no quarto �s escuras. Cada uma conhecendo o corpo
<br>da outra, sem esquecer a cicatriz lateral da opera��o de apendicite,
<br>que a Simone fizera quest�o de mostrar-lhe, depois de
<br>ter visto o sinal escuro da outra abaixo do seio esquerdo. Ambas
<br>rindo. E a Simone, de repente:
<br>
<br>� Posso dar um beijo no teu seio? S� um.
<br>E a sensa��o desse primeiro arrepio, que de pronto a eri�ara,
<br>misturando o prazer e o medo, enquanto Simone se retra�a,
<br>como temerosa de si mesma. Por fim, dizia-lhe:
<br>
<br>� Nunca mais fa�o isso. Me perdoa.
<br>Ah, e as longas cartas que a Simone lhe escrevia, e que
<br>M�e Ded� havia queimado, uma por uma, assim que dera com
<br>elas no quarto da filha. Com nitidez, via M�e Ded� diante do
<br>fogareirinho de barro segurando as cartas que as labaredas consumiam:
<br>
<br>
<br>� Cartas como estas n�o se escrevem. E se se escrevem,
<br>149
<br>
<br>
<br>n�o se guardam. Ainda bem que a Simone brigou contigo. Cada
<br>uma de voc�s para seu lado. Foi a melhor solu��o. Embora
<br>eu tenha a certeza, aqui comigo, de que a Simone, com todo
<br>
<br>o ardor de linguagem das cartas que te escreveu, era uma mo�a
<br>pura. Como voc�, Patr�cia.
<br>E Patr�cia, olhando de frente o Rodrigo, j� quase ao fim
<br>do almo�o, com o sal�o do Jockey Clube ainda repleto,
<br>perguntou-lhe se se lembrava do Professor Bruno, que ensinava
<br>geometria e �lgebra na Escola Normal. Adiantou-lhe:
<br>
<br>� Parece que ele vinha por aqui. Gostava das corridas.
<br>E Rodrigo:
<br>� Sim, sim. Como n�o? Fui amigo dele. Foi aqui que eu
<br>o conheci. Depois, perdi-o de vista. Nunca mais soube dele.
<br>E Patr�cia, enquanto come�ava l� fora, na pista ensolarada,
<br>o terceiro p�reo, com toda gente ali a torcer pela �gua castanha
<br>que disparara na frente como uma flecha:
<br>
<br>� O Professor Bruno deu aulas particulares a Simone e
<br>a mim, na casa da Simone. Era alto, bonit�o, sempre bem vestido,
<br>ar esportivo, com uma condecora��o vermelha na lapela
<br>do jaquet�o.
<br>E como o Rodrigo se havia levantado para acompanhar
<br>tamb�m a vit�ria da �gua, Patr�cia tamb�m ficou de p�, a aplaudila,
<br>na torcida un�nime do derradeiro lance.
<br>
<br>E tornando a sentar � mesa:
<br>
<br>� De um dia para o outro, o Professor Bruno desapareceu.
<br>Desapareceu da Escola Normal, desapareceu da casa de
<br>Simone. No hotel onde ele morava, n�o souberam dizer o paradeiro
<br>dele.
<br>O Rodrigo endireitou o corpo, erguendo a cabe�a:
<br>
<br>� Desapareceu tamb�m daqui. Misteriosamente. Sim,
<br>sim. E o curioso � que sumiu daqui sem deixar d�vida, sem
<br>se despedir de ningu�m. A princ�pio, falou-se muito de seu desaparecimento.
<br>Depois, foi esquecido, como tudo se esquece
<br>com o passar do tempo.
<br>E Patr�cia, que esperava o momento da revela��o:
<br>
<br>� Agora, vais saber por que foi que ele sumiu. Paix�o
<br>por Simone. Sim senhor: paix�o por Simone. Chegou a querer
<br>matar-se, se ela n�o consentisse em casar com ele. Simone
<br>150
<br>
<br>
<br>foi firme: disse que n�o pensava em casamento. Que ele tirasse
<br>essa id�ia da cabe�a. Vi a carta que o Professor Bruno lhe
<br>escreveu. Desesperado. Fora de si. Simone rasgou a carta em
<br>peda�os bem mi�dos, que atirou pela janela. Sem lhe dar resposta.
<br>E ele desapareceu. A m�e de Simone n�o soube dessa
<br>carta. S� a mim a Simone a mostrou. E a ningu�m falou do
<br>caso. A ningu�m.
<br>
<br>E ap�s uma pausa, reparando no ar pensativo do marido:
<br>
<br>� De repente, quando entr�vamos aqui, me lembrei de
<br>te contar esse caso.
<br>E quase ao fim do almo�o, quando o gar�om voltou a encher
<br>sua ta�a de champanhe, ela p�s a m�o sobre a m�o do
<br>Rodrigo, por cima da toalha da mesa, cedendo mais uma vez
<br>ao impulso das lembran�as:
<br>
<br>� Nunca te contei a briga da Simone comigo por causa
<br>de meu come�o de namoro com um guarda-marinha? N�o?
<br>Olha bem aquele que ali est�, do outro lado do sal�o. Era um
<br>rapaz assim. Mais bonito. Forte. Talvez mais alto. Irm�o de
<br>uma colega: a Dulce. Uma que a Inezita n�o consultou para
<br>ser convidada porque descobriu que ela, em vez de ensinar menino,
<br>com o diploma da Escola Normal, fugiu daqui com um
<br>escroque e hoje � dona de um bordel, em Buenos Aires. Sim
<br>senhor. Porque, na turma, tamb�m houve disso: uma freira,
<br>a Adriana, e uma dona de bordel, a Dulce.
<br>Nisto o gar�om veio vindo, atencioso, enluvado, para trocar
<br>os pratos da mesa. Patr�cia, em sil�ncio, esperou que ele
<br>se fosse. E voltando a ceder ao gosto e ao enlevo da recorda��o,
<br>trouxe novamente a Simone �quele instante, �quele encontro,
<br>como se obedecesse � pr�pria Simone:
<br>
<br>� Todos os anos, no anivers�rio da Escola Normal, havia
<br>um jogo de basquete entre o time da Escola Normal e o
<br>time do Liceu. Disputad�ssimo. Meses antes j� se falava no jogo.
<br>E era no gin�sio do Atl�tico Clube que a partida era disputada.
<br>Com faixas, fl�mulas, estandartes. Eu ia sempre com a Simone.
<br>Da nossa turma eram as melhores jogadoras a Isabel
<br>e a Antonieta. Altas. Ambas muito �geis, com os melhores saques,
<br>as melhores cortadas. Aconteceu que, quando a Simone
<br>e eu chegamos para o jogo, j� o gin�sio estava cheio. Feliz151
<br>
<br>
<br>
<br>mente, por sorte nossa, acabamos por descobrir dois lugares
<br>na �ltima fila, l� em cima, junto da Dulce, que estava com o
<br>irm�o. Ele, metido na farda da Escola Naval, com o espadim,
<br>
<br>o quepe, todo de branco, parecia um pr�ncipe. E foi do lado
<br>dele que me sentei. Fomos apresentados pela Dulce. Guardei
<br>o nome dele: An�bal. Enquanto o jogo n�o come�ava, ficamos
<br>conversando. A Simone v�rias vezes quis entrar na conversa;
<br>mas ele, astucioso, continuou a conversar comigo, enquanto
<br>a Simone, sem se conter, reclamava o atraso do jogo,
<br>queixava-se do calor, praguejava contra os nossos lugares. Afinal,
<br>houve um momento em que prop�s trocar de lugar comigo:
<br>era mais alta, eu podia ver melhor onde ela estava. Eu lhe disse
<br>que estava vendo bem. E ela, imperativa: � Mas, daqui onde
<br>estou, vais ver melhor. � De meu lado, tamb�m teimei, embora
<br>j� tivesse notado que a Simone n�o estava gostando. Quando
<br>o jogo come�ou, j� ela estava fora de si. Levantou-se, pediu-
<br>me: � Patr�cia, vem comigo: n�o estou me sentindo bem. �
<br>De fato, j� se notava no seu rosto, sobretudo nos seus olhos,
<br>a palidez estranha, levemente amarelada, que a ira sempre lhe
<br>dava. No carro, n�o me falou. Procurei acalm�-la, sabendo que
<br>dali lhe viria uma nova crise. N�o me respondeu. Em casa, antes
<br>de se trancar no quarto, puxou-me tamb�m para dentro, passou
<br>a chave na porta. E exaltada, falando baixo, como a
<br>trespassar-me com os olhos col�ricos: � J� te disse que � cedo
<br>para namorares. E n�o � com qualquer um que vais namorar.
<br>Aquele irm�o da Dulce est� abaixo de ti. E ela tamb�m.
<br>� E mais exaltada, intimidando-me contra a parede, antes de
<br>romper a chorar, no auge do desespero: � Se queres ir para
<br>o lado da Dulce, vai. Vai, mas n�o me apare�as mais aqui. Nem
<br>fales comigo. Prefiro morrer a falar contigo. � E eu, diante
<br>de tanto desprop�sito: � Que � isso, Simone? � Tive pena
<br>dela. Pareceu-me que ela ia cair, e a amparei. E ela, abrac�ndose
<br>a mim, aos prantos: � N�o me deixes, Patr�cia. Preciso de
<br>ti. Muito. Sem ti eu n�o vivo. Sei que n�o vivo. � E mais tarde,
<br>sentada na cama, enxugando os olhos: � Se tiveres mesmo
<br>de te casar, quem vai escolher teu marido sou eu. Eu. Mais
<br>ningu�m.
<br>E o Rodrigo, tornando a estender as m�os por cima da
<br>
<br>152
<br>
<br>
<br>mesa para segurar as m�os frias de Patr�cia, que o olhava de
<br>frente:
<br>
<br>� No fim de tudo, foi ela mesma quem acabou escolhendo.
<br>Sem a Simone, marcando o encontro comigo e contigo na
<br>piscina do Clube, e faltando ao encontro, eu n�o te teria conhecido.
<br>N�o teria sido de prop�sito que ela n�o apareceu?
<br>E por que n�o? Com a Simone, tudo � poss�vel.
<br>E Patr�cia, ap�s um sil�ncio:
<br>
<br>� At� hoje, todas as noites rezo por ela.
<br>153
<br>
<br>
<br>SEGUNDA PARTE
<br>
<br>Tout n'est pas saint dans les saints; ni lumi�re
<br>dans les hommes �clair�s.
<br>
<br>JOUBERT, Pens�es
<br>
<br>Apr�s avoir bien refl�chi sur la destin�e des
<br>femmes dans tous les temps et chez toutes les
<br>nations, j'ai fini par penser que tout homme
<br>devrait dire � la femme, au lieu de Bonjour: �
<br>Pardon! car les plus forts ont fait la loi.
<br>
<br>ALFRED DE VIGNY, Journal d'un po�te
<br>
<br>
<br>PRIMEIRO CAP�TULO
<br>
<br>1
<br>
<br>Ele viu Patr�cia entrar na garagem, vestida para o seu passeio
<br>da tarde, j� trazendo na m�o a chave do carro esporte,
<br>e ofereceu-se:
<br>
<br>� Eu levo a senhora.
<br>� Obrigada, Expedito. Hoje eu mesma quero dirigir.
<br>Expedito tratou de levantar a porta da garagem, enquanto
<br>o Ludovico, com ar apreensivo, abria as duas folhas do port�o
<br>da rua, assistido por um dos guardas de seguran�a.
<br>
<br>Este, sol�cito, acercou-se do carro, no momento em que
<br>Patr�cia come�ava a manobr�-lo, e perguntou-lhe:
<br>
<br>� Eu a acompanho, D. Patr�cia?
<br>� N�o precisa.
<br>E foi tamb�m o Expedito, ao v�-la completar a manobra,
<br>quase a arranhar o carro na coluna do port�o, que lhe recomendou:
<br>
<br>
<br>� Por favor, n�o corra muito.
<br>Porque havia sido ele, na aus�ncia do Dr. Rodrigo, quem
<br>fora ao encontro dela na Estrada da Serra, quando o carro esporte
<br>derrapou na curva fechada, resvalando despenhadeiro
<br>abaixo para ficar preso, por milagre, no tronco de uma �rvore
<br>iorta que guarnecia a encosta. Felizmente, depois dos sucessivos
<br>exames do Dr. Savedra, com minuciosas radiografias do
<br>cr�nio e do t�rax, nada de grave havia sido constatado al�m
<br>de um pequeno corte na fronte esquerda, de onde descia teimosamente
<br>um fiozinho de sangue.
<br>
<br>E foi o Ludovico, pelo telefone internacional, quem deu
<br>
<br>157
<br>
<br>
<br>a not�cia do desastre ao Dr. Rodrigo, assim que teve a certeza
<br>de que a patroa estava bem, sem fraturas nem contus�es:
<br>
<br>� Meus parab�ns, Dr. Rodrigo. Aqui est� falando o Ludovico.
<br>Sim, parab�ns. D. Patr�cia teve um pequeno desastre
<br>na Estrada da Serra, quando o carro que ela dirigia derrapou.
<br>O carro esporte. N�o houve nada demais, a n�o ser um pequeno
<br>arranh�o que foi logo tratado. Fique tranq�ilo. Ela pr�pria
<br>vai lhe falar. De casa, sim; de casa.
<br>E Patr�cia, ainda obrigada ao repouso, sem erguer muito
<br>a cabe�a que ainda lhe do�a:
<br>
<br>� Amor, sou eu. Viva e inteira. � s� para te dar um beijo.
<br>N�o, n�o alteres o teu programa. Vem quando devias vir.
<br>Estou bem, j� te disse. Fica tranq�ilo. Tudo quanto tive foi
<br>o arranh�o de que o Ludovico te falou. O pr�prio Savedra me
<br>disse que n�o � preciso chamar o cirurgi�o pl�stico. Nada de
<br>incomodar o Pitangui, que tem mais o que fazer. Se queres
<br>que eu chame, chamo. Mas � exagero. J� te disse. Eu n�o ia
<br>telefonar, mas tive receio de que um de nossos amigos das colunas
<br>sociais exagerasse o que se passou comigo e que tu, a�,
<br>lendo a not�cia, ficasses aflito. Se queres que eu jure, juro. Mas
<br>Deus, l� em cima, est� achando gra�a de teus exageros. Vai cuidar
<br>�!e ti. Um beijo.
<br>Dois dias depois, o marido lhe fez a surpresa de entrar
<br>pelo quarto, ainda com a pasta e o sobretudo da viagem, trazendo
<br>consigo outro m�dico, o Dr. Nuno Vaz, vindo de Nova
<br>Iorque. E foi logo dizendo:
<br>
<br>� N�o sossego enquanto o Nuno Vaz n�o te examinar.
<br>E por quase uma hora, munido de uma lente forte, o paciente
<br>cirurgi�o a examinou com os olhos firmes de sua per�cia
<br>e de seu renome, para por fim constatar, tranq�ilizado:
<br>
<br>� Tudo bem. Mas lhe confesso que me alarmei quando
<br>vi, pela fotografia dos jornais, o estado em que ficou seu carro.
<br>Agora, mais cuidado quando dirigir. N�o se esque�a deste
<br>aviso.
<br>Volvidos quase tr�s anos, Patr�cia sabia rir do desastre,
<br>sobretudo quando lembrava que havia ficado quase nua dentro
<br>do carro, com a porta empenada, sem saber como
<br>desprender-se dos ferros torcidos, com o volante sobre o pei
<br>
<br>
<br>158
<br>
<br>
<br>to, o banco levantado, a porta emperrada, a saia mostrando
<br>a calcinha de seda, sem que pudesse deslocar o bra�o para
<br>compor-se, enquanto o bombeiro gordo, de cara redonda, lhe
<br>dava a m�o, muito vermelho, mais encabulado do que ela:
<br>
<br>� Feche os olhos, fa�a uma forcinha para o meu lado.
<br>Estou vendo se consigo tirar a senhora. Calma. N�o se aflija.
<br>Tudo vai dar certo.
<br>Logo se formara na ribanceira a multid�o de curiosos, contidos
<br>ali pelo cord�o de isolamento. N�o tardaram as ambul�ncias,
<br>e mais os carros de reportagem e os flashes fotogr�ficos,
<br>as c�meras de televis�o, ao mesmo tempo em que a not�cia
<br>se propalava pelos r�dios e pelas televis�es, alvoro�adamente.
<br>
<br>Afinal, ela desprendera o bra�o, conseguira mudar de posi��o
<br>no banco, e ela pr�pria viera saindo devagar, devagarinho,
<br>at� que p�de adiantar o p� para o v�o da porta, torceu
<br>
<br>o corpo, deslizou, apoiou-se na ribanceira, para afinal firmar-se
<br>do lado de fora, ainda tonta, ouvindo o bater das palmas no
<br>viso da estrada.
<br>Depois, com os dias passados na cama, assistida por uma
<br>enfermeira alem�, entre novas visitas m�dicas, outros exames,
<br>tinha sido o desfile dos amigos e amigas que deixavam cart�es
<br>na portaria, assinavam o livro de presen�a, telegrafavam ou
<br>perguntavam do port�o, por interm�dio do telefone interno,
<br>se podiam subir para uma visitinha r�pida. Outros, menos importunos,
<br>mandavam flores. Sempre gentil, o Presidente da Rep�blica
<br>fizera vir seu ajudante-de-ordens com uma orqu�dea,
<br>vinda de Paris. O N�ncio, mais grave, menos galante, num belo
<br>papel perfumado, enviara-lhe uma ora��o de Le�o XIII, sempre
<br>de muito efeito em situa��es an�logas. Mas n�o faltou a
<br>carta cruel, sem assinatura, em tom chulo, nestas breves linhas
<br>espa�adas: "Os ricos tamb�m se estrepam, como os pobres.
<br>Com a diferen�a de que os ricos morrem dentro de carro, ao
<br>passo que os pobres morrem na rua, atropelados. D� parab�ns
<br>ao teu Anjo da Guarda; mas pede a ele que, de outra vez, d�
<br>um cochilo na hora do desastre."
<br>
<br>Mostrara a carta ao bom do Padre Revoredo, que a viera
<br>visitar ap�s um longo dia de viagem na bol�ia de um caminh�o,
<br>e ele, calmo, humano e generoso, se limitara a acender
<br>
<br>159
<br>
<br>
<br>o seu velho isqueiro, para converter em cinza o papel reles. Por
<br>fim, sacudiu as m�os, com nojo, e recomendou-lhe:
<br>� Esque�a essa mis�ria.
<br>E fora ele que levara o Cardeal a celebrar, na Catedral repleta,
<br>a missa de a��o de gra�as pelo restabelecimento de Patr�cia,
<br>assim que o m�dico lhe deu alta, e voltou para Nova
<br>Iorque.
<br>
<br>2
<br>
<br>Patr�cia completou a manobra, trazendo o carro em marcha
<br>� r� at� o meio-fio; rodou o volante para a esquerda, j�
<br>em ponto morto, e engrenou a alavanca de mudan�as,
<br>ajustando-a � primeira marcha, atentamente observada pelo
<br>Expedito e pelo Ludovico, ainda nos limites do port�o.
<br>
<br>Sempre sorrindo, ela acenou para os dois com a m�o enluvada,
<br>e logo a seguir calcou firme o acelerador, olhando em
<br>frente a rua deserta e ampla. Aos poucos, cautelosamente, soltou
<br>a embreagem, at� sentir que devia passar � segunda marcha,
<br>depois � terceira, e foi levando o carro com destreza e seguran�a,
<br>enquanto o ponteiro do painel se deslocava com rapidez
<br>no mostrador do veloc�metro.
<br>
<br>Adiante, ao consultar as horas no rel�gio � sua frente, viu
<br>que estava atrasada. Calcou mais fundo o acelerador, favorecida
<br>pela avenida larga e retil�nea que se projetava no sentido
<br>da auto-estrada, seu prolongamento natural
<br>
<br>E com o pensamento no Lucas Caetano, que j� estaria �
<br>beira da estrada, no abrigo da Curva da Serra, � sua espera,
<br>imaginou-o a consultar de vez em quando o rel�gio de pulso,
<br>depois de ter olhado a faixa da estrada, impaciente.
<br>
<br>Concluiu, divertindo-se:
<br>
<br>� J� me xingou com um bando de nomes feios, s� porque
<br>me atrasei vinte minutos.
<br>Calcou mais o acelerador, quase a tocar o ch�o a seus p�s,
<br>e teve a sensa��o de que eram as margens da estrada que se
<br>
<br>160
<br>
<br>
<br>deslocavam, correndo em sentido contr�rio ao carro. Mesmo
<br>assim, corrigiu o batom do l�bio superior, corrigiu tamb�m
<br>a mecha de cabelo que resvalara para a testa, atenuou a luz
<br>diante dos olhos, j� a 120 km.
<br>
<br>A tarde subia, ampla, espa�osa, com uma ou outra casa
<br>na encosta dos morros, enquanto se sucediam as cercas de arame
<br>farpado, de um lado e de outro, interrompidas pelos port�es
<br>de madeira ou de ferro, entre colunas de pedra. De longe
<br>em longe, um peda�o de muro coberto de musgo. Mais longe,
<br>para as bandas do poente, a cabeleira solta de uma cascata precipitando-
<br>se na dire��o do rio que acompanhava a estrada, ora
<br>alargando-se, como a exibir-se, ora retraindo-se por tr�s das
<br>�rvores, como a esconder-se.
<br>
<br>E Patr�cia, depois de olhar o veloc�metro:
<br>
<br>� Minha Nossa Senhora, estou correndo a 140!
<br>Agora, j� estava perto. N�o tinha que desculpar-se. N�o,
<br>de modo algum. A culpa era do pr�prio Lucas Caetano, que
<br>decidira esper�-la na Curva da Serra, alegando que iria almo�ar
<br>perto dali, na ch�cara de um velho companheiro de Faculdade
<br>que rompera de vez com a vida urbana, e s� a ele, Lucas
<br>Caetano, admitia � sua mesa e ao seu alpendre.
<br>
<br>Tornou a olhar o veloc�metro: sem sentir, voltara a pressionar
<br>o acelerador, e logo a agulha do painel apontou para
<br>150, sem que o carro acusasse o m�nimo sobressalto, quase a
<br>levitar no impulso da corrida.
<br>
<br>De repente, ao fechar a curva, tateou o freio, firmando
<br>as m�os na roda da dire��o, enquanto os pneus gemiam,
<br>retesando-se, no esfor�o para se agarrarem � camada do asfalto.
<br>
<br>E o Lucas Caetano, com ar feliz, � sua frente:
<br>
<br>� Patr�cia, tu n�o crias ju�zo. Depois do susto que o outro
<br>carro te deu, n�o te emendaste. Precisavas correr desse jeito?
<br>Por esta vez vou ficar calado. Mas da pr�xima, se houver
<br>pr�xima, vou te intrigar com teu marido.
<br>Abriu-lhe a porta, escancarou os bra�os efusivos, como
<br>se fosse voar. E apertando-a contra o peito:
<br>
<br>� Linda, linda. Est�s divina, com esse costume can�rio.
<br>Um amor. Balmain? Ou Dior? Logo vi. Costureiro de Paris.
<br>Nem preciso olhar. Sinto pelo cheiro.
<br>161
<br>
<br>
<br>E enquanto falava, ia-a distanciando de si, segurando-lhe
<br>as m�os, recuando a cabe�a, no �xtase da admira��o:
<br>
<br>� Volto a dizer: est�s linda, linda. Que Miss Universo coisa
<br>nenhuma. N�o conhe�o quem te chegue aos p�s. �s �nica,
<br>Patr�cia. Deus, quando te fez, estava inspirado. Inspirad�ssimo.
<br>O tom da tua pele, os teus cabelos, esses ombros altos,
<br>os teus seios (perdoa, perdoa, sou impulsivo, digo o que penso
<br>e sinto), as tuas m�os, tudo, tudo. Posso te afirmar, sem
<br>receio de erro ou de exagero: neste mundo, o mais invejado
<br>dos homens � teu marido. Sim, sim: Rodrigo, o felizardo. O
<br>que nasceu de bumbum para a lua. O sortudo. O que acerta
<br>sempre.
<br>E caindo em si:
<br>
<br>� Espera. O que � que n�s dois estamos fazendo aqui,
<br>nesta beira de estrada, com o sol em cima da cabe�a? Tu te
<br>distra�ste e sa�ste do carro; eu me distra� tamb�m e te abri a
<br>porta. Dois malucos. Merecendo hosp�cio e eletrochoque.
<br>Abriu de novo a porta do carro, saltitante, fren�tico, sem
<br>deixar cair o mon�culo, sem deslocar a gravata vermelha que
<br>
<br>o broche de ouro espetava: fez Patr�cia entrar, fechou a porta
<br>batendo com for�a; deu a volta pela frente, pisando de leve,
<br>como a ressaltar na luz intensa o vinco da cal�a clara bem talhada
<br>sobre a qual ca�am as abas do palet� azul de bot�es doirados,
<br>e instalou-se do outro lado, j� com o cigarro americano
<br>encaixado na piteira.
<br>E cruzando as pernas longas, a tatear o bolso � procura
<br>do isqueiro sueco, suspirou alto, sem tufar o peito da camisa:
<br>
<br>� Segue em frente. J� vou te dizer onde vamos. Est�s vendo
<br>aquela entrada, no come�o da subida? � por ali que n�s
<br>vamos. Vai seguindo, seguindo: l� em cima vais me dizer se j�
<br>viste uma paisagem igual.
<br>Assustou-se:
<br>
<br>� Espera um pouco: j� est�s correndo. Por mim, podes
<br>correr; eu me preocupo � por ti. Assim tamb�m n�o: s� vamos
<br>chegar l� em cima depois de amanh�. Mais depressa.
<br>Assim.
<br>Acendeu o cigarro, diminuindo os olhos pulados na expectativa
<br>da primeira fuma�a, e logo seu rosto comprido, de
<br>
<br>162
<br>
<br>
<br>p�mulos salientes, muito azul em toda a extens�o da barba
<br>bem raspada, as duas entradas avan�ando para o alto da cabe�a,
<br>como a formar simetria perfeita com as sobrancelhas
<br>obl�quas, assumiu fei��o mais teatral, entre diab�lica e pelintra,
<br>dando a impress�o de que Mefist�feles estava ali, dispon�vel
<br>e contente.
<br>
<br>Novamente o ponteiro do veloc�metro oscilou, pendulando
<br>com rapidez na curva do mostrador, enquanto o Lucas Caetano,
<br>soprando de vez em quando a fuma�a do cigarro para
<br>
<br>o alto, ia falando, sempre de pernas cruzadas:
<br>� Que conversa maluca era aquela tua, semana passada,
<br>a me dizer que estavas pensando se fazias ou n�o a tua
<br>festa com as colegas da Escola Normal? Perdeste a cabe�a, Patr�cia?
<br>N�o est�s raciocinando com o teu miolo. Era o que eu
<br>queria te dizer, assim, olhando para ti. Foi por isso que te convidei
<br>para um ch�. Primeiro, n�o se bota na lata do lixo uma
<br>id�ia como a tua. Segundo, mesmo que quisesses, n�o havia
<br>mais tempo para abandonar o nosso projeto. Nosso, sim, por
<br>que n�o? Meu tamb�m, com tudo o que eu j� tenho badalado
<br>na minha coluna. Sim senhora. N�o se fala noutra coisa no
<br>meio da gr�-finada. Muita gente j� est� a me engrossar para
<br>ver se eu arranco de ti e do Rodrigo um convite para o grande
<br>dia. E olha eu a me fazer de desentendido, de cara s�ria, mas
<br>rindo por dentro. Al�m disso... Al�m disso, n�o te conto as
<br>conversas do Rodrigo comigo, no escrit�rio dele. N�o, n�o te
<br>conto. Olha para a estrada, criatura. Tens duas vidas preciosas
<br>aqui dentro. Precios�ssimas. Primeiro, vamos fazer a tua
<br>festa, que � a coisa mais importante deste mundo depois da
<br>cura da aids; depois, sim, mas muito depois, uns diazinhos no
<br>hospital, com a perna quebrada, a clav�cula em pandarecos e
<br>uma amea�azinha de traumatismo craniano, para receber muitas
<br>flores e muitos telegramas.
<br>E batendo na boca, rindo:
<br>
<br>� Deus nos livre e guarde. Que maluquice! Deus, l� no
<br>alto, sabe perfeitamente que estou brincando. Ave Maria! Deixa
<br>eu rezar um bocadinho para afugentar o mau agouro.
<br>E abrindo os olhos para a tarde magn�fica, no caminho
<br>retil�neo:
<br>
<br>163
<br>
<br>
<br>� Est�s vendo o dia que escolhi para o nosso ch�? L�
<br>em cima � que vais ver o que � mesmo uma paisagem. De deixar
<br>muito estrangeiro com inveja. Sim senhora: com inveja.
<br>Ergueu a cabe�a, assustado, aumentando os olhos:
<br>
<br>� Est�s de novo correndo, Patr�cia. Se queres morrer,
<br>morre sozinha. Me deixa aqui mesmo na Terra, que isto tamb�m
<br>� um para�so. Por favor, vai devagar. Assim. Obrigado,
<br>querida. A p�tria agradecida. E eu tamb�m.
<br>3
<br>
<br>L� de cima a vista se espalhava sobre a corda de montanhas,
<br>como de cima de um anfiteatro. E tudo verde, um verde
<br>de muitos tons, resplandecendo na luz derramada: escuro ali,
<br>mais escuro adiante, depois claro, quase a resvalar para o amarelo,
<br>e salpicado de vermelho, de rosa, de alaranjado, na surpresa
<br>da flora��o recente. E esse verde subia, descia, espalhava-
<br>se, obedecendo � ondula��o do terreno e galgando os p�ncaros
<br>mais altos, como a teimar com os flancos de pedra, que
<br>por fim se erguiam, solit�rios, buscando os fiapos de nuvem
<br>que o vento macio da tarde ia levando.
<br>
<br>N�o se via uma s� casa. Tampouco o olhar descobria a
<br>faixa sinuosa da estrada ou o bra�o de rio. De vez em quando,
<br>uma �rvore se destacava por cima das outras, e subia mais, esguia,
<br>afinando-se, para enfim se esgalhar, como a abrir os bra�os,
<br>vitoriosa.
<br>
<br>E ao centro, bem ao centro, parecendo obedecer a um capricho
<br>geom�trico da natureza, aquele fio de �gua que se desatava
<br>do topo da montanha, precipitando-se em cascata, abrindo
<br>na mata densa o seu caminho vertical. E como o sol faiscava
<br>em todo o seu percurso, dava-lhe tons prateados, reluzindo
<br>no rio solto que se precipitava no abismo, at� que, ao fundo
<br>do vale imenso, a vegeta��o o escondia, dando a impress�o
<br>de que acorrera para envolv�-lo e trag�-lo.
<br>
<br>164
<br>
<br>
<br>E o Lucas Caetano, para a Patr�cia silenciosa que olhava
<br>tudo aquilo com ar de pasmo:
<br>
<br>� Que tal, hem? �
<br>Sensacional. Nunca imaginei que isto fosse assim.
<br>E ele, levando-a para um canto do sal�o:
<br>� Agora, olha a nossa mesa.
<br>Ela parou, alongou o bra�o para as rosas imensas que se
<br>abriam acima do vaso azul, macias e oferecidas. O crivo da
<br>toalha, sobre o m�rmore da mesa, harmonizava-se ao colorido
<br>das p�talas, e estas, desabrochadas, como que enlanguesciam,
<br>prestes a se desfazer na embriaguez da claridade excessiva.
<br>Nas outras mesas, pequenos tufos de sempre-vivas. S�
<br>ali, naquele canto em �ngulo, as rosas solit�rias de tons variados.
<br>E Patr�cia, com a m�o espalmada por baixo de uma das
<br>corolas:
<br>
<br>� Nunca vi rosas assim. Meu jardineiro, se as visse, ia
<br>ficar maluco. E n�o sossegaria enquanto n�o conseguisse uma
<br>muda destas rosas.
<br>Lucas Caetano abriu mais o sorriso, e seu nariz fino e
<br>adunco, por cima dos l�bios muito estreitos, afinou-se ainda
<br>mais:
<br>
<br>� Vou ver o que � poss�vel conseguir para acalmar o pobre
<br>homem. Vou ver. Deixa o caso comigo. O que � que eu n�o consigo,
<br>com duas ou tr�s palavrinhas de minha coluna? Teu marido
<br>que o diga.
<br>Afastou o gar�om, e ele pr�prio segurou a cadeira pelo
<br>espaldar para que Patr�cia sentasse:
<br>
<br>� Aqui, aqui. De frente para o mais belo quadro da natureza.
<br>Olhando a mais linda cachoeira. O mais perfeito v�u
<br>de noiva.
<br>E logo tamb�m sentou � mesa, tendo o cuidado de afastar
<br>um pouco o vaso das rosas:
<br>
<br>� Assim. Para que continues olhando a paisagem.
<br>Depois, interrompendo o sil�ncio, enquanto Patr�cia desemborcava
<br>a ch�vena de porcelana chinesa:
<br>
<br>� Lindo tudo isto, n�o? Mas o mais belo quadro �s tu,
<br>165
<br>
<br>
<br>Patr�cia, tu. E o premiado sou eu. Neste lugar. Nesta hora. Num
<br>dia assim. Feito de prop�sito para te servir de moldura.
<br>E Patr�cia, como numa reprimenda:
<br>
<br>� P�ra com essas bobagens. Se o Rodrigo te ouvisse, nesse
<br>tom, com esses excessos, dava-te uma surra. Ou mandava dar.
<br>� E eu apanhava, satisfeito. Era capaz de morrer. E morria
<br>feliz, apanhando. Como um novo m�rtir da verdade.
<br>Riram alto, os dois. Como a se divertirem com o faz-deconta,
<br>numa brincadeira infantil.
<br>E ela, como a esquivar-se aos galanteios:
<br>
<br>� A conversa est� boa, mas vamos mudar de assunto.
<br>Tamb�m o Rodrigo, quando eu lhe disse que era melhor irmos
<br>a Paris ou Londres, em vez de dar a festa de meu anivers�rio,
<br>ralhou comigo: "N�o senhora. De jeito nenhum. Vamos dar
<br>a nossa recep��o, e muito mais bela que as outras."
<br>E o Lucas Caetano, com a m�o direita em forquilha por
<br>baixo do queixo, ado�ando ainda mais os olhos entrefechados:
<br>
<br>� Posso te contar um segredo? Juras que n�o dir�s nada
<br>ao Rodrigo? A pessoa alguma? Mesmo que te torturem, como
<br>nos interrogat�rios da Pol�cia? Ou nos processos da Inquisi��o?
<br>Olha que se disseres isto (e exibiu a cabe�a do dedo indicador)
<br>ter�s o castigo no dia seguinte, na minha coluna. Tintim
<br>por tintim, conto tudo quanto me contaste, em segredo,
<br>sobre a tiara de brilhantes que o Rodrigo vai te dar. Tudo. Dente
<br>por dente, olho por olho. E tu sabes que eu, quando me zango,
<br>fico mesmo uma fera. Perco a cabe�a. Mesmo que v� por
<br>�gua abaixo toda a ajuda que recebo de teu marido para as
<br>minhas caridades.
<br>E voltando � efervesc�ncia de seu temperamento:
<br>
<br>� J� ficou pronto o tablado por tr�s da piscina de tua
<br>casa? N�o me digas. E que tal? Muita gente vai morrer de inveja
<br>quando souber que ali dan�ar�, au grand complet, o Bale
<br>Nacional. O pr�prio. J� sabias? Quem deu com a l�ngua nos
<br>dentes? E n�o me falaste? E ficaste caladinha, guardando a
<br>sete chaves um segredo t�o grande? Ah, bandida. O que n�o
<br>sabes vais saber agora. Foi aqui o papai, com a sua l�bia, com
<br>o seu prest�gio, que conseguiu tudo. E o que � que eu n�o consigo,
<br>com a minha pena e a minha coluna? Falei aqui, falei
<br>166
<br>
<br>
<br>ali, telefonei, mexi, me virei, imprensei muito figur�o contra
<br>a parede, e o diretor do Bal�, que punha mil dificuldades em
<br>nosso caminho, acabou entregando os pontos. Sim senhora.
<br>Vai mesmo. � tua casa. Com todos os bailarinos. Com refletores.
<br>Com a orquestra inteira. Com jogos de luz. Uma verdadeira
<br>maravilha. Eu tinha pensado em trazer o Bolchoi. Mas
<br>esses russos s�o duros na queda. Puseram mil obst�culos. Cedi
<br>o que pude. Afinal, cansei. Se o Bolchoi viesse, eu era capaz
<br>de entrar para o Partido. Ficar escravo deles o resto da vida.
<br>Mas desisti da id�ia, antes de me fazerem sofrer. O Bal�
<br>Nacional tem seu renome. Para n�s, � o que h� de melhor. Elas
<br>por elas. Se o bal� da Cortina de Ferro n�o vem, que venha
<br>
<br>o bal� da Cortina que n�o � de ferro. T�o bom quanto o outro.
<br>Ou melhor. Gra�as a Deus. O Rodrigo, de t�o feliz, quase
<br>me beijou. Palavra de honra.
<br>Patr�cia, em sil�ncio, recolhia-lhe as palavras, com as m�os
<br>no rega�o, o dorso apoiado no recosto da cadeira, esquecida
<br>da paisagem, do casal de velhos que adiante mastigavam, dos
<br>gar�ons que iam e vinham por entre as mesas vazias, e toda
<br>ela como que subira ao rosto, com os grandes olhos iluminados.
<br>
<br>E ao v�-lo calar-se, olhando-a nos olhos:
<br>
<br>� Continua. Estou ouvindo.
<br>� Espera, criatura. Uma pausazinha para descansar. Eu
<br>conto tudo porque, para ti, n�o tenho segredos. Mas devagar.
<br>De um f�lego s�, cansa. E eu n�o tenho pressa, diante de uma
<br>mulher t�o linda.
<br>Na verdade, ela n�o era dessas belezas que nos entram pelos
<br>olhos num relance, com a intensidade moment�nea de uma
<br>alvorada de ver�o. N�o, n�o era. Havia no seu rosto, na sua
<br>figura, no seu modo de ser, uma particularidade indefin�vel,
<br>que se descobria devagar, associada � harmonia de conjunto,
<br>ou composta por essa harmonia. E que parecia acentuar-se e
<br>impor-se � medida que era observada. Assim im�vel, como na
<br>pose de um retrato.
<br>
<br>E o Lucas Caetano, espetando o cigarro na piteira:
<br>
<br>� Muita gente morrer� de despeito, querida. Conhe�o rivais
<br>tuas que v�o morder o len�ol embolado, de noite, pensando
<br>nas coisas que vou contar. Sabes quem vem para a tua
<br>167
<br>
<br>
<br>festa? A Sophia Loren! S�? N�o. Vem tamb�m a Elizabeth Taylor.
<br>A dific�lima Elizabeth. E quem mais? O Mastroianni. O pr�prio.
<br>Em pessoa. Um pouco mais gordo, mas sempre bonit�o.
<br>E o Pel�. Sim senhora: o Pele, com aquele ar de quem tirou
<br>a sorte grande na loteria. O negr�o bonito. Vem. Esse foi o
<br>papaizinho aqui que conseguiu. S� esses? Por enquanto. Para
<br>come�ar. Para machucar. Para dar o que falar no mundo inteiro.
<br>E eu .a soltar minhas not�cias. Devagarinho. Como um
<br>terrorista que vai pondo as suas bombas, caladinho. Vestido
<br>de padre. Para n�o dar na vista.
<br>
<br>168
<br>
<br>
<br>SEGUNDO CAP�TULO
<br>
<br>1
<br>
<br>O Ludovico, � sua espera ao p� da escada, s� fez confirmar
<br>o que Patr�cia j� sabia, por ter visto o jipe inconfund�vel,
<br>com o competente reboque de cortininhas brancas nas janelas
<br>laterais, parado na rua, junto ao meio-fio:
<br>
<br>� Est� a� a vi�va do senhor seu tio. Com um ar ainda
<br>mais estranho. De perneiras e botas.
<br>E enquanto galgava a escada, Patr�cia sentiu aflorar-lhe
<br>� mem�ria � ex�tica, cabelos soltos e escorridos, olhos pintados
<br>de negro, alta, queimada do sol, com as suas cartas de
<br>jogar, as suas contas coloridas, a sua bola de cristal � a inconfund�vel
<br>Tia Creusa.
<br>
<br>Desde que lhe morrera o marido, deixando-lhe alguns recursos,
<br>a tia estranha, sujeita a transes m�sticos, sa�ra a dar
<br>a volta ao mundo, com um velho criado, o Albino, e um gato
<br>siam�s, o Rubi, � cata dos efl�vios orientais que lhe permitissem
<br>realizar-se. Queria entrar em contato com os mist�rios da
<br>humanidade e da vida, a que os astros, o vento, o v�o dos p�ssaros,
<br>as cartas de seus numerosos baralhos, adequadamente
<br>interrogados, forneciam roteiros preciosos, com os quais dissipava
<br>infort�nios, alertava sobre trope�os e perigos, orientava
<br>para o bom caminho, ou simplesmente permanecia em sil�ncio,
<br>como petrificada, sempre que algo rec�ndito e implac�vel
<br>lhe parecia muito acima de suas s�plicas e de seus poderes.
<br>
<br>Assim que transp�s a porta da rua, j� no vest�bulo iluminado,
<br>Patr�cia sentiu os passos da velha senhora no sal�o. De
<br>
<br>
<br>169
<br>
<br>
<br>via estar agitada e impaciente. Com seu ar desvairado. O seu
<br>olhar ausente.
<br>E Patr�cia, ao dar com ela, depois de assustar-se, no limiar
<br>do sal�o:
<br>
<br>� Tia Creusa, que alegr�o a senhora me deu agora!
<br>As perneiras de camur�a preta subiam-lhe para os joelhos,
<br>amarfanhadas, reluzentes, por cima do cano curto das botas
<br>tamb�m de pelica. Vestida de culote e d�lm�, com um chap�u
<br>de escoteiro abafando-lhe os cabelos brancos, algo de viril na
<br>energia do rosto, no passo cheio, na impaci�ncia com que batia
<br>o rebenque numa das perneiras, indo e vindo, ao fundo do
<br>sal�o.
<br>
<br>E a Tia Creusa, aproximando-se:
<br>
<br>� Mudei de rota, muito longe daqui, s� porque tive um
<br>aviso de que precisavas de mim. Levei onze dias para chegar.
<br>E hoje mesmo, com a subida da lua cheia, estou indo embora.
<br>E como era alta, com uma express�o dominadora e possessiva,
<br>os p�mulos salientes, o queixo retangular, assumia, ao
<br>falar, ou simplesmente ao olhar, uma atitude de mando, veemente
<br>e natural:
<br>
<br>� N�o sei o que vais fazer. Nem quero saber. O que sei,
<br>por mim mesma, me basta. Grandes coisas te esperam, nos pr�ximos
<br>meses. Vejo tudo em grande, na tua frente. A rua se alarga,
<br>as �rvores crescem, os edif�cios se agigantam. E tu, Patr�cia,
<br>vais seguindo ao encontro desse mundo exagerado. Eu vejo,
<br>de olhos abertos, como outros v�em, de olhos fechados,
<br>sonhando. O que � que isto quer dizer? Alguma coisa diferente
<br>vai acontecer contigo.
<br>Segurou Patr�cia pelos ombros, atraindo-a para a luz viva
<br>que entrava da rua, no cair da tarde. E olhando-a nos olhos,
<br>mais perto, a menos de meio palmo:
<br>
<br>� Tens inimigos, como tem todo aquele que se destaca
<br>no meio em que vive. Tentando destruir-te. Vai andando. Nada
<br>de �dios. Nada de rancores. P�e a bondade na tua frente,
<br>e vai seguindo pela estrada aumentada. Com a m�o na m�o
<br>do Rodrigo. A bondade destr�i a maldade. Se n�o a destr�i
<br>no primeiro momento, destr�i devagar, at� vencer. Firma bem
<br>os olhos em mim, para que recebas meus fluidos. Estou reple170
<br>
<br>
<br>
<br>ta deles. Com uma for�a nova. Agora, p�ra de respirar. Assim.
<br>Por uns momentos. Me acompanhando.
<br>
<br>De longe, pela fresta d� porta, o Ludovico se mantinha
<br>atento, de respira��o presa, pronto a intervir para defender a
<br>patroa caso o acesso de loucura da Tia Creusa se excedesse.
<br>Chegou a alargar a fresta, num impulso, mas logo viu que Patr�cia
<br>segurava as m�os da velha senhora, rindo alto, reconhecida:
<br>
<br>
<br>� Obrigada, Tia Creusa. � pena que a senhora n�o esteja
<br>aqui no meu anivers�rio. Se estivesse, eu faria quest�o de
<br>que viesse � nossa festa. Desta vez vai ser maior, mais bonita.
<br>E mudando de tom, ao ver que a Tia Creusa se encaminhava
<br>na dire��o da porta:
<br>
<br>� Que � isso? N�o janta comigo? E vai me deixar, sem que
<br>eu a ajude nas suas viagens? N�o, senhora. Espere um pouco.
<br>A velha senhora afastou as m�os espalmadas, resignando-
<br>se. J� que era essa a vontade da sobrinha, obedecia. E obedecia
<br>com humildade, porque j� ningu�m podia mais com o
<br>pre�o da vida.
<br>
<br>E Patr�cia, de volta, trazendo nas m�os o envelope fechado:
<br>
<br>� Hoje aumentei um pouquinho mais a sua mesada.
<br>Obrigada pelo carinho. Venha sempre.
<br>Tia Creusa atafulhou o dinheiro gordo no bolso traseiro
<br>das cal�as, com a mesma fisionomia iluminada. Depois, tornando
<br>a bater na perneira com a ponta do rebenque, chegou
<br>� porta. Antes de passar para o patamar, voltou a segurar Patr�cia
<br>pelos ombros, olhando-a sempre, direto e firme, sem pestanejar,
<br>sem respirar. E deixando cair os bra�os:
<br>
<br>� N�o sei o que seria de ti, e de teu marido, se eu n�o
<br>tivesse vindo aqui, neste momento. Agora, vou tranq�ila.
<br>Desceu um degrau e parou, voltando o olhar para o alto,
<br>na dire��o de Patr�cia que dali lhe sorria, no v�o da porta:
<br>
<br>� Desfaz a inveja alheia com a tua bondade. Est�s muito
<br>alto, no plano superior. N�o des�as nunca. Aconselha a mesma
<br>coisa ao Rodrigo. N�o basta a caridade dos asilos que ele
<br>mant�m. � preciso mais. Muito mais.
<br>E ap�s descer outro degrau:
<br>
<br>171
<br>
<br>
<br>� N�o sei se volto aqui. Sinto que a grande luz me chama.
<br>N�o quis ir para o Mist�rio sem te ver. Agora, vou em paz.
<br>Desceu depressa o resto da escada, l�pida, juvenil, e entrou
<br>no reboque do jipe, sem se voltar. Daqui de cima Patr�cia
<br>lhe acenou, sem resposta. Mas esperou que o carro partisse.
<br>J� ia fechar a porta, sorrindo para si mesma, quando o Ludovico
<br>acudiu:
<br>
<br>� Por quem �, D. Patr�cia. N�o. Por favor. A porta, nesta
<br>casa, como seu mordomo, � comigo. Sou eu que abro e fecho.
<br>Com muito gosto.
<br>Mais tarde, ao acender a luz dos abajures, na saleta cont�gua
<br>ao sal�o, Ludovico alongou o olhar na dire��o de Patr�cia,
<br>que se instalara a um canto, na derradeira claridade do
<br>dia, com um novo romance. Por um momento, pareceu que
<br>ia falar-lhe. Em seguida, contendo-se, passou a outro abajur,
<br>sempre grave e vermelho, reluzindo na claridade forte o cabelo
<br>grisalho repartido ao meio.
<br>
<br>J� ia passar ao sal�o, ap�s uma olhadela circular para ver
<br>se tudo estava em ordem, quando se decidiu:
<br>
<br>� N�o querendo interromper: posso-lhe fazer uma pergunta?
<br>E ante a express�o aprovativa de Patr�cia:
<br>
<br>� N�o vai aborrecer-se comigo? � uma simples curiosidade.
<br>Me perdoe se estou abusando. Mas esta casa � tamb�m
<br>a minha casa. Enquanto precisarem de mim aqui, sou tamb�m
<br>da fam�lia.
<br>E Patr�cia, impaciente:
<br>
<br>� Fa�a a pergunta, Ludovico.
<br>Ele se certificou primeiro de que n�o havia mais algu�m
<br>por perto. E inclinando o corpo para a frente, sem sair do lugar:
<br>
<br>� A Sra. D. Creusa � sua tia por parte de pai ou por parte
<br>de sua m�e? Se achar que deve responder, responda; se achar
<br>que n�o deve responder, esque�a a pergunta. E perdoe a este
<br>velho criado.
<br>Patr�cia tardou a resposta, esbo�ando uma express�o de
<br>riso. E conseguindo conter-se, enquanto baixava os olhos para
<br>o livro:
<br>
<br>172
<br>
<br>
<br>� Nem de meu pai, nem de minha m�e. Mas � como se
<br>fosse. Foi amiga de minha m�e. Amiga do tempo de menina.
<br>2
<br>
<br>De volta da �pera, ainda na limusine nova, j� no come�o
<br>da madrugada, ela perguntou ao Rodrigo, friorenta,
<br>aconchegando-se-lhe ao bra�o:
<br>
<br>� Podes imaginar quem encontrei l� em casa, quando voltei
<br>do cabeleireiro? A Tia Creusa. De perneira, roupa de escoteiro,
<br>e sempre m�stica. Foi l� para me dar conselhos e receber
<br>a mesada. O mesmo ar estranho. Com o mesmo rebenque e o
<br>mesmo jipe.
<br>Mas j� o Rodrigo, sonolento, ia cerrando os olhos fatigados,
<br>e apenas lhe disse, ap�s um bocejo:
<br>
<br>� Ainda bem que ela chega e vai embora.
<br>Patr�cia deixou que ele descansasse a cabe�a no recosto
<br>do banco, afagou-lhe os cabelos para ajud�-lo a adormecer,
<br>tirou-lhe cautelosamente os �culos. Ouvindo-o ressonar, fez
<br>desperta o resto do caminho. E depois de transpor o port�o,
<br>j� ia pedir a ajuda do Expedito e de um dos guardas de seguran�a
<br>para que a ajudassem a levar o Rodrigo escada acima,
<br>quando este acordou, saltou com lepidez, subiu depressa os degraus,
<br>e ainda esperou por ela, sorrindo-lhe do patamar, de
<br>costas para o Ludovico, que, sempre vigilante, abria bem a porta
<br>para deix�-los passar, afastando-se para um lado, de m�o no
<br>peito, reverente:
<br>
<br>� Durmam bem.
<br>E foi Patr�cia, j� no quarto, quem descal�ou os sapatos
<br>do marido, tirou-lhe o palet�, despiu-lhe as cal�as, desatou-
<br>lhe a gravata, mudou a camisa pelo palet� de pijama, enquanto
<br>ele se deixava dominar pelo sono invenc�vel, sem se dar conta
<br>do que se passava em seu redor.
<br>
<br>Quando, por fim, lhe mudou as meias, ela respirou, aliviada:
<br>
<br>
<br>173
<br>
<br>
<br>� Agora, vamos cuidar de mim.
<br>E s� ent�o reparou, olhando na dire��o do espelho, que
<br>ainda trazia na cabe�a o chapeuzinho de palha. Antes de tir�lo,
<br>veio mais para perto do espelho, repassando os louvores
<br>que ouvira, os olhares sensuais que pareciam querer despi-la,
<br>a inveja e as exclama��es que suscitara. Para muitas de suas
<br>rivais, j� fizera v�rias pl�sticas. A Madame Blanche, no intervalo
<br>do terceiro ato, chegara mesmo a perguntar-lhe, em tom
<br>de segredo, � porta de seu camarote, se fora ao cirurgi�o, de
<br>novo, para uma espichadinha.
<br>
<br>� Nunca fui � respondera-lhe, alteando mais a cabe�a,
<br>como a exibir-se na claridade do corredor.
<br>E a outra, quase a desfazer a maquilagem com o movimento
<br>r�pido das sobrancelhas muito negras:
<br>
<br>� N�o � poss�vel, Patr�cia! O que voc� est� me dizendo!
<br>Parab�ns. Deus a conserve assim.
<br>E retocando o batom dos l�bios no espelho da bolsa, enquanto
<br>ouvia o marido conversar com o Rodrigo sobre as corridas
<br>do Jockey Clube, no �ltimo domingo, Madame Blanche
<br>adiantou:
<br>
<br>� Recebemos seu convite, Patr�cia. L� estaremos. Com
<br>muito gosto. O Artur e eu rimos muito com a sua entrevista
<br>ao Lucas Caetano, ao confessar que vai fazer quarenta anos.
<br>� s� no que se fala. No foyer, antes de voc�s chegarem, era
<br>o assunto. As coleguinhas da Escola Normal v�o mesmo? Uma
<br>eu sei que n�o vai: a Simone. Sabe que ela � minha prima?
<br>�. Ou melhor: hoje, n�o � mais. Porque � mesmo prima de
<br>meu primeiro marido. S� ontem eu soube, por outra colega
<br>de voc�s, a Paula, que a Simone continua no Sanat�rio. Um
<br>dia, pouco depois de meu primeiro casamento, o Severo (voc�
<br>se lembra do meu primeiro marido? Grandalh�o, esportivo,
<br>muito vermelho) me levou para visit�-la. N�o nos recebeu. Tinha
<br>acabado de deitar-se para a sesta da tarde. O Severo quis
<br>esperar que ela acordasse; fui eu que n�o deixei. Depois me
<br>arrependi. Me disseram que sempre foi muito bonita. E que
<br>o Rodrigo gostou dela, antes de gostar de voc�. Foi assim? No
<br>Sanat�rio, um dos m�dicos nos contou que ela leva uma vida
<br>174
<br>
<br>
<br>calma, dando os seus passeios pelos arredores, ouvindo m�sica,
<br>lendo muito.
<br>
<br>E como j� havia guardado o espelho, Madame Blanche
<br>tornara a olhar de frente, assestando o lornh�o sobre o rosto
<br>de Patr�cia, sempre falando:
<br>
<br>� Voc�s eram muitos amigas? Foi o que me disseram. E
<br>ainda s�o, depois do que houve entre voc�s? Ou melhor: do
<br>que deve ter havido. Porque mulher n�o perdoa quando acontece
<br>o que aconteceu com voc�s.
<br>Patr�cia limitou-se a contrair os olhos. Para que responder?
<br>E com um gesto, chamando a aten��o de Madame Blanche
<br>para o retinir da campainha, no aviso do quarto ato:
<br>
<br>� A A�da nos chama. Com licen�a.
<br>Devia ter respondido? Talvez. N�o, n�o devia; fizera bem
<br>em calar-se. J� sabia que ouviria a mesma pergunta, ao longo
<br>da vida, mesmo que ficasse velhinha, amparada numa bengala.
<br>
<br>E deu de ombros, quase a sorrir, enquanto tirava o chap�u,
<br>sem desviar do espelho os grandes olhos negros, ouvindo
<br>
<br>o Rodrigo ressonar.
<br>3
<br>
<br>Acordou dia alto, com a sensa��o de que passara a noite
<br>a debater-se com o sono. E ao contr�rio do que habitualmente
<br>acontecia, quando saltava da cama assim que despertava,
<br>deixou-se ficar estirada no colch�o revolto, pregui�ando.
<br>
<br>Nisto a imagem da Simone tornou a aflorar-lhe � consci�ncia,
<br>com a nitidez das presen�as objetivas, alta, esguia, os
<br>cabelos repartidos ao meio, as duas tran�as ca�das para os ombros,
<br>dando-lhe a impress�o de que, tamb�m para ela, o tempo
<br>n�o havia passado. Sempre bonita. De uma beleza estranha,
<br>mais de madona que de modelo. Leve. Parecendo que mal
<br>tocava o solo. S� as unhas bem tratadas, longas, sempre vermelhas,
<br>de um vermelho sangrento, quase preto, destoavam da
<br>angelitude da figura.
<br>
<br>175
<br>
<br>
<br>Embora se sentisse entre a vig�lia e o sono, Patr�cia
<br>segurava-lhe a m�o com firmeza, e as duas iam seguindo pelo
<br>caminho estreito, caladas, ouvindo o ranger do saibro sob as
<br>alpercatas. De repente a cena mudava. E Patr�cia se via junto
<br>da outra, no mesmo banco do p�tio, mas n�o na Escola Normal,
<br>e sim ali na sua casa, por tr�s da piscina, no espa�o que
<br>
<br>o Rodrigo fizera rodear de palmeiras, com dois bancos de ferro
<br>e um repuxo ao meio.
<br>Por que n�o se falavam? Entretanto, a m�o fria da Simone
<br>estava na sua m�o � longa, afilada, m�o de pianista, pr�pria
<br>para as grandes oitavas que repelem as m�os pequeninas.
<br>Como haviam passado ao sal�o, tamb�m ali? Sim, era mesmo
<br>ali. Porque o Ludovico estava tamb�m presente, muito p�lido,
<br>quase espectral, e fora ele que abrira o piano, puxando-lhe o
<br>banco para a frente. Via-o depois retirar-se de costas, para
<br>voltar-se de frente, mais adiante, e desaparecer correndo, enquanto
<br>Simone rodava o banco do piano, para subir-lhe o assento
<br>de couro. Sentando-se, permaneceu uns momentos im�vel,
<br>com as m�os no teclado, sem a partitura diante dos olhos.
<br>Veio mais para a frente, a ponta do p� direito num dos pedais,
<br>e logo se p�s a tocar o hino da Escola Normal, seguido pela
<br>Marcha f�nebre. Depois o Bolero de Ravel, tamb�m seguido
<br>pela Marcha f�nebre. Por fim, s� a Marcha f�nebre, n�o no
<br>compasso solene, grave, majestoso, e sim num compasso buli�oso,
<br>ligeiro, que atraiu para o sal�o a Rosa, o Expedito, os
<br>outros criados, o jardineiro, e mais a Inezita e a Paula, ambas
<br>de uniforme.
<br>
<br>E Patr�cia, erguendo o busto, com o suor a lhe descer para
<br>o pesco�o, assustada, j� a estender o p� esquerdo para fora
<br>da cama, em busca do tapete:
<br>
<br>� Meu Deus, quanto disparate!
<br>Mas n�o se levantou. Embora com os p�s nas sand�lias
<br>de cetim, as pernas estiradas, deixou-se ficar quieta um momento,
<br>rezando, como a afugentar de si a mem�ria do sonho
<br>confuso.
<br>
<br>Passados tantos anos de dist�ncia e sil�ncio, era a primeira
<br>vez que sonhava com a Simone? Pareceu-lhe que sim. Ou
<br>teria esquecido outros sonhos, que o tempo esmaecera e apa
<br>
<br>
<br>176
<br>
<br>
<br>gara? N�o sabia responder. O certo � que tivera a sensa��o f�sica
<br>de sua presen�a, ouvindo-a, segurando-lhe a m�o.
<br>
<br>Nisto, levantando-se, agu�ou o ouvido. Caminhou para
<br>uma das janelas sobre a rua, entreabriu-a. E ouviu melhor, assim,
<br>o som de um piano, como se viesse do edif�cio da esquina.
<br>Seria piano mesmo? Ou grava��o? Piano, sim; era mesmo
<br>um piano. Quem tocava, repetia a frase mel�dica, corrigindo-
<br>se. E era mesmo o Bolero de Ravel. Baixando, subindo. Baixando,
<br>subindo. O mesmo tema, repetindo-se como se n�o soubesse
<br>sair de si mesmo. Ou comprazendo-se em repetir-se. Como
<br>a vida. Como o tempo.
<br>
<br>Fechou a janela, torceu-lhe o ferrolho.
<br>
<br>J� no banheiro, antes de despir-se, permaneceu por uma
<br>meia hora defronte do espelho, na esmerada toalete de todas
<br>as manh�s, massageando a pele, escovando os cabelos, acertando
<br>as sobrancelhas, enquanto seu esp�rito volvia a pensar
<br>na Simone. Por que raz�o, depois de tantos anos sem se verem,
<br>tornava a fixar-se nela, quase como uma obsess�o? Tudo
<br>agora lhe servia de pretexto para lembr�-la. E se o pretexto n�o
<br>aflorava de seu pr�prio esp�rito, na motiva��o de um retrato,
<br>de um livro, de uma melodia (e como a Simone tocava como
<br>ningu�m, no seu piano de cauda, o Bolero de Ravel), havia
<br>sempre algu�m, como a Madame Blanche, como a Inezita, para
<br>suscitar-lhe a lembran�a obsessiva.
<br>
<br>E decidindo-se:
<br>
<br>� N�o vou pensar mais nela. Ou, se pensar, penso com
<br>naturalidade. Como penso na Paula. Como penso na Neide.
<br>Na C�rmen. Na Inezita.
<br>Entretanto, ao voltar a escovar os cabelos, sentiu que uma
<br>recorda��o mais viva lhe subia � consci�ncia, n�tida, de uma
<br>nitidez colorida, novamente no p�tio da Escola Normal, por
<br>tr�s do po�o profundo que a grade de ferro protegia, � sombra
<br>da amendoeira esgalhada. Sentara-se numa das ra�zes da
<br>�rvore, � espera da primeira aula, sozinha, por ter chegado cedo,
<br>e entretinha-se na leitura de um romance de Delly. Nisto ergueu
<br>a vista, sentindo que algu�m se aproximava. Num come�o
<br>de alvoro�o, adivinhara que seria a Simone. Vira-a de relance,
<br>assim que levantou o olhar. Mas, logo a seguir, perdera
<br>
<br>
<br>177
<br>
<br>
<br>a de vista, como se a outra se houvesse esquivado � sua companhia.
<br>Intrigada, ficara de p�. Mas fora debalde que a buscara
<br>nos arredores. Andara pelo vest�bulo. A Simone n�o estava
<br>ali. Fora ao toalete. Tamb�m ali n�o estava. N�o estava
<br>tamb�m na sala de aula. Nem na Biblioteca. Menos ainda nos
<br>corredores ou nas outras salas. Dirigiu-se � Secretaria.
<br>
<br>E para a diretora, que a olhou por cima dos �culos:
<br>
<br>� D� licen�a que eu telefone?
<br>E para a m�e da Simone, que atendeu � chamada:
<br>� D. Zita, a Simone j� chegou?
<br>� N�o, minha filha. Desde cedo, fechou-se no quarto.
<br>N�o fala com ningu�m, n�o recebe ningu�m.
<br>Defronte do espelho, sentindo a �gua ro�ar a borda da
<br>banheira, Patr�cia deu uma nova escovadela ao cabelo, atirou
<br>a cabeleira para tr�s, e correu para fechar a torneira, sempre
<br>a interrogar-se sobre o mist�rio dos passos e da imagem da
<br>Simone.
<br>
<br>E fechando a torneira:
<br>
<br>� Eu a vi. Tenho certeza de que a vi. Com estes olhos.
<br>178
<br>
<br>
<br>TERCEIRA PARTE
<br>
<br>Ah! sachez-le: ce drame n'est ni une fiction ni
<br>
<br>un roman. AH is true, il est si v�ritable, que cha
<br>
<br>
<br>cun peut en reconna�tre les �l�ments chez soi,
<br>
<br>dans son coeur peut-�tre.
<br>
<br>BALZAC. Le p�re Goriot
<br>
<br>
<br>PRIMEIRO CAP�TULO
<br>
<br>1
<br>
<br>N�o adiantava ter passado a noite quase toda em claro,
<br>� mesa da sala de jantar, debru�ada sobre o comp�ndio e as
<br>notas de aula, levantando-se para lavar o rosto na �gua da pia,
<br>ali mesmo, sempre que o sono lhe entrefechava os olhos fatigados.
<br>Se a Simone aparecesse de repente, ainda com os olhos
<br>pisados da longa reclus�o, o primeiro lugar, � hora da prova,
<br>seria seu. E ela, Patr�cia, mais uma vez, se rejubilaria com esse
<br>novo triunfo.
<br>
<br>Agora, ali estavam os cadernos do �ltimo ano do curso,
<br>com os apontamentos das aulas de Portugu�s, Pedagogia, Hist�ria
<br>Geral, Franc�s, Ingl�s, Hist�ria da Educa��o, Psicologia.
<br>Amarrados por uma fita azul-claro, com um la�o perfeito,
<br>e esta indica��o manuscrita, por baixo do la�o: �ltimos cadernos
<br>de estudo de minha filha, na Escola Normal.
<br>
<br>E o Ludovico, feliz, ainda com as m�os empoeiradas:
<br>
<br>� � h� mais coisas na estante, D. Patr�cia. Nas prateleiras
<br>de cima est�o os livros; nas duas de baixo os cadernos. Os
<br>seus e os da sua colega, de quem a senhora era muito amiga.
<br>A que hoje est� no Sanat�rio.
<br>E Patr�cia, intrigada:
<br>
<br>� Tamb�m os dela?
<br>Para v�-los, subira a escada em caracol que levava ao mirante,
<br>sob uma luz t�nue, que se filtrava pelo v�o das telhas,
<br>e guiada pelo Ludovico, que viera � frente, galgando depressa
<br>os degraus, e agora torcia o ferrolho emperrado da janela sobre
<br>o p�tio.
<br>
<br>181
<br>
<br>
<br>Sentada num tamborete, perto de uma das janelas, ela pr�pria
<br>folheou os cadernos, os livros, as folhas avulsas que um
<br>pregador prendia, as fichas de um ficharinho de madeira. Sim,
<br>sim, constatou: estavam tamb�m ali os cadernos da Simone,
<br>e mais os livros que ela lhe emprestara, sobretudo romances,
<br>ainda na capa amarela das brochuras francesas, com o nome
<br>da Simone na folha de rosto, na mesma letra alta e fina: Simone
<br>Gabriela Costa e Macedo.
<br>
<br>A letra fina e alta, com os t t bem cortados, os pingos nos
<br>ii, os acentos graves e agudos, o til, as cedilhas, com um tra�o
<br>vertical adiante do nome, como que se harmonizavam � sua
<br>figura esguia. Debalde, no primeiro ano do curso, Patr�cia tentara
<br>imitar-lhe a letra. Chegara a aproximar-se do talhe fino,
<br>que ocupava toda a lauda, mas acabara por voltar � sua velha
<br>letra redonda, que tamb�m trazia em si algo de sua pessoa �
<br>clara, aberta, firme, com o A e o L dos textos impressos.
<br>
<br>E o Ludovico, valorizando-se:
<br>
<br>� N�o sei o que se deu em mim, de repente, para vir aqui
<br>em cima e abrir essa estante. Larguei meu servi�o no sal�o,
<br>com os dois ajudantes, e vim para c�, como se uma for�a estranha
<br>me guiasse. Ao dar com esses cadernos, fiquei emocionado.
<br>O tempo passa, mas volta de repente. Estou vendo que
<br>a senhora est� se sentindo mocinha, no tempo dos estudos.
<br>Bons tempos. Felizes tempos. E que s� voltam para quem passou
<br>por eles.
<br>E ao v�-la calada, como recolhida nas recorda��es:
<br>
<br>� Com a sua licen�a.
<br>Sem ru�do, amortecendo os passos, alcan�ou a escada,
<br>desceu-a cautelosamente, enquanto Patr�cia sentia que seu cora��o
<br>se fechava, num hiato instant�neo, como se fosse parar,
<br>enquanto suas m�os alvoro�adas abriam o envelope branco,
<br>fechado por um el�stico, com estas palavras no espa�o do sobrescrito:
<br>Discurso proferido por minha filha Patr�cia na festa
<br>de formatura da Escola Normal, todo escrito por ela, sem
<br>ajuda de ningu�m.
<br>
<br>Eram quinze tiras de papel alma�o, escritas de alto a baixo,
<br>na mesma letra redonda, quase sem emendas e rasuras, e
<br>por alguns momentos, lhe tremeram nas m�os emocionadas.
<br>
<br>182
<br>
<br>
<br>E com os olhos �midos e as fontes latejando:
<br>
<br>� � ele, sim, o meu discurso.
<br>Escrevera-o de noite, fechada no seu quarto, na mesa que
<br>havia sido de seu pai. Relendo-o agora, de p�, junto de uma
<br>das janelas, sentiu que voltava ao sal�o de atos da Escola Normal,
<br>na grande noite iluminada.
<br>
<br>J� n�o havia mais espa�o para ningu�m. Todas as cadeiras
<br>ocupadas, muita gente em p�, nos v�os das portas e nos
<br>espa�os laterais. Fora, o ru�do das vozes agastadas, protestando
<br>contra a falta de acomoda��es. No palco, todas as colegas
<br>que se formavam, menos a Simone. E eis que, na plat�ia, enquanto
<br>Patr�cia lia o discurso em nome das formandas, abriu-
<br>se um claro, e a Simone irrompeu pelo sal�o, no seu passo leve
<br>e seguro, toda de branco, os cabelos apanhados para o alto,
<br>s�, com todos os olhares voltados para a sua pessoa, e subiu
<br>ao palco, assim estranha e bela, assim imprevista e calma, sem
<br>amparar-se na gorda m�o do Professor Avertano, que viera ao
<br>seu encontro querendo ajud�-la a galgar os cinco degraus.
<br>
<br>E quando Patr�cia voltou a sentar-se, para ouvir o discurso
<br>do paraninfo, j� a Simone estava sentada na cadeira ao lado
<br>da sua, com as m�os no rega�o como se estivesse ali n�o
<br>para ver, mas para ser vista, alta, direita, o olhar ausente e vivo.
<br>
<br>Do lugar em que se achava, Patr�cia via o Rodrigo, de pernas
<br>cruzadas, o cotovelo no bra�o da cadeira, a m�o em forquilha
<br>segurando o queixo, dando a impress�o de que se divertia
<br>com a cena imprevista. E tudo quanto p�de fazer para
<br>comunicar-se com ele se limitou ao leve movimento da sobrancelha
<br>direita, a que o Rodrigo correspondeu, a ponto de sorrir,
<br>levantando tamb�m a sua.
<br>
<br>E assim que o Professor Avertano, acompanhando a chamada
<br>dos nomes, entregou o diploma � Simone, ela n�o voltou
<br>� sua cadeira: agradeceu �s palmas com um leve aceno da
<br>cabe�a e orientou-se para o meio do palco, no mesmo passo
<br>com que havia chegado at� ali. Limitando-se a baixar as p�lpebras,
<br>sem inclinar a cabe�a, desceu os cinco degraus, bem
<br>ao meio, � maneira de uma atriz representando o seu papel,
<br>e foi seguindo devagar, no caminho aberto � sua frente, por
<br>
<br>183
<br>
<br>
<br>entre palmas, at� desaparecer na porta ao fundo, que de pronto
<br>se fechou.
<br>
<br>2
<br>
<br>J� teria vindo ali alguma vez? Pareceu-lhe que n�o. Na
<br>casa imensa, que tomava boa parte do terreno, alongando-se
<br>para os dois caramanch�es ao fundo do parque, havia aposentos
<br>que ela n�o conhecia. Faltara-lhe oportunidade de vir
<br>at� ali. Aquele s�t�o, sombrio, poeirento, com o janel�o ao
<br>fundo sempre fechado, era certamente um deles. Nada ali deixara
<br>vest�gios na sua lembran�a. Como n�o recordar a estante
<br>envidra�ada? E aqueles livros? E aqueles pap�is?
<br>
<br>Na claridade fosca, resvalou o olhar � sua volta, de p�,
<br>no meio do aposento, e mais uma vez se certificou de que tudo
<br>aquilo lhe era estranho. Mesmo as duas cadeiras de palhinha
<br>furada. E a poltrona orelhuda, com a mancha da cabe�a
<br>que nela se havia apoiado para a pregui�a da sesta. Quem teria
<br>cochilado ali por tanto tempo? O Rodrigo? Ou o velho Sebasti�o,
<br>que lhe dera a vida, a fortuna e a casa?
<br>
<br>As portas da estante, ainda abertas, mostrando os livros
<br>e os pap�is num come�o de desordem, fizeram com que Patr�cia
<br>novamente se aproximasse para perfilar os livros, deixando-
<br>os na linha das prateleiras, depois de retirar alguns romances
<br>que levaria para a sua pequena biblioteca, l� embaixo: Alencar,
<br>Bernardo Guimar�es, Victor Hugo, Camilo, E�a de Queiroz,
<br>Flaubert, deliciosas velharias que fariam o Rodrigo bocejar
<br>s� em olh�-las... Separou tamb�m alguns pap�is, sobretudo
<br>o discurso da formatura, e mais o bilhete em que o Severino
<br>� ent�o com 11 anos, hoje grave juiz, muito louvado e
<br>acatado � a pedia em casamento a seu pai, quando ela ainda
<br>era menina de escola prim�ria, �s voltas com as �ltimas bonecas.
<br>
<br>
<br>N�o p�de deixar de reprimir o riso, ante aqueles garranchos
<br>espa�osos, aquele papel de linho, aquele envelope, j� com
<br>
<br>184
<br>
<br>
<br>algo do futuro magistrado. E comentou, de si para si, ainda
<br>rindo:
<br>
<br>� Eu, mulher daquele homem baixinho, gordinho, cheio
<br>de cabelo, e s�rio, de uma seriedade enfezada? Valha-me Deus.
<br>Quem vai achar gra�a deste pedido � o Rodrigo, que gosta do
<br>Severino.
<br>E como se o s�t�o a abafasse, abriu de par em par outra
<br>janela, quase escondida. Conquanto n�o gostasse de alturas,
<br>sentindo mesmo que n�o poderia olhar para baixo, na suposi��o
<br>de que iria atirar-se dali, apoiou as m�os no peitoril de
<br>m�rmore, atra�da pelo tablado que j� se refletia nas �guas da
<br>piscina, e alongou para fora a vista curiosa.
<br>
<br>Dois homens, trepados em escada, ajustavam os refletores
<br>laterais, um deles j� aceso para experi�ncia. Em breve as
<br>bandeirinhas tremulariam nos fios horizontais. Tamb�m ali j�
<br>estavam, provisoriamente abrigados num dos caramanch�es,
<br>os cavaletes e as cadeiras para a orquestra, al�m do estrado
<br>menor para o regente.
<br>
<br>Quando olhou para baixo, ouvindo um dos c�es ladrar,
<br>firmou mais as m�os, como a agarrar-se, e logo lhe refluiu �
<br>mente a imagem da Simone, no s�t�o de seu sobrado, a lhe
<br>dizer, um pouco afastada da janela do mirante:
<br>
<br>� Foi meu pai que mandou p�r grades em todas as janelas
<br>daqui, a pretexto de proteger a casa contra os ladr�es. O
<br>receio dele era outro. Bem diferente. Ele tinha medo que eu
<br>me precipitasse dali, numa de minhas depress�es. Quando eu
<br>vinha para c�, ele tamb�m vinha, e ficava sentado ali naquele
<br>canto, na cadeira de balan�o, lendo. Lendo enquanto eu brincava.
<br>Depois que ele morreu, mam�e afrouxou a vigil�ncia.
<br>Nunca tiveste vontade de morrer, Patr�cia? Eu j� tive. V�rias
<br>vezes. Numa, quando vi meu pai morto; noutra, quando ia sair
<br>para o meu primeiro baile, no vestido comprido, e a costureira
<br>se atrasou. Tudo fica sombrio e triste � minha volta. N�o
<br>tenho gosto para nada nessas horas. S� penso numa coisa: em
<br>dormir muito, profundamente, e nunca mais acordar.
<br>E de repente, segurando Patr�cia pelos bra�os, a olh�-la
<br>de frente, com um olhar mais vivo:
<br>
<br>� Agora, quero ver se �s mesmo minha amiga. Se eu me
<br>185
<br>
<br>
<br>atirasse dali, tu tamb�m te atiravas? Ou ficavas quietinha, no
<br>teu canto, sentindo pena de mim? Ficavas? Pois ent�o eu sou
<br>mais amiga de ti do que tu �s de mim. Eu, no teu lugar, me
<br>atirava, Patr�cia. Sem hesitar.
<br>
<br>E como era preciso vencer a atra��o estranha, que tamb�m
<br>a atordoava, acelerando-lhe o cora��o assustado, Patr�cia
<br>voltou a olhar para baixo. Viu o Expedito a lavar um dos
<br>carros, enquanto o guarda de seguran�a corria por uma das
<br>alamedas, treinando o c�o mais novo, de um negro reluzente,
<br>l�ngua para fora da boca, rabinho nervoso, e que de repente
<br>saltava sobre o treinador, como se fosse abocanhar-lhe a nuca.
<br>
<br>Patr�cia quis gritar-lhe que tivesse cuidado, n�o irritasse
<br>a fera; mas de pronto recuou, como se sentisse que algu�m a
<br>iria empurrar. Fechou depressa a janela, sobra�ou os livros,
<br>agarrou os pap�is, e veio descendo depressa a escada em
<br>caracol.
<br>
<br>3
<br>
<br>Se Patr�cia houvesse marcado hora para as duas, talvez
<br>que a Inezita e a Paula n�o chegassem com tanta pontualidade.
<br>De um t�xi, desceu uma; do t�xi seguinte, que tamb�m ia
<br>encostando no meio-fio, desceu a outra, e ambas se puseram
<br>a rir, e foi rindo que se beijaram na cal�ada da rua, enquanto
<br>
<br>o guarda de seguran�a lhes abria o alto port�o de ferro.
<br>E Patr�cia, do patamar da escada, ao v�-las subindo os
<br>degraus, de bra�os, como ao tempo da Escola Normal:
<br>
<br>� Estou chegando de uma missa, na igreja de S�o Francisco.
<br>Quase voc�s n�o me encontravam. Por vontade do Rodrigo,
<br>eu teria ficado com ele para o almo�o na cidade. Preferi
<br>vir para casa: tenho de ver onde vamos colocar novas mesas
<br>para outros convidados.
<br>E a Inezita, abrindo a bolsa:
<br>
<br>� Tenho novidade.
<br>186
<br>
<br>
<br>� Eu tamb�m tenho � aduziu Paula, a exibir um envelope,
<br>com a borda lateral rasgada no canto direito.
<br>J� o Ludovico, ao lado da porta escancarada, barbeado,
<br>penteado, de libr� nova, come�ava a saudar as tr�s com uma
<br>v�nia, movendo para a frente o cabelo repartido ao meio.
<br>
<br>E para Patr�cia, grave, ao v�-la aproximar-se:
<br>
<br>� O telefone s� chamou uma vez, senhora. Atendi logo.
<br>Ningu�m falou. Ou era de fora, sem completar a liga��o, ou
<br>era trote. Desliguei.
<br>Patr�cia, que havia diminu�do o passo, retomou o ritmo
<br>da caminhada pela passadeira, ao longo do corredor espa�oso,
<br>ladeada pela Inezita e pela Paula, ambas com ar alvissareiro.
<br>
<br>E adiante, para a Rosa, que estava � sua espera � entrada
<br>da saleta:
<br>
<br>� Se voltarem a telefonar, eu atendo mais tarde; s� atendo
<br>se for o Dr.
<br>Rodrigo. Previna tamb�m o Ludovico.
<br>E entregando-lhe a bolsa e as luvas:
<br>
<br>� A Inezita e a Paula almo�am comigo.
<br>A manh� ampla, de muita luz, parecia alargar-se na reverbera��o
<br>intensa, pr�xima do meio-dia. A claridade excessiva
<br>entrava a jorros pelo aposento aconchegado, e s� ao p� das
<br>janelas a luz se coloria, alaranjada, azul, vermelha, por sobre
<br>
<br>o ret�ngulo do tapete, descendo quase verticalmente dos leques
<br>que as encimavam.
<br>A Inezita, de p� junto � poltrona que a Patr�cia lhe
<br>oferecia:
<br>
<br>� Alguma coisa mudou aqui � reconheceu, rodando o
<br>olhar � sua volta, enquanto a Paula se acomodava na outra
<br>poltrona, cruzando as pernas, com um envelope na m�o.
<br>E Patr�cia, ainda de p�, junto ao meio do sof�:
<br>
<br>� Sim � concordou. � A posi��o de minha mesa. Id�ia
<br>do Ludovico, quando ontem eu me queixei da luz que me do�a
<br>nos olhos.
<br>E vendo a folha de papel dobrado que a Inezita tinha agora
<br>na ponta dos dedos, j� sentada:
<br>
<br>� Agora, trabalhemos. Estou querendo saber as
<br>novidades.
<br>A rua como que lhe dera um ar de alvoro�o moment�
<br>
<br>
<br>187
<br>
<br>
<br>neo, com um brilho mais vivo no olhar e um tom rosado nas
<br>faces, e mais a pontinha alva dos dentes sobressaindo dos l�bios
<br>vermelhos. Sentou no sof�, sem descansar o dorso no respaldo
<br>da almofada.
<br>
<br>E a Paula:
<br>
<br>� Afinal, depois de muito indagar, eu por meu lado, a
<br>Inezita pelo dela, acabamos por descobrir D. Carmela, nossa
<br>primeira diretora.
<br>E a Inezita:
<br>
<br>� Com a ajuda do velho Avertano.
<br>Patr�cia, erguendo mais a cabe�a, interessada:
<br>� E ele como est�, Inezita?
<br>� J� vais saber � atalhou a Paula.
<br>E com a m�o espalmada, pedindo � Inezita que a deixasse
<br>falar:
<br>
<br>� Primeiro vamos � Carmela. Quando telefonei para o
<br>Avertano, perguntando-lhe se se lembrava de mim, foi logo dizendo:
<br>� Como n�o? Acabo de perguntar por voc� � Inezita,
<br>que me telefonou h� cinco minutos, querendo saber not�cias
<br>da Carmela. � E repetiu-me o que havia dito � Inezita.
<br>E a Inezita, impaciente:
<br>
<br>� Agora, conto eu. D� licen�a, Paula?
<br>E voltada para a Patr�cia:
<br>� D. Carmela, depois de aposentada, foi lecionar num
<br>curso de alfabetiza��o de adultos, e ali conheceu um mulat�o
<br>imenso, por quem se apaixonou.
<br>Paula completou:
<br>
<br>� Podia ser filho dela. E casou com ele.
<br>� Casou com ele � continuou a Inezita. � O que o malandro
<br>queria era o dinheiro dela. Quando descobriu que a Carmela
<br>n�o era rica, como ela dava a entender, mas pobre, s�
<br>vivendo da aposentadoria, deu-lhe uma bela surra. T�o bela
<br>que a deixou entre a vida e a morte, numa casa de sa�de, de
<br>onde saiu na cadeira de rodas e meio gira. Um ano depois, recuperou
<br>as pernas, mas piorou da cabe�a. Foi o Avertano, que
<br>� meio parente dela, que conseguiu intern�-la, com muito empenho,
<br>numa cl�nica geri�trica. A Paula e eu fomos v�-la. Antes
<br>n�o tiv�ssemos ido, seguindo o conselho do velho Averta188
<br>
<br>
<br>
<br>no. Quando a Carmela nos viu, perguntou-nos pelo marido.
<br>E como n�o soub�ssemos o que lhe dizer, gritou conosco, chamando
<br>a mim de Patr�cia e a Paula de Simone, aos berros,
<br>amea�ando de nos reprovar lio fim do ano e expulsar da Escola
<br>Normal, se n�o lhe diss�ssemos onde anda o Xavier.
<br>
<br>E a Paula, explicando:
<br>
<br>� Xavier � o marido.
<br>Logo a Inezita continuou, vendo o semblante espantado
<br>da Patr�cia:
<br>
<br>� Mas n�o penses que fomos l� para convid�-la a vir aqui
<br>na nossa festa.
<br>N�o.
<br>E a Paula, rindo:
<br>
<br>� A id�ia da visita foi minha. Por simples curiosidade.
<br>E tamb�m um pouco de saudade da diretora que me chamava
<br>de minha filha e me achava linda. Linda. Naquele tempo. Agora,
<br>sou Simone.
<br>� Se foi f�cil entrar para fazer a visita, cortamos uma
<br>volta para nos livrarmos da Carmela � continuou a Inezita.
<br>� De repente, como sol em dia de chuva, a mem�ria lhe voltou,
<br>e ela falou da turma, de ti, da Simone verdadeira, e at�
<br>de teu casamento. Durante mais de uma hora.
<br>E a Paula:
<br>
<br>� E a� tornou a endoidar. Veio para mim, me segurou
<br>pelos ombros, exaltada, com as veias do pesco�o crescidas; me
<br>sacudiu, tornando a me confundir com a Simone, e exigiu de
<br>mim que lhe devolvesse o Xavier. Que o Xavier n�o era o que
<br>se pensava. Pelo contr�rio: o melhor dos maridos. E mais isto.
<br>E mais aquilo. Sempre exaltada, com os olhos pulados e
<br>crescidos, at� que um enfermeiro acudiu e me livrou das garras
<br>dela, enquanto a Inezita, do meu lado, s� fazia dizer: � Que
<br>� isso, D. Carmela? Quem est� aqui � a Paula, e a Paula n�o
<br>conhece o Xavier. � E a Carmela, aos gritos: � Conhece. Conhece.
<br>Foi ela que desencaminhou o Xavier.
<br>Riu baixo, com a m�o diante da boca, como a querer reprimir
<br>o riso:
<br>
<br>� Eu, al�m de ser Simone, desencaminhei-lhe o Xavier.
<br>Logo conteve o riso, enquanto a Inezita ria alto,
<br>levantando-se. E voltada para a Patr�cia:
<br>
<br>189
<br>
<br>
<br>� A verdade mesmo � que a vida tamb�m d� medo. D�.
<br>De repente, tudo muda. Ningu�m pode rir de ningu�m. Quem
<br>viu a Carmela, s�ria, grave, marcando o compasso do hino da
<br>Escola Normal, no degrau da escada do p�tio, um, dois, tr�s;
<br>um, dois, tr�s, convicta, entusiasmada, n�o podia imaginar que
<br>a mesma criatura ia delirar, reclamando o marido, velha, destru�da,
<br>fora do ju�zo, e ainda por cima com o cabelo penteado
<br>para cima, cheio de papelotes. Um horror. De fazer chorar.
<br>E a Inezita, tamb�m s�ria:
<br>
<br>� E tanto eu quanto a Paula, quando sa�mos da cl�nica,
<br>t�nhamos l�grimas nos olhos. De pena. Com o cora��o apertado.
<br>Ergueu as m�os desoladas � altura dos ombros, e encheu
<br>
<br>o peito, suspirando. Depois, com os olhos em Patr�cia, tornando
<br>a sentar-se:
<br>� N�o te aconselho que v�s v�-la. N�o, n�o v�s. Passei
<br>dois dias arrasada. No fundo do po�o. Como quando vou a
<br>um enterro.
<br>A Paula, no mesmo tom:
<br>
<br>� Eu tamb�m fiquei assim.
<br>Um sil�ncio se estendeu, como trazido pela vira��o repentina
<br>que come�ara a soprar l� fora, sacudindo as �rvores, levantando
<br>do ch�o a poeira esparsa e as folhas ca�das, na reverbera��o
<br>do meio-dia.
<br>
<br>E a Inezita,.abrindo o papel que trouxera dobrado:
<br>
<br>� Eu e a Paula j� acabamos nossa tarefa. Miss�o cumprida.
<br>Entramos em contato com toda a turma, todos os professores,
<br>a diretora, o diretor que veio depois. Menos quem
<br>morreu, naturalmente. Ou quem foi grosseira contigo. Porque
<br>ainda h� disso. H�. Est� aqui a Paula, que n�o me deixa mentir.
<br>De vez em quando, uma surpresa. Sabias que a Nanda, caladinha,
<br>retra�da, tipo mosca-morta, deu um tiro no amante?
<br>Patr�cia aumentou os olhos:
<br>
<br>� Quando?
<br>� H� oito anos. Outro caso triste.
<br>Patr�cia acentuou no rosto espantado a consterna��o e a
<br>surpresa:
<br>
<br>190
<br>
<br>
<br>� E eu n�o soube de nada. Ningu�m me falou. Onde foi
<br>isso?
<br>� No Sul, na fazenda do marido. Foi julgada l� mesmo,
<br>na cidadezinha mais pr�xima. Ainda est� presa. Como n�o �
<br>longe daqui, fui v�-la na semana passada. Com o meu marido,
<br>que � advogado. Perguntou muito por ti. Com saudade.
<br>Mais gorda. Bem mudada. Mas calma, serena, como se n�o
<br>houvesse acontecido nada. O marido vai v�-la quase todos os
<br>dias. Como se ignorasse o caso. Espera que a Nanda v� para
<br>casa nos pr�ximos meses, por j� ter cumprido metade da pena.
<br>A Nanda j� sabia de nossa festa. Pelos jornais. Se pudesse,
<br>viria. N�o insisti. Para qu�?
<br>E dando � voz outro tom, ao mesmo tempo em que mudava
<br>a fisionomia, dissipando-lhe a express�o melanc�lica:
<br>
<br>� Coisas da vida. Vamos adiante. A Inezita e eu aproveitamos
<br>o fim de semana para um repasse geral de nossos convites.
<br>Nossa parte est� feita. O resto, agora, � contigo.
<br>E a Inezita:
<br>
<br>� Aqui est� a lista. Com todos os nomes. Quem vem e
<br>quem n�o vem. Adiante de cada nome, h� uma cruz ou duas,
<br>a l�pis vermelho: uma, para quem vem; duas, para quem n�o
<br>vem.
<br>E passando o papel � Patr�cia:
<br>
<br>� Inclu� tamb�m a Simone. Mas � a Paula que te vai falar
<br>sobre ela. N�o, n�o vou ficar para o almo�o. Fica a Paula.
<br>E enquanto a Patr�cia se voltava para a Paula, que ia abrindo
<br>o envelope enquanto a Inezita cal�ava a luva, j� de p�, as
<br>tr�s se voltaram para a porta sobre o corredor, onde voltara
<br>a destacar-se, alta, robusta, bem penteada, a figura ancha do
<br>Ludovico, que primeiro se curvou, para depois anunciar na sua
<br>bela voz de tenor, como se estivesse a representar, no centro
<br>do palco, voltado para a Patr�cia, o seu papel de mordomo:
<br>
<br>� Madame, o almo�o est� servido.
<br>191
<br>
<br>
<br>4
<br>
<br>� mesa, no correr do almo�o lento, Patr�cia tentara desviar
<br>sua aten��o do envelope que a Paula havia deixado no bra�o
<br>da poltrona. Com esfor�o conseguira conter-se para n�o lhe
<br>falar: de in�cio, por causa da presen�a do Ludovico e da Rosa,
<br>cada qual a um canto da sala, perto da mesa; depois, por fazer
<br>sentir que sabia dominar-se, por mais viva e natural que
<br>fosse a sua curiosidade.
<br>
<br>No momento do caf�, ainda � mesa, quase deixara escapar
<br>uma pergunta, naturalmente, calmamente:
<br>
<br>� E que not�cias tens da Simone?
<br>Amarfanhando o guardanapo, ap�s ter quebrado distraidamente
<br>v�rios palitos que fora tirando do paliteiro de prata,
<br>acabou por repetir mesmo a pergunta, assim que voltaram �
<br>saleta.
<br>
<br>E a Paula, mostrando-lhe o envelope, enquanto se acomodava
<br>na poltrona orelhuda:
<br>
<br>� Conheces esta letra? � dela.
<br>� Sempre foi essa � confirmou Patr�cia.
<br>E a outra, falando devagar, pausadamente:
<br>� Recebi esta carta hoje, muito cedo, quando me preparava
<br>para ir ao dentista. Antes de abrir o envelope, reconheci
<br>a letra. E disse o que voc� disse: � � da Simone. � Fiquei
<br>intrigada. Simone n�o me devia uma carta; pelo contr�rio, era
<br>eu que devia resposta � �ltima carta dela, recebida h� dois ou
<br>tr�s meses. Vinha cobrar-me a resposta? Ou tratar de outro assunto?
<br>Uma pausa para tirar da bolsa o ma�o de cigarro. E com
<br>
<br>o cigarro entre os dedos:
<br>� N�o te incomodas que eu fume?
<br>E acendendo o isqueiro, com a carta no rega�o, a falar
<br>mordendo a biqueira do cigarro, sem reparar na expectativa
<br>da Patr�cia que parecia ir levantar-se, com a cabe�a mais erguida:
<br>
<br>
<br>� Abri depressa o envelope, quase rasgando um pedacinho
<br>da carta.
<br>192
<br>
<br>
<br>Soprou a primeira fuma�a, voltou a segurar o envelope.
<br>E enquanto a Patr�cia aproximava as sobrancelhas, quase a ponto
<br>de gritar-lhe que revelasse logo o que ia dizer-lhe:
<br>
<br>� Num relance, ante de ler a carta, vi teu nome na primeira
<br>p�gina. Disse comigo, um pouco nervosa: � A Simone
<br>escrevendo o nome da Patr�cia? Uai! Que ser�? � Em diagonal,
<br>li tudo depressa, salteadamente, e vi que ela est� a par de
<br>nossa festa. Sim senhora: tamb�m sabe de tudo. E tamb�m pelos
<br>jornais. A coluna do Lucas Caetano � uma de suas fontes.
<br>Nova pausa. E depois de repetir a fuma�a:
<br>
<br>� Tu sabes que ela conhece esta casa? Conhece. E quem
<br>a trouxe aqui foi o Rodrigo. Sabias? Simone veio aqui um m�s
<br>antes do Rodrigo come�ar o namoro contigo. Tamb�m sabias?
<br>E Patr�cia, s�ria:
<br>
<br>� Ela pr�pria me contou. A casa tinha acabado de passar
<br>por uma grande reforma, e o Rodrigo trouxe a Simone e
<br>a m�e dela para verem como tinha ficado.
<br>E a Paula, refazendo-se do desapontamento:
<br>
<br>� A Simone, aqui, n�o diz que veio com a m�e. S� fala
<br>da vinda dela. Mas vamos ao que interessa. Ela acha a tua id�ia
<br>de reunir as colegas, nos teus quarenta anos, uma grande id�ia.
<br>E passando-lhe o envelope:
<br>
<br>� L� tu mesma. � melhor.
<br>Dominando a emo��o, Patr�cia retardou os olhos sobre
<br>o texto escrito, ergueu depois a vista, ainda sem l�-lo, e foi buscar
<br>os �culos na escrivaninha. Voltou com eles na m�o, tornou
<br>a sentar-se. S� ent�o, cruzando as pernas, j� de �culos,
<br>no esfor�o para se mostrar serena, buscou a melhor luz � sua
<br>volta, e leu a primeira p�gina, a segunda, a terceira, a quarta,
<br>com o mesmo ritmo de leitura. Por fim, dobrando a carta, guardou-
<br>a no envelope.
<br>E a Paula, curiosa:
<br>
<br>� Que tal?
<br>� Gostei da carta. Por ela se v� que a Simone, embora
<br>isolada no Sanat�rio h� tantos anos, n�o se desprendeu da turma
<br>nem de mim. Agora, deixa-me que te diga uma coisa: eu,
<br>todas as noites, rezo pela Simone. Deus sabe que n�o fui incorreta
<br>com ela. Sabe. Perfeitamente. Ela, no �ntimo, tamb�m
<br>193
<br>
<br>
<br>sabe, mas prefere ignorar. E faz bem. � uma rea��o v�lida diante
<br>da vida. A condi��o da v�tima ajusta-se ao feitio da Simone.
<br>Cheguei a pensar em escrever-lhe. Repassando tudo. Revivendo
<br>tudo. Para ela sentir que foi o destino que colocou o
<br>Rodrigo no meu caminho, e n�o ela. Meu marido podia ter
<br>sido o marido dela. Mas a vida est� cheia de encontros e desencontros.
<br>O desencontro foi com ela; o encontro, comigo.
<br>Estou em paz com a minha consci�ncia. Isso mesmo eu ia lhe
<br>dizer. Limpamente. Decentemente. Mas mudei de id�ia. Eu ia
<br>p�r no papel o que ela, no �ntimo, de si para si, j� sabe. Se
<br>sabe, por que escrever-lhe? Entreguei o problema ao tempo.
<br>E o tempo, como � de seu of�cio, arredonda as arestas, suaviza
<br>as m�goas, atenua as incompreens�es, amacia as injusti�as.
<br>Fiquei no meu canto, e o Rodrigo me apoiou, dando-me
<br>raz�o. Vejo agora pela carta que ela te escreveu, que n�o me
<br>enganei.
<br>
<br>E a Paula, esmagando o cigarro no cinzeiro:
<br>
<br>� E vais convid�-la?
<br>� Podia parecer uma impertin�ncia. E seria, se ela viesse.
<br>Ia me ver feliz, e a minha felicidade naturalmente lhe doeria,
<br>pelo confronto com a sua solid�o. Por outro lado, podia
<br>ter um rompante de rea��o. A mesma rea��o que teve para com
<br>a minha m�e quando lhe devolveu o convite para o meu casamento.
<br>Ou quando me agrediu no p�tio da Escola Normal.
<br>De minha parte, seria uma impertin�ncia; da parte dela, uma
<br>temeridade. O melhor mesmo � que cada uma de n�s fique
<br>no seu canto, metida no seu mundo, vivendo a sua vida.
<br>E a Paula, recebendo a carta:
<br>
<br>� Tens raz�o. Foi bom conversar contigo.
<br>194
<br>
<br>
<br>SEGUNDO CAP�TULO
<br>
<br>1
<br>
<br>Pela janela do quarto ela podia ver o parque, a piscina,
<br>
<br>o tablado, as �rvores com as mesas circulares, o coreto dos m�sicos,
<br>o balc�o exigido pelo cozinheiro franc�s para o remate
<br>dos pratos, j� com os pequenos adornos do fio das l�mpadas
<br>e o aparato dos grandes refletores.
<br>O Lucas Caetano, aos pulinhos, pelo telefone, havia confirmado
<br>a grande not�cia:
<br>
<br>� Vir� mesmo o Bal�! Completo. Mas ainda n�o vou soltar
<br>a not�cia. Calma. Algumas das artistas famosas tamb�m
<br>j� confirmaram que v�m. Quem est� indecisa � a Sofia Loren.
<br>Mas temos a Mireille Mathieu, se ela n�o vier.
<br>E nervoso, suspirando alto:
<br>
<br>� Sou capaz de desmaiar quando vir toda essa gente respirando
<br>o mesmo ar que eu. O bom, o fino, o supra-sumo dos
<br>supra-sumos, seria trazer o Rubinstein para tocar a Sonata ao
<br>luar. Porque vai haver luar, Patr�cia. Vai. Eu mesmo fui ao
<br>Servi�o de Meteorologia, para ouvir o diretor. O pr�prio. E
<br>p�r o preto no branco. Fica tranq�ila. At� onde se pode prever
<br>o tempo, a noite ser� linda. J� pensaste no Rubinstein tocando
<br>na tua festa? Mas o velhinho, coitado, t�o bom, t�o simples,
<br>t�o prestativo, nos fez a surpresa de morrer, exatamente
<br>na fase em que a gente mais precisava dele. No dia de Finados,
<br>quando eu for ver meu pai no cemit�rio, vou descobrir
<br>o t�mulo do Rubinstein, e sabes para qu�? Para passar-lhe um
<br>sab�o. Dos meus. N�o devia ter morrido. Que lhe custava morrer
<br>depois de tua festa?
<br>195
<br>
<br>
<br>Riu alto, demoradamente. E mudando a voz:
<br>
<br>� J� expediste todos os convites? N�o te precipites. Vai
<br>devagar. H� convites que n�o podem deixar de ser feitos. Outros,
<br>t�m de ser esquecidos de prop�sito. E o das coleguinhas?
<br>Eu, no teu caso, ficava de olho nelas: fiscalizava tudo. Desde
<br>o vestido � roupa de baixo. Pedia ajuda dos meus costureiros.
<br>Fazia o meu cabeleireiro pentear as dondocas normalistas. Para
<br>evitar as gafes. De repente, aparece uma delas de uniforme
<br>Ou ent�o com um cabelo que n�o se usa mais. Todo cuidado
<br>� pouco, Patr�cia. V� o caso das j�ias. � prefer�vel n�o ter nada
<br>na orelha, nem no colo, nem nos bra�os, a aparecer na tua
<br>casa, com tanta luz em cima, a exibir colares, brincos e pulseiras
<br>de fantasia. Pelo amor de Deus, Patr�cia: fica de olho. Se
<br>for preciso, recorre-se a um joalheiro amigo, e tapa-se o buraco.
<br>E numa explos�o de riso:
<br>
<br>� J� imaginaste se os bandidos aparecem, armados at�
<br>os dentes, e assaltam a festa, tomando carteiras, tomando j�ias,
<br>tomando cheques, tomando cart�es de cr�dito, com o rev�lver
<br>em cima da gente? N�o estou dizendo isso para te assustar,
<br>mas para saberes que essas coisas tamb�m acontecem nas
<br>casas das melhores fam�lias. Outro dia, em plena luz do sol,
<br>um banco foi assaltado no centro de Paris, no come�o do Boulevard
<br>Saint-Germain, com esta novidade: os bandidos, depois
<br>de terem feito um assalto de manh�, fizeram outro de tarde.
<br>No mesmo banco. Sem disfarce. Calmamente. Portanto: cautela.
<br>Trata de refor�ar a seguran�a de tua casa. Na base da metralhadora.
<br>Patr�cia, ap�s um sil�ncio:
<br>
<br>� A Paula j� me disse a mesma coisa. Agora, ningu�m
<br>tem mais garantia. Nem adianta muito ter guardas de seguran�a.
<br>S�o os primeiros a ceder, para n�o serem mortos. Um
<br>horror. A que chegamos. At� parece que estamos em Chicago,
<br>no tempo de Al Capone. O jeito mesmo, nessas horas, �
<br>rezar.
<br>E o Lucas Caetano, depois de outra risadinha:
<br>
<br>� Tocaste no ponto. Se a Pol�cia n�o d� jeito para proteger
<br>a vida dos cidad�os aqui embaixo, o jeito � levantar os olhos
<br>para o c�u, pedindo a prote��o de Deus. Sabes quantas vezes
<br>196
<br>
<br>
<br>j� fui assaltado? Onze. Onze vezes. Na �ltima, s� n�o me depenaram
<br>completamente, deixando-me nu na cal�ada, porque
<br>apareceu a patrulhinha da Pol�cia, ali na hora, e assustou os
<br>bandidos, que se mandaram, maluquinhos, maluquinhos, enquanto
<br>eu me ria por dentro, gozando comigo o susto que Deus
<br>tinha pregado, com a patrulhinha providencial, nos quatro assaltantes
<br>que me limpavam, como se eu j� fosse um defunto.
<br>E recolhendo o riso, para voltar a rir logo depois:
<br>
<br>� Deixa eu bater na madeira. J� bati. Bate tamb�m. Afugenta
<br>os maus esp�ritos, acorda o Anjo da Guarda. Porque at�
<br>o Anjo da Guarda, que sempre nos protegia, deu agora para
<br>fazer corpo mole, quando os bandidos aparecem. Onde est�
<br>o anjo Gabriel, com sua espada de fogo? E S�o Jorge, com
<br>aquela lan�a de matar drag�es? Parece que j� est�o fora de
<br>servi�o. Aposentados. Coitadinhos.
<br>E batendo na boca:
<br>
<br>� Deus que me perdoe.
<br>Voltou a rir. E novamente s�rio:
<br>� Afinal de contas, foste visitar a maluquinha que matou
<br>o amante, amiguinho do marido? J� saiu da cadeia? Olha
<br>l�, Patr�cia. Nesse ponto, sou cauteloso: eu, do lado de c�, com
<br>a grade no meio me protegendo; e ele, o bandido (ou a bandida),
<br>do lado de dentro, com o guarda � vista, de olho nele (ou
<br>nela). Nunca se sabe o que um bandido est� pensando. Nem
<br>o que pretende fazer conosco.
<br>2
<br>
<br>Tinha hesitado em mandar-lhe o convite. Chegara mesmo
<br>a conversar sobre isso com a Inezita.
<br>E a Inezita, tamb�m hesitante:
<br>
<br>� Ela n�o me disse se vem ou se n�o vem. Limitou-se
<br>a me perguntar se a lembran�a tinha sido tua. Ou se fui eu
<br>que sugeri o nome dela. Disse-lhe a verdade. Que tu mesma
<br>te lembraste dela. E ela, passado um momento, como se hou197
<br>
<br>
<br>
<br>vesse refletido: � Manda o convite. � Tu, agora, decides se
<br>mandas ou se n�o mandas.
<br>
<br>E o que de pronto acudiu � lembran�a de Patr�cia, depois
<br>que a Inezita lhe telefonou, foi a sala de aula, na tarde em que,
<br>por falta do Professor Avertano, que n�o havia ido � Escola
<br>Normal, retido em casa por uma gripe forte, boa parte da classe
<br>tinha permanecido ali, entre a aula de Pedagogia e a aula de
<br>Desenho, vendo cair a chuva inclinada e fria, que ia molhando
<br>as t�buas do soalho, perto do quadro-negro.
<br>
<br>Patr�cia, sozinha na carteira dupla, tratava de encher o tempo
<br>a copiar os apontamentos da aula de Pedagogia, quando
<br>mudou de id�ia, decidindo passar � sala da Biblioteca, � procura
<br>da antologia de poetas ingleses que a Simone, tamb�m
<br>gripada e ausente, lhe havia recomendado. Guardou a caneta
<br>e os dois cadernos; fechou a pasta de couro; chegou o corpo
<br>para a ponta do banco, firmando os p�s no ch�opara levantar-
<br>se. E nisso, duas mesas adiante, ao meio da sala, a voz acusativa
<br>da Luc�lia, rouca e alta:
<br>
<br>� Patr�cia, voc� ficou com a minha caneta!
<br>Jamais esqueceria o seu dedo em riste, o bra�o erguido,
<br>o rosto desfigurado, p�lida, uma chispa amarela nos olhos exorbitados,
<br>dando a impress�o de que ia atirar-se contra ela, no
<br>impulso da ira que lhe fazia tremer o l�bio inferior.
<br>Patr�cia trouxe a pasta para junto do peito, disposta a defender-
<br>se da colega. E alto, na rea��o imeditata do brio ferido:
<br>
<br>� Est�s maluca? A caneta que eu guardei � minha.
<br>� N�o, n�o � tua. A minha desapareceu de minha mesa.
<br>Foste tu que a tiraste. Vi quando estavas escrevendo com ela.
<br>Patr�cia abriu com rapidez a pasta, exibiu no mesmo impulso
<br>a caneta que tirou dali:
<br>
<br>� Esta � minha. Presente de minha m�e, no meu anivers�rio.
<br>E a Luc�lia, mais perto, curvando-se sobre a Patr�cia, com
<br>as m�os exaltadas firmando-se na borda da carteira:
<br>
<br>� � a minha. Est�s mentindo.
<br>E ia apossar-se da caneta, decidida ao desfor�o f�sico,
<br>quando Patr�cia se levantou, atirando novamente a caneta para
<br>dentro da pasta, e foi t�o veemente a sua c�lera que pare
<br>
<br>
<br>198
<br>
<br>
<br>ceu mudar de rosto � um rosto vincado, de olhar hostil a se
<br>coar pelas p�lpebras entrefechadas, os l�bios arroxeados, sempre
<br>a fitar a outra, como pronta a reagir �s suas m�os agressivas.
<br>
<br>Nisto, � entrada da sala, irrompe a Carminha, gorda, sacudida,
<br>os seios frouxos dentro da blusa, com o bra�o erguido,
<br>segurando na ponta dos dedos uma caneta igual:
<br>
<br>� Luc�lia, obrigada. Fui eu que tirei tua caneta.
<br>Um momento de sil�ncio. A Luc�lia parece que vai
<br>desfazer-se, no desapontamento da ira injusta, mas se limita
<br>a baixar os olhos, calada, virando devagar o rosto, de volta
<br>ao meio da sala, enquanto a Patr�cia lhe diz, ainda com �dio:
<br>
<br>� Nunca mais fale comigo!
<br>Durante o resto do curso n�o se falaram. Por vezes, sentadas
<br>na mesma cadeira dupla, nos dias de prova escrita, davam
<br>a impress�o de que n�o se conheciam. E como o sil�ncio
<br>m�tuo tamb�m se consolida, persistente, tenaz, o retraimento
<br>de uma se ajustou ao retraimento da outra, ganhando naturalidade,
<br>parecendo que as duas n�o se viam, lado a lado na mesma
<br>fila, ora descendo para o recreio no p�tio, ora subindo para
<br>a sala de aula.
<br>Foi Luc�lia a �nica a quem a m�e de Patr�cia n�o mandou
<br>convite para o casamento da filha. Depois, rolando o tempo,
<br>voltaram a encontrar-se nas casas de ch�, nas recep��es,
<br>na �pera, no Teatro de Com�dias, no Jockey Clube, na praia
<br>privativa do N�utico, no Clube de Regatas, no aeroporto.
<br>E agora, pelo telefone, a voz da Luc�lia:
<br>
<br>� Patr�cia, recebi seu convite. Obrigada. Meu marido e
<br>eu iremos � sua festa.
<br>E Patr�cia, dominando a emo��o que lhe fez tremer o
<br>l�bio:
<br>
<br>� Estaremos � porta, o Rodrigo e eu, para receber voc�
<br>e seu marido. Com muito gosto.
<br>E ao repor o telefone no gancho, ficou um momento com
<br>a m�o sobre o aparelho, pensando em contar o caso � Tia Creusa,
<br>na pr�xima carta endere�ada ao mosteiro tibetano. Parecia-
<br>lhe ter tirado um peso que lhe vergava as esp�duas. Nunca imaginara
<br>que, ap�s vinte e quatro anos de sil�ncio agastado, fos
<br>
<br>
<br>199
<br>
<br>
<br>se t�o f�cil suprimir, quase com um simples sopro, o velho muro
<br>que a separava da Luc�lia.
<br>
<br>3
<br>
<br>Antes de penetrar no edif�cio cor de tijolo, carrancudamente
<br>cercado de altos muros, ela teve a impress�o de que saberia
<br>conservar-se calma, mesmo ao transpor o vest�bulo amplo,
<br>sempre iluminado, que um guarda alto e negro defendia,
<br>de metralhadora junto ao peito, calado, distante, ar perenemente
<br>agressivo.
<br>
<br>E foi outro negro � de um negro fosco, cabe�a bem erguida,
<br>como orgulhoso de sua ra�a e de seu posto � que conferiu
<br>a identidade dela com o nome que constava de uma folha
<br>de papel, dizendo-lhe:
<br>
<br>� Eu mesmo vou levar a senhora � Biblioteca. Fa�a favor.
<br>Abriu o port�o de ferro, f�-la caminhar por um corredor
<br>silencioso, subiram uma escada. Logo os livros perfilados, na
<br>sala aconchegada e de muita luz, pareceram esperar por ela,
<br>a despeito das estantes envidra�adas. Uma pequena mesa para
<br>quatro cadeiras; outra mesa mais adiante servindo de escrivaninha;
<br>um calend�rio na parede, uma janela gradeada abrindo
<br>para um muro de pedra salpicado de musgo quase negro,
<br>e um sil�ncio de sesta na tarde nublada.
<br>
<br>De p�, descal�ando as luvas, Patr�cia agu�ava o ouvido,
<br>� espreita de passos no corredor. A escada alta, de dois lances,
<br>que a trouxera at� ali, acelerara-lhe o cora��o, obrigando-
<br>a a respirar fundo, para afinal sentir, aliviada, que seu pulso
<br>se acalmava, como que favorecido pela vira��o constante que
<br>a janela escancarada recolhia por entre o ferro das grades.
<br>
<br>E foi quando ergueu o olhar, j� descal�adas as luvas, que
<br>deu com a senhora d� cabe�a branca, no centro da porta, as
<br>m�os unidas � altura do ventre, os olhos aumentados em sua
<br>dire��o, como se lhe fosse falar.
<br>
<br>200
<br>
<br>
<br>Olharam-se assim por alguns momentos, ainda em sil�ncio,
<br>at� que a outra veio mais para perto:
<br>
<br>� Voc� aqui, Patr�cia?
<br>A voz descansada, meio fanha, restituiu-lhe a identidade.
<br>E Patr�cia, emocionada:
<br>� Eu mesma, Nanda. S� h� poucos dias, pela Paula, vim
<br>a saber que estavas aqui.
<br>Segurou-lhe as m�os, sentindo os olhos �midos, e as duas
<br>se abra�aram logo a seguir, novamente com a fala embargada,
<br>enquanto Patr�cia via a Nanda na sala de aula, no p�tio, no
<br>corredor da Escola Normal, como se o tempo morto lhe reflu�sse
<br>� consci�ncia, n�tido, tang�vel, redivivo, na instant�nea
<br>recomposi��o de imagens esquecidas, que de novo existiam,
<br>com as suas cores e os seus movimentos.
<br>
<br>E Nanda, desfazendo o abra�o:
<br>
<br>� Recebi seu convite. Chegou ontem. Obrigada, Patr�cia.
<br>E Patr�cia, aceitando a cadeira que a outra lhe oferecia,
<br>na mesa de quatro lugares:
<br>
<br>� Rodrigo e eu estamos � sua espera.
<br>Antes de responder, Nanda sorriu, de cabe�a inclinada,
<br>como se buscasse o canto dos olhos para olh�-la. E ap�s um
<br>sil�ncio:
<br>
<br>� N�o, querida. N�o devo ir. N�o posso ir. Na tua festa,
<br>eu seria uma curiosidade a mais. Mesmo que o diretor daqui
<br>me deixasse sair, como j� tem deixado, sempre que lhe pedem.
<br>N�o, n�o vou. Mas, no dia, vou ficar acordada, imaginando
<br>tudo, para fazer de conta que estou l�. A princ�pio, quando
<br>a Inezita me falou, fiquei animada. Depois, pensei melhor. Mesmo
<br>que me mandasses o vestido. Mesmo que teu motorista viesse
<br>me buscar. N�o, n�o vou. Mas n�o penses que � por vergonha
<br>de mim que n�o vou. N�o, n�o �. O que aconteceu comigo,
<br>aconteceu. Nada mais que isso. Aconteceu. Como um carro
<br>que nos atropela. Como uma perna que se quebra. Vem o
<br>tempo, e nos faz companhia.
<br>Sacudiu depressa a cabe�a, a atirar de si a recorda��o
<br>opressiva, e conseguiu sorrir, com os olhos molhados:
<br>
<br>� Eu, aqui, sou a bibliotec�ria. A princ�pio, fui a professora.
<br>Depois, a enfermeira, sem deixar de ser a professora.
<br>201
<br>
<br>
<br>Agora, sou professora, enfermeira e bibliotec�ria. Est�s admirada
<br>de meus cabelos brancos? Apareceram-me aqui, assim
<br>que cheguei. N�o quis pint�-los. Para qu�? Melhor assim. Meu
<br>marido, sempre que vem aqui (e ele vem sempre, e me anima),
<br>passa a m�o nos meus cabelos brancos, com ternura. Antes,
<br>n�o passava. Tu o conheces. N�o te lembras do J�lio? Comecei
<br>a namorar com ele no �ltimo ano do curso. Narigudo, alto,
<br>meio curvo. Pensei que s� gostava de mim como mulher.
<br>Na cama. Com a luz acesa. Aqui, aos poucos, com o desvelo
<br>dele por mim, reconheci que n�o era assim.
<br>
<br>Suspirou, baixou um momento as p�lpebras pestanudas.
<br>E voltando a levant�-las enquanto alteava os seios:
<br>
<br>� � meu amigo. Nunca me perguntou pelo meu caso. Durante
<br>meu processo, redobrou de cuidados. Trouxe-me um bom
<br>advogado, escrevia-me longas cartas, nunca me censurou. �
<br>como se nada houvesse acontecido. Quando me vejo no espelho,
<br>sinto que a vida me devastou. A ele, n�o: o J�lio parece
<br>ter trinta anos. Agora � que as su��as dele come�am a embranquecer.
<br>Forte. Bonit�o.
<br>E de repente, avivando a voz:
<br>
<br>� A Inezita me disse que n�o tiveste filhos. Eu tamb�m
<br>n�o tive. Sonhei muito ter uma menina. Mesmo que fosse menino,
<br>seria bem recebido. Por que n�o? Um filho � sempre um
<br>filho. Uma noite, deitada, sem sono, fiquei pensando que, para
<br>n�s, professoras de meninas e meninos, o aluno � um filho
<br>emprestado, com hora marcada. Lecionei dois anos, antes de
<br>vir para c�. Na sala de aula, nunca passei um castigo. Nunca.
<br>Chamava o aluno rebelde, conversava com ele, fazia-lhe um
<br>agrado. Uma sensa��o boa de paz crescia dentro de mim. Aqui,
<br>ensino a adultos. N�o � a mesma coisa. N�o, n�o �. O bom
<br>mesmo � ensinar � menininha que ainda n�o sabe segurar o
<br>l�pis. Ou o menininho que olha para dentro do nosso decote
<br>quando nos curvamos para corrigir o dever que ele est� fazendo.
<br>Nessas horas, somos m�es. M�es dos filhos alheios. Quero
<br>voltar a ensinar a meninos quando sair daqui. N�o mais
<br>como m�e � como av�. Sabias que j� h� duas av�s na nossa
<br>turma? Sim senhora: duas.
<br>Sentada do outro lado da mesa, Nanda falava com as m�os
<br>
<br>202
<br>
<br>
<br>entrela�adas, variando a posi��o da cabe�a. O vestido grosso
<br>n�o a tornava menos feminina. Pelo contr�rio: fazia-a mais
<br>mulher, no contraste da pele muito branca com o cinza-escuro
<br>do tecido de algod�o. Um leve estrabismo como que lhe dava
<br>um qu� de sensualidade reprimida, que a voz descansada parecia
<br>acentuar.
<br>
<br>E acelerando a fala:
<br>
<br>� Sei de ti pelos jornais. De tuas festas. De tuas viagens.
<br>De tuas toaletes.
<br>Um sil�ncio pensativo. E logo depois:
<br>
<br>� Voltaste a te dar com a Simone?
<br>Patr�cia afastou as m�os, alteou os ombros, ergueu as sobrancelhas
<br>para a testa. E corrigindo:
<br>
<br>� Foi ela que se afastou de mim. Cada uma de n�s foi
<br>para seu lado. Sem que nossos caminhos tornassem a se cruzar.
<br>Novo sil�ncio.
<br>E Nanda:
<br>
<br>� Ela sempre me escreve. J� me disse que ela e eu somos
<br>as presidi�rias da turma: eu, aqui; ela, no Sanat�rio. Por que
<br>n�o vais v�-la, como vieste aqui? Vai. O tempo passou; o que
<br>houve entre voc�s ficou para tr�s. Eu, no teu lugar, ia.
<br>Outro sil�ncio, mais demorado, com uma a olhar a outra
<br>sem palavras, como se o di�logo entre elas se tornasse dif�cil.
<br>Mas a pr�pria Nanda se encarregou de reat�-lo:
<br>
<br>� At� parece que voltamos ao tempo da Escola Normal,
<br>quando a gente se olhava tamb�m assim, para ver quem ria
<br>primeiro.
<br>E j� a tarde esmorecia, por entre o ru�do das janelas e
<br>portas que iam sendo fechadas, quando as duas se despediram,
<br>mais emocionadas. Enquanto Patr�cia sa�a ao corredor,
<br>onde o mesmo guarda esperava por ela, Nanda repunha nos
<br>lugares os livros consultados, ambas com o fio das l�grimas
<br>descendo para o cavado do rosto.
<br>
<br>Apressando o passo, como no esfor�o para afastar-se da
<br>emo��o penosa, Patr�cia se voltou, mais adiante, j� na descida
<br>da escada, e acenou para a outra, que tamb�m lhe acenou,
<br>com um livro na m�o. Fizera bem em vir ali, reconhecia. So
<br>
<br>
<br>203
<br>
<br>
<br>bretudo depois que a Nanda lhe dissera, de olhos baixos, entrela�ando
<br>as m�os desalentadas:
<br>
<br>� Posso te dizer uma coisa? Sabes a que comparo a emo��o
<br>que estou sentindo agora, com a tua visita? � das cartas
<br>que todas as semanas recebo da Simone, desde que estou aqui.
<br>E inclinando o rosto, com as p�lpebras descidas:
<br>
<br>� Foi pena o que houve entre voc�s.
<br>4
<br>
<br>Noite alta, na cama revolta, Patr�cia esperou que o Rodrigo
<br>acendesse o cigarro, e lhe disse, puxando o len�ol para
<br>os seios:
<br>
<br>� Tenho uma coisa para te contar.
<br>Antes de contar, tomou-lhe o cigarro, sorveu uma fuma�a
<br>breve, que atirou para o alto, olhando o marido, s�ria, compenetrada.
<br>E ao repor-lhe o cigarro nos l�bios:
<br>
<br>� N�o te espantes com o que vais ouvir.
<br>E tornando a puxar o len�ol, que ia escorregando devagar:
<br>� Fui visitar a Nanda.
<br>E ele, tirando da boca o cigarro:
<br>� No pres�dio?
<br>� No pres�dio. Sozinha. Telefonei para o diretor, disse
<br>quem era, e ele foi gentil�ssimo comigo. Sim, pois n�o. Eu podia
<br>ir quando quisesse. Fui. Antes, mandei o convite da Nanda.
<br>Ele, com o cigarro defronte da boca:
<br>
<br>� E ela? � perguntou, com ansiedade.
<br>� Ficou emocionada. Mas n�o vem. N�o, n�o vem. Seria
<br>exibir-se, com tanta gente em seu redor, aqui em casa. E
<br>o que ela quer � sil�ncio � sua volta. Que a esque�am, depois
<br>de tudo quanto sofreu. Que eu n�o levasse a mal. Seria penoso
<br>para ela. Muito. Iria sofrer. E me beijou, reconhecida. Jamais
<br>esquecer� o meu gesto. Concordei com ela. De fato, com
<br>tanta cara curiosa, com tanta luz, a festa dos outros seria para
<br>ela uma prova��o a mais.
<br>204
<br>
<br>
<br>Tornou a tomar-lhe o cigarro, sorveu outra fuma�a. E ap�s
<br>uma pausa, subindo mais o corpo para a cabeceira da cama:
<br>
<br>� Fui v�-la, contrariando a recomenda��o da Paula e da
<br>Inezita, e fiz bem. Eu, no seu lugar, estaria destru�da; ela, parecendo
<br>mais fr�gil, soube vencer a prova��o. Sa� de l�
<br>admirando-lhe a energia. E contente comigo mesma por ter
<br>ido ao seu encontro. Ela, por seu lado, gostou de me ver. Houve
<br>um momento em que ela e eu, uma defronte da outra, s� faz�amos
<br>chorar. Ela reagiu primeiro, segurando minha m�o: �
<br>Que bobeira � essa, Patr�cia? Enxuga esses olhos. � E eu, come�ando
<br>a rir: � Primeiro, enxuga os teus. � E acabamos
<br>abra�adas, chorando e rindo. Duas bobas. Como no tempo da
<br>Escola Normal.
<br>Como se a evoca��o a emocionasse, levou as m�os aos
<br>olhos, correu sobre as p�lpebras fechadas a ponta dos dedos.
<br>E a seguir:
<br>
<br>� Sabes quem lhe escreve, todas as semanas? A Simone.
<br>Cartas longas, que t�m ajudado a Nanda a suportar a reclus�o.
<br>Li algumas. Tive a impress�o de voltar a ouvir a voz de
<br>Simone. Como se ela estivesse diante de mim. Com aquele
<br>olhar. Aquele rosto bonito. Tive saudades dela. Tive. N�o vou
<br>te esconder.
<br>Rodrigo atalhou, querendo rir, a apoiar a nuca no travesseiro:
<br>
<br>
<br>� N�o me digas que vais convidar tamb�m a Simone...
<br>� A Simone, n�o. Ela ia sofrer se viesse. Que cada uma
<br>de n�s fique onde Deus nos colocou: eu, aqui; ela, no Sanat�rio,
<br>como se o destino houvesse trocado nossos pap�is.
<br>E indo diretamente � nova revela��o:
<br>
<br>� Mas fiz outro convite, na manh� de hoje, e me dei mal.
<br>Antes n�o tivesse ido. Depois, pensando melhor, aprovei o que
<br>fiz. Tia Creusa tamb�m aprovaria. Foi nela que tamb�m pensei,
<br>antes da visita, quando li o papel que a Inezita deixou comigo,
<br>com o nome das colegas que eu n�o devia convidar. O
<br>primeiro era o da Evangelina, riscado a l�pis vermelho, e com
<br>um n�o, logo depois, em letras de imprensa. S� ele.
<br>O Rodrigo apoiou o busto no cotovelo, como se fosse levantar.
<br>E duvidando, s�rio:
<br>
<br>205
<br>
<br>
<br>� Foste visitar a Evangelina, Patr�cia?
<br>� Fui. E depois de te dizer, n�o sei quantas vezes, que
<br>n�o queria olhar para a cara dela. De repente me decidi.
<br>Animei-me com a visita � Nanda. Eu tinha sa�do do pres�dio
<br>com a alma lavada. Em paz comigo mesma. Com uma emo��o
<br>diferente, que me purificava, que me dava uma nova certeza
<br>de que Deus olhava por mim. No caso da Evangelina, eu
<br>n�o me limitaria a vencer o retraimento de meu feitio. Iria mais
<br>longe. Bem mais longe. Vencendo ressentimentos e m�goas. Para
<br>apenas ficar em mim o gesto, a iniciativa, a determina��o
<br>de desfazer-lhe o �dio est�pido e gratuito. Cheguei a pensar
<br>em aguardar a tua volta de Londres. Mas me pareceu que a
<br>protela��o da visita terminaria por influir no meu esp�rito,
<br>levando-me a desistir de ir � casa da Evangelina. Era bom ir.
<br>Tudo de bom, at� hoje, aconteceu comigo. A visita � Evangelina
<br>tamb�m daria certo. Por que n�o? Tinha de dar.
<br>E o Rodrigo, aproveitando-lhe o sil�ncio:
<br>
<br>� N�o foi ela que disse alto � "L� vem tolice" � quando
<br>o Professor Avertano te deu a palavra, na noite da formatura?
<br>� Ela mesma � confirmou Patr�cia. � E estendendo na
<br>minha dire��o o olhar duro, repulsivo, com um brilho de inveja
<br>e �dio nas pupilas. O brilho de que sempre me falas e que
<br>v�s nos olhos de teus competidores, quando te p�es a contar
<br>tuas vit�rias. O Professor Avertano ouviu o que disse a Evangelina,
<br>e reagiu de modo alto, superior, batendo palmas fortes
<br>quando me aproximei da borda do palco, com o meu discurso
<br>a me tremer nas m�os nervosas.
<br>E o Rodrigo, sem conter a reminisc�ncia:
<br>
<br>� N�o foi nesse momento que apareci no fundo da sala,
<br>ainda com a roupa com que tinha chegado de Madri?
<br>E Patr�cia, mais fluente:
<br>
<br>� Quando dei contigo, ganhei outra for�a. Perto de mim,
<br>na segunda fila da assist�ncia, M�e Ded� e Tia Creusa. M�e
<br>Ded�, rezando. Tia Creusa, de olhos fechados, chamando os
<br>bons fluidos. Para mim, naquele momento o mundo podia vir
<br>abaixo, e eu continuaria falando. Nunca me esqueci da emo��o
<br>com que o velho Avertano me beijou no rosto, me chamando
<br>de minha filha, assim que acabei de falar. S� na hora
<br>206
<br>
<br>
<br>em que te vi na igreja, no dia de nosso casamento, vivi um momento
<br>parecido. Que me importava o �dio da Evangelina, a
<br>m�goa da Simone, o despeito de Fulana ou de Beltrana, se o
<br>triunfo era meu, naquele instante, naquele lugar? De mim para
<br>mim, compreendi a Evangelina, compreendi a Simone. Afinal
<br>de contas, a vit�ria plena, absoluta, era minha. Mesmo depois
<br>do que a Evangelina iria fazer comigo, ao fim do casamento,
<br>na tua presen�a, na presen�a de M�e Ded�, quando tornei a
<br>me conter e dei de ombros, sabendo que, a mim e a ela, a vida
<br>nos separava para sempre, assim que eu sa�sse dali como tua
<br>mulher. E foi isso que se deu.
<br>
<br>Patr�cia, sem deixar de falar, endireitou o busto, e logo
<br>prendeu o len�ol, que voltara a escorregar, descobrindo-lhe os
<br>seios:
<br>
<br>� Vinte e um anos depois, quando Evangelina e eu n�o
<br>somos mais mocinhas, e j� temos a experi�ncia da vida, pensei
<br>comigo que j� era tempo de p�r fim ao seu �dio mesquinho.
<br>Ela tamb�m casou, e tem filhos. Os filhos que Deus n�o
<br>nos deu. Nem por isso temos �dio ou inveja de algu�m. Cedo,
<br>hoje, me preparei para ir � casa da Evangelina. Antes, passei
<br>na igreja para conversar com o frade que me confessa nas aus�ncias
<br>do Padre Revoredo. N�o se limitou a aprovar meu gesto
<br>� aben�oou-me. L�pida, confiante, sa� da igreja para a casa
<br>da Evangelina. Ela mora longe, quase no sub�rbio, no topo
<br>de uma ladeira. Felizmente, em vez de dirigir meu carro, levei
<br>comigo o Expedito. Eu, sozinha, n�o teria chegado l�. O carro
<br>deu in�meras voltas, antes de encontrar a rua, no fim da
<br>ladeira. L� em cima, numa pracinha, havia uns meninos brincando
<br>com uma bola. Perguntei se conheciam a Evangelina.
<br>� � minha m�e � disse o garoto maior, de cara salpicada
<br>de sardas, j� mudando a voz. E correu a abrir-me o port�o
<br>da casa da esquina. Casa boa, espa�osa, no meio de �rvores,
<br>com um jardim bem tratado. E eu disse comigo, animada: �
<br>A Evangelina tem marido, tem filhos, tem casa, esta pracinha
<br>� linda: n�o tem raz�o para ter inveja de ningu�m. � O mesmo
<br>menino entrou na casa, abriu a porta da sala, mandou que
<br>eu entrasse.
<br>207
<br>
<br>
<br>O rosto de Patr�cia se altera, tenso, contra�do. E ela, segurando
<br>o len�ol por cima do busto:
<br>
<br>� Ah, Rodrigo, n�o te conto o que se passou. N�o vais
<br>acreditar. Um horror. A Evangelina, quando entrou na sala,
<br>e viu que era eu que estava ali, s� faltou me esbordoar. Escancarou
<br>a porta, com a m�o exaltada, aos gritos: � Ponha-se
<br>daqui para fora, sua imbecil! Desapare�a de minha vista! �
<br>E para o filho, que assistia � cena, estatelado: � N�o sei onde
<br>estou que n�o te dou uma surra. Quem te mandou p�r aqui
<br>dentro essa mulher? � E para mim, que me retra�ra na ponta
<br>do sof�: � Saia daqui! J� lhe disse que saia! � E era como
<br>se fosse erguer o bra�o para me castigar, desfigurada, os olhos
<br>pulados. Atravessei a porta, corri para o carro, e s� me acalmei
<br>quando vi nossa rua, nossa casa, e o Ludovico, l� embaixo,
<br>� minha espera, com a not�cia de que j� tinhas chegado,
<br>e estavas no escrit�rio.
<br>208
<br>
<br>
<br>TERCEIRO CAP�TULO
<br>
<br>1
<br>
<br>N�o saberia explicar como lhe acudiu � lembran�a o nome
<br>do Professor Heliodoro. E o certo � que, a despeito do tempo
<br>transcorrido, ela o via entrar na sala de aula, gordo, bochechudo,
<br>o paletoz�o a lhe dar nos joelhos, rangendo nas t�buas
<br>do ch�o a sola das botinas luzidias. Baixo, entroncado,
<br>trazia em si uma solenidade natural que a vasta calva acentuava.
<br>Aumentando-lhe as bochechas, as su��as brancas o tornavam
<br>mais gordo, mais compacto. E como fazia quest�o de que
<br>as alunas levantassem, assim que entrava na sala acenava para
<br>um lado e para o outro, grave, sisudo, como se estivesse a receber
<br>uma ova��o. Subia ao estrado, voltava-se para a classe
<br>e, com um gesto da m�o rechonchuda e cabeluda, mandava
<br>que as alunas tornassem a sentar.
<br>
<br>E quem Patr�cia rev�, enquanto p�e na x�cara de caf� a
<br>colherzinha de a��car, com o Ludovico � sua frente, segurando
<br>em sil�ncio a bandejinha de prata, � o mesmo Heliodoro, vagaroso,
<br>que ali vai, solene, s�bio e caricato, a arrastar por tr�s
<br>dos passos medidos o rabo de algod�o que lhe puseram no corredor.
<br>O mestre avan�a, solene, e acena para as alunas, um pouco
<br>surpreendido com as caras de riso que vai encontrando.
<br>
<br>Foi s� no estrado, j� de frente, quando correu a m�o pelas
<br>n�degas, para separar as abas do palet�, e sentar-se, que
<br>
<br>o Professor Heliodoro parou um momento, s�rio, solene, e desprendeu
<br>das costas o rabinho gaiato. N�o sorriu. N�o reclamou.
<br>Senhor de si, acomodou a cauda a um canto da mesa
<br>e come�ou a dar a sua li��o.
<br>209
<br>
<br>
<br>Assim:
<br>
<br>� Sabem as minhas boas amigas que estou nesta sala de
<br>aula por pouco tempo. Sou um velho professor aposentado.
<br>Vim substituir o Professor Marinho, meu antigo aluno. Ao fim
<br>de tr�s meses, n�o estarei mais aqui. Sempre imaginei que era
<br>querido de minhas alunas. Vejo agora que me enganei.
<br>E s�rio, continuando a reprimenda:
<br>
<br>� Sil�ncio. Deixem-me continuar. Esta � a minha �ltima
<br>li��o. O Professor Marinho chega hoje de sua viagem, e eu
<br>me recolho � minha casa, aos meus livros, �s minhas recorda��es.
<br>Este rabinho de algod�o, t�o gracioso, t�o gaiato, vou
<br>lev�-lo comigo, como uma recorda��o risonha. Uma recorda��o
<br>a mais. Indicativa de que minhas alunas, t�o belas, t�o
<br>inteligentes, tamb�m sabem rir, � minha custa. Obrigado.
<br>E outra vez imp�s sil�ncio, espalmando no ar as m�os cabeludas,
<br>grave, a cabe�a meio inclinada, como se estivesse a
<br>reger uma orquestra, no momento em que se calam os instrumentos
<br>de sopro e se faz ouvir, solit�rio, o piano de cauda.
<br>
<br>� Por favor, quero dar minha aula.
<br>E Patr�cia tornava a v�-lo no mesmo passo gordo e cheio,
<br>saindo da classe, como se n�o estivesse a ouvir a esguia Ambrosina,
<br>que lhe dizia, acompanhando-o:
<br>
<br>� N�o fomos n�s que fizemos isso com o senhor. Foi algu�m,
<br>l� fora. No corredor.
<br>E foi a pr�pria Patr�cia que preencheu, � m�o, na sua letra
<br>alta e espa�osa, o sobrescrito do convite que entregara a
<br>Inezita, para que esta o fizesse chegar �s m�os do Professor
<br>Heliodoro.
<br>
<br>A Inezita, com espanto:
<br>
<br>� Heliodoro? Foi nosso Professor? N�o, n�o me lembro
<br>dele.
<br>E por mais que Patr�cia avivasse a cena do rabo de algod�o,
<br>sem conseguir conter o frouxo de riso, a outra n�o conseguiu
<br>lembrar-se:
<br>
<br>� Na nossa classe? N�o, n�o me lembro, Patr�cia.
<br>Mas a Paula se lembrava. Vagamente. Como um sonho
<br>engra�ado, que o tempo enfunara, quase a apag�-lo de sua mem�ria.
<br>
<br>
<br>210
<br>
<br>
<br>E Patr�cia, decidindo-se:
<br>
<br>� Quem vai descobrir o Professor Heliodoro � o Ludovico.
<br>O que ele n�o descobrir, ningu�m descobre.
<br>E a Inezita:
<br>
<br>� Queres mesmo que ele venha?
<br>� Quero. Fiquei com remorsos do que fizeram com ele.
<br>De repente.
<br>E a Paula:
<br>
<br>� Neste caso, vou continuar a procur�-lo.
<br>E como o convite voltara � Patr�cia na semana seguinte,
<br>trazido pela Paula, ela o entregara ao Ludovico, que prontamente
<br>lhe prometera:
<br>
<br>� Fique tranq�ila. Hei de saber onde encontr�-lo. Deixe
<br>tudo comigo.
<br>E agora, sorvendo o caf�, na tarde que ia acabando, por
<br>entre o cicio alto de cigarras no parque, perguntou-lhe:
<br>
<br>� E o Professor Heliodoro, Ludovico? Conseguiu descobri-
<br>lo?
<br>� Sim, senhora � confirmou o velho mordomo, tamb�m
<br>solene, baixando as p�lpebras, com a m�o sobre o peito. �
<br>H� pouco. Depois de muito procurar.
<br>E baixando a voz, quase em surdina:
<br>
<br>� No mais triste dos endere�os, D. Patr�cia. Est� enterrado,
<br>h� seis anos, na ala 2, carneiro 29, no Cemit�rio da Boa
<br>Esperan�a, segundo cruzeiro, � direita. Foi isso que me disse
<br>o filho dele, quando lhe pedi o endere�o do professor.
<br>2
<br>
<br>Estranhou a aglomera��o � porta da Escola Normal. E
<br>como viu, no primeiro relance do olhar, que ali se misturavam
<br>pessoas do povo e grupos de alunos, enquanto os vizinhos se
<br>debru�avam das sacadas, em sil�ncio, como assustados, voltados
<br>na dire��o de uma ambul�ncia que ia parando junto �
<br>cal�ada, apressou o passo, inquieta.
<br>
<br>211
<br>
<br>
<br>E a Simone, que vinha vindo ao seu encontro, no vest�bulo
<br>da entrada, ao p� da escada de pedra que levava ao pavimento
<br>superior:
<br>
<br>� Aconteceu uma coisa horr�vel. N�o podia ser pior.
<br>Por alguns momentos, ainda sem compreender o que se
<br>passava, Patr�cia olhou a outra, com os olhos crescidos. E quase
<br>a gritar, notando a palidez da Simone e sentindo as m�os geladas
<br>e �midas com que a outra lhe segurava os punhos:
<br>
<br>� O que foi que houve? Por favor, fala.
<br>E como um m�dico descia da ambul�ncia, no seu traje
<br>branco, segurando uma bolsa de couro, adivinhou o novo atropelamento
<br>na volta da rua, defronte da escola. No ch�o, sobre
<br>os saibros do piso, manchas de sangue, como a indicar o caminho
<br>por onde ia agora o m�dico, mais correndo do que andando,
<br>precedido pela figura esgalgada do diretor, que gesticulava
<br>e falava, na subida da escada, seguido pelos dois enfermeiros
<br>que traziam a padiola.
<br>
<br>Logo os grupos esparsos se reuniram, por tr�s dos padioleiros,
<br>quase levando de rold�o a Patr�cia e a Simone, que se
<br>retra�ram para o �ngulo da parede, protegendo-se com a pasta
<br>sobre os seios, enquanto os bed�is gritavam, de bra�os abertos
<br>ao meio da escada, tentando conter o rio humano que se
<br>precipitava nessa dire��o:
<br>
<br>� Por favor, fiquem onde est�o.
<br>E Simone, falando depressa, como se fosse perder o f�lego:
<br>� Um carro atropelou a Edm�ia, quando eu vinha chegando.
<br>Ela foi atirada contra o muro do p�tio, e o carro passou,
<br>dobrando a rua, na descida da ladeira. Quando eu quis
<br>correr para ela, j� um senhor a trazia nos bra�os, com o sangue
<br>do rosto a pingar pelo caminho. Subi para avisar o diretor.
<br>Agora, quando desci, dei contigo aqui. Imagina que pensei,
<br>no primeiro momento, que eras tu que tinhas sido atropelada.
<br>Cheguei a gritar, fora de mim. Como uma louca.
<br>Em seguida, puxando Patr�cia pelo bra�o:
<br>
<br>� Vem comigo.
<br>No mesmo passo apressado, as duas atravessaram o p�tio
<br>em diagonal, subiram depressa a escada de pedra que ia
<br>dar na varanda ampla, no correr das salas de aula, e pararam
<br>
<br>212
<br>
<br>
<br>l� ao fundo, defronte da saleta dos exames m�dicos, reunindo-se
<br>�s alunas e aos professores que ali se juntavam, falando baixo
<br>e aventurando progn�sticos:
<br>
<br>� Por mim, ela est� morta � admitia o Professor Marinho.
<br>E logo a Fl�via, horrorizada:
<br>
<br>� N�o diga isso, Professor.
<br>No ar, um cheiro forte de cigarros acesos. A mistura das
<br>vozes, por entre sil�ncios. Protestos. Ru�do de passos.
<br>E o m�dico, saindo � porta da saleta, acompanhado pelo
<br>diretor, que afastava as m�os espalmadas, com ar de desola��o
<br>e revolta:
<br>
<br>� Nada p�de ser feito.
<br>Sim, morta, a loura Edm�ia, de lindos olhos azuis, atropelada
<br>� porta da escola. A Edm�ia que ia ser atriz. A Edm�ia
<br>alta, esguia, que tirava os sapatos na sala de aula, para sentir
<br>
<br>o ch�o debaixo dos p�s. A Edm�ia que jogava voleibol no time
<br>da Escola Normal, famosa por suas cortadas indefens�veis.
<br>A Edm�ia que j� havia sido louvada nos jornais. Agora, muda
<br>e im�vel. Sem poder voltar a rir alto nas conversas do recreio
<br>nem desfilar na passarela dos concursos de beleza.
<br>Depois, na Sala da Congrega��o, a Simone lhe descobria
<br>
<br>o rosto, serena, ausente, como se n�o ligasse para o corte que
<br>lhe riscava a t�mpora direita, as finas m�os entrela�adas sobre
<br>os seios, com o destaque das unhas vermelhas. Sobretudo do
<br>polegar com que tocava viol�o.
<br>E Patr�cia, com as m�os nos olhos, desfigurada:
<br>
<br>� Vamos embora, Simone.
<br>E a Simone, senhora de si, ainda a olhar o rosto de Edm�ia:
<br>� � a terceira pessoa morta que eu vejo. A primeira foi
<br>uma tia, que morreu de repente. A segunda, uma vizinha, que
<br>minha m�e ajudou a vestir. Agora, a Edm�ia.
<br>E quando desciam os degraus de pedra, j� lavados das
<br>manchas de sangue, sempre calma:
<br>
<br>� Eu n�o gosto de tirar retrato. O retrato me d� a id�ia
<br>de como eu vou ficar quando morrer. Parada. Com os olhos
<br>abertos.
<br>213
<br>
<br>
<br>3
<br>
<br>Assim de surpresa, um m�s antes da recep��o, j� com a
<br>casa quase pronta � aquele retrato do pai, a �leo, de corpo
<br>inteiro, na larga moldura dourada, mandado pelo filho da segunda
<br>mulher.
<br>
<br>Cedo, este lhe havia telefonado:
<br>
<br>� Tenho comigo um retrato de seu pai, muito bom, mandado
<br>fazer por minha m�e depois que ele morreu. No meu apartamento,
<br>n�o tenho espa�o para ele. Como a senhora � a �nica
<br>filha, e eu nasci antes do casamento dele com a minha m�e,
<br>acho que � a�, na sua casa, que o retrato deve ficar.
<br>E agora ali estava o pai, rosado, bem-posto na roupa bem
<br>talhada, com a roseta da Legi�o de Honra na lapela, encostado
<br>na parede do corredor, � espera de que ela, Patr�cia, o acomodasse
<br>num canto adequado da casa.
<br>
<br>De in�cio pensara na saleta onde tinha a sua mesa de trabalho.
<br>Logo mudara de id�ia: seria pequena demais para o tamanho
<br>do retrato. No antigo quarto de M�e Ded�, mais espa�oso?
<br>Tamb�m n�o: separados quando vivos, por que uni-los
<br>depois de mortos, no aposento dela?
<br>
<br>E o Ludovico, que a acompanhava, sem que ela lhe falasse:
<br>
<br>� H� um retrato de M�e Ded�, tamb�m a �leo, por sinal
<br>que muito bom, no quarto ao lado da garagem. Fui eu que
<br>o pus ali, a pedido de M�e Ded�, assim que ela veio morar
<br>aqui. Ela n�o gostava do retrato. Mas � bom. E parecido. A
<br>olhar para um lado, perto da janela.
<br>E Patr�cia, avivando a mem�ria:
<br>
<br>� Sim, sim, Ludovico. Estou me lembrando desse retrato.
<br>V� busc�-lo. Traga-o aqui.
<br>E quando reviu M�e Ded�, miudinha, de olhos azuis, no
<br>seu belo vestido de renda, pensativa, e bonita, contrastando
<br>com o pai, assim pequena e simples, teve uma id�ia repentina,
<br>que o Ludovico prontamente intuiu e revelou:
<br>
<br>214
<br>
<br>
<br>� Por que n�o p�e os dois retratos no sal�o, cada qual
<br>no seu canto? Ficar�o bem, D. Patr�cia.
<br>� Era isso que eu estava pensando � replicou-lhe.
<br>E quando viu o pai, imponente, por tr�s do piano de cauda,
<br>e M�e Ded� mais adiante, junto da velha harpa, cada qual
<br>a olhar para um lado, como se ambos se esquivassem um do
<br>outro, para n�o se falarem, ela acabou sorrindo, e com isso
<br>atenuou a emo��o que subitamente lhe toldara os olhos, na
<br>alta luz da tarde.
<br>
<br>Pelo contraste entre as duas pinturas e o negror luzidio
<br>do piano de cauda, das cadeiras tauxiadas, dos consolos, os
<br>retratos tamb�m sobressa�am na luz que entrava pelas janelas
<br>e portas, cada qual a repetir seus modelos, assim im�veis, e
<br>intactos, contrariando na sua imobilidade o fluir misterioso
<br>do tempo. � noite, com a luz dos abajures e dos lustres, guardariam
<br>a mesma postura, o mesmo olhar, a mesma cor, os mesmos
<br>tra�os, destacados na claridade da parede, com algo das
<br>figuras paradas dos museus de cera.
<br>
<br>Ludovico, em sil�ncio, recuou para uma das portas sobre
<br>
<br>o corredor, e dali os admirou, grave, solene, como a considerar
<br>um e outro, do alto de sua compet�ncia e de seu respeito.
<br>Por fim, sentenciou:
<br>� Est�o onde deviam.
<br>E j� ia levando a escada que havia trazido para pregar os
<br>grandes pregos na parede, quando se deteve a meio caminho,
<br>para tornar a olhar o retrato de M�e Ded�. Chegou mesmo
<br>a descansar no ch�o, entre os tapetes, os p�s da escada, e dali
<br>volveu a admirar a figura mi�da, de olhar suave, que a luz da
<br>janela real�ava. E antes de repor no ombro o degrau de madeira,
<br>levando dali a escada, disse � Patr�cia, que tamb�m olhava
<br>
<br>o mesmo retrato:
<br>� Foi assim, com esse olhar parado, que eu vi M�e Ded�
<br>pela �ltima vez, quando lhe entrei no quarto e dei com ela sem
<br>vida.
<br>E ao ver que Patr�cia mantinha o olhar sobre o retrato
<br>do pai, como ensimesmada:
<br>
<br>� A senhora se parece muito com ele � observou. � No
<br>modo de olhar. No rosto. Na cabe�a erguida. Nas m�os.
<br>215
<br>
<br>
<br>E passado um sil�ncio:
<br>
<br>� Mas tamb�m se parece muito com M�e Ded�. Tamb�m.
<br>Na sua pessoa, louvado seja Deus, se unem o senhor seu pai
<br>e a senhora sua m�e. Cada um com a sua parte. Foi isso mesmo
<br>que eu disse ao Dr. Rodrigo, anteontem, quando o retrato
<br>chegou aqui. E ele me deu raz�o. Agora, comparando a senhora
<br>e os dois retratos, confirmo tudo.
<br>Entretanto, olhando um, olhando outro, o que Patr�cia
<br>reconhecia era a exatid�o do reparo da Simone: de fato, a imobilidade
<br>deles tinha algo de mortu�rio. Parados, opunham-se
<br>ao tempo, como embalsamados. Sobretudo o pai, assim de corpo
<br>inteiro, no costume azul, os cabelos grisalhos bem penteados.
<br>
<br>Parecia-lhe que fora exatamente com a mesma roupa que
<br>se encontrara com ele, no silencioso sal�o da Associa��o Comercial,
<br>para rev�-lo mais adiante, pela �ltima vez, exatamente
<br>ali mesmo, entre tocheiros, tamb�m solene, com a roseta da
<br>Legi�o de Honra na lapela.
<br>
<br>Conquanto houvesse nascido ap�s a separa��o dos pais,
<br>guardara dele uma lembran�a terna, com imagens espa�adas,
<br>e a que prevalecia a do retrato. Raramente o via. Ele, morando
<br>em Nova Iorque; ela, ali. De passagem, o pai lhe telefonava
<br>para a Escola Normal, e ela esperava por ele no sal�o majestoso,
<br>sem que a m�e soubesse.
<br>
<br>Jamais esqueceria a confiss�o dele, em tom natural, como
<br>se houvesse decorado as palavras que lhe sa�am da boca
<br>imperativa, perto da janela sobre a rua, no sof� espa�oso, at�
<br>
<br>o momento em que, baixando a cabe�a, lhe pediu que o perdoasse.
<br>E ela, atordoada:
<br>
<br>� Perdoar? N�o. De modo algum. O senhor viveu a sua
<br>vida. E a vida acontece, ningu�m a tra�a como quem faz um
<br>desenho.
<br>O olhar dele, nesse instante, com as p�lpebras meio cerradas,
<br>tornara-se mais humano. T�o diverso do olhar do retrato,
<br>superior, altivo, quase em desafio.
<br>
<br>E o Ludovico, tornando a p�r no ombro o degrau da escada:
<br>
<br>
<br>� Com a sua licen�a.
<br>216
<br>
<br>
<br>E enquanto ele se afastava, com seu passo cheio sobre a
<br>passadeira do corredor, Patr�cia desviou o pensamento para
<br>M�e Ded�, repetindo o que tantas vezes lhe ouvira, desde menina,
<br>a respeito de sua separa��o.
<br>
<br>Ouvia-lhe a voz suave, macia, que se crispava em revolta
<br>repentina, subindo de tom, dura e grave, enquanto as pernas
<br>�geis paravam de pedalar a m�quina de costura, ou a m�o experiente
<br>interrompia por momentos o la�o de l� na ponta da
<br>agulha de tric�:
<br>
<br>� Minha vida � um romance, Patr�cia. S� eu sei o que
<br>sofri, e o que ainda sofro, quando me lembro o que passei.
<br>Sabes o que � uma carta an�nima? Imagina tu que eu, gr�vida
<br>de ti, recebi uma dessas cartas. Numa letra alta e certa, pedia-
<br>me desculpa para fazer uma revela��o. Que teu pai tinha um
<br>caso, nos Estados Unidos, em Boston, com uma americana casada,
<br>sua colega na Universidade de Harvard. Eu ainda n�o
<br>tinha feito dezoito anos. Quase uma menina. Fiquei gelada.
<br>Esperei teu pai chegar. Ele ia aos Estados Unidos no dia seguinte.
<br>Mostrei-lhe a carta. Ele empalideceu. Depois, erguendo
<br>o olhar para mim, me confessou que o fato era verdadeiro.
<br>E que se havia casado comigo para ver se esquecia a tal americana.
<br>Foi como se a casa em que mor�vamos ca�sse por cima
<br>de minha cabe�a. Muito bem, eu lhe disse. E tive for�as para
<br>perguntar: � E esqueceste essa mo�a? � Ele foi franco: �
<br>Ainda n�o � E eu, com o brio que tu conheces: � Nesse caso,
<br>podes ir para a companhia dela; eu fico no meu canto, assim
<br>como estou. � Ele achou que eu ia fazer uma loucura,
<br>que devia ter paci�ncia, que tudo muda no mundo a cada instante.
<br>E mais: que a tal americana era casada e o marido n�o
<br>lhe dava o div�rcio. E mais isto. E mais aquilo. Fui para o meu
<br>quarto. Nessa mesma noite comecei a arrumar minhas coisas
<br>para me mudar dali. E a verdade � que, quando teu pai chegou,
<br>de volta da viagem, j� me encontrou na casa em que eu
<br>te ensinei a andar e te criei.
<br>Suspirava alto, com o rosto contra�do, e tornava a pedalar
<br>a m�quina ou a dar outro la�o no tric�, concentrada na
<br>sua ira irredut�vel, sempre com este remate:
<br>
<br>� Cem anos que eu viva, n�o esquecerei o que sofri, o
<br>217
<br>
<br>
<br>que sofro, o que sei que continuarei a sofrer. Nasci assim, morro
<br>assim.
<br>E o pai, por seu lado, no fofo sof� da Associa��o Comercial:
<br>
<br>
<br>� Tua m�e � uma santa, Patr�cia. Reconhe�o o meu erro.
<br>Baixo a cabe�a. Afinal, a Kate n�o precisou do div�rcio:
<br>morreu-lhe o marido, alguns meses depois, e eu fui viver com
<br>ela. N�o te escondo a verdade: sou feliz. Sinto apenas que n�o
<br>pudesse ter dado a assist�ncia que te devia como pai. Me perdoa.
<br>E ali estavam o pai e a m�e, na mesma parede do sal�o.
<br>Com os lustres e os abajures acesos, cada qual continuaria a
<br>olhar para seu lado, como um casal que se separa. Parados. Hirtos.
<br>Mortos. � revelia do fluir do tempo. Como embalsamados.
<br>
<br>4
<br>
<br>J� de volta dos tr�s dias passados na serra, juntamente
<br>com o Rodrigo, na casa de ver�o de um banqueiro su��o com
<br>quem o marido agora jogava golfe todos os domingos, Patr�cia
<br>abriu o �lbum de recortes, cuidadosamente colados e anotados,
<br>e n�o conteve o espanto:
<br>
<br>� Tudo isto, Ludovico?
<br>O mordomo sorriu:
<br>� E � apenas o come�o. Desta vez um s� �lbum � pouco.
<br>Outros vir�o. Pelo menos cinco ou seis. Foi o que eu disse �
<br>Rosa. Da� para cima.
<br>L� estavam, recortados os oito jornais da cidade, e de outros
<br>mais das cidades pr�ximas, as not�cias da recep��o que
<br>
<br>o casal ia dar. Alguns, com o retrato de Patr�cia; outros, com
<br>aspectos de sua casa, apanhando a fachada, a piscina, o jardim,
<br>as alamedas, a capelinha. N�o faltavam as entrevistas,
<br>os coment�rios, os progn�sticos, as fofocas sobre quem j� fora
<br>convidado, ou seria, e quase tudo em destaque, nas impress�es
<br>em negrito, reconhecendo que seria ela o grande aconte218
<br>
<br>
<br>
<br>cimento social do ano, destinado a ser falado ali e no estrangeiro.
<br>
<br>
<br>E o Ludovico, ap�s uns momentos de sil�ncio em que ouviu
<br>o leve ru�do do volver d�s folhas repletas:
<br>
<br>� E ainda faltam as revistas, D. Patr�cia. Sim senhora.
<br>Vou fazer para elas um �lbum � parte.
<br>Patr�cia, com a sensa��o de que tudo lhe sorria, na massa
<br>coral de tantos aplausos, volveu uma nova folha, que leu
<br>em diagonal:
<br>
<br>� Nem uma not�cia contra, Ludovico?
<br>Ele espalmou no ar as m�os cabeludas, como se desse tempo
<br>a si mesmo para esconder a verdade, e o n�o lhe veio um
<br>pouco alongado, tra�do pelo olhar opaco, que de pronto voltou
<br>a refulgir. Em seguida, em tom mais forte, sacudindo as
<br>bochechas:
<br>
<br>� E por qu�, D. Patr�cia? Nem pense nisso. Fa�a como
<br>eu: s� pensamentos positivos. Vai ser uma grande festa. Louvada
<br>aqui e fora daqui. A senhora vai ver.
<br>E Patr�cia, que lhe sentira a instant�nea hesita��o:
<br>
<br>� At� Deus, que � a perfei��o suprema, tem o seu inimigo,
<br>que n�o o poupa, Ludovico. Por que � que eu, que sou
<br>humana, n�o haveria de ter? Ano passado houve um artigo
<br>terr�vel, no Amigo do Povo. E outro mais, na Tribuna da Liberdade.
<br>Sem falar nas noticiazinhas reles, com a m�-f� de costume.
<br>Se ainda n�o saiu nada contra, vai sair.
<br>E Ludovico, grave, retraindo-se:
<br>
<br>� Eu, por mim, n�o tomarei conhecimento delas. Rasgarei
<br>os recortes, atirarei as mis�rias na lata de lixo. N�o contem
<br>comigo para fazer coro � inveja e � mesquinharia.
<br>Apertou as asas do nariz com for�a, enojado:
<br>
<br>� Para l� com o mau cheiro. Penso alto, D. Patr�cia. Nasci
<br>para louvar, para aplaudir, para gostar. E dou gra�as a Deus
<br>por ter nascido assim.
<br>Veio mais para perto, defronte de Patr�cia, como se lhe
<br>fosse dizer um segredo. E baixando a voz, enquanto se curvava:
<br>
<br>� Eu sou dos poucos que sabem (e olhou � sua volta,
<br>para certificar-se de que n�o seria ouvido por ningu�m) que
<br>o dinheiro que aqui se gasta, nas recep��es da Sra. D. Patr�219
<br>
<br>
<br>
<br>cia, � igual ao dinheiro que o Sr. Dr. Rodrigo gasta l� fora,
<br>logo depois, em obras de caridade. Estou a par de tudo. Mas
<br>sei perfeitamente que isso � segredo. Segredo guardado a sete
<br>chaves.
<br>
<br>Patr�cia, espantada:
<br>
<br>� E quem lhe contou esse segredo, Ludovico?
<br>� E quem � que leva o dinheiro aos asilos, aos orfanatos,
<br>aos hospitais? Eu, Sra. D. Patr�cia. Este seu criado. Fa�o
<br>tudo com cautela. Mas exijo recibo. Dinheiro � dinheiro. J�
<br>levo o recibo pronto. Assim: "Recebi do portador a quantia
<br>de tanto, para aplicar nas obras..." E deixo o espa�o em branco
<br>para o nome do asilo, do orfanato, do hospital, de acordo
<br>com a lista que o Dr. Rodrigo me entrega quando entrega o
<br>dinheiro.
<br>E mais baixo:
<br>
<br>� Ele nunca lhe falou sobre isso? N�o? Ent�o, por favor,
<br>n�o lhe toque neste assunto. Eu, de minha parte, continuarei
<br>mudo como um cofre. Nem � Rosa eu falei. A ningu�m.
<br>E aumentou muito os olhos, endireitando o busto, enquanto
<br>espalmava a m�o rechonchuda sobre o peito:
<br>
<br>� A ningu�m � repetiu.
<br>220
<br>
<br>
<br>QUARTO CAP�TULO
<br>
<br>1
<br>
<br>Foi a Rosa que lhe veio dizer que o Rodrigo havia telefonado
<br>para avisar que n�o chegaria a tempo para o come�o do
<br>espet�culo: iria encontrar-se com ela, no pr�prio teatro, j� com
<br>a �pera come�ada.
<br>
<br>Patr�cia quis saber se fora ele pr�prio que telefonara.
<br>
<br>� Foi � confirmou a governanta. � E fui eu que atendi,
<br>na aus�ncia do Ludovico. O Dr. Rodrigo resolveu mudar
<br>de avi�o. Chegar� um pouco mais tarde.
<br>Sentia-se tensa, nos �ltimos dias, com a estupidez de um
<br>seq�estro de avi�o, de que havia resultado a morte de cinco
<br>passageiros, inclusive uma crian�a, e a que sobreviera o rapto
<br>de um empres�rio, amigo do Rodrigo. A fam�lia pagara enorme
<br>resgate, para este desfecho ainda mais est�pido: o encontro
<br>do corpo, crivado de balas, dois dias depois, � entrada de
<br>um bosque da cidade.
<br>
<br>O Ludovico, n�o podendo esconder-lhe as duas not�cias
<br>que haviam ocupado largo espa�o nos jornais e nas televis�es,
<br>acabara reconhecendo, no impulso da revolta:
<br>
<br>� Ningu�m se sente seguro, na marcha em que vai o mundo.
<br>E n�o � s� aqui. L� fora tamb�m: em Londres, em Paris,
<br>em Nova Iorque, em Roma, em Madri. Em Madri. Atentados,
<br>bombas, sequestros, raptos. At� mesmo n�s, os criados,
<br>corremos perigo. O Dr. Rodrigo faz bem em resguardar-se e
<br>resguardar a senhora. Todo cuidado � pouco.
<br>Havia agora, para ela, todo um novo aparato � sua volta,
<br>com o guarda de seguran�a muito bem armado, ao lado do
<br>
<br>221
<br>
<br>
<br>Expedito, no autom�vel, e mais um carro de prote��o, logo
<br>atr�s, com dois outros guardas.
<br>
<br>A princ�pio, ela reagira. N�o, n�o precisava daquilo. Sabia
<br>que Deus a protegia. Mas acabara por conformar-se, sobretudo
<br>depois de dois telefonemas an�nimos, que ela pr�pria
<br>atendera, no aparelho ao lado de sua cama, na pen�ltima viagem
<br>do Rodrigo.
<br>
<br>Felizmente, o alvoro�o dos preparativos para a recep��o,
<br>mais prementes, mais numerosos, desviavam-lhe o pensamento,
<br>e ela ia sentindo que tudo ia sendo providenciado a tempo
<br>e a hora, sob a dire��o do Ludovico, cada vez mais expedito
<br>e solene, sempre munido de seu l�pis e de seu caderninho, rigoroso
<br>e pontual.
<br>
<br>O tablado, por tr�s da piscina, adornado de veludo gre�a,
<br>com a indispens�vel cobertura, j� fora testado � noite, sob
<br>os refletores. Parecia um sonho, na sua realidade magn�fica.
<br>No coreto, � direita, nada mais faltava para a orquestra, inclusive
<br>o estrado para o maestro. Este, que ali estivera, com
<br>a sua gravata preta e a sua cabeleira derramada, aprovara tudo,
<br>circunspecto e cort�s. S� observara ao Ludovico, no �ltimo
<br>degrau da escada:
<br>
<br>� Agora, vamos torcer para que haja bom tempo.
<br>E o Ludovico, grave:
<br>� Vai haver, maestro. Com o favor de Deus.
<br>No entanto, ainda faltavam vinte e dois dias para que as
<br>portas da mans�o se abrissem, com todas as l�mpadas acesas,
<br>os convidados, os gar�ons, os guardas de seguran�a, os m�sicos,
<br>e a Patr�cia e o Rodrigo a receberem os convidados, no
<br>patamar da escada. J� ia pela casa o movimento dos lustradores,
<br>dos eletricistas, dos faxineiros, dos pintores, dos carpinteiros,
<br>enquanto iam chegando os presuntos, os enlatados, as
<br>bebidas, as mesas que seriam armadas, tudo num frenesi crescente,
<br>a que se associava o latido dos c�es, excitados pelas vozes
<br>e os ru�dos circundantes.
<br>Os espelhos, os lustres, as cortinas tufadas pelas janelas
<br>entreabertas ou escancaradas, pareciam animar-se, repentinamente
<br>alvoro�ados, por entre o soar das campainhas, os cha
<br>
<br>
<br>222
<br>
<br>
<br>mados dos telefones, as ordens em voz alta, o tinir das lou�as,
<br>
<br>o bater das portas, come�ando desde cedo e entrando pela noite.
<br>O Lucas Caetano, n�o satisfeito com as conversas ao telefone,
<br>para colher mexericos e espalhar mexericos, movia-se
<br>pelo parque, subia ao sal�o, descia � piscina, esfuziante e ligeiro
<br>como uma rajada. Aqui, ali, mais adiante, assestava o
<br>olho arregalado do mon�culo redondo, que entalava na �rbita
<br>direita, �ntimo e exigente.
<br>
<br>Advertia:
<br>
<br>� N�o se esque�am de que est�o preparando a maior festa
<br>do ano. Ou do s�culo. Tudo tem de ser perfeito. Ou mais que
<br>perfeito, como no tempo dos verbos. Aten��o, mo�ada. Todos
<br>a postos.
<br>E conquanto houvesse sa�do de uma gripe forte, que o deixara
<br>de cama por quase uma semana, n�o sossegava um momento,
<br>perseguido pela tosse rebelde que o obrigava a sapatear,
<br>com as m�os nos joelhos, vermelho, curvado para a frente,
<br>at� conseguir reprimir o acesso, erguendo a cabe�a e praguejando:
<br>
<br>
<br>� Irra! Assim tamb�m � demais!
<br>E com a m�o em pala por cima dos olhos, sondava o c�u,
<br>inteirava-se das condi��es do tempo, aventurava progn�sticos
<br>otimistas, baseado na circunst�ncia de que a festa da Patr�cia
<br>ia realizar-se numa noite de plenil�nio:
<br>
<br>� Vai dar tudo certo.
<br>2
<br>
<br>Agora os vidros do carro permanecem fechados. Ela n�o
<br>pode mais falar com o Expedito porque outro vidro espesso
<br>a separa do motorista e do guarda de seguran�a; este �ltimo
<br>sentado � sua frente, gordo, ombrudo, alto, e que est� ali para
<br>proteg�-la, r�pido no gatilho, o rev�lver ostensivo na cintura.
<br>
<br>E enquanto o carro desliza no asfalto da avenida larga,
<br>
<br>223
<br>
<br>
<br>pontilhada de luzes, no sentido do centro da cidade, uma sensa��o
<br>repentina de medo apodera-se de Patr�cia.
<br>
<br>Abotoando e desabotoando a luva direita para ocupar a
<br>m�o nervosa, ela pensa no Rodrigo, no avi�o em que ele vem,
<br>no mist�rio da noite. E se houvesse mesmo um atentado contra
<br>ele, como lhe sussurrara a voz rouca, do outro lado do fio
<br>telef�nico? A id�ia da morte sempre a perturbou. Desde a inf�ncia.
<br>S� ela sabia o quanto lhe custava, nas ocasi�es imprescind�veis,
<br>acompanhar o Rodrigo no enterro de figuras importantes.
<br>
<br>
<br>No Pal�cio do Governo, no vel�rio da senhora do Presidente
<br>da Rep�blica, estivera a ponto de desmaiar, defronte do
<br>ata�de, olhando de relance a morta, com quem havia conversado,
<br>dois dias antes, no mesmo sal�o, e que, estendida na urna
<br>de cedro, entre fechos de bronze e tufos de rosas, tinha um
<br>ar amuado, como no desagrado de estar ali, impass�vel, em
<br>vez de estar de p�, � entrada do recinto imponente, ao lado
<br>do marido, recebendo os convidados. Com o suor frio a lhe
<br>descer por dentro do vestido, Patr�cia tratara de amparar-se
<br>no bra�o do Rodrigo, j� na imin�ncia de lhe pedir que a tirasse
<br>dali o mais depressa poss�vel, e sentindo que ia cair, desfalecida.
<br>Ainda bem que o medo da pr�pria morte, nesse momento
<br>de ang�stia, lhe dera for�as para dominar o p�nico. E
<br>s� no carro, de volta a casa, dissera ao marido, amparando
<br>a cabe�a no seu ombro:
<br>
<br>� Desta vez me senti pior. Quase te pe�o para vir embora.
<br>Fiquei rezando, a pedir a Nossa Senhora que me desse for�as
<br>para n�o gritar e correr.
<br>E ele, afagando-lhe os cabelos:
<br>
<br>� Era preciso vir, n�o pod�amos deixar de vir. Nossa aus�ncia
<br>seria notada. O pr�prio Presidente n�o nos perdoaria.
<br>E tu sabes que muita coisa minha depende da boa vontade dele.
<br>Mais tarde, j� recolhida ao comprido da cama, na madrugada
<br>friorenta que o latido dos c�es tornava mais opressiva,
<br>ela ainda sentia o cora��o bater-lhe mais forte, mais aflito,
<br>enquanto lamentava que o Dr. Nuno, que a libertara de depress�o
<br>an�loga, continuasse em Nova Iorque, na Cl�nica Mayo.
<br>A menos que encontrasse outro m�dico, com a mesma paci�ncia
<br>
<br>224
<br>
<br>
<br>e o mesmo desvelo, teria de ir ao seu encontro, l� mesmo, ap�s
<br>um dia ou uma noite de viagem extenuante.
<br>
<br>Felizmente, com a primavera prematura, que de s�bito refolhara
<br>as �rvores do parque, florira novamente o jardim, abrira
<br>
<br>o c�u azul por cima da cidade, ela conseguira refazer-se da crise,
<br>amparada pelo Rodrigo, que a levara a retomar os exerc�cios matinais,
<br>correndo no parque, nadando na piscina, pedalando na
<br>bicicleta ao comprido da alameda, sob a prote��o dos altos
<br>muros de pedra que subiam rente � cal�ada, contornando o
<br>quarteir�o silencioso.
<br>E Patr�cia, conseguindo conter o desassossego da m�o que
<br>abotoava e desabotoava a luva, enquanto olhava o guarda de
<br>seguran�a, ao lado do Expedito:
<br>
<br>� Nada vai acontecer com o Rodrigo.
<br>A voz rouca, que a assustara pelo telefone, talvez fosse
<br>da Evangelina. De pronto repeliu a suspeita. N�o, n�o podia
<br>ser. Seria crueldade demais. Antes fosse. Se fosse, podia ficar
<br>tranq�ila: a amea�a n�o passaria de uma maldade idiota, sem
<br>qualquer fundo de verdade, apenas destinada a perturbar-lhe
<br>
<br>o sono
<br>dif�cil.
<br>E tentando convencer-se, para ficar tranq�ila:
<br>� Foi ela.
<br>L� longe, na volta da avenida, por cima de imenso pr�dio
<br>de cimento armado, as luzes fortes do an�ncio luminoso acendiam
<br>e apagavam, acendiam e apagavam, enquanto uma garrafa
<br>descomunal, tamb�m de riscos luminosos, derramava cerveja
<br>no copo gigantesco que completava o arranjo publicit�rio,
<br>com este letreiro de luzes fixas: Beba bem, e viva melhor.
<br>
<br>Impaciente, Patr�cia tirou do gancho o telefone interno,
<br>de que jamais se servira, e perguntou ao motorista:
<br>
<br>� Estamos chegando, Expedito?
<br>� Mais uns dez minutos.
<br>Ela retardara a sa�da de casa, na esperan�a de ver chegar
<br>o Rodrigo. Queria ter certeza de que nada lhe acontecera. Chegara
<br>a ponto de pensar em desistir do teatro. Como ia assistir
<br>ao espet�culo, assim tensa? Logo voltou a recordar-se do Dr.
<br>Nuno Vaz, que lhe recomendara a m�sica l�rica para acalmar
<br>os nervos, sempre que se sentisse deprimida. Por que n�o fi225
<br>
<br>
<br>
<br>cava em casa, � espera do marido, ouvindo no toca-fitas a Traviata?
<br>Mudou de id�ia: nada se compararia ao pr�prio espet�culo,
<br>com o cen�rio, os figurantes, o jogo das luzes, a orquestra.
<br>Por outro lado, tinha certeza de que o Rodrigo, no
<br>receio de algum atraso na chegada, estaria viajando de smoking,
<br>para ir diretamente ao teatro encontrar-se com ela.
<br>
<br>Al�m do mais, gostava que as amigas e os amigos a envolvessem,
<br>no foyer do teatro, para elogiar-lhe a beleza, gabar-
<br>lhe o vestido e as j�ias, aludir-lhe � recep��o, agradecer-lhe
<br>
<br>o convite, insinuarem para ser convidados, com a claridade alta
<br>do grande lustre a ressaltar as linhas de seu corpo. Com certeza,
<br>vendo-a s�, perguntar-lhe-iam pelo marido. E ela, com naturalidade:
<br>� Vem do aeroporto encontrar-se comigo.
<br>E nisto sentiu que o carro acelerava a marcha, numa volta
<br>da rua, depois de um rangido �spero dos freios, para logo
<br>retomar a corrida cautelosa, enquanto o Expedito lhe explicava.
<br>
<br>� Corri um pouco para atravessar um trecho �s escuras.
<br>N�o sabemos o que nos espera onde h� luzes apagadas.
<br>3
<br>
<br>Assim que desceu na cal�ada do teatro, ela p�de ver, num
<br>relance do olhar, que o espet�culo n�o havia come�ado. E ainda
<br>alongava a vista para o foyer repleto, � espera de que o Expedito
<br>lhe abrisse a porta do carro, quando seis homens a cercaram
<br>� o seguran�a que a acompanhara na limusine e mais
<br>os cinco que a tinham seguido no outro carro �, todos armados,
<br>e decididos a impedir que qualquer pessoa estranha se
<br>aproximasse � at� que ela se achou dentro do teatro, diante
<br>da figura esgalgada do Lucas Caetano, que se curvava para
<br>beijar-lhe a m�o, dizendo-lhe:
<br>
<br>� Eu j� estava aflito. Sabia que voc� vinha, disse isso mesmo
<br>aos amigos, e nada da querida Patr�cia aparecer. Com os
<br>226
<br>
<br>
<br>boatos que andam por a�, assustando a gente, fiquei de cora��o
<br>apertado.
<br>E mais baixo, de cabe�a erguida, falando-lhe ao p� da
<br>orelha:
<br>
<br>� Hoje mesmo estourou uma bomba na porta do Banco
<br>das Am�ricas. E o grave, o terr�vel, � que eu tinha acabado
<br>de sair de l�.
<br>Mas Patr�cia j� havia passado � frente, como a desvencilhar-
<br>se dele, atra�da pelos rostos, pelas m�os, pelos bra�os que
<br>a reclamavam, que lhe sorriam, que lhe diziam o nome, que
<br>lhe louvavam a beleza e a eleg�ncia, no torvelinho do carinho
<br>irreprim�vel, a que ela correspondia, comedida, senhora de si,
<br>instalada na sua condi��o de mulher bela e rica, a quem .os
<br>galanteios eram devidos.
<br>
<br>E de s�bito, com ar choroso, a mulhera�a morena, de cabelo
<br>escorrido, peituda, mais gorda no vestido folgado que lhe
<br>descia aos p�s vagarosos, parou � frente de Patr�cia, entrela�ando
<br>as m�os papudas por baixo dos seios:
<br>
<br>� J� sei que fomos esquecidos pela querida amiga, eu
<br>e meu marido. Sim senhora: esquecidos. Apagados embaixadores
<br>de um pa�s pequenino, mas muito amigos de seu grande
<br>pa�s.
<br>E Patr�cia, for�ando o espanto:
<br>
<br>� N�o � poss�vel, Embaixatriz. Se o convite n�o chegou,
<br>vai chegar.
<br>Amanh� mesmo.
<br>E a gorda�a, resplandecente:
<br>
<br>� � mesmo verdade? Posso ficar tranq�ila? Quer dizer
<br>que tamb�m fomos lembrados? Mas isso � uma grande not�cia.
<br>Uma bel�ssima not�cia. Ganhei o dia. E fa�o votos para
<br>que n�o chova na grande noite. Como daquela vez em que fiquei
<br>como uma galinha choca, molhada da cabe�a aos p�s.
<br>Eu e o Embaixador. Grande noite. Apesar do dil�vio.
<br>E ouvindo soar a campainha, para o in�cio do espet�culo,
<br>orientou-se na dire��o da primeira porta, no seu andar pendulado,
<br>depois de dizer � Patr�cia, levada agora pelo Lucas Caetano,
<br>que a arrebatara do meio de outras amigas, muito nervoso,
<br>quase hist�rico:
<br>
<br>� Enquanto o Rodrigo n�o chegar, quem toma conta de
<br>227
<br>
<br>
<br>ti, no camarote, sou eu. E estou decidido a me bater em duelo,
<br>se algum aventureiro se atravessar em nosso caminho. Por
<br>aqui, querida. Cuidado com o degrau. Esse degrau � trai�oeiro.
<br>Por aqui. Com licen�a.
<br>
<br>Sem largar-lhe o bra�o, abriu com a m�o livre a porta do
<br>camarote, fechou-a sem ru�do, arredou a cadeira para que Patr�cia
<br>sentasse, dominando o palco imenso, ainda fechado pelo
<br>pano de boca. Ela olhou em volta, sentiu que de v�rios pontos
<br>tamb�m a olhavam, fez r�pidos acenos com a ponta dos
<br>dedos, enquanto o Lucas Caetano, repimpado numa cadeira
<br>de bra�os, assumia uma postura de cr�tico exigente, com a m�o
<br>em forquilha segurando o queijo, o mon�culo na �rbita funda,
<br>as magras pernas cruzadas exibindo a meia de seda, a polaina
<br>e a biqueira do sapato, j� pronto para o coment�rio gracioso
<br>e picante, todo ele concentrado no rosto comprido, sobre
<br>cuja testa subiam os dois tra�os verticais que lhe prolongavam
<br>o nariz.
<br>
<br>E de repente, como tardasse o novo aviso da campainha
<br>para abrir � palco, ele aproximou a cadeira, desfazendo num
<br>relance a postura s�bia, com a m�o no punho de Patr�cia:
<br>
<br>� Deves estar maluca com os pedidos e os empenhos da
<br>gr�-finada. Eu, que sou apenas um colunista social, tenho sido
<br>assediado dia e noite para um convitezinho manhoso.
<br>Fecho-me em copas. Ou ent�o olho de cima: � Ah, querem
<br>convite? Dirijam-se ao cronista social que escreve romances
<br>e poesias, com o ar pretensioso de quem vai ser acad�mico.
<br>Falem com ele. O prest�gio dele � forte, d� para abrir paredes
<br>de fortaleza com o aceno do mindinho. O meu, n�o.
<br>E ilustrava a frase com o dedinho em gancho defronte
<br>dos olhos.
<br>
<br>Patr�cia, inebriada pelos olhos que se voltavam em sua
<br>dire��o, n�o o escutava: toda ela aproveitava bem a luz do
<br>camarote, com o antebra�o esquerdo apoiando-se no rebordo
<br>da grade de ferro. Parecia estar ali para que a admirassem,
<br>com a converg�ncia dos lornh�es e dos bin�culos. Nem
<br>uma ruga sequer na pele bem maquilada. Nem um cabelo branco
<br>a insinuar-se, com seu brilho de prata metedi�o, na cabeleira
<br>bem penteada. O colar de p�rolas de duas voltas caindo
<br>
<br>
<br>228
<br>
<br>
<br>lhe sobre o colo alto. Os pingentes de brilhantes descendo da
<br>ponta das orelhas que o cabelo das t�mporas protegia. A pulseirinha,
<br>tamb�m de brilhante, que merecera o coment�rio em
<br>negrito na coluna do Lucas Gaetano.
<br>
<br>E o Lucas, recolhendo o olhar que relanceara por todo
<br>
<br>o teatro:
<br>� Patr�cia, at� parece que a diva �s tu, aqui no camarote.
<br>A prima-dona que se cuide. �s capaz de lhe roubar o espet�culo.
<br>E quase a levantar-se, no impulso de um novo alvoro�o:
<br>
<br>� J� sabes quem est� a�? O Louis Richard. O pr�prio.
<br>O ex-campe�o de t�nis. Perguntou por ti. Se j� tinhas chegado.
<br>Se o Rodrigo estava contigo. Fiz que n�o ouvi. Que olhasse,
<br>ora essa. Estou aqui para dar not�cias na minha coluna.
<br>Sacudiu o ombro direito, olhou de lado. E ainda rindo:
<br>
<br>� O bonit�o de antigamente, que aparecia na capa das
<br>revistas, virou um caco, um baga�o. Com os cabelos grisalhos,
<br>o rosto encovado, os olhos fundos. Abandonou o t�nis.
<br>Dedicou-se a neg�cios na terra dele. Parece que voltou aqui
<br>com a corda no pesco�o. Veio vender a casa de campo. N�o
<br>conhe�o a casa. Dizem que � soberba.
<br>E inclinando o busto, com uma curiosidade mals� no olho
<br>vivo:
<br>
<br>� Aqui para n�s, como segredo de amigo: houve alguma
<br>coisa entre voc�s, no tempo em que ele vivia atr�s de ti,
<br>fazendo-se amigo do Rodrigo?
<br>E Patr�cia, s�ria, com rispidez:
<br>
<br>� E isso � pergunta que voc� me fa�a, Lucas?
<br>Lucas endireitou o busto, corrigiu a posi��o do mon�culo,
<br>puxou para cima o vinco da cal�a:
<br>
<br>� N�o est� mais aqui quem falou. Esquece. E perdoa.
<br>Obrigado pelo car�o.
<br>Merecido.
<br>E como, nesse momento, a um novo aviso da campainha,
<br>
<br>o pano de boca ia subindo, acompanhado pelo som da orquestra
<br>que fazia vibrar a massa coral dos violinos e das flautas,
<br>tanto ele quanto ela aumentaram os olhos, extasiados, para
<br>a beleza e a impon�ncia do cen�rio ainda vazio.
<br>229
<br>
<br>
<br>De volta ao camarote, no primeiro intervalo, ela se admirou
<br>de sua rea��o no reencontro com o Louis Richard. De
<br>in�cio, seu cora��o se acelerara; depois, ao estender-lhe a m�o
<br>para que ele a beijasse, s� lhe reparou na figura envelhecida
<br>que o tempo devastara.
<br>
<br>No camarote, enquanto esperava que o espet�culo recome�asse,
<br>n�o deu ouvidos ao que o Lucas Caetano lhe dizia
<br>com ar de mexerico, toda ela concentrada na demora do
<br>marido.
<br>
<br>J� com as luzes apagadas e a orquestra tocando para o
<br>in�cio do novo ato, Patr�cia consultou mais uma vez o relojinho
<br>de ouro e brilhantes, na claridade que vinha do corredor
<br>pela fresta da porta.
<br>
<br>E de si para si, temerosa:
<br>
<br>� Dez e quarenta. Rodrigo j� devia estar aqui.
<br>E de novo um medo vago, que num relance lhe esfriou
<br>as m�os, tornando a aumentar-lhe as batidas do pulso, cresceu
<br>na sua consci�ncia. Tratou de reprimi-lo, suspirando, enquanto
<br>dizia a si mesma, contraindo os dedos assustados:
<br>
<br>� N�o, n�o houve nada com ele.
<br>Ultimamente precisava sentir o carro do Rodrigo transpor
<br>o port�o do jardim para que volvesse a acalmar-se, com
<br>a sensa��o do mundo firme � sua volta.
<br>
<br>N�o, n�o podia aceitar que um desastre, um atentado,
<br>um ato terrorista, est�pido, brutal e imprevisto, modificasse
<br>a paz e a seguran�a que reinavam em seu redor. N�o. De modo
<br>algum. Deus era seu amigo. Nossa Senhora olhava por ela.
<br>
<br>E por cima dos violinos, das flautas e do piano, subia agora
<br>a voz do tenor, ao meio do palco, impec�vel na casaca bem
<br>talhada, amarfanhando na m�o convulsa o len�o que o ajudava
<br>a representar sob o foco de luz que lhe seguia o passo
<br>vagaroso, ao mesmo tempo em que a soprano surgia, por entre
<br>palmas, no v�o dos bastidores, apressada, nervosa, a agi
<br>
<br>
<br>230
<br>
<br>
<br>tar o grande len�o espanhol que lhe real�ava a emo��o, por
<br>entre as mi�angas do vestido cintilante.
<br>
<br>Mas n�o foram os artistas, compondo a cena monumental,
<br>que desviaram de Patr�cia o pensamento obsessivo: chegou
<br>a descer as p�lpebras, para concentrar-se na �ria que enchia
<br>agora o teatro, e assim ficou por alguns momentos, enlevada
<br>no som do piano e de um �nico violino, at� que os demais
<br>instrumentos se fizeram ouvir, por entre o bater met�lico
<br>dos pratos. Logo subiu e cresceu o coro das vozes, un�ssono,
<br>harmonioso, elevando-se das dezenas de figurantes que
<br>tomavam o fundo da cena.
<br>
<br>E o Lucas Caetano, levantando-se:
<br>
<br>� Bravo! Bravo!
<br>Parecia fora de si, fren�tico, como se quisesse ser visto
<br>pelos artistas, sempre repetindo as palmas, at� que s� ele agitou
<br>as m�os entusi�sticas. Tornou ent�o a refestelar-se na cadeira
<br>de bra�os, com a m�o segurando o queixo, e ap�s olhar
<br>
<br>o relojinho de algibeira, com seu nome na tampa, disse �
<br>Patr�cia:
<br>� Parece que o nosso Rodrigo n�o vem. Se ele n�o vem,
<br>quero ter a honra de te levar em casa. Sobretudo agora, quando
<br>h� mil boatos amea�ando a vida de quem tem dinheiro.
<br>Ela quase gritou, no impulso do p�nico. Conseguindo
<br>conter-se, cedeu � imagina��o do medo, refletindo que, no aeroporto,
<br>com tanta gente chegando e partindo, dificilmente
<br>haveria seguran�a absoluta para proteger a vida de quem quer
<br>que fosse. Mesmo a do Presidente da Rep�blica, com todo
<br>
<br>o aparato dos guardas em seu redor. O Presidente dos Estados
<br>Unidos n�o estivera entre a vida e a morte, v�tima de um
<br>louco?
<br>Pareceu-lhe, de repente, que, no caso do Rodrigo, e tamb�m
<br>do seu, ela pr�pria era a culpada, por deixar que seu nome
<br>e o nome de seu marido aparecessem nos jornais e nas televis�es,
<br>todos os dias, com a ostenta��o supletiva das p�ginas
<br>a cores nas revistas semanais. Por que n�o pedia ao Lucas
<br>Caetano que parasse de dar not�cias sobre sua festa? Mais
<br>do que uma simples not�cia, que lhe afagava a vaidade, pare
<br>
<br>
<br>231
<br>
<br>
<br>cia-lhe agora uma provoca��o, um desafio, um ultraje, com
<br>tanta gente pobre e revoltada ali mesmo na cidade.
<br>E aproximando-se do Lucas Caetano:
<br>
<br>� Posso te fazer um pedido? N�o publiques mais nada
<br>sobre a nossa recep��o. Um pouco de cautela, nesta hora, n�o
<br>faz mal. Parece um desafio.
<br>E ele, sem tirar os olhos do palco, cochichando:
<br>
<br>� E � mesmo um desafio � retrucou. � Para esmagar
<br>a cambada que tem inveja de voc�s. H� muita gente que te
<br>beija, n�o podendo te apunhalar, por teres tanta sorte, tanta
<br>beleza, tanto dinheiro. E do Rodrigo, com o seu bumbum para
<br>a lua, nem se fala. Qual o castigo adequado? A not�cia na
<br>coluna social. Domingo que vem, muita gente vai cair, dura,
<br>para tr�s, ao ler a p�gina inteira que dedico � tua festa, com
<br>a rela��o completa de todos os convidados. Vai ser um estrondo
<br>na hora em que virem o nome de Elizabeth Taylor.
<br>E ia rir baixinho, com a m�o no canto da boca, quando
<br>a porta do camarote se descerrou devagar, para dar passagem
<br>ao Rodrigo, na eleg�ncia de seu smoking, a que n�o faltava
<br>
<br>o complemento de um bot�o de rosa na botoeira.
<br>De p�, num impulso, abriu-lhe os bra�os; mas j� Patr�cia,
<br>de um salto, se precipitava para o marido e o apertava
<br>contra o peito, e o olhava nos olhos, radiante, desafogada,
<br>sem se dar conta do ru�do �spero da cadeira arrastada para
<br>tr�s, logo seguido pelo psiu en�rgico que subiu de v�rios pontos
<br>da plat�ia.
<br>
<br>5
<br>
<br>� sa�da do teatro, na confus�o das levas de assistentes
<br>que se retiravam, por entre o apito dos guardas e a sucess�o
<br>dos carros que se acercavam da cal�ada, Patr�cia tornou a dar
<br>com o Louis Richard, parado no meio-fio, a acenar para um
<br>t�xi preto.
<br>
<br>E j� no carro, ela perguntou ao Rodrigo:
<br>
<br>232
<br>
<br>
<br>� Viste quem ia tomar o t�xi? Reconheceste?
<br>� Falou comigo no �ltimo intervalo. S� o reconheci pela
<br>voz. Pediu-me hora para me ver no escrit�rio. Meteu-se em
<br>corridas de cavalos, em Paris. Perdeu o que tinha e o que n�o
<br>tinha. Por �ltimo, andou ganhando e perdendo em Monte
<br>Carlo.
<br>E embora seja ainda noite alta l� fora, com as ruas desertas,
<br>as casas fechadas, raros transeuntes a se esgueirarem
<br>para os v�os de sombra, Patr�cia d� por si na tarde ensolarada,
<br>no carro que ela pr�pria dirige, sozinha na estrada longa,
<br>e que ora sobe, ora desce, entre curvas e estir�es arborizados.
<br>
<br>A dist�ncia no tempo, com os quinze anos transcorridos,
<br>n�o lhe tirou a nitidez da lembran�a.
<br>
<br>O vento da tarde lhe bate nos cabelos, como a querer
<br>despente�-los, e seu sopro revolto a anima a seguir em frente,
<br>calcando mais o acelerador submisso. � ela mesma que vai
<br>ali, resoluta?
<br>
<br>� Sim, sou eu. Eu, Patr�cia.
<br>De manh� tinha recebido, em fino papel de linho muito
<br>bem datilografado, a carta que a atordoara: "Estou com pena
<br>de voc�, Patr�cia. N�o lhe digo meu nome, s� lhe digo que
<br>sou sua amiga. Voc� a� no seu canto, quieta, e o Rodrigo, neste
<br>momento, no Hotel Crillon, em Paris, com a secret�ria alem�
<br>que lhe virou a cabe�a. Ela, com seus olhos azuis, p�s voc�
<br>para tr�s. Reaja. N�o banque a boba."
<br>
<br>Amarfanhara a carta na m�o convulsa: rasgara-a em pedacinhos
<br>bem mi�dos, com nojo, com raiva, lembrando-se que
<br>chegara a se propor ir com o Rodrigo na viagem de tr�s dias,
<br>e fora ele que a dissuadira:
<br>
<br>� Deixa para ir comigo na outra viagem. Agora seria tudo
<br>corrido. Vou a neg�cios, para discutir novos contratos com
<br>clientes e banqueiros, e volto logo.
<br>Depois de ter atirado a carta � cesta de pap�is, ligara para
<br>o escrit�rio do Rodrigo, procurara pela Vilma. Tinha ido
<br>com ele, e ele nada lhe dissera. Nada. Sim, a carta tinha raz�o:
<br>ela, Patr�cia, estava fazendo o papel de boba. Por que
<br>n�o telefonava para o Rodrigo? E nisto, exatamente quando
<br>
<br>233
<br>
<br>
<br>j� havia encontrado o n�mero do Hotel Crillon, o telefone
<br>come�ara a chamar. Seria ele? Com certeza.
<br>E ouvira a voz cheia e nasalada do Louis Richard:
<br>
<br>� Estou telefonando para convid�-la e ao seu marido para
<br>conhecerem minha casa de campo. � perto daqui. Num lugar
<br>muito bonito. No Alto da Serra.
<br>Ela, no primeiro sil�ncio, decidindo-se:
<br>
<br>� Meu marido, hoje, est� em Paris. Viajou ontem. Mas
<br>eu posso aceitar seu convite.
<br>Irei. Com muito prazer.
<br>E ele, com alvoro�o:
<br>
<br>� Posso ir busc�-la esta tarde?
<br>� Diga onde �, que eu mesma vou. De vez em quando
<br>preciso guiar. Como exerc�cio. Para sair um pouco desta minha
<br>rotina. O campo me faz bem. O Rodrigo prefere que eu
<br>n�o dirija, com os cuidados que tem comigo. Mas eu gosto.
<br>Sinto que me faz bem aos nervos.
<br>E ali ia, resoluta, sempre afagada pelo vento. No tailleur
<br>creme que lhe real�ava o rosto moreno, parecia mais jovem,
<br>no ar decidido, no brilho dos olhos, na firmeza com que segurava
<br>o volante, sem reparar no ponteiro do veloc�metro que
<br>oscilava entre 100 e 120 km, enquanto o toca-fitas repetia a
<br>sonata de Brahms de sua predile��o.
<br>
<br>Tanto o sol forte da tarde de primavera quanto a melodia
<br>da sonata, a princ�pio suave, depois mais viva, mais ampla,
<br>como que se ajustavam ao est�mulo do vento nos seus cabelos
<br>e no seu rosto para que ela calcasse ainda mais o pedal
<br>do acelerador na sola de seu sapato.
<br>
<br>E ela, espantando-se:
<br>
<br>� Meu Deus, estou a 150 km!
<br>Diminuiu a marcha, ao mesmo tempo em que procurava
<br>conter-se. Por que n�o voltava dali? Era bem poss�vel que o
<br>Louis Richard estivesse s�, � sua espera. Diminuiu mais a velocidade
<br>do carro, viu o ponteiro do veloc�metro retrair-se para
<br>80 km e 70 km, sem que as duas margens da estrada lhe dessem
<br>a sensa��o de que se deslocavam para tr�s, em sentido
<br>contr�rio, mas continuou a avan�ar na estrada deserta, que
<br>tornava a cham�-la com a sua imensid�o desimpedida, sem
<br>
<br>
<br>234
<br>
<br>
<br>pre subindo, sempre subindo, entre alas de pinheiros e
<br>eucaliptos.
<br>
<br>Antes de descer � garagem para tirar o carro, tinha ligado
<br>para Paris chamando o Rodrigo. Tinha sa�do. Chamara
<br>depois pela Vilma, sem dizer quem a procurava. Tamb�m tinha
<br>sa�do. Repusera o fone no gancho, depressa descera a
<br>escada.
<br>
<br>E para o Ludovico, que lhe abria a porta do carro:
<br>
<br>� Eu saio de marcha � r�. N�o precisa chamar o
<br>Expedito.
<br>A ira reprimida, com a certeza de que era mesmo verdade
<br>o que a carta lhe dissera, f�-la manobrar o carro com perfei��o
<br>absoluta, bem ao centro do port�o, e ela agora ali ia,
<br>sempre avan�ando na volta da estrada, enquanto lembrava o
<br>Louis Richard, � sua frente, na tribuna do Jockey Clube, a
<br>lhe dizer, ao lado do Rodrigo, rindo:
<br>
<br>� Imagine que eu acabava de perguntar a seu marido
<br>quem era a linda senhora de vestido claro, na tribuna de honra,
<br>e ele me respondeu, com orgulho: � � a minha mulher.
<br>� Vim com ele aqui para ter a honra de cumpriment�-la. Espero
<br>ver os dois, amanh�, na quadra de t�nis.
<br>Tinha ido s�, j� que o Rodrigo estava preso a outro compromisso
<br>fora da cidade, e toda ela havia sido entusiasmo e
<br>aten��o vigilante a cada jogada do Louis Richard, agil�ssimo
<br>na firmeza com que arremessava a bola, tonteando o advers�rio.
<br>Por fim, � hora de seu triunfo, descera a cumpriment�lo,
<br>quase a exceder-se na excita��o jubilosa com que tamb�m
<br>
<br>o beijara:
<br>� Parab�ns! � gritara-lhe, radiante.
<br>E para atenuar o seu j�bilo:
<br>� Por mim e por meu marido.
<br>O belo homem, que acabara de sair na capa do Times internacional,
<br>com os mesmos olhos extremamente azuis, os cabelos
<br>despenteados e atirados para tr�s, o sorriso a dar mais
<br>vida e luz ao rosto ovalado, parecera-lhe ainda mais belo, com
<br>a raquete a lhe prolongar o bra�o esquerdo, no momento em
<br>que sa�a da quadra de t�nis com o p�blico a aplaudi-lo de p�.
<br>
<br>J� no Alto da Serra, Patr�cia sabia que, mais adiante, na
<br>
<br>235
<br>
<br>
<br>outra curva do caminho, esse mesmo homem estaria � sua espera,
<br>com o riso aberto, os cabelos despenteados, a m�o segura
<br>e resoluta � que sabia como nenhuma outra empunhar
<br>a raquete, impelindo a bola, rebatendo a bola, multiplicando
<br>as cortadas incr�veis que haviam tonteado o pobre sueco
<br>esguio e louro que ia vendo desfazer-se, a cada momento, na
<br>sucess�o dos lances, o seu t�tulo de campe�o mundial.
<br>
<br>� direita de Patr�cia, adiante de um peda�o de muro coberto
<br>de musgo, o renque de carvalhos. Mais al�m, a ponte
<br>de t�buas, seguida por um largo estir�o em linha reta que a
<br>ponte de pedra rematava numa nova curva, sob o c�u amplo,
<br>sem nuvens, que se arqueava, assim l�mpido e uniforme por
<br>cima da corda de montanhas.
<br>
<br>� Agora, na outra curva, � o muro que ladeia o port�o
<br>da casa onde o Louis Richard est� me esperando � concluiu
<br>Patr�cia, diminuindo a marcha do carro, como se quisesse voltar.
<br>O ponteiro do veloc�metro desceu a 40 km, baixou para
<br>30 km, quase resvalou para 20 km, e logo o vulto do Louis Richard
<br>se recortou contra a claridade, levantando os bra�os acima
<br>da cabe�a, no meio da estrada, defronte do port�o escancarado.
<br>
<br>
<br>Ela veio vindo devagar, calcando o freio e sorrindo, e parou
<br>a um passo do port�o. Ele correu, abriu depressa a porta
<br>dianteira, para sentar-se ao seu lado, contrastando a sua camisa
<br>vermelha, de colarinho aberto sobre o peito cabeludo,
<br>e ficou a olh�-la, mudo, como se as palavras lhe faltassem,
<br>segurando-lhe a m�o. Em seguida, sempre a olh�-la, beijou-
<br>lhe a palma das m�os, a ponta dos dedos, e ela p�de ver que
<br>a emo��o lhe umedecia os olhos.
<br>
<br>Por fim, dominando-se, ele conseguiu dizer-lhe:
<br>
<br>� Sabe a que eu comparo a emo��o deste momento, com
<br>a sua visita? Vai acreditar em mim? Na minha palavra de honra?
<br>Ao momento em que subi ao p�dio para receber o trof�u
<br>de campe�o mundial.
<br>Ela comp�s um semblante de espanto, como se n�o quisesse
<br>crer:
<br>
<br>� N�o diga isso.
<br>236
<br>
<br>
<br>� Digo, e repito, porque � verdade � insistiu ele, s�rio,
<br>afrouxando a m�o que ela rep�s no volante.
<br>E ele, j� senhor de si, mostrando-lhe o resto do caminho:
<br>
<br>� Atravesse o port�o, suba devagar a rampa, v� pela alameda
<br>central. A casa est� l� em cima, � nossa espera.
<br>Patr�cia manobrou o carro, p�s-se a subir a rampa, contente
<br>de ter vindo. Ao fim da alameda de cedros, a poucos
<br>metros da casa ampla circundada por um varand�o aberto,
<br>parou, deslumbrada, embevecida. Parecia-lhe irreal o que estava
<br>vendo, com o roseiral florido, as samambaias nos arcos
<br>da varanda, o verde novo das �rvores, a relva que atapetava
<br>
<br>o ch�o.
<br>E ele, abrindo a porta da limusine:
<br>� Podemos descer aqui, Patr�cia.
<br>Correu para o outro lado, ajudou-a a descer, e os dois
<br>subiram juntos o resto da vereda inclinada que as pedras de
<br>cantaria lajeavam. L� no alto, j� na varanda, ela se voltou
<br>para baixo, abrangendo o relvado, a alameda, o port�o, o roseiral.
<br>Olhou mais longe, estendendo a vista deslumbrada para
<br>a mata que subia a encosta das montanhas, e tudo � sua
<br>volta lhe pareceu novamente irreal na harmonia de seu conjunto,
<br>com as ac�cias, as quaresmeiras, as castanheiras, na
<br>transpar�ncia da luz intensa que se derramava por todo o vale.
<br>
<br>N�o conteve a exclama��o:
<br>
<br>� Isto � mesmo lindo, Richard.
<br>E mais tarde, depois do vinho do Porto que ele lhe serviu,
<br>brindando-lhe a visita, ela percorreu ao seu lado as depend�ncias
<br>da casa, parando em cada sala, em cada quarto,
<br>em cada corredor, para admirar os m�veis, o arranjo, o equil�brio
<br>da vasta mesa de dezoito lugares, o guarda-lou�as, os
<br>pratos nas paredes, os quadros, sempre a repetir, na sinceridade
<br>de sua admira��o e de seu enlevo:
<br>
<br>� Lindo, lindo. Nunca vi nada igual.
<br>E ap�s um momento intrigado, olhando em volta:
<br>� E quem � que cuida disto, Richard? Onde est�o seus
<br>criados?
<br>Ele abriu o sorriso, dando mais vida aos olhos azuis:
<br>
<br>237
<br>
<br>
<br>� Dei f�rias a todos esta tarde, para n�o dividir com ningu�m
<br>a emo��o de sua visita.
<br>Ela passou � outra pe�a, com ar apreensivo. Depois,
<br>olhando a arca imponente, na saleta que precedia a alcova,
<br>confessou-lhe:
<br>
<br>� Vi uma arca igual a esta em casa de uma grande amiga,
<br>que foi minha companheira de col�gio, e hoje est� num
<br>Sanat�rio.
<br>Deu um passo, mais outro.
<br>E ele, j� na alcova:
<br>
<br>
<br>� Num Sanat�rio? � perguntou-lhe, como interessado.
<br>� Num Sanat�rio � confirmou Patr�cia, abrangendo a
<br>cama de casal, ao fundo, sobre um estrado, a c�moda de jacarand�
<br>entre as janelas fechadas, o guarda-roupa mais adiante,
<br>o orat�rio barroco mostrando o crucifixo de prata, ladeado
<br>por dois velhos casti�ais trabalhados, cada qual com sua
<br>vela por acender.
<br>E ele, junto da cama:
<br>
<br>� Agora, deite aqui, descanse um pouco.
<br>Depois, j� com o dia come�ando a esmorecer, quando ela
<br>desceu a serra, voltando � cidade, sorriu para si mesma, contente
<br>por ter sabido reprimir-se quando o Louis Richard lhe
<br>segurou as m�os e quis for��-la a deitar-se:
<br>
<br>� N�o, Richard. N�o foi para isso que vim aqui.
<br>E dera tal energia � voz, desvencilhando-se, que ele lhe
<br>afrouxou as m�os, retraindo-se:
<br>
<br>� Desculpe, Patr�cia.
<br>Patr�cia, calcando de leve o freio para conter o carro na
<br>descida da estrada, via agora a luz estriar-se de tons vermelhos,
<br>longe, no horizonte � sua frente, enquanto volvia a
<br>lembrar-se da Simone, no p�tio da Escola Normal, olhando-
<br>a no rosto, segurando-lhe os ombros, tal como a havia lembrado,
<br>de repente, na penumbra da alcova, ao desvencilhar-
<br>se das m�os do Louis Richard:
<br>
<br>� Eu, se me casar, nunca serei de outro homem, Patr�cia.
<br>Patr�cia ligou o toca-fitas e logo voltou a ouvir a sonata de
<br>Brahms. E erguendo mais a cabe�a, com o dorso apoiado no
<br>
<br>238
<br>
<br>
<br>recosto do banco, p�s-se a dizer baixinho, a olhar � sua frente
<br>a mais longa reta da estrada:
<br>
<br>� Eu tamb�m penso assim, Simone. E foi por isso que
<br>n�o me entreguei.
<br>6
<br>
<br>N�o sentiu o sono chegar. Embora estivesse gostando do
<br>novo romance de Simenon, presa ao gradativo enleio de sua
<br>trama, deixou cair as p�lpebras, como cedendo a um cansa�o
<br>moment�neo, e afastou-se da realidade circundante, com a l�mpada
<br>de cabeceira acesa, o Rodrigo adormecido ao seu lado,
<br>
<br>o latido dos c�es no parque e a nesga mansa de luar que se
<br>insinuava pela vidra�a da janela, na abertura da cortina, confundindo-
<br>se com a claridade do abajur no tapete do ch�o.
<br>Deixara para guardar na manh� seguinte o vestido longo
<br>com que tinha ido ao teatro, limitando-se a deix�-lo sobre
<br>
<br>o espaldar da poltrona, a um canto do quarto, com as luvas,
<br>as meias e o libreto da �pera nos bra�os da cadeira, por baixo
<br>da qual jaziam os sapatos prateados, um ao lado do outro.
<br>Ainda ouvira o rel�gio do sal�o, longe, bater a sua pancada
<br>ressoante no come�o da madrugada. Depois, sil�ncio, e
<br>
<br>o sonho bobo em que corria pelo parque perseguida pelo Louis
<br>Richard, j� velho, de cabelos grisalhos, tal como o vira no foyer
<br>do teatro, com o mesmo smoking folgado, a mesma gravata-
<br>borboleta.
<br>Patr�cia dormia reclinada, com as esp�duas apoiadas em
<br>dois travesseiros, o dedo interposto nas folhas do romance,
<br>a barra do cobertor por cima dos seios.
<br>
<br>Nisto, no sil�ncio amplo, o retinir da campainha do telefone
<br>ali ao seu lado, na mesa-de-cabeceira. Ouviu-o longe, depois
<br>mais perto, e descerrou os olhos, um tanto atordoada.
<br>Esperou um momento, sempre a ouvir o telefone chamar, ainda
<br>sem aflorar de todo � consci�ncia. Por fim, j� consciente, alongou
<br>o bra�o para o aparelho, ao mesmo tempo em que altea
<br>
<br>
<br>239
<br>
<br>
<br>va o busto, de lado, apoiando-se no cotovelo, e conseguiu dizer,
<br>com o bocal do telefone � sua frente:
<br>
<br>� Al� � em tom sonolento.
<br>Logo uma voz de mulher, longe, e que n�o lhe era desconhecida,
<br>soou ao seu ouvido, clara, n�tida, alongando o r.
<br>
<br>� Patr�cia? N�o te espantes: sou eu. Eu, Simone. Est�s
<br>me ouvindo? Estou te falando do Sanat�rio. Desculpa se te
<br>acordei.
<br>N�o, n�o era trote, �quela hora da madrugada, com a
<br>claridade do luar ao p� da janela, o trilo do apito do guarda
<br>de seguran�a, o latido dos c�es. Mas a voz inconfund�vel da
<br>Simone, imperativa, senhora de si, como ao tempo da Escola
<br>Normal. Uma defronte da outra, ambas na blusa branca e na
<br>saia azul do uniforme.
<br>
<br>E Patr�cia, sentando-se na borda da cama:
<br>
<br>� Sim, Simone, estou te ouvindo. Sou eu mesma. Patr�cia.
<br>N�o, n�o me acordaste. Eu estava lendo. Continuo com
<br>as minhas antigas ins�nias. Como no nosso tempo.
<br>E a Simone, numa voz mais firme:
<br>
<br>� Eu te telefonei pelas nove horas. Uma voz de homem
<br>me disse que tinhas ido ao teatro. Continuas fiel � �pera. Fazes
<br>bem. Eu tamb�m continuo. Mas me contento com o videocassete.
<br>Ou com a televis�o. N�o � a mesma coisa. Mas
<br>distrai.
<br>Uma breve pausa. E quando Patr�cia ia falar, reatando
<br>
<br>o di�logo, antecipou-se, como a reprimir a emo��o:
<br>� Tenho lido aqui, nos jornais que da� recebo, o notici�rio
<br>de tua festa. Parab�ns pela id�ia de reunir toda a turma.
<br>Falei de tarde com a Paula, que me confirmou as not�cias.
<br>Foi ela que me deu teu novo telefone. J� convidaste todas
<br>as colegas?
<br>E em tom de queixa, baixando a voz:
<br>
<br>� Eu n�o fui convidada.
<br>E Patr�cia, com rapidez:
<br>� Desculpa, Simone. Pensei que n�o receberias bem o
<br>meu convite.
<br>Agora, estou te convidando.
<br>Um sil�ncio. Logo depois, a resposta:
<br>
<br>� Eu irei, Patr�cia. No vestido longo, como as outras.
<br>240
<br>
<br>
<br>Depois que se despediram, como se nada houvesse ocorrido
<br>entre as duas, talvez com uma naturalidade excessiva, ou
<br>com sil�ncios levemente contrafeitos, que ambas tratavam de
<br>corrigir, Patr�cia ficou a olhar o auscultador do telefone, perplexa,
<br>at�nita, sem saber ao certo o que pensar e concluir.
<br>
<br>Quis acordar o Rodrigo para lhe falar. Entretanto, ao v�lo
<br>imerso no sono profundo, ressonando alto, limitou-se a
<br>corrigir-lhe a posi��o do bra�o, cruzou a perna, ainda na borda
<br>da cama, sabendo que n�o havia sonhado. Telefonaria � Paula?
<br>Ou � Inezita? N�o, �quela hora, n�o. Falaria de manh�.
<br>
<br>Como acreditar que a Simone ia estar ali, naquela casa?
<br>Na casa que deveria ter sido sua? Na casa do Rodrigo? E reunida
<br>�s colegas? Como se nada houvesse acontecido entre as
<br>duas? Ali? Mais de vinte anos depois do rompimento entre
<br>elas? Parecia absurdo. Sim, sim, absurdo. O Rodrigo ia cair
<br>das nuvens. A Paula, tamb�m. E tamb�m a Inezita. M�e Ded�,
<br>se fosse viva, ficaria de sobreaviso, estranhando, com seu
<br>ar precavido:
<br>
<br>� Eu, no teu lugar, desconfiava. Vai por mim.
<br>E Patr�cia, levantando-se, deu uns passos a esmo, olhou
<br>na dire��o do orat�rio, agu�ou o ouvido para o sil�ncio circundante,
<br>tornou a olhar o marido, para ver se ele ia despertando.
<br>Em seguida, voltou-se para o telefone, intrigada, sem
<br>compreender, sem atinar com uma raz�o plaus�vel que atenuasse
<br>a perplexidade em que se debatia. Ao ver que o Rodrigo
<br>continuava adormecido, chamou por ele, tornou a chamar.
<br>O mesmo ressonar profundo, que o desligava da noite, do mundo
<br>� sua volta, do tempo que ia fluindo, com o bra�o direito
<br>no travesseiro, por cima da cabe�a, o corpo abandonado a si
<br>mesmo.
<br>
<br>Patr�cia foi at� a janela, alongou o olhar para fora, insone,
<br>correu a palma da m�o pelo vidro, viu o luar escorrendo
<br>das �rvores, tremeluzindo nas �guas da piscina, destacando
<br>a fachada da capelinha. E tornando � cama, decidiu-se:
<br>
<br>� O melhor que fa�o � me deitar. Mesmo que n�o durma,
<br>descanso. Amanh�, falo com a Paula, falo com a Inezita,
<br>tiro tudo a limpo.
<br>Antes de apagar a l�mpada de cabeceira, ensaiou voltar
<br>
<br>241
<br>
<br>
<br>� leitura do romance de Simenon, numa nova tentativa para
<br>espairecer e acalmar-se, mas n�o tardou em desistir do livro,
<br>ao chegar ao fim da p�gina sem saber ao certo o que tinha lido.
<br>
<br>Deitada, ajustou os olhos � claridade escassa e leitosa que
<br>
<br>o luar espalhava � sua volta, enquanto se punha a conjecturar
<br>como estaria a Simone ap�s tantos anos de reclus�o. Mais
<br>p�lida, certamente. E esguia, os olhos grandes, sempre esbelta,
<br>a cintura fina, os quadris cheios, alta, as m�os longas e
<br>transparentes, ainda bonita. E se houvesse mudado? Talvez.
<br>Com a vida sedent�ria, longe da cidade, confinada certamente
<br>ao seu quarto, tenderia a engordar, assumindo um ar
<br>matronal.
<br>E alvoro�ando-se, como se fosse levantar:
<br>
<br>� Ela me disse que vai chegar aqui no dia da festa, pelo
<br>fim da tarde, no avi�o que faz escala perto do Sanat�rio, e
<br>eu n�o adiantei que ia mandar busc�-la no aeroporto, para
<br>que viesse diretamente para c�. Tenho de dizer isso. Amanh�
<br>mesmo.
<br>Refletiu: naturalmente, depois da recep��o, a Simone passaria
<br>ali o resto da noite, s� voltando ao Sanat�rio no correr
<br>do dia seguinte � a menos que decidisse ficar mais tempo.
<br>Sendo assim, tinha de preparar a su�te para o seu pernoite,
<br>ou a sua estada. Quando a Simone fosse embarcar, ela, Patr�cia,
<br>iria lev�-la ao aeroporto. E por que n�o? S� n�o iria busc�la,
<br>porque estaria a preparar-se, quase � hora da chegada dos
<br>primeiros convidados, �s voltas com o costureiro, o cabeleireiro,
<br>o maquilador, a manicura.
<br>
<br>Afinal, em meio � madrugada, passou pelo sono, para
<br>despertar quando a primeira claridade do dia entrava na alcova
<br>pelo v�o das' cortinas.
<br>
<br>Novamente sentada na borda da cama, com os p�s no tapete
<br>do ch�o, voltou a fixar-se no telefonema da Simone. N�o
<br>teria sonhado? Quem sabe? E ela pr�pria reagiu:
<br>
<br>� N�o, n�o foi sonho. Falei com ela. Ouvi-lhe a voz.
<br>J� o Rodrigo havia levantado. Foi ao escrit�rio e n�o o
<br>achou. N�o o achou tamb�m no banheiro. Puxou mais a cortina,
<br>e deu com ele, longe, a bracejar na piscina, sob a luz da
<br>
<br>242
<br>
<br>
<br>manh� que ia crescendo, espa�osa, dourada, com os ru�dos
<br>da rua e o canto dos passarinhos.
<br>
<br>Ao sentar � mesa do caf�, uma hora mais tarde, ele lia
<br>
<br>o jornal, � sua espera, na cadeira de bra�os da cabeceira.
<br>E Patr�cia, desdobrando no rega�o o guardanapo:
<br>� Adivinha quem me telefonou esta noite, enquanto dormias,
<br>para dizer que vem ao meu anivers�rio. N�o adivinhas?
<br>Ele, com os �culos em meio do nariz, a olh�-la por cima
<br>do aro de ouro, baixando o jornal:
<br>
<br>� Quem?
<br>� A Simone.
<br>Rodrigo deixou cair o jornal para os joelhos:
<br>� N�o, n�o pode ser. A Simone, n�o. Foi algu�m por
<br>ela. E que te passou um trote.
<br>Patr�cia p�s as m�os na borda da mesa, tranq�ila, a cabe�a
<br>levemente inclinada, quase a rir:
<br>
<br>� Tamb�m pensei que fosse. N�o, n�o foi trote. Nem
<br>sonhei. Enquanto te banhavas, telefonei para o Sanat�rio e
<br>falei com ela para ter a certeza, para me certificar. Sim, foi
<br>ela que telefonou. Ela, Simone. Vem mesmo � recep��o. De
<br>vestido longo, como as outras. E vai ficar conosco, aqui, at�
<br>a tarde seguinte, quando voltar� ao Sanat�rio.
<br>243
<br>
<br>
<br>QUINTO CAP�TULO
<br>
<br>1
<br>
<br>Reconheceu a estrada. Sim, era ela. Embora houvesse passado
<br>quinze anos sem vir por ali, guardara-lhe a lembran�a
<br>com a mais absoluta nitidez. Pouca coisa haveria mudado ao
<br>longo de seu percurso. As mesmas curvas. Os mesmos estir�es
<br>desertos. Uma casa aqui, outra al�m. O gado pastando na relva.
<br>No flanco de um morro, a cavaleiro do rio, um casar�o
<br>de alpendre por entre palmeiras imperiais, olhando para o nascente.
<br>E a corda de montanhas em redor, com a �floresta galgando
<br>as encostas.
<br>
<br>Num relance, olhando os dois lados do caminho longo,
<br>Patr�cia avivou ainda mais a lembran�a de tudo quanto ia vendo.
<br>Sim, j� passara por ali. Por aquela mesma ponte, cruzando
<br>o rio que descia l� embaixo, por entre- pedras negras. L�
<br>adiante, depois de uma curva fechada, esse mesmo rio ia atravessar
<br>o vale profundo, para resvalar mais al�m, na mataria
<br>densa.
<br>
<br>Num impulso, ela esteve para se trair, quase dizendo ao
<br>marido:
<br>
<br>� Conhe�o esta estrada, Rodrigo. H� quinze anos passei
<br>por aqui.
<br>Ainda bem que, em tempo, soubera reprimir-se, enquanto
<br>o marido umedecia a ponta do charuto na ponta da l�ngua,
<br>com ar misterioso, esbo�ando um sorriso, a olh�-la por cima
<br>dos �culos.
<br>
<br>Ela, esquivando aos olhos que insistiam em encontrar os
<br>seus, continuou a alongar a vista para as margens da estrada,
<br>
<br>245
<br>
<br>
<br>recordando-se de que era exatamente aquele o caminho da casa
<br>do Louis Richard.
<br>
<br>Sim, aquele. Com as mesmas quaresmeiras floridas, l� no
<br>alto, na encosta que a mata revestia. E aquelas palmeiras � sua
<br>direita, perfiladas, soberbas, por tr�s do muro coberto de
<br>musgo.
<br>
<br>E o Rodrigo batendo a cinza do charuto no cinzeiro do
<br>carro:
<br>
<br>� Sabes aonde vamos? � perguntou-lhe.
<br>Ela moveu o rosto para dizer que n�o.
<br>Rodrigo espalmou no ar a m�o gorducha, sempre sorrindo,
<br>os olhos contra�dos, sem desfit�-la. J� ia saber. Estavam
<br>quase chegando. Mais uns dez minutos, se tanto. E quase cerrou
<br>de todo as p�lpebras, acentuando o leque das rugas, enquanto
<br>rodava o charuto entre os dedos, sorridente, divertido,
<br>continuando a olh�-la pelo canto dos olhos.
<br>
<br>Cedo, ao levantar-se, ele lhe anunciara:
<br>
<br>� Agora de manh� vamos dar um passeio.
<br>Ela, sentada na cama, tateava o ch�o com a ponta dos
<br>p�s, � procura dos chinelinhos.
<br>
<br>� Aonde, querido? � perguntou-lhe, ainda estremunhada.
<br>Ele, de p�, defronte do espelho da c�moda, corrigiu o cabelo
<br>�mido que lhe descia para a t�mpora:
<br>
<br>� Sabes guardar segredo?
<br>E ap�s um sil�ncio, antes que ela respondesse:
<br>� Eu tamb�m sei.
<br>J� de camisa esporte e cal�a clara, nos p�s o t�nis novo
<br>que trouxera de Paris, Rodrigo deu as costas � c�moda e veio
<br>vindo.
<br>
<br>� Quero te fazer uma surpresa � adiantou-lhe, ante o
<br>ar intrigado com que ela lhe sorria.
<br>Patr�cia procurou reprimir a curiosidade. E levantando-se:
<br>
<br>� Se � surpresa, n�o tenho mais o direito de querer adivinhar.
<br>Vou esperar por ela.
<br>L� fora, no s�bado tranq�ilo, a imensid�o da manh� de
<br>sol alvoro�ada pelo canto dos passarinhos. Um verde novo nas
<br>folhas das �rvores, que ela olhou de relance, ainda intrigada,
<br>no vidro da janela, a caminho do banheiro. Abriu a porta, fe
<br>
<br>
<br>246
<br>
<br>
<br>chou a porta. Aonde o Rodrigo iria lev�-la? E por que aquele
<br>sorriso, aquele segredo?
<br>
<br>Nua, defronte do espelho sobre a pia de m�rmore, acabou
<br>de escovar os cabelos, mais uma vez olhou a fileira dos
<br>dentes perfeitos, sempre a ouvir o ru�do da �gua enchendo a
<br>banheira.
<br>
<br>Deixou o espelho, fechou a torneira antes que a �gua transbordasse,
<br>tocou essa mesma �gua com a ponta do p�, alongou-
<br>se ao comprido da banheira, e foi ent�o que se lembrou de
<br>seu sonho, na meia-luz da manh� que ia nascendo. Um sonho
<br>l�rico e colorido. Tudo n�tido. N�o se lembrava de ter tido outro
<br>igual ou parecido. Voltava a sentir a menininha morena,
<br>de rosto cheinho, aconchegada nos seus bra�os. Risonha, rechonchuda,
<br>mostrando os l�bios vermelhos, querendo rir. E
<br>com a m�ozinha rosada defronte dos olhos: "� A Bab� p�s
<br>batom na minha boca, e eu pus batom na boca da Bab�. Tu
<br>n�o zangas comigo? Juras que n�o zangas? Ent�o eu te dou
<br>um pedacinho de chocolate do meu ovo de P�scoa. O ovo que
<br>a Rosa me deu."
<br>
<br>E riu alto, de olhinhos cerrados, sempre com a m�o rosada
<br>diante da boca vermelha, como se lhe houvesse confiado
<br>um segredo divertido que n�o contaria a mais ningu�m. Depois,
<br>recolhendo o riso, fez-se s�ria, perfilando o dedinho defronte
<br>dos olhos:
<br>
<br>� N�o fala nada para a Rosa nem para o Ludovico.
<br>Despertara, emocionada. Por um momento pareceu procurar
<br>a menina � sua volta, na fosca claridade do quarto, ouvindo
<br>o ru�do do chuveiro no banho do Rodrigo. Apoiara as
<br>costas no travesseiro, entrecerrara os olhos �midos, e assim ficara
<br>por quase meia hora, tentando retomar o sonho interrompido.
<br>Por que tivera semelhante sonho, se toda a sua experi�ncia
<br>materna se limitava ao conv�vio das �ltimas bonecas, no
<br>primeiro ano da Escola Normal? Uma menininha linda, com
<br>um leve toque de sarda nos p�mulos salientes. Por ela trocaria
<br>a sua festa, a sua casa, o seu parque, as suas j�ias.
<br>
<br>E para o Rodrigo, ali no carro:
<br>
<br>� E se adot�ssemos uma crian�a?
<br>Ele a olhou em sil�ncio, sempre a rodar nos dedos o cha247
<br>
<br>
<br>
<br>ruto. Estendeu o olhar para fora, tornou a olhar para Patr�cia,
<br>sorveu outra fuma�a, soprou-a, ficou uns momentos quieto.
<br>
<br>Desta vez dispensara o guarda de seguran�a. Somente o
<br>Expedito ocupava o banco da frente, empertigado, senhor do
<br>volante, enquanto as duas margens da estrada se deslocavam
<br>em sentido contr�rio.
<br>
<br>E ap�s longo sil�ncio, tornando a firmar os olhos em Patr�cia:
<br>
<br>
<br>� Ainda n�o imaginaste aonde vamos?
<br>E ela, assustada, ao ver aproximar-se o port�o de pedra
<br>brasonado que havia transposto em companhia do Louis
<br>Richard:
<br>
<br>� N�o.
<br>Parariam ali? Ou iriam mais adiante? Ela, desconhecendo
<br>o resto da estrada, contraiu as sobrancelhas, mais intrigada.
<br>Voltara a sentir nas t�mporas a pulsa��o acelerada. Como
<br>que seus nervos se distendiam, tensos. As m�os frias, levemente
<br>tr�mulas, estavam agora entrela�adas. O Rodrigo teria sabido
<br>de seu encontro, ali, com o Louis Richard? Se soubera, por
<br>que n�o lhe falara? E que significava aquele passeio estranho
<br>e repentino, quinze anos depois?
<br>
<br>Num relance, com o carro quase parando junto ao port�o,
<br>encontrou em si mesma a energia de que precisava. Se ele
<br>a interpelasse, contar-lhe-ia tudo, tal como tudo se havia passado.
<br>N�o tinha de que se arrepender. Fora apenas um momento
<br>de assomo, que ela pr�pria soubera reprimir, antes que
<br>
<br>o desfecho natural lhe alterasse irremediavelmente a vida.
<br>E o Rodrigo, com o resto do charuto entre os dedos, mais
<br>risonho, mais misterioso, alongando o olhar para o roseiral
<br>florido:
<br>
<br>� Hem? Que tal? Soberbo, n�o?
<br>Ela desceu em sil�ncio, em sil�ncio andou pela casa, e s�
<br>ent�o descobriu, ap�s a sala imensa de lareira apagada, a figura
<br>grave do Ludovico, e mais a Rosa, e dois outros criados,
<br>todos bem vestidos, como se fossem servi-la.
<br>
<br>Junto � vasta mesa de vinte e quatro lugares, ouviu a risada
<br>farta do Rodrigo, do outro lado da mesa.
<br>E ele, misturando o riso � fala:
<br>
<br>248
<br>
<br>
<br>� Tudo isto agora � nosso, Patr�cia. Tirei a corda do pesco�o
<br>do Louis Richard, que precisava vender esta casa de campo
<br>para se livrar de d�vidas de jogo*
<br>Fez-se s�rio, com seu ar natural de homem de neg�cios:
<br>
<br>� O coitado foi ao meu escrit�rio oferecer tudo isto por
<br>uma bagatela. N�o aceitei o pre�o. Mandei fazer a avalia��o
<br>correta, para comprar a propriedade pelo pre�o exato. N�o quis
<br>que se dissesse amanh� que me vali da desgra�a alheia para
<br>aumentar nosso patrim�nio. Ele ficou t�o agradecido que me
<br>beijou a m�o.
<br>2
<br>
<br>Dela, tamb�m, aquela casa, aquele sil�ncio, aquele roseiral,
<br>aqueles renques de palmeiras, aquelas �rvores, aquele bra�o
<br>de rio, aquela pontezinha de pedra, com seu arco romano sobre
<br>as �guas cristalinas? Tudo aquilo era mesmo seu? Para ficar
<br>ali quando quisesse, e sem limite de tempo? Dona daquele
<br>ar, daquelas montanhas, daquele roseiral, daquelas matas, daquela
<br>casa?
<br>
<br>Sem poder falar, Patr�cia se limitou a sorrir, com os olhos
<br>molhados e um aperto na garganta, e foi abra�ar o Rodrigo,
<br>longamente, demoradamente, com a sensa��o subitamente medrosa
<br>de que o destino se requintara em lhe dar tudo, absolutamente
<br>tudo, ou quase tudo, cumulando-a de venturas vis�veis.
<br>Seria sempre assim?
<br>
<br>Em seguida, ao penetrar ainda mais na casa tranq�ila, seu
<br>medo cresceu, expandiu-se, dominou-a, dando-lhe a impress�o
<br>f�sica de que se alastrava por todo o seu corpo, esfriando-lhe
<br>a ponta dos dedos, riscando-lhe a coluna vertebral. Com as
<br>m�os geladas, um calor no rosto avermelhando-lhe a epiderme,
<br>uma dor fina na raiz dos cabelos, Patr�cia respirou fundo,
<br>enquanto firmava os p�s nos ladrilhos do piso, para ter a sensa��o
<br>f�sica e firme de que o ch�o n�o lhe fugia. Passados alguns
<br>instantes de imobilidade pensativa, sacudiu a cabe�a pa
<br>
<br>
<br>249
<br>
<br>
<br>ra tr�s, no esfor�o para atirar de si o pensamento obsessivo,
<br>e entrou no quarto imenso, parando exatamente no lugar em
<br>que se recusara a entregar-se, diante da mesma cama.
<br>
<br>Se houvesse cedido, sua vida teria sido a mesma? N�o,
<br>n�o teria. E mais uma vez agradecia a Nossa Senhora de Lourdes,
<br>ao Menino Jesus de Praga, � Virgem de F�tima, por ter
<br>sabido dominar-se, 'deixando resolutamente o caminho que poderia
<br>ter sido a sua ru�na, o seu desapontamento e a sua perdi��o.
<br>
<br>
<br>Desafogada e reconhecida, tornou a suspirar. Mas outro
<br>medo veio vindo, com a intensidade da luz descendo da montanha
<br>nas manh�s de estio, e ela aumentou os olhos como se
<br>fosse recuar, l�vida, tr�mula, sabendo que a vida depende de
<br>um momento, e mesmo de um gesto, ou de um sil�ncio, para
<br>mudar e transformar-se, � revelia de nossa vontade consciente.
<br>Como poderia viver ali, ou na casa da cidade, ou mesmo
<br>noutro lugar tranq�ilo, e igualmente seu, se o Rodrigo repentinamente
<br>lhe faltasse?
<br>
<br>Tratou de reagir: n�o, Deus n�o permitiria que isso acontecesse!
<br>E por que n�o, se acontecia com outras mulheres felizes?
<br>Um ataque card�aco, um desastre de avi�o, uma bomba
<br>no carro, um tiro de surpresa, um seq�estro a caminho de casa,
<br>e tudo estaria desfeito, como se desfaz o sonho bom com
<br>os olhos abertos. Ela sabia que n�o poderia viver sem o Rodrigo.
<br>Precisava ouvir-lhe a voz, sentir-lhe os passos, v�-lo ao
<br>seu lado no abandono da cama de casal, escutar-lhe o riso derramado,
<br>olh�-lo de frente na claridade da janela, exuberante,
<br>vermelho, expansivo, confiante, queimado de sol.
<br>
<br>Nesse momento, como se estivesse a espreit�-la no v�o da
<br>porta, a Rosa lhe disse, por cima do sussurro do vento:
<br>
<br>� O Dr. Rodrigo est� chamando a senhora.
<br>Patr�cia saiu � varanda, no seu passo leve e cheio, sem pressa,
<br>com a Rosa ao seu lado. E esta, mais adiante, ap�s um sil�ncio:
<br>
<br>
<br>� Gostei daqui, D. Patr�cia. Muito. Mas tudo isto, com
<br>toda esta beleza, n�o se compara � casa da cidade. Prefiro a
<br>da cidade.
<br>250
<br>
<br>
<br>E olhou para os lados, circunvagando a vista � sua volta,
<br>sempre caminhando:
<br>
<br>� Se a festa do anivers�rio da senhora fosse aqui, com
<br>toda esta luz, n�o seria mais bonita que a festa na casa da cidade.
<br>N�o, n�o seria. L�, com o parque, a capelinha, as alamedas,
<br>� outra coisa.
<br>Patr�cia continuou calada, sempre caminhando, como que
<br>desatenta aos arcos do varand�o circundante e �s samambaias
<br>choronas que pendiam do meio desses arcos, balan�ando os
<br>ramos soltos na brisa matinal. Parecia-lhe que, se falasse, iria
<br>dizer � Rosa, numa decis�o repentina:
<br>
<br>� Estou pensando em suspender a recep��o. Pode n�o
<br>dar certo. H� muita gente com inveja de mim.
<br>Mas agora, quando s� faltavam treze dias para que as luzes
<br>da noite se acendessem na amplid�o do parque? E ela e
<br>
<br>o marido, de p� no patamar da escada, a receber os convidados?
<br>� o Cardeal que est� chegando, Rodrigo? Desce. Vai te
<br>encontrar com ele. Agora s�o os batedores que abrem caminho
<br>ao Presidente da Rep�blica. Como que todos os carros
<br>chegavam no mesmo instante. No clar�o dos flashes, cintilam
<br>as pedrarias e as j�ias. Sibilar de apitos. Ru�do de vozes. Risos.
<br>Est� chegando o Ministro da Marinha. O senhor alto, vermelho,
<br>� o Embaixador da Alemanha. Muitos embaixadores.
<br>Ministros. Senadores. J� ia subindo, trazida pelo marido, a Sra.
<br>Encarnaci�n: subia devagar, amparada pelo Embaixador, imensa,
<br>de vestido vermelho. Subia uni degrau, e parava. Outro degrau,
<br>e parava. Outros convidados passavam-lhe � frente, e ela
<br>olhava para o c�u, sondando o tempo, como no temor de outro
<br>dil�vio.
<br>E a Rosa, ao ver Patr�cia ensimesmada, ao fim da varanda:
<br>
<br>� Por aqui, D. Patr�cia.
<br>E ambas come�aram a subir a pequena rampa que levava
<br>� pontezinha sobre o rio, ao mesmo tempo em que Patr�cia
<br>ia vendo chegar os velhos professores, as colegas, o Lucas Caetano,
<br>os dois s�cios do Rodrigo, j� com a orquestra a afinar
<br>os instrumentos, sob o jato de luz dos refletores, � espera da
<br>revoada de corpos do Bal� Nacional.
<br>
<br>Como desfazer tudo aquilo, de um momento para outro?
<br>
<br>251
<br>
<br>
<br>E que dizer aos convidados que iam vir de Paris, de Londres,
<br>de Nova Iorque, de Lisboa? Imposs�vel sustar a festa. A algumas
<br>das colegas, ela pr�pria, Patr�cia, mandara os vestidos.
<br>A outras, faria vir de avi�o. A outras mais, cederia um de seus
<br>carros.
<br>
<br>E para a Rosa, que retardara o passo:
<br>
<br>� Est� tudo pronto para o dia vinte?
<br>� Quase tudo. O pouco que falta s� pode ser feito mais
<br>perto. Ou no dia. O Ludovico acha que ningu�m vai ter uma
<br>festa como a da senhora. Eu tamb�m penso assim.
<br>Adiante da ponte, na descida do terreno, uma baia, com
<br>dois cavalos, um deles encilhado, e era este que o Rodrigo segurava
<br>pela r�dea, como se fosse mont�-lo.
<br>
<br>E foi no momento em que Patr�cia se aproximava que ele
<br>puxou o animal para fora, firmou o p� no estribo, acomodou-
<br>se na sela, gordo, ancho e contente, outro homem, outra pessoa.
<br>Ela, que nunca o vira montado, levantou as sobrancelhas,
<br>sentindo-o mais mo�o, mais esbelto. Dir-se-ia que a cena houvera
<br>sido preparada para aquele instante �nico, na claridade
<br>alta do meio-dia.
<br>
<br>E Rodrigo, quase de p�, contendo a montaria, que de s�bito
<br>ergueu as patas dianteiras, ap�s r�pido relincho:
<br>
<br>� O outro cavalo � teu, Patr�cia. Eu te ensino a montar.
<br>Vamos galopar por a� afora, como dois adolescentes.
<br>O cavalo deixou cair as patas, desassossegado, impaciente,
<br>contido agora pela firmeza da r�dea, at� que o Rodrigo,
<br>obrigando-o a voltar-se na dire��o da porteira, tocou-lhe a ilharga
<br>com a roseta da espora, afrouxando os dedos, e o animal
<br>escarvou o ch�o, correu, galopou, enquanto Patr�cia, retraindo-
<br>se, segurava o bra�o da Rosa, em busca de um amparo, para
<br>seguir o marido com os olhos jubilosos, como se houvesse voltado
<br>a ter dezoito anos.
<br>
<br>252
<br>
<br>
<br>QUARTA PARTE
<br>
<br>Que chacun de nos jours r�gle ce qui le concerne,
<br>liquide ses affaires, respecte le jour qui
<br>le suivra, et alors nous serons toujours pr�ts.
<br>Savoir �tre pr�t, c'est au fond savoir mourir.
<br>
<br>HENRI-FR�D�RIC AMIEL, Journal intime
<br>
<br>
<br>PRIMEIRO CAP�TULO
<br>
<br>1
<br>
<br>Imaginando que Simone poderia telefonar pela madrugada,
<br>ou para confirmar que viria, ou mesmo para dizer que
<br>n�o viria, Patr�cia manteve ligada a campainha do aparelho
<br>na mesa-de-cabeceira, junto � cama, assim que se deitou. Ao
<br>seu lado, o Rodrigo devia andar longe, imerso no sono profundo.
<br>
<br>
<br>Embora houvesse tomado o tranq�ilizante das �ltimas noites,
<br>ela tardou a adormecer. As derradeiras provid�ncias para
<br>
<br>o dia seguinte, por entre solicita��es e empenhos de toda ordem,
<br>tinham-na deixado exausta. J� pela fadiga, j� pela excita��o
<br>natural, permaneceu largo tempo entre a vig�lia e o sono,
<br>como se vogasse num torpor prolongado, por entre os restos
<br>de luz da consci�ncia.
<br>De repente, pouco depois da meia-noite, cresceu no sil�ncio
<br>do quarto o ru�do do telefone. Nervoso, imperativo. Como
<br>a gritar dentro de casa.
<br>
<br>Na penumbra, guiada pela claridade da l�mpada vermelha
<br>que iluminava o crucifixo da parede, Patr�cia tateou o m�rmore
<br>da mesa, ainda com a cabe�a afundada no travesseiro,
<br>at� encontrar o auscultador de galalite. Levou-o � orelha, certa
<br>de que ia ouvir a voz da Simone. Vencendo a sonol�ncia
<br>com as for�as que lhe restavam, ergueu o busto, apoiou-se no
<br>cotovelo firmado no colch�o, e logo identificou a fala agressiva
<br>que lhe ressoou no ouvido:
<br>
<br>� Hoje, sua cretina, voc� deixou o telefone ligado, � espera
<br>dos primeiros parab�ns por seu anivers�rio. Parab�ns de
<br>255
<br>
<br>
<br>algum amante, como toda mulher rica, que s� vive para as orgias,
<br>as ostenta��es e os desperd�cios. Desta vez voc� se enganou.
<br>N�o foi seu amante que ligou em primeiro lugar: fui eu.
<br>J� reconheceu minha voz, n�o? Os parab�ns que eu tenho para
<br>voc� n�o s�o os que voc� esperava � s�o os meus. Em forma
<br>de votos. Que tal um desastrezinho de autom�vel? Ou um
<br>cancerzinho de mama, desses que deixam a mulher sobressaltada?
<br>
<br>
<br>E Patr�cia, no impulso da rea��o instintiva:
<br>
<br>� Idiota! Imbecil! Que foi que eu te fiz para tanto �dio?
<br>E desligou com rapidez, antes que a outra respondesse.
<br>Para que a liga��o n�o fosse reatada, esperou o ru�do leve do
<br>aparelho desligado, depois deixou o fone no m�rmore da mesa.
<br>Instintivamente apalpou os seios, em busca de um n�dulo,
<br>e s� encontrou a carne fl�cida, que cedia � press�o dos dedos.
<br>Por esse lado estava tranq�ila. Deus n�o iria dar-lhe semelhante
<br>castigo apenas para corresponder ao �dio est�pido da Evangelina.
<br>N�o, n�o iria.
<br>
<br>Suspirou fundo, tentando acalmar-se. Em seguida, resoluta,
<br>estendeu a m�o tr�mula por baixo do travesseiro, segurou
<br>o ter�o, e ficou a rezar pela Evangelina, pedindo a Deus
<br>que lhe desse uma luz de ternura humana. Por fim, j� sentindo
<br>que seu cora��o se acalmava, voltou a aquietar a cabe�a
<br>no travesseiro, preparando-se para dormir. Passado um momento,
<br>tornou a descerrar as p�lpebras, como se fosse reerguer
<br>a cabe�a, e interrogou-se, ao ver no m�rmore da mesa
<br>a silhueta do telefone desligado:
<br>
<br>� E se a Simone me. chamar?
<br>Logo encontrou a solu��o: assim que despertasse, ela pr�pria
<br>telefonaria para o Sanat�rio, para confirmar-lhe a vinda.
<br>Nada mais simples. Podia dormir sossegada, ouvindo o cadenciado
<br>ressonar do Rodrigo: tratou de cobri-lo melhor, no friozinho
<br>da noite �mida, e tornou a aquietar-se, com a volta do
<br>ter�o no punho direito, enquanto imaginava a noite seguinte,
<br>com a casa repleta de convidados. Viriam todos? O Ministro
<br>das Finan�as, a quem o Rodrigo esperava dedicar a melhor
<br>aten��o, j� se havia desculpado, no cart�o que acompanhara
<br>a corbelha de rosas vermelhas: viajaria pela manh� para uma
<br>
<br>256
<br>
<br>
<br>reuni�o urgente no Clube de Paris; a mulher � t�o linda, t�o
<br>elegante e t�o simp�tica � iria com ele.
<br>
<br>Sem transi��o sens�vel, p�s-se a lembrar o famoso seq�estro
<br>do Embaixador ingl�s, exatamente no dia de seus trinta anos,
<br>e a sucess�o de telefonemas de outros diplomatas, pedindo desculpas
<br>por n�o virem � recep��o, solid�rios com o colega. Um
<br>deles chegara mesmo a ser descort�s ao telefone, quando ela
<br>lhe dissera que ficasse tranq�ilo, que tudo ia acabar bem. A
<br>voz �spera, de muitos erres, prontamente objetara em tom perempt�rio:
<br>
<br>
<br>� N�o � o que estamos pensando, minha senhora. A Pol�cia
<br>daqui n�o inspira confian�a. Temos o direito de admitir
<br>que, a esta hora, j� o nosso colega foi executado. Se foi, algu�m
<br>neste pa�s tem de ser responsabilizado, por todo o Corpo
<br>Diplom�tico. Eu, por mim, j� tomei uma decis�o: vou mudar
<br>de posto. N�o quero correr o risco de voltar ao meu pa�s
<br>no caix�o funer�rio.
<br>E ela, com vivacidade:
<br>
<br>� Mas h� diplomatas que voltam no caix�o mortu�rio,
<br>sem terem sido seq�estrados. Nos postos tamb�m se morre de
<br>morte natural.
<br>Ainda bem que a Sra. D. Encarnaci�n, sempre imensamente
<br>gorda, trazida pelo Embaixador Hernandez, tamb�m repleto
<br>e de cabeleira farta (que lhe subia do meio da testa, quase
<br>a emendar com as sobrancelhas volumosas), tinha chegado
<br>cedo, a anunciar que viria o N�ncio, e mais o Embaixador das
<br>Filipinas, e o Encarregado de Neg�cios de Cuba, al�m do Ministro
<br>Conselheiro da Uni�o Sovi�tica, com os quais o Embaixador
<br>Hernandez se havia encontrado na Embaixada inglesa,
<br>ao fim da tarde.
<br>
<br>Agora, � recep��o dos seus quarenta anos, quantos convidados
<br>faltariam, al�m do Ministro das Finan�as? Provavelmente,
<br>no correr da manh� e da tarde, outras corbelhas chegariam:
<br>umas, por cortesia; outras, para dizer que os convidados
<br>n�o viriam. No entanto, ela pr�pria, e tamb�m o Rodrigo,
<br>tinham deixado de atender a muitos empenhos, at� de acad�micos,
<br>de artistas, e de gr�-finos da alta roda, sem espa�o
<br>para todos eles na amplid�o do parque.
<br>
<br>257
<br>
<br>
<br>O Lucas Caetano, dois dias antes, tinha achado para o
<br>caso a boa solu��o:
<br>
<br>� Vais me dizer quantos lugares sobram, e deixa o caso
<br>comigo.
<br>2
<br>
<br>Como as p�lpebras lhe pesassem, deixou-se estar quieta,
<br>ouvindo o apito espa�ado dos guardas que redobravam a ronda
<br>noturna, enquanto a vira��o da madrugada sacudia as �rvores,
<br>assustando os c�es, que repetiam seus latidos.
<br>
<br>Nisto, na saleta de seu escrit�rio, viu chegar a Evangelina,
<br>tinindo as esporas, a bater no cano de uma das botas o
<br>chicotinho de vime, com um bon� na cabe�a, os cabelos louros
<br>descendo para os ombros. Sorria, aproximando-se:
<br>
<br>� N�o te espantes por eu ter vindo aqui. Vim retribuir
<br>tua visita. E para te bater. � o que mereces. H� gente na mis�ria,
<br>sem ter o que dar aos filhos, e tu nadas em dinheiro. Dinheiro
<br>que roubaste de tua melhor amiga, a quem tomaste o
<br>noivo. Todas n�s, da Escola Normal, te conhecemos como a
<br>palma das nossas m�os. � por isso que te detestamos. E eu
<br>vim aqui te castigar, Patr�cia.
<br>Patr�cia viu-lhe o rosto desfigurado, destacando-se na claridade
<br>da janela, com o bra�o erguido a empunhar o chicote.
<br>Despertou, exaltada, como se fosse efetivamente conter a agress�o,
<br>e deu de frente com o Rodrigo, batendo palmas e cantando
<br>parab�ns. Banhado e barbeado, com o suspens�rio a lhe
<br>subir para os ombros compactos, s� faltava vestir o palet�.
<br>
<br>E ele, ajudando-a a levantar-se, enquanto retinia, para o
<br>lado da rua, a sineta do port�o:
<br>
<br>� � o Padre Revoredo que est� chegando.
<br>O Padre Revoredo... O bom Padre Revoredo. Fiel � batina,
<br>� tonsura e � pasta preta que sempre sobra�ava, miudinho
<br>e apressado, levando sempre consigo os paramentos de seu of�cio,
<br>para atender �s ordens de Deus.
<br>
<br>258
<br>
<br>
<br>Aparecia de repente e de repente desaparecia, sem que se
<br>soubesse por onde andava. Na verdade, andava pelo interior,
<br>casando, batizando, pregando, aconselhando, ajudando a morrer.
<br>Meses depois, ei-lo de volta � cidade. O mesmo Padre Revoredo.
<br>Contente. Prestativo. Queimado de sol. Um pouco mais
<br>torto pelo peso da pasta preta. E dizendo baixinho, como se
<br>contasse um segredo:
<br>
<br>� Ningu�m vai para o Inferno. Deus n�o deixa. Deus �
<br>pai.
<br>Fazia uma semana que estava de volta. Telefonara para
<br>Patr�cia, na mesma voz macia, no pr�prio dia do regresso:
<br>
<br>� J� estou aqui para o anivers�rio.
<br>E ali vai ele, debaixo de um velho chap�u de padre, com
<br>a sua batina ru�a e a sua pasta repleta. Caminha pela alameda
<br>do parque, depois de ter parado um momento para admirar
<br>
<br>o tablado, o coreto enfeitado de palmas, as l�mpadas entre as
<br>�rvores, os lampi�es apagados, as mesas em volta da piscina.
<br>Parou um momento, extasiado, e comentou, abrindo o sorriso
<br>generoso:
<br>� Desta vez a festa vai ser maior. Bem maior. Maior que
<br>todas as outras. Louvado seja Deus.
<br>Logo retomou o passinho contente, parecendo que ia correr,
<br>saltar, dar um pontap� na bola invis�vel; mas n�o se alterou,
<br>seguiu o seu caminho enquanto o Ludovico, ainda abotoando
<br>o d�lm� da manh�, corria ao seu encontro, para lhe
<br>dizer que a Sra. D. Patr�cia estava acabando de preparar-se.
<br>
<br>E o padre, compreensivo:
<br>
<br>� Que n�o se apresse. Sou eu que estou adiantado.
<br>Na curva da alameda, como ao fundo de uma gruta, deu
<br>de frente com a capelinha j� aberta, precedida pela cruz de
<br>pedra, reluzindo ao sol o seu revestimento de azulejos. Dentro,
<br>quase todos os criados, nas roupas de ver a Deus. Nas paredes
<br>laterais, o leve tra�o de um desenho de Cocteau. Mais
<br>adiante, ladeando o altar singelo que o crucifixo encimava, dois
<br>vitrais esguios, abrindo na parede a claridade colorida.
<br>
<br>Padre Revoredo esgueirou-se pela porta da sacristia, para
<br>dali sair paramentado, saudando com a m�o feliz os criados
<br>que o olhavam, reverentes, ao fundo da nave. Acendeu as ve
<br>
<br>
<br>259
<br>
<br>
<br>las, alisou a toalha do altar, corrigiu a posi��o do Evangelho,
<br>mudou de lugar a sineta, conferiu as hostias, chegou mais para
<br>perto os santos �leos, risonho, festejado pela luz que se fazia
<br>mais viva na fresta vertical dos vitrais.
<br>
<br>Sempre sorrindo, perlongou a orla de bancos, e saiu ao
<br>adro, depois de apertar as m�os pressurosas que se estendiam
<br>em sua dire��o. C� fora, na curva da alameda, alongou o olhar
<br>� espera da Sra. D. Patr�cia e do Sr. Dr. Rodrigo, ouvindo o
<br>pipilo dos passarinhos, admirando as �rvores, espichando a
<br>vista para o azul forte do c�u, que j� queria esmaecer. Seguiu
<br>
<br>o v�o de uma abelha, chegou a estender o bra�o para a borboleta
<br>que lhe passou defronte dos olhos; admirou aqui uma
<br>�rvore, ali outra, outra mais, at� que repentinamente se alvoro�ou,
<br>vendo que Patr�cia e o Dr. Rodrigo vinham � altura da
<br>piscina, de bra�os dados, m�os entrela�adas, aligeirando os
<br>passos.
<br>Precedido pelas m�os jubilosas, Padre Revoredo parou na
<br>volta da alameda, e entrou com os dois na capelinha, segurando-
<br>lhes as m�os, sempre a sorrir, sempre a acenar com a
<br>cabe�a grisalha.
<br>
<br>Logo o Rodrigo se adiantou e veio apertando a m�o dos
<br>criados, enquanto Patr�cia falava baixo ao Padre Revoredo, s�ria,
<br>como se lhe confiasse um segredo, a que ele correspondia
<br>movendo a cabe�a, com as m�os na estola. E uma emo��o
<br>maior a dominou, subindo-lhe ao rosto, umedecendo-lhe os
<br>olhos, ao ver que toda gente estava agora de p� na pequena
<br>igreja repleta, por entre os repiques da sineta de prata sacudida
<br>pela m�o cabeluda do Ludovico, ao p� do altar.
<br>
<br>Durante quase toda a missa, Patr�cia segurou a m�o do
<br>marido, mesmo de joelhos, no momento da eleva��o. Como
<br>seria a vida, depois dos quarenta anos? Entregava-se � bondade
<br>de Deus. At� ali, por entre pequenos sobressaltos, fora
<br>f�cil a caminhada. Que lhe importava, agora, o susto terr�vel,
<br>durante a turbul�ncia do avi�o, na pen�ltima viagem a Paris?
<br>Ou o m�s de hospital, com o Rodrigo operado? E depois a convalescen�a
<br>longa, que parecia n�o ter fim? Felizmente tudo havia
<br>ficado para tr�s. No confronto das tribula��es e das venturas,
<br>dos contratempos e da paz de esp�rito, mesmo incluin
<br>
<br>
<br>260
<br>
<br>
<br>do a morte de M�e Ded� e de seu pai, o prato da misteriosa
<br>balan�a da vida pendia em seu favor. Dava de ombros ao �dio
<br>est�pido da Evangelina. Atirava para um lado, superiormente,
<br>os telefonemas insultuosos, as cartas an�nimas, os despeitos
<br>despropositados, os ressentimentos idiotas, as invejas mesquinhas
<br>e cavilosas, para apenas lhe restar, como uma prote��o,
<br>como uma fortaleza interior, a paz consigo mesma- e o
<br>sentimento de gratid�o por tudo quanto a vida lhe havia proporcionado.
<br>
<br>
<br>De joelhos, curvou mais a cabe�a, sobre cujos cabelos se
<br>estendeu a luz nervosa dos c�rios do altar, e disse consigo mesma,
<br>emocionada, reconhecida:
<br>
<br>� Sou grata tamb�m, meu Deus, por ter recebido a gra�a
<br>de haverdes tocado o cora��o da Simone, que superou a m�goa
<br>injusta que tinha de mim. � noite, ela tamb�m estar� aqui,
<br>superando queixas e amarguras, de novo minha amiga, como
<br>no tempo da Escola Normal.
<br>E por um momento, ainda de cabe�a curvada, as m�os
<br>no rosto, deu por si subindo a escada do p�tio, ao lado da Simone,
<br>no caminho da sala de aula. E ambas riam, ouvindo
<br>
<br>o ru�do dos passos nos degraus de m�rmore, com a sineta a
<br>bater de novo pelo fim do recreio.
<br>3
<br>
<br>Como Padre Revoredo vinha ali todos os anos, dando a
<br>impress�o de que usava ainda a mesma batina das primeiras
<br>missas, pareceu a Patr�cia que o velho amigo iria novamente
<br>repetir-se, com os mesmos gestos, as mesmas entoa��es corridas.
<br>Mas, n�o: tinha agora uma express�o mais viva, mais contente,
<br>e todo ele se rejubilava, na luz dos olhos, na vivacidade
<br>das m�os, ajustando-se � capelinha florida, na celebra��o da
<br>missa gratulatoria. E essa alegria se acentuou no momento da
<br>comunh�o, com a h�stia na ponta dos dedos, defronte da emo��o
<br>de Patr�cia:
<br>
<br>261
<br>
<br>
<br>� Que Deus a aben�oe � conseguiu dizer-lhe.
<br>Depois da missa, percorrendo de volta o caminho da alameda,
<br>na dire��o da casa ensolarada, para o caf� obrigat�rio
<br>na saleta da copa, Padre Revoredo tornou a dizer � Patr�cia
<br>e ao Rodrigo, aligeirando entre os dois o passinho apressado:
<br>
<br>� N�o me esque�o que devo aos meus bons amigos o sino
<br>de duas igrejas. Sempre hei de vir aqui com a minha gratid�o.
<br>E Rodrigo, retraindo-se:
<br>
<br>� A mim o senhor n�o deve nada, Padre Revoredo. Fale
<br>s� para a Patr�cia.
<br>A mim, n�o.
<br>E o padre, de cabe�a meio torta:
<br>
<br>� Aos dois, aos dois. Ela fez a promessa, mas foi o meu
<br>amigo que assinou o bonito cheque, cobrindo todas as despesas,
<br>e ainda acrescentou a esmola para os meus pobres e o donativo
<br>para a creche e a maternidade. Deus n�o esquece. Nem
<br>eu, seu humilde vig�rio.
<br>Sim, sim, fora dela a promessa, no �nico ano em que a
<br>capelinha, naquele mesmo dia, tinha ficado fechada, com o
<br>Rodrigo no hospital, e ela � sua cabeceira, com medo de perd�lo.
<br>Mas tudo dera certo ao fim da convalescen�a vagarosa, e
<br>ali estavam os dois, lado a lado, ambos com sa�de, ambos amigos,
<br>ambos reconhecidos � bondade divina, que os aben�oava
<br>e protegia.
<br>
<br>E o padre, para Patr�cia, quando iam subindo a escada
<br>por tr�s da casa em alvoro�o:
<br>
<br>� Vem mesmo a sua amiga? Tamb�m rezei por ela. Sabe
<br>que fui eu que batizei a Simone? Sim, fui eu. Fico contente
<br>em saber que ela vem. E vai ficar aqui? Muito bem.
<br>Por volta das dez horas, vestida para sair, Patr�cia mandou
<br>dizer ao Expedito que tirasse o carro da garagem e ordenou-
<br>lhe que a levasse ao Convento de Santo Ant�nio. Precisava de
<br>um amparo, uma prote��o, um apoio sobrenatural que lhe apaziguasse
<br>o vago temor que teimava no seu esp�rito e que nada
<br>explicaria. Somente a missa de todos os anos n�o lhe bastara.
<br>Embora menos possessiva, a ansiedade tornava a afligi-la, como
<br>uma premoni��o.
<br>
<br>Debalde tentara dispensar a companhia do guarda de se
<br>
<br>
<br>262
<br>
<br>
<br>guran�a, instalado no banco da frente, espada�do e corado.
<br>Chegara mesmo a pedir-lhe, ao descer do carro, que ficasse
<br>ali mesmo: mas j� o homem alto e gordo, de paletoz�o a lhe
<br>descer para os joelhos, tratava de saltar ao p� da escadaria de
<br>pedra, quase a exibir a arma que lhe aumentava a cintura obesa,
<br>e assim a seguiu, escadaria acima, na nova manh� de sol,
<br>enquanto uma revoada de andorinhas tatalava as asas contentes,
<br>por cima do campan�rio da igreja.
<br>
<br>A meio caminho, suplicara-lhe:
<br>
<br>� N�o suba mais, fique aqui. Por favor.
<br>Mas o homem continuou subindo, leve como um bal�o
<br>aceso, e foi postar-se no patamar, no portal do adro, sabendo
<br>que estava ali para proteg�-la. Ela passou, entrou na igreja,
<br>e ele atr�s, com seu olhar agressivo e desconfiado, mesmo defronte
<br>dos t�midos c�rios compridos que iluminavam o altar.
<br>E das velhas devotas, e encolhidas, que salpicavam a nave, aqui,
<br>ali, mais adiante.
<br>
<br>De joelhos, curvada sobre as m�os espalmadas, quase s�
<br>na imensid�o do banco de madeira, Patr�cia procurou
<br>concentrar-se em novo agradecimento a Deus pela vida recebida.
<br>Logo a seguir, entretanto, o vivo sentimento intuitivo do
<br>repentino medo inexplic�vel, que irrompeu novamente na sua
<br>consci�ncia, como um aviso, como uma premoni��o, f�-la estender
<br>o olhar firme para o altar, em busca de um amparo.
<br>Rezou depressa, quase de atropelo, e acabou por dizer a si mesma,
<br>entrela�ando os dedos:
<br>
<br>� Sei que Nossa Senhora me protege. Nada de mau vai
<br>acontecer com o meu marido e comigo. Pelo contr�rio: tudo
<br>vai dar certo.
<br>Ao sair da casa, um dos criados subia a escada com uma
<br>cesta de flores e um cart�o. Ela leu o cart�o espa�oso, e inteirou-
<br>se das desculpas do Embaixador da It�lia por n�o poder vir
<br>� recep��o. Pareceu-lhe, de repente, que outras desculpas an�logas
<br>viriam no correr do dia, de modo que, � noite, permaneceriam
<br>vazias todas as mesas do parque e mais a mesa central,
<br>de frente para o tablado, e onde deveriam sentar, se viessem,
<br>
<br>o Cardeal, o Presidente da Rep�blica, o Ministro da Fazenda,
<br>o Presidente do Banco da Uni�o, os artistas estrangeiros, ela,
<br>263
<br>
<br>
<br>o Rodrigo, o velho diretor da Escola Normal, ainda rijo nos
<br>seus noventa anos. De volta da igreja, encontraria outras cestas
<br>de flores, outros cart�es, outras escusas, e todo o fiasco
<br>da festa malograda seria propalado pelos jornais, pelas revistas,
<br>pelas r�dios, pelas televis�es � os jornais, as revistas, as
<br>televis�es e as r�dios que n�o tardariam a bisbilhotar tudo, em
<br>busca de not�cias, com seus rep�rteres, suas gravadoras, suas
<br>c�meras de olho arregalado.
<br>Das vinte e muitas colegas, cinco j� lhe tinham dito, desde
<br>a v�spera, que n�o podiam vir, umas por motivo pessoal
<br>de sa�de, outras por contratempos de fam�lia. Outras mais n�o
<br>se escusariam, no correr do dia? Certamente. E logo Patr�cia
<br>se fixou na Simone: esta viria, certamente, com seu mist�rio,
<br>com seu ar esguio. Debalde, de si para si, nas �ltimas horas,
<br>tentara compreender-lhe a mudan�a repentina. Como explicar-
<br>lhe a transforma��o? A voz suave com que ela lhe falara nas
<br>duas vezes em que haviam conversado pelo telefone parecera-
<br>lhe a mesma voz da juventude, l� longe, ao tempo em que ambas
<br>vestiam a saia azul e a blusa branca, com a gravatinha unindo
<br>as pontas da gola e adornada pelo n�mero de metal, indicativo
<br>das etapas de curso. Teria o rosto marcado de rugas,
<br>como duas de suas contempor�neas, a Jovita e a Amparo? Ou
<br>conservaria a pele fresca e limpa da adolesc�ncia? J� a Paula
<br>havia recorrido ao cirurgi�o pl�stico para eliminar o perigalho
<br>excessivo que lhe tufava o queixo, descendo para o pesco�o.
<br>
<br>E com o pensamento na Inezita que, antes dos trinta anos,
<br>j� pintava os cabelos para esconder os fios brancos que a envelheciam:
<br>
<br>
<br>� Ela n�o acreditou que a Simone me tivesse telefonado.
<br>E menos ainda quando eu lhe disse que ela viria � minha
<br>casa.
<br>A Paula, por sua vez, se mostrara mais espantada. N�o,
<br>n�o era poss�vel. A Simone? Ali? N�o, n�o acreditava. Mesmo
<br>que a visse no parque, entre as colegas, queria toc�-la,
<br>segurar-lhe as m�os, olh�-la de frente, para ter a certeza de S�o
<br>Tom� com o Cristo.
<br>
<br>E cedo, pela manh�, ao telefonar para lhe dar os primeiros
<br>parab�ns, tinha-lhe contado:
<br>
<br>264
<br>
<br>
<br>� Patr�cia, a Simone vem mesmo. Eu lhe telefonei para
<br>tirar minhas d�vidas. Ela vem. N�o sabe se vem s� ou se vem
<br>acompanhada por um m�dico do Sanat�rio. De qualquer maneira,
<br>vem. E no velho vestido longo de nossa festa de formatura.
<br>Fiquei t�o emocionada que chorei.
<br>Mas a fadista Pepa Navarro, t�o badalada na coluna do
<br>Lucas Caetano, n�o viria, alegando que ia internar-se numa
<br>cl�nica de emagrecimento. Que n�o viesse. Viria o Cardeal. Viria
<br>
<br>o Presidente. Viriam tr�s ministros. O Bal� Nacional. Acad�micos.
<br>Diplomatas. Os agentes estrangeiros do Rodrigo. Os diretores
<br>de empresas. Banqueiros. Deputados. Senadores. Ao
<br>todo, trezentos e dezesseis casais, distribu�dos nas mesas redondas
<br>sob os ramos das �rvores. Para cada convidada, uma
<br>j�ia. E a grande coleta para a instala��o de uma nova creche,
<br>em terreno doado pelo Rodrigo, de acordo com o Cardeal.
<br>Erguendo a cabe�a, de rosto descoberto, Patr�cia tornara
<br>a sentir-se confiante, sabendo que tudo ia dar certo. Tudo. Mesmo
<br>a vinda da Simone. Nossa Senhora estava do seu lado.
<br>
<br>Ao fim dos atos de contri��o, viera deixando nas caixas
<br>das esmolas, uma a uma, os �bolos respectivos. E ao sair da
<br>igreja, antes mesmo de assomar ao patamar de cantaria,
<br>alarmou-se: mais de trinta meninos ali se aglomeravam, quase
<br>todos vestindo apenas uma calcinha curta, com o dorso nu;
<br>mesmo as meninas, que se misturavam aos garotos no alvoro�o
<br>da espera, cada qual com seu rosto desconfiado e suplicante.
<br>
<br>Assustada, buscou com os olhos inquietos o guarda de
<br>seguran�a e viu que este afastava a meninada, r�spido, agressivo,
<br>a abrir-lhe caminho na escadaria longa. De pronto, nervosa,
<br>Patr�cia mergulhou a m�o no fundo da bolsa, tirou dali
<br>um punhado de moedas, atirou-as na dire��o dos meninos e
<br>houve logo um tumulto incontido, por entre gritos e empurr�es,
<br>enquanto ela tratava de descer, inquieta com a disputa
<br>das moedas, em meio a gritos, socos e safan�es.
<br>
<br>E j� o guarda, mais expedito e preocupado, se postara ao
<br>lado de Patr�cia, com a m�o hostil tateando a cintura, enquanto
<br>repelia com o outro bra�o os mais audazes, que reclamavam
<br>mais dinheiro, exigentes, agressivos, enquanto ela tentava escapar,
<br>fugir, nervosa, atrapalhada, atirando no ar outras moe
<br>
<br>
<br>265
<br>
<br>
<br>das e aumentando o tumulto, sem perceber que outros meninos
<br>vinham vindo, atra�dos pelo alvoro�o, e eram agora um
<br>enxame de abelhas agressivas. Uns lhe saltavam para o bra�o,
<br>outros j� lhe puxavam a manga da blusa e a barra da saia, com
<br>for�a, com impaci�ncia, de tal modo que, num relance, ela se
<br>convertera na figura disputada, que cada qual chamava a si
<br>como se quisesse levar consigo algo de seus vestidos ou de seu
<br>corpo.
<br>
<br>E era em v�o que ela, querendo ser r�spida, protestava:
<br>
<br>� Esperem, tenham calma.
<br>Mas o guarda segurou-a pelo bra�o, distribuiu safan�es
<br>para todos os lados, abrindo espa�o entre a escadaria e o cruzeiro,
<br>sem dar ouvido aos protestos de Patr�cia, e a arremessou
<br>para dentro do carro que o Expedito postara ali, prudentemente,
<br>assim que viu os meninos se juntarem nos degraus
<br>da escadaria.
<br>
<br>Ela sentou pesadamente ao meio do banco, irritada, um
<br>lume de ira no olhar, parecendo que ia tornar � cal�ada, mas
<br>se deixou ficar no mesmo lugar, intimidada pelos rostinhos hostis
<br>que a olhavam do outro lado do vidro, no ret�ngulo da porta
<br>fechada, como se fossem arranc�-la dali para castig�-la.
<br>
<br>O carro arrancou, rangeu nos paralelep�pedos da rua os
<br>pneus dianteiros, abrindo caminho e buzinando, ao mesmo tempo
<br>em que Patr�cia, concentrando a sua revolta no guarda de
<br>seguran�a, reconhecia de si para si que, muitas vezes, na revolta
<br>do adulto contra o mundo e a vida, h� a m�goa e o desapontamento
<br>de uma crian�a.
<br>
<br>266
<br>
<br>
<br>SEGUNDO CAP�TULO
<br>
<br>1
<br>
<br>J� penteada, com os cabelos negros deslizando sobre os
<br>ombros, para melhor realce do diadema que s� � noite ela poria,
<br>juntamente com o vestido longo, Patr�cia deu uma volta
<br>pela casa para ver mais uma vez se tudo estava em ordem e
<br>nos seus lugares, e espantou-se com a profus�o das corbelhas
<br>nos sal�es, nos corredores, no vest�bulo.
<br>
<br>E o Ludovico, elegant�ssimo na casaca nova que lhe adelga�ava
<br>o corpo compacto:
<br>
<br>� Outras duas est�o chegando, D. Patr�cia.
<br>Patr�cia levantou mais a cabe�a, envolvida pelo olor forte
<br>das flores, e ordenou-lhe:
<br>
<br>� Leve-as daqui, Ludovico. Aqui, n�o.
<br>Ludovico inclinou a cabe�a:
<br>� Agora mesmo, senhora.
<br>E ajudado por dois gar�ons, desceu com elas para o alpendre,
<br>sob as arcadas de pedra, ao fundo da casa. Vistas do
<br>parque, � altura da piscina, iriam sobressair � noite, na claridade
<br>forte dos lampi�es, como se prolongassem o jardim, tamb�m
<br>profusamente florido. J� ent�o o vento come�ava a soprar,
<br>na mansa vira��o do entardecer, e avivava ainda mais o
<br>cheiro das rosas, dos jasmins, dos cravos vermelhos, e esse olor
<br>continuava a acompanhar Patr�cia, que vinha agora de volta,
<br>no mesmo passo firme que ressoava nos ladrilhos da varanda.
<br>
<br>Ludovico foi ao seu encontro no momento em que ela ia
<br>tornando ao quarto, parecendo mais nervosa:
<br>
<br>� Ordem cumprida, D. Patr�cia.
<br>267
<br>
<br>
<br>Ela, sem conseguir conter-se:
<br>
<br>� H� dias em que o perfume das flores me angustia. Angustia
<br>e bole com os nervos. Como hoje.
<br>Ludovico esbo�ou um sorriso, sol�cito, compreensivo, querendo
<br>acalm�-la:
<br>
<br>� Vai passar, D. Patr�cia. Fique tranq�ila: vai passar. O
<br>dia de hoje � um dia diferente. Tudo vai dar certo. Vai. Os convidados
<br>chegar�o na hora. Na hora chegar�o os m�sicos da
<br>orquestra. O Bal� ser� aplaudido. O jantar n�o poder� ser melhor.
<br>Tudo perfeito.
<br>E como a lembrar-se de repente:
<br>
<br>� Sua amiga do Sanat�rio confirmou que vem?
<br>O primeiro impulso de Patr�cia foi dizer-lhe a verdade:
<br>n�o, n�o confirmara. E logo a seguir:
<br>
<br>� Sim, confirmou.
<br>E o Ludovico, prestimoso:
<br>� Eu disse ao Expedito que antes das seis horas fosse para
<br>o aeroporto. Fiz mais, para n�o haver engano: escrevi em letras
<br>grandes, num peda�o grande de cartolina, o nome da Sra.
<br>D. Simone. Al�m disso, providenciei uma c�pia do retratinho
<br>dela, tirado do quadro de formatura, e ele levou o retrato.
<br>Novamente no quarto, com a chave passada na porta, Patr�cia
<br>estendeu-se ao comprido da cama, cerrando as p�lpebras,
<br>sentindo o alvoro�o da casa em seu redor. Rodrigo, chamado
<br>ao escrit�rio no come�o da tarde, havia-lhe prometido
<br>que n�o demoraria a voltar. Mas, como sempre, chegaria no
<br>�ltimo momento, calmo, risonho, senhor de si. Tanto a Paula
<br>quanto a Inezita, �s voltas com a costureira e o cabeleireiro,
<br>somente apareceriam � hora dos outros convidados. Era consigo
<br>mesma que ela, Patr�cia, devia contar. Pensando bem, antes
<br>assim: ficaria a s�s com a Simone, conversariam as duas como
<br>ao tempo da Escola Normal, com a porta fechada, trocando
<br>emo��es e confid�ncias. Como estaria a Simone? Mudada,
<br>como as outras colegas? Ou conservaria o corpo esguio
<br>de outrora, os olhos grandes, a leve sombra por baixo das �rbitas,
<br>os seios rijos alteados pelo corpete, as m�os bem tratadas?
<br>Queria rev�-la, como se o tempo n�o houvesse passado.
<br>Um longo tempo. Mais de vinte anos. Com os mesmos cabe
<br>
<br>
<br>268
<br>
<br>
<br>los ca�dos para os ombros. Um jeito firme de olhar, com a cabe�a
<br>levemente inclinada. E uma voz suave, macia, harmoniosa,
<br>que n�o se confundia com �de ningu�m, mesmo de longe, pelo
<br>telefone. Num relance, Patr�cia lhe sentiu as m�os nas suas
<br>m�os. Olhavam-se de frente, olhos nos olhos, e ambas riam
<br>como sabiam rir, adolescentes. Ah, o ar s�rio, compenetrado,
<br>com que a Simone lhe dissera, no fundo do p�tio, rente ao muro,
<br>� sombra da velha amendoeira: � N�o notaste que os meus
<br>seios est�o maiores? Est�o. Vi hoje, no espelho, quando me
<br>vestia, e segurei os dois com a concha das m�os. Agora, os
<br>teus e os meus t�m o mesmo tamanho. � E fora ela, Patr�cia,
<br>que propusera: � Vamos medir? � E a Simone, recolhendo
<br>
<br>o riso: � N�o. Isso n�o. S� mulher �-toa � que faz isso. �
<br>Mulher �-toa, mulher falada. Meu Deus, quanta bobagem! E
<br>Patr�cia se alvoro�a, quase a ficar de p�. Senta-se na cama,
<br>sem ouvir o vento que, l� fora, se p�e a torcer as �rvores, como
<br>se o tempo fosse mudar. E interroga-se, refletida no espelho:
<br>que ia dizer � Simone, quando se reencontrassem? E que
<br>diria a Simone, � sua frente, apertando-lhe as m�os?
<br>E como um galho de �rvore fustiga a vidra�a, na janela
<br>ao lado da cama, Patr�cia se assusta. N�o! Deus n�o permitiria
<br>que o mau tempo prejudicasse a sua festa! Num impulso,
<br>torceu o ferrolho, puxou a r�tula, escancarou a janela, enquanto
<br>a rajada, tamb�m impulsiva, tufou a cortina, ondulou-a,
<br>esvoa�ou-a, correu pelo quarto, sacudiu os pingentes do lustre,
<br>balan�ou as portas do orat�rio, amea�ou o penteado de
<br>Patr�cia, e ela se retraiu, olhando por cima das �rvores a nesga
<br>de c�u sombrio.
<br>
<br>Noutro impulso, Patr�cia colheu a cortina, cerrou depressa
<br>a janela, tomada por um medo p�nico. Como fazer, se a chuva
<br>desabasse? Tudo desfeito. Tudo transtornado. Imposs�vel o
<br>Bal� sob o mau tempo. Imposs�vel o jantar ao ar livre, nas mesas
<br>j� arrumadas. O sopro do vento j� teria desfeito os fios de luz
<br>com as lanternas balou�antes. E uma determina��o instant�nea
<br>� cresceu na consci�ncia de Patr�cia: suspender tudo, antes
<br>que fosse tarde. Mas como avisar os convidados? E que
<br>fazer com os que tinham vindo de fora e j� estavam na cidade?
<br>Desatinada, p�s-se a premir a campainha, chamando a Ro
<br>
<br>
<br>269
<br>
<br>
<br>sa e o Ludovico. E foi este que primeiro apareceu, irrompendo
<br>pelo v�o da porta com ar assustado. Mas n�o tardou a voltar
<br>ao semblante sereno, entrela�ando as m�os confiantes por
<br>cima do peito:
<br>
<br>� Ontem, soprou de repente o mesmo vento maluco. Depois,
<br>com o cair da tarde, a nuvem escura se desfez, o c�u tornou
<br>a abrir e fez uma noite de lua cheia. Incompar�vel. Hoje,
<br>vai ser a mesma coisa.
<br>2
<br>
<br>Novamente no quarto, com a porta fechada, n�o voltou
<br>a deitar-se. Primeiro, postou-se defronte do orat�rio, de joelhos,
<br>rezando, para que o temporal n�o desabasse. E ali ficou,
<br>por quase uma hora, repetindo as ora��es, com o ouvido �
<br>escuta do ru�do do vento, l� fora. Depois, levantando-se, assim
<br>que lhe pareceu ter diminu�do a f�ria das rajadas, tornou
<br>a postar-se defronte da janela, a olhar a nesga de c�u por tr�s
<br>da vidra�a, sempre com o ter�o a lhe pender das m�os fervorosas,
<br>e a repetir as ora��es.
<br>
<br>Aos poucos foi tendo a impress�o de que o dia se desanuviava,
<br>com as �rvores quietas, as nuvens escuras a se desfazerem.
<br>Devagar, cautelosamente, para que o vento n�o lhe desfizesse
<br>o penteado, entreabriu a janela, alargou mais a fresta,
<br>debru�ou-se para fora, e p�s-se a rir � de um riso nervoso
<br>e convulsivo � ao reconhecer que se desfizera a amea�a do
<br>mau tempo, exatamente quando a tarde se esva�a, com a primeira
<br>estrelinha por cima do leque das palmeiras, longe, ao
<br>fundo do parque.
<br>
<br>Ouvindo o ru�do de um carro, veio mais para fora, e p�de
<br>ver que o Expedito ia tirando a limusine da garagem, para
<br>ir ao aeroporto, enquanto come�ava por toda parte, na amplid�o
<br>da casa, na amplid�o do parque, um alvoro�o mais vivo,
<br>com os criados a corrigirem com as vassouras apressadas os :
<br>estragos da ventania, varrendo as folhas ca�das, juntando os
<br>
<br>270
<br>
<br>
<br>galhos quebrados. Ludovico, j� com o vistoso colar de arauto
<br>por cima do peito da camisa engomada, ia de um lado para
<br>outro, diligente, autorit�rio, rigoroso, determinando provid�ncias,
<br>controlando a limpeza, dando ordens � ao mesmo tempo
<br>que iam chegando os m�sicos da orquestra, aos dois, aos
<br>tr�s, cada qual com o seu instrumento, conduzidos ao coreto
<br>pelos guardas de seguran�a.
<br>
<br>Em breve, uma lua grande e prematura, redonda, amarela,
<br>apontou sobre a capelinha, luminosa e ornamental, � espreita
<br>da festa, e foi recebida pelo latido dos c�es, subitamente
<br>excitados, como a suspeitar que os fogos de artif�cio, mais
<br>tarde, j� noite alta, iriam subir ao c�u e ali se desfazerem,
<br>abrindo-se em clar�es imensos, para se derramarem em chuveiros
<br>coloridos.
<br>
<br>A Rosa, nesse instante, bateu na porta do quarto:
<br>
<br>� J� est� na hora de vestir-se, D. Patr�cia.
<br>E Patr�cia, ajudada por ela, p�s o vestido longo, chegado
<br>de Paris dois dias antes, e olhou-se no espelho grande, reconhecendo
<br>que n�o poderia ser mais belo, na sua simplicidade
<br>e eleg�ncia, ajustando-se-lhe ao corpo nas medidas exatas,
<br>tornando-a mais alta, destacando-lhe os seios e o colo moreno.
<br>
<br>A Rosa n�o conteve o louvor:
<br>
<br>� Nunca vi a senhora t�o linda, D. Patr�cia. De dar orgulho
<br>na gente. Sim senhora. A senhora parece que tem de novo
<br>vinte anos, no m�ximo vinte e cinco. Suas colegas v�o ficar
<br>de queixo ca�do; algumas, com uma bruta inveja. E com raz�o.
<br>E com raz�o. O tom do vestido, o acabamento, o corte,
<br>tudo perfeito. E a senhora, dentro dele, ainda mais bonita.
<br>Benza-a Deus, D. Patr�cia.
<br>Deixada s�, Patr�cia ouviu ru�do na pe�a cont�gua, reconheceu
<br>que o Rodrigo estava de volta, e abriu devagar a porta
<br>sobre o quarto do marido, para aparecer-lhe de repente.
<br>
<br>E ele, ao v�-la, enquanto acabava de compor no espelho
<br>a borboleta da gravata:
<br>
<br>� Est�s uma deusa, minha mulher. Uma deusa.
<br>E ficou um momento a admir�-la, repetindo o olhar com
<br>que a vira entrar na igreja, com o bra�o direito no bra�o do
<br>velho Frias, diretor do Banco Nacional e seu padrinho, prece
<br>
<br>
<br>271
<br>
<br>
<br>dida pela menina linda, que vinha vindo devagar, com a salva
<br>de prata onde brilhavam as alian�as.
<br>
<br>E Patr�cia, aproximando-se:
<br>
<br>� Est�s olhando para mim como me olhaste na igreja,
<br>na hora de nosso casamento
<br>� adivinhou.
<br>E ele, tratando de vestir o smoking:
<br>
<br>� E com um orgulho ainda maior, querida.
<br>Segurou-lhe as m�os, sem desviar os olhos �midos, como
<br>se as l�grimas lhe fossem descer sobre as bochechas, mas
<br>logo se p�s a rir gostosamente, abotoando o smoking.
<br>
<br>E antes que ela, com ar de espanto, lhe perguntasse por
<br>que estava rindo, tratou de dizer-lhe, ainda com o riso a sacudir-
<br>lhe a papada por cima do colarinho alto:
<br>
<br>� Sabes de quem me lembrei, na hora em que o tempo
<br>pareceu que ia mudar? Daquela tua amiga, a Embaixatriz gorda,
<br>debaixo de chuva. E como ela vem, trazendo o marido,
<br>tamb�m gordo, tamb�m mal vestido, pensei nos dois, aqui em
<br>cima, trazidos novamente por ti, como dois pintos molhados,
<br>e vim rindo no autom�vel, a caminho de casa.
<br>E recolhendo o riso:
<br>
<br>� A Simone vem mesmo?
<br>� O Expedito j� foi busc�-la.
<br>3
<br>
<br>Mal a noite ca�ra, todas as luzes da casa e do parque tinham
<br>sido acesas. E n�o apenas as das l�mpadas e dos lampi�es
<br>� tamb�m as dos holofotes, que se projetavam no sentido
<br>do tablado, restituindo o verde vivo das folhas nas �rvores
<br>circundantes.
<br>
<br>Parecia que um clar�o imenso se abrira sobre todo o quarteir�o,
<br>abrangendo as casas vizinhas, alongando-se � fachada
<br>dos edif�cios, dando � rua a luz do meio-dia. Tinha uma beleza
<br>nova o leque das palmeiras ria alameda principal. Por toda
<br>parte, numa anima��o de meninos no recreio, o colorido das
<br>
<br>272
<br>
<br>
<br>fl�mulas e dos estandartes que a vira��o constante estremecia.
<br>E mais alta, j� de todo redonda, a lua enorme, subindo
<br>devagar por cima dos mais; altos ramos, ao fundo do parque.
<br>
<br>O trecho da rua em frente, no limite das ruas paralelas,
<br>tinha sido interditado, para que ali somente passassem os carros
<br>dos moradores. Mais tarde, � hora da recep��o, somente
<br>circulariam os carros que exibissem um convite, com o distintivo
<br>no p�ra-brisas.
<br>
<br>Foi a Rosa que veio busc�-la:
<br>
<br>� Venha ver, D. Patr�cia. Antes que cheguem os convidados.
<br>Ela abriu a porta, atravessou o sal�o, saiu � varanda, e
<br>p�de abranger, no batente da porta, numa vis�o de conjunto,
<br>com as sobrancelhas alteadas, todo o cen�rio da festa, com
<br>as mesas, os reflexos na piscina, as bandeirinhas nervosas, e
<br>os criados e gar�ons indo e vindo, por entre as mesas postas,
<br>todos nas roupas de gala, imponentes e excitados.
<br>
<br>E a Rosa, transbordante:
<br>
<br>� Olhe ali os m�sicos da orquestra. At� um piano foi levado
<br>para o quiosque. Mais para c�, voltado para os m�sicos,
<br>o estrado do maestro. Por tr�s do tablado, os bastidores dos
<br>bailarinos. Aqui perto, sobre o estrado de dois degraus, � a
<br>mesa grande, onde a senhora vai sentar. Perto da senhora vai
<br>ficar a sua amiga que o Expedito foi buscar. A do Sanat�rio.
<br>� sua direita, o Presidente da Rep�blica. Seu amigo Lucas Caetano
<br>veio cedo marcar os lugares. Depois, com o vento que
<br>soprou, fomos eu e o Ludovico que repusemos os cart�es, de
<br>acordo com o plano da mesa.
<br>E o Ludovico, que ouvira a fala da Rosa enquanto subia
<br>a escada, destacando na luz intensa a prata de seu colar:
<br>
<br>� O Dr. Rodrigo acha melhor que os convidados, em vez
<br>de virem c� para cima, assim que chegarem ocupem logo os
<br>lugares nas mesas, de acordo com a indica��o dos convites.
<br>Eu ficarei ao meio da escada, na porta principal, e dali anunciarei
<br>os convidados, � medida que forem chegando, enquanto
<br>a senhora e o Dr. Rodrigo, c� em cima, receber�o os cumprimentos,
<br>como no ano passado.
<br>Mas Patr�cia quase n�o o ouvia, toda ela excitada pelo
<br>
<br>273
<br>
<br>
<br>aparato que a cercava. Como reagiria a Simone, diante de tudo
<br>quanto ia ver, na casa que poderia ter sido sua? Depois de
<br>tantos anos reclusa, tudo ali lhe pareceria o cen�rio de um conto
<br>de fadas, sobretudo quando assistisse � queima dos fogos de
<br>artif�cio. E como se comportaria, ao ver-se defronte do Rodrigo?
<br>
<br>
<br>De volta ao quarto, Patr�cia tornou a passar a chave na
<br>porta, inquieta, alvoro�ada, n�o sabendo como proceder. Iria
<br>esperar a Simone ao p� da escada, para subir com ela,
<br>amparando-lhe os passos? Ou a aguardaria c� em cima, perto
<br>da porta, no seu lugar de dona da casa? Perguntaria ao Rodrigo?
<br>Ou se aconselharia com a Rosa, que havia trabalhado na
<br>Embaixada inglesa?
<br>
<br>E decidindo-se:
<br>
<br>� Se for preciso, vou busc�-la ao p� da escada, para subir
<br>com ela, devagarinho, amparando-a no meu bra�o.
<br>E como estaria a Simone? Muito mudada, como mudaram
<br>a Evangelina, a Cora, a Mercedes? Ou continuaria a parecer
<br>consigo mesma, como a Inezita? Sim, sim, devia ter mudado,
<br>talvez estivesse mais magra, mais p�lida, de olhos aumentados,
<br>ou gordalhona, por for�a da vida sedent�ria. A menos
<br>que continuasse a ter, como outrora, o meticuloso cuidado consigo
<br>pr�pria, na limpeza da pele, no regime alimentar, no banho
<br>demorado, no rigor da roupa branca e dos vestidos. Ainda
<br>gostaria de ler, como antigamente? Ou se limitaria, como
<br>passatempo, a ver a televis�o e a ouvir o r�dio, sem sair da
<br>cama ou da cadeira pregui�osa? Continuaria a ler, certamente,
<br>j� que a vida reclusa, na paz do Sanat�rio, a predispunha
<br>ao prolongado isolamento, a um canto, com um livro diante
<br>dos olhos. A prop�sito: que fora feito dos livros que a Simone
<br>lhe tinha dado, depois de l�-los, ao tempo da Escola Normal?
<br>
<br>E a um clar�o da mem�ria:
<br>
<br>� Est�o no mirante, na mesma estantezinha de madeira
<br>que ganhei aos quinze anos, presente da m�e de Simone.
<br>Estariam l�, com certeza, protegidos pelo mesmo papel
<br>celofane, com seu nome de solteira na folha de rosto. E eram
<br>muitos, quase cem, ou talvez mais. Se se tivesse lembrado antes,
<br>teria trazido alguns para o quarto, e iria rev�-los com ela,
<br>
<br>274
<br>
<br>
<br>antes que chegassem os outros convidados. Agora, n�o teria
<br>mais tempo, com o alvoro�o que ia por toda a casa, j� com
<br>os m�sicos l� fora, no quiosque, afinando os instrumentos.
<br>
<br>Nisto Patr�cia olhou � rel�gio, sentindo que seu cora��o
<br>se contra�a. Pelo tempo, j� o avi�o da Simone teria chegado.
<br>Naquele momento, ela estaria no carro, trazida pelo Expedito.
<br>E quanto tempo ficaria ali? Somente uma noite, para voltar
<br>no dia seguinte? Ou concordaria em passar alguns dias, descansando
<br>da vida no Sanat�rio? Mandara preparar-lhe o quarto,
<br>ao fundo da casa, com pintura nova, cortinas novas, o guarda-
<br>roupa, a c�moda de M�e Ded�, a cama espa�osa, sem esquecer
<br>a televis�o e o r�dio, e mais as rosas frescas na floreira e
<br>as frutas na fruteira. De uma das janelas Simone poderia ver
<br>a piscina, a alameda, o caminho para a capela. Veria tamb�m
<br>uma nesga do jardim. E com muito sil�ncio � sua volta, apenas
<br>interrompido, ou pelo sussurro do vento, ou pelo canto
<br>dos passarinhos.
<br>
<br>Convicta, Patr�cia concluiu:
<br>
<br>� Ela vai gostar.
<br>De prop�sito, sobre a c�moda, pusera o quadro de formatura
<br>perto do orat�rio de madeira, com o Cristo, alguns santos
<br>antigos,e as duas velas nos casti�ais de prata. Na mesa-decabeceira,
<br>as �ltimas revistas, ao alcance da claridade do abajur.
<br>Na outra cabeceira, o Novo Testamento, que ela sempre
<br>gostava de ler � noite, antes de dormir.
<br>
<br>Ouvindo o ru�do de um carro, Patr�cia tornou � janela,
<br>olhou no sentido do port�o, por tr�s do vidro, sem descerrar
<br>a r�tula. Sim, era mesmo o Expedito que vinha chegando. Pensou
<br>em correr ao vest�bulo para receber a Simone. Mas ficou
<br>um momento em d�vida se ele a havia trazido. Depressa entreabriu
<br>a r�tula. E logo deixou o quarto, atravessou o sal�o,
<br>entrou no vest�bulo, sempre com a lembran�a da figura esguia,
<br>de longo vestido branco, que punha o p� para fora do carro,
<br>dando a m�o enluvada � m�o morena que o Expedito lhe
<br>oferecia.
<br>
<br>275
<br>
<br>
<br>TERCEIRO CAP�TULO
<br>
<br>1
<br>
<br>Estavam ali as duas, uma a olhar para a outra, com as
<br>m�os nas m�os, sem que pudessem falar: Simone, com a fisionomia
<br>devastada, os grandes olhos im�veis, um vinco forte
<br>a unir-lhe o canto da boca ao canto do nariz, sem pintura, uma
<br>leve camada de p�-de-arroz acentuando-lhe a palidez; Patr�cia,
<br>reprimindo o choro, e sorrindo, muito bem maquilada, as
<br>p�lpebras levemente descidas.
<br>
<br>E foi Patr�cia que primeiro conseguiu falar:
<br>
<br>� Simone, est�s �tima. Como se o tempo n�o houvesse
<br>passado. O mesmo rosto. Os mesmos olhos. O mesmo porte.
<br>E ia dizer-lhe que seu vestido era lindo, assim a lhe cair
<br>aos p�s, e que seu sapato alto a tornava mais esbelta, mas soube
<br>conter-se, com receio de que a voz a tra�sse na representa��o
<br>da mentira, e limitou-se a apertar-lhe ainda mais as m�os
<br>geladas:
<br>
<br>� Que saudade de n�s duas, Simone: tu, tomando nota
<br>na aula de l�gica do Professor Avertano; eu, de m�os baixas,
<br>em cima do colo, a preparar o avi�ozinho de papel que iria
<br>atirar ao p�tio, no fim da li��o. Depois, l� embaixo, o teu car�o
<br>afetuoso.
<br>O velho vestido da formatura, com que a Simone ali estava,
<br>envelhecera como envelhecera a pr�pria Simone � um
<br>pouco largo na cintura, com as mi�angas incompletas no peito
<br>ca�do, a barra desequilibrada pelo ventre alteado, as mangas
<br>guardando os vincos do guarda-roupa, e cheirando a naftalina.
<br>
<br>
<br>277
<br>
<br>
<br>E Simone, j� come�ando a acalmar-se:
<br>
<br>� Quase que eu n�o vinha. Senti que ia fazer m� figura
<br>com este vestido. Ontem, com o alvoro�o da viagem, me cansei
<br>um pouco. Tive de tomar um calmante. Felizmente a viagem
<br>foi r�pida.
<br>E num sorriso triste que lhe vincou mais o rosto:
<br>
<br>� Foi a primeira vez que viajei de avi�o. No come�o, tive
<br>um pouco de medo; depois, fiquei mais calma. Cheguei a
<br>passar pelo sono, no meio da viagem. E aqui estou, como te
<br>prometi.
<br>Patr�cia acudiu, vendo-a olhar em volta, � procura de uma
<br>cadeira, como se as pernas lhe quisessem faltar:
<br>
<br>� Senta-te aqui na poltrona.
<br>E Simone, numa voz baixa:
<br>� Eu preferia me deitar. A esta hora, sempre me deito.
<br>E Patr�cia, muito terna, muito sol�cita, segurando-lhe o
<br>bra�o:
<br>
<br>� Vem aqui para meu quarto. Tu te deitas enquanto eu
<br>acabo de me preparar. E assim ficamos conversando.
<br>Simone veio vindo, sempre com os olhos deslumbrados.
<br>Parou a meio caminho, como a refazer-se da travessia do sal�o:
<br>
<br>
<br>� Mudaste muita coisa em tua casa. Nada como a m�o
<br>do dono. Foste tu que puseste este espelho? Aqueles jarr�es
<br>chineses n�o estavam aqui. N�o me lembro deles. Bonitos retratos,
<br>Patr�cia. Principalmente o de M�e Ded�. Tamb�m aquele
<br>piano � novo.
<br>E Patr�cia, confirmando, sem largar-lhe o bra�o:
<br>
<br>� Sim, � verdade. O espelho veio da fazenda dos pais do
<br>Rodrigo.
<br>E Simone, contraindo as sobrancelhas, no esfor�o para
<br>avivar a mem�ria apagada:
<br>
<br>� Da fazenda? Fui l� duas vezes. N�o me lembro desse
<br>espelho. Os jarr�es tamb�m vieram de l�?
<br>� Os jarr�es e o piano foram comprados por mim, num
<br>leil�o do velho pal�cio dos Castro Pinto.
<br>E Simone, ap�s um sil�ncio:
<br>
<br>� E as duas marinhas holandesas? Lindos, esses quadros.
<br>278
<br>
<br>
<br>No tom que eu gosto. A luz ao fundo, muito suave, e mais perto,
<br>quase na penumbra, o recorte dos dois barcos. Se me perguntassem
<br>qual dos dois eu preferia, preferiria os dois. Lindos.
<br>
<br>Tornou a alongar a vista para os dois retratos a �leo, demorando
<br>mais tempo no de M�e Ded�, at� recolher o olhar
<br>pensativo, como se lhe tirasse o brilho, ensimesmada. E sem
<br>se voltar para Patr�cia:
<br>
<br>� Minha m�e deixou tamb�m um retrato como o de M�e
<br>Ded�. Me fazia chorar, sempre que olhava para ele. Terminei
<br>por tir�-lo da parede. Quero me lembrar dela viva. Cheguei
<br>a sonhar que o retrato sa�a da moldura, como um fantasma.
<br>N�o, isso n�o.
<br>E adiante, voltando de relance a cabe�a, numa vis�o circular:
<br>
<br>
<br>� Moras mesmo num pal�cio, Patr�cia. Tudo aqui est�
<br>perfeito, cada coisa no seu lugar. Com muito bom gosto. Muita
<br>harmonia. Desde a entrada, com aqueles dois et�opes negros
<br>sobre o pedestal de alabastro. Os tapetes. Os m�veis. Aquele
<br>lustre. Italiano? Logo vi.
<br>Suspirou, subindo o peito. E passado outro sil�ncio:
<br>
<br>� Tens a casa adequada a uma mulher feliz.
<br>E percebendo a claridade forte que vinha do parque, de
<br>mistura com os primeiros sons da orquestra:
<br>
<br>� Orquestra? Vai ser no parque o jantar? N�o me digas.
<br>Posso olhar daqui?
<br>E ela pr�pria orientou seus passos para a varanda larga
<br>que acompanhava o quarto de dormir. Parou na varanda, antes
<br>de apoiar-se na balaustrada de m�rmore:
<br>
<br>� Que maravilha, Patr�cia. Isto � um sonho. Como as �rvores
<br>ficaram mais bonitas com o clar�o dos holofotes. N�o
<br>me digas que vamos ter fogos de artif�cio. Vamos? N�o � poss�vel.
<br>Aposto que foi o Rodrigo que teve essa id�ia. Foi? Eu
<br>n�o disse? E aquele tablado, que se reflete na �gua da piscina?
<br>N�o, n�o pode ser. O Bal� Nacional vem aqui? Isso � um sonho,
<br>Patr�cia. E onde vamos ficar, n�s, as tuas colegas?
<br>� Elas, nas mesas da alameda; tu, n�o. Ficar�s comigo,
<br>naquela mesa maior, voltada para o tablado.
<br>Um sil�ncio.
<br>
<br>279
<br>
<br>
<br>E Simone, buscando o bra�o da outra para apoiar-se:
<br>
<br>� De vez em quando me canso. Ultimamente tenho tido
<br>umas vertigens. V�m, e passam. Felizmente. Agora mesmo tive
<br>uma. J� estou acostumada. Onde est� teu quarto?
<br>E parada no batente da porta enquanto se refazia da nova
<br>emo��o:
<br>
<br>� Eu me lembrava daquela cama sobre o estrado. N�o
<br>me lembrava da c�moda nem dos guarda-roupas.
<br>E dando mais um passo para tornar a parar:
<br>
<br>� Ao lado deste quarto era o gabinete de trabalho do Rodrigo.
<br>No outro lado, o quarto de vestir. Lembro-me bem. Como
<br>se tivesse morado aqui. Onde est� o orat�rio grande, de
<br>duas portas, que o Rodrigo ganhou de um amigo quando fez
<br>vinte e cinco anos? � aquele? Eu me lembrava dele como se
<br>fosse bem maior. � sim, � ele. Estou me lembrando da pintura
<br>de dentro, com aquelas florinhas. E do Cristo portugu�s.
<br>Tornou a amparar-se no bra�o da Patr�cia. E junto � cama:
<br>
<br>� Eu me deito naquele sof�, Patr�cia. N�o quero desfazer
<br>a cama,
<br>que est� t�o bem arrumada.
<br>Mas j� Patr�cia abrira espa�o na colcha bordada:
<br>
<br>� Aqui mesmo, Simone. Aqui. � este o meu lado. Deita-te.
<br>E Simone, alongando-se ao comprido do leito:
<br>� N�o vou teimar contigo.
<br>Patr�cia ajustou-lhe a cabe�a ao travesseiro, corrigiu-lhe
<br>a barra do vestido, tirou-lhe os sapatos:
<br>
<br>� Bem sabes que a casa tamb�m � tua. Eu, se fosse tu,
<br>ficava aqui uns dias. Mandei preparar teu quarto, na outra ala
<br>da casa, abrindo sobre a piscina.
<br>2
<br>
<br>Simone ensaiou levantar-se, mas logo voltou a acomodar
<br>a cabe�a no travesseiro, enquanto Patr�cia, puxando para perto
<br>da cama a cadeira mais pr�xima, lhe ponderava:
<br>
<br>280
<br>
<br>
<br>� N�o te levantes. Ainda � cedo. Descansa mais um pouco.
<br>S� perto das dez horas chegar�o os outros convidados.
<br>E sorrindo, ao ver que Simone, olhando-a pela fresta das
<br>p�lpebras, tamb�m lhe sorria?
<br>
<br>� S� eu sei a minha alegria em te ver aqui no meu anivers�rio.
<br>� o meu melhor presente. Mais importante que tudo
<br>quanto recebi no dia de hoje.
<br>Simone alongou o bra�o, dando-lhe a longa m�o gelada,
<br>de finas unhas escarlates, que Patr�cia acomodou nas suas:
<br>
<br>� V� se dormes um pouco � prop�s Patr�cia.
<br>Simone, quieta durante alguns momentos, sem erguer de
<br>todo as p�lpebras, terminou por trazer o corpo para cima, alteando
<br>a cabe�a no travesseiro:
<br>
<br>� H� muito tempo para dormir, Patr�cia. Muito. Estou
<br>contente de ter vindo aqui.
<br>L� fora, no parque iluminado, o ru�do dos carros que chegavam
<br>ou partiam. De vez em quando o latido de um dos c�es,
<br>que os outros c�es continuavam. E a orquestra a tocar uma
<br>valsa rom�ntica, por entre o tinido met�lico dos pratos e o sibilo
<br>das flautas e violinos que acompanhavam o piano.
<br>
<br>E Simone, tornando a alongar a m�o para o rega�o de
<br>Patr�cia:
<br>
<br>� � a primeira vez que eu volto � nossa cidade, depois que
<br>fui para o Sanat�rio. Pedi ao motorista que passasse pela pra�a
<br>da nossa Escola Normal, sonhando rever o velho pr�dio de azulejos
<br>verdes de nosso tempo, e quase chorei, quando vi em seu
<br>lugar aquele arranha-c�u medonho, com um letreiro luminoso
<br>l� em cima. Um horror. Me deu vontade de saltar do carro
<br>e protestar. Aquelas sacadas, aquelas janelas, aquele portal de
<br>m�rmore, aquela escada, aquele p�tio, tudo destru�do. E por
<br>qu�, meu Deus? Para p�r ali a banalidade daquele espig�o. Eu,
<br>dentro do carro, senti a garganta apertada, os olhos molhados.
<br>Cerrei os olhos, contra� os punhos, descansei a cabe�a no
<br>recosto do banco. E enquanto o carro voltava a correr, reprimi
<br>o choro. Depois, mais calma, refletindo que tudo tem um
<br>fim, que tudo se acaba, revi as ruas, as casas, as pra�as, as
<br>�rvores de nosso tempo, at� chegar aqui.
<br>Suspirou prolongadamente, como em busca do ar que lhe
<br>
<br>281
<br>
<br>
<br>fugia, e tornou a se voltar para a Patr�cia, que lhe buscava no
<br>rosto a amiga de outrora. O perfil era o mesmo, os p�mulos
<br>tamb�m; tamb�m a linha da boca, o queixo dividido ao meio.
<br>Mas o tempo impusera a esse mesmo rosto a sua devasta��o
<br>cruel, s� deixando os olhos grandes e negros, com a pupila levemente
<br>dourada, os c�lios longos, o arco das sobrancelhas maltratadas.
<br>De um lado e de outro, por cima das orelhas, os tufos
<br>de cabelos brancos. Outros fios, tamb�m prateados, subiam-
<br>lhe da testa para a nuca, corridos, espichados, sem um adorno,
<br>no abandono da velhice prematura.
<br>
<br>E Simone, dando mais luz aos olhos:
<br>
<br>� Sempre tive tuas not�cias. Ou por cartas de nossas colegas,
<br>ou por telefonemas delas, ou pelos jornais daqui. Sem
<br>que nos escrev�ssemos, segui todos os teus passos e os passos
<br>do Rodrigo, mesmo nas viagens. E como, no Sanat�rio, temos
<br>assinaturas de revistas daqui, nada me escapou, at� este momento.
<br>Mas nada se compara � vinda pessoal, para olhar de
<br>perto, e ver e ouvir, assim como estou te vendo e te ouvindo.
<br>Posso te fazer uma confiss�o? N�o te zangas comigo? Durante
<br>anos e anos tive em m�os pap�is antigos de nosso tempo
<br>da Escola Normal. Um dia, para te esquecer, destru� tudo, com
<br>�dio, com raiva, e chorando. Cheguei a pedir a duas de nossas
<br>colegas que n�o me mandassem mais nada a teu respeito. At�
<br>que eu pr�pria, um belo dia, voltei a perguntar por ti, embora
<br>n�o deixasse de ter lido, durante todo esse tempo, os jornais
<br>e as revistas que davam not�cias de ti e do Rodrigo. Quase telefonei
<br>para c�, quando li a not�cia de teu desastre de autom�vel.
<br>Acabei dizendo comigo para n�o telefonar: � A Patr�cia
<br>vai se emocionar. E eu tamb�m. O melhor � que cada uma siga
<br>o seu caminho. Deus quis assim, assim seja. � At� que,
<br>de repente, com a not�cia de que ias reunir aqui toda a turma,
<br>mudei de id�ia. E fiz bem. Vejo que fiz bem. Dou gra�as a Deus
<br>por estar aqui.
<br>Inspirou fundo, de olhos entrecerrados, sem reparar que
<br>Patr�cia tinha levado aos olhos a ponta dos dedos, no esfor�o
<br>para reprimir o pranto. E ap�s o sil�ncio, numa voz mais desolada:
<br>
<br>
<br>� Nestes vinte anos, a vida no Sanat�rio me pareceu t�o
<br>282
<br>
<br>
<br>est�pida, t�o cruel, t�o vazia, que tentei me matar mais de uma
<br>vez. Para que continuar com a minha exist�ncia in�til, confinada
<br>em um Sanat�rio de nervosos, sozinha, com as minhas
<br>noites imensas, no t�dio repetido de meus dias ociosos?
<br>
<br>E mostrando os punhos:
<br>
<br>� Est�s vendo estes cortes? Passei aqui a l�mina da gilete,
<br>no meu salto para a eternidade. O m�dico de plant�o, chamado
<br>pela enfermeira da noite, me salvou. Redobraram de vigil�ncia
<br>comigo. At� mesmo a esp�tula de marfim com que
<br>eu abria meus livros, e que era uma lembran�a da Inezita, foi
<br>levada de meu quarto. Noutra vez, atirei-me de uma ribanceira.
<br>Levei mais de um ano a me tratar da coluna, com opera��es
<br>sucessivas. Nunca mais me deixaram sair s� para os meus
<br>passeios ao meio da tarde. Para onde eu ia, l� ia comigo uma
<br>enfermeira, �s vezes, um m�dico, ou um simples empregado
<br>do Sanat�rio. Se eu demorava no banheiro, a enfermeira, com
<br>a chave-mestra, abria a porta. Protestei. Ameacei ir embora.
<br>O padre-capel�o, simp�tico, de voz mansa, n�o deixou. E o
<br>pior � que, no auge dessas crises, eu sonhava contigo, sonhava
<br>com o Rodrigo.
<br>E afiando o ouvido, com a m�o � altura da orelha:
<br>
<br>� N�o � a valsa de Sibelius que a orquestra est� tocando?
<br>Sim, � ela. Valsa de nosso tempo, Patr�cia.
<br>Voltou a suspirar fundo, deixou passar um sil�ncio. E encolhendo
<br>o bra�o para apoiar-se nos cotovelos, subindo um
<br>pouco mais a cabe�a, com os olhos mais vivos:
<br>
<br>� Um dia, de repente, apareceu no Sanat�rio para me
<br>fazer uma visita, adivinha quem. O Padre Revoredo. Lembras-te
<br>dele? Bateu-me na porta do quarto, acompanhado pelo padre-
<br>capel�o. Na mesma batina surrada, espalhando em redor o mesmo
<br>cheirinho do meu tempo de menina, a bondade nos olhos
<br>e nas m�os, risonho, a abrir no risinho feliz a covinha das bochechas.
<br>Passou toda uma tarde comigo. Falou-me de ti, do
<br>Rodrigo, das ajudas que o Rodrigo lhe dava, como se n�o reparasse
<br>na minha fisionomia contra�da. Deu-me uns livros, rezou
<br>comigo o ter�o, e terminou por me dizer que havia vindo
<br>ali tanto para me ver quanto para me fazer um pedido. Mas
<br>que s� pedia se eu prometesse que faria o que me viera pedir.
<br>283
<br>
<br>
<br>Respondi: � Fa�o, Padre Revoredo. � E ele, mais perto de
<br>mim: � Jura mesmo que faz? � Jurei. � E ele, s�rio, segurando
<br>nas duas m�os a minha m�o: � Olhe: voc� vai me dar
<br>a maior alegria da minha vida de sacerdote. A maior. Depois
<br>que me ordenei padre. Depois. Porque essa est� acima de tudo.
<br>Mais abaixo � a alegria que voc� vai me dar, atendendo
<br>ao que vou lhe pedir. � E voltou a me falar de ti, do Rodrigo,
<br>do nosso tempo de Escola Normal. Senti onde ele queria chegar,
<br>mas n�o podia voltar atr�s. E ele: � Prometa que, todas
<br>as noites, vai rezar pela Patr�cia e pelo Rodrigo. � Quase segurei
<br>os ombros dele, no impulso com que me levantei da poltrona:
<br>� Padre, eu n�o posso fazer isso. � E ele, s�rio,
<br>olhando-me nos olhos: � Pode, Simone. Pode. Voc� me prometeu.
<br>Pode. E vai rezar agora. Comigo.
<br>
<br>Um sil�ncio longo. A respira��o da Simone fazia com que
<br>seu peito subisse e descesse, subisse e descesse, repetidamente,
<br>como na �nsia de uma dispn�ia, enquanto os olhos de Patr�cia
<br>se contra�am, reduzidos a uma fresta, no esfor�o para conter
<br>o pranto.
<br>
<br>A orquestra havia parado de tocar.
<br>
<br>E Simone:
<br>
<br>� E eu rezei, Patr�cia. Rezei com ele. Depois rezei todas
<br>as noites. Sozinha. De vez em quando o velho �dio voltava,
<br>e eu interrompia a ora��o. Mas me lembrava do Padre Revoredo,
<br>� minha frente, e segurava novamente o ter�o, rezando. Aos
<br>poucos fui sentindo que podia me lembrar de ti sem que o gosto
<br>de fel me amargasse a boca, ao mesmo tempo em que eu reconhecia
<br>que, se houvesse casado com o Rodrigo, em teu lugar,
<br>eu n�o o teria feito feliz, nem ele a mim. Nasci com este temperamento
<br>estranho, que vem de minha inf�ncia. Deus me fez
<br>assim, assim hei de morrer. Ora querendo estar s�, ora querendo
<br>ter comigo algu�m que seja s� meu, para se consagrar
<br>a mim, para s� pensar em mim, para viver s� para mim. Eu
<br>n�o podia imaginar que te casasses. E menos ainda que te casasses
<br>com o Rodrigo. E foi isso que aconteceu. Exatamente
<br>isso.
<br>E mudando o tom da voz emocionada.
<br>
<br>284
<br>
<br>
<br>� Enxuga teu rosto, Patr�cia. N�o podes receber teus convidados
<br>com a maquilagem desfeita.
<br>Apertou as m�os de Patr�cia, trouxe-as para perto do peito,
<br>e ambas permaneceram em sil�ncio, a se olharem, at� que ambas
<br>sorriram, ainda caladas, sem poder falar.
<br>
<br>3
<br>
<br>Sobre o m�rmore do consolo, por baixo do espelho de moldura
<br>dourada que subia pela parede e aumentava o quarto amplo,
<br>o rel�gio abria em compasso os seus ponteiros fin�ssimos,
<br>marcando nove e vinte e cinco, por entre o tique-taque quase
<br>impercept�vel da m�quina perfeita.
<br>
<br>Defronte do espelho, retocando a maquilagem, Patr�cia
<br>podia ver a Simone deitada ao comprido da cama e que lhe
<br>dizia, numa voz fatigada:
<br>
<br>� Pensei em ter na cidade, perto de minha antiga casa,
<br>um apartamento para passar uma semana, duas, e voltar ao
<br>Sanat�rio. Mas mudei de id�ia. Para qu�? Hoje, a n�o ser uns
<br>primos distantes, que moram no Sul, n�o tenho parentes. E
<br>isso aumenta a minha solid�o. O apartamento teria de ficar
<br>fechado, com algu�m para cuidar dele. Al�m disso, como eu
<br>ia fazer, quando aqui estivesse, para ter quem olhasse por mim?
<br>Era prefer�vel ficar num quarto de hotel. Mas eu tenho horror
<br>a quarto de hotel. N�o, isso n�o. Antes o quarto do Sanat�rio,
<br>onde tenho tudo a tempo e a hora. Leio, ou�o r�dio, vejo
<br>televis�o, rezo, dou meus pequenos passeios, tenho sempre �
<br>minha disposi��o um m�dico ou uma enfermeira, e vou vivendo.
<br>Vivendo a meu modo, metida comigo, at� que Deus me
<br>chame. De vez em quando me volta a vontade de desaparecer,
<br>de sumir, de ir embora do mundo. A solid�o tamb�m cansa.
<br>E muito. Antes o fim.
<br>Tornou a suspirar enquanto o sil�ncio se alongava no quarto
<br>fechado. L� fora, por cima das vozes e dos ru�dos, explodia
<br>de vez em quando um foguete, seguido pelo latido dos c�es.
<br>
<br>285
<br>
<br>
<br>E Patr�cia, mais perto do espelho:
<br>
<br>� Agora voc� j� sabe o caminho: venha para c� quando
<br>estiver cansada do Sanat�rio. O Rodrigo e eu ficaremos muito
<br>contentes em ter voc� conosco. O quarto que lhe preparei
<br>para esta noite fica sendo o seu quarto. Chamo as colegas, providencio
<br>um m�dico � sua disposi��o, ponho um de nossos carros
<br>a seu servi�o exclusivo. Nada lhe faltar�.
<br>A resposta tardou, para vir depois quase inaud�vel:
<br>
<br>� Obrigada, Patr�cia. Me emocionei. Obrigada. S� quero
<br>o quarto por esta noite.
<br>E quando Patr�cia tornou a ficar � sua frente, alongou
<br>
<br>o bra�o, apertou-lhe a m�o, conservando as p�lpebras
<br>entrefechadas:
<br>� N�o te aborre�as comigo se eu te disser que estou me
<br>despedindo da vida.
<br>Estou. Sei que estou.
<br>Patr�cia protestou:
<br>
<br>� N�o diga isso.
<br>� � verdade. Sei que estou � repetiu, convicta.
<br>Patr�cia reteve-lhe a m�o. E afagando-lhe a testa, numa
<br>car�cia lenta que se alongava para os cabelos:
<br>
<br>� Se n�o vieres aqui, para ficar conosco, eu irei ter contigo,
<br>no Sanat�rio. Irei.
<br>
<br>Outro sil�ncio.
<br>
<br>E Simone, erguendo as p�lpebras, como num come�o de
<br>
<br>afli��o, enquanto olhava em volta:
<br>
<br>� Onde est� minha bolsa? Sinto-me cansada, n�o sei se
<br>terei for�as para me sentar � mesa, perto de ti.
<br>Patr�cia trouxe-lhe a bolsa, deixada sobre o bra�o da poltrona:
<br>
<br>
<br>� Aqui est�. Que � que queres?
<br>Simone alteou mais a cabe�a, tateou o fecho da bolsa,
<br>abriu-a, tirou dali o estojinho de prata, ergueu-lhe a tampa.
<br>E com dois comprimidos brancos na ponta dos dedos:
<br>
<br>� Podes me dar um pouco de �gua?
<br>� Sim, sim. Eu mesma vou busc�-la, aqui ao lado, no
<br>gabinete do
<br>Rodrigo.
<br>Quando voltou com o copo, Simone alteou mais a cabe
<br>
<br>
<br>286
<br>
<br>
<br>�a, p�s na boca os comprimidos, sorveu depressa a �gua. E
<br>restituindo o copo:
<br>
<br>� Obrigada, Patr�cia. Agora, vai cuidar de ti. Teus convidados
<br>j� v�o come�ar a chegar. Vai. Eu fico aqui. Quietinha.
<br>Patr�cia tornou ao espelho, acomodou o diadema na cabe�a,
<br>umedeceu na ponta da l�ngua a ponta dos dedos, ergueu
<br>para cima a ponta dos c�lios, correu as m�os pela cintura, como
<br>a espichar o vestido longo. E voltando-se para Simone, caminhou
<br>at� a cama:
<br>
<br>� Descansa mais um pouco. Na hora de descer para o
<br>jantar, eu venho aqui com a Inezita e a Paula. Se estiveres te sentindo
<br>bem, descer�s conosco.
<br>E levou as m�os � boca para conter o grito, ao ver-lhe o
<br>rosto parado, como ausente do mundo, e os olhos abertos e
<br>fixos. Uns olhos imensos, sem o brilho da vida.
<br>
<br>287
<br>
<br>
<br>QUARTO CAP�TULO
<br>
<br>1
<br>
<br>Pobre Patr�cia atarantada e l�vida, de sobrancelhas levantadas,
<br>o medo nos olhos, e que abre de repel�o a porta do quarto,
<br>fecha a porta de repel�o, passa-lhe a chave, e vai andando
<br>depressa, quase a correr, em busca de um amparo.
<br>
<br>E ao dar com a Rosa, que vem vindo do sal�o, tamb�m
<br>apressada, pergunta-lhe, sem disfar�ar o pavor que traz no rosto:
<br>
<br>
<br>� Onde est� meu marido?
<br>Patr�cia sabe que Simone est� morta. Os olhos da outra
<br>a acompanham, negros, grandes, parados. Est�o ali, � sua volta,
<br>acompanhando-lhe os passos, como na afli��o de um pesadelo.
<br>Por que isso, meu Deus? Na sua casa? Naquele momento?
<br>Mesmo que feche os olhos, cobrindo o rosto com as m�os desesperadas,
<br>ter� de v�-los sempre, pelo resto da vida, obsessivos,
<br>atordoantes.
<br>
<br>E a Rosa, caminhando a seu lado:
<br>
<br>� O Dr. Rodrigo j� est� no hall, � sua espera. Foi ele que
<br>me mandou chamar a senhora. O Embaixador espanhol est�
<br>chegando.
<br>Com rapidez, temendo que a chave do quarto, fechada
<br>na m�o nervosa, revelasse o seu"segredo, Patr�cia atira-a para
<br>dentro da carteirinha de prata � a carteirinha que a outra m�o
<br>segurava contra o seio e que ela apanhara de cima do consolo,
<br>n�o sabe como, na precipita��o da fuga.
<br>
<br>E para a Rosa, sempre atarantada, como se houvesse perdido
<br>de repente a orienta��o da casa:
<br>
<br>289
<br>
<br>
<br>� Onde? Onde � que ele est�?
<br>Mas n�o ouve a resposta da Rosa. O que ouve � a voz cheia
<br>do Ludovico, no patamar da escada, solen�ssimo, anunciando:
<br>
<br>
<br>� Sua Excel�ncia o Sr. Embaixador da Espanha e a Sra.
<br>Condessa Rojas y Rojas.
<br>Ainda bem que Patr�cia chega exatamente no instante de
<br>recolher os cumprimentos, postando-se ao lado do Rodrigo,
<br>que se curva para beijar a m�o da Embaixatriz.
<br>
<br>Toda a casa d� a impress�o de que se alvoro�ou de repente,
<br>com os carros que chegam, os carros que buscam espa�o
<br>para estacionar, os carros que buzinam na rua. Aqui, ali, longe,
<br>o apito dos guardas. Nos edif�cios vizinhos, as janelas est�o
<br>repletas, com os semblantes curiosos saindo ao relento da
<br>noite fria, por cima das sacadas, enquanto c� embaixo o cord�o
<br>de isolamento ret�m a multid�o na cal�ada fronteira. A
<br>cada instante o sibilo e o estouro de um foguete. E os c�es a
<br>ladrarem, como se soubessem que a morte est� ali, num dos
<br>aposentos da casa iluminada. Agora, no quiosque, � o Bolero
<br>de Ravel que a orquestra est� tocando. E de s�bito, por cima
<br>das �rvores do parque, cobrindo a lua alta, o imenso chuveiro
<br>colorido do primeiro fogo de artif�cio.
<br>
<br>No atropelo da noite, s� o Ludovico se mant�m ereto e
<br>firme, no seu papel de arauto, fazendo ouvir a voz robusta:
<br>
<br>� Sua Excel�ncia Reverend�ssima o Sr. Cardeal Dom Eurico
<br>Nova e Penha, nosso ilustre Arcebispo.
<br>A fila vagarosa se formou na escada e vem subindo passo
<br>a passo, alongada para as voltas do jardim e do parque. Cada
<br>figura a exibir-se na luz dos refletores, com o luxo dos vestidos
<br>que vieram de Paris; das casacas que vieram de Londres,
<br>e tamb�m dos trajes t�picos, como o do Embaixador da �ndia,
<br>octogen�rio mag�rrimo e alto, com ar de avestruz esquel�tico,
<br>
<br>o turbante a cingir-lhe a cabe�a, o paletoz�o a dar nos joelhos,
<br>as cal�as apertadas nas pernas fin�ssimas, e que tosse alto,
<br>por cima do sibilo dos apitos.
<br>Agora, quem desceu do velho carro de pra�a, vagaroso,
<br>cauteloso, silencioso, � o Embaixador Aranda, repleto de condecora��es
<br>(s� ele), logo seguido pela Sra. Encarnaci�n, que
<br>
<br>290
<br>
<br>
<br>p�e o p� na cal�ada, como se tateasse e apalpasse cada degrau,
<br>ao mesmo tempo em que ergue os olhos assustados para o c�u,
<br>em busca do mau tempo.
<br>
<br>J� na fila da escada, � ele quem explica, quase numa
<br>desculpa:
<br>
<br>� Nosso carro engui�ou quando v�nhamos para c�. Mas
<br>Deus nos mandou um t�xi, que nos caiu do c�u. Um verdadeiro
<br>milagre.
<br>Quando chega a vez do Embaixador Aranda, agora mais
<br>gordo, seguido pela mulher, tamb�m mais gorda e recendendo
<br>a naftalina, ei-lo a lembrar, em voz baixa, ao bom amigo
<br>Ludovico:
<br>
<br>� Non se le olvide que soy el decano del Cuerpo Diplom�tico.
<br>E Ludovico, alteando mais a voz alvissareira:
<br>
<br>� Sua Excel�ncia o Sr. Embaixador Aranda, decano do
<br>Corpo Diplom�tico, acompanhado da Sra. Embaixatriz.
<br>V�o subindo, v�o subindo; passam por Patr�cia e pelo Rodrigo,
<br>sorridentes, efusivos, am�veis, e h� quem traga presentes
<br>nas m�os festivas, e h� quem traga ramos de flores, que
<br>a Rosa prestimosamente recebe das m�os da patroa, para p�los
<br>na mesa do hall. E h� quem se exiba na luz dos refletores
<br>e dos lustres, e caminhe gravemente para o sal�o, as salas, as
<br>varandas, com ar de aprova��o e surpresa, maravilhado, deliciado,
<br>sobretudo quando sabe que o Bal� Nacional j� chegou
<br>e vai exibir-se. Onde est�o os artistas estrangeiros? Vir�o mesmo,
<br>como afirma o Lucas Caetano? Ou se limitar�o a desculpas
<br>tardias? Se n�o querem vir, que n�o venham. O que h�
<br>de mais representativo ali na terra, nas artes, nas letras, nas
<br>ci�ncias, j� vem chegando, na fileira de carros que atravanca
<br>a rua.
<br>
<br>E o Ludovico, nesse momento, anunciando:
<br>
<br>� Sua Excel�ncia o Sr. Presidente da Rep�blica, acompanhado
<br>por Sua Excel�ncia o Ministro-Chefe de seu Gabinete
<br>Militar.
<br>A orquestra, subitamente avisada, com a ajuda dos alto-
<br>falantes, espalha por toda a casa, e pela rua, e pelo parque,
<br>os acordes marciais do Hino Nacional, e todos se perfilam ou
<br>
<br>291
<br>
<br>
<br>se levantam, de m�o no peito, sobretudo o Ludovico, que inclina
<br>a cabe�a, teso, c�vico, grav�ssimo, numa postura de her�i
<br>antes da batalha.
<br>
<br>S� Patr�cia continua desorientada e aflita, com o seu segredo.
<br>L� est� a Paula, com seu novo marido, e mais a Dorita,
<br>e o Professor Damasceno, e o Professor Marinho, e a Nolca,
<br>e a Dulce, e a Peixotinho, todas elas no vestido longo e branco,
<br>com o frisozinho azul, tal como haviam combinado. � medida
<br>que fossem passando, certamente perguntariam pela Simone.
<br>E que ia dizer a cada uma? Que estava morta, no quarto
<br>de dormir? N�o, n�o podia dizer isso. A ningu�m. Por enquanto,
<br>s� ela sabia, e s� ela deveria saber, durante toda a noite,
<br>at� que fosse embora o �ltimo convidado. Como calar os criados,
<br>que tinham visto a Simone chegar? E o Expedito, que a
<br>fora buscar no aeroporto?
<br>
<br>Houve um momento em que, chamando a Rosa para perto,
<br>p�de ordenar-lhe, enquanto o Rodrigo abra�ava com efus�o
<br>ruidosa o presidente do Banco da Rep�blica:
<br>
<br>� N�o digas a ningu�m que a D. Simone est� a�. Ela chegou
<br>muito cansada. Tomou um calmante e est� dormindo. Se
<br>perguntarem por ela, diga que n�o veio. A todo mundo.
<br>E para a Inezita, que vinha vindo, anunciada pelo Ludovico:
<br>
<br>
<br>� A Simone n�o veio.
<br>E como receou que a sua voz nervosa e o seu rosto inquieto
<br>a tra�ssem, deu um passo para abra�ar o Professor Avertano,
<br>meio curvo, de papada severa, pl�cido, ombros largos,
<br>chap�u de feltro e bengala de cast�o de prata, e que repetia
<br>a desculpa que viera dando na subida da escada:
<br>
<br>� E a minha roupa das solenidades. N�o quis faltar. Preferi
<br>vir assim mesmo. De jaquet�o azul.
<br>292
<br>
<br>
<br>2
<br>
<br>Num relance, ali mesmo no hall, recebendo os �ltimos convidados,
<br>Patr�cia teve a revela��o exata do que havia acontecido:
<br>Simone viera � sua casa com a determina��o de matar-se,
<br>pouco antes da recep��o � para impedir-lhe a festa!
<br>
<br>Tudo havia sido preparado por ela, com ast�cia, friamente,
<br>calculadamente. De in�cio, o telefonema para se queixar de n�o
<br>ter sido convidada; depois, a hora escolhida para chegar ali,
<br>j� com a casa em alvoro�o. Ela pr�pria, conhecendo os aposentos,
<br>se havia orientado no sentido do quarto de dormir. De
<br>repente, a queixa de que estava cansada. Sentara-se na cama,
<br>tirara os sapatos, deitara-se. Calma. Senhora de si. Por fim,
<br>a conversa longa sobre as tentativas de suic�dio no Sanat�rio.
<br>O t�dio da vida reclusa. A bolsa de onde tirara o estojo de prata
<br>com os dois comprimidos. O copo de �gua que pedira a ela,
<br>Patr�cia, e que ela, Patr�cia, tinha ido buscar. Depressa, a olh�la,
<br>Simone tinha tomado, de uma s� vez, os comprimidos.
<br>
<br>E era como se Patr�cia ainda estivesse a ouvir-lhe a voz
<br>no fecho da cena:
<br>
<br>� Agora, vai cuidar de ti. J� v�o chegar os convidados.
<br>Retoca a maquilagem. P�e o diadema.
<br>Sempre fria. Contendo a emo��o. Como uma grande atriz
<br>quando j� vai cair o pano, no �ltimo ato da pe�a. Ou quando
<br>
<br>o pano vai subir. No in�cio da pe�a, ap�s as pancadas rituais
<br>nos bastidores.
<br>E Patr�cia, de si para si, entrando no sal�o maior, repleto
<br>de amigos, e de onde subia o ru�do das vozes, no sussurro das
<br>conversas em voz alta:
<br>
<br>� N�o, ela n�o me estraga a festa. Vou me comportar
<br>como se nada houvesse acontecido. A chave do quarto est� comigo.
<br>Aqui. Ningu�m vai saber que a Simone est� ali, morta.
<br>Vou esperar sair o derradeiro convidado para contar tudo a
<br>Rodrigo.
<br>E j� no meio do sal�o, entre as colegas da Escola Normal,
<br>sempre a falar para si:
<br>
<br>293
<br>
<br>
<br>� Sei que vou p�r � prova os meus nervos. Mas � assim
<br>que vou fazer. Com a ajuda de Deus. Deus vai me dar for�as.
<br>E a Adalcinda, que deixara na Escola Normal a fama de
<br>suas perguntas impertinentes:
<br>
<br>� Como �, Patr�cia: a Simone vem ou n�o vem? N�o vem?
<br>Ela disse por qu�? Voc� n�o acha que era o caso de uma de
<br>n�s telefonar para o Sanat�rio, para saber o que houve?
<br>E Patr�cia, com o cora��o disparado, tentando dominar-se:
<br>
<br>� Ela pr�pria, quando telefonou, n�o me deu a certeza
<br>de vir. Viria, se estivesse passando bem. Se n�o veio, � porque
<br>achou que n�o podia vir. Ou ela, ou seu m�dico.
<br>E seguiu o seu caminho, nervosa, inquieta, falando aqui,
<br>falando ali, sem que lhe sa�ssem da mem�ria os olhos imensos
<br>da Simone, parados, sem brilho. Via-os � sua frente, para
<br>onde quer que se voltasse. O rosto l�vido. As m�os em cima
<br>do peito. Morta. E a cada instante, no hall, no sal�o, na varanda
<br>sobre o parque, a lhe falarem dela.
<br>
<br>A Paula, dando-lhe o bra�o quando desciam para o parque,
<br>tinha-lhe dito:
<br>
<br>� Estranho muito que a Simone tenha desistido da viagem.
<br>Ainda ontem, pelo fim da tarde, ela me falou. Queria
<br>saber como estava o tempo, se devia trazer o casaco ou a gabardina.
<br>J� havia preparado a maleta de viagem. L� mesmo
<br>no Sanat�rio tinham-lhe posto o friso azul do vestido. O velho
<br>vestido longo de nossa formatura.
<br>Tamb�m ali na escada, descendo devagar, em meio � multid�o
<br>que igualmente ia descendo, a Inezita se ofereceu � Patr�cia:
<br>
<br>
<br>� N�o queres que eu telefone daqui para ela? Em dois
<br>minutos saber�amos o que houve.
<br>E a Patr�cia, nervosa:
<br>
<br>� N�o, n�o. Amanh� eu mesma falo.
<br>Durante todo o jantar, sentada ao centro da mesa, defronte
<br>do Presidente da Rep�blica e do Cardeal, Patr�cia redobrou
<br>de esfor�os para dominar seus nervos tensos, sempre a lembrar-
<br>se da Simone ao comprido da cama, l�vida, os grandes olhos
<br>parados. Houve mesmo um momento em que esteve para
<br>levantar-se, querendo gritar, querendo dizer tudo, como se n�o
<br>
<br>294
<br>
<br>
<br>mais pudesse esconder a morta, por entre o estouro dos foguetes,
<br>o chuveiro colorido dos fogos de artif�cio, as melodias
<br>da orquestra.
<br>
<br>Para afligi-la ainda mais, o Presidente e o Cardeal, � sua
<br>frente, do outro lado da mesa, tinham-se posto a discutir, interminavelmente,
<br>sobre as apari��es da Virgem na Iugosl�via,
<br>nas quais o Presidente, por uma quest�o de bom senso, n�o
<br>acreditava.
<br>
<br>Ainda bem que o palco do tablado n�o tardou a abrir-se,
<br>sobre o fundo de veludo escarlate, com o jorro de luz dos holofotes
<br>a acompanhar os bailarinos de branco que iam surgindo
<br>dos dois lados dos bastidores, como nos movimentos de uma
<br>revoada, que ora se unia, ora se dispersava, j� agora destacando
<br>o bailarino esguio e alto, que parecia suspenso no ar, rodopiando,
<br>depois de tocar o piso do palco com a ponta dos p�s.
<br>
<br>E enquanto as palmas estrondavam, aplaudindo o bailado
<br>na suavidade das flautas e dos violinos, por entre as notas
<br>destacadas do piano, Patr�cia continuava a ver a Simone morta,
<br>no seu quarto, com os olhos imensos voltados para o teto.
<br>Absorta, ora torturava a ponta do guardanapo, ora esfarelava
<br>migas de p�o, e todo o seu desejo, longe do bailado, longe da
<br>orquestra, longe dos convidados que lhe sorriam, era que tudo
<br>aquilo acabasse depressa, para que ela contasse tudo ao Rodrigo.
<br>Qual seria a rea��o dos amigos que a rodeavam, sorrindo,
<br>aplaudindo, admirando, quando soubessem que, exatamente
<br>naquele momento, havia l� em cima um cad�ver, fechado �
<br>chave, no quarto de dormir? Que diriam os jornais quando
<br>a not�cia se espalhasse?
<br>
<br>Num momento, Patr�cia firmou os p�s no ch�o, pronta
<br>para arrastar a cadeira e levantar-se. Por pouco, de p�, junto
<br>� mesa, teria dito:
<br>
<br>� Meus amigos, minha colega Simone est� morta, no
<br>meu quarto. Matou-se de prop�sito, aqui, para se vingar de
<br>mim. N�o � mais poss�vel continuar nossa festa. Desculpem.
<br>Mas continuou calada, com o olhar aflito, voltando a torturar
<br>o guardanapo. De pronto, reagiu: n�o, n�o diria nada.
<br>Se dissesse, faria o jogo da Simone. Porque era exatamente isso
<br>que a Simone havia imaginado. Toda gente a levantar-se,
<br>
<br>295
<br>
<br>
<br>at�nita, atordoada, para deixar as mesas; a orquestra parando
<br>de tocar; o bailado interrompido, e o ru�do das cadeiras
<br>arrastadas, e os convidados de p�, transfigurados pela consci�ncia
<br>de que, em meio a tantas luzes, a tanta alegria, a tantos
<br>fogos de artif�cio, havia uma pessoa morta no quarto de
<br>dormir. Somente os c�es, ladrando espa�adamente, pareciam
<br>saber a verdade. E tamb�m as flores, as flores de tantas corbelhas,
<br>ali embaixo, no v�o das arcadas, tomando toda a varanda
<br>circundante, e que pareciam desprender um olor mais vivo,
<br>mais forte, como num vel�rio.
<br>
<br>E Patr�cia, reanimando-se, ao ver que o bailado chegava
<br>ao fim, com a cortina do tablado a se fechar:
<br>
<br>� Agora j� falta menos, meu Deus.
<br>De repente os refletores se apagaram. Na noite alta, o c�u
<br>estrelado. Uma vira��o macia a sacudir de leve os ramos das
<br>�rvores. E sempre o latido dos c�es. E sempre o cheiro das
<br>flores.
<br>
<br>O c�u se abriu num clar�o colorido, e os chuveiros foram
<br>compondo o nome de Patr�cia, por cima das �rvores mais altas,
<br>sob a lua serena. Mil cores a se desfazerem, por entre palmas.
<br>Por cima da mesa, Rodrigo estendeu as m�os para Patr�cia,
<br>emocionado, sem lhe falar. E ela, n�o podendo reprimir
<br>
<br>o pranto:
<br>� Obrigada, querido. Obrigada por tudo.
<br>3
<br>
<br>Ela tornava a querer que o tempo passasse depressa, desfazendo
<br>a festa, apagando as luzes, levando dali todos os convidados,
<br>e o tempo flu�a devagar, numa lentid�o opressiva,
<br>torturando-lhe os nervos, atordoando-a, como se tudo � volta
<br>s� tivesse por objetivo lev�-la ao desespero, conduzi-la � loucura.
<br>Por qu�, meu DeuS? Por qu�?
<br>
<br>J� n�o sabia mais o que fazer para acalmar-se, para dissimular,
<br>para fingir. Tudo quanto se passava � sua volta � o
<br>
<br>296
<br>
<br>
<br>riso alheio, as conversas em voz alta, as perguntas que lhe faziam,
<br>o gesto das colegas a lhe indagarem em sil�ncio pela Simone,
<br>o tom de voz do Cardeal, os galanteios do Presidente
<br>da Rep�blica, o estouro dos foguetes, os novos fogos de artif�cio,
<br>a solicitude dos gar�ons em servi-la, o ar solene com
<br>que o Ludovico passava por entre as mesas, a insist�ncia com
<br>que o Rodrigo queria saber o que ela estava sentindo, o cheiro
<br>ativo das corbelhas � tudo, absolutamente tudo, mesmo a solicitude
<br>da Rosa a lhe sorrir para perguntar se precisava dela,
<br>tudo a oprimia, afligindo-a, angustiando-a. Queria levantar-
<br>se para pedir que todos os amigos fossem embora, que os gar�ons
<br>desaparecessem de sua vista, que a orquestra deixasse de
<br>tocar, que o Ludovico parasse o latido dos tr�s c�es, e continuava
<br>sentada na sua cadeira, ao centro da mesa, a esfarelar
<br>migas de p�o, sentindo que o ar lhe faltava, sempre a lembrar
<br>a Simone morta, l�vida, os olhos imensos, no seu quarto, na
<br>sua cama.
<br>
<br>Houve um momento em que acenou para o marido, tentando
<br>dizer que lhe queria falar, e o Rodrigo atirou-lhe um beijo,
<br>na ponta dos dedos, depois de mover o polegar para cima,
<br>reconhecendo que a festa n�o poderia ter sa�do melhor.
<br>
<br>E o Lucas Caetano, nesse momento, insinuando a cabeleira
<br>perfumada por cima de seu ombro esquerdo:
<br>
<br>� Agora, sou eu que vou te fazer uma surpresa. Prepara-
<br>te. Segura bem teu cora��o, querida.
<br>Logo se retraiu, sorrindo, aos pulinhos, e esgueirou-se por
<br>tr�s das mesas, para reaparecer ao centro do palco, no c�rculo
<br>de luz dos refletores, ladeado por uma velha gorda, de cabelo
<br>atravessado por um grande alfinete, e de um senhor mag�rrimo,
<br>meio curvo, trajando uma casaca surrada, colarinho alto,
<br>uma rosa na lapela.
<br>
<br>Ao sussurro das vozes, ao ru�do dos risos, ao estampido
<br>dos foguetes, sucedeu um sil�ncio gradativo, somente interrompido,
<br>de momento a momento, doridamente, pelo ladrar dos
<br>c�es.
<br>
<br>E o Lucas Caetano, gracioso:
<br>
<br>� Numa festa t�o linda, t�o perfeita, n�o poderia faltar
<br>o desmancha-prazer, que sou eu.
<br>297
<br>
<br>
<br>Risos. Protestos. Um ar benevolente do Cardeal.
<br>
<br>O Lucas Caetano agradeceu, tomou um ar humilde, inclinou
<br>a cabe�a, a m�o no peito. E prosseguindo:
<br>
<br>� Aqui, � minha direita, est� a D. Adelina; � minha esquerda,
<br>o Sr.
<br>Frederico. Novinhos em folha. Muito bem.
<br>Uma pausa para reprimir o riso. E grave, s�rio:
<br>
<br>� A Sra. D. Adelina e o Sr. Frederico est�o aqui para agradecer.
<br>Ela, antiga vedete de nossos teatros de revista; ele, exm�gico,
<br>t�o famoso que se exibiu em Londres, perante a Rainha
<br>M�e. N�o, n�o riam. Estou falando s�rio. Um momento.
<br>Um momento. A Sra. D. Adelina e o Sr. Frederico moram, hoje,
<br>no Repouso dos Artistas, juntamente com vinte e duas atrizes
<br>e trinta e seis atores, cada qual no seu cantinho bem arrumado,
<br>gra�as � minha boa amiga Patr�cia e ao meu bom amigo
<br>Rodrigo. Foram eles que me ajudaram a realizar, com as b�n��os
<br>do nosso Cardeal, aqui presente, essa obra maravilhosa,
<br>de que tanto me orgulho. Mod�stia � parte.
<br>Palmas prolongadas.
<br>O Cardeal se levantou, fez uma v�nia reconhecida com
<br>as m�os e a cabe�a, depois acenou para o Lucas Caetano.
<br>E o Lucas Caetano, movendo para baixo as m�os espalmadas:
<br>
<br>
<br>� Sil�ncio. Muita aten��o. A Sra. Adelina vai exprimir
<br>a sua gratid�o � nossa aniversariante e ao nosso anfitri�o com
<br>o n�mero de m�mica que a levou ao Lido, de Paris, ao tempo
<br>em que era esbelta e de que ainda h� vest�gios.
<br>D. Adelina deu uma volta sobre si mesma, por entre risos
<br>demorados, exibindo os quadris excessivos, os peitos grandes,
<br>e um rosto contente, quase caricato.
<br>E o Lucas Caetano, repetindo o apelo das m�os:
<br>
<br>� Por favor: sil�ncio. Logo depois do n�mero de D. Adelina,
<br>o Sr. Frederico nos brindar� com a sua mais famosa m�gica.
<br>A �nica, ali�s, a que o Papa consentiu em assistir aben�oando
<br>o artista.
<br>E o velho, radiante:
<br>
<br>� � verdade, � verdade � confirmou.
<br>Patr�cia voltou a retrair as pernas pensando em levantar-
<br>se e ir embora. N�o, n�o suportava mais ficar ali. Estava aci
<br>
<br>
<br>298
<br>
<br>
<br>ma de suas for�as. Queria correr, escada acima, para refugiar-
<br>se... N�o, n�o podia fechar-se no seu quarto. L� estava a Simone,
<br>morta. A Simone, l�vida. A Simone, no seu leito. A Simone,
<br>de olhos parados, sem brilho, voltados para o teto.
<br>Imensos.
<br>
<br>D. Adelina vinha agora de uma das extremidades do palco,
<br>apoiando as enx�ndias nos sapatos de salto alt�ssimo. Parecia
<br>na ponta dos p�s, equilibrando-se no bico das sapatilhas.
<br>O punho direito na cintura. Requebrando-se. Ao meio do palco,
<br>parou, estendeu a m�o para um interlocutor imagin�rio.
<br>Sorriu. Recuou, defendendo os seios. Depois, dobrando a cabe�a
<br>para um lado e rindo de modo brejeiro, p�s a m�o invis�vel
<br>sobre o seio esquerdo, que ela alteou, para mostrar que era
<br>mesmo farto.
<br>Toda uma cena de amor lascivo, numa dobra de rua,
<br>esbo�ou-se, definiu-se, caracterizou-se, quase no limite da obscenidade
<br>absoluta, at� que a velha senhora, restituindo-se �
<br>sua condi��o de matrona, defendeu a barra da saia, antes que
<br>fosse levantada, fez um ar aborrecido, deu as costas, e veio vindo
<br>num passinho brejeiro, � Carlito, como se movesse na ponta
<br>dos dedos, graciosamente, uma bengalinha pelintra.
<br>
<br>Palmas fortes. Houve mesmo quem se levantasse, no impulso
<br>do aplauso, enquanto Lucas Caetano abra�ava e beijava
<br>a gorda senhora, efusivo, emocionado.
<br>
<br>Patr�cia, � for�a de amarfanhar a ponta do guardanapo,
<br>n�o sentira o linho ceder, abrindo um rasg�o pequenino, nas
<br>suas m�os at�nitas. Chegou a acenar para o Ludovico, para
<br>que fizesse o Lucas Caetano sustar a m�gica do velho, mas este,
<br>senhor do palco, ia tirando do bolso do colete uma fita imensa
<br>que enrolava na m�o veloz. Puxava a fita de dentro do bolsinho
<br>ex�guo, e a fita ia embolando, embolando na m�o, no
<br>punho, no antebra�o, cobrindo a manga do palet�, volumosamente,
<br>interminavelmente.
<br>
<br>De repente, o homem magro sacudiu a m�o para o alto,
<br>no sentido da plat�ia, e uma revoada de pombos tatalou as asas
<br>assustadas na claridade dos refletores, voou �s tontas, desapareceu,
<br>enquanto o artista, curvando para a frente a cabe�a calva,
<br>recolhia os aplausos, com as m�os erguidas acima dos ombros.
<br>
<br>299
<br>
<br>
<br>E o Ludovico, no alto da escada, assim que as palmas
<br>abrandaram:
<br>
<br>� O jantar est� terminado. A Sra. D. Patr�cia e o Sr. Dr.
<br>Rodrigo convidam os seus amigos, ou para passearem no parque,
<br>ou para visitarem, mais a gosto, os sal�es do solar.
<br>4
<br>
<br>A suavidade da noite, a lua grande a vogar por cima das
<br>mais altas �rvores, as m�sicas que a orquestra ia tocando, a
<br>vira��o macia que ativava o cheiro das flores, os risos, as conversas,
<br>os gar�ons que circulavam por entre as mesas, sol�citos,
<br>repetindo as bebidas, e os fogos de artif�cio que espa�adamente
<br>se desfaziam sobre a piscina, os ramos e as alamedas,
<br>tudo tendia a prolongar a festa at� o novo dia, com as
<br>luzes acesas, os sal�es escancarados, as corbelhas entre os arcos
<br>da varanda, e a Simone l� em cima, no quarto fechado,
<br>morta, de olhos abertos, na cama de casal, com os dois abajures
<br>laterais iluminados e o rel�gio da c�moda contando os segundos,
<br>tique, tique, tique, tique, sem pressa, perenemente, enquanto
<br>o corpo im�vel se desfazia, r�gido, vingativo.
<br>
<br>E quando, por volta das tr�s horas da madrugada, o Sr.
<br>Cardeal acomodou melhor o solid�u na cabe�a calva, j� de p�,
<br>e anunciou que ia embora, com a permiss�o do Sr. Presidente
<br>da Rep�blica e dos caros anfitri�es, outros convidados n�o tardaram
<br>a acompanhar sua Excel�ncia Reverend�ssima, embora
<br>fosse domingo o novo dia.
<br>
<br>Saiu o Presidente, sa�ram alguns Embaixadores, saiu o Professor
<br>Avertano, com a sua papada, os seus olhos empapu�ados,
<br>os seus ombros compactos; sa�ram dois Ministros de Estado,
<br>sa�ram algumas colegas da Escola Normal, banqueiros,
<br>acad�micos, empres�rios, artistas, professores, jornalistas, velhos
<br>amigos do Rodrigo, a eterna Princesa Albertina, perenemente
<br>� espera do golpe de Estado que restauraria a Monarquia
<br>Constitucional � sem que Patr�cia e Rodrigo, de p� � en
<br>
<br>
<br>300
<br>
<br>
<br>trada do vest�bulo, exaustos, destro�ados, pudessem ter, mesmo
<br>em sussurro, corridamente, o mais breve di�logo, recebendo
<br>abra�os, recebendo louvores, recebendo apertos de m�o, e
<br>a todos agradecendo e sorrindo, agradecendo e sorrindo, agradecendo
<br>e sorrindo, mesmo para os mais �ntimos como a Paula
<br>e a Inezita, mesmo para os novos amigos que tinham vindo
<br>ali pela primeira vez, e prometiam voltar, e repetiam que nunca
<br>tinham visto uma recep��o igual ou parecida.
<br>
<br>Entretanto, houve um momento em que Patr�cia confessou,
<br>amparando-se no m�rmore do consolo:
<br>
<br>� J� n�o ag�ento mais, Rodrigo. Pelo amor de Deus, n�o
<br>alongues as despedidas. Tenho uma coisa grave a te dizer.
<br>Mas veio vindo a Sra. Encarnaci�n, vagarosa, pendulando
<br>o andar cauteloso, seguida de perto pelo marido, imenso,
<br>a gravata torta, os p�s doloridos nos sapat�es de verniz, o smoking
<br>desabotoado, o peito da camisa crescido, segurando a capa,
<br>segurando o guarda-chuva, segurando na ponta dos dedos um
<br>gordo embrulho em papel celofane, que logo tratou de explicar,
<br>ajudado pelo sorriso bonach�o da Embaixatriz:
<br>
<br>� Comidinhas para o nosso gato, que sempre espera por
<br>n�s, seja qual for a hora, por tr�s da porta da Embaixada.
<br>E a Sra. Encarnaci�n, segurando o bra�o de Patr�cia e forcejando
<br>para lhe falar na ponta dos p�s, mais perto da orelha:
<br>
<br>� Anda muito esquecido, agora, este senhor meu marido.
<br>N�o � mais gato. O gato velho j� morreu. Agora, � uma
<br>gatinha siamesa. Linda. Um amor. E caprichosa. S� dorme
<br>comigo, encolhidinha ao p� da cama, como uma bolinha. Um
<br>sonho, Sra. D. Patr�cia. Um verdadeiro sonho.
<br>E passando o bra�o para o bra�o do Rodrigo:
<br>
<br>� Fa�o quest�o de que me ajude na descida da escada.
<br>Pelo tempo, j� sou da fam�lia. A Patr�cia � como se fosse minha
<br>filha.
<br>E descendo devagar, degrau a degrau, para parar de vez
<br>em quando, com a respira��o curta, ofegante:
<br>
<br>� Sabe o meu bom amigo que, depois daquela famosa
<br>chuvarada, eu, quando venho aqui, sempre trago no carro, para
<br>me prevenir do mau tempo, uma gabardina e uma muda de
<br>301
<br>
<br>
<br>vestido, al�m de outro par de sapatos? Pois � verdade. Prevenid�ssima.
<br>Prontinha para outro dil�vio.
<br>
<br>J� as luzes do parque iam sendo apagadas. O �nibus da
<br>orquestra, repleto de m�sicos, atravessava o port�o. At� mesmo
<br>os gar�ons, sobra�ando a pasta com a roupa do of�cio, iam
<br>se esgueirando para a cal�ada da rua � a larga cal�ada repleta
<br>de convidados que esperavam por seus carros, na sonol�ncia
<br>da madrugada. Ru�do �spero de rodas. �ltimos risos da noite
<br>que n�o tardaria a terminar. E o distribuidor dos jornais a deixar
<br>nas bancas pr�ximas o jornal da manh�.
<br>
<br>Do patamar da escada, olhando a gorda Embaixatriz que
<br>
<br>o Rodrigo ajuda a descer, Patr�cia p�e a m�o na boca, ansiosa,
<br>desesperada, a cada degrau que a imensa senhora deixa para
<br>tr�s. E grita para o Rodrigo, sem conter a afli��o que a
<br>desnorteia:
<br>� Estou � tua espera, Rodrigo.
<br>A Sra. Encarnaci�n sorri, repleta, graciosa, e p�ra, e olha
<br>para o alto:
<br>
<br>� Vou levar seu marido comigo, querida. Pode ficar com
<br>o meu.
<br>E com a costa da m�o rechonchuda afastando o Embaixador
<br>que vem vindo � sua frente:
<br>
<br>� Sobe, Alonso. Patr�cia est� � tua espera.
<br>E ri, e sacode as enx�ndias, e baixa outro degrau, contente
<br>com a festa, contente com a vira��o da madrugada, contente
<br>com a lua pl�cida que come�a a se distanciar e empalidecer.
<br>
<br>
<br>E o Ludovico, ali mesmo no hall, ainda solene, de fisionomia
<br>grave e preocupada, vem mais perto, sol�cito:
<br>
<br>� Posso ajudar a senhora, D. Patr�cia?
<br>� N�o, n�o, Ludovico. Obrigada.
<br>Ludovico n�o insiste, retrai dois passos, sempre de sobrancelhas
<br>travadas, como se estivesse tamb�m a conter-se, grave,
<br>preocupado, com a m�o nervosa na medalha do cord�o que
<br>lhe cai sobre o papo da camisa, e a pega, e a apalpa, e a segura,
<br>dando mesmo a impress�o de que vai tir�-la do pesco�o,
<br>no descontrole da impaci�ncia.
<br>
<br>Patr�cia n�o o v�, absorta no seu desespero. Aflita, anda
<br>
<br>302
<br>
<br>
<br>para um lado e para outro, torcendo as m�os, alongando o
<br>olhar para a escada, sentindo que vai gritar, vai pedir ao marido
<br>que suba, que venha salv�-la, j� n�o sabendo mais o que
<br>fazer de si mesma. E ao da? de novo com o Ludovico:
<br>
<br>� Por que � que est� me olhando assim, Ludovico? V�
<br>para dentro, v�. N�o estou precisando de voc�. Deixe que eu
<br>fecho a porta. Eu e o Rodrigo. N�o se preocupe. V� ajudar
<br>a Rosa a fechar as janelas.
<br>Ludovico baixa a cabe�a. Ainda h� um resto de majestade
<br>na sua figura solene. Volta a erguer o olhar preocupado,
<br>como se j� soubesse que h� algo estranho na casa vazia, cujas
<br>portas e janelas come�am a ser fechadas, por entre o bater das
<br>r�tulas e o torcer dos ferrolhos, enquanto v�m do fundo do
<br>parque os latidos persistentes, como se os c�es soubessem que
<br>a morte est� ali, com a sua imobilidade e o seu sil�ncio. Num
<br>relance, fita os olhos graves no rosto devastado da senhora,
<br>e logo os desvia, com as sobrancelhas contra�das, afastando-
<br>se dignamente no sentido do sal�o.
<br>
<br>Patr�cia lhe ouve os passos e continua a andar, sempre torcendo
<br>as m�os, entre o negro et�ope, que segura a l�mpada
<br>em forma de tocha, e o consolo dourado, que se alonga para
<br>cima do espelho de cristal. E � esse espelho que parece reter
<br>por um momento o olhar ainda mais aflito de Patr�cia, que
<br>subitamente indaga a si mesma:
<br>
<br>� E como vamos fazer para levar daqui o corpo da Simone,
<br>sem que os criados vejam, sem que ningu�m veja?
<br>Imposs�vel. Vir� a Pol�cia. Vir�o os m�dicos do Instituto
<br>M�dico-Legal. Vir�o os jornalistas. Os jornalistas! Sim, sim,
<br>os rep�rteres. E toda a cidade vai saber, e todo o pa�s vai saber,
<br>e todo o mundo vai saber que ela, Patr�cia, manteve o corpo
<br>da Simone morta, no seu pr�prio quarto de dormir, com a porta
<br>fechada, a chave da porta na bolsinha de prata, sem deixar que
<br>ningu�m soubesse, enquanto a casa se enchia de convidados,
<br>e a orquestra tocava, e os bailarinos dan�avam, e explodiam
<br>os fogos de artif�cio.
<br>
<br>Patr�cia olha para o espelho, e interroga a si mesma, levantando
<br>o fino arco das sobrancelhas:
<br>
<br>� E se a Simone continuar ali, sempre fechada?
<br>303
<br>
<br>
<br>N�o, n�o pode ser. Ao fim de um dia, dois, tr�s, o corpo
<br>morto se encarregar� de denunci�-la, e todo o mau cheiro se
<br>espalhar� pela casa, suplantar� o cheiro das flores no jardim,
<br>e descer� � cal�ada da rua, e obrigar� toda a gente a perguntar
<br>de onde vem o olor acre que empesta a casa, com a Simone
<br>a se decompor.
<br>
<br>E Patr�cia, apoiando os cotovelos no m�rmore do consolo,
<br>com a cabe�a entre as m�os:
<br>
<br>� N�o, n�o pode ser. Meu quarto de dormir n�o pode
<br>continuar fechado.
<br>Mas logo volta a olhar-se no espelho, num clar�o de esperan�a.
<br>As palavras n�o lhe saem da boca. Os l�bios n�o se
<br>movem. E o rosto torturado se ilumina enquanto ela afirma
<br>a si mesma, convicta, que o dinheiro do Rodrigo vai resolver
<br>tudo. Ningu�m saber�. Tudo ser� feito em segredo. Os jornais
<br>nada dir�o. A not�cia n�o ser� divulgada pelas televis�es e pelas
<br>r�dios. A Evangelina n�o saber� de nada. Porque o dinheiro
<br>do Rodrigo abafar� tudo, mesmo a maldade fria dos rep�rteres,
<br>mesmo a crueldade da Pol�cia. Tudo. Rigorosamente tudo.
<br>Por ordem do Presidente da Rep�blica. Por ordem do Cardeal.
<br>Ningu�m falar�.
<br>
<br>E o Rodrigo, nesse momento, entrando no hall:
<br>
<br>� Que � que se passa contigo, Patr�cia?
<br>Ela o segura pela m�o, e vem com ele, quase a correr, seguindo
<br>pelo corredor que contorna o sal�o, sem reparar que,
<br>de longe, a espreitar tudo, o Ludovico lhe segue os passos.
<br>
<br>Diante da porta fechada, n�o sabe como abrir o fecho da
<br>bolsa para tirar a chave. Afinal lhe preme a mola, o fecho se
<br>descerra, e ela traz a chave para fora, na ponta dos dedos. Sempre
<br>tr�mula, com o marido a olh�-la, ainda sem compreender
<br>
<br>o que se passa, gira a chave na fechadura, abre a porta de repel�o,
<br>olhando no sentido da cama, onde jaz im�vel o corpo
<br>da Simone, coberto agora pela colcha adamascada.
<br>E Patr�cia, apontando para a cama:
<br>
<br>� � a Simone que est� ali. Matou-se, pouco depois de
<br>ter chegado. De prop�sito. Para acabar com nossa festa.
<br>E mais nervosa, aproximando-se, como se fosse levantar
<br>a colcha:
<br>
<br>304
<br>
<br>
<br>� Algu�m esteve aqui e lhe cobriu o corpo! N�o fui eu
<br>que a cobri. N�o, n�o fui!
<br>E enquanto o Rodrigo, sem poder falar, tamb�m desfigurado,
<br>ergue a colcha, descobrindo o rosto l�vido, o Ludovico
<br>se aproxima, humano, sol�cito, consternado, para dizer � Patr�cia,
<br>que cont�m o grito tapando a boca com a palma da m�o:
<br>
<br>� Fui eu, senhora. Abri a porta com a minha chave-
<br>mestra para ver se a Sra. Simone precisava de alguma coisa,
<br>e compreendi tudo. Acalme-se. Fui eu tamb�m que lhe fechei
<br>os olhos.
<br>305
<br>
<br>
<br>QUINTA PARTE
<br>
<br>Pauvre amie, si je pouvais vous rendre heureuse,
<br>je le ferais avec joie; ce ne serait que justice.
<br>L'id�e que je vous ai tant fait souffrir
<br>m'est � charge. Ne le comprenez-vous pas?
<br>Mais cela ne d�pend (et tout le reste n'a d�pendu)
<br>ni de moi, ni de vous, mais des choses
<br>m�mes.
<br>
<br>FLAUBERT, Lettre � Louise Colet
<br>
<br>The case, I may mention, was that of an apparition
<br>in just such an old house as gathered
<br>us for the occation � an appearance, of a
<br>dreadful kind, to a little boy sleeping in the
<br>room with his mother and waking her up in
<br>the terror of it; waking her not to dissipate his
<br>dread and soothe him to sleep again, but to
<br>encounter also herself, before she had succeded
<br>in doing so, the same sigh that shocked
<br>him.
<br>
<br>HENRY JAMES, The turn of the screw
<br>
<br>C'est si calmant de se repr�senter les choses!
<br>Ce qui est affreux, c'est ce qu'on ne peut pas
<br>imaginer.
<br>
<br>PROUST, D U cot� de chez Swann
<br>
<br>
<br>PRIMEIRO CAP�TULO
<br>
<br>1
<br>
<br>Nada se parece mais, na manh� seguinte, com a casa onde
<br>houve um vel�rio, do que a casa onde houve uma festa. Os
<br>m�veis desarrumados, sobretudo as mesas e as cadeiras. No
<br>ar, em quase todos os aposentos, o cheiro das flores, insinuativo
<br>e persistente. No ch�o, peda�os de papel, restos de jornal,
<br>p�talas soltas e pisadas. Os cinzeiros repletos. Um copo esquecido
<br>no peitoril da janela. E uma impress�o teimosa de perplexidade
<br>ambiente, como se as paredes, as portas, as janelas,
<br>os quadros, os espelhos, sobretudo os espelhos, o piano, mesmo
<br>envolto na capa que o protege, ainda n�o se tivessem refeito
<br>do bul�cio da noite diferente, ali dentro, com todas as luzes
<br>acesas, o vento a correr livremente, a janela que bate, a curiosidade
<br>dos vizinhos que se debru�am nas sacadas pr�ximas,
<br>e sempre o latido dos c�es, desassossegados e nervosos, com
<br>
<br>o mesmo entono, a mesma queixa.
<br>O Rodrigo, ao ver que a manh� vinha abrindo sobre as
<br>�rvores o seu leque de luz vermelha, no ret�ngulo da janela,
<br>voltou a dizer � Patr�cia, que afundara na poltrona da saleta,
<br>amarfanhando o len�o molhado, calada:
<br>
<br>� Vai te deitar, querida. Precisas descansar.
<br>Ela sacudiu a cabe�a, como das outras vezes, para lhe dizer
<br>que n�o. Ficaria ali, � espera. N�o tinha sono.
<br>O Ludovico, ainda de casaca, limitara-se a guardar no bolso
<br>da cal�a o cord�o e a medalha, mas j� n�o exibia mais a
<br>impon�ncia aristocr�tica com que, no patamar, anunciava a
<br>chegada dos convidados. Tinha o rosto vincado, o olhar consternado,
<br>o passo lerdo, e reprimia os bocejos inflando discre
<br>
<br>
<br>309
<br>
<br>
<br>tamente as bochechas, o ouvido atento aos ru�dos da rua, para
<br>o lado do port�o.
<br>
<br>A porta entrefechada deixava ver ainda a luz dos abajures
<br>� cabeceira da cama, no quarto amplo onde jazia a Simone,
<br>e essa luz se ia dissolvendo com a claridade da manh� que
<br>despontava, enquanto o Rodrigo, enrolando e desenrolando
<br>no dedo indicador a corrente de um chaveiro, ia e vinha, ia
<br>e vinha, entre a porta do quarto e a porta sobre o corredor,
<br>tenso, insone, angustiado. Como tirara o palet�, deixado na
<br>costa de uma cadeira, mostrava duas manchas de suor sob os
<br>bra�os, a fivelinha que lhe apertava o colete, a corrente de ouro
<br>do rel�gio, j� sem gravata, o colarinho aberto.
<br>
<br>E Patr�cia, como se de repente houvesse recuperado a fala,
<br>ap�s o sil�ncio longo, ao v�-lo aproximar-se:
<br>
<br>� Sei que eu melhoraria se pudesse chorar. Mas n�o posso.
<br>Tenho os olhos secos, em fogo.
<br>Debalde, mais de uma vez, recostara a cabe�a no respaldo
<br>da poltrona, cerrando os olhos, na esperan�a de passar pelo
<br>sono. Parecia-lhe que bastaria um cochilo leve para que se
<br>acalmasse. Mas a ins�nia persistia, l�cida, renitente, lembrando-
<br>lhe a Simone morta, ali ao lado, com os olhos imensos � os
<br>olhos que iria ver ao longo da vida, sem brilho, os c�lios abertos,
<br>voltados para o teto. Sacudia a cabe�a, no esfor�o v�o para
<br>tir�-los da mem�ria, e eles persistiam, parados, acusativos,
<br>em seu redor, prontos a se fixarem sobre ela, como suspensos
<br>no ar, trazendo consigo o rosto l�vido.
<br>
<br>E o Rodrigo, nesse momento, ouvindo o ru�do de um carro
<br>na rampa do port�o:
<br>
<br>� O Dr. Silva Gomes chegou.
<br>Atirou-se para fora da saleta, lan�ou-se corredor afora,
<br>mais correndo do que andando, e ainda chegou a tempo de
<br>alcan�ar o m�dico no meio da escada, magro, pequenino, sempre
<br>calmo, o bra�o alongado pela bolsa de couro em que trazia
<br>os instrumentos de trabalho mais urgentes.
<br>
<br>E o Silva Gomes, ainda meio a�reo, como se continuasse
<br>a emergir do sono profundo, assim que o Rodrigo, ao longo
<br>do corredor, lhe contou, de atropelo, o que se passava:
<br>
<br>� Pensei que fosse alguma coisa com a D. Patr�cia. Agora,
<br>310
<br>
<br>
<br>fiquei tranq�ilo. E eu conhe�o essa Simone? Ah, sim, sim, j�
<br>sei quem �. Uma senhora que se mudou para um Sanat�rio. Meio
<br>estranha. Amiga de D. Patr�cia. Talvez n�o esteja morta. N�o
<br>nos precipitemos. Calma. Talvez tenha mergulhado num coma.
<br>Vamos ver. Vamos ver.
<br>
<br>Embora apressasse o passo, a caminho do quarto onde
<br>jazia a Simone, Silva Gomes n�o se desprendera de sua calma
<br>natural. Entrou na saleta, beijou a m�o da Patr�cia, e logo desapareceu
<br>na fresta da porta, acompanhado pelo Rodrigo, enquanto
<br>o Ludovico, com os dedos entrela�ados, no v�o da porta
<br>sobre o corredor, rodava com rapidez os polegares, de orelhas
<br>fitas, sem perder de vista a senhora.
<br>
<br>Patr�cia, a princ�pio absorta, como a�rea, depois novamente
<br>tensa, n�o tardou a levantar-se, e levantar-se de impulso,
<br>para voltar a caminhar, na ansiedade dos passos perdidos,
<br>indo e voltando ao comprido do corredor. De vez em quando,
<br>tornando � saleta, parecia decidida a alargar a fresta da porta
<br>e entrar no quarto, mas de pronto se continha, com uma express�o
<br>de medo crescente no rosto devastado.
<br>
<br>E o Ludovico, grave, sol�cito, implorando:
<br>
<br>� V� deitar-se, D. Patr�cia. A senhora precisa descansar.
<br>Tome o seu calmante. V� para o quarto de M�e Ded�. Est�
<br>preparado. A Rosa fica com a senhora.
<br>Patr�cia o olhou de repente, com uma express�o de rispidez
<br>nos olhos dilatados:
<br>
<br>� Ali, onde morreu M�e Ded�? N�o. N�o. Ali, n�o. Nem
<br>no quarto que preparei para a Simone. N�o. Estou bem aqui.
<br>E quase lhe confessou, olhando-o em sil�ncio, com o mesmo
<br>rosto contra�do e devastado:
<br>
<br>� Preciso estar de p�, acordada, como estou agora. N�o,
<br>n�o quero dormir nem ficar s�. Parece que vou ver a Simone.
<br>De repente. Diante de mim. Ela. Viva.
<br>E conseguindo falar mais firme, como em busca de um
<br>apoio:
<br>
<br>� Veja como est�o minhas m�os, Ludovico. Frias. Geladas.
<br>Como as m�os da Simone. Sinto as m�os da Simone nas
<br>minhas m�os. E os olhos dela parados, imensos, diante de meus
<br>olhos.
<br>311
<br>
<br>
<br>E Ludovico, contagiado pelo medo:
<br>
<br>� Reze por ela. Ela precisa de nossas ora��es. Acalme-
<br>se. Tenha f�. Deus sabe o que faz. Ela, onde est�, est� melhor
<br>do que n�s. Descansou. Cumpriu-se a vontade de Deus.
<br>Patr�cia, voltando a caminhar, sem lhe dar ouvidos:
<br>
<br>� Premeditou tudo. Conhe�o a Simone. Sei do que era
<br>capaz. Decidiu, friamente, morrer aqui. P�s em execu��o o seu
<br>plano, sem uma falha. E sem que eu, ing�nua, boba, desconfiasse
<br>de nada. Neste momento, onde ela est�, continua a
<br>perseguir-me. A Simone n�o vai me deixar em paz. N�o, n�o
<br>vai.
<br>A fresta da porta aumentou, o Dr. Silva Gomes saiu, trazendo
<br>no rosto chupado uma express�o contrafeita, seguido
<br>pelo Rodrigo, que cerrou a porta e passou-lhe a chave.
<br>
<br>E Patr�cia, para o m�dico:
<br>
<br>� Morta?
<br>� Morta � confirmou Silva Gomes.
<br>E para o Rodrigo, que trazia os polegares na cava do colete,
<br>apreensivo, com dois riscos verticais a lhe subirem para
<br>a testa:
<br>
<br>� Agora, s� nos resta tomar as provid�ncias de praxe:
<br>aviso � Pol�cia, remo��o do corpo para o Instituto M�dico-
<br>Legal, aviso ao Sanat�rio.
<br>E Patr�cia, desorientada, com os olhos aumentados:
<br>
<br>� A Pol�cia vai vir aqui, doutor?
<br>E enquanto o m�dico confirmava, movendo a cabe�a
<br>apreensiva, ela se voltou para o Rodrigo, segurou-o pelos
<br>ombros:
<br>
<br>� Rodrigo, por favor: n�o deixes que a Pol�cia venha aqui.
<br>N�o deixes. Com a Pol�cia aqui, todo mundo vai saber. Vai.
<br>Teu dinheiro consegue tudo, meu marido. N�o deixes que me
<br>destruam. Porque eu sei que serei destro�ada, dia por dia, hora
<br>por hora. Com as televis�es, com as r�dios, com os jornais.
<br>N�o, n�o consintas, Rodrigo. Pelo amor que me tens. Do contr�rio,
<br>estou perdida. Sim, perdida. Sei que n�o ag�ento o massacre
<br>que vai me envolver, me torturar, me destruir.
<br>E ele, tentando acalm�-��:
<br>
<br>� Tudo vai dar certo. Vai. Confia em mim.
<br>312
<br>
<br>
<br>J� a manh� se abrira por inteiro, com muito sol no parque,
<br>as sombras das �rvores nas alamedas, quando ali chegou
<br>
<br>o Padre Revoredo, como se o houvessem chamado.
<br>O guarda do port�o, que bem o conhecia, deixou-o passar.
<br>E ele foi subindo o pequeno aclive da rampa no seu passo
<br>calmo, vendo no ch�o ensaibrado, que rangia sob a sola de
<br>seus sapatos tortos, os restos da noite festiva: aqui, uma tampa
<br>de garrafa; ali, uma rolha; mais adiante, uma taboca de foguete;
<br>por toda parte, carteiras de cigarros vazias e amarfanhadas;
<br>um guardanapo ca�do ao p� de uma cadeira; cadeiras
<br>desarmadas junto �s mesas. No ar, trazido pela vira��o que
<br>arrepiava o espelho da piscina, o cheiro forte das corbelhas,
<br>ainda enfileiradas ao comprido da varanda.
<br>
<br>De repente, ao completar a volta da casa, para subir � copa
<br>pela escada sobre a piscina, o padre deu de frente com o
<br>carro escuro do Instituto M�dico-Legal, e aumentou o passo,
<br>alarmado, com a aten��o concentrada nos olhos.
<br>
<br>L� no alto, antes de p�r o p� no patamar, viu aproximar-
<br>se o Ludovico, que vinha vindo de cabe�a baixa, ainda na casaca
<br>da noite. E foi ele que lhe disse, em tom de sussurro:
<br>
<br>� Sim, sim, Padre Revoredo. Uma desgra�a. Ontem, de
<br>repente, l� se foi a amiga da senhora. A que vivia no Sanat�rio.
<br>E o padre, recuando um passo, como se fosse cair com
<br>a surpresa da revela��o:
<br>
<br>� A Simone? Aqui?
<br>E depois que o Ludovico, a um canto, ainda em sussurro,
<br>sempre a olhar para os lados, com receio de que algu�m mais
<br>
<br>o escutasse, lhe contou toda a trag�dia, Padre Revoredo abriu
<br>a boca, sorvendo o ar que lhe faltava:
<br>� Oh! Aqui, na noite da festa? E v�o lev�-la agora para
<br>ser autopsiada? Oh, Senhor! M�e Sant�ssima! Eu vinha v�-la,
<br>sabendo que estava aqui. Queria fazer-lhe uma surpresa. Oh,
<br>que transtorno!
<br>313
<br>
<br>
<br>E logo, corrigindo-se, com as m�os para o alto:
<br>
<br>� Deus, na sua infinita sabedoria, � que sabe a vida de
<br>todos n�s.
<br>Ele. Mais ningu�m.
<br>Olhou em volta, como em busca de algu�m:
<br>
<br>� E onde est� Patr�cia? Onde est�? Onde?
<br>E mais aflito, ao saber que o Delegado do Distrito a ouvia,
<br>na saleta fechada:
<br>
<br>� E que � que a Pol�cia tem a ver com isto? Onde anda
<br>o Dr. Rodrigo? Est� com ela, l� dentro? Posso v�-la? N�o posso?
<br>Mas eu sou um padre. Amigo dela. Amigo da fam�lia. Por
<br>que � que n�o posso?
<br>E como o corpo da Simone vinha saindo, trazido na padiola
<br>por dois pretos vestidos de branco, Padre Revoredo pediu
<br>licen�a para acompanh�-los, e subiu ao carro, pondo-se
<br>ao lado do motorista, s� tendo tempo de avisar ao Ludovico,
<br>no tom perempt�rio de quem sabia o que estava fazendo:
<br>
<br>� Eu vou com ela.
<br>As rodas do carro rangeram nos saibros do ch�o, contornando
<br>o fundo da casa, e sa�ram � rua, como impelidas por
<br>uma rajada, para desaparecerem na volta da esquina, por entre
<br>o cicio das primeiras cigarras, enquanto Padre Revoredo,
<br>para acalmar-se, torcia as contas de seu ter�o, com o cigarro
<br>apagado entre o dedo m�dio e o indicador da m�o esquerda.
<br>
<br>De um momento para outro, ao ru�do do carro estranho,
<br>a casa quieta se alvoro�ara, com o ar de espanto dos criados,
<br>a Rosa a cochichar no corredor, o jardineiro parado entre os
<br>canteiros, e em redor o sil�ncio, um sil�ncio de medo, concentrado,
<br>e as pessoas im�veis como numa fotografia. Espa�adamente,
<br>ao fundo do parque, o latido de um dos c�es, enquanto
<br>surgiam nas janelas dos edif�cios circundantes as primeiras
<br>cabe�as curiosas, alongando o olhar para a casa, para o jardim,
<br>para o parque, para os guardas. Defronte da casa, junto
<br>ao meio-fio, a viatura que trouxera o Delegado do Distrito.
<br>
<br>E essa curiosidade se fez mais viva, com os vizinhos debru�ados
<br>nas sacadas, no momento em que o Dr. Rodrigo veio
<br>trazer o Delegado � cal�ada da rua, e lhe apertou a m�o, e lhe
<br>bateu nas costas, e o ajudou a fechar a porta do carro, sempre
<br>protegido pelos guardas de seguran�a. Ficou um momento pa
<br>
<br>
<br>314
<br>
<br>
<br>rado no port�o, � espera de que a viatura se afastasse; acenou
<br>para o Delegado, quase a sorrir-lhe, logo tratando de contornar
<br>a casa, para desaparecer no caminho que levava � piscina.
<br>Subiu depressa a escada. E para o Ludovico, que lhe pedia as
<br>ordens com o olhar preocupado:
<br>
<br>� N�o estou para ningu�m. Tamb�m n�o est� D. Patr�cia.
<br>Ningu�m viu nada, ningu�m sabe de nada.
<br>E para Patr�cia, assim que fechou a porta da saleta por
<br>tr�s de seus passos:
<br>
<br>� N�o podes ficar assim, como se fosses a culpada. Tens
<br>de reagir. Nem o vestido da noite tiraste. Muda de roupa, trata
<br>de deitar-te um pouco. Est�s exausta. O Silva Gomes deu-te
<br>o tranq�ilizante de que necessitas.
<br>Vais tom�-lo agora.
<br>E Patr�cia, levantando-se, alarmada:
<br>� E tu achas que posso me deitar em nossa cama? Como,
<br>Rodrigo? No lugar em que morreu a Simone? Ali onde
<br>ela ficou?
<br>Ele prop�s, passado um sil�ncio:
<br>
<br>� Ali quem vai deitar agora sou eu. Passas para meu
<br>lugar.
<br>E ela, com os cabelos soltos para os ombros, os p�s descal�os
<br>sobre a moquete do ch�o:
<br>
<br>� N�o, por favor, isso n�o. No lugar da Simone? N�o,
<br>Rodrigo. Vou me lembrar dela pelo resto da vida, com os mesmos
<br>olhos abertos, branca, defronte de mim, no mesmo vestido
<br>longo. Como se tornasse a v�-la. Aqui. Ali na sala. No sal�o.
<br>No hall. Subindo a escada. Sobretudo aqui. Deitada na
<br>cama. Im�vel. Os olhos parados.
<br>E a bater os dentes, com os punhos cerrados:
<br>
<br>� Olha como estou. Tenho medo, Rodrigo. Um grande
<br>medo.
<br>Rodrigo, parado � frente de Patr�cia, segurou-lhe os bra�os,
<br>olhando-a nos olhos. E com energia:
<br>
<br>� Amor, olha para mim. Assim. Nos meus olhos. E agora
<br>me diz: h� raz�o para esse medo? N�o, n�o h�. Quem morreu,
<br>morreu. Acabou. Desapareceu. O que aqui aconteceu, por
<br>mais terr�vel que seja, j� pertence ao passado. Ficou para tr�s.
<br>Trata de esquecer. Vive a tua vida.
<br>315
<br>
<br>
<br>E ela, desprendendo-se dele e voltando a caminhar, torcendo
<br>as m�os, com o pavor nas pupilas:
<br>
<br>� Imposs�vel, Rodrigo. Est� acima de minhas for�as. E
<br>eu s� te pe�o que me ajudes. N�o estou em mim. Esta noite
<br>me destro�ou. Toda a minha calma se desfez. Sinto que sou
<br>toda nervos. E nervos tensos, como nunca me senti. S� pe�o
<br>a Deus que consigas abafar tudo. Que n�o se fale no que houve.
<br>E me deixem em paz. Sobretudo isso: que me deixem em
<br>paz. N�o quero que me massacrem. Tenho medo. Medo da Simone.
<br>Medo da morte. Medo de minha casa. Medo de tudo.
<br>S� eu sei como estou, depois de toda uma noite sabendo que
<br>a Simone estava aqui em cima, morta, e eu, l� embaixo, representando
<br>o meu papel de aniversariante feliz. Um horror, Rodrigo.
<br>Um sofrimento que eu n�o quero para ningu�m.
<br>Ele lhe trouxe um copo de �gua e o comprimido:
<br>
<br>� Toma, e vai descansar. Aqui mesmo, neste sof�.
<br>E Patr�cia, com uma express�o de pavor, segurando o comprimido
<br>na ponta dos dedos:
<br>
<br>� Foi assim que ela fez. Segurou os dois comprimidos,
<br>levou-os � boca, tomou o copo de �gua. Resoluta. Como quem
<br>se atira da sacada de uma janela. E eu, ali, parada, testemunhando
<br>a cena.
<br>3
<br>
<br>Foi a Rosa quem lembrou o quarto do mirante, ao fundo
<br>da casa, com a varanda em torno, olhando para a piscina e
<br>a capelinha, na volta da alameda. Via-se tamb�m a outra rua,
<br>por tr�s do parque, e mais a orla de palmeiras, com o banco
<br>de azulejos ao fundo, rente ao muro.
<br>
<br>Patr�cia concordou em ir para ali. O ideal seria uma viagem.
<br>Mas o Rodrigo, retido na cidade pela amea�a de greve
<br>em duas de suas f�bricas, t�o cedo n�o poderia sair. Em menos
<br>de uma hora, gra�as �s dilig�ncias do Ludovico, ajudado
<br>pela Rosa, e mais a boa vontade dos oper�rios que tinham vindo
<br>
<br>316
<br>
<br>
<br>desmanchar o tablado, j� a pe�a ampla estava preparada, com
<br>a cama de casal, o guarda-roupa, as c�modas, a arca, as duas
<br>cadeiras de balan�o, e mais o r�dio, a televis�o, a estantezinha
<br>dos livros, a escrivaninha, a mesa redonda para as refei��es,
<br>os quadros nas paredes, e o ar feliz das cortinas esvoa�antes,
<br>nas tr�s janelas amplas que recolhiam ar e luz para dentro do
<br>quarto.
<br>
<br>Entretanto, Patr�cia, quando ali subiu, trazida pelo Rodrigo,
<br>parou no patamar da escada, impressionada pelas paredes
<br>brancas que lhe deram de repente a impress�o de que passaria
<br>a viver � como a Simone � num quarto de Sanat�rio.
<br>E n�o querendo desapontar o marido, que lhe gabava o lugar,
<br>os m�veis, as arruma��es, aprovou tudo, achou tudo muito
<br>bem, balan�ou-se na cadeira, estendeu a vista para a orla de
<br>palmeiras, e acabou por alongar-se na cama de ferro,
<br>queixando-se de que os olhos lhe do�am, na claridade forte.
<br>
<br>� Para isso, h� rem�dio � acudiu o Rodrigo, correndo
<br>uma das cortinas para atenuar a claridade rutilante.
<br>L� fora, o cavo bater dos martelos na desmontagem do
<br>tablado. Um serrote ia e vinha, rangendo, serrando, por entre
<br>
<br>o rangido dos pregos e o estalar das cadeiras que iam sendo
<br>desarmadas. De vez em quando uma risadinha, uma palavra
<br>mais alta, um latido, e o rumor dos galhos que a vira��o da
<br>tarde nova sacudia. No ch�o ensaibrado, o estalar das pedras
<br>soltas e das folhas ca�das.
<br>Assim que a Rosa saiu, Patr�cia tornou a sentir-se aflita,
<br>como se lhe voltasse todo o medo da noite infinita, e esteve
<br>para descer ao sal�o, chamando pela criada, chamando pelo
<br>Ludovico, chamando pelo marido, mas se deteve no alto da
<br>escada em caracol, no esfor�o para dominar-se.
<br>
<br>E em tom alto, com energia, enquanto sentia o bater das
<br>t�mporas, na volta do cora��o acelerado:
<br>
<br>� Eu tenho de me acalmar. Deus est� comigo. Nossa Senhora
<br>tamb�m.
<br>Conseguiu tornar � cadeira de balan�o, enclavinhou as
<br>m�os no apoio de madeira, descansou a cabe�a no recosto de
<br>palhinha, de p�lpebras cerradas, rezando. O torpor do tranq�ilizante,
<br>longe de acalm�-la, dava-lhe agora uma agita��o
<br>
<br>317
<br>
<br>
<br>diferente, que dispensava os movimentos do corpo: era uma
<br>impaci�ncia estranha, que sacudia o seu ser, abalava-lhe a consci�ncia,
<br>dando-lhe �nsias de correr, de gritar, de pedir que a
<br>socorressem, enquanto recompunha o corpo de Simone, im�vel,
<br>ao comprido da cama, os olhos abertos.
<br>
<br>Aos poucos, sem transi��o sens�vel, o torpor abrandou,
<br>e ela parecia suspensa no ar, levitando, com o corpo fofo, uma
<br>vaga sensa��o de c�cega na epiderme, sem que perdesse a consci�ncia
<br>do mundo � sua volta, com o crucifixo sobre a c�moda,
<br>o vento a bater de leve a r�tula da janela, um ru�do de passos
<br>que se aproximavam, enquanto a voz da Paula lhe repetia o
<br>nome, chamando-a:
<br>
<br>� Patr�cia!
<br>Com imenso esfor�o, como se subisse � borda de um po�o
<br>profundo, Patr�cia descerrou os olhos, viu primeiro a Paula
<br>crescer no v�o da escada, aumentar de tamanho, destacar
<br>na luz intensa o tom creme do vestido que lhe descia � altura
<br>dos joelhos, uma boina vermelha na cabe�a, e o medo, e espanto,
<br>e a ang�stia no rosto pintado:
<br>
<br>� Que foi que aconteceu, Patr�cia?
<br>E Patr�cia numa voz fraca, quase inaud�vel:
<br>� �s tu, Paula? Senta-te aqui, perto de mim.
<br>E a outra, sem poder reprimir-se:
<br>� � mesmo verdade que a Simone morreu aqui, ontem
<br>� noite, quando os teus convidados estavam chegando, e que
<br>nada disseste a ningu�m, nem mesmo ao Rodrigo? As r�dios
<br>e as televis�es est�o dando a not�cia. E os rep�rteres est�o l�
<br>fora, querendo te ouvir, sem que os guardas de seguran�a os
<br>deixem entrar. Assim que uma amiga me passou a not�cia, pensei
<br>que fosse um trote, uma brincadeira de mau gosto. Telefonei
<br>para c�, mas os telefones n�o atendiam. Liguei a televis�o, no
<br>jornal do meio-dia, exatamente na hora em que o locutor dizia
<br>que o corpo da Simone estava sendo autopsiado no Instituto
<br>M�dico-Legal. Sa� de casa como estava, s� botei esta boina
<br>na cabe�a, corri para c�. No port�o, quase n�o passei. Foi
<br>teu motorista que me reconheceu e me fez entrar. N�o imaginas
<br>como est� l� fora. A cal�ada cheia, a rua cheia, os vizi318
<br>
<br>
<br>
<br>nhos nas janelas, um horror. Me conta o que houve. Estou de
<br>m�os geladas. At�nita. Sem saber o que pensar.
<br>
<br>Patr�cia permaneceu uns momentos em sil�ncio, como se
<br>n�o a tivesse ouvido, longe, a�rea, voltada para dentro de si
<br>mesma. Pela fresta das p�lpebras, viu quando a Paula, trazendo
<br>uma cadeira para perto, sentou ao seu lado, cruzando as
<br>pernas.
<br>
<br>Sempre entregue ao torpor que a levitava entre a vig�lia
<br>e o sono, estendeu o bra�o, deixou a m�o fria entre as m�os
<br>de Paula. E devagar, antes de desprender-se da luz que a envolvia,
<br>conseguiu dizer-lhe:
<br>
<br>� Conversa com o Rodrigo. Ele te conta tudo. Estou muito
<br>cansada. S� quero dormir... esquecer... esquecer...
<br>4
<br>
<br>Pela primeira vez ela via o Rodrigo exausto, com o rosto
<br>marcado pelos vincos do cansa�o f�sico, sentado na poltrona
<br>� sua frente, no quarto improvisado. Ao chegar da rua, j� noite
<br>entrada, instalara-se ali, sem querer tirar o palet�, e ali ficara,
<br>com os p�s por cima dos sapatos, sem gravata, as m�os
<br>nos bra�os da poltrona, a olhar para ela, como se fosse sorrir.
<br>
<br>E Patr�cia, passado um sil�ncio longo:
<br>
<br>� Eu dormi um pouco, aqui mesmo. Quando despertei,
<br>j� a Paula tinha ido embora. Ainda me sinto atordoada, como
<br>se o pesadelo n�o tivesse acabado.
<br>E ap�s uma pausa:
<br>
<br>� E Simone?
<br>� Est� voando para o Sanat�rio. Imagina tu que o Padre
<br>Revoredo, depois da aut�psia, queria trazer o corpo para
<br>c�, de volta, para o vel�rio na capela. Fui firme. N�o e n�o.
<br>Dali do Instituto M�dico-Legal a Simone iria para o Sanat�rio.
<br>Um avi�o, fretado por mim, estava na pista, � espera do
<br>corpo. E o padre, com as singularidades que bem conheces:
<br>� Quero ir com ela. Preciso rezar a missa de corpo presente.
<br>319
<br>
<br>
<br>Na capela do Sanat�rio. � E foi. Com o m�dico da Simone,
<br>que tamb�m tinha vindo busc�-la. Agora, trata de esquecer o
<br>que se passou. Ficou para tr�s.
<br>
<br>Rodrigo ensaiou levantar-se, chegou a firmar os p�s no
<br>tapete, apoiando as m�os resolutas, mas o cansa�o p�de mais
<br>que a sua determina��o, e ele continuou a olh�-la, com as bochechas
<br>ca�das, a papada por cima do colarinho aberto. Pela
<br>primeira vez na vida, deixara de fazer a barba, e esta se lhe
<br>espalhara pelo queixo, grisalha, subindo para as su��as,
<br>cobrindo-lhe os l�bios.
<br>
<br>E Patr�cia, ap�s novo sil�ncio:
<br>
<br>� Quem esteve tamb�m aqui, pouco antes do final da tarde,
<br>foi o Lucas Caetano. Nem sentou. Estava nervoso. Queria
<br>saber de tudo. Pedi-lhe pelo amor de Deus que n�o me perguntasse
<br>nada. Ele ficou falando, a andar de um lado para outro,
<br>e eu aqui ouvindo, a rezar para que fosse embora.
<br>Fez-se mais s�ria, com um lume de pavor nas pupilas:
<br>
<br>� Disse-me ele que eu posso ser processada. Por oculta��o
<br>de cad�ver. Que � isso? N�o entendi.
<br>Rodrigo ficou de p�, num impulso. E exaltando-se, com
<br>as bochechas sacudindo:
<br>
<br>� Bobagem dele. Estupidez pura. Eu, se estivesse aqui,
<br>dava-lhe um grito, punha-o para fora, escada abaixo. Era o
<br>que merecia.
<br>Enquanto falava, despiu o palet�, acomodou-o no espaldar
<br>de uma cadeira, despiu as cal�as, dobrou-as, deixou-as no
<br>assento da cadeira, sempre agitado. E vestindo o pijama:
<br>
<br>� O que passou, passou. Ponto final. N�o fales nada.
<br>Os criados tamb�m n�o v�o falar. Assunto encerrado. O Expedito,
<br>quando me foi levar ao Instituto, n�o soube como se
<br>livrar dos rep�rteres, e quase p�e tudo a perder, com as respostas
<br>que deu. J� o proibi de falar. De tarde, apareceu aqui
<br>um mo�o da Companhia Telef�nica, para mudar um fio, e s�
<br>n�o entrou, para bisbilhotar e fazer esc�ndalo, porque o Ludovico
<br>desconfiou dele e lhe pediu os documentos. Era um rep�rter,
<br>que j� ia transpor o port�o, com uma caixa de ferramentas
<br>e um rolo de fio. � era aqui pelo mirante que ele ia
<br>come�ar. Outros vir�o aqui, como bombeiros, como eletricis320
<br>
<br>
<br>
<br>tas, como floristas. Se te telefonarem, n�o atendas. Se vierem
<br>te visitar, n�o deixes ningu�m subir. Seja quem for. A Rosa
<br>est� avisada. O Ludovico tamb�m. Avisei os guardas de seguran�a.
<br>Todos. Um por um. Eu mesmo.
<br>
<br>Patr�cia, ainda a debater-se com o torpor que lhe tirava
<br>as for�as, p�s-se a dizer a si mesma, com o medo a lhe reluzir
<br>nos olhos entrecerrados:
<br>
<br>� E ela ia voltar, trazida pelo Padre Revoredo? Ah, meu
<br>Deus, que horror.
<br>De novo aqui, na capelinha?
<br>E logo a sua imagina��o alarmada comp�s a cena, com
<br>
<br>o corpo ao centro da nave, os c�rios acesos, a Simone no vestido
<br>da noite, em redor as colegas da Escola Normal, os professores,
<br>os amigos, os curiosos, os rep�rteres, os flashes fotogr�ficos,
<br>as c�maras de televis�o, o rumor do vel�rio, o cheiro
<br>das flores.
<br>Fechou as m�os, no esfor�o para dominar o seu grito. E
<br>ficou uns momentos im�vel, sempre contraindo os punhos, com
<br>a certeza de que, ao fim de tantos anos, a Simone consumara
<br>a sua desforra, l�vida, de olhos parados, intimidando-a para
<br>
<br>o resto da vida.
<br>321
<br>
<br>
<br>SEGUNDO CAP�TULO
<br>
<br>1
<br>
<br>A Inezita tinha raz�o: o infort�nio, quando chega, vem
<br>sempre em bando. Traz consigo outros tormentos, outras ang�stias.
<br>Um sobressalto sobre outro. At� a D. Genu, forte,
<br>saud�vel, nos seus noventa e dois anos, l�cida, expedita, acompanhando
<br>todos os festivais de m�sica e canto, como se tivesse
<br>quarenta, ou trinta, no seu vestido longo, no seu abrigo de
<br>peles, estava agora entre a vida e a morte, reclamando a presen�a
<br>do filho.
<br>
<br>O pobre do Rodrigo, coitado, atafulhando na maleta de
<br>viagem uma muda de roupa, o aparelho de barba, duas ou
<br>tr�s camisas, meia d�zia de cuecas, um pijama de l�, fretara
<br>um avi�o e l� se fora, na tarde de chuva, por entre trovoadas,
<br>com a promessa de voltar no dia seguinte, para continuar a
<br>passar as noites no mirante.
<br>
<br>A pr�pria Patr�cia aconselhara-lhe a viagem:
<br>
<br>� Tens de ir, n�o podes deixar de ir. N�o � tua m�e, mas
<br>� como se fosse: foi ela que te criou. Vai. J� estou melhor.
<br>Fica tranq�ilo, quanto a mim: estou melhor. O telefone vai
<br>ficar ligado: de l�, tu me falas. Ou eu te falo daqui, se for
<br>preciso. Mas vai. Seria pior se n�o fosses. Pelo jeito, ela est�
<br>� morte.
<br>E ele, refor�ando o argumento:
<br>
<br>� Foi o que me disse o m�dico.
<br>E Patr�cia, por um momento esquecida da Simone:
<br>� No nosso casamento, mesmo andando com dificulda323
<br>
<br>
<br>
<br>de, ela veio. E teu pai tamb�m. Assim que tudo passar, tamb�m
<br>irei l�. Para ficar uns dias. Espairecer. Mudar de ares.
<br>
<br>S� ela sabia, olhando o carro atravessar o port�o para
<br>levar o Rodrigo ao aeroporto, o quanto lhe custava separar-
<br>se dele, naquela hora, naquela prova��o. Era preciso ir at�
<br>l�, como filho �nico, j� que a velha senhora n�o se arredava
<br>de seu espa�oso chal� de teto pontudo, rodeada de vacas holandesas,
<br>com um moinho a girar a sua roda vagarosa, um
<br>bra�o de rio, a planta��o de girass�is, os enxames de abelhas,
<br>e a famosa cria��o de can�rios belgas, sob as �rvores, no imenso
<br>viveiro que mais parecia uma cidade em miniatura.
<br>
<br>E ele, concordando com a viagem:
<br>
<br>� Tens raz�o: n�o posso deixar de ir. N�o � a m�e verdadeira,
<br>mas � como se fosse. Ou mais ainda. Vou. Tenho de
<br>ir. De l� te falo. Daqui me falas. Sem problema. O Silva Gomes
<br>continuar� a te ver, todos os dias. Se for preciso, fa�o
<br>vir para ti, dos Estados Unidos, o Nuno Vaz com a sua equipe.
<br>Ao ver-se s�, sabendo que ao longo da noite n�o teria
<br>
<br>o marido ao seu lado, Patr�cia alarmou-se, com a intui��o de
<br>que algo estranho e indefinido ia acontecer ali, na aus�ncia
<br>do Rodrigo. Agarrou-se �s contas do ter�o, no esfor�o para
<br>dominar-se, e rezou horas seguidas, at� sentir que Nossa Senhora
<br>a protegia.
<br>No correr da tarde vazia, p�de ler, voltou a tecer o velho
<br>tapete que come�ara havia seis anos, chegou a p�r no toca-
<br>discos um concerto de Mozart � que prontamente calou, reconhecendo
<br>n�o ficar bem que os vizinhos o ouvissem. Que
<br>iriam dizer, sabendo que ali morrera uma pessoa, h� t�o poucos
<br>dias? Mesmo baixinho, podiam perceber. Era melhor guardar
<br>o disco � e guardou-o.
<br>
<br>Foi a Rosa que lhe aconselhou a descer:
<br>
<br>� Des�a, d� umas voltas pela casa. � preciso.
<br>E como o Silva Gomes, dias antes, lhe dissera a mesma
<br>coisa, insistindo em que for�asse a natureza, percorrendo a
<br>casa, for�ando o conv�vio com os lugares que lhe restitu�am
<br>a imagem da morta, desceu devagar a escada em caracol, �
<br>hora da sesta, quando a Rosa e o Ludovico estariam l� embaixo,
<br>ou nos seus quartos, ou na copa, e foi andando deva
<br>
<br>
<br>324
<br>
<br>
<br>gar, num passo de convalescente. Mais de uma vez esteve para
<br>voltar, com a repentina certeza de que, l� adiante, ao voltar-
<br>se para um lado, ao abrir uma porta, ao dobrar um corredor,
<br>a Simone ali estaria, � sua espera. Parada durante alguns
<br>momentos, como perplexa, indecisa, como se a claridade do
<br>dia lhe desse a sua prote��o e o seu amparo, acabou prosseguindo,
<br>enquanto dizia a si mesma:
<br>
<br>� N�o, n�o vai acontecer nada.
<br>Nunca sentira o cora��o bater-lhe t�o forte. P�ssaro arisco
<br>que sacudia as asas e o resto do corpo, a querer sair-lhe pela
<br>boca, na ang�stia em que se debatia, sozinha no casar�o quieto,
<br>longe do Rodrigo. Por quem chamaria, se a Simone lhe aparecesse?
<br>Levaria as m�os � boca, de olhos fechados, gritando,
<br>e os passos da outra se afastariam, bateria uma porta com estrondo,
<br>a cortina esvoa�aria, ressoaria um gonzo perro, e logo
<br>o Ludovico, ou a Rosa, ou um dos guardas de seguran�a
<br>acudiria, assustado:
<br>
<br>� Que foi, senhora?
<br>Seguiu pelo corredor, passou o sal�o, passou a saleta, a
<br>saleta da televis�o, outra sala, e deu de frente com a porta fechada
<br>de seu quarto de dormir. Por um momento, no auge
<br>de sua determina��o aflitiva, quis adiantar o bra�o, j� bem
<br>perto da ma�aneta de cristal, sabendo que, ao torc�-la para
<br>a direita, veria a cama espa�osa, com a sua colcha adamascada,
<br>o crucifixo de marfim por cima da cabeceira de jacarand�
<br>
<br>� e a Simone, l�vida, estendida ao comprido do colch�o, com
<br>os olhos abertos. Mas parou de repente, com a m�o no ar,
<br>toda tr�mula. E rapidamente se desviou dali, para entrar no
<br>gabinete do Rodrigo. Sempre tr�mula, encostou a porta, deu
<br>alguns passos, ainda ouvindo o bater dos dentes, e torceu o
<br>ferrolho da janela sobre o parque, como em busca do ar que
<br>lhe faltava, na penumbra circundante. Logo soprou ali dentro
<br>uma lufada de vento frio, que inflou a cortina, como se
<br>fosse arremess�-la para o teto, e aquietou-se de repente, assim
<br>que bateu com for�a a porta mal encostada.
<br>Patr�cia, aterrorizada, os l�bios roxos, muito p�lida, esteve
<br>uns momentos sem a��o, as sobrancelhas alteadas. Depois,
<br>reagindo, inspirou profundamente, moveu a cabe�a, cir
<br>
<br>
<br>325
<br>
<br>
<br>cunvagou a vista. Por que tinha vindo at� ali, se sentia tanto
<br>medo? Ah, agora podia dizer ao Rodrigo e ao Silva Gomes
<br>que lhes fizera a vontade � caminhando at� o escrit�rio. S�
<br>n�o pudera abrir a porta do quarto de dormir. Por mais que
<br>dissesse a si mesma, repetindo o que ambos lhe afirmavam sobre
<br>a cama vazia, sobre a Simone longe dali, o medo insistia
<br>em dar-lhe a certeza de que, ao abrir a porta do escrit�rio sobre
<br>o quarto, ia dar com ela, no vestido longo, deitada, morta.
<br>E olhando a porta fechada, que tamb�m parecia atra�-la:
<br>
<br>� Sei que ela est� a�. Tenho certeza.
<br>Sentindo que seu cora��o tornava a disparar, dando-lhe
<br>�nsias de sufoca��o, cerrou as m�os com for�a, quase a cravar
<br>na carne as unhas arroxeadas, enquanto afundava na poltrona
<br>orelhuda, a um canto da pe�a, entre as estantes. O Ludovico
<br>teria apagado os abajures das mesas-de-cabeceira? Ou
<br>ainda estariam acesos, no correr de tantos dias? E por que n�o,
<br>se algo persistia na casa com a sua atmosfera de anormalidade
<br>e mist�rio? Tudo em volta parecia estranho, sobrenatural.
<br>E se a Simone, mesmo morta, se erguesse da cama, e abrisse
<br>a porta, surgindo de repente, l�vida, com os grandes olhos
<br>apagados?
<br>Num relance, Patr�cia teve a impress�o de que a ma�aneta
<br>da porta ia mover-se, e preparou-se para gritar, desencostada
<br>do respaldo de couro, a respira��o suspensa, os antebra�os
<br>nos bra�os da poltrona. Mas a voz lhe fugiu, e ela permaneceu
<br>sentada enquanto a porta se abria para dar passagem
<br>� Rosa, que lhe disse, com ar assustado:
<br>
<br>� J� procurei a senhora por toda a casa. No mirante,
<br>n�o estava. No jardim, n�o estava. No sal�o, n�o estava. Cheguei
<br>a ficar nervosa. S� n�o chamei o Ludovico porque saiu
<br>com o Expedito para entregar os cheques dos asilos. N�o sei
<br>por qu�, me lembrei de vir aqui.
<br>E dando � voz um tom alvissareiro:
<br>
<br>� Estou vendo que tudo vai indo bem. Assim � que a
<br>senhora deve fazer. Volte a andar na sua casa. Nada de ficar
<br>presa no mirante. Presa, por qu�? N�o digo que v� para a rua.
<br>N�o. Tudo tem seu tempo. M�s volte a andar pela casa, sa326
<br>
<br>
<br>
<br>bendo que, no port�o, n�o passa ningu�m sem o consentimento
<br>dos guardas.
<br>
<br>Abriu outra janela para dar mais luz ao escrit�rio.
<br>
<br>E olhando por tr�s da vidra�a:
<br>
<br>� Agora, j� chegou mesmo o outono. L� fora, para o
<br>lado da capelinha, as castanheiras parecem de ouro, com as
<br>folhas amarelas.
<br>2
<br>
<br>A primeira rea��o de Patr�cia, ao ver sobre a mesa do
<br>Rodrigo, a um canto, a gorda pasta de cartolina do Dr. Ren�
<br>Sobral � com esta indica��o na capa, na letra fina e alta do
<br>velho advogado: Pap�is sobre D. Patr�cia � foi de surpresa
<br>e espanto.
<br>
<br>Intrigada, segurou a pasta, esteve um momento a olh�la.
<br>Pap�is a seu respeito? E a que prop�sito? Ainda a ouvir
<br>os passos da Rosa, que afinal se fora, deixando sobre a mesa
<br>de centro a ch�vena de porcelana com o ch� bem quente, e
<br>mais as torradas e o potezinho de mel, desprendeu o fecho
<br>de el�stico que prendia as pontas da cartolina nas duas extremidades,
<br>descerrou depressa a pasta e deu com sucessivos recortes
<br>de jornal cuidadosamente colados em largas folhas de
<br>papel alma�o, alguns tomando o espa�o de alto a baixo, todos
<br>a respeito da morte da Simone.
<br>
<br>Ora espantada, ora indignada, foi lendo os recortes, um
<br>a um, e passou da surpresa � revolta, da ira ao pavor, da perplexidade
<br>� indigna��o, sem poder aceitar que tudo aquilo estivesse
<br>ligado � sua pessoa, com as acusa��es mais vis, com
<br>as ila��es mais torpes, com as suposi��es mais perversas, e todos
<br>eles impressos com destaque, ora nas primeiras p�ginas, ora
<br>nas p�ginas finais, por entre retratos seus, retratos do Rodrigo,
<br>retratos da Simone, e mais as fotografias de sua casa e
<br>do Sanat�rio.
<br>
<br>327
<br>
<br>
<br>E segurando um dos recortes na m�o tr�mula, pensando
<br>em sair � rua, para gritar bem alto, na pra�a central da cidade:
<br>
<br>� Tudo isto � infame! Tudo isto � absurdo! Tudo isto
<br>� vil. � torpe. � miser�vel. � est�pido.
<br>Por que insinuar que, entre ela e a Simone, tinha havido
<br>uma liga��o impura, no tempo da Escola Normal? Como se
<br>podia afirmar, com todas as letras, na cabe�a de uma reportagem,
<br>que ela, Patr�cia, fizera vir de prop�sito a Simone �
<br>sua casa, para humilh�-la, para lev�-la a matar-se?
<br>
<br>De p�, andando de um lado para outro, esquecida do ch�
<br>que arrefecia, amarfanhou o recorte na m�o convulsa, com
<br>�dio, com nojo, e o sacudiu de si, reduzido a uma bolota. Nisto
<br>reparou que a bolota se abria como se tivesse vida pr�pria,
<br>e novamente a manchete pareceu gritar, no destaque das letras
<br>agressivas: Suic�dio ou assassinato? Um gesto de desespero
<br>ou um crime premeditado? Apanhou do ch�o o recorte,
<br>rasgou-o em peda�os mi�dos, com �dio, com raiva. E ia atir�los
<br>pela janela � que impulsivamente escancarou � quando
<br>refletiu que a mis�ria ficaria ali mesmo, no seu quintal. Tamb�m
<br>n�o deveria jog�-los na cesta de pap�is: continuariam ainda
<br>ali, pequeninos, mesquinhos, miudinhos, escarnecendo de
<br>sua ira. E como lhe queimavam a m�o convulsa, correu ao
<br>banheirinho privativo, por tr�s da estante envidra�ada, e
<br>arremessou-os ao fundo da privada, ao mesmo tempo em que
<br>premia o bot�o da descarga: a �gua desceu com ru�do, revolveu
<br>os papeluchos, levou-os de rold�o para o cano do esgoto.
<br>
<br>De volta ao escrit�rio, Patr�cia ainda arfava, nos haustos
<br>da respira��o ofegante. E ao segurar novamente a pasta,
<br>revolvendo e revendo outros recortes, refletiu que tudo quanto
<br>ali se amontoava, com as argui��es mais torpes e mais miser�veis,
<br>j� se difundira e propagara, canalhamente, implacavelmente,
<br>urdindo o seu caminho imundo. O dano moral estava
<br>feito.
<br>
<br>Em busca de um amparo, pensou em telefonar ao Rodrigo,
<br>enquanto lhe crescia a sensa��o da boca seca e da garganta
<br>apertada. Crispava as m�os iradas, com vontade de gritar, de esbofetear,
<br>de reagir a tanta mis�ria com uma arma na m�o.
<br>Arfando, com o peito a subir e a descer, acercou-se da garra
<br>
<br>
<br>328
<br>
<br>
<br>fa de �gua e do copo, ao lado da mesa, na bandeja redonda
<br>sobre a papeleira. Sorveu alguns goles, sempre nervosa, sempre
<br>exaltada, at� que reconheceu, no copo que sua m�o segurava,
<br>o mesmo copo em que havia trazido a �gua para a Simone.
<br>
<br>E repondo-o na bandeja, como se o copo lhe ardesse na
<br>polpa dos dedos, afastou-se da papeleira, at�nita:
<br>
<br>� � esse mesmo. N�o havia outro aqui. O copo do Rodrigo.
<br>Com o mesmo friso dourado. Estou vendo a Simone
<br>segur�-lo, depois de p�r as duas p�lulas na boca. Eu lhe amparei
<br>a cabe�a, ajudei-a a pegar o copo, esperei que ela tomasse
<br>o gole de �gua.
<br>Brandamente, repusera-lhe a cabe�a no travesseiro, antes
<br>de volver ao espelho para prender na cabe�a o diadema.
<br>Agora, ali, tornava a ouvir-lhe a voz, enquanto Simone cerrava
<br>por um momento as p�lpebras fatigadas:
<br>
<br>� Deus te pague, Patr�cia.
<br>Calma, senhora de si. E estava a se matar. Sabendo que
<br>tamb�m a destru�a, a ela, Patr�cia, com aquele gole de �gua,
<br>com aquelas duas p�lulas brancas na ponta dos dedos.
<br>
<br>N�o obstante o frio que se espalhava por toda a casa, trazendo
<br>para ali a umidade da rua, do parque, da piscina, das
<br>alamedas, com uma luz leitosa entristecendo a tarde, fechando-
<br>a, calando os passarinhos, Patr�cia experimentava agora uma
<br>sensa��o pegajosa de calor, com o suor a lhe escorregar das
<br>t�mporas, a resvalar pelas costas, a umedecer-lhe a palma das
<br>m�os, a descer-lhe das axilas.
<br>
<br>Novamente na poltrona, com'a m�o direita apoiando o
<br>queixo, o dedo indicador ladeando o rosto, permaneceu longo
<br>tempo im�vel, atordoada, olhando a pasta aberta, os recortes
<br>espalhados, e todas aquelas mis�rias, que a denegriam,
<br>que a destro�avam, lhe davam um sentimento novo, que jamais
<br>havia experimentado � com o nojo da vida em seu redor.
<br>Jamais imaginara que o mundo fosse assim. N�o. Nunca.
<br>E uma vontade p�nica de sair dali, de fugir para longe,
<br>de se refugiar num recanto qualquer onde ningu�m a conhecesse
<br>e onde n�o conhecesse ningu�m, talvez numa ilha distante,
<br>subia-lhe � consci�ncia, como um aceno ou uma
<br>obsess�o.
<br>
<br>329
<br>
<br>
<br>E o Ludovico, aflorando a cabe�a � entrada do escrit�rio:
<br>
<br>� D. Patr�cia n�o quer que acenda a lareira?
<br>Como Patr�cia n�o respondesse, fechada em si, os olhos
<br>ausentes e apagados, ele se acercou da lareira, diligente, prestativo;
<br>soprou a cinza, acomodou as achas. E de costas, acendendo
<br>o fogo:
<br>
<br>� A temperatura caiu muito, de ontem para hoje. Pela
<br>manh�, quando olhei o term�metro, assustei-me: estava abaixo
<br>de quatro graus. � como se estiv�ssemos no inverno. Em pleno
<br>inverno.
<br>Patr�cia n�o sentiu tamb�m quando ele, no v�o da porta,
<br>curvou a cabe�a, pediu licen�a, perguntou-lhe se n�o queria
<br>que renovasse o ch�. De p�lpebras quase cerradas, continuava
<br>abismada no mist�rio que a atormentava. Como compreender
<br>tanto �dio � sua volta? Quem teria fornecido tantos
<br>pormenores torcidos sobre a sua amizade com a Simone? E
<br>por que dizerem que a Simone j� estava de enxoval pronto
<br>e casamento marcado quando o Rodrigo desfizera o noivado
<br>para casar com ela, Patr�cia, uma semana depois? Absurdo.
<br>Mentira. Cal�nia. Tudo junto. Sem esquecerem as tentativas
<br>de suic�dio da Simone, no Sanat�rio. E ela, Patr�cia, a debater-
<br>se em meio �quele turbilh�o de mis�rias, triturada, batida, infamada,
<br>s� porque tinha aberto a sua casa para uma recep��o,
<br>chamando agora as companheiras de col�gio. Absurdo.
<br>Deveria isolar-se, viver reclusa, voltada egoisticamente para
<br>dentro de si mesma? Sim, sim, era o que devia fazer. E nisto,
<br>com a pasta de recortes sobre o rega�o, recordou a entrevista da
<br>Evangelina, repisando inf�mias, confirmando suspeitas idiotas,
<br>compadecida da Simone, e sorrindo, de pernas cruzadas, gorda,
<br>os peitos ca�dos, a falar para a rep�rter, com um ar compenetrado,
<br>e este remate, para o fim da conversa: "� N�o
<br>afirmo nem nego, fa�o apenas uma pergunta, interessada na
<br>verdade final: a Simone se matou mesmo ou foi morta? Sim,
<br>sim, � tamb�m uma hip�tese. Por que n�o?"
<br>
<br>Com o telefone ao alcance da m�o, Patr�cia chegou a trazer
<br>para perto o aparelho. Ia dar-lhe uma resposta. Mas que
<br>ia dizer-lhe, sufocada pela revolta? N�o, isso n�o. Com esfor�o,
<br>levantou-se, trazendo consigo a pasta de recortes, que
<br>
<br>330
<br>
<br>
<br>atirou ao meio da lareira. Viu crescer o bal� das labaredas,
<br>com o cora��o apertado. E teve de amparar-se no rebordo de
<br>m�rmore � sua frente, para n�o ceder � vertigem que lhe toldava
<br>a vista, enquanto a casa oscilava e fugia, como uma velha
<br>nau que o temporal balan�asse.
<br>
<br>Novamente na poltrona, sentiu que as sombras se adensavam
<br>� sua volta, na tarde que esmorecia. Trouxe para o rega�o
<br>o telefone, ligou para o Rodrigo. E quando ele respondeu:
<br>
<br>� Sou eu. Patr�cia. Quando vens?
<br>� Talvez amanh�. Ela melhorou.
<br>� Preciso muito de ti.
<br>E, sem repor o fone no gancho, com a impress�o de que
<br>o mundo � sua volta se desfazia e desmoronava, p�s-se a
<br>chorar.
<br>3
<br>
<br>Levou algum tempo para reencontrar na criatura repleta,
<br>metida num casac�o de inverno, a Carmita esguia que n�o terminara
<br>o curso da Escola Normal � por ter sa�do dali para
<br>casar com um senhor alto, sempre vestido de branco, sobra�ando
<br>uma pasta, e que trabalhava para um laborat�rio de
<br>produtos farmac�uticos.
<br>
<br>E a outra, depois de despir o casaco, instalando-se na cadeira
<br>de bra�os, calma, muito � vontade:
<br>
<br>� Pensei que voc� n�o se lembraria de mim. Estive para
<br>lhe telefonar, dias antes de sua festa. Mas achei que era melhor
<br>telefonar depois. Podia parecer que eu s� estava telefonando
<br>para ser convidada. A� apareceu nos jornais toda essa
<br>novela absurda sobre a morte de Simone. E eu disse a meu
<br>marido, que quase vinha comigo: � Conhe�o a Patr�cia. Ela
<br>seria incapaz de semelhante absurdo. A Simone morreu na casa
<br>dela como podia ter morrido na minha. Por que n�o? Tive
<br>uma prima que morreu nos meus bra�os quando me visitava.
<br>Hoje, vim aqui para lhe dizer que estou �s suas ordens. Se pre331
<br>
<br>
<br>
<br>cisar de uma testemunha para depor em seu favor, seja onde
<br>for, conte comigo.
<br>
<br>Emocionada, Patr�cia apertou-lhe as m�os, em sil�ncio,
<br>sem conseguir falar. Limitou-se a mover as p�lpebras, contraindo
<br>os l�bios, no esfor�o para n�o chorar.
<br>
<br>E depois que a outra se foi, simp�tica, adiposa, envolta
<br>no casac�o cor de laranja, depois de ter contado a sua vida,
<br>de ter ensinado uma receita infal�vel para abrir o apetite e posto
<br>no papel o nome de um ch� que era tiro e queda nas ins�nias
<br>mais rebeldes, associou-lhe a visita � nova visita do Silva Gomes,
<br>que lhe vinha dar o resultado da aut�psia da Simone:
<br>
<br>� Morreu de uma parada card�aca. N�o era a primeira.
<br>Tinha tido outra, menos grave, h� seis anos, no Sanat�rio.
<br>Vim aqui s� para lhe dar a boa not�cia.
<br>E embora ele lhe sorrisse, com ar convicto, ela ficou em
<br>d�vida, como ficara em d�vida sobre a morte repentina da
<br>prima da Carmita, na sua casa, nos seus bra�os. Reconhecia
<br>que todo mundo queria ajud�-la, dando-lhe a m�o, contando
<br>casos parecidos, sobretudo a Rosa, que passava o mais das horas,
<br>ali ao seu lado no mirante, ou perto, nos aposentos cont�guos,
<br>ao alcance de sua voz.
<br>
<br>� medida que o tempo flu�a, avivava-se-lhe a convic��o de
<br>que estavam a tentar engan�-la. No come�o, acreditava no que
<br>lhe diziam; vinha a seguir a d�vida; por fim, a certeza de que
<br>nada do que lhe contavam era verdade. A Simone tomara as
<br>duas p�lulas na sua presen�a, e fora ela, Patr�cia, que lhe trouxera
<br>o copo de �gua. O copo de raias amarelas do escrit�rio
<br>do Rodrigo. O copo que ainda l� estava. O mesmo. E a Simone
<br>viera ali para isso. S� para isso. Destruindo-lhe a festa.
<br>Envenenando-lhe a vida. Levando-a ao desespero.
<br>
<br>E como se falasse para a Simone:
<br>
<br>� A mim n�o enganas. Vieste aqui para isso. S� para isso.
<br>E novamente lhe lembrava os telefonemas, o vulto esguio
<br>e l�vido subindo a escada, as m�os geladas, a voz macia, o momento
<br>em que se alongara na cama, os dedos finos levando
<br>� boca as duas p�lulas; depois im�vel, muito branca, os olhos
<br>parados.
<br>
<br>Patr�cia amarfanhou o len�o, acomodou-se melhor na pol
<br>
<br>
<br>332
<br>
<br>
<br>trona, descansou os bra�os nos bra�os de couro, e repetiu,
<br>convicta:
<br>
<br>� Sei que est�s aqui perto, Simone. Sei. Sinto teus passos,
<br>ou�o tua voz chamando por mim. �s tu que, � noite, n�o
<br>me deixas dormir. Quando vou adormecer, sacodes meu bra�o,
<br>repetes meu nome. N�o � ilus�o minha. N�o, n�o �. Sei
<br>o que estou dizendo.
<br>E foi nesse dia, assim que a noite caiu, sombria, �mida,
<br>enervante, que ela deu ordem ao Ludovico para que acendesse
<br>todas as luzes da casa. Ele hesitou, com a impress�o de n�o
<br>ter ouvido bem. E indagou, ap�s um sil�ncio, para ter mesmo
<br>a certeza:
<br>
<br>� Todas, D. Patr�cia?
<br>� Todas.
<br>Em poucos momentos, a casa inteira deu a impress�o de
<br>que se espantava na claridade excessiva. Tanto as salas e os
<br>sal�es quanto os quartos e os corredores, e mais a varanda,
<br>e o vest�bulo, e as escadas, a copa, a cozinha, e os quartos
<br>dos criados, e ainda as alamedas, a piscina, e o jardim, tudo
<br>resplandecia com os olhos arregalados das l�mpadas, dos lampi�es,
<br>dos lustres, como numa festa, como num vel�rio.
<br>
<br>4
<br>
<br>Ele estranhou a casa iluminada, com todas as luzes refulgindo
<br>na bruma da noite, e logo imaginou que algo grave
<br>estaria a passar-se. Mas nada disse ao motorista, que atravessou
<br>o port�o, sob as vistas dos dois guardas, e parou ao p�
<br>da escada.
<br>
<br>E o Rodrigo, para o Ludovico, que lhe abriu a porta:
<br>
<br>� Que � que se passa, com todas estas luzes?
<br>E o Ludovico, cerrando depressa a porta:
<br>� Ordens da senhora D. Patr�cia.
<br>E a acompanh�-lo, atravessando o vest�bulo:
<br>� Talvez algum receio, que n�o me adiantou.
<br>333
<br>
<br>
<br>Depois, j� na escada do mirante, sem subir:
<br>
<br>� Ela lhe dir�, com certeza.
<br>Patr�cia sentiu os passos na escada, galgando depressa os
<br>degraus. Alarmou-se, endireitando o busto, sentada na cama.
<br>E p�lida, quase a gritar, quando deu com o marido no v�o
<br>da porta:
<br>
<br>� Ah, �s tu? Que al�vio. Fiquei com medo.
<br>E ela, ofegante, notando-lhe a express�o intrigada, a olh�la
<br>de frente, segurou-lhe a m�o, como um amparo:
<br>
<br>� Preciso de ti, Rodrigo. Muito. N�o me deixes s�. Eu
<br>j� estava aqui quando anoiteceu. Senti os passos da Simone,
<br>na escada. Os mesmos passos do meu tempo da Escola Normal.
<br>Os mesmos. Subindo depressa, depois parando. E mandei
<br>iluminar a casa. Toda. Para que ela n�o me aparecesse.
<br>Ontem, j� tarde, sozinha aqui, estive para gritar. Felizmente
<br>contive o grito. Ouvi as portas abrirem e fecharem, j� com
<br>a casa fechada. Cheguei a me levantar para chamar a Rosa.
<br>Mas me agarrei ao meu ter�o. Rezei, rezei muito. At� que o
<br>medo passou.
<br>Ele lhe afagou os cabelos, em sil�ncio, compadecido dela.
<br>E buscando-lhe os olhos, onde ainda reluzia uma chispa
<br>de pavor:
<br>
<br>� Agora, estou aqui. Fica tranq�ila. A Simone est� quieta,
<br>no seu lugar. N�o penses mais nela. O que passou, passou.
<br>Ficou para tr�s. Tens de voltar ao que sempre foste. Calma.
<br>Segura de ti. J� sabes que a Simone n�o se matou. Liguei
<br>para o m�dico dela. J� te disse. Contou-me que a Simone era
<br>card�aca. Desde que chegou ao Sanat�rio.
<br>Ela deu mais vida aos olhos espantados:
<br>
<br>� Mas podia ter apressado a sua morte. Para que fosse
<br>aqui. Na noite de nossa festa. Para acabar com tudo. Podia.
<br>Perfeitamente. Sei que podia. A Simone era uma pessoa estranha.
<br>Capaz de tudo. Sempre temi que fizesse alguma coisa
<br>comigo.
<br>Rodrigo sentou na borda da cama. E de frente para Patr�cia,
<br>ainda a lhe segurar as m�os:
<br>
<br>� E n�o fez. Nem podia fazer. Fazer o qu�? Nada. Acalma
<br>essa cabecinha inquieta. Confia em mim.
<br>334
<br>
<br>
<br>Ela baixou as p�lpebras. E numa voz quase inaud�vel:
<br>
<br>� Eu conhecia a Simone mais do que tu. Conhecia. Como
<br>ningu�m. Ela nunca me perdoou. Nem a ti. Seguia meus
<br>passos. E os teus. E esperou^a hora para se vingar. De n�s
<br>dois. Sobretudo de mim.
<br>E levantando o olhar:
<br>
<br>� Li os recortes de jornal que estavam na tua mesa. Quase
<br>todos me acusam. Cruelmente. Estupidamente. S�o poucos
<br>os que dizem que Simone n�o se matou. E me culpam a mim.
<br>Deus sabe que eu n�o tenho culpa. Como tu tamb�m sabes.
<br>Mas Simone n�o pensava como n�s. Quase todas as colegas
<br>da Escola Normal tinham cartas dela. Inclusive a Paula e a
<br>Inezita. Leste a entrevista da Evangelina? Horr�vel. Atirei todos
<br>os recortes na lareira. Todos. Para ver se esquecia o que
<br>diziam de mim. N�o, n�o esqueci. N�o esquecerei jamais, Rodrigo.
<br>Parece que o mundo todo est� contra mim. Assim, como
<br>posso viver? Hem? Como? Horr�vel. Tudo ficou confuso,
<br>de repente, na minha cabe�a. Por que tanto �dio? Por qu�?
<br>Que mal eu fiz? Pelo contr�rio: sempre que posso, ajudo os
<br>outros. Deus sabe disso. Nossa Senhora est� vendo. Deus �
<br>justo. Por que me deixou ficar assim, Rodrigo? Tenho medo
<br>de tudo. Vivo sobressaltada, com a certeza de que algo ruim
<br>e terr�vel vai acontecer comigo. J� n�o sei o que fa�a. Me ajuda.
<br>Pelo amor de Deus.
<br>Abra�ou-se ao marido, sacudida pelos solu�os, com a cabe�a
<br>sobre seu ombro, comprimindo os seios soltos sobre o
<br>largo peito que a agasalhava, pronto a defend�-la. E por entre
<br>as convuls�es do pranto, tentando encontrar um lenitivo
<br>para seu desespero:
<br>
<br>� Tento dormir, e n�o consigo. Passo as noites em claro,
<br>fingindo que durmo, mas estou vigilante, sempre com a
<br>l�mpada acesa ao meu lado. Tudo me assusta. Os c�es que
<br>latem. O vento nas �rvores. Os passos na cal�ada da rua. O
<br>trilo de um apito. Um carro que passa aqui em frente. Parece
<br>que algo de ruim vai acontecer comigo. S� comigo. O alvo
<br>sou eu. A Simone ainda n�o me apareceu; mas vai aparecer.
<br>Aqui. De repente. E eu sei que vou v�-la, assim como estou
<br>te vendo. H� momentos em que me arrepio, sentindo que ela
<br>335
<br>
<br>
<br>est� perto. Aqui. No corredor. Na escada. No sal�o. Na cortina
<br>que esvoa�a. No jornal que o vento muda de lugar. Tenho
<br>a impress�o de que vou ver o meu livro se fechar, ao meu
<br>lado, na mesa-de-cabeceira, sem que ningu�m o toque.
<br>
<br>E ap�s outra crise de pranto:
<br>
<br>� Uma coisa estranha se passou comigo, e fez de mim
<br>outra pessoa. Assustada. Medrosa. Nunca fui assim. Nunca.
<br>Mesmo no tempo em que era amiga de Simone, e ela me dominava,
<br>e ralhava comigo, e passava dias sem me falar, at�
<br>que voltava a ser carinhosa, e doce, e amiga, me enchendo
<br>de presentes. Eu esperava essas mudan�as, serena, sem me perturbar.
<br>Agora, n�o. Tenho medo. Sei que n�o sou a mesma.
<br>Sou outra. Aqui. Dentro de mim. Por qu�, Rodrigo? Por qu�?
<br>E endireitando a cabe�a, a mostrar o rosto devastado:
<br>
<br>� Olha: se os m�dicos disserem que me ponhas num Sanat�rio,
<br>n�o consintas. Pelo bem que me queres. N�o, eu n�o
<br>quero ir para o Sanat�rio. Antes a morte. Sim, a morte. Juro-te
<br>que me mato.
<br>Ele a segurou pelos ombros, bem de frente:
<br>
<br>� N�o, n�o ir�s para o Sanat�rio. Eu, agora, n�o te deixo.
<br>At� que tudo isso passe. Mas tu vais me ajudar. Olha: s�
<br>h� um meio de dominar o medo: � olhar o medo de frente.
<br>A coragem � tamb�m um tiroc�nio. O homem s� andou com
<br>dois p�s quando perdeu o medo de cair. Se achas que a Simone
<br>est� aqui perto, na porta que bate, vai at� l�, acende a luz.
<br>Ver�s que tudo est� nos seus lugares, sem mist�rios, sem assombra��es.
<br>Quanto mais te atemorizares, pior ser�. Tens de
<br>fazer o contr�rio. E sozinha. Destemidamente. Eu estou perto
<br>de ti, para te ajudar; para ir ao teu encontro, se precisares
<br>de mim. N�o ir�s para o Sanat�rio, fica tranq�ila.
<br>Afagou-lhe o rosto, enxugou-lhe as l�grimas:
<br>
<br>� Posso contar com a tua ajuda?
<br>Ela confirmou com a cabe�a, sem conseguir reprimir o
<br>pranto.
<br>E ele, assim que a crise se atenuou:
<br>
<br>� Agora, vamos deitar. Com a tua m�o na minha m�o.
<br>Tirou a gravata, despiu o palet�, vestiu o pijama,
<br>agasalhou-se no robe de chambre, j� de chinelos.
<br>
<br>336
<br>
<br>
<br>E antes de deitar-se:
<br>
<br>� Mas, primeiro, vamos apagar as luzes da casa. Assim,
<br>com todas as l�mpadas acesas, s� nas noites de festa.
<br>Ela o viu descer, sem �nimo para acompanh�-lo, mas ficou
<br>ouvindo, um por um, o estalo seco dos interruptores de
<br>luz que o marido vinha apagando enquanto as sombras se alongavam
<br>por toda a casa.
<br>
<br>Volvidos alguns minutos, estendeu-se ao comprido da cama
<br>revolta, segurou a m�o do Rodrigo.
<br>
<br>337
<br>
<br>
<br>TERCEIRO CAP�TULO
<br>
<br>1
<br>
<br>O port�o, o parque, a alameda central, o sal�o, as duas
<br>saletas, o hall, o corredor, o quarto � sobretudo o quarto
<br>�, tudo ali era pretexto para que Patr�cia se lembrasse da
<br>Simone. Ali a Simone estivera, por ali passara, esguia, p�lida,
<br>pisando de leve, sem ru�do, e olhando tudo, contida, serena,
<br>quase irreal. Se punha o pensamento na festa, com os
<br>fogos de artif�cio, os convidados, os gar�ons indo e vindo por
<br>entre as mesas, as lanternas iluminadas, o riso largo do Rodrigo,
<br>o Cardeal a equilibrar o solid�u na cabe�a alta, a solenidade
<br>do Ludovico, a orquestra tocando, no esfor�o para
<br>desprender-se da imagem da Simone, a imagem prontamente
<br>volvia, mais n�tida, mais evidente, porque logo se recordava
<br>da Simone morta l� em cima, sob a luz dos dois abajures, ao
<br>comprido da cama, de olhos abertos, l�vida, enquanto os convidados
<br>riam e falavam ruidosamente, por entre o tinido dos
<br>copos e dos talheres.
<br>
<br>Num relance, a figura im�vel se fazia mais n�tida na sua
<br>consci�ncia, com as rugas dos cantos da boca, os l�bios entreabertos,
<br>as unhas vermelhas, os brincos nas orelhas, os cabelos
<br>grisalhos sobre o travesseiro, as pequeninas manchas sob
<br>os olhos, quase roxas, tornando-os mais estranhos, assim im�veis,
<br>do outro lado da vida.
<br>
<br>Por toda parte a Simone. Nos olhos dos criados. No rosto
<br>do Ludovico. Na voz assustada da Rosa. Se o Expedito subisse
<br>ao mirante para lhe falar, v�-la-ia nos olhos dele, que
<br>certamente lhe diria:
<br>
<br>339
<br>
<br>
<br>� Fez quest�o de que eu a levasse � Escola Normal.
<br>Olhando o port�o fechado, sob a vigil�ncia dos guardas
<br>que se revezavam dia e noite, daria por ela, sentada no banco
<br>traseiro do carro, pronta para descer ao p� da escada. Depois,
<br>subindo os degraus de m�rmore. No longo vestido branco. P�lida.
<br>Sem um leve toque de ruge nas faces encovadas. E os
<br>olhos vivos a lhe sorrirem.
<br>
<br>De nada adiantara o Rodrigo lhe ter dito, dias antes, de
<br>volta a casa, no momento de despir o palet�:
<br>
<br>� Agora, j� Simone est� no lugar pr�prio, no cemit�rio
<br>do Sanat�rio, depois da missa de corpo presente, rezada pelo
<br>Padre Revoredo. � p�gina virada. Ficou para tr�s. N�o se fala
<br>mais nela.
<br>Para tr�s? Como? N�o, n�o era verdade. Ela, Patr�cia,
<br>continuava a lembrar-lhe a voz, a sentir-lhe os passos, a
<br>ver-lhe as m�os frias. Sim, as m�os frias e longas, de dedos
<br>muito finos, de unhas vermelhas. Via bem esses dedos longos,
<br>dedos de pianista, com o polegar e o indicador tirando
<br>de dentro da bolsa o estojinho de prata com os dois comprimidos
<br>brancos. Em seguida, esses mesmos dedos recebiam
<br>
<br>o copo de �gua. Por fim, restitu�am-lhe o copo, que ela havia
<br>posto no tampo da c�moda, j� a caminho do espelho, para
<br>retoque da maquilagem e o diadema nos cabelos.
<br>Durante o dia, com os rumores da casa em seu redor, Patr�cia
<br>conseguia conviver com a imagem obsessiva. Tateava
<br>o ter�o, rezava pela Simone, pedia a Deus que perdoasse o
<br>mal que ela lhe fizera. De tarde, ou mesmo pela manh�, passava
<br>de leve pelo sono, para despertar assustada, com lembran�as
<br>do sonho � tona da consci�ncia e nas quais aparecia
<br>
<br>o Padre Revoredo, insistindo em trazer de volta o corpo de
<br>Simone, para ser velado na capelinha, ou ent�o com outras
<br>imagens da pr�pria Simone, que subitamente lhe aparecia, para
<br>desaparecer logo depois, no v�o da porta, no espa�o da parede
<br>entre as duas janelas, no a�o do espelho, no patamar da
<br>escada, como se o simples mover instant�neo dos olhos de Patr�cia,
<br>mudando a dire��o do olhar, tivesse o dom de
<br>materializ�-la e desfaz�-la com a mesma rapidez.
<br>Patr�cia sacudia a cabe�a, atirando de si a imagem per
<br>
<br>
<br>340
<br>
<br>
<br>sistente, enquanto tratava de acalmar-se, suplicando a Deus
<br>que desse paz � alma da Simone.
<br>
<br>De noite, � medida que as horas iam fluindo, uma sensa��o
<br>maior de medo apoderava-se da consci�ncia de Patr�cia,
<br>como se a Simone fosse efetivamente aparecer-lhe e falar-lhe,
<br>l�vida, sobrenatural. Permanecia com a cabe�a alteada no travesseiro,
<br>insone, acesa a luz do abajur, os ouvidos agu�ados,
<br>os olhos vigilantes, apenas acompanhada pelo ressonar do Rodrigo,
<br>ali ao seu lado, e pelos uivos do vento nas alamedas do
<br>parque. Espa�adamente, seguia o latido dos c�es, o silvo dos
<br>apitos, o rolar de um carro nos paralelep�pedos da rua, o ru�do
<br>de passos na cal�ada, e aguardava a volta do sil�ncio, ainda
<br>mais assustada.
<br>
<br>Ela sabia que, a despeito do calmante de todas as noites,
<br>que sempre tomava ao deitar-se, permaneceria acordada, atenta
<br>ao sil�ncio, ao rumor dos passos, ao farfalhar das �rvores, e
<br>fechava na concha da m�o o crucifixo do ter�o, arfando, no
<br>esfor�o para dominar-se.
<br>
<br>J� na quarta ou quinta noite da mesma vig�lia, ao apontar
<br>da madrugada, ouviu nitidamente o som de um piano, ali,
<br>dentro da casa. O piano de cauda do sal�o! Num impulso, como
<br>se n�o pudesse conter-se, ficou de p�. Acordaria o Rodrigo?
<br>Gritaria? Com os p�s descal�os, acercou-se da escada, desceu
<br>dois degraus, sempre ouvindo o piano � agora mais baixo,
<br>como se o vento lhe levasse o som para longe, atenuando
<br>os compassos da velha mazurca que a Simone, adolescente, tanto
<br>gostava de tocar.
<br>
<br>� � ela, sim, � ela � reconheceu Patr�cia, descendo outros
<br>degraus na escada escura.
<br>L� embaixo, premiu, resoluta, o comutador da luz, e foi
<br>caminhando para o sal�o na ponta dos p�s, � maneira de uma
<br>bailarina, leve, quase a�rea, acelerando o passo. Contornou o
<br>corredor, passou pela saleta, seguiu em frente, j� agora dominada
<br>por uma curiosidade mais viva, impulsivamente. Tateou
<br>adiante a parede, torceu o bot�o da luz, e foi andando, sempre
<br>depressa, sem ru�do, com a claridade do lustre a moldar-
<br>lhe o corpo perfeito na transpar�ncia da camisola.
<br>
<br>Deu por si, pouco depois, a um passo do sal�o. Girou a
<br>
<br>341
<br>
<br>
<br>ma�aneta da porta, e a pe�a ampla se alongou diante de seus
<br>olhos, envolta na penumbra. A luz distante do lustre, na sala
<br>cont�gua, dava apenas para mostrar os grupos estofados, os
<br>consolos, os espelhos, e o piano ao fundo, coberto pelo protetor
<br>de pano, sem ningu�m no banco girat�rio, e em redor o
<br>sil�ncio � um sil�ncio que s� o sibilo do vento interrompia,
<br>acompanhado pelo ladrar dos c�es. Nisto, aumentou os olhos,
<br>fixou-os no retrato de seu pai, depois no retrato de M�e Ded�,
<br>como se ambos estivessem ali a olh�-la. Levou a m�o � boca,
<br>contendo o grito, e deu por si no caracol da escada, chamando
<br>pelo Rodrigo.
<br>
<br>2
<br>
<br>Patr�cia entrela�a os dedos, estala-os, torce as m�os, depois
<br>as abandona no rega�o, calada, como ausente, sem ver
<br>
<br>o mundo circundante, cor de cinza, enquanto seu pensamento
<br>vai fluindo, entregue a si mesmo, � fei��o de um rio t�mido
<br>que fosse abrindo e alargando o seu caminho sinuoso:
<br>� Eu disse a ela: � N�o, eu n�o fa�o isso. J� disse que
<br>n�o fa�o. O que iam pensar de mim? N�o, n�o fa�o. � E ela,
<br>com um jeito de olhar que lhe tirava a luz dos olhos: � Ent�o
<br>eu n�o falo com voc� durante uma semana. � E n�o falou.
<br>Eu ia � casa dela, ela me abria a porta do quarto, eu entrava,
<br>e ela, sem olhar para mim, calada, parecia que me deixava s�,
<br>na poltroninha creme de que eu tanto gostava. A m�e dela reparou.
<br>Coitada da D. Zita. Tinha adora��o pela filha. Mas ralhou
<br>com ela: � Por que voc� n�o fala com a Patr�cia? Patr�cia
<br>� a sua melhor amiga. � Assim mesmo. Estou ouvindo
<br>a voz de D. Zita, sempre acompanhada pelas m�ozinhas gordas,
<br>que eu gostava de pegar. E a Simone, muda. Muda tamb�m
<br>com a m�e. Por qu�, n�o sei. N�o me lembro mais por
<br>que foi que brigamos. Brigamos, n�o. Ela � que brigava comigo.
<br>Queria impor, queria mandais Agora, at� acho gra�a do
<br>caso do vestido. Como foi mesmo, Patr�cia? Sim, sim, estou
<br>342
<br>
<br>
<br>
<br>me lembrando: foi por causa do vestido. Ela queria que eu andasse
<br>de azul, durante treze dias. Por que treze? N�o sei dizer.
<br>Sei que eram treze dias. Ela de azul, eu de azul. E eu, decidida:
<br>� Mas por que vou andar de azul? � Ela estranhou: �
<br>Voc� me pergunta por qu�? Voc� n�o � minha amiga? Minha
<br>�nica amiga verdadeira? A irm� que eu n�o tive? Eu vou andar
<br>de azul, a partir de amanh�. � Eu continuei teimando.
<br>Punha um vestido cinza, que era quase azul. Mas azul, n�o.
<br>E ela, de azul. Nas horas da escola, no azul do uniforme. Azul
<br>e branco. Fora das horas da escola, um vestidinho azul. Muito
<br>apertado na cintura, mas solto aqui em cima, para n�o apertar
<br>os seios. E eu, firme: de vez em quando, de vestido cinza,
<br>por sinal que um pouco comprido, porque a moda, por esse
<br>tempo, era o vestido curto, j� mostrando os joelhos. Em resumo:
<br>durante treze dias, Simone de azul. Falava comigo, mas
<br>n�o falava como amiga, falava como uma pessoa que se desse
<br>comigo, sem ser mesmo minha amiga. Eu tinha um vestido azul.
<br>Um, Patr�cia? N�o, dois: um, inteiro; outro, de saia e casaquinho.
<br>No �ltimo dia, exatamente no �ltimo (era um domingo,
<br>e n�s duas �amos juntas � missa, na igrejinha da pra�a), apareci
<br>na casa da Simone com a saia e o casaquinho azul. Ah,
<br>meu Deus, a alegria dela. N�o me disse nada, mas me beijou,
<br>me abra�ou, ficou de m�o dada comigo um bom tempo, outra
<br>pessoa. De novo minha amiga. Nesse dia, fez quest�o que
<br>eu ficasse para almo�ar com ela; depois, fomos ao cinema, e
<br>voltamos a p�, rindo alto, falando alto, e olhe que o cinema
<br>era longe. Estou vendo o parque que a gente atravessava. Uma
<br>ao lado da outra, falando, rindo. No meio do caminho, na ponte
<br>curva em cima do lago, come�ou a escurecer, como se a noite,
<br>em vez de vir devagar, viesse vindo depressa, para nos agarrar.
<br>Eu quis correr, acelerando o passo, mas Simone me conteve:
<br>
<br>� Que � isso, criatura? Quer me deixar sozinha? Quer se livrar
<br>de mim? O perigo que voc� corre, eu tamb�m corro. �
<br>E me deu a m�o. Estou sentindo a m�o dela. Fria. A mesma
<br>m�o fria que ela me estendeu aqui, quando chegou. �s vezes
<br>eu me apressava; ela me continha, me puxando para tr�s. E
<br>- a gente fosse assaltada? E se aparecesse um maluquinho para
<br>fazer mal � gente? Podia aparecer. Por que n�o? S� eu sei co343
<br>
<br>
<br>
<br>mo me senti depois que o parque ficou para tr�s. Disse � Simone:
<br>� Passei o tempo todo rezando. Ela riu, me chamando
<br>de medrosa. A Simone, quando ria, ficava mais bonita. Uma
<br>covinha em cada lado da boca. Um brilho feliz nos olhos escancarados.
<br>Linda mesmo. Mais bonita do que eu. Muito. Outro
<br>tipo, outra pessoa, embora parec�ssemos irm�s. Apesar de
<br>seu g�nio estranho, eu gostava dela. �s vezes tinha medo, me
<br>intimidava. Cheguei a pensar em me afastar dela. N�o pude.
<br>N�o podia. At� que nos separamos mesmo, cada uma para seu
<br>lado: ela, para o Sanat�rio; eu, para a minha casa. Esta casa.
<br>Mulher do Rodrigo. Sempre nas colunas sociais. Viajando pelo
<br>mundo, assistindo � Opera, em Paris; vendo o Papa de perto,
<br>assim como estou vendo essa mesa; ouvindo o Sinatra, em
<br>Nova Iorque, no Carnegie Hall. De repente, este medo, como
<br>se tudo fosse acabar, e eu sozinha, com a Simone perto de mim,
<br>por toda parte, para me destruir, para me levar ao desespero.
<br>N�o consigo dormir. Se vou resvalando no sono, ela me desperta.
<br>Ontem, quando ouvi o piano, senti que era ela tocando.
<br>Quando me aproximei, parou de tocar, fechou o piano. Se
<br>subo a escada, se des�o a escada, ou�o seus passos por tr�s
<br>de mim. Sinto que ela vai me alcan�ar, e ando depressa: ela
<br>tamb�m anda. Agora mesmo, est� aqui, � minha volta. Por
<br>qu�, se j� passou para o outro lado da vida? Mas est�, sei que
<br>est�. Nunca mais tive um momento de sossego. Veio morrer
<br>aqui, de prop�sito. Para se vingar de mim, com o mesmo �dio
<br>que sentia pela Tia Carol? Pobre Tia Carol, madrinha dela,
<br>miudinha, sequinha, de olhos azuis no rosto enrugado. Parece
<br>que estou vendo a Tia Carol querendo falar com a afilhada,
<br>e a Simone saindo da sala, como se a madrinha n�o estivesse
<br>a lhe falar. D. Zita se abriu comigo: � Patr�cia, v� se
<br>a Simone fala com a madrinha dela. J� fiz tudo. Simone n�o
<br>me atende. Voc�, que � a maior amiga de minha filha, converse
<br>com ela. Simone n�o pode deixar de falar com a madrinha.
<br>Madrinha � uma segunda m�e. Se eu desapare�o de uma hora
<br>para outra, � a Carol que fica no meu lugar. J� disse isso mesmo
<br>� Simone, e � como se ela n�o me tivesse ouvido. Tudo
<br>porque, quando menina, a Carol ralhou com ela e a p�s de
<br>castigo. Simone tinha sete anos. Desde a� a madrinha tem fei
<br>
<br>
<br>344
<br>
<br>
<br>to tudo para a Simone deixar dessa bobagem, e ela n�o deixa:
<br>se a madrinha chega, mete-se no quarto, ou ent�o sai, em casa
<br>� que n�o fica. N�o sei de quem minha filha puxou esse
<br>g�nio. Ou se fecha, sem querer ver ningu�m, ou fica calada,
<br>como se fosse muda. Desde menina que � assim. Eu n�o sou
<br>assim. O pai dela tamb�m n�o �. Pelo menos n�o era, enquanto
<br>viveu comigo. Depois, n�o sei. Muito esquisita a minha filha.
<br>� E me lembrou a hist�ria do anel. O anel de ouro, com
<br>um brilhante, que a Tia Carol usava na m�o esquerda, no lugar
<br>da alian�a. Quando a Simone fez quinze anos, a Tia Carol,
<br>que j� estava na cadeira de rodas, lhe mandou de presente
<br>
<br>o anel, numa caixinha de veludo. Eu estava com a Simone quando
<br>D. Zita entrou no quarto com o estojinho azul. � Minha
<br>filha, olha o que a tua madrinha te mandou pelo dia de hoje.
<br>� E abriu o estojo. Simone estava de costas, n�o se voltou
<br>para ver. E quando a m�e saiu, abriu o estojo, atirou o anel
<br>pela janela. E me disse, com raiva: � Eu n�o gosto daquela
<br>mulher. N�o gosto, j� disse que n�o gosto. � Mas o pior foi
<br>quando a Tia Carol morreu. Simone p�s um disco dos Beatles
<br>na toca-discos, na hora do enterro. Alto, como em dia de
<br>festa. Um disco atr�s do outro. Falei para ela: � Simone, a
<br>Tia Carol era tua madrinha. � N�o me respondeu. Quando
<br>D. Zita chegou, correu para o quarto da filha, desligou o tocadiscos:
<br>� Simone, isso n�o se faz. A Tia Carol era sua madrinha.
<br>E para mim era a minha �nica irm�. � Tamb�m falei,
<br>no mesmo tom. E a Simone, quando D. Zita saiu do quarto:
<br>� Ela viva ou ela morta, para mim � a mesma coisa: n�o gostava
<br>dela. Ponto final. � Assim mesmo. O que mais me impressionava
<br>era a serenidade dela, quando fazia tudo isso. O
<br>�dio mesmo durava um momento no rosto bonito. Depois, logo
<br>depois, era como se nada houvesse acontecido. Sempre foi assim.
<br>E se sempre foi assim, por que havia de mudar quando
<br>veio aqui? Nem depois de morta ela mudou.
<br>E Patr�cia, levantando-se, como se falasse � Simone, ali
<br>no quarto, com a tarde esmorecendo:
<br>
<br>� Vai embora, vai. Me deixa em paz.
<br>E o Rodrigo, nesse momento, entrando no quarto:
<br>� Que � isso, Patr�cia?
<br>345
<br>
<br>
<br>E ela, voltando a sentar na poltrona, com as m�os no
<br>rosto:
<br>
<br>� A Simone est� aqui, Rodrigo. E eu quero que ela saia,
<br>que v� embora, que me deixe dormir.
<br>3
<br>
<br>Jamais esqueceria aquele instante. Velhinha que fosse, de
<br>rosto retalhado de rugas, a bengala na m�o torcida, como a
<br>av� Henriqueta, quase centen�ria. Instante �nico. Relance de
<br>eternidade, fronteiro entre a vida e a morte. Ponto de encontro
<br>repentino entre a realidade vis�vel e a transrealidade, fora
<br>do tempo, acima do mundo simplesmente objetivo, como se
<br>fosse a porta do mist�rio.
<br>
<br>E Patr�cia, nua, toda a tremer, encolhida a um canto da
<br>banheira, como acossada, tornava a repetir, com os olhos escancarados
<br>pela emo��o e pelo medo:
<br>
<br>� Eu vi. Sei que vi. Vi e gritei.
<br>Ah, quantos dias e quantas noites a se debater com a mesma
<br>ang�stia, sabendo que a Simone estava em seu redor, imaterial,
<br>invis�vel, mas presente; presente como se estivesse viva.
<br>Muitas e muitas vezes lhe sentira os passos por tr�s de seus
<br>passos. Se se voltava para v�-la, com uma luz mais viva nos
<br>olhos resolutos, tudo subitamente se esva�a: s� ficavam as suas
<br>m�os geladas, o olhar atarantado e o cora��o que lhe subia
<br>� garganta e �s t�mporas, sufocando-a, batendo depressa.
<br>
<br>Debalde, ela, Patr�cia, lhe gritara, em desafio:
<br>
<br>� Aparece, criatura. Por que n�o te mostras? Tens medo
<br>de mim? Ou s� est�s a� para me assustar?
<br>Sil�ncio. Um sil�ncio compacto, que talvez se pudesse pegar,
<br>como algo vivo e tang�vel. O sil�ncio das cidades vazias,
<br>ou dos soldados mortos, nos campos de batalha. Ou de um
<br>�nico morto, na areia do deserto, sob a claridade mansa do
<br>luar.
<br>
<br>� Por que voc� n�o voltou a tocar no piano do sal�o?
<br>346
<br>
<br>
<br>Fora em v�o que ela, Patr�cia, noites seguidas, ficara a esperar
<br>pela percuss�o das teclas, na imensid�o das madrugadas.
<br>Somente o ru�do do vento. Ou o bater de uma janela. O ranger
<br>de uma porta. E sempre o ladrido dos c�es, como se estes,
<br>com o seu faro e o seu instinto, sentissem a transrealidade,
<br>com o desafio de seus enigmas.
<br>
<br>De repente, em plena luz do dia, j� despida, quando corria
<br>a escova nos cabelos, esperando a �gua subir na banheira,
<br>eis a Simone vis�vel, ali, refletida no espelho, e parada, de p�,
<br>os olhos escancarados, e l�vida, t�o branca quanto o linho de
<br>um altar. N�o, n�o esperava por ela, depois da eterna noite
<br>insone, com leves pancadas de chuva na vidra�a das janelas.
<br>Embora a vis�o houvesse durado um instante apenas, podia
<br>descrev�-la, no seu vestido longo, os cabelos soltos para os
<br>ombros, as m�os entrela�adas por baixo dos seios.
<br>
<br>N�o conseguira conter-se. E todo o seu pavor � que a
<br>regelava, que a sacudia, que lhe tirava o equil�brio das pernas
<br>
<br>� se exprimiu no grito imediato, enquanto se afastava do espelho,
<br>para ficar ali, a um canto da banheira, com a �gua prestes
<br>a transbordar, as m�os defronte da boca, os seios balan�ando,
<br>o tri�ngulo negro do sexo a retrair-se entre as coxas
<br>nervosas.
<br>Afinal, na fechadura da porta, o giro da chave, e a Rosa,
<br>assustada, a perguntar-lhe:
<br>
<br>� Que foi, D. Patr�cia?
<br>E Patr�cia, a apontar para o espelho:
<br>� Ali, ali. Ela, ela. A Simone. Eu vi, Rosa, eu vi. Sei
<br>que vi. Com estes olhos, quando eu penteava os cabelos. Olha
<br>a escova no ch�o, perto de ti. Caiu-me da m�o quando gritei.
<br>E o Rodrigo, mais tarde, assim que chegou do escrit�rio,
<br>avisado pelo Ludovico:
<br>
<br>� Acalma-te. N�o foi bem assim. Est�s exausta, de tantas
<br>noites sem dormir. Simples impress�o, resultante de teu cansa�o
<br>f�sico e mental. Confia em mim. Larguei tudo para vir
<br>ao teu encontro. Eu estava na sala das assembl�ias, presidindo
<br>a reuni�o da diretoria. Corri para c�. Eu mesmo dirigindo
<br>o autom�vel. E aqui estou, junto de ti, para te dizer que
<br>tudo isso vai passar. Vai. Tenho certeza de que ficar�s boa.
<br>347
<br>
<br>
<br>J� chamei o Nuno Vaz, em Nova Iorque. E ele vem de l�, talvez
<br>ainda hoje, s� para cuidar de ti.
<br>Ela se desprendeu das m�os que a protegiam, e suplicou-
<br>lhe, no auge do pavor:
<br>
<br>� N�o, n�o, Rodrigo. Por favor. Ele vai querer me levar
<br>para o Sanat�rio. E eu n�o vou. N�o, n�o vou. � isso que
<br>a Simone quer. Tirar-me daqui. Levar-me daqui. N�o, n�o. Prefiro
<br>morrer.
<br>Ele a segurou pelos bra�os, firmemente, resolutamente,
<br>buscando-lhe os olhos, sentido-lhe o tremor:
<br>
<br>� J� te jurei que n�o ir�s para o Sanat�rio. E volto a
<br>te dizer, agora, que n�o ir�s. N�o precisas ir. Confia em mim.
<br>Torno a te jurar. Acalma-te. Confia em mim. Como sempre
<br>confiaste.
<br>4
<br>
<br>N�o, ele n�o a levar� para o Sanat�rio. Mesmo que as
<br>noites, para ela, continuem imensas. Mesmo que outras imagens
<br>estranhas lhe aflorem ao lume das pupilas assustadas. Nesse
<br>ponto, Patr�cia sabe que pode confiar. Rodrigo nunca deixou
<br>de cumprir o que lhe prometeu.
<br>
<br>� Nunca � repete, sentindo que a confian�a se alastrava
<br>em sua consci�ncia com a palavra repetida.
<br>O dia come�a a recolher as primeiras sombras da noite,
<br>a temperatura se faz mais baixa, com leves arrepios de frio
<br>gradativo, mas o sol ainda reluz nas vidra�as circundantes, enquanto
<br>um tom r�seo se desfaz lentamente, entre nesgas de
<br>azul p�lido, por cima dos ramos das castanheiras do quintal.
<br>
<br>Vem-lhe a vontade de sentar-se na poltrona orelhuda a
<br>um canto do gabinete do Rodrigo, e ela transp�e-lhe a porta,
<br>j� com a m�o tateando o caixilho em busca do interruptor da
<br>luz.
<br>
<br>Ludovico, que a espreita, vem ao seu encontro:
<br>
<br>� Posso ajud�-la, D. Patr�cia?
<br>348
<br>
<br>
<br>� N�o, Ludovico. Cuida de teu servi�o. Obrigada.
<br>Sua voz � leve, distante, quase inaud�vel. E ela d� um passo,
<br>outro, mais outro, guiada pela derradeira claridade da tarde,
<br>sem ter acendido o lustre de quatro bra�os por cima da
<br>mesa do Rodrigo.
<br>
<br>Senta-se na poltrona, olha a alameda longa que leva � capelinha,
<br>e fica embevecida com o velho quadro rom�ntico que
<br>a natureza torna a compor com as �ltimas luzes do ocaso: o
<br>verde que vai escurecendo, o gradativo esbater dos galhos, a
<br>luta silenciosa da sombra com a claridade que vai empalidecendo.
<br>Por que s� existem agora quadros assim na galeria dos
<br>antiqu�rios, enquanto as tardes repetem os recantos de bosques,
<br>a fachada de uma igreja, uma torre de campan�rio, a
<br>pontezinha sobre o rio, a menina que se debru�a sobre a torrente
<br>e v� seu busto na �gua que vai fluindo?
<br>
<br>L� fora, com as sombras densas quase apagando o caminho
<br>da alameda e desfazendo a fachada da capelinha, as luzes
<br>se acendem de repente, numa explos�o silenciosa.
<br>
<br>E a voz do Ludovico, � entrada do gabinete:
<br>
<br>� Posso acender o lustre, D. Patr�cia?
<br>As quatro l�mpadas dos quatro bra�os seguem-lhe a ordem,
<br>e tudo ali dentro como que se renova na luz viva: os livros
<br>perfilados nas estantes envidra�adas, a papeleira manuelina,
<br>o quadro de Dali na nesga de parede junto � janela, a
<br>mesa espa�osa, o retrato de Patr�cia na moldura de prata, a
<br>cole��o de cachimbos ingleses, o gordo pote de fumo, e as pastas
<br>de recortes que o Rodrigo trazia do escrit�rio para as distra��es
<br>de seu fim de semana, ali mesmo, nos dois dias de luz
<br>mitigada.
<br>
<br>E o Ludovico, pouco antes de retirar-se:
<br>
<br>� Viu os jornais de hoje, D. Patr�cia? Corri os olhos em
<br>dois deles, agora � tarde. O Sr. Lucas Caetano voltou a falar
<br>de nossa festa, destacando a apresenta��o do Bal� Nacional.
<br>Agora, por favor, me perdoe, se vou dizer o que n�o devia:
<br>o Sr. Lucas Caetano, bondosamente, p�s meu nome humilde
<br>na sua coluna. Sim, senhora. Este seu criado l� est�, com todas
<br>as letras. Por extenso: Ludovico Manhano. Como soube,
<br>n�o sei. Fiquei feliz. Diz ele que a ordem da festa, o servi349
<br>
<br>
<br>
<br>�o, a coloca��o das mesas, tudo se deve a mim. Exagero. Fiz
<br>apenas a minha parte. Mas n�o � a primeira vez que meu nome sai
<br>em jornal. Quando ele lhe telefonar, diga-lhe, por favor, que fiquei
<br>emocionado, sem poder falar. Estou com vontade de lhe
<br>mandar umas flores. Devo mandar? Ou n�o? � melhor mandar:
<br>mostra que sou grato. Eu mesmo vou levar o ramo, daqui
<br>de nosso jardim, com o seu consentimento, � morada do
<br>Sr. Lucas Caetano. Ponho umas palavrinhas num cart�o.
<br>
<br>E vermelho, torcendo as m�os contentes:
<br>
<br>� Se a senhora estiver de acordo, e n�o me levar a mal,
<br>pe�a ao seu amigo que, noutra nota de sua coluna social, ponha
<br>tamb�m o nome da Rosa. Da nossa Rosa. Ela merece.
<br>Tanto quanto eu. Ou mais. Ou mais.
<br>Curvou-se devagar, reconhecido. Depois, ao endireitar a
<br>cabe�a, tufou mais o peito, importante, como se n�o coubesse
<br>mais na libr�, e foi indo corredor afora, quase a dan�ar na
<br>passadeira do corredor.
<br>
<br>Patr�cia acompanhou-lhe por um momento o leve ru�do
<br>dos passos airosos, esbo�ando um sorriso. Em seguida, novamente
<br>pensativa, p�s-se em frente de uma das estantes, correndo
<br>os olhos pela fileira de livros de Maupassant, � altura
<br>de seu rosto. Lera todos eles, fazia alguns anos. E agora volvia
<br>a recordar-se de seu �ltimo professor de franc�s, o bom
<br>do Mestre Higino, sempre de branco, com um cravo vermelho
<br>na lapela, e que dizia �s suas alunas, na sala de aula:
<br>
<br>� Leiam Maupassant, meninas. � o meu contista predileto.
<br>O maior. O sublime. Sem rival. Prosa l�mpida. Clara.
<br>Objetiva. E de interesse crescente. Sei de cor p�ginas e p�ginas
<br>do grande escritor.
<br>Patr�cia apanhou um dos volumes, depois de breve hesita��o.
<br>E tirando-o da fileira:
<br>
<br>� � este, sim, � este.
<br>De modo impreciso, lembrava-se de um dos contos do livro,
<br>a que, de momento, associava o seu pr�prio caso. O livro
<br>seria mesmo aquele? Parecia-lhe que sim.
<br>
<br>Conquanto voltasse a sentir-se tensa, caminhou at� a poltrona
<br>orelhuda, viu que at� ali chegava a claridade do lustre,
<br>e sentou-se, j� abrindo o volume. Leu um conto, outro, mais
<br>
<br>350
<br>
<br>
<br>outro. Estaria enganada? N�o: o volume era mesmo aquele.
<br>Correu os olhos s�fregos pelo �ndice, ao fim do livro. E abrindo
<br>
<br>o volume ao meio:
<br>� Agora, sim, achei: � estes
<br>E uma sensa��o estranha, em que se associavam o temor
<br>e a curiosidade doentia, f�-la redobrar de aten��o, � medida
<br>que reconhecia a si mesma no texto que ia percorrendo.
<br>
<br>Uma chuva repentina pusera-se a sacudir as r�tulas nos
<br>caixilhos, enquanto vergalhava as vidra�as, por entre os uivos
<br>da ventania. A claridade da sala, projetando-se para fora,
<br>mostrava os galhos que se contorciam, agitados pelas rajadas
<br>� sem que Patr�cia desse pelo temporal, toda ela concentrada
<br>na leitura. A concord�ncia de sua ang�stia com a ang�stia
<br>crescente da personagem n�o poderia ser mais exata.
<br>S� n�o se lembrava com nitidez do desfecho do conto.
<br>
<br>De s�bito, como de prop�sito para agravar-lhe o medo,
<br>a luz apaga, sem que Patr�cia, at�nita, tenha tempo de gritar.
<br>Prende a respira��o, na �nsia moment�nea, e v� que, fora,
<br>tudo est� escuro. Mas logo a luz se reabre, mais intensa, enquanto
<br>Patr�cia volve � leitura, esquecida de seu pr�prio caso,
<br>para concentrar-se ainda mais no texto de Maupassant.
<br>
<br>Um, dois, tr�s, quatro par�grafos, e eis que Patr�cia torna
<br>a encontrar a si pr�pria na personagem do conto. E ela repete
<br>as palavras que os olhos percorrem sofregamente, ansiosamente:
<br>"� medida que a noite se aproxima, uma inquietude
<br>incompreens�vel me invade, como se a noite ocultasse para
<br>mim uma amea�a terr�vel."
<br>
<br>Foi lendo de atropelo, isolada do mundo � sua volta, toda
<br>ela presa no texto, como na afli��o de um pesadelo, mas
<br>sem que lhe viesse a �nsia de despertar. Pelo contr�rio: sentia-se
<br>atra�da, dominada pela for�a estranha que a ia levando, ladeira
<br>abaixo. N�o adiantava debater-se, correr, tentar fugir.
<br>E a pergunta que tantas vezes fizera a si mesma, nos �ltimos
<br>dias, estava agora ali, no centro da p�gina, em caracteres impressos:
<br>"De onde v�m estas influ�ncias misteriosas que mudam
<br>em des�nimo nossa felicidade e em ang�stia a nossa confian�a?"
<br>Tamb�m ela, Patr�cia, se sentia assim, com a �ntima
<br>certeza de que algo terr�vel ia acontecer-lhe. Parecia que um
<br>
<br>351
<br>
<br>
<br>vazio estranho e m�rbido se abria na sua cabe�a, que a sua
<br>consci�ncia se desagregava, e que era em v�o que reagia.
<br>
<br>De p�, mais nervosa, com toda a claridade do lustre sobre
<br>o livro aberto, saltou uma p�gina, outra; voltou, leu de
<br>novo, mais atenta, contraindo as sobrancelhas, at� se deter
<br>na experi�ncia da personagem do conto, que se fecha no seu
<br>quarto, � noite, e deixa sobre uma mesa a garrafa de �gua e
<br>a garrafa de leite, convenientemente envoltas em guardanapos
<br>de musselina branca, e as amarra, e lhes fecha a rolha bem
<br>fechada. Ap�s dormir profundamente, vai olhar as garrafas,
<br>no quarto fechado, e v� que, durante a noite, o leite e a �gua
<br>foram bebidos.
<br>
<br>A sensa��o de pavor que Patr�cia experimenta, relendo
<br>novamente o texto, atordoada, confusa, � t�o grande, t�o intensa,
<br>que tem de firmar as m�os no espaldar da cadeira mais
<br>pr�xima, para conter-lhes o tremor compulsivo. L� adiante,
<br>e n�o compreende; torna a ler, mais pausada, contendo-se,
<br>mas a curiosidade � mais viva que a sua vontade, e ela salta
<br>per�odos, volta a folha, passa adiante, ao mesmo tempo em
<br>que diz a si mesma, com o seu racioc�nio paralelo:
<br>
<br>� Tamb�m comigo se passam coisas estranhas. Eu vejo
<br>a Simone, e ela desaparece quando firmo de novo o olhar. Sinto
<br>que ela est� perto de mim, como agora. Talvez que, olhando
<br>para os lados ou para tr�s, torne a v�-la, assim como estou
<br>vendo a folha deste livro.
<br>E logo se p�s a dizer, lendo em voz alta o fecho do conto:
<br>
<br>� Ent�o... ent�o... � preciso que eu me mate, eu mesma!
<br>Como se fosse uma ordem. Uma ordem da Simone. A
<br>que tinha de obedecer.
<br>E o Rodrigo, j� dentro do gabinete, deixando sobre a secret�ria
<br>a sua pasta de couro:
<br>
<br>� Voc� se assustou comigo, querida?
<br>Ela o olhava com os olhos crescidos, l�vida, os l�bios tr�mulos,
<br>a boca entreaberta. Parecia que lhe faltavam as for�as
<br>para falar, voltada para ele. Ou que ia desfazer-se numa vertigem.
<br>Rodrigo veio mais perto, de semblante contra�do, apiedado
<br>dela. Mas foi ela que venceu de repente a pequena dis
<br>
<br>
<br>352
<br>
<br>
<br>t�ncia que os separava, atirando-se-lhe nos bra�os, como num
<br>abrigo, enquanto lhe dizia:
<br>
<br>� N�o sou a mesma, Rodrigo. N�o, n�o sou.
<br>5
<br>
<br>Pela madrugada, com o Rodrigo imerso em sono profundo,
<br>ali na cama espa�osa, � sua direita, Patr�cia voltou a ouvir
<br>o piano, por entre os latidos dos c�es. Na luz escassa,
<br>sentou-se � borda do leito, ficou de p�, toda ela concentrada
<br>nos ouvidos.
<br>
<br>� � o piano do sal�o � reconheceu.
<br>Na ponta dos p�s, ligeira, como se levitasse, Patr�cia desceu
<br>a escada em caracol, sem qualquer ru�do; seguiu pelo corredor
<br>�s escuras, ajustando as pupilas � claridade mitigada,
<br>atravessou uma sala, outra sala, e parou, sentindo que a sonata
<br>se distanciava, levada pelo sibilo do vento. Deu outros
<br>passos, sempre de orelhas fitas, e alcan�ou por fim o sal�o.
<br>Tateou a parede, premiu o bot�o da luz, e a luz explodiu nos
<br>pingentes do lustre, por cima do piano � agasalhado na capa
<br>cinzenta que inteiramente o cobria, como imerso em sono let�rgico.
<br>Ningu�m, ali. E na parede ampla, os retratos do pai
<br>e de M�e Ded�, grandes, parados, como a espreit�-la.
<br>
<br>De volta, Patr�cia veio acendendo as luzes, dos corredores,
<br>e das salas, e dos nichos, e do vest�bulo. Tudo resplandeceu
<br>numa claridade de ressurrei��o, enquanto a luz quase a despia,
<br>deixando ver-lhe o corpo na transpar�ncia da camisola
<br>de cambraia. E esse corpo �gil, leve, ligeiro, entrou a galgar
<br>a escada dcmirante, sempre na ponta dos p�s descal�os, e assim
<br>alcan�ou o patamar. Entretanto, em vez de entrar no quarto,
<br>para tornar a deitar-se, p�s-se a subir mais adiante a escadinha
<br>de madeira, quase vertical, que levava ao s�t�o � ex�guo
<br>espa�o entre o telhado e o forro de madeira, por onde
<br>se espalhava agora a claridade escassa da antemanh�, coada
<br>pelas telhas de vidro de uma clarab�ia.
<br>
<br>353
<br>
<br>
<br>L� no alto, vencido o �ltimo degrau, Patr�cia parou um
<br>momento, olhando em volta, como em busca de orienta��o,
<br>e logo se dirigiu para o parapeito que abria sobre o beiral uma
<br>janela estreita. Descerrou-a com esfor�o, sentindo na m�o diligente
<br>a poeira acumulada. E dali descortinou a cidade, com
<br>suas torres, seus telhados, seus edif�cios, debaixo do c�u ainda
<br>fosco que se ia estriando de vermelho, longe, adiante do
<br>rio, na dire��o do nascente.
<br>
<br>E decidindo-se, como se a morte a conduzisse, subiu ao
<br>parapeito, sentou-se no poial de cimento, fazendo voar o casal
<br>de pombos que arrulhava na ponta do beiral.
<br>
<br>� � daqui que vou me atirar � afirmou, resoluta.
<br>N�o esperaria pelo novo dia e a nova noite, e os novos
<br>dias e as novas noites, sempre insone, sem gosto para viver,
<br>sem �nimo para o mundo que a cercava e envolvia, exausta,
<br>no extremo limite de suas for�as. Reconhecia que a tenacidade
<br>da Simone, perseguindo-a, era mais forte que a sua,
<br>defendendo-se dela. Entregava-se. Rendia-se. N�o a veria mais
<br>no relance de um espelho nem a ouviria ao piano, repetindo
<br>as m�sicas que ambas preferiam. Tampouco lhe ouviria os passos.
<br>Nem a sentiria em seu redor, invis�vel, vigilante. Imposs�vel
<br>viver assim.
<br>
<br>Com a luz encardida que gradativamente se abria, mais
<br>sang��nea, mais desatada, Patr�cia ia vendo as �rvores, a capelinha,
<br>a piscina, as alamedas, enquanto seus p�s nus balan�avam,
<br>prestes a se firmarem no parapeito de cimento para
<br>
<br>o salto que a libertaria de seu longo pesadelo. L� embaixo,
<br>ainda coberto pelas sombras que come�avam a desfazer-se,
<br>era o ch�o ensaibrado, a cal�ada de cantaria, o rego das �guas,
<br>entre a casa e a garagem. E sempre os c�es ladrando, doridamente,
<br>intervaladamente, j� com o pipilo dos p�ssaros que iam
<br>acordando na manh� enevoada.
<br>Chegou a parecer � Patr�cia que a pr�pria Simone a ajudaria
<br>no salto, empurrando-a. E balan�ava as pernas enquanto
<br>se debatia com o apego natural � vida, sentindo o fio das l�grimas
<br>descendo devagar no seu rosto devastado.
<br>
<br>Nisto um bra�o a cingiu, por tr�s, � altura do ventre, sem
<br>lhe dar tempo de defender-se.
<br>
<br>354
<br>
<br>
<br>E o Rodrigo, trazendo-a para dentro:
<br>
<br>� Que � que voc� est� fazendo aqui, Patr�cia? Que desatino
<br>passou por sua cabe�a? Esqueceu-se de mim? De meu
<br>carinho, de meu desvelo, de meu amor? Venha, venha comigo.
<br>Eu n�o posso ficar s�.
<br>Ela se deixou levar, d�cil, fr�gil, submissa, com as m�os
<br>no rosto, solu�ando e repetindo:
<br>
<br>� N�o ag�ento mais este pesadelo. Deus se esqueceu de
<br>mim, Rodrigo. A Simone n�o me deixa. Por que isto, meu
<br>Deus?
<br>355
<br>
<br>
<br>REMATE
<br>
<br>Faze-me conhecer, Senhor, o meu fim,
<br>e a medida dos meus dias, quai �, para que
<br>eu sinta quanto sou fr�gil.
<br>
<br>SALMOS, 39, vers. 4
<br>
<br>Ce que je voudrais que l'on vit dans mon
<br>livre c'est qu'il est sortit tout entier de l'application
<br>d'un sens sp�cial qu 'il est difficile de
<br>d�crire (comme � un aveugle le sens de la vue)
<br>� ceux qui ne l'ont jamais exerc�.
<br>
<br>PROUST, Lettre � Camille Vettard.
<br>
<br>
<br>Parecia vir de longe, trazida pelas ondas mansas que a
<br>devolviam � orla da praia. Por vezes, assim entregue ao capricho
<br>das vagas, a consci�ncia lhe fugia, como se tornasse
<br>a imergir no sono invenc�vel. Da� a momentos, por�m, conseguia
<br>reapossar-se de si mesma, e erguia as p�lpebras lerdas,
<br>retraindo as pernas, mudando de posi��o na cama revolvida.
<br>
<br>Onde estava? Que cama era aquela? De repente, estremeceu
<br>num impulso, levantando a cabe�a. Estaria num quarto
<br>de Sanat�rio? N�o, n�o podia ser. Onde estava o Rodrigo?
<br>Forcejando para manter as p�lpebras abertas, olhou em
<br>volta, e deu com a mo�a gorda, toda de branco, esparramada
<br>numa cadeira de bra�os, os p�s cruzados, um gorro na cabe�a.
<br>Mais assustada, conseguiu perguntar-lhe, firmando o olhar:
<br>
<br>� Quem � voc�? Onde estou? Que casa � esta?
<br>A voz d�bil, como desacostumada de si pr�pria, exigia-
<br>lhe esfor�o para ser ouvida. Mas a mo�a gorda, levant�ndose,
<br>veio at� a cama, sol�cita, aumentando no sorriso as bochechas
<br>rosadas, e perguntando-lhe, numa fala doce, quase cantante,
<br>se podia falar-lhe em ingl�s. E quando Patr�cia lhe disse
<br>que sim, aumentou ainda mais as bochechas, diminuindo
<br>no contentamento os olhinhos azuis:
<br>
<br>� Eu sou a sua enfermeira � adiantou-lhe.
<br>Patr�cia, mais intrigada, repassava a amplid�o do quarto,
<br>o espelho de moldura dourada, o candeeiro sobre a c�moda,
<br>a pesada arca de madeira entre duas janelas, sentindo que
<br>nada ali lhe era estranho, mas sem que a sua mem�ria pudesse
<br>dizer-lhe onde estava. E aceitando a m�o prestimosa que
<br>a enfermeira lhe oferecia:
<br>
<br>� Onde estou? � perguntou-lhe.
<br>359
<br>
<br>
<br>� N�o est� reconhecendo? Olhe bem para este quarto,
<br>para estes m�veis. Estamos na sua casa de campo. Uma bonita
<br>casa. De muito bom gosto. Num lugar muito bonito. Amanh�
<br>faz um m�s que estamos aqui. Foi seu marido que teve
<br>a id�ia de trazer a senhora para c�. N�o quis saber de sanat�rio
<br>ou de hospital. Queria um ambiente caseiro. Quase que
<br>eu n�o vinha. Nunca trabalhei em casa de fam�lia, s� em hospital.
<br>Desde mocinha. Fui franca com o Dr. Rodrigo. A� ele
<br>se abriu comigo: que a senhora, ao despertar, n�o se sentiria
<br>bem, vendo que estava numa casa de sa�de. Que o ambiente
<br>caseiro ajudaria a senhora a ficar boa. E eu vim para c�. Quando
<br>vi a casa, o lugar, o jardim, as �rvores, as montanhas em
<br>redor, logo reconheci que teria feito uma bobagem se n�o tivesse
<br>vindo. Olhe que eu e o Dr. Nuno Vaz viemos de Nova
<br>Iorque para cuidar da senhora. Daqui, pelo telefone, o Dr.
<br>Nuno Vaz chamou o Dr. Petterson, que � assistente dele e especialista
<br>em sonoterapia. Famoso no mundo inteiro.
<br>A fala vagarosa da enfermeira, acompanhada pelo afago
<br>da m�o fofa na m�o d�cil da paciente, ia reavivando na
<br>consci�ncia de Patr�cia a mem�ria esmaecida:
<br>
<br>� Quando a senhora veio para c�, trazida na ambul�ncia,
<br>com o Dr. Petterson ao seu lado, j� estava dormindo. Ainda
<br>tem sono? � assim mesmo. Mas vai passar. A senhora, dentro
<br>de um dia ou dois, dormir� normalmente, a princ�pio ajudada
<br>pelo tranq�ilizante; depois, por si mesma, sem precisar
<br>de rem�dio.
<br>E rindo, a exibir o dentinho de ouro do canto da boca,
<br>envolveu nas duas m�os carinhosas a m�o fria de Patr�cia:
<br>
<br>� Sabe a senhora que esta sua m�o macia quis me bater?
<br>Quis. Mais de uma vez. Na hora de seu banho. N�o se
<br>lembra? � assim mesmo. Ainda bem que o �dio de mim j�
<br>passou. Agora, somos boas amigas. Isso sempre acontece. Estou
<br>acostumada.
<br>Patr�cia havia aproximado as sobrancelhas, com duas rugas
<br>verticais prolongando-lhe o nariz afilado, no esfor�o para
<br>chamar as lembran�as. Confundia peda�os de sono e lances
<br>de pesadelos, misturando-os a imagens reais e desconexas,
<br>
<br>360
<br>
<br>
<br>que vogavam agora � tona de suas lembran�as. E for�ando
<br>
<br>o sorriso, enquanto contra�a a m�o reconhecida:
<br>� Eu quis lhe bater? Ent�o lhe pe�o desculpas. N�o sou
<br>assim.
<br>E a Emily, abrindo o riso bom:
<br>
<br>� Desculpas? Que bobagem � essa? O importante � que
<br>a senhora reagiu bem � sonoterapia. Depois dos pesadelos, vieram
<br>os sonos tranq�ilos. Daquela cadeira, aqui ao seu lado,
<br>tomei conta da senhora. Quando n�o era eu, era o Dr. Petterson.
<br>Dando-lhe os alimentos. Tomando-lhe a press�o. A press�o,
<br>agora, j� est� normal. Normal�ssima. E tanto faz a senhora
<br>estar dormindo quanto estar acordada. Bom sinal.
<br>Patr�cia retraiu o bra�o para ajudar-se a erguer o busto.
<br>E com a cabe�a levantada, assim que a tontura lhe passou:
<br>
<br>� Meu marido?
<br>� Est� passeando a cavalo, com o Dr. Nuno Vaz e o Dr.
<br>Petterson, aproveitando o sol da manh�. Ele merece o passeio.
<br>At� hoje, n�o se afastou daqui. � o primeiro passeio que
<br>ele faz. Parab�ns pelo marido que tem.
<br>E ap�s um sil�ncio:
<br>
<br>� Est� a� um padre, que � seu amigo. Veio num jipe,
<br>cheio de poeira. Errou o caminho, levou dois dias para chegar.
<br>Quer que eu o traga aqui? Vou cham�-lo. Est� na varanda
<br>lendo o Brevi�rio.
<br>Mas Patr�cia a reteve:
<br>
<br>� N�o, deixe-o l�. Primeiro quero tomar meu banho,
<br>mudar de roupa, me pentear. Sou eu que vou � varanda.
<br>Embora abatida, com os olhos quebrantados, n�o tardou
<br>muito a se fazer outra pessoa, com os cabelos �midos a lhe
<br>descerem para as costas, presos por uma fita. No rosto, um
<br>toque leve de ruge. Sem uma ruga. A pela macia. As sobrancelhas
<br>aparadas.
<br>
<br>E a Emily, que se mantivera a seu lado durante o banho:
<br>
<br>� Agora, sim, estou vendo que a senhora � mesmo bonita.
<br>De uma beleza diferente. Parab�ns.
<br>Quis dar-lhe o bra�o para ajud�-la a sair do quarto, mas
<br>Patr�cia lhe dispensou o amparo, e veio vindo devagar, sen
<br>
<br>
<br>361
<br>
<br>
<br>tindo que voltara a si, sem medo, confiante, reintegrada no
<br>gosto da vida.
<br>
<br>No corredor ladrilhado, todo coberto pelo frio sol do outono,
<br>deu com o Ludovico e a Rosa, ambos parados, como
<br>� espera de sua passagem. Estendeu a m�o � governanta, estendeu
<br>a m�o ao mordomo. E foi este que afinal lhe falou,
<br>emocionado:
<br>
<br>� Deus ouviu nossas preces.
<br>E como os dois se pusessem a segui-la, cada qual a um
<br>lado, ambos sol�citos e efusivos, a Rosa lhe foi contando as
<br>novidades da casa e da rua, e que lhe restitu�am a vida passada,
<br>as amigas, as mudan�as, os vizinhos, enquanto o Ludovico,
<br>grave, movia a cabe�a, confirmando.
<br>
<br>Na volta da varanda, retardaram o passo, como tocados
<br>pela beleza do roseiral, ainda florido. A um canto, o balan�o
<br>de dois lugares. Em redor, sob as samambaias, as cadeiras de
<br>vime. Numa delas, adormecido, o Padre Revoredo, de cabe�a
<br>pendida, a m�o no rega�o, o dedo indicador interposto nas
<br>folhas do Brevi�rio.
<br>
<br>E o Reverendo, levantando-se, enquanto a Rosa e o Ludovico
<br>se afastavam, depois de pedir licen�a:
<br>
<br>� Ora, viva! Que alegria!
<br>E aproximando a cadeira de bra�os para que Patr�cia
<br>sentasse:
<br>
<br>� Fique aqui, neste raio de sol.
<br>Conquanto j� o outono estivesse adiantado, com as �rvores
<br>nuas ao longo das estradas pr�ximas, ali ainda restavam
<br>as folhas douradas no espa�o que a varanda descortinava
<br>no limite do terreno, sobretudo na alameda que levava ao
<br>port�o. A luz alta, tocada pela vira��o cont�nua, dava a essas
<br>folhas um brilho diferente, quase vermelho. E como o vento
<br>sacudia os ramos, muitas delas iam caindo, para se juntar �s
<br>que jaziam no ch�o, cobrindo o caminho. Em redor, a estralada
<br>dos p�ssaros. Longe, no flanco da montanha ainda verde,
<br>sob o c�u limpidamente azul, o v�u solto da cachoeira.
<br>
<br>E Patr�cia, voltando-se para o padre, assim que a enfermeira
<br>se afastou:
<br>
<br>� Estou me lembrando agora que sonhei esta madruga362
<br>
<br>
<br>
<br>da com a Simone. Um sonho colorido, Padre Revoredo. Ela
<br>e eu v�nhamos caminhando de m�os dadas, naquela mesma
<br>alameda, sobre as folhas ca�das. R�amos muito. Ambas contentes.
<br>N�o me lembro de ter tido outro sonho colorido.
<br>
<br>Padre Revoredo disfar�ou a emo��o rodando os polegares,
<br>com as m�os entrela�adas sobre o Brevi�rio. E aproveitando
<br>o sil�ncio de Patr�cia, que parecia emocionada:
<br>
<br>� Era esse o sonho que ela merecia. Sabe que fui eu que
<br>a levei de volta ao Sanat�rio, em companhia do m�dico que
<br>tratava dela? Estou convencido de que n�o exagero ao lhe dizer
<br>que a Simone, no pr�prio Sanat�rio, se preparou, nos �ltimos
<br>anos, para encontrar-se com Deus. Pela caridade. Pela
<br>piedade. Pela bondade. Era ela, ali, quem mais assistia e amparava
<br>os doentes. Dia e noite. Sobretudo os velhos solit�rios
<br>que as fam�lias esquecem. Todos gostavam dela. Era adorada
<br>por toda gente. A capela do Sanat�rio ficou cheia, transbordando
<br>para o adro e a sacristia, na sua missa de corpo presente.
<br>E todos choravam, inclusive eu, no momento do enterro.
<br>Ela pr�pria tinha feito plantar, h� tempos, sobre o t�mulo vazio,
<br>uma linda amendoeira. E as folhas douradas iam caindo
<br>sobre o caix�o, na hora do sepultamento, misturando-se �s
<br>p�s de terra.
<br>Endireitando o busto, Patr�cia desencostou-se do espaldar
<br>da cadeira, com o olhar mais brilhante:
<br>
<br>� E ela n�o se matou, Padre Revoredo?
<br>A resposta veio r�pida, com vivacidade:
<br>� De modo algum. O laudo do Instituto M�dico-Legal,
<br>ap�s a aut�psia, foi claro, clar�ssimo. Desfez todas as d�vidas.
<br>Simone, como eu pensava, morreu de morte natural. As
<br>duas p�lulas que tomou, na presen�a da senhora, eram as p�lulas
<br>que ela sempre tomava quando tinha uma crise. No dia
<br>em que ia tomar o avi�o para encontrar-se com as colegas,
<br>o m�dico quis acompanh�-la, temendo-lhe a emo��o. Ela se
<br>op�s. N�o queria que a olhassem como uma doente sob vigil�ncia
<br>m�dica. Chegou a dizer que desistiria da viagem, se fosse
<br>grave o seu estado. O m�dico, embora temendo-lhe a emo��o
<br>ao encontrar-se com a senhora e com as outras colegas, achou
<br>melhor deixar que ela viesse. Ela pr�pria estava certa de que
<br>363
<br>
<br>
<br>resistiria bem � emo��o. Tanto que trazia na bolsa a passagem
<br>de volta para o avi�o da manh� seguinte, tendo dado ordem
<br>ao motorista do Sanat�rio para ir busc�-la no aeroporto,
<br>depois do meio-dia.
<br>
<br>E de p�, indo e vindo ao comprido da varanda:
<br>
<br>� Foi Deus que chamou Simone. Ele, na sua sabedoria.
<br>Mais ningu�m. Ele, que conhece o princ�pio e o fim de nossos
<br>caminhos. E no momento em que se reaproximavam as duas
<br>grandes amigas. Numa casa em festa.
<br>Na estrada, sob a faisca��o do sol do meio-dia, um tropel
<br>de cavalos. Patr�cia se voltou para o port�o, interessada.
<br>De p�, ainda de longe, acenou para o marido, que vinha � frente,
<br>no soberbo cavalo �rabe, de grandes crinas ao vento, seguido
<br>pelo Dr. Nuno Vaz e pelo Dr. Petterson, ambos de bon�
<br>para os olhos, no passo das montarias.
<br>
<br>Assim que o Rodrigo deu por ela, tocou com a ponta da
<br>espora o flanco do cavalo, e arremeteu para a varanda, galopando.
<br>Mas o Dr. Nuno Vaz, seguido pelo Dr. Petterson, cortaram
<br>a relva em diagonal, de modo que os tr�s saltaram ao
<br>mesmo tempo defronte de Patr�cia, que tinha vindo para o
<br>patamar da entrada, j� de bra�o estendido, como se fosse ajudar
<br>o marido a descer do cavalo.
<br>
<br>E durante uma hora r�pida, que se estendeu para o come�o
<br>da tarde, ficaram os cinco a conversar, regalados com
<br>a mem�ria do Padre Revoredo, que sempre tinha uma reminisc�ncia
<br>apropriada na ponta da l�ngua, e ia trazendo para
<br>fora as anedotas, ora s�rio, ora risonho, no seu ingl�s prec�rio,
<br>com a arte feliz de um contador de hist�rias.
<br>
<br>De repente, voltando-se para Patr�cia, disse-lhe o Dr. Nuno
<br>Vaz, alongando a m�o en�rgica para o bra�o da cadeira:
<br>
<br>� Agora, a minha boa amiga j� sabe que pode voltar para
<br>a casa da cidade e viver a vida que sempre viveu. O que passou,
<br>passou.
<br>Entretanto, na semana seguinte, quando ela transp�s o
<br>port�o de ferro, acenando para os guardas � sua espera, teve
<br>de cerrar os punhos, por um momento, para dominar a emo��o
<br>que lhe molhava os olhos. Subiu a escada, amparando-se
<br>no bra�o do marido, atravessou o vest�bulo, come�ou a per
<br>
<br>
<br>364
<br>
<br>
<br>correr a passadeira vermelha. Voltaria ao mirante? Ela pr�pria,
<br>sem alterar o ritmo de seus passos firmes, encaminhou-
<br>se para o sal�o, olhou o retrato do pai, depois o retrato da
<br>M�e Ded�, calma, no esfor�o natural para dominar-se, e
<br>acercou-se de seu quarto de dormir, j� de portas escancaradas
<br>� derradeira claridade do dia, sentindo que seu cora��o
<br>se acelerava. Mas tornou a dominar-se, dando mais for�a aos
<br>passos firmes, sempre em frente.
<br>
<br>Instintivamente, ainda com uns restos de medo na consci�ncia,
<br>olhou na dire��o da cama. Quase tudo, ali, havia sido
<br>mudado. Tamb�m antiga, a nova mob�lia parecia mais imponente,
<br>com sua cama espa�osa, seus guarda-roupas imensos,
<br>suas c�modas altas, sua arca de jacarand�. No v�o entre
<br>duas janelas, um orat�rio pequeno, com o crucifixo iluminado
<br>por duas velas nos casti�ais de prata. No ar, um cheiro leve
<br>de alfazema.
<br>
<br>Longe, o latido dos c�es. Em redor, nas �rvores do parque,
<br>o sibilo do vento, com a noite que ia caindo. Pr�ximo,
<br>
<br>o ru�do de um carro na rua. Depois, j� noite fechada, o trilo
<br>dos apitos, na ronda dos guardas de seguran�a. Por fim, o
<br>bater sucessivo das janelas e portas que o Ludovico ia fechando,
<br>nos aposentos cont�guos. Fechava, torcia os ferrolhos, apagava
<br>as l�mpadas e os lustres.
<br>Na velha penteadeira, que vinha do tempo da bisav� do
<br>Rodrigo, como rel�quia de fam�lia, Patr�cia olhou-se ao espelho,
<br>ouvindo, perto, os passos do marido no escrit�rio. Soltou
<br>os cabelos, j� no pijama da noite, e p�de ver que n�o tinha
<br>mais as olheiras de suas vig�lias. Sem pressa, p�s-se a
<br>escov�-los, na rotina de todas as noites.
<br>
<br>De repente, num relance do olhar sobre o cristal do
<br>espelho...
<br>E Rodrigo, entrando no quarto, como se quisesse
<br>adivinhar:
<br>
<br>� Alguma coisa te assustou, querida?
<br>Patr�cia, com o cora��o acelerado, sacudiu a cabe�a, negando.
<br>Em seguida, para amparar-se, segurou-lhe o bra�o com
<br>as duas m�os, e come�ou a caminhar para a cama, em sil�ncio,
<br>dominando-se.
<br>
<br>365
<br>
<br>
<br>E nunca lhe disse que, pela �ltima vez, tornara a ver a
<br>Simone.
<br>
<br>LAOS DEO
<br>
<br>Paris, janeiro de 1987 � maio de 1988.
<br>
<br>366
<br>
<br>
<br>Janelas fechadas
<br>A luz da estrela morta
<br>Labirinto de espelhos
<br>A d�cima noite
<br>Cais da sagra��o
<br>Os degraus do para�so
<br>Os tambores de S�o Lu�s
<br>Noite sobre Alc�ntara
<br>O sil�ncio da confiss�o
<br>Largo do desterro
<br>Pedra viva
<br>Aleluia
<br>Perto da meia-noite
<br>Uma varanda sobre o sil�ncio
<br>
<br>A coroa de areia
<br>Antes que os p�ssaros acordem
<br>Um beiral para os bem-te-vis
<br>(a sair em novembro)
<br>
<br>
<br>
<br>O camarote vazio
<br>Uma sombra na parede
<br>
<br>
<br>
<br>SEMPRE
<br>UM BOM
<br>LIVRO ISBN
<br>
<br> 85.209.0148-4
<br>
<br>
<br><div dir="ltr"><br><br><div class="gmail_quote"><div dir="ltr" class="gmail_attr"><br>De: <strong class="gmail_sendername" dir="auto">Reginaldo Mendes</strong><br></div><br><br><div dir="ltr"><div style="font-size:small"><br></div><div class="gmail_quote"><div dir="ltr" class="gmail_attr"><br></div><br><br><div dir="ltr"><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif">Olá, pessoal:</span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif"> Este é mais um livro de nossa campanha de doação e digitalização de livros para atender aos deficientes visuais.</span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif"> Agradecemos ao irmão Adeilton pela doação e ao irmão Fernando Santos pela digitalização.<br></span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:14pt;font-family:Arial,sans-serif;color:black"> Pedimos que não divulguem em canais públicos ou Facebook. Esta nossa distribuição é para atender aos deficientes visuais em canais específicos.</span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:14pt;font-family:Arial,sans-serif;color:black"><br></span></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg64DzvGqEfBkjGe6kyhUypW6PvWeViWcP4JDjV48WvsByVNJ3WP-G4AI0qL6of2LfYv89U-s3I1EQl9-jf7as6GAsUmSOyXoLHZ_cVWGGjcWeNb0B-xjYH5bE7Ih5LcZEWK6aGSgeBsdQ_sr4yHlThzPW3xF9j42ohUYbQXYjc8oc2Ke7kv6HX6Bv5aKE"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg64DzvGqEfBkjGe6kyhUypW6PvWeViWcP4JDjV48WvsByVNJ3WP-G4AI0qL6of2LfYv89U-s3I1EQl9-jf7as6GAsUmSOyXoLHZ_cVWGGjcWeNb0B-xjYH5bE7Ih5LcZEWK6aGSgeBsdQ_sr4yHlThzPW3xF9j42ohUYbQXYjc8oc2Ke7kv6HX6Bv5aKE=s320" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_7281799145229574354" /></a><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="color:rgb(80,0,80);font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;font-size:large">O Grupo Mente Aberta lança hoje mais um livro digital !</span><br></p><div dir="ltr" style="color:rgb(80,0,80)"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><font size="4">Desejamos a todos uma boa leitura !</font></div><div dir="ltr"><font size="4"><br></font></div><div dir="ltr"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhP8FKx9CpVMH1OSc4rEyKI_mmbY592U774xiDuyziPGojxdLrevZ7OpD_4IQXOTHjQXhFohE8-Q_qhdQ4iCVDg0JxI4Zof88LyOBZz_uGU0PQA2hywy-Lhkppj_nD2XMJ3PkQdZBzUbTeb9CZZXw5eNBYL8DW87tl_9ACTwVqk78u2mElz8LukEtCH794"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhP8FKx9CpVMH1OSc4rEyKI_mmbY592U774xiDuyziPGojxdLrevZ7OpD_4IQXOTHjQXhFohE8-Q_qhdQ4iCVDg0JxI4Zof88LyOBZz_uGU0PQA2hywy-Lhkppj_nD2XMJ3PkQdZBzUbTeb9CZZXw5eNBYL8DW87tl_9ACTwVqk78u2mElz8LukEtCH794=s320" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_7281799155851456466" /></a><br></div><div><font size="4">Sinopse:</font></div><div><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;text-align:justify;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif">Iniciada a leitura de A ÚLTIMA</span></p> <p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;text-align:justify;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif">CONVIDADA, logo o leitor se vê envolvido</span></p> <p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;text-align:justify;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif">por sua trama, no crescente interesse da</span></p> <p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;text-align:justify;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif">narrativa, e aí está o ponto fundamental da</span></p> <p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;text-align:justify;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif">arte do grande narrador.</span></p> <p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;text-align:justify;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif">Límpido, senhor de uma prosa</span></p> <p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;text-align:justify;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif">transparente e translúcida, que é também um</span></p> <p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;text-align:justify;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif">modelo de língua portuguesa, Josué Montello</span></p> <p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;text-align:justify;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif">só reclama para si a glória de ser um</span></p> <p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;text-align:justify;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif">contador de histórias, aliciando</span></p> <p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;text-align:justify;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif">gradativamente o seu leitor e</span></p> <p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;text-align:justify;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif">proporcionando-lhe, com o fluxo narrativo</span></p> <p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;text-align:justify;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif">de seu romance, uma nova penetração nos</span></p> <p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;text-align:justify;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif">mistérios da consciência humana.</span></p> <p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;text-align:justify;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif">Sem repetir-se, sem buscar o efeito fácil</span><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif"></span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;text-align:justify;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif"><br></span></p></div><div><div><span style="font-size:large">Lançamento </span><span style="font-size:large">Mente Aberta</span><br></div><div><div id="m_3728192822843803678m_2493198521519584729m_-4446804415257095718m_-5247025167631608279m_-2887078149979545896m_6071002105288514509m_8368821862783711120m_2063300176389480561m_-263377461645996951gmail-:1ml" style="direction:ltr;margin:8px 0px 0px;padding:0px;font-size:0.875rem;font-family:"Google Sans",Roboto,RobotoDraft,Helvetica,Arial,sans-serif"><div id="m_3728192822843803678m_2493198521519584729m_-4446804415257095718m_-5247025167631608279m_-2887078149979545896m_6071002105288514509m_8368821862783711120m_2063300176389480561m_-263377461645996951gmail-:1je" style="font-variant-numeric:normal;font-variant-east-asian:normal;font-stretch:normal;font-size:small;line-height:1.5;font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;overflow:hidden"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div><a href="https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/grupo-de-livros-mente-aberta" style="font-size:large;outline-width:0px" target="_blank">https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/grupo-de-livros-mente-aberta</a></div><div><font size="4"><br></font></div><div><font size="4">Grupo parceiro Allan Kardec</font><br><div></div><div></div><div><a href="https://groups.google.com/forum/?hl=pt-br#!forum/grupo-espirita-allan-kardec" style="font-size:large;font-family:Arial;outline-width:0px" target="_blank">https://groups.google.com/forum/?hl=pt-br#!forum/grupo-espirita-allan-kardec</a></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div> </div><br clear="all"><div><br></div><span class="gmail_signature_prefix">-- </span><br><div dir="ltr" class="gmail_signature" data-smartmail="gmail_signature"><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"> <p><br></p><p><br></p><p><br></p><p><br></p><p>BLOG DOS AMIGOS DE REGINALDO</p><p class="MsoNormal">BLOG DE TELENOVELAS</p><p class="MsoNormal"><a href="https://blogdetelenovelas.blogspot.com/" target="_blank">https://blogdetelenovelas.blogspot.com/</a></p><p class="MsoNormal"> </p><p class="MsoNormal">BLOG DO SÉRGIO GALDINO</p><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10.5pt;line-height:107%;font-family:Roboto">Sergio Galdino</span><br style="color:rgba(0,0,0,0.87)"> <br style="color:rgba(0,0,0,0.87)"> <a href="http://blogdevariedades1.blogspot.com.br/?zx=4ef263e49f1f0aa2" target="_blank"><span style="font-size:10.5pt;line-height:107%;font-family:Roboto;color:rgb(26,115,232)">http://blogdevariedades1.blogspot.com.br/?zx=4ef263e49f1f0aa2</span></a></p><p> <br></p> <p> </p> </div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div> <p></p> --<br> </div><br clear="all"><div><br></div><span class="gmail_signature_prefix">-- </span><br><div dir="ltr" class="gmail_signature" data-smartmail="gmail_signature"><div dir="ltr"><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Abraços fraternos!</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial"> </span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Bezerra</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Blog de livros</span></p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Blog de vídeos</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Meu canal:</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk" target="_blank">https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk</a><br></p></div></div></div> <p></p> -- <br /> -- <br /> Seja bem vindo ao Clube do e-livro<br /> <br /> Não esqueça de mandar seus 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<br>
<br>
<br>
<br>Copyright � MCMLXXVI CEDIBRA � Editora
<br>Brasileira Ltda.
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<br>Rio de Janeiro, RJ.
<br>Composto e impresso na Cia. Editora Americana
<br>Rua Visconde de Maranguape, 15 � RJ.
<br>
<br>
<br>O texto deste livro n�o pode ser, no todo ou em
<br>parte nem reproduzido, nem registrado, nem retransmitido
<br>por qualquer meio mec�nico, sem a
<br>expressa autoriza��o do detentor do copyright.
<br>
<br>
<br>
<br>1
<br>
<br>
<br>� � uma menina � disse a enfermeira.
<br>Alfredo quase pulou de alegria. Depois
<br>de tanto tempo de ang�stia, finalmente a
<br>boa not�cia. Teve vontade de se lan�ar �
<br>enfermeira, abra��-la e beij�-la da cabe�a
<br>aos p�s.
<br>
<br>Como todo homem que se torna pai pela
<br>primeira vez, ficara terrivelmente nervoso.
<br>Tivera receio de que alguma coisa pudesse
<br>acontecer a Margarida, sua esposa, ou principalmente
<br>� crian�a que estava para nascer.
<br>
<br>
<br>Esperara angustiado durante muito
<br>tempo (minutos, segundos, meses, s�culos,
<br>anos, horas?). N�o sabia ao certo. Temera
<br>tanto que alguma coisa...
<br>
<br>� � uma menina � disse a enfermeira.
<br>Alfredo n�o se atirou � mo�a que lhe
<br>dera a not�cia. Ficou rindo, abobalhado.
<br>Nem sequer respondeu qualquer coisa.
<br>
<br>
<br>Desde que casara com Margarida desejava
<br>aquela filha. N�o sabia por que, mas
<br>queria uma menina. Ficava irritad�ssimo
<br>com a mulher, pois para ela era indiferente.
<br>
<br>
<br>� Tem que ser menina, Margarida.
<br>� Mas por que, Alfredo? Tanto faz...
<br>� At� parece que n�o est� satisfeita
<br>com a crian�a...
<br>� Que bobagem! Como pode pensar
<br>uma coisa destas? O que importa � que �
<br>nosso filho, seja menina ou menino.
<br>Agora, Alfredo sorria das discuss�es que
<br>provocava com Margarida por causa da filha
<br>que acabara de nascer. Todas as brigas
<br>tinham sido motivadas pelo seu temperamento
<br>nervoso, que n�o suportava mais
<br>aquela expectativa de nove meses.
<br>
<br>� � uma menina � disse a enfermeira.
<br>A voz da mo�a lhe soara como uma m�sica
<br>vinda do c�u. Uma voz linda a lhe
<br>dizer a coisa que mais esperava ouvir.
<br>
<br>Pronto, acabara o sofrimento. N�o tinha
<br>mais que esperar. A menina, a sua filha,
<br>j� tinha nascido.
<br>
<br>Como seria? Loura? Teria os olhos azuis
<br>iguais aos de Margarida? Seria t�o bonita
<br>quanto ela? Ou n�o?
<br>
<br>Bem, o aspecto f�sico era o que menos
<br>importava. Ele acharia sua filha linda, mesmo
<br>que n�o fosse.
<br>
<br>8�
<br>
<br>
<br>Pela primeira vez lembrou-se: e Margarida,
<br>ela estaria bem? Ora, sem d�vida
<br>que estava. Se tivesse acontecido alguma
<br>coisa, a enfermeira n�o teria falado t�o
<br>sorridente.
<br>
<br>� � uma menina � disse a enfermeira.
<br>�9
<br>
<br>
<br>II
<br>
<br>
<br>"BELA ATRIZ ASSASSINADA
<br>EM CENA ABERTA"
<br>
<br>
<br>"Um espet�culo terr�vel e sangrento
<br>aconteceu ontem no Teatro Vera Cruz. Durante
<br>o desenrolar da pe�a algu�m da plat�ia
<br>deu cinco tiros em dire��o ao palco,
<br>atingindo mortalmente a atriz Laura Marques.
<br>
<br>
<br>Era apenas mais uma sess�o do espet�culo.
<br>A plat�ia estava literalmente cheia,
<br>pois a pe�a, al�m de ter tido excelentes cr�ticas,
<br>estava obtendo um indiscut�vel sucesso
<br>de bilheteria. Trata-se de uma adapta��o
<br>de "Fedra", com uma concep��o moderna
<br>e arrojada, e Laura Marques era o
<br>ponto alto, com um desempenho que a consagrava
<br>definitivamente como uma de nossas
<br>maiores atrizes. O espet�culo seguia seu
<br>
<br>
<br>ritmo normal, quando, de repente, algu�m
<br>da plat�ia atirou em Laura Marques, matando-
<br>a. O p�nico no teatro foi geral. Gritos,
<br>correria, um tumulto completo. Diversas
<br>pessoas desmaiaram. Os atores correram
<br>para socorrer a atriz que ca�ra, mas
<br>nada mais p�de ser feito. Ela j� estava
<br>morta. A trag�dia do placo tornara-se realidade.
<br>Uma realidade mais brutal e chocante."
<br>
<br>
<br>�11
<br>
<br>
<br>2
<br>
<br>
<br>� Ela vai se chamar Laura. � linda!
<br>Voc� n�o acha, Margarida?
<br>Margarida n�o achava a filha nem bonita
<br>nem feia. Todos os beb�s n�o s�o bonitos
<br>nem feios. S�o todos mais ou menos
<br>iguais. Depois, com o tempo � que v�o se
<br>definindo entre a beleza e a fei�ra.
<br>
<br>Mas, para n�o desagradar Alfredo, respondeu
<br>com o maior entusiasmo que conseguiu
<br>empregar � voz:
<br>
<br>� � bonitinha.
<br>� Voc� falou de uma maneira t�o fria,
<br>Margarida!
<br>� Impress�o sua, Alfredo.
<br>Ele beijou a mulher. Margarida n�o
<br>p�de deixar de se emocionar pela sorte de
<br>ter um marido t�o bom. Alfredo era t�o
<br>meigo e gostava tanto dela!
<br>
<br>12�
<br>
<br>
<br>De suas irm�s fora a que tivera mais
<br>sorte. Estava casada com Alfredo h� dois
<br>anos e nunca tinham tido uma briga s�ria.
<br>Suas duas irm�s n�o eram t�o felizes: uma
<br>j� estava desquitada.
<br>
<br>E, n�o sabia bem por que, ela era meio
<br>indiferente � pr�pria felicidade. Ou melhor:
<br>era sempre indiferente a todas as coisas,
<br>mesmo � infelicidade.
<br>
<br>Nunca fora de vibrar por nada. Gostava
<br>de Alfredo, mas n�o tinha aqueles arroubos
<br>de paix�o. Era um amor calmo, tranq�ilo.
<br>Sentia-se satisfeita com ele.
<br>
<br>Se por acaso o marido arranjasse outra,
<br>n�o morreria de desgosto. Procuraria n�o
<br>tocar no assunto e se ele quisesse continuar
<br>com ela, aceitaria a situa��o.
<br>
<br>Tinha um temperamento resignado e
<br>d�cil. Suas irm�s sempre a recriminavam
<br>e diziam que ela era "sem sal e sem a��car".
<br>
<br>
<br>Mas talvez isso fosse a causa de sua
<br>felicidade. Muita gente daria tudo para ter
<br>a tranq�ilidade que possu�a. E Alfredo talvez
<br>a amasse tanto e nunca a tra�a, justamente
<br>por ela ser assim. Sabia que tinha
<br>liberdade total, que a mulher n�o era ciumenta,
<br>e por isso mesmo n�o a enganava.
<br>
<br>Margarida olhou o rosto do marido. Alfredo
<br>era um homem bom. E agora Laura
<br>nascera para completar a vida dos dois.
<br>
<br>�13
<br>
<br>
<br>� Sabe o que estou pensando, Alfredo?
<br>� O qu�?
<br>� Que voc� � um homem muito bom
<br>e que eu tive muita sorte.
<br>� As vezes sou um pouco chato e
<br>ego�sta.
<br>� N�o acho.
<br>� Eu n�o estava preocupado contigo.
<br>S� pensava na alegria de voc� ter me dado
<br>uma filha.
<br>� E eu estou feliz com isso.
<br>� Voc� notou, Margarida? Ela n�o tem
<br>os seus olhos azuis.
<br>14�
<br>
<br>
<br>III
<br>
<br>
<br>"O assassino n�o conseguiu escapar.
<br>Nem ofereceu resist�ncia, nem procurou
<br>fugir. Parecia completamente indiferente a
<br>tudo o que estava acontecendo. Chama-se
<br>Henrique de Oliveira e teve um caso recente
<br>com a famosa atriz. Mas at� agora ningu�m
<br>sabe os motivos que o levaram a praticar
<br>esse gesto extremo.
<br>
<br>Laura Marques morreu instantaneamente.
<br>Desaparece assim um dos maiores talentos
<br>do teatro, cinema e televis�o. Contava
<br>apenas trinta anos de idade; J� trabalhara
<br>em dezenas de filmes, sendo os mais conhecidos:
<br>"As Doces Imagens" e "O Sexo Perdido",
<br>este �ltimo o que lhe deu maior
<br>popularidade. Na televis�o fez tamb�m uma
<br>novela de enorme sucesso: "A Pedra da
<br>Paci�ncia". Encerra-se assim, tragicamente,
<br>
<br>�15
<br>
<br>
<br>a carreira de uma das nossas atrizes mais.
<br>famosas."
<br>
<br>* * *
<br>
<br>Todos os jornais noticiaram o assassinato
<br>de Laura Marques.
<br>
<br>l6�
<br>
<br>
<br>
<br>Laura n�o era propriamente uma menina
<br>bonita. Tornou-se uma crian�a interessante
<br>� medida que crescia, mas nunca-
<br>chegou a ser bonita. Menos para seu pai.
<br>Alfredo achava-a a oitava maravilha do
<br>mundo.
<br>
<br>Os anos foram passando. Laura desenvolvia-
<br>se rapidamente e a �nica tristeza de
<br>Alfredo era o fato de continuar muito pobre
<br>e n�o poder dar � filha o futuro que
<br>ela merecia.
<br>
<br>�s vezes, chegava a ter discuss�es violentas
<br>com a esposa.
<br>
<br>� N�o me conformo com esta sua maneira
<br>de ser, Margarida. Uma pessoa n�o
<br>pode ser t�o resignada.
<br>� Sempre fui assim, Alfredo. N�o �
<br>agora que vou mudar. E depois, mudar pra
<br>qu�? Vai adiantar alguma coisa? N�s vamos
<br>enriquecer, se eu me modificar?
<br>�17
<br>
<br>
<br>
<br>� Voc� n�o se preocupa com Laura?
<br>� Claro que me preocupo.
<br>� Queria tanto que ela n�o passasse
<br>necessidade... N�o imagina como sofro por
<br>ver que voc� est� envelhecendo, a vida est�
<br>passando, e eu n�o pude te dar um certo
<br>conforto.
<br>Alfredo sofria. Margarida, apesar de estar
<br>casada com ele h� tantos anos, continuava
<br>amando-o como nos primeiros dias.
<br>Sofria por v�-lo triste, mas n�o se importava
<br>de maneira alguma por ser pobre.
<br>
<br>18�
<br>
<br>
<br>IV
<br>
<br>
<br>Nilo acordou mais ou menos �s onze horas.
<br>C�sar j� havia sa�do.
<br>
<br>Como estava de f�rias, Nilo ainda ficou
<br>na cama durante algum tempo. Mesmo
<br>quando estava trabalhando, costumava
<br>acordar �quela hora. Sempre fora assim.
<br>S� conseguia trabalhar na parte da tarde.
<br>Pela manh� era um homem in�til. Somente
<br>depois do banho conseguia ficar realmente
<br>desperto e com disposi��o para enfrentar
<br>mais um dia. Vivia dizendo que era
<br>preciso muita coragem para colocar os p�s
<br>fora da cama e come�ar a enfrentar a vida.
<br>Tinha uma vis�o muito pessimista de tudo.
<br>E isto n�o era apenas uma fase. Sempre
<br>fora assim.
<br>
<br>N�o se achava com direito � felicidade
<br>e tinha um medo constante de que alguma
<br>coisa ruim acontecesse.
<br>
<br>Quando estava muito infeliz tornava-se
<br>
<br>�19
<br>
<br>
<br>
<br>mais tranq�ilo, porque seus problemas
<br>reais lhe absorviam todo o tempo e n�o
<br>lhe davam margem para criar outros. Era
<br>um verdadeiro neur�tico.
<br>
<br>Ainda deitado na cama, ficou pensando
<br>em sua vida.
<br>
<br>Sentia-se meio angustiado, apesar de
<br>estar numa fase relativamente tranq�ila
<br>ou talvez por causa disso mesmo.
<br>
<br>Finalmente resolveu levantar-se.
<br>
<br>Enquanto fazia barba, pensava que s�.
<br>isso era suficiente para que achasse a vida
<br>muito dif�cil. Possu�a uma barba espessa e
<br>a pele muito fina, o que o obrigava a um
<br>verdadeiro ritual, passando a l�mina no
<br>rosto com o maior cuidado para n�o se
<br>cortar. Geralmente levava muito tempo
<br>nesta opera��o. E o que era pior: justamente
<br>quando fazia a barba � que lhe vinham
<br>os pensamentos mais negativos poss�veis.
<br>
<br>
<br>Viver realmente era uma droga.
<br>
<br>Depois da barba e do banho, saiu d�
<br>casa. Devia fazer alguns pagamentos e
<br>pensava em comprar alguns livros para ler
<br>durante as f�rias. Sua apar�ncia era das
<br>melhores e estava muito bem vestido. (Apesar
<br>de toda a sua ang�stia era terrivelmente
<br>vaidoso e se apegava a pequeninas
<br>coisas materiais; talvez por um complexo
<br>de rejei��o achava que s� seria aceito pelas
<br>outras pessoas pelo seu bom aspecto f�sico.)
<br>
<br>20�
<br>
<br>
<br>Na rua notou que o dia estava particularmente
<br>bonito. Gostava muito de sua
<br>rua. Sentiu um certo bem-estar. Afinal de
<br>contas, estava de f�rias e sem compromissos.
<br>
<br>
<br>Dirigiu-se � banca de jornais. Ao chegar
<br>perto, no entanto, sentiu um calafrio percorrer-
<br>lhe a espinha e pensou que ia desmaiar.
<br>
<br>
<br>� N�o � poss�vel � murmurou.
<br>As manchetes dos jornais expostos literalmente
<br>lhe feriram os olhos.
<br>"MORREU LAURA MARQUES"
<br>"FAMOSA ATRIZ ASSASSINADA EM
<br>
<br>CENA ABERTA"
<br>"O FIM DE UMA GRANDE ESTRELA"
<br>
<br>� O senhor conhecia ela?
<br>Nilo n�o respondeu ao jornaleiro, simplesmente
<br>porque n�o o ouvira. Sentia o
<br>ch�o desaparecer debaixo dos p�s.
<br>
<br>� Est� se sentindo mal?
<br>Nilo era fregu�s antigo da banca e amigo
<br>do jornaleiro.
<br>
<br>� Eu era amigo de Laura.
<br>� S� est� sabendo do crime agora?
<br>� �.
<br>� N�o ouviu no r�dio?
<br>� N�o.
<br>Nilo comprou v�rios jornais e voltou
<br>para casa.
<br>
<br>�21
<br>
<br>
<br>4
<br>
<br>
<br>Alfredo nunca conseguiu melhorar de
<br>vida. Continuou pobre, apesar de Margarida
<br>ajud�-lo, costurando para fora.
<br>
<br>Permaneceram morando no sub�rbio.
<br>Laura, aos dezesseis anos, n�o era uma
<br>grande beleza, mas chamava a aten��o devido
<br>a um certo encanto especial e irresist�vel.
<br>
<br>
<br>Estava cursando o gin�sio e diariamente
<br>ao voltar da escola, acompanhada de
<br>uma colega, costumava passar pela frente
<br>de uma loja, onde um dos empregados ficava
<br>olhando-a com insist�ncia.
<br>
<br>� Aquele cara est� louco por voc� �
<br>disse Teresa, depois que passaram.
<br>
<br>� Ser� que ele olhou mesmo pra mim?
<br>Ou foi pra voc�?
<br>Laura voltou-se e sorriu. O rapaz ainda
<br>estava na porta e tamb�m riu.
<br>
<br>22�
<br>
<br>
<br>Alguns dias depois dirigiu-se a ela, e
<br>sempre que passava por ali, Laura parava
<br>e ficava conversando um pouco. At� que
<br>ele a convidou para irem juntos ver um
<br>filme num fim de semana.
<br>
<br>No cinema do bairro, no domingo � tarde,
<br>Laura encontrou-se com Rui. Na penumbra
<br>da sala de proje��o, ele a abra�ou.
<br>
<br>Na tela, Elizabeth Taylor beijou-se com
<br>Paul Newman.
<br>Na plat�ia, Rui tamb�m tentou beijar
<br>Laura e ela correspondeu.
<br>� sa�da, ele comentou:
<br>
<br>� Gostei muito do filme. E voc�?
<br>� Adorei. Que sorte o porteiro ter deixado
<br>que eu entrasse, sem pedir documento.
<br>Isso quer dizer que pare�o ter mais de
<br>dezoito anos.
<br>O namoro continuou normalmente. Rui
<br>cada vez mais apaixonado. Laura sem ter
<br>muita certeza de seus sentimentos. Talvez
<br>tivesse apenas curiosidade. Uma grande,
<br>imensa curiosidade.
<br>
<br>Uma noite, sob o pretexto de ir para a
<br>casa de Teresa, Laura encontrou-se com
<br>
<br>o rapaz.
<br>� � a primeira vez que a gente se encontra
<br>de noite � disse Rui.
<br>� Vamos para um lugar mais deserto?
<br>Tenho medo que algum conhecido me veja
<br>�23
<br>
<br>
<br>contigo e v� contar a meus pais. Eles pensam
<br>que estou na casa de Teresa, estudando.
<br>
<br>
<br>Procuraram uma rua onde quase n�o
<br>passava ningu�m. Encostaram-se em um
<br>muro e se beijaram. Os corpos se colaram
<br>e Laura sentiu que ele estava muito excitado.
<br>
<br>
<br>� Posso te perguntar uma coisa, Rui?
<br>-� O que quiser.
<br>� Qualquer coisa?
<br>� Claro.
<br>� Voc� anda muito com essas mulheres?.
<br>.. Quero dizer...
<br>� Que assunto � esse, Laura?
<br>� Simples curiosidade...
<br>Rui apertou-a contra si e pegou em seus
<br>seios. A mo�a estremeceu. Come�ou a acarici�-
<br>lo tamb�m. Depois, timidamente, suas
<br>m�os foram descendo at� o sexo do rapaz.
<br>
<br>� Como eu te amo, Laura!
<br>N�o foram muito longe em suas car�cias
<br>porque estavam num lugar p�blico e poderiam
<br>ser vistos...
<br>
<br>24�
<br>
<br>
<br>V
<br>
<br>
<br>C�sar chegou em casa l� pelas sete horas
<br>da noite. Encontrou Nilo num estado lastim�vel.
<br>
<br>
<br>� Voc� j� soube? � perguntou C�sar.
<br>� Todo mundo j� soube.
<br>� Foi ao enterro?
<br>� Claro que n�o.
<br>� Foi melhor assim.
<br>� Que ela tivesse morrido?
<br>� N�o, Nilo. Sabe que nunca ia dizer
<br>uma coisa destas. Digo que foi melhor voc�
<br>n�o ter ido ao enterro.
<br>� Por que n�o me telefonou avisando?
<br>Voc� deve ter sabido da not�cia mais cedo
<br>do que eu.
<br>� N�o tive coragem.
<br>� Por que foi acontecer isso com ela?
<br>� Voc� ainda gostava de Laura?
<br>� Que pergunta a sua!
<br>�25
<br>
<br>
<br>� Eu sei que voc� nunca deixou de gostar
<br>dela... Acho que a gente devia sair
<br>pra se distrair ura pouco.
<br>� Eu n�o quero sair.
<br>� Vai ficar curtindo fossa?
<br>� Se quer, pode sair. Eu vou ficar aqui.
<br>� Vim do trabalho direto pra casa,
<br>porque estava preocupado contigo. Se quiser,
<br>posso te fazer companhia.
<br>� Desculpe, C�sar, mas n�o vai adiantar
<br>nada o seu sacrif�cio.
<br>26
<br>
<br>
<br>
<br>5
<br>
<br>
<br>A tarde estava muito bonita. Um sol
<br>meio frio e uma certa tranq�ilidade descia
<br>sobre as ruas. Laura saiu de casa, alegre,
<br>ao encontro de Rui.
<br>
<br>�
<br>Vamos ao cinema?
<br>�
<br>N�o estou com vontade.
<br>�
<br>Quer ir pra onde?
<br>�
<br>N�o sei.
<br>� O que h� com voc�, Laura? Nunca
<br>te vi t�o indecisa.
<br>�
<br>Estou querendo ficar em lugar aberto,
<br>claro, cheio de luz.
<br>Vamos sair por a�.
<br>Andaram sem destino.
<br>
<br>�
<br>Vamos tomar um sorvete?
<br>�
<br>N�o, Rui. Prefiro um chopinho.
<br>� �timo!
<br>Entraram num bar.
<br>� Est� querendo ficarLaura?
<br>� Quem sabe?
<br>de pileque,
<br>�27
<br>
<br>
<br>Sa�ram do barzinho algum tempo depois.
<br>
<br>
<br>� J� pensou se meus pais me vissem
<br>bebendo em companhia de um rapaz?
<br>� Eles ainda n�o sabem nada a respeito
<br>da gente?
<br>� N�o.
<br>Afastaram-se das ruas e foram para um
<br>local distante, onde quase n�o ia ningu�m.
<br>Era um terreno enorme, cujo mato crescera
<br>livre. Ao longe, via-se uma pequena
<br>igreja.
<br>Laura seguiu mato adentro.
<br>
<br>� Pra onde vai? � perguntou Rui, procurando
<br>tirar da cabe�a o pensamento que
<br>tivera.
<br>Laura, em vez de responder, foi em frente.
<br>O rapaz a acompanhou. A mo�a come�ou
<br>a correr e ele tentou alcan��-la. Ela
<br>virou-se e atirou-se em seus bra�os. Desequilibraram
<br>e ca�ram no ch�o.
<br>
<br>� Algu�m pode ter visto a gente, Laura.
<br>� E o que tem isso?
<br>Ela estava disposta a tudo. Beijou-o na
<br>boca.
<br>
<br>� Laura, n�o me excite. Sou capaz de
<br>fazer uma loucura.
<br>� Por que n�o faz?
<br>28�
<br>
<br>
<br>
<br>� E agora, Laura?
<br>� Agora o qu�? N�o gostou? As outras
<br>no melhores do que eu?
<br>� N�o � isso. � que n�o devia ter feito
<br>isso com voc�.
<br>� Est� arrependido? Eu n�o estou.
<br>� Eu ganho pouco. Sou muito novo
<br>ainda. N�o posso casar agora.
<br>� E quem est� falando em casamento,
<br>Rui?
<br>� N�o quer casar comigo?,
<br>� Mas se voc� n�o pode, meu querido,
<br>n�o tem import�ncia nenhuma. E depois,
<br>meu pai n�o vai querer que eu me case
<br>sem ter completado ainda dezessete anos.
<br>� Mas se ele souber o que aconteceu...
<br>� Quem disse que ele vai saber?
<br>� E se voc� ficar gr�vida?
<br>� Puxa, Rui, voc� est� mesmo disposto
<br>a estragar tudo. Que id�ia! S� pensa em
<br>trag�dia? Por que vou ter esse azar?
<br>� Mas eu quero casar contigo, Laura.
<br>N�o queria que isso acontecesse antes. Eu
<br>:e amo muito.
<br>� N�o parece. Se me amasse realmente
<br>como diz, estava feliz. Voc� ag�entava esperar
<br>at� que a gente pudesse casar?
<br>� Eu te amo e quero voc� para a vida
<br>toda.
<br>�29
<br>
<br>
<br>� Voc� n�o me tem agora?
<br>� Tenho sim. Mas tenho medo tamb�m.
<br>� Ora, Rui, pare de pensar bobagens
<br>...
<br>Laura beijou-o outra vez.
<br>
<br>� Voc� n�o tem receio de magoar seus
<br>pais?
<br>� Mas eles n�o v�o saber, Rui.
<br>30�
<br>
<br>
<br>
<br>V I
<br>
<br>
<br>No dia seguinte ao crime, o estado de
<br>esp�rito de Nilo estava ainda pior. A morte
<br>de Laura fora um choque muito grande.
<br>Sentia-se perdido e sem �nimo para nada.
<br>
<br>Pensou em ir � praia, mas desistiu. Pegou
<br>um livro para ler, mas n�o conseguiu
<br>se concentrar.
<br>
<br>Foi at� um arm�rio onde guardava v�rios
<br>pap�is e apanhou um �lbum de recortes
<br>com fotos e reportagens sobre Laura.
<br>Come�ou a folhe�-lo.
<br>
<br>"SOU UMA MULHER FELIZ!"
<br>
<br>Laura parecia saltar das p�ginas do �lbum,
<br>com suas declara��es � imprensa. Seu
<br>riso enorme, fabuloso. Os olhos l�mpidos...
<br>Parecia estar mais viva do que nunca.
<br>
<br>� N�o, n�o � poss�vel! Ela est� viva!
<br>N�o acredito que tenha morrido � murmurou
<br>Nilo.
<br>�31
<br>
<br>
<br>Continuou passando as p�ginas do �lbum
<br>de recortes.
<br>"TENHO MUITA COISA AINDA A FAZER
<br>NA VIDA"
<br>"MINHA AMBI��O? VIVER, VIVER,
<br>VIVER"
<br>
<br>Nilo fechou o �lbum. Teve uma vontade
<br>s�bita de destru�-lo. Talvez fosse melhor
<br>apagar todo e qualquer vest�gio de Laura.
<br>Mas faltou-lhe coragem para tanto.
<br>
<br>� Que merda! Era melhor n�o ter tirado
<br>as f�rias agora. Se estivesse trabalhando
<br>seria melhor. Esquecia mais depressa.
<br>32�
<br>
<br>
<br>6
<br>
<br>
<br>� Esse neg�cio de voc� morar com seus
<br>pais � muito chato. A gente n�o tem lugar
<br>pra onde ir.
<br>� Mas eu n�o posso viver sozinho. N�o
<br>ganho o suficiente.
<br>� N�o ter dinheiro � uma droga!
<br>� Tem uma solu��o. Mas n�o sei se
<br>voc�...
<br>� Qual � a solu��o? � perguntou Laura,
<br>vivamente interessada no que Rui come�ara
<br>a dizer.
<br>� Bem... n�o sei se voc� topa.
<br>� Eu topo qualquer coisa, Rui.
<br>� Tenho medo que fique ofendida.
<br>� Eu? Ofendida? Por qu�?
<br>� � que...
<br>� Vamos, desembuche.
<br>� Aquele meu colega da loja, o Jos�,
<br>mora sozinho. �s vezes ele me emprestava
<br>�33
<br>
<br>
<br>o apartamento quando eu queria levar alguma
<br>mulher.
<br>� Mas ele ficava tamb�m no apartamento,
<br>enquanto voc�s estavam l�?
<br>� N�o, claro que n�o, Laura. Ele ia pro
<br>cinema ou qualquer outro lugar e ficava
<br>fora pelo menos umas duas horas.
<br>� Puxa, que bacana! Ent�o est� resolvido.
<br>� Voc� n�o se incomoda mesmo?
<br>� N�o. Mas ele n�o vai saber quem foi
<br>que voc� levou, n�o �?
<br>� Deus me livre, Laura!
<br>� Quando � que Jos� pode emprestar
<br>o apartamento?
<br>� Vou falar com ele hoje.
<br>34�
<br>
<br>
<br>VII
<br>
<br>
<br>� Sabe o que estive pensando hoje, enquanto
<br>trabalhava? � perguntou C�sar, assim
<br>que chegou em casa.
<br>� Em qu�?
<br>� Que voc� devia viajar, Nilo.
<br>� Quer se ver livre de mim? Est� muito
<br>chato aturar minha fossa? Sei que n�o
<br>� f�cil.
<br>� N�o � bem isso...
<br>� Viajar pra onde? Qual a sua sugest�o?
<br>� Sei l�... Acho que voc� tem de reagir
<br>de alguma maneira. N�o adianta ficar
<br>trancado neste apartamento. N�o vai �
<br>praia, nem ao cinema, nem a lugar nenhum.
<br>� Talvez voc� tenha raz�o. Mas n�o
<br>consigo tomar nenhuma decis�o. Quem sabe
<br>n�o seria melhor interromper minhas
<br>f�rias?
<br>�35
<br>
<br>
<br>� �, pode ser uma solu��o.
<br>� Trabalhando eu me distraio, voc�
<br>n�o acha? Ou ser� que � melhor mesmo
<br>viajar?
<br>� Por que n�o vai � Bahia ou qualquer
<br>outro lugar que n�o conhece ainda?
<br>� Sozinho, sem conhecer ningu�m,
<br>num lugar estranho e com o estado de esp�rito
<br>em que estou, vou ficar mais deprimido
<br>ainda.
<br>� Ent�o por que n�o vai para Cabo
<br>Frio? Voc� tem amigos l�.
<br>� Talvez siga seu conselho.
<br>36
<br>
<br>
<br>
<br>7
<br>
<br>
<br>Laura estava muito satisfeita ao entrar
<br>com Rui no apartamento do amigo dele.
<br>Afinal, era a primeira vez que ia fazer amor
<br>sem ser ao ar livre.
<br>
<br>� Dentro de casa deve ser bem melhor,
<br>n�o �, Rui?
<br>� Claro. N�o sei como tivemos coragem
<br>naquele dia. Se algu�m tivesse visto a gente...
<br>� Mas ningu�m viu. O perigo j� passou.
<br>� Aqui � bem mais tranq�ilo.
<br>Laura e Rui continuaram se encontrando
<br>no apartamento de Jos�, sempre que
<br>este podia emprest�-lo. Mas Rui preocupava-
<br>se cada vez mais.
<br>
<br>� Eu queria melhorar de vida o mais
<br>depressa poss�vel para poder casar contigo,
<br>Laura.
<br>�37
<br>
<br>
<br>
<br>� � gente pode esperar, meu amor.
<br>N�o estamos bem assim?
<br>� Mas n�o podemos passar a vida toda
<br>nesta situa��o. Se eu conseguisse um emprego
<br>melhor...
<br>� Voc� n�o vai fazer vestibular este
<br>ano?
<br>� Vou sim. Mas vai demorar tanto
<br>tempo at� me formar e poder melhorar de
<br>vida...
<br>� Vamos viver o presente, Rui. Se tudo
<br>est� correndo bem, � bobagem a gente ficar
<br>se martirizando.
<br>* * *
<br>
<br>� Estou gr�vida, Rui.
<br>� N�o � poss�vel, Laura.
<br>� � poss�vel sim.
<br>� Bem que eu tinha medo. E agora,
<br>como � que a gente vai fazer?
<br>� De minha parte n�o vejo problema
<br>nenhum. Mas o pior � meu pai. Ele n�o vai
<br>conseguir aceitar o fato. N�o acha melhor
<br>eu.. . n�o ter este filho?
<br>� Voc� est� louca?
<br>� Muita gente faz isso. N�o vou ser a
<br>primeira.
<br>� N�o, Laura, nem pensar.
<br>� Contei tudo � minha m�e.
<br>� E ela?
<br>38�
<br>
<br>
<br>� Coitada. Ficou tamb�m sem saber o
<br>que fazer. Nunca a tinha visto chorando.
<br>Ela � t�o conformada... Mas ficou num
<br>desespero que voc� n�o pode imaginar.
<br>Principalmente por causa de papai.
<br>� Mas seu pai j� sabe?
<br>� N�o. N�o tivemos coragem de contar.
<br>� O jeito � casar logo, Laura. Talvez
<br>tenha sido melhor assim, pra gente se resolver.
<br>N�o vamos morrer de fome.
<br>� Eu tamb�m posso trabalhar.
<br>� E os estudos?
<br>� Largo. Afinal de contas, n�o � nenhuma
<br>trag�dia.
<br>* * *
<br>
<br>� N�o era isso que eu tinha sonhado
<br>pra ela. Por que Laura foi fazer uma loucura
<br>destas? Esse rapaz n�o tem nada, ganha
<br>muito pouco. O que vai ser de nossa
<br>filha?
<br>Alfredo estava completamente arrasado.
<br>
<br>� N�s somos muito pobres e no entanto
<br>vivemos bem, Alfredo. O rapaz � bom e quer
<br>casar com ela.
<br>� Voc� � conformada demais, Margarida.
<br>* * *
<br>
<br>�39
<br>
<br>
<br>Laura arranjou um emprego, deixou os
<br>estudos e casou-se com Rui.
<br>
<br>N�o sabia bem por que, mas achava que
<br>n�o era bem isso o que esperava da vida.
<br>Gostava do rapaz, mas n�o podia dizer que
<br>era loucamente apaixonada por ele.
<br>
<br>Os dois ficaram morando em casa dos
<br>pais de Laura, provisoriamente.
<br>
<br>� Seu pai hoje est� demorando tanto..
<br>. O que ser� que aconteceu?
<br>� Sem d�vida ele se atrasou no trabalho
<br>e perdeu o trem.
<br>Como Alfredo estava demorando muito
<br>a chegar, Laura e Rui resolveram jantar
<br>logo, Margarida preferiu esperar o marido.
<br>
<br>� � melhor voc� comer logo, mam�e.
<br>� N�o, vou esperar por ele.
<br>As horas passaram e os tr�s come�aram
<br>a ficar inquietos. Alfredo sempre fora muito
<br>met�dico e nunca se atrasava para nada.
<br>Bem mais tarde, j� muito preocupados,
<br>ouviram pelo r�dio a not�cia de um desastre
<br>de trem, com muitas v�timas.
<br>Rui saiu imediatamente e deixou as
<br>duas mulheres em casa.
<br>Mais tarde voltou.
<br>Alfredo havia morrido no acidente.
<br>
<br>40�
<br>
<br>
<br>VIII
<br>
<br>
<br>Nilo seguiu o conselho de C�sar e viajou
<br>no dia seguinte para Cabo Frio. N�o
<br>estava muito certo de que isso seria uma
<br>solu��o. Mas pelo menos era uma tentativa.
<br>
<br>Sair do Rio, n�o passar pelos mesmos
<br>lugares pelos quais passara junto com Laura,
<br>j� era um modo de aliviar um pouco
<br>sua tristeza.
<br>
<br>Nunca tinha ido com Laura a Cabo Frio.
<br>Assim, a cidade estava virgem de certas
<br>lembran�as.
<br>
<br>Mesmo antes de Laura morrer, depois
<br>que se afastara dela, Nilo n�o podia deixar
<br>de sentir uma certa nostalgia todas as vezes
<br>que passava por algum local onde tinham
<br>estado juntos.
<br>
<br>Uma rua, uma casa, um bar, qualquer
<br>lugar aonde tivessem ido, fazia com que
<br>lembrasse todo o seu atormentado caso de
<br>amor com ela. Agora, depois que Laura
<br>
<br>�41
<br>
<br>
<br>
<br>morrera, era ainda pior. Uma saudade
<br>imensa, uma ang�stia terr�vel lhe assaltava.
<br>
<br>
<br>Chegou em Cabo Frio e logo depois telefonou
<br>para um casal de amigos que morava
<br>l�.
<br>
<br>� Al�, � a Vilma?
<br>� Ela mesma. Quem est� falando?
<br>Nilo?
<br>� Reconheceu minha voz?
<br>� Quem pode deixar de reconhecer?
<br>Voc� sabe que o S�rgio morre de ci�mes
<br>porque eu vivo dizendo, que voc� tem a voz
<br>mais bonita que j� ouvi. Principalmente no
<br>telefone. Quando chegou em Cabo Frio?
<br>� Acabei de chegar. S�rgio est� a�?
<br>� N�o, mas n�o deve demorar.
<br>� Voc� j� deve ter sabido o que aconteceu.
<br>� Soube sim. Foi horr�vel!
<br>� C�sar me aconselhou a vir passar
<br>uns dias aqui para me distrair um pouco.
<br>� Claro. Vem jantar com a gente hoje?
<br>� Estou telefonando justamente para
<br>isso. Voc�s v�o ter que me aturar.
<br>� Deixe de bobagem. Eu e o S�rgio
<br>gostamos muito de voc�.
<br>42�
<br>
<br>
<br>8
<br>
<br>
<br>Pouco depois da morte do pai, Laura
<br>teve seu filho. Era um menino muito bonito,
<br>com os olhos azuis da av�.
<br>
<br>� Parece at� brincadeira, somente eu
<br>n�o tive os olhos azuis.
<br>� Voc� � muito bonita com os que tem.
<br>� Deixe de bobagem, Rui. Eu seria
<br>muito mais bonita se n�o tivesse olhos escuros.
<br>� Eu gosto de voc� assim. Se fosse mais
<br>bonita ainda, morreria de ci�mes.
<br>Rui cada dia gostava mais de Laura.
<br>Desistira dos estudos e arranjara um outro
<br>emprego, trabalhando em dois lugares ao
<br>mesmo tempo.
<br>
<br>Margarida, com a chegada do neto, arranjara
<br>um novo motivo para viver, pois
<br>desde que Alfredo morrera, se trancara dentro
<br>de si mesma, num mutismo quase total.
<br>
<br>Apesar de seu temperamento muito conformado,
<br>tivera sua primeira revolta com
<br>
<br>�43
<br>
<br>
<br>a morte do marido. Achava que n�o fora
<br>justo ele ter tido uma vida t�o mesquinha
<br>e curta.
<br>
<br>A �nica que n�o ficara muito impressionada
<br>com o filho foi Laura.
<br>
<br>� � o primeiro e �ltimo.
<br>Rui e Margarida perguntaram ao mesmo
<br>tempo:
<br>
<br>� Por qu�?
<br>� Porque sim. Um � suficiente. Assim
<br>mesmo, esse veio por descuido.
<br>� At� parece que voc� se sente infeliz
<br>comigo.
<br>� Uma coisa n�o tem nada a ver com
<br>a outra. Voc� acha, Rui, que a gente pode
<br>se dar ao luxo de ter muitos filhos?
<br>* * *
<br>
<br>Durante tr�s anos a vida de Laura
<br>transcorreu tranq�ila, ou na sua opini�o,
<br>tediosa.
<br>
<br>� Acho que vou procurar outro emprego.
<br>N�o posso ficar perdendo tempo
<br>onde estou.
<br>� N�o est� satisfeita em seu trabalho?
<br>� N�o, Rui, n�o estou. N�o suporto
<br>mais esta vida sem futuro. Voc� trabalhando
<br>em dois lugares, minha m�e costurando
<br>e tomando conta do menino e eu, feito uma
<br>idiota, atr�s do balc�o de uma lojinha de
<br>44�
<br>
<br>
<br>sub�rbio. Juntando o dinheiro de todo mundo,
<br>se a gente descuidar, passa at� fome.
<br>
<br>� Que outro emprego voc� vai arranjar?
<br>� Talvez num escrit�rio da cidade.
<br>Laura come�ou a procurar. Durante
<br>suas f�rias, recortava os an�ncios dos jornais
<br>e sa�a todos os dias. Terminou conseguindo
<br>um trabalho como recepcionista.
<br>
<br>� Voc� vai mesmo aceitar?
<br>� Claro, Rui. N�o � agora, depois de
<br>tanta luta, que vou desistir. N�o posso jogar
<br>a sorte pela janela. Voc� precisava ver
<br>como tinha gente querendo o lugar.
<br>� E por que voc� foi escolhida?
<br>� O que quer dizer com isso?
<br>� Sem d�vida acharam voc� muito bonita
<br>e...
<br>� J� sei onde quer chegar. No dia que
<br>eu quiser lhe trair, n�o continuo mais com
<br>voc�.
<br>* * *
<br>
<br>Laura pareceu ganhar vida nova depois
<br>que come�ou a trabalhar na cidade. Sentia
<br>uma certa liberdade e conheceu novas pessoas.
<br>Claro que era bastante paquerada,
<br>mas isso apenas a lisonjeava, nada mais.
<br>Achava divertido ser desejada.
<br>
<br>�45
<br>
<br>
<br>Rui, apesar de ter concordado com esse
<br>novo trabalho de Laura, n�o estava satisfeito.
<br>Ou melhor, tinha se arrependido de
<br>ter deixado.
<br>
<br>As discuss�es entre os dois passaram a
<br>ser freq�entes, para grande desgosto de
<br>Margarida, que sempre que come�ava uma
<br>briga entre o genro e a filha, ia para o
<br>quarto com o neto para n�o tomar partido,
<br>apesar de no fundo achar que a filha estava
<br>errada. Ela tamb�m n�o via com bons
<br>olhos esse novo emprego de Laura e achava
<br>que mais dia, menos dia, aquele casamento
<br>ia acabar.
<br>
<br>� N�o ag�ento mais esses ci�mes sem
<br>motivo, Rui.
<br>� Sem motivo?
<br>� N�o h� raz�o para isso. Voc� n�o tem
<br>a menor confian�a em mim?
<br>� Eu tenho, Laura, mas tenho medo
<br>tamb�m.
<br>� Quer saber de uma coisa? �
<br>O qu�?
<br>� Nada.
<br>� Vamos, diga o que �.
<br>� N�o. N�o quero continuar esta discuss�o
<br>tola.
<br>� Voc� j� arranjou outro?
<br>� N�o. Ainda n�o. Mas se continuar a
<br>me chatear, termino arranjando.
<br>� Ah, �?!
<br>46�
<br>
<br>
<br>� Estou cheia desta vida sem sentido e
<br>sem futuro. Por isso quis trabalhar num
<br>lugar melhor. N�o pretendo ficar toda a
<br>minha vida aqui no sub�rbio. Isso no entanto
<br>n�o quer dizer que v� dormir com
<br>outro homem. Mas se continuar me enchendo
<br>a paci�ncia...
<br>� Voc� nunca me falou desta maneira
<br>antes.
<br>� Foi voc� quem provocou.
<br>� N�o gosta mais de mim?
<br>� Se n�o gostasse n�o continuava casada
<br>contigo.
<br>� Isso n�o � resposta.
<br>� Chega, Rui, vamos parar com esta
<br>briga que n�o leva a nada. Eu vou permanecer
<br>no emprego e pronto.
<br>�47
<br>
<br>
<br>
<br>I X
<br>
<br>
<br>� Voc� ainda gostava dela? � perguntou
<br>S�rgio.
<br>Tinham acabado de jantar. S�rgio e Vilma
<br>ainda n�o haviam tocado no nome de
<br>Laura. Mas o assunto terminou vindo �
<br>tona, como n�o podia deixar de acontecer.
<br>
<br>� Voc�s sabem de toda a hist�ria. Est�o
<br>a par de tudo. N�o posso me queixar
<br>de Laura. Ela foi muito bacana comigo. Se
<br>existe algu�m de quem possa me queixar �
<br>de mim mesmo.
<br>� Vamos ver se a gente n�o vai ficar
<br>curtindo fossa, Nilo. A �nica solu��o � deixar
<br>o tempo passar e esquecer...,
<br>� O mal est� dentro de mim � prosseguiu
<br>Nilo. � Cheguei a um ponto tal que
<br>n�o consigo mais aceitar a vida. Ali�s, na
<br>verdade nunca aceitei. Tudo me deprime.
<br>O �nico casal feliz com quem me dou s�o
<br>voc�s. Para mim, a chamada felicidade
<br>48�
<br>
<br>
<br>burguesa � t�o chata... Mesmo que pudesse,
<br>nunca ia desejar casar, ter filhos,
<br>ver televis�o.
<br>
<br>� N�s n�o temos filhos, nem vemos televis�o.
<br>� Eu sei... mas s�o felizes.
<br>� Na medida em que � poss�vel ser.
<br>� Pelo menos t�m uma estabilidade
<br>emocional que quase ningu�m consegue.
<br>�49
<br>
<br>
<br>9
<br>
<br>
<br>Quando ele entrou, Laura estremeceu.
<br>Mas continuou trabalhando como se n�o
<br>tivesse sentido nada. Antes de sair do escrit�rio,
<br>o rapaz se dirigiu a ela outra vez.
<br>
<br>� Eu me chamo Marcos.
<br>� Muito prazer � disse Laura, tentando
<br>dar � voz um tom perfeitamente natural.
<br>� N�o me diz o seu nome?
<br>� Laura.
<br>� O que vai fazer quando acabar o expediente?
<br>� Eu sou casada.
<br>� N�o perguntei seu estado civil.
<br>� Mas eu estou dizendo.
<br>� N�o tenho o menor interesse em saber.
<br>Estou interessado em saber o que vai
<br>fazer logo mais.
<br>� Vou para casa. Meu marido e meu
<br>filho me esperam.
<br>50
<br>
<br>
<br>
<br>� N�o pode chegar um pouco mais
<br>tarde ,hoje?
<br>� N�o, n�o posso.
<br>� Voc� n�o sabe o que est� perdendo...
<br>Marcos n�o insistiu mais e foi embora.
<br>Laura ficou o resto do dia muito agitada.
<br>O cara era realmente um tremendo
<br>boa-pinta e ela ficara bastante impressionada.
<br>
<br>
<br>Quando acabou o expediente, ao sair do
<br>escrit�rio, Marcos estava na porta esperando.
<br>
<br>
<br>� Resolvi vir te buscar.
<br>� N�o posso chegar tarde em casa.
<br>� Voc� tem carro?
<br>� N�o.
<br>� Ent�o me ofere�o pra te levar.
<br>� Est� maluco?
<br>� Por voc�.
<br>� Eu moro muito longe.
<br>� Mais um motivo para aceitar a carona.
<br>� Por favor, me deixe em paz.
<br>Laura afastou-se.
<br>Alguns dias depois, no intervalo do almo�o,
<br>Marcos apareceu de novo no escrit�rio
<br>onde Laura trabalhava.
<br>
<br>� Vim te convidar para almo�ar.
<br>� Voc� n�o desiste, hem?
<br>� N�o.
<br>Laura se dirigiu para o elevador.
<br>�51
<br>
<br>
<br>� Onde quer comer? � perguntou
<br>Marcos.
<br>Ela deixou de resistir:
<br>
<br>� Em qualquer lugar.
<br>Laura saiu do edif�cio com Marcos e tomou
<br>o carro do rapaz.
<br>
<br>� Vamos almo�ar em Copacabana. Em
<br>dez minutos estamos l�. Voc� vai estar de
<br>volta na hora certa, n�o se preocupe.
<br>Marcos pisou no acelerador e n�o corria,
<br>voava. Laura sentia o vento nos cabelos.
<br>Uma sensa��o maravilhosa de liberdade.
<br>
<br>Realmente, poucos minutos depois estavam
<br>num restaurante gr�-fino da Zona
<br>Sul.
<br>
<br>� Est� querendo me impressionar?
<br>� Pra qu�? N�o, realmente n�o estou
<br>querendo isso, pelo simples fato de que voc�
<br>j� est� suficientemente impressionada por
<br>mim.
<br>� Acha que ningu�m lhe resiste?
<br>� Adivinhou.
<br>Laura riu.
<br>� At� que enfim! Isso faz bem. Voc�
<br>precisa se descontrair.
<br>� J� te falei que sou casada.
<br>� E eu j� disse que seu estado civil n�o
<br>me interessa.
<br>� Mas interessa a mim.
<br>� Seu marido n�o precisa saber.
<br>� N�o gosto de fazer nada escondido.
<br>52
<br>
<br>
<br>
<br>� Estamos apenas almo�ando, o que
<br>n�o � nada de mais. Voc� nunca traiu mesmo
<br>seu marido?
<br>�
<br>N�o, nunca.
<br>�
<br>N�o precisa mentir.
<br>�
<br>N�o estou mentindo.
<br>� H� quanto tempo est� casada com
<br>ele?
<br>�
<br>Tr�s anos.
<br>� N�o acha que � muito tempo perdido
<br>com uma s� pessoa?
<br>Depois do almo�o, Marcos levou-a de
<br>volta ao escrit�rio.
<br>
<br>�
<br>Cumpri o prometido. N�o chegou
<br>atrasada e sua
<br>moral permanece intacta.
<br>Laura sorriu e despediu-se.
<br>
<br>* * *
<br>
<br>Marcos continuou procurando Laura,
<br>que terminou n�o resistindo e, uma tarde,
<br>sob o pretexto de que n�o se sentia bem,
<br>pediu para sair do trabalho mais cedo. No
<br>carro, perguntou ao rapaz:
<br>
<br>�
<br>Voc� n�o trabalha?
<br>�
<br>Por que pergunta isso?
<br>� Porque voc� est� sempre livre. Por
<br>acaso � milion�rio?
<br>� Voc� tirou a sorte grande, minha filha.
<br>Al�m de boa-pinta, eu tamb�m sou
<br>rico.
<br>O
<br>apartamento de Marcos era uma co
<br>
<br>
<br>�53
<br>
<br>
<br>bertura em Ipanema. Mal abriu a porta,
<br>disse:
<br>
<br>� N�o falei que voc� n�o sabia o que
<br>estava perdendo? N�o � sempre que se tem
<br>tanta sorte n�o, garota. Sabe que correu
<br>um risco muito grande, demorando tanto
<br>a vir aqui?
<br>� Por qu�?
<br>� Eu podia ter desistido. Nunca custei
<br>tanto tempo para levar uma mulher pra
<br>cama.
<br>� Est� arrependido por ter perdido esse
<br>tempo todo?
<br>� A gente pode recuperar, n�o pode?
<br>* * *
<br>
<br>Laura voltou a encontrar-se com Marcos
<br>naquela semana. Como n�o p�de sair
<br>outra vez do trabalho mais cedo, teve que
<br>ir depois do expediente.
<br>
<br>� N�o precisa correr tanto. De qualquer
<br>jeito vou chegar em casa depois da
<br>hora.
<br>Aumentando mais ainda a velocidade
<br>do carro; Marcos respondeu:
<br>
<br>� N�o � s� por sua causa que estou
<br>correndo desta maneira. � que estou doido
<br>pra ficar sozinho contigo.
<br>Pouco depois chegaram ao apartamento
<br>do rapaz.
<br>
<br>54
<br>
<br>
<br>
<br>� Puxa, eu n�o ag�entava mais. Estava
<br>doido pra possuir voc� outra vez.
<br>Laura ficou com Marcos at� mais ou
<br>menos oito horas da noite, s� chegando em
<br>casa depois das nove.
<br>
<br>Rui foi logo perguntando, assim que ela
<br>entrou em casa:
<br>
<br>� O que aconteceu?
<br>� Nada. Fiquei trabalhando at� mais
<br>tarde. Antes de sair hoje de manh� eu
<br>avisei.
<br>� Telefonei para seu trabalho e todos
<br>j� haviam sa�do.
<br>� Est� me espionando?
<br>� N�o, apenas fiquei preocupado.
<br>� A que horas ligou?
<br>� �s sete.
<br>� Eu j� tinha sa�do.
<br>� E por que s� est� chegando agora?
<br>� A condu��o atrasou, Rui.
<br>O marido n�o se conformou e a discuss�o
<br>se prolongou at� altas horas, para
<br>desgosto de Margarida, que ouvia tudo calada.
<br>
<br>
<br>
<br>X
<br>
<br>
<br>Na sexta-feira � noite C�sar seguiu para
<br>Cabo Frio, logo depois que saiu do trabalho.
<br>Encontrou Nilo com um estado de esp�rito
<br>bem melhor.
<br>
<br>� Ent�o, eu n�o tinha raz�o?
<br>� Voc� tem sempre raz�o, C�sar.
<br>� Isso � um elogio ou uma censura?
<br>� Um elogio.
<br>� N�o acho que seja uma qualidade ser
<br>l�cido e objetivo.
<br>� Por que n�o?
<br>� Simplesmente porque n�o acho. N�o
<br>sei explicar, mas o fato � que n�o me admiro
<br>muito. Penso que h� uma certa frieza
<br>de minha parte em encarar as coisas com
<br>muita objetividade. E isto tamb�m � uma
<br>prova de que n�o tenho muita capacidade
<br>para sofrer.
<br>� Exatamente o oposto de mim.
<br>� Exatamente.
<br>56�
<br>
<br>
<br>10
<br>
<br>
<br>� Sabe, Laura? � muito dif�cil duas
<br>pessoas se darem t�o bem na cama.
<br>� Est� falando de n�s dois?
<br>� E voc� s� foi ao meu apartamento
<br>quatro vezes em um m�s.
<br>� O que quer que eu fa�a, Marcos?
<br>� Que largue seu marido e venha viver
<br>comigo.
<br>� N�o posso.
<br>� Ou n�o quer?
<br>� Eu quero, Marcos. Mas tenho um
<br>filho. Al�m disso, existe minha m�e. Era
<br>capaz de morrer com o choque.
<br>� Pretende continuar com esta vidinha
<br>at� morrer?
<br>� Voc� tem certeza de que quer viver
<br>comigo?
<br>� Nunca tive tanta certeza de uma
<br>coisa. N�o vou dizer que vamos ser felizes
<br>para sempre. Isso n�o existe. Mas posso
<br>�57
<br>
<br>
<br>
<br>garantir que a gente vai se dar bem por
<br>muito tempo. Eu sou bastante rico e voc�
<br>pode largar esta porcaria deste emprego e
<br>aproveitar a vida junto comigo.
<br>
<br>* * *
<br>
<br>Era quase meia-noite quando Laura chegou
<br>em casa. Margarida e Rui a estavam
<br>esperando, muito preocupados.
<br>
<br>� Estava trabalhando at� agora? �
<br>perguntou o marido.
<br>
<br>� N�o, eu n�o estava trabalhando.
<br>� E por que s� chegou a esta hora?
<br>� Desculpe, Rui, mas n�o posso mais
<br>continuar levando esta vida. Estou cheia de
<br>tudo, sabe? N�o nasci para ser pobre. N�o
<br>ag�enta mais, t�? Eu quase n�o voltava
<br>hoje. S� estou aqui porque sabia que deviam
<br>estar muito preocupados comigo.
<br>Amanh�, eu vou embora.
<br>Rui n�o p�de acreditar no que estava
<br>ouvindo:
<br>
<br>� Posso saber pra onde?
<br>� N�o quero mais viver com voc�;
<br>Quero viver minha vida. Voc�s n�o t�m o
<br>direito de me proibir, n�o t�m...
<br>* * *
<br>
<br>Laura deixou tudo e foi morar com
<br>Marcos. Libertou-se do passado e resolvem
<br>
<br>58�
<br>
<br>
<br>que daquela data em diante sua exist�ncia
<br>ia ser uma festa, exatamente como sempre
<br>desejara.
<br>
<br>� Foi mais f�cil do que pensava, Marcos.
<br>Eu j� n�o suportava mais, estava sufocando.
<br>� A gente vai se divertir muito...
<br>A partir da� a vida de Laura se transformou
<br>completamente. Praia, cinema, teatro
<br>boate, bares, os amigos de Marcos, tudo
<br>
<br>z
<br>
<br>era maravilhoso.
<br>
<br>No terra�o do apartamento da Vieira
<br>Souto, os dois deixaram a chuvinha mi�da
<br>molhar seus corpos.
<br>
<br>� Sei que tudo isso n�o vai durar eternamente,
<br>mas mesmo que tudo acabe amanh�,
<br>est� valendo a pena.
<br>� Eu te amo, Laura.
<br>� A gente sabe que ningu�m passa a
<br>vida inteira com uma s� pessoa, mas quando
<br>acabar, podemos dizer que aproveitamos
<br>bastante.
<br>* * *
<br>
<br>Depois que fora viver com Marcos, Laura
<br>ia pelo menos uma vez por semana visitar
<br>a m�e e o filho. Rui continuava morando
<br>com a sogra, mas Laura tinha sempre
<br>o cuidado de s� ir l� quando ele estava
<br>no trabalho.
<br>
<br>� E Rui, como vai, mam�e?
<br>� Coitado!...
<br>�59
<br>
<br>
<br>� Coitado por qu�?
<br>� Ora, Laura, ele ainda gosta muito
<br>de voc�.
<br>� Qualquer dia acaba me esquecendo.
<br>� Por que voc� � assim, minha filha?
<br>� N�o sei. A senhora sabe por que � t�o
<br>resignada? Eu tamb�m n�o tenho a menor
<br>id�ia porque nasci completamente diferente.
<br>� melhor a gente mudar de assunto.
<br>Olha, trouxe esse dinheiro pra senhora e
<br>um presente pro menino.
<br>* * *
<br>
<br>
<br>Um dia Marcos chegou em casa com
<br>um amigo. Laura estava no quarto.
<br>
<br>� Laura � gritou ele da sala � temos
<br>visita.
<br>� Quem �? Eu j� conhe�o? � perguntou
<br>a mulher, do quarto.
<br>� N�o. Mas ele j� te viu comigo um
<br>dia destes.
<br>Laura entrou na sala. Marcos apresentou-
<br>a ao amigo:
<br>-� Este � o Cl�udio. Sabe o que ele faz*
<br>
<br>� Como posso saber?
<br>� � diretor de cinema. Vai come�ar a.
<br>rodar um filme na semana que vem. H�
<br>poucos dias nos viu de longe e ficou doido
<br>pra te conhecer. Acha que voc� � muito
<br>bonita e quer que trabalhe no filme dele
<br>60�
<br>
<br>
<br>�
<br>Eu?!
<br>� Por que n�o? Eu n�o me importo.
<br>Acho at� muito bom.
<br>�
<br>Mas eu n�o sei representar. Isso
<br>nunca me
<br>passou pela cabe�a.
<br>Cl�udio falou pela primeira vez:
<br>
<br>� � um papel pequeno. Voc� � o tipo
<br>exato. N�o precisa saber fazer nada.
<br>Laura ficou muito entusiasmada com a
<br>id�ia e resolveu aceitar o convite. Seria uma
<br>experi�ncia a mais.
<br>
<br>* * *
<br>
<br>Apesar de um pouco nervosa, Laura se
<br>saiu bem nos dois dias de filmagem. N�o
<br>tinha grande coisa a fazer: apenas dizia
<br>umas tr�s frases e corria pela praia.
<br>
<br>Poucos dias depois, foi com Marcos ver
<br>
<br>o copi�o do filme.
<br>� P�, Laura, n�o � que voc� d� para o
<br>neg�cio! � exclamou Marcos, entusiasmado
<br>depois de v�-la na tela.
<br>� Eu nunca me engano � disse Cl�udio.
<br>� Querem ouvir minha opini�o? Agora
<br>que me vi na tela, sei que n�o dei vexame.
<br>Acho que vou levar a s�rio esse neg�cio de
<br>ser atriz.
<br>� Genial, Laura. Estou aqui mesmo
<br>pra financiar a sua carreira � falou Marcos,
<br>entre s�rio e brincalh�o.
<br>�61
<br>
<br>
<br>XI
<br>
<br>
<br>O fim de semana foi relativamente divertido.
<br>Nilo concordou em ir � praia junto
<br>com o casal amigo e C�sar, que viera
<br>para ajudar a levantar seu �nimo.
<br>
<br>No fim da tarde do domingo, C�sar voltou
<br>para o Rio. Nilo ficou com S�rgio e
<br>Vilma at� as onze horas e voltou para o
<br>hotel onde estava hospedada
<br>
<br>Antes de sair, S�rgio tornou a insistir:
<br>
<br>� Por que n�o fica aqui em casa?
<br>� Basta o trabalho que j� estou dando.
<br>� Que � isso, cara?
<br>� N�o, S�rgio, estou muito bem no hotel.
<br>Vai ser muito chato para Vilma ter que
<br>me ver o dia inteiro.. .
<br>* * *
<br>
<br>Sozinho em seu quarto, Nilo ficou acordado
<br>at� muito tarde, sem conseguir dormir.
<br>A ang�stia voltou e lembrou-se de
<br>como conhecera Laura.
<br>
<br>62�
<br>
<br>
<br>� Voc� vai fazer uma reportagem com
<br>Laura Marques � disse o chefe da reda��o.
<br>Eu j� a vira em v�rios filmes e pe�as.
<br>Telefonei e marquei a entrevista. Laura me
<br>convidou para jantar em sua casa.
<br>
<br>� hora marcada, cheguei ao apartamento
<br>dela.
<br>
<br>Uma senhora veio atender.
<br>
<br>Entrei no apartamento e pouco depois
<br>
<br>Laura apareceu. Apresentou-me � sua m�e
<br>e chamou o filho.
<br>
<br>� Veja como � lindo!
<br>O garoto tinha uns seis anos mais ou
<br>menos.
<br>
<br>� Ele tem os olhos muito azuis � disse
<br>Laura. � Iguais aos da av�. A �nica
<br>na fam�lia que n�o tem os olhos bonitos
<br>sou eu.
<br>Laura era uma mulher extremamente
<br>sofisticada. Muito bonita, com longas pestanas
<br>posti�as, tinha ao mesmo tempo um
<br>ar de quem critica a pr�pria imagem de
<br>estrela.
<br>
<br>O jantar transcorreu animad�ssimo.
<br>Laura n�o parou um instante. Ria e conversava,
<br>enquanto comia. A eletrola estava
<br>no mais alto volume e Laura seguia o ritmo
<br>das m�sicas com o corpo.
<br>
<br>� Esta minha casa � muito alegre, n�o
<br>acha?
<br>� Muito � concordou Nilo.
<br>�63
<br>
<br>
<br>
<br>�
<br>Uma alegria barulhenta e meio falsa.
<br>Mas n�o deixa de ser alegria.
<br>Depois do jantar, Dona Margarida levou
<br>
<br>o menino para dormir e Laura ficou sozinha
<br>comigo na sala de estar. Quando terminei
<br>a entrevista, insistiu para que ficasse
<br>mais um pouco, batendo papo.
<br>�
<br>Posso te dizer uma coisa?
<br>�
<br>O qu�?
<br>�
<br>Adoro observar as pessoas.
<br>� E esteve todo este tempo me observando?
<br>�
<br>Foi.
<br>�
<br>Qual a conclus�o que tirou?
<br>�
<br>Que voc� � muito triste. Acertei?
<br>�
<br>Acertou. E voc� � muito alegre?
<br>� Sou. Realmente n�o sou encucada.
<br>Claro que a vida n�o � propriamente uma
<br>festa sempre animada. Mas n�o deixa de
<br>ser uma festa. E a gente tem que aproveitar
<br>o mais que pode. Voc� � triste demais.
<br>�
<br>Acertou em cheio.
<br>�
<br>Por qu�?
<br>� Est� querendo me entrevistar tamb�m?
<br>�
<br>Voc� � muito complicado, n�o �?
<br>�
<br>Talvez.
<br>� Gostaria de saber tudo a seu respeito.
<br>�
<br>Fica para outro dia.
<br>�
<br>T� legal.
<br>64�
<br>
<br>
<br>Laura fixou os olhos com as longas pestanas
<br>em mim:
<br>
<br>� Promete aparecer sempre aqui?
<br>� Prometo.
<br>� Mas n�o continue t�o triste assim.
<br>N�o vale a pena. Eu n�o ligo pra nada.
<br>Principalmente para os chamados problemas
<br>emocionais. Eles s�o t�o impalp�veis!
<br>Na realidade n�o existem.
<br>� N�o consigo evitar ser como sou.
<br>� Voc� j� deve ter ouvido muitas hist�rias
<br>a meu respeito.
<br>� V�rias...
<br>� Pois �. Falam uma por��o de coisas
<br>de mim. Na verdade acho �timo. Serve paia
<br>manter a lenda.
<br>Laura riu e continuou:
<br>
<br>� Dizem at� que sou l�sbica. Por estas
<br>alturas dos acontecimentos ainda existem
<br>esses tipos de discrimina��o. "J� te falaram
<br>que eu tamb�m gosto de mulher?
<br>Como j� estava cheio de u�sque, arrisquei
<br>a pergunta:
<br>
<br>� E � verdade?
<br>� N�o. Mas se gostasse? E da�?
<br>�65
<br>
<br>
<br>11
<br>
<br>
<br>Laura ficou cada vez mais entusiasmada
<br>com a carreira de atriz e era estimulada
<br>por Marcos.
<br>
<br>� Um dia a gente vai terminar se separando.
<br>Assim � melhor mesmo que voc�
<br>tenha uma profiss�o.
<br>� Al�m disso, � um neg�cio que eu gosto,
<br>Marcos. Isso � mais importante do que
<br>tudo. Acho que desta vez eu me encontrei.
<br>� Viu como foi bom ter me conhecido?
<br>� Em todos os sentidos foi bom. Esquece
<br>que gosto de voc�? Ou pensa que foi o
<br>primeiro homem que me cantou, al�m do
<br>meu marido?
<br>Antes que seu primeiro filme fosse lan�ado,
<br>Cl�udio a apresentou a outro diretor
<br>e Laura conseguiu um novo papel. Come�ou
<br>a ter aulas de voz e express�o corporal,
<br>al�m de ler todos os livros sobre teatro
<br>que Marcos lhe comprava.
<br>
<br>66�
<br>
<br>
<br>
<br>Sua vida passou a ter um sentido que
<br>at� ent�o n�o tinha e ficou gostando mais
<br>de Marcos. Algum tempo depois j� era uma
<br>atriz mais ou menos conhecida e trabalhava
<br>tamb�m na televis�o. Continuava visitando
<br>a m�e e o filho no sub�rbio. Rui,
<br>seu marido, terminara encontrando uma
<br>outra mulher e mudara-se.
<br>
<br>� Mam�e, voc� bem que podia vir morar
<br>comigo e o Marcos.
<br>� Nunca!
<br>� Mas por qu�? S� porque n�o somos
<br>casados? Que bobagem!
<br>� N�o � s� por isso, minha filha. �
<br>que fui acostumada aqui no sub�rbio e n�o
<br>� agora que vou mudar pra Ipanema. Tenho
<br>tudo, voc� � muito boa comigo. N�o
<br>me falta nada.
<br>� Mas acho que a senhora vive muito
<br>s�.
<br>� Tenho a companhia de meu neto. �
<br>o bastante.
<br>* * *
<br>
<br>� O que a gente previa, parece que
<br>est� acontecendo, Marcos.
<br>� Eu tamb�m acho o mesmo, Laura,
<br>mas n�o sabia como lhe dizer.
<br>� Finalmente chegamos naquele ponto
<br>em que nada mais podemos acrescentar
<br>um ao outro.
<br>�67
<br>
<br>
<br>
<br>� Na verdade durou muito, voc� n�o
<br>acha? Quatro anos n�o s�o quatro dias.
<br>Demorou mais do que a maioria dos casamentos
<br>de hoje.
<br>� N�o tenho mais nem tempo de te ver
<br>direito. � s� gravando, ensaiando, no est�dio
<br>ou no teatro. Estou me sentindo cansada.
<br>Se n�o fosse tanto compromisso que
<br>assumi, penso que ia viajar.
<br>� Mas j� assumiu. O jeito � cumprir.
<br>Acho que quem vai viajar sou eu. Parece
<br>at� brincadeira, mas com tanto dinheiro e
<br>disponibilidade, nunca fui � Europa. Sou
<br>mesmo bastante idiota. Julgo que chegou
<br>a hora de sair pelo mundo.
<br>Assim, sem dramas nem arrependimentos,
<br>Marcos e Laura se separaram. Passando
<br>a viver sozinha, ela conseguiu convencer
<br>a m�e a vir morar com ela. Durante
<br>algum tempo n�o teve ningu�m, dedicando-
<br>se somente ao trabalho e ao filho.
<br>
<br>Sem grilos e com certa independ�ncia
<br>financeira, sua carreira progrediu muito.
<br>Tornou-se uma boa atriz e na estr�ia de
<br>uma pe�a em que fazia pela primeira vez
<br>um papel em que podia demonstrar todo
<br>
<br>o seu talento, Cl�udio, seu descobridor, foi
<br>procur�-la no camarim.
<br>� Puxa, Cl�udio, quanto tempo!
<br>� � verdade.
<br>� Por que nunca mais me procurou?
<br>68�
<br>
<br>
<br>� Eu lhe pergunto a mesma coisa.
<br>� � engra�ado, a gente vive na mesma
<br>cidade, quer se encontrar com os amigos e,
<br>no entanto, �s vezes passa at� anos sem
<br>se ver.
<br>� Vai sair com algu�m hoje?
<br>� N�o, estou muito cansada. Vou direto
<br>pra casa. Esta pe�a n�o � f�cil.
<br>� Estava pensando em -bater um papo
<br>contigo.
<br>� Hoje?
<br>� Sim. Mas n�o tem import�ncia, deixo
<br>pra outro dia.
<br>� Se quiser, eu posso sair com voc�.
<br>� N�o. Voc� deve estar mesmo muito
<br>cansada. � um assunto demorado. Quero
<br>te fazer uma proposta. Quando vai estar
<br>mais livre?
<br>Encontraram-se alguns dias depois, no
<br>apartamento dele.
<br>
<br>� A cr�tica te elogiou muito na pe�a
<br>que est� fazendo.
<br>� Quem diria, hem?! Lembra quando
<br>voc� foi l� em casa pela primeira vez? Eu
<br>n�o sabia nem andar naquela �poca.
<br>Cl�udio falou num tom gozador:
<br>
<br>� Eu sei descobrir talentos.
<br>� O que � que tem para me propor?
<br>� � o seguinte: estou pensando em
<br>fazer um novo filme. Como voc� sabe, estou
<br>h� dois anos parado. Mas h� pouco
<br>tempo tive uma id�ia que me pareceu mui�
<br>69
<br>
<br>
<br>
<br>to boa. Escrevi o roteiro e j� consegui o
<br>financiamento.
<br>
<br>� Legal! E quer me convidar pra trabalhar
<br>no filme? J� topei!
<br>� Assim que tive a id�ia pensei em
<br>voc�. Mas n�o sei se vai querer, quando ler
<br>o argumento.
<br>� Eu acredito em voc�. Al�m disso,
<br>contigo, eu topo qualquer parada. Se n�o
<br>fosse por sua causa, n�o estava onde estou.
<br>� N�o quero que aceite por gratid�o.
<br>� Deixe de mist�rio, Cl�udio, e me d�
<br>o roteiro logo. Estou doida pra ler. Continuo
<br>dizendo que j� topei. Qual � o t�tulo?
<br>� "O Sexo Perdido". � uma hist�ria
<br>er�tica. Um neg�cio muito forte, pra valer
<br>mesmo.
<br>� Este filme veio numa boa hora. Estou
<br>precisando ocupar todo o meu tempo.
<br>� Marcos tem dado not�cias?
<br>� De vez em quando recebo um cart�o
<br>dele. Est� adorando a viagem.
<br>� Voc�s acabaram mesmo?
<br>� Definitivamente. Mas continuamos
<br>amigos. O tempo que ficamos juntos foi
<br>muito legal.
<br>� Ainda gosta dele?
<br>� Tenho a impress�o de que nunca vou
<br>gostar muito de ningu�m. Acho que n�o
<br>possuo a t�o falada capacidade de amar ou
<br>talvez queira o imposs�vel.
<br>70�
<br>
<br>
<br>� Por que diz isso?
<br>� At� hoje n�o consegui me prender a
<br>ningu�m por muito tempo.
<br>� Mas voc�s chegaram a passar quatro
<br>anos juntos.
<br>� � que a gente se entendia bem. Mas
<br>um belo dia descobri que n�o sentia mais
<br>nada por Marcos...
<br>�71
<br>
<br>
<br>XII
<br>
<br>
<br>Fiquei muito impressionado com Laura,
<br>desde esse nosso primeiro encontro. Nunca
<br>tinha visto uma pessoa igual a ela. Sua vida
<br>parecia uma festa eterna. Uma festa muito
<br>alegre e barulhenta. Nesse nosso primeiro
<br>encontro conversamos durante muitas horas
<br>e sa� de sua casa muito tarde.
<br>
<br>Quando a entrevista foi publicada, Laura
<br>telefonou para a reda��o.
<br>
<br>� Al�, � o Nilo?
<br>� � ele, sim. Quem est� falando?
<br>� Laura. Quero agradecer pela reportagem.
<br>Gostei muito. Poucas vezes escreveram
<br>t�o bem a meu respeito.
<br>� Gostou mesmo?
<br>� Demais. Por que n�o aparece aqui em
<br>casa qualquer dia destes?
<br>Voltei a me encontrar com Laura naquela
<br>mesma semana. Fomos juntos a um
<br>restaurante.
<br>
<br>72�
<br>
<br>
<br>� Por que voc� � t�o desconfiado e inseguro?
<br>N�o tem confian�a em ningu�m?
<br>� N�o, n�o tenho � respondi.
<br>� At� agora ainda n�o me disse a raz�o
<br>de sua tristeza constante.
<br>� Nem vou dizer.
<br>� Por qu�?
<br>� Porque � coisa que s� diz respeito a
<br>mim.
<br>� N�o precisa ser grosseiro.
<br>� Desculpe.
<br>Ficamos algum tempo em sil�ncio.
<br>� Eu n�o sou sempre assim t�o triste
<br>como est� dizendo.
<br>� N�o procure disfar�ar. Eu gosto das
<br>pessoas aut�nticas e quero apenas te
<br>ajudar.
<br>� N�o vale a pena. � tudo uma quest�o
<br>de temperamento. Me deixe ser triste,
<br>assim como eu deixo que voc� seja alegre.
<br>Podemos muito bem ser �timos amigos do
<br>jeito que somos.
<br>� T� legal, Nilo. Desculpe me meter em
<br>seus problemas. Mas vou dizer porque estou
<br>agindo assim: � que acho voc� um
<br>amor.
<br>Laura riu, debru�ou-se sobre a mesa e
<br>
<br>me beijou na boca.
<br>O restaurante inteiro parou para olhar.
<br>N�o posso dizer que n�o fiquei satis
<br>
<br>
<br>feito.
<br>
<br>�73
<br>
<br>
<br>
<br>12
<br>
<br>
<br>As filmagens de "O Sexo Perdido" come�aram
<br>pouco tempo depois. A conviv�ncia
<br>di�ria, o perfeito entendimento' e camaradagem
<br>entre Laura e Cl�udio, e finalmente
<br>o fato de estarem ambos dispon�veis,
<br>fizeram com que terminassem indo para a
<br>cama.
<br>
<br>� Como � que pode, nem, Laura? A
<br>gente se conhece h� tanto tempo e s�
<br>agora...
<br>� Sempre pensei que seu interesse por
<br>mim fosse puramente profissional.
<br>� N�o existe nenhum interesse de uma
<br>pessoa por outra que n�o tenha um fundo
<br>sexual. Deve saber disso melhor do que eu.
<br>� E por que nunca tentou nada antes?
<br>� Voc� vivia com Marcos. Uma simples
<br>quest�o de �tica. Mas tinha muita vontade
<br>de transar contigo, desde a primeira vez
<br>que te vi.
<br>74�
<br>
<br>
<br>
<br>� � esperou tanto tempo? Voc� � muito
<br>paciente.
<br>� Nem tanto. . . assim que soube que
<br>estava livre, te procurei. Senti que tinha
<br>chegado a minha vez.
<br>� N�o foi apenas por causa do filme?
<br>� N�o. Mas � bom que fique bem claro
<br>que n�o deve existir nenhum compromisso
<br>de minha parte nem da sua. N�o entendo
<br>o amor como um compromisso. As pessoas
<br>devem ser livres...
<br>� Voc� n�o acredita em fidelidade?
<br>� De maneira nenhuma. O ser humano
<br>n�o consegue ser fiel por mais que tente.
<br>� uma coisa completamente imposs�vel na
<br>�poca em que vivemos.
<br>� Eu vou mais longe do que voc�. Acho
<br>que em todos os tempos a infidelidade sempre
<br>foi uma constante. S� que, em determinadas
<br>�pocas, a hipocrisia era maior e
<br>as pessoas ocultavam seus verdadeiros sentimentos
<br>e desejos. No entanto, seria �timo
<br>que existisse o amor absoluto.
<br>� Voc� acha? N�o sabia que tamb�m
<br>tinha um lado rom�ntico.
<br>O caso entre os dois durou enquanto
<br>duraram as filmagens. Todos os dias, cansados
<br>do trabalho exaustivo, Laura ia para
<br>
<br>o apartamento de Cl�udio. Ele dedicava-se
<br>ao filme de maneira obsessiva e procurava
<br>explorar ao m�ximo as qualidades f�sicas
<br>dela.
<br>�75
<br>
<br>
<br>
<br>� At� parece que n�o acredita no meu
<br>talento.
<br>� Eu quero que este filme estoure. Voc�
<br>vai ficar mais famosa do que nunca. N�o
<br>vai existir nenhum homem no Brasil que
<br>n�o v� sentir vontade de te levar pra cama.
<br>�
<br>� isto o que chama de sucesso?
<br>�
<br>E o que � o sucesso pra voc�?
<br>* * *
<br>
<br>Nos fins de semana, quando tinham
<br>folga, quase n�o se levantavam da cama.
<br>Ficavam horas e horas esquecidos do mundo.
<br>Pareciam duas crian�as inventando novas
<br>brincadeiras de amor. Laura beijava-o
<br>no corpo todo e costumava conversar com
<br>
<br>o sexo dele como se fosse uma outra pessoa.
<br>�
<br>Voc� est� satisfeito comigo?
<br>�
<br>Claro que estou, Laura.
<br>�
<br>N�o estou falando contigo. Estou
<br>perguntando
<br>a "ele".
<br>E Laura apontava para o sexo do rapaz:
<br>
<br>� "Ele" n�o quer me responder. Creio
<br>que ainda tem d�vidas se gosta de mim
<br>ou n�o.
<br>No �ltimo dia de filmagem, resolveram
<br>comemorar. Tiveram uma longa noite de
<br>amor. Depois vieram as fases de montagem
<br>e dublagem do filme e eles foram se afastando
<br>aos poucos um do outro. Haviam
<br>esgotado todas as possibilidades que o sexo
<br>podia lhes oferecer...
<br>
<br>76�
<br>
<br>
<br>
<br>XIII
<br>
<br>
<br>Passei a me encontrar com Laura constantemente.
<br>Como estava sempre sem programa
<br>depois do trabalho, comecei a procur�-
<br>la quase todos os dias.
<br>
<br>� Voc� leu, Nilo? � perguntou Laura,
<br>dando um tom significativo � frase.
<br>� O qu�?
<br>� N�o leu?
<br>� N�o sei do que est� falando.
<br>� Saiu uma not�cia num jornal que n�s
<br>estamos vivendo um grande romance.
<br>� Quem foi que publicou essa besteira?
<br>� Acha uma besteira ter um romance
<br>comigo?
<br>� N�o � isso, Laura. Mas simplesmente
<br>n�o � verdade.
<br>� E desde quando as pessoas s� falam
<br>a verdade? N�s mesmos, apesar de t�o
<br>amigos, ainda n�o abrimos o jogo um com
<br>o outro.
<br>�77
<br>
<br>
<br>
<br>� Quer acabar com a nossa amizade"?
<br>Est� sendo inconveniente pra voc�?
<br>� N�o se trata disso, Nilo. Voc� deve
<br>saber que eu gosto de jogo aberto. J� deve
<br>ter notado, mas acho que preciso ser mais
<br>clara ainda. Eu estou gostando de voc�.
<br>� Que bobagem, Laura!
<br>� Por que bobagem?
<br>� N�o percebeu que n�o pode dar
<br>certo?
<br>� Por que n�o pode?
<br>� N�o me obrigue a explicar. � um
<br>pouco dif�cil pra mim.
<br>78�
<br>
<br>
<br>13
<br>
<br>
<br>"O Sexo Perdido" foi lan�ado em grande
<br>estilo. Por esta �poca, Laura n�o tinha mais
<br>nada com Cl�udio. De vez em quando se
<br>questionava sobre o valor do sucesso. Sentia
<br>os primeiros sintomas da solid�o.
<br>
<br>Na pr�-estr�ia do filme, julgou ver na
<br>plat�ia um rosto conhecido. Era apenas um
<br>rosto na multid�o: o rosto de Rui. Mas
<br>seria ele mesmo? Sentiu-se inquieta durante
<br>todo o tempo que durou a proje��o.
<br>N�o se via na tela, via-se no passado, alguns
<br>anos antes, quando conhecera Rui e
<br>finalmente se casara com ele.
<br>
<br>Teria sido Rui o amor absoluto que de
<br>uns tempos para c� come�ara a desejar?
<br>Ser� que tinha tido nas m�os aquilo que
<br>buscava agora? Tanto tempo depois, lembrava-
<br>se de detalhes que na �poca n�o
<br>dera a menor import�ncia. Depois que o
<br>deixara, evitava encontr�-lo e pensava
<br>
<br>�79
<br>
<br>
<br>t�-lo esquecido. O que estava acontecendo
<br>com ela?
<br>
<br>Quando o filme acabou de ser projetado,
<br>Laura viu-se cercada pelos colegas e n�o
<br>avistou mais a pessoa que julgara ser Rui.
<br>Esticou numa boate e voltou sozinha para
<br>casa, compreendendo que o sucesso n�o
<br>preenche a vida de ningu�m e n�o se pode
<br>dormir com ele.
<br>
<br>Compreendeu tamb�m que n�o podia
<br>voltar ao passado. Rui era apenas uma
<br>lembran�a. Mais nada. Sua vida se modificara
<br>radicalmente. Lembrou-se que era
<br>jovem e poderia ainda achar a pessoa certa...
<br>
<br>
<br>E esta pessoa pensou encontrar quando
<br>conheceu Nilo. Impressionou-se com o rapaz,
<br>quando ele fora entrevist�-la. Achou-o
<br>muito s�rio, um pouco t�mido e com um
<br>certo ar de tristeza que a atraiu imediatamente.
<br>
<br>
<br>Estava ali o homem de sua vida, pensou.
<br>E determinou que havia de conquist�-
<br>lo, o que de resto n�o deveria ser muito
<br>dif�cil...
<br>
<br>Procurou impression�-lo o mais que
<br>p�de. Mas Nilo mostrava-se relutante. Depois
<br>achou que tinha tomado a atitude
<br>errada, bancando a estrela sofisticada. Talvez
<br>ele preferisse uma pessoa simples, sem
<br>artif�cios. Acostumado com gente daquele
<br>
<br>80�
<br>
<br>
<br>tipo, Nilo sem d�vida n�o apreciava mulheres
<br>muito livres, realizadas, e que tinham
<br>tudo na vida. N�o via outra explica��o
<br>para o fato dele n�o tomar nenhuma
<br>iniciativa...
<br>
<br>�81
<br>
<br>
<br>XIV
<br>
<br>
<br>Naquela noite, Laura colocou na eletrola
<br>o mesmo disco de quando nos conhecemos,
<br>por ocasi�o da entrevista. Dona
<br>Margarida e o garoto tinham ido passar
<br>uns tempos fora e ele estava sozinha.
<br>
<br>� Esta m�sica te recorda alguma
<br>coisa?
<br>� O primeiro dia que vim aqui.
<br>Neste momento tocaram a campainha.
<br>Laura n�o escondeu seu aborrecimento.
<br>
<br>� Quem ser�?
<br>Como n�o fazia men��o de ir atender,
<br>perguntei:
<br>
<br>� N�o vai ver quem �?
<br>� N�o tenho neg�cio nenhum com
<br>ningu�m.
<br>� Pode ser alguma coisa importante.
<br>Laura levantou-se e foi at� a poria. Era
<br>um rapaz com uma enorme caixa de u�sque.
<br>Mandou que a colocasse na sala.
<br>
<br>82�
<br>
<br>
<br>� O que � isso?
<br>Laura leu o cart�o que acompanhava
<br>o presente. Sua express�o era de desgosto.
<br>S� me respondeu depois que o rapaz se retirou
<br>:
<br>� Foi um cara, o dono do armaz�m ali
<br>da esquina, quem mandou esta caixa de
<br>u�sque de presente. Ele vive atr�s de mim.
<br>Por que ser� que quase todo mundo pensa
<br>que atriz � prostituta?
<br>� Seu humor hoje n�o est� dos melhores.
<br>� N�o gosto de ser tratada como mercadoria.
<br>Ele pensa que pode me comprar.
<br>Devia ter devolvido...
<br>Subitamente seu rosto se descontraiu e
<br>ela explodiu numa gargalhada, para minha
<br>surpresa.
<br>
<br>� Eu n�o posso mudar o mundo, n�o
<br>� mesmo?
<br>� N�o, n�o pode.
<br>� Ent�o, o melhor � tomarmos o u�sque.
<br>N�o � uma boa id�ia?
<br>Abrimos a primeira garrafa e come�amos
<br>a beber. Conversamos sobre todos os
<br>assuntos e num determinado momento,
<br>Laura perguntou:
<br>
<br>� Voc� nunca me viu sem maquilagem,
<br>j�? �
<br>N�o. Voc� est� sempre impec�vel.
<br>� Tem gente que me acha muito mais
<br>bonita sem pintura.
<br>�83
<br>
<br>
<br>Laura saiu da sala e foi ao banheiro.
<br>Poucos minutos depois voltou com a cara
<br>lavada:
<br>
<br>� Ent�o? A diferen�a � muito grande?
<br>� Mais ou menos.
<br>� Estou muito feia?
<br>� N�o. Est� bonita. Mas parece outra
<br>pessoa.
<br>Ela tornou a encher seu copo. O que eu
<br>mais temia, aconteceu:
<br>
<br>� Estou apaixonada por voc�, Nilo.
<br>N�o adianta querer me enganar nem a
<br>voc�.
<br>Procurei levar na brincadeira:
<br>
<br>� N�o fa�a isso.
<br>� J� fiz.
<br>� Com tanto homem por a�, voc� foi
<br>logo se apaixonar por mim?
<br>� Estas coisas acontecem. Eu quero
<br>voc� pro que der e vier.
<br>� J� te disse uma vez que n�o d� certo,
<br>Laura.
<br>� Por que n�o?
<br>Tomei o resto da bebida que tinha em
<br>meu copo. Laura tornou a ench�-lo:
<br>
<br>� Quer mesmo que lhe diga o motivo?
<br>N�o sei bem como tive coragem de revelar
<br>tudo a Laura. Afinal, n�o tinha bebido
<br>ainda tanto assim. Mas vi que n�o
<br>podia mais continuar enganando-a. Era
<br>uma humilha��o terr�vel para mim, mas
<br>
<br>84�
<br>
<br>
<br>n�o tinha outra sa�da. N�o podia adiar
<br>mais.
<br>
<br>Tive raiva de mim por ter vindo encontr�-
<br>la. Na verdade, n�o devia ter deixado
<br>chegar �quela situa��o. A culpa era unicamente
<br>minha. Se n�o tivesse continuado a
<br>encontr�-la depois daquela entrevista...
<br>Mas as coisas tinham aconteciido de uma
<br>maneira t�o natural! N�o podia prever que
<br>uma mulher t�o bonita, que tmha tudo a
<br>seus p�s, fosse se apaixonar por mim. Era
<br>uma coisa absurda.
<br>
<br>Laura me deu a impress�o de ter levado
<br>um choque el�trico quando confessei que
<br>era impotente. Que toda a minha tristeza
<br>e conseq�ente neurose vinha deste fato.
<br>N�o havia possibilidade de termos um caso
<br>de amor...
<br>
<br>Ela foi at� a eletrola e colocou de novo
<br>a m�sica do dia em que nos conhecemos.
<br>Seus olhos estavam molhados. N�o podia
<br>duvidar que suas l�grimas n�o eram verdadeiras.
<br>Afinal, apesar de ser atriz, seu
<br>talento n�o chegava a tanto.
<br>
<br>� Voc� sempre me pareceu -a pessoa
<br>mais alegre do mundo. N�o quero te ver
<br>chorando. � preciso conservar a imagem!
<br>Ela tentou se recompor. Sorriu:
<br>
<br>� Mas eu continuo sendo a pessoa mais
<br>alegre do mundo, Nilo.
<br>Notei uma certa revolta em sua voz.
<br>Laura n�o era do tipo que se conformava
<br>
<br>�85
<br>
<br>
<br>depressa. Ou melhor, n�o se conformava
<br>nunca. Estava acostumada a vencer todos
<br>os obst�culos que lhe apareciam pela frente.
<br>
<br>Talvez pela primeira vez em sua vida,
<br>estava diante de um fato que n�o podia
<br>mudar. Senti que sua raiva estava prestes
<br>a estourar. Tive vontade de sair daquele
<br>apartamento o mais r�pido que pudesse.
<br>
<br>� Eu vou embora, Laura. N�o suporto
<br>te ver assim. N�o queria te fazer sofrer.
<br>Ela enxugou as l�grimas que ainda teimavam
<br>em cair. Pegou um pequeno espelho
<br>e come�ou a se pintar. Sua express�o
<br>foi se transformando e ela falou pausadamente
<br>:
<br>
<br>� N�o, Nilo, nem voc� nem ningu�m
<br>vai conseguir estragar a minha festa. Minha
<br>vida � uma festa, n�o se lembra? E
<br>voc� n�o vai estrag�-la, n�o vai...
<br>Mas quando eu ia abrindo a porta para
<br>me retirar, ela correu ao meu encontro e
<br>segurou-me a m�o:
<br>
<br>� Vamos tentar.
<br>� N�o adianta. Vai ser muito pior pra
<br>mim e para voc�.
<br>Voltei para a sala e bebemos muito, durante
<br>horas. Antes de sair, prometendo a
<br>mim mesmo nunca mais encontr�-la, beijei-
<br>a na boca. Laura estava quase inconsciente
<br>pelo excesso de bebida. Eu tamb�m
<br>at� agora n�o sei como consegui chegar de
<br>volta � minha casa...
<br>
<br>86�
<br>
<br>
<br>14
<br>
<br>
<br>A decep��o que Laura teve com Nilo foi
<br>um golpe muito forte. O pior de tudo era
<br>que sabia que ele a amava. O sucesso de
<br>seu filme abriu-lhe novas perspectivas. Podia
<br>escolher com quem trabalhar e exigir
<br>
<br>o sal�rio que desejasse. Mas nada disso lhe
<br>importava. Nunca tinha enfrentado uma
<br>situa��o irremedi�vel e procurou desesperadamente
<br>encontrar algu�m que fizesse
<br>com que o esquecesse.
<br>Adquiriu um apartamento s� para ela
<br>e come�ou a sua busca. Freq�entava todos
<br>os tipos de festas e levava cada noite um
<br>homem diferente para a cama. Todos lhe
<br>pareciam vazios e sua insatisfa��o crescia.
<br>At� que conheceu Henrique.
<br>
<br>Estava num bar, sentada numa das mesas
<br>da cal�ada com uma outra atriz, sua
<br>amiga.
<br>
<br>� Voc� est� se destruindo, Laura.
<br>� N�o venha me dar li��o de moral.
<br>�87
<br>
<br>
<br>� O que espera encontrar? Dedique-se
<br>� sua carreira, aproveite a mar� de sorte.
<br>N�o jogue fora tudo que conseguiu.
<br>� Minha carreira n�o significa nada.
<br>� Talvez porque voc� conseguiu tudo
<br>com muita facilidade.
<br>� Falou e disse.
<br>Ruth virou-se para ver quem Laura
<br>olhava. Era um rapaz de seus vinte anos
<br>que estava numa mesa pr�xima:
<br>
<br>� Est� olhando aquele cara?
<br>� Nunca mais saio contigo, se continuar
<br>a dar palpite em minha vida.
<br>� Mas eu n�o falei nada.. . apenas
<br>perguntei, porque notei que n�o estava
<br>prestando aten��o ao que eu dizia.
<br>* * *
<br>
<br>Laura levou Henrique para seu apartamento.
<br>Agradou-lhe o ar de menino desamparado
<br>que ele tinha.
<br>
<br>� Voc� tem quantos anos?
<br>� Vinte.
<br>� Estuda?
<br>� N�o.
<br>� Trabalha?
<br>� Tamb�m n�o.
<br>� O que � que voc� faz?
<br>� Estou por a�...
<br>� Vai sempre naquele bar?
<br>� Vou.
<br>88�
<br>
<br>
<br>� Mora em Copacabana?
<br>� N�o.
<br>� Voc� n�o � de falar muito, n�o �?
<br>Laura desistiu de continuar o di�logo
<br>com o rapaz. Ele s� respondia por monoss�labos.
<br>J� estava at� arrependida de t�-lo
<br>trazido para casa. Mas na hora em que
<br>foram para a cama, teve uma surpresa
<br>agrad�vel. Henrique demonstrou um ardor
<br>que n�o estava absolutamente de acordo
<br>com a sua apar�ncia ap�tica.
<br>
<br>Pelo menos serve para uma noite, pensou
<br>Laura. O que posso exigir mais de um
<br>garoto de vinte anos? Depois, ele adormeceu
<br>ao seu lado e sentiu uma certa ternura.
<br>Mas, algum tempo depois, acordou-o:
<br>
<br>� Est� na hora de ir embora.
<br>� N�o posso dormir aqui?
<br>� N�o. Tenho muito o que fazer
<br>amanh�.
<br>Ele obedeceu. Levantou-se e vestiu-se
<br>rapidamente.
<br>
<br>� Vai querer se encontrar comigo de
<br>novo?
<br>Sentiu pena do rapaz:
<br>
<br>� A gente se v� qualquer dia.
<br>� Onde?
<br>� Naquele mesmo bar. Voc� n�o vai
<br>sempre l�?
<br>Henrique foi embora. No outro dia Laura
<br>n�o teve tempo de pensar mais nele.
<br>Tinha que gravar um programa para a te
<br>
<br>
<br>�89
<br>
<br>
<br>levis�o e � noite discutir um novo filme
<br>que ia fazer. J� estava quase esquecida do
<br>rapaz.
<br>
<br>Uma noite, pouco mais de tr�s horas da
<br>madrugada, voltava para o apartamento
<br>quando viu um vulto aproximar-se. Quase
<br>n�o o reconheceu.
<br>
<br>� O que est� fazendo aqui, Henrique?
<br>� Te esperando.
<br>� Mas n�s n�o marcamos encontro.
<br>� Voc� ficou de me procurar no bar.
<br>� N�o tive mais tempo.
<br>A temperatura estava muito baixa e ele
<br>tremia de frio:
<br>
<br>� Posso subir com voc�?
<br>� N�o, est� muito tarde.
<br>Encaminhou-se para a portaria. Voltou-
<br>se e o viu parado no mesmo lugar. Chamou-
<br>o:
<br>
<br>� Venha.
<br>Henrique sorriu e subiu junto com ela.
<br>Na verdade, o rapaz n�o lhe desagradava
<br>na cama. Mas n�o era exatamente o
<br>que estava procurando. O que podia esperar
<br>de Henrique?
<br>
<br>Encontrou-o mais algumas vezes. Depois,
<br>compreendeu que tinha que acabar
<br>com aquilo. Ele insistia para encontr�-la
<br>todos os dias e podia lhe criar problemas
<br>mais tarde^
<br>
<br>90�
<br>
<br>
<br>� Por que n�o procura uma garota de
<br>sua idade?
<br>� Est� querendo me dar o fora?
<br>� Eu estou com trinta anos. Dez mais
<br>do que voc�.
<br>� Esse neg�cio de idade � uma coisa
<br>muito careta.
<br>Ia ser dif�cil se ver livre do rapaz. Desistiu
<br>de continuar a conversa e decidiu
<br>que o melhor era fazer com que ele n�o
<br>conseguisse mais encontr�-la.
<br>
<br>Henrique a possuiu sem saber que era
<br>a �ltima vez. ..
<br>
<br>* * *
<br>
<br>Laura deixou de aparecer naquele apartamento
<br>durante algum tempo. Estava
<br>cansada das aventuras inconseq�entes com
<br>um cara desconhecido cada noite, e mais
<br>ainda de Henrique, que se apegara de uma
<br>maneira inc�moda.
<br>
<br>Alguns dias depois, come�ou a ensaiar
<br>uma nova pe�a. Uma adapta��o muito louca
<br>de "Fedra". Era um trabalho de vanguarda
<br>que ia lhe exigir muito. Concentrou-
<br>se nos ensaios de maneira absoluta.
<br>Seus problemas existenciais ficaram em
<br>segundo plano e ela sentia-se quase feliz �
<br>medida que a estr�ia se aproximava.
<br>
<br>Tinha voltado a dormir todos os dias
<br>no apartamento onde vivia com a m�e e o
<br>
<br>�91
<br>
<br>
<br>filho. Como Henrique n�o sabia o ende
<br>reco, n�o havia possibilidade de encontr�la.
<br>E agora, dois meses depois que o vira
<br>pela �ltima vez, tinha quase a certeza de
<br>que a fixa��o dele havia passado.
<br>
<br>O trabalho exaustivo foi recompensado
<br>com cr�ticas excelentes depois da estr�ia
<br>da pe�a. Depois de mais um espet�culo, ia
<br>saindo do teatro acompanhada de um colega,
<br>quando viu Henrique aproximar-se.
<br>
<br>� Oi, tudo bem?
<br>� Tudo bem.
<br>� Preciso falar contigo.
<br>� Agora n�o d�, Henrique.
<br>� Posso voltar amanh�?
<br>Ela n�o respondeu logo. N�o estava livre
<br>de Henrique, como pensava. O rapaz
<br>olhava-a, esperando que dissesse alguma
<br>coisa.
<br>
<br>� T� legal. Passe aqui amanh�.
<br>O fato de Henrique t�-la procurado,
<br>preocupou-a mais do que esperava. N�o
<br>conseguiu dormir direito. Pensava qual seria
<br>a melhor solu��o para ver-se livre dele
<br>de uma vez por todas e chegou � conclus�o
<br>de que teria que ser o mais sincera poss�vel.
<br>Henrique foi esper�-la na noite seguinte
<br>� sa�da do teatro. Laura despediu-se dos
<br>outros atores que a acompanhavam e aproximou-
<br>se do rapaz.
<br>
<br>92
<br>
<br>
<br>
<br>� Por que est� fugindo de mim?
<br>� Mas eu n�o estou fugindo de ningu�m,
<br>Henrique.
<br>� Voc� sumiu. Passei muitas noites te
<br>esperando perto do apartamento aonde
<br>voc� me levava.
<br>� N�o posso continuar te encontrando.
<br>� Por qu�?
<br>� Porque n�o posso.
<br>Henrique segurou seu bra�o com for�a.
<br>Ela teve medo do brilho que apareceu em
<br>seu olhar:
<br>
<br>� Voc� tem que me levar para l� de
<br>novo.
<br>Laura sabia que n�o adiantava passar
<br>outra noite com ele e tentar convenc�-lo a
<br>n�o procur�-la mais. J� tentara isso antes
<br>e n�o dera certo:
<br>
<br>- Voc� est� me machucando e sendo
<br>inconveniente. Quer largar meu bra�o?
<br>� N�o. Voc� vai ter que passar a noite
<br>comigo.
<br>Neste momento o porteiro do teatro,
<br>vendo o que estava se passando, chegou
<br>perto:
<br>
<br>� Algum problema?
<br>Henrique soltou o bra�o de Laura.
<br>� N�o, Ot�vio, est� tudo bem.
<br>O rapaz afastou-se e Laura entrou em
<br>seu carro. Foi direto para casa, muito preocupada
<br>com o incidente. Sabia que ainda
<br>ia ter muitos aborrecimentos. Por mais que
<br>
<br>�93
<br>
<br>
<br>quisesse, n�o conseguia pensar em outra
<br>coisa. Agora compreendia a extens�o do
<br>perigo que corria quando levava qualquer
<br>um para a cama. Muitas vezes nem sabia
<br>
<br>o nome dos homens com quem dormia...
<br>Mas na manh� seguinte procurou encarar
<br>o fato com mais otimismo. Vivia muito
<br>cansada pelo excesso de trabalho e via
<br>com lente de aumento qualquer problema
<br>que apareda. Claro que ainda ia se chatear,
<br>mas se ag�entasse firme, sem dar aten��o
<br>a Henrique, ele terminaria desistindo de
<br>persegui-la.
<br>
<br>* * *
<br>
<br>O rapaz chegou na bilheteria e comprou
<br>uma entrada. Faltava ainda meia hora para
<br>a pe�a come�ar. Foi para o hall do teatro e
<br>esperou. Pouco depois muitos outros espectadores
<br>se misturavam a ele. As portas da
<br>plat�ia se abriram e Henrique procurou
<br>seu lugar.
<br>
<br>A pe�a come�ou. Ele olhava fixamente
<br>para o palco. Em determinado momento,
<br>tirou a arma e disparou. Um, dois, tr�s,
<br>quatro, cinco tiros. Viu quando Laura caiu
<br>no ch�o completamente ensang�entada.
<br>As pessoas na plat�ia corriam e gritavam.
<br>A senhora que estava ao seu lado desmaiou.
<br>Ele n�o correu. Permaneceu onde estava,
<br>olhando para o palco.
<br>
<br>
<br>
<br>XV
<br>
<br>
<br>Apesar dela ter me dito que nem eu
<br>nem ningu�m iria estragar a festa que era
<br>a sua vida, sei que fui culpado, mesmo sem
<br>querer, pela morte de Laura.
<br>
<br>Sua voz me repetia como um disco quebrado
<br>e sua imagem me aparecia como
<br>num filme:
<br>
<br>� Nem voc� nem ningu�m vai estragar
<br>a minha festa, Nilo.
<br>Depois que me afastei dela, naquela noite
<br>terr�vel em que contei minha impossibilidade
<br>de am�-la, n�o a vi mais. Evitei
<br>assistir a seus filmes e n�o fui v�-la no
<br>teatro. Julgava que quanto mais longe ficasse,
<br>melhor para n�s dois. Agora percebo
<br>que pensava apenas em mim.
<br>
<br>Uma morte gratuita, Laura.
<br>Voc� conheceu um rapaz qualquer numa
<br>no:te de Copacabana. Levou para a cama,
<br>como j� fizera com muitos outros. Como �
<br>
<br>�95
<br>
<br>
<br>mesmo o nome dele? Henrique. Henrique
<br>de qu�?
<br>
<br>O rapaz gamou. Uma conseq��ncia l�gica,
<br>n�o fosse voc� uma mulher bonita e
<br>famosa. E ele queria continuar. Voc� n�o.
<br>Um motivo t�o bobo...
<br>
<br>Na verdade n�o chega nem a ser um
<br>motivo. Na verdade mesmo, no duro, n�o
<br>foi ele quem a matou. Apenas apertou o
<br>gatilho...
<br>
<br>Um, dois, tr�s, cinco, dez tiros. Quantos
<br>foram mesmo? Henrique teve dois c�mplices.
<br>Eu, t�o culpado quanto ele, e voc�.
<br>Sim, voc� tamb�m foi culpada, Laura.
<br>
<br>A vida n�o � uma festa.
<br>A vida n�o � uma festa.
<br>Muito pelo contr�rio.
<br>Mas n�s n�o somos culpados disso.
<br>Agora s� desejo uma coisa:
<br>Gostaria de poder parar de pensar.
<br>Gostaria de poder parar de pensar.
<br>Gostaria de poder parar de pensar.
<br>
<br>
<br>FIM
<br>
<br>
<br>
<br><div dir="ltr"><br><br><div class="gmail_quote"><div dir="ltr" class="gmail_attr"><br>De: <strong class="gmail_sendername" dir="auto">Bons Amigos lançamentos</strong> <a href="mailto:comsinopses@googlegroups.com">comsinopses@googlegroups.com</a>><br></div><br><br><div dir="ltr"><br><br><div class="gmail_quote"><div dir="ltr" class="gmail_attr"><br></div><br><br><div dir="ltr"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgv16ucwmAxw8cjKFr3Ial76J2-qZfv6tGVy3QitSF2DRyo02GOiUQy5UrVPsfHi-93B0tzPVc37hnnyg7wBoL1X0gfl8r7W_CV3AccWZnxlXRA-P6dqWMae5PEPsY2EdR2n9T5ysa32G1ddn9u2cFgrWuEoUyYXztaaVUJn1LzAbJf9Hxy8BrPMKf8-_s"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgv16ucwmAxw8cjKFr3Ial76J2-qZfv6tGVy3QitSF2DRyo02GOiUQy5UrVPsfHi-93B0tzPVc37hnnyg7wBoL1X0gfl8r7W_CV3AccWZnxlXRA-P6dqWMae5PEPsY2EdR2n9T5ysa32G1ddn9u2cFgrWuEoUyYXztaaVUJn1LzAbJf9Hxy8BrPMKf8-_s=s320" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_7281798110469134242" /></a><br><div><br></div><div><div><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px;font-size:large">o Grupo Só Livros com sinopses tem o prazer de lançar hoje mais uma obra digital para atender aos deficientes visuais nos formatos epub,mobi, pdf e txt.</span><span style="font-size:13px"> </span></div><br></div><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjuGXqnIu1zcx-K7763lAl93dqj8rnGLSXrDDK38ElRaZE9vi4GnxafMimnEWO8DUeEgLrj6IhOBNUyi_LgT8gOGbn3mAK0GdDWPa6O8JOkOSZxQ4BptEj7ToN0s_HHttq4pYJ6rz1YhFPzSOWk_O7E-nVKxR8Sjujuu25Gj51hkXM5XnSXSw0LXI-flbA"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjuGXqnIu1zcx-K7763lAl93dqj8rnGLSXrDDK38ElRaZE9vi4GnxafMimnEWO8DUeEgLrj6IhOBNUyi_LgT8gOGbn3mAK0GdDWPa6O8JOkOSZxQ4BptEj7ToN0s_HHttq4pYJ6rz1YhFPzSOWk_O7E-nVKxR8Sjujuu25Gj51hkXM5XnSXSw0LXI-flbA=s320" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_7281798125830067746" /></a></div><div><font size="4">Sinopse:</font><br></div><div><font size="4">Sexo Perdido conta a história da atriz Laura Marques </font></div><div><font size="4">Livro doado por Adeilton e digitalizado por Fernando Santos</font></div><div><font size="4"><br></font></div><div><span style="font-family:"Times New Roman",serif;font-size:xx-large">Sobre o autor:</span><font size="4"><br></font></div><div><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhjREtXkoaQV0HvqudxOXIXA1GnHYprNQyDGyV6XKzypmvhi65kCIFwKE3Ew3ppKFInrw7fXkZ5SJaHIFlZaD8SH3hmgTFoZeHZsRys-qVklVRjbNc6mbhQYLne05fE-_e433fMPvwc5-PhlohL5Cuw5bbriYObdZvdF0Tb0-QgLBf7UlZxKTmSdXJrl5Q"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEhjREtXkoaQV0HvqudxOXIXA1GnHYprNQyDGyV6XKzypmvhi65kCIFwKE3Ew3ppKFInrw7fXkZ5SJaHIFlZaD8SH3hmgTFoZeHZsRys-qVklVRjbNc6mbhQYLne05fE-_e433fMPvwc5-PhlohL5Cuw5bbriYObdZvdF0Tb0-QgLBf7UlZxKTmSdXJrl5Q=s320" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_7281798139647944818" /></a></div><div><span style="font-family:"Times New Roman",serif;font-size:xx-large">Sobre o autor:</span><br></div><div><b style="color:rgb(38,40,42);font-family:"Helvetica Neue",Helvetica,Arial,sans-serif;font-size:13px;text-align:justify;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px;font-size:15pt;outline:none">Escritor, jornalista e ator, Carlos Aquino </span></b><b style="color:rgb(38,40,42);font-family:"Helvetica Neue",Helvetica,Arial,sans-serif;font-size:13px;text-align:justify;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px;font-size:15pt;outline:none">nasceu em Sergipe, mas foi </span></b><b style="color:rgb(38,40,42);font-family:"Helvetica Neue",Helvetica,Arial,sans-serif;font-size:13px;text-align:justify;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px;font-size:15pt;outline:none">para o Rio de Janeiro ainda adolescente.</span></b><b style="color:rgb(38,40,42);font-family:"Helvetica Neue",Helvetica,Arial,sans-serif;font-size:13px;text-align:justify;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px;font-size:15pt;outline:none">Trabalhou em filmes e peças </span></b><b style="color:rgb(38,40,42);font-family:"Helvetica Neue",Helvetica,Arial,sans-serif;font-size:13px;text-align:justify;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px;font-size:15pt;outline:none">de teatro, mas finalmente descobriu </span></b><b style="color:rgb(38,40,42);font-family:"Helvetica Neue",Helvetica,Arial,sans-serif;font-size:13px;text-align:justify;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px;font-size:15pt;outline:none">que sua verdadeira vocação era </span></b><b style="color:rgb(38,40,42);font-family:"Helvetica Neue",Helvetica,Arial,sans-serif;font-size:13px;text-align:justify;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px;font-size:15pt;outline:none">escrever, passando a dedicar-se à literatura. </span></b><b style="color:rgb(38,40,42);font-family:"Helvetica Neue",Helvetica,Arial,sans-serif;font-size:13px;text-align:justify;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px;font-size:15pt;outline:none">Sua estreia foi com o romance:</span></b><b style="color:rgb(38,40,42);font-family:"Helvetica Neue",Helvetica,Arial,sans-serif;text-align:justify;font-size:12.8px;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px;font-size:15pt;outline:none"> É Verão no Rio</span><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px;font-size:6.66667px;outline:none">" </span></b><b style="color:rgb(38,40,42);font-family:"Helvetica Neue",Helvetica,Arial,sans-serif;font-size:13px;text-align:justify;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px;font-size:15pt;outline:none"> em 1973. Com seu.estilo </span></b><b style="color:rgb(38,40,42);font-family:"Helvetica Neue",Helvetica,Arial,sans-serif;font-size:13px;text-align:justify;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px;font-size:15pt;outline:none">vigoroso e moderno, colocando sempre </span></b><b style="color:rgb(38,40,42);font-family:"Helvetica Neue",Helvetica,Arial,sans-serif;font-size:13px;text-align:justify;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px;font-size:15pt;outline:none">uma dose de verdade em seus personagens, </span></b><b style="color:rgb(38,40,42);font-family:"Helvetica Neue",Helvetica,Arial,sans-serif;font-size:13px;text-align:justify;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px;font-size:15pt;outline:none">ele foi no século passado na década de 70 e 80 um dos escritores </span></b><b style="color:rgb(38,40,42);font-family:"Helvetica Neue",Helvetica,Arial,sans-serif;font-size:13px;text-align:justify;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px;font-size:15pt;outline:none">de mais prestigio junto ao público. </span></b><b style="color:rgb(38,40,42);font-family:"Helvetica Neue",Helvetica,Arial,sans-serif;font-size:13px;text-align:justify;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px;font-size:15pt;outline:none"> Sobre sua morte passamos informações coletada por Iracema Dantas associada do Grupo Bons Amigos :</span></b><br></div><div><b style="color:rgb(38,40,42);font-family:"Helvetica Neue",Helvetica,Arial,sans-serif;text-align:justify;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px;outline:none"><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;background-image:initial;background-position:initial;background-size:initial;background-repeat:initial;background-origin:initial;background-clip:initial;font-family:Calibri,sans-serif"><font size="4"><span style="font-family:Arial,sans-serif;color:rgb(17,17,17)">Nome real: <b>Carlos Augusto Tavares de Aquino</b> </span><span style="font-family:Helvetica,sans-serif;color:rgb(29,34,40)"></span></font></p> <p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;background-image:initial;background-position:initial;background-size:initial;background-repeat:initial;background-origin:initial;background-clip:initial;font-family:Calibri,sans-serif"><font size="4"><span style="font-family:Arial,sans-serif;color:rgb(17,17,17)">Créditos: Carlos Aquino </span><span style="font-family:Helvetica,sans-serif;color:rgb(29,34,40)"></span></font></p> <p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;background-image:initial;background-position:initial;background-size:initial;background-repeat:initial;background-origin:initial;background-clip:initial;font-family:Calibri,sans-serif"><font size="4"><span style="font-family:Arial,sans-serif;color:rgb(17,17,17)">Atividades: Ator, autor, dramaturgo, escritor, diretor e produtor </span><span style="font-family:Helvetica,sans-serif;color:rgb(29,34,40)"></span></font></p> <p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;background-image:initial;background-position:initial;background-size:initial;background-repeat:initial;background-origin:initial;background-clip:initial;font-family:Calibri,sans-serif"><font size="4"><span style="font-family:Arial,sans-serif;color:rgb(17,17,17)">Áreas: Cinema e teatro </span><span style="font-family:Helvetica,sans-serif;color:rgb(29,34,40)"></span></font></p> <p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;background-image:initial;background-position:initial;background-size:initial;background-repeat:initial;background-origin:initial;background-clip:initial;font-family:Calibri,sans-serif"><font size="4"><span style="font-family:Arial,sans-serif;color:rgb(17,17,17)">Nascimento: 21/11/1936, Aracaju/SE </span><span style="font-family:Helvetica,sans-serif;color:rgb(29,34,40)"></span></font></p> <p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;background-image:initial;background-position:initial;background-size:initial;background-repeat:initial;background-origin:initial;background-clip:initial;font-family:Calibri,sans-serif"><font size="4"><span style="font-family:Arial,sans-serif;color:rgb(17,17,17)">Óbito: 24/01/2001, Rio de Janeiro/RJ<br> <br> </span><span style="font-family:Helvetica,sans-serif;color:rgb(29,34,40)"></span></font></p> <p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;background-image:initial;background-position:initial;background-size:initial;background-repeat:initial;background-origin:initial;background-clip:initial;font-family:Calibri,sans-serif"><i><span style="font-family:Arial,sans-serif;color:rgb(17,17,17)"><font size="4">Informação coletada em 15/07/2023: </font></span></i><span style="font-family:Helvetica,sans-serif;color:rgb(0,109,33)"><a href="http://www.elencobrasileiro.com/2020/05/carlos-aquino.html" target="_blank"><span style="color:rgb(25,106,212)"><font size="4">www.elencobrasileiro.com/2020/05/carlos-aquino.</font><span style="font-size:12pt">html</span></span></a></span><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica,sans-serif;color:rgb(29,34,40);font-size:10pt"></span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;background-image:initial;background-position:initial;background-size:initial;background-repeat:initial;background-origin:initial;background-clip:initial;font-family:Calibri,sans-serif"><br></p><div style="font-size:13px;font-weight:400;text-align:left;outline:none"><div style="margin:0px;padding:0px;border:0px none;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px none;font-size:20px;text-align:justify;outline:none">Lançamento : Só Livros com Sinopses </span></div><p style="margin-top:1em;margin-bottom:1em;padding:0px;border:0px none;line-height:normal;text-align:justify;outline:none"><font face="Arial, Helvetica, sans-serif" style="margin:0px;padding:0px;border:0px none;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px none;font-size:20px;outline:none">1</span><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px none;outline:none"><font size="4" style="background-color:inherit;margin:0px;padding:0px;border:0px none;outline:none">)</font></span></font><a rel="nofollow noopener noreferrer" href="https://groups.google.com/forum/#!forum/solivroscomsinopses" style="color:rgb(102,17,204);text-decoration-line:none;margin:0px;padding:0px;border:0px none;font-size:large;outline:none" target="_blank">https://groups.google.com/forum/#!forum/solivroscomsinopses</a><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px none;font-size:large;outline:none"> </span></p><p style="margin-top:1em;margin-bottom:1em;padding:0px;border:0px none;line-height:normal;text-align:justify;outline:none"><font size="4" style="outline:none">Grupo Parceiro</font></p><div style="margin:0px;padding:0px;border:0px none;outline:none"><p style="margin-top:1em;margin-bottom:1em;padding:0px;border:0px none;line-height:normal;text-align:justify;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px none;font-size:20px;outline:none"></span></p><p style="margin-top:1em;margin-bottom:1em;padding:0px;border:0px none;line-height:normal;text-align:justify;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px none;font-size:20px;outline:none">2)</span><a rel="nofollow noopener noreferrer" href="https://groups.google.com/forum/#!forum/bons_amigos" style="color:rgb(102,17,204);text-decoration-line:none;margin:0px;padding:0px;border:0px none;font-size:20px;outline:none" target="_blank">https://groups.google.com/forum/#!forum/bons_amigos</a><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px none;font-size:20px;outline:none"> </span></p></div></div><div style="font-size:13px;font-weight:400;text-align:left;outline:none"><p style="text-align:justify;outline:none"><font size="4" style="outline:none">Blog:</font></p><p style="text-align:justify;outline:none"><br style="outline:none"></p><p style="text-align:justify;outline:none"><br style="outline:none"></p><div align="center" style="margin:0px;padding:0px;border:0px none;font-family:verdana,sans-serif;outline:none"><font size="4" style="outline:none"><a rel="nofollow noopener noreferrer" href="http://grupobonsamigos.blogspot.com/" style="color:rgb(25,106,212);outline:none" target="_blank">http://grupobonsamigos.blogspot.com/</a> </font><br style="outline:none"></div><div style="font-size:medium;margin:0px;padding:0px 0px 20px;width:920px;font-family:Roboto,RobotoDraft,Helvetica,Arial,sans-serif;outline:none"><div style="outline:none"><div id="m_-6437892590545419735m_1768207842416200343gmail-yiv6756715602ydp8ecccb09yiv3111021776m_3349738438995015852gmail-m_7472528804769136152gmail-m_3561863276773368475gmail-m_7441809597233465939gmail-m_-7708072505589534731gmail-m_7815154252086650962gmail-m_9099166617456933325gmail-m_-173257020252028359gmail-m_1008952320363858501gmail-m_8752991210332430338gmail-m_401569191802261819gmail-m_432247708931712060gmail-m_-3805624037828680656gmail-:13b" style="font-size:12.8px;direction:ltr;margin:8px 0px 0px;padding:0px;outline:none"><div id="m_-6437892590545419735m_1768207842416200343gmail-yiv6756715602ydp8ecccb09yiv3111021776m_3349738438995015852gmail-m_7472528804769136152gmail-m_3561863276773368475gmail-m_7441809597233465939gmail-m_-7708072505589534731gmail-m_7815154252086650962gmail-m_9099166617456933325gmail-m_-173257020252028359gmail-m_1008952320363858501gmail-m_8752991210332430338gmail-m_401569191802261819gmail-m_432247708931712060gmail-m_-3805624037828680656gmail-:13a" style="font-stretch:normal;font-size:small;line-height:1.5;font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;outline:none"><div dir="ltr" style="outline:none"><div style="margin:0px;padding:0px 0px 20px;width:920px;font-family:Roboto,RobotoDraft,Helvetica,Arial,sans-serif;font-size:medium;outline:none"><div style="outline:none"><div id="m_-6437892590545419735m_1768207842416200343gmail-yiv6756715602ydp8ecccb09yiv3111021776m_3349738438995015852gmail-m_7472528804769136152gmail-m_3561863276773368475gmail-m_7441809597233465939gmail-m_-7708072505589534731gmail-m_7815154252086650962gmail-m_9099166617456933325gmail-m_-173257020252028359gmail-m_1008952320363858501gmail-m_8752991210332430338gmail-m_401569191802261819gmail-m_432247708931712060gmail-m_-3805624037828680656gmail-m_4221325635210447569gmail-:1iq" style="font-size:12.8px;direction:ltr;margin:8px 0px 0px;padding:0px;outline:none"><div id="m_-6437892590545419735m_1768207842416200343gmail-yiv6756715602ydp8ecccb09yiv3111021776m_3349738438995015852gmail-m_7472528804769136152gmail-m_3561863276773368475gmail-m_7441809597233465939gmail-m_-7708072505589534731gmail-m_7815154252086650962gmail-m_9099166617456933325gmail-m_-173257020252028359gmail-m_1008952320363858501gmail-m_8752991210332430338gmail-m_401569191802261819gmail-m_432247708931712060gmail-m_-3805624037828680656gmail-m_4221325635210447569gmail-:1fl" style="font-stretch:normal;font-size:small;line-height:1.5;font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;outline:none"><div dir="ltr" style="outline:none"><p style="text-align:justify;outline:none"><font face="Arial, Helvetica, sans-serif" style="margin:0px;padding:0px;border:0px none;font-size:12.8px;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px none;font-size:20px;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px none;font-family:sylfaen;text-align:center;font-size:large;outline:none">Este e-book representa uma contribuição do grupo Bons Amigos e Só livros com sinopses para aqueles que necessitam de obras digitais como é o caso dos deficientes visuais </span></span></font></p><div style="font-size:13px;margin:0px;padding:0px;border:0px none;outline:none"><font size="4" style="margin:0px;padding:0px;border:0px none;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px none;text-align:center;font-family:sylfaen;outline:none">e como forma de acesso e divulgação para todos. </span><br style="text-align:center;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px none;text-align:center;font-family:sylfaen;outline:none">É vedado o uso deste arquivo para auferir direta ou indiretamente benefícios financeiros. </span><br style="text-align:center;outline:none"><span style="margin:0px;padding:0px;border:0px none;text-align:center;font-family:sylfaen;outline:none"> Lembre-se de valorizar e reconhecer o trabalho do autor adquirindo suas obras.</span></font></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></span></b></div></div> </div></div> <p></p> --<br> </div><br clear="all"><div><br></div><span class="gmail_signature_prefix">-- </span><br><div dir="ltr" class="gmail_signature" data-smartmail="gmail_signature"><div dir="ltr"><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Abraços fraternos!</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial"> </span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Bezerra</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Blog de livros</span></p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Blog de vídeos</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Meu canal:</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk" target="_blank">https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk</a><br></p></div></div></div> <p></p> -- <br /> -- <br /> Seja bem vindo ao Clube do e-livro<br /> <br /> Não esqueça de mandar seus links para lista .<br /> Boas Leituras e obrigado por participar do nosso grupo.<br /> ==========================================================<br /> Conheça nosso grupo Cotidiano:<br /> <a href="http://groups.google.com.br/group/cotidiano">http://groups.google.com.br/group/cotidiano</a><br /> <br /> Muitos arquivos e filmes.<br /> ==========================================================<br /> <br /> <br /> Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "clube do e-livro" em Grupos do Google.<br /> Para postar neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro@googlegroups.com<br /> Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro-unsubscribe@googlegroups.com<br /> Para ver mais opções, visite este grupo em <a href="http://groups.google.com.br/group/clube-do-e">http://groups.google.com.br/group/clube-do-e</a>-<br /> --- <br /> Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "clube do e-livro" dos Grupos do Google.<br /> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para <a href="mailto:clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com">clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com</a>.<br /> Para ver essa discussão na Web, acesse <a href="https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhmmo4BoAVx_J6smk__F802fiwRi2e5ixjWUOdZPerUy2A%40mail.gmail.com?utm_medium=email&utm_source=footer">https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhmmo4BoAVx_J6smk__F802fiwRi2e5ixjWUOdZPerUy2A%40mail.gmail.com</a>.<br /> Capixabahttp://www.blogger.com/profile/13630360338415941372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5804863141581911173.post-48216518349842250832023-09-22T16:31:00.000-07:002023-09-22T16:34:18.122-07:00{clube-do-e-livro} Lançamento: Sinastria -Ronald Davison - Formatos : epub,pdf e txtSINASTRIA �
<br>ENTENDENDO AS
<br>RELA��ES HUMANAS
<br>
<br>"Arranjar casamentos" entre
<br>parceiros ainda crian�as era. at� bem
<br>pouco tempo, um costume freq�ente
<br>na �ndia. Mas poucos t�m
<br>conhecimento de que, antes destes
<br>noivados estabelecidos ainda na
<br>inf�ncia, era realizada uma cuidadosa
<br>pesquisa dos mapas astrol�gicos
<br>envolvidos, sem a qual nenhuma uni�o
<br>poderia ser concretizada.
<br>
<br>Sinastria � o nome desta arte
<br>de comparar temas natais, procurando
<br>entender, atrav�s da astrologia,
<br>a din�mica dos relacionamentos
<br>humanos. Este estudo pode, por
<br>exemplo, apontar afinidades entre
<br>duas pessoas, explicando, pelos
<br>aspectos entre os astros, porque "foram
<br>feitas uma para a outra". Aspectos
<br>dissonantes entre dois mapas s�o
<br>tamb�m apontados e podem constituir
<br>desafios ou est�mulos dentro de uma
<br>rela��o, contribuindo, de maneira
<br>criativa para desencadear essa rea��o
<br>complexa e instigante que � o processo
<br>de evolu��o a dois.
<br>
<br>Afinal, o que liga uma pessoa
<br>a outra? Admira��o, fasc�nio,
<br>encantamento, atra��o f�sica, busca
<br>de status, desejo de companhia e de
<br>seguran�a? Estes podem ser alguns dos
<br>motivos mais �bvios, por�m existem
<br>outros, mais profundos e at�
<br>inconscientes, cujas ra�zes podem estar
<br>em traumas ou dificuldades recentes
<br>ou passadas.
<br>
<br>Nessa obra, o autor estuda, de
<br>maneiras diversas, os mapas de casais
<br>famosos como os duques de Windsor.
<br>
<br>
<br>SINASTRIA
<br>Entendendo as rela��es humanas atrav�s da
<br>astrologia
<br>
<br>
<br>
<br>RONALD DAVISON
<br>
<br>
<br>SINASTRIA
<br>
<br>
<br>Tradu��o de
<br>
<br>MARIA CLARA DE BIASE W. FERNANDES
<br>
<br>Supervis�o de
<br>
<br>MELINA LI
<br>
<br>3a
<br>
<br> impress�o
<br>
<br>A
<br>
<br>
<br>EDITORA
<br>NOVA
<br>FRONTEIRA
<br>
<br>
<br>
<br>T�tulo original: SYNASTRY
<br>� FIRST AMERICAN EDITION AURORA PRESS INC. 1983.
<br>
<br>Direitos de edi��o da obra em l�ngua portuguesa adquiridos pela
<br>EDITORA NOVA FRONTEIRA S/A.
<br>Rua Bambina, 25 - CEP 22251 - Botafogo - Tel.: 286-7822
<br>Endere�o telegr�fico: NEOFRONT - Telex: 34695 ENFS BR
<br>Rio de Janeiro, RJ
<br>
<br>
<br>Revis�o de originais:
<br>FLAVIA SOLLERO
<br>
<br>Revis�o tipogr�fica:
<br>HENRIQUE TARNAPOLSKY
<br>GIOVANI MAFRA
<br>
<br>
<br>A cor violeta favorece a medita��o e a concentra��o. S�mbolo do equil�brio, esta cor,
<br>essencial em Alquimia, adapta-se particularmente � leitura de obras de fundo
<br>
<br>CIP-Brasil. Calaloga��o-na-fonle
<br>Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ
<br>
<br>Davison, Ronald
<br>
<br>D296s Sinastria: entendendo as rela��es humanas atrav�s da astrologia / Ronald
<br>Davison; tradu��o de Maria Clara De Biase W. Fernandes; supervis�o de Melina
<br>Li. � Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.
<br>
<br>Tradu��o de: Synastry
<br>
<br>1. Sinastria. I. T�tulo.
<br>CDD - 133.581582
<br>90-292 CDU - 133.52:37.06
<br>
<br>
<br>SUM�RIO
<br>
<br>PREF�CIO
<br>
<br> 7
<br>
<br>Cap�tulo 1
<br>
<br>CASAMENTO E OUTROS RELACIONAMENTOS
<br>
<br> 13
<br>Planetas na 7� Casa 24
<br>M�ltiplos Casamentos 36
<br>Planetas em Libra 37
<br>Parte do Casamento 42
<br>
<br>Cap�tulo 2
<br>
<br>HOR�SCOPOS DE CASAMENTO E OUTROS MAPAS
<br>INICIAIS
<br>
<br> .
<br>
<br> 47
<br>O Hor�scopo de Casamento 50
<br>Outros Mapas Iniciais 55
<br>
<br>Cap�tulo 3
<br>
<br>OBSERVA��ES GERAIS SOBRE A COMPARA��O .... 59
<br>
<br>Cap�tulo 4
<br>
<br>OS DIFERENTES M�TODOS DE COMPARA��O DE
<br>MAPAS
<br>
<br> 69
<br>Padr�es Planet�rios 76
<br>
<br>Cap�tulo 5
<br>
<br>COMPATIBILIDADE DE SIGNOS SOLARES E OUTRAS
<br>COMPARA��ES GERAIS
<br>
<br> 81
<br>As Triplicidades 84
<br>As Quadruplicidades 96
<br>Grupos de Casas Planet�rias 101
<br>
<br>
<br>Capitulo 6
<br>
<br>PLANETAS BEN�FICOS E MAL�FICOS ASPECTOS
<br>HARMONIOSOS E DISCORDANTES
<br>
<br>Cap�tulo 7
<br>
<br>INTERA��O ENTRE HOR�SCOPOS
<br>
<br>Cap�tulo 8
<br>
<br>INTERA��O ENTRE HOR�SCOPOS
<br>
<br>Cap�tulo 9
<br>
<br> Parte Um 113
<br>Os Planetas 116
<br>
<br> Parte Dois 179
<br>As Casas 181
<br>
<br>O HOR�SCOPO DE RELACIONAMENTO � M�TODO
<br>DE C�LCULO
<br>
<br> 267
<br>
<br>Cap�tulo 10
<br>
<br>EXEMPLOS DE COMPARA��O DE HOR�SCOPOS
<br>
<br> 273
<br>Os Windsor 273
<br>Freud, Adler e Jung 293
<br>A Fam�lia Manson 308
<br>Um Relacionamento Homem-Mulher 324
<br>Adolf Hitler e Eva Braun 336
<br>
<br>Cap�tulo 11
<br>
<br>CONCLUS�O
<br>
<br> 345
<br>
<br>GLOSS�RIO
<br>
<br> 349
<br>
<br>BIBLIOGRAFIA
<br>
<br> 353
<br>
<br>�NDICE REMISSIVO
<br>
<br> 355
<br>
<br>
<br>PREF�CIO
<br>
<br>"O homem n�o � uma ilha;
<br>ele � parte do continente, parte do todo."
<br>
<br>
<br>JOHN DONNE
<br>
<br>Todas as religi�es pregam a Totalidade da humanidade. A ra�a humana
<br>resiste ou sucumbe como um todo �nico. Para serem membros
<br>totalmente respons�veis da comunidade, as pessoas precisam
<br>desenvolver ao m�ximo o seu potencial. Aproveitando de forma profunda
<br>suas aptid�es, elas podem dar uma contribui��o �nica � comunidade,
<br>algo que ningu�m pode imitar com precis�o. A for�a de
<br>um grupo depende da qualidade dos que o comp�em, de at� que ponto
<br>seus membros s�o totalmente integrados. Essa integra��o pessoal
<br>s� � conseguida � custa de muita luta e, eventualmente, superando-
<br>se muitas armadilhas. A tenta��o de, por motivos ego�stas,
<br>explorar talentos em ascens�o e de manter a independ�ncia pessoal
<br>ao ponto de prejudicar a capacidade ou vontade de cooperar com os
<br>outros pode provocar em muitos um s�rio recuo no aperfei�oamento
<br>pessoal. Geralmente as necessidades da comunidade exigem que as
<br>pessoas estejam preparadas para adaptar ou modificar seus objetivos
<br>e aspira��es pessoais em prol de um bem maior. Ao mesmo
<br>tempo, h� for�as atuando no mundo de hoje que enaltecem a
<br>comunidade a tal ponto que as pessoas n�o possuem liberdade de
<br>expressar a pr�pria personalidade, o que n�o � apenas um direito,
<br>mas uma condi��o para que contribuam mais efetiva e animadamente
<br>
<br>para a comunidade da qual s�o membros.
<br>
<br>As duas maiores pot�ncias do mundo atual � os Estados Unidos
<br>e a Uni�o das Rep�blicas Socialistas Sovi�ticas � representam os
<br>
<br>
<br>dois p�los deste exerc�cio de integra��o do indiv�duo com a comunidade.
<br>H� quem acredite que, na Am�rica, a import�ncia dada �
<br>liberdade pessoal e a exalta��o do esp�rito da iniciativa privada s�o
<br>levados longe demais, enquanto que, na R�ssia, a necessidade de o
<br>indiv�duo se dedicar sem limites ao bem-estar da comunidade �
<br>exagerada ao ponto de limitar a liberdade pessoal a um grau que
<br>parece inibir a verdadeira express�o da personalidade. A resolu��o
<br>deste problema � como equilibrar a liberdade individual com a
<br>necessidade comum de um certo grau de harmonia � � uma das
<br>maiores preocupa��es dos �ltimos duzentos ou trezentos anos da Era
<br>de Peixes, em que vivemos. Peixes � o signo da compensa��o, em
<br>que as pessoas aprendem a perder sua pr�pria identidade na unidade
<br>de todo ser, sem perder realmente nada no processo. Ao inv�s disso,
<br>desenvolvem suas pr�prias mentes at� que todas as partes que as
<br>separam dessa unidade s�o transformadas e superadas, todos os
<br>limites que at� ent�o se impuseram s�o eliminados e todas as fronteiras
<br>desaparecem. Antes de conseguirmos atingir este est�gio, precisamos
<br>nos conhecer melhor, para nos vermos exatamente como
<br>somos, e n�o como pensamos ser. Para nos ajudar a ter uma vis�o
<br>melhor e menos tendenciosa de como estamos desenvolvendo as
<br>nossas qualidades, n�o h� nada mais eficiente�e normalmente mais
<br>salutar � que a disciplina de ter de viver e trabalhar com pessoas
<br>que podem nem sempre compartilhar da nossa opini�o sobre n�s
<br>mesmos.
<br>
<br>A maioria das religi�es importantes admite que viver numa
<br>comunidade � um modo de tornar os aspirantes conscientes de seus
<br>pr�prios defeitos e acelerar o processo pelo qual eles podem se tornar
<br>seres humanos mais completos. Nem todos est�o inclinados a
<br>submeter-se � dura disciplina de vida numa comunidade mon�stica.
<br>De fato h� uma varia��o t�o grande no progresso feito na conquista
<br>do autodom�nio, no n�vel individual e coletivo, que a luta do dia-adia
<br>proporciona excelentes oportunidades para a maioria de n�s nos
<br>confrontarmos com os lados menos aceit�veis socialmente de nosso
<br>car�ter. Bem cedo o grupo social da fam�lia nos ensina algumas das
<br>vantagens e desvantagens mais �bvias de viver muito pr�ximo a
<br>outras pessoas. Logo as experi�ncias obtidas dentro desse grupo
<br>bastante fechado se ampliam, quando exigem que sejamos educados
<br>com pessoas de nossa pr�pria idade em grupos consideravel
<br>
<br>
<br>
<br>
<br>mente maiores, onde a supervis�o normalmente benevolente dos pais
<br>� substitu�da pela orienta��o menos indulgente dos professores. Na
<br>puberdade, h� uma crescente consci�ncia do sexo oposto e a necessidade
<br>de desenvolver habilidades sociais adicionais para causar
<br>uma boa impress�o. A eventual necessidade de ganhar a vida quase
<br>sempre nos coloca em contato com outro tipo de comunidade, que
<br>geralmente exige que demonstremos nosso talento e utilidade numa
<br>certa dire��o. Ao mesmo tempo, a escolha pessoal e as circunst�ncias
<br>se combinam para proporcionar muitos outros contatos atrav�s dos
<br>quais podemos descobrir novas facetas de n�s mesmos. Apenas
<br>atrav�s da influ�ncia rec�proca do relacionamento humano podemos
<br>nos tornar verdadeiramente conscientes de nossas for�as e fraquezas
<br>psicol�gicas. Cada novo contato traz com ele a possibilidade de
<br>aprendermos mais sobre n�s mesmos. Os relacionamentos que exigem
<br>um esfor�o maior de nossa parte para manter a harmonia podem,
<br>com o passar do tempo, nos ensinar mais sobre n�s do que os
<br>
<br>que exigem menos.
<br>
<br>Um pai ou m�e amorosos podem, por exemplo, n�o ver ou serem
<br>cegos a alguns de nossos mais �bvios defeitos, enquanto amigos que
<br>se orgulham de sua franqueza podem nos dar mais motivos para
<br>refletir que um observador mais indulgente.
<br>
<br>Do mesmo modo que n�o h� dois seres humanos id�nticos,
<br>tamb�m n�o existem dois relacionamentos humanos iguais. Todo
<br>contato que fazemos tem a possibilidade de despertar em n�s uma
<br>qualidade que pode n�o ser vis�vel para outros e ter at� agora permanecido
<br>como um potencial latente n�o revelado pelas exig�ncias
<br>dos relacionamentos anteriores. Conseq�entemente, duas pessoas
<br>n�o nos v�em exatamente da mesma forma. Se o tipo de resposta que
<br>elas provocam cm n�s varia bastante, suas impress�es sobre n�s
<br>podem diferir enormemente. � esta possibilidade que ocasionalmente
<br>leva as pessoas a comentar: "N�o sei o que ele v� nela!",
<br>sem perceber que "ele" � por alguma qu�mica misteriosa � foi
<br>capaz de despertar "nela" uma resposta mais profunda e din�mica
<br>do que outros teriam sonhado poss�vel.
<br>
<br>Escritores e dramaturgos, percebendo esta tend�ncia dos outros
<br>a nos dotar de uma esp�cie de m�ltipla personalidade, t�m � embora
<br>imprecisamente � arquitetado tramas baseadas na possibilidade
<br>de podermos parecer muito diferentes para diferentes pessoas,
<br>
<br>
<br>e apresentado cinco vers�es da mesma pessoa, vistas atrav�s de cinco
<br>pares diferentes de olhos, cada vers�o diferindo tanto da outra que
<br>elas se tornam quase incompat�veis.
<br>
<br>Isto pode ser mais bem compreendido quando percebemos que,
<br>astrologicamente, uma esposa, filha ou amiga podem contribuir para
<br>ressaltar mais V�nus ou a Lua na constitui��o astrol�gica de um homem,
<br>enquanto os jovens podem trazer � tona o seu lado de Merc�rio,
<br>e sobrinhos e sobrinhas o levam a fazer o papel Jupiteriano de tio, e
<br>assim por diante. A resposta em cada caso � modificada pelos aspectos
<br>cruzados destes planetas no hor�scopo dele com os planetas
<br>nos hor�scopos das pessoas com quem tem estes relacionamentos.
<br>
<br>Por causa desta variedade de n�veis de resposta que podem ser
<br>despertados, quem tem tend�ncias neur�ticas latentes � particularmente
<br>vulner�vel quando mant�m um relacionamento �ntimo com
<br>algu�m cuja insensibilidade e falta de solidariedade aumentam essas
<br>tens�es psicol�gicas. Muito trabalho terap�utico �til tem sido
<br>feito por astr�logos que conseguem demonstrar aos que sofrem, por
<br>meio de compara��o de mapas, como certos contatos em suas vidas
<br>operaram, sem que percebessem, de modo a exacerbar qualquer �rea
<br>hipersens�vel de suas psiques.
<br>
<br>Geralmente, relacionamentos familiares s�o motivo de uma indesej�vel
<br>disc�rdia (principalmente quando h� heran�a envolvida).
<br>Os la�os familiares, como um grupo, s�o conhecidos como "parentesco",
<br>o que pode ser uma observa��o um tanto c�nica do fato de
<br>que �s vezes � mais dif�cil manter um alto grau de harmonia dentro
<br>da fam�lia do que fora. Algumas pessoas sugerem que a fam�lia �
<br>um carma ben�fico que nos torna mais conscientes de nossos pr�prios
<br>defeitos, enquanto outros garantem que Deus, antes da reencarna��o,
<br>escolhe cuidadosamente os pais que ir�o fornecer o ve�culo
<br>f�sico. Sob este ponto de vista, cada um tem a fam�lia que merece!
<br>
<br>Atrav�s de uma compara��o detalhada dos hor�scopos de duas
<br>pessoas, podemos estimar o grau de compatibilidade entre elas e o
<br>tipo de adapta��o que cada uma ter� de fazer para conseguir um relacionamento
<br>verdadeiramente harmonioso com a outra. A compara��o
<br>dos hor�scopos � reconhecida como Sinastria, do prefixo
<br>grego syn, que significa uma uni�o m�tua, e astron, astro.
<br>
<br>Quem pede a um astr�logo para fazer essa compara��o de hor�sco
<br>
<br>
<br>pos geralmente o faz porque planeja casar-se, percebendo talvez que,
<br>
<br>10
<br>
<br>
<br>apesar do amor �s vezes n�o ser t�o cego como o prov�rbio sugere,
<br>ele n�o � capaz de fazer o tipo de an�lise detalhada que pode derivar
<br>de um estudo cient�fico dos potenciais de compatibilidade indicados
<br>pela influ�ncia rec�proca dos hor�scopos.
<br>
<br>A astrologia ensina que todos t�m potencial para criar harmonia
<br>dentro de si mesmos, e que s�o capazes de viver em harmonia com
<br>os outros ao ponto de ficarem verdadeiramente em paz consigo
<br>mesmos. A maioria dos nossos relacionamentos n�o chega � perfei��o,
<br>j� que � privil�gio de poucos atingir uma harmonia interior
<br>t�o grande. De fato, algumas pessoas s�o t�o atormentadas por
<br>conflitos interiores que pode haver uma d�vida sobre a sua capacidade
<br>de conseguir ter qualquer tipo de afinidade com os outros.
<br>Portanto, o astr�logo perspicaz ir� olhar primeiro para os hor�scopos
<br>individuais para determinar a capacidade de cada um de criar
<br>harmonia ao seu redor, sabendo que a qualidade de nossos relacionamentos
<br>pessoais � determinada pelo ponto at� onde desenvolvemos
<br>a nossa vida interior. Isso n�o significa que as pessoas muito
<br>evolu�das n�o possuem inimigos, porque quanto mais elas s�o intransigentes
<br>em rela��o aos fatores que tem um efeito desintegrador
<br>sobre a unidade do ser, mais chances t�m de achar que os que se
<br>identificam psicologicamente com tais fatores podem reconhecer
<br>nelas o seu "Inimigo".
<br>
<br>Em tese � poss�vel avaliar astrologicamente, se desejarmos faz�lo,
<br>o tipo de relacionamento que podemos ter com qualquer outra
<br>pessoa, desde que se conhe�a a hora de seu nascimento. Tal pessoa
<br>n�o precisa nem mesmo ser um contempor�neo. Normalmente �
<br>poss�vel descobrir elos interessantes entre um personagem hist�rico
<br>e pessoas que subseq�entemente descobriram nele uma fonte de
<br>inspira��o. Qualquer tipo de relacionamento pode ser submetido a
<br>esse exame astrol�gico, do companheirismo entre marido e mulher
<br>� afinidade entre professor e aluno ou o relacionamento entre empregado
<br>e patr�o, s�cios em neg�cios e membros de uma fam�lia,
<br>sejam eles av�s, pais, filhos ou netos, dando-se o desconto da diferen�a
<br>de idades das respectivas partes. O relacionamento das pessoas
<br>com grupos maiores da comunidade tamb�m pode ser estudado.
<br>O hor�scopo de alunos pode ser comparado com o hor�scopo de funda��o
<br>da escola que freq�entam; o dos s�cios com a data da funda��o
<br>do clube a que pertencem, e assim por diante. O efeito do meio
<br>
<br>
<br>tamb�m pode ser avaliado observando-se a influ�ncia rec�proca entre
<br>os hor�scopos das pessoas e o mapa da cidade em que residem e o
<br>pa�s onde vivem. Num n�vel coletivo, pode-se avaliar a harmonia
<br>existente entre os pa�ses e obter-se uma melhor aprecia��o dos
<br>obst�culos, visando uma compreens�o maior e mais completa entre
<br>na��es cujos objetivos parecem antag�nicos.
<br>
<br>Talvez n�o seja demais esperar que, em breve, o valor da astrologia
<br>em determinar a capacidade de duas pessoas manterem um relacionamento
<br>harmonioso seja reconhecido mais amplamente por
<br>aqueles engajados em todos os tipos de atividades p�blicas, e aqueles
<br>cujo trabalho imp�e a necessidade de estabelecer a harmonia mais
<br>completa poss�vel com seus companheiros.
<br>
<br>Provavelmente o maior valor da sinastria reside em sua capacidade
<br>de avaliar a compatibilidade de futuros c�njuges. At� pouco tempo
<br>era freq�ente o costume na �ndia de as crian�as muito novas serem
<br>prometidas e casarem. Muitos leigos ocidentais execraram esses
<br>casamentos entre crian�as, sem perceber que tais uni�es nunca eram
<br>conclu�das antes de um a pesquisa astrol�gica conscienciosa ter sido
<br>feita. A uni�o resultante, longe de ser casual ou mal arranjada, tinha
<br>maiores chances de sucesso que alguns dos casamentos irrespons�veis
<br>do Ocidente entre adultos imaturos, cujas liga��es �s vezes
<br>se originam de uma atra��o f�sica passageira, do desejo de usufruir
<br>do status financeiro de um dos parceiros, de um a fascina��o pela id�ia
<br>de' 'casar-se" ou algum outro motivo desprez�vel. Ao mesmo tempo
<br>que os leigos nas t�cnicas mais complicadas da astrologia podem
<br>ser desculpados por imaginar� devido � quantidade de literatura
<br>popular sobre o assunto � que uma avalia��o astrol�gica da compatibilidade
<br>depende principal ou inteiramente de uma compara��o
<br>dos signos solares dos envolvidos, baseada principalmente na
<br>suposi��o de que o amor atrai o amor, nunca � demais repetir que a
<br>arte da sinastria exige uma compara��o cuidadosa de muitos detalhes
<br>dos hor�scopos. Nos cap�tulos que se seguem, ser�o estudadas
<br>as regras tradicionais que governam a compatibilidade, junto com a
<br>explora��o de v�rias t�cnicas adicionais que t�m sido aperfei�oadas
<br>ao longo dos anos para possibilitar uma avalia��o mais completa.
<br>Finalmente, o autor apresenta pela primeira vez um sistema que descobriu
<br>h� alguns anos, ao testar v�rias novas id�ias, e que se revelou
<br>muito �til na avalia��o do grau de afinidade entre parceiros.
<br>
<br>
<br>CAP�TULO 1
<br>
<br>COMO O CASAMENTO E OUTROS
<br>RELACIONAMENTOS SE
<br>MANIFESTAM NO HOR�SCOPO
<br>
<br>
<br>Eu me casei com uma mulher!
<br>Eu me casei com uma mulher!
<br>A mulher foi o tormento da minha vida
<br>E eu desejei ser solteiro novamente.
<br>
<br>
<br>Eu me casei pela segunda vez!
<br>Eu me casei pela segunda vez!
<br>Eu me casei com uma pior que a outra
<br>E eu desejei a outra novamente.
<br>
<br>
<br>E repetidamente
<br>
<br>
<br>Eu me casei!
<br>
<br>
<br>Uma era pior que a outra
<br>
<br>
<br>E eu desejei a primeira novamente.
<br>
<br>
<br>An�nimo
<br>
<br>� prov�vel que a regra mais importante da astrologia seja a de que
<br>nada pode acontecer sem ser revelado no hor�scopo. Por esse motivo,
<br>antes de comparar os hor�scopos de duas pessoas, � acon
<br>
<br>
<br>13
<br>
<br>
<br>selh�vel ver o que eles indicam, n�o apenas sobre a pr�pria atitude
<br>delas na �rea do relacionamento que ser� examinado, mas tamb�m
<br>sobre o curso presum�vel dos acontecimentos em que tal atitude
<br>provavelmente os envolver�.
<br>
<br>A atitude b�sica em rela��o a amigos, parentes, empregados,
<br>patr�es, inimigos (se houver algum!) e c�njuges � revelada pela
<br>condi��o das casas, planetas e signos apropriados no hor�scopo.
<br>
<br>Na maioria das vezes os astr�logos s�o procurados para comparar
<br>os hor�scopos de casais que desejam saber, antes do casamento, se
<br>combinam um com o outro, ou para aconselhar pessoas que est�o
<br>tendo problemas em seu casamento, que esperam resolver mais
<br>facilmente atrav�s de uma avalia��o astrol�gica dos pontos fortes e
<br>fracos do relacionamento. Os que pretendem se casar podem desejar
<br>certificar-se da compatibilidade entre eles, apesar da hist�ria registrar
<br>poucos casos de pessoas consideradas astrologicamente incompat�veis
<br>que aceitaram esse veredicto e romperam o noivado. Nesses
<br>casos � poss�vel que cada companheiro precise da experi�ncia da infelicidade
<br>conjugal para ganhar em sabedoria e desenvolvimento.
<br>No entanto, tais experi�ncias n�o s�o garantia de uma sabedoria
<br>definitiva, como sugerem os versos um tanto c�nicos no come�o da
<br>primeira p�gina! Foi at� mesmo registrado que uma astr�loga
<br>admitiu, durante uma entrevista na televis�o, que lamentava muito
<br>n�o ter olhado para as indica��es em seu pr�prio mapa antes de se
<br>envolver em uma uni�o desastrosa.
<br>
<br>Quando se estuda a compatibilidade de futuros c�njuges, primeiro
<br>� preciso descobrir se os hor�scopos de ambos indicam casamento
<br>e se um deles � "propenso ao div�rcio". Tamb�m � aconselh�vel ter
<br>em mente os motivos que inspiram o desejo de casar.
<br>
<br>Uma pesquisa recente de soci�logos sovi�ticos concluiu que quem
<br>
<br>se casa por amor provavelmente ser� menos feliz do que quem o faz
<br>
<br>por dinheiro ou companheirismo. O casamento � um sacramento da
<br>
<br>Igreja. Apesar de atualmente a influ�ncia da Igreja parecer insigni
<br>
<br>
<br>ficante nas vidas de muitos cidad�os, vale a pena notar que muitos
<br>
<br>casais ainda preferem um casamento no religioso, mesmo se n�o
<br>
<br>voltar�o a entrar naquele pr�dio, exceto para batismos, funerais e
<br>
<br>casamentos de amigos. Portanto, h� uma esp�cie de reconhecimento
<br>
<br>t�cito da vis�o crist� dos objetivos do casamento que, de modo geral,
<br>
<br>reflete exig�ncias duplas da mat�ria e do esp�rito. Do lado material
<br>
<br>
<br>a Igreja identifica o casamento como uma uni�o para a procria��o (a
<br>esp�cie tem o direito de se perpetuar) e como um modo de satisfazer
<br>as necessidades f�sicas dos parceiros, dentro de moldes mais
<br>aceit�veis socialmente. Sob o ponto de vista espiritual, a Igreja
<br>defende o casamento como uma disciplina em que marido e mulher
<br>podem usufruir de apoio m�tuo, acrescentando um ao outro desenvolvimento
<br>espiritual, e como uma uni�o simb�lica da alian�a perfeita
<br>entre os princ�pios Masculino e Feminino do Universo.
<br>
<br>Algumas pessoas se unem para ter seguran�a; outras para evitar a
<br>solid�o, diminuir as responsabilidades com o imposto de renda ou
<br>conseguir visto de perman�ncia num pa�s estrangeiro. O casamento
<br>baseado apenas na atra��o sexual � o que tem menos chances de ser
<br>duradouro. Raramente tais motivos s�o admitidos abertamente. A
<br>maioria dos casais afirmaria estar se casando por amor, n�o apenas
<br>porque o amor � amplamente reconhecido como o motivo mais respeit�vel
<br>para o casamento, mas tamb�m porque normalmente � dif�cil
<br>fazer uma an�lise objetiva do brilho rom�ntico que cerca muitos
<br>destes relacionamentos.
<br>
<br>A institui��o do casamento � universal. Enquanto em �pocas e
<br>partes diferentes do mundo apoliandria e apoligamia t�m sido praticadas,
<br>a monogamia � de longe mais comum nas uni�es afetivas. Ao
<br>mesmo tempo que os costumes podem variar de acordo com a forma��o
<br>religiosa e �tica da comunidade envolvida e os pap�is dos
<br>respectivos parceiros podem ter variado de acordo com as condi��es
<br>diferentes da sociedade na �poca, sempre foi uma caracter�stica da
<br>institui��o do casamento e das regras que governam o comportamento
<br>pr�-nupcial � mesmo quando estas n�o exigiam castidade
<br>antes do casamento � que os futuros c�njuges deveriam se submeter
<br>� aprova��o da comunidade e se sujeitar a estas regras.
<br>
<br>Enquanto numa certa �poca pode ter sido seguro presumir que
<br>duas pessoas n�o se casariam at� lerem alcan�ado um certo grau de
<br>maturidade, bem como alguma seguran�a financeira, estas considera��es
<br>n�o s�o mais t�o v�lidas. Nas regi�es do Oriente onde os
<br>casamentos entr2 crian�as eram rotineiros, provavelmente a pr�tica
<br>tinha menos chances de gerar infelicidade conjugal do que muitos
<br>observadores do Leste poderiam supor, uma vez que a escolha dos
<br>companheiros era geralmente confiada aos astr�logos locais. No
<br>entanto, no Ocidente, normalmente nenhum estudo � feito e os ris
<br>
<br>
<br>
<br>cos provavelmente s�o maiores. Tem sido dito que a gera��o mais
<br>nova est� amadurecendo mais cedo, mas os sinais dessa maturidade
<br>s� foram estudados em n�veis muito superficiais. Em termos de
<br>verdadeira maturidade o progresso pode ter sido muito ilus�rio,
<br>meramente o resultado da imaturidade dos mais velhos que, impensadamente,
<br>exp�em os jovens ao impacto das id�ias apresentadas
<br>pela m�dia, filmes e televis�o, onde considera��es comerciais encorajam
<br>uma indesej�vel �nfase nos aspectos emocionantes do sexo
<br>e da viol�ncia. O resultado � que eles passam quase poruma lavagem
<br>cerebral, transformando-se em imita��es precoces das caracter�sticas
<br>menos desej�veis do mundo distorcido que lhes � apresentado,
<br>aceitando falsos valores que exaltam a liberdade e independ�ncia
<br>pessoais � custa da autodisciplina. Tanto � assim que uma parte
<br>da gera��o mais nova considera desej�vel p�r de lado as conven��es
<br>sociais em rela��o ao sexo e casamento, praticando o sexo pr�-marital
<br>e vivendo com o parceiro de sua escolha, sem ter primeiro celebrado
<br>nenhum contrato legal ou passado por qualquer tipo de cerim�nia.
<br>Mesmo assim, apesar do clima atual de comportamento social �
<br>que resultou no teimo "sociedade permissiva"�n�o se sabe se hoje
<br>os princ�pios morais s�o realmente menos r�gidos que no passado.
<br>
<br>As gera��es mais velhas t�m sido menos abertas sobre suas infidelidades
<br>conjugais e "escapadas" antes do casamento. Numa atmosfera
<br>social em que qualquer escorreg�o deste tipo era reprovado,
<br>considerava-se prudente manter o m�ximo de segredo poss�vel em
<br>torno destas atividades. Essas regras eram rigorosamente observadas.
<br>Hoje em dia, elas raramente envolvem tanto segredo, de modo
<br>que h� mais abertura e menos hipocrisia a respeito do comportamento
<br>sexual. Al�m disso, os m�todos de controle da natalidade est�o
<br>mais sofisticados. Se as gera��es anteriores tivessem tido acesso a
<br>eles, sem d�vida teria havido muito mais promiscuidade. Tem sido
<br>observado que uma maior liberdade sexual n�o resultou numa maior
<br>felicidade. � evidente que, quando se trata de resolver problemas
<br>decorrentes de relacionamentos sexuais, a gera��o atual n�o � mais
<br>madura que seus antepassados.
<br>
<br>Porque um dos motivos principais da exist�ncia do casamento �
<br>a procria��o, h� uma tend�ncia geral por parte dos casais de
<br>pertencerem � mesma faixa de idade, apesar de sem d�vida ocorrerem
<br>not�veis exce��es em que o marido � muito mais velho que a
<br>
<br>
<br>mulher. Quando o companheirismo e a ajuda m�tua s�o o objetivo
<br>principal da uni�o, �s vezes pode existir uma consider�vel diferen�a
<br>de idade entre os parceiros. Normalmente, a mulher que se casa com
<br>um homem mais velho tem uma imagem forte do pai, que deseja ver
<br>personificada no companheiro, enquanto o homem que se casa com
<br>uma mulher mais velha, muitas vezes, tem uma imagem similar
<br>materna bem desenvolvida.
<br>
<br>Por esse motivo � tolice, principalmente nos dias de hoje, presumir
<br>que uma pessoa � jovem ou velha demais para se casar. Ou que
<br>quando existe uma disparidade de idades entre os parceiros, ou uma
<br>diferen�a racial, provavelmente n�o haver� casamento.
<br>
<br>Quando o astr�logo chega a uma conclus�o sobre o amor de outras
<br>pessoas e problemas matrimoniais, n�o deveria se preocupar com
<br>os aspectos externos do caso, exceto quando os parceiros estivessem
<br>criando dificuldades para si pr�prios, por n�o cumprirem alei ou por
<br>desrespeitarem abertamente as conven��es sociais.
<br>
<br>Agora, podemos nos voltar para um exame dos fatores no
<br>hor�scopo que indicam se uma pessoa tem chances de se casar, o
<br>tipo de parceiro que provavelmente escolher� e as experi�ncias que
<br>poder� ter nesse relacionamento. J� que o impulso de se acasalar �
<br>um instinto natural, a menos que haja indica��es fortes do contr�rio,
<br>
<br>o nativo provavelmente se casar�. Quem n�o se casa geralmente
<br>valoriza muito sua independ�ncia (apesar de algumas pessoas se
<br>casarem e descobrirem um modo de manter um grau satisfat�rio de
<br>independ�ncia!). Ou tem um senso de obriga��o muito desenvolvido
<br>e aceita cuidar de parentes idosos ou enfermos (apesar de tais obriga��es
<br>n�o exclu�rem necessariamente o casamento). Em meus
<br>arquivos h� pelo menos um caso desses, de uma mulher� com as
<br>lumin�rias em conjun��o em Virgem em sua 4a casa�que foi casada
<br>durante alguns anos e, depois de vi�va, passou os anos seguintes de
<br>sua vida cuidando da m�e idosa. H� tamb�m quem n�o se casa devido
<br>a circunst�ncias fora de seu controle. �s vezes, os tipos independentes
<br>s�o muito ambiciosos, por isso todo o seu tempo � dedicado
<br>ao desenvolvimento pessoal. Ainda assim, se a carreira pode ser
<br>favorecida pelo tipo certo de casamento, essas pessoas podem p�r
<br>de lado suas obje��es em prol do progresso pessoal!
<br>Beleza e atra��o pessoal podem proporcionar maiores oportunidades
<br>de romances e casamentos, mas n�o obrigatoriamente,
<br>
<br>
<br>porque s�o poucas as pessoas t�o sem encantos que ningu�m as
<br>considera atraentes. Em alguns casos, uma exuberante beleza f�sica
<br>
<br>� principalmente quando n�o vem acompanhada de um grande
<br>senso de honestidade � pode ser uma qualidade de valor um tanto
<br>duvidoso, no que diz respeito � obten��o da felicidade. Geralmente,
<br>o magnetismo f�sico � mais acentuado quando os signos fixos s�o
<br>ocupados e h� planetas nas 5- e 8a casas. Quando uma 5� ou 8� casa
<br>planet�ria no hor�scopo de algu�m cai no Ascendente de outra pessoa
<br>do sexo oposto, � prov�vel que a �ltima fique totalmente consciente
<br>do poder de sedu��o da primeira.
<br>Normalmente os aspectos entre V�nus e Urano s�o uma indica��o
<br>de atra��o f�sica. A conex�o entre esses aspectos e a possibilidade
<br>de div�rcio enfatizam o fato de que os encantos f�sicos s�o um atributo
<br>que pode criar problemas para os n�o-evolu�dos. Apesar de
<br>V�nus forte e proeminente n�o necessariamente significar que o
<br>nativo � dotado de muita beleza, isso geralmente indica a capacidade
<br>de inspirar afei��o. Nos casos de atividades sexuais anormais, Urano,
<br>que rege as gl�ndulas sexuais, � geralmente proeminente.
<br>
<br>Charles C�rter uma vez chamou a aten��o para o fato de que o
<br>franc�s "Barba Azul" e Madame Steinheil tinham nascido com a
<br>diferen�a de quatro dias um do outro, e que ambos pareciam ter o
<br>poder de exercer um grande fasc�nio sobre o sexo oposto. Em ambos
<br>os casos, V�nus estava em Aries, em aspecto com todos os corpos,
<br>exceto Plut�o, A preponder�ncia de signos do fogo indica a possibilidade
<br>deste elemento proporcionar o maior grau de atra��o f�sica.
<br>Apesar de que um excesso de �nfase pode indicar muita vaidade.
<br>
<br>Normalmente as pessoas referem-se a V�nus como sendo o planeta
<br>do amor. Essa generaliza��o pode ser muito enganadora, n�o
<br>apenas porque hoje em dia a palavra � usada em diferentes contextos,
<br>mas porque essa generaliza��o tende a desviar a aten��o do
<br>princ�pio b�sico de V�nus, que � o poder de estabelecer a harmonia.
<br>O casamento � um exerc�cio de manter esta harmonia. Se V�nus
<br>estiver aflita no nascimento, podemos ter dificuldade em criar uma
<br>atmosfera harm�nica, devido � falta de disposi��o para fazer o
<br>esfor�o extra necess�rio, � tens�o gerada por esse esfor�o ou porque
<br>as circunst�ncias conspiram para frustrar as melhores tentativas de
<br>viverem harmonia com os outros. Por outro lado, se Marte tamb�m
<br>est� em aspecto com V�nus, ou os dois corpos est�o em estado de
<br>
<br>
<br>receptividade m�tua, a combina��o dos princ�pios masculino e
<br>feminino tomar� o nativo inclinado a procurar a companhia do sexo
<br>oposto, mesmo se o objetivo n�o for o casamento.
<br>
<br>Ao mesmo tempo que V�nus mostra, por sua posi��o de signo e
<br>for�a aspectual, a capacidade do nativo de criar e manter a harmonia,
<br>a atitude geral em rela��o ao casamento e companheirismo �
<br>revelada pela condi��o da 7� casa do hor�scopo, principalmente
<br>quando h� um planeta nesta casa. Obviamente � poss�vel haver mais
<br>de um planeta nesta posi��o. Aspectos para o horizonte tamb�m
<br>podem ter um papel importante na defini��o de atitudes e do rumo
<br>prov�vel dos acontecimentos em rela��o a parceiros.
<br>
<br>Num hor�scopo masculino, a Lua e V�nus s�o os indicadores do
<br>lado feminino da natureza do nativo e, por extens�o, do tipo de mulher
<br>por quem ele provavelmente se sentir� atra�do. Se um dos dois corpos
<br>estiver muito aflito pelos planetas mal�ficos, as possibilidades
<br>de casamento s�o menores. Em geral, aspectos de Saturno tendem a
<br>retardar uma uni�o, quando n�o a impedi-la. Aspectos de Urano
<br>resultam numa tend�ncia para paix�es repentinas (com possibilidade
<br>de desilus�es igualmente s�bitas), e normalmente num comportamento
<br>exc�ntrico em relacionamentos sexuais, o que pode ocasionar
<br>s�bitas mudan�as na dedica��o emocional, levando ao rompimento
<br>de uma rela��o existente. Os aspectos de Netuno introduzem
<br>a possibilidade de �nsia por uma experi�ncia emocional ideal que
<br>pode permanecer ilus�ria, a menos que Saturno esteja unido harmonicamente
<br>com Netuno. O desejo de atingir um ideal � um objetivo
<br>natural e louv�vel, mas se o nativo n�o consegue entender que
<br>isso s� � poss�vel para aqueles que lutam de verdade para serem
<br>merecedores dessa b�n��o, provavelmente o resultado geral ser� uma
<br>sensa��o de desilus�o e completa frustra��o.
<br>
<br>Num hor�scopo feminino, Sol e Marte representam o lado masculino
<br>da natureza da nativa e, por extens�o, o tipo de homem por
<br>quem ela provavelmente se sentir� atra�da. Quando um destes corpos
<br>est� muito aflito pelos planetas mal�ficos, as probabilidades de
<br>casamento s�o menores ou as experi�ncias conjugais podem exigir
<br>
<br>o exerc�cio da toler�ncia e coragem.
<br>Mesmo quando, nos hor�scopos de ambos os sexos, h� uma
<br>grande afli��o dos significadores apropriados, mas o Sol e a Lua est�o
<br>unidos harmoniosamente por aspecto e V�nus e Marte igualmente
<br>
<br>
<br>ligados, o casamento ainda pode ocorrer. Aspectos discordantes nos
<br>significadores da uni�o n�o indicam que ela necessariamente ir�
<br>fracassar, mas pode ser que os dois parceiros tenham de lutar muito
<br>para resolver quaisquer problemas que venham a surgir. Ter�o de
<br>fazer maiores sacrif�cios, esfor�ar-se mais no sentido de uma adapta��o
<br>pessoal, para tornar o relacionamento um sucesso.
<br>
<br>Tradicionalmente, o primeiro aspecto exato com um planeta natal
<br>formado pela lumin�ria apropriada, enquanto avan�a no zod�aco nos
<br>dias seguintes ao nascimento, significa o tipo de parceiro e, de certo
<br>modo, as circunst�ncias do primeiro encontro e as caracter�sticas
<br>gerais do casamento. Se n�o se formar nenhum aspecto antes da Lua,
<br>num hor�scopo masculino, ou o Sol, num hor�scopo feminino,
<br>mudar de signo, isto indica muita dificuldade em realizar o casamento.
<br>� �til ter em mente, quando se comparam os hor�scopos de
<br>futuros c�njuges, que o planeta ao qual a lumin�ria apropriada primeiro
<br>se aplica (este planeta n�o precisa estar em aspecto com a
<br>lumin�ria na hora do nascimento) geralmente est� subindo ou posicionado
<br>proeminentemente no hor�scopo do parceiro, ou pode estar
<br>ligado ao signo do Sol do companheiro ou signo ascendente. Um
<br>homem em cujo hor�scopo a Lua primeiro se aplica a Merc�rio pode
<br>descobrir que sua parceira tem o Sol ou Ascendente em G�meos ou
<br>Virgem. A aplica��o das lumin�rias num planeta retr�grado n�o torna
<br>esta regra menos v�lida, apesar das circunst�ncias poderem tornar o
<br>casamento mais dif�cil para o nativo. No entanto, homens nascidos
<br>com V�nus retr�grado e mulheres nascidas com Marte retr�grado
<br>s�o menos inclinados a procurar a companhia do sexo oposto.
<br>
<br>A primeira aplica��o das lumin�rias somente pode ser usada como
<br>um guia geral, porque exclui a possibilidade, num hor�scopo masculino,
<br>de um tipo astral de parceiro ser indicado, j� que a Lua n�o
<br>pode se aplicar a si mesma! No entanto, a primeira aplica��o da Lua
<br>num planeta em C�ncer pode de algum modo tender a corrigir esta
<br>defici�ncia. Igualmente, num hor�scopo feminino, um tipo solar de
<br>parceiro n�o pode ser indicado, a n�o serpeia primeira aplica��o do
<br>Sol a um planeta em Le�o.
<br>
<br>O temperamento associativo manifesta-se mais nos signos regidos
<br>
<br>pela �gua, que t�m sido chamados de fecundos. Os significadores
<br>
<br>apropriados nestes signos normalmente indicam que ocorrer� o
<br>
<br>casamento. Quando o signo de Libra est� bem acentuado, geralmente
<br>
<br>20
<br>
<br>
<br>h� um desejo de se relacionar, apesar das fortes afli��es que envolvem
<br>
<br>o signo poderem impedi-lo.
<br>Quando o Sol est� em �ries, Touro, Le�o e Capric�rnio, normalmente
<br>h� um grande desejo de casar, que � apenas um pouco
<br>menor quando o Sol est� em Libra ou Sagit�rio. Potencialmente,
<br>Libra � o signo de Sol que instintivamente percebe a finalidade mais
<br>importante de uma uni�o. O resultado � que quaisquer atribula��es
<br>envolvendo o signo podem trazer um desapontamento maior que
<br>outros signos teriam com um div�rcio.
<br>
<br>Certos tipos de G�meos e Sagit�rio s�o irrequietos, dif�ceis de
<br>assumir um compromisso. Podem n�o ter a const�ncia ou desejo
<br>interior para tornar o casamento um sucesso e, por esse motivo,
<br>permanecem solteiros, enquanto alguns nativos de C�ncer preferem
<br>a sensa��o de liberdade dom�stica que adv�m de viver s�. No entanto,
<br>a maioria dos nativos de C�ncer tem uma grande simpatia pela
<br>vida familiar e deseja construir a sua pr�pria. Afli��es nos corpos
<br>em C�ncer ou seu regente, a Lua, podem perturbar a atmosfera
<br>dom�stica. Se Saturno afligir a Lua, os la�os familiares podem interferir,
<br>adiando o casamento. Num hor�scopo masculino, isto pode
<br>indicar uma uni�o com uma mulher mais velha. Do mesmo modo,
<br>aspectos Sol-Saturno num hor�scopo feminino podem adiar o casamento
<br>ou significar um companheiro mais velho.
<br>
<br>Tem sido observado que, num hor�scopo masculino, aspectos
<br>entre o Sol e Urano tendem a indicar um individualista mal-humorado
<br>que prefere abrir sozinho o seu caminho atrav�s da vida. Portanto,
<br>ele pode encarar o casamento como um obst�culo que o impede
<br>de realizar seu destino. Quer ser livre para exibir e real�ar sua
<br>individualidade. Por outro lado, quem tem o Sol em aspecto com
<br>Netuno � menos inclinado a demonstrar abertamente a sua individualidade
<br>e mais preocupado em aumentar sua experi�ncia, envolvendo-
<br>se mais intimamente com outras pessoas. Em alguns casos,
<br>essas pessoas podem levar o envolvimento a extremos, tomando-se
<br>obcecadas pelos outros e at� mesmo identificando-se com eles. Se
<br>um aspecto Sol-Netuno � muito acentuado, pode ser que haja alguma
<br>tend�ncia para a poligamia.
<br>
<br>No caso de aspectos de Marte com Urano e Netuno a situa��o �
<br>oposta. Geralmente, a combina��o de Marte e Urano indica um
<br>homem capaz de projetar a sua masculinidade de um modo din�mico,
<br>
<br>
<br>atrav�s de um desejo de demonstrar sua virilidade. Por causa disso
<br>ele, provavelmente, atrair� a aten��o do sexo oposto e se casar� para
<br>provar que � bem-sucedido em seu papel masculino. Quando Marte
<br>est� em aspecto com Netuno, uma quantidade desproporcional de
<br>energia pode ser empregada tentando colocar ideais em pr�tica e
<br>fazendo os sonhos se tornarem realidade. Normalmente, o desejo do
<br>nativo de fazer o que quer leva-o a ser excessivamente dram�tico e
<br>exagerar seus problemas, que surgem de incidentes que tipos mais
<br>est�veis poderiam enfrentar com calma. Essas tend�ncias podem gerar
<br>dificuldades no casamento, onde geralmente � papel da mulher
<br>fornecer os mais �bvios elementos emocionais. Em alguns casos,
<br>quando um homem com um aspecto Marte-Netuno muito acentuado
<br>decide se casar, a mulher pode se encontrar na posi��o de ter de competir
<br>pelo primeiro lugar nas prefer�ncias do marido com v�rios interesses
<br>e passatempos em que ele se torna profundamente envolvido.
<br>
<br>Em geral, aspectos em Merc�rio s�o reveladores. Este planeta, que
<br>representa a intelig�ncia e poderes mentais do nativo, tem as rea��es
<br>r�pidas que seu nome sugere, tirando de si pr�prio uma cont�nua
<br>vivacidade e uma propens�o a ser impression�vel. Precisa de controle
<br>e orienta��o, sendo por isso chamado de "Crian�a Divina".
<br>
<br>Quando n�o h� uma resposta suficientemente disciplinada � irradia��o
<br>de Merc�rio, pode haver tend�ncias � imaturidade e inquieta��o
<br>que n�o condizem com as responsabilidades do casamento e a
<br>manuten��o de um lar est�vel. Se J�piter est� em aspecto com
<br>Merc�rio, essas tend�ncias podem ser aumentadas. Se Saturno est�
<br>em aspecto, elas provavelmente diminuir�o. Quando se manifesta
<br>um aspecto J�piter-Merc�rio, a pessoa pode ser levada por um
<br>cont�nuo desejo de expandir os seus horizontes intelectuais,
<br>esfor�ando-se o tempo todo por adquirir novos conhecimentos e
<br>aprender mais sobre o mundo em que vive. Esses tipos podem encarar
<br>o casamento como algo que pode dificultar muito esta eterna
<br>procura pelo saber. Por outro lado, um aspecto de Saturno para
<br>Merc�rio encoraja o desenvolvimento de um senso de responsabilidade
<br>e a aceita��o da necessidade de estabelecer uma rotina para ter
<br>uma base s�lida onde construir. A conseq��ncia � uma grande inclina��o
<br>para um relacionamento est�vel.
<br>
<br>Infelizmente, a vida nem sempre coincide com o que dizem os
<br>livros (ou n�o haveria arte no delineamento de um hor�scopo). Pode
<br>
<br>22
<br>
<br>
<br>haver fatores ignorados que anulam as indica��es do contr�rio
<br>sugeridas por uma ou duas configura��es proeminentes. O Sol, por
<br>exemplo, pode estar configurado com Urano e Netuno, o que sugere
<br>um tipo muito especial de sensibilidade e pode ou n�o favorecer
<br>uma vida em comum. Marte pode estar em aspecto com Urano e
<br>Netuno, Merc�rio com J�piter e Saturno. Nesses casos, outras indica��es
<br>precisar�o ser cuidadosamente estudadas.
<br>
<br>Como regra geral, os homens com a Lua e V�nus em aspecto
<br>tendem a se casar, assim como as mulheres com o Sol e Marte em
<br>aspecto. De fato, o aspecto Sol-Marte leva a uma inclina��o para o
<br>casamento nos hor�scopos dos dois sexos, j� que Marte rege os desejos
<br>f�sicos. Quando Marte est� em aspecto com o Sol h� uma
<br>necessidade de encontrar um escape para estas energias num relacionamento
<br>sexual satisfat�rio.
<br>
<br>Os regentes da l� e 7� casas (e da 5� e 7�) em bom aspecto indicam
<br>uma probabilidade de casamento. O mesmo acontece quando as
<br>lumin�rias est�o em bom aspecto umas com as outras, principalmente
<br>quando este aspecto assegura a capacidade de acabar com conflitos
<br>interiores, desta forma, aumentando o poder de projetar uma atmosfera
<br>de harmonia que atrair� outras pessoas.
<br>
<br>O Sol em bom aspecto com Saturno � um bom pren�ncio de fidelidade
<br>conjugal nos hor�scopos de ambos os sexos, mas aspectos
<br>desfavor�veis entre os dois corpos num hor�scopo feminino
<br>podem indicar que o marido ser� muito ego�sta, muito intolerante
<br>ou n�o ter� boa sa�de. Quando Marte aflige o Sol, uma desarmonia
<br>interior no nativo pode ser refletida num marido que tem
<br>tend�ncia a ser excessivamente impulsivo, irritadi�o e agressivo. As
<br>afli��es de J�piter ao Sol da mulher podem trazer um parceiro excessivamente
<br>otimista, cujo desempenho profissional nunca est� �
<br>altura de seus sonhos de grandeza, que pode jogar fora boas oportunidades
<br>por neglig�ncia ou ser muito extravagante. Afli��es em
<br>Urano sugerem um marido cuja necessidade de independ�ncia nem
<br>sempre lhe permite adaptar-se facilmente �s exig�ncias do casamento
<br>e que tende a ser um pouco irrequieto e imprevis�vel. Afli��es em
<br>Netuno podem introduzir um elemento de impraticabilidade na
<br>constitui��o do companheiro. Ele pode recolher-se a um mundo s�
<br>seu, em alguns casos recorrendo ao �lcool como um meio de esquecer
<br>os seus problemas.
<br>
<br>
<br>Afli��es na Lua num hor�scopo masculino tendem a ter o mesmo
<br>resultado que afli��es solares num hor�scopo feminino, no que diz
<br>respeito ao temperamento da esposa.
<br>
<br>Se a lumin�ria apropriada � aflita por Saturno, Marte e Plut�o ou
<br>dois destes, a uni�o pode ser com um vi�vo ou vi�va.
<br>
<br>Aspectos entre Saturno e V�nus podem precisar de uma avalia��o
<br>cuidadosa, porque um Saturno forte pode inibir o car�ter afetuoso
<br>de V�nus e, �s vezes, produzir um temperamento um tanto intolerante
<br>e ego�sta. As emo��es podem ser dif�ceis de serem despertadas
<br>ou muito intensas, de modo que o nativo � capaz de muita devo��o,
<br>abnega��o e lealdade. �s vezes a afli��o caracteriza uma atitude
<br>muito obstinada em rela��o ao casamento, assim os interesses financeiros
<br>podem prevalecer sobre todos os outros. Em geral, o
<br>contato favorece um relacionamento duradouro com muita lealdade
<br>e amor, se os planetas est�o bem posicionados, mas pouca harmonia
<br>e muitas vezes alguma frieza, se V�nus est� mal posicionada ou
<br>em aspecto.
<br>
<br>Aspectos de Urano para V�nus podem tender a quebrar a harmonia
<br>e indicar uma suscetibilidade a paix�es s�bitas que, tempor�ria
<br>e �s vezes permanentemente, acabam com a harmonia dom�stica.
<br>Se qualquer um dos corpos estiver na 7� casa (veja o hor�scopo de
<br>Elizabeth Taylorno Cap�tulo 10) a possibilidade de div�rcio � maior.
<br>
<br>�s vezes a eleva��o de uma lumin�ria mostra que parte tomar� a
<br>iniciativa no namoro. O homem com o Sol elevado e a mulher com
<br>a Lua elevada desejar�o tomar a iniciativa de procurar um parceiro,
<br>enquanto que se um homem tem a Lua elevada acima de seu Sol e a
<br>mulher tem o Sol elevado acima de sua Lua, eles estar�o inclinados
<br>a deixar o sexo oposto tomar as primeiras iniciativas. � claro que a
<br>situa��o ser� modificada se o homem tiver o Sol elevado e a mulher
<br>a Lua elevada, quando os dois podem desejar tomar a iniciativa de
<br>fazer a sua escolha. Por outro lado, se as posi��es s�o exatamente
<br>opostas, pode demorar um pouco a haver uma declara��o amorosa.
<br>
<br>PLANETAS NA 7� CASA
<br>
<br>Uma das indica��es mais claras do tipo de companheiro que o
<br>NOIVO provavelmente atrair� � dada pelos planetas na 7� casa, que
<br>
<br>
<br>representa a nega��o do eu. Os planetas nesta casa indicam qualidades
<br>que ou n�o s�o muito fortes em n�s ou gostar�amos de fingir
<br>que n�o temos. Numa tentativa de compensar isto provavelmente
<br>procuraremos quem possa nos encorajar ou nos desafiar a desenvolver
<br>mais estas qualidades. Por esse motivo, estaremos propensos
<br>a escolher um c�njuge que pare�a incorporar as caracter�sticas
<br>de um planeta na 7� casa (claro que poder� ha ver mais de um planeta
<br>nela) ou do signo na c�spide se a casa estiver desocupada, como um
<br>meio de fortalecer o que pode nos parecer uma defici�ncia em nossa
<br>pr�pria constitui��o. Um planeta ascendente indica uma qualidade
<br>que gostar�amos de demonstrar ao mundo que possu�mos. Um planeta
<br>descendente representa uma qualidade que pedimos ao mundo
<br>para nos dar. Eis por que a 7� casa, al�m de reger os c�njuges, tamb�m
<br>representa inimigos declarados, que n�o ter�o nenhum escr�pulo em
<br>tirar vantagem de nossas fraquezas.
<br>
<br>Quando o Sol est� na 7� casa, o casamento e o companheirismo
<br>provavelmente ter�o um papel de suma import�ncia na vida. Se o
<br>Sol est� bem aspectado, principalmente pela Lua ou J�piter, o resultado
<br>pode ser um casamento s�lido e duradouro, com muita felicidade
<br>dom�stica.
<br>
<br>Estes nativos tendem a procurar um parceiro que possa encoraj�los
<br>a serem eles mesmos e, por exemplo, incentiv�-los a desenvolver
<br>seu poder de influ�ncia. Ser�o desafiados a demonstrar uma maior
<br>seguran�a e a exercer a autoridade mais efetiva e magnanimamente.
<br>
<br>Quando o Sol est� na 7� casa pode haver uma propens�o a procurar
<br>a "figura do pai". Como os nativos podem estar inclinados a deixar
<br>a iniciativa para seus companheiros, � mais prov�vel reagirem que
<br>agirem primeiro, deixando-os assumir um papel dominante. Se o Sol
<br>estiver muito aflito, o parceiro pode tender ao ego�smo e despotismo.
<br>Quando o Sol est� bem apoiado, o parceiro provavelmente ser�
<br>orgulhoso, decidido, auto confiante, ambicioso, honesto, franco e
<br>generoso, com uma personalidade bem desenvolvida.
<br>
<br>De certo modo, o orgulho do nativo influi na escolha do c�njuge.
<br>Pode haver um desejo de ganhar prest�gio social, e de se casar com
<br>algu�m que possa ser admirado e respeitado. Se o Sol estiver muito
<br>aflito, um elemento de ci�me ou competi��o poder� prejudicar a
<br>uni�o. A falta de um companheiro visivelmente pr�spero pode
<br>
<br>
<br>retardar o matrim�nio ou a bem-sucedida concretiza��o do casamento
<br>pode n�o ocorrer antes da meia-idade.
<br>
<br>Para obter o m�ximo de qualquer empreendimento cooperativo,
<br>estes nativos devem aprender a abrir m�o de seu orgulho ego�sta e
<br>ter muita for�a de vontade.
<br>
<br>As observa��es acima t�m uma import�ncia secund�ria quando
<br>Le�o est� na 7� c�spide.
<br>
<br>Quando a Lua est� na 7� casa � poss�vel que haja alguma indecis�o
<br>na escolha do parceiro, principalmente quando os sentimentos
<br>do nativo tendem, de algum modo, a ser facilmente influenciados
<br>pelas pessoas com quem se relaciona.
<br>
<br>Estes nativos s�o inclinados a procurar companheiros que possam
<br>ressaltar o seu lado bom e tirar proveito de suas emo��es. Geralmente,
<br>com os homens h� uma inclina��o a procurar uma "figura
<br>materna" e a despertar nos outros um desejo de matemaliz�-lo e proteg�-
<br>lo. Por esse motivo, provavelmente atrair� uma parceira gentil
<br>e d�cil, apesar de�se a Lua n�o estiver num signo fixo�ela poder
<br>de vez em quando desejar fazer mudan�as ou viajar. Se a Lua estiver
<br>muito aflita, � poss�vel que estas tend�ncias se revelem muito
<br>perturbadoras. Os dois parceiros podem precisar prevenir-se contra
<br>
<br>o mau humor ou comportamento inst�vel. Se a Lua estiver aflita por
<br>Marte ou Urano, talvez venham a surgir situa��es emocionais dif�ceis
<br>que exigir�o muito tato.
<br>O casamento pode ser realizado com o objetivo de construir um
<br>lar e e a fam�lia e o meio social do futuro c�njuge podem ter um peso
<br>exagerado na escolha. A lua afligida pode gerar uma superexig�ncia
<br>e protelar a decis�o. Apesar disso, o casamento tende a ser antecipado,
<br>a menos que a Lua esteja em aspecto com Saturno. Aspectos
<br>em Urano podem trazer s�bitos progressos. Neste caso, a uni�o
<br>ocorre quando os amigos do nativo menos esperam, ou � inesperadamente
<br>rompida quando n�o havia sinais aparentes de problemas. Com
<br>uma Lua ativa na 7� casa � prov�vel que haja mais de um casamento.
<br>
<br>Geralmente h� uma necessidade imperiosa de um parceiro. Para
<br>obter o m�ximo de qualquer empreendimento cooperativo estes
<br>nativos precisam aprender a controlar qualquer tend�ncia a estarem
<br>continuamente � merc� de seu humor, o que pode resultar de uma
<br>excessiva vulnerabilidade. Deveriam tentar controlar a tend�ncia a
<br>
<br>
<br>depender demais dos outros para seu est�mulo emocional e reprimir
<br>um desejo constante de mudan�as na natureza do relacionamento.
<br>
<br>As observa��es acima t�m uma import�ncia secund�ria quando
<br>C�ncer est� na 7� c�spide.
<br>
<br>Quando Merc�rio est� na 7� casa � poss�vel que haja muita reflex�o
<br>em torno do casamento, que talvez represente, antes demais
<br>nada, um meio de obter satisfa��o mental. Por isso estes nativos
<br>podem procurar parceiros que os ajudem a atuar mais efetivamente
<br>no n�vel intelectual e a despertar sua capacidade de adaptar-se e
<br>comunicar-se com os outros. Provavelmente procurar�o algu�m rico
<br>em id�ias que os ajude a formular mais objetivamente seus pr�prios
<br>pensamentos e a express�-los com uma maior liberdade, de modo
<br>que sejam capazes de tornar-se cada vez mais conscientes de seu
<br>potencial intelectual. O companheiro pode ser alegre, inteligente e
<br>comunicativo, apesar de, sob afli��o, o nativo tender a atrair um tipo
<br>irrequieto e muito tenso, talvez sincero e muito cr�tico. Se as afli��es
<br>forem intensas, pode haver um alto grau de nervosismo e at� mesmo
<br>desequil�brio mental. O parceiro pode estar ligado � educa��o, ou
<br>ser escritor, caixeiro-viajante, vendedor, int�rprete, secret�rio ou
<br>datilografo.
<br>
<br>Para obter o m�ximo de qualquer empreendimento cooperativo,
<br>estes nativos deveriam aprender a controlar seu desejo de argumentar
<br>e criticar, e se empenhar em procurar uma base muito s�lida para
<br>uma compreens�o m�tua.
<br>
<br>As observa��es acima t�m uma import�ncia secund�ria quando
<br>
<br>G�meos ou Virgem est�o na 7� c�spide.
<br>
<br>Quando V�nus est� na 7� casa normalmente h� um grande reconhecimento
<br>do valor dos relacionamentos, mas pode haver uma �nsia
<br>excessiva de amor que coloca o casamento numa base um tanto fr�gil.
<br>Portanto, uma posi��o aparentemente ideal de V�nus nem sempre
<br>traz felicidade no casamento, principalmente quando V�nus est�
<br>muito aflita. O desejo de uma uni�o harmoniosa pode ser t�o forte
<br>que quaisquer imperfei��es no relacionamento parecem maiores do
<br>que realmente s�o. Estes nativos tendem a procurar companheiros
<br>que possam organizar suas vidas harmoniosamente e introduzir um
<br>elemento de beleza no ambiente. O �ltimo requisito pode ser repre
<br>
<br>
<br>
<br>sentado, pelo menos em parte, pelas caracter�sticas f�sicas atraentes
<br>do parceiro. O bem-estar destes nativos depende muito da coopera��o
<br>agrad�vel do parceiro. Isso � mais f�cil de conquistar se a aproxima��o
<br>amorosa foi suficientemente efusiva para produzir uma resposta
<br>terna, caso em que o companheiro provavelmente adotar� uma
<br>atitude indulgente em rela��o a quaisquer falhas no comportamento
<br>do nativo.
<br>
<br>Quando V�nus est� bem aspectada, a vida pode ser enriquecida
<br>pelo casamento, e haver� uma tend�ncia a atrair um parceiro inteligente
<br>e rico que trar� ao nativo benef�cios materiais e sociais. Se
<br>V�nus estiver debilitada, os padr�es morais do parceiro talvez sejam
<br>question�veis, ou a uni�o de certo modo irregular. Afli��es de
<br>Saturno podem retardar o casamento ou indicar uma uni�o de pouco
<br>interesse sexual.
<br>
<br>Devido � excessiva depend�ncia do parceiro para a cria��o de uma
<br>atmosfera harm�nica, as duas partes tendem a deixar para o outro a
<br>primeira tentativa de fazer as pazes, depois de uma discuss�o. Se os
<br>dois tiverem V�nus na 7� casa pode haver problemas, principalmente
<br>quando V�nus est� num signo fixo e h� um elemento envolvido de
<br>maior orgulho. Para obter os melhores resultados do casamento e
<br>companheirismo, o nativo deveria controlar ao m�ximo quaisquer
<br>tend�ncias ao comodismo e evitar enfatizar demais o lado sensual
<br>da vida.
<br>
<br>Estas observa��es possuem papel secund�rio quando Touro ou
<br>Libra est� na 7� c�spide.
<br>
<br>Com Marte na 7q casa naturalmente as energias s�o mais mobilizadas
<br>na tentativa de adaptar-se aos outros, e espera-se muito
<br>est�mulo dos contatos sociais. Os nativos tendem a procurar parceiros
<br>que possam lev�-los a uma maior participa��o no mundo que os cerca,
<br>e que os desafiem a mostrar mais iniciativa e aumentar o seu esp�rito
<br>de luta. Em outras palavras, um companheiro batalhador! � dif�cil
<br>para estes nativos excluir o desafio das atividades que envolvem os
<br>outros. Talvez haja uma inclina��o a provocar a agressividade de
<br>outra pessoa para que ela possa ver como eles "ag�entam bem" a
<br>briga. Conseq�entemente, o casamento pode n�o ser muito tranq�ilo.
<br>Na verdade eles podem achar um relacionamento tranq�ilo sem gra�a
<br>e mon�tono. Por esse motivo, podem n�o se importar de perder
<br>
<br>
<br>discuss�es para um parceiro que discuta com eles. Tradicionalmente,
<br>espera-se que um homem represente o papel dominante no casamento,
<br>mas isto talvez seja mais pr�prio de um hor�scopo feminino,
<br>onde a tend�ncia � atrair um homem en�rgico e empreendedor.
<br>Os homens nesta posi��o s�o propensos a atrair mulheres que gostam
<br>de desafiar as regras e tomar a iniciativa, administrando as finan�as
<br>da fam�lia e, naturalmente, tomando as decis�es mais importantes.
<br>Provavelmente, a parceira ser� muito ardente, positiva, ativa, competente
<br>e corajosa, com vontade pr�pria.
<br>
<br>H� um desejo por algu�m que possa representar o papel de her�i
<br>ou cruzado. As vezes, esta posi��o indica casamento com um
<br>membro das For�as Armadas, da pol�cia, ou com um atleta ou aventureiro.
<br>Marte bem posicionado na 7� casa contribui para uma uni�o
<br>onde as paix�es s�o intensas e o amor o mais devotado poss�vel. A
<br>tend�ncia � casar cedo, quase sempre resultado de amor � primeira
<br>vista, apesar de, sob afli��o, o nativo poder "ter pressa em casar-se
<br>e arrepender-se depois".
<br>
<br>Afli��es em Marte na 7� casa s�o um pouco perigosas e podem
<br>contribuir para retardar ou impedir o casamento. Podem indicar competi��o
<br>e disc�rdia, como resultado da impetuosidade, intemperan�a,
<br>extravag�ncia, petul�ncia e intoler�ncia do c�njuge (principalmente
<br>quando aflito por J�piter) ou atitude muito exigente
<br>(principalmente quando aflito por Saturno). Quando os mal�ficos
<br>afligem Marte, as uni�es podem ter curta dura��o. �s vezes h� o risco
<br>de um dos parceiros sofrer um acidente ou ter morte prematura.
<br>
<br>Para obter o m�ximo do casamento, o nativo deveria tentar cooperar
<br>e ser o mais condescendente poss�vel, sendo gentil e diplom�tico,
<br>ao inv�s de deixar prevalecerem seus impulsos agressivos.
<br>
<br>Estas observa��es t�m uma import�ncia secund�ria quando �ries
<br>ou Escorpi�o est� na 7� c�spide.
<br>
<br>Quando J�piter est� na 7� casa h� chances de um casamento
<br>produtivo, pr�spero e bem-sucedido (principalmente sob boas dire��es),
<br>apesar desta posi��o n�o garantir automaticamente a felicidade
<br>conjugal. Estes nativos tendem a procurar um companheiro
<br>que os estimule a ter uma atitude mais aberta em rela��o � vida, a
<br>fortalecer sua f�, aumentar seus conhecimentos filos�ficos e compreender
<br>e multiplicar suas habilidades em todos os n�veis. Eles
<br>
<br>
<br>sentem que precisam da coopera��o de um parceiro para ajud�-los a
<br>desenvolver mais os seus princ�pios morais e consci�ncia social.
<br>Quando os dois t�m J�piter bem posicionado, o casamento pode
<br>lucrar muito com o desejo deles de estabelecer a maior harmonia
<br>poss�vel, e um pode dar muita satisfa��o ao outro.
<br>
<br>O parceiro, que geralmente � religioso, pode ser mais rico que o
<br>nativo e, quando J�piter est� bem posicionado e bem aspectado,
<br>possuir excelentes qualidades. J�piter aflito e debilitado pode indicar
<br>um parceiro um tanto teimoso, indolente, comodista, extravagante
<br>e voluntarioso, �s vezes infiel e libertino. Um companheiro
<br>que n�o merece confian�a pode ser uma fonte de despesas. Todos
<br>sabemos de mulheres nesta posi��o que tiveram de se tornar o arrimo
<br>da fam�lia, porque o marido perdeu o emprego por ser alco�latra.
<br>
<br>Quando J�piter est� aflito, esta posi��o pode indicar uma demora
<br>no casamento (principalmente se h� um aspecto de Saturno) ou
<br>brigas, disputas e batalhas legais. Apesar destas experi�ncias, o
<br>nativo quase sempre est� pronto para tentar de novo quando o v�nculo
<br>matrimonial � rompido por morte ou div�rcio. Aspectos desfavor�veis
<br>das lumin�rias em J�piterna7� casa podem impedir a uni�o,
<br>mas num hor�scopo feminino um bom aspecto do Sol para J�piter
<br>pode indicar casamento com um vi�vo rico.
<br>
<br>Esta posi��o indica que o nativo � capaz de despertar impulsos
<br>
<br>generosos e bondosos nos outros. Mas para obter o m�ximo do casa
<br>
<br>
<br>mento ter� de controlar qualquer tend�ncia extravagante e evitar que
<br>
<br>o orgulho prejudique o rumo tranq�ilo do relacionamento.
<br>
<br>Estas observa��es t�m import�ncia secund�ria quando Sagit�rio
<br>
<br>ou Peixes est� na 7� c�spide.
<br>
<br>Quando Saturno est� na 7� casa pode haver uma atitude muito
<br>calma e �s vezes calculista em rela��o a todos os tipos de relacionamento
<br>a dois. Estes nativos tendem a procurar um parceiro que
<br>desperte o seu senso de responsabilidade e lhes d� uma maior objetividade
<br>e desejo de vencer. A mulher pode ter um desejo inconsciente
<br>de se casar com uma "figura paterna", e o parceiro talvez sinta
<br>um impulso de organizar a vida dela numa base mais efetiva. Outras
<br>pessoas acham que possuem o dever de influenciar constantemente
<br>a vida do nativo e fornecer o elemento de disciplina que parece estar
<br>faltando. Por esse motivo, h� uma tend�ncia a atrair um companheiro
<br>
<br>
<br>mais maduro e uma poss�vel relut�ncia em assumir as responsabilidades
<br>do casamento. �s vezes surge um medo de ser explorado pelo
<br>outro, o que pode contribuir para retardar o casamento.
<br>
<br>Onde quer que Saturno esteja posicionado, tornamo-nos mais
<br>conscientes de nossas obriga��es. Quando os aspectos s�o favor�veis
<br>e Saturno n�o est� debilitado, geralmente esta posi��o indica que a
<br>pessoa � fiel e cumpre seus deveres conjugais. Esta � uma posi��o
<br>que valoriza muito as obriga��es para com o parceiro. Por isso, se
<br>n�s as negligenciamos, inevitavelmente recebemos o troco.
<br>
<br>Sob afli��o h� uma tend�ncia a suportar um casamento infeliz,
<br>ao inv�s de perder o prest�gio, com sua dissolu��o. "� melhor o diabo
<br>que voc� conhece do que o que voc� n�o conhece!"
<br>
<br>Saturno � exaltado na 7� casa e exige que n�s "fa�amos com os
<br>outros o que gostar�amos que fizessem conosco". N�s nos colocamos
<br>na balan�a e, se deixamos de fazer o parceiro feliz, nossa pr�pria
<br>felicidade ser� afetada na mesma propor��o.
<br>
<br>Pode haver uma tend�ncia a atrair um companheiro com quem
<br>temos um d�bito de carma de sermos �teis. A menos que haja outras
<br>indica��es em contr�rio, um verdadeiro entusiasmo pelo casamento
<br>raramente est� presente e a disciplina de uma vida conjugal em alguns
<br>casos parece uma indesej�vel restri��o. Esta posi��o � compat�vel
<br>com a possibilidade do nativo ter feito um voto de castidade numa
<br>vida anterior.
<br>
<br>Com Saturno bem posicionado e aspectado na 7� casa, provavelmente
<br>o parceiro ser� muito �ntegro, fiel, constante, confi�vel, trabalhador,
<br>perseverante e econ�mico, talvez n�o muito efusivo,
<br>preferindo a��o a palavras, e um real esteio para o casamento. Quando
<br>Saturno est� mal posicionado e aspectado, o companheiro pode agir
<br>de modo a se tomar um fardo, ser pouco comunicativo, feio, frio,
<br>excessivamente cr�tico e inclinado a deixar o nativo assumir a dire��o
<br>do relacionamento. Em alguns casos o c�njuge pode ser muito
<br>amado, mas n�o ter boa sa�de e morrer antes do nativo. �s vezes
<br>esta situa��o pode surgir porque o nativo negligenciou ou decepcionou
<br>o parceiro numa vida pregressa. � poss�vel o casamento
<br>com um vi�vo ou vi�va.
<br>
<br>Para obter o m�ximo da uni�o, � preciso fazer um grande esfor�o
<br>para compreender o m�ximo poss�vel o parceiro e abrir m�o de todo
<br>
<br>o ego�smo.
<br>31
<br>
<br>
<br>Estas observa��es t�m import�ncia secund�ria quando Capric�rnio
<br>ou Aqu�rio est� na 7� c�spide.
<br>
<br>Quando Urano est� na 7� casa, possivelmente haver� alguns
<br>elementos incomuns no casamento. Urano tem sido corretamente
<br>identificado como um dos principais indicadores de div�rcio, mas
<br>isto n�o significa que Urano na 7� casa ir� inevitavelmente resultar
<br>numa dissolu��o do casamento, do mesmo modo que V�nus na 7�
<br>casa n�o garante um relacionamento feliz e duradouro. No entanto,
<br>isto sugere que os dois parceiros podem precisar de maior "espa�o"
<br>que a maioria das pessoas, para n�o sentirem que sua liberdade est�
<br>sendo excessivamente tolhida pela necessidade de se adaptarem �s
<br>regras que normalmente regem o casamento. O relacionamento
<br>precisa ter condi��es de crescer. Os parceiros devem estar preparados
<br>para enfrentar com calma quaisquer fatos novos e surpreendentes
<br>que venham a ocorrer. A maior amea�a pode surgir quando a
<br>capacidade de desenvolvimento pessoal de um dos parceiros
<br>aumenta numa velocidade maior que a do outro, de modo que o
<br>c�njuge pode n�o ser mais reconhecido como a pessoa com quem
<br>ele ou ela se casou.
<br>
<br>Provavelmente quem tem Urano na 7� casa procurar� um companheiro
<br>que possa acrescentar dinamismo � sua vida, desafiando o
<br>nativo a tornar-se menos convencional, mais original e desejoso de
<br>tentar relacionar-se melhor com o mundo. O casamento pode ser
<br>encarado como uma oportunidade de expandir as fronteiras da
<br>experi�ncia, com a ajuda de um parceiro que far� uma contribui��o
<br>�nica e criativa para o todo. Provavelmente esses nativos escolher�o
<br>um c�njuge um pouco individualista, sem convencionalismos e com
<br>um modo original de lidar com os problemas da vida. O parceiro pode
<br>possuir um consider�vel magnetismo pessoal e ocasionalmente um
<br>certo grau de genialidade, mas se Urano estiver muito aflito � poss�vel
<br>que haja excentricidades e at� mesmo fanatismo.
<br>
<br>� poss�vel que a imagem de uma uni�o seja muito idealista ou
<br>ut�pica, e haja um a tend�ncia para uni�es plat�nicas. Por outro lado,
<br>pode haver uma disposi��o para procurar est�mulo no casamento e,
<br>se houver outras indica��es, um vis�vel interesse por aventuras
<br>rom�nticas, resultando em paix�es passageiras que podem provocar
<br>desentendimentos com o parceiro. �s vezes as circunst�ncias da
<br>
<br>
<br>uni�o exigem que um dos parceiros fique fora de casa durante longos
<br>per�odos, ou marido e mulher podem viver em casas separadas
<br>apesar de o casamento ser feliz. Foram registrados casos com esta
<br>posi��o de Urano em que um ou ambos ainda estudavam quando se
<br>casaram, voltando �s suas respectivas universidades para se reunir
<br>apenas nos fins de semana. Outros casos ocorreram em que eles se
<br>casaram apenas por companheirismo, descobrindo mais tarde que
<br>estavam verdadeiramente apaixonados.
<br>
<br>Existe a possibilidade de o parceiro ser de uma religi�o ou ra�a
<br>diferente, e a tens�o pode surgir como resultado de press�es externas
<br>devido a preconceito e intoler�ncia por parte das comunidades
<br>envolvidas.
<br>
<br>Quando Urano est� aflito, � dif�cil manter o v�nculo matrimonial.
<br>�s vezes o nativo n�o � suficientemente tolerante ou perspicaz para
<br>permitir que seu parceiro tenha liberdade suficiente, ou n�o leva em
<br>conta as tens�es a que um c�njuge muito nervoso est� sujeito. Em
<br>alguns casos parece que o nativo se deu ao trabalho de escolher um
<br>parceiro que ser� infiel!
<br>
<br>Urano na 7� casa testa a capacidade do nativo de transcender a vis�o
<br>comum e ortodoxa do casamento. Por isso tende a indicar a dissolu��o
<br>de um casamento sem amor e a aumentar as tens�es provocadas
<br>pela incompatibilidade de g�nios.
<br>
<br>Para obter o m�ximo de um relacionamento, � preciso aceitar
<br>totalmente as id�ias avan�adas ou pouco ortodoxas do parceiro, para
<br>entender a import�ncia de n�o tolher-lhe a liberdade, principalmente
<br>visando manter as "apar�ncias", e compreender o verdadeiro
<br>significado do casamento e a real natureza do amor.
<br>
<br>Estas observa��es t�m import�ncia secund�ria quando Aqu�rio
<br>
<br>est� na 7� c�spide.
<br>
<br>Quando Netuno est� na 7� casa o casamento depende muito dos
<br>verdadeiros motivos pelos quais o nativo deseja unir-se a outra pessoa.
<br>H� uma tend�ncia a idealizar uma uni�o e procurar uma "alma
<br>g�mea". Infelizmente, o sonho dourado n�o existe na realidade, porque
<br>o nativo n�o chegou ao est�gio de ser digno de merecer esse parceiro
<br>e de torn�-lo realidade, apesar de um bom aspecto de Saturno �s
<br>vezes indicar essa possibilidade. Pode haver um desejo por algu�m
<br>
<br>
<br>inacess�vel, devido � diferen�a de status, condi��o financeira ou
<br>racial.
<br>
<br>Provavelmente estes nativos procurar�o um companheiro que
<br>possa proporcionar-lhes uma fonte de inspira��o e despertar-lhes a
<br>capacidade de ser piedoso e amar. Pode haver uma inclina��o a ver
<br>
<br>o futuro c�njuge atrav�s de lentes cor-de-rosa, ou a tecer fantasias
<br>sobre novas liga��es ou esperan�a de encontros. Conseq�entemente,
<br>existe a possibilidade do parceiro n�o ser o tipo de pessoa imaginada
<br>pelo nativo. Foram registrados casos de casamentos com b�gamos,
<br>pessoas com tend�ncias homossexuais, alco�latras e viciados em
<br>drogas. Na maioria destes casos, o nativo n�o tinha nenhuma suspeita
<br>das fraquezas do c�njuge.
<br>H� uma certa tend�ncia a realizar uni�es baseadas na admira��o
<br>ou piedade. Se Netuno estiver aflito ou enfraquecido por signo, essa
<br>admira��o pode ser resultado do fasc�nio do nativo por belos "exteriores".
<br>Um exagerado senso de piedade pode ser explorado por
<br>um futuro companheiro, de modo que o nativo se casa por sentimentalismo
<br>ou pena de quem n�o merece. �s vezes o parceiro � inv�lido.
<br>
<br>Quanto Netuno est� bem posicionado e aspectado, o parceiro pode
<br>ter respostas emocionais sens�veis que precisam ser tratadas com
<br>brandura, ser muito altru�sta, ter algum talento para expressar-se
<br>artisticamente e um interese pelo lado menos material da vida, ou
<br>estar ligado a atividades em que o glamour e a ilus�o s�o um fator
<br>vital, como por exemplo a ind�stria de divertimentos. O parceiro pode
<br>ter Peixes muito presente. Quando Netuno est� mal posicionado e
<br>aflito, h� uma tend�ncia ao envolvimento com pessoas que n�o
<br>merecem confian�a, s�o inconstantes, um tanto pregui�osas e sentem
<br>muita pena de si mesmas. Ou s�o de algum modo desprivilegiadas,
<br>neur�ticas, ou inv�lidas, sofrendo de doen�a cr�nica.
<br>
<br>�s vezes o companheiro pode n�o ser o que parece ou finge ser,
<br>apesar disso dever-se em parte ao desejo inconsciente do nativo de
<br>iludir-se. Esta posi��o � compat�vel com uma uni�o plat�nica. As
<br>experi�ncias adquiridas no casamento podem ter a finalidade de fazer
<br>com que o nativo tenha uma vis�o mais piedosa dos defeitos dos
<br>outros. Com Netuno aflito na 7� casa, algumas pessoas suspeitam
<br>instintivamente que a uni�o trar� desilus�es e infelicidade, por isso
<br>continuam solteiras. Se elas se casassem, a uni�o poderia n�o ser consumada
<br>ou n�o corresponder ao esperado.
<br>
<br>
<br>Para obter o m�ximo do casamento, o nativo deve aprender a
<br>renunciar a sonhos de um ideal inating�vel, a controlar qualquer
<br>tend�ncia a se entusiasmar por um romantismo superficial e ser o
<br>m�ximo poss�vel l�cido e pr�tico ao avaliar as virtudes e encantos
<br>de futuros c�njuges.
<br>
<br>Estas observa��es tamb�m t�m uma import�ncia secund�ria
<br>quando Peixes est� na 7� c�spide.
<br>
<br>Quando Plut�o est� na 7� casa, um elemento de inevitabilidade
<br>pode introduzir-se nos casamentos destes nativos. Eles tendem aprocurar
<br>um companheiro que os desafiar� a descobrir novos potenciais
<br>dentro de si mesmos, lhes dar� o poder de superar desempenhos anteriores
<br>e de mudar certos aspectos de suas vidas. As qualidades
<br>intr�nsecas do parceiro e seu modo de agir podem provocar a rejei��o
<br>dos aspectos mais superficiais da personalidade para descobrir o que
<br>h� de real por baixo. H� uma tend�ncia a admirar a for�a de vontade
<br>dos outros. O resultado � que os nativos podem atrair os que tendem
<br>a domin�-los talvez achando que, se tiverem de enfrentar uma personalidade
<br>um pouco dominadora, poder�o descobrir mais a fundo
<br>seu pr�prio potencial. Quando estes nativos acham que n�o conseguem
<br>ser suficientemente habilidosos com esse tipo de parceiro,
<br>podem ressentir-se da situa��o e colocar toda a culpa no outro.
<br>
<br>Plut�o � um planeta que encoraja uma entrega total. Por isso
<br>provavelmente o parceiro reagir� mal se o nativo n�o corresponder
<br>a esta expectativa. Psicologicamente, os nativos com Plut�o na 7�
<br>casa t�m uma necessidade vital de colaborar com os outros e pressentem
<br>que de algum modo o casamento contribuir� para o seu crescimento
<br>pessoal, e lhes possibilitar� desenvolver uma for�a interior.
<br>A conseq��ncia � que, provavelmente, atrair�o quem for capaz de
<br>ter um impacto din�mico sobre suas vidas, eventualmente levando-
<br>os a algum tipo de metamorfose.
<br>
<br>Plut�o aflito na 7� casa pode indicar problemas s�rios. Muito
<br>depender� da natureza dos planetas em aspecto com Plut�o, porque
<br>as qualidades reveladas por estes planetas podem ser aumentadas.
<br>Por esse motivo, pode ser dif�cil suportar os defeitos de
<br>qualquer uma das partes, a menos que os dois parceiros estejam
<br>preparados para fazer um grande esfor�o e trabalhar a si pr�prios para
<br>remedi�-los.
<br>
<br>35
<br>
<br>
<br>Quando Plut�o est� bem posicionado e aspectado, o parceiro pode
<br>ser muito auto-suficiente, objetivo e ter as qualidades reveladas pelo
<br>signo em que Plut�o se encontra bem desenvolvidas e acentuadas.
<br>Se Plut�o est� mal posicionado e aspectado, a atitude iconoclasta do
<br>c�njuge e c�nico desinteresse por qualquer coisa que n�o seja o seu
<br>pr�prio bem-estar ou interesses pessoais podem envolver o nativo
<br>em situa��es de muita inseguran�a, que exigem que ele assuma todas
<br>as responsabilidades do parceiro ou tenha de reunir os "pr�prios
<br>peda�os" depois de o parceiro ir embora. Plut�o na 7� casa desafia
<br>
<br>o nativo a construir uma base perfeitamente firme e s�lida para uma
<br>uni�o. �s vezes, antes disso poder ser conquistado, assuntos pendentes
<br>de um casamento numa vida pregressa precisam ser satisfatoriamente
<br>resolvidos. Para obter o m�ximo de um relacionamento,
<br>estes nativos precisam aprender a conhecer a sua pr�pria natureza
<br>absoluta e interior, observando a si mesmos com bastante objetividade
<br>e imparcialidade para avaliar corretamente todos os seus
<br>motivos, principalmente quando acham que o companheiro os
<br>conduz a liga��es amorosas que n�o lhes conv�m. Eles devem estar
<br>preparados para "esfor�ar-se" e utilizar ao m�ximo todos os seus
<br>recursos, dedicando-se ao aperfei�oamento pessoal, principalmente
<br>no que diz respeito � sua capacidade de se relacionar com os outros.
<br>Estas observa��es t�m uma import�ncia secund�ria quando
<br>Escorpi�o est� na 7� c�spide.
<br>
<br>M�LTIPLOS CASAMENTOS
<br>
<br>M�ltiplos casamentos podem ocorrer quando a Lua ou V�nus,
<br>
<br>num hor�scopo masculino, est� em G�meos, Sagit�rio e Peixes,
<br>
<br>principalmente quando em aspecto com outros corpos em signos
<br>
<br>mut�veis, e Urano em aspecto com V�nus. Tommy Manville, cujos
<br>
<br>numerosos casamentos o tornaram alvo de consider�vel publicidade,
<br>
<br>nasceu com V�nus em Peixes em quadratura com a Lua, J�piter,
<br>
<br>Netuno e Plut�o em G�meos. Henrique VIII tinha V�nus em G�meos,
<br>
<br>com o Nodo Norte da Lua no meio exato de Marte e Saturno, indi
<br>
<br>
<br>cando a morte violenta de duas de suas esposas e a morte natural,
<br>
<br>por�m prematura, de outra.
<br>
<br>Num hor�scopo feminino, pode ocorrer mais de um casamento
<br>
<br>se o Sol ou Marte est� em G�meos, Sagit�rio ou Peixes, princi
<br>
<br>
<br>
<br>palmente se eles est�o em aspectos com outros corpos em signos
<br>mut�veis, e quando V�nus est� em aspecto com Urano. Elizabeth
<br>Taylor tem a conjun��o de V�nus e Urano na 7� casa (ver p�gina 331).
<br>Mary Anita Loos nasceu com V�nus no Meio do C�u em quadratura
<br>com Urano na 7� casa.
<br>
<br>Um signo duplo na 7a c�spide pode indicar mais de um casamento;
<br>e v�rios planetas na 7� casa, o n�mero de parceiros. William Lilly
<br>tinha Netuno na 7� c�spide e Marte e J�piter na 7� casa. Ele descreveu
<br>sua segunda esposa como sendo "da natureza de Marte". As
<br>lumin�rias apropriadas aplicadas a aspectos de mais de um planeta
<br>antes de deixar o signo podem ser mais um ind�cio de que o nativo se
<br>casar� de novo. Diz-se que o parceiro do segundo casamento � regido
<br>pela 9� casa, o do terceiro pela 11� e assim por diante.
<br>
<br>A separa��o e o div�rcio podem ocorrer quando a Lua, num
<br>hor�scopo masculino, e o Sol, num hor�scopo feminino, se aplicam
<br>a um aspecto desfavor�vel ou mal�fico, principalmente quando V�nus
<br>est� aflita. Urano na 7� casa pode indicar o t�rmino repentino de
<br>um casamento, principalmente quando mal aspectado e em aspecto
<br>com a 7� c�spide. Urano afligindo a Lua, num hor�scopo masculino,
<br>ou o Sol, num hor�scopo feminino, tamb�m pode indicar div�rcio,
<br>apesar disso ser mais prov�vel quando a 7� casa est� de algum modo
<br>envolvida, ou Libra est� ocupada por um dos dois corpos.
<br>
<br>PLANETAS EM LIBRA
<br>
<br>Planetas em Libra, o s�timo signo, s�o uma indica��o de como o
<br>nativo utilizar� a sua pr�pria energia e recursos para manter a harmonia
<br>nos relacionamentos.
<br>
<br>Quando o Sol est� em Libra a instaura��o da harmonia pode se
<br>tornar o objetivo principal da vida, j� que estes nativos tendem a identificar
<br>esta atividade com seu orgulho, amor pr�prio e necessidade
<br>de progredir. Por isso, se o Sol estiver bem aspectado, h� muitas
<br>chances de estabelecer relacionamentos tranq�ilos. Provavelmente
<br>aspectos desfavor�veis indicar�o dificuldades que resultam do
<br>orgulho ferido do nativo e de sua convic��o de que foi tratado injustamente.
<br>
<br>
<br>
<br>A Lua em Libra indica que os sentimentos est�o muito envolvidos
<br>na cria��o de uma atmosfera harmoniosa. Uma capacidade de saber
<br>instintivamente como se adaptar melhor aos outros pode ajudar muito
<br>a colocar estes nativos � vontade. A aceita��o social � importante, e
<br>
<br>o casamento � encarado como algo que pode conferir benef�cios
<br>m�tuos. Por isso, mesmo quando h� m�goa, pode haver uma
<br>tend�ncia a "enfrent�-la com coragem". Quando a Lua est� muito
<br>aflita, esta capacidade, mesmo se n�o diminuiu, pode ter limites bem
<br>definidos, al�m dos quais eles n�o est�o preparados para ir. Podem
<br>abandonar os seus esfor�os para manter a harmonia porque h� muita
<br>tens�o emocional envolvida.
<br>Com Merc�rio em Libra, a harmonia � em grande parte um conceito
<br>intelectual. A uni�o de mentes � importante e a compatibilidade
<br>mental pode ser a qualidade mais desejada no casamento. Pode
<br>haver uma tend�ncia a acreditar que qualquer discord�ncia pode ser
<br>resolvida "se ao menos pudermos conversar sobre isso". Se Merc�rio
<br>estiver muito aflito, talvez seja dada pouca aten��o � opini�o do
<br>parceiro, ou o parceiro seja questionador ou briguento, principalmente
<br>se estes nativos tentam, com muita freq��ncia, demonstrar
<br>superioridade intelectual em suas discuss�es.
<br>
<br>V�nus em Libra �, teoricamente, um posicionamento ideal. O
<br>nativo procura expressar sua afei��o do modo mais harmonioso
<br>poss�vel. Se V�nus for forte e bem aspectada, um desejo interior de
<br>paz pode contribuir para um excelente relacionamento. Sob afli��o,
<br>pode haver uma tend�ncia a conseguir a paz a qualquer pre�o, a tornar
<br>um h�bito ser gentil com todos e incapaz de dizer "n�o". Deste modo
<br>
<br>o ci�me pode ser despertado no companheiro. �s vezes h� um amor
<br>pelo romance, e o casamento ocorre apenas para satisfazer a esta
<br>necessidade.
<br>Pode haver uma tend�ncia a idealizar demais o conceito de casamento
<br>ou o tipo de parceiro, principalmente se V�nus � aspectada
<br>por Netuno. Neste caso, se a realidade n�o corresponder exatamente
<br>a este ideal acalentado, o resultado pode ser um consider�vel desapontamento
<br>ou frustra��o. �s vezes h� uma necessidade de grande
<br>variedade de experi�ncias emocionais, e um senso t�tico bem desenvolvido
<br>� usado para colocar um parceiro em posi��o desvan
<br>
<br>
<br>
<br>tajosa. O poder de provocar uma resposta amorosa nos outros nem
<br>sempre � muito usado.
<br>
<br>Quando Marte est� em Libra as energias s�o totalmente empregadas
<br>na obten��o de um equil�brio satisfat�rio na vida, e as paix�es
<br>exigem uma resposta ardente do parceiro. Talvez haja um desejo de
<br>assumir a lideran�a em todos os empreendimentos cooperativos, bem
<br>como de tomar a iniciativa no namoro e no casamento. Sob afli��o,
<br>estes nativos podem tornar-se briguentos quando acham que est�o
<br>perdendo a iniciativa. O simples fato de estarem preparados para
<br>empregar tanta energia na constru��o de um relacionamento harmonioso
<br>pode voltar-se contra eles sob a forma de uma oposi��o
<br>en�rgica a quem n�o apreciar seu m�todo direto de aproxima��o. Esta
<br>posi��o de Marte pode fazer esses nativos ficarem ressentidos se
<br>acharem que est�o sendo injusti�ados por seus companheiros.
<br>
<br>J�piter em Libra �, teoricamente, outra excelente confirma��o de
<br>uma capacidade de construir uma atmosfera harmoniosa ao redor.
<br>Mas, na pr�tica, normalmente ocorre que os chamados planetas
<br>ben�ficos introduzem mais dificuldades psicol�gicas que os
<br>mal�ficos. Uma atitude expansiva relacionada � instaura��o da
<br>harmonia e um senso de equil�brio bem desenvolvido podem
<br>freq�entemente resultar numa uni�o prol�fera e pr�spera. Por isso,
<br>esta posi��o tende a diminuir as chances do casamento terminar em
<br>div�rcio. Um desejo de melhorar de status atrav�s de um relacionamento
<br>freq�entemente resulta no nativo escolher um parceiro
<br>religioso. Sob afli��o pode haver uma tend�ncia a dar mais valor �
<br>melhoria do status social do que a uma uni�o baseada no verdadeiro
<br>amor. Pode haver uma maior preocupa��o em mostrar ao mundo que
<br>
<br>o casamento foi bem-sucedido do que a mostrar que foi feliz. �
<br>poss�vel que o nativo contraia muitas d�vidas, talvez devido aos
<br>gastos extravagantes do c�njuge.
<br>Os nativos com Saturno em Libra utilizam a sua tend�ncia �
<br>seguran�a para ajud�-los a estabelecer relacionamentos na base mais
<br>s�lida e pr�tica poss�vel. Um grande senso de responsabilidade pode
<br>tom�-los muito conscientes de suas obriga��es como parceiro. �
<br>poss�vel que custem a encontrar um c�njuge que possa demonstrar
<br>
<br>39
<br>
<br>
<br>a mesma integridade. Por esse motivo podem casar-se mais tarde que
<br>a maioria, ou escolher um companheiro mais velho ou da mesma
<br>idade, austero ou pouco efusivo. Um desejo de perfei��o pode tom�los
<br>muito exigentes ou a vis�o de um relacionamento pode ser muito
<br>convencional ou antiquada. Quando Saturno est� aflito, eles podem
<br>ser frios ou encarar o casamento como um fardo que n�o se importam
<br>de carregar. De vez em quando podem dizer a si mesmos que
<br>nunca encontrar�o um parceiro � altura de tais exig�ncias. � poss�vel
<br>que os pais interfiram no casamento. Se Saturno estiver muito aflito,
<br>o c�njuge pode morrer ou o casamento terminar, n�o necessariamente
<br>levando ao div�rcio. Quando bem aspectado, provavelmente
<br>Saturno em Libra indicar� um casamento duradouro.
<br>
<br>Os nativos com Urano em Libra esperar�o que o casamento lhes
<br>d� um est�mulo extra que lhes proporcionar� novas experi�ncias e
<br>far� com que de algum modo sintam ter conseguido um maior grau
<br>de liberdade. Os horizontes mais amplos que procuram podem resultar
<br>apenas do fato de acreditarem que deveriam ser livres para
<br>trocar de parceiros quando achassem que haviam crescido mais que
<br>
<br>o relacionamento. O desejo de experimentar num relacionamento
<br>pode fazer com que achem as formas tradicionais de casamento
<br>muito limitadoras, quando n�o totalmente obsoletas. Um exemplo
<br>extremo ocorreu na �ltima vez em que Urano entrou em Libra, h�
<br>alguns anos. Em Copenhague (regida pela 1� Libra), o Parlamento
<br>dinamarqu�s apresentou um projeto de lei para legalizar o "casamento"
<br>entre homossexuais. Esta posi��o de Urano pode induzir a
<br>uma atitude idealista e avan�ada em rela��o ao casamento, e a um
<br>desejo de revestir a uni�o de algo mais que um significado convencional
<br>para � quando o nativo est� completamente sintonizado
<br>com a vibra��o de Urano�ser poss�vel uma uni�o mais gratificante.
<br>No entanto, isto � antes de mais nada uma posi��o crucial para Urano,
<br>que testa o equil�brio interior do nativo e exige muita integridade
<br>moral e sabedoria inata. Quando muito aflita, esta posi��o pode
<br>indicar dificuldade em manter uma uni�o est�vel e ser mais bem descrita
<br>como uma "propens�o ao div�rcio".
<br>Netuno em Libra significa que estes nativos canalizam o seu
<br>idealismo e qualquer desejo de procurar experi�ncias transcenden
<br>
<br>
<br>40
<br>
<br>
<br>tais para a sua busca dc um relacionamento harmonioso com os que
<br>os cercam. Netuno representa a capacidade de o nativo ser piedoso
<br>e compreensivo e de elevar a compatibilidade a n�veis bastante
<br>sens�veis. Por esse motivo, a necessidade de um relacionamento sem
<br>atritos que possam perturbar o perfeito equil�brio do casamento �
<br>priorit�ria. Portanto, qualquer imperfei��o num relacionamento
<br>conjugal pode causar uma enorme desilus�o e desapontamento, se
<br>
<br>o nativo n�o conseguiu aceitar que os ideais quase nunca s�o realizados
<br>a n�vel f�sico sem serem consideravelmente modificados, e
<br>que atingi-los � resultado de muito esfor�o no sentido da autopurifica��o.
<br>O casamento ideal � visto como a fus�o perfeita de duas
<br>pessoas em alguma forma de uni�o m�stica. A procura por uma alma
<br>g�mea pode resultar na perda de qualquer esperan�a de encontrar a
<br>verdadeira compatibilidade, ou numa tend�ncia a revestir qualquer
<br>relacionamento pretendido de uma aura de feliz ilus�o que n�o
<br>contribui para um relacionamento firme e duradouro. � poss�vel que
<br>haja uma uni�o espiritual ou plat�nica. Se n�o for cultivada uma vis�o
<br>clara e pr�tica do casamento, estes nativos podem se decepcionar
<br>com os c�njuges. Quando Netuno est� muito aflito, o parceiro pode
<br>ter pouca sa�de ou morrer bem antes do nativo.
<br>Quando Plut�o est� em Libra o nativo tem uma suprema necessidade
<br>de harmonia nos relacionamentos. O casamento pode lhes
<br>parecer o meio mais eficiente de atingir uma forma de regenera��o,
<br>empregando estes nativos todas as suas qualidades de car�ter na
<br>constru��o de um relacionamento realmente significativo. Por esse
<br>motivo, se Plut�o estiver muito aflito, a busca de harmonia tende a
<br>dominar todo o relacionamento e qualquer imperfei��o pode levar
<br>estes nativos a procurarem sua causa dentro de si mesmos. Se Plut�o
<br>estiver muito aflito, os casamentos costumam terminar definitivamente.
<br>Ocasionalmente o motivo pode ser a morte do parceiro, ou
<br>em outros casos estes nativos podem n�o hesitarem culpar seus companheiros
<br>pelo fracasso do casamento. H� uma grande necessidade
<br>de harmonia; assim, uma feliz uni�o pode ser uma experi�ncia muito
<br>gratificante, enquanto um casamento desastroso pode ter um efeito
<br>correlativamente oposto. Muito depender� dos aspectos em Plut�o.
<br>
<br>Planetas em C�ncer d�o alguma id�ia da proximidade de uma vida
<br>dom�stica e da capacidade do nativo de estabelecer-se para construir
<br>
<br>
<br>um lar e fam�lia. Quando h� quadrados entre planetas em C�ncer e
<br>Libra, as chances de construir uma base verdadeiramente s�lida para
<br>
<br>o casamento s�o menores.
<br>PARTE DO CASAMENTO
<br>
<br>Geralmente aspectos na Parte do Casamento indicam as chances
<br>de uma uni�o ser feliz e bem-sucedida, de acordo com o signo ocupado
<br>e os planetas em aspecto mais pr�ximo com a Parte, que se situa
<br>a tantos graus da 7a c�spide de um hor�scopo como V�nus est� distante
<br>do Ascendente, mas no mesmo lado do horizonte que V�nus.
<br>Deste modo, se V�nus est� dez graus abaixo do Ascendente, a Parte
<br>do Casamento se situar� a dez graus abaixo do Descendente. Se
<br>V�nus estiver 22 graus acima do Descendente, a Parte do Casamento
<br>cair� 22 graus acima do Ascendente. A Parte pode ser calculada com
<br>a f�rmula: Longitude do Ascendente + Longitude do Descendente.
<br>Longitude dc V�nus. Apesar de que, com um pouco de pr�tica,
<br>esta posi��o ser� �bvia atrav�s de uma inspe��o visual.
<br>
<br>Se V�nus est� em quadratura com o Ascendente, a Parte tamb�m
<br>estar� em quadratura com o Ascendente. Se V�nus est� no Ascendente,
<br>a Parte estar� em oposi��o a V�nus. Nestas situa��es, a for�a
<br>de V�nus e seus aspectos s�o cruciais. A menos que V�nus esteja
<br>bem apoiada, seus aspectos na Parte do Casamento n�o produzem
<br>necessariamente harmonia.
<br>
<br>A utiliza��o da 7a c�spide para determinar onde a Parte cai sugere
<br>que esta Parte mostra como os outros provavelmente reagir�o ao
<br>modo pelo qual projetamos nosso desejo de alcan�ar a harmonia.
<br>Aspectos na Parte (e eles deveriam estar pr�ximos) indicar�o como
<br>
<br>o casamento provavelmente ser�. Como em outros ramos da astrologia,
<br>aspectos favor�veis de planetas bem posicionados s�o de grande
<br>aux�lio, e aspectos desfavor�veis de planetas mal posicionados
<br>podem ser interpretados como sinal de perigo. Estes contatos com a
<br>Parte representam os elementos na nossa psique que ajudar�o a
<br>consolidar ou amea�ar�o a nossa uni�o. Al�m disso, podem indicar
<br>carmas relacionados com o casamento.
<br>Em astrologia, normalmente, casos extremos s�o os que esclarecem
<br>mais o assunto. Nicholas Culpeper, o famoso herborista, sofreu
<br>
<br>
<br>um terr�vel golpe quando, na v�spera de seu casamento, sua noiva
<br>foi morta por um raio a caminho do encontro matrimonial. A Parte
<br>do Casamento de Nicholas, na 8� c�spide, estava a cinco graus de
<br>Marte, mas seu antiscion ca�a no seu Meridiano Inferior, entre uma
<br>conjun��o pr�xima de Saturno e Plut�o. A afli��o na 4a casa tamb�m
<br>teve alguma rela��o com o casamento de seus pais, j� que a m�e
<br>enviuvou depois de apenas um ano de casamento.
<br>
<br>Outro exemplo, no hor�scopo de uma l�sbica que se voltou contra
<br>os homens devido � sua profunda raiva do pai � revelada por
<br>uma conjun��o pr�xima do Sol-Saturno em Capric�rnio �: a Parte
<br>do Casamento caiu no meio exato desta conjun��o.
<br>
<br>Um aspecto do Sol na Parte parece ter um efeito estabilizador,
<br>mostrando uma dedica��o total ao objetivo de viver harmoniosamente
<br>com o parceiro. Se o Sol estiver muito aflito, o orgulho pode
<br>ser um obst�culo. Em qualquer caso a uni�o, provavelmente, ser�
<br>encarada como o lado mais importante da vida, e muita �nfase poder�
<br>ser colocada na posi��o social do c�njuge. Temos o exemplo de uma
<br>mulher com a Parte em conjun��o pr�xima com o Sol que anunciou
<br>sua inten��o expressa de casar-se com um milion�rio!
<br>
<br>Geralmente � �til um contato com J�piter. Saturno, ao mesmo
<br>tempo que proporciona uma influ�ncia estabilizadora, pode introduzir
<br>um elemento retardador, como nos casos de Hitler e Eva Braun,
<br>cuja uni�o legal s� ocorreu horas antes do suic�dio deles. Em outro
<br>caso, um tr�gono na Parte do Casamento de um Saturno debilitado
<br>na 7� casa significou um casamento desastroso, devido em parte �
<br>indiferen�a e frieza do nativo.
<br>
<br>Um aspecto de Urano pode, apesar de n�o ser regra, indicar
<br>div�rcio enquanto que Netuno, que pode introduzir um elemento de
<br>idealismo, freq�entemente n�o � um fator muito estabilizante. �s
<br>vezes o companheiro pode se tornar inv�lido. O Papa Paulo IV, que
<br>fez voto de celibato pela natureza de sua voca��o, tinha a Parte
<br>conjugada a Marte e tr�gono com Netuno. Assim, o ideal do casamento
<br>foi transformado e simbolicamente transferido para um casamento
<br>com a M�e Igreja. Um aspecto com Plut�o n�o � sempre
<br>proveitoso, parecendo introduzir um elemento de intensidade com
<br>
<br>o qual � dif�cil lidar.
<br>Os aspectos de Marte dependem muito das condi��es deste planeta
<br>por signo e aspecto, e refletem at� onde as paix�es do nativo
<br>
<br>43
<br>
<br>
<br>provavelmente ser�o satisfeitas ou frustradas pelo relacionamento
<br>conjugal. Temos o exemplo de um tr�gono de Marte em Escorpi�o
<br>com a Parte em Peixes, que foi o indicador de uma viuvez precoce.
<br>
<br>Merc�rio n�o parece influenciar muito as circunst�ncias do casamento,
<br>apesar de, �s vezes, poder significar um relacionamento com
<br>um parceiro mais jovem. Aspectos na Lua dependem muito do signo
<br>e da casa em que as lumin�rias est�o posicionadas. Norma Shearer,
<br>que casou-se com o seu patr�o, tinha a Parte em sextil � Lua em Le�o
<br>em sua 10a casa. Edith Piaf, cujo marido era consideravelmente mais
<br>jovem, tinha a Parte em sextil � Lua em G�meos na 7� casa.
<br>
<br>Aspectos na Parte de planetas em Libra podem ser cruciais,
<br>enquanto a posi��o da pr�pria Parte em Libra tamb�m parece dar-
<br>lhe mais �nfase. A Parte n�o parece estar bem posicionada em Peixes,
<br>onde pode ser exigido algum sacrif�cio.
<br>
<br>Esperar�amos encontrar aspectos significativos na Parte no
<br>pr�prio hor�scopo de casamento, e os mapas em meus arquivos sugerem
<br>que isso pode realmente ocorrer. Mais uma vez, muito depende
<br>da posi��o radical dos planetas afetados. Um tr�gono de Saturno n�o-
<br>aflito ocorre num casamento duradouro e est�vel, mas o mesmo
<br>aspecto de Saturno debilitado e aflito na 7� casa reflete uma uni�o
<br>desastrosa de outro casal. Num casamento em que a morte do marido
<br>ocorreu depois de apenas uns poucos anos, a Parte estava no meio
<br>exato de uma conjun��o V�nus-Plut�o. Em outro caso, onde a mulher
<br>morreu bem antes do marido, a Parte estava em conjun��o com Marte
<br>e em sextil com o meio exato de uma conjun��o Sol-Plut�o. Houve
<br>tamb�m um tr�gono com Netuno em Libra e os parceiros pareciam
<br>perfeitos um para o outro. Outro mapa de casamento com Netuno
<br>em Libra em quadratura com a Parte referia-se a um casamento que
<br>logo foi desfeito.
<br>
<br>Em dois casos bastante extremos, a Parte estava seriamente aflita.
<br>Num deles, a mulher censurava constantemente o parceiro e �s
<br>vezes recorria � viol�ncia f�sica. Por fim o marido obteve o div�rcio
<br>alegando crueldade constante da esposa. A Parte estava em quadratura
<br>com uma conjun��o Sol-Plut�o. Em outro caso, o marido rec�m-
<br>casado levou a esposa para a nova casa, onde ela descobriu que a
<br>amante dele j� estava instalada. Ele disse a elas que amava as duas.
<br>A nova esposa saiu depois de apenas uma hora. A Parte estava conjunta
<br>� Lua e Urano em G�meos!
<br>
<br>
<br>Comumente a qualidade dos aspectos na Parte parece refletir a
<br>qualidade do casamento. As observa��es gerais quanto � natureza
<br>dos aspectos na Parte do Casamento em hor�scopos individuais
<br>tamb�m podem ser aplicadas aos aspectos presentes no hor�scopo
<br>de casamento.
<br>
<br>Seria razo�vel esperar encontrar aspectos significativos na Parte
<br>em hor�scopos de "Primeiro Encontro", mas n�o tenho um n�mero
<br>suficiente para afirmar categoricamente que� assim. Por outro lado,
<br>seria descoberto que h� contatos significativos com a Parte do
<br>hor�scopo do c�njuge.
<br>
<br>O fato da 7a casa, al�m de ser a casa do casamento, ser tamb�m a
<br>casa de inimigos declarados pode � primeira vista parecer contradit�rio,
<br>exceto para um mis�gino, mas esta � uma combina��o l�gica,
<br>uma vez que tendemos instintivamente a procurar num parceiro as
<br>qualidades que esquecemos de desenvolver em n�s mesmos, ou que
<br>de fato n�o temos. Por isso essas qualidades s�o as que podem nos
<br>prejudicar mais quando usadas contra n�s por um inimigo. A 7a casa
<br>representa nossa atitude em rela��o � coopera��o, de modo que
<br>mal�ficos na 7a, e em Libra, principalmente quando aflita, podem
<br>significar o eventual rompimento de rela��es amig�veis.
<br>
<br>O rumo de outros relacionamentos no hor�scopo pode ser tra�ado
<br>por um estudo das casas e planetas apropriados. Os amigos est�o sob
<br>
<br>o dom�nio da 7a casa. Nossa capacidade de fazer amigos e experi�ncias
<br>na amizade podem ser estimuladas pela condi��o de
<br>planetas na 7a casa e em Aqu�rio (se houver), pela natureza do signo
<br>na 7a c�spide e os aspectos na c�spide e seu regente. Ben�ficos na 5a
<br>e 11� casas, a menos que aflitos ou debilitados por signo, prenunciam
<br>amizades gratificantes que proporcionar�o uma fonte
<br>inesgot�vel de satisfa��o.
<br>Se trabalhamos para os outros, nosso patr�o e os escolhidos para
<br>serem nossos supervisores s�o indicados de modo geral pelo Sol, pela
<br>condi��o de quaisquer planetas na 10a casa ou Capric�rnio (se houver),
<br>pelo signo no Meio do C�u e os aspectos no planeta que rege
<br>este signo. Aspectos fortes e pr�ximos no Meio do C�u tamb�m
<br>podem ser significativos. Se empregamos pessoas ou supervisionamos
<br>o seu trabalho, nossas experi�ncias no relacionamento s�o
<br>determinadas pela condi��o de quaisquer planetas na 6a casa ou em
<br>
<br>
<br>Virgem, pelo signo na c�spide da 6a casa, aspectos na c�spide e seu
<br>regente e, de modo geral, pelos aspectos em Merc�rio. Relacionamentos
<br>com vizinhos s�o indicados pela condi��o de Merc�rio
<br>e quaisquer planetas em G�meos ou na 3a casa, junto com o signo na
<br>c�spide da 3a casa, os aspectos na c�spide e seu regente.
<br>
<br>Os parentes s�o indicados no hor�scopo por v�rias casas. Os pais
<br>s�o revelados pela 4a e 10a casas. De modo geral, o Sol e Saturno
<br>representam o pai; e a Lua, a m�e. Irm�os e irm�s s�o representados
<br>por Merc�rio e a 3a casa, tios e tias por J�piter e a 6a casa (que � a 3a
<br>casa contada a partir da 4a c�spide, portanto os irm�os e irm�s dos
<br>pais). Este m�todo de derivar regentes de casas secund�rias � uma
<br>t�cnica que se origina da astrologia hor�ria, e n�o se sabe at� que
<br>ponto � poss�vel ficar rodeando as casas para obter significados
<br>complementares. Em teoria poder�amos chegar numa casa que significasse
<br>a mulher do patr�o do vizinho do nosso irm�o (que ser� a
<br>
<br>8a
<br>
<br> casa de nosso hor�scopo), mas esse tipo de rearranjo n�o � particularmente
<br>eficiente ou mesmo desej�vel.
<br>
<br>Pode n�o ter escapado aos leitores que a 3a casa, por exemplo, pode
<br>representar irm�os e irm�s (ou mais exatamente nossa atitude em
<br>rela��o a eles e o tipo de resposta que ela provavelmente provocar�),
<br>bem como os vizinhos, com Merc�rio tamb�m representando ambos
<br>de um modo geral. Se estendermos mais o significado da 3a casa,
<br>de acordo com o m�todo descrito acima, tamb�m pode representar
<br>qualquer inimigo secreto dos pais, a esposa de um cunhado e assim
<br>por diante. Isto significa que os mesmos poucos significadores t�m
<br>de servir para uma grande variedade de relacionamentos e comparativamente
<br>contatos casuais.
<br>
<br>Se precis�ssemos examinar a qualidade de um relacionamento
<br>com uma das muitas pessoas representadas pela 3a casa, poder�amos
<br>faz�-lo muito melhor (desde que tiv�ssemos os dados necess�rios
<br>sobre o nascimento) aplicando as regras da sinastria numa compara��o
<br>de nosso pr�prio hor�scopo com o da pessoa que nos interessa.
<br>
<br>
<br>
<br>CAP�TULO 2
<br>
<br>HOR�SCOPOS DE CASAMENTO
<br>E OUTROS MAPAS INICIAIS
<br>
<br>
<br>� um princ�pio fundamental da astrologia que o momento do in�cio
<br>de qualquer projeto cont�m todo o potencial de desenvolvimento que
<br>pode resultar desse mesmo acontecimento ou a��o. � por esse motivo
<br>que o hor�scopo para o in�cio de uma vida humana � t�o importante,
<br>apesar de muitos argumentarem que o hor�scopo para a concep��o
<br>ainda � mais significativo. Infelizmente, � quase imposs�vel
<br>determinar o momento exato deste acontecimento (que n�o � o
<br>mesmo determinado pelo Per�odo Pr�-Natal), apesar de ser poss�vel
<br>algum dia descobrir uma f�rmula.
<br>
<br>Um hor�scopo tirado quando conhecemos uma pessoa indicar�
<br>todo o rumo deste relacionamento. Esse mapa pode ser guia de valor
<br>inestim�vel se essa rela��o se revelar muito importante. Infelizmente,
<br>poucos de n�s se d�o ao trabalho de adquirir o h�bito de registrar a
<br>hora em que conhecemos algu�m, e nem sempre � poss�vel notar os
<br>exatos detalhes quando somos apresentados a um grande grupo de
<br>pessoas dentro de um tempo relativamente curto. Apenas uma
<br>pequena quantidade de contatos pode ter uma grande repercuss�o
<br>na vida. Por esse motivo � compreens�vel que os astr�logos freq�entemente
<br>se esque�am de registrar a hora dos primeiros encontros, j�
<br>
<br>
<br>que a maioria dos dados colhidos seria de pouco valor. No entanto,
<br>quando duas pessoas consultam um astr�logo para saber mais sobre
<br>as potencialidades de seu relacionamento, uma grande quantidade
<br>de informa��o astrol�gica adicional sobre a qualidade do relacionamento
<br>ser� poss�vel se eles conseguirem lembrar-se da hora
<br>exata em que se conheceram.
<br>
<br>As posi��es planet�rias no hor�scopo no momento do primeiro
<br>encontro ser�o, � claro, os tr�nsitos atuantes nos hor�scopos das duas
<br>partes envolvidas. Por isso, a import�ncia do hor�scopo de encontro
<br>n�o pode ser totalmente avaliada se os hor�scopos do casal n�o
<br>forem comparados cuidadosamente. Se os tr�nsitos aspectarem
<br>favoravelmente um hor�scopo e n�o o outro, pode ser que a atra��o
<br>n�o seja m�tua e uma das partes deseje manter o relacionamento,
<br>mas a outra n�o. As posi��es progredidas nos hor�scopos individuais
<br>poderiam dar maiores indica��es sobre os potenciais do relacionamento,
<br>principalmente porque alguns dos tr�nsitos no momento
<br>do encontro podem serem dire��es importantes.
<br>
<br>Muitas vezes o hor�scopo do primeiro encontro pode ser cuidadosamente
<br>examinando sem consultar-se os hor�scopos dos envolvidos.
<br>Sei de um caso de um homem que conheceu a mulher �
<br>com quem veio a se casar�quando o Sol estava quase exatamente
<br>em conjun��o com Urano e em tr�gono com J�piter em Libra. O Sol
<br>regia o ascendente do mapa e Plut�o ascendia em Le�o. Esse homem,
<br>apesar de ser astr�logo, na �poca n�o estava particularmente consciente
<br>da import�ncia do momento do primeiro encontro, nem se deu
<br>conta de que o relacionamento poderia mais tarde revelar-se o mais
<br>importante de sua vida. Logo depois do primeiro encontro as circunst�ncias
<br>determinaram que o casal deveria seguir caminhos diferentes
<br>durante tr�s anos. Nesse meio tempo, o astr�logo chegou � conclus�o
<br>de que as suas pr�prias dire��es indicavam que ele em breve
<br>se casaria. Chegara at� mesmo a fixar uma data e a fazer uma previs�o
<br>por escrito, que colocou num envelope selado e confiou a uma
<br>terceira pessoa. S� havia um problema: na �poca, ele n�o tinha
<br>nenhuma parceira em vista! Inesperadamente, ele recebeu uma carta
<br>da jovem que conhecera h� tr�s anos, sugerindo que seria bom se
<br>eles pudessem se encontrar de novo. De repente ele percebeu as
<br>implica��es desta sugest�o � luz das dire��es que se formavam em
<br>seu pr�prio hor�scopo. Relembrando cuidadosamente detalhes do
<br>
<br>
<br>passado, conseguiu determinar com razo�vel exatid�o a hora do primeiro
<br>encontro deles. N�o demorou muito para descobrir que a
<br>conjun��o Sol-Urano no hor�scopo do encontro descia exatamente
<br>ao grau da Lua no hor�scopo da jovem, enquanto a Lua no hor�scopo
<br>do encontro estava conjunta com Marte da mulher e em oposi��o ao
<br>Sol dela. V�nus cm conjun��o com Saturno estava oposta ao sol dele,
<br>que era o regente da sua 7� casa natal (e por progress�o em tr�gono
<br>com a Lua dele e o ascendente da mulher). J�piter, em tr�gono com
<br>
<br>o Sol e Urano do signo Libra no hor�scopo do primeiro encontro,
<br>tamb�m era o regente da 7� casa da mulher.
<br>Depois de seis meses de namoro, os dois se casaram no dia previsto
<br>pelo astr�logo muitos meses antes do reatamento da amizade
<br>deles.
<br>
<br>Talvez seja necess�rio acrescentar que nem todo primeiro encontro
<br>entre membros do sexo oposto que ocorre sob os ausp�cios
<br>ben�ficos de V�nus e configura��es da 7� casa necessariamente
<br>resulta em casamento. Ambas as partes, por exemplo, j� podem ser
<br>casadas e felizes, ou diferen�as de idade ou circunst�ncias podem
<br>excluir a possibilidade de um a uni�o. No entanto, h� muitas chances
<br>de surgir um agrad�vel companheirismo, que faz os dois se sentirem
<br>muito � vontade na companhia um do outro. Por outro lado, pode
<br>haver casos de hor�scopos de primeiro encontro muito harmoniosos
<br>em que, provavelmente por falta de oportunidade, o relacionamento
<br>nunca se desenvolve ou amadurece, apesar das duas partes
<br>envolvidas estarem favoravelmente inclinadas uma para a outra.
<br>Nesses casos a explica��o provavelmente se encontra em seus
<br>hor�scopos progredidos, ou numa compara��o entre os dois hor�scopos
<br>que pode revelar algum fator inibidor.
<br>
<br>Um hor�scopo de primeiro encontro entre um homem de meia-
<br>idade e uma adolescente mostra Libra ascendendo com J�piter na 7�
<br>casa, em quadratura com V�nus no Meio do C�u. As lumin�rias est�o
<br>em conjun��o e em sextil com Marte, enquanto Netuno est� em
<br>tr�gono com V�nus. Uma harmonia imediata foi estabelecida entre
<br>os dois. Apesar de serem de diferentes nacionalidades, sempre conseguiram
<br>se comunicar livremente um com o outro, quase sempre
<br>trocando animadamente muitas id�ias. Foram apresentados pela
<br>sobrinha do homem. J�piter, o planeta que rege os tios, estava na 7�
<br>casa dos relacionamentos^no mapa do primeiro encontro. Por isso,
<br>
<br>
<br>quase automaticamente, a garota encarou o relacionamento deles
<br>como o de um tio e uma sobrinha.
<br>
<br>O hor�scopo de primeiro encontro pode ser progredido por
<br>qualquer m�todo v�lido. Se o relacionamento � importante, as progress�es
<br>e tr�nsitos proporcionar�o indica��es precisas do tipo de
<br>relacionamento.
<br>
<br>Ao mesmo tempo que apenas uma pequena quantidade de contatos
<br>da vida podem se revelar muito importantes, todo relacionamento
<br>tem um objetivo. Quando duas pessoas se conhecem e mais tarde
<br>ter�o um papel importante na vida uma da outra, o momento do
<br>primeiro encontro � verdadeiramente um "momento do destino".
<br>
<br>O HOR�SCOPO DE CASAMENTO
<br>
<br>Os primeiros encontros quase sempre acontecem por acaso, mas
<br>a hora do casamento pode ser escolhida, talvez nem sempre o minuto,
<br>porque muitas coisas podem depender da disponibilidade e
<br>coopera��o de quem ir� oficializar a cerim�nia. Os que conhecem a
<br>astrologia sem d�vida tentar�o, como o escritor fez, escolher a hora
<br>em que as indica��es planet�rias parecem favorecer um alto grau de
<br>harmonia e felicidade. Mais uma vez � necess�rio repetir que nada
<br>pode acontecer sem ser revelado pelo hor�scopo e que � n�o importa
<br>o quanto a hora escolhida possa ser favor�vel � se um casamento
<br>feliz e bem-sucedido n�o est� indicado no hor�scopo natal, a
<br>escolha de um "bom" dia de casamento n�o alterar� estas indica��es.
<br>
<br>Ainda assim, n�o faz sentido escolher um dia "dif�cil" para casar.
<br>
<br>Enquanto milhares de casais n�o se importam em saber se o dia �
<br>
<br>"prop�cio" ou n�o e podem gravitar instintivamente na dire��o do
<br>
<br>dia mais sintonizado com o destino do seu casamento, a maioria dos
<br>
<br>estudantes de astrologia gostaria de sentir que fez tudo que p�de para
<br>
<br>ajudar o destino, e deste modo optar por uma data e hora que pare
<br>
<br>
<br>cessem assegurar as maiores chances de sucesso. � claro que n�o h�
<br>
<br>nenhuma garantia de eles n�o escolherem a mesma data sem orien
<br>
<br>
<br>ta��o astrol�gica. Tamb�m nem sempre pode ser poss�vel encon
<br>
<br>
<br>trar um dia ideal no per�odo em que a pessoa deseja se casar.
<br>
<br>Num caso que conhe�o, um astr�logo escolheu uma hora para o
<br>seu casamento que colocava uma conjun��o V�nus-J�piter no dia
<br>
<br>
<br>em exato tr�gono com o Ascendente dele, apenas para descobrir
<br>depois que o momento de seu nascimento era na verdade meia hora
<br>antes, o que tornou o tr�gono ineficaz no que dizia respeito ao Ascendente
<br>dele. No entanto, a conjun��o ainda estava em tr�gono com
<br>
<br>o regente dele, enquanto a Lua, na hora do casamento, n�o aparentemente
<br>em contato com nenhum fator no hor�scopo, agora ca�a quase
<br>exatamente sobre o Meridiano Inferior. Deste modo, mesmo ao fazer
<br>sua escolha baseado numa hora de nascimento incorreta, o astr�logo
<br>ainda foi capaz de escolher o momento mais adequado ao seu verdadeiro
<br>hor�scopo.
<br>�s vezes nos perguntam por que a cerim�nia do casamento deveria
<br>ter uma import�ncia astrol�gica t�o grande. Em geral, todos
<br>os rituais t�m uma import�ncia al�m de qualquer coisa que sua celebra��o
<br>possa significar. O fato de a uni�o ser reconhecida oficialmente,
<br>e conforme o esperado, proclamada na frente de todos os
<br>presentes � cerim�nia, significa que � no que diz respeito �s autoridades
<br>civis e religiosas, e aos olhos de toda a comunidade � o
<br>momento em que um casal � proclamado marido e mulher � aquele
<br>em que come�a oficialmente a uni�o.
<br>
<br>Lembro-me bem do caso de um astr�logo que me disse que pretendia
<br>casar-se num dia em que havia uma conjun��o de Marte e
<br>Saturno em Libra (com Netuno n�o muito distante) em quadratura
<br>pr�xima com Urano em C�ncer, que estava em tr�gono com V�nus
<br>debilitada em Escorpi�o. Quando sugeri que nenhum astr�logo em
<br>seu ju�zo perfeito escolheria deliberadamente casar-se sob tais
<br>configura��es, ele respondeu que achava que a hora da cerim�nia
<br>n�o tinha import�ncia, uma vez que j� tivera rela��es sexuais com a
<br>noiva e acreditava que o verdadeiro hor�scopo do "casamento"
<br>datava daquela �poca. N�o consegui persuadi-lo a mudar de opini�o.
<br>Ele se casou, como planejara, e em dois ou tr�s anos a mulher jovem
<br>
<br>o bastante para ser sua filha, cansou-se do relacionamento e foi
<br>embora. Ele n�o sobreviveu muito � dissolu��o do casamento e
<br>morreu de problemas card�acos que bem poderiam ter sido agravados
<br>por seu sofrimento emocional.
<br>Para escolher a melhor �poca para se casar � desej�vel optar por
<br>um dia em que as configura��es presentes na esfera celeste reflitam
<br>melhor os fatores que esperar�amos encontrar num hor�scopo prometendo
<br>um casamento feliz. Um aspecto favor�vel entre as lumin�rias;
<br>
<br>51
<br>
<br>
<br>entre V�nus e Marte e V�nus e J�piter; bons aspectos de planetas
<br>em Libra ou C�ncer; os ben�ficos e as lumin�rias proeminentemente
<br>situados; V�nus dignificada por signo e n�o em combust�o, cadente
<br>ou retr�grada e livre de afli��o dos mal�ficos; um bom aspecto do
<br>Ascendente com os ben�ficos; uma 7� casa forte e sem afli��es, com
<br>bons aspectos para o regente do Ascendente e a 7a casa, s�o todas
<br>caracter�sticas desej�veis. A Lua e Fortuna deveriam estar configuradas
<br>o mais favoravelmente poss�vel, com a Lua aplicada a um bom
<br>aspecto de V�nus e J�piter, de prefer�ncia aumentando a luz e o
<br>movimento e, se poss�vel, tendo passado pelo primeiro quarto. Se
<br>ascendendo, a Lua n�o deveria estarem conjun��o com um mal�fico,
<br>ou prevalecer� uma atmosfera de disc�rdia.
<br>
<br>N�o � prov�vel encontrar uma ocasi�o que incorpore todas estas
<br>caracter�sticas. V�nus forte e bem aspectada, os regentes d a primeira
<br>e 7� casas bem aspectados, e a Lua razoavelmente livre de afli��o
<br>deveriam ter prioridade quando uma data � escolhida. Porque o
<br>hor�scopo do casamento tamb�m � um resumo dos tr�nsitos no dia
<br>do casamento nos hor�scopos do marido e da mulher, toma-se cada
<br>vez mais �bvio que nem sempre � f�cil encontrar uma data adequada
<br>para se casar, uma �poca que apresenta um hor�scopo indicativo de
<br>um casamento feliz e duradouro, e que se enquadra favoravelmente
<br>sob todos os aspectos importantes com os hor�scopos dos dois parceiros.
<br>Uma vez que tem sido dito que "os caminhos do amor verdadeiro
<br>raramente s�o isentos de obst�culos", um mapa de casamento
<br>"perfeito demais" n�o � sempre t�o desej�vel como pode parecer.
<br>
<br>Onde quer que a Lua esteja, � melhor que n�o esteja aplicada a
<br>um aspecto de Marte ou Saturno.
<br>
<br>Apesar de que muitas coisas podem depender da intera��o do
<br>
<br>hor�scopo de casamento com os hor�scopos do marido e da mulher,
<br>
<br>ele � um hor�scopo v�lido por si s�, sendo sens�vel aos tr�nsitos e
<br>
<br>capaz de ser progredido atrav�s de qualquer sistema direcional
<br>
<br>v�lido.
<br>
<br>Quando planetas progredidos e progredidos pr�-natais nos
<br>
<br>hor�scopos dos dois parceiros formam aspectos com planetas ou
<br>
<br>�ngulos no primeiro encontro e mapas de casamento, isto pode
<br>
<br>indicar modifica��es ou progressos no relacionamento, de acordo
<br>
<br>com os planetas envolvidos. Deste modo os hor�scopos de primeiro
<br>
<br>encontro e casamento podem fornecer informa��o adicional �til ao
<br>
<br>
<br>astr�logo quando ele est� avaliando as possibilidades e potencialidades
<br>de um relacionamento.
<br>
<br>As v�rias casas do mapa de casamento podem ser interpretadas
<br>de modo usual. As afli��es envolvendo a 2a casa podem estar relacionadas
<br>com problemas financeiros; as que envolvem a 5a com
<br>problemas que surgem em virtude da teimosia ou sa�de fraca das
<br>crian�as, e assim por diante. Segue-se que � melhor evitar os
<br>mal�ficos quando angulares, principalmente, quando aflitos, e Urano
<br>muito ativo, envolvido com as lumin�rias, V�nus ou a 7a casa pode
<br>indicar a possibilidade de div�rcio ou dissolu��o do casamento.
<br>
<br>No hor�scopo para um casamento que ocorreu no dia 6 de outubro
<br>de 1945, �s 14:30 Hora M�dia de Greenwich (50N50; OW10), o
<br>Ascendente estava a 19� Capric�rnio. Marte e Saturno, 8 graus afastados,
<br>se agrupavam na 7a c�spide. A Lua, em Libra 17 na 8a casa,
<br>estava em quadratura com essa conjun��o no Descendente. Ao todo
<br>cinco corpos em Libra na 8- casa. Todos os planetas, al�m do Sol,
<br>estavam dentro do tr�gono que dominava a Lua e Urano. Plut�o estava
<br>na 7a casa, no meio exato de Urano e Netuno. Seria dif�cil encontrar
<br>uma configura��o mais desastrosa sob a qual come�ar um casamento.
<br>O casamento durou cerca de seis semanas, durante as quais o marido
<br>fez a mulher ajud�-lo, contra sua vontade, num roubo. Aparentemente
<br>ele a manteve a maior parte do tempo drogada (era um m�dico
<br>competente) e ela n�o tinha conhecimento pr�vio de suas atividades
<br>criminosas. Depois que o casamento acabou ela passou muitos anos
<br>tentando pagar o que foi roubado pelo marido, o que encarava como
<br>uma obriga��o moral que tinha de cumprir. Notem os seus corpos,
<br>incluindo as duas lumin�rias, na 8� casa (o dinheiro de outras pessoas).
<br>O Sol natal dela, conjunto com Saturno, ca�a na 7a c�spide do
<br>hor�scopo de casamento.
<br>
<br>Um outro casamento ocorreu um pouco mais cedo, em 1945, no
<br>dia 28 de julho, �s 10:20 durante o hor�rio de ver�o em Londres. O
<br>Ascendente do hor�scopo de casamento em 16e Virgem estava
<br>exatamente configurado com uma oposi��o da Lua e em quadratura
<br>com Urano, mas ao mesmo tempo Saturno estava em sextil com o
<br>grau ascendente e portanto em tr�gono com a Lua. Levando em considera��o
<br>os acontecimentos que se seguiram � importante registrar
<br>que Saturno estava debilitado em C�ncer e na c�spide da 11a casa. O
<br>Meio do C�u em 12� G�meos estava no meio exato de V�nus e Marte.
<br>
<br>
<br>J�piter e V�nus estavam em casas angulares, mas em quadratura um
<br>com o outro e J�piter ascendente e debilitado. Merc�rio, regendo o
<br>Ascendente, estava em conjun��o com Marte e em tr�gono com
<br>Netuno em Libra. A Lua diminu�a em luz, em aspecto com Urano e
<br>Saturno debilitado, mas aplicada a uma oposi��o de J�piter. O casamento
<br>foi feliz. O jovem casal, partindo de recursos modestos,
<br>conquistou gradativamente uma situa��o financeira est�vel, com um
<br>lar agrad�vel e uma fam�lia de tr�s filhos (um deles adotado) e uma
<br>filha.
<br>
<br>Depois de vinte anos, Marte progredido alcan�ara a conjun��o
<br>do radical e progredido Urano, e portanto estava em quadratura com
<br>
<br>o Ascendente e a Lua radical. Ao mesmo tempo, a conjun��o Marte-
<br>Urano se opunha ao meio exato do Sol e Urano da mulher. No ano
<br>anterior, uma conjun��o das lumin�rias progredidas pr�-natais* ca�ra
<br>em Saturno radical e o Sol come�ava a passar pelo arco de tr�s graus,
<br>entre Saturno radical e progredido pr�-natal. Foi no vig�simo ano
<br>de casamento que o grande impacto da configura��o radical foi liberado.
<br>Depois de a mulher recuperar-se de um a opera��o de c�ncer
<br>aparentemente bem-sucedida, o filho mais velho morreu num
<br>acidente de carro. O choque desta trag�dia provocou uma r�pida piora
<br>no estado da mulher, e ela morreu em poucas semanas. Uma caracter�stica
<br>ins�lita do casamento era a atra��o especial que os dois
<br>parceiros tinham por gatos. Raramente havia menos de seis ou sete
<br>perambulando pela casa. Durante um per�odo eles criaram siameses.
<br>Houve quem suspeitasse que os gatos poderiam ter tido uma rela��o
<br>com o in�cio do c�ncer na mulher.
<br>O ponto m�dio do tr�gono de Marte-J�piter do marido ca�a no
<br>Ascendente do mapa de casamento, como tamb�m o meio exato das
<br>conjun��es pr�ximas Sol-Lua e V�nus-Urano da mulher. Urano, no
<br>mapa de casamento do marido, ca�a no Nodo Sul, enquanto J�piter
<br>ascendente ca�a em seu Sol. No hor�scopo de casamento Marte estava
<br>no Meio do C�u do marido, e o meio exato do sextil Sol-Netuno ca�a
<br>no regente do seu Ascendente, Merc�rio, e em quadratura com o meio
<br>exato entre Saturno da mulhere a conjun��o V�nus-Urano dela. Esta
<br>�ltima conjun��o estava em quadratura com Marte no mapa de
<br>casamento. No hor�scopo de casamento Plut�o ca�a na conjun��o
<br>J�piter-Netuno da mulher em quadratura com Marte dela. O hori
<br>
<br>
<br>* Progredido pr�-natal � igual a converse. (N. do T.)
<br>54
<br>
<br>
<br>zonte do hor�scopo do filho mais velho deles era exatamente oposto
<br>ao Meridiano do mapa de casamento e o Sol dele fazia uma quadratura
<br>com este eixo. O ponto m�dio entre Plut�o e Netuno do filho era
<br>exatamente oposto ao Sol natal dele, de modo que o seu horizonte
<br>natal, formando uma grande cruz com seu Sol e o meio exato entre
<br>Plut�o e Netuno, o ligava tragicamente ao Meridiano do hor�scopo
<br>de casamento e ainda mais significativamente � 4� c�spide�o fim
<br>do assunto.
<br>
<br>A filha tinha o ponto m�dio de seu sextil Netuno-Plut�o exatamente
<br>no Ascendente do casamento.
<br>
<br>OUTROS MAPAS INICIAIS
<br>
<br>Mapas iniciais de v�rios tipos tamb�m s�o �teis na avalia��o dos
<br>potenciais de outras esp�cies de relacionamento. O in�cio de uma
<br>sociedade comercial, de um novo emprego, a chegada de um parente
<br>para uma estada de longa dura��o ou semipermanente, o momento
<br>em que entramos pela primeira vez numa nova resid�ncia, o momento
<br>da sa�da em um feriado e at� mesmo um hor�scopo para a compra de
<br>um animal de estima��o ou de artigos dom�sticos, como aparelhos
<br>de r�dio e televis�o, pode aumentar a informa��o dispon�vel para o
<br>astr�logo. Se a qualquer momento � necess�rio obter maiores informa��es
<br>sobre esses assuntos, os hor�scopos de in�cio podem ser
<br>progredidos ou comparados com o hor�scopo do nativo, de acordo
<br>com a regras comuns da sinastria.
<br>
<br>Num caso em que, devido �s circunst�ncias, a irm� e a sobrinha
<br>da nativa vieram morar com ela durante um ano, no dia da chegada
<br>V�nus estava no Meio do C�u da nativa e Marte em seu Descendente.
<br>J�piter estava em sua Lua radical em G�meos (irm�s) e o Sol e J�piter
<br>em tr�gono. No momento exato em que elas chegaram, J�piter ia
<br>passar pelo Meridiano Superior. O tr�gono do Sol e V�nus neste
<br>J�piter angular registrou o fato de que a estada era muito feliz. Ao
<br>mesmo tempo Urano opunha-se exatamente ao Sol do anfitri�o, uma
<br>indica��o de que ele achou mais dif�cil que a mulher adaptar-se a
<br>esta s�bita invas�o de seu lar.
<br>
<br>No dia da chegada de um cachorrinho numa certa casa, a Lua
<br>formava uma quadratura em T em mut�veis com Marte e Merc�rio.
<br>
<br>55
<br>
<br>
<br>Merc�rio regia o Ascendente, que estava quase exatamente oposto
<br>a Marte. O temperamento excitado e a energia aparentemente
<br>inesgot�vel de Judy foram um duro tormento para sua dona. Sua
<br>mania de correr atr�s de todos os carros que via resultou numa cerca
<br>de arame extra ao redor do jardim, para que ela n�o pudesse sair da
<br>propriedade escapando � extrema vigil�ncia dos donos. Em alguns
<br>meses, Judy estava grande e forte o bastante para pular por cima da
<br>nova cerca, livre para perseguir quantos carros quisesse. Aquilo foi
<br>demais para a paz de esp�rito da mulher. Por isso, relutantemente,
<br>Judy foi levada de volta para a fazenda onde nascera, para fazer o
<br>trabalho que melhor se adaptava a ela, o de pastorear ovelhas. Continuou
<br>a correr atr�s de carros at� o final de seus dias, e nunca se machucou.
<br>
<br>
<br>No momento em que Judy chegou, Fortuna estava no Meio do C�u
<br>de sua dona e Urano formava uma quadratura em T com o Sol e Marte
<br>dela. O Sol (em tr�gono com Netuno, em sextil com J�piter e Plut�o,
<br>e em quinc�ncio com Saturno) ca�a no Ascendente de sua dona. Havia
<br>uma grande afinidade entre Judy e a mulher, mas a quadratura em T
<br>em mut�veis no momento de sua chegada mostrou o fim precoce da
<br>camaradagem. Judy nasceu no mesmo dia do ano da dona e sua V�nus
<br>estava em estreita conjun��o com a Lua da mulher.
<br>
<br>Quando um aparelho de televis�o foi instalado pela primeira vez
<br>
<br>numa certa resid�ncia, em grande parte por iniciativa da dona da casa,
<br>
<br>a Lua estava oposta a Urano. Isto cruzou o Meridiano de seu
<br>
<br>hor�scopo, enquanto uma conjun��o de V�nus e Plut�o caiu em
<br>
<br>tr�gono com seu Sol. Netuno estava em rigoroso tr�gono com seu
<br>
<br>Plut�o. J�piter estava em tr�gono com o Netuno do marido, e
<br>
<br>Merc�rio em rigoroso tr�gono com o Sol dele, determinando com
<br>
<br>precis�o seus principais interesses, como programas educativos, noti
<br>
<br>
<br>ci�rios de destaque e jogos de futebol. No mapa de in�cio, Fortuna
<br>
<br>estava na 5� casa de passatempos e divertimentos.
<br>
<br>A primeira instala��o de um telefone numa certa casa ocorreu sob
<br>uma conjun��o tripla em Libra do Sol, Urano e Merc�rio, todos em
<br>tr�gono com o Saturno do nativo na4� casa, em G�meos. Os �ngulos
<br>no momento em que a instala��o foi completada eram exatamente
<br>iguais aos �ngulos do mapa natal dele. J�piter em Sagit�rio estava
<br>quase exatamente em tr�gono com o Merc�rio da mulher. Algumas
<br>horas depois ela recebia uma chamada interurbana da irm� (que fora
<br>
<br>
<br>previamente informada da instala��o), a 6.500 km de dist�ncia. Mane
<br>estava em exato tr�gono com a sua Lua, em G�meos. De longe o maior
<br>n�mero de conversas telef�nicas foi com outra irm�, que vive perto.
<br>No momento em que o telefone foi usado pela primeira vez, o Meridiano
<br>Superior estava exatamente conjunto com o Merc�rio do marido.
<br>
<br>Atrav�s do uso de mapas de in�cio muitas informa��es extras
<br>podem ser acumuladas, o que ajudar� o astr�logo a avaliar v�rias
<br>situa��es. Aplicando-se as regras da sinastria, resumidas nos pr�ximos
<br>cap�tulos, freq�entemente ser� poss�vel � no caso dos relacionamentos
<br>humanos � confirmar ou talvez modificar julgamentos
<br>baseados apenas numa compara��o direta dos hor�scopos envolvidos.
<br>
<br>
<br>Tamb�m � v�lido comparar os mapas individuais com certos
<br>mapas hor�rios. Por exemplo, se for feita a pergunta: "Devo entrar
<br>na sociedade?", os hor�scopos de futuros s�cios podem ser comparados
<br>com o mapa hor�rio e a rela��o entre os dois hor�scopos interpretada
<br>de acordo com as regras usuais. Mas � preciso avisar � �
<br>necess�rio primeiro ter absoluta certeza de que o mapa hor�rio �
<br>completo e reflete com exatid�o as circunst�ncias prov�veis de
<br>qualquer sociedade proposta.
<br>
<br>
<br>CAP�TULO 3
<br>
<br>OBSERVA��ES GERAIS SOBRE
<br>A COMPARA��O
<br>
<br>
<br>Ao mesmo tempo que � provavelmente imposs�vel encontrar duas
<br>pessoas totalmente compat�veis ou incompat�veis, quase sempre �
<br>poss�vel julgar se elas s�o capazes de criar um relacionamento m�tuo
<br>harmonioso apesar de pequenas �reas de incompatibilidade, ou se
<br>t�m t�o pouco em comum que quaisquer elementos de compatibilidade
<br>no relacionamento s�o insuficientes para que sejam capazes
<br>de estabelecer um relacionamento satisfat�rio. Por esse motivo, o
<br>astr�logo, que tem a incumb�ncia de julgar se duas pessoas se dar�o
<br>bem, normalmente ter� de avaliar a propor��o de harmonia e desarmonia
<br>entre seus dois hor�scopos. No caso de futuros c�njuges,
<br>ter� de avaliar se o grau de harmonia existente � suficiente para
<br>garantir uma uni�o feliz e duradoura, ou, se a inten��o � participar
<br>de uma sociedade comercial, assegurar um relacionamento bom e
<br>lucrativo.
<br>
<br>O valor da sinastria reside no fato de poder identificar as �reas do
<br>relacionamento onde as chances de compatibilidade s�o maiores e
<br>as em que s�o menores, de modo que os parceiros possam construir
<br>as bases da uni�o para compensar e eventualmente superar os pontos
<br>fracos.
<br>
<br>59
<br>
<br>
<br>Como em outros ramos da astrologia, dever-se-ia compreender
<br>que os termos "harmonia" e "desarmonia" n�o s�o necessariamente
<br>sin�nimos de "desej�vel"e "indesej�vel". Do mesmo modo
<br>que muitos aspectos harmoniosos num hor�scopo podem indicar
<br>que a pessoa n�o encontra suficientes dificuldades na vida para
<br>exigir o melhor de si mesma, uma preponder�ncia de aspectos
<br>favor�veis entre um hor�scopo e outro pode indicar um relacionamento
<br>demasiado tranq�ilo em que nenhum dos dois tem capacidade
<br>de entusiasmar o outro. Por outro lado, certos tipos de Marte
<br>apreciam uma disputa ocasional amig�vel num relacionamento. Por
<br>esse motivo, normalmente, sentem necessidade de terem ao menos
<br>de vez em quando uma discuss�o para dar um sabor picante ao relacionamento.
<br>Geralmente, os relacionamentos mais gratificantes s�o
<br>aqueles em que cada parceiro tem qualidades que complementam
<br>as do outro, e em que os dois t�m capacidade de despertar as potencialidades
<br>latentes um do outro. Desta maneira, eles podem ajudar a
<br>desenvolver mais completa e efetivamente a personalidade um do
<br>outro.
<br>
<br>Freq�entemente as pessoas aprendem mais errando, e com as dificuldades
<br>e disc�rdias que encontram na vida. Por este motivo, as
<br>�reas de disc�rdia que existem em relacionamentos pessoais podem
<br>ser apreciadas pelas oportunidades que nos proporcionam de aprendermos
<br>mais sobre n�s mesmos. Elas t�m um valor educacional que
<br>pode n�o ser vis�vel se nos permitirmos ficar frustrados ou aborrecidos
<br>com as idiossincrasias que desaprovamos nos outros. O astr�logo
<br>deveria ter isto em mente quando avaliasse as potencialidades de um
<br>relacionamento. Por exemplo, o casamento � uma uni�o criada para,
<br>entre outras coisas, ajudar o indiv�duo a crescer espiritualmente
<br>atrav�s da influ�ncia rec�proca das personalidades dos companheiros.
<br>Superando-se qualquer atrito presente, esse crescimento pode
<br>ser acelerado. Ao mesmo tempo que variam os motivos da uni�o,
<br>� pouco prov�vel que um casal � n�o importa o quanto seja forte o
<br>seu desejo de desenvolvimento pessoal�desvie-se do seu caminho
<br>para procurar um parceiro cuja personalidade seja completamente
<br>diferente da dele. Mas habitualmente ocorre que antes do casamento
<br>eles parecem n�o ver os defeitos de car�ter um do outro que poderiam
<br>causar s�rios problemas, quando a aura inicial de felicidade extasiante
<br>do casamento come�ar a se dissipar. O amor � cego!
<br>
<br>
<br>Se um astr�logo � consultado antes do casamento, seu problema
<br>pode residir em determinar quanta tens�o e atrito o relacionamento
<br>provavelmente ter� de enfrentar. H� certas regras bem aceitas segundo
<br>as quais o grau de compatibilidade entre duas pessoas pode
<br>ser avaliado com bastante precis�o nos n�veis f�sico, emocional e
<br>espiritual. Se houver um grau razo�vel de afinidade m�tua, o desejo
<br>de cada parceiro de adaptar-se ao outro pode relaxar as tens�es sugeridas
<br>por muitos aspectos cruzados teoricamente incompat�veis, que
<br>�s vezes significam que um pode envolver o outro em dificuldades
<br>ou aumentar-lhe as responsabilidades, talvez por ter sa�de fraca, perda
<br>do poder aquisitivo, ou um trabalho que exija longas aus�ncias
<br>de casa.
<br>
<br>Por outro lado, uma intoler�ncia b�sica pode resultar em aborrecimentos
<br>de pequena import�ncia assumirem maiores propor��es.
<br>Sob este aspecto, at� mesmo a compatibilidade f�sica torna-se importante
<br>como, por exemplo, se um dos companheiros � "fan�tico
<br>por ar fresco" e o outro sens�vel � mais leve corrente de ar. Se a atra��o
<br>f�sica teria um papel desproporcionalmente importante no relacionamento
<br>seria prudente observar se um tem probabilidade de
<br>envelhecer mais r�pido que o outro. A poss�vel esterilidade de um
<br>deles tamb�m poderia ser crucial num casamento em que o marido
<br>e a mulher desejassem filhos e houvesse pouco apoio e compreens�o
<br>m�tua. �s vezes esse problema pode ser superado com a ado��o de
<br>uma crian�a. Nesse caso uma compara��o entre o hor�scopo dela e
<br>os dos futuros pais adotivos poderia ser um guia muito �til. Se os
<br>hor�scopos dos pais mostrarem pelas condi��es da 5a casa dificuldades
<br>envolvendo crian�as, como muito provavelmente mostrar�o
<br>se o casal n�o puder ter filhos, talvez n�o seja poss�vel encontrar
<br>um candidato para ado��o cujo hor�scopo seja compat�vel ao
<br>grau desejado com os dos pais adotivos.
<br>
<br>No caso de um casal que adotou duas crian�as, um menino e uma
<br>menina, o marido tinha uma conjun��o de V�nus e Urano na 5a casa,
<br>com Merc�rio l� em oposi��o a Netuno. A mulher tinha Netuno na
<br>
<br>5a
<br>
<br> casa em oposi��o a Urano. O menino era teimoso e dif�cil de
<br>educar, e acabou tendo de ser enviado para uma escola especializada
<br>em crian�as rebeldes. Depois de deixar a escola, ele voltou para casa
<br>mas encontrou dificuldades em estabelecer um relacionamento
<br>satisfat�rio com os pais adotivos. Finalmente saiu de casa e foi morar
<br>
<br>61
<br>
<br>
<br>na Austr�lia. De um modo diferente, nunca pareceu poss�vel conseguir
<br>um entendimento satisfat�rio com a filha adotiva. Ela tamb�m
<br>abandonou o lar logo que se formou, para montar uma casa com um
<br>homem casado. O resultado foi uma briga que culminou no rompimento
<br>das rela��es com os pais adotivos.
<br>
<br>A conjun��o de V�nus e Urano no mapa do marido n�o indicava
<br>separa��o ou div�rcio mas, ocorrendo na 5a casa, mostrava o comportamento
<br>n�o convencional da filha adotiva e o fim do contato entre
<br>pais e filhos.
<br>
<br>Entre duas pessoas casadas, a compatibilidade emocional pode
<br>ser grande, enquanto os interesses mentais permanecem muito
<br>afastados. Deste modo, a for�a dos v�rios elos entre seus hor�scopos
<br>� que determinar� se uma falta de verdadeira afinidade intelectual
<br>ser� um obst�culo muito grande ao estabelecimento de uma
<br>harmonia duradoura.
<br>
<br>Segundo a cren�a popular, "os casamentos s�o feitos no para�so",
<br>enquanto que o padre fala "daqueles que Deus uniu". Na minha
<br>opini�o, a mera realiza��o da cerim�nia do casamento, mesmo numa
<br>igreja, n�o garante que o casal conseguiu uma verdadeira harmonia
<br>no n�vel espiritual. O para�so � um estado de consci�ncia�"o para�so
<br>est� dentro de n�s". Por isso, para uma uni�o ser feita no para�so �
<br>preciso que exista uma verdadeira harmonia no n�vel mais alto de
<br>consci�ncia que os seres humanos possam alcan�ar. � nesse estado
<br>de consci�ncia que o homem se torna verdadeiramente consciente
<br>da natureza do Divino. A harmonia neste n�vel significa uma verdadeira
<br>uni�o interior nesse estado ideal onde toda a humanidade �
<br>vista como Um Todo. Por esse motivo, os que est�o unidos neste n�vel
<br>de compreens�o m�tua est�o verdadeiramente unidos por Deus, e
<br>esta harmonia nunca pode ser quebrada.
<br>
<br>Os que apenas estabeleceram uma forma de harmonia entre si mes
<br>
<br>
<br>mos, principalmente como resultado de atra��o f�sica, ou no n�vel
<br>
<br>emocional ou intelectual, podem achar que isto n�o � suficiente para
<br>
<br>constru�rem um relacionamento duradouro. Por outro lado, alguns
<br>
<br>que persistem podem faz�-lo apesar de n�o haver uma verdadeira
<br>
<br>harmonia espiritual, talvez porque os parceiros se sentem obrigados
<br>
<br>a ficar juntos por senso de dever ou algum motivo menos louv�vel.
<br>
<br>O voto do casamento � encarado pela Igreja como algo sagrado
<br>
<br>que n�o pode ser revogado. Os votos finais feitos por uma freira s�o
<br>
<br>
<br>igualmente definitivos, e simbolizam sua aceita��o do papel de
<br>"noiva de Cristo". No entanto, at� os votos finais serem feitos, s�o
<br>dadas � freira todas as oportunidades de descobrir se ela se adapta a
<br>este dif�cil papel. No caso do casamento, em sua forma terrena, essas
<br>oportunidades de "experi�ncia" n�o s�o aprovadas pela Igreja!
<br>Por isso n�o � de admirar que certos casais n�o se sintam inclinados
<br>a passar pelo ritual religioso, quando uma autoridade civil � menos
<br>exigente em termos dos moldes a que se espera que um casal se
<br>adapte. Tamb�m se torna mais f�cil entender por que alguns preferem
<br>dispensar as duas cerim�nias. Nem todas as uni�es que n�o foram
<br>aben�oadas por uma cerim�nia oficial terminam de modo desprez�vel.
<br>Algumas podem ser"feitas no para�so", apesar de os parceiros
<br>n�o passarem pelos atos de uma cerim�nia aceita socialmente.
<br>
<br>O astr�logo tem uma grande responsabilidade sobre os seus
<br>ombros quando concorda em julgar o grau de compatibilidade entre
<br>futuros c�njuges. Nunca deveria ser sua fun��o dizer aos clientes o
<br>que deveriam fazer, mas indicar-lhes o mais claramente poss�vel os
<br>pontos fortes e fracos do relacionamento. Portanto, um predom�nio
<br>de situa��es favor�veis trar� poucos problemas para o astr�logo ou
<br>
<br>o cliente. No entanto, quando a maioria das indica��es aponta para
<br>alguma incompatibilidade b�sica ou para grandes dificuldades no
<br>relacionamento, o casal bem pode ignorar qualquer refer�ncia que
<br>o astr�logo fa�a a esses fatores. Podem dizer a si mesmos que essas
<br>dedu��es n�o t�m chances de ser corretas, j� que s�o t�o obviamente
<br>feitos um para o outro, ou tentar convencer-se de que, afinal de contas,
<br>a astrologia talvez seja apenas uma supersti��o!
<br>Nos casos em que duas pessoas se casam apesar de n�o haver
<br>suficiente harmonia b�sica entre seus hor�scopos, � poss�vel que
<br>algum elo c�rmico entre eles precise ser resolvido. Um "casamento
<br>dif�cil" pode ser o meio de ensinar a ambos valiosas li��es, aumentando-
<br>lhes a experi�ncia e fortalecendo suas personalidades para que
<br>possam finalmente encontrar uma solu��o para seus problemas e
<br>construir uma uni�o verdadeiramente harmoniosa.
<br>
<br>Por outro lado, se o casamento finalmente fracassa, um ou ambos
<br>os c�njuges podem � como resultado de suas experi�ncias anteriores
<br>� estar mais bem qualificados para estabelecer um relacionamento
<br>harmonioso com um novo parceiro. Por esse motivo, o
<br>astr�logo que tenta dissuadir um casal aparentemente incompat�vel
<br>
<br>
<br>para se casar quando eles parecem determinados a isso, pode estar
<br>interferindo no carma deles (apesar de ser discut�vel o fato de algu�m
<br>poder interferir no carma). O melhor benef�cio que pode
<br>ser prestado � identificar, o mais claramente poss�vel, as peculiaridades
<br>temperamentais que t�m mais probabilidades de gerar
<br>disc�rdia.
<br>
<br>De longe o maior n�mero de casamentos ocorrer� sem o benef�cio
<br>de um pr�vio assessoramento astrol�gico. O astr�logo pode descobrir
<br>que foi chamado para avaliar dificuldades e incompatibilidades
<br>que podem ter se tornado �bvias para o casal somente depois de eles
<br>j� estarem vivendo juntos por algum tempo. Ao mesmo tempo que,
<br>repito, geralmente � conveniente apresentar-lhes um balancete, pode
<br>haver casos em que os obst�culos para a cria��o de uma atmosfera
<br>de verdadeira harmonia parecem insuport�veis, em que toda a experi�ncia
<br>�til que pode ser tirada de um relacionamento desarmonioso
<br>j� foi obtida e, para o bem de ambos, o casal deveria se separar.
<br>Em tais circunst�ncias � poss�vel que o astr�logo esteja apenas
<br>confirmando o que j� era bastante �bvio para o casal.
<br>
<br>Uma semelhan�a muito grande entre dois hor�scopos pode significar
<br>que a personalidade de cada parceiro n�o complementa suficientemente
<br>a do outro. O resultado � que a competi��o pode substituir
<br>a coopera��o. Por causa do movimento lento dos planetas externos,
<br>os contempor�neos tendem a compartilhar das mesmas
<br>posi��es de signo de Urano, Netuno e Plut�o, enquanto que se eles
<br>nascem numa hora pr�xima, at� os mesmos graus podem ser ocupados
<br>por estes planetas. Em certo sentido, estes planetas representam
<br>fatores condicionantes experimentados por toda a humanidade
<br>contempor�nea: o impacto de id�ias e descobertas novas, novas
<br>filosofias (religiosas e pol�ticas), e novas atitudes, bem como press�es
<br>grupais e oportunidades de agrupar-se, de modo que posi��es de
<br>signo semelhantes dos planetas mais opressivos t�m menos probabilidades
<br>de interferir no desenvolvimento de um relacionamento
<br>significativo. � quando os planetas que se movimentam mais r�pido
<br>ocupam os mesmos signos que as dificuldades surgem, porque eles
<br>se relacionam a fatores mais pessoais.
<br>
<br>No entanto, as estat�sticas revelaram que quando os mapas de
<br>casais compat�veis s�o comparados, geralmente observa-se uma
<br>identidade de posi��es lunares.
<br>
<br>
<br>Quando h� uma grande diferen�a de idades entre os c�njuges, as
<br>posi��es dos planetas mais importantes n�o ser�o duplicadas. Portanto,
<br>as oportunidades de contraste aumentam proporcionalmente
<br>� diferen�a entre as idades do marido e da mulher. Quando um parceiro
<br>� consideravelmente mais velho que o outro h� a possibilidade
<br>de as perspectivas dos dois serem ampliadas, porque ambos podem
<br>tender a veros problemas principais da vida sob prismas diferentes.
<br>No entanto, estas diverg�ncias poderiam servir para enfatizar quaisquer
<br>diferen�as de temperamento e tornar mais dif�cil para ambos
<br>ajustar-se harmoniosamente um ao outro. Desde que exista bastante
<br>harmonia b�sica entre os dois hor�scopos, as posi��es dos principais
<br>planetas em signos diferentes proporcionam uma oportunidade
<br>de desenvolver um relacionamento gratificante e tornam poss�vel o
<br>tipo de influ�ncia rec�proca que poderia levar a uma expans�o da
<br>consci�ncia em muitas dire��es.
<br>
<br>Todas as compara��es de mapas, seja com o prop�sito de aconselhar
<br>parceiros no casamento, neg�cios, esporte ou mundo das
<br>divers�es, seguem as mesmas regras gerais, j� que qualquer tipo de
<br>associa��o � intensificado pelo n�vel de compreens�o indulgente que
<br>existe entre os parceiros, mas com modifica��es de acordo com o
<br>objetivo da associa��o. Por exemplo, uma falta de harmonia envolvendo
<br>a 2a casa pode ser mais crucial numa associa��o de
<br>neg�cios, apesar da 2a e 8a casas terem realmente muita rela��o com
<br>a qualidade do relacionamento sexual. Numa associa��o esportiva,
<br>a 5a casa precisa de uma considera��o especial, assim como os aspectos
<br>envolvendo Marte e J�piter.
<br>
<br>As vezes os clientes perguntam aos astr�logos se devem ou n�o
<br>morar num determinado bairro ou cidade. Ao mesmo tempo que h�
<br>v�rias t�cnicas de reposicionamento que podem ser usadas para lidar
<br>com esta quest�o, muitas vezes � �til comparar o hor�scopo do cliente
<br>com o mapa da funda��o ou a incorpora��o do bairro ou cidade,
<br>quando isso � conhecido.
<br>
<br>O Ascendente tradicional da cidade de Londres � 17� de G�meos.
<br>
<br>Muitos dos seus cidad�os importantes t�m este grau, seu oposto ou
<br>
<br>grau de antiscion ocupado: Rainha Elizabeth II, Plut�o 13o de C�ncer;
<br>
<br>Pr�ncipe Phillip, Sol 19� de G�meos, Merc�rio 13� de C�ncer; Prin
<br>
<br>
<br>cesa Margaret, J�piter 12� de C�ncer; a Rainha-M�e, Plut�o 17� de
<br>
<br>G�meos; George VI, Netuno 17� de G�meos, Merc�rio 18� de
<br>
<br>
<br>Sagit�rio; Duque de Windsor, J�piter 18� de G�meos � para citar
<br>apenas alguns exemplos.
<br>
<br>Uma certa cidade litor�nea da Inglaterra, do lado oposto ao em
<br>que o autor vive, teve um papel importante em seu destino. Seus pais
<br>se casaram naquele lugar e conheceu sua esposa durante f�rias que
<br>l� passou, onde tamb�m desfrutou de grande parte do seu tempo livre.
<br>No hor�scopo da cidade, Plut�o est� exatamente em sua 7� c�spide,
<br>e V�nus em tr�gono exato com sua Lua, do pr�prio signo dela, Libra.
<br>Ainda h� muitos outros aspectos cruzados favor�veis.
<br>
<br>Freq�entemente um empreendimento que come�ou sob boas
<br>dire��es chega a um final feliz e bem-sucedido, enquanto os que
<br>come�aram sob dire��es adversas resultar�o em fracasso e frustra��o.
<br>Deste modo, as dire��es de cada parceiro na hora da forma��o
<br>da associa��o dir�o muito sobre o resultado prov�vel dessa associa��o,
<br>e sobre as chances de colabora��o duradoura e bem-sucedida
<br>entre eles. Isto real�a a necessidade de dire��es Venusianas favor�veis
<br>na hora do casamento, e de dire��es Jupiterianas favor�veis
<br>quando come�a uma sociedade comercial. Ao mesmo tempo que as
<br>boas dire��es n�o eliminar�o as dificuldades indicadas por uma
<br>V�nus e 7� casa afligidas no mapa natal, n�o � prudente fiar-se em
<br>que o oposto � verdadeiro, que uma 7� casa natal boa e V�nus bem
<br>posicionada e aspectada eliminar�o totalmente uma progress�o
<br>dif�cil no momento em que uma nova associa��o � discutida.
<br>
<br>Habitualmente s�o feitos novos contatos, ou reavivados antigos,
<br>quando os �ngulos progredidos de um hor�scopo formam um aspecto
<br>com as lumin�rias ou planetas do outro, ou se eles chegam a uma
<br>conjun��o do Meridiano ou Horizonte no hor�scopo do outro, ou se
<br>as posi��es progredidas do Sol, Lua, V�nus ou Marte no hor�scopo
<br>de algu�m formam aspectos fortes com os planetas natais do outro.
<br>Se um aspecto cruzado entre as posi��es natais nos dois mapas n�o
<br>indica um grau razo�vel de compatibilidade, um contato tempor�rio
<br>envolvendo posi��es progredidas provavelmente indicar� apenas
<br>uma atra��o passageira. Isto � especialmente prov�vel quando V�nus
<br>progredida no hor�scopo de algu�m se torna envolvida com o Urano
<br>natal no outro. Este contato pode indicar uma atra��o repentina,
<br>levando a uma liga��o tempor�ria que desaparecer� logo que �
<br>contato termine, amenos que haja indica��es de uma associa��o mais
<br>permanente atrav�s da influ�ncia rec�proca de outros corpos nos dois
<br>
<br>66
<br>
<br>
<br>hor�scopos. Qualquer corpo progredido que se mova relativamente
<br>r�pido, formando um contato com planetas no hor�scopo de outra
<br>pessoa, pode igualmente significar apenas um relacionamento
<br>tempor�rio, a menos que outros fatores mais permanentes unam os
<br>dois hor�scopos.
<br>
<br>Quando esses aspectos cruzados entre os dois hor�scopos, que
<br>indicariam uma atra��o duradoura se estivessem presentes no
<br>hor�scopo, s�o formados apenas temporariamente entre os dois por
<br>progress�o, o efeito pode ser igualmente dram�tico durante um curto
<br>per�odo � principalmente quando h� um contato Marte-V�nus
<br>formado entre os hor�scopos de jovens do sexo oposto�mas raramente
<br>ser� duradouro. Assim, � importante levar em conta os dois
<br>hor�scopos progredidos quando se avaliam as probabilidades de um
<br>relacionamento ser permanente.
<br>
<br>Antes de comparar os hor�scopos das pessoas, � necess�rio primeiro
<br>lembrar das caracter�sticas e acentua��es principais de cada
<br>hor�scopo, n�o apenas para ser poss�vel fazer uma avalia��o das
<br>qualidades principais que cada um pode trazer � associa��o, mas
<br>porque qualquer grande dessemelhan�a pode indicar diferen�as
<br>cruciais de temperamento. Deveria ser dada especial aten��o ao
<br>n�mero de planetas em cada elemento. Por exemplo, muito fogo
<br>provavelmente n�o combinar� bem com muita �gua, nem tampouco
<br>
<br>o dono de um mapa com uma acentua��o marcada do Sol, Marte e
<br>J�piter provavelmente conseguir� um relacionamento verdadeiramente
<br>satisfat�rio com o nativo em cujo hor�scopo a Lua, Saturno e
<br>Netuno s�o proeminentes, a menos que haja elos muito harmoniosos
<br>entre os grupos mais positivos de planetas no hor�scopo de uma
<br>pessoa, e os mais negativos no da outra.
<br>Em casamentos, a atitude de cada c�njuge em rela��o ao sexo e
<br>relacionamento sexual � crucial. Uma pessoa muito interessada em
<br>sexo obviamente n�o combinaria bem com um companheiro que
<br>revelasse uma grande prefer�ncia pelo celibato. Algumas semelhan�as
<br>b�sicas devem estar presentes, mas pontos de contraste
<br>tamb�m s�o necess�rios para fornecer uma fonte de est�mulo e interesse
<br>para cada parceiro, bem como para dar-lhes algo em que
<br>trabalhar para construir e melhorar o relacionamento. H� v�rios
<br>modos de avaliar o n�vel relativo de harmonia e desarmonia quando
<br>se comparam hor�scopos. Vamos a eles!
<br>
<br>67
<br>
<br>
<br>CAP�TULO 4
<br>
<br>OS DIFERENTES M�TODOS DE
<br>COMPARA��O DE MAPAS
<br>
<br>
<br>At� mesmo os que n�o entendem muito de astrologia, geralmente,
<br>s�o capazes de dizer que signos solares s�o compat�veis com os seus
<br>pr�prios, gra�as �s informa��es sobre signos amplamente divulgadas,
<br>acess�veis a todos atrav�s dos jornais. Quando �ries, Le�o e
<br>Sagit�rio est�o unidos como signos compat�veis, isto ocorre porque
<br>todos pertencem ao mesmo elemento, o Fogo. Quem tem um dos
<br>quatro elementos muito acentuado provavelmente reagir� de modo
<br>favor�vel �s pessoas em cujos hor�scopos haja uma predomin�ncia
<br>do mesmo elemento, reconhecendo os que t�m um temperamento
<br>parecido com o seu. No entanto, o simples fato de ter o Sol no mesmo
<br>elemento n�o � garantia de compatibilidade. Enquanto uma pessoa
<br>pode ter Merc�rio e V�nus no signo que precede o Sol, a outra pode
<br>ter Merc�rio e V�nus no signo que se segue ao Sol. Deste modo, em
<br>ambos os casos, a maioria dos planetas pode n�o estar nos signos do
<br>mesmo elemento que o Sol. O elemento que cont�m o maior n�mero
<br>de corpos � o mais importante em termos de compatibilidade.
<br>
<br>� poss�vel os dois S�is estarem em signos de Fogo, um hor�scopo
<br>ter a maioria dos planetas em signos da �gua e o outro em signos da
<br>Terra. Determinando-se que elemento cont�m o maior n�mero de
<br>
<br>
<br>planetas podemos chegar a uma base mais s�lida em nossa primeira
<br>compara��o geral entre os dois hor�scopos. No entanto, isto � apenas
<br>o come�o.
<br>
<br>Dois hor�scopos que possuem uma predomin�ncia de planetas
<br>no mesmo elemento dificilmente se combinar�o bem se Marte e Saturno
<br>num deles cai respectivamente nas posi��es de Saturno e Marte
<br>no outro. Por isso, os aspectos cruzados entre os planetas e pontos
<br>sens�veis nos dois hor�scopos deveriam ser sempre registrados. Geralmente,
<br>uma predomin�ncia de sextis e tr�gonos entre planetas que
<br>se aspectam reciprocamente contribui para um relacionamento harmonioso,
<br>enquanto quadrados e oposi��es indicam o oposto. Como
<br>em astrologia genetl�aca, nem sempre os aspectos "ben�ficos" s�o
<br>"bons" e os "mal�ficos", "ruins". Ura exame mais detalhado deste
<br>m�todo de compara��o ser� feito no Cap�tulo 7.
<br>
<br>H� muitos modos pelos quais a �nfase de um planeta pode ser
<br>aumentada. Qualquer planeta que esteja em posi��o mais proeminente
<br>que o resto pode precisar de uma especial aten��o no caso
<br>de opor-se muito a um planeta que domine o hor�scopo do parceiro.
<br>Quando um planeta fica sozinho num hemisf�rio do hor�scopo, isto
<br>�, se � o �nico planeta acima ou abaixo do horizonte, ou o �nico
<br>ocupante do hemisf�rio Leste ou Oeste, provavelmente representar�
<br>um fator na const�tui��o mental do nativo que pode ser excessivamente
<br>enfatizado numa tentativa de conseguir um equil�brio com o
<br>resto dos planetas na metade oposta do mapa. Portanto esta �nfase
<br>excessiva pode ser um fator crucial, por isso � particularmente necess�rio
<br>tomar cuidado para que este planeta �nico esteja bem
<br>apoiado pelos planetas no hor�scopo do parceiro. Se tamb�m houver
<br>uma �nfase �nica no hor�scopo do parceiro ser� preciso avaliar
<br>se os dois �nicos combinam ou se chocam um com o outro.
<br>
<br>�s vezes, n�o apenas um, mas dois planetas ser�o isolados por
<br>
<br>hemisf�rio. Este mesmo isolamento parece encorajar algum tipo de
<br>
<br>combina��o entre os dois, estejam ou n�o tecnicamente em aspecto.
<br>
<br>Por exemplo, onde a Lua e Urano est�o isolados por hemisf�rio,
<br>
<br>apesar de n�o estarem em aspecto um com o outro, o nativo tende a
<br>
<br>ser mais nervoso e tenso do que se poderia esperar e o efeito geral de
<br>
<br>um aspecto Lua-Urano parece estar presente.
<br>
<br>Por causa disso os planetas perto do meridiano e do horizonte
<br>
<br>tornam-se proeminentes. Quando, nos dois hor�scopos, um ou mais
<br>
<br>
<br>planetas ocupam essas posi��es, � poss�vel que as suas naturezas
<br>gerais se harmonizem. Uma mulher com V�nus angular e um homem
<br>com Marte angular combinam perfeitamente no que diz respeito a
<br>essa uni�o espec�fica. Se Saturno, ao inv�s de V�nus, fosse o planeta
<br>angular no hor�scopo da mulher, estaria indicado um relacionamento
<br>possivelmente desarmonioso. No entanto, em ambos os
<br>casos, � o quadro total que deve formar a base da conclus�o final e
<br>n�o apenas um �nico item.
<br>
<br>Dois ou mais planetas nos �ngulos introduzem um fator mais
<br>complicado. Se os dois parceiros t�m o Sole Marte angulares, a luta
<br>para dominar um ao outro pode diminuir consideravelmente as
<br>chances de um bom relacionamento. Na maioria dos casos, � melhor
<br>os planetas angulares num hor�scopo n�o serem os mesmos que
<br>est�o angulares no outro, apesar dos planetas cuja combina��o n�o
<br>� considerada muito boa�como Marte e Saturno, Saturno e Urano
<br>e Urano e Netuno � serem provavelmente os que menos geram
<br>harmonia quando competindo como planetas angulares em hor�scopos
<br>diferentes.
<br>
<br>� �til comparar os dispositores finais em cada mapa, apesar de
<br>nem todas as combina��es planet�rias serem feitas para produzir um
<br>dispositor final, caso em que mais de um planeta pode ser considerado.
<br>Se Marte em Libra � o dispositor final num hor�scopo e
<br>Saturno em C�ncer em outro, pode ser necess�rio assegurar-se de
<br>que h� um bom n�mero de contatos harmoniosos antes de pronunciar
<br>um julgamento favor�vel.
<br>
<br>No hor�scopo de Steven Earl Parent (veja Cap�tulo 10), o dispositor
<br>final � J�piter. Plut�o em Le�o est� � disposi��o do Sol em
<br>Aqu�rio, que est� � disposi��o de Saturno em Libra, que est� � disposi��o
<br>de V�nus em Peixes, que est� � disposi��o de J�piter em
<br>Peixes. Urano em C�ncer est� � disposi��o da Lua em Touro, que
<br>est� � disposi��o de V�nus em Peixes, e tamb�m de J�piter. Merc�rio
<br>em Aqu�rio est� � disposi��o de Saturno em Libra, que est� � disposi��o
<br>de V�nus em Peixes, e tamb�m de J�piter. Netuno em Libra
<br>tamb�m est� � disposi��o de V�nus e finalmente de J�piter. Marte
<br>em Peixes est� � disposi��o de J�piter. Se, ao inv�s de considerarmos
<br>Saturno regente de Aqu�rio, tiv�ssemos substitu�do Urano, o
<br>resultado final teria sido o mesmo. Mas se tiv�ssemos considerado
<br>Netuno o regente de Peixes, ao inv�s de J�piter, a disposi��o m�tua
<br>
<br>
<br>entre V�nus e Netuno teria frustrado a tentativa de encontrar
<br>um dispositor final. Um planeta em seu pr�prio signo n�o se torna
<br>necessariamente o dispositor final, e dois planetas em seus pr�prios
<br>signos tornam imposs�vel haver um dispositor final. Quando
<br>existe um dispositor final normalmente h� uma maior capacidade
<br>do nativo coordenar suas atividades, enquanto que se os planetas
<br>est�o divididos cm dois ou mais grupos, cada qual com um dispositor
<br>separado, pode tender a ser contradit�rio. Em casos extremos isto
<br>pode indicar a possibilidade de uma personalidade esquizofr�nica.
<br>Deste modo as indica��es dadas pelo dispositor final fornecem indica��es
<br>�teis quando se avalia a compatibilidade existente entre
<br>parceiros.
<br>
<br>No hor�scopo do Duque de Windsor (veja Cap�tulo 10) Marte est�
<br>em �ries e V�nus em Touro. Estes planetas est�o � disposi��o de,
<br>respectivamente, Urano e Saturno, deixando os outros seis corpos
<br>sem um dispositor final.
<br>
<br>Outro modo de comparar a influ�ncia rec�proca de hor�scopos �
<br>tomar a localizar os planetas de um hor�scopo nas casas do outro,
<br>de acordo com a sua longitude zodiacal, para determinar que parte
<br>da vida do parceiro ser� mais provavelmente afetada pelas atitudes
<br>psicol�gicas e pelo modo de como acontecer�o os eventos na vida
<br>do outro.
<br>
<br>Enquanto � �bvio que um planeta em 0o de C�ncer num hor�scopo
<br>est� em conjun��o com um planeta no mesmo grau em outro
<br>hor�scopo, � poss�vel que alguns estudantes n�o tenham considerado
<br>que um planeta na 7a c�spide de um hor�scopo pode estar em conjun��o
<br>com um planeta na 4a c�spide de outro, e tamb�m que qualquer
<br>planeta na mesma posi��o de casa de outro no hor�scopo do parceiro
<br>poderia estarem conjun��o com ele. Portanto, um planeta na c�spide
<br>da 10a casa num hor�scopo ir� opor-se cosmicamente a um planeta
<br>na 4a c�spide da outra. Ser� �bvio que essas conjun��es e oposi��es
<br>c�smicas s�o importantes quando consideramos que uma pessoa com
<br>Urano na 4a casa provavelmente trar� uma influ�ncia bastante perturbadora
<br>relacionada com assuntos dom�sticos e isto poderia afligir
<br>algu�m com a Lua na 4a, que provavelmente seria muito suscet�vel
<br>� atmosfera dom�stica e apreciaria muito um ambiente tranq�ilo. A
<br>pessoa com Urano na 4a poderia freq�entemente estar ausente de
<br>casa, ter hor�rios irregulares ou estar sempre introduzindo inova��es
<br>
<br>
<br>que interfeririam com a tranq�ila rotina dom�stica preferida pelo
<br>parceiro com a Lua na 4a.
<br>
<br>Num antigo volume da revista Astrologia foi publicado um artigo
<br>de Elsie Kennison, uma astr�loga americana, sugerindo que os
<br>planetas em casas poderiam estar situados em pontos do zod�aco
<br>equivalentes �s casas que ocupavam. Deste modo um planeta exatamente
<br>no Ascendente seria equivalente a um planeta em 0� de �ries,
<br>um planeta na 2a c�spide a um planeta em 0o de Touro e assim por
<br>diante. Por este sistema um planeta no meio de duas c�spides estaria
<br>posicionado em 15 graus do signo equivalente � casa em que estava
<br>posicionado. A posi��o equivalente dos planetas menos convenientemente
<br>situados precisaria ser calculada em rela��o �s suas posi��es
<br>exatas na casa. Assim, se a c�spide da 4� casa de um hor�scopo � 7o
<br>de Aqu�rio, sua posi��o de casa expressa simbolicamente em termos
<br>de longitude zodiacal � 5o de C�ncer. Se h� algum planeta
<br>pr�ximo deste grau ou aspectando-o de perto, isto constituir� um elo
<br>entre os dois hor�scopos em termos dos planetas envolvidos. Charles
<br>C�rter chamou esta posi��o derivada de "an�logo domiciliar", e
<br>
<br>o c�lculo � o seguinte: n�mero de graus na 4a casa (7o de Aqu�rio
<br>para 13� de Peixes) = 36. N�mero de graus num signo = 30. Dist�ncia
<br>de planeta da 4a c�spide = 6o. 6 X 30/36 = 5. 4a casa = 4S signo =
<br>C�ncer. O an�logo domiciliar do planeta � portanto 5o de C�ncer.
<br>O n�mero de graus em cada casa provavelmente difere segundo
<br>
<br>o sistema de divis�o de casas empregado. Porque existem diferen�as
<br>de opini�o quanto ao sistema mais confi�vel, h� limita��es �bvias
<br>na aplica��o deste tipo de c�lculo. No entanto, o m�todo realmente
<br>fornece um meio de reunir provas do valor comparativo dos v�rios
<br>sistemas de divis�o de casas e pode tamb�m ser uma ferramenta �til
<br>na corre��o.
<br>Eu sugeri em outro trabalho (veja Astrologia, vol. 40, n� 2) que,
<br>num sentido simb�lico, todo planeta tem o seu pr�prio zod�aco, e
<br>que a elonga��o de todos os outros planetas de um planeta apresentado
<br>pode ser expressa em termos do n�mero de graus zodiacais que
<br>distam desse planeta. Deste modo, se V�nus est� em 11� de Capric�rnio
<br>e Saturno em 12� de G�meos, ent�o Saturno dista 151 � de
<br>V�nus. Se encararmos a posi��o de V�nus como um simb�lico 0o
<br>de �ries, ent�o a posi��o de Saturno medida como 1510 de 0o de �ries
<br>� 1o de Virgem, que ser� a sua posi��o no "Zod�aco de V�nus". Se
<br>
<br>
<br>desejarmos saber a posi��o de V�nus no "Zod�aco de Saturno"
<br>devemos contar os graus de Saturno para V�nus (209) e medir novamente
<br>a dist�ncia de 0o de �ries para atribuir a um simb�lico 29�
<br>de Libra a rela��o de V�nus com Saturno. Um zod�aco � apenas um
<br>ciclo de rela��es. Quando relacionamos dois planetas um com o
<br>outro, estamos usando longitude zodiacal para medir esse relacionamento
<br>em termos do arco ao longo de um c�rculo.
<br>
<br>A dist�ncia entre quaisquer planetas no nascimento estabelece a
<br>rela��o b�sica entre eles. Qualquer terceiro fator associado temporariamente
<br>a essa rela��o ativa os dois planetas envolvidos em termos
<br>de seu contato original um com o outro, o que n�o tem de ser
<br>uma dist�ncia de aspecto admitida.
<br>
<br>Um exemplo cl�ssico da repeti��o de um arco de nascimento exato
<br>entre dois planetas ocorreu no caso do Arquiduque Francisco Ferdinando
<br>da �ustria, cujo assassinato em Sarajevo foi usado como pretexto
<br>para come�ara 1a Guerra Mundial. No hor�scopo do arquiduque,
<br>V�nus estava em 9o 19' de Escorpi�o e Plut�o em 10�30' de Touro.
<br>Portanto, Plut�o estava a 181�11' de V�nus, representando uma
<br>posi��o de 1�11' de Libra no Zod�aco de V�nus. No dia em que ele
<br>foi assassinado, V�nus na esfera celeste estava em 9�45' de Le�o e
<br>Urano estava em 10�56' de Aqu�rio. Urano estava exatamente a
<br>
<br>181 � 10' do arco de V�nus e portanto em quase o mesmo 1� 11' de Libra
<br>no Zod�aco de V�nus. "Um homem com uma espada desembainhada
<br>numa atitude agressiva" � o s�mbolo grau de La Volasfera para 1� de
<br>Libra.
<br>
<br>Qualquer rearranjo de planetas de acordo com este sistema torna-
<br>se decisivo quando h� planetas perto dos graus de origem dos signos
<br>cardinais. Este pode ter sido um dos motivos de eles terem sempre
<br>sido chamados de graus "cr�ticos". Se por exemplo, Marte natal est�
<br>em 0o de �ries e Saturno natal em 0o de C�ncer, Marte, em termos
<br>do Zod�aco de Saturno, estar� em 0o de Capric�rnio, portanto refor�ando
<br>o quadro original.
<br>
<br>Usar o Ascendente como o primeiro ponto de um zod�aco nos
<br>
<br>dar� os mesmos resultados que ter�amos se tiv�ssemos calculado
<br>
<br>os an�logos domiciliares baseados na divis�o de Casas Iguais. O
<br>
<br>grau ascendente teoricamente ideal seria 0o de �ries, mas todo
<br>
<br>indiv�duo quando nasce escolhe identificar-se com qualquer um
<br>
<br>dos 360 graus. A quantidade de deslocamento entre o grau esco
<br>
<br>
<br>74
<br>
<br>
<br>lhido e 0o de �ries � um arco pessoal muito importante. Conseq�entemente,
<br>parece haver um forte motivo para aplicar este "arco de
<br>deslocamento" uniformemente a cada fator a fim de determinar a
<br>sua rela��o com o grau ascendente em termos de um zod�aco
<br>simb�lico. Isto pode ser prefer�vel a confiar nas casas desiguais do
<br>hor�scopo como um quadro onde marcar este relacionamento
<br>espec�fico.
<br>
<br>Um zod�aco baseado na rela��o de todos os corpos com o Nodo
<br>Norte da Lua foi apresentado h� alguns anos quase simultaneamente
<br>por dois astr�logos europeus e chamado de Zod�aco Draconiano,
<br>porque os Nodos Lunares parecem ter uma import�ncia especial nos
<br>relacionamentos humanos, principalmente nos que carregam um
<br>forte elemento de carma. O Zod�aco Nodal ou Draconiano pode ser
<br>um instrumento particularmente �til quando investigamos as potencialidades
<br>de um relacionamento.
<br>
<br>Quando comparamos hor�scopos, geralmente descobrimos que
<br>� importante levar em conta os graus do antiscion. Para encontrar o
<br>grau do antiscion de qualquer planeta, fa�a recair seu grau zodiacal
<br>sobre 0o do eixo C�ncer - Capric�rnio, onde o Sol tem uma declina��o
<br>m�xima Norte e Sul nos solst�cios de ver�o e inverno. Deste
<br>modo, um planeta em 10 de Capric�rnio tem o seu antiscion em 29�
<br>de Sagit�rio, 2o de Capric�rnio em 28� Sagit�rio, 3o de Capric�rnio
<br>em 27� de Sagit�rio e assim por diante.
<br>
<br>Por causa disso, os planetas em disposi��o m�tua num hor�scopo
<br>s�o considerados ligados. Por exemplo, est� indicado um determinado
<br>grau de compatibilidade se um parceiro tem V�nus em Peixes
<br>e o outro Netuno em Libra. Este tipo de afinidade existente entre
<br>planeta e signo freq�entemente se manifestar� de outros modos. Um
<br>parceiro pode ter um aspecto entre o Sol e Netuno, enquanto o outro
<br>tem o Sol em Peixes. Ou uma mulher com o Sol em aspecto com
<br>Saturno e Urano pode casar-se com um homem com Saturno e Urano
<br>angulares. �s vezes, a afinidade entre casa e signo � exemplificada
<br>por um parceiro tendo o Sol na 4� casa e o outro o Sol em C�ncer, e
<br>de igual modo com outras posi��es planet�rias.
<br>
<br>Em meus primeiros estudos de astrologia, fiz experi�ncias com
<br>um sistema de pontos sensitivos baseados na rela��o de cada planeta
<br>com o meridiano, quando seu grau zodiacal ascende ou descende
<br>na latitude do local de nascimento, e com o horizonte quando o grau
<br>
<br>
<br>zodiacal alcan�a o meridiano superior ou inferior. Apesar de o sistema
<br>parecer ter algum m�rito, n�o prossegui com o trabalho, porque
<br>na �poca meus principais interesses astrol�gicos levaram-me a outras
<br>dire��es. Recentemente, a mesma id�ia ocorreu � astr�loga inglesa
<br>Pamela A. Bennett. Ela desenvolveu o sistema at� certo ponto, apresentando
<br>muitos e not�veis exemplos num artigo no Astrologers'
<br>Quarterly (Associate Angles and the Daily Progresses Angles- vol.
<br>48,n94;vol.49,n9l).
<br>
<br>Um exemplo tirado do artigo mostra como os �ngulos Associados
<br>s�o determinados. Se a longitude natal do Sol � 18 de G�meos e a
<br>latitude do local de nascimento 51N., o Sol est� no meridiano superior
<br>num tempo sideral de 5h07m47s, hora em que o horizonte est�
<br>em 20�45' de Virgem-Peixes. Quando o Sol atinge o meridiano inferior
<br>(T.S. 17h07m49s), o eixo Ascendente-Descendente est� em
<br>0�41' de Peixes-Virgem. Quando o Sol ascende (T.S. 21h01m52s),
<br>
<br>o meridiano � 13 Aqu�rio-Le�o. Quando o Sol descende (T.S.
<br>13hl3m51s), o eixo do meridiano � 20 Libra-�ries.
<br>Estes �ngulos Associados s�o ligados �s lumin�rias ou planeta
<br>ao qual se relacionam. Quando o grau ocupado por um destes �ngulos
<br>tamb�m � ocupado por um planeta no hor�scopo de outra pessoa,
<br>estabelece-se um elo entre os dois corpos. Tal elo pode ser um fator
<br>importante em qualquer compara��o entre dois hor�scopos. Se o
<br>nativo se afasta da latitude do local de nascimento, uma nova s�rie
<br>de �ngulos Associados deveria ser calculada para o novo local de
<br>resid�ncia. At� certo ponto, isto pode explicar por que as pessoas
<br>tendem a se afastar quando se mudam da �rea uma da outra e deste
<br>modo mudam os elos naturais associados a cada planeta ascendendo
<br>e descendendo o seu aparecimento no meridiano superior ou inferior.
<br>Exemplos do uso dos �ngulos Associados na sinastria s�o dados
<br>no Cap�tulo 10.
<br>
<br>PADR�ES PLANET�RIOS
<br>
<br>Uma compara��o entre os diferentes tipos de padr�es planet�rios
<br>poss�veis no hor�scopo � conceito introduzido pela primeira vez
<br>pelo Dr. Mare Edmund Jones � pode dar alguma orienta��o geral
<br>sobre at� que ponto dois hor�scopos provavelmente combinar�o.
<br>
<br>76
<br>
<br>
<br>Sete tipos principais s�o distintos: A Tigela, Balde, Feixe, Locomotiva,
<br>Gangorra, Borrifo e Bisel. Destes, os tipos Bisel s�o provavelmente
<br>os mais auto-suficientes, independentes e os que t�m menos
<br>probabilidades de se adaptar a um parceiro, apesar de poderem ficar
<br>satisfeitos se ditarem as regras no relacionamento. O padr�o Locomotiva
<br>sugere um certo �mpeto din�mico que pode n�o combinar
<br>com o temperamento do nativo Bisel. At� certo ponto a pr�pria forma
<br>d0 padr�o fornecer� uma pista se os dois tipos combinar�o.
<br>
<br>Geralmente o Feixe � contido dentro de um tr�gono, enquanto a
<br>Locomotiva quase sempre tem um tr�gono vazio. Se o Feixe consiste
<br>principalmente num arco do zod�aco que falta num determinado
<br>padr�o Locomotiva, o relacionamento poderia ser muito positivo,
<br>apesar da possibilidade de eventualmente um agir sem consultar o
<br>outro. Em todos os casos de combina��es de padr�es, o julgamento
<br>final depender� da maioria dos aspectos cruzados ser favor�vel ou
<br>n�o. O padr�o Borrifo faz um contraste dram�tico com o Feixe, e
<br>aqui pode haver atra��o pelos opostos. Os tipos Borrifo podem ter
<br>muitos talentos e interesses que positivamente contrastam com o
<br>modo de abordar os assuntos um tanto limitado dos tipos Feixe, que
<br>s�o capazes de tirar proveito das id�ias e grande experi�ncia do
<br>parceiro. O Bisel costuma ser obstinado como o Feixe, por isso poderia
<br>faltar adapta��o nesse relacionamento. O Gangorra pode beneficiar-
<br>se com o tipo Feixe, j� que os modos mais decididos do �ltimo
<br>podem ajudar a resolver alguns dos dilemas que o primeiro enfrenta
<br>quando tenta analisar devidamente os dois lados de uma quest�o. No
<br>entanto, n�o se sabe se os tipos Feixe ir�o desejar perder muito tempo
<br>avaliando os m�ritos de pontos de vista diferentes dos seus, e podem
<br>n�o estar dispostos a encorajar a associa��o. Os tipos Tigela,
<br>com o seu desejo de despejar adiante os frutos de sua experi�ncia,
<br>talvez achem os nativos Feixe muito inibidos e concentrados em si
<br>mesmos. Apesar disso, se os planetas no Feixe ocupam o hemisf�rio
<br>vazio do padr�o Tigela, a sensa��o � de que o vazio que sentem talvez
<br>seja preenchido por parceiros com este tipo de padr�o Feixe e viceversa.
<br>At� certo ponto as observa��es acima tamb�m se aplicam ao
<br>relacionamento entre tipos Feixe e Balde, apesar de que muitas coisas
<br>depender�o dos aspectos cruzados no "manejo" do Balde. Se eles
<br>s�o predominantemente harmoniosos, os dois tipos podem se dar bem
<br>juntos.
<br>
<br>77
<br>
<br>
<br>O tipo Borrifo, com uma grande variedade de interesses, normalmente
<br>est� disposto a tudo para conhecer outras pessoas e pode se
<br>dar melhor com o tipo Bisel do que a maioria. Freq�entemente esses
<br>nativos despertam o entusiasmo do tipo Locomotiva, que pode aceitar
<br>suas id�ias e fornecer o est�mulo necess�rio para coloc�-las em pr�tica.
<br>Os interesses ilimitados do tipo Borrifo podem despeitar a curiosidade
<br>do tipo Gangorra e os dois se darem bem juntos, apesar da
<br>possibilidade de nunca realmente terem muito �xito naquilo que realizarem.
<br>Quando o tipo Balde est� envolvido, aspectos do planeta
<br>de "manejo" s�o decisivos. Ao mesmo tempo que o tipo Borrifo pode
<br>ser um contraste positivo para o Balde, qualquer predomin�ncia de
<br>afli��es neste planeta tende a estragar o relacionamento, porque os
<br>dois s�o expansivos, os temperamentos podem ser parecidos, e o tipo
<br>Balde dar um maior senso de dire��o ao companheiro. O temperamento
<br>reservado do nativo Tigela oferece a atra��o do contraste para
<br>
<br>o tipo Borrifo, com o seu modo mais inibido de encarar a vida em
<br>geral. O resultado pode ser uma boa parceria, se a maior parte dos
<br>aspectos cruzados for favor�vel.
<br>Os tipos Bisel s�o muito individuais e muitas coisas depender�o
<br>do desejo dos outros tipos de dar-lhes a liberdade de a��o que exigem.
<br>Como este padr�o � o que mais se aproxima do conceito de um
<br>"objeto im�vel", e o Locomotiva o que mais se aproxima do conceito
<br>de uma "for�a irresist�vel", uma combina��o harmoniosa dos
<br>dois pode ser dif�cil. A atitude geral do Bisel pode ser impessoal e
<br>ego�sta demais para o tipo Tigela, mais preocupado com as pessoas
<br>e causas, enquanto que para o tipo Balde bem pode haver as mesmas
<br>restri��es quanto ao primeiro. H� ainda uma complica��o adicional,
<br>a possibilidade dos dois tipos serem bastante obstinados. Os nativos
<br>Gangorra podem ser atra�dos pelo Bisel porque o encaram como
<br>uma �ncora. Por outro lado, podem suspeitar que os pontos de vista
<br>definidos do �ltimo sejam uma evid�ncia de sua incapacidade de
<br>analisar um assunto sob todos os aspectos ou admitir que �s vezes
<br>h� m�rito num ponto de vista que difere do deles. Como em todos os
<br>relacionamentos Gangorra, um fator crucial bem pode ser se planetas
<br>no hor�scopo do outro formam uma quadratura em T, tr�gonos e
<br>sextis com as oposi��es que conferem � Gangorra este nome distinto.
<br>
<br>A capacidade de os nativos Gangorra darem valor a id�ias opostas
<br>�s suas lhes d� uma base para estabelecer relacionamentos signifi
<br>
<br>
<br>
<br>cativos com os outros, apesar de poderem n�o simpatizar com aqueles
<br>que t�m uma �nsia exagerada por colocar em pr�tica id�ias das quais
<br>est�o absolutamente convencidos. O tipo Locomotiva, que tende a
<br>progredir ziguezagueando, tem algo em comum com a aproxima��o
<br>�s vezes experimental do tipo Gangorra. Freq�entemente h� uma
<br>capacidade de construir uma parceria, quando ambos desejam proceder
<br>na base do m�todo das tentativas. Os nativos do padr�o Tigela podem
<br>tender a fazer o Gangorra inclinar-se bruscamente a favor de
<br>um determinado ponto de vista. Como o Tigela precisa de uma oposi��o
<br>para definir-se, muitas coisas depender�o de como as oposi��es
<br>nos dois hor�scopos se fundem uma com a outra. Aspectos favor�veis
<br>entre os dois grupos de oposi��es podem preparar o terreno para um
<br>relacionamento gratificante. Sob alguns aspectos, o relacionamento
<br>com o tipo Balde se apoia no mesmo fator, mas a dire��o firme do esfor�o,
<br>normalmente indicada pelo planeta �nico, torna-se um fator
<br>decisivo. Se isto � somado proveitosamente �s oposi��es caracter�sticas
<br>da Gangorra, o relacionamento pode n�o ter continuidade.
<br>
<br>Tanto o tipo Tigela como o Locomotiva t�m consci�ncia de uma
<br>sensa��o de vazio. O primeiro pode atrair o segundo se seus planetas
<br>caem na maior parte dentro do tr�gono vazio da Locomotiva, que
<br>pode ent�o proporcionar a for�a para executar os planos do parceiro.
<br>Os nativos Balde, com seus objetivos simples, podem encontrar no
<br>tipo Locomotiva o tipo de impulso de que precisam para colocar suas
<br>id�ias em pr�tica, mas se o planeta �nico n�o se une favoravelmente
<br>como grande tr�gono normalmente presente no padr�o Locomotiva,
<br>muito do valor da combina��o pode ser perdido.
<br>
<br>Os tipos Tigela e balde t�m muito em comum. Se h� um bom apoio
<br>para o planeta �nico no padr�o Balde, os nativos do Tigela podem
<br>sentir que encontraram um poderoso aliado. No entanto, muitas coisas
<br>podem depender do modo em que os hemisf�rios ocupados nos
<br>dois hor�scopos combinam um com o outro. Se eles quase coincidem
<br>ou se op�em um ao outro, a atra��o pode ser maior do que em outras
<br>circunst�ncias, apesar de que, em todos os relacionamentos Tigela-
<br>Balde, pode haver uma especial necessidade de se estudar cuidadosamente
<br>os aspectos cruzados antes de estimar o grau de compatibilidade
<br>entre os dois.
<br>
<br>Habitualmente descobriremos que os planetas na �poca Pr�-Natal
<br>de um parceiro est�o rigorosamente configurados com os planetas
<br>
<br>79
<br>
<br>
<br>natais do outro. Se a �poca Pr�-Natal correta for conhecida, freq�entemente
<br>obt�m-se informa��es valiosas observando este tipo de
<br>influ�ncia rec�proca. No entanto, nem todas as �pocas Pr�-Natais
<br>s�o f�ceis de encontrar, e � melhor ignorar estas posi��es se h�
<br>qualquer d�vida sobre a sua autenticidade, j� que h� uma grande
<br>variedade de outros fatores em que basear um julgamento correto.
<br>Mesmo quando as �pocas Pr�-Natais dos dois parceiros s�o conhecidas,
<br>provavelmente n�o ser� necess�rio compar�-las.
<br>
<br>Os par�grafos precedentes indicaram algumas das maneiras principais
<br>de compara��o de mapas. Logo que comecei a estudar astrologia,
<br>ocorreu-me inventar um meio de encontrar um ponto no tempo
<br>que condensasse o relacionamento entre quaisquer parceiros. A isto
<br>chamei de "Hor�scopo de Relacionamento". Alguns anos depois
<br>descobri que um m�todo da Alemanha usava um sistema de pontos
<br>m�dios para formar um hor�scopo composto para representar a
<br>natureza do relacionamento. Num princ�pio geral amplo, o de produzir
<br>um hor�scopo �nico para um relacionamento em particular,
<br>os dois m�todos est�o de acordo, mas na pr�tica descobriremos que
<br>� mais f�cil lidar com o meu Hor�scopo de Relacionamento. Sob
<br>certo aspecto, ele surge mais naturalmente de um relacionamento
<br>astrol�gico. Este m�todo ser� inteiramente explicado, com exemplos,
<br>em cap�tulos posteriores.
<br>
<br>80
<br>
<br>
<br>CAP�TULO 5
<br>
<br>COMPATIBILIDADE DE SIGNOS
<br>SOLARES E OUTRAS
<br>COMPARA��ES GERAIS
<br>
<br>
<br>O estudante respons�vel de astrologia logo percebe que a apresenta��o
<br>popular desta ci�ncia pela imprensa e r�dio tem pouco a ver
<br>com a verdadeira. Como o Sol � o �nico corpo cujo relacionamento
<br>c�clico com a Terra repete-se quase exatamente a cada ano sucessivo,
<br>este � o �nico fator est�vel em que qualquer apresenta��o da
<br>astrologia dirigida �s massas pode apoiar-se. Por causa deste ciclo
<br>anual regular � poss�vel estimar at� certo grau a longitude zodiacal
<br>do Sol em qualquer data durante o ano.
<br>
<br>Isto significa que qualquer pessoa que saiba a data de seu nascimento
<br>saber� muito facilmente em que signo o Sol estava naquele
<br>dia, mesmo se n�o tiver conhecimento do grau exato, a menos que a
<br>pessoa seja um daqueles "no meio" � nascida no dia em que o Sol
<br>deixa um signo para entrar no pr�ximo. J� que o Sol � o �nico fator
<br>de que a maioria dos n�o-astr�logos tem consci�ncia, foi desenvolvido
<br>um m�todo completo de astrologia "de signos solares". Este
<br>m�todo � apenas um p�lido reflexo da verdadeira astrologia. Mas
<br>infelizmente, aos olhos dos leigos, parece ser tudo que a astrologia
<br>tem a oferecer.
<br>
<br>
<br>Um das �reas mais divulgadas de signos solares refere-se �
<br>compatibilidade dos nascidos com seus S�is no mesmo elemento.
<br>Por isso, os nascidos com o Sol em �ries s�o considerados compat�veis
<br>com os nascidos com o Sol em Le�o e em Sagit�rio. Ao
<br>mesmo tempo que h� alguma verdade no fato de que cada elemento
<br>tende a saber instintivamente como lidar com o seu pr�prio tipo, e �
<br>verdade que o Sol representa a natureza real e essencial de um indiv�duo,
<br>pode haver muitas situa��es em que uma te�rica compatibilidade
<br>de signos solares n�o ser� levada em conta. Nesses casos as
<br>posi��es dos dois S�is pode ter um papel comparativamente menor
<br>na avalia��o total, e �s vezes uma �nfase excessiva deste fator pode
<br>ser enganadora. Por exemplo, se o Sol de um parceiro est� no final
<br>exato de �ries e o do outro no come�o exato de Le�o, tecnicamente
<br>os dois S�is estar�o em aspecto quadrado. Isto poderia indicar dificuldades
<br>em adaptarem-se um ao outro. Ou pode ser que o hor�scopo
<br>com o Sol em �ries tenha a maior parte dos planetas em signos de
<br>ar, enquanto o hor�scopo com o Sol em Le�o tenha a maioria dos
<br>planetas em signos de �gua, de modo que uma compara��o mais
<br>correta entre os dois hor�scopos seria numa base mais representativa
<br>de um contraste entre ar e �gua, que n�o s�o elementos particularmente
<br>compat�veis. Mesmo se os signos solares forem compat�veis,
<br>e houver discord�ncias planet�rias entre os dois mapas, tais
<br>desarmonias podem prevalecer sobre qualquer conc�rdia sugerida
<br>pela compatibilidade de signos solares.
<br>
<br>A id�ia b�sica de que signos solares do mesmo elemento s�o compat�veis
<br>um com o outro � �til em sinastria, desde que n�o se esque�a
<br>de que o Sol � apenas um dos dez corpos normalmente usados em
<br>an�lises astrol�gicas (sem falar no Ascendente, Meio do C�u e Nodos
<br>Lunares). O quadro global, quando todos esses fatores adicionais est�o
<br>inclu�dos,pode mudar muito quaisquer conclus�es baseadas apenas
<br>nos signos solares, ou at� mesmo as baseadas no equil�brio geral
<br>dos elementos, quando todos os fatores s�o levados em considera��o,
<br>j� que os aspectos cruzados de planetas de um hor�scopo para o outro
<br>podem produzir um quadro muito diferente (ver Cap�tulo 7).
<br>
<br>Enquanto, teoricamente, a compatibilidade solar pode indicar um
<br>grande grau de harmonia, muitas diferen�as superficiais, indicadas
<br>por desarmonias planet�rias, podem impedir que esta harmonia encontre
<br>sua express�o satisfat�ria. O Sol atinge o seu m�ximo de
<br>
<br>
<br>influ�ncia dos vinte e dois aos quarenta anos. � prov�vel que os
<br>efeitos atribu�dos � posi��o solar e aos aspectos que o Sol recebe n�o
<br>atinjam sua express�o mais verdadeira antes deste per�odo da vida.
<br>
<br>Uma grande �nfase no mesmo elemento, apesar de no princ�pio
<br>atrair, pode finalmente gerar um certo t�dio ou desinteresse no relacionamento.
<br>� o contraste entre temperamentos que geralmente d�
<br>sabor a uma uni�o, desde que haja um grau razo�vel de compatibilidade
<br>entre os parceiros e o contraste n�o seja t�o completo que
<br>nenhuma das partes consiga adaptar-se � outra. No entanto n�o � raro
<br>encontrar os S�is de c�njuges em signos opostos, principalmente
<br>quando, em termos de casas solares, isto significa que cada um deles
<br>tem o Sol do parceiro na 7� casa solar, a casa do casamento e companheirismo.
<br>
<br>
<br>Assim como se leva em conta a compatibilidade de signos solares,
<br>todos os planetas no hor�scopo podem ser tratados em bases similares.
<br>Deste modo, se por exemplo os dois parceiros t�m Marte num
<br>signo de �gua e V�nus num signo de Ar, � prov�vel haver um maior
<br>grau de compatibilidade.
<br>
<br>O hor�scopo de uma pessoa bem equilibrada deveria ter uma
<br>distribui��o razoavelmente igual dos planetas entre os quatro elementos.
<br>A maioria dos hor�scopos se afasta num grau maior ou
<br>menor desta situa��o hipot�tica ideal. Tem sido observado que um
<br>estado de equil�brio perfeito costuma encorajar a in�rcia. Conseq�entemente,
<br>os hor�scopos em que os planetas est�o distribu�dos n�o
<br>t�o igualmente entre os elementos levam estes nativos a empreender
<br>atividades e ganhar experi�ncias que lhes proporcionam oportunidades
<br>de aumentar sua sabedoria e acelerar seu crescimento
<br>espiritual. Na avalia��o do equil�brio dos elementos num hor�scopo,
<br>� comum contarmos o n�mero de corpos em cada elemento. Naturalmente,
<br>um predom�nio de corpos num elemento n�o deixar�
<br>d�vidas quanto ao elemento mais importante, mas normalmente
<br>descobriremos que dois elementos cont�m um n�mero igual de
<br>planetas. A prefer�ncia ent�o deveria ser dada ao elemento em que
<br>se situa o Ascendente. Isto pode nem sempre resolver o problema,
<br>j� que o Ascendente pode estar num signo de fogo, enquanto os signos
<br>de ar e terra cont�m a maioria dos planetas. Em tais casos, deveria
<br>ser dada mais import�ncia ao grupo maior, que cont�m o Sol. Se
<br>nenhum deles cont�m o Sol, a presen�a do regente do Ascendente
<br>
<br>83
<br>
<br>
<br>deveria ser usada como um fator de decis�o. Mas seo problema ainda
<br>n�o for resolvido, os dois elementos devem ser considerados
<br>igualmente equilibrados. �s vezes tr�s elementos podem estar
<br>igualmente representados, mas tais casos s�o relativamente raros.
<br>Onde h� uma �nfase mais ou menos igual em dois ou mais elementos,
<br>o indiv�duo pode ter facilidade para associar-se com v�rias
<br>pessoas de diferentes temperamentos. No entanto, se um elemento
<br>contiver apenas planetas mal situados ou aflitos, o nativo pode n�o
<br>combinar bem com aqueles em cujos hor�scopos este elemento esteja
<br>muito representado.
<br>
<br>AS TRIPLICIDADES
<br>
<br>Quando comparamos dois hor�scopos com uma �nfase muito
<br>definida num determinado elemento, podemos chegar a algumas
<br>conclus�es gerais baseados apenas nisto. Contudo, n�o dever�amos
<br>esquecer de que muitos outros fatores precisam ser levados em conta
<br>antes do julgamento final. At� mesmo uma incompatibilidade aparente
<br>entre os elementos mais enfatizados pode ser muito atenuada
<br>pela predomin�ncia de outros fatores que contribuem para uma
<br>compatibilidade m�tua. Antes de examinar o efeito prov�vel de
<br>diferentes combina��es dos quatro elementos, � necess�rio considerar
<br>as caracter�sticas gerais que provavelmente estar�o presentes
<br>quando um determinado elemento predomina num hor�scopo.
<br>
<br>O elemento Fogo
<br>
<br>Aqueles em cujo hor�scopo predomina o elemento Fogo provavelmente
<br>ser�o ativos, corajosos e animados, cheios de energia e
<br>vitalidade, generosos e otimistas. S�o capazes de "incendiarem-se"
<br>com um entusiasmo que fomenta a confian�a, refor�a o ego e aumenta
<br>quaisquer tend�ncias � exuber�ncia e agress�o. As emo��es s�o
<br>expressas de modo muito positivo e a natureza do amor freq�entemente
<br>ardente. Este tipo � claramente extrovertido e, em geral, revela
<br>um interesse acentuado por seu desenvolvimento pessoal.
<br>
<br>A aus�ncia de quaisquer planetas num elemento tamb�m � reveladora,
<br>principalmente se o nativo sempre tenta compensar este vazio
<br>de outros modos. Quando os signos de Fogo n�o s�o ocupados num
<br>
<br>84
<br>
<br>
<br>hor�scopo, muitas vezes falta energia, entusiasmo e os tipos mais
<br>positivos de otimismo que encorajam a iniciativa. Como compensa��o,
<br>�s vezes h� uma tend�ncia a viver "na mente", de modo que o
<br>nativo pode se tomar um ser pensante ao inv�s de atuante, canalizando
<br>muita energia na elabora��o de planos maravilhosos que
<br>podem nunca se concretizar.
<br>
<br>O elemento Terra
<br>
<br>Provavelmente aqueles em cujos hor�scopos predomina o
<br>
<br>elemento Terra ser�o pr�ticos, positivos, est�veis, dignos de confian�a
<br>e leais, confiando no bom senso e regras preestabelecidas
<br>para resolver problemas. H� uma inclina��o para o materialismo e
<br>pontos de vista um pouco conservadores. A natureza tende a ser
<br>esfor�ada e perseverante. Este tipo valoriza muito a estabilidade e
<br>geralmente n�o tenta subverter o status quo. No casamento, o aspecto
<br>f�sico � quase sempre muito importante. Este nativo tende a ser introvertido.
<br>
<br>
<br>Quando os signos da Terra n�o s�o ocupados num hor�scopo,
<br>quase sempre faltam virtudes pr�ticas e h� um descuido de considera��es
<br>materiais. �s vezes estes nativos tendem a viver nas "nuvens"
<br>e, de algum modo, a n�o estarem em contato com o mundo em que
<br>vivem. Sua falta de realidade e a propens�o a ter as coisas como certas
<br>podem gerar neglig�ncia e irresponsabilidade ao lidar com assuntos
<br>pr�ticos.
<br>
<br>O elemento Ar
<br>
<br>Provavelmente aqueles em cujos hor�scopos predomina o elemento
<br>Ar ser�o muito polarizados na esfera intelectual. Geralmente
<br>est� presente um certo desprendimento, e at� mesmo problemas
<br>emocionais podem ser submetidos a um processo de an�lise l�gica.
<br>O poder do pensamento � de grande import�ncia e eles podem se
<br>tornar t�o obcecados por algum novo conceito ou teoria que estar�o
<br>prontos a fazer mudan�as dr�sticas sem primeiro levar em conta as
<br>poss�veis rea��es emocionais dos outros. Estes nativos s�o capazes
<br>de muito refinamento e inspira��o. Freq�entemente t�m ideais elevados,
<br>apesar de poderem achar que nem sempre ser�o realizados.
<br>Por causa da facilidade com que se adaptam �s pessoas e situa��es,
<br>na maioria das vezes s�o muito soci�veis e af�veis, apesar de oca
<br>
<br>
<br>85
<br>
<br>
<br>sionalmente poder faltar uma real profundidade em seus relacionamentos.
<br>De vez em quando, v�os de fantasia podem encorajar
<br>uma tend�ncia a sonhar acordado, enquanto uma incapacidade de
<br>manter qualquer envolvimento emocional profundo pode levar �
<br>inconst�ncia. O tipo geralmente tende a ser extrovertido.
<br>
<br>Quando os signos de Ar n�o s�o ocupados num hor�scopo, normalmente
<br>h� uma incapacidade de comunicar-se de modo efetivo.
<br>As pessoas podem ficar confusas ao tentar entender as raz�es destes
<br>nativos. Eles habitualmente n�o se preocupam em fazer planos para
<br>
<br>o futuro. Agindo sem vis�o do que est� a frente, gastam inutilmente
<br>suas energias em atitudes impulsivas que podem se revelar pouco
<br>inteligentes ou redundar em fracasso. Na melhor das hip�teses,
<br>podem n�o pensar cuidadosamente nos assuntos at� resolv�-los, de
<br>modo que s� progridem por meio de um m�todo de tentativas.
<br>O elemento �gua
<br>
<br>Provavelmente, aqueles em cujos hor�scopos predomina o elemento
<br>�gua se tomar�o envolvidos emocionalmente em muitos dos
<br>problemas com que t�m de lidar. Geralmente h� um lado muito receptivo
<br>e impression�vel em suas naturezas, que os toma particularmente
<br>suscet�veis �s circunst�ncias e ao meio em que vivem. Esta
<br>sensibilidade tende a revestir seus relacionamentos de uma certa
<br>fragilidade, j� que outros tipos podem nem sempre ter consci�ncia
<br>de at� que ponto quem tem uma predomin�ncia de signos de �gua
<br>deixa suas emo��es aflorarem. Sua solidariedade imediata, quando
<br>dirigida ao mundo externo, permite que eles sejam sens�veis aos
<br>problemas emocionais dos outros, e normalmente ir�o amparar e
<br>proteger aqueles de que gostam. H� uma acentuada tend�ncia � introspec��o
<br>e, em tipos menos evolu�dos, a uma certa dose de auto-
<br>piedade.
<br>
<br>Quando os signos de �gua n�o est�o ocupados num hor�scopo,
<br>freq�entemente falta um sentimento verdadeiro ou solidariedade
<br>para com os outros, ou h� uma incapacidade b�sica por parte destes
<br>nativos de demonstrar que realmente se importam. Eles podem n�o
<br>confiar em suas emo��es e deste modo projetar uma imagem de si
<br>pr�prios que parece dura e calculista. Ocasionalmente, esta car�ncia
<br>d� origem a uma personalidade friae c�nica, apesar de as apar�ncias
<br>externas poderem indicar o contr�rio.
<br>
<br>
<br>Geralmente os que n�o possuem um certo elemento em seus
<br>hor�scopos tendem a procurar meios de compensar essa car�ncia.
<br>Conseq�entemente, s�o muito atra�dos na dire��o daqueles em cujos
<br>hor�scopos os signos deste elemento s�o muito acentuados.
<br>
<br>Quando comparamos o efeito dos v�rios elementos combinados
<br>um com o outro, costumamos usar analogias baseadas nos efeitos
<br>reais e m�tuos dos elementos na natureza. O fogo, por exemplo,
<br>precisa ser alimentado pela terra e arpara continuar queimando. Em
<br>rigor, o fogo n�o � um elemento, mas seu papel � transformar as
<br>subst�ncias. O gelo, por exemplo, quando aquecido, transforma-se
<br>em �gua e a �gua, aquecida, transforma-se em vapor. Por isso tr�s
<br>estados, s�lido (terra), l�quido (�gua) e gasoso (ar) dependem da
<br>quantidade de calor (fogo) existente. O calor (fogo) aplicado a
<br>algumas subst�ncias (terra) pode liberar gases (ar) e reduzir subst�ncias
<br>a cinzas, destruindo formas e preparando o caminho para novas
<br>atividades criativas. Tem sido dito que a �gua e o fogo n�o se
<br>misturam, porque o fogo ou aquece a �gua at� ela se transformar em
<br>vapor, ou a �gua molha o fogo e finalmente o extingue. No entanto,
<br>na pr�tica, � necess�rio criar vapor para us�-lo como uma for�a
<br>motriz, do mesmo modo que �s vezes � preciso usar �gua para extinguir
<br>inc�ndios antes que ocorra uma destrui��o em alta escala. Na
<br>verdade, a analogia s� � v�lida quando relaciona-se com o impacto
<br>incontrol�vel de um elemento sobre o outro.
<br>
<br>Terra e �gua podem produzir lama, mas a menos que a terra seja
<br>irrigada pela �gua, crescer� pouca vegeta��o. O ac�mulo de lodo dos
<br>rios, sob a forma de deltas, pode produzir uma �rea extremamente
<br>f�rtil. Quando a terra predomina num contato com a �gua, pode servir
<br>de barreira para que o fluxo corra livre. Por outro lado, um excesso
<br>de �gua em contato com alguns materiais pode eventualmente apodrec�-
<br>los. O ar seca a terra permitindo a eros�o, com o vento espalhando
<br>continuamente a poeira excedente. Mas a menos que o solo
<br>esteja devidamente arado, a vegeta��o n�o receber� os nutrientes
<br>essenciais.
<br>
<br>Na natureza, um elemento precisa do outro. Ao mesmo tempo que,
<br>em termos psicol�gicos, a a��o reciprocado Fogo e do Ar pode ser
<br>mais compat�vel que a a��o rec�proca do Fogo e da �gua, a intera��o
<br>controlada e equilibrada de todos os elementos � necess�ria para uma
<br>uni�o perfeita. Por esse motivo, os hor�scopos mais bem equilibra
<br>
<br>
<br>87
<br>
<br>
<br>dos provavelmente ser�o em que aqueles os quatro elementos estiverem
<br>mais ou menos igualmente representados, e em que cada
<br>planeta estiver em aspecto com a maioria dos outros. A menos que
<br>haja fortes afli��es em qualquer elemento presente, esses temas natais
<br>bem equilibrados podem indicar que os nativos s�o capazes de se
<br>dar bem com a maioria de seus conhecidos. Por outro lado, tem sido
<br>sugerido que um certo grau de desequil�brio provavelmente proporcionar�
<br>maiores oportunidades de crescimento espiritual.
<br>
<br>A acentua��o excessiva de um elemento pode causar problemas
<br>na adapta��o a outros tipos. Os par�grafos seguintes tratam principalmente
<br>deste tipo de acentua��o excessiva.
<br>
<br>O ar e a �gua cont�m algo um do outro, porque sempre h� uma
<br>certa quantidade de umidade no ar, enquanto a �gua � formada pela
<br>combina��o de oxig�nio e hidrog�nio. � poss�vel um certo grau de
<br>compatibilidade. Como em outras combina��es, apenas quando um
<br>dos elementos c desproporcionalmente ativado s�o poss�veis desastres,
<br>como, por exemplo, quando um furac�o levanta as ondas do
<br>mar em plena f�ria de uma tempestade.
<br>
<br>Fogo/Fogo
<br>
<br>Como em todas as uni�es do mesmo elemento, quando h� uma
<br>associa��o entre dois nativos em cujos hor�scopos predomina o
<br>elemento Fogo, isto indica que haver� muitos fatores comuns na
<br>estrutura psicol�gica de cada parceiro. Os dois podem se ver at� certo
<br>ponto refletidos um no outro. Uma vez que as pessoas com excesso
<br>de Fogo s�o bastante inclinadas ao desenvolvimento pessoal, os
<br>desejos podem ser conflitantes se um companheiro n�o estiver
<br>preparado para ceder a lideran�a ao outro. (O arranjo mais comum �
<br>
<br>o homem ter a iniciativa.) Se a capacidade de entusiasmar-se dos dois
<br>n�o for orientada de igual modo, pode haver momentos em que
<br>remar�o em dire��es diferentes. No entanto, quando duas pessoas
<br>de Fogo s�o capazes de unir-se para atingir um objetivo em comum,
<br>as possibilidades de iniciativas criativas e a��o verdadeiramente
<br>efetiva s�o consider�veis. Eles podem "apagar as centelhas um do
<br>outro" e "continuar como uma casa ardendo", mas � possivel que o
<br>choque b�sico de temperamentos resulte em "explos�es de chamas"
<br>repentinas e totalmente destrutivas. Uma vez que n�o faltaria energia
<br>aos parceiros, eles podem tender a extinguir o Fogo um do outro.
<br>
<br>O orgulho ferido talvez seja a causa fundamental de uma ruptura. O
<br>Fogo precisa ser alimentado, contido e preservado�fun��o respectivamente
<br>do Ar e da Terra � de modo que, talvez mais do que
<br>qualquer outro elemento, precisa do apoio e do contraste dos outros
<br>elementos.
<br>
<br>Fogo/Terra
<br>
<br>O elo entre Fogo e Terra talvez seja mais bem ilustrado na forja
<br>do ferreiro, onde o metal (terra) torna-se male�vel pelo calor (fogo),
<br>de modo a ser mais prontamente moldado em v�rias formas �teis e
<br>decorativas. O fogo pode destruir materiais inflam�veis, enquanto
<br>a "terra devastada" pode ser uma necessidade militar ou medida
<br>punitiva. Terra demais pode apagar o fogo. Mais uma vez temos uma
<br>combina��o que depende de uma mistura bem dosada para produzir
<br>
<br>o melhor.
<br>Esta � uma combina��o que representa o esp�rito trabalhando com
<br>a mat�ria.
<br>Os nativos de Fogo � empreendedores, alegres e entusiastas �
<br>podem achar os nativos de Terra muito lentos e perseverantes. Os
<br>que t�m o elemento Terra forte preocupam-se em estabelecer bases
<br>s�lidas e em escolher os pontos pr�ticos antes de embarcar num
<br>projeto, enquanto seus parceiros de Fogo querem come�ar de imediato,
<br>ansiosos por ver o projeto tomar forma rapidamente, sem levar
<br>muito em considera��o sua viabilidade. A Terra pode proporcionar
<br>um obst�culo pr�tico para a impetuosidade dos nativos de Fogo e
<br>evitar que percam o entusiasmo. O Fogo gosta de "malhar o ferro
<br>enquanto est� quente", mas a Terra costuma contar com a resposta
<br>de que "Roma n�o foi feita num dia". A Terra pode criticar o Fogo
<br>por pular impulsivamente antes de olhar, mas o Fogo normal sente
<br>que a Terra perde tanto tempo olhando, que o pulo vem tarde demais.
<br>O Fogo pode achar que a Terra n�o tem imagina��o; a Terra acha o
<br>Fogo otimista demais em detrimento pr�prio. Deste modo, os tipos
<br>de Fogo �s vezes se sentem apagados pela Terra e se tomam cada
<br>vez mais impacientes, achando-se incapazes de despertar o entusiasmo
<br>do parceiro. Seu orgulho pode ser seriamente ferido quando
<br>seus planos otimistas s�o continuamente esmiu�ados pelo parceiro
<br>na tentativa de avaliar se s�o financeiramente vi�veis e t�m realiza��o
<br>pr�tica. O conservadorismo da Terra pode estarem desacordo
<br>
<br>
<br>com os instintos pioneiros do Fogo, enquanto o desejo da Terra de
<br>analisar e testar tudo talvez fa�a os nativos de Fogo se ressentirem
<br>de seu julgamento ter sido colocado em d�vida.
<br>
<br>O ardor sexual do Fogo pode achar dif�cil enfrentar a tentativa de
<br>aproxima��o bastante introvertida da Terra, mas os nativos de Fogo
<br>podem apreciar a lealdade de que a Terra � capaz quando a express�o
<br>da personalidade do parceiro se torna menos inibida.
<br>
<br>Apesar de n�o ser f�cil conseguir a combina��o harmoniosa de
<br>Fogo e Terra, um precisa do outro, porque o entusiasmo n�o refreado
<br>pelo bom senso pode levar o Fogo a atos temer�rios e imprudentes,
<br>enquanto a Terra precisa de vis�o, imagina��o e um toque de ousadia
<br>para escapar ao lugar-comum.
<br>
<br>Fogo/ Ar
<br>
<br>H� uma afinidade consider�vel entre Fogo e Ar. O Fogo precisa
<br>do oxig�nio contido no Arpara continuar a queimar; uma brisa pode
<br>ati�ar as chamas. Os nativos de Ar podem fomentar id�ias em seus
<br>parceiros de Fogo, aumentando-lhes o entusiasmo, apesar de haver
<br>
<br>o risco desse relacionamento se tornar inst�vel. Pode haver o perigo
<br>de esta combina��o de entusiasmo e idealismo conduzir a uni�o a
<br>um modo de vida ut�pico, sem contato com a realidade. Conseq�entemente,
<br>pode faltar praticidade ou os parceiros tornarem-se excit�veis
<br>demais em detrimento pr�prio. Para conseguir o m�ximo
<br>desta combina��o, os nativos de Fogo deveriam tentar imbuir seu
<br>parceiro de Arde uma maior objetividade e mostrar-lhes como transformar
<br>id�ias em a��o, enquanto os nativos do Ar podem precisar
<br>de apelar para a l�gica para esfriar o entusiasmo do parceiro de Fogo
<br>quando ele parece estar muito distante do bom senso e da raz�o.
<br>Fogo/�gua
<br>
<br>O Fogo pode evaporar a �gua e a �gua extinguir o Fogo. Os nativos
<br>de Fogo exteriorizam suas emo��es. Qualquer tens�o
<br>emocional provavelmente ser� transformada em a��o vigorosa e
<br>modos en�rgicos. A �gua deixa passivamente os seus sentimentos
<br>serem influenciados durante longos per�odos e tende a tornar-se
<br>melanc�lica e emburrada quando magoada. Se a tens�o emocional
<br>continua a aumentar, o efeito final � muito parecido com a for�a de
<br>um rio cujas �guas subiram demais, quando avan�am surpreendente
<br>e inesperadamente, talvez causando incont�veis preju�zos antes de
<br>
<br>
<br>voltarem ao seu n�vel normal. A �gua toma a forma do recipiente
<br>que a cont�m, enquanto o fogo se expande. Deste modo, a combina��o
<br>desarmoniosa do Fogo e da �gua pode resultar na �gua rompendo
<br>o dique e talvez apagando o fogo.
<br>
<br>A energia, autoconfian�a, impetuosidade e �s vezes coragem
<br>imprudente dos nativos de Fogo podem assustar seus parceiros de
<br>�gua�sens�veis, t�midos e suscet�veis�que tamb�m podem achar
<br>que o Fogo n�o tem compaix�o e compreens�o verdadeiras. � dif�cil
<br>os dois encontrarem um campo neutro, apesar de o Sol ser o principal
<br>significador do Fogo, a Lua da �gua, e as duas lumin�rias serem
<br>encaradas simbolicamente como o Marido e a Esposa C�smicos. Os
<br>nativos de Fogo podem cansar-se de ver sua �nsia por a��o ser repetidamente
<br>frustrada pela timidez e falta de vivacidade de seus parceiros
<br>de �gua, que talvez estejam mais preocupados em saber se
<br>um projeto "parece" certo e se ele causar� estresse emocional a outra
<br>pessoa. Como resultado, os nativos de �gua podem questionar as
<br>suposi��es confiantes e f� cega de seus parceiros de Fogo, que parecem
<br>n�o ter sabedoria e consci�ncia social.
<br>
<br>A natureza apaixonada dos nativos de Fogo tende a assoberbar as
<br>delicadas suscetibilidades de seus parceiros de �gua.
<br>
<br>Para conseguir o m�ximo desta combina��o, o Fogo pode precisar
<br>ter mais paci�ncia com a sensibilidade e suscetibilidade da �gua
<br>e reprimir qualquer tend�ncia a falar sem rodeios, tendo em mente
<br>que a �gua � muito vulner�vel emocionalmente. A �gua pode ter
<br>de dar-se conta de que seu instinto de conserva��o, quando excessivamente
<br>desenvolvido, �s vezes impede o exerc�cio correto da iniciativa.
<br>Isso pode se revelar muito frustrante para um parceiro de Fogo
<br>empreendedor e entusiasta.
<br>
<br>Terra/Terra
<br>
<br>Provavelmente a parceria de dois nativos de Terra resultar� num
<br>respeito m�tuo pelo bom senso e praticidade um do outro, mas a uni�o
<br>pode serum tanto desprovida de aventura, carecer do brilho da inspira��o
<br>e do elemento de novidade, a menos que haja choques planet�rios
<br>entre os dois hor�scopos que proporcionem um pouco de
<br>arrebatamento. A confian�a e as excelentes qualidades dos dois
<br>parceiros favorecem a constru��o gradual de um relacionamento
<br>s�lido. Um interesse nos aspectos mais f�sicos do casamento pode
<br>
<br>
<br>fornecer uma base de satisfa��o m�tua nos primeiros est�gios da
<br>uni�o, mas se os companheiros sentirem eventualmente uma necessidade
<br>de maior excita��o e tiverem a oportunidade de fugir da rotina
<br>um tanto mon�tona, podem tender a procurar satisfa��o noutro
<br>lugar. �s vezes os parceiros s�o propensos a contar demais um com
<br>o outro. Os interesses mais elevados e est�ticos da vida podem ser
<br>sacrificados na busca de uma ambi��o ou at� mesmo serem perdidos
<br>de vista na luta geral pela sobreviv�ncia.
<br>
<br>Terra/Ar
<br>
<br>Quando a Terra se une ao Ar, � preciso que se encontre um
<br>equil�brio entre a teoria e a pr�tica. Os nativos de Terra, profundamente
<br>envolvidos com as realidades pr�ticas da vida, podem n�o
<br>apreciar a intelectualidade e v�os de fantasia de seus parceiros de
<br>Ar, enquanto o Ar pode n�o gostar dos m�todos lentos, met�dicos e
<br>conservadores da Terra. O Ar tende a secar a Terra, fazendo surgir a
<br>poeira, que provavelmente � a forma menos atraente e �til que a Terra
<br>pode assumir. No entanto, a Terra precisa ser arejada para que a vida
<br>org�nica possa continuar a existir. Do mesmo modo que a mente
<br>humana � freq�entemente limitada em seu campo de a��o pela
<br>capacidade do c�rebro � o ve�culo f�sico atrav�s do qual funciona
<br>�o Ar muitas vezes se sente frustrado com as rea��es lentas da Terra
<br>e o ceticismo com que alguns dos v�os de fantasia �s vezes s�o recebidos.
<br>A Terra costuma achar que o Ar se empolga muito facilmente
<br>com teorias espl�ndidas e idealismo que podem n�o ser
<br>pass�veis de realiza��o. Os nativos do Ar s�o polarizados na esfera
<br>intelectual e normalmente "vivem nas nuvens", enquanto os da Terra
<br>preferem concentrar-se em objetivos mais materialistas, mantendo
<br>os p�s no ch�o. O Ar acha que a Terra n�o tem um verdadeiro refinamento,
<br>� lenta e pesada, enquanto a Terra tem pouco tempo para
<br>"afeta��es de refinamento" sociais, e para a preocupa��o do Ar com
<br>a etiqueta, que costuma ser considerada insincera.
<br>
<br>Os nativos de Ar podem n�o apreciar a preocupa��o de seus parceiros
<br>com o lado f�sico do sexo, enquanto a Terra pode n�o compreender
<br>o aparente desinteresse dos nativos de Ar, seu desejo por
<br>uma uni�o de mentes, e a necessidade de permitir que os parceiros
<br>de Ar d�em asas � sua imagina��o rom�ntica, ao inv�s disso encarando
<br>esses v�os de fantasia como uma esp�cie de "deslealdade".
<br>
<br>
<br>Se o Ar n�o se importar de ser trazido de volta � Terra bastante
<br>regularmente e estiver preparado para lidar com id�ias e aspira��es
<br>estritamente em seus m�ritos pr�ticos, e se a Terra desejar admitir
<br>que a vida n�o consiste apenas de experi�ncias no plano material, o
<br>resultado pode ser um relacionamento gratificante.
<br>
<br>Terra/�gua
<br>
<br>Pode n�o haver motiva��o quando a Terra se une � �gua, pois h�
<br>dois elementos negativos nessa combina��o. Os dois tendem a reagir
<br>ao inv�s de tomar a iniciativa, mesmo quando expressos atrav�s
<br>de seus signos cardinais. Por esse motivo o casal, sem ter o brilho da
<br>verdadeira inspira��o, pode precisar encontrar um incentivo vital
<br>para a a��o. � poss�vel que achem dif�cil ag�entar o mau humor
<br>ocasional um do outro. �s vezes a frieza dos nativos de Terra os torna
<br>incapazes de compreender um parceiro emocionalmente sens�vel,
<br>que n�o aprecia a insist�ncia da Terra em atingir resultados pr�ticos,
<br>se fazer o bem para o maior n�mero de pessoas implica em
<br>ignorar as rea��es emocionais de outras.
<br>
<br>O lado f�sico e sensual do relacionamento sexual � muito importante
<br>para estes parceiros, apesar de que um sentimentalismo excessivo
<br>por parte da Agua provavelmente encontrar� pouca resposta da
<br>mais prosaica Terra. A materialidade absoluta dos parceiros pode,
<br>�s vezes, ofender as delicadas suscetibilidades dos nativos de Agua.
<br>
<br>Como em todas as outras combina��es, os melhores resultados
<br>s�o obtidos quando os dois companheiros trabalham juntos para
<br>compreender e adaptar-se um ao outro. A Terra cont�m e limita os
<br>rios e oceanos, enquanto a irriga��o controlada dos desertos torna a
<br>terra �rida ar�vel. Se a Terra fizer um esfor�o para compreender os
<br>estados emocionais e caprichos da �gua, e a �gua admitir que �s
<br>vezes os sentimentos de outras pessoas t�m de ser sacrificados em
<br>prol do progresso, o resultado pode ser uma uni�o harmoniosa.
<br>
<br>Ar/ Ar
<br>
<br>Quando o Ar predomina nos hor�scopos de c�njuges, o relacionamento
<br>pode ser descrito corretamente como um encontro de
<br>mentes. Ambos trabalhar�o melhor juntos numa base intelectual.
<br>Provavelmente eles n�o ter�o dificuldades em comunicar-se um com
<br>o outro e em trocar id�ias sobre v�rios assuntos. Podem passar mais
<br>
<br>
<br>tempo debatendo os pr�s e contras de uma situa��o do que colocando
<br>seus planos em a��o. H� o perigo de se tornarem envolvidos demais
<br>em assuntos abstratos e problemas te�ricos, e deste modo n�o devotarem
<br>tempo e energia suficientes a assuntos pr�ticos e que lhes
<br>dizem respeito.
<br>
<br>Os dois companheiros podem ter um grande interesse pela vida
<br>social. Se seus compromissos sociais n�o forem os mesmos, pode
<br>haver o risco deles se verem pouco. Conseq�entemente, em alguns
<br>casos, a vida dom�stica pode ser negligenciada. Muitas coisas depender�o
<br>da intera��o dos dois Mercurios. Se estiverem harmoniosamente
<br>configurados, o prazer intelectual que um experimenta na
<br>companhia do outro pode se revelar muito gratificante. Este tende a
<br>ser um relacionamento que precisa de um pouco de "lastro", caso
<br>contr�rio a impaci�ncia de cada parceiro servir� apenas para aumentar
<br>o nervosismo do outro.
<br>
<br>Ar/�gua
<br>
<br>O Arem combina��o com a �gua implica numa associa��o entre
<br>intelecto e emo��o. Para o intelecto desapaixonado do Ar, a pronta
<br>solidariedade da Agua n�o parece ser sempre sensatamente dirigida
<br>�s pessoas certas, enquanto a �gua pode considerar a aparente capacidade
<br>dos nativos de Ar de se isolarem de quest�es emocionais
<br>leviana e desumana. A �gua tende a transformar as experi�ncias
<br>emocionais passadas ou at� mesmo presentes em preconceitos. Os
<br>nativos de Ar acham muito dif�cil entender ou aceitar isto, porque
<br>normalmente preferem adotar uma atitude imparcial, ou pelo menos
<br>ter raz�es l�gicas para os seus gostos e avers�es. Por outro lado, a
<br>�gua tende a aceitar as pessoas como elas s�o, enquanto o Ar adota
<br>uma atitude mais cr�tica, e normalmente preocupa-se em descobrir
<br>
<br>o que as motiva. A �gua costuma ter medos estranhos e inexplic�veis
<br>que o Ar tende a ridicularizar, alegando que n�o t�m fundamento
<br>racional. Longe de eliminar tais medos, a conseq��ncia pode ser a
<br>�gua desenvolver uma fobia, j� que nada � mais assustador que ser
<br>amea�ado por algum perigo aparente, que os outros t�m a sorte de
<br>ignorar. �s vezes o nativo de Agua � bastante supersticioso. N�o h�
<br>nada de que o Ar goste mais do que de acabar com a supersti��o com
<br>um sopro frio de l�gica, talvez completamente inconsciente do fato
<br>de que a supersti��o foi o modo de o parceiro disfar�ar ou enfrentar
<br>94
<br>
<br>
<br>algum medo parcialmente oculto. O resultado final pode ser a �gua
<br>substituir a original cren�a irracional por outra (e possivelmente mais
<br>absurda) supersti��o.
<br>
<br>Muito do comportamento da �gua surge de um grande interesse
<br>pelo passado, enquanto o Ar tende a viver o presente. O nativo de
<br>�gua sabe por experi�ncia pr�pria que, em determinadas circunst�ncias,
<br>pode ocorrer uma certa cadeia de rea��es emocionais. O
<br>nativo de Ar, que raramente presta muita aten��o �s rea��es emocionais
<br>dos outros, pode ignorar completamente o motivo da preocupa��o
<br>da �gua.
<br>
<br>Intelecto e emo��o s�o uma mistura muito necess�ria, porque o
<br>intelecto separado da emo��o pode resultar numa atitude insens�vel
<br>em rela��o aos outros, enquanto a emo��o sem o benef�cio do intelecto
<br>pode resultar em estupidez.
<br>
<br>Quando o Ar predomina num lado e a �gua no outro, um bom
<br>aspecto entre o Merc�rio do Ar e a Lua da �gua pode ajudar muito
<br>a uni�o harmoniosa dos dois elementos. Para conseguir o m�ximo
<br>desta combina��o, o nativo de Ar deveria tentar n�o zombar das
<br>fantasias il�gicas do parceiro de �gua, e o nativo de �gua tentar compreender
<br>que o sentimento n�o-guiado pela raz�o pode facilmente
<br>degenerar num sentimentalismo piegas, tomando-se o seu pr�prio
<br>pior inimigo. Como na natureza, os ventos fortes podem despertar a
<br>f�ria das ondas. Por isso, se o Ar critica severamente a �gua, ela finalmente
<br>reagir� e, ao inv�s de meramente ficar emburrada e de mau
<br>humor, o resultado pode ser uma grande tempestade emocional.
<br>
<br>�gua/�gua
<br>
<br>A mistura de �gua com �gua produz um relacionamento
<br>altamente emocional. Provavelmente os dois ser�o muito intuitivos.
<br>Na melhor das hip�teses, um pode saber instintivamente o que fazer
<br>para satisfazer as necessidades do outro e antecipar as poss�veis
<br>rea��es do parceiro. Pode haver a tend�ncia de um se agarrar ao outro
<br>numa esp�cie de associa��o mutuamente protetora. Esta pode ser
<br>uma combina��o muito caseira e civilizada.
<br>
<br>As fraquezas de tal associa��o se originam do fato de que uma
<br>acentua��o forte do elemento �gua pode causar uma personalidade
<br>bastante introspectiva e excessivamente sens�vel, com uma tend�ncia
<br>a crises de melancolia, que n�o ser�o dissipadas pela falta de uma
<br>
<br>
<br>atitude suficientemente positiva por parte do parceiro. �s vezes o
<br>nativo de �gua � propenso a desenvolver certas fobias, que o parceiro
<br>pode facilmente piorar demonstrando inoportunamente compaix�o,
<br>ao inv�s de tentar desencorajar esta forma de comodismo.
<br>
<br>Para conseguir o m�ximo desta combina��o � necess�rio os parceiros
<br>terem a devida toler�ncia para com o mau humor um do outro,
<br>ou o resultado pode ser ressentimento m�tuo. Pode haver momentos
<br>em que um deles precise ter a confian�a renovada, e � nessa hora
<br>que o outro deveria tentar dizer as palavras mais positivas poss�veis
<br>para tirar o companheiro ou companheira da depress�o.
<br>
<br>AS QUADRUPLICEDADES
<br>
<br>Al�m de avaliar os efeitos das combina��es dos v�rios elementos,
<br>podemos tamb�m comparar os signos em termos da maioria das
<br>posi��es nas quadruplicidades, isto �, determinando se a maioria dos
<br>planetas est� em signos Cardinais, Fixos ou Mut�veis. Teoricamente
<br>� melhor que os signos solares dos parceiros n�o perten�am � mesma
<br>Quadruplicidade, porque signos do mesmo padr�o (quando n�o em
<br>conjun��o) est�o em quadrado ou opostos um ao outro.
<br>
<br>Antes de examinar os efeitos prov�veis de diferentes combina��es
<br>das tr�s qualidades, primeiro � necess�rio considerar as caracter�sticas
<br>gerais que provavelmente estar�o presentes quando uma determinada
<br>qualidade predomina num hor�scopo.
<br>
<br>Os Signos Cardinais
<br>
<br>Os que t�m a maioria dos planetas em signos Cardinais querem
<br>iniciar a a��o e s�o mais preocupados com a manifesta��o extrema
<br>dos elementos que representam. Os signos positivos, �ries e Libra,
<br>costumam agir mais espontaneamente, apesar de Libra freq�entemente
<br>permitir que a sua conduta seja dominada por uma necessidade
<br>de adaptar-se e encontrar um equil�brio em rela��o �s outras
<br>pessoas. C�ncer e Capric�rnio reagir�o provavelmente como um resultado
<br>de algum est�mulo externo, se bem que de um modo positivo,
<br>ou para iniciar a a��o, tendo em mente algum plano de longo
<br>prazo. Os nativos de signos Cardinais n�o gostam de oposi��o e
<br>preferem receber um est�mulo positivo. Estes signos s�o equivalen
<br>
<br>
<br>96
<br>
<br>
<br>tes ao guna hindu Rajas � Atividade, a for�a irresist�vel. Estes
<br>nativos s�o ambiciosos "e empreendedores, preferindo ocupar
<br>posi��es proeminentes e de responsabilidade. O instinto pioneiro
<br>encontra-se bem desenvolvido. Provavelmente o temperamento ser�
<br>bastante agressivo e independente, com uma capacidade de lideran�a
<br>e de fazer mudan�as.
<br>
<br>Os Signos Fixos
<br>
<br>Os que t�m a maioria dos planetas em signos Fixos s�o os construtores
<br>do zod�aco. S�o opostos a mudan�as e tendem a criar obst�culos
<br>�s inova��es que n�o aprovam. Esta oposi��o pode ser
<br>mantida ferrenhamente quando eles acham que o orgulho pessoal
<br>est� envolvido. Provavelmente ser�o determinados e autoconfiantes,
<br>com a capacidade de esperar pacientemente por suas oportunidades.
<br>Sob estresse podem exibir grandes poderes de resist�ncia.
<br>Normalmente vencem na vida atrav�s de mera persist�ncia e da
<br>capacidade de ignorar distra��es enquanto se movem austeramente
<br>na dire��o de seus objetivos. Com freq��ncia v�em o poder como
<br>um meio de garantir sua seguran�a. Ocasionalmente alguns s�o
<br>tentados a se comportar de modo muito desp�tico quando alcan�am
<br>uma posi��o de chefia, ou podem tentar assumir uma autoridade que
<br>n�o lhes foi conferida. Este padr�o representa o guna hindu Tamas
<br>
<br>� In�rcia/Estabilidade, o objeto im�vel.
<br>Os Signos Mut�veis
<br>
<br>Os que possuem a maioria dos planetas em signos Mut�veis s�o
<br>os intermedi�rios do zod�aco. Eles mant�m um elo entre a a��o
<br>imediata dos signos Cardinais e a imobilidade est�ica dos signos
<br>Fixos. Por um lado eles t�m o poder de decidir entre o progresso e a
<br>inova��o e por outro um conservadorismo ferrenho. Tendem a desenvolver
<br>a versatilidade para adaptar-se a diferentes situa��es.
<br>Geralmente h� uma necessidade de algu�m ou algo a que se adaptar,
<br>por isso muitas vezes sentem-se bem num papel secund�rio. Os
<br>signos Mut�veis representam o guna Sattva � Mente Ocupada/Intelig�ncia.
<br>Do mesmo modo que a mente est� pronta para ir de um
<br>lado para o outro com a rapidez de um azougue, eles tendem a tornar-
<br>se bastante impacientes e �s vezes insatisfeitos enquanto procuram
<br>um meio satisfat�rio de expressar seus talentos como inter
<br>
<br>
<br>97
<br>
<br>
<br>medianos. Geralmente s�o muito solid�rios e a mente � ativa, apesar
<br>de �s vezes serem indecisos.
<br>
<br>Cada qualidade precisa ser unida harmoniosamente com as outras
<br>duas, do mesmo modo que os gunas rajas, tamas e sattva precisam
<br>funcionar em perfeito equil�brio no homem como um todo.
<br>
<br>Cardinali Cardinal
<br>
<br>Uma associa��o entre dois tipos Cardinais precisa funcionar bem
<br>numa base totalmente ativa, j� que os dois companheiros podem
<br>estabelecer de antem�o quais s�o os seus objetivos e se suas ambi��es
<br>podem ser mais bem realizadas com uma a��o conjunta. Sen�o h�
<br>qualquer d�vida sobre isto, pode ser melhor para eles planejar suas
<br>atividades de modo a haver uma esfera de a��o claramente definida
<br>para cada um. Assim, qualquer tend�ncia de natureza competitiva
<br>ser� minimizada se um dos parceiros entrar em choque com a do
<br>outro. Os nativos Cardinais precisam de bastante espa�o para
<br>perseguir os seus pr�prios objetivos e manter uma certa independ�ncia,
<br>que significa muito para eles. Quando existe um bom grau
<br>de harmonia planet�ria entre os dois hor�scopos, pode haver uma
<br>grande admira��o m�tua, um apreciando as conquistas do outro. Esta
<br>� a mais din�mica das combina��es mas, se estiverem presentes
<br>grandes tens�es planet�rias entre os dois hor�scopos, poder� haver
<br>uma tend�ncia dos parceiros a atingir objetivos contr�rios. Em tal
<br>situa��o, uma defesa excessiva da independ�ncia por qualquer uma
<br>das partes ou tentativa de imp�-la poderia se revelar prejudicial ao
<br>relacionamento, j� que o nativo Cardinal n�o gosta que se oponham
<br>a ele.
<br>
<br>Cardinal/Fixo
<br>
<br>Uma associa��o entre uma pessoa predominantemente Cardinal
<br>e outra que tem uma maior �nfase nos signos Fixos pode representar
<br>a for�a irresist�vel entrando cm contato com o objeto im�vel. Nesse
<br>caso, muitas coisas depender�o do modo em que a qualidade mut�vel
<br>� representada nos dois hor�scopos, j� que, nesta situa��o, freq�entemente
<br>as duas partes precisam de uma razo�vel capacidade de
<br>adapta��o. Quando o mesmo elemento predomina nos dois hor�scopos
<br>e, num grau menor, quando a maioria dos elementos positivos
<br>Fogo e Ar, ou os clcmcntos;ncgalivos Terra e �gua est�o reunidos
<br>
<br>98
<br>
<br>
<br>nos dois hor�scopos, os parceiros ser�o capazes de combinar seus
<br>talentos individuais de modo mais efetivo e com menos atrito. Os
<br>nativos Cardinais podem fornecer a iniciativa, enquanto os parceiros
<br>fixos podem proporcionar a for�a motriz para firmar a posi��o
<br>conquistada atrav�s da iniciativa de seus aliados Cardinais. Se n�o
<br>existe uma compatibilidade b�sica, os signos Fixos costumam achar
<br>seus parceiros Cardinais muito descuidados e imprudentes, enquanto
<br>os signos Cardinais podem achar seus parceiros Fixos pregui�osos
<br>demais, pouco empreendedores, e muito preocupados em manter sua
<br>posi��o e conservar seus bens.
<br>
<br>Cardinal/Mut�vel
<br>
<br>Uma associa��o entre uma pessoa predominantemente Cardinal
<br>e outra predominantemente Mut�vel funcionar� melhor quando as
<br>duas tiverem uma maioria de planetas no mesmo elemento, ou
<br>quando a associa��o unir dois elementos positivos. Como os nativos
<br>Mut�veis desejam adaptar-se aos seus parceiros mais ativos, o
<br>resultado pode ser uma uni�o bastante ativa sem nenhum tipo de
<br>�ncora.
<br>
<br>Fixo/Fixo
<br>
<br>Nesta combina��o muitas coisas depender�o da atitude emocional
<br>b�sica dos parceiros. Os signos Fixos tendem a ser conservadores e
<br>resistentes a mudan�as. Quando h� um relacionamento planet�rio
<br>preponderantemente harmonioso entre dois mapas, esta � uma excelente
<br>combina��o para construir um relacionamento duradouro,
<br>um neg�cio ou empreendimento conjunto numa base duradoura.
<br>Apesar disso, pode ser preciso garantir que haja oportunidades suficientes
<br>para adaptar-se a circunst�ncias que mudam, j� que o elemento
<br>de flexibilidade tem menos chances de estar presente neste
<br>tipo de relacionamento. Na melhor das hip�teses, os parceiros podem
<br>combinar muito bem em atividades que exijam perseveran�a,
<br>lealdade e objetivos definidos. J� que nenhum dos dois desejar� ser
<br>dominado pelo outro, essa associa��o, para ser bem-sucedida, exige
<br>um alto grau de harmonia planet�ria entre os dois hor�scopos.
<br>Quando h� uma propor��o maior de afli��es planet�rias entre eles,
<br>quaisquer desaven�as podem ser agravadas pela incapacidade de um
<br>ceder ao outro, devido ao orgulho. Uma pequena rixa pode se trans
<br>
<br>
<br>
<br>formar numa grande disputa, por causa de uma atitude m�tua obstinada
<br>e inflex�vel. Em tais circunst�ncias o relacionamento �s vezes
<br>� destru�do pela intoler�ncia e ego�smo, podendo resultar desejos
<br>conflitantes.
<br>
<br>Fixo/Mut�vel
<br>
<br>A menos que os nativos Mut�veis gostem de representar um papel
<br>quase sempre passivo, eles podem ser infelizes com um companheiro
<br>Fixo, que normalmente n�o consegue satisfazer o seu desejo impaciente
<br>por novidade e mudan�as e nem atingir o grau de harmonia
<br>mental que os nativos Mut�veis anseiam tanto cultivar.
<br>
<br>Quando predominam signos do mesmo elemento, este relacionamento
<br>tem maiores chances de ser bem-sucedido. Os parceiros
<br>Mut�veis podem desenvolver uma grande admira��o pela for�a de
<br>car�ter de seu companheiro. Freq�entemente eles tendem a ser um
<br>tanto dependentes, achando que precisam de um parceiro forte para
<br>alcan�ar o sucesso pessoal. �s vezes o companheiro de signo Fixo
<br>gosta de representar o papel mais importante. Mas, a menos que haja
<br>um razo�vel grau de harmonia planet�ria entre os dois hor�scopos e
<br>um reconhecimento m�tuo de que um tem qualidades importantes
<br>que faltam ao outro, o nativo de signo Fixo pode n�o se impressionar
<br>com a versatilidade do parceiro Mut�vel e consider�-lo muito inseguro
<br>e inconstante, enquanto o nativo Mut�vel pode considerar o
<br>seu companheiro obstinado, desp�tico e inflex�vel.
<br>
<br>Mut�vel/Mut�vel
<br>
<br>Provavelmente este tipo de relacionamento se desenvolver�
<br>melhor no n�vel mental. Se a maioria dos aspectos cruzados planet�rios
<br>for favor�vel, pode haver um alto grau de afinidade mental.
<br>Os dois companheiros tendem a ser muito adapt�veis. Uma vez que
<br>os nativos com esta inclina��o geralmente precisam de algu�m a
<br>quem adaptar-se, e de algu�m que possa fornecer o elemento de
<br>continuidade que eles n�o t�m, a tend�ncia � este tipo de combina��o
<br>n�o ser est�vel e os parceiros n�o agirem de modo suficientemente
<br>cuidadoso em circunst�ncias que exigem uma entrega total. Amenos
<br>que Saturno seja forte nos dois hor�scopos e configurado com a
<br>maioria dos planetas do parceiro, o relacionamento pode n�o ter estabilidade
<br>suficiente. O objetivo comum pode tornar-se vago demais,
<br>
<br>
<br>com a inquieta��o de um incitando a do outro. Geralmente este relacionamento
<br>se torna mais positivo atrav�s do desenvolvimento de
<br>interesses mentais compartilhados e de uma capacidade m�tua de
<br>comunicar-se livremente. Apesar disso, em alguns casos�particularmente
<br>quando falta o elemento Terra � os parceiros podem n�o
<br>gostar de enfrentar problemas pr�ticos, encorajando um ao outro com
<br>fantasias m�tuas que levam a um alto grau de escapismo.
<br>
<br>GRUPOS DE CASAS PLANET�RIAS
<br>
<br>Um terceiro agrupamento de planetas que pode ser altamente
<br>informativo diz respeito � sua distribui��o em termos das casas
<br>angular, sucedente e cadente. Antes de examinar os efeitos prov�veis
<br>da combina��o destes tr�s grupos, primeiro � necess�rio levar em
<br>conta as caracter�sticas gerais que provavelmente estar�o presentes
<br>quando um determinado grupo predomina num hor�scopo.
<br>
<br>Angular
<br>
<br>Geralmente os que possuem a maioria dos planetas em casas
<br>angulares desejam impressionar as pessoas e sentir-se no centro de
<br>tudo que est� acontecendo. O impacto da personalidade deles ser�
<br>imediato, seja atraente ou repugnante. Estes tipos entram facilmente
<br>em relacionamentos, talvez porque precisem das rea��es dos outros
<br>para tornarem-se mais conscientes de si mesmos. Muitos planetas
<br>aspectando harmoniosamente uns aos outros em casas angulares
<br>podem indicar uma pessoa bastante pregui�osa, enquanto aspectos
<br>discordantes unindo planetas angulares tendem a produzir um tipo
<br>de personalidade mais rude, geralmente com um ego fortemente
<br>acentuado e um desejo de assumir a lideran�a num relacionamento.
<br>
<br>Sucedente
<br>
<br>Os que t�m a maioria dos planetas em casas sucedentes s�o mais
<br>preocupados em criar ra�zes e em desenvolveros esquemas iniciados
<br>pelos que t�m uma maioria de planetas angulares. Por esse motivo
<br>eles se interessam por uni�es est�veis, apesar de aspectos discordantes
<br>entre planetas cm casas sucedentes poderem indicar um pouco
<br>de dificuldade em estabelecer um tipo de vida est�vel. Geralmente
<br>
<br>
<br>h� uma grande necessidade de seguran�a emocional. Quando a Lua,
<br>Venus, J�piter e Netuno est�o envolvidos nestes aspectos desarmoniosos,
<br>pode haver uma tend�ncia a procurar os prazeres da vida ao
<br>inv�s de "assentar a cabe�a". Os mal�ficos aflitos nestas casas podem
<br>indicar uma natureza bastante ciumenta, e uma grande necessidade
<br>de uma sensa��o de seguran�a nos relacionamentos sexuais
<br>que pode ser desastrosa, a menos que o hor�scopo do parceiro forne�a
<br>suficientes aspectos cruzados harmoniosos aos planetas
<br>sucedentes.
<br>
<br>Cadente
<br>
<br>Os nativos com a maioria dos planetas em casas cadentes tendem
<br>a esconder sua real personalidade e geralmente t�m um pouco de
<br>dificuldade em encontrar um modo realmente eficaz de express�la.
<br>�s vezes, como no caso de Sir Arthur Conan Doyle � que tinha
<br>seis corpos na 12� casa�, isto � compensado por atividades liter�rias
<br>ou atrav�s de uma vida servindo aos outros. H� um certo talento para
<br>atuar como agente ou intermedi�rio, e capacidade para adaptar-se a
<br>diferentes pessoas e circunst�ncias. Freq�entemente tendem mais a
<br>viver "nas nuvens" do que outros tipos, de modo que pode haver uma
<br>propens�o a se recolher ao mundo do abstrato. Conseq�entemente,
<br>para estes nativos a compatibilidade mental � mais importante.
<br>Precisam de um parceiro que possa puxar por eles e ajud�-los a
<br>perceber os seus potenciais latentes.
<br>
<br>Quando os dois parceiros t�m uma maioria de planetas angulares,
<br>muitas coisas depender�o de se estes planetas se unem harmoniosamente
<br>e se suas naturezas intr�nsecas s�o compat�veis. Se entram em
<br>choque, � improv�vel que seja estabelecido um relacionamento
<br>tranq�ilo, j� que os dois companheiros ter�o um grande interesse em
<br>concluir o que come�aram. Se os objetivos forem contr�rios, podem
<br>tentar prosseguir com os seus pr�prios planos � custa do outro. O
<br>tipo angular pode combinar bem com o tipo sucedente se os aspectos
<br>cruzados forem harmoniosos, mas geralmente h� menos probabilidades
<br>de um relacionamento harmonioso com o tipo cadente. Dos
<br>tr�s tipos, o sucedente � o �nico que tem uma chance de conseguir
<br>uma boa uni�o com os tipos angular ou cadente, desde que a maioria
<br>dos aspectos cruzados n�o seja discordante. Um relacionamento com
<br>algu�m cujos planetas est�o principalmente em casas sucedentes
<br>
<br>102
<br>
<br>
<br>tamb�m pode ser bom, desde que os aspectos cruzados prometam
<br>harmonia. Os que possuem a maioria dos planetas em casas angulares,
<br>que gostam de concentrar-se em colocar id�ias em pr�tica, s�o
<br>os que t�m menores chances de "se dar bem" com o tipo cadente,
<br>que tende a concentrar-se em planejar e aperfei�oar a parte te�rica.
<br>
<br>
<br>CAP�TULO 6
<br>
<br>PLANETAS BEN�FICOS E MAL�FICOS
<br>ASPECTOS HARMONIOSOS E
<br>DISCORDANTES
<br>
<br>
<br>Um famoso astr�logo ingl�s, tendo sobrevivido a muito custo aos
<br>efeitos dos tr�nsitos dc Urano, Netuno e Plut�o sobre pontos sens�veis
<br>em seu hor�scopo, observou: "Espero que o pr�ximo planeta que
<br>eles descubram seja ben�fico!" Tal sentimento levanta muitas
<br>quest�es. Por qu�, por exemplo, rotulamos alguns planetas de
<br>ben�ficos e outros de mal�ficos? Em quais crit�rios estamos nos
<br>baseando?
<br>
<br>Se estamos nos baseando em um ponto de vista terreno, ent�o tudo
<br>que serve para assegurar e aumentar nosso bem-estar f�sico e nos
<br>proporcionar prazer deve ser encarado como ben�fico, enquanto tudo
<br>que nos causa sofrimento e frustra os nossos desejos deve ser classificado
<br>como mal�fico. Ningu�m diz: "Viva, quebrei a minha perna"
<br>ou lamenta ter herdado uma grande fortuna. Tanto � assim que o
<br>primeiro tipo de acontecimento quase sempre ocorre quando os
<br>planetas chamados de "mal�ficos" est�o ativos, enquanto o �ltimo
<br>ocorre quando os chamados de "ben�ficos" est�o operando.
<br>
<br>Os grandes mestres religiosos do mundo sempre enfatizaram o
<br>fato de que a verdadeira felicidade n�o ser� encontrada se perseguir
<br>
<br>
<br>
<br>mos os prazeres do mundo material. Parece que a maior parte da incans�vel
<br>procura da humanidade por prazer n�o passa de um p�lido
<br>reflexo da busca do devoto religioso por um estado de alegria e bemaventuran�a.
<br>Esta procura exige uma vida de autodisciplina e
<br>ren�ncia, qualidades que n�o refletem a natureza essencial dos
<br>ben�ficos tradicionais, V�nus e J�piter. No entanto, tanto o Amor
<br>como a Sabedoria s�o essenciais na procura que, para ser definitivamente
<br>consumada, exige uma rea��o harmoniosa a todas as radia��es
<br>planet�rias.
<br>
<br>Os termos "ben�fico" e "mal�fico" podem sugerir que eles s�o
<br>os agentes de for�as duplas do bem e do mal. Nesse caso, as for�as
<br>do mal aparentam estarem grande vantagem, j� que os planetas extra-
<br>Saturnianos parecem indicar tantos problemas quanto os mal�ficos
<br>tradicionais! Provavelmente � mais verdadeiro dizer que as for�as
<br>representadas pelos planetas s�o neutras, e que se elas operam para
<br>
<br>o bem ou o mal num determinado hor�scopo, depende do estado
<br>evolutivo desse nativo. Tem sido dito que sofremos porque temos
<br>poucas virtudes, e �s vezes nossas respostas individuais aos planetas
<br>podem evocar as qualidades mais e menos desej�veis deles. Esta
<br>a��o bidirecional das for�as planet�rias � respons�vel pelo fato de
<br>que v�rios entendidos t�m equiparado o Sol, a Lua e os planetas at�
<br>Saturno �s Sete Grandes Virtudes e aos Sete Pecados Capitais.
<br>Al�m disso, o homem encarna na Terra para aprender certas li��es;
<br>lutando contra as adversidades, o aperfei�oamento da alma � acelerado
<br>e obt�m-se o desenvolvimento espiritual. Portanto, qualquer
<br>planeta que signifique dificuldade, oposi��es e afli��es de v�rios
<br>tipos pode ser �til ao desenvolvimento espiritual do nativo e por isso
<br>deve fazer um "bem".
<br>
<br>� f�cil entender por que V�nus e J�piter foram classificados como
<br>ben�ficos. Geralmente um excesso de narcisismo e amor � boa vida
<br>n�o prejudicam ningu�m, exceto quem se entrega a eles. Apesar
<br>disso, sabe-se que um excesso de benef�cios aparentemente conferidos
<br>pelos ben�ficos pode ocasionalmente ter resultados desastrosos.
<br>Lembro-me bem de um incidente num filme antigo de Eddie Cantor,
<br>The Kid From Spain, em que ele foi capturado por um terr�vel bandido
<br>mexicano, cujo conceito de benevol�ncia era deix�-lo escolher
<br>seu modo de morrer, talvez esfaqueado ou baleado. Eddie agradeceu-
<br>lhe por sua generosidade, mas disse: "Se d� no mesmo para voc�,
<br>
<br>
<br>eu preferia morrer comendo morangos!" Do mesmo modo que as
<br>priva��es, os excessos tamb�m podem causar problemas.
<br>
<br>A energia de Marte, usada de modo ego�sta, pode facilmente
<br>manifestar-se como agress�o e at� mesmo crueldade, enquanto o mau
<br>uso das energias Satumianas pode resultar num ego�smo frio e
<br>desumano e no zelo excessivo na imposi��o de disciplina aos outros
<br>
<br>� todas atividades planejadas para proporcionar experi�ncias desagrad�veis
<br>aos outros. A luz deste tipo de resposta negativa ao
<br>est�mulo de Marte e Saturno � f�cil entender por que estes dois planetas
<br>ganharam o "estigma" de mal�ficos. No entanto, as qualidades
<br>mais elevadas de Marte � coragem e um desejo de abra�ar a causa
<br>dos fracos; e de Saturno � fidelidade, perseveran�a, autodisciplina
<br>e uma intermin�vel procura pelo aperfei�oamento pessoal � tornam
<br>rid�culo o termo "mal�fico".
<br>N�o existe exemplo melhor da potencialidade ben�fica/mal�fica
<br>que envolve um �nico planeta que os diferentes efeitos de Netuno que
<br>se evidenciam em hor�scopos individuais. O arrebatamento da compreens�o
<br>do desejo do cora��o e as drogas que fornecem um caminho
<br>mais curto para o �xtase pertencem ao dom�nio de Netuno �
<br>vastid�o � a assimila��o em Nirvana do Budista�Amor Universal.
<br>Netuno pode realizar o desejo do cora��o, deste modo parecendo
<br>agir como ben�fico. Mas se a pessoa deseja a coisa errada, por imaturidade
<br>ou ego�smo, ent�o a realiza��o de objetivos imaginados
<br>pode tornar-se uma experi�ncia desastrosa. Deste modo, as d�divas
<br>de Netuno passam finalmente a ser consideradas totalmente indesej�veis.
<br>Netuno tem sido chamado de planeta da ilus�o pelos que o
<br>julgam por crit�rios terrenos, quando na verdade sua fun��o � destruir
<br>a ilus�o mostrando ao homem as conseq��ncias de �nsias por deuses
<br>falsos e seduzir-se por conceitos ilus�rios de felicidade. Portanto,
<br>Netuno pode ser considerado ben�fico ou mal�fico, dependendo das
<br>expectativas dos homens, e ocorre o mesmo com os outros planetas.
<br>
<br>Alguns dos que admitem que h� um objetivo mais desej�vel al�m
<br>dos prazeres deste mundo n�o conseguem compreender que este
<br>objetivo s� pode ser alcan�ado atrav�s de um esfor�o incessante e
<br>f�rrea autodisciplina, e procuram caminhos mais curtos atrav�s do
<br>uso de drogas que, embora capazes de abrir portas da consci�ncia
<br>at� ent�o sequer imaginadas, podem ter efeitos colaterais que acabam
<br>por destruir quem as usa.
<br>
<br>
<br>Do mesmo modo que falamos de planetas ben�ficos e mal�ficos,
<br>os aspectos se dividem em duas categorias principais. � mais f�cil
<br>lidar com as energias indicadas pelos bons aspectos � tr�gono, sextil
<br>e semi-sextil � porque parecem produzir resultados satisfat�rios
<br>com menos esfor�o que as energias mais poderosas do quadrado e
<br>oposi��o (e num grau menor e semiquadrado, sesquiquadrado e
<br>quinc�ncio) que s�o mais indicativos de obst�culos, oposi��o e
<br>demoras, apesar de n�o serem necessariamente catastr�ficos. Como
<br>ocorre com os planetas mal�ficos, normalmente s�o os aspectos
<br>chamados de ruins que fornecem as condi��es mais prop�cias ao
<br>aperfei�oamento da alma � reveses, dor e sofrimento para serem
<br>superados. Tais obst�culos, atrav�s do aumento da resist�ncia, servem
<br>como base para um tipo de isom�trico espiritual, pelo qual o
<br>"m�sculo" espiritual pode ser desenvolvido e fortalecido.
<br>
<br>A divis�o Ptolemaica dos aspectos em "harmoniosos" e "discordantes"
<br>� outra baseada numa avalia��o mec�nica l�gica dos problemas
<br>inerentes � combina��o de planetas em signos de elementos
<br>diferentes. Geralmente o tr�gono se forma entre planetas no mesmo
<br>elemento e o sextil entre planetas em elementos compat�veis, sejam
<br>os dois positivos ou negativos. Portanto, um tr�gono entre um planeta
<br>bem no final de C�ncer e um tr�gono bem no come�o de Sagit�rio
<br>t�m menos probabilidades de operar de modo totalmente harmonioso,
<br>j� que a �gua e o fogo n�o se misturam facilmente. Igualmente,
<br>um quadrado entre um planeta no final de Cancere um quadrado no
<br>come�o de Escorpi�o n�o tendem a operar de modo t�o adverso como
<br>um quadrado entre planetas em elementos diferentes.
<br>
<br>Eu prefiro seguir o m�todo antigo de me referir aos aspectos como
<br>harmoniosos e discordantes na cren�a de que a maioria dos estudantes
<br>est� consciente de que isso n�o implica em nenhum pr�-julgamento
<br>da atua��o de um aspecto para o bem e o mal num determinado
<br>hor�scopo, mas apenas refere-se ao fato de que a realiza��o
<br>de uma combina��o harmoniosa entre as duas for�as planet�rias
<br>envolvidas pode exigir um grande esfor�o por parte do nativo, quando
<br>
<br>o aspecto � discordante, para conseguiros melhores resultados. Se
<br>o maior poder dos aspectos chamados de discordantes puder ser
<br>controlado, mais resultados produtivos podem eventualmente ser
<br>obtidos. Se este poder n�o puder ser controlado, � poss�vel que seja
<br>precipitado um estado de crise, do mesmo modo que um homem que
<br>
<br>n�o � forte o bastante para lidar com uma perfuratriz pode estrag�la,
<br>enquanto em m�os competentes pode se revelar um instrumento
<br>muito �til.
<br>
<br>Ao mesmo tempo que ningu�m tem tentado referir-se aos planetas
<br>ben�ficos e mal�ficos de outro modo, tem havido v�rias tentativas
<br>de encontrar um meio alternativo para referir-se aos aspectos
<br>harmoniosos e discordantes. Os termos opostos est�tico e din�mico,
<br>ativo e passivo v�m � mente como associa��es que sugerem uma
<br>vis�o ligeiramente diferente da influ�ncia dos aspectos. Outras
<br>associa��es, tais como f�cil e dif�cil, �til e adverso, favor�vel e
<br>desfavor�vel meramente reiteram a id�ia b�sica contida nos termos
<br>"harmonioso" e "discordante", e o leitor sem d�vida n�o deixar� de
<br>notar que o autor usa ocasionalmente estas alternativas para variar.
<br>
<br>Vale apena tornar a salientar que os chamados aspectos favor�veis
<br>n�o prometem por si s� uma combina��o harmoniosa das qualidades
<br>indicadas pelos planetas em aspecto um com o outro. N�o s� muitas
<br>coisas dependem da natureza intr�nseca de cada planeta mas tamb�m
<br>destes planetas estarem ou n�o bem situados por signo e bem aspectados
<br>por outros planetas. Marte, por exemplo, n�o combina facilmente
<br>com Saturno, mesmo quando em aspecto tr�gono, enquanto
<br>um quadrado entre o Sol e J�piter pode indicar muito sucesso. No
<br>entanto, mesmo um tr�gono entre o Sol e J�piter pode ser arruinado
<br>se qualquer um dos corpos estiver em detrimento ou decl�nio,
<br>enquanto um aspecto tecnicamente adverso entre dois planetas pode
<br>ser muito melhorado se qualquer um ou ambos os planetas estiverem
<br>exaltados por signo.
<br>
<br>As observa��es acima tamb�m s�o v�lidas na compara��o de
<br>hor�scopos. Um tr�gono entre V�nus em Escorpi�o de uma pessoa e
<br>Saturno em C�ncer de outra poderia significar uma associa��o um
<br>pouco menos feliz do que se os dois planetas formassem uma conjun��o
<br>em Libra.
<br>
<br>H� um outro ponto a ser considerado neste contexto. Se, por
<br>
<br>exemplo, o nosso hor�scopo cont�m um quadrado Marte-Saturno,
<br>
<br>sugerindo alguma dificuldade na combina��o de for�as indicadas
<br>
<br>pelos dois planetas, um aspecto de Saturno de outra pessoa em nosso
<br>
<br>Marte ou de Marte em nosso Saturno servir� para lembrar-nos de
<br>
<br>nossas dificuldades. A outra pessoa ir�, por assim dizer, personifi
<br>
<br>
<br>car o nosso pr�prio problema psicol�gico. J� que tendemos a atrair
<br>
<br>
<br>outras pessoas de acordo com as nossas pr�prias caracter�sticas
<br>planet�rias, h� uma boa chance de que v�rios de nossos compostos
<br>planet�rios harmoniosos e discordantes freq�entemente se tornem
<br>"personificados" deste modo. Como resultado, provavelmente olharemos
<br>com benevol�ncia para aqueles que estimulam nossos melhores
<br>aspectos, e teremos consider�veis reservas em rela��o �queles
<br>que nos tornam desagradavelmente conscientes das desarmonias em
<br>nosso pr�prio hor�scopo.
<br>
<br>� atrav�s do efeito duplo das possibilidades ben�fica e mal�fica
<br>associadas aos planetas e das possibilidades harmoniosas e discordantes
<br>associadas aos aspectos que podemos encontrar a resposta
<br>mais satisfat�ria para a velha pergunta: "Se Deus � Amor, por que
<br>Ele permite que exista a dor e o sofrimento?" O plano evolutivo do
<br>Universo � constitu�do de modo a que cada indiv�duo tenha a possibilidade
<br>de alcan�ar a condi��o de Ser Divino, uma possibilidade
<br>que s� pode ser realizada depois de muitas encarna��es de esfor�o
<br>incessante e desejos constantes. Apenas sendo livres para reagir ao
<br>nosso pr�prio modo �s for�as planet�rias atuando em nosso sistema
<br>solar, representado pelo Sol, Lua e planetas, finalmente podemos
<br>nos preparar para nos tornar um canal perfeito para a manifesta��o
<br>dessas for�as planet�rias.
<br>
<br>A quantidade de dor e sofrimento na vida de qualquer pessoa pode
<br>medir a incapacidade dela reagir do modo melhor poss�vel � radia��o
<br>de um determinado planeta ou planetas, uma incapacidade que pode
<br>remontar a muitas encarna��es anteriores. Se, por exemplo, n�o
<br>conseguirmos usar corretamente a for�a representada por Marte e
<br>permitirmos que nossas energias nos controlem ao inv�s de exercermos
<br>controle sobre elas, podemos n�o controlar o nosso temperamento,
<br>tornar-nos excessivamente agressivos ou impacientes. Deste
<br>modo precipitaremos situa��es que resultam em recebermos uma
<br>li��o curta, brusca e dolorosa, uma li��o que pode ser repetida indefinidamente
<br>se n�o aprendermos a lidar melhor com as energias de
<br>Marte. Se n�o reagirmos como dever�amos � for�a representada por
<br>Saturno e nos permitirmos ser dominados por um ego�smo frio e
<br>limitador, e deixarmos nossas ambi��es materiais nos tornarem
<br>cegos a quaisquer outras considera��es, poderemos descobrir que a
<br>longo prazo nos ser� negado o amor e a afei��o que deixamos de
<br>dedicar aos outros, e que estamos de algum modo isolados do mundo
<br>
<br>110
<br>
<br>
<br>em que vivemos. As li��es de Saturno s�o severas, mas ditadas por
<br>uma r�gida e l�gica justi�a. De modo similar nosso fracasso em
<br>responder adequadamente a outras for�as planet�rias pode envolver-
<br>nos em v�rias experi�ncias desagrad�veis.
<br>
<br>As repercuss�es de um modo de vida errado podem n�o ser sentidas
<br>numa encarna��o. Na verdade, a maioria de n�s � muito fr�gil
<br>para suportar o peso acumulado de nossos erros anteriores durante
<br>
<br>o per�odo de uma �nica encarna��o. Por isso o Dr. Davidson, em suas
<br>palestras sobre Astrologia M�dica, citou o caso de uma mulher com
<br>tend�ncias � tuberculose indicadas por um Netuno muito aflito, que
<br>desenvolvera esta predisposi��o em seu sistema durante uma vida
<br>inteira de jejuns e vig�lias noturnas em ambientes espartanos numa
<br>exist�ncia anterior, em que foi freira. N�o foi � toa que Buda pregou
<br>a sabedoria do Meio-Termo!
<br>Portanto, o modo pelo qual reagimos � influ�ncia das for�as planet�rias
<br>nos torna o nosso pr�prio juiz ou j�ri. Somos n�s que precipitamos
<br>o nosso pr�prio sofrimento. Os efeitos desagrad�veis
<br>resultantes do mau uso que fazemos das for�as � nossa disposi��o
<br>s�o as conseq��ncias inevit�veis da lei imut�vel. A alternativa para
<br>este processo de aprendizagem, pelo m�todo de tentativas, � o homem
<br>permanecer para sempre num est�gio de aut�mato, um estado de exist�ncia
<br>n�o muito distante do aniquilamento permanente!
<br>
<br>� claro que o que foi dito acima � uma simplifica��o exagerada
<br>do quadro, j� que a nossa pr�pria evolu��o � ligada � evolu��o dos
<br>grupos maiores aos quais pertencemos, da fam�lia na qual nascemos,
<br>da na��o a que pertencemos e, na verdade, de toda a ra�a humana.
<br>Tanto � assim que a hist�ria do Ser mais perfeito que j� encarnou na
<br>Terra fala do sacrif�cio final na Cruz, n�o apenas com o objetivo de
<br>saldar quaisquer d�bitos dele pr�prio com o passado, mas com a
<br>finalidade de libertar toda a ra�a humana do peso esmagador de seu
<br>pr�prio carma acumulado.
<br>
<br>
<br>CAP�TULO 7
<br>
<br>INTERA��O ENTRE HOR�SCOPOS
<br>
<br>PARTE UM
<br>Por quest�es de conveni�ncia o pronome masculino � usado neste cap�tulo (exceto
<br>onde planetas femininos est�o envolvidos), apesar de o que � dito se aplicar
<br>igualmente ao sexo oposto.
<br>
<br>Aspectos Cruzados Interplanet�rios
<br>
<br>De todos os fatores na compara��o de mapas, o mais importante
<br>� a influ�ncia rec�proca dos planetas e �ngulos num hor�scopo sobre
<br>os mesmos fatores no outro. Quando os elementos ou qualidades n�o
<br>parecem se combinar muito harmoniosamente, v�rios interaspectos
<br>fortes e favor�veis podem alterar bastante todo o quadro, enquanto
<br>que se os elementos e qualidades se combinam harmoniosamente,
<br>muito da aparente harmonia pode n�o se materializar se os aspectos
<br>cruzados entre os planetas nos dois hor�scopos forem discordantes.
<br>
<br>As mesmas regras se aplicam � avalia��o dos aspectos cruzados
<br>em compara��o de mapas, como na avalia��o de aspectos planet�rios
<br>no mapa natal. Sextis e tr�gonos prometem um relacionamento harmonioso,
<br>enquanto quadrados indicam dificuldades. Conjun��es e
<br>oposi��es s�o vari�veis, de acordo com a natureza dos planetas
<br>envolvidos. Qualquer planeta debilitado por signo pode at� certo
<br>ponto estragar a harmonia inerente ao tr�gono e sextil, enquanto um
<br>
<br>
<br>planeta exaltado por signo pode minimizar muito o atrito normalmente
<br>indicado pelo quadrado e oposi��o. Marte, Saturno, Urano,
<br>Netuno e Plut�o, mesmo quando unidos uns aos outros por aspecto
<br>favor�vel, podem produzir tens�es que exigem cuidado. Muitas
<br>coisas depender�o de suas for�as e do modo como est�o integrados
<br>aos padr�es gerais de cada hor�scopo.
<br>
<br>Como em hor�scopos individuais, os chamados aspectos discordantes
<br>podem ter um papel importante no crescimento espiritual de
<br>cada parceiro. Mas � �til ter em mente que um relacionamento exige
<br>que duas pessoas (ou talvez mais se um relacionamento de neg�cios
<br>estiver envolvido) trabalhem juntas em harmonia. � poss�vel que haja
<br>muitas chances de elas terem experi�ncias no mundo exterior sem
<br>entrarem em choque e criar problemas uma para a outra. Se as indica��es
<br>gerais no mapa do nativo indicarem o tipo de temperamento
<br>que encontra dificuldade em adaptar-se aos outros, provavelmente
<br>ele atrair� uma parceira que o tornar� desagradavelmente consciente
<br>dessa dificuldade. Tamb�m pode haver motivos c�rmicos pelos quais
<br>duas pessoas se casam ou se relacionam, e se o encontro � verdadeiramente
<br>obra do destino, freq�entemente, parecer� que nenhuma incompatibilidade
<br>aparente evitar� que eles estabele�am um relacionamento.
<br>No entanto, os relacionamentos mais harmoniosos
<br>normalmente ocorrem quando h� um grande n�mero de contatos
<br>favor�veis entre os dois hor�scopos, apesar de alguns aspectos discordantes
<br>poderem evitar que a uni�o se torne muito mon�tona e ter
<br>uma finalidade �til, se qualquer uma das partes se aperfei�oar com
<br>uma ocasional falta de excita��o.
<br>
<br>A oposi��o tem um papel especial quando diz respeito ao relacionamento,
<br>porque a c�spide da 7� casa dos relacionamentos op�e-
<br>se ao Ascendente. J� que tendemos a procurar qualidades complementares
<br>num c�njuge, uma oposi��o entre o mesmo planeta
<br>ou lumin�rias no hor�scopo de cada um pode resultar numa fonte
<br>de for�a para uma uni�o, a menos que outro planeta no hor�scopo
<br>de um deles esteja em quadrado com os dois p�los da oposi��o.
<br>As conjun��es tamb�m s�o importantes. Mais uma vez, muitas
<br>coisas depender�o dos aspectos recebidos pelos planetas em conjun��o.
<br>Uma afinidade sugerida pelos dois companheiros terem
<br>planetas no mesmo signo pode ser na pr�tica consideravelmente
<br>diminu�da se os planetas nesse signo forem antag�nicos. Quando h�
<br>
<br>
<br>v�rios planetas num signo, o impacto total do stellium precisa ser
<br>levado em conta.
<br>
<br>�s vezes o hor�scopo de um dos parceiros fornece algum fator
<br>que realmente melhora a atua��o do outro, como, por exemplo,
<br>quando o J�piter de um deles est� posicionado respectivamente em
<br>tr�gono e sextil com dois planetas que formam uma oposi��o dif�cil
<br>no hor�scopo do outro, onde nenhum fator �til desse tipo est� presente.
<br>Por outro lado, se uma configura��o dif�cil entre dois ou mais
<br>planetas num hor�scopo � estimulada por uma conjun��o ou
<br>oposi��o de um planeta ou lumin�rias no hor�scopo do parceiro, o
<br>que tem a configura��o dif�cil se torna desagradavelmente consciente
<br>da tens�o que isso representa. Por causa disso o �ltimo pode ressentir-
<br>se dessa determinada qualidade no primeiro, que causa o aparecimento
<br>dessa tens�o.
<br>
<br>Uma situa��o parecida ocorre quando um dos companheiros tem
<br>um planeta muito aflito no hor�scopo e o outro o mesmo planeta perto
<br>de um �ngulo, principalmente se ele est� ascendendo. Uma pessoa
<br>tende a expressar-se principalmente em termos do planeta ou planetas
<br>ascendentes. Por esse motivo, quando um parceiro tem um planeta
<br>ascendente muito aflito no hor�scopo do outro, um "lembrar�"
<br>continuamente o outro da tens�o ou dificuldade indicada pelo planeta
<br>aflito, tendendo a faz�-lo sentir-se pouco � vontade em sua presen�a.
<br>
<br>No caso dos contempor�neos, n�o � prov�vel que haja aspectos
<br>cruzados importantes entre a maioria dos planetas principais, mas
<br>se houver uma grande diferen�a de idade entre as duas partes, quaisquer
<br>choques entre os planetas de fora podem ser importantes.
<br>
<br>Um aspecto favor�vel entre os regentes da 7� casa de cada parceiro
<br>� um indicador �til de harmonia, mas m ais decisivos ainda s�o
<br>os aspectos cruzados em quaisquer planetas da 7� casa. Aspectos
<br>menos importantes, tais como o semi-sextil, semiquadrado e
<br>quinc�ncio n�o deveriam ser ignorados. Geralmente o quinc�ncio
<br>tem algum sentido c�rmico e pode relacionar-se a um "servi�o" que
<br>um parceiro "deve" ao outro. Freq�entemente est� impl�cito no
<br>quinc�ncio um desafio a fazer algum tipo de transforma��o pessoal.
<br>As tens�es indicadas por esse aspecto cruzado entre planetas
<br>"dif�ceis" podem ser resolvidas atrav�s de um esfor�o determinado
<br>por parte de um ou ambos os parceiros para analisar-se o mais objetivamente
<br>poss�vel, corrigindo quaisquer defeitos de car�ter dos
<br>
<br>
<br>quais tenham se tornado conscientes e visando a sua erradica��o
<br>definitiva.
<br>
<br>Quaisquer refer�ncias a aspectos menos importantes naturalmente
<br>conduzem � quest�o das orbes admiss�veis. Ao mesmo tempo que
<br>pode ser prudente considerar poss�veis tens�es em situa��es onde
<br>um parceiro tem Saturno num signo e o outro Marte no mesmo signo,
<br>independente da dist�ncia que estejam um do outro, � uma boa regra
<br>geral n�o permitir mais do que dois ou tr�s graus de orbe para
<br>conjun��o, sextil, quadrado, tr�gono e oposi��o, acrescentando talvez
<br>um grau ou dois se as lumin�rias estiverem envolvidas. Todos os
<br>outros aspectos deveriam ler cerca de um grau e meio de precis�o.
<br>Quanto menor a orbe, maiores as probabilidades do contato ser importante
<br>e decisivo.
<br>
<br>Algumas vezes se descobrir� que o planeta num hor�scopo cai
<br>no meio exato entre dois planetas no hor�scopo do outro. Quando
<br>isto ocorre o resultado � uma maior percep��o no �ltimo dos dois
<br>planetas envolvidos. Se estes n�o estiverem ligados por um aspecto
<br>distinto, o planeta do parceiro agir� como um catalisador. O resultado
<br>� que ele sente o impacto dos dois planetas no hor�scopo do
<br>outro, o que parecer� atuar como se eles estivessem verdadeiramente
<br>ligados por aspecto. Se, por exemplo, num hor�scopo Marte estiver
<br>em 24 Le�o e Saturno em 12 Escorpi�o, enquanto V�nus no
<br>hor�scopo do parceiro est� em 3 �ries ou Libra, ou em quadrado
<br>exato com estes graus e deste modo enquadrando o meio exato, a
<br>combina��o de Marte e Saturno ser� muito desvantajosa para o
<br>parceiro que tem V�nus envolvida, como resultado de um tipo de
<br>rea��o Marte-Saturno do outro em rela��o a todas as coisas indicadas
<br>por V�nus no hor�scopo em quest�o.
<br>
<br>OS PLANETAS
<br>
<br>Antes de considerarmos os efeitos prov�veis de um planeta
<br>combinado com outro, � necess�rio levarem conta a import�ncia das
<br>lumin�rias e planetas que t�m um significado especial nos relacionamentos
<br>pessoais.
<br>
<br>O Sol representa nossa integridade e for�a motivadora interior,
<br>nossos objetivos na vida, os ideais que nos sentimos compelidos a
<br>
<br>116
<br>
<br>
<br>atingir, e nossa capacidade de coordenar as v�rias for�as com que
<br>temos de lidar. Sintetiza o modo masculino de encarar a vida. No
<br>hor�scopo de um homem representa a atitude interior dele em rela��o
<br>a seu papel masculino e num hor�scopo feminino, o conceito
<br>dela do homem ideal.
<br>
<br>A Lua representa os sentimentos, os padr�es de comportamento
<br>instintivo e o modo pelo qual reagimos �s outras pessoas. Sintetiza
<br>
<br>o modo feminino de encarar a vida. Num hor�scopo masculino indica
<br>o conceito dele da mulher ideal. Num hor�scopo feminino � a sua
<br>atra��o feminina e sua atitude em rela��o a seu papel de mulher,
<br>principalmente como m�e. A Lua se relaciona � quantidade de atra��o
<br>magn�tica que nativos dos dois sexos podem exercer.
<br>Merc�rio representa a mente em a��o e o modo geral pelo qual
<br>lidamos com nossas id�ias, as analisamos e nos comunicamos com
<br>os outros. At� certo ponto, Merc�rio mostra nossa versatilidade e
<br>capacidade de mobilidade e adaptabilidade.
<br>
<br>V�nus representa a capacidade de criar e manter harmonia, e por
<br>esse motivo � muito importante em todos os relacionamentos. V�nus
<br>se relaciona com o nosso sentido de valores, indicando o que gostamos
<br>de receber e o que esperamos dos outros. Representa o lado
<br>feminino e d�cil da natureza. Num hor�scopo masculino, esse planeta
<br>mostra o tipo de mulher que ele provavelmente atrair� e seu conceito
<br>da mulher ideal, no plano f�sico. Num hor�scopo feminino,
<br>V�nus mostra como a mulher provavelmente representar�o seu papel
<br>feminino.
<br>
<br>Marte representa as energias � nossa disposi��o e o modo pelo
<br>qual elas s�o utilizadas (que pode ser construtivo ou destrutivo).
<br>Marte revela quanta iniciativa provavelmente teremos, a natureza
<br>dos nossos desejos e como nos predispomos a satisfaz�-los. � o lado
<br>masculino e agressivo da natureza perturbando o equil�brio que
<br>V�nus procura estabelecer, para criar novas situa��es. No mapa de
<br>um homem, esse planeta indica como ele provavelmente representar�
<br>o seu papel masculino. No mapa de uma mulher, representa o
<br>tipo de homem que provavelmente atrair� e o seu conceito do homem
<br>ideal no plano f�sico.
<br>
<br>
<br>J�piter representa a capacidade de compreender e ser benevolente
<br>para com os outros, dando-lhes uma sensa��o de encorajamento e
<br>bem-estar. Esse planeta indica a capacidade de sentir entusiasmo,
<br>de expandir-se em todos os n�veis, de multiplicaros recursos e geralmente
<br>preservar o que � considerado de valor social e moral.
<br>
<br>Saturno representa a capacidade de ter autodisciplina�a perseveran�a
<br>e paci�ncia de que somos capazes na tentativa de realizar
<br>nossas ambi��es pr�ticas. Saturno indica um senso de integridade e
<br>dedica��o ao dever, apesar do servi�o �s vezes (devido a um senso
<br>de responsabilidade) ser prestado mais por obriga��o do que com
<br>entusiasmo, ou com um ar de m�rtir que n�o deixa d�vidas de que
<br>estamos fazendo esfor�os consider�veis para agradar. Saturno constr�i
<br>lenta e cuidadosamente, apesar de talvez com pouca imagina��o
<br>e excessivo respeito pela tradi��o. A falta de entusiasmo, exuber�ncia
<br>e aparente falta de compaix�o de Saturno podem esfriar aos poucos
<br>o relacionamento, apesar de n�o necessariamente p�r fim a ele. � o
<br>planeta da velhice, e seu maior efeito pode n�o se manifestar antes
<br>dos �ltimos anos de vida.
<br>
<br>Urano representa a capacidade de sermos inventivos e ing�nuos,
<br>e de planejar imaginariamente o futuro, eliminando a inutilidade e
<br>quaisquer heran�as ultrapassadas. Urano encoraja a acentua��o de
<br>uma caracter�stica pessoal �nica que acrescenta uma dimens�o nova
<br>e din�mica � personalidade, apesar de poder haver uma tend�ncia a
<br>um comportamento exc�ntrico, imprevis�vel e �s vezes autorit�rio
<br>que testa a for�a dos la�os de qualquer relacionamento.
<br>
<br>Netuno representa a capacidade de superaros limites normais das
<br>
<br>percep��es e de ter impress�es. A menos que nossos p�s estejam
<br>
<br>firmes no ch�o � poss�vel que sejamos afastados do nosso centro de
<br>
<br>gravidade por vis�es de novos e estranhos mundos (que n�o s�o
<br>
<br>realmente novos, mas podem ter permanecido misteriosamente
<br>
<br>inating�veis por falta dos meios corretos de contat�-los). Podemos
<br>
<br>nos tornar inseguros quanto �s nossas opini�es com o resultado de
<br>
<br>os outros tenderem a perder a confian�a em n�s.
<br>
<br>�s vezes as percep��es ultra-sens�veis de Netuno fazem o nativo
<br>tender a revestir at� mesmo o vulgar de um estranho fasc�nio. Isto,
<br>junto com a capacidade de idealismo e sensibilidades est�ticas, po
<br>
<br>
<br>118
<br>
<br>
<br>de torn�-lo uma companhia fascinante. O planeta tamb�m favorece
<br>
<br>o aparecimento de uma compaix�o sem limites que pode tolerar
<br>muitas das falhas do parceiro, apesar de que pelo lado negativo isto
<br>pode ocasionalmente degenerar num sentimentalismo excessivo.
<br>Uma capacidade de decepcionar�intencional ou n�o�ou um certo
<br>grau de engano de si mesmo podem gerar lament�veis complica��es
<br>num relacionamento.
<br>Plut�o pode indicar a capacidade de uma pessoa ter liga��es
<br>compulsivas que possivelmente se originam de um grande fasc�nio
<br>causado por vidas pregressas em comum. Plut�o fornece o desafio
<br>de descobrir novos significados em rela��o �s coisas indicadas por
<br>qualquer planeta com o qual estiver em aspecto. Por isso pode se
<br>revelar um elo muito importante, se perturbador, entre dois hor�scopos,
<br>induzindo a uma nova e completa avalia��o de atitudes em
<br>rela��o a certos fatores psicol�gicos de cada parceiro.
<br>
<br>Sol / Sol
<br>
<br>Este contato � o mais familiar ao leigo, j� que a maioria das
<br>pessoas que fornecem astrologia popular para colunas de jornais
<br>confia quase totalmente na compatibilidade te�rica dos signos solares,
<br>raramente se preocupando em saber se h� um aspecto discordante
<br>entre os dois S�is. Um tr�gono entre o Sol em Touro e o Sol em
<br>Capric�rnio pode indicar um bom grau de harmonia, se as duas
<br>lumin�rias estiverem no trig�simo grau de seus respectivos signos.
<br>Mas se um dos S�is estiver no primeiro grau de Touro e o outro no
<br>trig�simo grau de Capric�rnio, o aspecto quadrado entre eles pode
<br>diminuir muito a harmonia.
<br>
<br>Um aspecto favor�vel entre os S�is em dois hor�scopos indica
<br>
<br>que as pessoas cm quest�o podem harmonizar seus objetivos e ati
<br>
<br>
<br>tudes b�sicas em rei a��o � vida sem grandes atritos. O respeito m�tuo
<br>
<br>pelo valor um do outro como indiv�duo e uma agrad�vel afinidade
<br>
<br>de temperamento constituir�o uma base s�lida para um rela
<br>
<br>
<br>cionamento duradouro.
<br>
<br>A conjun��o n�o significa necessariamente um relacionamento
<br>
<br>est�vel, principalmente se um ou ambos os S�is estiverem aflitos no
<br>
<br>nascimento. Mesmo se estiverem livres de afli��o, �s vezes um
<br>
<br>parceiro pode encontrar pouca alegria na companhia do outro.
<br>
<br>
<br>O aspecto oposi��o entre c�njuges pode se revelar muito oportuno
<br>se os S�is estiverem bem aspectados no nascimento e os dois puderem
<br>apreciar um no outro principalmente as qualidades que complementam
<br>as pr�prias. Em alguns casos os parceiros parecem ser
<br>"feitos um para o outro" � amor � primeira vista! Se um dos dois
<br>S�is estiver muito aflito no nascimento, as diferen�as de temperamento
<br>podem se revelar uma barreira a uma compreens�o justa, e o
<br>resultado pode ser at� mesmo uma vis�vel inimizade ou disputa de
<br>"poder".
<br>
<br>Quando os S�is est�o em aspecto adverso um com o outro ou
<br>um dos dois em Aqu�rio ou Libra, � poss�vel que o contato n�o
<br>seja favor�vel. Pode haver um choque de vontades, com cada
<br>um insistindo em seus direitos. Quando os S�is est�o em quadrado,
<br>os dois parceiros deveriam estar preparados para renunciar a
<br>um pouco do dom�nio para ajudar o relacionamento a ser mais
<br>tranq�ilo. Os diferentes talentos e habilidades que cada um traz para
<br>
<br>o relacionamento deveriam ser apreciados como uma contribui��o
<br>para o aumento dos recursos dispon�veis para ambos. Os dois podem
<br>viver mais harmoniosamente se lhes for permitido desenvolver
<br>seus talentos especiais em seus pr�prios campos de a��o e a seu
<br>pr�prio modo, para n�o atingirem objetivos contr�rios. Podem ent�o
<br>aprender um com o outro e assim o relacionamento ter� um maior
<br>significado.
<br>�s vezes o quinc�ncio indica problemas dif�ceis de resolver,
<br>apesar deste relacionamento poder ser altamente educativo. �
<br>poss�vel que um dos parceiros tenha de cuidar do outro ou arcar com
<br>algumas das suas responsabilidades. Podem surgir circunst�ncias
<br>no relacionamento que desafiam um ou ambos a mudar algumas de
<br>suas atitudes e h�bitos antigos.
<br>
<br>Estudos estat�sticos que comparam hor�scopos de c�njuges
<br>sugerem que o aspecto sextil geralmente ocorre em casamentos
<br>harmoniosos e que o quadrado est� mais presente em relacionamentos
<br>desarmoniosos.
<br>
<br>Sol/Lua
<br>
<br>Esta � a combina��o cl�ssica de compatibilidade, com o Sol
<br>masculino e positivo unido � sua companheira natural�a femini
<br>
<br>
<br>120
<br>
<br>
<br>na, receptiva e passiva Lua. As for�as representadas pelas lumin�rias
<br>se completam, do mesmo modo que a Noite completa o Dia.
<br>
<br>Num hor�scopo masculino, a Lua representa o tipo de ideal
<br>feminino que o homem tem em seu inconsciente, como oposto a
<br>V�nus, que representa, entre outras coisas, os aspectos mais voluptuosos
<br>da feminilidade, principalmente em rela��o � atra��o f�sica.
<br>Os atributos da Lua s�o mais prontamente sentidos num n�vel
<br>ps�quico. Do mesmo modo, o Sol num hor�scopo feminino est�
<br>relacionado com o conceito que a mulher tem do homem ideal, como
<br>diferente de Marte, que representa um modo mais f�sico de encarar
<br>
<br>o sexo masculino.
<br>Num casamento ideal, deveria existir harmonia em todos os n�veis
<br>e bons aspectos entre as lumin�rias dos parceiros e V�nus e. Marte
<br>dos parceiros. De passagem, vale a pena notar que Marte e V�nus
<br>regem respectivamente �ries e Touro, os primeiros dois signos, e o
<br>primeiro setor masculino e feminino do zod�aco Nesses dois"signos
<br>as lumin�rias s�o exaltadas, porque o Sol � exaltado em �ries e
<br>a Lua em Touro.
<br>
<br>Porque o Sol � a lumin�ria masculina e a Lua a feminina, presume-
<br>se que a verdadeira compatibilidade entre os sexos exige que o
<br>Sol homem esteja em aspecto favor�vel com a Lua mulher,
<br>mas quando esta combina��o � invertida n�o � menos poderosa,
<br>j� que um aspecto favor�vel do Sol da parceira na Lua do parceiro
<br>indica que a mulher � capaz de ilustrar o conceito que o homem tem
<br>da mulher ideal. Assim aspectada, a Lua masculina tamb�m � capaz
<br>de refletir de volta para ela o conceito que a mulher tem do homem
<br>ideal.
<br>
<br>No casamento o Sol do homem pode trazer energia e inspira��o
<br>para a Lua da mulher, fazendo-a sentir prazer em representar o papel
<br>feminino de esposa, enquanto a Lua da mulher pode extrair magneticamente
<br>as qualidades solares que tomam o seu parceiro apto a
<br>representar o papel de marido.
<br>
<br>Em todos os tipos de relacionamento, a Lua pode adaptar-se e
<br>incentivar a procura do Sol por uma express�o de si mesmo independente
<br>e um reconhecimento do seu valor como indiv�duo. A Lua
<br>compreende instintivamente os motivos b�sicos do Sol e reage de
<br>acordo com isso. Provavelmente o Sol representar� o papel principal
<br>no relacionamento, com a Lua adaptando-se aos seus desejos.
<br>
<br>
<br>A conjun��o � um contato particularmente poderoso entre os
<br>hor�scopos de sexos opostos. Geralmente indica um alto grau de
<br>compatibilidade, a menos que uma das duas lumin�rias esteja muito
<br>aflita no nascimento, quando pode gerar antipatia. Normalmente h�
<br>muita afinidade entre pessoas do mesmo sexo, por isso � poss�vel
<br>que surja uma amizade particularmente gratificante.
<br>
<br>
<br>Quando as lumin�rias est�o em aspecto adverso ou uma das duas
<br>est� debilitada, a sensibilidade da Lua tende a torn�-la alvo de
<br>qualquer disc�rdia que possa surgir. Isto pode aumentar qualquer
<br>tend�ncia � melancolia, de modo que o parceiro solar se sente magoado
<br>e seu orgulho � ferido � sugest�o de que qualquer conduta sua
<br>teria ocasionado tal desaven�a. O ego�smo solar pode n�o levar em
<br>conta a suscetibilidade da Lua. O quadrado � um aspecto particularmente
<br>inflex�vel e a capacidade de o Sol ser presun�oso e acreditar
<br>na justi�a de sua causa pode se revelar um obst�culo insuper�vel
<br>para a aceita��o compreensiva das mudan�as de humor e opini�o
<br>do parceiro, de modo que a Lua pode perder a esperan�a de um dia
<br>seu companheiro demonstrar-lhe a considera��o que ela acha que
<br>lhe � devida. Ela pode ser mais preocupada com a vida no n�vel
<br>pessoal e emocional, e n�o ser capaz de apreciar as considera��es
<br>mais amplas que motivam o seu parceiro solar.
<br>
<br>Enquanto a conjun��o e sextil geralmente est�o presentes entre
<br>
<br>os hor�scopos de c�njuges, os aspectos adversos n�o indicam por si
<br>
<br>s� necessariamente o tipo dc incompatibilidade que leva a uma
<br>
<br>ruptura do relacionamento. At� certo ponto eles encerram um ele
<br>
<br>
<br>mento de fasc�nio, mesmo quando paralelamente existe tens�o.
<br>
<br>Sol/Merc�rio
<br>
<br>Obviamente, o papel de Merc�rio de facilitar a comunica��o �
<br>�til em qualquer relacionamento, porque uma harmonia mental pode
<br>facilmente ser estabelecida quando dois corpos est�o em aspecto
<br>favor�vel. Em tais casos, o Sol fornece um ouvinte interessado, encorajando
<br>Merc�rio a comunicar-se e expor id�ias, de modo a sentir
<br>que tem um companheiro que realmente o compreende. O Sol pode
<br>proporcionar a Merc�rio oportunidades de fazer experi�ncias na �rea
<br>liter�ria, ou sugerir �reas de estudo que podem se revelar proveitosas.
<br>Provavelmente Merc�rio encontrar� um grande colaborador no
<br>Sol, desde que ou�a suas id�ias com aten��o e o devido respeito.
<br>
<br>122
<br>
<br>
<br>Quando um dos dois corpos est� debilitado ou h� um aspecto
<br>adverso entre eles, os resultados dificilmente ser�o desastrosos,
<br>apesar de o Sol poder achar Merc�rio fr�volo, ou que suas id�ias n�o
<br>merecem uma aten��o s�ria, enquanto possivelmente Merc�rio
<br>achar� que o Sol � incapaz de apreciar o estado de esp�rito em que
<br>suas id�ias foram concebidas e reveladas.
<br>
<br>Geralmente o Sol influencia Merc�rio. Numa combina��o favor�vel,
<br>Merc�rio pode se revelar um int�rprete eficiente e intermedi�rio
<br>�til para as id�ias de seu parceiro solar. Os aspectos desfavor�veis
<br>podem resultar na defesa da causa do companheiro, fazendo
<br>mais mal do que bem.
<br>
<br>Sol/V�nus
<br>
<br>Este � um contato muito satisfat�rio para qualquer tipo de relacionamento,
<br>normalmente encontrado entre hor�scopos de c�njuges.
<br>Ele promete um relacionamento compat�vel, a menos que um dos
<br>dois corpos esteja muito aflito no nascimento. Apesar disso, se houver
<br>um aspecto adverso entre eles ou um dos dois estiver debilitado, o
<br>Sol pode achar que n�o compartilha dos gostos e interesses vagos
<br>do parceiro, que pode parecer-lhe comodista demais. De modo geral,
<br>
<br>o Sol e V�nus n�o t�m problemas em manter uma rela��o cm termos
<br>amig�veis. A menos que haja fortes impedimentos em outra parte, a
<br>cordialidade do Sol pode despertar muita afei��o em V�nus, que reconhecer�
<br>no companheiro solar algu�m por quem vale a pena fazer
<br>um esfor�o especial para agradar. O Sol, a menos que seja indescritivelmente
<br>presun�oso, se sentir� lisonjeado pelo calor da afei��o
<br>que � capaz de inspirar.
<br>O alto grau de harmonia que pode existir sob os bons aspectos �s
<br>vezes produz o tipo de relacionamento conjugal em que as pessoas
<br>acham que o casal � "feito um para o outro", enquanto em outros tipos
<br>de relacionamento, a afei��o e respeito m�tuos podem combinar-se
<br>para firmar uma amizade ou produzir um elo extraordinariamente
<br>harmonioso e uma capacidade extra de coopera��o entre meros
<br>conhecidos.
<br>
<br>Raramente os aspectos adversos indicam grandes dificuldades,
<br>apesar de poderem ocorrer desarmonias como um resultado de V�nus
<br>usar seus poderes persuasivos em benef�cio pr�prio, ou enganar o
<br>parceiro solar apenas para negar favores no �ltimo minuto. As con
<br>
<br>
<br>
<br>seq��ncias do orgulho ferido do Sol podem ser m�goa e desapontamento,
<br>enquanto V�nus pode �s vezes achar o outro muito prepotente.
<br>Ocasionalmente, aspectos adversos indicam situa��es em que
<br>os parceiros se separam temporariamente, e terminam por achar que
<br>a "aus�ncia aumenta a paix�o".
<br>
<br>A chegada do Sol por progress�o na conjun��o de V�nus, quando
<br>este planeta � aspectado pelo Sol de outra pessoa, pode indicar o
<br>come�o de um relacionamento altamente significativo entre eles.
<br>
<br>Sol/Marte
<br>
<br>Geralmente este � um contato encontrado entre hor�scopos de
<br>c�njuges. Ocorrendo em outras �reas do relacionamento humano,
<br>geralmente significa que as duas pessoas envolvidas prestar�o aten��o
<br>uma � outra, j� que provavelmente a influ�ncia combinada dos
<br>dois corpos criar� um certo grau de calor, se n�o efetivamente ardor.
<br>
<br>Num relacionamento rom�ntico, o desejo representado por Marte
<br>� estimulado por uma qualidade interior b�sica da natureza do parceiro
<br>solar. Quando o envolvido � Marte da mulher, o ideal de masculinidade
<br>dela � realizado pela presen�a de seu parceiro solar, que
<br>parece mais desej�vel nesse sentido. Por esse motivo, se Marte da
<br>mulher for forte, pode se sentir tentada a tomar a iniciativa. Quando
<br>o envolvido � Marte do homem, o aspecto do Sol de sua parceira o
<br>encorajar� a identificar-se mais completamente com o seu pr�prio
<br>conceito de masculinidade. Tais aspectos solares em Marte dos dois
<br>sexos estimulam o desejo.
<br>
<br>Em outros campos, Marte pode despertar as energias �s vezes
<br>adormecidas do Sol e apoiar e direcionar seus esfor�os construtivos,
<br>enquanto o interesse benevolente do Sol pode aumentar a confian�a
<br>de Marte e incentiv�-lo a manter seus esfor�os, que de outro modo
<br>teriam diminu�do.
<br>
<br>Esta combina��o pode gerar muita energia. Quando os corpos
<br>
<br>est�o em aspecto adverso ou um dos dois est� debilitado, �s vezes �
<br>
<br>dif�cil lidar com esta energia, porque o orgulho do Sol pode entrar
<br>
<br>em choque com a obstina��o de Marte, resultando uma luta pela su
<br>
<br>
<br>premacia. De acordo com os aspectos que as lumin�rias e planeta
<br>
<br>recebem no nascimento, os poss�veis efeitos variam, de uma pequena
<br>
<br>irrita��o e uma tend�ncia a discutir � menor provoca��o, a uma total
<br>
<br>e aberta hostilidade e, em alguns casos, � viol�ncia.
<br>
<br>124
<br>
<br>
<br>Se os parceiros estiverem continuamente em contato um com o
<br>outro, poder�o achar que a vida em comum � bastante parecida com
<br>viver no topo de um vulc�o. No caso de sexos opostos estarem envolvidos,
<br>o relacionamento pode ser mais tranq�ilo quando Marte
<br>do homem est� em aspecto com o Sol da mulher. Quando, num relacionamento
<br>conjugal, a situa��o � invertida, o relacionamento sexual
<br>pode se revelar muito dif�cil, um parceiro tendendo a irritar o
<br>outro. Esta combina��o, mesmo o quadrado, n�o exclui filhos,
<br>enquanto os aspectos favor�veis (principalmente o tr�gono) s�o quase
<br>uma garantia de que a uni�o ser� muito prol�fica.
<br>
<br>Quando aspectos ben�ficos unem os dois corpos, uma coopera��o
<br>entusi�stica entre os companheiros pode levar a conquistas importantes.
<br>Um interesse m�tuo por atividades f�sicas envolvendo uma
<br>competi��o amig�vel pode contribuir para um agrad�vel companheirismo.
<br>Esse contato favorece um bom trabalho de equipe em
<br>relacionamentos de neg�cios, onde Marte pode fornecer energia para
<br>p�r em pr�tica a grande estrat�gia concebida pelo seu s�cio solar,
<br>principalmente se os dois corpos estiverem fortalecidos nos dois
<br>hor�scopos.
<br>
<br>O efeito da conjun��o depende muito dos aspectos em cada corpo
<br>no nascimento. Se houver uma maioria de aspectos bons e fortalecedores,
<br>essa � uma combina��o �til entre hor�scopos de
<br>c�njuges, apesar de em outros meios sociais poder existir uma verdadeira
<br>rivalidade.
<br>
<br>Sol/J�piter
<br>
<br>Normalmente este � outro aspecto encontrado entre hor�scopos
<br>de c�njuges. Em todos os tipos de associa��o ele favorece uma
<br>agrad�vel camaradagem, generosidade de esp�rito, muito respeito
<br>m�tuo, estima e incentivo. Esta combina��o pode intensificar e
<br>fortalecer qualquer associa��o, e at� mesmo manter qualquer relacionamento
<br>em que tamb�m estejam presentes muitos aspectos
<br>cruzados dif�ceis. Os parceiros reconhecem as boas inten��es um
<br>do outro, e por isso desejar�o esfor�ar-se ao m�ximo em benef�cio
<br>do companheiro e ser mais tolerantes para com seus defeitos.
<br>
<br>J�piter pode saber exatamente como aumentar o amor-pr�prio do
<br>
<br>Sol, apesar de que, se houver um aspecto adverso entre os dois cor
<br>
<br>
<br>pos ou um deles estiver debilitado, pode usar este fator em benef�cio
<br>
<br>
<br>pr�prio, bajulando para iludir, ou o Sol ser levado para o mau caminho
<br>pelo excesso de confian�a de J�piter. Como resultado, �
<br>poss�vel que um dos dois n�o seja sincero.
<br>
<br>O Sol tende a mostrar favoritismo por J�piter. Se isso acontecer,
<br>esse pode ser o meio de faz�-lo progredir, melhorando sua posi��o
<br>financeira ou aumentando seu bem-estar material. Provavelmente
<br>ambos sentir�o prazer na companhia um do outro. Entre hor�scopos
<br>de c�njuges este contato habitualmente � garantia de um casamento
<br>prol�fico.
<br>
<br>Num relacionamento de neg�cios, os aspectos favor�veis e a
<br>conjun��o � se os dois corpos estiverem bem aspectados no nascimento
<br>� tornam poss�vel uma oportuna e �til colabora��o.
<br>
<br>Sol/Saturno
<br>
<br>Saturno rege Aqu�rio, o signo da 7� casa do Sol. Portanto esta uni�o
<br>tem um papel crucial no casamento, Saturno tornando o Sol consciente
<br>de suas responsabilidades para com o parceiro. O casamento
<br>� um sacramento e uma inicia��o, fornecendo a possibilidade de
<br>aprender li��es valiosas na colabora��o, e Saturno pode ser o professor
<br>que proporciona a oportunidade de aprender tais li��es. A
<br>exalta��o de Saturno em Libra e a "queda" do Sol no mesmo signo
<br>sugerem que a disciplina de trabalharem parceria com Saturno pode
<br>proporcionar ao Sol muitas experi�ncias valiosas.
<br>
<br>No entanto, provavelmente poucas pessoas entram no casamento
<br>com a id�ia de submeterem-se a uma nova forma de disciplina. A
<br>maioria est� preocupada com o prazer que sentir� na companhia do
<br>parceiro e apoio m�tuo que surge do relacionamento. Apesar disso,
<br>a influ�ncia de Saturno em uma uni�o � vis�vel em v�rios n�veis. A
<br>Igreja sempre enfatizou a santidade do casamento e a necessidade
<br>de ser concretizado como uma rela��o permanente, enquanto num
<br>n�vel consideravelmente menor a rela��o de Saturno com a necessidade
<br>de seguran�a tem feito a institui��o do casamento parecer
<br>atraente para aqueles que talvez n�o tenham um esp�rito suficientemente
<br>independente para contemplar com serenidade a tarefa de
<br>encarar o mundo sozinho.
<br>
<br>Quando dois corpos est�o combinados por aspecto favor�vel, o
<br>
<br>Sol pode fornecer o entusiasmo e confian�a de que Saturno neces
<br>
<br>
<br>sita, enquanto Saturno contribui com uma influ�ncia estabilizadora
<br>
<br>126
<br>
<br>
<br>e exerce um certo controle sobre as maiores extravag�ncias de seu
<br>parceiro solar. A integridade natural do Sol, o grande senso de responsabilidade
<br>de Saturno e uma determina��o m�tua de cumprir suas
<br>obriga��es podem unir-se para formar um elo que garanta a continuidade
<br>e durabilidade do relacionamento, mesmo se existirem aspectos
<br>cruzados muito adversos em outros setores dos dois hor�scopos.
<br>Nesses casos, e tamb�m quando os corpos est�o em conjun��o ou
<br>aspecto adverso, ou um dos dois est� debilitado, o elo pode ser
<br>mantido principalmente com a id�ia de que "� melhor o diabo que
<br>voc� conhece do que o que n�o conhece". Numa situa��o como essa
<br>os dois parceiros podem procurar consolo psicol�gico fazendo o
<br>papel de m�rtires, dizendo a si mesmos que est�o cumprindo nobremente
<br>os seus deveres em face de grandes dificuldades e provoca��o.
<br>
<br>Neste relacionamento, provavelmente o Sol ser� a influ�ncia
<br>positiva e Saturno a negativa. Quando os dois corpos est�o aflitos, a
<br>natureza naturalmente alegre do Sol e esp�rito de iniciativa independente
<br>podem encontrar resist�ncias causadas pela "abordagem" pessimista,
<br>excessivamente cautelosa, enfadonha, e a falta de vis�o de
<br>Saturno. �s vezes a in�rcia, a obstina��o e at� mesmo a total mesquinhez
<br>de Saturno podem lan�ar uma nuvem pesada sobre o relacionamento,
<br>deixando o Sol com uma sensa��o de restri��o e frustra��o.
<br>Em alguns casos, a crueldade de Saturno e o fato de estar
<br>sempre pronto para criticar podem ter o tipo de efeito destruidor da
<br>alma que leva o Sol a arrepender-se do dia em que entrou nesse relacionamento
<br>pouco prometedor que constantemente esgota a sua
<br>vitalidade e n�o leva em conta sua necessidade de expressar apropria
<br>personalidade dc modo criativo.
<br>
<br>Quando ocorrem conflitos, o parceiro solar pode saber exatamente
<br>como tirar proveito das fraquezas e complexos de inferioridade de
<br>Saturno, principalmente quando Saturno ocupa um signo negativo.
<br>Isto provavelmente aumentar� quaisquer medos inconscientes que
<br>
<br>o parceiro solar possa ter. Como resultado, Saturno pode adotar a
<br>pol�tica de agarrar-se cada vez mais ao companheiro, ao inv�s de tirar
<br>o melhor proveito de um fracasso e romper o relacionamento.
<br>Geralmente, em todos os meios sociais, a conjun��o produz um
<br>relacionamento duradouro, apesar de o Sol poder estar consciente
<br>de que tem de arcar com as responsabilidades de Saturno e fornecer
<br>a principal fonte de alegria para a associa��o. As rea��es comedi
<br>
<br>
<br>
<br>das e a falta de entusiasmo de Saturno podem testar a paci�ncia do
<br>Sol, enquanto a recusa de Saturno em tomar uma decis�o positiva
<br>antes de se sentir absolutamente seguro e convencido da propriedade
<br>de seu ato pode tolher a liberdade do Sol. Se, apesar do Sol reanim�lo,
<br>os esfor�os de Saturno falharem, ele provavelmente culpar� o parceiro.
<br>
<br>
<br>Quando os dois corpos est�o em oposi��o, teoricamente Saturno
<br>est� numa posi��o de se opor a todos os atos do Sol, fornecendo a
<br>in�rcia necess�ria para deter qualquer iniciativa tomada pelo parceiro.
<br>A falta de vivacidade emocional de Saturno pode se revelar
<br>um s�rio empecilho para o seu mais efusivo parceiro, apesar de que,
<br>se ambos os corpos estiverem favoravelmente aspectados no nascimento,
<br>� poss�vel finalmente chegar a um meio-termo eficaz.
<br>
<br>Geralmente o quadrado indica s�rios problemas, de modo que o
<br>Sol acha mais dif�cil enfrentar as t�ticas obstrutivas de Saturno, quase
<br>sempre ditadas por uma excessiva cautela, que se assusta com a
<br>pol�tica de o Sol confiar de modo afoito, exigindo garantias e cl�usulas
<br>de seguran�a que efetivamente seriam um obst�culo a todo o
<br>projeto. Tal comportamento pode resultar numa sucess�o de oportunidades
<br>perdidas que podem fazer o parceiro solar desesperar-se.
<br>O colega Saturniano em primeiro lugar pode nunca ter percebido que
<br>essas oportunidades existiam. A cont�nua frustra��o de seus planos
<br>pode fazer o Sol n�o comunicar seus projetos ao companheiro at�
<br>que seja tarde demais para ele intervir. Neste tipo de situa��o, as
<br>recrimina��es posteriores podem se revelar mais perturbadoras que
<br>a oposi��o obstinada que de outro modo teria sido encontrada.
<br>
<br>Muitas coisas depender�o da condi��o do Sol num hor�scopo e
<br>Saturno no outro, no que diz respeito a se o papel de Saturno � encarado
<br>pelo parceiro como o de uma �ncora segura, uma m�o firme no
<br>leme ou um peso sobre os ombros que o impede de alcan�ar um
<br>sucesso espetacular.
<br>
<br>Em muitos casos as duas pessoas podem admitir que este � um
<br>
<br>relacionamento particularmente c�rmico, em que Saturno tem mui
<br>
<br>
<br>to para ensinar ao Sol, aumentando a sua paci�ncia e compreens�o
<br>
<br>de assuntos pr�ticos, enquanto o Sol pode mostrar a Saturno as
<br>
<br>vantagens de uma vis�o ampla baseada na f� e benevol�ncia.
<br>
<br>Um parceiro, geralmente o Sol, pode ter uma d�vida para com o ou
<br>
<br>
<br>tro. Saturno, que costuma ser t�o exigente na cobran�a do que lhe �
<br>
<br>128
<br>
<br>
<br>devido como o � no cumprimento de suas obriga��es, pode mostrar
<br>ao Sol qual � o seu dever. Deste modo, o relacionamento � n�o
<br>importa o quanto suas bases possam parecer fr�geis � pode durar
<br>pelo menos at� que um dos parceiros tenha aprendido todas as li��es
<br>que o relacionamento tem a lhe ensinar e o d�bito c�rmico tenha sido
<br>quitado.
<br>
<br>Se eles n�o conseguirem resolver os seus principais problemas
<br>de modo satisfat�rio, ou chegar a uma solu��o de conv�vio eficaz,
<br>podem cair na armadilha de contrair novos d�bitos c�rmicos um para
<br>com o outro, que criariam a necessidade de uma associa��o
<br>igualmente dif�cil no futuro.
<br>
<br>Sob esse aspecto cruzado, o casal unido pelo "la�o" do casamento
<br>pode vir a dar-se conta de que o termo n�o � meramente uma figura
<br>de ret�rica. Os que n�o desejam aceitar que o casamento � um relacionamento
<br>para os momentos bons e ruins podem se sentir muito
<br>sacrificados com essa combina��o.
<br>
<br>Sol/Urano
<br>
<br>O grande dinamismo gerado por esta combina��o � quase a
<br>ant�tese da combina��o Sol-Saturno. Aqui as tens�es, excita��o e
<br>est�mulo substituem o t�dio e a frustra��o, apesar de que uma integra��o
<br>bem equilibrada das duas combina��es aluando juntas
<br>provavelmente � a situa��o ideal.
<br>
<br>Tanto as lumin�rias como o planeta significam a capacidade de
<br>independ�ncia, mas enquanto o Sol tende mais � ortodoxia e rituais
<br>de comportamento estabelecidos, Urano, liberto das tradi��es, est�
<br>sempre procurando descobrir um caminho novo, geralmente guiado
<br>por uma vis�o sublime de alguma utopia muito desej�vel, mais
<br>caracter�stica dc uma futura idade dourada de esclarecimento. Urano,
<br>junto com Saturno, rege Aqu�rio, o signo natural da 7� casa de Le�o,
<br>a morada do Sol. Esta combina��o representa o desafio do parceiro
<br>a expandir a individualidade numa nova dire��o, n�o conformista,
<br>revelando no processo novas facetas do ser. Por esse motivo, provavelmente
<br>o Sol considerar� o seu amigo de Urano uma companhia
<br>original e fascinante, capaz de mostrar-lhe novos campos para conquistar.
<br>
<br>
<br>Provavelmente Urano manter� o Sol continuamente alerta, mas
<br>
<br>infelizmente o desafio constante a adaptar-se e explorar pode for�ar
<br>
<br>
<br>a capacidade do Sol nesta dire��o at� n�o poder mais, esgotando-o
<br>no processo e tornando o relacionamento dif�cil.
<br>
<br>Esta combina��o funciona melhor se os dois parceiros concordam
<br>em dar-se bastante liberdade, respeitando o direito um do outro
<br>a uma vida independente pelo menos em algumas �reas. A Urano,
<br>em especial, deveriam ser dadas bastantes oportunidades de fazer
<br>experi�ncias. Se um dos dois corpos estiver na 7� casa, o relacionamento
<br>pode ter uma base particularmente fr�gil, mas se os
<br>corpos estiverem em aspecto adverso ou um dos dois estiver debilitado,
<br>� prov�vel que haja um certo grau de tens�o que testa a for�a
<br>e flexibilidade do cio entre eles, quaisquer que sejam as posi��es da
<br>casa natal. A menos que outros elos fortes estejam atuando, um
<br>choque repentino de vontades pode resultar numa briga que acaba
<br>com o relacionamento. Qualquer incompatibilidade de temperamento
<br>costuma assumir uma import�ncia muito maior do que a real
<br>e normalmente situa��es explosivas podem ocorrer para serem
<br>contornadas.
<br>
<br>Se as duas partes estiverem preparadas para enfrentar com calma
<br>e sem hesita��o qualquer diferen�a de opini�o que possa surgir, o
<br>parceiro solar puder adotar uma atitude indulgente em rela��o �s extravag�ncias
<br>e comportamento ocasionalmente exc�ntrico de seu
<br>n�mero oposto e Urano estiver preparado para n�o coagir ou ignorar
<br>o Sol desafiando sua soberania ou ferindo seu orgulho, � poss�vel
<br>que haja um relacionamento satisfat�rio. A conjun��o significa o
<br>fim de um relacionamento est�tico, enquanto o quadrado e a oposi��o
<br>acrescentam um outro elemento de excitabilidade para uma combina��o
<br>j� el�trica. A tend�ncia � separa��o pode ser controlada se
<br>houver uma boa propor��o de aspectos favor�veis m�tuos no Saturno
<br>do casal.
<br>
<br>Ocorrendo entre os hor�scopos de parentes, amigos ou s�cios, o
<br>
<br>contato pode indicar um relacionamento particularmente inter
<br>
<br>
<br>mitente, geralmente interrompido pelos longos per�odos de aus�ncia
<br>
<br>de uma das partes.
<br>
<br>Sol/Netuno
<br>
<br>O desejo de o Sol incluir todos dentro de seu orbe de influ�ncia
<br>pode perturbar Netuno, cujas lealdades s�o universais e que, conseq�entemente,
<br>deseja evitar qualquer compromisso definitivo.
<br>
<br>130
<br>
<br>
<br>Quando Netuno sente que provavelmente ter� a sua liberdade tolhida,
<br>pode adotar t�ticas evasivas que o Sol acha dif�cil compreender. No
<br>entanto, um la�o comum de idealismo pode fazer surgir um forte
<br>sentimento de camaradagem. A capacidade de Netuno inspirar-se
<br>nos planos mais elevados pode intrigar e alegrar o seu parceiro solar,
<br>que talvez o incentive a procurar ainda mais estes planos. Provavelmente
<br>este contato atuar� mais especificamente no plano
<br>emocional, e uma grande afinidade pode resultar de aspectos favor�veis
<br>entre os dois corpos.
<br>
<br>Netuno pode estimular a imagina��o do Sol e revelar novos c
<br>maravilhosos discernimentos que proporcionem uma fonte de grande
<br>fasc�nio, e ver cm seu parceiro a personifica��o de seu ideal,
<br>enquanto o Sol pode dar uma impress�o de maior sentido e objetivo
<br>� �nsia de Netuno por uma sensa��o de maior perfei��o, de certo
<br>modo incentivando a supera��o dc si mesmo. Portanto, essa combina��o
<br>leva ao aumento dos interesses est�ticos e culturais do parceiro,
<br>c no melhor dos casos pode produzir uma atmosfera de simpatia
<br>m�tua que inspira a confian�a dc Netuno c a benevol�ncia do
<br>Sol.
<br>
<br>Se eles estiverem em aspecto adverso, ou um dos dois estiver
<br>debilitado, uma vaga inseguran�a a respeito das inten��es um do
<br>outro pode fazer surgir no relacionamento uma sensa��o de constrangimento
<br>e �s vezes desconfian�a, de modo que o Sol nunca se
<br>sentir� bastante seguro de sua import�ncia para seu parceiro de
<br>Netuno, enquanto Netuno pode achar o Sol muito exigente e por isso
<br>sentir-se constrangido. � poss�vel que a capacidade de Netuno tecer
<br>fantasias criativas fa�a o Sol ter s�rias d�vidas sobre sua credibilidade
<br>geral e falta de qualidades verdadeiras. Qualquer tentativa
<br>de sua parte de exigir sinceridade pode constranger Netuno, causando
<br>uma frustra��o que torna ainda mais dif�cil lidar com a situa��o.
<br>Problemas que o Sol considera simples podem parecer a Netuno
<br>cheios dc implica��es sutis que seu parceiro menos complicado n�o
<br>consegue ver.
<br>
<br>O quadrado � uma combina��o particularmente incerta, enquanto
<br>
<br>a conjun��o e oposi��o podem operar de modo mais ben�fico se os
<br>
<br>dois corpos forem bem aspectados no nascimento. Com a conjun��o
<br>
<br>pode haver algum tipo de afinidade ps�quica e um interesse m�tuo
<br>
<br>pela est�tica. Quando a oposi��o est� presente, o casal pode ter de
<br>
<br>
<br>aceitar que � preciso confiar um no outro, com Netuno reprimindo
<br>uma tend�ncia a exagerar, e o Sol aceitando o fato de que os dons
<br>imaginativos do parceiro nem sempre o levam a confundir a fantasia
<br>com a realidade, mas podem ser o meio de proporcionar uma
<br>compreens�o espiritual, que eventualmente eleva o relacionamento
<br>a novos n�veis de entendimento.
<br>
<br>Na melhor das hip�teses, a combina��o Sol/Netuno pode produzir
<br>uma deliciosa sensa��o de bem-estar na companhia um do outro e
<br>estimular a busca de ideais comuns. �s vezes este contato ocorre
<br>numa amizade plat�nica. Na pior das hip�teses, pode haver uma
<br>grave decep��o, com Netuno escondendo os detalhes de um passado
<br>conden�vel na tentativa de tirar vantagem da magnanimidade do Sol,
<br>alimentando a sua vaidade ou abusando de sua confian�a.
<br>
<br>A menos que haja bons aspectos de Saturno no Sol num hor�scopo
<br>e em Netuno no outro, esta n�o � uma combina��o que favore�a
<br>particularmente um relacionamento de neg�cios. Os esquemas altamente
<br>imaginativos de Netuno para estrat�gias financeiras espetaculares
<br>podem precisar ser submetidos a exames minuciosos e testes
<br>pr�ticos rigorosos antes de receberem a aprova��o final.
<br>
<br>Sol/Plut�o
<br>
<br>O Sol e Plut�o representam extremos opostos do espectro psicol�gico,
<br>porque enquanto o Sol trabalha abertamente para atingir os
<br>seus objetivos, geralmente Plut�o trabalha na surdina. Uma combina��o
<br>favor�vel entre os dois pode resultar num consider�vel
<br>aumento de for�as, j� que Plut�o � capaz de refor�ar a autoconfian�a
<br>do Sol, enquanto o Sol pode proporcionar a Plut�o um escape eficaz
<br>para seus impulsos inconscientes e encoraj�-lo a fornecer um amplo
<br>apoio para o relacionamento ou submet�-lo a uma reorganiza��o
<br>completa. Geralmente o contato indica um relacionamento causado
<br>pelo destino. Entre sexos opostos, normalmente, h� muita atra��o
<br>f�sica.
<br>
<br>A aceita��o de que existe um la�o forte entre eles pode ajudar a
<br>
<br>formar uma amizade s�lida, mas se os dois corpos estiverem em
<br>
<br>aspecto adverso ou um dos dois debilitado, pode ser que ambos
<br>
<br>percebam a exist�ncia de uma incompatibilidade grave e b�sica, que
<br>
<br>impede o estabelecimento de uma uni�o gratificante. Este contato
<br>
<br>pode ent�o indicar um tipo de rivalidade e uma luta pela suprema
<br>
<br>
<br>132
<br>
<br>
<br>cia, com Plut�o tentando enfraquecer a posi��o do Sol e impedir seus
<br>planos de progresso. Plut�o pode ser capaz de reconhecer e explorar
<br>as partes mais vulner�veis do car�ter solar, principalmente quando
<br>o orgulho e a paix�o est�o envolvidos. Tendo se tornado consciente
<br>dos principais defeitos de car�ter do Sol, Plut�o pode induzi-lo a se
<br>superar, colocando-o em situa��es em que ele precise vencer as suas
<br>fraquezas ou admitir a derrota. Por sua vez o Sol pode testar a capacidade
<br>de Plut�o ficar s� e declarar abertamente seus objetivos, e
<br>tamb�m tentar explorar qualquer elemento de ci�me presente na
<br>constitui��o de Plut�o. Algumas vezes Plut�o reagir� mantendo-se
<br>distante, de modo que se tornar� quase imposs�vel conseguir uma
<br>colabora��o �ntima.
<br>
<br>Lua/Lua
<br>
<br>A Lua representa os sentimentos do nativo e rea��es instintivas.
<br>Quando existe uma conjun��o entre as Luas em hor�scopos de casais,
<br>h� identidade de sentimentos e afinidade entre eles. As rea��es instintivas
<br>e h�bitos dos parceiros tendem a coincidir, o que ajuda a criar
<br>uma sensa��o de confian�a m�tua. Tem sido observado que a conjun��o
<br>normalmente ocorre entre hor�scopos de c�njuges. Gostos
<br>e interesses m�tuos fornecem uma boa base para um relacionamento.
<br>As chances de harmonia dom�stica s�o boas, a menos que planetas
<br>no hor�scopo de um dos dois estejam em aspecto desfavor�vel com
<br>a conjun��o.
<br>
<br>Os companheiros podem acostumar-se facilmente com a id�ia de
<br>ter o outro por perto, e o resultado pode ser de bastante interdepend�ncia
<br>emocional. Uma f�cil adapta��o aos tipos de sentimento
<br>e rea��es um do outro estimula aquela sensa��o de bem-estar na companhia
<br>um do outro, que pode formar a base de um relacionamento
<br>que dura toda a vida.
<br>
<br>Numa propor��o menor, um aspecto favor�vel entre as duas Luas
<br>
<br>indica admira��o e simpatia entre os dois indiv�duos, que podem
<br>
<br>trabalhar harmoniosamente juntos em termos de uma rea��o m�tua
<br>
<br>compat�vel a situa��es cotidianas. Os aspectos desfavor�veis suge
<br>
<br>
<br>rem h�bitos conflitantes e uma incapacidade de apreciar as rea��es
<br>
<br>instintivas um do outro a situa��es problem�ticas. Pode haver uma
<br>
<br>avers�o instintiva a algumas das caracter�sticas da personalidade do
<br>
<br>parceiro. A oposi��o pode proporcionar h�bitos contrastantes e
<br>
<br>
<br>estimulantes, a menos que quadrados ou conjun��es aflijam uma
<br>das Luas. O quinc�ncio pode indicar uma desarmonia b�sica entre
<br>os sentimentos e instintos dos dois parceiros que � dif�cil neutralizar.
<br>
<br>
<br>Lua/Merc�rio
<br>
<br>Este n�o � um aspecto particularmente importante nos relacionamentos
<br>rom�nticos. Mas pode ter alguma significa��o numa rela��o
<br>entre aluno e professor. A Lua pode fornecer um alvo de interesse
<br>para a atividade intelectual de Merc�rio, apresentando fatos de um
<br>modo imaginativo que os toma mais empolgantes. Como os dois corpos
<br>s�o por natureza um pouco inst�veis, muitas coisas depender�o,
<br>em todos os tipos de relacionamento, da condi��o de Merc�rio por
<br>signo e aspecto. A menos que a Lua esteja num signo fixo, o contato
<br>pode referir-se apenas aos aspectos mais superficiais de um relacionamento.
<br>
<br>
<br>Merc�rio pode tentar racionalizar as emo��es da sens�vel
<br>Lua, parecendo-lhe �s vezes frio demais e, em alguns casos �
<br>quando Merc�rio est� aflito no nascimento � duro ao lidar com
<br>a melancolia aparentemente absurda da Lua. Quando os planetas
<br>est�o combinados de modo favor�vel, Merc�rio pode ser
<br>capaz de justificar melhor para si mesmo a melancolia da Lua,
<br>e no decorrer do processo de chegar a essa compreens�o
<br>descobrir que aprecia mais as qualidades lunares do companheiro.
<br>A Lua pode ficar fascinada pelas qualidades intelectuais de
<br>Merc�rio, que deste modo ter� um ouvinte interessado a quem expor
<br>suas id�ias.
<br>
<br>Quando os corpos est�o em aspecto adverso um com o outro ou
<br>um dos dois est� debilitado, a Lua pode achar Merc�rio prepotente
<br>demais, pronto a encontrar defeitos no modo de ela fazer as coisas,
<br>e incapaz de compreender os seus sentimentos. A Lua pode opor-se
<br>aos planos de Merc�rio porque sente instintivamente que eles n�o
<br>levar�o � felicidade m�tua. Quando os dois corpos est�o em quadrado,
<br>Merc�rio pode ficar ansioso e exagerar na tentativa de confortar
<br>a Lua, quase sempre tomando as coisas piores.
<br>
<br>A capacidade de Merc�rio adaptar-se a um n�vel intelectual pode
<br>
<br>ser comparada � capacidade de a Lua reagir instintivamente. A
<br>
<br>conjun��o, quando n�o aflita, contribui para uma comunica��o f�cil
<br>
<br>134
<br>
<br>
<br>e para a exist�ncia de interesses em comum, enquanto os aspectos
<br>adversos podem indicar uma tend�ncia do casal a ter objetivos
<br>opostos.
<br>
<br>Lua/V�nus
<br>
<br>Geralmente este � um contato encontrado entre hor�scopos de
<br>c�njuges e um dos melhores em qualquer tipo de relacionamento, a
<br>n�o ser que um dos dois corpos esteja muito aflito no nascimento.
<br>Quando h� um aspecto favor�vel entre a Lua e V�nus, provavelmente
<br>os dois parceiros ter�o muito prazer na companhia um do outro. Pode
<br>haver interesses culturais compartilhados e uma prefer�ncia pelos
<br>mesmos tipos de divertimento. V�nus tem o dom de fazer a Lua sentir-
<br>se � vontade, dedicando-lhe afei��o e tendo toler�ncia para com a
<br>sua melancolia. Geralmente tal tratamento provoca uma resposta
<br>afetuosa por parte do companheiro lunar. O resultado � que ambos
<br>s�o capazes de contribuir para o estabelecimento de uma atmosfera
<br>realmente harmoniosa, principalmente num casamento em que haja
<br>um v�nculo particularmente amoroso.
<br>
<br>Se os corpos estiverem em aspecto adverso ou um dos dois estiver
<br>debilitado, V�nus pode ser indulgente demais para com a Lua
<br>ou gerar desarmonia atrav�s de um modo excessivamente despreocupado
<br>de encarar problemas que envolvem as afei��es, com V�nus
<br>recorrendo ao charme para tirar vantagem de um relacionamento
<br>tempor�rio ou a Lua parecendo ser influenciada por um flerte ou ter
<br>alguma vantagem a curto prazo, principalmente se o aspecto unindo
<br>os dois corpos for um quadrado.
<br>
<br>A n�o ser que um dos dois corpos esteja muito aflito no nascimento,
<br>as disc�rdias indicadas pelos aspectos adversos podem ter
<br>import�ncia secund�ria, n�o passando de m�goas ocasionais, possivelmente
<br>conseq��ncia de um dos parceiros n�o conseguir impor
<br>a sua pr�pria vontade. No entanto, esta pode ser uma combina��o
<br>particularmente torturante se Urano tamb�m estiver envolvido,
<br>quando uma uni�o aparentemente perfeita pode n�o concretizar-se
<br>ou ser rompida, causando sofrimento emocional para ambos, ou
<br>significar um relacionamento em que os parceiros s�o freq�entemente
<br>separados um do outro por obriga��es de trabalho, ou como
<br>um resultado da altern�ncia de encantamento e desilus�o um com o
<br>outro.
<br>
<br>
<br>Lua/Marte
<br>
<br>Este � um contato importante no que diz respeito ao lado sexual
<br>do casamento. Marte � exaltado em Capric�rnio, o signo da 7� casa
<br>da Lua, enquanto a Lua � exaltada em Touro, o signo da 7� casa de
<br>Escorpi�o (Escorpi�o sendo o signo negativo de Marte). A influ�ncia
<br>rec�proca destes dois corpos pode produzir um relacionamento estimulante.
<br>
<br>
<br>Marte do homem pode desafiar a Lua da mulher a demonstrar
<br>ao m�ximo suas qualidades femininas, enquanto a receptiva Lua
<br>pode convidar Marte do homem a exibir suas qualidades masculinas.
<br>Se a posi��o � invertida e Marte da mulher est� em aspecto com
<br>a Lua do homem, o conceito dele da mulher ideal ser� estimulado
<br>por este contato. O magnetismo, regido pela Lua, � uma for�a que
<br>opera atrav�s do ferro, regido por Marte. Por isso n�o � de surpreender
<br>que este seja um contato que indica a possibilidade de muita
<br>atra��o f�sica.
<br>
<br>Se o parceiro de Marte for reprimido sexualmente, pode ser feita
<br>uma tentativa de despertar rea��es mais entusi�sticas no parceiro,
<br>conferindo �s suas tentativas de aproxima��o um forte elemento de
<br>provoca��o. Talvez seja preciso evitar um comportamento ou uma
<br>linguagem que possam feriras delicadas suscetibilidades do parceiro
<br>lunar. Sob provoca��o, �s vezes a Lua � levada a adotar uma atitude
<br>temporariamente agressiva, apenas em leg�tima defesa.
<br>
<br>E bom lembrar que tal contato entre pessoas que n�o possuem
<br>interesse emocional uma na outra pode se revelar uma fonte de irrita��o.
<br>Ao mesmo tempo que essa vibra��o de "alta pot�ncia" pode
<br>ser �til em relacionamentos sexuais, ela nem sempre promete respeito
<br>m�tuo em atividades cotidianas, principalmente porque Marte pode
<br>ser tentado pela atitude complacente da Lua a defender demais os
<br>seus direitos e ser excessivamente en�rgico com a Lua.
<br>
<br>Quando os dois corpos est�o em conjun��o, Marte pode tentar
<br>
<br>dominar o relacionamento (e geralmente ser� bem-sucedido).
<br>
<br>Quando eles est�o ligados por oposi��o, � poss�vel que surja uma
<br>
<br>atmosfera um tanto nervosa, principalmente se um dos dois corpos
<br>
<br>estiver aflito no nascimento. Algumas facetas da personalidade do
<br>
<br>parceiro de Marte podem desagradar � Lua, e Marte pode demons
<br>
<br>
<br>trar uma falta de considera��o e toler�ncia que irrita seu parceiro
<br>
<br>lunar.
<br>
<br>136
<br>
<br>
<br>Sob condi��es favor�veis, Marte pode fornecer um est�mulo �til
<br>para os poderes de imagina��o da Lua.
<br>
<br>Lua/J�piter
<br>
<br>Um aspecto entre estes dois corpos favorece um relacionamento
<br>tranq�ilo, e � um fator muito �til para atenuar quaisquer diferen�as
<br>de temperamento que possam ser indicadas por aspectos cruzados
<br>desarmoniosos. As aspira��es de J�piter, padr�es morais gerais e
<br>express�es de boa vontade ir�o instintivamente agradar ao seu parceiro
<br>lunar, que provavelmente o ter� em alta estima. Por esse motivo
<br>a Lua far� um esfor�o especial para adaptar-se a seu parceiro
<br>Jupiteriano, cuja atitude expansiva e respeito pelas conven��es
<br>sociais fazem-na sentir-se completamente � vontade.
<br>
<br>O contato favorece um bom relacionamento social entre todos os
<br>tipos de indiv�duos, a n�o ser que um dos dois corpos esteja muito
<br>aflito no nascimento. Nesse caso a Lua pode nem sempre concordar
<br>com a boa opini�o que J�piter tem de si mesmo, ou abusar da generosidade
<br>de J�piter, enquanto J�piter pode dar falsas esperan�as �
<br>sua amiga lunar, fazendo promessas com o �nico prop�sito de confortar,
<br>ou superestimando a ajuda que poderia ser capaz de oferecer.
<br>
<br>Livre de afli��o, a conjun��o � um contato agrad�vel, apesar de
<br>haver a possibilidade de J�piter mimar em excesso seu companheiro
<br>lunar, que fica feliz em dar a J�piter oportunidades de revelar generosidade.
<br>Se os dois corpos estiverem bem apoiados no nascimento,
<br>a conjun��o pode agir como um fator complementar com benef�cios
<br>rec�procos para ambos os parceiros.
<br>
<br>� improv�vel que resultem grandes dificuldades desta combina��o,
<br>a menos que as afli��es em um dos dois corpos no nascimento
<br>sejam graves.
<br>
<br>Lua/Saturno
<br>
<br>Apesar de Saturno reger Capric�rnio � o signo da 7� casa lunar
<br>
<br>� � exaltado em Libra, em quadrado com C�ncer. Ao mesmo tempo
<br>que um contato entre os dois corpos normalmente indica uma liga��o
<br>de longo prazo, por si s� ele n�o tende a produzir um tipo particularmente
<br>feliz de relacionamento, j� que Saturno pode hesitar em
<br>romper qualquer v�nculo legal entre os parceiros devido a um senso
<br>de responsabilidade, enquanto � poss�vel que a Lua fique t�o acos
<br>
<br>tumada a ter Saturno por perto que adote o tipo de filosofia "� melhor
<br>o diabo que conhecemos" sobre o relacionamento. Saturno pode
<br>achar que precisa da Lua como um meio de demonstrar sua const�ncia
<br>e senso de responsabilidade, enquanto a Lua pode agarrar-se a
<br>Saturno como � figura de um pai e adquirir o h�bito de depender dele.
<br>
<br>Estes podem n�o ser os melhores ou mais excitantes motivos para
<br>embarcarnum relacionamento e mant�-lo, mas � prov�vel que outros
<br>la�os tenham tido um papel mais importante na uni�o dos dois.
<br>
<br>Quando os dois corpos est�o unidos por um aspecto harmonioso,
<br>a Lua apreciar� a atitude respons�vel de Saturno e sua aceita��o do
<br>trabalho �rduo necess�rio � constru��o de uma base s�lida para o
<br>relacionamento. A menos que haja aspectos cruzados de outros
<br>planetas na Lua do companheiro, a aparente falta de resposta
<br>emocional entusi�stica de Saturno pode fazer o parceiro lunar desejar
<br>um companheiro mais excitante e menos pr�tico. Saturno pode
<br>ter uma li��o para ensinar � Lua, de acordo com o signo que ocupa,
<br>e dar um exemplo de dedica��o ao dever que a Lua finalmente ir�
<br>apreciar. � poss�vel que Saturno esteja numa posi��o de prestar
<br>algum servi�o de longo prazo ao parceiro, assumindo responsabilidades
<br>extras devido � sua sa�de fraca ou como resultado de algum
<br>outro obst�culo.
<br>
<br>No casamento, esta combina��o pode testar os c�njuges, se um
<br>dos dois achar que est� assumindo uma parcela muito grande dos
<br>deveres e responsabilidades inerentes ao relacionamento. Os que n�o
<br>estiverem prontos para aceitar de bom grado os "la�os" do matrim�nio
<br>podem achar suas responsabilidades extremamente penosas.
<br>
<br>Quando os corpos est�o em aspecto adverso um com o outro ou
<br>um dos dois est� debilitado, � poss�vel que ainda haja um elo muito
<br>forte entre eles, mas a Lua pode achar Saturno frio, austero demais e
<br>intolerante, e que ele interpreta mal sua melancolia. Ela pode fechar-
<br>se cada vez mais em sua concha, temendo ser rejeitada. A falta de
<br>imagina��o e �s vezes mentalidade estreita de Saturno podem se
<br>revelar uma fonte de frustra��o para a Lua, que sente que n�o consegue
<br>"atingir" seu parceiro. A Lua pode n�o gostar das tentativas
<br>de Saturno de estabelecer a lei e ditar normas a serem seguidas se a
<br>Lua natal estiver aflita e reagir emburrando ou at� mesmo se rebelando.
<br>Em alguns casos pode-se chegar a um estado de total frustra��o.
<br>Como � prov�vel que nenhum dos companheiros esteja
<br>
<br>
<br>preparado para considerar a possibilidade de mudar o status quo, n�o
<br>importa o quanto os dois se tornem amargurados, pode-se atingir um
<br>est�gio em que ambos assumem um arde m�rtir, tentando corajosamente
<br>fazer o que ele ou ela acha que � sua obriga��o em face de dificuldades
<br>quase insuper�veis.
<br>
<br>� poss�vel que a Lua ache que nunca pode cometer alguma indiscri��o
<br>ou se comportar de modo desinibido, temendo desagradar seu
<br>cr�tico parceiro Saturniano, que deplorar� a inconst�ncia dc seu humor.
<br>O parceiro lunar ser� sempre o que mais sofre.
<br>
<br>Quando este aspecto cruzado est� presente entre os mapas de duas
<br>pessoas que se encontram pela primeira vez e h� poucos aspectos
<br>favor�veis �teis entre outros planetas, um sentimento de antipatia
<br>pode impedir que surja uma amizade, ou posteriormente resultar no
<br>rompimento da rela��o.
<br>
<br>Num relacionamento emocional j� estabelecido, Saturno pode
<br>precisar demonstrar mais considera��o pelos sentimentos do parceiro,
<br>encontrando um modo de levar a si mesmo menos a s�rio e
<br>proporcionar uma atmosfera mais leve e menos critica para o relacionamento,
<br>enquanto a Lua pode achar a rela��o mais gratificante
<br>quando aprende a apreciar a autodisciplina e dedica��o ao dever do
<br>parceiro, mesmo se �s vezes ele realmente torna a vida dif�cil.
<br>
<br>Lua/Urano
<br>
<br>Esta � uma combina��o de certo modo cr�tica que pode indicar
<br>muita atra��o magn�tica, apesar de ao mesmo tempo poder surgir
<br>tens�o. � poss�vel que a Lua fique fascinada pelo que parece ser muito
<br>incomum, ou por qualidades particularmente din�micas no parceiro,
<br>enquanto Urano pode reagir de maneira decidida � atra��o feminina
<br>da parceira lunar. Se for o homem quem tem aLua assim aspectada,
<br>ele pode achar que a sua parceira de Urano parece dar uma nova
<br>dimens�o ao seu conceito de mulher ideal. Geralmente este � um
<br>contato que fornece uma cont�nua variedade de experi�ncias estimulantes,
<br>apesar de que � bom lembrar que uma excita��o constante
<br>depois de certo tempo quase sempre come�a a cansar. Portanto, este
<br>aspecto cruzado, sozinho, n�o � garantia de um relacionamento
<br>duradouro, apesar de no in�cio poder haver um grande fasc�nio.
<br>
<br>Quando estes corpos est�o em aspecto adverso ou um dos dois
<br>
<br>est� debilitado, o comportamento exc�ntrico e a imprevisibilidade
<br>
<br>
<br>geral de Urano podem irritar profundamente o companheiro c abalar
<br>seus sentimentos. Em alguns casos a Lua fica muito perturbada com
<br>a falta de compreens�o demonstrada e a total incapacidade de Urano
<br>de perceber que pode estar agindo de modo a causar-lhe sofrimento.
<br>
<br>As vezes este aspecto cruzado est� presente entre hor�scopos dc
<br>amigos que n�o se v�em com muita freq��ncia, de modo que o elemento
<br>de inova��o � preservado. Contatos eventuais, encontrados
<br>na vida di�ria, podem facilmente se revelar uma fonte de irrita��o
<br>quando este interc�mbio est� presente.
<br>
<br>LualNetuno
<br>
<br>Pode existir uma empatia delicada e sens�vel entre duas pessoas
<br>quando estes corpos se relacionam por conjun��o ou aspecto ben�fico.
<br>Netuno pode exercer um fasc�nio et�reo sobre a sens�vel Lua,
<br>e o contato ser particularmente �til para um parceiro lunar com grande
<br>sensibilidade est�tica, porque o modo idealista de Netuno encarar a
<br>vida pode estimular a imagina��o da Lua e revelar um novo mundo
<br>de beleza e encantadora fantasia. No entanto, h� o perigo da Lua se
<br>empolgar com o fasc�nio dos mist�rios sugeridos por Netuno, tornando-
<br>se confusa e emaranhada numa rede de id�ias fant�sticas e
<br>ilus�rias, sem conseguir entender que o que parece real e importante
<br>para Netuno pode relacionar-se apenas com os conhecimentos que
<br>se adquire ao lidar com os detalhes mais banais da vida cotidiana.
<br>
<br>Ao mesmo tempo que este contato toma poss�vel uma uni �o muito
<br>solid�ria entre os parceiros, ele nem sempre gera um envolvimento
<br>passional e geralmente est� presente em amizades plat�nicas.
<br>
<br>Quando h� um aspecto adverso entre os corpos ou um dos dois
<br>
<br>est� debilitado, a conseq��ncia pode ser uma quase impercept�vel
<br>
<br>falta de afinidade emocional. Apesar de poder haver um desejo de
<br>
<br>agradar, nenhum dos parceiros sabe bem como faz�-lo. Netuno pode
<br>
<br>ficar totalmente desnorteado tentando entender a melancolia de seu
<br>
<br>companheiro lunar, enquanto a Lua pode interpretarmal as inten��es
<br>
<br>de Netuno. A Lua pode sentir instintivamente que Netuno � incons
<br>
<br>
<br>tante e est� � merc� dc seus melindres emocionais. No entanto, os
<br>
<br>aspectos dif�ceis n�o precisam acabar com um relacionamento,
<br>
<br>porque tanto a Lua como Netuno s�o receptivos c flex�veis. A ca
<br>
<br>
<br>pacidade dc Netuno ser piedoso pode ser maior quando os aspectos
<br>
<br>desarmoniosos est�o presentes.
<br>
<br>140
<br>
<br>
<br>Lua/Plut�o
<br>
<br>Plut�o pode ter um efeito hipn�tico sobre a Lua, que instintivamente
<br>reconhecer� em seu parceiro Plutoniano uma grande qualidade
<br>pessoal que atrai ou repele, dependendo dos dois corpos estarem
<br>ou n�o em aspecto harmonioso. Se um dos dois estiver debilitado,
<br>at� mesmo os bons aspectos podem n�o gerar harmonia. Em alguns
<br>casos, um elo emocional c�rmico pode ter unido os dois. � prov�vel
<br>que o parceiro do sexo masculino cuja Lua est� envolvida veja a sua
<br>imagem de mulher ideal irresistivelmente personificada em sua
<br>parceira de Plut�o, enquanto a mulher cuja Lua � assim aspectada
<br>ter� seus instintos femininos aumentados pelo contato com Plut�o
<br>no hor�scopo do parceiro.
<br>
<br>Como Plut�o se move muito lentamente, muitas pessoas ter�o
<br>aproximadamente o mesmo grau ocupado por este planeta. Por isso,
<br>para esse contato ser positivo, depender� muito do envolvimento de
<br>Plut�o no nascimento com alguns dos outros planetas que se movem
<br>mais r�pido, que agir�o para diferenciar a qualidade do contato
<br>existente entre muitos contempor�neos. Quando os dois corpos est�o
<br>em conjun��o, a Lua � a menos que esteja muita aflita no nascimento
<br>� pode simpatizar com os pontos de vista e filosofia de toda
<br>a gera��o, compartilhando desta opini�o de Plut�o. Plut�o pode
<br>entender instintivamente a melancolia e os sentimentos da Lua, de
<br>modo a haver um alto grau de compreens�o entre eles. Se o parceiro
<br>de Plut�o quiser algum dia tirar vantagem da habilidade de influenciar
<br>o �nimo da Lua, provavelmente saber� exatamente como encontrar
<br>o ponto mais vulner�vel nas suas defesas. Conseq�entemente,
<br>em outras circunst�ncias, ele pode tomar-se um grande inimigo.
<br>
<br>Merc�rio/Merc�rio
<br>
<br>Este contato � o principal indicador de compatibilidade mental.
<br>Quando os dois est�o conjuntos, em bom aspecto um com o outro e
<br>relativamente livres de afli��o de outros aspectos cruzados, h� um
<br>bom grau de empatia mental, facilitando um interc�mbio harmonioso
<br>de id�ias. Deste modo, dar� prazer ao casal conversar sobre
<br>assuntos de interesse m�tuo. Os interesses em comum ou uma aprecia��o
<br>da atitude mental um do outro incentivar� a livre comunica��o.
<br>Quando a conjun��o estiver presente, um parceiro ser� capaz de
<br>antecipar os pensamentos do outro. A conjun��o e, num grau ligei
<br>
<br>
<br>
<br>ramente menor, um aspecto favor�vel pr�ximo, podem indicar um
<br>relacionamento aluno/professor muito harmonioso.
<br>
<br>Um aspecto dif�cil entre os dois Merc�rios indica que h� uma
<br>diferen�a b�sica no modo de encarar problemas mentais. O resultado
<br>� que o modo de pensar de um pode ser totalmente diferente do
<br>outro. Pode haver um elemento de desafio inerente a esta combina��o
<br>que leva a discuss�es animadas ou at� mesmo diverg�ncias a respeito
<br>de assuntos intelectuais fundamentais. Em alguns casos, ambos podem
<br>tender a ser muito cr�ticos em rela��o um ao outro.
<br>
<br>A oposi��o pode resultar numa mistura de pontos de vista opostos,
<br>e essas opini�es diametralmente opostas podem incentivar o
<br>desenvolvimento mental dos dois parceiros, apesar disso ser mais
<br>dif�cil se Merc�rio estiver num signo fixo, quando pode haver
<br>tend�ncia a uma opini�o dogm�tica, ou se est� estacion�rio ou retr�grado,
<br>quando o nativo estar� menos propenso a ouvir opini�es
<br>contr�rias �s suas.
<br>
<br>Merc�rio/V�nus
<br>
<br>Esta � uma uni�o agrad�vel, indicando que as id�ias de Merc�rio
<br>ser�o bem recebidas por V�nus. V�nus pode encorajar Merc�rio, dar-
<br>lhe mais seguran�a para comunicar suas id�ias e at� mesmo ajud�lo
<br>a propag�-las.
<br>
<br>Quando os dois planetas est�o em aspecto adverso, V�nus pode
<br>ser pouco severo em suas cr�ticas, n�o contestar quaisquer contradi��es
<br>l�gicas na opini�o de Merc�rio ou, em alguns casos, at�
<br>mesmo induzi-lo a acreditar que suas conclus�es err�neas s�o o resultado
<br>de uma dedu��o brilhante. �s vezes V�nus pode estar envolvida
<br>demais em seus pr�prios projetos comodistas para prestar
<br>muita aten��o aos planos de Merc�rio. Merc�rio pode se sentir
<br>inclinado a criticar qualquer tend�ncia � pregui�a em seu parceiro
<br>ou uma excessiva preocupa��o em procurar ocupa��es agrad�veis.
<br>
<br>Merc�rio/Marte
<br>
<br>Marte fornece um elemento de contesta��o �s id�ias de Merc�rio,
<br>mantendo-o alerta quando o aspecto � favor�vel ou talvez discutindo
<br>de modo muito en�rgico ou cr�tico com ele quando o aspecto � desfavor�vel
<br>. O resultado � Merc�rio ficar suj eito a um certo grau de tens�o
<br>nervosa.
<br>
<br>
<br>Este � um contato com o qual � preciso lidar com cuidado, porque
<br>ao mesmo tempo que os aspectos favor�veis podem favorecer uma
<br>saud�vel troca de id�ias, com Merc�rio incentivado pela cr�tica construtiva
<br>de Marte, h� uma tenta��o por parte de Marte de adotar uma
<br>atitude mental provocantemente agressiva. Em defesa pr�pria,
<br>Merc�rio pode recorrer a uma fascinante exposi��o de gin�stica
<br>verbal consideravelmente inteligente.
<br>
<br>Muitas coisas podem depender da for�a de Merc�rio e de sua
<br>capacidade de beneficiar-se com a cr�tica de Marte, que pode ajudar
<br>a melhorar e acelerar suas rea��es mentais. Deste modo, num relacionamento
<br>profissional, a combina��o dos dois talentos pode levar
<br>a um bem-sucedido planejamento e realiza��o de opera��es de
<br>neg�cios.
<br>
<br>Se Marte � forte, e Merc�rio fraco por signo e aspecto, Marte pode
<br>tender a sentir um prazer perverso em achar defeitos nos argumentos
<br>de Merc�rio, ou fazer sentir a sua presen�a censurando-o, principalmente
<br>se Marte tem consci�ncia de qualquer inferioridade intelectual.
<br>Merc�rio ent�o est� sujeito a receber"alfinetadas"deMarte
<br>e se expressar� mais violentamente que de costume ou manifestar�
<br>nervosismo.
<br>
<br>Se Merc�rio estiver firmemente posicionado e for capaz de apreciar
<br>a estimulante "troca" intelectual, ele pode "aceitar" a atitude
<br>provocadora de Marte. Mas os aspectos adversos ou at� mesmo
<br>favor�veis de um Marte debilitado podem indicar interesses mentais
<br>e processos de reflex�o diferentes que finalmente levar�o �
<br>disc�rdia, se as diverg�ncias forem num n�vel muito b�sico.
<br>
<br>Merc�rio/J�piter
<br>
<br>Este � um contato muito �til para o equil�brio mental, apesar de
<br>que � poss�vel que surjam problemas se um dos dois corpos estiver
<br>debilitado ou o aspecto entre eles for adverso. J�piter pode recorrer
<br>� sua experi�ncia para desenvolver a intelig�ncia de Merc�rio, ajudando-
<br>o a expandir seus conhecimentos, concedendo-lhe o benef�cio
<br>de sua sabedoria e �s vezes ajudando-o a adquirir uma nova compreens�o
<br>filos�fica. J�piter pode apoiar e encorajar Merc�rio. Por isso
<br>n�o � surpresa descobrir que normalmente este aspecto est� presente
<br>em relacionamentos entre pais e filhos. Quando o Merc�rio da crian�a
<br>entra em contato com o J�piter de um dos pais, isto pode indi
<br>
<br>
<br>
<br>car que sua educa��o provavelmente ser� muito dispendiosa. Qualquer
<br>inquieta��o que a crian�a revele pode exigir muito tato por parte
<br>dos pais e, nos primeiros anos, uma participa��o m�tua em jogos e
<br>passatempos pode ajudar muito o relacionamento. Geralmente o pai
<br>de J�piter lida melhor com a ansiedade de seu filho de Merc�rio.
<br>
<br>Este contato tamb�m � muito encontrado em relacionamentos de
<br>neg�cios, onde Merc�rio fornece as id�ias e J�piter o capital e
<br>est�mulo necess�rios.
<br>
<br>Quando h� um aspecto adverso ou J�piter est� debilitado, �
<br>poss�vel que as id�ias e talentos de Merc�rio sejam explorados por
<br>J�piter, que pode estar disposto a tirar o m�ximo proveito poss�vel
<br>do relacionamento.
<br>
<br>De modo geral, as id�ias de Merc�rio s�o recebidas por J�piter
<br>com grande toler�ncia, o que pode resultar no estabelecimento de
<br>uma atmosfera mental harmoniosa prop�cia a id�ias criativas.
<br>Merc�rio pode ajudar J�piter a formular id�ias mais claras. Apesar
<br>disso, se Merc�rio estiver desprevenido devido ao apoio excessivamente
<br>otimista de J�piter, � poss�vel que ele cometa erros de julgamento,
<br>ou torne-se excessivamente vaidoso. Sob a boa influ�ncia
<br>do parceiro Jupiteriano, Merc�rio freq�entemente deseja coordenar
<br>suas id�ias, adaptar-se para o bem do relacionamento e refletir muito
<br>para n�o haver atritos.
<br>
<br>Merc�rio/Saturno
<br>
<br>Saturno faz Merc�rio"assentar a cabe�a" e refletir mais, prestando
<br>aten��o ao lado mais s�rio da vida, examinando as id�ias de Merc�rio
<br>� luz da pr�pria experi�ncia, e geralmente dando conselhos sensatos
<br>e pr�ticos. Se Saturno estiver em posi��o proeminente e mal
<br>aspectado, pode diminuir a espontaneidade de Merc�rio questionando
<br>seu julgamento e apontando erros, ou seus pr�prios medos
<br>podem faz�-lo criar obje��es aos planos de Merc�rio. Se o aspecto
<br>� desfavor�vel, Merc�rio pode achar dif�cil tentar convencer Saturno,
<br>que ocasionalmente parece ter uma compreens�o um tanto lenta. �s
<br>vezes a conjun��o � dif�cil e Saturno verifica v�rias vezes as informa��es
<br>de Merc�rio, um procedimento que provavelmente diminuir�
<br>a seguran�a do parceiro. Quando h� um bom relacionamento
<br>entre os dois planetas, geralmente Merc�rio pode fornecer fatos
<br>adicionais a Saturno ou um novo modo de encarar as coisas.
<br>
<br>144
<br>
<br>
<br>Merc�rio/Urano
<br>
<br>Urano pode estimular Merc�rio a canalizar id�ias em novas dire��es
<br>e a dedicar-se a novos estudos. Talvez Merc�rio fique intrigado
<br>com o modo singular de encarar as coisas que Urano pode trazer
<br>ao relacionamento. � prov�vel que Urano consiga fazer Merc�rio
<br>mudar alguns conceitos at� ent�o muito arraigados, apesar disso ser
<br>menos prov�vel se Merc�rio estiver num signo fixo (principalmente
<br>Touro) ou em aspecto com Saturno.
<br>
<br>A conjun��o pode ter um efeito particularmente estimulante sobre
<br>os interc�mbios mentais, com a possibilidade de transmiss�o de
<br>pensamento ou transfer�ncia de id�ias. Mas se Urano estiver debilitado
<br>ou muito aflito, � poss�vel que o seu efeito sobre o Merc�rio do
<br>parceiro�principalmente quando em aspecto adverso�se revele
<br>excessivamente estimulante, fazendo Merc�rio se entusiasmar com
<br>novas id�ias que podem eventualmente n�o o levar a parte alguma e
<br>perder tempo no processo, ou pode haver discuss�es porque Urano
<br>n�o consegue fazer o que Merc�rio espera dele. Em alguns casos, as
<br>discuss�es podem provocar raiva m�tua.
<br>
<br>Merc�riolNetuno
<br>
<br>O pensamento l�gico de Merc�rio nem sempre combina facilmente
<br>com a sensibilidade e imagina��o de Netuno, fazendo os
<br>parceiros interpretarem mal um ao outro. Quando os contatos s�o
<br>favor�veis e Netuno forte por signo e bem aspectado, ele pode saber
<br>intuitivamente o que Merc�rio est� pensando. Os aspectos adversos
<br>podem tornar dif�cil para Netuno apreciar a l�gica de Merc�rio,
<br>e para Merc�rio encarar com simpatia a facilidade com que Netuno
<br>se entrega a v�os de imagina��o po�tica, ou se envolve com assuntos
<br>que parecem muito distantes de considera��es pr�ticas. �s vezes
<br>isto leva a situa��es em que Merc�rio acha que Netuno n�o foi muito
<br>franco, quando Merc�rio pode n�o ter conseguido entender claramente
<br>o que Netuno tentou transmitir ou ter suposto que algum
<br>exemplo aleg�rico era literalmente verdade. Atuando do melhor
<br>modo juntos, os dois planetas podem ajudar a aumentar uma compreens�o
<br>intuitiva do ponto de vista um do outro, e um interesse
<br>m�tuo por atividades art�sticas ou talvez estudos m�sticos. Nessa
<br>situa��o, Netuno contribui com uma reflex�o um pouco apurada, caso
<br>contr�rio h� uma tend�ncia a surgirem muitas concep��es err�neas
<br>
<br>
<br>devido � aparente falta de clareza de Netuno ou � insist�ncia de
<br>Merc�rio em concentrar-se no sentido literal, ao inv�s de no sentido
<br>real, das contribui��es intelectuais do parceiro. �s vezes a conjun��o
<br>indica um alto grau de afinidade mental, mas se estiver aflita por
<br>outros planetas, as m�s interpreta��es podem ser freq�entes.
<br>
<br>Netuno pode reagir emocionalmente aos argumentos mais persuasivos
<br>de Merc�rio, enquanto �s vezes alguns dos v�os de fantasia
<br>mais inspiradores de Netuno despertam a imagina��o de
<br>Merc�rio.
<br>
<br>Merc�rio/Plut�o
<br>
<br>Para convencer Plut�o, Merc�rio tem de tocar uma corda sens�vel
<br>no inconsciente do parceiro. Durante qualquer troca de id�ias,
<br>Merc�rio pode descobrir que aquilo que pensava mudou durante a
<br>discuss�o, porque Plut�o deseja examinar em profundidade suas
<br>id�ias e pode fazer a press�o necess�ria para Merc�rio acrescentar
<br>uma nova dimens�o ao seu modo de pensar. � poss�vel que tais
<br>an�lises d�em a Merc�rio uma sensa��o de opress�o e possivelmente
<br>uma impress�o de ter sofrido uma lavagem cerebral. Em alguns casos,
<br>Plut�o pode parecer ter um ponto cego no seu discernimento,
<br>no que diz respeito a assimilar as id�ias de Merc�rio. Se Plut�o estiver
<br>representando um grupo, � prov�vel que Merc�rio o considere
<br>uma pessoa dif�cil de lidar, porque pode n�o se sentir � vontade para
<br>expor as id�ias que lhe pediram para comunicar.
<br>
<br>V�nus/V�nus
<br>
<br>Quando V�nus em um hor�scopo est� em aspecto favor�vel com
<br>V�nus no outro, forma-se um elo agrad�vel que favorece a manifesta��o
<br>de um alegre companheirismo e carinhoso respeito pelas necessidades
<br>um do outro. Raramente os gostos e avers�es dos parceiros
<br>entrar�o cm choque, apesar de ser preciso levar em conta a
<br>condi��o de cada V�nus natal.
<br>
<br>A conjun��o, amenos que uma das V�nus esteja aflita, �um contato
<br>particularmente feliz � indicando gostos em comum e convidando
<br>� troca de confid�ncias � mas n�o � garantia infal�vel de
<br>um casamento duradouro. Tenho em meus arquivos os hor�scopos
<br>de um casal, ambos nascidos com V�nus em Touro a poucos graus
<br>um do outro nas respectivas 7as casas. Quando surgiam as desaven�as
<br>
<br>146
<br>
<br>
<br>(indicadas por outros aspectos cruzados) os dois deixavam para o
<br>parceiro (7� casa) a iniciativa de restabelecer a harmonia. Como
<br>V�nus em Touro � um dos indicadores menos prov�veis de a��o
<br>positiva (o pl�cido touro precisa ser instigado) eles deixaram as
<br>desaven�as se multiplicarem, finalmente resultando em div�rcio.
<br>
<br>O respeito m�tuo e a atitude participante nos relacionamentos
<br>costuma diminuir um pouco quando as duas V�nus est�o em aspecto
<br>adverso uma com a outra ou uma das duas est� debilitada. Press�es
<br>externas ou uma atitude possessiva demais por parte de um ou de
<br>ambos podem criar um relacionamento sufocante, ou eles podem
<br>estar em aspectos cruzados quando tentam agradar um ao outro, e
<br>tornar-se um pouco petulantes a qualquer falta de reconhecimento.
<br>� poss�vel que os parceiros n�o concordem quanto a atividades de
<br>lazer e que tenham gostos muito diferentes. Apesar disso, quando
<br>h�umamaioria de aspectos cruzados �teis entre outros planetas, geralmente
<br>os efeitos n�o s�o muito adversos.
<br>
<br>Como V�nus rege a 7� casa natural, �s vezes, uma oposi��o pode
<br>ter bons resultados, apesar disso ser menos prov�vel quando V�nus
<br>est� debilitada.
<br>
<br>V�nusIMarte
<br>
<br>Este contato � o principal indicador de compatibilidade f�sica. Um
<br>reconhecimento t�cito desse fato � o uso dos s�mbolos de Marte e
<br>V�nus em zoologia para diferenciar o sexo masculino e feminino
<br>dos animais.
<br>
<br>No casamento, o contato entre esses dois planetas indica uma
<br>pronta resposta ao magnetismo animal um do outro. Portanto, �
<br>compreens�vel que os bons aspectos, entre o par planet�rio, n�o
<br>consolidem necessariamente um casamento, ou at� mesmo fa�am-
<br>no ocorrer, a menos que tamb�m estejam presentes outros indicadores
<br>de compatibilidade num plano menos f�sico.
<br>
<br>Apesar disso, geralmente o plano f�sico � muito importante em
<br>uma uni�o, principalmente em vista da declara��o no sacramento
<br>do matrim�nio de que um de seus objetivos � a procria��o.
<br>
<br>A interpreta��o dos aspectos V�nus-Marte talvez exija que con
<br>
<br>
<br>sideremos mais a idade dos dois parceiros e as circunst�ncias do que
<br>
<br>a maioria das outras combina��es. Por exemplo, se os dois planetas
<br>
<br>estiverem em aspecto entre os hor�scopos de uma crian�a muito nova
<br>
<br>
<br>e seu av�, o contato pode n�o significar mais que uma capacidade
<br>m�tua de apreciar jogos que exijam um certo grau de esfor�o f�sico,
<br>ou um deles pode ser capaz de sugerir atividades que divertir�o ou
<br>estimular�o o outro. Um contato Marte-V�nus necessariamente n�o
<br>indica um grande est�mulo emocional ou f�sico, mas quando o aspecto
<br>cruzado est� presente, os nativos deveriam ser capazes de
<br>trabalhar facilmente na companhia um do outro.
<br>
<br>Marte representa o desejo e V�nus o desejado. Deste modo, num
<br>relacionamento rom�ntico, Marte costuma tomar a iniciativa e V�nus
<br>estimul�-la. Por esse motivo, tem sido sugerido que � melhor Marte
<br>do homem estar cm aspecto com V�nus da mulher do que o oposto.
<br>Talvez o ideal fosse Marte e V�nus de um parceiro estarem unidos
<br>respectivamente a V�nus e Marte do outro, mas n�o h� bases reais
<br>para duvidar da vantagem de V�nus do homem estarem aspecto com
<br>Marte da mulher. Totalmente � parte do fato de que nem todos os
<br>homens exigem o mesmo grau de passividade de suas parceiras, e
<br>que nem todas as mulheres se satisfazem com um papel meramente
<br>passivo, o fato de V�nus num hor�scopo feminino representar o ideal
<br>feminino do homem, enquanto Marte num hor�scopo feminino
<br>representa o ideal masculino da mulher, sugere que � melhor estes
<br>ideais se harmonizarem do que n�o terem rela��o um com o outro.
<br>Quando Marte num hor�scopo feminino aspecta V�nus num
<br>hor�scopo masculino, isto fornece um est�mulo e talvez um desafio
<br>para o conceito que ele tem da mulher ideal, enquanto V�nus do
<br>homem tomar� a mulher agradavelmente consciente de seu conceito
<br>ideal de masculinidade. Essa invers�o de Marte e V�nus n�o precisa
<br>implicar numa falta de qualidades masculinas no homem ou de
<br>feminilidade na mulher.
<br>
<br>Marte � capaz de despertar a devo��o apaixonada de V�nus, e uma
<br>grande afei��o m�tua pode originar-se do que era inicialmente uma
<br>mera atra��o f�sica. V�nus pode dar a resposta amorosa que Marte
<br>deseja e fazer muito para trazer harmonia e bem-estar ao relacionamento.
<br>Deste modo, geralmente uma sensa��o de pertencer um
<br>ao outro se manifesta junto com a capacidade de saber intuitivamente
<br>
<br>o melhor modo de agradar o parceiro.
<br>Fora do aspecto rom�ntico, os dois planetas podem atuar bem
<br>juntos num relacionamento de neg�cios, com Marte fornecendo a
<br>iniciativa e est�mulo e V�nus o refinamento e eleg�ncia.
<br>
<br>148
<br>
<br>
<br>Como V�nus e Marte regera signos opostos do zod�aco, necessariamente
<br>a oposi��o n�o precisa indicar desarmonia. Na verdade,
<br>quando V�nus est� em Escorpi�o e Marte em Touro, a recep��o
<br>m�tua entre eles pode"estreitaro la�o" consideravelmente. De outro
<br>modo � se um dos dois planetas estiver debilitado ou houver um
<br>aspecto adverso entre eles � pode n�o ser f�cil para os companheiros
<br>adaptarem-se um ao outro no plano f�sico ou emocional. E poss�vel
<br>que V�nus ache Marte rude demais ou agressivo. Marte pode cansar-
<br>se de ver suas tentativas de aproxima��o serem mal recebidas
<br>por V�nus, ou tornar-se de v�rios modos uma amola��o para V�nus,
<br>�s vezes agindo provocadoramente, talvez como resultado de seus
<br>pr�prios desejos reprimidos, ou seu entusiasmo pode finalmente
<br>esfriar.
<br>
<br>A atra��o f�sica pode n�o ser menor quando h� aspectos adversos,
<br>mas � poss�vel que haja problemas em express�-la a contento
<br>de ambas as partes. Marte pode tender a ser muito apressado, e V�nus
<br>a se tornar altamente seletiva quanto a quem prestar� os seus favores.
<br>Se Marte achar que n�o est� recebendo a aten��o e considera��o que
<br>merece, � poss�vel que n�o demore a procurar consolo em outra parte.
<br>Deste modo o relacionamento estar� sujeito a uma certa tens�o, e
<br>um ou ambos os parceiros podem tornar-se ciumentos. A propor��o
<br>de sentimento das duas partes pode ser desigual, e �s vezes um
<br>companheiro pode sentir antipatia pelo outro.
<br>
<br>Os que desejam apenas entregar-se a um fortuito caso amoroso
<br>podem apreciar o desafio e a excita��o gerados pelos aspectos discordantes.
<br>
<br>
<br>Em relacionamentos n�o ligados a romance e casamento, Marte
<br>pode ser �til incitando um V�nus pregui�oso a agir, enquanto V�nus
<br>pode mostrar a um precipitado Marte como agir com mais finura e
<br>talvez menos entusiasmo.
<br>
<br>V�nus/J�piter
<br>
<br>Normalmente este � um contato extremamente feliz, encontrado
<br>entre hor�scopos de c�njuges. � dif�cil saber qual dos dois tem mais
<br>dons naturais. V�nus conquistar� a boa vontade de J�piter, enquanto
<br>J�piter despertar� a afei��o que V�nus procura uma oportunidade
<br>de dedicar. Quando J�piter no hor�scopo masculino aspecta V�nus
<br>no hor�scopo feminino, ele ser� capaz de descobrir todas as aptid�es
<br>
<br>
<br>latentes dela para representar seu papel feminino mais atraente.
<br>Quando J�piter no hor�scopo feminino est� em aspecto com V�nus
<br>do homem, ela pode parecer-lhe uma personifica��o exata de seu
<br>ideal de mulher.
<br>
<br>Esta combina��o leva a um alto grau de coopera��o entre os dois
<br>parceiros, baseada no respeito m�tuo. O contato promete um relacionamento
<br>social feliz entre amigos. No casamento, o apoio que
<br>um deseja dar ao outro pode ajudar muito a neutralizar qualquer desarmonia
<br>indicada por aspectos cruzados adversos entre outros
<br>planetas. J�piter apreciar� os talentos art�sticos e virtudes sociais de
<br>V�nus, enquanto que se V�nus der um valor especial � concep��o
<br>otimista e filos�fica do parceiro, J�piter, sem d�vida, ter� um carinhoso
<br>aliado.
<br>
<br>A atitude brincalhona de J�piter c a tend�ncia � divers�o de V�nus
<br>combinam-se para proporcionar um interesse m�tuo por momentos
<br>de lazer agrad�veis e descontra�dos.
<br>
<br>Quando os planetas est�o em aspecto adverso ou um dos dois est�
<br>debilitado, muitas das vantagens acima podem estar presentes, mas
<br>� poss�vel que haja extravag�ncia e comodismo excessivos. Se
<br>J�piter for o planeta mais forte, V�nus pode incorrer em excessos,
<br>enquanto que se V�nus estiver mais bem posicionada, pode tentar
<br>tornar-se muito possessiva ou ressentir-se do sucesso do companheiro,
<br>caso ele dedique-se menos aten��o a ela. Em alguns casos,
<br>V�nus pode tomar-se concentrada demais em si pr�pria para
<br>apreciar as muitas virtudes de J�piter.
<br>
<br>V�nus/Saturno
<br>
<br>Se a parceira Venusiana der um grande valor � integridade c lealdade,
<br>ela apreciar� seu parceiro de Saturno. Este contato tende a
<br>favorecer o estabelecimento de um v�nculo carinhoso e duradouro
<br>entre duas pessoas, mas dificilmente promete �xtase.
<br>
<br>Os bons aspectos favorecem a lealdade, mas geralmente a maior
<br>
<br>parte da afei��o fica por conta de V�nus. Saturno, mesmo igualmente
<br>
<br>carinhoso, pode ter dificuldade em demonstrar o seu carinho ou n�o
<br>
<br>ter delicadeza ao express�-lo, apesar de, provavelmente, ter um
<br>
<br>grande respeito pelas excelentes qualidades do parceiro.
<br>
<br>Ptolomeu fala bem da conjun��o como uma combina��o que
<br>
<br>promete felicidade e const�ncia, mas tem sido observado que oca
<br>
<br>
<br>150
<br>
<br>
<br>sionalmente a aparente frieza de Saturno pode provocar em V�nus
<br>uma tal sensa��o de restri��o e rejei��o que o relacionamento nunca
<br>chega a ser feliz. Saturno pode ser tentado a exigir demais do companheiro.
<br>
<br>
<br>�s vezes, principalmente quando h� uma conjun��o, V�nus tem
<br>muito a aprender com Saturno. Quando V�nus se sente atra�da por
<br>uma pessoa mais velha, a maior experi�ncia do parceiro pode ser o
<br>meio de estabilizar suas rea��es emocionais e ajud�-la a ter um justo
<br>e completo sentido de valores. V�nus pode vir a gostar de uma pessoa
<br>de Saturno que por algum motivo n�o retribui o seu amor, ou
<br>mais tarde descobrir que essa pessoa lhe � inacess�vel.
<br>
<br>Quando os planetas est�o em aspecto adverso ou um dos dois est�
<br>debilitado, Saturno pode, de certo modo, ser o meio de negar prazeres
<br>ao companheiro Venusiano. A oposi��o pode at� mesmo impedir o
<br>estabelecimento de uma amizade, mas se outros contatos unirem duas
<br>pessoas, � poss�vel existir um relacionamento em que Saturno esteja
<br>preparado para renunciar ao amor em prol de interesses financeiros
<br>e aceitar tudo que V�nus se disp�e a oferecer sem dar qualquer
<br>retribui��o digna de nota. A falta de considera��o ou constante frieza
<br>de Saturno podem finalmente acabar com a alegria de V�nus e esgotar
<br>a sua capacidade de amar. Saturno pode achar que � seu dever
<br>adotar certos princ�pios r�gidos de comportamento que n�o fazem
<br>qualquer concess�o � especial necessidade de amor e afei��o do
<br>parceiro.
<br>
<br>� poss�vel que Saturno tente desencorajar uma excessiva demonstra��o
<br>de sentimentos por parte do parceiro, que conseq�entemente
<br>sente que lhe � negado um escape natural para suas emo��es. V�nus
<br>� quem sempre sofre m ais, apesar de Saturno poder se sentir ofendido
<br>com a atitude menos respons�vel ou at� mesmo fr�vola do companheiro,
<br>que n�o d� valor a todo o trabalho duro feito para fornecer
<br>uma base s�lida para o relacionamento.
<br>
<br>Num relacionamento desse tipo, Saturno pode ter de arcar com
<br>muitas das responsabilidades. Ao mesmo tempo que um bom aspecto
<br>entre os dois planetas pode indicar uma pronta aceita��o por parte
<br>de Saturno dos fardos que possivelmente ter� de carregar, � prov�vel
<br>que os aspectos adversos fa�am surgir uma situa��o em que Saturno
<br>comece a se perguntar se tudo valeu a pena, e V�nus se sinta desestimulada
<br>pelo que parece ser uma cr�tica injusta do parceiro, talvez
<br>
<br>
<br>associando-o a circunst�ncias externas que podem "cortar as suas
<br>asas" e tolher sua liberdade.
<br>
<br>V�nus/Urano
<br>
<br>Geralmente este contato ocorre entre hor�scopos de c�njuges,
<br>apesar de por si s� n�o ser um componente que contribua para a
<br>continuidade do relacionamento. Num hor�scopo, o contato representa
<br>a capacidade de arrebatamento. Ocorrendo entre duas pessoas
<br>de sexos opostos, pode indicar um relacionamento sexual estimulante.
<br>Do mesmo modo que momentos de �xtase n�o podem ser
<br>prolongados indefinidamente, e s�o provavelmente t�o desejados
<br>devido ao seu excitante contraste com experi�ncias mais prosaicas,
<br>
<br>o contato V�nus-Urano n�o � um dos fatores mais estabilizadores
<br>numa uni�o. Ele tende a representar tudo que a associa��o V�nus-
<br>Saturno n�o �, dc modo que a vida pode se tornar realmente muito
<br>interessante quando estes dois planetas atuam juntos.
<br>Segundo Rodney Collin, Urano rege as gl�ndulas sexuais, o que
<br>parece confirmar a exalta��o de Urano em Escorpi�o. Escorpi�o se
<br>relaciona com Touro na 7� casa, o signo negativo de V�nus. Por esse
<br>motivo, o contato planet�rio pode ser importante em relacionamentos
<br>sexuais.
<br>
<br>Urano pode exercer um fasc�nio arrebatador sobre V�nus, que
<br>acha Urano "superespecial" e fica intrigado com sua maneira original
<br>de tratar os assuntos, o modo independente de fazer as coisas e a
<br>capacidade de lev�-la a um novo e criativo discernimento. Urano �
<br>particularmente sens�vel ao charme e atratividade de V�nus, que
<br>parece t�o desej�vel que ele tem de possu�-la a todo o custo. �s vezes
<br>V�nus n�o parece perceber como � grande a atra��o que exerce sobre
<br>Urano. Por esse motivo, pode encarar o relacionamento com mais
<br>desprendimento e ter a maior parte do controle sobre ele. Urano pode
<br>tornar-se obcecado por V�nus. Portanto, as possibilidades rom�nticas
<br>desta combina��o s�o consider�veis, apesar de n�o contribu�rem
<br>necessariamente para que a uni�o seja duradoura, principalmente se
<br>os dois parceiros n�o forem suficientemente maduros quando se
<br>conhecem. Eles podem achar dif�cil conviver com uma excita��o
<br>permanente! O resultado � que uma das pessoas, geralmente Urano,
<br>pode perder repentinamente o interesse, principalmente quando os
<br>atrativos f�sicos de V�nus se tornam menos fascinantes devido �
<br>
<br>152
<br>
<br>
<br>conviv�ncia, ou apenas com o passar do tempo. � bom prestar aten��o
<br>�s dire��es e tr�nsitos porque eles afetam a posi��o dos dois
<br>planetas, revelando quando podem ocorrer per�odos perigosos.
<br>
<br>A conjun��o � um aspecto particularmente irresist�vel, indicando
<br>muita atra��o m�tua e um grande interesse de um pelo outro, apesar
<br>da id�ia de que o relacionamento � "bom demais para durar", possivelmente
<br>gerando tens�o.
<br>
<br>Fora as possibilidades rom�nticas, que n�o estar�o presentes em
<br>todos os indiv�duos, o contato promete enriquecer a vida social de
<br>ambos e suas atividades culturais e criativas. � o tipo de contato que
<br>pode ocorrer, por exemplo, entre Urano no hor�scopo de um compositor
<br>que morreu h� muito tempo, e V�nus no hor�scopo de uma
<br>pessoa que aprecia muito a sua m�sica, ou entre o hor�scopo de um
<br>ator e os de seus f�s mais ardentes.
<br>
<br>Quando h� um aspecto adverso entre os planetas ou um dos dois
<br>est� debilitado, � mais prov�vel que haja um rompimento inesperado
<br>do relacionamento, apesar de que, enquanto a atra��o durar, ela pode
<br>ser mais intensa, fazendo o rompimento definitivo se revelar uma
<br>experi�ncia altamente emocional.
<br>
<br>Talvez as pessoas realmente maduras lidem melhor com este
<br>contato, apesar disso n�o ser garantia de que ele n�o produzir� um
<br>ataque de "loucura de ver�o", mesmo na velhice!
<br>
<br>A melhor filosofia da combina��o V�nus-Urano �: "� melhor ter
<br>amado e perdido que nunca ter amado."
<br>
<br>V�nus/Netuno
<br>
<br>O amor puro � a t�nica desta combina��o, e para os mortais
<br>comuns um ideal dif�cil de realizar. Quando se confunde amor com
<br>atra��o f�sica e comodismo m�tuo, a combina��o costuma produzir
<br>algo menos que o estado de perfei��o pelo qual ambos os parceiros
<br>talvez anseiem.
<br>
<br>Este contato pode indicar muita ternura de ambas as partes, mas
<br>a n�o ser que os dois parceiros sejam muito perspicazes, � poss�vel
<br>que Netuno exer�a um fasc�nio sobre V�nus mais ilus�rio que real.
<br>O resultado � que V�nus finalmente pode perceber que o que antes
<br>parecia ser um relacionamento ideal, provavelmente n�o se materializar�.
<br>No plano mais elevado, V�nus pode inspirarem Netuno um
<br>alto grau de compaix�o e talvez abnega��o, enquanto Netuno pode
<br>
<br>
<br>ser bem-sucedido de muitos modos indiretos em usufruir da capacidade
<br>de amar de V�nus.
<br>
<br>Quando os planetas est�o em aspecto adverso ou um dos dois est�
<br>debilitado, � poss�vel que haja uma incompreens�o no n�vel
<br>emocional. Ou Netuno fica nervoso e constrangido com as rea��es
<br>carinhosas de V�nus ou as interpreta mal e no �ltimo momento toma
<br>alguma atitude evasiva, fazendo com que V�nus nunca se sinta seguro
<br>ou plenamente satisfeita.
<br>
<br>Netuno pode ser o meio de dar a V�nus uma nova compreens�o,
<br>e mais fant�stica, do mundo da arte e da m�sica. Este contato pode
<br>estar presente entre os hor�scopos de alguns artistas ou compositores
<br>h� muito falecidos, e nos das pessoas que sentem um interesse
<br>especial por suas cria��es.
<br>
<br>V�nus/Plut�o
<br>
<br>A capacidade de Plut�o de intensificar outras vibra��es planet�rias
<br>� particularmente importante em relacionamentos pessoais,
<br>principalmente quando V�nus � o planeta que representa a
<br>capacidade que uma pessoa tem de criar harmonia � est� envolvida.
<br>Geralmente quando os planetas est�o bem posicionados e
<br>combinados de modo favor�vel, h� um reconhecimento m�tuo de
<br>um la�o emocional profundo. Este la�o parece t�o firme e � aceito
<br>t�o incondicionalmente que n�o � dif�cil imaginar que ele poderia
<br>ter resultado de experi�ncias felizes em encarna��es anteriores.
<br>Quando ocorre entre membros do sexo oposto, provavelmente
<br>o contato aumentar� a consci�ncia da sexualidade um
<br>do outro.
<br>
<br>Se os planetas estiverem em aspecto adverso, ou um dos dois estiver
<br>debilitado, esta consci�ncia pode aumentar de modo desconcertante,
<br>e o ass�dio de Plut�o se tornar constrangedor para V�nus,
<br>que sempre gosta de agir de modo a agradar aos outros, se isso puder
<br>ser feito sem sacrificar muito o bem-estar e a serenidade. A conjun��o
<br>e oposi��o podem gerar situa��es em que os parceiros parecem irresistivelmente
<br>unidos para o melhor ou o pior, de acordo com os aspectos
<br>natais em cada planeta. Em alguns casos, Plut�o pode tentar
<br>evitar qualquer proposta amorosa de V�nus, preferindo permanecer
<br>distante ou romper um relacionamento que amea�a produzir um envolvimento
<br>emocional. Apesar disso, �s vezes a situa��o pode ser
<br>
<br>154
<br>
<br>
<br>invertida, com Plut�o insistindo em fazer galanteios que V�nus n�o
<br>deseja.
<br>
<br>Marte/Marte.
<br>
<br>Quando Marte num hor�scopo forma um bom aspecto com Marte
<br>em outro, as pessoas envolvidas deveriam ser capazes de trabalhar
<br>harmoniosamente juntas. Muitas coisas depender�o da condi��o
<br>natal de Marte cm cada hor�scopo, j� que o planeta representa as
<br>energias dispon�veis ao nativo e o modo como ele provavelmente
<br>ir� empreg�-las. Se for exigido um esfor�o conjunto, a efic�cia da
<br>colabora��o depender� do quanto cada Marte est� bem integrado com
<br>a totalidade dos planetas no hor�scopo do outro. A energia tem de
<br>encontrar um escape e quando um Marte n�o se entende bem com o
<br>outro, pode gerar irrita��o ou talvez inimizade. Apesar disso, se um
<br>aspecto favor�vel unir os dois, objetivos compat�veis podem induzir
<br>a uma agrad�vel coopera��o. A amizade pode ser favorecida por um
<br>interesse m�tuo cm boa forma f�sica e esportes.
<br>
<br>Entre sexos opostos o contato costuma fornecer um est�mulo
<br>m�tuo do desejo, resultando uma grande e violenta atra��o sexual,
<br>principalmente atrav�s da conjun��o ou tr�gono.
<br>
<br>Quando um dos dois Martes est� debilitado ou h� um aspecto
<br>adverso entre eles, a conseq��ncia pode ser grandes atritos e at�
<br>mesmo um relacionamento violento. � poss�vel que haja um choque
<br>de vontades � com ambos desejando defender os seus direitos ao
<br>mesmo tempo e de modos opostos � ou um pode alternativamente
<br>irritar o outro. Logo que um deles tomar a iniciativa, o outro pode
<br>tomar uma iniciativa oposta, um tentando superar o outro. Possivelmente
<br>o resultado final ser� o esgotamento de ambos.
<br>
<br>Quando nesses casos a colabora��o se faz necess�ria, um plano
<br>magistral precisa ser cuidadoso e previamente elaborado, ou uma
<br>terceira pessoa, cm quem ambos confiam, ser convidada para atuar
<br>como juiz em qualquer disputa. Mesmo assim, pode ser dif�cil para
<br>eles concluir completamente e com sucesso qualquer opera��o
<br>importante.
<br>
<br>Marte/J�piter
<br>
<br>Marte � capaz de despertar o entusiasmo de J�piter. Este � um
<br>contato �til para membros de times envolvidos com competi��es
<br>atl�ticas e esportivas, e os que se ocupam em trein�-los.
<br>
<br>
<br>J�piter pode apoiar os esfor�os de Marte com conselhos sensatos
<br>e �s vezes ajuda financeira, apesar de possivelmente Marte tender a
<br>tirar vantagem da generosidade de J�piter, principalmente quando
<br>J�piter � propenso a ser um tanto condescendente. J�piter pode
<br>canalizar sensatamente as energias de Marte, mas muitas coisas
<br>depender�o da condi��o natal dos dois plane tas, j� que a combina��o
<br>pode ser bastante excitante c desigual.
<br>
<br>Se houver um aspecto adverso entre os planetas ou um dos dois
<br>estiver debilitado, Marte pode despertar o entusiasmo de J�piter e
<br>desta forma desafiar o esp�rito de aventura de Marte, gerando uma
<br>situa��o em que J�piter se torna otimista demais ou descuidado,
<br>enquanto Marte se toma imprudente demais e assume riscos indevidos.
<br>� prov�vel que ambos estimulem exageradamente um ao
<br>outro. Quando esse contato est� presente entre os hor�scopos de
<br>pessoas imaturas deixadas para completar um trabalho sem a supervis�o
<br>adequada, podem perder tanto tempo em tarefas dif�ceis e
<br>secund�rias que o trabalho 6 negligenciado.
<br>
<br>Quando os dois planetas se unem harmoniosamente, Marte pode
<br>ser incentivado por seu parceiro de J�piter a realizar novas e grandes
<br>conquistas, e Marte proporcionar lucros financeiros a J�piter,
<br>trabalhando ativamente na elabora��o de projetos que trar�o benef�cios
<br>m�tuos.
<br>
<br>Marte/Saturno
<br>
<br>Nenhuma combina��o de planetas conquistou uma pior reputa��o
<br>em astrologia. A raz�o poderia ser o fato de que o ser humano nunca
<br>gostou particularmente de fazer grandes esfor�os. Marte representa
<br>energia, Saturno massa ou subst�ncia, principalmente cm rela��o �
<br>resist�ncia que representa comparada � energia. A energia, antes de
<br>poder ser usada com fins construtivos, precisa ser canalizada e
<br>controlada, enquanto a subst�ncia tem que ser moldada e transportada
<br>se for tentada qualquer constru��o de valor. A necessidade de
<br>controlar e disciplinar o uso de energia � mostrada pela exalta��o de
<br>Marte em Capric�rnio, enquanto o uso de uma alavanca e fulcro para
<br>simplificar a movimenta��o de grandes volumes � mostrada pela
<br>exalta��o de Saturno em Libra. Esta exalta��o de Saturno no signo
<br>da 7a casa calculada a partir de �ries sugere que qualquer tend�ncia
<br>a adotar uma posi��o inflex�vel em relacionamentos precisa serener
<br>
<br>
<br>156
<br>
<br>
<br>geticamente trabalhada por Marte, enquanto as tend�ncias agressivas
<br>da 1a casa (Marte) precisam ser disciplinadas para n�o desestabilizarem
<br>o relacionamento.
<br>
<br>Tem sido observado que a conjun��o�Marte-Saturno n�o impede
<br>
<br>o casamento e nem mesmo uma uni�o prol�fica, porque S atumo pode
<br>estabilizar e direcionar as energias de Marte, enquanto Marte garante
<br>que Saturno n�o negligenciar� suas responsabilidades. Na verdade,
<br>um pode manter o outro alerta. Quando h� bastante compreens�o m�tua
<br>e boa vontade revelada em qualquer outra parte nos contatos entre
<br>os dois hor�scopos, os parceiros deveriam ser capazes de cooperar
<br>para obter o m�ximo desta combina��o bastante "nervosa" e ocasionalmente
<br>intolerante. Saturno tende a indicar uma falta das qualidades
<br>do signo em que est� posicionado. �s vezes n�o tem suficiente
<br>seguran�a para expressar estas qualidades abertamente, achando-
<br>se de certo modo inadequado. Por outro lado, a seguran�a de Marte
<br>geralmente acentua as qualidades do signo em que est� posicionado.
<br>Deste modo, quando os planetas est�o no mesmo signo, Saturno pode
<br>se sentir tranq�ilizado pela seguran�a de Marte, e como resultado
<br>refor�ar a sua sensa��o de inseguran�a e vulnerabilidade. Em troca,
<br>�s vezes Saturno ajuda Marte a diminuir sua tend�ncia a expressar
<br>estas qualidades de um modo excessivamente desinibido.
<br>Quando os dois planetas est�o em conflito, principalmente se um
<br>dos dois estiver debilitado por signo, provavelmente haver� uma
<br>briga at� o fim, deixando no vencedor uma sensa��o permanente de
<br>frustra��o ou � se o conflito n�o for resolvido � uma hostilidade
<br>constante que pode finalmente destruir qualquer vest�gio remanescente
<br>de boa vontade entre os advers�rios. Quando frustrado, Marte
<br>pode recorrer a uma a��o vigorosa ou violenta para livrar-se de tudo
<br>que o det�m, enquanto Saturno pode sentir um prazer especial em
<br>refrear inesperadamente Marte para demonstrar seu poder. O desejo
<br>de Marte seguir em frente e fazer r�pidos progressos possivelmente
<br>n�o combinar� muito bem com a lentid�o, delibera��o e cautela de
<br>Saturno, principalmente quando ele tamb�m tende a protelar. Marte
<br>se sente fora de seu elemento quando seu ritmo � excessivamente
<br>diminu�do, enquanto Saturno suspeita que pressa demais pode ser
<br>um convite ao erro.
<br>
<br>O papel de Saturno pode ser ensinar a Marte como ser mais
<br>paciente e a olhar antes de pular, enquanto Marte pode mostrar a
<br>
<br>
<br>Saturno o valor da iniciativa e ousadia. � prov�vel que Saturno ache
<br>os empreendimentos de seu aliado de Marte inadequados e mal
<br>planejados, enquanto Marte pode achar que seu parceiro de Saturno
<br>deveria dar os retoques finais, corrigindo quaisquer omiss�es ou
<br>erros cometidos porque Marte estava com muita pressa. O que funciona
<br>melhor � Saturno elaborar os planos e Marte coloc�-los em
<br>pr�tica.
<br>
<br>Esta � uma combina��o dif�cil de enfrentar quando est� presente
<br>entre os hor�scopos de pessoas que possuem um contato di�rio. Pode
<br>significar tudo, de um relacionamento sadomasoquista a uma colabora��o
<br>relativamente satisfat�ria, em que Saturno fica feliz em adotar
<br>o papel de guia e mentor de seu impetuoso parceiro, deixando
<br>Marte tomar as principais decis�es necess�rias � continuidade da
<br>uni�o. Muitas coisas depender�o de outros contatos entre os dois
<br>hor�scopos, no que diz respeito a se os parceiros ser�o bem-sucedidos
<br>ao lidar com situa��es dif�ceis que poder�o surgir como resultado
<br>desta combina��o planet�ria um pouco fr�gil.
<br>
<br>Marte/Urano
<br>
<br>Esta � uma combina��o muito tensa que pode se revelar um
<br>est�mulo fascinante para pessoas que gostam de excita��o. Mas se
<br>elas preferirem uma vida tranq�ila, os aspectos dif�ceis podem ser
<br>particularmente destruidores.
<br>
<br>Urano pode fornecer um est�mulo din�mico para a energia de
<br>Marte � sugerindo novas �reas para o exerc�cio da iniciativa � e
<br>Marte proporcionar a energia para desenvolver o esp�rito inventivo
<br>de Urano.
<br>
<br>Como Marte representa o desejo e Urano rege as gl�ndulas sexuais,
<br>� prov�vel que esta combina��o indique uma forte atra��o
<br>f�sica. A mulher de Urano pode desafiar o homem de Marte a demonstrar
<br>suas qualidades masculinas, enquanto o homem de Urano
<br>pode acrescentar uma nova dimens�o ao conceito que a mulher de
<br>Marte tem do homem ideal.
<br>
<br>Urano pode motivar Marte e ensin�-lo a canalizar suas energias
<br>
<br>de modo mais eficaz, mas geralmente h� tens�o. Se houver um as
<br>
<br>
<br>pecto adverso entre os planetas ou um dos dois estiver debilitado,
<br>
<br>podem ocorrer situa��es que envolvem tudo, de irrita��es sem im
<br>
<br>
<br>port�ncia a uma situa��o explosiva em que ambos perdem "as
<br>
<br>158
<br>
<br>
<br>estribeiras", com nenhum dos dois desejando ceder ao outro. Ocasionalmente
<br>podem resultar brigas violentas, apesar de que, no caso
<br>de um casal, elas podem interromper apenas temporariamente as
<br>rela��es sexuais. Se essas brigas ser�o encaradas como uma quebra
<br>interessante da rotina, ou se pouco apouco causar�o um �dio m�tuo,
<br>depender� muito do n�mero de contatos harmoniosos entre os dois
<br>hor�scopos.
<br>
<br>Se duas pessoas com este aspecto cruzado adverso est�o em
<br>contato di�rio uma com a outra, � poss�vel que as irrita��es se multipliquem.
<br>Poderia ser bom para elas afastarem-se de vez em quando
<br>uma da outra, ou pelo menos n�o ficarem muito sozinhas juntas. Elas
<br>tamb�m deveriam permitir-se o m�ximo de liberdade poss�vel.
<br>
<br>O quadrado � um aspecto particularmente dif�cil. Marte pode achar
<br>Urano desagradavelmente extravagante e imprevis�vel. Para compreender
<br>melhor o parceiro � poss�vel que ele estude e teste as rea��es
<br>de Urano, que n�o s� tende a ressentir-se dessa conduta, mas pode
<br>finalmente mudar-se para um ambiente em que suas a��es n�o tenham
<br>de ser continuamente explicadas e justificadas.
<br>
<br>A conjun��o e oposi��o indicam dificuldades. Quando a conjun��o
<br>est� presente, ambos podem sentir que lhes falta um espa�o
<br>para manobras, c o resultado � que parecem estar constantemente
<br>"pisando os calos" um do outro. De vez em quando eles sentem uma
<br>necessidade de medir for�as, e por isso podem deliberadamente
<br>"alfinetar" um ao outro, provocando uma briga para descarregar
<br>algumas das tens�es que haviam surgido entre eles. Uma aceita��o
<br>das diferen�as pode economizar muita energia desperdi�ada, mas
<br>se as brigas realmente ocorrerem, � poss�vel que os companheiros
<br>precisem de tempo para recobrar a calma, se for para o relacionamento
<br>sobreviver com sucesso.
<br>
<br>Quando os planetas est�o em oposi��o, o casal tem espa�o para
<br>manobras, por isso podem ocorrer muitas disputas, um tentando
<br>estabelecer a sua posi��o � custa do outro. Geralmente Marte favorece
<br>a aproxima��o direta, enquanto Urano, quase sempre, faz o
<br>que pode para pegar o seu oponente desprevenido, confiando no
<br>elemento surpresa.
<br>
<br>Se ambos escolhessem entrar num jogo de espera, poderia resul
<br>
<br>
<br>tar um empate. Urano pode ignorar as amea�as hostis ou atividades
<br>
<br>de Marte, continuando a seguir o seu pr�prio caminho como se
<br>
<br>
<br>ningu�m tivesse o direito de question�-lo. Tal comportamento pode
<br>apenas servir para enfurecer ainda mais o parceiro.
<br>
<br>Os aspectos adversos exigem muito cuidado, se o casal deseja
<br>evitar atritos desagrad�veis. Deveriam ser feitas todas as tentativas
<br>de discutir os problemas amigavelmente, ao inv�s de um
<br>dos parceiros tentar impor uma solu��o ao outro. Urano deveria lembrar-
<br>se que de vez em quando Marte precisa tomar a iniciativa,
<br>enquanto Marte deve dar a Urano suficiente liberdade de a��o.
<br>Quando esses esfor�os para adaptar-se �s necessidades um do outro
<br>falham, ou n�o s�o ao menos tentados, a uni�o pode terminar definitivamente.
<br>
<br>
<br>MartelNetuno
<br>
<br>Quando esta combina��o ocorre num hor�scopo, existe uma
<br>tend�ncia a uma emotividade excessiva que leva o nativo a exagerar
<br>suas rea��es emocionais e atitudes. Se este contato ocorre entre
<br>hor�scopos, Netuno pode dar uma nova dimens�o de sentimento e
<br>sensibilidade ao desejo de Marte, que acha seu parceiro de Netuno
<br>misteriosamente desej�vel.
<br>
<br>Este contato � basicamente dif�cil, considerando que Marte favorece
<br>a aproxima��o direta e o objetivo bem definido, enquanto os
<br>m�todos de Netuno geralmente s�o indiretos e seus objetivos t�m
<br>um toque de idealismo e universalidade que n�o favorecem o tipo
<br>de campanha curta e r�pida que o parceiro prefere. Por esse motivo,
<br>provavelmente Marte ficar� intrigado ou aborrecido com a falta de
<br>convic��o ou aparente falta de clareza e energia de Netuno, enquanto
<br>Netuno n�o consegue compreender por que Marte sempre complica
<br>as coisas e n�o leva em conta os sentimentos dos outros quando busca
<br>seus pr�prios interesses.
<br>
<br>Quando os planetas se combinam favoravelmente,'Netuno pode
<br>
<br>ser capaz de ajudar Marte a apreciar o valor t�tico das manobras
<br>
<br>menos �bvias e ensinar-lhe o valor da delicadeza e compaix�o,
<br>
<br>enquanto Marte pode ajudar Netuno a ser objetivo e despender uma
<br>
<br>maior energia para atingir os seus ideais. Ocasionalmente, devido �
<br>
<br>sua convic��o, Marte semeia d�vidas na mente do parceiro, quando
<br>
<br>eleja estava decidido a respeito de uma conduta diferente. Quando
<br>
<br>Marte, cansado de lutar,est� cuidando de suas feridas, Netuno pode
<br>
<br>r
<br>
<br>dar-lhe o seu apoio, compreens�o e solidariedade, apesar de em certas
<br>
<br>160
<br>
<br>
<br>ocasi�es preocupar-se, temendo que aconte�a algum desastre imagin�rio
<br>com seu companheiro.
<br>
<br>Quando os planetas est�o em aspecto adverso, ou um dos dois est�
<br>debilitado, um relacionamento entre pessoas de sexos opostos pode
<br>assumir caracteres bastante sexuais. Netuno pode atrair Marte e
<br>brincar com suas emo��es, ao mesmo tempo permanecendo provocantemente
<br>inacess�vel ou fingindo um amor que n�o existe. Muitas
<br>coisas depender�o do est�gio evolutivo do casal envolvido,
<br>porque esta combina��o pode, por um lado, fornecer possibilidades
<br>de uma inspira��o altamente est�tica e esfor�o, e por outro sensualidade
<br>e deprava��o.
<br>
<br>Em especial com a conjun��o, pode existir um relacionamento
<br>f�sico com fortes implica��es emocionais, mas tenha vido casos em
<br>que um ou ambos os parceiros n�o t�m um verdadeiro amor um pelo
<br>outro. Uma conjun��o de Netuno do homem com Marte da mulher
<br>�s vezes gera muita sedu��o e estupro.
<br>
<br>A oposi��o culmina no problema de conciliar a objetividade de
<br>Marte com a falta de objetividade de Netuno. A batalha Marte-
<br>Netuno, s�mbolo da passagem da Era de �ries para a Era de Peixes
<br>
<br>� a �poca �urea do Imp�rio Romano�era representada de modo
<br>muito visual pelo combate na arena romana entre o Secutor (um
<br>gladiador totalmente armado) e o Retiarius (armado apenas com uma
<br>rede e um tridente). Geralmente a envolvente rede triunfava sobre o
<br>ataque limitado, se eficaz, do espadachim. Com a oposi��o, Netuno
<br>pode n�o apreciar aquilo em que Marte est� se empenhando e seus
<br>maiores objetivos, enquanto Marte desejar� conseguir que Netuno
<br>se defina por assuntos espec�ficos e tirar a aura de mist�rio com a
<br>qual Netuno adora encobrir as suas atividades. Marte pode tentar
<br>levar em conta a sensibilidade de Netuno, enquanto Netuno deve
<br>lembrar-se de que a percep��o consciente de Marte geralmente se
<br>concentra em problemas cotidianos e n�o nas esferas mais elevadas.
<br>O quadrado acentua as diferen�as b�sicas entre os dois planetas,
<br>de modo a tornar mais dif�cil conseguir uma uni�o verdadeiramente
<br>harm�nica. Aqui, a rea��o de Netuno � insensibilidade c insist�ncia
<br>de Marte pode ser recorrer a estratagemas e subterf�gios, talvez fingindo
<br>emo��es que n�o sente c fingindo concordar para evitar que
<br>Marte aja de modo hostil. Por outro lado, pode aceitar as respostas
<br>falsas de Netuno como verdadeiras, se elas s�o o que ele certamente
<br>
<br>
<br>esperava receber como um tributo � sua pr�pria personalidade bem
<br>definida e atraente. Toda a atmosfera emocional do relacionamento
<br>pode se tornar desagrad�vel porque os parceiros n�o possuem uma
<br>verdadeira compreens�o das necessidades emocionais e aspira��es
<br>espirituais um do outro.
<br>
<br>Ao mesmo tempo que � poss�vel surgir um fasc�nio inicial como
<br>resultado deste contato, o efeito a longo prazo pode ser o de uma
<br>frustra��o crescente e desilus�o definitiva, quando Marte come�a a
<br>perceber que o que ele no princ�pio identificara como "fasc�nio" era
<br>apenas o resultado da recusa de Netuno a abordar qualquer assunto
<br>sem rodeios, enquanto Netuno pode se sentir ofendido com a abordagem
<br>eternamente petulante de Marte, que, de modo muito insultuoso,
<br>n�o consegue dar valor aos ideais acalentados por Netuno, e
<br>n�o parece conseguir evitar ferir a sua natureza sens�vel.
<br>
<br>Marte/Plut�o
<br>
<br>Este � um aspecto particularmente compulsivo, porque Marte
<br>possivelmente trar� � tona os desejos f�sicos reprimidos de Plut�o,
<br>que por sua vez podem tocar uma corda sens�vel em Marte. A mulher
<br>de Plut�o pode ser irresistivelmente atra�da pelas qualidades masculinas
<br>que v� em seu parceiro de Marte, enquanto � poss�vel que o
<br>homem de Plut�o seja particularmente atra�do pela energia e iniciativa
<br>simbolizados por Marte no hor�scopo da parceira. Marte pode
<br>sentir uma �nsia irresist�vel de penetrar as profundezas psicol�gicas
<br>ocultas do companheiro Plutoniano.
<br>
<br>Muitas coisas depender�o dos aspectos em Plut�o no nascimento,
<br>porque h� uma tend�ncia acentuada por parte de Plut�o
<br>a despertar a capacidade de a��o de Marte. Esta combina��o pode
<br>ser �til e construtiva quando os dois planetas est�o bem aspectados
<br>no nascimento, e perigosamente destrutiva se ambos
<br>estiverem seriamente aflitos. Nessas condi��es, o poder de Plut�o
<br>de convencer Marte a agir pode se concentrar de um modo deliberadamente
<br>provocador, com a inten��o de for�ar Marte a dar um
<br>"tiro que sair� pela culatra" (e deste modo destruir-se). A conduta
<br>de Plut�o pode ser o resultado de fortes impulsos inconscientes.
<br>Quando h� uma conjun��o ou aspecto adverso entre os planetas, ou
<br>um dos dois est� debilitado, Marte pode usar esses impulsos em
<br>benef�cio pr�prio.
<br>
<br>
<br>� poss�vel que surja rivalidade entre os parceiros. Se ela escapar
<br>ao controle, Marte pode adotar uma pol�tica de total agress�o, sem
<br>barreiras. Em alguns casos, Plut�o mal situado ou aspectado pode
<br>consciente ou inconscientemente provocar um tratamento s�dico por
<br>parte do parceiro. Quando este contato est� presente entre dois
<br>hor�scopos, seus efeitos dificilmente ser�o insignificantes, e a capacidade
<br>de cada um de reagir de um modo positivo e construtivo ao
<br>est�mulo fornecido pelo outro pode depender muito de como os
<br>planetas est�o integrados nos respectivos hor�scopos.
<br>
<br>J�piter/J�piter
<br>
<br>Um bom aspecto entre dois J�piteres indica que ambos os parceiros
<br>podem concordar em assuntos envolvendo filosofia, �tica e
<br>padr�es morais cm geral. Quase sempre h� uma aceita��o comum
<br>dos fatores que ser�o mais ben�ficos para a uni�o. Por isso, este
<br>contato pode ser �til entre os hor�scopos de s�cios em neg�cios.
<br>Provavelmente ambos ter�o um grande respeito um pelo outro e
<br>trabalhar�o em benef�cio do companheiro. Este contato favorece o
<br>respeito m�tuo e desejo de apreciar as boas qualidades do parceiro.
<br>
<br>Se um ou ambos J�piteres estiverem debilitados, � poss�vel que
<br>haja perspectivas, filosofias, religi�es ou padr�es morais diferentes.
<br>Ocasionalmente essas diferen�as podem gerar disc�rdia.
<br>Qualquer tend�ncia a um entusiasmo excessivo num dos parceiros
<br>pode n�o ser reprimida ou ser at� mesmo encorajada pelo outro,
<br>resultando nas extravag�ncias se multiplicarem de modo temer�rio.
<br>
<br>Geralmente, este � um contato �til em qualquer tipo de relacionamento
<br>envolvido, contribuindo para uma toler�ncia m�tua e
<br>liberal aceita��o do estilo de vida do parceiro.
<br>
<br>J�piter/Saturno
<br>
<br>Esta � uma uni�o complementar, apesar de n�o prometer automaticamente
<br>benef�cios. Muitas coisas depender�o do fato de um
<br>dos planetas estar debilitado, ou da natureza do aspecto entre eles. �
<br>poss�vel que os planos de J�piter para expans�o e progresso recebam
<br>uma defini��o mais clara e uma forma mais pr�tica de um
<br>Saturno bem posicionado, que pode aproveitar a sua experi�ncia para
<br>torn�-los mais eficazes.
<br>
<br>Os dois planetas trabalhando harmonicamente juntos podem
<br>
<br>garantir uma base financeira s�lida para qualquer associa��o, com
<br>
<br>
<br>Saturno impedindo qualquer despesa imprudente por parte de J�piter,
<br>e J�piter incentivando Saturno a n�o colocar obst�culos quando uma
<br>a��o mais dispendiosa pode produzir melhores resultados. Geralmente
<br>J�piter � o que d� mais e Saturno o que recebe mais. Se um
<br>dos planetas estiver debilitado, ou se estiverem unidos por um aspecto
<br>adverso, � poss�vel que, no plano material, Saturno fa�a J�piter
<br>ter preju�zos financeiros, talvez pedindo dinheiro emprestado e
<br>demorando apagar. No plano psicol�gico, J�piter pode achar que a
<br>sua anima��o est� sendo de algum modo reprimida por Saturno.
<br>Quando os planetas est�o cm aspecto adverso, � poss�vel que haja
<br>uma incompreens�o m�tua.
<br>
<br>Quando J�piter comete erros de julgamento, Saturno pode intervir
<br>como mediador. Se J�piter for se dedicar a estudos filos�ficos, �
<br>poss�vel que Saturno sugira modos de aplic�-los � vida di�ria.
<br>Quando J�piter elabora um plano para ganhar dinheiro, Saturno pode
<br>garantir que ele tenha a base mais s�lida poss�vel. O impulso que
<br>J�piter sente de crescer em todas as dire��es 6 proveitosamente
<br>canalizado por Saturno para os empreendimentos que d�em as
<br>compensa��es mais pr�ticas.
<br>
<br>Quando os dois planetas est�o em quadrado um com o outro, pode
<br>
<br>ser dif�cil os parceiros concordarem sobre um objetivo comum, e �
<br>
<br>poss�vel que n�o tenham suficiente admira��o um pelo outro. Um
<br>
<br>equil�brio entre dar e receber pode ajudar a uni�o. Muitas coisas
<br>
<br>depender�o do tipo geral de influ�ncia rec�proca entre os dois
<br>
<br>hor�scopos.
<br>
<br>J�piter/Urano
<br>
<br>Quando estes dois planetas est�o combinados de modo favor�vel,
<br>
<br>J�piter incentiva a originalidade e esp�rito inventivo do parceiro, e
<br>
<br>ser� tolerante para com qualquer manifesta��o de independ�ncia de
<br>
<br>Urano que possa ocorrer. Num relacionamento de neg�cios, Urano
<br>
<br>pode fornecer a criatividade e J�piter o capital para financiar-lhe as
<br>
<br>inven��es e id�ias inovadoras.
<br>
<br>Os interesses esot�ricos ou metaf�sicos de Urano receber�o o apoio
<br>
<br>solid�rio de J�piter, que talvez aprecie os modos n�o-ortodoxos do
<br>
<br>parceiro. A conjun��o pode ser uma inc�gnita, amenos que o Saturno
<br>
<br>de um dos parceiros esteja em bom aspecto com ela, caso contr�rio
<br>
<br>a excitabilidade de Urano pode fazer J�piter arriscar-se inutilmente
<br>
<br>164
<br>
<br>
<br>ou agir de modo imprudente, assumindo riscos desnecess�rios no
<br>processo. Quando um dos dois corpos est� debilitado ou h� um
<br>aspecto adverso entre eles, Urano pode recorrer a uma atitude
<br>exc�ntrica para acabar com o irritante arde complac�ncia de J�piter,
<br>levando-o a agir de modo insensato. Em alguns casos, a oposi��o
<br>pode indicar problemas causados pelos companheiros n�o conseguirem
<br>concordar sobre assuntos financeiros. Por outro lado,
<br>quando os planetas est�o configurados de modo favor�vel, Urano
<br>pode ser o alvo repentino da generosidade de J�piter.
<br>
<br>J�piter /Netuno
<br>
<br>Existe harmonia e bondade entre esses dois planetas. Quando o
<br>J�piter de um dos envolvidos est� em aspecto favor�vel com o
<br>Netuno do outro, � poss�vel que eles revelem uma compreens�o intuitiva
<br>das aspira��es espirituais e valores morais do parceiro. J�piter
<br>pode despertar e incentivar a imagina��o e idealismo de Netuno,
<br>enquanto a natureza piedosa de Netuno pode ajudar a encontrar
<br>escapes caridosos e adequados para os impulsos filantr�picos de
<br>J�piter, acrescentando uma sutil e nova dimens�o � sua compreens�o
<br>filos�fica.
<br>
<br>A conjun��o � particularmente oportuna, an�o ser que esteja mal
<br>aspectada por outros setores de um dos dois mapas. Um saber� apreciar
<br>as aspira��es do outro, e Netuno ser� capaz de dar a J�piter uma
<br>sensa��o de satisfa��o plena, que pode estender-se ao plano material,
<br>trazendo benef�cios financeiros.
<br>
<br>Quando os dois planetas est�o em aspecto desfavor�vel ou um
<br>deles est� debilitado, � poss�vel que Netuno iluda J�piter�embora
<br>nem sempre deliberadamente � fazendo-o achar que confiou em
<br>quem n�o merecia. Pode surgir uma desconfian�a m�tua, e em alguns
<br>casos Netuno conseguir� tirar vantagem da generosidade de J�piter,
<br>talvez aproveitando-se de sua compaix�o com hist�rias tristes ou
<br>arrancando-lhe dinheiro ou outros bens. J�piter pode n�o gostar da
<br>interpreta��o mais ampla que Netuno faz das quest�es morais, e
<br>duvidar da sinceridade de seus objetivos.
<br>
<br>Quando est�o unidos num hor�scopo, estes planetas s�o expan
<br>
<br>
<br>sivos e podem levar a exageros de v�rios tipos. Esta tend�ncia,
<br>
<br>operando na esfera das rela��es humanas, pode fazer J�piter "exi
<br>
<br>
<br>bir-se" na frente de Netuno, e Netuno representar perante J�piter.
<br>
<br>
<br>J�piter/Plut�o
<br>
<br>Plut�o � capaz de tornar J�piter mais consciente de seus impulsos
<br>generosos e filantr�picos, e ajud�-lo a dar-se conta de alguns dos
<br>grandes potenciais que formam a base de seus conceitos filos�ficos.
<br>O resultado � ocorrer algum tipo de transforma��o na consci�ncia
<br>de J�piter. J�piter pode aumentar o otimismo de Plut�o e dar-lhe uma
<br>maior compreens�o de valores filos�ficos, ajudando-o ao mesmo
<br>tempo a realizar suas ambi��es com mais calma e perseveran�a, e a
<br>conseguir uma posi��o de poder e prest�gio. Atrav�s de sua experi�ncia,
<br>Plut�o pode ser capaz de ajudar financeiramente J�piter.
<br>
<br>Quando os dois est�o em aspecto desfavor�vel ou um deles est�
<br>debilitado, � poss�vel que Plut�o se recuse terminantemente a aceitar
<br>a filosofia de vida e valores morais de J�piter, enquanto J�piter pode
<br>achar que Plut�o est� muito determinado a fazer as coisas a seu
<br>pr�prio modo, sem a menor vontade de fazer concess�es.
<br>
<br>Saturno/Saturno
<br>
<br>Quando os Saturnos dos dois parceiros est�o em aspecto favor�vel,
<br>um apreciar� o senso de responsabilidade do outro, e achar� que pode
<br>confiar na integridade do companheiro. A capacidade de autodisciplina
<br>de um deles n�o frustrar� o outro. Ambos deveriam poder
<br>perseguir os seus objetivos pr�ticos e ambi��es sem entrar em conflito.
<br>Este contato � um fator estabilizador no casamento, neg�cios
<br>e amizade, introduzindo um elemento de solidariedade, confiabilidade
<br>e seguran�a que contribui para uma continuidade do relacionamento.
<br>Eles devem ajudar-se mutuamente a elaborar planos
<br>bem-sucedidos para a seguran�a financeira e aposentadoria. A
<br>experi�ncia de um parceiro complementar� e refor�ar� a do outro.
<br>Um ser� capaz de ensinar ao outro valiosas li��es, num processo
<br>muito menos doloroso do que quando os dois Saturnos est�o em aspecto
<br>adverso.
<br>
<br>Quando eles est�o unidos por um aspecto adverso, ou um dos dois
<br>est� debilitado, os parceiros podem n�o concordar sobre a divis�o
<br>de responsabilidades, principalmente quando os dois Saturnos est�o
<br>em quadrado. Qualquer �rea da vida em que um dos parceiros se sinta
<br>inferior pode lev�-lo a supercompensar, � custa do outro. Essas
<br>situa��es costumam gerar ama luta pela supremacia. Ao mesmo
<br>tempo que os dois companheiros podem achar que est�o certos, os
<br>
<br>
<br>m�todos pelos quais cada um deles tenta atingir os seus resultados
<br>podem diferir tanto, que torna-se dif�cil para ambos encontrar
<br>qualquer base real cm que possam trabalhar juntos em harmonia. Um
<br>acordo que lhes d� �reas separadas de responsabilidade, em que
<br>poder�o operar segundo suas pr�prias id�ias e m�todos, pode ser o
<br>melhor modo de lidar com a situa��o. Talvez haja necessidade de se
<br>evitar que as ambi��es dos dois parceiros entrem em choque. Em
<br>alguns casos, eles podem ficar em melhor situa��o seguindo carreiras
<br>independentes.
<br>
<br>Os aspectos adversos tendem a testar a seguran�a dos companheiros
<br>e indicar seus complexos de inferioridade, produzindo uma
<br>atmosfera um pouco tensa. Em relacionamentos entre pais e filhos,
<br>este contato pode ser particularmente dif�cil, ao mesmo tempo que
<br>tende a "esfriar" as amizades.
<br>
<br>Quando a oposi��o exerce influ�ncia, e isto s� ocorre quando h�
<br>uma diferen�a de idades de cerca de quinze, quarenta e cinco ou
<br>setenta e cinco anos, um pode parecer ao outro independente demais
<br>para ser acess�vel, e � poss�vel que um se sinta tentado a questionar
<br>a autoridade do outro. A oposi��o pode funcionar muito em termos
<br>do par de casas nos dois hor�scopos atrav�s das quais Saturno cai.
<br>Se um dos parceiros tiver Saturno na 7a casa, este relacionamento
<br>pode ser uma grande prova.
<br>
<br>A conjun��o � uma b�n��o um pouco duvidosa, e pode representar
<br>responsabilidades, preocupa��es e experi�ncias compartilhadas,
<br>um parceiro aprendendo com o outro. Em alguns casos, � poss�vel
<br>que seja formado um la�o, porque eles se sentem companheiros na
<br>adversidade. Amigos com a conjun��o �s vezes se tornam dependentes
<br>demais um do outro, em detrimento de ambos. Ela n�o �
<br>particularmente um bom aug�rio para um relacionamento entre
<br>m�dico e paciente, ou entre consultor de neg�cios e cliente.
<br>
<br>Aspectos adversos entre os dois Saturnos n�o precisam atuarem
<br>
<br>termos psicol�gicos, mas podem indicar dificuldades circunstan
<br>
<br>
<br>ciais. � poss�vel que um companheiro tenha de enfrentar a doen�a
<br>
<br>do outro, ou um pai venha a criar uma crian�a que tem uma defici�ncia
<br>
<br>mental ou f�sica. Sejam quais forem as circunst�ncias, provavelmente
<br>
<br>elas testar�o a capacidade de resigna��o do parceiro, e seu desejo de
<br>
<br>aceitar grandes responsabilidades, provavelmente resultado de um
<br>
<br>d�bito c�rmico para com o outro. Quando as diferen�as psicol�gi
<br>
<br>
<br>
<br>cas realmente surgem, podem resultar do fato de Saturno indicar as
<br>atividades e interesses na vida que o nativo provavelmente levar� a
<br>s�rio. Se um dos companheiros n�o estiver preparado para respeitar
<br>os compromissos mais s�rios do outro, isto pode finalmente gerar
<br>disc�rdia.
<br>
<br>Saturno/Urano
<br>
<br>Saturno rege o que � mais velho ou antigo e Urano, o novo. Esta
<br>diferen�a b�sica n�o promete uma combina��o f�cil das virtudes que
<br>eles representam. Uma atitude excessivamente conservadora pode
<br>tornar a mentalidade estreita e resultar em oportunidades perdidas,
<br>enquanto uma atitude muito experimental e avan�ada pode induzir
<br>a erros, porque a pessoa n�o aprendeu as li��es da hist�ria ou n�o
<br>tomou as necess�rias precau��es. Por esse motivo, um planeta pode
<br>ser ajudado pela influ�ncia moderadora do outro.
<br>
<br>Quando os dois planetas est�o em aspecto adverso num hor�scopo,
<br>� poss�vel haver tens�o psicol�gica. Em sinastria, o mesmo fator pode
<br>ser indicador de disc�rdia. Deste modo, talvez o casal tenha de
<br>resolver problemas dif�ceis antes de se sentir verdadeiramente �
<br>vontade na companhia um do outro.
<br>
<br>Quando h� um aspecto favor�vel entre os planetas, Urano pode
<br>mostrar a Saturno as vantagens de uma nova maneira de encarar
<br>problemas antigos, e Saturno ensinar Urano a disciplinar suas
<br>tend�ncias � excentricidade e moderar suas extravag�ncias de modo
<br>a elas se tornarem mais aceit�veis para o elemento ortodoxo da
<br>sociedade. Saturno pode ainda organizar o esp�rito inventivo de
<br>Urano e aplicar sua originalidade e ingenuidade do modo mais eficaz
<br>e pr�tico.
<br>
<br>Saturno tende a sentir-se pouco � vontade com a independ�ncia e
<br>
<br>a falta de conformismo exibidos por Urano. Quando um dos dois
<br>
<br>planetas est� debilitado, ou est�o unidos por um aspecto adverso, h�
<br>
<br>uma grande incompreens�o entre os companheiros. Saturno pode
<br>
<br>encarar o comportamento mais extravagante de Urano com desgosto
<br>
<br>e desaprova��o, procurando refrear suas excentricidades e desres
<br>
<br>
<br>peito pelas conven��es sociais, tentando incutir no parceiro auto-
<br>
<br>disciplina e respeito por normas preestabelecidas que ele cr� estarem
<br>
<br>faltando. Tal conduta pode levar Urano a um comportamento ainda
<br>
<br>mais extravagante, com o objetivo de chocar o parceiro, com seu
<br>
<br>168
<br>
<br>
<br>senso de conveni�ncia ultrapassado. � poss�vel que Urano consiga
<br>ajudar Saturno a adotar um estilo de vida mais moderno e original.
<br>
<br>Quando os planetas est�o em conjun��o, h� uma luta impl�cita
<br>por poder entre o velho e o novo. �s vezes Urano tende a envolver
<br>intencionalmente Saturno num teste de for�as, vendo at� que ponto
<br>pode assegurar sua independ�ncia e vencer a oposi��o obstinada do
<br>parceiro a uma linha de a��o que parece ser nada ortodoxa. A
<br>oposi��o pode gerar um ben�fico refreamento das maiores excentricidades
<br>de Urano. Mas a menos que Urano esteja preparado para
<br>aceitar que novas sa�das s� s�o v�lidas quando podem ser razoavelmente
<br>integradas a regras estabelecidas, e Saturno perceba que id�ias
<br>novas s�o a alma do progresso e que parar no tempo � um convite �
<br>decad�ncia definitiva, os parceiros poder�o achar que os conflitos
<br>ser�o inevit�veis no relacionamento. Estes poder�o levar a uma
<br>avers�o m�tua que talvez acabe por destruir a uni�o, a n�o ser que
<br>haja muitos outros fatores mais harmoniosos presentes. Com este
<br>tipo de contato pode existir uma situa��o de indecis�o, em que os
<br>parceiros, apesar de desprezarem certas caracter�sticas um do outro,
<br>tamb�m encontram muito o que admirar. As t�ticas de adiamento
<br>cauteloso de Saturno podem entrarem choque com a espontaneidade
<br>confiante de Urano, produzindo uma situa��o em que um sente que
<br>o outro est� perturbando o seu equil�brio. O resultado � que Saturno
<br>perde a confian�a em seu senso de oportunidade e Urano acha que
<br>
<br>seu talento para improvisa��o imediata est� sendo desperdi�ado.
<br>
<br>Quando os aspectos adversos est�o presentes entre hor�scopos
<br>de pessoas que se encontram pela primeira vez, elas podem rapidamente
<br>tornar-se conscientes de uma irrita��o m�tua que pode impedir
<br>um relacionamento duradouro.
<br>
<br>SaturnoINetuno
<br>
<br>Esta � outra combina��o dif�cil. Na melhor das hip�teses, Saturno
<br>� capaz de mostrar a Netuno como dar a seus ideais, aspira��es e
<br>sonhos um significado pr�tico, e a conter e fazer um uso eficaz de
<br>seus v�os de fantasia, enquanto Netuno pode apresentar a Saturno
<br>um modo menos prosaico e mais idealista de encarar as coisas.
<br>
<br>Saturno representa a capacidade de encarar a vida de um modo
<br>pr�tico. Netuno indica a possibilidade de modificar uma concep��o
<br>puramente pragm�tica atrav�s de uma compreens�o mais ampla e
<br>
<br>
<br>piedosa da igualdade de toda a exist�ncia. Saturno talvez desconfie
<br>da aparente falta de defini��o inerente a Netuno, achando que a
<br>maioria dos problemas pode ser expressada em termos "do preto no
<br>branco", mas Netuno sabe que h� uma infinidade de nuances sutis
<br>no meio. Enquanto Netuno pensa em uma solu��o ideal para um
<br>problema, Saturno optar� decididamente por uma solu��o pr�tica e
<br>sensata que deixar� o parceiro pasmo com sua falta de sentimentos,
<br>compaix�o e aparente desconhecimento dos lados mais espirituais
<br>da vida. Em alguns casos, o materialismo de Saturno revela-se uma
<br>fonte de grande desapontamento para Netuno.
<br>
<br>Quando os dois planetas est�o configurados harmoniosamente,
<br>Saturno pode ajudar Netuno a adotar uma atitude mais pr�tica,
<br>enquanto Netuno mostrar� a Saturno que a vida n�o precisa ser totalmente
<br>regida pela for�a da tradi��o e imposi��es da necessidade.
<br>Saturno pode ter dificuldade em fazer Netuno perceber que ele
<br>deveria ter responsabilidade, principalmente porque os assuntos que
<br>parecem importantes para Saturno podem parecer muito insignificantes
<br>para Netuno.
<br>
<br>Qualquer tentativa por parte de Saturno de exercer uma desagrad�vel
<br>press�o sobre o companheiro pode fazer Netuno atingir os
<br>seus objetivos usando de subterf�gios. O que Saturno pode ter encarado
<br>como uma firme promessa, possivelmente n�o foi interpretado
<br>como tal por Netuno, cujo modo de expressar os seus pensamentos
<br>pode ter sido desvirtuado por Saturno, que geralmente tende
<br>a interpretar "ao p� da letra" o que a linguagem mais po�tica de
<br>Netuno pretende apenas comunicar metaforicamente.
<br>
<br>Portanto, quando os planetas est�o em aspecto adverso ou debi
<br>
<br>
<br>litados, talvez seja preciso resolver alguns problemas dif�ceis antes
<br>
<br>de o relacionamento poder se desenvolver. � poss�vel que Saturno
<br>
<br>tenha d�vidas sobre a integridade de Netuno, e que Netuno fique
<br>
<br>muito desapontado com a insensibilidade e ego�smo de Saturno. Pode
<br>
<br>ser que eles n�o consigam conciliar totalmente valores materiais e
<br>
<br>espirituais. Qualquer tentativa por parte de Satuno de for�ar o as
<br>
<br>
<br>sunto ou estabelecer regras pode causar mais problemas do que
<br>
<br>valeria a pena. Em alguns casos, fantasias de obter lucros financeiros
<br>
<br>atrav�s do companheiro revelam-se apenas ilus�es. Se o parceiro de
<br>
<br>Saturno � inescrupuloso, pode ser tentado a se aproveitar da ingenui
<br>
<br>
<br>dade de Netuno para obter vantagens financeiras. Seja como for,
<br>
<br>170
<br>
<br>
<br>qualquer acordo financeiro entre os parceiros n�o deveria deixar
<br>margem a equ�vocos.
<br>
<br>Quando os planetas est�o em oposi��o, � poss�vel conciliar as
<br>ambi��es materiais de Saturno e as aspira��es espirituais de Netuno.
<br>O quadrado pode deixar os companheiros frustrados e at� mesmo
<br>assustados com a tarefa aparentemente imposs�vel de conciliar seus
<br>objetivos e pontos de vista totalmente diferentes. Para Saturno, �s
<br>vezes Netuno representa a amea�a do desconhecido. Para Netuno, a
<br>aparente insensibilidade de Saturno � totalmente incompreens�vel,
<br>e um obst�culo a ser superado com toda a delicadeza que exige.
<br>
<br>A conjun��o tende a for�ar os parceiros a decidir quem assumir�
<br>a responsabilidade na �rea representada pelo signo e casas em que
<br>ocorre a conjun��o. Apesar disso, muitas coisas depender�o de
<br>qualquer aspecto � conjun��o dos planetas de um dos dois parceiros.
<br>J� que qualquer tentativa por parte de Saturno de for�ar Netuno a
<br>assumir uma responsabilidade pode ter poucas chances de sucesso,
<br>seria melhor ele se resignar com o que talvez encare como a irresponsabilidade
<br>cr�nica de Netuno, e cuidar ele pr�prio das coisas. Na
<br>verdade, Netuno pode ensinar Saturno a ter um pouco de resigna��o,
<br>bem como um certo respeito pelos aspectos mais espirituais da vida.
<br>Por sua vez, Saturno pode ajudar Netuno a encarar os problemas
<br>cotidianos de modo mais positivo, principalmente porque �s vezes
<br>Saturno acha que tem o dever de ensinar Netuno a ser mais eficiente.
<br>
<br>Saturno/Plut�o
<br>
<br>Esta � uma combina��o dif�cil no hor�scopo natal. Num relacionamento,
<br>os melhores resultados s�o obtidos quando os companheiros
<br>t�m um grande respeito pelas qualidades um do outro.
<br>Quando os planetas est�o em bom aspecto, Saturno � capaz de apreciar
<br>a total dedica��o de Plut�o, e Plut�o de admirar a seguran�a,
<br>concentra��o e ambi��o de Saturno. Num relacionamento de
<br>neg�cios, essa combina��o pode ajudar os parceiros a colocar o seu
<br>empreendimento numa base s�lida.
<br>
<br>Quando estes planetas est�o em aspecto adverso, ou um dos dois
<br>est� debilitado, Plut�o pode tirar vantagem dos temores de Saturno,
<br>diminuir o seu senso de responsabilidade ou talvez destruir o que
<br>ele tentava cuidadosamente construir. � poss�vel que Saturno tolha
<br>a liberdade de a��o de Plut�o, e em alguns casos isto pode ser como
<br>
<br>
<br>viver tentando evitar que um vulc�o entre em erup��o. Como resultado,
<br>Plut�o pode tornar-se mais arredio, e trabalhar secretamente
<br>para atingir seus objetivos. A menos que estejam presentes elementos
<br>muito fortes de compatibilidade em outros setores dos dois
<br>hor�scopos, o conflito entre Saturno e Plut�o � particularmente
<br>quando est�o em aspecto quadrado � pode gerar inveja, desconfian�a
<br>m�tua e em alguns casos uma profunda rivalidade.
<br>
<br>A conjun��o � um aspecto decisivo que pode ter um significado
<br>particularmente c�rmico, com Saturno consciente de uma obsess�o
<br>por ser �til ao parceiro de Plut�o.
<br>
<br>Urano/Urano
<br>
<br>Enquanto as pessoas que t�m aproximadamente a mesma idade
<br>ter�o uma conjun��o com o Urano do parceiro, o sextil s� pode
<br>ocorrer quando h� pelo menos quatorze anos de diferen�a entre eles.
<br>O quadrado exige cerca de vinte e um anos de diferen�a e o tr�gono,
<br>vinte e oito. Por isso, esses dois �ltimos aspectos possivelmente
<br>surgir�o em relacionamentos entre pais e filhos.
<br>
<br>Com a conjun��o, muitas coisas depender�o dos aspectos m�tuos
<br>neste ponto, mas se os planetas estiverem bem aspectados os parceiros
<br>devem concordar sobre qualquer novo rumo que planejem
<br>tomar e as novas id�ias com que se deparam. Este contato pode gerar
<br>muita tens�o. A fim de evitar conflitos, � preciso que os companheiros
<br>tenham o devido respeito para com os direitos de cada um e se preocupem
<br>com sua liberdade de a��o. Esta conjun��o pode ter muita
<br>rela��o com os impactos dos acontecimentos mundiais sobre os
<br>parceiros. No entanto, quando os corpos que se movem mais r�pido
<br>se envolvem com Urano, talvez seja preciso um cuidado especial para
<br>evitar um comportamento desp�tico ou exc�ntrico que poderia despertar
<br>uma oposi��o obstinada no parceiro e faz�-lo declarar a sua
<br>independ�ncia de modo bastante incisivo.
<br>
<br>Um tr�gono ou sextil entre os dois indica que a experi�ncia do mais
<br>velho pode incentivar o mais novo, ensinando-o a explorar novos
<br>racioc�nios, aumentando a sua criatividade durante o processo. Este
<br>� um contato �til entre amigos que compartilham de um determinado
<br>passatempo, porque um deles pode contribuir com pontos de vista
<br>que abrem novas perspectivas para o parceiro. Quando este aspecto
<br>est� presente, � poss�vel que um relacionamento de neg�cios, em que
<br>
<br>
<br>o "mais velho" Urano � o patr�o do "mais jovem', proporcione
<br>benef�cios m�tuos. O mais velho apreciar� as opini�es e objetivos
<br>do mais jovem e pode ser o meio de dar-lhe a necess�ria liberdade
<br>para colocar seus planos em pr�tica Este � um contato �til entre
<br>hor�scopos de intermedi�rio e cliente, o primeiro sendo capaz de
<br>mostrar ao �ltimo novas oportunidades de progresso.
<br>O quadrado torna dif�cil para um pai compreender o desejo que o
<br>filho tem de ter liberdade de a��o, e pode ser o principal respons�vel
<br>pelos pontos de vista diferentes gerando o que chamam de "choque
<br>de gera��es". O quadrado indica que a �nsia e de duas pessoas por uma
<br>express�o din�mica da pr�pria personalidade � motivo de grandes
<br>conflitos. Este � o tipo de aspecto que pode estar presente quando o
<br>pai acha que tem o direito de ditar o padr�o de comportamento do
<br>filho, que se revolta contra o que ele considera uma injustificada
<br>limita��o de sua liberdade, e come�a a procurar modos de demonstrar
<br>a sua independ�ncia. Obviamente este relacionamento exige tato
<br>de ambas as partes. O filho pode precisar entender que a independ�ncia
<br>sem um senso de responsabilidade e autodisciplina �s vezes
<br>se revela desastrosa, enquanto o pai deve reconhecer que o senso de
<br>responsabilidade e autodisciplina podem ser estimulados dando ao
<br>filho uma certa liberdade que lhe permita adquirir experi�ncia.
<br>
<br>O quadrado � potencialmente um aspecto explosivo. Os melhores
<br>resultados podem ser obtidos quando as duas partes est�o preparadas
<br>para aceitar que cada gera��o tem o seu pr�prio modo de encarar
<br>assuntos morais, intelectuais e espirituais, e que ambos t�m seus
<br>pr�prios pap�is no ciclo evolutivo da humanidade. Qualquer tentativa
<br>por parte da gera��o mais velha de "voltar atr�s o rel�gio" �
<br>totalmente contr�ria ao esp�rito de Urano, e s� pode gerar atrito ou
<br>revolta.
<br>
<br>A oposi��o implica numa diferen�a de cerca de quarenta e dois
<br>anos entre os envolvidos. Pode estar presente em relacionamentos
<br>entre av�s e netos, aluno e professorou empregado e patr�o. Qualquer
<br>comportamento n�o-ortodoxo por parte da pessoa mais nova pode
<br>irritar a mais velha, principalmente se ela for propensa a adotar uma
<br>atitude indulgente para com as fraquezas da juventude. A natureza
<br>complementar da oposi��o pode estimular mentalmente algumas
<br>uni�es, mas apenas quando a vibra��o de Urano est� bem integrada
<br>nos hor�scopos aos envolvidos.
<br>
<br>
<br>UranoINetuno
<br>
<br>A oposi��o entre esses dois planetas ocorreu imediatamente
<br>antes da Primeira Guerra Mundial, quando a Europa passou por
<br>uma mudan�a radical, e o perigo de uma cruel rivalidade nacional
<br>tomou-se vis�vel para todos. Mas, como conseq��ncia,
<br>todo um conjunto de possibilidades novas e excitantes fez surgir
<br>uma esperan�a de grandes e novas oportunidades para melhorar
<br>a qualidade da vida humana. Quando estava mais exata a oposi��o,
<br>houve uma grande produ��o de parte dos m�sicos importantes
<br>� da d�cada de vinte e trinta �, cujos talentos tornaram
<br>
<br>o jazz pela primeira vez uma forma de arte reconhecida. Os dois
<br>planetas simbolizam p�los opostos de um alto grau de percep��o;
<br>Urano representando uma mobiliza��o din�mica e positiva das
<br>faculdades intuitivas, e Netuno uma percep��o negativa, receptiva
<br>e ultra-sens�vel.
<br>Em sinastria, uma tend�ncia a n�o levar em conta aspectos entre
<br>os principais planetas resultou em ser dada uma menor aten��o a esta
<br>�rea. Mas todos os contatos possuem algum significado. A conjun��o
<br>e aspectos adversos entre estes planetas podem produzir um tipo vago
<br>de discord�ncia entre os parceiros dif�cil de explicar, mas nem por
<br>isso menos real. Urano pode usar a imagina��o de Netuno para
<br>produzir um grau de intensidade emocional dif�cil de controlar, mas
<br>que em alguns casos incentiva Netuno a atingir um novo n�vel de
<br>criatividade art�stica e aumenta a sua consci�ncia espiritual. Por outro
<br>lado, Urano pode apenas aumentar a capacidade de Netuno de ser
<br>iludido, ou sua incapacidade de formular id�ias de uma maneira clara.
<br>Por sua vez, Netuno � capaz de acrescentar vis�o e compaix�o �s
<br>id�ias ut�picas de Urano, ou sutilmente tirar proveito da sensibilidade
<br>do parceiro, que pode aumentar sua intui��o inata, torn�-lo mais
<br>irrequieto ou extravagante, ou deix�-lo totalmente frustrado com a
<br>imprevisibilidade de Netuno.
<br>
<br>Quando um dos dois corpos est� debilitado, ou os planetas em
<br>aspecto adverso, o relacionamento pode proporcionar uma vaga sensa��o
<br>de insatisfa��o, um descontentamento dif�cil de definir� ainda
<br>mais dif�cil de superar. As pessoas mais evolu�das conseguem lidar
<br>melhor com este contato.
<br>
<br>
<br>Urano / Plut�o
<br>
<br>Quando os planetas est�o em aspecto favor�vel, Plut�o pode
<br>ajudar Urano a defender mais efetivamente a sua individualidade, e
<br>a expressar a sua originalidade de modo mais comovente, mobilizando
<br>um apoio para ajud�-lo a atingir seus objetivos e incentivando-
<br>
<br>o a esfor�ar-se mais. Urano � capaz de mostrar a Plut�o novos meios
<br>de alcan�ar seus objetivos. Se ambos tiverem interesses fora do
<br>comum, a colabora��o m�tua pode produzir resultados emocionantes.
<br>Este contato pode ser muito ben�fico quando os dois parceiros
<br>s�o ambiciosos e empreendedores, e � particularmente �til num
<br>relacionamento de neg�cios. Apesar disso, quando um dos dois
<br>planetas est� debilitado, ou o aspecto entre eles � adverso, a obstina��o
<br>de ambas as partes pode repentinamente se manifestar, com
<br>Urano agindo de modo mais aberto e freq�entemente exc�ntrico para
<br>conseguir fazer o que quer, e Plut�o operando na surdina c fazendo
<br>uma en�rgica oposi��o ao parceiro. Plut�o pode ser contra o comportamento
<br>exc�ntrico ou imprevis�vel de Urano, e Urano preocupar-
<br>se com algumas das caracter�sticas menos �bvias da personalidade
<br>de Plut�o que parecem dominar seus sentimentos e opini�es.
<br>
<br>Uma parcela de mudan�a pode tornar-se decisiva num relacionamento
<br>desse tipo. Uma concord�ncia em eliminar drasticamente
<br>os fatores que causam uma irrita��o m�tua pode ser essencial,
<br>se o objetivo � a continuidade do relacionamento. Ocasionalmente
<br>� poss�vel que surjam situa��es em que nenhuma das partes
<br>desejar� chegar a um acordo. Se ningu�m estiver disposto a fazer
<br>concess�es, um rompimento definitivo poder� ser inevit�vel.
<br>
<br>Netuno/Netuno
<br>
<br>O �nico aspecto importante que pode ocorrer entre membros da
<br>mesma gera��o � a conjun��o. Aspectos m�tuos neste ponto podem
<br>determinar se os impulsos piedosos e aspira��es espirituais de ambos
<br>trar�o harmonia ou disc�rdia. Netuno indicar� como cada parceiro
<br>reage � atmosfera emocional e objetivos imaginados por sua pr�pria
<br>gera��o. � poss�vel que os companheiros alimentem os sonhos e
<br>ilus�es um do outro, de acordo com os aspectos na conjun��o de
<br>outros setores de seus mapas. Uma conjun��o entre Netunos bem
<br>aspectados pode resultar numa grande afinidade e compaix�o entre
<br>
<br>
<br>eles. � um aspecto excelente entre os hor�scopos de um pol�tico e
<br>seus partid�rios (isto tamb�m � v�lido para o sextil), ou entre um ator
<br>e seu p�blico ou companheiros de trabalho. Se um dos companheiros
<br>tiver Netuno mal aspectado no hor�scopo, o outro poder� sentir um
<br>leve desapontamento com uma qualidade real ou imagin�ria que o
<br>parceiro tenha ou pare�a ter.
<br>
<br>Uma afinidade parecida � poss�vel quando as pessoas tem seus
<br>Netunos em tr�gonos, o que ocorrer� quando a diferen�a de idade
<br>entre elas for de cerca de sessenta e um anos. O mais prov�vel � o
<br>mais jovem ser crian�a ou talvez ter acabado de atingir a maior idade.
<br>O mais velho ter�, ent�o, o poder de despertar-lhe a imagina��o e
<br>proporcionar-lhe uma vis�o que incentiva o seu futuro progresso.
<br>
<br>O quadrado implica numa diferen�a de idade de cerca de quarenta
<br>e um anos, e sugere uma profunda incapacidade de compreender os
<br>estados emocionais um do outro. O que ambos encaram como seus
<br>mais �ntimos desejos pode parecer irreconcili�vel. �s vezes este contato
<br>est� presente entre hor�scopos de amigos do sexo oposto, quando
<br>ouve-se o mais velho lamentar: "Se ao menos eu fosse jovem de
<br>novo!"
<br>
<br>Se um contato desses existir entre m�dico e paciente, m�s interpreta��es
<br>podem levar a um diagn�stico errado. Em outros tipos de
<br>relacionamento profissional (como entre advogado e cliente), em que
<br>um presta um servi�o profissional ao outro, pode ser fundamental
<br>que uma parte saiba exatamente o que a outra espera dela, e que haja
<br>um entendimento claro do valor dos honor�rios.
<br>
<br>Um aspecto da sinastria que provavelmente � apenas de interesse
<br>acad�mico trata da influ�ncia que algu�m morto h� muito tempo
<br>ainda exerce sobre os vivos atrav�s do legado de sua m�sica, arte,
<br>filosofia ou a capacidade inspiradora de sua vida. Quando as obras
<br>dessa pessoa despertam um interesse t�o v�vido em outra, isto pode
<br>ser revelado por uma oposi��o entre os dois Netunos que, na
<br>avalia��o inicial, pode ocorrer apenas depois de um intervalo de cerca
<br>de oitenta e dois anos. Este tipo de elo, principalmente envolvendo
<br>os aspectos ben�ficos, tamb�m pode ocorrer entre o hor�scopo de
<br>uma cidade ou munic�pio e os hor�scopos daqueles habitantes que
<br>se sentem muito bem quando vivem l�, ou que s�o tidos em alta conta
<br>pelos outros cidad�os.
<br>
<br>
<br>Netuno/Plut�o
<br>
<br>Num hor�scopo, �s vezes este contato indica um tipo de percep��o
<br>hipersens�vel. Quando ocorre a conjun��o, nascem as pessoas que
<br>prestam uma aten��o especial � atmosfera da sua �poca. Ao mesmo
<br>tempo que apenas uma pequena percentagem ter� a oportunidade
<br>de se atuar no mais alto n�vel no cen�rio mundial, n�o � � toa que
<br>uma grande propor��o de militares e pol�ticos importantes � que
<br>colaboraram e participaram da Segunda Guerra Mundial � nasceram
<br>quando esta conjun��o estava em orbe.
<br>
<br>Quando num hor�scopo Netuno est� em aspecto com Plut�o no
<br>outro, Plut�o pode tirar proveito das fobias e fantasias de Netuno,
<br>aumentando qualquer tend�ncia neur�tica ou escapista existente.
<br>Plut�o pode estudar as fraquezas de Netuno for�ando algum tipo de
<br>transforma��o. � poss�vel que Netuno reaja tornando-se mais
<br>esquivo e misterioso numa tentativa de desconcertar o parceiro,
<br>fazendo-o desistir de sua conduta indesej�vel. Se os companheiros
<br>estiverem engajados numa obra de benefic�ncia social ou atividades
<br>de natureza art�stica, e forem capazes de agir com uma integridade
<br>madura, pode haver uma colabora��o �til quando os planetas est�o
<br>em aspecto favor�vel, mas quando um dos dois corpos est� debilitado
<br>ou o aspecto � desfavor�vel, uma profunda desconfian�a dos
<br>motivos um do outro pode corroer as bases de qualquer uni�o.
<br>
<br>Plut�o/Plut�o
<br>
<br>Devido ao tempo que Plut�o leva para completar um circuito do
<br>zod�aco, os �nicos aspectos importantes entre seres humanos s�o a
<br>conjun��o, o sextil e talvez o quadrado. Em certas �reas do zod�aco,
<br>Plut�o se move mais r�pido que em outras, cobrindo noventa graus
<br>em menos de quarenta anos, enquanto mais lento leva cerca de
<br>noventa anos para cobrir o mesmo arco. Tr�gonos e oposi��es, exceto
<br>em casos raros, s� podem estar presentes entre hor�scopos de
<br>pessoas e seus ancestrais. Tais contatos podem ser observados nos
<br>hor�scopos de personalidades hist�ricas cujas vidas de algum modo
<br>influenciaram definitivamente a filosofia ou desenvolvimento global
<br>de uma pessoa.
<br>
<br>� prov�vel que qualquer aspecto entre Plut�o em dois hor�scopos
<br>funcione principalmente em �reas de consci�ncia subliminar,
<br>onde podem ser gerados fortes sentimentos de atra��o ou repulsa.
<br>
<br>
<br>Se o relacionamento produzir� harmonia ou disc�rdia depender�
<br>muito de como cada Plut�o est� aspectado nos hor�scopos dos
<br>envolvidos, principalmente em rela��o �s �reas de experi�ncia indicadas
<br>pelas casas ocupadas em cada hor�scopo.
<br>
<br>Os contempor�neos envolvidos em alguma forma de atividade
<br>em grupo podem descobrir que os seus Plut�es est�o em posi��es
<br>muito parecidas.
<br>
<br>A influ�ncia m�tua das lumin�rias e planetas no horizonte e
<br>meridiano do hor�scopo tamb�m � muito importante, mas tais considera��es
<br>se relacionam mais com as casas envolvidas, e ser�o
<br>mencionadas no pr�ximo cap�tulo.
<br>
<br>
<br>CAP�TULO 8
<br>
<br>INTERA��O ENTRE HOR�SCOPOS
<br>
<br>PARTE DOIS
<br>
<br>Interc�mbio de Casas
<br>
<br>Quando um planeta no hor�scopo de uma pessoa cai perto do
<br>Meio do C�u ou Ascendente no hor�scopo de outra, a import�ncia
<br>desse contato � bastante evidente. A mera presen�a dos planetas de
<br>uma pessoa nas casas do hor�scopo de outra pode n�o parecer
<br>t�o significativa. No entanto, este tipo de rearranjo dos planetas nas
<br>casas pode dar muitas indica��es sobre como ser� o relacionamento
<br>entre elas.
<br>
<br>Na compara��o de hor�scopos, � uma boa medida calcular o hor�scopo
<br>de cada pessoa e colocar os planetas da outra num c�rculo
<br>do lado de fora, ao redor do mapa, de um modo muito parecido com
<br>
<br>o qual seriam inseridas as posi��es de planetas em tr�nsito ao redor
<br>da periferia de um hor�scopo. Na verdade, o efeito dos planetas de
<br>outra pessoa nas v�rias casas do hor�scopo de um parceiro � muito
<br>parecido com o de um tr�nsito, representando alguma influ�ncia
<br>externa interferindo nos assuntos daquela casa. A diferen�a importante
<br>� que tal influ�ncia � um tr�nsito "personificado", e pode persistir
<br>durante o tempo em que durar o relacionamento com essa pessoa,
<br>mas apenas em termos desse determinado relacionamento e par
<br>
<br>ticularmente quando essa pessoa est� presente. Se o relacionam enio
<br>for �ntimo, e os assuntos daquela casa estiverem ligados na mente
<br>do nativo a uma consci�ncia da aprova��o ou desaprova��o do outro,
<br>notadamente num relacionamento entre pais e filhos, at� mesmo a
<br>aus�ncia f�sica da pessoa envolvida pode n�o modificar muito o efeito
<br>dessa influ�ncia.
<br>
<br>Quando um planeta num hor�scopo cai exatamente na c�spide de
<br>uma casa no hor�scopo do companheiro, � prov�vel que ele tenha a
<br>sua influ�ncia m�xima sobre os assuntos dessa casa ou, talvez mais
<br>precisamente, sua influ�ncia sobre a atitude psicol�gica do nativo
<br>em rela��o aos assuntos regidos por essa casa provavelmente ser� a
<br>m�xima. Alguns estudantes presumem que a c�spide de uma casa
<br>forma uma linha divis�ria n�tida e absoluta entre as duas casas, mas
<br>em minha opini�o essa � uma suposi��o errada. A c�spide de uma
<br>casa representa o pico de influ�ncia em rela��o �quela casa, como
<br>se fosse a crista da onda. Se, por exemplo, a c�spide da 5� casa � 7�
<br>de Capric�rnio e Marte est� em 4o de Capric�rnio, isso seria mostrado
<br>no hor�scopo como estando fisicamente na 4- casa. Esse �
<br>meramente um esquema diagram�tico. Em termos de interpreta��o
<br>pr�tica, significa que o planeta mal come�ou a influenciar a 4�
<br>casa, e na verdade est� perto do pico de influ�ncia da 5� casa. No entanto,
<br>este pico cai abruptamente no "vale" da casa anterior. Quando
<br>um planeta est� mais do que uns cinco graus � frente de uma c�spide,
<br>estar� apenas come�ando a exercer uma leve influ�ncia sobre os
<br>assuntos da casa em que est� posicionado. Segundo o crit�rio das
<br>revolu��es solares, um planeta � considerado angular, e por causa
<br>disso de especial import�ncia, quando est� no m�ximo a dez graus
<br>do horizonte ou meridiano, qualquer que seja o lado onde possa cair.
<br>
<br>Quando consideramos as posi��es das casas, surge a quest�o
<br>pol�mica da divis�o de casas. Enquanto eu estou satisfeito usando o
<br>sistema de Pl�cido, os que preferem Campanus, Koch, Regiomontanus
<br>ou outros sistemas, sem d�vida analisar�o as linhas que se
<br>seguem em termos de seu sistema favorito de divis�o de casas antes
<br>de decidir qual d� os melhores resultados. O fato de os sistemas de
<br>casas diferentes geralmente causarem uma diferen�a na longitude
<br>zodiacal de c�spides de casas intermedi�rias � outro motivo pelo qual
<br>a c�spide n�o deveria ser encarada como uma r�gida linha divis�ria
<br>entre casas, n�o importa o quanto o arranjo possa parecer "bom".
<br>
<br>
<br>AS CASAS
<br>
<br>Para avaliar o efeito dos planetas de uma pessoa posicionados nas
<br>casas do hor�scopo de outra, � necess�rio entender o significado das
<br>doze casas.
<br>
<br>A 1� Casa representa o modo pelo qual gostamos de nos apresentar
<br>ao mundo. � a persona, a m�scara que colocamos e com a qual
<br>nos sentimos mais � vontade. Geralmente indica as caracter�sticas
<br>que se aplicam melhor a n�s.
<br>
<br>A 2� Casa representa posses de todos os tipos, espiritual, intelectual,
<br>emocional ou f�sico, as coisas que as pessoas re�nem ao redor
<br>de si e tornam suas para sentir uma maior seguran�a em todos os
<br>n�veis. Ela indica as coisas que as pessoas valorizam, sua atitude
<br>psicol�gica em rela��o a bens, e est� relacionada com a sua capacidade
<br>de obter.
<br>
<br>A 3� Casa representa a capacidade de comunicar, o modo pelo qual
<br>as informa��es s�o adquiridas, a capacidade de criar v�nculos com
<br>
<br>o ambiente em que se vive e de estabelecer conex�es numa base
<br>relativamente local. Por esse motivo, a 3a casa est� relacionada com
<br>a capacidade de receber educa��o e viajar para adquirir experi�ncia
<br>e manter contatos locais. Ela representa os vizinhos, tamb�m "vizinhos"
<br>na familia, irm�os, irm�s, e a atitude psicol�gica em rela��o
<br>a eles.
<br>A 4� Casa representa ra�zes, come�os, lar, fam�lia (como um todo)
<br>e particularmente os pais. Ela indica nossas rea��es instintivas, desenvolvidas
<br>durante muitas vidas, e o tipo de ambiente ao qual
<br>podemos nos recolher como um ref�gio das press�es externas e
<br>recuperar nossas energias. A 4a casa indica a dire��o em que nossos
<br>instintos podem inconscientemente nos levar.
<br>
<br>A 5� Casa representa os resultados de nossas atividades no n�vel
<br>instintivo, nossa criatividade inata, que na verdade � a capacidade
<br>de refletir e agir como um canal para o Poder Criativo da Vontade
<br>Divina. Ela mostra o modo pelo qual provavelmente lidaremos com
<br>
<br>
<br>o poder em todos os n�veis, e a natureza das coisas que criamos,
<br>particularmente filhos.
<br>A 6� Casa representa nossa capacidade de servir, de estabelecer
<br>uma rela��o entre nossa criatividade e as pessoas que nos cercam,
<br>de modo a empregar nossos talentos a servi�o da comunidade. Ela
<br>representa a nossa atitude em rela��o a representar um papel secund�rio,
<br>e nossa efici�ncia ao aplicarmos t�cnicas de todos os tipos.
<br>Por esse motivo, a 6a casa est� ligada ao modo pelo qual somos
<br>capazes de lidar com materiais e us�-los, incluindo a mat�ria de nosso
<br>corpo. Deste modo, a quest�o do bom preparo f�sico ou a falta dele
<br>tamb�m est� relacionada com a 6a casa.
<br>
<br>A 7� Casa representa nossa capacidade de nos relacionarmos
<br>com outras pessoas numa base de igualdade, procurando nelas
<br>qualidades que completam as nossas, de modo a uma refor�ar a outra.
<br>Mais especificamente, indica a capacidade de cooperar em relacionamentos
<br>com outras pessoas, ou de medirmos for�as com elas
<br>num esp�rito de competi��o que pode ser amig�vel ou n�o, de acordo
<br>com a condi��o da 7� casa e o impacto dos planetas de outra pessoa
<br>sobre esta casa. Em sua fornia mais espec�fica, a 7� casa representa
<br>
<br>o c�njuge. Em sua forma mais generalizada ela indica como o nativo
<br>encara o mundo exterior, o "n�o eu" relacionado com o "eu" da
<br>1� casa.
<br>A 8� Casa representa a capacidade de utilizar os nossos recursos
<br>interiores e aument�-los, aproveitando, na �ntegra, os recursos do
<br>mundo. Ela mostra a capacidade de criar um novo potencial a partir
<br>de nossos recursos interiores, transformando-os atrav�s de um
<br>esfor�o dedicado a uma rigorosa autocr�tica. Transforma��o significa
<br>o fim de h�bitos e atitudes antigas. No n�vel material, a pr�pria
<br>morte f�sica � o exemplo m�ximo deste processo. Normalmente a
<br>morte liberta a consci�ncia da escravid�o do corpo, do mesmo modo
<br>que as transforma��es em outros n�veis efetuadas durante a vida
<br>podem libertar a consci�ncia da escravid�o emocional, mental e
<br>espiritual, deste modo revelando novos potenciais. Num n�vel mais
<br>terreno, a 8a casa representa os recursos do parceiro e nossa atitude
<br>psicol�gica em rela��o a eles
<br>
<br>182
<br>
<br>
<br>A 9� Casa representa nossa capacidade de nos relacionar e estabelecer
<br>liga��es com um sistema de refer�ncia mais amplo em
<br>todos os n�veis, atrav�s de viagens, estudo e aprendizado ligados �
<br>filosofia, religi�o e todos os tipos de estudo mais elevado criados
<br>para proporcionar uma vis�o global da vida e ajudar o homem a
<br>compreender a sua rela��o com o Cosmo. Em resumo, tudo que nos
<br>possibilita adquirir uma maior compreens�o do significado da vida.
<br>A 9� casa tamb�m se relaciona especificamente com as pessoas
<br>capazes de nos proporcionar tal esclarecimento.
<br>
<br>A IO� Casa representa o modo pelo qual procuramos conquistar
<br>uma posi��o de influ�ncia no mundo, n�o necessariamente em rela��o
<br>ao nosso emprego, mas no contexto mais amplo de nossa carreira,
<br>e o tipo de reputa��o que somos capazes de adquirir para n�s
<br>mesmos, como resultado de nossas conquistas em todos os n�veis.
<br>Ela indica o nosso objetivo consciente na vida e toda a nossa atitude
<br>em rela��o ao progresso. A 10� casa indica como provavelmente nos
<br>comportaremos numa posi��o de poder, prest�gio, e o tipo de pessoa
<br>a quem poderemos ter de prestar obedi�ncia. Ela mostra o tipo
<br>de pessoa a quem possivelmente tomaremos como exemplo, a figura
<br>de um her�i que talvez desperte a nossa imagina��o. Geralmente
<br>indica qual dos pais exerceu uma maior influ�ncia na escolha de nossa
<br>carreira.
<br>
<br>A 11� Casa representa nossa capacidade de participar de empreendimentos
<br>criativos, trabalhar para um ideal comum, e mobilizar
<br>apoio para esses empreendimentos entre aqueles que compartilham
<br>de interesses similares. Esta casa representa os resultados de nossas
<br>conquistas, qualquer reputa��o que possivelmente conquistamos,
<br>as pessoas que atra�mos e as que provavelmente ser�o inclu�das em
<br>nosso c�rculo de amizades.
<br>
<br>A l2� Casa representa nossa capacidade de nos unir e fundir num
<br>todo importante e �nico, os frutos da sabedoria que possivelmente
<br>adquirimos atrav�s das diferentes experi�ncias e talentos que conseguimos
<br>desenvolver, a fim de que toda a nossa vida tenha um significado,
<br>n�o apenas em termos de nosso desenvolvimento pessoal,
<br>mas em rela��o ao nosso lugar na comunidade e � nossa pr�pria
<br>
<br>
<br>aceita��o de nosso papel no Plano Divino. Uma incapacidade de
<br>ajustar-se satisfatoriamente ao mundo no n�vel social e moral pode
<br>resultar de n�o termos tido o devido respeito pelas regras e necessidades
<br>da comunidade � qual pertencemos. Uma incapacidade de ajustar-
<br>se no n�vel mental, emocional ou f�sico pode causar perturba��es
<br>dapsique ou doen�as f�sicas. As experi�ncias relacionadas com este
<br>setor do hor�scopo geralmente s�o planejadas para aumentar a nossa
<br>compaix�o por nossos semelhantes.
<br>
<br>Por uma quest�o de conveni�ncia, as Unhas que se seguem
<br>s�o expressas em termos das lumin�rias ou planeta do
<br>homem que caem nas v�rias casas do hor�scopo de sua parceira,
<br>exceto quando s�o apresentadas de outra maneira.
<br>Em geral, os efeitos ser�o parecidos, se estiver sendo feita
<br>uma compara��o entre duas pessoas do mesmo sexo, ou
<br>quando a posi��o � invertida com os planetas da mulher
<br>caindo na casa do parceiro.
<br>
<br>Estas linhas n�o levam em conta o fato de que o planeta de uma
<br>pessoa que cai numa casa do hor�scopo do parceiro pode ao mesmo
<br>tempo formar uma conjun��o com um planeta nessa casa, ou aspectar
<br>intimamente um planeta cm outra casa. Procurando a combina��o
<br>planet�ria apropriada no cap�tulo anterior, poder�amos ter uma id�ia
<br>clara de como a interpreta��o seria modificada. Muitas coisas
<br>tamb�m depender�o da condi��o natal do planeta que est� sendo
<br>reposicionado no hor�scopo do companheiro. �s vezes, mais de um
<br>planeta cai na mesma casa do hor�scopo do parceiro, caso em que
<br>ser�o necess�rias outras modifica��es. Incluir todas as combina��es
<br>poss�veis exigiria um enorme volume. Em todo caso, o aperfei�oamento
<br>de um crit�rio individual s� pode ocorrer atrav�s de uma
<br>rejei��o gradual das interpreta��es corriqueiras. Portanto, os contempor�neos
<br>quase sempre ter�o uma conjun��o entre os principais
<br>planetas que se movem mais devagar, dando uma maior import�ncia
<br>�s suas posi��es originais em cada hor�scopo. V�rios planetas
<br>pertencentes a um dos parceiros caindo numa �nica casa do
<br>hor�scopo do outro aumentar�o o envolvimento dele com os assuntos
<br>indicados por essa casa.
<br>
<br>184
<br>
<br>
<br>O SOL NAS CASAS
<br>
<br>Quando o Sol de uma pessoa cai numa certa casa do hor�scopo
<br>de outra, tem o efeito de incentivar essa outra pessoa a participar com
<br>todo o entusiasmo dos assuntos relacionados � casa em quest�o. A
<br>pessoa cujo Sol est� envolvido � capaz de exercer uma influ�ncia
<br>estabilizadora e estimulante nesta �rea da vida da outra.
<br>
<br>Sol na 1� Casa
<br>
<br>Quando o Sol de um homem cai no Ascendente da mulher ou, num
<br>grau ligeiramente menor, na 1" casa dela, ou quando ele lan�a um
<br>aspecto importante sobre o grau ascendente dela, h� uma semelhan�a
<br>entre o ego absoluto do homem, a sua natureza interior, e o modo
<br>pelo qual a parceira procura projetar-se externamente. Por isso, a
<br>orienta��o psicol�gica da mulher o incentivar� a ser mais efetivamente
<br>ele mesmo. Ela apreciar� o seu valor como indiv�duo e ter�
<br>um grande respeito por ele, ao ponto dever suas pr�prias caracter�sticas
<br>f�sicas e m�todos de aproxima��o externos revelados de modo
<br>maduro pelo parceiro, como se fizessem parte da pr�pria ess�ncia
<br>dele. Esta situa��o cria a possibilidade de grande atra��o m�tua, com
<br>a mulher demonstrando admira��o pelo homem, que fica grato por
<br>isso. Ela pode reconhecer a capacidade de lideran�a do parceiro,
<br>permitindo-lhe cumprir a sua fun��o inata e deste modo fazendo-o
<br>ficar em paz consigo mesmo. Se o Sol n�o estiverem conjun��o com
<br>
<br>o grau ascendente, mas aspectado beneficamente com outro setor
<br>do hor�scopo da parceira, pode existir um v�nculo muito forte. Nos
<br>casos em que o Sol est� em aspecto adverso, a sua autoridade pode
<br>n�o ser aceita passivamente, e talvez haja uma luta pela supremacia.
<br>Possivelmente haver� fortes elementos de contraste, psicol�gicos
<br>e f�sicos. Se o Sol estiver aflito pode tentar dominar a parceira
<br>ou impression�-la com afeta��es de refinamento, ou tentar habilmente
<br>desconcert�-la. O quinc�ncio pode ser uma indica��o de
<br>antipatia.
<br>A simpatia e afei��o do Sol podem incentivar e fazer ressaltar o
<br>que h� de melhor na companheira, acrescentando confian�a e proporcionando-
<br>lhe uma fonte de apoio pessoal, com um exemplo que
<br>ela gostaria de imitar. � poss�vel que o Sol espere o devido reconhecimento
<br>de seu papel de patrono e mentor, proporcionando apoio
<br>
<br>
<br>moral e talvez de outro tipo mais palp�vel. Este poderia ser um pre�o
<br>pequeno a pagar pelo entusiasmo e incentivo que ele est� preparado
<br>para fornecer gratuitamente � sua parceira.
<br>
<br>Quando o Sol de um pai cai nesta �rea, ele pode tentar criar o filho
<br>como uma c�pia carbono de si pr�prio.
<br>
<br>Esta posi��o solar pode ser um elo importante, trazendo muitos
<br>benef�cios, ou o oposto, de acordo com a sua condi��o no nascimento
<br>e seus aspectos cruzados do hor�scopo da parceira. O Sol pode fornecer
<br>inspira��o ou monopolizar aten��o, mas o relacionamento
<br>nunca ser� sem entusiasmo!
<br>
<br>Sol na 2� Casa
<br>
<br>Quando o Sol do homem cai na 2a casa de sua parceira, a orienta��o
<br>psicol�gica da mulher o incentivar� a projetar o seu ego absoluto
<br>no setor da vida dela relacionado ao modo pelo qual ela multiplica
<br>e utiliza os seus bens. Deste modo, o Sol do parceiro pode proporcionar-
<br>lhe oportunidades de uma natureza altamente ben�fica,
<br>ajudando-a a melhorar a sua condi��o financeira e possivelmente
<br>at� mesmo fornecendo-lhe o apoio financeiro para conseguir isso.
<br>Seu companheiro pode dar-lhe conselhos s�bios e fornecer o knowhow
<br>necess�rio para aumentar as suas riquezas e obter um certo grau
<br>de seguran�a financeira.
<br>
<br>�s vezes o Sol do homem neste setor do hor�scopo da parceira
<br>indica que ele faz muita quest�o de que ela tenha os seus pr�prios recursos.
<br>Ele pode desejar que ela seja independente financeiramente,
<br>e incentiv�-la para que essa independ�ncia se torne completa. Quando
<br>lhe traz presentes, geralmente ele espera um reconhecimento de
<br>sua generosidade e possivelmente uma retribui��o na mesma moeda.
<br>Talvez exija gratid�o por qualquer servi�o prestado, caso em que
<br>provavelmente esperar� receber algo digno de sua condi��o social.
<br>
<br>Quando situado nesta casa, o Sol quase sempre � um defensor leal
<br>
<br>de sua parceira. �s vezes esta posi��o pode indicar uma consider�vel
<br>
<br>atra��o f�sica.
<br>
<br>Sol na 3� Casa
<br>
<br>Quando o Sol do homem cai na 3a casa do hor�scopo de sua parceira,
<br>a orienta��o psicol�gica dela o incentivar� a projetar o seu ego
<br>absoluto naquele setor da vida dela ligado ao modo pelo qual ela se
<br>
<br>186
<br>
<br>
<br>relaciona com o seu ambiente e re�ne informa��es de uma natureza
<br>pr�tica. A mulher apreciar� o est�mulo mental que o parceiro � capaz
<br>de proporcionar-lhe. Quase sempre ele prestar� aten��o ao que
<br>ela diz, encorajando-a a expor o seu ponto de vista e ajudando-a a
<br>desenvolver as suas id�ias numa base ampl a, dando a elas um maior
<br>significado durante o processo. Como resultado, pode surgir uma
<br>grande compatibilidade, principalmente no n�vel mental.
<br>
<br>�s vezes o Sol pode ajudar a diminuir os problemas de viagem da
<br>parceira, mas no n�vel mental talvez ele espere que ela fa�a algum
<br>esfor�o para resolver seus pr�prios problemas,primeiro fornecendo-
<br>lhe o know-how, depois deixando-a coloc�-lo em pr�tica.
<br>
<br>Esta posi��o favorece uma rela��o fraternal numa base franca e
<br>agrad�vel. Quando sexos opostos est�o envolvidos, o relacionamento
<br>pode lembrar mais o de um irm�o e uma irm� do que o de marido e
<br>mulher.
<br>
<br>Sol na 4� Casa
<br>
<br>Quando o Sol do homem cai na 4� casa do hor�scopo da parceira,
<br>e mais particularmente quando cai em conjun��o com o Meridiano
<br>Inferior dela, ele tender� a assumi r o papel de pai em rela��o � mulher
<br>que aceitar� com naturalidade a sua orienta��o e lideran�a. Ele pode
<br>ajud�-la a sobressair-se e incentiv�-la a desenvolver os seus talentos.
<br>A mulher pode permitir que a influenciado parceiro se torne evidente
<br>no ambiente dom�stico, que nesse caso refletir� certas facetas
<br>da personalidade dele que a impressionam.
<br>
<br>As vezes a influenciado Sol nesse setor tem um efeito muito sutil,
<br>de modo � mulher desejar inconscientemente imitar o exemplo do
<br>parceiro, a menos que haja aspectos cruzados desfavor�veis envolvendo
<br>o Sol. Com o Sol nesta posi��o no hor�scopo de outra
<br>pessoa, h� uma tend�ncia ao relacionamento come�ar muito cedo
<br>ou muito tarde na vida. No entanto, esse elo pode ser muito importante,
<br>porque a pessoa cuja 4� casa est� envolvida est� sempre a par
<br>das regras do companheiro solar.
<br>
<br>Sol na 5� Casa
<br>
<br>Quando o Sol do homem cai na 5a casa do hor�scopo da parceira,
<br>ele estimula as atividades mais criativas, incitando-a a seguir o seu
<br>exemplo ou apoiando entusiasticamente os projetos e empreendi
<br>
<br>
<br>
<br>mentos dela, e geralmente interessando-se por passatempos. Quase
<br>sempre ele � capaz de despertar uma rea��o amorosa, fazendo-a
<br>sentir-se enaltecida em sua presen�a. Como resultado, em alguns
<br>casos a mulher pode ser particularmente indulgente em rela��o a
<br>qualquer falha no comportamento do parceiro. Esta � uma boa
<br>posi��o para amizades. A pessoa cujo Sol est� envolvido ser� capaz
<br>de alegrar a vida da outra e apreciar� as suas rea��es afetuosas.
<br>
<br>Sol na 6� Casa
<br>
<br>Quando o Sol do homem cai na 6a casa do hor�scopo de sua parceira,
<br>possivelmente ele ser� �til a ela de alguma forma. A mulher
<br>pode ter certeza de contar com a sua ajuda, apesar de ele ocasionalmente
<br>pedir-lhe uma retribui��o, principalmente se tender a valorizar
<br>os seus pr�stimos.
<br>
<br>O apoio entusi�stico do Sol pode fazer a parceira ter certeza de
<br>que est� sendo o mais eficiente poss�vel. Do contr�rio, ela pode achar
<br>que o parceiro est� disposto a sugerir modos de melhorar o seu
<br>m�todo e torn�-lo mais confi�vel.
<br>
<br>Em um relacionamento entre m�dico e paciente, esta � uma boa
<br>posi��o de casa para o Sol do m�dico, desde que ele esteja bem
<br>aspectado no hor�scopo e que os aspectos cruzados n�o sejam muito
<br>incompat�veis.
<br>
<br>Esta posi��o tem mais probabilidades de ocorrer com rela
<br>
<br>
<br>cionamentos eventuais que no caso de amizades duradouras. Toda
<br>
<br>a rela��o pode ser de algum modo transit�ria, dependendo do que
<br>
<br>for conveniente para os parceiros. Possivelmente o relacionamento
<br>
<br>surgir� da necessidade de os dois envolvidos trabalharem no mesmo
<br>
<br>local. Pode indicar um relacionamento entre empregado e patr�o,
<br>
<br>em que a pessoa cujo Sol est� envolvido esperar� uma recompensa
<br>
<br>digna de seus servi�os.
<br>
<br>Quando o Sol torna a ser demarcado na 6� casa de outra pessoa,
<br>geralmente n�o h� envolvimento emocional, apesar de que qualquer
<br>reserva quanto a isso dificilmente partir� do Sol.
<br>
<br>Sol na 7� Casa
<br>
<br>Quando o Sol do homem cai na 1- casa do hor�scopo de sua parceira,
<br>e part�cularmente quando est� em conjun��o com o horizonte
<br>oriental, isto pode indicar que ele � a pessoa ideal para trabalhar com
<br>
<br>188
<br>
<br>
<br>ela. O homem pode ajud�-la a fortalecer os seus pontos fracos, que
<br>ele reconhecer� facilmente. Sc afli��es fortes estiverem envolvidas,
<br>pode ser vis�vel uma certa rivalidade no relacionamento. O homem
<br>talvez seja tentado a explorar o seu conhecimento das �reas vulner�veis
<br>da parceira e deste modo desestabiliz�-la completamente.
<br>
<br>Na melhor das hip�teses, ele pode ser um companheiro desej�vel
<br>e um valioso aliado capaz de ampliar-lhe o c�rculo social e mobilizar
<br>um consider�vel apoio para ela. Sob afli��o ele pode permitir
<br>que a sua independ�ncia anule qualquer desejo de cooperar. Na pior
<br>das hip�teses, ele pode se revelar um tem�vel oponente.
<br>
<br>Poderia ser bom para a mulher cooperar o m�ximo poss�vel com
<br>
<br>o parceiro e tentar discutir com ele as causas de qualquer conflito
<br>que possa existir no relacionamento.
<br>Num relacionamento entre advogado e cliente, esta � uma boa
<br>posi��o para o Sol do advogado, desde que ele esteja razoavelmente
<br>livre de afli��o no nascimento e do hor�scopo do cliente.
<br>
<br>Sol na 8� Casa
<br>
<br>A 8a casa � uma �rea um pouco cr�tica. Quando o Sol do homem
<br>cai neste setor do hor�scopo de sua parceira, isto pode produzir uma
<br>uni�o em que ela se torna desagradavelmente consciente de algum
<br>defeito de seu car�ter que s� pode ser satisfatoriamente corrigido por
<br>algum tipo de mudan�a extraordin�ria nela mesma.
<br>
<br>Atrav�s de uma cr�tica construtiva, o parceiro pode ajud�-la a fazer
<br>
<br>uma an�lise objetiva de si pr�pria, e indicar-lhe algum novo modo
<br>
<br>de encarar os seus problemas. Deste modo, ela ser� capaz de encon
<br>
<br>
<br>trar solu��es que antes desconhecia.
<br>
<br>Ele pode ser capaz de fazer exig�ncias que provocam uma rea
<br>
<br>
<br>��o que ela n�o se julgava capaz de ter. Se o Sol estiver muito afli
<br>
<br>
<br>to no nascimento ou entrar em conflito com os planetas da mu
<br>
<br>
<br>lher, � prov�vel que surja uma situa��o muito desagrad�vel. Mui
<br>
<br>
<br>tas coisas depender�o do grau de amor-pr�prio da mulher e de sua
<br>
<br>capacidade de defender-se, j� que uma defici�ncia nestas �reas pode
<br>
<br>provocar a desaprova��o do parceiro ou formas mais desagrad�veis
<br>
<br>de cr�tica. O Sol sempre tende a aceitar a opini�o que a parceira tem
<br>
<br>de si pr�pria. Se ela for capaz de demonstrar que � suficientemente
<br>
<br>madura para tolerar cr�ticas, pode conseguir desarmar o companheiro
<br>
<br>que pretende critic�-la. A admira��o dele crescer� na propor��o em
<br>
<br>
<br>que cia for capaz de empreender alguma coisa e tornar-se independente.
<br>
<br>
<br>A mulher pode ter algum d�bito c�rmico para com o parceiro. O
<br>cumprimento de tal obriga��o ser� facilitado ou tornado menos
<br>desagrad�vel de acordo com a condi��o natal do Sol e os aspectos
<br>cruzados do hor�scopo dela. Li��es valiosas ser�o aprendidas atrav�s
<br>dessas experi�ncias, mesmo se na �poca elas parecerem desagrad�veis
<br>ou in�teis.
<br>
<br>Quando o contato � favor�vel, o homem pode ajudar financeiramente
<br>e aconselhar a respeito de compra e venda, ou ser a fonte de
<br>muito apoio moral para a mulher. Se o Sol do homem estiver muito
<br>aflito no nascimento ou receber muitos aspectos cruzados dif�ceis
<br>do pr�prio mapa da companheira, ela deveria ser prudente ao emprestar-
<br>lhe dinheiro ou envolver-se em transa��es financeiras complicadas.
<br>Tais configura��es podem estar presentes se eles forem
<br>casados e depois se divorciarem, e a pens�o se tornar motivo de
<br>muitos aborrecimentos.
<br>
<br>Esta posi��o solar pode indicar atra��o sexual ou repulsa, de
<br>acordo com as circunst�ncias do relacionamento e os aspectos recebidos
<br>pelo Sol.
<br>
<br>Quando h� respeito m�tuo, uma uni�o duradoura pode ser constru�da
<br>na base do reposicionamento do Sol nesta casa.
<br>
<br>Sol na 9� Casa
<br>
<br>Quando o Sol do homem cai na 9� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode ser uma inspira��o para ela em sua procura por
<br>uma filosofia de vida vital e transcendente. Atrav�s do modo pelo
<br>qual ele permite que a sua vida seja orientada por suas cren�as, pode
<br>torn�-la interessada pelas doutrinas que ele aprova, sejam religiosas
<br>ou filos�ficas. Esta � a marca essencial de um relacionamento
<br>"guru", com o Sol agindo como mentor. Ele tende a esperar
<br>que a parceira fa�a um esfor�o especial para entender as
<br>id�ias que est� tentando expor, principalmente no que diz respeito
<br>ao seu sentido real. Se o Sol receber aspectos cruzados dif�ceis do
<br>hor�scopo de sua companheira, podem resultar interpreta��es
<br>err�neas, a menos que ambos fa�am um grande esfor�o para que a
<br>mensagem seja bem entendida. Pode haver diferen�as fundamentais
<br>de opini�o, j� que o Sol n�o apenas tender� a defender firme
<br>
<br>
<br>
<br>mente as suas id�ias, mas tamb�m a despertar uma rea��o animada
<br>na parceira.
<br>
<br>Ele ficar� feliz em divulgar as conquistas da parceira e ajudar a
<br>torn�-las conhecidas por um n�mero maior de pessoas. O contato
<br>entre os dois pode surgir atrav�s de uma viagem. De algum modo,
<br>ele pode ser capaz de dar boas sugest�es para os preparativos de
<br>viagem dela e fornecer-lhe transporte, ou ser o meio de coloc�-la em
<br>contato com pa�ses estrangeiros, ajudando-a literalmente a expandir
<br>os seus horizontes, tanto como num sentido mais metaf�rico.
<br>
<br>Sol na 10� Casa
<br>
<br>Quando o Sol do homem cai na 10a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o com o
<br>Meio do C�u dela, ele pode estar numa posi��o de melhorar a sua
<br>reputa��o. Pode ser encarregado de supervisionar o seu trabalho,
<br>estando numa posi��o de recomend�-la para promo��o ou impedir
<br>
<br>o seu progresso.
<br>Quem tem o Sol situado na 10a casa do hor�scopo de outra pessoa
<br>tende a ser um pouco paternalista, sentindo necessidade de assumir
<br>algum tipo de responsabilidade sobre o comportamento do
<br>parceiro.
<br>
<br>�s vezes o homem precisa do apoio da parceira ou do seu reconhecimento
<br>de suas habilidades para aumentara sua auto-estima. O
<br>exemplo dele possivelmente a incentivar� a imit�-lo. Se os aspectos
<br>cruzados forem favor�veis, quase sempre ele ficar� feliz em aumentar
<br>o seu apoio. Nesses casos, sua m�o amiga pode coloc�-la em
<br>contato com pessoas influentes que possivelmente a ajudar�o a
<br>progredir e tomar�o a sua vida mais f�cil de in�meros modos.
<br>
<br>Se ele insistisse em n�o cooperar, seria conveniente ela descobrir
<br>
<br>o motivo, porque a causa poderia ser alguma falha sua servindo de
<br>barreira a um futuro progresso. Ele poderia n�o apenas ter condi��es
<br>de apontar esta fraqueza, mas de dar um conselho pr�tico de como
<br>poderia ser superada.
<br>Sol na 119 Casa
<br>
<br>Quando o Sol do homem cai na 11a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode ser capaz de proporcionar-lhe o tipo de inspira��o
<br>que a leva a falar mais claramente de seus ideais. Em alguns casos
<br>
<br>
<br>ele pode ajud�-la a realiz�-los. Este setor do hor�scopo se relaciona
<br>com a amizade e iniciativas em grupo. Quando os aspectos cruzados
<br>s�o favor�veis, h� muitas chances de surgir uma amizade gratificante,
<br>com a pessoa cuja casa est� ocupada sendo atra�da na dire��o daquela
<br>cujo Sol est� envolvido. A pessoa pode ter uma posi��o de lideran�a
<br>num grupo a que a primeira pertence. Quando o Sol do homem ocupa
<br>esta casa do hor�scopo da parceira, ele pode achar que como amigo
<br>tem o direito de aconselh�-la sobre o modo pelo qual ela conduz os
<br>seus assuntos. Como ele aceita o encargo de falar num tom de cr�tica
<br>amig�vel, suas observa��es ser�o muito mais valiosas, principalmente
<br>porque como amigo quase sempre est� preparado para
<br>aceit�-la como ela �.
<br>
<br>Sol na 12a-Casa
<br>
<br>Quando o Sol do homem cai na 12� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode ser capaz de incentiv�-la a desenvolver interesses
<br>variados que a ajudar�o a adquirir uma maior compreens�o da vida
<br>como um todo. O parceiro pode apresentar-lhe perspectivas de vida
<br>totalmente novas, apesar de muitas coisas dependerem da condi��o
<br>do Sol no hor�scopo dele e dos aspectos cruzados que forma com o
<br>dela. Se a maioria dos aspectos for favor�vel, ele pode ser capaz de
<br>imbu�-la de uma grande f� na Provid�ncia, da certeza de que tudo
<br>acontece para o melhor e que uma atitude submissa numa disposi��o
<br>de esp�rito de "Seja feita a Vossa Vontade" acaba por trazer uma
<br>maior felicidade e � o modo mais eficaz de evitar a "pr�pria ru�na".
<br>Se a maioria dos aspectos for desfavor�vel, ele pode ser motivo de
<br>desajuste na vida dela. Pode encoraj�-la a seguir uma conduta que
<br>prejudica o seu f�sico, contraria a sua moral e talvez os interesses da
<br>comunidade.
<br>
<br>Na melhor das hip�teses ele pode tornar-se um defensor discreto
<br>que "mexe seus pauzinhos" em benef�cio da parceira e que, na surdina,
<br>mobiliza apoio para ela de fontes inesperadas. �s vezes ele n�o
<br>poupa sacrif�cios. Na pior das hip�teses, ele pode ter um dom especial
<br>de deitar por �gua abaixo os planos da parceira, fazendo intrigas
<br>contra ela e arruinando insidiosamente a sua posi��o, sabendo exatamente
<br>como explorar os seus pontos fracos em benef�cio pr�prio.
<br>
<br>Ele pode ter a capacidade de adivinhar alguns dos segredos mais
<br>
<br>bem guardados da companheira, ou ela pode instintivamente achar
<br>
<br>192
<br>
<br>
<br>que ele � uma pessoa em quem pode confiar. As pessoas a quem
<br>costumam ser confiados esses segredos, como o padre ou o m�dico,
<br>normalmente t�m os seus S�is na 12- casa dos hor�scopos das pessoas
<br>que os escolheram como confidentes. Isto pode indicar que eles
<br>est�o especialmente preparados para ajudar essas pessoas quando
<br>cias est�o em per�odo de depress�o f�sica ou psicol�gica. Provavelmente
<br>o seu apoio e ajuda ser�o procurados em situa��es de
<br>emerg�ncia.
<br>
<br>Quando o Sol enfrenta muitos aspectos cruzados dif�ceis, existe
<br>a possibilidade de surgirem desaven�as devido a tend�ncias ocultas
<br>dif�ceis de localizar e neutralizar, ou pode at� mesmo haver uma
<br>inimizade n�o declarada que corr�i as bases do relacionamento.
<br>
<br>Quando o Sol do homem est� nesta posi��o � poss�vel a parceira
<br>aprender indiretamente atrav�s da an�lise dos erros dele, apesar de
<br>�s vezes ser dif�cil para ela encarar o relacionamento de um modo
<br>suficientemente objetivo, devido � capacidade do parceiro de torn�la
<br>sabedora, em seu inconsciente, de seus pr�prios desajustes psicol�gicos.
<br>
<br>
<br>A LUA NAS CASAS
<br>
<br>A Lua indica o modo pelo qual a personalidade do nativo reage a
<br>outras pessoas, suas rea��es instintivas e a quantidade de emo��o
<br>que ele pode trazer para um relacionamento.
<br>
<br>Lua na 1� Casa
<br>
<br>Quando a Lua do homem est� no Ascendente do hor�scopo de
<br>sua parceira, e num grau ligeiramente menor quando est� cm sua Ia
<br>casa, � prov�vel que exista um elo sens�vel entre os dois. Uma conjun��o
<br>pr�xima entre a Lua num hor�scopo e o grau ascendente em
<br>outro geralmente � encontrada entre os hor�scopos de c�njuges. Isto
<br>indica o tipo de relacionamento em que ambos se sentem bem na
<br>companhia um do outro. O que o homem necessita instintivamente
<br>aparece de uma forma palp�vel na presen�a da mulher. O homem se
<br>sentir� � vontade com o tipo de comportamento familiar da companheira,
<br>reconhecendo instintivamente aquelas facetas no modo
<br>di�rio dela encarar a vida, que correspondem ao pr�prio tipo de
<br>
<br>
<br>temperamento dele. A menos que a Lua esteja muito aflita, ou em
<br>aspecto adverso com o grau ascendente de algum outro fator do
<br>hor�scopo da parceira, ele se sentir� � vontade com ela, que apreciar�
<br>a rea��o favor�vel que � capaz de despertar nele. A parceira
<br>est� sempre disposta a fazer quaisquer adapta��es necess�rias para
<br>melhorar ainda mais a uni�o.
<br>
<br>Muitas vezes ela � capaz de introduzir o germe de uma id�ia na
<br>mente do parceiro, que na plenitude dos tempos pode se transformar
<br>num projeto realmente vantajoso que ele pode colocarem pr�tica
<br>para benef�cio m�tuo. Provavelmente o impulso lunar do homem
<br>de proteger e acalentar ser� projetado na dire��o da parceira. Amenos
<br>que a mulher seja capaz de aceitar e apreciar este interesse como um
<br>gesto de preocupa��o amig�vel, o homem pode tender a reagir tornando-
<br>se melanc�lico e esquivo. Ele pode ser capaz de estimular a
<br>imagina��o da companheira, com resultados fascinantes se os aspectos
<br>cruzados forem favor�veis. Caso contr�rio, se os aspectos
<br>cruzados indicarem algum tipo de tens�o, � poss�vel que haja algum
<br>elemento m�rbido ou doentio nas rea��es que provoca. De sua parte,
<br>ele pode tender a preocupar-se excessivamente com os problemas
<br>dela.
<br>
<br>Geralmente este contato favorece um relacionamento agrad�vel,
<br>an�o ser que a Lua esteja muito aflita. A sensibilidade lunar possibilitar�
<br>ao homem compreender a psicologia da parceira. O resultado
<br>� ele saber como despertar o interesse e uma rea��o favor�vel
<br>dela. A amizade da mulher pode surgir de um reconhecimento instintivo
<br>do respeito e simpatia que o parceiro sente por ela, e assim
<br>despertar ainda mais o interesse e preocupa��o dele, e ao mesmo
<br>tempo o seu impulso de confiar nela.
<br>
<br>Quando o relacionamento � entre sexos opostos da idade adequada,
<br>este contato pode indicar uma grande atra��o f�sica.
<br>
<br>O objetivo deste contato pode ser despertar no parceiro, cuja Lua
<br>est� envolvida, uma consci�ncia humana e respeito pelos sentimentos
<br>do outro, e deste modo alert�-lo para a necessidade de adaptar a
<br>sua conduta � orienta��o psicol�gica da outra pessoa.
<br>
<br>Lua na 2� Casa
<br>Quando a Lua do homem cai na 2- casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, que � a casa onde% Lua � considerada naturalmente exal
<br>
<br>
<br>
<br>tada, ele pode identificar na companheira uma influ�ncia naturalmente
<br>estabilizadora, e interessar-se em ajud�-la a aproveitar ao
<br>m�ximo as suas riquezas. Ele pode ter o dom instintivo de dar-lhe o
<br>conselho certo sobre como multiplicar e conservar os seus bens. �
<br>poss�vel que ele tamb�m deseje contribuir de outros modos para o
<br>bem-estar dela e fa�a uma demonstra��o pr�tica do seu interesse
<br>dando-lhe presentes, tornando-a quase sempre alvo de sua generosidade.
<br>Em alguns casos, o motivo dessa generosidade pode ser o
<br>fato de sentir prazer presenteando-a.
<br>
<br>Sua parceira nunca deveria esquecer de mostrar-se grata por sua
<br>generosidade, porque os sentimentos dele quase sempre est�o muito
<br>envolvidos com os favores que seja capaz de prestar. Se a Lua estiver
<br>envolvida em aspectos cruzados adversos, ele pode preocupar-
<br>se excessivamente com os problemas financeiros da parceira e deste
<br>modo atrapalhar mais do que ajudar, tolhendo-lhe a liberdade de a��o
<br>e at� mesmo sugerindo, talvez injustamente, que ela n�o d� suficiente
<br>valor � sua ajuda e generosidade.
<br>
<br>O objetivo deste elo pode ser despertar no companheiro, cuja 2�
<br>casa est� envolvida, uma verdadeira gratid�o pela gentileza do que
<br>presenteia.
<br>
<br>Lua na 3� Casa
<br>
<br>Quando a Lua do homem cai na 3� casa do hor�scopo de sua parceira,
<br>ele pode ficar fascinado com o modo pelo qual a mente dela
<br>trabalha, e o modo dela "atacar" os seus problemas mentais. As id�ias
<br>dela podem estimular as rea��es mentais dele com resultados favor�veis
<br>ou incertos, de acordo com a natureza dos aspectos cruzados
<br>envolvendo a Lua. Quando estes aspectos cruzados sugerem uma
<br>desarmonia, pode surgir um fator emocional que impede uma compreens�o
<br>correta das id�ias que ambos pretendem transmitir.
<br>
<br>Quando os aspectos cruzados s�o favor�veis,pode surgir uma boa
<br>afinidade mental.
<br>
<br>O homem pode ser o meio de plantar na mente da parceira as
<br>sementes de uma nova id�ia que brotar� no devido tempo, e ajud�la
<br>a entrar em contato com boas fontes de informa��es que desenvolvem
<br>e complementam as suas pr�prias id�ias. Se a Lua estiver
<br>aflita no nascimento, e os aspectos cruzados forem desfavor�veis,
<br>ele pode tender a fazer a parceira seguir uma linha de pensamento
<br>
<br>
<br>falsa, ou at� mesmo n�o ter qualquer simpatia pelas suas id�ias. Em
<br>outros casos, o homem cuja Lua est� envolvida pode, por assim dizer,
<br>segurar um espelho na frente da parceira e apontar-lhe alguns defeitos
<br>em seu modo de pensar, deste modo ajudando-a a comunicar-
<br>se melhor com os outros. Tais transa��es nem sempre s�o f�ceis;
<br>conseq�entemente, os aspectos cruzados mais ativos podem estar
<br>presentes nesses casos.
<br>
<br>Muitas vezes o homem pode assimilar as id�ias da parceira e mais
<br>tarde repeti-las para ela como se fossem suas. Num n�vel mais positivo,
<br>a mem�ria dele pode geralmente ajud�-la a acrescentar fatos
<br>�teis � sua pr�pria reserva de informa��es.
<br>
<br>De certa forma, ele pode ser o motivo da companheira empreender
<br>viagens curtas e peri�dicas. Quando a Lua est� mal aspectada,
<br>esta � uma posi��o boa para se localizar a Lua de um vizinho ou
<br>parente pr�ximo.
<br>
<br>O objetivo deste elo pode ser fazer a pessoa cuja 3� casa est�
<br>envolvida compreender a necessidade de prestar mais aten��o ao
<br>modo pelo qual transmite suas id�ias, escolhendo o m�todo mais
<br>adequado para despertar a imagina��o, a simpatia e o interesse dos
<br>outros. Este pode ser um fator �til em relacionamentos entre professor
<br>e aluno, quando a Lua do professor cai na 3a casa do aluno.
<br>
<br>Lua na 4� Casa
<br>
<br>Quando a Lua do homem cai na 4� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando est� em conjun��o com a
<br>quarta c�spide, da qual a Lua � o regente natural, a mulher pode achar
<br>que se sente "� vontade" com o parceiro como resultado de um tipo
<br>de afinidade natural, e ele ser� capaz de faz�-la sentir que "faz parte
<br>da fam�lia". � prov�vel que o homem seja capaz de prever quais ser�o
<br>as poss�veis rea��es instintivas da companheira a uma determinada
<br>situa��o.
<br>
<br>Ele pode ser capaz de fazer sugest�es que facilitar�o os afa
<br>
<br>
<br>zeres dom�sticos, talvez ajudando na decora��o da casa, melho
<br>
<br>
<br>rando os planos culin�rios dela ou geralmente sugerindo mudan�as
<br>
<br>ben�ficas no lar. O homem pode tender a assumir um papel um tanto
<br>
<br>paternal, n�o poupando esfor�os para proteger a parceira, �s vezes
<br>
<br>ao ponto de parecer monopoliz�-la. Muitas coisas depender�o do
<br>
<br>signo ocupado pela Lua e dos aspectos que ela recebe. Geralmente
<br>
<br>196
<br>
<br>
<br>este � um elo encontrado entre hor�scopos de c�njuges (e entre um
<br>dos parceiros e seus contra parentes). A pessoa cuja Lua est� envolvida
<br>nem sempre age como uma influ�ncia particularmente estabilizadora,
<br>e aqui a Lua aflita de um c�njuge pode precipitar
<br>mudan�as peri�dicas de resid�ncia ou perturbadoras reviravoltas
<br>dom�sticas. A pessoa cuja 4� casa est� envolvida pode ter dificuldade
<br>em acumular bens, porque o parceiro n�o deseja assumir compromissos
<br>nesse sentido, o que o deixa com uma sensa��o de estar
<br>"amarrado".
<br>
<br>O objetivo deste contato pode ser estimular, na pessoa cuja 4� casa
<br>est� envolvida, uma atitude mais sens�vel em rela��o ao meio em
<br>que vive e um desejo de mudar ou modificar em parte o seu ambiente
<br>para ele ficar mais de acordo com a sua personalidade.
<br>
<br>Lua na 5� Casa
<br>
<br>Quando a Lua do homem cai na 5� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele se sentir� atra�do pelo modo de ela desenvolver os seus
<br>talentos, o seu modo de se projetar e a sua atitude geral em rela��o a
<br>todas as �reas de atividades criativas e agrad�veis. Pode haver algum
<br>envolvimento emocional e uma demonstra��o de afei��o. Provavelmente
<br>o homem se revelar� um ouvinte interessado, incentivando-
<br>a a revelar os seus talentos e apreciando o seu senso de humor. Ele
<br>pode ser capaz de despertar o senso dram�tico dela e ajud�-la no
<br>processo de autodramatiza��o.
<br>
<br>Caso haja uma grande diferen�a de idade entre os parceiros, se a
<br>5� casa do mais velho estiver envolvida, ele pode sentir um desejo
<br>de adotar uma atitude paternal em rela��o ao mais jovem. Apesar
<br>disso, se as posi��es estiverem invertidas, o mais velho ainda se
<br>sentir� inclinado a representar este papel.
<br>
<br>Geralmente este elo caracteriza uma associa��o feliz, a n�o ser
<br>
<br>que a Lua esteja muito aflita.
<br>
<br>O objetivo de tal v�nculo �fazerapessoacuja5acasaest� envolvida
<br>ter uma maior consci�ncia do fato de que precisa levar em conta a
<br>rea��o que os seus esfor�os criativos e tentativas de se projetar
<br>provavelmente despertar�o nos outros, e desenvolver nela uma capacidade
<br>de realizar trabalhos mais populares. Essa acentua��o da
<br>5� casa est� paiticularmente ligada ao desenvolvimento de uma
<br>capacidade de despertar rea��o favor�vel numa plat�ia.
<br>
<br>
<br>Lua na 6� Casa
<br>
<br>Quando a Lua do homem cai na 6a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, provavelmente ele saber� instintivamente as �reas em que
<br>ela precisa de apoio. Ficar� satisfeito em ajud�-la e muitas vezes ser�
<br>capaz de fazer sugest�es que podem aumentar a efici�ncia geral dela
<br>e seu bem-estar f�sico.
<br>
<br>Ele pode ser capaz de ajud�-la em muitos afazeres dom�sticos
<br>entediantes, mas se a Lua estiver aflita no nascimento ou existirem
<br>aspectos cruzados dif�ceis, ele pode tender a fazer alvoro�o e preocupar-
<br>se com bobagens. Por esse motivo, pode atrapalhar mais do
<br>que ajudar e, ao inv�s de, por exemplo, lubrificar as bicicletas e facilitaras
<br>coisas, se transformar num motivo de irrita��o. Numa situa��o
<br>dessas a mulher n�o deveria permitir que a excessiva preocupa��o
<br>do companheiro e o seu bem-estar f�sico diminu�ssem sua moral.
<br>
<br>Provavelmente o homem ver� a sua parceira como algu�m a quem
<br>pode ser ostensivamente �til, demonstrando a si mesmo que � capaz
<br>de preocupar-se com os problemas dos outros. Quando a Lua est�
<br>bem-aspectada no nascimento e os aspectos cruzados s�o favor�veis,
<br>este pode ser um elo apaziguador. Quando a Lua de um m�dico est�
<br>na 6� casa do hor�scopo de seu paciente, o m�dico pode ter um interesse
<br>pela sa�de dele que vai al�m do seu dever.
<br>
<br>O objetivo deste elo pode ser fazer a pessoa cuja 6� casa est�
<br>
<br>envolvida pensar na necessidade de manifestar simpatia pelos que
<br>
<br>lhe s�o �teis, e de prestar os seus pr�prios favores de bom grado, sem
<br>
<br>esperar uma retribui��o espec�fica nem insistir numa recompensa
<br>
<br>m�nima estipulada.
<br>
<br>Lua na 7� Casa
<br>
<br>Quando a Lua do homem cai na 7� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e particularmente quando cai em conjun��o com o horizonte
<br>oriental, ele pode saber instintivamente como complementar
<br>e equilibrar as facetas mais importantes da personalidade da mulher.
<br>�s vezes, este elo � uma caracter�stica encontrada na compara��o
<br>de hor�scopos de c�njuges. O homem pode ser o meio de aumentar
<br>
<br>o c�rculo de amizades da mulher, colocando-a em contato com muitas
<br>pessoas prestativas e quase sempre tomando o bom conceito dela
<br>mais amplamente conhecido. A rela��o da Lua com a publicidade
<br>torna a 7� casa uma boa posi��o para a Lua de um agente da �rea.
<br>198
<br>
<br>
<br>Aqueles que entram em contato com uma pessoa devido �s atividades
<br>de seu agente de publicidade tamb�m t�m as suas Luas na 7� casa
<br>dele.
<br>
<br>O homem com a sua Lua neste setor do hor�scopo de sua parceira
<br>tender� a encar�-la como uma igual e pode esperar ter a sua pr�pria
<br>condi��o de igual reconhecida. Se a Lua estiver muito aflita, ele ser�
<br>particularmente sens�ve1 em rela��o aos seus direitos nesse sentido,
<br>detestando ser tratado com ar de condescend�ncia. Com este elo, o
<br>casal pode compartilhar de muitos interesses. Em alguns casos, se
<br>em qualquer ocasi�o forem necess�rias negocia��es delicadas de
<br>uma natureza pessoal, a pessoa cuja Lua est� envolvida pode ser
<br>capaz de operar como um sens�vel mediador.
<br>
<br>Quando a Lua est� bem aspectada no nascimento e a maioria dos
<br>aspectos cruzados � favor�vel, a associa��o pode ser particularmente
<br>ben�fica e a companheira, cuja 7� casa est� envolvida, reconhecer
<br>instintivamente no outro uma pessoa com quem ficaria feliz em
<br>colaborar.
<br>
<br>O objetivo deste elo � tornar a pessoa cuja 7� casa est� envolvida
<br>mais consciente da necessidade de adaptar-se aos outros, procurando
<br>respeitar os sentimentos alheios, e compreender que cooperar implica
<br>em fazer concess�es m�tuas.
<br>
<br>Lua na 8� Casa
<br>
<br>Quando a Lua do homem cai na 8� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, pode surgir uma uni�o do tipo "tudo ou nada", com os
<br>sentimentos do homem muito envolvidos, tornando a condi��o da
<br>Lua dele no nascimento e dos aspectos cruzados do hor�scopo da
<br>parceira particularmente decisivos. Quase nunca existe um meio-
<br>termo, e os sentimentos dela por ele ser�o ardentes � com uma
<br>necessidade de ter um grande autocontrole emocional � ou quase
<br>inexistentes. Qualquer grande simpatia ou antipatia que ela sinta pelo
<br>companheiro poderia dever-se � qualidade de um relacionamento
<br>numa vida pregressa, mas seja qual for o motivo, geralmente ele
<br>operar� como um impulso inconsciente cujos efeitos n�o podem ser
<br>negados. Ela pode ter a oportunidade de tirar proveito das experi�ncias
<br>dele, como pode ser capaz de torn�-lo mais consciente
<br>dos acontecimentos realmente dram�ticos em sua vida que lhe ensinaram
<br>valiosas li��es. Se o homem permitir que a sua imagina��o
<br>
<br>
<br>leve vantagem sobre ele, pode tender a falar demais sobre as horr�veis
<br>possibilidades de uma situa��o que enfrentou, ao inv�s de limitar-
<br>se a contar o que realmente aconteceu.
<br>
<br>Se a Lua do homem estiver mal aspectada, a mulher pode ter pouca
<br>vontade de relacionar-se com o parceiro. Se o relacionamento ocorrer,
<br>ela deve tomar muito cuidado se estiver envolvida em qualquer
<br>transa��o financeira com ele. Brigas por causa de dinheiro e heran�as
<br>podem surgir com facilidade. � poss�vel que o homem desconfie
<br>instintivamente e �s vezes bastante injustamente dos motivos da
<br>parceira e interprete mal os seus atos no que diz respeito a assuntos
<br>que envolvem finan�as.
<br>
<br>Quando a Lua est� mal aspectada, ele pode ser capaz de ajud�-la
<br>a descobrir alguma consci�ncia nova e oculta dentro de si mesma
<br>atrav�s da qual poder� conhecer-se melhor.
<br>
<br>O objetivo do contato � permitir que a pessoa cuja 8a casa est�
<br>envolvida se torne mais consciente da profundidade dos sentimentos
<br>n�o revelados dos outros e adquira um maior autocontrole quando
<br>os pr�prios sentimentos forem afetados por eles.
<br>
<br>Lua na 9� Casa
<br>
<br>Quando a Lua do homem cai na 9� casa do hor�scopo da sua
<br>parceira, ele desejar� entender por que ela pensa e age de determinado
<br>modo. Possivelmente se sentir� atra�do por ela porque acredita que
<br>compreende a sua filosofia de vida, e pode ser capaz de aceit�-la como
<br>um resultado dc suas pr�prias experi�ncias pessoais. Uma concord�ncia
<br>entre eles, no que diz respeito aos princ�pios gerais, pode
<br>ser apenas superficial, mas h� uma boa chance de essa compreens�o
<br>m�tua aumentar, porque o homem estar� ansioso por melhorar a
<br>uni�o, que valorizar� pelo modo em que contribuiu para a sua compreens�o
<br>da vida.
<br>
<br>Possivelmente as mem�rias de viagens do parceiro despertar�o
<br>na mulher uma sede de viajar. De certo modo, ele pode ser capaz de
<br>ampliar-lhe os horizontes e mostrar-lhe como aumentar o seu conhecimento
<br>pessoal de pa�ses estrangeiros. �s vezes este elo ocorre
<br>entre hor�scopos de companheiros de viagens que, trocando id�ias,
<br>podem tornar uma viagem banal mais interessante.
<br>
<br>Quando a Lua de um dos pais est� nesta posi��o no hor�scopo do
<br>filho, � poss�vel que desde cedo a crian�a seja encorajada a ser inde
<br>
<br>
<br>
<br>pendente. Geralmente o interesse por viagens � estimulado na cren�a
<br>de que esse � o melhor modo de completar a sua educa��o.
<br>Se a Lua estiver muito aflita, um pode odiar a filosofia de vida ou
<br>cria��o do outro.
<br>
<br>O objetivo desta posi��o � tornar a pessoa cuja 9a casa est� envolvida
<br>mais sens�vel � atitude da outra perante a vida e compreender
<br>os sentimentos e associa��es que a levam a adotar tal ponto de vista.
<br>
<br>Lua na 10� Casa
<br>
<br>Quando a Lua do homem cai na 10� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o com o
<br>Meio do C�u desse hor�scopo, ele compreender�, instintivamente,
<br>
<br>o que ela deseja da vida, compartilhar� de seus objetivos e desejar�
<br>que seja bem-sucedida. Devido a essa vis�vel f� em seu talento, ela
<br>pode ser incentivada a empenhar-se apenas o pouquinho a mais que
<br>significa a diferen�a entre sucesso e fracasso. Ele saber� como sustentar
<br>as suas ambi��es e ser� capaz de fazer sugest�es que ajudar�o a
<br>revelar alguns de seus talentos latentes. As sugest�es do companheiro
<br>tamb�m poder�o abrir-lhe oportunidades de carreira. Ele pode at�
<br>mesmo achar que � seu dever adotar uma atitude um pouco paternalista
<br>em rela��o a ela empurrando-a delicadamente em dire��o a
<br>um certo objetivo e preocupando-se particularmente em proteger sua
<br>reputa��o de qualquer tipo de ataque.
<br>Se a Lua estiver muito aflita, a crescente avers�o da mulher pelo
<br>parceiro pode faz�-lo difam�-la, ou ela pode achar que tem um pouco
<br>de responsabilidade sobre ele, terminando por colocar em ordem as
<br>coisas do parceiro e, �s vezes, responsabilizar-se por problemas dele.
<br>
<br>Pode haver um elo dom�stico entre os parceiros, e quando a Lua
<br>est� bem aspectada, este � um elo freq�entemente encontrado nos
<br>hor�scopos de marido e mulher.
<br>
<br>O objetivo desta posi��o � tornar a pessoa cuja 10a casa est�
<br>envolvida mais sens�vel ao fato de que a reputa��o de uma pessoa
<br>depende muito da boa vontade e apoio dos outros, e de que qualquer
<br>mancha em sua pr�pria reputa��o pode refletir-se nas reputa��es dos
<br>que a cercam.
<br>
<br>Lua na 11� Casa
<br>
<br>Quando a Lua do homem cai na 11� casa do hor�scopo de sua
<br>
<br>
<br>parceira, ele pode descobrir que se sente naturalmente atra�do por
<br>ela. Ser� capaz de gostar dos ideais que ela acalentar e provavelmente
<br>se preocupar� com o seu bem-estar. Eles podem se conhecer atrav�s
<br>de um grupo formado com o objetivo de perseguir algum ideal
<br>comum.
<br>
<br>Normalmente � um indicador de um verdadeiro la�o de amizade.
<br>O objetivo deste elo � tornar a pessoa cuja 1 \-casa est� envolvida
<br>mais consciente da import�ncia de uma uni�o de for�as com aqueles
<br>que compartilham de seus ideiais, e de estar pronto para aceitar a
<br>amizade quando ela � oferecida.
<br>
<br>Lua na 12� Casa
<br>
<br>Quando a Lua do homem cai na 12a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode ser capaz de saber instintivamente os seus problemas
<br>e pontos fracos. Provavelmente adotar� uma atitude particularmente
<br>caridosa em rela��o � parceira, e ansiar� por proteg�la
<br>se sentir que est� numa situa��o em que seus pontos vulner�veis
<br>provavelmente ser�o expostos a ataque. As vezes sua preocupa��o �
<br>constrangedora, e ele tende a preocupar-se excessivamente com os
<br>problemas ou estado de sa�de de sua companheira. Se a Lua estiver
<br>aflita, � poss�vel que n�o d� o devido desconto para as suas fraquezas,
<br>se ofenda sem motivo e at� mesmo fale mal dela nas suas costas.
<br>
<br>Se a maioria dos aspectos na Lua for favor�vel, provavelmente
<br>ele estar� predisposto para ela. � bem poss�vel que se ofere�a para
<br>ser o seu confidente, mas ela deveria saber exatamente o que significa
<br>para o parceiro, porque ele pode tender a preocupar-se demais
<br>com o seu bem-estar e dar-se ao trabalho de tomar alguma atitude
<br>em benef�cio dela quando teria sido bem melhor n�o se meter no
<br>assunto.
<br>
<br>O objetivo deste elo � fazer a pessoa cuja 12� casa est� envolvida
<br>saber melhor a quem confiar a sua felicidade.
<br>
<br>MERC�RIO NAS CASAS
<br>
<br>O Merc�rio de uma pessoa caindo no hor�scopo de outra estimula
<br>o seu poder de comunicar-se, p�e em relevo as suas id�ias ou a
<br>coloca em contato com novos conceitos e novas fontes de infor
<br>
<br>
<br>
<br>ma��o. Merc�rio o coloca numa posi��o em que espera-se que ele
<br>tenha uma rea��o mental, se preciso adaptando suas id�ias. As vezes
<br>prop�e problemas que testam o grau de compreens�o que � capaz de
<br>trazer para estes problemas. Muitas coisas depender�o do signo em
<br>que Merc�rio est� no nascimento e dos aspectos que recebe, porque
<br>Merc�rio tende a ser muito influenciado por estes fatores.
<br>
<br>Merc�rio na 1� Casa
<br>
<br>Quando o Merc�rio de um homem cai na 1a casa do hor�scopo de
<br>sua parceira, ou mais particularmente quando est� em conjun��o com
<br>
<br>o seu Ascendente, a parceira pode apreciar o seu modo de pensar, e
<br>ele ser� capaz de obter um est�mulo mental trocando id�ias com ela.
<br>Se Merc�rio estiver muito aflito ou em aspecto adverso com o grau
<br>ascendente de outro setor do hor�scopo, � poss�vel que haja uma incompatibilidade
<br>mental b�sica entre os dois, apesar de normalmente
<br>poder haver comunica��o.
<br>Ele pode ser o motivo da parceira ter de viajar mais do que de
<br>costume, ou tender a torn�-la mais irrequieta do que o normal. Este
<br>pode ser um elo muito �til quando o casal tem interesses e atividades
<br>intelectuais em comum, caso contr�rio o homem pode tender a fazer
<br>a parceira perder muito tempo discutindo assuntos que n�o t�m uma
<br>real import�ncia.
<br>
<br>Merc�rio na 2� Casa
<br>
<br>Quando o Merc�rio de um homem cai na 2� casa do hor�scopo de
<br>sua parceira, ele pode ter um talento especial para detectar qualquer
<br>falha no seu modo de lidar com suas finan�as, e ser capaz de dar-lhe
<br>algumas sugest�es �teis sobre como melhor�-las, ao mesmo tempo
<br>mostrando-lhe como fazer uma avalia��o mais realista de sua pr�pria
<br>capacidade de ganhar dinheiro. Se Merc�rio estiver muito aflito no
<br>nascimento, ou existirem muitos aspectos cruzados adversos em
<br>Merc�rio, qualquer conselho que ele der � sua companheira pode se
<br>revelar infundado, e provavelmente qualquer transa��o financeira
<br>com ele trar� preju�zos para ela.
<br>
<br>Merc�rio na 3� Casa
<br>Quando o Merc�rio de um homem cai na 3� casa do hor�scopo de
<br>sua parceira, ele deveria ser capaz de comunicar-se livremente com
<br>
<br>
<br>ela e fornecer-lhe uma fonte de est�mulo mental que pode lev�-la a
<br>assimilar melhor as id�ias, a n�o ser que os aspectos cruzados do
<br>hor�scopo dela cm seu Merc�rio sejam desfavor�veis. Nesses casos,
<br>as id�ias deles podem entrar em choque, gerando discuss�es e
<br>desentendimentos.
<br>
<br>Esta posi��o favorece um relacionamento tranq�ilo numa base
<br>"cordial". A pessoa cujo Merc�rio est� envolvido pode ser o meio
<br>de trazer not�cias ou informa��o para o parceiro, ou agir como intermedi�rio,
<br>ligando-o a colegas. Qualquer uni�o que surja deste reposicionamento
<br>de Merc�rio no hor�scopo de outra pessoa pode
<br>ocorrer atrav�s de atividades educacionais de v�rios tipos.
<br>
<br>Merc�rio na 4� Casa
<br>
<br>Quando o Merc�rio do homem cai na 4a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando est� em conjun��o com a
<br>
<br>4a
<br>
<br> c�spide, ele pode incentiv�-la a viajar ou tornar-se mais vers�til.
<br>De certo modo ele pode influenci�-la em seu ambiente dom�stico,
<br>colocando id�ias em sua mente que ela instintivamente relacionar�
<br>com a sua pr�pria situa��o. Apesar de �s vezes haver uma certa indefini��o
<br>na atitude de Merc�rio, o fato de ele nunca estar muito distante
<br>do Sol e V�nus pode resultar em estes corpos tamb�m estarem
<br>na 4a casa do parceiro, tomando os seus efeitos mais passageiros
<br>menos evidentes.
<br>
<br>Merc�rio na 5� Casa
<br>
<br>Quando o Merc�rio do homem est� na 5a casa do hor�scopo de
<br>sua parceira, ele pode ser capaz de fornecer-lhe id�ias que estimulam
<br>a sua imagina��o criativa. � poss�vel que eles tenham se conhecido
<br>atrav�s de um passatempo cm comum ou atividades ligadas a
<br>crian�as ou educa��o. Se Merc�rio estiver muito aflito no nascimento
<br>ou existirem muitos aspectos cruzados dif�ceis, ele pode adotar uma
<br>atitude excessivamente cr�tica cm rela��o aos esfor�os criativos de
<br>sua companheira, ou suas id�ias podem atrapalhar mais do que ajudar
<br>a efetiva realiza��o de projetos criativos dela.
<br>
<br>Merc�rio na 6� Casa
<br>
<br>Quando o Merc�rio do homem est� na 6a casa do hor�scopo de
<br>sua parceira, ele � capaz de proporcionar-lhe um know-how valioso
<br>
<br>
<br>sobre o melhor modo de levar a bom termo suas iniciativas. Pode
<br>fazer sugest�es sobre a dieta dela e o melhor modo de manter a boa
<br>forma f�sica, ajudando-a com conselhos �teis em per�odos em que
<br>ela sente os efeitos do estresse. Se os aspectos cruzados em Merc�rio
<br>forem desfavor�veis, o conselho dele pode se revelar perturbador.
<br>Qualquer melhoramento t�cnico que ele sugira pode apenas resultar
<br>no aparecimento de novos obst�culos.
<br>
<br>Quando o Merc�rio de um empregado cai na 6� casa do hor�scopo
<br>de seu patr�o, isto n�o promete um relacionamento duradouro, a
<br>menos que o Sol do empregado tamb�m caia na 6� casa.
<br>
<br>Merc�rio na 7� Casa
<br>
<br>Quando o Merc�rio do homem cai na 7� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o com o seu
<br>Descendente, ele pode ser capaz de dar-lhe id�ias que complementam
<br>as dela. Em discuss�es pode apresentar uma opini�o oposta �
<br>da parceira dando-lhe a oportunidade de comparar os dois pontos
<br>de vista e julgar os m�ritos de ambos. Possivelmente ele a ajudar� a
<br>aumentar o seu c�rculo de amizades, de modo a n�o apenas ele, mas
<br>tamb�m os outros, poderem propagar suas id�ias. Ele gostar� de
<br>estudar as id�ias da companheira � luz de seus pr�prios pontos de
<br>vista diferentes. Seu desejo de colaborar com o n�vel mental da
<br>parceira assegura que a discuss�o e o debate com ele trar�o resultados
<br>positivos, desde que o seu Merc�rio n�o receba muitos aspectos
<br>cruzados discordantes do hor�scopo de sua companheira. Nesses
<br>casos, fatores emocionais ou de outros tipos podem intervir provocando
<br>preconceitos ou outros fatores deturpadores capazes de evitar
<br>que as discuss�es sejam conduzidas com o grau adequado de objetividade.
<br>
<br>
<br>A7� casa � uma boa posi��o para o nativo ter o Merc�rio de seu
<br>advogado reposicionado, e tamb�m para o Merc�rio de qualquer
<br>pessoa que aja como seu intermedi�rio, desde que a maioria dos
<br>aspectos seja favor�vel.
<br>
<br>Merc�rio na 8� Casa
<br>
<br>Quando o Merc�rio do homem cai na 8a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode estar numa posi��o que lhe possibilita compreender
<br>melhor do que a maioria das pessoas as motiva��es inconscien
<br>
<br>
<br>
<br>tes dela. Conseq�entemente, ser� capaz de fazer sugest�es valiosas
<br>sobre como ela poderia efetuar uma certa mudan�a em si mesma. Se
<br>ele apreciar seu sentido de valores interiores, este pode ser um contato
<br>muito gratificante, mas nem sempre � uma situa��o das mais
<br>agrad�veis ter esta �rea subliminar invadida por outra pessoa. Esta
<br>pode ser uma posi��o bastante cr�tica para Merc�rio. Se ele estiver
<br>muito aflito no nascimento e os aspectos cruzados forem desfavor�veis,
<br>pode consciente ou inconscientemente usar este conhecimento
<br>das motiva��es interiores da parceira em proveito pr�prio.
<br>
<br>Quando a maior parte dos aspectos em Merc�rio � desfavor�vel,
<br>seria imprudente a mulher participar de qualquer transa��o financeira
<br>com ele.
<br>
<br>Merc�rio na 9� Casa
<br>
<br>Quando o Merc�rio do homem cai na 9� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, � poss�vel que eles tenham se conhecido durante uma
<br>viagem, e ele pode ser capaz de faz�-la prestar aten��o a �reas at�
<br>ent�o inexploradas. Talvez os dois fa�am a mesma viagem a intervalos
<br>curtos, tendo assim conversado, descobrindo um interesse
<br>m�tuo nos detalhes mais superficiais da vida di�ria. �s vezes, �
<br>poss�vel uma comunica��o num n�vel mais profundo, principalmente
<br>se existirem aspectos favor�veis em Merc�rio. Neste caso, pode
<br>ocorrer um encontro de mentes, resultando numa ben�fica troca de
<br>id�ias e discuss�es sobre os aspectos mais filos�ficos da vida. Se
<br>Merc�rio estiver muito aflito no nascimento e existirem aspectos
<br>cruzados desfavor�veis, � poss�vel que haja pouca harmonia entre o
<br>casal, e as discuss�es podem gerar brigas in�teis ou especula��es
<br>que n�o levam a nada.
<br>
<br>�s vezes este elo ocorre entre hor�scopos de amigos distantes,
<br>que freq�entemente mant�m contato um com o outro atrav�s de
<br>cartas.
<br>
<br>Merc�rio na 10� Casa
<br>
<br>Quando o Merc�rio do homem cai na 10� casa do hor�scopo de
<br>sua parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o com
<br>
<br>o Meio do C�u dela, ele ser� capaz de entender por que as ambi��es
<br>da mulher a levam numa determinada dire��o, e o que est� tentando
<br>alcan�ar. Ele pode fazer Sugest�es que a ajudar�o em sua carreira,
<br>
<br>talvez chamando sua aten��o para detalhes que talvez n�o tenha
<br>percebido. Ele ficar� feliz em divulgar as conquistas da parceira para
<br>os outros, e talvez a coloque em contato com pessoas que podem
<br>ajud�-la. Se Merc�rio estiver muito aflito no nascimento e existirem
<br>aspectos cruzados adversos, ele pode criticar os objetivos de sua
<br>companheira e at� mesmo espalhar fofocas in�teis que prejudicar�o
<br>a sua reputa��o.
<br>
<br>Merc�rio na 11� Casa
<br>
<br>Quando o Merc�rio do homem cai na 11� casa do hor�scopo de
<br>sua parceira, ela pode sentir-se atra�da � primeira vista por ele devido
<br>� sua conversa agrad�vel e � qualidade de seu intelecto. Ele pode
<br>ser capaz de compreender os ideais que ela acalenta e coloc�-la em
<br>contato com as pessoas que t�m ideais parecidos. � poss�vel que
<br>tamb�m seja capaz de ajud�-la a fazer uma avalia��o mais realista
<br>do melhor modo de realizar os seus desejos.
<br>
<br>Se Merc�rio estiver muito aflito no nascimento e receber muitos
<br>aspectos cruzados desfavor�veis do hor�scopo da parceira, � poss�vel
<br>que haja uma incompatibilidade b�sica entre o casal, ou as sugest�es
<br>do homem podem atrapalhar mais do que ajudar. Em alguns casos
<br>ele deturpa as id�ias de sua companheira ao revel�-las a outras pessoas
<br>de seu c�rculo de amizades, criando algumas dificuldades para
<br>ela.
<br>
<br>Merc�rio na 12� Casa
<br>
<br>Quando o Merc�rio do homem cai na 12� casa do hor�scopo de
<br>sua parceira, ele pode sentir um interesse especial pelo modo de ela
<br>se adaptar � vida como um todo. Ele pode conhecer particularmente
<br>os seus pontos vulner�veis e estar numa posi��o que lhe permite
<br>apontar qualquer contradi��o no comportamento dela. Toda cr�tica
<br>que fizer poder� ajud�-la a evitar situa��es problem�ticas. Se Merc�rio
<br>estiver bem aspectado no nascimento e os aspectos cruzados
<br>forem favor�veis, ele pode ser capaz de dar-lhe �timos conselhos.
<br>Se os aspectos com Merc�rio forem menos favor�veis, ainda poder�
<br>dar-lhe bons conselhos, mas � poss�vel que ela tenda a ofender-se
<br>com eles ou ache particularmente dif�cil coloc�-los em pr�tica.
<br>
<br>Em alguns casos, quando Merc�rio est� envolvido com muitos
<br>
<br>aspectos adversos, ele pode causar aborrecimentos � parceira, fa
<br>
<br>
<br>
<br>lando mal dela pelas suas costas e conduzindo o di�logo de modo a
<br>provoc�-la e tirar vantagem de suas fraquezas. Esteja ou n�o favoravelmente
<br>disposto para ela, sua capacidade de descobrir as fraquezas
<br>de sua companheira pode ajud�-la a conhecer melhor as �reas que
<br>precisam de aten��o ou mudan�as extras.
<br>
<br>V�NUS NAS CASAS
<br>
<br>V�nus representa a capacidade do nativo de descobrir �reas de
<br>harmonia entre ele pr�prio e as outras pessoas, onde um relacionamento
<br>feliz pode ser favorecido e ter oportunidade de se desenvolver.
<br>V�nus o ajuda a estabelecer uni�es agrad�veis tendo
<br>estima pelas pessoas e exercendo fasc�nio sobre elas, ao mesmo
<br>tempo que indica as qualidades nos outros que lhe agradar�o por
<br>estarem mais de acordo com o seu sentido de valores. Quando V�nus
<br>est� debilitada ou muito aflita, ele pode ser tentado a usar qualquer
<br>encanto pessoal ou atra��o f�sica que possuir para manipular e oferecer
<br>est�mulos atraentes em benef�cio pr�prio, de acordo com as
<br>condi��es do relacionamento. V�nus tem um papel muito importante
<br>em todos os relacionamentos rom�nticos, n�o apenas no plano f�sico,
<br>mas tamb�m no estabelecimento de harmonia em todos n�veis.
<br>
<br>V�nus na 1� Casa
<br>
<br>Quando a V�nus do homem cai na 1� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o com o seu
<br>Ascendente, este � um excelente progn�stico para o relacionamento
<br>pessoal deles, e um contato "cl�ssico" entre hor�scopos de c�njuges.
<br>A mulher ser� particularmente sens�vel ao charme do parceiro,
<br>enquanto sua personalidade pode tocar uma corda harmoniosa na
<br>psique dele. Ela dever� sentir-se muito � vontade com seu companheiro,
<br>porque provavelmente ele a incentivar� a ser ela mesma.
<br>
<br>Se V�nus estiver mui to aflita no nascimento e os aspectos cruzados
<br>
<br>forem desfavor�veis, muitas das esperan�as desta posi��o podem
<br>
<br>ser diminu�das. Devido � possessividade excessiva do parceiro, a
<br>
<br>mulher pode provocar o seu ci�me ou inveja. Mesmo assim, um elo
<br>
<br>de afei��o ainda pode existir; apesar de ocasionalmente ser quebrado
<br>
<br>por brigas e perturba��es emocionais.
<br>
<br>
<br>V�nus na 2� Casa
<br>
<br>Quando a V�nus do homem cai na 2a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode ter um efeito particularmente ben�fico sobre ela,
<br>n�o apenas em rela��o a coisas materiais mas tamb�m emocional e
<br>espiritualmente, porque a 2a casa se relaciona a posses em todos os
<br>n�veis da exist�ncia, e a todos os atributos que ajudam a dar uma
<br>sensa��o de estabilidade. O sentido de valores do homem o tornar�
<br>particularmente sens�vel �s boas qualidades da parceira, propor-
<br>cionando-lhe uma sensa��o de bem-estar. Freq�entemente ele n�o
<br>poupar� esfor�os para ajud�-la.
<br>
<br>Geralmente este elo indica um �timo entendimento entre pessoas
<br>de sexos opostos, a menos que V�nus esteja muito aflita no nascimento
<br>e os aspectos cruzados sejam particularmente desarmoniosos.
<br>Em todos os tipos de relacionamento, o parceiro cuja V�nus aflita
<br>est� envolvida, pode ser uma fonte de distra��o para o outro, levando-
<br>
<br>o a desprezar boas oportunidades e a tornar-se descuidado em rela��o
<br>a assuntos financeiros.
<br>V�nus na 3� Casa
<br>
<br>Quando a V�nus do homem cai na 3� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, isto promover� um bom grau de afinidade mental e compreens�o
<br>m�tua. Geralmente t�m conversas animadas, porque o
<br>homem provavelmente incentivar� a parceira a revelar os seus
<br>pensamentos, e a sua receptividade em rela��o ao que ela tem a dizer
<br>a estimular� a expressar suas id�ias da forma mais agrad�vel de que
<br>for capaz. Ele pode ser capaz de expor o seu ponto de vista para ela
<br>de modo muito convincente. A harmonia entre os dois pode diminuir
<br>se V�nus estiver aflita no nascimento e os aspectos cruzados do
<br>hor�scopo da parceira forem desarmoniosos.
<br>
<br>Quando V�nus est� fortalecida num hor�scopo e os aspectos
<br>cruzados s�o favor�veis, este � um bom elo num relacionamento entre
<br>professor e aluno, quando � a V�nus do professor que est� envolvida.
<br>
<br>V�nus na 4� Casa
<br>
<br>Quando a V�nus do homem cai na 4a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando est� em conjun��o com o
<br>Meridiano Inferior, ela pode gostar instintivamente dele e sentir-se
<br>muito � vontade em sua presen�a. Ele pode ajudar a embelezar a casa
<br>
<br>
<br>da companheira ou proporcionar-lhe a oportunidade de melhorar de
<br>outros modos o seu ambiente, ou ajud�-la a adquirir bens.
<br>
<br>Ele pode ser tentado a adotar uma atitude paternalista em rela��o
<br>� mulher, com resultados muito satisfat�rios, a n�o ser que os aspectos
<br>cruzados com V�nus sejam particularmente adversos.
<br>
<br>� poss�vel que, por t�-lo em alta estima, ela tenda a imitar os seus
<br>h�bitos e rea��es instintivas. Apesar disso, se V�nus estiver debilitada
<br>ou muito aflita no nascimento e os aspectos cruzados n�o ajudarem
<br>, ela pode ser tentada a adotar a pol�tica da m�nima resist�ncia
<br>em suas rela��es com ele.
<br>
<br>V�nus na 5� Casa
<br>
<br>Quando a V�nus do homem cai na 5� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, � poss�vel que ele seja uma fonte de grande satisfa��o para
<br>ela, que possivelmente gostar� de estar sempre em sua companhia.
<br>Ele tender� a valorizar muito os esfor�os criativos da parceira, e a
<br>incentivar� a realiz�-los de uma forma extremamente simp�tica e
<br>comovente. Quando ocorre entre hor�scopos de pessoas de sexos
<br>opostos de uma idade adequada, freq�entemente este elo � um indicador
<br>de uma associa��o rom�ntica. A uni�o pode ser duradoura ou
<br>n�o; depende muito da condi��o natal de V�nus e dos aspectos
<br>cruzados com ela.
<br>
<br>�s vezes este contato � encontrado no hor�scopo de um dos pais
<br>quando a V�nus de um amigo cai na 5a casa dele, e este amigo possui
<br>um talento especial para ajud�-lo a lidar com as crian�as e fazer-se
<br>estimado por elas.
<br>
<br>V�nus na 6� Casa
<br>
<br>Quando a V�nus do homem cai na 6� casa do hor�scopo de sua
<br>
<br>parceira, provavelmente ele ter� muito prazer em prestar-lhe v�rios
<br>
<br>favores e em mostrar a ela como realizar com mais facilidade os ser
<br>
<br>
<br>vi�os dom�sticos. Pode haver um elemento de reciprocidade nesta
<br>
<br>uni�o, com o homem ao mesmo tempo precisando da aten��o e do
<br>
<br>apoio dela.
<br>
<br>Num relacionamento entre patr�o e empregado, a V�nus do pa
<br>
<br>
<br>tr�o na 6a casa de seu empregado (a menos que V�nus esteja muito
<br>
<br>aflita) geralmente indica que ele se preocupar� em saber se as con
<br>
<br>
<br>di��es de trabalho s�o adequadas. Se a posi��o for invertida, a V�nus
<br>
<br>210
<br>
<br>
<br>do empregado na sexta casa do patr�o tornar� o patr�o muito indulgente
<br>para com ele, em detrimento pr�prio.
<br>
<br>� uma boa posi��o de casa para um relacionamento entre m�dico
<br>e paciente ou enfermeira e paciente, quando � a 6� casa do paciente
<br>que est� envolvida.
<br>
<br>V�nus na 7� Casa
<br>
<br>Quando a V�nus do homem cai na 7� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando est� em conjun��o com o
<br>seu Descendente, � poss�vel uma grande ajuda m�tua, porque V�nus
<br>� o regente natural da 7a casa. Geralmente esse elo � encontrado entre
<br>os hor�scopos de c�njuges, mas se isso reproduzir a posi��o natal
<br>dos dois parceiros, eles podem tender a deixar um para o outro a
<br>incumb�ncia de estabelecer a harmonia. Como resultado, o relacionamento
<br>pode ser prejudicado.
<br>
<br>Antes de comprometer-se, o homem pode dar-se ao trabalho de
<br>avaliar a capacidade da parceira de estabelecer um relacionamento
<br>feliz. Uma vez que esteja certo de que ela pode fazer isso, este elo
<br>promete um relacionamento particularmente harmonioso, desde que
<br>V�nus n�o esteja muito aflita no nascimento e os aspectos cruzados
<br>sejam em sua maioria favor�veis.
<br>
<br>V�nus na 8� Casa
<br>
<br>A V�nus do homem na 8� casa do hor�scopo de sua parceira pode
<br>ser uma posi��o um pouco delicada, e muitas coisas depender�o dos
<br>aspectos cruzados com V�nus. Provavelmente os sentimentos da
<br>parceira em rela��o a ele ser�o muito profundos. Talvez nem sempre
<br>ela saiba ao certo os verdadeiros motivos de suas rea��es emocionais,
<br>sejam favor�veis ou desfavor�veis.
<br>
<br>Num relacionamento entre homem e mulher este elo pode indicar
<br>muita atra��o f�sica. O parceiro cuja V�nus est� na 8� casa do
<br>outro pode parecer possuir um encanto inexplic�vel. Ao ceder a este
<br>fasc�nio o outro pode aprender muito sobre si mesmo. Quando existe
<br>este interc�mbio entre um casal apaixonado, � prudente verificar
<br>se h� outras indica��es de afinidade de uma natureza mais permanente,
<br>caso contr�rio muito do interesse pode ser baseado numa
<br>atra��o f�sica, o que n�o � uma grande garantia para um casamento
<br>feliz.
<br>
<br>
<br>V�nus na 9� Casa
<br>
<br>Quando a V�nus do homem cai na 9a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode ser capaz, atrav�s de seu exemplo, de influenciar
<br>todo o modo de ela encarar a vida. Sua evidente boa vontade pode
<br>produzir rea��es na companheira que aumentar�o o seu interesse em
<br>compreender melhor as id�ias que motivam o seu estilo de vida.
<br>
<br>Ele pode influenci�-la a viajar, sendo capaz de fornecer-lhe
<br>transporte ou mostrando-lhe como viajar com mais tranq�ilidade
<br>ou conforto.
<br>
<br>Este elo promete solidariedade e facilita uma atmosfera de boa-
<br>vontade (a n�o ser que V�nus esteja muito aflita). O resultado � a
<br>mulher ficar fascinada pela filosofia do parceiro e muito sujeita a
<br>ser persuadida nesse sentido. � um elo muito �til entre os hor�scopos
<br>de professor e aluno, quando � a 9� casa do aluno que est� envolvida.
<br>
<br>
<br>V�nus na 10� Casa
<br>
<br>Quando a V�nus do homem cai na 10a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o com o seu
<br>Meio do C�u, ele pode ser capaz de ajud�-la muito em sua carreira.
<br>Ele lhe dar� um incentivo valioso quando ela procurar realizar os
<br>seus objetivos porque sabe dar valor ao que est� tentando alcan�ar.
<br>A parceira ser� sempre capaz de confirmar a excelente opini�o que
<br>ele tem dela, a menos que V�nus esteja muito aflita no nascimento
<br>ou existam aspectos cruzados dif�ceis. Mesmo assim, isto pode apenas
<br>significar uma tenta��o por parte da mulher de aproveitar-se demais
<br>do apoio generoso dele. Ela achar� que qualquer demonstra��o
<br>de lealdade de sua parte quase sempre ser� amplamente retribu�da.
<br>
<br>Se aposi��o for invertida, a V�nus da mulher da 10� casa de seu
<br>companheiro pode torn�-la um objeto de adora��o, com um desejo
<br>por parte do homem de coloc�-la num pedestal.
<br>
<br>V�nus na 11� Casa
<br>
<br>Quando o V�nus do homem cai na 11� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, isto pode contribuir para uma uni�o muito feliz. Freq�entemente
<br>este elo � encontrado entre hor�scopos de c�njuges. O
<br>marido apreciar� particularmente os ideais da mulher, e pode ser
<br>capaz de ajud�-la a realizar alguns dos seus sonhos. Este elo pode
<br>
<br>
<br>indicar a possibilidade de construir uma amizade baseada nos motivos
<br>mais elevados.
<br>
<br>Se V�nus estiver muito aflita no nascimento e os aspectos cruzados
<br>forem desarmoniosos, o homem pode ser tentado a procurar a amizade
<br>por motivos inconfessados, ou a mulher aproveitar-se excessivamente
<br>da amizade dele.
<br>
<br>V�nus na 12� Casa
<br>
<br>Quando o V�nus do homem cai na 12a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, na qual se sente naturalmente � vontade, ele pode ter um
<br>talento especial para ajud�-la a adaptar-se a situa��es dif�ceis, e ser
<br>capaz de sugerir-lhe solu��es quando ela enfrenta problemas complexos.
<br>� prov�vel que tenha um interesse especial em facilitar ao
<br>m�ximo a sua vida e nem sempre diga exatamente o que est� pensando,
<br>temendo aborrec�-la. Pode ser um companheiro bondoso e
<br>consol�-la nos momentos de sofrimento, capaz de coloc�-la em
<br>contato com aqueles que podem proporcionar-lhe conforto material
<br>e espiritual. � poss�vel que ele sirva de meio para ela come�ar um
<br>estudo das ci�ncias ocultas ou assuntos m�sticos.
<br>
<br>Se V�nus estiver muito aflita no nascimento e os aspectos cruzados
<br>forem discordantes, a influ�ncia do homem pode ter um efeito sedutor
<br>sobre a companheira, fazendo-a � consciente ou inconscientemente
<br>-� esquecer os seus objetivos, talvez explorando a sensibilidade
<br>dela e aproveitando-se de sua bondade para atingir os
<br>pr�prios objetivos.
<br>
<br>Num relacionamento entre um paciente e seu m�dico ou enfermeira,
<br>este pode serum elo ben�fico quando � a 12a casa do paciente
<br>que est� envolvida.
<br>
<br>MARTE NAS CASAS
<br>
<br>Onde quer que o Marte do nativo caia no hor�scopo de outra
<br>pessoa, ele servir� para incentiv�-la e provocar-lhe uma rea��o
<br>energ�tica exigindo que concentre os seus recursos na a��o. Por isso,
<br>quase sempre tornar� a vida dela movimentada na �rea regida pela
<br>casa em que Marte est� redomiciliado. Quando os aspectos cruzados
<br>com Marte s�o favor�veis, ele pode ser um grande apoio, mas se
<br>
<br>
<br>houver uma maioria de aspectos discordantes, � poss�vel que seja
<br>um rival. Em alguns casos, ele pode ser uma fonte de oposi��o destrutiva,
<br>cujo antagonismo � indisfar�ado.
<br>
<br>Marte na 1� Casa
<br>
<br>Quando o Marte do homem cai na 1� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o com o seu
<br>Ascendente, ele ser� capaz de mant�-la alerta, desafiando-a a
<br>esfor�ar-se ao m�ximo e armar-se de coragem numa emerg�ncia. �
<br>poss�vel que ele se revele um corajoso defensor da causa da parceira,
<br>mas esperar� que ela demonstre um certo grau de independ�ncia e
<br>auto-sufici�ncia. Quando os aspectos cruzados s�o harmoniosos, este
<br>elemento de desafio a ajudar� a aceitar a lideran�a dele, e a igualar o
<br>seu desempenho. As id�ias dele podem estimul�-la a responder com
<br>as suas pr�prias id�ias complementares, deste modo facilitando uma
<br>colabora��o efetiva. Isto pode ser muito eficaz num relacionamento
<br>de neg�cios, a n�o ser que Marte esteja muito aflito no nascimento e
<br>os aspectos cruzados sejam discordantes. Neste caso, existe uma
<br>probabilidade de brigas, devido � precipita��o e excessiva agressividade
<br>do homem ou de algum outro aspecto do comportamento
<br>dele que se torne motivo de irrita��o. As atividades dele podem exigir
<br>muito dela, ou suas tentativas de despertar uma rea��o mais forte na
<br>companheira tornarem-se irritantes, devido � sua constante insist�ncia,
<br>que o leva a estar sempre querendo resultados r�pidos.
<br>
<br>Entre pessoas do sexo oposto e com a idade aproximada, este elo
<br>pode indicar muita atra��o (tamb�m quando Marte est� em �ntimo
<br>aspecto com o grau ascendente de outros setores do hor�scopo).
<br>Freq�entemente observado entre hor�scopos de c�njuges.
<br>
<br>Marte na 2� Casa
<br>
<br>Quando o Marte do homem cai na 2� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele ser� capaz de incentiv�-la a ter mais iniciativa ao lidar
<br>com os seus bens. Entretanto, h� o risco de ele encoraj�-la a gastar
<br>mais do que os seus recursos permitem, ou tornar-se muito imprudente
<br>em seus neg�cios. Ele pode discordar da parceira quanto
<br>ao modo de ela lidar com os seus problemas financeiros, e esperar�
<br>que ela demonstre sua Independ�ncia financeira, ao mesmo tempo
<br>respeitando a dele.
<br>
<br>
<br>Se Marte estiver muito aflito no nascimento, e os aspectos
<br>cruzados forem desarmoniosos, ele pode invejar a estabilidade financeira
<br>de sua companheira.
<br>
<br>Entre pessoas de sexos opostos com aproximadamente a mesma
<br>idade, Marte neste setor pode fornecer um forte est�mulo sexual. Se
<br>isto trar� resultados ben�ficos, depender� muito dos aspectos
<br>cruzados.
<br>
<br>Marte na 3� Casa
<br>
<br>Quando o Marte do homem cai na 3a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele ser� capaz de fornecer-lhe um forte est�mulo mental.
<br>Ele desejar� conhecer e compreender os motivos por tr�s de seus atos,
<br>e consult�-la sobre problemas que exigem um racioc�nio claro para
<br>serem solucionados. Provavelmente ele discutir� os seus problemas
<br>franca e abertamente com a parceira, sem hesitar em discutir e debater
<br>o ponto de vista dela, �s vezes desafiando as suas opini�es para
<br>arrancar-lhe informa��es. Ele esperar� que a parceira tenha chegado
<br>a uma conclus�o sobre os assuntos sob discuss�o, e que n�o tenha
<br>sido influenciada pelos argumentos de outras pessoas ou apenas por
<br>mexericos.
<br>
<br>Se os aspectos cruzados com Marte forem discordantes, � poss�vel
<br>que ele inveje o talento de sua companheira. As discuss�es entre o
<br>casal precisam ser extremamente objetivas, porque qualquer grande
<br>desentendimento pode gerar amargura.
<br>
<br>Em alguns casos, o homem pode ser o motivo de a parceira ter de
<br>viajar constantemente. Quando este elo ocorre entre os hor�scopos
<br>de vizinhos, pode indicar dificuldades entre eles se os aspectos
<br>cruzados n�o forem particularmente harmoniosos.
<br>
<br>Marte na 4� Casa
<br>
<br>Quando o Marte do homem cai na 4a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o com o
<br>Meridiano Inferior, � prov�vel que ela sinta uma simpatia ou antipatia
<br>instintiva por ele, de acordo com os aspectos cruzados com Marte.
<br>Ele tender� a apreci�-la pelo que ela �. Seu comportamento pode
<br>desafi�-la a estudar com interesse suas rea��es instintivas a ele e algumas
<br>de suas atitudes costumeiras. Quando os aspectos cruzados s�o
<br>favor�veis, ela se sentir� mais segura com o companheiro por perto.
<br>
<br>
<br>Mas se Marte estiver aflito no nascimento e os aspectos cruzados
<br>com ele forem em sua maioria discordantes, ela tender� a encar�-lo
<br>como um perigo e uma fonte de destrui��o prejudicial ao estabelecimento
<br>de uma atmosfera dom�stica tranq�ila ao seu redor.
<br>
<br>Se este elo realmente existe entre duas pessoas que t�m de dividir
<br>
<br>o mesmo ambiente dom�stico, a que tem Marte envolvido alegrar�
<br>o lar e nada ser� mon�tono quando ela estiver por perto. Se os aspectos
<br>cruzados forem razoavelmente harmoniosos, embora sua
<br>presen�a seja �s vezes um pouco cansativa, sua aus�ncia pede trazer
<br>uma calmaria indesej�vel. Este tipo de elo pode ocorrer num relacionamento
<br>entre pais e filhos, onde o Marte de um dos pais neste
<br>setor do hor�scopo do filho pode indicar que ele exige muito da
<br>crian�a e espera que ela mostre sinais de independ�ncia e autoconfian�a
<br>bem cedo na vida.
<br>�s vezes a pessoa cujo Marte cai neste setor � uma fonte de trabalho
<br>dom�stico extra para a outra, fazendo exig�ncias que a mant�m
<br>ocupada e esgotam sua energia.
<br>
<br>Marte na 5� Casa
<br>Quando o Marte do homem cai na 5� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode fornecer-lhe um incentivo que a estimular� a ser
<br>mais criativa, e a demonstrar sua capacidade de tomar as r�deas de
<br>uma situa��o. Tal elo � excelente para um companheirismo, amenos
<br>que Marte esteja muito aflito, quando o casal pode se desentender a
<br>respeito de quem ir� tomar a iniciativa ou exercer a autoridade. Ele
<br>servir� de meio para testar a lealdade da parceira, e apreciar� muito
<br>que ela demonstre que esta qualidade � uma parte b�sica de seu
<br>car�ter.
<br>Entre sexos opostos e com a idade aproximada, este elo pode
<br>indicar uma liga��o envolvendo paix�es, mas por si s� ele n�o garante
<br>uma verdadeira afinidade.
<br>
<br>Marte na 6� Casa
<br>
<br>Quando o Marte do homem cai na 6a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode desafi�-la a demonstrar sua efici�ncia e conhecimento
<br>t�cnico, ao mesmo tempo estando pronto para utilizar os seus
<br>pr�prios talentos e conhecimentos se forem necess�rios. Ele pode
<br>
<br>
<br>ser de grande aux�lio quando c preciso realizar tarefas. Apesar disso
<br>
<br>� se Marte estiver aflito no nascimento ou os aspectos cruzados
<br>forem desfavor�veis � nem sempre aprovar� o seu modo de fazer
<br>as coisas, e ficar� impaciente se ela parece estar demorando demais
<br>para realizar um a tarefa. Essa atitude pode ser um a fonte de irrita��o
<br>m�tua. Se ele tender a tornar-se excessivamente cr�tico, � poss�vel
<br>que isto "abale os nervos" da parceira.
<br>A mulher descobrir� que seu companheiro n�o se constrange em
<br>mant�-la ocupada. Ele pode tender a falar longamente sobre o m�rito
<br>do trabalho em interesse pr�prio, e a esfor�ar-se pelo bem-estar dos
<br>outros. Num relacionamento entre empregado e patr�o, esta � uma
<br>boa posi��o para o Marte do empregado, apesar de poder indicar uma
<br>falta de iniciativa da parte dele.
<br>
<br>Marte na 7� Casa
<br>
<br>Quando o Marte do homem cai na 7� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o com o
<br>Descendente dela, provavelmente ele agir� de modo a testar a sua
<br>capacidade de coopera��o e de suportar as concess�es m�tuas do
<br>relacionamento. A mulher pode perceber que o parceiro � capaz de
<br>revelar confiantemente as qualidades que ela tende a acreditar que
<br>n�o tem, e deste modo achar que colaborando com ele conseguir�
<br>fortalecer a sua pr�pria posi��o. De sua parte, o parceiro provavelmente
<br>admitir� que algumas das qualidades dela complementam as
<br>suas. Este reconhecimento m�tuo pode formar a base de uma uni�o
<br>muito positiva, se os aspectos cruzados com Marte forem favor�veis.
<br>
<br>Em certas ocasi�es o relacionamento pode estar sujeito a alguns
<br>atritos, quando as caracter�sticas irritantes da personalidade do
<br>homem est�o mais evidentes. Ele pode esperar que a parceira se
<br>envolva em suas pr�prias disputas e brigas. � poss�vel que haja desentendimentos
<br>sem qualquer motivo aparente, mas as chances de
<br>haver essas quebras de harmonia no relacionamento podem ser
<br>diminu�das se a mulher tiver sempre o cuidado de respeitar a independ�ncia
<br>do homem, e ter a devida considera��o pelo que ele julga
<br>que s�o os seus direitos.
<br>
<br>Quando pessoas de sexos opostos e idade aproximada est�o en
<br>
<br>
<br>volvidas, pode ser que exista um certo grau de atra��o f�sica. Em
<br>
<br>alguns casos, mesmo quando Marte est� aflito, � poss�vel que haja
<br>
<br>
<br>casamento. Se os parceiros apreciarem uma boa briga, talvez n�o
<br>provoquem grandes danos. Mas se existirem fortes afli��es envolvendo
<br>Marte, o parceiro cuja 7a casa est� envolvida pode sofrer
<br>mental e talvez fisicamente devido � crueldade do outro.
<br>
<br>Marte na 8� Casa
<br>
<br>Quando o Marte do homem cai na 8a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode torn�-la desagradavelmente consciente de algumas
<br>de suas motiva��es inconscientes que normalmente operam sem que
<br>ela perceba. Para convencer-se das raz�es por tr�s dos atos da parceira,
<br>ele pode tentar pesquisar um pouco mais que a maioria das
<br>pessoas seus motivos inconscientes. Ela pode achar este tipo de
<br>investiga��o um processo bastante desagrad�vel, que n�o deseja estimular.
<br>O relacionamento talvez n�o progrida muito at� o homem
<br>estar mais seguro dos verdadeiros motivos por tr�s dos atos dela. No
<br>processo de traz�-los � tona, a mulher pode achar que o parceiro foi
<br>a causa de ela renunciar a algumas de suas id�ias preconcebidas. Ao
<br>tentar compreender as profundezas psicol�gicas da parceira, ele pode
<br>ocasionalmente fazer algum coment�rio comovente sobre o comportamento
<br>dela, ou ter uma atitude que toca uma corda sens�vel em
<br>seu inconsciente, finalmente levando-a a fazer mudan�as profundas
<br>que resultam em algum tipo de transforma��o.
<br>
<br>Se Marte estiver aflito no nascimento, o m�todo que o homem usa
<br>para conhec�-la melhor pode causar alguma indigna��o � parceira.
<br>Se existirem aspectos cruzados fortes com o Marte do hor�scopo
<br>dela, o relacionamento pode n�o progredir nada.
<br>
<br>Quando este elo ocorre entre hor�scopos de pessoas do sexo
<br>
<br>oposto e com a idade aproximada, pode indicar a presen�a de uma
<br>
<br>forte atra��o f�sica, apesar de n�o necessariamente ade um verdadeiro
<br>
<br>relacionamento de amor.
<br>
<br>Marte na 9� Casa
<br>
<br>Quando o Marte do homem cai na 9a casa do hor�scopo de sua
<br>
<br>parceira, ele pode ser capaz de estimular o racioc�nio dela e contes
<br>
<br>
<br>tar seu modo de encarar a vida, conscientizando-a sobre a necessi
<br>
<br>
<br>dade de clarear suas id�ias e tornar os seus argumentos mais con
<br>
<br>
<br>vincentes.
<br>
<br>Ele desejar� saber a opini�o dela sobre assuntos em que est� in
<br>
<br>
<br>
<br>teressado. Pode sondar as suas rea��es com o objetivo de clarear as
<br>pr�prias id�ias. Deste modo, at� mesmo quando pede o conselho de
<br>sua companheira, pode apenas desejar compar�-lo com o que j�
<br>decidiu fazer. Ele pode esperar que ela tenha opini�es claramente
<br>definidas sobre v�rios assuntos, e tentar us�-la como uma enciclop�dia.
<br>Este elo favorece um sincero interc�mbio de opini�es. Mas
<br>se Marte estiver muito aflito no nascimento e os aspectos cruzados
<br>forem discordantes, a filosofia de vida dela pode ser t�o diferente
<br>que uma verdadeira comunica��o se toma imposs�vel.
<br>
<br>Em alguns casos, a pessoa cujo Marte est� envolvido pode ser o
<br>meio de acelerar os preparativos para viagem do parceiro, ou fazer
<br>com que ele tenha de viajar mais do que de costume.
<br>
<br>Marte na 10� Casa
<br>
<br>Quando o Marte do homem cai na 10� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o com o seu
<br>Meio do C�u (onde Marte � naturalmente exaltado), ele a desafiar�
<br>a provar que merece a sua reputa��o, e com isso a ajudar� a atingir o
<br>seu mais alto n�vel de desempenho. Constantemente ele pode incentiv�-
<br>la a progredir, e esperar que ela se esforce muito para atingir
<br>seus objetivos. Ele lhe dar� um grande apoio se achar que a parceira
<br>far� um esfor�o rec�proco para alcan�ar o sucesso. De certo modo
<br>ele pode assumir um papel de pai em rela��o a ela, e congratular-se
<br>por sua perspic�cia ao distingui-la com o seu incentivo, se ela posteriormente
<br>melhorar a sua reputa��o. Este interesse pela carreira
<br>pode chegar ao ponto dele fazer sugest�es quanto � melhor profiss�o
<br>para ela seguir.
<br>
<br>Se Marte estiver muito aflito no nascimento, ou os aspectos
<br>cruzados forem dif�ceis, isto pode indicar uma certa rivalidade e at�
<br>mesmo antagonismo entre o casal, mas essa inimizade pode incentiv�-
<br>la a fazer maiores esfor�os. Ele pode tentar ganhar prest�gio �
<br>custa dela e, em casos extremos, tentar deliberadamente deteriorar
<br>a sua reputa��o.
<br>
<br>Um patr�o cujo Marte cai na 10a casa do hor�scopo de seu em
<br>
<br>
<br>pregado tender� a ser muito exigente em rela��o a ele. Por�m, a
<br>
<br>menos que os aspectos cruzados sejam discordantes, normalmente
<br>
<br>estar� preparado para recompens�-lo proporcionalmente ao seu pro
<br>
<br>
<br>gresso.
<br>
<br>
<br>Marte na 11� Casa
<br>
<br>Quando o Marte do homem cai na 11� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, � poss�vel que ele n�o poupe esfor�os para conquistar a sua
<br>amizade. Ele pode ser um meio de incentiv�-la a tomar medidas
<br>pr�ticas para que seus sonhos se tornem realidade. As aspira��es da
<br>parceira podem despertar-lhe o entusiasmo, o que por sua vez d� a
<br>ela uma maior esperan�a de realiz�-las.
<br>
<br>Se Marte estiver muito aflito no nascimento � poss�vel que, num
<br>gesto de amizade, a mulher despenda tempo e energia catalogando
<br>os problemas do companheiro, ou pode ficar muito preocupada com
<br>ele devido � sua sa�de fraca ou sua dif�cil situa��o econ�mica. Se os
<br>aspectos cruzados forem discordantes, esse contato pode n�o ser
<br>bom, com ele podendo ser o respons�vel pela frustra��o de uma das
<br>maiores aspira��es de sua companheira.
<br>
<br>Marte na 12� Casa
<br>
<br>Quando o Marte do homem cai na 12a casa do hor�scopo de
<br>sua parceira, o relacionamento pode ser muito dif�cil. A menos
<br>que os aspectos cruzados com Marte sejam em sua maior parte
<br>favor�veis, � poss�vel que ele n�o apenas descubra os pontos
<br>fracos de sua companheira, mas tire proveito disso. Ele pode saber
<br>exatamente como usar as fraquezas psicol�gicas dela para aborrec�la.
<br>
<br>
<br>Experi�ncias resultando deste tipo de contato podem lev�-la a
<br>fazer uma auto-an�lise mais verdadeira, e desafi�-la a ser completamente
<br>honesta consigo mesma, ao mesmo tempo cultivando
<br>um modo franco de lidar com os outros. Qualquer tentativa de encobrir
<br>as suas fraquezas pode faz�-la parecer insincera para o parceiro.
<br>Se Marte estiver bem aspectado no nascimento e os aspectos
<br>cruzados forem harmoniosos, ele pode ser capaz de ajud�-la a atuar
<br>pouco a pouco sobre os seus pontos fracos e fortalec�-los, protegendo-
<br>a contra ataque em suas �reas mais vulner�veis at� ela ser
<br>capaz de proteger-se melhor, agindo como seu defensor at� t�-la
<br>incentivado a desenvolver a auto-sufici�ncia necess�ria para ser
<br>independente.
<br>
<br>220
<br>
<br>
<br>J�PITER NAS CASAS
<br>
<br>J�piter no hor�scopo do nativo revela a sua capacidade de ajudar
<br>e apoiar os outros em todos os assuntos indicados pela casa em que
<br>cai no hor�scopo dessas pessoas. Ele revela a capacidade de o nativo
<br>ampliar-lhes os recursos, renovando-lhes a confian�a e fazendo-
<br>as encarar os seus problemas com maior �nimo, como resultado da
<br>pr�pria atitude benevolente do nativo. J�piter indica o desejo de ele
<br>dar conselhos �teis e construtivos baseados numa filosofia moldada
<br>por sua pr�pria experi�ncia. Se o contato for discordante, ele pode
<br>ser um meio de tornar a outra pessoa excessivamente otimista ou
<br>extravagante. Ele pode fazer promessas que n�o est� numa posi��o
<br>de cumprir (se J�piter estiver muito aflito no nascimento), ou agir
<br>de m� f�. Uma excessiva depend�ncia desse apoio pode tornar o outro
<br>descuidado, ou faz�-lo meter-se em empreendimentos insensatos,
<br>como resultado do mau conselho que lhe foi dado.
<br>
<br>J�piter na 1� Casa
<br>
<br>Quando o J�piter do homem cai na 1a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o com o seu
<br>Ascendente, a personalidade da mulher o encorajar� a ter um interesse
<br>benevolente nela, gerando uma amizade gratificante. Provavelmente
<br>ele lhe prestar� favores, e sua companhia sempre a colocar�
<br>de bom humor, fazendo-a sentir-se totalmente relaxada com ele.
<br>Freq�entemente eles descobrir�o que t�m aspira��es em comum e
<br>respeitam as qualidades um do outro. El a pode estar fazendo um favor
<br>ao parceiro fornecendo-lhe um escape para os seus instintos altru�stas.
<br>
<br>
<br>Normalmente o homem dar� o devido desconto para a parceira
<br>se ela n�o corresponder ao que a espera, mas ela deve tomar cuidado
<br>para n�o abusar demais da toler�ncia e boa vontade dele. Ele ficar�
<br>sempre feliz em aconselh�-la e ajud�-la, se estiver numa posi��o que
<br>lhe permita fazer isto. Se J�piter estiver muito aflito no nascimento
<br>e os aspectos cruzados forem discordantes, a mulher pode ser tentada
<br>a abusar demais da generosidade do parceiro ou tornar-se negligente,
<br>confiando nele para consertar qualquer erro que tenha
<br>cometido. Ele pode estimul�-la a ser mais extravagante do que os
<br>seus recursos permitem, ou a ser excessivamente indulgente de outros
<br>
<br>
<br>modos, ou seus conselhos podem desorient�-la ou serem mal interpretados
<br>por ela.
<br>
<br>J�piter na 2� Casa
<br>
<br>Quando o J�piter do homem cai na 2� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode estar numa posi��o que lhe permite oferecer-lhe
<br>ajuda material, ou conselhos que lhe possibilitem aumentar os seus
<br>recursos materiais. Ele pode servir de meio para ajud�-la a cultivar
<br>valores mais realistas. Caso ela precise de ajuda financeira, ele ficar�
<br>feliz em d�-la. De modo parecido, ela poderia emprestar-lhe dinheiro
<br>sem nenhum risco, a menos que o J�piter do parceiro esteja
<br>muito aflito no nascimento e os aspectos cruzados, discordantes. Em
<br>tais situa��es, o J�piter aflito do parceiro indica que ele provavelmente
<br>a encorajar� a gastar insensatamente, eos seus conselhos ser�o
<br>infundados.
<br>
<br>No hor�scopo de um cliente, esta � uma boa posi��o para o J�piter
<br>de seu corretor ou banqueiro, desde que ele esteja razoavelmente livre
<br>de afli��es.
<br>
<br>J�piter na 3� Casa
<br>
<br>Quando o J�piter do homem cai na 3a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ela pode descobrir que � muito agrad�vel conversar com
<br>ele. Como resultado, ele pode monopolizar muito tempo da parceira
<br>em conversas. Se J�piter estiver bem aspectado no nascimento e os
<br>aspectos cruzados forem favor�veis, ele pode ter um desejo genu�no
<br>de ajud�-la a aumentar o seu conhecimento di�rio, e ser capaz de
<br>passar-lhe muitas informa��es �teis.
<br>
<br>Ele ficar� feliz em recorrer � sua pr�pria experi�ncia, apesar de
<br>
<br>que, se J�piter estiver muito aflito no nascimento, h� o perigo de ele
<br>
<br>tender a se vangloriar, exagerar ou at� mesmo blefar quando n�o est�
<br>
<br>seguro sobre os fatos. Se os aspectos cruzados forem discordantes,
<br>
<br>poderia haver problemas caso a companheira n�o fosse capaz de
<br>
<br>saber quando ele est� deixando o seu sentido de propor��o tornar-se
<br>
<br>distorcido. At� mesmo quando J�piter est� bem aspectado, ela pode
<br>
<br>precisar tomar cuidado para ele n�o lhe dizer o que acha que ela
<br>
<br>gostaria de ouvir, ao inv�s do que ela realmente deveria ouvir.
<br>
<br>A n�o ser que J�piter esteja muito aflito, este � um bom elo entre
<br>
<br>os hor�scopos de professore aluno, quando � a 3a casa do aluno que
<br>
<br>est� envolvida.
<br>
<br>
<br>J�piter na 4� Casa
<br>
<br>Quando o J�piter do homem cai na 4� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o com o
<br>Meridiano Inferior, ele quase sempre ter� um jeito muito especial
<br>de faz�-la sentir-se � vontade onde quer que esteja, e saber� instintivamente
<br>como conseguir isso. Ser� muito natural para ele adotar uma
<br>atitude paternalista em rela��o � parceira. Muitas vezes � capaz de
<br>despertar-lhe v�vidas lembran�as que se relacionam com o seu passado,
<br>fazendo-a descobrir talentos latentes dentro de si mesma. A
<br>n�o ser que haja fortes afli��es em J�piter, ele pode ser capaz de
<br>estimular esses talentos, e quase sempre a ajudar� a revelar sua
<br>individualidade.
<br>
<br>O homem pode ser de grande aux�lio no ambiente dom�stico,
<br>ajudando a parceira a fazer melhorias e talvez aumentando o valor
<br>da propriedade.
<br>
<br>Quando o J�piter de um dos pais cai na 4� casa do hor�scopo do
<br>filho, isto pode indicar um relacionamento particularmente feliz. Este
<br>tamb�m � um bom elo entre os hor�scopos de um empreiteiro e
<br>decorador e seu cliente, quando � a 4a casa do cliente que est� envolvida,
<br>e entre os hor�scopos de s�cios em empreendimentos ligados
<br>� agricultura e minera��o, desde que a maioria dos aspectos com
<br>J�piter seja favor�vel.
<br>
<br>J�piter na 5" � Casa
<br>
<br>Quando o J�piter do homem cai na 5� casa do hor�scopo dc sua
<br>parceira, este pode ser um �timo progn�stico para o relacionamento.
<br>O homem desejar� tomar mais f�cil para ela usar a sua criatividade
<br>do melhor modo poss�vel, e ajud�-la a descobrir o modo mais eficaz
<br>de exprimir apropria personalidade. Ele gostar� dc agrad�-la, talvez
<br>fornecendo-lhe oportunidades neste sentido que de outro modo lhe
<br>teriam sido negadas.
<br>
<br>Ao mesmo tempo ele valorizar� o apoio de sua companhia e a boa
<br>
<br>opini�o que tem dele. Ela pode sentir um verdadeiro prazer na
<br>
<br>companhia dele, principalmente em acontecimentos sociais e luga
<br>
<br>
<br>res de divers�o. O relacionamento pode surgir atrav�s de um inte
<br>
<br>
<br>resse m�tuo em teatro, arte, ou algum passatempo.
<br>
<br>Se a mulher tiver filhos, o parceiro ser� benevolente para com eles,
<br>
<br>e talvez goste que o encarem como um tio.
<br>
<br>
<br>Entre pessoas do sexo oposto e com idade aproximada, este elo
<br>pode indicar um relacionamento rom�ntico com muita afei��o
<br>m�tua.
<br>
<br>A uni�o pode ser um pouco menos cordial se J�piter estiver mal
<br>aspectado no nascimento e os aspectos cruzados com ele forem em
<br>sua maioria discordantes.
<br>
<br>J�piter na 6� Casa
<br>
<br>Quando o J�piter do homem cai na 6� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode estar numa posi��o que lhe permite prestar-lhe
<br>favores valiosos, e ter� prazer em fazer isso. � poss�vel que ele seja
<br>capaz de passar para a parceira algum know-how especial que complementa
<br>e aumenta o dela, e sirva de meio para apresent�-la a novas
<br>t�cnicas que facilitar�o a rotina dom�stica. Provavelmente ele
<br>ter� um interesse geral pela sa�de e bem-estar de sua companheira.
<br>
<br>Este � um bom elo num relacionamento entre um paciente e
<br>as pessoas que s�o respons�veis por seus cuidados m�dicos, quando
<br>� a 6� casa do paciente que est� envolvida. O J�piter de um
<br>empregado caindo na 6a casa do hor�scopo de seu patr�o indica
<br>que o empregado apoiar� o patr�o leal e incondicionalmente, a
<br>menos que J�piter esteja muito aflito no nascimento e os aspectos
<br>cruzados sejam discordantes. Quando o J�piter de uma pessoa cai
<br>neste setor do hor�scopo de outra, isso geralmente indica que a primeira
<br>deseja permitir � segunda atribuir-se um status superior,
<br>podendo ent�o sentir que tem uma certa obriga��o de cuidar dos
<br>interesses dela.
<br>
<br>J�piter na 7� Casa
<br>
<br>Quando o J�piter do homem cai na 7� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o com o seu
<br>Descendente, isto favorece muito um relacionamento com uma maior
<br>colabora��o m�tua, a menos que J�piter esteja muito aflito. O homem
<br>pode sentir um prazer especial em trabalhar junto com a parceira, e
<br>servir de meio para coloc�-la em contato com muitas pessoas influentes,
<br>quase sempre ampliando o seu c�rculo social. Geralmente este
<br>elo ocorre entre hor�scopos de c�njuges.
<br>
<br>Se J�piter estiver muito aflito e os aspectos cruzados forem discordantes,
<br>a opini�o exageradamente favor�vel que ele tem da par
<br>
<br>
<br>
<br>ceira pode prejudic�-la ou desestabiliz�-la, fazendo-a tentar fazer
<br>mais coisas do que � capaz. Em alguns casos � poss�vel que ele fa�a
<br>promessas que n�o possa cumprir ou use de m� f�.
<br>
<br>Quando J�piter est� bem aspectado, o homem pode ter um interesse
<br>especial em divulgar o bom nome da parceira numa �rea mais
<br>ampla. Este � um elo �til num relacionamento entre um agente de
<br>publicidade e seu cliente, quando � o J�piter do agente que est� envolvido.
<br>
<br>
<br>J�piter na 8� Casa
<br>
<br>Quando o J�piter do homem cai na 8� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode ser o meio de torn�-la consciente de uma faceta
<br>da sua personalidade at� ent�o negligenciada. O resultado � ela
<br>concentrar-se em real�ar e melhorar algumas caracter�sticas especiais,
<br>ou tentar transformar o defeito eliminando-o como um
<br>fator negativo, e transform�-lo numa fonte de benef�cios. Quase
<br>sempre ele desejar� o melhor para a parceira. Entre sexos opostos de
<br>idade adequada, geralmente este elo indica uma grande atra��o f�sica,
<br>bem como um reconhecimento instintivo das boas qualidades
<br>um do outro, uma base sobre a qual um relacionamento s�lido
<br>pode ser constru�do. Se o J�piter do homem estiver muito aflito, �
<br>poss�vel que ele tenha se casado por dinheiro. Apesar disso, em casos
<br>em que J�piter est� bem apoiado no nascimento e os aspectos
<br>cruzados s�o em sua maioria harmoniosos, as transa��es financeiras
<br>entre eles dificilmente trar�o problemas, e um usar� de boa f�
<br>com o outro.
<br>
<br>A 8� casa � uma boa posi��o para o J�piter do banqueiro do nativo
<br>cair, desde que ele esteja razoavelmente bem aspectado. O
<br>mesmo vale para todas as outras pessoas a quem ele confia as suas
<br>transa��es financeiras.
<br>
<br>J�piter na 9� Casa
<br>
<br>Quando o J�piter do homem cai na 9a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode ser capaz de apresent�-la a uma mais ampla linha
<br>de estudos filos�ficos e religiosos, e no processo proporcionar-lhe
<br>uma maior compreens�o dos problemas mais abstratos que antes ela
<br>era incapaz de resolver satisfatoriamente. Ele ficar� feliz em recorrer
<br>apropria experi�ncia para ajud�-la a desenvolver o seu intelecto,
<br>
<br>
<br>e pode ter o feliz dom de incentiv�-la a opinar sobre v�rios assuntos,
<br>ajudando-a a expandir seus horizontes.
<br>
<br>A mulher tender� a valorizar a boa opini�o que o parceiro tem dela,
<br>e lhe far� confid�ncias. Este elo simboliza uma uni�o feliz baseada
<br>numa confian�a m�tua, a n�o ser que J�piter esteja muito aflito no
<br>nascimento e os aspectos cruzados sejam discordantes.
<br>
<br>Este � um bom elo entre hor�scopos de professor e aluno, quando
<br>� a 9� casa do aluno que est� envolvida. O mesmo vale para um relacionamento
<br>entre guru e disc�pulo, porque quem tiver J�piter
<br>envolvido poder� ser capaz de prever a dire��o na qual o outro
<br>provavelmente ser� melhor. A 9� casa tamb�m se relaciona � publicidade
<br>e edi��o de livros. O J�piter de um editor neste setor do
<br>hor�scopo de um escritor representa um talism� para uma associa��o
<br>lucrativa.
<br>
<br>O indiv�duo cujo J�piter ocupa esta casa no hor�scopo de outra
<br>pessoa pode ocasionalmente ser capaz de ajud�-la em suas viagens,
<br>despertar-lhe um interesse por pa�ses estrangeiros e, �s vezes, fornecer-
<br>lhe transporte.
<br>
<br>J�piter na 10� Casa
<br>
<br>Quando o J�piter do homem cai na 10� casa do hor�scopo de
<br>
<br>sua parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o
<br>
<br>com o seu Meio do C�u, ele pode ajud�-la a melhorar seu status,
<br>
<br>talvez colocando-a em contato com pessoas influentes ou dando-lhe
<br>
<br>bons conselhos baseados na pr�pria experi�ncia profissional. O
<br>
<br>homem pode fazer com que a parceira aprenda a gostar do sucesso,
<br>
<br>ou talvez a boa opini�o que tem dela a incentive a ser bem-sucedida,
<br>
<br>para n�o desapont�-lo. � poss�vel que ele sinta prazer em represen
<br>
<br>
<br>tar o papel de "pai", ajudando-a a atingir os seus objetivos e dar-se
<br>
<br>conta de todo o seu potencial, porque aprecia os objetivos que ela
<br>
<br>tem em mente.
<br>
<br>O objetivo do homem ser� aumentar a autoconfian�a da parceira,
<br>
<br>e incentiv�-la a realizar as suas ambi��es empregando os seus
<br>
<br>esfor�os com sabedoria. Se J�piter estiver aflito no nascimento e os
<br>
<br>aspectos cruzados forem discordantes, ele pode fazer sua com
<br>
<br>
<br>panheira desejar mais do que � capaz, diminuir-lhe a determina��o
<br>
<br>facilitando demais a sua vida, ou talvez impedir o seu progresso,
<br>
<br>aconselhando-a mal.
<br>
<br>226
<br>
<br>
<br>Quando J�piter no hor�scopo de um dos pais ou patr�o do nativo
<br>cai na 10� casa dele, essas pessoas recompensar�o os seus esfor�os
<br>com os elogios que merecem.
<br>
<br>J�piter na 11� Casa
<br>
<br>Quando o J�piter do homem cai na 11� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, � poss�vel que surja uma amizade muito grande entre eles.
<br>Ele pode ser um meio de aumentar o c�rculo de amizades da parceira,
<br>e ajud�-la a expandir a sua vida social de outros modos, talvez apresentando-
<br>a um grupo de almas g�meas trabalhando para um objetivo
<br>espec�fico.
<br>
<br>Provavelmente o homem apreciar� os ideais que a mulher
<br>acalenta, e ser� capaz de ajud�-la a realiz�-los. � poss�vel que ele
<br>seja amigo dela no melhor sentido da palavra, dando o devido desconto
<br>para qualquer lapso tempor�rio de sua parte. Talvez a mulher
<br>precise prestar aten��o para n�o abusar demais da generosidade de
<br>esp�rito dele, e principalmente n�o contar demais com ele, porque o
<br>parceiro pode dar muito valor ao relacionamento.
<br>
<br>Ao mesmo tempo que esta � uma boa posi��o para o J�piter de
<br>outra pessoa, a posi��o � um pouco menos favor�vel se J�piter estiver
<br>debilitado no nascimento e os aspectos cruzados forem discordantes.
<br>Nesse caso, muita indulg�ncia, um excessivo otimismo ou
<br>presun��o podem estragar o efeito global.
<br>
<br>J�piter na 12� Casa
<br>
<br>Quando o J�piter do homem cai na 12� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, talvez ele seja a pessoa a quem ela provavelmente recorrer�
<br>em momentos dif�ceis. Ele poderia ser capaz de mostrar-lhe como
<br>lutar contra qualquer falha em seu car�ter ou temperamento que possa
<br>envolv�-la em situa��es embara�osas. Freq�entemente apoiar� a
<br>autoconfian�a de sua companheira tornando-a capaz de reunir uma
<br>nova coragem para enfrentar os seus problemas, que podem parecer
<br>menos terr�veis devido aos seus conselhos amigos. Ele pode ser capaz
<br>de trabalhar "atr�s dos bastidores" para resolver os problemas da
<br>parceira, e esfor�ar-se muito por restituir-lhe a f� em si pr�pria.
<br>
<br>Freq�entemente o homem ficar� interessado em descobrir o que
<br>
<br>afaz agir de determinado modo. Ao mesmo tempo em que ela se sente
<br>
<br>animada a trocar confid�ncias com o parceiro, ele pode n�o ser
<br>
<br>
<br>sempre discreto e guard�-las para si pr�prio, principalmente se
<br>J�piter estiver aflito no nascimento e os aspectos cruzados forem
<br>discordantes. Se tiverem um relacionamento rom�ntico, eles devem
<br>prevenir-se contra esc�ndalos.
<br>
<br>Em alguns casos o homem ser� capaz de despertar o interesse de
<br>sua companheira pelo ocultismo, misticismo e todos os assuntos que
<br>levam a um maior conhecimento das tend�ncias ocultas da vida, bem
<br>como a uma maior compreens�o do fato de que muitas das barreiras
<br>que parecem separar uma �rea de experi�ncia da outra s�o, num
<br>sentido mais amplo, puramente ilus�rias.
<br>
<br>A 12a casa do hor�scopo do nativo � uma boa posi��o para o J�piter
<br>de seu m�dico ou daqueles que podem ser chamados para cuidar dele.
<br>Os amigos com os seus J�piteres na 12� casa do nativo ser�o aqueles
<br>que mais provavelmente se reunir�o � sua volta quando ele estiver
<br>doente, e que dar�o mais de si quando ele precisar de solidariedade.
<br>
<br>SATURNO NAS CASAS
<br>
<br>Onde quer que o Saturno do nativo caia no hor�scopo de outra
<br>pessoa, indicar� a �rea em que ele ser� capaz de ensinar-lhe uma li��o
<br>valiosa na vida, tornando-a mais consciente de suas obriga��es,
<br>ajudando-a a aumentar o seu senso de responsabilidade e autoconfian�a
<br>e, geralmente, aumentando o seu discernimento. Ele pode ser
<br>
<br>o motivo de essa pessoa ter de usar um grau maior de concentra��o,
<br>e tornar-se mais consciente das coisas que t�m valor permanente, de
<br>modo a ser capaz de abandonar os sup�rfluos. O nativo pode ser
<br>tentado a agir como a consci�ncia da outra pessoa. Se Saturno estiver
<br>aflito, � poss�vel que projete seus medos, inibi��es e complexos
<br>de culpa sobre ela, tendendo a agir como um estraga-prazeres tentando
<br>restringir, limitar ou retardaros seus esquemas ou menosprezar
<br>os seus esfor�os. Ele pode ser o meio de mostrar ao outro exatamente
<br>o que lhe deve.
<br>Saturno na 1� Casa
<br>
<br>Quando o Saturno do homem cai na l� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o com o seu
<br>Ascendente, talvez alguma coisa na personalidade da mulher con
<br>
<br>
<br>228
<br>
<br>
<br>ven�a-o de que pode contar com ela. Ele a valorizar� como urna
<br>influ�ncia estabilizadora. O resultado disso � ela poder desenvolver
<br>mais efetivamente o seu senso de responsabilidade. A conduta do
<br>homem pode exigir compreens�o e paci�ncia por parte da parceira,
<br>e �s vezes testar a sua capacidade de suportar. No entanto, esta � uma
<br>indica��o de um relacionamento duradouro, a menos que Saturno
<br>esteja muito aflito, quando a mulher pode n�o superar completamente
<br>a sua avers�o inicial pelo parceiro, o que impossibilita a uni�o.
<br>
<br>Quando Saturno est� bem aspectado no nascimento e os aspectos
<br>cruzados s�o em sua maioria favor�veis, o homem pode estar numa
<br>posi��o que lhe permite beneficiar a parceira com sua experi�ncia
<br>em �reas que s�o muito �teis para ela. Por sua vez, em algum momento,
<br>pode ser preciso que ela assuma responsabilidades por ele,
<br>ou ela pode achar que � seu dever realizar alguma tarefa espec�fica
<br>em benef�cio de seu companheiro. De algum modo ela pode estar
<br>consciente do fato de que tem de "carreg�-lo", e proporcionar toda a
<br>"anima��o" do relacionamento (por este motivo � prov�vel que ele
<br>seja mais propenso a "se encostar"). Sem esse elemento de "anima��o"
<br>fornecido pela parceira, talvez o relacionamento se torne
<br>s�rio demais e surja uma sensa��o de opress�o que pode diminuir o
<br>prazer que de outro modo um poderia sentir na companhia do outro.
<br>
<br>�s vezes este elo ocorre entre hor�scopos de c�njuges. Quando �
<br>
<br>o Saturno do marido que est� envolvido, freq�entemente s�o obtidos
<br>melhores resultados, ficando a mulher feliz em reconhecer a
<br>maior experi�ncia do marido. Apesar disso, se Saturno estiver aflito
<br>no nascimento e os aspectos cruzados forem discordantes, a
<br>tend�ncia do m �rido a projetar seus medos e inibi��es na mulher pode
<br>diminuir o desejo dela por sua companhia, e esfriar o clima entre eles.
<br>� poss�vel que ele a sobrecarregue com muitas responsabilidades, e
<br>exija uma aten��o excessiva. A mulher pode ter de cuidar do companheiro
<br>ou enfrentar alguma doen�a ou rev�s financeiro que ele
<br>venha a sofrer. Geralmente o relacionamento tem de enfrentar
<br>in�meras dificuldades, que exigem muita perseveran�a e autodisciplina
<br>para serem superadas. A menos que Saturno esteja bem
<br>apoiado, normalmente � o marido quem sofre mais.
<br>Quando ocorre este elo, o casal deve aceitar voluntariamente os
<br>la�os do casamento para o relacionamento ser bem-sucedido. �s
<br>vezes este elo indica uma uni�o sem filhos. � poss�vel que o rela
<br>
<br>
<br>
<br>cionamento seja particularmente c�rmico. A mulher pode ter a oportunidade
<br>de pagar um d�bito c�rmico para com o marido.
<br>
<br>A atitude do homem pode ser cr�tica, porque ele deseja muito
<br>eliminar todos os aspectos da personalidade da parceira que
<br>diminuem a sua total integridade, para o bem de ambos. Ela pode
<br>achar imprescind�vel superar algum defeito de car�ter para colocar
<br>
<br>o relacionamento numa base completamente s�lida. O Sol se exalta
<br>naturalmente na 1a casa e Saturno na casa oposta. Por isso, o falso
<br>brio � particularmente detest�vel para Saturno, que procura determinar
<br>a verdadeira ess�ncia da parceira por tr�s da m�scara de sua
<br>personalidade, que freq�entemente n�o reflete a real natureza interna.
<br>Este processo pode ser particularmente penoso, apesar de o resultado
<br>final possivelmente trazer benef�cios duradouros.
<br>Geralmente esse elo proporciona ao parceiro cuja 1� casa est�
<br>envolvida experi�ncias que n�o correspondem �s suas, mas quando
<br>Saturno est� muito aflito os parceiros podem perder oportunidades
<br>valiosas devido � hesita��o de Saturno em comprometer-se.
<br>
<br>Saturno na 2� Casa
<br>
<br>Quando o Saturno do homem cai na 2� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode ser o meio de mostrar a ela como construir e
<br>aumentar as suas riquezas, abrindo m�o do que � sup�rfluo e restringindo-
<br>se apenas ao essencial. � poss�vel que a parceira tenha para
<br>com ele alguma d�vida que pode ser mais adequadamente paga numa
<br>base material. Quando existe este elo, quaisquer d�vidas deveriam
<br>ser rigorosamente pagas.
<br>
<br>Se Saturno estiver bem aspectado, o homem pode ser capaz de
<br>dar � sua companheira uma maior sensa��o de seguran�a, e ajud�-la
<br>a ser mais prudente e respons�vel em rela��o a assuntos financeiros,
<br>aconselhando-a quanto ao melhor modo de prevenir-se contra riscos
<br>e dizendo-lhe como evitar investimentos duvidosos. Se Saturno
<br>estiver debilitado ou aflito no nascimento e os aspectos cruzados
<br>forem discordantes, as precau��es e advert�ncias dele podem faz�la
<br>perder boas oportunidades de realizar investimentos lucrativos,
<br>ou arcar com preju�zos de um modo mais direto. De certo modo o
<br>homem pode ser uma fonte de despesas para a parceira. Ocasionalmente
<br>ele pode interferir nos assuntos financeiros da parceira, pensando
<br>em aumentar as suas chances de lucro, e ao inv�s disso preju
<br>
<br>
<br>
<br>dicando-lhe a reputa��o, quebrando inadvertidamente promessas
<br>que ela j� tinha feito.
<br>
<br>No lado positivo e quando Saturno est� bem apoiado, o homem
<br>pode ser capaz de economizar dinheiro para sua companheira, ensin�-
<br>la a poupar e mostrar-lhe como usufruir sabiamente de seus bens.
<br>No entanto, quando Saturno est� aflito, �s vezes as atitudes do homem
<br>em rela��o �s finan�as podem mostrar � parceira exatamente como
<br>n�o agir! Ela n�o deveria aceitar os conselhos do companheiro nesse
<br>sentido, a menos que o Saturno dele estivesse bem aspectado no
<br>nascimento e os aspectos cruzados fossem harmoniosos. Ainda assim
<br>s� deveria aceit�-los se n�o entrassem em choque com o que lhe dizem
<br>o seu pr�prio bom senso e experi�ncia. N�o � preciso dizer que
<br>esta n�o � uma boa posi��o para o consultor de finan�as do nativo.
<br>
<br>Saturno na 3� Casa
<br>
<br>Quando o Saturno do homem cai na 3a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode ser o meio de dar a ela uma maior firmeza de
<br>opini�es. Ele pode mostrar-lhe como concentrar-se mais efetivamente
<br>em seus estudos, agu�ar as suas faculdades cr�ticas e pensar
<br>de modo mais disciplinado. Deste modo ela ser� capaz de distinguir
<br>mais facilmente o essencial do sup�rfluo, diminuindo as probabilidades
<br>de se desviar de seus objetivos.
<br>
<br>� poss�vel que de algum modo o homem limite a mobilidade de
<br>
<br>sua companheira, ou seja a causa de ela adiar suas viagens. Nessas
<br>
<br>situa��es, ele pode ser o meio de proporcionar-lhe mais tempo para
<br>
<br>sentar e refletir. Em alguns casos, ele tomar� as viagens da parceira
<br>
<br>mais dif�ceis, talvez pedindo-lhe que se encarregue de resolver as
<br>
<br>
<br>suntos de responsabilidade em nome dele.
<br>
<br>Quando Saturno est� aflito, o homem pode ser o culpado dos
<br>
<br>relacionamentos da mulher com os vizinhos se deteriorarem. Ela
<br>
<br>pode achar as id�ias dele aborrecidas; sua conversa, entediante; e
<br>
<br>sua atitude mental radical e conscienciosa demais para seu gosto.
<br>
<br>Quando este elo est� presente entre professor e aluno, com a 3� casa
<br>
<br>do aluno envolvida, as li��es podem ser cansativas e exigir muito
<br>
<br>esfor�o mental.
<br>
<br>Saturno na 4� Casa
<br>
<br>Quando o Saturno do homem cai na 4a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o com o seu
<br>
<br>
<br>Meridiano Inferior, ele pode desejar ter a responsabilidade de um
<br>pai em rela��o a ela. � poss�vel que a fa�a prestar mais aten��o �s
<br>suas rea��es habituais e instintivas. A n�o ser que Saturno esteja bem
<br>aspectado no nascimento e os aspectos cruzados sejam excepcionalmente
<br>favor�veis, sua influ�ncia pode ser excessiva, principalmente
<br>se o contato inicial ocorreu quando ela era muito jovem. �
<br>poss�vel que ele seja muito cr�tico, o que pode minar a autoconfian�a
<br>de sua companheira. Por outro lado, ele pode esperar que desde
<br>muito cedo ela assuma responsabilidades demais, principalmente
<br>as de natureza dom�stica. E poss�vel que ela aprenda muito com o
<br>parceiro, mas a menos que os aspectos cruzados sejam em sua maior
<br>parte harmoniosos, pode n�o se sentir particularmente � vontade com
<br>ele.
<br>
<br>De alguma forma, ele pode incentiv�-la a seguir os passos do
<br>pai.
<br>
<br>Saturno na 5� Casa
<br>
<br>Quando o Saturno do homem cai na 5� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, pode ser dif�cil ela conseguir o seu apoio para qualquer
<br>empreendimento que deseje realizar. Ele pode tender a menosprezar
<br>seus esfor�os criativos, e ela talvez ache dif�cil despertar-lhe qualquer
<br>rea��o emocional. � poss�vel que haja uma incompatibilidade geral
<br>entre eles, formando uma barreira a qualquer verdadeira compreens�o
<br>ou associa��o �ntima.
<br>
<br>Entretanto, o homem pode ser bastante exigente em rela��o �
<br>parceira, porque talvez ache dif�cil acreditar que ela esteja se
<br>esfor�ando ao m�ximo em seu benef�cio. Ao mesmo tempo que o
<br>descontentamento dele pode ser genu�no, ela deveria tentar analisar
<br>
<br>o mais objetivamente poss�vel as pr�prias rea��es, porque talvez
<br>esteja esperando receber a aprova��o entusi�stica do parceiro sem
<br>ter realmente feito nada para isso. Em tais circunst�ncias, essa falta
<br>de entusiasmo pode ser uma cr�tica justa � real qualidade do seu trabalho.
<br>Se ela notar algum descr�dito por parte do companheiro, � poss�vel
<br>que realize um esfor�o extra apenas para mostrar-lhe como estava
<br>errado. A armadilha que resulta disso � ele concluir que para conseguir
<br>o melhor da parceira deve constantemente evitar demonstrar
<br>
<br>232
<br>
<br>
<br>Quando ocorre entre pessoas de sexos opostos e com idade aproximada,
<br>esta posi��o de Saturno pode ser encarada como um desafio
<br>a despertar o interesse do companheiro, com Saturno usando toda a
<br>sua habilidade para conseguir isso. No entanto, este n�o � o melhor
<br>progn�stico para um relacionamento duradouro. O marido com
<br>Saturno nesta posi��o pode ser excessivamente r�gido com as crian�as,
<br>e n�o sentir entusiasmo pelas atividades sociais da mulher. As
<br>vezes essa atitude tem suas ra�zes na inveja, com o marido achando
<br>que a esposa tem alguma qualidade especial que lhe falta.
<br>
<br>A li��o para a pessoa cuja 5� casa est� envolvida � aprender a
<br>produzir visando o resultado e n�o a aprova��o. A parceira pode
<br>fornecer-lhe experi�ncias noutros n�veis que o levam a exercer um
<br>maior controle sobre as pr�prias emo��es. Se os aspectos cruzados
<br>forem discordantes, ela pode ser motivo de um grande desapontamento.
<br>Se, al�m disso, Saturno estiver muito aflito no nascimento,
<br>pouca alegria pode resultar deste elo.
<br>
<br>Saturno na 6� Casa
<br>
<br>Quando o Saturno do homem cai na 6� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode achar que tem o direito de esperar algum favor dela.
<br>De sua parte, ele esperar� ser amplamente recompensado por
<br>qualquer ajuda que venha a lhe dispensar. � poss�vel que adote uma
<br>atitude cr�tica em rela��o ao modo de ela agir, e n�o poupe esfor�os
<br>para testar sua efici�ncia. Apesar de ele parecer pronto demais a encontrar
<br>defeitos, � poss�vel que aja assim para ajud�-la a melhorar
<br>os seus m�todos e mostrar-lhe t�cnicas mais confi�veis, com o objetivo
<br>final de torn�-la mais auto-suficiente.
<br>
<br>De certo modo, ele pode ser um meio de mant�-la ocupada, ou
<br>ocasionalmente impedir o seu progresso. A menos que Saturno esteja
<br>bem aspectado no nascimento e os aspectos cruzados sejam particularmente
<br>favor�veis, esta n�o � uma boa posi��o para o Saturno de
<br>um empregado, ou o de qualquer pessoa que lenha de cuidar da sa�de
<br>do nativo.
<br>
<br>Saturno na 7� Casa
<br>
<br>Quando o Saturno do homem cai na 7a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando est� em conjun��o com o
<br>seu Descendente, isto pode indicar um relacionamento muito dif�cil.
<br>
<br>
<br>Saturno � naturalmente exaltado na 7� casa. Representa a possibilidade
<br>de uma uni�o duradoura, s�lida o suficiente para suportar o teste
<br>do tempo. O homem avaliar� a parceira como a um s�cio. Se ela
<br>estiver � altura de seus padr�es, ter� um amigo para o resto da vida.
<br>O problema � que o seu m�todo para test�-la pode se revelar bastante
<br>desagrad�vel, ou ela pode ofender-se e questionar o direito de
<br>ele agir desse modo. Talvez ela precise seguir o preceito: "N�o fa�a
<br>com os outros o que n�o gostaria que fizessem com voc�", mas
<br>mesmo isso n�o garante uma rea��o efusiva de seu companheiro.
<br>
<br>� poss�vel que ele seja exigente, mas desde que Saturno esteja bem
<br>aspectado, ser� �ntegro e confi�vel, o que a estimular� a agir com a
<br>mesma integridade.
<br>
<br>Se o Saturno do homem estiver aflito, a parceira pode achar extremamente
<br>dif�cil se dar bem com ele. A sua inflexibilidade ou falta
<br>de entusiasmo pode tornar imposs�vel qualquer verdadeira harmonia,
<br>ou ela pode achar que nunca conseguir� agrad�-lo.
<br>
<br>Se Saturno estiver bem aspectado, este pode serum bom elo num
<br>relacionamento de neg�cios, apesar de n�o ser aconselh�vel o
<br>Saturno de um advogado, gerente ou corretor estar na 7� casa do
<br>nativo.
<br>
<br>Saturno na 8� Casa
<br>
<br>Quando o Saturno do homem cai na 8� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, provavelmente ele a tornar� particularmente consciente das
<br>�reas de sua psique sobre as quais normalmente exerce controle. Se
<br>essas �reas forem motivo de fraqueza, ela descobrir� que o parceiro
<br>tem reservas quanto a aceitar a sua amizade. Ele pode precisar conhec�-
<br>la muito antes de finalmente resolver-se a consolidar a uni�o.
<br>� poss�vel que aja de modo a torn�-la desagradavelmente ciente de
<br>certas defici�ncias, e como resultado ela pode sentir necessidade de
<br>fazer algum tipo de mudan�a em certas atitudes suas, para o relacionamento
<br>ser mais tranq�ilo.
<br>
<br>Se Saturno estiver aflito no nascimento e os aspectos cruzados
<br>forem discordantes, o relacionamento pode gerar uma inimizade por
<br>parte de qualquer um dos envolvidos, sendo dif�cil de explicar racionalmente.
<br>Mesmo quando h� poucas afli��es em Saturno, um
<br>vago e mau pressentimento pode impedir que ele se envolva sem
<br>restri��es num relacionamento com ela. � quase como se ponderasse
<br>
<br>
<br>consigo mesmo se deveria confiar-lhe sua vida. Ele pode exigir
<br>provas mais convincentes da integridade da parceira antes de realmente
<br>sentir-se � vontade com ela. Naturalmente, essa n�o � a melhor
<br>base para se construir um relacionamento verdadeiramente satisfat�rio.
<br>As reservas e excesso de cautela do homem podem voltar-
<br>se contra ele. O relacionamento talvez exija muita toler�ncia, e uma
<br>disposi��o por parte da mulher de fazer sacrif�cios para a uni�o ser
<br>bem-sucedida.
<br>
<br>�s vezes este elo est� presente entre os hor�scopos daqueles que
<br>s�o chamados para enfrentar algum grande perigo juntos e que, no
<br>decorrer da experi�ncia, s�o capazes de saber como a verdadeira
<br>natureza dos dois se revela face � extrema adversidade. �s vezes este
<br>elo indica que o relacionamento surgir� devido a uma morte. Em
<br>casos extremos, a pessoa cujo Saturno est� envolvido pode ser a causa
<br>da morte da outra.
<br>
<br>Esta n�o � uma posi��o feliz para o Saturno de ningu�m que tenha
<br>a responsabilidade de lidar com as finan�as do nativo, porque geralmente
<br>indica que essa pessoa lhe trar� preju�zos.
<br>
<br>Saturno na 9� Casa
<br>
<br>O Saturno do homem caindo na 9� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira indica que ele pode ser um meio de ela concentrar os seus
<br>pensamentos em assuntos religiosos ou filos�ficos, levando-a a
<br>adotar uma atitude mais s�ria em rela��o aos assuntos importantes
<br>da vida. Por seu interm�dio, ela pode se conscientizar mais das exig�ncias
<br>dos valores ortodoxos e da sabedoria dos ensinamentos
<br>antigos. Provavelmente ele a incentivar� a ter uma maior responsabilidade
<br>em rela��o ao aumento e preserva��o da sabedoria, e a seguir
<br>a sua pr�pria linha de desenvolvimento pessoal nesses assuntos. Se
<br>Saturno estiver muito aflito no nascimento e existirem aspectos
<br>cruzados discordantes, � poss�vel que os dois concordem inteiramente
<br>sobre assuntos relacionados � religi�o, ou quanto � opini�o
<br>geral que t�m da vida como um todo.
<br>
<br>Em assuntos menos elevados, ele pode ser uma pessoa que conta
<br>
<br>com ela para transporte, ou que a leva a assumir responsabilidades
<br>
<br>ligadas a pa�ses estrangeiros. Ele pode ser de algum modo capaz de
<br>
<br>dificultar sua mobilidade, ou ser a causa de algumas viagens ou cartas
<br>
<br>inevit�veis.
<br>
<br>
<br>Quando o Saturno de um dos pais cai na nona casa do hor�scopo
<br>do filho, ele pode mandar a crian�a para um internato, ou ser particularmente
<br>exigente em rela��o ao tipo de educa��o que espera que
<br>ele receba.
<br>
<br>Saturno na 10� Casa
<br>
<br>Quando o Saturno do homem cai na 10a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o com o seu
<br>Meio do C�u, ele pode ter um papel definitivo na carreira dela. Caso
<br>seja o seu patr�o, � poss�vel que exija muito dela, mas se Saturno
<br>estiver bem aspectado no nascimento e os aspectos cruzados forem
<br>favor�veis, ele a recompensar� devidamente.
<br>
<br>� poss�vel que ele aja de modo a testar o quanto as ambi��es dela
<br>s�o fortes. Se ocasionalmente ele se der ao trabalho de frustrar os
<br>melhores esfor�os de sua companheira e retardar o seu progresso,
<br>ela pode achar que afinal de contas isso aumentou a sua vontade de
<br>ser bem-sucedida. � poss�vel que a aprova��o dele s� venha quando
<br>ela estiver realmente preparada para ser promovida. Agindo desta
<br>forma, evitar� que ela fracasse num novo empreendimento por n�o
<br>ter experi�ncia suficiente. Ele a estimular� a desenvolver um modo
<br>realista de encarar as suas responsabilidades.
<br>
<br>Talvez ele tenda a adotar uma atitude um pouco paternalista, tendo
<br>um interesse paternal pelo progresso da parceira e at� mesmo tentando
<br>bancar o "pai dur�o", se Saturno estiver muito aflito. Provavelmente
<br>ele lhe dir� a verdade sobre si mesma. Geralmente o objetivo
<br>de sua avalia��o cr�tica do desempenho dela � ajud�-la a atingir um
<br>alto n�vel de progresso e desenvolvimento pessoal. Mas quando Saturno
<br>est� muito aflito, ele pode tender a invejar a posi��o da parceira.
<br>
<br>Provavelmente ele avaliar� o prest�gio de sua companheira ba
<br>
<br>
<br>seado em seu efetivo desempenho e n�o em boatos. O seu interesse �
<br>
<br>ela ser capaz de desempenhar-se totalmente � altura de sua capacida
<br>
<br>
<br>de e potencialidades, quando � chamada para exibir os seus talentos.
<br>
<br>Se Saturno no hor�scopo de um rival cai na 10a casa do nativo, �
<br>
<br>poss�vel que ele impe�a o seu progresso.
<br>
<br>Saturno na 11� Casa
<br>
<br>Quando o Saturno do homem cai na 11� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele tem um interesse pr�tico em ajud�-la a realizar seus
<br>
<br>236
<br>
<br>
<br>ideais, se ela estiver preparada para trabalhar duro para isso, e ele
<br>acreditar que esses ideais realmente valem a pena e s�o pass�veis de
<br>serem realizados.
<br>
<br>� poss�vel que este elo fa�a surgir uma grande amizade, mas
<br>a mulher precisar� convencer o parceiro de que � uma pessoa
<br>sensata e confi�vel que dar� valor � amizade. Ele esperar� que
<br>ela fa�a a sua parte e algumas vezes exigir� sua amizade num momento
<br>inconveniente, fazendo-a sacrificar-se para corresponder aos
<br>desejos do parceiro. � poss�vel que ele tente testar a sua amizade exigindo
<br>dela alguma coisa que limitaria a sua liberdade em outros
<br>n�veis. Ele sempre desejar� colocar a sua experi�ncia � disposi��o
<br>dela.
<br>
<br>Se Saturno estiver muito aflito no nascimento e os aspectos
<br>cruzados forem discordantes, a mulher pode sentir antipatia pelo
<br>parceiro, preferindo evitar sua companhia ao inv�s de procur�-la.
<br>
<br>Saturno na 12� Casa
<br>
<br>Quando o Saturno do homem cai na 12a casa do hor�scopo de
<br>sua parceira, � poss�vel que haja algumas dificuldades no relacionamento.
<br>Ele pode esperar que sua companheira seja confi�vel
<br>e auto-suficente nas �reas em que provavelmente ser� mais
<br>vulner�vel. Em conseq��ncia, talvez ela n�o se sinta muito � vontade
<br>em sua presen�a. � poss�vel que ele, de vez em quando, traga �
<br>luz algumas de suas fraquezas de um modo desconcertante, provocando
<br>sua raiva e despertando nele d�vidas sobre a capacidade de a
<br>parceira agir com coer�ncia ou sabedoria. Como resultado, ele pode
<br>ser um meio de faz�-la conhecer melhor as �reas de sua psique em
<br>que � mais vulner�vel, deste modo incentivando-a a eliminar tais
<br>falhas.
<br>
<br>Quando outros aspectos cruzados s�o favor�veis, ele pode trabalhar"
<br>atr�s dos bastidores" para fortalecer aposi��o da parceira. Mas
<br>se Saturno estiver aflito no nascimento eos aspectos cruzados forem
<br>discordantes, � poss�vel que ele conspire contra ela para arruinar sua
<br>posi��o e frustrar seus planos.
<br>
<br>Em alguns casos, ela pode ser colocada numa posi��o em que
<br>tem de proteg�-lo ou prestar-lhe ajuda ou socorro. Talvez ele
<br>lhe fa�a exig�ncias para testar seus instintos de solidariedade e caridade.
<br>
<br>
<br>
<br>URANO NAS CASAS
<br>
<br>Onde quer que o Urano do nativo caia no hor�scopo de outra
<br>pessoa, indicar� que ele � capaz de mostrar-lhe um modo totalmente
<br>novo de encarar as coisas e atacar problemas, incentivando-
<br>
<br>o a libertar-se de id�ias ultrapassadas e a adotar uma pol�tica mais
<br>moderna. Urano mostra em que ponto ele pode despertar a originalidade
<br>latente do outro. O novo e revolucion�rio ponto de vista de
<br>Urano pode causar problemas � outra pessoa, principalmente se
<br>Urano estiver aflito no hor�scopo e os aspectos cruzados forem discordantes,
<br>quando o nativo pode esperar que ela mude de rumo muito
<br>rapidamente, ou altere a sua conduta de modo muito radical. A atitude
<br>intransigente do nativo pode ser motivo de atritos no relacionamento.
<br>As vezes a sua imprevisibilidade leva o parceiro a ir
<br>al�m do limite de suas for�as. A fun��o de Urano, neste contexto,
<br>pode ser desafiar a outra pessoa a ver as coisas sob um novo prisma,
<br>reconhecendo a causa primeira por tr�s do fen�meno e superando
<br>quaisquer limites impostos por seus pr�prios medos, devido � necessidade
<br>de obedecer �s conven��es sociais atuais e ao peso morto
<br>do passado.
<br>O nativo pode ser o meio de plantar na mente do outro as sementes
<br>do descontentamento com as suas condi��es atuais, aumentando
<br>a sua tens�o e talvez nervosismo at� ele conseguir adaptar-se mais
<br>prontamente �s mudan�as que parecem desej�veis.
<br>
<br>Urano na 1� Casa
<br>
<br>Quando o Urano do homem cai na l� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o com o seu
<br>Ascendente, algumas facetas incomuns da personalidade dele podem
<br>despertar a aten��o da parceira. Entre sexos opostos da mesma
<br>idade pode existir uma grande atra��o. Quase sempre o homem toma
<br>a iniciativa no relacionamento. Apesar disso, afli��es em Urano
<br>podem indicar uma certa ansiedade em rela��o a que parceiro deve
<br>tomara iniciativa. Mesmo assim, o fasc�nio entre eles pode permanecer,
<br>e esta uni�o nunca cair� no lugar-comum. O homem pode incentivar
<br>a parceira a tentar novas id�ias, e a desenvolver aspectos
<br>at� ent�o esquecidos de sua personalidade. Em alguns casos, ele ser�
<br>
<br>o meio de introduzir um elemento de novidade na vida dela, colo
<br>
<br>cando-a em contato com um novo c�rculo de amizades e um ambiente
<br>totalmente novo.
<br>
<br>Ele pode desafi�-la, talvez n�o deliberadamente, devido � sua
<br>pr�pria natureza e estilo de vida, a efetuar mudan�as em si pr�pria.
<br>Como o processo de realizar tais mudan�as dr�sticas no modo devida
<br>e de pensar raramente � agrad�vel, ela pode achar que tal desafio a
<br>coloca numa posi��o muito inc�moda.
<br>
<br>Quando Urano est� aflito no nascimento e os aspectos cruzados
<br>s�o discordantes, o homem pode querer ditar � sua companheira o
<br>que ela deveria fazer em determinadas circunst�ncias, e faz�-lo de
<br>um modo que a deixa nervosa. Ele pode ser a causa de ela romper
<br>velhas amizades e acabar por desaparecer da sua vida t�o subitamente
<br>como entrou.
<br>
<br>Urano na 2� Casa
<br>
<br>Quando o Urano do homem cai na 2� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode anim�-la a rever o seu modo de lidar com todos os
<br>recursos � sua disposi��o, bem como toda a sua atitude em rela��o �
<br>conquista de sua seguran�a. � poss�vel que ele a incentive a ter uma
<br>atitude mais despreocupada em rela��o a assuntos financeiros. A
<br>menos que os aspectos cruzados sejam excelentes, seus conselhos
<br>para ela melhorar sua situa��o financeira talvez precisem ser cuidadosamente
<br>estudados antes de ela decidir-se a segui-los. � poss�vel
<br>que ele subitamente a coloque numa posi��o em que de uma hora
<br>para outra ter� de indenizar preju�zos. Se os aspectos cruzados forem
<br>discordantes, ele pode descobrir modos engenhosos de faz�-la gastar
<br>dinheiro.
<br>
<br>N�o � preciso dizer que esta n�o � a melhor posi��o para o Urano
<br>
<br>de qualquer pessoa que tenha a incumb�ncia de lidar com as finan�as
<br>
<br>do nativo.
<br>
<br>Urano na 3� Casa
<br>
<br>Quando o Urano do nativo cai na 3a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode ser o meio de dar-lhe uma vis�o totalmente nova
<br>da vida, colocando-a em contato com novas fontes de informa��o
<br>que lhe proporcionam a oportunidade de desenvolver perspectivas
<br>mentais totalmente diferentes.
<br>
<br>
<br>A atra��o f�sica � uma caracter�stica freq�entemente presente
<br>em contatos da 1� casa � � transferida, para a esfera mental, tornando
<br>poss�vel um alto grau de afinidade desde que os aspectos cruzados
<br>com Urano n�o sejam muito discordantes. Nesse caso, o modo de
<br>pensar do homem pode parecer anormal demais para merecer uma
<br>s�ria aten��o. Mesmo assim, � poss�vel que, numa data posterior, a
<br>mulher subitamente se d� conta, do princ�pio por tr�s das id�ias que
<br>ele estava tentando transmitir-lhe.
<br>
<br>O homem pode ter a capacidade de manter a parceira constantemente
<br>alerta. � poss�vel que o seu modo de pensar a desafie a voltar
<br>a princ�pios b�sicos e a lembre de que, em certas circunst�ncias, os
<br>assuntos n�o s�o sempre bem definidos, e que as teorias baseadas
<br>numa evid�ncia incompleta talvez precisem ser consideravelmente
<br>modificadas � luz de novas informa��es.
<br>
<br>Ele pode ser um meio de ajud�-la a efetuar mudan�as em seu
<br>ambiente. � poss�vel que sugira valiosos cortes em seu roteiro de
<br>viagens valiosas, que a far�o economizar tempo.
<br>
<br>Urano na4� Casa
<br>
<br>Quando o Urano do homem cai na 4� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o com o seu
<br>Meridiano Inferior, ele pode ter um efeito muito desestabilizador n�o
<br>apenas sobre a atmosfera dom�stica da parceira, mas tamb�m sobre
<br>
<br>o seu estilo de vida natural.
<br>De alguma forma ele pode motivar a parceira a rever as id�ias que
<br>resultam da educa��o que recebeu dos pais, a sua organiza��o
<br>dom�stica e toda a base atrav�s da qual ela opera. A influ�ncia do
<br>homem pode ser encarada por ela como um desafio a cultivar o h�bito
<br>de agir mais espontaneamente. Se Urano estiver muito aflito no
<br>nascimento e os aspectos cruzados com ele forem discordantes, �
<br>poss�vel que ele estrague completamente a vida da mulher e torne a
<br>sua situa��o insustent�vel. Ele pode ter uma profiss�o incomum que
<br>atrapalha a rotina da companheira.
<br>Num relacionamento entre pais e filhos, o pai cujo Urano cai na
<br>4� casa do hor�scopo do filho pode ser motivo de mudan�as constantes
<br>no ambiente dom�stico da crian�a � algumas vezes como resultado
<br>de mudan�as de casa � e ser um meio de definir a carreira
<br>do filho.
<br>
<br>240
<br>
<br>
<br>Urano na 5� Casa
<br>
<br>Quando o Urano do homem cai na 5a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode ser capaz de ajud�-la em seus esfor�os criativos e
<br>art�sticos, estimulando a sua originalidade. A n�o ser que Urano esteja
<br>muito aflito, a mulher descobrir� que as id�ias do parceiro muitas
<br>vezes a fazem enxergar novas oportunidades, tornando-a mais disposta
<br>a aceitar sugest�es. Ele pode ser um meio de proporcionar-lhe
<br>novas oportunidades de desenvolvimento de sua vida social, e de
<br>faz�-la desenvolver uma nova postura em rela��o ao lazer. Os passatempos
<br>dele podem proporcionar-lhe uma nova fonte de interesse.
<br>
<br>Entre pessoas do sexo oposto e com idade aproximada, este elo
<br>pode favorecer um interesse rom�ntico m�tuo, mas por si s� ele n�o
<br>garante um relacionamento duradouro.
<br>
<br>Se Urano estiver aflito no nascimento e os aspectos cruzados forem
<br>desfavor�veis, ambos podem ter objetivos contr�rios. Nesse caso,
<br>ou o homem pode achar os esfor�os criativos da parceira insuficientes
<br>ou faz�-la perder tempo com atividades de lazer indignas de seus
<br>talentos.
<br>
<br>Urano na 6� Casa
<br>
<br>Quando o Urano do homem cai na 6a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode ser capaz de sugerir-lhe modos novos e eficazes
<br>de fazer as coisas, e chamar sua aten��o para truques que economizam
<br>trabalho, ajudando a facilitar sua vida. Comparando os m�todos
<br>de ambos, a mulher pode achar que os dela s�o lentos e menos
<br>eficientes. Sem necessariamente chegar a sugeri-lo, ele pode faz�la
<br>rever os seus pr�prios m�todos, visando melhor�-los.
<br>
<br>� poss�vel que ele chame a aten��o de sua companheira para novas
<br>dietas, e desperte o seu interesse por m�todos para manter-se em
<br>forma e outros modos de melhorar a sa�de. Ela pode rever a sua
<br>atitude em rela��o ao trabalho e �s pessoas que desempenham cargos
<br>subalternos, devido �s id�ias do parceiro sobre o assunto. �
<br>poss�vel que ele lhe pe�a que realize um trabalho incomum em seu
<br>nome.
<br>
<br>A n�o ser que Urano esteja bem aspectado no nascimento e os
<br>aspectos cruzados sejam em sua maioria ben�ficos, alguma coisa no
<br>parceiro a far� sentir-se perturbada em sua presen�a. Ela pode perceber
<br>que a atitude do companheiro em rela��o a ela � um tanto critica,
<br>
<br>
<br>mesmo se ele n�o exprimir isso em palavras. � poss�vel que haja
<br>uma tend�ncia por parle do homem a irrit�-la. Ao mesmo tempo,
<br>ela pode ter motivos para preocupar-se com a sa�de de seu companheiro.
<br>
<br>
<br>Esta n�o � uma boa posi��o para o Urano de ningu�m que cuide
<br>da sa�de do nativo ou seja respons�vel por fornecer-lhe alimentos
<br>ou mercadorias industrializadas. Tampouco � uma boa posi��o para
<br>
<br>o Urano de um empregado�principalmente se aflito�porque esta
<br>pessoa pode questionar os m�todos do nativo e tentar super�-los, �s
<br>vezes com resultados desastrosos. Tamb�m � poss�vel que ele fique
<br>descontente depois de um curto per�odo e procure outro emprego.
<br>Urano na 7� Casa
<br>
<br>Quando o Urano do homem cai na 7� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando est� em conjun��o com o
<br>seu Descendente, ele pode, talvez inconscientemente, coloc�-la
<br>numa posi��o em que ter� de fazer uma mudan�a radical para manter
<br>a paz do relacionamento. � poss�vel que por interm�dio dele a
<br>mulher seja apresentada a um c�rculo social totalmente diferente. Se
<br>Urano estiver aflito no nascimento e os aspectos cruzados forem
<br>discordantes, ele pode querer interferir nos seus relacionamentos,
<br>sendo a causa de ela romper um relacionamento com outra pessoa.
<br>Em alguns casos, ele pode tentar interpor-se entre ei a e o marido, ou
<br>tentar dizer a ele o que deveria fazer.
<br>
<br>Este elo indica um tipo de uni�o que, provavelmente, ter� um
<br>
<br>equil�brio prec�rio, estando sujeito a s�bitas mudan�as de rumo,
<br>
<br>devido a tend�ncias extravagantes do homem ou circunst�ncias que
<br>
<br>surgem de modo inesperado e desconcertante. Ele pode entrar re
<br>
<br>
<br>pentinamente na vida dela e partir com igual rapidez. No caso de um
<br>
<br>relacionamento rom�ntico, apesar do homem poder exercer algum
<br>
<br>fasc�nio sobre a mulher, n�o seria bom aconselh�-la a casar-se com
<br>
<br>ele, a menos que os aspectos cruzados entre os dois hor�scopos
<br>
<br>fossem particularmente harmoniosos. Mesmo assim, este elo pode
<br>
<br>indicar per�odos de separa��o for�ada, talvez porque o emprego de
<br>
<br>um dos parceiros envolva muitas viagens, ou devido a imprevistos.
<br>
<br>Como um a conseq��ncia dessa assoei a��o, a mulher pode decidir
<br>mudar a sua maneira de tratar as outras pessoas.
<br>Este elo n�o � recomendado em casos de relacionamentos de
<br>
<br>242
<br>
<br>
<br>neg�cios, a n�o ser que a novidade e originalidade sejam a linha-
<br>mestra do empreendimento.
<br>
<br>Urano na 8� Casa
<br>
<br>Quando o Urano do homem cai na 8� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, o relacionamento pode ser muito importante. As experi�ncias
<br>da mulher com o parceiro podem lev�-la a fazer uma auto-
<br>an�lise que a torna capaz de mudar algum aspecto importante da sua
<br>vida. Ele pode ser um meio de coloc�-la em contato com alguma
<br>doutrina ou disciplina particularmente ligada � obten��o de um maior
<br>autoconhecimento, tornando mais f�cil atuar sobre a personalidade.
<br>Ele pode despeitar o interesse de sua companheira pela �rea geral
<br>das ci�ncias ocultas, fazendo-a encarar o fen�meno da morte sob um
<br>novo prisma, como o come�o de uma nova vida ao inv�s do fim da
<br>antiga.
<br>
<br>Num n�vel menos elevado, talvez ele a fa�a interessar-se pelo
<br>estudo das ci�ncias econ�micas, apesar de na pr�tica talvez n�o ser
<br>a melhor pessoa a quem ela deva confiar as suas finan�as, porque
<br>pode tender a agi r de modo extravagante. Se forem casados, poderia
<br>haver uma disputa entre eles a respeito de quem deveria controlar o
<br>or�amento familiar.
<br>
<br>Entre sexos opostos e com a idade aproximada, este elo pode
<br>indicar muita atra��o f�sica. Mas se Urano estiver aflito no nascimento
<br>e os aspectos cruzados forem muito discordantes, qualquer
<br>atitude excessivamente experimental por parte de um dos parceiros
<br>pode levar a complica��es indesejadas.
<br>
<br>Urano na 9� Casa
<br>
<br>Quando o Urano do homem cai na 9� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode ser um meio de faz�-la rever toda a sua filosofia
<br>de vida. As suas opini�es sobre filosofia e religi�o podem diferir
<br>muito das dela. � poss�vel que ele a coloque em contato com id�ias
<br>e doutrinas que esclarecem alguns dos problemas que a intrigavam,
<br>e a desafiam a rever�s suas atitudes em rela��o a alguns aspectos da
<br>experi�ncia humana. Ele pode faz�-la interessar-se por novos livros
<br>que a estimulam a expandir-se em novas dire��es, e a adotar uma
<br>linha de pensamento mais original.
<br>
<br>
<br>� poss�vel que ele aumente o interesse da parceira por pa�ses
<br>estrangeiros e viagens ao exterior, ou seja capaz de sugerir-lhe formas
<br>mais f�ceis e r�pidas de ir de um lugar para outro.
<br>
<br>Se Urano estiver muito aflito no nascimento, o desafio que ele
<br>representa para o modo de pensar e concep��o de vida da parceira
<br>pode sert�o dr�stico que a far� rejeitar totalmente as suas id�ias, ou
<br>essas id�ias se tornar�o t�o extraordin�rias ou desconcertantes que
<br>ela ficar� totalmente perturbada ou cheia de apreens�o.
<br>
<br>Urano na IO� Casa
<br>
<br>Quando o Urano do homem cai na 10a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ou mais particularmente quando cai em conjun��o com o
<br>seu Meio do C�u, ele pode influir de modo impressionante no rumo
<br>da carreira dela. Talvez, de modo inesperado, ele lhe proporcione
<br>uma oportunidade de progresso ou, atrav�s de seu pr�prio exemplo,
<br>fa�a com que ela pergunte a si mesma se est� realizando o trabalho
<br>certo e seguindo o caminho correto para realizar seus objetivos.
<br>
<br>� poss�vel que ele lhe pare�a de certo modo um tipo um tanto exc�ntrico.
<br>Como as pessoas s�o julgadas de acordo com os amigos
<br>que elas t�m, talvez a parceira �s vezes ache que a associa��o n�o
<br>favorece muito a sua reputa��o. Se o comportamento dele realmente
<br>lhe parece muito esquisito, ele pode dar-lhe um �til exemplo de como
<br>n�o proceder!
<br>
<br>Quando Urano est� aflito no nascimento e os aspectos cruzados
<br>s�o discordantes, o seu impacto sobre os assuntos da mulher pode
<br>ser muito destruidor. Ele pode encar�-lo como uma pessoa para quem
<br>nunca conseguiria trabalhar, e a quem nunca permitiria que direcionasse
<br>a sua vida.
<br>
<br>Se o Urano do patr�o do nativo cair neste setor do hor�scopo, ele
<br>pode esperar que o nativo revele um alto grau de iniciativa e adaptabilidade,
<br>estando atento a situa��es mut�veis e alerta para tirar
<br>vantagem de qualquer nova oportunidade que venha a surgir.
<br>
<br>Se o Urano de um dos pais cair neste setor, � poss�vel que ele tente
<br>obrigar o nativo a seguir uma determinada profiss�o, ou o incentive
<br>a atirar-se num neg�cio pr�prio.
<br>
<br>Urano na 11� Casa
<br>
<br>Quando o Urano do homem cai na 11� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode apresent�-la a sociedades e organiza��es dedica
<br>
<br>
<br>
<br>das a apoiar algum ideal que ela acalenta, ou coloc�-la em contato
<br>com muitos tipos de amigos. Ele pode ser capaz de dar � companheira
<br>uma nova vis�o do conceito de fraternidade. Urano � o regente natural
<br>da 11� casa, e �s vezes a sua independ�ncia pode faz�-lo parecer
<br>um tanto displicente. Se a mulher se envolver num relacionamento
<br>�ntimo com ele, pode ter de estar preparada para fazer muitas
<br>concess�es. Em momentos de emerg�ncia � poss�vel que ele reaja
<br>de modo surpreendente e ofere�a ajuda quando ela menos espera.
<br>
<br>Se Urano estiver aflito no nascimento e os aspectos cruzados forem
<br>discordantes � poss�vel que, no curso normal dos acontecimentos,
<br>ela nunca prefira procurar a companhia dele. Se por acaso eles se
<br>aproximarem, talvez ela se sinta nitidamente constrangida em sua
<br>presen�a.
<br>
<br>Urano na 12� Casa
<br>
<br>Quando o Urano do homem cai na 12� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, o relacionamento pode ser particularmente estimulante,
<br>porque � poss�vel que ele desperte toda a sua capacidade latente de
<br>ser solid�ria e compreensiva, num esfor�o para descobrir o melhor
<br>modo de lidar com ele. Talvez ela sinta um certo nervosismo em sua
<br>presen�a. Mas se os aspectos cruzados forem harmoniosos e Urano
<br>estiver bem aspectado no nascimento, ele pode trazer uma nova luz
<br>para os problemas da parceira e ajud�-la a adaptar-se mais satisfatoriamente
<br>� vida como um todo. Apesar disso, antes desse objetivo
<br>ser atingido, � poss�vel que ela tenha de fazer algumas mudan�as b�sicas
<br>em suas atitudes emocionais e intelectuais. Ele pode lhe propor
<br>rem�dios dr�sticos, se ela acreditar no parceiro e estiver preparada
<br>para aceit�-los, obtendo, dessa forma, resultados surpreendentes. Ele
<br>pode trabalhar "atr�s dos bastidores" em benef�cio da parceira, com
<br>�timos resultados.
<br>
<br>Se Urano estiver aflito no nascimento, ele pode faz�-la sentir-se
<br>
<br>pouco � vontade e de certo modo inadequada. Por outro lado, talvez
<br>
<br>ela tenha a sensa��o de que o parceiro est� tramando um modo de
<br>
<br>tirar vantagem de seus pontos fracos. Ela pode imaginar que ele �
<br>
<br>mais forte onde ela � mais fraca. Apesar disso, se tentar copiar os
<br>
<br>m�todos dele, poder� apenas piorar as coisas.
<br>
<br>Esta n�o � uma boa posi��o para o Urano do m�dico do nativo, ou
<br>
<br>dos encarregados de tratar dele.
<br>
<br>
<br>NETUNO NAS CASAS
<br>
<br>Onde quer que o Netuno do nativo caia no hor�scopo de outra
<br>pessoa, indicar� a �rea da vida em que eles ter�o afinidades. De algum
<br>modo ele ser� capaz de descobrir o lado m ais idealista e caridoso do
<br>nativo, e por isso estar preparado para sacrificar-se para ajud�-lo. O
<br>idealismo do nativo pode despertar uma emo��o parecida no outro
<br>ou, em alguns casos, um desejo n�o satisfeito ou uma ligeira insatisfa��o
<br>com sua situa��o atual. De algum modo, o nativo o deixar�
<br>com um vaga sensa��o de inquieta��o que ele n�o consegue definir.
<br>� poss�vel que o nativo deixe a outra pessoa despeitar nele uma
<br>euforia que o leva a n�o encarar as duras realidades da vida. Em troca,
<br>
<br>o falso otimismo do nativo pode tranq�ilizar o outro com uma falsa
<br>sensa��o de seguran�a.
<br>Quando o Netuno do nativo est� aflito, a outra pessoa pode ter
<br>uma vaga sensa��o de ficar desnorteada com ele, e ser tentada a
<br>esquecer um pouco o seu pr�prio c�digo moral se o nativo revelar
<br>falta de escr�pulos em rela��o a determinados assuntos. O nativo
<br>pode n�o conseguir ter uma no��o clara do que o outro est� pretendendo.
<br>Ele pode agir assim para confundi-lo ou faz�-lo perder tempo,
<br>�s vezes causando-lhe preju�zos materiais ou prejudicando a sua
<br>reputa��o. � poss�vel que o nativo se aproveite demais da natureza
<br>bondosa do outro.
<br>
<br>Seus atos podem fazer a outra pessoa desejar certificar-se intei
<br>
<br>
<br>ramente de que est� interpretando de modo correto as suas inten��es
<br>
<br>a fim de encontrar um escape gratificante para os seus instintos
<br>
<br>caridosos e tornar um h�bito encarar a vida sob um ponto de vista
<br>
<br>mais po�tico.
<br>
<br>Os contempor�neos ter�o Netuno mais ou menos na mesma �rea
<br>do zod�aco, o que faz os aspectos no nascimento tomarem-se um fator
<br>particularmente decisivo.
<br>
<br>Netuno na 1� Casa
<br>
<br>Quando o Netuno do homem cai na primeira casa do hor�scopo
<br>de sua parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o
<br>com o seu Ascendente, ele pode achar que o seu canal de comunica��o
<br>mais eficaz com ela � atrav�s de suas emo��es e impulsos caridosos.
<br>Ele pode ser um meio de faz�-la compadecer-se mais dos
<br>
<br>246
<br>
<br>
<br>desprivilegiados. � poss�vel que ele interprete os seus sonhos e
<br>explique suas fantasias, apesar de ela poder ter de ficar atenta para
<br>ele n�o alimentaras suas ilus�es. O efeito do parceiro pode ser muito
<br>relaxante e apaziguador. � poss�vel que ele, consciente ou inconscientemente,
<br>a ensine a exteriorizar mais seus sentimentos. Especialmente
<br>se ambos tiverem a mesma idade, pode ser preciso que
<br>ela tome precau��es para n�o se identificar com as emo��es de seu
<br>companheiro e permitir que ele influencie demais os seus sentimentos
<br>de simpatia.
<br>
<br>Se os aspectos cruzados com Netuno forem favor�veis, ele pode
<br>ser capaz de mostrar-lhe como realizar o seu maior desejo. Apesar
<br>disso � a menos que os desejos dela n�o a fa�am querer obter
<br>vantagens pessoais � custa dos outros � ela pode descobrir que o
<br>que parecia prometer tanto acabou se revelando um motivo de grande
<br>desapontamento.
<br>
<br>Quando Netuno est� mal posicionado no nascimento e os aspectos
<br>cruzados com ele s�o desfavor�veis, os dois podem ter uma
<br>imagem totalmente errada um do outro, ou o homem se revelar uma
<br>pessoa que n�o merece a m�nima confian�a. De certo modo ele pode
<br>ser um motivo de desapontamento para a parceira, n�o necessariamente
<br>por causa de alguma atitude deliberada de sua parte, mas talvez
<br>devido a algum equ�voco por parte da parceira. Em casos extremos,
<br>ele pode deliberadamente desencaminh�-la e envolv�-la num
<br>esc�ndalo que prejudique sua reputa��o.
<br>
<br>Netuno na 2� Casa
<br>
<br>Quando o Netuno do homem cai na 2� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ela deveria ser prudente e n�o deix�-lo modificar seus planos
<br>financeiros. Teoricamente ele pode sugerir-lhe id�ias de como
<br>distribuir riquezas de modo a beneficiar ao m�ximo os pobres e necessitados,
<br>mas na pr�tica esses programas podem se revelar invi�veis
<br>e de pouca utilidade. Entretanto, ele pode de certo modo testar
<br>a capacidade da parceira de aumentar os seus gastos e adotar uma
<br>atitude mais generosa em rela��o �s suas finan�as.
<br>
<br>� poss�vel que ela se sinta tentada a "comprar" a benevol�ncia do
<br>parceiro demonstrando generosidade. Se Netuno estiver muito aflito
<br>no nascimento cos aspectos cruzados forem discordantes,ele pode
<br>tentar abusar de seus impulsos caridosos ou aproveitar-se de sua
<br>
<br>
<br>ingenuidade. Com isso, ela pode aprender a julgar mais friamente
<br>as raz�es das outras pessoas. A inveja pode estar nas bases do relacionamento
<br>financeiro deles.
<br>
<br>O homem pode ter ideias otimistas para melhorar a situa��o financeira
<br>da parceira. Entretanto, cia pode achar que se aceitar seus
<br>conselhos, em breve estar� numa situa��o dif�cil, ou circunst�ncias
<br>que fogem ao seu controle podem vir a frustrar os seus melhores
<br>planos. � prov�vel que ela precise estudar atentamente todas as
<br>sugest�es do parceiro com o m�ximo de bom senso de que for capaz
<br>antes de aceit�-las, mas normalmente achar� mais seguro ignorar
<br>completamente as suas id�ias. �s vezes o parceiro tem "palpites"
<br>felizes que d�o certo para ele, mas logo que lhe concede o benef�cio
<br>de seus conselhos alguma coisa sai errado e ela n�o consegue lucrar
<br>com eles.
<br>
<br>Netuno na 3� casa
<br>
<br>Quando o Netuno do homem cai na 3a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, seu impacto sobre os processos mentais dela pode servir
<br>para ajud�-la a desenvolver seus poderes de imagina��o e aprecia��o
<br>po�tica. Ele pode desafi�-la a transcender o processo de racioc�nio
<br>sensato, acrescentando uma dimens�o extra de consci�ncia intuitiva.
<br>Talvez tenha o dom de visualizar id�ias de modo a comunic�-las mais
<br>claramente � parceira, ou tenha a capacidade de tornar fascinantes a
<br>educa��o e processos de aprendizado, tornando-a mais interessada
<br>neles. Em algumas ocasi�es ela precisar� pensar muito claramente
<br>para evitar uma certa dose de confus�o mental. As imagens mentais
<br>que ele faz surgir como por encanto podem ter mais de uma interpreta��o.
<br>Ele pode ser capaz de persuadi-la a ter uma vis�o menos
<br>curta e fria da educa��o e instru��o, fazendo-a tender a ampliar a sua
<br>base de estudos, aprendendo a repudiar a doutrina do exclusivismo
<br>
<br>�
<br>porque "A" est� certo, "B" deve estar errado.
<br>E poss�vel que o homem seja capaz de captar telepaticamente os
<br>pensamentos da mulher, e de ensinar-lhe a aumentar seus poderes
<br>intuitivos.
<br>Se Netuno estava aflito no nascimento dele e os aspectos cruzados
<br>eram discordantes, a parceira pode concluir que ele � muito teimoso,
<br>ou achar que suas opini�es � ou o que ela imagina que sej am as suas
<br>opini�es � a tiram do bom caminho e a confundem.
<br>
<br>
<br>Ele pode dar-lhe informa��es erradas sobre hor�rios de viagens,
<br>amenidades ou at� mesmo ser o motivo de ela fazer um a viagem in�til.
<br>Apesar disso, se os aspectos com Netuno forem em sua maioria
<br>favor�veis, os seus fascinantes relatos de viagens ao exterior podem
<br>incutir na mente da parceira um desejo de viajar, e talvez encoraj�la
<br>a faz�-lo de navio ou avi�o.
<br>
<br>Num relacionamento entre professor e aluno, esta n�o � uma boa
<br>posi��o para o Netuno do professor, a menos que os aspectos
<br>cruzados com ele sejam particularmente favor�veis.
<br>
<br>Netuno na 4� Casa
<br>
<br>Quando o Netuno do homem cai na 4� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o com o seu
<br>Meridiano Inferior, ele pode influenciar de uma maneira sutil o
<br>ambiente dom�stico de sua companheira. As rea��es instintivas e
<br>h�bitos da mulher obter�o a sua simpatia e aprova��o ou uma absurda
<br>desconfian�a. As experi�ncias da parceira com ele podem tender
<br>a diminuir o efeito da educa��o que ela recebeu dos pais e � se
<br>Netuno estiver muito aflito � tent�-la a lan�ar ao mar alguns dos
<br>princ�pios cuidadosamente incutidos nela cm sua inf�ncia. As vezes
<br>ele tem um modo sutil de pedir sua hospitalidade, ou sabe exatamente
<br>como tirar proveito dos seus instintos caridosos, fazendo-a sentir-
<br>se obrigada a oferecer-lhe casa e comida.
<br>
<br>Se o homem estiver representando a mulher na aquisi��o ou venda
<br>
<br>de bens ou im�veis, ela poder� descobrir que as negocia��es foram
<br>
<br>mal dirigidas, ou at� mesmo que houve alguma trapa�a. Se Netuno
<br>
<br>estiver muito aflito no nascimento, e os aspectos cruzados com ele
<br>
<br>forem discordantes, � poss�vel que ele dilapide os seus bens ou a
<br>
<br>incentive a fazer isso. Ele pode tentar priv�-la de seu direito
<br>
<br>heredit�rio ou de algum modo envolv�-la num esc�ndalo, fazendo-
<br>
<br>a esquecer de tomar alguma precau��o vital, ou ser a causa de uma
<br>
<br>grande deteriora��o em seu ambiente dom�stico.
<br>
<br>Se o Netuno de um dos pais cair na 4a casa do nativo, ele pode
<br>achar que est� preso a ele devido � sua enfermidade ou doen�a
<br>cr�nica.
<br>
<br>Netuno na 5� Casa
<br>Quando o Netuno do homem cai na 5� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode ser capaz de aumentar sua vis�o art�stica e acres
<br>
<br>
<br>
<br>centar uma sutil e nova dimens�o aos seus poderes criativos. �
<br>poss�vel que a incite a revelar a sua personalidade de um modo mais
<br>comovente, e traga um novo sentido de idealismo para as atividades
<br>que ela mais aprecia. Ele pode ser um meio de aumentar suas
<br>atividades de lazer. Se eles tiverem uma idade adequada, este elo pode
<br>estimular sonhos de romance, ou ambos podem compartilhar de
<br>fantasias rom�nticas. Se Netuno estiver muito aflito, na melhor das
<br>hip�teses o resultado pode ser um tanto frustrante, e na pior delas
<br>levar a um a artificial e desagrad�vel par�dia do relacionamento amoroso.
<br>\
<br>
<br>Este contato pode desafiar a mulher a viver � altura dos seus mais
<br>elevados ideais rom�nticos, e lembrar-lhe que o verdadeiro amor
<br>pode exigir uma total ren�ncia e disposi��o para sacrificar tudo pelo
<br>amado. Ele pode fazer a parceira ter um maior reconhecimento intuitivo
<br>do fato de que � objeto da afei��o de algu�m, e ensin�-la a
<br>elevar e aperfei�oar a natureza de sua pr�pria afei��o.
<br>
<br>Sem que a mulher se d� conta, ele pode esgotar a sua vitalidade
<br>ou fazer com que ela a desperdice cm empreendimentos que n�o levam
<br>a nada. Na melhor das hip�teses ele pode dar-lhe inspira��o para
<br>atingir o seu mais alto n�vel de esfor�o criativo.
<br>
<br>Netuno na 6� Casa
<br>
<br>Quando o Netuno do homem cai na 6a casa do hor�scopo de sua
<br>
<br>parceira, ela pode achar que de algum modo ele diminui a sua efi
<br>
<br>
<br>ci�ncia. Ele pode ter o efeito de anuviar o foco n�tido que ela ge
<br>
<br>
<br>ralmente � capaz de dirigir para as suas opera��es t�cnicas. E poss�vel
<br>
<br>que ele seja muito compreensivo em rela��o aos problemas da par
<br>
<br>
<br>ceira, e que tamb�m desperte nela um maior idealismo em rela��o
<br>
<br>ao ato de prestar ajuda aos outros.
<br>
<br>Se Netuno estiver bem aspectado no nascimento e os aspectos
<br>
<br>cruzados forem favor�veis, ele pode ter um efeito "calmante" sobre
<br>
<br>sua companheira. Mas se o planeta estiver aflito no nascimento e
<br>
<br>pelos aspectos cruzados, � poss�vel que n�o aprecie muito os seus
<br>
<br>m�todos, ou ofere�a sugest�es pouco pr�ticas que a desviam de seu
<br>
<br>caminho c fazem-na achar que teria se dado melhor sem a ajuda ou
<br>
<br>conselho dele.
<br>
<br>Num relacionamento entre empregado e patr�o, esta n�o � uma
<br>
<br>boa posi��o para o Netuno do empregado, porque ele pode n�o inter
<br>
<br>
<br>250
<br>
<br>
<br>pretar corretamente as ordens ou ter o infeliz dom de criar ou atrair
<br>confus�o e caos. � prov�vel que ele perca muitas horas de trabalho
<br>por motivo de doen�a. Se o Netuno do patr�o estiver nesta posi��o,
<br>ele pode ser vago ou descuidado ao dar as suas instru��es. Apesar
<br>de poder preocupar-se com o bem-�star do seu empregado, � poss�vel
<br>que demore a tomar medidas pr�ticas neste sentido.
<br>
<br>Netuno na 7� Casa
<br>
<br>Quando o Netuno do homem cai na 7a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o com o seu
<br>Descendente, � poss�vel que a mulher o considere o companheiro
<br>ideal. No entanto � a menos que Netuno esteja bem aspectado no
<br>nascimento e os aspectos cruzados com ele sejam favor�veis � ela
<br>pode achar que foi iludida por uma miragem de felicidade inalcans�vel,
<br>e que a uni�o maravilhosa que idealizou talvez nunca se
<br>concretize. E poss�vel que o parceiro, de algum modo, permane�a
<br>esquivo e inating�vel, mesmo se eles forem casados, apesar de
<br>freq�entemente perdurar um fasc�nio para lembrar a eterna promessa
<br>de uma comunh�o m�stica.
<br>
<br>Talvez fosse melhor se a mulher n�o tivesse id�ias convencionais
<br>sobre o relacionamento, porque todo o objetivo de sua experi�ncia
<br>com ele pode ser acostumar-se � id�ia de permitir uma total liberdade
<br>de pensamentos e a��o aos outros, sem tentar acorrentar as
<br>pessoas a ela, e confiando apenas nos elos que surgem de uma
<br>compreens�o piedosa e de uma sensa��o de identidade espiritual.
<br>
<br>De algum modo ele pode ser um meio de aumentar o seu c�rculo
<br>
<br>de amizades.
<br>
<br>Quando Netuno est� muito aflito no nascimento e os aspectos
<br>
<br>cruzados com ele s�o discordantes, pode ser dif�cil para a mulher ter
<br>
<br>uma afinidade satisfat�ria com o parceiro, porque ele pode parecer
<br>
<br>indigno de confian�a e n�o ter nenhuma virtude pr�tica. � poss�vel
<br>
<br>que em determinadas ocasi�es ele deturpe deliberadamente suas
<br>
<br>id�ias e tente prejudicar a sua reputa��o. Possivelmente o objetivo
<br>
<br>desse elo � aumentar a capacidade de a mulher ter uma maior cons
<br>
<br>
<br>ci�ncia intuitiva dos elementos de compatibilidade na outra pessoa,
<br>
<br>e faz�-la ver a necessidade de sacrificar-se para conseguir um rela
<br>
<br>
<br>cionamento verdadeiramente harmonioso. Este contato tamb�m
<br>
<br>pode ajud�-la a perceber que uma compreens�o piedosa das dife
<br>
<br>
<br>
<br>rencas de temperamento entre as pessoas ajuda a derrubar as barreiras
<br>entre elas.
<br>Esta n�o � uma boa posi��o para o Netuno do advogado do nativo,
<br>ou de ningu�m a quem ele delegue poderes para agir em seu nome.
<br>
<br>Netuno na 8� Casa
<br>
<br>Quando o Netuno do homem cai na 8a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ela pode sentir um leve descontentamento provocado pelo
<br>relacionamento, talvez nascido de um reconhecimento inconsciente
<br>da necessidade de um elemento vital de transforma��o em seu ser.
<br>Esse sentimento pode ser t�o vago que ela acha dif�cil o desejo de
<br>realizar mudan�as dentro de si pr�pria "ganhar �mpeto". Pouco a
<br>pouco, com o correr do tempo, a vaga sensa��o de inquieta��o pode
<br>assumir tais propor��es que os seus �ltimos vest�gios de resist�ncia
<br>finalmente desaparecem.
<br>
<br>Este pode ser um elo excelente se eles compartilharem de um
<br>interesse latente ou manifesto pelo ocultismo e estados de consci�ncia
<br>p�s-morte, mas pode haver uma grande necessidade de evitar
<br>uma atitude muito te�rica em rela��o a esses assuntos. Em
<br>nenhuma outra esfera � mais importante ser rigorosamente pr�tico.
<br>Ela deve ter muito cuidado se o Netuno do homem estiver aflito no
<br>nascimento e os aspectos cruzados com ele forem discordantes. Em
<br>alguns casos, ele pode tirar vantagem do seu medo da morte e do desconhecido.
<br>
<br>
<br>Se houver um relacionamento sexual entre eles, este elo pode
<br>
<br>indicar problemas de desejo n�o satisfeito.
<br>
<br>Raramente este elo � completamente satisfat�rio, j� que o homem
<br>
<br>pode servir de meio para a companheira perceber que uma metamor
<br>
<br>
<br>fose interior somente pode ser conseguida com um certo grau de
<br>
<br>sacrif�cio � de alguma parte da natureza inferior, levando a uma
<br>
<br>purifica��o dos desejos.
<br>
<br>Esta n�o � uma boa posi��o para o Netuno do s�cio donativo, ou
<br>
<br>de ningu�m que lide com os seus neg�cios. Qualquer parente cujo
<br>
<br>Netuno caia neste setor pode questionar o seu direito a uma heran�a.
<br>
<br>Netuno na 9� Casa
<br>Quando o Netuno do homem cai na 9� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode faz�-la encarar a vida sob um prisma muito mais
<br>
<br>252
<br>
<br>
<br>elevado e espiritual. Atrav�s da vis�o do companheiro, ela pode ser
<br>incentivada a ampliar as suas fronteiras e a ser mais receptiva em
<br>rela��o a id�ias. As experi�ncias em comum podem destruir gradualmente
<br>qualquer tend�ncia excessiva que a mulher possa ter em
<br>rela��o a um dogma, e proporcionar-lhe uma maior compreens�o
<br>piedosa dos r�gidos ensinamentos religiosos. Se Netuno estiver numa
<br>posi��o proeminente e muito aflito, ele pode tentar atribuir �s id�ias
<br>da parceira uma conota��o comunista. Se os aspectos cruzados com
<br>
<br>o Netuno do homem forem desfavor�veis, ele pode despertar-lhe
<br>falsas esperan�as ou prejudicar a sua clara compreens�o de assuntos
<br>religiosos e filos�ficos.
<br>Como seu tutor, ele pode ter o poder de despertar-lhe a imagina��o
<br>e dotar assuntos que ela at� ent�o considerara banais de um novo
<br>fasc�nio. Os seus apaixonados relatos de experi�ncias que teve no
<br>exterior podem estimular na mulher um cont�nuo desejo de viajar.
<br>Ele pode ajud�-la de muitos modos a ampliar os seus horizontes
<br>espiritual, mental e fisicamente. � poss�vel que eles tenham se conhecido
<br>durante viagens de navio ou avi�o.
<br>
<br>Se Netuno estiver muito aflito, talvez ela o considere um falso
<br>profeta.
<br>Esta n�o � um a boa posi��o para o Netuno do agente de publicidade
<br>do nativo.
<br>
<br>Netuno na 10� Casa
<br>
<br>Quando o Netuno do homem cai na 10� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o com o seu
<br>Meio do C�u, a conseq��ncia ideal do relacionamento poderia ser o
<br>homem incentivar a mulher a tornar espiritual o seu objetivo consciente
<br>na vida, fazendo-a interessar-se por assuntos elevados e
<br>dedicar os seus pensamentos a ideais ainda mais sublimes.
<br>
<br>No entanto, normalmente h� o risco de ela desanimar, porque
<br>quanto maior � o seu progresso, mais inating�vel parece o objetivo.
<br>Se a associa��o ocorrer bem cedo na vida, o homem pode ser apresentado
<br>� mulher como um maravilhoso exemplo do que pode ser
<br>feito. Longe de ser incentivada a seguir esse exemplo, ela pode se
<br>sentir desanimada, ou achar que a compara��o � injusta porque os
<br>talentos dele podem ser muito diferentes dos dela, ou que lhe foram
<br>negadas as excelentes oportunidades que ele teve.
<br>
<br>
<br>Ele pode dar muita import�ncia ao valor que a mulher d� � sua
<br>reputa��o.
<br>
<br>Quando o Netuno do homem est� aflito e os aspectos cruzados
<br>s�o discordantes, � poss�vel que ele habilmente desvirtue os objetivos
<br>da parceira, ou fa�a eles se tomarem pouco claros. Se existir uma
<br>liga��o �ntima entre eles, � poss�vel que a mulher tenha de sacrificar
<br>de algum modo a sua carreira devido � doen�a ou invalidez de um
<br>companheiro. Numa situa��o que envolve rivalidade, ele pode faz�la
<br>perder uma promo��o, arruinar insidiosamente a sua posi��o ou
<br>atirar o bom nome dela na lama, tramando para envolv�-la num
<br>esc�ndalo ou � talvez involuntariamente � devido a algum
<br>descuido ou equ�voco dele.
<br>
<br>Netuno na 11� Casa
<br>
<br>Quando o Netuno do homem cai na 11� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode parecer-lhe um amigo particularmente desej�vel.
<br>Mas se a mulher tiver motivos at� certo ponto ocultos para querer a
<br>sua amizade, pode achar que o relacionamento se revelou muito diferente
<br>do que ela esperara. Externamente, o homem pode parecer estar
<br>numa posi��o que lhe permite realizar as mais extravagantes esperan�as
<br>e desejos mais acalentados da parceira.
<br>
<br>Ela pode achar que a amizade se desenvolve melhor quando �
<br>mantida uma "r�dea solta". O contato numa base regular n�o � favorecido
<br>por esta posi��o de Netuno, que geralmente indica um relacionamento
<br>do tipo "t�o f�cil vem como vai". �s vezes este elo
<br>est� presente entre os hor�scopos de pessoas separadas geograficamente
<br>por uma extens�o de terra ou mar, quando as suas
<br>diferentes experi�ncias podem se revelar muito divertidas para ambos.
<br>
<br>
<br>�s vezes a sa�de fraca do homem ou circunst�ncias infe
<br>
<br>
<br>lizes podem exigir sacrif�cios da parceira, e trazer � tona o lado
<br>
<br>piedoso de sua natureza. Ele pode apresent�-la a um grupo formado
<br>
<br>com o objetivo de apoiar algum ideal, ou aumentar o seu c�rculo de
<br>
<br>amizades, algumas das quais podem ter interesses ou talentos art�sti
<br>
<br>
<br>cos. O casal pode ter muito prazer em compartilhar de atividades de
<br>
<br>lazer.
<br>
<br>As experi�ncias da mulher com seu companheiro podem ser
<br>
<br>planejadas para ensinar a ela como cultivar amizade "sem compro
<br>
<br>
<br>
<br>missos" e a aceitar o fato de que n�o � poss�vel viver o tempo todo
<br>num estado de felicidade celestial.
<br>
<br>Netuno na12� Casa
<br>
<br>Quando o Netuno do homem cai na 12� casa do hor�scopo de
<br>sua parceira, o efeito desta associa��o pode depender muito do estado
<br>da 12� casa da mulher, bem como dos aspectos com o Netuno
<br>do homem no nascimento e os aspectos cruzados com os
<br>dois hor�scopos. A rela��o deles pode, de um modo sutil, fazer a parceira
<br>conseguir adaptar-se mais facilmente aos problemas da vida,
<br>e encoraj�-la a desenvolver uma atitude menos tensa em rela��o a
<br>eles.
<br>
<br>Por outro lado, se os aspectos cruzados com Netuno forem preponderantemente
<br>discordantes, o relacionamento poderia facilmente
<br>lev�-la a procurar alguma forma de escapismo, que possivelmente a
<br>tomaria mais profundamente envolvida com as suas dificuldades e
<br>a deixaria mais longe do que nunca de uma solu��o definitiva.
<br>
<br>De algum modo o homem pode ser capaz de despertar os instintos
<br>mais caridosos e bondosos da parceira, abrindo-lhe caminho para
<br>ajudar alguns dos desprivilegiados. � poss�vel que ele pr�prio precise
<br>da sua bondade.
<br>
<br>O motivo da aproxima��o deles pode ser um interesse m�tuo em
<br>assuntos ps�quicos ou m�sticos. Mas a menos que Netuno esteja bem
<br>aspectado e os dois mapas se combinem bem, as experi�ncias resultantes
<br>talvez n�o correspondam �s expectativas de ambos e, em
<br>alguns casos extremos, podem ser bastante desagrad�veis.
<br>
<br>Se o Netuno do homem estiver aflito no nascimento e os aspectos
<br>
<br>cruzados com ele forem discordantes, ele pode tra�-la ou coloc�-la
<br>
<br>numa situa��o em que ela se toma a causa de sua pr�pria mina, devido
<br>
<br>a alguma fraqueza inata ou por n�o conseguir ser sincera consigo
<br>
<br>mesma.
<br>
<br>O principal objetivo por tr�s da associa��o pode ser agu�ar a
<br>capacidade intuitiva da mulher de distinguir quem realmente precisa
<br>da sua bondade e apoio, e faz�-la tomar cuidado para n�o confiar
<br>tolamente os seus segredos, expondo os seus pontos fracos aos
<br>outros. O homem pode despertar nela um desejo de abrir m�o de todos
<br>os aspectos da sua personalidade que conspiram contra os seus melhores
<br>interesses e impedem o seu progresso espiritual.
<br>
<br>
<br>PLUT�O NAS CASAS
<br>
<br>Onde quer que o Plut�o do nativo caia no mapa de outra pessoa,
<br>mostrar� em que ponto ele provavelmente a far� descobrir alguma
<br>parte oculta de si pr�pria, de modo a finalmente achar que desenvolveu
<br>uma vis�o totalmente nova em rela��o a assuntos indicados
<br>por esse setor do hor�scopo. Como resultado, essa pessoa
<br>ser� impelida a mudar, ou reconhecer� a necessidade de mudar
<br>sua atitude em rela��o a esses assuntos. O modo de encarar a vida
<br>do nativo, as suas conquistas, ou o que ele exige da outra pessoa,
<br>podem faz�-la utilizar recursos que n�o sabia que possu�a, e desafi�la
<br>a atingir um n�vel de desempenho que antes n�o considerava
<br>poss�vel. O outro pode se sentir pressionado pela atitude do nativo,
<br>ou experimentar uma forma vaga de inquieta��o. Em alguns casos,
<br>
<br>o nativo pode dar a impress�o de exercer uma influ�ncia quase
<br>hipn�tica sobre a outra pessoa, sugestionando-a para que siga uma
<br>determinada linha de a��o. O nativo pode, de algum modo, ser um
<br>meio de proporcionar-lhe uma oportunidade de fazer uma an�lise
<br>completa de suas motiva��es e h�bitos, fazendo-a perceber que os
<br>verdadeiros motivos que a levam a agir de determinado modo n�o
<br>diferem do que imagina. Muitas coisas depender�o do planeta ou
<br>grupo de planetas no hor�scopo do outro que s�o aspectados pelo
<br>Plut�o do nativo.
<br>Porque Plut�o se desloca mais lentamente que qualquer outro
<br>planeta conhecido � exceto pelos breves per�odos em que
<br>entra na �rbita de Netuno � a tend�ncia ser� o Plut�o do nativo
<br>cair na mesma casa num hor�scopo contempor�neo do Plut�o da
<br>outra pessoa. No caso de uma gera��o mais velha, o Plut�o do
<br>nativo pode cair na casa seguinte � do Plut�o da pessoa mais
<br>velha. No caso de uma gera��o mais nova, o Plut�o do nativo pode
<br>cair na casa anterior � do Plut�o da pessoa mais jovem. Quando ocorre
<br>este tipo de interc�mbio, o nativo pode exercer alguma influ�ncia
<br>sobre a gera��o mais nova com quem entra em contato, dando
<br>um tipo de orienta��o nova � atitude deles em rela��o �s coisas indicadas
<br>pela casa que precede os seus pr�prios Plut�es. Por sua vez,
<br>isso os far� efetuar mudan�as na �rea de suas vidas regida pela casa
<br>que cont�m os seus pr�prios Plut�es. A situa��o pode ser invertida
<br>nos relacionamentos do nativo com a gera��o mais velha, quando a
<br>
<br>
<br>nova orienta��o pode ocorrer em assuntos indicados pela casa
<br>seguinte �quela cm que o Plut�o da pessoa mais velha est� posicionado.
<br>
<br>
<br>Plut�o na 1� Casa
<br>
<br>Quando o Plut�o do homem cai na 1a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando est� cm conjun��o com o
<br>seu Ascendente, o homem pode se sentir atra�do pela mulher devido
<br>a alguma potencialidade que ela parece possuir, ou por uma faceta
<br>de sua personalidade que n�o � imediatamente vis�vel para os outros.
<br>O real motivo da exist�ncia do relacionamento pode ser fazer surgir
<br>na mulher um desejo de ser cada vez mais ela mesma. O homem se
<br>preocupar� mais com as qualidades que ela n�o exibe imediatamente
<br>para o mundo. � poss�vel que ele a desafie, talvez inconscientemente,
<br>a descobrir algum motivo oculto para agir do qual ela n�o tinha
<br>consci�ncia, tendo-o talvez reprimido por raz�es psicol�gicas. O
<br>resultado pode ser a mulher achar que o parceiro lhe possibilitou
<br>realizar algum tipo de mudan�a em si pr�pria que a tornou uma pessoa
<br>mais completa e integrada.
<br>
<br>Em alguns casos, pode haver um tipo de elemento de Svengali
<br>
<br>nesse tipo de relacionamento, com o homem hipnotizando a com
<br>
<br>
<br>panheira, fazendo-a sentir uma compuls�o para agir de determinado
<br>
<br>modo ou adotar certas cren�as. Se Plut�o estiver muito aflito no
<br>
<br>nascimento e os aspectos cruzados forem discordantes, esta uni�o
<br>
<br>pode ser particularmente prejudicial para a mulher. Ela pode fazer o
<br>
<br>parceiro se conscientizar de alguns desajustes arraigados em sua
<br>
<br>pr�pria psique, que ele projeta para ela, ou pelos quais a responsa
<br>
<br>
<br>biliza, fazendo surgir uma inimizade entre eles.
<br>
<br>Geralmente este elo indica um relacionamento particularmente
<br>
<br>c�rmico, em que muita carga emotiva foi estabelecida entre eles
<br>
<br>durante um conv�vio numa encarna��o anterior. � poss�vel que haja
<br>
<br>muitos assuntos pendentes para serem resolvidos. E quase certo que
<br>
<br>o relacionamento tenha um profundo significado, com muitas potencialidades
<br>para o benef�cio ou preju�zo de ambos, de acordo com
<br>a natureza dos aspectos cruzados em jogo.
<br>Um envolvimento de ambos em situa��es perigosas pode fazer a
<br>mulher refletir sobre a natureza da morte, e lev�-la a rever a sua atitude
<br>a respeito da possibilidade de uma vida al�m-morte.
<br>
<br>
<br>Plut�o na 2� Casa
<br>
<br>Quando o Plut�o do homem cai na 2a casa do hor�scopo de
<br>sua parceira, as experi�ncias da mulher com ele podem faz�-la compreender
<br>os motivos mais profundos que regem a sua atitude em
<br>rela��o a dinheiro e bens materiais. As atitudes do companheiro
<br>podem faz�-la perguntar a si mesma em que realmente se baseia o
<br>crit�rio de valores dele, e a rever toda a sua atitude em rela��o �
<br>seguran�a. Se os aspectos cruzados com Plut�o forem particularmente
<br>harmoniosos, o parceiro pode proporcionar-lhe muitos
<br>lucros financeiros.
<br>
<br>Se o Plut�o do homem estiver aflito no nascimento e os aspectos
<br>cruzados com ele forem discordantes, o parceiro pode envolv�-la
<br>em perdas que a fazem refletir sobre o fato de que a verdadeira riqueza
<br>n�o pode ser medida satisfatoriamente em qualquer base
<br>material.
<br>
<br>Quando este elo est� presente, a mulher deveria ser aconselhada
<br>
<br>a n�o deixar o parceiro opinar muito a respeito de como ela deveria
<br>
<br>conduzir os seus assuntos financeiros � muito embora ele possa
<br>
<br>parecer ter um interesse especial por eles � mesmo se achar que
<br>
<br>ele pode ajud�-la a concluir uma linha de combate espetacular na
<br>
<br>frente de opera��es financeiras.
<br>
<br>Plut�o na 3� Casa
<br>
<br>Quando o Plut�o do homem cai na 3� casa do hor�scopo de sua
<br>
<br>parceira, ele pode influenciar muito o seu modo de pensar. Apesar
<br>
<br>disso, ocasionalmente h� um elemento de reciprocidade, e algumas
<br>
<br>das id�ias da mulher eventualmente assumem uma import�ncia para
<br>
<br>ele que no princ�pio n�o tinham. As id�ias do companheiro podem
<br>
<br>desafi�-la a mudar o seu modo de pensar, e coloc�-la em contato com
<br>
<br>�reas de conhecimento que acabam por faz�-la encarar as coisas de
<br>
<br>um modo totalmente novo. Ao mesmo tempo, a mulher n�o deveria
<br>
<br>permitir que o parceiro tentasse e a for�asse a meramente reproduzir
<br>
<br>os pensamentos dele.
<br>
<br>Quando se trata de um relacionamento entre pais e filhos, o Plut�o
<br>
<br>do pai caindo na 3a casa da crian�a, provavelmente, indicar� que ele
<br>
<br>ter� um interesse especial pela sua educa��o, e pode querer impor o
<br>
<br>modo exato pelo qual ela deveria ser feita.
<br>
<br>258
<br>
<br>
<br>Plut�o na 4� Casa
<br>
<br>Quando o Plut�o do homem cai na 4a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ou mais particularmente quando cai em conjun��o com o
<br>seu Meridiano Inferior, o relacionamento pode conscientiz�-la de
<br>algumas de suas rea��es instintivas e habituais que antes eram quase
<br>autom�ticas. � prov�vel que o companheiro desperte emo��es fortes
<br>nela, baseadas numa atra��o e repulsa instintivas. Ele pode de algum
<br>modo evocar v�vidas lembran�as de uma experi�ncia passada �
<br>possivelmente relacionada a uma vida pregressa � que se apoderam
<br>dela de tal forma que a fazem achar que essa experi�ncia tem um
<br>enorme efeito psicol�gico sobre ela.
<br>
<br>O homem pode influenciar muito o ambiente dom�stico da parceira,
<br>e talvez a sua carreira. Se os aspectos cruzados com o seu Plut�o
<br>forem discordantes, ele pode afetar negativamente a carreira da
<br>mulher, revelando algum delito leve h� muito esquecido que prejudica
<br>o bom nome da parceira.
<br>
<br>Num relacionamento entre pais e filhos, onde � o Plut�o de um
<br>dos pais que est� envolvido, � poss�vel que eles tenham influenciado
<br>muito a educa��o inicial da crian�a, a crian�a tenha inconscientemente
<br>tentado copi�-los ou � se os aspectos cruzados eram discordantes
<br>� o filho pode ter evitado a todo o custo seguir o exemplo
<br>dos pais. Os pais podem querer determinar a carreira do filho, e
<br>desejar muito que ele siga os seus pr�prios passos. Eles podem tentar
<br>estimular a crian�a a sair de casa o mais cedo poss�vel, ou agarrarem-
<br>se a ela o m�ximo de tempo poss�vel, de acordo com a natureza
<br>dos aspectos cruzados com Plut�o.
<br>
<br>Plut�o na 5� Casa
<br>
<br>Quando o Plut�o do homem cai na 5� casa do hor�scopo de sua
<br>
<br>parceira, ele pode ser de certo modo respons�vel por ela ter se cons
<br>
<br>
<br>cientizado de alguns talentos criativos latentes, que possivelmente
<br>
<br>permitir� que ela desenvolva com um bom resultado, atrav�s de seu
<br>
<br>exemplo ou sugest�o.
<br>
<br>Quando o casal est� dentro de uma faixa et�ria adequada, pode
<br>
<br>haver um forte elo emocional entre eles, apesar de muitas coisas de
<br>
<br>
<br>penderem dos aspectos cruzados com Plut�o quanto � natureza de
<br>
<br>qualquer envolvimento e ao modo pelo qual ele come�a. Muitos dos
<br>
<br>contempor�neos da mulher tendem a ter os seus Plut�es redomicili
<br>
<br>
<br>
<br>ados nesta mesma casa. Assim, este est�mulo pode indicar uma
<br>propens�o a envolver-se emocionalmente com eles. O resultado final
<br>pode ser incentiv�-la a descobrir os motivos ocultos que causam esta
<br>propens�o. Se achar que as suas paix�es est�o ficando excessivamente
<br>envolvidas, pode descobrir que finalmente ser� obrigada a
<br>mudar todo o seu modo de encarar os assuntos do cora��o.
<br>
<br>� poss�vel que de algum modo o homem influencie muito a atitude
<br>da parceira em rela��o � busca do prazer e de atividades de lazer.
<br>Se ela tiver filhos, Plut�o estiver muito aflito no nascimento e os
<br>aspectos cruzados com ele forem discordantes, a influ�ncia do parceiro
<br>sobre os filhos dela pode ser indesej�vel.
<br>
<br>Num relacionamento entre pais e filhos, quando � o Plut�o de um
<br>dos pais que est� envolvido, ele pode encorajar a crian�a a expressar-
<br>se de um modo totalmente livre, ou tentar determinar as atividades
<br>que ocupar�o as suas horas de lazer. Se � o Plut�o da crian�a que cai
<br>na 5� casa de um dos pais, � poss�vel que haja um forte elo c�rmico.
<br>O pai em quest�o pode ficar completamente envolvido com a vida
<br>da crian�a.
<br>
<br>Plut�o na 6� Casa
<br>
<br>Quando o Plut�o do homem cai na 6a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, de algum modo ele pode precisar da ajuda dela. � poss�vel
<br>que ele tenha um interesse especial pelo seu modo de fazer as coisas.
<br>Se o conhecimento t�cnico da mulher n�o for adequado, ela pode
<br>achar que o relacionamento a desafia continuamente a rever e melhorar
<br>os seus m�todos.
<br>
<br>Do ponto de vista da mulher, este pode n�o ser um relacionamento
<br>particularmente agrad�vel, porque talvez ela se sinta como uma
<br>"principiante", sempre sendo avaliada minuciosamente pelo companheiro
<br>. O objetivo de tal relacionamento pode ser testar a efici�ncia
<br>com que a mulher � capaz de tornar-se mais consciente de sua atitude
<br>interior em rela��o ao aux�lio que presta aos outros e � aceita��o
<br>dos favores que recebe. Como resultado de suas experi�ncias neste
<br>relacionamento, ela pode ter de rever totalmente a sua atitude em
<br>rela��o a trabalhar num cargo subalterno, e tamb�m em rela��o �s
<br>pessoas que a servem numa condi��o semelhante.
<br>
<br>Ela pode descobrir que essa pessoa tem algum defeito sutil por�m
<br>importante sobre a sua sa�de, talvez porque ache (� poss�vel que n�o
<br>
<br>
<br>haja uma justificativa real para isto) que ele � muito exigente e cr�tico
<br>em rela��o aos seus esfor�os. Ele tamb�m pode ser capaz de sugerir-
<br>lhe modos de melhorar a sua dieta, ou ensinar-lhe exerc�cios para
<br>desenvolver uma boa forma f�sica. O pr�prio modo de ele encarar a
<br>vida pode despertar na mulher um desejo de conseguir adotar uma
<br>rotina parecida com a dele.
<br>
<br>Se Plut�o estiver bem aspectado no nascimento e os aspectos
<br>cruzados com ele forem favor�veis, esta poderia ser uma boa posi��o
<br>para o Plut�o do m�dico do nativo � principalmente se o nativo
<br>sofrer de algum estado cr�nico � mas nada menos que um Plut�o
<br>bem apoiado na 6� casa do nativo poderia indicar que ele foi submetido
<br>a um tratamento que acabou por lhe fazer mais mal do que bem.
<br>
<br>Plut�o na 7� Casa
<br>
<br>Quando o Plut�o do homem cai na 7a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando est� em conjun��o com o
<br>seu Descendente, o relacionamento com ele pode testar ao m�ximo
<br>a capacidade de a mulher colaborar de um modo total. As experi�ncias
<br>dela com o parceiro podem faz�-la analisar a verdadeira
<br>natureza de suas motiva��es interiores no que diz respeito � uni�o,
<br>e perguntar a si mesma o que realmente quer do companheiro. Ele
<br>pode esperar que ela se dedique totalmente ao relacionamento e ser
<br>um meio de faz�-la conscientizar-se de um lado oculto dentro de si
<br>mesma que precisa ser totalmente modificado e integrado ao seu
<br>consciente antes que ela possa travar um relacionamento plenamente
<br>satisfat�rio com ele.
<br>
<br>Se forem casados, o relacionamento pode ser particularmente
<br>
<br>c�rmico. Como a 7a casa est� ligada � atitude da mulher em rela��o
<br>
<br>ao mundo em geral, o homem pode influenciar definitivamente o seu
<br>
<br>modo de encarar a pol�tica.
<br>
<br>Se Plut�o estiver aflito no nascimento e os aspectos cruzados com
<br>
<br>ele forem discordantes, pode ser que a mulher nunca realmente
<br>
<br>chegue a um acordo com seu companheiro. � poss�vel que seja
<br>
<br>atingido um est�gio em que ele adota uma atitude constantemente
<br>
<br>hostil em rela��o a ela. Pode ser que haja alguma coisa na pr�pria
<br>
<br>atitude da mulher que o faz notar um profundo dist�rbio em sua
<br>
<br>pr�pria psique que representa um cont�nuo obst�culo a um rela
<br>
<br>
<br>cionamento harmonioso.
<br>
<br>
<br>Plut�o na 8� Casa
<br>
<br>Quando o Plut�o do homem cai na 8a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode ser a causa da mulher dar-se conta de algumas
<br>motiva��es profundas e inconscientes que influenciam o seu comportamento.
<br>A menos que Plut�o esteja muito bem aspectado, este
<br>contato pode ser muito desagrad�vel, porque pode despertar nela uma
<br>inquietante consci�ncia de que a solu��o de muitos problemas graves
<br>pode residir apenas num desejo de submeter-se a uma rigorosa autodisciplina,
<br>principalmente quando o desejo natural est� envolvido.
<br>
<br>Esta associa��o pode promover uma crescente certeza de que as
<br>tentativas de obter um maior autodom�nio podem acabar por lev�la
<br>a adquirir um maior poder sobre as circunst�ncias e at� sobre as
<br>outras pessoas. Conseq�entemente, pouco a pouco ela pode desenvolver
<br>dentro de si mesma uma crescente convic��o de que valeria
<br>a pena o esfor�o de tentar realizar um certo grau de transforma��o
<br>pessoal.
<br>
<br>Qualquer tentativa de delegar poderes ao companheiro seria
<br>imprudente. Tampouco seria aconselh�vel ela deix�-lo influir muito
<br>nos seus assuntos financeiros, a n�o ser que o Plut�o do parceiro
<br>estivesse bem aspectado no nascimento e os aspectos cruzados com
<br>ele fossem particularmente favor�veis. Se ela estiver interessada em
<br>assuntos m�sticos, o relacionamento com o parceiro pode coloc�-la
<br>numa situa��o dif�cil. Se os aspectos cruzados com Plut�o fossem
<br>discordantes, ela poderia envolver-se em algumas aventuras desagrad�veis.
<br>Em alguns casos, quando os aspectos cruzados s�o particularmente
<br>favor�veis, o parceiro pode ajud�-la a livrar-se de profundos
<br>recalques, e a torn�-la consciente dos impulsos at� ent�o
<br>ocultos que haviam dominado as suas a��es sem que ela percebesse.
<br>Ele pode proporcionar-lhe uma maior compreens�o da natureza da
<br>morte, fazendo-a acreditar na possibilidade de uma vida futura.
<br>
<br>Quando ambos s�o de uma idade adequada, este elo pode indicar
<br>um alto grau de atra��o f�sica, a n�o ser que os aspectos cruzados
<br>com Plut�o sugiram o contr�rio.
<br>
<br>Plut�o na 9� Casa
<br>
<br>Quando o Plut�o do homem cai na 9� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode influenciar muito os seus conceitos religiosos e a
<br>sua filosofia de vida geral. �s id�ias dele podem desafi�-la a exami
<br>
<br>
<br>262
<br>
<br>
<br>nar em profundidade as sua pr�prias id�ias, talvez de uma maneira
<br>que nunca conseguiu antes. No processo, � poss�vel que ela descubra
<br>alguma motiva��o inconsciente que parecia obrig�-la a adotar
<br>um determinado ponto de vista.
<br>
<br>O resultado da associa��o pode ser despertar na mulher um forte
<br>desejo de expandir drasticamente os seus horizontes � metaf�rica
<br>e literalmente � fazendo-a apreciar viagens ao exterior e despertando-
<br>lhe um maior interesse por outros pa�ses. � poss�vel que ela
<br>adquira notoriedade por interm�dio do companheiro, o que talvez
<br>resulte em mudan�as, de acordo com os aspectos cruzados envolvidos.
<br>Se eles forem discordantes, as opini�es do parceiro podem
<br>ser muito diferentes das dela, e ele pode tentar destruir algumas de
<br>suas opini�es mais arraigadas, ou plantar as sementes que a levem a
<br>desenvolver uma filosofia de vida que vai contra os seus pr�prios e
<br>melhores interesses.
<br>
<br>Plut�o na 10� Casa
<br>
<br>Quando o Plut�o do homem cai na 10a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, e mais particularmente quando cai em conjun��o com o seu
<br>Meio do C�u, ele pode exercer um certo grau de controle ou influ�ncia
<br>sobre a carreira da mulher, ou ser o meio de ela ter determinadas
<br>ambi��es. Se os aspectos cruzados forem discordantes, de algum
<br>modo ele pode prejudicar a sua reputa��o.
<br>
<br>Como resultado dessa associa��o, a mulher pode adotar um atitude
<br>mais decisiva em rela��o a posi��es de poder e prest�gio. Talvez
<br>ela descubra que no processo se tomou pela primeira vez consciente
<br>de algumas motiva��es ocultas que at� ent�o haviam determinado
<br>
<br>o rumo das suas ambi��es e toda a sua atitude em rela��o a vencer
<br>no mundo. Se por acaso eles competissem por uma posi��o e o parceiro
<br>vencesse �s suas custas, a experi�ncia poderia acelerar o
<br>processo descrito acima. Em alguns casos, se os aspectos cruzados
<br>forem favor�veis, a mulher pode ser promovida, como resultado da
<br>morte dele.
<br>O objetivo desse elo pode ser ajudar a mulher a modificar os seus
<br>objetivos e testar a sua integridade quando � chamada para ocupar
<br>posi��es de prest�gio.
<br>
<br>Num relacionamento entre pais e filhos, quando � a 10a casa do
<br>filho que est� envolvida, o pai pode tentar ditar o rumo de sua car
<br>
<br>
<br>
<br>reir� e querer que ele siga os seus passos. O Plut�o de um patr�o na
<br>105 casa do hor�scopo de seu empregado pode indicar que o patr�o
<br>ser� muito exigente.
<br>
<br>Plut�o na 11� Casa
<br>
<br>Quando o Plut�o do homem cai na 11a casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, ele pode servir de meio para coloc�-la em contato com
<br>grupos ou sociedades dedicadas a apoiar um determinado ideal.
<br>Como resultado de suas experi�ncias em comum, a mulher pode
<br>sentir necessidade de analisar com uma certa profundidade os verdadeiros
<br>motivos por tr�s de suas maiores esperan�as e desejos, e de
<br>definir novamente a sua atitude em rela��o a atividades comunit�rias
<br>de todos os tipos.
<br>
<br>O homem pode ter um forte impulso de procurar a amizade da
<br>mulher. Se os aspectos cruzados com Plut�o forem favor�veis, �
<br>poss�vel que ela compartilhe deste impulso. Esta uni�o pode produzir
<br>muita energia. As experi�ncias da mulher com o companheiro podem
<br>determinar, at� certo ponto, a atitude dela em rela��o aos amigos.
<br>Se os aspectos cruzados forem discordantes, os dois podem ter
<br>poucas coisas em comum, ou � poss�vel que a amizade termine
<br>abruptamente, talvez devido � morte do homem.
<br>
<br>Plut�o da 12� Casa
<br>
<br>Quando o Plut�o do homem cai na 12� casa do hor�scopo de sua
<br>parceira, o relacionamento pode ser muito dif�cil, amenos que Plut�o
<br>esteja bem aspectado, porque as experi�ncias que a mulher compartilha
<br>com o parceiro podem torn�-la desagradavelmente consciente
<br>dos elementos em seu car�ter que costumam tra�-la quando est� sob
<br>press�o. Um fator ainda mais perturbador pode ser ela dar-se conta
<br>de compuls�es inconscientes que a fazem ter certos tipos de comportamento,
<br>ou de fraquezas das quais n�o tinha conhecimento antes
<br>de o relacionamento come�ar. O resultado pode sereia achar que
<br>
<br>o homem est� numa posi��o que lhe permite explorar os seus pontos
<br>fracos, e talvez arruinar insidiosamente a sua posi��o. De sua
<br>parte, o homem pode n�o desejar conscientemente agir deste modo,
<br>mas qualquer sentimento de inseguran�a de sua companheira pode
<br>ser transmitido a ele, fazendo-o acreditar que ela � indigna de confian�a
<br>ou um risco in�til.
<br>264
<br>
<br>
<br>De certa forma, as experi�ncias da mulher com o parceiro podem
<br>faz�-la analisar profundamente as �reas de sua exist�ncia que t�m
<br>mais probabilidades de tra�-la numa emerg�ncia, e rever o seu modo
<br>geral de adaptar-se � vida como um todo. � poss�vel que ela se veja
<br>em situa��es que lhe proporcionam s�bitos momentos de inspira��o,
<br>que a levam a mudar toda a sua concep��o de vida.
<br>
<br>As experi�ncias da mulher com o homem podem envolver um
<br>pouco da necessidade por parte dele da compaix�o e impulsos caridosos
<br>da parceira. � poss�vel que ele a fa�a mudar o seu modo de
<br>encarar a doen�a, o sofrimento e os desprivilegiados. Ele pode
<br>envolv�-la em algum tipo de atividade secreta e, se Plut�o estiver
<br>muito aflito, em empreendimentos de natureza ilegal e imoral. A
<br>liga��o entre eles pode surgi r devido ao tratamento de alguma doen�a
<br>ou problema psicol�gico de que a mulher est� sofrendo. Em alguns
<br>casos, o comportamento do homem pode acentuar os seus problemas
<br>de sa�de.
<br>
<br>
<br>CAP�TULO 9
<br>
<br>O HOR�SCOPO DE RELACIONAMENTO
<br>M�TODO DE C�LCULO
<br>
<br>A qualidade essencial e os potenciais de um relacionamento entre
<br>duas pessoas podem ser representados simbolicamente dentro da estrutura
<br>de um �nico hor�scopo, calculado segundo uma t�cnica que
<br>descobri e testei durante muitos anos. A id�ia me ocorreu pela primeira
<br>vez quando compilava exemplos de dire��es progressivas e
<br>conversas para incluir em The Technique of Prediction, no qual o
<br>sistema de Dire��es Secund�rias foi ampliado para conter n�o apenas
<br>
<br>o tradicional sistema "um dia por um ano", mas tamb�m sistemas
<br>"um dia para um m�s", "um dia para uma semana", "um dia para um
<br>dia".
<br>O �ltimo sistema recebeu esse nome para chamar a aten��o para
<br>
<br>o fato de que os tr�nsitos ("um dia para um dia") eram uma parte integral
<br>do sistema completo e, j� que os tr�s outros sistemas eram
<br>calculados em termos de tempo decorrido ap�s o nascimento (progressivo)
<br>e tempo decorrido antes (pr�-natal ou talvez, mais logicamente,
<br>"regressivo"), para chamar a aten��o para o fato de que os
<br>"tr�nsitos regressivos" tamb�m eram v�lidos.
<br>Portanto, com quaisquer dois indiv�duos, deve haver um momento
<br>no tempo em que a data do sistema progressivo "um dia por
<br>um dia", no caso do mais velho, coincide com a data do sistema pr�
<br>
<br>
<br>
<br>natal "um dia por um dia" no caso do mais novo. Isto representa um
<br>ponto de encontro em tempo equidistante entre as datas de nascimento
<br>destas duas pessoas, um ponto m�dio que, teoricamente,
<br>deveria fornecer um resumo astrol�gico das possibilidades inerentes
<br>a uma uni�o entre elas. Este ponto comum no tempo ser� encontrado
<br>para representar corretamente a potencialidade do relacionamento
<br>(e esta potencialidade sempre existe, n�o importa se ela
<br>se materializa ou n�o atrav�s de um efetivo encontro entre ambos).
<br>
<br>Quando o local de nascimento de duas pessoas era diferente,
<br>tamb�m parecia l�gico calcular um ponto m�dio no espa�o encontrando
<br>o meio das duas latitudes e das duas longitudes, e tomando
<br>como base as c�spides das casas nas tabelas para a latitude m�dia.
<br>
<br>A minha experi�ncia atrav�s dos anos me provou que o hor�scopo
<br>de relacionamento baseado nesta f�rmula (isto �, a determina��o dos
<br>medianos espa�o-tempo) � por si s� v�lida. Uma vez que nenhum
<br>relacionamento � est�tico, este mapa pode basear-se em qualquer
<br>sistema que se prefira, com excelentes resultados. A n�o ser que o
<br>relacionamento tenha sido formado no nascimento (como por exemplo
<br>ocorreria entre pais e filhos), geralmente ser� constatado que o
<br>primeiro encontro ocorreu sob fortes dire��es positivas, que tamb�m
<br>ativaram �reas-chave nos hor�scopos dos dois envolvidos. Portanto,
<br>exceto nos casos mais raros, tais indica��es do momento do primeiro
<br>encontro s� podem ser calculadas em retrospecto, depois de um
<br>relacionamento ter sido formado. Mesmo assim, elas podem fornecer
<br>uma valiosa confirma��o da precis�o do mapa de relacionamento.
<br>O impacto do relacionamento em ambas as partes envolvidas ser�
<br>mostrado pelos aspectos cruzados entre o hor�scopo de relacionamento
<br>e os hor�scopos individuais.
<br>
<br>Quando a hora do nascimento dos parceiros � desconhecida,
<br>obviamente n�o � poss�vel definir um exato ponto de encontro no
<br>tempo. Mas, como no caso de hor�scopos natais, muita informa��o
<br>�til pode ser obtida a partir de um exame das posi��es de signo dos
<br>planetas no dia e seus aspectos m�tuos. Se a hora exata de apenas
<br>um dos parceiros for conhecida, isto tamb�m impedir� um exato posicionamento
<br>dos planetas nas casas. Nesses casos, um mapa de nascer
<br>do sol ou de casa solar � um substituto �til, apesar de menos
<br>abrangente que um hor�scopo exato. Tamb�m existe a possibilidade
<br>de uma hora de nascimento determinada de modo muito preciso
<br>
<br>
<br>falsear as posi��es das casas, mas � claro que estes riscos n�o se
<br>restringem ao hor�scopo de compara��o.
<br>
<br>Os g�meos nascidos a um curto intervalo de tempo um do outro
<br>ter�o um mapa de relacionamento que quase reproduz os seus
<br>hor�scopos, simbolizando a harmonia algumas vezes surpreendente
<br>que pode existir entre eles. Isto enfatiza o ponto de que, para aumentar
<br>a informa��o fornecida pelo mapa de compara��o, � necess�rio
<br>observar como o hor�scopo de cada parceiro se relaciona com ele.
<br>
<br>O m�todo para calcular o hor�scopo de relacionamento � o
<br>seguinte:
<br>
<br>1. Anote a data de nascimento dos dois parceiros e calcule o
<br>n�mero exato de dias entre as duas datas. Se o per�odo for de muitos
<br>anos, o c�lculo pode ser expresso em anos e dias, desde que se preste
<br>a devida aten��o � incid�ncia de anos bissextos.
<br>2. Divida a diferen�a de tempo por dois.
<br>O exemplo seguinte mostrar� como deve ser feito o c�lculo.
<br>Duque de Windsor Data de Nascimento 23 de junho de 1894.
<br>Duquesa de Windsor Data de Nascimento 19 de junho de 1896.
<br>(ano bissexto)
<br>Diferen�a entre as duas datas de nascimento 1 ano, 362 dias
<br>Divida por dois 363 1/2 dias
<br>Data mediana 21-22 de junho de 1895*
<br>
<br>Para simplificar o c�lculo do ponto m�dio no tempo entre as duas
<br>horas de nascimento, cada uma delas deve primeiro ser expressa em
<br>termos da Hora M�dia Local. O resultado final dar� a Hora M�dia
<br>Local para o Meridiano do hor�scopo de relacionamento.
<br>
<br>Duque de Windsor 22hl2m L.M.T.**
<br>
<br>(L.M.T. em Londres � igual � G.M.T.)***
<br>Duquesa de Windsor 5hl5m L.M.T.
<br>Diferen�a entre 22hl2m em21 dejunhoe
<br>-5hl5mem22dejunho 7h03m
<br>Divida por dois 3h31m30s
<br>Acrescente 3h31m30s � primeira hora para determinar
<br>
<br>
<br>o ponto de encontro no tempo Ih43m30s L.M.T. 22 de junho
<br>* Quando a dist�ncia de tempo entre duas datas de nascimento n�o � divis�vel
<br>por dois, � preciso usar um per�odo de 48 horas para definir o ponto m�dio
<br>exato entre as duas horas de nascimento.
<br>** Hora M�dia Local
<br>*** Hora M�dia de Greenwich
<br>
<br>Para tornar o c�lculo acima o mais claro poss�vel, talvez devesse
<br>ser acrescentado que 21 de junho de 1895 � 363 dias depois da data
<br>de nascimento do Duque, enquanto 22 de junho de 1895 � 363 dias
<br>antes da data de nascimento da Duquesa. Os 363 dias depois do
<br>nascimento do Duque n�o se completam antes das 22hl2m L.M.T.
<br>em 21 de junho, e os 363 dias antes do nascimento da Duquesa n�o
<br>se completam antes das 5hl5m em 22 de junho.
<br>
<br>Comumente ser� descoberto que este ponto m�dio no tempo
<br>n�o produz um Meio do C�u que coincide exatamente com o
<br>ponto m�dio entre os dois Meios do C�u natais. Isto � porque nossa
<br>medida de tempo � uma aproxima��o tornada necess�ria pela irregularidade
<br>da �rbita da Terra, e n�o corresponde exatamente ao
<br>Tempo Solar. A hora calculada � usada para determinar qual dos
<br>pontos m�dios opostos entre os dois Meios do C�u escolher, neste
<br>caso 26 Capric�rnio 27. A Hora M�dia Local resultante pode ent�o
<br>ser ajustada o pouco que � preciso para produzir o necess�rio Meio
<br>do C�u.
<br>
<br>O ponto de encontro no espa�o � determinado como segue:
<br>
<br>Latitude de nascimentos
<br>Duque de Windsor 51 N 32
<br>Duquesa de Windsor 39 N 18
<br>Total 90(N)50
<br>Divida por dois 45N25
<br>
<br>Se o local de nascimento do Duque tivesse sido 51 S 32, teria
<br>
<br>sido preciso subtrair a diferen�a m�dia (45�25') do n�mero maior:
<br>Latitude do nascimento 51 S 32
<br>Subtraia diferen�a m�dia 45 25
<br>Latitude do hor�scopo de relacionamento 6 S 07
<br>
<br>A Longitude do ponto de encontro � calculada de modo pare
<br>
<br>
<br>cido:
<br>Duque de Windsor 0W05
<br>Duquesa de Windsor 76W38
<br>
<br>Total 76(W)43
<br>Divida por dois 38 W 21 1/2
<br>= Longitude do hor�scopo de relacionamento.
<br>
<br>Se uma Longitude � Leste de Greenwich e a outra Oeste, aplica-
<br>se o mesmo procedimento usado no caso de Latitude Norte ou Sul,
<br>como no exemplo acima.
<br>
<br>
<br>N�o importa se o ponto no espa�o determinado pela Latitude e
<br>Longitude do ponto m�dio cai no meio de um oceano � ele � puramente
<br>simb�lico e um mediano espacial.
<br>
<br>A data do hor�scopo de relacionamento foi estabelecida e o mapa
<br>agora pode ser calculado para lh44m L.M.T. 22 de junho de 1895
<br>(Lat. 45 N 25; Long. 38 W 21), do modo usual.
<br>
<br>Este tipo de hor�scopo de relacionamento n�o precisa limitar-se
<br>a contatos entre pessoas vivas. Podem ser feitas compara��es com
<br>figuras importantes do passado, ou com ancestrais do nativo que,
<br>pelo m�rito do seu trabalho ou a qualidade geral de suas vidas, tiveram
<br>um impacto especial sobre o nativo. Os hor�scopos de cidades
<br>ou munic�pios que foram importantes na vida do nativo podem ser
<br>combinados de modo an�logo com o hor�scopo do nativo, desde que
<br>se tenha os dados relacionados � cidade ou munic�pio. As organiza��es
<br>�s quais o nativo est� ligado tamb�m podem se revelar um
<br>assunto �til para exame atrav�s deste m�todo. Se assim o desejar,
<br>n�o exi ste motivo para o nativo n�o utilizar o m�todo para ver como
<br>ele poderia se relacionar com qualquer figura p�blica ou pessoa cujos
<br>dados ele conhecesse, sempre tendo em mente que apesar de poder
<br>fazer um grande n�mero de contatos, na verdade s� pode estabelecer
<br>um contato significativo com um n�mero relativamente limitado de
<br>seres humanos.
<br>
<br>No pr�ximo cap�tulo examinaremos com certos detalhes as aplica��es
<br>de alguns m�todos de compara��o descritos em linhas gerais
<br>em cap�tulos anteriores, junto com exemplos de hor�scopos de relacionamento
<br>tirados de associa��es envolvendo a influ�ncia
<br>rec�proca de v�rias paix�es humanas e situa��es desagrad�veis.
<br>
<br>
<br>CAP�TULO 10
<br>
<br>EXEMPLOS DE COMPARA��O
<br>DE HOR�SCOPOS
<br>
<br>
<br>Os Windsor
<br>
<br>O romance entre Eduardo VIII da Inglaterra e a Sra. Wallis
<br>Warfleld Simpson despertou um enorme interesse desde o momento
<br>em que se soube que o rei considerava a possibilidade de torn�-la
<br>sua esposa. Desde o come�o a Igreja Anglicana deixou claro para o
<br>rei Eduardo que tal casamento daria origem a complicados problemas
<br>constitucionais. O rei da Inglaterra � o chefe titular da Igreja
<br>Anglicana, e esta Igreja n�o estava preparada para aben�oar a nova
<br>uni�o de pessoas cujos casamentos anteriores haviam terminado em
<br>div�rcio. O rei Eduardo n�o conseguiu convencer o Parlamento a
<br>modificar de algum modo esta situa��o, e por isso teve de escolher
<br>entre casar-se com a Sra. Simpson (que j� fora casada duas vezes) e
<br>renunciar ao trono, ou permanecer solteiro e manter a sua condi��o
<br>de rei. Assim, ele preferiu abdicar e casar-se com a noiva que
<br>escolhera. Como resultado, ele e sua esposa foram virtualmente
<br>condenados ao ostracismo pela fam�lia real. Nunca voltaram a viver
<br>na Inglaterra, preferindo estabelecer a sua principal resid�ncia na
<br>atmosfera mais graciosa de Paris.
<br>
<br>Um astr�logo ingl�s previra muitos anos antes do incidente que o
<br>
<br>
<br>Duque de York subiria ao trono. Como ele era apenas o segundo na
<br>linha de sucess�es, tal ascens�o s� poderia ter ocorrido atrav�s do
<br>afastamento do seu irm�o mais velho, o pr�ncipe de Gales. Escrevendo
<br>em um n�mero de agosto de 1894 do The Astrologer's Magazine,
<br>Sepharial faz a seguinte observa��o sobre o hor�scopo do
<br>pr�ncipe de Gales:
<br>
<br>"No casamento, o nativo procurar� uma parceira no exterior. Ser� assumido
<br>um compromisso de casamento fora de seu pr�prio pa�s, mas devido ao planeta
<br>Urano estar retr�grado, o romance est� sujeito a dar em nada... O mapa
<br>n�o tem nenhum dos elementos indispens�veis a um hor�scopo real. Aposi��o
<br>de J�piter, regente da 10s casa em sua queda em G�meos, confirma este
<br>progn�stico."
<br>
<br>Raphael, comentando o mesmo hor�scopo na Efem�rides de
<br>1924, escreveu:
<br>"No conjunto, n�o � um mapa muito favor�vel. N�o se pode realmente dizer
<br>que ele corresponde ao que se esperaria de um hor�scopo de um monarca
<br>bem-sucedido. No que diz respeito ao casamento, as influ�ncias divergem."
<br>
<br>A posi��o de J�piter em Le�o, perto do Meio do C�u do hor�scopo
<br>do Duque de York, e em amplo tr�gono com Marte (tamb�m em sextil
<br>mais pr�ximo com Plut�o, apesar de que Raphael n�o teria sabido
<br>disso quando fez seu progn�stico), foi o motivo de Raphael ter previsto
<br>que o segundo filho do rei o sucederia no trono. Um J�piter
<br>bem apoiado em Le�o na IO� casa quase inevitavelmente significa
<br>uma ascens�o na vida. Para um pr�ncipe, a �nica ascens�o poss�vel
<br>em sua posi��o � ser coroado rei!
<br>
<br>Deste modo, surge a d�vida quanto a se a abdica��o de Eduardo
<br>
<br>VIII foi, na realidade, parte do plano c�smico. O hor�scopo de seu
<br>
<br>irm�o indicava uma ascens�o na vida, e enquanto Eduardo per
<br>
<br>
<br>manecesse no trono isto lhe seria negado. H� tamb�m implica��es
<br>
<br>mais profundas. Um preceito comprovado da astrologia
<br>
<br>mundana afirma que o hor�scopo de um governante reflete o des
<br>
<br>
<br>tino do pa�s que ele governa. Tr�s anos ap�s a abdica��o do rei
<br>
<br>Eduardo, a Gr�-Bretanha estava em guerra. Se Eduardo VIII ainda
<br>
<br>estivesse no trono, o progn�stico de Raphael: "Se ele subir ao trono
<br>
<br>poderemos nos envolver numa guerra desastrosa" teria sido
<br>
<br>cumprido, e a Gr�-Bretanha teria tido um monarca cujo hor�scopo
<br>
<br>seria bem menos favor�vel a conduzir uma guerra longa e vitoriosa
<br>
<br>que o de seu irm�o.
<br>
<br>274
<br>
<br>
<br>No hor�scopo do Duque de York, J�piter estava retr�grado em
<br>
<br>8o
<br>
<br> 36' Le�o. No hor�scopo da Sra. Simpson ele estava em 8o 48'
<br>Le�o. A Sra. Simpson era aproximadamente seis meses mais nova
<br>que ele, e nesse per�odo J�piter se afastara direto e voltara para quase
<br>a mesma posi��o que ocupava no mapa natal do Duque. O J�piter
<br>retr�grado no hor�scopo do Duque de York pode representar o modo
<br>indireto pelo qual ele subiu ao trono. O hor�scopo de Eduardo VIII
<br>tinha Ascendente a 8o 14' Aqu�rio. Isto determina uma hora um
<br>pouco mais tarde que a hora oficial do nascimento, que d� 3� Aqu�rio
<br>ascendendo. Minha pr�pria retifica��o foi completada muitos anos
<br>depois, e o Ascendente n�o foi ajustado para cumprir as exig�ncias
<br>espec�ficas do atual exerc�cio!
<br>
<br>Quando o Horizonte ou Meridiano do hor�scopo de uma pessoa
<br>se une a um dos planetas no hor�scopo de outra, ela ser� o meio de
<br>ativar esse planeta no hor�scopo da outra. Tanto � assim que o homem
<br>que mais tarde tomou-se o Duque de Windsor foi o "meio" de fazer
<br>
<br>o irm�o subir ao trono, e de tornar poss�vel para a sua noiva tornar-
<br>se uma Duquesa.
<br>A �poca Pr�-Natal, que confirma o horizonte do nascimento, �
<br>fixada em 19 de outubro de 1893, quando V�nus est� em 8 Sagit�rio,
<br>a um grau do Meio do C�u natal do Duque de Windsor. V�nus
<br>em Sagit�rio � uma indica��o cl�ssica de casamento com um
<br>estrangeiro. A sua posi��o no Meio do C�u natal mostra como o
<br>romance envolveu assuntos relacionados a status e autoridade, bem
<br>como indica o grande interesse que despertou no p�blico. Em nenhum
<br>lugar esse interesse foi maior e mais v�vido que nos Estados Unidos,
<br>onde a noiva nasceu. Por isso n�o � surpresa descobrir que a posi��o
<br>de Urano no hor�scopo dos Estados Unidos cai em 8� 50' G�meos,
<br>em oposi��o ao Meio do C�u natal e V�nus pr�-natal do Duque e
<br>que, em uma das v�rias vers�es do hor�scopo dos Estados Unidos,
<br>
<br>o mesmo grau de G�meos ascende.
<br>Estas posi��es se combinam para causar uma oposi��o V�nus-
<br>Urano envolvida com o Meridiano real. Isto chama muita aten��o
<br>para o fato de que uma noiva estrangeira (V�nus em Sagit�rio) e um
<br>div�rcio americano (Estados Unidos, Urano) se combinaram para
<br>levantar a possibilidade de Eduardo VIII se casar com uma divorciada
<br>e permanecer no trono.
<br>
<br>
<br>Vale a pena notar que a Parte do Casamento no hor�scopo da Sra.
<br>Simpson est� em 21 0 03' Capric�rnio, com um grau de antiscion em
<br>
<br>8o
<br>
<br> 57' Sagit�rio. A V�nus dos Estados Unidos em 2� 20' C�ncer est�
<br>quase exatamente conjunta com o Sol natal do Duque.
<br>
<br>Tamb�m n�o � � toa que o hor�scopo para o Reino Unido (7 de dezembro
<br>de 1922, Londres, 15h21m G.M.T.) tem 9o 43' G�meos ascendendo
<br>e Urano em 9o 49' Peixes. Al�m disso, o Sol est� em 14�
<br>45' Sagit�rio na 7� casa (casamento real com um estrangeiro), e se
<br>op�e ao Netuno do Duque (ren�ncia, abdica��o) em 14� 00' G�meos.
<br>
<br>Existe um equil�brio perfeito entre os hor�scopos dos Windsor,
<br>em termos da distribui��o dos planetas por hemisf�rio. A Duquesa
<br>
<br>
<br>DUQUESA DE WINDSOR BLUE RIDGE SUMMIT,
<br>19 de junho de 1896 BALTIMORE
<br>5h 22m E.S.T.
<br>
<br>tem sete planetas no Hemisf�rio Ocidental; o Duque, sete planetas
<br>no Hemisf�rio Oriental. A maioria dos planetas na metade leste do
<br>hor�scopo indica que o nativo ter� a oportunidade de tomar a iniciativa
<br>na vida, e que a sua sorte est� em grande parte em suas pr�prias
<br>m�os. A maioria dos planetas na metade oeste sugere que a liberdade
<br>de a��o do nativo � at� certo ponto tolhida por seus deveres e
<br>obriga��es para com os outros. As exig�ncias do protocolo e os padr�es
<br>r�gidos que se espera de um monarca sempre operaram como
<br>um fator restritivo na vida do soberano do pa�s. O Duque de Windsor�
<br>com o Aqu�rio independente se levantando, o Ascendente em
<br>quadratura com um Urano elevado e o assertivo Marte em quadra
<br>
<br>
<br>
<br>tura com o Sol � sem d�vida freq�entemente irritava-se mais que
<br>muitos de seus predecessores com a necessidade de se adaptar �s
<br>exig�ncias da monarquia. A Lua em Peixes, � disposi��o do Sol real
<br>na 5� casa, introduziu o elemento de ren�ncia, que levou � abdica��o,
<br>como um fator primordial em seu perfil psicol�gico.
<br>
<br>Uma outra confirma��o desta situa��o ocorre no hor�scopo de
<br>1922 da Gr�-Bretanha, que praticamente coincidiu com a primeira
<br>volta do Saturno do Duque. Saturno no hor�scopo dele est� em Libra
<br>na 8� casa, relacionando-se com a sua capacidade de agir de modo
<br>respons�vel e com sabedoria em assuntos ligados ao casamento, e
<br>desafiando-o a efetuar uma transforma��o em toda a sua atitude no
<br>que diz respeito � responsabilidade, e a cultivar uma maior consci�ncia
<br>de qual pode ser o seu dever.
<br>
<br>A maioria dos planetas no hor�scopo da Duquesa por quadruplicidade
<br>e triplicidade cai em signos mut�veis e de ar, produzindo
<br>uma s�ntese de G�meos e acentuando a 12� casa, que det�m cinco
<br>corpos em G�meos. Quatro dos planetas do Duque caem na 12� casa
<br>da Duquesa, incluindo J�piter, que frustrou a tentativa de ele assegurar
<br>um status real para a parceira � principalmente porque
<br>J�piter est� debilitado em G�meos � apesar de que, � claro, ela
<br>obteve o t�tulo de Duquesa.
<br>
<br>O Duque tinha quatro planetas em signos cardinais e quatro em
<br>signos mut�veis, quatro planetas em are quatro em signos de �gua, de
<br>modo que n�o h� uma maioria distinta em que basear a s�ntese. As
<br>duas lumin�rias em signos de �gua e um Netuno angular indicam
<br>uma acentua��o um pouco maior do elemento �gua, condizendo com
<br>
<br>o Ascendente da parceira, enquanto a maioria de G�meos da Duquesa
<br>se harmonizava com o Ascendente de Ar do Duque. Os tr�s planetas
<br>de G�meos do Duque, operando no n�vel instintivo da 4� casa,
<br>permitiram que ele estabelecesse uma real harmonia com a sua parceira
<br>G�meos.
<br>Em assuntos relacionados a romance e casamento, o zod�aco de
<br>V�nus tem um papel fundamental. Se igualarmos a posi��o de V�nus
<br>no hor�scopo de Wallis Simpson a 0 Aries, deslocando-a para tr�s 2
<br>signos 23 graus 1 minuto, podemos encontrar a localiza��o dos outros
<br>planetas relativa a V�nus em 0 �ries, deduzindo a mesma quanti
<br>dade de arco de suas longitudes. Ent�o aparecem os seguintes contatos
<br>importantes:
<br>
<br>
<br>Duquesa de Windsor Duque de Windsor
<br>(Zod�aco de V�nus) (Zod�aco Tropical)
<br>V�nus 0 AriesSol 5 1/2 �ries
<br>Marte 0 1/3 Aries
<br>NodoN. 6 �ries
<br>Merc�rio 23 Peixes,
<br>Marte/Plut�o 23 1/2 Aqu�rio V�nus 23 1/2 Touro
<br>Lua 18 1/4 C�ncer Saturno 18 1/2 Libra
<br>Marte 28 Capric�rnio Merc�rio 27 2/3 C�ncer
<br>Plut�o 19 PeixesAse. 14 �ries,
<br>J�piter 18 1/3 G�meos
<br>V�nus/Urano 14 G�meosSol/V�nus 2 3/4 �ries
<br>Netuno 14 G�meos
<br>Sol 2 1/3 C�ncer
<br>
<br>Igualando a V�nus do Duque a 0 Aries, obtemos as seguintes
<br>posi��es em seu hor�scopo, em termos do Zod�aco de V�nus, que
<br>forma aspectos pr�ximos das posi��es Tropicais dos planetas no
<br>hor�scopo de sua parceira:
<br>
<br>Duque de Windsor Duquesa de Windsor
<br>(Zod�aco de V�nus) (Zod�aco Tropical)
<br>Ase. 14 3/4 Sag. (pr�prio trop.
<br>Netuno 14 G�meos;
<br>
<br>J�piter/Plut�o 14 2/3 G�meos)
<br>
<br> Merc�rio/Plut�o 13 3/4 G�meos
<br>Lua 10 1/2 Capric�rnio
<br>
<br> Lua 11 1/4 Libra
<br>Marte 7 Aqu�rio; Sol 9 Touro
<br>(pr�prio Ase. 8 1/4 Aqu�rio)...
<br>
<br> J�piter 8 3/4 Le�o
<br>Urano 18 Virgem; Plut�o 17 1/2 �ries
<br>(pr�prio J�piter 18 1/3 G�meos)
<br>
<br> Netuno 18 1/4 G�meos
<br>Netuno 20 1/2 �ries
<br>
<br> Urano 21 Escorpi�o
<br>
<br>As atividades envolvendo a simbologia de V�nus ressaltar�o no
<br>hor�scopo a rela��o especial de todos os planetas com V�nus, como
<br>indicado por suas dist�ncias planet�rias de V�nus. Esta dist�ncia pode
<br>
<br>279
<br>
<br>
<br>ser expressa em termos de um zod�aco de 360 graus (que n�o � nada
<br>mais que um ciclo do relacionamento), em que V�nus tem o papel
<br>de Ode Aries. Quando o Duque planejou casar-se com a Sra. Simpson,
<br>ele ativou as posi��es dos planetas ajustados ao Zod�aco de V�nus.
<br>Foi desta forma que ele enfrentou a situa��o com uma recusa obstinada
<br>a fazer concess�es (Marte �ries O Sol C�ncer), o que foi imediatamente
<br>relacionado ao seu horizonte natal atrav�s da conjun��o
<br>do Marte ajustado e o quadrado do Sol ajustado envolvendo o seu
<br>Ascendente Tropical. Em termos de suas posi��es no Zod�aco de
<br>V�nus, estes dois planetas ent�o formaram uma quadratura em T com
<br>
<br>o J�piter da parceira em Le�o, de modo que a quest�o de ser recusado
<br>a ela qualquer tipo de status real contribuiu para aumentar a
<br>determina��o de o Duque casar a todo custo. O Ascendente ajustado
<br>dele tamb�m caiu em oposi��o com o seu Netuno natal, que por isso
<br>foi posicionado numa 7� casa logo que os assuntos relacionados ao
<br>casamento surgiram na vida do Duque.
<br>A combina��o do Netuno radical na 4a casa com J�piter, o debilitado
<br>regente da 10a casa, j� tinha levado Sepharial asugerirque"o
<br>mapa n�o tem nenhum dos elementos indispens�veis a um hor�scopo
<br>real". O acr�scimo de Plut�o (desconhecido na �poca do pronunciamento
<br>de Sepharial) a esta conjun��o intensificou o cont�nuo desejo
<br>por liberdade indicado pela conjun��o original, ao mesmo tempo
<br>acrescentando o elemento de compuls�o, porque as exig�ncias
<br>constitucionais da posi��o de Eduardo VIII exigiam que ele observasse
<br>certas normas morais e legais que outros ocupando posi��es
<br>de menor destaque felizmente podiam ignorar. Tendo de escolher
<br>entre renunciar ao trono da Inglaterra ou � mulher que amava, ele
<br>escolheu a primeira hip�tese, como indica o stellium radical da 4a
<br>casa.
<br>
<br>Atualmente est� sendo dada uma maior aten��o especial entre os
<br>nodos lunares e relacionamentos de todos os tipos, baseado no fato
<br>de que eles marcam os pontos onde a Lua cruza a ecl�ptica, alinhando-
<br>se com o Sol e a Terra. Quase sempre os relacionamentos importantes
<br>na vida s�o aqueles que foram estabelecidos numa encarna��o
<br>anterior. � bem poss�vel que, quando as posi��es dos planetas natais
<br>s�o transferidas para seu equivalente no Zod�aco Nodal ou Draconiano,
<br>elas mostrem, atrav�s de seus aspectos cruzados com outros
<br>hor�scopos, os contatos que remontam a uma vida pregressa. Quando
<br>
<br>
<br>os planetas natais da Duquesa de Windsor foram transferidos em
<br>termos do Zod�aco Draconiano, apareceram os seguintes contatos
<br>importantes:
<br>
<br>Duquesa de Windsor Duque de Windsor
<br>(Zod�aco Draconiano) (Zod�aco Tropical)
<br>Marte 23 1/2 Touro V�nus 23 1/2 Touro
<br>Sol 1 Le�o Marte 0 1/2 �ries
<br>Ase. 9 1/2Le�o (pr�prio J�piter 8 3/4 Le�o) Ase. 8 1/4 Aqu�rio
<br>J�piter 11 Virgem Plut�o 10 3/4 G�meos
<br>M.C. 19 �ries Saturno 18 1/2 Libra
<br>Lua 13 Escorpi�o
<br>(pr�prio Saturno 13Escorpi�o) Urano 111/2 Escorpi�o
<br>Saturno 15 1/2 Sagit�rio
<br>(pr�prio Merc�rio 16 1/4 G�meos) J�piter/Netuno 16 G�meos
<br>
<br>Os dois primeiros contatos da lista se relacionam particularmente
<br>� atra��o entre os sexos, enquanto o Ascendente ajustado da Duquesa
<br>est� quase na c�spide da 7� casa natal do Duque (casamento numa
<br>vida pregressa?) Al�m disso, este Ascendente ajustado cai um grau
<br>depois do J�piter natal da Duquesa, levantando a quest�o do status
<br>real. Status tamb�m est� ligado ao Meio do C�u, e o Meio do C�u
<br>ajustado da Duquesa cai em oposi��o ao Saturno natal do Duque em
<br>Libra (dificuldades no casamento).
<br>
<br>Uma vez que o casamento provocou uma grande an�lise dos
<br>sentimentos por parte do Duque e sua noiva, n�o � surpresa o fato de
<br>um certo n�mero de contatos da lista n�o indicar um caminho
<br>tranq�ilo.
<br>
<br>Os planetas do Duque, transferidos para o seu Zod�aco Draconiano,
<br>produziram os seguintes contatos:
<br>
<br>
<br>A conju��o da Lua Draconiana com o Nodo Lunar Norte da parceira
<br>� muito importante e equivale a uma conjun��o Lua-Ascendente.
<br>Com o Sol Draconiano tamb�m envolvido, a uni�o � mostrada
<br>como sendo particularmente �ntima, enquanto o quadrado Marte-
<br>V�nus tamb�m indica uma forte atra��o f�sica. Netuno � transferido
<br>para uma posi��o exatamente oposta ao pr�prio Meio do C�u radical
<br>do Duque, sugerindo que a tend�ncia a abdicar de posi��es de
<br>responsabilidade era uma predisposi��o trazida do passado. Seu
<br>tr�gono J�piter-Saturno reposicionado agora coincide quase exatamente
<br>com o tr�gono Lua-Plut�o da parceira.
<br>
<br>Porque quest�es de t�tulo e posi��o social estavam envolvidas,
<br>podia-se esperar encontrar as posi��es do Zod�aco Solar ativadas.
<br>Os planetas reposicionados de ambos os parceiros formam nada
<br>menos que sete aspectos cruzados pr�ximos em cada caso. Os mais
<br>importantes parecem ser os seguintes:
<br>
<br>Duque de Windsor Duquesa de Windsor
<br>(Zod�aco Solar) (Zod�aco Tropical)
<br>Venus 21 Aqu�rio Marte 21 �ries, Venus 23
<br>
<br>G�meos, Urano 21 Escorpi�o
<br>Marte 28 Sagit�rio
<br>
<br>Sol 28 1/2 G�meos
<br>Urano 9 Le�o (oposi��o pr�prio Ase.)
<br>Plut�o 9 Peixes (quinc�ncio pr�p. Fortuna) ,
<br>
<br> J�piter 8 3/4 Le�o
<br>Netuno 12 Peixes Plut�o 12 1/2 G�meos
<br>
<br>282
<br>
<br>
<br>Duquesa de Windsor Duque de Windsor
<br>
<br>(Zod�aco Solar) (Zod�aco Tropical)
<br>
<br>M.C. 18 Sagit�rio (oposi��o pr�p. Netuno)
<br>J�piter 18 1/2 G�meos
<br>Marte 22 3/4 Capric�rnio (sextil pr�p. Urano)
<br>Urano 22 1/4 Le�o (sextil pr�prio V�nus)
<br>
<br> V�nus 23 Touro
<br>Plut�o 14 Peixes
<br>
<br> Netuno 14 G�meos
<br>Ase. 8 1/2 �ries (tr�gono pr�prio J�piter)
<br>
<br>Em ambos os casos, h� um quadrado Netuno-Plut�o e uma configura��o
<br>V�nus/Marte/Urano envolvendo um quadrado V�nus-
<br>Urano. Al�m disso, a conjun��o Plut�o/Merc�rio/Netuno da
<br>Duquesa no Zod�aco Solar agora inclui a posi��o do seu Meio do
<br>C�u Tropical.
<br>
<br>A d�vida a respeito de qual � o dever do Duque chama aten��o
<br>para o Zod�aco de Saturno. A maioria dos aspectos cruzados formados
<br>por planetas transportados para este zod�aco s�o dif�ceis. Os mais
<br>importantes parecem ser os seguintes:
<br>
<br>Duque de Windsor Duquesa de Windsor
<br>(Zod�aco de Saturno) (Zod�aco Tropical)
<br>Sol 14 Sagit�rio
<br>
<br>(oposi��o pr�prio Netuno)
<br>
<br> Merc�rio/Plut�o 14 2/3 G�meos
<br>Lua 15 1/2 Le�o
<br>
<br> Saturno/Urano 17 Escorpi�o
<br>Marte 12 Virgem (� pr�prio Netuno/Plut�o)
<br>
<br> Plut�o 12 1/2 G�meos
<br>Urano 23 �ries; Marte 21 1/4 �ries
<br>Plut�o 22 1/4 Escorpi�o
<br>
<br> V�nus 23 G�meos
<br>
<br>M.C. 18 1/2 Touro
<br>V�nus/Marte 18 2/3 Touro
<br>
<br>Duquesa de Windsor Duque de Windsor
<br>
<br>(Zod�aco de Saturno) (Zod�aco Tropical)
<br>
<br>Ase. 24 Escorpi�o
<br>
<br> V�nus 23 1/2 Touro
<br>V�nus 10 Escorpi�o
<br>
<br> Urano 11 l/2Escorpi�o;
<br>Plut�o 10 3/4 G�meos
<br>Marte 8 1/4 Virgem
<br>
<br> M.C. 7 Sagit�rio
<br>Urano 8 1/2 �ries
<br>(� pr�p. Ase; tr�gono pr�prio J�piter)
<br>
<br> Ase. 8 1/4 Aqu�rio
<br>
<br>283
<br>
<br>
<br>
<br>Em vista do papel importante de J�piter no hor�scopo da Duquesa
<br>e de sua conjun��o com a 7� c�spide do Duque, � interessante notar
<br>que surgem v�rios aspectos importantes quando os planetas de cada
<br>parceiro s�o transportados para o Zod�aco de J�piter. Os mais importantes
<br>parecem ser os seguintes:
<br>
<br>Duque de Windsor Duquesa de Windsor
<br>(Zod�aco de J�piter) (Zod�aco Tropical)
<br>Lua 15 1/2 Sagit�rio M.C. 16 1/2 Peixes;
<br>(oposi��o pr�prio Netuno) Merc�rio 16 1/4 G�meos
<br>Urano 23 Le�o (� pr�prio V�nus) V�nus 23 G�meos
<br>Netuno 25 1/2 Peixes Sol/V�nus 25 3/4 G�meos
<br>Plut�o 22 1/2 Peixes; Ase. 20 Escorpi�o Urano 21 Escorpi�o
<br>M.C. 18 2/3 Virgem (� pr�prio J�piter) Netuno 18 1/2 G�meos
<br>
<br>Duquesa de Windsor Duque de Windsor
<br>
<br>(Zod�aco de J�piter) (Zod�aco Tropical)
<br>
<br>Sol 19 3/4 Aqu�rio J�piter 18 1/2 G�meos
<br>Nodo N. 18 3/4 Libra
<br>
<br> Saturno 18 1/2 Libra
<br>Merc�rio 7 1/2 Aqu�rio (oposi��o
<br>pr�prio J�piter); Netuno 9 1/2 Aqu�rio
<br>
<br> Ase. 8 1/4 Aqu�rio
<br>V�nus 14 1/2 Aqu�rio
<br>
<br> Netuno 14 G�meos,
<br>J�piter/Plut�o 14 2/3 G�meos
<br>Marte 12 1/4 Sagit�rio
<br>
<br> Netuno/Plut�o 12 1/4 G�meos
<br>Ase. 28 1/4 Aqu�rio (tr�gono pr�prio Sol)
<br>
<br>Alguns dos graus de antiscion explicam melhoro relacionamento:
<br>
<br>Duquesa de Windsor Duque de Windsor
<br>(An�scion) (Natal)
<br>Urano 9 Aqu�rio Ase. 8 1/4 Aqu�rio
<br>Sol 1 1/2 C�ncer Sol 2 1/3 C�ncer
<br>Marte 9 Virgem; V�nus 7 C�ncer
<br>(conjunto com pr�p. Ase.) M.C./Plut�o 8 2/3 Peixes
<br>Lua 19 Peixes . J�piter 18 1/3 G�meos
<br>
<br>
<br>O antiscion do Urano da Duquesa caindo no Ascendente do Duque
<br>indica que ela foi uma pessoa que tinha a capacidade latente de mudar
<br>
<br>o rumo da vida dele de modo impressionante, enquanto o Duque foi
<br>capaz de tornar realidade o que o Urano da parceira prometia na 5�
<br>casa. Isto podia ser interpretado como indicando casos amorosos
<br>incomuns que a desafiavam, atrav�s da posi��o de signo do planeta
<br>e seu quinc�ncio com V�nus na 12� casa � ren�ncia � para realizar
<br>um certo grau de transforma��o pessoal nesta �rea da vida. A
<br>conjun��o entre os dois S�is � um elo pr�ximo, enquanto o aparecimento
<br>de V�nus como um fator angular atrav�s de seu envolvimento
<br>por antiscion com o pr�prio Ascendente da Duquesa n�o apenas
<br>registra o fato de que o romance com o Duque a tornou famosa
<br>mundialmente, mas tamb�m se iguala � posi��o angular da V�nus
<br>pr�-natal do Duque, que ca�a em seu Meio do C�u natal.
<br>O Marte antiscion da Duquesa estava em quadratura com o Meio
<br>do C�u do Duque, e mais exatamente conjunto com o ponto m�dio
<br>Meio do C�u/Plut�o do Duque. Tamb�m ca�a sobre o Urano do Reino
<br>Unido (1922), e em quadrado com o Ascendente desse hor�scopo.
<br>
<br>Os graus de antiscion do Duque formando outros contatos al�m
<br>dos observados acima s�o como os seguintes (a rela��o dos graus de
<br>antiscion baseada nas posi��es natais na coluna da direita acima �
<br>id�ntica):
<br>
<br>Duque de Windsor Duquesa de Windsor
<br>
<br>(Antiscion) (Natal)
<br>
<br>Lua 26 Libra
<br>
<br> Sol 28 1/2 G�meos,
<br>Nodo N. 27 1/2 Aqu�rio
<br>V�nus 6 1/2 Le�o (oposi��o pr�p. Asc.:.)
<br>))
<br>
<br> J�piter 8 3/4 Le�o
<br>
<br>Parte do Casamento 21 Capric�rnio
<br>
<br>M.C. 23 Capric�rnio
<br>Pa
<br>
<br>Em termos de compara��o entre signo e posi��o de casa h� um
<br>interessante interc�mbio soli-lunar. O Duque tinha a Lua em Peixes
<br>condizendo com a Lua da parceira na 4� casa. Al�m disso, ele tinha
<br>V�nus na 3a casa e ela em G�meos. O Duque tinha Saturno na 8a casa,
<br>combinando com o Saturno da Duquesa em Escorpi�o. Os interc�mbios
<br>soli-lunares chamam a aten��o para a 4-e 12� casase suas
<br>
<br>
<br>rela��es com situa��es que envolvem um virtual ex�lio e ren�ncia,
<br>enquanto os interc�mbios V�nus-Satumo enfatizam a profundidade
<br>do relacionamento e alguns dos desapontamentos que ele provoca.
<br>
<br>H� uma conjun��o reveladora, em termos de posi��o de casa,
<br>entre o Sol do Duque e o Saturno da Duquesa. Ambos os corpos
<br>est�o respectivamente a cerca de 12/30 do caminho atrav�s da 5a
<br>casa de Placidus. Por isso, segundo o sistema de an�logo domiciliar
<br>(vejap�gina75),ambosest�onumaposi��o equivalente a 12 de Le�o.
<br>O Sol na 5a casa � um indicador cl�ssico de poder real, enquanto
<br>Saturno na 5a limita, frustra ou nega tal poder, ou torna o nativo desagradavelmente
<br>consciente das responsabilidades de sua posi��o.
<br>Atrav�s da sua parceira, o Duque teve que ponderar muito seriamente
<br>sobre estas responsabilidades, e decidir qual era o seu verdadeiro
<br>dever.
<br>
<br>O Sol e tr�s dos planetas do Duque caem na 12a casa da companheira,
<br>enfatizando a import�ncia do pr�prio stellium dela. O Marte
<br>do Duque em �ries cai na 10a casa da Duquesa, mas os grandes
<br>esfor�os dele para persuadir o governo a introduzir uma lei autorizando
<br>um casamento morgan�tico, que lhe teria permitido casar-se
<br>com uma pleb�ia e continuar rei, foram in�teis porque o seu Sol em
<br>J�piter estava aprisionado na 12a casa da parceira. O desafio da 12�
<br>casa estimula o nativo a atingir uma ampla compreens�o da vida, de
<br>modo a todos os seus problemas serem vistos sob a sua verdadeira
<br>perspectiva, e depois tratados de modo a resolver todas as tens�es.
<br>
<br>Provavelmente o fato aparentemente trivial de que ambos se
<br>dedicavam entusiasticamente a resolver quebra-cabe�as tem um
<br>significado, porque esse passatempo envolve o desenvolvimento de
<br>um senso de perspectiva global e uma consci�ncia de como todas as
<br>partes podem se relacionar umas �s outras e se encaixar para formar
<br>um todo ordenado e expressivo.
<br>
<br>O stellium em G�meos da Duquesa ca�a na 4a casa do Duque,
<br>ativando em especial a conjun��o Netuno-Plut�o, que normalmente
<br>afasta uma pessoa do seu local de nascimento, e cria uma tend�ncia
<br>a estabelecer novas ra�zes numa base mais universal.
<br>
<br>Geralmente uma compara��o da influ�ncia rec�proca entre os
<br>planetas da �poca pr�-natal dc um parceiro e os planetas de nascimento
<br>do outro � muito reveladora. A �poca pr�-natal do Duque,
<br>
<br>286
<br>
<br>
<br>fixada em 19 de outubro de 1893, lh41mG.M.T. em Londres, produz
<br>os seguintes contatos com o hor�scopo da parceira:
<br>
<br>Duque de Windsor Duquesa de Windsor
<br>(�poca Pr�-Natal) (Hor�scopo)
<br>Sol 26 Libra Sol 28 1/2 G�meos,
<br>Nodo N. 27 1/2 Aqu�rio
<br>Lua 8 Aqu�rio; V�nus 8 1/4 Sagit�rio
<br>(conjunta M.C. natal) J�piter 8 3/4 Le�o
<br>Merc�rio 14 1/4 Escorpi�o Saturno 13 Escorpi�o
<br>Marte 11 Libra Lua 11 1/4 Libra
<br>
<br>Todos os corpos que se movem mais r�pido forniam aspectos
<br>pr�ximos e importantes com o hor�scopo da Duquesa, enquanto a
<br>conjun��o Lua-Marte � um contato geralmente encontrado em relacionamentos
<br>onde existe uma atra��o sexual.
<br>
<br>A �poca pr�-natal da Duquesa, fixada em 13 de setembro de 1895,
<br>13h09m, E.S.T. Baltimore, produz os seguintes contatos com o
<br>hor�scopo do parceiro:
<br>
<br>Duquesa de Windsor
<br>(�poca Pr�-Natal)
<br>Duque de Windsor
<br>(Hor�scopo)
<br>V�nus-Marte 29 Virgem; J�piter 1
<br>Saturno 4 Escorpi�o
<br>1/2 Le�o Marte 01/3 �ries
<br>Lua 4 Peixes
<br>
<br>Netuno/Plut�o 12 G�meos
<br>
<br>Nodo N. 12 Peixes
<br>
<br>A Duquesa nasceu em Blue Ridge Summit, Baltimore, numa
<br>latitude de 39 N. 18. � curioso o fato de que o local de nascimento do
<br>Duque, Richmond, perto de Londres, tem uma latitude de 51 N.32,
<br>de modo que os dois locais de nascimento t�m quase a mesma colatitude.
<br>O V�rtice da Duquesa cai em 24 1/2 Escorpi�o, em oposi��o
<br>� V�nus do Duque, enquanto o V�rtice do Duque em 10 Virgem fica
<br>no ponto m�dio do sextil Lua-J�piter de sua parceira, e em quadrado
<br>com o seu pr�prio Plut�o.
<br>
<br>
<br>O HOR�SCOPO DE RELACIONAMENTO
<br>
<br>O mapa de relacionamento, cujo c�lculo foi explicado no cap�tulo
<br>anterior, � particularmente revelador. A Lua se aplica � conjun��o
<br>do Sol, e V�nus e Marte est�o em conjun��o, duas das indica��es
<br>cl�ssicas de compatibilidade sexual e um indicador claro da possibilidade
<br>de casamento entre eles. Al�m disso, o ponto m�dio das
<br>lumin�rias coincide com o ponto m�dio Sol/J�piter do Duque e o
<br>SolV�nus da Duquesa. Tanto V�nus como Marte est�o no signo real
<br>Le�o, enfatizando a quest�o que surgiria do status real. O quadrado
<br>de Urano com V�nus indica os div�rcios anteriores da Duquesa, que
<br>terminaram por impedir que o marido continuasse no trono ap�s ter
<br>
<br>
<br>
<br>se casado com ela. O tr�gono muito pr�ximo entre o Sol e Saturno
<br>mostra a for�a do relacionamento, e o fato de que ele perdurou at� a
<br>morte do Duque. Uma conjun��o <a href="http://muito.pr">muito.pr</a>�xima de Merc�rio e
<br>J�piter em C�ncer indica muita afinidade mental.
<br>
<br>Os Nodos Lunares caem no Meridiano da Duquesa, com a
<br>sua liga��o especial com a vida p�blica e privada e tamb�m
<br>com status e o estabelecimento de ra�zes. O quadrado de Saturno,
<br>regendo a d�cima, com Marte em Le�o, pode ser encarado como uma
<br>indica��o da atitude inflex�vel da Igreja Anglicana em rela��o ao
<br>casamento do monarca com uma divorciada, e a sua recusa em introduzir
<br>uma legisla��o que permitiria ao rei casar-se e permanecer
<br>no trono.
<br>
<br>A Lua est� pr�xima do J�piter do Duque e do ponto m�dio entre
<br>V�nus/Urano da Duquesa, enquanto Fortuna se op�e ao Urano do
<br>Duque em Escorpi�o (em quinc�ncio com Plut�o). Sem d�vida os
<br>primeiros anos do relacionamento foram um per�odo de provas para
<br>ambos, sugerindo possibilidades de transforma��o pessoal atrav�s
<br>da abnega��o e autocontrole, junto com uma dedica��o a novas obriga��es
<br>pelas quais optaram.
<br>
<br>Quando eles se conheceram, em 1931, o Sol progredido pr�-natal
<br>no hor�scopo de relacionamento estava em tr�gono com o Meio do
<br>C�u radical. V�nus progredido se aplicava a um tr�gono do Ascendente,
<br>do qual era regente. O Ascendente progredido alcan�ara a conjun��o
<br>do Sol radical e o tr�gono do Saturno radical. O Meio do C�u
<br>progredido pr�-natal do relacionamento estava a um grau da oposi��o
<br>do V�nus radical da Duquesa.
<br>
<br>Nesse per�odo o Marte progredido do Duque estava em 21 1/2
<br>
<br>�ries, conjunto com o Marte da parceira. O seu Descendente pro
<br>
<br>
<br>gredido pr�-natal em 27 G�meos voltara para a conjun��o do Sol
<br>
<br>radical da Duquesa. O Meio do C�u progredido dela estava em
<br>
<br>20 �ries, trazendo o seu Ascendente progredido para 2 Le�o, con
<br>
<br>
<br>junto com o seu Sol progredido e J�piter progredido pr�-natal. O
<br>
<br>Marte progredido da Duquesa enquadrava o V�nus do rela
<br>
<br>
<br>cionamento e se opunha ao Urano do relacionamento, enquanto o
<br>
<br>seu J�piter progredido acabara de passar pela conjun��o da V�nus
<br>
<br>do relacionamento.
<br>
<br>Quando eles se casaram, em 1937, o Sol progredido pr�-natal do
<br>
<br>Duque estava em conjun��o com o Ascendente do relacionamento
<br>
<br>
<br>e o Sol progredido pr�-natal da Duquesa � movendo-se a um grau
<br>do Sol de seu companheiro � acabara de passar pelo Ascendente
<br>do relacionamento. Al�m disso, o Marte progredido da Duquesa
<br>estava no mesmo grau do seu Sol progredido pr�-natal aplicando-se
<br>� oposi��o do seu Urano progredido que, caracteristicamente, estivera
<br>na 7a c�spide do hor�scopo de relacionamento durante todo o
<br>per�odo da uni�o. Isso foi muitos anos antes de ele finalmente se
<br>afastar desta oposi��o pr�xima do Ascendente do relacionamento.
<br>Esta influ�ncia rec�proca de aspectos destruidores reflete exatamente
<br>a crise precipitada pelo casamento.
<br>
<br>No pr�prio hor�scopo de relacionamento, o Sol progredido alcan�ara
<br>o ponto m�dio de V�nus/Marte e o Merc�rio progredido se
<br>opunha ao Meio do C�u. Ao mesmo tempo, a V�nus progredida pr�natal
<br>do relacionamento se afastara para 27 G�meos, separando-se
<br>da conjun��o do Sol natal da Duquesa e em tr�gono com o seu Nodo
<br>Norte, enquanto o Marte progredido pr�-natal do relacionamento em
<br>11 C�ncer estava em quadratura com a sua Lua e em tr�gono com o
<br>Urano do Duque.
<br>
<br>Quando o Duque morreu, a V�nus progredida pr�-natal do relacionamento
<br>alcan�ara 16 Touro, formando uma quadratura em T com
<br>a sua pr�pria posi��o radical e Urano, deste modo ressaltando toda
<br>a for�a da quadratura entre os dois planetas no radical. O Marte
<br>progredido pr�-natal no hor�scopo de relacionamento estava em 20
<br>G�meos, no ponto m�dio da conjun��o V�nus-Nctuno da Duquesa
<br>e em quinc�ncio com o seu Urano radical. O Meio do C�u progredido
<br>pr�-natal do relacionamento em 12 Escorpi�o estava alinhado
<br>com o Saturno natal da Duquesa no mesmo grau, e o Urano do marido
<br>em 111/2 Escorpi�o, enquanto o Ascendente progredido se aplicava
<br>ao quadrado do Saturno radical em Escorpi�o.
<br>
<br>�ngulos Associados
<br>
<br>Finalmente, um exame dos �ngulos Associados (veja p�gina 78)
<br>mostra que aparecem v�rios contatos importantes quando estes s�o
<br>calculados. O casal se conheceu em Londres, o local de nascimento
<br>do Duque, de modo que em ambos os casos os �ngulos se baseiam
<br>na T�bua de Casas para a latitude de Londres.
<br>
<br>290
<br>
<br>
<br>Duque de Windsor
<br>(�ngulos Associados)
<br>
<br>Quando o Sol nasce
<br>Quando a Lua est�
<br>no M.C.
<br>Quando a Lua est�
<br>noI.C*
<br>Quando a Lua ascende
<br>
<br>Quando V�nus est�
<br>noI.C.
<br>
<br>Quando V�nus
<br>descende
<br>Quando Marte
<br>descende
<br>
<br>Quando Urano est�
<br>
<br>no M.C.
<br>Quando Urano ascende
<br>Quando Urano
<br>
<br>descende
<br>Quanto Plut�o est�
<br>
<br>no M.C.
<br>Quando Plut�o
<br>descende
<br>
<br>M.C. � 27 Aqu�rio
<br>Ase. � 8 C�ncer
<br>Ase. � 16 Escorpi�o
<br>
<br>M.C. � 20 Sagit�rio
<br>Ase. � 18 Capric�rnio
<br>M.C.� 15 Virgem
<br>M.C. � 0 C�ncer
<br>Ase. � 5 1/2 C�ncer
<br>M.C. � 27 Le�o
<br>M.C.� 17 1/2
<br>Capric�rnio
<br>Ase. � 15 1/2 Virgem
<br>M.C.� 12 Libra
<br>
<br>Duquesa de Windsor
<br>(Posi��es Natais)
<br>
<br>Nodo N. 27 Aqu�rio
<br>Ase. 7 C�ncer
<br>
<br>Saturno/Urano
<br>17 Escorpi�o
<br>V�nus/Netuno 20 1/2
<br>G�meos
<br>Sol/J�piter 18 C�ncer
<br>
<br>M.C. 16 1/3 Peixes
<br>Sol 28 1/2 G�meos
<br>
<br>Ase. 7 C�ncer
<br>
<br>NodoS.27 Le�o
<br>Sol/J�piter 18 C�ncer
<br>
<br>M.C. 16 1/3 Peixes
<br>Lua 11 Libra
<br>
<br>Os �ngulos associados de seis planetas foram apenas colocados
<br>em forma de tabela. Entre 24 contatos poss�veis, 12 est�o presentes
<br>(apenas conjun��es e oposi��es deveriam normalmente ser considerados,
<br>e estes dentro dos limites de orbes pr�ximas). � sugestivo
<br>
<br>o fato de que tr�s dos �ngulos associados da Lua fazem contato com
<br>os planetas da Duquesa (a Lua sendo um indicador da esposa), e de
<br>que o planeta do div�rcio Urano tamb�m est� envolvido em tr�s
<br>desses contatos.
<br>Os �ngulos associados da Duquesa calculados para o seu local de
<br>nascimento produzem poucos contatos extraordin�rios e confirmam
<br>
<br>o ditado de que os �ngulos deveriam ser calculados para o local em
<br>* Imuns Coeli (Fundo do C�u e c�spide da 4a casa).(N. do T.)
<br>291
<br>
<br>
<br>que o nativo se encontra no momento em que estabelece um relacionamento
<br>importante. Aqui est�o os resultados baseados nos
<br>�ngulos calculados para Londres. Eles s�o menos numerosos que
<br>os acima. Em vista do papel de destaque do J�piter da Duquesa no
<br>relacionamento, n�o � surpresa descobrir que ele forma a base de
<br>tr�s contatos importantes.
<br>
<br>Duquesa de Windsor
<br>(�ngulos Associados)
<br>Duque de Windsor
<br>(Posi��es Natais)
<br>Quando a Lua est� Ase. � 11 Sagit�rio Plut�o 11 G�meos
<br>no M.C.
<br>Quando Marte est� Ase. � 18 Sagit�rio J�piter 18 1/3 G�meos
<br>noI.C.
<br>Quando J�piter est� Ase. � 13 G�meos Netuno/Plut�o 13
<br>noI.C. G�meos
<br>Quando J�piter ascende M.C. � 18 Aries Saturno 18 Libra
<br>Quando J�piter M.C. � 7 Sagit�rio M.C. 7 Sagit�rio
<br>descende
<br>Quando Plut�o est� Ase. � 18 Aqu�rio J�piter/Saturno
<br>noI.C. 18 1/3 Le�o
<br>Quando Plut�o ascende M.C.�7 1/2 Aqu�rio Ase. 8 1/4 Aqu�rio
<br>Quando Plut�o M.C. � 13 Libra Saturno/Fortuna
<br>descende 14 Libra
<br>
<br>
<br>FREUD, ADLER E JUNG
<br>
<br>Aqui temos um relacionamento baseado principalmente no n�vel
<br>intelectual. Durante alguns anos estes ilustres psicanalistas trabalharam
<br>juntos, inspirados por um interesse comum pelas causas fundamentais
<br>do comportamento humano. Freud era cerca de 16 anos
<br>mais velho que Adler e 19 anos mais velho que Jung. Em 1902,
<br>convidou Adler para unir-se a ele em seu trabalho. Os dois continuaram
<br>em parceria at� 1911, quando acharam que n�o eram mais
<br>capazes de contornar as diferen�as te�ricas que existiam entre eles.
<br>Jung conheceu Freud em 1907 e a partir da� tomou-se o seu principal
<br>disc�pulo, mas a associa��o terminou em 1912 quando, como no
<br>caso de Adler, Jung achou que as suas pr�prias teorias o estavam afastando
<br>das doutrinas de Freud.
<br>
<br>Deste modo, ao mesmo tempo que os tr�s homens foram, a
<br>princ�pio, unidos neste campo por um enorme interesse pela psicologia
<br>e uma admira��o m�tua, pouco a pouco eles alcan�aram um est�gio
<br>em que as suas teorias individuais se tornaram t�o divergentes
<br>que tiveram de se separar para prosseguir com as suas atividades
<br>profissionais.
<br>
<br>Sigmund Freud foi o fundador da psican�lise, com os seus
<br>m�todos de livre associa��o de id�ias e uma �nfase no impulso sexual
<br>como o motivo por tr�s das a��es e rea��es humanas. Adler
<br>pareceu colocar uma �nfase maior no aspecto criativo. Ao mesmo
<br>tempo que o �mpeto sexual tem uma liga��o �bvia com a criatividade,
<br>Adler n�o era favor�vel ao que ele considerava a excessiva �nfase
<br>de Freud no fator sexual. Ele acentuou a import�ncia de lutar pela
<br>perfei��o para compensar sentimentos de inferioridade. Tamb�m
<br>ponderou que a base de todos os problemas importantes � social, e
<br>que a sociedade em que o homem atua exerce muita influ�ncia sobre
<br>as suas rea��es psicol�gicas. Ele salientou o fato de que cada indiv�duo
<br>� um ser �nico. Isto, combinado com a sua �nfase na import�ncia
<br>do grupo social, � muito t�pico do seu Sol em Aqu�rio. A
<br>sua posi��o solar entrava em choque direto com o hor�scopo de
<br>Freud.
<br>
<br>Para Adler, os fatores determinantes eram fatores psicol�gicos
<br>subjetivos, tais como opini�es e valores, unidos sob o objetivo da
<br>vida. Para Freud, os fatores determinantes eram, em �ltima an�lise,
<br>
<br>
<br>CARL JUNG THURGAU, SUI�A
<br>26 de julho de 1875 19h 44m C.E.T.
<br>
<br>fatores biol�gicos objetivos tais como instintos � principalmente
<br>sexo � e acontecimentos passados.
<br>
<br>Carl Gustav Jung foi o fundador da psicologia anal�tica. Ele rejeitou
<br>a �nfase de Freud no sexo como uma fonte de desarmonia
<br>psicol�gica e deu uma import�ncia menor aos fatores da inf�ncia,
<br>em favor de conflitos mais recentes. Ele considerou o desejo de viver
<br>um fator primordial na determina��o da psicologia de um indiv�duo.
<br>A sua divis�o de tipos em introvertidos e extrovertidos constituiu
<br>um problema para os astr�logos, que esperavam encaixar isto perfeitamente
<br>num padr�o de signos positivos e negativos. A sua clas
<br>
<br>
<br>
<br>sifica��o das quatro divis�es prim�rias da mente em pensamento,
<br>sentimento, sensa��o e intui��o tem ajudado muitos astr�logos a
<br>entender melhor o hor�scopo natal.
<br>
<br>H� fortes aspectos cruzados entre todos os tr�s hor�scopos envolvendo
<br>as lumin�rias e planetas em aspecto pr�ximo com eles:
<br>
<br>Freud Adler Jung
<br>Sol 16 1/3 Touro Sol 18 1/2 Aqu�rio Lua 15 1/2 Touro
<br>Merc�rio/Plut�o 16 Touro Plut�o 16 Touro Urano 14 3/4 Le�o
<br>Urano 20 1/2 Touro
<br>M.C. 14 Le�o
<br>
<br>A conjun��o Sol-Urano de Freud na 7a casa sugere tens�es geradas
<br>por um trabalho em parceria. Plut�o na 7� c�spide em quinc�ncio
<br>com Marte indica uma tend�ncia a se envolver em disputas com parceiros.
<br>(Estes aspectos tamb�m indicavam que a natureza do seu
<br>trabalho costumava atrair para ele pessoas com problemas profundamente
<br>enraizados.) Entre eles, os tr�s homens formavam uma
<br>grande e poderosa cruz no meio exato dos signos fixos. A Lua de
<br>Jung, envolvida com os S�is de seus dois colegas, sem d�vida indicava
<br>uma atra��o inicial, mas o triplo envolvimento de Urano, Plut�o
<br>e os seus respectivos contatos com as lumin�rias em todos os casos
<br>anunciavam o rompimento definitivo da associa��o.
<br>
<br>Inicialmente, o Plut�o de Adler no Sol de Freud pode ter tido o
<br>efeito de fazer Freud ficar impressionado com a capacidade de Adler
<br>de explorar o subconsciente, mas provavelmente ele continuou explorando
<br>tempo demais para o gosto de Freud, e come�ou a questionar
<br>algumas das teorias do mestre.
<br>
<br>Plut�o est� muito relacionado com a psican�lise. A fun��o de
<br>Plut�o � transformar e liberar. O que n�o � sens�vel a este processo �
<br>ent�o eliminado. A fun��o deste planeta cm rela��o � consci�ncia �
<br>nos tornar cientes do que pode ter permanecido latente ou secreto (e
<br>no entanto agindo como um forte fator motivador) de modo a podermos
<br>aceitar esses elementos e torn�-los uma parte integral da nossa
<br>consci�ncia, ou transform�-los numa nova fonte de energia, ao
<br>mesmo tempo fazendo um esfor�o para nos livrarmos daquilo que
<br>achamos que perdeu a utilidade para n�s. A hipnose, �s vezes usada
<br>
<br>
<br>para explorar os segredos da mente, tamb�m se relaciona com Plut�o.
<br>Todos esses tr�s homens tinham Plut�o proeminente. Freud o tinha
<br>no horizonte oriental; Jung, no meridiano inferior e Adler, no meio
<br>do horizonte ocidental e do meridiano superior (que representa uma
<br>posi��o mundana de 15 Aqu�rio, enfatizando a sua posi��o zodiacal
<br>em 16 Touro).
<br>
<br>296
<br>
<br>
<br>As seguintes conex�es adicionais de Plut�o com os tr�s hor�scopos
<br>s�o importantes:
<br>
<br>Freud Adler Jung
<br>Plut�o 4 Touro Lua 5 Touro Netuno 3 Touro
<br>Ase. 3 Escorpi�o Antiscion Marte4 Escorpi�o Sol 3 Le�o
<br>
<br>(Sol pr�-natal 25 Le�o:
<br>Antiscion 5 Touro) Antiscion Plut�o 6 2/3 Le�o
<br>
<br>
<br>No hor�scopo de Jung o quadrado Sol-Netuno pr�ximo � um sinal
<br>da sua an�lise e interpreta��o cuidadosa dos sonhos de seus pacientes
<br>como um meio de resolver os seus problemas.
<br>
<br>A grande �nfase de Plut�o nos contatos entre os tr�s hor�scopos,
<br>sem d�vida, se relaciona ao fato de que era costume os rec�m-chegados
<br>� escola freudiana passarem pelo processo da psican�lise. Certamente
<br>os tr�s colegas tinham um enorme interesse pelas rea��es
<br>psicanal�ticas uns dos outros!
<br>
<br>Tanto Freud como Jung tinham Marte em quinc�ncio com Plut�o,
<br>de modo que a rela��o especial do quinc�ncio com o signo Escorpi�o
<br>coloca uma �nfase adicional em Plut�o. Este aspecto tamb�m
<br>tem uma rela��o com o signo anal�tico Virgem. Adler tem os dois
<br>planetas numa grande quadratura.
<br>
<br>A capacidade de afinidade mental entre os tr�s colegas � mostrada
<br>pelos seguintes contatos:
<br>
<br>Freud
<br>
<br>1. Antiscion Merc�rio
<br>2 1/4 Le�o
<br>Ase. 2 3/4 Escorpi�o
<br>2. Lua 14 1/2 G�meos
<br>3. Urano 20 1/2 Touro
<br>Adler
<br>
<br>Lua 5 Touro
<br>
<br>J�piter/Urano
<br>153/4 G�meos
<br>Antiscion Merc�rio
<br>21 Escorpi�o
<br>Sol/Marte 22 Aqu�rio
<br>
<br>Jung
<br>
<br>Sol 3 1/4 Le�o
<br>
<br>Netuno 3 Touro
<br>Antiscion Merc�rio
<br>16 1/4 G�meos
<br>Marte/J�piter
<br>22 1/2 Escorpi�o
<br>Plut�o 23 1/2 Touro
<br>
<br>1. O antiscion do Merc�rio de Freud est� no z�nite do seu
<br>hor�scopo e se une intimamente ao quadrado Sol-Netuno de Jung,
<br>
<br>ALFRED ADLER VIENA, AUSTRIA
<br>7 de fevereiro de 1870 13h 58m C.E.T.
<br>
<br>talvez fornecendo o est�mulo que levou Jung a explorar a fundo o
<br>mundo dos sonhos.
<br>
<br>2.0 antiscion do Merc�rio de Jung conjunto com a Lua do mestre
<br>apresenta a possibilidade de uma afinidade mental entre eles.
<br>3.0 antiscion do Merc�rio de Adler desperta uma rea��o en�rgica
<br>nos dois colegas, apresentando a possibilidade de estimular a originalidade
<br>de Freud e o entusiasmo de Jung.
<br>Os planetas de Jung na 3� casa j� apareceram nas tabelas acima.
<br>Seus dois colegas t�m tr�s planetas que caem dentro da �rea da sua
<br>
<br>
<br>3� casa, mostrando uma cont�nua efervesc�ncia de id�ias nesta �rea,
<br>salientando o fato de que todos os tr�s homens estavam muito preocupados
<br>em investigar a mente humana. A 9a casa tamb�m �
<br>mportante neste contexto. O Sol de Adler est� em sua pr�pria 9a
<br>c�spide, Marte e V�nus fisicamente na 9a casa. J� colocamos no
<br>quadro alguns dos principais contatos envolvendo o Sol de Adler. O
<br>Marte dele na 9a casa atua atrav�s do signo original e independente
<br>Aqu�rio. Os v�rios aspectos cruzados (quadro abaixo) dos hor�scopos
<br>de seus colegas d�o uma indica��o dos debates e desentendimentos
<br>que, em �ltima an�lise, devem ter resultado na separa��o dos tr�s:
<br>
<br>Freud Adler Jung
<br>
<br>Sol pr�-natal 25 Le�o Marte 25 3/4 Aqu�rio Saturno 24 1/2 Aqu�rio
<br>Antiscion Plut�o 26 Le�o AntiscionLua243/4Le�o Plut�o 23 1/2 Touro
<br>J�piter pr�-natal 28 Aqu. Antiscion Netuno 27 Le�o
<br>Merc�rio 27 3/4 Touro Sol domiciliado 26 Escorp. M.C. 26 2/3 Escorpi�o
<br>Saturno domiciliado 23
<br>
<br>Antiscion Sol 26 2/3 Touro
<br>
<br>Escorpi�o
<br>Antiscion Ase. 27 1/4
<br>
<br>Saturno 25 3/4 Sagit�rio Marte 21 1/3 Sagit�rio
<br>
<br>Aqu�rio
<br>
<br>J�piter 23 3/4 Libra
<br>
<br>Maurice Wemyss relaciona 26�-27� Le�o/Aqu�rio com "uma
<br>compreens�o da natureza humana". Os S�mbolos Sabianos ligados
<br>a este eixo e os graus em quadratura com ele sugerem os poderes
<br>que resultam de cultivar uma mente sadia, bem coordenada e integrada.
<br>Estes aspectos cruzados indicam as principais �reas de disc�rdia
<br>entre os tr�s homens. O Saturno ascendente de Jung, firmemente
<br>posicionado em Aqu�rio e em quadratura com o seu Meio do
<br>C�u, ca�a no Marte de Adler na 9� casa. Esta conjun��o sugere uma
<br>diferen�a b�sica de pontos de vista. Foi Freud quem uniu os dois homens.
<br>Por isso, decerto modo, foi o respons�vel por precipitar o conflito.
<br>O Merc�rio dele formava uma quadratura com o Marte de Adler
<br>e o Saturno de Jung, enquanto o antiscion de seu Plut�o se opunha a
<br>esta conjun��o dos mal�ficos dos dois homens, acrescentando um
<br>elemento compulsivo � combina��o. Freud tinha Saturno em quadratura
<br>com Marte. Tanto Adler como Jung tinham Saturno em
<br>
<br>
<br>sextil com Marte (um contato indicador de uma capacidade de estudar
<br>e testar laboriosamente). O Marte de Jung estava perto do
<br>Saturno de Adler, enquanto o Marte de Adler estava conjunto com o
<br>Saturno de Jung e em quadratura com o seu Plut�o. O tr�gono do
<br>J�piter de Jung com o Marte de Adler e a conjun��o do J�piter pr�natal
<br>de Freud com o mesmo ponto pode ter ajudado a adiar o rompimento
<br>definitivo at� todos os tr�s terem tirado o maior proveito
<br>poss�vel da colabora��o.
<br>
<br>Um exame das posi��es planet�rias nos tr�s hor�scopos expressas
<br>em termos dos zod�acos planet�rios secund�rios enfatiza muito
<br>v�rias �reas. Algumas est�o ocupadas nos hor�scopos individuais;
<br>outras, n�o. Das ocupadas, o maior ac�mulo se concentra a cerca de
<br>16-18 graus dos signos fixos, uma das principais �reas de tens�o entre
<br>os tr�s hor�scopos. Para efeito desta investiga��o s� foram usados
<br>os zod�acos secund�rios que pareceram mais apropriados: os
<br>baseados na posi��o natal do Sol (relacionados com motiva��o interior
<br>e notoriedade), Merc�rio (orienta��o mental), Saturno (senso
<br>de responsabilidade e atua��o do carma), Plut�o (compuls�o e potencial
<br>psicanal�tico) e a cabe�a do Drag�o (relacionamentos em
<br>geral).
<br>
<br>Abaixo est�o as posi��es tropicais dos planetas natais no meio
<br>dos signos fixos e as posi��es transportadas caindo na mesma �rea:
<br>
<br>Zad�aco Tropical
<br>
<br>Adler Sol 18 1/2 Aqu�rio
<br>Plut�o 16 Touro
<br>Jung Lua 15 1/2 Touro
<br>Urano 14 3/4 Le�o
<br>
<br>Freud M.C. 14 Le�o
<br>Sol 16 Touro
<br>Urano 20 1/2 Touro
<br>(Sol/Urano = 18 1/4)
<br>
<br>Zod�aco Solar
<br>
<br>Freud Marte 17 Le�o
<br>Jung Marte 18 Le�o
<br>
<br>Zod�aco de Merc�rio
<br>
<br>Adler Saturno 16 3/4 Aqu�rio
<br>Jung Netuno 16 3/4 Aqu�rio
<br>
<br>Zod�aco de Saturno
<br>Adler J�piter/Plut�o 181/2 Le�o
<br>Freud Sol 18 1/2 Aqu�rio
<br>
<br>M.C. 16 1/2 Touro
<br>Jung Nodo N. 17 1/2 Touro
<br>Merc�rio 19 1/2 Le�o
<br>
<br>Zod�aco de Plut�o
<br>
<br>Freud Netuno 15 1/2 Aqu�rio
<br>Jung Merc�rio 20 1/2 Touro
<br>Nodo N. 18 1/2 Aqu�rio
<br>
<br>Zod�aco Draconiano
<br>
<br>Adler M.C./V�nus 17
<br>1/2 Escorpi�o
<br>Jung M.C. 15 Escorpi�o
<br>
<br>
<br>Tal ac�mulo de posi��es secund�rias, todas concentradas na
<br>mesma �rea, serve para acentuar e ativar as tens�es j� indicadas pelo
<br>choque entre as posi��es tropicais.
<br>
<br>O Marte natal de Jung em 21 2/3 Sagit�rio e o seu ponto m�dio
<br>J�piter/Saturno em 24 Sagit�rio tamb�m s�o o ponto de converg�ncia
<br>de v�rias disposi��es secund�rias no zod�aco.
<br>
<br>Zod�aco Solar Zod�aco de Saturno
<br>Adler Merc�rio 20 1/2 Peixes Adler M.C. 21 1/2 G�meos
<br>J�piter 24 1/2 G�meos Freud Netuno 22 1/3 Sagit�rio
<br>Jun
<br>JunJun
<br>g
<br>gg
<br>J�piter 20 1/2 G�meos Jung Lua 21 1/2 G�meos
<br>Ase. 24 3/4 Virgem Urano 20 2/3 Virgem
<br>Zod�aco de Plut�o Zod�aco Draconiano
<br>Adler Merc�rio 23 Sagit�rio Adler Urano 211/2 Peixes
<br>Jun
<br>JunJun
<br>g
<br>gg
<br>Lua 22 Peixes
<br>Urano 211/2 G�meos Jung
<br>Netuno 20 Sagit�rio
<br>Netuno21 1/8 �ries
<br>
<br>Outras �reas natais estimuladas pelas posi��es secund�rias no
<br>zod�aco, apesar de num grau menor, s�o 3o dos signos fixos, 18o19�
<br>dos mut�veis e 26�-28� dos cardinais.
<br>
<br>Das duas �reas n�o envolvidas em contatos importantes entre os
<br>mapas dos tr�s psicanalistas, a mais ocupada estava a cerca de 22�
<br>dos cardinais. Maurice Wemyss classificou 21 �-22� C�ncer, Capric�rnio
<br>como uma �rea relacionada com o estudo da astrologia (The
<br>Wheelof Life, vol. III), enquanto Dennis Elwell (Astrology, vol. 42,
<br>n� 2) observou que a mesma �rea geralmente � ocupada nos hor�scopos
<br>de s�dicos. Esta associa��o � nitidamente desagrad�vel � �
<br>vista sob um prisma melhor quando nos damos conta de que a astrologia
<br>oferece aos seus profissionais uma oportunidade de serem imparciais
<br>e objetivos em rela��o �s pessoas cujos hor�scopos estudam.
<br>Uma imparcialidade e objetividade parecidas est�o presentes na atitude
<br>do s�dico em rela��o � sua v�tima. No �ltimo caso, a capacidade
<br>� desenvolvida ao extremo, o que leva a um comportamento antisocial;
<br>no primeiro, a capacidade � usada para fazer uma an�lise
<br>objetiva da psicologia individual. Foi esta capacidade que permitiu
<br>a Freud, Adler e Jung destacarem-se em seus respectivos estudos.
<br>
<br>
<br>As posi��es planet�rias secund�rias que envolvem esta �rea
<br>espec�fica s�o as seguintes:
<br>
<br>Zod�aco Solar
<br>
<br>Adler V�nus 23 3/4 Aries
<br>
<br>Jung M.C. 23 1/2 C�ncer
<br>Saturno 21 Libra
<br>Plut�o 20 Capric�rnio
<br>
<br>Zod�aco de
<br>Merc�rio
<br>
<br>
<br>Freud Netuno221/2 Adler
<br>Capric�rnio
<br>
<br>Adler
<br>Freud
<br>
<br>Jung
<br>
<br>Zod�aco de
<br>Saturno
<br>
<br>Urano 23 Libra
<br>Netuno21 1/2
<br>C�ncer
<br>
<br>Zod�aco Draconiano
<br>
<br>Sol 21 1/4 Libra
<br>
<br>M.C. 21 1/2 C�ncer
<br>Sol 23 1/2 �ries
<br>Sol 21 1/2 C�ncer
<br>Netuno21 1/3 �ries
<br>Zod�aco de
<br>
<br>Plut�o
<br>
<br>Freud Merc�rio 23 1/3
<br>�ries
<br>V�nus/Saturno
<br>22 1/3 �ries
<br>
<br>Apenas o Zod�aco Draconiano, com a sua liga��o especial com
<br>relacionamentos, mostra participa��o de todos os tr�s. O envolvimento
<br>dos tr�s S�is numa quadratura em T com o Meio do Cede
<br>Freud na base (mostrando que ele � a figura principal na associa��o)
<br>� muito significativo.
<br>
<br>Uma �rea secund�ria (tamb�m relativa � psican�lise) envolvia
<br>cerca de 12o dos cardinais relacionados, segundo Maurice Wem yss.
<br>com a l�gica e a mem�ria:
<br>
<br>Zod�aco Solar Zod�aco de Plut�o Zod�aco Draconiano
<br>
<br>Freud Merc�rio Freud Sol Freud Netuno
<br>
<br>11 1/2 �ries 11 3/4 �ries 11 3/4 �ries
<br>Jung Lua
<br>
<br>12 1/4 Capric�rnio Jung J�piter 12 Libra
<br>
<br>(Saturno
<br>
<br>12 1/2 Aqu�rio)
<br>
<br>Adler Merc�rio
<br>
<br>11 3/4 Libra
<br>
<br>
<br>OS HOR�SCOPOS DE RELACIONAMENTO
<br>
<br>Os hor�scopos de relacionamento dos tr�s homens prometiam
<br>poucas chances de uma associa��o permanente. O mapa de relacionamento
<br>de Freud e Adler, calculado para 23 de mar�o de 1863,
<br>15h50m L.T. 49N35,14E50, tem o Sol conjunto com Netuno em
<br>oposi��o a Saturno. A Lua em 21 Touro est� conjunta com o Urano de
<br>Freud e em quadratura com o Sol de Adler. Merc�rio em Peixes est�
<br>em quadratura com Marte na 4- casa, sugerindo que os desentendimentos
<br>iriam terminar por estragar o relacionamento. Na �poca em que eles se
<br>separaram, o Sol progredido pr�-natal do relacionamento estava em 15
<br>Aqu�rio, em quadratura com o Plut�o de Adler, e o Sol progredido em
<br>20 Touro, conjunto com o Urano radical de Freud. Os dois
<br>homens tinham contatos Sol/Urano em seus hor�scopos.
<br>
<br>O hor�scopo de relacionamento de Freud e Jung, calculado para
<br>15 de dezembro de 1865,18h41m L.T. 49N13, 11E20,tinhaaLua
<br>em 251/2 Escorpi�o, em oposi��o ao ponto m�dio Merc�rio/Urano
<br>de Freud e o Plut�o de Jung em 23 Touro. Quando a associa��o terminou,
<br>o Meio do C�u progredido do relacionamento alcan�ara 23
<br>Touro. Ao mesmo tempo, o Sol progredido estava em quadratura
<br>com o Saturno progredido, e o Marte progredido em quadratura com
<br>
<br>o Sol progredido pr�-natal enquanto o Meio do C�u progredido pr�natal
<br>estava em 17 1/2 Aqu�rio, em quadratura com o ponto m�dio
<br>Sol/Urano de Freud.
<br>O relacionamento entre Adler e Jung foi resumido por um
<br>hor�scopo de relacionamento calculado para l� de novembro de 1872
<br>4h42m L.T. 47N52,12E50. As lumin�rias em Escorpi�o estavam
<br>em quadratura com Urano. O Ascendente em 15 2/3 Touro estava
<br>conjunto com o Plut�o de Adler e a Lua de Jung, e em quadratura
<br>com o Urano de Jung. Tamb�m estava conjunto com o Sol de Freud,
<br>
<br>o homem que os uniu. Merc�rio em 21 Escorpi�o se opunha a Plut�o
<br>em 20 Touro.
<br>Todos os tr�s hor�scopos de relacionamento continham um aspecto
<br>importante entre Merc�rio e Plut�o, uma combina��o indicando
<br>a possibilidade de conseguir fazer uma profunda an�lise
<br>mental de seus pacientes.
<br>
<br>Os tr�s colegas trabalharam juntos no Instituto de Freud, em Viena.
<br>Os �ngulos Associados de Freud, calculados para a latitude de Viena,
<br>
<br>
<br>formam alguns contatos particularmente importantes com os planetas
<br>de seus colegas:
<br>
<br>Adler
<br>
<br>Freud Jung
<br>
<br>(Planetas Natais)
<br>
<br>(�ngulos Associados) (Planetas Natais)
<br>Quando o Sol no M.C.
<br>
<br>26 Le�o ascende Marte 25 3/4 Aqu�rio Sat. 24 1/2 Aqu�rio
<br>
<br>Quando o Sol no I.C.
<br>14 1/2 Capric�rnio ase. Ase. 14 3/4 C�ncer Merc. 13 3/4 C�ncer
<br>
<br>
<br>Quando o Sol nasce
<br>221/4 Capric�rnio no M.C. Asc./Nodo N.21 C�ncer V�n./Desc. 22 3/4 C�ncer
<br>Quando � Lua no I.C.
<br>25 1/4 Aqu�rio ase. Marte 25 3/4 Aqu�rio Saturno 24 1/4 Aqu�rio
<br>
<br>Quando a Lua cai
<br>11 Libra no M.C. Nodo N. 11 3/4 �ries
<br>
<br>Quando a Lua no M.C.
<br>17 1/4 Virgem ase. M.C. 17 1/4 Peixes
<br>
<br>
<br>Quando Merc�rio no M.C.
<br>41/3 Virgem ase. Merc./J�p. 3 3/4 Virgem
<br>
<br>
<br>Quando Merc�rio no I.C.
<br>28 Capric�rnio ase. Nodo S. 27 1/3 Capric. Ase. 28 Capric�rnio
<br>
<br>
<br>Quando Merc�rio ase.
<br>29 l/2Capric�mionoM.C.
<br>
<br>Quando Merc�rio desc.
<br>18 Virgem no M.C. M.C. 17 1/4 Peixes
<br>
<br>
<br>Quando Marte no I.C.
<br>26 1/2 C�ncer ase. Nodo S.27 1/3 C�ncer
<br>
<br>
<br>Quando S animo ase.
<br>26 Aqu�rio no M.C. Marte 253/4 Aqu�rio Saturno 24 1/2 Aqu�rio
<br>
<br>
<br>Quando Urano no I.C.
<br>20 3/4 Capric�rnio ase. Asc./Nodo N. 21 C�ncer
<br>
<br>
<br>Quando Netuno no M.C.
<br>16 2/3 C�ncer ase. Ase/Urano 163/4 C�ncer V�nus 17 C�ncer
<br>
<br>
<br>Quando Netuno ase.
<br>25 1/2 Sagit�rio, no M.C. Saturno 25 3/4 Sagit�rio
<br>
<br>Quando Netuno desc.
<br>17 G�meos no M.C. Lua/V�n. 16 1/2 G�meos
<br>
<br>
<br>Quando Plut�o no M.C.
<br>17 3/4 Le�o ase. Sol 18 1/2 Aqu�rio
<br>
<br>
<br>Quando Plut�o desc.
<br>14 3/4 Le�o no M.C. Urano 14 3/4 Le�o
<br>
<br>
<br>Quando Nodo N. no M.C.
<br>10 1/4 Le�o ase. Merc�rio 9 Aqu�rio
<br>
<br>
<br>304
<br>
<br>
<br>
<br>RELACIONAMENTO 49N35, 14E50
<br>FREUD/ADLER 14h 52m G.M.T.
<br>23 de mar�o de 1863
<br>
<br>Tanto Jung como Freud unham o Sol e Urano na 7� casa, no caso
<br>de Freud a um intervalo de apenas 4 graus, de modo que n�o chega
<br>a surpreender o fato de eles n�o continuarem a trabalharem conjunto
<br>por muito tempo. O Urano de Jung estava perto do Meio do C�u de
<br>Freud, e o Urano de Freud em quadratura com o seu pr�prio Meio
<br>do C�u. O importante no encontro dessas tr�s mentes extremamente
<br>sens�veis foi que um animou o outro com muitas id�ias novas, apesar
<br>de no final da jornada Freud permanecer mais ou menos fiel �s
<br>suas doutrinas originais. (Era ele que tinha Merc�rio em Touro.)
<br>
<br>
<br>RELACIONAMENTO 49N13, 11E20
<br>FREUD/TUNG 17h 57m G.M.T.
<br>
<br>
<br>15 de dezembro de 1865
<br>
<br>Tanto Jung como Freud tinham Marte na 11a casa e V�nus na 6�. Proveitosamente,
<br>o Marte isolado de Freud eslava cm sextil com o Sol
<br>de Jung. O Ascendente C�ncer de Adler era o complemento do Ascendente
<br>Capric�rnio de Jung e o seu Nodo Sul eslava conjunto ao
<br>Ascendente de Jung. O J�piter de Jungem 23 Libra ca�a na 5a c�spide
<br>de Adler e no Nodo Sul de Freud, um elo que favorece a colabora��o.
<br>
<br>O hor�scopo de Freud indicava dificuldades em trabalhar junto
<br>com outras pessoas, talvez devido a uma cena intransig�ncia. Por
<br>
<br>
<br>
<br>RELACIONAMENTO 47N52, 12E50
<br>ADLER/JUNG 03h 51m G.M.T
<br>1� de novembro de 1872
<br>
<br>tanto, ele atraiu colegas que acabaram por afastar-se dele, porque
<br>n�o podiam aceitar mais algumas de suas hip�teses de trabalho.
<br>Apesar disso, se os tr�s n�o tivessem se unido e trabalhado juntos, o
<br>mundo da psican�lise poderia n�o ter sido t�o importante. A li��o
<br>sobre compara��o de mapas que podemos deduzir disso � que os
<br>grandes conflitos entre hor�scopos de indiv�duos n�o s�o necessariamente
<br>uma indica��o de que eles n�o poderiam se beneficiar mutuamente
<br>trabalhando juntos. Mas seria uma boa id�ia aceitar de
<br>
<br>
<br>antem�o que haver� um momento nesses relacionamentos em que
<br>eles ir�o se desenvolver em sentidos opostos, ao aperfei�oarem as
<br>suas id�ias. Dessa forma, ao mesmo tempo que um relacionamento
<br>de curta dura��o poderia ser muito ben�fico para todos os seus membros,
<br>um relacionamento duradouro talvez n�o fosse apenas desaconselh�vel,
<br>mas virtualmente imposs�vel.
<br>
<br>Tanto Adler�com o Sol conjunto a Marte em Aqu�rio, e Urano
<br>ascendendo � como Jung � com o Sol em Le�o, e Saturno ascendendo
<br>em Aqu�rio em quadratura com Plut�o � e Freud � com o
<br>seu Sol conjunto a Urano num signo fixo�tinham as caracter�sticas
<br>astrol�gicas de grandes individualistas, como sem d�vida o seu trabalho
<br>exigia que fossem. A prova disso � que depois de um curto per�odo
<br>de colabora��o, que foi virtualmente um per�odo de incuba��o
<br>para as id�ias de Adler e Jung, os tr�s seguiram caminhos separados.
<br>
<br>A FAM�LIA MANSON
<br>
<br>No dia 9 de agosto de 1969, quatro membros de uma gangue de
<br>drop-outs foram enviados por seu l�der numa expedi��o que resultaria
<br>na brutal chacina de 5 pessoas. O l�der, Charles Manson, foi
<br>descrito como um guru maligno, encarado pelos seus 26 jovens seguidores
<br>(20 dos quais mulheres) como algum tipo de super-homem.
<br>(Normalmente eles o chamavam de "Deus" ou "Sat�".)
<br>
<br>O London Observer (22 de julho de 1973) publicou um artigo de
<br>
<br>Peter Wilby em que ele dizia que o professor Robert Zaehner, Spald
<br>
<br>
<br>ing Professor de Religi�es Ocidentais da Universidade de Oxford,
<br>
<br>e um "membro de todas as almas"* � uma reconhecida autoridade
<br>
<br>em drogas e experi�ncias m�sticas � afirmara que a filosofia e ati
<br>
<br>
<br>tudes de Manson podiam estar diretamente ligadas a doutrinas re
<br>
<br>
<br>ligiosas da �ndia, apesar do contato de Manson com tais doutrinas
<br>
<br>poder ter sido principalmente atrav�s de diversas seitas semi-orien
<br>
<br>
<br>tais na �rea de Los Angeles, cuja interpreta��o dos textos originais
<br>
<br>podia ter sido um tanto incorreta e deturpada.
<br>
<br>Segundo um texto hindu, "o homem que sabe (Brahman) como
<br>
<br>eu sou n�o perde nada que � seu, independentemente do que fizer,
<br>
<br>mesmo se matar os seus pais, roubar ou provocar um aborto. Por mais
<br>
<br>que pratique maldades, n�o se abalar�". Manson, salientou o profes
<br>
<br>
<br>*"Fellow of All Souls."
<br>
<br>308
<br>
<br>
<br>sor, n�o se abalou. No plano absoluto, matar e ser morto eram
<br>igualmente irreais. "Uma vez que voc� perde toda a consci�ncia do
<br>seu ego, descobre que pode matar � vontade e n�o sentir nenhum
<br>remorso."
<br>
<br>Este era o tipo de doutrina que Manson pregava a seus seguidores,
<br>muitos dos quais pareciam motivados por um desejo ardente de
<br>melhorar o padr�o da sociedade americana, que consideravam respons�vel
<br>pelos crescentes problemas de polui��o atmosf�rica, a
<br>perpetua��o do preconceito racial e a exist�ncia de corrup��o nos
<br>altos escal�es.
<br>
<br>Entrevistas pela televis�o com alguns dos membros da "fam�lia",
<br>na �poca do julgamento, mostraram criaturas gentis e simples, falando
<br>de "amor" e "paz", e cheias de admira��o pelo seu l�der. Um
<br>dos entrevistados foi Lynette Fromme, que mais tarde tentou assassinar
<br>o presidente Ford. Era quase imposs�vel imaginar a gentil e
<br>aparentemente inofensiva garota da entrevista representando o papel
<br>de uma cruel assassina. Esse comportamento s� se torna veross�mil
<br>� luz da insinua��o de que Manson exercia algum poder hipn�tico
<br>sobre os seus disc�pulos, fazendo-os n�o enxergar a total incoer�ncia
<br>de cometer assassinatos sangrentos para confirmar os seus ideais de
<br>
<br>'amor e paz". Sabe-se que Manson usou drogas e magia sexual para
<br>
<br>tomar a sua fam�lia mais sens�vel � doutrina��o. Sem d�vida o res
<br>
<br>
<br>peito que tinham por ele foi aumentado pelo fato de ter passado por
<br>
<br>um ritual de crucifica��o, experimentando o que os Zen Budistas
<br>
<br>chamam de "A Grande Morte", e atingido a "ilumina��o" (uma luz
<br>
<br>suprema e s�bita que destr�i a barreira do tempo) durante uma
<br>
<br>caminhada de 70 quil�metros pelo deserto.
<br>
<br>Em outro lugar (veja American Astrology, mar�o e junho de 1974.
<br>Reeditadano The Astrologer's Quarterly, outono e inverno de 1974,
<br>vol. 48 n�s 3 e 4) demonstrei como o per�odo de uma Grande Era pode
<br>sersubdivididoem360partes para fornecer um "grau de tempo" para
<br>cada subdivis�o de aproximadamente 6 anos. Jesus de Nazar� nasceu
<br>quando o grau de tempo era 7 Touro. Charles Manson (note a
<br>semelhan�a com o "Filho do Homem") nasceu com este grau de ascendente
<br>e J�piter no grau oposto, em Escorpi�o. Ele tamb�m tinha
<br>a conjun��o Marte-Netuno, presente no hor�scopo de Jesus. O seu
<br>Merc�rio em 2�59 Escorpi�o se opunha ao grau de tempo operante
<br>quando Cristo foi crucificado.
<br>
<br>
<br>A hist�ria de Manson n�o se parece em nada com a de um futuro
<br>Messias. Era filho ileg�timo e passou 17 dos seus primeiros 33
<br>anos atr�s das grades por crimes envolvendo roubo de carros e falsifica��o.
<br>Com o correr dos anos, desenvolveu um �dio violento da
<br>sociedade, que deteriorou o seu c�rebro. Segundo o evangelho que
<br>ele pregava para seus seguidores, os ricos eram "porcos" que precisavam
<br>de purifica��o. O diagn�stico de um psicanalista foi o de
<br>que ele carregava encerrada dentro de si pr�prio uma profunda raiva
<br>reprimida e uma hostilidade dirigida a toda a humanidade. Fazer as
<br>jovens da sua gangue cometerem esses assassinatos foi o seu modo
<br>de extravas�-las. O comportamento de Manson era ditado por um
<br>desejo perverso de punir os ricos. O fato de pessoalmente n�o tomar
<br>parte nos assassinatos � compreens�vel atrav�s dos coment�rios de
<br>um companheiro ex-presidi�rio que o descreveu como uma pessoa
<br>muito passiva que, se atacada, ficaria acuada ao inv�s de contra-
<br>atacar.
<br>
<br>Em sua procura por v�timas adequadas em quem se vingar,
<br>Manson lembrou-se de um rancor quase esquecido contra Tony
<br>Melcher, filho de D�ris Day, que foi respons�vel por recusarem
<br>gravar uma de suas can��es (ele gostava de imaginar-se como um
<br>peregrino menestrel). Tony Melcher alugara a sua casa para o diretor
<br>de cinema Roman Polanski e sua mulher Sharon Tate, que trabalhara
<br>em Vale das bonecas. Curiosamente, outras duas protagonistas
<br>deste filme tiveram contratempos no mesmo per�odo.
<br>
<br>Foi assim que no fat�dico dia 9 de agosto Manson enviou os seus
<br>
<br>quatro disc�pulos em sua horr�vel expedi��o, sem estar muito inte
<br>
<br>
<br>ressado em saber quem poderia ter alugado a casa de Tony Melcher,
<br>
<br>e certamente ignorando que havia quatro visitas na casanaquela noite,
<br>
<br>apesar de Roman Polanski estar na Europa, dirigindo um filme. Os
<br>
<br>atacantes, todos vestidos de preto, eram Charles Watson, Susan
<br>
<br>Atkins, Linda Kasabian e Pat Krenwinkel. Watson estava armado
<br>
<br>com um rev�lver, enquanto as garotas portavam facas com bainha.
<br>
<br>A caminho da casa viram um rapaz, Steven Earl Parent, saindo
<br>
<br>do chal� do caseiro, onde fora fazer uma visita. Apesar das s�plicas
<br>
<br>e protestos de Susan Atkins, alegando que ele n�o fazia parte da
<br>
<br>"miss�o", Watson o matou com tr�s tiros. Depois eles cortaram os
<br>
<br>fios do telefone. Em seguida, Watson subiu por uma janela, entrou
<br>
<br>na casa e deu acesso aos outros.
<br>
<br>310
<br>
<br>
<br>Primeiro, a gangue amarrou suas v�timas. O que se seguiu foi
<br>descrito como uma profus�o de pontap�s, punhaladas e tiros. O fato
<br>de Sharon Tate estar gr�vida n�o preocupou nem um pouco os intrusos.
<br>Enquanto Susan Atkins a segurava, Watson a apunhalou
<br>dezesseis vezes.
<br>
<br>Quando os quatro voltaram para o esconderijo da gangue, foram
<br>criticados por Manson por fazerem um "servi�o malfeito", e tr�s
<br>deles foram mandados no dia seguinte para fazer um servi�o "direi
<br>
<br>
<br>311
<br>
<br>
<br>to" num rico merceeiro e sua esposa, escolhidos ao acaso pelo implac�vel
<br>"guru."
<br>
<br>Dos principais atores na trag�dia, apenas os hor�scopos de Charles
<br>Manson, Susan Atkins e Steven Earl Parent s�o conhecidos.
<br>Atkins era filha de dois alco�latras. Sua ambi��o era ser bailarina.
<br>Ela cometera uma infra��o aos 18 anos, ao dirigir pelo Oregon com
<br>dois amigos, e foi colocada sob condicional durante dois anos. Seu
<br>hor�scopo � not�vel pelo modo em que os signos de fogo s�o acentuados.
<br>Tr�s mal�ficos em Le�o ocupam a 7� casa. Destes, Marte est�
<br>envolvido em um grande tr�gono com a Lua e J�piter, tamb�m em
<br>signos de fogo. O tr�gono Lua-J�piter est� isolado por hemisf�rio,
<br>ambos mundanamente pelos nodos. O regente do Ascendente,
<br>Saturno, � cercado por Marte e Plut�o na 7�.
<br>
<br>Assim, ela � reapresentada como uma pessoa muito dependente
<br>dos outros, desejando responsabiliz�-los (Saturno na 7�) por seus atos
<br>e culp�-los por despertarem nela impulsos agressivos (compare
<br>Adolf Hitler, Marte na 7�). Le�o � o signo que rege a declara��o solene
<br>do Padre-Nosso, "Seja feita a Vossa Vontade, assim na Terra como
<br>no C�u." A tend�ncia a serinfluenciadapor pessoas mais velhas (Sol
<br>em quadrado com Saturno na 7� casa), e a natureza violenta do stellium
<br>de Le�o, a levou a sentir-se atra�da por Charles Manson, que a
<br>imbuiu, bem como aos seus outros seguidores, da cren�a de que era
<br>a sua miss�o divina livrar o mundo dos degenerados e pecadores.
<br>Uma identifica��o com esta miss�o a levaria a ter uma sensa��o de
<br>j�bilo (J�piter em Sagit�rio em tr�gono com Lua/�ries em tr�gono
<br>com Marte/Le�o) e de que agiu com justi�a, baseada numa irreal
<br>justificativa religiosa (J�piter/Sagit�rio). O fato de sua filosofia de
<br>vida costumar ser distorcida pela sutil persuas�o de outras pessoas �
<br>mostrado por Netuno em Libra, em conjun��o com a sua 9- c�spide.
<br>
<br>V�nus-Urano em sextil com Marte e a oposi��o pr�xima V�nus-
<br>J�piter tamb�m sugerem algum tipo de envolvimento sexual. Como
<br>Charles Manson, ela tinha uma quadratura Sol-Sarurno. De passagem,
<br>vale a pena notar que ocorreu um eclipse do Sol em 18 1/2
<br>Touro, tr�s dias depois dela nascer. O Sol de Manson estava em 19
<br>Escorpi�o. O Marte de Atkins em 25 Le�o se opunha � posi��o do
<br>Sol no Dia de S�o Valentim, o dia em que ocorreu o massacre de
<br>Chicago organizado por Al Capone. Dizem que ambos os santos
<br>Valentim foram martirizados.
<br>
<br>
<br>Susan Atkins era o bra�o direito de Manson. O ponto m�dio de
<br>V�nus-Netuno de Atkins cai em 20 Le�o, o ponto m�dio de seu
<br>Marte-Saturno em 20 1/2 Le�o, e o Saturno natal de Manson em 21
<br>3/4 Aqu�rio. O ponto m�dio da conjun��o Sol-V�nus dele � 19 Escorpi�o.
<br>
<br>
<br>O ponto m�dio entre V�nus e Marte de Atkins � 27 C�ncer, e o
<br>ponto m�dio entre seu Marte e J�piter � 26 3/4 Libra. O Plut�o de
<br>Manson est� em 26 C�ncer e seu Urano em 28 1/2 �ries. A im
<br>
<br>
<br>313
<br>
<br>
<br>port�ncia de V�nus e Mane nestes contatos � no caso de Atkins �
<br>e de Marte, Saturno, Urano e Plut�o � no caso de Manson�sugerem
<br>algumas das implica��es sexuais do relacionamento e a grande
<br>influ�ncia que ele foi capaz de exercer sobre a parceira.
<br>
<br>O J�piter de Manson caindo pr�ximo ao Meio do C�u de Atkins,
<br>e o seu Sol e V�nus na 10a casa da parceira, a teriam levado a aceitar
<br>a pretens�o dele a um status elevado. O Sol de Atkins caindo no
<br>Ascendente de Manson o teria feito ficar impressionado com a capacidade
<br>de a parceira agir como a sua substituta no comando. O
<br>Saturno de Manson na 1a casa de Atkins tamb�m o teria feito confiar
<br>nela, enquanto a parceira tenderia a dar valor � sua maior experi�ncia
<br>de vida. O Urano de Manson caindo na 3a casa de Atkins, pr�ximo
<br>ao Marte dela, estimularia, de um modo muito original, a sua imperiosa
<br>necessidade de seguir por conta pr�pria uma nova e revolucion�ria
<br>linha de pensamento. O Plut�o de Manson na 7a casa da parceira,
<br>em quadratura com a Lua dela, a desafiaria a tentar uma
<br>mudan�a dr�stica de suas atitudes mentais (talvez atrav�s de influ�ncia
<br>hipn�tica). A conjun��o Marte-Netuno de Manson na 5a casa
<br>caindo na 8a casa de Atkins bem poderia estar relacionada ao h�bito
<br>de fazer algum tipo de magia sexual um para o outro, al�m de proporcionar
<br>a ele uma inquietante e exata compreens�o das motiva��es
<br>da parceira.
<br>
<br>O stellium Marte-Saturno-Plut�o de Atkins cai principalmente
<br>na 5a casa de Manson, o Saturno dela estando praticamente na
<br>c�spide. Isto teria dado um cunho particularmente desagrad�vel ao
<br>relacionamento deles � em vista da grande cruz formada pelo stellium
<br>e Sol de Atkins com o Sol e a V�nus de Manson em quadratura
<br>com Saturno, um elemento de frustra��o m�tua e envolvimento fatal
<br>relacionado com a busca do poder. O Netuno de Atkins cai na 6a casa
<br>de Manson. Deste modo, ela pode ter tido uma sensa��o de eleva��o
<br>"espiritual" ao se considerar sua disc�pula, apesar de, �s vezes, n�o
<br>conseguir seguir corretamente as instru��es do mestre, como evidenciado
<br>pela incurs�o na mans�o de Polanski. O J�piter de Atkins na
<br>
<br>8a
<br>
<br> casa de Manson � outro fator que aumentaria a confian�a dele na
<br>parceira. V�nus e Urano de Atkins opostos a J�piter indicam a possibilidade
<br>de muita atra��o f�sica entre eles. A Lua dela peregrina
<br>em �ries na 12a casa de Manson sugere uma atitude protetora e
<br>sol�cita em rela��o ao parceiro, e um desejo de envolver-se ativa
<br>
<br>
<br>314
<br>
<br>
<br>STEVEN EARL PARENT PASADENA, CALIFORNIA
<br>12 de fevereiro de 1951 lh 59m PS.T.
<br>
<br>mente em qualquer forma de servi�o que contribuiria para o bem-
<br>estar dele.
<br>
<br>A grande proximidade do Meio do C�u de Atkins com o Descendente
<br>de Manson, e do Meio do C�u dele com o Ascendente da parceira,
<br>� um elo muito poderoso entre cies. O Nodo Norte de Atkins
<br>cai no Ascendente de Manson, unindo-se � grande cruz formada pelos
<br>seus dois S�is e os planetas cm quadratura com eles, uma indica��o
<br>de uma uni�o muito poderosa, e no entanto possivelmente desastrosa,
<br>numa encarna��o anterior.
<br>
<br>
<br>A influ�ncia rec�proca entre os hor�scopos de Manson e Parent
<br>tamb�m � muito importante. Eis algumas das principais caracter�sticas:
<br>Manson tem o Sol em Escorpi�o em quadratura com Saturno.
<br>Este Saturno estava a um grau do Sol de Parent. O Saturno pr�-natal
<br>de Manson tamb�m estava no mesmo grau. A conjun��o entre Marte
<br>e Netuno natais de Manson, um fator de import�ncia vital neste
<br>hor�scopo, estava exatamente oposta ao pr�prio Sol pr�-natal dele
<br>em 14 1/2 Peixes, e exatamente oposta � V�nus de Parent, pr�xima
<br>a J�piter e Marte. Marte, Saturno e o Sol pr�-natais de Manson estavam
<br>portanto envolvidos com pontos cr�ticos da energia de Pa rent,
<br>Al�m disso, a conjun��o entre Marte e Netuno natais dele tamb�m
<br>estava envolvida. Exceto pelo Sol, a lumin�ria que representa a
<br>vontade, todos os outros fatores s�o mal�ficos, e foi Manson quem
<br>teve a maior responsabilidade pelo assassinato de Parent, apesar de
<br>aparentemente n�o saber da sua exist�ncia.
<br>
<br>O Plut�o natal de Manson ca�a no ponto m�dio entre Urano e
<br>Plut�o de Parent. O Plut�o de Parent estava em oposi��o ao seu
<br>pr�prio Sol. Portanto, o quadrado Sol-Saturno no mapa de Manson
<br>se relaciona com a oposi��o Sol-Plut�o no hor�scopo da v�tima. A
<br>Lua de Parent estava a um grau do Ascendente de Manson, e o antiscion
<br>desta Lua era 23 Le�o em oposi��o ao Saturno de Manson.
<br>
<br>O antiscion do Ascendente de Parent era o grau do Meio do C�u
<br>de Manson. O antiscion do Sol de Parent em 7 Escorpi�o ca�a exatamente
<br>no Descendente e J�piter de Manson. Fica-se tentado a
<br>sugerir que deve ter havido um elo fatal entre os dois homens estabelecido
<br>no passado, apesar de o crime parecer totalmente sem rela��o
<br>e n�o premeditado.
<br>
<br>OS HOR�SCOPOS DE RELACIONAMENTO
<br>
<br>O hor�scopo de relacionamento de Manson e Parent, calculado
<br>para 28 de dezembro de 1942, 8h54m L.T. 26 N 38,101 O 20 com
<br>um Meio do C�u de 22 Escorpi�o, logo chama a aten��o para o Sol
<br>de Manson em quadratura com Saturno, e o Sol de Parent em oposi��o
<br>a Plut�o. O Ascendente em 1 Aqu�rio est� num grande e pr�ximo
<br>tr�gono com Urano e Netuno. De modo mais amea�ador, Marte est�
<br>em 9 Sagit�rio no Ascendente de Parent, e Saturno em 7 G�meos. O
<br>
<br>316
<br>
<br>
<br>hor�scopo de relacionamento completava aproximadamente 17 anos
<br>quando ocorreu o assassinato. As dire��es secund�rias regressivas
<br>calculadas para 17 anos trazem o Sol de volta para 8 1/2 Sagit�rio.
<br>Saturno, estando retr�grado, se deslocara para 9 Sagit�rio. Estas
<br>posi��es confirmaram a morte de Parent. O Marte progredido pr�r.
<br>at al voltara para 20 Escorpi�o, para o Sol natal de Manson e o ponto
<br>m�dio da oposi��o Sol-Plut�o de Parent.
<br>
<br>De acordo com a lei, apesar de Manson n�o estar presente no
<br>assassinato de Parent e dos outros que foram mortos naquela noite,
<br>
<br>317
<br>
<br>
<br>RELACIONAMENTO 118 W 07, 34 N05
<br>ATKINS/PARENT 20h 38m G.M.T.
<br>24 de setembro de 1949
<br>
<br>ele foi responsabilizado por ter instigado o crime, e portanto considerado
<br>culpado. � importante notar que os planetas parecem dar
<br>um veredicto parecido, parecendo unir a lei dos homens � justi�a
<br>c�smica.
<br>
<br>Apesar de Susan Atkins n�o ter atirado em Parent, o mapa de
<br>relacionamento entre os dois ainda mostra muitas afli��es. O Sol
<br>radical dela estava em quadratura exata com Saturno (um aspecto
<br>nos mapas de quase todos os envolvidos nos horr�veis acontecimen
<br>
<br>
<br>
<br>tos daquela noite). Como o Saturno dela estava entre Marte e Plut�o,
<br>estes dois tamb�m estavam em quadratura com o seu Sol. O ponto
<br>m�dio de Marte e Plut�o de Atkins estava em conjun��o com o Plut�o
<br>de Parent, enquanto seu ponto m�dio Marte-Netuno se opunha ao
<br>Marte de Parent.
<br>
<br>O hor�scopo de relacionamento Atkins-Parent, calculado para 24
<br>de setembro de 1949,12h49m L.T. 34 N 05,118 O 07, tem Netuno
<br>perto do Meio do C�u em 16 Libra, mas a caracter�stica mais impressionante
<br>� o Ascendente em 27 Sagit�rio, que atinge o J�piter
<br>natal de Atkins em 28 Sagit�rio e o seu ponto m�dio Urano-V�nus.
<br>Deste modo, J�piter e V�nus de Atkins estavam envolvidos no relacionamento
<br>deles, e foi ela quem implorou a Charles Watson para
<br>n�o atirar em Parent. No entanto, a sua s�plica foi em v�o, como
<br>provavelmente ditou o Netuno elevado no hor�scopo de relacionamento.
<br>
<br>
<br>As progress�es do hor�scopo de relacionamento s�o interessantes.
<br>Devido �s circunst�ncias absolutamente fora do comum em que
<br>eles se conheceram, o primeiro encontro tamb�m foi o �ltimo, e o
<br>in�cio do relacionamento na verdade anunciou o fim. Contudo, o
<br>mapa de relacionamento indicava as circunst�ncias do encontro,
<br>porque o Marte secund�rio progredido alcan�ara 23 Le�o, em
<br>oposi��o com o Sol de Parent (em conjun��o com o antiscion do
<br>Ascendente de Manson), e Saturno progredira para 14 3/4 Virgem,
<br>conjunto com a cr�tica conjun��o Marte-Netuno de Manson e em
<br>oposi��o com a V�nus de Parent. A V�nus progredida pr�-natal do
<br>relacionamento em 16 Libra tamb�m indica a tentativa de Atkins de
<br>salvar a vida de Parent. No que diz respeito a este breve epis�dio, os
<br>planetas parecem isent�-la de qualquer culpa. Mas n�o os acontecimentos
<br>posteriores daquela noite.
<br>
<br>Dos muitos aspectos cruzados produzidos pelas posi��es pla
<br>
<br>
<br>net�rias no zod�aco, estes s�o os mais impressionantes:
<br>
<br>
<br>Atkins
<br>
<br>Manson
<br>
<br>(Zod�aco Tropical)
<br>
<br>(Zod�aco Draconiano) *
<br>
<br>Urano 24 G�meos
<br>Marte/Netuno 9 Escorpi�o
<br>Plut�o 21 Virgem
<br>
<br>M.C. 16 3/4 Peixes
<br>Marte/Netuno 18 Touro
<br>
<br>(op. pr�prio Sol/V�nus)
<br>Lua 9 Libra
<br>J�piter 11 C�ncer
<br>Urano 2 1/2 Capric�rnio
<br>Saturno 26 Libra
<br>
<br>(quadrado pr�p. Plut�o)
<br>
<br>Lua 15 G�meos
<br>
<br>Nodo N. 15 G�meos
<br>
<br>J�piter 171/4 Peixes
<br>
<br>Ase. 17 1/2 Virgem
<br>
<br>Marte 25 Capric�rnio
<br>
<br>Netuno 24 1/2 Capric.
<br>
<br>Saturno 2 C�ncer
<br>
<br>Urano 8 3/4 Virgem
<br>
<br>Plut�o 6 1/4 Sagit�rio
<br>
<br>Lua 20 Le�o
<br>
<br>Nodo N. 20 Le�o
<br>
<br>Merc�rio 18 1/4 �ries
<br>
<br>Ase. 22 2/3 Escorpi�o
<br>
<br>J�piter 22 1/3 Touro
<br>
<br>Urano 13 3/4 Escorpi�o
<br>
<br>Plut�o 11 1/4 Aqu�rio
<br>
<br>Urano 24 G�meos
<br>
<br>M.C. 10 Escorpi�o
<br>(Zod�aco de Plut�o)
<br>
<br>Sol 16 1/2 Touro
<br>Saturno 16 Le�o
<br>
<br>
<br>Netuno 10 3/4 Libra
<br>
<br>
<br>(Zod�aco Solar)**
<br>
<br>Lua 25 �ries
<br>Merc�rio 26 Touro
<br>
<br>
<br>(Zod�aco de Marte)***
<br>
<br>Mar./Sat.203/4Le�o
<br>Ase. 19 3/4 Capric�rnio
<br>
<br>
<br>Nodo N. 14 Touro
<br>Plut�o 12 1/2 Le�o
<br>Netuno 10 3/4 Libra
<br>
<br>
<br>*As posi��es s�o quase as mesmas no Zod�aco Lunar.
<br>
<br>**As posi��es s�o quase as mesmas no Zod�aco de V�nus.
<br>***As Dosic�es s�o auase as mesmas no Zod�aco de Netuno.
<br>
<br>Parent
<br>
<br>(Zod�aco Tropical)
<br>
<br>M.C. 22 1/2 Virgem
<br>Marte 16 1/3 Peixes
<br>Plut�o 18 1/2 Le�o
<br>
<br>Saturno 1 1/2 Libra
<br>
<br>Marte 16 1/3 Peixes
<br>J�piter 13 3/4 Peixes
<br>V�nus 14 1/2 Peixes
<br>
<br>
<br>Saturno 1 1/2 Libra
<br>Ase. 9 Sagit�rio
<br>
<br>
<br>Lua/Urano 6 1/4 G�meos
<br>
<br>Sol/Plut. 203/4Escorp.
<br>Netuno 19 1/2 Libra
<br>
<br>Sol 23 Aqu�rio
<br>
<br>
<br>Parent
<br>(Zod�aco de Marte)*
<br>
<br>
<br>Lua 20 1/2 Touro
<br>Merc. 17 1/2 Aqu�rio
<br>V�nus 28 Peixes
<br>J�piter 27 1/3 Peixes
<br>Urano 19 1/3 C�ncer
<br>Ase. 22 1/2 Sagit�rio
<br>
<br>(Zod�aco Plut�o)
<br>
<br>V�nus 25 3/4 Libra
<br>Marte 27 3/4 Libra
<br>J�piter 25 Libra
<br>Saturno 13 Touro
<br>Urano 17 1/2 Aqu�iio
<br>
<br>Ase. 20 1/3 C�ncer
<br>
<br>(Zod�aco Solar)
<br>
<br>Lua 14 G�meos
<br>V�nus 21 �ries
<br>J�piter 21 1/2 �ries
<br>Marte 23 1/2 �ries
<br>Saturno 8 2/3 Escorpi�o
<br>
<br>Urano 13 Le�o
<br>Netuno 26 1/2 Escorpi�o
<br>Plut�o 25 2/3 Virgem
<br>Nodo N. 27 2/3 �ries
<br>Ase. 16 Capric�rnio
<br>
<br>M.C. 29 2/3 Libra
<br>(Zod�aco de Saturno)
<br>
<br>Sol 21 1/3 Le�o
<br>
<br>Plut�o 17 Aqu�rio
<br>
<br>Lua 5 1/3 Escorpi�o
<br>
<br>V�nus 13 Virgem
<br>
<br>Marte 15 Virgem
<br>
<br>J�piter 12 1/4 Virgem
<br>
<br>Atkins
<br>(Zod�aco Tropical)
<br>
<br>
<br>Mar./Sat.20 3/4Le�o
<br>
<br>
<br>J�piter 28 1/4 Sagit�rio
<br>V�nus 30 G�meos
<br>Ase. 19 3/4 Capric�rnio
<br>Urano 24 G�meos
<br>
<br>
<br>Urano 24 G�meos
<br>Lua 25 Aries
<br>J�piter 28 Sagit�rio
<br>Netuno 12 2/3 Le�o
<br>
<br>
<br>Ase 19 3/4 Capric�rnio
<br>
<br>
<br>M.C. 10 Escorpi�o
<br>Netuno 122/3 Le�o
<br>Marte 25 2/3 Le�o
<br>Lua 25 �ries
<br>J�piter 28 Sagit�rio
<br>Saturno 16 Le�o
<br>Sol 16 1/2 Touro
<br>V�nus 30 G�meos
<br>
<br>
<br>Marte/S atumo 203/4 Le�o
<br>Saturno 16 Le�o
<br>
<br>
<br>NodoN. 14 Touro
<br>
<br>
<br>* As posi��es s�o quase as mesmas no Zod�aco de Netuno.
<br>Manson
<br>(Zod�aco Tropical)
<br>
<br>Sol 19 3/4 Escorpi�o
<br>Saturno 21 3/4 Aqu�rio
<br>
<br>Plut�o 26 C�ncer
<br>
<br>Sol 19 3/4 Escorpi�o
<br>V�nus 18 1/4 Escorpi�o
<br>
<br>M.C. 21 3/4 Capric�rnio
<br>Netuno 141/4 Virgem
<br>Marte 14 3/4 Virgem
<br>
<br>M.C. 21 3/4 Capric�rnio
<br>J�piter 7 Escorpi�o
<br>Ase. 7 1/2 Touro
<br>
<br>Plut�o 26 C�ncer
<br>Urano 28 2/3 �ries
<br>
<br>Saturno 21 3/4 Aqu�rio
<br>V�nus 18 1/4 Escorpi�o
<br>Lua 4 Aqu�rio
<br>Nodo N. 4 3/4 Aqu�rio
<br>
<br>Marte 14 3/4 Virgem
<br>Netuno 14 1/4 Virgem
<br>
<br>
<br>Os �nicos aspectos favor�veis entre os muitos conflitantes nesta
<br>longa lista s�o os entre Parent e Atkins, mas sobre eles pesam s�rias
<br>afli��es. S�o particularmente dignos de nota os interc�mbios entre
<br>Atkins e Parent, quando o Zod�aco de Marte de Parent � comparado
<br>com o hor�scopo dela, e os elos saturnianos com Manson e Atkins
<br>quando examinamos o Zod�aco de Saturno de Parent.
<br>
<br>Os alvos principais deste estudo foram os Zod�acos de Marte,
<br>Saturno e Plut�o, j� que a viol�ncia e a m�o implac�vel do destino
<br>foram evidentemente a t�nica deste lament�vel epis�dio.
<br>
<br>Manson ordenou o assassinato do presidente Ford, tentado por
<br>LynetteFromme,umadesuas seguidoras, em 7 de setembro de 1975?
<br>Uma compara��o entre os hor�scopos dos dois homens sugere que
<br>tal ordem n�o estaria em desacordo com a natureza dos aspectos
<br>cruzados interplanet�rios entre ambos. Por exemplo, os Martes dos
<br>dois homens est�o em quadratura com o Saturno um do outro. Os
<br>contatos que se seguem podem gerar incompatibilidade em qualquer
<br>relacionamento:
<br>
<br>Ford Manson
<br>
<br>Sol 21 1/4 C�ncer M.C. 21 3/4 Capric�rnio
<br>(conjunto Netuno 25 1/2 C�ncer)
<br>Marte 19 Touro Sol 19 3/4 Escorpi�o, V�nus 18 3/4
<br>
<br>Escorpi�o, Saturno 21 3/4 Aqu�rio
<br>
<br>(o eclipse solar de 11 de maio de 1975 caiu em 20 Touro)
<br>
<br>Urano 6 Aqu�rio Ase. 7 1/2 Touro, J�piter 7 Escorpi�o
<br>Saturno 13 1/4 G�meos Mane 14 3/4 Virgem, Netuno 14 1/4
<br>Virgem
<br>
<br>(em 7 de setembro de 1975, o Sol estava em 14 Virgem, Marte em 14
<br>G�meos)
<br>
<br>Antes de concordar em ser o tema de um a entrevista que a televis�o
<br>faria na pris�o, umas tr�s semanas antes da tentativa de assassinato,
<br>Manson exigiu que uma c�pia da entrevista fosse enviada a seus
<br>disc�pulos. Eles tinham o seu pr�prio c�digo, e a entrevista poderia
<br>ter contido uma mensagem oculta para a gangue.
<br>
<br>
<br>Manson achava a pol�tica de Ford t�o inaceit�vel como tinha sido
<br>a de Nixon. O Meio do C�u de Nixon em 12 1/2 G�meos e Ascendente
<br>em 14Virgem,juntocomoseu Sol pr�-natal em 121/2 Peixes,
<br>Marte em 13 G�meos e J�piter em 14 Sagit�rio � incompat�vel com
<br>a conjun��o Marte-Netuno de Manson. O Sol pr�-natal de Manson
<br>em 14 1/2 Peixes acompanha o padr�o.
<br>
<br>�ngulos Associados
<br>
<br>Quando calculamos os �ngulos associados, os de Susan Atkins
<br>mostram um grande n�mero de contatos com os planetas de nascimento
<br>de Manson e Parent. Por outro lado, enquanto os �ngulos
<br>associados de Manson caem em v�rios planetas de Atkins, h� apenas
<br>um contato com Parent. Abaixo temos uma sele��o dos contatos
<br>mais impressionantes, baseados nos �ngulos associados no
<br>hor�scopo de Susan Atkins.
<br>
<br>Atkins Manson Parent
<br>(Posi��es Natais) (Posi��es Natais)
<br>
<br>(�ngulos Associados)
<br>
<br>Quando Urano no M.C. Sol/Plut�o 23 Virgem
<br>24 1/2 Virgem ase. Merc./Mart.-Net. 23 3/4 Virg. M.C. 22 1/2 Virgem
<br>Sai ./Urano 25 1/4 Peixes
<br>
<br>Quando Sol no M.C.
<br>21 1/2 Le�o asc. Saturno 21 3/4 Aqu�rio Sol 22 3/4 Aqu�rio
<br>
<br>
<br>Quando Sol no I.C.26
<br>3/4 Capric�rnio asc. Plut�o 26 C�ncer
<br>
<br>Quando Lua cai
<br>28 C�ncer est� no M.C. Plut�o 26 C�ncer
<br>
<br>Quando Luano M.C
<br>4 1/2 Le�o asc. Lua, Nodo N. 4 3/4 Aqu�rio Merc�rio 4 Aqu�rio
<br>
<br>Quando V�nus no M.C.
<br>0 Libra asc. Saturno 11/2 Libra
<br>
<br>
<br>Quando V�nus descende
<br>19 Libra no M.C. Netuno 19 1/3 Libra
<br>
<br>Quando Marte no M.C.
<br>18 Escorpi�o asc. V�nus 181/4 Escorpi�o
<br>
<br>
<br>Quando Marte ase.
<br>21 Touro no M.C. Sol 19 3/4 Escorpi�o Sol/Plut. 203/4 Tou.
<br>
<br>323
<br>
<br>
<br>
<br>Quando Marte desconde
<br>8 1/2 Sagit�rio no M.C, Asc. 9 Sagit�rio
<br>Quando Plut�o est� no M.C. Ase. 7 1/2 Touro
<br>7 1/2 Escorpi�o ascende J�piter 7 Escorpi�o Lua 7 Touro
<br>Quando Urano ascende
<br>4 1/4 Peixes est� no M.C. Sol/Marte 3 1/2 Peixes
<br>Quando Nodo Norte est� no M.C.
<br>19 2/3 Le�o ascende Plut�o 18 1/2 Le�o
<br>Quando Nodo Norte descende
<br>23 1/2 Le�o est� no M.C. Sol 22 3/4 Aqu�rio
<br>
<br>UM RELACIONAMENTO HOMEM-MULHER
<br>
<br>Vamos agora encarar o hor�scopo de relacionamento sob outro
<br>�ngulo. Abaixo temos o hor�scopo de um relacionamento homem-
<br>mulher, calculado para o ponto m�dio no espa�o e tempo entre os
<br>dois hor�scopos. O que podemos deduzir do hor�scopo de relacionamento?
<br>
<br>
<br>V�nus na 7� casa est� em tr�gono com a Lua em Libra, e Marte em
<br>G�meos completa o grande tr�gono. Aqui est�o os ingredientes de
<br>um relacionamento muito harmonioso e compat�vel. O Sol, regente
<br>do Ascendente, est� pr�ximo ao ponto m�dio Lua/Urano e se op�e
<br>a Plut�o. Isto coloca a uni�o numa base mais fr�gil, indicando a possibilidade
<br>de ocasionalmente ocorrerem muitas tens�es. No entanto,
<br>� um relacionamento em que � poss�vel haver muito sentimento
<br>(Plut�o em C�ncer em oposi��o ao Sol). Saturno se op�e a Marte,
<br>estando em sextil com aLua e V�nus. A influ�ncia estabilizadora de
<br>Saturno est� ligada ao Ascendente por um tr�gono. Marte est� em
<br>sextil com o Ascendente, que portanto mant�m um equil�brio um
<br>pouco inquietante entre os dois mal�ficos. No entanto, a oposi��o
<br>est� proeminentemente situada na 5� e 11� casas, sugerindo dificuldades
<br>em tornar realidade o conceito de relacionamento ideal com
<br>que ambos podem sonhar. Essa oposi��o pode indicar um pouco de
<br>disc�rdia no que diz respeito a ter ou n�o filhos, ou dificuldades
<br>envolvendo filhos. A oposi��o Sol-Plut�o, que n�o tem uma influ�ncia
<br>mediadora, tamb�m sugere que os parceiros possivelmente
<br>
<br>
<br>ter�o de resolver problemas importantes no curso do relacionamento,
<br>ou que ambos podem ser desafiados a realizar algum tipo de transforma��o
<br>pessoal para o relacionamento sobreviver. O fato de que
<br>deveriam ser feitos os esfor�os poss�veis para colocar o relacionamento
<br>num n�vel muito espiritual � mostrado pelo Netuno debi1itado
<br>ascendendo em oposi��o a V�nus na 7�. Felizmente um J�piter
<br>elevado em tr�gono com Netuno modifica esta oposi��o, tornando
<br>poss�vel um maior grau de compreens�o m�tua.
<br>
<br>
<br>325
<br>
<br>
<br>
<br>Deste modo, h� fortes elementos de atra��o e ainda aspectos dif�ceis
<br>importantes presentes no hor�scopo de relacionamento. � l�gico
<br>esperar que os primeiros indiquem casamento entre os dois, enquanto
<br>os �ltimos sugerem claramente problemas em manter a estabilidade
<br>do casamento. Ao mesmo tempo que o hor�scopo de relacionamento
<br>por si s� d� indica��es claras do modo pelo qual o relacionamento
<br>provavelmente se desenvolver�, outras informa��es s�o fornecidas
<br>quando comparamos os hor�scopos dos dois parceiros com o
<br>hor�scopo de relacionamento. Neste caso, h� a seguinte composi��o:
<br>
<br>Hor�scopo de
<br>Relacionamento Mulher
<br>
<br>Marido
<br>
<br>Urano 3 1/2 �ries Ase. 4 1/4 Libra
<br>
<br>V�nus 4 1/2 Capric.
<br>
<br>Plut�o 17 1/2 C�ncer V�nus 18 Aries, Urano
<br>
<br>J�p. 18 1/3 Capric.
<br>
<br>17 Aries
<br>Sol 18 Escorpi�o Plut�o 20 C�ncer
<br>Saturno 17 Escorpi�o.
<br>
<br>Os envolvidos neste relacionamento s�o Richard Burton e Elizabeth
<br>Taylor. A conjun��o pr�xima V�nus-Urano de Elizabeth Taylor
<br>em Aries na 7a casa indica uma tend�ncia a atrair companheiros
<br>que a desafiar�o a ter um alto grau de iniciativa no sentido de manter
<br>a harmonia. Ao mesmo tempo que J�piter em Le�o em tr�gono com
<br>esta conjun��o dal1 a casa mostra que um sentido de idealismo estimularia
<br>uma atitude inteligente em rela��o ao casamento e relacionamento,
<br>a quadratura de Plut�o na 10a casa sugere que provavelmente
<br>surgir�o grandes tens�es emocionais devido aos esfor�os
<br>de Taylor para manter a harmonia, enquanto uma publicidade negativa
<br>a respeito de problemas conjugais poderia ter um efeito nocivo
<br>sobre a profiss�o dela. Como V�nus � o regente do Ascendente de
<br>Taylor, ela � representada como sendo muito influenciada pelo
<br>comportamento do parceiro.
<br>
<br>A conjun��o Sol-Satumo de Richard Burton em Escorpi�o, indicando
<br>muita intensidade emocional, cai em quinc�ncio com a conjun��o
<br>V�nus-Urano de Taylor, testando a capacidade de Burton de
<br>manter um relacionamento est�vel. O J�piter dele na 7� casa, em
<br>
<br>
<br>ELIZABETH TAYLOR LONDRES
<br>27 de fevereiro de 1932 19h 57m G.M.T.
<br>
<br>Capric�rnio, est� em quadratura com a conjun��o da mulher na 7�
<br>casa, sugerindo que a �nsia dele por uma parceira de prest�gio poderia
<br>aumentar as d�vidas de Taylor a respeito da continuidade do relacionamento.
<br>O Plut�o do relacionamento est� em quadratura muito
<br>pr�xima com a conjun��o de Taylor na 7� casa, e indica os problemas
<br>emocionais que teriam de ser enfrentados e resolvidos para dar
<br>uma maior estabilidade ao relacionamento.
<br>
<br>Normalmente, a quadratura da V�nus de Richard Burton com o
<br>
<br>
<br>RICHARD BURTON PORT TALBOT, GLAMORGAN
<br>10 de novembro de 1925 19h 58m G.M.T.
<br>
<br>Ascender te da sua mulher pode ser considerado um fator favor�vel
<br>no relacionamento, mesmo se V�nus estiver debilitada. Mas a
<br>posi��o do Urano do relacionamento na 7a c�spide de Elizabeth
<br>Taylor fornece a combina��o Ascendente-V�nus-Urano dispostos
<br>em quadratura em T que serve para aumentar a tens�o da conjun��o
<br>natal V�nus-Urano de Elizabeth Taylor. A Roda da Fortuna de Burton
<br>cai no Meio do C�u do hor�scopo de relacionamento.
<br>
<br>Portanto, as tens�es no hor�scopo de relacionamento assumem
<br>
<br>
<br>uma maior import�ncia quando os hor�scopos individuais dos dois
<br>parceiros s�o sobrepostos a ele.
<br>
<br>Os dois t�m um ben�fico debilitado na 7� casa. Apesar de aqui o
<br>J�piter de Burton estar em oposi��o a Plut�o, est� bem apoiado por
<br>sextil do Sol, Saturno e Urano e um tr�gono da Lua. Saturno rege a 7a
<br>casa de Burton, e a sua conjun��o pr�xima com o Sol na 5a indica
<br>uma tend�ncia a n�o ter confian�a em si mesmo que pode levar a tentativas
<br>de supercompensar e a uma necessidade de submeter-se a
<br>rigorosos testes para eliminar tais d�vidas.
<br>
<br>O ponto m�dio Sol/Marte de Elizabeth Taylor se op�e a Netuno,
<br>e o Sol em Peixes est� na 6� c�spide. Marte, pr�ximo, rege a 7a.
<br>Portanto, os indicadores gerais e espec�ficos do marido est�o em
<br>Peixes, e mostram a possibilidade de problemas de sa�de ou v�cios
<br>afetando o parceiro.
<br>
<br>Os elementos est�o distribu�dos de modo mais ou menos igual nos
<br>dois hor�scopos, cada um deles tendo uma maioria de planetas em
<br>�gua e apenas um planeta em ar. No entanto, ao mesmo tempo que
<br>Taylor tem tr�s planetas em fogo, Burton tem tr�s em terra, indicando
<br>que ela � a mais animada e ativa. Ambos t�m os seus planetas razoavelmente
<br>bem distribu�dos entre as Triplicidades. Taylor tem uma
<br>combina��o �gua Mut�vel e Burton uma combina��o �gua Fixo,
<br>por si s� uma excelente indica��o de compatibilidade e uma garantia
<br>de sentimentos profundos de ambas as partes.
<br>
<br>Um ou dois dos aspectos cruzados j� foram mencionados. Os que
<br>faltaram mostram muitos elos poderosos, incluindo o cl�ssico contato
<br>Sol-Lua:
<br>
<br>Burton Taylor
<br>
<br>Sol 18 Escorpi�o, J�p. 18 1/3 Cap. Plut�o 20 1/4 C�ncer
<br>
<br>Saturno 17 Escorpi�o
<br>
<br>Lua 12 Virgem, Merc�rio 7 1/4 Sag. Sol 8 Peixes, Merc. 9 Peixes,
<br>Net. 7 Virg.
<br>V�nus 4 Capric�rnio Ase. 4 Libra, M.C. 5 C�ncer,
<br>Netuno 7 Virg.
<br>Netuno 24 3/4 Le�o Lua 26 Escorp., Sol/J�p. 26 1/2
<br>Escorp.
<br>Ase.15 1/3 C�ncer, Plut�o 14 2/3 V�nus 18 �ries, Urano 17 �ries
<br>C�ncer
<br>
<br>
<br>H� tr�s contatos principais por grau antiscion:
<br>
<br>Burton Taylor
<br>(Radical) (Antiscion)
<br>
<br>Marte 27 3/4 Libra Marte 28 1/4 Libra
<br>Lua 12 Virgem V�nus 12 Virgem
<br>
<br>M.C. 13 3/4 Peixes Urano 14 Virgem
<br>Todos estes contatos relacionam-se especificamente � �rea do
<br>casamento e namoro, j� que V�nus e Urano ocupam a 7� casa do
<br>hor�scopo de Elizabeth Taylor. Marte em Libra canaliza as energias
<br>para manter a harmonia, e pode indicar brigas. Os dois �ltimos contatos
<br>indicam uma grande atra��o f�sica e normalmente geram muita
<br>tens�o, aqui projetada na 4� casa dom�stica de Burton.
<br>
<br>H� duas recep��es m�tuas entre os dois hor�scopos. A Lua de
<br>Elizabeth Taylor em Escorpi�o se harmoniza com o Plut�o de Burton
<br>em C�ncer, o Sol dela em Peixes combina com o Netuno dele em
<br>Le�o, e a V�nus dela em �ries com o Marte dele em Libra. O envolvimento
<br>do Sol e da Lua nestes interc�mbios � importante, e os
<br>elos p�em em destaque a grande correspond�ncia entre os dois
<br>hor�scopos e a predomin�ncia de signos de �gua em ambos.
<br>
<br>As lumin�rias tamb�m apresentam outro tipo de combina��o,
<br>
<br>onde a posi��o de signo num hor�scopo � complementada no outro
<br>
<br>por um aspecto entre essa lumin�ria e o seu dispositor:
<br>
<br>Taylor Burton
<br>
<br>Sol Peixes (oposi��o Netuno) Sol em quadratura Netuno Le�o
<br>Lua Escorpi�o (tr�gono Plut�o) Lua sextil Plut�o C�ncer
<br>
<br>Al�m disso, ElizabethTaylor reproduz os contatos Sol-Netuno e
<br>Lua-Plut�o do marido. Algumas outras combina��es deste tipo s�o:
<br>
<br>Taylor Burton
<br>
<br>V�nus Aries V�nus sextil Marte
<br>Marte Peixes Marte sextil Netuno
<br>J�piter Le�o J�piter sextil Sol
<br>Saturno Aqu�rio Saturno tr�gono Urano
<br>Plut�o C�ncer (angular) Plut�o sextil Lua (ambos angulares)
<br>
<br>330
<br>
<br>
<br>
<br>Burton Taylor
<br>Sol Escorpi�o Sol sesquiquadrado Plut�o
<br>Marte Libra Marte semiquadrado V�nus
<br>Saturno Escorpi�o Saturno semi-sextil Marte
<br>Urano Peixes Urano tr�gono J�piter
<br>Netuno Le�o Netuno oposi��o Sol
<br>Plut�o C�ncer Plut�o tr�gono Lua Escorpi�o
<br>
<br>Dos contatos do ponto m�dio, apenas o primeiro � definitivamente
<br>�til, apesar de estar em quadratura com a conjun��o na 7� casa da
<br>Sra. Taylor:
<br>
<br>Taylor Burton
<br>
<br>Sol/Lua 17 Capric�rnio
<br>(quadrado pr�prio V�nus/Urano) J�piter 18 1/3 Capric�rnio
<br>Sol/J�piter 26 2/3 Escorpi�o
<br>(conjunto pr�pria Lua) Netuno 24 3/4 Le�o
<br>Sol/Saturno 18 3/4 Aqu�rio Sol/Saturno 17 l/2Escorp.,
<br>
<br>9� c�spide 19 Aqu�rio
<br>Sol 8 Peixes Marte/Plut�o 7 3/4 Virgem
<br>Netuno 6 1/2 Virgem Marte 7 Sagit�rio
<br>V�nus/Plut�o 4 G�meos
<br>Marte 2 Peixes Lua/Netuno 3 1/2 Virgem
<br>
<br>O quadrado dos dois pontos m�dios Sol-Saturno � particularmente
<br>revelador, principalmente porque a 9� c�spide de Burton est� envolvida.
<br>Uma incapacidade b�sica de compartilhar da mesma
<br>filosofia de vida iria gerar muitos problemas.
<br>
<br>O Sol, o Merc�rio e o Marte de Elizabeth Taylor caem na 9� casa
<br>de Richard Burton, e o Netuno dela na 3� casa do parceiro. O Netuno
<br>de Burton na 3� casa est� em Le�o; o dela, em Virgem, de modo que
<br>n�o seria f�cil ter uma afinidade intelectual. O Plut�o de Taylor cai
<br>no Ascendente do parceiro. Ao mesmo tempo que o mesmo se aplicar�
<br>a todos os contempor�neos dela, tal contato envolvendo algu�m
<br>pr�ximo do nativo significa que a parceira ser� um meio dele tor
<br>
<br>
<br>
<br>nar-se mais consciente das motiva��es ocultas que inspiram o seu
<br>comportamento, principalmente o tipo de comportamento que
<br>poderia gerar tens�o m�tua. O Saturno de Taylor na 8a c�spide do
<br>marido tamb�m poderia tender a torn�-lo muito consciente de quaisquer
<br>defeitos de car�ter e, devido �quadratura entre os pontos m�dios
<br>Sol-Satumo dos parceiros, tirar proveito de qualquer complexo de
<br>culpa inerente � natureza do parceiro. O Saturno de Taylor tamb�m
<br>est� conjunto com o Nodo Sul do marido, sugerindo que ela pode ter
<br>representado tal papel numa encarna��o anterior.
<br>
<br>O J�piter de Taylor cai na 2� casa de Burton, enquanto o Marte
<br>dele cai na 2� c�spide da mulher, proporcionando benef�cios m�tuos
<br>atrav�s da capacidade de ganhar dinheiro de ambos. A Lua dela na
<br>
<br>5a
<br>
<br> casa do parceiro � um bom progn�stico. A proximidade da conjun��o
<br>V�nus-Urano de Taylor com a 11a c�spide do marido � um
<br>contato estimulante e feliz, apesar de sujeito a s�bitas e inesperadas
<br>flutua��es, a ponto de o relacionamento n�o conseguir tornar realidade
<br>os ideais elevados que ambos aspiram atingir na condi��o de
<br>casados. O Neturno de Burton na 11� casa da mulher�freq�entemente
<br>uma indica��o de um relacionamento que exige uma toler�ncia
<br>piedosa de ambas as partes � mostra que ele � capaz de apreciar os
<br>impulsos idealistas da parceira, apesar de essa posi��o, �s vezes,
<br>significar que o parceiro cujo Netuno est� envolvido exige a compreens�o
<br>piedosa do outro devido a alguma dificuldade f�sica ou psicol�gica.
<br>
<br>
<br>A V�nus e o J�piter de Burton na 4� casa de Taylor favorecem o
<br>estabelecimento de uma atmosfera dom�stica feliz, em que ambos
<br>podem se desenvolver. J�piter nesta posi��o freq�entemente indica
<br>que a pessoa cujo planeta est� envolvido adotar� uma atitude um
<br>pouco paternalista em rela��o ao processo. A V�nus de Burton
<br>tamb�m est� em quadratura com o Ascendente da mulher, sugerindo
<br>uma tend�ncia a trat�-la com excessiva complac�ncia.
<br>
<br>A Lua de Burton na 12� c�spide de Taylor e o Urano dele na 6�
<br>
<br>casa da parceira indicam uma facilidade por parte dele de descobrir
<br>
<br>qualquer ponto fraco na estrutura psicol�gica de Taylor, o que poderia
<br>
<br>tomar o relacionamento mais fr�gil, enquanto os problemas de sa�de
<br>
<br>dele seriam motivo de preocupa��o para a companheira.
<br>
<br>O Plut�o de Burton na 10� casa da parceira mostra que ele se
<br>
<br>preocupa muito com o prest�gio e a carreira dela, e que pode ser capaz
<br>
<br>332
<br>
<br>
<br>de incentiv�-la a desenvolver uma atitude mais madura em rela��o
<br>ao seu objetivo na vida. Os dois t�m um Plut�o angular, indicando
<br>que provavelmente se envolver�o totalmente com o relacionamento.
<br>O Merc�rio de Burton na 3� casa da parceira estimula a comunica��o
<br>di�ria mas o seu quadrado com a oposi��o Marte-Netuno de Taylor
<br>implica nas opini�es dele raramente coincidirem com a abordagem
<br>mais sutil dela.
<br>
<br>A conjun��o Sol-Saturno de Burton, uma das configura��es de
<br>import�ncia vital neste hor�scopo, cai na 2� casa de Taylor. Normalmente
<br>a conjun��o � uma indica��o de uma sensa��o de inadequa��o
<br>baseada numa inseguran�a. Caindo na 5a casa dos romances
<br>de Burton, pode t�-lo levado a compensar quaisquer defeitos desta
<br>ordem que imaginou ter, cumulando a parceira de presentes, deste
<br>modo operando atrav�s da 2� casa dela de bens e recursos financeiros.
<br>
<br>Urano � o planeta mais elevado do hor�scopo de Richard Burton,
<br>e est� em tr�gono com o Sol dele. Como h� uma conjun��o pr�xima
<br>entre V�nus e Urano na casa de casamento de Elizabeth Taylor, n�o
<br>� surpresa constatar que os planetas de Burton transpostos para o seu
<br>Zod�aco de Urano produzem os mais impressionantes aspectos
<br>cruzados com os planetas no hor�scopo dela. No caso de Taylor, � o
<br>Zod�aco Nodal que tem o maior n�mero de aspectos cruzados importantes
<br>com os planetas no hor�scopo do marido. A conjun��o Sol-
<br>Saturno dele, de import�ncia vital, recebe aspectos cruzados not�veis
<br>de v�rias das posi��es zodiacais secund�rias no hor�scopo de Elizabeth
<br>Taylor:
<br>
<br>Burton Taylor
<br>(Zod�aco Tropical) {Zod�aco de V�nus)
<br>
<br>
<br>Sol 18 Escorpi�o Netuno 18 1/4 Le�o
<br>Saturno 17 Escorpi�o {Zod�aco Draconiano)
<br>J�piter 18 C�ncer
<br>
<br>{Zod�aco de Plut�o)
<br>
<br>Sol 17 3/4 Escorpi�o
<br>Merc�rio 18 2/3 Escorpi�o
<br>Netuno 16 1/3 Touro
<br>
<br>{Zod�aco de Marte)
<br>
<br>V�nus 16 Touro
<br>
<br>Urano 15 Touro
<br>
<br>Netuno 18 Le�o
<br>
<br>
<br>H� uma composi��o parecida no importante ponto m�dio Sol/
<br>Saturno de Elizabeth Taylor envolvendo a Lua dela:
<br>
<br>Taylor
<br>(Zod�aco Tropical)
<br>
<br>
<br>Lua 26 Escorpi�o
<br>Sol/J�p. 26 2/3 Escorpi�o
<br>
<br>Burton
<br>(Zod�aco Solar)
<br>
<br>Ase. 27 1/3 Escorpi�o
<br>Plut�o 26 2/3 Escorpi�o
<br>
<br>M.C. 26 C�ncer
<br>(Zod�aco de Urano)
<br>
<br>Sol 26 1/4 Escorpi�o
<br>Saturno 25 1/3 Escorpi�o
<br>J�piter 26 2/3 Capric�rnio
<br>
<br>Os Burton casaram-se no dia 15 de mar�o de 1964.0 Sol progressivo
<br>no hor�scopo de relacionamento deles estava em 17 Aqu�rio,
<br>em sextil com a conjun��o V�nus-Urano na 7a casa de Elizabeth
<br>Taylor, e em quadratura com o Saturno de Burton. O Ascendente
<br>progredido em 18 Virgem acabara de passar pelo tr�gono do J�piter
<br>na 7� casa de Burton. A V�nus progredida pr�-natal estava em 15
<br>Capric�rnio, conjunto com a 7� c�spide de Burton. O Merc�rio
<br>progredido pr�-natal estava em 26 Escorpi�o, mostrado acima como
<br>uma �rea "chave". O Meio do C�u progredido pr�-natal estava em 3
<br>1/2 �ries, conjunto com o Urano radical, em quadratura com a V�nus
<br>de Burton e em oposi��o com o Ascendente de Taylor. O Marte progredido
<br>pr�-natal em 7 C�ncer estava em tr�gono com o Sol dela.
<br>
<br>No dia do casamento V�nus estava em 9 Touro conjunta com M.C. do
<br>Relacionamento
<br>Sol estava em 25 Peixes em quadratura com o
<br>Marte do Relacionamento
<br>Merc�rio estava em 27 �ries em sextil com a
<br>V�nus do Relacionamento na 7� casa
<br>J�piter estava em 23 1/2 �ries em tr�gono com o
<br>Ascendente do Relacionamento
<br>Plut�o estava em 121/2 Virgem em tr�gono
<br>do com o Sol do Relacionamento
<br>
<br>Saturno estava em 0 Peixes em sextil com o
<br>J�piter d� Relacionamento em oposi��o ao
<br>Netuno do Relacionamento
<br>
<br>
<br>Quando eles se divorciaram, em 1974, o Meio do C�u progredido
<br>secund�rio do Mapa do Relacionamento estava em 25 G�meos,
<br>conjunto com Marte (R) em oposi��o a Saturno (R) (o aspecto mais
<br>destruidor no tema radical). O Sol progredido pr�-natal estava em
<br>27 Escorpi�o. A V�nus progredida pr�-natal separava-se da quadratura
<br>de Urano progredido pr�-natal, tendo acabado de passar pela
<br>conjun��o de V�nus (R) de Burton. Para completar a s�rie de aspectos
<br>destruidores, o Meio do C�u progredido pr�-natal secund�rio
<br>estava em quadratura com o Marte progredido.
<br>
<br>Os contatos atrav�s de �ngulos associados calculados para
<br>Londres n�o s�o t�o numerosos como em alguns casos, mas cont�m
<br>v�rios elos muito importantes:
<br>
<br>Burton
<br>(�ngulos Associados)
<br>
<br>
<br>Quando Sol/Saturno ascende
<br>6 Virgem est� no M.C.
<br>Quando Sol/Saturno descende
<br>203/4Cap. est� no M.C.
<br>Quando Urano est� no M.C.
<br>21 C�ncer ascende
<br>Quando Marte est� no I.C.
<br>15 Le�o ascende
<br>Quando V�nus est� no I.C.
<br>4 Libra ascende
<br>
<br>Taylor
<br>(Posi��es Natais)
<br>
<br>
<br>Netuno 6 1/2 Virgem
<br>Sol/Marte 5 Peixes
<br>
<br>Plut�o 20 1/4 C�ncer
<br>
<br>J�piter 15 Le�o
<br>Marte/Saturno 16 Aqu�rio
<br>Ase. 4 Libra
<br>
<br>(Posi��es Natais) (�ngulos Associados)
<br>
<br>Sol 18 Escorpi�o Quando Sol est� no I.C. 19 Esc. ascende
<br>Urano213/4 Peixes* QuandoSolascende21 l/2Sag.est�noM.C.
<br>Sol/l�piter 18 Sagit�rio Quando Marte ascende 19Sag.est�noM.C.
<br>Urano 21 3/4 Peixes Quando V�nus ascende 20 3/4 Peixes est�
<br>
<br>no M.C.
<br>Sol/Saturno 17 1/2Escorpi�o QuandoPlut�oest�noI.C. 17Touroascende
<br>
<br>* Os planetas em quadratura com �ngulos associados tamb�m s�o importantes.
<br>
<br>ADOLF HITLER E EVA BRAUN
<br>
<br>Este � um caso para estudo particularmente gratificante. Apesar
<br>de aparentemente um se sentir muito atra�do pelo outro, e Eva ser a
<br>�nica mulher cujo nome foi ligado romanticamente ao do F�hrer
<br>por um longo per�odo de tempo, eles s� se casaram dois dias antes
<br>de seu suic�dio, no Bunker de Berlim. Portanto, a cerim�nia do casamento
<br>foi um gesto final antes da passagem deles para o outro mundo,
<br>e n�o o prel�dio de um relacionamento mais significativo.
<br>
<br>Ambos os hor�scopos t�m afli��es na 7� casa. Eva Braun nasceu
<br>com Saturno na 7� c�spide em quadratura com o seu Sol, uma indica��o
<br>cl�ssica de adiamento ou nega��o do casamento, e geralmente
<br>de uma atra��o por um homem mais velho (Eva era cerca de 23 anos
<br>mais nova que Hitler). Al�m disso, ela tinha Marte na 7� em tr�gono
<br>com Urano, de modo que havia uma grande probabilidade de ela envolver-
<br>se em rela��es amorosas, mesmo se elas n�o resultassem em
<br>casamento. Hitler tinha quatro planetas na 7�. Merc�rio, pr�ximo da
<br>c�spide, se opunha a Urano, quase uma garantia impl�cita de instabilidade
<br>no relacionamento, em total contraste com o Saturno de Eva
<br>em quadratura com o Sol em signos fixos, mostrando uma tend�ncia
<br>dela a procurar, acima de tudo, seguran�a nos relacionamentos.
<br>
<br>O Saturno de Eva estava a 3o da conjun��o V�nus-Marte do
<br>
<br>companheiro (ambos em suas 7�s casas), e quase em quadratura exata
<br>
<br>com o Saturno de Hitler em Le�o. A import�ncia desta quadratura �
<br>
<br>muito enfatizada pelo fato de que o hor�scopo de relacionamento
<br>
<br>deles tem um Meio do C�u de 12e39' Le�o.
<br>
<br>A import�ncia no relacionamento do Merc�rio de Hitler aflito na
<br>
<br>7� casa � ressaltada pela posi��o nos Nodos Lunares do hor�scopo
<br>
<br>de Eva, com o Nodo Norte em 25� 12' �ries.
<br>
<br>Geralmente uma indica��o valiosa est� presente na �poca Pr�-
<br>
<br>Natal. Eva tem o seu Sol pr�-natal em 24 �ries, exatamente no
<br>
<br>Descendente de Hitler. A sua �poca tem caracter�sticas extraordi
<br>
<br>
<br>nariamente apropriadas � sua amizade com Hitler. Mas exceto a
<br>
<br>posi��o de Saturno em 7�43' Touro, em tr�gono pr�ximo com a
<br>
<br>conjun��o natal Lua-J�piter de Hitler (de que Saturno � o disposi
<br>
<br>
<br>tor), basta mencionar o J�piter pr�-natal de Eva em 11 2/3 Escor
<br>
<br>
<br>pi�o e o Nodo Sul em 11 Escorpi�o conjunto com o seu Ascendente
<br>
<br>natal, e em quadratura com o Saturno radical de Hitler.
<br>
<br>336
<br>
<br>
<br>RELACIONAMENTO 48N01, 12 E 17
<br>HITLER/BRAUN 8h 43m G.M.T.
<br>13 de setembro de 1900
<br>
<br>O Hor�scopo de Relacionamento
<br>
<br>O Marte de Eva na 7� casa cai no ponto m�dio da conjun��o
<br>Netuno-Plut�o de Hitler em sua 8� casa. Ambos t�m Plut�o na 8a. O
<br>Plut�o de Eva em 27�08' G�meos est� muito envolvido com Netuno
<br>(29 G�meos) em oposi��o a Saturno (28 1/2 Sagit�rio) no hor�scopo
<br>de relacionamento. Os dois se conheceram em 1929, quando o
<br>hor�scopo de relacionamento completava 29 anos (o grau de Netuno
<br>do relacionamento). O Meio do C�u progredido pr�-natal do
<br>
<br>
<br>hor�scopo de relacionamento estava em 28 G�meos na hora do
<br>suic�dio deles, e o Ascendente progredido pr�-natal 28 Virgem (conjunto
<br>com a Lua de Eva). No dia do suic�dio, 30 de abril de 1945,
<br>Marte estava em 28 Peixes. Traduzido em termos do Zod�aco de
<br>V�nus, o Marte de Hitler estava em 29 1/2 Peixes e seu Saturno em
<br>28 G�meos.
<br>
<br>O hor�scopo de relacionamento tem fortes conex�es com o Plut�o
<br>de Hitler na 8a casa em 4 G�meos, porque J�piter est� em 4 Sagit�rio
<br>
<br>
<br>ADOLF HITLER BRAUNAU-AM-INN, AUSTRIA
<br>20 de abril de 1889 18h 25m C.E.T.
<br>
<br>e V�nus em 4 Le�o. As progress�es do hor�scopo de relacionamento
<br>calculado para o casamento s�o Ase. (p.) conjunto com J�piter (r.)
<br>em tr�gono com V�nus (r.).
<br>
<br>Uma indica��o cl�ssica de atra��o � fornecida pela conjun��o
<br>pr�xima de V�nus de Eva com a conjun��o Lua-J�piter de Hitler na
<br>3� e em tr�gono com o seu ponto m�dio V�nus-Marte, facilitando a
<br>comunica��o, enquanto a conjun��o Merc�rio-Urano de Eva caindo
<br>no Meridiano inferior de Hitler repercutiu a sua pr�pria oposi��o
<br>
<br>
<br>Merc�rio-Urano envolvida com o outro eixo principal do hor�scopo
<br>dele.
<br>
<br>O Sol de Eva em quadratura com Saturno em signos fixos formava
<br>uma quadratura em T com V�nus-Urano de Hitler em quadratura
<br>com Saturno, unindo firmemente os destinos deles, e no entanto
<br>negando um casamento convencional at� quase o �ltimo minuto. O
<br>Urano de Eva em quadratura com o Sol de Hitler e em oposi��o com
<br>
<br>o Meio do C�u dele pode ter contribu�do para que tivesse d�vidas a
<br>respeito de se o casamento com Eva melhoraria a sua imagem
<br>pol�tica, e ela foi mantida muito fora do cen�rio. Mesmo quando os
<br>amigos �ntimos do F�hrer e os mais altos escal�es do partido nazista
<br>tomaram conhecimento da amizade de Eva e Hitler, eles deliberadamente
<br>n�o deixaram o p�blico tomar conhecimento da liga��o.
<br>Eva n�o era bem aceita por algumas pessoas do grupo restrito de
<br>Hitler, que referiam-se a ela desdenhosamente como "a secretariazinha".
<br>(Quando ela o conheceu, trabalhava como secret�ria no
<br>est�dio de um fot�grafo).
<br>Hitler, como Eva, tinha oito planetas em Terra e Ar. Ambos tinham
<br>signos Cardinais e Fixos representados de modo igual, mas aminoria
<br>de Hitler em Mut�veis era compensada pela maioria de Eva nessa
<br>quadruplicidade.
<br>
<br>Quando os russos estavam quase literalmente batendo nas portas
<br>da Chancelaria de Berlim, o casamento deles talvez n�o tenha sido
<br>mais do que um �ltimo gesto de desafio e um reconhecimento por
<br>parte de Hitler tardio, por�m um tanto bizarro, da lealdade submissa
<br>e devo��o de Eva durante os �ltimos anos do relacionamento, quando
<br>ela fora for�ada a permanecer numa relativa obscuridade, sem apreciar
<br>o status de esposa. No dia 28 de abril de 1945, perto da meia-
<br>noite, os dois se casaram no Bunker debaixo da Chancelaria, que fora
<br>
<br>o seu ref�gio durante os �ltimos dias, muito embora Hitler tivesse
<br>ordenado a Eva que sa�sse de Berlim para a sua pr�pria seguran�a.
<br>O Sol estava em 8 Touro (o Sol de Eva no Zod�aco de V�nus estava
<br>em 7 1/4 Touro), no ponto m�dio entre o Sol de Hitler na 7a casa e a
<br>sua conjun��o V�nus-Marte, e em quadratura pr�xima com Plut�o
<br>em tr�nsito em Le�o. Netuno em Libra estava em quadratura com
<br>Saturno. V�nus em 18 1/2 �ries se opunha ao Saturno ascendente
<br>de Hitler. Quando eles se conheceram, o Sol do relacionamento
<br>progredira para 18 Libra.
<br>
<br>O Ascendente do hor�scopo de casamento bem poderia ter sido
<br>28 Sagit�rio, em quadratura com Marte dois dias depois, na hora do
<br>suic�dio. Isto teria dado ao Sol em quadratura com Plut�o uma posi��o
<br>angular no mapa de casamento.
<br>
<br>O Meio do C�u de Eva em 24 1/2 Le�o sugere um objetivo consciente
<br>de ter uma posi��o de prest�gio. O fato disso ser apenas parcialmente
<br>satisfeito � mostrado pela conjun��o do Meio do C�u com
<br>
<br>o ponto m�dio da sua pr�pria Lua e Netuno (uma �nsia n�o satisfeita
<br>de desempenhar o seu papel de esposa, e dele ser reconhecido publicamente).
<br>O grau do Meio do C�u de Eva tamb�m est� em quadratura
<br>com o ponto m�dio entre duas das conjun��es mais importantes
<br>do hor�scopo de Hitler, V�nus/Marte e Netuno/Plut�o.
<br>Foi quando Eva percebeu que o amor de Hitler por ela estava diminuindo
<br>que fez suas duas tentativas de suic�dio. O ponto m�dio da
<br>sua conjun��o pr�xima entre a Lua e Plut�o cai no Saturno de Hitler.
<br>
<br>O Saturno debilitado e aflito de Hitler ca�a na 9a casa de Eva,
<br>enquanto o Urano ascendente dela estava em quadratura com o seu
<br>pr�prio Netuno na 9� casa. Sem d�vida, Hitler fez o poss�vel para
<br>doutrin�-la a seu pr�prio modo ditatorial, provavelmente, deixando-
<br>a mais confusa que esclarecida. A V�nus de Eva caindo na conjun��o
<br>Lua-J�piter de Hitler na 3� casa dele tornara-a uma ouvinte bem-
<br>disposta e complacente, muito embora talvez n�o tenha percebido
<br>as implica��es mais profundas da filosofia nazista.
<br>
<br>O Urano de Eva na 4� c�spide de Hitler sugere que ela represen
<br>
<br>
<br>tava uma amea�a para a imagem p�blica dele, e uma complica��o
<br>
<br>na vida dom�stica do parceiro que gerava problemas. Mas o Sol de
<br>
<br>Eva, tamb�m na 4a casa dele, mostrou o seu papel posterior de anfitri�
<br>
<br>em Berchtesgaden, quando os dignit�rios do partido l� se reuniram.
<br>
<br>A conjun��o Lua-J�piter de Hitler ca�a na 2� casa de Eva, enquanto
<br>
<br>o J�piter fortalecido dela ca�a na 2� casa do parceiro, de modo que a
<br>sua amizade com ele lhe garantiu seguran�a financeira. Finalmente,
<br>por interven��o de Hitler, ela foi instalada em sua pr�pria vila nos
<br>arredores de Munique. Mais tarde teve os seus pr�prios aposentos
<br>em Berchtesgaden, e recebeu dinheiro suficiente para comprar
<br>qualquer coisa que quisesse.
<br>O Marte e a V�nus de Hitler ca�am na 7� casa de Eva, perto demais
<br>do Saturno dela do que seria desej�vel, enquanto o Netuno e
<br>Plut�o dele ca�am no Marte de Eva na mesma casa. Portanto, quatro
<br>
<br>
<br>dos planetas de Hitler ca�am dentro da �rea da 7� casa da parceira. O
<br>Urano de Hitler ca�a pr�ximo � c�spide da 12a casa de Eva (apropria
<br>ru�na), e a queda de Hitler foi a causa do suic�dio deles. A Lua de
<br>Eva na 11� casa do parceiro, sem d�vida, manteve o relacionamento,
<br>e o seu tr�gono com o Merc�rio e Urano de Eva a tomariam uma
<br>companheira animada. O Nodo Sul de Eva no Ascendente de Hitler
<br>sugere que eles trabalharam juntos em vidas pregressas, apesar do
<br>ponto m�dio Merc�rio/Netuno de Eva, caindo no mesmo grau,
<br>indicar a possibilidade de, naquela �poca, o relacionamento tamb�m
<br>n�o ter proporcionado uma satisfa��o completa.
<br>
<br>O Sol de Eva em Aqu�rio e o Saturno de Hitler em Le�o estavam
<br>em disposi��o m�tua, bem como em oposi��o, um la�o forte mas
<br>que n�o prometia que o relacionamento chegaria ao fim desejado.
<br>
<br>Uma compara��o dos planetas de Hitler em signos com os aspectos
<br>planet�rios de Eva mostra as seguintes correspond�ncias:
<br>
<br>Adolf Hitler Eva Braun
<br>Saturno em Le�o Sol quadratura Saturno
<br>Lua em Capric�rnio Lua sesquiquadrado Saturno
<br>J�piter em Capric�rnio J�piter quinc�ncio Saturno
<br>Merc�rio em Aries Merc�rio tr�gono Marte
<br>Netuno em G�meos Merc�rio oposi��o Netuno
<br>Plut�o em G�meos Merc�rio quinc�ncio Plut�o
<br>
<br>O mapa de Hitler tem apenas dois desses aspectos correspondentes,
<br>neste caso envolvendo os planetas no hor�scopo de Eva que
<br>estavam em disposi��o m�tua:
<br>
<br>Eva Braun Adolf Hitler
<br>V�nus em Capric�rnio V�nus quadratura Saturno
<br>Saturno em Touro
<br>
<br>Em vista do tipo de relacionamento deles, esta correspond�ncia
<br>isolada � muito importante.
<br>
<br>
<br>No entanto, o mais impressionante efeito rec�proco entre os dois
<br>hor�scopos � o seguinte:
<br>
<br>Adolf Hitler Eva Braun
<br>Ase. 24 1/2 Libra Nodo Norte 25 1/2 Aries
<br>Antiscion Plut�o 25 1/2 C�ncer Sol pr�-natal 24 �ries
<br>Sol/Urano 25 2/3 C�ncer Marte Zod�aco Lua 26 C�ncer
<br>Marte Zod�aco Plut�o 25 �ries
<br>
<br>
<br>CAP�TULO 11
<br>
<br>CONCLUS�O
<br>
<br>Com uma compreens�o clara das v�rias t�cnicas de compara��o
<br>apresentadas nas p�ginas anteriores, o estudante deveria agora ter
<br>condi��es de fazer uma avalia��o muito precisa do grau de compatibilidade
<br>entre duas pessoas. Tendo feito tal avalia��o, ele dever�
<br>ent�o decidir como pronunciar o seu julgamento, de modo a ajudar
<br>ao m�ximo aqueles que o procuram.
<br>
<br>Geralmente, a constitui��o psicol�gica de uma pessoa � complexa,
<br>e nem sempre funciona no mesmo n�vel de consci�ncia. Assim as
<br>suas motiva��es podem variar consideravelmente de tempos em
<br>tempos. At� certo ponto, isso tende a tornar a pessoa imprevis�vel.
<br>Apesar disso, quanto mais ela aprender a ter autocontrole, mais
<br>poder� ser "previs�vel". Portanto, qualquer relacionamento entre
<br>duas pessoas que tenham dentro de sua constitui��o psicol�gica tal
<br>elemento de imprevisibilidade, pode n�o ser t�o predeterminado
<br>como gostar�amos de acreditar. Apesar disso, desde que em ambos
<br>os casos se saiba a hora do nascimento, h� uma boa chance de chegarmos
<br>a uma avalia��o razoavelmente precisa da qualidade do relacionamento.
<br>
<br>
<br>Mesmo quando dois hor�scopos mostram um alto grau de compatibilidade,
<br>a quest�o n�o termina a� porque, do mesmo modo que
<br>
<br>
<br>uma pessoa pode converter em realidade as potencialidades do seu
<br>pr�prio hor�scopo de acordo com o esfor�o e compreens�o de que �
<br>capaz em rela��o � solu��o dos pr�prios problemas, duas pessoas
<br>devem fazer a parte que lhes cabe para tomar realidade o que no papel
<br>pode parecer um a verdadeira afinidade. Do mesmo modo que o Sol
<br>em tr�gono com J�piter num hor�scopo pode mostrar uma tend�ncia
<br>a ser levado pela corrente ao conduzir a pr�pria sorte, desta maneira
<br>desperdi�ando valiosas oportunidades, tamb�m n�o se deveria permitir
<br>que tais configura��es m�tuas diminu�ssem os esfor�os de
<br>ambos os parceiros, para corresponder �s melhores e maiores express�es
<br>das possibilidades indicadas pelos aspectos mais ben�ficos.
<br>Isto ocorre principalmente quando o relacionamento conjugal est�
<br>
<br>envolvido.
<br>
<br>�s vezes dois membros de sexos opostos gravitam na dire��o um
<br>do outro devido a algum magnetismo natural (n�o necessariamente
<br>relacionado apenas com os planos f�sico, emocional ou mental), e
<br>h� um alto grau de afinidade e compatibilidade entre eles. Por outro
<br>lado, se a atra��o � menos profunda e at� certo ponto superficial, uma
<br>aplica��o das regras da sinastria entre os dois hor�scopos e um exame
<br>do hor�scopo de compara��o bem podem revelar �reas de tens�o
<br>entre as duas personalidades. Nesses casos ser� tarefa do astr�logo
<br>indicar as �reas de desarmonia que podem ser fortalecidas e desenvolvidas,
<br>e as �reas em que provavelmente surgir�o dificuldades, de
<br>modo a elas poderem ser reduzidas a um m�nimo atrav�s de um
<br>esfor�o consciente de ambas as partes.
<br>
<br>S�o as situa��es dif�ceis que enfrentamos na vida que nos ensinam
<br>mais sobre n�s mesmos e, se aprendermos corretamente as
<br>nossas li��es, nos possibilitam fortalecer o nosso car�ter no processo
<br>de lidarmos com elas. Geralmente essas situa��es surgem durante o
<br>nosso relacionamento com outras pessoas. Quando s�o previstos
<br>poss�veis problemas no relacionamento entre duas pessoas, principalmente
<br>tratando-se de um casal, eles n�o precisam causar alarme,
<br>porque podem meramente indicar que um parceiro tem li��es valiosas
<br>para ensinar ao outro. Evit�-las pode n�o ser a melhor maneira
<br>de promover o desenvolvimento espiritual. Desde que haja uma
<br>harmonia b�sica entre dois hor�scopos, n�o dever�amos nos preocupar
<br>demais com a presen�a de v�rias tens�es que de qualquer maneira
<br>podem n�o dizer respeito ao lado pessoal do relacionamento,
<br>
<br>346
<br>
<br>
<br>mas a circunst�ncias dif�ceis surgidas como resultado de doen�a,
<br>pobreza, separa��o for�ada e assim por diante.
<br>
<br>�s vezes duas pessoas que pensam em casar-se t�m poucas indica��es
<br>de verdadeira afinidade em seus mapas. Mesmo assim, o
<br>astr�logo deve ter muito cuidado para n�o "interferir" no curso
<br>normal dos acontecimentos (apesar de geralmente os noivos estarem
<br>bastante decididos a seguir o seu pr�prio rumo de a��o antes de
<br>chegarem ao est�gio de consultar um astr�logo, freq�entemente na
<br>esperan�a de receber uma confirma��o final e definitiva de que foram
<br>feitos um para o outro!).
<br>
<br>Quando, baseados na evid�ncia astrol�gica � sua frente, eles t�m
<br>d�vidas a respeito da conveni�ncia desse casamento, a melhor conduta
<br>do astr�logo � expor os pontos fortes e fracos do relacionamento
<br>como aparecem para ele, e n�o sugerir em outras tantas palavras que
<br>
<br>o casamento n�o deveria ocorrer, a menos que as circunst�ncias
<br>fossem t�o excepcionais que justificassem essa ins�lita conduta. Em
<br>todo caso, o astr�logo deveria esfor�ar-se para descrever o quadro
<br>mais completo poss�vel, sempre deixando a decis�o final para o
<br>pr�prio casal. Ele deveria tentar evitar pintar um quadro definitivo
<br>dos relevos e sombras desse relacionamento.
<br>� bom lembrar que enquanto um casal pode abominar qualquer
<br>tipo de desentendimento, outro pode se beneficiar de discuss�es
<br>ocasionais, freq�entemente usadas como uma saud�vel v�lvula de
<br>escape para evitar que as tens�es se acumulem. No entanto, quando
<br>um relacionamento parece conter certos elementos explosivos, e j�
<br>existe h� tempo suficiente para que estes elementos tenham se
<br>manifestado em s�rios dist�rbios emocionais, � poss�vel que a �nica
<br>solu��o realmente satisfat�ria seja o casal separar-se.
<br>
<br>A verdadeira compatibilidade � composta por muitos elementos
<br>indefin�veis e �s vezes ilus�rios que dependem das complexidades
<br>misteriosamente vari�veis da natureza humana. Ser unido por um
<br>la�o permanente a um parceiro incompat�vel � um a das experi�ncias
<br>mais traum�ticas que um ser humano pode ter de suportar, enquanto
<br>um romance infeliz pode deixar cicatrizes emocionais profundas ou
<br>pelo menos fazer surgir uma perturbadora crise emocional. Conseq�entemente,
<br>a determina��o da afinidade ou falta dela entre duas
<br>pessoas � uma das fun��es mais importantes da astrologia.
<br>
<br>
<br>GLOSS�RIO
<br>
<br>Co-Latitude
<br>
<br>A diferen�a entre a latitude de um lugar e 90�.
<br>
<br>Aspecto Cruzado
<br>
<br>Um aspecto de um planeta ou �ngulo em um hor�scopo com um
<br>planeta em outro hor�scopo.
<br>
<br>Debilitado
<br>
<br>Um planeta � considerado debilitado quando ocupa um signo
<br>oposto ao signo que rege, ou ao signo de sua exalta��o.
<br>
<br>Dispositor Final
<br>
<br>Um planeta em seu pr�prio signo, que tamb�m rege os signos em
<br>que os outros planetas num hor�scopo ou os dispositores dos outros
<br>planetas est�o posicionados.
<br>
<br>Fortuna
<br>
<br>A Roda da Fortuna. Isto marca o ponto em que a Lua estaria se o
<br>Sol estivesse posicionado exatamente no Ascendente (que simbolicamente
<br>representa ilumina��o). Ela sugere o modo pelo qual a
<br>personalidade deve ser orientada de novo antes de poder ser obtida
<br>a ilumina��o. Por esse motivo, � um fator importante no mapa.
<br>
<br>� calculada segundo a f�rmula:
<br>Longitude do Ascendente + Longitude da Lua - Longitude do Sol
<br>
<br>
<br>Horizonte
<br>
<br>O plano em que se situam os pontos em que o Sol nasce no Leste
<br>e se p�e no Oeste, e um termo geral para os eixos do Ascendente/
<br>Descendente (c�spide da 1� e 7� casas).
<br>
<br>Hora M�dia Local
<br>
<br>A hora em qualquer lugar relativa � G.M.T. (Hora M�dia de
<br>Greenwich), e determinada pela dist�ncia em longitude desse lugar
<br>de Greenwich. Cada grau a oeste do meridiano de Greenwich significa
<br>que a Hora M�dia Local � 4 minutos antes; cada grau a leste de
<br>Greenwich significa que a Hora M�dia Local � 4 minutos depois. A
<br>menos que um lugar esteja exatamente numa Hora M�dia de
<br>Greenwich, a H.M.L. n�o ser� a mesma da em vigor naquela zona.
<br>
<br>Parte do Casamento
<br>
<br>Um ponto a tantos graus acima ou abaixo do Ascendente ou
<br>Descendente como V�nus est� abaixo ou acima do Descendente ou
<br>Ascendente.
<br>
<br>� calculada segundo a f�rmula:
<br>Longitude do Ascendente + Longitude do Descendente - Longitude
<br>de V�nus
<br>
<br>Era de Peixes
<br>
<br>Uma das doze subdivis�es do Grande Ano da Precess�o de 26.000
<br>anos, durante os quais o Primeiro Ponto de �ries no Zod�aco Tropical
<br>regressa atrav�s do Zod�aco das Constela��es (devido ao
<br>movimento rotat�rio do eixo da Terra). A atual Era de Peixes
<br>come�ou em 221 A. D.
<br>
<br>Quadruplicidades
<br>
<br>A subdivis�o dos signos segundo a sua qualidade, Cardinal, Fixo
<br>ou Mut�vel. Exemplo: a Quadruplicidade Cardinal � �ries, C�ncer,
<br>Libra, Capric�rnio.
<br>
<br>Reposicionamento
<br>
<br>A coloca��o de um planeta pertencente ao hor�scopo de uma
<br>pessoa na casa apropriada do hor�scopo de outra, de acordo com a
<br>sua longitude zodiacal.
<br>
<br>350
<br>
<br>
<br>�nico ou Isolado
<br>
<br>Geralmente, o �nico ocupante de um hemisf�rio do hor�scopo,
<br>acima ou abaixo do horizonte, ou a Leste ou Oeste do meridiano.
<br>Ocasionalmente, o �nico ocupante de um quadrante do hor�scopo.
<br>
<br>Triplicidades
<br>
<br>A divis�o dos signos de acordo com o seu elemento�Fogo, Terra,
<br>Ar e �gua. Exemplo: a Triplicidade do Fogo: �ries, Le�o, Sagit�rio.
<br>
<br>V�rtice
<br>
<br>A rigor, o V�rtice � o Z�nite, mas o termo ultimamente tem sido
<br>usado para designar um ponto onde o plano da ecl�ptica cruza-se com
<br>
<br>o Primeiro Vertical assim criando, junto com o Meio do C�u e Ascendente,
<br>um hor�scopo "tridimensional".
<br>Para encontrar o V�rtice, calcule a co-latitude do local de nascimento,
<br>consulte a T�bua de Casas para descobrir esta latitude e
<br>subtraia o Ascendente quando o grau do I.C. do hor�scopo estiver
<br>no Meio do C�u. Este grau ascendente ser� o V�rtice para aquele
<br>hor�scopo.
<br>
<br>Z�nite
<br>
<br>O ponto acima do globo terrestre a 90� do horizonte. Este ponto
<br>raramente coincide com o Meio do C�u. Segundo o Sistema de Casas
<br>Iguais, � a c�spide da 10a casa.
<br>
<br>
<br>BIBLIOGRAFIA
<br>
<br>C.E.0 Carter, Essays on the Foundations of Astrology,
<br>The Theosophical Publishing House, London, Ltd.
<br>Rodney Collin, The Theory of Celestial Influence,
<br>Samuel Weiser Inc., New York
<br>
<br>
<br>R.C. Davison, The Technique of Prediction,
<br>L.N. Fowler & Co. Ltd., London
<br>Alan Leo, How to Judge a Nativity,
<br>
<br>L.N. Fowler & Co. Ltd., London
<br>Maurice Wemyss, The Weel of Life, vols. I, II & III,
<br>
<br>L.N. Fowler & Co., Ltd., London
<br>Essays, Synastry: An Astrological Study of Relationships,
<br>Astrological Association, London
<br>
<br>
<br>Tamb�m desejo agradecer aos que colaboraram para v�rias revistas com
<br>artigos sobre alguns dos muitos aspectos da sinastria, e em especial ao
<br>Astrologer's Quarterly, publicado pelo Astrological Lodge of the Theosophical
<br>Society in England, e ao Horoscope Magazine. Id�ias e palpites
<br>colhidos aqui e ali permitiram que com o correr dos anos eu passasse a
<br>entender melhor os princ�pios da sinastria, e elaborasse o meu pr�prio sistema,
<br>apresentado nas p�ginas anteriores.
<br>
<br>
<br>1
<br>
<br>�NDICE REMISSIVO
<br>
<br>ADLER, ALFRED
<br>
<br>�NGULOS ASSOCIADOS
<br>
<br>ANT�SCIOS
<br>
<br>ASPECTOS (veja tamb�m aspectos cruzados)
<br>
<br>ASPECTOS CRUZADOS
<br>Com o SolComaLuaCom Merc�rioCom V�nusCom MarteCom J�piterCom SaturnoCom UranoCom NetunoCom Plut�o
<br>
<br>ASPECTO OPOSI��O
<br>
<br>ATKINS.SUSAN
<br>
<br>BRAUN, EVA e Adolf Hitler
<br>
<br>BURTON, RICHARD e Elizabeth Taylor
<br>
<br>CAS AMENTO, escolhaHor�scopoVotos
<br>
<br> 293 et seq.
<br>
<br> 76,290 et seq.,
<br>323,335
<br>75,285,297,
<br>298,299
<br>105, et seq.
<br>
<br> 119-133
<br>133-141
<br>141-146
<br>146-155
<br>155-163
<br>163-166
<br>166-172
<br>172-175
<br>175-177
<br>177-178
<br>
<br> 114
<br>
<br> 310etseq.
<br>
<br> 336 et seq.
<br>
<br> 324
<br>
<br> 51-52
<br>50-55
<br>62-63
<br>
<br>355
<br>
<br>
<br>CASAS, Significados
<br>1��5�Casa
<br>
<br> 181
<br>6�� 8� Casa
<br>
<br> 182
<br>9� � 12� Casa
<br>
<br> 183
<br>
<br>CASAS CADENTES
<br>
<br> 102
<br>
<br>CASAS SUCEDENTES, planetas em
<br>
<br> 101
<br>combinados com planetas em
<br>Angular
<br>
<br> 101
<br>Sucedente
<br>
<br> 101
<br>Cadente
<br>
<br> 102
<br>
<br>C�SPIDES DAS CASAS
<br>
<br> 180
<br>
<br>D�CIMA SEGUNDA CASA e quebra-cabe�as
<br>
<br> 286
<br>
<br>DISPOSITORES FINAIS
<br>
<br> 71
<br>
<br>DIV�RCIO
<br>
<br> 37
<br>
<br>AN�LOGO DOMICILIAR
<br>
<br> 73
<br>
<br>ELEMENTO AR
<br>
<br> 85
<br>Combinado com ar
<br>
<br> 93
<br>Combinado com �gua
<br>
<br> 94
<br>Combinado com terra
<br>
<br> 92
<br>Combinado com fogo
<br>
<br> 90
<br>
<br>�POCA PR�-NATAL
<br>
<br> 79,80,286,
<br>287
<br>
<br>FIGURA DA M�E
<br>
<br> 17,26
<br>
<br>FIGURA DO PAI
<br>
<br> 17,25,30
<br>
<br>FILHOS E A 51 CASA
<br>
<br> 61
<br>
<br>FORD, Presidente
<br>
<br> 322
<br>
<br>FREUD, SIGMUND
<br>
<br> 293, et seq.
<br>
<br>FROMME, LYNETTE
<br>
<br> 322
<br>
<br>356
<br>
<br>
<br>MANVILLE, TOMMY 36
<br>MAPAS INICIAIS 50
<br>MAPAS DE RELACIONAMENTO
<br>Atkins/Parent 318
<br>Burton/Taylor 326-329
<br>Freud/Adler 305
<br>Freud/Jung 306
<br>Hitler/Braun 337-339
<br>Jung/Adler 307
<br>Manson/Parent 317
<br>Windsors 288etseq.
<br>MAPAS HOR�RIOS 57
<br>MARTE,
<br>Aspectos cruzados com 155-163
<br>Em Libra 39
<br>Na 7� casa 28
<br>Significados 117,213
<br>MEIO EXATO 116
<br>MERC�RIO,
<br>Aspectos cruzados com 141-146
<br>Em Libra 38
<br>Na 7� casa 27
<br>Significados 117,202
<br>MUDAN�A DE RESID�NCIA E HOR�SCOPO
<br>LOCAL 65
<br>M�LTIPLOS CASAMENTOS 36
<br>NETUNO,
<br>Aspectos cruzados com 175-177
<br>Em Libra 40
<br>Na 7� casa 33
<br>Significados , 118,246
<br>ORBES em compara��o com 116
<br>358
<br>
<br>
<br>PADR�ES PLANET�RIOS 76 et seq.
<br>PARENT, STEVEN EARL 315
<br>PARTE DO CASAMENTO ,. 42
<br>PLANETAS ANGULARES 101
<br>Combinados com
<br>Angular 101
<br>Sucedente 101
<br>Cadente 1� 2
<br>PLANETAS EM C�NCER 41
<br>PLANETAS EM LIBRA 37-42
<br>PLANETAS NA 7� CASA 24-36
<br>PLUT�O,
<br>e Psican�lise 295
<br>Aspectos cruzados com 177
<br>Em Libra 41
<br>Na 7a casa 35
<br>Significados 119,256
<br>QUINC�NCIO 115
<br>QUINTA CASA E FILHOS 61
<br>RAPHAEL, observa��es sobre
<br>O hor�scopo do Duque de York 274
<br>O hor�scopo de Eduardo VIII , 274
<br>RECEP��O M�TUA (Disposi��o M�tua) 330
<br>RELACIONAMENTOS com
<br>Irm�os 46
<br>Empregados 45
<br>Patr�es 45
<br>Amigos 45
<br>Vizinhos 46
<br>Parentes 46
<br>Irm�s 46
<br>359
<br>
<br>
<br>SATURNO
<br>Aspectos cruzados com
<br>
<br> 166-172
<br>Em Libra
<br>
<br> 39
<br>Na 7� casa
<br>
<br> 30
<br>Significados
<br>
<br> 118,228
<br>
<br>SEPARA��O
<br>
<br> 37
<br>
<br>SEPHARIAL, observa��es sobre
<br>
<br>O hor�scopo de Eduardo VIII
<br>
<br> 276
<br>
<br>SIGNIFICADOS PLANET�RIOS
<br>
<br> 73
<br>
<br>SIGNOS CARDINAIS
<br>
<br> 96
<br>combinados com
<br>Cardinal
<br>
<br> 98
<br>Fixo
<br>
<br> 98
<br>Mut�vel
<br>
<br> 99
<br>SIGNOS DE �GUA, planetas em
<br>
<br> 86
<br>combinados com
<br>Ar
<br>
<br> 94
<br>Terra
<br>
<br> 93
<br>Fogo
<br>
<br> 90
<br>�gua
<br>
<br> 95
<br>
<br>SIGNOS DE AR, planetas em
<br>
<br> 85
<br>combinados com
<br>Ar
<br>
<br> 93
<br>Terra
<br>
<br> 92
<br>Fogo
<br>
<br> 90
<br>�gua
<br>
<br> 94
<br>
<br>SIGNOS DE FOGO, planetas em
<br>
<br> 84
<br>combinados com
<br>Ar
<br>
<br> 90
<br>Terra
<br>
<br> 89
<br>Fogo
<br>
<br> 88
<br>�gua
<br>
<br> ,
<br>
<br> 90
<br>
<br>SIGNOS DE TERRA, planetas em
<br>
<br> 85
<br>
<br>360
<br>
<br>
<br>YORK, Duque deZOD�ACO DE JUPITERZOD�ACO DE MARTEZOD�ACO DE MERC�RIOZOD�ACO DE PLUT�O
<br>
<br>ZOD�ACO DE SATURNO
<br>
<br>ZOD�ACO DE URANOZOD�ACO DE VENUSZOD�ACO DRACONIANO
<br>
<br>ZOD�ACO SOLAR
<br>
<br>ZOD�ACOS PLANETARIOS
<br>
<br>362
<br>
<br> 274,275
<br>
<br> 284
<br>
<br> 321,322,333
<br>300
<br>
<br> 300,301,302,
<br>320,321,333
<br>283,300,301,
<br>302,321,322
<br>
<br> 333,334
<br>
<br> 279,333,338
<br>
<br> 281,282,300,
<br>301,302,
<br>320,333
<br>282,283,300,
<br>301,302,320,
<br>321,334
<br>73
<br>
<br>
<br>
<br><div dir="ltr"><br><br><div class="gmail_quote"><div dir="ltr" class="gmail_attr">-<br>De: <strong class="gmail_sendername" dir="auto">Reginaldo Mendes</strong> </div><br><div dir="ltr"><div style="font-size:small"><br></div><div class="gmail_quote"><div dir="ltr" class="gmail_attr"><br></div><div dir="ltr"><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif">Olá, pessoal:</span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif"> Este é mais um livro de nossa campanha de doação e digitalização de livros para atender aos deficientes visuais.</span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif"> Agradecemos ao irmão Fernando pela digitalização e doação.<br></span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:14pt;font-family:Arial,sans-serif;color:black"> Pedimos que não divulguem em canais públicos ou Facebook. Esta nossa distribuição é para atender aos deficientes visuais em canais específicos.</span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:14pt;font-family:Arial,sans-serif;color:black"><br></span></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg41mtk-niv8OgSqyCn4wgrAV2NVFS0TqMoIxBM4TmS8W2siBRrvcrd8b_8tzYW3mB-PlSDTREkfsqLVX2FNfnCvM_YZw9gN0vS7FRRNwVU_-0104ohL9wmbjqhZjN7BK3NUvkauty-Zi-X5lyyJmaTiF4YYTvwcx3DMj21vkqR5G7dyYbIre7PPivVGE0"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEg41mtk-niv8OgSqyCn4wgrAV2NVFS0TqMoIxBM4TmS8W2siBRrvcrd8b_8tzYW3mB-PlSDTREkfsqLVX2FNfnCvM_YZw9gN0vS7FRRNwVU_-0104ohL9wmbjqhZjN7BK3NUvkauty-Zi-X5lyyJmaTiF4YYTvwcx3DMj21vkqR5G7dyYbIre7PPivVGE0=s320" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_7281797767775646354" /></a><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="color:rgb(80,0,80);font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;font-size:large">O Grupo Mente Aberta lança hoje mais um livro digital !</span><br></p><div dir="ltr" style="color:rgb(80,0,80)"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><font size="4">Desejamos a todos uma boa leitura !</font></div><div dir="ltr"><font size="4"><br></font></div><div dir="ltr"><font size="4">Sinastria -Ronald Davison <br></font></div><div dir="ltr"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi_XzEMuvxVIeYgVszA3yHCZpVFfUXpB8kcJw1NwzK_gBdmefsM5JDV7khC6uceceYRojzopoPPJV12E-TnBARuievMF7VIV3Xy8EgWum5ez7uNVaHSP-KQuqNx2949CdzJIVxSXO0g03XmDhLOm10SLWVcpHEpg1IdDPElKupwXVZjDsdTzot5jgl0Os4"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEi_XzEMuvxVIeYgVszA3yHCZpVFfUXpB8kcJw1NwzK_gBdmefsM5JDV7khC6uceceYRojzopoPPJV12E-TnBARuievMF7VIV3Xy8EgWum5ez7uNVaHSP-KQuqNx2949CdzJIVxSXO0g03XmDhLOm10SLWVcpHEpg1IdDPElKupwXVZjDsdTzot5jgl0Os4=s320" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_7281797784726446722" /></a><br></div><div><font size="4">Sinopse: </font></div><div><font size="4">Sinastria é um livro indispensável para quem quer entender a química das relações humanas através de uma visão astrológica e, também conhecer melhor a si mesmo.</font></div><div><font size="4"><br></font></div><div><div><span style="font-size:large">Lançamento </span><span style="font-size:large">Mente Aberta</span><br></div><div><div id="m_4814271280858009749m_-2373399713338683732m_-7156564970527458703m_6071002105288514509m_8368821862783711120m_2063300176389480561m_-263377461645996951gmail-:1ml" style="direction:ltr;margin:8px 0px 0px;padding:0px;font-size:0.875rem;font-family:"Google Sans",Roboto,RobotoDraft,Helvetica,Arial,sans-serif"><div id="m_4814271280858009749m_-2373399713338683732m_-7156564970527458703m_6071002105288514509m_8368821862783711120m_2063300176389480561m_-263377461645996951gmail-:1je" style="font-variant-numeric:normal;font-variant-east-asian:normal;font-stretch:normal;font-size:small;line-height:1.5;font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;overflow:hidden"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div><a href="https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/grupo-de-livros-mente-aberta" style="font-size:large;outline-width:0px" target="_blank">https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/grupo-de-livros-mente-aberta</a></div><div><font size="4"><br></font></div><div><font size="4">Grupo parceiro Allan Kardec</font><br><div></div><div></div><div><a href="https://groups.google.com/forum/?hl=pt-br#!forum/grupo-espirita-allan-kardec" style="font-size:large;font-family:Arial;outline-width:0px" target="_blank">https://groups.google.com/forum/?hl=pt-br#!forum/grupo-espirita-allan-kardec</a></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div><div><font size="4"><br></font></div></div></div></div></div></div></div></div> </div><br clear="all"><div><br></div><span class="gmail_signature_prefix">-- </span><br><div dir="ltr" class="gmail_signature" data-smartmail="gmail_signature"><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"> <p><br></p><p><br></p><p><br></p><p>BLOG DOS AMIGOS DO REGINALDO</p><p class="MsoNormal">BLOG DE TELENOVELAS</p><p class="MsoNormal"><a href="https://blogdetelenovelas.blogspot.com/" target="_blank">https://blogdetelenovelas.blogspot.com/</a></p><p class="MsoNormal"> </p><p class="MsoNormal">BLOG DO SÉRGIO GALDINO</p><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10.5pt;line-height:107%;font-family:Roboto">Sergio Galdino</span><br style="color:rgba(0,0,0,0.87)"> <br style="color:rgba(0,0,0,0.87)"> <a href="http://blogdevariedades1.blogspot.com.br/?zx=4ef263e49f1f0aa2" target="_blank"><span style="font-size:10.5pt;line-height:107%;font-family:Roboto;color:rgb(26,115,232)">http://blogdevariedades1.blogspot.com.br/?zx=4ef263e49f1f0aa2</span></a></p><p> <br></p> <p> </p> </div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div> <p></p></div><br><div dir="ltr" class="gmail_signature" data-smartmail="gmail_signature"><div dir="ltr"><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Abraços fraternos!</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial"> </span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Bezerra</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Blog de livros</span></p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Blog de vídeos</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Meu canal:</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk" target="_blank">https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk</a><br></p></div></div></div> <p></p> -- <br /> -- <br /> Seja bem vindo ao Clube do e-livro<br /> <br /> Não esqueça de mandar seus links para lista .<br /> Boas Leituras e obrigado por participar do nosso grupo.<br /> ==========================================================<br /> Conheça nosso grupo Cotidiano:<br /> <a href="http://groups.google.com.br/group/cotidiano">http://groups.google.com.br/group/cotidiano</a><br /> <br /> Muitos arquivos e filmes.<br /> ==========================================================<br /> <br /> <br /> Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "clube do e-livro" em Grupos do Google.<br /> Para postar neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro@googlegroups.com<br /> Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro-unsubscribe@googlegroups.com<br /> Para ver mais opções, visite este grupo em <a href="http://groups.google.com.br/group/clube-do-e">http://groups.google.com.br/group/clube-do-e</a>-<br /> --- <br /> Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "clube do e-livro" dos Grupos do Google.<br /> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para <a href="mailto:clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com">clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com</a>.<br /> Para ver essa discussão na Web, acesse <a href="https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhnPp6mFCA94_U0U6AQUS76u9PJyhM5CUcAR8RmPn3UxOQ%40mail.gmail.com?utm_medium=email&utm_source=footer">https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhnPp6mFCA94_U0U6AQUS76u9PJyhM5CUcAR8RmPn3UxOQ%40mail.gmail.com</a>.<br /> Capixabahttp://www.blogger.com/profile/13630360338415941372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5804863141581911173.post-19876358845663230802023-08-12T05:03:00.001-07:002023-08-12T05:03:48.096-07:00Atualização da nossa política de inatividade da Conta do Google<table width=100% height=100% style="min-width: 348px;" border=0 cellspacing=0 cellpadding=0 lang=pt bgcolor=#FAFAFA role=presentation> <tr align=center> <td> <table width=100% cellspacing=0 cellpadding=0 bgcolor=#FAFAFA style=max-width:600px role=presentation> <tr> <td style=padding-top:20px;padding-bottom:20px;padding-left:40px;padding-right:40px> <table width=100% cellspacing=0 cellpadding=0 role=presentation> <tr> <td><img src=https://www.gstatic.com/images/branding/googlelogo/1x/googlelogo_color_112x36dp.png alt="" title=""></td> </tr> </table> </td> </tr> <tr> <td style=padding-left:15px;padding-right:15px> <table width=100% cellspacing=0 cellpadding=0 role=presentation> <tr> <td bgcolor=#ffffff style="padding:35px 35px 10px 35px;border-radius:4px"> <table border=0 cellspacing=0 cellpadding=0 role=presentation> <tr> <td> <p style="margin:25px 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px">Todos os dias, o Google trabalha muito para proteger você e suas informações particulares impedindo o acesso não autorizado à sua Conta do Google com nossas proteções de segurança integradas. Para isso, temos práticas de privacidade fortes em nossos produtos, que minimizam o tempo pelo qual armazenamos seus arquivos pessoais e quaisquer dados associados a eles. Queremos proteger suas informações particulares e impedir qualquer acesso não autorizado à sua conta, mesmo que você não use mais nossos serviços.</p> <p style="margin:25px 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px">Por isso, estamos atualizando o <a href=https://notifications.google.com/g/p/ANiao5oYzDxrtqA8jGB_OuXGvTbNz004qw-5H-anMIZn2ei7_bKzFXcQDht7EtoDAEik4HOME9WOJ1tW5PnvxxCASvPBrT-0VTbIMTfGneE0aDni9FnIg8Xtgbx_flNLO-ep6hkUAnKfAACRSV-tHx1KOiyd_M9uPnsTZ8nVHK_t5L82snn9P0o9wVxe3065_X4K2MJyCRXalOUghYPZz8lwnqRcXx7BD0I6UX9GhIjsxdoq7g>período de inatividade</a> das Contas do Google para dois anos em todos os nossos produtos e serviços. Essa mudança começa a ser lançada hoje e será aplicada a qualquer Conta do Google que estiver inativa, ou seja, que não foi conectada nem usada em um período de dois anos. Uma conta inativa e o conteúdo dela estarão qualificados para exclusão a partir de 1 de dezembro de 2023.</p> <p style="margin:25px 0 0 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px"><b>Como isso afeta você:</b></p> <ul style="margin-top: 0;"> <li style="margin:0 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px">Essas mudanças só vão afetar você <span style="font-weight: bold">se</span> a sua Conta do Google estiver inativa há dois anos ou se ela não tiver sido usada para fazer login em nenhum serviço do Google há mais de dois anos.</li> <li style="margin:0 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px">Embora as mudanças entrem em vigor hoje, a primeira exclusão de conta só vai acontecer em <span style="font-weight: bold">dezembro de 2023</span>.</li> <li style="margin:0 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px">Se a sua conta for considerada inativa, vamos enviar vários lembretes para ela e para os e-mails de recuperação (se houver) antes de tomarmos qualquer medida ou excluirmos o conteúdo da conta. Esses e-mails de lembrete serão enviados pelo menos oito meses antes de qualquer ação ser realizada na sua conta.</li> <li style="margin:0 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px">Depois que uma Conta do Google é excluída, o endereço do Gmail dela não pode ser usado novamente ao criar outra Conta do Google.</li> </ul> <p style="margin:25px 0 0 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px"><b>Como manter sua conta ativa?</b></p> <p style="margin:0 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px">A maneira mais simples de manter uma Conta do Google ativa é fazendo login pelo menos uma vez a cada dois anos. Se você tiver feito login na sua Conta do Google dentro desse período, ela será considerada ativa e não será excluída.</p> <p style="margin:25px 0 0 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px">Outras maneiras de manter a conta ativa:</p> <ul style="margin-top: 0;"> <li style="margin:0 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px">Ler ou enviar um e-mail</li> <li style="margin:0 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px">Usar o Google Drive</li> <li style="margin:0 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px">Assistir um vídeo do YouTube</li> <li style="margin:0 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px">Compartilhar uma foto</li> <li style="margin:0 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px">Fazer o download de um app</li> <li style="margin:0 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px">Usar a Pesquisa Google</li> <li style="margin:0 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px">Usar o recurso "Fazer login com o Google" em um app ou serviço de terceiros</li> </ul> <p style="margin:25px 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px">Esta política tem algumas exceções. Os exemplos incluem: uma Conta do Google com vídeos, canais ou comentários do YouTube, uma conta que tenha um vale-presente com saldo monetário ou uma conta que tenha um aplicativo publicado (como um app que hospeda outro na Google Play Store). Consulte outras exceções à política <a href=https://notifications.google.com/g/p/ANiao5oYzDxrtqA8jGB_OuXGvTbNz004qw-5H-anMIZn2ei7_bKzFXcQDht7EtoDAEik4HOME9WOJ1tW5PnvxxCASvPBrT-0VTbIMTfGneE0aDni9FnIg8Xtgbx_flNLO-ep6hkUAnKfAACRSV-tHx1KOiyd_M9uPnsTZ8nVHK_t5L82snn9P0o9wVxe3065_X4K2MJyCRXalOUghYPZz8lwnqRcXx7BD0I6UX9GhIjsxdoq7g>neste link</a>.</p> <p style="margin:25px 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px">Também oferecemos ferramentas para gerenciar sua Conta do Google e opções para fazer backup dos dados, incluindo a possibilidade de fazer o download deles usando o <a href=https://notifications.google.com/g/p/ANiao5rNL3-cJMuyG_NRDGkyEkIHOqhdeOP5SPA0WNv_o0YMg3WqSw6YAAe9EtvZF0eCtcpdS68e22bRguL3lGrF32BSxJ5d5Y7nzeNRjvKGq2R-cZHnJtrRSkH_0xaIxlO9bD213uKbEQdrMFKt_D09K18vQVXagI5eyrSxA14NVLhd04d41eGhUneu>Takeout</a>. Além disso, você pode usar o <a href=https://notifications.google.com/g/p/ANiao5pU7rwjwq-BQlDJvvK7lKP4wAm0HDx6V78nfRkwJpwRt2lgtd5c55zViTkNwuN0z5_t8YFAUVOEBaQ_SfLr5_CMKHLT7ev8CPDcfxxe8X9i-UR-ollvt1Psn7Z6toIChrJUOFOuJehH_1mazM3FT0a117Xn1FslR2bQMh4iT6tr7axSynx7ogJiKLmdJNxT6wxqv0y1deliyG1yHtV8IzA>Gerenciador de contas inativas</a> para planejar o que vai acontecer com seus dados se a conta ficar inativa por um período específico.</p> <p style="margin:25px 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px">Nossa prioridade é que, se você escolher deixar a conta ativa, não tenha dificuldades com isso. Vamos garantir que você receba um aviso adequado antes que uma conta seja afetada por essa mudança. Assim, vamos enviar notificações prévias para a Conta do Google e para o e-mail de recuperação dela, caso tenha sido fornecido, informando sobre a exclusão. Verifique se o seu <a href=https://notifications.google.com/g/p/ANiao5r-AItcKVkTHx4MY-k1Elp8SLfSxuSLXWkP_OtxfnwF66wsevyL_vIzy2uTzj4DsMWjqJTdSFVmuf9wxDwl3EgOdxakbxJqSSPJhnHOYxEzw6FJoCNX7MCAK89UZNYl4m_M410pRK1qGH7CjxahpkXFbWlZmx0uju8MjsVtjyw92UiCDvrfz08w4r3juxaFN18-clDcS3icLBBOVfDHbbQ>e-mail de recuperação</a> está atualizado.</p> <p style="margin:25px 0 0 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px"><b>Saiba mais</b></p> <ul style="margin-top: 0;"> <li style="margin:0 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px"><a href=https://notifications.google.com/g/p/ANiao5oYzDxrtqA8jGB_OuXGvTbNz004qw-5H-anMIZn2ei7_bKzFXcQDht7EtoDAEik4HOME9WOJ1tW5PnvxxCASvPBrT-0VTbIMTfGneE0aDni9FnIg8Xtgbx_flNLO-ep6hkUAnKfAACRSV-tHx1KOiyd_M9uPnsTZ8nVHK_t5L82snn9P0o9wVxe3065_X4K2MJyCRXalOUghYPZz8lwnqRcXx7BD0I6UX9GhIjsxdoq7g>Política de Contas do Google Inativas</a></li> <li style="margin:0 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px"><a href=https://notifications.google.com/g/p/ANiao5o7v5NukomOuYRYp218QBSXJvNOIppQhbP-sSRJP-G-HTagMUEwK76G4Mm_hDHrRYfryblWOKjWS1bFEprUhjPvPEE4pUZQSjd9FEz4g8igrZflhxq-qOjadJHyn7t729HQcWZqW8yyZIguNTo59vwJkYWF_GZgomfiikIW0ddZxWy5jG9QQHfSGLQW5pzCxUm9L6zf_v9X6-TktLT7oew>Como o Google retém os dados que coletamos</a></li> <li style="margin:0 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px"><a href=https://notifications.google.com/g/p/ANiao5q6Rq3ezxWEaeiST4IPy-eMEcK3jlTuez3xIoUvoOndzOr-AtGuk8WPOrWtiqGFCJK-cXMaFhvPF7za5KChB4DvxyBt1kX_69NI_79Ww13E046ls5WKICr0rJVlcRw0iaGm_NXQQEtBUi-4r0HBff8L2HTvXuZPkUXUDz12WVVy1EWjgfDZ4iVCiwPaPkKpGOhpqUp-mTcdkT6yzcouD1s1tfulbx9aFe-znpm6r2A6D8py_7Nwqe030QveSk-9aRrmEw>Updating our inactive account policies</a> (link em inglês)</li> </ul> <p style="margin:25px 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px">Atenciosamente,<br> Equipe de Contas do Google</p> </td> </tr> </table> </td> </tr> </table> </td> </tr> <tr> <td style=padding:40px> <table width=100% border=0 cellspacing=0 cellpadding=0 role=presentation> <tr> <td><img src=https://www.gstatic.com/s2/oz/images/notifications/ppemail/gs_16q2_welcome_google_logo.png alt="" width=100 title=""></td> </tr> <tr> <td> <p style="margin:25px 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px">Este e-mail foi enviado para atualizar você sobre mudanças importantes na sua Conta do Google e nos serviços relacionados.</p> <p style="margin:25px 0;font-family:Roboto, Helvetica Neue, Helvetica, Arial, sans-serif;color:#5f6368;line-height:1.5;font-size:16px"> <span style="font-size:inherit; color:inherit; font-weight:inherit; line-height:inherit; font-family:inherit;">© 2023 Google LLC 1600 Amphitheatre Parkway, Mountain View, CA 94043</span> </p> <br> <br> </td> </tr> </table> </td> </tr> </table> </td> </tr> </table> Capixabahttp://www.blogger.com/profile/13630360338415941372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5804863141581911173.post-14790422224581915432023-03-01T14:40:00.001-08:002023-03-01T14:40:07.347-08:00Sua postagem com o título " Livros Grátis do Dia" não foi publicadaOlá,
<br>
<br>Como você sabe, as diretrizes da comunidade
<br>(<a href="https://blogger.com/go/contentpolicy">https://blogger.com/go/contentpolicy</a>) delimitam o que é permitido e
<br>proibido no Blogger. Sua postagem com o título "<CantinhoDaLeitura> Livros
<br>Grátis do Dia" foi sinalizada para revisão. Concluímos que ela viola as
<br>diretrizes e cancelamos a publicação do URL
<br><a href="http://musicasmensagensecia.blogspot.com/2010/07/livros-gratis-do-dia_27.html">http://musicasmensagensecia.blogspot.com/2010/07/livros-gratis-do-dia_27.html</a>,
<br>que está indisponível para os leitores.
<br>
<br> Por que cancelamos a publicação da postagem do seu blog?
<br> Seu conteúdo violou nossa política contra malware e vírus. Acesse a
<br>página "Diretrizes da comunidade" vinculada a este e-mail para saber mais.
<br>
<br>Se você quiser republicar a postagem, atualize o conteúdo de acordo com as
<br>diretrizes da comunidade do Blogger. Após a atualização, você poderá
<br>republicá-lo em
<br><a href="https://www.blogger.com/go/appeal-post?blogId=5804863141581911173&postId=8923037068613949572">https://www.blogger.com/go/appeal-post?blogId=5804863141581911173&postId=8923037068613949572</a>.
<br>Isso acionará uma revisão da postagem.
<br>
<br> Para saber mais, consulte os recursos a seguir:
<br>
<br>Termos de Serviço: <a href="https://www.blogger.com/go/terms">https://www.blogger.com/go/terms</a>
<br>Diretrizes da comunidade do Blogger: <a href="https://blogger.com/go/contentpolicy">https://blogger.com/go/contentpolicy</a>
<br>
<br>Atenciosamente,
<br>
<br>Equipe do BloggerCapixabahttp://www.blogger.com/profile/13630360338415941372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5804863141581911173.post-40760069206500019872023-03-01T13:52:00.000-08:002023-03-01T13:53:01.459-08:00Um aviso para os leitores foi incorporado à sua postagem com o título " [3+NOIVAS+PARA+3+IRM�OS]+-+1+-+Em+nome+do+amor+-+Emma+Darcy.txt".Olá,
<br>
<br>Como você sabe, as diretrizes da comunidade
<br>(<a href="https://blogger.com/go/contentpolicy">https://blogger.com/go/contentpolicy</a>) delimitam o que é permitido e
<br>proibido no Blogger. Sua postagem com o título "<CantinhoDaLeitura>
<br>[3+NOIVAS+PARA+3+IRM�OS]+-+1+-+Em+nome+do+amor+-+Emma+Darcy.txt" foi
<br>sinalizada para revisão. Um aviso para os leitores foi incorporado a essa
<br>postagem porque ela mostra conteúdo confidencial. Veja sua postagem em
<br><a href="http://musicasmensagensecia.blogspot.com/2010/03/3noivaspara3irmios-1-emnomedoamor.html">http://musicasmensagensecia.blogspot.com/2010/03/3noivaspara3irmios-1-emnomedoamor.html</a>.
<br>Os leitores precisam confirmar que leram o aviso antes de acessar a
<br>postagem ou o blog.
<br>
<br> Por que incorporamos um aviso para os leitores à postagem do seu blog?
<br> Seu conteúdo foi avaliado de acordo com nossa política de conteúdo
<br>adulto. Acesse a página "Diretrizes da comunidade" vinculada a este e-mail
<br>para saber mais.
<br>
<br>Incorporamos avisos às postagens com conteúdo confidencial. Se você quiser
<br>que esse status seja revisado, atualize o conteúdo de acordo com as
<br>diretrizes da comunidade do Blogger. Após a atualização, você poderá
<br>republicá-lo em
<br><a href="https://www.blogger.com/go/appeal-post?blogId=5804863141581911173&postId=7563941315051896153">https://www.blogger.com/go/appeal-post?blogId=5804863141581911173&postId=7563941315051896153</a>.
<br>Isso acionará uma revisão da postagem.
<br>
<br> Para saber mais, consulte os recursos a seguir:
<br>
<br>Termos de Serviço: <a href="https://www.blogger.com/go/terms">https://www.blogger.com/go/terms</a>
<br>Diretrizes da comunidade do Blogger: <a href="https://blogger.com/go/contentpolicy">https://blogger.com/go/contentpolicy</a>
<br>
<br>Atenciosamente,
<br>
<br>Equipe do BloggerCapixabahttp://www.blogger.com/profile/13630360338415941372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5804863141581911173.post-59384214468172681302023-03-01T11:30:00.001-08:002023-03-01T11:30:06.145-08:00Sua postagem com o título " Livros Grátis do Dia" não foi publicadaOlá,
<br>
<br>Como você sabe, as diretrizes da comunidade
<br>(<a href="https://blogger.com/go/contentpolicy">https://blogger.com/go/contentpolicy</a>) delimitam o que é permitido e
<br>proibido no Blogger. Sua postagem com o título "<CantinhoDaLeitura> Livros
<br>Grátis do Dia" foi sinalizada para revisão. Concluímos que ela viola as
<br>diretrizes e cancelamos a publicação do URL
<br><a href="http://musicasmensagensecia.blogspot.com/2010/06/livros-gratis-do-dia.html">http://musicasmensagensecia.blogspot.com/2010/06/livros-gratis-do-dia.html</a>,
<br>que está indisponível para os leitores.
<br>
<br> Por que cancelamos a publicação da postagem do seu blog?
<br> Seu conteúdo violou nossa política contra malware e vírus. Acesse a
<br>página "Diretrizes da comunidade" vinculada a este e-mail para saber mais.
<br>
<br>Se você quiser republicar a postagem, atualize o conteúdo de acordo com as
<br>diretrizes da comunidade do Blogger. Após a atualização, você poderá
<br>republicá-lo em
<br><a href="https://www.blogger.com/go/appeal-post?blogId=5804863141581911173&postId=1585936720235999445">https://www.blogger.com/go/appeal-post?blogId=5804863141581911173&postId=1585936720235999445</a>.
<br>Isso acionará uma revisão da postagem.
<br>
<br> Para saber mais, consulte os recursos a seguir:
<br>
<br>Termos de Serviço: <a href="https://www.blogger.com/go/terms">https://www.blogger.com/go/terms</a>
<br>Diretrizes da comunidade do Blogger: <a href="https://blogger.com/go/contentpolicy">https://blogger.com/go/contentpolicy</a>
<br>
<br>Atenciosamente,
<br>
<br>Equipe do BloggerCapixabahttp://www.blogger.com/profile/13630360338415941372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5804863141581911173.post-88920866679182987212023-03-01T11:01:00.001-08:002023-03-01T11:01:44.327-08:00Sua postagem com o título " [eBook] - Como trabalhar para um idiota - John Hoover" não foi publicadaOlá,
<br>
<br>Como você sabe, as diretrizes da comunidade
<br>(<a href="https://blogger.com/go/contentpolicy">https://blogger.com/go/contentpolicy</a>) delimitam o que é permitido e
<br>proibido no Blogger. Sua postagem com o título "<CantinhoDaLeitura> [eBook]
<br>- Como trabalhar para um idiota - John Hoover" foi sinalizada para
<br>revisão. Concluímos que ela viola as diretrizes e cancelamos a publicação
<br>do URL
<br><a href="http://musicasmensagensecia.blogspot.com/2010/07/ebook-como-trabalhar-para-um-idiota.html">http://musicasmensagensecia.blogspot.com/2010/07/ebook-como-trabalhar-para-um-idiota.html</a>,
<br>que está indisponível para os leitores.
<br>
<br> Por que cancelamos a publicação da postagem do seu blog?
<br> Seu conteúdo violou nossa política contra malware e vírus. Acesse a
<br>página "Diretrizes da comunidade" vinculada a este e-mail para saber mais.
<br>
<br>Se você quiser republicar a postagem, atualize o conteúdo de acordo com as
<br>diretrizes da comunidade do Blogger. Após a atualização, você poderá
<br>republicá-lo em
<br><a href="https://www.blogger.com/go/appeal-post?blogId=5804863141581911173&postId=606350094269996001">https://www.blogger.com/go/appeal-post?blogId=5804863141581911173&postId=606350094269996001</a>.
<br>Isso acionará uma revisão da postagem.
<br>
<br> Para saber mais, consulte os recursos a seguir:
<br>
<br>Termos de Serviço: <a href="https://www.blogger.com/go/terms">https://www.blogger.com/go/terms</a>
<br>Diretrizes da comunidade do Blogger: <a href="https://blogger.com/go/contentpolicy">https://blogger.com/go/contentpolicy</a>
<br>
<br>Atenciosamente,
<br>
<br>Equipe do BloggerCapixabahttp://www.blogger.com/profile/13630360338415941372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5804863141581911173.post-11133374298668326172022-10-30T04:27:00.000-07:002022-10-30T04:28:26.969-07:00{clube-do-e-livro} Elisa Masselli 04 Livros , A Missão De cada Um - .pdf<div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><br><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><br> <br> <br> </div></div> </div><br clear="all"><div><br></div>-- <br><div dir="ltr" class="gmail_signature" data-smartmail="gmail_signature"><div dir="ltr"><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Abraços fraternos!</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial"> </span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Bezerra</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Blog de livros</span></p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Blog de vídeos</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Meu canal:</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk" target="_blank">https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk</a><br></p></div></div></div> <p></p> -- <br /> -- <br /> Seja bem vindo ao Clube do e-livro<br /> <br /> Não esqueça de mandar seus links para lista .<br /> Boas Leituras e obrigado por participar do nosso grupo.<br /> ==========================================================<br /> Conheça nosso grupo Cotidiano:<br /> <a href="http://groups.google.com.br/group/cotidiano">http://groups.google.com.br/group/cotidiano</a><br /> <br /> Muitos arquivos e filmes.<br /> ==========================================================<br /> <br /> <br /> Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "clube do e-livro" em Grupos do Google.<br /> Para postar neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro@googlegroups.com<br /> Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro-unsubscribe@googlegroups.com<br /> Para ver mais opções, visite este grupo em <a href="http://groups.google.com.br/group/clube-do-e">http://groups.google.com.br/group/clube-do-e</a>-<br /> --- <br /> Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "clube do e-livro" dos Grupos do Google.<br /> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para <a href="mailto:clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com">clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com</a>.<br /> Para ver essa discussão na Web, acesse <a href="https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhkam15ko%3DaUBeKd%3D7GcpdJiMYXcqKAPgaDh9B1ez-as0g%40mail.gmail.com?utm_medium=email&utm_source=footer">https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhkam15ko%3DaUBeKd%3D7GcpdJiMYXcqKAPgaDh9B1ez-as0g%40mail.gmail.com</a>.<br /> Capixabahttp://www.blogger.com/profile/13630360338415941372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5804863141581911173.post-4960787446821587802022-10-30T04:17:00.000-07:002022-10-30T04:18:23.309-07:00{clube-do-e-livro} : Bert Hellinger - Curso OAB .docx, Bert Hellinger - A Cura.mobi, Bert Hellinger - Liberados Somos Concluídos.pdf, Bert Hellinger - Meditações de Bert Hellinger.pdf, Bert Hellinger - Ordens da Ajuda.pdf, Bert Hellinger - Leis Si<div dir="ltr"><br><br><div class="gmail_quote"><div dir="ltr" class="gmail_attr">---------- Forwarded message ---------<br>De: <span dir="auto"><felisberto.</span></div><br> <br> <br> Bert Hellinger - Curso OAB .docx<br> Bert Hellinger - A Cura.mobi<br> Bert Hellinger - Liberados Somos Concluídos.pdf<br> Bert Hellinger - Meditações de Bert Hellinger.pdf<br> Bert Hellinger - Ordens da Ajuda.pdf<br> Bert Hellinger - Leis Sistêmicas.pdf<br> <br> <br> --<br> </div><br clear="all"><div><br></div>-- <br><div dir="ltr" class="gmail_signature" data-smartmail="gmail_signature"><div dir="ltr"><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Abraços fraternos!</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial"> </span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Bezerra</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Blog de livros</span></p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Blog de vídeos</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Meu canal:</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk" target="_blank">https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk</a><br></p></div></div></div> <p></p> -- <br /> -- <br /> Seja bem vindo ao Clube do e-livro<br /> <br /> Não esqueça de mandar seus links para lista .<br /> Boas Leituras e obrigado por participar do nosso grupo.<br /> ==========================================================<br /> Conheça nosso grupo Cotidiano:<br /> <a href="http://groups.google.com.br/group/cotidiano">http://groups.google.com.br/group/cotidiano</a><br /> <br /> Muitos arquivos e filmes.<br /> ==========================================================<br /> <br /> <br /> Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "clube do e-livro" em Grupos do Google.<br /> Para postar neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro@googlegroups.com<br /> Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro-unsubscribe@googlegroups.com<br /> Para ver mais opções, visite este grupo em <a href="http://groups.google.com.br/group/clube-do-e">http://groups.google.com.br/group/clube-do-e</a>-<br /> --- <br /> Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "clube do e-livro" dos Grupos do Google.<br /> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para <a href="mailto:clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com">clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com</a>.<br /> Para ver essa discussão na Web, acesse <a href="https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhm%3DqQ5u8eqmK4PQ90598biGbvaZwqVYvEEjJJ%3D7DjorZg%40mail.gmail.com?utm_medium=email&utm_source=footer">https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhm%3DqQ5u8eqmK4PQ90598biGbvaZwqVYvEEjJJ%3D7DjorZg%40mail.gmail.com</a>.<br /> Capixabahttp://www.blogger.com/profile/13630360338415941372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5804863141581911173.post-75362211452327243182022-10-16T07:43:00.000-07:002022-10-16T07:44:19.429-07:00{clube-do-e-livro} NO MUNDO MAIOR - ANDRÉ LUIZ - CHICO XAVIER<div dir="ltr"><br><div class="gmail_quote"><div dir="ltr" class="gmail_attr"><br></div><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr" class="gmail_attr"><br></div><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><span name="PersonName"><p class="MsoNormal" style="text-align:justify;background-image:initial;background-position:initial;background-size:initial;background-repeat:initial;background-origin:initial;background-clip:initial;margin:0cm 0cm 8pt;line-height:107%;font-size:11pt;font-family:Calibri,"sans-serif""><span style="font-size:16pt"> NO MUNDO MAIOR - ANDRÉ LUIZ</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify;background-image:initial;background-position:initial;background-size:initial;background-repeat:initial;background-origin:initial;background-clip:initial;margin:0cm 0cm 8pt;line-height:107%;font-size:11pt;font-family:Calibri,"sans-serif""><span style="font-size:16pt"> Neste livro André está acompanhado do instrutor Calderaro que visita uma instituição próxima à Terra. Nesta instituição André aprendeu e nos transmite tudo sobre a complexidade da mente humana e suas inclinações , felizes e infelizes: oferecendo informações valiosas sobre as causas do desequilíbrio da vida mental das pessoas. Destacamos o comovente drama de Cândida.</span></p><p style="text-indent:35.4pt;background-image:initial;background-position:initial;background-size:initial;background-repeat:initial;background-origin:initial;background-clip:initial;margin-right:0cm;margin-left:0cm;font-size:12pt;font-family:"Times New Roman",serif"> </p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify;background-image:initial;background-position:initial;background-size:initial;background-repeat:initial;background-origin:initial;background-clip:initial;margin:0cm 0cm 8pt;line-height:107%;font-size:11pt;font-family:Calibri,"sans-serif""><span style="font-size:16pt">Recomendo !</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align:justify;background-image:initial;background-position:initial;background-size:initial;background-repeat:initial;background-origin:initial;background-clip:initial;margin:0cm 0cm 8pt;line-height:107%;font-size:11pt;font-family:Calibri,"sans-serif""><span style="font-size:16pt">Livro anexo!</span></p></span> <p class="MsoNormal" style="text-align:justify;line-height:11.75pt;background-image:initial;background-position:initial;background-size:initial;background-repeat:initial;background-origin:initial;background-clip:initial"><span> </span></p><br><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><br><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr" class="gmail_attr"><br></div><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"> <br> <br> <br> <br> <br> <br> <br> <br> <br> </div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div><br></div> </div><br></div> </div><br></div> </div><br></div> </div></div> </div></div> </div></div> </div></div> </div></div> </div></div> </div></div> </div></div> </div></div> </div></div> </div></div> </div></div> </div></div> </div></div> </div></div> </div></div> </div></div> </div></div> </div></div> </div></div> </div></div> </div><br clear="all"><div><br></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div><div><br></div>-- <br><div dir="ltr" class="gmail_signature" data-smartmail="gmail_signature"><div dir="ltr"><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Abraços fraternos!</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial"> </span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Bezerra</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Blog de livros</span></p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Blog de vídeos</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Meu canal:</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk" target="_blank">https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk</a><br></p></div></div></div> <p></p> -- <br /> -- <br /> Seja bem vindo ao Clube do e-livro<br /> <br /> Não esqueça de mandar seus links para lista .<br /> Boas Leituras e obrigado por participar do nosso grupo.<br /> ==========================================================<br /> Conheça nosso grupo Cotidiano:<br /> <a href="http://groups.google.com.br/group/cotidiano">http://groups.google.com.br/group/cotidiano</a><br /> <br /> Muitos arquivos e filmes.<br /> ==========================================================<br /> <br /> <br /> Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "clube do e-livro" em Grupos do Google.<br /> Para postar neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro@googlegroups.com<br /> Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro-unsubscribe@googlegroups.com<br /> Para ver mais opções, visite este grupo em <a href="http://groups.google.com.br/group/clube-do-e">http://groups.google.com.br/group/clube-do-e</a>-<br /> --- <br /> Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "clube do e-livro" dos Grupos do Google.<br /> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para <a href="mailto:clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com">clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com</a>.<br /> Para ver essa discussão na Web, acesse <a 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Niketche - Uma História de Poligamia.epub<br> <br></div><div><br></div><div>: <span dir="auto"><felisberto.</span><br></div>-- <br><div dir="ltr" class="gmail_signature"><div dir="ltr"><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Abraços fraternos!</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial"> </span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Bezerra</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Blog de livros</span></p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Blog de vídeos</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Meu canal:</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk" target="_blank">https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk</a><br></p></div></div></div></div> <p></p> -- <br /> -- <br /> Seja bem vindo ao Clube do e-livro<br /> <br /> Não esqueça de mandar seus links para lista .<br /> Boas Leituras e obrigado por participar do nosso grupo.<br /> ==========================================================<br /> Conheça nosso grupo Cotidiano:<br /> <a href="http://groups.google.com.br/group/cotidiano">http://groups.google.com.br/group/cotidiano</a><br /> <br /> Muitos arquivos e filmes.<br /> ==========================================================<br /> <br /> <br /> Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "clube do e-livro" em Grupos do Google.<br /> Para postar neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro@googlegroups.com<br /> Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro-unsubscribe@googlegroups.com<br /> Para ver mais opções, visite este grupo em <a href="http://groups.google.com.br/group/clube-do-e">http://groups.google.com.br/group/clube-do-e</a>-<br /> --- <br /> Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "clube do e-livro" dos Grupos do Google.<br /> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para <a href="mailto:clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com">clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com</a>.<br /> Para ver essa discussão na Web, acesse <a 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class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif"> Este é mais um livro de nossa campanha de doação e digitalização de livros para atender aos deficientes visuais.</span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif"> Agradecemos ao irmão Fernando pela doação e digitalização.</span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:14pt;font-family:Arial,sans-serif;color:black"> Pedimos que não divulguem em canais públicos ou Facebook. Esta nossa distribuição é para atender aos deficientes visuais em canais específicos.</span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:14pt;font-family:Arial,sans-serif;color:black"><br></span></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEisOkVK2HtzQz_Ngd-0eEnW6IsS6tzpDNdLsI8toRtwUnQnBwONMA40_h1MD-e6cyDHUOjYtrLStyYJ-JzpXGBaBx3Dj-1jAwAA6als2Mf96wQXWSRe9ufdVgqYnFaUYgdfK62WVtCswgtfHgPgrnWXmEqPf9fwyB0yvUQQwYCWbHcADgws93E0Y2Y8"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEisOkVK2HtzQz_Ngd-0eEnW6IsS6tzpDNdLsI8toRtwUnQnBwONMA40_h1MD-e6cyDHUOjYtrLStyYJ-JzpXGBaBx3Dj-1jAwAA6als2Mf96wQXWSRe9ufdVgqYnFaUYgdfK62WVtCswgtfHgPgrnWXmEqPf9fwyB0yvUQQwYCWbHcADgws93E0Y2Y8=s320" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_7152199999359008722" /></a><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;font-size:large">O Grupo Mente Aberta lança hoje mais um livro digital !</span><br></p><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><font size="4">Desejamos a todos uma boa leitura !</font></div><div><br></div><div><font size="4">Lições Bíblicas Para Jovens</font></div><div dir="ltr"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgGy6FG-Jf6-fb-jHVZm4opcbeAfAWJCE4hbiJ9I1e1HYKKJ2TeE-Ay9_l6ea_ILQLj02eguUK0V9dXeZ8BzbdOHhfK9RgS-w_MtnOLbM5JJlHnu362dE5tfl_ELun8FBHNr42evbVt8aXSv5_l-_1Uxw-NOna0EmMc4jjsTrk3hY3VpSXEZoRS-p--"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgGy6FG-Jf6-fb-jHVZm4opcbeAfAWJCE4hbiJ9I1e1HYKKJ2TeE-Ay9_l6ea_ILQLj02eguUK0V9dXeZ8BzbdOHhfK9RgS-w_MtnOLbM5JJlHnu362dE5tfl_ELun8FBHNr42evbVt8aXSv5_l-_1Uxw-NOna0EmMc4jjsTrk3hY3VpSXEZoRS-p--=s320" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_7152200011977458354" /></a></div><div><font size="4">Sinopse:</font></div><div><font size="4">Esta revista comenta várias passagens bíblicas</font><br></div><div><font size="4"><br></font></div><div><font size="4"><br></font></div><div><font size="4">Devido ao tamanho mais de 14 mb colocamos no hd virtual mega:</font></div><div><a href="https://mega.nz/folder/wA5XDTjT#WdqraJn8DSCLuMTVlDaGpA" target="_blank">https://mega.nz/folder/wA5XDTjT#WdqraJn8DSCLuMTVlDaGpA</a><font size="4"><br></font></div><div><br></div><div><br></div><div><font size="4">Disponível para baixar <span class="gmail_default" style="font-size:small"></span>45 dias</font></div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div><font size="4">Lançamento: Grupo Mente Aberta</font></div><div><p><font size="4"><a href="https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/grupo-de-livros-mente-aberta" target="_blank">https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/grupo-de-livros-mente-aberta</a></font></p></div><div dir="ltr"><font size="4"></font></div></div></div></div></div></div></div><font size="4"></font><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-family:Calibri,sans-serif"><font size="4"><span style="font-family:Arial,sans-serif;color:black"></span></font></p><font size="4">Grupo Parceiro Allan Kardec:</font></div><div><font size="4"><a href="https://groups.google.com/forum/?hl=pt-br#!forum/grupo-espirita-allan-kardec" style="font-family:Arial" target="_blank">https://groups.google.com/forum/?hl=pt-br#!forum/grupo-espirita-allan-kardec</a></font></div></div><div dir="ltr"><font size="4"><br></font></div></div></div></div></div></div></div></div> </div><br clear="all"><div><br></div>-- <br><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"> <p>De: <strong class="gmail_sendername" dir="auto">Reginaldo Mendes</strong><br></p><p><br></p><p><br></p> <p> </p></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div><div><br></div>-- <br><div dir="ltr" class="gmail_signature"><div dir="ltr"><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Abraços fraternos!</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial"> </span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Bezerra</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Blog de livros</span></p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Blog de vídeos</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Meu canal:</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk" target="_blank">https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk</a><br></p></div></div></div></div> <p></p> -- <br /> -- <br /> Seja bem vindo ao Clube do e-livro<br /> <br /> Não esqueça de mandar seus links para lista .<br /> Boas Leituras e obrigado por participar do nosso grupo.<br /> ==========================================================<br /> Conheça nosso grupo Cotidiano:<br /> <a href="http://groups.google.com.br/group/cotidiano">http://groups.google.com.br/group/cotidiano</a><br /> <br /> Muitos arquivos e filmes.<br /> ==========================================================<br /> <br /> <br /> Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "clube do e-livro" em Grupos do Google.<br /> Para postar neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro@googlegroups.com<br /> Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro-unsubscribe@googlegroups.com<br /> Para ver mais opções, visite este grupo em <a href="http://groups.google.com.br/group/clube-do-e">http://groups.google.com.br/group/clube-do-e</a>-<br /> --- <br /> Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "clube do e-livro" dos Grupos do Google.<br /> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para <a href="mailto:clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com">clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com</a>.<br /> Para ver essa discussão na Web, acesse <a 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<br>H�BITO DE VIVER
<br>
<br>
<br>
<br>Do autor:
<br>
<br>Depois da Luta, contos
<br>
<br>Organiza��es Sim�es, 1958
<br>Acusado de Homic�dio e
<br>Ponte Sem A�o (um s� volume), novelas
<br>
<br>Savio Antunes, 1960
<br>Assim Marcha a Fam�lia, reportagens
<br>
<br>em colabora��o com Sylvan Paezzo, Luciano
<br>
<br>Alfredo Barcellos, Arthur Jos� Poerner,
<br>Edson Braga e Agostinho Seixas
<br>
<br>Civiliza��o Brasileira, 1965
<br>
<br>Andr� Rebou�as, estudo biogr�fico
<br>Edi��es Tempo Brasileiro, 1968
<br>Judas Arrependido, contos
<br>Jos� �lvaro, Editor, 1968
<br>L�cio Fl�vio, o Passageiro da Agonia, romance
<br>1.� edi��o � Civiliza��o Brasileira, 1975
<br>2.� edi��o � Editora Record, 1977
<br>Aracelli, Meu Amor, romance
<br>Civiliza��o Brasileira, 1976
<br>Inf�ncia dos Mortos, romance
<br>Editora Record, 1977
<br>Acusado de Homic�dio, novela
<br>2.� edi��o � Edi��es Nosso Tempo, 1977
<br>Os Amores da Pantera, romance
<br>
<br>Edi��es Nosso Tempo, 1977
<br>O Estrangulador da Lapa, novela
<br>Cedibra, 1976
<br>Inimigos Mortais, novela
<br>Cedibra, 1976
<br>Sociedade Secreta, novela
<br>Cedibra, 1976
<br>Moedas de Sangue, novela
<br>Cedibra, 1976
<br>O Internato da Morte, novela
<br>Cedibra, 1976
<br>
<br>
<br>JOS� LOUZEIRO
<br>
<br>
<br>O ESTRANHO
<br>H�BITO DE VIVER
<br>
<br>
<br>ROMANCE
<br>
<br>
<br>
<br>Copyright � 1978 by Jos� Louzeiro
<br>
<br>FICHA CATALOGR�FICA
<br>
<br>CIP-Brasil. Cataloga��o-na-fonte
<br>Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
<br>
<br>
<br>
<br>Direitos desta edi��o reservados pela
<br>DISTRIBUIDORA RECORD DE SERVI�OS DE IMPRENSA S.A.
<br>Av. Erasmo Braga, 255 � 8.� andar � Rio de Janeiro, RJ
<br>
<br>
<br>Impresso no Brasil
<br>
<br>
<br>A Elia Ferreira Edel
<br>que leu este livro antes de mim
<br>Ruth Houaiss e Raquel Babenco
<br>que ainda se decepcionam com nossa realidade
<br>Laura Sandroni e Egl� Malheiros
<br>que tanto fazem pelas crian�as
<br>N�lida Pinon e Th�a Fonseca
<br>conquistando terras para a intelig�ncia.
<br>
<br>A Ana L�cia, K�tia, Maria Helena,
<br>Virg�nia e Leonor
<br>amigas e mulheres de irm�os meus:
<br>Carlos Eduardo Novaes, Ild�sio Tavares,
<br>Ely Azevedo, Jorge Dur�n, Leopoldo Serran.
<br>
<br>J. L.
<br>
<br>Cap�tulo I
<br>
<br>UM
<br>
<br>Toninho acompanha o clar�o do amanhecer, estirado nas areias
<br>brancas da praia deserta. Ouve o ru�do das ondas quebrando-se, v�
<br>as gaivotas soltas no ar, seguindo a trilha dos cardumes. E, n�o sabe
<br>por que, pensa numa �poca recuada, quando o areal deveria ser bem
<br>mais extenso e por ali tudo existiriam coqueiros e amendoeiras. As
<br>�nicas pessoas seriam os �ndios. E o que foi feito deles? 0 que aconteceu?
<br>Como sumiram daquele lugar t�o calmo? Toninho fixa-se
<br>nos trechos onde a bruma se esgar�a, tem a n�tida impress�o de ver
<br>jovens �ndias, esbeltas e nuas, caminhando na beira d�gua, p�s cobertos
<br>de espumas, rostos morenos salpicados de ventos e de mar. 0 que
<br>houve com essas �ndias? Quantas vezes ter�o passado por ali, exatamente
<br>onde est� agora, pensando em tanta maluquice e ao mesmo
<br>tempo n�o pensando em nada?
<br>
<br>Buzinadas de carros nas pistas asfaltadas chegam-lhe aos ouvidos,
<br>quase encobertas pelos ru�dos das ondas fortes, que batem nas
<br>rochas, esparramam-se na areia, deixando uma esteira de bolhas a
<br>refletir as cores do dia que vai nascendo. Toninho acha que as bolhas
<br>s�o sementes do mar. Sementes como aquelas em que o pai vivia
<br>falando: guando e jurubeba. Achava gra�a das id�ias do pai. Guando
<br>e jurubeba. Quem saberia ao menos o que vinha a ser isso? 0
<br>velho se dava ao trabalho de explicar. Baixava o r�dio de pilha, a
<br>m�e ocupada com as panelas, o velho se alongando: depois de um
<br>certo tempo se deixa este morro, compra um peda�o de terra, seja onde
<br>for, come�a a planta��o. A� tu vai ver o que � guando de verdade.
<br>Tem tanto valor quanto o feij�o e a ervilha. J� a jurubeba ainda �
<br>mais valiosa. Seu Tom�, da farm�cia, compra toda a produ��o que
<br>se tiver, a quilo. � tiro e queda pra quem sofre do peito. Tua m�e
<br>j� teve ruizinha e quem levantou ela foi xarope de jurubeba.
<br>
<br>Toninho tem vontade de rir: de estar ali, de ver �ndias que n�o
<br>existiam, de recordar as ingenuidades do pai. Ser� que teria mesmo
<br>
<br>
<br>
<br>coragem de se meter nos cafund�s pra dar uma de lavrador? Era capaz,
<br>sim! O pai era um homem s�rio. S� discutia com a m�e quando
<br>achava que ela andava gastando g�s e luz demais, com os tais bolos
<br>de fub� e o mingau de milho. Fora disso, estendia-se na cama, tirava
<br>sons de uma velha gaita. Ao ser convocado como tratorista para a
<br>constru��o da rodovia, chegou uma noite todo animado. Trouxe o
<br>garraf�o de vinho, meio quilo de queijo. A� foi a m�e quem reclamou
<br>da extravag�ncia.
<br>
<br>� Esquece, mulher! Vou ganhar cinco a mais por hora e ainda
<br>posso dobrar tr�s dias na semana.
<br>Passou a m�o na cabe�a de Toninho, fez a promessa que n�o
<br>chegou a cumprir:
<br>
<br>� Dessa vez compro a bicicleta. E n�o vai ser de segunda m�o.
<br>Te levo numa loja bacana, escolhe a que quiser.
<br>Se tivesse a bicicleta era prov�vel que n�o chegasse nunca �quela
<br>praia. Teria pedalado horas e horas pelas ruas e estradas, at� encontrar
<br>o pai.
<br>
<br>Cruza as m�os por baixo da cabe�a, acompanha a gaivota que
<br>despencou das alturas, num rapid�ssimo mergulho, penetrou fundo na
<br>�gua. Depois, bate as asas, torna a erguer-se, majestosamente leve,
<br>naquele amanhecer de brisas frescas.
<br>
<br>Distante, o vulto de um homem. Seria o pai? Como soubera estar
<br>por ali? Imposs�vel! Era algum pescador ou um velhote qualquer que
<br>sonha prolongar a vida dando caminhadas ao alvorecer. N�o podia ser
<br>
<br>o pai. Saiu pra chamar a ambul�ncia, vov� Jandira tava aflita, a
<br>m�e arroxeando nos p�s e nas m�os sobre o colch�o ordin�rio, com
<br>grandes buracos deixando o capim seco da forra��o aparecer. Por que
<br>n�o foi com o pai? Bem que convidou, mas preferiu ficar cuidando
<br>da m�e. E de que adiantou? Se vov� Jandira que sabia de uma por��o
<br>de rem�dio n�o deu jeito, o que � que ele podia fazer? Um arrependimento
<br>do qual n�o poderia livrar-se. Deveria ter ido com o velho.
<br>Saberia direito o que fizeram com ele. N�o era verdade que
<br>aproveitou a oportunidade para se mandar. Algumas pessoas no morro
<br>faziam esse coment�rio, n�o acreditava. Inteiramente imposs�vel! O
<br>velho n�o faria uma coisa dessa, logo naquela fase em que conseguira
<br>o lugar de tratorista e estava ganhando cinco a mais por hora, fora os
<br>extraordin�rios. Colher de Pau e Enfezado pensavam do mesmo jeito.
<br>Duvido que seu Ven�ncio tenha feito isso. Era bacana �s pampa.
<br>Te lembra do dia que deu dinheiro pra gente comprar linha e pipa?
<br>Quem faz siso? Colher de Pau tinha raz�o. Alguma coisa de muito
<br>grave aconteceu com o velho. Enfezado tava errado. S� pensava no
<br>pior. Foi assim desde que o conheci. Qualquer dica que dava, l� vinha
<br>coisa feia. Aquele neg�cio de dizer que os pintas da pol�cia botaram
<br>a m�o no velho, n�o colava. Tinha documentos, carteira assinada
<br>e tudo, dedos cheios de calos, n�o brincava em servi�o. Quem ia
<br>
<br>confundir o pai com um vagabundo? S� mesmo se os pintas tivessem
<br>a fim de uma grana. A�, pode ser que Enfezado tenha raz�o.
<br>
<br>Toninho levanta da areia, sacode a roupa, amarra os cord�es dos
<br>sapatos, examina os bolsos do blus�o de couro. Tinha orgulho dele.
<br>Era, na verdade, a coisa mais importante que possu�a.
<br>
<br>Quando vestia, as garotas o olhavam como se fosse gente, como
<br>se n�o tivesse descido de um morro, onde era igual a Colher de Pau,
<br>Enfezado, Banz� e tantos mais. Por isso ag�entava aquela amizade
<br>com a bicha. Detestava ter de passar horas e horas com ela, mas era
<br>uma forma de sobreviv�ncia. Como quem vende doce em porta de
<br>cinema, entrega embrulho, varre rua e limpa latrina. A bicha aparecia
<br>duas, tr�s vezes por semana, no resto do tempo tirava folga. Pegava
<br>uns caraminguados, ia dando pro gasto. Se queria um sapato,
<br>uma cal�a nova, uma camisa, n�o precisava nem pedir. Marlene era
<br>a primeira a observar: detesto homem sujo. fedendo a suor. Pra te
<br>juntar comigo tem de estar em ordem, nem que me acabe de trabalhar
<br>na cozinha daquele restaurante infecto.
<br>
<br>Cada encontro era precedido de um presente. Sempre umas porcarias,
<br>que Toninho desconfiava serem adquiridas em tabuleiros de
<br>camel�. Mas cavalo dado n�o se olha os dentes e Toninho sabia que
<br>depois de duas, tr�s horas de chatea��o, ainda recebia a c�dula de
<br>cem, ou at� mesmo de quinhentos. 0 que n�o estava mais ag�entando
<br>era aquela ciumada de Marlene. Afinal, qual era a dela? Por
<br>acaso pensava que fosse passar a vida toda naquela engrupi��o? Pois
<br>estava enganada. O dia que bolasse um meio de arrancar dinheiro,
<br>ia cair fora. Nunca mais desejaria v�-la. Como era repelente Marlene.
<br>Sua maneira de falar enjoada, a frescura crescente, sempre que estava
<br>com Toninho e deles se aproximavam alguns homens. Parece que a
<br>bicha queria se exibir. Queria dizer: olhem a�, bandos de imbecis;
<br>vejam s� o garot�o que fisguei. E quero ver s� quem vai tomar ele
<br>de mim. Era isso que aquela sacaneta pensava e. pelo visto, tinha raz�o.
<br>N�o conseguira livrar-se dela, para perd�-la teria de abrir m�o
<br>tamb�m do dinheiro e dos presentes que recebia.
<br>
<br>Certa madrugada, deitado ao lado de Marlene, um pensamento
<br>estranho alarmou Toninho. Havia fumado alguns cigarros, cansara
<br>de bolar a f�rmula de encontrar o pai, imaginara retornar ao morro,
<br>mas nada disso falava com Marlene. N�o queria a bicha envolvida nos
<br>seus problemas �ntimos. 0 relacionamento com ela era puramente
<br>f�sico. Dava o que exigia e ponto final. 0 papo se limitava a coisas
<br>vagas. A praia, o jantar na lanchonete, a ida ao cinema, ocasi�o em
<br>que Marlene tentava exibir-se e Toninho se exasperava. Logo que
<br>a sala de proje��o ficava escura, n�o tinha como livrar-se. A bicha
<br>escorregava a m�o por entre suas pernas, segurava-o com prazer, �s
<br>vezes abria-lhe os bot�es da cal�a, apertava-o carinhosamente, suspirava,
<br>estremecia. Toninho esquivava-se, temendo que as pessoas do lado
<br>
<br>
<br>estivessem vendo aquela sem-vergonhice. Se o filme tinha seq��ncias
<br>er�ticas � e era desses que Marlene mais gostava � quando retornavam
<br>ao apartamento as exig�ncias da bicha davam nojo. Chateava o
<br>tempo todo para que Toninho repetisse cenas id�nticas. Se o garoto
<br>se recusava, fazia cara de choro, mostrava-se nervosa, agressiva.
<br>
<br>� Vou acabar com tua boa vida. Tenho muito macho pra botar
<br>no teu lugar. Se pensa que n�o, t� enganado!
<br>Toninho estendia-se na cama, Marlene ajeitava sobre ele, beijava-
<br>o, mordia-o, gemia e grunhia, numa prolongada crise hist�rica. Toninho
<br>n�o sentia nada. Tinha de manter-se rijo o tempo todo, a fim
<br>de que Marlene n�o invocasse.
<br>
<br>Quando cansava, o suor escorrendo-lhe pelo corpo magro e peludo,
<br>estendia-se ao lado de Toninho.
<br>
<br>� Por que n�o gosta um pouco de mim? Por mais que fa�a, ser�
<br>que n�o mere�o?
<br>Toninho esbo�ava gestos vagos com a cabe�a, mexia as m�os, dizia
<br>coisas que n�o faziam sentido. Marlene compreendia: s� o dinheiro
<br>os mantinha unidos. Toninho n�o era o garoto que imaginava. E
<br>como saber se encontraria outro que fosse a seu gosto? As d�vidas
<br>assaltavam Marlene. Acendia um cigarro atr�s do outro, ficava fumando,
<br>enquanto olhava o teto escuro do m�sero apartamento. Quando
<br>Toninho j� estava mais dormindo do que acordado, levantava-se, ia
<br>ao banheiro, dava descarga, retornava, punha-se a brincar com o corpo
<br>nu do amante. Toninho reclamava, Marlene sorria:
<br>
<br>� Pode dormir. Se fico brincando, assim, acho at� que o sono
<br>chega mais depressa. Ou minhas m�os t�o te arranhando?
<br>Toninho j� sabia. Marlene ia chegando o rosto cada vez mais
<br>perto, mais perto, sentia o h�lito quente na barriga e nas virilhas, a
<br>bicha se contorcia. Toninho n�o tinha como dormir. Segurava-a pelos
<br>cabelos, pelas orelhas, a luta prolongava-se por alguns minutos, depois
<br>Marlene se afastava, o garoto sentia o corpo mole, o sono pesando-lbe
<br>nas juntas. Acordava com o sol quente. Marlene j� fizera o caf�,
<br>mandava que se apressasse. Sua colega de apartamento n�o gostava de
<br>companhias estranhas.
<br>
<br>� Como � ela?
<br>Marlene fazia blague.
<br>� Se se comportar direitinho a semana toda, vou arranjar um
<br>jeito
<br>de fazer a apresenta��o.
<br>Toninho desconfiava.
<br>
<br>� Vai ver, � tua parceira do restaurante.
<br>A bicha fazia ar de deboche.
<br>� Pois t� enganado. � gente fina. Do mundo art�stico. S� de
<br>pensar, tenho inveja.
<br>O tempo foi passando, passando, e nunca Marlene apresentou a
<br>colega. Agora, metendo-se naquele blus�o, que sabia ter custado uma
<br>
<br>
<br>nota, percebia estar em condi��es de exigir. Se atiraria na cama. esperaria
<br>Marlene aparecer, proporia amor a tr�s. E por que n�o? Qual
<br>seria o problema de Marlene em n�o topar? Remexeu nos bolsos, encontrou
<br>alguns trocados, lembrou-se de comprar-lhe uma lembran�a.
<br>Entregaria o presente citando palavras c�nicas: passo o tempo todo
<br>pensando em voc�. Marlene aceitaria, mesmo sabendo que aquilo tudo
<br>era deslavada mentira. Mas sorriria, mostrando os dentes amarelos, o
<br>rosto magro, olhos cansados.
<br>
<br>Quando conseguisse dinheiro suficiente, iria ao morro. Convocaria
<br>Colher de Pau e Enfezado, procurariam mais uma vez pelo velho.
<br>Cada um iria para um canto da cidade. Se depois de uma semana
<br>n�o achassem, ent�o � porque n�o havia mesmo jeito. �s vezes sentia
<br>vontade de falar disso com Marlene, indagar se tinha algum amigo
<br>influente que pudesse ajudar. N�o queria que soubesse de suas
<br>particularidades. Isso seria ainda mais repugnante. N�o gostaria que
<br>Colher de Pau e Enfezado desconfiassem de como obtinha dinheiro.
<br>
<br>DOIS
<br>
<br>Senta no banco da lanchonete, o homem de blus�o azul e bon�
<br>da mesma fazenda coloca o suco de laranja e o sandu�che de queijo �
<br>sua frente. Pega o sandu�che com ambas as m�os, morde com vontade,
<br>n�o engole logo porque est� quente demais. Vira um pouco de
<br>suco por cima, engole quase sem mastigar. Termina o sandu�che,
<br>pede outro. Desta vez vai comendo mais devagar. Olha os que se
<br>movimentam no estreito espa�o da lanchonete, as pessoas que entram,
<br>as que passam, as que chegam para comprar cigarros. Lembra estar
<br>precisando de cigarros e tamb�m de um isqueiro. 0 homem de bon�
<br>azul rabisca rapidamente a conta, d� um grito de indica��o para o
<br>caixa:
<br>
<br>� Doze e cinq�enta.
<br>� Uma carteira de Continental com filtro e um isqueiro.
<br>O homem p�ra de apertar as teclas da registradora, n�o parece
<br>animado com o pedido do fregu�s. De qualquer forma exp�e uma por��o
<br>de isqueiros sobre o ex�guo balc�o com tampo de vidro.
<br>
<br>� Qual deles vai?
<br>Toninho sabe que n�o h� tempo a perder.
<br>� Esse aqui!
<br>0 homem n�o diz nada. N�o faz qualquer coment�rio. Acrescenta
<br>a import�ncia do isqueiro e do cigarro aos doze e cinq�enta, afirma
<br>em voz alta:
<br>
<br>� Trinta e quatro e oitenta!
<br>
<br>Remexe nos bolsos, v� o quanto fora imprudente. Estava apenas
<br>com cento e cinq�enta. Faz o pagamento, recolhe os trocados,
<br>vai embora, o cigarro aceso, a satisfa��o de ter tomado um bom suco
<br>de laranja, ter comido dois sandu�ches.
<br>
<br>Ap�s alguns passos, completamente sem rumo, decide que o correto
<br>seria tomar o caminho do Morro da Babil�nia. Por l� encontraria
<br>vov� Jandira, tornaria a rever o barraco, tentaria localizar Colher
<br>de Pau e Enfezado. Afinal, quanto tempo fazia? Quase imposs�vel
<br>lembrar. Quando descesse, j� bem tarde, encontraria Marlene. Pediria
<br>que se virasse para conseguir pelo menos quinhentos. Nada de pelenga
<br>de cem. Estava cheio disso. Se precisasse, encheria a bicha de
<br>porrada. Teria de ser quinhentos ou nada. Com o dinheiro daria um
<br>al� mais firme aos camaradas. E as buscas seriam reiniciadas. Desta
<br>vez pra valer. Talvez fosse at� bom ir � reda��o de um jornal, dizer
<br>como era o pai.
<br>
<br>Com todos esses pensamentos confusos Toninho p�e-se a subir a
<br>rua tortuosa, ladeirenta, passa por um trecho onde a rocha fora rompida
<br>a dinamite e agora a �gua esguichava dia e noite, entra na viela
<br>de capim alto, de arbustos, avista os primeiros barracos, mulheres estendendo
<br>roupas nas cercas, um tamborim que retine distante, n�o
<br>sabe bem para que lado, crian�as correndo atr�s do cachorro com um
<br>peda�o de pau, o sol quente lavando as encostas.
<br>
<br>Chega ao barraco de vov� Jandira, duas ou tr�s roseiras por tr�s
<br>da cerca, casquinhas de ovo enfiadas nas pontas das varas, um casal
<br>de patos, o galo pesco�o pelado, as galinhas poedeiras, vov� Jandira se
<br>esfor�ando para reconhec�-lo.
<br>
<br>� N�o se lembra? � o Toninho!
<br>� Deus do c�u � diz a velha. � Como ando com a vista ruim.
<br>Toninho vai entrando, senta na cadeira de assento furado, vov�
<br>Jandira oferece caf�.
<br>
<br>� N�o se preocupe. S� tava querendo saber das novidades e
<br>dar uma olhada no barraco dos velhos.
<br>� Novidade n�o tem nenhuma, filho. Desde que seu Ven�ncio
<br>sumiu e dona Mundi�a se foi, n�o soube de mais nada. �s vezes fico
<br>a noite inteira acordada, pensando. Como pode uma fam�lia se acabar
<br>assim, sem mais nem menos?
<br>Os olhos de vov� Jandira se enchem de l�grimas, tornam-se vermelhos,
<br>ela disfar�a, Toninho faz que n�o v�. A velha levanta, p�e
<br>�gua no fogo, retorna for�ando um sorriso.
<br>
<br>� E voc�, filho de Deus, o que tem feito?
<br>Encolhe os ombros, como se n�o tivesse muito a dizer.
<br>� Andado por a�!
<br>� Conseguiu emprego?
<br>� Coisa nenhuma. Ningu�m tem nada certo pra oferecer. E
<br>sem documentos, sem nada, fica mais dif�cil.
<br>
<br>Vov� Jandira traz a x�cara de caf�, Toninho toma. Pede a chave
<br>do barraco, ela tira da parede, onde est� pendurada num prego.
<br>
<br>� Uma vez por semana vou l�, varro, dou uma espanada nos
<br>m�veis, tiro as teias de aranha. Mas n�o sei at� quando isso vai ser
<br>poss�vel. Outro dia j� havia uns malandros querendo se instalar. Mais
<br>cedo ou mais tarde vai ter de ficar morando l�, de vez.
<br>Toninho sacode a cabe�a. A sugest�o o assusta. Continua a sacudir
<br>a cabe�a, negativamente.
<br>
<br>� Nada disso, vov�. N�o pretendo morar no barraco. Me lembra
<br>uma por��o de coisa. A n�o ser que descubra o paradeiro do pai.
<br>A� tudo pode ser como antes, mesmo sem a m�e.
<br>Vov� Jandira acompanha o garoto at� o jardinzinho, onde crescem
<br>roseiras esgani�adas e as cascas de ovo est�o na ponta das estacas.
<br>Toninho desce pela viela, abre a porta do barraco, entra devagar,
<br>como se temesse surpresas. Num instante est� de volta ao passado: a
<br>mesa com uma perna destroncada, que o pai sempre prometia consertar
<br>num final de semana, a gaiola vazia, as cascas de laranja penduradas
<br>no fumeiro, para dar sorte, o vaso com a planta que terminou
<br>secando. Abre o ba�, coberto de couro ressequido, respira cheiro de
<br>mofo. Mexe nos pap�is, nos retratos, nos cadernos de anota��es que a
<br>m�e vivia fazendo. Folheia um dos cadernos, l� estava anotado o dia
<br>em que o pai come�ara como tratorista na rodovia, ganhando cinco a
<br>mais por hora. Numa outra p�gina, os c�lculos do dinheiro que poderia
<br>receber num m�s, acrescidos das horas extras. Tudo direitinho,
<br>tudo em ordem. Como a m�e se preocupava com os menores detalhes,
<br>e como nunca prestara aten��o a isso. Remexe nos pap�is, encontra a
<br>fotografia do pai, j� bastante amarelecida. Da m�e n�o acha uma �nica
<br>foto. Fecha o ba�, tem vontade de sair logo dali, ir embora para
<br>longe, onde as recorda��es n�o o pudessem alcan�ar. Mas, no c�modo
<br>seguinte est� a cama estreita. Foi nela que viu pela �ltima vez a
<br>m�e, p�s e m�os arroxeando, vov� Jandira fazendo compressas, molhando
<br>o pano na �gua quente e se agoniando nas aplica��es. Havia
<br>momentos em que vov� Jandira chamava dona Mundiquinha, como
<br>se j� temesse que n�o estivesse mais ouvindo. Como era boa vov� Jandira.
<br>Como se sacrificava. E como teria sido doloroso, se nemcom
<br>ela tivesse podido contar. O pai agoniado, enfiando a camisa e os
<br>sapatos, indo embora �s pressas.
<br>
<br>� Toma conta da m�e que volto j� com o m�dico!
<br>O que aconteceu com o pai? Teria abandonado a m�e exatamente
<br>naquele momento? N�o podia acreditar. N�o havia motivo. Levaria
<br>aquela foto amarelada a uma reda��o de jornal. Convidaria Colher
<br>de Pau para ir junto. Se n�o pudesse, trataria de localizar Enfezado.
<br>Mete a foto no bolso do blus�o, torna a fechar a porta do barraco,
<br>retorna ao casebre de vov� Jandira,
<br>
<br>
<br>� Se aparecer algum malandro pra invadir o barraco, diga que
<br>vai ajustar conta comigo.
<br>Vov� Jandira ouve o menino falar daquele jeito, n�o d� resposta.
<br>Sabe que se um malandro ou dois resolvessem ocupar o barraco
<br>n�o teria o que fazer, a n�o ser aceitar as desculpas que dessem.
<br>
<br>Toninho tira o casaco, p�e nas costas, vai seguindo pela viela de
<br>sol, que se eleva, at� tornar-se ladeira �ngreme, onde ficavam os barracos
<br>mais bem constru�dos da favela, alguns com as paredes principais
<br>de alvenaria, pintados de azul, amarelo, branco. Depois desses
<br>barracos, que pertenciam a um cabo de pol�cia, a dois bicheiros, a um
<br>motorista de pra�a e � dona de um rendez-vous no Mangue � que
<br>vinha a birosca de seu Greg�rio. Mais de perto Toninho verifica a
<br>melhoria que o negociante fizera no estabelecimento. De um lado, no
<br>sal�o ainda por concluir, tijolos das paredes aparecendo, as portas fora
<br>do lugar, estavam instaladas duas mesas de sinuca. Se lembra de ter
<br>ouvido seu Greg�rio falar muitas vezes nisso. Uma vez convidou o
<br>pai para participar do empreendimento. O pai chegou em casa e comentou.
<br>Mas disse que n�o levava jeito nos neg�cios. 0 melhor era
<br>continuar como tratorista, fazer umas economias, depois se mandar
<br>para o interior, onde compraria o peda�o de terra, trataria da planta��o
<br>de guando e jurubeba. �s vezes a m�e achava gra�a nos projetos
<br>que fazia, pois ele n�o admitia que no tal peda�o de terra fosse
<br>plantado sequer um tomateiro. Depois de muita discuss�o, um dia
<br>admitiu: v� l�; se se tiver tempo, eu bolo um canteiro bem grande e
<br>tamb�m um jirau. A� se mete umas hortali�as e pode at� manter um
<br>tanque pra agri�o. Mas a maior parte do tempo se vai estar ocupado
<br>com o guando e a jurubeba.
<br>
<br>Toninho entra na birosca, seu Greg�rio sorri quando o v�, o garoto
<br>sente que o riso � sincero.
<br>
<br>� Como andam as coisas, rapaz? Por que n�o procura mais a
<br>gente? Filho de amigo meu � meu filho tamb�m. Tamos aqui pro que
<br>der e vier. N�o entro naquela de acreditar que seu Ven�ncio se bandeou.
<br>Existe alguma coisa acima da nossa compreens�o que merece
<br>esclarecimento. Esse mundo � pior do que qualquer um de n�s pode
<br>imaginar. N�o me passa pela cabe�a que seu Ven�ncio tenha deixado
<br>comadre Mundiquinha daquele jeito e se pirado.
<br>Toninho entende que seu Greg�rio ainda est� tocado com o fato,
<br>� capaz de alongar-se. Por isso decide cortar a conversa, que j� n�o
<br>faz sentido, que o machuca por dentro, enerva-o e, �s vezes, amea�a
<br>deixar-lhe sem respira��o. N�o sabe por. que, sempre que pensa
<br>nos acontecimentos que se sucederam de forma t�o r�pida, o cora��o
<br>dispara e sente como se fosse ficar impedido de respirar. N�o era a
<br>primeira vez que isso acontecia. J� ocorrera em outras ocasi�es,
<br>especialmente uma noite em que discutia com Marlene, sobre suas
<br>teimosias.
<br>
<br>
<br>� Pois tamos a�. Na corda bamba. Sempre esperando o dia de
<br>amanh�. N�o morri de fome at� hoje, acho que vou me criar � diz
<br>Toninho sorrindo.
<br>Seu Greg�rio parece ter perdido o fio da meada, n�o sabe o que
<br>
<br>acrescentar �quelas palavras sem muito nexo.
<br>
<br>� Enfezado tem baixado por aqui � acentua seu Greg�rio. �
<br>
<br>Mas t� mudado, aleijado de um bra�o. J� cansei de falar com ele.
<br>
<br>N�o gosta de ouvir os mais velhos. � de veneta. Do jeito que vai se
<br>
<br>estrepa f�cil. Como aconteceu com o Colher de Pau.
<br>
<br>Toninho p�e o casaco sobre o balc�o, seu Greg�rio abre a coca
<br>
<br>
<br>cola gelada.
<br>
<br>� E o que foi que aconteceu?
<br>Seu Greg�rio se debru�a no balc�o. Os bra�os s�o possantes, a
<br>camisa aberta no peito mostrando fios de cabelo grossos, o rosto s�rio,
<br>com marcas de var�ola, olhos azulados.
<br>
<br>� N�o soube? Se meteu com uma patota da pesada. Assaltavam
<br>esses carros que entregam dinheiro nos bancos.
<br>� Colher? Medroso daquele jeito?
<br>Seu Greg�rio encara Toninho, olhos frios e duros.
<br>� Tudo m� companhia! Quando o cara se manca, n�o d� pra
<br>sair do atoleiro. Foi o que aconteceu com ele. Agora, uma coisa lhe
<br>digo: n�o pecou por falta de conselho. Cansei de chamar, avisar: mais
<br>cedo ou mais tarde a casa cai. E n�o deu outra coisa.
<br>� Por onde anda?
<br>Seu Greg�rio mexe com os ombros.
<br>� E a m�e dele?
<br>� T� cortando um dobrado � prossegue seu Greg�rio. � De
<br>vez em quando os tira baixam no barraco dela, levam o que pode.
<br>Outro dia chegou aqui, chorando. Disse que at� o ferro de engomar
<br>os tira levaram. E a coisa n�o ficou a�: estipularam um pagamento
<br>pra fazer todo m�s. No m�s que falhar Colher de Pau aparece com
<br>uma caveira do "Esquadr�o", numa estrada qualquer por a�!
<br>Seu Greg�rio p�e mais coca no copo de Toninho, o garoto bebe
<br>em sil�ncio, a testa coberta de suor. Passa a costa da m�o na testa,
<br>rep�e o copo no balc�o.
<br>
<br>� Colher de Pau nunca foi de dar mancada.
<br>� Mas dessa vez encorregou feio � explica seu Greg�rio. �
<br>E � dif�cil levantar. Se n�o acabarem com ele, no m�nimo vai gingar
<br>uns vinte anos na cadeia.
<br>
<br>� E o que � que Enfezado diz disso tudo?
<br>� Se amoitou � responde seu Greg�rio enquanto as moscas
<br>multiplicam-se nos doces que est�o numa travessa de alum�nio, coberta
<br>com um peda�o de pl�stico transparente e sebento.
<br>
<br>A conversa � interrompida breves momentos, porque a crioulinha
<br>de saia despencada de um lado entrou na birosca, pedindo que
<br>seu Greg�rio mandasse cem gramas de toucinho para a m�e. 0 negociante
<br>move-se com vagar, pega a faca de cabo de madeira, corta
<br>pacientemente um fatia de toucinho. Embrulha em papel ordin�rio, a
<br>crioulinha olha Toninho e sorri, sem nada dizer. Vai embora, seu
<br>Greg�rio limpa as m�os num pano tremendamente sujo, assinala mais
<br>uma parcela por baixo da conta que j� estava grande, pelo que p�de
<br>Toninho observar. 0 homem torna a curvar-se no balc�o. Os mesmos
<br>m�sculos saltados sob a camisa apertada.
<br>
<br>� Por isso, canso de dizer: n�o se metam com m�s companhias.
<br>0 mar n�o t� pra peixe!
<br>� Pro nosso lado a barra nunca t� limpa! Depois dessa do pai
<br>ter sumido, juro que n�o acredito mais em nada. E se � como o
<br>senhor diz, que ele n�o se mandou, ent�o a coisa piora.
<br>Seu Greg�rio como que n�o encontra resposta para Toninho, passa
<br>a fazer considera��es a respeito de Enfezado.
<br>
<br>� Todo mundo sabe por aqui que ele t� bastante marcado. J�
<br>fez poucas e boas. At� com as irm�s do Banda Branca ele mexeu.
<br>Dizem as m�s l�nguas que arrombou uma delas. A mais bonitinha.
<br>� E da�?
<br>� Da� que o Banda Branca jurou Enfezado. Quer comer ele na
<br>bala ou na ponta de uma faca. Voc� sabe muito bem como s�o esses
<br>alcag�etes. T�o sempre metido com o que existe de pior.
<br>� Acontece que Enfezado tem amigos, ele t� sabendo � diz
<br>Toninho. � N�o sou de cantar vantagem mas esse Banda Branca pra
<br>mim sempre foi bunda mole. Se jogar os tira em cima de Enfezado
<br>se estrepa de verde e amarelo.
<br>� E o que resolve isso?
<br>Toninho toma o �ltimo gole de coca-cola.
<br>� N�o resolve nada � diz o garoto limpando a boca com a
<br>costa da m�o. � 0 importante � g�entar a barra. Quem for podre
<br>se quebra!
<br>Seu Greg�rio oferece um peda�o de torta. A mesma que est� na
<br>travessa coberta de moscas. Toninho aceita. 0 homem afasta o pl�stico
<br>sebento, as moscas voam, tornam a pousar, t�o logo o homem acaba
<br>de cortar o peda�o de torta.
<br>
<br>� J� que lhe dei uma geral do que anda acontecendo por aqui,
<br>agora quero saber o que tem feito. No que puder ajudar, conte
<br>comigo.
<br>Toninho mastiga a torta, olha a cara do homem, sabe que n�o
<br>deve se abrir. Seu Greg�rio termina sempre falando demais. N�o que
<br>se meta em futricas. Mas fala com um, com outro, de repente o mor
<br>
<br>
<br>16
<br>
<br>
<br>ro inteiro sabe. J� que estava h� tanto tempo afastado, o que adiantava
<br>lhe contar?
<br>
<br>� Tou dando duro num trabalho de madrugada.
<br>� Isso � hora de t� dormindo, filho. Ainda mais na sua idade!
<br>� Acontece que foi o �nico que consegui. Todos os outros s�
<br>queriam me dar trabalho depois que tivesse servido o ex�rcito.
<br>� E que trabalho que �?
<br>� Fazer distribui��o de jornal. Ajudo a carregar o caminh�o,
<br>ajudo a recolocar as porcarias em cada banca. E como tem banca.
<br>Quando d� 7 horas tou de perna bamba de tanto subir e descer da
<br>desgra�a do caminh�o.
<br>� Vale a pena?
<br>� Pagam uma mis�ria, mas � sempre um dinheirinho que entra
<br>e ainda tenho o dia todo pra me virar em outras coisas.
<br>A Kombi toda enfeitada com an�ncios de cigarros p�ra na porta
<br>da tendinha. Toninho fica olhando o carro e os homens que descem.
<br>Um deles tem um bloco de papel nas m�os, o l�pis atr�s da orelha.
<br>0 outro veste-se de caqui. � o motorista. Quando se encosta no balc�o
<br>seu Greg�rio destampa logo a garrafa de cana, serve uma dose
<br>refor�ada. 0 do bloco � mais refinado: aceita conhaque.
<br>
<br>Toninho aproveita, diz tchau a seu Greg�rio recoloca o casaco
<br>de couro nas costas, vai em frente. Seu pensamento � um s�: localizar
<br>Enfezado. N�o acredita que a hist�ria de seu Greg�rio a respeito
<br>de Colher de Pau esteja certa. Deve haver alguma coisa que preferiu
<br>silenciar ou que na verdade desconhece. Mas Enfezado saberia
<br>de tudo. Estaria por dentro. Poderia dar a dica. Toninho passa pela
<br>casa do cara gordo, que vivia a maior parte do tempo de shorts, mais
<br>na frente s�o os porcos de dona Julinha fu�ando o rego de �gua suja,
<br>as roupas penduradas, a vara recurvada sustentando, para o cord�o
<br>n�o arrebentar. Toninho faz um "oi!" para dona Julinha, que fora
<br>muito amiga de sua m�e, vai em frente, pensando na luta que aquela
<br>mulher enfrentava, desde que o marido caiu do andaime da obra e
<br>morreu. Lavava roupa o dia inteiro, carregava �gua na cabe�a desde
<br>madrugada, das 3 da tarde em diante passava a ferro. Uma vez ou
<br>duas por semana fazia grandes trouxas, descia as vielas, uma trouxa
<br>na cabe�a, outra nos bra�os. Dona Julinha estava cada vez mais magra,
<br>pernas bordadas de varizes, o rosto encolhendo. E a m�e cansara
<br>de dizer que fora uma mulher bonita e alegre. Toninho n�o sabe por
<br>que, aquele era um outro motivo que o fazia triste: estar movimentando-
<br>se entre lembran�as e pessoas que j� pareciam ter morrido. Seu
<br>plano era nunca mais dar as caras no Morro, sumir de vez. Ao mesmo
<br>tempo, como poderia fazer tal coisa? E o barraco que o pai deixou,
<br>e o ba� cheio de coisas que pertenceram � m�e? E a gaita do
<br>pai, suas roupas, o sapato novo que comprou e usou s� uma vez? E
<br>
<br>o vestido que a m�e mandou fazer com tanto gosto, para o dia em
<br>
<br>que completasse 25 anos de casada? Como esquecer vov� Jandira,
<br>que o deixava com vontade de chorar s� de v�-la? Como podia existir
<br>pessoa como ela, que nunca reclamava, nunca pedia nada e que na
<br>verdade n�o tinha nada, �s vezes nem o que comer? Mesmo assim n�o
<br>se lembra de ter visto aquela velhinha triste, nem desanimada. Quando
<br>a m�e falava nas doen�as, vov� Jandira era a primeira a dizer:
<br>tire essas id�ias da cabe�a, dona Mundica. Deus d� o frio conforme
<br>a roupa. Agora, subindo aquela ladeira, aproximando-se de um grande
<br>socav�o na rocha, Toninho n�o tinha muita certeza na filosofia de
<br>vov� Jandira. Mas n�o podia negar que continuava rija, alegre e confiante
<br>em si e em todos os que com ela conviviam. Seria isso, afinal,
<br>
<br>o segredo de uma vida longa; o total desapego dos bens que tanto
<br>atra�am o comum das pessoas? N�o sabia. Ficava confuso s� de pensar.
<br>TR�S
<br>
<br>No barraco mais pobre, t�buas que haviam servido em constru��o,
<br>como porta, todas encascoradas de massa de cimento, Toninho
<br>p�s-se a bater. N�o aparecia ningu�m para atender. Deu a volta pela
<br>parte lateral, onde havia umas ramadas de mel�o-de-s�o-caetano e outras
<br>de bucha verde, em meio a pneus velhos, restos de m�veis, vergalh�es
<br>dobrados e peda�os de madeira podre. No pequeno jirau de varas,
<br>colado � janela dos fundos, tamb�m fechada, havia uma panela
<br>encardida, de cabo quebrado, a colher de pau e um coador de caf�.
<br>Isso bastava para entender que o casebre n�o estava abandonado. Tornou
<br>a bater, desta vez com mais decis�o. Ouviu movimento no interior
<br>do barraco, apressou-se a ir para o lado da frente. Uma das t�buas
<br>encascoradas de massa de cimento foi vagarosamente afastada,
<br>apareceu o rosto de mestre T�bor, um homem velho e doente. Nunca
<br>enxergou bem e tornou-se pior, desde que foi aposentado como serralheiro.
<br>Na primeira semana do acidente � Toninho era pequeno
<br>mas se lembra � o velho ficou dias e dias com a cara inchada, sem
<br>poder abrir os olhos. Vov� Jandira e dona Julinha iam ao barraco
<br>dele, cuidavam de Enfezado, punham compressas no rosto do homem.
<br>Quase todo mundo no morro se acostumou com a id�ia de que
<br>ficaria cego. Depois, quando melhorou, os trabalhadores diziam revoltados,
<br>enquanto tomavam pinga na tendinha do seu Greg�rio: imagine
<br>o senhor! Obrigar o velho a dobrar dia e noite nesse servi�o maldito
<br>que � a solda de oxig�nio e dar uma m�scara que n�o protegia
<br>porra nenhuma. 0 que tomava cacha�a no gargalo acentuava: acho
<br>at� que o vidro da m�scara dele tava quebrado. Vi um dia o capataz
<br>
<br>
<br>reclamando com o chefe da se��o, mas o homem dizia que mestre
<br>T�bor podia ir se arranjando como os outros. A� lembrou que havia
<br>uns caras que n�o precisavam nem de m�scara pra trabalhar. Isso era
<br>luxo. Inven��o dos funcion�rios do governo que n�o tinham o que
<br>fazer. Por causa da teimosia daquele filho da puta, ta� mestre T�bor
<br>inutilizado pro resto da vida.
<br>
<br>Toninho se encolhia junto ao balc�o, os homens de grandes p�s
<br>e grandes m�os movimentavam-se, ouvia aquelas conversas sem entender
<br>direito. Enfezado, que era filho de mestre T�bor, n�o sabia explicar.
<br>Quase nunca o pai falava com ele a respeito de seu trabalho. O
<br>m�ximo que perguntava era o que andava fazendo, se tinha ido �
<br>escola, se os livros e os cadernos estavam em ordem. Nos momentos
<br>de mais calma, mestre T�bor pedia a Enfezado que procurasse pensar
<br>no dia de amanh�. Se n�o for assim, filho, vai enfrentar a mesma
<br>dureza que eu. Me lembro do pai insistindo que estudasse, que fosse
<br>alguma coisa na vida, e eu quebrava caminho. Em vez de ir pra
<br>escola ia jogar bola no campinho. At� que n�o me arrependia disso.
<br>Mas, agora, com esse acidente, as coisas v�o ser diferente. O dinheiro
<br>da aposentadoria n�o vai dar pra nada e a gente acaba tendo pela
<br>frente um tempo de muita necessidade.
<br>
<br>Uma dessas conversas do pai o pr�prio Enfezado contou a Toninho.
<br>Estavam debaixo dos carrapateiros, esperando rolinhas com as
<br>atiradeiras. Cada rolinha morta iam colocando de lado e depois levavam
<br>para o barraco de mestre T�bor. Ele nunca estava em casa. Passou
<br>meses e meses indo cedinho no rumo da cidade e retornando �
<br>noite. Foi a �poca em que estava se tratando num ambulat�rio do
<br>INPS e se queixava de, �s vezes, ter de entrar na fila �s 4 da madrugada,
<br>a fim de conseguir ser atendido pelo m�dico �s 10, 11 da
<br>manh�. Quando tinha o que comer o velho preparava a marmita,
<br>descia as vielas segurando o saco pl�stico, como nos tempos em que
<br>enxergava bem e ainda escuro ia para a oficina de serralheiro.
<br>
<br>Os dois garotos punham a panela na trempe de pedras, mergulhavam
<br>as rolinhas na �gua quente, depenavam com paci�ncia e em
<br>silencio. Toninho gostava de fazer aquilo, embora as penas molhadas
<br>emitissem um cheiro enjoativo. Mas nunca se queixou, nem ouviu
<br>qualquer queixa de Enfezado. Terminada a depenagem Enfezado
<br>abria as rolinhas com a faca de cabo de madeira, tirava as tripas, o
<br>gato preto com a pinta branca na testa, por perto miando, inquieto.
<br>Freq�entemente alguma rolinha estava cheia de pequeninos ovos,
<br>Toninho sentia certa pena de ter acabado com aquela.
<br>
<br>� Ia p�r uma d�zia de ovos!
<br>Enfezado era mais objetivo, n�o demonstrava qualquer sentimentalismo.
<br>
<br>
<br>
<br>� Se for pensar nisso n�o se mata nenhuma, cara. Como � que
<br>se vai saber, quando t�o mariscando, qual � o que vai ter ovo ou n�o?
<br>Toninho achava gra�a do senso pr�tico do amigo, ia buscar um
<br>talo verde, raspava bem, Enfezado preparava o molho � base de vinagre,
<br>cuminho, lim�o e sal, dava um banho nas rolinhas depenadas,
<br>de cabe�as e p�s decepados, enfiava todas no talo, aproximava dos ti��es.
<br>Quando a carne estava chiando, o barraco enchia-se do cheiro
<br>morno e bom, que ati�ava ainda mais a dor de est�mago.
<br>
<br>Recordando essas coisas ocorridas h� tanto tempo, pelo menos h�
<br>uns seis anos, Toninho v� mestre T�bor tateando as t�buas, olhar
<br>vago de quem v� sem reconhecer.
<br>
<br>� Sou eu! 0 Toninho. Tou procurando Enfezado.
<br>Mestre T�bor retirou as t�buas que fechavam a porta, o barraco
<br>estava escuro e triste. Havia tamb�m um cheiro de mofo, pelo fato
<br>de n�o haver nenhuma janela aberta. Teve vontade de perguntar por
<br>que mestre T�bor andava assim, t�o no escuro quando, na verdade, a
<br>claridade do dia para ele j� n�o fazia diferen�a.
<br>
<br>� Pois � � disse Toninho � tou atr�s de Enfezado. Acho que
<br>tenho um bom neg�cio pra ele.
<br>Mestre T�bor sentou no banquinho min�sculo, ao lado da mesa
<br>tosca, sem toalha sem nada, s� com uma por��o de latas e colheres
<br>por cima. Voltou-se para Toninho com o mesmo olhar vago.
<br>
<br>� H� muito tempo n�o aparece. Um dia saiu dizendo que ia
<br>vender umas coisas pra ajudar na despesa, n�o voltou.
<br>� Ningu�m deu not�cia?
<br>� Pelo que saiba, n�o. Se seu Greg�rio na tendinha soube de
<br>alguma coisa, at� hoje n�o me disse.
<br>0 velho tateia com as m�os tr�mulas por cima da mesa, ap�s
<br>perguntar a Toninho se n�o queria um pouco de caf�.
<br>
<br>� Acho que Enfezado cansou de me aturar. Na verdade, virei
<br>um traste ruim. Tenho sa�de e n�o tenho. Sem poder ver direito
<br>preferia logo morrer. Pra que ficar assim, s� atrapalhando os outros?
<br>Toninho sente-se no dever de dizer alguma coisa que encoraje
<br>mestre T�bor.
<br>
<br>� 0 senhor fica bom. Depois de um tempo se recupera.
<br>Toninho levanta-se, ajuda a pegar a x�cara, o bule.
<br>� Quando se perde a vista, filho, nunca mais ela volta. E �
<br>a� que se v� que, sem ela, n�o h� prazer que nos anime. Tou procurando
<br>me acostumar a ser um cego, mas � dif�cil. Enfezado n�o
<br>compreendeu isso, talvez tenha se mandado. Vivo contrariado, resmungando.
<br>N�o sei se vou ter paci�ncia de esperar a morte mandada
<br>por Deus. � capaz que entregue os pontos antes. N�o sou t�o forte
<br>quanto imaginava. Acho at� que bem poucos s�o fortes. Sem poder
<br>ver � que se come�a a enxergar essas verdade.
<br>
<br>Toninho leva a x�cara � boca. 0 caf� est� frio e ele sente profunda
<br>tristeza de ali se encontrar diante daquele homem que conheceu
<br>t�o disposto e t�o alegre. Mestre T�bor era pau para toda obra.
<br>Quando ningu�m queria cuidar dos festejos de S�o Jo�o ele se oferecia.
<br>Fazia as bandeirolas de papel de seda com vov� Jandira e dona
<br>Julinha. Arranjava dinheiro, comprava uma por��o de foguet�es e
<br>durante dois, tr�s dias, a crian�ada do morro vivia momentos de alegria.
<br>Cada garoto podia soltar os foguetes que quisesse. Ele mesmo
<br>ensinava. A m�e ficava com medo, mestre T�bor argumentava: deixe
<br>
<br>o Toninho comigo. � por minha conta. Vai soltar at� roj�o e n�o
<br>queima um dedo. Mestre T�bor nasceu e vai morrer sabendo lidar
<br>com fogo.
<br>Toninho p�e a x�cara na mesa, encara o homem que se mant�m
<br>sem qualquer movimento.
<br>
<br>� E se aconteceu alguma coisa com Enfezado?
<br>� Deus cuida dele. No estado que tou n�o posso fazer nada.
<br>Se des�o por essas viela, j� n�o acerto subir. Mas n�o perdi a esperan�a.
<br>Tou certo que aparece. Mais cedo ou mais tarde.
<br>Toninho j� n�o ag�enta permanecer naquele barraco. Procura
<br>um l�pis, acha a caneta esferogr�fica quebrada, rabisca no papel para
<br>testar se ainda tem tinta. Escreve algumas palavras, mete num prego,
<br>na parede.
<br>
<br>� Se Enfezado aparecer, diga que me procure. Botei o endere�o
<br>no papel. � numa constru��o que t�o fazendo na Toneleros.
<br>T� tudo escrito.
<br>� Pode deixar. Vai gostar de te ver. Voc�s eram t�o amigos.
<br>Eu devia ter gostado mais das pessoas. Principalmente das que n�o
<br>conhecia.
<br>Toninho sai por entre as t�buas encascoradas de cimento, desce
<br>a viela, passa pela tendinha, esfor�ando-se para n�o ser visto por seu
<br>Greg�rio, j� est� bastante escuro, alguns barracos t�m l�mpadas acesas,
<br>dois ou tr�s caras ao redor das mesas de sinuca.
<br>
<br>Quando chega de volta �s ruas de Copacabana, � como se tivesse
<br>emergido de espessas �guas; de uma lagoa cheia de lodo, com liames
<br>de plantas aqu�ticas envolvendo-o, querendo-o reter no fundo. O
<br>ar parece mais leve, a figura de vov� Jandira move-se na dist�ncia de
<br>s�culos, mas as palavras de mestre T�bor o acompanham.
<br>
<br>� Eu devia ter gostado mais dos outros. Principalmente dos
<br>que deixei de conhecer.
<br>Instintivamente Toninho teme ficar cego, imagina at� comprar
<br>col�rio para cuidar dos olhos. Atravessa a primeira rua de movimento
<br>intenso, corre na frente dos carros de far�is acesos, esquece as palavras
<br>de mestre T�bor, os gestos de vov� Jandira, o comportamento
<br>estranho e especulativo de seu Greg�rio, a pertin�cia de dona Julinha.
<br>N�o queria mais recordar aquele mundo, talvez nunca mais voltasse
<br>
<br>
<br>ao barraco. Se os tais malandros aparecessem, que � que podia fazer?
<br>Lamentaria apenas que m�o estranhas mexessem nos objetos que o
<br>pai e a m�e adquiriram com tanto carinho. Senta na lanchonete, pede
<br>hamb�rguer, p�e bastante mostarda, morde com vontade, como fazia
<br>com as rolinhas assadas no espeto verde. A mostarda escorre-lhe pelos
<br>cantos da boca ele se limpa com guardanapo e mais guardanapo de
<br>papel, sorve grandes goles de coca-cola gelada, pede outro hamb�rguer,
<br>a m�o vermelha do gar�om torna a aparecer junto ao seu rosto,
<br>prossegue o ritual da mastiga��o. De tudo que aconteceu naquele
<br>tumultuado dia, preocupava-o saber que Colher de Pau entrara numa
<br>pior e Enfezado sumira. Se o amigo n�o aparecesse, terminaria encontrando
<br>seu pr�prio caminho. O que n�o podia mais era continuar
<br>dependendo de Marlene. Gigol� de bicha, como ela pr�pria dizia nos
<br>momentos de f�ria. Te dou do bom e do melhor. Na hora de ir pra
<br>cama, pagar o que deve, vem com fricotes. N�o tolero essas coisas.
<br>Ou te entrega como quero, como � de direito, ou arranjo outro.
<br>
<br>N�o ag�entava mais semelhantes exig�ncias, nem o h�lito quente
<br>de Marlene no seu rosto, no pesco�o, na barriga, a l�ngua percorrendo-
<br>lhe os caminhos da virilha. Ah, como tinha nojo daquela bicha
<br>idiota, que um belo dia gostaria de liquidar, torcer o pesco�o, para
<br>que nunca mais pronunciasse sequer o seu nome.
<br>
<br>Sai da lanchonete vestindo o casaco porque come�ava a esfriar,
<br>as ruas mais pr�ximas ao mar cobriam-se de n�voa fria. Ao endireitar
<br>o casaco sente no bolso esquerdo o retrato do pai. Como estava
<br>amarelado. Mesmo assim daria boa reprodu��o. Tinha certeza. E
<br>era at� poss�vel conseguir coragem para ir � reda��o de um jornal,
<br>caso Enfezado se demorasse. Mas estava quase certo de que viria.
<br>Principalmente depois do bilhete. Mestre T�bor se encarregaria de
<br>explicar o resto. Toninho teve aqui. T� um mo�o. Ficou um temp�o
<br>esperando. Quer falar contigo!
<br>
<br>Empurrou o port�o da obra, Man� Cabreiro apareceu, focando a
<br>lanterna.
<br>
<br>� Sou eu, bicho.
<br>0 vigia apagou a lanterna.
<br>� O pessoal t� dormindo.
<br>Toninho subiu as escadas com degraus ainda nas f�rmas de madeira,
<br>chegou ao sal�o onde pelo menos seis pe�es ocupavam os colch�es
<br>estendidos no ch�o. Inclusive o seu. O que comprou. Teve
<br>um momento de revolta mas entendeu que era assim mesmo. Quantas
<br>vezes tamb�m ficou com colch�o de outro e n�o houve bronca? Melhor
<br>engolir aquela, sem chiar. Na primeira oportunidade, t�o logo
<br>levantasse a cabe�a, se mandaria. Iria para um quarto, com cama
<br>macia e len�ol, talvez at� um pequeno apartamento. 0 que n�o podia
<br>sequer imaginar era o convite de Marlene: morar definitivamente com
<br>ela, num apartamento no Lido. Sabe que n�o ag�entaria, terminaria
<br>
<br>
<br>enchendo a bicha de porrada. O m�ximo que tolerava era encontr�la
<br>uma vez ou duas por semana. E at� gostava que dividisse o aluguel
<br>com a garota do strip-tease, pois dessa forma encurtava sua perman�ncia
<br>por l�. Com o dinheiro no bolso, passava dias e dias sem
<br>aparecer. �s cinco da madrugada se mandava. Se resolvia comer na
<br>lanchonete onde Marlene trabalhava, fazia tudo para desviar o assunto.
<br>Cedia quando o dinheiro acabava. A bicha lhe dava bilhetinhos
<br>que vinham juntos com os pratos. Se n�o aparecesse na noite que
<br>marcava ou, no m�ximo, na noite seguinte, a bronca terminava sendo
<br>firme. Beirando o histerismo.
<br>
<br>Casaco no ombro, Toninho sob mais um lance de escada, no
<br>sombrio pr�dio em constru��o, andaimes se entrecruzando, m�quinas
<br>pesadas adormecidas no p�tio, t�buas e vigas se alongando, muita ponta
<br>de ferro aparecendo para fora do cimento, f�rmas de madeira se
<br>complicando em desenhos confusos, que s� os arquitetos entendiam.
<br>Subiu o lance de escada, avan�ou pelo corredor ainda sem os ladrilhos,
<br>sem nada, chegou ao pequeno quarto, onde havia sacos de cimento,
<br>esquadrias, sacos de cal, algumas ferramentas. Abriu folhas de
<br>jornais velhos, forrou por baixo com sacos vazios. Tirou a camisa, a
<br>cal�a, ficou s� de shorts. Na cabeceira colocou dois tijolos, cobriu-os
<br>com papel grosso, transformou-os em travesseiro. Estendeu-se nessa
<br>cama improvisada, acendeu um cigarro, ficou pensando nos dias que
<br>viriam e, mais precisamente, na apari��o de Enfezado. Conversariam,
<br>como sempre tinham feito, tentariam encontrar um meio de ganhar
<br>dinheiro. Era at� poss�vel que, no plano que formulassem, Marlene
<br>fosse de alguma utilidade. E, l� do fundo da mem�ria, come�a a sentir
<br>uma id�ia que se forma, ainda confusa e desaparece. N�o consegue
<br>determinar direito o que seja. Tira algumas tragadas do cigarro
<br>naquele quarto, onde os ventos frios da noite penetravam e novamente
<br>o prop�sito de incluir Marlene no projeto se aclarando. Agora,
<br>tinha mais ou menos certeza do que seria: um golpe na lanchonete.
<br>Ser� que a bicha ia topar? Estaria disposta, mediante o oferecimento
<br>que faria ou Marlene n�o se deixava seduzir por dinheiro? Era o que
<br>teria de verificar. Mas, al�m disso tudo, desses pensamentos em torno
<br>de Marlene, Toninho sente que uma coisa importante estava faltando
<br>no plano: uma arma. Teria de ser um rev�lver, e dos bons. Como
<br>aquele que vira, fazia tanto tempo, nas m�os de Banda Branca. Que
<br>beleza de m�quina! Niquelada, boa de pegar, meio pesada, maneira.
<br>Banda Branca advertia: era sua arma de estima��o. Com ela na m�o
<br>malandro foge de mim pior do que Satan�s da cruz. E n�o tem grilo:
<br>� s� apertar o dedo, o fregu�s pula pro outro mundo. Uma arma daquela
<br>� que seria boa! Se Enfezado aparecesse, mandaria localizar Banda
<br>Branca. N�o precisava subir o morro. Ele estava sempre pela Pra�a
<br>Mau� ou Pra�a XV, procurando alcag�etar os pintas que transam
<br>com entorpecentes.
<br>
<br>
<br>O cigarro come�a a queimar, Toninho sopra a fuma�a que n�o
<br>v�. o pensamento torna-se claro, provavelmente o melhor e mais pr�tico
<br>que tivera at� ali. E se conseguisse dinheiro com Marlene para
<br>comprar a arma? Ser� que a bicha toparia? Valeria a pena falar com
<br>ela? Sabe muito bem o quanto deveria cercar-se de cuidados. A partir
<br>do momento em que comprasse um rev�lver, poderia ser incriminado
<br>de uma s�rie de coisas, inclusive pela pr�pria bicha. Na primeira
<br>briga, primeira diverg�ncia, aquela puta velha podia invocar
<br>inverdades, sair dizendo besteira, obrigando-o a liquid�-la. E se acontecesse
<br>o contr�rio? Detestava Marlene mas sabia que era necess�ria.
<br>Se estava vivo, cal�ado e vestido, devia a ela. No momento em que
<br>se aporrinhava e punha tudo isso pra fora, n�o deixava de estar com
<br>a raz�o. Quando percebia Toninho sem disposi��o na cama, argumentava:
<br>de amanh� em diante vou dar mais dinheiro pra que coma num
<br>bom restaurante. Quero meu benzinho tesudo pra enfrentar sua dondoca.
<br>Nada de pau mole, pra me encher de raiva. Sempre como no
<br>primeiro dia. Te lembra a doidice que foi? E te lembra tamb�m
<br>como correspondi? N�o sou qualquer uma que foge da raia. Sem me
<br>gabar, te afirmo que passo muita mulher pra tr�s. � s� querer.
<br>Marlene tem sete f�legos e armas secretas. Toninho apenas sorria,
<br>como sorri agora, lembrando de tanta maluquice que j� enfrentara,
<br>tudo para manter-se vivo, pois se fosse encarar o trabalho na base
<br>daqueles pe�es que ali estavam dormindo no casar�o, estaria perdido.
<br>Os homens passavam o dia todo forcejando como bois de carga, �
<br>noite mal tinham condi��o de engolir um pouco de feij�o com arroz
<br>e j� estavam abrindo a boca de sono. Se lembra do dia de folga do
<br>Man� Cabreiro. Foram ao cinema. Nos cinco primeiros minutos de
<br>bangue-bangue o homem j� tava dormindo e, o que � pior, roncando,
<br>incomodando os que sentaram por perto. Em outra noite em que Marlene
<br>brigou com Toninho, resolveu aventurar-se com um desses pe�es.
<br>0 cara atirou-se todo afoito em cima dela. A bicha resistiu, fez ele cansar.
<br>A� quando Marlene estava tinindo, cheia de manhas, o pe�o
<br>come�ou a dormir. Marlene ficou t�o puta da vida que se p�s a berrar
<br>e expulsou o cara do apartamento, ap�s receber algumas porradas.
<br>N�o ag�entava ver aquele traste todo mole, enquanto ela se
<br>gastava no maior fogo do mundo. Por causa disso chorou suas m�goas
<br>a Toninho, beijou-o da cabe�a aos p�s, jurou n�o tra�-lo outra
<br>vez.
<br>
<br>� Pode n�o ser o melhor de todos, mas sabe me aturar; tem
<br>tutano. Conheci poucos da tua ra�a.
<br>Toninho acreditava que Marlene toparia. Se fosse o caso. dormiria
<br>a semana inteira com ela. Levantaria �s 5, antes que a tal
<br>vedete chegasse, mas valeria a pena. No final, teria a m�quina tinindo,
<br>igual � de Banda Branca. Se Enfezado tivesse id�ia melhor, a�
<br>talvez nem precisasse se submeter a Marlene. Era isso. Aguardaria
<br>
<br>
<br>que Enfezado aparecesse. No m�ximo iria pela lanchonete onde a bicha
<br>trabalhava, daria um al�, para n�o pensar que havia sumido. Se
<br>viesse com seus bilhetinhos, diria estar doente. Ganharia tempo, at�
<br>Enfezado aparecer. Avisaria Man� Cabreiro, avisaria os outros pe�es.
<br>Ele � um crioulo, assim, assim, mais ou menos 17 anos. Tem cara
<br>feia mas � boa gente. Amigo legal t� ali. N�o foge da raia. nem com
<br>sol, nem com chuva. N�o adianta fazer tempo ruim que Enfezado
<br>n�o se assusta. O pr�prio pai n�o sabia por que o filho se tornara
<br>assim. Dona Julinha uma vez comentou com vov� Jandira: deve ser
<br>por falta da m�e. Amor de m�e n�o se substitui. Dizia dona Julinha
<br>com aquele seu ar sofredor. Na verdade, por melhor que seja o pai
<br>
<br>� e olha que mestre T�bor � um bom homem � o menino t� sendo
<br>criado por a�, ao deus-dar�. Tenho medo do que possa acontecer. Outro
<br>dia, a senhora nem queira saber. Eu disse assim: olha, aqui. Enfezado,
<br>me faz um favor. Dona Julinha mostra cara de espanto, os
<br>olhos tornam-se grandes e redondos no rosto p�lido e magro.
<br>� Sabe o que respondeu?
<br>Vov� Jandira mant�m-se na expectativa. Dona Julinha falou baixo,
<br>como se contasse um segredo. Quando contou, os olhos de vov�
<br>Jandira tamb�m se arregalaram.
<br>Toninho puxa mais uma tragada, tem vontade de rir do que teria
<br>dito Enfezado. No m�ximo tenta imaginar o que foi. Enfezado
<br>era desbocado. E n�o respeitava cara de ningu�m. Gostava de Enfezado
<br>por isso. Com ele n�o tinha folga. Depois que fez quinze anos
<br>
<br>e mestre T�bor j� nem sabia direito por onde andava, o pr�prio Banda
<br>Branca passou a respeit�-lo. Entregava quase todo mundo que fazia
<br>ponto na tendinha, menos Enfezado. Isso por que um dia o garoto
<br>chegou pra Banda Branca, tocou-lhe forte no ombro, deu o despacho:
<br>olha aqui, rato de esgoto; se tua l�ngua tornar a embolar meu nome,
<br>arranco ela pra fora, dou pra cachorro comer. V� bem o castigo que
<br>tou te reservando. N�o bota os tiras em cima de mim que tu te
<br>fode f�cil e o morro inteiro vai ficar rindo quando ver tua boca
<br>cheia de formiga. Por isso, acho bom debandar; tua presen�a t� fedendo
<br>mal. A� Enfezado come�ou a farejar o ar e perguntou a seu Greg�rio:
<br>o senhor n�o t� sentindo um fedor de rato podre? � o Banda
<br>Branca. J� morreu e n�o sabe.
<br>
<br>Nesse tempo o alcag�ete manipulava a m�quina de muito valor
<br>mas n�o se atreveu. Tamb�m, por perto de Enfezado estavam eu e
<br>
<br>o Colher de Pau.
<br>Toninho tira mais uma tragada do cigarro, naquela paz da noite,
<br>conclui que foi por causa daquela discuss�o que Colher de Pau entrou
<br>em desgra�a. Vai ver, Banda Branca jamais esqueceu. E na primeira
<br>oportunidade se vingou. Pegou primeiro Colher de Pau. Entregou,
<br>de m�os e p�s juntos. Deveria estar tratando do futuro de
<br>Enfezado. Teria dado conta do recado ou estaria s� na trama? Ti
<br>
<br>
<br>
<br>nha muito o que falar com Enfezado. Deveria, inclusive, adverti-lo
<br>para semelhante perigo. Agora, arrepende-se de n�o ter deixado um
<br>bilhete tamb�m na tendinha de seu Greg�rio. Mas estava certo de
<br>que ia receber o que pendurara na parede do barraco. Mestre T�bor
<br>n�o era de falhar. Gostava do filho, ficou satisfeito em v�-lo. Poxa,
<br>Toninho, como voc� cresceu. Tou sabendo porque sua voz mudou.
<br>T� falando grosso feito homem. Com que tamanho t�?
<br>
<br>Toninho sentiu certa afli��o diante do serralheiro de rosto enrugado,
<br>do seu drama de n�o poder ver.
<br>
<br>� Da sua altura e com uns 65 quilos.
<br>Mestre T�bor mostra os dentes brancos num riso inconseq�ente.
<br>Toninho sentiu que uma das poucas alegrias que tivera, nos �ltimos
<br>tempos, foi saber que havia crescido e pesava uns 65 quilos.
<br>
<br>� Daqui pra frente � s� cuidar da vida, filho. N�o deixe que
<br>lhe aconte�a o que aconteceu comigo. Trate de ser um homem. Estude,
<br>n�o se torne um oper�rio. Oper�rio neste pa�s � sin�nimo de
<br>cachorro.
<br>� Mestre T�bor t� tendo quem v� buscar sua pens�o?
<br>� Eu mesmo me arrasto at� l�. �s vezes a menina de dona
<br>Julinha me ajuda. Outro dia seu Greg�rio explicou que podia fazer
<br>uma procura��o. A� eu fiz e dei pro Banda Branca. Parece que recebeu
<br>o dinheiro e se mandou. Deu luta pra tirar a procura��o da
<br>m�o dele. Foi preciso Enfezado ter um pega com ele. Meu filho tem
<br>dessas vantagem. Enquanto ele tiver vivo, ningu�m me faz de trouxa,
<br>mais do que j� fez. Trabalhei tanto, fiz tanta esquadria, dobrei tanto
<br>ferro, armei tanta f�rma pra concreto, tanto edif�cio subiu � minha
<br>custa e de outros. Hoje, se t� encalhado por aqui. Os outros, do meu
<br>tempo, n�o t�o diferente. De vez em quando, nos dias que ainda
<br>enxergava, encontrava com eles na fila do INPS. Cada um mais lascado
<br>que outro. Mas n�o ou�a essas queixas de um velho que n�o
<br>se conforma com o mundo. Trate apenas de n�o ser oper�rio. Veja
<br>se chega a doutor. De qualquer coisa. A� a vida ser� diferente. O
<br>que n�o falta � pobre pra gingar dia e noite, enquanto os doutores
<br>se divertem. N�o digo que v� ser um desses, mas quem sabe, pode
<br>at� se lembrar da gente quando tiver l� em cima. Por algum tempo
<br>pensei em fazer de Enfezado um doutor. Foi quando a m�e dele
<br>morreu. Agora n�o tem futuro. Por isso, temo pelo pior!
<br>� Que pior?
<br>� O descaminho. De quando em vez tem umas turras com o
<br>tal do Banda Branca e sei bem que aquele tipo � ordin�rio. T� armando
<br>uma cama pra Enfezado. Na primeira oportunidade manda
<br>botar a m�o nele.
<br>� Acha que Colher de Pau sumiu por causa do Banda Branca?
<br>� N�o se pode dizer. Nunca se sabe. Ainda mais eu que n�o
<br>vejo e ainda n�o aprendi a ouvir direito. Na cegueira a gente vive
<br>
<br>muitos momentos de afli��o. De come�o, at� o ouvido parece que
<br>falha tamb�m. Depois, com o costume da escurid�o, as coisas v�o se
<br>acalmando por dentro. Mas at� que chegue esse ponto a gente fica
<br>ego�sta. Por isso, n�o entendi direito o que aconteceu com Colher de
<br>Pau. Cansei de ouvir Enfezado falando do caso, mas confesso que
<br>tava mais preocupado comigo mesmo. Foi uma falha. No momento
<br>em que um garoto sumia do morro, de t�o perto da gente, eu ocupado
<br>comigo, um traste que j� n�o presta nem pra morrer.
<br>
<br>Naquela madrugada de pr�dio cheirando a cal e cimento, �rbitas
<br>de janelas abertas na noite, tijolo e ferro, Toninho pensa na situa��o
<br>de mestre T�bor, na sua franqueza, nas verdades que dizia. E juntava
<br>as palavras do velho serralheiro a todos os sonhos daqueles pe�es
<br>que estavam dispersos por aquele imenso edif�cio, dormindo o sono
<br>de uma ilus�o: reunir algum dinheiro, � custa de tremendas priva��es,
<br>comprar o barraco pr�prio, mandar buscar a fam�lia, come�ar tudo
<br>que j� fizera mestre T�bor, o pr�prio pai, o pai de Colher de Pau,
<br>
<br>o de Banz� e de tantos outros. Toninho reflete ainda um pouco sobre
<br>as palavras de mestre T�bor, tem vontade de dizer-lhe que n�o chegaria
<br>a doutor. Seria dar o passo maior do que a perna. Mas de uma
<br>coisa o velho oper�rio poderia estar certo: ia ter dinheiro. E bastante.
<br>Custasse o que custasse. S� vale neste mundo sem-vergonha quem tem
<br>dinheiro. A cambada se divide em duas partes: os que podem e os
<br>que n�o podem; os que gastam e os que abrem as m�os, esperando as
<br>migalhas. Toninho n�o seria um mendigo, como estava certo n�o
<br>aconteceria com Enfezado. N�o sabe por que, na tranq�ilidade daquele
<br>casar�o, de noite avermelhada se estendendo, de algumas estrelas
<br>silenciosas e distantes, come�ou a sentir-se odiento e a gostar de
<br>tornar-se odiado. Nada de casinhos como aquele com a cretina da Marlene.
<br>Nada de arruma��es mi�das, de chafurda��es do estilo Banda
<br>Branca. Iria pegar a m�quina de alcance, arrancar o dinheiro onde
<br>fosse mais f�cil. S� se o pai aparecesse, talvez desse o projeto por encerrado.
<br>Afinal ele tinha um velho plano. Quantas vezes se imaginou
<br>numa ampla faixa de terra, jogando sementes nas covas abertas com
<br>as pontas dos p�s; quantas vezes sentiu-se debaixo dos arbustos, comendo
<br>com o pai a carne refogada com arroz. Mesmo que a planta��o
<br>n�o desse tanto resultado, quando nada estaria com o pai. E tudo
<br>poderia ser como antes: quando ele aumentava a luz do candeeiro,
<br>contra a vontade da m�e, e come�ava a riscar num papel os dados relativos
<br>� colheita do guando e da jurubeba. No ano em que mandou
<br>puxar a instala��o el�trica, a� os projetos se estendiam at� tarde. A
<br>m�e, mesmo temerosa com a conta da luz, acompanhava o marido.
<br>Toninho dormia na mesa, cansado dos sonhos que iam se transformar
<br>em realidade!
<br>
<br>Cap�tulo II
<br>
<br>UM
<br>
<br>Levanta quando ouve os primeiros movimentos no pr�dio e a
<br>claridade no c�modo � consider�vel, a ponto de ver os sacos de cimento
<br>empilhados, os carrinhos de m�o uns dentro dos outros, os engradados
<br>de mosaicos, as pilhas de dobradi�as, os pacotes de pregos e
<br>parafusos. Mete-se nas roupas, amarra os cord�es dos sapatos, desce
<br>rapidamente as escadas com o casaco nas costas, passa por Man� Cabreiro,
<br>entrega-lhe a nota de cinq�enta, o homem mostra os dentes
<br>amarelos num riso sem significado, Toninho lembra que estava pagando
<br>a noite atrasada e mais outra pela frente, Man� pede um cigarro,
<br>o garoto sai pelo port�o j� escancarado, esperando os caminh�es
<br>com os materiais, atravessa a rua pouco movimentada, caminha tranq�ilamente
<br>pela cal�ada larga, coberta de folhas de amendoeira, as
<br>brisas da manh� que se inicia tocando-lhe o rosto de leve. Tem vontade
<br>de ir diretamente � lanchonete, falar com Marlene, sabe que �
<br>cedo. Por isso senta no banquinho estreito, em frente ao balc�o redondo,
<br>pede m�dia e p�o na manteiga, o homem grita para outro que
<br>est� por tr�s de uma parede, manda sair um franc�s com manteiga,
<br>enquanto movimenta r�pido as medidas niqueladas com leite e caf�.
<br>Toninho se apressa em colocar a��car, o homem p�e mais leite do
<br>que caf�, reclama, gostaria que fosse exatamente o contr�rio, o tipo
<br>concorda, mas de m� vontade. Outros fregueses v�o tomando lugar, o
<br>cara sempre gritando, sai um franc�s na manteiga. S� quando algu�m
<br>pedia um misto quente ele parecia modificar-se, pois o ritual era
<br>outro. A� mexia a ma�aneta de uma pequena m�quina, apertava um
<br>bot�o, dizia com certa cerim�nia: a energia t� fraca mas sai j�. E o
<br>cliente ficava tirando sujeira das unhas com palito, enquanto o misto
<br>quente aparecia num prato enfeitado, dois guardanapos do lado. Tamb�m
<br>a x�cara de caf� era diferente: mais fina, mais cara. Toninho
<br>sentia essa diferen�a, n�o dava bola. N�o estava interessado em qualidade,
<br>em requintes. Queria ter condi��o de pedir dois, tr�s fran
<br>
<br>
<br>
<br>ceses na manteiga, a fim de s� voltar a comer no final da tarde, quando
<br>ent�o j� teria conseguido falar com Marlene. Mas. nesta manh�
<br>clara e aparentemente tranq�ila, de mulheres e velhotes passeando
<br>cachorrinhos pelas cal�adas, eis que resolve pedir um copo com �gua
<br>mineral, ao terminar de tomar o caf� e comer tr�s p�es. O tipo p�e
<br>
<br>o copo, despeja a �gua com pressa, o balc�o fica molhado, uns respingos
<br>atingem Toninho. Olha o tipo com raiva, n�o diz nada quando
<br>lhe pede uma vaga desculpa. D� a c�dula de cinq�enta para as despesas,
<br>o troco retorna em notas amassadas. � o momento de vingar-se.
<br>Confere as notas, devagar, n�o deixa sequer um cruzeiro de gorjeta.
<br>0 careta tamb�m n�o reclama. Ambos trocam olhares de �dio. Toninho
<br>meio sorridente, considerando-o um escroto de marca maior, o
<br>balconista chamando-o de filho da puta sem abrir a boca.
<br>Tem vontade de ir para a praia, onde geralmente ficava estendido
<br>na areia, esperando o tempo passar, mas n�o vai. 0 neg�cio era
<br>caminhar at� a rua Santa Clara, bisbilhotar na casa de ferragens,
<br>transar com o vendedor. Quem poderia vender um rev�lver? Se n�o
<br>conseguisse nada, logo que tivesse um entendimento com Marlene tomaria
<br>um �nibus, rumaria para a cidade. Na Buenos Aires, Alf�ndega
<br>ou rua da Carioca encontraria. Se fosse de todo imposs�vel, levaria
<br>um papo com Banda Branca. Afinal, por que n�o dar corda a
<br>ele? Por que n�o deixar que o comparasse a Colher de Pau? Continua
<br>a andar e a imaginar a recep��o do alcag�ete. N�o tinha a menor
<br>id�ia de como fazer para adquirir a arma na loja. Dificilmente algum
<br>vendedor iria atend�-lo. Faria perguntas, exigiria documentos. Que
<br>documentos? N�o tinha porra nenhuma. Mas, para se entender com
<br>Banda Branca era preciso ouvir o al� de Enfezado. N�o dava murro
<br>em faca de ponta. Se procurasse o alcag�ete. queria estar com muita
<br>coisa passada a limpo. 0 melhor seria dar umas voltas, falar com
<br>Marlene, ficar na paquera de Enfezado. N�o sairia da constru��o, at�
<br>aparecer. Sentaria no meio-fio, perto do camel�, com seu tabuleiro
<br>de cintos, bolsas, abridores de latas, penduricalhos dourados. A hora
<br>que Enfezado chegasse estaria bem chegado.
<br>
<br>Atravessa mais uma rua: e se Enfezado n�o aparecesse nos pr�ximos
<br>dias? Subiria outra vez o morro? Procuraria Banda Branca como
<br>quem n�o quer nada, como quem n�o sabe de nada? Toninho
<br>pensa bastante nessa possibilidade. Estava certo de que o alcag�ete
<br>n�o o odiava. E j� fazia tanto tempo que n�o se viam, que era capaz
<br>de n�o mais o reconhecer. Talvez fosse o caso de dar uma volta pelos
<br>pontos de Banda Branca, chegar quando menos esperasse. Quem sabe
<br>n�o falaria de Colher de Pau, Banz� e do pr�prio Enfezado? Quem
<br>sabe n�o contaria uma hist�ria muito melhor do que estava imaginando?
<br>Necess�rio ter um pouco mais de dinheiro. Convidaria o alcag�ete
<br>para uma rodada de chope, tomariam o primeiro, o segundo,
<br>no terceiro o malandro entenderia que estava por cima, n�o era um
<br>
<br>
<br>p�-de-chinelo. Merecia respeito, tinha condi��o de estabelecer um
<br>trato. A� � s� a� � falaria na tal arma. E ofereceria uma grana
<br>firme para depois ir baixando, at� Banda Branca n�o ter mais o que
<br>reduzir. Se perguntasse pra que desejava um rev�lver? Ora? Pra que
<br>se quer uma arma, sen�o pra acertar no primeiro que se meter a
<br>besta? Quanto a isso n�o tinha o que mentir. Ando pra cima e pra
<br>baixo, tou nuns trabalhos de cobran�a, vez por outra uns p�s duros
<br>se metem a engra�adinhos. Inventaria j� ter levado uma carreira.
<br>Salvei o pagamento dos oper�rios na marra. 0 alcag�ete ia acreditar.
<br>De mais a mais, a arma que lhe vendesse n�o tinha endere�o. Seria
<br>dessas que a pol�cia toma dos ot�rios que andam pelos puteiros, dando
<br>uma de mach�o. A pol�cia segura, o cara nunca mais v�. Banda
<br>Branca sabia bem como se fazia essa coisa. Mas o �nico problema era
<br>
<br>o pr�prio alcag�ete. Amanh� ou depois, numa manobra qualquer ele
<br>destrava a l�ngua, estava encalacrado. Um detalhe que n�o podia esquecer.
<br>Talvez, por isso mesmo, fosse melhor esperar Enfezado. Quem
<br>sabe n�o encontrariam caminho mais seguro de obter a m�quina, sem
<br>que um mau-car�ter como Banda Branca soubesse?
<br>Cansou de estar sentado no meio-fio, cansou de ouvir a lengalenga
<br>do camel�, foi at� o port�o, onde Man� Cabreiro ainda continuava
<br>de servi�o. Quando sa�sse, Rox�o ficava no lugar. Pode deixar
<br>que ele d� o recado. Rox�o, se um cara aparecer procurando Toninho,
<br>manda esperar. Toninho recomendando que explicasse como era
<br>Enfezado. Man� Cabreiro argumentando: j� sei de sobra! Rox�o bota
<br>sentido.
<br>
<br>Foi o tempo que Toninho achou ser boa hora de falar com Marlene.
<br>Entrou na lanchonete, sentou-se no banco mais recuado, a
<br>bicha apareceu toda dengosa, trouxe sandu�che e coca-cola, p�s-se a
<br>comer. A bicha ia e voltava at� o balc�o, ele entendendo que disfar�ava,
<br>a fim de n�o ser notada pelo portugu�s careca, atr�s da
<br>caixa. Encostou-se, escorregou o bilhete na mesa: "te espero hoje �
<br>noite". Sorriu quando Toninho tamb�m sorriu e amassou o bilhete.
<br>Mordeu firme o sandu�che, tomou metade do copo de coca-cola, Marlene
<br>soltou a nota que estava querendo: quinhentas pratas. Curvou-
<br>se, no momento em que ajeitava a toalha, disse baixinho e r�pido:
<br>
<br>� Te quero banhado e disposto!
<br>Afastou-se para atender outros fregueses, parou diante do homem
<br>suado e falador, pasta sobre a cadeira, Toninho dobrou rapidamente
<br>a nota, meteu-a no bolso, terminou o sandu�che, caiu fora. Marlene
<br>estava atarefada mas n�o deixou de olh�-lo. � noite se encontrariam.
<br>Tinha certeza. Toninho n�o era de falhar. Por isso, bem ou mal,
<br>vinham transando todo aquele tempo. Com os outros tipos havia sempre
<br>problemas. N�o podia confiar. Com o garoto, pelo menos, ainda
<br>n�o tinha do que suspeitar.
<br>
<br>
<br>� Arranjei uma menininha que deu em cima dele o tempo todo.
<br>S� vendo! Toninho? Nem te ligo.
<br>Marlene s� fala essas coisas com Josaf�, o cozinheiro, que se p�e
<br>a rir. 0 portugu�s da caixa acompanha a movimenta��o nervosa da
<br>bicha. N�o gosta daquilo, mas � obrigado a tolerar. Ela atrai fregueses
<br>novos, conserva os antigos. H� ocasi�es em que as outras mesas
<br>est�o vazias, os gar�ons chamando, mas os fregueses preferem ser
<br>atendidos por Marlene. Isso a mantinha no emprego, embora o portugu�s
<br>calvo ache que n�o passa de uma sem-vergonha.
<br>
<br>A partir do momento em que Toninho se mandou, Marlene foi
<br>como que tomada de intensa crise de contentamento. Passou a sorrir,
<br>a movimentar-se mais rapidamente, a fazer os pedidos dos pratos em
<br>voz alta, a ajeitar as toalhas, colocar os guardanapos e at� a conseguir
<br>uma rosa e oferecer � mulher loura, acompanhada do homem
<br>barbudo, de grossas costeletas. A mulher quase n�o agradeceu a gentileza,
<br>o homem sorriu. Na verdade Marlene queria encurtar aquele
<br>dia, torn�-lo noite. Seu maior desejo: chegar a hora de livrar-se do
<br>uniforme rid�culo, meter-se na sua roupa branca, caminhar at� o
<br>apartamento, demorar-se sob o chuveiro, colocar perfumes e talcos,
<br>ligar o ar-refrigerado, esperar Toninho. Estaria sobre a cama, apenas
<br>um suave len�ol, a temperatura amena. N�o sabe se deixaria Toninho
<br>tomar banho, se o exigiria como viesse: suado e fedorento nos sovacos.
<br>Talvez fosse at� bom n�o banhar-se antes. Passado o instante da
<br>empolga��o deveria perfumar-se. N�o tolerava homem porco. E para
<br>que n�o tivesse nenhuma desculpa, revelaria o segredo por �ltimo: se
<br>pode dormir at� �s 8 de amanh�. Sandra vai encontrar um cliente,
<br>depois do show. Um velhote que lhe solta a grana. Uma vez por m�s
<br>enfrenta esse drama. Pelo que me diz, vale o sacrif�cio.
<br>
<br>Marlene imagina que Toninho acharia gra�a de Sandra com o
<br>velhote, mas n�o sabe se gostaria que dispusessem de tanto tempo. Era
<br>a oportunidade que teria para tirar a prova. Queria de fato saber se
<br>Toninho a amava. Se a suportava pelo dinheiro, se sentia prazer em
<br>estar com ela.
<br>
<br>Marlene � solicitada pelos fregueses da mesa junto � parede, est�
<br>nervosa s� de imaginar tanta coisa que tinha a dizer a Toninho e
<br>outras que deveria apenas observar. Mesmo assim n�o esquece o sorriso
<br>cort�s, n�o dispensa as boas maneiras. 0 mo�o coloca a m�o no
<br>seu ombro, vai aos poucos fazendo o pedido. Os que est�o com ele
<br>t�m d�vida quanto ao risoto de frango e a salada mista. Marlene anota
<br>no pequeno bloco, depois encaminha-se � cozinha. Fala com Josaf�,
<br>que era o �nico naquela lanchonete a quem podia fazer confid�ncias.
<br>Conta-lhe da m�o do homem forte no seu ombro e o arrepio que sentiu.
<br>Josaf� ri enquanto atende ao pedido escrito na pequena folha de
<br>bloco. Marlene espera e exclama com impaci�ncia: nunca tive um
<br>dia t�o longo na minha vida!
<br>
<br>
<br>Toninho caminha pela cal�ada onde h� muita gente se movimentando,
<br>o casaco de couro nas costas, corre na frente dos carros
<br>quando o sinal j� est� aberto e ele insiste em passar, chega � constru��o,
<br>tem de esperar o caminh�o que manobra para entrar de r�,
<br>um homem todo sujo com a bandeira vermelha fazendo sinal, autom�veis
<br>buzinando furiosamente. O motorista do caminh�o parece nem
<br>perceber a buzinaria, avan�a para frente e volta de r�, torna a avan�ar,
<br>gira rapidamente o volante, e finalmente o grande ve�culo entra
<br>no canteiro da obra.
<br>
<br>Toninho se aproxima de Rox�o, o homem diz alguma coisa, como
<br>se n�o estivesse muito a par de como era o cara.
<br>
<br>� Man� Cabreiro n�o disse?
<br>O homem � forte, ar abestado. Procura lembrar.
<br>� Teve sim. Crioulo magro, da tua altura, ar de atrevido. Esse
<br>mesmo. Disse que tu ia rondar por a�, mas voltava em meia hora.
<br>A informa��o deixava Toninho satisfeito. Foi para junto do camel�
<br>com seu grande tabuleiro de bugingangas, de barraca de praia
<br>aberta, sentou no meio-fio. Tirou bem devagar a c�dula de quinhentos
<br>do bolso, olhou-a, como quem contempla um cart�o-postal, tornou
<br>a guardar. Era poss�vel que aquilo fosse o princ�pio. Ia depender de
<br>Enfezado. Cada pessoa que passava pelo port�o da obra Toninho estava
<br>de olho. Em dado momento, Enfezado. Quis gritar, atravessar a
<br>rua com o sinal aberto, viu o quanto Enfezado ficara diferente: magro,
<br>alto, n�o t�o disposto como antes.
<br>
<br>Assoviou forte, o sinal fechou, ele passou correndo. Bateram-se
<br>mutuamente no ombro. Enfezado movimentando s� o bra�o esquerdo.
<br>
<br>� Que houve, cara? Quanto tempo?
<br>Tornaram a sentar no meio-fio. Toninho com o casaco de couro.
<br>Enfezado com a cal�a desbotada, esfiapando, a camisinha descolorida
<br>de tanta lavagem.
<br>
<br>� Baixei ontem l� pelo morro, n�o te encontrei. Tive com seu
<br>Greg�rio, com vov� Jandira. Onde te meteu?
<br>� Ajudando um feirante na Gl�ria. N�o tiro quase nada. Mas,
<br>pra quem ficou como fiquei, n�o � mal. H� semana de pegar at�
<br>cem pratas.
<br>� E o que houve?
<br>Enfezado brinca com o cord�o de um dos sapatos.
<br>� Seu Greg�rio n�o disse? Quando grampearam Colher de Pau
<br>me levaram de quebra. Quase uma semana depois. N�o tava nem a�,
<br>pois n�o devia coisa nenhuma. Mas o Banda Branca resolveu se vingar.
<br>A� o Colher contou uma por��o de coisa. Um dos caras que ele
<br>entregou Banda Branca meteu na cabe�a do delegado que era eu. Os
<br>tiras baixaram l� no barraco. A sorte � que foi numa hora que o pai
<br>ainda n�o tinha chegado. Me botaram num chiqueiro da Invernada,
<br>iam acabar comigo. Vi a morte de perto, irm�ozinho. Depois de uns
<br>
<br>meses, pra surpresa minha, tava melhorando. Mas esse bra�o nunca
<br>mais. Fiquei aleijado. O pai n�o sabe.
<br>
<br>Vov� Jandira n�o disse nada, nem seu Greg�rio. Ando meio
<br>desconfiado com seu Greg�rio. No fundo ele transa com Banda Branca
<br>e com alguns caras do Esquadr�o. Na frente da gente desfaz do alcag�ete,
<br>mas tenho minhas d�vidas. N�o acredito mais em seu Greg�rio.
<br>Umas coisas que contei pra ele do Banda, depois descobri que
<br>
<br>o alcag�ete sabia de tudo certinho como tinha dito. Se meu bra�o
<br>melhorasse, ia dar um jeito naquele comerciante cretino. Cada dia
<br>que passa o sacana vai amoitando mais dinheiro que toma de tudo que
<br>� favelado. Uma vez baixei firme na tendinha dele. Havia aumentado
<br>uma porrada de parcelas nos fiados do velho. Disse que foi engano.
<br>No m�s seguinte tornei a conferir o caderno, tava tudo errado novamente,
<br>sempre a favor de seu Greg�rio.
<br>� 0 que foi que os caras da Invernada fizeram?
<br>� Puxa! N�o d� pra lembrar. De tanto cacete que levei, desmaiei
<br>umas cinco vezes. Depois n�o vi mais Colher de Pau e os caras
<br>continuaram me batendo. Um deles pegou meu bra�o e torceu.
<br>Eu gritava e pedia que me soltassem. 0 bra�o quebrou na altura do
<br>ombro. Rebolei no ch�o. Quando pude levantar, pensei comigo. V�o
<br>me mandar pra enfermaria. Mas, nada. Me meteram numa solit�ria.
<br>Fiquei mofando uns 15 dias. 0 bra�o inchou, passei um temp�o sem
<br>vontade de comer, s� tomando �gua. Me arrastaram pra uma cela que
<br>tinha 12 presos, sendo cinco tuberculosos. A boca-do-boi passava tr�s
<br>quatro dias pra ser limpa e o fedor s� faltava matar a gente. Mesmo
<br>assim o incha�o diminuiu, ficou desse jeito. Pra ficar bom tenho de
<br>baixar num hospital, tornar a quebrar no mesmo lugar e engessar.
<br>Mas cad� dinheiro?
<br>� Tive com teu velho. Ele disse?
<br>Toninho n�o espera que o companheiro responda. Tem muita
<br>coisa a contar, a discutir.
<br>
<br>� Fiquei impressionado com as coisas que ouvi de mestre T�bor.
<br>Parece que n�o t� enxergando nada. Mesmo assim n�o perdeu a
<br>preocupa��o com os outros. Quando disse que tava quase da altura
<br>dele e pesava uns 65 quilos, ficou contente. Isso, n�o sei por que,
<br>tamb�m me fez bem. Me senti outro, ouvindo o teu velho. Acho que
<br>ele diz as coisas como s�o. N�o faz rebuscado, nem quer que a gente
<br>fale, enquanto fica s� ouvindo. Quem gosta disso � seu Greg�rio.
<br>Quando passei pela tendinha me contou as hist�rias do morro. Disse
<br>que meu velho n�o se mandou, como afirmam. Acha que foi fechado
<br>por a�. Em algum buraco que ainda n�o descobri.
<br>� Vai querer levantar isso?
<br>� Entre outras coisas, cara. Tenho uma grana mas ainda n�o
<br>� suficiente. Quando tiver bastante vou procurar o pai. A gente tinha
<br>um projeto. Se ele aparecer, tudo pode mudar. Talvez v� com ele pro
<br>
<br>interior. Tu vem tamb�m. Se procura um peda�o de terra, curte juru beba
<br>e guando. Te lembra?
<br>
<br>� Teu velho n�o � diferente do meu. S�o de outro tempo. N�o
<br>aprenderam nada do que t�o ensinando por a�. Ainda pensam em
<br>consertar as coisas. Depois que sa� da Invernada s� tenho uma id�ia,
<br>cara: acabar com os que me aleijaram. E vou conseguir. Um deles
<br>j� t� no papo.
<br>Dizendo isso Enfezado afasta a camisa, tira do bolso o canivete
<br>de muitas l�minas. P�e-se a abrir.
<br>
<br>� Olha s�: serve pra destampar garrafa, limpar unha, fazer
<br>ponta de l�pis, cortar o pesco�o de um filho da puta.
<br>� Quem � o cara?
<br>� Sargento Beto. Um branco gordo e seboso. Fala manso, gosta
<br>de passar como amigo dos presos. Por tr�s, manda baixar o cacete.
<br>Sem d� nem pena!
<br>� Se entrar em outra fria?
<br>Enfezado faz um riso nervoso.
<br>� Dessa vez n�o! J� sei tudo que acontece na casa dele. At�
<br>o dia em que o cara do supermercado leva as compras. Sargento Beto
<br>t� sempre na Invernada. Adora aquilo ali. Se diverte mais do que
<br>vendo televis�o.
<br>� Como pensa fazer?
<br>� Por enquanto n�o quero nada com o sargento. Vou entrar
<br>na casa, sangrar a mulherzinha dele com esta l�mina maior. Olha s�!
<br>Enfezado aperta um bot�o no cabo do canivete, uma l�mina de
<br>dez cent�metros salta para fora, com forte estalo.
<br>
<br>� Puxa! N�o tinha visto um canivete assim!
<br>� Custou dois meses de trabalho e uma por��o de coisas por
<br>baixo do balc�o. N�o sei como n�o me estrepei com o dono da barraca.
<br>Agora � meu e vai prestar servi�o. Quero s� ver quando o tal
<br>sargento chegar e encontrar a mulherzinha de cara rasgada, bucho
<br>rasgado, as tripas de fora.
<br>� Quer ajuda?
<br>� N�o complica tua vida. 0 pai disse que t� indo bem. Pode
<br>virar gente. Eu, aleijado de um bra�o e sem um puto no bolso, tou
<br>cagando pro que der e vier. Quero ver se junto uma grana pra pegar
<br>os documentos, mas t� dif�cil. O sacana do barraqueiro n�o assina carteira.
<br>0 fiscal baixa por l�, leva um calaboca, fica tudo por isso
<br>mesmo.
<br>Toninho continua a ouvir Enfezado. N�o � mais o mesmo que
<br>conhecera. S� se parece quando insiste em n�o permitir que ningu�m
<br>
<br>o humilhe.
<br>� Posso te ajudar, cara. Vou na casa do tal sargento no dia
<br>que marcar.
<br>� T� fechado. Logo que encontre a brecha dou o al�.
<br>
<br>� Daqui pra frente se vai t� sempre falando. Tou planejando
<br>botar a m�o numa bolada, quero contar contigo.
<br>� Com esse bra�o?
<br>� Tu n�o encara o lance, fica na retranca!
<br>� A� n�o tem gra�a. Se entra numa fria, como � que fica?
<br>� Nada disso. Nenhum de n�s vai se ferrar. � um plano que
<br>s� d� certo. N�o tem bronca.
<br>� Qual � o plano?
<br>� Abotoar uns caretas de t�xi, tomar a grana deles. Outro dia
<br>tive reparando: tem motorista recolhendo mais de mil por dia. Se se
<br>pega quinhentos que seja cada noite, j� d� pra refrescar.
<br>� E quando os tiras derem em cima?
<br>� Se entra de f�rias.
<br>� Meu papel nisso tudo?
<br>� Fica cuidando da grana. Tu abre uma conta no banco.
<br>� Se teu velho aparecer?
<br>� A�, � como j� disse: me mando com ele. Se tem como comprar
<br>o peda�o de terra.
<br>Durante instantes ambos permanecem calados. Sem olhar para
<br>Toninho, Enfezado indaga:
<br>
<br>� Acha que vai dar as cara?
<br>Toninho nunca imaginara responder a semelhante indaga��o.
<br>� Acho que n�o. Mas tou com um retrato dele pra publicar
<br>no
<br>jornal.
<br>Enfezado encara o amigo, os olhos s�o frios, maus.
<br>
<br>� N�o � melhor arroxar, Banda Branca pra ver o que sabe?
<br>Depois que tive na Invernada, passei a entender: nada acontece no
<br>morro que Banda Branca n�o teja metido no meio. Te lembra da
<br>Beatriz, filha de dona Zizinha?
<br>� A boazuda?
<br>� Essa mesmo. Foi tirar documentos, nunca mais voltou. Dona
<br>Zizinha ficou que nem maluca. Na Invernada eu soube o que aconteceu.
<br>Banda Branca tinha tudo apalavrado. Dois tiras pegaram a
<br>garota, levaram pra Barra. Meteram ela num hotel, ficaram um dia
<br>inteiro comendo de grande. Quando cansaram, j� era puta e tinha
<br>um amante arranjado pelos caras. Em troca Banda Branca liberou
<br>um traficante de t�xicos condenado a 25 anos. Por fora ainda levou
<br>uma grana do tal traficante. Todo mundo sabia disso por l�. N�o era
<br>segredo nenhum. Havia at� um bunda-mole juntando dinheiro pra
<br>comer Beatriz quando sa�sse da cadeia. Os tiras mostravam fotografias
<br>dela sendo trepada de todo jeito, diziam que qualquer um podia
<br>comer, desde que oferecesse vantagens em troca.
<br>� Que � que sugere?
<br>� Que se marque um encontro com Banda Branca. Acha que
<br>sou ot�rio, n�o sei da armadilha que me preparou. Dou uma de ino
<br>
<br>cente, arrasto ele pro local da tua escolha. A� se arroxa o sem-vergonha!
<br>
<br>
<br>� � uma boa!
<br>� Mas antes tem de conseguir um berro. 0 malandro n�o anda
<br>desamparado e a m�quina que usa � de primeira.
<br>� O diabo � que tou por fora.
<br>� Se descola uns trezentos, amanh� te trago um berro. Pode
<br>n�o ser do bem bom, mas funciona.
<br>� E depois que se encerrar Banda Branca?
<br>� A� se parte pra tua transa. Motorista dando sopa � que n�o
<br>falta. Acho uma boa. Ficar ganhando a merda dos cem por semana
<br>n�o cola. 0 careta da barraca sabe que s� tou l� passando chuva.
<br>Muitas vezes nem apare�o em casa, com vergonha de encarar o velho.
<br>Se acabando num barraco imundo e eu sem poder fazer nada por ele.
<br>Toninho p�e o bra�o no ombro de Enfezado:
<br>
<br>� Deixa comigo! A grana vai jorrar. Se vai ter condi��o pra
<br>uma por��o
<br>de coisa, at� pra dar jeito nesse bra�o.
<br>Enfezado sorri, sabe que o amigo est� querendo ser bondoso.
<br>
<br>� Mesmo aleijado vou fazer surpresa pro sargento. Com ele
<br>t� tudo tra�ado.
<br>� Quando vai ser?
<br>� Se topa, mesmo, quinta de manh� a gente se encontra na
<br>Pra�a S�enz Pena. A casinha fica perto. � velha, tem uns vasos de
<br>plantas na janela. �s dez em ponto pinto por l�. Pra decis�o. Se fica
<br>na paquera at� o cara do supermercado aparecer.
<br>� Vai descarregar em cima dele?
<br>� Sargento Beto � quem vai descobrir. Meu papel � entrar naquela
<br>casa, mostrar � mulherzinha que sou uma das v�timas do seu
<br>marido, assim como ela vai ser uma das minhas v�timas. Gomo no
<br>nosso tempo, t� lembrado: olho por olho, dente por dente!
<br>Toninho compreende a agonia de Enfezado.
<br>
<br>� E se tiver outras pessoas, al�m da mulher?
<br>� Claro que tem. Um velhote, uma irm� do sargento. Indo
<br>comigo n�o vai haver problema. Esse pessoal fica trancado num quarto,
<br>enquanto fa�o o servi�o.
<br>Enfezado torna a ajeitar os cord�es dos sapatos.
<br>
<br>� S� tenho pena que a filha do sargento, deste tamanho assim,
<br>tenha ido pra casa da av�. Depois pego ela tamb�m.
<br>� A garotinha.
<br>� Isso mesmo. 0 servi�o tem de ser completo. Mesmo assim
<br>ainda n�o paga o que o sargento Beto j� fez na Invernada. Precisava
<br>dar um mergulho por l� pra ver como �. S� pra te refrescar, o
<br>que fizeram com Colher de Pau n�o se faz com um porco.
<br>� Como foi?
<br>
<br>� Tavam querendo que se abrisse e entregasse uma por��o de
<br>gente. Colher j� havia dito o que era poss�vel. N�o sabia mais nome
<br>de ningu�m. A� o sargento Beto deu a id�ia. Na sala toda fechada
<br>tava eu, Colher, Estilo e um outro careta que n�o recordo. 0 sargento
<br>mandou abrir a boca de Colher de Pau, puxou a l�ngua dele pra
<br>fora, um tira meteu a ponta do punhal em cima. 0 sargento sorriu,
<br>deu um murro no cabo do punhal, Colher ficou com a l�ngua colada
<br>na mesa. 0 sargento se afastou com os outros, dizendo: deixa ele
<br>a�, pensando; quando se lembrar dos coleguinhas se vem ouvir ele
<br>cantar. 0 chato � se at� l� a cantiga j� n�o nos interessar.
<br>� E o Colher?
<br>� Arrastaram da sala, debaixo de pau, n�o sei o que aconteceu.
<br>Coisa boa te garanto que n�o foi.
<br>� Sargento Beto parece ter cabelo na venta.
<br>� Da pesada. Sabe o que faz � comenta Enfezado mostrando
<br>os dentes num riso nervoso.
<br>DOIS
<br>
<br>Os dois levantam, p�em-se a caminhar. Toninho compra cigarros,
<br>oferece a Enfezado. Pede um isqueiro, a fim de trocar a c�dula,
<br>
<br>o homem entrega-lhe o troco, sem ao menos encar�-lo. Toninho confere
<br>as notas, passa trezentos a Enfezado. Depois, mais cinq�enta.
<br>� Segura, cara. Deixa de ser besta!
<br>Continuam a caminhada.
<br>� Hoje de noite pego o berro. Vai ver como � bom.
<br>Seguem pela rua movimentada, at� o ponto de �nibus.
<br>� Com a m�quina na m�o se peita o Banda Branca � diz
<br>Enfezado.
<br>� Se trouxer amanh�, vai facilitar a visita na casa do sargento.
<br>Chega um �nibus, uma por��o de gente corre, n�o serve para
<br>Enfezado.
<br>
<br>� Quando se sair da casa do sargento, a� se vai na reda��o do
<br>jornal, pedir pra publicar a fotografia do teu velho. Se ele aparecer,
<br>acho que tamb�m me mando!
<br>� Quem sabe se d� sorte s� com o guando e a jurubeba?
<br>Enfezado torna a sorrir.
<br>� J� imaginou a gente nos paus, ouvindo grilo cantar e jararaca
<br>chocalhando pra engolir sapo?
<br>Outro �nibus se aproxima, Enfezado mete-se no meio das pessoas
<br>que se empurram, o �nibus arranca com f�ria, Toninho continua
<br>
<br>
<br>pelo cal�ad�o, casaco no ombro. Calcula o dinheiro que sobrou, sabe
<br>ser bem pouco mas daria at� � noite, quando se encontraria com
<br>Marlene. Necess�rio que a fizesse recordar os bons tempos. Depois
<br>explicaria a urg�ncia de ter mais uns cobres. Iniciara um neg�cio, os
<br>quinhentos da manh� foram investidos. T�o logo o empreendimento
<br>estivesse rendendo, receberia dividendos. Marlene n�o acreditaria,
<br>teria de inventar uma longa hist�ria. Mas a �nica pessoa que podia
<br>saber do plano era Enfezado. Nele confiava. Nele tinha seguran�a.
<br>Nem que o pendurassem no pau-de-arara jamais entregaria um companheiro.
<br>Marlene era amizade passageira. T�o logo conseguisse outra
<br>maneira de obter dinheiro, trataria de evit�-la. Mandaria Man� Cabreiro
<br>dizer que tinha se mandado, sem deixar endere�o. Se escafedeu,
<br>afirmaria Rox�o. A bicha cansaria de procurar. Se pensou que ia
<br>passar a vida inteira aturando sua histeria, tava muito enganada.
<br>
<br>Toninho p�ra diante da loja, olha a vitrine de cal�as e camisas
<br>elegantes, vai em frente, o movimento nas ruas aumentou, as l�mpadas
<br>come�am a acender, os autom�veis trafegam com faroletes ligados.
<br>Imagina sentar-se um pouco na pra�a, onde havia o barzinho
<br>com a puxada de lona branca e vermelha, mesinhas de ferro, o tipo
<br>que vendia bilhetes de loteria transando por perto. Sentaria por l�,
<br>pediria um chope, depois mais outro, se tivessem cerveja era prefer�vel
<br>por ser mais em conta e levar mais tempo para acabar.
<br>
<br>Entra no barzinho, pendura o casaco na cadeira, senta na outra,
<br>
<br>o gar�om de cal�a preta e camisa branca se aproxima, pede cerveja.
<br>O homem vai para os fundos do bar, retorna com a cerveja e um
<br>copo, na bandeja niquelada. P�e na mesa, sem dizer coisa alguma.
<br>O barzinho estava vazio �quela hora. Al�m dele, os �nicos clientes
<br>eram um casal de namorados e duas velhotas que bebericavam chope
<br>e falavam em voz baixa.
<br>Colocou a cerveja com cuidado no copo, a fim de evitar espuma,
<br>p�s-se a pensar na companheira de Marlene. Ora, por que, at�
<br>ali, nem ao menos procurou saber quem era? Por que n�o indagou
<br>de Marlene, ao acaso, em que boate a amiguinha trabalhava? Quem
<br>sabe n�o seria uma mulher de fazer inveja? Tomou os primeiros
<br>goles de cerveja, a curiosidade aumentando. Toninho sabendo que
<br>deveria tratar do caso com cuidado, Marlene toda cheia de problemas,
<br>tinha ci�me de tudo, era capaz de ficar ouri�ada. O melhor
<br>seria chegar ao apartamento um pouco mais cedo. Quem sabe, antes
<br>da vedete sair para a boate? Entendeu mal a hora do encontro com
<br>Marlene, antecipou-se. Se a mulher estivesse por l�, daria essa desculpa.
<br>E se por acaso houvesse briga entre a vedete e Marlene? Prossegue
<br>tomando a cerveja, tem vontade de rir. 0 que teria a ver com
<br>a possibilidade de uma briga? Afinal, a bicha dividia o aluguel, n�o
<br>era segredo que tinha um amiguinho. Esse amiguinho marcou um
<br>encontro, confundiu a hora. N�o via nada de anormal. Pelo contr�
<br>
<br>
<br>
<br>rio, talvez fosse uma solu��o. A bicha ia ficar cheia de ci�mes, sem
<br>saber o que na verdade aconteceu at� que aparecesse, podia se aproveitar
<br>disso, pedir mais dinheiro. Se n�o tivesse, que se virasse, pedisse
<br>um adiantamento no trabalho. Mas estava certo de que Marlene
<br>sempre guardava uma reserva. Ganhava bastante gorjeta, n�o gastava
<br>quase, a n�o ser com as pinturas, talcos, an�is, as roupas ex�ticas.
<br>Fora disso era aquele apartamento de merda, meio a meio com
<br>a vedete. 0 �nico bem, um refrigerador de ar, metido na parede. A
<br>bicha pagava presta��es e por causa dele se responsabilizava sozinha
<br>pela conta da luz. Mas nem sempre o refrigerador funcionava. Fora
<br>instalado para os momentos especiais, como a pr�pria Marlene costumava
<br>dizer. E naquela noite quente, tinha certeza, o refrigerador
<br>estaria funcionando.
<br>
<br>No terceiro copo de cerveja Toninho est� tentado chegar pelo
<br>menos uma hora antes no apartamento. Meteria a chave na porta,
<br>entraria, como de costume. Se a mulher reclamasse? A desculpa estaria
<br>na ponta da l�ngua. D� essa atitude como definitiva e oportuna,
<br>acompanha o velhote de terno esfarrapado que tenta se aproximar das
<br>mulheres, do casal de namorados. 0 gar�om empurra o velho com
<br>for�a, mas fazendo crer n�o o estar molestando. As mulheres e o
<br>casal de namorados olham, indiferentes. Todavia, do �ngulo de Toninho,
<br>d� para ver as garras do homem de cal�a preta apertando ao
<br>m�ximo o bra�o do mendigo. O velhote pede que n�o o machuque,
<br>
<br>o gar�om faz um riso nervoso, dizendo n�o tou machucando vov�,
<br>apenas quero que fique mais pra l�, pois aqui n�o se pode pedir
<br>esmola, o patr�o n�o quer. Dizendo essas coisas, sempre com ar de
<br>riso, o gar�om vai arrastando o velhote que est� quase chorando. Quando
<br>o mendigo � solto na cal�ada fica como que aturdido, sem dire��o
<br>a tomar. Toninho tem vontade de cham�-lo, oferecer-lhe um sandu�che.
<br>Fica na d�vida, o velhote vai se afastando, em meio � cidade
<br>tumultuada, de l�mpadas se acendendo, carros cruzando velozmente,
<br>grupos de pessoas correndo por cima das faixas pintadas de branco no
<br>asfalto negro. Torna a olhar o homem que nunca vira, considerando-
<br>o perdido naquele torvelinho da noite que se instalava. Lembra-se
<br>de Enfezado, da promessa de irem � reda��o do jornal. Botaria a
<br>foto no notici�rio policial, ficaria esperando o resultado. Ser� que o
<br>pai perdeu a mem�ria, ficou abestado pelas ruas como o velhote enxotado
<br>por um merda de gar�om?
<br>Com o retrato no jornal talvez tivesse uma resposta para aquela
<br>d�vida. Nos momentos mais estranhos recordava-se da noite em
<br>que o pai se vestira �s pressas, saiu dizendo toma conta da tua m�e,
<br>vou chamar o m�dico no Posto, volto j�. A m�e gemia alto, contorcia-
<br>se na cama estreita, vov� Jandira chegou, foi preparar ch� de
<br>erva-cidreira. Trouxe o ch� numa tigela ele teve de erguer a cabe�a
<br>da m�e. A� percebeu que estava fria, o suor escorria-lhe da testa. No
<br>
<br>
<br>3 9
<br>
<br>
<br>tou tamb�m a preocupa��o de vov� Jandira e, sem que nada lhe fosse
<br>dito, sabia que o pai n�o encontraria a m�e com vida. Para que o ch�
<br>n�o derramasse, subiu na cama, apoiou a cabe�a da m�e sobre as pernas.
<br>Mas n�o conseguiu tomar o ch�. N�o tinha for�as. Vov� Jandira
<br>murmurava palavras impercept�veis, os olhos de Toninho se encheram
<br>de l�grimas, algumas delas escorrendo pelo rosto da m�e que
<br>j� estava morta.
<br>
<br>� Descansa em paz, filha de Deus!
<br>Toninho saiu da cama, vov� Jandira fechou os olhos de dona
<br>Mundiquinha, p�s-se a procurar uma vela no arm�rio, veio com ela
<br>acesa para o quarto. A vela estava num pires branco, o pires colocado
<br>aos p�s de Iemanj�. Toninho ficou um temp�o em sil�ncio, olhando
<br>a m�e que parecia adormecida. Quando o pai chegasse com o
<br>m�dico, falaria do esfor�o de vov� Jandira.
<br>
<br>Agora, naquele barzinho pouco freq�entado, com um gar�om
<br>ordin�rio que disfar�ava ao tentar quebrar o bra�o do mendigo, lembrava
<br>bem das coisas. A m�e doente. Muito doente. At� quando ria
<br>n�o conseguia dissimular a tristeza. E mais triste ficava nas horas
<br>em que lhe dava conselhos.
<br>
<br>� Se n�o estuda, filho, vai ter vida dura. Como teu pai.
<br>Toninho falava no projeto do guando e da jurubeba, a m�e fazia
<br>um risinho amarelo, como se jamais tivesse acreditado naquele
<br>sonho.
<br>
<br>� Mesmo que se v� pra planta��o, a recompensa � nenhuma.
<br>Todo mundo que t� pelo campo quer vir pra cidade. Teu pai sabe disso.
<br>A vida por l� � pior. Muito pior!
<br>Como a m�e sabia daquelas coisas se n�o lia jornal, n�o ouvia
<br>r�dio?
<br>
<br>Isso se tornou ainda mais contradit�rio, depois que abriu o ba�,
<br>encontrou os cadernos com a letrinha mi�da que tinha; letras tra�adas
<br>sem pressa. Coisa de quem reflete bastante, antes de se lan�ar a
<br>cada nova palavra. Leu tanta anota��o da m�e que teve vontade de
<br>morrer. Ou nunca mais voltar ao barraco. De onde tirava tanta compreens�o
<br>para perdoar o dono da tendinha que suspendera a conta dos
<br>fiados, de onde conseguia coragem para ajudar os flagelados, que h�
<br>tr�s dias n�o sabiam o que era cheiro de comida? E por que n�o se
<br>alegrou na noite em que o pai jogou uma por��o de dinheiro na
<br>mesa, disse que ia poder pagar o safado do seu Greg�rio?
<br>
<br>N�o compreendia a m�e. N�o sabia nunca se estava alegre ou
<br>triste. Estendida na cama, a vela junto a Iemanj�, vov� Jandira ajoelhada,
<br>tirando ora��o, tudo que tinha vontade era de abra��-la. Queixar-
<br>se das malcria��es que fizera, abra�ar-se ao pai que estava demorando.
<br>Sem a m�e, quem ia cuidar das coisas? Como o pai podia ir
<br>embora, cedinho, levando a marmita? Quem faria os remendos nas
<br>
<br>
<br>roupas, quem ajudaria nos planos? Deixou-se vencer pelo choro e s�
<br>
<br>parou quando estava cansado, terrivelmente cansado.
<br>
<br>Pede outra cerveja, o homem abre a garrafa, displicentemente,
<br>
<br>como se n�o tolerasse o fregu�s morrinha, de pequena e calculada
<br>
<br>despesa. Que o gar�om de riso nervoso se lixasse! Que se aproveitasse
<br>
<br>dos mendigos e dos imbecis. Dele n�o. O pai nunca mais voltou, ficou
<br>
<br>uma semana esperando, os vizinhos carregando a m�e no caix�o pobre,
<br>
<br>algumas flores tiradas dos quintais, o galego do t�xi reclamando da
<br>
<br>ladeira, mestre T�bor mandando o homem calar que pagaria a via
<br>
<br>
<br>gem dobrado, o portugu�s esfregando o len�o sujo na cara e na careca,
<br>
<br>camisa colada no corpo. Mestre T�bor n�o queria Toninho no enter
<br>
<br>
<br>ro, vov� Jandira aconselhou o contr�rio.
<br>
<br>� Certo, vov�! O menino vai.
<br>Vov� Jandira, com os olhos rasos d'�gua, n�o pareceu sequer ouvir
<br>a explica��o do serralheiro.
<br>Toninho vira o copo de cerveja com vontade, sente o l�quido
<br>gelado descendo pela garganta, um gosto de l�grima.
<br>Entrou no Pacard preto, quatro pessoas no banco de tr�s, duas ao
<br>lado do motorista. Mestre T�bor na frente, ouvindo as reclama��es do
<br>portugu�s. Cada vez que o Pacard entrava numa viela e estalava todo,
<br>como se fosse largar as rodas, ele resmungava. Vagarosamente, alguns
<br>metros adiante, o carro com o caix�o. No cemit�rio Toninho ficou
<br>olhando para tr�s. De um momento para o outro o pai aparecia, �h,,
<br>se ele surgisse! Tinha certeza de que ia chorar muito.
<br>
<br>� Vamos l�, filho � disse mestre T�bor.
<br>Foi andando, margaridas nas m�os, tr�s ou quatro rosas do pr�prio
<br>quintal de vov� Jandira. Seguia o pequeno grupo, como se estivesse
<br>sendo empurrado. Chegaram ao lugar baixo, de covas rasas. 0
<br>capim crescia e por todo lado havia pedras e peda�os de tijolos, de
<br>velhas sepulturas que o tempo desfizera. N�o viu o caix�o descendo
<br>na cova mas sente ainda hoje a m�o pesada de mestre T�bor no seu
<br>ombro.
<br>
<br>� Joga as flores e faz um pedido. 0 �ltimo.
<br>Os que estavam por perto, esperando que falasse. Se esfor�ou,
<br>n�o conseguiu. Como � que ia falar daquele jeito e, pior ainda, o
<br>que � que devia pedir?
<br>
<br>� Vamos, filho!
<br>Lan�ou as flores, os homens come�aram a empurrar a terra com
<br>p�s e enxadas. Naquele bar, cercado de ru�dos, ouve o rumor cavo dos
<br>torr�es batendo no caix�o de t�buas baratas, enfeites ordin�rios. Olha
<br>para tr�s, de um momento pro outro o pai vai aparecer. A�. lhe contar�
<br>tudo como aconteceu. E mais que isso: o que tem ocorrido desde
<br>ent�o. Falaria de seu Greg�rio que agora parecia outro. Ser� que
<br>seu Greg�rio achava de fato o pai um bom cara ou dizia aquelas coisas
<br>pra agradar? 0 gar�om traz a nota, Toninho confere. O homem
<br>
<br>41
<br>
<br>
<br>tira a carteira do bolso, coloca o troco na mesa. Toninho recolhe tudo,
<br>debochadamente, enfia no bolso, vai embora rompendo fios da noite,
<br>pisando lembran�as.
<br>
<br>TR�S
<br>
<br>Pelo rel�gio da panificadora, no mesmo quarteir�o do edif�cio de
<br>Marlene e da sua coleguinha, j� passava bastante das 7. Novamente
<br>Toninho teve vontade de encontrar-se com a mulher que nunca vira,
<br>que jamais lhe despertara curiosidade at� ali. Abriria a porta, como
<br>se n�o soubesse de nada, ou tocaria a campainha? Imagina a solu��o
<br>para esse m�nimo problema, caminha na cal�ada larga, atravancada
<br>de autom�veis, de canteiros com plantas murchas, galhos quebrados,
<br>folhas arrancadas, porteiros fardados conversando fiado, controlando
<br>quem entrava e sa�a, pra depois dedarem na pol�cia. Gente cretina
<br>aquela ra�a de porteiros. Quase todos alcag�etes. Se lembra bem das
<br>queixas de Marlene e, tamb�m, dos avisos.
<br>
<br>� Quando subir, tem cuidado com seu Manuel. Transa com os
<br>tiras.
<br>Toninho sabe que a bicha tinha raz�o. Cansara de ver o grandalh�o
<br>fiscalizando-o com o rabo do olho. Por isso, no mais das vezes
<br>subia o primeiro pavimento, ficava esperando o elevador. Quando se
<br>esquecia dessa provid�ncia, o porteiro aproveitava.
<br>
<br>� Por favor � diz seu Manuel � essa carta � pra voc�?
<br>Toninho l� o sobrescrito. Um nome que n�o tinha nada a ver.
<br>� N�o. N�o � pra mim!
<br>� Qual �, mesmo, seu andar?
<br>Toninho percebe a jogada. Ent�o era aquilo. 0 tipo ordin�rio
<br>queria saber onde se metia, cada vez que ficava esperando o elevador.
<br>Num segundo, muitas vontades: mentir, dizer que n�o morava ali,
<br>conseguir logo o rev�lver e acabar com aquele alcag�ete sem-vergonha.
<br>
<br>� Tenho um amigo no 9.� N�o se chama Everaldo.
<br>Seu Manuel recebe a carta de volta, torna a guard�-la, entre
<br>tantas que havia na mesa, faz ar de riso, como se dissesse: best�ide!
<br>Mas naquela noite em que examinou o rel�gio da panificadora
<br>n�o viu seu Manuel, o pr�dio estava em calma, o elevador parado no
<br>t�rreo. Tanta coincid�ncia o levaria � vedete? Quem sabe chegaria
<br>no momento em que estivesse se aprontando? Tomando banho ou simplesmente
<br>dormindo?
<br>
<br>Aperta o bot�o, o elevador come�a a subir. Em cada pavimento
<br>um cheiro diferente. Sai do elevador, segue pelo corredor estreito e
<br>longo, raras l�mpadas acesas. As outras haviam queimado, ningu�m
<br>
<br>
<br>procurou mud�-las. N�o tem muita certeza mas, pelo que se recorda,
<br>desde quando encontrou pela primeira vez com Marlene, j� aquelas
<br>l�mpadas estavam assim. Naturalmente seu Manuel recebia dinheiro
<br>do condom�nio para manter as l�mpadas em ordem mas desviava.
<br>Ah, se morasse naquele pr�dio, se pagasse as taxas que todo propriet�rio
<br>exige, aquele porteiro de merda ia comer um dobrado. N�o lhe
<br>daria sossego. Rodou a chave na fechadura, examinou a porta por
<br>baixo: tudo escuro. Imaginou n�o haver ningu�m. A porta abriu-se
<br>suavemente, a escurid�o era completa. Acenderia a luz ou se aproximaria
<br>da cama? E se a mulher se apavorasse, come�asse a berrar, a
<br>fazer esc�ndalo, pensando tratar-se de assalto? Seu Manuel viria, faria
<br>novamente aquele ar de riso debochado, discaria para a pol�cia. Desde
<br>a tal carta com o nome trocado, aguardava uma oportunidade para
<br>castig�-lo.
<br>
<br>N�o pretende imiscuir-se como um intruso. Deseja que as coisas
<br>aconte�am, normalmente. Acenderia a luz, a mulher se ergueria,
<br>indagaria o que estava fazendo ali.
<br>
<br>� Sou amigo de Marlene. Cad� ela?
<br>A vedete daria uma resposta ou n�o diria nada, se voltaria, continuaria
<br>a dormir. Apagaria a luz, ficaria na poltrona despencada,
<br>depois iria para a cama. Sempre devagar, como quem n�o quer. A�,
<br>era poss�vel que a garota o aceitasse.
<br>
<br>Acende a luz, n�o acontece nada. A mulher continuava debaixo
<br>do len�ol, o ar-refrigerado ligado. E logo ela que estava sempre reclamando
<br>do gasto de energia. Espera um pouco, chega perto da cama,
<br>pega na ponta do len�ol, v� a cabe�a de Marlene. Tem vontade de
<br>apagar a luz, retirar-se, s� aparecer na hora marcada. Mas alguma
<br>coisa de errada aconteceu com a bicha para estar t�o cedo em casa.
<br>A decep��o � vaga, desfaz-se. Num outro dia, numa outra oportunidade,
<br>teria mais sorte. Passaria a visitar mais freq�entemente Marlene,
<br>at� topar com a vedete. Abre a geladeira, praticamente vazia,
<br>toma coca-cola, bate a porta com for�a. A bicha mexe-se, ergue-se, faz
<br>careta para a luz que � forte.
<br>
<br>� Que houve, bonit�o? A saudade apertou?
<br>Toninho sorri, a bicha estende os bra�os.
<br>� Vem c�! Vem!
<br>Senta na beira da cama.
<br>� Que houve?
<br>A bicha recosta-se nos travesseiros.
<br>� Aquele gerente chato t� me torrando o saco. N�o ag�ento
<br>mais as picuinhas daquela peste. Engrossou por causa de uma besteira,
<br>eu disse tchau, vim embora. Amanh�, se achar que n�o procedi
<br>direito, � s� dizer.
<br>A bicha sorri, p�e os bra�os nos ombros de Toninho, alisa-lhe os
<br>cabelos.
<br>
<br>
<br>� Nossa! Como o pobrezinho t� suado! Quer o ar mais frio?
<br>Toninho n�o diz nada. Procura apenas disfar�ar sua decep��o.
<br>Se soubesse daquela, ainda estaria pelas ruas, entrando e saindo de
<br>botecos, de casas de jogos eletr�nicos, ouvindo conversas de desocupados
<br>em bancos de pra�a. Em todo caso, o que o anima � a possibilidade
<br>de conseguir mais dinheiro.
<br>
<br>Marlene abre-lhe a camisa. Toninho deixa. N�o adiantava recusar.
<br>Depois da camisa � a cal�a. O pr�prio Toninho ajuda a tirar
<br>a roupa. Marlene agarra-se a ele, p�e-se a mordisc�-lo devagar, como
<br>fera domada. Toninho sorri das c�cegas que lhe provoca, principalmente
<br>na barriga e nas virilhas. A cabe�a da bicha reaparece junto
<br>� sua, olhos brilhantes, dentes brancos.
<br>
<br>� Um dia te engulo inteirinho!
<br>Toninho sorri.
<br>� Pode morrer de indigest�o!
<br>Marlene acha gra�a. Por uns momentos fica quieta, nenhum dos
<br>dois diz coisa alguma. Apenas ouvem o zunido do aparelho de ar-
<br>refrigerado. O suor de Toninho passou, come�a a sentir frio, cobre-se
<br>tamb�m com o len�ol.
<br>
<br>� Se deixar a imund�cie daquela lanchonete, sabe o que tou
<br>querendo fazer?
<br>Toninho n�o faz a menor id�ia.
<br>
<br>� Tiro o dinheiro da poupan�a, vamos viajar. Se passa no
<br>m�nimo um m�s andando por a�.
<br>� A�, por onde?
<br>� S�o Paulo, Curitiba, talvez Porto Alegre.
<br>� Por que n�o Salvador ou Recife?
<br>� Corta essa. Nada de lugar que faz calor. Detesto calor!
<br>Novamente ficam sem ter o que dizer, novamente o ru�do do
<br>ar-refrigerado avulta no sil�ncio do pequeno c�modo.
<br>
<br>� Acho que viveria melhor num pa�s frio. A Su�cia. Como
<br>adoraria morar na Su�cia!
<br>� Acontece que por l� n�o querem brasileiros.
<br>� E quem � que disse que se pode ir pra l� � acentua a bicha.
<br>� S� pra sair deste circo se tem de depositar uma nota. Entrega o
<br>dinheiro de m�o beijada.
<br>Toninho cruza as m�os por baixo da cabe�a. � a primeira vez
<br>que permanece estirado ao lado de Marlene, sem qualquer sentimento
<br>de repugn�ncia. � a primeira vez que sente o quanto na verdade
<br>se entendiam. Ser� que uma mulher teria tanta paci�ncia com ele
<br>ou o encheria diariamente de pedidos, de exig�ncias? Imagina como
<br>seria a colega de Marlene, tem vontade de fazer indaga��es, teme a
<br>ciumada, rcorda o prop�sito de Enfezado com a mulherzinha do sargento
<br>Beto. Como seria ela? Se chegasse a topar mesmo a coisa, por
<br>que n�o fechar o pessoal da casa num quarto, arrancar a roupa, ver
<br>
<br>
<br>se ela conferia? Procura fixar-se nessa possibilidade, mas de longe
<br>chega-lhe a lembran�a de Marta. A garota de ar alegre, que costumava
<br>aparecer no barraco de dona Julinha. Meteu-se pelo quintal de
<br>vov� Jandira, por baixo das folhas de cana, viu a menina no banho.
<br>Ficou deitado no ch�o, sentindo o cheiro da terra e acompanhando os
<br>movimentos da garota. Tinha o corpo bonito, completamente diferente
<br>daquela porcaria de Marlene. N�o acreditava que gostasse da
<br>bicha. No m�ximo estava se acostumando. Era muito magra, nervosa,
<br>n�o tinha seios. De vez em quando prometia fazer um tratamento
<br>� altura, mas na verdade Marlene era bicha pobre. Ele se incumbia
<br>de tomar-lhe praticamente todo o dinheiro que conseguia. Cada dia,
<br>cada semana, inventava uma hist�ria. E a bicha ia soltando. Que
<br>mulher estaria disposta a semelhante situa��o? Nesse ponto tinha de
<br>concordar: somente Marlene. Talvez nem outra bicha entrasse no
<br>mesmo esquema. E Marlene era limpa. Dois banhos por dia. Um
<br>quando sa�a, outro quando voltava. Escovava os dentes ap�s cada refei��o.
<br>Tinha dentes perfeitos. Ao menor sinal de c�rie corria ao
<br>dentista. N�o tinha mau h�lito. A boca n�o fedia. Na noite em que
<br>Toninho pegou a loura na Barata Ribeiro e foi com ela para o apartamento,
<br>teve saudade de Marlene. A mulher fedia azedo. Quando
<br>
<br>o agarrou pelos cabelos e o beijou com f�ria, sentiu o h�lito insuport�vel.
<br>N�o fugiu porque era dona de um corpo bonito, estava se entregando
<br>sem exigir coisa nenhuma. Toninho chegou a imaginar que
<br>se tratasse de algum golpe. Mas n�o era nada disso. A mulher tava
<br>muito doida e tinha de ser um garoto, embora afirmasse transar com
<br>os coroas e com os velhos.
<br>� Mas pegar um deles d� trabalho. Principalmente coroa. N�o
<br>tenho paci�ncia!
<br>Sorriu, os dentes eram amarelos de cigarros, a boca fedia. Toninho
<br>tamb�m sorriu, mas j� estava pedindo a hora em que ela cansasse
<br>para cair fora. A mulher n�o compreendia, alongava-se numa fala��o
<br>sem fim, acendendo um cigarro atr�s do outro.
<br>
<br>� Detesto meu marido, exatamente porque � coroa; nem mo�o,
<br>nem velho. A pior idade. Fiz um trato com ele. Uma semana em
<br>cada m�s vai pra casa da m�e, uma velhota muito chata, me deixa em
<br>paz. Eu transo com quem quero. De vez em quando pego um cara
<br>bem velho. Tenho uma tes�o danada perto de velho. Talvez seja
<br>quest�o de humanidade.
<br>A mulher mostrou os dentes num riso um tanto ing�nuo, Toninho
<br>tamb�m sorriu. Como sorri, agora, dos planos de viagem de Marlene.
<br>Por onde andaria aquela maluca alourada, de olhos redondos
<br>e grandes? Como era mesmo o nome dela? N�o consegue recordar. J�
<br>fazia bastante tempo. Se a encontrasse novamente era capaz de n�o
<br>reconhecer.
<br>
<br>� Sinto tes�o perto de um velho. ..
<br>
<br>Ser� que a coleguinha de Marlene tamb�m gostava de velhotes
<br>
<br>ou ia com eles por ser mais f�cil arrancar dinheiro?
<br>
<br>Marlene falava nos dias que passariam num bom hotel, nos luga
<br>
<br>
<br>res elegantes que freq�entariam. Mas, na verdade, Toninho n�o via
<br>
<br>muito sentido naquelas coisas. Nunca tivera desejos de viver no luxo.
<br>
<br>� Bobagem, garoto! Vai dizer que n�o gostaria de passar um
<br>m�s no apartamento mais caro do Hotel Intercontinental? Corta essa,
<br>desesperan�ado!
<br>Toninho torna a sorrir, Marlene alisa-lhe os cabelos do peito, passa
<br>os dedos macios no seu queixo, no nariz, nas orelhas.
<br>
<br>� Tuas orelhas s�o menores que as minhas � diz em dado momento
<br>Marlene, quebrando completamente o ritmo do seu pr�prio mon�logo.
<br>� Quem tem orelha grande vive mais. J� imaginou ficar vi�va,
<br>nesse mundo de crocodilos? Se tu morrer primeiro, tamb�m me
<br>mato!
<br>� Nada disso, arranja logo outro.
<br>� At� l�, tou caqu�tica. Ningu�m vai me querer. A n�o ser
<br>essas imund�cies que trepam at� em buraco de fechadura. N�o sabe
<br>como abomino esses tipos. Como fedem. Outro dia � �, c�us! � tive
<br>a infelicidade de entrar num �nibus que vai pra Central. Saltei dois
<br>pontos adiante, com crise de v�mito. Nunca vi tanta gente fedorenta.
<br>� Quer dizer, nunca foi ao Maracan�?
<br>Marlene ap�ia-se num dos cotovelos, a m�o na cabe�a, a outra
<br>mexendo nos desenhos do corpo de Toninho. 0 indicador da unha
<br>polida, transparente, acompanha o caminho das veias, dos nervos, dos
<br>tend�es.
<br>
<br>� Nem tenho vontade! Detesto aglomera��o!
<br>� Se tivesse dinheiro, n�o perdia um jogo. Gosto de ficar no
<br>meio daquela gente! Esculhambada, dentes soltando, sovacos fedendo.
<br>� Pois lucrava mais freq�entando outros lugares. Se meter com
<br>o povar�u n�o d� em nada. Quando sirvo um cara bem vestido, de
<br>boa educa��o, n�o preciso nem esquentar: a gorjeta � gorda. Se vem
<br>um bunda-suja, al�m da esculhamba��o que faz na mesa, do resto de
<br>comida no ch�o, tudo que pode deixar s�o umas merdas de cedulazinhas
<br>que �s vezes nem guardo. Junto na toalha, com a sujeira e
<br>tudo, sacudo no lixo.
<br>� E como � que o bunda-suja ia te dar uma c�dula de valor
<br>se ele t� se virando pra n�o morrer de fome! O bacana, n�o. T� sempre
<br>na moleza; tram�ia em cima de tram�ia. Tudo trampolinagem.
<br>H� cara por a� que tem quatro cinco emprego e n�o faz porra alguma
<br>em nenhum. Isso pra mim � trampolmagem!
<br>� Chega. Vamos mudar dessa conversa � diz Marlene. �
<br>N�o quero me aborrecer. Desde que n�o fique fedorento como um
<br>bunda-suja, � o que interessa. Gosto de ti. Acho que a gente se
<br>entende.
<br>
<br>
<br>Toninho n�o parece ouvir as considera��es da bicha.
<br>
<br>� Conhe�o gente importante, s�ria, que n�o tem nem o que
<br>comer. L� no morro t� cheio. Se fosse te contar os casos, n�o ia
<br>acreditar.
<br>� E por acaso acha que tamb�m n�o conhe�o? Apenas sou contra
<br>os que n�o procuram melhorar. Como � que um cara deixa os
<br>dentes cair de podre, quando enche a pan�a de cacha�a todo o dia?
<br>Toninho n�o sabe o que responder.
<br>
<br>� Te juro que n�o me importo com os outros. Tou falando por
<br>falar. Se entro num �nibus e o panorama n�o agrada, salto logo. N�o
<br>discuto, n�o digo nada. N�o me troco com qualquer um. Se tem de
<br>viver nossa vida; quem quiser que se lixe!
<br>Marlene beija Toninho no pesco�o, mete-lhe a l�ngua nos ouvidos,
<br>abra�a-o com for�a. Passa para cima do garoto, estende-se e encolhe-
<br>se, Toninho gosta daqueles seus gestos, seu corpo � bem mais moreno
<br>que o da bicha, fica olhando a diferen�a, Marlene numa �nsia
<br>de espumar pelos cantos da boca, cheiro de rosas colorindo-lhe os
<br>movimentos.
<br>
<br>� Te lembra da primeira vez?
<br>� Tava fedendo como gamb� � diz Marlene endireitando-se,
<br>cessando os movimentos, mas sem sair de cima de Toninho.
<br>� Por que foi gostar de mim?
<br>� Sabia que ia ter jeito. E se ainda tem essa c�rie imunda �
<br>porque mija nas cal�as quando falo em dentista. Mach�o, piroca
<br>grande e medo de dentista. N�o entendo!
<br>Toninho sorri.
<br>
<br>� Tenho medo da tal broca. S� de ouvir aquilo funcionar sinto
<br>um arrepio no corpo.
<br>� Pra mim, a beleza t� acima de tudo. Fa�o qualquer sacrif�cio.
<br>Toninho se cala, Marlene reinicia os movimentos, agarra-se ao
<br>amante e geme, estremece, dobra-se para tr�s como se fosse contorcionista,
<br>o garoto procura excit�-la ao m�ximo, pois tem algo importante
<br>a dizer e quer ter a certeza de que realmente est� presa a ele. Quando
<br>param, suados, mesmo com o ar frio que enche o quarto, Marlene
<br>permanece largada, curtindo os bons momentos, Toninho arqueja,
<br>tenta virar-se e n�o consegue.
<br>
<br>Marlene tateia a mesinha de cabeceira, acende a luz, olha as
<br>horas.
<br>
<br>� Acho que se deve comer alguma coisa. Principalmente voc�.
<br>N�o quero que entregue os pontos. Se pode curtir a noite inteira e
<br>dormir at� �s 9 horas. Sandra vai enfrentar o velhote. N�o chega
<br>antes das 11.
<br>� Como � ela?
<br>Marlene cola o rosto no de Toninho.
<br>� Pra que quer saber?
<br>
<br>� Besteira! Que mal h� nisso?
<br>� Uma pequena como as outras. Bom cora��o, pouca felicidade.
<br>� Perguntei como �!
<br>� Corta essa. N�o entrego ouro a bandido!
<br>Toninho sorri.
<br>� Desse jeito me deixa curioso e vou acabar sabendo.
<br>A bicha se levanta, num rompante, bate nos m�veis, abre uma
<br>gaveta, tira a revista onde Sandra aparece s� de biqu�ni, como uma
<br>das dez mais de um concurso sem qualquer import�ncia. Joga a revista
<br>sobre Toninho. Ele olha, num movimento brusco Marlene arrebata-
<br>lhe a revista.
<br>
<br>� J� viu demais!
<br>� N�o � nada diferente das outras.
<br>� Que outras?
<br>� As que andam de tanga na praia.
<br>Marlene est� irada. Alisa os m�sculos de Toninho, fala num
<br>tom grave.
<br>
<br>� V� bem, cara. N�o te quero enrabichado com essas donas. Se
<br>isso
<br>acontecer eu te mato. Juro que mato!
<br>Toninho abra�a a bicha, puxa-a para cima de si.
<br>
<br>
<br>� Deixa de ser besta! Acho que sou de trocar amor velho por
<br>novo?
<br>� N�o sei, n�o. Te vi de olho grande na foto de Sandra.
<br>� Coisa nenhuma!
<br>Marlene se estira ao lado de Toninho, tranq�iliza-se.
<br>� Antes do fim do ano a gente sai deste chiqueiro. Se conseguir
<br>passar pro restaurante da Barra, teja certo que vou ganhar um
<br>dinheir�o. Tenho uma colega por l� que fatura os tubos.
<br>� E como vai ser pra gente se encontrar?
<br>� Tolice. Se fica junto de dia.
<br>� E Sandra?
<br>� Deixa de ser bobo. Logo que assinem a carteira, tenho para
<br>onde ir. Um apartamento bacana, de cobertura. � de um senhor que
<br>passa metade do ano na Europa. S� aluga pra mim!
<br>� N�o acha que � maluquice?
<br>� N�o sei por qu�! Se acaba entrando numa de bacana!
<br>Depois de um suspiro longo, Marlene prossegue:
<br>� N�o quer saber quem � esse homem que confia tanto em
<br>mim?
<br>Toninho sacode afirmativamente a cabe�a, embora n�o estivesse
<br>de forma alguma interessado.
<br>
<br>� Foi meu primeiro amor. Depois decaiu, casou com uma piranha.
<br>S� pra conseguir dinheiro. Mas n�o me esquece. Duvido que
<br>aquela mulherzinha o satisfa�a!
<br>
<br>Toninho esfor�a-se para demonstrar que. agora, quem estava
<br>enciumado era ele.
<br>
<br>� Tem coragem de dizer isso na minha frente?
<br>Marlene faz movimentos l�nguidos, m�os leves e macias acariciam
<br>o rosto do garoto.
<br>
<br>� Desculpe, benzinho. Se fala, fala, acaba dizendo o que n�o
<br>quer. Mas te juro que s�o �guas passadas. Amor que vai n�o volta
<br>mais!
<br>Toninho esquece; aquilo podia inclusive ser alucina��o de Marlene.
<br>Sonho de grandeza.
<br>
<br>� O que acho � diz ele � � que se deve bolar um plano pra
<br>render dinheiro. A�, sim, acredito que se possa viver numa cobertura,
<br>andar passeando por tudo que � de lugar, comprar um barco, botar
<br>atracado no Praia Clube, como fazem os sabid�es!
<br>Toninho demorou-se numa pausa, depois prossegue:
<br>
<br>� Se compra tamb�m um cachorr�o, s� pra empregada sair pela
<br>rua,
<br>toda de branco, procurando lugar onde o bicho possa cagar!
<br>Marlene ri alto.
<br>
<br>
<br>� Vai ser maluco assim no inferno. Quando acaba, eu � que
<br>tenho mania de grandeza!
<br>Marlene firma-se nos cotovelos, as m�os bem-cuidadas segurando
<br>a cabe�a de cabelos revoltos.
<br>
<br>� E como se pode arranjar um plano t�o bom, se h� milh�es
<br>de caras procurando dinheiro neste pa�s e n�o conseguem? Ou pensa
<br>que se � mais inteligente que os outros?
<br>� N�o se trata de cuca. Mete a m�o na grana quem tem peito
<br>de dar o salto!
<br>� Que salto?
<br>Toninho quer falar francamente, abrir-se, encolhe as patas. A
<br>indaga��o da bicha fica no ar. Toninho mostra os dentes num riso
<br>inconseq�ente.
<br>
<br>� Vamos, responde! Que salto � esse?
<br>� Sei l�. Talvez se fosse pros paus, pegar diamante e revender
<br>na cidade. Conhe�o um cara que t� podre de rico s� com isso!
<br>� � neg�cio complicado. Como todos os outros � diz Marlene.
<br>� Prefiro continuar no meu m�tier. Aturo aporrinha��o de uns e
<br>outros, mas no final do m�s tou com a grana. �s vezes, mais folgada
<br>que o patr�o.
<br>Toninho irrita-se.
<br>
<br>� Deixa de ser burra! Onde viu empregado mais folgado que
<br>patr�o? No m�nimo o careta t� se fazendo de apertado pra ver se te
<br>explora ainda mais. Sei bem como �. Patr�o pode t� apertado mas
<br>viaja pra tudo que � de lugar, mora em palacete, toma u�sque do
<br>bom e os cambau. Empregado se fode. Se � oper�rio, ent�o, nem
<br>se fala.
<br>
<br>� Foi empregado alguma vez?
<br>� N�o. mas o pai foi. Mestre T�bor tamb�m. Hoje. t�o todos
<br>na
<br>merda. E os patr�es deles, t�o na merda? Vai atr�s!
<br>Marlene concorda.
<br>
<br>� Nisso, tem raz�o. 0 dono da lanchonete voltou m�s passado
<br>de Nova Iorque. Levou mulher e filhos.
<br>� Quanto deve ter custado a brincadeira?
<br>Marlene n�o se mostra preocupada, nem descontente.
<br>� T� na dele. Conseguiu dinheiro, foi entregar pros americanos.
<br>� � pra ter dinheiro f�cil, assim, que se precisa de um plano.
<br>Marlene mostra-se vencida diante da argumenta��o. Est� novamente
<br>querendo estirar-se sobre Toninho, ele a repele.
<br>
<br>� Que � isso? Tenho culpa de n�o ter nascido rica?
<br>Toninho n�o repara no que diz a bicha. Est� distante, perdido
<br>em racioc�nios.
<br>
<br>� Fica t�o charmoso quando t� preocupado, que nem imagina!
<br>0 garoto continua sem aceitar provoca��es.
<br>� Com cinco mil de lastro, tenho condi��o de levantar uma
<br>nota � diz em dado momento Toninho, como se estivesse voltando �
<br>tona. � Nada mais que isso.
<br>� N�o acredito. Conhe�o gente que investiu meio milh�o e se
<br>ferrou.
<br>� Mas n�o se chamava Toninho!
<br>Marlene aperta-o num abra�o apaixonado.
<br>� N�o sei por que, gosto de te ouvir falando assim. Dou os
<br>cinco mil pra que descubra a mina de ouro!
<br>Toninho embola-se com Marlene. Agora, quem passa para cima
<br>� ele. Como Marlene mais gostava. A cama estremece, o len�ol se
<br>amassa, a bicha morde o travesseiro, em estado de desespero, Toninho
<br>segura-a firme pelos ombros, provoca-lhe pequenos ferimentos com as
<br>unhas que nunca tem tempo de cuidar. Quando se afastam novamente,
<br>est�o ambos exaustos. 0 quebra-luz continua aceso, Toninho
<br>v� que s�o mais de 3 da madrugada. Marlene mexe-se devagar, totalmente
<br>vencida, quebrada, saciada. Descansa uma perna e um bra�o
<br>sobre o garoto que, imaginando o cheque de 5 mil, sente uma sensa��o
<br>nova percorrer-lhe o corpo.
<br>
<br>
<br>Cap�tulo III
<br>
<br>UM
<br>
<br>Toninho atravessa a rua correndo, o sol da manh� est� quente,
<br>h� gente movimentando-se por todos os lados, no pr�dio do Centro
<br>Comercial as escadas rolantes sobem e descem com muitas pessoas,
<br>Toninho l� nas paredes e nas placas os an�ncios propondo vantagens,
<br>toca no cheque que est� no bolso do casaco, empurra a porta da ag�ncia
<br>banc�ria, o ar � t�o frio quanto do apartamento onde estivera tanto
<br>tempo com Marlene, aproxima-se do balc�o de m�rmore com enfeites
<br>de metal dourado, a mo�a de uniforme indica o caixa, ele entra
<br>em pequena fila, logo o homem de �culos recebe o cheque, faz a confer�ncia,
<br>carimba, d� um visto, p�e c�dulas de quinhentos no balc�o.
<br>Toninho pede que dois mil sejam em notas de cem. Conta tudo novamente,
<br>coloca o bolo de dinheiro no bolso. Era impressionante como
<br>Marlene conseguia fazer economia. Nunca precisou dela que tivesse
<br>negado fogo. �s vezes regateava, mostrava-se aporrinhada, porque
<br>tamb�m nem sempre aparecia nos encontros que marcava, recusava-
<br>se a ir com ela ao cinema, nunca sa�a para meter-se nos lugares elegantes.
<br>No dia que alegou n�o ter roupa decente, recebeu a cal�a
<br>importada, o casaco de couro.
<br>
<br>Caminha apressadamente pela rua, n�o est� muito distante do
<br>pr�dio em constru��o, onde por certo encontraria Man� Cabreiro ajudando
<br>algum motorista a manobrar. Man� Cabreiro segurava uma
<br>bandeirola vermelha, sacudia com f�ria, os carros continuavam a passar
<br>em velocidade. A� o motorista do caminh�o dava de r�, com viol�ncia,
<br>para bater mesmo nos autom�veis e �nibus que n�o respeitavam
<br>Man� Cabreiro e sua bandeirola.
<br>
<br>Se Enfezado ainda n�o tivesse chegado esperaria no meio-fio. perto
<br>do tabuleiro do camel�. Estava ansioso para p�r a m�o no berro.
<br>Pelo que dissera Enfezado era t�o bom quanto o de Banda Branca.
<br>Talvez menos enfeitado, mas isso n�o significava nada. Lm rev�lver
<br>se sabe que � bom, na hora de usar. � nesse momento, irm�ozinho,
<br>
<br>
<br>que se v� se � m�quina de verdade ou se racha o cano na primeira
<br>carimbada. E olha que j� tive um que atirava seis vezes seguidas e o
<br>cano continuava frio, frio. Toninho ouvia aquilo de Enfezado, como
<br>se estivesse escutando o amigo falar de um sonho; de alguma coisa
<br>quase imposs�vel de imaginar. Tomara que a m�quina n�o seja t�o
<br>grande. Iria us�-la no bolso do casaco. Puxaria o z�per, teria cuidado,
<br>cada vez que o colocasse �s costas. O z�per era mais seguro que qualquer
<br>bot�o. E os daquele casaco eram bons de fato. Marlene soube
<br>escolher. Quando se dispunha a dar um presente, caprichava.
<br>
<br>Chega perto da obra, o port�o est� aberto mas n�o h� nenhum
<br>caminh�o � vista. Nem entrando, nem saindo. O tr�fego na Toneleros
<br>� normal. Toninho procura por Man� Cabreiro. Um servente
<br>todo sujo de massa de cimento e cal, diz que t� por perto. Fica esperando.
<br>L� pelas tantas Man� Cabreiro aparece. Usa um rid�culo capacete
<br>amarelo, que lhe torna a cara de nordestino ainda mais redonda.
<br>S� de ver o homem com o capacete, naquele solz�o quente dos
<br>diabos, Toninho sente-se agoniado.
<br>
<br>� Como � que �, chapa. Enfezado apareceu?
<br>� At� agora n�o.
<br>� Marquei com ele �s 11.
<br>Man� Cabreiro mete a m�o no bolso do c�s, puxa o rel�gio de
<br>algibeira, desses que ningu�m mais usa. Examina, diz com seguran�a,
<br>como se o rel�gio dele fosse infal�vel.
<br>
<br>� Se foi 11, ainda t�o faltando cinco!
<br>� No da panificadora s�o 11 horas.
<br>� Deve t� adiantado. Esse aqui n�o falha. Se fosse ruim j�
<br>tinha jogado fora.
<br>Toninho fez a provoca��o, mais para ouvir Man� Cabreiro falar
<br>do rel�gio. Era seu �nico bem, orgulhava-se dele. Quando ia dormir,
<br>pendurava-o com cuidado, num prego. No dia em que acordou
<br>e n�o viu o rel�gio, virou bicho. Se um servente n�o tivesse dito logo
<br>que se tratava de brincadeira, tinha sa�do morte, porque Man� Cabreiro
<br>ficou desesperado, amea�ando abrir a mala de canto de ferro
<br>que trouxera da Para�ba, comer uns dois ou tr�s cabras safados na
<br>ponta da faca. 0 servente entregou o rel�gio mas ag�entou uns pesco��es,
<br>que Man� Cabreiro � forte, n�o tem medo de cara de ningu�m.
<br>Desde ent�o, como ele pr�prio dizia, passou a dormir com o rel�gio
<br>amarrado no cord�o do shorts. Quero s� ver qual � o engra�adinho
<br>que tem coragem de meter a m�o por dentro do cal��o. Se arriscar,
<br>antes de pegar o rel�gio vai topar com uma rola; a� se fode!
<br>
<br>Toninho ria de ouvir aquelas amea�as de Man� Cabreiro, os
<br>outros que estavam sentados pelo sal�o em fase de arremate tamb�m
<br>achavam gra�a. Na verdade ningu�m ia muito com a cara do vigia
<br>porque era acusado de funcionar como dedo-duro na obra. Indicava
<br>
<br>
<br>pro apontador cada um que se metia no banheiro e passava por l�
<br>mais tempo que o devido. Se algu�m dava uma escapada at� o barzinho,
<br>ent�o era um deus nos acuda. Por isso Man� Cabreiro n�o era
<br>bem-visto. Mas com Toninho nunca criou problema. Levava uma
<br>nota na moleza, segurava a barra. N�o fosse por ele Toninho n�o se
<br>arriscava a dormir noites e noites com aqueles tipos, que jamais vira.
<br>
<br>Man� Cabreiro fala com os oper�rios que est�o se lavando na
<br>torneira, perto do monte de areia, p�e-se a reclamar, um dos homens
<br>responde zangado. Toninho atravessa a rua, senta no meio-fio. Nesse
<br>mesmo momento Enfezado vai chegando. Assovia, o companheiro se
<br>aproxima, senta do lado, Toninho repara no seu sapato desbei�ado, o
<br>solado lascado, a cal�a pu�da.
<br>
<br>� Puxa, cara, tu d� uma sorte braba! 0 malandro entregou a
<br>m�quina por 250. De m�o beijada. Entesei nos 200, mas fiquei com
<br>medo dele pular fora.
<br>Dizendo isso Enfezado abre a pasta pl�stica, Toninho mete a
<br>m�o, segura o rev�lver, envolto em papel oleado, j� se rasgando.
<br>
<br>� Sente s� o peso. A�o puro!
<br>Toninho vai fazendo as observa��es recomendadas pelo amigo,
<br>� Aperta o gatilho!
<br>Toninho faz isso.
<br>� Viu s� como o tambor roda? Esse � rev�lver dos bons!
<br>Toninho est� tenso. Seu desejo era sair logo dali, meter-se num
<br>local ermo, onde pudesse fazer um exame mais detalhado.
<br>
<br>� E as balas?
<br>� Tudo a� dentro. Uma caixa quase cheia.
<br>� Puxa, cara, tu me tirou de um aperto!
<br>Enfezado mete a m�o no bolso para devolver a diferen�a, Toninho
<br>n�o aceita.
<br>
<br>� Nada disso. Vou � te arranjar mais uns caraminguados, pra
<br>ag�entar a barra. Quando melhorar, a� tu entra num tutu firme.
<br>Enfezado n�o diz nada. Olha para um ponto da rua, para Man�
<br>Cabreiro sacudindo a bandeirola vermelha.
<br>
<br>� Vai poder ajudar na casa do sargento?
<br>� Claro! Tava te esperando pra combinar. Comigo n�o tem
<br>papo furado.
<br>� Tou imaginando ir por volta das 3. � quando a cunhada
<br>do sargento sai pra levar a m�e ao m�dico. Fica s� a mulherzinha,
<br>a garota de uns cinco anos e um velhote que anda em cadeira de roda.
<br>� Puxa, t� por dentro!
<br>� Tou nessa paquera h� um m�s. Desde que me soltaram.
<br>� E se der alguma coisa errada?
<br>� A� tu me passa o berro, acabo com eles todos: a mulherzinha,
<br>a garota, o velhote.
<br>
<br>Ao dizer isso os olhos de Enfezado est�o vermelhos e brilhantes.
<br>
<br>� Aquele filho da puta paga o que me fez ou dou um tiro
<br>nos cornos. N�o presto mais pra merda nenhuma.
<br>� Calma, cara. Vai dar tudo certo. Se sapeia um pouco por a�,
<br>olha
<br>a mulherada mostrando o rabo na praia, depois vai em frente.
<br>Enfezado faz um riso nervoso.
<br>
<br>� Que adianta ver as mulheres, se n�o se pode tocar em
<br>nenhuma?
<br>� Tu que pensa. Com grana elas � que procuram a gente.
<br>� Te lembra da Marta? � indaga Enfezado.
<br>� Claro que lembro. Era bem boazuda. Uma vez fui pro quintal
<br>de vov� Jandira, vi Marta tomando banho.
<br>� Pois ela se embei�ou com um amiguinho do Banda Branca,
<br>terminou arrombada. Agora t� na zona. Na casa de uma tal de Zita.
<br>� No Mangue?
<br>� Isso mesmo. Trepando que nem capininga.
<br>Toninho mostra os dentes num riso c�nico.
<br>� Vamos l�, quando sair da casa do sargento?
<br>� � o que tava pensando. 0 �nico problema � que nunca me
<br>topou. Com a merda desse bra�o, ent�o, � capaz de achar gra�a.
<br>� Tolice, cara. No Mangue ela tem de dar pra quem chega
<br>com a grana. Quer queira, ou n�o. Se fizer eu doce dou um al� pra
<br>tal da Zita. Olha a�, dona Zita, n�o t� querendo trepar com meu amigo!
<br>Enfezado acha gra�a.
<br>
<br>� Ser� que � assim?
<br>� N�o tem errada. Mulher do Mangue n�o � de ningu�m!
<br>� Vai ser bom comer Marta. Sempre tive secura nela. No tempo
<br>que tava botando peito, era toda metidona. A fam�lia n�o queria
<br>que se misturasse com moleques. T� lembrado? Tou quase certo que
<br>o puto do Banda Branca andou beliscando. De bobo n�o tem nada.
<br>Nunca teve. Agora, Marta no Mangue. Sentada numa escadaria
<br>daquelas, o rabo de fora, pernas arreganhadas. Quem te viu, quem
<br>te v�!
<br>Faz uma pausa, continua a olhar o ponto invis�vel na rua movimentada.
<br>
<br>
<br>� Sabe de uma coisa, acho que n�o vou ter coragem de comer
<br>Marta. Sou capaz de brochar na hora. Vou ficar me lembrando de
<br>tanta coisa, que nem sei!
<br>� Corta essa! Lembrando, porra nenhuma. Se vai comer a garota
<br>e ponto final. N�o tem lembran�a, n�o tem nada!
<br>� T� dizendo isso aqui. Quando chegar l� e ela come�ar a
<br>falar das coisas, n�o se vai ter peito.
<br>� Besteira. N�o se deve fugir da raia. Me lembro dela se esfregando
<br>com sabonete. Toda cheia de espuma. Toquei uma bronha
<br>
<br>violenta naquele dia. Continuei tocando nos outros, sempre que me
<br>lembrava dela.
<br>
<br>Toninho e Enfezado caminham pela praia, o sol quente, uma
<br>por��o de mulheres de pernas de fora, garot�es brincando de frescobol,
<br>menininhos correndo com baldes na m�o, bab�s negras empurrando
<br>carrinhos com filhotes de bacanas, c�es de pura ra�a seguros
<br>em correias de couros por velhotes bem aposentados, crioulos de canelas
<br>finas gingando com cargas de sorvete e refresco, intrometendo-
<br>se por entre as barracas dos que curtem o �cio.
<br>
<br>Toninho olha as mulheres, as coxas, as bundas, sente um calor�o
<br>por dentro, diz brincadeiras a Enfezado, mostra a morena e a loura,
<br>as garotas percebem mas n�o est�o nem a�, Toninho e Enfezado
<br>seguindo em frente, chupando picol�, at� o ponto do �nibus.
<br>
<br>� Esse serve. Deixa na Barra. Quero experimentar o berrante!
<br>Enfezado faz um riso nervoso, dentes cariados bem na frente,
<br>sobem rapidamente no �nibus, Toninho paga as passagens, sentam no
<br>mesmo banco, ficam olhando a paisagem, Enfezado admirado com
<br>tanta beleza.
<br>
<br>Toninho faz sinal, saltam.
<br>
<br>� Por que n�o se foi mais longe?
<br>� Aqui tem um descampado que � bem bom.
<br>� N�o d� galho?
<br>� Coisa nenhuma. � perto da praia. 0 barulho das ondas
<br>encobre o disparo.
<br>Saem da estrada, seguem por uma trilha, o mato espinhento, a
<br>areia branca e quente. Chegam ao ponto onde a praia estendia-se luminosa
<br>e deserta, ondas desembrulhando-se brancas.
<br>
<br>� Aqui t� bom � diz Toninho. � Mete aquela t�bua na areia!
<br>Toninho tirou as balas da caixa, enfiou-as no tambor. Enfezado
<br>est� novamente sentado do lado do amigo.
<br>
<br>� Vamos ver se ainda sei atirar!
<br>O dedo aciona o gatilho. Ouve-se um estalido seco e r�pido, a
<br>t�bua n�o cedeu. Toninho se levanta, o rev�lver na m�o, vai olhar.
<br>
<br>� Puxa, cara! Atravessou.
<br>Enfezado foi ver tamb�m.
<br>L� estava o furo estreito.
<br>� Pensei que fosse ficar encravada.
<br>� A t�bua t� podre. Foi por isso.
<br>Voltam ao lugar, Toninho faz um segundo disparo, a t�bua pende
<br>um pouco para a direita.
<br>
<br>� Vai ver, dessa vez n�o passou!
<br>� Olha l�!
<br>Enfezado d� uma carreira, tenta tirar a bala com as unhas, n�o
<br>consegue.
<br>
<br>� Entrou que nem prego.
<br>
<br>Toninho passa a arma ao amigo.
<br>
<br>� Agora, � tua vez.
<br>Enfezado recebe a arma.
<br>� Faz tempo que n�o atiro. Alem disso, nunca fui bom na
<br>pontaria.
<br>� N�o procurava treinar!. . .
<br>� Pra acertar a mulherzinha do sargento n�o preciso de pontaria.
<br>Colo o berro na cabe�a dela, aperto o gatilho!
<br>Dizendo isso, dispara. 0 estalido seco perde-se na confus�o das
<br>ondas trabalhando. Toninho vai ver, sacode negativamente a cabe�a.
<br>
<br>� Passou longe!
<br>Antes que o amigo torne a sentar Enfezado j� efetuou um segundo
<br>disparo e um terceiro. Neste a t�bua cai. Enfezado salta de
<br>contentamento.
<br>
<br>� Acertei! Tenho certeza.
<br>Ele pr�prio vai olhar. De um lado da t�bua, o buraco, igual ao
<br>primeiro disparo feito por Toninho.
<br>
<br>� Acho que n�o se t� t�o ruim assim. D� pro gasto � conclui
<br>Toninho guardando a arma.
<br>� De mais a mais � acentua Enfezado � n�o se vai participar
<br>de concurso de tiro.
<br>� Queria s� ver se me ajeitava com a m�quina. T� legal!
<br>� Se n�o fosse boa n�o tinha trazido, cara.
<br>Continuam andando, o ponto do �nibus � distante. Enfezado
<br>como que reflete sobre os problemas que vir�o.
<br>
<br>� Na casa do sargento s� vou precisar da m�quina em �ltimo
<br>recurso. Faz uma zuadeira medonha. J� imaginou?
<br>� � s� embrulhar num pano.
<br>� Sei, n�o! 0 canivete vai funcionar melhor. Sem a menor
<br>zuada.
<br>� 0 perigo � tu ficar todo sujo de sangue.
<br>� Tiro a camisa antes.
<br>� A� se perde tempo.
<br>� Perde nada. Se vai ter muito tempo.
<br>O �nibus chega, os dois v�o embora.
<br>DOIS
<br>
<br>Enfezado pergunta as horas ao homem que est� no banco ao lado.
<br>O homem, olhar muito s�rio, como se estivesse irritado, diz que s�o
<br>20 para as duas.
<br>
<br>� � bom a gente ir se picando pra l�!
<br>
<br>Toninho sacode a cabe�a concordando.
<br>
<br>� S� que se tem de tomar outro �nibus.
<br>� No Centro se pega um t�xi. Num instante chega.
<br>A informa��o tranq�iliza Enfezado. O �nibus passa por pontos
<br>elegantes do litoral, onde havia uma quantidade de palacetes, escondidos
<br>por tr�s de jardins bem-cuidados. Toninho olha aquilo tudo.
<br>sem nenhum desejo, nenhuma vontade. Pensa em Marlene, nas suas
<br>exig�ncias, no pai se vestindo �s pressas, no retrato amarelecido que
<br>tem no bolso, nas reda��es de jornais por onde iria. E se os caretas
<br>reclamassem que passara muito tempo? Ora, diria que tentou em outros
<br>jornais, ningu�m deu aten��o. A� levou um temp�o doente e
<br>outro pra conseguir a fotografia. Poderia at� esquecer tudo isso e dizer
<br>que chegara de fora. Estava morando com a v�, no interior da
<br>Bahia, quando soube do sumi�o do pai.
<br>
<br>Terminado o litoral, o �nibus come�a a seguir com dificuldade
<br>por ruas atravancadas de muitos ve�culos, o motorista enerva-se, faz
<br>manobras precipitadas, a zuadeira dos carros nas ruas e avenidas �
<br>grande, o calor torna-se intenso.
<br>
<br>Descem do �nibus na Esplanada do Castelo, tomam o t�xi. �
<br>um carro grande, o motorista pergunta pra onde v�o, Enfezado se atrapalha
<br>no nome da rua.
<br>
<br>� Nem sabem pra onde t�o indo!
<br>Toninho n�o ag�entava esse tipo de coisa.
<br>� Saber, se sabe. Ele � que n�o disse direito. Pode tocar em
<br>frente que se chega l�.
<br>O motorista encaixa uma marcha brusca, a fim de mostrar que
<br>n�o est� gostando de fazer aquela corrida. Pelo canto do olho Toninho
<br>mede o tipo ordin�rio, bra�os grossos, suados. No sinal, onde o
<br>t�xi p�ra, o homem mete a chave no tax�metro, d� corda umas quatro
<br>ou cinco vezes. Abre o porta-luvas para colocar a chave, Toninho
<br>v� o quanto de dinheiro j� havia recolhido. 0 carro arranca, num
<br>instante est�o chegando.
<br>
<br>Toninho olha o tax�metro, o homem puxa uma tabela plastificada,
<br>o garoto fica com o dinheiro na m�o, esperando.
<br>
<br>� Dezoito e cinq�enta.
<br>Toninho destaca duas notas de dez, entrega, sai do carro seguido
<br>de Enfezado. Num instante o t�xi desaparece, os garotos p�em-se
<br>a andar por uma cal�ada coberta pela ramagem dos f�cus e das cibipirunas.
<br>As resid�ncias parecem sossegadas, o velho magricela, s� de
<br>cal�a e chap�u de palha, molha um jardim, cujas heras cobriram completamente
<br>os muros. Enfezado olha a casa de flores, tem uma id�ia.
<br>
<br>� Vamos levar umas rosas!
<br>Toninho atravessa a rua, pede meia d�zia de rosas. O homem
<br>que atende, olha-os com desconfian�a. 0 garoto j� est� com uma nota
<br>de cem para pagar. Isso evitaria qualquer problema.
<br>
<br>
<br>Pacientemente o vendedor envolve os talos das rosas num papel
<br>grosso, depois em outro, todo enfeitado.
<br>
<br>� E se a mulher ficar desconfiada?
<br>� Mesmo assim vai ter de abrir a porta.
<br>� Vai ver, em vez de receber flores do sargento, t� acostumada
<br>a levar � porrada!
<br>� N�o interessa � acentua Enfezado. � Tenho certeza que
<br>vai ficar curiosa. � o que se quer.
<br>Alguns quarteir�es ap�s a casa de flores, os garotos sobem por
<br>uma escadinha estreita. Toninho oculta-se de um lado, para n�o ser
<br>visto, Enfezado aperta a campainha. A mulher branca e simp�tica
<br>abre a portinhola. Enfezado diz ser da parte do sargento Beto, mostra
<br>as rosas. A mulher sorri. Enfezado entra, seguido de Toninho.
<br>
<br>A mulher v� o segundo garoto mas ainda est� impressionada com
<br>as flores.
<br>
<br>� Por que ser� isso?
<br>Toninho passa a chave na porta, a mulher foi ao quarto arranjar
<br>alguns n�queis para a gorjeta. Retorna, Toninho est� com o rev�lver
<br>apontado. Enfezado, rosto transtornado, agarra a mulher pelos
<br>cabelos.
<br>
<br>� Se der um pio te sangro!
<br>A mulher olha o canivete de grande l�mina na m�o do crioulinho,
<br>Toninho some no corredor, examina os quartos. Depois vai para
<br>
<br>o andar de cima. Um velhote est� dormindo. Volta � sala, onde Enfezado
<br>ficou dominando a mulher.
<br>� Cad� o resto do pessoal?
<br>� Minha m�e saiu com Na�ze!
<br>� Quem � Na�ze?
<br>� Minha filha. Tem s� tr�s anos.
<br>A essa altura a mulher est� chorando.
<br>� N�o fa�am nada comigo. Dou todo o dinheiro que tenho
<br>em casa!
<br>� N�o se quer dinheiro. Se quer levar um papo contigo,
<br>� Ali na frente tem um quarto.
<br>� Isso mesmo. Vamos pra l�!
<br>Enfezado mant�m um dos bra�os da mulher preso para tr�s.
<br>� Vamos andando.
<br>Chegam ao quarto, Toninho fecha a porta. A mulher � empurrada
<br>para cima da cama. Toninho se aproxima dela, come�a a rasgar-
<br>lhe as roupas. N�o faz o menor sinal de protesto. Sabe o que aqueles
<br>garotos querem, sente que n�o deve contrari�-los.
<br>
<br>Sem as roupas, Toninho admira-lhe o corpo.
<br>
<br>� Deita!
<br>
<br>Ela obedece. Toninho olha o amigo, manda que v� primeiro. Enfezado
<br>abre a cal�a, sem soltar o canivete. Depois de algum tempo
<br>est� embara�ado. Levanta.
<br>
<br>� Assim n�o d�. Espera do lado de fora?
<br>Toninho sai, fica no corredor. Uns dez minutos depois aparece.
<br>� � tua vez.
<br>Toninho entra, Enfezado fica segurando o rev�lver.
<br>Novamente o corpo que o encanta. Nunca vira um assim, t�o ao
<br>seu alcance, completamente diferente de Marlene. N�o havia os p�los
<br>imundos de Marlene. Cola a boca na da mulher, ela tenta recusar,
<br>ele aperta, ao mesmo tempo em que se aprofunda. Baixinho, nos seus
<br>ouvidos, manda que remexa.
<br>
<br>� N�o fica parada como est�tua, que acabo contigo!
<br>Chora e faz alguns movimentos. Toninho torna a colar o rosto,
<br>quer saber como se chama.
<br>
<br>� Eunice!
<br>Percebe que o garoto � menos odiento que o companheiro, resolve
<br>perguntar por que estavam fazendo aquilo. Toninho sorri, promete
<br>que se fizesse o melhor que podia, no final lhe diria. Os remexidos
<br>de Eunice tornam-se corajosos, intensos, Toninho sente-se aprofundar
<br>mais e mais, at� que goza e percebe que a mulher estar suando.
<br>
<br>Ergue-se da cama, limpa-se na coberta, fecha as cal�as. Bate na
<br>porta, aparece Enfezado. Toninho sorri, dirige-se ao amigo.
<br>
<br>� T� querendo saber qual � a nossa!
<br>Enfezado faz um riso nervoso. Aponta para o bra�o sem movimento.
<br>Eunice aproveitou para sentar na beira da cama, envolve-se
<br>numa ponta da coberta.
<br>
<br>� Teu maridinho quem fez isso. N�o sabe que na Invernada ele
<br>�
<br>uma fera?
<br>Eunice sacode a cabe�a.
<br>
<br>� Em casa nunca fala de servi�o!
<br>� Nem podia. Quem ganha pra aleijar e matar, n�o tem muito
<br>o que dizer. O que ele n�o sabe � que os aleijados se mexem. Por
<br>isso se baixou aqui.
<br>A mulher sabe muito bem o significado daquelas palavras. Encostou-
<br>se na parede, cobre-se ao m�ximo com a coberta.
<br>
<br>� Quem � o velhote?
<br>� Meu sogro. Tem press�o alta!
<br>� �timo!
<br>Tamb�m, sorrindo, Enfezado sobe na cama, ajoelha-se, aproxima-
<br>se mais e mais de Eunice.
<br>
<br>� N�o vai doer! Tu foi boazinha.
<br>Quando percebe que Eunice vai gritar, Enfezado atira-se sobre
<br>ela, tapa-lhe a boca.
<br>
<br>� Toninho, vem aqui!
<br>
<br>Toninho tamb�m sobe na cama.
<br>
<br>� Amarra a boca dessa puta!
<br>Toninho rasga peda�os da coberta, mete na boca de Eunice, d�
<br>um n� forte, p�e os bra�os para tr�s.
<br>A mulher est� novamente encostada na parede, tremendamente
<br>nervosa. N�o fica parada no lugar.
<br>
<br>� Te aquieta, sen�o vai ser pior!
<br>Eunice n�o atende. Ele se ergue da cama, d� um pontap� no
<br>rosto da mulher. Ela emborca de lado, ele crava a l�mina no pesco�o
<br>branco. Mesmo com a boca amarrada, os bra�os amarrados, Eunice
<br>solta um urro de animal ferido, esperneia, Enfezado prende-lhe o corpo
<br>com as pernas, a cama estala, Toninho torna a espiar a sala
<br>e o corredor. Quando olha para Enfezado ele est� se erguendo,
<br>o canivete ensang�entado. Lima a l�mina na coberta, o sangue
<br>escorre abundante.
<br>
<br>� Vamos embora!
<br>� Nada disso! Se espera at� ela se acabar de vez!
<br>A mulher consegue fazer alguns movimentos, o sangue saindo
<br>aos borbot�es. Depois de uns cinco minutos Enfezado torce a chave,
<br>os dois v�o para o corredor.
<br>
<br>� Em que quarto t� o velhote?
<br>Toninho aponta a escada encaracolada. Sobem na ponta dos p�s.
<br>Empurram a porta que se abre com leves estalidos. O velhote continua
<br>adormecido, do mesmo jeito em que Toninho j� o vira. Enfezado
<br>fixa-se na almofada que est� encostada na parede, perto do
<br>ber�o. Toca em Toninho e aponta. 0 companheiro entende. Pega a
<br>almofada, tapa com ela a cara do velhote, Enfezado j� est� escanchado
<br>em cima do homem, impedindo que se levante. Toninho aperta,
<br>aperta, com o bra�o bom Enfezado impede que as m�os do velhote se
<br>agitem no ar. 0 rosto de Toninho vermelho da for�a que faz, os
<br>olhos de Enfezado saltados. Ap�s alguns instantes, em que a cama
<br>emitiu rangidos fortes, capazes de levantar suspeitas, Enfezado compreendeu
<br>que podia levantar-se. Toninho jogou a almofada de lado,
<br>0 velhote estava tranq�ilo, como se continuasse a dormir.
<br>
<br>� Acho que nem sentiu.
<br>� Foi s� um pesadelo.
<br>Descem as escadas, Enfezado olha as flores sobre a mesa, trancam
<br>a porta por fora, levam a chave. Toninho, sempre em estado de
<br>alerta, examina as casas da vizinhan�a. Ningu�m nas portas ou nas
<br>janelas. Chegam � cal�ada, atravessam a rua, andam rapidamente, dobram
<br>a primeira esquina.
<br>
<br>� Viu como foi f�cil?
<br>� E que dona boa! S� fico com pena de n�o poder comer de
<br>novo.
<br>Enfezado sorri.
<br>
<br>
<br>� Gostaria de ver a cara do tal sargento Beto. Pena que tenho
<br>de me mandar.
<br>� Pra onde vai?
<br>� Barbacena, depois Canta Galo. Mais pra frente torno a dar
<br>as cara!
<br>� N�o devia ter amea�ado o tira � diz Toninho. � Essas coisas
<br>se faz na moita!
<br>� Acontece que queria mostrar que comigo n�o se brinca. E o
<br>servi�o t� feito. Se todos dessem esse pano de amostra iam manerar
<br>quando botassem as patas num favelado.
<br>Toninho convida para entrar no caf�, Enfezado prefere coca-cola,
<br>manda preparar um sandu�che. Sentam na pequena mesa, o gar�om
<br>coloca a garrafa, dois copos, traz a x�cara.
<br>
<br>� Quando voltar, como vou saber por onde anda?
<br>� S� deixar recado com vov� Jandira. De vez em quando baixo
<br>por l�.
<br>� E Marta?
<br>Toninho sorri.
<br>� N�o te preocupa. Como ela por ti.
<br>Enfezado sorri, morde o sandu�che com vontade, fala com a boca
<br>cheia.
<br>
<br>� Sabe, cara. Houve uma hora que ia fraquejando com a mulherzinha.
<br>Ela fez um neg�cio t�o bom que tive vontade de entregar
<br>os pontos.
<br>Toninho acha gra�a.
<br>
<br>� Te juro que fiz �s pressas. Aquilo era mulher pra se ficar na
<br>cama uma tarde inteira!
<br>� Faz isso com a Marta.
<br>� N�o vai entrar numa fria indo pra Rodovi�ria?
<br>Enfezado mostra os dentes cariados.
<br>� Que que h�, amig�o! N�o sou de dar bandeira. Tenho um
<br>cupincha que t� levantando ferro hoje de noite pra Minas. Vou no caminh�o
<br>dele.
<br>Toninho vira o resto de caf� na boca, o gar�om aparece, leva o
<br>dinheiro, os garotos deixam uns trocados de gorjeta.
<br>
<br>TR�S
<br>
<br>Quando anoitece Toninho sai do cinema, casaco de couro nas
<br>costas, rev�lver no bolso fechado com z�per, balas no outro. Agora,
<br>era s� ter o lugar onde ficar tranq�ilamente, pensar bastante no plano.
<br>E, cada vez que procura se fixar, vinha-lhe aos olhos a figura de
<br>
<br>
<br>Eunice chorando, o corpo bonito completamente nu, esperando que
<br>se deitasse por cima, se aproveitasse como bem entendesse. A boca
<br>colada na de Eunice, ela deixando que se introduzisse, calmamente.
<br>Pensa em Eunice, pensa na vedete que dividia o quarto com Marlene.
<br>N�o podia mais continuar com aquela bicha peluda, que o repugnava,
<br>cada vez que tentava beij�-lo. Com Eunice fora diferente. Sentiu
<br>prazer. Seria capaz de beij�-la 20 vezes, n�o fosse Enfezado estar t�o
<br>apressado.
<br>
<br>Toninho pensa ir para o apartamento da bicha, esconder-se por
<br>l� umas horas. Mas corria o perigo de Marlene aparecer, prend�-lo
<br>at� de madrugada. E o neg�cio, dali para frente, era distanciar-se.
<br>Mostrar que n�o dava certo, n�o estava disposto a ficar eternamente
<br>como amante de um tro�o que detestava. Era bom na hora em que
<br>precisava de dinheiro mas se tornava repugnante logo em seguida. Trataria
<br>de fazer o dinheiro de Marlene render e nunca mais apareceria.
<br>No m�ximo poderia dar as caras na lanchonete, para saber como ia
<br>indo. Afinal, a separa��o n�o deveria ser assim, t�o repentina. A
<br>bicha tinha ra�a, iria procur�-lo na cidade inteira, terminaria descobrindo
<br>seu esconderijo no edif�cio em constru��o, era capaz de armar
<br>um esc�ndalo dos diabos, os pe�es teriam muito de que rir, cada vez
<br>que aparecesse.
<br>
<br>Toninho se lembra da cara nervosa de Enfezado, dos olhos saltados,
<br>o bra�o direito endurecido. N�o podia convid�-lo a ir � reda��o
<br>de um jornal, depois do que aconteceu. Seria dar bandeira
<br>demais. E se alguma velha olhou pelas frestas, quando iam saindo?
<br>Quantas velhas ficam bisbilhotando, por tr�s das janelas? Enfezado
<br>estava certo. Num m�nimo uns dois meses tinha de sumir de circula��o.
<br>Ao reaparecer, deveria amoitar-se no morro, falar com vov� Jandira
<br>e dona Julinha. A�, saberia facilmente dos seus passos. Mas
<br>logo ap�s o caso, o mais acertado era mesmo dar no p�. E a essa hora
<br>devia estar longe. A n�o ser que o caminh�o do amigo s� sa�sse tarde
<br>da noite. Fica o dia todo pegando carga, parte depois das onze.
<br>Gostaria de fazer uma viagem longa, assim. Um dia tamb�m se meteria
<br>pela estrada. Rodaria muito tempo. Em lugares diferentes, passando
<br>por regi�es que nunca vira.
<br>
<br>Toninho toma o �nibus, segue para a rua do jornal. J� se informara,
<br>sabia que passava perto. Andaria algumas quadras, estaria l�.
<br>E foi o que fez, sem o menor constrangimento. Se Enfezado ficou
<br>impossibilitado de ajudar, n�o iria esperar que se passassem mais dois
<br>meses, at� aparecer. Talvez fosse tarde demais. Alguma coisa lhe
<br>dizia que a publica��o da not�cia com a fotografia deveria ser feita
<br>agora.
<br>
<br>Falou com o homem gordo e calvo, na portaria, ele indicou a
<br>reda��o. Subiu um lance de escadas gastas e sujas, saiu num corredor,
<br>chegou ao sal�o com muitas mesas, homens escrevendo � maqui
<br>
<br>
<br>
<br>na, grande quantidade de pap�is jogados no ch�o. Falou com o rapaz
<br>de ar nervoso e cabelos em desalinho, esticou o bra�o indicando O
<br>mulato sentado por tr�s da mesa maior com pilhas de laudas e telefones
<br>� sua frente. O homem parecia n�o reparar na sua presen�a.
<br>S� ap�s algum tempo ergueu os olhos.
<br>
<br>� Que � que h�?
<br>� Tenho uma not�cia pra lha dar!
<br>� Que not�cia?
<br>� Meu pai que desapareceu. . .
<br>0 rosto do mulato n�o demonstrava a menor emo��o.
<br>� Desapareceu ou se mandou?
<br>Toninho reparou bem no tipo, fazia um arzinho de riso.
<br>� Desapareceu!
<br>O homem pegou uns pap�is, atendeu o telefone que tocava insistentemente,
<br>disse palavras soltas, que Toninho n�o entendia, desligou.
<br>A�, voltou a encar�-lo. Levantou-se, deu um berro chamando
<br>outro homem que escrevia do lado oposto do sal�o, o tipo magricela
<br>e descabelado voltou-se.
<br>
<br>� Vai l�! Cabe�a quebrada e gente que se manda � com ele!
<br>Toninho metido no casaco de couro, um calor dos diabos, a m�o
<br>direita no bolso, um certo arrependimento de ali estar. Atravessou o
<br>sal�o, muitas mesas alinhadas ou sem nenhum alinhamento, cinzeiros
<br>e garrafas vazias de refrigerantes para tudo que era lado, o crioulo
<br>magricela e meio calvo servindo cafezinho em copos pl�sticos.
<br>
<br>O homem desgrenhado, de �culos, rosto suado, manda Toninho
<br>sentar. Era evidentemente mais atencioso que o mulato. Puxa a
<br>cadeira, fica incomodamente numa ponta de mesa, onde havia montoeiras
<br>de originais rabiscados. 0 homem do cafezinho se aproxima.
<br>O redator pega um copo, oferece.
<br>
<br>� Como � a hist�ria?
<br>Toninho toma o primeiro gole de caf�, completamente frio e
<br>amargo. Antes de dizer qualquer coisa puxa o z�per do bolso, retira
<br>a fotografia. O redator p�e-se a examin�-la.
<br>
<br>� � meu velho. � gente morava no Morro da Babil�nia. Um
<br>dia a m�e ficou doente e ele desceu pra chamar o m�dico, nunca
<br>mais apareceu!
<br>� Quando foi isso?
<br>� Faz tempo. N�o procurei logo um jornal porque achava que
<br>mais cedo ou mais tarde ia voltar, entende?
<br>� Quer dizer que ele n�o se mandou?
<br>� Aprontaram uma boa pro velho. S� isso! N�o ia se mandar.
<br>Tava tudo indo bem. Ele conseguiu o emprego como tratorista, ganhava
<br>cinco a mais por hora. Al�m disso a gente tinha um plano.
<br>� Que plano?
<br>Toninho faz um sorriso, ajeita os cabelos, sempre ca�dos de lado.
<br>
<br>� Ora, queria comprar um peda�o de terra por a�. Ia experimentar
<br>a lavoura.
<br>� Nunca mais ningu�m topou com ele?
<br>� Ningu�m. Tive umas duas vezes na obra onde trabalhava,
<br>procurei me informar, n�o adiantou nada!
<br>� Pode deixar. Amanh� sai uma nota.
<br>Toninho se levanta, aperta a m�o do magricela, encara-o, n�o
<br>v� naquele rosto suado, por tr�s dos �culos de aros grossos e escuros,
<br>qualquer emo��o. Vai embora, desviando-se das mesas, ouvindo o
<br>barulho das m�quinas de escrever, os palavr�es e as risadas, entra
<br>pelo corredor. Agradece ao homem da portaria, sai para a rua. N�o
<br>sabe por que, sente-se um tanto arrependido de ter procurado aquele
<br>jornal. Na verdade, o melhor que teria feito era n�o reclamar coisa
<br>alguma. Esperar pelo tempo. Ir, vez por outra, na tendinha de seu
<br>Greg�rio, dar umas palas a Banda Branca, esperar pelos acontecimentos.
<br>Com dinheiro, poderia at� colocar o alcag�ete na jogada.
<br>Eis uma solu��o na qual ainda n�o havia pensado. Por que n�o oferecer
<br>uma grana �quele vagabundo, mandar que se virasse � procura
<br>do pai? Ser� que n�o toparia ou ficaria com o dinheiro e n�o se mexeria?
<br>Toninho sente o calor da m�quina no bolso. Desde o instante
<br>em que acionou o gatilho, acertou duas vezes seguidas na t�bua podre,
<br>encheu-se de coragem. Se Banda Branca roesse a corda, depois de
<br>um acerto, trataria de aboto�-lo. N�o ia deixar-se embrulhar, como
<br>acontecia quando garoto. O alcag�ete empenharia a palavra, teria de
<br>cumprir. Se n�o fizesse isso estaria no mato sem cachorro.
<br>
<br>Atravessa a rua, passa pelo bar apinhado de bebedores, a id�ia
<br>de falar com Banda Branca continua a parecer-lhe oportuna. Talvez
<br>fizesse isso. Subiria novamente o morro, procuraria o alcag�ete. Daria
<br>as coordenadas, marcaria data para uma resposta definitiva. Entregaria
<br>uma parte do dinheiro, a outra seria dada quando soubesse de
<br>alguma coisa. E se Banda Branca inventasse uma hist�ria, com pap�is
<br>carimbados e tudo, apenas para ludibri�-lo? Isso n�o podia acontecer.
<br>Depois que o alcag�ete desse as dicas, procuraria confirmar,
<br>tiraria a d�vida. N�o era poss�vel que todos estivessem mentindo ou
<br>que todos contassem a mesma mentira. Na menor contradi��o marcaria
<br>Banda Branca, exigiria satisfa��o e o dinheiro de volta. Se o
<br>moleque tentasse escamotear, saberia bem como surpreend�-lo. Ora
<br>se saberia. Com esses pensamentos confusos, Toninho chega novamente
<br>a Copacabana. As ruas iluminadas e intensamente movimentadas,
<br>t�o diferentes daquela onde ficava o jornal, com l�mpadas morti�as
<br>nos postes escuros e altos, somente algumas pessoas nas ruas,
<br>as cal�adas atravancadas de autom�veis. Tem vontade de passar pela
<br>lanchonete, alarma-se com a perspectiva de uma exig�ncia de Marlene.
<br>Agora sabe o quanto � urgente ter um lugar onde ficar, sem o
<br>perigo de ser abordado por policiais que pedem documentos, fazem
<br>
<br>
<br>revista em tipos suspeitos. Se isso acontecesse perderia o rev�lver e
<br>
<br>ainda terminaria numa Delegacia, sem ter o que explicar.
<br>
<br>E se alugasse um quarto?
<br>
<br>Aproxima-se do balc�o da sorveteria, onde h� muita gente, pede
<br>
<br>sorvete de chocolate com baunilha, a mulher baixinha e carrancuda
<br>� quem serve. Toninho fica tomando o sorvete e pensando naquela
<br>do quarto. S� que n�o seria bobo de se meter numa casa qualquer.
<br>Procuraria uma pens�o, se entocaria por l�. Para todos os efeitos,
<br>trabalhava somente � noite, dormia de dia. Quando perguntassem o
<br>que fazia � e como iriam perguntar � responderia uma coisa
<br>qualquer. Era porteiro de um cinema, quando terminava o cinema
<br>emendava numa boate.
<br>
<br>0 sorvete est� uma del�cia, pede outro, ajeita os cabelos lisos,
<br>ca�dos na testa, a mulher baixinha e carrancuda torna a movimentar-
<br>se. Agora, est� certo de que esse era o caminho: alugar o quarto numa
<br>pens�o. Nada de vagas, de intimidades com quem quer que fosse.
<br>Ficaria isolado, n�o daria satisfa��o de sua vida. Calcula o dinheiro
<br>que ainda tinha, sabe que n�o � muito, mas dava para pagar pelo menos
<br>
<br>o primeiro m�s. Procuraria a pens�o no dia seguinte, saberia as condi��es,
<br>examinaria diversos quartos. Mas, nisso tudo faltava um detalhe:
<br>n�o podia chegar de m�os abanando. Tinha de aparentar estar
<br>vindo de algum lugar. Compraria a maleta, encheria de jornais,
<br>tomaria um t�xi, subiria as escadas. A� sim. Quem � que ia desconfiar?
<br>E onde seria a pens�o? Copacabana, no Leme ou mais para o
<br>Centro? Isso dependia das di�rias e da seguran�a que a casa oferecesse.
<br>N�o iria meter-se em qualquer buraco, para terminar sendo
<br>surpreendido como um rato. Agarraram Colher de Pau na moleza,
<br>mas com ele a coisa era diferente. Toninho imagina detalhes: uma
<br>carteira de identidade, por exemplo, uma profissional. E se lembra
<br>da oportunidade que teria no pr�dio em constru��o. Pegaria documentos
<br>de um oper�rio. Na pens�o usaria o nome que estivesse nas carteiras.
<br>Ningu�m precisaria saber nunca como na verdade se chamava.
<br>Ora, por que j� n�o pensara nisso h� mais tempo? A garganta
<br>est� fria de tanto sorvete, o est�mago tamb�m. Arrota, passa um
<br>guardanapo de papel nos dedos, a mulher mostra-lhe a pia. Lava as
<br>m�os, torna a usar os guardanapos de papel, coloca o casaco no ombro.
<br>Sai para a rua movimentada pensando nos documentos que obteria.
<br>Entra pelo port�o da obra, Man� Cabreiro est� de plant�o. Faz um
<br>"oi" para o homem meio adormecido, vai em frente, Man� Cabreiro
<br>o chama, pede cigarro. Toninho mete a m�o nos bolsos, tira a carteira,
<br>manda que se sirva. Man� Cabreiro pega dois, faz ar de riso,
<br>Toninho p�e-se a subir as escadas ainda por terminar. Entra pelo
<br>sal�o que j� conhecia, onde pelo menos dez pe�es se amontoavam, sobe
<br>outro lance de escadas, vai para o quartinho atravancado de materiais.
<br>Na passagem v� as roupas dos oper�rios penduradas, algumas
<br>
<br>atiradas a um canto, no maior desleixo. 0 sal�o era escuro, s� se tornava
<br>mais claro quando os an�ncios luminosos na rua piscavam. Mas
<br>l� pelas 2 da madrugada os an�ncios eram desligados, o sal�o e todo
<br>
<br>o pr�dio mergulhavam em completa escurid�o. Seria a hora de agir.
<br>Estira-se na cama de jornal, por cima dos sacos de cimento, sente os
<br>odores e os gemidos daquele pr�dio que ainda estava crescendo, ia
<br>tornar-se dos mais altos de Copacabana. Imagina quando aquilo tudo
<br>estivesse pronto, os pisos brilhando, as paredes pintadas, lustres pendurados
<br>no grande sal�o. As pessoas que ocupariam os apartamentos
<br>n�o precisariam, como ele, viver tramando nas sombras. Abririam as
<br>janelas para os ventos do mar, as cortinas esvoa�ariam e tudo teria
<br>muita paz. 0 que n�o entendia era de onde essas pessoas tiravam
<br>tanto dinheiro, se os jornais estavam todos os dias reclamando do
<br>custo de vida e das f�bricas que fechavam, despedindo uma quantidade
<br>de oper�rios. 0 pr�prio pai, um dia, chegou no barraco todo
<br>triste, a m�e puxou conversa, n�o respondeu. S� depois de algum
<br>tempo come�ou a falar. A� Toninho foi sabendo que havia sido demitido.
<br>N�o apenas ele, mas outros 1.499.
<br>� 0 pessoal do sindicato disse que n�o vai ficar assim. Se tem
<br>direitos!
<br>A m�e fazia um sorriso amarelo, o garoto sentia a amargura
<br>daquelas palavras. E desse dia em diante, at� dois meses mais tarde,
<br>tudo ficou muito dif�cil. Foi quando seu Greg�rio suspendeu os fiados,
<br>pensando que o pai tivesse de malandragem. Ao ler no jornal que
<br>
<br>1.500 oper�rios tinham sido demitidos da f�brica, foi l� em casa. O
<br>pai ficou emocionado, as coisas tornaram-se mais f�ceis.
<br>� Pode comprar o que quiser, dona Mundi�a. Quando seu
<br>Ven�ncio tiver recebendo a gente acerta!
<br>As pessoas que iam habitar o pr�dio n�o teriam aquele tipo de
<br>problema. O dinheiro entraria aos montes e com regularidade. Um
<br>rico nunca � demitido de lugar algum. Quem j� ouviu dizer que um
<br>milion�rio foi mandado embora do trabalho? Ora. se j� � rico, t�
<br>trabalhando s� de brincadeira.
<br>
<br>Toninho cansa desses racioc�nios malucos, desce o v�o de escada,
<br>o sal�o est� mergulhado nas sombras. Puxa algumas roupas, examina
<br>os bolsos. Na primeira cal�a n�o encontra coisa alguma, al�m
<br>de dinheiro; na outra, os documentos que procurava. E est�o presos
<br>por borrachinhas das que os bancos usam nos ma�os de notas. Vai
<br>para o quarto, acende f�sforos, examina rapidamente as carteiras. A
<br>profissional, j� bem arrebentada, a de identidade praticamente nova,
<br>algumas cartas escritas � m�o, em letras irregulares, por pessoa que
<br>n�o demonstrava muita leitura. Queima as cartas, mete as carteiras
<br>no bolso do blus�o de couro. O importante, agora, seria esperar o que
<br>ia acontecer. Quando o cara acordasse e n�o encontrasse os documentos,
<br>era capaz de promover esc�ndalo. Mas, como n�o mexeu no
<br>
<br>
<br>dinheiro que tinha nos bolsos, ficaria confuso, imaginaria ter perdido.
<br>Ningu�m vai roubar teus documentos, cara, deixando a grana
<br>como recorda��o, diria algum colega mais esclarecido. Ele pr�prio, se
<br>fosse envolvido na confus�o, teria o que acrescentar. Ora. se tinha todo
<br>esse dinheiro que t� dizendo, por que o careta ia carregar apenas os
<br>documentos? Documento se tira por a�, e quase de gra�a! Man�
<br>Cabreiro o apoiaria nessa afirma��o. N�o queria complicar-se. ser
<br>chamado pelo administrador. Ao mesmo tempo Toninho imaginava
<br>coisa mais simples: sairia cedo, quando come�asse o bate-boca estaria
<br>longe. � noite, se o interrogassem a respeito, n�o saberia de nada.
<br>Por que iria ficar com seus documentos se tenho os meus? O pe�o
<br>n�o teria a quem acusar, Man� Cabreiro terminaria aconselhando-o
<br>a procurar com mais cuidado por perto dos andaimes, nas montoeiras
<br>de pedras. Devem ter ca�do por l�. T�o por tr�s de alguma ruma de
<br>tijolo, e voc� botando a culpa em qualquer um. O pe�o ficaria desarmado,
<br>os outros argumentando que ladr�o n�o tinha sido, porque nesse
<br>caso a primeira coisa a desaparecer seria a grana.
<br>
<br>� Acha mesmo que gatuno vai levar documento quando tem
<br>tutu pra botar a m�o?
<br>Foi uma noite em que Toninho praticamente n�o dormiu. Ocupava-
<br>o, tamb�m, a id�ia de abrir o jornal no dia seguinte, ver a fotografia
<br>do pai, o texto que o redator magricela prometera fazer, a compra
<br>da maleta, os jornais velhos que arrumaria dentro, a entrada na
<br>pens�o de segunda. E, agora, estava certo de que n�o poderia ser em
<br>Copacabana. N�o teria bastante dinheiro para o adiantamento. Tamb�m
<br>n�o desejava meter-se numa daquelas, da Lapa, ou da Avenida
<br>Mem de S�, onde freq�entemente a pol�cia d� incertas, leva para a
<br>Delegacia quem muito bem entende. Teria de ser uma pens�o barata,
<br>mas ali pelas imedia��es do Catete, Marqu�s de Abrantes ou, no m�ximo,
<br>Largo do Machado. E se em vez dos jornais velhos, adquirisse
<br>umas camisas, cuecas e at� duas cal�as? Caso algu�m tivesse uma
<br>chave falsa e entrasse no quarto, teria o que ver. Se encontrasse a
<br>maleta vazia era o suficiente para desconfian�a. Calcula quanto tem
<br>no bolso. T�o logo clareasse, a primeira provid�ncia seria conferir o
<br>dinheiro. Com todas as roupas n�o podia gastar mais de mil. Depois
<br>de espalhar as cinzas das cartas, recosta-se num saco de cimento, por
<br>instantes adormece.
<br>
<br>QUATRO
<br>
<br>Acorda quando o sol ainda n�o apareceu e o pr�dio permanece
<br>em sil�ncio; o pr�dio e todas as coisas por perto. At� mesmo os carros
<br>
<br>
<br>s�o pouco numerosos na rua. H� como que um momento de paz sobre
<br>os quarteir�es pr�ximos e na avenida que beirava a praia. Toninho
<br>est� certo de que a essa altura s� os caras que faziam gin�stica deveriam
<br>estar por l�. Apareciam velhotes correndo, metidos em roupas
<br>de l�, a fim de suar o m�ximo poss�vel, depois vinham os que j� n�o
<br>ag�entavam correr, limitavam-se a conduzir os cachorros, ficar olhando
<br>eles fazerem sujeira nas cal�adas e na areia. Tinha certa raiva
<br>daqueles tipos, de seus cachorros, pois uma vez patolou o p� num
<br>monte de merda, foi preciso lavar o sapato no posto de gasolina.
<br>
<br>Enfia-se na roupa com vagar, examina o rev�lver, as balas, torna
<br>a olhar os documentos. Fixa-se na fotografia do pe�o, tem vontade de
<br>rir. A primeira provid�ncia seria entrar num foto, pedir retratos para
<br>carteira profissional e de identidade. Depois, com uma l�mina de barbear,
<br>um pouco de cola e bastante paci�ncia, acertaria o resto. L� o
<br>nome do trabalhador: Jo�o Leonardo de Abreu. Acha o nome bacana.
<br>Acentaria bem para ele. 0 neg�cio era se acostumar a ser chamado
<br>de Jo�o Leonardo. Procuraria n�o esquecer. Logo na primeira
<br>semana estaria acostumado. Tinha certeza.
<br>
<br>Desce a escada, passa pelo sal�o onde os pe�es continuam deitados,
<br>vai embora. Nem Man� Cabreiro estava no port�o. Ou foi tomar
<br>caf�, ou estava dando uma rondada na obra. Fazia isso diversas vezes
<br>na noite, a fim de evitar os ladr�es de materiais. O canteiro de obras
<br>era grande, um homem s� mal dava conta. Se lembra de Man� Cabreiro
<br>reclamando disso. De primeiro havia eu e mais dois vigias. Com
<br>
<br>o aumento do sal�rio mandaram os dois embora. Fiquei ag�entando a
<br>corda. Nesse caso, pra mim n�o houve aumento nenhum. A companhia
<br>ainda t� � lucrando. Tive 30% de aumento mas em compensa��o
<br>fa�o meu servi�o e de mais dois.
<br>Os pe�es debochavam de Man� Cabreiro.
<br>
<br>� Pode deixar, Man�. Os home s�o teus amigo. V�o melhorar
<br>a coisa pra tua banda. Quando menos pensar, te d�o um aumento
<br>bem grande. Vai rodar por a� de autom�vel e tudo.
<br>Outros pe�es, dispostos a gozar o vigia, acentuavam:
<br>
<br>� Se n�o ganhar o aumento, recebe um p� no rabo, pra deixar
<br>de andar com sacanagem! T� pensando que n�o se sabe das tuas piruetagens!
<br>Man� Cabreiro se enfezava.
<br>
<br>� N�o ando com sacanagem alguma, seus merdas! Cumpro
<br>meu dever. Se voc�s se escondem do trabalho a culpa n�o � minha. A
<br>companhia n�o paga ningu�m pra se meter no banheiro e ficar por
<br>l�, duas tr�s horas. Ganho pra n�o deixar ningu�m na pouca vergonha.
<br>Os pe�es achavam aquilo divertido. Continuavam a rir, Man�
<br>Cabreiro fica ainda mais irritado.
<br>
<br>
<br>� Acho uma gra�a! De primeiro, cada um de voc�s vai chegando,
<br>tudo humilde, pedindo uma vaga qualquer. Depois come�am a
<br>botar banca.
<br>� Deixa de ser bobo, Man�. Com esses rica�os se tem de tratar
<br>como quem t� na frente de cobra. No que o bicho esmorece, se
<br>malha o pau em cima. N�o se deve ter pena. Essa canalha chupa o
<br>sangue da gente e r�i o osso.
<br>� N�o sei nada disso. S� sei que cumpro ordem!
<br>Toninho distancia-se da constru��o, os risos e as palavras ing�nuas
<br>de Man� Cabreiro nos ouvidos. N�o entende por que aqueles
<br>homens discutiam tanto e por que estavam sempre irritados. Ser�
<br>que o pai era assim tamb�m? Ser� que no trabalho da estrada havia
<br>muitos caras como Man� Cabreiro, que na verdade ganhava para
<br>dedurar os companheiros? Sabe muito bem como era irritante aquela
<br>vida. Aqueles homens se desgastando, dias e dias subindo andaimes,
<br>forcejando com latas de massa de cimento, lidando com m�quinas
<br>pesadas, ag�entando solavancos das britadeiras, dobrando ferro
<br>com torqu�s e alicate, furando dedos nos arames. Os que tinham
<br>namoradas, protegiam-se com luvas. Mas logo as luvas furavam, n�o
<br>podiam comprar outras. Al�m disso ainda serviam de goza��o para
<br>os que pegavam os ferros com as m�os e argumentavam que m�o de
<br>oper�rio � pior do que t�bua, meu chapa. N�o adianta ficar a� de
<br>frescura, que tua m�ozinha nunca vai se parecer com a de um doutor.
<br>A risada era geral, os martelos batendo nos ferros, os ajudantes
<br>descarregando mais vergalh�es nas bancadas, caminh�es betoneira
<br>entrando de r�, o concreto descendo pela calha, nordestinos forcejando
<br>com os carrinhos de m�o, o apontador anotando os carrinhos que
<br>subiam para o elevador.
<br>
<br>� Quantos andares vai ter esse pr�dio, Man� Cabreiro?
<br>� Pelo que ouvi dizer, uns 30. Cada um com seis apartamentos.
<br>Tr�s nos fundos, tr�s de frente.
<br>� Puxa! Os caras da imobili�ria v�o levar uma nota.
<br>Man� Cabreiro como que falava em segredo.
<br>� E t� tudo vendido.
<br>Man� Cabreiro, cara redonda, capacete redondo, pisca o olho.
<br>� Sabe quanto vai custar cada bicho desse?
<br>Toninho n�o faz id�ia, nem est� interessado, mas aquilo parece
<br>fascinar o vigia.
<br>
<br>� Pelo menos 3 milh�o. Dinheiro que dava pra organizar uma
<br>fazenda na minha terra. Poucos tem por l� uma fazenda de 3 milh�o!
<br>Toninho estira-se na areia, as brisas s�o suaves, a praia est� completamente
<br>deserta. Tem vontade de rir de Man� Cabreiro, dos pe�es
<br>todos, de seu Greg�rio, do homem magricela do jornal. Afinal, quem
<br>eram eles? O que pretendiam? Como era que seu Greg�rio ia prosperar,
<br>se todo mundo ali pelo morro vivia na pior e mal podia pagar
<br>
<br>
<br>as contas atrasadas? Ou ser� que seu Greg�rio gostava de fiar, por
<br>que em cada conta acrescentava uma por��o de n�meros que os fregueses
<br>ignoravam? Devia ser isso. Seu Greg�rio nunca lhe parecera
<br>bobo. Desde a conversa que tiveram, percebeu sua manha. Soltave
<br>verde pra colher maduro. Mas ele n�o era tolo. Se ag�entou, deixou
<br>
<br>o barraqueiro falar. E como falou? Estaria certo? Teria dito as coisas
<br>conforme aconteceram? Colher de Pau deu de fato bandeira,
<br>meteu os p�s pelas m�os ou foi tudo bola��o de Banda Branca? Ia
<br>procurar Banda Branca, caso a nota do jornal n�o resultasse em nada.
<br>N�o voltaria a outra reda��o. Ofereceria uma grana ao alcag�ete,
<br>ficaria acompanhando o lance a dist�ncia. Se fraquejasse, se tentasse
<br>extorquir, a� se ferraria. N�o deixaria por menos. E seria f�cil, pois
<br>Banda Branca n�o podia imaginar que estava com uma m�quina,
<br>prontinha para ser usada. Faria o jogo da v�tima, acertaria encontro
<br>no local ermo, meteria a m�o no bolso, queimaria o tipo ordin�rio.
<br>Olha a gaivota que se distancia, lentamente, seguindo o cardume,
<br>lembra do porta-luvas se abrindo, o homem dando corda no tax�metro,
<br>o porta-luvas atulhado de notas de cem e cinq�enta. Superpondo-
<br>se � cara do motorista grande e forte, que os tratou mal o tempo
<br>todo, outro motorista fazendo-se vis�vel: o portugu�s careca, suado,
<br>reclamando com mestre T�bor por ter subido o morro. Como reclamou
<br>
<br>o diabo do portugu�s. Toninho estava vendo a hora que ia entrar no
<br>carro, descer o arrampado, deixar todo mundo sem ir ao enterro. Foi
<br>preciso seu Greg�rio ajudar. E para que o portugu�s careca se convencesse,
<br>mestre T�bor prometeu pagar a corrida em dobro.
<br>� N�o se tem culpa de morar onde mora. homem de Deus! �
<br>argumentava pacientemente mestre T�bor, que no dia da morte de
<br>dona Mundiquinha n�o foi � oficina.
<br>
<br>Seu Greg�rio, querendo ser agrad�vel, at� ofereceu uns tragos
<br>ao homem careca, enquanto dona Julinha e vov� Jandira providenciavam
<br>mais flores para botar no caix�o. As flores de vov� Jandira
<br>quase n�o chegavam a tempo. 0 cara ligou o motor e, sem qualquer
<br>respeito por mestre T�bor e por seu Greg�rio, berrou:
<br>
<br>� Vamos embora ou des�o sozinho!
<br>Toninho cruza as m�os por baixo da cabe�a, v� mestre T�bor,
<br>seu Greg�rio, tio Donga e dona Julinha se esfor�ando com o caix�o
<br>0 que menos fazia for�a era o homem da Santa Casa, que estava com
<br>a Kombi preta. 0 caix�o entrou no carro pela porta traseira, o de uniforme
<br>caqui fechou as portas com f�ria. Meteu-se no banco dianteiro,
<br>partiu com a Kombi, levantando poeira pelas vielas, o carro do portugu�s
<br>mal conseguindo acompanhar.
<br>
<br>� Esses cachorros andam de qualquer jeito porque o carro n�o
<br>� deles!
<br>Seu Greg�rio se preocupava com a dianteira tomada pela Kombi,
<br>reclamava ao motorista do velho Pacard.
<br>
<br>
<br>� Vamos l�, homem! Toca o p� no carro. Do contr�rio esse
<br>maluco some com a defunta e ningu�m vai saber pra onde foi.
<br>� N�o sabe qual � o cemit�rio?
<br>� A essa altura, sei l�?
<br>� Claro que ele sabe � dizia mestre T�bor com tranq�ilidade.
<br>� Disse duas vezes que era no Caju.
<br>� Pois pra mim ele falou em S�o Francisco Xavier � argumenta
<br>dona Julinha.
<br>Na parte em que o terreno era melhor o motorista portugu�s
<br>acelerou. A� voltou-se a ver a Kombi, que continuava em disparada.
<br>S� reduziu a marcha quando chegou no asfalto e havia uma por��o
<br>de carros atravancando a pista.
<br>
<br>Toninho imaginava a confus�o doida que fora aquele dia. Ele
<br>suava, mestre T�bor suava, dona Julinha tinha os olhos vermelhos.
<br>Seu Greg�rio bateu-lhe delicadamente na cabe�a.
<br>
<br>� N�o te preocupa. 0 pai vai voltar. Alguma coisa aconteceu
<br>com ele!
<br>0 velhote que se exercita numa carreira medida passa pelo cal�ad�o,
<br>logo atr�s vem outro, l� longe aparecem dois homens com
<br>cachorros nas coleiras. Toninho calcula que j� devem ser umas sete
<br>horas. �s oito se mandaria. Sacudiria a areia das roupas, passaria os
<br>dedos nos cabelos. Est� certo de que Enfezado foi com o motorista, a
<br>essa altura deve estar longe. Est� certo, tamb�m, de que abrir� o
<br>jornal, ver� a fotografia do pai, algumas linhas traduzindo toda a
<br>hist�ria que contou ao jornalista magro, de �culos escuros.
<br>
<br>Comprar� a maleta antes, ou primeiro procura sondar o pre�o
<br>da pens�o? N�o havia mal algum em especular. Diria que a bagagem
<br>estava na casa de um amigo, logo que acertasse o pre�o iria pegar.
<br>Isso mesmo!
<br>
<br>Toninho imagina-se instalado, num quarto que desse para o
<br>sagu�o, onde haveria uma �rvore. Nas tardes que n�o tivesse nada
<br>para fazer, abriria a janela, olharia revistas, principalmente as que
<br>trazem retratos de mulheres nuas. Iria ao Mangue, trataria de localizar
<br>Marta. Queria s� ver como estava, se era melhor que a mulherzinha
<br>do sargento. Tinha d�vidas a esse respeito, embora recordasse
<br>perfeitamente do dia em que a vira tomando banho. Seios pequenos
<br>e empinados, n�degas grandes, coxas grossas. Se Marta ainda estivesse
<br>do mesmo jeito, podia at� propor um neg�cio: morar com ela.
<br>
<br>Torna a olhar a gaivota que, agora, arranjou uma companheira.
<br>N�o seria nada interessante ligar-se a Marta. Com o passar dos dias
<br>surgiriam os problemas, ela se intrometeria na sua vida. 0 importante
<br>seria encontr�-la, sempre que desse vontade. 0 plano que tinha
<br>em mente n�o podia ser compartilhado com ningu�m, muito menos
<br>com uma garota que j� n�o via h� tanto tempo. Quem sabe se enra
<br>
<br>
<br>
<br>bichou por algum cara, estava numa transa complicada? Isso era
<br>quase certo. Nenhuma mulher do Mangue vive sozinha. Tem sempre
<br>um cafet�o por perto, que d� prote��o e toma a grana. Sem essa prote��o
<br>se acabaria em dois tempos. Uma pena que Enfezado n�o pudesse
<br>ir tamb�m. Deu a id�ia, conhecia a tal da Zita. Mas n�o tinha o
<br>que errar. Talvez nem dissesse que era Toninho, filho de seu Ven�ncio
<br>e de dona Mundiquinha. Dizer pra qu�? Se Marta fizesse alguma
<br>indaga��o nesse sentido, trataria de desconversar. N�o queria que na
<br>hora H viesse com as tais lembran�as bestas. Queria era peg�-la, como
<br>pegou a mulherzinha do sargento. Mordeu-lhe os bei�os, a mulherzinha
<br>estremeceu, entregou-se. Cansado, perguntou enquanto mordiscava-
<br>lhe a orelha.
<br>
<br>� Como � teu nome?
<br>Igualmente cansada a mulherzinha respondeu, a voz denotando
<br>medo.
<br>
<br>� Eunice. Fa�a o que quiser mas n�o me mate!
<br>� � t�o boa que vou te querer pra sempre. Meu amigo � que
<br>n�o sei o que pensa!
<br>� N�o � voc� quem d� ordens?
<br>Toninho teve vontade de rir, a mulher fez uns movimentos lentos,
<br>sentiu-se afundar, afundar, quis mentir, dizer que sim mas n�o
<br>p�de, apertou-a com f�ria, os dedos marcando os peitos brancos e
<br>duros.
<br>
<br>Ergueu-se, Enfezado apareceu, ainda estava se limpando na
<br>coberta da cama. Enfezado subiu na mulher, desta vez com roupa e
<br>tudo, prendeu-a entre as pernas. Toninho ficou olhando as coxas grossas
<br>que se agitavam, as n�degas que tremiam, os p�s de unhas pintadas.
<br>S� um bra�o de Enfezado podia mover-se, o outro permanecia
<br>duro, como se fosse de pau.
<br>
<br>� Vem aqui, cara! Me ajuda com essa sacaneta.
<br>N�o esqueceria jamais a cena das coxas grossas agitando-se, das
<br>nesgas de bunda tremendo. Ver aquilo era quase t�o bom quanto
<br>estar por cima da mulherzinha que tentara ganhar tempo e at� atir�lo
<br>contra o amigo.
<br>
<br>Prendeu-a pelas pernas, meteu a m�o entre as coxas mornas,
<br>ficou segurando. Enfezado saiu de cima da cama, a coberta j� estava
<br>ensopada de sangue.
<br>
<br>Ser� que Marta tinha coxas t�o grossas e t�o quentes? Poderia
<br>ficar com ela o tempo que quisesse ou se demorasse viria logo a tal
<br>Zita bater na porta, dizendo que havia outro cliente? E se pagasse
<br>uma nota e tamb�m desse gorjeta a Zita? Seria uma boa. Daria uma
<br>grana a Zita, ficaria a tarde toda com Marta. Isso mesmo. S� que
<br>n�o iria para o Mangue com o rev�lver, nem com o casaco. Al�m
<br>disso, n�o se sentiria com coragem de baixar por l�, antes de ter as
<br>fotografias coladas nos documentos de Jo�o Leonardo de Abreu. Se
<br>
<br>
<br>pintasse algum tira, tinha o que mostrar. Se o careta entesasse, soltaria
<br>uma grana.
<br>
<br>Novos velhotes passam metidos em roup�es de gin�stica, correndo
<br>lentamente, s� para exercitar os m�sculos. Toninho ergue-se da
<br>areia, est� certo de que teria um dia cheio: primeiro o jornal, depois
<br>as fotografias, mais tarde a busca, de pens�o em pens�o. Quando
<br>descobrisse uma que interessasse, trataria de ir � loja de malas, depois
<br>a outra que vendesse camisas baratas, cuecas e cal�as. Sacode bem a
<br>areia, passa o dedos nos cabelos, atravessa a pista, os carros em velocidade,
<br>as primeiras garotas mostrando as coxas nas sa�das de praia,
<br>bab�s sacudindo pirralhos em carrinhos de luxo.
<br>
<br>Entra no bar, senta junto do balc�o, o cara uniformizado serve
<br>m�dia e p�o na manteiga, um copo com �gua mineral. Mastiga devagar,
<br>est� certo de que ap�s conseguir o local para ocultar-se, pode iniciar
<br>o plano. E n�o tem nenhuma d�vida de que vai ganhar muito
<br>dinheiro. Ora se vai.
<br>
<br>7 3
<br>
<br>
<br>Cap�tulo IV
<br>
<br>UM
<br>
<br>Toninho pega o jornal, folheia, espera o homem devolver o troco.
<br>Na coluna de pessoas desaparecidas, com pequeninas fotos, nenhuma
<br>refer�ncia a Ven�ncio Borges. Torna a olhar o jornal, desde o
<br>come�o. Naturalmente a nota estava encaixada perto de algum an�ncio,
<br>por isso n�o conseguiu v�-la. Chega outra vez � �ltima p�gina e
<br>nada. Os olhos de Toninho refletem o �dio que sente. Magricela de
<br>redator filho da puta. Como aquele sacaneta ousava fazer um cara
<br>como ele falar, contar detalhes da vida particular e depois n�o sair
<br>coisa nenhuma? 0 que � que pensava? Procuraria o telefone do jornal.
<br>Volta a olhar nas p�ginas, localiza o expediente. Rasga o peda�o
<br>de papel, onde est� o endere�o e o telefone. � noite ligaria para a
<br>reda��o. Saberia o que houve. No m�nimo daria uma espinafrada no
<br>cara. Vai em frente. 0 dia, evidentemente, n�o come�ava bem. 0
<br>que custava aquele magricela publicar a not�cia? Ou n�o saiu por
<br>interven��o do tipo mulato, que demonstrou n�o ter o menor interesse
<br>na coisa? Era evidente que o mulato mandara suspender a nota.
<br>Pra que falar de um oper�rio que havia sumido h� tanto tempo? Era
<br>isso que eles pensavam. Mas se dariam mal. Haveria de encontrar
<br>outro meio de localizar o pai. Bem que gostaria de chegar no meio
<br>daquela reda��o, ouvir as desculpas do redator magricela, postar-se
<br>em frente ao mulato de cara atrevida, fazer a m�quina funcionar.
<br>Sem d�vida alguma, um tipo ordin�rio. Igual ao motorista portugu�s,
<br>que n�o queria esperar o enterro da m�e, igual a seu Greg�rio que
<br>suspendeu o fiado, igual ao homem da Kombi que saiu com o caix�o
<br>em disparada, pouco se incomodando se ele ia saltar pro ch�o
<br>ou n�o. Uma corja s�. N�o tinha de ter considera��o. Largou o jornal
<br>aberto na cal�ada, foi em frente, desviando-se sem muita preocupa��o
<br>dos que passavam. Ap�s alguns quarteir�es, onde decidiu
<br>tomar o �nibus, procurou acalmar-se. De que adiantaria indignar-se?
<br>Iria alterar alguma coisa? O certo era deixar aquele jornalista de
<br>
<br>74
<br>
<br>
<br>lado, tratar de localizar Banda Branca. Conhecera muito bem o pai,
<br>podia dar o recado. Mesmo assim telefonaria para o jornal. Mandaria
<br>
<br>o magricela e o mulato tomarem no rabo. N�o podia ficar por isso
<br>mesmo. E mais: ia pegar a fotografia. Se n�o devolvessem, faria um
<br>esc�ndalo.
<br>Entra no �nibus, salta na pra�a onde est�o sendo feitas obras,
<br>passa por baixo de andaimes, mulheres com carrinhos de feira,
<br>homens com cestos na cabe�a, motoristas buzinando no engarrafamento.
<br>Toninho caminha, at� avistar a tabuleta que, em grandes
<br>letras, anuncia a Pens�o Iola. Por baixo das letras gordas, em vermelho,
<br>uma �nica palavra: "familiar". Entra, dirige-se � velhota por
<br>tr�s do balc�o antigo, o ventilador todo empoeirado do lado, uma
<br>folhinha que mostrava a jovem loura, escovando os dentes. A velhota
<br>confere pap�is, n�o ergue sequer a vista. S� depois de encostado
<br>ao balc�o decide falar-lhe.
<br>
<br>� Queria saber pre�o de quartos. Sou estudante � diz Toninho.
<br>A velhota olha-o, sem interesse. Fica uns instantes calada. Puxa
<br>a tabela plastificada, p�e-se a ler, mecanicamente.
<br>
<br>� Na parte da frente, caf� pela manh�, dois e quinhentos! Pro
<br>lado dos fundos, caf�, mil e oitocentos. Sem caf�. s� com roupa de
<br>cama, mil e quinhentos.
<br>� Topo esse, s� com roupa de cama!
<br>A mulher d� um berro, aparece o velho de canelas secas, cal�as
<br>arrega�adas, chinelos despencados.
<br>
<br>� Seu Jos�, mostre o 509!
<br>O faxineiro segue pelo corredor de ladrilhos, Toninho atr�s. �
<br>propor��o que penetram no pr�dio, fica sentindo, como aquilo era
<br>sinistro. O elevador aparece. Esp�cie de gaiola de grades, cujo interior
<br>pode ser visto por quem est� de fora. O velho abre as portas,
<br>chegam ao 5.� pavimento, p�em-se a caminhar por longo e sombrio
<br>corredor. Passam por duas ou tr�s janelas que davam para telhados
<br>de pardieiros n�o muito diferentes da pens�o. O velho torce a chave
<br>na fechadura, o bafo de mofo invade as narinas de Toninho. Escancara
<br>a janela, n�o existe �rvore alguma.
<br>
<br>� D� sol na parte da tarde?
<br>O faxineiro garante que n�o. Sol, mesmo, s� um pouco de
<br>manh�.
<br>
<br>� Pra mim, � o melhor lado da pens�o. At� outro dia, neste
<br>quarto, morou um mo�o que se formou. Agora � doutor!
<br>Toninho examina a cama, estreita, mas de molas. Os m�veis s�o
<br>velhos. A mesa pequena, duas cadeiras, o guarda-roupa de imbuia, na
<br>porta empenada o espelho manchado.
<br>
<br>� H� outra pens�o por perto?
<br>� A Su��a. Bem mais em conta. S� que d� muita briga. Se
<br>quiser arriscar, tou certo que dona Berta n�o faz quest�o.
<br>
<br>� Quem � dona Berta?
<br>� A que tava l� embaixo. � propriet�ria disso aqui tudo!
<br>Toninho acha que seu Jos� n�o tem raz�o de estar mentindo. Sente,
<br>por suas palavras, que n�o inventa. Tanto faz que ficasse ali,
<br>como n�o, para ele dava no mesmo. Por isso acredita que a tal Pens�o
<br>Su��a deveria ser mesmo uma barra. De que adiantava economizar
<br>no aluguel e viver apavorado com a pol�cia? Exatamente o que
<br>n�o queria. Podia haver batida numa hora em que n�o estivesse, os
<br>tiras encontrariam coisas que iriam prejudic�-lo. No corredor de
<br>ladrilhos, a paz do casar�o. Do que estava necessitando. J� n�o sabia
<br>
<br>o que era dormir numa cama. Tinha certeza que ia estranhar.
<br>� Com caf� da manh�, em quanto fica?
<br>A mulher gorda, grande papada, olha-o com mais simpatia. Examina
<br>de novo a tabela.
<br>
<br>� Um e oitocentos. S� que nosso caf� � quase almo�o.
<br>� Como � o pagamento?
<br>� Sempre adiantado. Entrando hoje paga o m�s todo.
<br>� Topo! Pego a bagagem, logo mais venho pra c�.
<br>Dona Berta mostra-se novamente seca.
<br>� Nesse caso tem de deixar um sinal. No m�nimo quinhentos!
<br>A�, mando dar uma limpeza no quarto.
<br>Toninho anima-se, principalmente porque a mulher n�o falou
<br>em documentos. Puxa as c�dulas, confere quinhentos, dona Berta senta
<br>na cadeira de madeira, muito pequena para seu volume, destaca
<br>
<br>o recibo.
<br>� Quando vier, quero o n�mero da identidade.
<br>Leva um susto, tranq�iliza-se, sem nenhuma d�vida ter� de
<br>usar a carteira do pe�o. O neg�cio era conseguir uma fotografia, o
<br>mais rapidamente poss�vel. Dobra o recibo, mete no bolso do casaco,
<br>a mulher faz arzinho de riso, seu Jos� vem chegando, diz algumas
<br>palavras sem sentido, Toninho vai para a rua, onde o movimento se
<br>tornara intenso. Um pouco mais adiante est� em frente � Pens�o Su��a.
<br>Exatamente como o velho dissera. N�o precisava entrar para sentir
<br>a barra. Vasos de plantas nas janelas, roupas estendidas no corredor
<br>principal, tr�s ou quatro homens jogando damas. L� para os fundos,
<br>outros quartos de portas abertas e mais roupas estendidas. N�o
<br>se tratava de pens�o e sim de uma cabe�a-de-porco, numerosas fam�lias
<br>agrupadas em completa promiscuidade.
<br>
<br>Na avenida, com fileiras de oitizeiros, encontrou o Foto-Studio
<br>que prometia trabalhos em cinco minutos. 0 homem ajustou a m�quina,
<br>conseguiu-lhe uma gravata, um palet�, a fotografia estava tirada.
<br>Voltaria em meia hora, apanharia, pagamento adiantado. Andou pela
<br>pra�a, da pra�a � porta do cinema, olhou cartazes de artistas, em tremendas
<br>proezas, subiu ao sal�o de bilhar, mais por curiosidade do
<br>que outra coisa. N�o era maluco de se meter em partidas com aque
<br>
<br>
<br>
<br>le bando de cobras. O crioulinho magro iniciara uma tacada. H� uns
<br>cinco minutos, n�o deixava a peteca cair, caras e mais caras chegando
<br>perto, a fim de acompanhar o desempenho do jogador. As bolas
<br>mais dif�ceis ele tra�ava, o advers�rio limitando-se a olhar, meio triste,
<br>pois estava certo de que pagaria o tempo, teria de cobrir a aposta.
<br>Na jogada f�cil, imposs�vel de errar, terminou ferrado. O taco espirrou,
<br>s� duas bolas tocaram-se de leve, a vermelha ficou isolada, junto
<br>a tabela esquerda. O crioulinho tornou-se t�o nervoso que bateu com
<br>
<br>o taco no ch�o, culpando a qualidade do giz. O parceiro tomara posi��o
<br>para aumentar sua contagem, quando come�ou a briga na mesa
<br>de sinuca. Toninho decidiu cair fora. N�o queria estar por ali, no
<br>caso de os tiras aparecerem.
<br>Volta ao Foto-Studio, pega os retratos num pequeno envelope.
<br>N�o acha parecido. O neg�cio, agora, seria encontrar o local onde
<br>pudesse trabalhar. Voltar � constru��o? Lembra-se do aviso de Man�
<br>Cabreiro.
<br>
<br>� Antes de dez da noite n�o bota o p� aqui! D� galho!
<br>Num instante j� sabe como resolver o problema. Compraria a
<br>l�mina de barbear, o tubo de cola, entraria no cinema, se fecharia
<br>no banheiro. Isso mesmo. Na papelaria adquire o material, mete-se
<br>no restaurante tumultuado, espera aparecer lugar. Depois do almo�o
<br>senta no banco da pra�a, enfeitada de pombos e aposentados lendo
<br>jornais. O rel�gio long�nquo assinala as horas. Por volta das duas
<br>dirige-se ao cinema. � dos primeiros a comprar ingresso. Entra, n�o
<br>
<br>h� ningu�m na sala de proje��o. Vai direto ao banheiro. Passa a
<br>chave numa das portas, abaixa a tampa do vaso, pendura o casaco.
<br>Pacientemente, abre o pl�stico, pacientemente retira a fotografia do
<br>pe�o, p�e a sua no lugar. Esfor�a-se para que a substitui��o seja perfeita.
<br>Se a cola n�o segurar como deseja, voltar� � papelaria, onde
<br>vira a m�quina de plastificar. Terminado o trabalho, fica admirando
<br>sua obra. Est� perfeita. A substitui��o na carteira profissional foi bem
<br>mais f�cil. Tanto assim que, ao menor toque, a fotografia do pe�o
<br>soltou. Toninho passou bastante goma na sua foto, colou-a. ficou
<br>esperando. Abriu a porta, fez a sondagem. Ningu�m no banheiro.
<br>Pegou os retratos do trabalhador, picou-os em pedacinhos, jogou no
<br>vaso. Rapidamente a cola secou. Verificou, inclusive, ser desnecess�ria
<br>a replastifica��o. Ningu�m iria desconfiar. 0 corte fora bem feito.
<br>Guardou a l�mina, meteu o tubo de cola no bolso, levantou a tampa
<br>do vaso, deu descarga. Manteve o dedo pressionando a v�lvula, as
<br>fotografias picadas n�o queriam descer. Amassou papel higi�nico,
<br>jogou por cima, papel e fotos rasgadas desapareceram.
<br>
<br>Voltou � sala de proje��o, havia bastante gente, escolheu uma
<br>poltrona no trecho mais escuro. Talvez n�o visse o filme todo, pois
<br>teria de comprar as roupas, a maleta. Sentado, ouvindo m�sicas anti
<br>
<br>
<br>
<br>gas, p�s-se a imaginar a rea��o de Man� Cabreiro. N�o precisava dizer
<br>nada a ele. Vez por outra apareceria no pr�dio em constru��o.
<br>
<br>O filme come�ou, Toninho acompanhava as cenas sem interesse,
<br>at� que surgiram as mortes misteriosas numa localidade de Nova
<br>Iorque. 0 bombeiro matava tipos solit�rios, provocava inc�ndios nas
<br>casas e apartamentos. Horas depois ele pr�prio retornava ao local "a
<br>fim de evitar uma trag�dia". Esse bombeiro s� faltou enlouquecer o
<br>detetive, que perdeu at� a mulher, pois afundara de corpo e alma no
<br>trabalho, n�o ligava mais para nada. Descobrir e prender o criminoso
<br>tornou-se para ele id�ia fixa.
<br>
<br>O filme terminou impressionando tanto o garoto, que foi at� o
<br>final da sess�o. Saiu quando as luzes acenderam, o cinema praticamente
<br>cheio. Andava e recordava a diabolice do tal bombeiro. Acabou
<br>preso por ter dado uma �nica mancada. N�o fosse alugar o carro,
<br>colocar seu nome num papel, jamais algu�m iria botar as m�os nele.
<br>Relacionava aquele caso com o seu, sentia-se um tanto orgulhoso,
<br>pois desde o in�cio o nome seria outro: Jo�o Leonardo de Abreu. N�o
<br>tinha ficha em lugar algum, n�o iria morar na Pens�o Su��a, n�o
<br>agiria todos os dias, como o porra-louca do bombeiro. Duvidava
<br>muito que os tiras daqui tivessem aquela obstina��o do detetive americano.
<br>Aquilo, s� no cinema. Ningu�m deixaria uma mulher boa
<br>como o cara deixou, pra grampear um bombeiro maluco.
<br>
<br>Retira a carteira de identidade do bolso, est� perfeita. Bem colada.
<br>Melhor do que esperava. Agora, podia comprar a maleta e as
<br>roupas. Um pouco antes das 6 desejava estar de volta � pens�o. Tornaria
<br>a falar com dona Berta, completaria o pagamento. Com todas
<br>essas despesas, ficaria completamente a zero. E n�o queria mais dinheiro
<br>de Marlene. Ap�s estender-se sobre o corpo morno de Eunice,
<br>depois de beij�-la com f�ria, morder-lhe os bei�os, sentir as virilhas
<br>ardendo, n�o suportaria os p�los nojentos de Marlene. Nem aquele
<br>h�lito de chicletes e pastilhas de hortel�. Eunice tinha seu pr�prio cheiro.
<br>Marlene cheirava a desodorante. As vezes ficava com dor de cabe�a.
<br>Mas tinha medo da bicha deixar os perfumes e come�ar a feder
<br>debaixo dos bra�os.
<br>
<br>Depois de instalado, procuraria Marta. Se a barra no Mangue
<br>estivesse pesada, marcaria encontro por fora. Onde o gigol� n�o pudesse
<br>chegar. Se Marta se fizesse de besta, procuraria sondar Marlene.
<br>Faria uma proposta.
<br>
<br>� De hoje em diante se tem um acerto.
<br>N�o adiantava levar na brincadeira.
<br>� Me amarro contigo se der um al� pra gatinha que tira a
<br>roupa
<br>na boate.
<br>Sabia o quanto isso ia revoltar Marlene. Mas n�o abria m�o.
<br>
<br>� A escolha � tua. Se n�o topar, me mando. N�o apare�o mais.
<br>
<br>Tem quase certeza de que cederia. Quando visse que estava decidido,
<br>n�o teria outra escolha. Era at� capaz de contribuir para a aproxima��o.
<br>A garota seria mesmo aquela que vira na revista? Por que
<br>Marlene nunca lhe falava a seu respeito? Ou n�o passava de outra
<br>bicha, bem disfar�ada, seios � base de horm�nios e tudo? Mas, pelo
<br>que notava no pequeno apartamento, pelos detalhes no banheiro, pe�as
<br>de roupa, perfumes e pentes, tinha quase certeza de que era de
<br>fato uma garota. Se fosse bicha Marlene teria deixado escapar alguma
<br>coisa. Uma palavra que fosse. N�o poderia evitar. Cansava de dizer
<br>que, mais cedo ou mais tarde, t�o logo alugasse o apartamento maior,
<br>promoveria uns encontros coletivos.
<br>
<br>� Tu vai pontificar. Subjugar cada uma de n�s! 0 ambiente
<br>todo iluminado, adequadamente, ar-refrigerado melhor que esse, m�sica
<br>suave para n�o interromper nossa imagina��o.
<br>Nesse ponto Marlene sorria.
<br>
<br>� Tua imagina��o! Vai ter de exercitar muito, filhinho! Enfrentar
<br>tr�s doidonas como eu n�o � moleza. A� que quero ver se
<br>canta mesmo de galo.
<br>� Se cantar?
<br>� A gente te cobre de beijos e presentes! Vai ter vida de pr�npe.
<br>Pode ficar o dia todo dormindo ou passeando. Despesas por nossa
<br>conta. Pra que vida melhor?
<br>Toninho sorria. Tinha certo medo das maluquices de Marlene.
<br>Nesses momentos ela ficava de olhos brilhantes, o rosto tornava-se nervoso,
<br>as m�os o prendiam como garras.
<br>
<br>� Mas v� bem, moleque! Se me deixar na berlinda, acabo contigo.
<br>Topo a brincadeira em conjunto mas sou tua dona. Te descobri!
<br>N�o trabalho de gra�a pra ningu�m!
<br>Marlene fazia essas amea�as, Toninho encarava-a, sentia-lhe o
<br>suor frio, os cantos da boca espumando.
<br>
<br>� Imunda! Nojenta!
<br>� Me bate! Me bate se � macho!
<br>Toninho batia. A m�o aberta para n�o deixar marca. Marlene
<br>encolhia-se, protegia-se com o travesseiro, recebia socos nas costas, na
<br>bunda. Marlene fingia chorar e terminava chorando, Toninho mordia-
<br>a na cintura, com for�a. A bicha esperneava, rebolava-se, gemia e
<br>
<br>o segurava pelos cabelos, sempre pedindo "morde mais", "morde
<br>mais", enquanto o garoto tratava de desvencilhar-se, enojado.
<br>DOIS
<br>
<br>Quando principia a anoitecer e as l�mpadas das ruas. avenidas e
<br>pra�as est�o acesas, Toninho entra na Pens�o Iola. A mala est� meio
<br>pesada porque al�m das roupas h� tamb�m um par de sapatos. Dona
<br>
<br>
<br>Berta procura o papel onde anotou o adiantamento de 500, Toninho
<br>abre a carteira, tira o dinheiro.
<br>
<br>� N�o precisa caf�. �s vezes chego tarde, durmo a manh� toda.
<br>Na hora que vou tomar caf�, t� todo mundo almo�ando.
<br>Ele pr�prio ri da sua afirma��o. A velhota n�o acha gra�a. Parece
<br>nem ter reparado em semelhante considera��o. Est� ocupada com
<br>a reda��o do recibo. Em dado momento p�ra de escrever.
<br>
<br>� Ent�o, s� deve mil!
<br>Toninho ainda sorridente, sempre sorridente, cabelo caindo de um
<br>lado da testa, remexe na carteira e nas c�dulas. A mulher, m�o gorda
<br>e branca, recolhe as notas, entrega um peda�o de papel, que deveria
<br>funcionar como recibo. Toninho mete o papel no bolso, a mulher volta
<br>a falar.
<br>
<br>� Identidade!
<br>Torna a examinar a carteira. Exibe o documento. A respira��o
<br>por instantes suspensa, um certo frio percorre-lhe a espinha. Tranq�ilamente,
<br>dona Berta vai escrevendo no registro de h�spedes: Jo�o Leonardo
<br>de Abreu.
<br>
<br>� Proced�ncia?
<br>� Tou vindo de Ilh�us!
<br>� Endere�o, l�.
<br>� Avenida Ant�nio Prudente, 152.
<br>A mulher fecha o livro, coloca-o de lado. Tira a chave de um
<br>quadro repleto de ganchos de metal, bate com ela no balc�o, chamando
<br>o faxineiro Jos�. O faxineiro aparece. Pega a mala, vai a caminho
<br>do elevador. O garoto encara a mulher, v� as l�mpadas fracas iluminando
<br>aquele imenso sal�o de mosaicos brancos e pretos, sabe que
<br>dona Berta n�o parece ser de muita conversa. Era prefer�vel assim.
<br>Manteria tamb�m certa dist�ncia. Desta forma, n�o haveria como
<br>tentar intrometer-se na sua vida. O neg�cio seria ag�entar os pagamentos
<br>em dia, mostrar moral. O faxineiro chega na porta do quarto,
<br>Toninho torce a chave na fechadura, o homem entra com a mala.
<br>Coloca-a sobre a cama, Toninho tira uma c�dula de cinco, oferece, ele
<br>tenta recusar, termina aceitando. Fecha a porta, os passos do faxineiro
<br>ecoando no corredor, estende-se no colch�o. Olha os m�veis, a
<br>janela aberta na noite, vagos rumores que vinham da rua, o cheiro
<br>caracter�stico do casar�o. Em tudo, diferente do pr�dio em obras: nada
<br>de sacos de cimento, escadas, peda�os de madeira, ainda recendendo a
<br>resinas, sacos e cal a um canto. Ali era tudo muito antigo, parecia
<br>guardar certa estabilidade. O enorme guarda-roupa deveria estar naquele
<br>lugar h� vinte anos, o mesmo acontecendo com a c�moda, a
<br>mesa de pernas trabalhadas. A cadeira, evidentemente, n�o pertencia
<br>ao conjunto. Fora arranjada pra quebrar galho. H� quantos anos
<br>aquela pens�o existiria? Quantas pessoas teriam passado por aquele
<br>mesmo quarto? O �ltimo teria sido o mo�o que se formou, como dizia
<br>
<br>
<br>o faxineiro, com certa vaidade? N�o sabe por que preocupar-se com
<br>isso, quando tinha tantos problemas a resolver. De uma forma ou de
<br>outra deveria saber do paradeiro de Enfezado, acompanharia a evolu��o
<br>do caso da mulher do sargento pelos jornais, continuaria comprando
<br>a folha, onde prometeram publicar a nota do desaparecimento
<br>do pai. Fora disso, naquele quarto silencioso, teria de encontrar meio
<br>de ocultar o rev�lver e as balas. N�o precisava andar armado o tempo
<br>todo. Um buraco no colch�o? Um local por baixo do guarda-roupa?
<br>Tolas essas preocupa��es. Se algum dia der tal bandeira que os tiras
<br>entrem na minha, n�o � escondendo o rev�lver que vou resolver o
<br>problema. Nesse caso tenho � de me mandar, e pra longe. Bem longe,
<br>at� a onda passar. Por isso, o importante era agir com vagar. Nada
<br>de precipita��es.
<br>Cruza as m�os por baixo da cabe�a, pela primeira vez o plano
<br>se esbo�a com clareza. Abre a mala, enfia as roupas nos cabides, coloca
<br>a maleta num dos compartimentos do vasto guarda-roupa. Era isso.
<br>Os motoristas de t�xi. N�o podia ser diferente. Quem ia conseguir
<br>controlar? Como iriam descobrir? Inteiramente imposs�vel. E onde
<br>agir? Em lugares ermos ou nos pontos mais imprevis�veis? Rodaria
<br>por perto. Sempre por locais de movimento, sobre os quais n�o se
<br>admitisse a menor suspeita. 0 resto seria uma quest�o de habilidade.
<br>
<br>Olha pela janela, s� os telheiros sombrios dos pr�dios mais baixos,
<br>sabe que n�o teria como errar. Talvez o primeiro caso fosse o mais
<br>dif�cil. Assim mesmo, nem tanto, pois de h� muito estava decidido. A
<br>ajuda que se prontificou dar a Enfezado, segurando a mulherzinha do
<br>sargento, foi um bom exerc�cio. Provou que era capaz. N�o teve
<br>medo. N�o tremeu, nem sentiu desejo de virar a cara. Enfezado ficou
<br>aleijado, o marido daquela puta foi culpado. N�o tinha do que se
<br>arrepender. 0 mesmo aconteceria com os motoristas. Recolhiam uma
<br>boa nota todos os dias, isso � o que interessava. Sentaria do lado, puxaria
<br>conversa, no auge do entusiasmo acionaria o gatilho. Como tinha
<br>de ser. Sem d� nem pena. Por que pena, se precisava de dinheiro,
<br>n�o podia continuar na depend�ncia de Marlene, necessitava localizar
<br>
<br>o pai e, fatalmente, teria de convocar Banda Branca? E o alcag�ete,
<br>pra se mexer, haja dinheiro. N�o fazia nada de gra�a. Sabia bem como
<br>era. Todo mundo no morro o conhecia. Na �nica vez em que prometeu
<br>um favorzinho de nada, quem se deu mal foi dona Zizinha.
<br>Levou o carne da m�quina de costura. A mulher deixou quatro ou
<br>cinco presta��es atrasar. Se desdobrou na lavagem de roupa, a fim de
<br>saldar a d�vida. Subiu e desceu o morro semanas e mais semanas,
<br>acompanhada pela filha Beatriz. Banda Branca estava de potoca deste
<br>tamanho, assim, na menina, era capaz de qualquer sacrif�cio. Por
<br>isso que dona Zizinha caiu naquele erro. P�s 850 nas m�os do malandro,
<br>para que a conta fosse regularizada. Banda Branca passou dois
<br>dias desaparecido. Voltou, entregou o carne, os canhotos carimbados.
<br>
<br>O tempo correu, um dia a mulher recebeu um envelope grande, onde
<br>eslava declarado que a m�quina ia ser retirada, por falta de pagamento.
<br>Dona Zizinha procurou o alcag�ete para que desse uma explica��o,
<br>n�o o encontrou. Beatriz foi � Delegacia, n�o estava. Quando
<br>Banda Branca apareceu a m�quina tinha sido levada. Vieram dois homens
<br>numa Kombi, mostraram pap�is atrasados a dona Zizinha, ela
<br>exibiu os canhotos carimbados, um dos caras sacudia a cabe�a, pedia
<br>que fosse ao escrit�rio central.
<br>
<br>� Se a senhora mostra o canhoto como tendo pago e aqui diz
<br>que n�o pagou, n�o se entende mais nada. S� indo l� saber que hist�ria
<br>� essa.
<br>No dia em que seu Greg�rio ia para a cidade, dona Zizinha mandou
<br>especular. O negociante foi � loja de eletrodom�sticos, mostrou o
<br>carn�, a mo�a do balc�o informou que o carimbo n�o era de l�. O
<br>gerente queria saber quem havia carimbado, seu Greg�rio se ag�entou,
<br>a fim de n�o entregar o alcag�ete. No morro esperou Banda Branca,
<br>deu-lhe um esbregue. Sorridente, o malandro disse que morre
<br>cavalo a bem de urubu. E cada vez que ria o negociante via a obtura��o
<br>de ouro no dent�o da frente. Dona Zizinha nunca soube dessa
<br>conversa, nem viu nunca mais Banda Branca.
<br>
<br>Toninho recordava Banda Branca, sabia perfeitamente como era
<br>ordin�rio. N�o tinha a menor considera��o com ningu�m. Deixa de
<br>preocupar-se com o alcag�ete, fica uns instantes apreciando a paz daquele
<br>casar�o, a noite de vagos ru�dos entrando pela janela. Torna a
<br>pensar numa forma de manter o rev�lver escondido, acha que o meio
<br>mais seguro � mesmo o colch�o. Compraria agulha e linha, faria um
<br>corte na parte de baixo. E se um belo dia a arrumadeira der na veneta
<br>de virar o colch�o? N�o dava certo, a trabalheira seria grande. Cada
<br>vez que tirasse a arma, teria de desmanchar o costurado, fazer outro.
<br>Compraria parafusos, uma chave de fendas, prenderia a bolsa de couro
<br>por baixo do guarda-roupa. Na madeira de tr�s. Onde a arrumadeira
<br>n�o conseguisse mexer. Cada vez que fosse usar a m�quina
<br>era s� abrir a bolsa. Bem mais f�cil. Est� certo de que aquela �
<br>uma boa id�ia. Os parafusos teriam de vir com arruelas, a fim de
<br>prender bem. Era isso. Mais f�cil do que imaginava.
<br>
<br>Ergue-se da cama, descal�o, os p�s sentindo a maciez das t�buas
<br>enceradas, o pequeno tapete com ramagens. Tenta puxar o guarda-
<br>roupa para a frente. � pesado. Faz for�a, o grande m�vel desloca-se
<br>um pouco. Isso torna-o ainda mais satisfeito. De forma alguma a
<br>arrumadeira iria mexer naquele trambolho. 0 pr�prio faxineiro n�o
<br>se preocuparia em empurr�-lo. Compraria a capanga, faria o encaixe.
<br>Encontrada a solu��o, p�e-se a pendurar nos cabides as poucas pe�as
<br>de roupa. Em cada cruzeta uma camisa. A cal�a estende na parte de
<br>baixo, a fim de n�o prejudicar o vinco. No outro lado, o sapato, as
<br>meias novas. Mesmo assim, sobrou cruzeta vazia � be�a. Logo que
<br>
<br>
<br>conseguisse mais dinheiro, trataria de adquirir outras roupas. Pelo
<br>menos para fazer vista. Compraria tamb�m um r�dio que fosse toca-
<br>fitas. Sempre imaginara ter um. Dona Berta sentiria n�o estar de
<br>passagem, n�o era um pilantra, n�o se parecia com os tipos da Pens�o
<br>Su��a. 0 rel�gio bastante sonoro p�s-se a badalar em algum dos
<br>c�modos do casar�o. Toninho mete-se na camisa nova, amarra os cord�es
<br>dos sapatos, p�e a chave no bolso, sai. N�o utilizou o elevador.
<br>Desceu pelas escadas. 0 sal�o de entrada continuava vazio, somente
<br>dois ou tr�s velhotes nas poltronas de vime, olhando televis�o. Dona
<br>Berta havia sumido. No seu lugar estava o tipo baixinho, gordo, a
<br>quem entregou a chave. 0 homem perguntou se era do 509, fez arzinho
<br>de riso, no que foi correspondido. Um quarteir�o ap�s a Pens�o
<br>Iola havia o ponto de �nibus. Ficou por ali alguns instantes, �nibus
<br>e mais �nibus parando e indo embora, at� que chegou o que lhe servia.
<br>Toninho ao lado do crioulo forte, m�o enorme segura no ferro
<br>da cadeira dianteira. As ruas estavam atravancadas de carros, o motorista
<br>do �nibus em velocidade, como se estivesse atrasado ou fosse
<br>completamente irrespons�vel. Nos sinais, quando os carros ainda n�o
<br>haviam arrancado, punha-se a acelerar, a tocar de leve na buzina. Os
<br>sinais abriam, o homem puxava na primeira, o �nibus inteiro estremecendo.
<br>Na passagem da primeira para a segunda, ouvia-se o estalar
<br>das engrenagens na base do diferencial. Toninho imaginando que
<br>grande sacana que era aquele motorista, querendo quebrar o carro,
<br>para encost�-lo no meio-fio, comunicar � garagem que havia engui�ado.
<br>Depois esqueceu a agonia do careta ao volante, passou a olhar
<br>as lojas ainda abertas, os edif�cios iluminados, as pra�as escuras. N�o
<br>desejava voltar para Marlene, mas era importante que lhe desse uma
<br>satisfa��o. Sentaria na mesinha mais solit�ria da lanchonete, perto
<br>do banheiro, se explicaria. O que diria? V�rias mentiras: a viagem
<br>apressada � Bahia, um parente doente em S�o Paulo.
<br>
<br>� Logo que volte te procuro!
<br>Marlene entenderia. Seria o bastante para demorar-se algumas
<br>semanas. Quem sabe, ao reaparecer, estivesse mais conformada? Atravessa
<br>a rua, espreme-se por entre os carros nas cal�adas, entra na lanchonete,
<br>completamente lotada. A mesinha dos fundos, perto do banheiro
<br>est� ocupada. Faz um pouco de hora, avista Marlene. Sempre
<br>afobada e alegre. Delicadeza em todos os gestos. Acende o cigarro,
<br>aproxima-se da banca do jornaleiro, olha capas de revistas, l� t�tulos
<br>de jornais. Um deles fala no assassinato da mulher do sargento. Pede
<br>
<br>o jornal, abre na p�gina do notici�rio. Do lado da fotografia da mulher,
<br>uma outra do sargento. Um tipo de cara abusada. Vai lendo a
<br>hist�ria que n�o tem nada a ver com o que aconteceu, recorda as palavras
<br>de Enfezado, olha-o movimentando-se no quarto bem arrumado,
<br>o bra�o direito duro como se fosse de pau. Mesmo assim tinha
<br>a mulherzinha presa entre as pernas e dessa n�o se livraria. No final
<br>
<br>da mat�ria os detetives encarregados do caso dizendo ainda n�o terem
<br>a pista do criminoso. Seria verdade ou truque? Como n�o tinham a
<br>pista, se Enfezado exagerou na dose, disse ao sargento que ia lhe deixar
<br>uma lembran�a, em troca do bra�o aleijado? E o velhote que estava
<br>dormindo no quarto de cima da casa, por que n�o aparecia na tal
<br>mat�ria? Pensou em jogar fora o jornal, decidiu dobr�-lo, a fim de
<br>ler com mais calma na pens�o. N�o podia admitir que estivessem mal
<br>informados. Naturalmente aquilo era um jogo, a fim de surpreender
<br>Enfezado e ele pr�prio. Ser� que havia uma testemunha? Algu�m da
<br>vizinhan�a ter� visto, quando estavam entrando ou saindo da casa? Seria
<br>o homem das flores um dos que se ofereceria para identific�-los?
<br>Como iam saber de onde vieram as flores, se n�o havia nota, n�o havia
<br>nada? Tornou a dar uma olhada na mesa, entrou na lanchonete, num
<br>instante Marlene pareceu irritada.
<br>
<br>� Onde andou esse tempo todo? Me passando pra tr�s?
<br>� Deixa de maluquice. Tou me virando.
<br>� Virando por qu�? N�o dei a grana?
<br>Toninho sabe que � imposs�vel aquele di�logo.
<br>� Consegue uma pizza brotinho com coca-cola.
<br>Marlene percebe que o homem da caixa observa sua crescente irrita��o.
<br>Sorri, abranda-se, vai �s outras mesas e volta, pega o cafezinho
<br>no balc�o para o fregu�s que terminou a refei��o. Torna a
<br>encostar.
<br>
<br>� V� bem como me trata, seu puto!
<br>Toninho sorri, corta a pizza, diz que vai viajar.
<br>� N�o, sem meu consentimento. . .
<br>O garoto encara a bicha com �dio.
<br>� Teu consentimento, porra nenhuma! Que t� pensando?
<br>Marlene sorri, limpa a mesa para disfar�ar.
<br>� Se discute isso logo mais.
<br>� N�o vai ter logo mais. Daqui tou me mandando pra Rodovi�ria.
<br>A bicha faz cara triste, retorna da cozinha carregada de pratos,
<br>Toninho percebe que os olhos est�o vermelhos. Sente-se arrependido
<br>de ter vindo. Podia continuar desaparecido, s� reencontrar Marlene
<br>no apartamento. Ali n�o dava para falar.
<br>
<br>Termina de comer a pizza, de tomar a coca-cola, tira as �ltimas
<br>c�dulas que lhe restavam. Faz uma confer�ncia r�pida. Menos de
<br>duzentos e cinq�enta na carteira. Mais dois dias e estaria sem nada.
<br>E n�o adiantava contar com Marlene. Irritada como estava, n�o ia
<br>querer conversa. Vai para o balc�o, pede cafezinho, v�rias vezes Marlene
<br>passa por perto, como se pretendesse faz�-lo mudar de id�ia. Toninho
<br>mant�m-se impass�vel. N�o ia admitir que uma bicha lhe desse
<br>ordens. Em outra ocasi�o apareceria no apartamento, faria as pazes.
<br>Afinal, aquela n�o era a primeira briga, n�o seria a �ltima.
<br>
<br>
<br>TR�S
<br>
<br>Marlene chega em casa depois da meia-noite. Liga o r�dio baixinho,
<br>estira-se na cama. A luz que acendeu � fraca, mal d� para
<br>iluminar o pequeno e atravancado apartamento. N�o sabe por que,
<br>sente-se vazia, sem vontade de prosseguir. De repente, a impress�o de
<br>ter sido iludida, explorada, abandonada. Toninho n�o voltar�. Alguma
<br>coisa lhe diz que o perdeu. Nunca falou daquele jeito e muito
<br>menos na lanchonete, com todo mundo ouvindo. Simplesmente tentou
<br>brincar, ser afetuosa, ele n�o compreendeu.
<br>
<br>Olha o teto sombrio, conclui que sua vida era um amontoado de
<br>incompreens�es. Cada dia um desgaste, uma decep��o. Se Toninho
<br>achava estar preocupada apenas com sexo, enganava-se. E n�o lhe
<br>dava dinheiro simplesmente para que a satisfizesse. Queria que se
<br>gostassem, que um sentisse falta do outro, cada manh� surgisse como
<br>uma descoberta e uma esperan�a. A princ�pio, esteve certa de que
<br>correspondia. Mesmo um tanto grosseiro, sem instru��o, chegou a
<br>imaginar que se entenderiam. E como fez planos, baseada nessa
<br>possibilidade.
<br>
<br>Agora, neste princ�pio de madrugada, ouvindo m�sicas nost�lgicas
<br>no r�dio de pilhas, tem certeza de que fora tudo em v�o. Tremenda
<br>decep��o. Vinha sentindo isso h� meses, n�o queria acreditar. Tornava-
<br>se cada vez mais claro que Toninho s� a procurava por causa do
<br>dinheiro. Os raros momentos em que ficavam juntos, era uma esp�cie
<br>de concess�o da parte dele. Na verdade, n�o passavam de dois estranhos,
<br>estirados na mesma cama, falando l�nguas diferentes.
<br>
<br>Os olhos se enchem de l�grimas, deixa que escorram pelo rosto.
<br>Chora por Toninho e pelas tantas decep��es j� vividas: Artur, Inaldo,
<br>Jo�o Carlos, Henrique, Santini. Onde andariam? Que mentiras
<br>contavam a outras bichas ou �s mulheres? Marlene sente-se t�o amargurada,
<br>que tem vontade de rir. Como Jo�o Carlos mentia mal. Como
<br>Santini era pouco inteligente. Inaldo, o ego�smo em pessoa. Henrique,
<br>sempre querendo mais coisas e se preocupando em que Marlene
<br>conseguisse fun��es mais rendosas. Artur, provavelmente por ser o
<br>mais feio, era tamb�m o mais sensato. Por que n�o foi mais paciente
<br>com Artur? Vivia um tempo em que se sentia dominadora. Marlene
<br>nos jornais por causa dos horm�nios nos seios, Marlene dos cabelos
<br>louros no Teatro de Revista. Uma fase passageira e brilhante. Onde
<br>andaria Artur? Teria mesmo casado com a dona gorducha, que tinha
<br>bigodes e um bom emprego na Caixa Econ�mica? Dif�cil saber. Todos
<br>se foram, nada deixaram. S� levaram.
<br>
<br>
<br>Pega o espelho, acende a l�mpada de cabeceira, olha os p�s de
<br>galinha se formando ao redor dos olhos, covas nas bochechas. Em breve
<br>necessitaria de uma opera��o pl�stica. Isso custava dinheiro e pelo
<br>menos uns dez dias numa boa cl�nica. Sabia como os m�dicos exploravam,
<br>quando se tratava de homossexual. Para a mulher gr�-fina
<br>era um pre�o, para qualquer um deles o dobro. Por que essa preven��o?
<br>Qual a diferen�a?
<br>
<br>Solta o espelho, apaga a l�mpada. A m�sica no r�dio � melanc�lica,
<br>relembra um tempo long�nquo. Marlene recusa-se a admitir
<br>mas, pouco a pouco, vai sentindo que a velhice chegou. E, em n�s, �
<br>duplamente desastrosa. Arruina o corpo, esvazia a mente. Por isso
<br>j� n�o tinha sonhos, n�o fazia projetos. Sem sentir, foi se degradando.
<br>Deixou o teatro por causa de um contrato no cinema. Terminado
<br>
<br>o primeiro filme n�o conseguiu outro, os contatos foram desaparecendo.
<br>Um belo dia estava necessitando de trabalho. Passou dois anos
<br>num sal�o de manicure, o dinheiro sem dar para coisa alguma. A�,
<br>conheceu Artur. Quase n�o tinha nada a oferecer-lhe. Quando se deu
<br>com Inaldo. estava como gar�om no restaurante de luxo. A princ�pio,
<br>como se sentiu envergonhada! 0 que mais temia era, de repente, servir
<br>numa mesa onde houvesse velhos conhecidos dos tempos art�sticos.
<br>Se isso acontecesse, n�o saberia o que dizer: como levar a coisa na
<br>brincadeira. No restaurante deu sorte. Passou a ter dinheiro, dispunha
<br>do dia todo para dormir. Certa madrugada, quando a freguesia
<br>havia sa�do, ficou apenas o mo�o emborcado na mesa. Os outros gar�ons
<br>se recusaram ajudar. Mandaram que Marlene falasse com o
<br>ma�tre. Pouco depois ela sairia conduzindo o mo�o. No estacionamento,
<br>a primeira surpresa: havia um Mercedes branco, com motorista
<br>particular. Jo�o Carlos parecia ter melhorado, insistia que fosse com
<br>ele. 0 motorista, sem dizer coisa alguma, presenciava a cena, esperando
<br>o momento de fechar a porta. Jo�o Carlos tanto insistiu, tanto puxou
<br>Marlene pelo bra�o que ela terminou indo. Que noite estranha!
<br>0 Mercedes subindo suavemente o arrampado da casa na Barra, Jo�o
<br>Carlos e ela no elevador atapetado.
<br>� Quem mora com voc�?
<br>Jo�o Carlos ria, sacudia os bra�os. As palavras eram vagas, sem
<br>sentido. Marlene n�o entendia. Sa�ram no corredor de piso reluzente,
<br>chegaram ao sal�o de m�veis de couro e p�s niquelados, l�mpadas sofisticadas
<br>e baixas, Jo�o Carlos tirou do arm�rio de vidro a garrafa de
<br>u�sque escoc�s, pegou com dificuldade dois copos, Marlene querendo
<br>recusar, ele insistindo. Vai ter de beber comigo por que n�o se tem
<br>nada melhor a fazer. Depois, pode olhar a casa. Moro sozinho com
<br>uma empregada maluca e esse motorista que n�o fala. � uma sombra
<br>me acompanhando.
<br>
<br>Para n�o irritar ainda mais Jo�o Carlos. Marlene aceita o u�sque,
<br>p�e-se a beber, o mo�o est� inquieto, liga o ar-refrigerado, a noite �
<br>
<br>
<br>de profundo sil�ncio. Ap�s alguns momentos Marlene se encoraja,
<br>faz uma indaga��o corriqueira, mais para ter o que dizer.
<br>
<br>� Ora, bebo como quem vai �s compras, como quem freq�enta
<br>praia ou tem amantes. Quando cansar disso, vou fazer um est�gio
<br>nas drogas.
<br>� E a sa�de?
<br>� Sa�de? Pro inferno com sa�de!
<br>Acha gra�a, Jo�o Carlos tamb�m sorri. Atira-se no almofad�o,
<br>sobre espesso tapete, puxa-a. Marlene entende as inten��es do mo�o,
<br>aflige-se. S� agora come�ava a perceber e n�o teria como enfrent�-lo.
<br>Se era aquilo que estava pretendendo, enganara-se. Jo�o Carlos p�e-se
<br>a tirar as roupas, abra�a-se com Marlene.
<br>
<br>� N�o fica com pena de mim. Faz como se tivesse com raiva.
<br>As m�os leves de Marlene acariciam-lhe as costas e, para sorte sua,
<br>Jo�o Carlos adormeceu. Sem saber o que poderia suceder quando
<br>aquele cara acordasse, trata de desaparecer.
<br>
<br>Desceu as escadarias, saiu num outro sal�o, onde tamb�m havia
<br>uma piscina. Tentou localizar o motorista, nem mesmo o carro p�de
<br>achar. Tornava-se cada vez mais amedrontada, at� que chegou ao port�o,
<br>abriu, p�s-se a caminhar pela estrada deserta, completamente escura,
<br>por onde n�o passava qualquer ve�culo. Ap�s muito andar avistou
<br>o barzinho. Foi para l�, na esperan�a de pedir uma carona. Al�m
<br>do gar�om havia apenas uns tr�s ou quatro casais de cara cheia. Ficou
<br>pacientemente esperando mais de uma hora, apareceu um �nibus, o
<br>�ltimo que vinha da Barra para a cidade.
<br>
<br>Recordando essas coisas, tanto tempo depois, ainda sente um arrepio
<br>percorrer-lhe o corpo. Jo�o Carlos se enganara ou ela era a enganada?
<br>Como fora boba. Como se deixara assustar por aquele casar�o
<br>com tudo que havia do bom e do melhor. Nos outros encontros entenderia
<br>que o mo�o era o homossexual perfeito, completo. A�, quem passou
<br>a criar problemas foi Marlene. Quando terminava a vez de Jo�o
<br>Carlos e ele exigia sua participa��o, Marlene fraquejava. Por mais que
<br>se esfor�asse, n�o conseguia. Por isso, quantas vezes fora espancada!
<br>Onde andaria aquele maluco? Teria resolvido seu problema ou ainda
<br>estava complicado? T�o rico, t�o bonito e terrivelmente desesperado.
<br>Com Toninho os problemas iniciais foram poucos. A princ�pio, apenas
<br>um garoto assustado, maltrapilho, com uma vontade louca de comer.
<br>Parava na lanchonete, devorava dois hamb�rgueres, tomava dois sucos
<br>de laranja dos grandes. De noite aparecia no apartamento. Marlene
<br>dava as indica��es: fa�a primeiro assim, depois assado. Deixava-se
<br>conduzir. Nos meses seguintes passou a exigir coisas e tinha raz�o. As
<br>roupas estavam se acabando, o sapato era uma vergonha. Um dia saiu
<br>com ele, fez compras. Toninho cortou os cabelos, tomou banho, trocou-
<br>se no apartamento. Depois de vestido, parecia outro. As conhecidas
<br>
<br>faziam provoca��o, acusavam Marlene de estar descaba�ando um anjo.
<br>
<br>
<br>Ela sorria com certo orgulho. Tou criando ele a meu gosto. Quando
<br>crescer, n�o pode reclamar das minhas exig�ncias. Isso foi h� quatro
<br>anos. Passado esse per�odo as coisas come�aram a se complicar.
<br>Toninho sempre exigindo mais dinheiro, dando menos amor. Num
<br>determinado momento o relacionamento parecia mera troca comercial.
<br>Vou contigo se me der quinhentos. Fico contigo se me der mil. Marlene
<br>aceitava mas n�o gostava. 0 garoto se tornara exatamente o contr�rio
<br>do que imaginava. Nos dias de folga convidava-o para ir ao
<br>cinema, ao teatro, ele desconversava. Marlene sabia: n�o gostava de
<br>ser visto ao seu lado. Tinha vergonha. Procurava convenc�-lo. Ali,
<br>na Zona Sul, cada um vivia sua vida, ningu�m se incomodava com
<br>ningu�m. Toninho n�o aceitava. E, geralmente, ap�s as contrariedades,
<br>passava semanas sem aparecer. Vinha exatamente quando estava
<br>necessitando de dinheiro. Nunca aparecia para lhe oferecer qualquer
<br>coisa, sempre para pedir. Marlene com a sensa��o de que murchava
<br>interiormente. Toda sua satisfa��o, seu amor, o sentimento de solidariedade
<br>estavam acabando. E, por mais que se esfor�asse, passou a
<br>sentir-se a pessoa mais pobre do mundo, a mais desamparada, mais infeliz.
<br>Por que enganar-se tanto e tantos anos, numa busca desesperada
<br>e in�til? Sentia-se exausta, sem a m�nima possibilidade de prosseguir.
<br>Depois de Toninho n�o teria mais coragem de recome�ar.
<br>
<br>Ouve passos no corredor. Sabe que n�o pode ser ele. S� usava
<br>sapatos de borracha. A campainha toca, � no apartamento do lado.
<br>Pega novamente o espelho, examina-se, faz uma an�lise fria do que
<br>restava: olhos envelhecidos, sulcos no rosto se aprofundando, o nariz
<br>tornando-se rombudo; no pesco�o, um princ�pio de pelancas. S� uma
<br>demorada pl�stica poderia melhorar o conjunto por mais alguns anos.
<br>Depois os mesmos sinais tornariam a ficar evidentes. Quem consegue
<br>fugir � velhice, hem Marlene? E a velhice de uma bicha � tr�gica.
<br>Iria sujeitar-se �quele supl�cio, ag�entaria ouvir piadinhas nas ruas e
<br>no pr�prio local de trabalho ou teria coragem suficiente de parar, quando
<br>bem desejasse? Fica um temp�o olhando o teto sombrio, a luz escassa
<br>descobrindo contornos de objetos ordin�rios, a m�sica nost�lgica
<br>no r�dio de uma �nica faixa. Na verdade, Marlene, at� mesmo o dinheiro
<br>vai come�ar a ser dif�cil. N�o demora muito o gerente da lanchonete
<br>conseguir� outra para o lugar. Dar� uma desculpa, mera
<br>desculpa. Ali�s, nunca ningu�m diz claramente as coisas. Por isso
<br>nem sempre se sente que est� descendo. S� agora, naquele apartamento
<br>�ntimo, entre reles objetos, percebe que sua vida tinha sido intermin�vel
<br>descida. Primeiro o teatro, os cartazes, as luzes, os homens
<br>se confundindo � sua volta. Escolhia a dedo o que gostaria de levar
<br>para a cama. Depois o restaurante de luxo, o outro restaurante n�o
<br>muito gr�-fino, o sal�o de manicure, o ensaio como cabeleireiro e, finalmente,
<br>a lanchonete. Qual seria o pr�ximo passo? N�o esquecia
<br>nunca a bicha que conhecera na esquina da Figueiredo Magalh�es,
<br>
<br>
<br>vendendo bugingangas no tabuleiro de camel�, nem da outra que carregava
<br>latas d'�gua na Lapa, na �poca que era dif�cil o abastecimento
<br>nas casas. Conversou com a bicha aguadeira, ficou horrorizada com a
<br>hist�ria que ouviu. Comparando bem, n�o havia nada de estranho:
<br>era a mesma coisa. Come�ou no alto, foi descendo. Os homens que
<br>ajudou, terminaram bem de vida. H� pouco tempo encontrou com
<br>Inaldo. Fez que n�o a reconheceu. Estava no volante do carro esporte,
<br>ao lado da mulher branqueia e o c�o de ra�a. Marlene passou indignada.
<br>Quanta roupa dera �quele sem-vergonha e quanto prato de comida.
<br>Com Toninho era igual ou at� pior. N�o esperava mais nada
<br>dele. Devia contar ou n�o com suas pr�prias for�as? Eis um momento
<br>decisivo. Estava necessitando daquela an�lise h� muito tempo.
<br>Poucas vezes parara para refletir sobre sua pr�pria condi��o e o fazia
<br>no momento certo. As conclus�es � oh! as conclus�es � eram as
<br>piores poss�veis. Mas, somando pr�s e contras, n�o tinha nada do que
<br>se arrepender. Chegara aos 46, coisa que na verdade jamais pudera
<br>supor. Muitas outras tombaram antes, numa luta desigual. E a maioria
<br>em absoluta covardia. Abria os jornais, l� estava: homossexual
<br>morto na cama; homossexual estrangulado no apartamento, no iate.
<br>Felizmente estava ali, recapitulando o tempo que se fora, e n�o tinha
<br>queixas quanto a viol�ncias. Sempre soubera evitar os s�dicos e masoquistas.
<br>Quantos programas recusara, exatamente para n�o se arriscar.
<br>E escapou pra qu�? Pra ficar mirando-se no espelho e vendo a velhice
<br>chegar? Nada disso. Teria algo mais a fazer. Seria uma demonstra��o
<br>total de ren�ncia e desprendimento. Quem quisesse encarar de
<br>outra maneira que o fizesse. Para ela seria simplesmente aquilo: ren�ncia.
<br>N�o se sentia magoada com as ingratid�es de Toninho. Que
<br>tivesse sorte. N�o deixaria o mundo por odi�-lo. Pelo contr�rio: era
<br>por amar a vida. Mas tudo tem um limite e a velhice nunca estivera
<br>nos seus planos. Envelhecer � adoecer. N�o motivaria o riso de ningu�m.
<br>N�o imploraria, a fim de continuar existindo. Teve seu tempo.
<br>Bem poucos poderiam orgulhar-se disso. Abre a gaveta, tira o �lbum.
<br>L� estavam as fotos das mil e uma noites. A passarela luminosa,
<br>
<br>o p�blico cm desvario, fot�grafos brigando para conseguir os melhores
<br>�ngulos, mesas de famosos bares repletas de amigos. Desde o entardecer,
<br>os nomes cercados de luzes no grande painel cobrindo a fachada
<br>do Teatro de Revista. E o seu era dos primeiros: "Marlene". Ali
<br>estavam as lembran�as. As boas lembran�as. No dia em que assinou
<br>contrato com o cinema, fez sua despedida do teatro. Grandes personalidades
<br>do mundo art�stico lamentando sua retirada de cena. Sa�a
<br>no momento exato. Sempre soubera sair, antes que as luzes apagassem.
<br>N�o seria agora que iria acovardar-se. Deteve-se em fotografias
<br>com amigos que j� havia esquecido, teve vontade de rir. Como era invejada,
<br>como era querida. Nos restaurantes que freq�entava tinha
<br>mesa cativa. Depois de umas tantas horas os gar�ons encostavam as
<br>
<br>cadeiras, colocavam a plaquinha: "reservada". Quando chegava era
<br>aquela festa. Os olhares concentrados nela. Marlene no auge. Vinte e
<br>dois anos, as not�cias a seu respeito provocando esc�ndalos. Uma revista
<br>publicou as fotos e as declara��es. No dia seguinte o arcebispo
<br>rebateu-as, lembrando a moral da fam�lia crist�. O teatro lotou e havia
<br>mais gente de p� do que sentada. Entrou no show com o p� direito.
<br>Depois da noite de estr�ia, em todas as outras a aflu�ncia foi a mesma.
<br>Afinal, por que a preven��o com o homossexual? Quem eram eles pra
<br>se atrever? Quem era o senhor bispo? Ou precisava dizer que at� o
<br>vice-prefeito a procurou uma vez no camarim, a fim de que fossem
<br>para um hotel? Como o tempo passa. Os amigos mais �ntimos,
<br>acusando-a de esbanjamento. Que sentido faria guardar o dinheiro, se
<br>n�o se pode guardar a juventude? 0 vice-prefeito saiu acabrunhado com
<br>a recusa. Pobrezinho. E como lutou para chegar ao camarim. Foi
<br>preciso subornar uns dois ou tr�s funcion�rios. Marlene fecha o �lbum,
<br>os olhos continuam rasos d'�gua. N�o era apenas de si, e, sim,
<br>do tempo, das coisas, das pessoas que j� n�o existiam. Do Teatro de
<br>Revista que desaparecera, das luzes que se apagaram para sempre.
<br>Como apreciaria ter tido oportunidade de falar daquelas coisas com
<br>Toninho! Imposs�vel. Estava voltado unicamente para o que via e
<br>queria ter. Nada de conversas, muito menos de lembran�as.
<br>
<br>� � rom�ntica. Vive com besteira na cabe�a.
<br>N�o iria compreender jamais. Os tempos s�o outros, temos de
<br>admitir; as pessoas est�o tocadas pelo germe do consumismo. N�o h�
<br>pausa para reflex�o. S� o dinheiro interessa e quem mais tem mais
<br>quer. Abre o envelope, na mesma caixa onde estava o �lbum, de
<br>dentro dele saem algumas fotografias tiradas na rua. Numa delas aparece
<br>com Toninho. 0 verdadeiro Toninho. Quando ainda estava todo
<br>esfarelado, sapatos se rasgando, cal�a de brim ordin�rio, encolhida,
<br>uma camisinha de tricoline fora da moda. Um dos primeiros encontros.
<br>Rosto magro, cabelo liso ca�do na testa, um sorriso que n�o dizia
<br>coisa nenhuma. Desde o princ�pio sabia bem com quem estava lidando,
<br>mas nunca tivera a preocupa��o de modificar-lhe o car�ter.
<br>Fecha a caixa, procura em outra gaveta o peda�o de papel, a caneta.
<br>Tem vontade de rir, pois tinha uma amiga que costumava dizer: suicida
<br>que n�o deixa bilhete n�o � suicida. Ela n�o deixaria. Escreveria
<br>apenas uma nota � Sandra. N�o era justo que se fosse, sem ao
<br>menos um adeus. Mas n�o come�aria pela lengalenga. Abordaria em
<br>primeiro lugar a quest�o do aluguel, do dinheiro que ainda tinha no
<br>banco, do cheque no nome de Sandra Duarte. Com ele poderia pagar
<br>
<br>o m�s vencido e o seguinte, at� encontrar outra parceira. Na �ltima
<br>linha, sim, a tentativa de explica��o, sem que parecesse queixume.
<br>"Cada um de n�s tem o momento certo de parar. 0 meu chegou.
<br>Se algu�m me procurar, diga que viajei. Parti com minha pr�pria
<br>sombra. Um beijo. Marlene."
<br>
<br>
<br>P�e o papel perto da luz, l� calmamente. N�o acredita tenha esquecido
<br>de nada, pois nada tinha a enumerar. Talvez merecesse apenas
<br>um PS. Pega novamente o papel, coloca-o sobre a revista, escreve.
<br>
<br>"Toda minha roupa que, por sinal, n�o � muita, pode enfiar
<br>num saco, dar ao primeiro pedinte."
<br>
<br>Suspende um lado da colcha, enfia por baixo o bilhete e a revista.
<br>Torna a cobrir. Olha o rel�gio, v� que ainda � tarde. Levantaria
<br>a �ncora do seu veleiro quando estivesse para amanhecer. H� muito
<br>tempo n�o via o amanhecer e aquele seria especial por ser o �ltimo.
<br>Al�m disso teria uma outra import�ncia: seria um pouco antes de
<br>Sandra aparecer. Talvez isso a livrasse de maiores problemas. Coitada!
<br>Cansada de uma noite de sucessivas entregas e ainda ter de aturar
<br>uma bicha suicida.
<br>
<br>
<br>Cap�tulo V
<br>
<br>UM
<br>
<br>Ap�s deixar a lanchonete Toninho andou quarteir�es e mais quarteir�es,
<br>completamente desnorteado. Brigava com Marlene, ficava daquele
<br>jeito: nervoso, sem poder arrumar as id�ias. Estaria tendo algum
<br>tipo de afei��o por ela? Imposs�vel! Jamais iria gostar de uma
<br>bicha nojenta. Procurava-a por necessidade. Ela sabia muito bem.
<br>P�ra junto ao meio-fio, fica esperando o t�xi. Passam alguns, do outro
<br>lado da avenida, n�o atendem ao seu sinal. Finalmente, vem um.
<br>do lado em que est�, s� os faroletes acesos. Abre a porta, entra. O
<br>motorista � um portugu�s, os cabelos praticamente brancos.
<br>
<br>� Pra onde vamos?
<br>� Lagoa. Perto do Flamengo!
<br>� Bom. Muito bom! � diz o velhote. � Tava mesmo querendo
<br>ir pro lado de l�.
<br>� No batente, desde cedo?
<br>� Desde o come�o da tarde. Na minha idade, n�o � brincadeira!
<br>Toninho olha a fl�mula do Vasco, pendurada no retrovisor, resolve
<br>mudar o tom da conversa.
<br>
<br>� E nosso tim�o? Viu s� o banho?
<br>0 velhote torna-se ainda mais animado. Em cada sinal que p�ra,
<br>volta-se para tr�s.
<br>
<br>� Nem podia ser diferente. A m�quina t� quente. At� achei
<br>que quatro a zero foi pouco!
<br>Toninho sorri, o portugu�s tamb�m. As ruas est�o livres, algumas
<br>assinaladas com luzes vermelhas por causa das obras que s� podem ser
<br>feitas � noite.
<br>
<br>� Tudo que � de cartola t� manobrando contra a gente, mas
<br>dessa vez n�o adianta!
<br>� Tamb�m acho. A mo�ada t� tinindo. 0 meio de campo, ent�o,
<br>nem se fala!
<br>� Acabou a mar� mansa. A turma entendeu, virou a mesa!
<br>� Pena que ano que vem n�o tou aqui pra ver o bicampeonato!.
<br>
<br>� Por que n�o?
<br>� Volto m�s que vem pra Lamego. A terrinha onde nasci. Eu
<br>e a mulher. Vamos deixar pra tr�s 35 anos de Rio de Janeiro. Uma
<br>vida. De l� acompanho nosso clube. N�o posso me afastar dele.
<br>� Tamb�m sou vasca�no doente!
<br>0 t�xi margeia a Lagoa, mil reflexos coloridos dissolvendo-se nas
<br>�guas tranq�ilas. 0 velhote portugu�s continua a falar, Toninho n�o
<br>ouve direito o que diz. Abriu o z�per do bolso do casaco, ajeitou-se
<br>melhor no banco.
<br>
<br>� Fico logo depois do poste!
<br>O carro parando, o ru�do do motor em ponto morto, o motorista
<br>acende a lampadazinha, l� a quantia registrada no tax�metro.
<br>
<br>� Treze e vinte. Como o amigo � do mesmo clube, fica por
<br>treze.
<br>Dizendo isso o portugu�s sorri.
<br>
<br>� Treze � meu n�mero de sorte.
<br>0 velhote argumenta n�o ter prefer�ncia por n�meros.
<br>� Nunca dei pros tais c�lculos. Por isso n�o me arranjei no
<br>com�rcio.
<br>Toninho mete a m�o no bolso, saca a arma, encosta na cabe�a do
<br>motorista, aciona o gatilho, antes que o homem possa dizer qualquer
<br>coisa. 0 disparo � seco e breve. 0 velhote arriou com a cabe�a para
<br>
<br>o lado direito. Espera um pouco, arma na m�o, a fim de observar se
<br>o disparo chamou a aten��o de algu�m, apaga a lampadazinha por
<br>cima do tax�metro, ajeita o portugu�s no assento. Filetes de sangue
<br>escorrem da cabe�a do motorista, v�o pouco a pouco manchando-lhe
<br>a camisa. Rapidamente Toninho p�s-se a revistar os bolsos do velhote,
<br>o porta-luvas. O dinheiro que ia pegando enfiava por dentro da camisa.
<br>Ap�s certificar-se de que n�o havia qualquer suspeita de o t�xi
<br>estar ali, parado, ergue o vidro do lado do motorista, empurra a trava
<br>da porta para a frente. Alteia o r�dio, sobe o vidro do seu lado. Nesse
<br>momento ocorre-lhe outra id�ia: levantar o tapete de borracha, do lado
<br>do banco dianteiro. Tem vontade de rir. Era onde estava o grosso do dinheiro
<br>arrecadado pelo velhote. Fosse ficar na coleta dos bolsos e do
<br>porta-luvas, entrava pelo cano. Que velhote sabido. Desligou o motor,
<br>travou a porta, bateu-a com for�a, jogou as chaves na Lagoa.
<br>Calmamente afastou-se do t�xi, v�rios carros passando em velocidade.
<br>Atravessou a primeira pista, a segunda, entrou pela rua arborizada, saiu
<br>no largo onde havia movimento, um bar cheio de b�bados e prostitutas.
<br>Teve vontade de aproximar-se, pedir caf�, decidiu ir em frente.
<br>Somente agora, quase meia hora depois, come�ava a sentir tremores
<br>nas m�os e nas pernas. Isso o levava a admitir n�o estar t�o preparado
<br>quanto imaginava. Mas aquilo, tamb�m, era em decorr�ncia da
<br>simpatia que o velhote lhe despertara. No pr�ximo caso evitaria ser
<br>t�o sentimental. Responderia apenas o que o motorista perguntasse.
<br>
<br>No barzinho de uma porta s�, resolve entrar. Vai ao banheiro, urina
<br>� be�a, pede um chope duplo, um peda�o de pizza. P�e bastante
<br>mostarda, fica mastigando, encostado ao balc�o, enquanto os tipos por
<br>perto discutem, abrem cervejas, empurram-se. No segundo chope os
<br>tremores v�o cessando e, novamente, sente-se reanimado. Sai do barzinho,
<br>vai para o ponto onde estavam diversas pessoas, o �nibus que
<br>lhe serve n�o aparece, toma um t�xi. Tem pressa de chegar, est�
<br>curioso de conferir o dinheiro, n�o pode ficar dando bandeira �quela
<br>hora, com tanta viatura da pol�cia rondando. 0 motorista � um crioulo,
<br>o carro com painel sofisticado, r�dio tocando baixinho. A �nica coisa
<br>que perguntou foi o itiner�rio. Ap�s rodar uns dez minutos reclamou
<br>contra um buraco e mais nada. Na porta da pens�o Toninho entregou-
<br>lhe algumas c�dulas, sentiu-se aliviado. Pegou a chave, o tipo na portaria
<br>estava sonolento. Caminhou para o elevador, apertou o n.� 5,
<br>
<br>o elevador arrastou-se em meio a ru�dos, Toninho sentindo o ar mofado
<br>do velho casar�o. Ao entrar no quarto o primeiro cuidado foi olhar
<br>o guarda-roupa por dentro, examinar por baixo da cama. N�o estava
<br>acostumado a dormir num lugar como aquele, a princ�pio ia estranhar.
<br>Colocou o casaco na cadeira, ao tirar a cal�a e a camisa o dinheiro
<br>caiu no assoalho. S� de cueca, sentou no tapete, p�s-se a conferir,
<br>c�dula por c�dula. Chegou a mil e duzentos e ainda havia outras menores,
<br>de dez e cinco, que n�o se interessou em contar. Lembrou-se
<br>da carinha ing�nua do velhote, teve vontade de rir. Imaginou se ficasse
<br>na vistoria dos bolsos e do porta-luvas? N�o teria recolhido nem
<br>300. Era aquilo. Os caras iam pegando a grana, tratando de ocultar.
<br>Por baixo do tapete ou at� mesmo sob os bancos. Por que n�o examinou
<br>os bancos? Um cuidado que deveria ter da pr�xima vez. Com
<br>o dinheiro arrumado, faz nova confer�ncia. Mete o bolo de c�dulas
<br>no bolso do casaco, apaga a luz, estende-se no colch�o macio. Ah,
<br>quanto tempo n�o sentia semelhante sensa��o! Nem quando dormia ao
<br>lado do pai era t�o bom. Os acontecimentos recentes, estampados nos
<br>olhos, os risos do velhote enchem o quarto. Depois que dormisse, que
<br>descansasse, n�o ouviria mais nada daquilo. Pensa em outro golpe e
<br>mais outro, antes que a pol�cia tivesse tempo de movimentar-se. Quando
<br>desse em cima, teria bastante para descansar pelo menos um m�s.
<br>Logo que as investiga��es esfriassem, voltaria � carga. Quem sabe Enfezado
<br>j� n�o havia retornado? A� poderia lhe dar uma ajuda. Ao
<br>mesmo tempo conclui que aquele era o tipo de neg�cio que deveria
<br>permanecer no maior sigilo. Bolaria outra coisa com Enfezado, mais
<br>para lhe dar uma ajuda. Ficaria fora do caso dos motoristas. Qualquer
<br>palavra a mais ou a menos, podia redundar num desastre.
<br>Praticamente cochilando ouve passos no corredor e, novamente, as
<br>risadas do motorista portugu�s. Levanta, abre a porta devagar, v� o
<br>grandalh�o que se afasta. Um h�spede? Algu�m que sa�a muito cedo?
<br>Claro que sim. N�o era ningu�m espreitando. Como podia ser, se n�o
<br>
<br>
<br>foi visto, se desceu do t�xi normalmente, caminhou pela ruazinha arborizada,
<br>saiu na pra�a onde havia o boteco? Tolice estar esquentando!
<br>No dia seguinte procuraria saber do faxineiro sobre aquele tipo que
<br>acordava madrugada alta. Volta � cama, os ru�dos que invadem o quarto
<br>s�o vagos, o casar�o inteiro, adormecido. Com ele adormece
<br>Toninho.
<br>
<br>DOIS
<br>
<br>Chuva forte come�a a cair, bate nos janel�es envidra�ados da
<br>Pens�o Iola, bate nas �rvores escuras da pra�a, estala nas cal�adas e
<br>no asfalto das ruas. Os carros movimentam-se com vagar, far�is altos
<br>focando longe, confundindo-se com as l�mpadas nos postes que, agora,
<br>parecem menos intensas. A viatura policial avan�a em meio ao
<br>temporal. Nela est�o o detetive Galv�o, seu auxiliar Itamar, o motorista
<br>Nogueira. Todos t�m cara de sono. A princ�pio ningu�m fala.
<br>Galv�o ao lado do motorista, Itamar no banco de tr�s. Passaram por
<br>diversas ruas inundadas. Nogueira teve de reduzir para n�o ficar numa
<br>grande po�a d'�gua.
<br>
<br>� Ser� trabalho do Nezinho Metralha? � indaga de repente
<br>Galv�o.
<br>� N�o acredito! A transa dele � pela Zona Norte. A n�o ser
<br>que tenha se juntado a outra patota.
<br>� Tou com voc� � afirma Nogueira. � Nezinho Metralha n�o
<br>vem pra essas bandas!
<br>A viatura chega perto do t�xi, h� in�meras pessoas com guarda-
<br>chuvas abertos, Galv�o est� metido numa capa preta, sem chap�u, molhando-
<br>se bastante. Itamar vem logo atr�s, sua capa � clara e manchada.
<br>De dentro do t�xi sai a m�sica long�nqua do r�dio ligado.
<br>Come�a a clarear, com toda a chuva que cai. do lado direito o rosto
<br>do motorista coberto por uma mancha escura. Galv�o meteu a m�o
<br>no trinco, a porta n�o se abre.
<br>
<br>� Que � que h�, fechou o homem e trancou as portas?
<br>� A do lado de c� tamb�m t� fechada � acentua Itamar.
<br>Galv�o impacienta-se com o pessoal querendo ver o motorista morto.
<br>Nogueira vem se aproximando. Ajuda o detetive a afastar os
<br>curiosos.
<br>
<br>� Vamos embora � diz Nogueira � terminou o cinema.
<br>Logo depois a concentra��o se forma outra vez. Galv�o vai para
<br>a viatura, seguido dos auxiliares. Ele mesmo liga com a Central.
<br>
<br>� Galv�o falando. 0 pessoal da T�cnica tem de trazer chaves
<br>pra abrir o t�xi. T� todo trancado!
<br>
<br>Torna a sair, acende o cigarro, a chuva diminuiu.
<br>
<br>� 0 bom, agora, � que se pudesse tomar um caf�.
<br>� Na rua de l� tem um.
<br>� � uma boa id�ia � concorda Galv�o.
<br>Os tr�s chegam ao bar, o portugu�s p�e as x�caras, traz o
<br>a�ucareiro.
<br>
<br>� Que aconteceu?
<br>� Fecharam um patr�cio � diz Nogueira em tom de galhofa.
<br>� Ningu�m respeita mais ningu�m � comenta o portugu�s.
<br>� Que acha de um t�xi todo fechado, com o r�dio tocando? �
<br>indaga Galv�o, dirigindo-se a Itamar.
<br>
<br>� N�o pode ser coisa de bobo. � gente nova nas paradas, querendo
<br>mostrar estilo!
<br>� Filho da puta! � diz Galv�o. � Isso nos deixa de p�s e
<br>m�os atados. Entregues �s sumidades da per�cia. Juro como n�o tolero
<br>aqueles caras. Cada um mais metido a besta que o outro.
<br>� Quero ver do que v�o reclamar! � comenta Itamar.
<br>� Por esse lado � bom. N�o t�m desculpa.
<br>Galv�o vira o resto do caf� na boca. pede uma carteira de cigarros,
<br>Nogueira foi ao banheiro. Ap�s uns vinte minutos, decidem retornar
<br>� viatura.
<br>
<br>� Vamos l�! N�o quero que as sumidades cheguem e n�o nos
<br>encontrem. Se isso acontecer, v�o fazer constar do laudo. N�o chegaram
<br>� conclus�o alguma porque a gente apareceu depois.
<br>Itamar e Nogueira acham engra�ado.
<br>
<br>� S�o capazes de tudo. S� n�o de raciocinar mais que os criminosos
<br>� diz Galv�o com amargura.
<br>A chuva volta a cair, forte. Os carros que passam diminuem a
<br>marcha e j� est�o provocando consider�vel engarrafamento. 0 grupo
<br>de curiosos tornou-se maior. Galv�o e Itamar desistiram de faz�-los
<br>circular. Acomodam-se no calor da viatura, esperando os peritos. Galv�o
<br>olha o rel�gio, s�o quinze para as seis. Itamar fala dos plant�es
<br>que n�o recebeu, Nogueira reclama de estar trabalhando quatro domingos
<br>seguidos, sem um dia de folga.
<br>
<br>� Que ser� que o Dr. Paranhos pensa? Quer massacrar a gente?
<br>� Mostrar servi�o � diz Galv�o, dando uma cusparada l� longe.
<br>� Sempre que entra um novo Secret�rio de Seguran�a � isso. Do
<br>segundo m�s em diante, amolece.
<br>� Mas desta vez a corda s� t� esticando pro lado da gente �
<br>afirma Itamar. � 0 pessoal da ronda vive na maior moleza.
<br>
<br>� Ora, e eu que ganhei uma gratifica��o por tempo de servi�o
<br>e ele acha que s� devo receber no pr�ximo semestre? � afirma Galv�o,
<br>acendendo o cigarro.
<br>Perto da viatura estaciona o Opala preto, chapa branca. Saem
<br>tr�s homens, o motorista permanece ao volante. 0 mais gordo fala
<br>
<br>
<br>com Galv�o. � um tipo alegre, despreocupado. 0 escuro, magro e
<br>alto, tem uma pasta 007. Aproxima-se do t�xi, os curiosos afastam-se.
<br>A chuva continua a cair. Em pouco tempo os peritos est�o com as
<br>roupas respingadas. O homem gordo experimenta a porta, v� que est�
<br>mesmo fechada. O mulato abre a pasta, tira um grande molho de
<br>chaves.
<br>
<br>� Uma delas tem de abrir � diz o homem gordo.
<br>O que est� de terno azul e n�o disse coisa alguma faz uma indaga��o
<br>a Galv�o.
<br>
<br>� Que hora acha que foi?
<br>� N�o fa�o id�ia. Recebemos o comunicado �s cinco e dez.
<br>O homem de terno azul d� uma olhada na cara do motorista, o
<br>mulato continua a experimentar as chaves. Em dado instante a porta
<br>se abre, a m�sica do r�dio torna-se alta, o corpo do motorista se
<br>desequilibra. O tipo gordo manda que o crioulo segure o morto. A
<br>porta do lado direito tamb�m � aberta. O de terno azul toma algumas
<br>notas, o gordo vai apenas dizendo coisas.
<br>
<br>� Que se trata de latroc�nio n�o h� a menor d�vida � diz ele.
<br>A per�cia do t�xi prolonga-se por uns trinta minutos. A essa
<br>altura o homem de terno azul est� completamente molhado, o que d�
<br>um pouco de satisfa��o a Galv�o. Quando o gordo d� o levantamento
<br>por conclu�do, passa o caso ao detetive que atira o cigarro fora,
<br>manda Itamar revistar o motorista. Com a ajuda de Nogueira o corpo
<br>� estendido no asfalto, enquanto esperam o rabec�o. Galv�o aproxima-
<br>se do carro dos peritos, o gordo continua a falar.
<br>
<br>� Pelo visto, foi abotoado umas quatro ou cinco horas antes;
<br>mas s� depois dos exames se vai ter certeza.
<br>Galv�o faz um gesto com os ombros, retorna ao local onde os
<br>curiosos se concentram e o rosto do velhote est� coberto de pingos de
<br>chuva. Por instantes o detetive fica olhando aquele homem, imaginando
<br>quem teria tido coragem de abat�-lo. No momento em que o
<br>rabec�o encosta, o r�dio da viatura faz uma convoca��o. Nogueira
<br>vai ouvir, chama Galv�o. O detetive curva-se na porta do carro, fica
<br>sabendo que na Hil�rio Gouveia uma mulher despencou na �rea interna
<br>do pr�dio. O detetive lamenta que o miser�vel r�dio tenha
<br>transmitido essa informa��o, exatamente quando as sumidades tinham
<br>ido embora.
<br>
<br>� Quando chove parece que os desgra�ados come�am a se matar
<br>mais cedo � diz Galv�o.
<br>� Os doutores da per�cia � que d�o sorte. Nunca t�o ao alcance
<br>de uma convoca��o como essa.
<br>� Como �? � indaga Nogueira. � Se vai ou diz que o r�dio
<br>pifou?
<br>Galv�o retorna para junto do t�xi, sem responder.
<br>
<br>
<br>� Vamos l�, Itamar. Acaba logo com isso! Tem outro caso nos
<br>esperando.
<br>O corpo do motorista foi posto no rabec�o, o policial retira documentos,
<br>pap�is e pequenos objetos do porta-luvas.
<br>
<br>� Nogueira � grita Galv�o. � Chama o reboque, manda levar
<br>o t�xi pro p�tio.
<br>Depois que Itamar trava e fecha novamente as portas, os curiosos
<br>v�o desaparecendo. A chuva prossegue, mas � fina. Entra no
<br>carro, Nogueira d� a partida.
<br>
<br>� Que acha?
<br>� N�o encontrei nada que sirva de pista � responde Itamar. �
<br>Na Delegacia se tem tempo de procurar impress�es digitais. � o �nico
<br>caminho.
<br>
<br>� Nunca acreditei nisso. Prefiro as evid�ncias!
<br>� Acontece que at� agora nenhum matador de motorista teve
<br>o cuidado de fechar as portas do carro e deixar o r�dio ligado!
<br>� Que diabo tar� querendo dizer com isso?
<br>� N�o fa�o id�ia. S� sei que n�o � um p� inchado!
<br>� Vai ver, fechou por engano! � comenta Nogueira.
<br>� Engano o cacete! 0 merda que fez isso tem cabelo na venta.
<br>T� querendo nos gozar. Sabe das coisas. Nos deixa de fora, at� que
<br>as sumidades apare�am, digam como se deve proceder. � isso! T�
<br>mais por dentro do que pensa.
<br>Mais calmo, Galv�o indaga de Itamar, referindo-se aos peritos.
<br>
<br>� Fizeram o levantamento das impress�es?
<br>� Na parte da frente. Painel e tampa do porta-luvas.
<br>Isso deixa Galv�o repentinamente indignado.
<br>� E nos trincos das portas? � isso a�. Cagam regra o tempo
<br>todo, n�o examinam os trincos! P�em as lentes em locais pouco prov�veis.
<br>Mas s�o g�nios! Deviam ter examinado a capota. Principalmente
<br>por fora. E, al�m da capota, os pneus. Inclusive o estepe.
<br>A viatura parou no sinal vermelho, h� um caminh�o manobrando,
<br>cheio de sacos de cimento, pesado encerado protegendo a carga.
<br>
<br>� Sinceramente � prossegue Galv�o ainda revoltado � qualquer
<br>hora dessa tiro f�rias, mando essa fun��o pra puta que os pariu.
<br>N�o tolero lidar com tantos imbecis de uma s� vez.
<br>� Na Delegacia se v� isso � explica Itamar, como se desejando
<br>tranq�ilizar o amigo.
<br>� N�o se trata da gente ver. Eles � que tinham por obriga��o.
<br>Afinal, se n�o der certo, v�o dizer que houve intromiss�o. Como no
<br>caso do alfaiate. Te lembra?
<br>� T�o sempre se valendo das desculpas � argumenta Nogueira.
<br>� Outro dia, na 16.a, o delegado devolveu os laudos que passaram
<br>seis meses bolando. E disse que vai ser assim. Se n�o tiver com
<br>
<br>pleto, bem circunstanciado, volta. Dr. Paranhos devia fazer do mesmo
<br>jeito.
<br>
<br>� Acha que tem peito de enfrentar essa canalha? T� enganado.
<br>Se duvidar, t� do lado das sumidades, contra a gente que se fode dia
<br>e noite, quer chova ou fa�a sol.
<br>Nogueira manobra numa esquina, Itamar olha o n�mero. A viatura
<br>p�ra com duas rodas sobre a cal�ada. Galv�o salta, protegendo-
<br>se das goteiras. Depois � a vez de Itamar. 0 motorista fica fazendo
<br>anota��es do percurso e outras exig�ncias menores. Detesta aquela
<br>burocracia, mas com o delegado Paranhos tinha de ser assim. Fora
<br>advertido duas vezes, h� uma amea�a de suspens�o. N�o pode facilitar.
<br>E tudo por deixar de marcar o tempo dos percursos.
<br>
<br>Galv�o e Itamar entram no pr�dio, chegam juntos ao porteiro
<br>que est� nervoso, falando com alguns moradores. Galv�o encosta-se
<br>no balc�o de madeira, pingos de chuva dos cabelos escorrendo para
<br>dentro da roupa.
<br>
<br>� Que houve por aqui?
<br>0 porteiro � um homenzarr�o gordo, ar abestado. Est� sempre
<br>com uma farda cinzenta, o nome do edif�cio no bolso do peito.
<br>
<br>� Quem s�o os senhores?
<br>A indaga��o irrita o detetive.
<br>� Turistas americanos. Tamos passeando na chuva. Soubemos
<br>que
<br>aqui t� havendo uma festa...
<br>Itamar acha engra�ado.
<br>
<br>� Ser� que ainda n�o manjou que � pol�cia, cara?
<br>0 homenzarr�o mostra-se afobado, p�e-se a falar.
<br>� Uma pessoa pulou do nono andar. Do 925!
<br>� Nome! � quer saber Galv�o.
<br>� A� que t� � diz o porteiro. � Pra uns era Romildo dos Santos,
<br>pra outros, Marlene.
<br>Dizendo isso o funcion�rio pede que os acompanhe.
<br>
<br>� Marlene?
<br>Itamar torna a rir.
<br>� Agora, quem n�o t� entendendo sou eu.
<br>O porteiro parece n�o ter ouvido a observa��o.
<br>Saem no p�tio cimentado, muito sujo. Os dois policiais avistam
<br>a mulher estendida no ch�o, o sangue misturando-se com �gua da chuva.
<br>Chegam perto. Galv�o ajoelha-se do lado, pega nos cabelos, v�
<br>que se tratava de uma peruca.
<br>
<br>� Uma bicha!
<br>� Chamo a per�cia?
<br>� Pera a�. Vamos terminar primeiro nosso servi�o.
<br>0 porteiro mostra a janela do 925.
<br>� De l� que pulou!
<br>
<br>Galv�o p�e as m�os na cintura, olha para cima, contra a chuva,
<br>as janelas dos fundos do pr�dio est�o apinhadas de curiosos. H� mulheres
<br>velhas, novas, uma com bobs nos cahelos, outras com roupa
<br>de dormir, garotos s� de shorts, trepados nos peitoris para ver melhor,
<br>homens que acordaram cedo e agora acham gra�a de que a suicida
<br>seja uma bicha. Enquanto procura examinar a janela do nono andar,
<br>Galv�o e Itamar ouvem as piadas, considera��es de pesar.
<br>
<br>� Olha a calcinha dela.
<br>� Pobre, coitada!
<br>� Vou apostando que tem p� na transa��o!
<br>� Cuidado, menino, acaba caindo tamb�m.
<br>� Ser� que n�o tem nenhum parente?
<br>� Esse pessoal se acaba todo assim. Mais dia menos dia!
<br>� Detesto esse tipo de gente! Tudo neur�tico.
<br>Galv�o sai do p�tio com Itamar e o porteiro, v�o at� o elevador.
<br>� H� quanto tempo conhecia Marlene?
<br>0 homenzarr�o faz uma cara de quem est� se esfor�ando para
<br>recordar.
<br>
<br>� Uns tr�s anos.
<br>� Qual a transa dela?
<br>� Nunca soube de nada. Aqui no pr�dio n�o incomodava
<br>ningu�m.
<br>� Como entrou nessa?
<br>� N�o fa�o id�ia.
<br>� Morava sozinha?
<br>� Com Sandra. A vedete.
<br>� Quem � que visitava o apartamento?
<br>� Que saiba ningu�m. Sandra passa a noite fora; Marlene trabalhava
<br>de dia.
<br>Seguem pelo corredor comprido e estreito, portas de apartamentos
<br>abertas, Galv�o calculando o tamanho de cada um daqueles cub�culos.
<br>O porteiro gira a chave mestra na fechadura, o kitchenette �
<br>igual a todos os outros. Um sal�o dividido ao meio por cortina, um
<br>banheiro m�nimo, o janel�o por onde Marlene pulou. 0 detetive permanece
<br>parado junto � cama, olha a desordem que era aquilo: garrafas
<br>vazias a um canto, roupas sujas confundindo-se com jornais velhos,
<br>a mesa onde havia pratos, colheres, copos, uma vela queimada
<br>at� o meio, presa na lata de leite vazia, a cesta pl�stica com peda�os
<br>de p�o e biscoitos. Itamar abre a porta do banheiro, as toalhas
<br>amontoadas, escovas de dente por cima da pia.
<br>
<br>� Puta merda! Que chiqueiro mais escroto!
<br>� S�o quase todos assim � afirma o porteiro. � Dif�cil encontrar
<br>um morador que tenha cuidado.
<br>� E pior que toca de rato!
<br>
<br>Itamar continua examinando os pap�is, remexendo nos jornais
<br>velhos. Abriu gavetas, tirou o �lbum, passou algumas p�ginas.
<br>
<br>� Olha s� a nossa Marlene!
<br>Galv�o aproxima-se, o porteiro tamb�m fica curioso!
<br>As p�ginas v�o passando e todos eles um tanto deliciados com 0
<br>que v�em.
<br>
<br>� Puxa! Uma mulher, sem tirar nem p�r. . .
<br>� E boazuda � acrescenta Itamar.
<br>� Ser� mesmo retrato dela ou inventou? Essas bichas s�o cheias
<br>de truques � lembra Galv�o.
<br>� Pelo que t� aqui � Marlene � responde Itamar, que continua
<br>a passar as p�ginas do �lbum.
<br>Galv�o cansa daquilo.
<br>
<br>� Que horas a coleguinha dela costuma chegar?
<br>� Geralmente �s oito e meia, nove!
<br>� Se espera l� embaixo. Deve ter alguma hist�ria pra contar.
<br>N�o tou entendendo como uma bicha se mata, assim, sem mais nem
<br>menos.
<br>� Nem bilhete deixou!
<br>� Isso � grave. Suicida que n�o deixa bilhete t� escondendo a
<br>alma do C�o.
<br>O porteiro torna a girar a chave na fechadura, agora h� mais
<br>curiosos no imenso corredor, uma mulher est� cercada de filhos, o
<br>menorzinho berra e esperneia, um r�dio toca alto, a garota de bobs
<br>tem a barriga de fora, lan�a olhares l�nguidos a Galv�o.
<br>
<br>� Esse pr�dio � que � bom. Pra pegar piranha, o cara n�o
<br>precisa
<br>ir pra rua!
<br>Itamar acha engra�ado, o porteiro tamb�m.
<br>
<br>� Quando comecei a trabalhar, vinte anos atr�s, a coisa era
<br>outra. Agora, virou pardieiro.
<br>Na entrada do edif�cio encontram Nogueira, que tamb�m j� foi
<br>ver a suicida. Galv�o diz que � uma bicha, o motorista n�o acredita.
<br>
<br>� Juro por Deus como n�o desconfiei.
<br>� Nem eu � diz Itamar. � Galv�o � que mexeu na peruca.
<br>� E agora?
<br>� Tamos aguardando a amiguinha dela. Uma tal de Sandra.
<br>Pode dar o servi�o � explica o detetive. � Tou achando isso estranho.
<br>A bicha era boazinha e tudo, como diz aqui nosso amigo, de
<br>repente aparece de cara no cimento. Tem algum por�m nisso tudo.
<br>� E pra saltar debaixo dessa chuva toda, tinha que t� muito
<br>inspirada � acentua Itamar.
<br>� Ou doidona � completa Nogueira.
<br>� Ser� que tava com a cuca cheia de bolinha?
<br>
<br>� N�o � problema nosso. Logo mais as sumidades v�o baixar
<br>e revelar os grandes segredos da alma humana. S� que a essa altura
<br>o papai t� longe!
<br>� N�o � melhor chamar logo por eles?
<br>� Deixa pra l� � afirma Galv�o. � Vamos primeiro levar
<br>um papo com a vedete. Quem sabe n�o ser� at� um bom in�cio de
<br>conversa?. . .
<br>Ap�s esperar quase uma hora Galv�o torna a interrogar o porteiro.
<br>
<br>
<br>� Como � mestre? Nove e trinta e nada! Ser� que adivinhou
<br>a
<br>morte da coleguinha?
<br>O detetive decide n�o esperar mais. Manda Nogueira convocar
<br>
<br>o pessoal da T�cnica.
<br>� Pede pra vir dois soldados e ag�entar a barra at� o rabec�o
<br>chegar!
<br>� E eu? � indaga Itamar.
<br>� Vamos em frente. Quando a mulherzinha der as caras os
<br>soldados arrastam ela pra Delegacia. N�o adianta ficar amoitado
<br>aqui, por causa de uma bicha escrota!
<br>Metem-se na viatura, Nogueira fala ao microfone, liga o motor.
<br>A chuva ainda cai forte, o carro desaparece na rua, s� o pisca-pisca
<br>do teto funcionando na manh� cinzenta e triste.
<br>
<br>TR�S
<br>
<br>Horas depois da sa�da de Galv�o e dos seus auxiliares, Sandra
<br>aparece. Est� numa capa transparente, botas brancas. Na entrada do
<br>pr�dio estranha o movimento de moradores e a presen�a dos dois
<br>soldados.
<br>
<br>� Que t� havendo, seu Manuel?
<br>� Uma coisa horr�vel, dona Sandra. Sua amiga Marlene fez
<br>uma besteira.
<br>� Que � que foi?
<br>� Se atirou do apartamento. O corpo saiu agora mesmo pro
<br>IML. Desde cedo vieram uns policiais, foram at� l�!
<br>� Bagun�aram com tudo!
<br>� At� que n�o. Tava com eles.
<br>� Por que Marlene ter� feito uma loucura dessas?
<br>� E o que t�o querendo saber.
<br>O soldado que est� por perto entra na conversa.
<br>� Tamos a� fora com o carro pra lhe levar.
<br>
<br>� Acontece que n�o sei o que dizer. Tou chegando agora!
<br>� � coisa de rotina � diz o segundo policial.
<br>Sandra que est� se sentindo podre, suja, fedorenta, uma tremenda
<br>vontade de meter-se na cama, dirige-se ao carro, revoltada.
<br>
<br>� O problema � que sua colega n�o deixou nenhum bilhete
<br>� diz o soldado. � Nesse caso h� sempre suspeita!
<br>� Marlene n�o tinha inimigo.
<br>� Nunca se sabe � pondera o policial. � A gente que lida
<br>com esse tipo de problema todo dia v� cada uma que n�o tem como
<br>explicar.
<br>O segundo policial parece mais objetivo.
<br>
<br>� Era verdade que tinha um amante? Um garoto?
<br>� Que saiba, n�o.
<br>0 policial insiste.
<br>� Se isso se confirmar, vamos ter de saber por onde anda!
<br>A viatura p�ra, a porta se abre, Sandra sobe pequena escada,
<br>entra no pr�dio antigo, l�mpadas acesas, muito homem transando
<br>pelos corredores do velho casar�o, pessoas humildes sentadas em bancos
<br>de madeira, express�o de espanto. 0 policial mais educado manda
<br>que espere na sala onde havia mesas atulhadas de pap�is, m�quinas
<br>de escrever, pilhas de Di�rio Oficial, telefone, cinzeiros transbordando
<br>pontas de cigarros, vasos de pedra sab�o lotados de l�pis e canetas
<br>de todas as cores.
<br>
<br>Sandra fica um temp�o esperando. Num determinado momento
<br>levanta, aproxima-se da janela, olha a chuva no dia triste, pessoas saltando
<br>de carros e entrando no casar�o. Pega um jornal, det�m-se na
<br>coluna que falava da gente rica, que viajava para Nova Iorque e Paris,
<br>toda semana, que freq�entava o Lynn's e o Netuno, das atrizes
<br>que tinham sempre contratos com famosos produtores italianos e norte-
<br>americanos. Cada vez que lia essas not�cias, deixava-se levar um
<br>pouco pela fantasia. Ah, como adoraria um dia tamb�m estar sendo
<br>citada daquele jeito. Seria a gl�ria! Mas, pelo visto, esfolando-se no
<br>diabo daquela boate ordin�ria, jamais seria descoberta por um verdadeiro
<br>ca�ador de talentos. Ou para ser atriz famosa era necess�rio
<br>algo mais que o simples talento? �s vezes ficava em d�vida quanto a
<br>isso. Conhecia tantas atrizes e nenhuma ficara famosa. As que surgiam
<br>nas colunas sociais pareciam-lhe inacess�veis. S� podiam ser vistas
<br>a dist�ncia: nos filmes, nas pe�as, de montagem cara, nas capas das
<br>revistas, nos an�ncios de televis�o. Mas se lembra de que um dia foi
<br>ver um filme badalad�ssimo, saiu decepcionada com a famosa atriz.
<br>Ser� que trabalhava ruim ou n�o teve cultura para entender? Chegava
<br>a desconfiar da sua capacidade.
<br>
<br>Em meio a esses pensamentos, distanciados do "problema Marlene",
<br>Sandra � surpreendida pelos homens que entram. S�o quatro ou
<br>cinco, tendo � frente o tipo de cabelos bem penteados, barba bem fei
<br>
<br>
<br>103
<br>
<br>
<br>ta, ar de absoluta tranq�ilidade. Todos eles falam sem parar, o que
<br>parece mais calmo ajeita o palet� no espelho da cadeira.
<br>
<br>� Ningu�m pode ser convocado sem memorando. � absolutamente
<br>ilegal!
<br>Um dos homens insiste na explica��o.
<br>
<br>� De jeito nenhum � diz o bem penteado. � N�o assumo essa
<br>responsabilidade. Se o secret�rio quiser autorizar que autorize. Eu
<br>n�o!
<br>Dizendo isso, que era evidentemente um assunto iniciado em outra
<br>gala, em outro lugar, o homem bem penteado senta, afasta a papelada
<br>da mesa, a fim de n�o sujar os punhos da camisa. 0 tipo gorducho
<br>e desleixado, que Sandra nunca vira, aproxima-se.
<br>
<br>� Dr. Paranhos, essa � a mo�a que morava com a suicida.
<br>� Pe�a pro escriv�o vir aqui!
<br>Faz um sorriso, no que � correspondido por Sandra.
<br>� Falar de suic�dio num dia como hoje n�o � das melhores coisas.
<br>Mas vamos l�!
<br>Sandra chega a cadeira para perto da mesa.
<br>
<br>� Que acha que aconteceu � sua amiga?
<br>� Dif�cil saber.
<br>� Desde que foram morar juntas, tinha conhecimento que se
<br>tratava de um travesti?
<br>� Sabia, sim senhor! Isso nunca foi problema.
<br>� Tinha algum namorado ou coisa assim?
<br>� �s vezes ia um garoto l� no apartamento. Ela pr�pria me
<br>disse. Mas n�o permitia que ficasse.
<br>� A que atribui sua morte?
<br>Nesse momento entra o escriv�o, empurrando a m�quina sobre a
<br>mesinha de ferro. A mesinha faz tremenda barulheira. O homem
<br>baixinho e magro coloca papel, p�e-se a escrever.
<br>
<br>� A que atribui sua morte?
<br>� Talvez uma crise de solid�o. Tava ficando velha. A velhice
<br>pra ela era doen�a. Como quem pega c�ncer.
<br>� Quantos anos tinha?
<br>� Mais de quarenta. Bem mais.
<br>� Estaria metida com algum gigol� da pesada?
<br>� N�o creio. Selecionava suas amizades.
<br>� Como conheceu Marlene?
<br>� No tempo que sa� de casa, fiquei zanzando por a�. Trabalhava
<br>numa lanchonete, onde ia sempre. Era humana, compreensiva.
<br>Quando disse que tava procurando uma colega pra encarar o aluguel
<br>do apartamento, se ofereceu.
<br>� Que lanchonete era?
<br>� A mesma, onde sempre trabalhou. Dias da Rocha com N. S.
<br>de Copacabana.
<br>
<br>O delegado Paranhos faz uma pausa, o escriv�o termina a �ltima
<br>frase. Sandra o encara.
<br>
<br>� Quantos anos voc� tem?
<br>� Dezoito.
<br>� Onde trabalha?
<br>� No Bar-Boate-Bacar�.
<br>� Aquilo � um antro � diz o Delegado
<br>� Que � que posso fazer! Se evoluir, passo pra outro lugar
<br>melhor.
<br>� Vai continuar no mesmo apartamento?
<br>� N�o tenho escolha. O contrato s� termina ano que vem.
<br>� Bem, por enquanto, tamos entendidos. Se surgir alguma outra
<br>novidade, mando lhe avisar!
<br>0 escriv�o p�e a folha datilografada sobre a mesa, o delegado
<br>passa rapidamente os olhos, manda que Sandra leia. Demora-se um
<br>pouco com o papel nas m�os, sacode a cabe�a, confirmando estar tudo
<br>em ordem.
<br>
<br>� Assine deste lado aqui � diz o delegado apontando a pauta
<br>e mostrando a unha coberta com esmalte transparente.
<br>O escriv�o d� a caneta, ela assina, nervosamente � Sandra
<br>Duarte.
<br>
<br>� Ponha tamb�m o endere�o � lembra o delegado.
<br>Sandra continua a escrever. Quando termina o delegado agradece
<br>a colabora��o. Pega a bolsa, vai embora. Sai beirando as marquises,
<br>entra na confeitaria, compra doces, toma o t�xi para chegar mais
<br>depressa.
<br>
<br>Na porta do edif�cio n�o h� mais curiosos. Nem mesmo seu Manuel
<br>estava por l�. Fica esperando o elevador, aparece o vizinho, motorista
<br>de pra�a, casado com a mulher enorme, m�e de tr�s filhos menores.
<br>Darci est� sempre alegre, cumprimenta uns e outros, quase
<br>todo mundo no pr�dio o conhece. No dia em que a fechadura do apartamento
<br>de Sandra engui�ou ele foi ao carro, trouxe a chave de fendas
<br>e o alicate, num instante consertou. Desde ent�o falava com Sandra
<br>e ela at� gostava de sua conversa.
<br>
<br>Agora, nesta tarde de chuva, quando Sandra est� mais cansada
<br>do que nunca, eis Darci aparecendo. Vira a noite toda, tem os
<br>olhos permanentemente vermelhos.
<br>
<br>� Oi! Que tempo, hem?
<br>� S� fui saber que tava chovendo quando sa� do show!
<br>� Puxa! Caiu um aguaceiro de madrugada!
<br>Darci sorri, mostra os dentes amarelados.
<br>� Foi bom pra motorista de t�xi.
<br>Sandra n�o acha gra�a, est� exausta.
<br>� Que houve pra ficar assim t�o triste?
<br>105
<br>
<br>i
<br>
<br>
<br>� � a segunda vez que tou chegando em casa. Quando apareci,
<br>isto aqui tava apinhado de curiosos, pol�cia e os cambaus.
<br>� Por qu�?
<br>� Marlene se atirou do apartamento!
<br>� Fez essa doideira?
<br>Sandra sacode a cabe�a.
<br>� Minha Nossa Senhora!
<br>� E o pior: tou voltando da Delegacia. Fui prestar declara��es.
<br>Disse uma por��o de besteira. Respondi a todas aquelas perguntas
<br>idiotas, que n�o significam nada.
<br>� Pra onde foi o corpo?
<br>� IML.
<br>� Como vai ser o enterro?
<br>� Vou me virar, pra pobre n�o ser sepultada como indigente.
<br>� Pode contar com minha ajuda.
<br>O elevador chega ao nono andar, Darci segue para um lado do
<br>corredor, Sandra para o outro. Quase ao mesmo tempo abrem as portas.
<br>Sandra atira a bolsa na mesa atravancada de coisas e mais o �lbum
<br>de Marlene aberto, bem em cima. Verifica, em r�pida olhada,
<br>a desordem que os policiais fizeram. N�o tem coragem de mexer num
<br>�nico papel. Fecha a janela, que estava apenas encostada, estende-se
<br>na cama. Vencida pelo cansa�o e pelo des�nimo, os olhos v�o se enchendo
<br>de l�grimas. Sente, no �ntimo, como � amarga sua vida e
<br>como Marlene era infeliz. Lembra-se das suas conversas, dos projetos,
<br>das suas recorda��es. N�o precisava rever aquele �lbum. Certa
<br>vez ela o mostrou. Cada fotografia tinha uma hist�ria. Fixava um
<br>tempo de luzes e de cores. Uma esp�cie de mundo encantado, do qual
<br>Marlene jamais pudera esquecer. Depois disso, a decad�ncia. Os encontros
<br>nas esquinas escuras, os empregos reles. Marlene n�o gostava
<br>de ser gar�om, de trabalhar numa lanchonete. Mas sabia que era uma
<br>de suas �ltimas chances. E ainda podia descer mais, como tantas outras
<br>desceram. Mexe-se na cama, sente a revista por baixo da colcha.
<br>Que fazia aquela revista ali? Abre, encontra o bilhete que os policiais
<br>n�o conseguiram localizar, encontra o cheque em nome de Sandra
<br>Duarte, a fotografia tirada no cal�ad�o da Avenida Atl�ntica. Marlene
<br>sorridente, o garoto alourado, cabelos lisos ca�dos de um lado da testa,
<br>Sandra l� o bilhete, que n�o tem nada demais, n�o explica coisa alguma,
<br>fixa-se na foto e, em especial, no rosto daquele menino que poderia
<br>ter, quando muito, dezesseis anos. Quem seria? Fora por causa
<br>dele todo aquele amargor de Marlene? Quantas vezes aquele garoto ter�
<br>freq�entado o apartamento, enquanto estava na boate? Seu Manuel
<br>teria conhecimento disso? A princ�pio imagina informar-se, depois desiste.
<br>N�o queria conversa com aquele porteiro. 0 melhor era deixar
<br>que a pol�cia tomasse as provid�ncias. Tamb�m n�o voltaria � Delegacia
<br>para mostrar o bilhete de Marlene. Nada mais tinha a dizer. Sua
<br>
<br>
<br>preocupa��o era falar com o pessoal da boate, pedir um dinheiro
<br>adiantado, ajudar no sepultamento. Se o cheque pudesse ser descontado
<br>sem problemas, talvez desse de sobra. Vai ver Marlene pensou
<br>em tudo, inclusive em pagar seu pr�prio enterro. Olha mais uma vez
<br>a fotografia, o garoto continua a sorrir.
<br>
<br>Sem conseguir dormir Sandra levanta, mete-se no banheiro, abre
<br>
<br>o chuveiro quente. Lava-se demoradamente, toma tranq�ilizantes, um
<br>copo de leite morno, enfia-se novamente na cama. Mesmo assim ainda
<br>permanece acordada longo tempo. Ouve os ru�dos do pr�dio, das ruas
<br>pr�ximas, do elevador que subia e descia a todo instante, rangendo,
<br>estalando. Com o pensamento em Marlene e no menino que sorri,
<br>termina adormecendo. No ch�o, perto da cama, a revista, o bilhete,
<br>a foto assinalando o momento de alegria.
<br>
<br>Cap�tulo VI
<br>
<br>UM
<br>
<br>Toninho acorda nos ru�dos da manh� ensolarada. Olha o teto
<br>alto do quarto, a janela de r�tulas, por onde a luz entrava, a chave
<br>na fechadura da porta. Com todo o barulho que vinha das ruas, aquele
<br>quarto era sossegado. Nada parecia alterar a paz daquelas paredes
<br>encardidas, dos m�veis pesados e tristes. Durante instantes fica procurando
<br>ouvir os rumores do casar�o. Imposs�vel! Est�o misturados
<br>aos das ruas, dos carros em movimento, da feira-livre na pracinha,
<br>das pessoas na parada de �nibus. Recorda a mulherona debru�ada no
<br>balc�o, m�o gorda remexendo nas fichas, olhos de peixe morto nos
<br>desconhecidos que chegavam procurando acomoda��o. Torna a lembrar
<br>da pasta de z�per, por baixo do guarda-roupa, o rev�lver bem escondido.
<br>Para isso teria de adquirir parafusos, arruelas, uma chave
<br>de fendas.
<br>
<br>Abre o bolso do casaco, tira o bolo de dinheiro, p�e sobre a cama,
<br>confere mais uma vez. E enquanto pega as c�dulas, ouve as palavras
<br>bem-humoradas do motorista. Gostou que a corrida fosse para os lados
<br>da Lagoa, p�s-se a falar sem parar nas tradi��es do Vasco da Gama.
<br>A �nica coisa que pegava um pouco, era o projeto de ir para Lamego.
<br>Impediu de se realizar. Esfor�a-se para esquecer esse detalhe. Afinal,
<br>se fosse pensar em tudo, terminaria n�o conseguindo grana. Qual era
<br>
<br>o motorista que n�o tinha um projeto? Todos t�o sempre bolando alguma
<br>coisa. Do outro lado do bolso do casaco tira o rev�lver. Examina
<br>o cano, como orientou Enfezado, sente o peso da arma, as balas encaixadas
<br>no tambor. Compraria tamb�m uma almotolia, freq�entemente
<br>daria limpeza na m�quina, estaria sempre azeitada. E onde ia guardar
<br>tanto dinheiro? Ora, se dona Berta aceitou a identidade sem
<br>qualquer desconfian�a, por que na ag�ncia banc�ria haveria problema?
<br>Abriria a conta, faria dep�sitos semanais. Se desconfiassem? Escolheria
<br>o banco de movimento, onde existem muitos funcion�rios, os
<br>clientes s�o an�nimos. N�o seria problema. 0 problema, agora, era
<br>sair, procurar o banheiro. Levaria a toalha no pesco�o, a chave do
<br>
<br>quarto. N�o deixaria aquela porta aberta um minuto que fosse. Teria
<br>cuidado especialmente com o faxineiro Jos� que parecia bom tipo, mas
<br>capaz de envolver-se na vida alheia. Naturalmente, sabia de muita
<br>coisa dos h�spedes que ali moravam: jamais saberia a seu respeito!
<br>Futuramente compraria uns livros, cadernos, l�pis e canetas, seu Jos�
<br>terminaria acreditando que era estudante. De vez em quando lhe daria
<br>boa gorjeta, isso o tornaria facilmente seu amigo.
<br>
<br>O banheiro � coletivo e amplo. Logo � entrada est�o as pias, o
<br>dep�sito com papel de enxugar m�o, depois o corredorzinho na frente
<br>das portas que n�o chegavam at� o ch�o. Assim, quem estava no vaso,
<br>tinha os p�s facilmente vistos por baixo. Aquilo devia ser bola��o de
<br>dona Berta. Com aquele tipo de portas, o fregu�s n�o ficaria sentado
<br>por muito tempo, impedindo outros h�spedes que estava vexados. No
<br>hor�rio em que Toninho costumava levantar, o banheiro era todo seu,
<br>na paz das torneiras pingando monotonamente, das paredes recobertas
<br>de azulejos encardidos, quebrando-se, soltando-se. Passa �gua na
<br>boca e no rosto, molha a cabe�a. Logo que sa�sse compraria pasta e
<br>escova. Dali em diante deveria acostumar-se a coisas que poucas vezes
<br>fizera: escovar dentes, limpar unhas, tomar banho todos os dias. Quanto
<br>melhor a apar�ncia, mais sucesso obteria no neg�cio.
<br>
<br>Enxuga os cabelos, seu Jos� aparece. Recolhe o lixo do lat�o, diz
<br>bom dia sem alegria, Toninho fala de coisas sem import�ncia, mais
<br>para ser agrad�vel. 0 homem distancia-se com o cesto de pap�is sujos,
<br>
<br>o garoto retorna ao quarto, passando pelo longo corredor. Enfia-se nas
<br>roupas, desce as escadas, atravessa o amplo sagu�o, sai na cal�ada lavada
<br>de sol, muita gente movimentando-se. caminha na dire��o do bar,
<br>onde havia mesinhas cobertas com toalhas vermelhas e azuis. P�ra
<br>na banca de jornais, pega o que se ocupa da morte do motorista na
<br>manchete de primeira p�gina, tem grande fotografia do carro estacionado
<br>na pista, junto �s �guas da Lagoa. Fica um pouco emocionado
<br>de ver novamente o carro. P�e o casaco de couro na cadeira, o gar�om
<br>espera o pedido: m�dia, p�o na manteiga, �gua mineral, dois
<br>ovos quentes.
<br>Enquanto o homem traz a x�cara, a�ucareiro e manteiga, Toninho
<br>vai lendo a mat�ria. Na p�gina de dentro, os detalhes, inclusive
<br>foto de um dos documentos do velhote. A reportagem fala nos anos
<br>e anos de atividade de Diogo Palhares desde que viera para o Brasil,
<br>em 1945, juntamente com a mulher Vit�ria Palhares. Tentou a vida
<br>como negociante, teve pequeno bar no Catumbi, abandonou tudo,
<br>transformou-se em motorista de pra�a. Fica sabendo que o portugu�s
<br>era o terceiro profissional do volante morto em menos de uma semana.
<br>Preocupava-o tal afirma��o. Havia outros caras com a mesma
<br>id�ia ou aquilo visava a confundi-lo? � o que teria de ver e, para
<br>isso, compraria todos os jornais, retornaria � pens�o, sentaria na cama,
<br>leria com calma.
<br>
<br>
<br>Mastiga o p�o, toma o caf�, chega ao trecho em que o rep�rter
<br>descreve a atua��o do detetive Galv�o, incumbido do caso. A mat�ria
<br>terminava com a afirma��o do policial de que estava sendo providenciado
<br>um retrato falado do assassino. Toninho reflete um pouco, bebe
<br>mais caf�, p�e sal nos ovos quentes, engole de vez, limpa a boca com
<br>v�rios guardanapos. Se o detetive estava vinculando a morte do motorista
<br>portugu�s aos outros crimes, n�o poderia nem de longe desconfiar
<br>dele. E era at� bom que tivesse outro cara agindo; isso tornaria
<br>a a��o da pol�cia ainda mais dif�cil. Como poderia chegar a
<br>ele pelo simples fato de tamb�m usar uma arma calibre 22? Toninho
<br>tem vontade de rir. Vira as p�ginas do jornal, olha os t�tulos, concentra-
<br>se na nota que o inquieta. Dobra o jornal para poder ler melhor.
<br>N�o acredita no que l�. Marlene matou-se, saltando na �rea interna
<br>do pr�dio. A foto maior � do corpo estendido no ch�o, a menor,
<br>do rosto de Marlene. Os dados est�o corretos: o pequeno apartamento,
<br>o �lbum de fotografias e recortes, a coleguinha de Marlene, vedete
<br>no show do Bar-Boate-Bacar�. Numa das �ltimas linhas fica registrado
<br>que a pol�cia estava desenvolvendo investiga��es, a fim de localizar
<br>
<br>o garoto que vez por outra era visto com Marlene, principalmente na
<br>lanchonete onde ela trabalhava. Toninho sente um certo arrepio percorrer-
<br>lhe o corpo e em meio � preocupa��o que vem perturbar-lhe
<br>naquela manh� t�o alegre, recorda de um fato ainda mais comprometedor:
<br>a foto que tirara ao lado de Marlene, num cal�ad�o em Copacabana.
<br>Cansou de insistir para que lhe desse a fotografia mas ela procurou
<br>sempre escond�-la. Uma vez viu-a metida no �lbum que guardava
<br>como aut�ntica rel�quia. Agora, sabia o quanto era importante
<br>dar sumi�o na foto. N�o podia se arriscar por causa de uma tolice.
<br>N�o desejaria ir � Delegacia, ficar horas e horas sentado num banco,
<br>esperando para ser interrogado. Naturalmente o delegado faria perguntas
<br>visando a embara��-lo, era capaz de algum rep�rter estar por
<br>l�, sua cara aparecer nos jornais. Quando sa�sse iria diretamente ao
<br>apartamento onde Marlene morava.
<br>P�e mais caf�, mais leite, pede mais p�o ao gar�om, a id�ia de ir
<br>�quela hora ao apartamento parece precipitada. Nem de longe gostaria
<br>de avistar-se com o porteiro, tipo grandalh�o que o olhava com
<br>desconfian�a. Se o visse, puxaria conversa, contaria coisas, ficaria esperando
<br>que falasse. Perigoso aquele cara. Tinha certeza de que transava
<br>com os policiais. N�o iria cair nessa. Em determinado momento
<br>chega a imaginar que a mat�ria estampada naquele jornal era mentira.
<br>Uma jogada para surpreend�-lo. Por que n�o pensara nisso? Sente
<br>necessidade de acabar logo o caf�, pagar, comprar os jornais, trancar-
<br>se no quarto. N�o podia tomar medidas precipitadas. Dali pra frente,
<br>cada atitude seria bem estudada. Iniciara um jogo, a primeira pedra
<br>fora mudada de casa, teria o m�ximo de cuidado com as outras. Muito
<br>cara se ferra exatamente por causa da afoba��o, por n�o saber di
<br>
<br>
<br>
<br>reito como as coisas acontecem. Naquela mesinha de bar, onde entravam
<br>pessoas estranhas e os ventos da manh� ensolarada, Toninho
<br>aprendeu uma coisa: teria de ler diariamente os jornais, saber das
<br>not�cias e, a partir da�, movimentar-se. Ficaria atento, principalmente,
<br>ao trabalho do tal detetive Galv�o. Quanto mais soubesse a seu
<br>respeito, mais seguran�a teria para continuar agindo. Tamb�m, pelos
<br>jornais, saberia o momento de suspender as atividades por uns tempos,
<br>ou quando seria melhor intensific�-las. Ora, por que n�o pensara
<br>nisso antes? N�o havia nada que temer. O �nico problema: botar
<br>as m�os naquela maldita fotografia que um porra louca insistiu em
<br>bater e Marlene deixou por ser extremamente vaidosa. Chegou a fazer
<br>pose. Arrepende-se de n�o t�-la rasgado quando a viu pela primeira
<br>vez. Estava metida no �lbum, onde Marlene guardava as fotos do
<br>seu tempo de show na Pra�a Tiradentes e os recortes de jornais falando
<br>da sua atua��o no Teatro de Revista. Quantas vezes vira o �lbum
<br>ao alcance das m�os, quantas vezes deixou de pegar a porcaria da
<br>foto. Agora, teria de voltar ao apartamento, remexer nas coisas, procurar
<br>o �lbum. E se os tiras recolheram tudo, levaram para a Delegacia,
<br>alegando que a bicha n�o tinha parente? Ser� que a coleguinha
<br>deixou? N�o acreditava. Naturalmente estava tudo por l�,
<br>como sempre estivera.
<br>
<br>Toninho torna a entrar na pens�o, os jornais debaixo do bra�o.
<br>Fala com dona Berta na portaria, aperta o bot�o do elevador. Recoloca
<br>
<br>o casaco na cadeira, tira os sapatos, senta na beira da cama. A morte
<br>de Marlene est� em todos os jornais. Num deles o suic�dio � mencionado
<br>na primeira p�gina, em grandes t�tulos, fala que o homossexual
<br>vivia em companhia de um menor. Esse mesmo jornal termina
<br>fazendo uma indaga��o: trata-se de suic�dio ou o menor estaria envolvido
<br>no crime? Nas linhas seguintes afirma que a pol�cia procura
<br>localizar o garoto. E foi exatamente na reda��o daquele jornal que
<br>esteve com a fotografia do pai. Olha as demais p�ginas, com grande
<br>destaque est� a morte do motorista Diogo Palhares, a vi�va Vit�ria
<br>Palhares chorando. Passa rapidamente a p�gina. Abre o jornal seguinte,
<br>que n�o era t�o dedicado �s mat�rias de crimes. Alas tamb�m nesse,
<br>havia um registro do suic�dio de Marlene, o t�pico recordando sua
<br>atua��o no Teatro de Revista. Toninho tem vontade de rir. Se Marlene
<br>soubesse daquilo iria ficar vaidosa, pois a nota era bem elogiosa.
<br>Naturalmente o cara que redigiu aquilo pertenceu � patota dela, nos
<br>bons tempos. Esse jornal, menos sensacionalista que os outros dois que
<br>j� lera, deixa Toninho assustado: al�m da mat�ria do motorista portugu�s,
<br>havia um editorial, exigindo mais a��o das autoridades, contra
<br>a onda de crimes que vinha tirando a tranq�ilidade dos profissionais
<br>do volante, principalmente os que trabalhavam � noite. 0 artigo
<br>discordava do detetive Galv�o. Dizia que o novo assassinato em nada
<br>se assemelhava aos outros, embora a arma utilizada tivesse sido um
<br>
<br>rev�lver calibre 22. E, para espanto de Toninho o articulista fazia
<br>tr�s coloca��es que desafiavam a arg�cia do policial: 1) o criminoso
<br>n�o deixara impress�es digitais no painel do carro, nem nos trincos
<br>das portas; 2) o fato de fechar completamente o t�xi era a prova de
<br>saber, com isso, estar retardando o trabalho de investiga��o; 3 ) o assassinato
<br>numa das pistas de maior movimento da Lagoa provava n�o
<br>estar a pol�cia diante de um criminoso comum e muito menos de um
<br>tipo que se deixava dominar pela emo��o. 0 item 3 agradou a Toninho.
<br>Agia com absoluta tranq�ilidade, capaz, portanto, de observar
<br>os menores detalhes. Quando saiu do t�xi e fechou a porta do seu
<br>lado, n�o dava para ningu�m desconfiar. Se o motorista demorava em
<br>arrancar com o ve�culo, era porque estava conferindo o dinheiro.
<br>
<br>Os jornais que acaba de examinar est�o sobre a cama, abertos,
<br>misturados uns nos outros. Em todos eles, grande ou pequena, a fotografia
<br>de Marlene. Ah, se pudesse ver, tornaria a morrer de vaidade!
<br>Como costumava dizer: um dia vou aparecer novamente nas folhas. E
<br>com destaque. Quem pensa que me consumi, como vela de sebo ordin�rio,
<br>vai lembrar. E ali estava Marlene. Pela �ltima vez. Olhando
<br>aquelas fotografias, lendo aqueles t�tulos, sente que n�o a detestava.
<br>Pelo contr�rio. Sabia o quanto lhe fora �til. Nos tempos mais dif�ceis.
<br>Quando a conquista da m�dia com p�o simples era uma aventura. Foi
<br>ent�o que ela o chamou. T� pago! Toninho que tinha apenas alguns
<br>n�queis, agradeceu-a. Nunca vai esquecer desse momento. Havia interesse
<br>em Marlene? N�o acredita. Pagou e foi embora. S� depois,
<br>muito depois, veio a saber que trabalhava na parte dos fundos do bar,
<br>na lanchonete. Demorou-se comendo o p�o, tomando o caf�. Quando
<br>entrou na obra, tarde, ouviu a piada sem gra�a de Man� Cabreiro mas,
<br>na verdade, continuava a recordar o gesto da bicha que pagara a despesa.
<br>Agora, Marlene estava reduzida �quelas fotografias que no dia
<br>seguinte j� estariam esquecidas. Como meteu na cabe�a de tornar-se
<br>conhecida, de estar sempre presente, numa cidade maluca, em que as
<br>coisas que acontecem hoje n�o s�o lembradas amanh�? Cansara de discutir
<br>com Marlene a esse respeito. Tinha resposta para tudo. Pois fique
<br>sabendo que passei mais de dois anos no cartaz. 0 nome bem grande,
<br>todas as noites, num imenso letreiro que piscava e apagava. O
<br>talento � que mant�m a gente no notici�rio. Havia jornais e revistas
<br>me badalando com freq��ncia, um ou outro despeitado me atacando.
<br>T� pensando, at� isso � uma forma de promo��o, quando se t� no
<br>auge. Quanto mais se ataca um artista famoso, mas ele cresce, mais
<br>caro fica. Houve tempo que, por uma apresenta��o, recebia o que
<br>ganho hoje em tr�s meses de trabalho. Marlene tornava-se triste, o
<br>rosto anuviava-se, os olhos ficavam rasos d'�gua. Tou afundando
<br>e tenho medo. Por mais que brinque, que procure me iludir, na verdade
<br>sei bem o que t� acontecendo. N�o voltarei a ser a Marlene de
<br>outros tempos. Ningu�m volta. Minha tolice foi trocar o teatro pelo
<br>
<br>
<br>cinema? N�o fosse isso, teria feito outra bobagem qualquer. Ah, como
<br>fui covarde! 0 importante era ter morrido naqueles anos. Fazia uma
<br>pausa, recostava-se nos travesseiros. Sabe. sempre achei que a gente
<br>deve ter um momento certo pra morrer. Eu errei o meu:
<br>
<br>Toninho gostaria de saber o por qu� da �nsia de ser famosa. Marlene
<br>ficava pensando, respondia n�o saber. Sinceramente, n�o sei! Na
<br>verdade, � o tipo da coisa que n�o se justifica. Voc� tem raz�o. Por
<br>que ser famosa, estar sempre no notici�rio? Ah, como brigava pra ser
<br>capa de certas revistas. Quanto dinheiro e quanta influ�ncia jogados
<br>nisso. Mas, pra que serve o dinheiro, sen�o pra satisfazer vaidades?
<br>N�o me arrependo. Juro que n�o! Talvez a fama sirva apenas pra
<br>que depois se tenha o que recordar. Me sentiria uma cadela leprenta,
<br>se n�o tivesse nada pra contar; se n�o tivesse esse �lbum.
<br>
<br>Toninho p�e as m�os por baixo da cabe�a, a manh� na janela,
<br>tem vontade de ir ao IML, olhar Marlene pela �ltima vez. Ao mesmo
<br>tempo sabe que n�o podia arriscar. Mais prudente acompanhar
<br>pelos jornais, at� o dia do sepultamento. Iria ao cemit�rio. Ao mesmo
<br>tempo, ainda n�o aparecera nenhum parente de Romildo dos Santos.
<br>N�o teria ao menos um irm�o, uma tia? E se fosse ao apartamento,
<br>com o prop�sito de ajudar no enterro? Uma id�ia simp�tica e
<br>a melhor maneira de entrar em contato com a vedete. Mas s� poderia
<br>fazer isso � noite, quando o porteiro grandalh�o n�o estivesse de servi�o.
<br>At� l� Sandra havia sa�do para a boate. E se fosse � boate convid�-
<br>la para sua mesa? Olha-se no espelho, tem d�vida se conseguiria
<br>entrar. E por que aquele sentimentalismo com Marlene? Afinal,
<br>de que adiantaria ir ao enterro? Marlene era assunto encerrado. No
<br>dia seguinte n�o apareceria mais nos jornais. No m�ximo as folhas
<br>sensacionalistas continuariam falando no assunto, porque a pol�cia contava
<br>localizar o menor. Uma semana depois o caso Marlene n�o seria
<br>nem lembran�a. A pol�cia n�o ia ficar ocupada com um fato que
<br>n�o tinha o menor sentido. Toninho conclui que o melhor seria n�o
<br>entrar em contato com a vedete. Podia estar sendo vigiada. Se o agarrassem,
<br>terminaria no Juizado. De l� o levariam para um longo est�gio
<br>na entidade de assist�ncia a menores, como Colher de Pau. Mesmo
<br>que se livrasse, deixaria ficha no cart�rio. Na primeira que aprontasse,
<br>estaria todo mundo sabendo.
<br>
<br>Junta os jornais, dobra-os com cuidado, rasga os peda�os que falavam
<br>das atividades do detetive Galv�o. Aquilo, sim, tinha de ser
<br>feito. N�o podia ficar alheio �quele cara. Cada entrevista que desse,
<br>teria de ler algumas vezes, a fim de saber o que era de fato informa��o
<br>e o que era jogo para iludi-lo. Se o articulista de um dos jornais
<br>desconfiava de que o criminoso do velhote portugu�s n�o era o
<br>mesmo dos dois crimes anteriores, por que o policial admitia exatamente
<br>o contr�rio? Evidente que estava jogando. Tinha de acompa
<br>
<br>
<br>
<br>nhar os movimentos de Galv�o, conhecer seus planos. Quanto mais
<br>soubesse a respeito dele, maior seguran�a teria.
<br>
<br>DOIS
<br>
<br>Toma o primeiro �nibus que aparece, segue pela aven�da de
<br>movimento intenso, entra na casa que vende de tudo, desde panelas
<br>de alum�nio at� pacotes de pregos, arcos de pua, facas, jogos de chave
<br>de boca, pastas, malas e botas de borracha para oper�rios. Examina
<br>daqui, examina dali, encontra algo bem melhor que uma pasta com
<br>z�per. O homem baixinho e magro mostra-lhe o cofre met�lico, fechado
<br>� chave.
<br>
<br>� Pode ser facilmente ajustado na parede!
<br>Est� certo de que aquilo � muito mais pr�tico. Manda o homem
<br>embrulhar, paga, vai embora, p�ra na banca de muitos jornais abertos,
<br>a revista falando no crime da mulher do sargento. L� um pouco
<br>da mat�ria, sente que n�o h� novidade. A pol�cia desistiu de investigar
<br>ou havia detetive trabalhando dia e noite, sem que ningu�m
<br>soubesse? Isso que enchia Toninho de preocupa��o. Por que a morta
<br>de um motorista dava manchete em tudo que era de jornal e o assassinato
<br>da mulherzinha e do velhote quase n�o apareceu? Qual seria
<br>a jogada? Se pudesse, daria um dinheiro para Banda Branca averiguar.
<br>Mas n�o era bobo de meter-se com ele. Bastaria uma palavra
<br>a respeito e logo desconfiaria. Ficaria um temp�o comendo seu dinheiro,
<br>depois o entregaria. Com aquele sem-vergonha s� queria um
<br>tipo de entendimento. E tinha de ser em local ermo. Deixaria que
<br>contasse uma longa hist�ria, deixaria que falasse a respeito de Beatriz,
<br>de Marta, do dinheiro da pens�o de mestre T�bor, das transas
<br>com seu Greg�rio. No meio da fala��o acionaria o gatilho, sem tirar
<br>a arma do bolso. 0 canalha morreria sem saber por qu�. N�o recordaria
<br>Colher de Pau, nem a arruma��o que jogou para cima de Enfezado.
<br>Banda Branca n�o perdia por esperar. Ia ter at� pena de
<br>acabar com ele, assim, t�o depressa. Talvez o atingisse na barriga,
<br>para que ficasse se torcendo, como se estivesse com c�licas. A� seria
<br>obrigado a cantar, abrir o bico.
<br>
<br>� Como fez com Colher de Pau, hem? Como entregou Enfezado?
<br>Depois disso, dispararia na cabe�a. Encostaria o cano da arma
<br>na testa, para n�o perder tempo na pontaria. Banda Branca ia levar
<br>um susto. Mas, at� l�, quanta coisa para acontecer! E a primeira
<br>delas era botar a m�o no retrato que a doida da Marlene guardava no
<br>
<br>
<br>�lbum. Segue com o embrulho debaixo do bra�o, lembra de falar com
<br>Man� Cabreiro, a fim de n�o pensar que estava se mandando.
<br>
<br>Entra pelo port�o largo da obra, v� o nordestino de cara redonda,
<br>metido na guarita. Senta na ruma de tijolos, diz estar se virando num
<br>novo trabalho. O vigia enrola o cigarro de palha, faz uma indaga��o
<br>com a qual Toninho n�o contava.
<br>
<br>� O pessoal t� querendo um acerto contigo. N�o � que haja
<br>desconfian�a. Eu mesmo j� disse. Botei a m�o no fogo por ti. Mas
<br>� que o Brezol� acordou um dia de veneta, n�o achou os documentos,
<br>sacou da faca, foi cortando todo mundo. At� Ti�ozinho e o Esperidi�o,
<br>que tavam dormindo.
<br>� Ficou maluco?
<br>� Acho que ficou. Como n�o encontrou os documentos com os
<br>caras, t� desconfiado contigo!
<br>� Pra que ia querer os documentos daquele merda?
<br>� Sei n�o! Brezol� � cismado!
<br>Man� Cabreiro acende o cigarro, Toninho oferece o ma�o, o vigia
<br>tira alguns, guarda no bolso do blus�o.
<br>
<br>� 0 que sei � que vai gramar boa temporada no xadrez. Perdeu
<br>o emprego, t� fichado. Tr�s tentativas de homic�dio.
<br>� E o Ti�ozinho, o Esperidi�o?
<br>� No Pronto-Socorro at� hoje. Josias veio ontem de l�, disse
<br>que t�o fora de perigo.
<br>� Poxa! Esse cara � l�l� da cuca! Como � que vai cortando os
<br>outros de qualquer jeito, por causa da merda de uma carteira?
<br>� Brezol� foi sempre esquentado. Nunca respeitou cara de ningu�m.
<br>Tava sabendo que mais cedo ou mais tarde ia aprontar. At�
<br>que demorou. N�o devia era ter arranjado a vaga pra ele.
<br>� Pode dizer pro pessoal que dei as caras, n�o sei de documento
<br>nenhum. O dia que quiser uma carteira profissional, vou no Minist�rio.
<br>Se eles conseguem, quanto mais eu!
<br>Man� Cabreiro vai para a rua, agitando a bandeirola vermelha,,
<br>como sempre fazia, interrompe o tr�nsito para que o caminh�o consiga
<br>sair, retorna � guarita.
<br>
<br>� � bom uma noite dessas baixar por aqui, d� teu al�. Da
<br>contr�rio vai ficar todo mundo pensando que tu gadanhou os documentos
<br>do Brezol�.
<br>� Por que me explicar com eles se tou dizendo que n�o sei de
<br>nada?
<br>� Sabe bem como � essa gente. Tudo de p� virada! Se t� te
<br>mandando, tanto pior.
<br>� N�o tou me mandando coisa nenhuma! � que agora vou encarar
<br>trabalho pesado a noite inteira. Peguei na distribui��o de jornal
<br>a� com um pessoal. De dia tou me malocando pra tirar um ronco.
<br>Diz pra eles que n�o sei dos documentos.
<br>
<br>Man� Cabreiro tira mais uma baforada do cigarro, torna a falar
<br>dos maus bofes de Brezol�. Isso irrita Toninho.
<br>
<br>� Olha, cara! N�o vou explicar porra nenhuma! Que pensem o
<br>que bem entenderem. Quando o tal Brezol� sair das grades e quiser
<br>me encarar, que se atreva. Tou pagando pra ver. E n�o vou sumir,
<br>n�o. De vez em quando baixo por aqui. A� se acerta a diferen�a. Ele
<br>� valente com esses p� duro, pra cima de mim n�o bota banca.
<br>Man� Cabreiro interfere no acesso de machismo de Toninho.
<br>
<br>� Quer dizer que vai dar conta dele?
<br>Toninho faz uma pausa, como que procurando o alcance daquela
<br>considera��o.
<br>
<br>� Topar no bra�o, n�o topo. mas queimo de longe. Que se
<br>meta a besta pra ver s�!
<br>Pega o casaco, coloca-o nas costas, sente que a barra n�o est�
<br>nada boa. Se continuasse com aquela lengalenga, era capaz do pr�prio
<br>Man� Cabreiro se esquentar, exigir melhores explica��es. Diz
<br>tchau ao vigia, sai pelo port�o largo, atravessa a avenida, entra na
<br>rua arborizada, o pensamento em Brezol�, no esc�ndalo que aprontou.
<br>Passaria bastante tempo sem aparecer na constru��o. E, sempre que
<br>viesse, procuraria um hor�rio em que Man� Cabreiro estivesse de servi�o.
<br>Nada de subir as escadas � noite, como se tornara h�bito. N�o
<br>confiava naqueles caras. Depois da arrua�a de Brezol�, muito menos.
<br>Al�m da preocupa��o com o servente de obra, preocupa-o a fotografia
<br>no �lbum de Marlene. Isso, sim, precisava ser resolvido. Entraria no
<br>pr�dio sem ser visto pelo tipo grandalh�o. Num momento em que
<br>sa�sse da portaria, aproveitaria. Se n�o conseguisse, retornaria � pens�o,
<br>aparafusaria o cofre de chapa por baixo do guarda-roupa, prenderia
<br>a chave no chaveiro, esperaria pela noite como quem aguarda
<br>condu��o. N�o podia era ficar zanzando de um lado para o outro, o
<br>rev�lver no bolso do casaco, manchetes nas bancas gritando a morte
<br>do motorista, policiais mobilizados para localizar o garoto que comia
<br>a bicha. Muita complica��o num s� dia, sem contar a esculhamba��o
<br>promovida na obra por Brezol�. Vai ver. o sacana disse na Delegacia
<br>que os documentos n�o estavam com os companheiros, s� podia
<br>ser arruma��o do garoto que vez por outra dorme na obra. Ser�
<br>que teve coragem? Nesse caso n�o estava t�o inc�gnito! A pol�cia procuraria
<br>por Jo�o Leonardo de Abreu, daria com ele. E se fosse algum
<br>tira na Pens�o Iola? Se j� tivesse ido? L�gico que dona Berta mostraria
<br>o registro. 0 policial se limitaria a ficar aguardando. Quando
<br>aparecesse, seria facilmente grampeado. Por que foi dar semelhante
<br>mancada? Por que n�o pensou em todos os detalhes? Como pensar,
<br>se jamais imaginaria que Brezol� fosse t�o imbecil?
<br>
<br>Atravessa ruas. torna a entrar na pens�o, mete-se no quarto. A
<br>primeira provid�ncia � tirar a camisa, deitar-se por baixo do guarda-
<br>roupa, meter os parafusos, prender o cofre. Terminada a instala��o
<br>
<br>
<br>experimenta a chave, a tampa abre e fecha facilmente. Embrulha
<br>rev�lver e balas num peda�o de jornal, mete no cofre, passa �gua no
<br>rosto, esfrega a toalha de banho nas costas, estira-se na cama. Ent�o,
<br>
<br>o correto, seria devolver os documentos de Brezol�. Se aparecessem,
<br>obviamente os policiais o deixariam em paz. Se um cara perde os documentos
<br>e eles s�o localizados, ponto final. 0 importante, tamb�m,
<br>era saber para qual Delegacia Brezol� fora levado. S� Man� Cabreiro
<br>saberia informar. Iria novamente � obra, colocaria os documentos
<br>em algum ponto f�cil de achar? De outra parte, sem os documentos,
<br>como fazer no caso de sair da Pens�o Iola? Ora, com o tempo conseguiria
<br>outros. Talvez, de algum motorista. Se n�o fosse poss�vel,
<br>surpreenderia um cara qualquer, apontaria a arma, mandaria que jogasse
<br>dinheiro e documentos no ch�o. Faria isso num ponto da Zona
<br>Norte, para n�o concentrar a aten��o dos tiras. Quem iria saber?
<br>Ouve passos de um homem no corredor, imagina estar sendo vigiado.
<br>Naturalmente havia um cara na pracinha, entrou na pens�o
<br>quando o viu, agora estava se aproximando. Cola o ouvido na porta,
<br>os passos v�o se distanciando, na dire��o do banheiro. Por que alarmar-
<br>se � toa? N�o podia perder a cabe�a, quando as coisas estavam
<br>apenas no come�o. N�o podia ficar atordoado, sem condi��o de raciocinar.
<br>Se isso acontecesse, acabaria igual a Colher de Pau. Estaria
<br>provado n�o ter condi��o de meter-se em semelhante manobra. Procura
<br>acalmar-se. Nada de deixar o medo confundi-lo. Talvez o melhor,
<br>mesmo, fosse n�o devolver documento algum. Numa hora que
<br>pudesse, iria examinar o registro no livro de dona Berta. Vai ver n�o
<br>copiou o nome todo. Mas essa era uma possibilidade rara. Sabia muito
<br>bem com que desconfian�a a mulherona o admitiu. Pelos olhares
<br>que fez, n�o tinha do que duvidar. Disse que era estudante, o pai
<br>mandava mesada, n�o acreditou. Tinha certeza. Ser� que por causa
<br>de uns simples documentos a pol�cia se daria ao trabalho de vistoriar
<br>os livros de todas as pens�es existentes no Rio de Janeiro? N�o acreditava.
<br>No m�ximo iria a umas quatro ou cinco, l� mesmo por Copacabana.
<br>Como iriam os tiras adivinhar onde estava, se nem o pr�prio
<br>Man� Cabreiro e nem ningu�m sabia? Tolice afobar-se! 0 importante
<br>era tirar o retrato do �lbum de Marlene. Isso sim, poderia
<br>lev�-lo � Delegacia, por l� teria de dar o nome falso do servente de
<br>obra, terminaria se complicando. Torna a olhar os jornais, rel� a
<br>mat�ria com o motorista, as opini�es do detetive Galv�o. Quem seria
<br>
<br>aquele cara? Como costumava agir? Outra coisa que necessitava saber.
<br>Muito mais importante que se preocupar com umas porcarias de carteiras.
<br>Brezol� sairia da pris�o, n�o poderia retornar � obra. Iria por
<br>l� algumas vezes, esper�-lo, n�o o encontraria. Trataria de tirar novos
<br>documentos, conseguiria outro emprego, ficaria sem tempo para qualquer
<br>coisa, quanto mais para vigi�-lo. Era isso.
<br>
<br>117
<br>
<br>
<br>Tenta cochilar, n�o consegue. Nunca pudera dormir de dia. O
<br>pensamento est� dividido, entre o novo assalto e a passagem pelo
<br>apartamento de Sandra. Baixaria por l� um pouco depois das oito.
<br>N�o gostaria de topar com a mulher. Daria fim no retrato, tomaria
<br>
<br>o t�xi, mandaria rodar pela rua Gast�o Baiana, queimaria o motorista
<br>quando ele menos esperasse.
<br>A penumbra da noite vai invadindo o quarto, as luzes se acendem,
<br>a voz da mulher chorando na televis�o. Naturalmente, uma
<br>daquelas novelas em que todas as pessoas, por um motivo ou outro,
<br>est�o enredadas em terr�veis tramas de amor. N�o gostava daquelas
<br>hist�rias. Mesmo assim, animou-se na noite em que o pai chegou
<br>com a novidade. Logo depois que fizer a instala��o da luz el�trica,
<br>compro a televis�o. Nem que seja usada. Passei outro dia pela rua
<br>do Lavradio, vi numa casa de consertos, algumas bem boas. 0 cara
<br>garantiu que funcionam como novas. Qualquer coisa que haja ele
<br>conserta. A m�e ficou contente. Foi a �nica vez que a viu alegre.
<br>Acontece que a luz custou a chegar, o pai mudou de emprego duas
<br>vezes. Na fase em que estava se firmando, como tratorista nos trabalhos
<br>da rodovia, desapareceu. E o desgra�ado do jornal n�o deu
<br>sequer uma linha do desaparecimento. Uma noite qualquer iria � reda��o,
<br>pegar a fotografia de volta. N�o tinha d�vida de que o mulato
<br>brecou a nota. 0 redator magro, ar paciente, um temp�o escrevendo
<br>tudo � toa. Um problema a ser resolvido. E seria!
<br>
<br>Enfia-se nas roupas, aperta o n� dos sapatos. No quarteir�o
<br>seguinte toma o t�xi. 0 motorista � mulato, magro, de �culos. Mas,
<br>pelo estado do carro, v� logo que se trata de profissional de frota. Jamais
<br>perderia tempo com aqueles tipos. Um bando de p� inchado,
<br>gingando o dia inteiro para tirar o dinheiro do aluguel do carro, ficar
<br>com as sobras. Conheceu um motorista desse, no morro. Ap�s um dia
<br>todo de trabalho, ficava com oitenta, cem. Comprava meio quilo de
<br>carne, uma d�zia de ovos, meio de feij�o, uma carteira de cigarro.
<br>No dia seguinte tinha de pedir algum emprestado, a fim de conseguir
<br>
<br>o t�xi novamente e, mais uma vez, tentar a sorte. Se chovia virava
<br>como doido. Quando o passageiro queria ir para o sub�rbio e passava
<br>das 4, estabelecia um trato. S� vou por tanto, chapa. No tax�metro
<br>n�o d�! Se n�o pego engarrafamento pela Avenida Brasil na ida, na
<br>volta � certo. Dizia isso para impressionar. Gra�as a essa jogada conseguia
<br>alguns cobres a mais. Nos dias dif�ceis, em que os motoristas de
<br>carros pr�prios procuram a garagem, os que dirigem TL de frota se
<br>fazem.
<br>Sai do t�xi, caminha um bom peda�o pela cal�ada. Passa vagarosamente
<br>na frente do pr�dio, n�o v� seu Manuel. Retorna, aproveita
<br>que a entrada do edif�cio est� deserta, sobe rapidamente dois lances
<br>de escada, fica aguardando o elevador. Quando a porta se abre no
<br>9.� andar, sente o cheiro que se torna familiar: um tanto mofo, um
<br>
<br>
<br>tanto lixo queimado. Avan�a pelo corredor mal iluminado, mete a
<br>chave de leve na porta, entra vagarosamente. Como das vezes em que
<br>ali estivera, o pequeno apartamento est� completamente escuro. Sente
<br>vontade de acender a luz, n�o o faz antes de um exame detalhado.
<br>Necess�rio, antes de mais nada, acostumar a vista com a escurid�o.
<br>Mant�m-se encostado na porta, esperando. Ap�s alguns instantes, come�a
<br>a perceber o contorno dos m�veis, da cama. Faz o primeiro
<br>movimento, o quebra-luz acende. Tenta ocultar-se. a mulher n�o parece
<br>assustada.
<br>
<br>� Pensei que n�o tivesse chave!
<br>Aproxima-se, encara Sandra, uma ponta de len�ol passada sobre
<br>a barriga, os seios e as coxas de fora. Senta na cadeira, n�o
<br>sabe o que dizer. Tudo que imaginara, terminou dando exatamente
<br>o contr�rio.
<br>
<br>� Por sua causa os tiras vieram aqui, bagun�aram com a merda
<br>do apartamento. At� hoje n�o tive coragem de arrumar.
<br>Timidamente Toninho se prop�e a ajud�-la. Sandra faz um riso
<br>nervoso.
<br>
<br>� � exatamente como a foto que Marlene deixou. Que foi que
<br>aconteceu pra se matar daquele jeito?
<br>Sacode a cabe�a, os cabelos caem do lado da testa. A mulher
<br>move-se na cama, o len�ol desapareceu do seu corpo.
<br>
<br>� Ser� que � t�o bom assim com as bichas? E com as garotas?
<br>N�o tem mais do que duvidar. Sandra esqueceu a companheira,
<br>n�o sabe se � prudente record�-la naquele momento. Afinal, quantos
<br>planos fizera para surpreend�-la e ali estava, ao alcance dos seus bra�os,
<br>oferecendo-se, desafiando-o.
<br>
<br>� Depende da garota!
<br>Sandra sorri, mexe-se de maneira excitante. Toninho livra-se das
<br>roupas, dos sapatos, estende-se sobre ela. De in�cio, tudo que sente �
<br>
<br>o corpo morno da mulher. Depois, o h�lito quente, recendendo a pasta,
<br>os cabelos macios. As m�os de Sandra afundam na cabeleira revolta
<br>de Toninho e. numa sensa��o de estar se consumindo em gozo
<br>permanente, ele se aprofunda na garota que faz gestos suaves, sorri,
<br>morde os l�bios, crava-lhe os dedos finos de unhas ponteagudas nas
<br>costas. Acomodam-se, Sandra suada, Toninho arquejante.
<br>� Marlene mandou que cuidasse de voc�. Como v�, n�o o detestou
<br>em nenhum momento.
<br>Acaricia os seios de Sandra, corre os dedos at� o umbigo.
<br>
<br>� Prometi que ia cuidar. A n�o ser que n�o queira!
<br>Toninho v� bem como era bonita. N�o pode entender se aquilo
<br>est� acontecendo de verdade ou � apenas um sonho.
<br>
<br>� Por que eu, quando podia escolher qualquer outro?
<br>� Ora, isso n�o significa que v� deixar os compromissos antigos.
<br>� Um passatempo!
<br>
<br>� Talvez, at� que aprenda a gostar de mim. Ser� que � capaz?
<br>Toninho olha para um ponto na parede, n�o sabe o que dizer.
<br>Nunca ningu�m lhe fizera semelhante indaga��o.
<br>
<br>� Tenho certeza. Sempre quis gostar de uma garota. N�o � a
<br>mesma coisa que Marlene.
<br>� N�o gostava dela?
<br>� Acho que n�o. Me acostumei.
<br>Sandra beija-o, prolongadamente, estende-se sobre ele, remexe-se*
<br>vagarosamente, o garoto dominado de sensa��es. Abaixa um pouca
<br>a cabe�a, os longos cabelos ocultando os rostos. Nos instantes em
<br>que Sandra est� de olhos fechados, tem melhores condi��es de avaliar-
<br>lhe o corpo, os seios, os bra�os. E percebe, tamb�m, que n�o era
<br>daquela noite que o estava esperando. Naturalmente estivera, assim,
<br>em outras ocasi�es e ele perdendo, por causa dos maus pensamentos.
<br>Dali em diante freq�entaria o apartamento com mais assiduidade ou
<br>at� poderiam encontrar-se em outro local. Ela se levanta para ir ao
<br>banheiro, Toninho admirando-a por tr�s. 0 chuveiro come�a a jorrar,
<br>abre o �lbum de Marlene, sabe que n�o est� sonhando. Passa rapidamente
<br>as p�ginas, encontra a fotografia que tanto o preocupara, torna
<br>a estender-se na cama. Sente-se cansado, as virilhas ardendo, mas
<br>ainda tinha condi��es de prosseguir.
<br>
<br>TR�S
<br>
<br>Enquanto Sandra p�e as roupas, maquia-se, escolhe os sapatos,
<br>Toninho fica acompanhando seus movimentos. Tem vontade de fazer
<br>uma por��o de perguntas e de n�o perguntar coisa alguma. Continua
<br>meio atordoado com a recep��o. Contava encontrar uma mulher assustada
<br>e o que terminou acontecendo se constitu�a em aut�ntica surpresa.
<br>Por isso era melhor que a deixasse falar.
<br>
<br>Sandra movimenta-se no pequeno apartamento, entra muitas vezes
<br>no banheiro e retorna ao espelho, na porta do guarda-roupa.
<br>
<br>� Quando puder, compro uma penteadeira. Me pintar numa
<br>porcaria dessas � uma esculhamba��o. Chego sempre bezuntada no
<br>show.
<br>
<br>� Fica bem de qualquer jeito!
<br>A frase, dita espontaneamente, faz Sandra voltar-se. Aproxima-
<br>se de Toninho beija-o no nariz, deixa a marca do batom.
<br>
<br>� T� aprovado! Quero ficar com voc� outras vezes. Tive medo
<br>que nunca aparecesse.
<br>
<br>� N�o vim antes por imaginar que n�o queria nem me ver.
<br>Talvez pensasse que tinha alguma coisa com o caso da Marlene.
<br>� N�o, depois que vi o bilhete. Quer ver?
<br>� Prefiro ficar com a �ltima lembran�a dela, cheia de sonhos e
<br>planos. Falava horas e horas numa demorada viagem.
<br>� Tamb�m me falou. Sempre querendo viajar!
<br>� Os tiras voltaram a encher o saco?
<br>� At� agora, n�o! Mas outro dia fui convocada novamente pra
<br>ir � Delegacia. Queriam saber seu endere�o.
<br>� O que disse?
<br>� Simplesmente, n�o fazia id�ia! Nem ao menos o conhecia!
<br>Depois disso n�o tornaram a aporrinhar.
<br>� Se nos encontrarem juntos?
<br>� Que � que tem? N�o v�o saber que era o garoto de Marlene.
<br>Toninho sorri.
<br>� Vou gostar muito de voc�. Seu papo me d� confian�a. Preciso
<br>ter em quem possa confiar.
<br>Sandra encara-o com simpatia.
<br>
<br>� Tamb�m preciso. �s vezes caio numa fossa desgra�ada!
<br>Toninho est� sentado de frente para o espelho da cadeira, queixo
<br>apoiado nas m�os. Sandra d� os �ltimos retoques na maquiagem.
<br>
<br>� E o porteiro, como tem se comportado?
<br>� Seu Manuel? N�o dou trela pra ele. Andou xeretando uns
<br>dias, fazendo perguntas, depois desistiu.
<br>� Sabia que � alcag�ete?
<br>� Um amigo do 928 me disse.
<br>� N�o vai com minha cara. Prefiro que a gente se encontre
<br>em outro lugar.
<br>� Hotel � caro e d� grilo. 0 melhor, depois, � se pensar em
<br>mudar.
<br>Toninho n�o est� disposto a encompridar aquele assunto.
<br>
<br>� Que horas termina o show?
<br>� Uma e meia, duas!
<br>� Espera pra jantar?
<br>Sandra olha-o. Est� linda na sua pintura discreta, os cabelos bem
<br>penteados emoldurando-lhe o rosto.
<br>
<br>� Tem dinheiro?
<br>Toninho faz um riso acanhado.
<br>� Claro! Pensa que vivia � custa de Marlene?
<br>Desta vez quem acha gra�a � Sandra.
<br>� N�o me meto na vida dos outros.
<br>� Pois tenho o bastante pra se jantar, onde escolher!
<br>Sandra assovia.
<br>� Poxa! Tamb�m n�o vamos exagerar!
<br>� Fico lhe esperando na boate. . .
<br>
<br>Sandra fecha a porta, p�e a chave na bolsa, caminham para o
<br>elevador.
<br>
<br>� Se o porteiro tiver l� embaixo?
<br>� A essa hora costuma ter ido embora. Mas se tiver, que se
<br>dane!
<br>Toninho sente-se encorajado mas n�o sabe at� que ponto aquilo
<br>poder� complic�-lo. De uma coisa est� certo: n�o deixaria de acompanhar
<br>Sandra ao Bacar�. Ela vai falando do novo vestido que dever�
<br>estar pronto at� o final da semana, no aumento que vai ter quando
<br>
<br>o show se inicia �s 22 horas, no plano de passar para a boate do Hotel
<br>Imperial, onde h� sempre muito turista americano.
<br>Faz sinal para o t�xi, Sandra mostra-se alegre, est� perfumada
<br>como se fosse a um baile. Na porta da boate ele se atrapalha pagando
<br>
<br>o motorista. Sandra vai em frente, mete-se no meio de uns homens,
<br>desaparece. Quer se aproximar, entrar, termina recuando.
<br>Por que ser� que n�o o esperou. Vai estar aguardando �s 2 ou
<br>foi tudo um sonho? N�o tem do que duvidar. Iria ao cinema, ficaria
<br>algum tempo pela praia, viria para a porta do Bacar�. Sandra
<br>apareceria, iriam jantar, onde escolhesse. Caminha pela cal�ada, tira
<br>a fotografia do bolso. Ora, veja! Tantos dias preocupado com uma
<br>besteira. Olha a foto, Marlene fazendo gra�a. Rasga-a em pequenos
<br>peda�os, joga no cesto de lixo, ouve a voz e os risos de Sandra. Por
<br>que n�o veio h� mais tempo? Ser� que Marlene se matou por ter
<br>descoberto isso? Sandra teria dito alguma coisa que a deixou frustrada?
<br>Imposs�vel saber. N�o tocaria mais no assunto. Marlene se fora,
<br>a pol�cia tomara depoimento de Sandra, estava tudo terminado. Sem
<br>a foto em que aparecia com ela nada mais havia a declarar. 0 importante
<br>era n�o ser visto pelo porteiro, acompanhar a transa do tal detetive
<br>Galv�o, ficar de olho no que Man� Cabreiro lhe dissera. N�o iria
<br>permitir que Brezol� bagun�asse o coreto.
<br>
<br>Senta na lanchonete, o gar�om traz vitamina dupla e um misto
<br>quente. Devora o sandu�che com vontade, toma a vitamina em grandes
<br>goles. Num instante paga a conta, vai em frente, mete-se no
<br>cinema, n�o porque estivesse querendo ver o filme, mas por desejar
<br>ir ao banheiro. E nenhum banheiro melhor, por ali, que o daquele
<br>cinema. Fecharia a porta, ficaria um temp�o sentado no vaso, imaginando
<br>coisas. Como Sandra o cbamou para a cama, como se descobriu,
<br>acendeu a luz, ficou falando enquanto se vestia. Depois, o t�xi
<br>disparado por ruas e avenidas, ela na porta do Bacar�, caminhando
<br>para o meio daqueles homens todos. Por que n�o esperou? Por que
<br>n�o disse ao menos at� logo? Procuraria saber disso �s 2 da madrugada,
<br>quando reaparecesse para jantar. Estava certo de que n�o ia
<br>roer a corda. N�o havia necessidade. Se estivesse procurando esquivar-
<br>se, n�o teria passado tanto tempo com ele. Disso estava mais do
<br>que certo. Puxa calmamente longo peda�o de papel higi�nico, limpa
<br>
<br>
<br>
<br>
<br>se, aperta o bot�o da descarga. Na pia com torneiras niqueladas, sofisticadas,
<br>banha o rosto, ajeita os cabelos rebeldes, entra para a sala
<br>de proje��o. 0 filme est� iniciado, n�o interessa qual seja, acompanha
<br>as cenas a princ�pio aereamente, s� ap�s alguns minutos come�a a
<br>perceber o enredo. O matador de mulheres � o velhote que tem um
<br>tremendo �libi: desde que fora morar na cidadezinha de veraneio, isso
<br>h� mais de dez anos, � tido como paral�tico. Um empregado o empurra
<br>na cadeira de rodas. Nessa cadeira, em momentos diferentes, o velhote
<br>� visto nos pontos principais da cidadezinha. A�, tamb�m, as
<br>mulheres come�am a morrer. Por estrangulamento, com fios de nylon
<br>ou len�os de seda. Quando sai do cinema as suspeitas come�am a convergir
<br>para o empregado. Mas, pelo que pode supor, no final a pol�cia
<br>descobrir� que � o velhote. Gostaria de ver o filme todo, mas sente
<br>vontade de voltar a falar com Man� Cabreiro. A conversa com ele
<br>n�o o agradou. Necess�rio saber bastante a respeito do tal Brezol�.
<br>Tinha de precaver-se, n�o podia brincar com uma fera daquela.
<br>
<br>Saindo do cinema, pisando no tapete macio, ocorre-lhe um truque.
<br>Se esperasse Brezol� aparecer, dissesse saber do cara que estava
<br>com os documentos? Se prometesse lev�-lo ao tal cara, desde que
<br>mantivesse o m�ximo segredo? Por que n�o bolara isso antes? Brezol�
<br>iria. Todo confiante na sua for�a e na habilidade que tinha com
<br>uma faca na m�o. Perto dos arbustos, no caminho do morro, sacaria,
<br>acionaria o gatilho. Largaria ele por l�, encerraria de vez o problema.
<br>Era aquilo. Precisava saber quando Brezol� fora preso, quando
<br>estaria solto. Outra vantagem de dar as caras: demonstrar aos pe�es,
<br>inclusive a Ti�ozinho, Esperidi�o e Josias, que n�o havia sumido, n�o
<br>tinha motivo.
<br>
<br>Empurra a porta, quem aparece � Rox�o. Faz um "oi", oferece
<br>cigarro.
<br>
<br>� Cad� o pessoal?
<br>Iudica com um movimento de cabe�a, Toninho sabe que continuava
<br>tudo do mesmo jeito. Sobe os lances de escada, chega ao sal�o.
<br>S� uns dois tipos embrulhados em cobertores, dormindo. Os outros
<br>conversavam, jogavam cartas. Senta perto de Ti�ozinho, Man� Cabreiro
<br>est� metido no jogo. 0 vigia olha-o, surpreso.
<br>
<br>� Bom filho � casa torna!
<br>Toninho faz ar de riso.
<br>� Entro na pr�xima rodada.
<br>� Dez mangos de cada vez � explica Josias.
<br>� Tou topando.
<br>A rodada � reiniciada, o dinheiro casado, as cartas divididas.
<br>Cada um faz seus estudos, o primeiro a jogar � Ti�ozinho. Ainda est�
<br>com o bra�o direito enfaixado. Toninho quer logo tocar no assunto
<br>mas n�o se atreve. Deixa que um deles puxe a conversa. Lan�a as
<br>primeiras cartas, Josias n�o tem pontos suficientes, p�e-se a comprar,
<br>
<br>
<br>quase todos riem da agonia de nunca encontrar a carta de que mais
<br>precisava. Acha, tem muitas cartas na m�o, dificilmente ganhar� a
<br>partida. Toninho ajoelha-se, mostra-se alegre, s� est� com tr�s cartas,
<br>enquanto os outros t�m, no m�nimo, quatro. A partida � encerrada.
<br>Toninho raspando a grana.
<br>
<br>� Topa outra?
<br>� Como n�o!
<br>Novamente � feita a divis�o das cartas, o dinheiro casado, Man�
<br>Cabreiro acende um cigarro.
<br>
<br>� Quero s� ver se nessa n�o dou sorte!
<br>Toninho n�o est� muito interessado em ganhar. Quer mostrar-se
<br>amistoso, for�ar um daqueles caras a falar nos documentos. E se
<br>
<br>o pegassem de repente, examinassem seus bolsos? Por que n�o
<br>deixou a porcaria das carteiras na pens�o? Se surgisse uma discuss�o,
<br>tentaria lev�-los na l�bia. N�o havia outro jeito. E se ganhasse aquele
<br>jogo, para depois devolver o dinheiro a cada um dos perdedores?
<br>Talvez fosse o caminho. Demonstraria n�o ser um filho da puta
<br>qualquer, que se prevalecia. Ora, se tava devolvendo dinheiro vivo,
<br>que acabara de ganhar, por que iria ficar com as merdas de umas
<br>carteiras que nada valiam. Exatamente isso o que faria, caso a sorte
<br>continuasse do seu lado.
<br>Toninho novamente com tr�s cartas e desta vez quem mais compra
<br>� Esperidi�o. Vai se enchendo de cartas, ficando irritado com as
<br>brincadeiras de Man� Cabreiro que puxa tragadas do cigarro, mas na
<br>verdade t� nervoso, perdeu mais de cem, n�o v� possibilidade de ganhar
<br>sequer uma rodada.
<br>
<br>� Puxa, o garot�o t� com tudo � diz Josias. � Voltou com
<br>o C�o no couro!
<br>� N�o � C�o no couro, coisa nenhuma, cara. � ajuda de Iemanj�!
<br>� diz Toninho sorridente.
<br>� Tomara mesmo que Ela te ajude � diz Esperidi�o. � Quando
<br>Brezol� sair do grampo vai precisar de muita sorte!
<br>� Por qu�?
<br>� Ora, acha que tu botou a m�o nos documentos!
<br>� Pra que ia querer aquelas porcarias?
<br>� N�o fa�o id�ia. S� sei que t� pensando assim. Ti�ozinho e
<br>eu � que nos estrepamos. De qualquer forma se deu sorte, foi s� arranh�o;
<br>Ferrolho levou uma chanfrada por baixo, ningu�m sabe o
<br>que vai ser dele.
<br>� N�o melhorou?
<br>� Melhorou coisa nenhuma. Ontem, tava com febre alta, os
<br>m�dicos iam operar de novo.
<br>� Se ele morre Brezol� t� ferrado!
<br>� Juro que n�o botei as m�os na papelada de Brezol�. Quando
<br>quiser documento � s� ir no Minist�rio e pegar.
<br>
<br>� Acontece que ele n�o pensa assim � insiste Esperidi�o.
<br>� Se n�o pensa, quando botar as patas fora da gaiola se acerta,
<br>� Vai te comer na faca! � argumenta Josias examinando as
<br>cartas.
<br>� Sou mais fraco mas n�o corro da raia!
<br>O jogo chega ao lance final e mais uma vez as melhores cartas
<br>est�o com Toninho. 0 garoto sorri.
<br>
<br>� Vamos l�, minha gente. Eu fico!
<br>Os pe�es entreolham-se. N�o est�o gostando daquela euforia do
<br>
<br>menino. O pr�prio Man� Cabreiro mostra-se aporrinhado mas n�o
<br>
<br>pode explodir. N�o seria justo. 0 baralho pertencia a Esperidi�o, o
<br>
<br>garot�o estava jogando numa boa. N�o inventou nada, n�o escondeu
<br>
<br>cartas. Um jogo limpo. Perderiam mais essa rodada, teriam esperan
<br>
<br>
<br>�as nas pr�ximas. 0 importante era n�o deixar Toninho se mandar
<br>
<br>dali, ganhando do jeito que estava.
<br>
<br>O garoto examina aqueles tipos, d� pra sentir a amargura em que
<br>
<br>se encontram. No final devolveria o dinheiro de todos eles. Seria a
<br>
<br>oportunidade de conquistar-lhes a confian�a.
<br>
<br>Ao lan�ar a �ltima carta no ch�o, sobre as demais, de Man�
<br>Cabreiro, Esperidi�o, Josias e Ti�ozinho, o garoto raspa mais uma vez
<br>
<br>o bol�o.
<br>� Esse cara vai nos depenar � reclama Josias.
<br>� Querem parar?
<br>� Pra mim chega. Tou liso que nem quiabo!
<br>� Pois eu ainda vou no lance. N�o perdi as esperan�as �
<br>argumenta Ti�ozinho.
<br>
<br>� Vamos l�!
<br>Man� Cabreiro embaralha, d� as cartas, Toninho come�a. Ti�ozinho
<br>faz uma jogada feliz, Toninho precisa de mais pontos. Na primeira
<br>compra, l� est�o os pontos de que necessita.
<br>
<br>� Vai ter sorte assim no inferno!
<br>Ti�ozinho prende o jogo, quem compra agora � Man� Cabreiro.
<br>Toninho acha gra�a. 0 vigia vai se estrepar direitinho. Ti�ozinho faz
<br>outro lance e tamb�m precisa ter nova carta. Pega tr�s, at� achar
<br>a que precisa. Novamente os pontos est�o com o garoto. Mas o ambiente
<br>� tenso, n�o pretende que os pe�es se desesperem, antes de saber
<br>da surpresa que lhes reserva. Sem �nimo de continuar Ti�ozinho abre o
<br>jogo, novamente a bolada � de Toninho. Puxa o dinheiro para junto
<br>das pernas, os pe�es olhando.
<br>
<br>� Agora, pessoal � diz o garoto � como n�o vim aqui pra
<br>jogar e como t� longe o dia do pagamento, se faz um acerto: devolvo
<br>a grana de todo mundo. Isso n�o passou de um treino. Outro dia se
<br>faz uma rodada. A�, pra valer!
<br>
<br>Esperidi�o sente-se aliviado. Chega a fazer um sorriso. Ti�ozinho
<br>-� orgulhoso. N�o quer aceitar. Argumenta que d�vida de jogo � sagrada.
<br>Josias manda que deixe de ser besta.
<br>
<br>� Se o cara t� devolvendo a grana, qual �?
<br>A contragosto Ti�ozinho aceita. Mas topa o desafio de Toninho.
<br>� Se ningu�m quiser jogar, se emenda os bigodes. S� p�ra
<br>quando um de n�s n�o tiver mais grana.
<br>� Ent�o, tem de ser num s�bado. A� podem entrar pelo domingo
<br>� sugere Man� Cabreiro.
<br>� Topo! � diz Toninho.
<br>E olhando para os pe�es alegres, desamassando as c�dulas.
<br>� T�o ouvindo! N�o quero queixa!
<br>� Queixa, porra nenhuma! Cada um tem seu dia no jogo. Hoje
<br>n�o � o meu.
<br>� Que venha o fim da semana. Baixo aqui, se manda brasa!
<br>Quando os pe�es j� recolheram as c�dulas e Esperidi�o guardou
<br>o baralho, aprofunda-se o sil�ncio, enquanto Man� Cabreiro enrola
<br>um novo cigarro. Josias, que parece o mais inteligente do grupo, faz
<br>a pergunta.
<br>� Por que se mandou, logo que os documentos de Brezol�
<br>sumiram?
<br>� Pura coincid�ncia. Tava engatilhado na distribui��o de um
<br>jornal, acabou dando certo. Hoje � meu dia de folga.
<br>� E a bichona? � indaga Esperidi�o debochadamente.
<br>� Que bichona?
<br>� N�o te faz de bobo, cara! Pensa que se dorme de touca?
<br>Toninho desconversa. Desamarra e torna a amarrar os sapatos.
<br>� Me ajudava a descolar um rango todo dia na lanchonete.
<br>Que mal h� nisso?
<br>� N�o se t� dizendo que � mal ou deixa de ser � afirma Josias.
<br>� 0 que ele t� querendo dizer � acentua Ti�ozinho � � que tu
<br>vive de trambique.
<br>A afirma��o torna Toninho raivoso. N�o esperava semelhante coisa,
<br>ap�s devolver o dinheiro daqueles putos. Agora se lembra da
<br>advert�ncia de Man� Cabreiro. 0 melhor era n�o botar mais os p�s
<br>na constru��o. Mas achou de vir, teria de encontrar um meio de sair.
<br>
<br>� � que nenhum de voc�s enfrentou a barra que enfrentei.
<br>Quando vieram pro Rio eram grandes, cada um sabia fazer uma coisa
<br>ou outra. Eu, n�o! Sou daqui mesmo mas sempre comi da banda
<br>podre. 0 pai sumiu do barraco, a m�e morreu, eu sa� por a�. Acham
<br>que algu�m me chamou pra oferecer um cafezinho, saber se tinha
<br>dinheiro pra pagar uma passagem de �nibus?
<br>Olha aqueles tipos sombrios, amargurados, sente que conseguiu
<br>toc�-los fundo. Vai em frente.
<br>
<br>
<br>� O �nico que me deu a m�o foi Man� Cabreiro. Fosse outro
<br>me mandava andar. Teve pena e n�o vai se arrepender. Quando melhorar
<br>de vida ele sobe comigo. Iemanj� me ajuda. Mesmo assim
<br>n�o avan�o no alheio, n�o procurei a bicha. Tava na lanchonete, tomando
<br>uma x�cara de caf� ela mandou sair um sandu�che. Foi assim.
<br>N�o dei uma de rufi�o.
<br>Man� Cabreiro est� emocionado. Josias sem ter o que dizer.
<br>
<br>� Quantos anos tinha quando o velho sumiu?
<br>� Uns dez. N�o conhecia nem a porcaria da cidade direito,
<br>Tive de me virar. Pedia esmola, fazia carreto, vendia balas e revistas
<br>de sacanagem!
<br>� Nenhum parente que ajudasse?
<br>� Os irm�os do pai s�o do Norte. Sempre prometeu me levar
<br>um dia pra l�, mas n�o deu.
<br>No clima favor�vel Toninho ergue-se, mete-se no casaco de couro,
<br>ajeita as cal�as.
<br>
<br>� Com a gra�a de Iemanj� as coisas t�o melhorando. Vou ser
<br>algu�m.
<br>Josias bate no ombro de Toninho.
<br>
<br>� Desculpa o que disse. Ainda se t� sem entender qual � a de
<br>Brezol�! Se a barra apertar, baixa aqui. 0 casar�o � teu tamb�m. At�
<br>ficar pronto e os donos nos expulsarem.
<br>� A� se vai pra outra obra e come�a tudo de novo � argumenta
<br>Esperidi�o.
<br>� L� pelo fim do m�s ele t� a�. Promessa � promessa � diz
<br>Man� Cabreiro.
<br>Toninho, que at� ali se mostrara triste, faz um arzinho de riso;
<br>Esperidi�o, que � alto e forte, passa-lhe a m�o nos cabelos, em sinal
<br>de amizade.
<br>
<br>� Vamos em frente, garot�o. Tomara que d� tudo certo,
<br>contigo!
<br>Toninho vai embora na alegria e camaradagem daqueles pe�es,
<br>ap�s confirmar que voltaria. A partida seria prolongada, quem perdesse
<br>n�o teria socorro. Passa diante da guarita, Rox�o est� cochilando,
<br>vai embora, os olhos rasos d'�gua. Afinal, por uns momentos
<br>aqueles homens o consideraram um malandro, um marginal. Enxuga
<br>as l�grimas, fica um tanto confuso, pois na verdade n�o chora por si.
<br>Sente-se triste com o papel que representava diante daqueles pe�es
<br>rudes, honestos, humanos.
<br>
<br>127
<br>
<br>
<br>Cap�tulo VII
<br>
<br>UM
<br>
<br>Toninho permanece na beira da cal�ada, junto � esquina, onde
<br>havia a loja de roupas, vitrines apagadas. O tr�fego na Avenida N. S.
<br>de Copacabana diminuiu bastante porque era tarde e fazia um pouco
<br>de frio, embora a noite estivesse estrelada. Toninho acompanha os
<br>carros particulares que passam em disparada, os �nibus praticamente
<br>vazios. Podia ter feito sinal para diversos t�xis mas n�o fez. N�o
<br>estava ainda bem seguro. Alguma coisa o deixava em d�vida. Por
<br>que tomar um t�xi, se podia caminhar at� a boate? Ao primeiro cara
<br>que encontra no ponto de �nibus pergunta pelas horas. Tinha tempo
<br>bastante. N�o precisava se afobar. Recorda os momentos em companhia
<br>de Sandra, continua a admitir estar ficando lel� da cuca. N�o podia
<br>ter sido verdade. Precisava encontr�-la de novo, toc�-la, falar-lhe, a
<br>fim de certificar-se. Estaria ficando louco? Mas foi tudo t�o real.
<br>Claro que aconteceu: as virilhas ainda ardiam, um certo cheiro de
<br>Sandra sa�a do seu pr�prio corpo. Como ent�o ficar em d�vida? E
<br>quando ela passou para cima! Ah, como gostaria que aquilo se repetisse.
<br>Agora entendia por que Marlene n�o desejava que a conhecesse.
<br>Uma garota e tanto! N�o tinha conversa, sabia bem o que queria. Depois,
<br>enquanto falava, os dedos da m�o direita brincando com os seios
<br>redondos e morenos, o umbigo profundo de Sandra. E as coxas lisas
<br>e mornas? Ah, as coxas de Sandra! Um dia se encheria de coragem,
<br>iria v�-la no show. Ficaria numa mesa no canto mais escuro, s� quando
<br>terminasse falaria com ela. Uma surpresa!
<br>
<br>Aproxima-se da boate, al�m da porta almofadada e do tipo grandalh�o
<br>na entrada n�o h� nada de especial. 0 nome � simples, desenhado
<br>em fios de neon lil�s. Chega cada vez mais perto, puxa um
<br>cigarro, percebe que o le�o-de-ch�cara est� de olho, pergunta por
<br>Sandra.
<br>
<br>� A que faz strip-tease. Morena, cabelos compridos. . .
<br>O le�o-de-ch�cara passa a mostrar extraordin�ria intimidade, pede
<br>um cigarro, Toninho oferece o ma�o.
<br>
<br>
<br>� Se mandou. Saiu com uns caras. Como sempre faz depois do
<br>show!
<br>
<br>Toninho ouvindo o le�o-de-ch�cara. o pensamento em Sandra,
<br>n�o entende semelhante irresponsabilidade. Como � que marcava e
<br>ia embora, sem mais nem menos? O que � que pensava? Querendo
<br>sacanear, ou mostrar que era boa demais?
<br>
<br>� Ser� que n�o t� no bar da esquina?
<br>� Acho que n�o. Vi entrando num carro.
<br>O le�o-de-ch�cara diz isso e sorri. Parece gozar com o espanto
<br>de Toninho.
<br>
<br>� Tem alguma coisa contigo?
<br>Encara o homem, n�o consegue responder. O le�o-de-ch�cara
<br>faz uma outra pergunta, n�o escuta. Vai seguindo na dire��o do bar,
<br>est� certo de que encontraria Sandra; ela estaria esperando. H� muita
<br>gente bebendo, alguns caras completamente embriagados, mulheres
<br>falando alto, gar�ons movimentando-se nervosamente com bandejas
<br>de chope, os ventiladores ligados porque o ambiente est� completamente
<br>abafado, o ar viciado. Olha para um lado e outro, vai at�
<br>
<br>o meio do sal�o atravancado, o gar�om pedindo licen�a, olhos em
<br>pessoas que nunca vira, em mulheres extremamente pintadas, maquiadas,
<br>como verdadeiras bonecas, tipos de cabelos engordurados,
<br>bem vestidos, outros barbudos, desleixados. Em nenhuma das mesas
<br>consegue localizar Sandra. Torna a pensar no le�o-de-ch�cara, admite
<br>estar com a raz�o. Saiu com os caras, a essa altura estava num quarto
<br>de hotel, entregando-se como uma sem-vergonha. Isso que aquela
<br>sacana era. Uma puta escrota. Trepou com ele na maior facilidade,
<br>como treparia com qualquer outro. Por que acreditou que se encontraria
<br>com ele? Por que aquele convite maluco de jantar? Devia ler
<br>ouvido o que Marlene contava. Fora os encontros espor�dicos, havia
<br>o caso com o velhote, que vinha de longas datas, desde que come�ou
<br>no show. Marlene sabia muito a respeito de Sandra. Ele � que n�o
<br>acreditava. Agora, eis a prova. Mas, nem de longe, desejava ser o
<br>homem de Sandra. Revoltava-se com a falia de palavra. Me espera na
<br>porta da boate. No m�ximo entre uma e meia e duas horas! Desceram
<br><lo t�xi, tornou a confirmar. Ouviu Sandra dizendo sim e se afastando.
<br>Foi tamb�m o tempo em que ficou atrapalhado com o diabo
<br>do motorista. N�o tinha troco pra cem, passou um temp�o remexendo
<br>ria carteira e nos bolsos. Sandra desapareceu no meio dos pilantras,
<br>da� n�o soube mais dela. O le�o-de-ch�cara garantia, sem qualquer
<br>emo��o:
<br>� Saiu de carro com uns caras. Como sempre faz!
<br>Acende outro cigarro, p�ra junto ao poste, reflete olhando a
<br>noite que se confundiu com o mar. Afinal, qual era a sua? Por que,
<br>de repente, perdia-se de amores por uma garota que n�o estava nos
<br>seus planos? Puxa algumas tragadas, o t�xi aponta longe, deixa que
<br>
<br>
<br>chegue mais perto, faz sinal, logo que abre a porta ouve o r�dio
<br>tocando alto.
<br>
<br>� Pra onde, gente boa?
<br>� Duque Estrada. Sabe onde �?
<br>� Em frente � PUC, na Marqu�s de S�o Vivente. Tive uma
<br>amiguinha que morou l�. Manjo aquelas quebradas.
<br>A princ�pio ainda est� irritado, mas deixa-se levar pela conversa
<br>do motorista, um crioulo forte e bem-disposto.
<br>
<br>� Como �? E o jogo de amanh�?
<br>� Tamos a�. Sou Meng�o e n�o abro. Fiz at� uma aposta na
<br>garagem.
<br>� � meu time. Tamb�m tou casando a� com um pessoal. Quinhentas
<br>pratas; 3 a 2 ou 2 a 1. N�o passa disso!
<br>� Mesmo assim n�o menospreso o advers�rio. Botafogo t� com
<br>a linha na medida!
<br>� Na hora cai. N�o aguenta o tranco!
<br>� Tou de acordo. Fogo de palha, nada mais. 0 Meng�o t� tinindo.
<br>H� muito tempo que n�o disparava na cabe�a.
<br>� Falta de organiza��o e um bom t�cnico!
<br>0 carro de luxo, a grande velocidade, corta o t�xi. O motorista
<br>segura no freio.
<br>
<br>� T� vendo como �? 0 bacana n�o t� nem a�. Se bate, a gente
<br>� culpado.
<br>� Quem tem grana t� com tudo. Faz o que quer.
<br>� Verdade! Outro dia mesmo um careta desses freou de repente
<br>em cima de um colega, o TL se esbodegou. O guarda anotou
<br>a placa e mandou andar. Vai acontecer alguma coisa pro bacana?
<br>Porra nenhuma, amig�o!
<br>� E o que acho. Eles deitam e rolam.
<br>� Se � comigo, queimo ele. Sou de boa paz mas ando prevenido
<br>.
<br>� � como tem de ser, podes crer!
<br>Enquanto o crioulo continua a falar, a contar outros casos de
<br>desrespeitos praticados no tr�nsito pelos ''particulares", Toninho faz
<br>seus c�lculos. Pelo que dissera tinha uma arma, estava pronto para
<br>
<br>o que desse e viesse. 0 garoto volta a acompanhar a conversa, o cara
<br>falando na dureza que enfrentava, nos dois filhos na escola, na comida
<br>e no aluguel.
<br>� Viro uma semana de dia, outra de noite. Nas folgas conserto
<br>r�dio e m�quina de lavar roupa. Re�no uma grana, vai tudo embora.
<br>A mulher t� sempre pedindo mais, n�o tenho o que reclamar.
<br>Cada dia os pre�os t�o de um jeito. Al�m disso, ainda ter de pagar
<br>conserto de carro? Pra cima de mim n�o!
<br>
<br>O t�xi entra na Marqu�s de S�o Vicente, avan�a um sinal fechado,
<br>dobra para a direita, Toninho manda parar na curva. Bem debaixo
<br>do poste, onde era intensa a claridade.
<br>
<br>� Como � o acerto, amizade?
<br>O chofer olha o tax�metro, o r�dio toca a m�sica antiga, de Ismael
<br>Silva, Toninho abre o z�per, segura firme o rev�lver. 0 homem
<br>examina a tabela plastificada, a arma dispara. 0 motorista tenta
<br>voltar-se, m�os tr�mulas segurando a tabela, Toninho sabe que n�o
<br>conseguir�. Por instantes o rosto do crioulo permanece voltado na
<br>sua dire��o, olhos arregalados, a boca aberta para as palavras que n�o
<br>sa�ram. 0 garoto examina pelo vidro traseiro, a rua continua tranq�ila.
<br>Espera um pouco, n�o aparece ningu�m, nenhuma janela se abre.
<br>O criolo emborcou de lado, Toninho levanta o vidro, trava a
<br>porta, examina os bolsos do homem, retira dinheiro e documentos,
<br>abre o porta-luvas, onde encontra mais dinheiro e uma pistola. Ergue
<br>
<br>o tapete, n�o acha mais nada; examina por baixo dos bancos, retira
<br>o jornal dobrado. Empurra o motorista para cima da porta esquerda,
<br>tira a chave da igni��o, suspende o vidro da direita, vai embora.
<br>Antes de chegar � Marqu�s de S�o Vivente torna a olhar. O t�xi
<br>permanece com as lanternas traseiras acesas. Est� certo de que sentir�
<br>os mesmos tremores da vez anterior, por isso acende um cigarro.
<br>Fuma nervosamente. Anda alguns quarteir�es, os tremores aparecem,
<br>por�m com menor intensidade. Procura concentrar-se em Sandra, na
<br>sacanagem que lhe fizera, n�o consegue esquecer as �ltimas palavras
<br>do motorista: os pre�os t�o elevados, cada vez maior a dificuldade de
<br>manter o garoto na escola e a casinha alugada. Esfor�a-se para esquecer
<br>o crioulo, torna a insistir em Sandra; na maneira f�cil como
<br>a encontrou, na surpresa que teve de ser convidado por ela. Por que
<br>aquela intimidade? Quem pensava que fosse? Um garotinho? Desejo
<br>de tomar um caf� mas na porcaria daquela rua n�o h� nada aberto.
<br>P�ra onde estavam a mulher e o guarda-noturno, a rua continua
<br>vazia. Ap�s muito esperar, aparece um �nibus. Senta perto do motorista,
<br>o carro desloca-se pregui�osamente. De qualquer forma estava
<br>cada vez mais distante do t�xi, o pensamento em Sandra, nas suas
<br>coxas grossas, nos seus peitos morenos e redondos. Nos bolsos do
<br>casaco, a pistola, o rev�lver, nos da cal�a os documentos, o dinheiro.
<br>Uma boa lembran�a. Por que n�o ficara com os documentos do portugu�s?
<br>0 detetive Galv�o teria mais dificuldade. N�o custava nada
<br>fazer como agora: pegar os documentos. Quanto ao dinheiro, pelo
<br>pouco volume, sentia-se um tanto frustrado. Desde que o crioulo falou
<br>na garagem, na empresa, viu logo que era um bunda suja. Mas n�o
<br>podia perder tempo. Na pr�xima talvez desse sorte. Necess�rio encontrar
<br>um meio de selecionar os carros. Abandonar os que fossem
<br>de frota. Como distinguir de longe? Pensa em v�rias maneiras, sabe
<br>que n�o seria f�cil. 0 cara parava, antes de entrar, se fosse carro de
<br>
<br>frota, perguntava se ia topar a corrida bem pra longe. L� por S�o
<br>Crist�v�o ou Madureira. Acha isso bom. E se o careta aceitasse? Uma
<br>nova proposta lhe ocorre: diria simplesmente:
<br>
<br>� Amig�o, troca quinhentos pra me deixar no Largo do Machado?
<br>N�o ia topar. Corrida pequena, uma nota grande demais para
<br>troco de madrugada. O t�xi arrancaria, chamaria outro. Isso sim.
<br>Talvez fosse o correto. Mesmo assim, o importante seria bolar outras
<br>solu��es. Deixa de raciocinar em novos truques para surpreender motoristas,
<br>v� Sandra na cama, completamente nua, os dentes brancos
<br>num riso de convite. Ele se aproximando, sentindo seu cheiro, o calor
<br>dos l�bios, a leveza dos cabelos. Como, depois disso tudo, foi embora
<br>com os caretas, sem ao menos esperar que aparecesse? Em todo caso,
<br>foi melhor assim. N�o ia ag�entar falar com ela e saber que estava
<br>indo para um hotel com os pilantras. Se a barra n�o pesasse, no dia
<br>seguinte tornaria a aparecer no apartamento. Ela explicaria o desencontro.
<br>N�o adiantava sorrir, se oferecer.
<br>
<br>Ventos da noite nas janelas do �nibus, Toninho imagina-se rid�culo.
<br>Se j� pegara a fotografia que poderia compromet�-lo, por que
<br>n�o sumir de vez? Do jeito que desceu com Sandra no elevador, deve
<br>ter sido visto facilmente pelo alcag�ete. Amanh� seria visto por outros
<br>tipos, em pouco tempo estaria enrascado. Na primeira oportunidade
<br>o arrastariam a uma Delegacia, o interrogat�rio come�ando pela
<br>morte da bicha.
<br>
<br>� Como foi que se atirou?
<br>� Qual a �ltima vez em que estiveram juntos?
<br>� Quanto dava pra ti sustentar?
<br>Finalmente, o mesmo que sucedera a Colher de Pau. 0 crioulo
<br>gordo mandando meter os dedos na tinta.
<br>
<br>� Vamos tocar piano, bicho safado!
<br>0 crioulo gordo, sorridente, apertando cada um dos dedos nas
<br>fichas de papel grosso. Diria o nome verdadeiro, seriam tiradas v�rias
<br>fotos; na primeira que fizesse, terminaria facilmente no grampo. O
<br>delegado mandaria enfi�-lo no pau-de-arara, contaria at� o que n�o
<br>fez. Certo como dois e dois s�o quatro: os encontros com Sandra iam
<br>complic�-lo, principalmente agora que havia muita coisa acontecendo
<br>ao mesmo tempo: a morte da mulherzinha do sargento Beto, do velhote
<br>na cadeira de rodas, o suic�dio de Marlene, dois motoristas
<br>abotoados. N�o podia arriscar. No m�ximo, l� pelo meio da semana,
<br>baixaria no apartamento, de surpresa. Encostaria a cadela contra a
<br>parede, daria as ordens. N�o tinha de afrouxar. E se toda aquela facilidade
<br>de dar fosse um jogo? Isso mesmo: um jogo? Por que n�o
<br>pensou nisso antes? Como � que a mulher que t� assim de macho,
<br>tem coragem de trepar com um cara que s� conhecia de fotografia?
<br>Aquilo de dizer palavras bonitas n�o convencia. Havia alguma coisa
<br>
<br>
<br>que Sandra tava escondendo. Ia descobrir. N�o desceria mais de
<br>elevador como se fosse ot�rio, arriscando ser visto pelo alcag�ete filho
<br>da puta, que dedurava todo mundo no edif�cio. Cansara de ouvir
<br>Marlene reclamando. Depois, observando o comportamento do grandalh�o,
<br>concluiu que a bicha n�o se enganara. Seu Manuel ia pra
<br>panificadora, na esquina, passava informa��es aos caretas dos carros
<br>de chapa fria. E, sabendo disso tudo, deixou-se levar pela gra�a de
<br>Sandra, saiu com ela como se fosse a coisa mais natural do mundo.
<br>N�o ca�a em outra. Por sorte seu Manuel n�o tava no posto. Ou
<br>ser� que viu, do outro lado da rua? Bem capaz. Aquele tipo tinha
<br>artimanha. Sabia jogar pedras e esconder as garras. Ganhava mais
<br>dedurando do que como porteiro. A bicha assinalava nos dedos os
<br>caras que tinham sido levados � pol�cia, principalmente sob suspeita
<br>de uso e tr�fico de drogas, atividades subversivas e contrabando de
<br>mercadorias.
<br>
<br>Entra na pens�o com o casaco nas costas. O porteiro de cara
<br>redonda est� dormindo. Pega a chave no quadro, vai para o elevador.
<br>S� a� o homem acorda, d� boa noite, diz algumas palavras de desculpa
<br>.
<br>
<br>� Numa determinada hora se entrega os pontos!. . .
<br>� Que � que tem dormir um pouco?
<br>Aperta o bot�o do 5.� pavimento, o elevador sobe rangendo, estalando.
<br>Caminha pelo corredor escuro, tremendamente longo, torce a
<br>chave na fechadura. 0 cheiro mofado do quarto come�a a ser familiar.
<br>Fecha a porta com cuidado, acende a luz. Os jornais continuam
<br>no mesmo lugar, as meias tamb�m, a toalha de banho estendida no
<br>espelho da cadeira. Isso provava que ningu�m ali esteve, para qualquer
<br>arruma��o. Era at� bom. Vai ver, a arrumadeira s� aparecia uma vez
<br>por semana. Quanto menos aparecesse, melhor. Tira a camisa, os sapatos,
<br>abaixa-se, olha o cofre preso no fundo do guarda-roupa. Esvazia
<br>os bolsos, vai jogando tudo sobre a cama: pistola, rev�lver, documentos
<br>do crioulo, o pequeno bolo de notas. Quando as notas caem. tem um
<br>momento de satisfa��o. A primeira delas, a que cobre todas as outras,
<br>� de quinhentos. Ajoelha-se. A segunda tamb�m � de quinhentos e as
<br>outras de cem e cinq�enta. Confere com alegria. Mil e seiscentos. Imposs�vel
<br>acreditar. N�o havia l�gica. N�o podia prender-se apenas aos
<br>t�xis de motoristas aut�nomos. Isso simplificava o problema. Torna a
<br>contar o dinheiro, olha o retrato do crioulo num dos documentos. N�o
<br>parecia em nada com o que dirigia o carro, com o que falava no Flamengo,
<br>dizia estar sempre preparado pro que desse e viesse. Tem vontade
<br>de rir. De dizer que nunca se sabe de onde vem a surpresa. Como
<br>Sandra n�o soubera, n�o saberia. Abriu a porta, movimentou-se no pequeno
<br>apartamento, de repente l� estava ela. Mas, na verdade, quem
<br>foi que acendeu a luz? Sandra. Por que n�o gritou, n�o fez esc�ndalo?
<br>Esperava que aparessesse? Sabia que mais cedo ou mais tarde, viria?
<br>
<br>
<br>Quem lhe dera essa certeza? E se na pr�xima estivesse mancomunada
<br>com o grandalh�o da portaria? Como fora idiota! Como se arriscara!
<br>A continuar daquele jeito, seria surpreendido mais rapidamente que
<br>Colher de Pau. Enfezado � que estava certo. Quanto mais cuidado
<br>melhor. Viu bem com que cautela agiu na casa da Tijuca. O detalhe
<br>das flores, a insist�ncia de ficar olhando a mulherzinha com a goela
<br>rasgada. Quase n�o teve coragem de ver, mas Enfezado ficou esperando.
<br>S� sa�ram depois que ela arregalou os olhos.
<br>
<br>Era isso. N�o podia disparar contra um motorista e se mandar. J�
<br>pensou? Como podia saber, a esta altura da madrugada, se aquele
<br>crioul�o morreu de fato, ou se apenas se amoitou? Pensa na cara que
<br>
<br>o motorista fez, nos olhos redondos, nas m�os tr�mulas, segurando a
<br>tabela plastificada. N�o h� d�vida de que tinha apagado. Ao mesmo
<br>tempo podia ter se enganado. Se o cara estava apenas atordoado, podia
<br>ter perdido os sentidos, acordar mais tarde, quando os tiras teriam
<br>tempo para lev�-lo a um hospital. Se falasse, se conseguisse dizer alguma
<br>coisa, estava perdido. No mato sem cachorro. Necess�rio que pensasse
<br>nos m�nimos detalhes. Da� a raz�o de n�o poder perder tempo
<br>com a porra louca da Sandra. Quando tivesse reunido uma boa grana,
<br>mulher n�o ia faltar. Baixaria de vez em quando nas boates, comeria
<br>a que bem desejasse. A essa altura era at� poss�vel que Sandra corresse
<br>para esper�-lo e ele n�o tivesse tempo de encontr�-la. O dinheiro � que
<br>importava. Sem ele n�o se vale coisa nenhuma. E para valer tinha de
<br>ter a cuca no lugar. N�o podia come�ar enrabichado numa f�mea que,
<br>ao mesmo tempo, pertencia a uma cambada de tipos escrotos. Torna a
<br>deitar-se no assoalho, abre o cofre, retira as notas. Junta as antigas �s
<br>novas, faz uma contagem por alto. Junto com o dinheiro guarda a
<br>pistola, o rev�lver, a caixa de balas. Aproxima a mesinha de cabeceira
<br>da cama, pega a l�mina de barbear, p�e-se a cortar os documentos.
<br>Re�ne os peda�os, p�e numa folha de jornal, embrulha. No dia seguinte,
<br>bem distante da pens�o, jogaria aquilo num cesto de lixo.
<br>Ningu�m jamais descobriria coisa alguma. Pensando em Sandra, nas
<br>suas coxas mornas, no seu beijo com gosto de pasta de dentes, nas
<br>palavras tranq�ilas do motorista, Toninho pega no sono. As �ltimas
<br>lembran�as do dia confundem-se com os vagos rumores da noite.
<br>DOIS
<br>
<br>No bar de mesas cobertas com toalhas vermelhas e azuis, todas
<br>muito limpas, Toninho toma m�dia com p�o na manteiga, um copo
<br>com �gua mineral, dois ovos quentes. Os ventos da manh� luminosa
<br>penetram no bar, as pessoas falam baixo, como se ainda estivessem
<br>
<br>
<br>adormecidas. Toninho olha o jornal. N�o havia a menor informa��o
<br>sobre o motorista na Duque Estrada. A aus�ncia do notici�rio o aflige.
<br>Mastiga o p�o com vontade, toma metade dos ovos quentes, abre na
<br>p�gina em que a mat�ria o surpreende. N�o era do motorista e, sim,
<br>da mulherzinha do sargento Beto. Como, depois de tanto tempo, o
<br>caso retornava com aquela for�a? L� cada linha, bem devagar. E vai
<br>sabendo que o detetive Silveirinha descobriu ind�cios que poder�o
<br>levar ao criminoso. Na mesma mat�ria um perito � Rui Lobo �
<br>diz ter revela��es importantes a fazer. Chega ao final da reportagem
<br>com o cora��o batendo, aceleradamente. 0 gar�om faz uma pergunta,
<br>n�o ouve direito, o homem tem de repetir. Dobra o jornal, p�e na
<br>cadeira, sabe que n�o adianta esquentar. Entre as afirma��es do detetive
<br>e a conclus�o a que pudesse chegar, havia longo caminho a
<br>percorrer. Duvidava muito que soubesse de todos os lances da hist�ria.
<br>Jamais descobriria inclusive como as flores foram parar na
<br>casa da mulherzinha. O que seria f�cil comprovar � que foi comida
<br>antes de ser sangrada. No mais, n�o acreditava nas amea�as do
<br>perito. De qualquer forma, compraria outros jornais, a fim de saber
<br>
<br>o que diziam. Pena n�o poder se comunicar com Enfezado, em caso
<br>de emerg�ncia. Mas, se isso fosse necess�rio, subiria o morro novamente,
<br>procuraria mestre T�bor. Devia saber por onde o filho andava.
<br>O gar�om traz o troco Toninho deixa boa gorjeta, vai embora,
<br>com duas preocupa��es dominando-o em plena manh�: o sil�ncio em
<br>torno da morte do motorista, o ressurgimento do caso da mulher e
<br>do velhote entrevado. 0 perito falava no levantamento das impress�es
<br>digitais. N�o tinha nada a temer, mas assustava-se com rela��o a
<br>Enfezado. Sabia muito bem que fora fichado, devia ter um mont�o
<br>de fotografias na pol�cia. Al�m disso entrou de bobeira em cima do
<br>sargento, disse que mais cedo ou mais tarde ia lhe dar o troco. Claro
<br>que a essa altura o cara devia estar na pegada dele. Seria isso que o
<br>perito estava querendo dizer? Nesse caso n�o tinha muito o que investigar.
<br>Era s� botar meia d�zia de tiras no rastro de Enfezado,
<br>chegar at� ele. Teriam ido ao morro, aporrinhar mestre T�bor? Importante
<br>saber disso. Antes, compraria outros jornais. Esperaria pelos
<br>que saem no final da manh�. Em algum deveria estar o caso do motorista.
<br>Caso contr�rio, todo seu projeto iria de �gua abaixo. Ser�
<br>que deu semelhante mancada? Ser� que o crioulo era mais manhoso
<br>do que aparentava? Vai ver o sacana ficou s� atordoado, fez aquele
<br>carnaval todo pra impressionar. Devia ter feito como Enfezado: esperar
<br>o sangue descer. Ao mesmo tempo seria arriscar demais. S�
<br>meter o t�xi naquela ruazinha j� significava muito peito. N�o podia
<br>abusar da sorte.
<br>
<br>Senta no banco da pra�a, fica olhando o jornal que come�ou a
<br>ler no bar, a fotografia da mulherzinha do sargento fazendo cara de
<br>medo e se remexendo. Ah, como foi bom! Melhor do que com Sandra.
<br>
<br>
<br>Com aquela, sim, gostaria de ter ficado um temp�o. Ou ser� que
<br>Sandra sabia fazer melhor e n�o fez por que n�o quis?
<br>
<br>A velhota empurra o carrinho com a crian�a, o menino d� voltas
<br>de bicicleta ao redor do busto de cobre, cagado de pombo, Toninho
<br>termina de examinar o jornal. O detetive Silveirinha parecia t�o astuto
<br>quanto Galv�o. Dizia at� coisas semelhantes. Vai ver, conversavam
<br>� be�a sobre os casos que estavam pesquisando. 0 perito Rui
<br>Lobo tinha uma conversa diferente. Falava de detalhes que n�o entendia.
<br>Onde queria chegar, quando afirmava estar levantando dados
<br>que fatalmente levaria ao criminoso? Teria encontrado alguma prova?
<br>Teria Enfezado deixado cair algum papel, algum documento? Vai
<br>ver, foi na hora em que subiram para apertar o travesseiro na cara
<br>do velhote. Enfezado saltou em cima da cama, prendeu-o com os
<br>joelhos. Nesse momento teria ca�do alguma coisa dos seus bolsos?
<br>N�o acreditava. N�o tinha documento nem nada. Ou foi atrav�s das
<br>flores? Descobriram que as rosas foram compradas por dois garotos?
<br>Como seria poss�vel, se a loja ficava longe de onde morava o sargento
<br>Beto? N�o acreditava. Vai ver, aquilo tudo era conversa fiada de
<br>policial que n�o tem o que dizer, quer aparecer dando entrevista. A
<br>nota do pai, com a foto, n�o sa�a. 0 puto do crioulo mandou botar
<br>na lata de lixo. Tinha vontade de voltar ao jornal, saber o que aconteceu.
<br>Se o careta tivesse rasgado? Exigiria que devolvesse. Se procurasse
<br>engrossar, ficaria esperando o mulato sair. Ia atr�s, acabaria
<br>f�cil com ele. 0 que custava? Bem que merecia. Sente o corpo estremecer.
<br>N�o entendia como as pessoas eram ruins. Como prometiam
<br>fazer as coisas e n�o faziam. Afinal, o que custava, se sa�a tanta
<br>porcaria naquela merda de jornal? Um assunto que resolveria mais
<br>tarde. Quando tivesse em condi��o. Talvez n�o fosse pessoalmente
<br>falar com o mulato. Seria muita afronta, contrataria Enfezado. S�
<br>aparecer, botava no caso. N�o queria a foto de volta, queria o mulato
<br>com uma bala na testa.
<br>
<br>O garoto na bicicleta passa perto, Toninho acompanhando sua
<br>habilidade. Entendia daquele geringon�a. Ora ficava de p� com o guidom
<br>solto, ora subia no selim, a bicicleta sempre em disparada. Pequeno
<br>danado! Deve ter levado boas quedas at� aprender aquilo tudo.
<br>A velhota de vez em quando parava de empurrar o carrinho reclamava
<br>com o menino.
<br>
<br>Toninho atravessa a rua, entra no bar, pede um cafezinho, uma
<br>carteira de cigarros, vai at� a banca. Compra os vespertinos. Retorna
<br>� pra�a. Agora, satisfeito. Logo na primeira p�gina, em grandes letras,
<br>a morte do motorista. A mat�ria dizia que o corpo fora encontrado
<br>de manh�, por volta das seis. No carro n�o acharam qualquer
<br>documento que pudesse identificar a v�tima. Olha a fotografia do
<br>crioulo, v� que n�o estava emborcado para o lado esquerdo, como
<br>deixara. Havia escorregado, nauralmente, ou tentou erguer-se, sair
<br>
<br>
<br>do t�xi? No segundo t�pico entravam o detetive Galv�o e seus auxiliares.
<br>L� atentamente. Como da vez anterior, dizia tratar-se do mesmo
<br>criminoso. E o apontava como respons�vel pela morte de pelo menos
<br>cinco profissionais. Isso deixava Toninho irritado. Por que mentia?
<br>O detetive afirmava que, em todos os casos, os carros foram encontrados
<br>com as portas fechadas, o r�dio tocando. Ora, como podia ter
<br>acontecido coisa semelhante com os tr�s outros t�xis? Aquele detetive
<br>era maluco ou tava querendo confundir? Vai ver, os crimes
<br>anteriores foram diferentes; queria igual�-los, pra criar uma situa��o.
<br>Qual seria a jogada? Quem seria ele? Como faria pra conhec�-
<br>lo? Achava uma falha dos rep�rteres nunca fotografar o policial.
<br>Tinha quase certeza de que estava preparando uma armadilha. Nas
<br>p�ginas internas, com igual destaque, o retrato-falado do que seria o
<br>suspeito. Aquilo tranq�ilizava bastante o garoto. O desenho era de
<br>um homem de certa idade, �culos de aro de metal. Um tipo magro,
<br>olhar severo. Pouco cabelo, traje esporte. A mat�ria se referia aos
<br>especialistas que tinham elaborado o retrato-falado. Toninho leu e
<br>releu essa parte v�rias vezes. Seria aquilo mesmo ou tamb�m n�o
<br>passava de uma jogada? Em que se basearam pra chegar � conclus�o
<br>de que o matador era um tipo como aquele? �culos, ar um tanto apalermado?
<br>Desconfiava. 0 detetive bem que podia seguir numa pista
<br>e o retrato-falado n�o passar de disfarce, boi de piranha, como diria
<br>Banda Branca. Aprendera a desconfiar dos tiras. Viveu muito tempo
<br>perto do alcag�ete para acreditar em qualquer um deles. Dona Julinha
<br>entregou todo seu dinheiro para Banda Branca pagar a conta
<br>da m�quina de costura, o sacana sumiu; mestre T�bor pediu que
<br>recebesse a pens�o, nunca mais viu um tost�o. 0 alcag�ete comendo
<br>Beatriz, se aproveitando de Marta. Tipo ordin�rio. At� seu Greg�rio
<br>desconfiava dele. E olha que seu Greg�rio bem que se dava com o
<br>puto. Banda Branca subia e descia as vielas, quase ningu�m falava
<br>com ele. Sempre que aparecia pelo morro, logo depois surgiam
<br>os soldados, os investigadores. Traziam c�es, metralhadoras, pistolas
<br>
<br>45. Invadiam os barracos, arrancavam portas a pontap�s, batiam em
<br>mulheres e meninos, tiravam trabalhadores da cama, s� de cueca,
<br>metiam de m�os amarradas no cambur�o. Tudo arruma��o de Banda
<br>Branca. Entrava ano, sa�a ano, Banda Branca fazendo das suas. E
<br>n�o havia um s� careta por ali, com peito de dar fim nele. 0 desaparecimento
<br>do velho teria ocorrido longe do morro ou Banda Branca
<br>tava metido, sabia como se deu? Portanto, como ter certeza se o
<br>detetive Galv�o acreditava mesmo naquele retrato-falado?
<br>Quando se d� por satisfeito de ler e reler a mat�ria relativa ao
<br>motorista assassinado, Toninho vira as p�ginas. J� n�o h� qualquer
<br>not�cia sobre o suic�dio de Marlene. Em compensa��o, novamente os
<br>policiais voltaram a falar na morte da mulher, no pai do sargento
<br>Beto. Desta vez a fala��o do perito Rui Lobo tornara-se alentada. To
<br>
<br>
<br>
<br>mava quase a coluna inteira. E, � propor��o que lia, Toninho alarmava-
<br>se. N�o podia ser! O perito afirmava que os matadores da mulher
<br>e do velhote seriam dois. Os mesmos que trouxeram as flores. Encontrou
<br>diferentes tipos de espermatoz�ides e as impress�es no papel
<br>laminado, que embrulhava as rosas, eram claras. Por que permitiu
<br>que o velhote maluco embrulhasse os talos com aquilo? Como ia
<br>imaginar semelhante detalhe? Agora, o perito se alongava sobre isso
<br>e com uma seguran�a absoluta: h� tr�s tipos de impress�es no papel:
<br>dois deles devem pertencer aos autores do crime. No trecho seguinte
<br>
<br>o pr�prio vendedor de flores mencionava os pivetes. De uns 16 para
<br>18 anos. Um moreno claro, outro crioulo. Um tava de sapato preto,
<br>o outro de sapatos de pano, casaco de couro. Tem vontade de largar
<br>o jornal, correr at� a pens�o, pegar mais dinheiro, comprar sapatos
<br>de couro, outro casaco. Ao mesmo tempo a mat�ria prossegue, n�o
<br>sabe como interromper a leitura. Na afirma��o do perito de que o
<br>caso estaria desvendado nas pr�ximas horas, o garoto sente um frio
<br>na espinha e a necessidade dram�tica de subir logo o morro, procurar
<br>vov� Jandira e mestre T�bor. saber a respeito de Enfezado. Se por
<br>acaso o maluco tivesse retornado? Quem poderia saber? Importante
<br>que fosse l�, aproveitasse enquanto os tiras estavam na base das suposi��es.
<br>Mesmo assim trataria de aproximar-se com cuidado. Se desse
<br>de cara com Banda Branca a� seria tarde. No m�ximo falaria com
<br>seu Greg�rio, procuraria not�cias do pai. N�o se arriscaria, indo ao
<br>barraco de mestre T�bor.
<br>Entra no quarto, mete-se por baixo do guarda-roupa, tira o dinheiro
<br>que julga necess�rio para a compra de um par de sapatos e
<br>um novo casaco. Completamente diferente do que vinha usando, embora
<br>com bolsos fechados a z�per, a fim de ocultar melhor o rev�lver.
<br>N�o se aventuraria a ter qualquer casaco, pois dificilmente se acostumaria
<br>a usar a arma na cintura. E mesmo que se acostumasse, seria
<br>perigoso.
<br>
<br>Enfia as c�dulas no bolso, guarda a chave do cofre, vai para a
<br>rua. Toma um t�xi, segue na dire��o do morro. Mas n�o fala ao
<br>motorista sobre seu destino. Manda que o deixe perto da panificadora
<br>Royai. Dali continuaria a p�. Na volta, entraria nas lojas, escolheria
<br>
<br>o casaco e os sapatos. � noite, quando sa�sse, estaria completamente
<br>diferente. Ningu�m poderia identific�-lo. Aquele perito se afobou ao
<br>tentar surpreend�-lo. Termina a rua de asfalto, chega ao trecho onde
<br>havia uns restos de cal�amento, depois a estrada de terra, os arbustos
<br>seus conhecidos, a estrada se estreitando numa viela �ngreme, por
<br>onde passara tantas vezes, com sol e com chuva. Come�a a subida,
<br>encontra v�rias mulheres que est�o descendo, nenhuma o conhece,
<br>dois caras passam, um deles gingando com a pesada maleta de ferramentas.
<br>138
<br>
<br>
<br>De longe avista a cerca do casebre de vov� Jandira. A mesma
<br>de sempre, casquinhas de ovo na ponta das estacas. Vov� Jandira
<br>acreditava que aquilo dava sorte. Bate na porta, amea�ando soltar
<br>das dobradi�as, a velhinha de ar alegre e olhos mi�dos aparece. Sorri
<br>quando o v�, manda que entre. Toninho diz estar de passagem, pergunta
<br>se tem visto Enfezado.
<br>
<br>� Nunca mais apareceu. Talvez teja trabalhando por a�.
<br>Pergunta pelo barraco dos pais, vov� Jandira fala da fam�lia
<br>querendo alugar.
<br>
<br>� Disse pro mo�o esperar, at� voc� aparecer!
<br>� Ainda t� querendo?
<br>� Acho que sim. Ontem mesmo veio saber. . .
<br>� Pode alugar, vov�. O dinheiro a senhora vai guardando.
<br>� Por quanto, filho?
<br>� Quanto ele puder dar.
<br>A velhinha sorri.
<br>� Gosto de voc� por isso. Sempre pensando nos outros!
<br>Vov� Jandira mete-se nos fundos do barraco, Toninho escuta
<br>ru�dos de panelas, de x�cara. N�o tem d�vida de que est� preparando
<br>
<br>o caf�. N�o adianta recusar. De uma forma ou de outra ela trar�.
<br>� Tem ouvido falar do Banda Branca?
<br>A velhinha responde sem se voltar.
<br>� Fui anteontem na tendinha de seu Greg�rio, vi ele por l�. O
<br>mesmo de sempre. Outro dia chamou a pol�cia pra prender o filho
<br>de seu Joca. Se lembra dele? Joca de dona Mariazinha?
<br>� Tou lembrado. 0 que foi que ele fez?
<br>� N�o se sabe. � bom menino. Nunca se meteu em encrenca.
<br>Seu Joca t� em tempo de ficar doido.
<br>� Esse Banda Branca precisa levar uma li��o. Vai ver, o garoto
<br>n�o quis entrar na dele, tratou de se vingar.
<br>� como faz sempre!
<br>Vov� Jandira aparece com a x�cara de caf�.
<br>
<br>� E voc�, filho, o que tem feito?
<br>� Por a�! Ora fazendo uma coisa, ora outra. H� umas semanas
<br>fui na reda��o de um jornal pedir uma not�cia sobre o desaparecimento
<br>do pai. A senhora pensa que saiu alguma coisa? Saiu nada.
<br>N�o t�o ligando pra favelado.
<br>� �! Mas pode deixar que Deus castiga, filho.
<br>� N�o sei, n�o, vov�. Entra ano, sai ano, Banda Branca t� cada
<br>vez melhor de vida. Acabou com Colher de Pau, aleijou Enfezado,
<br>sumiu com o filho de seu Joca, desconfio que t� dentro do sumi�o
<br>do pai.
<br>� N�o diga tolices menino! N�o desfa�a da vontade de Deus!
<br>Toninho sorri, a velhinha leva a x�cara, reaparece falando no
<br>aluguel do barraco.
<br>
<br>
<br>� Quer dizer que se o mo�o aparecer, posso dizer pra mudar!
<br>� Isso mesmo. A senhora fica recolhendo o dinheiro.
<br>Despede-se de vov� Jandira que vai com ele at� o port�o de
<br>t�buas apodrecidas, preso com peda�os de arame. Continua a subir a
<br>viela, tomara n�o encontrar com Banda Branca, nem seu Greg�rio
<br>
<br>o veja passar. N�o sabe por que, n�o gostaria de falar com o negociante
<br>daquela vez. Como bem lembrava Enfezado, era um tipo que
<br>dava pra suspeitar. Aproxima-se da birosca, h� um carro de entregas
<br>na porta, algumas pessoas junto ao balc�o. Passa sem ser visto, o
<br>birosqueiro ocupado com as mercadorias. Nesses momentos n�o dava
<br>aten��o a ningu�m, temendo ser ludibriado pelos entregadores.
<br>Continua subindo, sai na viela do rego e dos porcos fu�ando na
<br>lama, passa pela casa de dona Julinha, uma por��o de roupas estendidas
<br>em cordas e nas cercas, chega ao barraco mais pobre. As janelas
<br>de madeira sem pintura, enegrecendo de sol e de chuva, t�buas encascoradas
<br>de massa de cimento servindo de porta. Bate a primeira vez,
<br>a segunda, ouve ru�dos. Uma das t�buas � afastada, aparece o rosto
<br>envelhecido de mestre Tibor.
<br>
<br>� Quem �?
<br>Toninho tem pena de encontrar mestre Tibor naquele estado.
<br>A menos de um metro de dist�ncia e n�o conseguia v�-lo.
<br>
<br>� Sou eu, Toninho!
<br>0 velho faz um sorriso, por um momento o rosto negro se
<br>ilumina.
<br>
<br>� Entra filho. Chegou em boa hora.
<br>0 homem move-se pelo barraco com desenvoltura, mas sempre
<br>apoiando-se nas paredes, nos m�veis, nos v�os das portas. Procura
<br>pegar um banco, Toninho n�o deixa.
<br>
<br>� Eu pego. N�o se incomode!
<br>� Como t� o mundo l� por baixo?
<br>� Cada vez pior. S� gavi�o e �guia de pedreira.
<br>� Passou pela tendinha de seu Greg�rio?
<br>� Passei mas ele n�o me viu.
<br>O velho oper�rio tem os olhos fixos num ponto qualquer.
<br>� 0 senhor t� melhor?
<br>Coisa nenhuma! Antigamente ainda via um vultozinho. Agora,
<br>nem isso. Mas me conformo com a vontade de Deus.
<br>
<br>� E Enfezado?
<br>� Teve outro dia aqui. Disse que tinha feito um acerto contigo.
<br>A�, nunca mais!
<br>� Veio algu�m procurar por ele?
<br>� S� o Banda Branca. Contou umas lorota, foi embora.
<br>� Que foi que disse?
<br>� Nada. Era s� com Enfezado. N�o sei o que t� arranjando
<br>dessa vez!
<br>
<br>Toninho sabe que o alcagiiete j� deve estar sintonizado no caso.
<br>N�o h� que duvidar. Dali em diante toda cautela seria pouca. Mestre
<br>T�bor fala mais coisas a respeito de Enfezado, Toninho n�o est� prestando
<br>aten��o. Quando se despede, o serralheiro continua sentado
<br>im�vel, como uma pe�a do pobre mobili�rio daquele barraco.
<br>
<br>Desce as vielas, olha os garotos que empinam papagaios, mulheres
<br>velhas lavando roupas. E se falasse com seu Greg�rio? Que teria pra
<br>dizer? Ser� que Banda Branca se abriu com ele e o negociante passaria
<br>a pedra adiante? Tinha d�vida mas n�o via por que n�o arriscar.
<br>N�o tocaria no nome de Enfezado. Deixaria o homem falar. Contaria
<br>apenas que tinha ido ao jornal, colocar a not�cia do desaparecimento
<br>do pai. Perdeu um temp�o e n�o saiu nada. Ia voltar l�, pegar a
<br>fotografia, fazer nova tentativa.
<br>
<br>
<br>Cap�tulo VIII
<br>
<br>UM
<br>
<br>O delegado Paranhos termina de atender a mais um telefonema.
<br>N�o est� nos melhores dias. J� gritou com o escriv�o, espinafrou o
<br>chefe da equipe que trabalha h� duas semanas no seq�estro do filho
<br>do industrial.
<br>
<br>� N�o adianta, seu Nestor. De relat�rio bem feito, ando cheio.
<br>Quero a��o! Quero, na minha frente, o autor do seq�estro. Lhe dei
<br>mais tempo do que devia e at� agora n�o se sabe de coisa nenhuma.
<br>N�o se tem uma pista sequer. Qualquer rep�rter por a� sabe mais do
<br>seq�estrador do que a gente. Hoje mesmo os jornais t�o afirmando
<br>que um tipo suspeito, parecido com o seq�estrador, foi visto num
<br>bar em Santo Cristo e o senhor n�o sabia. N�o l� nem os jornais. Onde
<br>j� se viu uma coisa dessa?
<br>A velhota pintada, cabelos tingidos de cinza-azulado, aproxima-
<br>se da mesa de Paranhos. Traz diversos n�meros do Di�rio da Justi�a.
<br>Ele manda colocar sobre a cadeira, pois na mesa n�o cabe mais nada.
<br>0 cont�nuo traz a bandeja de caf�, p�e a x�cara na frente do delegado,
<br>fica esperando que ele pingue sacarina. N�o toma caf� com a��car,
<br>tem horror de engordar. Aperta a tecla do interfone, manda que o
<br>detetive Galv�o entre. Aparece na sala um homem alto, rosto marcado,
<br>angustiado, cara de quem est� sem dormir h� dias. 0 detetive
<br>beira 55 anos, veste um terno surrado, o n� da gravata nunca ajustado
<br>ao colarinho. Paranhos tomou o primeiro gole de caf� quando
<br>Galv�o se senta. Ambos t�m absoluta intimidade, mas aquele � um
<br>dia em que o delegado acordou com o C�o no couro. Paranhos termina
<br>o cafezinho, o cont�nuo recolhe a x�cara, o telefone toca, leva
<br>
<br>o fone ao ouvido, desliga.
<br>� � algu�m nos gozando. Talvez um coleguinha. T� perguntando
<br>se � aqui o clube dos amigos da pol�cia. Que acha disso?
<br>Galv�o acende um cigarro, encolhe os ombros, vai direto ao
<br>assunto, pois sabe que � a isso que Paranhos est� se referindo.
<br>
<br>
<br>� Com o material que se tem, acho que se t� fazendo milagre.
<br>De madrugada pude cochilar um pouco, depois das 3. A essa hora,
<br>vou apostando, a pol�cia inteira tava dormindo.
<br>� Isso n�o justifica porra nenhuma! Trabalho bra�al n�o � o
<br>nosso forte. Se tem de botar a merda da cuca pra funcionar. Que
<br>adianta sair zuretando por a�, se at� hoje n�o se tra�ou um plano?
<br>� Se acha que a coisa t� nesse p�, o melhor � convocar outro
<br>cara. Quem sabe, um detetive com pr�tica de desenho? Assim os
<br>planos ficar�o mais bonitos!
<br>A resposta de Galv�o deixa Paranhos indignado. Levanta-se, vai
<br>� janela, volta-se.
<br>
<br>� N�o t� sendo inteligente, Galv�o. Desde o come�o que lhe
<br>avisei. 0 Itamar � boa gente mas s� serve pra ser mandado. Vai l�,
<br>pega o cara e traz. Isso � com ele. Quando n�o tem ningu�m pra
<br>pegar, Itamar se perde. � o que t� acontecendo. Voc� � que n�o quer
<br>admitir.
<br>� Quem � que se tem melhor do que ele? Os que v�o pra rua
<br>procurar criminoso e terminam recolhendo grana em ponto de bicho?
<br>� isso que deseja? Pois fique sabendo que n�o trabalho com esse
<br>tipos. Posso n�o descobrir porra nenhuma, mas n�o meto a m�o na
<br>merda.
<br>� N�o me venha com essa onda! Se conseguiu escapar do suborno
<br>dos bicheiros, envolveu-se at� o pesco�o com o "Esquadr�o", ou
<br>pensa que o pessoal de cima esqueceu? E � exatamente isso que t�o
<br>me cobrando. 0 secret�rio t� me apertando. H� duas semanas venho
<br>bolando desculpas. Agora n�o d� mais. � preciso que entenda!
<br>Paranhos faz uma pausa, um investigador entra na sala, manda
<br>que o procure depois. Aproxima-se novamente de Galv�o. Fala em
<br>tom baixo e calmo, como se o estivesse aconselhando.
<br>
<br>� Os motoristas t�o se reunindo. Pediram assembl�ia extraordin�ria
<br>do Sindicato pra tratar do assunto. Sabe quantos deles morreram
<br>desde o come�o do m�s pra c�? Oito. Galv�o. T� pior do que
<br>na guerra!
<br>� N�o foi na nossa jurisdi��o!
<br>� N�o interessa! 0 secret�rio n�o v� o problema em partes, v�
<br>no todo. Se tem de evitar o clamor p�blico e que esses malucos resolvam
<br>parar os t�xis durante uma semana, numa greve de protesto
<br>por causa da nossa incompet�ncia. J� imaginou a pol�cia dar margem
<br>a uma greve? Sabe h� quanto tempo n�o h� greve neste pa�s?
<br>Galv�o esmaga a ponta do cigarro no cinzeiro, tira o len�o amassado
<br>do bolso, esfrega no rosto. Paranhos n�o parou de falar.
<br>
<br>� Pra que tenha uma id�ia, as coisas t�o neste p�: ou se
<br>prende o matador louco, ou vai haver uma s�rie de mudan�as nesta
<br>Delegacia. No meio das mudan�as o secret�rio promete tocar pra
<br>frente tudo que � de processo pendente contra policiais daqui e de
<br>
<br>outros setores. Vai entregar todo mundo pra Justi�a. E sabe quem
<br>encabe�a a lista? Voc�!
<br>
<br>� Isso � chantagem desse sacana!
<br>� Pode considerar como quiser. � o que vai acontecer. Mas, pra
<br>que n�o pense que tou armando um esquema de degola, pedi mais
<br>uma semana de prazo. N�o se quer nem que prenda o matador
<br>louco. Se quer uma pista. Ao menos uma pista. Chega de retrato-falado,
<br>de conversa fiada. Quero coisa concreta. A� volto no homem, ponho
<br>as cartas na mesa. 0 caso t� levantado, preciso de mais gente pra
<br>agir. Se n�o aparecer essa pista, n�o temos sa�da.
<br>O interfone chama. Paranhos aperta uma tecla. Galv�o acendeu
<br>outro cigarro. Est� com o rosto ainda mais sombrio, mant�m-se de
<br>pernas cruzadas, como de h�bito.
<br>
<br>� Pode falar, excel�ncia!
<br>Paranhos escuta, faz uns sorrisos que Galv�o considera indecentes.
<br>Nunca imaginara que o amigo fosse se transformar num filho
<br>da puta. Nos tempos em que sa�am juntos para dilig�ncias, era um
<br>cara independente, com personalidade. Todavia ali estava, dobrando-
<br>se em risinhos desnecess�rios, pelo simples fato de falar com um
<br>dos grand�es de algum gabinete refrigerado, com secret�ria de pernas
<br>bonitas, a florzinha no jarro de cristal, o ch�o atapetado, cortinas,
<br>poltronas confort�veis.
<br>Paranhos termina de falar, debru�a-se na mesa, cruza os bra�os,
<br>torna a encarar Galv�o que, a essa altura, sente-se enojado. Suado e
<br>cansado como est�, n�o d� mais para ag�entar aquele jeito do delegado,
<br>unhas polidas, cabelos bem penteados, a camisa impecavelmente
<br>branca. Parece um diplomata na paz do Itamarati.
<br>
<br>� � o chef�o. Me convocando pra reuni�o depois de amanh�.
<br>O pessoal do sindicato o procurou. A greve vai ser feita, se at� semana
<br>quem vem n�o se descobrir quem � o matador louco.
<br>� Pois j� que t� reclamando tanto, tenho umas coisinhas pra
<br>lhe dizer. N�o ia tocar nisso, pra n�o entrar no terreno da burocracia.
<br>Acontece que se t� afundado nela e n�o vai sair nunca.
<br>� Acha que nesta Delegacia estimulo a burocracia?
<br>� N�o tou falando de sua atua��o. Me refiro ao contexto. Ao
<br>pessoal da per�cia, por exemplo. Esse bandido que t� abotoando motorista,
<br>tem um estilo pr�prio. J� lhe disse qual � e torno a repetir:
<br>fecha os carros, leva as chaves. Sabe o que isso significa? Que se
<br>chega primeiro ao local, fica fazendo hora, at� que as sumidades da
<br>T�cnica apare�am. E quando surgem � aquele ritual. Cada um com
<br>mais teoria que o outro. Depois que remexem na merda do carro, como
<br>bem entendem, a� d�o pra gente o que sobra. Nessa base, que porra �
<br>que deseja que se fa�a? Ou pensa que sou algum idiota?
<br>Paranhos n�o se assusta diante da exalta��o do detetive.
<br>
<br>
<br>� Por que n�o chamou o setor competente e denunciou?
<br>Galv�o puxa uma tragada do cigarro, levanta-se, vai at� a janela.
<br>� N�o � meu papel. Compete a voc� tomar as provid�ncias. N�o
<br>tenho saco pra esse tipo de coisa. V�o pensar que tou de marca��o
<br>com eles.
<br>� Pois ent�o me comunico agora mesmo com o chefe da Divis�o.
<br>Dou um esporro nele!
<br>Galv�o p�e uma das pernas na ponta da mesa, contrai um pouco
<br>os olhos cansados, por causa da fuma�a do cigarro.
<br>
<br>� Mesmo assim n�o adianta.
<br>� E o que � que adianta?
<br>� Quero uma semana, sem hor�rio de vir aqui. nem merda
<br>nenhuma! Garanto que chego ao fio da meada. Eu, Itamar e Nogueira.
<br>N�o desejo outro pessoal. Sabe muito bem que n�o trabalho
<br>com qualquer um. Nesses dois pelo menos confio. Sei com quem tou
<br>lidando.
<br>Paranhos torna a sentar, pega o bloco timbrado, escreve uma
<br>ordem de servi�o. Entrega o papel com umas poucas palavras a
<br>Galv�o.
<br>
<br>� A� est�! Viatura e gasolina, durante uma semana. Pode
<br>abastecer a qualquer hora do dia e da noite.
<br>Galv�o l� com calma, v� o quanto Paranhos est� apavorado. Tem
<br>at� vontade de rir. Dobra o papel, p�e no bolso.
<br>
<br>� Se chegar de fato ao fio da meada, vai acontecer mais outra
<br>coisa a seu favor: uma semana de f�rias. Pra voc� e os auxiliares.
<br>� Caso contr�rio. . .
<br>Paranhos faz um riso nervoso.
<br>� Sei que n�o � f�cil, Galv�o. Quantas vezes se saiu por a�,
<br>quebrando a cabe�a. Acontece que o secret�rio fica entre o Diabo e
<br>a caldeirinha. Se cai do galho, por causa dessa situa��o, todos n�s
<br>vamos nos estrepar. Duvido que venha outro melhor!
<br>Galv�o sai do gabinete, o investigador gordo pede licen�a, torna
<br>a entrar. No barzinho, sal�o escuro e malcheiroso, paredes descascando,
<br>uma �nica l�mpada no teto alto, o detetive encontra Itamar
<br>e Nogueira. Itamar convida para uma coca-cola. Galv�o est� irritado.
<br>
<br>� Preciso de algo mais forte. Vamos l� fora.
<br>Entram no bar do portugu�s, na esquina da rua movimentada,
<br>engradados de cerveja se alteando do lado de fora da cal�ada, tremenda
<br>sujeira no ch�o, o balc�o entupido de copos vazios e garrafas,
<br>
<br>o homem amarelo passando o pano sujo no balc�o.
<br>� Sai um conhaque e tira-gosto!
<br>Nogueira pede batida de lim�o. Itamar uma velha do morro.
<br>0 portugu�s serve as doses, Galv�o torna a esfregar o len�o no rosto,
<br>pois a manh� est� quente e ele continua irritado.
<br>
<br>� Deu uma semana e carta branca pra se botar pra quebrar.
<br>
<br>Toma o primeiro gole do conhaque, limpa os bei�os com as costas
<br>da m�o.
<br>
<br>� Sabe o que vou aprontar?
<br>Os companheiros est�o atentos.
<br>� No primeiro caso que houver, se abre o carro, depois � que
<br>se chama as sumidades. Puta que pariu pra eles! N�o vou mais ficar
<br>levando esporro por causa daqueles merdas.
<br>� Se der processo?
<br>� Foda-se! Mais encalacrado que j� ando n�o � poss�vel ficar.
<br>Paranhos quer o fio da meada, de qualquer jeito. T� pior que cachorro
<br>doido.
<br>� Numa semana se consegue? � indaga Nogueira.
<br>Galv�o parece ter d�vida, Itamar tamb�m.
<br>� 0 sacana do criminoso n�o deixa nem impress�o. E, pelo
<br>visto, n�o h� qualquer ficha a respeito dele.
<br>� Ainda pensa que seja Nezinho Metralha?
<br>� Porra nenhuma. Aquilo � um merda. P� inchado. Abotoou
<br>num motorista na cagada. O artista que tamos enfrentando � diferente.
<br>Sabe jogar.
<br>
<br>� Qual o primeiro passo?
<br>� Pedir socorro pra turma do bicho, passar a cantada no pessoal
<br>das bancas de jornais, nos porteiros de pr�dios. Cavar de todo
<br>lado. Al�m disso, tenho uma outra id�ia: nessa semana que se tem
<br>carta branca, vou convocar uns vinte t�xis pra ficar rodando com
<br>gente nossa. Pode ser que num desses carros o bandid�o entre. Ai t�
<br>ferrado.
<br>Nogueira acha a id�ia brilhante, toma o resto da batida, manda
<br>
<br>o portugu�s repetir a dose.
<br>� � uma boa!
<br>� N�o tinha pensado nisso � diz Itamar.
<br>Galv�o sente-se vaidoso outra vez.
<br>� Foi a primeira coisa que imaginei. Me manquei, pro Paranhos
<br>n�o ficar armando escada nas minhas costas. Chega de servir
<br>de tapete dessa ra�a. Era nosso amigo, enquanto sa�a pras dilig�ncias;
<br>depois da promo��o mudou de cara e de estilo. De uns tempos pra
<br>c� t� sempre entonado, unhas polidas, falando como se a gente fosse
<br>cachorro. Descubro a porra desse caso, mas vou querer oitenta por
<br>cento da gl�ria pra minha equipe. O doutor secret�rio vai saber que
<br>se botou pra jambrar.
<br>
<br>DOIS
<br>
<br>Madrugada alta a viatura chega na ruazinha da vila, p�ra na?
<br>frente da casa porta-e-janela, o jardinzinho de nada, na beira da
<br>cal�ada esburacada. 0 sil�ncio � completo, as l�mpadas amortecidas
<br>nos postes, odores da polui��o no ar.
<br>
<br>Galv�o salta, abre o port�o de ferro, Nogueira manobra o carro.
<br>Quando entra na sala t�o familiar, repleta de objetos que o acompanhavam
<br>atrav�s dos anos, ainda escuta o ru�do do motor se distanciando.
<br>Depois, os chiados caracter�sticos da refinaria. Embora extremamente
<br>cansado, n�o est� com sono. Se cair na cama, vai ficar rebolando,
<br>pensando numa por��o de coisas: no esporro de Paranhos,
<br>na afli��o do secret�rio, na burocracia dos peritos, na sacanagem do.
<br>criminoso que abotoava motoristas e fechava os t�xis.
<br>
<br>Liga a televis�o, s� uma esta��o ainda no ar. Fica vendo um
<br>resto de filme, abre o barzinho, tira a garrafa de u�sque. Vai at� a
<br>geladeira, p�e alguns cubos de gelo no copo. Talvez, assim, conseguisse
<br>relaxar. As palavras de Paranhos continuam nos seus ouvidos.
<br>N�o entendia como aquele sacana podia falar mal de Itamar. Imagine
<br>s�! Depois de tudo que Itamar fez por ele. Quando virava as costas,
<br>devia dizer o mesmo. Ora se dizia. Sente o quanto se enganara com
<br>
<br>o amigo de tantas investiga��es. � o diabo do cargo. Quem quiser
<br>conhecer um cara, d�-lhe um pouco de poder. Mas haveria de encontrar
<br>um meio de tapar-lhe a boca. E n�o ia aceitar camaradagem. Nem
<br>elogios. Diria alto e em bom som ao secret�rio: n�o aceito elogios.
<br>Cumpri com meu dever. Sou um policial que ainda cumpre com seu
<br>dever. Que entendesse como quisesse. Estava cansado de aturar aquela
<br>gente e suas manias, seus m�todos de pequenas e constantes humilha��es.
<br>Se quisessem mandar os processos que tinha para a Justi�a, que
<br>mandassem. N�o se arrependia do que fez. Queimou os quatro vagabundos
<br>por que eram bandidos. E bandidos da pior esp�cie. Se n�o
<br>fizesse isso eles seriam soltos. Se passa um temp�o atr�s de um marginal,
<br>mete o safado na chave, a Justi�a manda embora. N�o entendo,
<br>isso. Nem quero. Cansei.
<br>Estira-se na poltrona, toma um gole refor�ado do u�sque, sente
<br>um instante de al�vio. Ah, como seria bom o dia em que pudesse ficar
<br>naquela poltrona, horas e horas, sem obriga��es a enfrentar. E com
<br>mais cinco anos de atividade chegaria l�. A aposentadoria mais merecida
<br>que um crist�o j� teve. Nunca mais botaria os p�s numa
<br>Delegacia. N�o visitaria ningu�m. Na pol�cia n�o se tem amigos.
<br>Cada um por si, Deus por todos. S� se � importante quando se t�
<br>por cima, arriscando a vida por causa da cambada que deita �s dez,
<br>acorda �s 8 da manh�, reclamando da vida. Pelo fato de n�o descobrir
<br>o arrombador do escrit�rio do burgu�s que exportava caf�, levou
<br>
<br>
<br>uma chamada e cinco dias de suspens�o. Ora, na verdade o assaltante
<br>era menos criminoso que o exportador, que dava trambique no Estado
<br>de todo jeito. Queriam a verdade, pois ali estava. Quem n�o
<br>gostasse que se danasse. Onde andaria o tal exportador? Ser� que
<br>houve de fato um arrombamento ou aquilo foi tudo forjado? At�
<br>hoje n�o sabe direito e por causa disso terminou se ferrando. A puni��o
<br>no boletim e os cambaus.
<br>
<br>P�e mais u�sque, toma tranq�ilamente. Procura esquecer os
<br>problemas do dia-a-dia. N�o queria mais lembrar Paranhos, nem o
<br>superintendente, nem o chef�o supremo. Esse tinha o rei na barriga.
<br>Entrava governo, sa�a governo, estava sempre agarrado no cargo. Um
<br>picareta da pior esp�cie. Malandragem em cima de malandragem.
<br>
<br>Galv�o olha as paredes da sala. o lustre mostrando teias de aranha,
<br>m�veis que n�o mudavam de posi��o h� bastante tempo. Quando
<br>Julieta estava viva, aquilo era mantido em constante altera��o. Ora
<br>
<br>o sof� do lado da janela, ora no meio da sala, junto � mesinha de
<br>centro, coberta de bibel�s. As cortinas tamb�m mudavam. Havia dia
<br>que chegava em casa, n�o reconhecia a sala. Aquilo o animava. Uma
<br>sensa��o nova. S� Julieta sabia daqueles detalhes que o agradavam.
<br>Por que, com tanta gente ordin�ria no mundo, Deus foi levar exatamente
<br>Julieta, que n�o fazia mal a ningu�m? Pobre Julieta! Quanto
<br>trabalho perdido naquela salinha de nada que, agora, apresentava o
<br>aspecto mais desleixado do mundo! O sof�, meses e meses encostado
<br>na parede, rasgava-se. arrebentava o reboco. �s vezes, olhando o estrago,
<br>tinha vontade de evitar, faltava coragem. Pra que se preocupar
<br>com aquela casa, onde lhe aconteceram tantas coisas, onde ainda entrava
<br>por que n�o havia outro jeito?
<br>Nos retratos emoldurados, os momentos distantes. Julieta e ele
<br>na pra�a Mahatma Gandhi, atravessando a pontezinha por cima do
<br>lago, Sandra com oito para dez anos. Uma menina bonita. Os amigos
<br>compareciam �s festinhas de anivers�rio, n�o se cansavam de dizer:
<br>parece mais com a m�e. Outros tinham d�vida: tem os olhos e o
<br>nariz do pai. Galv�o ainda ouve aquelas coisas, como ouve os chiados
<br>da refinaria. Dia e noite aqueles chiados e o cheiro dos res�duos de
<br>petr�leo. Como � que deixaram acontecer aquilo com S�o Crist�v�o,
<br>um dos bairros mais bonitos da cidade? N�o podia compreender. Logo
<br>que mudaram para a casinha da vila, S�o Crist�v�o parecia um jardim.
<br>Os gramados desdobravam-se em verde e os p�ssaros voavam em
<br>bandos. Na rua Bela surgiram as primeiras oficinas. As imobili�rias
<br>fizeram as primeiras derrubadas de casar�es que relembravam tantas
<br>coisas. Cada prefeito dizendo que as medidas de prote��o ao bairro
<br>estavam tomadas, as empreiteiras roendo por baixo, na moita. Agora,
<br>era aquilo ali. Uma oficina em cada quarteir�o, uma garagem de
<br>�nibus, serralherias e as grandes usinas e refinarias. N�o havia mais
<br>
<br>o que fazer. 0 melhor seria esperar a oportunidade, passar a casinha
<br>
<br>nos cobres, comprar um apartamento pelo Centro. Lamentava, apenas,
<br>que ali ficassem as melhores recorda��es. E, na verdade, n�o saberia
<br>como viver sem elas. Numa noite como aquela, em que o sono n�o o
<br>acompanharia, nem bebendo toda a garrafa de u�sque, ficava vendo
<br>Julieta mexer-se no assoalho polido. Tirava os panos bordados da
<br>c�moda, chamava Sandra para ajudar. Depois, trazia o jarro com
<br>as flores.
<br>
<br>� S�o do jardim. N�o disse que iam ficar bonitas!
<br>Olhava as rosas. N�o sabia como Julieta conseguia cultiv�-las.
<br>
<br>A�. partia para as promessas descabidas. Um dia, quando melhorar
<br>
<br>de vida, depois que chegar a delegado, vamos ter uma casa com ter
<br>
<br>
<br>reno maior. Quero s� ver se ainda vai ter a mesma disposi��o pra flo
<br>
<br>
<br>ricultura. Julieta sorria. Veio a �poca da promo��o, quem � que foi
<br>
<br>promovido? Paranhos. Freq�entemente jantava com o secret�rio, man
<br>
<br>
<br>dava-lhe cart�es de Natal, a cada filho que aniversariava enviava
<br>
<br>telegrama. Galv�o n�o tinha jeito para esse tipo de coisa. Nessa base
<br>
<br>n�o seria promovido nunca. Apelou para o concurso, estudou um ano
<br>
<br>inteiro, veio a lei que sepultava esperan�as: Delegado, daquele ano
<br>
<br>em diante, s� tendo cursado Faculdade de Direito. E foi o tempo em
<br>
<br>que Julieta morreu. Passou uma temporada perdido. N�o sabe nem
<br>
<br>como conseguia trabalhar. Uma vizinha se encarregou de Sandra,
<br>
<br>mais tarde a empregada. Idiota de mulher que vivia resmungando e
<br>
<br>batendo na crian�a.
<br>
<br>Tenta parar o curso daquelas lembran�as, refor�a a dose de u�sque,
<br>fixa-se na televis�o. Nesse momento o filme � interrompido,
<br>aparece o comercial do rapaz forte e tranq�ilo, ao lado da mo�a de
<br>cabelos louros e longos. Ambos desfilando numa lancha maravilhosa.
<br>E s� ent�o nessa paz e nessa lancha porque fumam um determinado
<br>tipo de cigarro. 0 an�ncio irrita Galv�o que tem vontade de desligar
<br>a porcaria da televis�o mas n�o desliga. 0 filme recome�a, a mulher
<br>que saiu para surpreender o marido em flagrante, num quarto de
<br>hotel, conclui estar enganada. Tudo n�o passava de fuxicada da vizinha
<br>e colega de trabalho. 0 marido est� no escrit�rio, desdobrando-
<br>se em cima dos c�lculos, a fim de ganhar extraordin�rio. A mulher
<br>se sente emocionada com isso. abra�a-se ao marido, mas na verdade
<br>a amante est� no estacionamento, dentro do carro, esperando que o
<br>cara apare�a. Galv�o tem vontade de rir. E a pobrezinha acreditando
<br>naquela jogada.
<br>
<br>Abre os bra�os no sof�, recorda o plano de convocar alguns motoristas,
<br>diversos t�xis, coloc�-los nas ruas, a partir das 22 horas.
<br>Rodariam especialmente na Zona Sul, onde o bandid�o parecia ter
<br>concentrado sua a��o. Enquanto isso. fariam levantamento completo
<br>nos pontos de bicho, bancas de jornais, junto a porteiros de edif�cios.
<br>Alguma coisa teria de descobrir. Se n�o fosse poss�vel, prenderia o
<br>primeiro cara que encontrasse, mandaria pau nele, faria confessar na
<br>
<br>
<br>marra. Quando viesse o desmentido, seria outro dia, teria ganho
<br>tempo. Mas quem podia servir de cobaia? Beberica u�sque, det�m-se
<br>nessa possibilidade. Uma transa que n�o contaria nem a Itamar. Chamaria
<br>o motorista de confian�a, mandaria fazer a mise en sc�ne. Pega
<br>
<br>o passageiro, sai com ele. No primeiro movimento em falso, toca pra
<br>Delegacia, d� o berro! 0 resto � por minha conta. Por que n�o pensara
<br>nisso, antes? Ganharia mais algumas semanas, at� o imbecil desmentir
<br>na Justi�a que confessou na base da porrada. E que motorista
<br>seria esse, capaz de manter a boca fechada? Iria � garagem de
<br>Lampreia, encontraria o cara certo. Gente de seguran�a.
<br>� N�o posso pisar em falso. V� l� quem vai escolher!
<br>Galv�o est� um tanto sonolento, mais por causa do u�sque que
<br>j� tomou, quando percebe, com certa dificuldade, a interrup��o do
<br>filme enfadonho, entrecortado de publicidades. Aparece o locutor, tamb�m
<br>sonolento, para repetir uma not�cia dada anteriormente.
<br>
<br>� Senhores telespectadores, como noticiamos em edi��o extraordin�ria,
<br>s�o dois os motoristas abatidos pelo matador louco, esta madrugada,
<br>na Zona Sul. O primeiro caso ocorreu na rua Gast�o Baiana,
<br>em frente a um pr�dio em constru��o; o segundo em S�o Conrado.
<br>Um dos profissionais � Jo�o Fortunato Ribeiro, o outro ainda n�o foi
<br>identificado.
<br>Galv�o sente um princ�pio de p�nico. Que estaria acontecendo
<br>com aquela televis�o? Seria verdade o que dissera o locutor, ou havia
<br>bebido demais? Pega o telefone, liga para a emissora. 0 tipo que
<br>atende n�o demonstra a menor boa vontade. Nem Galv�o dizendo
<br>que � da pol�cia. Espera um temp�o, at� que um outro sujeito atenda.
<br>O entendimento torna-se mais f�cil. O funcion�rio confirma o notici�rio.
<br>Galv�o apavora-se. Como adivinhar semelhante aud�cia? E onde
<br>encontrar Itamar e Nogueira �quela hora? Telefonar para a Delegacia?
<br>N�o! Isso, n�o! Seria o mesmo que dizer estar por fora, n�o
<br>saber do caso que era de sua inteira responsabilidade. Imagina o banho
<br>frio, o caf� quente, o t�xi para casa de Itamar. De l� apanhariam
<br>Nogueira, a viatura, iriam em frente. N�o podia deixar que Paranhos
<br>se movimentasse primeiro. Levaria outra esculhamba��o e, dessa vez,
<br>com raz�o.
<br>
<br>Tira a roupa, aumenta o volume da televis�o, mete-se no banheiro.
<br>A lengalenga da mulher e do marido se alonga. Nunca vira
<br>filme mais chato. 0 tipo da hist�ria sem p� nem cabe�a! 0 diretor
<br>queria criar uma situa��o dram�tica, n�o conseguia. Diretor de merda,
<br>imagina Galv�o abrindo o chuveiro. Qualquer filme nacional era
<br>melhor que aquela besteira. N�o sabe por que a televis�o s� passa
<br>filme estrangeiro e da pior esp�cie. O chuveiro � forte, aos poucos
<br>vai se sentindo disposto, como no tempo em que acordava �s 8, Julieta
<br>preparava o caf�, esquentava o p�o com manteiga. Sai do banheiro
<br>embrulhado na toalha, tira o leite da geladeira, batem na porta.
<br>
<br>
<br>Baixa a televis�o, pega o 38. abre a portinhola. A primeira cara que
<br>v� � de Itamar. depois de Nogueira.
<br>
<br>� Puxa! Ca�ram do c�u!
<br>� Soube da cagada?
<br>� Por acaso tava olhando televis�o, quando deu no notici�rio.
<br>� �! 0 bicho tem ra�a. Expulsar dois planeta, numa noite s�,
<br>n�o � moleza.
<br>� Por isso que digo: n�o se t� lidando com um cara qualquer.
<br>� um bandid�o, sabe o que faz.
<br>� Chama o pessoal da T�cnica?
<br>� S� pro caso de S�o Conrado. 0 motorista sem documento.
<br>� Como sabe?
<br>� Foi o que o locutor disse.
<br>� Como soube, se os carros t�o fechados?
<br>Galv�o p�e caf� nas x�caras, toma o copo de leite, olha Itamar
<br>com certo espanto.
<br>
<br>� Isso mesmo! Com os carros fechados, quem pode provar que
<br>o motorista t� sem documento?
<br>� A n�o ser que as sumidades tenham baixado por l� � acentua
<br>Nogueira.
<br>� Ser�?
<br>� Vai ver Paranhos convocou na base da afoba��o.
<br>� Ou t�o querendo passar por cima da gente!
<br>� � melhor correr pros dois.
<br>Galv�o toma o caf�, p�e a gravata.
<br>� Mas n�o se vai chegar l�, assim de estalo. Aparece um, depois
<br>o outro. Pra mostrar que se tava em dilig�ncia. Nada de entregar
<br>ouro a bandido. T�o querendo ver nossa caveira.
<br>O detetive desliga a televis�o, olha o rel�gio antes de colocar no
<br>pulso. S�o duas e vinte da madrugada. Galv�o entra na viatura, resmungando.
<br>
<br>
<br>� Isso l� � hora de algu�m pegar no trabalho. 0 doutor secret�rio
<br>devia ver. E pra ganhar micharia!
<br>� Esse ano, se n�o conseguir aumento, n�o sei como vai ser.
<br>Tenho de arranjar um bico � diz Itamar.
<br>� Se a gente bota a m�o no bandid�o. vou exigir uma porrada
<br>de coisa: primeiro, aumento pra todos n�s; segundo, melhor condi��o
<br>de trabalho.
<br>A chuva fina emba�a o p�ra-brisa, Nogueira liga os limpadores,
<br>
<br>o do lado esquerdo n�o funciona direito. As ruas est�o completamente
<br>desertas. Por isso Nogueira pode aumentar a velocidade, Galv�o
<br>adverte para o perigo de uma derrapagem.
<br>� Vamos com calma que se chega l�. Se essa merda capota se
<br>termina no Pronto-Socorro e Paranhos vai pensar que o acidente foi
<br>planejado. De sacanagem!
<br>
<br>� Primeiro S�o Conrado ou Gast�o Baiana?
<br>� S�o Conrado. Esse neg�cio do carro fechado e o locutor dizer
<br>que o motorista n�o tem documento t� me grilando.
<br>TR�S
<br>
<br>Galv�o, Itamar e Nogueira se aproximando do t�xi, lanternas
<br>acesas, algumas pessoas por perto, o guarda-noturno que localizou o
<br>corpo. O guarda-noturno p�e-se a falar, a repetir as mesmas coisas.
<br>Itamar ouve, Galv�o n�o tem paci�ncia. Examina os vidros do lado
<br>esquerdo, aperta o trinco, a porta est� travada por dentro. Vai para
<br>o outro lado, mexe na tranca, a porta abre. Faz um exame r�pido,
<br>n�o encontra os documentos do motorista.
<br>
<br>� Olha aqui, chefe � diz Galv�o dirigindo-se ao guarda-noturno
<br>� quem mais teve olhando o carro?
<br>0 homenzinho magricela tenta enveredar por uma explica��o
<br>longa, tortuosa, Galv�o corta seco.
<br>
<br>� Responda o que tou perguntando. Quem meteu a m�o no
<br>carro?
<br>� Um pessoal de reportagem.
<br>� Que jornal?
<br>� Gente de televis�o. N�o me lembro qual delas. Deixaram a
<br>Veraneio na pista, dois deles abriram o t�xi.
<br>� Sabe como eram?
<br>� Um baixinho, forte; o outro, mulato e alto.
<br>� Demoraram?
<br>� Uns dez minutos. A maior dificuldade foi baixar o vidro!
<br>� Filhos da puta! Sou capaz de saber o nome deles s� pra
<br>bronquear.
<br>� 0 que adianta? � argumenta Itamar. � T�o na deles. Viram
<br>o motorista morto, partiram em cima. Se fosse rep�rter fazia a
<br>mesma coisa.
<br>Galv�o morde os bei�os, lira um cigarro do ma�o, bate na
<br>capota do t�xi, acende.
<br>
<br>� As sumidades n�o v�o aceitar essa coisa de rep�rter. V�o
<br>querer engrossar!
<br>� Se aguarda a per�cia ou vai em frente?
<br>� Em frente � responde Galv�o, enquanto torna a travar a
<br>porta, levanta o vidro, fecha com for�a.
<br>Quando j� v�o saindo manda Itamar pegar o nome do guarda-
<br>noturno. 0 cara tenta esquivar-se, Galv�o interfere.
<br>
<br>
<br>� N�o � nada demais! Se tiver de explicar que os rep�rteres
<br>meteram a m�o no t�xi antes da gente, a� te convoco. Coisa de rotina!
<br>O guarda-noturno sorri, d� o nome a Itamar, a viatura parte,
<br>numa arrancada de cantar pneus. O dia come�a a amanhecer, a chuva
<br>passou.
<br>
<br>� Veja s�! At� rep�rter botando na bunda da gente!
<br>� Foi cagada, cara! Vinham de algum lugar, deram com o
<br>motorista morto!
<br>� Claro. N�o podiam adivinhar � diz Nogueira.
<br>Galv�o liga o r�dio, faz um comunicado � Central. Mais para
<br>que soubessem estar em a��o.
<br>
<br>� V�o pensar que n�o se t� mais nem dormindo!
<br>� E n�o t�, mesmo. N�o tive nem tempo de chegar em casa.
<br>Entrei no boteco do Zebrinha, tomei uma velha do morro, o r�dio
<br>berrando a trag�dia. Tomei um t�xi, fui atr�s de Nogueira. N�o foi
<br>isso?
<br>Nogueira confirma e acentua.
<br>
<br>� Eu ainda tive tempo de tomar um banho e jantar. Mas a�
<br>Itamar apareceu.
<br>� Se l� virando 24 horas por dia. Como os sacanas gostam. S�
<br>que n�o se ganha pra isso. No fim do m�s � aquela micharia, com
<br>tudo que � de desconto!
<br>Na Gast�o Baiana o grupo de curiosos ao redor do t�xi � consider�vel.
<br>Antes que a viatura estacione o detetive pede a Nogueira
<br>que fique tentando o r�dio.
<br>
<br>� Manda correr pra S�o Conrado. Quando derem as caras por
<br>aqui, j� se fez o que tem de fazer!
<br>Galv�o e Itamar afastando o pessoal. Entre os curiosos alguns
<br>velhotes de pijama, mulheres com meias desbei�adas. gente com cara
<br>de que n�o dormiu direito. O detetive chega perto do t�xi, encontra
<br>os homens de terno, fazendo a vistoria, estendendo a fita m�trica.
<br>Entre os peritos o tipo gordo, alegre. V� o detetive, acha gra�a.
<br>
<br>� Pelo visto esse criminoso n�o vai com sua cara.
<br>Itamar sorri, Galv�o continua s�rio. Est� decepcionado com o
<br>que v�. N�o consegue entender, n�o deseja fazer indaga��es. Uma
<br>resposta daquele tipo de ar debochado poderia ser bem pior. Se estava
<br>ali, com seus parceiros, � que algu�m havia convocado. Uma
<br>indagag�o nesse sentido seria o mesmo que dizer o quanto andava
<br>ac�falo seu setor. Num instante Galv�o recorda a figura bem
<br>penteada do delegado Paranhos, suas amea�as, as unhas polidas. Teria
<br>sido o filho da puta quem estava lhe passando a perna daquele
<br>jeito? N�o podia ser. Imposs�vel acreditar. Ele pr�prio seria prejudicado.
<br>Se a esculhamba��o na Delegacia parecia total, qual era o principal
<br>culpado, sen�o o delegado titular? N�o podia ser Paranhos.
<br>Seria o pr�prio secret�rio? Ou foi o atrevido do superintendente?
<br>
<br>
<br>N�o
<br>tinha como saber. A n�o ser que fizesse a pergunta que tanto
<br>
<br>poderia machuc�-lo.
<br>
<br>Decide pela segunda hip�tese. Mas n�o ia fazer cara de v�tima.
<br>
<br>Demonstraria estar tudo bem. Tudo em ordem. Debru�a-se na capota
<br>
<br>do TL, indaga tirando um cigarro do ma�o.
<br>
<br>� Tiveram em S�o Conrado?
<br>� A ordem foi vir pra c�. Ningu�m � de ferro. Meu pessoal
<br>n�o tem o tutano do detetive Galv�o.
<br>0 homem gordo diz isso, limpa as m�os num peda�o de flanela,
<br>torna a rir. Galv�o tem vontade de dar-lhe um sopapo, cont�m-se.
<br>Itamar acompanha seu nervosismo.
<br>
<br>� Pois a coisa do lado de l� t� confusa.
<br>� Como assim?
<br>� 0 r�dio e a televis�o t�o dizendo que o criminoso levou os
<br>documentos, mas o t�xi t� todo fechado. Ou os rep�rteres adivinham
<br>ou n�o entendo mais nada!
<br>� Rep�rter quer � not�cia. Certa ou errada. Com a gente o
<br>buraco � mais embaixo. Um erro e o cacete desce firme. Por isso que
<br>se anda lentamente, mas na matem�tica.
<br>0 gordo torna a sorrir, Galv�o tamb�m acha gra�a.
<br>
<br>� Devagar se vai longe!
<br>� E minha teoria! J� me estrepei demais por causa de apressar
<br>servi�o! Agora, n�o. Primeiro se passa o tempo que for preciso recolhendo
<br>material. Manda pro laborat�rio, com as notas de entrega em
<br>tr�s, quatro vias. A� se espera cinco, seis dias. Os resultados voltam,
<br>se vai estudar. Se n�o se fizer assim, como � que voc�s podem,
<br>trabalhar?
<br>� Isso mesmo � acentua Galv�o com amargura. � D�o tudo
<br>mastigado.
<br>� s� engolir.
<br>0 gordo parece n�o perceber a ironia do detetive.
<br>
<br>� Se faz o poss�vel. E lhe digo mais: s� a Medicina Legal vai
<br>resolver este caso. N�o se trata de um p� inchado qualquer, que sai
<br>deixando impress�es em tudo que toca. Esse, ou usa luvas, ou tem
<br>as pontas dos dedos lixadas.
<br>� E quando acha que terminam?
<br>� Dentro de mais uns vinte minutos. Fica tudo como se encontrou.
<br>N�o t� havendo qualquer tipo de altera��o no local.
<br>� Sei bem como � � afirma Galv�o. � Se n�o agarrar o bandid�o
<br>� pura incompet�ncia.
<br>0 gordo abre a pasta 007, coloca nela os fragmentos que o homem
<br>de palet� tirou do tapete do t�xi. O outro cara, meio alourado,
<br>que Galv�o nunca vira, tamb�m encontra material que deve ser guardado.
<br>O gordo esfrega o len�o na testa, os curiosos abrem a roda, os
<br>tr�s homens afastam-se. Galv�o continua debru�ado na capota do TL,
<br>
<br>
<br>
<br>como mero assistente. Quando o gordo p�de sair do meio dos curiosos,
<br>Galv�o grita, simulando alegria.
<br>
<br>� Tchau! Se encontrarem o criminoso por a�, digam pra vir
<br>falar comigo!
<br>O perito-chefe olha para tr�s, ri a valer. Itamar tamb�m acha
<br>gra�a. Galv�o fecha a cara, d� um murro na capota do t�xi.
<br>
<br>� Manda todo mundo circular. N�o quero ningu�m por perto!
<br>Os curiosos s�o afastados. Nogueira vem chegando, dizer que
<br>entrou em contato com a Central, Galv�o ouve sem interesse. Sabe
<br>que fora o �ltimo a ter conhecimento do duplo homic�dio. E isso
<br>acontecia exatamente algumas horas depois da lengalenga de Paranhos.
<br>Da esculhamba��o que levou. Ah, como gostaria de botar as
<br>garras nacruele capeta, que se ocultava nos t�xis, surpreendia os motoristas!
<br>Faria com que entrasse na viatura, mandaria Nogueira tocar
<br>pro lugar ermo. L� pelo final do Recreio dos Bandeirantes. A� se
<br>vingaria das humilha��es; amassaria o tipo na porrada, ainda que
<br>Paranhos considerasse arbitrariedade. Que se fodesse com suas palavras
<br>bonitas. Quem estava no fogo era ele. O detetive Galv�o. Vinte
<br>e cinco anos de janela e aquela brincadeira de gato e rato. At� os
<br>bacanas da per�cia sendo convocados � revelia. Simplesmente n�o
<br>sabia de onde tinham vindo. Encerraria aquele caso, da melhor maneira
<br>que pudesse, pediria licen�a. N�o apenas uma semana, como
<br>planejava Paranhos. Solicitaria um m�s, depois dois, tudo com atestado
<br>m�dico e o cacete. Nada mais de contempla��o com quem n�o
<br>reconhece o trabalho alheio. Paranhos fora longe demais. Se na sua
<br>frente falava daquele jeito, imagine no gabinete do secret�rio, do
<br>superintendente, que diziam frases pausadas, de efeito, e olhavam por
<br>cima do sujeito, como se estivessem diante de uma montoeira de
<br>merda. Pra eles n�o se vale vint�m furado. � apenas um nome, um
<br>n�mero no papel. Quando um de n�s apaga, como o Torres apagou,
<br>p�em outro no lugar. Ningu�m se afoba. Ningu�m vai l� na casa do
<br>fudido chorar por ele. Aparece uma pedra nova no tabuleiro de xadrez
<br>e ponto final. Cansara daquela vida. N�o tinha mais �nimo de
<br>prosseguir. Era seu �ltimo caso. Depois, as longas e intermin�veis
<br>f�rias.
<br>
<br>Itamar abre a porta do carro, chama Galv�o.
<br>
<br>� Cabe�a estourada do mesmo lado!
<br>Galv�o curva-se para olhar, senta no banco traseiro. Continua
<br>a ouvir o invent�rio de Itamar, n�o faz qualquer coment�rio. Quando
<br>decide falar � para dizer coisas vagas, que n�o preocupam o companheiro.
<br>
<br>
<br>� Sempre a mesma coisa. O tiro do lado direito, o r�dio ligado.
<br>� N�o t� mais tocando porque deve ter dado defeito.
<br>� Ou a bateria terminou?
<br>
<br>� Bateria, n�o! As lanternas t�o acesas. Esse carro puxa pouca
<br>bateria!
<br>� Que acha?
<br>� Pneus limpos! S� rodou no asfalto. Isso afasta qualquer suspeita
<br>sobre Nezinho Metralha.
<br>� E se � coisa do bra�o direito dele?
<br>� N�o tem cuca pra isso. Mal d� conta do recado na Zona
<br>Norte. Em um m�s s� abotoou dois caras. Nosso artista t� matando
<br>dois numa madrugada. Se continuar assim vai acabar com o pessoal
<br>da pra�a!
<br>Itamar acha gra�a, Nogueira tamb�m.
<br>Galv�o d� a volta no carro, torna a entrar.
<br>
<br>
<br>� Que hora � que deve ler sido isso?
<br>Itamar toca nos bra�os do motorista, no rosto.
<br>� Umas cinco ou seis horas. . .
<br>� Por aqui devia t� escuro que nem breu.
<br>Itamar n�o entende aonde o detetive pretende chegar, acende
<br>outro cigarro.
<br>
<br>� Vamos pra televis�o. Aquela not�cia n�o me entra. Quero
<br>ler
<br>no papel.
<br>No carro Itamar discorda da cisma de Galv�o.
<br>
<br>� Cuidado pra n�o mancar com esse pessoal. Se a imprensa
<br>vira contra a gente a� que se t� ferrado.
<br>� N�o � nada disso. Vai ficar surpreso. Tenho quase certeza
<br>que n�o foi jornalista que baixou no t�xi de S�o Conrado. Se fosse
<br>rep�rter n�o ia dizer pro guarda-noturno.
<br>� Mas ele viu a Veraneio da TV!
<br>� Ser� que viu, mesmo? Outra hora se vai levar novo papo
<br>com o guarda-noturno. N�o tou entendendo bem a hist�ria dele. T�
<br>tudo muito certo, muito em cima. P�o, p�o; queijo, queijo!
<br>� Continuo sem saber onde quer chegar!
<br>� No m�nimo se descobre quem t� querendo nos passar pra
<br>tr�s.
<br>E quem sabe isso n�o tem vincula��o com os crimes?
<br>Itamar percebe o alcance da coloca��o, sorri.
<br>
<br>� Puxa! � capaz de ser o caminho! � acentua Nogueira, atento
<br>ao volante, mas de ouvido na conversa.
<br>� Se disso tudo sa�sse ao menos uma pista, seria o maior presente
<br>que ia ganhar neste ano miser�vel!
<br>� Se � pista, n�o sei. Mas que tem alguma coisa de esquisito,
<br>l� isso tem � garante Galv�o.
<br>A viatura estaciona sobre a cal�ada. Galv�o e Itamar entram no
<br>sal�o amplo, informam-se na recep��o sobre o Departamento de Telejornalismo.
<br>Mostram a identidade, um funcion�rio os acompanha at�
<br>
<br>o elevador. Saem no corredor iluminado, entram na porta com a
<br>placa "Departamento de Telejornalismo". Uns caras escrevem, os
<br>
<br>teletipos martelam nos telegramas internacionais, o aparelho de televis�o
<br>est� ligado, o homem de mais idade por tr�s da mesa atochada
<br>de pap�is. Galv�o chega junto � mesa, mostra a identidade, apresenta
<br>Itamar. Depois de explicar sua atua��o no assass�nio dos motoristas
<br>na Zona Sul, o detetive pede um favor.
<br>
<br>� Gostaria de ver o texto lido de madrugada!
<br>� No primeiro ou segundo notici�rio?
<br>� Creio que no segundo. Se puder conseguir os dois, acho que
<br>ainda
<br>ajuda mais.
<br>0 homem traz a pilha de pap�is, corta o barbante.
<br>
<br>
<br>� Algum problema?
<br>� Por enquanto nenhum.
<br>O homem encontra as pequenas folhas onde est�o as not�cias.
<br>� S�o praticamente id�nticas. S� que na primeira n�o se sabia;
<br>do
<br>nome de nenhuma das v�timas.
<br>Galv�o olha as folhas batidas � m�quina.
<br>
<br>
<br>� E como souberam?
<br>O homem n�o consegue explicar.
<br>� A�, s� com o pessoal da madrugada.
<br>Galv�o senta, enquanto prossegue lendo.
<br>0 homem de meia-idade chama um dos redatores pelo nome,
<br>pergunta se sabe alguma coisa a respeito das notas.
<br>
<br>� Quem passou pra c�?
<br>� Pelo que disse Humberto, foi o setorista da pol�cia.
<br>� Tem certeza?
<br>� Ouvi ele dizendo!
<br>O homem de meia-idade explica que o redator falou com Humberto,
<br>porque era o primeiro a chegar.
<br>
<br>� Desde cinco t� no batente. Em compensa��o, vai embora
<br>�s dez.
<br>� N�o foram rep�rteres da emissora que trouxeram a not�cia?
<br>�
<br>insiste Galv�o.
<br>0 mesmo redator se volta.
<br>� A essa hora n�o tem mais rep�rter na rua. 0 cara foi abotoado
<br>depois das duas. S� mesmo num lance de sorte Humberto conseguiu.
<br>� Onde posso falar com nosso amigo Humberto? � quer saber
<br>Galv�o.
<br>� A� a coisa complica � diz o homem de certa idade. � S�
<br>com o Departamento de Pessoal.
<br>� E como se chega l�? � quer saber Itamar.
<br>� Vamos ver se consigo falar com o chefe.
<br>O homem tenta os telefones internos.
<br>157
<br>
<br>
<br>� Dr. Barreto, est�o aqui no Departamento de Telejornalismo
<br>dois detetives querendo saber o endere�o do Humberto de Almeida.
<br>� a respeito do notici�rio dos motoristas!
<br>O homem de meia-idade faz uma pausa, passa o fone a Galv�o.
<br>
<br>� Dr. Barreto, sou o detetive Galv�o. Esta madrugada saiu
<br>uma not�cia na televis�o; gostaria de saber como chegou ao seu redator.
<br>S� isso!
<br>Galv�o entrega o fone ao homem de certa idade, que j� se mostra
<br>um tanto impaciente.
<br>
<br>� Aguardem um pouco; vai mandar um cont�nuo.
<br>Itamar senta, abre o jornal, l� as manchetes, Galv�o acende
<br>mais um cigarro, na sala aparece o garoto uniformizado. Traz num
<br>peda�o de papel o endere�o que tanto interessava. O policial agradece,
<br>fala com o redator que n�o respondeu, sai para o corredor amplo
<br>seguido de Itamar.
<br>
<br>� Se foi algum coleguinha, n�o h� d�vida que querem nos
<br>passar a perna!
<br>� Al�m de correr atr�s do matador maluco, ainda se tem de
<br>ficar de olho nos coleguinhas. Bela profiss�o! � diz Galv�o. �
<br>Cochilou, montam em cima!
<br>� � longe a casa dele?
<br>� Graja�. Em meia hora se t� l�!
<br>QUATRO
<br>
<br>� � essa casa � diz Galv�o empurrando o port�ozinho de
<br>ferro.
<br>Ap�s subir um lance de escadas, toca a campainha. N�o aparece
<br>ningu�m para atender. Insiste.
<br>
<br>� T� todo mundo dormindo!
<br>� N�o � mais hora de dormir � comenta o detetive, sorrindo.
<br>Na portinhola aparece a carranca de uma velhota, cabelos totalmente
<br>brancos.
<br>
<br>� Pois n�o?
<br>Itamar � quem fala.
<br>� Bom dia, minha senhora. . .
<br>� N�o se quer comprar nada � diz a velhota fechando a portinhola.
<br>Galv�o fica indignado com a m� educa��o. Bate com for�a.
<br>A velhinha torna a aparecer. Antes que possa dizer qualquer coisa
<br>Galv�o exibe a identidade.
<br>
<br>� Pol�cia! Se quer falar com Humberto!
<br>A porta abre.
<br>� Por que t�o procurando ele?
<br>
<br>� Por nada. Coisa sem import�ncia.
<br>A velhota manda que sentem, atravessa a ampla e pobre sala
<br>dizendo que Humberto chegava de madrugada, Itamar acha gra�a da
<br>viol�ncia de Galv�o.
<br>
<br>� Tem de ser assim. Essa cambada vive cagando nas cal�as
<br>Nunca vi tanto medo na vida!
<br>Com a pr�pria roupa de dormir, aparece o cara de uns 26 anos,
<br>alto e magro. Mostra-se um tanto a�reo, quando v� o detetive e seu
<br>auxiliar. Galv�o faz um sorriso, a fim de tornar a situa��o menos
<br>inc�moda.
<br>
<br>� Desculpe lhe acordar, mas � importante pra tarefa que se
<br>tem pela frente. De madrugada a televis�o deu a morte dos dois
<br>motoristas. Foi voc� quem redigiu. Tudo bem. A gente ouviu e at�
<br>gostou. S� t� faltando uma coisinha de nada: como conseguiu a
<br>informa��o?
<br>Humberto acomodou-se numa ponta do sof�, a velhota reaparece.
<br>
<br>� N�o � nada, vov�! S�o amigos meus!
<br>A velhota sai, prometendo voltar com caf�.
<br>� Na verdade, foi uma surpresa. 0 telefone tocou, um cara
<br>disse que era setorista. Tava na pol�cia e por dentro do caso. Perguntei
<br>o nome dele, disse apenas: cabo Os�as. Liguei pra um colega, na
<br>Tamoio. Tinha a mesma coisa.
<br>� Antes de botar no ar, mandou conferir no local?
<br>� N�o podia. A essa hora n�o se tem mais carro. 0 pessoal da
<br>r�dio � que teve l�. Deu a confirma��o!
<br>� E que pessoal � esse?
<br>� N�o fa�o id�ia. 0 plantonista com quem transo � Bira. Bom
<br>sujeito!
<br>A velhinha reaparece com a bandeja niquelada, x�caras de porcelana,
<br>desenhos chineses. Galv�o agradece a gentileza, a velhota
<br>sorri, agora completamente amistosa. Itamar pega a x�cara, sopra,
<br>antes de tomar o primeiro gole de caf� Galv�o tem outra pergunta
<br>a fazer:
<br>
<br>� Sabe que tipo de carro � que a R�dio usa na reportagem?
<br>� No tempo que trabalhei l� era tudo fusquinha.
<br>� Quando foi isso?
<br>� Uns quatro meses atr�s.
<br>� Acha que agora t�o usando Veraneio?
<br>� Veraneio? N�o acredito. Aquilo gasta mais gasolina que
<br>caminh�o!
<br>Galv�o e Itamar acham gra�a.
<br>
<br>� Se quiserem saber qualquer coisa sobre os carros, ou at�
<br>mesmo sobre o notici�rio, � s� procurar o Bira! � um grande chapa!
<br>Galv�o e Itamar depositam as x�caras na bandeja, agradecem a
<br>boa vontade da vov� de Humberto, v�o embora.
<br>
<br>
<br>Quando a viatura atravessa ruas de movimento intenso, Itamar
<br>tem vontade de dizer que aquela busca os estava afastando completamente
<br>do caso.
<br>
<br>� Em compensa��o � argumenta Galv�o � se fica sabendo
<br>de uma vez por todas com quem t� lidando. E se essa sacanagem
<br>parte do pr�prio Paranhos. J� pensou?
<br>Nogueira acha que o detetive est� certo.
<br>
<br>� Se tem de cuidar do caso sem esquecer nossa pele!
<br>� Tenho medo de se perder tempo e o bandid�o aprontar outra
<br>ainda pior.
<br>� Como manda o regulamento � lembra Galv�o � se tem de
<br>esperar o resultado do laborat�rio. Enquanto as sumidades n�o derem
<br>o sinal verde, tamos de p�s e m�os amarrados. J� que � assim, pra
<br>que esquentar?
<br>� Sei l� � prossegue Itamar � talvez fosse o caso de se procurar
<br>encurtar caminho. Os peritos t�o com a vida ganha. Se o criminoso
<br>aparece ou n�o, pra eles tanto faz.
<br>Na avenida de tr�fego intenso a viatura p�ra com duas rodas
<br>na cal�ada. O guarda de tr�nsito aparece, Nogueira diz que era por
<br>alguns momentos, estavam em dilig�ncia, Galv�o mandar Itamar
<br>subir.
<br>
<br>� Se o careta estiver, desce com ele. Se fala aqui no bar.
<br>Itamar vai embora, o calor�o no carro � grande, Nogueira convida
<br>para uma �gua. Entram no bar, encostam-se no balc�o, o detetive
<br>aproveita para comprar cigarros, o homem de blus�o verde e
<br>casquete da mesma cor p�e a garrafa e os copos, manda Nogueira
<br>experimentar. 0 cara de verde destampa a garrafa com um gesto
<br>r�pido, que bem demonstrava a habilidade que havia adquirido em
<br>abrir garrafas, Nogueira p�e primeiro no copo de Galv�o, depois
<br>no seu.
<br>
<br>Tomam a �gua em sil�ncio, calmamente. Galv�o olha a rua, o
<br>guarda de tr�nsito, camisa suada, apita que nem um desgra�ado.
<br>
<br>� N�o sei, n�o; � capaz de surgir uma pista disso tudo. Se esse
<br>tal de Bira apresentar outra contradi��o, sou capaz de apostar que
<br>tem cachorrinho sabendo das transas do assassino.
<br>� Ser�?
<br>� Na pol�cia tudo � poss�vel.
<br>Galv�o toma mais �gua, depois pede cafezinho.
<br>� Talvez seja o caso de procurar aquele guarda-noturno. . .
<br>� � o que se vai fazer. Como � que viu a Veraneio com o logotipo
<br>de Televis�o, se Humberto garante que l� n�o h� desse carro?
<br>� Algu�m t� inventando. A coisa pode ser por a�. . .
<br>Galv�o toma calmamente o cafezinho, Itamar reaparece. Est�
<br>com o palet� nas costas, a camisa molhada.
<br>
<br>� Um pouco d'�gua?
<br>
<br>� Aceito.
<br>Nogueira torna a chamar o homem de verde.
<br>� Mais uma �gua. Bem gelada!
<br>� E o cara?
<br>� Volta entre onze e meia-noite.
<br>� Onde es esconde?
<br>� Rua Riachuelo, 225.
<br>� � perto. Se chega l� em quinze minutos.
<br>Itamar toma a �gua com vontade. Bota mais no copo. Galv�o
<br>oferece cafezinho, n�o aceita.
<br>0 carro sai de cima da cal�ada, entra na corrente de tr�fego,
<br>dobra a primeira esquina, Galv�o manda ligar a sirene.
<br>
<br>� Vai com ela aberta at� l�. Perto da casa do pinta desliga.
<br>� Acho que � gente boa. Parece que tou lembrado dele.
<br>� Bira! Bira! N�o sei de ningu�m com esse nome � diz o
<br>detetive.
<br>� E o guarda-noturno, como se vai fazer? � insiste Nogueira.
<br>� Esse s� de noite. N�o tem outro jeito.
<br>Enquanto a viatura dobra esquinas, avan�a com dificuldade no
<br>tr�nsito confuso, Galv�o recorda tanta coisa: as palavras �speras de
<br>Paranhos, o retrato-falado que n�o estava servindo pra nada, os risinhos
<br>de alguns, certos de que n�o ia descobrir o bandid�o. E em meio
<br>�s lembran�as, os carros e as pessoas que via nas ruas, come�a a sentir
<br>extraordin�rio cansa�o que se mescla a uma profunda amargura, total
<br>desilus�o. De que adiantou tanto tempo de dedica��o �quele trabalho
<br>infernal? O que recebia de pr�mio era amea�a.
<br>
<br>� Se falhar, vai haver mudan�a nesta Delegacia e em v�rias
<br>outras. A� o secret�rio aproveita pra tocar na Justi�a tudo que � de
<br>processo pendente contra policiais.
<br>E era o que faria. Quem iria ter considera��o com um imbecil
<br>como o detetive Galv�o, que passou metade da vida se arriscando
<br>pela seguran�a alheia? Ora, como fora idiota. Se nascesse de novo,
<br>jamais entraria naquela. Procura lembrar como tudo come�ou, n�o
<br>� capaz. Julieta dava-lhe conselhos, sugeria que procurasse outra
<br>ocupa��o. Alguma coisa menos penosa, menos arriscada. At� nisso
<br>tinha raz�o. N�o ouviu os conselhos de Julieta, como jamais ouvira
<br>conselhos de quem quer que fosse. Agora, ali estava o arrependimento.
<br>Um merda como Paranhos empinando-se na sua frente, gritando
<br>ordens. E quantas vezes deu a melhor dica pro filho da puta! Muitos
<br>dos casos que solucionou foi � base de seus racioc�nios. Esqueceu
<br>tudo. Subiu � custa de bajula��o, pisava nos companheiros que lhe
<br>fizeram a escada. N�o ia tolerar que essa situa��o continuasse. Resolvido
<br>aquele abacaxi, aceitaria a semana de licen�a, como o delegado
<br>prometera. E aproveitaria para n�o retornar. Procuraria um amigo
<br>
<br>
<br>m�dico, inventaria a doen�a. Passaria o dia todo em casa, sairia apenas
<br>para comprar jornais. Ficaria de longe acompanhando a genialidade
<br>de Paranhos, as teorias das sumidades da T�cnica. Ah, como ia
<br>rir daquela canalha.
<br>
<br>� � aqui!
<br>Nogueira entra com a viatura na porta da ag�ncia de autom�veis,
<br>Galv�o e Itamar saltam, avan�am pelo corredor do pr�dio de terceira
<br>classe, portaria sem porteiro, um vaso de palmas quebrado, elevadores
<br>riscados, palavr�es escritos de alto a baixo.
<br>
<br>� Qual � o apartamento?
<br>Itamar olha o peda�o de papel.
<br>� Mil, cento e quatro!
<br>� Puxa! Isso � um quartel.
<br>O elevador p�ra no 11.�, os policiais saem no imenso corredor,
<br>portas fechadas, o cheiro de lixo queimado invadindo o pr�dio.
<br>
<br>� Que cabe�a-de-porco mais nojenta!
<br>� 0 importante � pegar o cara. Tomara que n�o teja dormindo
<br>com alguma puta por a�.
<br>Galv�o aperta a campainha. A primeira vez, a segunda. N�o
<br>ouvem o menor ru�do. A mulher desgrenhada, do apartamento do
<br>lado, aparece.
<br>
<br>� Sabe se tem algu�m em casa? � indaga Itamar.
<br>� Seu Bira deve t�. Dorme o dia todo.
<br>Itamar agradece, a mulher ainda fica um pouco na porta, encarando
<br>especialmente Galv�o, depois pede licen�a, desaparece.
<br>
<br>� Que figura!
<br>Galv�o volta a tocar a campainha. Uma vez, duas, tr�s, cinco.
<br>� Vem gente a�!
<br>A porta se abre. Aparece um rapaz de aproximadamente 28
<br>anos, moreno escuro, quase mulato. Est� de shorts. acabou de acordar,
<br>tem um dos olhos remelentos.
<br>
<br>� Voc� � o Bira?
<br>0 mo�o sacode a cabe�a, sem vontade de falar. Galv�o tamb�m
<br>n�o tem muito tempo para explica��es. Puxa a identidade, exibe.
<br>
<br>� Podem entrar!
<br>Bira acende a luz, pede licen�a para ir rapidamente ao banheiro.
<br>Enquanto ficam esperando, sentados em poltronas de curvim vermelho,
<br>os policiais ouvem o barulho da torneira da pia e, depois, da
<br>descarga.
<br>
<br>� Que � que mandam?
<br>� Se t� numa situa��o meio dif�cil, Humberto mandou lhe
<br>procurar.
<br>� � a prop�sito da not�cia daqueles motoristas.
<br>� Como foi que levantou o caso?
<br>162
<br>
<br>
<br>Bira explica mais ou menos a mesma coisa que Humberto dissera.
<br>Torna a citar o cabo Os�as.
<br>
<br>� De onde � esse cabo?
<br>� Parece que t� servindo na Pol�cia T�cnica.
<br>� E como ser� que soube que um motorista tava sem documento
<br>e o outro se chamava Jo�o Fortunato Ribeiro?
<br>� Acho que teve no local.
<br>� At� a�, tudo bem. Acontece que o bandid�o tem um estilo.
<br>Fecha os motoristas e os carros. Ningu�m pode meter a m�o antes dos
<br>peritos. Se o cabo teve l�, foi apenas pra isolar a �rea, ou ser�
<br>que n�o?
<br>Bira sorri. Mostra os dentes brancos.
<br>
<br>� A�, n�o sei! 0 que posso dizer � que achei a not�cia t�o boa,
<br>que resolvi checar. Peguei o carro de reportagem e mandei pra l�.
<br>Primeiro em S�o Conrado, depois na Gast�o Baiana.
<br>� Encontrou os t�xis fechados ou n�o?
<br>� Fechados!
<br>� Conhece o cabo Os�as?
<br>� S� por telefone. J� falei com ele umas quatro ou cinco vezes.
<br>� Quer dizer que n�o foi pro local numa Veraneio da televis�o!
<br>� Veraneio? Os carros da TV onde Humberto trabalha s�o
<br>todos pequenos. A maioria fusquinha!
<br>Galv�o faz uma pausa, Bira se levanta, vai at� a geladeira que
<br>ficava na sala, pergunta se querem coca-cola ou guaran�. Itamar
<br>aceita guaran�, Galv�o prefere �gua. 0 mo�o volta com os copos,
<br>Galv�o acendeu um cigarro, cruza as pernas, o apartamento � pequeno
<br>e quente, n�o h� ventila��o.
<br>
<br>� Quais s�o os suspeitos que j� t�m do caso?
<br>Galv�o n�o esperava aquela pergunta. Sabe que n�o pode contar
<br>a verdade, nem fazer fic��o que redundasse em not�cia perigosa.
<br>
<br>� Se t� remando como manda a mar�. Uns nomes t�o levantados.
<br>Mas h� muito trabalho pela frente.
<br>� Acham que o cabo Os�as sabe de alguma coisa?
<br>� Minha primeira d�vida � diz Galv�o passeando de um lado
<br>para o outro da pequena sala � � se na Pol�cia T�cnica existe algum
<br>cabo Os�as.
<br>� Mas � com quem sempre falo.
<br>� N�o tou dizendo que n�o. Apenas quero juntar as pedras do
<br>jogo. Esse matador de motoristas sabe se mexer. E se mexe t�o bem
<br>que �s vezes fico pensando se n�o t� cercado de c�mplices.
<br>Itamar termina de tomar o guaran�, Bira oferece mais, agradece,
<br>Galv�o continua a dar passadas pela saleta.
<br>
<br>� Podia fazer um favor pra gente!
<br>Galv�o diz isso, puxa uma tragada do cigarro, sopra a fuma�a
<br>com vagar.
<br>
<br>
<br>� Hoje de noite, logo que chegar na R�dio, tenta contato com
<br>o cabo Os�as. Se ouve na extens�o. A� procura saber em que setor t�
<br>lotado. Faz isso?
<br>� Se der galho?
<br>� Galho nenhum, cara � argumenta Itamar.
<br>� � s� telefonar, fazer uma pergunta como quem n�o quer
<br>nada � acentua Galv�o.
<br>Bira torna a mostrar os dentes muito brancos. Galv�o aperta-lhe
<br>a m�o, Itamar faz a mesma coisa.
<br>
<br>
<br>Cap�tulo IX
<br>
<br>UM
<br>
<br>A garagem � uma esp�cie de terreno baldio, com um muro enegrecido
<br>na frente, outro de um lado, o galp�o nos fundos, onde havia
<br>oficina de consertos, bomba de gasolina, elevador para lavagem e
<br>lubrifica��o. Junto aos muros, ao galp�o e at� pelo meio do terreno,
<br>onde os t�xis estacionavam, havia p�s de vassourinha e capim-de-burro.
<br>O pesado port�o, com carretilhas, n�o corria mais de t�o enferrujado.
<br>
<br>
<br>0 dia amanhecera nublado, a noite toda caiu uma chuva forte
<br>e era poss�vel que come�asse a chover de novo a qualquer momento.
<br>Itamar gostava daqueles dias sombrios por que o calor diminu�a, mas
<br>Galv�o sentia-se recalcado, neur�tico. Parece que as recorda��es voltavam
<br>com mais facilidade. Especialmente da filha Sandra, que a m�e
<br>recomendara tanto, e que terminou dando tudo errado. Para ser sincero,
<br>n�o sabia por onde andava. Desde que saiu de casa, ap�s a discuss�o
<br>mais besta do mundo, em que se exaltou mais do que devia,
<br>jamais apareceu. E quem diria que isso fosse acontecer. Na verdade,
<br>ap�s um dia inteiro de trabalho, ap�s tantos problemas insol�veis,
<br>tinha raz�o de estourar. Mas a filha n�o estava disposta a suport�-lo.
<br>Havia pequenas discuss�es, quase sempre por causa da empregada,
<br>das notas baixas na escola. Mas naquela noite foi demais. Encontrou-a
<br>com o namorado no port�o, n�o esperou nem ao menos que lhe apresentasse
<br>o rapaz. Por que n�o levou na brincadeira? Teria sido melhor.
<br>Quando viu a filha com o cara, mais de dez da noite, a vontade que
<br>teve foi de esbofete�-la. Recorda-se de Sandra naquela sala de tantas
<br>lembran�as, procurando explicar e ele irredut�vel. Orgulho besta!
<br>N�o gostava dos dias sombrios. Se tivesse de morar numa cidade em
<br>que chovesse sempre, terminaria enlouquecendo. N�o queria pensar
<br>no que passou. 0 passado n�o me pertence. S� com a garrafa de
<br>u�sque, estendido no sof�, deixava-se dominar por ele. E quanto mais
<br>pensava em bons e maus momentos, mais bebia. �s vezes, ao acordar,
<br>
<br>165
<br>
<br>
<br>continuava no sof�. N�o tivera condi��o de erguer-se, ir para a cama.
<br>Aquilo, evidentemente, n�o era divers�o e, sim, penit�ncia. J� Itamar
<br>adorava os dias sombrios. N�o suava, n�o linha de estar tomando �gua
<br>a todo momento.
<br>
<br>� Quanto mais se bebe �gua, mais se engorda!
<br>Itamar se preocupava com a beleza f�sica. N�o sabe de onde esses
<br>caras aprenderam essa mania. Ningu�m quer ficar gordo, todo mundo
<br>com programas de gin�stica, velhos correndo na praia, como se assim
<br>conseguissem enganar dona morte. Galv�o tem vontade de rir. E um
<br>cara daquele o delegado Paranhos queria ferrar. Paranhos n�o entendia
<br>porra nenhuma de gente e tinha pretens�es a ser um grande
<br>delegado. Ia quebrar a cara, n�o demorava. Por mim, que se foda.
<br>Terminado este caso, me mando. Chega de aturar tanta merda, de
<br>servir de escada a tanto imbecil. Pego a semana de folga, emendo
<br>com outra por motivo de doen�a, tiro uma licen�a sem tempo no INPS.
<br>Hora de parar. Num dia de muito sol, quem sabe, talvez tivesse coragem
<br>de sair procurando Sandra. N�o reclamaria de nada do que aconteceu,
<br>n�o perguntaria sobre o tempo que passou. Apenas queria ficar
<br>diante da filha, ouvir o que tinha a dizer. Talvez ela entendesse. Se
<br>conseguisse isso, pediria que voltasse. A casinha t� l�, mais abandonada
<br>que toca de pescador. E t� triste tamb�m. O jardinzinho onde
<br>tua m�e colhia rosas, t� se acabando. 0 port�o enferrujou. Nunca
<br>mais ningu�m se preocupou de dar uma m�o de tinta nele. Do jeito
<br>que as coisas t�o indo, qualquer hora dessa come�am as goteiras no
<br>teto e aquilo termina virando uma tapera. Se voc� volta � como se
<br>Julieta tivesse voltado. Foi a pessoa que mais gostei. E tanto � assim,
<br>que nunca botei outra no lugar. Morri pro mundo!
<br>
<br>Se Sandra voltasse, a vida poderia ser refeita. Mesmo assim n�o
<br>retornaria � pol�cia. Procuraria outro trabalho. Teria um dinheiro
<br>extra para chamar um pedreiro, um pintor, mandar fazer a reforma
<br>da casa. Mesmo com a polui��o de S�o Crist�v�o, era melhor ficar
<br>mais uns tempos por l�. Se aparecesse uma boa oferta, a� sim, trataria
<br>de adquirir o apartamento em outro lugar. Sandra escolheria o
<br>bairro. Deixaria a filha tomar decis�es. Jamais repetiria a grosseria
<br>da noite em que a encontrou com o namoradinho. Por que foi fazer
<br>aquilo?
<br>
<br>0 carro esporte entra no terreno murado, p�ra perto do elevador
<br>de lubrifica��o. Salta um tipo atl�tico, roupas coloridas, sand�lias
<br>brancas, cintur�o branco, grosso colar no pesco�o, pulseiras de prata
<br>nos pulsos. � um homenzarr�o que se mostra bastante alegre ao rever
<br>Galv�o e Itamar no escrit�rio.
<br>
<br>� Meus amigos. Que honra!
<br>Uns motoristas aparecem, pedindo chaves de determinados t�xis,
<br>Lampreia argumenta, diz que o carro novo estava precisando de regu
<br>
<br>
<br>
<br>Iagem, um dos caras reclama, acha que se trata de preven��o, Lampreia
<br>ri, joga as chaves.
<br>
<br>� Se engui�ar, foda-se. Tou avisando!
<br>Os motoristas v�o embora, entra o crioulo da lubrifica��o, diz
<br>que o lat�o de graxa t� terminando, Lampreia anota, promete providenciar
<br>outro, antes do fim do dia. Galv�o e Itamar sentaram no sof�
<br>esburacado, paredes cobertas com fotos de mulheres nuas, nos pregos
<br>h� notas fiscais, o alvar� metido numa capa pl�stica, completamente
<br>suja. Lampreia arrega�a as mangas.
<br>
<br>� Como t�o as coisas? Que visita � essa?
<br>Galv�o bate um cigarro no bra�o do sof�, faz a cara mais s�ria
<br>do mundo.
<br>
<br>� Vamos precisar da tua ajuda.
<br>Antes que o homenzarr�o possa dizer qualquer coisa, o detetive
<br>prossegue.
<br>
<br>� T� sabendo dos motoristas?
<br>� Puxa! Tem cara desistindo de rodar � noite!
<br>� Pois �. E o pior de tudo: tamos na estaca zero!
<br>� Na estaca zero?
<br>� Essa a verdade. Pra outro n�o se diz isso. Pra amigo velho
<br>n�o se tem o que esconder.
<br>� Ontem de madrugada surgiu uma amea�a de pista, mas creio
<br>que vai dar em nada � explica Itamar.
<br>Nogueira aparece. Traz uns doces, oferece a Lampreia, aos colegas.
<br>Todos aceitam.
<br>
<br>� A coisa t� complicada, que n�o sei por onde come�ar. Nunca
<br>me vi num caso como esse.
<br>� 0 careta sabe se mexer � comenta Nogueira.
<br>� Ou � um matador profissional, com boas liga��es, ou � um
<br>iniciante que se lan�ou pra valer.
<br>� N�o t� pintando como iniciante � diz Nogueira.
<br>� Por enquanto n�o sei se � iniciante, se n�o � iniciante. O
<br>certo � que t� botando pra quebrar; qualquer hora os t�xis v�o parar.
<br>A coisa t� sendo articulada pelo Sindicato. E nisso Paranhos tem
<br>raz�o. De certa forma n�s � que vamos inspirar o movimento grevista.
<br>J� imaginou?
<br>� No que posso ajudar?
<br>� � assim que se fala � diz Nogueira.
<br>� Quantos t�xis t�o ficando parados de noite?
<br>� A maioria. Pelo menos uns 18.
<br>Galv�o modifica o rosto amargo num riso sem express�o.
<br>� � isso a�! Preciso desses t�xis, mas a pol�cia n�o tem dinheiro
<br>pra gasolina, nem �leo.
<br>
<br>� Fica por nossa conta, se o plano for bom.
<br>� O plano � de primeira � argumenta Galv�o, a essa altura
<br>com os olhos brilhantes, como se tivesse descoberto a coisa mais importante
<br>do mundo. � Tendo os t�xis, arranjo uns caras da pesada pra
<br>dirigir. V�o rodar das 20 �s 3 da madrugada. O dinheiro que entrar
<br>� da garagem, descontada uma gratifica��o pro pessoal. Se o matador
<br>p�e o p� num desses t�xis, t� ferrad�o!
<br>� Quando quer come�ar?
<br>� Depois de amanh�. Hoje, articulo com o pessoal!
<br>� Como vou saber quem s�o os caras?
<br>� No primeiro dia trago todo mundo pra te apresentar. Tudo
<br>gente boa!
<br>Lampreia sorri, Galv�o ajusta o n� da gravata, mas n�o tanto,
<br>joga a guimba do cigarro fora. Saem do escrit�rio, Lampreia acompanhando,
<br>entram na viatura, o homenzarr�o ainda sorrindo, a viatura
<br>se afastando, passando pelo port�o de carretilhas, completamente
<br>enferrujado.
<br>
<br>� Sabia que ia topar. � um bom cara.
<br>� � em defesa dele pr�prio. Se tudo que � de motorista come�ar
<br>a n�o querer trabalhar � noite, os garagistas v�o se estrepar.
<br>� E agora, chefe, pra onde manda? � indaga Nogueira, no
<br>maior bom humor do mundo.
<br>� Pros pontos de bicho, na Zona Sul. Primeiro no da Santa
<br>Clara, depois na Saint Romain. Temos de cercar dos sete lados.
<br>� Enquanto isso, falo com o pessoal das bancas e porteiros de
<br>pr�dio. Conhe�o uma porrada deles!
<br>Na sa�da da garagem de Lampreia a chuva volta a cair. Galv�o
<br>fumava, Nogueira pedindo a Itamar para n�o fechar os vidros at� em
<br>cima, porque emba�ava o p�ra-brisa.
<br>
<br>� Vai molhar tudo aqui atr�s.
<br>� Deixa molhar! O carro � teu?
<br>DOIS
<br>
<br>No trecho em que as m�quinas da telef�nica abriam mais um
<br>buraco no meio da rua a viatura p�ra. H� carros sobre os passeios,
<br>
<br>o porteiro molha a cal�ada com mangueira de jardim, um outro
<br>empurra a lama com vassoura velha.
<br>� Vai pras bancas que me entendo com os bicheiros. Nogueira,
<br>procura levar um papo com os caras dos pr�dios. Pega os nomes deles!
<br>
<br>Os tr�s tomam rumos diferentes. Nogueira vai na dire��o do
<br>que molha a cal�ada. Aproxima-se como quem n�o quer. Encosta no
<br>carro, fica olhando.
<br>
<br>� O poeiral por aqui � fogo, n�o companheiro?
<br>� Um inferno! � responde o homem. � Se tem de lavar esta
<br>porcaria duas, tr�s vezes por dia.
<br>� Como t� a barra?
<br>� Na de sempre. A garotada queimando fumo, as madames
<br>rodando bolsinha
<br>quando os maridos n�o t�o em casa.
<br>O cara que varre a lama se esbalda de rir.
<br>
<br>� Coitado dos maridos!
<br>Nogueira acha engra�ado. N�o tem d�vida de que aquele porteiro
<br>sabia das coisas.
<br>
<br>� Sabe o que � que se t� querendo?
<br>O porteiro manda o companheiro fechar a torneira.
<br>� Chega! Logo mais se molha de novo.
<br>O porteiro est� perto de Nogueira, enxugando a m�o num peda�o
<br>de flanela.
<br>
<br>� T� sabendo que tem um bandid�o por a� abotoando motorista
<br>a torto e a direito. N�o t�?
<br>� Claro. 0 jornal de hoje s� fala nisso!
<br>� Pois �. T� dif�cil grampear o artista. Ele � de ra�a. Ent�o a
<br>gente t� recorrendo a tudo que � de amigo, pra dar uma m�o. Por
<br>acaso tem id�ia de um pinta que possa ser o matador?
<br>O porteiro encosta no carro, ao lado de Nogueira, sente-se de
<br>certa forma importante.
<br>
<br>� Pinta esquisito � o que mais se v�. Nesse pr�dio, mesmo,
<br>t� cheio.
<br>� Desconfia de algu�m?
<br>O porteiro fica uns instantes calado, como recordando nomes.
<br>� N�o!... Os que conhe�o � tudo ligado a entorpecente.
<br>� Pois � isso, amigo. Como � mesmo seu nome?
<br>� Antero.
<br>� Pois �, Antero. Fica de olho. De quando em vez se vai baixar
<br>por aqui e te procura. Capricha que pode levar um bicho e ainda
<br>ganha a amizade da gente!
<br>Nogueira se afasta sorrindo, o porteiro grita para o companheiro
<br>enrolar a mangueira. No pr�dio seguinte, ap�s o barzinho e a casa de
<br>ferragens, o porteiro � um tipo velhusco, carapinha ficando branca.
<br>
<br>� Bom dia, meu tio. Sou da pol�cia, tava precisando de um al�
<br>consigo!
<br>O velho se levanta.
<br>
<br>� Que � que manda?
<br>
<br>� Tem ouvido falar no matador louco, que t� derrubando motorista?
<br>Pois �, tamos na pegada dele. Sabe de alguma novidade?
<br>O velhote parece n�o saber de coisa alguma. Nogueira fica acompanhando
<br>seus gestos, o movimento dos olhos.
<br>
<br>� Por aqui passa tudo que � de coisa ruim. Como vou saber
<br>se entre eles t� o matador?
<br>� Talvez titio tivesse visto algum cara mais esquisito, mais
<br>afoito. Sabe como �. H� bicho por a� que bota pra quebrar na moleza.
<br>� Acha que o matador louco � desse tipo?
<br>Nogueira n�o contava com aquela pergunta. Estava certo de que
<br>o matador n�o podia ser um porra louca qualquer. Se fosse assim era
<br>f�cil chegar at� ele.
<br>� Tem raz�o. O bicho � de ra�a!
<br>Para n�o alongar a conversa, Nogueira recomenda ao velhote
<br>que fique de olho. Fala no bicho e na amizade com os tiras, vai embora
<br>um tanto decepcionado. N�o sabe se aquela peregrina��o daria
<br>resultado. Aproxima-se de outro pr�dio. Ofereceria uma grana ao
<br>porteiro. Dez mil por uma dica. Entra no edif�cio, desce a escada at�
<br>
<br>o subsolo, localiza o homem mexendo na bomba d'�gua. O tipo magro,
<br>de uniforme cinzento, fala no pessoal que transa com entorpecente,
<br>num que � acusado de roubo e estava sumido, desde o Carnaval; no
<br>que espancara a m�e e se embrenhou em S�o Paulo. Nogueira n�o
<br>acha que possa ser nenhum desses. Termina fazendo o oferecimento
<br>dos dez mil, promete voltar, vai em frente, cada vez mais convencido
<br>da inutilidade daquele tipo de averigua��o. Mas, n�o queria contrariar
<br>Galv�o. Ele sabia bem o que fazia. 0 neg�cio seria prosseguir.
<br>Galv�o n�o desistia f�cil, se aparecesse dizendo que s� ouvira uns tr�s
<br>ou quatro elementos, levaria um esporro. Por isso continua entrando
<br>e saindo de pr�dios, conversando com porteiros e faxineiros. At� 2 da
<br>tarde a viatura permanece junto ao tapume de obras, quem primeiro
<br>reaparece � Itamar. Depois Nogueira e finalmente Galv�o.
<br>� Alguma novidade? � indaga o detetive.
<br>� Do meu lado, nada. S� conversa fiada!
<br>� Os jornaleiros tamb�m n�o t�m o que dizer. V�o ficar na
<br>campana.
<br>Nogueira abre o carro.
<br>
<br>� Vamos pra delegacia. Talvez tenha surgido alguma novidade
<br>por l�!
<br>A viatura arranca, perto do velho casar�o Nogueira manda abastecer.
<br>
<br>
<br>� Ser� que n�o se consegue nada sobre esse bandido?
<br>� Cabe�a fria. Se acaba descobrindo.
<br>� Acontece que o tempo t� passando. . .
<br>� Quem sabe o guarda-noturno n�o tem uma hist�ria!
<br>
<br>� �. A Veraneio que n�o existe pode ser um bom ind�cio.
<br>Al�m disso, temos o cabo Os�as.
<br>Galv�o entra na Delegacia, Itamar e Nogueira v�o diretamente
<br>ao bar. O investigador gordo fala nos telefonemas para o detetive, diz
<br>que o delegado s� voltaria no final da tarde. Galv�o tira o palet�, p�e
<br>no espelho da cadeira, senta ao lado da mesa do escriv�o, acende o
<br>cigarro, cruza as pernas, fica olhando a movimenta��o dos que entram
<br>e saem, dos policiais que chegavam com presos, das mulheres reclamando
<br>dos vizinhos, da velhota no banco de madeira com a mocinha
<br>de treze anos, estuprada pelo carpinteiro de 40, pai de cinco filhos
<br>menores. Ouve a hist�ria, contada ao escriv�o, abre o livro de ocorr�ncias,
<br>passa as p�ginas com certa repugn�ncia. Em cada uma delas,
<br>as coisas mais vulgares e nojentas. O pai que deflorou a filha de dez
<br>anos; o amante que deixou a mulher amarrada no barraco durante
<br>seis meses; o agiota que se matou por n�o ter recebido os 100 mil
<br>do a�ougueiro; o paral�tico de uma perna que n�o era paral�tico porra
<br>nenhuma, dava trambique nas escadarias da Igreja; a bicha que se
<br>atirara na �rea interna do pr�dio. Lembra-se bem como foi. Fica satisfeito
<br>de que a coleguinha da suicida tenha aparecido para depor. Na
<br>confus�o com Paranhos esquecera do caso. Mas aquilo n�o tinha pinta
<br>de homic�dio. Era dor de corno, mesmo. A bicha gamou num cara
<br>qualquer, foi abandonada, saltou pela janela. Coisa que acontece a
<br>tr�s por dois. Os olhos do detetive acompanham o depoimento, sem
<br>interesse. Vira a p�gina, alarma-se. O que era aquilo? Sandra Duarte?
<br>Sua filha ou apenas um nome igual? Chama o escriv�o.
<br>
<br>� Beija-flor, que hist�ria � essa? Lembra da mulher que explicou
<br>o suic�dio da bicha?
<br>� Claro! Como pensa que botei isso tudo no papel? Doutor
<br>delegado
<br>perguntando, eu largando brasa.
<br>Beija-flor. magrinho, saliente, faz um riso c�nico.
<br>
<br>� S� que de vez em quando parava, dava uma olhada nas pernocas
<br>dela. At� o delegado tava grilad�o.
<br>� E o nome, � esse mesmo?
<br>� Claro! Qual � o problema? Mostrou carteira de identidade
<br>e tudo!
<br>Beija-flor continua falando, rindo, recordando as qualidades da
<br>mo�a, Galv�o j� n�o o escuta. Rabisca o endere�o num peda�o de
<br>papel, p�e no bolso. Era a oportunidade que tinha de rever a filha.
<br>Quem sabe estaria precisando de alguma coisa ou at� arrependida?
<br>Por que esqueceu completamente do suic�dio da bicha? Culpa daquele
<br>criminoso alucinado, que se movia como sombra. Na verdade,
<br>estava com os nervos arrebentados. Preocupava-se unicamente em
<br>descobrir o matador louco. Se n�o conseguisse isso, quem terminaria
<br>enlouquecendo seria ele. Mesmo assim procuraria uma folga, daria
<br>
<br>
<br>um salto no apartamento da filha. Se n�o estivesse, deixaria um
<br>bilhete por baixo da porta. P�e papel na m�quina do escriv�o, aciona
<br>as teclas, com vagar. Primeiramente, algumas frases secas, para que
<br>n�o pensasse estar arrependido. N�o daria o bra�o a torcer. S� depois
<br>que percebesse a disposi��o dela, a� sim, se abriria. N�o seria motivo
<br>de riso, nem mesmo da filha. 0 bilhete n�o passa de dez linhas. Fica na
<br>d�vida se termina com beijos ou abra�os. N�o p�e nada disso. Finaliza
<br>apenas com o nome; simplesmente o nome: Galv�o!
<br>
<br>Meteu-se no palet�, fala com Itamar.
<br>
<br>� Se Paranhos me procurar, diz que se t� agindo. N�o quero
<br>aporrinha��o!
<br>Toma o t�xi, manda tocar para o pr�dio de onde a bicha saltara.
<br>O motorista reclama do tr�nsito, do transtorno que as feiras-livres
<br>causavam. Galv�o vai ouvindo aquilo tudo, o homenzinho s� v� o
<br>seu lado. Os feirantes que se danassem. Diz uma palavra ou outra,
<br>
<br>o motorista continua exaltado.
<br>� Se fosse prefeito, acabava com isso.
<br>Galv�o salta, n�o espera o troco, entra no pr�dio, encontra o
<br>porteiro grandalh�o.
<br>
<br>� Como �, t� lembrado de mim?
<br>O homenzarr�o sorri, descontrai a m�scara sempre enfezada.
<br>� Como tamos de novidade por aqui?
<br>� Depois daquele caso, tudo em ordem. O pr�dio � sossegado.
<br>N�o tanto como h� dez anos, mas igual aos outros. Onde � que n�o
<br>h� bagun�a hoje em dia?
<br>Debru�a-se no balc�o, por tr�s do qual se esconde seu Manuel.
<br>
<br>� Sabe, tamos precisando de voc� a� numa jogada.
<br>� Qual �?
<br>� Ouviu falar no cara que acerta tudo que � de motorista?
<br>� Poxa! Todo dia.
<br>� Pois �. Se t� na pegada dele. Quem sabe, conversando com
<br>uns e outros n�o consegue alguma coisa?
<br>� Deixe comigo. Vou sondar. Aqui mesmo no pr�dio tem um
<br>motorista, de vez em quando fala no assunto.
<br>� Como � o nome dele?
<br>� Um tal de Darci. Porra louca mas bom cara.
<br>� D� um al� pra ele.
<br>0 policial faz uma pausa, o porteiro procura o jornal, n�o
<br>encontra.
<br>
<br>� 0 diabo do faxineiro deve ter levado.
<br>� Olha, aqui, seu Manuel. E a vedete do 925. T� em casa essa
<br>hora?
<br>� Acho que sim. Deve t� dormindo. Quer que v� l� consigo?
<br>� N�o! Me arranjo sozinho.
<br>
<br>O porteiro faz um sorriso de cumplicidade, Galv�o se encaminha
<br>para o elevador. Aperta o n.� 9, sobe. Em poucos instantes sai no
<br>corredor mal iluminado, uma s� l�mpada acesa. N�o fica em frente
<br>ao olho m�gico, ap�s algum tempo a porta se abre, aparece a filha.
<br>Est� com um vestido leve, Galv�o entra sem ser convidado. No
<br>pequeno apartamento, escuro, percebe o rapaz que enfia as cal�as,
<br>apressadamente.
<br>
<br>� N�o fica contente de me ver?
<br>� Pra que veio?
<br>� Pensei que se pudesse conversar. Faz tanto tempo, n�o guardo
<br>mais qualquer ressentimento.
<br>Enquanto Sandra p�e-se a falar Toninho decide terminar de
<br>vestir-se no banheiro. Leva para l� os sapatos, o blus�o de couro.
<br>
<br>� Quem � o mo�o?
<br>� Meu namorado.
<br>� Namorado ou amante?
<br>� Qual a diferen�a?
<br>� H� muita. Muita diferen�a!
<br>� Nos entendemos, � o que importa.
<br>� N�o tem medo disto aqui, depois que a bicha se matou?
<br>� Quando falar dela na minha frente, exijo respeito.
<br>Galv�o acha gra�a.
<br>� N�o pretendo lhe irritar. Pensei que se pudesse recompor.
<br>Talvez gostasse de rever nossa casinha. � como se a m�e tivesse viva,
<br>mexendo nos m�veis, arrumando as coisas.
<br>� N�o venha com chantagem sentimental, detetive Galv�o.
<br>Tive muito tempo pra pensar no que fez.
<br>� Foi num momento de indigna��o.
<br>� Acontece que s� tem momentos de indigna��o.
<br>� E uma pena que n�o tenha esquecido. De minha parte tou
<br>disposto a recome�ar.
<br>� 0 senhor n�o sabe lidar com gente, detetive Galv�o. At�
<br>outro dia ainda tinha as marcas das suas pancadas.
<br>Dizendo isso Sandra senta ao redor da mesa bagun�ada de objetos
<br>e folhas de jornais, os olhos enchem-se de l�grimas. Galv�o mant�m-
<br>se calado. A vontade � de chorar, procura controlar-se.
<br>
<br>� Que tem sido de sua vida, filha?
<br>� Por a�. Me entregando a um e outro pra n�o morrer de fome.
<br>� Volte comigo e tudo isso acaba.
<br>� N�o posso. J� n�o gosto do senhor.
<br>� N�o tem import�ncia.
<br>Sandra deita a cabe�a nos bra�os, o choro aumenta.
<br>� V� embora. Me deixe s�. N�o torne a me procurar.
<br>Galv�o ergue-se, olhos rasos d'�gua, afasta-se lentamente, o corpo
<br>da filha sacudido por solu�os.
<br>
<br>
<br>TR�S
<br>
<br>Toninho vem para junto de Sandra. Fecha a porta, alisa-lhe os
<br>cabelos.
<br>
<br>� Tenha calma. J� se mandou!
<br>Sandra abra�a-o, chora alto.
<br>� Quem � esse cara?
<br>� Meu pai.
<br>� Seu pai?
<br>Sandra apenas sacode com a cabe�a.
<br>� Voc� falou que � policial?
<br>Torna a sacudir a cabe�a, enquanto prossegue solu�ando.
<br>� Se foi feliz enquanto a m�e era viva. Depois ele ficou doido.
<br>S� pensava na Delegacia, nos tipos que tinha de prender. Quando
<br>chegava em casa, por qualquer coisa que se dizia, armava uma briga.
<br>� Batia em voc�?
<br>� Uma vez, quando me encontrou com um namorado. Quis at�
<br>esmurrar o Neco. Como isso ia ficar chato, porque Neco era nosso
<br>vizinho, me puxou pra dentro, me encheu de porrada. Al�m de me
<br>espancar, berrou o tempo todo, me chamando de puta e cadela!, . .
<br>� N�o sabia que tinha um pai tira.
<br>� E n�o tenho. N�o � mais meu pai.
<br>Toninho senta ao lado de Sandra.
<br>� Desculpa, benzinho. Ele estragou nosso dia!
<br>� N�o h� de ser nada. Amanh� a gente torna a se encontrar.
<br>� Vai querer ir embora ou desce mais tarde?
<br>� Era bom ir em frente, mas n�o pretendo topar com aquele
<br>porteiro ordin�rio.
<br>� Des�o antes, distraio ele.
<br>Toninho sorri. Sandra era muito melhor do que imaginava. De
<br>qualquer forma, dali em diante todo cuidado seria pouco. Como fora
<br>se amarrar numa garota que tinha um tira como pai?
<br>
<br>Sandra vai para o banheiro, lava o rosto, passa escova nos cabelos.
<br>Reaparece metida na cal�a branca, na blusa bege. Sorri, est� linda.
<br>T�o bonita quanto da primeira vez em que a viu. Abra�am-se,
<br>beijam-se.
<br>
<br>� Tou gamada em voc�! N�o se preocupe com meu pai.
<br>Toninho promete n�o se preocupar, entram no elevador. Ela
<br>aperta o n.� 1, ele o n.� 2. Saltaria antes do t�rreo, Sandra se incumbiria
<br>de perguntar um tro�o qualquer ao porteiro, Toninho passaria.
<br>Um truque que vinham usando com sucesso.
<br>
<br>Antes de sair da escada Toninho examina bem o terreno. N�o
<br>fosse o maluco do detetive aparecer, aquele seria um dia e tanto.
<br>Sandra estava quente, n�o o deixava em paz.
<br>
<br>
<br>A garota mant�m-se debru�ada no balc�o, o porteiro se abaixa
<br>para procurar alguma coisa. Toninho passa na ponta dos p�s, toca
<br>em Sandra por tr�s, chega � rua.
<br>
<br>� Pode deixar, seu Manuel. Vai ver o faxineiro pegou.
<br>� Esse faxineiro � o cara mais folgado que j� vi � diz o porteiro.
<br>� At� os jornais que compro ele d� fim.
<br>� Quando aparecer, pergunte se recebeu. � uma revista de
<br>moda. Pra ele n�o interessa.
<br>Sandra diz isso e sorri, mostra os dentes bonitos. 0 porteiro ainda
<br>puxa conversa, pois na verdade sentia-se feliz de poder falar com
<br>a vedete. Raramente Sandra estava dispon�vel, dificilmente aparecia
<br>ali pela portaria. J� as demais inquilinas, principalmente as velhotas
<br>chatas, subiam e desciam a todo instante, ora reclamando contra o
<br>barulho da bomba d'�gua, ora do elevador ou das l�mpadas nos corredores
<br>que haviam apagado. Quando a garota se vira, o grandalh�o
<br>fica apreciando-lhe as formas, o corpo bem feito, na cal�a justa.
<br>
<br>Toninho entrou no �nibus, est� a caminho do quarto. Por mais
<br>que tenha sentido a sinceridade de Sandra, n�o deixa de admitir o
<br>risco da transa��o com a filha de um tira. E exatamente naquele
<br>momento em que os jornais estavam todos em cima do caso, as revistas
<br>faziam retrospectivas, e at� a televis�o exibia filmes dos assassinatos.
<br>
<br>
<br>Entra na pens�o, dona Berta chama-o dizendo haver uma carta,
<br>assusta-se. Por que uma carta, se ningu�m sabia do seu endere�o?
<br>Que hist�ria seria aquela? Era na verdade uma carta, ou aquela velhota
<br>de bra�os gorduchos lan�ava verde pra colher maduro?
<br>
<br>Aproxima-se do balc�o, sorridente, pega o envelope.
<br>
<br>� N�o, senhora. N�o � pra mim. Sou Jo�o Leonardo de Abreu.
<br>A carta
<br>� pra Jos� Eduardo Abreu.
<br>A mulher rel� o sobrescrito, sorri, a papada treme.
<br>
<br>� Minha Nossa Senhora! Tou ficando ruim da vista!
<br>Guarda o envelope, Toninho toma o elevador, sai no corredor
<br>sombrio, ouve os solu�os de Sandra, as palavras amig�veis do pai, a
<br>conversa que n�o entendia direito. Tira a roupa, fica s� de cueca,
<br>estende-se na cama. P�e as m�os por baixo da cabe�a, olha a revista
<br>que comprou na v�spera. L� estava o mesmo detetive. Torna a olhar
<br>a revista, come�a a perceber uma certa vantagem de estar presente no
<br>reencontro do policial com a filha. Ora, se atrav�s de Sandra pudesse
<br>saber constantemente not�cias dele, se pudesse saber o que andava
<br>fazendo, era muito mais f�cil livrar-se de uma armadilha. Tem vontade
<br>de sorrir, vontade de encontrar-se o mais rapidamente poss�vel
<br>com Sandra, estimul�-la a uns certos contatos com o pai. Afinal, pai
<br>� pai. Por pior que seja. Quando me lembro do meu, sinto vontade
<br>de chorar.
<br>
<br>
<br>� Por que n�o procura por ele, pelo menos uma vez por m�s?
<br>N�o custa nada!
<br>N�o sabe como Sandra iria proceder. De qualquer forma o im
<br>
<br>
<br>portante era manter-se o mais perto poss�vel daquele tira, saber dos
<br>
<br>seus planos, conhecer detalhes da sua atividade. Esse o lado positivo.
<br>
<br>Viu bem como a garota tratou o coroa, n�o podia ser encena��o.
<br>
<br>Era coisa s�ria, raiva de muito tempo. Nunca vira Sandra t�o revol
<br>
<br>
<br>tada. Mesmo depois que o detetive se foi, ainda continuava diferente,
<br>
<br>como se tivesse visto assombra��o.
<br>
<br>S� de olhar esse tipo fico com a semana inteira estragada!
<br>
<br>Toninho querendo dizer alguma coisa, querendo ser agrad�vel;
<br>n�o conseguindo pronunciar uma �nica palavra. Nunca vira nenhuma
<br>pessoa que detestasse tanto o pai. Sem tentar convencer Sandra de
<br>coisa alguma, recorda como seu caso era exatamente o contr�rio. Ou
<br>ser� que n�o? E se soubesse que o pai se mandara, de fato, como o
<br>desgra�ado do Banda Branca andou espalhando? Ia ficar com raiva
<br>dele? Desejaria que tivesse morrido? Estava certo de que n�o fizera
<br>semelhante molecagem. Gostava da m�e. Quase n�o brigavam. A
<br>n�o ser quando as despesas na birosquinha de seu Greg�rio aumentavam,
<br>ele sem saber como saldar a d�vida. O pai se preocupava com
<br>as d�vidas. N�o gostava de passar na frente da bodega, ouvir seu
<br>Greg�rio berrando seu nome, como fazia com muitos outros. N�o tinha
<br>jeito de aproximar-se, sorridente, dizer uma desculpa. N�o, ele
<br>n�o fugiu. N�o se mandou. Estava em algum lugar, provavelmente
<br>preso, talvez acidentado. Sandra n�o se parecia em nada com ele.
<br>Odiava simplesmente o pai. Os olhos ficavam vermelhos, o corpo
<br>tremia, como se estivesse tendo um acesso de convuls�o.
<br>
<br>� Ele n�o presta!
<br>Toninho continua estirado na cama, o r�dio tocando longe. O
<br>locutor fala, fala, n�o entende direito o que diz. Na primeira oportunidade
<br>compraria um r�dio. Ficaria ouvindo especialmente os programas
<br>noticiosos. Estava certo de que o importante seria acompanhar
<br>os passos daquele coroa desastrado, que at� com a filha brigava.
<br>N�o ia ser ele que o agarraria. Trataria de mover-se com cuidado,
<br>Sandra se encarregaria de dizer-lhe coisas importantes. Sempre como
<br>quem n�o quer, faria indaga��es, deixaria a garota falar. Talvez at�
<br>ficasse satisfeita de saber que o matador de motoristas continuava
<br>agindo e seu pai n�o conseguia descobrir coisa nenhuma, estava pior
<br>que barata tonta, �s voltas com um retrato-falado que n�o significava
<br>coisa alguma.
<br>
<br>Olha o teto alto do quarto, a janela aberta, vaga d�vida a respeito
<br>de Sandra se robustece. E se tudo aquilo fosse encena��o? Quem
<br>poderia provar que a garota n�o era boa atriz? Ser� que o tira j�
<br>desconfiava, por isso foi ao apartamento? Ser� que teve alguma liga��o
<br>com Marlene? Nesse caso, por que n�o o prendeu logo? Por que
<br>
<br>
<br>n�o procurou ao menos falar-lhe? Ou aquilo fazia parte do plano?
<br>
<br>Quem sabe queria apenas v�-lo, saber direito como era?
<br>
<br>Procura tranq�ilizar-se. N�o h� motivo para deixar-se arrastar
<br>
<br>pelo desespero. N�o podia duvidar de Sandra. Se fosse o caso, nunca
<br>
<br>mais apareceria no apartamento, n�o procuraria mais por ela na boate,
<br>
<br>Isso bastaria para terminar com o problema. N�o sabia onde morava,
<br>
<br>n�o fazia id�ia de sua vida. Se tivesse raz�es concretas para desconfiar
<br>
<br>de Sandra, primeiro terminaria com ela, em seguida passaria uma
<br>
<br>temporada longe do Rio. Quando retornasse, ningu�m estaria lem
<br>
<br>
<br>brado do caso. S�o tantos os crimes que os jornais n�o t�m espa�o
<br>
<br>para divulg�-los. Era isso. De qualquer forma, n�o custava nada
<br>
<br>sondar a garota. No que menos esperasse, faria uma pergunta sobre
<br>
<br>o pai. S� pra ver como ia se sair.
<br>Acende a luz, abre os jornais, examina p�gina por p�gina, com
<br>muita aten��o. As ocorr�ncias s�o quase todas as mesmas. Coisas que
<br>lera dois dias antes. Apenas os depoimentos diferiam. No caso do
<br>seq�estro do filho do industrial, aparecera uma nova testemunha.
<br>Imagina o peito que tinha um seq�estrador. Neg�cio arriscado. Jamais
<br>se meteria em semelhante coisa. Tenta fixar-se na not�cia, mas o pensamento
<br>continua preso a Sandra. Se o idiota do coroa n�o se intrometesse,
<br>o encontro teria se prolongado. A garota contando coisas
<br>agrad�veis, falando de projetos que pretendia realizar. Um deles,
<br>fazer o teste para cantora, gravar.
<br>
<br>� 0 dia que isso acontecer, te juro que se muda de vida.
<br>� E eu?
<br>� Ora, pode fiscalizar meu empres�rio. S�o todos safados. �
<br>preciso algu�m de olho. . .
<br>Toninho achava gra�a. Ser� que Sandra tinha boa voz? Nunca
<br>a ouvira cantando. Mas garantiu que no pr�ximo show ia dan�ar e
<br>cantar.
<br>
<br>� Numa boate ordin�ria como a Bacar� se tem de fazer de tudo,
<br>cara. E muito bem feito pra n�o levar vaia e perder o emprego!
<br>Gostaria de ver Sandra bem badalada, disco na pra�a, tocando
<br>em tudo que era de r�dio e at� aparecendo em programa de televis�o.
<br>Bem que merecia. H� anos, lutando com aquele objetivo. Engra�ado
<br>como Sandra tinha um objetivo. Ele n�o se destinava a nada. Por
<br>mais que se esfor�asse, n�o conseguia entender como ficara assim.
<br>Fora o plano com o pai, nada mais parecia interess�-lo. Mesmo que
<br>conseguisse muito dinheiro, n�o sabia como empreg�-lo. Compraria
<br>roupas, um carro, faria longos passeios. 0 dinheiro terminaria rapidamente,
<br>n�o tinha id�ia clara de como obter outra bolada. Imposs�vel
<br>continuar agindo sempre na pra�a. Ia chegar o dia em que n�o dava
<br>mais. Ou a pol�cia o grampeava, ou os t�xis deixariam de rodar �
<br>noite.
<br>
<br>
<br>Ajeita os travesseiros por baixo da cabe�a, sente-se em paz na
<br>solid�o daquela casa imensa, uns poucos h�spedes. Talvez Sandra estivesse
<br>com a raz�o. Se pudesse, ia ajud�-la. Quem mal havia em tornar-
<br>se uma cantora importante? Se por causa da fama o esquecesse,
<br>n�o iria reclamar. As pessoas s�o assim mesmo. Tamb�m esqueceu
<br>uma por��o de gente a come�ar por vov� Jandira, tio Donga, Banz�,
<br>a pr�pria Marlene. Sinceramente como ela n�o fazia falta. No primeiro
<br>dia, ao saber do suic�dio, impressionou-se com a fotografia na
<br>p�gina do jornal. Marlene que tanto se cuidava, cara metida na montueira
<br>de pedras e de ferros. N�o conseguia entender aquela maluquice,
<br>como n�o entendia a paci�ncia de tio Donga, recordando os
<br>tempos de barbeiro, nem a alegria de vov� Jandira. Como, morando
<br>num morro fedorento daquele, podiam ser assim?
<br>
<br>Vira a p�gina do jornal. L� est� a hist�ria do marido que matou
<br>a mulher, os tr�s filhos. L� apenas as primeiras linhas, passa ao caso
<br>seguinte, do militar que liderava a quadrilha de ladr�es de autom�veis,
<br>do marinheiro envolvido com o tr�fico de entorpecentes, de parceria
<br>com o advogado, o bicheiro e a aeromo�a. Tem vontade de rir.
<br>Estranho como o pessoal dos t�xicos tinha condi��o de reunir num
<br>mesmo grupo as pessoas mais diferentes; das mais diversas profiss�es.
<br>Um dia, quem sabe, quando a barra pesasse, se meteria nesse neg�cio.
<br>Era o mais rendoso, badalado, o que ocupava grandes espa�os nos
<br>jornais. E os chef�es estavam sempre por longe. Procurados mas
<br>nunca alcan�ados. E, pelo que calculava, quando pudesse meter-se
<br>em semelhante manobra, j� teria uma reserva, para n�o come�ar por
<br>baixo. Seguraria um bom ponto, eliminaria o primeiro que se atravessasse
<br>na frente. Nessa transa��o ningu�m pode dar bandeira, nem
<br>entrar engatilhando. D� as ordens quem berra mais alto. Aquelas not�cias
<br>todas que sa�am sobre persegui��es a traficantes de entorpecentes
<br>interessavam de perto a Toninho. Muitas vezes chegava a
<br>recortar as que considerava principais. N�o sabia muito bem o que
<br>pretendia, mas alguma coisa lhe dizia que aquilo teria futuro. Abria
<br>a gavetinha da mesa de cabeceira, onde havia velho abajur, guardava
<br>as notas. Agora, ao ver uma nova not�cia, ainda sobre a aeromo�a que
<br>trazia coca�na do exterior, torna a rasgar o peda�o de jornal, p�e na
<br>gavetinha. Chega finalmente � p�gina dedicada ao assalto de t�xis.
<br>Alguns motoristas apareciam na foto, falavam do movimento grevista.
<br>O presidente do sindicato achava que a pol�cia n�o sabia de coisa
<br>alguma do criminoso e os profissionais continuavam a arriscar-se, sem
<br>qualquer garantia. Depois vinha um pequeno trecho em que o rep�rter
<br>anunciava como se fosse coisa em primeira m�o. L�, alarma-se.
<br>
<br>Como podia aquele coroa ter bolado semelhante coisa? Puxa, se n�o
<br>visse aquela nota, era capaz de si ferrar. Como conseguiria botar t�xis
<br>na rua, rodando com policiais disfar�ados de motoristas? No final da
<br>nota, vai sabendo que o projeto ainda n�o est� em execu��o, mas o
<br>
<br>
<br>detetive garante que os carros est�o contratados. Ora, se aquilo era
<br>uma iniciativa sigilosa, por que estava sendo anunciada daquele jeito?
<br>Ou ser� que o rep�rter fazia apenas uma jogada? E, pensando bem,
<br>de que adiantava o motorista ser tira? Valia a pena saber que estavam
<br>transando no meio dos profissionais de pra�a e isso o obrigava a redobrar
<br>os cuidados. Quanto a puxar a m�quina e fazer com que
<br>funcionasse, nenhum alcag�ete podia adivinhar. Se entrasse num
<br>t�xi e percebesse a manobra, simplesmente se comportaria como o
<br>garoto mais quieto do mundo; na descida ainda daria gorjeta. Como
<br>poderiam desconfiar? N�o havia d�vida de que a pra�a sempre fora
<br>um bom prato. O importante era saber conduzir-se. Nada de afoba��o,
<br>nada de envolver-se com outras pessoas, nem com o pr�prio Enfezado.
<br>Para ele conseguiria um outro neg�cio. Talvez uma pequena transa
<br>com os traficantes de entorpecentes. Enquanto isso aproveitaria para
<br>saber macetes, conhecer figuras importantes, preparando o momento
<br>certo de entrar tamb�m. Daria as dicas a Enfezado, n�o tinha de que
<br>se apavorar. E o melhor de tudo � que s� apareceria � noite. Quando
<br>a barra estivesse limpa. Pelo que vinha observando, muita gente se
<br>ferrava por causa da imprud�ncia, da mania de exibi��o. Lembra-se
<br>da atriz que se meteu no restaurante gr�-fino, come�ou a cheirar na
<br>frente de todo mundo. Uma tremenda bandeira. Coisa de maluca. O
<br>alcag�ete n�o teve nem trabalho. Foi s� discar, a dona arrastando
<br>consigo uma por��o de gente. 0 melhor que podiam fazer com uma
<br>vagabunda daquela seria chumbar no p� do ouvido, jogar na beira da
<br>estrada, na po�a de lama. 0 que � que pensava? Como � que algu�m
<br>podia transar com uma idiota daquele tipo? Com ele n�o teria semelhante
<br>moleza. Ia selecionar os caras. Enfezado ajudaria nessa sele��o.
<br>
<br>� No time s� joga quem tiver molejo � isso Enfezado estaria
<br>sempre dizendo. � Quem chutar pra escanteio cai no gramado cortado
<br>por um raio.
<br>Parece que estava ouvindo a voz e o riso de deboche. Enfezado
<br>sabia muito bem como ag�entar-se numa transa daquela responsabilidade.
<br>
<br>
<br>Rel� a nota sobre o plano do detetive, tem vontade de procurar
<br>a garota. Mas, pra qu�? 0 que tinha a ver com aquilo? Se falasse,
<br>ia ficar grilada. O melhor seria manter-se como vinha fazendo: ouvir
<br>muito, n�o dizer nada. Que Sandra se abrisse, contasse detalhes da
<br>sua vida em fam�lia; que falasse da m�e, que falasse do pai, dos amigos
<br>do pai, de como costumava trabalhar. Isso importava. Em meio a tanta
<br>lengalenga talvez pudesse descobrir o endere�o do tira. A�, dependendo
<br>da necessidade, daria um passeio por l�, faria um levantamento completo
<br>do local. Quem sabe at� fosse uma zona calma, onde pudesse trabalhar
<br>sem que ningu�m percebesse? Essas as coisas importantes. E n�o teria
<br>dificuldade em ouvir isso de Sandra. Necess�rio apenas saber toc�-la.
<br>Na sua vez de falar inventaria mentiras, disfar�aria com a viagem do
<br>
<br>
<br>pai, a morte da m�e. Nada de detalhes, intimidades. Nem por brincadeira.
<br>N�o perderia tempo escavando tristezas. Faria Sandra entender
<br>que o que passou, passou. Vale o dia que se vive.
<br>
<br>A prolongada aus�ncia de Enfezado � que come�ava a preocup�lo.
<br>E por que ser� que os jornais e revistas quase n�o falavam nas
<br>investiga��es sobre o assassinato da mulher do sargento Beto? Que
<br>arruma��o estariam os tiras fazendo? E quem eram eles, al�m do
<br>detetive Silveirinha? Ah, como gostaria de aproximar-se de Banda
<br>Branca, entregar-lhe uma nota firme, mandar fazer averigua��o. Mas
<br>n�o era idiota. 0 alcag�ete pegaria o dinheiro e ainda terminaria por
<br>complic�-lo. Pelo que dissera mestre T�bor, estava na pegada de Enfezado.
<br>E o sargento tinha certeza de que a mulher fora morta pelo
<br>garoto. 0 pr�prio Enfezado dissera ter jurado o torturador. Bastava
<br>botar o p� fora na cadeia, ia � forra. Mas n�o era apenas isso. Sabiam
<br>que Enfezado agira em companhia de um outro e esse o detalhe que
<br>n�o aparecia. N�o se preocupava com isso porque estivesse com medo,
<br>querendo se mandar. Apenas gostaria de encontrar a melhor maneira
<br>de agir, e no momento preciso. Se Enfezado pintasse, como esperava,
<br>tinha inclusive algo melhor a propor. Voltariam na casa do tal sargento,
<br>acabariam com ele. Os tiras iam ficar loucos; a acusa��o que
<br>pesava sobre Enfezado cairia por terra. Ora, quem acusava era o
<br>sargento. Se o sargento desaparece, ent�o quem pode dizer foi este ou
<br>foi aquele? Pela primeira vez sente estar se deixando perturbar pelos
<br>acontecimentos. E isso � o que n�o pode e n�o deve acontecer. Enquanto
<br>mantiver a cuca fresca saber� como livrar-se do detetive Galv�o
<br>e dos seus auxiliares. Nem era maluco de deixar que Sandra desconfiasse.
<br>N�o poderia estar preocupado em nenhum momento. N�o havia
<br>raz�o para nervosismo.
<br>
<br>Chega ao final do jornal, volta � p�gina em que havia a fotografia
<br>do motorista, a mulher fazendo acusa��es, lamentando-se, o
<br>presidente do sindicato afirmando que as provid�ncias estavam sendo
<br>tomadas e em poucos dias o matador seria liquidado. Toninho solta
<br>
<br>o jornal, n�o acha gra�a. Espera apenas que esteja enganado. Se agia
<br>com cautela, a partir do momento em que soube da trama do detetive,
<br>os cuidados iam ser redobrados. Talvez at� ficasse alguns dias sem
<br>atividade ou fizesse um novo ataque de surpresa. Isso aumentaria a
<br>desorienta��o do detetive.
<br>Durante longos momentos, bra�os abertos no colch�o macio, a
<br>luz entrando pela janela, Toninho reflete sobre tanta coisa: os �ltimos
<br>motoristas que conseguiu surpreender, o homem da lanchonete
<br>perguntando debochadamente por Marlene, Man� Cabreiro dizendo
<br>que Brezol� n�o demorava na cadeia.
<br>
<br>� T� se arranjando com um advogado. Se conseguir cinco mil
<br>pra botar na m�o do doutor, fica livre logo. S� que n�o pode viajar,
<br>nem nada!
<br>
<br>Sabe que dificilmente Brezol� conseguiria os cinco mil. A n�o
<br>ser que os colegas de obra fizessem uma vaquinha. Mas ningu�m vai
<br>com a cara dele. N�o iam arriscar. De qualquer forma, necessita estar
<br>a par. N�o pode ser pego de surpresa. E, enquanto se ocupa com
<br>Brezol�, com suas bravatas, seus documentos, pensa tamb�m no motorista
<br>crioulo, carapinha branca, �culos claros, dente de ouro brilhando
<br>em cada sorriso. Ser� que em nenhum momento desconfiou,
<br>ou aquela aparente camaradagem era apenas disfarce, at� encontrar
<br>a viatura da pol�cia? Por que n�o parou no ponto onde determinou?
<br>Ficou assustado, por bem pouco n�o se descontrola. Sacou a arma,
<br>encostou o cano no ouvido do velhote, disparou. 0 carro rodou desgovernado
<br>um peda��o, at� bater na �rvore. A sorte � que n�o havia
<br>ningu�m, a pracinha se tornara deserta, dep�sitos de lixo se amontoando.
<br>Desligou o pisca-pisca, apagou os far�is. Ficaram acesas apenas
<br>as lanternas. Se o careta tentara fazer uma ursada, arrependeu-se.
<br>Fez a coleta, havia mais dinheiro do que esperava. Lembrou-se de
<br>procurar nos sapatos. Num deles, a c�dula de 500. N�o pode deixar
<br>de rir. Como eram espertos aqueles caretas. S� n�o tinham id�ia de
<br>prever a �ltima corrida. Mas que sabiam esconder o dinheiro, isso
<br>sabiam. Recorda com certo amargor o que sa�ra num dos jornais.
<br>
<br>"Al�m da f�ria roubada que o assaltante levou, o chofer guardava
<br>outra parte do dinheiro no fundo falso do retrovisor interno."
<br>
<br>Examina o retrovisor. N�o tinha fundo falso. T�xi antigo, todo
<br>desconchavado, n�o adiantava mais investir nele. O outro n�o; Corcel
<br>novo, cheio de enfeites, equipado com toca-fitas e circulador de ar.
<br>Como aquele cara sabia tratar do carro! Bastava empurrar a alavanca
<br>niquelada, o toca-fitas entrava em funcionamento. E as m�sicas. . . que
<br>m�sicas! Cara de bom gosto. O Corcel parecia zero e rodara 42.000
<br>quil�metros. Desde que entrou, o pr�prio motorista esfor�ando-se para
<br>fechar a porta. N�o permitia que passageiro nenhum batesse com
<br>for�a. Outro detalhe que o irritou: acendeu o cigarro, pediu com
<br>educa��o.
<br>
<br>� Se n�o fumasse, lhe agradeceria; sou al�rgico a fumo.
<br>Vontade de mandar aquele careta � merda. Onde se viu motorista
<br>de pra�a com tanta frescura? S� porque a porcaria do carro era
<br>novo? Ficou sem saber. Tentou puxar conversa, o tipo respondia com
<br>palavras curtas, n�o havia jeito de entrosar-se. Falou nos times de
<br>futebol, argumentou n�o torcer por nenhum deles. Poxa!
<br>
<br>� N�o gosta de uma biritinha?
<br>Ficou mais surpreso. O homem era testemunha-de-jeov�, nas
<br>folgas metia-se na igreja, preparava as atividades do fim de semana.
<br>
<br>� � bom ter em que acreditar. . .
<br>Foi o �nico momento em que pareceu animar-se.
<br>� Bom ou necess�rio?
<br>
<br>Toninho com vontade de mand�-lo � merda. Por que necess�rio?
<br>N�o quis alongar-se, n�o estava disposto a uma discuss�o. Viu logo
<br>que era um chato. Certinho, cheio de manias. O carro retratava seu
<br>temperamento. Enfeitinhos por todo lado, a frase b�blica no painel.
<br>
<br>O t�xi deslizava macio, o homem calado. Toninho n�o queria
<br>mais falar naquela coisa de f�, de ter de acreditar ou n�o, na salva��o
<br>da alma. Quando mandou parar, o careta disse que naquele ponto
<br>n�o podia. Isso terminou de encher o saco. Meteu a m�o no bolso,
<br>com raiva, o homem examinando a tabela pl�stica, acionou o gatilho,
<br>0 disparo o atingiu no rosto. N�o pretendia que acontecesse assim,
<br>mas o pobre-diabo deu azar. Caiu por cima do volante, um carro veio
<br>de longe, cruzou em velocidade. Fez a revista em todos os locais poss�veis
<br>e imagin�veis, uma decep��o. Como podia uma coisa daquela?'
<br>Nunca recolhera t�o pouco! E aquele era exatamente um carro novo,
<br>que todo mundo dava prefer�ncia. Examinou nas roupas, por tr�s do
<br>retrovisor, por baixo dos bancos, arrancou os sapatos do motorista.
<br>N�o havia nada, al�m das meias furadas nos calcanhares. Merda de
<br>motorista fuleiro! Passou a flanela na tampa do porta-luvas, no espelho
<br>retrovisor, fechou as portas, deixou o r�dio tocando alto, limpou
<br>os trincos, foi embora com as chaves. Andou um peda��o, at� jog�-las
<br>na grelha, junto ao meio-fio. Inacredit�vel! Quando viu o carro, todo.
<br>com faroletes e antena arqueada, imaginou ser uma boa oportunidade.
<br>Como se enganara! Mil vezes um TL de frota. E esperou tanto.
<br>De qualquer forma, at� ali o tal detetive Galv�o n�o conseguira descobrir
<br>nada.
<br>
<br>Sai da cama, estira-se por baixo do guarda-roupa, abre o cofre,
<br>tira o dinheiro. Faz a confer�ncia. Pouco. Muito pouco! Teria de
<br>conseguir tr�s vezes mais. S� a� pararia por uns tempos. Se Enfezado
<br>j� tivesse aparecido, bolariam outra jogada. At� os policiais se acalmarem.
<br>Depois recome�aria. Torna a guardar o dinheiro, calcula a
<br>hora, sabe que n�o � tarde. Sairia quando houvesse sil�ncio na pens�o.
<br>Por enquanto os r�dios e as televis�es funcionavam a todo vapor. Novela
<br>em cima de novela, uma choradeira dos infernos. Ah, como detestava
<br>aquelas hist�rias morrinhentas, mulheres desmanchando-se
<br>como se fossem de a��car.
<br>
<br>Olha pela janela as l�mpadas que se acenderam, escuta o barulho
<br>das britadeiras que n�o paravam mais, planeja um golpe surpreendente,
<br>quando pegaria tr�s ou quatro motoristas. Que mal haveria
<br>nisso? Qual o problema? Saltaria de um carro numa rua, tomaria
<br>outro na seguinte, mandaria tocar para a avenida de movimento.
<br>Tinha certeza de que resistiria. Afinal, tudo que sentiu da vez passada
<br>foi uma forte dor de cabe�a. A tremedeira das pernas terminou desaparecendo.
<br>Agora, s� a dor de cabe�a e uma certa n�usea. N�o podia
<br>ficar olhando a cara do motorista, os olhos saltados, fios de sangue
<br>alastrando-se no rosto.
<br>
<br>182
<br>
<br>
<br>Se conseguisse realizar os tr�s assaltos, tinha um meio de evitar
<br>a dor de cabe�a: compraria um litro de conhaque, traria para a
<br>pens�o, beberia metade. A melhor forma de relaxar, dormir direto
<br>at� o dia seguinte. Se n�o tivesse dor de cabe�a, entraria no restaurante,
<br>mandaria sair um bife a cavalo, tomaria dois chopes. Talvez
<br>fosse melhor. Se desse na telha, seria capaz de surpreender Sandra.
<br>Soltaria uma grana para o le�o-de-ch�cara, assistiria ao final do show.
<br>O chato � se ela n�o o visse, fosse embora com um pilantra qualquer.
<br>
<br>� Como � que vou fazer, se os caras colam com a gente? N�o
<br>� s� comigo. T� pensando que n�o chateia? Pois chateia. Quando se
<br>d� o fora, sabe o que acontece? V�o no patr�o reclamar. Se a coisa se
<br>repete, manda a gente embora. N�o pode � perder o fregu�s.
<br>N�o gostava daquilo, n�o tinha como fazer Sandra parar. De
<br>mais a mais ela n�o queria parar. Dali, como sempre dizia, era o
<br>trampolim para apresentar-se sozinha, cantando, sem tirar a roupa.
<br>Depois viriam os discos, Sandra um nome conhecido na cidade, em
<br>todo o pa�s. Apareceria nas capas das revistas, na televis�o. N�o podia
<br>estragar aquele sonho. Que Sandra fizesse sua vida. Seus encontros
<br>com ela obedeceriam outros hor�rios. Se o pai teve coragem de procur�-
<br>la no apartamento, por que n�o estaria vigiando na boate? Vai
<br>ver, o tira armou tudo direitinho.
<br>
<br>� Ele t� doido pela garota, mais cedo ou mais tarde aparece.
<br>Se pega o moleque, baixa o cacete!
<br>Conhecia o estilo desses pais. Com ele o detetive se enganara.
<br>N�o iria atr�s de Sandra. Se encontrariam em outro local, longe
<br>inclusive do apartamento. Cada vez que entrava naquele pr�dio, mesmo
<br>sem ser visto pelo porteiro, tinha a sensa��o de estar passando
<br>pelas grades de uma penitenci�ria. E n�o precisava esconder-se de
<br>um reles alcag�ete, igual a Banda Branca e a tantos outros. O melhor,
<br>mesmo seria procurar um hotelzinho. Desses que s�o discretos, n�o
<br>comprometem. Duas ou tr�s pessoas passam pelo corredor, falando
<br>baixo, pela voz reconhece que uma delas � dona Berta. Naturalmente
<br>ia mostrar quarto para algum novo h�spede.
<br>
<br>� Quem seria?
<br>
<br>Cap�tulo X
<br>
<br>UM
<br>
<br>Galv�o est� num dia de completa amargura. Sabe que o prazo
<br>m�ximo que Paranhos lhe dera se escoa, por mais que se vire nas
<br>bocas nada consegue. Nogueira j� falou com uma quantidade de porteiros
<br>de pr�dios, Itamar se informou com outros tantos jornaleiros e
<br>elementos do bicho. Marcou com os policiais na garagem de Lampreia,
<br>fez as apresenta��es. Nessa mesma noite poderiam come�ar. Mesmo
<br>assim, sabia que alguma coisa n�o estava certa. Tira o retrato-falado
<br>da gaveta, abre-o sobre a mesa de trabalho, acende o cigarro, fica
<br>olhando. Que tipo seria aquele, capaz de tanta ast�cia? N�o podia
<br>compreender. Jamais se deparara com semelhante caso. N�o conseguia
<br>sequer dar a partida. De onde aparecera aquele Satan�s para persegui-
<br>lo, logo agora que tinha tantos problemas? Recorda as palavras
<br>de seu Manuel, o porteiro grandalh�o. Conhecia um motorista que residia
<br>no pr�prio edif�cio de Sandra.
<br>
<br>� Porra louca, mas bom sujeito.
<br>Falaria com ele ou era melhor entender-se com Caveirinha, Piramb�ia
<br>e Chico Biela? Considera o problema. Estava bastante encrencado
<br>para procurar mais sarna para si co�ar. Aqueles policiais
<br>mostravam-se amigos, at� algu�m acenar-lhes com vantagem. Se isso
<br>acontecesse, abririam o bico. E todo mundo ficaria sabendo da jogada.
<br>Paranhos tiraria o corpo, o secret�rio mandaria carregar no
<br>processo. Queriam um bode expiat�rio, n�o podia entrar naquela. Provavelmente
<br>o tipo que seu Manuel conhecia pudesse desincumbir-se
<br>da tarefa. N�o precisaria nem de muita conversa. Bastava p�r minhoca
<br>na cabe�a do cara.
<br>
<br>� Se fosse da pra�a, vou lhe contar: andava mais prevenido
<br>que soldado em campo de batalha!
<br>Ouviria o motorista contra-argumentar, acrescentaria detalhes, a
<br>fim de entender que nunca se sabe com quem est� agindo.
<br>
<br>
<br>� Como � que vai fazer, se o careta entra no t�xi parecendo
<br>um santo? Por isso que digo: no primeiro movimento em falso do
<br>passageiro, seja ele qual for, o neg�cio � tocar pra Delegacia.
<br>Estenderia a conversa, estava certo de que o motorista ficaria em
<br>ponto de bala. Ao ouvido do profissional, algumas promessas.
<br>
<br>� Se descobrir esse assassino filho da puta leva um pr�mio,
<br>ganha nossa amizade.
<br>Darci manda sair mais dois conhaques, Galv�o pega a garrafa,
<br>convida para a mesinha nos fundos, perto do grande ventilador todo
<br>empoeirado, girando barulhos.
<br>
<br>� 0 que interessa � pelo menos um suspeito. E olha que a cidade
<br>t� cheia de tipo ordin�rio. Qualquer um que se pegue, tem sempre
<br>o rabo preso na gaveta. Por mim j� teria feito um arrast�o, mandado
<br>descer o cacete em todo mundo. Mas, sabe como �; querem a
<br>pol�cia com boas maneiras; praticamente uma entidade educativa. Por
<br>isso n�o se consegue nada. Um bandid�o como esse acerta uma
<br>porrada de motorista e vai ficando tudo por isso mesmo. Exigem da
<br>gente. Querem que se aponte o culpado. Como se algu�m fosse m�gico!
<br>Darci vira a ta�a de conhaque, p�e mais um pouco.
<br>
<br>� E olha que j� abotoou uma por��o de colega. Todo mundo
<br>dando um duro do cacete pra ag�entar pelo menos a comida e o
<br>aluguel e esse gavi�o baixando. T� certo! Se topar com um suspeito,
<br>dou o berro.
<br>� Olha, que n�o se t� brincando em servi�o. Se tem virado pra
<br>cima e pra baixo e nem rastro do cachorr�o. A princ�pio acho que
<br>o pessoal da T�cnica tava levando na maciota. Agora, a corda endureceu
<br>l� tamb�m e nada. 0 que ser� que fiz a Deus pra me acontecer
<br>uma dessa?
<br>Darci sacode a cabe�a. Via pela primeira vez aquele detetive
<br>de rosto cansado, gravata de la�o frouxo no colarinho, achava-o simp�tico,
<br>sensato.
<br>
<br>� Outro dia mesmo desconfiei de um cara. Bateu a porta como
<br>se a porcaria do t�xi fosse dele, mandou tocar pra frente. Andei uns
<br>tr�s quil�metros sem saber a dire��o certa. A� me g�entei. 0 cara
<br>tirou o palet�, eu s� de olho no retrovisor. Sabe que tenho uma m�quina,
<br>pois n�o? Sem que percebesse, deixei bem no alcance da m�o.
<br>Foi o tempo que mandou parar, me deu uma nota de cem pela corrida
<br>que n�o chegou a quarenta. At� hoje n�o entendi.
<br>� � dif�cil. Nem sempre a gente pode se deixar levar pela apar�ncia.
<br>Tipo s�rio com cara de bandido � o que mais tem por a�. Vai
<br>ver, o gavi�o tem cara de anjo. Sou capaz de apostar.
<br>Darci continua a tomar o conhaque, o detetive n�o tem pressa.
<br>
<br>
<br>� O pessoal do sindicato � que n�o t� entendendo o esfor�o da
<br>gente. Pensa que se leva a coisa na flauta. Fico puto com esse tipo de
<br>profissional. S� v� o seu lado.
<br>� Acontece que a turma entrou em desespero. Conhe�o uma
<br>por��o que n�o dirige mais � noite. Eu, n�o. Confio no meu berrante.
<br>� Que marca �?
<br>� Um Taurus, todo enferrujado, mas bom como a peste.
<br>� Se precisar de uma 45 te empresto. 0 importante � ficar de
<br>olho vivo, descobrir logo o suspeito.
<br>� Acha que esse tal de retrato-falado t� com alguma coisa?
<br>� N�o acredito. Sou da pr�tica. Fic��o n�o � comigo. Ningu�m
<br>viu o matador, ningu�m sabe como � e se tem um retrato-falado.
<br>Coisa de cabe�a das sumidades!
<br>� Acontece que tudo que � de colega t� com ele colado no
<br>p�ra-brisa.
<br>� Por isso que tou te dando esse al�, cara. Se tem de escavar
<br>em outra dire��o. Bordejar por longe.
<br>� E se a greve estourar antes?
<br>� A�, vira esculhamba��o! 0 caso cai na �rea federal, eu me
<br>ferro, t�o cedo os motoristas n�o v�o ter tranq�ilidade. N�o adianta
<br>sacudir a roseira que o bandid�o n�o � besta. Quando sentir que o
<br>mar t� brabo, vai pro fundo. Entra na loca.
<br>� Os homem t�o entendendo isso?
<br>� Na pol�cia s� se entende o que se quer. Os grand�o fazem
<br>planos, riscam pap�is e ningu�m pode dizer nada. Quem argumenta
<br>� porque t� querendo fazer corpo mole.
<br>� E o diabo � que essa �guia de pedreira n�o erra um tiro.
<br>Cada vez que puxa o berrante � um colega que pula fora do planeta!
<br>Darci diz isso, encara Galv�o com certa mal�cia, toma mais um
<br>gole do conhaque.
<br>
<br>� Por isso �s vezes fico pensando: esse cara t� acostumado com
<br>arma: n�o � amador.
<br>� Onde quer chegar?
<br>� Sei l�; o mundo d� voltas. �s vezes penso que pode ser da
<br>pr�pria pol�cia.
<br>Galv�o toma o resto do conhaque, limpa a boca com as costas
<br>da m�o.
<br>
<br>� Se pensou nisso. N�o faz sentido!
<br>� Sei n�o; pro bandid�o agir com tanto cuidado, s� tendo tarimba.
<br>� Sou de opini�o que tamos na frente de um estreante genial;
<br>um careta que nunca fez nada; nunca pintou numa Delegacia.
<br>� E a pontaria que tem?
<br>� Que pontaria? Cola o 22 na cabe�a da v�tima, aciona o
<br>gatilho. N�o tem o que errar!
<br>
<br>Darci pensa nas palavras de Galv�o. � isso mesmo. N�o precisava
<br>de pontaria.
<br>
<br>� Sou mais a favor de ser um maconheiro; um porra louca
<br>desses que enchem a cuca de fumo, saem por a�. Conheci um no
<br>M�ier que derrubava cerca de arame farpado no peito. 0 bicho ficava
<br>insens�vel como m�mia. J� imaginou um dem�nio desse com um 22
<br>funcionando?
<br>� Tamb�m pode ser.
<br>� Por isso que acho: suspeitou do passageiro. Delegacia com
<br>ele.
<br>0 conhaque na garrafa baixou, Darci olha o rel�gio, Galv�o
<br>ainda tem uma pergunta a fazer.
<br>
<br>� E aquela vedete? Onde tira a roupa?
<br>Darci mostra os dentes num sorriso c�nico.
<br>� Boazuda. . . Sou seco nela! Faz strip-tease no Bacar�. Toda
<br>noite!
<br>Galv�o chama o gar�om, o motorista quer pagar, o detetive n�o
<br>deixa.
<br>
<br>� Preciso de ti � olhando o bandid�o; isso aqui � por minha
<br>conta.
<br>Galv�o retorna � Delegacia, encontra Itamar que est� nervoso.
<br>V�o para a sala onde as mesas empoeiradas, cobertas de tudo que �
<br>de porcaria, inclusive jornais velhos e garrafas de refrigerantes.
<br>
<br>� Tou sabendo a� de uma pior. Mandei fazer um levantamento
<br>na T�cnica, n�o tem nenhum cabo Os�as.
<br>� Ser� que aqueles jornalistas t�o nos fazendo de besta?
<br>� N�o acredito. Talvez o cara telefone pras reda��es dizendo
<br>que � o cabo Os�as. E quem sabe esse cara que telefona n�o � o pr�prio
<br>matador?
<br>� Que sugere?
<br>� Sei l�. Talvez fosse bom colocar algu�m na escuta.
<br>� De que adianta?
<br>Itamar faz um riso triste.
<br>� �, n�o adianta.
<br>� Claro. 0 sacaneta liga de um orelh�o qualquer, d� a dica.
<br>Como � que se vai fazer pra localizar.
<br>� Tem raz�o. 0 telefone quase nem funciona, quanto mais?
<br>� Isso n�o � Estados Unidos, cara. Aqui se tem de gingar como
<br>boi de carga e pegar merda com a m�o.
<br>� E se a gente levasse novo papo com Humberto e Bira? Quem
<br>sabe n�o podiam funcionar nessa jogada?
<br>� � uma id�ia!
<br>� Quando o cabo Os�as telefonar, procuram se alongar o m�ximo
<br>poss�vel, nos d�o o al�.
<br>� Se a gente tiver girando por a�?
<br>187
<br>
<br>
<br>� Vamos deixar algu�m no plant�o. N�o querem o imposs�vel?
<br>Pois v�o ter de ag�entar. . .
<br>� Boa id�ia. Se bota o Fatia. Quando sair da carceragem emenda
<br>no telefone.
<br>Itamar vai chamar Fatia, o detetive tira o palet�, liga o ventilador,
<br>senta na cadeira empoeirada. N�o estava mais se preocupando
<br>com nada. Depois daquela do cabo Os�as n�o existir, sinceramente
<br>n�o sabe o que dizer. E, o mais dram�tico: sentia n�o ter for�as
<br>de continuar; n�o ter cuca para raciocinar sobre o caso. Depois da
<br>discuss�o com a filha, ent�o, o mundo parecia ainda mais fedorento.
<br>Por que me estrepar todo na ca�ada de um merda, se amanh� ningu�m
<br>vai reconhecer o esfor�o que se fez? Ora, que se danem!
<br>
<br>Itamar entra, chateado.
<br>
<br>� Parece que t� tudo contra a gente. 0 merda do Fatia agora
<br>s� trabalha de noite!
<br>� Melhor. Larga o xadrez pra l�, fica grudado no telefone!
<br>� Se espera ele chegar.
<br>� Damos uma volta por a�, depois aparecemos. N�o quero encontrar
<br>Paranhos. Vai pensar que n�o tamos com nada!
<br>No p�tio Itamar toca a buzina da viatura. 0 calor�o est� firme,
<br>Galv�o de palet� nas costas.
<br>
<br>� � bom se dar uma outra conversada com o pessoal do bicho
<br>e das bancas de jornais. Alguma coisa me diz que se vai terminar
<br>conseguindo.
<br>� Por que acha isso?
<br>� Sei l�, talvez os vinte e tantos anos de janela.
<br>Itamar esfrega o len�o no rosto suado, Nogueira aparece chupando
<br>um picol�. Oferece, Galv�o est� chateado com aquela falta
<br>de vergonha mas n�o ousa reclamar. Afinal, era o jeito dele. Sempre
<br>� vontade, como se estivesse em casa. Nogueira morde um peda�o de
<br>picol�, limt>a a boca.
<br>
<br>� Um cara da Santa Clara veio deixar um bilhete.
<br>Galv�o assusta-se e sente-se indignado ao mesmo tempo.
<br>� E por que n�o mostrou, porra!
<br>� Agora que soube. Quando fui comprar o picol�. Encontrei
<br>com Sete e Meio. Ele quem recebeu.
<br>� Que cara que �?
<br>�-0 preto velho que achei mocorongo!
<br>� � isso a�. De onde n�o se espera. . .
<br>Nogueira procura nos bolsos, retira o peda�o de papel, passa
<br>ao detetive. Em poucas palavras, profundamente mal escritas, o aviso
<br>de que havia pintado um estranho no pr�dio.
<br>
<br>� Porra! Um cara estranho! Ser� que isso faz sentido?
<br>� N�o custa conferir � diz Itamar.
<br>
<br>Entram na viatura, Nogueira arranca, fazendo os pneus cantarem.
<br>Enquanto os ventos quentes da tarde invadem o carro, Galv�o
<br>estuda a hip�tese de transformar esse suspeito no grande criminoso.
<br>Mas sabe que, para isso, deveria haver o m�nimo de condi��es. Do
<br>contr�rio ningu�m acreditaria. Nem o pr�prio Paranhos. Por isso,
<br>preferia aguardar por Darci. Ele sim, podia vir em disparada no
<br>t�xi, frear na porta da Delegacia, saltar empurrando o matador, chamar
<br>a aten��o de todo mundo. Submeteria o suspeito a interrogat�rio,
<br>faria contar a hist�ria completa. Desde o primeiro caso.
<br>
<br>� E se este porteiro tiver querendo fazer m�dia?
<br>� A� se vai pr�s pontos de bicho, pras bancas de jornal.
<br>� Na volta n�o � bom levar um papo com o Humberto e o Bira?
<br>� Correto. Se diz que tem um escuta na Delegacia.
<br>Nogueira est� satisfeito.
<br>� Acho que dessa vez se t� chegando perto!
<br>� Prefiro primeiro falar com esse porteiro.
<br>� N�o falo do porteiro � diz Nogueira. � Acho que o Sete e
<br>Meio, sem querer, deu uma dica.
<br>� N�o acredito naquele alcag�ete sem-vergonha!
<br>� Disse que � um garoto quem abotoou a mulherzinha e o pai
<br>do sargento Beto. Silveirinha deu o servi�o.
<br>� E o que tem uma coisa com outra?
<br>� Sei l�. Pode ser o mesmo garoto. Se tem peito pra enfrentar
<br>o sargento Beto, quanto mais!
<br>� De onde Sete e Meio tirou essa id�ia?
<br>� Pelo que disse, quem deu o al� pra Silveirinha foi um amigo
<br>que ele tem l� pelo morro da Babil�nia. Um tal de Banda Branca.
<br>� Acho que sei quem �. Um p�-de-chinelo. Vive inventando
<br>hist�ria pra fazer m�dia na pol�cia.
<br>� Sei n�o! A essa altura, o melhor � conferir. Por que n�o se
<br>fala com Silveirinha? � indaga Itamar.
<br>Galv�o n�o gostaria que o caso fosse encaminhado daquele jeito.
<br>Detestava trabalhar em cima das dicas alheias. Sempre desvendara os
<br>maiores mist�rios � base de suas pr�prias conclus�es. Por que fugir
<br>� regra? Para evitar aborrecimentos e uma discuss�o in�til com Itamar,
<br>decide que na hora oportuna procurariam Silveirinha.
<br>
<br>� Depois que se meteu nesse caso t� mais vaidoso que Paranhos.
<br>Parece andar com o rei na barriga.
<br>� Acontece que, por enquanto, n�o descobriu nada � diz Nogueira.
<br>� Sabe que o criminoso � um menor porque o sargento Beto
<br>disse.
<br>� E como o sargento soube?
<br>� Ora, mandou brasa num pivete l� na Invernada, o garoto
<br>jurou que ia se vingar. Quando saiu cumpriu a promessa.
<br>� Menino de ra�a!
<br>
<br>� O sargento abusa da fun��o � diz Itamar.
<br>� � como tem de ser. Se n�o se manda pau nessa canalha, a
<br>imprensa esculhamba a gente do mesmo jeito � afirma Galv�o,
<br>amargurado.
<br>� 0 que sei � que o sargento Beto ficou no preju�zo. Perdeu
<br>a mulherzinha que era uma uva � diz Nogueira rindo cinicamente.
<br>� Pelo que ouvi dizer, o pivete n�o tava sozinho.
<br>� Isso tamb�m Silveirinha j� sabe. A per�cia encontrou espermatoz�ide
<br>de dois tipos na pobrezinha. Mandaram lenha nela, antes
<br>de despachar.
<br>Aquelas considera��es de Nogueira v�o fazendo Galv�o imaginar
<br>que talvez estivessem certos. Por que n�o conversar com o detetive,
<br>saber de mais detalhes? E se fosse o mesmo pivete? Afinal, o crime
<br>que praticou era coisa de gente grande. Durante mais de uma semana
<br>os peritos andaram com as m�os na cabe�a, sem saber o que dizer.
<br>Conversaria com Silveirinha, procuraria com o sargento Beto melhores
<br>informa��es a respeito do pivete, pediria fotografias.
<br>
<br>� � uma boa � diz Itamar. � Por enquanto, tudo que cair
<br>na rede � peixe. N�o se pode dispensar coisa alguma.
<br>A viatura p�ra na frente do pr�dio, duas rodas na cal�ada, Nogueira
<br>olha o nome no papel, diz ser na esquina seguinte. Saltam,
<br>Nogueira deixa os vidros baixos, o calor�o estava infernal. Entram
<br>no edif�cio, o crioulo de carapinha branca na portaria. N�o se mostra
<br>surpreso. Nogueira apresenta os companheiros, Galv�o tira o papel
<br>do bolso, p�e na mesa. 0 homem levanta, n�o olha o bilhete, n�o se
<br>incomoda com o nervosismo do detetive.
<br>
<br>� Acho que tenho uma novidade pra voc�s. O jornaleiro da
<br>esquina t� desconfiando a� de um pivete. Garot�o desse tamanho
<br>assim, desaforado. Outro dia, por causa de uma revista, quase vira a
<br>banca do homem.
<br>� E da�? Que tem isso a ver com o caso dos motoristas?
<br>� Na discuss�o o pivete disse que queimava qualquer um; era
<br>s� querer.
<br>� Como � o nome do jornaleiro?
<br>� Todo mundo conhece ele como Manolo!
<br>Galv�o n�o tem mais o que dizer. Nogueira promete ao porteiro
<br>que se daquilo sa�sse uma pista, a recompensa viria. 0 detetive continua
<br>calado. Estava cheio de ouvir conversa fiada.
<br>
<br>� Vai ver o jornaleiro quer sacanear o pivete!
<br>� 0 que tem se ouvir o papo dele? Se bancar o sabido, dou uma
<br>prensa, mando pra Delegacia. Pega um ch� de banco por l�, nunca
<br>mais se mete a engra�adinho.
<br>� 0 porteiro ficou de olho vivo como mandei � lembra Nogueira.
<br>� Se o tal Manolo � mais pilantra que o pivete, n�o tem culpa.
<br>
<br>Chegam � banca. Quem toma a iniciativa � Itamar. O homem
<br>est� arrumando revistas, escondendo as que s�o proibidas por baixa
<br>das prateleiras.
<br>
<br>� Como �, gente boa! Cad� o valent�o?
<br>� O espanhol olha-o surpreso, Itamar exibe o distintivo de
<br>policial.
<br>� Como souberam?
<br>Itamar faz um riso de superioridade.
<br>� Se t� sintonizado, amizade. Pouca coisa escapa!
<br>� Pois �, fiquei furioso com o pivete. Rasgou uma revista,
<br>jogou na minha cara. Quando parti pra cima dele, sacou a arma. A�,
<br>j� viu, n�o sou le�o. Bagun�ou com a banca o que p�de, al�m de
<br>dizer estar acostumado a queimar motorista; podia me fechar na
<br>moleza.
<br>� Pra onde foi?
<br>� Saiu a� pela Nossa Senhora de Copacabana. Fui atr�s com
<br>mais uns dois caras. Na hora n�o apareceu um s� policial.
<br>� Que � que h�? Acha que tem tanto pol�cia assim na cidade,
<br>pra
<br>ficar vigiando cada banca de jornal?
<br>O espanhol compreende a mancada.
<br>
<br>� N�o quero dizer isso; apenas fiquei machucado com o que o
<br>pivete fez.
<br>� Como era a pinta dele?
<br>� Crioulo, quase um metro e setenta, magro, bei�ola virada.
<br>� Tem alguma das revistas que rasgou?
<br>O espanhol procura, encontra fragmentos de uma delas.
<br>� As outras joguei no lixo.
<br>Diz isso entregando a revista rasgada a Itamar. Galv�o se aproxima.
<br>Itamar mete-a no envelope que o jornaleiro lhe oferece.
<br>
<br>� Vamos ver o que as sumidades podem dizer!
<br>O jornaleiro mostra-se atencioso, sorridente, Galv�o n�o acha
<br>gra�a em nada do que diz. Est� � muito chateado de aquele passeio*
<br>n�o levar a coisa alguma. Deviam ter ido para a TV, atr�s de Humberto,
<br>ou conversar com os caras nos pontos de bicho. De volta �
<br>viatura Galv�o conclui que o pivete estava blefando.
<br>
<br>� Se de fato matava motorista, n�o ia dizer. Abriu o bico por
<br>que � vagabundo do segundo time.
<br>� Mas sacou pra decis�o � acentua Nogueira.
<br>� Decis�o coisa nenhuma, cara. Se fosse assim esse espanhol
<br>ainda tava a� contando lorota?
<br>O carro avan�a por ruas de movimento intenso, passa pela pra�a
<br>cercada de amendoeiras, o sol est� quente, mulheres quase nuas, a
<br>caminho da praia.
<br>
<br>� Isso � que � vida e a gente aqui, como barata tonta!
<br>
<br>� Sei n�o. Se se botar a m�o nesse moleque � diz Itamar �
<br>� poss�vel que repita o que disse pro tal Manolo.
<br>
<br>� Acha que um pivete desse tope d� furo n'�gua? Blefou com
<br>o espanhol porque tava dando um show. Entre quatro paredes a cantiga
<br>� diferente.
<br>A viatura aproxima-se da cabine de caminh�o corro�da de ferrugem,
<br>os homens v�o tratando de afastar-se. No ch�o h� muito peda�o
<br>de papel, com jogos feitos e perdidos. Galv�o salta, procura por Jereba.
<br>O baixote, camisa rasgada no peito chama, desconfiado.
<br>
<br>� Jereba�!
<br>� Como t� o jogo?
<br>� N�o � mais como antigamente; agora, poucos jogam, muitos
<br>ganham. . .
<br>� Pra cima de mim? Qual �?
<br>0 baixote remexe nas pules, faz uma anota��o ligeira, mais para
<br>disfar�ar.
<br>
<br>� Juro que � isso. Anteontem mesmo uma dona estourou o
<br>ponto.
<br>� Quanto levou?
<br>� Mais de 50 mil.. .
<br>� O que significa isso, pra quem arrecada uma nota firme
<br>todo dia?
<br>� A�, s� com Jereba. Pelo que sei, n�o t� dando tanto assim.
<br>Jereba se aproxima. Palito na boca, chapeuzinho de feltro, abas
<br>curtas, um toco de l�pis atr�s da orelha, rosto marcado de espinhas,
<br>olhos vermelhos.
<br>
<br>� Oh, l�, gente boa. Como � que �?
<br>Sorri, mostra a falta de dois dentes na frente, os outros amarelos
<br>de cigarro.
<br>
<br>� Poxa! Quanto tempo!
<br>Afastam-se para junto da cabine de caminh�o, completamente
<br>enferrujada. Os bicheiros que est�o por ali tratam de cair fora. Fica,
<br>mesmo, s� o baixote que n�o teve tempo de escapar. Galv�o p�e o
<br>bra�o no ombro de Jereba, fala pausadamente.
<br>
<br>� Tamos a� numa enrascada, preciso da tua ajuda.
<br>� No que puder, pode contar.
<br>� Acho que pode.
<br>Galv�o faz uma pausa, esfrega o len�o encardido no rosto suado.
<br>� O neg�cio � que se t� querendo botar a m�o no moleque que
<br>fecha motorista e n�o h� jeito. T� nos tirando o sono, seu Jereba!
<br>� Puxa! Que diabo � esse?
<br>� � o que pergunto. J� mexi, virei, n�o consigo nem come�ar.
<br>Agora mesmo nos deram um al�, corremos aqui perto, rebate falso.
<br>Tudo conversa fiada.
<br>� Pode deixar. Vou botar os cachorrinhos na jogada.
<br>
<br>� V� bem, Jereba. Nunca te aporrinhei, nunca te pedi nada.
<br>� J� disse. No que depender da turma aqui, pode dormir tranq�ilo.
<br>Galv�o acende um cigarro, olha distante, o p� apoiado num ferro
<br>da cabine enferrujada.
<br>
<br>� Dormir . . . N�o me fa�a rir. N�o sei o que � isso h� semanas.
<br>S� penso nesse assassino filho da puta!
<br>Joga o cigarro fora, olha novamente o baixinho com as m�os e
<br>os bolsos cheios de pules, faz um riso c�nico.
<br>
<br>DOIS
<br>
<br>� Acha mesmo que vai colaborar? � indaga Itamar.
<br>� Como dois e dois s�o quatro. Sabe que n�o sou de dar em
<br>cima, de tomar grana de bicheiro. Baixei porque se t� numa pior. Se
<br>n�o movimentar os cachorrinhos, meto todo mundo em cana. A come�ar
<br>por aquele baixote cara de rato.
<br>� E como se vai saber que t� agindo?
<br>� Um de voc�s fica na campana. Mas tou quase certo de que
<br>nem precisa. Jereba n�o � de negar fogo.
<br>� Vamos pra TV?
<br>� � melhor telefonar antes � diz Galv�o. � N�o se deve demonstrar
<br>muito interesse. Esse pessoal de imprensa t� sempre de p�
<br>atr�s com a gente.
<br>� Tamb�m acho. L� pelas oito dou uma ligada. A� se transa.
<br>Nogueira toca na dire��o da Delegacia, sem muita pressa.
<br>� Aquele espanhol � engra�ado � diz ele. � Ser� que houve
<br>mesmo a bronca do pivete?
<br>� Dif�cil dizer. Essa cambada de jornaleiro t� metida em tudo
<br>que n�o presta. Vai ver, passou o pivete pra tr�s, ele foi l� descontar!
<br>� A hist�ria n�o tem p�, nem cabe�a � afirma Itamar. � Um
<br>garoto olha a revista, depois resolve rasgar, jogar no cara. J� imaginou?
<br>� Pra cima de mim n�o.
<br>� Essa n�o cola. Se tivesse tempo ia saber fundo sobre aquele
<br>safado. Tou apostando que naquele mato tem coelho.
<br>� No momento n�o se pode pensar em outra coisa que n�o
<br>seja no tal matador louco.
<br>Perto da pracinha o detetive manda Nogueira tomar o rumo da
<br>Invernada.
<br>
<br>� Vamos pra l�. Talvez um papo com o sargento Beto ajude!
<br>� Pode ser uma boa.
<br>
<br>� De acordo com o que disser, se sobe o morro.
<br>� Onde h� fuma�a h� fogo � afirma Nogueira. � O Sete e
<br>Meio pode ser um merda mas n�o ia nos jogar areia no olho.
<br>� Ele que experimente! � diz Galv�o.
<br>� Engra�ado . . . n�o me lembro desse tal de Beto!
<br>� Puxa, o cara mais manjado da Invernada � afirma Nogueira.
<br>� Barra pesada � considera Galv�o.
<br>� Quem t� acostumado a bater n�o sabe trabalhar de outro jeito.
<br>Pega o moleque, manda cacete, ele conta uma hist�ria, o escriv�o
<br>mete o jameg�o, joga pra cima da Justi�a.
<br>� A�, a turma da Justi�a tira o corpo, pede novo depoimento. . .
<br>� A essa altura j� � outro dia � diz Nogueira sorridente. �
<br>� o que o sargento Beto sempre gostou de fazer. Houve um tempo
<br>que resolvia qualquer caso em menos de 24 horas. Ficou famoso.
<br>Quando a coisa chegava no Tribunal, voltava mais depressa do que
<br>tinha ido.
<br>Todos acham gra�a.
<br>
<br>� De qualquer forma n�o me lembro da cara dele.
<br>� E um parrudo, ar de quem acabou de dormir!
<br>� Empurra uma cacha�a que n�o � mole . . .
<br>� Gosta tamb�m de grana. T� sempre bem de vida. Da �ltima
<br>vez que encontrei com ele ia num Dodge Dart zerinho. Sem que perguntasse
<br>coisa nenhuma, foi logo dizendo que tava estreando o carro
<br>do irm�o, que � dentista.
<br>� Isso � verdade?
<br>� Duvido muito � afirma Nogueira. � Acho que n�o tem
<br>irm�o
<br>nenhum.
<br>Nova risada.
<br>
<br>� O certo � que dessa vez levou ferro.
<br>� Sei l�. Sem-vergonha como �, vai ver t� at� gostando. Procura
<br>outra mulherzinha, come�a tudo de novo.
<br>� E o pai dele?
<br>� Bem, a� a coisa muda um pouco de figura. Assim mesmo,
<br>n�o sei se gostava do velho. Ali�s, pelo que dizem do sargento Beto,
<br>n�o sei do que ele gosta.
<br>� De espancar. � sua divers�o. Em seis anos de Invernada,
<br>nunca
<br>faltou um dia. E sempre comanda o espet�culo . . .
<br>Mais risos, uma considera��o de Itamar.
<br>
<br>� A fun��o do policial n�o � essa. A n�o ser em caso extremo!
<br>� Tou contigo � diz Nogueira. � 0 certo � trabalhar como
<br>se trabalha.
<br>� S� boto a m�o num vagabundo em �ltimo caso. Como agora
<br>� acentua Galv�o. � Se pego esse matador, acabo com ele.
<br>
<br>� Esse caso em que se t� metido � exce��o � afirma Nogueira.
<br>� Eu baixava o cacete em qualquer um. mesmo em suspeito. Do contr�rio,
<br>onde � que se vai parar?
<br>Galv�o acha gra�a, Itamar n�o consegue manter-se s�rio.
<br>
<br>� No fundo � diz o detetive � sargento Beto t� certo. � a
<br>lei do menor esfor�o. O malandro leva uma pauleira, em poucos instantes
<br>d� o servi�o. Se tem peito de abrir o bico na Justi�a, a coisa
<br>emperra. E � por isso que se chegou a essa situa��o. Em vez de dar
<br>ganho de causa pra gente, os merit�ssimos ficam do lado do bandido.
<br>Coisa de intelectual. N�o d� pra entender!
<br>� � dif�cil � afirma Itamar. � Por isso. tou decidido: terminado
<br>esse caso, se n�o vier um bom aumento, procuro outro bico.
<br>� Eu j� defini a situa��o. Com ou sem aumento vou tirar f�rias.
<br>Depois, licen�a sem tempo. Que se dane o resto. Quero saber das
<br>perip�cias pelo jornal.
<br>� Aposto que n�o ag�enta o peso do pijama uma semana �
<br>diz Nogueira.
<br>
<br>� Espera s� pra ver .. . A melhor vida � ficar estirado na cama
<br>at� tarde, tomar caf� a hora que bem entender. Depois, uma voltinha
<br>na esquina, papear com os amigos, biritar um pouco, estender-
<br>se na poltrona, passar a vista nos jornais. Se me der na veneta, arranjo
<br>at� um despachante pra cuidar da aposentadoria. Assim, n�o ponho
<br>mais os p�s em reparti��o da pol�cia.
<br>� Sei n�o. Depois de um m�s vai t� querendo voltar. Essa profiss�o
<br>� v�cio.
<br>� J� foi. Hoje n�o � mais. Servi de boneco na m�o de muito
<br>sabido, agora chegou. At� o Paranhos querendo montar nas minhas
<br>costas. Que � que h�, sou algum vira-bosta?
<br>A viatura entra na rua larga, cal�amento irregular, po�as de
<br>�gua suja, fundos de quintais com muros baixos, p�s de mamoeiros
<br>entanguidos, frutos mirrados no tronco, folhas amarelecendo naquele
<br>solz�o da tarde de ver�o das mais quentes que Galv�o j� vira. Diversas
<br>vezes passou o len�o no rosto, sente o suor escorrer no peito
<br>e nas costas, est� com as virilhas encharcadas. Sua vontade era meter-
<br>se no banheiro, abrir a ducha fria, ficar sentado no banquinho
<br>de ferro, que Julieta encontrou no antiqu�rio. Depois, calmamente,
<br>se enxugaria, andaria nu pela casa, tomando u�sque com gelo e vendo
<br>futebol na televis�o. Em vez disso, ali estava, num lufa-lufa infernal,
<br>Nogueira garantindo que n�o suportaria o peso do pijama, ele pr�prio
<br>sem saber se o companheiro tinha raz�o ou n�o. Na verdade,
<br>aquela profiss�o estava no seu sangue. Se lembra desde o primeiro
<br>dia. Como foi emocionante. E como se chateou pouco, quando soube
<br>do ordenado, no primeiro m�s de pagamento. Quase todos os outros
<br>colegas discutiram, alguns amea�aram n�o voltar no dia seguinte. Ele,
<br>n�o. Achava que, com o tempo, as coisas podiam melhorar. 0 impor
<br>
<br>
<br>
<br>tante seria fazer aquilo que gostava. E do que � que gostava? De sair
<br>pelas ruas, entrando nas casas, prendendo pessoas inocentes, como
<br>uma vez o cara na porta do bar lhe dissera? Nada disso. Aquele moleque
<br>estava b�bado, n�o passava de um debochado. Pegou dois dias
<br>de cana e saiu de cara amarrada. Foi o primeiro inimigo que fez.
<br>Mas, dali em diante, o que mais o atra�a, era o mist�rio. O desejo de
<br>descobrir situa��es dif�ceis, quase imposs�veis para os outros. Uma esp�cie
<br>de jogo. De roleta. Se aposta num n�mero, a roda p�e-se a girar,
<br>ningu�m sabe quem vai ter sorte. Policial seria aquilo? Estava
<br>certo que sim. Do contr�rio n�o teria resistido a tanto. Mais de 25
<br>anos de profiss�o, poucas faltas, duas ou tr�s repreens�es, alguns elogios,
<br>nenhuma licen�a especial, mais de 300 casos resolvidos, entre
<br>grandes e pequenos. Houve um tempo em que se dava ao trabalho de
<br>fazer essas anota��es. Julieta, mesmo contra a vontade, escrevia isso
<br>tudo num caderno de muitas p�ginas. �s vezes, nas folgas, olhava as
<br>
<br>anota��es. Uma esp�cie de di�rio de bordo. Mas, na verdade, n�o sabia
<br>em que �guas seu barco estava navegando. Nem a pobre Julieta. Hoje,
<br>n�o gostaria de abrir aquele caderno. Sabe que deve estar metido em
<br>alguma das muitas gavetas dos m�veis, n�o queria v�-lo. Coisa do
<br>passado. Do tempo em que procurava dar tudo de si. E de que adiantou?
<br>Al�m da partida de Julieta, o desastre com a filha. Isso, o que
<br>mais o magoava. N�o teve compet�ncia de entender-se com a filha.
<br>Que merda de policial era ele? Se n�o conseguia resolver seus pr�prios
<br>problemas, como sentir-se autorizado a solucionar problemas
<br>alheios, da sociedade? N�o era de agora que agia como um farsante.
<br>E o sargento Beto n�o devia ser diferente. N�o fosse assim, talvez o
<br>movesse uma esp�cie de vingan�a. O que sempre procurara evitar. Na
<br>verdade, cada um tem suas raz�es. O pr�prio Itamar. quando tivesse
<br>mais tempo de profiss�o, terminaria com o resto de boas maneiras.
<br>
<br>� A fun��o do policial n�o � essa . . .
<br>N�o sabia direito o que estava dizendo, n�o topara com situa��es
<br>realmente dif�ceis. Aquela, podia ser a primeira. E ele ia ficar curtido.
<br>Se n�o se pega o assassino, num instante se passa de perseguidor
<br>a perseguido. Essa � a lei.
<br>
<br>Entram no sagu�o cimentado, arbustos floridos junto ao muro
<br>enegrecido, Nogueira na frente, sobem o lance de escada, continuam
<br>a caminhar pelo corredor de t�buas gastas, chegam � sala onde h�
<br>dois homens escrevendo � m�quina, um deles reconhece Galv�o. Levanta,
<br>vem conversar.
<br>
<br>� Se t� querendo um papo com o sargento Beto.
<br>O homem consulta o colega, o sargento deveria estar no pavilh�o
<br>4.
<br>
<br>� Como se chega l�?
<br>� Vou com voc�s.
<br>196
<br>
<br>
<br>O homem passa para o lado do corredor, continua a falar com
<br>Galv�o, reclama do tempo consider�vel em que estavam sem se ver.
<br>
<br>� Na luta em que se vive n�o se consegue nem falar com os
<br>amigos.
<br>V�o caminhando, tornam a descer pequena escada, atravessam
<br>
<br>o p�tio cimentado, muros alt�ssimos, traves de futebol de sal�o, entram
<br>por uma esp�cie de galp�o parcialmente destelhado, passam pelos
<br>carros abandonados, viaturas ainda novas se estragando por falta
<br>de uma pe�a ou de outra, descem a escadaria estreita e fria.
<br>� � aqui que se esconde.
<br>Galv�o faz um riso amarelo, o homem empurra uma porta, vai
<br>ao encontro do tipo parrudo, cara redonda, olhar severo. Todas as
<br>l�mpadas do sal�o est�o acesas, os ventiladores giram furiosamente.
<br>
<br>� Sou o detetive Galv�o. Tamos a� numa pauleira; no tal caso
<br>dos motoristas.
<br>0 sargento fixa-o, sorri, a obtura��o de ouro de um lado.
<br>No que posso ajudar?
<br>
<br>� Talvez sua ajuda venha a ser indireta.
<br>0 sargento sente que a conversa vai se alongar, convida o detetive
<br>e seus amigos para uma sala. Ali a temperatura � amena, pois
<br>existem dois aparelhos de ar-refrigerado funcionando. Na cadeira que
<br>� do sargento h� uma toalha, a qual ele esfrega no rosto e nos bra�os.
<br>
<br>� Isso aqui, num dia como hoje, � um forno!
<br>Galv�o, Nogueira e Itamar acomodam-se em poltronas confort�veis.
<br>0 sargento toca uma campainha, aparece o cont�nuo.
<br>
<br>� Arranja caf� e �gua gelada!
<br>Senta, afasta pequenos objetos e pap�is que est�o sobre a mesa.
<br>� Em que posso ser �til?
<br>Galv�o acende um cigarro, oferece ao sargento e aos amigos.
<br>� Como disse, tamos numa guerra braba e praticamente sem
<br>resultado. Foi ent�o que ouvi um sem-vergonha dum alcag�ete falando
<br>naquele maldito pivete que invadiu sua casa.
<br>� Acha que � o mesmo?
<br>� N�o fa�o id�ia, mas tudo � poss�vel!
<br>� Realmente o cara � frio. Nunca pensei que fosse cumprir a
<br>amea�a.
<br>Galv�o cruza as pernas, o cont�nuo volta com a bandeja repleta
<br>de x�caras, colherinhas, a�ucareiro e um frasco de �gua gelada.
<br>
<br>� Que diabo de pivete � esse?
<br>� Sinceramente, n�o sei. Baixou um dia aqui, fazia perguntas,
<br>n�o respondia.
<br>� Tinha antecedentes? � quer saber Itamar.
<br>� Pelo que me informaram, uma entrada na 13.a Coisa sem
<br>import�ncia.
<br>� Quanto tempo ficou?
<br>
<br>� Uns quatro meses. 0 pessoal do Juizado entrou em cena, foi
<br>transferido.
<br>� Tem alguma fotografia dele?
<br>0 sargento ergue-se, puxa uma gaveta do arquivo, tira a pasta,
<br>abre. H� diversas fotos 9 x 12, pap�is, recortes de jornais. Galv�o
<br>examina bem a cara do pivete.
<br>
<br>� �, o bicho parece raivoso!
<br>0 sargento como que acompanha a observa��o.
<br>� Atualmente, posso dizer que sei tudo sobre esse garoto. Quem
<br>s�o os pais, o barraco onde mora, os amigos que tem. Tou esperando
<br>a hora de agir. Silveirinha acha que vou estragar minha carreira, mas
<br>seja o que Deus quiser.
<br>� E se outros fizerem isso?
<br>� N�o � a mesma coisa . . . Avisei inclusive a chefia. Para surpresa
<br>minha, ganhei carta branca.
<br>� Como t�o as investiga��es?
<br>� Por enquanto na base da especula��o. Mandei convocar outro
<br>dia o alcag�ete que mora l� mesmo no morro.
<br>� Que morro?
<br>� Babil�nia!
<br>� Qual foi o al� do alcag�ete?
<br>� 0 pivete se mandou. Tanto ele quanto uns amiguinhos que
<br>tinha. Mas n�o custa aparecer. A� se arrasta pra c�.
<br>� Trabalha com algum parceiro?
<br>� Pelo que atestou o perito Rui Lobo teve l� em casa com um
<br>coleguinha.
<br>Itamar encara Galv�o.
<br>
<br>� Ser� que esse bicho nos interessa?
<br>� Espero que n�o � argumenta o sargento Beto. � Se isso
<br>acontecer, juro que vou me sentir frustrado e sou capaz de perder
<br>a cabe�a.
<br>� Talvez n�o seja exatamente ele que se quer . . .
<br>� Quem s�o os cupinchas dele?
<br>0 sargento mexe nos pap�is, puxa uma lauda.
<br>� Pelo que informa o alcag�ete, v�rios: um tal de Colher de
<br>Pau, um outro, Banz�, um terceiro que t� sumido faz tempo, chamado
<br>Toninho, dois com fichas em tr�s Delegacias: Zebrado e Cavalo
<br>do C�o.
<br>� � uma quadrilha!
<br>� 0 alcag�ete tem sua filosofia a respeito dessa garotada �
<br>prossegue o sargento, calmamente. � Ou todos eles s�o muito vivos,
<br>ou andaram se dividindo. O tal do Toninho n�o � visto pelo morro
<br>h� mais de cinco anos, o Colher de Pau passou uns tempos por aqui,
<br>mandei em frente, ando querendo botar a m�o no Banz�. Me disseram
<br>que � mais imundo que pau de galinheiro.
<br>
<br>
<br>� Especialidade?
<br>� Assaltar motel. Faz mis�ria com os casais, quase ningu�m
<br>aparece pra dar queixa.
<br>� Puxa! Descobriu um bom ramo � diz Nogueira querendo
<br>fazer blague, mas o sargento n�o acha gra�a.
<br>� Se a gente botar a m�o nesse tal de Banz�, ser� que d� o
<br>servi�o?
<br>_ Pode n�o saber a hist�ria toda, mas deve ter muito o que
<br>contar. Ningu�m me tira da cabe�a que n�o tejam agindo em conjunto.
<br>
<br>
<br>� E por onde andar� o Banz�?
<br>� O alcag�ete garante que umas duas vezes foi visto na zona
<br>do Mangue, uma terceira na Lapa.
<br>� Quem � o alcag�ete?
<br>� Um tal de Banda Branca. Sujeitinho chato e metido. Se d�
<br>o p�, quer a m�o!
<br>� Posso ficar com uma foto dessas? � indaga Galv�o.
<br>� Escolha a que achar melhor � diz o sargento, que come�a
<br>a procurar um envelope.
<br>� S� lhe pe�o um favor: caso descubra o pivete antes da gente,
<br>n�o deixe de me dar um al�; � uma quest�o de
<br>honra.
<br>0 detetive levanta, os companheiros fazem o mesmo.
<br>
<br>� Pode deixar. Trato � trato!
<br>TR�S
<br>
<br>Na Delegacia o movimento � pequeno. Fora o bilhete de Paranhos,
<br>cobrando solu��o para o caso, nada h� que contrarie Galv�o.
<br>Olha o bilhete em letrinhas mi�das, tem vontade de ligar pro delegado,
<br>mand�-lo � merda. 0 que pensava aquele cretino? Que estavam
<br>passeando, divertindo-se? Acomoda-se na cadeira, apoia os p�s
<br>na mesa, Itamar sai para telefonar. Galv�o sacode-se na cadeira, volta
<br>a olhar a fotografia do pivete. Seria aquilo uma solu��o? Aquele
<br>
<br>o dem�nio que o perseguia h� tanto tempo? E se subisse o morro,
<br>localizasse o tal Banda Branca, levasse um papo aberto com ele?
<br>Itamar entra, diz que Humberto ainda n�o chegou, Bira pega
<br>depois das 9.
<br>
<br>� Fica de olho! Da televis�o se vai direto procurar o guarda-
<br>noturno.
<br>A fotografia do pivete est� sobre a mesa. Itamar tamb�m olha.
<br>
<br>� Pode ser uma pista?
<br>
<br>� Sei l�! De qualquer forma vamos ter de procurar o alcag�ete.
<br>N�o creio tenha contado a hist�ria toda pro sargento Beto.
<br>� Parece que n�o � de muita trela.
<br>� Fechad�o! Sem mal�cia pra lidar com esse tipo de gente!
<br>� Se descobrir o pivete, entrega?
<br>� Aqui!. . . Ele que fique esperando!
<br>Itamar acha gra�a.
<br>� E o aperto de m�o, selando o compromisso?
<br>� Coisa do passado. N�o tem mais neg�cio de �tica nem porra
<br>nenhuma! 0 bandid�o � de quem chegar primeiro. Se o sargento t�
<br>com dor de corno que se vire. N�o tou nem a�!
<br>Ouve-se barulho no corredor, vozes, um homem berrando, outros
<br>mandando que se ag�entasse, um tipo extremamente nervoso, empurr�es,
<br>ru�do de cadeiras arrastadas. Galv�o e Itamar saem da sala
<br>�s pressas.
<br>
<br>� Que � isso?
<br>Um dos policiais segura o tipo de �culos, magro e apavorado,
<br>um lado do rosto com bruto hematoma, por tr�s do segundo policial
<br>aparece o motorista de cal�a caqui arrega�ada, suado, olhos vermelhos.
<br>Aproxima-se de Galv�o.
<br>
<br>� Tentou me assaltar. Vi toda a manha dele. N�o me abotoou
<br>porque
<br>fui mais vivo.
<br>Galv�o despacha os policiais, entrega o cara a Itamar. vai at�
<br>
<br>o bar com o motorista, pede uma garrafa d'�gua, enche dois copos.
<br>� Como foi?
<br>Darci toma o primeiro gole, est� de fato alarmado.
<br>� Juro que o filho da m�e quis me acertar!
<br>� Alguma arma na m�o dele?
<br>� N�o me lembro. Mas reparei bem quando tentou me segurar
<br>por tr�s.
<br>� Segurar? Em que altura foi?
<br>� Final do Posto Seis; perto do ponto de �nibus.
<br>� E n�o era cedo pro bandid�o t� agindo?
<br>� Acha que um tipo desse tem hora pra alguma coisa?
<br>Galv�o manda que Darci se acalme.
<br>� G�enta a m�o. Daqui a pouco d� um al� pro escriv�o, bota
<br>tudo preto no branco. A� vou ver se o pilantra � mesmo quente.
<br>O motorista desdobra as pernas da cal�a, vem para a sala onde
<br>h� diversos funcion�rios da pr�pria Delegacia, o homem com o hematoma
<br>no rosto, palavras que n�o fazem sentido. Itamar mandou
<br>que repetisse a hist�ria, o suspeito parece assustado.
<br>
<br>� N�o sei do que t� falando! Sou de responsabilidade. Pode
<br>ver meus documentos.
<br>
<br>Os documentos est�o sobre a mesa, Galv�o p�e-se a examinar.
<br>Pelo visto, est� tudo em ordem, mas n�o era bobo de perder aquela
<br>chance.
<br>
<br>� A carteira profissional?
<br>� N�o preciso andar com ela. Sou Veterin�rio, leciono na Universidade.
<br>� s� ligar pra l�.
<br>Galv�o faz um arzinho de riso. N�o ia cair nessa.
<br>
<br>� Todo vagabundo tem uma conversa diferente. Por que ent�o
<br>quis segurar o motorista?
<br>� Esse cara � maluco. Quando entrei no carro, tava quase dormindo.
<br>Duas vezes ia batendo. Me apavorei com a irresponsabilidade
<br>dele, mandei que parasse. Como n�o queria, ameacei descer de qualquer
<br>jeito!
<br>Darci ouve a acusa��o, revolta-se.
<br>
<br>� Dormindo coisa nenhuma. Se fosse assim n�o tava aqui pra
<br>contar hist�ria!
<br>0 detetive manda que o motorista cale, Itamar leva-o para um
<br>canto com o escriv�o, Darci p�e-se a narrar sua vers�o, ao mesmo
<br>tempo em que Galv�o interroga o suspeito: alto, magro, cabelos
<br>ficando grisalhos, hematoma quase em cima do olho esquerdo.
<br>
<br>� 0 que pretendia fazer? Onde botou a arma?
<br>� Que arma? Nunca andei armado. N�o sou do tipo que t�
<br>imaginando.
<br>0 suspeito irrita-se, tenta erguer-se, os policiais n�o deixam.
<br>
<br>� Quero meu advogado!
<br>� Calma � diz Galv�o. � Aqui, n�o adianta berrar. Tinha
<br>de pensar na complica��o antes de tentar abotoar o motorista. Ou
<br>acha que o profissional � maluco?
<br>� Se � maluco, n�o sei. Que n�o tem condi��o de t� dirigindo
<br>um
<br>t�xi, isso n�o tem. � um neur�tico!
<br>Essa acusa��o Darci n�o parece ouvir. Galv�o impressiona-se com
<br>
<br>o palavreado do cidad�o que, na verdade, n�o � pr�prio de um delinq�ente.
<br>Ou ser� que aquele era um esp�cime novo na pra�a? Imposs�vel
<br>saber. 0 melhor seria alongar aquele interrogat�rio e sem o
<br>ajuntamento de curiosos. N�o podia perder a chance, nem permitir
<br>que a coisa se transformasse num show. Quem quisesse saber do caso
<br>que lesse nos jornais. Galv�o aciona uma tecla do interfone, a Delegacia
<br>est� movimentada, manda que o carcereiro suba.
<br>� Vai ficar guardado umas horas, at� recordar de tudo. Enquanto
<br>n�o contar o que de fato fez, n�o tira o p� daqui. N�o tem
<br>advogado, n�o tem nada.
<br>0 carcereiro aparece.
<br>
<br>� Leva pra l�. Bota no isolamento!
<br>
<br>Com a sa�da do tipo de �culos, a sala come�a a esvaziar. Falando
<br>alto, gesticulando muito, Darei continua a depor. O detetive
<br>aproxima-se.
<br>
<br>� O homem t� dizendo que te viu dormindo na dire��o . . .
<br>� Eu dormindo? Duvido. Viro 18 horas e quando chego em
<br>casa ainda vou ver televis�o.
<br>� Quem sabe na hora que pegou o cara o sono chegou?
<br>� Comigo n�o tem moleza. Quando saio de casa � pra trabalhar.
<br>Nunca durmo.
<br>Galv�o est� certo de que as alega��es de Darci s�o infundadas.
<br>Sabe, mas n�o tem outro jeito. Seu desejo � que o motorista v� logo
<br>embora, deixe o fato registrado, que todo mundo saiba, inclusive,
<br>que chegou a fazer pondera��es em defesa do acusado.
<br>
<br>� Se o homem for um figur�o?
<br>� Que tem isso? Tentou me matar, � o bastante. Ou assassino
<br>s� pode ser quem � pobre?
<br>Galv�o acha gra�a. At� parece que o motorista lia seus pensamentos.
<br>Exatamente a resposta que gostaria de ouvir. O escriv�o vai
<br>acrescentando linhas e mais linhas, a m�quina trabalhando sem parar.
<br>
<br>� Tenho mulher e tr�s filhos, n�o posso dar bandeira. No dia
<br>que um vagabundo desse me fechar, quem vai tomar conta das crian�as?
<br>Por isso ando prevenido. E n�o durmo coisa nenhuma.
<br>0 escriv�o chega ao final da segunda lauda, tira o papel da m�quina,
<br>Itamar oferece uma caneta ao motorista. Assina, exibe os documentos,
<br>faz um sorriso de satisfa��o, retira-se. 0 escriv�o recolhe
<br>os pap�is, d� uma leitura r�pida, entrega a Galv�o.
<br>
<br>� Parece que o motorista t� motivado. Pra fazer uma acusa��o
<br>desse tipo, tem de saber o que diz.
<br>� Mas que � igual a um soneca, isso � � acentua Itamar.
<br>� Se a gente for atr�s disso n�o prende ningu�m!
<br>� Que pretende?
<br>� Ouvir o homem; fazer ele falar. Essa de jogar palavreado
<br>bonito em cima de mim n�o cola.
<br>� Acha que t� mesmo implicado?
<br>� E por que n�o? Pensa que o motorista perdeu mais de tr�s
<br>horas de trabalho por brincadeira?
<br>� Onde pode ser?
<br>� Aqui n�o � o melhor lugar. Talvez na 17.a, por volta das 11.
<br>� 0 que se diz pro pessoal daqui?
<br>� Vai tirar uma d�vida. Ningu�m tem de saber detalhes. Quem
<br>l� interessado em nos ajudar? Ent�o, por que explica��es na hora
<br>que se pode ter uma pista?
<br>Itamar convencido de que era aquilo.
<br>
<br>� E a televis�o?
<br>
<br>� Fica pra amanh�. O guarda-nortuno, tamb�m. Primeiro o
<br>papo com o cara.
<br>� Quem pode refor�ar o esquema?
<br>� Papo de Anjo e Baiacu. Sabem trabalhar.
<br>Itamar sai da sala, o escriv�o fura os pap�is assinados por Darci,
<br>coloca-os na pasta. Galv�o sente-se um tanto tranq�ilizado. Pela primeira
<br>vez, em diversas semanas, tem certeza de ser encarado com
<br>respeito.
<br>
<br>� Parece que agora a coisa vai, seu Beija-Flor. Se esse filho
<br>da m�e desengasga, livra o nosso lado.
<br>� 0 motorista garante topar a acarea��o.
<br>� Conversei com ele. � seguro!
<br>� E se na hora H resolve tirar o time?
<br>� A� se d� um pau nele; n�o � poss�vel que esse merda venha
<br>aqui contar um caso, assinar embaixo, depois roer a corda. Comigo
<br>n�o!
<br>0 escriv�o sai com a pasta, Galv�o fica sozinho na sala atravancada
<br>de mesas, cadeiras, arm�rios e arquivos de metal, um ventilador
<br>funcionando no teto. Olha pela janela o pr�dio iluminado, l� longe,
<br>n�o sabe por que, recorda de Sandra. �quela hora ainda estaria na
<br>porcaria do conjugado ou a caminho da boate? Como poderia saber?
<br>Lamentava a separa��o. Quando isso se consumou, passou a sentir-se
<br>sozinho no mundo. Se aquele vagabundo l� pelas tantas decidisse afirmar
<br>que matava motoristas; que havia fechado mais de oito em quatro
<br>semanas, n�o tinha com quem repartir a satisfa��o de ser o policial
<br>que solucionou o caso. Se era assim, de que valia acabar-se;
<br>gastar-se, irritar-se? No m�ximo alguns amigos se reuniriam no boteco
<br>mais pr�ximo, encheriam a cara. E que amigos seriam esses?
<br>Os mesmos que desejavam ver sua caveira, a caveira de Itamar. O
<br>pr�prio Paranhos com preven��o contra o rapaz. Se descobrisse o fio
<br>da meada, n�o aceitaria drinque de ningu�m. Que fossem brindar no
<br>inferno. Ouviria o suspeito bem longe, por l� ficaria guardado uns
<br>tempos. Quando Paranhos perguntasse, diria que o assunto estava sendo
<br>encaminhado. Logo que as coisas se aclarassem, apresentaria o
<br>homem.
<br>
<br>� Tou me cingindo de todo cuidado; n�o posso dar murro em
<br>faca de ponta!
<br>Isso tranq�ilizaria o delegado. E, o que � melhor, n�o lhe daria
<br>margem para fazer publicidade � sua custa. Os jornalistas chegariam
<br>perguntando pelo suspeito, Paranhos n�o teria o que dizer; p�s
<br>e m�os amarrados.
<br>
<br>� E o motorista?
<br>Sobre o profissional Paranhos poderia falar. Era at� bom. Engrossaria
<br>o caldo. Quanto mais Darci se alongasse nas entrevistas,
<br>mais se envolveria, maior sua responsabilidade.
<br>
<br>
<br>� N�o fiz sen�o cumprir meu dever. Contactei v�rios motoristas,
<br>inclusive o que encontrou o suspeito. Esteve na Delegacia, documentou
<br>o que afirmava. N�o tenho culpa se deu tudo em nada.
<br>Um �libi perfeito. 0 magistrado no beco sem sa�da. Se exigisse
<br>maior perspic�cia, daria um jeito de mostrar, com palavras amenas,
<br>que nunca fora m�gico.
<br>
<br>� Tenho de me louvar nos fatos; e a den�ncia feita em cart�rio
<br>� um fato!
<br>Vontade de rir. 0 que n�o conseguia entender era se Darci estava
<br>apenas representando ou se aquele branqueia de uma figa tentou,
<br>mesmo, assalt�-lo. Recorda a cara do suspeito, hematoma por
<br>baixo do olho esquerdo, tem quase certeza de que n�o passava de um
<br>gaiato. Itamar retorna informando haver convocado Papo de Anjo
<br>e Baiacu.
<br>
<br>� V�o querer um cach�, hoje t�o de folga!
<br>� D� quinhentos pra cada, p�e na conta do doutor Paranhos!
<br>Tamos a servi�o do Estado.
<br>� E pro Humberto e Bira, o que digo?
<br>� Marca pra amanh�. Surgiu um imprevisto.
<br>Itamar faz anota��es na caderneta, Galv�o continua a falar,
<br>como se monologasse.
<br>
<br>� Amanh�, tamb�m, se descobre tempo de subir o morro. Alguma
<br>coisa me diz que o pivete t� na jogada. � bom se conhecer o
<br>tal Banda Branca. Tenho certeza que vai se abrir. N�o contou a
<br>hist�ria toda por causa da arrog�ncia do sargento Beto. N�o fui
<br>muito com a cara dele. Demonstrou o tempo todo que sabe o que
<br>faz. Silveirinha � apenas um imbecil que desenvolve suas teorias.
<br>Imagine, s�!
<br>� E se o acusado abrir o livro?
<br>� A� se compra vela da melhor cera, acende pra Nossa Senhora
<br>de F�tima. Volto aqui falando alto com doutor Paranhos, mando
<br>ele pra puta que pariu!
<br>Itamar ri.
<br>
<br>� Uma coisa lhe digo � acentua Galv�o � come�a a chover
<br>na nossa horta.
<br>� E Nogueira? Vai com a gente ou n�o?
<br>� Que d�vida � essa? Claro que vai!
<br>� Sei l�! Pensei que n�o quisesse espalhar a coisa.
<br>� Nogueira n�o � de abrir o bico!
<br>Itamar disca um n�mero, repete a chamada.
<br>� Humberto ainda n�o chegou.
<br>Galv�o est� novamente com as pernas estendidas na ponta da
<br>mesa, n�o se incomoda com a observa��o do amigo.
<br>
<br>� Pede pra Beija-Flor arranjar xerox da declara��o do motorista.
<br>Vamos levar!
<br>
<br>� Se Humberto n�o aparecer at� a gente sair?
<br>� Que tem isso? Liga mais tarde.
<br>Galv�o puxa tragadas do cigarro, algumas janelas do pr�dio em
<br>frente � Delegacia est�o no escuro. Olha o rel�gio, faltam poucos
<br>minutos para as dez. Torna a chamar o carcereiro, dessa vez quem
<br>aparece � Fatia.
<br>
<br>� Como t� nosso h�spede?
<br>� Meio esquisito.
<br>� Esquisito, como?
<br>� Vomitou a cela toda, t� berrando pelo tal advogado!
<br>� Dentro de uma hora vamos levar ele pro advogado. Pode
<br>dizer!
<br>Fatia vai embora. Galv�o sopra a fuma�a do cigarro nas brisas
<br>que penetram o sal�o tranq�ilo da Delegacia.
<br>
<br>QUATRO
<br>
<br>A viatura entra por uma rua deserta, Nogueira passa lentamente
<br>no grande buraco aberto no asfalto, Galv�o quase n�o falou todo o
<br>percurso. Itamar disse algumas palavras que foram respondidas por
<br>Nogueira. 0 detetive s� se ligava nas queixas do suspeito. Algemado,
<br>no banco de tr�s com Itamar, de quando em vez o homem se lamentava.
<br>
<br>
<br>� Tou certo de que v�o confirmar: n�o tenho nada com nada!
<br>Agora, quando a viatura se aproximava do extenso muro, port�o
<br>coberto de ferrugem, o suspeito quase n�o falava. Uma hora em
<br>que tentou alongar-se o detetive determinou que permanecesse calado.
<br>Itamar deu-lhe um safan�o. 0 carro entra, avan�a pelo p�tio
<br>de terra solta, pequenas �rvores, algumas l�mpadas iluminando o
<br>vazio.
<br>
<br>� Ser� que Papo de Anjo e Baiacu t�o a�?
<br>� Prometeram chegar na hora.
<br>As portas da viatura se abrem. Desce Nogueira, desce Galv�o,
<br>Itamar empurrando o suspeito. Encaminham-se para a porta, onde
<br>havia a l�mpada pendurada.
<br>
<br>� Que v�o fazer?
<br>Nenhum dos policiais diz coisa alguma. Itamar empurra o
<br>homem.
<br>
<br>� Vamos l�! J� conversou demais!
<br>Entram pelo corredor, descem a escada larga, degraus irregulares,
<br>praticamente �s escuras. Pesada porta abre-se para o amplo
<br>
<br>
<br>sal�o, onde h� l�mpadas fortes, poltronas velhas, mesas, arquivos.
<br>Dois homens musculosos, que jogavam baralho, erguem-se de uma
<br>das mesas. 0 crioulo � Papo de Anjo; o mulato, gordo, Baiacu. Nogueira
<br>fecha a porta, Galv�o se apressa em tirar o palet�, a camisa.
<br>Itamar faz a mesma coisa. Papo de Anjo e Baiacu est�o de camisetas,
<br>mangas cavadas. Galv�o, sem a camisa � branqueio, peito e
<br>costas com muito p�lo; demonstra, pela palidez, que h� anos n�o
<br>enfrenta uma praia. 0 suspeito � empurrado para uma das poltronas.
<br>
<br>� Papo de Anjo, tira a roupa dele. Quero todo mundo � vontade,
<br>pra que se possa conversar direito.
<br>0 crioulo obedece, Baiacu apressa-se em ajudar. Em poucos
<br>instantes o suspeito est� s� de cueca. Com as m�os presas nas algemas
<br>� conduzido ao banco, perto do refletor. Galv�o puxa uma cadeira,
<br>debru�a-se no espaldar.
<br>
<br>� Olha aqui, seu Carlos de Assis, garanto que agora o papo �
<br>s�rio. Ouvi de sobra o que vinha dizendo no carro. Pelo que entendi,
<br>se � um bando de louco ou de ot�rio. Chegou a vez de provar.
<br>� N�o sei de nada!
<br>Enquanto o acusado volta a defender-se, Baiacu ocupa-se em
<br>amarrar-lhe os p�s, as m�os, prend�-lo no banco que � fixo no ch�o.
<br>Papo de Anjo virou o refletor na dire��o do homem, Itamar traz o
<br>copo com �gua, p�e-se a tomar, Galv�o pede um pouco, Nogueira vai
<br>buscar o vidro na geladeira.
<br>
<br>� Seu Carlos de Assis � prossegue o detetive � a gente tem
<br>muito tempo pela frente. Nenhum de n�s t� com pressa. Ali�s, j� se
<br>perdeu tanto tempo aturando suas manobras que mais um dia, mais
<br>uma noite, n�o faz diferen�a.
<br>Papo de Anjo, Baiacu e Itamar acham gra�a.
<br>
<br>� Fala cara, pula fora dessa!
<br>� Ele � um cavalheiro inteligente. Sabe onde tem o nariz �
<br>diz ironicamente Galv�o.
<br>
<br>� S� falo na presen�a do meu advogado!
<br>Papo de Anjo aplica-lhe tremenda bofetada, a cabe�a sacode de
<br>um lado como se fosse arrancar. No mesmo instante o filete de sangue
<br>come�a a escorrer pelo nariz.
<br>
<br>� 0 bicho � delicado � diz Itamar. � No primeiro toque t�
<br>sangrando. Se fosse boxear tava perdido.
<br>� Seu Carlos de Assis � diz Galv�o � pelo visto come�amos
<br>mal. Aqui n�o vai ter advogado, n�o vai ter nada. Somos os �nicos
<br>convidados para este encontro. Pode t� certo disso e ir tratando de
<br>contar a hist�ria completa.
<br>Carlos de Assis insiste em n�o falar.
<br>
<br>� Pois � isso que vamos ver.
<br>
<br>Papo de Anjo est� de um lado, Baiacu do outro. Galv�o liga o
<br>refletor. A luz � fort�ssima, o calor intenso. Itamar passa as c�pias
<br>xerox a Galv�o. O detetive olha-as com tranq�ilidade.
<br>
<br>� Pelo que t� dito aqui, tentou agarrar o motorista Darci Severino,
<br>por tr�s; ele teve de defender-se, pensando tratar-se de assalto.
<br>Conseguiu domin�-lo e o conduziu � Delegacia, onde ficou
<br>constatada sua semelhan�a com o retrato-falado que a T�cnica
<br>produziu.
<br>Ap�s ler esse trecho Galv�o ergue-se. o rosto transfigurado.
<br>
<br>� Depois disso tudo ainda tenta dizer que � inocente? Vamos
<br>l�!
<br>Come�a a ladainha.
<br>Carlos de Assis permanece calado.
<br>
<br>� O homem t� falando � diz Papo de Anjo.
<br>� Ele � surdo � afirma Baiacu.
<br>Nogueira, sentado em frente, sorri. Papo de Anjo agarra-o pelos
<br>cahelos. aplica-lhe novas bofetadas, quando p�ra o rosto tornou-se
<br>vermelho, como se fosse sangrar por todos os poros.
<br>
<br>� Vamos ver se isso foi bastante � afirma Galv�o. � Quando
<br>se decidiu pela ca�a aos motoristas?
<br>� Nunca assaltei motorista. Sou veterin�rio. O senhor t� ficando
<br>doido!
<br>Galv�o agacha-se um pouco, a cara no mesmo n�vel do rosto
<br>do acusado.
<br>
<br>� Eu, doido! Voc� mata, eu que sou doido?!
<br>Baiacu crava os polegares nas clav�culas do suspeito. 0 homem
<br>geme, mija-se, Baiacu continua pressionando, Carlos de Assis n�o
<br>suporta, p�e-se a berrar, a chorar. A um sinal do detetive. Baiacu
<br>volta � sua posi��o.
<br>
<br>� E agora, deu pra lembrar?
<br>Carlos de Assis est� completamente suado; n�o fala mas sacode
<br>negativamente a cabe�a.
<br>
<br>� Pelo visto, o bicho topa a briga � diz Itamar.
<br>� Assim � que � bom. Gosto de tinhoso � argumenta Nogueira,
<br>o que faz com que Papo de Anjo sorria, mostrando os dentes
<br>podres.
<br>Galv�o torna a aproximar o rosto, cada vez mais nervoso, suado.
<br>
<br>� Veja bem. At� aqui tamos levando a coisa com calma. N�o
<br>se quer lhe causar preju�zo. Mas, pelo que vejo, � cabe�a dura. Vou
<br>tentar outra vez. Procure entender. Como lhe veio a id�ia de apagar
<br>motorista?
<br>0 detetive torna a sentar, apoia os bra�os no espaldar de cadeira.
<br>Aguarda alguns minutos pela resposta, Carlos de Assis n�o
<br>parece ter ouvido.
<br>
<br>� � completamente surdo � diz Nogueira.
<br>
<br>Nesse instante Papo de Anjo aplica fort�ssimo telefone, o homem
<br>arregala os olhos, solta um berro de animal ferido, Baiacu
<br>puxa-o pelos cabelos, fazendo a cabe�a virar para tr�s. Sem que possa
<br>ver, Papo de Anjo soca-o no est�mago. Baiacu n�o libera a cabe�a,
<br>Papo de Anjo continua a bater, a bater, o suspeito p�e-se a
<br>vomitar.
<br>
<br>� Eta, bicho porco! Vai vomitar na m�e, corno de merda!
<br>A cabe�a de Carlos de Assis retorna � posi��o normal, o rosto
<br>todo vomitado, o fedor do v�mito empestiando a sala. Nogueira vai �
<br>pia, volta com uma lata d'�gua, atira no homem. Papo de Anjo
<br>manda pegar mais �gua.
<br>
<br>Galv�o torna a erguer-se.
<br>
<br>� Olha aqui, seu moleque. Se pensa que vai me engrupir, se
<br>engana. Ou fala, ou se estrepa!
<br>� Pode deixar, chefe. Na pr�xima rodada vai querer dizer que
<br>matou
<br>Jesus Cristo.
<br>Galv�o chega perto, as c�pias xerox nas m�os.
<br>
<br>� 0 motorista Darci Severino diz, de maneira clara, que tentou
<br>segur�-lo por tr�s. Como foi isso?
<br>� Fala filho da puta, sen�o tu vai morrer aqui!
<br>Baiacu abre a gaveta, tira o punhal. Galv�o l� um outro trecho
<br>do depoimento de Darci.
<br>
<br>� Pelo que declarou a v�tima, a agress�o ocorreu no Posto
<br>Seis. Era cedo, havia bastante gente no ponto de �nibus. N�o sabia
<br>que uma mancada naquele lugar ia dar em merda?
<br>� N�o tentei assaltar. Ele � que me agrediu. De repente come�ou
<br>a berrar, como se tivesse ficando maluco.
<br>� N�o � poss�vel. 0 cara n�o � louco coisa nenhuma.
<br>Papo de Anjo pega o punhal, torna a segurar Carlos de Assis
<br>pelos cabelos, aproxima a l�mina.
<br>
<br>� Olha bem Jo�o Teimoso, vou te sangrar num lugar que nenhum
<br>jornalista pode ver.
<br>Baiacu e Nogueira sorriem.
<br>
<br>� Vou te espetar na goela. L� dentro! E sabe como se faz isso:
<br>meto a m�o fechada na tua boca, trabalho com a outra.
<br>Enquanto Papo de Anjo descreve a tortura, Baiacu aperta os
<br>maxilares de Carlos de Assis, a fim de que abra a boca. Papo de
<br>Anjo fecha a m�o.
<br>
<br>� Vamos pro pico!
<br>Isso apavora de tal forma o acusado que ele tem uma crise de
<br>estreme��es, sacode furiosamente a cabe�a, Galv�o entende que deseja
<br>abrir-se.
<br>
<br>� Parece que se decidiu.
<br>� Como � que �?
<br>
<br>O homem geme e chora, as l�grimas escorrem abundantes pelo
<br>rosto ensang�entado.
<br>
<br>� Ent�o! Desde quando apaga motorista?
<br>� Faz tempo. J� matei quatro.
<br>� Pelas nossas contas s�o oito.
<br>� Por que matava?
<br>� Pra ter dinheiro.
<br>� Ia abotoar Darci Severino ou n�o?
<br>Sacode apenas a cabe�a. Papo de Anjo lembra que deve falar.
<br>� Ia arrancar a cabe�a dele?
<br>� Por que estrangular, quando seu estilo � o 22?
<br>� Pra confundir a a��o da pol�cia.
<br>� Qual o primeiro motorista que matou?
<br>� Um crioulo de 45 anos.
<br>� Onde foi isso?
<br>� Ipanema.
<br>� Ipanema?
<br>� H� dois anos. Quase n�o deu problema.
<br>� E depois?
<br>� Fiquei uns tempos sem agir.
<br>� E a segunda fase, como iniciou?
<br>� Com o tipo branquinho, que dirigia o fusca vermelho.
<br>� E o velhote portugu�s? Por que n�o fala dele?
<br>� Nunca matei nenhum velhote.
<br>Matou sim. Na Lagoa.
<br>� Ah, sim. 0 velhote! Tava esquecendo. . .
<br>� Puxa. abotoou tantos que nem se lembra. T� vendo s�! E o
<br>malandreco n�o queria falar.
<br>
<br>� Depois do portugu�s?
<br>� Passei uma temporada esperandoPetr�polis.
<br>� Onde ficou?
<br>� No s�tio de um amigo.
<br>� Que amigo?
<br>� Um colega de Universidade.
<br>� Nome dele!
<br>� Jorge Grimber. � agr�nomo!
<br>a situa��o esfriar. Fui pra
<br>
<br>� Qual a participa��o desse seu amigo?
<br>� Nenhuma.
<br>� Por que ele n�o procurou a pol�cia para dizer que tinha um
<br>coleguinha bandido?
<br>� N�o sei.
<br>� Onde se pode falar com seu coleguinha?
<br>� Na Universidade.
<br>Galv�o manda Nogueira procurar Fatia.
<br>
<br>� V� tamb�m se Beija-Flor ainda t� por a�. Manda vir com m�quina
<br>e tudo!
<br>Nogueira sai pela porta pesada e escura, Carlos de Assis est� arrasado.
<br>Galv�o enxuga o rosto no len�o, desliga o refletor.
<br>
<br>� Puxa. depois disso, s� um banho! � afirma Itamar.
<br>� E um bom u�sque � acentua Galv�o.
<br>Papo de Anjo foi para junto da pia, lava-se, Baiacu livra Carlos
<br>de Assis das cordas. Deixa-o preso apenas nas algemas.
<br>
<br>� � uma vida danada de dura � diz Galv�o sentando numa
<br>das poltronas e pedindo a Itamar para ligar o ventilador. � Imagine
<br>s�: o viado de um veterin�rio, dando toda essa trabalheira pra gente,
<br>em vez de l� cuidando dos bichos dele. Era s� o que faltava!
<br>� E � porco como os bichos que trata. Se � que esse porcaria
<br>� veterin�rio � diz Baiacu com desprezo.
<br>Papo de Anjo volta da pia enxugando-se na toalha de feltro
<br>Galv�o abre a carteira, tira o dinheiro. Nogueira retorna dizendo que
<br>Fatia tinha ido ao bar, mas Beija-Flor estava a caminho. Ouvem-se
<br>pancadas na porta. � Beija-Flor que entra, carregando sua m�quina.
<br>
<br>� Vamos l� seu Beija-Flor, o doutor de bicho decidiu abrir o
<br>bico. Haja papel e disposi��o pra escrever. Quero tudo, preto no branco.
<br>Enquanto o escriv�o ajeita a m�quina na mesa empoeirada, procura
<br>uma cadeira, Carlos de Assis est� escornado, cabelos alvoro�ados,
<br>rosto vermelho, filetes de sangue escorrendo do nariz e dos cantos da
<br>boca. o hematoma por baixo do olho mais volumoso. Beija-Flor pega a
<br>toalha na qual Papo de Anjo e Baiacu se enxugaram, passa numa
<br>ponta da mesa. P�e os pap�is, senta. Galv�o passeia de um lado para
<br>o outro, embora n�o esteja nervoso.
<br>
<br>� Vamos l�, seu doutor! Comece a hist�ria toda de novo.
<br>Acende um cigarro, estira-se na poltrona.
<br>� Voc�s dois, g�entem a m�o. Vamos ver se o cavalheiro confere
<br>o que disse ou se precisa de ajuda � diz Galv�o dirigindo-se a Papo
<br>de Anjo e Baiacu.
<br>
<br>Cap�tulo XI
<br>
<br>UM
<br>
<br>0 barzinho � ordin�rio. Al�m do balc�o, onde os homens tomam
<br>chope e cacha�a, das pilhas de engradados de cerveja e barris, da
<br>serragem que se avoluma no ch�o, o outro lado � ocupado por meia
<br>d�zia de mesas. � a� que, freq�entemente, os integrantes do show do
<br>Bacar� jantam. Mas hoje o barzinho permanece praticamente vazio.
<br>Perto da parede recoberta de azulejos encardidos est�o duas mulheres
<br>extremamente pintadas, um coroa bicha, logo depois o velhote de chap�u
<br>antiquado, que toma chope e se abana com o jornal. 0 gar�om
<br>terminou de trocar uma toalha. Sandra, Solange e Toninho conversam.
<br>Os pedidos foram feitos, o gar�om retirou o menu, atirou-o na
<br>mesa vazia. Sandra e Solange pedem chope, Toninho prefere caipirinha.
<br>
<br>
<br>� Com esse calor�o, n�o h� coisa melhor!
<br>Nenhuma das duas acha gra�a. 0 garoto n�o se incomoda. Na verdade,
<br>relutou muito antes daquele encontro com Sandra. Acabou topando
<br>por causa das coisas importantes que deseja dizer-lhe. A�, imbecilmente,
<br>ela convida Solange para vir de contrapeso. Qual era a daquela
<br>pequena? Acreditava nele ou tamb�m o estava estudando? Gostava
<br>de pessoas inteligentes. Mas n�o gostava de Solange. Encontrara
<br>uma vez com ela, na porta da boate, fez que n�o o reconheceu. Ora,
<br>que fosse pro inferno com sua presun��o. N�o tinha tempo de aturar
<br>aquele tipo de gente.
<br>
<br>O gar�om traz os chopes, a caipirinha. Toninho toma o primeiro
<br>gole, com vontade. Sandra e Solange apenas bebericam, como se estivessem
<br>acanhadas.
<br>
<br>� Sabe � diz Solange dirigindo-se exclusivamente a Sandra �
<br>acho que dessa vez pintou um tro�o importante pra mim.
<br>Sandra sorri, toma outro gole de chope.
<br>
<br>� Te lembra do mineiro maluco que tava fazendo aquele esporro
<br>ontem � noite? � prossegue Solange � terminou ficando comigo.
<br>211
<br>
<br>
<br>A princ�pio me apavorei. Se foi pro hotel e no caminho ele melhorou.
<br>Come�ou a conversar, disse que trabalhava na TV Itaeolomi.
<br>
<br>� Diretor! � exclama Sandra sorridente.
<br>� N�o! Coordena��o art�stica.
<br>� Acreditou?
<br>� Claro que n�o. Mas ele puxou uma carteira do bolso me deu
<br>um cart�o.
<br>Dizendo isso Solange abre a bolsa, procura o cart�o, mostra-o
<br>a Sandra. Deselegantemente Toninho pega-o, olha, p�e na mesa. Solange
<br>n�o entende a intromiss�o, Sandra faz que n�o repara.
<br>
<br>� �! T� aqui o nome dele!
<br>� Acontece que � escrito � m�quina � diz Toninho, o copo de
<br>caipirinha pelo meio. � Posso muito bem pegar um cart�o desta bodega,
<br>escrever meu nome por baixo, dizer que sou o dono.
<br>� N�o me pareceu que seja um mentiroso � afirma Solange
<br>um tanto revoltada.
<br>� Ora, como � que pode saber se um cara t� mentindo ou n�o?
<br>� Se percebe. Ou pensa que sou ot�ria?
<br>� Mais do que ot�ria!
<br>� 0 que prop�s o cara? � quer saber Sandra, procurando desviar
<br>a conversa.
<br>� Disse que posso fazer um teste como atriz. Gostou do meu
<br>jeito. T�o bolando uma novela pro hor�rio das oito, o papel principal
<br>pode ser meu. Acha que sou capaz?
<br>� Tem tudo pra isso.
<br>Toninho sorri, toma outro gole da caipirinha.
<br>� Quando a novela vai pro ar?
<br>Solange n�o responde � ironia.
<br>� Assim sendo � diz ela � tou com vontade de dar um pulo
<br>at� l�. Saio do show no domingo, vou direto pra Rodovi�ria. Fa�o o
<br>teste na segunda, ter�a estarei de volta.
<br>� � uma boa � afirma Sandra.
<br>Toninho torna a rir. Desta vez alto, debochadamente.
<br>� Qual � a gra�a? Acha que n�o tenho capacidade?
<br>O garoto torna-se s�rio, olhar sombrio como Sandra nunca vira.
<br>� N�o � bem isso, filhota; tou rindo porque de malandragem tu
<br>n�o
<br>manja merda nenhuma.
<br>Solange torna-se p�lida, n�o quer revidar o insulto.
<br>
<br>� Sandra, d� licen�a. N�o posso continuar aqui. A gente se fala
<br>amanh�.
<br>0 gar�om reaparecer, Toninho explica:
<br>
<br>� Lm prato a menos, amig�o. A garota puxou o carro!
<br>� Por que fez isso? Pra me irritar?
<br>� N�o gosto de idiotas. 0 cara comeu a imbecil a noite inteira,
<br>deu s� 200, ainda t� querendo ir pra Belo Horizonte atr�s dele.
<br>
<br>� Como sabe que foi 200?
<br>� N�o � o pre�o que voc�s cobram?
<br>Sandra quer continuar argumentando mas, n�o sabe por que,
<br>sente profunda tristeza, os olhos rasos d'�gua.
<br>
<br>� Vou embora, obrigada pelo jantar!
<br>Toninho percebe o problema que criara, torna-se delicado, atencioso.
<br>
<br>
<br>� N�o quis ofender!
<br>O gar�om traz omeletes numa travessa de a�o inoxid�vel, Toninho
<br>tira um peda�o, p�e-se a comer. Sandra permanece um pouco na cadeira,
<br>enxuga os olhos. De repente, levanta, sai.
<br>
<br>� Sandra! Sandra!
<br>Come mais umas garfadas, �s pressas, deixa duas c�dulas de
<br>cinq�enta na mesa, vai atr�s da garota. Na esquina Sandra est� tentando
<br>tomar um t�xi.
<br>
<br>� Pra onde vai?
<br>� N�o tenho satisfa��es a dar.
<br>� Fica comigo, vamos passear!
<br>Sandra o encara.
<br>� Por que s� sabe dar ordens?
<br>Toninho pega-a pelas m�os.
<br>� N�o sei falar de outro jeito. N�o tenho educa��o!
<br>� O que fez com Solange n�o se faz.
<br>� Tava enchendo!
<br>� Por que, se n�o conhece ela direito?
<br>� Queria ficar s� com voc�. N�o tinha que vir atr�s!
<br>Sandra acaricia-lhe o rosto.
<br>� Sente-se bem comigo?
<br>Toninho sacode afirmativamente a cabe�a.
<br>� Vamos andar por a�!
<br>� N�o � muito tarde?
<br>� Que diferen�a faz?
<br>De m�os dadas Toninho e Sandra caminham pelo cal�ad�o da
<br>praia. Passam pelos bancos de cimento, quase todos vazios, s� um ou
<br>outro carrinho de cachorro-quente e refrigerante. Quando est�o cansados,
<br>Toninho convida para deitar na areia.
<br>
<br>� � o que sempre fa�o. Dormi muitas noites por aqui. Melhor
<br>do que hotel.
<br>Avan�am pela areia, sempre de m�os dadas, o vestido claro de
<br>Sandra refletindo a noite de lua p�lida.
<br>
<br>� Logo mais a lua fica bonita. � s� uma nuvem que t� passando.
<br>Sandra olha o c�u, lembra-se de que h� muito tempo n�o fazia
<br>aquele gesto. Toninho estende o casaco, manda que deite em cima.
<br>Acomoda-se ao lado, ficam algum tempo sem dizer nada. Tanto um
<br>
<br>
<br>quanto o outro acompanhando o esgar�ar das nuvens no caminho
<br>tranq�ilo da lua.
<br>
<br>� Por que dormia aqui?
<br>� N�o tinha pra onde ir.
<br>� Foi a� que conheceu Marlene?
<br>� Antes. Bem antes.
<br>� Que achava de Marlene?
<br>� Uma boa pessoa!
<br>� Sabe; no dia que saltou no terra�o, tive vontade de te matar.
<br>Fiquei pensando: arranjo um rev�lver, espero que apare�a.
<br>� Por que n�o matou?
<br>� Foi o tempo que encontrei a fotografia. Te achei alegre e
<br>muito garoto.
<br>� Acontece que a foto era velha. De l� pra c� sou outro.
<br>Sandra ap�ia-se nos cotovelos, sorri.
<br>� N�o acho que tenha mudado.
<br>Toninho beija-a com vagar e paix�o. Demora-se beijando-a, Sandra
<br>o abra�a.
<br>� Fui grosseiro com Solange?
<br>� Um cavalo!
<br>� Mas n�o � melhor que bancar a idiota em Belo Horizonte?
<br>� Solange � teimosa. Quando diz que faz uma coisa, faz mesmo.
<br>� Pois anote: vai quebrar a cara!
<br>Toninho continua falando, citando espertalh�es que conhecera,
<br>Sandra n�o est� ligada no que diz. Olha a lua que se livrou das nuvens,
<br>desliza em vasta plan�cie azulada, os reflexos perdendo-se no c�u e
<br>nas �guas da praia deserta.
<br>
<br>� Quem � Solange? Por que se tornou amiga dela?
<br>� Quem �? N�o sei. Como � que ia saber? Ficamos amigas
<br>porque t� sempre do lado da gente. Todo mundo na boate gosta dela.
<br>Menos o patr�o, � claro!
<br>� Patr�o n�o gosta de ningu�m!
<br>� J� teve algum?
<br>� N�o, mas o pai tinha, mestre T�bor, Marlene. T�o sempre
<br>procurando tirar o couro dos outros.
<br>� Se n�o tem patr�o, como � que vive?
<br>� Aut�nomo! Sabe o que � isso?
<br>� Claro. Pensa que sou boba?
<br>� Pois �! Trabalho por conta pr�pria.
<br>� Que tipo de neg�cio?
<br>� Cobran�a e vendas. . . Lido com materiais de constru��o.
<br>� D� dinheiro?
<br>� N�o muito, mas tou sempre com algum no bolso.
<br>
<br>� Eu tenho de arranjar outra vida. Vou tentar a sorte como
<br>cantora. Essa de ficar nua, toda noite, na frente de um bando de
<br>imbecis, n�o d� mais.
<br>� Por que n�o come�a logo?
<br>� Sei l�. Como vou saber se minha voz � boa? Antigamente
<br>linha vontade
<br>de ser atriz.
<br>Toninho volta-se para ela.
<br>
<br>� Como que a voz n�o � boa!. . .
<br>Aproxima bem o rosto.
<br>� Voc� � toda boa!
<br>Sandra faz um risinho de descren�a.
<br>� T� dizendo isso porque ainda n�o se encheu de mim!
<br>� N�o vou me encher.
<br>Faz-se uma pausa, Sandra acompanhando as andan�as da lua.
<br>� Por que n�o canta um pouco? A�, posso dizer se a voz � legal
<br>ou n�o.
<br>� Cantar, assim, sem mais nem menos?
<br>� Que tem isso? � como vai ter de fazer no est�dio.
<br>Sandra senta no casaco, Toninho deita a cabe�a nas suas pernas,
<br>ela come�a bem baixinho uma can��o de Dolores Duran; a voz � forte
<br>e quente. Quando termina Toninho bate palmas, Sandra sorri.
<br>
<br>� Poxa! T� aprovada. N�o entendo de m�sica mas sei ouvir
<br>e o que interessa. Pode ir em frente.
<br>Sandra brinca com os cabelos revoltos daquele garoto, o pensamento
<br>distante: na m�e, no pai aparecendo no arco da porta estreita,
<br>na praia onde uma vez fizeram o piquenique. E tudo parecia t�o
<br>remoto, t�o irremediavelmente arruinado. Embora procure disfar�ar,
<br>sabe que as palavras de Toninho lhe faziam bem. Soavam como incentivo.
<br>
<br>
<br>� Conheci um cara que n�o valia nada. A� os amigos na constru��o
<br>come�aram a dizer: vai l�, deixa de ser bobo, o pr�mio � bom.
<br>Numa hora pode ganhar mais dinheiro que no ano inteiro, empurrando
<br>carrinho de cimento. Sabe o que aconteceu? O careta se mandou
<br>pra televis�o. Pegou inscri��o no programa do Chacrinha. Duas semanas
<br>depois foi chamado. Chegou no palco, aquele mont�o de gente,
<br>n�o acanhou. Deu o recado. 0 pessoal da obra foi olhar na televis�o
<br>do bar. 0 crioul�o soltou a l�ngua e o gingado. Quando terminou foi
<br>aquele mundo de palma. Seu Chacrinha teve de entregar o cheque.
<br>Uma nota gorda. O safado s� apareceu na obra pra pegar as coisas.
<br>Tinha um contrato pra gravar em S�o Paulo.
<br>� Que foi feito dele?
<br>� N�o sei. Se quiser, posso saber.
<br>� Seria uma boa.
<br>� N�o precisa ter medo. No dia que for fazer o teste, vou com
<br>voc�.
<br>
<br>Sandra continua acariciando-lhe os cabelos, beija-o de leve na
<br>testa.
<br>
<br>� Gosto de voc�. Mesmo quando faz grosseria. Desculpa, n�o
<br>devia ter convidado Solange. Acontece que tamos no mesmo barco.
<br>Ela tamb�m quer deixar o show. � bem mais velha que eu. Sozinha
<br>n�o se ag�entaria uma semana!
<br>� N�o desgosto dela. Mas aquele momento era s� da gente!
<br>� Se conseguir alguma coisa l� pela Itacolomi tou quase certa
<br>de que vai fazer como seu amigo: s� volta pra recolher as roupas e
<br>pegar o dinheiro.
<br>� Acho que t� sendo engrupida; o cart�o que mostrou n�o significa
<br>nada.
<br>� Se tivesse dinheiro ia fazer um curso de educa��o da voz.
<br>� Por que n�o faz?
<br>� N�o sei se � caro.
<br>� Procure se informar. Pago o curso!
<br>� E voc�, por que n�o tenta ser alguma coisa?
<br>Toninho sacode negativamente a cabe�a.
<br>� N�o tenho voca��o pra nada; s� ganhar dinheiro!
<br>� E se o curso for caro?
<br>� Pelo menos uns tr�s meses garanto.
<br>Sandra est� feliz, os cabelos compridos caem no rosto de Toninho.
<br>� Nunca tive ningu�m que se interessasse por mim. Por que
<br>faz isso?
<br>� N�o sei. Talvez goste mais de voc� do que imagino.
<br>� Se depois se decepcionar?
<br>� A� � outro dia.
<br>Sandra inicia uma nova can��o, a voz � suave e lenta, confunde-se
<br>com o barulho das ondas.
<br>
<br>� Se n�o der certo, volto pro show, pago o preju�zo!
<br>� N�o tou pedindo isso. Quero que v� em frente.
<br>� Sabe o que farei se algum dia ganhar bastante dinheiro?
<br>Toninho brinca com os longos cabelos de Sandra.
<br>� Abro uma casa pra cuidar de velhos. Quando encontro um
<br>velhote na rua, sem ter pra onde ir, olhar assustado,
<br>sinto-me culpada!
<br>Toninho ergue-se, apoiado nos cotovelos.
<br>
<br>� T� brincando ou falando s�rio?
<br>Sandra sente-se um tanto inquieta com aquele s�bito interesse.
<br>� Falo s�rio. � o que mais me comove.
<br>Toninho abra�a-a, beija-a no pesco�o, Sandra sente suas l�grimas
<br>quente e silenciosas.
<br>
<br>� Por que ficou assim?
<br>� N�o sei. Muda de assunto!
<br>Sandra canta A noite do meu bem, as ondas quebram-se mais
<br>perto, sempre mais perto, um largo caminho de lua dentro do mar.
<br>
<br>
<br>� Era desse tamanho, assim, quando ouvia essa m�sica no r�dio
<br>do pai.
<br>� Gosta?
<br>� � bacana. O pai tamb�m gostava.
<br>� Cad� seu pai?
<br>� Foi viajar. Qualquer dia desse t� de volta!
<br>� O meu. . . tomara que nunca mais apare�a!
<br>Toninho p�e-se de joelhos na areia.
<br>� Feche os olhos. S� abra quando disser.
<br>Sandra promete mas olha logo, Toninho corre na areia. N�o faz
<br>id�ia do que aconteceu. Estende-se no casaco, fica aguardando. Em
<br>menos de cinco minutos reaparece. Nas m�os os cachorros-quentes, as
<br>coca-colas.
<br>
<br>� Pega. N�o jantou!
<br>Sandra aceita, comem em sil�ncio. Toninho olha a lua cada vez
<br>mais distanciada.
<br>
<br>� Daqui a pouco come�a a amanhecer. Vai ver como � bonito!
<br>� S� mesmo contigo ficaria na praia a essa hora!
<br>Toninho ergue-se, ainda mastigando o cachorro-quente, a cocacola
<br>na m�o.
<br>
<br>� Sabe o que ia adorar, se fosse artista?
<br>� 0 qu�?
<br>� Dan�ar.
<br>Dizendo isso p�e-se a dan�ar. Primeiro no ritmo de um samba
<br>bem quente, depois numa imita��o dos dan�arinos de frevo.
<br>
<br>� Dan�a pra mim tem de ser isso. Muito movimento.
<br>� Gostei de ver.
<br>� Tamb�m sei dan�ar tango.
<br>P�e-se a representar, bra�os erguidos como se segurasse a mulher,
<br>Sandra comendo e rindo da pantomima.
<br>
<br>� N�o sabia que era engra�ado!
<br>Toninho torna a sentar.
<br>� S� quando tou com voc�. N�o sei por qu�!
<br>Limpa as m�os sujas nas cal�as, reclama de n�o ter mais comida.
<br>� Pedi dois cachorros-quentes pra cada um, o careta n�o tinha.
<br>Ainda
<br>quer as garrafas de volta.
<br>Sandra torna a sorrir.
<br>
<br>� Se fizesse um curso de dan�a podia emplacar, f�cil!
<br>� Todo mundo no morro sabe dan�ar. Tinha um colega que era
<br>da bateria da escola.
<br>� Cad� ele?
<br>Toninho imita com a m�o o rev�lver que dispara.
<br>� T�! T�!. . . fuzilaram. . .
<br>� Agora n�o quero que fale de coisas tristes.
<br>� Ent�o, vamos falar s� da gente. . .
<br>
<br>Ambos acham gra�a. Toninho tornou a deitar-se com a cabe�a
<br>nas pernas de Sandra.
<br>
<br>� Nunca tive madrugada t�o feliz e tumultuada.
<br>� Se pode ter muitas outras. S� querer.
<br>� Acho que tem raz�o. Talvez me deixe prender mais tempo
<br>do que devia na porcaria daquela boate.
<br>� Tudo acontece no tempo certo. Minha m�e costumava dizer
<br>isso.
<br>� J� peguei a experi�ncia que tinha de pegar.
<br>� Em compensa��o conhece uma por��o de gente.
<br>� S� tipo ordin�rio.
<br>� Nenhum merece confian�a?
<br>Sandra ajeita os cabelos, olha distante por cima do mar, onde
<br>o caminho da lua vai aos poucos desaparecendo.
<br>� Voc�. . . Xex�u. . .
<br>� Quem � Xex�u?
<br>� 0 baterista. Amigo de um cara da Odeon. Foi ele quem me
<br>estimulou a partir pro disco. Vive dizendo que o pessoal da noite
<br>n�o tem vez. Acha que devo sumir. Se facilitar, viro cantora da pr�pria
<br>boate.
<br>� Tem raz�o. Santo de casa n�o faz milagre!
<br>� Xex�u � bom cara. A princ�pio pensei estar interessado em
<br>mim. Depois entendi que desejava me ajudar. � dif�cil encontrar
<br>algu�m assim.
<br>Toninho pega o rosto de Sandra entre as m�os.
<br>
<br>� Vai ser cantora. 0 primeiro passo � escolher umas duas m�sicas,
<br>treinar bem, fazer a inscri��o num programa de TV.
<br>� � o que vou tentar.
<br>� Se n�o quiser entrar logo pro curso, compro um toca-disco.
<br>ouve nas horas de folga. No come�o tem de dar tudo!
<br>� Me d� o toca-disco?
<br>Toninho sacode afirmativamente a cabe�a.
<br>� Amanh� ou depois!
<br>L� muito longe, por tr�s do mar, come�am a surgir os clar�es
<br>da madrugada.
<br>
<br>� Olha s�! Daqui a pouco o sol aparece.
<br>� Nunca pensei que fosse t�o bom ficar por aqui!
<br>� Se n�o tivesse morrendo de fome ainda seria melhor.
<br>Dizendo isso Toninho pega as garrafas, sai correndo para entreg�las
<br>na carrocinha.
<br>Retorna, continua a dan�ar, espalhando areia com os p�s.
<br>
<br>� Se pudesse, ia organizar uma escola de samba. Muita gente
<br>fantasiada, todo mundo se preparando o ano inteiro pro grande desfile.
<br>� Como seria o nome?
<br>
<br>� Sei l�. Mas voc� ia ser porta-estandarte!
<br>� Acha que tenho jeito?
<br>� � bonita. Porta-estandarte tem de ser bonita!
<br>� E saber dan�ar.
<br>� Isso se aprende.
<br>Toninho cansa de sapatear, senta.
<br>� Saindo daqui se pode tomar um caf� refor�ado.
<br>� 0 careta do carrinho disse que na rua de l� tem uma feira.
<br>Se compra fruta. Melhor do que entrar num boteco fedorento.
<br>Toninho sacode o casaco, examina o rev�lver no bolso, Sandra
<br>tira areia do vestido, passa a escova nos cabelos, oferece ao namorado.
<br>
<br>� Acostumei a me pentear com os dedos; escova atrapalha.
<br>Em poucos instantes est�o atravessando as pistas, �quela hora completamente
<br>desertas. Entram na rua estreita, l�mpadas nos postes acesas,
<br>a madrugada clara, a n�voa envolvendo os edif�cios. Na rua mais larga
<br>e extensa, a confus�o das barracas, os primeiros fregueses, alguns deles
<br>segurando c�es pelas coleiras, mulheres gordas e com cara de sono
<br>puxando carrinhos de arame, sobre rodas de veloc�pede.
<br>
<br>� Acho que o bom � se comprar tangerina!
<br>Passam por diversas barracas, Sandra prefere as maiores, de casca
<br>grossa. Quando os primeiros raios de sol chegam � praia e � feira, os
<br>dois est�o sentados no meio-fio, comendo tangerinas. Mastigam os
<br>gomos, prendem os caro�os na boca, imaginam coisas que almejam
<br>ver realizadas, sopram com for�a.
<br>
<br>� Os meus chegaram bem em cima da linha � grita Sandra.
<br>� Os meus, tamb�m � diz alegremente Toninho.
<br>DOIS
<br>
<br>No apartamento escuro e �mido Sandra ainda est� com os olhos
<br>cheios das imagens da madrugada. N�o se lembra de ter vivido momentos
<br>t�o simples e puros. Quem seria afinal aquele garoto? 0 que
<br>desejava? Fora grosseiro com Solange ou havia algo que, de repente,
<br>
<br>o irritava? Enxuga-se na toalha felpuda, p�e um pouco d'�gua no
<br>fogo, abre a lata de caf�. N�o fosse o dem�nio daquele porteiro teria
<br>convidado para vir tamb�m. Mas era melhor evitar. Seu Manuel chegava
<br>cedo. A essa hora n�o teria o que dizer, como engan�-lo. E, talvez
<br>Toninho tivesse raz�o. Todo cuidado seria pouco. Movimenta-se nua
<br>pelo apartamento, p�ra diante do espelho, na porta do guarda-roupa,
<br>faz uns gestos de quem dan�a e canta, escuta a voz de Toninho encorajando-
<br>a.
<br>
<br>� Claro que vai emplacar. Tem boa voz, � bonita!
<br>Vai para junto do fog�o, p�e caf� na x�cara, senta na sua cadeira
<br>preferida, toma pequenos goles, analisa o comportamento do namorado.
<br>Nunca conhecera ningu�m daquele jeito; t�o agressivo e meigo ao
<br>mesmo tempo. Na primeira folga, no primeiro fim-de-semana o convidaria
<br>para ficarem um dia inteiro na praia. N�o na de Copacabana,
<br>mas em outra, distante, onde pudessem estar � vontade. Agora, come�ava
<br>a entender que gostava mesmo de Toninho e por que Marlene o
<br>mantinha praticamente escondido.
<br>
<br>� Como vai seu amiguinho. Marlene?
<br>� N�o tenho visto; faz tempo que n�o d� as caras!
<br>Marlene estava mentindo. Procurava proteger-se, evitar concorr�ncia.
<br>Tem vontade de rir e ri. Dali em diante n�o tinha com que
<br>se preocupar. Poderia sair com os clientes, enfrentar o velhote uma
<br>vez por m�s, todavia Toninho ia ser um caso � parte. Com a ajuda
<br>dele chegaria ao programa de televis�o, sem medo de concorrer. E por
<br>que devia ter medo? Qual a diferen�a de ficar nua num show da
<br>boate e cantar na frente de uma por��o de desconhecidos? Provavelmente,
<br>nos primeiros dias, nos momentos de ensaio, ficasse um
<br>pouco acanhada. Mas Toninho estaria por perto. Um aliado seguro,
<br>no qual podia confiar. Se passasse no teste, como esperava, ia em frente.
<br>Treinaria bastante, trocaria muitas vezes o mesmo disco, procuraria
<br>impor sua pr�pria interpreta��o. Nada de copiar cantores famosos, pois
<br>isso n�o botava ningu�m pra frente. Teria seu pr�prio estilo. 0 neg�cio
<br>era n�o sair do ritmo, mostrar empolga��o. Nisso estava certa de
<br>que n�o ia fracassar. Toninho ficaria alegre de v�-la se apresentando.
<br>No dia em que fizesse a primeira grava��o, ainda que fosse um simples
<br>compacto, convidaria os amigos mais �ntimos para um jantar:
<br>Toninho, Solange, Xex�u, Bigode e Agenor. A cada um deles daria o
<br>disco. Tempos depois teria condi��o de pensar no long-play. M�sicas
<br>inteiramente novas. Algumas do pr�prio Xex�u, outras de Agenor.
<br>Conhecia suas composi��es, eram t�o boas quanto as de autores famosos,
<br>caitituados em tudo que era emissora de r�dio e de televis�o.
<br>Toninho estava certo. 0 neg�cio era se lan�ar. Todo o resto se arranjaria
<br>depois. Ser� que ia esquecer a promessa do toca-disco? H�. se
<br>conseguisse um, compraria imediatamente as m�sicas de Ma�sa, outras
<br>de Bet�nia, suas cantoras preferidas. Concorrer com essas duas n�o ia
<br>ser f�cil. Mas tentaria. O importante seria o ritmo. Disse Xex�u, cansava
<br>de falar.
<br>
<br>� 0 ritmo acima de tudo!
<br>Cantaria junto ao espelho, faria movimentos de corpo, como no
<br>show. Estira as pernas nuas na mesa, p�e a x�cara no ch�o, fica um
<br>temp�o pensando nos dias que viriam, no futuro que ia ter como cantora.
<br>Muita gente surpresa. 0 primeiro seria o pai. Se pensava estar
<br>liquidada, se enganara. Ali�s, se enganara em tudo. Por ser um �ra
<br>
<br>
<br>
<br>cassado, tentava lan�ar sua amargura contra os outros. Quem mandou
<br>meter-se com aquela maldita profiss�o? Na escola, durante o recreio,
<br>os garotos maiores cochichavam. Sandra sabia o que estavam dizendo.
<br>Em casa queixava-se � m�e, imaginava ela pr�pria falar com o pai.
<br>faltava-lhe coragem. Estava sempre nervoso, sempre discutindo, muitas
<br>vezes embriagado. A m�e � que tinha paci�ncia de santa. Tirava-lhe
<br>os sapatos, as roupas, ele ficava dormindo no sof�. Acordava de noite
<br>para tomar �gua, via o pai escornado, bra�os abertos, o cheiro de cacha�a
<br>exalando. Destetava-o por causa daquilo, pelas discuss�es com a
<br>m�e. Muitas vezes, sem qualquer motivo; s� para discutir, para irrit�-la.
<br>Por que ficou daquele jeito? A m�e contava hist�rias agrad�veis dos
<br>tempos em que eram namorados e, depois, quando estavam noivos.
<br>O pai alegre, ia formar-se em Direito, instalar-se em Campos. Tinha
<br>uns conhecidos por l�, dizia que advogado do interior tem mais futuro.
<br>A m�e achava gra�a, n�o se importava de mudar. Um dia, foram a
<br>Campos. A m�e voltou satisfeita com a cidade; ruas cheias de �rvores,
<br>casar�es antigos, pracinhas que pareciam de brinquedo.
<br>
<br>� � a terra do a��car. Quem n�o sabe o que isso significa t�
<br>muito enganado � advertia o pai, falando aos amigos.
<br>Ap�s o casamento os planos foram alterados. 0 pai interrompeu
<br>os estudos na Faculdade, meteu-se no concurso maluco. Seria detetive
<br>por uns tempos, at� melhorar a situa��o. A m�e preocupava-se. queria
<br>v�-lo distante daquela coisa que n�o tinha descanso, que o obrigava
<br>a envolver-se com marginais, com gente do pior n�vel. Os anos foram
<br>passando, o detetive Galv�o ganhando fama na imprensa, nunca mais
<br>a Faculdade, nunca mais os livros. Se a m�e reclamava, respondia
<br>irritado.
<br>
<br>� Qual o problema? 0 dinheiro n�o t� entrando?
<br>N�o podia entender. Nunca pudera. A m�e n�o discutia mas
<br>irritava-se. Numa determinada �poca aparecia em casa uma vez por
<br>semana. E a viatura ficava na porta, esperando. Era o tempo de tomar
<br>um banho, trocar de roupa. Falava rapidamente com a m�e, beijava
<br>a filha. Nessas ocasi�es trazia presentes. Sandra olhava as bonecas,
<br>sem interesse, afligia-se com a m�e, cada vez mais triste, mais desolada.
<br>No dia em que ia completar dez anos. convidou os coleguinhas
<br>da escola e da vizinhan�a. 0 pai prometeu n�o faltar.
<br>
<br>� Desde agora j� vou avisar o delegado: olha aqui, meu caro,
<br>dia 25 de outubro tou de folga; � o anivers�rio da minha filha Sandra.
<br>Faz dez anos!
<br>A m�e alegrou-se. Pelo menos aquilo era um sinal positivo de que
<br>n�o havia esquecido a fam�lia. Na v�spera da festa a m�e contratou
<br>uma empregada, a fim de ajud�-la nos preparativos. A pr�pria Sandra,
<br>de volta do col�gio, tamb�m ajudava. A m�e cuidou do bolo com
<br>enorme capricho. Um grande bolo, com as bordas enfeitadas de cord�es
<br>de a��car. Dez velinhas, cada uma de uma cor. 0 pai conti
<br>
<br>
<br>
<br>nuava ausente, mas a m�e sabia que viria. Telefonara duas vezes,
<br>mandando que ficasse tranq�ila.
<br>
<br>� Diga � Sandrinha que vou levando pra ela a maior boneca
<br>que j� fizeram!
<br>Na v�spera Sandra repetiu o convite aos coleguinhas da escola,
<br>aos vizinhos. Voltou cedo, p�s-se a arrumar a grande mesa com a ajuda
<br>da m�e, da empregada. O rapaz que fazia entregas, entrou e saiu
<br>diversas vezes, trazendo engradados de refrigerantes. A geladeira estava
<br>cheia de n�o caber mais nada. A� ele sugeriu encher o tanque
<br>de gelo, meter o resto das garrafas. Traria serragem para colocar por
<br>cima. Trouxe o saco de serragem, Sandra ficou olhando. Nunca vira
<br>aquilo. As garrafas que estavam sobrando couberam todas no tanque.
<br>No princ�pio da tarde a m�e abriu a porta da casa, a janela. Sandra
<br>foi olhar da rua. Estava uma beleza. Bandeirinhas de papel enfeitando
<br>os quatro cantos da sala, bal�es pendurados no fio da l�mpada. Sandra
<br>num vestido branco, novo, com enfeites vermelhos. Apareceram
<br>os dois primeiros amiguinhos, depois um terceiro, em companhia da
<br>m�e. A vizinha era gordona, disse n�o poder demorar, pois teria de
<br>levar o filho � casa da tia. Dona Julieta n�o se incomodou. Outras
<br>crian�as viriam, poderiam ficar � vontade. Enquanto permaneceu na
<br>cadeira de palhinha, na maior cerim�nia do mundo, a vizinha declarava-
<br>se alarmada com a profiss�o do pai de Sandra. Dona Julieta n�o
<br>sabia o que dizer, principalmente naquele momento de festa, em que
<br>esperava o marido. Mas a mulher n�o parecia entender o quanto
<br>aquele assunto era inoportuno, alongava-se, agora falando nos malandros
<br>que vira na quitanda de seu Maneco, procurando o endere�o
<br>do detetive Galv�o.
<br>
<br>� Fiquei apavorada, dona Julieta. Felizmente seu Maneco �
<br>vivo. Disse n�o saber.
<br>Dona Julieta oferece uvas e refrigerantes ao garotinho, a mulher
<br>prossegue, ap�s aceitar uma ta�a de guaran�.
<br>
<br>� Quando vi os tipos, senti logo que n�o tavam com boas inten��es.
<br>Depois da resposta de seu Maneco um deles come�ou a rir
<br>e a dizer que o detetive tinha amiguinhos que o protegiam.
<br>� Quando foi isso?
<br>� Semana passada. Era pra ter vindo aqui, depois achei melhor
<br>n�o lhe assustar.
<br>No come�o da noite n�o tinham aparecido tantos coleguinhas
<br>quanto Sandra esperava. Na verdade, havia uns quatro ou cinco e,
<br>mesmo assim, a irm� mais velha de Lucinha j� viera cham�-la duas
<br>vezes. As l�mpadas se acenderam, Sandra sentia certa tristeza, pois
<br>nenhuma amiga da escola apareceu.
<br>
<br>� Por que ser� que n�o v�m, m�e?
<br>Dona Julieta ainda ouvia a mulher gorda falando, come�ava a
<br>ficar nervosa, a desejar que fosse logo embora, antes que tivesse uma
<br>
<br>
<br>crise. Nesse momento de ang�stia Galv�o chegou. Entregou grande
<br>embrulho colorido a Sandra, beijou-a, abra�ou-a. Falou com a vizinha,
<br>foi para o interior da casa com Julieta. Outros homens entraram,
<br>Galv�o reapareceu tirando a camisa, mandou que sentassem, tomassem
<br>cerveja. Os tipos eram grandalh�es, suados. Sentaram, acanhadamente,
<br>como se n�o pertencessem �quele mundo. A vizinha gorda olhava-
<br>os, n�o entendia. Levantou-se, disse qualquer coisa em voz alta a
<br>dona Julieta, pediu licen�a, foi embora puxando o filho. Sandra ainda
<br>insistiu que ficasse um pouco mais, a mulher n�o quis saber de conversa.
<br>Em pouco tempo, tamb�m, a irm� de Lucinha apareceu, mandou
<br>que beijasse Sandra.
<br>
<br>� Ela tem de tomar rem�dio!
<br>Como se tornara noite, Sandra sabia que dificilmente os coleguinhas
<br>da escola viriam. E pelo menos cinco deles prometeram n�o
<br>faltar. Encostou-se na porta, olhou os carros estacionados. Dentro de
<br>alguns deles ainda havia outros homens, iguais aos que estavam nas
<br>cadeiras de palhinha, ao redor da mesa. com o grande bolo. 0 pai
<br>retornou � sala, metido em outra camisa, outra cal�a, apresentou a
<br>filha e Julieta aos amigos.
<br>
<br>� Carlos Augusto, Z� do Egito, Doming�o! Amigos do peito.
<br>Na alegria ou na tristeza. A m�e de Sandra cortou:
<br>� Hoje � dia s� de alegria!
<br>Os grandalh�es sorriram. A empregada entra com a bandeja, os
<br>copos, garrafas de cerveja e de u�sque. Sandra aproximou-se da m�e,
<br>queixa-se que Lucinha tinha ido embora, os amiguinhos da escola n�o
<br>iam aparecer.
<br>
<br>� Deixa pra l�, filhota! N�o quiseram vir, paci�ncia!
<br>Colocou a boneca que o pai lhe dera sobre a cadeira, ficou olhando
<br>sem interesse. Na verdade, n�o tinha sequer a quem mostrar. E,
<br>n�o sabe por que, p�e-se a chorar. Correu para o quarto, atirou-se
<br>na cama.
<br>
<br>� N�o chore, filha! Vai ver, houve algum problema.
<br>Sandra chorava e se lembra, agora, de como chorava. Nunca se
<br>sentira t�o ofendida. E nunca mais p�de esquecer aquele sentimento.
<br>Os vizinhos a olhavam com desconfian�a. Como os que passavam pela
<br>porta, o pai chamava, diziam estar logo de volta, n�o apareciam. Pelo
<br>que p�de recordar, nesta manh� de sol e apartamento sombrio, o anivers�rio
<br>terminou transformado numa esp�cie de vel�rio. Os homens
<br>de bra�os volumosos bebendo cerveja e u�sque, o pai j� meio b�bado,
<br>a m�e rindo sem querer, a empregada trazendo mais bebida, o grande
<br>bolo no meio da mesa, as velas que Sandra se recusara a soprar. Nunca
<br>p�de esquecer a festa do d�cimo anivers�rio. E olha que a m�e se
<br>esfor�ou tanto, para que tudo sa�sse certo.
<br>
<br>
<br>TR�S
<br>
<br>Toninho n�o se prende a recorda��es distantes. Ocupa-se com a
<br>imagem de Sandra que parece estar naquele quarto, sentada ao meio-
<br>fio. cuspindo caro�os de tangerina. Ah. como seria bom que aqueles
<br>momentos pudessem repetir-se. Depois do banho iria � loja. escolher
<br>
<br>o toca-discos. S� ent�o abre o z�per do casaco, tira o rev�lver, o bolo
<br>de c�dulas. Confere. Nos olhos a figura do motorista alucinado. Como
<br>um cara daquele podia pegar um t�xi, sair dirigindo? N�o entendia.
<br>Desde que entrou, o homem p�s-se a falar, a esculhambar, a desejar
<br>que uma tromba-d'�gua desabasse sobre a cidade, matasse metade da
<br>canalha.
<br>� T� brigado com a vida, amizade?
<br>� Vida? Que vida?
<br>� Olha, tem gente comendo um dobrado por a�! Pior do que
<br>n�s.
<br>� E como acha que tou? Rodando feito um desgra�ado; quase
<br>16 horas por dia!
<br>� Quem quer ganhar muito, � isso. . .
<br>� Ganhar muito, uma ova. Tenho de reunir quatro mil at� depois
<br>de amanh�, pra n�o cair na tal da den�ncia vazia. J� ouviu falar
<br>nisso? Sabe o que �?
<br>Toninho mostra-se embara�ado. Na verdade n�o sabia.
<br>
<br>� Pois vou te refrescar � diz o motorista. � Den�ncia vazia �
<br>o direito que o propriet�rio tem de exigir quanto quer pelo aluguel;
<br>se tu n�o paga ele vai pra Justi�a, os danos da lei te botam na rua.
<br>S� isso!
<br>O motorista p�e-se a rir, a rir alto, a bater com as m�os abertas
<br>no volante, enquanto o t�xi avan�a velozmente.
<br>
<br>� N�o � um barato? E agora, de onde tirar os quatro mil todo
<br>m�s? No primeiro ainda v� l�. E nos outros? Como � que fa�o, se
<br>tenho mulher e quatro filhos?
<br>� 0 neg�cio � morar mais longe.
<br>� E onde pensa que tou morando? Ipanema. Arpoador? Corta
<br>essa, cara! Me escondo em Piedade. 0 apartamento � de dois quartos,
<br>uma salinha, vaga pro possante na garagem. Sabe quanto pagava?
<br>Dois mil pelo apartamento, trezentos pela vaga.
<br>� Puxa, devia deixar o carro na rua.
<br>� T� pensando que n�o tentei? Na primeira noite roubaram
<br>dois pneus, na semana seguinte iam levando o carro. J� pensou se
<br>perco a ferramenta? A� s� dando um tiro na cabe�a.
<br>Toninho tem vontade de rir. 0 motorista continua a falar, a
<br>queixar-se.
<br>
<br>� A patroa n�o ajuda?
<br>
<br>� S� em casa. N�o d� sopa por a�. Sei bem como � a barra.
<br>Toninho torna a rir. O t�xi chegou ao final da avenida, dobra
<br>pela rua do canal.
<br>
<br>� Fico logo depois da primeira travessa.
<br>O motorista fala agora do pre�o do material escolar, dos sapatos,
<br>dos uniformes. Acende a l�mpada por cima do tax�metro. Toninho
<br>v� que est� marcando vinte e dois e quarenta. Abre o z�per, pega a
<br>arma. Com incr�vel rapidez o motorista esbo�a um movimento. Tem
<br>certeza de que percebeu algo de errado, vai tentar livrar-se. Segura-o
<br>pelo pesco�o, antes que consiga escapar, puxa-o de encontro ao banco,
<br>
<br>o homem quer berrar, solta-se, tenta agarrar Toninho, movimentando
<br>os bra�os por cima da cabe�a. 0 garoto aciona o gatilho, a primeira
<br>vez, a segunda, o motorista acalma-se. os bra�os caem ao longo do
<br>corpo. Olha nas imedia��es, n�o v� ningu�m, est� certo de que os
<br>disparos n�o foram ouvidos. Empurra o homem para cima do volante,
<br>remexe nos bolsos, no porta-luvas, por baixo do tapeie e dos bancos.
<br>Ali estava o dinheiro. Bastante dinheiro. Trava a porta da esquerda,
<br>da direita, eleva o volume do r�dio. J� distante, lembra-se do cuidado
<br>que n�o teve: passar a flanela nos lugares onde tocou. Como p�de ter
<br>esquecido disso? Teria sido a afoba��o de encontrar com Sandra?
<br>N�o. Ainda teve de fazer hora. at� que aparecesse com a coleguinha
<br>imbecil. N�o podia culp�-la. Foi esquecimento, mesmo, pura idiotice.
<br>E se o detetive mandasse examinar os trincos e desse com suas impress�es?
<br>N�o tinha do que temer. N�o havia ficha na pol�cia que pudesse
<br>compromet�-lo. N�o dera a mancada de Colher de Pau e muito
<br>menos fizera como Enfezado. Nele, se n�o abrisse o olho. os tiras podiam
<br>botar a m�o. Amea�ou o sargento Beto. disse que ia dar um
<br>pano de amostra e deu.
<br>Mete-se no banheiro, �quela hora completamente vazio, retorna
<br>ao quarto com a sensa��o de que nada poderia acontecer de errado.
<br>S� esbarrou no porta-luvas, nos trincos das portas havia outras impress�es,
<br>al�m da sua. N�o adiantava esquentar. 0 importante seria
<br>acompanhar o caso, ver como o detetive ia trat�-lo. Talvez fosse a
<br>oportunidade de falar com Sandra, arranjar um encontro dela com
<br>
<br>o pai, mais para saber das novidades, das coisas que vinha fazendo,
<br>do caso que estava incumbido de desvendar. Ser� que faria isso ou
<br>tinha raiva do velho, de verdade? Entregaria o toca-discos, pediria
<br>esse favor. 0 dif�cil seria entrar no assunto, sem falar em motorista.
<br>E se envolvesse seu amiguinho do pr�dio, o tal de Darci? Mas, como
<br>envolv�-lo? N�o se sente seguro, teme dar um fora, alertar Sandra.
<br>O neg�cio era descansar, depois pegar a refei��o no barzinho do
<br>portugu�s, comprar os jornais da tarde. Se estivesse tudo em ordem,
<br>iria ao cinema, daria uma chegada no Mangue. Como prometera a
<br>Enfezado. Localizaria a casa da tal Zita, descobriria Marta.
<br>
<br>
<br>Estira-se por baixo do guarda-roupa, abre o cofre, tira a ma�aroca
<br>de dinheiro. Tem vontade de conferir quanto j� estava reunido,
<br>sente certo des�nimo. Sabe, pelo volume, que � bastante; dava pra
<br>fazer alguma coisa; quem sabe at� comprar o peda�o de terra? S�
<br>faltava o pai aparecer. O pai ou Enfezado. A� teria outros planos,
<br>ganharia mais dinheiro. Se o pai custasse a surgir, ia terminar ficando
<br>rico. Compraria tudo que prometera a Sandra e, sem que soubesse,
<br>encontraria jeito de alugar um apartamento. A� poderiam se encontrar
<br>� vontade, de dia ou de noite.
<br>
<br>Torna a colocar dinheiro e armas no cofre, fica olhando a chave,
<br>ouvindo o desespero do motorista. Que cara estranha e at� engra�ada
<br>que o idiota terminou fazendo. Na verdade, n�o passava de um cag�o.
<br>Se percebeu a arma, seu primeiro impulso foi fugir. E que mostrou
<br>rapidez, isso mostrou. Recrimina-se por semelhante bobeada. Se o careta
<br>fosse mesmo carne de pesco�o, como � que ia fazer? Eis o tipo
<br>de coisa que n�o deveria repetir-se. Se aquele motorista estava desconfiado,
<br>por que n�o estaria ocorrendo o mesmo com os outros?
<br>Teria de mudar o hor�rio dos ataques. Ao mesmo tempo, n�o era
<br>t�o tarde assim. Quando tomou o t�xi passava um pouco das onze, as
<br>ruas estavam com movimento intenso.
<br>
<br>Toninho permanece deitado, olha o teto alto, a tinta nas t�buas
<br>do forro descascando. E se passasse a agir de dia, em locais distantes?
<br>0 risco seria muito grande. Poderia ser bem-sucedido no primeiro
<br>caso, no segundo. Nos demais fatalmente daria grilo. N�o. Terminaria
<br>encalacrado. 0 neg�cio era prosseguir, todavia com cautela. E
<br>n�o esperaria chegar �s dez e muito menos �s onze. Passaria a tomar
<br>t�xis na faixa das oito, nove horas. Mas, para cada caso, um truque.
<br>Isso evitaria toda e qualquer desconfian�a. Que truque? Sacode a
<br>chave do cofre, nos ouvidos o riso de Sandra, as palavras amargas
<br>do motorista.
<br>
<br>Compraria uma torta, mandaria embrulhar como sendo para
<br>presente. Sairia com o embrulho. 0 motorista n�o teria d�vida em
<br>peg�-lo.
<br>
<br>� Onde � o anivers�rio, amizade?
<br>� Logo ali. No in�cio da Saint Roman.
<br>Ia dar certo. 0 careta n�o desconfiaria. Falaria o tempo todo no
<br>anivers�rio.
<br>
<br>� Uma sobrinha. Outro dia era garotinha, agora t� completando
<br>15 anos.
<br>Se o motorista tivesse filhos, fatalmente encompridaria a conversa,
<br>se fosse reservado, procuraria abordar futebol, corrida de cavalos.
<br>Numa dessas terminaria caindo. Depois que acionasse a arma, o que
<br>faria da torta? Tem vontade de rir. Necess�rio examinar o papel, ver
<br>se n�o havia o nome e endere�o da panificadora. Um cuidado que
<br>n�o podia ser desprezado. Tem quase certeza de que era um caminho.
<br>
<br>226
<br>
<br>
<br>O outro viria com o tempo. Podia pegar o t�xi, mandar seguir para
<br>
<br>o sub�rbio, bem longe, de l� retornar. Contrataria a corrida fora do
<br>tax�metro. Faria isso por volta das cinco/seis horas. Quando retornasse
<br>a Copacabana estaria de noite.
<br>� E agora, amizade, j� se passeou � be�a!
<br>� Isso mesmo.
<br>� Resolveu seus problemas?
<br>� Quase todos. N�o encontrei o careta em Campo Grande, mas
<br>havia deixado a grana que me devia.
<br>0 motorista estaria �ntimo, puxando uma conversa atr�s da outra.
<br>N�o esqueceria a �gua que pagou, quando passavam pela Estrada do
<br>Cabu�u, nem da coca-cola na Avenida Suburbana. Por isso, por que
<br>desconfiar de seguir pela Estrada da G�vea? Exatamente ali. Um �nico
<br>problema o inquietava. Se at� �s 5 o careta ainda n�o tivesse feito
<br>nada? Tinha de considerar esse detalhe. Seria uma solene mancada?
<br>Rodaria horas e horas de t�xi, perderia tempo e o resultado seria
<br>desastroso. Um projeto que dificilmente podia dar certo. Teria de bolar
<br>outro. Mais simples, com maiores possibilidades de ganho. Iria
<br>para o Gale�o, tomaria um t�xi especial, mandaria seguir para a
<br>Gast�o Baiana. Esses motoristas de aeroporto est�o sempre com a
<br>nota. Se perguntasse sobre a viagem, diria estar retornando de S�o
<br>Paulo. Casa de parentes. Nada al�m disso. Onde j� se viu tanta trela
<br>com motorista?
<br>
<br>Mete-se na roupa, examina se o cofre est� bem fechado, vai para
<br>a rua. Passa na banca de jornais. V� logo no primeiro deles que a
<br>morte do motorista era manchete. Junto � fotografia do morto, a do
<br>tipo agitado, l�der sindical. No jornal seguinte, o mesmo homem, em
<br>foto maior. Alarma-se com aquilo. Ser� que os caras iam partir pra
<br>greve? Se isso acontecesse deveria parar por algumas semanas. Mas,
<br>
<br>o melhor seria ler as mat�rias com vagar. Olharia rapidamente enquanto
<br>estivesse no bar, faria uma leitura cuidadosa, estirado na
<br>cama. Talvez nem abrisse o jornal no barzinho. N�o queria demonstrar
<br>interesse por umas tantas coisas. Quem sabe aquele gar�om n�o
<br>transava com os tiras? Teria de ser cauteloso. Ao m�ximo. Colocaria
<br>os jornais na cadeira do lado, comeria a feijoada tomando guaran�
<br>num copo de chope, com cubos de gelo. retornaria ao quarto.
<br>0 gar�om movimenta-se r�pido, pois ainda h� bastante gente para
<br>almo�ar. Toninho senta perto da porta, fica olhando a velhota que
<br>vende pentes, envelopes de cartas, pimenta-do-reino. Nunca vira uma
<br>vendedora com mercadorias t�o desencontradas. Onde ser� que conseguia
<br>aquilo? Olha a mulher, parecida com dona Juliana. A mesma
<br>cara magra, mesmos olhos grandes, cansados, ar de espanto.
<br>
<br>0 gar�om traz a feijoada na panela de barro, adverte que est�
<br>quente.
<br>
<br>� Nesse tempo a feijoada s� vai bem com chope.
<br>
<br>� Ent�o suspende o guaran�.
<br>0 homem sorri, traz um chope duplo. Toninho sabe que aquilo
<br>acontece porque se tornara fregu�s, quase todos os dias est� ali, pura
<br>
<br>o caf� ou o almo�o. Dessa forma ningu�m ousa perguntar se � menor
<br>ou n�o. Vira o chope, v� que o homem tem raz�o. Mastiga a feijoada
<br>com carne de porco, o calor�o � grande, ventiladores soprando das
<br>paredes e do teto, o suor escorrendo-lhe no peito e nas costas. Olha os
<br>jornais, n�o abre nenhum deles. Mas est� curioso para ver o que dizem
<br>os rep�rteres, o que diz o detetive Galv�o.
<br>Abre a porta do quarto, tira a camisa e as cal�as, fica s� de cueca,
<br>estende-se na cama. Pela janela entram ventos frescos, agrad�veis
<br>naquela tarde de sol intensamente quente. Vira as p�ginas do primeiro
<br>jornal, l� est�. Com todo destaque. O t�xi parado, lanternas acesas.
<br>Na foto seguinte o motorista na cal�ada. E o texto informando que
<br>
<br>o profissional s� foi identificado com a chegada de um representante
<br>do Sindicato. Dentro de um quadro havia o pronunciamento do secret�rio
<br>de Seguran�a, num outro, pequena entrevista com o delegado
<br>Paranhos. 0 secret�rio dizia que as investiga��es iam ser intensificadas,
<br>o delegado afirmava estarem sendo tomadas medidas excepcionais.
<br>No mesmo jornal, na p�gina seguinte, havia uma nota que Toninho
<br>achou estranha. Falava na pris�o de um suspeito, conduzido
<br>� Delegacia pelo motorista Darci Severino. O tipo. cuja identifica��o
<br>a pol�cia n�o fornecera, insistia em declarar-se inocente, mas ap�s
<br>algumas horas de "h�bil interrogat�rio"', conforme o detetive Galv�o,
<br>terminou confessando numerosos crimes contra motoristas.
<br>Acontece � diz o rep�rter � que agora o detetive n�o pode mais
<br>apresentar o suspeito como o grande matador, porque exatamente na
<br>noite do interrogat�rio um outro profissional foi assassinado, "de
<br>maneira fria e covarde". Finalizando o rep�rter afirmava estar o detetive
<br>Galv�o e sua equipe ocupada em levantar a vida do acusado,
<br>pois acreditavam ser ele o matador louco. No seu depoimento o delegado
<br>Paranhos dizia aos jornalistas n�o saber nada sobre o suspeito,
<br>a n�o ser que estava detido, incomunic�vel. 0 secret�rio de Seguran�a,
<br>por sua vez, recusava-se a falar no assunto.
<br>
<br>O jornal seguinte, mais conservador, menos sensacionalista,
<br>tratava da pris�o do suspeito com certa ironia. E deixava claro que,
<br>n�o tendo o verdadeiro criminoso nas m�os. os policiais procuravam
<br>forjar um. Para isso teriam se utilizado de um chofer de pra�a, que
<br>roda mais de 16 horas, dorme ao volante e ficou apavorado ao imaginar
<br>que o passageiro parecia com o retrato-falado que tinha no p�rabrisa,
<br>apenas porque o cidad�o, cuja identidade a pol�cia oculta, usava
<br>�culos de aros de metal. Da� em diante o artigo desancava o delegado
<br>Paranhos e terminava qualificando o detetive Galv�o e sua equipe
<br>como um "bando de irrespons�veis que n�o estavam preocupados em
<br>proteger a sociedade e sim praticar atos de arbitrariedade". Lembrava
<br>
<br>
<br>o artigo os crimes praticados por Galv�o durante o per�odo de "instala��o"
<br>do Esquadr�o da Morte, "quando ele decidiu punir, com as
<br>pr�prias m�os, nada menos que quatro delinq�entes, todos acusados
<br>por crimes que n�o chegaram a ser apurados". Pedia finalmente o
<br>jornal que o secret�rio de Seguran�a tomasse medidas severas, a fim
<br>de que policiais mais respons�veis fossem colocados � frente de assunto
<br>t�o grave, quanto era o assassinato de motoristas de pra�a no Rio de
<br>Janeiro.
<br>Toninho tem vontade de rir da confus�o em que se metera o
<br>detetive. Todo aquele seu tamanho, toda sua arrog�ncia e n�o adiantava
<br>nada. Cada vez que apertava o parafuso, mais tumultuava. Agora,
<br>com aquela mancada, os jornais iam martelar em cima dele. Ser�
<br>que continuaria nas investiga��es? Esse fato deixa-o preocupado. Se
<br>fosse feita alguma mudan�a, teria de saber quem ia ficar no lugar
<br>de Galv�o. Mas era poss�vel que no dia seguinte a confus�o estivesse
<br>menor. A n�o ser que os l�deres sindicais convocassem de fato a
<br>assembl�ia, a fim de tratar da greve.
<br>
<br>Toninho continua com vontade de rir. De uma forma ou de outra
<br>aquilo n�o o atinge. Nem a dispensa de Galv�o, nem a deflagra��o
<br>da greve. Ficaria uns tempos fora de circula��o, at� a coisa esfriar.
<br>A essa altura, n�o tinha d�vida, devia haver uma quantidade de t�xis
<br>rodando com policiais fantasiados de motorista. Galv�o a todo vapor,
<br>a fim de agarrar o tal matador louco, como a imprensa batizara. E
<br>era bom que os desesperassem.
<br>
<br>Dobra os jornais, atira-os por baixo da mesa, onde j� havia
<br>v�rios outros. P�e a roupa, ajeita os cabelos, fecha a porta. � noite,
<br>quando encontrasse Sandra, teria o que dizer sobre o toca-discos.
<br>
<br>� Amanh� ou depois vai ser entregue.
<br>Est� certo de que ia ficar contente, anima-se com isso. Como na
<br>hora em que saiu do restaurante, comprou todos os envelopes e todos
<br>os pentes que a mulher de rosto magro vendia.
<br>
<br>� Quebro pente com a maior facilidade. Por isso � melhor comprar
<br>de d�zia.
<br>� E pra que tanto envelope?
<br>� Vou come�ar a escrever cartas. Pra todo mundo que conhe�o
<br>e
<br>at� pra quem nunca vi!
<br>A mulher ficou rindo, feliz, como Sandra tamb�m ficaria.
<br>
<br>
<br>Cap�tulo XII
<br>
<br>UM
<br>
<br>� propor��o que a velhota se movimenta, mexendo nos livros,
<br>nas fichas, abrindo e fechando gavetas de arquivo Itamar sente-se
<br>mais apreensivo. Embora a sala esteja envolta num agrad�vel ar-refrigerado,
<br>n�o consegue ficar � vontade, a ponto de ter recusado o
<br>cafezinho que o cont�nuo lhe oferecera, exatamente quando gostaria
<br>de tomar alguma coisa, s� como motivo de acender um cigarro. Lutava
<br>para deixar aquele v�cio mas parecia imposs�vel. E como evitar
<br>
<br>o fumo, com armadilhas como aquela?
<br>A mulher trabalhava lenta e seguramente, n�o parecia incomodar-
<br>se com o tempo. Pela calma com que examinava os pap�is, pela
<br>firmeza das anota��es Itamar ia entendendo ser pessoa respons�vel,
<br>meticulosa, enquanto ele, Galv�o, Nogueira e todos os outros da Delegacia
<br>de Paranhos n�o passavam de uns celerados. Como podia o
<br>detetive, com tantos anos de janela, cair em semelhante asneira?
<br>
<br>Desde que se apresentou, mostrou a identifica��o, a funcion�ria
<br>n�o fez qualquer coment�rio. Pediu apenas que deixasse anotar o
<br>n�mero da identidade, o que constitu�a praxe naquele setor da Universidade.
<br>O cont�nuo reapareceu. Itamar decidiu apelar.
<br>
<br>� Amizade! Vou aceitar!
<br>0 cont�nuo p�e o caf� na x�cara, Itamar toma em pequenos goles,
<br>a velhota continua absorvida nas anota��es, letrinhas mi�das e bem
<br>tra�adas preenchendo as linhas da ficha branca, diferente das outras
<br>que estavam na gaveta estreita do arquivo, quase todas amarelas e
<br>azul clara. Ao depositar a x�cara de um lado da mesa a funcion�ria
<br>chama-o. Aproxima-se, sente o cheiro de talco e da maquiagem.
<br>
<br>� � o que se pode informar.
<br>Itamar pega a ficha, a velhota faz um coment�rio de ordem
<br>pessoal.
<br>
<br>� Professor Carlos de Assis � excelente pessoa. Goza de muito
<br>conceito entre os colegas de magist�rio.
<br>
<br>Itamar prossegue olhando a ficha, o sangue esfriando nas veias.
<br>Ah, como se sentiria feliz se n�o estivesse envolvido com aquele caso.
<br>Por que Galv�o foi aceitar o suspeito, trazido pelo porra louca do
<br>motorista? Esfor�a-se mas n�o consegue ler a ficha direito. Os olhos
<br>inundam-se com as express�es favor�veis ao professor e terrivelmente
<br>desastrosas ao policial e � sua equipe. Dez anos de magist�rio, ex-assessor
<br>t�cnico do Minist�rio da Agricultura, tese de mestrado traduzida
<br>para o alem�o, cinco vezes paraninfo de formandos no Rio e cm
<br>S�o Paulo. Itamar n�o tem coragem de continuar olhando a ficha.
<br>
<br>� Minha Nossa Senhora!
<br>� Como disse?
<br>� Nada. Apenas a ficha do professor me impressionou. Um
<br>homem culto. . .
<br>� E muito honesto � afirma a funcion�ria enquanto rep�e as
<br>fichas no arquivo.
<br>Itamar sai pelo corredor largo, chega diante dos elevadores, n�o
<br>sabe o que dizer na Delegacia. Quando l� aparecesse era quase certo
<br>que o esperavam o delegado Paranhos, um ou dois emiss�rios do secret�rio
<br>de Seguran�a, representantes do Sindicato dos Motoristas
<br>Profissionais, o pr�prio Galv�o. Ia ser um massacre. Por que n�o
<br>dizer ter sido imposs�vel encontrar um funcion�rio que lhe desse as
<br>informa��es sobre Carlos de Assis? Entra no elevador, acha que isso
<br>poderia tornar o problema ainda mais complexo. E se um dos emiss�rios
<br>do secret�rio pegasse o telefone e se comunicasse com a pr�pria
<br>funcion�ria que terminara de o atender com tanto empenho? N�o.
<br>Nada de novas complica��es. 0 neg�cio era chegar, enfrentar as feras.
<br>Se pudesse, mandaria chamar Galv�o para o bar da esquina. Mostraria
<br>a ficha, n�o consentiria fosse pego de surpresa. Isso sim. Descobriria
<br>Nogueira, mandaria localizar o detetive.
<br>
<br>Na rua, andando entre tantas pessoas apressadas, olha novamente
<br>a ficha. Tese de doutorado sobre problemas colaterais de brucelose,
<br>traduzida em 1956 para o alem�o. Como fora poss�vel tal desastre?
<br>Uma cidade cheia de vagabundos, de canalhas e maconheiros, e o
<br>diabo do motorista foi buscar exatamente no homem errado. Inacredit�vel!
<br>N�o tinha mais d�vida de que Galv�o era p�-frio. Bem que
<br>os amigos diziam e n�o queria ouvir. Foi no dia que mancou na campana
<br>do supermecado que os assaltantes voltaram e levaram o dinheiro
<br>que haviam esquecido no cofre: foi na semana que ia entrar
<br>de f�rias que os desgra�ados come�aram a matar motoristas na Zona
<br>Sul; foi no dia em que decidiu dar umas voltas nas bocas que o caminh�o-
<br>tanque deu aquela fechada e Nogueira n�o teve outro recurso
<br>sen�o arrebentar a viatura novinha de encontro � �rvore. Dali em
<br>diante teria de ter mais cuidado no seu relacionamento com Galv�o.
<br>N�o podia deixar-se arrastar. Se o caso do professor resultasse num
<br>esc�ndalo o detetive estaria fatalmente perdido. Provavelmente, seria
<br>
<br>
<br>expulso do servi�o p�blico. Acusa��o de quatro execu��es nas costas
<br>e mais aquela mancada que parecia pesadelo. N�o havia a menor
<br>d�vida de que Paranhos ia tirar o corpo fora, como sempre fizera.
<br>Desde o come�o percebeu logo sua malandragem. Alegrou-se com a
<br>not�cia de que havia um suspeito engaiolado, mas n�o quis nem saber
<br>quem era. Confiava no detetive, sabia estar cuidando muito bem
<br>do caso. Na verdade o que queria dizer � que n�o se imiscu�a; a responsabilidade
<br>total estava nas costas de uns poucos imbecis. Por que
<br>n�o percebeu logo a jogada? Galv�o n�o era nada inteligente. Tinha
<br>conversa, agia com garra, mas na verdade n�o passava de um ing�nuo
<br>que Paranhos conseguia controlar.
<br>
<br>Rodando no t�xi Itamar continua a ver e a ouvir a funcion�ria,
<br>a sentir-lhe o cheiro do talco e da maquiagem.
<br>
<br>� Professor Carlos de Assis � excelente pessoa. Goza de muito
<br>conceito entre os colegas de magist�rio.
<br>Imaginem s�! Papo de Anjo e Baiacu se esbaldando. Bolachadas
<br>de um lado e do outro, a cutelada no plexo.
<br>
<br>� Quem era teu coleguinha?
<br>Carlos de Assis n�o querendo dizer. Mais pancadaria, Galv�o
<br>passeando nu da cintura para cima, a sala cheia de fuma�a de cigarros,
<br>o ventilador girando furiosamente a um canto. Sangrando pelo
<br>nariz e ouvidos, ap�s receber o telefone mais bem dado que Papo de
<br>Anjo j� conseguira, eis que o suspeito decide abrir o bico. Nogueira
<br>atirou-lhe o balde d'�gua.
<br>
<br>� Agia de parceria com Jorge Grimber.
<br>E Jorge Grimber n�o era outro sen�o o reitor. Como podia semelhante
<br>coisa? Que diabo de professor era aquele, que n�o tivera
<br>a menor considera��o? Por que n�o dizer estar tudo errado, o motorista
<br>n�o passava de um tresnoitado. que j� n�o sabia o que fazia e
<br>muito menos o que dizia?
<br>
<br>0 t�xi entra quente na curva, Itamar faz ligeira an�lise da situa��o,
<br>conclui que na verdade Carlos de Assis tentara convencer
<br>Galv�o de que o chofer estava inventando, era um neur�tico. Isso
<br>mesmo. Cansou de dizer. Por a� n�o podiam disfar�ar. Nem de longe.
<br>A sorte � que n�o havia testemunha para confirmar o que Carlos
<br>de Assis dissera. Iam prevalecer as desculpas que o detetive pudesse
<br>inventar. Mas, al�m disso tudo, afligia Itamar um outro detalhe de
<br>suma import�ncia. Quando saiu em busca das informa��es Galv�o
<br>mandou que Nogueira jogasse mais �gua no suspeito. Teria direito a
<br>meia hora de descanso, quando voltaria a ser interrogado sobre o
<br>parceiro Jorge Grimber e o motorista portugu�s, assassinado na Lagoa
<br>Rodrigo de Freitas. Temia que o "h�bil interrogat�rio" prosseguisse
<br>e quando chegasse o professor j� estivesse t�o ruim que seria imposs�vel
<br>apresent�-lo a quem quer que fosse, muito menos � imprensa
<br>
<br>
<br>e aos emiss�rios do secret�rio de Seguran�a. Itamar esfor�a-se para
<br>n�o pensar em mais nada daquilo. Era tempo de aprender a n�o
<br>sentir-se culpado com os desmandos alheios. Galv�o devia ter pesado
<br>bem as conseq��ncias daquele arrocho, que corria sob sua inteira
<br>responsabilidade. Pelos anos de janela que tem, seria natural suspeitar
<br>da sutil manobra de Paranhos. Nunca fora muito com aquele
<br>tipo. Brincalh�o, metido a preocupar-se com os problemas alheios,
<br>mas ali estava: viu o detetive cavando a pr�pria sepultura, deixou.
<br>N�o disse uma �nica palavra. Queria o resultado; o assaltante afirmando
<br>ter assassinado tantos motoristas. Apenas isso. N�o estava
<br>preocupado com quem quer que fosse. Dominava-o certa satisfa��o
<br>de jamais se ter enganado quanto ao comportamento de Paranhos.
<br>A princ�pio Galv�o chegava a considerar m� vontade, depois pensou
<br>em inveja. Mas, nos primeiros meses de nomea��o, Paranhos foi mostrando
<br>quem era. Efetuou transfer�ncias de antigos servidores, colocou
<br>tr�s parentes em postos de chefia e todo o resto foi enquadrado.
<br>Muito trabalho, muita dedica��o, poucos ganhos. Onde estava a gratifica��o
<br>de Galv�o? E seu aumento? Um tipo safado. Sem nenhuma
<br>d�vida. Na verdade manobrava com sutileza, porque aquilo era um
<br>jogo. S� os imbecis como ele, Galv�o e Nogueira n�o percebiam. Os
<br>outros compreenderam de longe a atua��o do delegado, trataram de
<br>alinhar-se. Estavam com Paranhos, tornaram-se seus amigos.
<br>
<br>0 t�xi p�ra junto ao bar, Itamar faz uma liga��o, fica com o
<br>fone no ouvido, enquanto o portugu�s serve a dose de conhaque. Do
<br>outro lado da linha algu�m promete chamar Nogueira. Itamar beberica
<br>enquanto aguarda.
<br>
<br>� Te manda pra c�. Se Galv�o tiver por a�, manda vir tamb�m.
<br>Tou no barzinho!
<br>0 portugu�s repete a dose. Nogueira aparece.
<br>
<br>� Procurei Galv�o pia cacete, n�o achei!
<br>� E Paranhos?
<br>� T� pra chegar. Vai haver reuni�o e os cambaus. 0 careta
<br>terminou dizendo at� o que n�o fez!
<br>Itamar beberica. N�o sabe por onde come�ar. Nogueira pediu a
<br>caipirinha, o portugu�s traz o copo, cheiro de lim�o esmagado no ar.
<br>
<br>� Tamos por cima, hem!
<br>� Claro. 0 careta se abriu todo!
<br>� Sabe de onde tou vindo?
<br>Nogueira toma o primeiro gole, n�o gosta daquele ar misterioso
<br>de Itamar.
<br>
<br>� Do Departamento de Informa��es da Reitoria.
<br>Puxa a ficha do bolso.
<br>� Sabe o que � isto?
<br>
<br>Nogueira mant�m o copo de caipirinha na m�o. n�o diz uma
<br>�nica palavra.
<br>
<br>� Pequena biografia do professor Carlos de Assis.
<br>� Professor?
<br>� Catedr�tico da Universidade Rural, com tese em alem�o e
<br>o cacete!
<br>� T� brincando.
<br>Itamar pede outro conhaque.
<br>� Quem me dera que tivesse!
<br>� E pra que se abriu daquele jeito?
<br>� Qualquer um faria o mesmo, com tanta porrada!
<br>� E agora?
<br>� Vai l� de novo, trata de encontrar Galv�o. Com essa tamos
<br>todos ferrados.
<br>Nogueira vira o copo, manda o portugu�s preparar outra, enquanto
<br>retorna. Itamar v� o amigo sair, sumir na rua atravancada de
<br>carros. Sua vontade era sentar-se naquele barzinho infecto, tomar duas
<br>d�zias de conhaque, ficar bem b�bado, meter-se no hotel de segunda, ligar
<br>o ventilador, dormir dois dias sem parar. Que ningu�m soubesse onde
<br>estava, que ningu�m o fosse procurar, perguntar coisas, pedir aux�lio,
<br>dar ordens para descobrir assassinatos complicados. Talvez nem esperasse
<br>pelo tal aumento. Se escapasse daquela enrascada, simplesmente
<br>chegaria ao gabinete de Paranhos, entregaria a carta de demiss�o.
<br>� o que deveria ter feito h� mais tempo. Procuraria outro
<br>meio de vida, nem que fosse vendendo fruta em feira-livre.
<br>
<br>Nogueira retorna, o copo de caipirinha est� cheio, na ponta do
<br>balc�o.
<br>
<br>� T� vindo a�!
<br>� Disse alguma coisa?
<br>� N�o. Tinha uma por��o de careta por perto.
<br>Nogueira vira o copo de batida, com vontade. Estala a l�ngua
<br>e os bei�os, esfrega as m�os.
<br>
<br>� Nem pensava beber hoje mas j� vi que n�o vai ter jeito.
<br>� Acho tamb�m que n�o. Se puder, encho a cara!
<br>Os dois v�o para a mesinha dos fundos, perto do ventilador na
<br>parede, oscilando de um lado para outro, como p�ndulo. Galv�o
<br>aparece, palet� nas costas, la�o da gravata frouxo.
<br>
<br>� Motinha � grita o detetive para o portugu�s � manda uma
<br>barriguda bem gelada.
<br>P�e o palet� na cadeira, sorri, o homem do bar aparece, suado,
<br>um pano imundo na cintura. Galv�o enche o copo, toma metade,
<br>como se estivesse morrendo de sede.
<br>
<br>� Finalmente, vamos poder dar um banho nesses putos!
<br>Olha os companheiros que n�o dizem nada, n�o fazem ao menos
<br>sinal de riso.
<br>
<br>
<br>� Que � que t� havendo? Por que essa cara de enterro em dia
<br>de
<br>festa?
<br>Itamar livra-se do palet�, esfrega o len�o no rosto.
<br>
<br>� Tive na Reitoria.
<br>� Algu�m sabe do vagabundo por l�?
<br>Itamar mostra a ficha.
<br>� Que brincadeira � essa?
<br>Itamar continua em sil�ncio, Galv�o lendo o que a velhota escrevera.
<br>
<br>
<br>� T�o fazendo confus�o. N�o pode ser o mesmo cara.
<br>� � o mesmo � diz Itamar. � Vi a fotografia.
<br>Galv�o permanece quieto um momento, olhando um ponto distante.
<br>
<br>
<br>� Quem sabe � o parceiro que apontou?
<br>� 0 "parceiro"' � simplesmente o reitor � diz Itamar.
<br>� Filho da puta. Choramingando como um desgra�ado e botando
<br>na gente sem vaselina, sem nada.
<br>� E agora?
<br>� Essa � de rachar o cano. S� parando pra pensar.
<br>Galv�o tira o len�o do bolso, esfrega com for�a na testa e no
<br>rosto.
<br>
<br>� Motinha, leva a barriguda. Traz uma velha do morro � torna
<br>a gritar Galv�o.
<br>� N�o creio que seja hora disso � considera Itamar.
<br>O portugu�s n�o ouviu o pedido do detetive, est� ocupado com
<br>outros clientes.
<br>
<br>� Com essa tamos no olho da rua e, o que � pior, a caminho da
<br>Ilha Grande � acentua Galv�o.
<br>� Talvez haja um meio de conciliar.
<br>� Conciliar, como? 0 cara t� mais arrebentado que puta em
<br>briga de marinheiro.
<br>� Pra onde foi?
<br>� T� l� mesmo, Baiacu na paquera.
<br>� N�o era o caso de chamar um m�dico?
<br>� E se ele tomar ten�ncia, depois servir de testemunha contra
<br>a
<br>gente?
<br>Galv�o vira o copo de cerveja, esfrega o len�o na boca.
<br>
<br>� Onde tava com a cabe�a pra acreditar no puto daquele motorista?
<br>� A jogada come�ou bem � acentua Nogueira. � 0 Darci �
<br>que foi p�-frio. Com tanto mocorongo dando sopa, gadanhou logo um
<br>gra�d�o!
<br>� Como ia imaginar que um merda como aquele, todo mal
<br>vestido, fosse alguma coisa?
<br>� Bem que o careta exibiu a documenta��o.
<br>
<br>� Exibiu? Juro que nem reparei!
<br>� Tenho lembran�a de que ainda insistiu na tal hist�ria do
<br>veterin�rio.
<br>� Ah, Deus do c�u! Com tanto cachorro doido mijando em
<br>poste e o maldito do motorista vai pegar um assessor de ministro.
<br>� Agora, n�o adianta lamenta��o. 0 que interessa � encontrar
<br>uma sa�da.
<br>� Logo mais os colarinho branco v�o chegar. Doutor Paranhos
<br>vai t� mais enfeitado que pav�o no terreiro.
<br>� E o pior � que v�o querer ver o acusado � comenta Galv�o
<br>amargurado.
<br>� Se a gente disser que o pinta deu no p�?
<br>Os olhos de Galv�o ilumina-se. Por instantes, um resto de felicidade
<br>modifica-lhe o rosto cansado, nervoso.
<br>
<br>� Pode ser uma boa!
<br>� E como fica o cara que permitir a fuga? � quer saber Itamar.
<br>� S�o outros quinhentos!
<br>� Se pode at� dizer que pegou um preso de bom comportamento
<br>pra ajudar na marola. Se deixou o preso de olho aberto na toca,
<br>ele pegou no sono, o malandro se mandou.
<br>� E o que se faz com o professor?
<br>� Esconde numa cl�nica, manda rem�dio em cima.
<br>� 0 que se diz na cl�nica?
<br>� Atropelamento. Ia passando na rua, a viatura pegou.
<br>� Acho que isso n�o cola, amizade. Vai terminar estourando
<br>tudo
<br>em cima de mim � lembra Nogueira.
<br>Galv�o toma mais cerveja, insiste na dose de velha do morro.
<br>
<br>� Acho que tudo isso � besteira � diz Galv�o num acesso de
<br>bom senso. � Mais cedo ou mais tarde o traidor daquele professor
<br>bola a boca no mundo.
<br>0 portugu�s Motinha abre a segunda garrafa de aguardente.
<br>
<br>� 0 jeito � se adiar a reuni�o.
<br>� Como? Paranhos enlouquece!
<br>� T� doido pela promo��o.
<br>� A gente argumenta que surgiu a pista do segundo implicado
<br>no caso.
<br>� Jorge Grimber?
<br>� Corta essa. N�o me fala mais em assombra��o! � diz o detetive
<br>revoltado.
<br>� E pra que serve o adiamento da festa que Paranhos programou?
<br>� Sei l�. � tempo que se ganha.
<br>� 0 bom � se o sacaneta do professor aceitasse nossas desculpas.
<br>Se ia pra l�, agora mesmo, levando uma torta de chocolate pra
<br>
<br>ele. leite integral e at� pasta e escova de dentes. Tu explicava o en.
<br>gano � diz Galv�o referindo-se a Itamar.
<br>
<br>� Acha que � poss�vel?
<br>� Sei, n�o � considera o detetive. � Depois das porradas que
<br>ganhou, deve t� querendo me ver numa forca. Esses caras n�o t�m
<br>a menor compreens�o dos problemas pr�ticos. S�o todos uns recalcados!
<br>� Se fosse ele n�o aceitava acordo � afirma Itamar.
<br>Galv�o olha-o com enfado.
<br>� Afinal, t� de que lado?
<br>� N�o adianta simplificar as coisas � acentua Itamar s�rio. �
<br>Desta vez se foi longe demais.
<br>
<br>� Longe, porra nenhuma. Apenas se errou no pulo. Fosse um
<br>p� duro e n�o ia ter problema algum.
<br>� Na minha opini�o a gente t� se afobando � toa. 0 neg�cio �
<br>boiar a cuca pra funcionar. Um caminho tem de aparecer � lembra
<br>Nogueira.
<br>Galv�o toma grandes goles da cacha�a, faz cara feia.
<br>
<br>� Acho que pintou uma solu��o.
<br>Itamar e Nogueira animam-se, Molinha traz outro copo de caipirinha.
<br>
<br>
<br>� Qual �?
<br>� Dar baixa no sabid�o.
<br>� Expulsar do planeta?
<br>Galv�o continua a tomar a cacha�a, sacode afirmativamente a
<br>cabe�a.
<br>
<br>� E se o problema piorar?
<br>� Como piorar? � s� estudar cada �ngulo da opera��o.
<br>� N�o sei se topo.
<br>� Que � que h�, cara! T� me desconhecendo?
<br>Nogueira tamb�m anima o companheiro.
<br>� Papo-firme, amizade. Caminho melhor n�o tem!
<br>� Se o maluco do motorista for chamado a depor?
<br>� Que tem isso? Se queima ele tamb�m.
<br>Motinha renova a dose de conhaque para Itamar.
<br>� N�o creio que possa fazer mais nada, hoje. Tou arrasado!
<br>� Te p�e no meu lugar � diz Galv�o. � Ou se toma a medida
<br>acertada, sem d� nem pena, ou vamos parar no inferno. N�o tem
<br>Paranhos que segura essa.
<br>� E por acaso segurou alguma?
<br>� Certo, mas sempre manerou. Se a gente deixa o petulante do
<br>veterin�rio abrir o bico, a desgra�a � geral. 0 pr�prio Paranhos vai
<br>de �gua abaixo.
<br>� Quanto a isso at� que seria bom � comenta Nogueira.
<br>� Acontece que o lado podre da corda t� na nossa m�o.
<br>� Como seria?
<br>
<br>� Muito f�cil. Se espera anoitecer, convoca Baiacu. Ele fecha
<br>o engra�adinho, enfia num saco, se leva por a�, bota numa fogueira,
<br>at� virar cinza.
<br>� Depois espalha a cinza no vento � diz Nogueira, fazendo
<br>gra�a.
<br>Galv�o mostra os dentes num riso frio, o rosto modifica-se numa
<br>careta de alegria.
<br>
<br>� Parece que � o �nico jeito.
<br>� N�o tem outra sa�da!
<br>� E a reuni�o?
<br>� Nogueira vai l�, d� o al� a Paranhos. Amanh� se tira Garanh�o
<br>da vadiagem, faz uma barganha com ele. Banca o crime, at�
<br>a poeira assentar. � o tempo que se p�e a m�o no matador louco, libera
<br>Garanh�o, deixa ele agindo uns dias.
<br>DOIS
<br>
<br>� Que foi tarefa dura, foi. Mas o que vale a gente s�o os profissionais
<br>que trabalham por amor � arte.
<br>� Com essa o Galv�o merece promo��o e umas boas f�rias.
<br>� � o que vou dizer a ele. Por mais que se deseje evitar, o
<br>momento tem alguma coisa de solene.
<br>No gabinete refrigerado do delegado Paranhos est�o dois funcion�rios
<br>da Secretaria de Seguran�a. 0 moreno gordo representa o
<br>secret�rio. Com ele Paranhos fala mais. 0 outro apenas ouve. 0 coordenador
<br>de Opera��es Especiais conversa em voz baixa com integrantes
<br>do Sindicato dos Motoristas.
<br>
<br>� Com a deten��o do suspeito, vamos ter outros nomes? �
<br>indaga o moreno gordo.
<br>
<br>� Sem d�vida. 0 dif�cil era descobrir o fio da meada!
<br>� Acha bom contar detalhes � imprensa ou � mais prudente
<br>esperar?
<br>� Sim e n�o � diz Paranhos sorridente. � Em princ�pio sou
<br>contra a divulga��o de um caso, antes de estar conclu�do. Mas, como
<br>se trata de assunto t�o discutido, que amea�a levar uma categoria
<br>inteira � greve, creio que se deva divulgar. Com discri��o, � claro.
<br>� V�o ver que n�o tamos de bra�os cruzados, como alguns baderneiros
<br>imaginam.
<br>� Isso mesmo � diz Paranhos � voltando-se para o acompanhante
<br>do moreno gordo.
<br>
<br>Em dado momento a poria do gabinete abre, entra Galv�o. 0 n�
<br>da gravata ajustado, o len�o vermelho no bolso do palet�, sapatos
<br>reluzentes.
<br>
<br>� Eis nosso homem! � exclama Paranhos que � todo anima��o.
<br>0 detetive sorri, apertando a m�o do moreno gordo que se levanta.
<br>
<br>
<br>� Receba os cumprimentos de Sua Excel�ncia. N�o p�de vir,
<br>mas vai marcar uma audi�ncia semana que vem. Deseja cumpriment�-
<br>lo de perto.
<br>Galv�o fala com os outros, senta ao lado de Paranhos.
<br>
<br>� Como andam as investiga��es'.''
<br>� Melhor do que esperava. Agora n�o se vai mais ter embara�o.
<br>� Quem � o matador?
<br>� Um velho conhecido da pol�cia. Depois de suspeitar de uns
<br>quatro ou cinco, terminamos nos fixando nele e n�o deu outra.
<br>� Velho conhecido? � indaga Paranhos.
<br>� Isso mesmo. T� lembrado do Garanh�o, aquele que num m�s
<br>praticou 18 estupros?
<br>0 delegado sorri, a fim de mostrar que tem boa mem�ria, n�o se
<br>recorda de coisa alguma mas confirma que sim, perfeitamente.
<br>
<br>� Pois � ele. Falta apontar os coleguinhas!
<br>� Logo vi. Desde o princ�pio imaginei que n�o era coisa de um
<br>s� bandido � afirma um dos representantes sindicais.
<br>� Seria preciso muito est�mago pra fuzilar um trabalhador, sem
<br>d� nem pena. S� um delinq�ente calejado!
<br>� Onde se pode ver esse homem? � quer saber o moreno gordo.
<br>� Mandei botar no xadrez daqui de cima. 0 carcereiro vem
<br>avisar.
<br>0 cont�nuo entra com a bandeja e as x�caras, o caf� � servido.
<br>Paranhos toma o seu com certo acanhamento, Galv�o mostra-se muito
<br>� vontade.
<br>
<br>� No final desse caso � afirma o moreno gordo � vamos lhe
<br>fazer uma surpresa.
<br>� Posso saber?
<br>� Se � surpresa, creio que n�o � diz o gordo, rindo muito.
<br>Com n�tido desejo de fazer m�dia o delegado Paranhos dirige-se
<br>aos l�deres sindicais.
<br>
<br>� Creio que daqui em diante os senhores ter�o de colaborar com
<br>a gente. 0 neg�cio � tirar da cabe�a essa hist�ria de greve. J� imaginaram
<br>o precedente que pode abrir?
<br>� Agora, estejam tranq�ilos. Os assassinatos v�o terminar. Ou
<br>isso
<br>acontece ou n�o me chamo Galv�o!
<br>O cont�nuo recolhe as x�caras, o interfone toca. � o aviso de que
<br>
<br>o preso encontra-se na cela 21, � disposi��o do delegado. Paranhos ergue-
<br>se da cadeira girat�ria, pede aos visitantes que o acompanhem.
<br>
<br>O corredor est� repleto de rep�rteres e fot�grafos, o coordenador de
<br>
<br>Opera��es Especiais pedindo que n�o o fotografassem, o moreno gordo
<br>
<br>fazendo a mesma coisa, Paranhos n�o dizendo nada, mostrando-se
<br>
<br>ocupado com os representantes sindicais, enquanto os flashs espou
<br>
<br>
<br>cavam, as perguntas cruzavam o ar e Galv�o at� sentia certa emo��o,
<br>
<br>como se na verdade fosse mesmo apresentar o culpado.
<br>
<br>Sobem pequeno lance de escada, saem no corredor estreito e
<br>
<br>quente, a romaria de jornalistas atr�s. Chegam afinal diante da cela,
<br>
<br>paredes com retratos de mulheres nuas. Paranhos n�o p�ra de falar,
<br>
<br>o detetive n�o se atreve a indaga��es. Teme que desse a louca em
<br>Garanh�o, ele decidisse partir para o s�rio. Enquanto o assessor do
<br>secret�rio quer saber coisas, os fot�grafos trabalham, o delegado
<br>consente que os jornalistas se aproximem do preso. 0 carcereiro abre
<br>a grade, Galv�o se oferece para colocar as algemas.
<br>� V� l�, cara. Ag�enta firme!
<br>Garanh�o n�o tem o que dizer. Sai da cela para o meio dos jornalistas,
<br>olha o delegado, os outros tipos que jamais vira. � vim
<br>crioulo forte, um metro e oitenta, 26 entradas na pol�cia pelos mais
<br>variados tipos de delito, desde simples furtos em feira, at� lenoc�nio,
<br>suspeita de tr�fico de entorpecentes e os tais estupros. Mas, na verdade,
<br>nunca puderam provar nada contra ele. Das 18 mulheres estupradas,
<br>apenas duas compareceram � Delegacia e depois ficou constatado
<br>que ambas eram suas amantes. Fizeram a queixa para vingar-se.
<br>Descobriram Garanh�o bandeado por uma terceira dona, que mudou
<br>para o morro do Rato Molhado e botava banca de gr�-fina.
<br>
<br>Enquanto recorda essas passagens comuns na vida de um desocupado,
<br>Galv�o interroga-se a respeito daquele cara. Afinal, o pepino
<br>que ia segurar n�o era moleza. E se l� pelas tantas desse pra tr�s?
<br>J� imaginou? Tinha de ficar por perto, tornar a entrevista o mais
<br>breve poss�vel. Por isso, nem bem os rep�rteres fizeram as primeiras
<br>perguntas, o detetive entrou em cena pedindo que se retirassem. O
<br>delegado Paranhos ficou um tanto chateado com a petul�ncia do auxiliar,
<br>mas p�s-se a rir, � propor��o em que Galv�o explicava que muitos
<br>detalhes do caso ainda eram segredo, por uma palavra a mais ou a
<br>menos a coisa poderia se perder. Os jornalista afastaram-se contrafeitos,
<br>os visitantes retornaram ao gabinete refrigerado de Paranhos, enquanto
<br>Galv�o ficou com o preso, a fim de retirar-lhe as algemas.
<br>
<br>� Essa barra � demais pra mim, chefe. O senhor t� me empurrando
<br>pro 121 qualificado.
<br>� Deixa de ser bobo. Banca firme e se esquece o assalto no
<br>supermercado.
<br>� Nunca estourei um supermercado!
<br>� N�o � o que diz a ficha. Entrou botando pra quebrar e tudo.
<br>Tem
<br>testemunha que abre o bico e faz o reconhecimento.
<br>Garanh�o sorri. N�o adianta protestar.
<br>
<br>
<br>� Que vantagem levo?
<br>� Quando passar a onda, te manda. Troca de nome e nunca
<br>mais baixa por aqui!
<br>Garanh�o encara o detetive, sente que o policial est� envergonhado,
<br>apreensivo. Novamente no gabinete de Paranhos j� encontra
<br>os visitantes de p�. Cada um que sai abra�a Galv�o, um dos l�deres
<br>sindicais convida-o a participar da assembl�ia, marcada para quinta-
<br>feira. Quando todos se foram, Paranhos sacode-se orgulhosamente na
<br>cadeira.
<br>
<br>� Por que n�o deixou o filho da puta se abrir de vez?
<br>Galv�o acende calmamente o cigarro.
<br>� N�o era hora.
<br>� E que hist�ria � essa de Garanh�o ser crioulo, quando me
<br>falaram num cara branco, boa-pinta?
<br>� 0 informante se apressou. Ali�s, aqui dentro t� cheio de
<br>apressadinhos.
<br>Paranhos acha gra�a.
<br>
<br>� Gostei da jogada. Mostrou um careta, enquanto o verdadeiro
<br>tava de molho. No nosso trabalho o que vale � a seguran�a.
<br>� E a cautela!
<br>� Isso mesmo: seguran�a e cautela. Quem n�o souber dosar essas
<br>duas coisas afunda f�cil.
<br>Paranhos apoia os bra�os grossos na mesa.
<br>
<br>� De onde aquele crioulo tirou tanta imagina��o?
<br>� Que que h�? Acha que todo crioulo � burro? Garanh�o tem
<br>estilo e cabelo na venta.
<br>� Quando come�a a apontar os c�mplices?
<br>� J� come�ou mas tou me g�entando. Nada de papo com jornalista.
<br>N�o bota ningu�m pra frente.
<br>Paranhos sorri. Abre a gaveta, tira a garrafa de u�sque.
<br>
<br>� 0 momento exige celebra��o.
<br>O detetive acomoda-se na poltrona, o delegado p�e duas doses
<br>generosas, passa um dos copos a Galv�o.
<br>
<br>� Com essa o secret�rio vai quebrar a cara.
<br>� Quando chegar minha vez de falar com ele vou cantar alto!
<br>Sorridente, sempre sorridente, Paranhos faz o companheiro entender
<br>que a demonstra��o de machismo n�o ia adiantar.
<br>
<br>� N�o se luta com essa ra�a, mostrando as armas. Deixa comigo.
<br>Sei defender meu pessoal. T� querendo aumento e f�rias. � o que vai
<br>ter. Se puder, fa�o o mesmo pelo Itamar e Nogueira. Reconhe�o, t�o
<br>girando por a�, feito doido, e praticamente sem condi��es ou pensa
<br>que n�o vejo as coisas?
<br>Paranhos oferece nova dose, Galv�o agradece.
<br>
<br>� Vamos engaiolar o resto da canalha. Depois se festeja.
<br>
<br>Ajusta o n� da gravata, esmaga a ponta do cigarro no cinzeiro.
<br>No corredor � abra�ado por tipos que sempre o detestaram. DesvenciIhe-
<br>se desses amigos dos bons dias, entra na cantina atulhada de engradados
<br>de refrigerante, l� est� Nogueira.
<br>
<br>� Chama Itamar pro barzinho. Precisamos conversar.
<br>Nogueira se manda, apressadamente, Galv�o demora-se tomando
<br>caf� enquanto ouve de outro detetive uma hist�ria complicada, na qual
<br>n�o estava de forma alguma interessado. A�, enquanto o homem falava,
<br>tem uma id�ia que considera brilhante mas que n�o gostaria que ningu�m
<br>soubesse. 0 colega fala, Galv�o ri. N�o acha gra�a no que o
<br>companheiro diz; alegra-se com a id�ia que teve, capaz de tir�-lo de
<br>todas as aperturas. N�o estava t�o encalacrado quanto Itamar pensara.
<br>Pelo contr�rio. Aquilo podia ser, de fato, o in�cio da solu��o do
<br>caso. Garanh�o concentraria as aten��es, todos os suspeitos que porventura
<br>fossem capturados, seriam seus c�mplices. Quem poderia dizer
<br>o contr�rio?
<br>
<br>� Al�m disso, cara � diz Galv�o a Itamar � ainda tem uma
<br>coisinha de nada que n�o percebeu. Nem tu � afirma olhando para
<br>Nogueira.
<br>� Que �?
<br>Motinha abre as garrafas de cerveja, enche os copos.
<br>� 0 criminoso n�o se parece nem de longe com o tal retrato-
<br>falado
<br>que as sumidades bolaram.
<br>Galv�o leva o copo � boca, limpa os bei�os nas costas da m�o.
<br>
<br>� E sabem por que isso interessa?
<br>P�e mais cerveja no copo, olha os colegas ironicamente.
<br>� O tal retrato-falado � que nos desnorteou. Foi preciso abandonar
<br>o desenho imbecil pra achar o bandid�o.
<br>0 detetive bate as m�os, ri, Itamar tamb�m acha gra�a, Nogueira
<br>j� est� na maior alegria.
<br>
<br>� � a hora de tascar no inimigo. N�o vou deixar por menos!
<br>� E o professor?
<br>� Assunto encerrado: papel queimado!
<br>Dizendo isso Galv�o sopra cinzas invis�veis no ar do barzinho
<br>empestado de tanta fuma�a de cigarro.
<br>
<br>� Vai sumir.
<br>� Como fica minha ida na Reitoria?
<br>� Muito f�cil. Desde ontem se sabia que tinha sumido. Tamos
<br>procurando ele.
<br>� E onde � que entra no caso dos motoristas?
<br>� Num dos t�xis se encontrou documento dele.
<br>Finalmente Itamar sorri, tranq�ilizado.
<br>� Isso merece uma caipir�ssima.
<br>Nogueira bate na mesa, com anima��o.
<br>
<br>� � por aqui, Motinha. Caipir�ssima na jarra de vidro, com
<br>cubos de gelo e muito lim�o.
<br>Tamos comemorando.
<br>Galv�o acende um cigarro, recosta-se na cadeira.
<br>
<br>� Tu ainda n�o t� escolado, bicho � diz o detetive a Itamar.
<br>� Tem de saber usar a cuca!
<br>� Confesso que sa� da Reitoria apavorado.
<br>� Veja s�! Foi gra�as � pilantragem do veterin�rio que se terminou
<br>desvendando o caso. . . Por isso, sou da opini�o do av�: tudo
<br>que acontece � bom!
<br>� A�, s� tou vendo um por�m � diz Nogueira.
<br>� Qual �?
<br>� 0 motorista. Aquele porra-louca!
<br>� Que pode fazer?
<br>� Sei l�. D� com a l�ngua nos dentes, diz que trouxe o tal veterin�rio
<br>pra Delegacia.
<br>� Ele n�o � doido!
<br>� E o trolol� que Beija-Flor bateu?
<br>� Se raspa.
<br>� Fatia tamb�m sabe que o homem teve l�!
<br>� Claro que sabe; mas ele � dos nossos.
<br>� �! Parece que encaixa.
<br>Motinha p�e a jarra de batida na mesa, o cheiro de lim�o, os
<br>cubos de gelo.
<br>
<br>� Ou se bota a cuca pra funcionar ou morre com a boca cheia
<br>de formiga � diz Galv�o. � E voc�s t�o vendo. Na hora da on�a beber
<br>�gua n�o aparece ningu�m pra nos apertar a m�o. Todo mundo �
<br>amigo quando a mar� t� mansa. At� Nels�o queria pagar caf� pra
<br>mim na cantina. J� imaginou?
<br>Galv�o livra-se da gravata, o suor escorre da testa e do pesco�o
<br>de Itamar.
<br>
<br>� Quando se volta no Baiacu?
<br>� Deixa escurecer. Pensei procurar o Humberto, o Bira, mas
<br>fica pra amanh�. Depois do Baiacu se vai apenas ter um papo com o
<br>guarda-noturno e descansar. Pela primeira vez em dois meses vou poder
<br>dormir como um justo.
<br>Itamar acha gra�a. Na verdade Galv�o era muito mais �gil do
<br>que podia imaginar. Sabia-o inteligente, mas nunca pudera supor tanta
<br>presen�a de esp�rito. Ali estava um tipo tranq�ilo, certo do que
<br>fazia e como fazia. Ele tinha d�vida se, de fato, poderia ser um policial.
<br>Apavorava-se diante das dificuldades, na Reitoria chegou a sentir-
<br>se no mato sem cachorro. Quando falou com Nogueira foi a mesma
<br>coisa. Prepararam-se para enfrentar Galv�o, dizer-lhe o quanto estavam
<br>perigando e o detetive n�o se mostrou em momento algum apavorado.
<br>Alarmou-se a princ�pio, fez pondera��es, partiu para uma sa�da
<br>que jamais lhe ocorreria. Agora, ao redor daquela mesa e da jarra
<br>
<br>
<br>de vidro com tanta batida e cubos de gelo, n�o tinha do que duvidar.
<br>O plano de Galv�o ia dar certo, a equipe sairia vitoriosa, apareceria
<br>nos jornais, o secret�rio daria entrevistas, o delegado gozaria de maior
<br>prest�gio. Era isso que Itamar n�o entendia.
<br>
<br>TR�S
<br>
<br>Por volta das 11 horas da noite Galv�o est� adormecido, a televis�o
<br>ligada, roupas sobre a poltrona, sapatos e meias no meio da sala,
<br>na mesinha de centro a garrafa de u�sque, o copo, o balde de gelo.
<br>Longe, muito longe, o telefone tocando. Move-se com pregui�a. A princ�pio
<br>n�o reconhece a voz, depois entende que � Nogueira.
<br>
<br>� Dentro de meia hora se passa por a�!
<br>Desliga, continua estirado, mas n�o consegue dormir de novo.
<br>Teria de erguer-se, meter-se no banheiro, fazer a barba, tomar um
<br>banho quente. Vai s� de cueca na dire��o do banheiro, a vista turva
<br>de tanta batida e tanto u�sque, pega a revistmha de sacanagem, acende
<br>a luz, senta no vaso, olha as mulheres e os caras numa guerra sexual
<br>sem tr�guas, tudo posado, a fim de grilar os velhotes e os garotos.
<br>Joga a revista de lado, p�e a cueca no dep�sito de roupa suja,
<br>abre o chuveiro. S� a� vai recordando coisas do princ�pio da tarde,
<br>das tramas armadas, do compromisso com Garanh�o. N�o h� d�vida
<br>de que o risco com aquele cara teria de ser calculado. E n�o se abriria
<br>nem mesmo com Itamar ou Nogueira. Transaria unicamente com
<br>Fatia. A partir da�, sim, ficaria mais tranq�ilo. Quem pode impedir
<br>um preso de si matar? Uma sa�da. A sa�da inteligente. E ningu�m
<br>desconfiaria, pois o maior prejudicado seria ele mesmo. Paranhos talvez
<br>reclamasse. Ia achar gra�a. N�o tinha o que fazer.
<br>
<br>� 0 jeito � escavar em outra dire��o.
<br>0 secret�rio provavelmente o chamasse para saber detalhes.
<br>� Algu�m interessado em calar o acusado, dentro da pr�pria
<br>pol�cia?
<br>Uma oportunidade de ouro. Poderia fazer carga em cima de
<br>quem muito bem entendesse. Mas talvez n�o o fizesso. Se estava se divertindo
<br>e o caso caminhava a seu modo, por que exagerar? Faria a
<br>defesa dos companheiros. Mesmo dos que detestava. Boa pol�tica. O
<br>secret�rio de �gua na boca. Esperava que fosse entregar os colegas,
<br>enganaru-se. Sairia do gabinete com a sensa��o de vit�ria. Me chamou
<br>pra dedurar e eu disse n�o. Se ficou chateado, tanto faz. N�o baixo de
<br>n�vel. N�o me troco com qualquer um. Novamente seria o Galv�o
<br>Duarte respeitado. E sua atua��o daria muito o que falar. Os jornalistas
<br>insistiriam com as entrevistas, mandaria dizer estar ocupado. Por
<br>
<br>
<br>que, de repente, estar se abrindo? Se quisessem uma palavra do detetive
<br>Galv�o teriam de esperar o momento prop�cio. S� faria pronunciamento
<br>em coletivas e, assim mesmo, exigindo o m�ximo de fidelidade
<br>ao que dissesse. Uma falha e n�o tornaria a declarar coisa alguma.
<br>Isso tinha de ficar muito claro, pois n�o estava interessado em
<br>aturar aqueles chatos, sempre com perguntas sutis que atrapalhavam,
<br>podiam peg�-lo de surpresa. Mas acontece que Galv�o se cobria. Ainda
<br>mais agora, quando a guerra se estendia e quase ningu�m podia ver.
<br>A essa altura Garanh�o j� dera com a l�ngua nos dentes, v�rios outros
<br>elementos da curriola estariam por dentro. Mesmo assim n�o recuaria.
<br>Fatia entraria em cena, Baiacu e Papo de Anjo tamb�m. Garanh�o
<br>leria de ajustar-se aos padr�es, ou assinaria a ficha com os 80 assaltos
<br>j� praticados, fora os casos de sedu��o e outros.
<br>
<br>� N�o assaltei isso tudo; no m�ximo entrei naquele supermercado
<br>e em duas lojas!
<br>� Tira o cavalo da chuva, neg�o. Aqui a cantiga � outra. A ficha
<br>t� pronta, n�o se pode estragar material do governo. Mete o jameg�o
<br>por baixo e ponto final.
<br>� Se n�o assinar?
<br>N�o era doido! Assinaria, como todos os outros assinam. Se quisesse
<br>dar uma de sabid�o. Baiacu e Papo de Anjo entrariam na jogada.
<br>Uma sess�o de porrada aclararia a mem�ria, ajudaria o crioulo a
<br>raciocinar. Ia at� pedir a caneta pra assinar qualquer coisa, porque
<br>Papo de Anjo pega firme e quando t� batendo n�o gosta de ser interrompido.
<br>N�o tem a imparcialidade de Baiacu, que parece agir mecanicamente.
<br>Ora, se o neg�o figurasse como o centro das aten��es,
<br>teria muito tempo para descobrir os c�mplices. Seria uma quest�o de
<br>t�tica e de recursos que conseguiria com o pr�prio secret�rio.
<br>
<br>� A coisa t� dura; com mais gente no caso se chega a todos
<br>os criminosos. Pelo visto, uns tr�s ou quatro agiam com Garanh�o.
<br>Por isso p�de nos atordoar tanto tempo. Se procurava um cara e eram
<br>v�rios. Quem pode com uma coisa dessa?
<br>Batem na porta, Galv�o ainda est� se vestindo.
<br>
<br>� Puxa! Um escoc�s dando sopa!
<br>� Podem se servir.
<br>� N�o quero mais beber hoje. Quase passo da medida.
<br>� Depois do trabalho sou capaz de tomar umas batidas.
<br>� Se for tudo bem, acho que topo.
<br>� Claro que vai bem. Ou acha que o Baiacu � de dar furo
<br>n'�gua?
<br>Galv�o mete-se num blus�o de mangas compridas, Nogueira
<br>olha-o, faz brincadeira.
<br>
<br>� Epa, chefe! Sem a gravata parece artista de cinema!
<br>Galv�o fecha a porta, Nogueira j� ligou o carro, partem na noite
<br>silenciosa, de c�es uivando naquele bairro que se transformou numa
<br>
<br>
<br>grande e sombria f�brica, l�mpadas morti�as nos postes, casar�es adormecidos,
<br>o tr�fego nas ruas e avenidas bem mais reduzido.
<br>
<br>� Ser� que Baiacu t� l�?
<br>� Claro que t� � diz Galv�o com seguran�a.
<br>� N�o consegui falar com ele.
<br>� Mas eu falei. Mandei ficar esperando.
<br>� Que disse do cara?
<br>� Que cara?
<br>� O professor?
<br>� Tava todo esfolado. Mais morto que vivo. Quando falei no
<br>plano, ficou alegre. 0 careta n�o ia mesmo ag�entar hospital.
<br>� Poxa! Papo de Anjo bate firme.
<br>� Precisava ver quando lutava boxe. Massa-bruta dos infernos.
<br>� Isso � at� bom pro veterin�rio. Vai sofrer menos � diz Nogueira,
<br>com certo sorriso.
<br>� Se � mesmo veterin�rio, t� acostumado com bicho. Papo de
<br>Anjo n�o � gente!
<br>Todos acham gra�a.
<br>
<br>� Que � veterin�rio n�o tenho a menor d�vida. Ali�s, quando
<br>soube disso, levei o maior susto.
<br>Novas risadas.
<br>
<br>� Se assustou � toa. J� manquei alguma vez?
<br>� Sei l�! No que a velhota come�ou a falar do cara, fiquei
<br>achando que se tava num beco sem sa�da.
<br>� Beco sem sa�da � se n�o tivesse pintado Garanh�o � diz
<br>Nogueira.
<br>� Se n�o fosse ele seria outro. N�o existem becos sem sa�da:
<br>quando nada comigo . . .
<br>A viatura entra no p�tio �quela hora deserto, um soldado chega
<br>perto, afasta-se. Do lado do pr�dio de dois pavimentos o carro estaciona.
<br>Galv�o manda encostar em frente � porta, Nogueira tem dificuldade
<br>de engrenar a r�.
<br>
<br>� N�o gosto de dirigir esta porcaria com a alavanca do c�mbio
<br>nesta altura.
<br>� S� bobo, cara. A alavanca na barra da dire��o diminui o esfor�o
<br>do motorista. J� viu que todo carro de bacana � assim?
<br>� Sei l�! Prefiro o fusquinha.
<br>Galv�o manda Itamar e Nogueira aguardar. Sobe as escadas, entra
<br>pelo corredor mal iluminado. As salas est�o quase todas fechadas.
<br>S� uma tem a luz acesa mas o detetive n�o v� ningu�m. Vai at� o
<br>final do corredor, abre uma porta, desce outra escada. Chega ao sal�o
<br>de pesada porta, onde eram feitos certos interrogat�rios. Baiacu est�
<br>escornado na poltrona velha, no maior sono do mundo. Amarrado na
<br>cadeira o veterin�rio, cabe�a pendida, gemidos incessantes, rosto deformado.
<br>Galv�o toca em Baiacu que acorda, assustado.
<br>
<br>
<br>� Dormindo e a merda da porta aberta!
<br>� N�o tava dormindo. Cochilei agora!
<br>� Vamos l�. 0 Opala t� a� fora.
<br>� Como se leva o homem? J� pronto ou apronta l�?
<br>� Melhor levar pronto.
<br>Dizendo isso Galv�o afasta-se para junto da pia, Baiacu pega o
<br>peda�o de corda de nylon, aproxima-se de Carlos de Assis. O acusado
<br>n�o percebe, os olhos est�o fechados. Baiacu passa a corda no pesco�o
<br>branco e ferido, aperta o la�o. De onde est� Galv�o ouve uns gemidos,
<br>uns grunhidos, o homem se batendo na cadeira. A opera��o demora
<br>uns cinco minutos. Baiacu retira a corda, a cabe�a do acusado parece
<br>estar solta.
<br>
<br>� Como � que foi?
<br>� Tudo bem. Estrebuchou e assim mesmo de leve.
<br>� Bota num saco, vamos embora.
<br>Baiacu procura um saco, n�o encontra, acha um peda�o de pl�stico.
<br>
<br>
<br>� Boto no pl�stico, amarro as pontas.
<br>� Tanto faz. Quero � sair logo daqui!
<br>� Pode ir andando que vou j�.
<br>� Nada disso. Prefiro sair na frente.
<br>Baiacu movimenta-se com o pl�stico, os peda�os de corda de
<br>nylon, sorri da esperteza de Galv�o.
<br>
<br>� Quem menos dorme mais aprende . . .
<br>0 detetive sorri. Olha a cara de Carlos de Assis absolutamente
<br>tranq�ila.
<br>
<br>� O engra�adinho queria nos ferrar; j� imaginou?
<br>� Hoje em dia ningu�m quer respeitar um pol�cia. Por isso
<br>terminam se estrepando.
<br>� Ora, se n�o tinha nada com o peixe, por que baixou na Delegacia,
<br>dando aquela bronca toda?
<br>� Dando bronca? � repete Baiacu e sorri, enquanto faz os amarrados.
<br>Com muito esfor�o p�e o grande volume no ombro, pingos de
<br>sangue no ch�o, Galv�o apressa-se em desmanchar com os p�s. Passa
<br>na frente de Baiacu e da sala que continua vazia, o policial de plant�o
<br>foi ao caf� ou est� puxando um ronco. Rapidamente descem a
<br>escada que sai na porta do pr�dio, Nogueira j� abriu a mala. Do
<br>jeito que vem, Baiacu joga a carga, portas se abrem e fecham, o carro
<br>arranca lentamente, chega � pista asfaltada. No banco da frente est�o
<br>Nogueira e Galv�o, no de tr�s Itamar e Baiacu.
<br>
<br>� Cad� Papo de Anjo?
<br>� Metendo umas e outras.
<br>� Por que n�o esperou?
<br>� Disse que sozinho podia resolver.
<br>
<br>� O resto � moleza. Se faz a fogueira, fica esperando o presunto
<br>torrar.
<br>� E onde se vai festejar S�o Jo�o? � quer saber Nogueira.
<br>� Fica a teu crit�rio. S� exijo que seja um lugar seguro. Chega
<br>de problemas por hoje!
<br>� Que hoje? J� tamos no outro dia .. . � lembra ltamar.
<br>� Isso mesmo � diz Baiacu. � Vamos enfrentar a aurora na
<br>base do churrasqueto.
<br>0 carro sai da estrada principal, entra por uma viela esburacada.
<br>Galv�o intrigado com aquilo.
<br>
<br>� Que diabo � isso? Por onde t� indo?
<br>� Pode deixar. Por aqui, entendo da geografia. Vamos sair no
<br>deserto de Saara.
<br>� N�o tem casa perto?
<br>� Que casa, que nada! Em minutos tamos num matagal fechado,
<br>perto do mar. Se pode deixar o frango assando e tomar um
<br>banho.
<br>� Boa id�ia � diz Baiacu com um sorriso de demente.
<br>� N�o me arrisco nessas praia de noite; li uma vez que � a
<br>hora em que o tintureiro mais ataca.
<br>� Que porra de tintureiro � esse?
<br>� Deixa de ser besta! Tintureiro � um tubar�o barra pesada.
<br>� Pois j� n�o me meto mais dentro d'�gua.
<br>� Eu topo o banho � diz Baiacu. � Comigo n�o tem tintureiro
<br>n�o tem nada.
<br>Todos acham gra�a.
<br>
<br>� Algu�m apareceu por l�, enquanto tava esperando? � quer
<br>saber Galv�o.
<br>Baiacu pensa um pouco.
<br>
<br>� N�o sei, n�o. 0 telefone tocou umas duas vezes mas n�o era
<br>ningu�m.
<br>� Se tocou, como n�o era ningu�m?
<br>� N�o queriam falar com a gente; essas coisas de liga��o errada.
<br>Papo de Anjo at� ficou grilado porque a mulherzinha tava perguntando
<br>se era da panificadora e ele teve vontade de dizer que era
<br>do a�ougue.
<br>Novas risadas.
<br>
<br>� Aquele puto devia ter esperado a gente � reclama Galv�o.
<br>Nogueira p�ra o carro, descem todos, ltamar focando a lanterna.
<br>� Pro lado de l� t� assim de galharia seca. Tive outro dia por
<br>aqui.
<br>Caminham na dire��o em que Nogueira indica. ltamar sempre
<br>focando a lanterna, os ventos s�o fortes, os cabelos de Galv�o esvoa�am,
<br>as roupas tremulam no corpo.
<br>
<br>
<br>� Puxa, com esse vento vai ser dif�cil manter a fogueira!
<br>� Coisa nenhuma! Quanto mais vento, mais o fogo pega.
<br>� Vai � necessitar de muita madeira.
<br>� Isso n�o � problema � diz Nogueira. � Galharia por aqui
<br>� que n�o falta.
<br>Baiacu aventura-se pelo matagal, encontra a primeira galharia,
<br>vem puxando.
<br>
<br>� 0 ideal � que se tivesse um fac�o.
<br>� Tem machadinha na mala.
<br>� �timo! � diz Baiacu. � � melhor que fac�o!
<br>Nogueira abre a mala, ajuda Baiacu a tirar o corpo envolto no
<br>pl�stico, encontram a machadinha. Baiacu torna a meter-se no matagal,
<br>ouvem-se as cuteladas.
<br>
<br>� Como ser� que esse Diabo t� enxergando?
<br>� Nogueira, liga os far�is na dire��o dele!
<br>� S� que n�o pode ser por muito tempo. Do contr�rio a bateria
<br>vai embora.
<br>� Depois de uns cinco minutos, desliga, liga o motor, a bateria
<br>torna a carregar.
<br>� Isso � que � servi�o de imbecil � comenta Itamar. � Por
<br>que n�o deixar o carro funcionando, com as luzes acesas? Qual � a
<br>bronca?
<br>� Olha s�! 0 ovo de Colombo � diz Galv�o. � E o cara acha
<br>que � vivo.
<br>Nogueira sentou numa pedra, Itamar ajuda Baiacu. Galv�o inspeciona
<br>o local.
<br>
<br>� � um deserto. N�o me lembro de ter vindo por esses lados!
<br>Baiacu reaparece puxando muita galharia. Leva para o local onde
<br>dever� ser feita a fogueira.
<br>
<br>� � melhor botar logo o presunto na galharia � diz Nogueira.
<br>� Nada disso � comenta Baiacu. � Preciso encontrar uns
<br>troncos que ag�entem o fogo. Essa madeirinha de merda as chamas
<br>v�o devorar num minuto e nosso frango ainda n�o vai t� nem sabrecado!
<br>� Tem raz�o. Esse desgra�ado s� nos d� sossego quando virar
<br>torresmo.
<br>� E assim mesmo depois que o vento espalhar a cinza.
<br>� De bobo n�o tinha nada; se lastimando, se mijando todo e
<br>enfiando na gente. Por isso que essa canalha t� todo dia em cana.
<br>N�o se pode confiar num professor.
<br>� Em intelectual. Cada um mais encucado que o outro. Quando
<br>n�o
<br>� comunista, puxa fumo, fu�a na coca�na � diz Galv�o.
<br>Nogueira ligou o motor do Opala, acendeu os far�is.
<br>
<br>� Se algu�m vier chafurdar?
<br>
<br>� Corta essa, cara. Aqui n�o passa nem alma. Se o professor
<br>tinha uma, j� se mandou! � diz Nogueira debochadamente.
<br>Itamar ajuda Baiacu com as galharias, Nogueira vai ajudar, tamb�m.
<br>Galv�o permanece sentado na pedra. Por uns instantes n�o sabe
<br>se aquela seria a medida mais acertada. Afinal, n�o estava sozinho naquilo.
<br>Havia Fatia, Papo de Anjo, Baiacu, Itamar e Nogueira. Ser�
<br>que. com tanto pinta, n�o ia terminar em confus�o? Procura encontrar
<br>
<br>o plano que fosse mais bem elaborado, n�o consegue. A n�o ser que
<br>tivesse de agir sozinho e isso se tornava imposs�vel. N�o temia uma
<br>trai��o dos colegas de equipe; temia um desprop�sito de Fatia ou
<br>Baiacu. Se enchessem a cara e algu�m tocasse no assunto, seriam
<br>capazes de destravar a l�ngua. Por isso, tinha de estar coberto. Quando
<br>cismasse que isso ia acontecer, azar deles. Agiria sem d� nem pena.
<br>Mas n�o adiantava estar investigando fantasmas. A coisa caminhava
<br>melhor do que esperava. Recorda as palavras de Itamar, sabe
<br>o quanto saiu apavorado da Reitoria. N�o dispunha de tempo. A a��o
<br>devia ser r�pida e rasteira. Como foi. Livres do rolo que o professor
<br>fatalmente causaria, estavam. Faltava aguardar os acontecimentos. Dali
<br>em diante tocaria a investiga��o a todo vapor, arrocharia os alcag�etes,
<br>principalmente o pilantra do morro que conhecia o pivete, assassino
<br>da mulher do sargento Beto. Se as sumidades afirmavam que
<br>n�o havia agido sozinho e se o moleque parecia ter cabelo na venta,
<br>por que n�o estaria numa pior, atacando motorista? Ouviria Humberto
<br>e Bira, mandaria o guarda-noturno contar a hist�ria direito.
<br>Aquele patife sabia muito mais do que disse. Como � que viu uma
<br>Veraneio da Televis�o, se a TV n�o tinha merda nenhuma? Podia
<br>ser um caminho. Al�m do guarda-noturno, havia o cabo Os�as. Que
<br>porcaria de cara seria aquele? Como � que telefonava pros jornalistas,
<br>informando uma coisa que n�o sabia? Se os carros ficam fechados,
<br>quem lhe disse que um chofer era fulano e o outro estava sem
<br>documentos?
<br>As reflex�es de Galv�o s�o interrompidas pelo clar�o da fogueira,
<br>o crepitar de ramos finos, de folhas secas. Aproxima-se, o corpo
<br>do veterin�rio envolto no pl�stico, l� no fundo, coberto de garranchos
<br>e toretes de madeira, alguns ainda verdes outros semi-apodrecidos.
<br>Nogueira esfrega as m�os, reclama por n�o terem trazido uma garrafa
<br>de velha do morro. 0 detetive n�o diz nada, Baiacu continua a
<br>colocar galhos secos na fogueira.
<br>
<br>� Vamos sair daqui. Vai come�ar um fedor dos infernos �
<br>diz Itamar.
<br>
<br>� Fedor, que nada! J� viu carne assada feder? � argumenta Nogueira.
<br>Galv�o acende o cigarro, afasta-se na dire��o da praia. A fogueira
<br>cresce, as labaredas alteiam-se, o detetive n�o gosta muito daquilo:
<br>jamais pensara que uma fogueira pudesse assust�-lo. Cada vez que
<br>
<br>
<br>Baiacu p�e mais lenha o braseiro se espalha nos ventos da noite e do
<br>cora��o daquele fogar�u ergue-se rumor cavo, soturno como um gemido.
<br>Galv�o procura n�o ouvir, mas � imposs�vel. Tenta concentrar-
<br>se no barulho das ondas, quebrando-se mansamente na praia, o motor
<br>do fogo funciona mais alto. Teme algum erro grave, procura recapitular.
<br>Confirma que todos os pontos est�o bem amarrados. A pr�pria
<br>ida de Itamar � Reitoria era o sinal evidente de que j� estavam a par
<br>do sumi�o do professor.
<br>
<br>� E como souberam?
<br>� Atrav�s de um motorista. A princ�pio cheguei a pensar que
<br>fosse suspeito. Depois vi logo que era homem de bem.
<br>Quem podia desconfiar de semelhante coloca��o? Quanto a isso
<br>n�o tinha a menor d�vida. 0 que n�o suportava por mais tempo, era
<br>aquele rumor cavo, patas de cavalos invis�veis galopando seu desespero.
<br>Lamenta n�o estar na sua sala, sentado na poltrona, olhando
<br>revistas de mulheres nuas, tomando u�sque, vendo a retrospectiva dos
<br>jogos mais importantes da Copa. Em vez disso, desse conforto, ali
<br>estava, naquele deserto, sentindo o calor da fogueira que parecia ter
<br>um cora��o pulsando. Quando Itamar veio para perto, alertou-o sobre
<br>a necessidade de localizar o tal Banda Branca.
<br>
<br>� Tou quase certo de que aquele moleque sabe das coisas. Por
<br>que at� hoje n�o nos procurou � que n�o entendo!
<br>
<br>Cap�tulo XIII
<br>
<br>UM
<br>
<br>Banda Branca est� encostado no balc�o da tendinha de seu Greg�rio.
<br>Parece sambista da velha guarda: crioulo, cabelos espichados,
<br>palet� branco, quase nos joelhos, cal�a da mesma cor, bem vincada a
<br>ferro, sapatos bico fino. A gravata � espalhafatosa, grande anel no
<br>dedo com a pedra vermelha, corrent�o no pesco�o, pulseira de metal
<br>no bra�o direito, o rel�gio na canhota. Quando ri os olhos se fecham
<br>um pouco, o dente da frente avulta, por causa da obtura��o a ouro.
<br>
<br>Naquela manh� de sol quente e muito calor Banda Branca mostra-
<br>se animado. H� tempos n�o aparecia, seu Greg�rio lembra-lhe isso.
<br>Com vagar o negociante pega o caderno, passa as folhas imundas, corre
<br>com o indicador as colunas de fiados, l� est� o d�bito do alcag�ete.
<br>Ele sorri.
<br>
<br>� Como que � isso, seu Greg�rio! Juro que n�o tou lembrado.
<br>0 birosqueiro tamb�m sorri, porque sabe que aquele era um tipo
<br>perigoso, tinha de agir com jeito.
<br>
<br>� Mas t� aqui. E posso dizer o que foi.
<br>� De que adianta. Se diz que tou no espeto, tou mesmo. Como
<br>n�o � muita coisa, vou aumentar a conta.
<br>Banda Branca faz gesto de quem d� cacha�a para o Santo, vira o
<br>copo na boca.
<br>
<br>� A n�o ser que meu cr�dito teja cortado.
<br>� Todo mundo neste morro � gente boa. N�o tenho do que me
<br>queixar
<br>� diz o birosqueiro.
<br>0 alcag�ete debru�a-se no balc�o.
<br>
<br>� Infelizmente, n�o posso dizer a mesma coisa. 0 dever me obriga
<br>a desconfiar.
<br>Seu Greg�rio aproveita a deixa, empurra a garrafa de aguardente
<br>para perto de Banda Branca.
<br>
<br>� Qual � o caso?
<br>
<br>Banda Branca p�e mais cacha�a no copo, tira o palet�, coloca-o
<br>com cuidado sobre o balc�o.
<br>
<br>� 0 menino de mestre T�bor. Entrou numa feia!
<br>� Como assim?
<br>� Queimou a mulher e o pai de um sargento.
<br>� T� brincando . . .
<br>� Antes tivesse � diz Banda Branca. � Olha que sempre respeitei
<br>mestre T�bor, mas vou ter de ir em cima dele.
<br>� 0 que tem mestre T�bor com isso?
<br>� Muita coisa. Deve saber do diabo do garoto.
<br>� Acha que os pais ainda sabem dos filhos?
<br>� Sei l�! Mas que tenho de ir no barraco dele, tenho. � ordem
<br>de cima. 0 detetive Silveirinha t� fuzilando contra Enfezado. Al�m
<br>dele h� um tal de Galv�o na jogada. Quem pegar primeiro entrega
<br>pro sargento. A�, j� viu. 0 pau vai quebrar!
<br>� Por que matou a mulher e o velho?
<br>� N�o fa�o id�ia. S� sei que tava com um coleguinha.
<br>Banda Branca vira mais um copo de aguardente na boca.
<br>� Quando soube que tinha um parceiro, sabe em quem pensei?
<br>Naquele coisa ruim, filho de seu Ven�ncio e de dona Mundiquinha.
<br>Banda Branca encara seu Greg�rio, sorri, mostra o dente com
<br>a obtura��o de ouro.
<br>
<br>� M�s passado soube que teve por aqui, varejando atr�s de
<br>Enfezado. L�dio Gordo viu. Outras pessoas tamb�m viram mas n�o
<br>se abrem!
<br>� Eu confesso que n�o soube disso. Faz tempo que n�o vejo
<br>Toninho � diz o negociante.
<br>Banda Branca sabe que � mentira mas n�o ousa contest�-lo.
<br>Prefere rir, tomar outros goles da cacha�a ordin�ria.
<br>
<br>� Depois a gente � que passa por mal. Esses capetas t�o tirando
<br>o sossego dos outros e se n�o fincar o p� com eles a vaca vai
<br>pro brejo.
<br>� Acha que Enfezado � mesmo o culpado?
<br>� Quanto a isso n�o tem mist�rio. Ele pr�prio cantou a pedra.
<br>No dia que sair desse chiqueiro, vou lhe dar um pano de amostra,
<br>ele disse.
<br>� Onde tava preso?
<br>� Na Invernada. Comeu o p�o que o Diabo amassou!
<br>� Teria se escondido aqui pelo morro!
<br>� N�o acredito. Aquilo � matreiro como cobra. N�o sei pra
<br>quem puxou. Mestre T�bor � um bom homem!
<br>� Por isso que digo � afirma seu Greg�rio. � Pra que infernizar
<br>a vida do velho, que j� nem consegue enxergar?
<br>
<br>� � meu dever. Disso n�o posso abrir m�o. Vou levar ele com
<br>jeito. N�o sou de endurecer com ningu�m. Ainda mais com mestre
<br>T�bor, de quem recebi muito conselho. N�o fosse isso, era bem capaz
<br>de t� hoje numa boca-de-fumo, como a maioria.
<br>Banda Branca pega o palet� com todo cuidado, faz novo sorriso,
<br>manda seu Greg�rio anotar a bebida.
<br>
<br>� Pode t� certo: antes do fim do m�s baixo por aqui; a� se
<br>acerta tudo; o passado e o presente!
<br>Sobe a viela cortada pelo rego de �gua suja, porcos fu�ando,
<br>afrouxa o la�o da gravata, n�o sabe por que foi botar aquela roupa,
<br>quando tinha de enfrentar tanta ladeira. Passa pelo barraco de L�dio
<br>Gordo, bate na janela, na porta, o homenzarr�o aparece, s� de shorts,
<br>a imensa barriga de fora, o nariz achatado e vermelho, gengiva superior
<br>sem um dente. Mesmo sem ser convidado Banda Branca vai
<br>entrando, pois sabe que L�dio Gordo n�o podia reclamar. Cansou de
<br>v�-lo com bebida e cigarros contrabandeados, no morro e na Pra�a
<br>XV, nunca disse nada. � verdade que levava seu quinh�o, mas mantinha-
<br>se de bico fechado.
<br>
<br>A sala do barraco de L�dio Gordo � �nfima, em torno da mesa
<br>quebrada alguns tamboretes. 0 alcag�ete abre o len�o num dos tamboretes,
<br>senta.
<br>
<br>� Puxa, como t� quente!
<br>� Aceita uma �gua?
<br>� N�o. Acabei de tomar uma esfriadeira na tendinha, o gosto
<br>ainda t� na boca.
<br>� Passeando t�o cedo?
<br>Banda Branca faz uma careta.
<br>� Passeio, coisa nenhuma. Tou � me esfolando como sovaco
<br>de aleijado.
<br>� Qual a bronca?
<br>� Enfezado e o coleguinha dele. 0 filho de seu Ven�ncio. T�
<br>lembrado?
<br>� Aquele garoto alourado?
<br>0 alcag�ete sacode afirmativamente a cabe�a.
<br>� Semana passada teve por aqui.
<br>� Semana passada? Tem certeza?
<br>� Claro! T� um garot�o!
<br>� Essa dica vale um trago. 0 que oferece?
<br>L�dio Gordo faz cara de desagrado. Ao mesmo tempo compreende
<br>que n�o podia esconder o u�sque de Banda Branca.
<br>
<br>� Vem escolher.
<br>0 alcag�ete mete-se no compartimento ex�guo, paredes cobertas
<br>com imagens de santos. L�dio Gordo agacha-se, tira garrafas e mais
<br>garrafas de u�sque, que diz terem sido trazidas diretamente da
<br>Esc�cia.
<br>
<br>
<br>� Prefiro esse aqui.
<br>Banda Branca quer ler a marca, n�o consegue. L�dio Gordo
<br>aproveita para mostrar o quanto estava instru�do.
<br>
<br>� "Pinuaini", cara! Esse u�sque vem com calcinha de veludo
<br>e tudo!
<br>Dizendo isso L�dio Gordo puxa a garrafa de dentro da caixa,
<br>Banda Branca fica apreciando a prote��o do saquinho feito com
<br>veludo roxo, letras douradas. Tira a tampa da garrafa, p�e uma dose
<br>refor�ada no copo ordin�rio, aproveitado de um vidro de gel�ia de
<br>mocot�. Toma como se estivesse bebendo o mais saboroso dos licores.
<br>
<br>� Se fosse rico � diz o alcag�ete � esse era meu divertimento:
<br>encher a caveira de bom u�sque.
<br>P�e mais um pouco no copo, L�dio Gordo n�o tira os olhos da
<br>garrafa. Jamais imaginara ter de abrir uma delas e ali estava. E,
<br>se era assim, por que n�o aproveitar, j� que Banda Branca seria
<br>capaz de esvazi�-la sozinho? Ap�s um novo trago o alcag�ete volta
<br>ao tamborete, protegido pelo len�o.
<br>
<br>� Como lhe disse: Enfezado t� numa enrascada. Dessa vez atolou
<br>na merda at� os cabelos. Quando grampearam ele, de duas uma:
<br>ou morre logo ou apodrece na pris�o. Queimar a mulher e o pai do
<br>sargento Beto n�o � coisa pra malandro que tem a cuca no lugar.
<br>� Pra mim, endoidou de tanto fumo � considera L�dio Gordo.
<br>� Seja como for, tem gente por a� que puxa direitinho e n�o
<br>faz dessas. Quando muito se amoita pra bolar a desfeita. Ele n�o:
<br>matou a cobra e mostrou o pau.
<br>� Disse pro sargento?
<br>� Ora se disse. 0 bicho tem ra�a!
<br>� E o pai?
<br>� � o que vou saber. Seu Greg�rio veio cheio de manha, mas
<br>n�o colou.
<br>Se o filho n�o presta o pai n�o � flor que se cheire.
<br>L�dio Gordo sorri, torna a mostrar a gengiva sem dentes.
<br>
<br>� Aquele moleque foi sempre muito atirado; me arrependo
<br>de n�o ter estourado com ele enquanto era tempo.
<br>� N�o te preocupa que � o que vai acontecer. Quando sargento
<br>Beto botar a m�o nele n�o quero nem t� por perto!
<br>Banda Branca toma mais um gole, a garrafa est� bem baixa.
<br>Mesmo assim n�o se anima a prosseguir.
<br>
<br>� Que � isso, vai embora quando se t� no melhor?
<br>� Coisa nenhuma. Primeiro o dever!
<br>Com o palet� nas costas continua a subida. Passa pelo quintal
<br>de dona Julinha, ela est� lavando roupa. Impressionante como aquela
<br>velhota trabalhava. Olha o barraco, porta e janela abertas. Em
<br>outros tempos, Marta botando peitos, aquilo ali estava sempre movimentado.
<br>Hoje em dia Marta mudou de vida. N�o � mais segredo.
<br>Ningu�m se interessa por ela. Banda Branca sacode a cabe�a, como
<br>
<br>
<br>se lamentasse. De primeiro Marta era aquele tes�o. Vinha garoto de
<br>longe para falar com ela. Ele pr�prio teve de inventar muita coisa,
<br>a fim de se aproximar. No dia em que conseguiu, o morro inteiro
<br>ficou com inveja. E como foi bom. Primeiro foram tirar fotografias.
<br>Marta adorava fotos. Depois convidou-a a visitar uma tia, na
<br>rua Alice. N�o sabia o que era a rua Alice ou bancava a sonsa?
<br>N�o p�de saber. Pela ingenuidade com que subiu as escadas do casar�o,
<br>ingenuidade com que entrou no sal�o, brincando com o c�ozinho
<br>felpudo, era de imaginar que ignorava aquele mundo. E como
<br>
<br>o casar�o da Br�gida estava desolado. As atra��es mudavam de eixo,
<br>como o pr�prio tempo muda. Agora, s� se falava em Zona Sul,
<br>Barra da Tijuca. Br�gida cansara de lembrar que o Pal�cio de
<br>Cristal estava no fim. N�o tornaria a ser como antes. Banda Branca
<br>chegou a discordar. Lembra-se bem disso. N�o podia admitir que
<br>aquela mulher t�o caqu�tica fosse capaz de fazer previs�es. Mas
<br>acertara. Adeus Pal�cio de Cristal.
<br>Marta sentada no sof�, o cachorrinho do lado. Ele sumiu no
<br>quarto mais confort�vel. 0 importante seria a surpresa. Passado o
<br>primeiro instante ela se acostumaria. Por isso mandou que a cafetina
<br>se cercasse de todos os cuidados. N�o podia perder aquela garota,
<br>que todos no morro cobi�avam. Br�gida reapareceu, sorridente, pegou
<br>Marta pela m�o.
<br>
<br>� Vamos ver a tia. Vive aqui dentro. Quase n�o sai!
<br>Br�gida empurrou a porta, o quarto no escuro, mandou que
<br>Marta sentasse na cama.
<br>
<br>� Ela t� velhinha, j� n�o ag�enta luz forte nos olhos!
<br>Marta sentou na beirada da cama e logo percebeu a mulher indo
<br>embora, a porta se fechando. Ia levantar, m�os fortes a seguraram,
<br>uma l�mpada azulada acendeu. Ah, como gostaria que aquela cena se
<br>repetisse mil vezes! Marta batendo-se, mordendo-o. N�o queria entregar-
<br>se, lutou o que p�de. E quanto mais lutava, tanto melhor.
<br>� propor��o que ia ficando sem as roupas e chorando, os seios duros
<br>apareciam. Marta com raiva, ou at� gostando que aquilo acontecesse?
<br>De uma coisa se orgulhava: abriu o caminho. Ningu�m tinha
<br>d�vida disso naquele morro. Marta olhava-o pelo rabo do olho.
<br>Falou com o namorado para encontr�-lo na subida do morro. Teve
<br>de puxar a m�quina, o malandro saltou fora. N�o acionou porque
<br>n�o quis. 0 alcag�ete gabava-se de ter acertado quanto a Marta. Na
<br>verdade n�o queria casar com ningu�m. Boa demais para um homem
<br>s�. Tentou nova abordagem, n�o deu p�. Marta o odiava. No
<br>dia em que sumiu do morro com o caixeiro-viajante, sabia que aquilo
<br>era fogo de palha. Tratou de ficar na paquera. Mais cedo ou mais
<br>tarde apareceria. Se isso n�o acontecesse, procuraria saber seu endere�o
<br>com dona Julinha. E foi o que aconteceu. Encontrou Marta
<br>fazendo ponto na Barata Ribeiro, depois pegando homem na Pra�a
<br>
<br>
<br>da Cruz Vermelha. Tornou a dar era cima e nada. Nunca vira tanto
<br>�dio numa s� mulher.
<br>
<br>� Se for contigo de novo, acabo com tua ra�a!
<br>Achava gra�a. � o que toda puta dizia e tavam sempre abrindo
<br>as pernas, sempre precisando dos alcaguetes. Quantas vezes livrou
<br>a cara de Marta. A desgra�ada nem sabia disso ou, se sabia, procurava
<br>fazer-se de desentendida. Uma vez pegou-a pelos bra�os na esquina,
<br>disse-lhe umas verdades, mordeu-o na m�o. Tornou a procur�-
<br>la, havia mudado. Falou com as amiguinhas, n�o acreditou.
<br>
<br>� Preferiu ir logo pra f�brica; aqui � na sorte, l� � por atacado.
<br>Banda Branca ainda tem vontade de rir daquela express�o �
<br>''f�brica" � que � como as mulheres que ainda estavam de fora
<br>chamavam o Mangue.
<br>
<br>� Quem t� gigolando ela?
<br>A garota de mau h�lito e olho vesgo n�o sabia. Deu as indica��es.
<br>
<br>
<br>� Um tipo alt�o, que diz ser salva-vidas. Eu mesma n�o
<br>acredito!
<br>� Em que casa t� por l�?
<br>� Na de uma tal Zita.
<br>Banda Branca tirou uma tarde, num dia de semana, foi procurar.
<br>S� para conferir. L� estava Marta. Como entrar, surpreend�la
<br>no quarto? Chamou um pivete, mandou recado pra Zita. A caftina
<br>apareceu. Foram para o boteco, tomaram umas e outras. A�
<br>ficou acertado: Zita levaria Marta para o quarto.
<br>
<br>� � um fregu�s bacana, garota: n�o pode ser visto por a�. Vai
<br>chegar, entrar direto, tu j� deve t� l�.
<br>� E se n�o topar com ele?
<br>� Que � isso! Ia te apresentar um merda qualquer?
<br>Marta estirou-se na cama, ficou lendo fotonovela. Pouco depois
<br>ouviu passos no corredor, a porta que se abriu e fechou. Banda
<br>Branca acha gra�a. Ri sozinho, passando por aquelas vielas de tantas
<br>lembran�as. A mulher quis levantar, escapar, ganhou uma rasteira.
<br>Nesse tempo tinha movimentos r�pidos, n�o ia ser uma galinha daquela
<br>que conseguia engan�-lo. Marta estatelou-se no ch�o, p�s-se a
<br>chorar. Puxou-a para cima da cama. deu-lhe umas bofetadas de
<br>quebra.
<br>
<br>� � assim que gosta?
<br>Estirou-se por cima de Marta, mandou que se movimentasse.
<br>� N�o tou trepando com est�tua, ou quer apanhar de novo?
<br>Gemidos e solu�os de Marta enchendo o quarto, o alcag�ete se
<br>aprofundando, ela fazendo pequenas amea�as, falando no gigol� que
<br>
<br>o apanharia de jeito.
<br>
<br>� Se ele fizer isso e levar a pior, tu te estrepa. Mando te arrastar
<br>pra Delegacia, entra no pau, termina comida at� pelos presos.
<br>Marta suportando os movimentos de Banda Branca, a cara asquerosa,
<br>o dent�o com a obtura��o de ouro. Beijou-a � vontade, como
<br>n�o pudera fazer no Pal�cio de Cristal.
<br>
<br>� Se quisesse a gente podia viver junto.
<br>Marta sacudindo a cabe�a, Banda Branca descansando para
<br>come�ar tudo de novo. Ligou o ventilador, p�s o rev�lver ao alcance
<br>da m�o.
<br>
<br>DOIS
<br>
<br>Banda Branca chega perto do barraco de mestre T�bor, a janela
<br>est� fechada, t�buas servindo de porta. Bate, torna a bater, espera.
<br>O sol � quente, as galinhas ciscam no mato rasteiro. Uma das t�buas
<br>� retirada da porta, depois outra. O alcag�ete ao lado do velho
<br>serralheiro mas este n�o pode saber quem �. Tem vontade de manter-
<br>se inc�gnito, dizer que � outra pessoa, desiste da id�ia.
<br>
<br>� Quem �? Quem �?
<br>Banda Branca sorri, o velho vai apalpando as paredes, procura
<br>seu lugar perto da mesa.
<br>
<br>� Puxa, mestre, como consegue ficar fechado com esse calor?
<br>Ou ser� que tem mais gente aqui do que penso?
<br>O barraco � pequeno, o alcag�ete j� sondou tudo, sabe que Enfezado
<br>n�o pode ter escapado com sua chegada. Esteve atento o tempo
<br>todo, n�o ouviu o menor ru�do, a n�o ser das pr�prias t�buas sendo
<br>retiradas.
<br>
<br>� Que o traz aqui?
<br>� Ia passando, vim saber como anda de sa�de.
<br>� Como Deus manda. N�o tenho do que me queixar!
<br>� � assim que gosto de ver um homem: dobra mas n�o quebra
<br>� diz o alcag�ete. olhando as paredes, at� distinguir num prego
<br>o carne com o qual o velho oper�rio podia receber sua pens�o.
<br>� E o garot�o, mestre T�bor, por onde tem andado?
<br>� N�o fa�o id�ia. H� meses se mandou. Ficou chateado de me
<br>ver doente!
<br>� De lhe ver doente ou por que deu no p�?
<br>� N�o tinha do que fugir.
<br>� O senhor que pensa. Fez poucas e boas. teve de se arrancar.
<br>� O que � que ele fez?
<br>� Se quer saber, al�m de avan�ar na minha irm�zinha, a mais
<br>nova, t� lembrado dela? Acabou com a mulher do sargento Beto.
<br>� Sargento Beto?
<br>
<br>� Isso mesmo. O chefe do setor onde tava preso na Invernada.
<br>� Ent�o, alguma coisa fizeram com ele.
<br>A essa altura Banda Branca levantou, abriu a janela, colocou o
<br>palet� no espelho da �nica cadeira, retirou o carne do INPS da
<br>parede, meteu-o no bolso.
<br>
<br>� E dessa vez a encrenca � grossa � repete Banda Branca. �
<br>Talvez o senhor n�o tenha entendido direito o que ele fez.
<br>
<br>� Dito por voc� n�o acredito em nada!
<br>O alcag�ete p�ra. esfrega o len�o na testa suada, olha o velhote
<br>com raiva.
<br>
<br>� Mesmo n�o acreditando, � meu dever dizer. Abotoou a mulher
<br>e o pai do sargento.
<br>Aproxima a cara do serralheiro.
<br>
<br>� E sabe como? No canivete. T� lembrado daquele canivete
<br>americano que tinha? Pois foi com aquele.
<br>� Enfezado n�o ia fazer uma coisa dessa; n�o � um menino
<br>mau!
<br>� 0 senhor que pensa. N�o sabe do quanto aquilo � capaz.
<br>� Que pretende que fa�a?
<br>� Dizer onde o garoto se meteu. Como pai deve saber. E � bom
<br>que se abra, antes que o pessoal suba at� aqui.
<br>� Acha que, se soubesse, ia dizer? Denunciar meu filho? Isso
<br>pode
<br>ser normal na sua profiss�o, na minha n�o.
<br>Banda Branca sorri, nervosamente.
<br>
<br>� Mas vov� j� n�o tem profiss�o. Aposentado n�o conta!
<br>Mestre T�bor tateia a mesa � procura de algum objeto que
<br>possa segurar, s� encontra umas latas vazias. 0 alcag�ete manda que
<br>se acalme.
<br>
<br>� N�o adianta esquentar; subi o diabo dessa ladeira pra si ter
<br>uma conversa de gente. Se o senhor se zangar, estraga tudo; o papo
<br>vai ter que ser l� embaixo, mesmo! Como manda a lei.
<br>� N�o tenho muito o que dizer � afirma o velho. � Enfezado
<br>foi embora deste barraco, fez ele muito bem.
<br>� Acontece que vai ser dif�cil acreditar nisso. Se ponha no
<br>lugar do sargento Beto e veja se tenho raz�o ou n�o!
<br>� N�o sei quem � o sargento Beto, n�o quero saber. Voc�s s�o
<br>capazes de tudo quando querem implicar os outros.
<br>� 0 senhor t� exagerando. No caso da minha irm� tive oportunidade
<br>de mandar botar a m�o nele e n�o botei; tudo em sua
<br>homenagem.
<br>� Pelo que me disse, eram namorados; voc� � que n�o queria.
<br>� Namorado, nada. Quase avan�ou o sinal. Imaginou eu com
<br>uma irm� puta?
<br>Banda Branca anda de um lado para outro do barraco, sempre
<br>esfregando o len�o na cara.
<br>
<br>
<br>� Se t� conversando muito � diz o alcag�ete � afastando do
<br>assunto
<br>principal.
<br>P�ra junto do velho, repete a indaga��o.
<br>
<br>� Onde se meteu Enfezado? Agiu ou n�o de parceria com o
<br>tal Toninho?
<br>O oper�rio sente o sangue fugir nas veias. Quer erguer-se, enfrentar
<br>o tipo ordin�rio, aflige-se, sabe que seria facilmente vencido.
<br>Naquele instante, mais que em todos os outros, constata o quanto
<br>era in�til. Bastava um porcaria de alcag�ete como Banda Branca
<br>para invadir seu barraco, passear de um lado para o outro, fazer-lhe
<br>as perguntas mais imbecis. E n�o podia fazer nada. sen�o responder,
<br>escudando-se nas palavras.
<br>
<br>� Nunca mais Toninho apareceu.
<br>� T� com a mem�ria fraca, mestre T�bor. L�dio Gordo viu ele
<br>entrando no seu barraco semana passada.
<br>0 velho esmurra a mesa, o banco em que estava sentado cai, ele
<br>se levanta atordoado, batendo-se nos m�veis e nas paredes, tenta
<br>avan�ar na dire��o do alcag�ete, que apenas se esquiva, o homem
<br>procurando-o no vazio.
<br>
<br>� J� vi que n�o adianta bancar o camarada, mestre T�bor. Em
<br>todo
<br>caso ainda tou disposto a lhe dar uma chance.
<br>0 serralheiro tem os olhos rasos d'�gua.
<br>
<br>� N�o adianta se martirizar. 0 garoto t� por a� fazendo poucas
<br>e boas. Por que n�o dizer onde se esconde?
<br>0 oper�rio n�o est� mais disposto a falar coisa alguma, Banda
<br>Branca sente isso. Dali em diante n�o iria arrancar-lhe uma �nica
<br>palavra, o trabalho estava prejudicado.
<br>
<br>� Mestre T�bor, juro que n�o tou disposto a aumentar suas
<br>dificuldades. Mas se for preciso, fa�o isso.
<br>0 homem continua recostado na parede, impass�vel, o corpo
<br>inteiro tomado por profundo des�nimo, os pensamentos dispersos, as
<br>for�as sem rumo. A vontade � de chorar, chorar, o que n�o faria na
<br>presen�a daquele traste imundo. Banda Branca mete a m�o no bolso
<br>do palet�, tira o carne de recebimento do INPS. Bate com ele na
<br>mesa.
<br>
<br>� Ou�a bem, mestre T�bor. O pobre pode sempre ficar mais
<br>pobre. � uma coisa engra�ada mas � verdade; ficar rico � que d�
<br>trabalho. Sem o carn� do INPS o senhor n�o vai receber a pens�o
<br>t�o cedo.
<br>Banda Branca faz uma pausa, sorri, o dent�o obturado a ouro
<br>ressalta, os olhos se fecham.
<br>
<br>� E tou com ele na m�o. Basta um pouco de esfor�o, vira
<br>peda�os. J� imaginou?
<br>Novamente o serralheiro se apavora. Move-se de onde est�, procurando
<br>segurar o alcag�ete.
<br>
<br>
<br>� T� vendo s� como as dificuldades podem aumentar? Ent�o,
<br>vamos l�? Onde se meteu Enfezado?
<br>Mestre T�bor caminha pelo pequeno c�modo procurando o
<br>banco. Banda Branca n�o sabe qual � sua inten��o, trata de acautelar-
<br>se. O velho senta. In�til o ato de rebeldia. Tinha de acostumar-se
<br>com aquilo, preparar-se para o pior.
<br>
<br>� Tou falando, mestre T�bor. Quero saber do garoto. Se n�o
<br>disser, desta vez o carn� fica sem o primeiro peda�o.
<br>O oper�rio mant�m uma das m�os apoiada na mesa, ouve o
<br>papel sendo rasgado e atirado no ch�o.
<br>
<br>� Onde t� Enfezado?
<br>Novamente o ru�do que, aos ouvidos do serralheiro, parece desmedidamente
<br>intenso. Ap�s insistir mais algumas vezes, o ch�o em
<br>torno de Banda Branca est� todo estrelado com os fragmentos do
<br>carn�. Calmamente, o alcag�ete pega o palet�, passa mais uma vez
<br>
<br>o len�o no rosto, sai para a viela. 0 serralheiro percebe quando se
<br>retira. Seus movimentos s�o sutis, mas n�o o bastante para que n�o
<br>pudesse ouvi-los. At� quando d� os primeiros passos, distanciando-se
<br>do barraco, ainda escuta; e quando o cachorro de dona Alice ladra,
<br>sabe que � por causa de Banda Branca; e quando as galinhas que
<br>mariscavam se espantam, continua sabendo que aquilo acontecia
<br>por causa da aproxima��o do mau-elemento.
<br>Encosta a cabe�a na ponta da mesa, chora. Forte desejo de
<br>morrer o domina. Afinal, de que adiantava continuar? E se de fato
<br>aquele moleque retornasse com seus parceiros e o levassem para a
<br>chiqueiro de uma Delegacia? Ser� que ia ag�entar semelhante vexame?
<br>Durante longos momentos perde-se em reflex�es. Chegara a
<br>hora de partir e n�o tinha capacidade de entender o sinal? Seria a
<br>aproxima��o daquele dem�nio uma indica��o de Deus? Como Deus
<br>podia se valer de um miser�vel para transmitir Sua vontade? Arrepende-
<br>se de blasfemar. Na verdade est� t�o assustado que n�o sabe
<br>como proceder. Agacha-se, tateia com as m�os, at� encontrar os fragmentos
<br>do carne. Pega alguns deles, pela espessura do papel entende
<br>que Banda Branca n�o blefara. Rasgou mesmo. Como disse que ia
<br>rasgar. Agora, Deus do c�u, como fazer? Como tirar outro carn�?
<br>Como ir � Ag�ncia Central, encaminhar o pedido, justificar que o
<br>original se extraviara?
<br>
<br>Senta no ch�o, pernas estendidas, bra�os estendidos. N�o tem
<br>coragem sequer de mover-se. Nos olhos sem luz a imagem do Banda
<br>Branca que conhecera. Sempre mau, perseguidor. N�o havia um dia
<br>em que n�o estivesse armando uma para algu�m. E nunca ningu�m
<br>mexia com ele. Bem que Enfezado cansara de dizer: do jeito que vai,
<br>termina dominando todo mundo aqui por cima.
<br>
<br>
<br>� Voc�s s�o um bando de carneiro � afirmava o garoto. - Esse
<br>� que � o bandido e t� solto, dando trambique a torto c a
<br>direito.
<br>Agora, entendia o quanto eram corretas as palavras do filho.
<br>
<br>E naquele tempo n�o custava nada ter pego aquele moleque, enforcado
<br>contra o peda�o de muro. arrebentando a cabe�a dele com
<br>algumas pancadas. Tinha certeza de que bastaria um murro bem
<br>dado, no meio da testa. Mas era um tempo em que confiava no Direito.
<br>Nas coisas certas, nos devidos lugares, no mal que se paga
<br>com o bem. Oh, Deus, como se arrepende, se na verdade s� os injustos
<br>e os trambiqueiros t�m sa�de e prosperam! Banda Branca era
<br>bem o exemplo disso. N�o se recorda de ter sabido de algum dia em
<br>que aquele canalha adoecera. Chovesse ou ventasse, estava sempre
<br>transando. Ouvindo de uns para levar adiante. Contra os desmandos
<br>que praticava n�o havia puni��o. Dona Julinha foi ao Posto queixar-
<br>se quando Marta sumiu. Os soldados acharam gra�a. Vai embora,
<br>velha. Vai encher em outro lugar. Aqui s� se trata de coisa s�ria.
<br>Se a mo�a t� querendo d� pra Banda Branca, o que tem com isso?
<br>Dona Julinha teve de retirar-se envergonhada, como envergonhados
<br>estavam os moradores daquele morro. Enfezado viu primeiro que
<br>todo mundo. Um dia vai fazer voc�s de carneiros. A� ningu�m pode
<br>reclamar. Banda Branca trabalhando, tecendo fios invis�veis, mantendo
<br>seu rebanho na base da amea�a.
<br>
<br>� Se a gente bole com ele os homem aparecem, v�o dizer que
<br>se � um bando de vagabundo. Quero dist�ncia desse cara!
<br>Seria esse o pensamento de seu Greg�rio ou dizia aquilo por
<br>conveni�ncia? Recorda as palavras de Toninho.
<br>
<br>� Aquele cara t� cada dia mais esquisito; quando me chama,
<br>fico s� ouvindo. N�o me abro!
<br>Depois da visita de Banda Branca n�o tinha do que duvidar
<br>dos garotos. E onde, na verdade, andariam? Ser� que Enfezado matou
<br>mesmo a mulher e o velhote? Que teria feito o sargento Beto para
<br>que o menino se tornasse t�o odiento? Gostaria de saber. Quando
<br>falasse com Enfezado, seria a primeira coisa a perguntar. S� depois
<br>de ouvi-lo, acreditaria. Um qualquer � e muito menos aquele alcag�ete
<br>imundo � n�o podia convenc�-lo. Estava certo de que o filho
<br>n�o era um bicho.
<br>
<br>TR�S
<br>
<br>O detetive Silveirinha � alto. magro e meio calvo, agitado, bra�os
<br>extremamente peludos. Usa rel�gio com pulseira de ouro e uma
<br>grossa alian�a de casado. No painel do carro tem a fotografia da
<br>
<br>262
<br>
<br>
<br>mulher e da filha, a frase por baixo: "N�o corra, papai; n�s esperamos
<br>por voc�!" Na mesa de trabalho h� outras frases: "querer �
<br>poder", "hei de vencer" e "quem d� aos pobres empresta a Deus".
<br>Houve uns tempos em que Silveirinha, influenciado pelo sargento
<br>Beto, freq�entou a igreja Batista. Mas, ajudado pelos plant�es nos
<br>fins-de-semana, terminou dando por encerrada a incurs�o religiosa.
<br>Na verdade, n�o acreditava que os homens, ordin�rios como eram,
<br>pudessem ser os intermedi�rios de Deus. Nunca gostou de discuss�es
<br>
<br>� e muito menos religiosas � mas sempre imaginou isso. Como
<br>um cara como o sargento Beto podia abrir a B�blia, o livro dos
<br>Salmos e cantar, cantar, tal qual uma das muitas ovelhas do Grande
<br>Pastor? Nessa Silveirinha n�o acreditava. Tinha opini�o firmada.
<br>E cada vez que via um infeliz ser arrastado para o chiqueirinho e
<br>diziam ser o sargento Beto que ia presidir o interrogat�rio, mais se
<br>convencia de estar certo. Silveirinha tinha l�gica pr�pria e isso dizia
<br>respeito em especial � sua atividade. Se nos reservaram o trabalho
<br>do Satan�s, n�o creio que algum dia Deus v� se apiedar da nossa
<br>miser�vel alma; se � que algum tira tem alma!
<br>� Ora. deixa de ser bobo! Uma coisa � a f�; outra o cumprimento
<br>do dever.
<br>� At� a�, tudo bem, sargento Beto. Me falta entender o que
<br>venha a ser o tal cumprimento do dever.
<br>No dia em que disse isso o sargento sentiu-se intrigado. E, nessas
<br>ocasi�es, assumia certa postura pastoral.
<br>
<br>� Ora. cumprimento do dever � fazer bem aquilo que se aprendeu.
<br>Dessa forma somos �teis � sociedade.
<br>� E a sociedade para que serve?
<br>0 sargento olhou o colega, n�o soube ou n�o quis prolongar-se.
<br>� Acho � disse ele � que os pensamentos simples s�o os mais
<br>s�bios. N�o me meto em an�lise de profundidade. Pra mim a sociedade
<br>� �til.
<br>Silveirinha entendia o porqu� de o sargento Beto n�o querer
<br>avan�ar.
<br>
<br>� Na minha opini�o a nossa sociedade � �til a uma pequena
<br>parcela e se imp�e com o sistema, atrav�s de leis que ela mesma
<br>produz e com apoio dos seus guardi�es. N�s somos uma parte desses
<br>guardi�es. Se de repente os bandidos passassem a manobrar, logicamente
<br>estabeleceriam outros princ�pios de verdade e a gente desceria
<br>pra faixa de marginal.
<br>� Sabe o que vem a ser isso, meu caro Silveirinha? Sofisma.
<br>E sofismando n�o se chega a lugar algum. Antigamente, quando todo
<br>mundo dispunha de muito tempo, os fil�sofos perdiam-se em sofismas.
<br>N�o � coisa pra nossa �poca.
<br>Mas, na verdade, a partir da�, o sargento Beto passou a desconfiar
<br>do policial que freq�entemente era visto com um livro no bolso.
<br>
<br>
<br>N�o chegou a pedir sua remo��o, porque se tratava de um tipo honesto,
<br>cumpridor das obriga��es. Todavia, nada impede o sargento
<br>Beto de imaginar que, de certa forma, o detetive Silveirinha deixou-
<br>se tocar pelos livros que l� e, para todos os efeitos, � uma esp�cie de
<br>comunista iniciante. Onde se viu, ao menos de brincadeira, um cara
<br>imaginar que a sociedade pudesse cair nas m�os da bandidagem, a
<br>fim de que o certo virasse errado? S� mesmo na cabe�a de um maluco
<br>ou mal-intencionado.
<br>
<br>Silveirinha refletia sobre aquelas coisas, na tarde de sol quente,
<br>nuvens negras formando-se no c�u, quando o telefone tocou.
<br>
<br>� Ele mesmo. Que � que manda.
<br>Silveirinha ouvia, dizia tudo bem. � bom ver, talvez seja um
<br>caminho. N�o adiantou nada, n�o sugeriu coisa alguma. Com aqueles
<br>alcag�etes mantinha-se de p� atr�s. N�o confiava em nenhum
<br>deles, muito menos no que estava telefonando. Ao desligar, o detetive
<br>abre uma porta, fala com o sargento Beto, por tr�s da mesa atulhada
<br>de inqu�ritos, jornais velhos, antigos volumes de processos.
<br>Coisas que n�o foram para frente ou por descaso nas investiga��es
<br>ou por determina��o dos escal�es superiores. Ah, como detestava
<br>entrar naquela sala e ter de ver aquilo. Inqu�ritos que deram tanto
<br>trabalho, nomes dos culpados levantados e a ordem de esfriar. Amanh�
<br>os jornais n�o estar�o falando mais nisso. Vamos esquecer.
<br>Chama o pessoal da imprensa, mete outro caso quente na ordem do
<br>dia. Como, depois de uma daquela o sargento Beto ia � Igreja, abria
<br>
<br>o Livro de Salmos, cantava em louvor do Senhor? N�o entendia.
<br>Mas. quando abre a porta, n�o est� interessado na situa��o do sargento
<br>perante Deus e muito menos perante a reparti��o. Simplesmente
<br>comunica que Banda Branca telefonou.
<br>� Teve com o pai do pivete. Acha que o velho sabe onde t�!
<br>0 sargento olha-o como se tivesse recebido uma ferroada nos
<br>rins.
<br>
<br>� Se o velho sabe, n�o tem mist�rio. Se arranca ele de l�,
<br>mete no pau-de-arara, at� entregar os pontos.
<br>� Se n�o ag�entar?
<br>� Ag�enta. Esse pessoal de idade � mais forte do que pensa.
<br>Silveirinha continua na porta, sargento Beto examina o rel�gio.
<br>� L� pelas onze se manda o cambur�o. Quero ver esse coroa
<br>de perto. Banda Branca tamb�m tem de vir.
<br>Fecha a porta, n�o est� de forma alguma interessado naquilo.
<br>N�o compreende o empenho do sargento Beto, aquele seu implac�vel
<br>desejo de vingan�a. Mesmo assim procura o telefone, liga para o
<br>Posto, torna a falar com Banda Branca.
<br>
<br>� Voc� tem de vir.
<br>Banda Branca deseja alongar-se, sente de certa forma envaidecido
<br>quando fala com um detetive que passou pela Academia, Sil
<br>
<br>
<br>
<br>veirinha n�o lhe d� trela. E, cada vez que tem de lidar com um
<br>tipo como aquele, entende n�o ter voca��o para ser tira, mais cedo
<br>ou mais tarde far� outro concurso, tratar� de cair fora.
<br>
<br>� A lei � pra canalha, pro p�-de-chinelo; o bacana sempre
<br>escapa e tudo bem, desde que chova na nossa horta � esse o princ�pio
<br>de um dos colegas de Silveirinha. Com racioc�nios desse tipo,
<br>embora ganhasse igual aos outros, o tal coleguinha adquirira casa
<br>pr�pria, luxuosa, barco a motor, carro importado, abriu uma boutique
<br>na Zona Sul para a mulher, as filhas iam todos os anos passear
<br>na Europa, a amante instalara-se muito bem em Cabo Frio. De onde
<br>sa�a tanto dinheiro?
<br>Sempre que olhava os jornais Silveirinha se preocupava com os
<br>concursos. Ah, se pudesse enfrentar um de fiscal do Imposto de
<br>Renda, seria o ideal. Mas coisa desse tipo n�o era nem anunciada.
<br>Quando sabia do concurso, havia sido realizado. S� o pessoal empistolado
<br>conseguia as bocas. Mas podia fazer um outro qualquer. Para
<br>a Caixa, Banco do Brasil ou at� mesmo para a Superintend�ncia de
<br>Pol�cia. N�o queria era continuar no batente, tirando bandido da
<br>maloca, ag�entando papo como aquele de Banda Branca, um sem-
<br>vergonha de marca maior.
<br>
<br>A porta se abre, aparece o sargento Beto. Est� nervoso, caminha
<br>de um lado para o outro, bra�os para tr�s, um antigo h�bito da
<br>caserna.
<br>
<br>� Acho bom avisar o detetive Galv�o. Vai ter interesse em
<br>conhecer o pai do pivete.
<br>Silveirinha sorri, disca o n�mero, o telefone come�a a chamar.,
<br>passa o fone ao sargento Beto. Galv�o n�o est�.
<br>
<br>� Logo que chegue mande me procurar. Sargento Beto. Isso
<br>mesmo!
<br>� Se o velhote n�o abrir o bico? � quer saber Silveirinha.
<br>� Fica de molho at� se decidir ou algu�m por a� botar a m�o
<br>no filhinho dele.
<br>� 0 delegado sabe disso?
<br>� Claro que sabe � diz o sargento um tanto irritado. � Ou
<br>t� pensando que fa�o alguma coisa escondida? Tou autorizado e por
<br>gente que t� acima do delegado. Vou botar a m�o naquele marginalzinho
<br>de uma figa e mostrar a ele de quantos paus se faz uma
<br>cangalha.
<br>� Se o Banda Branca tiver inventando?
<br>� Duvido. Pode ser malandro pras negras dele. Pra cima de
<br>mim, n�o!
<br>� Tenho ouvido dizer que saca firme!
<br>� Conversa. 0 delegado tem trabalhado com ele esse tempo
<br>todo; j� prestou bons servi�os. Merecia at� ganhar mais do que ga
<br>
<br>nha. Enfrentar o que enfrenta naquele morro n�o � moleza. Mesmo
<br>assim t� do nosso lado. Do lado justo!
<br>O telefone toca, Silveirinha atende.
<br>
<br>� Galv�o! � diz passando o fone.
<br>QUATRO
<br>
<br>O cambur�o subiu pelas vielas o que p�de. Ficou estacionado
<br>nas proximidades do barraco de dona Zizinha, onde havia o campinho
<br>de futebol.
<br>
<br>� Se vai l�, pega o homem. Traz amorda�ado, pra ningu�m
<br>ouvir.
<br>Descem do cambur�o Banda Branca e mais dois caras, um deles
<br>de chapeuzinho de feltro, abas curtas, sapato de pano. Um dos homens
<br>leva a corda de nylon, o outro um cassetete de borracha.
<br>
<br>O de chapeuzinho aproxima o rosto das t�buas, bate, escuta,
<br>fala imitando garoto.
<br>
<br>� Abre a�, velho! � Enfezado!
<br>Banda Branca acha gra�a, ri procurando evitar ru�do.
<br>� Enfezado! Abre!
<br>As t�buas come�am a ser retiradas, o que segura a corda de
<br>nylon puxa mestre T�bor para fora do barraco.
<br>
<br>� Esperando o garot�o, hem?
<br>� Vamos em frente.
<br>Banda Branca oferece o len�o para que o velho seja amorda�ado,
<br>os dois homens n�o acham conveniente.
<br>
<br>� Pode deixar, vov� n�o vai fazer confus�o.
<br>Dizendo isso um deles cola o cano do rev�lver nas costas do
<br>serralheiro.
<br>
<br>� No primeiro movimento em falso, sofre um acidente.
<br>Mestre T�bor caminha aos trancos entre os tipos, ora escorrega,
<br>ora trope�a, � necess�rio que o segurem, pois o alcag�ete j� se encarregou
<br>de informar que n�o enxerga. Em poucos instantes est�o
<br>no cambur�o, cujas portas se abrem, o velho � empurrado para dentro.
<br>Banda Branca examina os barracos, est� certo de que n�o foram
<br>vistos.
<br>
<br>0 carro desce com o motor desligado, somente as lanternas
<br>acesas. S� muito l� embaixo come�a a funcionar. � o tempo tamb�m
<br>que chegam ao asfalto, p�em-se a rodar, a caminho da Invernada.
<br>
<br>A noite est� escura e quente. Amea�ou chover mas n�o choveu.
<br>0 c�u continua encoberto, n�o se consegue ver uma �nica estrela.
<br>
<br>266
<br>
<br>
<br>Banda Branca sente-se satisfeito de ser, de certa forma, o centro dos
<br>acontecimentos. Se capturassem Enfezado, tinham de reconhecer seu
<br>m�rito. E era prov�vel que, gra�as �quela atua��o, fosse admitido
<br>no quadro de funcion�rios. Estava ficando cheio da atividade paralela,
<br>ganhando pouco e se arriscando muito. Falaria com o sargento
<br>Beto, procuraria um entendimento com o pr�prio delegado-geral.
<br>N�o ia esperar que se lembrassem dele, pois quem aguarda o reconhecimento
<br>dos outros est� perdido. 0 neg�cio � for�a��o de barra,
<br>t� sempre dizendo tou aqui, olha o meu, tou levando a pior nessa
<br>hist�ria e o servi�o aparece igualzinho aos outros que n�o se mexem
<br>ou se mexem pouco, risco calculado, a nota firme no bolso. Daquela
<br>vez Banda Branca tinha certeza de que ia conseguir.
<br>
<br>0 homem do chapeuzinho de feltro fala alguma coisa ao companheiro.
<br>0 motorista, um crioul�o gordo apelidado de Azeitona,
<br>sorri.
<br>
<br>� Esse velhote n�o ag�enta o tranco.
<br>� Pior pra ele. Que o sargento quer que fale, isso quer.
<br>� Puxa, o cara n�o pensa em outra coisa. Pra ouvir o interrogat�rio
<br>n�o vai nem ao culto!
<br>� Credo! Se vai faltar � igreja a coisa � s�ria.
<br>� 0 velhote at� que n�o � m� pessoa � diz Banda Branca.
<br>� 0 diabo � a mania de querer proteger o filho, um assassino do
<br>cacete.
<br>� Se � boa pessoa, chapa, como � que t� empurrando ele no
<br>precip�cio?
<br>A pergunta do homem que segurava a corda de nylon � s�ria,
<br>0 alcag�ete sente-se irritado.
<br>
<br>� � bom e n�o �; se n�o quer dizer onde o sacaneta do filho
<br>se meteu, pode pegar uma co-autoria.
<br>� Co-autoria uma ova � diz o tipo de chapeuzinho. � T�
<br>defendendo o sangue dele ou tu n�o manja isso?
<br>Banda Branca sente-se encurralado. N�o esperava que aqueles
<br>tiras o considerassem um verme.
<br>
<br>� N�o sei, procurei cumprir ordens! � afirma o alcag�ete.
<br>� Por essas e por outras � que tamos na merda em que tamos
<br>�
<br>diz o policial de chapeuzinho de feltro a Azeitona.
<br>0 motorista torna a rir. � um riso neutro, de quem n�o d�
<br>total raz�o ao policial e muito menos a Banda Branca.
<br>� Precisavam t� l� em cima ag�entando o que ag�ento! �
<br>queixa-se o alcag�ete.
<br>
<br>� Poxa! Que foi que te fiz? N�o sou dedo-duro, cara! Quando
<br>saio da Delegacia pra botar a m�o num filho da puta tou com endere�o
<br>certo. N�o chafurdo no rastro de ningu�m.
<br>� Acha que sou de chafurdar?
<br>267
<br>
<br>
<br>Todos riem: o homem do chapeuzinho de feltro, o da corda de
<br>nylon, Azeitona.
<br>
<br>0 carro entra no p�tio de terra solta, deserto, carca�as de ve�culos
<br>apodrecendo, debaixo das l�mpadas morti�as. Azeitona ergue-
<br>se com dificuldade, abre as portas traseiras. Perto dele v�o chegando
<br>
<br>o homem de chapeuzinho de feltro, o outro que segurava a corda de
<br>nylon, Banda Branca.
<br>� Vamos l�, vov�. Terminou o conforto!
<br>Dizendo isso o homem de chapeuzinho pega o velho pelo bra�o,
<br>ajuda-o a descer. Entre os policiais e o alcag�ete mestre T�bor �
<br>levado, ora trope�ando, ora tentando diminuir o passo, a fim de
<br>examinar o terreno, o que n�o lhe permitem.
<br>
<br>� Cuidado, velho!
<br>Sobem a escada estreita, entram pelo corredor, tornam a descer
<br>outra escada, chegam � sala de interrogat�rios. Ali j� est�o o detetive
<br>Silveirinha, dois tipos de musculatura desenvolvida, o sargento
<br>Beto. Os policiais empurram o serralheiro para o meio da sala, tratam
<br>de acomodar-se nas poltronas de molas aparecendo.
<br>
<br>� � esse o homem, chefe!
<br>� Vai dizer que n�o sabe de nada � acentua Banda Branca
<br>um tanto animado de estar ali, reunido com policiais pertencentes
<br>aos quadros do Servi�o P�blico.
<br>� Aqui, todo mundo tem de saber alguma coisa � diz o sargento.
<br>� N�o acredito em burrice.
<br>Um dos caras de musculatura empurra o velho para cima da
<br>cadeira que � fixa no ch�o.
<br>
<br>� Vamos sentando, vov�; assim pode pensar melhor!
<br>0 detetive Silveirinha arrega�a as mangas, acende um cigarro.
<br>Aproxima-se do velho, oferece. Mestre T�bor sacode a cabe�a, negando-
<br>se aceitar.
<br>
<br>� Muito bem, vov� � come�a o detetive. � � uma pena n�o
<br>enxergar. Aqui, perto da gente, t�o v�rios cavalheiros que ficaram
<br>revoltados com o que seu filhinho fez. Por isso achamos que vai
<br>ajudar. Afinal, s� queremos saber por onde anda. N�o precisa nem
<br>dizer o lugar exato. Basta uma dica. Uma aproxima��o.
<br>O detetive silencia, sargento Beto anda de um lado para o outro
<br>da sala, os policiais que vieram da rua est�o em sil�ncio, cs dois
<br>homenzarr�es tamb�m.
<br>
<br>� Onde se meteu Enfezado?
<br>� N�o sei; desde que fiquei cego n�o sei das coisas. Nunca
<br>mais Enfezado apareceu.
<br>Pacientemente, soprando a fuma�a do cigarro Silveirinha se
<br>aproxima.
<br>
<br>� Olha vov� n�o abuse da minha paci�ncia. Perto de n�s t�o
<br>dois caras da pesada que fazem qualquer um falar, sem perguntar
<br>
<br>coisa nenhuma. Pense bem. Tou sendo camarada. N�o custa nada
<br>colaborar.
<br>
<br>� Juro que n�o sei.
<br>0 detetive insiste:
<br>� Quando foi a �ltima vez que apareceu l� pelo morro?
<br>� J� faz tempo. Mais de seis meses!
<br>Banda Branca ergue-se, mete as m�os nos bolsos, na maior pose
<br>do mundo.
<br>
<br>� O velho t� mentindo; tenho um olheiro que viu o garot�o
<br>no barraco dele, m�s passado.
<br>� Como � isso, vov�? Lhe pergunto uma coisa e responde
<br>outra?
<br>� � mentira do alcag�ete � diz o oper�rio. � H� muito
<br>tempo n�o vejo o garoto. Desde que foi preso.
<br>� Como foi preso?
<br>� Pergunte pro tipo ordin�rio que t� me acusando.
<br>Banda Branca tenta revidar o insulto, sargento Beto manda que
<br>se cale.
<br>
<br>� Vamos mudar de t�tica � diz o sargento Beto. � Agora,
<br>quem pergunta � Germano.
<br>Ouvindo isso o homenzarr�o ergue-se da cadeira. Tira a camisa,
<br>os m�sculos est�o saltados. Silveirinha senta, continua a fumar. Germano
<br>aproxima-se do velho, por tr�s. Aplica-lhe o telefone o serralheiro
<br>torce-se de dor.
<br>
<br>� Acho que tava com cera no ouvido � diz Germano sorrindo
<br>nervosamente, bei�os gretados se alargando, a cicatriz por cima do
<br>olho esquerdo encolhendo.
<br>� Diz onde t� Enfezado, velho filho da puta. N�o torno a
<br>perguntar.
<br>Mestre T�bor mant�m-se indiferente, as l�grimas escorrendo pelo
<br>rosto de barba crescida. Em dado momento as m�os fortes de Germano
<br>cravam-se nos tend�es dos ombros, os dedos pressionam, o velho
<br>quer livrar-se, os bra�os est�o amarrados, a dor � grande, n�o suporta,
<br>p�e-se a berrar, a grunhir.
<br>
<br>Esculacho se aproxima.
<br>
<br>� T� gastando for�a � toa, cara. Pra teimoso s� tem um caminho.
<br>Germano solta o velho, vai para a pia, Esculacho p�e-se a rode�-
<br>lo. Os policiais acompanham seus movimentos. Sabem muito bem
<br>do que aquele tipo � capaz, o detetive Silveirinha sente-se inquieto,
<br>
<br>o sargento Beto procura manter-se impass�vel, Banda Branca quer
<br>achar gra�a mas ningu�m o acompanha.
<br>Esculacho passa a m�o na cabe�a do velho, diz coisas vagas que
<br>pareciam n�o ter qualquer liga��o com o que pretendia fazer. Em
<br>dado instante, com incr�vel rapidez, catuca violentamente com o
<br>
<br>
<br>polegar da m�o direita o olho de mestre T�bor. O homem solta um
<br>berro incr�vel, Germano curvado na pia volta-se para ver o que houve,
<br>a cabe�a do oper�rio pende para tr�s, Esculacho puxa-a para a posi��o
<br>normal, o rosto est� coberto de uma gosma que se confunde com o
<br>sangue que desce.
<br>
<br>� Isso � um absurdo � diz o detetive Silveirinha levantando-
<br>se. � Voc� � um d�bil mental, cara!
<br>Esculacho n�o se incomoda com o protesto do detetive. Sargento
<br>Beto manda que n�o se intrometa, Silveirinha sai da sala.
<br>
<br>� Vamos l�, vov�. Ainda tem um olho sobrando. Falou ou n�o
<br>falou do caso?
<br>� N�o disse nada.
<br>� Com quem tava andando nessa ocasi�o? Quem era o coleguinha
<br>dele?
<br>� Nunca gostou de se enturmar.
<br>� Mentira � diz Banda Branca. � Vivia junto com o tal de
<br>Toninho. Pra cima e pra baixo.
<br>� T� ouvindo, vov�! O homem � teu vizinho e afirma que o
<br>garotinho gostava de companhia. Vou contar de novo at� tr�s.
<br>Dizendo isso Esculacho tira o canivete do bolso do blus�o, segura
<br>uma das orelhas de mestre T�bor, faz um movimento r�pido com a
<br>m�o direita, o velho se encolhe, grunhe, sacode-se todo. O peda�o de
<br>orelha cai no ch�o, junto dos p�s de Germano que voltou da pia,
<br>enxuga-se.
<br>
<br>� Vamos l�. vov�! Que teimosia � essa? Quer sair daqui como
<br>boi de
<br>matadouro?
<br>Esculacho repete a pergunta.
<br>
<br>� Enfezado andava ou n�o andava com o tal Toninho?
<br>0 velho sacode a cabe�a, afirmativamente, o sangue pingando-
<br>lhe no ombro, no peito, escorrendo pela barriga, entrando nas cal�as.
<br>
<br>� E onde t� esse Toninho?
<br>� Trabalhando pela rua.
<br>� Isso n�o � endere�o, velho. Como � que se vai topar com ele.
<br>sem saber o lugar certo?
<br>� Vamos l�, puxa pela mem�ria � berra Germano.
<br>� N�o sei, nunca me disse.
<br>� Vov�, vov�! T� abusando da minha paci�ncia � diz Esculacho.
<br>� Acho que ajuda na distribui��o de um jornal.
<br>� Que jornal?
<br>O velho n�o consegue lembrar. Esculacho pega a orelha ferida,
<br>belisca-a com for�a, os olhos tornam-se saltados, o rosto ainda mais
<br>branco, riso s�dico arrega�ando-lhe os bei�os, mostrando os dentes irregulares.
<br>
<br>
<br>� Que jornal?
<br>
<br>O canivete torna a trabalhar. Mestre T�bor estremece mais uma
<br>vez, sacode furiosamente a cabe�a, Germano aplica-lhe tremendo
<br>murro na testa.
<br>
<br>� Vamos parar de assanhamento. Se quer conversar como gente
<br>grande. Nada de palha�ada.
<br>� Que jornal? � repete Esculacho.
<br>� Juro que n�o sei. Pelo amor de Deus!
<br>� N�o adianta impreca��o. Devia ter feito isso quando criou
<br>aquele monstro! � argumentou Esculacho.
<br>� Onde se esconde o tal Toninho? � insiste Germano.
<br>O sargento Beto sai de perto, vai sentar na sala refrigerada,
<br>onde est� o detetive Silveirinha. De vez em quando ouvem os gemidos
<br>do velho. Mas � algo distante, long�nquo, que mal d� para distinguir.
<br>
<br>� Mandou parar a brincadeira?
<br>� N�o. Vou insistir um pouco mais.
<br>� Acho isso judia��o. Esse pobre-diabo n�o sabe de nada.
<br>Quando fiz as primeiras indaga��es percebi logo.
<br>� Nunca se sabe.
<br>� Como nunca se sabe? T� pensando que sou calouro nessa
<br>hist�ria ?
<br>� N�o penso nada. Desde que mataram minha mulher e meu
<br>pai n�o penso em nada. N�o tente me cobrar coisas l�gicas.
<br>� Ent�o voc� n�o t� em condi��o de trabalhar.
<br>� A� que se engana. Nunca tive t�o bom de trabalho. Especialmente
<br>pra descobrir o filho da puta que me desfeiteou.
<br>� Isso � vingan�a. T� confundindo as coisas!
<br>� Vingan�a ou n�o, tenho de botar as m�os naquele crioulinho
<br>de merda!
<br>� Com esses m�todos que t� aplicando no pobre velho n�o
<br>chegar� nunca ao criminoso.
<br>� Como quer que fa�a?
<br>� Como tou fazendo. Ou pensa que tirei f�rias, n�o prendi o
<br>pivete por que n�o quero?
<br>� Nunca disse isso. Acontece que quero participar das buscas.
<br>Tenho autoriza��o!
<br>O detetive est� indignado. P�e as m�os na mesa do sargento,
<br>fala olhando-o nos olhos.
<br>
<br>� E acha que pode fazer o que t� fazendo?
<br>� Possa ou n�o, vou continuar nesse estilo. � como essa canalha
<br>entende.
<br>� Pois n�o � meu jeito. Vou encaminhar um relat�rio ao delegado,
<br>pedindo substituto. N�o pretendo entrar numa fria. De repente
<br>os jornais botam a boca no mundo, o detetive Silveirinha �
<br>quem se fode.
<br>
<br>� Desde o come�o n�o lhe senti com muita disposi��o,
<br>� Disposi��o eu sempre tive, sargento Beto. O que nos diferencia
<br>� que trabalho com a cabe�a.
<br>� Pois desse jeito nunca vai dobrar ningu�m. S� na porrada
<br>esses patifes abrem o bico!
<br>Sargento Beto retira o vidro de �gua da geladeira, Germano aparece,
<br>nu da cintura para cima, toalha de rosto no ombro.
<br>
<br>� 0 homem apagou. Exatamente quando parecia disposto e
<br>contar alguma coisa.
<br>� Apagou?
<br>Silveirinha dirige olhar acusador ao sargento, Germano continua
<br>esperando.
<br>
<br>� Chama Azeitona. Manda jogar por a�. Bem longe da jurisdi��o.
<br>Germano desaparece, sargento Beto emborca o copo na bandeja.
<br>onde h� x�caras, uma garrafa de caf�.
<br>
<br>� De que adiantou tanta f�ria? S� complica��o em cima de
<br>complica��o.
<br>� N�o � o primeiro que morre e � atirado por a�.
<br>� Acontece que um dia a casa cai. E nesse dia o pau vai comer.
<br>0 sargento senta, abre a gaveta, Silveirinha baixa as mangas da
<br>camisa, o telefone toca.
<br>
<br>� Pode dizer. T� ocupado. N�o pode atender agora. Dou o recado.
<br>Vou avisar.
<br>� Sabe quem t� ligando? A pobre da mulher do Esculacho. A
<br>filha teve um acesso de convuls�o, foi pro hospital. Avise pra ele.
<br>N�o quero ver esse tipo t�o cedo.
<br>Sargento Beto n�o diz nada. 0 detetive pega a pasta, retira-se,
<br>certo de que no dia seguinte conversaria com o delegado. N�o podia
<br>mais continuar no caso, ao lado de um louco e uma cambada de s�dicos.
<br>
<br>
<br>
<br>Cap�tulo XIV
<br>
<br>UM
<br>
<br>Pela janela entreaberta Sandra v� que continua a chover. Mesmo
<br>assim o calor � grande. Por isso ligou o ar-refrigerado que herdou
<br>de Marlene. Como ainda falta uma hora para sair, ouve no tocadiscos
<br>sua m�sica preferida. Uma can��o que fala no casal de amantes.
<br>Ah, como era rom�ntica! Lentamente, procurando n�o for�ar a
<br>voz, acompanha o cantor. Canta e olha o bilhete de Toninho; o encontro
<br>que desejava ap�s o show. Como teria de lutar, a fim de evitar
<br>os clientes chatos, aqueles que desejavam lev�-la para a cama todas
<br>as noites! Em parte era respons�vel por isso, precisava de dinheiro,
<br>s� o que recebia na boate n�o dava. Mas, agora, ap�s encontrar Toninho,
<br>come�a a sentir o quanto deixar-se abra�ar por outro homem
<br>tornava-se doloroso. E como se sentia complexada. N�o queria trair
<br>
<br>o namorado que fazia tudo para agrad�-la. Sabia muito bem a apertura
<br>em que n�o ficou para lhe dar aquele toca-discos. E como era
<br>bonito, o livrete de garantia, as explica��es t�cnicas. Encontraria um
<br>meio de driblar os chatos, sentaria no barzinho de paredes cobertas
<br>de azulejos, tomaria a canja com p�o quentinho, um copo de vinho,
<br>ficaria ouvindo as maluquices do namorado. Sempre tinha algo de
<br>engra�ado a contar. Sentia-se outra ao seu lado. Estava certa de que
<br>conseguiria educar a voz, se tornaria uma cantora, j� que ser atriz
<br>lhe parecia bem mais dif�cil. O que tem de mocinha por a� querendo
<br>trabalhar em novela n�o � normal; j� enfrentar um est�dio de grava��o
<br>� diferente. Bem poucas se aventuram.
<br>Exatamente isso que ia fazer. Nada do caminho mais f�cil. Como
<br>Toninho costumava dizer: a estrada que leva ao c�u, de primeiro
<br>� toda feia, mais parece uma viela de morro; depois que se andou
<br>muito por ela, torna-se larga e florida. As flores s�o pequeninas estrelas
<br>que ainda n�o aprenderam a brilhar. Sandra sorria. Quem lhe
<br>ensinou essa hist�ria? Ouvia a m�e contar. E depois dela, muitas outras
<br>pessoas. Acha mesmo que a gente vai pro c�u quando morre? Era
<br>a vez de Toninho sorrir. Sei l�. Mas pelo que dizem os antigos, nem
<br>
<br>
<br>sempre o que � f�cil � bom. Eu, por exemplo, se vejo laranja madura
<br>na beira da estrada, caio fora. Algo de errado t� havendo. J� imaginou
<br>se algu�m vai nos dar colher de ch�?
<br>
<br>Entra no elevador mal-iluminado, ainda ouve os risos de Toninho,
<br>continua com vontade de cantarolar a can��o dos amantes,
<br>deixou o disco no aparelho, quando voltasse continuaria a ouvi-lo, a
<br>hora que fosse. Teria de aprender bem aquilo para, depois, procurar
<br>colocar no seu estilo. Cantaria num ritmo bem diferente, mandaria que
<br>ouvisse. Com o tempo e dinheiro que entrasse, compraria o gravador.
<br>A�, sim. Cantaria, faria a grava��o na fita, ouviria. Assim que os melhores
<br>cantores come�aram. Solange entendia dessas coisas. Vivia envolvida
<br>com artistas, lia tudo que as revistas escreviam sobre eles, sabia
<br>de fuxicos incr�veis. Uma pena que n�o visse nela o menor talento.
<br>O elevador chega ao t�rreo, Sandra pensando se Solange n�o imaginava
<br>a mesma coisa a seu respeito. As pessoas v�o se conhecendo,
<br>tornando-se �ntimas, na maioria dos casos uma deixa de acreditar na
<br>outra porque se conhecem demais. S� com Toninho era diferente. N�o
<br>gostava de Solange, achava que n�o passava de uma chata, mas reconhecia
<br>seu talento. Foi quando cantarolou uma coisinha de nada,
<br>mais pra debochar dele, que chamou aten��o. At� se espantou. Que
<br>� que h�, esse cara t� querendo me gozar? A� ele provou que n�o.
<br>Mandou que cantasse um sambinha, por mais idiota que fosse. Sandra
<br>procurou lembrar-se. N�o era boa nessa hist�ria de gravar letra de
<br>m�sica. Mas com dificuldade descobriu uma que, de tanto tocar no
<br>r�dio, terminou aprendendo. Cantou, Toninho mostrou-se superanimado.
<br>Se n�o gostasse diria logo. Sabia bem do seu jeito. N�o costumava
<br>enganar. Com Solange �s vezes chegava a ser grosseiro. Sandra
<br>toma o t�xi, recorda a promessa do patr�o de aumentar as horas do
<br>show, quando tamb�m teria aumento de sal�rio. A� compraria o
<br>gravador. N�o precisaria ocupar Toninho. O gasto que fizera com o
<br>toca-discos fora grande. N�o queria explor�-lo. Jamais iria tornar-se
<br>um peso morto nas suas costas. N�o fazia isso com os estranhos, quanto
<br>mais.
<br>
<br>No camarim, enquanto se maquiava e ouvia as hist�rias de Solange
<br>e do tal cara da TV Itacolomi, Sandra deliciava-se com as possibilidades
<br>que tamb�m teria. S� que n�o ia dizer nada. N�o gostava
<br>de falar em coisas que ainda constitu�am planos. Falaria no dia em
<br>que fosse gravar o primeiro disco ou participar do primeiro programa
<br>de TV. N�o deixa de ver, Solange! Se tiver televis�o a cores, melhor.
<br>Quero que me diga tudo que achou; tim-tim por tim-tim. Presta muita
<br>aten��o pra mise en scene. Num audit�rio de TV isso conta ponto.
<br>Quem sabe se mexer, � alegre, desinibida leva vantagem. Nisso a�
<br>tenho certeza que dou de dez a zero em qualquer um. Solange concordaria
<br>e se arriscaria a dizer, como j� fizera tantas vezes que, na
<br>verdade, tamb�m eram artistas. Ora, se essa por��o de careta vem aqui,
<br>
<br>
<br>pra ver a geme, n�o � s� pelo corpo, pelo sexo. � tamb�m por que
<br>se consegue ser divertida. Como, � que n�o sei, mas que consegue,
<br>consegue.
<br>
<br>Sandra costumava rir daquela franqueza da amiga. Na verdade,
<br>quando sa�am do palco e se recolhiam naquelas caixas que, de camarim
<br>s� tinham o nome, � que viam o quanto eram pouco importantes,
<br>Ningu�m vinha procur�-las para dar parab�ns, ningu�m mandava
<br>flores. Se pintavam um f�, era pilantra. E esses estavam sempre dando
<br>em cima. Freq�entemente Sandra se enfurecia. Outras vezes levava
<br>na brincadeira, temendo que o cara fosse procurar o patr�o, inventasse
<br>uma hist�ria qualquer, com o objetivo de prejudic�-la. No est�dio
<br>de grava��o a coisa seria diferente. Mais profissional. Gente que estaria
<br>unicamente ocupada com seu trabalho. Se algum cara desse em
<br>cima, saberia como conduzir a aproxima��o. Diria que em primeiro
<br>lugar estava Toninho, n�o era santa mas exigia respeito. E tudo correria
<br>de forma correta. Seria dona do seu nariz, nas folgas ficaria no
<br>apartamento, o r�dio ligado, ouvindo suas pr�prias m�sicas. J� imaginou.
<br>Solange, eu em casa me ouvindo no r�dio? Solange era firme
<br>no seu prop�sito. Vou terminar a televis�o. Nem que seja como varredora.
<br>Se o pilantra que me deu o cart�o n�o aparecer, tanto faz.
<br>Procuro outro. N�o � o �nico que lida com televis�o. Vai ver, aparece
<br>um que � de fato muito mais importante. Minha m�e costumava
<br>dizer: quanto mais tarde, melhor mar�. Dizia isso, recordava a
<br>idade. E j� se sentia at� disposta a n�o insistir nos pap�is principais.
<br>Ficaria contente com uma posi��o secund�ria, mas que fosse marcante.
<br>Afinal, nem sempre a atriz que mais aparece � a que atua melhor.
<br>Tinha certeza de que a oportunidade que lhe dessem saberia aproveitar.
<br>Nunca tive chance, minha filha. Ano passado foi aquele marginal,
<br>dizendo que era da TV Excelsior; esse ano, um da Itacolomi.
<br>Se aparecer o terceiro, t� mais do que provado que � meu destino.
<br>Ainda n�o lhe disse porque n�o desejo que pense estar ficando maluca;
<br>mas h� ocasi�o no show em que vejo c�maras de TV na minha
<br>frente c n�o aqueles imbecis. Uma c�mara bem perto, outras duas
<br>mais afastadas, colhendo todos os �ngulos. Sandra sorria das maluquices
<br>de Solange. No fundo, tanto ela quanto a amiga e Toninho n�o
<br>diferen�avam muito. Pena que os dois n�o se dessem.
<br>
<br>Sandra bezunta os olhos com o creme dourado, passa o l�pis nas
<br>sobrancelhas, retoca o batom. Solange aparece j� pronta, diz que as
<br>mesas est�o todas ocupadas.
<br>
<br>� Como sabe?
<br>� Fui espiar.
<br>� Em plena quarta-feira?
<br>� Sei l�! Parece que essa cambada pare dinheiro!
<br>� Mas o que tem de cheque sem fundo no caixa n�o � moleza.
<br>� Os que passam cheque sem fundo n�o s�o malucos de voltar.
<br>� tudo gente nova. Tem at� gringo.
<br>
<br>� N�o diga! Ser� que vieram por causa da gente?
<br>� Acho que h� navio americano no porto.
<br>� Puxa, se pode descolar uns d�lares!
<br>� Uma boa id�ia. N�o tinha pensado nisso!
<br>� Topa pegar um americano, levar pro motel.
<br>� Se um deles se interessar, claro que topo.
<br>� N�o tem de esperar que se interesse. Dou em cima, se divide.
<br>� Acontece que n�o posso chegar muito tarde em casa.
<br>Sandra sorri.
<br>� Muito tarde ou muito cedo. Eu s� consigo chegar oito/nove
<br>horas.
<br>� Tava planejando sair do show, me mandar.
<br>� Mesmo havendo alguns d�lares na jogada?
<br>� A� a coisa muda de figura.
<br>Sandra d� mais uns retoques na pintura, tinge os bicos dos
<br>seios.
<br>
<br>� E se o tal Toninho n�o gostar dos americanos?
<br>� Se vai pro motel, depois encontro ele no barzinho.
<br>� Eu n�o espero. N�o vou com a cara daquele tipo.
<br>� Pois n�o � m� pessoa. E n�o tem raiva de ti.
<br>� Imagine se tivesse. Me matava.
<br>� Toninho � meio bagun�ado mas bom rapaz.
<br>� Vamos l�. T� na nossa hora � diz Solange cortando a conversa.
<br>0 show se inicia. A orquestra ataca firme de um lado, do outro
<br>entra Solange, as pernas grossas, depois Sandra; roupa mais atraente,
<br>saiote ainda mais curto. Quando aparece, o ritmo da m�sica aumenta,
<br>algumas pessoas que est�o nas mesas batem palmas, focos coloridos
<br>cruzam sobre ela, acompanham-lhe os movimentos. Sandra imagina
<br>que seria um bom momento de cantar, mas n�o podia sair do
<br>programa. Tem � de dan�ar, pular, abaixar-se e elevar-se num salto,
<br>como se estivesse representando desastrado bal�. Solange trata de
<br>segui-la. Quando a m�sica torna-se mais lenta, mais suave, as duas
<br>se aproximam. Sandra pega no ar as m�os de Solange. Agora, mexem-
<br>se e sacodem os bra�os, como se fosse uma dan�a de roda. Depois, v�o
<br>se estreitando num abra�o, Sandra tomando iniciativas. Em seguida
<br>� a vez de Solange fazer o mesmo. E com mais realismo. 0 cl�max do
<br>show � quando Solange beija Sandra, e as duas demoram, a orquestra
<br>barulhenta, palmas estalando. Ap�s o beijo, novamente uma esp�cie
<br>de valsa, Solange � quem tira as primeiras pe�as da roupa de Sandra.
<br>Agarram-se mais uma vez, Sandra desabotoando as roupas de Solange.
<br>0 p�blico ri, assovia, novas palmas.
<br>
<br>A masturba��o no palco se estender� no m�nimo uns 20 minutos,
<br>pois o dono do Bacar� sabe que aquilo agrada. Vem gente de longe
<br>s� para curtir as duas se agarrando. Numa mesa nos fundos, onde a
<br>
<br>
<br>ilumina��o n�o chega, est� Galv�o. Pretendia rever a filha, tomar
<br>uns u�sques, esquecer a profiss�o miser�vel que tem; esquecer Paranhos,
<br>o secret�rio, o maldito motorista, o professor infeliz e, em especial,
<br>Garanh�o. Sabe muito bem que aquele criolo n�o � gente, aceitou
<br>o trato porque est� tramando alguma. Com ele n�o podia dormir,
<br>n�o podia retardar a a��o. Mais dia menos dia explodia, estaria perdido.
<br>E de que adiantou meter-se no diabo da boate? Ali estava a filha
<br>na maior sem-vergonhice do mundo. � propor��o em que os caretas
<br>batiam palmas Galv�o afundava no banco estofado, pouco se incomodando
<br>com a mulher da cadeira ao lado, que desejava fisg�-lo. Quando
<br>Sandra e Solange est�o completamente nuas, agarrando-se e beijando-
<br>se, o detetive n�o ag�enta. Os olhos enchem-se de l�grimas,
<br>vira o copo de uma vez na boca, sai dando encontr�o nas mesas, passa
<br>pelo le�o-de-ch�cara que diz alguma coisa, vai embora naquela
<br>noite quente e desesperada, arrependido de ter vindo. Toma o t�xi,
<br>manda seguir para S�o Crist�v�o. 0 motorista puxa conversa, d� logo
<br>a entender que n�o est� de bom humor, o homem faz uma indaga��o,
<br>responde que � pol�cia.
<br>
<br>0 carro avan�a por ruas escuras, atravessava t�neis, Galv�o
<br>calado, olhando num ponto long�nquo, que jamais poderia atingir.
<br>Por que a vida se tornara t�o amarga? Por que Sandra desceu tanto?
<br>Ah, pobre Julieta! N�o queira saber quem � a nossa Sandrinha. Faz
<br>pena, faz pena.
<br>
<br>� Como o senhor disse? � indaga o motorista que ouve os resmungos.
<br>� N�o disse nada � afirma Galv�o raivosamente.
<br>0 motorista n�o faz coment�rio. Na verdade est� um tanto assustado
<br>com aquele tipo que n�o gosta de conversa mas fala sozinho. E
<br>para livrar-se logo dele acelera. 0 carro desliza rapidamente nos trechos
<br>melhores, entra finalmente pela rua Bela, dobra a primeira �
<br>esquerda, prossegue pela rua de cal�amento, sai outra vez no asfalto,
<br>toma a avenida, contorna a pracinha.
<br>
<br>� N�o precisa ir at� l�. Quero andar um pouco.
<br>Galv�o puxa a carteira, o motorista olha o tax�metro, faz c�lculos
<br>com a tabela de pl�stico nas m�os.
<br>
<br>� Trinta e oito e quarenta.
<br>Galv�o entrega uma nota de cinq�enta, vai embora sem esperar
<br>o troco. 0 chofer continua a olhar aquele tipo soturno, afastando-se
<br>na cal�ada deserta. Manobra o carro, desaparece, o detetive entra pela
<br>ruazinha estreita, avista a casa de luzes apagadas, como todas as outras
<br>da vizinhan�a. Por tr�s das casas, o clar�o da refinaria, das oficinas,
<br>das f�bricas em funcionamento; o chiar de v�lvulas, o mexer de ferros,
<br>estalar de pe�as, resfolegar de motores que giram noite e dia.
<br>Galv�o torna a pensar na mis�ria em que estava transformado aquele
<br>bairro, na mis�ria da pr�pria filha.
<br>
<br>� Como p�de ficar assim, meu Deus?
<br>Se algu�m lhe dissesse n�o acreditaria. Foi l� para ficar em paz
<br>consigo e com ela, teve de sair em p�nico, a canalha uivando, Sandra
<br>e a colega abra�adas como duas cadelas. E, ao mesmo tempo, ali estava,
<br>caminhando pela rua onde Sandra brincou, por onde tantas vezes
<br>passou com ela, por onde chegava mais cedo s� para v�-la, Julieta
<br>contando-lhe as proezas que tinha feito. Andou sozinha, foi at� o jardim.
<br>Abaixava-se, l� vinha a filha, o rosto bonito, bracinhos estendidos
<br>para alcan��-lo.
<br>
<br>� Como pode uma coisa dessa?
<br>Entra na casa, liga a televis�o, as vozes dos atores antes da imagem,
<br>cenas do filme iniciado n�o sabe quando. Livra-se dos sapatos,
<br>das roupas, fica s� de cueca, liga o ventilador, estende-se no sof�, os
<br>olhos ainda molhados, a vontade de afundar num tremendo porre
<br>mas, ao mesmo tempo, a necessidade de estar de p� muito cedo, quando
<br>teria uma nova conversa com Garanh�o, somente Fatia presente.
<br>Ainda assim abre nova garrafa, p�e bastante gelo no copo, refor�a a
<br>dose. A primeira toma de vez, p�e uma outra, volta a olhar a televis�o,
<br>a mulher e o cara passeando lentamente pelo parque, carros
<br>nas ruas, em velocidade. Aquilo tudo fazia-o imaginar que se tratasse
<br>de um filme de suspense. N�o entendia coisa nenhuma. Apenas
<br>as imagens mexendo-se, o pensamento em Sandra e Solange, as
<br>duas enla�adas, os freq�entadores do Bacar�, batendo palmas, alguns
<br>gritando "vamos l�, meninas", "joga ela no ch�o", "vai por cima",
<br>ele sem ag�entar semelhante cachorrada, a vontade de subir naquele
<br>palco, desmont�-lo a pontap�s, sacar a m�quina e fuzilar o negociante
<br>imundo que mantinha aquele antro funcionando.
<br>
<br>Antes de terminar a terceira dose de u�sque Galv�o cochila, a
<br>a��o do filme na televis�o prossegue, como prossegue a m�sica animada
<br>da orquestra no Bar-Boate-Bacar�, onde apenas Sandra permanece
<br>no palco, Solange desapareceu por entre as mesas, os clientes
<br>gritam para Sandra tamb�m descer, especialmente os marinheiros que.
<br>n�o sabendo falar a l�ngua, engrolam palavras inintelig�veis, que se
<br>tornam ainda mais engra�adas e barulhentas. Num salto, como se
<br>fosse a favorita e n�o gostasse de fazer-se de rogada, Sandra se aproxima,
<br>s� um transparente vestido sobre o corpo, rebola-se entre as mesas,
<br>o jato de luz acompanhando, a orquestra ora suave, ora fren�tica.
<br>Sobe na mesa dos marinheiros, o corpo bem feito oscila, os seios
<br>tremem, os marujos aplaudem e empurram as cadeiras, Sandra requebra-
<br>se, um dos americanos tenta peg�-la, outro afasta-lhe as m�os,
<br>ela salta para a mesa seguinte, os marujos ficam indignados, uns
<br>acham gra�a, outros pedem que volte, Sandra parece n�o ouvir, sabe
<br>que n�o poderia meter-se com aqueles tipos, j� bastante embriagados,
<br>espera que Solange tenha entendido a mesma coisa.
<br>
<br>
<br>Na mesa seguinte est� o moreno forte, a mulher do lado, emburrada.
<br>Sandra aproveita-se disso. Aproxima-se mais e mais do homem,
<br>at� beij�-lo, at� deixar que a segure pelos bicos dos seios, enquanto
<br>acaricia-o com a ponta da l�ngua nos olhos e nos ouvidos, alvoro�a-
<br>lhe os cabelos, cola-se ao cara e vai se abaixando, a mulher indiferente,
<br>tomando goles e mais goles de u�sque, a cabe�a de Sandra sumindo
<br>por baixo da mesa, o homem recostando-se na cadeira, camisa
<br>semi-aberta, a mulher batendo o copo com for�a, perguntando aos
<br>berros se o cara n�o tinha vergonha. � o bastante para Sandra reaparecer
<br>em outra mesa, junto a outros tipos, enquanto os jatos coloridos
<br>procuram-na em v�o e a orquestra ataca com anima��o porque
<br>os m�sicos sabiam muito bem que aquele era o instante de Sandra
<br>cativar a clientela. Ao subir de novo no palco as luzes tornam-se intensas,
<br>a orquestra retorna ao seu ritmo vibrante e os pr�prios clientes
<br>perdem-se em palmas e mais palmas, o que significava o �xito do
<br>show, a sobreviv�ncia das vedetes, a sobreviv�ncia do Bar-Boate-Bacar�.
<br>
<br>DOIS
<br>
<br>Quando todos j� se foram, Sandra teve de valer-se de Xex�u e
<br>de Bigode, a fim de livrar-se dos americanos. N�o queria ir com eles,
<br>
<br>o mais alto e forte insistia, Bigode tirou-a das garras do gringo.
<br>� N�o t� querendo ir, cara; te arranca!
<br>O americano n�o entendeu nada, os companheiros tamb�m n�o,
<br>foram andando aos tombos pelo cal�ad�o da avenida. 0 mais embriagado
<br>era mesmo o que queria levar Sandra � for�a.
<br>
<br>Saiu da boate com Xex�u e Bigode, entraram no barzinho de
<br>paredes de azulejos encardidos. Tomaram caf�, ela convidou para a
<br>mesa, n�o quiseram. Bigode tinha uma grava��o logo cedo. S� de
<br>ouvir isso Sandra sentia-se orgulhosa. Ia chegar o dia em que Bigode
<br>diria:
<br>
<br>� N�o posso, amanh� gravo com Sandra!
<br>0 gar�om de todas as noites se aproxima, pede chope, diz estar
<br>esperando outra pessoa. 0 homem vai para os fundos do barzinho, retorna,
<br>oferece tira-gosto, Sandra prefere queijo com molho ingl�s,
<br>fica mastigando, muitas pessoas entrando e saindo, ela ansiosa que
<br>Toninho n�o demorasse, poderia aparecer algum conhecido, estabelecer-
<br>se outro caso, igual ou pior ao que ia acontecendo com os americanos.
<br>N�o sabe por que, come�a a sentir-se estranha, um tanto
<br>assustada na presen�a de tipos que nunca vira, especialmente os grandalh�es,
<br>que lembravam colegas do pai sentados na festa de anivers�
<br>
<br>
<br>
<br>rio, corpos maiores que as cadeiras. E, ali, junto ao balc�o, estava
<br>um deles, tomando caf� e olhando, como se fiscalizasse todo mundo.
<br>Toninho finalmente aparece, embrulho nas m�os, p�e sobre a
<br>
<br>mesa.
<br>
<br>� Imagina s� o que �?
<br>Antes de responder Sandra pensa em sapatos, num vestido, na
<br>caixa de bombons de chocolate. Toninho n�o � muito de guardar segredo.
<br>Tira o amarrado, abre o papel com enfeites, aparece o gravador
<br>que Sandra imaginara comprar. Ela fica olhando, como se estivesse
<br>admirando a coisa mais bonita do mundo.
<br>
<br>� Como soube que ia precisar?
<br>� Me disseram. Quem t� aprendendo a cantar tem de ter gravador.
<br>� Como funciona?
<br>� Depois ensino.
<br>� Tem um lugar onde possa aprender, agora?
<br>Toninho sorri, pega o copo de chope que o gar�om traz.
<br>� Lugar � que n�o falta.
<br>Sandra pede os pratos de canja e mais um chope. Estica-se por
<br>cima da mesa, a ponto de derrubar os copos, beija Toninho.
<br>
<br>� Tou gamada, cara! Que foi que me fez?
<br>Toninho olha-a, quer brincar, sorri, como sempre fazia, de repente
<br>sabe que o momento n�o � de brincadeira.
<br>
<br>� Tamb�m tou gamado!
<br>S� ent�o os dois riem, seguram as m�os, Sandra aperta com for�a,
<br>Toninho correspondendo, como se fosse um jogo.
<br>
<br>� Se pode ir pro hotelzinho de outro dia. L� tem t�xi, f�cil.
<br>� E j� se conhece o pilantra da portaria!
<br>0 gar�om p�e os pratos de canja, traz a cesta com p�es quentinhos,
<br>Toninho pede manteiga.
<br>
<br>� Como foi o show?
<br>� Um pouco mais animado porque tava assim de gringo.
<br>� Que tipo de gringo?
<br>� Americano. Tem um navio de guerra no porto. N�o viu como
<br>a cidade t� cheia de marinheiro?
<br>� Pra ser sincero hoje ainda n�o vi nada. Passei o tempo todo
<br>dormindo.
<br>� Puxa, quase n�o dormi! Fiquei namorando o toca-discos, lembrando
<br>do cara que me deu. Sabe quem �?
<br>� Acho que sei; um cara que pode fazer muita coisa ou n�o
<br>fazer nada.
<br>� Nossa, que pessimismo!
<br>� At� que n�o. Apenas gosto de me ver como sou. Jamais daria
<br>para artista.
<br>
<br>� Por qu�?
<br>� N�o me amarro em ilus�es. Artista vive de ilus�es.
<br>� Pois acho que a ilus�o � que nos ajuda a sobreviver.
<br>� N�o leve a s�rio o que digo; n�o tou pra muita conversa!
<br>� Nem comigo?
<br>� S� com voc�.
<br>� Esse trabalho que t� lhe arrebentando os nervos. Por que n�o
<br>consegue uma coloca��o fixa?
<br>� Em que. se n�o sei fazer nada?
<br>Toninho toma colheradas de canja, mete grandes peda�os de p�o
<br>na boca, mastiga com voracidade.
<br>
<br>� Gostaria de ver onde trabalha. Se for o caso, posso lhe conseguir
<br>uma
<br>coloca��o na boate.
<br>Toninho sacode negativamente a cabe�a.
<br>
<br>� A barra que enfrento n�o � moleza, em compensa��o a nota
<br>pinga. Tem cara preso o dia inteiro num escrit�rio e no fim do m�s
<br>e aquela merda de sal�rio.
<br>� Mesmo assim gostaria de ir ver seu trabalho; um conhecido
<br>me falou que esse neg�cio de distribui��o de jornal � uma loucura.
<br>� Bota loucura nisso.
<br>� E por que n�o larga?
<br>� Tou tentando. Mas preciso esperar um colega que t� viajando.
<br>Logo que volte se inicia um neg�cio pr�prio.
<br>� Uma sociedade?
<br>� Mais ou menos.
<br>� Nunca deu certo. � preciso muito capital. Vejo a apertura
<br>em que vivem os donos da boate. Al�m disso, as brigas di�rias por
<br>causa de dinheiro. Um t� sempre achando que o outro rouba.
<br>� Esse amigo � diferente: a gente � como irm�o!
<br>� E no trabalho atual, como � que faz?
<br>� Coisa sem import�ncia. Uma hora dessa lhe mostro.
<br>� Por que n�o hoje, que se t� com tempo? Amanh�, saindo do
<br>show,
<br>vou direto pra casa. Tenho de come�ar a treinar.
<br>Toninho encara-a com frieza.
<br>
<br>� N�o quer que veja como trabalha? Tudo bem!
<br>� Nada disso. Acho que vai at� ajudar.
<br>Sandra sorri. Gostava de ouvir o namorado falar a seu respeito.
<br>� N�o fique preocupado. Quando me tornar cantora e tiver alguns
<br>contratos importantes, se muda de vida.
<br>� A�, vou ser uma esp�cie de gigol� . . .
<br>� Por qu�? E quem vai cuidar dos meus interesses? Acha que
<br>empres�rio � gigol� de alguma cantora?
<br>
<br>Toninho mostra os dentes, a boca cheia.
<br>
<br>� E um neg�cio que topo; sou capaz de ter jeito para isso!
<br>� Aposto que tem.
<br>Sandra pede mais chope, o gar�om reaparece com os copos cheios,
<br>recolhe os outros, Toninho termina de tomar a canja, passa o guardanapo
<br>na boca.
<br>
<br>� Mas at� l� se precisa ter grana. Muita grana.
<br>� 0 hor�rio do show vai aumentar, a partir do m�s que vem;
<br>devo ganhar praticamente o dobro. D� pra fazer umas economias.
<br>� Voc� que pensa. Sobe o ordenado, sobe o aluguel, a luz, o
<br>transporte, comida, fica tudo na mesma ou pior.
<br>� Puxa, t� pessimista, mesmo!
<br>� Nem por isso deixo de acreditar que tem boa voz, pode fazer
<br>sucesso. � s� querer!
<br>Sandra torna a segurar-lhe as m�os, sente que est�o frias como
<br>se estivesse doente.
<br>
<br>� N�o acha melhor esquecer o trabalho, hoje?
<br>� Por qu�?
<br>� Sei l�! Tou lhe achando meio estranho.
<br>� Nada. Sou assim mesmo. Ora esquento como se tivesse febre,
<br>ora esfrio. A m�e dizia que tenho sangue de peixe.
<br>� Quer mesmo que v� ao seu trabalho?
<br>� Pode ser! Por que n�o?
<br>� Soube que teve ontem no show. Chocolate me disse. Por que
<br>n�o esperou?
<br>� N�o foi s� o show que fui ver.
<br>� Solange?
<br>Toninho faz uma careta de irrita��o.
<br>� Corta essa. Tava em outra. Semana passada Chocolate me
<br>alertou
<br>que teu velho tava baixando por l�. Fui conferir.
<br>Sandra mostra-se surpresa.
<br>
<br>� N�o me falou!
<br>� Acho que n�o quer tocar no problema contigo.
<br>� E o que � que aquele idiota deseja?
<br>� N�o fa�o id�ia. Fiquei numa mesa do canto, vi quando
<br>chegou. Saiu no meio do show.
<br>� Deve ter ficado escandalizado. Puritano de uma figa!
<br>� Acredita que tava apenas interessado no espet�culo?
<br>� N�o tenho a m�nima; se n�o for isso, t� atr�s dos traficantes
<br>de entorpecentes.
<br>Toninho olha-a, sorri descontra�do.
<br>
<br>� Foi o que pensei. A n�o ser que teja querendo um papo
<br>contigo.
<br>� Comigo n�o fala mais. 0 que disse no apartamento � definitivo.
<br>
<br>� Se tiver a fim de ajudar?
<br>� Detetive Galv�o n�o ajuda ningu�m; mal pode se ag�entar
<br>nas pernas.
<br>� Pelo que vi, saiu de cara cheia!
<br>� Quero que se dane; que v� curtir seus remorsos no inferno!
<br>� Por que remorsos?
<br>� J� se envolveu em poucas e boas! Mam�e morreu amargurada.
<br>0 gar�om traz a conta. Toninho paga, levantam-se, Sandra segurando
<br>o gravador pela al�a.
<br>
<br>� � leve. N�o pesa um quilo!
<br>� S� tem de ter cuidado pra n�o levar pancada: quebra f�cil.
<br>� N�o vou andar com ele fora da capa. Nunca!
<br>� T� mesmo disposta a ver o que fa�o?
<br>Sandra sorri, beija-o de leve no rosto.
<br>� N�o deve haver segredos entre n�s.
<br>Seguem pela avenida pouco movimentada, os �ltimos bares fechando,
<br>muitas vitrines apagadas. Um t�xi surge distante, Toninho
<br>faz sinal.
<br>
<br>� Farme de Amoedo!
<br>� Pensei que fosse mais longe � diz Sandra acomodando-se
<br>no banco.
<br>� � l� que param alguns caminh�es. Os outros v�o pro Posto
<br>Seis,
<br>Lido e uma p� de lugares.
<br>Sandra fala a respeito da can��o que come�ou a treinar.
<br>
<br>� Quando se voltar, quero que ou�a!
<br>Toninho n�o responde. Olha as ruas sem movimento, o interior
<br>do carro cheio de enfeites. O tipo que est� no volante � branco e
<br>forte, cabelo cortado rente. N�o parece motorista de t�xi. Ao mesmo
<br>tempo compreende o quanto andava cismado. Aquela de utilizar Sandra
<br>constitu�a recurso extremo. Sentia que o cerco estava fechando,
<br>que o detetive Galv�o e seus auxiliares agiam, outros setores da pol�cia
<br>mobilizavam-se, a coisa se confundia com a ca�ada ao matador
<br>da mulher e do pai do sargento Beto, tornava-se angustiante com a
<br>persegui��o ao seq�estrador do filho do industrial. Todos os dias os
<br>jornais, r�dios e emissoras de televis�o estavam cobrando uma solu��o
<br>para tantos crimes. N�o sabia se devia acreditar naquelas vers�es
<br>da imprensa ou se aquilo tudo n�o passava de bal�o de ensaio, a
<br>fim de assust�-lo. Ao mesmo tempo, o que n�o entendia, era o detetive
<br>Galv�o ter apresentado o crioulo como sendo o matador louco.
<br>Fotografias de Garanh�o em todos os jornais, o careta afirmando ter
<br>fechado este e aquele. Vai ver o crioul�o pertencia � pr�pria pol�cia
<br>e, com tal falat�rio, desejava confundi-lo. Mas se o detetive calculara
<br>surpreend�-lo, se enganara. Depois do golpe ao lado de Sandra
<br>
<br>
<br>estava disposto a parar uns tempos, at� Enfezado aparecer. Se o companheiro
<br>demorasse, daria um salto a Barbacena, procuraria localiz�-
<br>lo. Necess�rio que soubesse o quanto o caso da mulher e do pai
<br>do sargento ouri�ava a imprensa. S� agora percebia terem agido com
<br>precipita��o. N�o fora inteligente em concordar com Enfezado. Se
<br>tivessem adiado o golpe, seria um problema a menos. E o pior � que
<br>ainda havia o Diabo daquele seq�estrador azucrinando a par�quia,
<br>obrigando os jornais a dizerem quase todos os dias que a pol�cia era
<br>impotente diante dos inimigos da sociedade.
<br>
<br>Sandra mant�m o bra�o nos ombros de Toninho, a mesma m�o
<br>acaricia-lhe os cabelos revoltos. Logo que o carro se aproxima das
<br>amendoeiras e da pra�a, manda parar.
<br>
<br>� Por aqui t� bom, amizade!
<br>A lampadazinha no tax�metro � acesa, o homem examina a tabela
<br>pl�stica, Toninho abre o z�per do casaco, o ru�do � curto e seco.
<br>segura a arma, antes que Sandra possa perceber o que se passa, aciona
<br>o gatilho, o estalo perde-se alto na noite, � logo encoberto pelo
<br>barulho dos carros que passam na pista principal, das britadeira;
<br>abrindo mais um buraco em alguma rua pr�xima.
<br>
<br>0 chofer tenta erguer-se, o sangue descendo da lesta, Toninho
<br>segura-o pelo blus�o, a outra m�o procura o dinheiro nos bolsos, no
<br>porta-luvas e por baixo do tapete. Vai pegando as c�dulas, enfiando-
<br>as nos bolsos do casaco, sem que perceba Sandra p�s-se a chorar,
<br>abriu a porta do carro, saiu correndo, at� encontrar o poste, onde se
<br>encostou, cabe�a tonta, olhos n�o querendo acreditar no que viam, o
<br>est�mago se contraindo e, finalmente, a crise de v�mito. Toninho
<br>segura-a pela m�o.
<br>
<br>� P�ra! Ficou maluca?
<br>Sandra promete aquietar-se mas continua a chorar, Toninho
<br>est� com o gravador, a garota largou-o no t�xi quando saiu na carreira.
<br>
<br>
<br>� Vamos pra praia. Se fica um pouco por l�.
<br>Sandra quer livrar a m�o, Toninho segura, aperta-a.
<br>� Queria ver como arranjo grana, n�o queria?
<br>0 choro de Sandra aumenta, atravessam as pistas inteiramente
<br>desertas, Toninho olha para tr�s, o t�xi longe, lanternas acesas. Quando
<br>os dois somem, o mendigo que se abrigara junto ao tapume da
<br>obra interditada afasta as folhas de jornal, aproxima-se do carro. V�
<br>que o motorista est� morto, ouve o r�dio tocando. Pensa chamar um
<br>policial, decide ir embora. 0 melhor seria distanciar-se. Com as folhas
<br>de jornal dobradas de qualquer jeito debaixo do bra�o procura
<br>outro abrigo, mas est� certo de que no dia seguinte iria � Delegacia,
<br>a fim de dizer que os matadores sa�ram correndo na dire��o da
<br>
<br>
<br>praia; o rapaz magro e alto, a mo�a de uns 18 anos. 0 mendigo
<br>anima-se. Pela informa��o poderia ganhar alguma coisa.
<br>
<br>Sandra escapa de Toninho, p�e-se a correr, o garoto acompanhando-
<br>a. Chegam � praia, puxa-a pelo bra�o, atiram-se na areia.
<br>A� o choro de Sandra aumenta. Encosta a cabe�a no ombro do namorado,
<br>maldiz-se da sorte.
<br>
<br>� Por qu�? Por qu�?
<br>Toninho n�o sabe como responder, limita-se a mandar que cale,
<br>trate de raciocinar.
<br>
<br>� N�o quero pensar em nada, n�o quero mais lhe ver. Vou
<br>devolver seu toca-discos, n�o quero esse gravador.
<br>� Deixa de ser besta � diz Toninho irritado. � Acha que
<br>os que t�o fazendo fortuna por a� agem diferente? Pois fique sabendo
<br>que n�o. Apenas usam outros m�todos que n�o posso usar.
<br>Sandra continua a sacudir a cabe�a, como que n�o aceitando
<br>aquelas desculpas, Toninho beija-a, acaricia-lhe o rosto. Ap�s algum
<br>tempo parece melhor.
<br>
<br>� A primeira vez � sempre assim; depois se torna h�bito. Um
<br>trabalho como outro qualquer!
<br>� N�o quero falar nisso; vou tomar uma condu��o, desaparecer.
<br>� N�o seja boba. T� pra amanhecer. Se pode passear pela praia,
<br>esquecer
<br>o que houve.
<br>Sandra encara Toninho.
<br>
<br>� Por isso que o detetive Galv�o t� indo na boate. Quer te
<br>agarrar!
<br>Diz isso como se tivesse tomado s�bita consci�ncia de um grave
<br>problema e, agora, muito mais grave porque, de uma forma ou de
<br>outra estava envolvida, participara de um assassinato a motorista de
<br>t�xi.
<br>
<br>� N�o tem bronca. Ningu�m vai te arrochar. 0 caso � todo
<br>comigo!
<br>Sandra controla-se o m�ximo que pode, ajeita os cabelos.
<br>
<br>� Quantos motoristas j� matou?
<br>O garoto brinca com as teclas do gravador.
<br>� N�o sei; procuro n�o lembrar!
<br>� E consegue?
<br>� Claro. Tenho mem�ria fraca. Nunca sei o que comi ontem,
<br>quanto mais. . .
<br>� Pois n�o vou esquecer. Lamento que tenha estragado nosso
<br>plano, la ser t�o bonito!
<br>
<br>TR�S
<br>
<br>Toninho mete-se no chuveiro, no barulho da �gua que cai o
<br>choro de Sandra, palavras em voz tr�mula, indaga��es que o inquietavam.
<br>
<br>
<br>� Por qu�? Por qu�?
<br>Imposs�vel dizer-lhe. De uma coisa estava certo: n�o poderia
<br>dar com a l�ngua nos dentes, ainda que quisesse. A manobra, sugerida
<br>pela pr�pria Sandra, terminava com toda e qualquer d�vida a
<br>seu respeito. Dificilmente teria coragem de procurar o pai. contar-lhe
<br>
<br>o que fizera, com um cara que a pol�cia inteira procurava. A partir
<br>dali, sim, teria certeza da briga de Sandra com o detetive ou a confirma��o
<br>de que tudo n�o passava de conversa fiada.
<br>Caminha pelo largo corredor, envolto na toalha, as portas fechadas,
<br>ningu�m iria v�-lo, se dona Berta soubesse era capaz de
<br>criar problema. Termina de enxugar-se no quarto, olha-se no espelho,
<br>abre os bolsos do blus�o, confere o dinheiro. Pega os documentos do
<br>motorista, v� logo que se tratava de um policial. N�o se enganara.
<br>Desde o primeiro instante sentiu que. de motorista, n�o tinha nada.
<br>O detetive Galv�o ia espumar de raiva. Tem vontade de rir. � noite
<br>daria um jeito de entrar na boate, esconder-se num canto, ficar vigiando.
<br>Se aparecesse, conversasse com Sandra, ent�o n�o havia d�vida:
<br>os dois transavam, ele n�o passava de um idiota que ainda
<br>teria uma chance � sumir de circula��o, at� poder reaparecer, ajustar
<br>contas com a garota.
<br>
<br>Sobre a cama, al�m dos documentos do chofer, das c�dulas
<br>amassadas, de alguns d�lares e um cord�o de ouro. o gravador que
<br>Sandra recusou levar. E logo no momento em que estava t�o interessada.
<br>Isso afeta Toninho. N�o entendia aquela repulsa. Por que
<br>confundir as coisas? Conversaria com ela. Se n�o conseguisse falar-
<br>lhe na boate, esperaria no barzinho ou subiria para seu apartamento,
<br>t�o logo o porteiro grandalh�o se descuidasse. 0 que n�o fazia sentido
<br>era ficar com aquele gravador. Estava certo de que iria entender.
<br>A retirada dos documentos ajudava a confundir a a��o dos policiais:
<br>e como ajudava! Caso Sandra desse com a l�ngua nos dentes teria
<br>tempo de escapar. N�o acreditava fosse louca de fazer isso mas, o
<br>melhor seria tomar as precau��es. Nada de ingenuidade, confiar
<br>numa garota que chorava � toa, se descontrolava, entrava numa
<br>crise de pessimismo, como se o motorista fosse seu parente.
<br>
<br>� � meu �ltimo caso!
<br>Sandra olhava-o, sabe que n�o acreditou. No estado em que
<br>estava, toda tr�mula, n�o podia acreditar. Quando a levou para o
<br>t�xi que os deixaria em casa, teve dificuldade em cont�-la. A todo
<br>instante queria chorar, Toninho falando, falando, a fim de distra�-la.
<br>
<br>
<br>Ainda pensando em Sandra, nos seus olhos lacrimejantes, nos
<br>cabelos esvoa�ando na madrugada quente, abre o cofre por baixo do
<br>guarda-roupa. 0 bolo de dinheiro cai. Junta as c�dulas, examina se
<br>a porta est� bem fechada, p�e-se a conferir. Aquilo o agradava. Havia
<br>bastante. Se o pai aparecesse, poderiam se mandar. Daria para
<br>comprar o peda�o de terra. Nunca mais retornaria � cidade ou s�
<br>apareceria anos depois, quando estivesse bem situado. Sandra n�o
<br>iria reconhec�-lo, o detetive Galv�o estaria velho ou teria morrido
<br>de desgosto. Al�m do dinheiro havia pequenos objetos: o rel�gio com
<br>pulseira de ouro, o anel de pedra, cujo valor desconhecia, o cord�o
<br>de ouro com crucifixo, tudo bem pesado, naturalmente valendo uma
<br>boa nota. Eis o resultado de um trabalho intenso e mil planejamentos.
<br>Chegara a um ponto em que n�o podia mais tomar t�xi sozinho.
<br>Duas noites seguidas fizera sinal, os carros se aproximavam, de repente
<br>o motorista engrenava uma segunda, ia embora. A� come�ou
<br>a se preocupar. Haveria alguma dica a seu respeito, ao seu tipo f�sico?
<br>Imposs�vel! Os motoristas estavam desconfiando de todo mundo
<br>depois das 10. Por isso fora oportuna a exig�ncia de Sandra. Lamentava
<br>apenas que fosse fraca, n�o topasse participar. Poderiam, juntos,
<br>dar uns quatro ou cinco golpes, at� que conseguisse descobrir uma
<br>outra maneira de abordar os pilantras. Estava certo de que a �poca
<br>ainda era boa, principalmente quando os profissionais sabiam haver
<br>tiras rodando, a fim de surpreender o matador louco. Ora, com tanta
<br>vigil�ncia, que chofer recusaria um casal de namorados? Custou
<br>a bolar isso e Sandra estragava tudo, com sua choradeira, as crises
<br>de v�mito, a impossibilidade de entender que necessitavam de dinheiro
<br>e aquele era o meio de obt�-lo. Guarda as c�dulas, j�ias e
<br>armas no cofre. Estira-se na cama, recorda a cara de dona Berta
<br>quando o viu entrar. L� pelas 10 sairia para comprar os livros, os
<br>cadernos. Aquela mulher teria de entender que, at� tarde da noite,
<br>dedicava-se aos estudos. Um dia. como que por esquecimento, deixaria
<br>um dos cadernos na portaria, a fim de que pudesse ver. Na
<br>capa o nome de um col�gio qualquer.
<br>
<br>Ouve passos no corredor, sabe que � o faxineiro. Ainda est�
<br>cuidando da limpeza da cozinha, da lixeira. Aquele homem trabalhava
<br>como burro de carga, ganhava micharia. Exatamente aquilo
<br>que procurava evitar, Sandra sem poder entender. Quem pensava
<br>que era? Uma infeliz que ficava nua na frente de uma quantidade
<br>de imbecis, a fim de sobreviver. E quem tinha pena? Quem procurava
<br>evitar que continuasse naquilo? Ningu�m. Se n�o se virasse, se
<br>n�o tentasse o est�dio de grava��o, estaria perdida. Mais cinco anos
<br>e j� n�o interessava. Apareceria outra mais novinha, mais bonitinha,
<br>
<br>o corpo bem feito, Sandra jogada aos pap�is de segunda ordem. Ser�
<br>que n�o compreendia? Procuraria falar com ela. Iria ao apartamento,
<br>
<br>n�o aceitaria que devolvesse o toca-discos, levaria o gravador. Precisava
<br>dele.
<br>
<br>Al�m dos livros, dos cadernos, da ida ao apartamento de Sandra,
<br>sabe que � o momento de um bordejo pela constru��o. Necess�rio
<br>falar com Man� Cabreiro, saber se Enfezado apareceu. Caso contr�rio
<br>teria de subir o morro, encontrar-se com mestre T�bor, tentar alguma
<br>informa��o. Se de todo fosse imposs�vel, iria a Barbacena. O que
<br>tinha a dizer-lhe era simples: n�o botar os p�s no Rio, t�o cedo, n�o
<br>dar bandeira onde quer que estivesse, pois a pol�cia inteira estava
<br>de sobreaviso, ordem de peg�-lo de qualquer jeito, vivo ou morto.
<br>Havia at� detetive particular oferecendo-se para entrar no caso, a
<br>fim de ganhar promo��o na imprensa.
<br>
<br>Toninho tem d�vida se Enfezado n�o estaria sabendo daquilo
<br>tudo. De qualquer forma, conversaria com mestre T�bor. Subiria �
<br>noite, antes de procurar Man� Cabreiro, evitaria ser visto por seu
<br>Greg�rio. Cansa desses projetos, fixa-se no rosto ensang�entado, no
<br>tipo branco e forte, m�o de dedos grossos querendo abrir a tampa
<br>do porta-luvas. Quando Toninho abriu, antes do dinheiro, o que encontrou
<br>foi um 38 carregado.
<br>
<br>Estendido na cama, m�os cruzadas por baixo da cabe�a, ocupava-
<br>se com o detetive. Depois daquela, perderia o posto. N�o adiantava
<br>estar mostrando Garanh�o como o matador louco, quando os crimes
<br>continuavam acontecendo e o tal do bandid�o estava atr�s das grades.
<br>No m�ximo podia inventar que seriam os comparsas do crioulo, mas
<br>isso terminaria soando falso. Ah, que vontade de ler os jornais da
<br>tarde, acompanhar o notici�rio da televis�o. Iria para o bar, numa
<br>hora em que o portugu�s estivesse vendo o "Jornal Nacional." Naturalmente
<br>o detetive apareceria, os rep�rteres perguntariam como
<br>explicava um criminoso preso, se a onda de crimes n�o havia diminu�do?
<br>Galv�o n�o teria muito o que inventar. E se Enfezado continuasse
<br>bem escondido, aquela situa��o poderia prolongar-se, at� que
<br>tivesse meios de encolher as garras. A�, sim, o detetive ia poder sobrecarregar
<br>o crioulo. Talvez, por essa �poca, o melhor fosse tentar
<br>localizar o pai, iniciar um outro neg�cio com Enfezado. N�o faria
<br>mais grandes despesas; apenas continuaria soltando gorjetas a Chocolate,
<br>a fim de poder freq�entar o Bar-Boate--Bacar�. Se preciso fosse,
<br>faria isso uma semana inteira, at� o detetive aparecer. Saberia se
<br>Sandra odiava de fato o pai.
<br>
<br>Olha as paredes empoeiradas do quarto de teto alto, forro pintado
<br>de branco, sabe o quanto estava seguro ali. A Pens�o Su��a
<br>bem mais em conta, se transformara num tumulto, ningu�m se entendia,
<br>ningu�m sabia quem era dedo-duro, quem n�o era. Uma boa
<br>op��o. Tivesse ido para l�, agora estaria em sobressalto. E precisava
<br>de calma para raciocinar, acompanhar as perip�cias do detetive. No
<br>dia em que apresentou Garanh�o aos jornalistas, terminou aclamado
<br>
<br>
<br>como her�i. Na manh� seguinte estava perturbado: outro motorista
<br>apareceu morto. Houve um jornal que p�s em d�vida o trabalho do
<br>policial e admitiu que Garanh�o n�o passava de um delinq�ente,
<br>destinado a bancar os crimes. Ao mesmo tempo os l�deres sindicais
<br>voltavam a reunir-se. a fim de articular a greve, pois a pris�o de
<br>Garanh�o n�o estava significando coisa alguma, enquanto o delegado
<br>Paranhos afirmava que, agora, os matadores seriam os c�mplices do
<br>marginal detido. N�o fosse o desacerto com Sandra, teria muito do
<br>que rir. Todavia, se agira correto por um lado. envolvendo-a nas
<br>suas atividades, por outro abrira uma grande d�vida: Sandra ficar�
<br>calada ou acaba comentando o que viu? Essa suspeita, n�o havia
<br>como negar, ia crescer, assust�-lo, tirar-lhe o sono. Ao mesmo tempo,
<br>poderia ser a forma correta de ter algu�m que poderia saber dos
<br>passos do detetive Galv�o, era s� querer. Por que n�o cham�-lo para
<br>um jantar no barzinho, tomar canja quente com vinho? Estava certo
<br>de que se abriria. Louco como andava pela reconcilia��o com a filha,
<br>falaria. E contaria como vinha fazendo naquele caso, dos mais complicados
<br>que j� enfrentara. Quando fosse embora Sandra daria o recado.
<br>A n�o ser que estivesse fingindo c, nesse caso, teria mais um
<br>acerto a fazer, n�o podia era deixar que lhe entregasse de bandeja.
<br>N�o. Sandra n�o ia tra�-lo. Alguma coisa lhe dava essa certeza. Naturalmente,
<br>ficou atordoada quando ouviu o disparo e mais ainda
<br>quando o homem tentou espichar o bra�o, o sangue saindo da fronte.
<br>Devia ter mandado que saltasse primeiro. Assim n�o teria sofrido
<br>tanto impacto. N�o saberia direito o que havia ocorrido. Mas, agora,
<br>n�o adiantava queixar-se. Caldo derramado n�o se pode juntar. Subiria
<br>o morro, procuraria mestre T�bor. talvez soubesse da posi��o
<br>de Enfezado. � noite falaria com Man� Cabreiro, acertaria o jogo de
<br>cartas para s�bado, demoraria na boate, a fim de acompanhar melhor
<br>os movimentos de Sandra. Quem sabe n�o poderia convid�-la para
<br>a mesa? Se n�o fosse poss�vel, por causa de algum cliente chato, tra
<br>
<br>
<br>taria de encontr�-la no barzinho.
<br>
<br>Enfia-se nas roupas, p�e a chave do cofre no bolso, sai do elevador
<br>no sagu�o amplo e de mosaicos limpos, dona Berta olha-o. faz
<br>arzinho de riso. Procura corresponder mas n�o sabe bem as inten��es
<br>da mulher, quando retornasse traria os livros, cadernos, se encostaria
<br>no balc�o, puxaria conversa. S� para que visse o material;
<br>para que soubesse estar ocupado � noite com os estudos, por isso
<br>acordava tarde, mas tinha sempre in�meras tarefas a cumprir. N�o
<br>podia de forma alguma confundi-lo com um malandro, como todos
<br>aqueles que passavam as tardes na entrada da Pens�o Su��a, matando
<br>piolhos e co�ando perebas. Era diferente. Tinha muito o que
<br>fazer, n�o perdia tempo. Nas folgas dobrava-se sobre os livros. Bastava
<br>que o faxineiro Jos� o visse lendo, um dia que fosse, e toda a
<br>pens�o ficaria sabendo.
<br>
<br>
<br>QUATRO
<br>
<br>Toninho enfrenta a manh� de sol e ventos sacudindo as copas
<br>verdes das �rvores, com grandes preocupa��es. N�o conseguia afastar
<br>a hip�tese de Sandra ter realmente se assombrado com o que fizera.
<br>Chega � banca de jornais, l� estavam as fotografias do motorista. Na
<br>volta, depois que tivesse adquirido os livros e os cadernos, compraria
<br>os jornais, as revistas que falavam dos diversos casos, inclusive do
<br>seq�estro do filho do industrial. P�ra no bar do portugu�s, toalhas
<br>azuis e vermelhas nas mesas, pede omelete e arroz.
<br>
<br>� T� sem apetite?
<br>� Acho que � o calor. Nesse tempo, quanto menos se comer,
<br>melhor.
<br>Na verdade Toninho n�o se sente bem; a preocupa��o com Sandra
<br>� constante, n�o sabe se � noite leva o gravador ou n�o, termina
<br>concluindo que, primeiro, trataria de convenc�-la do seu objetivo,
<br>para em seguida falar no gravador. N�o podia parecer estar querendo
<br>compr�-la com aquela porcaria.
<br>
<br>0 gar�om traz os pratos, o chope que n�o pediu, p�e-se a beber,
<br>pessoas apressadas entrando e saindo, a registradora retinindo, cada
<br>vez que era acionada, Toninho calculando o dinheir�o que o galego
<br>fazia com o bar, a vida agitada por�m segura, sem trope�os, sem
<br>sustos. Acordava de madrugada, abria o neg�cio, fechava depois da
<br>meia-noite. Nunca tivera oportunidade de jantar por ali, mas o gar�om
<br>o convidara diversas vezes. Olhava os an�ncios, os pre�os, os
<br>pratos mais variados.
<br>
<br>Quando sai do bar continua pela rua arborizada, n�o tem vontade
<br>de tomar �nibus nem t�xi. H� muitos meses n�o passava por ali,
<br>tinha bastante tempo para esticar as pernas. Chega � pra�a atravancada
<br>de carros, de homens apressados com pastas nas m�os, de
<br>mulheres descabeladas, suadas, velhotes caqu�ticos pedindo esmola,
<br>escornados no ch�o, canelas com grandes feridas, moscas sobrevoando,
<br>filas de �nibus se alongando nas cal�adas.
<br>
<br>Na papelaria escolhe os livros. Vai pegando, colocando sobre
<br>
<br>o balc�o. Um de Geografia, outro de Hist�ria Geral, um de Matem�tica.
<br>Junto aos livros os cadernos volumosos, uma caneta, alguns
<br>l�pis, um apontador. 0 rapaz de unhas polidas faz o embrulho, Toninho
<br>se impressiona com a lentid�o do mo�o, os gestos l�nguidos a recordar
<br>Marlene. Sai da papelaria com vontade de seguir para o morro.
<br>Alguma coisa lhe dizendo que aquela seria a melhor hora. Passa na
<br>casa que vende artigos de couro, procura a bolsa que sempre desejara
<br>ter. Uma com al�a forte, que pudesse usar a tiracolo. Escolhe a pri
<br>
<br>meira. a segunda, fixa-se na de cor bege. fivela discreta. 0 negociante
<br>abre, mostra as divis�es, Toninho mede os livros, v� que d� para
<br>guard�-los perfeitamente, n�o precisava ficar para cima e para baixo
<br>com aquele pacote. Decide-se pela bege, diz ao homem que n�o precisa
<br>embrulho, pois ia come�ar a us�-la imediatamente, p�e dentro
<br>os livros, os cadernos, entrega a c�dula de 500, espera o troco. Gostaria
<br>que Sandra o visse, assim, � noite, quando fosse � boate, iria
<br>com a bolsa. Queria sua opini�o.
<br>
<br>Vai para a fila do �nibus, mete-se no meio das pessoas, passa
<br>pela roleta, senta do lado da janela. Por mais que se esforce para n�o
<br>pensar no que aconteceu de madrugada, nos gritos de Sandra, nos
<br>v�mitos, no choro surdo, n�o consegue. Procura distrair-se com a
<br>paisagem, as ruas de muito movimento, em cada canto o que v� � o
<br>rosto manchado de Sandra, a cabe�a ensang�entada do homem branco
<br>e forte, um policial disfar�ado de motorista. Quando saltasse do
<br>�nibus compraria os jornais ou deixaria para a volta do morro? Melhor
<br>na hora que descesse. Em Copacabana as bancas ficavam abertas
<br>at� tarde. O que n�o podia perder era o notici�rio na televis�o, �s 8.
<br>Queria s� ver o que iam dizer, o que tinha o detetive Galv�o a declarar.
<br>Ou ser� que amoitaria o caso? N�o havia pensado nisso. Apenas
<br>alguns jornais divulgariam, o fato n�o seria levado � televis�o.
<br>Uma coisa a confirmar. Mais um motivo para n�o perder o notici�rio
<br>das 8. Ficaria nas cadeiras onde os velhotes costumavam acomodar-
<br>se, horas e horas, at� que se levantavam para jantar. Uns retornavam,
<br>outros iam direto dormir.
<br>
<br>Quando o �nibus chega na Avenida Princesa Isabel Toninho
<br>manda parar. Sabe que a subida do morro � distante, mas tem tempo
<br>de sobra. Caminha olhando as lojas de autom�veis e motocicletas.
<br>Ah, como gostaria de ter uma daquelas motos. Se conseguisse dinheiro
<br>e tranq�ilidade, mais para frente � o que faria: andar montado
<br>numa m�quina possante, poder chegar rapidamente aos lugares.
<br>Mas, para que tanta pressa? N�o. N�o cairia naquela de exibicionista.
<br>O neg�cio era fazer o dinheiro aumentar e n�o reduzir, comprando
<br>bobagem. Com esses pensamentos e os olhos cheios das imagens
<br>daquele dia de sol quente, muita gente indo e voltando da
<br>praia, alcan�a o princ�pio da ladeira; a mesma ladeira de tantos e
<br>tantos anos, as pedras esbranqui�adas, algumas siglas pintadas de
<br>preio, dos tempos em que havia elei��o, os arbustos, o capim de folha
<br>larga e logo na frente a cerca do barraco abandonado.
<br>
<br>Do barraco em diante o caminho estreita, torna-se viela, que
<br>mal dava para um carro passar. E assim mesmo s� passava num dia
<br>como aquele. Na primeira chuva a ladeira ficava escorregando, n�o
<br>tinha autom�vel que subisse. O portugu�s que foi com o Pacard, para
<br>o enterro da m�e, deu sorte. O sol estava bonito. E ainda assim o
<br>desgra�ado do cara reclamando o tempo todo, azucrinando a paci�ncia
<br>
<br>
<br>de mestre T�bor, exigindo mais dinheiro pela corrida, seu Greg�rio
<br>dizendo que isso n�o era problema. E cada vez que sobe aquela viela
<br>mais se lembra das coisas, de tantas coisas, das flores que vov�
<br>Jandira trouxe do quintal, das margaridas de dona Julinha, das casquinhas
<br>de ovo na ponta das estacas, do pai vestindo-se �s pressas,
<br>os documentos que deixou na ponta da mesa, da m�e gemendo alto
<br>e ela sem saber o que fazer, do projeto do guando e da jurubeba, o
<br>terreno com algumas �rvores ou sem nenhuma, porque o pai dissera
<br>que podiam plantar bananeiras em volta e conseguir bastante sombra.
<br>Necess�rio que o terreno fosse bem arborizado. Seria uma decep��o se
<br>chegasse e visse apenas mato rasteiro, capim-manteiga, carrapateiros,
<br>vassourinha. A planta��o do pai ia ser diferente. Al�m do guando e
<br>da jurubeba, haveria �rvores com frutas, onde no final das tardes se
<br>juntaria a passarada. N�o precisaria nem ter gaiola, eles estariam
<br>permanentemente por ali, comendo as mangas, os cajus, sapotis e
<br>rom�s. Nunca vira uma rom�zeira mas o pai muito lhe falara desse
<br>arbusto e tamb�m dizia que o ch� da casca de rom� servia para
<br>uma por��o de doen�as, principalmente dos rins e do f�gado. Vai
<br>ver, se j� estivessem por l�. a casa cercada de rom�zeiras, a m�e n�o
<br>teria morrido.
<br>
<br>Perto da tendinha de seu Greg�rio esgueira-se para n�o ser visto.
<br>Quando o homem vai para a puxada onde havia a mesa de sinuca,
<br>atravessa. Apressa o passo, n�o v� o tipo gordo dormindo na esteira,
<br>chega ao barraco mais velho, t�buas enegrecidas, surpreende-se. As
<br>t�buas da porta est�o afastadas. Mesmo assim, bate, est� certo de
<br>que mestre T�bor anda por perto. Como n�o aparece, d� a volta pelos
<br>fundos, l� estavam as panelas e a colher bastante suja, galinhas mariscando
<br>e sobre toda a favela aquela calma que o morma�o de uma
<br>tarde quente imp�e. Para onde mestre T�bor ter� ido? Seria o dia
<br>de receber a pens�o? Naturalmente era isso. Mas, por que deixara a
<br>porta aberta? Se chovesse o barraco ficaria alagado. Entra, o que v�
<br>onde estivera in�meras vezes, assusta-o. A mesa virada, a lata com
<br>farinha, derramada no ch�o. a cadeira quebrada. Entendia perfeitamente
<br>o significado daquilo. Algu�m veio ver o velho, levou-o �
<br>for�a. E esse algu�m s� podia ser Banda Branca. Alarma-se de n�o
<br>estar com o rev�lver. Se o alcag�ete surgisse de repente, n�o teria
<br>chance de defender-se. seria arrastado como um cordeirinho. N�o
<br>podia mais andar desarmado. Quando menos esperava, acontecia uma
<br>daquela. Ser� que seu Greg�rio falaria a respeito? Ser� que Banda
<br>Branca estaria por perto, esperando Enfezado aparecer ou aquilo j�
<br>ocorrera h� dias? N�o gostaria de entrar na tendinha mas era o jeito.
<br>N�o acreditava que vov� Jandira soubesse daquelas coisas e muito
<br>menos dona Julinha e dona Zizinha. Quem sabia dos boatos por ali
<br>era o birosqueiro e com ele ia falar. N�o perguntaria nada. Deixaria
<br>que se alongasse, como geralmente ocorria. E se seu Greg�rio n�o
<br>
<br>
<br>passasse, de fato, de um aliado do alcag�ete? Um risco que teria de
<br>correr. Se percebesse algo de errado, iria apanhar o rev�lver, se entenderia
<br>com Banda Branca. Queria encontrar Enfezado? Pois diria
<br>saber onde estava. Com uma condi��o: tem de ir sozinho comigo.
<br>N�o confio nos teus coleguinhas. De duas, uma: ou Banda Branca
<br>corria o risco, ou se mancaria. Pensa bem na proposta, desiste. Se n�o
<br>pudesse segurar Enfezado, terminaria prendendo-o, seria arrastado
<br>para o pau-de-arara, confessaria o que os tiras bem entendessem.
<br>N�o. N�o podia se precipitar. Teria de surpreender Banda Branca.
<br>Faria como Enfezado. Perderia alguns dias no seu rastro. Onde vai
<br>quando desce o morro, o que faz durante o dia, onde se diverte, em
<br>que bar toma pingas? Isso, sim. 0 caminho correto. E disso n�o falaria
<br>a ningu�m, muito menos a seu Greg�rio.
<br>
<br>� Vim ver o pessoal que t� querendo comprar o barraco. Tomara
<br>que d� certo!
<br>Seu Greg�rio despacha o garoto com a lata de �leo, fala baixo
<br>como se estivesse contando um segredo.
<br>
<br>� J� lhe disseram?
<br>Toninho sacode a cabe�a, finge preocupa��o.
<br>� Uns caras baixaram no barraco de mestre T�bor, levaram o
<br>homem!
<br>� Ningu�m viu?
<br>� Foi de noite. Tarde da noite. A viatura ficou perto da casa
<br>de dona Zizinha.
<br>� Quem eram os caras?
<br>Seu Greg�rio sorri.
<br>� Quem podia ser, sen�o os coleguinhas do Banda Branca!
<br>� Ser� que deu essa mancada?
<br>� Mancada, coisa nenhuma. Cada dia o diabo do alcag�ete t�
<br>mais forte, arrochando a gente. Tem um fiado aqui comigo, quando
<br>falo em cobrar acha at� gra�a.
<br>� Enfezado vai arrancar o couro dele!
<br>Seu Greg�rio volta � posi��o em que falava, como se contasse
<br>segredo.
<br>
<br>� Acontece que vieram aqui, exatamente � procura do garoto.
<br>N�o acharam, arrastaram o velho.
<br>� E o que foi que aconteceu com ele?
<br>� Quem sabe. Tou esperando Banda Branca pintar.
<br>� Ser� que diz?
<br>� Pra mim n�o nega logo. Do contr�rio, ferro ele nas costas.
<br>Toninho pede o refrigerante, seu Greg�rio abre a garrafa.
<br>� Quem viu os caras arrastando o velho?
<br>� N�o sei se L�dio Gordo apenas viu ou se ajudou. Te lembra
<br>dele? T� cada vez mais amigo de Banda Branca.
<br>
<br>Toninho sorri. Dessa novidade n�o sabia. Por que n�o ter uma
<br>conversa com L�dio Gordo, mostrar de quantos paus se faz uma canoa?
<br>Sabia facilmente como localiz�-lo na cidade. E se continuava
<br>amigo do alcag�ete, por que n�o admitir que se encontravam com
<br>freq��ncia? Afinal L�dio Gordo era um veterano contrabandista,
<br>pouca gente o topava no morro. Para manter seu neg�cio, sem problemas,
<br>ajudava Banda Branca na deduragem. Agora, est� satisfeito
<br>de ter entrado na birosca. Sentiu, pela primeira vez. que seu Greg�rio
<br>n�o estava com segundas inten��es. Ou houve algum problema
<br>entre ele e Banda Branca? Ia saber dessa hist�ria direito. Passaria
<br>pelo barraco de vov� Jandira, visitaria dona Zizinha. Quem sabe
<br>ainda havia detalhes que o birosqueiro n�o queria relatar?
<br>
<br>� Tive no barraco dele, t� um ninho de rato.
<br>� Acabaram com tudo. Dizem at� que tentaram tocar fogo.
<br>Banda Branca n�o deixou.
<br>� Ou era ele que queria acender o f�sforo?
<br>Seu Greg�rio ri.
<br>� N�o sei como aquele tipo ficou t�o ordin�rio, assim!
<br>� Pois eu sei. Foi sempre filho da puta. � que n�o tinha como
<br>mostrar as garras. Agora t� se largando. Pouco a pouco vai sumindo
<br>com as pessoas que n�o gosta, fica por isso mesmo.
<br>� �! Acho que t� mexendo com pedra demais. Uma delas
<br>termina caindo na cabe�a dele!
<br>� E tomara que achate. Aquele bicho merece ser arrastado
<br>debaixo de um trem.
<br>� Quando entra aqui, fico o tempo todo me g�entando.
<br>Toninho tem vontade de falar na surpresa que reserva para
<br>Banda Branca, n�o � tolo de si abrir, como fez Enfezado. Quando se
<br>quer agir na moita, n�o adianta cantar de galo. � melhor executar
<br>
<br>o servi�o, depois lan�ar o boato. Se lhe perguntassem, diria sorrindo:
<br>� T�o inventando. N�o tenho nada com isso.
<br>N�o se abriria com o birosqueiro, embora sentisse estar sendo
<br>sensato. Indignara-se com a sacanagem a mestre T�bor.
<br>
<br>� Acha que vai t� logo de volta?
<br>� N�o tenho a menor d�vida. Aquele homem nunca fez nada
<br>contra ningu�m; nem ao menos enxerga!
<br>Seu Greg�rio fala no pre�o do barraco, Toninho toma o resto
<br>do refrigerante.
<br>
<br>� N�o sei quanto o pessoal t� querendo dar. Conforme for,
<br>lhe digo. Se tiver interessado, talvez se possa conversar. Claro, pro
<br>senhor o pre�o � menor.
<br>� �s vezes � melhor vender por menos, � vista, do que cair no
<br>tal pagamento parcelado e receber apenas a primeira parte.
<br>
<br>O birosqueiro coloca a garrafa no caixote, onde havia muitas
<br>outras.
<br>
<br>� E L�dio Gordo, que anda fazendo?
<br>Seu Greg�rio torna a debru�ar-se no balc�o.
<br>� O mesmo de sempre. Contrabando de u�sque e cigarro americano.
<br>� Esse careta � outro. Deve fazer o jogo do alcag�ete h� muito
<br>tempo!
<br>� N�o sei, n�o! Tolera Banda Branca com medo de uma den�ncia.
<br>E pode t� certo de que o miser�vel se aproveita disso.
<br>� Cara sabido esse Banda Branca. Todo mundo � bobo, s� ele
<br>� sabid�o. Interessante isso. 0 senhor n�o acha?
<br>Seu Greg�rio n�o entende o alcance da considera��o de Toninho,
<br>sorri.
<br>
<br>� N�o gosta de ti. Do p� pra m�o, reclama. Te chama "o filho
<br>de seu Ven�ncio."
<br>� Ainda bem que sabe: tive um pai!
<br>0 birosqueiro acha gra�a.
<br>� Tou me mandando seu Greg�rio. Qualquer hora dessa apare�o.
<br>D� uma for�a no caso do velho.
<br>Perto do campinho sai da viela, o sol continua quente, ningu�m
<br>por ali. Bate na porta, a mulher muito velha abre, permanece alguns
<br>instantes � sua frente, o vestido ordin�rio, p�s no ch�o, cabelos
<br>descuidados.
<br>
<br>� N�o t� me reconhecendo, dona Zizinha?
<br>A mulher faz um sorriso sem dentes, Toninho tamb�m ri.
<br>� Ia passando, vim ver como vai. H� tempos n�o apare�o
<br>por
<br>aqui!
<br>Dona Zizinha manda que entre e sente, oferece caf�.
<br>
<br>� Com esse calor, prefiro �gua.
<br>� N�o se tem geladeira.
<br>� N�o faz mal. �gua do pote, bem fresquinha. A melhor que
<br>tem!
<br>A mulher traz o copo cheio d'�gua.
<br>
<br>� Tou vindo da birosca de seu Greg�rio. Me disse o que fizeram
<br>com mestre T�bor.
<br>� Uma coisa horr�vel, meu filho! Tarde da noite, Miroel n�o
<br>tinha chegado, ouvi o carro se aproximando. Veio vindo, cada vez
<br>mais perto, eu pensando que tivesse com pesadelo. O que vinha fazer
<br>um carro por aqui, �quela hora? Olhei pela fresta, tava tudo escuro.
<br>A� fiquei imaginando: por que ser� que deixaram um carro desses
<br>aqui?
<br>� Que carro que era?
<br>� Daqueles grandes, que a pol�cia bota preso.
<br>
<br>� Cambur�o!
<br>� Isso mesmo: cambur�o.
<br>� Fiquei com vontade de tornar a deitar mas n�o adiantava:
<br>n�o ia ter sono. Continuei a espiar pelas frestas, foi quando vi uns
<br>dois ou tr�s homens, empurrando um outro. N�o deu para reconhecer
<br>mestre T�bor.
<br>� E at� hoje n�o apareceu!
<br>� Ningu�m mais teve not�cias dele.
<br>� Acha que Banda Branca tava com os caras?
<br>� � o que t�o dizendo. Todo mundo aqui em cima vive morrendo
<br>de medo dele.
<br>� Depois que levaram o velho a senhora viu Enfezado?
<br>� Nunca mais. �s vezes fico preocupada com ele. 0 que andar�
<br>fazendo por esse mund�o de Deus?
<br>� Tamb�m n�o vi mais.
<br>Dona Zizinha oferece doce de manga, Toninho agradece.
<br>� N�o chegou a ver o tal L�dio Gordo?
<br>A mulher faz cara de quem recorda.
<br>� N�o. Se tava com aqueles estranhos n�o deu pra ver.
<br>Toninho enfia novamente o casaco, mete a bolsa a tiracolo, est�
<br>decidido quanto a Banda Branca. N�o ia querer acordo, nem mesmo
<br>para localizar o pai. 0 importante seria surpreend�-lo, lev�-lo para o
<br>ponto ermo, onde sua lamenta��o n�o pudesse ser ouvida. L� teriam
<br>uma boa conversa.
<br>
<br>Sai do barraco, passa pelo jardinzinho de vov� Jandira, casquinhas
<br>de ovo na ponta das estacas, tem vontade de entrar mas vai em
<br>frente. Necessitava encontrar L�dio Gordo, saber se Banda Branca
<br>andava por perto. N�o podia mais deixar aquele tipo agir como vinha
<br>fazendo, sumindo com quem bem entendia. 0 que fizera com o
<br>velho serralheiro correspondia � sua senten�a de morte.
<br>
<br>
<br>Cap�tulo XV
<br>
<br>UM
<br>
<br>Toninho olha os jornais. Num deles a not�cia de que o cerco
<br>estava se apertando em torno dos matadores da mulher e do pai do
<br>sargento Beto, no outro a libera��o de alguns suspeitos de seq�estro
<br>do filho do industrial, em todos eles as fotos do motorista branco e
<br>forte, estendido no banco do carro. Nenhum dos rep�rteres dizia que
<br>
<br>o "profissional" era simplesmente um tira ou alcag�ete. Toninho
<br>percebe, mais do que nunca, que as coisas come�avam a sumir do
<br>jornal. Nenhuma declara��o do detetive, nem do delegado.
<br>Os jornais amontoam-se no ch�o, Toninho olha a tarde nos seus
<br>�ltimos momentos. Que dias ensolarados que tinham feito e ele sem
<br>condi��o de ir � praia. Mas aquilo n�o tinha import�ncia. Na primeira
<br>oportunidade, iria. Agora, preocupava-o a frieza do notici�rio.
<br>N�o falavam sequer na greve. Os l�deres sindicais n�o apareciam.
<br>Ningu�m dizia nada. E o motorista morto passava como sendo
<br>um tipo ainda n�o-identificado. Sabia o quanto estavam mentindo, o
<br>quanto movimentavam-se nas sombras. Tinha os documentos do careta,
<br>l� estava, muito claramente, o que fazia. Como se sentiria o
<br>detetive Galv�o depois daquela? Retornaria � boate, tentaria subornar
<br>Chocolate, levaria um papo com Sandra? Talvez fosse o momento
<br>pelo qual tanto esperava. Se procurasse a filha, estava claro que
<br>aquela zanga toda n�o passava de encena��o de Sandra. Chocolate
<br>seria homem bastante para dar aquela dica ou teria de procurar outro
<br>jeito de sondar a aproxima��o do detetive? N�o havia por que desconfiar
<br>de Chocolate. Passaria uma boa nota a ele, mandaria ficar de
<br>olho. Qual a minha? Tou dando em cima da garota, o pai n�o quer.
<br>J� imaginou? Isso mesmo. Boa desculpa. N�o havia outra melhor.
<br>Chocolate aceitaria.
<br>
<br>Na hora do jantar, na Pens�o Iola, Toninho mete-se nas roupas,
<br>ajeita os cabelos com os dedos, vai para junto do receptor de TV
<br>ouve os lamentos da atriz em mais uma novela. Entra no bar, toma
<br>
<br>
<br>chope sem pressa, os que bebem aguardente falam e acreditam nas
<br>possibilidades do Flamengo. Mesmo assim, n�o consegue tirar o pensamento
<br>da manobra que sabe estar sendo articulada. Retorna � pens�o,
<br>senta na cadeira de vime, olha a revista, l� est� outra reportagem
<br>sobre o caso dos motoristas, das amea�as dos l�deres sindicais,
<br>
<br>o delegado Paranhos formulando planos. Os velhotes foram quase
<br>todos jantar, apenas uns tr�s ou quatro continuam firmes, esperando
<br>o notici�rio. 0 programa come�a, o locutor convocando a popula��o
<br>a fazer poupan�a, Toninho com vontade de rir daquilo, pois os desgra�ados
<br>n�o tinham o que comer, quanto mais! A primeira not�cia
<br>� de um acontecimento ocorrido na It�lia, a segunda de um outro
<br>passado na Fran�a. O locutor empostado refere-se ao temporal na
<br>parte sul do pa�s, aos preju�zos da lavoura, na destrui��o de pontes.
<br>Toninho alarma-se de, at� ali, o homem n�o ter dito coisa alguma
<br>sobre a morte do falso motorista. Provavelmente, por se tratar de
<br>fato policial, seria dado por �ltimo. Como os principais jornais costumavam
<br>fazer: mat�ria de crime s� na �ltima p�gina e, assim mesmo,
<br>de forma passageira. Os que se dedicavam inteiramente ao assunto,
<br>faziam o contr�rio. Havia mat�ria de pol�cia por tudo que
<br>era de lugar, at� mesmo entre o notici�rio internacional.
<br>Novos an�ncios s�o feitos. 0 locutor fala nas condi��es atmosf�ricas,
<br>na nova subida do d�lar, na queda do cruzeiro, nas a��es da
<br>Bolsa e por a� a coisa termina. Volta ao quarto um tanto decepcionado.
<br>0 que estariam aqueles putos arquitetando? Estira-se na cama.
<br>Sabe que boa coisa n�o era. 0 importante seria procurar L�dio Gordo
<br>
<br>o mais depressa poss�vel e, atrav�s dele, localizar Banda Branca. Ao
<br>mesmo tempo, por que n�o ficar esperando o alcag�ete subir o
<br>morro? Afinal, conhecia bem o terreno, n�o necessitaria se comprometer.
<br>L�dio Gordo n�o tinha de tomar conhecimento de coisa alguma.
<br>Meteria a m�quina na bolsa, iria para a viela. Permaneceria
<br>oculto por entre os arbustos, a hora em que aparecesse estava bom.
<br>N�o tinha pressa. Se conseguisse tempo para depois ir ao barzinho,
<br>aguardar Sandra, muito bem. Caso contr�rio, procuraria por ela na
<br>noite seguinte ou no pr�prio apartamento. Tinha de faz�-la entender
<br>que cada um age como sabe e neste mundo sem-vergonha s� se tem
<br>import�ncia quando se tem dinheiro. Ser� que n�o compreendia?
<br>Com Banda Branca eliminado o detetive Galv�o ia ter de dar a
<br>volta por cima ou jogar a toalha. Se trabalhavam por baixo, cavando
<br>fundo, n�o tinha d�vida de que o alcag�ete participava da jogada.
<br>Aquilo era o tipo mais ordin�rio que j� conhecera. Ningu�m se
<br>comparava a ele. Colher de Pau � que acertara. Tivessem acabado
<br>com Banda Branca, como queria Banz�, agora estava livre de problema.
<br>Por causa da recusa terminou inclusive brigando com Zebrado
<br>e Cavalo do C�o. Se lembra bem. 0 alcag�ete aprontou uma,
<br>depois do ensaio da escola, Cavalo pegou cana firme, passou tr�s
<br>
<br>meses desaparecido. Mas n�o acreditou. Dif�cil acreditar no que diziam
<br>aqueles dois. Na verdade estavam certos. Principalmente Zebrado
<br>que n�o era de muito falar. Banda Branca n�o prestava, n�o
<br>podia continuar perseguindo uns e outros.
<br>
<br>Debru�a-se na janela, a noite � clara. N�o sabe se aquela seria
<br>a melhor noite, ou se esperaria uma outra, onde apenas o vulto pudesse
<br>ser percebido. Com aquele cachorro, todo cuidado era pouco.
<br>Ao mesmo tempo, a claridade da lua n�o seria problema. Muito ao
<br>contr�rio. Poderia perfeitamente avist�-lo, deixar que se aproximasse,
<br>disparar. At� mesmo pelas costas, se fosse o caso.
<br>
<br>Retorna � cama, olha os jornais no ch�o, sabe tamb�m o quanto
<br>era importante falar com Sandra; tirar-lhe da cabe�a qualquer d�vida.
<br>E se a maluca, por uma infantilidade, contasse a Solange? N�o
<br>gostava daquela garota. Falava demais. Se soubesse de uma coisa
<br>daquela, fatalmente o entregaria. N�o o tolerava, tinha motivos para
<br>isso. Importante procurar Sandra. Talvez invertesse os pap�is. Se
<br>entenderia com Sandra, entregaria o gravador, ficaria liberado duas
<br>noites, exclusivamente para localizar Banda Branca.
<br>
<br>� T� pensando que fa�o isso por que gosto? Se engana. Tenho
<br>de viver, n�o vou acabar como o pai, nem como tio Donga, que depois
<br>de 40 anos trabalhando em p�, como barbeiro, se aposentou,
<br>ganhando menos de dois mil por m�s. J� imaginou o que s�o dois
<br>mil? N�o d� nem pra pagar o barraco e comer todo dia.
<br>� S� pe�o que n�o me envolva.
<br>� Sei bem como �. N�o precisa se envolver. Passo a lhe encontrar
<br>nas noites que marcar e quando for bem tarde.
<br>� Acha que vai conseguir andar tanto tempo por a�?
<br>� Claro. Se n�o cantar a pedra, tou apostando que ningu�m
<br>sabe de nada!
<br>� T� certo disso?
<br>� Mais que certo. Por isso, n�o tou nem preocupado. O que
<br>me deixou de cuca quente � que terminou ficando sem o gravador.
<br>Pura bobeira!
<br>Sandra est� um tanto triste, olheiras aparecendo por baixo da
<br>maquiagem. Mesmo assim faz arzinho de riso. p�e a m�o no bra�o
<br>de Toninho.
<br>
<br>� Por que tinha de ser voc�?
<br>O garoto n�o entende aquela coloca��o, logo ela disfar�a.
<br>� Voc� me preocupa. Desde aquela noite, n�o tenho dormido
<br>direito.
<br>� Preocupa��o sem prop�sito. Cada um de n�s se arrisca a
<br>seu modo. Pensa que n�o � arriscado ir pra motel com um careta
<br>que nunca viu?
<br>Sandra torna a sorrir.
<br>
<br>
<br>� Sei me cuidar. N�o vou com quem n�o conhe�o. E, de uns
<br>tempos pra c�, nunca mais fui com ningu�m.
<br>Desta vez � Toninho quem lhe aperta o bra�o, num sinal de
<br>agradecimento e amor.
<br>
<br>� Logo que comece a cantar a gente se manda daqui.
<br>� J� pensei nisso.
<br>� Se fica uns tempos trabalhando na moita, at� aparecer.
<br>Sandra olha distante, pela porta onde h� tanto movimento, tanta
<br>barulheira de carros.
<br>
<br>� Se promete partir pra outra, ainda se pode continuar. Tenho
<br>certeza de que vou conseguir. Mas dependo do seu incentivo. Quando
<br>me diz uma coisa, durmo acreditando nela.
<br>� Vou parar. Me viro em outro neg�cio!
<br>� Tenha cuidado. N�o queria cair nas garras do detetive
<br>Galv�o.
<br>Toninho n�o diz nada. Apenas sorri. 0 gar�om p�e os copos de
<br>chope na mesa.
<br>
<br>� Falou pra Solange sobre o caso?
<br>� Por que ia falar?
<br>� Foi o que pensei. Isso fica s� entre n�s. � nosso segredo.
<br>� Pena que n�o seja um segredo agrad�vel.
<br>� Nunca tive escolha; fiz o que tinha de fazer!
<br>� N�o acredito. H� muito cara por a�, pior que voc�, batalhando!
<br>� Mas nenhum transa com uma grande artista.
<br>Sandra sente-se envaidecida.
<br>� Acha que vou ter futuro?
<br>� Com certeza. A�, j� se esqueceu o que passou.
<br>Toninho toma um pouco de chope.
<br>� Tenho grande facilidade de esquecer.
<br>� Eu n�o. As coisas me marcam demais.
<br>Toninho n�o quer prosseguir naquela lengalenga. O problema
<br>com Sandra est� contornado.
<br>
<br>� Sabe qual � a outra surpresa que tenho pra voc�?
<br>A garota sorri.
<br>� Vou lhe levar num est�dio pra gravar um disco.
<br>� Gravar?
<br>� Isso mesmo. Se paga, faz o disco que quiser. Vi no jornal.
<br>� Puxa! Mas a� j� devo t� bem afinada!
<br>� � uma experi�ncia importante.
<br>Sandra beija-o, Toninho segura-a pelos longos cabelos, os rostos
<br>se aproximam. V�o pela cal�ada, coberta de folhas de amendoeiras,
<br>atravessam as pistas sem movimento, caminham ao longo do mar.
<br>
<br>� Sabe o que se pode fazer pra conseguir dinheiro?
<br>� 0 que �?
<br>
<br>� Logo que teja bem treinada, vou falar com Xex�u. T� com
<br>uma turma que pretende excursionar pelo Nordeste.
<br>� � uma boa!
<br>� Voc� vai com a gente.
<br>Toninho abra�a-a, satisfeito, beijam-se, sentam no primeiro banco
<br>que encontram.
<br>
<br>� Nunca mais vou lhe deixar.
<br>� Nem eu. Fiquei assustada naquela noite, exatamente por isso!
<br>� N�o fale mais do que passou.
<br>Sandra sacode a cabe�a sorrindo.
<br>� Pense no que tem a fazer.
<br>� Amanh� mesmo come�o a usar o gravador. Vou encher uma
<br>fita inteira com a nossa can��o. Quando for l� em casa boto pra ouvir.
<br>DOIS
<br>
<br>Acordou depois do meio-dia. A claridade entrava pela janela,
<br>
<br>o calor era intenso. Ficou algum tempo na cama, relembrando os bons
<br>momentos com Sandra. A certeza de que n�o tocaria no caso do motorista
<br>tranq�ilizava-o, dava-lhe margem a pensar em outras coisas.
<br>Em Banda Branca, por exemplo. Tomaria banho, desceria para o
<br>lanche ou provavelmente o almo�o, caminharia um pouco pela cidade,
<br>talvez comprasse o r�dio, traria os jornais para ler com calma. Olha
<br>os livros sobre a velha c�moda, os cadernos. Sairia com eles. S� para
<br>dona Berta ver. A�, teria certeza da sua atividade. N�o precisaria
<br>fiscaliz�-lo com aqueles olhos de peixe morto.
<br>Debaixo do chuveiro, recorda Sandra. Da pr�xima vez iriam para
<br>o quarto do hotel, ficariam por l� a madrugada inteira. Mandaria o
<br>porteiro n�o deixar ningu�m incomod�-los. Talvez fosse melhor um
<br>motel na Barra. Nada de confiar em porteiros. Isso mesmo. Iriam
<br>para a Barra. 0 �nico problema: voltar a tomar um t�xi com Sandra.
<br>Talvez se recusasse. Ent�o, o melhor seria deixar passar mais tempo.
<br>At� a ferida cicatrizar. Um hotelzinho no Centro serviria. N�o demorariam.
<br>0 porteiro n�o tinha do que desconfiar. Se por acaso Sandra
<br>garantisse que seu Manuel n�o estava na portaria, dormiriam no apartamento.
<br>L� sim, ficaria o tempo que necessitasse. Talvez essa fosse
<br>a id�ia. Falaria com Sandra. Tinha certeza de que � o que desejava.
<br>
<br>Enxuga-se, vagarosamente, como sempre fazia. N�o adiantava
<br>pressa. 0 que tinha de fazer, dependia de cautela. Cada passo, bem
<br>medido; cada pedra empurrada no tabuleiro, um lance definitivo.
<br>No final, estava certo, Banda Branca ia ser engolido. Onde quer que
<br>estivesse, mestre T�bor se sentiria vingado. Se o momento permitisse,
<br>
<br>
<br>procuraria saber do alcag�ete o destino que tivera o pai. Nada de
<br>errado acontecia com o povo do morro, sem que Banda Branca n�o
<br>estivesse envolvido. Quando soubesse que a sombra maldita se apagara,
<br>muita gente ia sentir-se aliviada. O pr�prio L�dio Gordo respiraria
<br>ao ver-se livre de semelhante carga. N�o h� d�vida de que o
<br>alcag�ete vinha extorquindo o que podia do homem, tudo em troca
<br>da seguran�a que na verdade n�o tinha.
<br>
<br>Faz a parada costumeira no restaurante com mesas cobertas de
<br>vermelho e azul, pede omelete e arroz, chope duplo, fala no pr�ximo
<br>jogo entre Flamengo e Vasco, o portugu�s do caixa est� sempre enfezado
<br>mas n�o lhe parece mau sujeito, mesmo de cara feia costumava
<br>fazer brincadeiras, contar piadas e at� dirigir provoca��es ao
<br>gar�om, que se movimentava com extraordin�ria habilidade por entre
<br>as mesas.
<br>
<br>Sai do restaurante, palitando os dentes, segue pela rua de muitas
<br>�rvores, at� a pra�a onde havia a fonte jorrando, flores se abrindo
<br>em canteiros de verde bem-cuidado, dois ou tr�s jardineiros aparando
<br>a grama, o cheiro de capim cortado no ar, Toninho passando por
<br>tudo aquilo e por todo aqueles cheiros, aquelas cores, avan�ando sempre
<br>e sempre, at� a Pra�a XV, onde encontraria L�dio Gordo. Se n�o
<br>estivesse no Bar Garoto, estaria por perto. Aguardaria, tomaria sorvete,
<br>olharia as barcas que chegavam e sa�am, sempre apinhadas de
<br>passageiros, ouviria o apitar dos navios, das lanchas, sentiria o bafo
<br>salgado do mar.
<br>
<br>Depois de atravessar a avenida larga, com muitos carros estacionados
<br>sobre as cal�adas, entra pela galeria mal iluminada, uma quantidade
<br>de pequenas lojas, ventiladores girando furiosamente, porias
<br>de esquadrias de alum�nio golfejando ar frio, letras douradas, sofisticadas,
<br>sobre vidros de relevo, garotas maquiadas, de p�, gentis, sorridentes,
<br>cada vez que uma dessas portas se abria para algum cliente.
<br>Aproxima-se de uma vitrine, olha os an�ncios de homens de bra�os
<br>peludos com os tais rel�gios infal�veis, jovens de biqu�ni esquiando
<br>atr�s da lancha veloz, com os mesmos rel�gios, pois nem na �gua
<br>apresentavam defeito. Negociantes filhos da puta. Tudo para obrigar
<br>
<br>o careta a empurrar uma das portas, topar com a garota de saia justa,
<br>cara pintada, enrtegar a nota por uma porqueira daquelas. Vai em
<br>frente, n�o compraria jamais um rel�gio. Compraria um r�dio. Um
<br>que pegasse esta��es locais, dos estados, do exterior. Ficaria deitado
<br>na cama, o r�dio baixinho.
<br>Sai da porta da loja sofisticada, vai para a rua, o sol quente, as
<br>pessoas passam, nervosas, como se estivessem atrasadas para algum
<br>encontro importante.
<br>
<br>Chega finalmente � Pra�a XV, o velho pr�dio dos Correios, janelas
<br>com vidra�as antigas, que diziam ser do tempo do Imp�rio, os oitizeiros,
<br>pontos de �nibus, o viaduto por onde quase ningu�m passava..
<br>
<br>
<br>folhas amareladas no ch�o, ventos frescos do mar, cobradores e motoristas
<br>sentados em caixotes de ma��s argentinas, cuspindo de banda
<br>e contando pilh�rias, o cheiro podre do Entreposto de Pesca, cegos e
<br>aleijados, m�os estiradas, bocas murmurando coisas imposs�veis de
<br>ouvir, n�o se sabe se de agradecimento ou de insulto, no balc�o do
<br>Bar Garoto os tipos abrutalhados, uns s� de shorts e botas de borracha,
<br>outros de blus�o fora das cal�as, chapeuzinho de feltro, mesmo
<br>com o calor que fazia, o portugu�s distribuindo aguardente em pequenos
<br>copos, os homens tomando de uma s� vez e esfregando os bei�os
<br>nas costas das m�os, cambistas oferecendo bilhetes de loteria, ventiladores
<br>no teto do bar girando como h�lices de avi�o, algumas mulheres
<br>nas mesas, os gar�ons rodopiando.
<br>
<br>Tem vontade de pedir melancia com presunto, como fizera o
<br>crioul�o de muitos corrent�es no pesco�o, an�is nos dedos, pulseiras
<br>em ambos os pulsos, cabe�a completamente pelada. Olha bem aquela
<br>figura, camisa azul com bolinhas vermelhas, n�o tem d�vida de que
<br>� esquisito. Ou, quem sabe, poderia ser o sujeito mais correto do mundo?
<br>De qualquer forma, pela cara de bicho pelado que tem, o mais
<br>seguro seria movimentar-se com prud�ncia � sua frente. Est� certo
<br>de que n�o se assemelhava em nada aos que tagarelavam, punham
<br>os bra�os nas cadeiras, por tr�s da mulheres, riam das pr�prias besteiras
<br>que diziam.
<br>
<br>Entra por uma porta, fica do lado em que havia o grande an�ncio
<br>de cigarros, d� uma olhada r�pida, depois resolve ir ao banheiro,
<br>a fim de poder examinar melhor o sal�o, inclusive a parte dos fundos,
<br>onde havia a divis�o de tabique.
<br>
<br>Caminha com vagar, l� est� L�dio Gordo, exatamente como imaginara.
<br>Velho safado; n�o alterara suas transas. Conversava com mais
<br>dois homens fortes, um deles mulato, cabelos estirado, ar de quem
<br>terminara de tomar banho. Entra no banheiro, sabe que n�o perder�
<br>L�dio Gordo de vista. Aguardar� o tempo que for necess�rio. Ali �
<br>seu ponto, desde o tempo em que andava enturmado com Colher de
<br>Pau, Banz� e Enfezado. Ora conversava com um, ora com outro, quando
<br>n�o aparecia ningu�m ficava debaixo de um oitizeiro, aproveitando
<br>a fresca da tarde e fazendo f� no jogo de bicho. L�dio Gordo n�o
<br>mudara. Apenas os cabelos estavam praticamente brancos. Mas o ar
<br>de safado era id�ntico ao que sempre tivera. N�o estava nunca triste.
<br>Mantinha um sorriso constante no rosto balofo.
<br>
<br>Abre a braguilha, ao lado de outros tipos morrinhando suor, o
<br>cheiro do banheiro � forte, a urina corre pela calha de metal que
<br>nunca ningu�m limpou, o ch�o pegajoso causa-lhe nojo, procura sair
<br>logo dali, enquanto se vira j� h� dois ou tr�s caras esperando a vez,
<br>torna a passar pelo sal�o, L�dio Gordo continua a falar, a gesticular,
<br>a rir.
<br>
<br>
<br>A banca de jornais, em frente ao bar, est� enfeitada de revistas,
<br>os jornais ainda badalando a morte dos motoristas, outros preocupados
<br>com o seq�estro do filho do industrial, a m�e do garoto querendo
<br>contratar detetives fora do pa�s, o secret�rio afirmando que isso n�o
<br>seria poss�vel, n�o iam permitir.
<br>
<br>Toninho coloca-se de um lado da banca, p�e-se a perceber a malandragem
<br>do velho jornaleiro. Certos tipos que chegavam, recebiam
<br>dele um jornal e alguma coisa por dentro. N�o conseguiu saber o que
<br>era mas os tipos vinham com freq��ncia. E, mais tarde, quando j�
<br>estava sentado no batente da porta que n�o abria, come�ou a entender
<br>que os tipos que haviam "comprado jornal" tornavam a aparecer,
<br>compravam de novo, iam embora. Tem vontade de rir, sabe que � a
<br>transa dos traficantes de entorpecentes. Eis ali o neg�cio que sempre
<br>imaginara. Falaria com Enfezado. Na moleza, o velhote devia
<br>estar fazendo um nego��o, enquanto a canalha se arrebentava no sol
<br>quente, ele pr�prio arriscando-se a tomar t�xis, altas horas da noite.
<br>Velhote sabido. 0 que menos interessava eram aquelas revistas e aqueles
<br>jornais pendurados: s� para ingl�s ver.
<br>
<br>Quando os caras deixaram de aparecer, o velhote sentou-se, abriu
<br>uma revista. Foi a� que parou o autom�vel de luxo, saltou a mulher
<br>loura, levou a revista. Tem absoluta certeza de que a mulher nem ao
<br>menos abriu a boca. Aquele era o neg�cio. Procuraria Enfezado, t�o
<br>logo a onda passasse, tratariam de entrosar-se. N�o podia ser dif�cil.
<br>Se aquele velhote estava na jogada, quanto mais! O carro todo de
<br>niquelados desloca-se, lentamente, Toninho fica se sentindo um imbecil.
<br>Tanto suor, tanto sacrif�cio, a maluquice de Sandra na carreira,
<br>a cara dos motoristas assustados, querendo dizer alguma coisa,
<br>olhos saltados, noites de inquieta��o na cama, o sono sem chegar, e
<br>aquela dona saindo calmamente, numa transa alta, onde devia correr
<br>muito dinheiro e n�o aquela mis�ria de 500 e mil, c�dulas amassadas,
<br>c�dulas suadas, grana de um bando de fodidos que dava at�
<br>azar.
<br>
<br>Depois que a mesma barca foi e voltou a Niter�i, duas vezes, o
<br>mulato, cabelos espichados, apareceu na porta. Atr�s dele, L�dio Gordo
<br>e outros caras atarracados. O mulato bem penteado tinha um palito
<br>na boca, L�dio Gordo continuava a falar. Era, do grupo, o que
<br>mais falava. Parecia ter um intermin�vel assunto. Toninho permaneceu
<br>sentado no batente, L�dio Gordo n�o podia reconhec�-lo.
<br>
<br>Os homens andaram por baixo dos oitizeiros, ainda conversaram
<br>certo tempo, at� que parou o Gal�xie, com motorista e tudo, foram
<br>embora. L�dio sentou na caixa de ma��s argentinas, como faziam os
<br>motoristas e cobradores de �nibus, ficou olhando a rua. Imaginou aproximar-
<br>se, depois decidiu aguardar o que fosse poss�vel, pois era bem
<br>capaz de Banda Branca aparecer. Esperou quase uma hora. L�dio
<br>Gordo j� estava de p�. Aproximou-se do carrinho de refrigerantes,
<br>
<br>
<br>tomou uma coca-cola, voltou a sentar no caixote de ma��s. A�, entendeu
<br>que o melhor seria falar-lhe. Colocou a bolsa a tiracolo, atravessou
<br>a rua, passou pelo primeiro p� de oitizeiro, os p�ssaros cantando,
<br>ru�dos da cidade por todos os cantos, pessoas apressadas, filas
<br>de �nibus encompridando-se, rumor das barca�as chegando e partindo.
<br>
<br>� Como �, seu L�dio?
<br>O homem surpreende-se. Faz cara de espanto, ao mesmo tempo
<br>em que deseja rir.
<br>
<br>� De onde me conhece?
<br>� L� do morro. O senhor tava sempre descansando na esteira.
<br>� N�o me lembro de voc�.
<br>Toninho pega um dos muitos caixotes de ma��s, senta em frente
<br>a L�dio Gordo. O homem n�o se incomoda com isso mas continua
<br>surpreso, n�o entende o porqu� daquele garoto ali, no meio da tarde
<br>e;lara e de tanta movimenta��o.
<br>
<br>� Sou filho de seu Ven�ncio!
<br>L�dio faz cara s�ria. � um dos �nicos momentos em que n�o acha
<br>gra�a e, por isso, Toninho percebe algo de estranho com aquele tipo
<br>que passou horas sorrindo com os comparsas. Ficar s�rio, perder a
<br>gesticula��o, esquecer as palavras, era coisa que s� acontecia a L�dio
<br>Gordo em momento de apertura. Seria aquele um momento de apertura?
<br>
<br>
<br>� Seu pai apareceu?
<br>Toninho sacode negativamente a cabe�a. N�o podia mentir �quele
<br>tipo que devia saber mais do que aparentava.
<br>
<br>� Por onde anda?
<br>� Trabalhando numa firma de contabilidade. Moro em Santa
<br>Rosa.
<br>� Conhe�o Santa Rosa. Bom lugar.
<br>� Pois �. Tou por l� com um tio.
<br>� N�o procuraram mais seu Ven�ncio?
<br>� Se procurou mas n�o adiantou. O tio at� disse que ia lhe falar.
<br>Quem sabe n�o daria uma ajuda?
<br>L�dio encara Toninho com desconfian�a, olhos apertados nas p�lpebras
<br>gordas, rosto suado.
<br>
<br>� Que � que posso fazer? Mal sei da minha vida.
<br>� Eu disse pro tio que o senhor � amigo do Banda Branca.
<br>Quem sabe?
<br>L�dio Gordo sorri, recomp�e-se, volta a falar, a gesticular.
<br>
<br>� Banda Branca t� sempre muito ocupado. Pra se dedicar a
<br>um caso como esse, tem de haver dinheiro na jogada.
<br>� 0 tio consegue.
<br>� Olha l�, � uma boa nota!
<br>� Quanto imagina?
<br>� Uns 20 mil pra frente. N�o sabe o trabalho que d�!
<br>
<br>� Posso falar com o tio.
<br>� Se tiverem dispostos, passo a cantada em Banda Branca. Gostava
<br>de seu Ven�ncio. Homem trabalhador tava ali!
<br>� Caso o tio tope, onde lhe encontro?
<br>� Por aqui mesmo ou no Bar Garoto. � meu ponto,
<br>� Se o tio quiser falar com Banda Branca?
<br>� N�o tem problema. Arranjo um encontro. Aqui mesmo ou
<br>no posto policial.
<br>� Acha que ele topa?
<br>� N�o sei. Vou tentar.
<br>Toninho ergue-se, sorri, L�dio tamb�m acha gra�a, mostra os dentes
<br>brancos, a barba por fazer, pesco�o grosso no colarinho do blus�o
<br>j� bastante sujo, pernas grossas, p�s gordos nos sapatos de pano, apertados.
<br>
<br>
<br>� Tenho quase certeza que o tio vai topar. Ele tem recurso.
<br>� � como lhe disse. 0 que for poss�vel fazer, pode contar comigo.
<br>Toninho segue na dire��o das bilheterias, de longe torna a olhar,
<br>L�dio Gordo continuava sentado no caixote de ma��s. N�o deseja perd�-
<br>lo de vista, aquela poderia ser uma oportunidade �nica. Esgueira-
<br>se pelo pered�o do armaz�m, contorna a pra�a, fica do lado do pr�dio
<br>dos Correios, de onde poderia acompanhar os movimentos de L�dio.
<br>No longo per�odo que se seguiu, v�rias pessoas falaram com ele. Mas
<br>n�o dava para reconhecer. � propor��o que a pra�a ia se tornando
<br>sombria e as filas nos pontos de �nibus aumentavam, era dif�cil observ�-
<br>lo. Por volta de 5 e meia L�dio Gordo atravessou a rua, manteve-
<br>se por momentos na banca do jornaleiro. Da�, caminhou pela
<br>cal�ada de lajotas, j� bastante esburacada, meteu-se na rua estreita,
<br>ladeada de pr�dios antigos, com sacadas de ferro e janelas despencando.
<br>N�o podia perd�-lo de vista. As luzes ascenderam. L�dio Gordo chegou
<br>ao beco, Toninho tratou de adiantar-se. E se aquele pilantra estivesse
<br>manjando sua jogada? Tinha de cobrir-se. Passou para a cal�ada
<br>oposta, deu uma carreira, no beco o homem desapareceu. Foi at�
<br>
<br>o �ltimo pr�dio, na conflu�ncia com a avenida, retornou. Por ali n�o
<br>havia mais que dois pardieiros, os edif�cios do lado e em frente eram
<br>altos, estavam fechados. L�dio Gordo entrara num dos pardieiros. Em
<br>qual? Aproxima-se da primeira porta, onde havia a escada de madeira
<br>alongando-se num plano inclinado. Subiria por aquela escada ou
<br>tentaria o pr�dio seguinte? Entraria no primeiro pr�dio, entraria no
<br>segundo, se isso fosse necess�rio. Sobe os degraus de dois em dois, antes
<br>da grande varanda cola-se na parede, fica ouvindo o pulsar do
<br>casar�o, ro�do de ratos, comido de baratas. Num canto, saindo da lata
<br>de �leo vegetal, as palmas tristes do taj�, o corredor deserto. N�o havia
<br>luz, n�o havia ru�do. Ser� que os caras estavam reunidos mais
<br>para os fundos? Ou aquilo era jogada de L�dio Gordo, a fim de atra�
<br>
<br>lo? Vontade de avan�ar pelo corredor. Tirou o rev�lver do bolso,
<br>mant�m o z�per aberto. Olha as portas perto da escada, experimenta
<br>a primeira. 0 quarto � amplo e escuro, o teto alto, uma escrivaninha
<br>de escrit�rio e nada mais. Abre a janela, sabe que podia saltar. E o
<br>outro quarto? Para alcan��-lo, teria de atravessar a varanda. L�dio
<br>Gordo e seus comparsas podiam estar esperando. A escurid�o � completa,
<br>uma janela bate na for�a do vento, vozes se aproximando. Est�
<br>pronto a esconder-se, logo percebe pessoas na cal�ada. D� alguns passos,
<br>a sensa��o de estar no lugar errado. Mexe vagarosamente na ma�aneta,
<br>o compartimento semelhante � varanda. Como podia um pr�dio
<br>daquele, completamente abandonado, a porta aberta? Abre outro
<br>quarto, nesse tamb�m h� uma l�mpada acesa. Perto da cama os sapatos
<br>de pano, as roupas jogadas de qualquer jeito. Examina as cal�as,
<br>os documentos. L�dio Gordo! Estaria esperando algum convidado? Continua
<br>pelo corredor, agora com mais seguran�a. No sal�o, a l�mpada
<br>no alto do teto, escuta barulho de �gua do chuveiro. Olha pelas frestas,
<br>l� estava o pilantra se esfregando. Empurra a porta, o suficiente
<br>para passar, at� a� L�dio n�o notou qualquer movimento estranho. A
<br>�gua do chuveiro continua a cair, ele somente se alarma quando ouve
<br>
<br>o estalido do gatilho, j� bem perto.
<br>� Que t� fazendo aqui?
<br>� Vamos ter uma conversinha!
<br>� N�o entendo . . .
<br>0 gatilho emite outro estalido.
<br>� Vamos l� pro quarto; vai entender.
<br>L�dio Gordo sai nu do chuveiro.
<br>� Que � que h�, rapaz, n�o tenho nada com o sumi�o do teu
<br>velho.
<br>� Senta na cama.
<br>L�dio Gordo n�o espera repeti��o da ordem.
<br>� Tem dois segundos pra explicar como seu Ven�ncio sumiu.
<br>Me disseram que t� por dentro.
<br>� N�o cantei a pedra antes pra evitar problema.
<br>� Como foi a hist�ria?
<br>� Banda Branca tentou arrochar o velho numa grana.
<br>� Quando foi isso?
<br>� Umas semanas antes de dona Mundi�a adoecer. Coincidiu de
<br>encontrar seu Ven�ncio naquela noite de afoba��o.
<br>� Ele n�o encarava o pai sozinho.
<br>� Acontece que tava enturmado. Botaram o velho no cambur�o
<br>e arrastaram. Seu Ven�ncio era teimoso. Dizia apenas que a mulher
<br>tava precisando de m�dico, n�o tinha dinheiro. Tu j� viu que
<br>esse papo n�o cola.
<br>� E da�?
<br>
<br>� Banda Branca n�o queria, mas n�o deu para ag�entar. O pessoal
<br>que tava com ele se julgou prejudicado.
<br>� O que fizeram do corpo?
<br>� N�o sei. Banda Branca nunca tocou nisso. Tou sabendo que
<br>fecharam ele.
<br>Toninho olha a cara de L�dio Gordo parcialmente iluminada pela
<br>claridade do corredor.
<br>
<br>� E mestre T�bor?
<br>� Transa de Banda Branca. Sei apenas que sumiu!
<br>� Por que t� aqui nesse casar�o?
<br>� Uma jogada alta. N�o deve se meter.
<br>� Banda Branca t� na transa?
<br>L�dio Gordo sacode afirmativamente a cabe�a.
<br>� Vem pra c�?
<br>� Hoje n�o pinta mais ningu�m. 0 papo que se tinha de levar
<br>j� levou no Bar Garoto.
<br>� Quando o alcag�ete d� as caras?
<br>� No pr�ximo encontro. L� pela semana que vem.
<br>Toninho aciona o gatilho a primeira vez, L�dio Gordo amea�a
<br>erguer-se, caminhar, o segundo disparo atinge-o no peito, um terceiro
<br>no rosto. 0 homenzarr�o dobra-se nas pernas curtas, grossas e peludas,
<br>cai, o corpo distende-se, a porta se fecha.
<br>
<br>TR�S
<br>
<br>Sentado na mesa de fundos do restaurante, onde nunca estivera
<br>anteriormente, Toninho examina os tipos que entram, os que falam,
<br>os gar�ons que n�o se mostram afobados porque a casa est� vazia, n�o
<br>h� mais de dez pessoas. Passa manteiga nas torradas, toma calmamente
<br>o chope, recorda as palavras de L�dio Gordo. Filho da puta.
<br>Sabendo de tudo e nunca abrira o bico. Estava mais ligado ao alcag�ete
<br>do que podia imaginar. E o pior � que Banda Branca t�o cedo
<br>n�o entraria naquele pr�dio. Teria de surpreend�-lo na subida do morro.
<br>Mesmo assim, voltaria � Pra�a XV. Quem sabe, era mais teimoso
<br>do que imaginava? Cercado pelos comparsas tinha rompantes de valent�o.
<br>Fora sempre assim. Por que haveria de estar modificado?
<br>
<br>0 gar�om traz o prato, queijo ralado, outro chope. P�e-se a co
<br>
<br>
<br>mer vagarosamente. S� lamentava que o pai n�o soubesse o que esta
<br>
<br>
<br>va fazendo. Acabou com L�dio Gordo, ia fazer o mesmo com o puto
<br>
<br>daquele alcag�ete. Antes de aboto�-lo, exigiria os nomes dos amigui
<br>
<br>
<br>nhos que participaram da brincadeira. Teria de dizer. Na frente de
<br>
<br>uma arma engatilhada n�o ia poder mentir. Contaria at� tr�s. Ora
<br>
<br>
<br>se diria. Mandaria que anotasse. Nomes e endere�os. Essa canalha tem
<br>de ser sangrada na goela como porco. Enfezado estava certo. Agora
<br>compreendia por que, acima de tudo, para ele, o importante era acabar
<br>com a mulherzinha do sargento Beto e com seu paizinho entrevado.
<br>Olho por olho, dente por dente. Cada um que participou da morte
<br>do pai, ganharia seu quinh�o. Se fosse dif�cil encontrar os caras,
<br>seguiria o exemplo de Enfezado. A coisa poderia ser at� bem mais simples.
<br>Banda Branca cantaria a pedra, como L�dio Gordo cantou.
<br>
<br>Pede mel�o, olha o rel�gio da parede, sabe que � cedo para en
<br>
<br>
<br>contrar Sandra. Talvez fosse a um cinema, talvez retornasse ao quar
<br>
<br>
<br>to, �quela hora dona Berta n�o estaria na portaria, os velhotes quase
<br>
<br>todos dormindo.
<br>
<br>Imagina as grava��es que Sandra j� fizera, mostraria desejo de
<br>ouvi-las, quando sa�sse da boate. O jeito seria ficar no apartamento
<br>at� o dia seguinte, esperando a oportunidade de n�o ser visto por seu
<br>Manuel. Sandra se encarregaria disso. E j� fazia tempo que n�o dormiam
<br>juntos. Ouviria a garota falar nas perip�cias do pai, no motorista
<br>que morava perto, no porteiro alcag�ete.
<br>
<br>Se gostasse da voz de Sandra na grava��o, iria ao est�dio, acertaria
<br>o pre�o do compacto. Bastariam duas m�sicas gravadas. Quantas
<br>can��es cabiam num compacto? Teria de ir l�, transar isso. Faria
<br>tudo sem nada dizer a Sandra. Quando tocasse de novo no assunto,
<br>seria em car�ter de surpresa. Hoje a gente vai � gravadora. Ia tomar
<br>um susto.
<br>
<br>Mastiga o mel�o, olha a velhota sorridente na outra mesa, sabe
<br>que gosta de Sandra: dos seus olhos, do riso, dos cabelos longos e
<br>macios. N�o entendia como p�de entrosar-se t�o bem com uma garota
<br>daquela. Na verdade, pareciam conhecer-se h� muito tempo. E isso
<br>se confirmou depois do caso com o motorista. Fosse outra, n�o queria
<br>mais conversa e, al�m disso, teria dado com a l�ngua nos dentes.
<br>Acreditou em Sandra, ela estava do seu lado, apenas exigindo que mudasse
<br>de atividade, como de fato ia mudar. O neg�cio era alcan�ar a
<br>tranq�ilidade de L�dio Gordo, do jornaleiro da Pra�a XV, da mulher
<br>loura que chegou � banca dirigindo o carro �ltimo tipo, recebeu a
<br>revista, foi embora, como se estivesse passeando, naquela tarde de tanta
<br>gente atarefada, de p�s-de-chinelo nas filas dos �nibus, cegos, e aleijados
<br>implorando, motoristas e cobradores de roupas suadas, conversando
<br>fiado. Seria uma boa. Enfezado reapareceria, colocariam mais
<br>uns dois ou tr�s elementos de confian�a, a roda come�aria a girar para
<br>seu lado. Quem sabe Banda Branca, na hora da apertura, n�o abrisse
<br>o bico a esse respeito? Afinal, n�o queria apenas justi��-lo. O importante
<br>seria tirar proveito do seu desaparecimento. Conseguir dele
<br>
<br>o que n�o pudera tomar do pai. Uma forma de compensa��o. Pena
<br>que n�o pudesse saber o quanto fora idiota, lan�ando-se de corpo e
<br>alma naquela de dedurar todo mundo no Babil�nia.
<br>
<br>Entra no �nibus, esquece o cinema, o melhor seria descansar um
<br>pouco, provavelmente at� uma hora, quando ent�o seguiria para o barzinho.
<br>L� pelas 2 em diante a turma da boate baixaria. No dia seguinte,
<br>como sem falta, compraria o radio. Podia ouvir os notici�rios
<br>que quisesse, saber de detalhes que nem sempre os jornais d�o.
<br>
<br>Ent�o no velho pr�dio da Iola. o porteiro atento ao filme na TV,
<br>juntamente com uns dois ou tr�s velhotes mais resistentes, abre a
<br>porta do quarto, acende a luz, tira a roupa, escancara a janela para
<br>as brisas, estira-se na cama, as palavras de L�dio Gordo ressoando,
<br>saindo para a noite, em meio ao magote de ventos que chegam, farejam
<br>m�veis antigos, mexem nos jornais desfolhados, v�o embora.
<br>
<br>Ganhou o que merecia. Teve muito tempo pra dizer que Banda
<br>Branca era o respons�vel. Podia ter dado a dica a seu Greg�rio ou ao
<br>pr�prio mestre T�bor, de quem se dizia amigo. N�o fez nada disso.
<br>Demonstrou ser aliado do alcag�ete, defender o que fazia. Por isso,
<br>simplesmente trataria de esquec�-lo, como j� fizera com tantos outros.
<br>N�o iria ser a lengalenga do contrabandista nojento que lhe tiraria
<br>
<br>o sono. Muito ao contr�rio. Agora, mais do que nunca, estava certo
<br>de que deveria surpreender Banda Branca. E de forma especial. Nada
<br>de disparo na viela escura do morro. Deveria saber que o filho de seu
<br>Ven�ncio estava numa boa e ele havia encerrado a carreira, ia cair
<br>fora do planeta, tirar o time de campo. Antes disso, no entanto, teria
<br>muito o que contar. Recorda o crioulo de cabe�a pelada que vira no
<br>Bar Garoto, comendo melancia com presunto, corrent�es no pesco�o,
<br>pulseiras nos bra�os, a camisa azul de bolinhas vermelhas. Um tipo
<br>que parecia ter sa�do de uma hist�ria em quadrinhos. Quem seria?
<br>Por que n�o perguntara a L�dio Gordo? Estava certo de que pertencia
<br>� curriola. Afobou-se no despachar do contrabandista. Deveria ter-
<br>se alongado um pouco mais. Ao mesmo tempo corria o risco de aparecer
<br>algu�m, o homem passar de acusado a acusador. E n�o podia
<br>cair nas m�os daqueles tipos. Sabia muito bem o que sucederia. N�o
<br>adiantava esquentar. Em outra oportunidade pela Pra�a XV, procuraria
<br>se malocar num canto do bar, s� para ver o jeit�o do crioulo pelado.
<br>Quem sabe n�o seria da turma de Banda Branca? Com aquele ai
<br>de senhor todo-poderoso, s� podia. Ah, como tinha sede de surpreender
<br>o alcag�ete, principalmente depois de tudo o que dissera L�dio
<br>Gordo! E se voltasse ao Mangue, levasse um papo com a tal Zita?
<br>Ser� que o alcag�ete n�o continuava explorando a pobre da Marta,
<br>como j� fizera com Beatriz? Nisso ainda n�o havia pensado. Se a coisa
<br>se confirmasse, seria mais f�cil segui-lo, saber os buracos por onde
<br>se metia, quando n�o estava dedurando uns e outros. Uma boa coisa
<br>a fazer. Por que n�o ir logo ao Mangue, enquanto esperava a hora de
<br>encontrar Sandra? Talvez conseguisse resolver dois problemas ao mesmo
<br>tempo. Se Zita dissesse que o conhecia, sabia por onde andava, o
<br>caminho se tornaria mais simples. E como abordar a mulher, a fim
<br>
<br>de que n�o desconfiasse? Se agarraria com Marta. Iria com ela pro
<br>quarto, mandaria se informar com a caftina. Marta n�o perceberia
<br>coisa alguma. Contaria uma hist�ria, falaria da grana que devia a
<br>Banda Branca, queria pagar. Subira o morro duas vezes, n�o adiantou.
<br>Marta ajudaria.
<br>
<br>Animado com essa possibilidade Toninho enfia-se nas roupas, coloca
<br>a bolsa a tiracolo, vai para a rua, para a pra�a, onde passavam
<br>os �nibus, toma o primeiro que aparece, a noite est� entrecortada de
<br>luzes e ru�dos, os tipos que entram e saem do �nibus s�o enfezados,
<br>
<br>o motorista d� trancos no carro, numa evidente demonstra��o de m�
<br>vontade, em cada parada freia bruscamente, depois o pesado ve�culo
<br>arrancando com dificuldade, toda a estrutura estremecendo, como se
<br>as engrenagens estivessem para partir, o chofer pouco se importando
<br>com isso, carregando o p� no acelerador, empurrando a alavanca do
<br>c�mbio de qualquer jeito, praticamente um pulo da primeira para a
<br>segunda, de repente a tremenda lata velha balan�a por ruas estreitas
<br>em velocidade, cortando carros particulares, avan�ando sinais. Muito
<br>mais rapidamente do que imaginara est� na Presidente Vargas, no
<br>trecho em que h� o hospital-escola e muitos out-doors. Por tr�s dos
<br>grandes pain�is, anunciando as del�cias da vida, a melhor �rea onde
<br>comprar terrenos, o biqu�ni que fazia o corpo real�ar, o carro mais
<br>potente, estendiam-se os pardieiros das mulheres. Um deles funcionava
<br>sob a responsabilidade de Zita. J� estivera uma vez a�, mais cedo,
<br>apavorou-se com o que vira. A esta hora o movimento de homens era
<br>intenso. A rua, embora larga, estava apinhada. Aqui e ali, viaturas
<br>da pol�cia, luzes apagadas. Um ou outro carrinho de vender refrigerantes
<br>e cachorro-quente. Nas portas e janelas dos pardieiros iluminados,
<br>as mulheres, algumas completamente nuas, outras s� de calcinhas,
<br>atracando-se com os pilantras.
<br>Toninho procura avan�ar por entre os caras, aproxima-se da casa
<br>de Zita, as mulheres o provocam, uma j� bem velha segura-o pelos
<br>bra�os, beija-o, enquanto trata de evit�-la com cautela, aparece logo
<br>a crioula que tamb�m o agarra, quer abrir-lhe a camisa, diz um vamos
<br>comigo, ela � muito chata, trepou demais hoje, t� caindo aos peda�os,
<br>eu n�o, cheguei ainda agora, tou recendendo a sabonete, quer
<br>ver, cheira s�! Cheira os seios, a mulher apertando-lhe a cabe�a, rindo
<br>alto.
<br>
<br>� Quero falar com Marta.
<br>A mulher n�o sabe quem � Marta, a velhota s� de calcinha conhece,
<br>diz estar na casa do lado, numa transa. A crioula volta a insistir.
<br>
<br>
<br>� Pode ir comigo, quando ela aparecer vai com ela!
<br>Toninho acha gra�a.
<br>� Ser� que � broche!
<br>
<br>Torna a rir, a mulher tamb�m, pelancas da velhota sacudindo.
<br>Outros homens se aproximam, um deles p�e o bra�o no ombro da
<br>mulher mais velha, ela o abra�a, o aperta, um deles propondo que
<br>todos v�o para o mesmo quarto, a crioula se recusando, a velhota
<br>achando a coisa mais divertida do mundo.
<br>
<br>� Comigo n�o folgam desse jeito. Querem se aproveitar da
<br>pobre coitada!
<br>A crioula torna-se s�ria de repente, o careta fala com ela de
<br>longe, Marta aparece, saltos altos, calcinha branca, extremamente
<br>pintada.
<br>
<br>� O garot�o t� querendo ir contigo!
<br>� Toninho, o que anda fazendo?
<br>A garota diz isso, abra�ando-se a ele.
<br>� Vim lhe procurar.
<br>� N�o diga.
<br>� N�o acha engra�ado?
<br>� �. Pode ser.
<br>� Pensei que n�o fosse me reconhecer. Estive outro dia por
<br>aqui mas n�o tive coragem.
<br>� Por qu�? Me achou feia?
<br>� N�o. Muito pinta na jogada.
<br>Marta ri com certo orgulho.
<br>� Sempre que h� uma novata, d�o em cima.
<br>� Onde � seu quarto?
<br>� No segundo andar.
<br>Marta segura-o pela m�o, sobem o pequeno lance de escada,
<br>onde h� outras mulheres sentadas, mal se afastam para que possam
<br>passar. Avan�am pelo corredor, atravessam a sala onde h� uma l�mpada
<br>baixa, homens e mulheres jogando carteado, Marta fala qualquer
<br>coisa indicando a mulherona alta e loura como sendo Ta�s, dona da
<br>casa do lado e de mais umas quatro ou cinco em outros pontos da
<br>cidade, Toninho n�o est� interessado naquilo mas finge. Marta
<br>mostra tamb�m quem � Zita, nessa o garoto repara melhor, a mulher
<br>est� com as m�os cheias de cartas, � magra, cabelos escorridos, sobrancelhas
<br>feitas a l�pis, colares, vestido brilhante como fantasia de
<br>carnaval.
<br>
<br>� E voc�, como anda por aqui?
<br>� Eu? Numa pior!
<br>� Algum amigo especial?
<br>� V�rios.
<br>� Posso ser um deles?
<br>� S� depois que souber se vai gostar de mim.
<br>Dizendo isso, abre a porta, do quarto exala cheiro de coisa mofada,
<br>sujeira, colch�o mijado, colchas manchadas, onde os mais c�nicos
<br>se limpavam e Zita n�o punha para lavar.
<br>
<br>
<br>� Lavagem de roupa aqui � uma vez por m�s. Quando t� muito
<br>suja de um lado Zita manda virar do outro. T� vendo. Tudo virado.
<br>Semana que vem o homem da lavanderia aparece.
<br>Num instante Marta tirou a calcinha. Est� completamente nua.
<br>Toninho olha-a. ainda se encanta com seu corpo. Marta volta a
<br>abra��-lo, puxa-o para a cama fedorenta, ajuda-o a tirar a roupa.
<br>
<br>� Algum amiguinho l� do morro?
<br>Marta sorri, os dentes na frente est�o come�ando a ficar cariados.
<br>Mas o riso continua bonito.
<br>
<br>� Pelo que me lembre, dois.
<br>� Quem s�o?
<br>� T� com ci�me?
<br>Ambos sorriem. Marta acaricia os cabelos de Toninho.
<br>� De vez em quando aparece o tal Greg�rio da tendinha. Lembra
<br>dele? Outro que t� sempre dando em cima de mim � o alcag�ete.
<br>� Banda Branca?
<br>� Esse mesmo. S� que o papo dele � diferente. Acha que pode
<br>me proteger. J� imaginou?
<br>� E o que diz?
<br>� N�o preciso de protetores. S� Deus sabe da minha vida!
<br>� N�o apareceu mais?
<br>� E aquilo tem vergonha? Ontem mesmo teve um temp�o
<br>por aqui, aporrinhando Zita e as garotas.
<br>� � amigo de Zita?
<br>� Transa com ela no neg�cio de bebidas.
<br>� H� muito tempo que n�o vejo Banda Branca.
<br>� Acho bom n�o se meter com ele.
<br>� N�o tenho o que dizer. Uma vez, faz tempo, me fez um
<br>favor.
<br>� Pois tem sorte. Banda Branca n�o ajuda ningu�m.
<br>� Quando ser� que torna a aparecer?
<br>� Sei l�. �s vezes fica fazendo ponto no bar do Careca.
<br>� Onde � o bar?
<br>� 0 da esquina de l�. � o melhor caf� que tem por aqui!
<br>Toninho estende-se sobre o corpo nu e pegajoso de Marta, ela
<br>procura beij�-lo. sente o quanto era diferente de Sandra.
<br>
<br>QUATRO
<br>
<br>Toninho recosta-se na cadeira, o gar�om de todas as noites aparece,
<br>muito limpo e sol�cito, arruma a mesa, anota o pedido. 0 garoto
<br>continua a sentir o cheiro mofado do quarto, das cobertas imun
<br>
<br>
<br>
<br>das, a ver os peitos ca�dos e suados de Marta, o rosto magro de Zita,
<br>sobrancelhas avivadas a l�pis, vestido longo e de seda brilhante, as
<br>cartas na m�o, fuma�a de cigarro na l�mpada baixa.
<br>
<br>� Quando Banda Branca n�o vem aqui, t� pelo bar do Careca.
<br>O melhor caf� que se tem!
<br>O neg�cio seria surpreender o alcag�ete. Mas estava certo de-
<br>que aquele n�o podia ser o melhor lugar. Havia bastante gente por
<br>perto, o pilantra estaria acompanhado de outros tipos que n�o conhecia,
<br>nunca vira, poderia ser facilmente seguido. Para topar a
<br>parada com Banda Branca devia estar bem estribado. 0 bicho �
<br>duro na queda. Isso todo mundo se acostumara a dizer no Babil�nia.
<br>0 pr�prio mestre T�bor advertia, a mesma coisa seu Greg�rio vivia
<br>lembrando.
<br>
<br>� De quando em vez o birosqueiro baixa por aqui. N�o quero
<br>nada com ele!
<br>Eis um detalhe que jamais poderia supor. Seu Greg�rio, pai de
<br>tr�s ou quatro filhos, a mulher se acabando de lavar e passar para
<br>fora, ele dando em cima de Marta. Ou freq�entava a casa de Zita
<br>porque se encontrava com o alcag�ete, sem que ningu�m soubesse?
<br>Eis um dado novo. Podia muito bem investigar. E � o que faria
<br>mais para o final da semana. Provavelmente no s�bado, quando
<br>sa�sse do pr�dio em constru��o, onde iria jogar com os pe�es. N�o
<br>podia faltar. Seria a maneira correta de demonstrar que n�o fugira,
<br>n�o tinha o que temer. Ao mesmo tempo saberia das novidades a
<br>respeito de Brezol�, daria uma grana a Man� Cabreiro, um ma�o de
<br>cigarros a Rox�o. Estava certo de que a coisa seria bem encaminhada.
<br>E daquela vez, tamb�m, se os pe�es bobeassem, perderiam at� as
<br>cal�as. N�o ia ter contempla��o. A jogada � no duro. Nada de papai,
<br>mam�e!
<br>
<br>� O diabo do garoto voltou, minha gente. Quero ver quem �
<br>bom! � diria Man� Cabreiro.
<br>Parecia estar ouvindo o vigia, rosto redondo, o capacete tornando-
<br>o uma das figuras mais rid�culas que jamais vira. Por que Man�
<br>Cabreiro era t�o feio daquele jeito? E se Brezol� tivesse aparecido?
<br>Deveria estar preparado. N�o tinha condi��es de enfrent�-lo no tapa,
<br>teria de puxar a m�quina, fazer a bicha rodar. N�o seria o melhor
<br>caminho. Falaria primeiro com o vigia, antes de subir. Sondaria.
<br>Mas tinha quase certeza de que Brezol� continuava no grampo. N�o
<br>ia sair, f�cil, mesmo que tivesse dado os cinco mil ao advogado.
<br>
<br>0 gar�om traz o peda�o de pizza, chope, guardanapos. Toninho
<br>olha o rel�gio. Mais um pouco o pessoal da boate apareceria. De
<br>certa forma est� ansioso por encontrar-se com Sandra. Tinha certeza
<br>de que ia compreend�-lo. Talvez tocasse por alto no projeto do
<br>compacto. N�o entraria em detalhes. Deixaria a coisa no ar. Sandra
<br>completamente diferente de Marta. Ah, como se enganara! A lem
<br>
<br>
<br>
<br>branca de Marta nua, o corpo coberto de espuma de sab�o, por entre as
<br>bananeiras, ele olhando-a e sentindo o cheiro de terra do quintal
<br>de vov� Jandira. N�o retornaria mais �quele quarto fedorento, n�o
<br>desejava mais ver a cara magra e estranha de Zita, o longo vestido
<br>de seda brilhante, n�o queria mais que Marta o beijasse, dentes ficando
<br>cariados. Marta afundando, como ela pr�pria dizia.
<br>
<br>� Tenho uma por��o de conhecidos. Todos chegam aqui com
<br>uma conversa, prometem coisas, v�o embora, tornam a aparecer,
<br>tornam a prometer, o tempo vai passando, n�o saio disso!
<br>Toma o primeiro gole de chope, sente pena de Marta, sabe o
<br>quanto fora dif�cil enfrent�-la. Novamente tinha de dar raz�o a
<br>Enfezado.
<br>
<br>� Se na hora a gente n�o tiver coragem?
<br>Quase que n�o tinha. Viu a hora de brochar. Teve de esfor�ar-
<br>se, quando ela tirou a calcinha, cheiro de suor e de mofo se confundindo.
<br>Imposs�vel que Marta tivesse chegado �quele ponto e o
<br>miser�vel do birosqueiro baixasse para ajudar a afundar mais ainda.
<br>Aquele tipo era pior do que imaginava. N�o ia ali, apenas para se
<br>encontrar com Marta. Provavelmente, demorava-se no tal Bar do Careca,
<br>onde Banda Branca fazia ponto, tomava cacha�a, contava prosa.
<br>
<br>� �s vezes ele fica por l�, a noite inteira, paga rodadas e mais
<br>rodadas de cerveja pros amigos. Mesmo assim nunca tem dinheiro
<br>pra dar pra gente. Cansou de ficar comigo uma hora, duas, depois
<br>disse j� ter acertado com Zita. Tipo ordin�rio. Tomara que morra
<br>debaixo de um �nibus!
<br>Branda Branca sempre fazendo das suas. 0 terno branco, a gravata
<br>ajustada no colarinho. Um verdadeiro lorde, perto dos p�s-dechinelo
<br>que trabalhavam o dia inteiro, retornavam exaustos aos barracos
<br>e ainda eram achacados.
<br>
<br>Toma outro chope, come um peda�o da pizza. Certeza de que o
<br>reinado do alcag�ete estava no final. Terminaria de forma simples,
<br>como acabou L�dio Gordo. E na verdade nem tinha raiva do contrabandista.
<br>Mas, depois de tudo que houve, n�o podia ficar transando,
<br>dando com a l�ngua nos dentes. J� com Banda Branca a coisa
<br>seria mais a capricho. N�o ia queim�-lo de qualquer jeito, sem que
<br>coubesse as raz�es de estar caindo fora do planeta. Por isso, caso
<br>fosse ao Bar do Careca, era s� para marcar suas pegadas. Devia haver
<br>um bom local onde costumava parar. A� se ferraria. Teria muito
<br>o que contar. A come�ar pela hist�ria de Colher de Pau, depois
<br>Cavalo do C�o, o pai, Enfezado, mestre T�bor. Estava certo de que
<br>
<br>o contrabandista n�o mentira, mas queria o safado do alcag�ete repetindo
<br>tudo outra vez. Por isso, o local deveria ser tranq�ilo, onde
<br>n�o precisasse se incomodar com a hora.
<br>O garoto aparece gritando o jornal.
<br>
<br>� J� saiu. Chofer de pra�a faz greve!
<br>
<br>Olha o pequeno, um monte de jornais debaixo do bra�o, um
<br>exemplar na m�o, a manchete em grandes letras: GREVE GERAL
<br>DOS T�XIS. POL�CIA N�O SABE DO MATADOR LOUCO. Pega
<br>um jornal, passa o dinheiro ao menino sem ao menos olh�-lo, t�o
<br>preocupado est� em 1er logo aquilo, antes que Sandra apare�a.
<br>
<br>Nas primeiras linhas da mat�ria fica sabendo que a iniciativa
<br>era de todos os l�deres sindicais e o movimento se iniciaria no dia
<br>seguinte, �s 6 da manh�. Primeiramente, uma greve de 24 horas.
<br>Se isso n�o resolvesse, haveria uma outra, de tr�s dias. Acha gra�a
<br>da manobra. Procura o nome dos policiais encarregados do caso, n�o
<br>encontra. Apenas o delegado Paranhos falava alguma coisa. Num.
<br>quadro, um dos l�deres sindicais afirmava que o suspeito detido, conhecido
<br>por Garanh�o, quando muito seria um dos criminosos que
<br>atacava motoristas, mas n�o o principal, como fazia crer a pol�cia.
<br>Chega ao final da mat�ria, entram alguns caras no barzinho, entre
<br>eles Xex�u; diz que Sandra est� vindo. Mete o jornal por baixo da
<br>mesa. Enquanto os motoristas se mantivessem com aquela disposi��o
<br>e ele n�o agisse, tudo bem. A greve era a prova de que at� ali o
<br>detetive Galv�o n�o conseguira nenhuma pista. Tem vontade de rir
<br>da cara do policial. Tanta manobra, tantas declara��es � imprensa e
<br>ali estava concretizado o pior: uma greve. N�o falaria disso a Sandra.
<br>Se tocasse no assunto, no m�ximo diria uma palavra ou duas. Nada
<br>de abrir-se.
<br>
<br>Entre diversos outros tipos que chegam ao barzinho, l� est�
<br>Sandra.
<br>
<br>� Puxa! Hoje tou estourada. Esse show t� enchendo o saco!
<br>� Que houve?
<br>� 0 sacana do ma�tre resolveu aporrinhar. Mando ele � merda
<br>na primeira oportunidade.
<br>� Qual � a dele?
<br>� Sei l�. Um cara me chamou pra mesa, o gar�om n�o apareceu
<br>com o u�sque, ele n�o disse nada. J� imaginou se canto isso
<br>no ouvido do Jo�o Alberto? Se fode f�cil!
<br>� Quem era o cara do u�sque?
<br>� Sei l�. Um chato!
<br>Toninho chama o gar�om, diversas outras mesas ficaram ocupadas
<br>de repente, o homem de palet� impecavelmente branco se aproxima.
<br>
<br>
<br>� Que v�o querer?
<br>Sandra olha o card�pio.
<br>� Omelete e um chope!
<br>� Tenho uma novidade.
<br>Sandra anima-se, sorri.
<br>� Depois do ensaio com o gravador se pode partir pro disco �
<br>diz Toninho que n�o consegue guardar segredo.
<br>
<br>� Verdade?
<br>Sacode a cabe�a, enquanto prossegue mastigando a pizza. Sandra
<br>espeta um peda�o no palito.
<br>
<br>� J� gravei umas quatro ou cinco m�sicas. S� as que gosto!
<br>� Posso ouvir?
<br>� No fim-de-semana. Fica l� em casa.
<br>� Que t� achando?
<br>� N�o sei. Sou suspeita.
<br>� O disco tando gravado se pode mostrar pra uma por��o de
<br>pinta por a�.
<br>� Poxa! Dou um pra Xex�u tocar pros amigos dele. Se gostarem
<br>� meio caminho andado.
<br>� V�o gostar. Tou apostando em voc�!
<br>Sandra p�e o bra�o nos ombros de Toninho, beija-o de leve no
<br>rosto.
<br>
<br>� Tava doida pra terminar o show. Sabia que ia lhe encontrar!
<br>� Desde quando vem adivinhando?
<br>� Desde que a gente decidiu resolver as coisas em conjunto.
<br>Tou certa de que n�o vai se arrepender.
<br>� N�o tenho d�vida!
<br>� Sabe o que mais t� enchendo no diabo da boate?
<br>0 gar�om aparece com o omelete, o chope. Toninho pede um
<br>outro, novo peda�o de pizza.
<br>
<br>� 0 que �?
<br>� N�o consigo mais topar o papo dos caretas. Quando um me
<br>chama pra mesa, vou de m� vontade. Jo�o Alberto t� de olho. Por
<br>isso que o tal ma�tre t� se metendo a besta.
<br>� G�enta um pouco, at� se poder mandar esse Jo�o Alberto,
<br>ma�tre
<br>e todo mundo � puta que os pariu. Se vai partir pra outra.
<br>Sandra sorri, p�e-se a comer.
<br>
<br>� Acontece que persegui��o comigo n�o cola.
<br>� Procure manerar. Se for pra outro show a coisa n�o � diferente.
<br>Sandra olha-o, surpresa. N�o esperava tanto bom senso.
<br>
<br>� Parece que Solange vai conseguir um lugar na TV Itacolomi.
<br>Voltou ontem de l�, o cara do cart�o � mesmo diretor-art�stico.
<br>� T� me gozando por causa disso?
<br>� Nem falou no seu nome. T� � morrendo de alegre.
<br>� Desejo que seja feliz.
<br>� Eu tamb�m. Que fa�a boa figura por l� e em breve se mande
<br>pra c�!
<br>� Acho que antes do fim do ano pode pensar no seu primeiro
<br>disco, como profissional.
<br>� Tenho muito que trabalhar. Amanh� vou me inscrever no
<br>programa de calouros da TV Rio.
<br>
<br>� Se quiser vou com voc�.
<br>O garoto dos jornais torna a aparecer.
<br>� Extra! Extra! Greve geral de motorista. Pol�cia n�o prende
<br>o matador louco!
<br>Sandra faz que n�o ouve, o jornaleiro passa perto da mesa,
<br>continua a bradar a manchete espalhafatosa, que ocupa todo o alto
<br>da primeira p�gina.
<br>
<br>� Quais s�o as m�sicas que gravou? � indaga Toninho mais
<br>para quebrar o gelo que se formou.
<br>� Uma que considero nossa m�sica e outras de Maria Creuza
<br>e Bet�nia.
<br>� Qual �?
<br>� A can��o dos namorados. Por coincid�ncia, agora mesmo tava
<br>tocando na boate. Me lembrei de voc�.
<br>� Gostaria de ouvir.
<br>� Tenho certeza que vai gostar. Parece muito com nossa hist�ria.
<br>Toninho pede mais um chope, na mesa ao lado a conversa e
<br>as risadas s�o altas, um dos caras mant�m o jornal aberto, Sandra
<br>torna a ler o que o jornaleiro j� gritara.
<br>
<br>� Parece que a coisa t� piorando!
<br>� Coisa nenhuma. Greve � prova de que n�o t�o com nada!
<br>� Acho bom se cuidar.
<br>� Fique tranq�ila. N�o sou de dar bandeira.
<br>
<br>Cap�tulo XV I
<br>
<br>UM
<br>
<br>0 barraco do tio Donga � t�o velho quanto os outros daquela
<br>viela e daquele morro. Ele mora na parte coberta com algumas telhas,
<br>folhas de zinco, t�buas de caixote, peda�os de compensados. Na
<br>puxada do lado, esp�cie de meia-�gua, onde h� uma ramada de maracuj�
<br>florida, � a barbearia. 0 sal�o � pequeno, mal cabe a cadeira
<br>de barbeiro, que comprou h� pelo menos 15 anos e da qual nunca
<br>se separou. Agora, pelo tanto tempo de uso, os niquelados da cadeira
<br>desapareceram e a manivela que permitia os movimentos com o
<br>cliente em cima se quebrou. Dessa forma, para que a cadeira se
<br>incline, principalmente na hora em que o fregu�s faz a barba � a
<br>maior dificuldade. Tio Donga est� sempre com a esperan�a de mandar
<br>um mec�nico recolocar a manivela mas nunca tem condi��o. Se chegasse
<br>a fazer esse reparo, naturalmente chamaria tamb�m o niquelador,
<br>mandaria restaurar as partes que se tornaram enferrujadas. A
<br>base da cadeira � de metal caramelo, como se fosse lou�a ou porcelana,
<br>h� uns enfeites r�seos. 0 assento e o encosto s�o de couro vermelho
<br>e ainda permanecem em bom estado. At� recentemente tio
<br>Donga mantinha a cadeira com capas, que dona Zizinha lavava e
<br>engomava.
<br>
<br>Naquela manh� de sol e meninos empinando papagaios a cadeira
<br>est� com o couro sem a prote��o, naturalmente dona Zizinha
<br>n�o tivera tempo de engomar. De outra parte tio Donga, nos seus
<br>67 anos, n�o se sente muito satisfeito. Olha os meninos pela janela,
<br>olha os frascos de perfume, as latas de talco, os pinc�is e a tigela de
<br>esmalte onde produzia espuma para amolecer as barbas. No pequeno
<br>sal�o coberto de zinco, com fotografias de escola de samba desfilando
<br>na avenida, outras dos festejos de Iemanj�, o ar est� sempre
<br>perfumado. � um cheiro que parece entranhado no corpo magro de
<br>tio Donga, nas suas m�os leves e macias.
<br>
<br>Tio Donga n�o sabe precisar h� quantos anos fica de p�, cortando
<br>cabelos e fazendo barbas. Desde o Sal�o Brasil, na Galeria Cru
<br>
<br>
<br>319
<br>
<br>
<br>zeiro, j� fazia isso. Mas n�o foi l� que comecei. Aprendi com o
<br>franc�s, que tinha barbearia perto dos Arcos, nos tempos em que a
<br>Lapa era a Lapa. Tinha mais ou menos 16 anos. N�o sei por que me
<br>deu na veneta entrar nessa profiss�o. Do sal�o do franc�s, que tinha
<br>
<br>o imponente nome de Champs Elis�es, fui convidado pro Sal�o Brasil.
<br>Foi assim. Quem me convidou foi um colega apelidado de Morceg�o.
<br>Era barbeiro de dia, m�sico do Cassino Novo M�xico, � noite.
<br>Um tempo elegante aquele. E n�o sei como Morceg�o ag�entava. 0
<br>Sal�o Brasil era o mais luxuoso que havia na cidade. Grande, com
<br>pelo menos 10 cadeiras muito melhores que esta. Eu pegava na
<br>parte da tarde. Das 12 �s 21 horas. A freguesia era distinta. Muito
<br>deputado, muito senador da Rep�blica, artistas famosos. Durante
<br>anos e anos cortei os cabelos e fiz a barba de Francisco Alves, que
<br>todo mundo chamava Chico Viola. O ministro Oswaldo Aranha tamb�m
<br>foi meu cliente. Sa�a da sede do J�quei Clube, na esquina de
<br>Almirante Barroso com Rio Branco, ia para o Sal�o Brasil. Pelo
<br>menos duas vezes por semana aparecia por l�. Seu Alves Teixeira,
<br>dono do sal�o, ficava orgulhoso de que soubesse lidar com t�o ilustres
<br>personalidades. Uma vez, Chico Viola apareceu, deu seu �ltimo
<br>disco pra mim e pra todos os outros colegas. O meu ainda guardo
<br>at� hoje. Tem a dedicat�ria. Que pena aquele homem se acabar
<br>como acabou. No dia do enterro foi a coisa mais triste do mundo. A
<br>cidade parou. O Sal�o Brasil, em sinal de luto, n�o abriu as portas.
<br>Ordem de seu Alves Teixeira. Um homem amigo dos amigos. Depois,
<br>mandou botar o retrato de Chico Viola num quadro, pendurou na
<br>parede.
<br>O morro inteiro conhecia tio Donga. Era o barbeiro de quase
<br>todas as crian�as. Umas, as m�es levavam a pulso, para que cortassem
<br>os cabelos pela primeira vez, outras iam espontaneamente. J�
<br>os homens, n�o. Cortavam os cabelos pela cidade, s� uns poucos se
<br>lembravam do velho. Embora o respeitassem, julgavam-no fora de
<br>moda. Agora o corte n�o � mais como antigamente, tio Donga. � s�
<br>aparar daqui e dali, botar um pouco de talco e mandar em frente.
<br>Isso o velho n�o admitia. Para ele um barbeiro que fazia aquilo n�o
<br>passava de vigarista. Cabelo cortado por tio Donga tinha de levar
<br>m�quina zero no p�, isto �, no pesco�o, costeletas curtas, arcos bem
<br>feitos volteando as orelhas. Quando dava o trabalho por conclu�do,
<br>apertava a bomba de borracha do borrifador de �gua-de-col�nia, voltava
<br>a caprichar com a tesoura e o pente bem fino, os retoques com
<br>a navalha. E como cortava a navalha de tio Donga. O fregu�s nem
<br>sentia. Se era barba, cobria o rosto de espuma cheirosa, passava alguns
<br>minutos procurando o fio da navalha no afiador de corti�a. Somente
<br>depois dessa opera��o, come�ava o trabalho. Ap�s escanhoar
<br>cuidadosamente, borrifava �gua-de-col�nia, colocava p�, tirava os
<br>excessos na escova de p�lo macio, que agitava com extraordin�ria
<br>
<br>
<br>habilidade. Um barbeiro dos tempos que se foram; que terminaram
<br>com a Lapa e a Galeria Cruzeiro. Hoje, tio Donga quase n�o
<br>recordava essas coisas. Cansara de falar, percebera estar sendo motivo
<br>de goza��o dos jovens, dos que n�o sabiam o que fora a Galeria
<br>e muito menos a Lapa.
<br>
<br>Naquela manh� de meninos empinando papagaios e flores na
<br>ramada de maracuj�, o velho mostra-se irritado. Por mais que procure
<br>controlar-se n�o consegue. Na cadeira que o acompanha h� tantos
<br>anos, calmamente estirado, encontra-se um tipo que n�o tolera: Banda
<br>Branca. Quer fazer cabelo e barba. De quando em vez procura
<br>tio Donga, quando deixa o sal�o, manda espetar a conta.
<br>
<br>� N�o se assuste vov�; demoro mais pago!
<br>Tio Donga envolveu-o numa toalha alv�ssima, a fim de aparar
<br>os cabelos, colocou talco onde a m�quina zero vai trabalhar, Banda
<br>Branca fala de coisas vagas, que de modo algum interessam ao barbeiro.
<br>Como o velho n�o responde, decide falar do passado. Das festas
<br>do Bola Preta, do Carnaval nos Tenentes do Diabo que come�ava
<br>sexta � noite e s� terminava na quarta de manh�, chovesse ou fizesse
<br>sol. A tesoura e o pente nas m�os de tio Donga parecem adquirir
<br>vida. Estalam como asas de pombo levantando v�o, o fregu�s
<br>vai sentindo uma coceirinha agrad�vel no pesco�o e na cabe�a, �
<br>propor��o que o cabel�o � derrubado. E era exatamente isso que o
<br>alcag�ete sentia, al�m do cheiro das m�os e do corpo de tio Donga,
<br>sempre com seu guarda-p� impec�vel, sapatos de pano, �culos de aro
<br>de tartaruga, lentes grossas.
<br>
<br>� Soube que nesse tempo o senhor tinha uma por��o de amigos!
<br>� Tinha e tenho. Amizade pra mim sempre foi a coisa mais
<br>preciosa.
<br>� Como era com o Chico Viola?
<br>� Um bom homem. Sabia recompensar quando o trabalho lhe
<br>agradava.
<br>Banda Branca tem vontade de rir. Na verdade aquele papo n�o
<br>interessava, n�o queria saber de Chico Viola nem de coisa alguma,
<br>apenas gostaria que aquele trabalho terminasse logo, para que pudesse
<br>ir em frente, cuidar da vida, saber na Invernada se iria ou
<br>n�o a Minas, a fim de localizar o tal Enfezado. Segundo levantamento
<br>do sargento Beto o garot�o estava metido pelo interior mineiro e,
<br>agora, n�o ia ser dif�cil localiz�-lo. Quando isso acontecesse ganharia
<br>promo��o, entraria afinal para o quadro de servidores da Secretaria,
<br>gostasse ou n�o o detetive Silveirinha e aqueles best�ides do
<br>Germano, Azeitona e Esculacho. Ia ser investigador no m�nimo, enquanto
<br>os tr�s permaneceriam como simples bate-pau. N�o tinham
<br>categoria, n�o tinham manha, n�o podiam progredir. O sargento Beto;
<br>mandava no setor, estava vendo seu servi�o. Isso o que interessava.
<br>
<br>
<br>� E naquele tempo, vov�, quem eram os bambas das noitadas?
<br>0 barbeiro faz um arzinho de riso.
<br>� Havia muitos. Aqui mesmo do morro ainda me recordo de
<br>uns tr�s: Milit�o, Jorge do Saxe, mestre T�bor.
<br>� Mestre T�bor? N�o era protestante?
<br>� Entrou pra religi�o depois. Quando come�ou a ficar doente.
<br>Nos tempos de mo�o era bom dan�arino e sabia se vestir. Quando
<br>baixava no Cassino Novo M�xico, tinha presen�a. A mulherada dava
<br>em cima. Um mulato de fazer vista.
<br>� E como foi que terminou na merda?
<br>� Ora, ser alegre n�o significa que n�o seja pobre. Acho,
<br>mesmo, que s� quem � pobre pode ser um bo�mio. Gasta numa noite
<br>o que n�o ganha em uma semana.
<br>� Mestre T�bor era desses?
<br>� Ele e todos n�s. Tivesse guardado metade do dinheiro que
<br>ganhei em 35 anos de profiss�o, s� no Sal�o Brasil, hoje tava rico.
<br>Mas n�o me queixo. Gosto do meu barraco e dos meus vizinhos .
<br>Enfim, tenho amigos, como tinha antigamente.
<br>� E aquela hist�ria com Dr. Get�lio, vov�? Como foi?
<br>� Ora, veio um pedido do Pal�cio do Catete pra que um barbeiro
<br>fosse l�, fazer a barba e o cabelo do Presidente. Seu Alves Teixeira
<br>achou que eu era o mais indicado.
<br>� Vov� foi?
<br>� Fui, o Presidente gostou. Sempre o barbeiro do pal�cio faltava,
<br>recebia novo chamado.
<br>� Quer dizer que vov� teve com a cabe�a do GG nas m�os,
<br>v�rias vezes!
<br>� N�o apenas isso. Tive tamb�m a oportunidade de dizer-lhe
<br>algumas coisas. �s vezes ele se punha a falar, a contar hist�rias, tinha
<br>de responder. Numa dessas reclamei do abuso que vinha sendo praticado
<br>pela Pol�cia Especial. T� lembrado dela? Pois �. Aquele bando
<br>de homenzarr�o de dois metro, espancando quem bem entendia. O
<br>Presidente ficou s�rio. At� pensei que fosse entrar pelo cano com
<br>aquele atrevimento. No final do trabalho me gratificou, acendeu um
<br>charuto, disse que ia tomar provid�ncias.
<br>� E tomou?
<br>� N�o sei. Que os abusos diminu�ram l� pras bandas onde morava,
<br>isso diminu�ram!
<br>� Onde vov� morava?
<br>� Na rua Riachuelo. Nesse tempo era uma boa rua. Calma,
<br>casar�es com jardins e quintais. Como tudo mudou!
<br>� S� n�o mudou a safadeza dos cabras.
<br>� N�o sei. As pessoas s�o sempre o que s�o; tudo depende do
<br>relacionamento.
<br>
<br>� Acho que n�o, vov�. Existem uns tipos por a�, carne de
<br>pesco�o. Querem mostrar que t�o mesmo na banda podre. Esse mestre
<br>T�bor, por exemplo: teve seu tempo de bo�mio, botou banca no
<br>tal Cassino Novo M�xico. Tudo certo. Mas o senhor sabe qual era a
<br>dele, ultimamente?
<br>Por instantes as m�os de tio Donga paralisam.
<br>
<br>� Tava criando um filho ladr�o. Assaltante! Uma boa forma
<br>de levar a vida. No barraco, o dia todo. aproveitando a fresca da
<br>tarde, o filhinho roubando e matando. Acha por acaso que n�o tirava
<br>vantagem disso? N�o sou t�o ing�nuo assim.
<br>No mesmo instante em que termina de fazer esse pequeno discurso
<br>Banda Branca d� tremendo berro, joga-se da cadeira embaixo,
<br>cai por cima de uns bancos onde havia jornais antigos e revistas sem
<br>capa, leva as m�os ao pesco�o e o sangue est� jorrando por entre os
<br>dedos, os olhos do alcag�ete arregalados, junto � cadeira permanece
<br>tio Donga, navalha na m�o, o guarda-p� branco com respingos vermelhos,
<br>Banda Branca tenta levantar e n�o consegue, torna a cair,
<br>ap�ia-se com uma das m�os nas paredes, l� ficam as marcas vermelhas,
<br>pega a tesoura que tio Donga quase n�o usava, aproxima-se do
<br>barbeiro que n�o sai do lugar, faz um gesto violento, atinge-o no
<br>est�mago, torna a perder o equil�brio, grunhe e se arrasta para fora
<br>do barraco, tio Donga mant�m-se algum tempo seguro � cadeira,
<br>depois vai caindo, m�os leves se soltando, os ru�dos de Banda Branca
<br>para fora da meia-�gua, pessoas da vizinhan�a aparecendo nas janelas
<br>e nas portas, o alcag�ete berrando e chorando, ambas as m�os no
<br>pesco�o, mesmo assim o sangue jorrando, a camisa toda vermelha,
<br>mulheres e crian�as assustadas, o homem querendo correr, querendo
<br>manter-se de p� e n�o conseguindo, seus olhos vendo o mundo distanciar-
<br>se, os barracos mais tortos do que eram, vielas intermin�veis,
<br>n�o poderia nunca chegar � tendinha de seu Greg�rio, onde estava
<br>certo, obteria medicamento, quando nada at� que uma ambul�ncia fosse
<br>chamada. Mant�m-se outra vez de p�, os garotos afastando-se, passos
<br>indecisos, os p�s n�o querendo caminhar, a mulher desdentada fazendo
<br>o sinal-da-cruz, dona Zizinha e dona Julinha chorando, outras
<br>pessoas entrando na barbearia, chamando para socorrer tio Donga,
<br>de repente a confus�o formada, meninos esquecendo papagaios empinados,
<br>vov� Jandira afobada, gritos de Banda Branca perdendo-se
<br>nos descampados, c�es ladrando, galos cantando naquela manh� de
<br>
<br>luz e t�o vazia, os olhos de Banda Branca como se recusando a ver,
<br>as m�os n�o tendo mais for�a de segurar o pesco�o, a cabe�a rodando
<br>no carrossel, o pai equilibrando-o no cavalo alaz�o, mandando segurar
<br>firme nas crinas. Na valeta cavada por antigas chuvas, e por onde
<br>o alcag�ete tentara passar, cessam os movimentos. Cai de costas, o
<br>sangue sai livremente, olhos arregalados de dor e espanto. Uns poucos
<br>garotos acocoram-se nas bordas da valeta, as mulheres v�o che
<br>
<br>
<br>
<br>gando, uns homens v�m correndo da tendinha, depois o pr�prio
<br>Greg�rio.
<br>
<br>� 0 que foi, Deus do c�u?
<br>� N�o sei direito. Banda Branca saiu gritando da barbearia!
<br>� E tio Donga?
<br>� Ca�do l� dentro.
<br>� Minha Nossa Senhora! Ser� que baixou a urucubaca neste
<br>morro?
<br>� Ele bem que procurou � adverte dona Zizinha. � Pena
<br>que tio Donga tenha ido embora antes do tempo.
<br>No tumulto de gente entrando e saindo da barbearia, mulheres
<br>e mocinhas chorando, aparece vov� Jandira com as velas. Acende
<br>uma de cada lado do tio Donga. Com a mesma calma aproxima-se
<br>da valeta, acende outras duas. As pessoas do morro parecem ter
<br>adivinhado o ocorrido. Sai gente de todos os lados, de todas as vielas.
<br>Em pouco tempo, na frente da barbearia, h� uma multid�o de curiosos,
<br>seu Greg�rio mandando afastar, at� que os policiais aparecessem.
<br>E n�o demora muito para que surjam. V�o empurrando os favelados,
<br>estendem uma corda ao redor da valeta, outra ao redor da
<br>barbearia. 0 cabo, um tipo moreno e de rosto magro, quer saber o
<br>que houve. Dirige-se a seu Greg�rio.
<br>
<br>� N�o sei. Ouvi os gritos. Quando corri encontrei as coisas
<br>nesse p�!
<br>Uma mulher quer falar, o cabo n�o escuta. A velhota gorda que
<br>conversa com dona Zizinha � interrogada.
<br>
<br>� E a senhora, o que sabe disso?
<br>� Quase nada. Apenas vi o Banda Branca sair gritando l� de
<br>dentro, com as m�os no pesco�o. Andou at� cair na valeta. Chamei
<br>por tio Donga, tava ca�do tamb�m!
<br>� Quer dizer que o barbeiro matou Banda Branca!
<br>� N�o sei como foi.
<br>Um outro policial, de cara agressiva, resolve ajudar o cabo.
<br>� Acho bom algu�m abrir o bico. Sen�o vai todo mundo pra,
<br>Delegacia.
<br>L� n�o tem mist�rio!
<br>Seu Greg�rio irrita-se com a amea�a.
<br>
<br>� Como � que se vai contar uma coisa que n�o se viu?
<br>0 terceiro policial o empurra.
<br>� V� l� como fala, chapa. N�o t� em casa. n�o!
<br>O tipo de ar insolente pega seu Greg�rio pela abertura.
<br>� Olha aqui, filho da puta. Quero saber quem matou o alcag�ete.
<br>Entendeu?
<br>0 cabo, mais calmo, interfere.
<br>
<br>� Pode deixar; ou ele ou outro vai ter de servir como testemunha.
<br>
<br>O cabo torna a fixar-se na mulher gorda, que mora ao lado da
<br>barbearia.
<br>
<br>� Se o birosqueiro n�o quiser ir, vai a velhota. N�o � poss�vel
<br>que n�o saiba o que aconteceu.
<br>DOIS
<br>
<br>Delegado Paranhos desliga o telefone, aperta o bot�o do interfone,
<br>chama Galv�o. Em pouco tempo o homem aparece. Est� com
<br>ar cansado, palet� amassado, o la�o da gravata frouxo. A tarde �
<br>das mais quentes do ano, o aparelho de ar-refrigerado engui�ou, as
<br>janelas do gabinete do delegado est�o abertas. Uma delas d� para o
<br>sagu�o, onde h� frondoso abacateiro.
<br>
<br>� Sabe o que aconteceu?
<br>Galv�o n�o se surpreende. Entende perfeitamente aquilo. Tira
<br>um cigarro, oferece por mera cortesia ao delegado. Sabe que, com
<br>ele, n�o acontece nada de bom. H� muito tempo � assim, desde que
<br>Julieta morreu.
<br>
<br>� Silveirinha t� me ligando pra dizer que abotoaram o alcag�ete
<br>do Babil�nia. O que ia farejar l� em Minas.
<br>� Como foi?
<br>� N�o t� apurado direito. Por enquanto, quem aparece como
<br>matador � um velhote. N�o acredito nessa!
<br>� E t� certo que o tal garoto de Minas tem alguma coisa a
<br>ver com o matador de motorista?
<br>� Quase certo. A n�o ser que Garanh�o conte outra hist�ria.
<br>Galv�o sopra a fuma�a do cigarro. Parece o tipo mais calmo
<br>do mundo.
<br>
<br>� A hist�ria j� tenho praticamente comigo. E Garanh�o ajudou
<br>muito. N�o pense que botei a m�o nele pra fazer m�dia.
<br>0 delegado recosta-se na cadeira girat�ria, passa o len�o no
<br>rosto.
<br>
<br>� N�o vamos come�ar tudo de novo. Aceito que Garanh�o teja
<br>metido na coisa. 0 que n�o se pode mais tolerar � que os crimes
<br>continuem a ocorrer.
<br>Galv�o p�e um dos bra�os na ponta da mesa, aproxima o rosto.
<br>
<br>� Olha aqui, Paranhos. N�o nasci ontem, nem aprendi a ser
<br>pol�cia com voc�. Sei muito bem onde meto o nariz. E pode t� certo
<br>de que tou na pista do criminoso. Ou pensa o qu�? Com a merda de
<br>uma viatura e dois auxiliares posso dar uma de Sherlock Holmes?
<br>Lhe afirmo que esse moleque l� de Minas n�o tem nada a ver com
<br>
<br>a coisa. O Diabo que resolveu nos perseguir t� por aqui mesmo, nas
<br>nossas barbas. Nesse desespero em que se vive � que n�o tenho calma
<br>de raciocinar, quanto mais!
<br>
<br>� J� lhe dei todos os prazos poss�veis para solucionar o caso.
<br>O que foi que aconteceu? Nada. Absolutamente nada!
<br>� N�o diga isso. Se quer me ofender procure outro m�todo.
<br>Mas n�o negue nosso trabalho. Eu e esses dois pobres-diabos que me
<br>acompanham, noite e dia, tamos sofrendo mais que sovaco de aleijado.
<br>0 que � que deseja, um milagre? Pois v� pra rua, leve o senhor
<br>secret�rio, prenda o criminoso, resolva todos os crimes insol�veis,
<br>d� uma de tira do ano!
<br>Paranhos mant�m-se recostado na cadeira, enquanto Galv�o esbraveja.
<br>Depois o detetive ergue-se, vai at� a janela.
<br>
<br>� Sou capaz de lhe propor um neg�cio.
<br>0 delegado continua a encar�-lo.
<br>� Quero mais dez dias. Se n�o botar a m�o no criminoso, abandono
<br>o cargo, rasgo a carteira de pol�cia, nunca mais entro numa
<br>delegacia, dou declara��o nos jornais de que esses anos todos n�o
<br>passei de um filho da puta, enganando os superiores e a pr�pria popula��o.
<br>Digo isso e assino embaixo.
<br>� N�o quero sua desgra�a, Galv�o. Quero que atue profissionalmente!
<br>� E o que � que se tem feito? Garanh�o t� na jogada. Apenas
<br>n�o � o cabe�a. Ou pensa que entre bandidos todos sabem de tudo?
<br>Eles se cobrem, e como se cobrem. J� enfrentei caso em que bandid�o
<br>nunca tinha sido visto pelos parceiros. Sabe muito bem disso. T�
<br>lembrado da quadrilha do Meloca? Pois era assim que se mantinha.
<br>Na moita. Completamente na moita!
<br>Paranhos recupera a calma, faz um sorriso, balan�a-se na cadeira.
<br>
<br>
<br>� N�o aceito sua execra��o p�blica, mas vou lhe dar os dez
<br>dias. Se n�o acontecer nada, quem se manda deste maldito lugar
<br>sou eu. Desde que assumi esta porcaria de fun��o, n�o tenho sossego.
<br>N�o consigo nem dormir. E o pior: sofro eu e minha mulher, que
<br>n�o tem nada a ver com a hist�ria.
<br>Galv�o mant�m-se calado. Deixa o amigo se abrir.
<br>
<br>� Sei como �. Tamb�m tive uma mulher. Acreditava no que
<br>eu fazia.
<br>Me acompanhava, sofria, embora fosse contra a profiss�o.
<br>Olha pela janela, rosto amargurado, bei�os ressequidos.
<br>
<br>� Por que meu Deus, um belo dia me deu na cabe�a de fazer
<br>aquele maldito concurso? Por qu�?
<br>� E o pior � que ningu�m tem considera��o � diz Paranhos.
<br>� Aqueles merdas do Sindicato partiram pra greve, t�o amea�ando
<br>outra, n�o querem conversa.
<br>
<br>� Isso � excesso de liberalidade � diz Galv�o. � A corda t�
<br>voltando a afrouxar. Se tivesse num posto de chefia, mandava meter
<br>todos eles na cadeia. N�o passam de um bando de comunistas.
<br>� Acontece que a rea��o deles ganhou o apoio da popula��o
<br>e a coisa t� repercutindo.
<br>� Por que o secret�rio n�o bota os l�deres sindicais na rua,
<br>pra
<br>pegar o criminoso?
<br>Paranhos n�o tem outra sa�da, sen�o achar gra�a.
<br>
<br>� Vamos em frente. Mais dez dias e prometo segurar a barra.
<br>Explico pro homem que tamos chegando perto.
<br>� Pode acreditar. N�o botei a m�o nesse crioulo pra aparecer
<br>nos jornais. Ele t� metido na trama. S� que n�o � dos principais.
<br>H� outros agindo e um cabe�a que ningu�m conhece. Nesse a� temos
<br>de chegar.
<br>Galv�o retira-se. Ap�s tanta discuss�o est� at� um pouco mais
<br>bem-humorado. N�o tem d�vida de que Paranhos aceita Garanh�o
<br>como um dos implicados. E, o que � mais curioso: n�o voltou a falar
<br>no processo sobre o desaparecimento do professor. Se conseguisse botar
<br>a m�o no bandido, nos dez dias de prazo, estava certo de que tudo
<br>aquilo ficaria esquecido. 0 mesmo ocorreria com Silveirinha. Afinal,,
<br>pra se chegar a um bandid�o tem de haver muita ladainha. Se vai
<br>galgando os degraus no escuro e muita gente termina machucada,
<br>
<br>alguns caretas sumidos de vez. 0 que tavam esperando? Cavalheirismo?
<br>Detetive agindo como em certos romances policiais, onde tudo
<br>d� certo, mais cedo ou mais tarde criminoso e agente da lei terminam
<br>se encontrando? Que esperassem.
<br>
<br>Nogueira aparece apressado, puxa-o pela manga do palet�.
<br>
<br>� Itamar ligou do bar do Motinha. Pintou uma bomba do
<br>caralho!
<br>� 0 que pode ser?
<br>� N�o fa�o id�ia.
<br>Nogueira � o primeiro a entrar no bar. 0 calor � intenso, na
<br>mesa est�o Itamar e Chico Biela. Galv�o vem atr�s, palet� nas costas,
<br>cigarro entre os dedos. Quando o v� Chico Biela ergue-se.
<br>
<br>� Puxa, velho, n�o deu mais as caras no Lampreia?
<br>� Tenho falado com ele pelo telefone.
<br>� Aquele neg�cio de t�xi at� que foi legal. N�o se pegou o bandid�o
<br>mas se terminou segurando uma nota. Esses motoristas reclamam
<br>de barriga cheia. Houve noite de recolher 600 praias.
<br>� Vou botar um t�xi na pra�a! � diz Nogueira.
<br>� E qual � a bomba? � atalha Galv�o.
<br>� Tava ontem na Pra�a N. S. da Paz, esperando a mina, quando
<br>avistei Kid Farofa. Lembra dele? O mendigo que transava com
<br>Nels�o ?
<br>
<br>O detetive n�o recorda logo quem era, Itamar e Nogueira est�o
<br>sabendo.
<br>
<br>� Puxa! Aquilo chora uma mis�ria, mas t� sempre com a nota.
<br>� Tamb�m, o que j� pegou de vadiagem n�o t� escrito.
<br>� Sim, e da�? � interroga Galv�o.
<br>� Da� que ele vinha puxando aquele carrinho cheio de bagulho
<br>e me reconheceu. Quando chegou perto foi empestando tudo.
<br>Aquele desgra�ado n�o toma banho h� um ano.
<br>� S� um ano? Acho que nunca tomou! � diz Nogueira.
<br>� Pois bem. Ele tirou aquela porcaria de touca de meia da
<br>cabe�a, ficou me olhando, meio sem-vergonha. Pensei comigo: ser�
<br>que essa nojeira de velho endoidou de vez? Que � que h� Kid Farofa?
<br>eu disse. T� acordado a essa hora ou o que tou vendo � visagem?
<br>Ele riu e a� foi que o fedor aumentou. Ficou brincando com a
<br>porcaria da touca e disse que tinha um al� pro Nels�o. A� eu disse
<br>que n�o via o Nels�o h� muito tempo, achava que tinha entrado de
<br>f�rias. Ele continuou me olhando, como macaco pra banana e eu
<br>disse: o que t� havendo Kid Farofa? Comeu manga com febre? Ele
<br>sentou na ponta do banco, meteu a m�o no bolso da cal�a esburacada,
<br>procurou, procurou, tirou um envelope com sobrescrito. Me
<br>passou o envelope, fiquei at� aporrinhado de botar a m�o naquela
<br>meleira. Li o sobrescrito com dificuldade, porque a luz da pra�a era
<br>fraca e ele rindo. Sinceramente que aquilo me aporrinhou e eu disse:
<br>qual � a tua Kid Farofa, por que n�o vai encher o saco de outro?
<br>Tou esperando a mina. Daqui a pouco ela aparece, j� imaginou? Ele
<br>se levantou e foi a� que decidiu se abrir.
<br>� Vi o casal que matou o motorista, perto daqui. Um garot�o
<br>e uma mocinha!
<br>� Que � que h�, Kid Farofa? Querendo brincar comigo?
<br>� N�o � brincadeira, n�o. Vi os dois. Primeiro quem correu
<br>foi a mocinha. Depois o garoto, atr�s dela. A mocinha se agarrou
<br>no poste e vomitou paca.
<br>� 0 que tem o envelope a ver com tudo isso?
<br>� Foi da mocinha que caiu. Na hora que correu e o garot�o
<br>foi atr�s.
<br>� Cad� o envelope? � quer saber o detetive.
<br>Chico Biela abre a capanga tira, j� todo manchado, passa-o a
<br>Galv�o. Nogueira estica-se o que pode, o detetive sente um arrepio
<br>no corpo, nas m�os um princ�pio de tremor, os olhos n�o querendo
<br>fixar-se. Imposs�vel! N�o podia ser verdade.
<br>
<br>� Poxa! E a garotinha deu at� bei�o na loja. Isso � cobran�a
<br>do SPC! � diz Nogueira.
<br>Galv�o continua calado, torna a ler o sobrescrito: "Sandra Duarte,
<br>rua Hil�rio de Gouveia,. . . apto. 925". Sua vontade era sumir,
<br>meter-se em casa, abrir a garrafa de u�sque, tomar no gargalo. Aqui
<br>
<br>
<br>
<br>lo era demais. N�o podia ser. 0 sacana do Kid Farofa estava inventando.
<br>Seria uma transa do Nels�o, pra enxovalh�-lo de vez? N�o podia
<br>ser. Nels�o n�o chegaria a esse ponto. Ent�o era aquilo. A garota
<br>e seu amante. 0 mesmo que surpreendera no apartamento, vestindo-
<br>se �s pressas.
<br>
<br>� Seu namorado ou amante?
<br>� Qual a diferen�a?
<br>� H� muita diferen�a, filha; muita diferen�a!
<br>N�o tinha mais do que duvidar.
<br>� N�o t� satisfeito com a dica, chefe? � quer saber Chico
<br>Biela.
<br>Galv�o vira a cerveja no copo.
<br>
<br>� Claro que tou. Acho at� que se deva recompensar Kid Farofa.
<br>� Ora, a recompensa dele � ficar solto � argumenta Chico
<br>Biela.
<br>� A gente seguindo num rumo e os matadores no outro. Vai
<br>ver, um casal de namorados! � acentua Itamar.
<br>� � isso a�. Quanto mais tempo de janela se tem, menos se
<br>sabe
<br>� diz Galv�o dando a conversa por encerrada.
<br>Mete o envelope no bolso do palet�.
<br>
<br>� Logo mais se vai em cima da garota. Depois que contar a
<br>hist�ria, o matador louco n�o ter� mais condi��o de existir.
<br>� E se n�o tiver mais nada com o pilantra?
<br>� Esse pessoal n�o se afasta assim, com facilidade. Um t� sempre
<br>sabendo do outro.
<br>� Espero que tenha sido �til � considera Chico Biela, que
<br>continua achando estranha a rea��o do detetive.
<br>� Imagina! 0 sacaneta do Kid Farofa ia entregar ouro a bandido
<br>� argumenta Nogueira.
<br>� N�o quero nem pensar. Com uma dica dessa Nels�o mijava
<br>na
<br>gente � afirma Itamar.
<br>Galv�o bate no ombro de Chico Biela.
<br>
<br>� Obrigado, velho. Fico devendo esse caso a voc�.
<br>Motinha aparece, calcula a despesa rabiscando pequeno bloco,
<br>Galv�o � quem paga. Chico Biela se oferece para qualquer ajuda, depois
<br>atravessa a rua, o detetive, Itamar e Nogueira seguem na dire��o
<br>oposta.
<br>
<br>� Como �, vamos arrochar a garota? � sugere Nogueira.
<br>Itamar n�o est� gostando do sil�ncio de Galv�o.
<br>� Que t� havendo?
<br>0 velho policial passa o len�o no rosto cansado, suado.
<br>� Vai ser duro o final desse caso.
<br>� Com a dica que se tem?
<br>� Exatamente por isso.
<br>� N�o d� pra entender.
<br>
<br>� Deixa que explico. N�o quis falar na frente do Chico Biela
<br>porque � um l�ngua de trapo.
<br>Itamar e Nogueira encostam-se na viatura, parada sobre a cal�ada.
<br>
<br>
<br>� T�o lembrado daquele apartamento onde se foi porque a bicha
<br>saltou no p�tio interno? L�, tamb�m, morava uma garota chamada
<br>Sandra Duarte. Sabem quem �? Minha filha. 0 envelope que Kid
<br>Farofa achou � endere�ado a ela. Uma vez tive l�, vi o garot�o. Pelo
<br>que diz Kid Farofa � o mesmo. N�o tem o que errar.
<br>Por instantes nenhum dos tr�s diz uma s� palavra. Nogueira
<br>que sempre encontra jeito de fazer gra�a, nada comenta. Os olhos
<br>de Galv�o tornam-se vermelhos, enxuga-se no len�o.
<br>
<br>� Pode convocar Papo de Anjo e Baiacu. De outra maneira
<br>ela n�o fala. Conhe�o como �.
<br>� Papo de Anjo? � indaga Nogueira surpreso.
<br>� Tem de ser. E n�o quero que saibam ser minha filha. Voc�s
<br>dois v�o estar por perto. Fico esperando embaixo.
<br>� Se n�o ag�entar?
<br>� Paci�ncia. De uma forma ou de outra temos que chegar no
<br>puto daquele assassino.
<br>Nogueira entra na Delegacia, a fim de dar os telefonemas, Itamar
<br>permanece ao lado do companheiro. Quer falar e n�o consegue;
<br>quer negar os fatos e n�o se atreve.
<br>
<br>� Kid Farofa! � diz Galv�o como se estivesse monologando.
<br>� Quem diria!
<br>� Acontece que n�o sabe de nada.
<br>� Exatamente isso que me surpreende. E ainda existe os que
<br>n�o acreditam em destino.
<br>Acende um cigarro, sopra a fuma�a nos ventos da tarde, a rua
<br>estreita e atravancada de carros.
<br>
<br>� Voc� acredita em destino?
<br>� �s vezes sim, �s vezes n�o. Depois de uma dessa, d� o que
<br>pensar!
<br>� Pois eu acredito. Desde que Julieta morreu. E tou certo de
<br>uma coisa: ainda vou padecer muito. 0 Padre Eterno t� me arrumando
<br>um monte de castigo. N�o sei por qu�. Sempre procurei ser
<br>fiel aos amigos, cumprir meus deveres. Ou ser� que o of�cio de pol�cia
<br>� uma atividade maldita?
<br>� Toda profiss�o � igual. Cada uma tem seus macetes, altos e
<br>baixos. N�o creio que deva se impressionar com o que t� acontecendo
<br>� arrisca Itamar.
<br>N�o tou impressionado. Acho apenas que � um castigo; alguma
<br>coisa que tava escrita, tinha de acontecer. Por isso � que nunca se
<br>encontrou uma pista segura que levasse a lugar algum. Eu era a pr�pria
<br>pista; minha filha era a pista. Entendeu, agora?
<br>
<br>
<br>� � justo que se sinta assim. Talvez precisasse descansar. N�o
<br>creio que seja prudente convocar Papo de Anjo e Baiacu. Eu e Nogueira
<br>pod�amos ter uma conversa inicial com a garota.
<br>Galv�o massageia a ponta do queixo com a canhota, olha o companheiro
<br>de maneira ir�nica.
<br>
<br>� N�o adianta. Seria perda de tempo. N�o diria uma palavra
<br>a nenhum dos dois. A mim pr�prio n�o falaria. E o meu medo � que
<br>nem mesmo diante de Papo de Anjo e Baiacu decida se abrir.
<br>� Nesse caso, j� imaginou? � considera Itamar.
<br>� � o risco que tenho de correr.
<br>Itamar continua a falar, a objetar contra a convoca��o dos espancadores,
<br>o detetive est� com um dos p�s apoiados na roda do carro.
<br>Sopra a fuma�a do cigarro, diz pausadamente.
<br>
<br>� Olha, seu Itamar, minha filha me odeia. Quer me ver morto.
<br>Qualquer ladr�ozinho ordin�rio tem mais valor pra ela do que eu.
<br>Esse � o tipo de mo�a que se t� enfrentando.
<br>� Sei l� � prossegue Itamar � se fosse minha filha ia ficar
<br>com ela, que se danasse o resto.
<br>� � f�cil dizer isso. A responsabilidade maior t� no meu ombro.
<br>Se o pobre-diabo do Kid Farofa viu os dois saindo do t�xi, por
<br>que que outra pessoa n�o ter� visto? E se amanh� aparecer um filho
<br>da puta dizendo que me amoitei, porque a assassina era minha filha?
<br>De jeito nenhum, seu Itamar. Na verdade sou um policial, doa a
<br>quem doer. Julieta reclamava, n�o tinha raz�o. N�o compreendia o
<br>que � ser um policial, como tou certo voc� ainda n�o se decidiu. T�
<br>em cima do muro.
<br>� Em cima do muro. coisa nenhuma. Fa�o o que � poss�vel..
<br>Enquadrar parente meu, isso nunca. Ainda mais sabendo que tem
<br>Papo de Anjo e Baiacu na transa.
<br>� Se fosse um tira de cora��o � o que menos interessava. O
<br>importante � saber a verdade, botar a m�o naquele que desafia a lei.
<br>� Acontece que o mundo t� todo torto, n�o sou eu quem vai
<br>consertar.
<br>Galv�o tira nova tragada do cigarro.
<br>
<br>� Pois ent�o, tanto eu quanto voc� chegamos numa encruzilhada.
<br>Temos de nos decidir. Eu talvez seja policial demais, voc� de
<br>menos. Ou se modifica ou procura outro emprego.
<br>� Acho que � o que vai acontecer. Tenho pensado nisso. Desde
<br>o caso com o veterin�rio. Fiquei dias e dias recebendo os parentes dele
<br>na Delegacia, inventando mentiras. N�o gosto disso. Me revolta.
<br>� Voc� se preocupa muito com os outros e pouco com o que
<br>faz!
<br>� T� sendo injusto. N�o sou de mijar nas cal�as. O que n�o �
<br>direito � se fabricar um suspeito como o veterin�rio.
<br>
<br>� Se n�o fosse aquela saca��o, o que acha que tinha acontecido
<br>com a gente?
<br>� Sei l�. Acontecesse o que acontecesse, era problema nosso. O
<br>homem n�o tinha nada com a hist�ria. Se sabia disso desde o come�o.
<br>� Ocorre que n�o inventei nada. O desgra�ado do motorista
<br>foi a causa de tudo. Surgiu com o diabo do cara, todo mundo ficou
<br>afobado.
<br>A conversa est� por a�, quando Nogueira aparece.
<br>
<br>� N�o achei nenhum dos dois.
<br>O detetive volta a massagear o queixo com a canhota.
<br>� Onde ser� que esses capetas se meteram?
<br>� Dentro de uma hora, no m�ximo, t�o de volta.
<br>� � mais uma chance que t� tendo � diz Itamar. � Se acredita
<br>em destino, creio ser hora de si mancar. Pra que n�o se arrependa
<br>no futuro.
<br>� Que papo � esse? � quer saber Nogueira.
<br>� Itamar ficou maluco � afirma Galv�o. � Acha que devo
<br>fazer vista grossa com minha filha. E a responsabilidade, hem?
<br>� Responsabilidade porra nenhuma, detetive Galv�o. O que t�
<br>em jogo � a vaidade. Sua vaidade. Se o caso morre em Garanh�o,
<br>cad� a publicidade, as fotos nos jornais, nos filmes de televis�o? Isso
<br>� que �, detetive Galv�o � acentua Itamar indignado.
<br>� Que � isso, cara. T� brigando? � argumenta Nogueira.
<br>� Umas verdades que ele precisa ouvir � prossegue Itamar.
<br>� Se vem trabalhando junto uma por��o de tempo, tenho obedecido
<br>em tudo; agora � demais. J� se fez muita coisa que nenhum crist�o
<br>faz.
<br>Galv�o anda de um lado para o outro da cal�ada.
<br>
<br>� Cada um tem sua hora de entregar os pontos. Chegou a vez
<br>do nosso Itamar � diz o detetive referindo-se a Nogueira.
<br>� Que � isso, cara?
<br>� Quando se ferrou aquele professorzinho � afirma Itamar
<br>� todos n�s sab�amos que n�o tinha nada com o peixe. Entrou de
<br>gaiato. E quantas vezes isso j� aconteceu, detetive Galv�o?
<br>Novamente Galv�o apoia o p� na roda do carro. Aproxima o rosto
<br>de Itamar. Est� vermelho de �dio.
<br>
<br>� Olha aqui, seu mo�o. N�o tenho satisfa��es a lhe dar do que
<br>fa�o ou deixo de fazer. Sabe muito bem que nossa tarefa � dif�cil, se
<br>tem de descobrir o que fazem os bandidos, de um jeito ou de outro.
<br>Cada um com seu m�todo. 0 meu � o que conhece. E n�o difere dos
<br>outros. E assim que se age. Ser pol�cia � ser macho. Quem n�o tiver
<br>convic��o disso que salte do trem andando.
<br>
<br>� Eu sou macho, posso lhe provar. E por isso � que pra mim
<br>chegou. Se quiser matar sua filha pode ir, mas n�o conte com minha
<br>ajuda. Vou me apresentar ao delegado Paranhos, pedir substituto.
<br>� P�ra com isso, cara. Vamos conversar! � diz Nogueira. �
<br>Ser� que a bruxa anda solta, meu Deus?
<br>
<br>� � bom que fa�a isso mesmo. Vai l�, joga a toalha � afirma
<br>Galv�o. � E, se quiser, pode at� me entregar. Abre o verbo.
<br>Itamar est� afastado da viatura, encara Galv�o com raiva, faz
<br>um riso nervoso.
<br>
<br>� Vou s� tratar do meu lado. N�o preciso lhe entregar. N�o
<br>sou um policial!
<br>Dizendo isso Itamar vai embora. Nogueira recosta-se na viatura,
<br>Galv�o anda de um lado para o outro.
<br>
<br>� 0 que foi isso? N�o entendi nada!
<br>� H� muito tempo Itamar vem mancando. N�o tem pulso pra
<br>nos acompanhar.
<br>� 0 que vai fazer?
<br>� Sei l�. Provavelmente se mandar. O servi�o n�o perde nada.
<br>� Poxa! Tava tudo t�o bem e, de repente. . .
<br>� Um tira n�o pensa duas vezes. T� sempre determinado. Come�ou
<br>encrespando porque convoquei Papo de Anjo e Baiacu. � incapaz
<br>de compreender. Me considera um pai desumano. Igualzinho
<br>pensa a garota. N�o posso trabalhar com um cara desse tipo, que raciocina
<br>como crian�a.
<br>� Quem vai botar no lugar dele?
<br>� Sei l�. � bom esperar. Talvez amanh� d� as cara, pe�a desculpa.
<br>Se tem trabalhado demais.
<br>� Tamb�m acho. Na primeira oportunidade vou pegar uma
<br>semana pra ficar em casa, dormindo.
<br>� Eu pretendo tirar f�rias, logo depois me aposento. Tenho tempo
<br>suficiente. Tou nessa jogada de gaiato. Nisso Itamar tem raz�o.
<br>TR�S
<br>
<br>Por volta das 6 Nogueira aparece na cantina, diz a Galv�o que
<br>Papo de Anjo e Baiacu estavam contactados.
<br>
<br>� T�o indo pra l�.
<br>� Explicou tudo direitinho?
<br>� Como disse. Nada de ru�dos, de gritaria!
<br>Galv�o termina de tomar o caf�, mete o palet�.
<br>� Vamos l�.
<br>
<br>Descem para o p�tio, entram na viatura. Nesse mesmo instante
<br>dois tipos estranhos est�o chegando � portaria do pr�dio da Hil�rio
<br>Gouveia. 0 mais baixo, embora igualmente forte, � Baiacu. Aproximam-
<br>se do porteiro, Papo de Anjo apoia os bra�os volumosos no balc�o.
<br>Baiacu est� sempre com um chapeuzinho de feltro, abas curtas,
<br>uma pena inclinada, vive mascando chiclete. Papo de Anjo tem a cara
<br>comprida, o queixo forte, nariz achatado de ex-lutador de boxe. �
<br>primeira indaga��o do porteiro Baiacu puxa uma carteirinha do bolso,
<br>exibe.
<br>
<br>� Se t� numa sigilosa, morou? Daqui a pouco chega o resto do
<br>pessoal. Vamos pro 925 e bico fechado. OK?
<br>A princ�pio o porteiro mostra-se um tanto indeciso, concorda
<br>quando Papo de Anjo tamb�m fala.
<br>
<br>� Se tem um acerto com a mulherzinha que mora l�. S� com
<br>ela.
<br>V� bem!
<br>0 porteiro faz um sorriso, encaminha-se ao elevador dos fundos.
<br>
<br>� A essa hora o de c� � melhor.
<br>Papo de Anjo e Baiacu entram no elevador, a viatura chega em
<br>frente ao pr�dio. Nogueira e Galv�o saltam, apressados. Seu Manuel
<br>j� os conhece. Fala dos homens que terminaram de subir.
<br>
<br>� Vai com eles � diz Galv�o a Nogueira. � Espero aqui em.
<br>baixo.
<br>� Qual o problema? � quer saber o porteiro.
<br>� Uns acertos sem import�ncia. Coisa ligada ao suic�dio da bicha,
<br>t� lembrado?
<br>0 porteiro se recorda, sorri, Galv�o tamb�m faz um riso amargo,
<br>mais uma careta. Nogueira sobe pelo elevador social. Quando sai no
<br>corredor Baiacu est� tocando a campainha. Chega perto, cumprimenta
<br>os dois com um acenos de m�o. A campainha toca, a porta se abre,
<br>entram os tr�s.
<br>
<br>� Quem s�o voc�s? � indaga Sandra assustada.
<br>Papo de Anjo encosta-se na mesa, como se n�o tivesse ouvindo,
<br>Baiacu pede a Nogueira que fa�a as apresenta��es. Nogueira sorri,
<br>puxa a cadeira, joga tudo que est� em cima, no ch�o, senta com o
<br>espaldar voltado para frente.
<br>
<br>� Bem. J� que gosta de protocolo, vamos l�. Aquele ali � Papo
<br>de Anjo; 39 anos, natural do Paran�, 102 quilos, ex-lutador de boxe.
<br>O outro � Baiacu; 43 anos, 98 quilos.
<br>� Entraram na porta errada; isso aqui n�o � ringue!
<br>� N�o � mas vai ser � diz Nogueira sorridente.
<br>� N�o entendo.
<br>Sandra est� numa camisola curta, coxas grossas aparecendo, seios
<br>praticamente de fora.
<br>
<br>
<br>� Pois vai j� entender. Quem � o amiguinho que te ajuda a
<br>assaltar motorista de t�xi?
<br>� Assaltar motorista de t�xi?
<br>� Isso mesmo. N�o te faz de santinha. Temos dica segura. Saiu
<br>de um t�xi. o motorista abotoado, vomitou num poste, se mandou na
<br>carreira com o tal amiguinho. J� viu que tamos por dentro.
<br>Sandra senta na beira da cama, por um momento n�o percebe
<br>direito o que aquele homenzinho magro e sorridente dizia.
<br>
<br>� V� bem. N�o tamos interessados em te machucar. Mas se
<br>n�o abrir o bico, vai servir de saco de areia pro treino que Papo de
<br>Anjo e Baiacu querem fazer.
<br>� N�o sei de nada. N�o sei do que t� falando!
<br>Nogueira ergue-se, faz um aceno de cabe�a para Baiacu. O homem
<br>baixote e parrudo, pernas arqueadas, aproxima-se de Sandra.
<br>Tenta evit�-lo, j� chorando, Baiacu segura-a firme, Papo de Anjo
<br>aproxima-se com um cachecol de seda amarelo, tapa-lhe a boca e at�
<br>
<br>o nariz. D� diversas voltas, aperta o n�. Quando termina essa opera��o
<br>Baiacu continua a segurar firmemente a pequena, Papo de Anjo
<br>bate-lhe no rosto com a m�o direita aberta. As pancadas s�o de tal
<br>forma violentas que em poucos instantes o cachecol come�a a ficar
<br>manchado de vermelho.
<br>� Tira o pano � diz Nogueira. � V� se j� recordou!
<br>Papo de Anjo desfaz o n�, Sandra ainda consegue dar um grito
<br>que � logo abafado pela m�o pesada de Baiacu a essa altura colado
<br>na garota, por tr�s, aproveitando-se, dizendo indec�ncias, fazendo brincadeiras.
<br>
<br>
<br>� Vamos l�, Florzinha. Canta a pedra ou a gente tira teu couro.
<br>A m�o com que Baiacu tapa a boca de Sandra fica logo suja de
<br>sangue. Ela tosse, se engasga, repete em prantos que n�o sabe de nada,
<br>n�o tem o que dizer. Papo de Anjo torna a colocar o cachecol.
<br>Nogueira sabe que agora a coisa vai ser feia. Tem vontade de pedir
<br>aos caras que manerem, mas n�o recebeu orienta��o nesse sentido. E
<br>depois do que j� vira acontecer com Itamar, o importante seria evitar
<br>problemas. A garota devia falar, n�o interessava se era sua filha
<br>ou n�o.
<br>
<br>Com a maior facilidade Papo de Anjo prendeu os bra�os de Sandra
<br>para tr�s, segurou-a pelos p�s, p�s-se a pression�-la com o joelho
<br>sobre a espinha. Da primeira vez a garota ficou vermelha como um
<br>tomate e a espinha arqueou apenas um pouco. Da segunda a press�o
<br>foi maior, os gritos que dava eram ouvidos, mesmo com a boca tampada
<br>como estava.
<br>
<br>Papo de Anjo solta Sandra ela se encolhe no ch�o. torce-se, bate-
<br>se, Baiacu puxa o colch�o da cama para perto da mesa, coloca-a
<br>em cima.
<br>
<br>� N�o se pode fazer barulho! � lembra Nogueira.
<br>
<br>Baiacu tira o cachecol.
<br>
<br>� E agora? Conseguiu lembrar?
<br>Nogueira acocora-se ao lado da garota.
<br>� Vamos l�, menina. N�o t� sendo legal. Desse jeito vai ficar
<br>aleijada e n�o adianta nada.
<br>Sandra est� sangrando pelo nariz, boca e ouvido, sacode a cabe�a,
<br>negativamente, demonstrando n�o saber o que pretendiam. Papo
<br>de Anjo torna-se furioso com aquilo. Coloca a grande m�o nos maxilares
<br>de Sandra, p�e-se a apertar, a apertar, os dedos afundando na
<br>pele branca, os olhos da pequena saltados, os gorgolejos que n�o conseguiam
<br>sair da garganta, a cara de Papo de Anjo se aproximando,
<br>Sandra com express�o de quem est� sendo esmagada.
<br>
<br>� Fala ou vou te moer os ossos!
<br>Nogueira interv�m, a enorme m�o afrouxa. Sandra cai de costas
<br>no colch�o.
<br>
<br>� Quem � o cara? Responde logo que a coisa t� engrossando.
<br>Sandra n�o diz, n�o responde, apenas chora, o sangue aumentando
<br>no nariz e na boca.
<br>
<br>� Se prefere assim, nada posso fazer � diz Nogueira.
<br>Papo de Anjo pisa no peito de Sandra.
<br>� Agora ela fala.
<br>A garota procura livrar-se do extraordin�rio peso, Papo de Anjo
<br>n�o se incomoda que lhe arranhe a perna. Pressiona cada vez mais,
<br>Baiacu mant�m as m�os na cabe�a e na boca, a fim de que os gritos
<br>da mulher n�o sejam ouvidos. Nogueira esfrega nervosamente o rosto,
<br>nunca vira Papo de Anjo fazer aquilo com ningu�m. 0 t�rax de Sandra
<br>afunda, como se todas as costelas fossem quebrar de vez. Baiacu
<br>d� finalmente um toque no companheiro, o enorme p� deixa de pressionar,
<br>Sandra desmaia. Nogueira pega �gua no banheiro, joga-lhe no
<br>rosto. Mesmo assim ela n�o se reanima. Baiacu aplica-lhe tapas, Nogueira
<br>ajuda, friccionando os pulsos. Quando Sandra se recupera, chora
<br>alto, quer gritar, erguer-se. As m�os firmes de Baiacu seguram-
<br>na, Papo de Anjo est� remexendo na geladeira, abrindo a �nica cerveja
<br>em lata. Bebe a cerveja de alguns goles, fica olhando a garota
<br>escornada no ch�o.
<br>
<br>� Quem � teu coleguinha? Basta dizer o nome dele e tudo bem.
<br>Sandra vai falar, tenta dizer as primeiras palavras, n�o consegue.
<br>� Vamos com calma. N�o precisa se afobar.
<br>� N�o sei onde mora. S� sei que se chama Toninho. � meu
<br>namorado. N�o sabia que tava nessa transa. Fiquei sabendo depois.
<br>� Por que n�o procurou a pol�cia?
<br>� N�o sou de dedurar ningu�m!
<br>� Muito bem. E onde ele pode ser encontrado?
<br>� �s vezes vai na boate.
<br>� Que boate?
<br>
<br>� Bacar�. Trabalho l� h� tr�s anos. Nunca me envolvi com
<br>nada.
<br>� Como � esse Toninho?
<br>Ainda a� Sandra tenta negar informa��o.
<br>� Vamos l� � insiste Nogueira. � Deixa de tolice. Chega de
<br>sofrer.
<br>� Alto, magro, alourado, uns 17 anos, t� sempre com casaco
<br>de couro.
<br>Sandra permanece jogada no ch�o, Nogueira manda que Papo
<br>de Anjo e Baiacu esperem. Sai apressadamente pelo corredor, procura
<br>sondar a vizinhan�a, desce pelo elevador de servi�o, encontra Galv�o
<br>que conversa com o porteiro. Chama-o de lado.
<br>
<br>� Como foi?
<br>� Mais f�cil do que esperava.
<br>� Ela t� bem?
<br>� Um pouco machucada. N�o conv�m ir l�.
<br>� Sei como �.
<br>� E daqui pra frente? � quer saber Nogueira.
<br>� Quem � o cara?
<br>� O namorado dela. Um tal de Toninho. Alto. alourado, 17
<br>anos, sempre metido num casaco de couro.
<br>� N�o me enganei. � esse mesmo.
<br>� Despacho o pessoal?
<br>� S� Baiacu. Papo de Anjo vai ficar. Se n�o se tomar essa provid�ncia,
<br>termina encontrando um jeito de avisar o namorado.
<br>� N�o tinha pensado nisso � afirma Nogueira.
<br>� Dispensa Baiacu, Papo de Anjo fica de plant�o. Amanh� ou
<br>depois, quando tiver melhor, ela vai pra boate. Como se tudo estivesse
<br>normal. N�o se deixa que entre em contato com ningu�m. Pe�o mais
<br>uns cinco ou seis homens pra Paranhos. Aviso que se t� na reta final.
<br>Como prometi.
<br>� Aceita Itamar, caso volte?
<br>� Dif�cil. N�o tem nada a ver com a gente. Nesse ponto o diabo
<br>do Paranhos acertou.
<br>� N�o acha melhor eu ficar no lugar de Papo de Anjo? N�o
<br>confio
<br>nesse cara!
<br>Galv�o percebe o alcance da observa��o.
<br>
<br>� � melhor. Manda ele tamb�m em frente.
<br>337
<br>
<br>
<br>Cap�tulo XVII
<br>
<br>UM
<br>
<br>A noite estava chuvosa. Toninho examinou bastante os jornais
<br>antes de sair da Pens�o Iola, reconferiu o dinheiro, viu o quanto havia
<br>gasto em pouco menos de tr�s semanas. Na verdade deveria encontrar
<br>outro meio de se virar. O gar�om trouxe o chope, as pessoas
<br>da noite entravam e sa�am, algumas alegres, outras soturnas, falando
<br>baixo, discutindo coisas sem import�ncia, olhando longe. Por tr�s
<br>do balc�o, dois pilantras, pele cor de cera, ambos calvos. Bebia o chope,
<br>acompanhava as andan�as do gar�om, de mesa em mesa, onde
<br>havia crioulos magros e mulheres de volumosos bra�os, vestidos apertados.
<br>Qual daqueles seria o Careca? Recorda as palavras de Marta,
<br>
<br>o �dio que parecia ter de Banda Branca. Inacredit�vel como todo
<br>mundo detestava aquele miser�vel alcag�ete. Pede outro chope, o gar�om
<br>vai at� o balc�o, um dos homens cor de cera movimenta-se, o
<br>copo est� diante de Toninho. Ainda n�o era hora de perguntar. Quando
<br>estivesse pelo terceiro ou quarto, indagaria. At� l� podia ser que
<br>aparecesse algum tipo mais �ntimo dos negociantes, bradasse seu nome.
<br>Como sempre acontece em botecos ordin�rios.
<br>Pela cal�ada do bar est�o passando constantemente as mulheres
<br>e os homens. Uma que parou diante da porta, mostrava as coxas, profundas
<br>olheiras, ar terrivelmente cansado. 0 excesso de pintura de
<br>nada adiantava. Toma o chope, olha os crioulos magros e as mulheres
<br>gordas, procura cobrir-se, caso o alcag�ete entrasse de repente. Afinal,
<br>pelo que dissera Marta, estava sempre rondando o Bar do Careca.
<br>N�o disse em que hora isso acontecia. Quase certo que aquele capeta
<br>nem dormia. Estava o tempo todo acordado, perseguindo uns e outros.
<br>Se aparecesse, suspenderia a gola do casaco, por causa da chuva fina,
<br>pagaria os chopes, ficaria na primeira esquina. Se isso acontecesse seria
<br>at� bom. Naquela noite mesmo podia resolver o problema. N�o
<br>ia mais perder tempo. Talvez nem procurasse saber de tantos detalhes.
<br>
<br>'Banda Branca!?
<br>
<br>
<br>Ele olharia. Sabe quem sou eu? Toninho, filho de seu Ven�ncio.
<br>0 cara que ajudou a sumir. T� lembrado, escroto de uma figa? Em
<br>cima disso os disparos. Tr�s no mesmo lugar, pra n�o botar defeito.
<br>S� ent�o se aproximaria. Se ainda estivesse mexendo, terminaria de
<br>mat�-lo a pontap�s. Disso n�o ia abrir m�o. Ficaria de focinho mo�do,
<br>pra servir de exemplo. Quando Enfezado soubesse, acharia gra�a.
<br>Ia apenas reclamar de n�o ter participado da festa. Ah, que �dio que
<br>Enfezado tinha. Bastava olh�-lo e se sentia isso. Cansou de ver gente
<br>boa se virar pra ele, irritada. Que � que t� olhando, garoto? Que foi
<br>que te fiz? Um olhar apenas e Enfezado dava o recado. 0 �dio no
<br>sangue, na pele, saindo no suor, no riso que era um deboche. Um
<br>permanente deboche. N�o acreditava que pudessem botar a m�o em
<br>Enfezado. Tinha �dio demais pra se deixar agarrar. No m�ximo, se
<br>conseguissem descobrir por onde andava, quando chegassem perto j�
<br>estaria morto. Ele pr�prio saltaria do planeta. N�o precisava de ningu�m
<br>pra empurrar. Cansou de dizer. E estava certo de que � o que
<br>faria. Enfezado entretanto na constru��o, atravessando a rua, uma
<br>cara de fazer medo. Ser� que conseguiria chegar na idade do pai, com
<br>tanta raiva? Imposs�vel. Mais dia menos dia estourava. Ningu�m
<br>podia ag�entar uma coisa daquela. Enfezado quase n�o ria. Nem mesmo
<br>quando estava com a corda toda e ele, Toninho, resolvia imitar
<br>meia d�zia de pilantras, inclusive o alcag�ete. No m�ximo fazia um
<br>riso nervoso. Logo a carranca se fechava. Riu bastante s� quando trepou
<br>na mulherzinha do sargento, ficou escanchado, abriu o canivete,
<br>deu o primeiro talho no pesco�o. Virou a cara porque aquilo lhe parecia
<br>demais. As pernas de Eunice se agitavam e ele segurando, como
<br>Enfezado mandara. Olhou para o garoto, continuava a rir. A �nica
<br>vez que o viu alegre. Ao subirem a escada, j� havia se fechado novamente.
<br>E assim ficou at� o momento em que se despediu, foi embora,
<br>a fim de pegar a tal carona. Quem seria esse motorista? Enfezado
<br>teve o cuidado de escolher o cara direito ou n�o havia motorista algum
<br>na jogada? Se fosse assim teria de tirar o chap�u. Toma outro
<br>gole de chope, ventos frios entram no bar imundo, Toninho surpreende-
<br>se de jamais ter imaginado esse detalhe. Se o motorista n�o exis
<br>
<br>
<br>tisse? Fosse tudo mutreta de Enfezado? Quem tem vontade de rir �
<br>ele. Diabo de garoto sabido! Mais uma raz�o pra confiar, saber com
<br>que estava lidando. E o certo � que, com toda a movimenta��o dos
<br>tiras, com toda a fala��o dos peritos e do detetive Silveirinha, at� ali
<br>n�o sabiam de Enfezado. Lan�aram dicas falsas, anunciaram um suspeito
<br>n�o sei onde, mas tudo onda. Verde pra colher maduro. Enfezado.
<br>Enfezado continuou sumido, as dilig�ncias prosseguiram, como
<br>prosseguem at� hoje. Apostava se a essa altura Banda Branca n�o estava
<br>a servi�o do tal Silveirinha e do sargento Beto. Mais um motivo
<br>para ser castigado. Podia lembrar isso tamb�m. Guarda esse, foi Enfezado
<br>quem mandou! 0 alcag�ete faria uma cara engra�ada. Aquele
<br>
<br>339
<br>
<br>
<br>era um pilantra de marca maior. Nunca aparentava aborrecimento.
<br>
<br>Encostava-se no balc�o da tendinha, seu Greg�rio servindo as doses de
<br>
<br>conhaque, Banda Branca falando das suas bravatas, dos "favores" que
<br>
<br>dizia fazer para uma por��o de gente do morro e, em troca, s� recebia
<br>
<br>coices. 0 negociante colocando mais conhaque e sabendo o quanto
<br>
<br>mentia o alcag�ete, pois sabia muito bem o que fizera a dona Zizinha,
<br>
<br>a mestre T�bor, sem falar em coisas menores com o pr�prio L�dio
<br>
<br>Gordo e com vov� Jandira.
<br>
<br>Cad� as telhas pra cobrir o barraco, vov�? Ela punha as m�os
<br>nas cadeiras, fazia um arzinho de riso que era ao mesmo tempo de
<br>desapontamento. Aquele Banda Branca ainda vai ser castigado. T�
<br>abusando dos pobres, n�o respeita os devotos de Iemanj�. Um dia a
<br>casa cai. N�o vou cobrar mais o dinheiro das telhas. Que fique pra
<br>ele. S� espero que n�o venha a sofrer. Me sentiria muito infeliz se
<br>isso acontecesse. E a� tornava a fazer o arzinho de riso e todos que
<br>estavam na birosquinha tamb�m achavam gra�a. Os mais velhos tiravam
<br>o chap�u quando vov� Jandira sa�a. Tinham considera��o pela
<br>mulher. Uma das mais antigas moradoras do morro da Babil�nia.
<br>Quando chegou ali e plantou seu barraco, n�o havia quase ningu�m.
<br>Mesmo assim os que j� estavam foram embora. Houve um tempo em
<br>que s� havia o seu casebre e todo mundo dizendo que a Prefeitura
<br>ia mandar arrancar, pois ali o senhor prefeito n�o ia consentir que
<br>se fizesse uma nova favela. Ingenuamente vov� Jandira argumentava
<br>que n�o conhecia o senhor prefeito, n�o sabia se aquele morro tinha
<br>dono e por isso l� estava com a gra�a de Iemanj�. 0 tempo foi passando,
<br>o barraco de vov� Jandira de p�, outros favelados aparecendo
<br>e, em pouco, havia uma comunidade. Foi assim. N�o adiantou Banda
<br>Branca se mancomunar com os grileiros que, vendo a Prefeitura incapaz
<br>de controlar a situa��o, tentaram apoderar-se dos terrenos. Nessa jogada
<br>Banda Branca tamb�m entrou e terminou ganhando bastante
<br>dinheiro. Arranjava fam�lias pobres que compravam os terrenos dos
<br>grileiros e vov� Jandira achava gra�a da esperteza dos malandros, pois
<br>na verdade aquele morro n�o pertencia a ningu�m, muito menos a
<br>eles. Provavelmente, foi da� em diante que o alcag�ete ficou com raiva
<br>da velha. Enganou-a finalmente no neg�cio das telhas mas de nada
<br>adiantou. Vov� Jandira tem sa�de de ferro e, sendo devota de Ieman
<br>
<br>
<br>j�, nada lhe acontece.
<br>Se n�o encontrasse Banda Branca no bar, iria novamente ao morro.
<br>N�o como das outras vezes. Subiria depois das dez, tocaria no barraco
<br>de vov� Jandira. Conforme as coisas, faria uma visita de surpresa
<br>ao alcag�ete. Quem iria se incomodar com alguns tiros abafados,
<br>sa�dos do barraco de Banda Branca? Embrulharia a m�quina num
<br>pano, acionaria o gatilho. Estaria ainda morando com as irm�s ou
<br>elas se mandaram, como viviam amea�ando? Vov� Jandira saberia. Toma
<br>o terceiro chope, o rosto se ilumina. Nesse momento entrou no
<br>
<br>
<br>boteco um tipo alto e magro, blus�o fora das cal�as, listras vermelhas
<br>e azuis, bate as m�os fortes no balc�o, grita como � seu Careca c a
<br>canja de galinha? Cad� a canja de galinha? Um dos homens continua
<br>s�rio mas o outro, o que tinha calva menor � quem acha engra�ado,
<br>enquanto o sujeito continua a provoc�-lo, a dizer Careca tu n�o
<br>
<br>� de nada, j� foi o tempo, agora esta merda por aqui t� toda mudada,
<br>n�o se encontra cara com disposi��o de pegar na navalha, meter na
<br>ponta do sapato, sair desenhando na fachada da clientela. Depois desse
<br>acesso de lembran�as o tipo encosta no balc�o, uma das pernas dobradas,
<br>descansa os cotovelos no m�rmore, Careca destampa a garrafa
<br>de cacha�a. Toninho ouve o l�quido caindo dentro do copo. O homenzarr�o
<br>joga um pouco da cana para o Santo, sacode de uma vez o resto
<br>no bucho. Continua com o bra�o estendido, Careca larga a segunda
<br>dose, ainda mais alentada, o homem repete o gesto, esfrega a costa da
<br>m�o nos bei�os gretados, de quem est� acostumado a beber, fala baixo,
<br>o gar�om diz alguma coisa, mesmo sem se voltar o tipo rebate,
<br>numa prova de que era de fato popular por ali, sabia quem lhe falava
<br>at� mesmo sem que se preocupasse em olhar. L� pelas tantas Careca
<br>torna a rir alto, o homenzarr�o come�a um discurso que interessa
<br>a Toninho.
<br>
<br>� J� disse pra Zita. Manera que a turma baixa mesmo. Aquele
<br>careta que t� na frente da opera��o n�o � moleza. Metido a nesta
<br>que nem ele s�. Vive dando esbregue em tudo que � de subalterno.
<br>Comigo � que se fode. S� respeito aquela porcaria quando tou debaixo
<br>da farda. Fora dela, se me olhar atravessado vai levar um risco
<br>nas costelas.
<br>� E depois, como � que fica?
<br>Pela primeira vez o homem se volta completamente para o sal�o,
<br>diz alguma coisa ao gar�om, responde � considera��o do Careca.
<br>
<br>� Depois se pega uma cana e sai pra outra. Cadeia n�o foi feita
<br>pra cachorro!
<br>� Acho bom Zita chegar no que o homem quer. Se fosse voc�
<br>dizia isso.
<br>� E j� n�o disse? Ela � que t� sendo teimosa.
<br>Toninho aguarda que a qualquer momento o homenzarr�o mencione
<br>Banda Branca mas isso n�o acontece. E, pelo sim, pelo n�o,
<br>chama o gar�om, paga os chopes, vai embora. Se aquele tipo era tira,
<br>devia haver outros por perto. N�o podia arriscar-se numa hora daquela,
<br>num local que n�o conhecia. Sai para a rua larga, pilantras bolinando
<br>mulheres, homossexuais e mendigos numa promiscuidade de
<br>fazer d�, uma das bichas chamando Toninho, querendo agarr�-lo. Na
<br>esquina de menos movimento fica parado, atento ao bar. Espera bastante,
<br>o homenzarr�o que falava alto com Careca saiu, entrou na casa
<br>de Zita. Toninho imagina que seria o mesmo assunto ainda sendo
<br>tratado. N�o fazia id�ia do que fosse, mas a coisa devia girar em lor
<br>
<br>
<br>
<br>no de alguma propina que o tal chefe do comando queria, a caftina
<br>estava recusando. Nesse caso o tipo de blus�o listrado era uma esp�cie
<br>de intermedi�rio, Careca funcionava como conselheiro, provavelmente
<br>levando algum da mulher e dos tiras. Eta cambada de negociante!
<br>Tudo igual a seu Greg�rio. Um santinho, sempre falando da mulher,
<br>das filhas e comendo Marta cada vez que descia do morro pra abastecer
<br>a birosca. Filho da puta! Arrochando a garota que n�o queria nada
<br>com ele. Foi muito bom saber disso. Enfezado tinha raz�o. N�o devia
<br>confiar naquele tipo. Alegrava-se de nunca ter procurado conversa
<br>com ele. Nas vezes que entrou na tendinha foi mais para ouvir. Quando
<br>dizia alguma coisa, pesava bem as palavras.
<br>
<br>Ap�s muito esperar sem qualquer resultado, decide ir embora.
<br>Provavelmente o alcag�ete estivera por ali, mais cedo. Sendo fim-desemana,
<br>devia ter v�rios locais para achacar. N�o podia demorar-se
<br>em nenhum. Voltaria outro dia, iria ao morro, falaria com vov� Jandira.
<br>Esse o caminho mais curto. A n�o ser que tivesse mudado, mantivesse
<br>o barraco apenas como desculpa.
<br>
<br>Entra no primeiro �nibus, resolve ir � constru��o, em poucos
<br>instantes est� passando por ruas tranq�ilas, casas fechadas, l�mpadas
<br>acesas, o tr�fego torna-se intenso depois do t�nel, o ar parece
<br>mais leve, salta na cal�ada onde h� panificadoras abertas, as pessoas
<br>passam despreocupadas, puxando cachorros, tudo muito diferente daquele
<br>mundo onde habitavam Marta, Zita, Careca e aquele estranho
<br>tipo do blus�o de listras vermelhas e azuis. Como coisas e pessoas mudavam
<br>de repente, bastava tomar um �nibus! Isso Toninho n�o entendia.
<br>Quer esquecer a figura da mulher, tremendamente pintada e
<br>de olheiras, coxas de fora, n�o consegue. De onde saiu aquela criatura?
<br>Que fazia na cal�ada, quando a chuva ca�a, insistente? Esperava,
<br>com aquela cara, ainda conseguir companhia? Oh, como estava enganada.
<br>Nenhuma caftina lhe daria mais chance nos bord�is. Se quiser
<br>uns trocados, encontrando-se com os homens, tem de trepar junto
<br>aos postes, nos cant�es, encostada nas paredes dos pardieiros. Aquela
<br>coitada s� podia satisfazer mendigos e os mais porcos dos homossexuais.
<br>Tipos que n�o gostam de relacionamento. Utilizam a prostituta
<br>como quem utiliza papel higi�nico. Recorda a figura alegre de
<br>Sandra, v� a dist�ncia que a separa da mulher da cal�ada e da pr�pria
<br>Marta, embora estivesse indo no mesmo caminho. Com o passar
<br>dos anos, se n�o abrisse o olho. estaria debaixo da chuva, diante do
<br>bar, esperando ser convidada. Acontece que ningu�m a convidaria
<br>mais para coisa alguma. Os poucos que a olhassem, simplesmente achariam
<br>gra�a ou voltariam o rosto, a fim de n�o continuar vendo aquilo.
<br>
<br>Toninho segue pela rua, entra na constru��o. Como sempre,
<br>
<br>algumas l�mpadas penduradas aqui e ali, Man� Cabreiro no posto.
<br>
<br>� Poxa! Onde se meteu?
<br>
<br>Sorri, ajusta o casaco, tira o ma�o de cigarros, oferece ao vigia
<br>que fica com dois.
<br>
<br>� Uma novidade do cacete!
<br>� Que foi?
<br>� Brezol� � p� frio, mesmo! Ferrolho n�o ag�entou o tranco,
<br>morreu semana passada. Ti�ozinho e Josias foram ao enterro.
<br>� E agora?
<br>� Ainda pergunta? 0 pr�prio advogado disse que vai gramar
<br>cadeia no m�nimo cinco anos. Mesmo com a desculpa de que foi
<br>acidente.
<br>� E como vai provar?
<br>� O pessoal t� disposto. At� eu, se for preciso, livro a barra
<br>dele.
<br>� E a turma que tava querendo me esfolar no baralho?
<br>� Tudo l� em cima � diz o vigia ap�s gritar duas ou tr�s
<br>vezes por Rox�o.
<br>DOIS
<br>
<br>As duas da madrugada, quando Toninho sai da constru��o,
<br>perdeu mais de dois mil cruzeiros. Acende um cigarro, d� outros a
<br>Man� Cabreiro.
<br>
<br>� Hoje n�o � teu dia, cara!
<br>� Tudo bem. N�o se pode ganhar sempre.
<br>� Me alegra que pense assim. N�o tava com sorte no jogo mas
<br>tem guia forte.
<br>� Que t� querendo dizer?
<br>� Ti�ozinho se preparou pra te arrochar.
<br>� Que foi que fiz pra ele?
<br>� Diz que te viu mexendo na roupa do Brezol�.
<br>� Me viu?
<br>0 vigia sacode a cabe�a, passa a m�o no nariz.
<br>� N�o acredito nisso. T� sabendo. Mas os outros. . . sabe
<br>como �!
<br>� Por que n�o tocou no assunto?
<br>� Josias ganhou, vai dividir.
<br>Toninho acha por bem n�o encompridar aquela conversa. Bate
<br>no ombro de Man� Cabreiro, sorri, vai embora. N�o pode esquecer
<br>aquela do Ti�ozinho que sempre se mostrara sonso, falando pouco.
<br>Vai ver, no dia em que pegou as roupas, o filho da puta tava apenas
<br>fingindo dormir. Viu tudo e se amoitou, esperando a hora de atacar.
<br>
<br>
<br>Tipo ordin�rio. N�o retornaria � constru��o. N�o tinha mais o que
<br>fazer ali, principalmente depois da morte de Ferrolho e da cana firme
<br>que pegaria Brezol�. At� sair n�o teria mais nem condi��o de
<br>reconhec�-lo. Estaria em outra, provavelmente mudaria de cidade
<br>com Sandra, quem sabe at� fossem para o estrangeiro. L� ela teria
<br>mais condi��o, cantaria samba para argentinos e uruguaios, poderiam
<br>dar um giro pela Europa. 0 sonho de Toninho era ir � Europa.
<br>Mestre T�bor lhe falava de Roma e Paris. Uns tempos em que trabalhou
<br>como soldador na Marinha. Foi num navio de guerra, por l�
<br>ficou mais de um m�s. 0 navio deu defeito, tiveram de esperar. Falava
<br>da neve que pegava com a m�o, da neve nas ruas e sobre as
<br>casas. Sonhava fazer o mesmo. Conhecer Paris, junto com Sandra.
<br>Ela adoraria trabalhar por l�. Ia ser uma outra vida. N�o precisava
<br>procurar mais Man� Cabreiro, ficar ouvindo suas piadinhas sem
<br>gra�a. At� que ponto aquilo que o vigia dizia era verdade e at� que
<br>ponto era inven��o, a fim de mant�-lo permanentemente assustado?
<br>Come�ava a desconfiar daquele nordestino cara de bolacha, que ria
<br>com a maior facilidade e estava sempre falando de coisas que os
<br>companheiros teriam comentado.
<br>
<br>Na esquina o �nibus continua parado. D� uma carreira, entra
<br>com as �ltimas pessoas. Agora, mais do que nunca, estava decidido.
<br>Seria o �ltimo golpe. Teria de repor o dinheiro no cofre. Do contr�rio
<br>n�o poderia nem ag�entar-se, quanto mais alimentar o plano
<br>de tornar Sandra uma cantora, ir com ela por lugares long�nquos,
<br>onde n�o pudesse sequer recordar Man� Cabreiro, Ti�ozinho, Brezol�,
<br>Banda Branca e a mulher da porta do bar, olhos fundos, coxas
<br>sujas de lama e chuva.
<br>
<br>Senta ao lado de um sujeito que morrinha, o �nibus dispara, na
<br>parada seguinte entra a velhota com a maleta, quer saber se o carro
<br>vai para a Rodovi�ria, o cobrador dizendo um "vai" de m� vontade,
<br>a velhota fazendo novas considera��es, o homem calado, como se n�o
<br>estivesse disposto a dizer mais nada. 0 crioulo no primeiro banco foi
<br>quem se p�s a falar, a dizer as ruas do itiner�rio, a velhota ainda n�o
<br>conformada, a conversa se alongando, tornando-se chata, desagrad�vel,
<br>Toninho querendo que o �nibus chegasse logo ou vagasse um lugar
<br>mais para a frente, a fim de sair de perto do tipo fedorento, da megera
<br>idiota.
<br>
<br>Quando a mocinha sai do banco, perto do motorista, trata de tomar
<br>o lugar. Agora sim, o ar parecia leve, as brisas sacudiam-lhe os
<br>cabelos. N�o tinha que respirar o fedor do careta, n�o tinha de ouvir
<br>os murm�rios da velhota, n�o se enervava com o nervosismo do trocador,
<br>mulato balofo, fei��es grosseiras, cal�a arrega�ada. Enquanto
<br>
<br>o �nibus passava por ruas que n�o sabia o nome, nem estava interessado,
<br>imaginava detalhes do golpe. Entraria na Rodovi�ria, subiria a
<br>escada rolante, faria um pouco de hora, compraria jornais, p�es de
<br>
<br>centeio, biscoitos, mandaria o balconista preparar o embrulho para
<br>viagem. Capricha amigo, vou pra longe. Juntaria os jornais, a fim de
<br>parecer mais volumoso. Isso mesmo. Seguraria o embrulho, tiraria o
<br>casaco, colocaria por cima, acompanharia os que estavam na fila de
<br>t�xi, um policial ou dois controlando. N�o fosse isso os passageiros se
<br>estrepavam. 0 chofer botaria a cabe�a para fora, perguntaria em que
<br>dire��o estavam indo, meteria uma primeira na raiva. N�o � pra l�
<br>que vou! Tou recolhendo, quero ir pra perto de casa. Gra�as � fiscaliza��o
<br>o papo dos motoristas era outro ou nem havia. Os carros chegavam,
<br>o policial indicava. Embarque naquele. Pode tomar o de !�.
<br>0 senhor e a senhora, no TL azul. Os motoristas saltavam, ajudavam
<br>com a bagagem, cada um mais irritado que o outro. Toninho n�o
<br>sabe por que aqueles homens andavam sempre irritados. Todos, na
<br>verdade, pareciam-se com o portugu�s careca que aparecera no morro,
<br>no dia do sepultamento da m�e, discutira � be�a com mestre T�bor
<br>e at� com seu Greg�rio. 0 careca come�ou reclamando das ladeiras,
<br>depois dos buracos e, finalmente, da espera, porque dona Julinha e
<br>vov� Jandira tinham ido procurar mais flores nos quintais. Onde j�
<br>se viu semelhante coisa? Os pilantras trabalhavam no conforto, sentados
<br>em banco macio, rodando daqui para ali. passando por lugares
<br>bacanas e ainda reclamavam. Imagine se tivessem de tirar tamp�o de
<br>bueiro de esgoto, entrar com �gua de merda at� a ciutura, manejar vergalh�es,
<br>sem luva sem nada, gingar no sol quente, segurando o cabo
<br>de uma britadeira, dessas que esburacam asfalto dia e noite. Ora, que
<br>esses motoristas fossem � merda! Se arrepende de n�o ter dado uma
<br>resposta ao maldito portugu�s, que reclamou tanto, que chegou a
<br>desrespeitar mestre T�bor. Ah, se algum dia o encontrasse! Agora,
<br>estaria bem mais velho, ranzinza. Ia ser engra�ado. Recordaria do dia
<br>em que lhe deu na cabe�a subir o Babil�nia. Faria com que lembrasse
<br>da situa��o que criara. A�, sem d� nem pena, acionaria o gatilho. Na
<br>cara. Por cima das fu�as. Pra estourar os miolos e a merda toda, de
<br>dentro da cuca, derramar na porcaria do carro que lhe causava tanto
<br>ci�me. Nunca p�de esquecer aquele homenzinho atrevido, resmung�o,
<br>que s� pisava no acelerador, quando todo mundo eslava querendo que
<br>fosse mais devagar. Nos momentos em que podia desenvolver, de pirra�a,
<br>ia segurando, a fim de irritar mestre T�bor. Por sorte o velho
<br>oper�rio tinha paci�ncia de J� e a viagem terminou sem incidentes.
<br>Mas s� chegaram ao cemit�rio quando a Kombi da Santa Casa estava
<br>estacionada e o motorista indignado com o atraso do portugu�s. 0 que
<br>� que t� querendo, rapaz? Vencer aquela buraqueira na Kombi � uma
<br>coisa, num autom�vel � outra. De mais a mais a Kombi n�o � tua,
<br>pode quebrar que botam outra no lugar. Meu Pacard foi pago com o
<br>suor do rosto. Trato bem dele. Igual ou melhor que a uma mulher.
<br>
<br>Achava at� gra�a. 0 mundo d� voltas, um dia terminava encontrando
<br>
<br>
<br>com aquele portugu�s. Ia reconhec�-lo no primeiro contato. Seria imposs�vel
<br>esquecer sua cara atrevida.
<br>
<br>Ao entrar pela rua estreita, muitas pessoas desceram do �nibus.
<br>Ficaram apenas umas dez ou doze que iam at� o ponto final, na Rodovi�ria.
<br>Quando o carro chegou por l� o trocador de cara balofa levantou,
<br>fez gracinha, dizendo que o conforto havia terminado. 0 �nibus
<br>permaneceu de motor ligado, desceram o trocador e o motorista.
<br>Ambos foram para o carrinho que vendia pipoca e laranjas. O carrinho
<br>era iluminado com um pequeno buj�o de g�s. N�o havia quase
<br>fila na Rodovi�ria mas l� estavam os policiais. Toninho seguiu junto,
<br>com diversas pessoas, inclusive a velhota que carregava a maleta e
<br>reclamava, chegou � loja de doces e biscoitos de todos os tipos. Escolheu
<br>alguns pacotes de biscoitos, um pudim dos grandes, um p�o de
<br>centeio, outro integral, uma lata de goiabada. Na porta da loja havia
<br>uma banca de jornais. Mandou o homem esperar, pegou as folhas que
<br>sa�am por �ltimo, p�s no embrulho. Refor�a, amizade, que vou pra
<br>longe. 0 caixeiro n�o fez coment�rio, mas utilizou-se de nova folha
<br>de papel. Passou v�rias vezes o cord�o, cruzou, deu n�s, alongou as
<br>pontas, tran�ou-as, fez uma al�a. Exatamente o que precisava. Toninho
<br>j� estava com o casaco tirado, pagou o negociante, recebeu o
<br>troco, atravessou o longo corredor que vai para o setor de desemboque,
<br>muita gente movimentando-se �quela hora, �nibus e mais �nibus
<br>saindo e chegando, alguns com os far�is acesos, molhados de chuva.
<br>
<br>Entrou na fila que n�o tinha mais de 20 pessoas, foi se aproximando
<br>do ponto, o homem � sua frente com mais de quatro malas,
<br>cada vez que as pessoas andavam ele iniciava um tremendo exerc�cio,
<br>a fim de deslocar todas as malas, Toninho imaginando a raiva do
<br>motorista quando visse aquilo. Perto do policial o cara se explica:
<br>gostaria de tomar um carro grande, as malas est�o pesadas, chegara
<br>ao Rio com a mulher e duas filhas, a patroa terminou passando mal,
<br>tomou um carro do lado de l� e eu fiquei com a bagagem. O policial
<br>ouvindo a lengalenga, dizendo que isso de tomar t�xi do outro lado
<br>n�o podia, se tivesse visto multaria o chofer, o homem sorrindo, querendo
<br>disfar�ar, outro policial indicando a Toninho o TL vermelho,
<br>caindo aos peda�os. Entra, o carro arranca, batendo tudo que � de
<br>pino, o chofer incomodado com o homem das malas, antes mesmo de
<br>perguntar para onde Toninho estava indo.
<br>
<br>� Se fosse o policial ia era abrir aquelas porcarias. Vou apostando
<br>que � contrabandista.
<br>Toninho aproveita para incentivar, o cara a 80 quil�metros e a
<br>lata velha continua a desenvolver, a atravessar ruas. a fazer curvas
<br>fechadas.
<br>
<br>� Comigo n�o tem moleza.
<br>� Sei l� � argumenta o garoto � vai ver o imbecil t� mesmo
<br>com a mulher doente!
<br>
<br>� Que mulher que nada. Isso � tudo truque. Mutreta.
<br>Na Presidente Vargas � que o motorista pergunta para onde est�o
<br>indo e Toninho n�o perde a calma.
<br>
<br>� Come�o da Estrada da G�vea. Depois de um ponto de �nibus.
<br>0 cara ouve e n�o diz nada, continua a avan�ar velozmente, n�o
<br>p�ra nos sinais fechados, disputa na entrada da curva com o Gal�xie,
<br>passa na frente, torna a recordar o caso das malas e do homem se
<br>explicando ao policial.
<br>
<br>� Quer saber? Outro dia um casal de velho fez sinal, segurei o
<br>carro em cima, pra manerar pro lado deles. Acontece que n�o deu pra
<br>parar bem perto. Fiquei uns vinte metros de onde tavam. Sabe o que
<br>aconteceu? Pegaram outro t�xi. V� s� que filhos da puta! N�o se
<br>tem de amaciar com essa canalha. Cada ura procurando esfolar o outro.
<br>Simplesmente, se fosse minha vez, ia dizendo: olha aqui, seu guarda,
<br>os amortecedores dessa geringon�a t�o l� embaixo. N�o me responsabilizo.
<br>� �! Seria uma boa. 0 do carro de tr�s que arranjasse outra
<br>desculpa � afirma Toninho.
<br>� 0 outro que se foda. Aqui � cada um por si e ponto final.
<br>Isso � o emprego mais sacana que inventaram.
<br>� Olha, tem coisa ainda pior. J� imaginou sair por a�, quebrando
<br>asfalto no sol quente e na chuva?
<br>� N�o sei se � pior, chapa. Tu n�o sabe nem de metade da
<br>ladainha.
<br>TR�S
<br>
<br>Abre a janela, a noite � escura e chuvosa, os ventos s�o frios.
<br>Deixa os ventos entrar. Est� suado, agitado, o grande embrulho sobre
<br>a mesa. Ah, como se arrepende de ter feito tudo aquilo, conduzindo
<br>o miser�vel embrulho. Devia ter comprado menos coisa ou largado
<br>aquela porcaria numa lata de lixo. Mas tudo ali podia ser aproveitado.
<br>Teria o que lanchar durante algumas semanas. Destampa a
<br>lata de goiabada, procura a faca no arm�rio, encontra apenas uma
<br>colher. Lava, tira um peda�o do doce. Fica comendo, olhando pela
<br>janela, os ventos frios envolvendo-o de car�cias, agora que tirara a
<br>camisa, os sapatos, estava s� de cal�a. Ao lado do embrulho, o rev�lver,
<br>a carteira de cigarros, o isqueiro, o ma�o de c�dulas. Ainda n�o
<br>tivera tempo de conferir. Todavia, estava certo de que o golpe n�o
<br>fora in�til. E o pilantra que se julgava t�o escolado, n�o percebeu
<br>qualquer movimento. Disso tinha certeza. Um disparo s�, a m�quina
<br>
<br>
<br>embrulhada no len�o, o moleque embarcou no meio de um papo sem-
<br>fim, novamente recordando o homem das malas, fazendo amea�as.
<br>Vontade de rir. Ah, que motoristas idiotas! Sempre reclamando da
<br>vida, sempre zangados com os passageiros, e o dinheiro camuflado:
<br>no porta-luvas, por baixo do tapete, por baixo dos bancos, dentro dos
<br>sapatos. E como aquela prolongada revista dava trabalho. Pega o
<br>ma�o de notas, estira-se na cama, vai contando de uma a uma, deixando
<br>cair no ch�o, por cima do tapete. Quando chega em 800, � tomado
<br>de surpresa. Surge embolada com c�dulas de 1 e de 5, a segunda
<br>nota de 500. Filho da puta do motorista. Uma cara de rato.
<br>desespero de rato, e a f�ria amoitada; nisso o desgra�ado n�o falava,
<br>fazia era reclamar, reclamar, como o portugu�s que subira o morro.
<br>Quanto mais t�m, mais querem. � isso a�. N�o se contentam. Detestava
<br>aquela cambada. Que se estrepassem. Depois daquele golpe tiraria
<br>f�rias. Mas o novo caso seria bastante para enlouquecer o detetive
<br>Galv�o e seus auxiliares. Procurando o matador louco por todos os
<br>lados, dando garantia aos l�deres sindicais e ali estava. Mais um careta
<br>abotoado. Apontou na altura do ouvido, a m�quina pipocou. S� a�
<br>
<br>o motorista deixou se falar no homem das malas. O que tinha com a
<br>vida do pobre-diabo? Se queria carregar quatro, seis, dez malas, que
<br>carregasse; se o policial achava direito, que se lixasse. Ele, o carregador,
<br>o motorista, todo mundo. N�o queria mais ouvir aquele assunto
<br>e o pilantra n�o se mancava. Ergue-se, termina de desfazer o embrulho,
<br>guarda os pacotes de biscoitos, o grande p�o-de-l�, que fatalmente
<br>ia estragar, a n�o ser que desse para seu Jos�. Mas por que,
<br>de repente, chamar o faxineiro e entregar-lhe o p�o-de-l�? N�o ia
<br>acreditar. Comeria o que fosse poss�vel, o resto jogaria fora.
<br>Pega os jornais, volta � cama, os ventos frios entrando, mexendo
<br>nas toalhas estendidas no barbante, sacudindo a porta do arm�rio que
<br>nunca se mantinha fechada. Quando se esquecia de trav�-la com papel
<br>dobrado, era aquilo. Uma quantidade de m�veis e todos despencando.
<br>Dona Berta conservava aquela porcaria no quarto para fazer
<br>vista. Era isso. De qualquer forma, estava seguro. Ningu�m saberia
<br>seu endere�o, Man� Cabreiro nem desconfiava. Ti�ozinho que se danasse.
<br>Se resolvesse dar com a l�ngua nos dentes, que desse. Entraria
<br>de f�rias, s� sairia para encontrar Sandra, procurar Banda Branca.
<br>N�o tomaria t�xi t�o cedo. Se Ti�ozinho se arriscasse na deduragem,
<br>ia perder tempo. N�o leria por onde come�ar. Ficaria mofando num
<br>banco de Delegacia. N�o abrisse o olho. terminaria enrolado. Os tiras
<br>fariam perguntas, queria ver ele ter talento de responder. Provavelmente,
<br>nem chegara a dizer nada. Tudo inven��o de Man� Cabreiro.
<br>Vai ver, desejava tomar algum, saiu com aquela. Olha o notici�rio,
<br>novamente o seq�estro do filho do industrial, uma das testemunhas
<br>querendo envolver Nestor, detetive encarregado do caso. Acha gra�a
<br>de como as coisas mudam de repente, o feiti�o contra o feiticeiro. Logo
<br>
<br>
<br>a seguir Nestor se esplicando, dizendo tratar-se de uma inf�mia a
<br>acusa��o de estar mancomunado com os seq�estradores, a fim de dividirem
<br>o pr�mio. Fassa a p�gina, achando que onde h� fuma�a h�
<br>fogo, a testemunha n�o ia bolar uma quente daquela se n�o tivesse
<br>base. Imagina a cara do tira, a vira��o em que estava, a fim de livrar
<br>
<br>o pesco�o do cutelo. A mesma coisa ia acontecer com Galv�o. Disso
<br>estava certo. Mais dia, menos dia, arranjaria o jeito de lev�-lo para
<br>o beco sem sa�da. Desmoralizado, n�o teria como continuar aquela
<br>persegui��o, na qual j� ningu�m acreditava, muito menos os jornais
<br>que haviam reduzido espa�o para as mat�rias. Temia apenas que
<br>Banda Branca tivesse se mandado para Minas, a fim de desencavar
<br>Enfezado. Reconhecia n�o ter a carca�a dura como o amigo. Talvez
<br>chegasse a esse ponto, mas ainda precisava de tempo. Se me pegarem,
<br>por um azar qualquer, pode ficar tranq�ilo: ag�ento a barra. O m�ximo
<br>que podem fazer � me matar. Enfezado n�o tinha ilus�es. Nunca
<br>lhe contara nada agrad�vel. Fora os papagaios que empinavam, nada
<br>havia de importante para ele. Vamos puxar um carro, passear por a�?
<br>Pra qu�? 0 que � que tem pra ver que ainda n�o viu? A gente pega
<br>umas garotas, entra numa boa. Sacudia negativamente a cabe�a. N�o
<br>gostava das garotas ou havia algum outro problema? Por que n�o se
<br>atreveu a ir com Marta, j� que todo mundo podia lev�-la para a
<br>cama? N�o topava comigo, antes, quanto mais agora que sou aleijado.
<br>A desculpa n�o colava. Sabia disso. Pega o segundo jornal. Novamente
<br>o caso do seq�estro e, num quadro, as declara��es do secret�rio. L�
<br>com calma, procurando refletir em cima de cada linha. N�o havia
<br>nada de mais. Tudo conversa. Planos, amea�as, uma forma de contentar
<br>os leitores. Enquanto isso, o pobre do Garanh�o ag�entava a
<br>barra. Cansara de ver suas fotos nos jornais, nas revistas, na televis�o.
<br>Todo mundo fazendo pergunta, tudo que era de rep�rter querendo se
<br>mostrar, o crioul�o s�rio, dizendo algumas palavras, como se estivesse
<br>ensaiado. Ah, que ordin�rio aquele detetive Galv�o! Fazia qualquer
<br>neg�cio. Arranjou o crioulo pra bancar o crime, o safado desempenhava
<br>bem o papel. Qual seria a jogada? Quanto Garanh�o estaria levando?
<br>Negro vivo. Depois de um certo tempo podia se mandar, recome�ar
<br>a vida, o detetive Galv�o recebia promo��o. Coisas assim.
<br>Quantas vezes ouvira Banda Branca falando dessas bravatas, citando
<br>os que apareciam nas reportagens como amigos, companheiros de averigua��es.
<br>Na verdade o alcag�ete n�o se mistura. 0 policial do quadro
<br>n�o quer aproxima��o. Trata-o como se tratam os c�es. � chamado
<br>no momento em que interessa. A�, algu�m estala os dedos, joga migalhas,
<br>l� se vai o nojento do alcag�ete, farejando caminhos, pegadas,
<br>buracos de esgoto, catando na merda, remexendo no lixo. Isso o que
<br>Banda Branca n�o dizia, n�o queria que ningu�m no morro soubesse.
<br>Mas por ali n�o havia bobo. Se sabia de tudo. Cada dia uma informa��o
<br>somando-se a outras informa��es.
<br>
<br>Antes de jogar o segundo jornal no ch�o Toninho conclui ser
<br>oportuna sua ida ao morro. Procuraria saber por quanto vov� Jandira
<br>alugara o barraco, mandaria ficar com o dinheiro. Quando pensasse
<br>que tinha ido embora, arranjaria um jeito de meter-se no casebre de
<br>Banda Branca. A n�o ser que as irm�s ainda morassem por l�, o que
<br>duvidava. Se assim fosse, seu Greg�rio teria informado. N�o acontecia
<br>nada por ali que o negociante n�o soubesse. Era olhos e ouvidos
<br>de todo aquele morro. Nem tio Donga sabia tanto. 0 birosqueiro gostava
<br>de um papo, se alongava, a fim de colher detalhes. Qual a jogada
<br>de seu Greg�rio?
<br>
<br>Se Banda Branca estivesse sozinho. . . Ah, como ia ser oportuno.
<br>Fecharia a porta, embrulharia a m�quina num pano. Seria um momento
<br>de felicidade. No dia em que conseguisse fechar o alcag�ete,
<br>demoraria no barzinho, pagaria chope pra todos os amigos de Sandra;
<br>at� mesmo pros que n�o conhecia. Ia festejar. Sem aquele capeta na
<br>jogada, teria mais condi��o de movimentar-se e, estava certo, jamais
<br>algu�m colocaria as m�os em Enfezado. Isso mesmo. Acordaria cedo,
<br>subiria o morro.
<br>
<br>QUATRO
<br>
<br>� Seu Jo�o Eduardo, fa�a favor!
<br>Toninho aproxima-se da portaria, dos bra�os brancos e gordos de
<br>dona Berta.
<br>
<br>� Jo�o Leonardo!
<br>A mulher sorri.
<br>� Meu Deus! Acho que n�o vou decorar seu nome, nunca!
<br>Enquanto diz isso dona Berta remexe numa caixinha comprida,
<br>cheia de fichas. Retira uma.
<br>
<br>� Vai ter de preencher novamente. Mudaram o formato.
<br>� N�o tem problema. Logo que volte.
<br>A mulher torna a sorrir, os olhos s�o de peixe morto, Toninho
<br>vai embora. Por que ser� que sempre o chamava com o nome trocado?
<br>Desejaria test�-lo? Que porra de mulher era aquela que n�o sabia
<br>nem os nomes dos h�spedes? Por que j� n�o falara com o faxineiro,
<br>n�o lhe dera uma boa nota, a fim de saber sobre dona Berta? Uma
<br>falta grave. Cada vez mais protelando um assunto que podia ser da
<br>maior import�ncia. Reconhecia o quanto estava se tornando desleixado,
<br>abrindo flancos. E se o diabo da mulher tivesse liga��es, fosse
<br>mais atenta do que parecia?
<br>
<br>
<br>No ponto de t�xi, entra no primeiro que encontra, manda tocar
<br>pra Copacabana.
<br>
<br>� Toneleros. Perto da Panificadora Royai. Sabe onde �?
<br>0 homem gordo e vermelho diz que sim.
<br>� � uma das panificadoras mais antigas do Rio.
<br>Toninho n�o quer saber de papo, o homem fala sozinho, n�o ob
<br>
<br>
<br>t�m resposta. Baixa o vidro, o vento bate-lhe forte no rosto. Est� gri
<br>
<br>
<br>lado com aquela tal de dona Berta. Por que vivia lan�ando verde pra
<br>
<br>colher maduro? N�o estava pagando a merda do aluguel? N�o can
<br>
<br>
<br>sara de sair e entrar com os tais livros debaixo do bra�o? Qual a dela?
<br>
<br>Chamaria o faxineiro.
<br>
<br>Pois �, seu Jos�. Se fala com as pessoas, d� bom dia, boa tarde,
<br>
<br>n�o sabe com quem t� lidando. O senhor j� imaginou uma coisa
<br>
<br>dessa?
<br>
<br>Tem certeza de que o velhote se abriria. Mostraria os livros, os
<br>
<br>l�pis, cadernos, est� certo de que recordaria o outro h�spede, o que
<br>
<br>se formou e depois foi embora, deixando o faxineiro orgulhoso. Seu
<br>
<br>Jos� entraria no quarto, n�o haveria nada de anormal, ganharia o
<br>
<br>p�o-de-l�, um pacote de biscoitos.
<br>
<br>N�o vou comer isso tudo. Nem num m�s. Seu Jos� se abriria..
<br>E dali em diante daria sempre um agrado pro cara que ganhava uma
<br>mis�ria, mal tinha roupa para vestir. Aquela puta gorda explorando
<br>
<br>o diabo do homem, ele se mexendo no casar�o como sombra, escravo.
<br>E n�o reclamava. H� quanto tempo t� nessa vida, seu Jos�? Desde
<br>que vim do Norte. Por que veio? Sei l�. Influ�ncia. Vontade de melhorar.
<br>Se chega, v� que � tudo a mesma coisa. Pra pobre n�o tem
<br>melhora. Todo lugar � igual. Hoje, se tivesse um dinheirinho, voltava
<br>pra minha terra. 0 diabo � que n�o conhe�o mais ningu�m por l�. Nem
<br>parente, nem aderente . . . Por isso, acho que termino meus dias por
<br>aqui. Como Deus quer!
<br>O t�xi entra pelas ruas de Copacabana, come�a a aparecer banhistas,
<br>o motorista volta a puxar conversa.
<br>
<br>� Um belo dia pra quem gosta de banho de mar!
<br>Toninho avista a panificadora, manda parar.
<br>� Na banca de jornais t� bom.
<br>Entrega a c�dula de cem, espera o troco. 0 motorista coloca os
<br>�culos, demora-se a retirar o dinheiro da carteira. Pacientemente o
<br>garoto espera. Passa uma gorjeta ao homem, p�e as notas no bolso do
<br>casaco, entra pela primeira rua, sai na que era coberta de amendoeiras,
<br>come�a a subida. As mesmas pedras, a mesma constru��o que
<br>fora interditada fazia tanto tempo, o capim crescendo, um peda�o de
<br>muro que desmoronou, buracos no meio da rua, o final do cal�amento,
<br>po�as de �gua da chuva, crian�as fardadas, mulheres que lavavam
<br>roupa para fora, com grandes embrulhos na cabe�a, garotinhos de
<br>cinco, seis anos ajudando, o sol �quela hora quente. Perto da curva
<br>
<br>351
<br>
<br>
<br>encontra uma viatura estacionada. Prossegue andando, v� a movimenta��o
<br>das pessoas e dos policiais. Que ser� que t� havendo? D� mais
<br>alguns passos, percebe de longe a opera��o na subida do morro. Como
<br>� que o diabo dos jornais n�o falavam naquilo? Naturalmente, uma
<br>batida, como de vez em quando faziam. Melhor esperar algu�m descer,
<br>perguntar como quem n�o quer nada. Que t� havendo l� em cima?
<br>O cara contaria. N�o teria o que esconder. Nenhum favelado gosta
<br>daquelas opera��es. Imaginava s� o que n�o estariam aprontando pelos
<br>barracos. Vov� Jandira ficava sempre muito assustada com aquelas
<br>coisas. Homens que nunca vira, passando nas vielas, armas empunhadas,
<br>outros mais salientes invadindo os barracos, remexendo nas coisas,
<br>bolinando mulheres, abrindo arm�rios, tirando dinheiro de gavetas.
<br>Sabia bem como era. Como no dia em que dois deles entraram, puseram-
<br>se a berrar com o pai. Vamos l�, vagabundo. M�o pra cima e
<br>nada de chiar. Um pio, cai cortado no meio. A m�e n�o entendendo,
<br>dizendo que o pai n�o fizera nada. Cala a matraca. Ningu�m t� falando
<br>contigo. O terceiro homem empurrando o pai para fora. Vamos l�,
<br>vagabundo. M�o na parede. 0 homem apalpando o pai. os bolsos da
<br>cal�a. Depois o policial erguendo-se, decepcionado. Esses merdas n�o
<br>t�m nada. Mais duros que quiabo. O mais forte e de ar atrevido, pegando
<br>o pai pelos cabelos. Cad� o tutu, cachorr�o? Diz onde t� ou
<br>vai ficar de cara inchada. O pai afirmando n�o ter nada. S� recebia
<br>no final de semana. E o dinheiro que os vagabundos trouxeram aqui
<br>pra cima? N�o sabia dos vagabundos, n�o sabia que dois assaltantes
<br>tinham se escondido perto da tendinha de seu Greg�rio. 0 pai chegava
<br>tarde, quase n�o tomava conhecimento do que se passava no morro.
<br>S� depois que a m�e come�ou a chorar os tiras decidiram ir embora,
<br>amea�ando retornar.
<br>
<br>Toninho se encosta na porta da casa, fica aguardando. Quando
<br>
<br>o crioulinho magro se aproxima, fumando, vai na sua dire��o.
<br>� Acende aqui, amigo.
<br>O crioulinho bate a cinza do cigarro. Toninho chupa com for�a,
<br>sopra a fuma�a.
<br>
<br>� Que t� havendo l� em cima?
<br>� Desde ontem esses diabos n�o deixam ningu�m dormir.
<br>� Qual � a deles?
<br>� Querem prender o garot�o que mata motorista de t�xi. acham
<br>que todo favelado � ladr�o.
<br>� Poxa! Isso tudo por causa de um assaltante?
<br>� �. Eles acham que t� por l�.
<br>Os dois descem conversando at� perto da constru��o interditada,
<br>Toninho agradece, fica mais um pouco do outro lado da rua, uns vinte
<br>metros da viatura fechada. Mant�m-se com o casaco nas contas, fuma
<br>tranq�ilamente, olha os que descem do morro, cada um mais irritado
<br>que o outro.
<br>
<br>
<br>Ent�o, era aquilo. Algu�m havia dado com a l�ngua nos dentes.
<br>Ser� que Banda Branca botou de fato as m�os em Enfezado? N�o acreditava.
<br>Teria sido Sandra? Tamb�m n�o podia admitir. E o que mais
<br>
<br>o indignava: aquele aparato todo o impedia de procurar o alcag�ete.
<br>Tinha certeza de estar por l�, fazendo bonito na frente dos parceiros.
<br>Mas aquilo n�o podia demorar. N�o encontrariam nada, tratariam de
<br>ir embora. A� se meteria na toca do alcag�ete, ajustaria as contas. Seria
<br>at� melhor. Ningu�m ia se incomodar com sua sorte, ainda que
<br>houvesse cs tiros. N�o embrulharia a m�quina nem nada. Que ela
<br>cantasse em alto e bom som. S� assim o filho da puta deixaria de aporrinhar.
<br>H� muito tempo que passara da medida. Quanto a Sandra n�o
<br>havia problema. 0 neg�cio seria burlar a vigil�ncia do porteiro, tocar
<br>a campainha do apartamento. Se soubesse alguma coisa trataria de explicar.
<br>Rcvoltava-se por ter comprado jornais esses dias todos e n�o
<br>saber daquele desacerto. Pra que servem a porcaria dos jornais, se n�o
<br>d�o o que acontece? N�o podia confiar no notici�rio. Quanto a isso
<br>n�o tinha d�vida. Mais cedo ou mais tarde partiriam para um busca
<br>daquele tipo. Isso mostrava o desespero do detetive Galv�o e de seus
<br>auxiliaras. Mesmo assim n�o se assustava, n�o havia do que fugir. Falaria
<br>com Sandra, ficaria na pens�o, no m�ximo freq�entando o bar
<br>do portugu�s, mesas com toalhas vermelhas e azuis, onde pedia guaran�
<br>com cubos de gelo e o gar�om sugeria chope duplo, achando
<br>nisso uma enorme gra�a.
<br>CINCO
<br>
<br>Toninho caminha sem pressa, passa pela pracinha com crian�as
<br>brincando nos escorregas e balan�os, m�es e bab�s tagarelando, muita
<br>gente s� de mai� e shorts pelas ruas, o sol quente, um bom dia para
<br>a praia como dissera o motorista, mas ele n�o tinha tempo, precisava
<br>falar com Sandra, acautelar-se uns tempos. L� pelo final da semana
<br>retornaria ao morro, localizaria Banda Branca. Vov� Jandira contaria
<br>como se desenrolou a opera��o. N�o esqueceria detalhes. Tinha boa
<br>mem�ria, n�o era de inventar. Talvez nem fosse a tendinha de seu
<br>Greg�rio. Quanto menos falasse com ele tanto melhor. Chega de dar
<br>trela a um cara que nunca se sabe o que t� pensando. O importante
<br>seria meter-se no barraco do alcag�ete, surpreend�-lo. E se subisse �
<br>noite? Se Banda Branca n�o estivesse, ficaria l�, entocado. Uma oportunidade
<br>que n�o poderia jogar fora. Limparia aquela mancha do morro.
<br>N�o se sentiria tranq�ilo enquanto aquele traste estivesse transan
<br>
<br>
<br>
<br>do por ali, apoquentando uns e outros. Passaria a chave na porta, botaria
<br>o moleque de m�os na parede, teria tempo bastante para falar.
<br>Relembraria a situa��o de L�dio Gordo, relembraria o que fizera com
<br>
<br>o filho de seu Joca e de dona Mariazinha. Pois sabia que L�dio Gordo
<br>at� que teve dignidade, porco nojento. N�o mijou nas cal�as. Morreu
<br>sem nem sentir. Contigo a coisa n�o pode ser do mesmo jeito. Temos
<br>de ir devagar. Pra que tenha tempo de saber exatamente o que fez.
<br>Com todo mundo, inclusive com o pai. T� sabendo? Por tua causa
<br>n�o se foi pro interior, n�o se comprou o peda�o de terra, n�o se plantou
<br>guando, nem jurubeba. Sabe ao menos o que vem a ser isso? Claro
<br>que n�o sabe. Um porco nojento n�o sabe de coisa alguma. S� de
<br>andar fu�ando atr�s de Marta, tomando dinheiro de Zita, fazendo
<br>neg�cio na moita com seu Greg�rio, achacando a Br�gida no Pal�cio
<br>de Cristal. T� bem lembrado desse pessoal todo? E daquele neg�o de
<br>cabe�a pelada, corrent�o e pulseira de prata, que vi comendo no Bar
<br>Garoto, na maior pose, a camisa azul de bolinhas vermelhas? Por que
<br>um neg�o se veste assim, hem seu Banda Branca? Teria de explicar.
<br>Ora se teria. Nem que fosse uma mentira. Na frente da m�quina bem
<br>azeitada todo valente abre o bico. Quanto mais Banda Branca que n�o
<br>passava de um merda, qualquer um sabia disso.
<br>Chega finalmente � rua Hil�rio Gouveia, mant�m-se na cal�ada
<br>onde havia a panificadora, a farm�cia e a loja de discos, l� est� a viatura
<br>com alguns policiais. 0 que seria aquilo? Vigiando tamb�m a
<br>garota ou se tratava de mera coincid�ncia? P�ra na loja de discos,
<br>examina capas de long-plays, olha a movimenta��o dos tiras. Um est�
<br>ao volante, o outro do lado de fora, um terceiro no pr�dio. Aparece
<br>seu Manuel, sorri enquanto fala com o policial. 0 cara retorna � viatura,
<br>senta, o carro n�o sai do lugar. Com essa n�o esperava. Teriam
<br>impedido Sandra de ir � boate? N�o acreditava em semelhante impostura.
<br>0 que tinha ela a ver com tudo aquilo? Como a situa��o podia
<br>estar daquele jeito e os jornais n�o publicarem uma s� linha? Agora
<br>entendia. Galv�o conseguiu com algu�m importante, talvez com o secret�rio,
<br>que a imprensa silenciasse por uns tempos. Ningu�m estava
<br>mais acreditando na hist�ria do tal Garanh�o, com o sil�ncio dos jornais
<br>o detetive imaginava chegar ao criminoso. Puro engano seu Galv�o!
<br>Se n�o falo com Sandra agora, falo mais tarde, de madrugada,
<br>na boate. Me meto l� dentro, ocupo uma mesa, pe�o o melhor u�sque,
<br>vou rir da sua cara. N�o � em qualquer manobra que caio.
<br>
<br>Ap�s muito olhar os discos decide ir embora. De longe continua
<br>avistando a viatura. Daria uma volta, demoraria um pouco, retornaria.
<br>Quem sabe teriam ido embora? Nesse caso n�o havia por que n�o
<br>falar com o porteiro. Olha aqui seu Manuel, Sandra t� em casa ou
<br>saiu? 0 homenzarr�o tinha de desembuchar. Gostasse ou n�o. Depois,
<br>ia custar muito a rev�-lo. Se amoitaria, n�o sairia da pens�o, se pre
<br>
<br>
<br>
<br>cisasse de mais tempo iria para o barraco de vov� Jandira. A opera��o
<br>teria terminado, os policiais levariam tempo at� aparecer outra
<br>vez. Sempre assim, n�o devia ter mudado. Entra no mercadinho onde
<br>h� frutas e revistas, compra uma p�ra, p�e-se a comer, olha as mulheres
<br>nuas nas capas das revistas, cada uma mostrando mais as n�degas,
<br>o portugu�s gordo e vermelho tira uvas argentinas do caixote
<br>e oferece, compraria se estivesse indo para casa, mas retornaria � rua
<br>Hil�rio Gouveia, n�o podia ficar muito tempo com um pacote de uvas
<br>nas m�os e muito menos na bolsa, iria suj�-la, fazer uma meleira dos
<br>infernos. Termina de comer a p�ra, senta no banco em frente ao mar,
<br>
<br>o pessoal debaixo das barracas, jogando bola, praticando surfe. N�o
<br>tem rel�gio, n�o sabe exatamente as horas. Entraria na farm�cia, subiria
<br>na balan�a, nunca mais se pesara, n�o sabia a altura exata que
<br>tinha. Se voltasse e o carro continuasse no mesmo lugar, procuraria
<br>um restaurante, almo�aria, faria outra tentativa. Caso n�o desse em
<br>nada, de madrugada falaria com Sandra na boate. Antes, passaria por
<br>l�, confirmaria se o show continuava sendo anunciado ou n�o, olharia
<br>nos jornais. O detetive Galv�o n�o era nenhum mandachuva. N�o
<br>tinha peito de retirar um show, s� por que odiava a filha e pretendia
<br>dar uma de her�i.
<br>Pelo rel�gio da farm�cia s�o 11 e 40, a balan�a acusou 72 quilos,
<br>a altura n�o chegou a confirmar, porque o metro autom�tico engui�ara.
<br>Teve vontade de chamar o funcion�rio, n�o quis abusar. Cada
<br>um subia e descia naquela balan�a, sem pagar coisa alguma. Por
<br>que encher o saco do careta com o tal metro autom�tico?
<br>
<br>Vai para a porta do cinema, l� est� anunciado o bangue-bangue
<br>que podia ver depois do almo�o, caso a viatura continuasse em frente
<br>ao pr�dio. Olha a pose do mocinho, a esculhamba��o dos pistoleiros. Por
<br>que bandido em filme de bangue-bangue est� sempre enfezado? Olha-se
<br>no espelho, n�o se acha com pinta de marginal. Pelo contr�rio. O
<br>casaco de couro dava-lhe apar�ncia de mocinho. Tem vontade de rir,
<br>lamenta n�o ter podido comprar as uvas argentinas, lamenta que o
<br>metro autom�tico n�o estivesse funcionando.
<br>
<br>Entraria no restaurante quando fosse uma para duas horas, procuraria
<br>a mesa nos fundos. Quanto mais escuro o local, melhor. N�o
<br>podia expor-se como estava fazendo. �quela altura, embora n�o estivesse
<br>em nenhum jornal, havia muito pilantra transando com suas
<br>informa��es. Podiam, inclusive, ter bolado um retrato-falado. Nisso
<br>Banda Branca entra com os dados. O tipo de coisa que gostava de fazer;
<br>sempre prestando mais um servicinho, a fim de agradar a turma
<br>de cima.
<br>
<br>P�ra no ponto de �nibus, onde h� bastante gente, decide retornar
<br>� pens�o, comer no barzinho, duas esquinas adiante, amoitar-se, s�
<br>dar as caras � noite. Pensa nessa possibilidade e na outra, de voltar
<br>
<br>
<br>ao pr�dio de Sandra. Est� tentado a ir embora, aproxima-se o �nibus
<br>que lhe servia, n�o vai. Com aquela d�vida n�o teria sossego, ficaria
<br>inquieto a tarde inteira. Melhor voltar � Hil�rio Gouveia, conferir.
<br>Se a viatura continuasse parada, ent�o n�o havia o que duvidar. Estavam
<br>arrochando a garota. Mesmo de madrugada, quando entrasse
<br>na boate, deveria cobrir-se. Podia haver algum olheiro por l�. Trocaria
<br>de roupa, pentearia bem os cabelos. Nem o pr�prio Banda Branca
<br>se lembrava mais como era. Logo, n�o podia ter sido t�o preciso assim
<br>na descri��o. E estava quase certo de que, no dia seguinte os jornais
<br>n�o resistiriam, mostrariam o retrato-falado, caso houvesse algum.
<br>
<br>Chega outra vez � Hil�rio Gouveia, l� estava a viatura. Os mesmos
<br>caras, o mesmo clima de profunda calma. N�o podia arriscar-se.
<br>N�o comeria em nenhum restaurante de Copacabana, n�o iria ao cinema.
<br>Tomaria um t�xi, mandaria tocar para o Centro. N�o daria o
<br>nome da pens�o. Ficaria nas imedia��es. 0 resto do percurso faria a
<br>p�. Esse h�bito nunca perdera. Desde o primeiro dia em que se mudara.
<br>N�o era bobo de dar semelhante bandeira. Se o motorista fosse
<br>um tira? N�o ia cair em semelhante esparrela. A advert�ncia de Enfezado
<br>sempre nos ouvidos. Cuidado com eles, cara! T�m mil manobra
<br>pra enrolar a gente. Quanto menos se espera, surgem numa boa,
<br>querendo nos puxar pro fundo do po�o. Eu j� tou escolado, tu precisa
<br>te mancar. Por que me grampearam? Por isso mesmo. Nesse tempo
<br>tava na tua. Numa bem parecida. N�o acreditava, Banda Branca trabalhando
<br>o tempo todo na surdina. No dia que me levaram pra Invernada,
<br>at� parecia festa. Um pelot�o inteiro me esperando. N�o deixaram
<br>nem que sentasse. Fui levando pesco��o daqui e dali, sem que
<br>perguntassem coisa alguma. Quando deram o primeiro tempo por encerrado,
<br>um deles me segurou pelas orelhas, ergueu de encontro �
<br>parede. 0 outro me sapecou o balde d'�gua. Acharam que n�o tava
<br>sentindo muita dor e o neg�cio � fazer a gente sofrer. A� comecei a
<br>berrar, a espernear. 0 careta troncudo me soltou, fui levado pro torno.
<br>Sabe o que � torno? 0 pau-de-arara. Ficaram girando comigo uma
<br>por��o de tempo, como frango assado em porta de boteco. Acendiam
<br>cigarros e charutos, apagavam na minha bunda, queimando entre as
<br>pernas. At� a� n�o sabia de porra nenhuma. 0 que t�o querendo? N�o
<br>sabia. E eles me olhavam como se fosse Lampi�o. L� pelas tantas o
<br>sacana do Banda Branca apareceu. Disse umas brincadeiras, me deu
<br>um pontap� nas costelas. Depois saiu limpando o sapato, porque havia
<br>ficado sujo do meu suor. Por isso que digo. Te segura com essa
<br>turma. Podendo arrochar um deles vai em cima. Firme. N�o podendo,
<br>capina por longe. Quanto mais tarde melhor mar�. Levei muito cacete
<br>pra entender isso. Tu pode aprender de gra�a.
<br>
<br>
<br>SEIS
<br>
<br>Acorda quando come�a a escurecer, a chuva fina entra pela janela
<br>e o barulho da televis�o chega alto, com mulheres chorando, um
<br>homem berrando. Sempre aquilo; sempre as novelas e seus dramas.
<br>Mulheres de a��car, desmanchando-se. Por que os malditos velhotes
<br>n�o desistem de tanta baboseira? Gostaria de dormir um pouco mais.
<br>A melhor maneira de esquecer: o cerco ao morro, a viatura na porta
<br>do pr�dio. L� pelas 11 sairia. Botaria a melhor camisa, passaria fixador
<br>nos cabelos. Recorda-se dos pentes que comprara �s d�zias. Com
<br>
<br>o fixador teria de usar um deles. Repartiria os cabelos ao meio. Ficaria
<br>bem elegante, pra ningu�m botar defeito. Entraria na boate, se
<br>necess�rio fosse, sem falar com Chocolate. Nem ele pr�prio deveria
<br>saber que estava ali. Ou isso seria bobagem? E se desse uma boa gorjeta
<br>ao le�o-de-ch�cara? Terminaria pegando a grana e se precisasse
<br>dedurar, n�o vacilaria. Jamais confiaria naquele cara! Entraria quando
<br>diversas pessoas estivessem entrando. Aproveitaria o movimento.
<br>Sandra iniciaria o show, talvez nem o reconhecesse. Ia ser gozado.
<br>Sentado numa das primeiras mesas e ela n�o sabendo quem tanto a
<br>olhava. O cabelo bem penteado, repartido ao meio muda a fisionomia
<br>da gente. Com uma camisa nova, ent�o, nem se fala. Mas, n�o seria
<br>prudente ficar na mesa, perto da pista de dan�a. Se amoitaria para
<br>os fundos. Quando ela aparecesse, a fim de agradar os clientes, fatalmente
<br>o encontraria. Isso a�. Deixaria que o encontrasse, por acaso.
<br>Assim, mesmo que houvesse algum pilantra por ali, n�o tinha nada
<br>que desconfiar. A garota vinha de mesa em mesa e tamb�m na sua.
<br>Qual a bronca? Se precisasse mostrar documento era s� puxar do bolso.
<br>Jo�o Leonardo de Abreu. Estudante, filho de pais sergipanos. N�o
<br>trabalhava porque recebia mesada, al�m do pagamento da escola. Tolice
<br>preocupar-se com tantos detalhes. Entraria na porcaria da boate,
<br>tomaria u�sque do bom, conversaria com Sandra. Falaria na situa��o
<br>que havia engrossado, na necessidade de sumir. Mas o neg�cio do compacto
<br>estava de p�. Uma ou duas vezes por semana telefonaria para
<br>o barzinho, deveria estar por l�. Se houvesse algum grilo, bastaria
<br>dar um al�, n�o desejava complic�-la. Ergue-se da cama, abaixa-se
<br>junto ao guarda-roupa, abre o cofre, retira o dinheiro. Faz uma confer�ncia
<br>ligeira. Em caso de necessidade podia passar alguns meses
<br>fora. Qiiando voltasse n�o havia mais nenhuma bronca. E seria o tempo
<br>em que cuidaria de iniciar-se num outro neg�cio. Se fosse procurar
<br>o pessoal que transava com L�dio Gordo, especialmente o velhote da
<br>banca de jornais? N�o t� me conhecendo? Sou amigo de L�dio Gordo.
<br>Me disseram que entrou numa gelada. Houve tempo em que dava uma
<br>ajuda a ele, a coisa caminhava direito. Depois achou de poder fazer
<br>
<br>tudo sozinho, o senhor sabe como �. Bom sujeito, mas um pouco ambicioso.
<br>
<br>
<br>Compraria jornais, revistas, entraria no Bar Garoto. Na primeira
<br>investida o velhote n�o ia se abrir. S� com o tempo falaria. Conhecia
<br>bem aquela canalha. Outro dia tornaria a aparecer. Pois �, chegou
<br>aquela revista das mulheres? Puxa. No �ltimo n�mero tinha cada dona
<br>que vou lhe contar!
<br>
<br>E a hist�ria de L�dio Gordo, em que foi que deu?
<br>Pelo que sei, em nada. S� que morreu e pronto. Acha que algu�m
<br>t� interessado? V� pensando.
<br>Isso � que n�o se entende. Mata-se um cara que n�o fazia mal a
<br>ningu�m, fica tudo por isso mesmo.
<br>
<br>Tamos em outro tempo, meu tio. Agora a barra pesou. Quem
<br>for pobre n�o se g�enta. L�dio tava da banda pobre. S� pode ter sido
<br>isso.
<br>
<br>N�o
<br>acredito. Era um sujeito prudente. Me dava bem com ele.
<br>
<br>Eu tamb�m. Chegou a morar pertinho de mim. Muitas vezes tirei
<br>ele de apertura. Mas � o que disse: veio o dia em que resolveu
<br>fazer tudo sozinho. Se ferrou!
<br>
<br>0 velhote faria um arzinho de riso, estava quase certo disso. Mais
<br>dia menos dia terminaria caindo na sua gra�a. E, a�, procuraria saber
<br>
<br>o que fazia aquele neg�o de cabe�a pelada e camisa azul de bolinhas
<br>vermelhas. Tira n�o era. Embora levasse jeito, alguma coisa nele
<br>mostrava estar em outra. Comia como um rei, dois gar�ons para atend�-
<br>lo, um mostrando a qualidade das batatinhas fritas, o outro expondo
<br>os vinhos de diferentes safras. Satisfeito o crioulo erguia-se, dono
<br>do bar, da rua, da pra�a inteira, sa�a palitando os dentes. Por que o
<br>neg�o n�o pagava sequer a conta? Seria por acaso um dos s�cios ou
<br>estava mancomunado com os donos? Havia muito o que investigar.
<br>Por essas e por outras n�o devia arriscar-se naquele lance que o detetive
<br>Galv�o t�o cuidadosamente preparara. � noite, na boate, acertaria
<br>os telefonemas com Sandra, trataria de alert�-la. Conhecia bem
<br>o pai que tinha, sabia do
<br>que era capaz.
<br>Ap�s conferir o dinheiro, tira tr�s mil, p�e no bolso do casaca,
<br>fecha a porta, vai para o banheiro, toalha no pesco�o. Retorna se enxugando.
<br>A melhor hora de tomar um banho quente. Ningu�m interrompia,
<br>ningu�m batia na porta. Todo mundo ao redor da televis�o,
<br>hipnotizado com as tais novelas, mulheres apaixonadas sempre chorando,
<br>sempre se lamuriando. E tudo acontecia porque uma tomou o
<br>marido da outra, por que o marido da outra era rico e ficou pobre, ou
<br>havia a tal heran�a que muitos na fam�lia cobi�avam. O dia que tivesse
<br>uma televis�o, jamais ligaria para aquelas porcarias de novelas.
<br>Prefer�vel ver bangue-bangue e desenho animado.
<br>Mete-se nas roupas, a fim de comprar os jornais. De l� passaria
<br>pelo bar do portugu�s, sentaria na mesa com toalha azul, olharia a
<br>
<br>
<br>folha enquanto o gar�om mandava preparar o omelete. Tomaria o chope,
<br>vagarosamente, n�o teria o que temer. Mas na banca n�o encontra
<br>jornais. Terminaram? Com o novo caso do motorista, nem queira saber.
<br>Vieram cem de cada, foi tudo embora. A barra estava de fato
<br>pesada. Como podia, tanto interesse pelos jornais? Iria na banca mais
<br>distante. Era maior, devia receber um grande reparte. L� estavam
<br>os �ltimos exemplares. Assim mesmo um j� sujo. Pegou de qualquer
<br>jeito, meteu-se no bar, procurou sua mesa predileta, o gar�om sorrindo.
<br>
<br>
<br>� Poxa! Pensei que tivesse viajado!
<br>� Nada. Trabalhando e estudando.
<br>� 0 que vai ser?
<br>� Primeiro aquele chope bem gelado.
<br>0 gar�om d� seu berro caracter�stico:
<br>� Sai um duplo, congelado!
<br>Toninho fala no omelete, o homem sugere salada de feij�o verde
<br>com ma�� e tomate.
<br>
<br>� Tomate e ma��?
<br>� Especialidade da casa.
<br>� Pode trazer.
<br>O gar�om desaparece, olha o primeiro jornal, apavora-se. Em
<br>grandes t�tulos est� escrito que o motorista baleado, na subida da Estrada
<br>da G�vea, n�o morreu. Operado �s pressas, no Pronto-Socorro,
<br>tem chance de sobreviver.
<br>
<br>Quer logo abrir o jornal mas o gar�om retorna com o chope, ainda
<br>continua a sorrir, Toninho procura aparentar a tranq�ilidade que
<br>j� n�o tem.
<br>
<br>� A coisa t� preta � diz o gar�om lendo as manchetes. �
<br>Parece que dessa vez botam a m�o no assassino!
<br>
<br>N�o faz qualquer coment�rio, outros clientes aparecem, ele vai
<br>embora, Toninho dobra o jornal, o que l� n�o o agrada. O desgra�ado
<br>do motorista n�o s� escapou como est� falando. 0 que se segue �
<br>a descri��o pormenorizada do delinq�ente que tomou o t�xi na Rodovi�ria,
<br>como sendo um passageiro chegado de S�o Paulo. Filho da
<br>puta de motorista! Ser� que a m�quina t� com defeito? Como � que
<br>pode semelhante coisa? N�o tem coragem de continuar lendo, dentro
<br>do quadro h� declara��o de tudo que � de policial, inclusive de Galv�o.
<br>
<br>Toma o chope com certa pressa, recorda as afirma��es de Enfezado,
<br>n�o deve p�r o p� fora da pens�o por muito tempo, se ainda
<br>n�o tinham nenhum retrato-falado deviam estar preparando algum,
<br>Banda Branca seria chamado, vinculariam a morte da mulher e do
<br>pai do sargento Beto ao assassinato dos motoristas, se Enfezado n�o se
<br>cuidasse tamb�m acabaria sendo incomodado. Ao mesmo tempo, por
<br>que alarmar-se, quando ainda havia tanta possibilidde de escapar?
<br>Bastava ficar onde estava. N�o foi pra isso que alugou o quarto? Quem
<br>
<br>
<br>se lembraria de semelhante detalhe? Se os casos ocorrem na Zona Sul,
<br>por que vistoriar tudo que era de pens�o da cidade? E aquela nova
<br>ficha de que dona Berta lhe falara? O que significava aquilo? Seria
<br>de fato uma nova ficha ou apenas para ele? Trataria de saber disso
<br>com seu Jos�. N�o podia admitir que at� uma sacaneta gorducha daquela
<br>tivesse tentando lhe fazer de idiota. Que se metesse a besta pra
<br>ver s� o que acontecia. Chamaria o faxineiro, daria o p�o-de-l�, os pacotes
<br>de biscoitos, perguntaria a respeito das tais fichas que tanto preocupavam
<br>dona Berta. Seu Jos� n�o ia mentir. N�o morria de amores
<br>pela f�mea que o explorava. O gar�om traz a tal salada.
<br>
<br>� Olhe s�. Vai querer isso todo dia!
<br>Toninho experimenta, sorri, faz sinal de OK, o gar�om se afasta,
<br>na verdade est� preocupado com o que disse o diabo do motorista,
<br>com sua falha. Por que, em todo esse tempo, n�o experimentou a
<br>pistola? Ou aquilo tudo que estava nos jornais visava t�o-somente a
<br>confundir? Imposs�vel!
<br>
<br>Termina a refei��o, o gar�om est� satisfeito que tenha gostado
<br>da salada, oferece outro chope, agradece. N�o tem muita vontade de
<br>retornar logo � pens�o, continua a caminhada pela rua escura, senta
<br>na murada onde costumavam ficar os namorados. Temia ver televis�o,
<br>estar algum rep�rter fazendo a descri��o do matador de motoristas,
<br>conforme depoimento do chofer magricela. Como podia imaginar semelhante
<br>coisa? Por que um �nico disparo se o local permitia dois ou
<br>tr�s? E olha que deixou o carro com o cuidado de sempre: o careta
<br>escornado, portas trancadas, lanternas acesas. Passou pelo ponto do
<br>�nibus nenhum parado �quela hora. Teve de andar bastante. Uma
<br>mancada que Enfezado n�o perdoaria. S� se deve cair fora quando
<br>
<br>o pinta n�o estrebuchar mais. Tem sacaneta por a� com sete f�lego.
<br>Pior que gato. Uma falha sem conserto, nem adiantava afligir-se. O
<br>neg�cio era sair de circula��o, at� a onda passar. Aquilo n�o aturaria
<br>dois dias. Nada atura dois dias. Na manh� seguinte bastaria haver
<br>um jogo de futebol, um desfile de escola de samba, tudo mudaria.
<br>Ningu�m se incomodaria com o coitado do motorista. Iria � boate, apenas
<br>para sentir a barra pro lado da garota. Talvez, dependendo do que
<br>visse, nem falasse com ela. Mandaria um bilhete, pediria que aguardasse
<br>seus telefonemas no barzinho. Se n�o tivesse chegado, chamaria
<br>Temperado. N�o ia se recusar. Estava sempre impec�vel na sua
<br>roupa de gar�om, tinha tremenda paci�ncia. Sou amigo de Sandra, a
<br>garota do Bacar�. Diga pra ela que torno a ligar. Daria o recado. Sairia
<br>da boate quando o show estivesse no meio; provavelmente na hora
<br>em que "Os Cantores de �bano" entravam em a��o, o neg�o sacudindo
<br>as pernas, a mulata praticamente nua. No final do n�mero, aplausos
<br>demorados. Os crioulos haviam feito apresenta��es em S�o Paulo,
<br>estavam a caminho do M�xico. Isso era sempre anunciado. Em meio
<br>
<br>�s suas preocupa��es Toninho relembra a alegria de Sandra falando-
<br>lhe do casal que vivia da mesma arte. Com eles seria diferente. Apenas
<br>ela no palco, cantando. N�o tinha jeito para aquelas coisas.
<br>
<br>SETE
<br>
<br>No ponto do �nibus o temporal aumentou, h� muita gente passando
<br>de guarda-chuva e capa. Como podia aquilo? Um dia t�o bonito,
<br>tanta gente na praia e, agora, aquele dil�vio! Entra no �nibus,
<br>passa pela borboleta, o trocador lhe devolve algumas moedas. 0 motor
<br>do carro caqu�tico est� ligado, a carroceria inteira estremece. Outras
<br>pessoas molhadas, v�o tomando seus lugares, Toninho acha que
<br>aquela chuvarada facilitaria a entrada na boate. Provavelmente nem
<br>Chocolate estivesse por l�. Sabido como parecia, n�o ia ficar do lado
<br>de fora, tomando chuva. E pra ganhar o qu�? Muito bom. Tomara
<br>que o p�-d'�gua estivesse forte tamb�m em Copacabana. O motorista
<br>apareceu, todo respingado, passou as pernas compridas por cima
<br>do capo, engatou a primeira. De vez em quando Toninho tinha de
<br>empurrar o vidro do seu lado. Com a trepida��o ia se afastando, a
<br>trovoada o alcan�ava, fria. Nas in�meras paradas que o �nibus foi fazendo,
<br>passageiros entravam, passageiros desciam. Os que n�o estavam
<br>de capa corriam, ficavam debaixo das marquises. � propor��o que se
<br>aproximavam da Zona Sul o p�-d'�gua tornava-se mais intenso. Estava
<br>certo de que aquilo seria favor�vel. Chocolate se mandara do
<br>posto, poderia empurrar a porta, entrar tranq�ilamente. E com a chuva
<br>a clientela ficaria reduzida. Qualquer um que aparecesse seria bem-
<br>vindo. 0 pr�prio ma�tre se apressaria em receber. Mesmo assim n�o
<br>arriscaria as mesas junto � pista de dan�a. Ficaria do lado oposto �
<br>orquestra, no ponto onde quase n�o havia claridade. Mais algu�m com
<br>
<br>o senhor? Claro que sim! Tomara que o temporal n�o atrapalhe. O
<br>ma�tre se contentaria com isso. Afinal, como exigir, num dia daquele?
<br>Muito bom. A chuva veio na hora certa. S�o essas coisas que acontecem.
<br>Por isso que n�o adianta esquentar. Quando menos se espera,
<br>pinta a solu��o. � s� ter olho pra enxergar. Aquela, contaria a Enfezado.
<br>Ia ficar branco de susto. Ag�entou at� o final, sem tugir,
<br>nem mugir. J� pensou que barra!? E era um dia carregado. At� a
<br>chuva despencou que n�o foi moleza. Mesmo assim tu foi l� conferir?
<br>Ora se fui. A m�quina n�o trabalhou direito mas desencavei uma
<br>sa�da. E sabe que sa�da que foi? O temporal. Minha sorte tava na
<br>chuva que ca�a. Correndo pelas sarjetas. J� viu sorte de algu�m assim
<br>
<br>derramando como, �gua? Talvez Enfezado achasse gra�a. Que era
<br>engra�ado, era.
<br>Chega a vez de saltar, as ruas est�o praticamente inundadas,
<br>carros aqui e ali parados, goteiras caindo forte dos beirais. Esgueira-
<br>se pelas marquises, n�o pode perder semelhante oportunidade.
<br>Naquele momento a parte do show de Sandra deveria estar no meio.
<br>Logo depois ela desceria para a pista de dan�a, faria mais uns gestos,
<br>a chata da Solange se afastaria, Sandra continuaria por entre as mesas,
<br>como se estivesse tomada de sonol�ncia, os homens agarrando-a, bolinando-
<br>a, puxando-a para o colo, ela se livrando languidamente, como
<br>quem n�o deseja livrar-se e caminhando, volteando, mostrando os seios
<br>cada vez que se curvava. �s vezes aquilo o irritava. N�o gostava de
<br>ver os pilantras apalpando-a. Mas fazia parte do show. A parte que
<br>dava mais dinheiro ao tal Jo�o Alberto e ao seu s�cio, o momento em
<br>que v�rias garrafas de u�sque terminavam caindo das mesas e o ma�tre
<br>achava isso uma del�cia. Seria a pr�pria Sandra quem se encarregava
<br>desses acidentes? Bem prov�vel.
<br>Tira o casaco, coloca-o na cabe�a, os p�s afundam nas po�as-
<br>d'�gua, pingos grossos pipocam no couro macio. Muito bom aquele
<br>casaco. Quanta utilidade podia ter! Procura localizar Chocolate, n�o
<br>
<br>o v�. Somente as luzes de neon e no mais, o cal�ad�o deserto. De repente,
<br>todo o povar�u que costumava ficar por ali desapareceu.
<br>-Ningu�m � bobo de apanhar chuva. E aquele era um temporal dos
<br>valentes. Ouvira o homem na lanchonete dizendo que h� muito tempo
<br>n�o ca�a tanta �gua. Em cima da voz do homem, o inesperado grito:
<br>� Olha ele!
<br>No mesmo instante do grito o estalido e uma certa quentura nas
<br>costas. Corre para chegar logo � porta da boate, a quentura aumenta,
<br>n�o sabe o que possa ser, se a chuva que lhe toca nas m�os � t�o fria.
<br>O grito de "olha ele!" o acompanha, n�o v� Chocolate nem tampouco
<br>
<br>o ma�tre, n�o v� ningu�m, a boate est� de luzes apagadas mas a m�sica
<br>toca, desde o arrampado, os p�s molhados afundam nos tapetes, esbarra
<br>nas mesas e n�o sabe por que est� assim, t�o afobado, com
<br>aquele grito de "olha ele!" repercutindo, com a m�sica tocando e n�o
<br>podendo ver o show. Faltou luz e os artistas combinaram prosseguir
<br>se apresentando? Ou o que � que estava acontecendo com aquela
<br>boate? Um mesa ou duas ca�ram, procura localiz�-las, n�o consegue,
<br>as pessoas reclamam, n�o pode parar e desculpar-se. Ora, n�o foi desse
<br>jeito que imaginou entrar na boate. Na verdade, queria chegar da
<br>maneira mais discreta poss�vel. Evitar mesas junto � pista, ocupar a
<br>que ficasse para o lado, com menos claridade. Por l� Sandra costumava
<br>aparecer primeiro. E se tudo estava t�o bem planejado, por que
<br>bater-se daquele jeito e por que n�o enxergava nada do que estava
<br>se passando no palco, quando ouvia as risadas, vozes, a m�sica? Desligar
<br>a luz fazia parte da brincadeira? Sandra conseguira gravar o
<br>
<br>disco antes do tempo? J� n�o sente os sapatos molhados, n�o senta
<br>
<br>o tapete, a m�sica distanciou-se, m�os leves tocam-lhe no rosto. Seria
<br>Sandra? Que mist�rio era aquele? Quando as luzes acendessem, reclamaria
<br>com ela. Afinal, havia outras maneiras de fazer surpresas,
<br>menos numa noite de tamanho temporal.
<br>
<br>Composto e impresso nos
<br>Estab. Gr�ficos Borsoi S.A.
<br>Ind�stria e Com�rcio, �
<br>Rua Francisco Manuel, 55
<br>
<br>�
<br>ZC-15, Benfica, Rio de
<br>Janeiro, RJ
<br>
<br><div dir="ltr"><div dir="ltr"><br><div class="gmail_quote"><div dir="ltr" class="gmail_attr"><br></div><div dir="ltr"><div style="font-size:small"><br></div><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div class="gmail_quote"><div dir="ltr"><div style="font-size:small"><br clear="all"></div><div><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif">Olá, pessoal:</span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif"> Este é mais um livro de nossa campanha de doação e digitalização de livros para atender aos deficientes visuais.</span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif"> Agradecemos ao irmão Fernando pela digitalização e ao irmão Edilson pela doação.<br></span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:14pt;font-family:Arial,sans-serif;color:black"> Pedimos que não divulguem em canais públicos ou Facebook. Esta nossa distribuição é para atender aos deficientes visuais em canais específicos.</span></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEh3IgMHCmSKVTgJaaSgJHjMlv-aWRSpBK1bDPgdizDxukWf3Ov90tdOJePfMWtF67RxHtP6HGelZOT-3cGSWPDn0Yn3fblsSYXE0hwQiucrn3aqaDi53vzZOSwt5UCxWMkIEarOOdxQGJRDd4z1AjtQ8h0TcpzYAjdUyDyM0mQeIumFgShpBSXwVT9P"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEh3IgMHCmSKVTgJaaSgJHjMlv-aWRSpBK1bDPgdizDxukWf3Ov90tdOJePfMWtF67RxHtP6HGelZOT-3cGSWPDn0Yn3fblsSYXE0hwQiucrn3aqaDi53vzZOSwt5UCxWMkIEarOOdxQGJRDd4z1AjtQ8h0TcpzYAjdUyDyM0mQeIumFgShpBSXwVT9P=s320" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_7141887421110391362" /></a><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;font-size:large">O Grupo Mente Aberta lança hoje mais um livro digital !</span><br></p><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><font size="4">Desejamos a todos uma boa leitura !</font></div><div dir="ltr"><font size="4"><br></font></div><div><font size="4">O Estranho Hábito de Viver - José Louzeiro</font></div><div dir="ltr"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjCga-yeD9O7YG-F07fUQEladDfgHOYNf5D4_LyUPJx-Ms8ccmywPLwwQxJMxG5H7erW6iezu-RR9y5S22jfLwqOQsJJ6EJhx_Nrybd7Tc5piel5RK-8Rfy0xwRVd8AiMRH_dbuxPbFw0cQJlSMY2NsDQiCEi-LXdpEOx65v4N3Z9lZvoyQn9GPcJak"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjCga-yeD9O7YG-F07fUQEladDfgHOYNf5D4_LyUPJx-Ms8ccmywPLwwQxJMxG5H7erW6iezu-RR9y5S22jfLwqOQsJJ6EJhx_Nrybd7Tc5piel5RK-8Rfy0xwRVd8AiMRH_dbuxPbFw0cQJlSMY2NsDQiCEi-LXdpEOx65v4N3Z9lZvoyQn9GPcJak=s320" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_7141887433695065074" /></a></div><div><font size="4">Sinopse:</font><br></div><div><font size="4">Conta a história do jovem Toninho envolvido em crimes</font></div><div><font size="4"><br></font></div><div><div id="m_-2240835671187864975m_-4736677117181534468m_-2913954631296611931gmail-:1s4" style="font-family:Roboto,RobotoDraft,Helvetica,Arial,sans-serif;direction:ltr;margin:8px 0px 0px;padding:0px;font-size:0.875rem"><div id="m_-2240835671187864975m_-4736677117181534468m_-2913954631296611931gmail-:1s3" style="font-variant-numeric:normal;font-variant-east-asian:normal;font-stretch:normal;font-size:small;line-height:1.5;font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;overflow:hidden"><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div><div><div><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div><font size="4">Lançamento: Grupo Mente Aberta</font></div><div><p><font size="4"><a href="https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/grupo-de-livros-mente-aberta" target="_blank">https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/grupo-de-livros-mente-aberta</a></font></p></div><div dir="ltr"><font size="4"></font></div></div></div></div></div></div></div><font size="4"></font><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-family:Calibri,sans-serif"><font size="4"><span style="font-family:Arial,sans-serif;color:black"></span></font></p><font size="4">Grupo Parceiro Allan Kardec:</font></div><div><font size="4"><a href="https://groups.google.com/forum/?hl=pt-br#!forum/grupo-espirita-allan-kardec" style="font-family:Arial" target="_blank">https://groups.google.com/forum/?hl=pt-br#!forum/grupo-espirita-allan-kardec</a></font></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div><div></div><div></div></div></div><div id="m_-2240835671187864975m_-4736677117181534468m_-2913954631296611931gmail-:169" style="font-family:Roboto,RobotoDraft,Helvetica,Arial,sans-serif;font-size:0.875rem;margin:15px 0px;clear:both"><br></div></div><div><br></div></div></div></div></div></div></div></div><br><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"> <p><br></p><p><br></p><p> <br></p> <p> </p> </div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div> </div></div> </div><br clear="all"><div><br></div>-- <br><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"> <p><br></p><p><br></p><p><br></p><p><br></p> <p> </p> </div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div> <p></p>De: <strong class="gmail_sendername" dir="auto">Reginaldo Mendes</strong> <br></div><div><br></div><div><br></div><div dir="ltr" class="gmail_signature"><div dir="ltr"><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Abraços fraternos!</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial"> </span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Bezerra</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Blog de livros</span></p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Blog de vídeos</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Meu canal:</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk" target="_blank">https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk</a><br></p></div></div></div></div> <p></p> -- <br /> -- <br /> Seja bem vindo ao Clube do e-livro<br /> <br /> Não esqueça de mandar seus links para lista .<br /> Boas Leituras e obrigado por participar do nosso grupo.<br /> ==========================================================<br /> Conheça nosso grupo Cotidiano:<br /> <a href="http://groups.google.com.br/group/cotidiano">http://groups.google.com.br/group/cotidiano</a><br /> <br /> Muitos arquivos e filmes.<br /> ==========================================================<br /> <br /> <br /> Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "clube do e-livro" em Grupos do Google.<br /> Para postar neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro@googlegroups.com<br /> Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro-unsubscribe@googlegroups.com<br /> Para ver mais opções, visite este grupo em <a 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Capixabahttp://www.blogger.com/profile/13630360338415941372noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5804863141581911173.post-52076244537479934972022-02-16T09:42:00.000-08:002022-02-16T10:41:24.259-08:00{clube-do-e-livro} EXCELENTE SITE DE LIVROS PARA BAIXAR GRÁTIS<div dir="ltr"><div dir="ltr"><p class="MsoNormal">Caros amigos, <span></span></p> <p class="MsoNormal">Estamos sob risco de perdermos um importante site de consulta cultural absolutamente grátis, por pura falta de uso. <span></span></p> <p class="MsoNormal">Assim, se acharem interessante, reencaminhem a quantos puderem, por favor. A população precisa saber da existência de tão importante instrumento de promoção de cultura. GRÁTIS!<span></span></p> <p class="MsoNormal">Uma bela biblioteca digital, desenvolvida em software livre, mas que está prestes a ser desativada por falta de acessos. Imaginem um lugar onde podemos gratuitamente:<span></span></p> <p class="MsoNormal"><span> </span></p> <p class="MsoNormal">- Ver as grandes pinturas de Leonardo Da Vinci;<span></span></p> <p class="MsoNormal">- Escutar músicas em MP3 de alta qualidade;<span></span></p> <p class="MsoNormal">- Ler poesia de Fernando Pessoa<span></span></p> <p class="MsoNormal">- Ler obras de Machado de Assis ou a Divina Comédia;<span></span></p> <p class="MsoNormal">- Ter acesso às melhores histórias infantis e vídeos da TV ESCOLA<span></span></p> <p class="MsoNormal">- E muito mais...<span></span></p> <p class="MsoNormal"><span> </span></p> <p class="MsoNormal">Esse lugar existe!<span></span></p> <p class="MsoNormal">O Ministério da Educação disponibiliza tudo isso, bastando acessar o site: <a href="http://www.dominiopublico.gov.br">www.dominiopublico.gov.br</a><span></span></p><div><br></div>-- <br><div dir="ltr" class="gmail_signature"><div dir="ltr"><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Abraços fraternos!</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial"> </span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Bezerra</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Blog de livros</span></p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Blog de vídeos</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Meu canal:</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk" target="_blank">https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk</a><br></p></div></div></div></div> <p></p> -- <br /> -- <br /> Seja bem vindo ao Clube do e-livro<br /> <br /> Não esqueça de mandar seus links para lista .<br /> Boas Leituras e obrigado por participar do nosso grupo.<br /> ==========================================================<br /> Conheça nosso grupo Cotidiano:<br /> <a href="http://groups.google.com.br/group/cotidiano">http://groups.google.com.br/group/cotidiano</a><br /> <br /> Muitos arquivos e filmes.<br /> ==========================================================<br /> <br /> <br /> Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "clube do e-livro" em Grupos do Google.<br /> Para postar neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro@googlegroups.com<br /> Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro-unsubscribe@googlegroups.com<br /> Para ver mais opções, visite este grupo em <a href="http://groups.google.com.br/group/clube-do-e">http://groups.google.com.br/group/clube-do-e</a>-<br /> --- <br /> Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "clube do e-livro" dos Grupos do Google.<br /> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para <a href="mailto:clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com">clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com</a>.<br /> Para ver essa discussão na Web, acesse <a href="https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhkuGBaUsDm6P7PdwaT-yYDuwtD2B9Z8aDVuttWqBesL4Q%40mail.gmail.com?utm_medium=email&utm_source=footer">https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhkuGBaUsDm6P7PdwaT-yYDuwtD2B9Z8aDVuttWqBesL4Q%40mail.gmail.com</a>.<br /> Capixabahttp://www.blogger.com/profile/13630360338415941372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5804863141581911173.post-39958962073493492242022-02-13T09:22:00.000-08:002022-02-13T10:21:49.197-08:00{clube-do-e-livro} Lançamento: Ensina-me a Falar de Amor - Luiz Sérgio - Formatos: Txt,epub,mobi e pdfEnsina-me
<br>a falar
<br>de amor
<br>
<br>
<br>
<br>Luiz S�rgio
<br>
<br>Ensina-me
<br>a falar
<br>de amor
<br>
<br>
<br>Psicografia: Irene Pacheco Machado
<br>
<br>RECANTO
<br>2.a- Edi��o
<br>
<br>2001
<br>
<br>Todos os direitos de publica��o e reprodu��o
<br>desta obra est�o reservados �
<br>Casa Esp�rita Recanto de Maria � REMA
<br>
<br>
<br>
<br>Esta edi��o: do 21� ao 25� milheiro
<br>
<br>SERGIO, Luiz (Esp�rito)
<br>
<br>Ensina-me a falar de amor; Luiz S�rgio;
<br>psicografado por Irene Pacheco Machado. � 2�
<br>Ed. � Bras�lia: Livraria e Editora Recanto, 2001
<br>
<br>305 <a href="http://p.il">p.il</a>.
<br>
<br>1. Espiritismo. 2. Comunica��es medi�nicas.
<br>I. Machado, Irene Pacheco. II. T�tulo
<br>CDD 133.9
<br>ISBN 85-86475-32-7
<br>
<br>Capa e ilustra��es: Mauricio Maia Soutinho
<br>Este livro foi psicografado no ano de 1998
<br>
<br>1 .a Edi��o � 2000
<br>
<br> 7
<br>SUM�RIO
<br>
<br>Algumas palavrasMensagem ao Leitor
<br>
<br> 13
<br>Cap�tulo I � Viveiro divino. A Rocha
<br>
<br> 17
<br>Cap�tulo II � A busca da reforma interior
<br>
<br> 31
<br>Cap�tulo III � A evolu��o da ess�ncia espiritual 37
<br>Cap�tulo IV� A renova��o da Terra
<br>
<br> 45
<br>Cap�tulo V � A beleza da Cria��o
<br>
<br> 57
<br>Cap�tulo VI � A fam�lia esp�rita
<br>
<br> 65
<br>Cap�tulo VII � O segundo est�gio evolutivo
<br>
<br> 77
<br>Cap�tulo VIII � Caridade: amor em a��o
<br>
<br> 95
<br>Cap�tulo IX � A tarefa da psicografia
<br>
<br> 105
<br>Cap�tulo X � A imposi��o das m�os
<br>
<br> 117
<br>Cap�tulo XI � A alma animal. As tend�ncias do Esp�rito
<br>
<br> 127
<br>Cap�tulo XII � O Espiritismo nas Escrituras
<br>
<br> 137
<br>Cap�tulo XIII � Livre-arb�trio, diadema da raz�o
<br>
<br> 143
<br>Cap�tulo XIV � As moradas da Casa do Pai
<br>
<br> 157
<br>Cap�tulo XV � O respeito aos mais velhos
<br>
<br> 175
<br>Cap�tulo XVI � O avan�o da tuberculose
<br>
<br> 183
<br>Cap�tulo XVII� Auto-estima: chave da felicidade
<br>
<br> 191
<br>Cap�tulo XVIII � O flagelo das drogas
<br>
<br> 219
<br>Cap�tulo XIX � A tarefa dos livros
<br>
<br> 235
<br>Cap�tulo XX � Encontro consolador
<br>
<br> 249
<br>Cap�tulo XXI � Crescimento moral e intelectual
<br>
<br> 263
<br>Cap�tulo XXII � A oportunidade do aprendizado
<br>
<br> 287
<br>
<br>
<br>ALGUMAS PALAVRAS
<br>
<br>Em uma fria manh� de junho de 1973 , o telefone tocou em casa de
<br>Zilda e J�lio, no Rio de Janeiro. Foi ela quem atendeu. Do outro lado da
<br>linha, identificou-se ALAYDE DE ASSUN��O E SILVA, sua prima, residente em
<br>S�o Bernardo do Campo, S�o Paulo:
<br>
<br>� Zilda, � Alayde quem fala. N�o sei como voc� e o J�lio ir�o receber
<br>o que eu tenho a lhes dizer. Recebi ontem � noite uma mensagem de Luiz
<br>S�rgio. Na verdade, � uma longa mensagem.
<br>O cora��o de Zilda bateu forte. Ela sabia que seu filho Luiz S�rgio,
<br>desencarnado em 12 de fevereiro daquele ano, v�tima de um acidente de
<br>carro, estava procurando meios de se comunicar, mas n�o pensara que isso
<br>iria acontecer t�o r�pido, e justamente atrav�s de uma pessoa t�o pr�xima.
<br>Pediu que Alayde lesse a mensagem, bem devagar.
<br>
<br>Enquanto se desenrolava a leitura, Zilda acompanhava com a maior
<br>aten��o as palavras pronunciadas, que foram encerradas com um recado
<br>muito tocante para Valqu�ria, com quem Luiz S�rgio iria firmar compromisso.
<br>A saudosa m�e n�o p�de fazer qualquer coment�rio, pois as l�grimas corriam
<br>por sua face. Parecia estar ouvindo seu filho falar, apenas a voz era diferente.
<br>Meu Deus! � pensou ela, � uma carta enviada da Espiritualidade.
<br>Identificava todo o linguajar, o modo de escrever, os trocadilhos que gostava
<br>de fazer, a sua curiosidade despertada para pesquisar o que desconhecia.
<br>Tudo denunciava Luiz S�rgio como o autor daquelas linhas.
<br>
<br>
<br>Alayde lhe explicou que o inesperado havia surgido, quando, passado
<br>algum tempo do desencarne de seu priminho, ele foi trazido at� ela com a
<br>inten��o de lhe transmitir uma mensagem. Aceitou a incumb�ncia e ali estava
<br>
<br>o resultado.
<br>Zilda confiou, porque sabia que Alayde fora levada ao Espiritismo a
<br>uns vinte anos atr�s, ao se deparar com o Esp�rito de sua m�e, desencarnada
<br>no mesmo ano de sua apari��o. Profundamente tocada por aquele fen�meno,
<br>que desconhecia, resolveu esclarecer o fato e recorreu � Federa��o Esp�rita
<br>do Estado de S�o Paulo. Ali iniciou os estudos da Doutrina Esp�rita,
<br>preparando sua mediunidade, entregando-se, particularmente, aos trabalhos
<br>psicogr�ficos. Professora de profiss�o, logo se interessou em prestar sua
<br>colabora��o ao Lar da Crian�a Emmanuel, de S�o Bernardo do Campo.
<br>Expandiu esse trabalho, ao integrar o grupo de m�diuns do Hospital Psiqui�trico
<br>Bezerra de Menezes, como tamb�m do Centro Esp�rita Obreiros do
<br>Senhor, de Rudge Ramos, S�o Bernardo do Campo. Dedicou-se inteiramente
<br>� sua mediunidade, depois de sua aposentadoria, passando a psicografar
<br>com diversos Esp�ritos, cujos trabalhos nunca vieram a p�blico.
<br>
<br>Ap�s a primeira mensagem de Luiz S�rgio, come�aram outras a chegar,
<br>detalhando, pormenorizando o seu aprendizado espiritual, enviando recados
<br>para a fam�lia, bem como palavras de agradecimento e incentivo a
<br>todos os que acompanhavam sua trajet�ria. Esse foi o in�cio das not�cias, que
<br>culminaram na id�ia de ser publicado um volume que levasse a p�blico aquelas
<br>informa��es. Tudo foi passado pelo crivo da raz�o, examinado por v�rios
<br>e eminentes esp�ritas, antes de serem apresentadas ao leitor. O livro O Mundo
<br>Que Eu Encontrei foi a alavanca que o impulsionou, vindo, logo depois,
<br>Novas Mensagens de Luiz S�rgio.
<br>
<br>A sa�de de Alayde, por�m, come�ou a fraquejar. Um derrame cerebral
<br>impossibilitou-a de continuar o trabalho psicogr�fico, ficando algumas
<br>mensagens in�ditas, que foram entregues � m�e de Luiz S�rgio. Ap�s permanecer
<br>em tratamento m�dico por muitos anos, desencarnou, em 15/11/1999,
<br>aos oitenta anos de idade, tendo cumprido sua romagem terrena, com dignidade.
<br>Sem Alayde, talvez n�o existisse hoje o "rep�rter" Luiz S�rgio.
<br>
<br>
<br>Entretanto, depois de lan�ada a semente, era necess�rio que algu�m
<br>desse continuidade a esse trabalho.
<br>
<br>Certo dia, Zilda foi convidada a assistir � abertura de um Culto Crist�o
<br>no Lar, por ter sido escolhido Luiz S�rgio como mentor espiritual do grupo.
<br>Estava presente a m�dium psic�grafa L�CIA MARIA SECRON PTNTO. Ocorreu,
<br>ao final, mensagem de Luiz S�rgio, incentivando os participantes ao trabalho
<br>e agradecendo a homenagem, que dizia n�o merecer. Depois desse encontro,
<br>v�rias mensagens de Luiz S�rgio foram trazidas pelo mesmo canal
<br>medi�nico.
<br>
<br>L�cia, quando jovem, freq�entou a Mocidade do Centro Esp�rita
<br>Elias, localizado em Realengo, na cidade do Rio de Janeiro, participando,
<br>depois, de v�rios trabalhos medi�nicos no Centro Esp�rita Amaral
<br>Orneias, no bairro do Engenho de Dentro. Chamada ao Espiritismo por
<br>sua mediunidade ostensiva, dedicou-se a este chamamento. Voltando,
<br>mais tarde, ao Centro Esp�rita Elias, galgou v�rios postos na diretoria,
<br>chegando a presidente por mais de uma vez. Dedica-se at� hoje �quela
<br>Casa.
<br>
<br>O livro Interc�mbio traz maiores informa��es sobre esse
<br>entrosamento espiritual L�cia/Luiz S�rgio, pois �s mensagens remanescentes
<br>de Alayde foram juntadas as de L�cia, alternando-se o livro com
<br>as duas m�diuns e ainda os desenhos preparados pelo talento de L�cia.
<br>A simbiose foi perfeita. � uma leitura leve, com relatos ainda firmados
<br>por Alayde e mensagens tem�ticas, obtidas pela psicografia de L�cia.
<br>Interessante observar que o pref�cio do escritor esp�rita Luciano dos
<br>Anjos prenunciava o trabalho de Luiz S�rgio, pois as circunst�ncias posteriores
<br>demonstraram o seu interesse em trazer ao plano f�sico informa��es
<br>referentes ao mundo dos v�cios, acentuadamente ao das drogas.
<br>
<br>L�cia n�o prosseguiu nessa tarefa, por motivos pessoais e de sa�de.
<br>Submetida a uma cirurgia, na ocasi�o, manteve-se afastada das tarefas
<br>medi�nicas por longo tempo. Mas Luiz S�rgio tinha pressa. O "rep�rter" n�o
<br>podia parar.
<br>
<br>
<br>E foi assim que surgiu IRENE PACHECO MACHADO em seu caminho, observando-
<br>se um tra�o comum nas tr�s m�diuns: Irene, moradora de Bras�lia,
<br>tamb�m foi levada ao Espiritismo por sua mediunidade. Um grupo de amigas
<br>decidiram reunir-se com a inten��o de fazerem trabalhos caritativos. Da�,
<br>come�aram as entidades espirituais, atrav�s de Irene, a se manifestar, indicando-
<br>lhe a leitura de alguns livros. Eram obras de Allan Kardec, desconhecidas
<br>inteiramente por ela. Procurou, ent�o, a Comunh�o Esp�rita de Bras�lia,
<br>decidida a iniciar o aprendizado doutrin�rio, tendo como condutor de sua
<br>mediunidade e disciplinador o Esp�rito L�zaro. Ali, durante muitos anos, participou
<br>de grupos medi�nicos, onde sua mediunidade p�de ser minuciosamente
<br>analisada, sem, contudo, deixar aquele primeiro grupo, que foi crescendo,
<br>at� que surgiu o Grupo Assistencial Recanto de Maria, hoje Casa
<br>Esp�rita Recanto de Maria � Rema. Continua, ali, com assiduidade e intenso
<br>labor, a assessorar os grupos medi�nicos, os de estudo e os de artesanato
<br>para os bazares anuais.
<br>
<br>Em 1979, Irene, que j� conhecia o Esp�rito Luiz S�rgio, obteve dele a
<br>informa��o de que levaria sua m�e, Zilda, � sua casa, durante a reuni�o, para
<br>que Irene a conhecesse. E assim ocorreu, pois uma amiga, que freq�entava o
<br>grupo inicial, apresentou-a a Irene. Fatos importantes ocorreram, ent�o. Pela
<br>mediunidade de Irene, detalhes da vida f�sica de Luiz S�rgio foram trazidos,
<br>roupas que ele estava usando eram descritas com precis�o, objetos que lhe
<br>haviam pertencido eram mencionados, e muitas outras quest�es familiares
<br>foram confiadas a Irene e passadas a Zilda.1
<br>
<br>N�o havia mais jeito, e se qualquer d�vida pairasse em rela��o � presen�a
<br>de Luiz S�rgio, j� havia desaparecido. Estava determinado pelo Mundo
<br>Maior: Luiz S�rgio iria trabalhar com Irene.
<br>
<br>E, assim, surgiu o quarto livro dele e primeiro psicografado por Irene
<br>Pacheco Machado: Na Esperan�a de Uma Nova Vida. A seguir, vieram: Nin
<br>
<br>
<br>1 N.E. � Para saber mais sobre o in�cio do trabalho de Luiz S�rgio com a m�dium Irene Pacheco
<br>Machado, consultar a obra O Barco de Maria, Cap. XII � Luiz S�rgio, desta Editora, escrito por
<br>Mauricio Maia Soutinho.
<br>
<br>10
<br>
<br>
<br>gu�m Est� Sozinho, Os Mios�tis Voltam a Florir, O V�o Mais Alto, Um
<br>Jardim de Esperan�as, M�os Estendidas, Consci�ncia, Chama Eterna, L�rios
<br>Colhidos, Driblando a Dor, Deixe-me Viver, Dois Mundos T�o Meus,
<br>Cascata de Luz, Na Hora do Adeus, Universo de Amor, Amigo e Mestre.
<br>
<br>Al�m de conservar sua eterna curiosidade por tudo saber, Luiz S�rgio
<br>apresenta, pela psicografia de Irene, sua personalidade alegre, divertida,
<br>emotiva, descontra�da, mas de uma responsabilidade que sempre caracterizou
<br>tudo o que fazia, quando estava no plano material � estudo e trabalho.
<br>
<br>Depois da abordagem de temas da maior import�ncia, tais como: fam�lia,
<br>drogas, aborto, suic�dio, mediunidade, obsess�o, tratamento psicol�gico
<br>espiritual, desencarne, Casas Esp�ritas, estudo evang�lico-doutrin�rio,
<br>passes, puericultura, arte psicopictogr�fica, m�sica, aparelhagem t�cnico-cir�rgica
<br>espiritual e muitos outros, dentro da �tica do Espiritismo, apresenta-
<br>nos agora, em seu vig�simo livro, o tema da cria��o e evolu��o do ser.
<br>
<br>Convidamos o estimado leitor a conhec�-lo, para que possa compreender
<br>os anseios de Luiz S�rgio, ao pedir: ensina-me a falar de amor.
<br>
<br>Bras�lia,julho de 2000.
<br>
<br>A EDITORA
<br>
<br>11
<br>
<br>
<br>MENSAGEM AO LEITOR
<br>
<br>Eclesi�stico, Cap. XVI, vv. 24-30:
<br>
<br>Ouve-me, filho, e aprende a ci�ncia. Aplica teu cora��o �s minhas
<br>palavras, com medidas exatas revelarei a instru��o e com exatid�o anunciarei
<br>a ci�ncia. Quando o Senhor criou suas obras, desde o princ�pio,
<br>depois de hav�-las feito, disp�s-lhes as fun��es. Estabeleceu uma ordem
<br>eterna para suas obras e suas atribui��es para as gera��es futuras: n�o
<br>sofrem fome nem fadiga nem interrompem tarefas. Nenhuma se chocou
<br>contra as outras e nunca desobedeceram � sua palavra. A seguir, o Senhor
<br>voltou os olhos � terra e cumulou-a de seus bens. Cobriu-lhe a
<br>superf�cie com toda sorte de seres vivos que, por sua vez, voltar�o �
<br>terra.
<br>
<br>Querido leitor, transcrevi esta passagem do Eclesi�stico pois gosto
<br>muito de estud�-lo e hoje estou de volta, trazendo a voc� mais um livro
<br>repleto de li��es que aprendi na Universidade Maria de Nazar�. Cada livro
<br>representa um curso que realizei, gra�as � bondade Divina. Sou ainda apenas
<br>aprendiz, talvez por isso achem simples demais o meu vocabul�rio.
<br>
<br>Quando escrevo, fa�o-o com o cora��o de aluno curioso e com a
<br>sede de aprender, jamais querendo passar para voc�, leitor, a impress�o de
<br>que muito sei ou a de que j� me tornei Esp�rito evolu�do. N�o � essa a minha
<br>proposta, a minha tarefa. Quando chamado fui a levar at� o plano f�sico as
<br>minhas mensagens, bem sabia que ainda muito teria de aprender, e esse apren
<br>
<br>
<br>
<br>dizado n�o cessou ainda, por merc� de Deus. Mas nem por isso deixei de ser
<br>
<br>o Luiz S�rgio, filho da Zilda e do J�lio � o Luiz S�rgio ainda necessitado das
<br>preces dos encarnados.
<br>Nunca tive a pretens�o de me tornar um nome conhecido na Doutrina
<br>Esp�rita. Como aprendiz do Evangelho, coloquei os p�s no caminho do Mestre,
<br>p�s estes ainda pesados pela imperfei��o. N�o � porque ditei livros que
<br>j� me considero um escritor ou um Esp�rito superior; n�o, pelo amor de Deus,
<br>compreenda-me. Sou apenas um Esp�rito que busca desesperadamente aprender
<br>e evoluir, e para que isso venha a acontecer preciso de seu respeito, de
<br>sua amizade, leitor amigo.
<br>
<br>N�o me incomodam as cr�ticas de que o vocabul�rio dos meus livros �
<br>pobre e que sou �s vezes irreverente. Sou o que sou e as pessoas que bem
<br>de perto me conhecem, ao ler os meus escritos, logo certificam-se de que
<br>estou vivo, bem vivo, por merc� de Deus. Entristece-me muito presenciar
<br>m�diuns que usam o meu nome em mensagens que longe est�o de me pertencer.
<br>Caso sejam levados a fazer isso por me querer bem, gostaria que gostassem
<br>de mim de outra maneira: estudando a Doutrina e indo at� os carentes,
<br>porque muitas vezes deixam de colocar o nome de seus mentores e de
<br>seus amigos espirituais nas mensagens, por eles ainda n�o serem conhecidos
<br>no mundo esp�rita.
<br>
<br>Escrevi este livro em poucos dias, por�m, dado � severa fiscaliza��o
<br>do Departamento da Psicografia do mundo espiritual, ele ficou sendo revisado
<br>pelos Esp�ritos amigos um bom tempo. Como voc� pode ver, leitor amigo,
<br>as coisas do mundo espiritual n�o s�o levadas at� o mundo f�sico sem
<br>obedecerem ao plano Maior.
<br>
<br>Quando iniciei o trabalho de psicografia pelas m�os amorosas da
<br>Alayde, com O Mundo que eu Encontrei, eu era uma crian�a dando os
<br>primeiros passos na estrada da psicografia, mas fui muito ajudado por ela e
<br>por minha fam�lia e ainda mais por voc�, leitor amigo, e a� n�o parei mais de
<br>escrever, por�m sempre obedecendo � r�gida disciplina do Departamento da
<br>Psicografia.
<br>
<br>
<br>Os meus livros sempre procuram trazer uma mensagem de amor e
<br>este, que hoje lhe entrego, chega at� voc� molhado de l�grimas pelos fatos
<br>desagrad�veis que v�m ocorrendo, os quais, dado o nosso trabalho na Doutrina,
<br>n�o nos cabe revelar. Mas gostaria de pedir-lhe, leitor amigo, que ficasse
<br>mais atento com tudo o que lhe chegar �s m�os. Analise; n�o s�o
<br>palavras dif�ceis que mostram se o Esp�rito est� evoluindo, e sim a mensagem
<br>que ele transmite a voc�, leitor.
<br>
<br>Hoje tenho a felicidade de convid�-lo a desfolhar este livro bem devagar
<br>e tentar extrair do seu conte�do aquilo que pedimos ao Senhor: ensina-
<br>me a falar de amor.
<br>
<br>LUIZ S�RGIO
<br>
<br>
<br>Cap�tulo I
<br>VIVEIRO DIVINO
<br>A ROCHA
<br>
<br>
<br>Ao terminar o livro Amigo e Mestre, quando ainda me encontrava
<br>escrevendo sobre o �ltimo vers�culo do Serm�o da Montanha, detive-me
<br>no Evangelho de Mateus, Cap. VII, vers�culo 24:
<br>
<br>Todo aquele, pois, que ouve estas palavras, e as observa, ser�
<br>semelhante ao homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha.
<br>
<br>Quem estuda a Doutrina Esp�rita bem conhece a escalada do Esp�rito
<br>pelos tr�s reinos. No Evangelho de Mateus encontramos, no Cap�tulo III,
<br>
<br>v.9:
<br>(...) Deus pode fazer destas pedras filhos de Abra�o.
<br>Tamb�m no Antigo Testamento encontramos, em Isa�as, Cap�tulo LI,
<br>
<br>
<br>v. Io.:
<br>Ouvi-me, v�s todos os que seguis a justi�a, e buscai o Senhor;
<br>considerai a rocha donde fostes criados e o manancial donde sa�stes.
<br>
<br>Nesse instante, meus olhos divisaram a escalada do Esp�rito, a sua luta
<br>pela evolu��o, e fiz este gr�fico:
<br>
<br>
<br>Os tr�s reinos e o Seu Criador
<br>
<br>Reino Mineral
<br>Pedra I Alicerce
<br>
<br>Rocha I Ess�ncia espiritual
<br>
<br>Reino Vegetal
<br>Planta | Sensibilidade
<br>
<br>Reino Animal
<br>Intelig�ncia rudimentar
<br>Animal Perisp�rito em forma��o
<br>In�cio da vontade
<br>
<br>Reino Hominal
<br>Perisp�rito
<br>Consci�ncia
<br>Homem Come�o da raz�o
<br>Intelig�ncia
<br>Livre-arb�trio
<br>
<br>Deus
<br>Vida eterna
<br>C�u
<br>
<br>Intelig�ncia
<br>
<br>Plenitude
<br>
<br>Suprema
<br>
<br>Come�o e fim
<br>
<br>Vida eterna
<br>Fim dos sofrimentos
<br>Vida plena
<br>
<br>
<br>Aqui inicio este livro, que dedido a todas as pessoas que lutam para
<br>transformar seus cora��es de pedra em cora��es de carne, porque mesmo
<br>j� na condi��o de homens, n�o conhecem o amor, o amor universal, onde
<br>todos se respeitam, como irm�os que somos.
<br>
<br>
<br>Este gr�fico que fiz explica muitos fatos, um deles: a evolu��o do ser
<br>criado simples e ignorante e sua escalada evolutiva.
<br>
<br>S� mesmo a Doutrina Esp�rita d� respostas precisas a perguntas que
<br>todos n�s fazemos: por que as diferen�as dos seres?
<br>
<br>Ao pensar na evolu��o da esp�cie, senti-me feliz, porque fui criado
<br>pela Intelig�ncia M�xima do Universo: Deus. � Ele o nosso Pai, o nosso
<br>criador e, sendo o nosso Pai, temos dentro de n�s a sabedoria e a bondade,
<br>como tamb�m est� em n�s a luta para desenvolver os nossos sentimentos. Se
<br>todos pensassem assim, iniciariam a luta pela perfei��o, a grande ren�ncia.
<br>Mas os homens param diante das coisas materiais e se esquecem de mergulhar
<br>em seu "eu" em busca das coisas boas que h� nele, porque, se fomos
<br>criados simples e ignorantes e passamos por diversas fases da nossa exist�ncia,
<br>algo ficou de bom e proveitoso. O importante � o homem descobrir-se;
<br>s� assim ele vai amar o seu semelhante, os seus irm�os que, como ele, t�m de
<br>lutar para evoluir.
<br>
<br>Desde que o mundo � mundo, Deus manda os Seus emiss�rios para
<br>elucidar a Humanidade, mas esta, julgando n�o ter compromisso com Deus,
<br>passa as exist�ncias indiferente aos chamados espirituais. � fato absurdo o
<br>que dizem certos religiosos, que o Criador s� forma a alma quando ela nasce
<br>no mundo f�sico. Por isso alguns pais se julgam donos dos filhos, porque
<br>tamb�m pensam que eles s�o almas criadas no instante do nascimento, conforme
<br>as velhas afirmativas de algumas religi�es.
<br>
<br>Mas a Doutrina Esp�rita ensina ao homem tudo sobre a sua origem.
<br>Agora, como fazer para saber de onde viemos e para onde iremos? Muito
<br>f�cil: � s� jogar a pregui�a fora e iniciar a jornada. O caminho � �spero e
<br>repleto de sobressaltos, mas � medida que o conhecimento banha o nosso
<br>ser, este vai libertando-se das amarras da ignor�ncia e se aproximando do
<br>Cristo, �nico caminho que nos leva a Deus. Todos os dias o Cristo bate �
<br>nossa porta, mas muitos ainda relutam em seguir Suas pegadas, porque �
<br>preciso renunciar. Ele, Jesus, � o nosso Amigo Mestre, o verbo de Deus.
<br>Quem n�o O escuta n�o deseja evoluir.
<br>
<br>
<br>Ali estava eu novamente, esperando a turma para uma nova jornada.
<br>Voltei a olhar o gr�fico, recordando o nosso livro Chama Eterna.
<br>
<br>
<br>� Boa tarde, Luiz S�rgio.
<br>Levantei a cabe�a:
<br>� Boa tarde.
<br>� Estava desenhando?
<br>� Sim, estava tentando grafar no papel a evolu��o do homem.
<br>Pal�rio2 sorriu.
<br>2 N.E. � Consultar O V�o mais Alto, s�timo livro da S�rie Luiz S�rgio, no qual o autor espiritual
<br>apresenta seu mentor.
<br>
<br>20
<br>
<br>
<br>� Assunto dif�cil, porque o homem n�o deseja conhecer as suas
<br>responsabilidades como esp�rito imortal que �. � muito mais f�cil ignorar
<br>os planos de Deus do que lutar por eles. A cada ser, Deus ofertou talentos,
<br>feliz aquele que n�o os tenha enterrado no lodo da pr�pria consci�ncia
<br>� Pal�rio, foi muito bom encontr�-lo. Estou indo ao Departamento
<br>do Trabalho, pois recebi um chamado para novas tarefas.
<br>Pal�rio abaixou a cabe�a. Percebi que orava, uma l�grima umedeceu
<br>os seus olhos. Levantei-me ligeiro, perguntando:
<br>
<br>� O que aconteceu? Errei em alguma coisa?
<br>� N�o, Luiz, apenas recordava o irm�o chegando ao mundo Espiritual,
<br>assustado, muito assustado. E hoje, com alegria, percebo o quanto luta
<br>para aprender e ser �til. Sentimo-nos felizes quando olhamos para tr�s e
<br>vemos uma sementinha lutando desesperadamente para n�o deixar inf�rtil a
<br>terra que a envolve.
<br>�Tem raz�o, Pal�rio. A terra s�o todos os ensinamentos que venho
<br>recebendo junto a abnegados irm�os, onde voc� � um dos mais queridos.
<br>�Vamos, Luiz, vamos. Nunca devemos deixar algu�m � nossa espera.
<br>Envolvi o ombro do amigo e logo est�vamos na sala de Anna. Esta
<br>somente nos apresentou Marry que, muito sorridente, falou-me:
<br>�Luiz, estamos aqui para inteir�-lo do nosso trabalho.
<br>
<br>� �s suas ordens, irm�.
<br>Ela sorriu. Dirigindo-se a Pal�rio, disse:
<br>� Com certeza o Luiz vai gostar muito da nova tarefa.
<br>Abracei-me com Pal�rio e as l�grimas ca�ram fortes. Anna, comovida,
<br>confortou-me:
<br>
<br>� Benditas sejam todas as l�grimas de amor.
<br>
<br>Pal�rio desejou-nos �xito e dali sa�mos. Marry, muito simp�tica, tudo
<br>fazia para me tranq�ilizar, conversando sobre v�rios assuntos:
<br>
<br>� Luiz, a Doutrina Esp�rita passa por dura prova. � o final do mil�nio,
<br>e os homens encarregados da Terceira Revela��o est�o um pouco parados,
<br>apenas � espera. E n�o pode ser assim. Temos de distribuir as �guas da fonte
<br>do conhecimento em todos os lugares.
<br>� N�o entendo, a irm� quer dizer que os esp�ritas t�m de sair pelas
<br>ruas em busca de seguidores?
<br>� N�o. O esp�rita deve ser esp�rita em todos os lugares que freq�enta,
<br>ele tem de se tornar o Consolador prometido por Jesus.
<br>� A� � que as coisas ficam pretas.
<br>� N�o, Luiz. Quem � bom � bom mesmo, e n�o porque deseja que
<br>os outros julguem-no bondoso.
<br>� Irm�, no momento tenho visto acontecerem fatos tristes em algumas
<br>Casas Esp�ritas.
<br>� Por isso a nossa preocupa��o. Temos de levar a palavra de Deus
<br>aos cora��es endurecidos. Faz�-los despertar para o amor. Milh�es de pessoas
<br>sentem-se sozinhas, perdidas e desanimadas, sem saber o que fazer. Na
<br>Terra, o que est� faltando � o amor. E as religi�es, que deveriam unir as
<br>pessoas em nome do amor, hoje o que fazem � separ�-las. N�o � s� na
<br>Irlanda que cat�licos e protestantes se odeiam, existe esse �dio tamb�m entre
<br>um n�mero cada vez maior de pessoas em outros pa�ses. Jamais na Hist�ria
<br>houve tanta falta de amor no mundo como agora. Por que est� acontecendo
<br>isso? Na B�blia est� a resposta: os �ltimos dias. Estamos vivendo o
<br>per�odo no qual, segundo os profetas b�blicos, as pessoas estariam sem afei��o
<br>natural. Jesus Cristo predisse que o amor da maioria se esfriaria.
<br>Em II Tim�teo, Cap�tulo III, vv. 1 -5, encontramos:
<br>
<br>Sabe, por�m, que nos �ltimos dias sobrevir�o tempos perigosos.
<br>Porque haver� homens ego�stas, avarentos, altivos, soberbos, blasfe
<br>
<br>
<br>
<br>mos, desobedientes a seus pais, ingratos, malvados, sem afei��o, sem
<br>paz, caluniadores, incontentes, desumanos, sem benignidade, traidores,
<br>imprudentes, orgulhosos e mais amigos dos prazeres do que de Deus.
<br>tendo uma apar�ncia de piedade, por�m, n�o sendo a realidade.
<br>
<br>� Irm�, como parece a Terra de hoje!
<br>� Sim, Luiz, tudo foi previsto por Jesus. A atual falta de amor, portanto,
<br>� parte da evid�ncia de que vivemos os �ltimos dias deste mundo.
<br>� Do fim do mundo, irm�?
<br>� N�o. Os �ltimos dias dos maus na Terra.
<br>� Como? Pode explicar-me?
<br>� Sim. Os homens t�m de aproveitar o chamado, porque quem n�o
<br>se tornar melhor ser� deportado para mundos onde ter�o de recome�ar uma
<br>nova vida. Felizmente isso tamb�m significa que este mundo de pessoas �mpias
<br>em breve ser� substitu�do por um novo, muito mais justo, governado pelo
<br>amor.
<br>� Ser�, irm�, que podemos acreditar em tais mudan�as? Ser� poss�vel
<br>que todos consigam amar uns aos outros e vivam juntos em paz?
<br>� Sim, Luiz S�rgio. Para viver neste novo mundo deveremos seguir
<br>Jesus. Ele nos ensinou que depois do amor a Deus nossa vida deve ser governada
<br>pelo amor ao pr�ximo, em Mateus, Cap�tulo XXII, vv. 23-40:
<br>No mesmo dia vieram alguns saduceus, que dizem n�o haver ressurrei��o,
<br>e o interrogaram, dizendo: Mestre, Mois�s disse: Se morrer
<br>algu�m, n�o tendo filhos, seu irm�o casar� com a mulher dele, e suscitar�
<br>descend�ncia a seu irm�o. Ora, havia entre n�s sete irm�os: o primeiro,
<br>tendo casado, morreu: e, n�o tendo descend�ncia, deixou sua
<br>mulher a seu irm�o; da mesma sorte tamb�m o segundo, o terceiro, at�
<br>
<br>o s�timo. Depois de todos, morreu tamb�m a mulher. Portanto, na ressurrei��o,
<br>de qual dos sete ser� ela esposa, pois todos a tiveram? Jesus,
<br>por�m, lhes respondeu: Errais, n�o compreendendo as Escrituras nem o
<br>
<br>poder de Deus; pois na ressurrei��o nem se casam nem se d�o em casamento;
<br>mas ser�o como os anjos no c�u. E, quanto � ressurrei��o dos
<br>mortos, n�o lestes o que foi dito por Deus: Eu sou o Deus de Abra�o, o
<br>Deus de Isaque, e o Deus de Jac� ? Ora, ele n�o � Deus de mortos, mas
<br>de vivos. E as multid�es, ouvindo isso, se maravilhavam da sua doutrina.
<br>Os fariseus, quando souberam que ele fizera emudecer os saduceus,
<br>reuniram-se todos; e um deles, doutor da lei, para o experimentar, interrogou-
<br>o, dizendo: Mestre, qual � o grande mandamento na lei? Respondeu-
<br>lhe Jesus: Amar�s ao Senhor teu Deus de todo o teu cora��o, de
<br>toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este � o grande e primeiro
<br>mandamento. E o segundo, semelhante a este, �: Amar�s ao teu pr�ximo
<br>como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e
<br>os profetas.
<br>
<br>� Irm�, torno a perguntar: ser� que isso vir� a acontecer? Poucos,
<br>muito poucos, s�o aqueles que amam o pr�ximo. Acho mesmo que s� os
<br>primeiros crist�os. Eles, sim, eram conhecidos pelo amor que nutriam uns
<br>pelos outros. � isso que nos pede Jesus, em Jo�o, Cap�tulo XIII, vv. 34-35:
<br>Eu vos dou um novo mandamento: Que vos ameis uns aos outros,
<br>assim como eu vos amei, para que v�s tamb�m mutuamente vos ameis.
<br>Nisto conhecer�o todos que sois meus disc�pulos, se vos amardes uns
<br>aos outros.
<br>
<br>� As religi�es s�o as primeiras a se odiarem. Veja o que fazem com
<br>os esp�ritas, irm�!
<br>� Tem raz�o, Luiz S�rgio. Por isso os esp�ritas t�m de lutar pela sua
<br>Doutrina. E esta luta deve ocorrer nas Casas Esp�ritas, onde os seus presidentes
<br>devem unir as pessoas e transform�-las em irm�os. Existem Casas
<br>Esp�ritas em que ningu�m se conhece. A fraternidade deve reinar nos n�cleos
<br>espiritistas.
<br>� Acho dif�cil, irm�, porque j� vimos esse filme: os Esp�ritos convidarem
<br>as pessoas para eventos, para um melhor entrosamento, e as pessoas
<br>n�o comparecerem, sempre apresentando desculpas.
<br>
<br>� Se duas ou tr�s pessoas n�o v�o, mesmo assim as outras aprendem
<br>a viver no grupo e formam nele uma nova fam�lia.
<br>� N�o sei, irm�, como j� disse, j� vi esse filme e n�o gostei do final. A
<br>familia carnal � mais forte e bem disse Jesus, em Lucas, Cap�tulo XII.
<br>vers�culos 49-53: (...) De hoje em diante haver�, numa mesma casa, cinco
<br>pessoas divididas, tr�s contra duas e duas contra tr�s. Estar�o divididos
<br>o pai contra o filho e o filho contra seu pai; a m�e contra a filha,
<br>e a filha contra a m�e; a sogra contra a nora, e a nora contra a sogra.
<br>Os inimigos do homem ser�o os seus mesmos dom�sticos.
<br>� Mas o tempo, Luiz, � agora, temos de lutar para n�o deixar para
<br>tr�s as nossas oportunidades. O tempo est�-se esgotando, e infeliz aquele
<br>que recebeu o talento e o jogou fora, principalmente porque n�o teve coragem
<br>de lutar contra as adversidades da vida.
<br>� Irm�, se a m�e de fam�lia, por exemplo, vai todos os dias � igreja ou
<br>ao Centro Esp�rita, a fam�lia vai culp�-la por neglig�ncia familiar. Que fazer?
<br>� Se for uma mulher forte, vai impor a sua f�; n�o s�o duas horas
<br>orando a Deus que ir�o abalar o alicerce de um lar. Muitas vezes essas mulheres
<br>usam a desculpa da fam�lia para justificar as suas fraquezas. S�o elas
<br>que, muitas vezes, querem ficar deitadas ou vendo televis�o.
<br>� Algumas fam�lias s�o fogo, tudo � motivo de briga.
<br>� J� imaginou, Luiz, se todas as m�es do circo de Roma tivessem
<br>desistido de ser crist�s? Hoje n�o ter�amos exemplos a serem seguidos.
<br>� Tem raz�o, mas os crist�os de hoje s�o t�o fraquinhos...
<br>� Falou muito bem: fracos, muito fracos. Temem amar a Deus e servir
<br>o pr�ximo. N�o sabem eles o tempo que est�o perdendo.
<br>� Irm� Marry, convivendo com o cotidiano dos encarnados, percebo
<br>o quanto � dif�cil levar a eles as no��es de responsabilidade com os trabalhos
<br>do Cristo. Se dizemos que seus filhos est�o passando dos limites, eles acham
<br>que estamos falando para os dos outros, n�o para os filhos deles. Se pedi
<br>
<br>mos para fazerem caridade, eles julgam que � para o vizinho e n�o para eles.
<br>Como v�, irm�, a cada dia o trabalho dos Esp�ritos est� ficando mais dif�cil.
<br>
<br>� Luiz, n�o podemos desistir. O Cristo at� hoje espera por uma Humanidade
<br>renovada e, lutando junto a Ele, tamb�m estaremos lutando pela
<br>nossa melhoria. Agora, infelizes s�o todos aqueles que ouvem, l�em, t�m
<br>contato com os Esp�ritos, mas nada fazem para se tornar melhores. Acreditamos,
<br>Luiz, que para usufruir as b�n��os sob o reino de Deus, � preciso que
<br>comecemos a cultivar o amor em nossos cora��es e fazer do pr�ximo um
<br>irm�o em Cristo. Sem essa mudan�a interior n�o existe paz em nossa consci�ncia.
<br>� Irm� Marry, sabemos que a Doutrina Esp�rita passa por uma fase
<br>dif�cil, com desentendimento at� entre federa��es. O que est� acontecendo?
<br>� Muito simples: falta de humildade. Os que reclamam desse ou daquele
<br>irm�o n�o t�m uma alma humilde, porque s� nos melindramos quando
<br>algu�m nos fere o amor pr�prio. Se andamos direito, se servimos o Cristo,
<br>dificilmente encontramos tempo para as brigas.
<br>� A irm� est� por fora, temos visto cada cena em Casas Esp�ritas por
<br>causa de posto na diretoria, que tirariam Allan Kardec do t�mulo!... Porque
<br>nessas Casas, a pureza doutrin�ria est� bem longe.
<br>� Nesses dias que ficaremos juntos, Luiz, teremos oportunidade de
<br>estudar o comportamento de alguns ditos religiosos, aqueles que falam "Senhor,
<br>Senhor", mas distante se encontram d'Ele.
<br>� De todas as religi�es, ou s� dos esp�ritas?
<br>� Trataremos de estudar o comportamento dos filhos de Deus, das
<br>ovelhas de Jesus.
<br>� Irm�, confesso que estou curioso.
<br>� Para come�ar, vamos a uma conhecida Casa Esp�rita.
<br>� S� n�s dois? Cad� a turma?
<br>� Que turma, Luiz?
<br>
<br>� Sempre nos nossos trabalhos form�vamos uma equipe.
<br>� Por enquanto, estaremos, n�s dois, analisando os comportamentos.
<br>� Irm�, este livro vai ser proibido para menores de dezoito anos.
<br>Ela sorriu:
<br>� Tem raz�o, ele ir� mexer com muitas consci�ncias.
<br>Marry andava ligeiro e, por mais que eu desejasse alcan��-la, ia ficando
<br>para tr�s. Em dado momento, parei, respirando forte. Ela se comunicou
<br>telep�ticamente comigo, alertando-me para a concentra��o. N�o conseguia
<br>alcan��-la, porque fiquei preocupado ao perceber que ela levitava, deslocando-
<br>se com uma rapidez tremenda.
<br>
<br>� Luiz, preste aten��o na sua respira��o e deixe sua mente livre;
<br>movimente os bra�os e as pernas como se estivesse andando no ar. Cerre os
<br>olhos por um momento e siga-me. N�o se importe com os meus passos,
<br>importe-se com a sua vontade de prosseguir viagem.
<br>Agi conforme a orienta��o e confesso que foi a melhor experi�ncia
<br>que j� tive. E veja s�: embora j� tenha feito o curso de levita��o, nada se
<br>compara ao que senti ao seguir Marry, que, mentalmente, disse-me:
<br>
<br>� Parab�ns! O sucesso do ser nasce da grande vontade de aprender.
<br>Os fracos reclamam, choram e fogem, deixando sempre para tr�s tarefas
<br>inacabadas. Os fortes s�o todos aqueles que sempre lutam pelas vit�rias do
<br>seu Esp�rito.
<br>Com a vontade de segui-la, nem percebi que chegamos a um lugar
<br>estranho; parecia uma ch�cara, uma fazenda, ou melhor, um novo mundo,
<br>composto de muitas �rvores, fontes, cascatas, animais, flores e pedreira. Marry
<br>pediu permiss�o para entrar e, quando o fizemos, julguei que estivesse no
<br>"Eden", tal a maravilha do lugar. Parecia que ali estavam os cientistas do
<br>plano f�sico; todos eles lembravam m�dicos, s� que n�o estavam todos de
<br>branco: uns vestiam jaleco azul, outros, verde, amarelo, prata, ouro, diversas
<br>
<br>
<br>cores. O lugar era lind�ssimo, um para�so, tamanha a sua beleza. Os animais
<br>pareciam irreais, tal a sua candura.
<br>
<br>Nisso, Cristone levou-nos at� uma �rea montanhosa, composta de
<br>pedras das mais belas cores. Notei que estas pedras estavam ligadas a algumas
<br>pedras do plano f�sico, como se unidas por uma for�a magn�tica. Enquanto
<br>olh�vamos aquelas pedras, minha retina espiritual se alongou at� as
<br>pedreiras, que eram vistas com um c�rculo de luz. A luz envolvia todas as
<br>pedras que estavam ao nosso lado, que n�o eram iguais �s do plano f�sico.
<br>Era como se aquelas ess�ncias espirituais, de um momento para o outro, se
<br>tornassem focos de luz. Vimos ainda as pedras perderem o magnetismo,
<br>"morrerem". Dif�cil de explicar. Vamos desenhar:
<br>
<br>
<br>
<br>Por isso encerramos nosso livro Amigo e Mestre com a passagem da
<br>pedra sobre a rocha, quando o Cristo disse ao homem que se ele n�o deixasse
<br>a dureza do seu cora��o se transformar em amor, seria deportado para
<br>outro planeta, porque este planeta Terra seria herdado pelos pobres de esp�rito
<br>e pelos simples; que aquele que construisse a sua casa � corpo
<br>perispiritual � sobre uma pedra, uma rocha firme, chegaria � perfei��o.
<br>
<br>Somente quem construir o reino de Deus no cora��o ser� considerado
<br>homem prudente e beneficiado por sua transforma��o. As �guas da dor n�o
<br>ir�o derrubar a sua casa mental. Para que o homem melhorasse foi que Jesus
<br>veio � Terra, e com que alegria recitou o Serm�o do Monte, c�digo moral de
<br>toda a Humanidade!
<br>
<br>Nem falava, de t�o emocionado. Quando consegui me comunicar, s�
<br>
<br>o fiz mentalmente, perguntando para Marry:
<br>� Aqui � o lugar onde as ess�ncias espirituais sofrem a metamorfose
<br>para passar a um novo reino?
<br>� N�o. E um dos in�meros locais para onde s�o levadas as ess�ncias.
<br>Estamos na primeira esta��o, quando os t�cnicos, os Esp�ritos prepostos,
<br>retiram a ess�ncia divina � aquela que passou pelas m�os do Criador � da
<br>mat�ria chamada pedra.
<br>� Irm�, o primeiro est�gio do Esp�rito � num bloco de pedra?
<br>� Deus, o Divino Escultor, primeiro trabalha a Sua pe�a, coloca o
<br>Seu h�lito, o Seu amor, e vai dando-lhe vida.
<br>Olhava, paralisado, aquele ato do Criador: a ess�ncia da vida sendo
<br>ali tratada por Esp�ritos capacitados, naqueles laborat�rios espirituais. Olhei
<br>ao redor e percebi o quanto era importante a nossa tarefa. Est�vamos ali
<br>diante da mais bonita transforma��o: um bloco frio, chamado pedra, caminhando
<br>em dire��o � evolu��o.
<br>
<br>� Para onde ser� levada a ess�ncia espiritual? perguntei.
<br>� Ser� levada para outro laborat�rio, disse Marry.
<br>
<br>� Podemos ir at� l�?
<br>� N�o. S� nos � permitido atingir este primeiro est�gio. E isto lhe foi
<br>concedido porque a sua tarefa � muito grande: levar aos encarnados o chamado
<br>� responsabilidade, como filhos de Deus que s�o. Os seus livros funcionam
<br>como um anzol, pescando almas; eles s�o simples, porque simples s�o
<br>as coisas de Deus.
<br>Continuei olhando a ess�ncia espiritual da pedra e me emocionei. Quando
<br>as l�grimas iam cair, a m�o de um dos t�cnicos segurou bem forte a minha
<br>e disse:
<br>
<br>� O �xito do seu trabalho vai depender do seu equil�brio. Busque na
<br>ora��o a for�a do Alto, porque o caminho da evolu��o do homem estar�
<br>diante dos seus olhos somente se eles tiverem a humildade verdadeira para
<br>divis�-lo nas coisas simples que estar�o � sua frente. Jesus n�o quis revelar
<br>aos doutores a Sua doutrina, e sim aos simples de cora��o. Por isso hoje
<br>voc� aqui est�, diante de um fato importante nas nossas vidas: a evolu��o do
<br>ser.
<br>E continuou a fazer o seu trabalho. Marry me convidou a sair daquele
<br>lugar maravilhoso, deslumbrante, onde a presen�a de Deus iluminava e fazia
<br>ressoar em nossos ouvidos, pelos ventos daquele suave lugar, uma can��o
<br>de ninar que nunca tive a oportunidade de ouvir. Tentei abra�ar Marry, mas
<br>ela pediu que eu fosse esper�-la em um dos imensos jardins daquele lugar.
<br>
<br>30
<br>
<br>
<br>Cap�tulo II
<br>A BUSCA DA REFORMA INTERIOR
<br>
<br>
<br>Enquanto estava ali sentado, na hera, uma flor pareceu balan�ar, como
<br>se estivesse dando-me bom-dia. Cerrei os olhos como para n�o enxerg�-la,
<br>mas que nada! Ela estava dentro de minha retina. Abri os olhos e ela,
<br>galantemente, pareceu curvar-se. Cumprimentei-a, como fazia Francisco de
<br>Assis:
<br>
<br>� Boa-tarde, irm� flor!
<br>Ela continuou quietinha. Nisso, Marry, que havia se aproximado, sorriu,
<br>dizendo:
<br>
<br>� N�o espere, Luiz, que as flores daqui falem.
<br>� Mas ela me cumprimentou...
<br>� Irm�o, esta flor � somente uma esp�cie vegetal que, no plano f�sico,
<br>floresce na �sia. Ela possui uma sensibilidade que a leva a se curvar diante
<br>do magnetismo humano.
<br>� Ent�o a danadinha n�o se curva para os animais?
<br>� N�o, ela cumprimenta apenas os homens.
<br>Levantei-me e lhe dei contin�ncia, dizendo:
<br>� Boa-tarde, linda flor dos meus sonhos.
<br>
<br>Os outros irm�os que ali se encontravam sorriram, dizendo:
<br>
<br>� Boa-tarde, Luiz S�rgio. Volte sempre, aqui estaremos ao inteiro
<br>dispor daqueles que desejarem conhecer a escalada de um Esp�rito.
<br>Marry nos apresentou:
<br>
<br>� Luiz, este � Gerald, um dos encarregados deste viveiro divino.
<br>Olhei os outros e eles fizeram rever�ncia. Confesso que meu cora��o
<br>batia bem forte, e � medida que eles nos falavam sobre a beleza da vida e a
<br>grandeza de Deus, eu nem tinha condi��o de pedir explica��o, mas Gerald
<br>nos elucidou:
<br>
<br>� No dia em que a Doutrina dos Esp�ritos for melhor compreendida,
<br>os pr�prios esp�ritas procurar�o a melhoria interior a cada minuto,
<br>porque ir�o ter a certeza de que Deus n�o brinca com as Suas criaturas.
<br>A partir do momento da sua Cria��o, cada ser tem de lutar para crescer
<br>em moralidade e intelectualidade. Sem essa luta, de nada vale pertencer
<br>a esta ou �quela religi�o. O querido Mestre Jesus Cristo, chamado carinhosamente
<br>de Jesus de Nazar�, quando inquirido pelo mancebo rico
<br>sobre que obras boas deveria fazer para alcan�ar a vida eterna, em
<br>Mateus, Cap. XIX, vv. 16-21, respondeu: Por que me perguntas tu o
<br>que � bom? Bom, s� Deus o �. Se queres entrar na vida, guarda os
<br>mandamentos. Perguntou-lhe, ent�o, o jovem rico, quais eram eles. Jesus
<br>respondeu: N�o matar�s; n�o adulterar�s; n�o furtar�s; n�o dir�s
<br>falso testemunho; honra a teu pai e a tua m�e; amar�s o teu
<br>pr�ximo como a ti mesmo. O jovem lhe disse que tudo isso havia guardado;
<br>que lhe faltaria ainda? Disse-lhe ent�o Jesus: Se queres ser perfeito,
<br>vai, vende tudo o que tens e d�-o aos pobres, e ter�s um tesouro
<br>no c�u; e vem, segue-me. E o jovem rico, assustado, virou as costas
<br>aos ensinos do professor da Humanidade, o filho de Deus, o Seu verbo.
<br>Como o jovem mancebo, muitos de n�s viramos as costas aos
<br>ensinamentos do Alto. Alguns, como o mancebo, at� julgam que praticam
<br>os mandamentos de Deus, mas quando convidados � reforma �ntima,
<br>fogem correndo, somente porque ter�o de amar o pr�ximo.
<br>
<br>� Dedicar-se ao pr�ximo � continuou Gerald � torna-se uma cruz
<br>pesada para ombros corro�dos pelo orgulho, pelo ego�smo e pela vaidade.
<br>N�o existe outro caminho a n�o ser este, o da escalada do Esp�rito, e feliz
<br>aquele que n�o se det�m quando escuta o chamado e procura tornar-se
<br>melhor.
<br>� Irm�o, � medida que amadurece, o Esp�rito se sente mais feliz em
<br>poder ser �til?
<br>� Sim, e considera tudo o que seja in�til como ilus�o e perda de
<br>tempo. Amar e servir s�o as diretrizes do Esp�rito que j� se conscientizou de
<br>que n�o importa quando, mas que todos os Esp�ritos ir�o alcan�ar a perfei��o.
<br>Aqueles que, mesmo no corpo f�sico, dividem a sua felicidade com seus
<br>companheiros de evolu��o ter�o sempre a ajuda dos mensageiros de Deus;
<br>s�o jatos de luz sobre seus passos, fortalecendo-os para a caminhada mais
<br>r�pida. Irm�o, s� a Doutrina Esp�rita ensina que cada Esp�rito tem responsabilidades
<br>intransfer�veis. Se ela n�o ensinasse que a morte no corpo f�sico n�o
<br>santifica ningu�m nem opera milagres, teria outro nome, e n�o Doutrina Esp�rita,
<br>Doutrina dos Esp�ritos. Ela a� est�, falando da vida f�sica, como se deve
<br>viv�-la, fazendo revela��es sobre o que se passa na verdadeira p�tria. A
<br>Doutrina tem explica��o para tudo porque, ao codificar o Espiritismo, Kardec
<br>recebeu a chave do t�mulo e a entregou a todos aqueles que desejam estudar
<br>o que ontem era mist�rio.
<br>� Irm�o, muitos que se dizem esp�ritas ainda nada sabem sobre os
<br>Esp�ritos.
<br>� Tem raz�o, apenas se preocupam com as comunica��es dos Esp�ritos.
<br>A responsabilidade de um dirigente esp�rita � muito grande, porque
<br>est� em suas m�os o mapa do caminho evolutivo; se ele n�o ensinar bem este
<br>caminho, muitos buscar�o os atalhos e, nesses atalhos, o que encontrar�o?
<br>� Quando Allan Kardec codificou o Espiritismo, n�o imaginou qu�o
<br>distante a Humanidade ainda estava de compreender a pureza doutrin�ria...
<br>� Luiz S�rgio, o que est� atrapalhando a Doutrina Esp�rita � a pressa
<br>de alguns que nela adentram. Mal acabam de chegar � Casa Esp�rita, j�
<br>
<br>desejara ajudar os esp�ritos sofredores. Uma Casa mal dirigida n�o incentiva
<br>
<br>o iniciante esp�rita � reforma �ntima, a mudar o que antes para ele era certo.
<br>Sem essa mudan�a, o iniciante vai tateando no escuro, sempre em busca dos
<br>fantasmas dos mortos, enquanto no mundo f�sico a dor, o desespero e a fome
<br>moram, muitas vezes, ao seu lado.
<br>� Irm�o Gerald, h� muito est� neste lugar?
<br>� Sim, h� muito tempo. Mas aqui n�o s� cuidamos das sementes da
<br>vida, como tamb�m damos aulas para v�rias turmas que nos buscam.
<br>� Estou deveras encantado com o seu conhecimento do que hoje
<br>vem ocorrendo nas Casas Esp�ritas.
<br>� H� Esp�ritos que t�m miss�es a cumprir. Uns realizam-nas no plano
<br>espiritual, outros, quando est�o no corpo f�sico. N�o importa se temos miss�es
<br>ou tarefas l� ou c�, importa � que estamos tirando as arestas deixadas
<br>no ontem no nosso perisp�rito e a cada dia tentando lav�-lo no sangue do
<br>Cordeiro.
<br>� N�o sabemos por que muitos esp�ritas n�o desejam mudar, mesmo
<br>possuindo bastante conhecimento. S�o aqueles que julgam que os bons conselhos
<br>dos Esp�ritos n�o s�o para eles, sim para os outros.
<br>� Luiz, existem Casa Esp�ritas que n�o aceitam os conselhos dos
<br>Esp�ritos. Quando estes as alertam, dizem que os Esp�ritos nada entendem
<br>do que se passa no mundo f�sico. Por que, ent�o, essas Casas se dizem
<br>esp�ritas? As Casas Esp�ritas s�o dos Esp�ritos, logo, lugares onde deveriam
<br>ser respeitados. Ou ser� que os Esp�ritos podem se manifestar nas igrejas
<br>cat�licas, protestantes e outras mais? Ou ent�o devemos mudar o nome da
<br>nossa Doutrina, porque n�o queremos nela os Esp�ritos...
<br>� Irm�o, e a previs�o de Joel? E o Pentecostes?
<br>� Luiz S�rgio, enquanto os esp�ritas expulsam os Esp�ritos de suas
<br>Casas, as igrejas cada vez mais falam deles. Umas chamam os Esp�ritos superiores
<br>de santos. Muitas Casas Esp�ritas dizem que Esp�ritos bons n�o se
<br>comunicam, enquanto sabemos que os Esp�ritos purificados recebem as or34
<br>
<br>
<br>
<br>dens diretamente de Deus para transmiti-las a todo o Universo, velando pela
<br>sua execu��o. Esses Esp�ritos s�o encarregados de dirigir, nos diversos setores
<br>evolutivos do g�nero humano, tarefas espec�ficas cujo objetivo � contribuir
<br>para o progresso da Humanidade. N�o compreendemos quem se diz
<br>esp�rita mas n�o gosta dos Esp�ritos. Torna-se preciso educar o homem para
<br>que ele tenha sensibilidade para dar condi��o aos Esp�ritos de se manifestar.
<br>Que se melhore a Casa Esp�rita, elucidando os seus freq�entadores, e vir�o
<br>os Esp�ritos bons instruir os homens, ajudando-os no seu progresso. Assim,
<br>as instru��es espirituais resplandecer�o disciplina e amor. Em toda Casa Esp�rita
<br>bem assistida encontramos Esp�ritos e encarnados desempenhando tarefas
<br>de menor ou maior import�ncia, mas todos sendo �teis.
<br>
<br>� Como o irm�o est� certo!
<br>� Luiz, conhece-se a �rvore pelos frutos e �rvore seca n�o � apedrejada;
<br>os que atiram pedras s�o todos aqueles que n�o encontram tempo para
<br>semear.
<br>Marry, que at� ali nos ouvia, falou:
<br>
<br>� Est� na hora de nos retirarmos. Logo aqui voltaremos.
<br>� Irm�o, vejo que aqui se encontram ess�ncias espirituais dos minerais
<br>e de outros reinos tamb�m.
<br>� Sim, mas aqui s� tratamos do reino mineral.
<br>� E por que h� tantas flores?
<br>� Seria muito �rido o nosso viveiro se nele s� existissem rochas. Em
<br>todos os mundos a natureza se faz presente, mesmo nos mais primitivos.
<br>Passamos a m�o na testa, nada compreendendo. Os irm�os nos cumprimentaram
<br>e foram se retirando, e n�s tamb�m, em dire��o contr�ria.
<br>
<br>35
<br>
<br>
<br>Cap�tulo III
<br>A EVOLU��O DA ESS�NCIA ESPIRITUAL
<br>
<br>
<br>Vendo a preocupa��o no meu semblante, Marry, sorrindo, indagou-
<br>me:
<br>
<br>� Deseja alguma explica��o?
<br>� Sim, estou meio apatetado, � muito para minha cabe�a. Estamos
<br>em um mundo onde a ess�ncia espiritual � preparada para o estado de esp�rito
<br>formado?
<br>� Mais ou menos. Este � um lugar de onde s�o encaminhadas as
<br>ess�ncias para outros reinos; mas � apenas uma esta��o, onde as ess�ncias
<br>est�o de passagem.
<br>� Irm� Marry, � um cemit�rio do reino mineral?
<br>Ela sorriu.
<br>� N�o, cemit�rio, n�o. Podemos cham�-lo de hospital das rochas.
<br>� Irm�, quando a pedra � lascada, a ess�ncia parte para c�?
<br>� Ela � trazida n�o somente para c�, pois lugares como este existem
<br>aos milhares pelo Universo.
<br>� Podemos dizer que a pedra que ficou no plano f�sico "morreu"?
<br>
<br>� A que se separou da pedreira, sim. A pedra separada da pedreira
<br>� apenas pedra, sem ess�ncia espiritual. Quando a ess�ncia espiritual da pedra
<br>� retirada, � levada aos laborat�rios do mundo espiritual, como daqui
<br>tamb�m partem as ess�ncias para materializarem-se no mineral, onde aguardam
<br>o momento favor�vel para se desenvolverem. Mas isso s� acontece
<br>quando a pedreira j� est� preparada.
<br>� O mesmo ocorre com as plantas?
<br>� Sim, mas n�o com todas.
<br>� Em quais?
<br>� Por exemplo, nas �rvores milenares.
<br>� N�o compreendi: como pode ocorrer a evolu��o da ess�ncia, se
<br>umas ficam muito tempo e outras tempo diminuto?
<br>� Tudo obedece a um tempo fixado por Deus.
<br>� Explique-nos, irm�, para um melhor aproveitamento meu e do leitor.
<br>� Cada ess�ncia tem o tempo certo de ficar no seu reino, nenhuma
<br>sai antes do tempo.
<br>� E se a pedra for lascada antes do tempo daquela ess�ncia permanecer
<br>no reino mineral?
<br>� Passa para outra em forma��o, assim como nos vegetais. Tudo
<br>obedece ao mundo harmonioso de Deus, Ele � o regente desta bela orquestra
<br>sinf�nica, chamada vida.
<br>� Irm� Marry, ent�o s� o homem morre antes do tempo?
<br>� Vamos devagar. Estamos estudando o reino mineral, e o irm�o j�
<br>deseja conhecer o reino hominal?
<br>� Desculpe. A pressa � a minha pior inimiga.
<br>Ela sorriu e a minha curiosidade aumentava cada vez mais.
<br>
<br>
<br>� Irm�, ent�o nessas pedrinhas que encontramos no caminho do plano
<br>f�sico n�o existem ess�ncias espirituais?
<br>� Sim, voc� est� certo.
<br>� � dif�cil compreender a problem�tica dos tr�s reinos.
<br>� Tem raz�o, Luiz. � um assunto s�rio mas que todo estudioso da
<br>Doutrina deve conhecer. S� assim lutar� pela perfei��o.
<br>� Posso fazer mais uma pergunta?
<br>� Sim, estamos aqui para ajud�-lo.
<br>� A ess�ncia espiritual, isto �, o esp�rito em forma��o, quando reside
<br>no mineral � uma individualidade?
<br>� N�o do modo que voc� imagina.
<br>� Sabe a irm� como imagino?
<br>� Sim: que em cada pedreira s� existe uma ess�ncia espiritual.
<br>� Tem raz�o, � assim que penso. Pode dizer-me como funciona?
<br>� Irm�o, para fecundar um �vulo, existem v�rios espermatoz�ides,
<br>mas s� alguns chegam a se tornarem fetos. Hoje presenciamos a fecunda��o
<br>de v�rios �vulos; v�rios espermatoz�ides chegam at� o �rg�o feminino. Quando
<br>h� a fecunda��o, todos os fetos ficam ali alojados, convivendo, recebendo
<br>da m�e o fluido da vida. Na pedreira, acontece o mesmo: v�rias ess�ncias
<br>s�o ali colocadas. Umas "morrem" antes do tempo, outras prosseguem a
<br>caminhada.
<br>� Essas que morrem perdem a oportunidade?
<br>� N�o. Lembre-se de que um dos fetos de uma gravidez m�ltipla que
<br>n�o sobrevive n�o perde a encarna��o; se isso acontecer, existe uma causa.
<br>No reino mineral, a ess�ncia espiritual � assistida por Esp�ritos capacitados
<br>que, atentos, dela cuidam. Morto o mineral, a ess�ncia espiritual � transportada
<br>para v�rios pontos que existem no Universo, preparados para cooperar
<br>com a marcha progressiva desses Esp�ritos em forma��o.
<br>39
<br>
<br>
<br>� Irm�, podemos comparar esses lugares como sendo viveiros capacitados
<br>para manterem com vida as sementes divinas?
<br>� Tem raz�o, a ess�ncia espiritual que se encontra no mineral � apenas
<br>uma diminuta chama, mas muito resguardada por Deus, chama esta que
<br>nos faz lembrar a c�lula-�vulo tornando-se feto. � o crescimento dos seres.
<br>A ess�ncia espiritual que dorme no mineral ganhar� no amanh� a sensa��o,
<br>quando se materializar no reino vegetal.
<br>� Irm�, gostaria de voltar novamente ao "para�so", pois fui pego de
<br>surpresa. Quando convidado a este trabalho, n�o julgava que tratar�amos
<br>desse assunto t�o s�rio.
<br>� Luiz S�rgio, voltaremos l� de outras vezes, mas agora temos de dar
<br>prosseguimento aos nossos estudos.
<br>� Cada ess�ncia � resguardada por um grupo de bons Esp�ritos, irm�?
<br>� Voc� conheceu v�rios Esp�ritos abnegados que t�m sob as suas
<br>responsabilidades as ess�ncias que dormem no reino mineral. Esses irm�os
<br>s�o Esp�ritos capacitados, grandes conhecedores dos fluidos magn�ticos.
<br>� Qualquer um pode trabalhar nesses lugares?
<br>� N�o. Foge ao nosso conhecimento a evolu��o desses irm�os. S�
<br>sabemos que s�o auxiliares de Deus.
<br>� Pensando bem, Marry, n�o � t�o dif�cil compreender a evolu��o do
<br>Esp�rito. � igual � evolu��o do corpo humano. Primeiro somos ovo, depois
<br>feto, depois beb�; nascemos, vamos crescendo at� ficar adultos, depois envelhecemos
<br>e desencarnamos. A ess�ncia espiritual, quando no mineral,
<br>corresponde � c�lula-ovo que est� no ventre da nossa m�e Natureza. Como
<br>vegetal, est� virando beb�. Quando nasce, torna-se crian�a, � o mesmo que
<br>estar no reino animal: � princ�pio inteligente, mas crian�a ainda, sem responsabilidade
<br>e ainda tateando nos caminhos da vida. O mundo hominal � a
<br>responsabilidade, o saber, o crescimento moral e intelectual, enfim, o livre-
<br>arb�trio. Tudo igualzinho, irm�, e cada mat�ria que revestiu o Esp�rito em
<br>forma��o torna-se em despojos utilizados pela humanidade. Retirada a es
<br>
<br>s�ncia espiritual, o princ�pio inteligente, ou o Esp�rito j� formado, a mat�ria
<br>que os revestiu continua cooperando com a harmonia do Universo. S�o aproveitados
<br>para a marcha progressiva dos seres.
<br>
<br>� Irm�o Luiz S�rgio, Deus criou o Esp�rito para progredir. A Sua
<br>bondade � tamanha que, mesmo possuindo o poder da plenitude, criou o
<br>Esp�rito simples e ignorante para que lutasse para progredir, mas continuou,
<br>como Pai que �, cuidando de todos com desvelo. Se o homem parasse para
<br>se auto-analisar, ele veria como � grande a sua responsabilidade para com
<br>Deus e o seu pr�ximo. Sendo mais f�cil n�o aceitar a verdade da exist�ncia
<br>de Deus e a responsabilidade para com Suas leis, o homem se transviou
<br>pelas encruzilhadas da vida na mat�ria.
<br>� Irm�, acho que o que falta � Humanidade � o conhecimento da
<br>morte. Falta aos homens o conhecimento de onde v�m e para onde v�o,
<br>enfim, que al�m do t�mulo existe vida semelhante � que existe no plano f�sico.
<br>� N�o � s� isso, Luiz, o que o homem precisa. Muitos n�o procuram
<br>se harmonizar no amor. Mesmo conhecendo a pluralidade das vidas sucessivas,
<br>continuam duros, avaros, maledicentes, enfim, bem distantes de um homem
<br>de bem. N�o basta s� o conhecimento, precisamos da pr�tica. A caridade
<br>� o �nico caminho para a perfei��o. E ela deve se tornar para cada ser
<br>a companhia de todas as horas. Conhece-se o filho de Deus pelas suas atitudes.
<br>N�o basta bater no peito e falar mansinho as escrituras; o que torna bom
<br>o homem � o conjunto das suas pequenas virtudes. Enquanto os ditos religiosos
<br>s� baterem no peito, trancafiados em seus templos, deixar�o passar a
<br>oportunidade de reencontrar Jesus, que est� sempre nos lugares de sofrimento.
<br>Portanto, Luiz, n�o basta conhecer a Doutrina Esp�rita, o que se torna
<br>preciso � um grande conhecimento das pr�prias necessidades de reforma
<br>interior. Sendo a alma imortal, precisa o homem se auto-educar. Enquanto
<br>ele estiver preocupado com a evolu��o do seu pr�ximo, estar� deixando a
<br>sua pr�pria oportunidade de crescimento para tr�s.
<br>� A irm� tem raz�o. �s vezes a pessoa � bondosa, � carinhosa, mas
<br>� dif�cil, intransigente, dura e �s vezes at� injusta. Por qu�? Simplesmente
<br>
<br>porque n�o � humilde. O humilde � bondoso, � amigo, � desprendido.
<br>
<br>� Luiz, o homem do final deste mil�nio precisa buscar as coisas de
<br>Deus. Estamos pr�ximos do final do s�culo3 e nunca se viu tantos religiosos
<br>preocupados com a sua igreja, considerando-a a maior da Terra, enquanto a
<br>fam�lia est� sendo exterminada, os jovens morrendo de tristeza, as crian�as
<br>cada vez mais abandonadas pelos pais. Enquanto os religiosos brigam, sem
<br>uma uni�o crist�, os Esp�ritos das trevas alegram-se junto aos cora��es
<br>invigilantes.
<br>� O que a irm� acha que se pode fazer para levar o homem a se auto-
<br>educar?
<br>� � preciso descobrir o Cristo integralmente. No dia em que o homem
<br>viver o c�digo da moral crist�, que se encontra no Serm�o da Montanha,
<br>a Terra estar� transformada.
<br>� Irm�, quando est�vamos recebendo as aulas sobre o Serm�o do
<br>Monte, eu ficava inebriado com a grandeza de Jesus, a Sua humildade em
<br>transmitir aos Seus irm�os errados, que se encontram neste planeta de expia��o
<br>e provas, o valor do respeito �s leis de Deus.
<br>� Quando o Cristo pronunciou o Serm�o do Monte, Ele apenas
<br>estava explicando cada vers�culo do Dec�logo. E com que simplicidade o
<br>fez! O homem n�o precisa decorar todos os livros sobre conduta humana,
<br>basta que respeite o Dec�logo e procure ver o que nos ensina o Mestre
<br>Jesus. Em Mateus, Cap�tulo V, vers�culo 17, encontramos: N�o julgueis
<br>que vim abolir a lei e os profetas; n�o os vim destruir, mas sim para os
<br>cumprir. Que grandeza de palavras! O Cristo veio � Terra como Mestre do
<br>amor para ensinar o homem a se tornar bondoso. � como se Ele, o Cristo, ao
<br>descer ao plano f�sico, tivesse descido ao inferno. Mesmo assim, Ele chegou
<br>at� os pecadores e, com amor, t�o bem pregou a Sua doutrina. Alguns se
<br>tornaram m�rtires, outros, traidores, ainda assim Ele nos enviou o Consolador,
<br>
<br>3 N.E. � Este livro foi psicografado no ano de 1998.
<br>
<br>42
<br>
<br>
<br>a Doutrina Esp�rita. Os bons Esp�ritos ensinam ao homem que Deus n�o quer
<br>sacrif�cio, mas pede ren�ncia; que sem reforma interior n�o existe crescimento
<br>espiritual e que cada ser est� no corpo f�sico para evoluir. Caso contr�rio,
<br>perde o sentido a necessidade das vidas sucessivas. O homem tem de evoluir,
<br>porque essa � a lei. E para curar as almas doentes existem os mensageiros
<br>de Deus, que s�o todos aqueles que se tornaram exemplos de caridade.
<br>
<br>
<br>Cap�tulo IV
<br>A RENOVA��O DA TERRA
<br>
<br>
<br>Ap�s breve pausa, retomei minha conversa com Marry:
<br>
<br>� Irm�, n�o posso deixar de lembrar o que aprendemos sobre o
<br>reino mineral. Por isso a preocupa��o dos Esp�ritos mensageiros com a evolu��o
<br>do homem, principalmente quando se aproxima o final do mil�nio?
<br>� Sim, Luiz. A Terra se aproxima da regenera��o, e ai dos pregui�osos,
<br>dos que s� pregam iniquidades, esses ser�o levados aos mundos em
<br>forma��o, onde ver�o o ranger dos dentes.
<br>� Ser� que existe esp�rita que nada conhece sobre a deporta��o dos
<br>pecadores para outro planeta?
<br>� Se ainda n�o conhece esta verdade, precisa urgente busc�-la; e ela
<br>n�o � mostrada somente nos livros esp�ritas, pois foi predita por Jesus no
<br>Serm�o do Monte, em Mateus, Cap�tulo V, vers�culo 4: Bem-aventurados
<br>os mansos, porque possuir�o a terra. E o tempo est� chegando. Ser� que
<br>algu�m j� parou para pensar que o ano 2000 ser� o �ltimo ano do s�culo e
<br>que nenhum encarnado estar� no corpo atual para ver a virada do pr�ximo
<br>mil�nio?
<br>� Mas o Esp�rito pode estar com um outro corpo.
<br>
<br>� Sim, se a Terra ainda for planeta de expia��o e prova.
<br>� Explique, por favor, irm�.
<br>� Ningu�m sabe quando ela passar� para um novo est�gio e quem
<br>ser�o os seus herdeiros. Por isso � que os Esp�ritos pedem aos encarnados:
<br>vamos mudar, vamos amar, vamos seguir o Cristo.
<br>� Por isso sempre nas minhas ora��es, ao cerrar meus olhos, digo
<br>baixinho, para que s� Ele, o nosso Amigo e Mestre, me escute: Senhor,
<br>ensina-me a viver de amor.
<br>� Luiz, se todos lutassem para viver de amor, a perfei��o tomaria
<br>conta de seus esp�ritos. O reino que Jesus prega manifesta-se claramente aos
<br>homens na palavra, nas obras e na pessoa do Cristo. Agora, para segui-Lo,
<br>� necess�rio que nos tornemos humildes, bondosos, caridosos, irm�os uns
<br>dos outros. Mesmo o homem esp�rita, muitas vezes � admirador da Doutrina,
<br>e n�o um fiel seguidor do que ela nos ensina de bom. Muitos admiram a
<br>coragem de Allan Kardec, mas n�o procuram transformar as suas Casas
<br>Esp�ritas em cascatas de conhecimento para os seus freq�entadores, que
<br>muitas vezes s� recebem orienta��o sobre Esp�ritos sofridos. A finalidade
<br>das Casas Esp�ritas � transformar o homem, fazer dele um ser distante da
<br>imperfei��o, porque s� a Doutrina Esp�rita nos ensina que tudo o que se
<br>planta se colhe. Deixem de culpar os Esp�ritos pelos desequil�brios dos encarnados;
<br>se existem Esp�ritos trevosos junto aos encarnados, � porque o
<br>homem os alimenta de �dio e iniquidades. No dia em que o homem tornar-se
<br>bondoso, os Esp�ritos n�o ir�o mais perambular pelos canteiros do mundo
<br>f�sico. Mudem os homens, e toda a atmosfera da Terra ser� mudada. Para
<br>que isso venha a acontecer � que Jesus prometeu o Consolador. A Doutrina
<br>Esp�rita n�o � mais uma religi�o para fazer fermentar a vaidade entre os homens
<br>nem fortalecer sacerdotes. Ela veio para abrir os t�mulos e ressuscitar
<br>os mortos. E estes gritar�o bem forte para seus irm�os e familiares: levantem-
<br>se e andem, porque a morte n�o existe; aproveitem a atual encarna��o para
<br>se livrarem da carga pesada dos erros que carregam nas costas h� milhares
<br>de anos. A reencarna��o � a m�o de Deus afagando nossos esp�ritos, dan
<br>
<br>do-nos for�as para novas jornadas, em uma nova vida. S� a Doutrina coloca
<br>
<br>o homem diante de si mesmo, s� ela nos mostra as nossas imperfei��es. Se
<br>os esp�ritas n�o entenderem a Doutrina como um rem�dio que cura as almas
<br>doentes, muitos passar�o por ela, por�m ser� apenas mais um lugar onde se
<br>fala sobre o Cristo, mas n�o se colocam ao lado d'Ele. Enquanto levantarem
<br>Centros Esp�ritas para educar Esp�ritos desencarnados, estar�o longe da real
<br>finalidade do Espiritismo, que � a de transformar os homens. Para isso, torna-
<br>se preciso a orienta��o dos Esp�ritos desencarnados mission�rios, que
<br>est�o ao lado dos homens para ajud�-los. Sem esses orientadores, dificilmente
<br>a Casa, dita Esp�rita, ter� �xito, pois em Casa Esp�rita dirigida somente
<br>pelos homens haver� briga, luta pelo poder, separa��es. Mas se for um
<br>templo de Jesus, tendo Ele como dirigente e os Seus mensageiros como
<br>colaboradores, a Casa Esp�rita ter� boa orienta��o e disciplina. Hoje, alguns
<br>esp�ritas s� desejam levantar Centros Esp�ritas e a vaidade leva muitos ditos
<br>esp�ritas a brigar pela presid�ncia da Casa, ou a disputar cargos em sua
<br>diretoria.
<br>� E o Cristo, onde est�?
<br>� Como o Esp�rito sopra onde quer, Ele, o Mestre, est� ao lado de
<br>uma ou duas pessoas que oram em Seu nome.
<br>� Irm�, o esp�rita n�o deveria se expor a essas briguinhas de comadres;
<br>elas acontecem por falta de amor a Deus e ao pr�ximo, n�o acha?
<br>� O que leva as pessoas a n�o se entenderem � a falta de trabalho. Se
<br>todos, ao chegarem � Casa Esp�rita, se entregassem aos trabalhos de caridade,
<br>n�o encontrariam tempo para melindres.
<br>� Irm� Marry, isso acontece porque quem busca a Doutrina Esp�rita
<br>quase nada faz para se melhorar. Se � avaro, continua avaro, se � criador de
<br>caso, continua criando casos, e assim vai. Transforma��o, que � bom, nada.
<br>E a finalidade da Doutrina � transformar o homem. Se este n�o se auto-
<br>educar, jamais ir� compreender a doutrina do Cristo, que foi muito claro
<br>quando disse: E todo o que deixar, por amor do meu nome, a casa ou os
<br>irm�os, ou as irm�s, ou o pai, ou a m�e, ou os filhos, ou as fazendas,
<br>
<br>receba cento por um, e possua a vida eterna (Mateus, Cap�tulo XIX,
<br>vers�culo 29). Aqui vemos que Pedro disse: Eis aqui estamos n�s que deixamos
<br>tudo e te seguimos. Jesus lhe respondeu: Em verdade vos digo
<br>que ningu�m h� que uma vez que deixou pelo reino de Deus a casa ou os
<br>pais, ou os irm�os, ou a mulher, ou os filhos, logo neste mundo n�o
<br>receba muito mais, no s�culo futuro a vida Eterna (Lucas, Cap�tulo XVIII,
<br>vv. 28-30). Parecem estranhas estas palavras pronunciadas por Jesus, que
<br>em O Evangelho Segundo o Espiritismo Kardec colocou no Cap�tulo XIII,
<br>com o nome de Moral Estranha. Por�m, para os bons servidores n�o parecem
<br>estranhas essas palavras de Jesus, porque o bom servidor n�o fica olhando
<br>para tr�s quando est� diante do Mestre; ele sempre encontra tempo para
<br>dedicar-se ao trabalho ao pr�ximo. A criatura que se prop�e a seguir Jesus
<br>tem de multiplicar-se em amor ao pr�ximo, que s�o seus pais, seus irm�os,
<br>marido, mulher, enfim, os nossos dom�sticos.
<br>
<br>� Jesus j� previa que os Seus seguidores iriam ouvir queixas como
<br>estas: "voc� � um fan�tico, est� deixando a sua fam�lia sem a sua presen�a",
<br>e os dom�sticos reclamando, reclamando, �s vezes at� com �dio dos irm�os
<br>de f�. Mas se o seguidor do Cristo tiver f� raciocinada, ele vai recordar estas
<br>palavras do Mestre: V�s cuidais que eu vim trazer a paz � Terra? N�o,
<br>vos digo eu, mas separa��o, porque de hoje em diante haver�, numa
<br>mesma casa, cinco pessoas divididas, tr�s contra duas, e duas contra
<br>tr�s. Estar�o divididos: o pai contra o filho, e o filho contra seu pai; a
<br>m�e contra a filha e afilha contra a m�e, e a sogra contra sua nora, e a
<br>nora contra sua sogra. E os inimigos do homem ser�o os seus mesmos
<br>dom�sticos (Mateus, Cap�tulo X, vers�culos 34-36).
<br>� O Cristo � o Cristo. Como � atual esta passagem! Como hoje
<br>ainda defrontamos com mulheres repreendidas pelos filhos, pelos maridos!
<br>Elas podem ir para qualquer lugar, mas ai se buscarem uma Casa Esp�rita. Os
<br>filhos reclamar�o a sua presen�a, o marido amea�ar� at� se separar. Muitas
<br>at� lutam em prol do Cristo, mas, infelizmente, a maioria acha mais f�cil ficar
<br>em casa, � frente do fog�o ou da televis�o, sem lutar pelos seus direitos,
<br>direito este de trilhar o caminho da perfei��o. Fica ainda sendo chamada de
<br>
<br>ego�sta e ouvindo os gritos da sua t�o bela e unida fam�lia. Assim tamb�m
<br>vemos filhos que t�m de lutar, e muito, contra m�es e pais materialistas que.
<br>ao verem os filhos estudando a Doutrina e carregando cestas b�sicas para os
<br>pobres, sentem-se os mais infelizes dos pais, porque dizem que seus filhos
<br>viraram fan�ticos religiosos.
<br>
<br>� Essas pessoas s�o a maioria, os chamados "mornos". Cr�em, amam
<br>Jesus, mas como colocar os p�s nas Suas pegadas, se m�os mais fortes as
<br>puxam para o ch�o e as impedem de evoluir? E essas criaturas, nervosas
<br>porque n�o fazem o que gostariam, tornam-se azedas, n�o s� em seus lares,
<br>como nas Casas religiosas por onde passam. Aquele que adentra a Doutrina
<br>e a deixa entrar na sua vida, por�m, este mete a m�o no arado e procura s�
<br>olhar para frente, no longo e �spero caminho que nos leva � perfei��o. O
<br>Centro Esp�rita existe para melhorar o homem, para que ele lute pela sua
<br>liberdade com o Cristo. � na Doutrina que o homem levanta a l�pide do
<br>t�mulo e adentra o mundo dos Esp�ritos, mesmo na condi��o de alma. Mas
<br>aqueles para quem a Doutrina � apenas uma brisa que passa, estes est�o
<br>deixando passar a grande oportunidade de lutar pela pr�pria melhoria.
<br>� Irm� Marry, achamos que pouco se fala nas Casas Esp�ritas
<br>sobre a responsabilidade daqueles que as buscam. Vemos v�rias pessoas
<br>se dizerem esp�ritas s� porque v�o ao Centro em busca de passes ou
<br>para ouvir palestras. Isto � Doutrina? E mais ainda, h� aqueles que adoram
<br>contatar o mundo dos Esp�ritos: s�o os ca�adores de fantasmas, que
<br>s� v�em obsess�o nas criaturas sofridas ou subjugadas pela imperfei��o.
<br>H�, tamb�m, os que aparecem na Casa quando nas reuni�es de diretoria.
<br>S� nessas ocasi�es. Isso � Doutrina Esp�rita? Claro que n�o. O servidor
<br>do Centro trabalha n�o s� nos lugares pobres, como no atendimento �s
<br>almas sofridas que buscam a Casa desejando orienta��o. E n�o existe
<br>melhor momento que este para se colocar as m�os nos livros da
<br>Codifica��o, para que aquele que deseje se tornar m�dium encontre a
<br>disciplina para a sua tarefa. Se deixamos as orienta��es a cargo de pessoas
<br>sem caridade, sem humildade, sem disciplina, pouco podemos esperar
<br>das mudan�as morais nesse irm�o. O trabalho de uma Casa Esp�ri
<br>
<br>ta deve ser estafante, principalmente em se tratando daqueles que se dizem
<br>portadores de mediunidade, n�o concorda, irm�?
<br>
<br>� Hoje, com pesar, vemos pessoas passando por momentos dif�ceis,
<br>fatos mais que normais na �poca atual. Voltamos a repetir: estamos no fim do
<br>mil�nio, n�o somente do s�culo, portanto, os terr�veis dias do Senhor a� est�o
<br>chegando. Agora, o que vem acontecendo � que a pessoa sofrida pede uma
<br>orienta��o para seus males e fica orgulhosa ao receb�-la, pois o orientador
<br>mal esclarecido diz �quela criatura sofrida, sem conhecimento da Doutrina,
<br>que ela � portadora de uma gloriosa mediunidade, ou melhor, de todas as
<br>mediunidades. E esta pessoa, que nada conhece de Espiritismo, resolve "desenvolver"
<br>a mediunidade em casa ou em algum Centro, onde tamb�m n�o
<br>existe estudo da Doutrina. Muitos ainda dizem: para que estudar? Tenho
<br>todas as mediunidades... Pode ser at� que tenha, mas a falta de disciplina,
<br>que s� o estudo s�rio oferece ao m�dium, vai lev�-lo a tornar-se mais um
<br>mau representante da Doutrina Esp�rita, porque ningu�m ir� perguntar a um
<br>m�dium desequilibrado se ele conhece as obras b�sicas, o roteiro a ser seguido
<br>na longa caminhada da evolu��o. Os ofensores apenas ir�o dizer: veja,
<br>fulano � m�dium, � esp�rita. Enquanto ocorrem esses tristes fatos, os que
<br>lutam por uma Doutrina cristalina, como nos foi entregue pelos Esp�ritos
<br>codificadores, n�o devem ficar de bra�os cruzados.
<br>� Mas o que fazer, Marry?
<br>� Os jornais, os livros, todos precisam orientar os presidentes das
<br>Casas Esp�ritas para a necessidade do conhecimento doutrin�rio. Caso contr�rio,
<br>teremos nos Centros Esp�ritas crendices, imagens, batucadas, casamentos,
<br>enfim, rimais de outras religi�es. A Doutrina Esp�rita encontrar-se-�
<br>apenas na fachada da Casa; por dentro, ser� uma salada indigesta.
<br>� Irm�, tenho escrito tanto sobre isso! Dias atr�s fui a uma Casa,
<br>bastante conhecida naquela cidade, e fiquei assombrado com a falta de disciplina
<br>no grupo medi�nico: a entrada dos m�diuns ocorria mesmo depois de
<br>iniciado o trabalho. Seus componentes podiam sair da sala a qualquer momento:
<br>para ir ao banheiro, beber �gua, "numa boa".
<br>
<br>� � inacredit�vel que em uma Casa, cujo presidente conhece O Livro
<br>dos Esp�ritos e O Livro dos M�diuns, ocorra tal fato.
<br>� Irm�, podemos dar uma chegadinha em alguns Centros Esp�ritas?
<br>� Sim, temos tempo para isso.
<br>� Irm� Marry, estou gostando muito da sua companhia. Posso fazer-
<br>lhe uma pergunta?
<br>� Todas que desejar.
<br>� Onde a irm� trabalha?
<br>� Trabalhamos junto aos necessitados; eles nos chamam de mensageiras
<br>de Maria. Mas gostaria de pedir ao irm�o que s� me chamasse de
<br>Marry; sentimo-nos bem melhor.
<br>� Obrigado, muito obrigado pela confian�a em mim depositada. Espero
<br>j� ter adquirido maturidade suficiente para n�o lhe causar constrangimento.
<br>� N�o diga isso, Luiz, o irm�o � uma bela crian�a de Jesus. Temos
<br>algumas horas de folga, se desejar, podemos conhecer alguma Casa Esp�rita.
<br>� Gostaria muito, pois sei que o leitor gosta quando o assunto � grupo
<br>medi�nico.
<br>E, assim, logo est�vamos em um Centro Esp�rita cuja finalidade era
<br>estudar a Doutrina. Ao chegarmos, notamos que as pessoas conversavam e
<br>riam, como se estivessem em um clube. Os trajes eram os mais sum�rios
<br>poss�veis.
<br>
<br>� Marry, o que a irm� acha das roupas sum�rias nos Centros Esp�ritas?
<br>� O homem deve trajar-se de acordo com as esta��es do ano.
<br>No inverno, n�o podemos estar vestidos como se estiv�ssemos no ver�o.
<br>Como podemos usar um sobretudo em pleno ver�o brasileiro? Assim
<br>tamb�m n�o se concebe as pessoas buscarem os locais de ora��o
<br>
<br>trajando roupas sum�rias, apropriadas para clubes, praias e piscinas, ou
<br>vestidas como se fossem a casamentos. As Casas Esp�ritas s�o hospitais
<br>de almas. Devemos chegar a elas com trajes discretos e que n�o fa�am
<br>desviar a aten��o dos seus freq�entadores para a nossa pessoa. Freq�entamos
<br>a Casa Esp�rita para ajudar a n�s mesmos e aos Esp�ritos,
<br>sejam eles bons ou menos evolu�dos, e muitas vezes uma roupa por demais
<br>sensual causa transtorno em alguns Esp�ritos sem evolu��o. Repetimos:
<br>se n�o � prudente comparecermos a uma cerim�nia com roupa de
<br>banho, por que zangarmos com a diretoria de uma Casa Esp�rita, quando
<br>esta nos pede roupas decentes?
<br>
<br>� A irm� acha certo proibir os homens de adentrar as Casas Esp�ritas
<br>de bermudas e permitir que as mulheres o fa�am de minissaia?
<br>� As bermudas, como as ditas minissaias, n�o s�o trajes apropriados
<br>para quem deseja orar.
<br>Nisso, n�o pudemos conter o riso: uma jovem, trajando min�scula
<br>minissaia e um "senhor" decote, ria gostosamente junto ao seu grupo e
<br>alguns Esp�ritos menores deliciavam-se em toc�-la, o que levava a seguran�a
<br>espiritual da Casa a um maior trabalho. N�s dois sorrimos, e Marry
<br>comentou:
<br>
<br>� Est� vendo, Luiz? Os piores obsessores s�o os encarnados. Eles �
<br>que muitas vezes atormentam os Esp�ritos que tanto necessitam encontrar
<br>guarida no mundo espiritual.
<br>E a mocinha, toda brejeira, sentindo-se admirada, mais ainda se retorcia
<br>para chamar aten��o sobre ela, n�o sabendo que Esp�ritos menores eram
<br>tamb�m seus admiradores.
<br>
<br>� Irm�, muitos acham que n�o deve haver preocupa��o com as roupas,
<br>porque a Doutrina Esp�rita � uma doutrina de respeito ao livre-arb�trio.
<br>� Respeitar o livre-arb�trio n�o quer dizer cooperar com a indisciplina.
<br>Casa sem disciplina � pasto de obsessores e a conduta dos seus freq�entadores
<br>muito coopera para a boa assist�ncia ou para o desequil�brio.
<br>
<br>� Complicado, Marry.
<br>� Tem raz�o. Todos os presidentes de Centros Esp�ritas devem
<br>preocupar-se mais com a freq��ncia de suas Casas. Quantidade n�o �
<br>qualidade. Muitas vezes, com a vontade de que o Espiritismo cres�a, a
<br>Casa tudo faz para aumentar, sem crit�rio, a freq��ncia do p�blico, e n�o
<br>� esse o prop�sito da Doutrina. Tornamos a repetir: a Casa Esp�rita � um
<br>hospital de almas; quem a busca deseja curar-se, nem que seja de um
<br>pequeno mal. Para que isso ocorra, precisamos obedecer �s normas da
<br>Casa, que devem orientar para a reforma �ntima. Se isso n�o ocorrer, os
<br>freq�entadores da Casa levar�o anos e anos somente tomando passes,
<br>sem reforma interior, sem conhecimento e repletos de crendices. Uma
<br>Casa bem orientada opera como um cirurgi�o pl�stico, embelezando o
<br>corpo e a alma de seus freq�entadores.
<br>� O corpo, irm�?
<br>� Sim. A alma, estando bela, faz com que o corpo f�sico se enrique�a
<br>de fluidos salutares.
<br>� Tem raz�o. Conhe�o um Centro Esp�rita onde as senhoras n�o t�m
<br>idade, s�o din�micas e lindas.
<br>� A disciplina da alma reconforta o corpo f�sico. Infeliz do homem
<br>que n�o se harmoniza. A mente � a condutora do magnetismo. Se ela n�o
<br>est� ligada ao Alto, como o seu dono pode captar o que vem do mundo
<br>espiritual?
<br>� E tem neguinho que acha que devemos respeitar o livre-arb�trio e
<br>deixar o Centro ao Deus-dar�. Jesus muito bem alertou contra eles: s�o os
<br>ditos cegos condutores de cegos.
<br>Fomos convidados a adentrar um grupo cujos trabalhos seriam iniciados.
<br>Leram rapidamente O Evangelho Segundo o Espiritismo, fizeram uma prece e
<br>deram in�cio ao trabalho. Um Esp�rito manifestou-se chorando. Nisso, um dos
<br>m�diuns saiu e foi para o banheiro. E assim decorreu o trabalho. Cada hora era
<br>um m�dium que sa�a para fazer alguma coisa.
<br>
<br>
<br>� � inaceit�vel. S�rgio, que isso aconte�a em uma Casa que estuda
<br>O Livro dos Esp�ritos e O Livro dos M�diuns � comentou Marry.
<br>� E quem disse que eles l�em esses livros?
<br>� Mas deveriam. Sem esses dois livros, nunca compreender�o a
<br>maravilha da Codifica��o.
<br>� �, Marry, o mal de alguns esp�ritas � a pressa. Quando algu�m
<br>chega � Casa Esp�rita logo julga que tem de receber Esp�ritos e
<br>tudo faz para ser encaminhado a um grupo medi�nico. E assim muitos
<br>s�o acolhidos nos grupos sem preparo, sem o m�nimo conhecimento.
<br>Essas pessoas tamb�m s�o f�ceis de sair do Espiritismo, basta
<br>algu�m lhes falar algumas verdades e pronto, j� sa�ram, e falando
<br>mal....
<br>� Tem raz�o, s�o os que se melindram por qualquer coisa.
<br>� Isso acontece porque nada conhecem da Doutrina, julgando
<br>que Espiritismo � um fato sobrenatural. No dia em que todas as Casas
<br>Esp�ritas adotarem o estudo como a condu��o da caminhada, n�o veremos
<br>tantas pessoas perdidas no matagal da ignor�ncia, sonhando sem ter
<br>sonhado, vendo sem ser videntes, desdobrando-se sem nunca terem sa�do
<br>do corpo. Enfim, os doentes, os falsos profetas. E s�o eles que tantos
<br>danos causam ao Espiritismo, porque depois v�o para as igrejas dizendo-
<br>se esp�ritas que abandonaram o Espiritismo. Na verdade, nunca foram
<br>esp�ritas, porque aquele que estuda, que deixa a Doutrina envolver-
<br>lhe a alma, jamais a renega. A Doutrina Esp�rita � o ar daquele que a ama,
<br>� o solo firme por onde se caminha, � a m�o amiga que lhe seca as l�grimas,
<br>� o Consolador prometido por Jesus, sempre ao lado dos que precisam.
<br>� E este grupo, o que ser� dele?
<br>� N�o vai demor muito a acabar. Ele n�o est� curando almas, est�
<br>fermentando vaidades e indisciplina.
<br>Seguimos para outras Casas e nos deparamos com outros grupos
<br>
<br>
<br>medi�nicos, mas para nosso pesar, muitos m�diuns precisavam de tratamento
<br>psiqui�trico, tanta a fantasia das suas revela��es.
<br>
<br>� A Doutrina � t�o simples, por que o homem deseja complicar tudo?
<br>� Porque muitos gostam das fantasias do sobrenatural.
<br>Vimos tanta mistura nos ditos grupos medi�nicos de algumas Casas
<br>Esp�ritas, que julguei que estiv�ssemos em outras seitas, tal a quantidade de
<br>crendices.
<br>
<br>� Luiz, por hoje chega, certo?
<br>� Sim, Marry, mas o que se pode fazer?
<br>� Ser iniciada urgentemente uma campanha sobre a necessidade
<br>do estudo e do respeito � pureza doutrin�ria. O Centro Esp�rita que deseja
<br>conquistar adeptos de outras religi�es deve pensar bem antes de
<br>criar o seu estatuto. Achamos melhor dar outro nome ao seu templo,
<br>porque a palavra esp�rita deve significar um riacho que corre para o mar,
<br>que � Deus. As �guas s�o os homens, que desejam purificar-se para chegar
<br>ao Pai; mas para que isso aconte�a, essas �guas precisam da pureza
<br>doutrin�ria, sem detritos, sem polui��o, sem crendices. As Casas Esp�ritas
<br>t�m de primar pela fidelidade �s obras doutrin�rias. Elas ensinam a
<br>simplicidade nas reuni�es medi�nicas. Quem n�o tem crit�rio aceita tudo,
<br>adora amuletos, talism�s, fazem batizados e casamentos nos Centros,
<br>vivem com medo de feiti�arias. Tal pessoa n�o conhece a Doutrina Esp�rita,
<br>porque quem a conhece tem a f� t�o raciocinada que sua alma eleva-
<br>se acima da mat�ria.
<br>� Marry, como deve ser a prepara��o para a tarefa medi�nica de um
<br>grupo?
<br>� A prepara��o deve ser material e espiritual: cuidar da alimenta��o,
<br>evitar carne de animais, vigiar atos, pensamentos e palavras e manter-
<br>se equilibrado durante todo o dia que antecede a reuni�o. � aconselh�vel
<br>chegar quinze minutos antes do in�cio do grupo; se chegar atrasado,
<br>n�o entrar na sala. N�o sair do recinto ap�s iniciados os trabalhos, a
<br>
<br>n�o ser em emerg�ncia; prestar aten��o nos estudos que antecedem a
<br>reuni�o; evitar conversas, movimentos e ru�dos; lutar pela humildade, nunca
<br>desejar demonstrar uma mediunidade gloriosa; lutar pela verdade; estudar
<br>com amor. Bem, Luiz, voltemos agora para os nossos estudos na
<br>Universidade.
<br>
<br>� Obrigado, Marry, sempre que puder venha dar uma olhada nas
<br>Casas Esp�ritas.
<br>
<br>Cap�tulo V
<br>A BELEZA DA CRIA��O
<br>
<br>
<br>Caminhando pelo mundo espiritual, logo est�vamos em um belo jardim,
<br>cujas flores pareciam-nos falar.
<br>
<br>� Marry, isto � o para�so?
<br>� Parece com o para�so, Luiz, mas � apenas o Campo da Esperan�a;
<br>este campo antecede o mundo maravilhoso dos vegetais.
<br>� Agora iremos at� o reino vegetal?
<br>� N�o precisamente ao reino vegetal, mas ao mundo vegetal; ali ficam
<br>algumas ess�ncias, quando desmaterializadas do mundo f�sico.
<br>Calei-me, t�o emocionado me encontrava. Ali ficamos muitas horas
<br>conversando, at� que chegou Jean, que nos elucidou sobre a beleza da caminhada
<br>espiritual do ser. N�s o ouvimos, embevecidos:
<br>
<br>� Devido � pouca evolu��o, o ser humano terr�queo ainda n�o tem
<br>condi��o de conhecer o princ�pio das coisas. Mas � medida que progride,
<br>purificando-se e estudando, entende melhor as leis da Natureza. E assim,
<br>pouco a pouco, vai conhecendo tudo sobre a Cria��o e descobrindo o que
<br>ontem era tido como dogma e como mist�rio. Na Doutrina Esp�rita, o homem
<br>que n�o est� preocupado com os fen�menos medi�nicos descobre,
<br>embevecido, a beleza da Cria��o e a sua responsabilidade perante Deus.
<br>
<br>Ent�o, reveste-se da vontade de lutar pela pr�pria perfei��o. Busca conhecer
<br>o Universo, a infinidade de mundos que v� e os que n�o v�, todos os
<br>seres, animados e inanimados, todos os astros que se movem no espa�o e os
<br>fluidos. Nessa busca, encontra o Esp�rito, ser inteligente da cria��o. Encontra
<br>tamb�m outro elemento de que o Esp�rito se serve e sobre o qual exerce
<br>sua a��o: a mat�ria, tamb�m chamada fluido c�smico universal. S�o-lhe ensinadas
<br>as modifica��es e transforma��es desse fluido, que d�o origem �
<br>inumer�vel variedade de corpos da Natureza; compreende que os mundos
<br>s�o formados pela condensa��o da mat�ria, disseminada no espa�o universal,
<br>mas n�o lhe � revelado quanto tempo os mundos levam para se formar
<br>nem quando eles desaparecer�o. A Doutrina nos ensina que Deus renova
<br>estes mundos como renova os seres vivos. Como vemos, na Doutrina muito
<br>h� que se aprender, e s� buscando os ensinamentos iremos dar valor a Deus
<br>e a Jesus: Deus, por nos ter criado, e Jesus, o modelo de perfei��o a ser
<br>atingido. � bom saber que todos n�s somos Esp�ritos, seres inteligentes, evoluindo
<br>nesse Universo de Deus; que n�o teremos fim e que Deus cria sem
<br>cessar e continua criando e criando, sempre. Deus � o Pai de tudo, Ele criou
<br>os nossos Esp�ritos e este n�o � uma coisa qualquer; apesar do Esp�rito ser
<br>incorp�reo, ele � alguma coisa, subst�ncia quintessenciada, sutil, et�rea. Ningu�m
<br>pode dizer que n�o � nada. Todos os seres s�o importantes, porque
<br>foram criados por Ele, Deus, o Pai do Universo. Ningu�m pode destruir o
<br>Esp�rito, porque ele � imortal. Por tudo isso, tem o homem de lutar pela
<br>perfei��o e somente a Doutrina Esp�rita explica o ranger de dentes; somente
<br>ela esclarece que o plantio � livre; a colheita, por�m, mais que obrigat�ria.
<br>Quem toma conhecimento dessas verdades tem de lutar para jogar fora as
<br>amarras da imperfei��o. Se a Doutrina coloca o homem defronte de um espelho
<br>cristalino, espelho este que bem reflete suas imperfei��es, por que n�o
<br>lutar para viver no mundo, mas sem se tornar escravo dele?
<br>
<br>Jean fez breve pausa, para logo continuar:
<br>
<br>� Quantos se dizem esp�ritas, mas continuam maledicentes, maus colegas,
<br>p�ssimos chefes de fam�lia, orgulhosos, avaros, enfim, tiveram acesso
<br>� fonte da vida plena, mas n�o tiveram sede de ren�ncia. Ao esp�rita n�o �
<br>
<br>dado o direito de pisar nas p�rolas doutrin�rias, principalmente aqueles que
<br>t�m sobre seus ombros a cruz da responsabilidade de uma Casa Esp�rita.
<br>Existe cada esp�rita!... Uns n�o aceitam nas suas Casas as orienta��es
<br>espirituais; outros, �timos oradores, combatem o fumo, mas na intimidade
<br>fumam; combatem o �lcool, mas nas festinhas familiares gostam de um
<br>vinho ou de uma cerveja; falam sobre caridade, mas na realidade s�o
<br>avaros. Vivem como se achassem que a vida fosse uma s� � a corp�rea
<br>�, dando demasiada import�ncia a tudo o que � material. Sabemos que
<br>
<br>o avaro, o intransigente, n�o est� plantando amor no seu jardim
<br>encarnat�rio. Se como esp�rita reconhece que a vida corp�rea � uma
<br>b�n��o divina, o perd�o de Deus, ele aproveita o aprendizado do resgate,
<br>compreendendo que toda dor � tempor�ria e que muito breve, como
<br>Esp�rito que �, imortal, ter� a felicidade plena. Como esp�ritas sabemos
<br>que o bem que hoje praticamos nos preparar� um futuro melhor, e como
<br>a f� � a esperan�a de vit�ria, sentir-nos-emos animados e confortados
<br>apesar das lutas, das ren�ncias e de algumas dores. Considerar-se privilegiado
<br>apenas porque vive em uma Casa Esp�rita � falta de conhecimento
<br>doutrin�rio. O esp�rita tira o melhor proveito das experi�ncias que a
<br>vida lhe d�, enfrentando com paci�ncia e resigna��o tudo o que venha a
<br>lhe ocorrer. Entretanto, basta cair uma telha da nossa casa e corremos
<br>atr�s das crendices, porque achamos que os Esp�ritos t�m obriga��o de
<br>nos melhorar o dia-a-dia. N�o se conhece nenhum esp�rita que n�o lute
<br>pela pr�pria melhoria, fazendo um grande esfor�o para se tornar bondoso,
<br>caridoso, enfim, um verdadeiro esp�rita. Para isso, utilizemos nossas
<br>for�as, nossa f�, e busquemos conhecimentos, para benef�cio nosso e do
<br>pr�ximo.
<br>� Jean, por que as Federa��es Esp�ritas n�o lan�am uma campanha
<br>de reforma �ntima em todos os Centros Esp�ritas, falando que fora da
<br>caridade n�o h� salva��o? Ser� que com esta campanha n�o diminuiria a
<br>sca das cabines desobsessivas e dos passes? Essa campanha tamb�m
<br>pediria a todos os presidentes dos Centros que lutassem pela pureza
<br>doutrin�ria.
<br>
<br>
<br>� Luiz, as federa��es n�o devem intervir nos Centros; se Deus nos
<br>ofertou o livre-arb�trio, quem s�o os homens para n�o respeit�-lo? O que
<br>podem fazer as federa��es � preparar pessoas com grande eleva��o moral
<br>para visitar as Casas Esp�ritas e ensin�-las como viver de amor.
<br>� Seria bom demais se isso acontecesse, mas me faz lembrar de
<br>Francisca Theresa, quando diz: "sinto-me curvada de tanto sonhar".
<br>� Tem raz�o, Luiz S�rgio � falou Marry. Esse Esp�rito sonha com a
<br>uni�o de todas as criaturas, sonha com um Espiritismo irm�o e alegre, onde
<br>um ombro ampara o outro. Mas o que temos visto? A incompreens�o, porque
<br>o caminho estreito se chama humildade. Francisca Theresa apenas pede
<br>fidelidade � Doutrina.
<br>� �, mas � muito mais f�cil somente freq�entar as reuni�es da Casa e
<br>nada fazer por ela.
<br>� Sabe, Marry, acho muito dif�cil uma pessoa encarnada dedicar-se
<br>de corpo e alma � causa do Cristo. Sempre existir� um empecilho. As coisas
<br>materiais s�o muito fortes e a fam�lia cobra muito.
<br>� O empecilho s� existe quando a f� � fraca e o amor ao pr�ximo,
<br>m�nimo. Quem veste a t�nica da responsabilidade sabe bem aproveitar as vinte e
<br>quatro horas de um dia. Agora, quando n�o queremos servir ao Cristo, inventamos
<br>desculpas. E n�o ser�o as federa��es que ir�o nos fazer mudar de id�ia.
<br>� Ent�o, n�o adianta criar grupos de oradores para ensinar os esp�ritas
<br>a viver de amor?
<br>� Se os freq�entadores de uma Casa forem sempre convidados �
<br>mudan�a, ela ocorrer�, nem que seja um mil�metro � acrescentou Jean.
<br>� Luiz, voc� est� t�o desesperan�ado!... O que houve?
<br>� Nada, Marry, nada. Apenas gostaria que os nossos livros n�o fossem
<br>apenas um aglomerado de p�ginas; que o leitor, ao l�-los, viesse a encontrar
<br>um mapa chamado Doutrina Esp�rita, que o conduzisse aos esclarecimentos
<br>necess�rios a uma real mudan�a de pensar.
<br>
<br>� Bem, amigos, at� logo mais, precisamos continuar os nossos trabalhos.
<br>� N�o vai juntar-se a n�s, Jean?
<br>� N�o, Luiz, temos outros afazeres.
<br>E, assim, Jean se despediu. Marry convidou-me � medita��o e, cerrando
<br>os olhos, prestei aten��o � pr�pria respira��o e me vi voando, voando
<br>em dire��o a Deus e Ele Se apresentou a mim n�o como um velhinho, mas
<br>como um Pai amoroso que me apertou nos bra�os e disse baixinho: "n�o �s
<br>uma estrelinha, n�o �s um p�ssaro, n�o �s uma crian�a, �s mais do que isso
<br>tudo, �s um Esp�rito."
<br>
<br>Marry me olhava e percebeu uma l�grima em meus olhos. Acercou-se
<br>de mim e me abra�ou bem forte.
<br>
<br>� Que Deus tenha piedade de todos os Seus filhos, principalmente os
<br>mais rebeldes, aqueles que lutam para n�o O conhecer.
<br>E assim fomos ganhando estrada. Num dado momento, pareceu-me
<br>que est�vamos saindo do planeta Terra, pois nos encontr�vamos diante de
<br>um mapa do Universo, mapa este que representava a distribui��o de cerca
<br>de quinze mil e quinhentas gal�xias pelo espa�o.
<br>
<br>� Irm�, que lindo!
<br>� Estamos apenas vendo um pequeno trecho de todo Universo. �
<br>apenas uma �nfima fra��o de seu volume total.
<br>� A Terra � apenas um gr�o de areia, n�o � mesmo, Marry?
<br>� Sim, Luiz, a Terra � apenas uma das in�meras moradas da Casa do
<br>Pai.
<br>� Irm�, o Universo � composto de fluidos e tamb�m dessa mat�ria
<br>escura. Como podemos cham�-la?
<br>� S�o fluidos.
<br>� Fluidos, irm�?
<br>
<br>� Sim.
<br>� E essas gal�xias?
<br>� As gal�xias representam apenas uma pequena fra��o da massa do
<br>Universo.
<br>� E a restante?
<br>� Est� no que se chama mat�ria escura.
<br>� Entendi, s�o os fluidos n�o modificados.
<br>� Sim. Podemos chamar essa massa escura de fluido c�smico
<br>universal; as modifica��es e transforma��es desse fluido � que d�o origem
<br>� inumer�vel variedade dos corpos da Natureza. Utilizando-se das
<br>formas mais sutis do fluido c�smico universal � que o Esp�rito consegue
<br>agir sobre a mat�ria que conhecemos na Terra. Essa mat�ria escura, que
<br>vemos ao redor das gal�xias, s�o part�culas de massas escuras que encontramos
<br>no Universo. Nesta mat�ria escura � que os astr�nomos desvendar�o
<br>os mist�rios do Universo, entretanto, os Esp�ritos h� muito a
<br>conhecem. � ela que determina se o Universo continua a se expandir. Se
<br>Deus cria os Esp�ritos a cada instante, no Universo tamb�m s�o criados
<br>os mundos. A massa escura indica que o Universo se expande eternamente,
<br>mas os pesquisadores, diante dela, tiram v�rias conclus�es.
<br>� Irm�, vemos a presen�a da massa escura e da mat�ria escura, s�o
<br>a mesma coisa?
<br>� A mat�ria escura � o fluido c�smico universal; a massa, o fluido
<br>se modificando. N�o se esque�a, Luiz, de que as gal�xias representam
<br>somente uma pequena fra��o da massa do Universo. A restante est� no
<br>que se chama mat�ria escura. Nas gal�xias est�o os fluidos se modificando.
<br>� Irm�, estou flutuando...
<br>� Se � assim, deixemos a vis�o do Universo e vamos para o nosso
<br>mundo de expia��o e provas.
<br>
<br>� Marry, como pode o homem desconhecer a beleza das obras do
<br>Criador?
<br>� Tamanha � a sua insignific�ncia em evolu��o, que ele se julga um
<br>Deus, mas vive distante d"Ele.
<br>O planeta azul me pareceu abrigado nas aben�oadas m�os de Jesus,
<br>tendo um halo de luz a envolv�-lo. Conclu� tratar-se da grande esperan�a
<br>que o Cristo deposita em Seus irm�os.
<br>
<br>� Marry, a Terra est� cada vez mais violenta, o que est� ocorrendo
<br>com os homens?
<br>� Devido � luta pela sobreviv�ncia, o homem est� repleto de neuroses
<br>e. assim sendo, vive irritadi�o, revoltado, col�rico. Mas os Esp�ritos do
<br>Senhor soprar�o em todos os lugares, sempre levando as revela��es divinas.
<br>� Sempre foi assim, n�o � mesmo, irm�?
<br>� No Livro de J� encontramos, no Cap�tulo XXXIV. vv. 21-23:
<br>Porque os olhos de Deus est�o sobre os caminhos dos homens, e ele
<br>considera todos os seus passos. N�o h� trevas nem sombra de morte
<br>onde possam esconder-se os que praticam a iniq�idade. Porque j� n�o
<br>est� no poder do homem o deixar de comparecer em ju�zo diante de
<br>Deus. Nesta p�gina de J� constatamos o que diz a Doutrina: Deus � que
<br>governa o Universo: s� Ele � soberano em justi�a.
<br>� Irm�, gosto tamb�m de Salmos, Cap�tulo XXXVI. vers�culo 29:
<br>Os justos, por�m, herdar�o a terra, habitar�o nela por todos os s�culos.
<br>e do Cap�tulo XXXVIII. vers�culo 7: Sim, o homem passa como sombra; �
<br>em v�o que se afadiga: entesoura e n�o sabe por que junta aquelas
<br>coisas. Em Salmos, Cap�tulo CXVIII, vers�culo 1. encontramos: Bem-aventurados
<br>os que se conservam sem m�cula no caminho, os que andam na
<br>lei do Senhor. E o mundo hoje est� por demais violento!
<br>
<br>Cap�tulo VI
<br>A FAM�LIA ESP�RITA
<br>
<br>
<br>Continuamos a nossa conversa, s� que agora est�vamos no jardim da
<br>Universidade. Nisso, quem passa por n�s: Enoque.
<br>
<br>� Como vai, Marry? E voc�, frade, novos aprendizados?
<br>� Rayto, estou vivendo na lua, tantas e tantas as li��es que venho
<br>recebendo.
<br>� Cuidado, Luiz, lute para n�o ir para o espa�o e se perder nele.
<br>� Engra�adinho... estou muito bem protegido pela Marry. E voc�,
<br>Enoque, o que tem feito de bom?
<br>� Temos estado muito pouco no plano f�sico, pois os jovens est�o
<br>morrendo. O que mais vem ocorrendo no exterior � o consumo de drogas
<br>misturadas. Os drogados procuram cada vez mais drogas como spudballing,
<br>que combina coca�na com hero�na, e pode ser injetada ou inalada. No Brasil,
<br>a turma acha mais f�cil conseguir maconha misturada a subst�ncias como
<br>cloridrato de coca�na, que resulta no crack, e ainda na feniciclidina e code�na.
<br>� Rayto, esses dias ouvi uma palestra sobre t�xico, e fiquei sabendo
<br>que a hero�na da Am�rica Latina � cada vez mais pura.
<br>� Isso ocorre para favorecer a difus�o do h�bito de fumar a droga,
<br>
<br>principalmente entre os jovens, e com isso vem aumentando o n�mero de
<br>mortes por overdose.
<br>
<br>� Onde se fuma mais a maconha, Rayto?
<br>� Em todo o planeta, mas a maconha � a droga mais consumida no
<br>continente americano. Hoje, no Brasil, est� aumentando o consumo de todas
<br>as drogas. Os tranq�ilizantes e as drogas sint�ticas, como o ecstasy, est�o
<br>sendo muito consumidos no Brasil.
<br>� Quais s�o os outros lugares onde o t�xico faz morada?
<br>� Variam, Luiz. Os europeus s�o os principais consumidores de drogas
<br>para reduzir o estresse, enquanto no continente americano o consumo
<br>maior � de anti-estressantes.
<br>� Enoque, o uso de anfetamina em tratamentos aumentou. Hoje, tudo
<br>� depress�o e estresse e as drogas est�o sendo receitadas sem qualquer
<br>crit�rio.
<br>� � necess�rio que sejam feitas campanhas contra o uso de
<br>anfetaminas. � preciso reduzir o perigo de diagn�sticos equivocados, preocupa��es
<br>excessivas e uso indevido das drogas.
<br>� Conhe�o gente que adora tranq�ilizantes.
<br>� A cada dia um filho de Deus cai diante da maldita. Sim, maldita
<br>destruidora, pois o viciado em drogas perde o direito de viver em sociedade.
<br>E cada vez mais vai-se tornando um p�ria, um fracassado. Dificilmente encontramos
<br>algum viciado, em qualquer droga, que viva muito tempo. A cada
<br>dia o drogado tira um punhado de terra da sua sepultura.
<br>� Tem raz�o, Enoque, qualquer v�cio leva o homem ao fracasso.
<br>� N�o se conhece nenhum viciado que n�o sofra por demais.
<br>� Enoque, e o nosso Brasil?
<br>� Luiz, quando iniciamos o nosso trabalho em prol dos jovens, os
<br>seus livros foram atacados como anti-doutrin�rios. At� hoje n�o compreen
<br>
<br>demos como pode ser anti-doutrin�rio um livro que alerta um pai para o
<br>perigo dos t�xicos. Como pode ser anti-doutrin�rio um livro que pensa na
<br>uni�o da fam�lia? Ou os ofensores n�o t�m filhos, ou ignoram os problemas
<br>dos pr�prios filhos, porque o t�xico est� a�, tirando muitas oportunidades
<br>reencarnat�rias. E � t�o f�cil saber se o nosso filho ou o nosso neto possui
<br>tend�ncias para se drogar.
<br>
<br>� Que devem fazer os pais para resguardar seus filhos?
<br>� Enfrent�-los sem medo. Hoje, o que mais se v� s�o pais e av�s
<br>morrerem de medo de perderem seus filhos, e por isso lhes fazerem todos os
<br>gostos. Se a crian�a deseja colocar brinco, coloca; se deseja usar cal�as
<br>rasgadas, usa; se quer raspar a cabe�a, raspa; enfim, a crian�a � dona da sua
<br>vida.
<br>� E n�o deve ser, Enoque?
<br>� N�o. At� as crian�as atingirem a maioridade, os pais t�m autoridade
<br>para educ�-las e estas t�m de obedec�-los.
<br>� Enoque, acho t�o dif�cil os pais usarem de autoridade!...
<br>� Sim, quando os filhos sentem fraqueza nos pais. Vemos pais
<br>acovardados diante dos filhos e estes, sabendo que s�o mais fortes, fazem
<br>tudo o que desejam: drogam-se, bebem e se prostituem. Luiz, veja o
<br>que vem ocorrendo nas Casas Esp�ritas: muitos dos seus fundadores continuam
<br>nas Casas, mas, e suas fam�lias, onde est�o? Alguns dos filhos de
<br>baluartes de Casa Esp�rita est�o na cadeia, s�o traficantes, alco�latras
<br>ou viciados.
<br>� Enoque, a estat�stica � assombrosa.
<br>� � mesmo, Luiz. Enquanto lutamos para atacar este ou aquele livro,
<br>nada fazemos pela fam�lia esp�rita, que atravessa momentos dif�ceis. O que
<br>leva um filho de esp�rita praticante a n�o seguir o Espiritismo? A fraqueza dos
<br>pais. Quando os filhos dizem que n�o ir�o ao Centro, deixam que escolham.
<br>E eles escolhem o t�xico.
<br>
<br>� Mas dizem que se deve respeitar o livre-arb�trio. At� que ponto ele
<br>deve ser respeitado?
<br>� Educar um filho para o Cristo n�o � for��-lo a ter uma religi�o, �
<br>levar at� ele as p�rolas do conhecimento. E n�o existe quem resista a urna
<br>overdose de amor. Agora, se os pais jogarem palavras ao vento, palavras
<br>estas sem conte�do, dificilmente seus filhos entender�o a beleza da Doutrina.
<br>Hoje o que se v� s�o muitos dos filhos dos esp�ritas longe, bem longe de
<br>Deus, e isso acontece simplesmente porque eles n�o t�m bons professores.
<br>Marry, que a tudo ouvia, indagou:
<br>
<br>� Enoque, os Raiozinhos de Sol julgam que os pais s�o os culpados
<br>pela pouca f� dos filhos?
<br>� Quase sempre. Em uma fam�lia harmoniosa todos lutam por um s�
<br>ideal: a felicidade. E ningu�m � feliz se n�o se sentir em paz com a sua consci�ncia.
<br>Desde pequena, a crian�a percebe que ao seu redor n�o existe disciplina
<br>e que os pais pouco se preocupam se ela est� certa ou errada. E assim
<br>ela vai levando a vida, sem muito exemplo a ser seguido. Ainda mais � n�o
<br>cansamos de repetir � se os pais t�m autoridade suficiente para levar os
<br>filhos ao m�dico, ao dentista e � escola, e estes muitas vezes n�o desejam ir,
<br>por que s� para lhes apresentar Deus � que falta autoridade? Algo est� errado.
<br>� O certo � disse Marry � � criar na fam�lia o h�bito da ora��o.
<br>Desde crian�a os filhos t�m de acompanhar os pais �s casas religiosas, porque,
<br>como o encarnado necessita de m�dico, dentista, escola, a crian�a precisa,
<br>e muito, de Deus. E encontramos a cura da alma nas casas religiosas.
<br>� Rayto, percebemos que pais, av�s e tios t�m medo de contrariar a
<br>crian�a, como se com isso ela viesse a deixar de am�-los.
<br>� Tem raz�o, Luiz. Hoje o que mais se v� s�o crian�as mal
<br>educadas, e os pais achando tudo natural. Ficamos admirados quando
<br>presenciamos, em reuni�es sociais, crian�as sentadas confortavelmente,
<br>enquanto senhores e senhoras est�o em p�. Outro fato desagrad�vel �
<br>
<br>vermos crian�as correndo para se servir, antes dos adultos. E os pais
<br>achando certo! Quando os filhos quebram e mexem nos adornos das
<br>casas visitadas, os pais ainda acham gra�a! E aquelas outras crian�as e
<br>jovens que correm em busca dos petiscos, esquecendo que a boa educa��o
<br>n�o nos permite transbordar os pratos e os copos? Devemos ter
<br>cuidado em n�o encher os pratos, isto denota desequil�brio. A comida
<br>n�o tem pernas, ela pode esperar por n�s.
<br>
<br>� Tem gente que corre para se servir primeiro, e quando ainda tem
<br>algu�m para se servir, ele passa na frente, j� repetindo o segundo, o terceiro
<br>ou o quarto prato. Mas isso n�o s� acontece com crian�as e jovens, j� vimos
<br>adultos servindo a Deus e ao diabo.
<br>� Luiz, pode nos explicar o que � servir a Deus e ao diabo?
<br>� Desculpe, Marry, isso � meu modo de brincar.
<br>Rayto completou:
<br>� Servir a Deus � comer para viver e servir ao diabo � esquecer que
<br>todos t�m o direito de se alimentar e n�s, muitas vezes, estamos comendo
<br>por gula.
<br>� Est�vamos falando da educa��o religiosa e j� estamos tratando da
<br>educa��o em geral � observei.
<br>� A criatura, quando est� com o Cristo, adquire a educa��o geral,
<br>isto �, nunca ultrapassa a linha divis�ria entre ela e as outras criaturas. A cada
<br>um basta a sua pr�pria consci�ncia. Como pode um ser se dizer crist�o se
<br>n�o tem comportamento crist�o? A educa��o b�sica dos filhos tem de partir
<br>de pais educados. Os evangelizadores infanto-juvenis sempre dizem: se os
<br>pais n�o forem evangelizados, dificilmente seus filhos ter�o condi��o de assimilar
<br>a doutrina do Cristo. O bom da Doutrina � que ela educa o ser, fazendo
<br>dele um filho de Deus � acrescentou Marry.
<br>� Desculpe-me, mas vemos cada esp�rita, que nos perdoe: educa��o
<br>e disciplina passaram longe!...
<br>
<br>� Luiz S�rgio, n�o importa se isso ocorre, pois o prop�sito da Doutrina
<br>� transformar o homem. N�o sendo assim, ela perde a sua finalidade. A
<br>Doutrina revela ao homem o que acontece com aquele que n�o vive de acordo
<br>com a lei de Deus. � ela ainda que nos revela sobre as vidas sucessivas, e
<br>se elas existem, � para que o ser fique livre dos seus erros. � tamb�m a
<br>Doutrina que coloca o homem diante da morte, mostrando-lhe que ela existe,
<br>porque o corpo f�sico n�o tem condi��o de viver eternamente, mas que o
<br>Esp�rito � imortal, por isso o seu compromisso com a perfei��o.
<br>� Ainda acho, meus amigos, que todos os esp�ritas t�m de
<br>conscientizar-se de que n�o existe meio-esp�rita, que o prop�sito do Espiritismo
<br>� tomar as almas erradas em esp�ritos libertos.
<br>� Muito bem, Luiz. Queira Deus alguns esp�ritas pensem bem sobre
<br>isso.
<br>� Marry, �s vezes gosto de sentar em algumas salas de Centros Esp�ritas
<br>e fico admirado com a falta de disciplina de alguns freq�entadores. Uns
<br>desejam furar filas, outros riem e conversam sem parar. Quantos at� comem
<br>biscoitos, chupam balas; outros gritam com as crian�as e at� lhes aplicam
<br>algumas palmadas. E as roupas das jovens e das senhoras? Cada qual mais
<br>extravagante, pr�prias para festas e casamentos. N�o que eu seja contra,
<br>mas acho que tudo tem sua hora. Muitos tamb�m julgam que o passe vai
<br>resolver todos os seus problemas, e n�o � assim. Quem estuda sabe do valor
<br>do passe, mas ele n�o resolve problemas que o encarnado tem condi��o de
<br>resolver.
<br>Rayto interveio:
<br>
<br>� Marry e Luiz, a fam�lia est� morrendo, e em lugar da fam�lia est�
<br>surgindo um ajuntamento de almas em busca de valores perec�veis. Ningu�m
<br>tem tempo para ningu�m. Talvez a� esteja a causa da viol�ncia na sociedade.
<br>Os jovens e as crian�as est�o sem limites. Est�o sendo preparados para lutar
<br>pelos seus direitos, mas nunca para respeitar o direito alheio. E n�o existe
<br>sucesso para o ser que fica sozinho, distante das responsabilidades da sociedade
<br>onde vive. O Espiritismo tenta transformar o homem velho de ontem
<br>
<br>em um novo vaso de argila, cujo vinho, que � o fluido vital, n�o deve ser
<br>derramado por falta de conhecimento. Por isso dizemos que aquele que chega
<br>� Doutrina tem de lutar pela pr�pria evolu��o, e ela s� ocorre se ele se
<br>tornar melhor. As Casas que fazem a evangeliza��o infanto-juvenil t�m de
<br>procurar n�o somente apresentar Jesus, mas fazer com que a Doutrina Esp�rita
<br>seja amada e praticada pelas crian�as. N�o se importem com a quantidade
<br>de alunos; importem-se, ao contr�rio, com a educa��o crist� de cada um
<br>deles. Se poucos se tornarem bons esp�ritas, demos gra�as a Deus. O sucesso
<br>da evangeliza��o s� se torna poss�vel se os educandos tornarem-se nobres
<br>criaturas. Apenas conhecer o Cristo n�o demonstra que a crian�a foi
<br>evangelizada. Na evangeliza��o, precisamos incentivar a conviv�ncia de umas
<br>crian�as com as outras; esta conviv�ncia � que vai-lhes facilitar a elabora��o
<br>do conhecimento. Se apenas deixarmos a crian�a na Casa Esp�rita, sem participar
<br>de qualquer encontro feito pela Casa, esta crian�a jamais ser�
<br>evangelizada, porque vive isolada dos seus companheiros e, vivendo assim,
<br>jamais ir� gostar das outras crian�as e da Casa que freq�enta. Eduquemos
<br>jovens e crian�as, mesmo que poucos venham a sofrer uma transforma��o
<br>moral e intelectual para o seu crescimento encarnat�rio.
<br>
<br>� Ent�o, Rayto, n�o basta somente evangelizar as crian�as, aplicando
<br>o programa?
<br>� N�o. N�o basta apenas teoria. Todos precisam de um trabalho
<br>pr�tico; educar, educando-se, dando ao aluno a certeza de que � preciso
<br>lutar pela perfei��o. A crian�a e o jovem cansar�o, se lhes for ministrada
<br>apenas a teoria, e muitas vezes ficar�o bem distantes da Doutrina. Jamais
<br>esque�amos que a fam�lia precisa conscientizar-se de que os filhos necessitam
<br>do est�mulo dela para assimilar os ensinos doutrin�rios. Sem a fam�lia, a
<br>Casa jamais atingir� vit�ria.
<br>� Rayto, o que a fam�lia precisa fazer para ajudar os filhos na
<br>evangeliza��o?
<br>� Conscientizar-se de que a evangeliza��o infanto-juvenil � um rem�dio
<br>preventivo contra as dores do s�culo; acompanhar de perto todo o pro
<br>
<br>grama seguido por seu filho, ajudando-o a compreend�-lo; freq�entar os
<br>grupos de estudo; participar junto � crian�a e o jovem, de tudo o que ocorre
<br>na Casa Esp�rita referente � Caridade; tornar a ida de seus filhos ao Centro
<br>um ato prazeroso, n�o reclamando por lev�-los e n�o os fazendo faltar por
<br>causa de festas, cinema, teatro ou outro acontecimento social. A crian�a
<br>evangelizada dificilmente ser� adotada pelos traficantes. Voltamos a repetir:
<br>evangeliz�-los � transform�-los em verdadeiros crist�os. S� o conhecimento
<br>do Evangelho e da Doutrina n�o ir� livr�-los da tenta��o.
<br>
<br>� Complicado, Rayto.
<br>� N�o, S�rgio, apenas torna-se complicado quando os evangelizadores
<br>julgam que ao passarem para as crian�as e os jovens os
<br>ensinamentos, est�o cumprindo com o seu dever. N�o � s� isso. Cada
<br>evangelizador recebe dos pais uma semente, e fica a cargo do evangelizador
<br>fazer germinar nessa semente o respeito �s leis morais. E se esta semente for
<br>bem cultivada, no amanh�, j� �rvore, somente bons frutos dar�. Caso contr�rio,
<br>pode tornar-se uma �rvore seca e sem vida, ou passar a adolesc�ncia
<br>dentro do Centro, tornar-se adulto, mas continuar ego�sta, avaro, prepotente;
<br>seria como a figueira est�ril, da passagem evang�lica. Estar� repleto de conhecimento,
<br>mas ser� uma �rvore sem frutos, sem exemplos de bondade.
<br>� Mas j� ser� alguma coisa.
<br>� Ser� que vale a pena ser um falso profeta, Luiz?
<br>� Mas, Rayto, em quase todas as religi�es existem as figueiras est�reis.
<br>� Isso � verdade. Mas a proposta da evangeliza��o infanto-juvenil �
<br>preparar os homens de amanh�. A sociedade pede socorro, e somente a
<br>Doutrina Esp�rita tem condi��o de dar � crian�a e ao jovem o conhecimento
<br>que num corpo jovem est� um Esp�rito velho e necessitado de mudan�as;
<br>somente a Doutrina esclarece sobre a necessidade da evolu��o. Hoje, muitos
<br>jovens t�m verdadeiro pavor de pessoas idosas. Julgam que a sua mocidade
<br>ser� eterna. S� o Espiritismo mostra a todos, jovens, crian�as e idosos,
<br>a responsabilidade para com a encarna��o. Marry e Luiz, n�s, que trabalha
<br>
<br>mos com jovens, deparamos com fatos muito tristes. Crian�as, ainda, varando
<br>madrugadas, chegando em casa completamente drogadas, outras
<br>embriagadas, e os pais n�o tendo for�a para impor limites.
<br>
<br>� Por que as autoridades permitem a venda de bebidas alco�licas a
<br>jovens? N�o somente o �lcool, como as drogas?
<br>� Tamb�m perguntamos: por qu�? Tudo passa, e no dia de amanh�
<br>todos ter�o de prestar contas a Deus. Infeliz aquele que jogou fora
<br>os melhores anos da sua vida; aquele que, julgando aproveitar os momentos
<br>de sua mocidade, tenha se suicidado aos poucos. Ter� de pagar
<br>ceitil por ceitil.
<br>� Rayto, � assustador o comportamento de alguns adolescentes nos
<br>lugares onde se re�nem.
<br>� Tem raz�o. Se o pai deseja saber o que acontece nesses locais,
<br>d� uma incerta, v� at� l�, e veja com os pr�prios olhos garotas e garotos
<br>de treze anos tomando bebidas alco�licas nos gargalos das garrafas. Os
<br>pais s�o autorit�rios quando a mulher esp�rita tenta levar os filhos para o
<br>Centro: gritam, reclamam e pro�bem. Mas perguntamos: que comportamento
<br>tem um jovem que se dedica � causa esp�rita? Quando dizemos:
<br>''se dedica", n�o estamos falando daqueles jovens que julgam que ser
<br>esp�rita � somente participar de encontros e de Mocidades, n�o estudando,
<br>n�o trabalhando, e o principal: n�o modificando o seu interior. Continuam
<br>ingerindo �lcool, fumando e vivendo em noitadas; esses jovens,
<br>por favor, n�o s�o esp�ritas. O jovem esp�rita � manso, educado, estudioso,
<br>trabalhador, e distante est� de qualquer v�cio. N�o se concebe um
<br>jovem, que se diz esp�rita, sair da Mocidade, onde se falou de Evangelho,
<br>de Doutrina, cantou, orou, e depois ir para as mesas dos barzinhos.
<br>� Tem raz�o, Rayto, a Doutrina Esp�rita � uma doutrina que ensina ao
<br>homem o caminho da evolu��o. Feliz aquele que, numa exist�ncia, consegue
<br>ver-se livre das tenta��es dos v�cios.
<br>� Mas existem aqueles que s� bebem socialmente?
<br>
<br>� Sim, existem: s�o todos os que gostam do �lcool. Todos os que
<br>ingerem bebidas alco�licas dizem que bebem socialmente e que n�o s�o alco�latras.
<br>Os grupos, na Espiritualidade, encarregados das Mocidades encontram-
<br>se preocupados com algumas delas, onde o namoro e a falta de
<br>conhecimentos doutrin�rios se fazem presentes.
<br>� Muitos esp�ritas, Rayto, n�o gostam que os jovens cantem nas reuni�es.
<br>O que os Raiozinhos de Sol acham disso?
<br>� A m�sica s�o os acordes de Deus feitos para nos deliciar o Esp�rito.
<br>Agora, viver com o viol�o debaixo do bra�o, e em todos os lugares onde
<br>chegar cantar m�sicas esp�ritas, por favor, onde est� o conhecimento da
<br>Doutrina?
<br>� Em que momento os jovens devem cantar as suas can��es, Rayto?
<br>� Qualquer grupo de Mocidade tem de estudar as obras b�sicas
<br>kardequianas ou fazer o Estudo Sistematizado da Doutrina Esp�rita; cantar,
<br>somente na abertura e no encerramento. O que o jovem precisa �
<br>estudar e trabalhar, pois s�o portadores de juventude. Seus corpos est�o
<br>repletos de energias e de fluidos. Existe tanta gente no Centro Esp�rita
<br>que daria tudo para ter um corpo jovem, tanto gostam de se dedicar �
<br>Casa que freq�entam! A Mocidade deve ficar encarregada da limpeza
<br>do Centro, formar grupos para lavar vidros, pintar paredes, fazer consertos,
<br>enfim, oferecer � Casa o que tem de sobra: energia.
<br>� E o artesanato?
<br>� � muito necess�rio. Hoje, nesse mundo moderno, todos devem
<br>aprender artesanato. E como voc� j� disse em outros livros, o Centro Esp�rita
<br>que n�o preparar os seus freq�entadores para um trabalho em prol da
<br>Casa dificilmente ter� condi��o de se manter. Diz o Evangelho: esfriar� a
<br>caridade, isto �, as doa��es em dinheiro. Os Centros devem encontrar um
<br>meio de se manterem. Para isso, n�o precisam de rifas nem de bingos ou de
<br>jantares regados a cerveja.
<br>� Rayto, a Casa Esp�rita deve ter bazar permanente?
<br>
<br>� N�o. Casa Esp�rita n�o � shopping. O artesanato deve ser feito e
<br>levado para algum lugar, longe do Centro, onde ser� exposto e comercializado.
<br>� Colocaremos isso no livro, mas muitos n�o ir�o gostar.
<br>� Luiz S�rgio, o bom seria se as Casas Esp�ritas n�o precisassem de
<br>dinheiro. Mas no mundo atual elas enfrentam grandes dificuldades. T�m de
<br>pagar luz, �gua, telefone, empregados. O certo seria todos os freq�entadores
<br>se cotizarem em prol do seu Centro Esp�rita.
<br>� Sonho, Rayto, apenas sonho...
<br>� �, Luiz, mas um dia as Casas Esp�ritas ter�o escrito nas suas fachadas:
<br>Hospital de Almas.
<br>� Rayto, onde voc� est� trabalhando agora?
<br>� Em todos os lugares onde um jovem precisa do nosso amor. Mas o
<br>nosso maior trabalho � junto aos suicidas, dando aula na Universidade Maria
<br>de Nazar�.
<br>� Como se conhece um jovem de Jesus?
<br>� � aquele que luta para cumprir com seus deveres, que respeita a
<br>fam�lia, amando os pais. No col�gio, empenha-se para tirar boas notas. N�o
<br>se envolve em brigas. Respeita as pessoas mais velhas. � discreto no trajar.
<br>Est� sempre pronto para ajudar o pr�ximo. N�o � dependente de qualquer
<br>v�cio. � educado em casa e na rua. N�o vive em turma. N�o diz palavr�o.
<br>N�o fala mal do pr�ximo. N�o menospreza companheiros. N�o mente. N�o
<br>vive com brincadeiras desagrad�veis. N�o grita com os pais. Tem respeito
<br>pelos empregados. Trata bem porteiros, balconistas, cobradores, motoristas,
<br>enfim, tem atitudes crist�s. N�o vive tomando emprestado dinheiro, e
<br>quando o faz, procura pagar sempre. Trata bem av�s, tios, enfim, a fam�lia.
<br>Respeita as leis do tr�nsito, nunca excede o limite de velocidade. Enfim, procura
<br>sempre lutar pela pr�pria dignidade. Bem, agora devo ir embora. At�
<br>outra vez.
<br>� At�, Enoque, que Deus o cubra de b�n��os.
<br>
<br>� Assim seja � e saiu radiante.
<br>Olhei o querido amigo at� que desaparecesse...
<br>� Gosta muito dele, n�o � Luiz S�rgio? perguntou Marry.
<br>� Sim, adoro o Rayto. Ele � o sol que sempre vem em nosso socorro
<br>quando estamos necessitados.
<br>Marry enla�ou meus ombros e foi-me levando at� um belo audit�rio,
<br>onde pain�is eletr�nicos expunham muitas frases sobre a evolu��o da esp�cie
<br>humana. Em um deles, lia-se: "O Universo, na sua grandeza, parece desejar
<br>compreender todas as criaturas de Deus."
<br>
<br>
<br>Cap�tulo VII
<br>O SEGUNDO EST�GIO EVOLUTIVO
<br>
<br>
<br>Ficamos observando os pain�is e um deles mostrava o reino mineral:
<br>as pedras, as ess�ncias espirituais sendo trasladadas dos pontos onde passar�o
<br>para novos reinos. Aqueles pain�is nos ensinavam que Deus n�o criou
<br>tudo do nada, como querem dizer algumas religi�es. Mas o Espiritismo nos
<br>ensina que "do uno partiu toda a cria��o" e que � a mesma ess�ncia a de
<br>todas as criaturas. Por isso, todos os seres s�o regidos pelas leis divinas. Ali,
<br>� nossa frente, aquelas imensas telas, em c�rculos, nos ofereciam muitos esclarecimentos.
<br>Do reino mineral partia a ess�ncia da vida numa longa caminhada
<br>evolutiva, e bom � saber que Ele, o Pai, sempre esteve junto a n�s,
<br>cuidando, orientando, dando-nos condi��o de alcan�armos a evolu��o. As
<br>telas reproduziam em tamanho gigantesco a beleza do Universo e nos foi
<br>mostrada a materializa��o da ess�ncia espiritual nos vegetais.
<br>
<br>No livro Chama Eterna j� tocamos nesse assunto, mas ali v�amos a chama
<br>eterna apenas como ess�ncia espiritual, agradecendo a Deus a b�n��o da
<br>vida; o Esp�rito em forma��o buscando o �tero da m�e Natureza para desabrochar.
<br>Como torna-se importante o homem respeitar a natureza! Ao lado dele
<br>existem bilh�es de ess�ncias espirituais correndo em dire��o � evolu��o, por
<br>isso a Natureza n�o aceita a viol�ncia do homem. Olhando aquelas ess�ncias
<br>espirituais recebendo os cuidados do Criador atrav�s das m�os aben�oadas de
<br>Esp�ritos capacitados para esse trabalho, pensei: "como o homem ainda ignora a
<br>
<br>
<br>grandeza de Deus!" Por mais que falemos n'Ele, ainda n�o O conhecemos. O
<br>estado de simplicidade e ignor�ncia do Esp�rito � um per�odo preparat�rio para
<br>
<br>o grande momento quando ele, j� formado, chega ao reino hominal. Mas ali, �
<br>nossa frente, a tela gigantesca mostrava os reinos: mineral, vegetal e animal. Mas
<br>o meu interesse direcionava-se �s plantas e as diferentes esp�cies formavam um
<br>belo quadro, pintado pelo maior artista: Deus.
<br>� Luiz, vamos entrar? alertou-me Marry.
<br>Nada falei, mas confesso que senti um abalo emocional, j� imaginando
<br>novos ensinamentos. Entramos e andamos, andamos, andamos... Ningu�m
<br>levitava, apenas andava por um lugar estranho, parecia um t�nel, mas de luz
<br>brilhante; uma m�sica tocava baixinho. Nada perguntei. S� a� percebi que o
<br>grupo que ali se encontrava era enorme. Nisso, Lontra, um Esp�rito amigo,
<br>aproximando-se de n�s, falou:
<br>
<br>� Como vai, Luiz?
<br>� Muito bem. Onde voc� trabalha?
<br>� Vivemos como voc�, em todos os lugares, pois somos alunos da
<br>Universidade Maria de Nazar�.
<br>Nada mais falei, pois logo est�vamos em um lugar lind�ssimo, onde as
<br>flores possu�am os mais variados matizes. Mas a temperatura foi ficando fria
<br>e chegamos a um edif�cio quadrado, com jardineiras em todas as janelas. Por
<br>dentro, a constru��o era mais ou menos assim:
<br>
<br>
<br>
<br>Cada boxe, ou sala, era imenso e repleto de flores; no centro, uma
<br>fonte de �gua cristalina. Marry nada falava e eu j� estava curioso.
<br>
<br>� Que lugar � este, Marry?
<br>� � um dos departamentos da transi��o das ess�ncias do vegetal,
<br>Luiz.
<br>� Como?
<br>� Apesar deste local ser imenso, trata-se de um pequeno departamento
<br>onde se opera a separa��o das ess�ncias espirituais do reino vegetal
<br>para as esp�cies intermedi�rias, sendo depois levadas ao reino animal.
<br>� Explique melhor, Marry.
<br>� Este lugar colhe as ess�ncias espirituais do reino vegetal, quando o
<br>vegetal morre no plano onde est� evoluindo.
<br>� Marry, como no mundo espiritual existem as col�nias de socorro,
<br>este lugar �, vamos dizer, uma col�nia de socorro tamb�m?
<br>� Quase isso. A diferen�a � que as plantas n�o t�m consci�ncia da
<br>sua exist�ncia, n�o pensam, pois n�o t�m vida inteligente.
<br>� Mas nos parece que algumas sofrem. Quando foram afetadas pela
<br>morte, sentiram alguma coisa?
<br>� Possuindo vida, elas pereceram, mas n�o sentiram dor.
<br>� Marry, explique novamente.
<br>Nisso, um irm�o apareceeu, sorrindo:
<br>� Boa Marry, Luiz S�rgio, Deus os aben�oe.
<br>� Assim seja � respondemos.
<br>� Marry, o Luiz est� encontrando dificuldade para compreender o
<br>maravilhoso mundo da evolu��o?
<br>� Yair, quanto tempo esses vegetais permanecem aqui? perguntou
<br>Marry.
<br>
<br>� Morto o vegetal, foi retirada a ess�ncia espiritual e trazida para c�.
<br>� Ela desencarna?
<br>� N�o, Luiz, ela se desmaterializa. Retirada a ess�ncia espiritual, ela
<br>� trazida para este local; daqui ser� transportada para outro posto, depois de
<br>haver passado, sempre em marcha progressiva, pelas necess�rias incubadoras,
<br>onde s�o tratadas por Esp�ritos capacitados.
<br>� Depois de serem tratadas, elas voltam a materializar-se novamente
<br>no reino vegetal, mas em um outro vegetal?
<br>� N�o, isso n�o acontece. Ela, a ess�ncia espiritual, Esp�rito em forma��o,
<br>sob a dire��o e os cuidados dos Esp�ritos encarregados desse trabalho,
<br>efetua o seu crescimento, sofrendo o progresso, que continuar� em diversos
<br>locais apropriados para o seu desenvolvimento.
<br>Observei melhor aquele jardim de amor e fixei o olhar em uma orqu�dea
<br>branca; fiz-lhe contin�ncia, dizendo:
<br>
<br>� �, bela orqu�dea, que Deus guie a sua trajet�ria evolutiva.
<br>Um dos encarregados daquele lugar, virando para n�s, acrescentou:
<br>� Em nome da nossa irm�zinha, que Deus tamb�m guie os passos do
<br>irm�o no longo e sofrido caminho da evolu��o.
<br>� Um abra�o, jardineiro de Deus � respondi.
<br>Ele me corrigiu:
<br>� Oper�rio de Jesus. O Jardineiro de Deus � Jesus.
<br>Yair nos deixou, indo at� outros alunos. Embevecido pela m�sica
<br>lind�ssima que tocava, olhei aquele lugar onde a brisa chegava junto com o
<br>orvalho e faziam companhia a todas as nossas irm�s do reino vegetal, que ali
<br>se encontravam. E pensei: "Como Deus � onipresente junto a todas as Suas
<br>criaturas!" Ia passando por outro grupo e conclui que j� aprendi bastante,
<br>pois um irm�o perguntava:
<br>
<br>� A planta tem perisp�rito?
<br>
<br>O instrutor respondeu:
<br>
<br>� N�o podemos chamar o seu envolt�rio de perisp�rito. S� podemos
<br>chamar de perisp�rito quando ele, o envolt�rio do Esp�rito, atinge a forma
<br>humana. Quando o homem recebe o livre-arb�trio, o diadema da raz�o, o
<br>Esp�rito fica totalmente vestido por seu envolt�rio flu�dico chamado perisp�rito.
<br>Entretanto, no reino vegetal a ess�ncia espiritual tem de caminhar por muito
<br>tempo ainda. Ela s� est� no segundo est�gio evolutivo.
<br>Vou tentar representar graficamente a forma��o do Esp�rito:
<br>
<br>Mundo Espiritual
<br>
<br>Deus criando
<br>
<br>Laborat�rios, viveiros
<br>Reino mineral
<br>
<br>
<br>Reino vegetal
<br>
<br>Homem
<br>Livre-arb�trio
<br>Consci�ncia
<br>
<br>
<br>
<br>� Se o homem tivesse conhecimento da sua origem, n�o jogaria
<br>fora as preciosas horas da sua vida, Luiz. Se ele conhecesse a sua
<br>origem, o tempo que levou para crescer, amaria mais o Seu Criador,
<br>mas certos homens julgam que o seu corpo � apenas um condensado
<br>de mat�ria, n�o querendo descobrir em si o Esp�rito imortal.
<br>� E hoje, Marry, o que mais se v� � o desrespeito � encarna��o,
<br>atrav�s das desencarna��es violentas. � dif�cil imaginar o homem partindo
<br>do reino mineral, da maneira que compreende o crescimento do feto
<br>que vem do �vulo.
<br>� A natureza n�o esconde do homem as leis que a regem. Se
<br>todas as criaturas soubessem um pouco que fosse da origem da vida, j�
<br>seria muito bom. A Humanidade n�o se preocupa em descobrir as verdades
<br>da sua origem.
<br>� N�o se concebe o homem ignorar o mundo espiritual. Por
<br>que ser� que ele n�o indaga para onde foram os seus antepassados?
<br>Ser� que foram "esquecidos" por Deus? Ou a morte � t�o terr�vel
<br>que ningu�m se prop�e a estud�-la, ficando passivo at� a hora do
<br>"exterm�nio"?
<br>� Seria bem mais f�cil, se isso fosse mat�ria obrigat�ria em todos os
<br>col�gios.
<br>� Ah, Marry, como seria bom se isso viesse a acontecer! Hoje,
<br>mesmo em fam�lia que se diz esp�rita, os filhos passam longe do aprendizado
<br>espiritual. S�o esp�ritas "de vez em quando", n�o querendo assumir
<br>as responsabilidades daquele que, para servir, tem de lutar pela mudan�a
<br>interior.
<br>� Irm�o, n�o adianta. Quando a fam�lia n�o est� a fim de se dedicar
<br>ao Cristo, pode Ele pr�prio descer ao plano f�sico que n�o ser� ouvido.
<br>Sabe por que, Luiz? Falta caridade nesses lares. S�o criaturas por
<br>demais apegadas �s coisas materiais.
<br>
<br>� Marry, conhece-se o verdadeiro esp�rita, diz Kardec, pela sua
<br>transforma��o moral. Como ele tem raz�o! Os que se dizem esp�ritas
<br>mas t�m por companhia a maledic�ncia, o orgulho e o ego�smo, jamais se
<br>integrar�o em qualquer Casa, porque o orgulho os leva a buscar somente
<br>elogios � sua pessoa.
<br>Calei-me, para melhor apreciar o viveiro das ess�ncias espirituais.
<br>E fiz contin�ncia a todo aquele reino que ali, naquele laborat�rio, recebia
<br>do jardineiro de Deus, Jesus, o tratamento para prosseguir viagem no
<br>longo caminho da evolu��o.
<br>
<br>� Marry, temos condi��o de chegar at� os mundos onde as ess�ncias
<br>s�o preparadas para o estado de Esp�rito formado?
<br>� N�o, o acesso a tais mundos est� restrito � primeira ordem dos
<br>Esp�ritos � os puros Esp�ritos, que s�o preparados para essa miss�o.
<br>� Deve ser maravilhoso penetrar nessas regi�es.
<br>� Luiz, a cada um Deus oferece oportunidades que n�o devem
<br>ser negligenciadas apenas por desejarmos outras maiores.
<br>� N�o, Marry, estava apenas pensando na grandeza dos Esp�ritos
<br>encarregados da evolu��o das ess�ncias divinas. Gostaria de conhecer
<br>aqueles que de n�s cuidaram na trajet�ria evolutiva.
<br>Ela sorriu, o que me fez corar; era muito infantil o nosso desejo. Ali
<br>ficamos por mais algum tempo. � dif�cil narrar para voc�, leitor, a beleza
<br>do lugar; tinha a impress�o de que estava no para�so.
<br>
<br>� Irm�, isto parece o �den da B�blia.
<br>� Tem raz�o, � o para�so do reino vegetal. Neste lugar as ess�ncias
<br>espirituais est�o recebendo os fluidos necess�rios para o longo caminho
<br>da evolu��o. Aqui � um santu�rio de luz para as esp�cies do reino
<br>vegetal.
<br>Inebriado com tanta beleza, solei meu viol�o e cantei esta can��o, feita
<br>por uma querida poetisa brasileira:
<br>
<br>
<br>Deus caminha pelos jardins
<br>De terra e jasmineiros
<br>De flores e chuvas
<br>De perfume e nuvens
<br>Leve brisa apenas
<br>Anima o ramo
<br>De seu perfume
<br>Muitas seivas trazidas
<br>Do jardim de Deus
<br>No fr�gil ramo pousando
<br>Com a folha celeste
<br>Tudo germinando
<br>A rosa, o cipreste,
<br>Se o tempo parasse
<br>Do ramo surgiria
<br>Uma bela flor
<br>Toda faceira
<br>Tamb�m brejeira
<br>Seu nome: amor
<br>
<br>
<br>� Rom�ntico, S�rgio?
<br>� Deslumbrado com o poder de Deus.
<br>Ali permanecemos muito tempo, admirando aquele viveiro espiritual
<br>cuidado por muitos Esp�ritos de grande evolu��o.
<br>
<br>� Qualquer um pode trabalhar aqui? perguntei a Marry.
<br>� N�o, somente os t�cnicos de Deus. Esses irm�os s�o grandes
<br>conhecedores do magnetismo. Foram preparados para essa tarefa.
<br>� Percebi naqueles Esp�ritos o quanto eles amavam aquele lugar. Eram
<br>os oper�rios do jardineiro de Deus � Jesus. Aproximei-me de um deles e
<br>perguntei:
<br>
<br>� Michael, as plantas dos mundos superiores s�o mais evolu�das do
<br>que as do planeta Terra?
<br>� Mais ou menos.
<br>� Como assim?
<br>� Dado o campo flu�dico dos mundos elevados, os reinos mineral,
<br>vegeta] e animal encontram-se em um estado mais adiantado do que os dos
<br>mundos primitivos.
<br>� Mas coitadas das ess�ncias espirituais dos mundos inferiores, que
<br>culpa t�m elas?
<br>� Voc� n�o est� nos entendendo, Luiz S�rgio. Deus cria o
<br>Esp�rito simples e ignorante, e nessa inoc�ncia ele chega � condi��o
<br>de homem. O caminho que essas ess�ncias percorrem n�o conta para
<br>a evolu��o delas. N�o importa onde tenha germinado a ess�ncia da
<br>flor, importa qual o caminho do Esp�rito quando ele atingiu a maioridade
<br>� o reino humano.
<br>� Explique-me, ent�o, a quest�o 601 de O Livro dos Esp�ritos:
<br>601. Os animais est�o sujeitos, como o homem, a uma lei progressiva?
<br>"Sim; e da� vem que, nos mundos superiores, onde os homens
<br>s�o mais adiantados, os animais tamb�m o s�o, dispondo de meios
<br>mais amplos de comunica��o. S�o sempre, por�m, inferiores ao homem
<br>e se lhe acham submetidos, tendo neles o homem servidores
<br>inteligentes."
<br>
<br>� Nesta resposta h� um trecho que bem a esclarece: dispondo de
<br>meios mais amplos de comunica��o.
<br>� Pode me esclarecer sobre essa "comunica��o"?
<br>� Sim. Nos mundos superiores os animais convivem com homens
<br>evolu�dos, que j� conhecem o princ�pio inteligente do animal e
<br>travam um relacionamento mais fraterno. O animal e as outras ess�n
<br>
<br>cias dos mundos superiores det�m esse privil�gio, mas os homens
<br>n�o interv�m na sua evolu��o.
<br>
<br>� Qual o significado das palavras "tendo neles o homem servidores
<br>inteligentes"?
<br>� Nos mundos superiores n�o existem animais selvagens; nesses
<br>mundos os animais s�o, pois, servidores inteligentes.
<br>� Servidores inteligentes como, Michael, se eles n�o t�m total intelig�ncia?
<br>� Disse bem: total, mas neles existe um princ�pio e este princ�pio bem
<br>direcionado por Esp�ritos superiores torna a sua vida bem melhor do que a
<br>vida de um animal nos mundos inferiores.
<br>� Quer dizer que os animais ferozes assim o s�o devido � atmosfera
<br>do pr�prio planeta?
<br>� Sim. A aura divina de um mundo superior � diferente da de um
<br>atrasado. Os animais s�o o reflexo das atitudes dos homens. Em uma casa
<br>onde s� se maltrata os animais, eles jamais ser�o d�ceis. Em um lar onde os
<br>animais s�o tratados com carinho, eles s�o bem melhores.
<br>� Ent�o, Michael, a� est� a superioridade dos animais que vivem nos
<br>mundos superiores?
<br>� Sim, eles s�o superiores, porque esses animais comp�em a
<br>vida dos homens e n�o s�o ignorados por eles. Mas de nada vai adiantar
<br>para o animal ter vivido em um mundo superior ou inferior. O
<br>que conta s�o as suas tend�ncias. Quando o princ�pio inteligente torna-
<br>se intelig�ncia plena, o Esp�rito esquece todo o seu passado. Ele
<br>n�o tem hist�ria, pois nada escreveu no livro da vida. Entretanto,
<br>quando se torna Esp�rito formado, conquistando o diadema da raz�o,
<br>a consci�ncia, l� estar�o inscritas as leis naturais ou leis divinas.
<br>Por isso, ningu�m pode dizer n�o conhec�-las, todas as criaturas t�m
<br>guardado, na consci�ncia, o Dec�logo. Mas essa compreens�o � proporcional
<br>ao grau evolutivo do Esp�rito. Um dia todos os Esp�ritos as
<br>
<br>compreender�o perfeitamente, pois ser�o impulsionados pela lei do
<br>progresso.
<br>
<br>� Por isso � completou Marry �, de tempos em tempos foram
<br>chegando as revela��es, chamando os homens para a descoberta
<br>da sua consci�ncia, onde est�o guardadas as leis divinas. Esse o
<br>motivo de ser a Doutrina Esp�rita um educand�rio de almas, nela sempre
<br>encontramos o esclarecimento sobre as leis morais. Os Esp�ritos
<br>v�m preparar o Reino anunciado por Jesus. Aqui, neste laborat�rio,
<br>as ess�ncias espirituais s�o levadas para os mundos com a finalidade
<br>de prepar�-las para o estado de Esp�rito formado.
<br>� Ent�o esses vegetais, que aqui se encontram, j� passaram pelas
<br>esp�cies intermedi�rias?
<br>� Sim, j� passaram. As ess�ncias que aqui se encontram j� passaram
<br>por um filtro divino. Neste local elas est�o recebendo um tratamento
<br>especial, para, logo ap�s, serem levadas para mundos apropriados
<br>a receb�-las.
<br>J� t�nhamos olhado a pedra sem a ess�ncia, no plano f�sico, somente o
<br>condensado de mat�ria, e agora v�amos a pedra iluminada, sofrendo a muta��o
<br>no laborat�rio.
<br>
<br>� E as esp�cies intermedi�rias, o que lhes acontece nesse v�cuo?
<br>� Ainda n�o temos condi��o de adentrar esses dois mundos � o
<br>das esp�cies intermedi�rias e aqueles com a finalidade de preparar as
<br>ess�ncias para o estado de Esp�ritos formados. Neles ficam os Esp�ritos
<br>prepostos, grandes cientistas de Deus.
<br>� Irm�o, minha cabe�a deu um n�. D� para explicar melhor a escalada
<br>do Esp�rito?
<br>� Sim, Luiz.
<br>E mostrou o seguinte esquema:
<br>
<br>� Entendeu, Luiz?
<br>� Mais ou menos. � um assunto s�rio e dif�cil. Pode nos explicar
<br>melhor sobre o conjunto de ess�ncias?
<br>� Sim. Em uma pedreira existe um conjunto de ess�ncias, ou seja, h�
<br>v�rias ess�ncias em uma pedreira. Em alguns vegetais tamb�m h� um conjunto
<br>de ess�ncias.
<br>� N�o desejo parecer inconveniente, mas ser� que pode responder a
<br>mais uma pergunta? Tento colocar-me no lugar do leitor. A ess�ncia espiritual
<br>est� em cada muda de grama?
<br>� N�o. As ess�ncias est�o em um todo, ou melhor, em um gramado.
<br>J� a quest�o de quantas ess�ncias nele se encontram, isso n�o temos capacidade
<br>para revelar. S� quem conhece esse campo s�o os oper�rios do Jardineiro
<br>Jesus, os Esp�ritos encarregados dessas ess�ncias.
<br>� Michael, vamos supor a seguinte situa��o: faz de conta que eu gosto
<br>de uma tal grama; retiro uma mudinha e a planto em meu jardim. Nela h�
<br>uma ess�ncia espiritual?
<br>� Se voc� colher uma "grama-m�e" e os encarregados desejarem
<br>que a ess�ncia seja transportada para o seu jardim, eles ter�o capacidade
<br>para fazer uma tenra graminha germinar. Se n�o, voc� precisar� de muitas e
<br>muitas mudas.
<br>� Que complicado!...
<br>� N�o � complicado, os Esp�ritos trabalhadores do Senhor
<br>n�o perdem tempo. As vezes, voc� deseja uma muda de grama, mas
<br>n�o vai cuidar dela; j� prevendo isso, os jardineiros n�o lhe d�o gramas
<br>com ess�ncia espiritual. Voc� leva para o seu jardim grama sem
<br>ess�ncia espiritual, apenas composta de fluidos que logo se dissipam.
<br>Luiz, � comum dizermos que existem pessoas de m�os boas,
<br>que tudo que plantam germina, e alguns que podem plantar um jardim
<br>inteiro e nada germinar�.
<br>
<br>� Compreendi, essas pessoas n�o caem nas gra�as dos jardineiros
<br>divinos.
<br>Ele sorriu.
<br>
<br>� N�o � bem assim. Quem cuida das sementes sempre tem boa colheita.
<br>� Obrigado, amigo, muito obrigado. Voc� me ajudou bastante. N�o
<br>sei se o leitor entendeu, mas eu o compreende e gostaria que o leitor pensasse
<br>bem, antes de viver pedindo mudinhas de plantas e depois as deixando
<br>sem alimento, sem �gua, sem sol.
<br>� Luiz, voc� compreendeu tudo sobre as ess�ncias espirituais dos
<br>gramados?
<br>� Achamos que sim, Marry.
<br>� Ainda bem, porque vemos muitas pessoas indagarem:
<br>ser� que em cada muda de capim est� um Esp�rito em forma��o?
<br>� Est� ou n�o est�, Marry? perguntei.
<br>� N�o, n�o est�. A ess�ncia espiritual, nos reinos mineral
<br>e vegetal, muitas vezes s� se encontra em um conjunto de mat�ria.
<br>� Como?
<br>� Uma pedreira, conforme o seu tamanho, possui somente
<br>algumas ess�ncias. Em um gramado tamb�m encontramos
<br>algumas ess�ncias; elas n�o est�o em cada muda de grama. Existe
<br>a ess�ncia-m�e, dela enra�zam-se as outras; se n�o pegamos a
<br>m�e, n�o existe ess�ncia, portanto, a muda n�o germina.
<br>� Muitos chamam-nas de touceiras de grama ou capim.
<br>� Certo. Em uma touceira est�o as ess�ncias e os complementos
<br>� e exp�s o seguinte esquema:
<br>
<br>� Mas existem galhos e sementes dos frutos que germinam.
<br>� �, mas existem tamb�m aquelas que n�o germinam. Em certas �rvores,
<br>os frutos e os galhos, ao serem transportados, levam a ess�ncia da
<br>vida, porque em certas �rvores est�o v�rias ess�ncias.
<br>� Irm� Marry, as esp�cies intermedi�rias se encontram nos mundos
<br>espirituais, n�o � mesmo?
<br>� Em todos os planetas, isto �, mundos, h� o plano f�sico e o plano
<br>espiritual; a matriz e a filial. E � nesses mundos espirituais que as ess�ncias
<br>passam por esp�cies intermedi�rias.
<br>� Volto a O Livro dos Esp�ritos: ent�o as plantas e os animais de um
<br>mundo superior s�o superiores aos de um mundo inferior?
<br>� N�o na parte evolutiva, e sim na parte f�sica. Uma flor cultivada nos
<br>pa�ses do primeiro mundo ganha um tratamento melhor do que as plantas de
<br>
<br>um Estado pobre, sem o progresso da agricultura. Leva vantagem na apar�ncia,
<br>e n�o na ess�ncia.
<br>
<br>� Meu Deus, que coisa mais complicada! Quer dizer que um cachorro
<br>de um mundo feliz � mais evolu�do do que um cachorro da Terra?
<br>� Evolu�do n�o � a palavra certa. Ele � melhor cuidado, porque no
<br>mundo feliz os homens s�o bons.
<br>� Coitados dos cachorros dos mundos menos evolu�dos...
<br>� Esse mau trato em nada interfere na sua escalada evolutiva, que s�
<br>come�a a contar ponto quando o Esp�rito j� est� formado. Na inf�ncia espiritual,
<br>ele apenas est� evoluindo.
<br>� Irm�, gostaria que comentasse algo mais sobre a quest�o 601 de O
<br>Livro dos Esp�ritos:
<br>
<br>601. Os animais est�o sujeitos, como o homem, a uma lei progressiva
<br>?
<br>"Sim; e da� vem que nos mundos superiores, onde os homens s�o mais
<br>adiantados, os animais tamb�m o s�o, dispondo de meios mais amplos de
<br>comunica��o.(...)"
<br>
<br>� Quais s�o esses meios de comunica��o?
<br>� Lembremos o que Michel explicou. Os homens desses mundos,
<br>Luiz, t�m mais capacidade de compreender a pouca intelig�ncia dos animais.
<br>Sabem aproveit�-los e os animais tornam-se d�ceis e amigos. Os homens
<br>adiantados sabem como comunicar-se com os animais, portadores de um
<br>princ�pio inteligente. Quantos domadores de animais ensinam-lhes t�o bem,
<br>que causam espanto aos leigos! Assim, os homens em um estado mais evolu�do
<br>tratam os seus animais de um modo especial. Isso n�o quer dizer que
<br>esses animais s�o mais evolu�dos do que os animais de um mundo inferior.
<br>Em O Livro dos Esp�ritos, a quest�o 601 n�o diz da evolu��o dos animais,
<br>e sim do adiantamento.
<br>� Irm�, adiantamento n�o � sin�nimo de evolu��o?
<br>
<br>� Nem sempre, Luiz. A evolu��o ocorre quando o Esp�rito j� ganhou
<br>alguns quil�metros em dire��o a Deus. O adiantamento quer dizer que o
<br>Esp�rito tem mais conforto, � melhor tratado. Vamos colocar aqui os homens
<br>do primeiro mundo e os que vivem no terceiro mundo.
<br>� Ent�o, todas as criaturas que moram no primeiro mundo s�o mais
<br>evolu�das do que as que vivem no terceiro mundo, em seus pa�ses pobres e
<br>sofridos?
<br>� Claro que n�o. No primeiro mundo o homem tem mais conhecimento
<br>de higiene, educa��o, limites; mas o cora��o, o crescimento moral, �s
<br>vezes � m�nimo. N�o � o homem e sim o pa�s, que � adiantado, tem boas
<br>escolas, boas casas, conforto. L� respeitam-se mais as leis, portanto, � uma
<br>civiliza��o mais evolu�da. Mas n�o s�o, necessariamente, Esp�ritos evolu�dos.
<br>� Marry, � dif�cil compreender.
<br>� Luiz, o maior pacificador da Humanidade, Gandhi, vivia em um
<br>pa�s pobre, composto de miser�veis, e Hitler, Esp�rito violento e sanguin�rio,
<br>vivia em um rico pa�s. Um homem violento pode tornar o seu animal em um
<br>animal violento e um bom homem pode transmitir ao seu animal a sua candura.
<br>A maneira com que o homem trata o seu animal denota o seu adiantamento
<br>moral. � ele quem est� na berlinda, ele � o astro principal. O animal �
<br>apenas coadjuvante. Por isso, Jesus nos ensinou, em Mateus, Cap�tulo VI,
<br>vv. 26-27: Observai os p�ssaros no c�u, n�o semeiam, n�o ceifam, n�o
<br>guardam em celeiros; mas, vosso Pai celestial os alimenta. N�o sois
<br>muito mais do que eles? E qual, dentre v�s, o que pode aumentar um
<br>cavado � sua estatura ? O p�ssaro, mesmo sendo amado por Deus, � inferior
<br>ao homem; muito ainda precisa caminhar. O p�ssaro ainda se encontra
<br>no terceiro est�gio, no reino animal. At� ele atingir o est�gio de Esp�rito formado,
<br>ser� inferior ao homem, que tem condi��o de escolher o que deseja,
<br>de governar o rumo da sua vida, sendo muito superior ao p�ssaro. O p�ssaro
<br>tem apenas um princ�pio de intelig�ncia, enquanto o homem. Esp�rito formado,
<br>tem condi��o de buscar o bem ou o mal.
<br>
<br>� Marry, todo o Espiritismo se encontra na B�blia, no Antigo e no
<br>Novo Testamentos. Os esp�ritas t�m de estud�-la, ela s� confirma os fatos
<br>esp�ritas.
<br>� Irm�o, podemos considerar os tr�s reinos da natureza como est�gios
<br>de crescimento do Esp�rito. Muitos n�o os aceitam, outros n�o querem
<br>entend�-los, mas o Pai, que tudo cria, cuida muito bem dos Seus filhos.
<br>� Ent�o, Marry, Deus cria o Esp�rito simples e ignorante; depois ele
<br>continua crescendo, materializa-se nos reinos mineral e vegetal, encarna no
<br>animal e depois entra no mundo hominal. Da� sai munido da carta da liberdade
<br>e da responsabilidade. At� chegar a esse est�gio, o Esp�rito � cuidado por
<br>uma pl�iade de Esp�ritos sublimados. Deus est� sempre vigilante, n�o deixando
<br>seus filhos �rf�os, independentemente do seu estado evolutivo. Todos
<br>s�o amados por Ele. Isso nos d� uma responsabilidade maior, ao saber o
<br>quanto o Pai espera de cada um de n�s. Marry, Deus cria a ess�ncia espiritual
<br>no plano espiritual ou no plano f�sico?
<br>� Primeiro ela � colocada na condensa��o de mat�ria espiritual, depois
<br>� trazida ao mundo f�sico.
<br>� Quer dizer que tudo o que � criado por Deus come�a no mundo
<br>espiritual: a pedra, a flor, o animal, tudo parte do alto?
<br>� Sim. Como o perisp�rito � a veste do Esp�rito e o corpo de carne �
<br>o elemento de que o Esp�rito do homem disp�e para viver no plano f�sico,
<br>assim tamb�m a ess�ncia espiritual, o princ�pio inteligente, tem in�cio no mundo
<br>espiritual.
<br>Parei um pouco para meditar sobre tudo o que havia aprendido.
<br>
<br>
<br>Cap�tulo VIII
<br>CARIDADE: AMOR EM A��O
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<br>� Marry, no livro Amigo e Mestre terminamos as explica��es do
<br>Serm�o do Monte sobre a casa constru�da sobre a rocha; no in�cio deste
<br>livro tratei tamb�m do assunto, e fizemos um gr�fico da evolu��o do Esp�rito.
<br>Como vemos, todos devem iniciar sobre uma firme base. Aquele que tem
<br>alicerce alcan�a vit�ria. Deus, que � Deus, iniciou a Sua cria��o sobre a
<br>rocha, por isso criou o Esp�rito simples e ignorante. Quanto valor tem um ser
<br>humano! Pena que muitos isso ignoram e jogam fora as oportunidades de
<br>evolu��o. O homem, Marry, tem de buscar a sua origem para dar valor ao
<br>tempo.
<br>� Isso mesmo. Se cada criatura, Luiz. parasse para pensar quanto
<br>tempo j� possui de vida, que foi criada por Deus e que jamais ter� fim, talvez
<br>lutasse mais pela perfei��o.
<br>� Marry, os amigos espirituais mais evolu�dos sempre nos alertam sobre
<br>isso: que ningu�m tem o direito de reclamar orfandade, que todos fomos criados
<br>para ser felizes e que est� em n�s a vit�ria. S� a Doutrina Esp�rita pode mudar o
<br>homem atrav�s do conhecimento da origem da vida e da morte. Marry, no Salmo
<br>XXVI, Confian�a em Deus, vers�culo 6, encontramos: E agora a minha
<br>cabe�a ergue-se por cima dos inimigos que me cercam, e imolarei em seu
<br>tabern�culo v�timas de j�bilo. � um salmo lindo, de confian�a em Deus. Pena
<br>que muitos, diante da dor, julguem-se abandonados pelo Criador.
<br>
<br>� �, Luiz S�rgio, o mal do homem � que ele se julga o �nico necessitado,
<br>nunca procurando olhar ao seu redor. Se o fizesse, veria que no planeta
<br>Terra um rebanho de almas caminha para a evolu��o, e que os minutos de
<br>cada vida devem ser aproveitados em prol da perfei��o.
<br>� Infelizmente, o homem encarnado, deslumbrado com as riquezas,
<br>esquece muitas vezes at� de Deus. E como, sobre a cabe�a de cada pecador,
<br>um dia chove a dor, muitos est�o sem o guarda-chuva chamado f�, e
<br>muitas vezes, molhados pelas l�grimas do sofrimento, ficam ca�dos no ch�o.
<br>sem vontade alguma de levantar. Mesmo assim, o Senhor sempre est� amparando
<br>aqueles que necessitam de socorro. Acho, Marry, que o Espiritismo
<br>precisa alertar mais os seus adeptos para a reforma �ntima, porque sem ela
<br>seremos o que Paulo diz em sua 1� Carta aos Cor�ntios, Cap�tulo XIII, vv. 1 7,
<br>13: Se eu falar as l�nguas dos homens, e dos anjos, e n�o tiver caridade,
<br>serei como o metal que soa, ou como o sino que tine. E se eu tiver o
<br>dom de profecia, e conhecer todos os mist�rios, e quanto se pode saber:
<br>e se tiver toda a f�, at� o ponto de transportar montes, e n�o tiver caridade,
<br>nada serei. E se eu distribuir todos os meus bens em o sustento dos
<br>pobres, e se entregar o meu corpo para ser queimado, se todavia n�o
<br>tiver caridade, nada disto me aproveitar�. A caridade � paciente, � benigna;
<br>a caridade n�o � invejosa, n�o obra temer�ria, n�o se
<br>ensoberbece; n�o � ambiciosa, n�o busca os seus pr�prios interesses,
<br>n�o se irrita, n�o suspeita mal; n�o folga com a injusti�a, mas folga
<br>com a verdade; tudo tolera, tudo cr�, tudo espera, tudo sofre (...). Agora,
<br>pois, permanecem a f�, a esperan�a, a caridade, estas tr�s virtudes;
<br>por�m, a maior delas � a caridade.
<br>� Tem raz�o, Luiz. De que vale o homem conhecer teologia e n�o ter
<br>amor a Deus e ao pr�ximo, com esquecimento de si pr�prio? De que vale o
<br>homem ter o dom da profecia e conhecer todos os mist�rios e quanto se
<br>pode saber, ser admirado pelos fen�menos da mediunidade, se o cora��o
<br>est� repleto de vaidade? De que vale ser possuidor de toda f�, a ponto de
<br>transportar montanhas, isto �, ajudar quem est� em desespero, mas continuar
<br>avaro, duro, maledicente, enfim, n�o ter humildade? De que vale? Tudo
<br>
<br>isso nada representa diante da pr�pria consci�ncia. Se o homem distribuir
<br>todos os seus bens no sustento dos pobres, mas n�o tiver a caridade no
<br>cora��o, nada disto se aproveita. E ainda se entregar o seu corpo para ser
<br>queimado, querendo provar o seu amor a Deus, mas sem caridade, nem isto
<br>O alegrar�, porque faltar� amor. Fanatismo n�o � caridade. E Paulo, Luiz
<br>S�rgio, prossegue ensinando o que � caridade.
<br>
<br>� E eu lhe pergunto, Marry: o que � a caridade?
<br>� A caridade � paciente, � benigna. O caridoso o � no Centro, na
<br>igreja, nos templos, no trabalho, na rua, no lar. O caridoso � benigno. A
<br>caridade n�o � invejosa, n�o obra temer�ria nem precipitadamente. Portanto,
<br>quem � caridoso aplaude os de outras cren�as que praticam a caridade, a
<br>ningu�m condena, sempre tem uma atitude de amor e respeito ao pr�ximo,
<br>mesmo aquele de outras cren�as. N�o se ensoberbece dizendo: "fa�o isso",
<br>"fa�o aquilo", "dou isso", "dou aquilo", nem diz: "os meus pobres". A soberba
<br>est� bem distante da caridade. A caridade n�o � ambiciosa, n�o busca os
<br>pr�prios interesses. Ambiciosos s�o aqueles que, dizendo trabalhar em obras
<br>de caridade, s� pedem para as suas institui��es e nada fazem pelas outras,
<br>mais pobres, mais necessitadas; s�o aqueles que, dizendo-se caridosos,
<br>avolumam moedas em seus cofres, n�o se lembrando de ajudar outras Casas
<br>pobres. O caridoso n�o se irrita. Quem faz realmente a caridade n�o se
<br>encoleriza por qualquer coisa. Ele trata o pobre com respeito, porque existem
<br>aqueles que se acham com o direito de tratar os pobres assistidos com
<br>autoridade, querendo impor-lhes condi��es, somente porque lhes ofertam
<br>algumas coisas. A caridade n�o suspeita mal. O caridoso jamais ser� aquele
<br>juiz implac�vel, que vive perguntando: ser� que esse � pobre mesmo, ser�
<br>que ele n�o vive embriagado? A caridade n�o folga com a injusti�a. O verdadeiro
<br>caridoso � justo, � amigo, n�o julga, s� ajuda; ele s� folga com a verdade,
<br>faz tudo para ser aut�ntico, � caridoso na alma. Tudo tolera, porque cr�
<br>no crescimento espiritual do pr�ximo. O caridoso espera, pacientemente,
<br>que o companheiro de evolu��o conquiste, a cada dia, uma vit�ria. Tudo
<br>espera. O caridoso n�o acusa os retardat�rios, os que praticam iniquidades;
<br>ele aguarda, distribuindo exemplos de amor e paz. Tudo sofre: ingratid�o,
<br>
<br>ataques, abandono, cr�ticas e �s vezes at� agress�es morais, mas continua
<br>caridoso, porque a caridade � o ar que respira. Ele n�o � caridoso para ser
<br>admirado, � caridoso porque a caridade lhe d� paz de consci�ncia. A caridade
<br>nunca, jamais, h� de acabar, porque sempre existir�o os caridosos; aqueles
<br>que, esquecidos de si mesmos, lutam para levar a felicidade a quem est�
<br>s�. Paulo � ainda mais taxativo quando diz: ou deixem de ter lugar as pro
<br>
<br>
<br>fecias, isto �, cessem as comunica��es do alto, calem-se os m�diuns, e tamb�m:
<br>ou cessem as l�nguas, isto �, as manifesta��es dos Esp�ritos, quer
<br>dizer, seja abolida a comunica��o. De que vale o conhecimento cient�fico,
<br>sem o crescimento do amor? De que valem as descobertas cient�ficas, se elas
<br>n�o servirem para o crescimento moral da Humanidade? O que � a ci�ncia
<br>sem Deus? Um vag�o sem condutor. Para que a Humanidade evolua, o homem
<br>precisa da f�, da esperan�a e da caridade. Mas a caridade, que � o
<br>amor em a��o, � o �nico caminho que nos leva ao Pai. Sem uma mudan�a
<br>interior, o homem n�o alcan�ar� a pureza. S� com ren�ncias e a luta contra
<br>os pr�prios defeitos ele vencer� a si pr�prio e alcan�ar� a perfei��o. O Espiritismo
<br>d� ao homem todas as ferramentas para abrir o estreito caminho que
<br>nos levar� a Deus: o dos conhecimentos doutrin�rios. Reneg�-los � o mesmo
<br>que pisar nas p�rolas preciosas do conhecimento. S� o Espiritismo est� preocupado
<br>com a eleva��o moral e intelectual do ser humano, e feliz aquele
<br>que, ao chegar ao Espiritismo, procurar se auto-educar, tudo fazendo para
<br>tornar-se um verdadeiro esp�rita. O homem que conhece a Doutrina Esp�rita
<br>e nada faz pela pr�pria melhoria chegou � fonte do amor, mas n�o quis enxerg�la,
<br>virando-lhe as costas.
<br>
<br>� Marry, o esp�rita encontra in�meras oportunidades de se auto-educar,
<br>mas poucos lutam para vencer as suas imperfei��es.
<br>� Luiz, quem busca a Doutrina Esp�rita n�o pode, de modo algum,
<br>ficar longe do aprendizado. Os fen�menos existem, mas s� eles s�o insuficientes
<br>para o crescimento moral do homem. A descoberta da Doutrina se d�
<br>atrav�s do conhecimento.
<br>Enquanto convers�vamos, Eilen aproximou-se, dando-nos importantes
<br>informa��es:
<br>
<br>
<br>� Luiz e Marry, estamos preparando uma turma de futuros esp�ritas
<br>que voltar�o � carne e ir�o compor a seara do Mestre.
<br>� Eilen, esses Esp�ritos est�o sendo preparados para reencarnar?
<br>� Sim, est�o sendo preparados para chegar � carne em lares bem
<br>equilibrados.
<br>� Quanta responsabilidade desses futuros pais!
<br>� Sem d�vida, Luiz. As fam�lias escolhidas ir�o precisar de muitas
<br>ren�ncias. Esses Esp�ritos s�o seres especiais, eles voltar�o ao plano f�sico
<br>em miss�o.
<br>� Ser� que n�o deixar�o passar a oportunidade, inebriados com o
<br>avan�o tecnol�gico do planeta?
<br>� Se existir alguma falha, ela ser� m�nima. Acreditamos que esses
<br>Esp�ritos, mesmo se os pais fracassarem, permanecer�o fi�is ao Cristo.
<br>Eilen nos recordou de Jesus, quando o Mestre andava por Nazar�, em
<br>Mateus, Cap�tulo IX, vv. 35-38: Jesus percorreu as cidades e as aldeias
<br>ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do reino, curando males
<br>e todas as enfermidades. E, vendo todas aquelas gentes, teve piedade
<br>deles, pois estavam maltratados e jaziam por ali como ovelhas sem
<br>pastor. Disse, ent�o aos disc�pulos: A seara � verdadeiramente grande,
<br>mas poucos os trabalhadores. Rogai, pois, ao dono da seara que mande
<br>trabalhadores para ela.
<br>
<br>� Sobre esta passagem do Evangelho encontramos, no Antigo Testamento,
<br>no livro de Ezequiel, Cap�tulo XXXIV, vv. 1-2: Foi-me dirigida a
<br>palavra do Senhor, a qual dizia: Filho do homem, profetiza acerca dos
<br>pastores de Israel; profetiza e dize aos pastores: Isto diz o Senhor Deus:
<br>Ai dos pastores de Israel, que se apascentam a si pr�prios! Porventura
<br>s�o os rebanhos os que devem ser apascentados pelos pastores? Tamb�m
<br>encontramos em Zacarias, Cap�tulo X, vers�culo 2: Porque os �dolos
<br>deram respostas v�s, os adivinhos tiveram vis�es mentirosas, os sonhadores
<br>falaram no ar; davam consola��es falsas; por isso foram levados
<br>
<br>como um rebanho; foram afligidos, porque n�o tinham pastor. O planeta
<br>est� precisando de pastores, homens dignos, que atrav�s de exemplos ofere�am
<br>ao povo sofrido a esperan�a.
<br>
<br>� Por isso, Luiz, os esp�ritas n�o devem se preocupar apenas com os
<br>fen�menos. O Espiritismo codificado por Kardec ensina ao homem a busca
<br>da perfei��o. Jesus ensinou os ap�stolos a viverem no mundo, sem se tornarem
<br>escravos dele. O bom pastor de alma tem de pregar com exemplos. De
<br>nada serve ser portador de uma bela mediunidade, se o cora��o estiver repleto
<br>de orgulho e de vaidade. Os bons pastores s�o aqueles que d�o �s
<br>ovelhas o alimento espiritual, o p�o da vida, que � o conhecimento da responsabilidade
<br>de cada Esp�rito para com o Seu Criador: Deus. Enquanto os
<br>ditos pastores n�o se respeitarem uns aos outros, existir�o as brigas religiosas,
<br>e esquecidos estar�o todos: sacerdotes, pastores, esp�ritas, enfim, todos
<br>os que se dizem trabalhadores do Cristo, da passagem b�blica da par�bola
<br>do Samaritano e de tantas outras que o Cristo de Deus t�o bem ensinou �
<br>Humanidade, falando que a verdadeira f� n�o separa irm�os. O esp�rita tem
<br>mais responsabilidade do que os outros pregadores, porque foi-lhe concedido
<br>desvendar tudo o que ontem era mist�rio. O esp�rita tem conhecimento de
<br>que sem a caridade n�o h� salva��o; que o amor � que cobre a multid�o de
<br>pecados; que o homem est� no corpo f�sico para crescer espiritualmente,
<br>pagando as suas d�vidas; que sem luta n�o existe crescimento espiritual. O
<br>Espiritismo lembra a cada ser que a reencarna��o � o perd�o de Deus e que
<br>ningu�m tem o direito de jogar fora a grande oportunidade, que � a vida
<br>encarnada. Faltam, sim, verdadeiros pastores, porque quase todos os que
<br>hoje a� est�o n�o desejam aceitar o modo de pensar daquele que n�o pensa
<br>como ele. J� imaginou se o Cristo desprezasse Mois�s e todos os judeus?
<br>Jesus caminhou sereno e amigo, e quando pediu �gua � samaritana, quis
<br>deixar para a Humanidade a li��o de que aquele que realmente cr� em Deus
<br>e � Seu real trabalhador n�o teme o seu pr�ximo que pensa de modo diferente.
<br>O Cristo, ao curar o servo do centuri�o, n�o indagou qual era o seu
<br>credo, apenas cumpriu a Sua miss�o de pastor de almas. Mas os pobres de
<br>amor tornaram-se os donos da verdade, apenas porque aprenderam a comentar
<br>as passagens evang�licas. Bem sabemos que isso nada representa.
<br>
<br>Para transformar-se em pastor verdadeiro, o homem precisa tornar-se o
<br>menor dos servos, por�m rico em amor e respeito ao seu pr�ximo. Os esp�ritas
<br>devem ler e meditar estas passagem do evangelho de Jo�o, Cap�tulo IV,
<br>vv. 36-42: O que sega recebe recompensa e junta fruto para a vida eterna;
<br>para que assim o que semeia, como o que sega, juntamente se regozijem.
<br>Porque nisto se verifica o ditado: um � o que semeia e outro o que
<br>sega. Que b�n��o para um esp�rito, ao receber de Deus o dom de guiar
<br>outras pessoas, atrav�s do Evangelho, n�o fracassar na sua tarefa! Os dois
<br>ser�o vencedores: Aquele que semeia e o que sega. Eu enviei-os a segar o
<br>que v�s n�o trabalhastes; outros trabalharam e v�s entrastes nos seus
<br>trabalhos. Como Jesus � s�bio! Os crist�os de antigamente e os de hoje
<br>encontraram a seara plantada com o sangue do Cristo e o dos ap�stolos.
<br>Outros trabalharam e v�s entrastes nos seus trabalhos. Quanta verdade
<br>h� nestes vers�culos: alguns interpretam as passagens b�blicas, mas n�o seguem
<br>os preceitos do Cristo. Muitos samaritanos daquela cidade creram
<br>em Jesus, por causa da palavra daquela mulher, que dava este testemunho:
<br>Ele me disse tudo o que tenho feito. Vindo, pois, ter com ele os
<br>samaritanos, pediram-lhe que ficasse l�. E ficou l� dois dias. Muitos
<br>mais creram nele em virtude da sua palavra. E diziam � mulher: N�o �
<br>j� pela tua palavra que cremos nele, mas � porque n�s mesmos o ouvimos,
<br>e sabemos que ele � verdadeiramente o Salvador do mundo. Jesus
<br>tem raz�o: a seara � verdadeiramente grande, mas poucos os trabalhadores.
<br>Hoje vemos, Luiz S�rgio, os ataques religiosos: igreja contra igreja, e muitas
<br>delas contra o Espiritismo. E o pior � que o Espiritismo � n�o bastassem os
<br>ataques das ditas igrejas crist�s � tamb�m se encontra dividido. Os esp�ritas
<br>n�o gostam deste ou daquele esp�rita. O Cristo tem raz�o, quando diz em
<br>Mateus, Cap�tulo IX, vers�culo 38: Rogai, pois, ao dono da seara que mande
<br>:rabalhadores para ela. Isto �, que os trabalhadores da Seara estejam unidos
<br>de sentimentos fraternos, do amor crist�o, e saiam a pregar atrav�s da
<br>palavra, mas sobretudo do exemplo, a moral que o Mestre dos mestres pregou
<br>e t�o bem exemplificou; que todos n�s, n�o somente os esp�ritas, mas
<br>todos os que pregam o Evangelho, sejamos uma carta do Senhor, chegando
<br>em todos os lares, sempre levando um c�ntico de paz, mas nunca a divis�o e
<br>
<br>
<br>a guerra, a cr�tica, a maledic�ncia. Sejamos fi�is ao Senhor, a Terra est�
<br>precisando regenerar-se para a felicidade do seu povo. Tamb�m devemos
<br>ler na II Carta aos Tessalonicenses, Cap�tulo III, vv. 1-2: Quanto ao mais,
<br>irm�os, orai por n�s, para que a palavra de Deus se propague e seja
<br>glorificada, como � entre v�s, e para que sejamos livres de homens importunos
<br>e maus; porque a f� n�o � de todos.
<br>
<br>� Eilen, como deve penar aquele que brinca com a ingenuidade dos
<br>que nele acreditam!
<br>� Ah, Luiz, como sofrem os que n�o respeitam os ensinos de Jesus!
<br>Aqueles que, possuidores do dom da palavra, pregam a separa��o e brincam
<br>com a ingenuidade dos que cr�em. Mas temos a eternidade para acertar,
<br>e feliz aquele que busca agora tornar-se um fiel trabalhador da seara.
<br>� Irm�, como reconhecer os reais pastores, os que pregam pelo exemplo?
<br>� Se ouvimos algu�m falando ou escrevendo sobre caridade, mas
<br>ainda possuindo fechados o cora��o e as m�os, ele n�o pode ser um trabalhador
<br>do Cristo. Se freq�entamos uma Casa religiosa e o pregador critica
<br>esta ou aquela religi�o, grita e esbraveja contra tudo e contra todos, achando-
<br>se o �nico certo, n�o pode ser um real pastor. � f�cil conhecer os falsos
<br>trabalhadores: basta olhar o que eles fazem para amenizar as dores. O real
<br>pastor, se estiver preocupado com o crescimento moral da Humanidade,
<br>come�ar� pelo seu pr�prio crescimento espiritual.
<br>� Irm�, como existem falsos profetas; aqueles que s� falam, sem jamais
<br>se aproximar de um pobre!
<br>� Conhecemos muitos que falam, falam e vivem na ociosidade. Hoje,
<br>ainda existem aqueles que pregam a Doutrina, mas se dizem contra os trabalhos
<br>benem�ritos. E todos n�s sabemos que sem caridade n�o h� autoburilamento.
<br>� Irm�, se desde o Velho Testamento o homem � alertado para a
<br>caridade, por que ela se esfria cada vez mais?
<br>
<br>� Simplesmente, Luiz, porque hoje a vida f�sica oferece um oceano
<br>de prazeres, onde se gasta mais do que se ganha. Sendo assim, como lembrar-
<br>se dos que t�m fome? No livro Eclesi�stico, Cap�tulo 11, vv. 28-29
<br>lemos: Porque � f�cil a Deus, no dia da morte, dar a cada um segundo as
<br>suas obras. O mal presente faz esquecer grandes del�cias, e no fim do
<br>homem ser�o descobertas as suas obras.
<br>� E ainda existem esp�ritas que n�o aceitam as obras sociais. Como
<br>pode um ser humano chegar junto � cascata de luz, que � a Doutrina Esp�rita,
<br>e n�o envolver o seu Esp�rito nesse banho de luz, que s�o os ensinos doutrin�rios?
<br>� A cada dia, Luiz, a Humanidade fica mais materialista. Achamos
<br>mesmo que, � medida que a Terra progride em tecnologia, o homem esfria o
<br>sentimento. � a casa luxuosa, s�o as roupas de marca famosa, os carros
<br>modernos, as j�ias caras, enfim, � o conforto que o faz distanciar-se do amor
<br>a Deus.
<br>� Irm�, mas o Evangelho nos diz que o homem pode desfrutar do
<br>conforto e servir a Deus.
<br>� E � verdade. Ningu�m pede que o homem viva na mis�ria, mas que
<br>cada um ame a Deus em Suas criaturas. Os materialistas acham que a f�
<br>enfraquece o homem. Por isso, a cada dia, os Esp�ritos do Senhor sopram
<br>em todas as partes e queira Deus os homens deixem de ser surdos.
<br>� Eilen, temos de continuar a nossa peregrina��o. Obrigada pela proveitosa
<br>conversa � agradeceu Marry.
<br>� Marry e Luiz S�rgio, que Deus os guie. At� outra vez.
<br>
<br>Cap�tulo IX
<br>A TAREFA DA PSICOGRAFIA
<br>
<br>
<br>Dali sa�mos, e logo est�vamos em um lugar onde uma bela casa parecia
<br>uma ilha cercada de p�ntano. No in�cio me assustei, mas logo fiquei serenos,
<br>pois entrei em prece. Aproximamo-nos, sendo recebidos por Salatiel
<br>que, sorridente, desejou-nos boas-vindas. Marry apresentou-me:
<br>
<br>� Salatiel, estamos aqui em visita, pois o aluno Luiz S�rgio tem a
<br>incumb�ncia de levar ao plano f�sico o conhecimento que est� adquirindo.
<br>� Irm�o Luiz S�rgio, seja bem-vindo e que o Mestre eterno esteja
<br>sempre guiando suas m�os, para que possa tornar-se um arauto das boas
<br>informa��es.
<br>E recitou, do livro Eclesi�stico, o Cap�tulo XIV, vv. 16-21: D�, e
<br>recebe, e santifica a tua alma. Pratica a justi�a antes da tua morte,
<br>porque na sepultura n�o se encontram alimentos. Toda a carne envelhece
<br>como o feno, e como as folhas que crescem sobre as �rvores verdes.
<br>Umas folhas nascem, e outras caem; assim � a gera��o de carne e
<br>de sangue: uma fenece, e outra nasce. Toda a obra corrupt�vel vir� enfim
<br>a perecer, e aquele que afez ir� com ela. Toda a obra excelente ser�
<br>louvada, e o que a executa, nela ser� honrado.
<br>
<br>� Irm�o, poderia nos explicar estes vers�culos do Eclesi�stico?
<br>
<br>� Luiz S�rgio, a ignor�ncia a respeito de uma retribui��o ultraterrena
<br>faz com que ainda se considere o tempo e os bens terrenos como a �nica
<br>felicidade. Da�, a advert�ncia de que o que � da terra s� se aproveita em um
<br>per�odo m�nimo de tempo, e disso n�o se pode esperar felicidade ap�s a
<br>morte do corpo, porque n�o enriquece o Esp�rito de boas obras. Os bens
<br>temporais s�o para serem usados no plano f�sico e n�o levados pelo Esp�rito.
<br>Virei-me para Marry e perguntei:
<br>
<br>� O que vimos fazer aqui?
<br>Ela sorriu.
<br>� Conhecer esta bela e proveitosa faculdade.
<br>� Faculdade?
<br>O irm�o respondeu:
<br>� Sim, estamos ainda na entrada da Faculdade da Sabedoria.
<br>Desejei fazer umas perguntas, por�m calei-me; o nosso irm�o guiava-
<br>nos em pleno sil�ncio. Depois que varamos os v�rios corredores daquela
<br>casa, vimos um belo jardim e nele v�rios bangal�s. Sorri, quando divisei seus
<br>nomes: f�, esperan�a, caridade, humildade, amor, paci�ncia, mansuetude,
<br>enfim, cada bangal� tinha um nome das principais virtudes. Pensei: "onde
<br>vamos estudar?" O irm�o chegou na varanda do bangal� do amor e nos
<br>convidou a adentr�-lo. Uma irm� apareceu e tamb�m nos convidou. Marry,
<br>agradecendo, apresentou-me:
<br>
<br>� Este � o Luiz S�rgio.
<br>Liana, sorrindo, cumprimentou-me:
<br>� Seja bem-vindo, S�rgio.
<br>Ali ficamos, conversando, at� sermos levados � sala de aula. Cumprimentamos
<br>a turma e l� aguardamos o in�cio da aula, sentados em uma mesa
<br>com os professores que iriam dar as aulas. Encontrava-me curioso, ou melhor,
<br>ansioso, quando Marry falou:
<br>
<br>
<br>� Luiz, fa�a uma prece em sil�ncio, pois a sua ansiedade pode atrapalhar
<br>os doentes.
<br>� Doentes, Marry?
<br>� Sim, Luiz. Nesta sala de aula encontram-se os Esp�ritos que desejam
<br>ir ao plano f�sico dar mensagem.
<br>� Qu�! � verdade, Marry?
<br>� Daqui � que partem os Esp�ritos, muitos deles rec�m-desencarnados,
<br>para dar mensagens a alguns m�diuns.
<br>� Alguns m�diuns?
<br>� Sim, Luiz, n�o � verdade que todos os m�diuns podem receber
<br>mensagens de desencarnados.
<br>� E por qu�?
<br>� Muito simples: falta de vibra��o magn�tica.
<br>� Vibra��o magn�tica?
<br>� Sim. Precisa existir afinidade entre o m�dium e o Esp�rito rec�mdesencarnado,
<br>para uma real sintonia.
<br>� Os Esp�ritos aprendem a psicografar aqui?
<br>� Sim. Muitos julgam que basta o Esp�rito desejar mandar mensagem
<br>e j� � capaz de o fazer.
<br>� E n�o � assim?
<br>� N�o. Para mandar uma mensagem, ela precisa ser proveitosa n�o
<br>s� para a fam�lia, mas para todos os que a lerem, e para isso ele precisa
<br>passar por essas pequenas faculdades.
<br>Passei a observar melhor aquela turma tentando psicografar e pergun
<br>
<br>
<br>� Os m�diuns s�o encarnados?
<br>
<br>� N�o, s�o Esp�ritos preparados para este trabalho.
<br>� Esp�ritos-m�diuns?
<br>� Sim, Esp�ritos-m�diuns.
<br>� Irm�, mas hoje o que mais se v� s�o Esp�ritos mandando mensagens.
<br>� Luiz, o Espiritismo veio ao mundo f�sico para educar o homem,
<br>para faz�-lo aproveitar a reencarna��o. A Doutrina Esp�rita n�o precisa se
<br>expor, n�o precisa de propaganda. S� poucos m�diuns est�o aptos a receber
<br>mensagens daqueles que partiram.
<br>� Mas essas mensagens n�o s�o a maior propaganda do Espiritismo?
<br>� N�o. O que torna o Espiritismo conhecido s�o as condutas dignas
<br>dos verdadeiros esp�ritas. Essas mensagens consolam, mas muito poucas
<br>fam�lias se tornam esp�ritas apenas por receberem mensagens. Ao contr�rio,
<br>no in�cio elas ficam deslumbradas, mas com o passar dos anos a saudade vai
<br>diminuindo e elas fogem dos Centros Esp�ritas.
<br>� Por que a Espiritualidade Maior n�o suspende as mensagens?
<br>
<br>� Porque elas consolam. Mas os m�diuns iniciantes t�m de ser alertados
<br>que, para receberem boas mensagens, precisam se educar. S� com a educa��o
<br>doutrin�ria eles analisar�o todas as mensagens recebidas e as passar�o
<br>pelo crivo da raz�o.
<br>� Irm�, existem tantos m�diuns recebendo mensagens, umas at� boas,
<br>mas outras dif�ceis de aceitar...
<br>� A� � que mora o perigo. Muitas vezes, o entusiasmo do m�dium
<br>leva-o a desejar ajudar os que sofrem e, n�o colocando a Doutrina em primeiro
<br>lugar, deixam sair mensagens que as fam�lias criticam, passando a atacar
<br>o Espiritismo. Estas aulas d�o aos Esp�ritos que desejam consolar os
<br>seus familiares condi��o de escrever com seguran�a e sempre levando a
<br>Doutrina como ensinamento.
<br>Ali fiquei, olhando uma senhora de seus setenta anos, que chorava
<br>muito, dizendo:
<br>
<br>� Como escrever, se sou analfabeta?
<br>A orientadora dizia:
<br>� Tente, pois s� na sua �ltima encarna��o a irm� n�o aprendeu a ler e
<br>a escrever.
<br>Ela chorava muito, quando a nossa irm� Liana convidou-a a passar a
<br>outra sala. Marry convidou-me a segui-las, e l� fomos n�s. A rec�mdesencarnada
<br>J�lia chorava, dizendo-se analfabeta. Liana a fez adormecer e
<br>levou-a a outras exist�ncias onde ela conheceu as letras, teve cultura. Liana
<br>dizia"
<br>
<br>� Est� vendo, J�lia, como voc� escreve com desenvoltura?
<br>E v�rios quadros foram passando na sua lembran�a. Quando acordou,
<br>voltou � sala e bem devagar, ajudada pela orientadora e por Liana,
<br>iniciou uma carta, escrevendo com muita dificuldade.
<br>
<br>Pensei: "o Esp�rito faz um tremendo esfor�o, para depois a fam�lia dizer:
<br>esta mensagem n�o � da minha m�e, ela n�o sabia escrever". Olhava
<br>
<br>
<br>aqueles sofridos Esp�ritos, ainda preocupados com as suas fam�lias; poderiam
<br>estar desfrutando das maravilhas espirituais, mas n�o, estavam lutando
<br>para dizer aos que ficaram: "estou vivo, preciso de preces. N�o me chamem,
<br>por favor, n�o posso ajud�-los, porque preciso ser ajudado". Mas o encarnado
<br>n�o quer saber de buscar a verdade; basta o filho, o pai ou a m�e
<br>desencarnar, para a fam�lia transform�-los em santos. E coitado do m�dium,
<br>se disser que o filho est� precisando de preces, porque quando encarnado
<br>era dependente de drogas!...
<br>
<br>J�lia sorria, pois j� estava conseguindo escrever algumas palavras.
<br>
<br>� Marry, logo J�lia ir� at� o m�dium encarnado e dar� mensagens?
<br>� Ainda n�o. J�lia far� muitos exerc�cios, e s� quando estiver apta a
<br>escrever � que ir� at� o m�dium.
<br>� Irm�, como � complicado! Mesmo existindo esta Faculdade de
<br>mensagens medi�nicas, ainda se praticam tantos absurdos. J� imaginou se ela
<br>n�o existisse?
<br>� Irm�o, os encarnados julgam que no mundo espiritual tudo se resolve
<br>num piscar de olhos. Eu quero, e acontece. Se assim fosse, a nossa
<br>vida n�o teria sentido. N�s vivemos em nosso mundo, lutando para evoluir e
<br>encontrando oportunidades mil de aprendizado. Poucos m�diuns s�o capazes
<br>de servir o plano espiritual nesta sublime tarefa de trazer para o plano
<br>f�sico not�cias daqueles que partiram.
<br>� Irm�, e aquele m�dium que manda mensagem pelo correio?
<br>Ela sorriu.
<br>� A verdade, Luiz, � um sol, que as nuvens da mentira s�o muito
<br>fracas para encobri-lo. A Doutrina Esp�rita luta pelo crescimento do homem
<br>e n�o aspira que multid�es a busquem por curiosidade. Nessa procura de
<br>not�cias, ainda encontramos m�diuns que, sem crit�rio, dizem estar recebendo
<br>este ou aquele Esp�rito. Muitas vezes, o Esp�rito de gente famosa est� em
<br>dificuldade no plano espiritual, e o m�dium desequilibrado o est� recebendo
<br>e ele fazendo milagres.
<br>
<br>� Irm�, um Centro Esp�rita bem orientado n�o deixa seus m�diuns
<br>serem ridicularizados, n�o � mesmo?
<br>� Na Doutrina, h� tantas coisas a serem feitas, tarefas que um bom
<br>m�dium pode realizar. Se ele for portador de uma boa vid�ncia, pode informar
<br>� fam�lia o estado em que se encontra o Esp�rito rec�m-desencarnado.
<br>Mas essas informa��es s� devem ser dadas se o Esp�rito estiver bem. Se
<br>n�o, fale apenas para orarem por ele, por se encontrar ainda num hospital da
<br>espiritualidade, em tratamento.
<br>� Irm�, a mediunidade psicogr�fica � a que torna mais conhecido o
<br>m�dium que a pratica.
<br>� Tem raz�o, mas um bom m�dium n�o est� procurando ser conhecido.
<br>Um trabalhador de Jesus � como a pedra bruta do alicerce que sustenta
<br>a casa e nunca � valorizada. � o poste que sustenta os fios e as l�mpadas,
<br>sem ser louvado. � a raiz da �rvore, que n�o � admirada. Desde que a criatura
<br>deseje aplausos, est� em lugar errado. A Doutrina Esp�rita n�o � um
<br>palco de teatro, � um hospital de almas, � a seara do Mestre, necessitando
<br>de reais trabalhadores.
<br>Naquele local, v�amos os Esp�ritos se esfor�ando, preparando-se para
<br>logo estarem em condi��o de mandar not�cias do mundo onde vivem.
<br>
<br>� Marry, qu�o grande � a responsabilidade de um m�dium que se
<br>aproxima de uma m�e, de uma esposa, esposo, para transmitir not�cias daqueles
<br>que partiram.
<br>� Luiz, tudo na Doutrina requer bom senso. Os m�diuns precisam
<br>se conscientizar de que por qualquer falha deles, quem sofre os ataques �
<br>D Espiritismo. Portanto, para n�o cair no rid�culo, os m�diuns precisam
<br>estudar sempre. Insisto nesse assunto, porque existem aqueles que julgam
<br>que, por terem vinte, trinta, quarenta anos de Doutrina, est�o isentos
<br>dos estudos. A Doutrina Esp�rita � progressiva e infeliz do m�dium que se
<br>aposenta. Vemos, em algumas Casas Esp�ritas, m�diuns antigos n�o desejarem
<br>fazer o Estudo Sistematizado da Doutrina Esp�rita, julgando que
<br>tudo j� sabem. Tais pessoas ocorrem em grande erro, pois o estudo d�
<br>
<br>ao esp�rita um conhecimento maior, pois foi muito bem elaborado por
<br>grandes estudiosos.
<br>
<br>� Constatamos que em alguns Centros Esp�ritas, onde se estuda com
<br>afinco, at� os presidentes da Casa fazem o Estudo Sistematizado.
<br>� Antig�idade, Luiz, � que n�o pode existir na Casa Esp�rita, pois se
<br>o Espiritismo deve acompanhar o avan�o da ci�ncia, por que alguns esp�ritas
<br>desejam ficar para tr�s?
<br>� Marry, hoje constatamos muitas brigas em algumas Casas Esp�ritas.
<br>A causa: pessoas jovens, n�o aceitando crendices da diretoria antiga,
<br>que muitas vezes parou no tempo. Isso est� acontecendo porque alguns esp�ritas
<br>est�o-se aposentando, por achar que j� trabalharam muito na Doutrina,
<br>e hoje s� v�o ao Centro de vez em quando, deixando-o sem disciplina.
<br>Perguntamos: o que se deve fazer? � preciso que os diretores dos Centros
<br>Esp�ritas n�o se tornem "caducos", mas que vivam sempre atentos � pureza
<br>doutrin�ria da Casa, porque, quando menos esperarem, elas se ver�o sem
<br>condi��o de acompanhar aqueles que estudam, aqueles que caminham lado
<br>a lado com o progresso da ci�ncia. Junto a O Livro dos Esp�ritos, constatamos
<br>que a Doutrina est� � frente da ci�ncia, e que ningu�m precisa ir atr�s
<br>deste ou daquele l�der religioso que parece ter encontrado o "mapa da mina".
<br>� A Casa Esp�rita n�o pode deixar as pessoas iniciantes lerem
<br>este ou aquele livro, sem qualquer orienta��o. Por isso o Estudo Sistematizado
<br>d� aos esp�ritas, nem vamos falar aos iniciantes, o que precisam
<br>saber sobre Espiritismo. Criou-se, no meio esp�rita, o mito de que todos
<br>os que freq�entam uma Casa Esp�rita t�m de desenvolver a mediunidade.
<br>E, sem nenhum conhecimento doutrin�rio, encontramos m�diuns conversando
<br>com Maria de Nazar�, recebendo Jesus ou todos aqueles Esp�ritos
<br>conhecidos na Doutrina, que assim se tornaram atrav�s do trabalho
<br>de m�diuns conceituados. Um m�dium estudioso n�o cai no rid�culo de
<br>ficar recebendo mensagem com o nome deste ou daquele esp�rito "famoso".
<br>Sim, porque quem est� iniciando n�o deseja receber o Jos�, o Manoel
<br>ou o Ant�nio. Ser� que os esp�ritos de S�crates, Bezerra, Andr� Luiz ou
<br>
<br>Emmanuel exercitam m�diuns iniciantes? Isso acontece por falta de conhecimento
<br>doutrin�rio.
<br>
<br>� Irm�, nas outras religi�es se comunicam os santos ou o pr�prio
<br>Esp�rito Santo. Por que s� no Espiritismo eles n�o podem se comunicar?
<br>� Eles podem, mas n�o em qualquer lugar, ou com m�diuns sem preparo,
<br>iniciantes. Tamb�m alertamos para o perigo de alguns esp�ritas que
<br>julgam que no Espiritismo s� se comunicam obsessores, opini�o esta que se
<br>junta � dos inimigos da Doutrina, que dizem que no Espiritismo s� h� Esp�ritos
<br>trevosos. Quando falamos sobre o perigo das mensagens assinadas por
<br>nomes respeit�veis, � para resguardar os m�diuns iniciantes do rid�culo.
<br>� Se todos aqueles que buscam a Casa Esp�rita encontrarem uma
<br>boa orienta��o espiritual, conhecer�o o longo caminho da mediunidade sem
<br>queda.
<br>� Sempre falamos, Luiz, que a mediunidade � como um bot�o de
<br>rosa: tem o tempo certo de abrir. Se tivermos pressa e tentarmos abrir a rosa
<br>a qualquer custo, ela se desfolhar�. A fruta verde n�o tem sabor, o certo �
<br>esperar a hora certa de colh�-la; quando madura, estar� com o seu real
<br>sabor. Os iniciantes n�o podem ter pressa.
<br>Olhei mais uma vez aqueles Esp�ritos, que buscavam aprender a dif�cil
<br>tarefa de se aproximar de um m�dium para mandar not�cias da sua nova
<br>morada.
<br>
<br>� Irm�, �s vezes nos preocupamos muito com as mensagens dadas
<br>aos familiares, ansiosos por not�cias. M�diuns sem crit�rio dizem que o filho
<br>querido est� sofrendo no umbral. H� tamb�m aqueles outros m�diuns que,
<br>para agradar, dizem que o filho est� comandando falanges de trabalhadores,
<br>e muitas vezes esses Esp�ritos, quando encarnados, n�o tinham uma vida
<br>digna.
<br>� O melhor � o m�dium se calar, quando n�o tem condi��o de ajudar.
<br>� Todos passam por esses cursos de psicografia?
<br>
<br>� Quase todos. S� n�o passam os grandes Esp�ritos, de elevada evolu��o.
<br>Mesmo assim, os censores nem tudo deixam ser revelado nas mensagens.
<br>� Estas mensagens s�o proveitosas para o Esp�rito?
<br>� Elas �s vezes consolam, mas muito pouco fazem em prol da Doutrina.
<br>� Por qu�?
<br>� Como j� falei anteriormente, quase todos os que buscam mensagem
<br>s� ficam na Casa enquanto existir uma grande saudade. Passando a
<br>saudade, d�o adeus e v�o viver a vida da mat�ria. Poucos se tornam estudiosos
<br>esp�ritas. Muitos, quando cessam as mensagens, costumam at� fundar
<br>nos lares grupos sem qualquer conhecimento, para receber o ente querido.
<br>Outros recebem, no Culto do Evangelho no Lar, os seus familiares
<br>desencarnados, enquanto um estudioso sabe que o culto crist�o no lar � um
<br>encontro com Jesus, e n�o uma sess�o esp�rita.
<br>� Irm�, e aqueles m�diuns antigos que gostam de dizer para o iniciante:
<br>"voc� � grande m�dium, possui dez mediunidades, basta desenvolv�-las?"
<br>� A� est� o perigo. O iniciante julga-se dono dos Esp�ritos e inicia a
<br>farsa: escreve, desenha, enxerga, materializa, e ai daquele que lhe disser que
<br>ele n�o tem todas essas mediunidades.
<br>� Por que esses m�diuns fazem isso?
<br>� Falta de estudo. Simplesmente falta de estudo e de trabalho. Quando
<br>desencarnei, Marry, tive uma vontade imensa de dizer aos meus pais que
<br>estava vivo. E s� o consegui com o consentimento da espiritualidade, tudo
<br>dentro de uma disciplina, conforme est� no livro O mundo que eu encontrei.
<br>At� a m�dium foi consultada para fazer o trabalho, vindo a aceit�-lo.
<br>� Complicado, n�o?
<br>� A pureza da Doutrina est� na consci�ncia de cada esp�rita. Se o
<br>esp�rita n�o se conscientizar de que precisa dar exemplos nobres em qual
<br>
<br>quer lugar que se encontre � no tr�nsito, no trabalho, divertindo-se, em
<br>viagem, enfim, no seu dia-a-dia; se ele n�o tiver equil�brio por onde passar,
<br>causar� mais danos � Doutrina do que os nossos detratores.
<br>
<br>� Compreendi, Marry. Voc� se refere �queles espiritas que falam dos
<br>Esp�ritos em todos os lugares onde se encontram. Se est� algu�m fumando,
<br>ele diz: "o fumo faz mal"; se algu�m toma uma bebida, ele critica, enfim, joga
<br>palavras fora.
<br>� O maior doutrinador que j� passou pelo mundo f�sico � Jesus
<br>Cristo � mais exemplificou do que falou. Ningu�m vai entender a grandeza
<br>da Doutrina Esp�rita, apenas nos ouvindo no local do nosso trabalho ou nas
<br>reuni�es sociais. � muito pouco o tempo para demonstrar a grandeza da
<br>nossa Doutrina...
<br>� � como aqueles, cujas fam�lias t�m horror ao Espiritismo: no Centro
<br>s�o respeitadas criaturas; no lar, tiranos dom�sticos.
<br>� � verdade. A seara est� precisando de verdadeiros trabalhadores,
<br>cujo perfume interior de humildade tome conta dos lugares por onde passe.
<br>� Sempre seremos minoria?
<br>� N�o somos minoria, existem at� muitos esp�ritas. No entanto, verdadeiros
<br>esp�ritas, trabalhadores de Jesus, s�o poucos. Mas as outras religi�es
<br>tamb�m s�o minoria. Os grandes e s�rios crist�os s�o poucos, muito
<br>poucos. O homem ainda n�o se conscientizou do valor de ser bom e digno.
<br>Enquanto o homem se embara�ar com os la�os da mat�ria, ele se distanciar�
<br>das coisas do Esp�rito. Aos esp�ritas ser� cobrado muito mais, porque as
<br>l�pides dos t�mulos se levantaram e todos sabem que existe vida al�m da
<br>vida e que n�s teremos de responder pelos nossos atos. As outras religi�es
<br>n�o conhecem o tesouro contido nos livros da Codifica��o, verdadeiras j�ias
<br>liter�rias e ainda renegadas por muitos Centros Esp�ritas.
<br>
<br>� Por que todos os grupos de estudo medi�nico n�o adotam O Livro
<br>dos M�diuns e fazem dele um fiel livro amigo, um conselheiro, um mapa
<br>medi�nico?
<br>
<br>� Porque muitos n�o querem estudar, convencidos de que s�o os
<br>melhores m�diuns do mundo. S� acreditam nos Esp�ritos que julgam seus
<br>guias, somente deles aceitando orienta��es. � certo que ou�am os seus amigos
<br>espirituais, mas o estudo torna-se necess�rio para saber identific�-los.
<br>Deixando de estudar os livros doutrin�rios, ficam distantes das verdades espirituais.
<br>H� at� a corrida de alguns ditos esp�ritas atr�s de cinzas milagrosas,
<br>de doutrinas diferentes, enfim, buscam l� fora o que temos dentro da Casa
<br>Esp�rita: conhecimento, equil�brio, disciplina, paz e amor. Infelizmente, isso
<br>est� acontecendo.
<br>� Por que, Marry?
<br>� A Doutrina Esp�rita, Luiz, nos ensina a reforma �ntima, mas, infelizmente,
<br>muitos n�o desejam mudar de comportamento. Se n�o se
<br>conscientizarem de que os Centros Esp�ritas s�o hospitais de almas, de que
<br>todos os encarnados s�o doentes que necessitam do m�dico Jesus e de que
<br>precisam se educar, jamais compreender�o a beleza do Espiritismo. Muitos
<br>ainda v�o �s Casas Esp�ritas em busca de milagres e eles n�o existem, � o
<br>que nos ensina a verdade contida na Codifica��o.
<br>Marry convidou-me a nos retirarmos, mas ainda dei uma olhada naqueles
<br>Esp�ritos preparando-se para saber digitar as teclas de um telefone
<br>chamado m�dium psic�grafo.
<br>
<br>Fui saindo, pensativo, quando Marry me falou:
<br>
<br>� Luiz, � muito triste o que estamos presenciando no mundo f�sico:
<br>pessoas dignas deixando-se envolver pelo fanatismo religioso.
<br>� Irm�, tenho tratado nos livros desses infelizes casos e com pesar
<br>vejo que eles est�o aumentando.
<br>
<br>Cap�tulo X
<br>A IMPOSI��O DAS M�OS
<br>
<br>
<br>Enquanto and�vamos, encontramos Onor, o lanceiro de Maria, que
<br>presta servi�o em algumas Casas Esp�ritas, nas cabines de passes.
<br>
<br>� Como vai, Luiz? Que Deus, nosso Pai de bondade, fortale�a os
<br>seus passos nas estradas da responsabilidade com os livros esp�ritas.
<br>Abracei o querido amigo, demonstrando toda a minha admira��o.
<br>
<br>� Irm�o, foi muito bom reencontr�-lo. Desejava mesmo fazer-lhe algumas
<br>perguntas.
<br>� Se estiverem ao meu alcance, responderei com todo prazer.
<br>� Pode falar alguma coisa sobre o passe?
<br>� Luiz, o c�u, �s vezes, nos parece muito distante, somente porque
<br>desejamos voar. Mas como ele embeleza os nossos olhos, quando o fitamos
<br>com amor e respeito a Deus! Assim � o passe. Ele � um simples ato de
<br>imposi��o das m�os, mas algumas pessoas o complicam tanto, que o tornam
<br>de dif�cil compreens�o.
<br>� O passe resolve tudo?
<br>� N�o entendi: tudo o qu�?
<br>
<br>� Doen�a, obsess�o, febre, desequil�brio, enfim, tudo.
<br>� Luiz, o passe � uma transfus�o de fluidos e de energias. Feliz do
<br>homem que, chamado a dar passe, conscientize-se da sua simplicidade.
<br>� Onor, o passista pode aplicar o passe coberto de j�ias, brincos,
<br>pulseiras, an�is?
<br>� Poder ele pode, mas n�o deve. A simplicidade pede ao passista
<br>que sejam retirados os �culos e tudo o que pode brilhar e chamar aten��o
<br>sobre si. Al�m disso, o brilho das j�ias e o tilintar das pulseiras perturbam a
<br>concentra��o de quem est� recebendo o passe.
<br>� A cabine de passe precisa ter muita vibra��o?
<br>� Sim. O dirigente dos trabalhos tem de preparar o ambiente e bem
<br>orientar os seus passistas, no sentido de n�o cumprimentarem quem entra na
<br>cabine com abra�os e beijinhos, afagar crian�as ou brincar com elas. O passista
<br>� um trabalhador, ou melhor, um enfermeiro de Jesus, numa sala flu�dica.
<br>junto a muitas criaturas doentes e necessitadas. Se ele n�o tiver uma atitude
<br>digna, poder� perturbar o ambiente.
<br>� Foi o Espiritismo que inventou o passe, Onor?
<br>� Claro que n�o. O Cristo foi o grande incentivador do ato de imposi��o
<br>das m�os: o passe, que j� existia desde o Antigo Testamento. Em N�meros,
<br>Cap�tulo VIII, vers�culo 10, lemos: E quando os levitas estiverem
<br>diante do Senhor, os filhos de Israel por�o as suas m�os sobre eles. No
<br>Cap�tulo XXVII, vv. 18,23: (...) Toma Josu�, filho de Num, homem no
<br>qual reside o meu esp�rito e p�e a tua m�o sobre ele. E, impostas as
<br>m�os sobre sua cabe�a, declarou-lhe tudo o que o Senhor tinha mandado.
<br>Deuteron�mio, Cap�tulo XXXIV, vers�culo 9: Josu�, filho de Num, foi
<br>cheio do Esp�rito de sabedoria, porque Mois�s lhe tinha imposto as suas
<br>m�os. Notamos, em Deuteron�mio, que Josu� recebeu o Esp�rito com a
<br>imposi��o das m�os de Mois�s sobre ele.
<br>� Onor, Jesus tamb�m usou o passe?
<br>
<br>� Ningu�m mais do que Jesus usou t�o bem a imposi��o das m�os
<br>para retirar obsessores. Agora, quem mais se utilizou da imposi��o das m�os
<br>foram os ap�stolos. Jesus impunha as m�os para curar, como em Lucas,
<br>Cap�tulo IV, vers�culo 40: Ao p�r-do-sol, todos os que tinham enfermos de
<br>diversas mol�stias traziam-lhos. Ele, impondo as m�os sobre cada um
<br>deles, sarava-os. Qu�o bela � a doutrina do Cristo Jesus! Ele n�o somente
<br>curou as almas, como tamb�m ofertou a sa�de aos doentes. Em Lucas, Cap�tulo
<br>XIII, vv. 10-13, vemos: Jesus estava ensinando numa sinagoga em
<br>dia de S�bado. E eis que havia l� uma mulher que estava possessa de
<br>um esp�rito que a tinha doente havia dezoito anos. N�o entendemos por
<br>que as outras religi�es combatem o Espiritismo, dizendo que n�o existem
<br>Esp�ritos. Aqui, nesta passagem, Jesus usa as Suas m�os para livrar da obsess�o
<br>uma mulher que sofria a influ�ncia dos Esp�ritos h� dezoito anos. (...)
<br>andava encurvada e n�o podia absolutamente levantar a cabe�a. Jesus,
<br>vendo-a, chamou-a e disse-lhe: Mulher, est�s livre da tua enfermidade.
<br>E imp�s-lhe as m�os, e imediatamente ficou direita, e glorificava a Deus.
<br>
<br>� Os ap�stolos tamb�m usavam a imposi��o das m�os, Onor?
<br>� Sim, e muito, como nas seguintes passagens: Atos, Cap�tulo VI,
<br>vers�culo 6: Apresentaram-nos diante dos ap�stolos, os quais, depois de
<br>terem orado, impuseram-lhes as m�os. Atos, Cap�tulo VIII, vv. 17-20:
<br>Ent�o impunha-lhes as m�os, e recebiam o Esp�rito Santo. Quando Sim�o
<br>viu que se dava o Esp�rito Santo por meio da imposi��o das m�os
<br>dos ap�stolos, ofereceu-lhes dinheiro, dizendo: Dai-me tamb�m a mim
<br>este poder, a fim de que todo aquele a quem eu impuser as m�os receba
<br>o Esp�rito Santo. Pedro, por�m, disse-lhe: O teu dinheiro pere�a contido,
<br>visto que julgaste que o dom de Deus se pode adquirir com dinheiro.
<br>Que li��o! S� aqueles que tiverem o cora��o puro ter�o condi��o de transmitir
<br>um bom passe. Atos, Cap�tulo XIX, vers�culo 6: E tendo-lhes Paulo
<br>imposto as m�os, veio sobre eles o Esp�rito Santo e falavam l�nguas e
<br>profetizavam.
<br>
<br>� Onor, os detratores do Espiritismo n�o estudam esses fatos?
<br>
<br>� Quando desejamos acusar algu�m, o fazemos porque somos imperfeitos,
<br>e a imperfei��o da alma n�o deixa que o bom senso se manifeste.
<br>Eles nada analisam, Luiz, s� desejam atacar o Espiritismo.
<br>� O m�dium passista �s vezes julga a sua tarefa t�o pequena!...
<br>� A� � que se encontra a humildade. O verdadeiro servidor do Cristo
<br>n�o recebe aplausos pelo seu trabalho. E um bom m�dium passista precisa
<br>mostrar-se equilibrado para bem servir.
<br>� O que voc� aconselha aos viciados em passe?
<br>� Luiz, as Casas Esp�ritas precisam orientar os seus freq�entadores
<br>no sentido de que n�o devem abusar dos passes magn�ticos, pois nem para
<br>tudo eles servem.
<br>� O que quer dizer: "nem para tudo eles servem"?
<br>� Por exemplo: o passe n�o cura falta de educa��o de crian�a, assim
<br>como algumas dores, onde o doente tem de ser medicado, e v�rios outros
<br>casos.
<br>� Entendi. Esse recado � para os papa-passes, n�o � mesmo?
<br>� E para alguns m�diuns que fazem os cursos de passe e sempre se
<br>dizem imperfeitos e incapazes de aplic�-lo, mas adoram receb�-lo a toda
<br>hora.
<br>� Onor, podemos considerar a cabine de passe um refugio de amor?
<br>� Sim, ela � uma c�mara de recupera��o de fluidos. O passe � ben�fico,
<br>muito ben�fico.
<br>� Quem � viciado em �lcool e fumo pode dar passe?
<br>� N�o, as pessoas desequilibradas devem evitar impor as m�os sobre
<br>outrem. � muita responsabilidade do passista, pois quem o busca confia
<br>muito nele.
<br>� Onor, ent�o poucos podem aplicar passes?
<br>
<br>� N�o, Luiz, n�o pensamos assim. Mas n�o se concebe um esp�rita
<br>viciado em fumo e �lcool, comida e t�xico. Portanto, quem chega � Doutrina
<br>tem de jogar fora os adere�os da sua fantasia materialista. O esp�rita est� na
<br>Doutrina para se tornar bom. Quem se diz esp�rita tem de s�-lo de fato.
<br>Como podemos falar do Cristo e n�o seguir o Seu Evangelho? Como falar
<br>em Doutrina e n�o estar preparando a nossa veste nupcial?
<br>� Por isso h� t�o poucos trabalhadores em certas Casas Esp�ritas,
<br>Onor.
<br>� A disciplina esp�rita deve ser seguida, mas ela espanta os falsos, os
<br>fracos e os incapazes de lutar pela pr�pria evolu��o.
<br>� Onor, � certo ministrar o passe usando �culos, ou se deve retir�lo?
<br>Os �culos realmente atrapalham?
<br>� Sim. At� para orar dever�amos retir�-los, porque sem eles ficamos
<br>mais � vontade.
<br>� Vemos muitos m�diuns aplicando passes cobertos de j�ias, �culos
<br>e tudo o que t�m direito
<br>� Cada Casa segue uma orienta��o. N�s, os lanceiros de Maria,
<br>gostamos de trabalhar com os passistas com m�os limpas, sem adornos, de
<br>banho tomado, enfim, que n�o causem situa��o desagrad�vel aos que se
<br>aproximam deles.
<br>� Muitos julgam que basta fazer o curso e j� est�o aptos a ministrar o
<br>passe.
<br>� Quem deseja realmente servir deve se policiar, livrando-se de qualquer
<br>v�cio e se preparando para o sublime trabalho da imposi��o das m�os.
<br>� O que acontece quando o m�dium n�o est� bem, irm�o?
<br>� Ao lado de cada passista, sempre se encontra um Esp�rito para
<br>ajud�-lo. Se o m�dium n�o estiver bem, o seu amigo espiritual o socorrer�.
<br>Dificilmente quem busca uma cabine de passe recebe fluidos perniciosos. Em
<br>uma Casa bem orientada, os seus freq�entadores s�o sempre resguardados.
<br>
<br>� Ent�o pode algu�m receber fluidos desequilibrantes ao buscar o
<br>passe?
<br>� Sim, mas � t�o dif�cil isso acontecer! Os encarregados da cabine de
<br>passe est�o sempre primando pela seguran�a dos encarnados.
<br>� Que deve fazer um dirigente de uma Casa Esp�rita para que ela seja
<br>bem protegida?
<br>� Incentivar o estudo, o trabalho, a disciplina. Os freq�entadores de
<br>uma Casa Esp�rita t�m de primeiro conhecer as responsabilidades para com
<br>a Doutrina Esp�rita. E como bem sabemos, para se tornar um bom esp�rita
<br>torna-se preciso estudar, conhecer o mundo espiritual e os perigos de desconhecer
<br>a escala evolutiva dos esp�ritos. Com o Espiritismo n�o devemos brincar,
<br>ele representa muita verdade para ser negligenciada pelo homem.
<br>� Onor, mas muitos buscam o Espiritismo atr�s dos fen�menos e dos
<br>milagres; poucos s�o levados por desejarem conhec�-lo a fundo.
<br>� A� � que est� a grande responsabilidade da Casa Esp�rita, da sua
<br>diretoria, dos seus m�diuns. Quem chega vem em busca de algo, e nada
<br>melhor do que o conhecimento para ajud�-lo a compreender que, no Espiritismo,
<br>o homem tem de se tornar nobre; que as Casas Esp�ritas bem dirigidas
<br>s�o hospitais de almas; que o Espiritismo n�o veio ao plano f�sico para beneficiar
<br>os encarnados com ganhos f�ceis, sorteios, rifas, loterias, marido rico,
<br>passar em vestibular, bons empregos, enfim, bens materiais. O Espiritismo �
<br>o Consolador prometido por Jesus e, sendo Consolador, ele veio para consolar,
<br>explicar o porqu� da vida. O Espiritismo � o rem�dio para curar o
<br>homem encarnado da lepra da imperfei��o. Se ao chegar � Doutrina o homem
<br>n�o se torna melhor, ele n�o est� assimilando os ensinos doutrin�rios,
<br>que nos alertam para a necessidade de uma vida de ren�ncia. Chegar � Doutrina
<br>Esp�rita e continuar igualzinho como �ramos: ego�stas, avaros, orgulhosos,
<br>maledicentes, violentos, demonstra que a conhecemos, mas ainda n�o
<br>deixamos que ela, a Doutrina bendita, nos adentre o cora��o. Estar na Doutrina,
<br>mas encontrar dificuldade em servir ao pr�ximo, am�-lo, perdo�-lo,
<br>francamente, � muito ego�smo, pois a Doutrina � como um abra�o amigo,
<br>
<br>que ao chegarmos nela nos aconchega com carinho e nos d� seguran�a.
<br>Quantos se dizem esp�ritas, mas longe se encontram das verdades espirituais!
<br>Mesmo pertencendo � diretoria de uma Casa Esp�rita, jamais prepararam
<br>uma cesta b�sica para dar ao pobre; mesmo trabalhando nela h� v�rios
<br>anos, jamais se propuseram a visitar um barraco pobre e levar ajuda.
<br>
<br>� Irm�o, muitas vezes o iniciante ou o freq�entador de uma Casa
<br>Esp�rita n�o � orientado para o valor da f� com obras; ele julga que "desenvolvendo"
<br>a mediunidade j� est� fazendo caridade para os desencarnados.
<br>� Tamb�m acho que os seus orientadores, Marry, n�o est�o informando
<br>que, na Doutrina Esp�rita, o lema � trabalho ao pr�ximo.
<br>� Voc� tem raz�o, Onor � continuou Marry. Isto preocupa muito a
<br>Espiritualidade: os componentes de uma diretoria n�o segurarem o cajado
<br>do trabalho. Pouco v�o ao Centro Esp�rita; se v�o, � uma vez ou outra. N�o
<br>freq�entam grupos medi�nicos, acham que n�o precisam. Passes, tomam
<br>uma vez ou outra. Perguntamos: que fazem, ent�o? S�o presidentes de entidades
<br>esp�ritas ou antigos m�diuns que hoje pensam tudo j� saber, n�o l�em
<br>mais, n�o trabalham mais, est�o "aposentados". Veja bem, isto est� ocorrendo,
<br>e muito, nas Casas Esp�ritas. A�, chegam os iniciantes; deslumbrados
<br>com o Espiritismo, iniciam uma campanha contra os esp�ritas inertes, querendo
<br>ocupar os seus "cargos". E muitas vezes conseguem retirar toda a antiga
<br>diretoria. E por qu�? Simplesmente, porque os antigos est�o acomodados,
<br>julgando-se cansados e velhos, por isso n�o v�em o que est� ocorrendo,
<br>pois n�o freq�entam as palestras p�blicas, n�o visitam os grupos medi�nicos.
<br>Quantos deles, mesmo sendo de uma Casa que diz professar a Doutrina
<br>Esp�rita, n�o passam de grupos de outras seitas, repletos de misticismo e
<br>crendices. Esses senhores se assustam quando os mais jovens, levados apenas
<br>pelo entusiasmo, se prop�em a derrub�-los.
<br>
<br>� Mas onde est� a Doutrina nesses jovens? Isso n�o est� certo �
<br>repliquei.
<br>� Claro que n�o. Mas eles est�o dando o que recebem. O certo � a
<br>diretoria estar todos os dias no Centro, olhando, observando cada grupo,
<br>
<br>cada freq�entador, e j� nos grupos de estudo sistematizado, alertar os iniciantes
<br>para a necessidade do auto-burilamento e lev�-los ao trabalho da caridade,
<br>sempre atenta ao que ocorre nesses grupos. Uma Casa Espirita cuja diretoria
<br>s� comparece nos dias festivos, n�o exercendo uma fiel vigil�ncia sobre
<br>tudo o que se passa no Centro, jamais ter� progresso, sempre se defrontar�
<br>com os descontentes.
<br>
<br>� Onor, como pode existir, em uma Casa com bases kardequianas.
<br>pessoas vaidosas a tal ponto de tudo fazerem para passar os outros para
<br>tr�s?
<br>� Luiz, os esp�ritas n�o devem pensar em aposentar-se, como se
<br>fosse poss�vel a alma, o Esp�rito, envelhecer. Mesmo em um corpo carnal,
<br>ele possui grande vitalidade, quando trabalha em prol do pr�ximo.
<br>� Tem raz�o, irm�o. Mas muitos adoram ficar em casa diante do
<br>televisor e sempre alegando velhice, cansa�o, doen�a, enquanto Deus trabalha,
<br>trabalha, e Jesus, como filho fiel, ensina a toda a Humanidade o valor do
<br>amor. Quem ama procura ajudar o pr�ximo, n�o se importando com idade,
<br>cansa�o ou doen�a.
<br>� �, Onor, e quando notarem que n�o taparam a goteira, as �guas j�
<br>entraram e a� o que adiantar� dizer "Senhor, Senhor", se na �poca que tudo
<br>tinham, julgavam que eram os donos do Centro Esp�rita? Isso n�o deveria
<br>acontecer, principalmente quando estudamos as obras b�sicas.
<br>Marry sorriu, acrescentando:
<br>
<br>� Paulo, preocupado com a in�rcia dos seus colaboradores, sempre
<br>os alertava para o perigo do comodismo, como em II Tim�teo, Cap�tulo IV,
<br>vv. 5-8: Tu, por�m, vigia sobre todas as coisas, suporta os trabalhos,
<br>faze a obra de um evangelista, cumpre o teu minist�rio. S� s�brio: Quanto
<br>a mim, estou j� para ser oferecido em liba��o, e o tempo da minha
<br>dissolu��o avizinha-se. Combati o bom combate, acabei a minha carreira,
<br>guardei a f�. De resto me est� reservada a coroa da justi�a que o
<br>Senhor, justo Juiz, me dar� naquele dia; n�o s� a mim, mas tamb�m
<br>�queles que desejam a sua vinda.
<br>
<br>
<br>� Luiz S�rgio � disse Onor �, feliz o homem cujos anos n�o lhe
<br>atrapalham o trabalho para o Cristo. � deprimente as pessoas que sempre
<br>arrumam desculpas para n�o servir a Deus: quando crian�as, s�o crian�as;
<br>quando jovens, porque s�o jovens; quando na meia-idade, porque precisam
<br>de dinheiro; quando velhos, porque est�o cansados. Entretanto, aqueles cuja
<br>alma jamais envelhece, mesmo com um corpo doente e fraco, lutam por seu
<br>ideal. O que mais nos comove � quando constatamos, em algumas Casas
<br>Esp�ritas, que os mais idosos s�o os que mais trabalham. Mas existem tamb�m
<br>os Centros Esp�ritas onde os mais velhos nada querem com os trabalhos
<br>da Casa.
<br>� Onor, adorei falar com voc�. Felicidades para o seu trabalho.
<br>� Obrigado, Luiz, e que Deus o ampare. Estamos sempre orando
<br>pelo seu crescimento espiritual. E quando se sentir cansado, imagine o Criador
<br>agindo a cada instante, n�o Se importando com a pr�pria idade. Um
<br>pensador hindu sempre dizia: "Pode o anci�o ter os passos cambaleantes,
<br>mas se no seu cora��o Deus reinar, ele jamais ir� cair." O trabalhador de
<br>Deus n�o tem idade, tem responsabilidade. A velhice n�o existe, quando � o
<br>Esp�rito quem domina a mat�ria. Quem vive reclamando da pr�pria velhice
<br>tem tempo para observar o envelhecimento. Os que trabalham n�o se lembram
<br>que est�o ficando idosos. Disse um jovem a um idoso: "Deve ser muito
<br>triste ficar velho." O idoso respondeu: "Deve, sim, principalmente quando
<br>somos jovens." Gostaria de dizer a todos os filhos de Deus: a disciplina do
<br>trabalho � o elixir da longa juventude. Como existem idosos jovens e jovens
<br>idosos! � uma quest�o de escolha. Desagrad�vel � o homem de meia-idade
<br>considerar-se incapaz de trabalhar porque se julga velho. Quanto mais trabalhar,
<br>mais rejuvenescer�, pois o seu Esp�rito n�o ter� tempo de lamentar as
<br>rugas que surgirem. As rugas s�o demarca��es dos fatos que ocorreram no
<br>decorrer da nossa exist�ncia. Ser idoso � ter guardado no cora��o muitas
<br>lembran�as e experi�ncias de vida. O idoso j� andou muitas l�guas, e feliz
<br>aquele que deixou durante a caminhada para os mais jovens muitos belos
<br>exemplos. O anci�o e o jovem s�o filhos de Deus, lutando pela perfei��o. A
<br>m�o enrugada do anci�o afagou a m�o do jovem e ambas cantaram uma
<br>
<br>can��o de respeito. O jovem que n�o respeita os mais velhos est� caminhando
<br>para o futuro sem bagagens. Quando jovem, perguntei ao meu pai: O que
<br>fa�o para n�o envelhecer? Ele, sabiamente, respondeu-me: Deixe de viver os
<br>momentos bons e maus que nos levam ao futuro. Gosto da minha velhice, ela
<br>me oferece momentos de felicidade chamados lembran�as.
<br>
<br>� Onor, todos esses pensamentos s�o de Ocaj?
<br>� Sim, Luiz. Ele � nosso pai, irm�o, amigo, nosso sol, grande alma.
<br>� Onor, voc� tamb�m � uma grande alma.
<br>� Menino Luiz S�rgio, somos apenas um gr�o de areia que, dia ap�s
<br>dia, recebe de Deus a luz da vida.
<br>Marry despediu-se de Onor e foi ganhando caminho. Cheguei bem
<br>perto dele, reclinei a cabe�a e disse:
<br>
<br>� Benditos sejam os leais amigos, e voc� � um deles.
<br>J� est�vamos a caminho, quando olhamos para tr�s. Onor continuava
<br>nos acenando e junto a ele Nary, outro lanceiro de Maria.
<br>
<br>� Obrigado, amigos, fi�is companheiros, com quem contamos sempre
<br>� e acenei aos dois.
<br>
<br>Cap�tulo XI
<br>A ALMA ANIMAL
<br>AS TEND�NCIAS DO ESP�RITO
<br>
<br>
<br>Permanecemos calados por um bom tempo, at� que Marry iniciou a
<br>conversa��o.
<br>
<br>� Luiz, na Terra j� tivemos grandes Esp�ritos encarnados.
<br>� � que a humildade deles os manteve ocultos, n�o � mesmo?
<br>� Tem raz�o, amigo. Gra�as a eles, a Terra caminha para a regenera��o.
<br>� Marry, este lugar � muito lindo, adoro sentir o perfume das flores,
<br>das matas. Quando olho os tr�s reinos da Cria��o, reverencio a Deus por
<br>toda a Sua sabedoria. � muito dif�cil para um estudioso da Doutrina estudar
<br>a escalada do Esp�rito. J� tratamos do assunto, mas olhando essas pedras
<br>vem na minha mente a indaga��o: nelas est�o Esp�ritos em forma��o, como
<br>est�o nas pedras do mundo f�sico?
<br>� N�o exatamente como no mundo f�sico. O Esp�rito em forma��o
<br>necessita de uma mat�ria mais condensada. E aqui, no mundo espiritual, a
<br>mat�ria � mais et�rea. � no mundo espiritual que o Esp�rito em forma��o
<br>passa por pouco tempo nas esp�cies intermedi�rias.
<br>� Explique-me, Marry, por favor.
<br>
<br>� Luiz, somente no mundo espiritual � que o Esp�rito, em forma��o,
<br>passa por algumas esp�cies intermedi�rias.
<br>� Irm� Marry, j� foi explicado esse assunto t�o s�rio, mas acho que
<br>ainda n�o ficou bem claro. Pode elucidar melhor?
<br>� Sim. Os Esp�ritos em forma��o s�o colocados no mineral, em qualquer
<br>morada f�sica da Casa do Pai. Todos os mundos habitados t�m o mundo
<br>f�sico e o espiritual. No mundo f�sico � colocada a ess�ncia espiritual. Da�.
<br>quando ela se desmaterializa � retirada a ess�ncia espiritual e levada para o
<br>mundo espiritual. Logo ela � levada ao laborat�rio, depois passa pelas esp�cies
<br>interm�dias, indo ap�s para outro reino.
<br>� As flores e os animais da espiritualidade t�m uma vida espiritual
<br>m�nima?
<br>� Se e nos basearmos na contagem das horas do mundo f�sico, as
<br>ess�ncias demoram muito no mineral do mundo espiritual.
<br>� Por que isso acontece?
<br>� Deus n�o favorece somente os filhos j� formados, Luiz. Ele tem
<br>complac�ncia pelos nossos irm�os menores.
<br>� E por que s� os Esp�ritos formados dos homens t�m o direito de se
<br>sentirem libertos da mat�ria f�sica?
<br>� Porque o homem tem a sua individualidade, Luiz. O animal, ap�s o
<br>seu desencarne, tamb�m possui a sua individualidade, s� que n�o det�m ainda
<br>a consci�ncia de si mesmo.
<br>� Quer dizer, Marry, que h� nos animais um princ�pio independente
<br>da mat�ria?
<br>� Sim, pois � exatamente isso o que nos esclarece O Livro dos Esp�ritos,
<br>em sua quest�o 597:
<br>597. Pois que os animais possuem uma intelig�ncia que lhes faculta
<br>certa liberdade de a��o, haver� neles algum princ�pio independente
<br>da mat�ria?
<br>
<br>"H� e que sobrevive ao corpo."
<br>
<br>� Compreendo. � este princ�pio que, trazido para o mundo espiritual,
<br>s�o as pedras, os animais e as flores. Ent�o aqui est�o essas ess�ncias enfeitando
<br>a natureza com seus perisp�ritos?
<br>� J� foi explicado que n�o devemos chamar de perisp�rito. Na quest�o
<br>597.a de O Livro dos Esp�ritos, narra Kardec:
<br>a) � Ser� esse princ�pio uma alma semelhante � do homem?
<br>
<br>"� tamb�m uma alma, se quiserdes, dependendo isto do sentido que
<br>se der a esta palavra.. �, por�m, inferior � do homem. H� entre a alma dos
<br>animais e a do homem dist�ncia equivalente � que medeia entre a alma do
<br>homem e Deus."
<br>
<br>� Marry, por favor, desde que comecei a estudar na Universidade,
<br>fiquei sabendo que os animais, as pedras e os vegetais n�o t�m perisp�rito e
<br>que s�o formas que enfeitam os mundos espirituais.
<br>� Eles t�m perisp�ritos em forma��o, e n�o perisp�ritos iguais aos do
<br>homem. Lembra-se, Luiz, de que no perisp�rito do homem existem os centros
<br>de for�a, onde est�o alojados os la�os? Se o irm�o olhar bem, ver� que
<br>nestas esp�cies n�o existe centro de for�as e sim uma sombra sem brilho.
<br>� Tem raz�o, � um perisp�rito em forma��o, bem primitivo. Sabe,
<br>Marry, � como se fosse a sombra do encarnado quando projetada contra a
<br>luz. Sombra, apenas sombra, e n�o perisp�rito.
<br>� O Livro dos Esp�ritos explica muito bem: "� tamb�m uma alma, se
<br>quiserdes, dependendo isto do sentido que se der a esta palavra. �, por�m,
<br>inferior � do homem. H� entre a alma dos animais e a do homem dist�ncia
<br>equivalente � que medeia entre a alma do homem e Deus."
<br>� Marry, quanto mais se estuda, mais se aprende. Kardec sempre
<br>nos ensina que o Esp�rito encarnado � chamado alma. E agora, estudando
<br>sobre as ess�ncias espirituais dos tr�s reinos, constatamos que o perisp�rito
<br>em forma��o tamb�m � chamado de alma, quando est� vestido de um corpo
<br>f�sico no reino animal. Os elementos que revestem as ess�ncias, n�o pode
<br>
<br>mos cham�-los de perisp�rito, porque ainda s�o perisp�rito em forma��o,
<br>como tamb�m n�o podemos chamar de Esp�rito, o princ�pio inteligente dos
<br>animais. O princ�pio inteligente dos animais, que sobrevive ao corpo, � inferior
<br>ao Esp�rito do homem, e � o que os individualiza, como seres que s�o.
<br>S� que os animais s�o Esp�ritos em forma��o, e os homens, Esp�ritos formados.
<br>F�cil, Marry, muito f�cil!
<br>
<br>Apesar de ter brincado com Marry. pensava: "como � dif�cil compreender
<br>a problem�tica da vida, isto �, a evolu��o das esp�cies". Ela, vendo-
<br>me pensativo, indagou:
<br>
<br>� Preocupado, irm�o? Algo n�o compreendeu?
<br>� N�o se trata de preocupa��o, Marry, estou pensando na import�ncia
<br>da vida do homem. A ele n�o se concebe o erro, porque � importante
<br>como obra de Deus. Quanto tempo a ess�ncia espiritual levou at� chegar ao
<br>estado de Esp�rito livre? Vimo-nos como animal, quando o nosso princ�pio
<br>inteligente n�o gozava do livre-arb�trio para poder escolher a esp�cie a
<br>encarnar.
<br>� Sim, porque essa escolha n�o existe. Os animais apenas acompanham
<br>a lei do progresso. Eles caminham tamb�m em dire��o a Deus. Toda
<br>evolu��o do animal decorre pela ordem natural das coisas. N�o possuindo
<br>ainda a consci�ncia, o livre-arb�trio, n�o passa pelo processo expiat�rio, pois
<br>ignora a exist�ncia de Deus.
<br>� Marry, mesmo o animal vivendo num mundo superior, � igualzinho
<br>aos da Terra?
<br>� Claro; n�o importa onde vivem o animal, as flores ou as pedras. A
<br>diferen�a, voltamos a dizer, � em rela��o aos homens que com eles convivem,
<br>nos tr�s reinos. O ser humano deve conscientizar-se da sua import�ncia
<br>como Esp�rito criado por Deus e buscar for�as n'Ele, pois o homem � superior
<br>ao animal, porquanto j� possui a intelectualidade e a moralidade, transmitidos
<br>pelo Esp�rito. � medida que o Esp�rito vai-se espiritualizando, tamb�m
<br>se distancia da mat�ria bruta e se eleva cada vez mais.
<br>
<br>� Marry, podemos chamar de Esp�rito o princ�pio inteligente dos animais?
<br>� Podemos, se assim o desejarmos, mas n�o � correto, pois no animal
<br>se encontra um Esp�rito em forma��o.
<br>� Entendemos. � como n�o poder chamar um beb�, de homem.
<br>Conversava com Marry, sem notar que ela caminhava bem r�pido; s�
<br>a� percebi que est�vamos andando por umas alamedas floridas, onde alguns
<br>p�ssaros cantavam alegremente. Fitei os reinos do mundo espiritual e reverenciei
<br>a todos eles, pensando com meus bot�es: "logo todos os que aqui se
<br>encontram de passagem estar�o nos laborat�rios e nos mundos afins, sempre
<br>caminhando em busca da perfei��o". Se a Humanidade se tornasse esp�rita,
<br>n�o existiria mais a viol�ncia contra a natureza. O que faz o homem
<br>destruir o que o cerca � a sua ignor�ncia, e nada melhor do que a Doutrina
<br>para elucid�-lo, fazendo-o compreender sua responsabilidade para com os
<br>nossos irm�os menores.
<br>
<br>A paisagem estava cada vez mais bonita. Deparamos com um belo
<br>lugar, uma cidade toda de casinhas brancas, rodeada de campos e flores. Na
<br>entrada da Col�nia, fomos recebidos por Aramis, que nos cumprimentou
<br>pelo trabalho, convidando-nos � ora��o. E com que fervor a fizemos! Ele
<br>nos convidou para visitarmos a col�nia. � medida que and�vamos, �a ficando
<br>mais deslumbrado, pois est�vamos em um lugar que parecia um zool�gico,
<br>tantas e tantas esp�cies de animais. Permanecia calado, mas tamb�m assombrado
<br>com tamanha beleza. Foi quando Marry me esclareceu:
<br>
<br>� S�rgio, este lugar � um dos in�meros laborat�rios onde se prepara
<br>o encaminhamento do princ�pio inteligente para outros laborat�rios, de onde,
<br>depois, ser�o levados aos mundos preparados para a transi��o de um reino
<br>a outro.
<br>� Marry, aqui estamos vendo pedras, vegetais, animais e homens.
<br>� Sim, seria muito triste se s� existissem os animais. Nesta Col�nia,
<br>as pedras e os vegetais enfeitam a vida dos animais que aqui se encontram,
<br>
<br>mesmo que por um tempo muito curto, pois eles n�o se demoram neste lugar,
<br>s�o logo levados para outros locais, apropriados � sua eleva��o.
<br>
<br>� Quer dizer, Marry, que as flores, as pedras e os homens aqui est�o
<br>em miss�o?
<br>� As pedras e os vegetais fazem parte da natureza, enfeitando a col�nia,
<br>e os homens s�o criaturas que amam os animais e aqui est�o para
<br>cuidar deles, ajudando os t�cnicos, enquanto eles precisarem ficar neste lugar.
<br>� um "hospital transit�rio".
<br>� E os animais das Col�nias?
<br>� J� falamos sobre isso, s�o animais que desencarnam no plano f�sico,
<br>passam rapidamente pelo mundo espiritual, depois s�o trazidos para c�, de onde
<br>s�o encaminhados para os laborat�rios cient�ficos, onde ser�o preparados para a
<br>ascens�o do seu princ�pio inteligente. Mas tamb�m existem aqueles que se preparam
<br>para partir para o mundo f�sico. N�o se esque�a de que � do mundo
<br>espiritual que partem o Esp�rito em forma��o e o homem.
<br>� Isso demora, Marry?
<br>� O trajeto entre a desencarna��o no plano f�sico e o mundo espiritual
<br>� r�pido; a passagem por esta Col�nia tamb�m � r�pida. Quanto ao resto,
<br>n�o sabemos, mas acreditamos que deva ser muito demorado o tempo necess�rio
<br>para o princ�pio inteligente ser portador do livre-arb�trio, na condi��o
<br>de homem.
<br>� Quais s�o os Esp�ritos que t�m acesso a esses laborat�rios e mundos
<br>onde a ess�ncia � preparada para o estado de Esp�rito formado?
<br>� Somente os Esp�ritos sublimados, os prepostos de Deus.
<br>� Os esp�ritos que atingiram a pureza ap�s terem falido tamb�m podem
<br>ajudar esses nossos irm�os?
<br>� N�o, n�o podem. Somente os esp�ritos sublimados, aqueles que
<br>tornaram-se puros sem jamais terem falido.
<br>� Marry, podemos nos aproximar de um dos trabalhadores desta
<br>
<br>col�nia, aquela irm� que ali se encontra, por exemplo?
<br>
<br>� Sim, vamos at� ela.
<br>Quando nos aproximamos, a irm� L�cia Terezinha nos sorriu, dizendo:
<br>
<br>� Sejam bem-vindos.
<br>� A irm� gosta muito de animais, n�o � mesmo?
<br>� Sempre adorei cuidar deles, e agora que Deus me ofertou este
<br>trabalho, tudo fa�o para bem realiz�-lo.
<br>� Notei que a irm� conversa com eles e parece at� que eles a compreendem.
<br>� Compreendem de acordo com as suas possibilidades. O animal �
<br>animal em qualquer mundo onde esteja vivendo. Conversamos com eles e
<br>eles sentem que s�o amados por n�s, mas n�o passa disso. Nesta col�nia,
<br>eles ouvem mais os homens, mas o princ�pio inteligente deles ainda continua
<br>sendo de animal, de um Esp�rito em evolu��o.
<br>� Pensei que os animais daqui entendessem melhor o homem.
<br>� Irm�o, eles s� mudam de reino depois de uma longa caminhada.
<br>Acreditamos que existem v�rias escalas e grandes mestres no trajeto da evolu��o
<br>do Esp�rito, mas ainda desconhecemos esse trabalho divino, dada a
<br>nossa imperfei��o. Aqui eles chegam, mas logo partem em busca da consci�ncia.
<br>� �, irm�, e quantos homens, Esp�ritos formados, est�o violentando a
<br>consci�ncia, um trof�u que o Esp�rito lutou tanto para ganhar!
<br>� Tem raz�o. Esses homens julgam que n�o pediram para nascer no
<br>mundo f�sico, pois acreditam terem sido criados no momento da concep��o.
<br>Devido a essa ignor�ncia n�o se respeitam e jogam a encarna��o fora, n�o se
<br>importando com a perfei��o. Por julgarem que n�o t�m responsabilidade
<br>para com a vida, eles n�o buscam amar o Criador. Enquanto a Humanidade
<br>desconhecer a escalada do Esp�rito, faltar� amor na Terra. � medida que o
<br>homem compreender o tempo que j� levou o seu Esp�rito para chegar �
<br>
<br>condi��o de homem, ele ir� refletir e iniciar a luta para tornar-se melhor.
<br>
<br>Uma bela cadela, chamada Flor, chamou-me a aten��o, pois nela senti
<br>uma vibra��o de amor.
<br>
<br>� O que esse c�o tem de diferente? � indagamos a L�cia.
<br>� O irm�o notou o magnetismo da Flor? perguntou, sorrindo.
<br>� Sim. Por que ela � portadora desse magnetismo?
<br>� Muito simples, irm�o: � que todos os dias o seu antigo dono ora e
<br>ora pelo seu crescimento.
<br>� O seu dono � esp�rita?
<br>� Sim, e por isso implora a Deus que proteja sua Flor.
<br>� Irm�, isso vai ajud�-la?
<br>� Deus seria injusto se s� tivessem acesso � escalada evolutiva os animais
<br>que foram amados quando encarnados. A vibra��o amorosa s� ajuda Flor
<br>a se sentir envolvida por fluidos salutares, que muito prazer lhe d�o. S� isso.
<br>� Irm�, ent�o se n�s vibrarmos em dire��o � Tulipa, a querida cadela que
<br>t�nhamos, quando encarnado, ela receber� a nossa vibra��o de amor e saudade,
<br>n�o importa onde esteja?
<br>� Luiz. o homem deve tudo fazer para n�o ser envolvido por vibra��o
<br>negativa. Onde quer que estejamos, recebemos as vibra��es a n�s dirigidas,
<br>e feliz aquele que s� recebe fluidos positivos. Onde a sua Tulipa estiver, ela
<br>sentir� as vibra��es do seu amor e da sua saudade.
<br>� Mesmo se ela j� tiver passado de um reino para outro?
<br>� Sim, n�o importa. A vibra��o de amor � um presente que os Esp�ritos
<br>encarregados da nossa evolu��o sempre entregam ao verdadeiro dono.
<br>� E as m�s?
<br>� Estas, quando emitidas, atingem apenas aqueles cujo cora��o esteja
<br>repleto de revolta. Se vivermos em paz com o nosso cora��o, n�o nos
<br>
<br>atingem. No entanto, devemos tomar cuidado e n�o plantar intrigas no nosso
<br>caminho.
<br>
<br>� Irm�, ningu�m vibra contra um animal?
<br>� Vibra, sim, aqueles, por exemplo, que possuem algu�m da fam�lia
<br>vitima de um animal.
<br>� E estas vibra��es o atingem?
<br>� N�o, pois os Esp�ritos o isolam, mas esse animal tamb�m n�o recebe
<br>as boas vibra��es, pois foi violento.
<br>� E isto os prejudica?
<br>� N�o. A vida nos tr�s reinos � semelhante � vida das crian�as: quando
<br>atingem a maioridade est� escrito no seu livro: "nada consta".
<br>� Ainda bem, porque assim j� existiria a cobran�a desde cedo. Irm�,
<br>� impressionante como existe animal violento e outros t�o bonzinhos! Perdoe
<br>a minha ignor�ncia, mas sempre indago uma coisa: o princ�pio inteligente da
<br>cobra poder� tornar-se um bom homem?
<br>� Claro, Luiz. O fermento de um bolo n�o se torna imprest�vel se o
<br>bolo solou ou queimou. O princ�pio espiritual caminhar�, n�o importa que
<br>indument�ria vestir; importa, sim, quando atingir a maioridade e for levado ao
<br>"para�so", o momento do t�rmino de uma etapa de vida, onde receber� um
<br>diploma chamado livre-arb�trio, ou consci�ncia. A cobra de hoje pode tornar-
<br>se o santo de amanh�. O p�ssaro de hoje poder� tornar-se o assassino
<br>de amanh�. O perigo � quando ele ganha o poder e recebe a carta de alforria,
<br>a sua liberdade, e sente-se igualzinho a um adolescente, que se deslumbra
<br>com a liberdade e a vida. A� � que mora o perigo: ele buscar� as boas companhias
<br>ou sair� em busca da vida, do orgulho ou do ego�smo? A� � que tem
<br>in�cio o afloramento das tend�ncias.
<br>� Irm�, pode nos explicar melhor as tend�ncias? Como as adquirimos?
<br>� Muito simples: as tend�ncias s�o do Esp�rito, que as cria na sua
<br>
<br>consci�ncia. � como se coloc�ssemos v�rias crian�as e lhes mostr�ssemos
<br>v�rias coisas, e no final pergunt�ssemos a cada uma delas do que mais gostaram.
<br>Ter�amos as mais variadas respostas. Algumas nem perceberiam o
<br>que acontece � sua volta. Isso ocorre, porque somos seres diferentes, temos
<br>a nossa individualidade. Cada filho de Deus gosta de uma coisa e pensa
<br>diferente. Se f�ssemos criados sem liberdade, tornar-nos-�amos fantoches
<br>teleguiados. Mas a bondade de Deus � tamanha, que cada um de n�s aprecia
<br>de modo diferente as coisas do Universo. As tend�ncias s�o conquistas do
<br>Esp�rito, que podem ser boas ou m�s. Elas s�o os frutos da �rvore do bem e
<br>do mal; somos livres para escolher. O Pai n�o nos obriga a saborear o fruto
<br>que Ele gostaria que n�s escolh�ssemos. � como os pais de fam�lia: quantos
<br>gostariam que o filho escolhesse uma profiss�o e o filho escolhe outra, ou
<br>nem estuda. Isso � liberdade de escolha. Cada um direciona a sua exist�ncia
<br>de acordo com a b�ssola da sua consci�ncia. E queira Deus, muito mais
<br>Esp�ritos tenham descoberto as boas tend�ncias, pois criou o homem para
<br>ser feliz. Francisco de Assis tinha raz�o quando respeitava a natureza, porque
<br>os Esp�ritos em forma��o precisam muito das nossas ora��es; eles ainda
<br>ir�o caminhar muitas e muitas l�guas, e Deus os ajuda a escolherem o fruto
<br>da bondade. Quando Francisco orava para os animais, para que o lobo de
<br>G�bio fosse amansado, por exemplo, ele pedia para que a fera de hoje se
<br>tornasse o santo de amanh�. Todos precisam da ajuda da ora��o, e aqui,
<br>junto aos animais, oramos a mais bela ora��o ensinada por Jesus, a ora��o
<br>do amor �s criaturas de Deus, principalmente estes princ�pios inteligentes,
<br>que tanto necessitam de cuidado.
<br>
<br>Recitando o Pai-Nosso bem devagar, meus olhos foram ficando
<br>marejados de l�grimas. Marry deixou-me por alguns instantes sozinho.
<br>
<br>
<br>Cap�tulo XII
<br>O ESPIRITISMO NAS ESCRITURAS
<br>
<br>
<br>� Marry, este lugar � t�o resguardado por Deus, que n�o sei como
<br>um Esp�rito t�o pequeno como o meu p�de aqui chegar.
<br>� Luiz, voc� � um rep�rter do mundo espiritual e a um rep�rter s�o
<br>abertas as fronteiras; o seu trabalho � passar informa��o, e � isto o que
<br>estamos fazendo aqui. Muitos julgam tudo isso bobagem. Tamb�m existem
<br>aqueles que n�o aceitam a evolu��o em linha reta do Esp�rito. Veja bem o
<br>cuidado dos Esp�ritos evolu�dos para com os Esp�ritos em evolu��o. O respeito
<br>e o amor se fazem presentes em cada ato.
<br>Olhamos aquele lugar e percebemos como o homem desconhece a
<br>sua origem. Mesmo se dizendo esp�rita, ataca e fere, quando n�o aceita o
<br>modo de pensar dos pr�prios companheiros da Doutrina, enquanto ela �
<br>transl�cida e bem explica a escalada do Esp�rito em forma��o e suas tend�ncias.
<br>
<br>
<br>� Este lugar, Luiz, � um viveiro de almas. Daqui, o princ�pio inteligente
<br>� levado at� os laborat�rios, onde recebe tratamento, depois ainda passa
<br>por algumas esp�cies intermedi�rias, at� ser levado a lugares apropriados �
<br>prepara��o para o grande mergulho na humanidade.
<br>
<br>� Pena que poucos se conscientizam do valor do seu pr�prio Esp�rito,
<br>julgando-se imperfeitos e nada fazendo para melhorar. No dia em que
<br>todos os homens estudarem esta doutrina maravilhosa, que � a Doutrina Esp�rita,
<br>ir�o compreender por que est�o no corpo f�sico e ver�o que, mesmo
<br>possuindo fortuna, nada t�m, porque o que � da mat�ria na mat�ria ficar�. O
<br>esp�rita que estuda a Doutrina compreende que tem de se desapegar das
<br>coisas perec�veis e, quando isso acontece, busca desesperadamente ajudar
<br>seu pr�ximo. O esp�rita n�o conhece milagre. Para conquistar a felicidade,
<br>ter� de lutar por ela. Na Doutrina, o homem n�o gozar� de privil�gios, somente
<br>por ter chegado � Casa Esp�rita, porque o Deus que a Doutrina apresenta
<br>ao homem � justo e bom. Se Ele � justo e bom, n�o castiga um filho
<br>porque usou mal o livre-arb�trio presenteado por Ele. Por que n�o fortalecer
<br>o rebanho, proporcionando-lhe conhecimento b�blico? No item 59 de O Livro
<br>dos Esp�ritos, Kardec esclarece: Dever-se- � (...) concluir que a B�blia
<br>� um erro ? N�o; a conclus�o a tirar-se � que os homens se equivocaram
<br>ao interpret�-la. A Doutrina est� anunciada, grafada, embelezada
<br>no Antigo Testamento. Quem fica indo contra esse livro divino � porque n�o
<br>deseja estud�-lo. Ser� que esses fariseus julgam que quem estuda a B�blia
<br>est� traindo Allan Kardec, ou temem alguma proibi��o nela contida? Os
<br>Esp�ritos superiores, que t�o bem conhecem a B�blia, recomendam a todos
<br>os estudiosos da Doutrina, principalmente aos jovens, que leiam a B�blia. Ela
<br>cont�m as grandes revela��es, � um livro esp�rita. Nela encontramos os profetas
<br>e os ap�stolos, que eram m�diuns, as manifesta��es esp�ritas, a reencarna��o,
<br>as materializa��es, os passes. Por que n�o criarmos grupos para
<br>estud�-la, principalmente as crian�as e os jovens? Voltamos a repetir: s�o
<br>eles, e n�o os mais idosos, que compor�o as futuras diretorias, enfim, os
<br>encarregados do Espiritismo em terras brasileiras. Os antigos viveram uma
<br>�poca tranq�ila, mas as crian�as e os jovens dever�o estar bem preparados
<br>para os grandes ataques, quando ocorrererem. A Doutrina possui meios para
<br>oferecer aos seus iniciantes material suficiente para bem elucidar os jovens e
<br>as crian�as. O livro Quem inventou o Espiritismo, do irm�o Jo�o, d� ao
<br>estudante da Doutrina elucida��es sobre como se portar diante de falsos
<br>profetas. Se cada Casa adotar um estudo do Antigo Testamento para crian
<br>
<br>�as e jovens, eles ter�o maior capacidade de entender o Espiritismo codificado
<br>por Allan Kardec, pois a B�blia � um c�ntico esp�rita. Os m�diuns s�o
<br>muito reais, na figura dos profetas, e as manifesta��es esp�ritas ocorrem em
<br>todos os lugares. Mas o intuito deste livro n�o � elucidar o leitor esp�rita
<br>sobre os livros b�blicos. N�o tenho capacidade para tanto. No livro Amigo e
<br>Mestre, tentei mostrar a beleza do Serm�o do Monte, entrela�ado-o com
<br>algumas p�ginas do Antigo Testamento. O livro do irm�o Jo�o, sim, coloca o
<br>esp�rita frente � verdade da filosofia esp�rita, t�o velha quanto a pr�pria Humanidade.
<br>Os profetas maiores e menores eram verdadeiros m�diuns, �ntegros
<br>e conhecedores da lei de Deus. E os esp�ritos sempre se manifestavam,
<br>como na passagem de Daniel, quando todos viram uma m�o materializada
<br>escrever, e tamb�m no trecho da mula que falou com Bala�o. Quanto aos
<br>esp�ritos trevosos que se manifestavam no Antigo e no Novo testamentos,
<br>Jesus muito bem os doutrinou. Se o esp�rita continuar sem ler e estudar a
<br>B�blia, vai ficar acuado, porque os tocadores de trombetas est�o de casa em
<br>casa, nas ruas e fundando igrejas, enquanto alguns Centros Esp�ritas est�o
<br>vazios. Sabem por qu�? Porque o Espiritismo, codificado por Allan Kardec,
<br>procura melhorar o homem, cur�-lo das imperfei��es, mas poucos desejam
<br>realmente se curai". � mais f�cil ir a uma igreja que diz operar milagres, fazendo
<br>com que tenhamos carros, bens materiais, �timos casamentos, do que �
<br>Casa Esp�rita, que revela a verdade sobre as vidas sucessivas, dizendo que o
<br>hoje representa a colheita do ontem e que temos de lutar pela perfei��o; que
<br>no mundo espiritual existe trabalho, responsabilidade, universidades, e que a
<br>cada um � dado conforme as suas obras. Quem deseja conhecer estas verdades?
<br>Muito poucos. Mas que esses poucos tenham conhecimento e abracem
<br>a Doutrina que escolheram, porque o "maria-vai-com-as-outras" n�o
<br>ir� ag�entar o peso da responsabilidade como Esp�rito. Portanto, vamos iniciar
<br>hoje a elucidar a crian�a e o jovem sobre a grande responsabilidade de
<br>se dizer esp�rita. Tomar-se esp�rita n�o � s� admirar o Espiritismo; � sofrer
<br>uma transforma��o moral, fazendo surgir, do materialista de ontem, um ser
<br>renovado. Se cada esp�rita fugir da reforma interior e apenas freq�entar as
<br>Casas Esp�ritas, perdoe-me por falar t�o duro, mas os audit�rios das Casas
<br>Esp�ritas ficar�o cada vez mais vazios.
<br>
<br>
<br>� Luiz, o que voc� acha que est� faltando nas Casas Esp�ritas?
<br>� N�o s� nas Casas, mas o movimento esp�rita em geral est� precisando
<br>de humildade, fraternidade e trabalho. Como diz L�zaro Jos�:
<br>"n�o se atiram pedras nas �rvores do vizinho, ainda mais nas do nosso
<br>pr�prio quintal." Os cardeais de ontem, hoje reencarnados e militando
<br>no meio esp�rita, s� n�o mandam as pessoas para a fogueira porque n�o
<br>podem, por�m criticam sem piedade aqueles que eles julgam nada entender
<br>de Doutrina Esp�rita. Enquanto os donos da verdade, os ditos defensores
<br>da Doutrina Esp�rita, desentendem-se, os Centros est�o ficando
<br>vazios, porque muitos esp�ritas, desiludidos com os homens da Doutrina,
<br>partem em busca de outras cren�as. Mas, por merc� de Deus, a Doutrina
<br>permanecer� atrav�s dos s�culos, porque a Doutrina � de Deus, ningu�m
<br>pode destru�-la.
<br>� Em vez dos esp�ritas atacarem uns aos outros, por que n�o atacam
<br>os ofensores da Doutrina?
<br>� Causa pena, Marry, assistir a esses ditos pregadores do Cristo na
<br>televis�o, onde os pobres Esp�ritos s�o os culpados por tudo de mau que
<br>acontece no plano f�sico.
<br>� Os esp�ritas precisam se defender?
<br>� Acho que n�o, Marry.
<br>� Mas eles t�m de se organizar, fortalecer, amar, unir, lutar pelo Espiritismo.
<br>� Luiz, voc� tem raz�o. O homem, por ser imperfeito, busca o sobrenatural
<br>e os fen�menos, os espet�culos. Uma Casa equilibrada, disciplinada,
<br>s� oferece a seus freq�entadores a paz. Mas eles, muitas vezes, desejam
<br>mais, muito mais. E quando ouvem dizer que existem igrejas que ir�o lev�-los
<br>� riqueza, � felicidade, correm a busc�-las.
<br>� Marry, h� Centros Esp�ritas lotados, mas somente nos dias de trabalho
<br>de cura ou de desobsess�o.
<br>
<br>� � verdade. Poucos buscam uma Casa para aprenderem a se portar
<br>em sociedade. E sabemos que somente o estudo s�rio e a evangeliza��o de
<br>cada um leva � conquista da paz interior.
<br>Convers�vamos diante dos nossos irm�os animais. E pensei: "at� quando
<br>o homem ir� fugir da verdade de sua exist�ncia? Ser� que pode ser feliz
<br>na ignor�ncia, julgando-se sem compromisso com Deus e com a vida? Ser�
<br>que � feliz uma pessoa materialista? Pode sentir-se feliz algu�m que nada
<br>espera do amanh�?" Claro que n�o. O homem sem f� � um rio sem �gua. S�
<br>mesmo aquele que deseja tornar-se melhor ir� buscar o Centro Esp�rita, fazendo
<br>dele uma universidade e um hospital de almas, entregando-se ao trabalho
<br>e ao estudo. Mas sempre existir�o aqueles que, sem f� raciocinada,
<br>ligar�o a televis�o e deixar�o que os pregadores, repletos de promessas,
<br>adentrem seus lares, e neles acreditar�o. Querido leitor, tenho certeza de que
<br>voc� ir� sorrir e mudar de canal, dizendo: o Luiz S�rgio tem raz�o, se posso
<br>me banhar no conhecimento do ontem, do hoje e do amanh�, por que viver
<br>de sonhos, do sobrenatural? E buscar� O Livro dos Esp�ritos, esse mapa do
<br>caminho evolutivo, procurando as respostas para todas as suas perguntas.
<br>Depois de pensar, pedir� por eles: "perd�o, Pai, eles n�o sabem o que fazem".
<br>
<br>
<br>Marry enla�ou meus ombros e fomos saindo devagar. Nisso, uma flor
<br>balan�ou em seu galho, como se estivesse despedindo-se de n�s. Sorri e dei
<br>gra�as ao Senhor por ter andado muitas l�guas. Marry orou baixinho:
<br>
<br>� "Senhor do Universo, benditas m�os que seguram as nossas.
<br>Imaculado � o Teu conhecimento, que t�o bem nos transmites. Perdoa, bom
<br>Deus, os nossos erros, e fortalece-nos para que jamais nos sintamos ofendidos.
<br>Seja feita a tua vontade e nunca a nossa, por sermos ainda ignorantes.
<br>D�-nos, Senhor, a paz, a esperan�a de um mundo melhor, e n�o nos deixes
<br>perdidos na estrada da vida, longe do Teu cora��o de Pai, porque o Teu
<br>reino de amor � gl�ria prometida a todos aqueles que lutam pela perfei��o."
<br>
<br>Cap�tulo XIII
<br>LIVRE-ARB�TRIO, DIADEMA DA RAZ�O
<br>
<br>
<br>Diante daqueles animais, pensei: "como � longo o caminho da evolu��o
<br>e como precisamos uns dos outros!" Hav�amos aprendido que, naquele
<br>lugar, as esp�cies do reino animal encontravam abrigo numa passagem r�pida.
<br>
<br>
<br>� O que tanto olha? perguntou-me Marry.
<br>� Irm�, os animais n�o desfrutam do livre-arb�trio, mas n�o s�o fantoches,
<br>sua liberdade de a��o � limitada pelas suas necessidades. Eles gozam
<br>de uma liberdade restrita, enquanto o homem, ao atingir a maioridade, toma-
<br>se livre.
<br>� Luiz, os animais t�m uma intelig�ncia que lhes d� certa liberdade de
<br>a��o; � o princ�pio inteligente que sobrevive ao corpo f�sico, por�m o princ�pio
<br>inteligente do animal est� bem distante da intelig�ncia do homem. O princ�pio
<br>inteligente do animal, o Esp�rito em forma��o, � o que os individualiza,
<br>como seres criados por Deus que s�o. No entanto, este princ�pio inteligente
<br>n�o lhes d� a consci�ncia de si mesmos.
<br>� �, irm�, a escalada evolutiva � uma b�n��o divina. Hoje. vendo
<br>esses animais, dou maior valor ao meu Esp�rito j� formado, com sua individu
<br>
<br>alidade e a consci�ncia de si mesmo. Que b�n��o, o livre-arb�trio: possuir o
<br>poder de escolha!
<br>
<br>� Luiz, mas existem muitos homens que procedem como animais.
<br>� Como assim, Marry?
<br>� S�o aqueles que ignoram a exist�ncia de Deus e, julgando-se sem
<br>individualidade, n�o querem saber que t�m o poder de escolher o corpo que
<br>lhes dar� o direito de reencarnar.
<br>� � mesmo, Marry. Quanta ignor�ncia!
<br>� Alguns at� julgam que os corpos est�o guardados no t�mulo para
<br>serem ressuscitados por Deus e voltarem a ser como eram antes da morte.
<br>� F�cil, n�o, Marry?
<br>� N�o, Luiz S�rgio, n�o acho f�cil. Acho absurdo um homem, com
<br>intelig�ncia, n�o parar para pensar que al�m da vida existe vida, e que essa
<br>vida � mais completa do que a que a alma vive quando encarnada. Como
<br>retornar o Esp�rito a um corpo que foi cremado?
<br>� � verdade, Marry, como pessoas cultas, inteligentes, n�o procuram
<br>a verdade! Por motivos religiosos, afundam-se na ignor�ncia e atacam aqueles
<br>que j� est�o bem mais adiantados na estrada do conhecimento. Claro que
<br>� mais f�cil o pecador se julgar perdoado, apenas porque hoje carrega a
<br>B�blia na m�o; � muito mais f�cil comungar e se confessar, do que ouvir os
<br>Esp�ritos dizerem que s� nos livraremos das faltas cometidas praticando uma
<br>boa a��o; que cada criatura � o autor do livro da sua vida e que s� com a
<br>pris�o na carne � que pagamos as nossas d�vidas pret�ritas. Se � mais f�cil
<br>ser perdoado pelos homens, por que iremos buscar o espelho que ir� nos
<br>mostrar as imperfei��es da alma? � muito melhor bater no peito e pedir
<br>perd�o, do que o homem pecador de ontem renascer em Cristo, com o
<br>prop�sito de jamais praticar erros. A Doutrina Esp�rita, codificada por Allan
<br>Kardec, � uma universidade; quem a ela chega recebe vasto conhecimento
<br>de onde veio, o que deve fazer no hoje e como se preparar para o amanh�.
<br>Tamb�m na universidade do conhecimento, o homem aprende que o plantio
<br>
<br>� livre, mas a colheita, mais que obrigat�ria; que n�o basta pedirmos perd�o,
<br>faz-se necess�rio buscar a perfei��o, porque s� nela est� a completa felicidade;
<br>que n�o existe homem algum, nem mesmo Jesus Cristo, com o poder
<br>de dizer a um homem mau, violento, estuprador: "fique bom", e ele se transformar.
<br>Se assim fosse, Deus n�o outorgaria o livre-arb�trio a cada ser. N�o
<br>haveria valor algum em ser bom. O que pode acontecer, e o que a Doutrina
<br>nos ensina, � que poderemos mudar o nosso comportamento quando encontrarmos
<br>o Homem que nos serve de exemplo das coisas de Deus, quando
<br>descobrirmos o Cristo como irm�o e d'Ele nos tornarmos amigo, escutando-
<br>Lhe as palavras e tentando colocar os p�s nas Suas pegadas. Maria Madalena
<br>encontrou o Cristo, mas nem por isso virou santa de uma hora para outra. Se
<br>lermos a hist�ria de sua vida, saberemos da luta desse Esp�rito para se livrar
<br>das imperfei��es. E pelo que vemos hoje, basta o assassino cruel, que tantas
<br>vidas roubou, segurar a B�blia e se dizer convertido e logo torna-se pastor de
<br>almas, criatura considerada pura. Na Doutrina, aprendemos que isso � imposs�vel.
<br>Podemos, apesar das nossas imperfei��es, pregar a palavra de Deus,
<br>mas com a consci�ncia de que teremos de pagar ceitil por ceitil. Depois de
<br>conhecer as Suas palavras, seremos mais cobrados em nossos atos. H� muitos
<br>que se dizem esp�ritas ou simpatizantes, agora, esp�rita verdadeiro, que,
<br>como J�, mesmo nas horas dif�ceis a f� se agiganta e permanece fiel � pureza
<br>doutrin�ria, s�o poucos, muito poucos. N�o adianta buscar o Espiritismo
<br>para conquistar boa posi��o financeira, enfim, melhorar de vida. Ela n�o �
<br>para isso. A Doutrina Esp�rita � um arco-�ris, unindo as criaturas que desejam
<br>alcan�ar a perfei��o para ter a felicidade da vida plena ao lado de Deus. Ser�
<br>que um dia, Marry, a Terra se tornar� esp�rita?
<br>
<br>� Sim, quando todos deixarem de lado as amarras da mat�ria e viverem
<br>em esp�rito e em verdade. Diz O Livro dos Esp�ritos, em sua quest�o
<br>597.a: "H� entre a alma dos animais e a do homem dist�ncia equivalente �
<br>que medeia entre a alma do homem e Deus."
<br>� Quanta verdade, Marry! Tenho a imensa alegria de olhar para tr�s,
<br>ver o caminho percorrido, apalpar o meu corpo perispiritual e nele sentir os
<br>centros de for�a, que s� conquistamos quando recebemos de Deus o diplo
<br>
<br>ma como Esp�rito formado, j� munido de intelig�ncia. � como a vit�ria do
<br>estudioso, quando recebe o canudo de conclus�o dos anos de faculdade. Ele
<br>conquistou o diploma, mas ainda � prim�rio na sua profiss�o, ainda precisa
<br>da pr�tica, pois s� tem a teoria. � a� que o homem precisa fazer fluir a bondade
<br>para n�o se perder no orgulho e na vaidade. O homem, ao receber o
<br>livre-arb�trio, dele faz o que a sua consci�ncia determinar, igual ao formando,
<br>que vai usar o diploma para o bem ou para o mal. O m�dico pode salvar
<br>vidas ou cortar a oportunidade de um Esp�rito reencarnar. O engenheiro, na
<br>busca do poder, da riqueza, deixa cairem as casas e os edif�cios que constr�i,
<br>por colocar material de m� qualidade. A professora pode negligenciar o ensino
<br>dos seus alunos, ou fazer de cada um deles filhos do seu cora��o. E
<br>assim, cada um faz do seu diploma a mesma coisa que faz o homem quando
<br>recebe o diadema da raz�o, o livre-arb�trio. Agora, que religi�o nos elucida
<br>sobre isso? Somente a Doutrina Esp�rita. Feliz aquele que tem a oportunidade
<br>de encontr�-la; no come�o, ficar� aturdido diante de tanta luz, mas se for
<br>abrindo os olhos devagar, subindo degrau por degrau, ir� bem compreend�la,
<br>respeit�-la e am�-la, como o aluno inteligente faz com o seu diploma,
<br>conseguido com muito sacrif�cio. Desejar conquistar ganhos f�ceis, fazendo
<br>mal ao pr�ximo, pregar a mentira, desculpe, mas bateu em porta errada.
<br>
<br>Ap�s breve pausa, comentei:
<br>
<br>� Sabe, Marry, olho este lugar, onde ap�s a morte dos animais eles
<br>para c� s�o trazidos, e cujo princ�pio inteligente � trasladado, pelos Esp�ritos
<br>incumbidos dessa tarefa, quase imediatamente, para os laborat�rios, e pergunto:
<br>como os animais v�em os homens, principalmente estes Esp�ritos incumbidos
<br>dessa tarefa?
<br>� Os animais v�em nos homens os seus amigos, os seus protetores,
<br>os seus "chefes". Por isso n�o se concebe a um homem a busca dos �dolos.
<br>Um portador de intelig�ncia deve buscar a Deus, o Pai amado. No homem,
<br>a intelig�ncia tamb�m progride, assim como a vida moral, por isso ele tem de
<br>lutar para livrar-se dos la�os, que s�o in�meros quando o homem �
<br>embrutecido; estes la�os � que o ligam � mat�ria. Podemos dizer que esses
<br>la�os nos acompanham durante a passagem pelo reino animal; eles s�o os
<br>
<br>restos dos corpos que tivemos nos reinos da natureza. Os la�os s�o os elementos
<br>da mat�ria que, ao sairem do reino animal e adentrarem o reino nominal,
<br>se encaixam no perisp�rito do homem, dos quais ele se livra somente quando
<br>n�o mais deles precisa. � medida que o homem se depura, esses la�os v�o-
<br>se desmaterializando e ficando cada vez mais et�reos, fundindo-se ao
<br>perisp�rito. Quando Jesus Se referiu a Jo�o Batista como o Esp�rito mais
<br>perfeito dos nascidos de mulher, tamb�m ficamos sabendo que Jo�o Batista
<br>n�o adormeceu na carne os nove meses, como acontece com os esp�ritos
<br>ainda imperfeitos. Tanto Jo�o estava consciente, que saudou a M�e de Jesus,
<br>mesmo estando ligado ao �tero de Isabel.
<br>
<br>� Como ocorreu isso?
<br>� Devido ao seu crescimento espiritual, Jo�o Batista quase n�o possu�a
<br>mais os la�os que o prendiam ao corpo f�sico.
<br>� Vivendo e aprendendo, Marry. Portanto, nada se perde na natureza,
<br>n�o � mesmo?
<br>� Sim, Luiz, os la�os, que s�o a expans�o do perisp�rito, foram os
<br>elementos que compuseram a pedra, a flor e o animal. Esses la�os existem,
<br>mas no reino mineral s�o uma condensa��o de mat�ria, e assim v�o-se depurando.
<br>Ent�o, ao se desmaterializar a ess�ncia espiritual da pedra, ela � retirada
<br>e revestida dos elementos que depois se transformam em la�os flu�dicos;
<br>quando o Esp�rito conquista o perisp�rito, s�o esses la�os que o ligam ao
<br>corpo f�sico.
<br>� Marry, explique-me, por favor. Ent�o os la�os que hoje se encontram
<br>no nosso perisp�rito, envolvendo os nossos centros de for�a, j� nos
<br>acompanham desde o mineral?
<br>� Sim. Formaram a veste do Esp�rito em forma��o. E logo, mais
<br>apurados, juntos se encontraram na veste do Esp�rito, o perisp�rito.
<br>� Volto, ent�o, � quest�o de a pedra, o vegetal e o animal n�o possu�rem
<br>perisp�rito.
<br>� N�o podemos dizer que possuem perisp�rito, porque s�o apenas
<br>
<br>perisp�ritos em forma��o.
<br>
<br>� E quando nos tornarmos Esp�ritos puros, o que ser� feito dos nossos
<br>la�os?
<br>� Eles se fundir�o no perisp�rito. N�o mais precisaremos deles, pois
<br>s�o eles que nos amarram ao corpo f�sico. N�o mais precisando reencarnar,
<br>eles se fundem no corpo perispiritual.
<br>� E os centros de for�a?
<br>� Jamais ser�o destru�dos.
<br>� Mas os la�os tamb�m n�o?
<br>� Claro que n�o. No decorrer da escalada do Esp�rito, a mat�ria
<br>perispiritual vai-se depurando. Para melhor conhecer os la�os do perisp�rito,
<br>busquemos as quest�es 155 e 157 de O Livro dos Esp�ritos:
<br>155. Como se opera a separa��o da alma e do corpo?
<br>"Rotos os la�os que a retinham, ela se desprende."
<br>a) � A separa��o se d� instantaneamente por brusca transi��o?
<br>Haver� alguma linha de demarca��o nitidamente tra�ada entre a vida e
<br>a morte?
<br>
<br>"N�o; a alma se desprende gradualmente, n�o se escapa como um
<br>p�ssaro cativo a que se restitua subitamente a liberdade. Aqueles dois
<br>estados se tocam e confundem, de sorte que o Esp�rito se solta pouco a
<br>pouco dos la�os que o prendiam. Estes la�os se desatam, n�o se quebram."
<br>
<br>
<br>157. No momento da morte, a alma sente, alguma vez, qualquer
<br>aspira��o ou �xtase que lhe fa�a entrever o mundo onde vai de novo
<br>entrar?
<br>"Muitas vezes a alma sente que se desfazem os la�os que a prendem
<br>ao corpo. Emprega ent�o todos os esfor�os para desfaz�-los inteiramente.
<br>J� em parte desprendida da mat�ria, v� o futuro desdobrar-se diante de si e
<br>goza, por antecipa��o, do estado de Esp�rito."
<br>
<br>
<br>� Ent�o, Marry, do perisp�rito parte uma fia��o, chamada de la�o. E
<br>estes la�os � que s�o "amarrados" no duplo et�rico. � no duplo que se encontram
<br>as rodas energ�ticas, que amortecem a luz do Esp�rito, bem como �
<br>o corpo que interliga o perisp�rito ao corpo f�sico. Gostaria de desenh�-los,
<br>para melhor compreens�o:
<br>Perisp�rito Duplo et�rico Corpo f�sico
<br>
<br>
<br>� Voltemos � quest�o 155: Como se opera a separa��o da alma e
<br>do corpo?
<br>"Rotos os la�os que a retinham, ela se desprende."
<br>
<br>Durante a vida, o Esp�rito se acha preso ao corpo pelo seu envolt�rio
<br>semimaterial ou perisp�rito.
<br>
<br>� Marry, ent�o os la�os s�o a parte mais grosseira do perisp�rito?
<br>� Sim, por isso, com a evolu��o do Esp�rito, sua veste vai ficando
<br>mais et�rea e os la�os v�o diminuindo at� n�o mais o Esp�rito necessitar
<br>deles, pois alcan�a a vida plena, sem precisar reencarnar.
<br>
<br>� Podemos chamar os la�os de escada, pois que eles nos permitem
<br>chegar ao corpo f�sico?
<br>Marry sorriu.
<br>
<br>� Os la�os s�o como a garra de platina que ornamenta um anel, que
<br>� o perisp�rito; o brilhante � o Esp�rito imortal.
<br>� Veja se entendi: o anel � o perisp�rito; a garra s�o os la�os, extens�o
<br>do anel, e o brilhante � o Esp�rito
<br>� Sim, Luiz, � uma forma aleg�rica para melhor compreens�o do que
<br>v�m a ser os la�os.
<br>� Marry, com a depura��o do Esp�rito, as garras v�o-se diminuindo,
<br>at� desaparecerem?
<br>� Sim, elas v�o ficando mais et�reas, � medida que o Esp�rito n�o
<br>mais precisa delas. Podemos pensar que as tend�ncias est�o alojadas nos
<br>la�os.
<br>� Irm� Marry, quanto mais endurecido o Esp�rito, mais la�os ele tem?
<br>� Sim, a sua garra � mais forte. Num brilhante grande e valioso, ningu�m
<br>repara a garra; agora, quantos brilhantes min�sculos est�o em an�is
<br>enormes e muito trabalhados!...
<br>� Pensando bem, Marry, n�o ser� justo n�o conservarmos nada do
<br>corpo que nos serviu, nos reinos por que passamos.
<br>� �, Luiz, a evolu��o � uma marcha constante e feliz o Esp�rito que
<br>busca a verdade e compreende a raz�o da vida, ainda quando no corpo
<br>f�sico.
<br>Olhei o lugar com muito respeito. Reverenciei, mais uma vez, aqueles
<br>Esp�ritos em forma��o, lembrando-me da seguinte passagem evang�lica, em
<br>Mateus, Cap�tulo X, vv. 28, 29, 31: N�o temais os que matam o corpo,
<br>mas n�o podem matar a alma{...). N�o � verdade que dois p�ssaros se
<br>vendem por um asse? Nada, portanto, temais; bem mais vales do que
<br>muitos p�ssaros. Quanta verdade! O Esp�rito, quando recebe o diadema da
<br>
<br>
<br>raz�o, o livre-arb�trio, atinge a maturidade, � j� um Esp�rito formado. Se ele
<br>olhar para tr�s, ter� a alegria de perceber o quanto j� evoluiu. Ciente disso,
<br>tudo deve fazer para jogar fora o restante das imperfei��es que se alojaram
<br>no seu perisp�rito. Portanto, devemos tudo fazer para cumprir com a nossa
<br>tarefa, nada temendo, adquirindo confian�a em Deus � medida do caminho
<br>percorrido. E aqui, onde acompanhei a evolu��o das esp�cies, senti-me feliz
<br>por conhecer a escalada da ess�ncia espiritual.
<br>
<br>Corri � frente de Marry com os bra�os estendidos, gritando: "Obrigado,
<br>Pai, por nos ter ofertado a vida e o maior dos mestres para nos ensinar o
<br>Caminho, a Verdade e a Vida. Obrigado, Pai, por um dia ter-nos criado
<br>simples e ignorantes, mas tamb�m por nos ter matriculado na universidade da
<br>vida para aprendermos a falar de amor."
<br>
<br>Nesse estado de enlevamento, ainda pensava nos tr�s reinos, ou melhor,
<br>quatro, pois n�o podemos separar o homem dos nossos irm�os pedra,
<br>planta e animais, quando perguntei a Marry:
<br>
<br>� Estudando os reinos da Natureza, aprendemos que nem todas as
<br>ess�ncias espirituais, princ�pios inteligentes, passam por outras esp�cies no
<br>plano material onde se encontram. Eles v�o para o plano espiritual e l� � que,
<br>no viveiro do Universo, passa pelas esp�cies intermedi�rias. A irm� pode me
<br>responder por que isso ocorre?
<br>� Sim, isso se d� pelo fator tempo. Levaria muito tempo se as ess�ncias
<br>espirituais ficassem, no mundo f�sico, pulando de esp�cie em esp�cie, e
<br>isso ocorre quando se tornam necess�rias as sucessivas materializa��es.
<br>� Ser�, Marry, que isto ocorre quando o homem violenta os reinos?
<br>� Pode ser � respondeu, sorrindo.
<br>� Como � linda a evolu��o do ser, a escalada do Esp�rito. No reino
<br>mineral a ess�ncia espiritual est� adormecida, quase da mesma maneira que
<br>o esp�rito resguardado no ventre materno, quando o corpo f�sico � apenas
<br>um ovo. Portanto, o reino mineral � o �vulo de onde se inicia o crescimento
<br>do Esp�rito em forma��o. Depois, no reino vegetal, � uma nova etapa da sua
<br>
<br>exist�ncia. � nessa fase que come�a a ter a impress�o do que acontece no
<br>exterior, mas ainda sem consci�ncia. No reino vegetal reina a vida, a beleza,
<br>a utilidade. A ess�ncia espiritual est� sendo preparada para a vida ativa. � a
<br>semente que j� est� brotando, � a raiz que est� tornando-se �rvore. � a flor
<br>que, bela e radiante, alimenta os p�ssaros. Enfim, � no reino vegetal que o
<br>Esp�rito em forma��o j� marca presen�a, entre a exuber�ncia da natureza. O
<br>princ�pio espiritual caminha e logo adquire uma intelig�ncia relativa, por�m
<br>bem mais perto do homem. Os animais locomovem-se, portanto, j� possuem
<br>instinto. � outra fase, como a do feto que j� se movimenta no �tero materno.
<br>O animal torna-se �til � fun��o que lhe � atribu�da, ao fim determinado na
<br>natureza. N�o possuindo ainda o livre-arb�trio, ele n�o � independente. Mesmo
<br>n�o sendo independente, o princ�pio inteligente, que anima a mat�ria, j�
<br>lhe propicia uma marcha progressiva, de onde chega �s formas de esp�cies
<br>intermedi�rias, as quais j� o aproximam do reino humano. � o feto que est�
<br>tornando-se ser e logo sair� do ventre materno, que � a Natureza, para soltar
<br>
<br>o grito forte do homem, munido da intelig�ncia e do livre-arb�trio.
<br>� Luiz, o Esp�rito em forma��o passa por todas as transforma��es da
<br>mat�ria e por todas as fases de desenvolvimento, at� atingir a intelig�ncia.
<br>Quando cessa o instinto e ganha o livre-arb�trio, isto se d�, porque o Esp�rito
<br>adentrou o reino humano, depois de ter sido preparado nos mundos para
<br>esse fim e para essa finalidade. � nesse momento que o Esp�rito recebe a sua
<br>veste composta de fluido magn�tico, a que chamamos perisp�rito. Portanto,
<br>o perisp�rito � o instrumento outorgado por Deus para o Esp�rito realizar o
<br>seu progresso. � nesse momento que o Esp�rito, j� munido de intelig�ncia,
<br>tem de us�-la de acordo com a liberdade conquistada. Ele recebeu o
<br>perisp�rito, ou melhor, ele, o Esp�rito, � que organizou a constitui��o flu�dica
<br>do seu perisp�rito, gra�as �s suas tend�ncias.
<br>� Marry, nessa hora � que o perisp�rito � formado, de acordo com o
<br>reservat�rio das tend�ncias de cada Esp�rito? � muito complicado.
<br>� N�o, Luiz, n�o � complicado. Lembre-se de que o animal n�o tem
<br>perisp�rito, pois � Esp�rito em forma��o; quando o princ�pio espiritual conquista
<br>intelig�ncia plena, o Esp�rito come�a a organizar o seu perisp�rito. O
<br>
<br>temperamento do Esp�rito � resultado das suas tend�ncias boas ou m�s.
<br>
<br>� Marry, as tend�ncias est�o alojadas nos la�os?
<br>Ela sorriu.
<br>� Querido amigo, o Esp�rito � o dono do seu plantio. Vemos o Esp�rito
<br>em forma��o como a crian�a educada por nobres pais. As que nada
<br>assimilaram de uma boa educa��o preferem juntar-se �s turmas de mentes
<br>perturbadas, com as quais seus fluidos perispirituais se assemelham.
<br>� O perisp�rito modifica-se � medida que o Esp�rito evolui?
<br>� Sim, mas ele modifica-se tamb�m, voluntariamente, quando o ser
<br>atinge a perfei��o. Como temos encontrado perisp�ritos completamente deformados,
<br>dado a erros cometidos! Quando o Esp�rito atinge a perfei��o, o
<br>seu perisp�rito vai deixando de ser mat�ria, entrando no estado et�reo. Os
<br>perisp�ritos deformados dos Esp�ritos imperfeitos n�o foram destru�dos, e
<br>sim deformaram-se. Sendo o perisp�rito mat�ria, vai-se tornando mais pesado
<br>quando o Esp�rito � mau; depurando-se, quando praticam boas a��es.
<br>Por isso, os antigos, ao verem os Esp�ritos puros, julgavam-nos anjos, tal a
<br>sua leveza. Os Esp�ritos puros levitam e a luz que os envolve d�-lhes a apar�ncia
<br>de anjos celestiais. Portanto, o que deforma o perisp�rito � a maldade
<br>do Esp�rito. A sua vibra��o faz com que assimile os fluidos pesados, que se
<br>alojam no seu perisp�rito, deformando-o; � como se essa deforma��o fosse
<br>uma crosta de fluidos pesados.
<br>� Compreendi. � como se um homem encarnado se cobrisse de piche
<br>ou de lama. Quando ele toma um bom banho, volta a ter boa apar�ncia.
<br>� � isso mesmo. Se o Esp�rito cresce em moralidade, ele vai
<br>embelezando o seu perisp�rito.
<br>� Hoje, minha amiga querida, sinto-me muito mais bonito, gra�as �
<br>sua explica��o...
<br>� Bravo, Luiz, ficamos felizes por isso!
<br>� Sim, Marry, � medida que vamos compreendendo a grandeza das
<br>153
<br>
<br>
<br>leis de Deus, devemos empenhar-nos para pensar bem, viver bem e tentar
<br>progredir cada vez mais.
<br>
<br>� Luiz S�rgio, somos os autores da nossa hist�ria; cabe a n�s a felicidade
<br>ou o drama que nela escrevemos. Deus, como pai bondoso, a ningu�m
<br>criou para ser infeliz. Qual o pai que deseja a infelicidade do filho? Se
<br>analisarmos a fam�lia de hoje, veremos os filhos abusando do livre-arb�trio,
<br>vivendo sem limites e cada vez mais se comprometendo. A culpa � dos pais?
<br>Claro que n�o. A cada um basta a sua consci�ncia. Se o homem n�o desejar
<br>multiplicar-se em amor, a cada dia mergulhar� em si mesmo, no seu ego�smo,
<br>esquecido de que a Humanidade � a nossa fam�lia.
<br>� Querida amiga, muito venho aprendendo com a querida irm�. Lugares
<br>fant�sticos tenho conhecido, um aprendizado presenteado por Deus.
<br>Nessa escalada de conhecimento, tive a oportunidade de conhecer o crescimento
<br>do Esp�rito, as fases da sua evolu��o, e, diante de fatos t�o naturais,
<br>percebi que o que complica tudo � a nossa ignor�ncia. Portanto, Marry, feliz
<br>o homem que, ainda preso ao corpo f�sico, divisa o mundo maravilhoso do
<br>Esp�rito e que tudo faz para tornar-se melhor, porque nada � t�o concreto
<br>como a separa��o alma e corpo. Que nesse momento o homem esteja preparado
<br>para uma nova etapa de vida.
<br>� Nossa preocupa��o, Luiz, vem a ser com aquele esp�rita que, mesmo
<br>crendo, nada est� fazendo para mudar seus h�bitos milenares. Vive queixando-
<br>se, melindrando-se, atacando, enfim, chega � Doutrina mas n�o tem
<br>tempo para dedicar-se a ela. Quando crian�a, dizem os pais: "coitadinho, �
<br>t�o pequeno para ter encargos espirituais!" Se � jovem, os pais comentam:
<br>"� muito novo para ter responsabilidades, est� no auge da mocidade, tem
<br>necessidade de aproveitar bem a vida." Se est� com trinta, quarenta anos,
<br>pensa: "como dedicar-me a Deus, se n�o encontro tempo? Trabalho demais
<br>para acumular bens, e depois, tamb�m quero aproveitar a vida, viajar, sair �
<br>noite, porque sou ainda jovem." Se est�o velhos, dizem: "coitado de mim,
<br>cansado, alquebrado, doente, como servir a Deus? Sair � noite? Nunca! E o
<br>sono? Como velho sente sono!... Estou com o corpo cansado, as pernas
<br>doentes, a vista fraca..." O verdadeiro trabalhador do Cristo n�o envelhece.
<br>
<br>E assim, crian�as, jovens e velhos caminham pela estrada da vida, mas n�o
<br>encontram coragem para colocar os p�s nas pegadas do Mestre Jesus, �nico
<br>caminho onde o homem aprende a amar a Deus e ao pr�ximo. Infelizmente,
<br>muitos ainda n�o encontraram tempo, e as desculpas s�o sempre as mesmas:
<br>falta de tempo e problemas familiares. Ao chegar o grande dia, quando chamados
<br>a prestar exame dos anos que ficaram na universidade do plano f�sico,
<br>quanta vergonha ao dizerem: "fiz t�o pouco, ignorei a oportunidade ofertada
<br>por Deus", ou "nada fiz de bom, apenas vivi no plano f�sico, preocupado
<br>com os bens materiais, com a fam�lia e com os meus encargos sociais. Somente
<br>isso. Comi, vesti-me, aproveitei a vida, viajei, enfim, gozei as f�rias
<br>que tinha direito na mat�ria. N�o sabia que vim ao plano f�sico para crescer
<br>em moralidade e em intelig�ncia..."
<br>
<br>� Que cara de bobo a gente faz quando isso acontece! E o pior � que
<br>isso ocorre com quase todos os encarnados.
<br>� Luiz, o homem brinca com o amor de Deus. Quando o amor �
<br>demais, o homem n�o lhe d� o real valor. Os Esp�ritos do Senhor v�m ao
<br>plano f�sico, buscam os n�cleos de ora��o e pregam as palavras de Deus.
<br>� Mesmo assim, poucos s�o os que as ouvem e as praticam.
<br>� As coisas materiais cegam os fracos e estes, distantes de Deus,
<br>deixam de escrever uma bela hist�ria de suas vidas.
<br>Aproveitei o momento para apreciar o lugar onde est�vamos, que era
<br>lindo, muito lindo.
<br>
<br>
<br>Cap�tulo XIV
<br>AS MORADAS DA CASA DO PAI
<br>
<br>
<br>Enquanto apreci�vamos o local, aproximaram-se de n�s dois Esp�ritos:
<br>Mane de la Trinit� e Paul. Marry, com muito respeito, reverenciou-os.
<br>
<br>� Trinit� e Paul, este � Luiz S�rgio, um aluno da Universidade Maria
<br>de Nazar�, que sempre leva para o plano f�sico as li��es aqui recebidas.
<br>Cumprimentei-os e a irm� Trinit� sorriu, perguntando-me:
<br>
<br>� Gostou dos nossos laborat�rios?
<br>� Irm�, agradecido sou a Deus pela beleza e bondade do Seu cora��o.
<br>Foi muito bom acompanhar o crescimento do ser criado por Deus. Ao
<br>estudar os reinos da natureza, curvei-me diante das pedras, pois Deus � t�o
<br>sublime que tirou das lascas das pedras os filhos de Abra�o, conforme a
<br>passagem b�blica.
<br>� Sim, Luiz � disse Paul �, da pedra sai a luz e a luz caminha at� a
<br>eternidade. Por isso, as moradas do homem se iniciam pelo alicerce, porque
<br>o homem come�ou do infinitamente pequeno, at� atingir o topo, a plenitude
<br>da vida.
<br>� Marry, aqui estamos para convid�-los a visitar nossas depend�ncias,
<br>onde teremos o prazer de receb�-los � falou Trinit�.
<br>
<br>Minhas pernas estavam tr�mulas de emo��o, diante daqueles Esp�ritos
<br>t�o iluminados. Eles flutuavam, pareciam p�ssaros, e nos olhos tinham a luz
<br>da sabedoria. Marry, compreendendo a minha emo��o, enla�ou meu ombro,
<br>dizendo:
<br>
<br>� Luiz S�rgio, sabemos que Deus chama o obreiro quando ele est�
<br>pronto para o trabalho.
<br>� Sempre foi assim, irm� � falou Trinit�. Mois�s foi preparado por
<br>Deus, e levou anos para completar a obra para a qual foi chamado. Jo�o
<br>Batista, que foi Elias, tamb�m teve um caminho longo de ren�ncias e de lutas.
<br>Em nenhum momento, podemos imaginar o caminho dos homens escolhidos,
<br>como f�cil. Jesus levou trinta e tr�s anos preparando-Se para a vida messi�nica.
<br>E Ele � o Governador da Terra... Paulo de Tarso primeiramente foi um fiel
<br>seguidor das leis moisaicas, mas no dia em que Jesus o chamou, ele n�o ficou
<br>dando desculpas: "eu n�o posso, sou um homem imperfeito para trabalhar ao
<br>lado dos Seus leais ap�stolos". Allan Kardec n�o era jovem, quando os
<br>Esp�ritos do Senhor lhe apresentaram o belo trabalho da Codifica��o, nem
<br>por isso sentiu-se incapaz.
<br>� Luiz, na escolha de um mission�rio � falou Paul �, n�o se leva em
<br>conta os anos que ele tem, mas sim se est� apto a servir em nome do Pai.
<br>Como Deus prepara os mission�rios por v�rios anos, tamb�m chama os mais
<br>jovens ainda bem cedo. Foi o caso de Jo�o Evangelista, de Marcos, o amigo
<br>de Pedro, do evangelista Lucas. Todos eram jovens. Ant�nio de P�dua, muito
<br>jovem, iniciou o trabalho do Cristo. Joana d'Arc, a grande m�dium francesa,
<br>t�o bem cumpriu sua tarefa. Vicente de Paulo, com vinte e poucos anos,
<br>tornou-se um ap�stolo da caridade. Teresa de Lisieux tornou-se uma serva
<br>do Cristo, bem jovem, e como dignificou a sua miss�o! Francisco de Assis,
<br>jovem milion�rio, tudo renunciou por Jesus. Na Doutrina Esp�rita, tamb�m
<br>alguns jovens muito dignamente a serviram: as senhoritas Japhet, Julie e
<br>Caroline Baudin, Elisabeth d'Esp�rance, que bem pequena falava com os
<br>Esp�ritos e na juventude tornou-se uma das maiores m�diuns de efeitos f�sicos
<br>e de materializa��o, todas souberam cumprir com sua tarefa. Tamb�m a
<br>m�dium de Katie King, Florence Cook, que teve not�vel participa��o na
<br>
<br>hist�ria do Espiritismo. Igualmente a m�dium do Conde Rochester, Wera
<br>Krijanowsky. Est� vendo, Luiz S�rgio? O Esp�rito n�o tem idade, tem � responsabilidade,
<br>e feliz aquele que, quando chamado, est� pronto para prosseguir
<br>viagem. N�o somente esses nomes fizeram a hist�ria do Espiritismo.
<br>Ainda jovem, o querido Leon Denis e Camille Flammarion foram chamados.
<br>No Brasil, Zilda Gama, Francisco C�ndido Xavier, Divaldo Franco, Ivonne
<br>Pereira e o querido Leopoldo Cirne, que aos vinte e cinco anos de idade foi
<br>eleito vice-presidente da Federa��o Esp�rita Brasileira e aos trinta anos, seu
<br>presidente. E assim muitos outros que, mesmo vestindo uma indument�ria
<br>nova, n�o se furtaram a ouvir a voz do Cristo. Portanto, Luiz, quando voc�
<br>ouvir o trov�o das cr�ticas ao seu trabalho, por ter sido jovem no mundo
<br>f�sico, recorde que o trabalho s� aparece quando o trabalhador est� pronto.
<br>Se existiu um Judas Iscariotes, que se ofereceu para ser ap�stolo, mas n�o
<br>estava preparado para isso, ele � apenas uma gota no oceano e serve de
<br>li��o para todos n�s, que, em qualquer lugar, s� devemos nos apresentar
<br>quando chamados. Esta passagem lembra Jesus pregando sobre os �ltimos
<br>lugares. Ningu�m deve desejar aparecer se n�o foi chamado. Voc�, jovem,
<br>h� muito vem prestando trabalho ao seu pr�ximo. Prossiga, e nunca deixe
<br>que algo o atinja; por mais pesado que seja o tronco de madeira colocado
<br>por mentes perturbadas em seu caminho, transforme-o, com paci�ncia, em
<br>uma cruz, como fez Jesus no Calv�rio. Carregue com coragem e dignidade a
<br>sua cruz, sem jamais deix�-la � beira do caminho. Nada pode perturbar o
<br>seu trabalho, muitos esperam por suas narra��es. Hoje, quando presenciamos
<br>uma juventude t�o sem Deus, buscamos alguns jovens e vemos que eles
<br>voltaram a ter esperan�as, gra�as a alguns dos seus livros.
<br>
<br>� Obrigado, muito obrigado. Fico feliz, porque tudo fa�o para n�o decepcionar
<br>aqueles que em mim confiam. Entretanto, muitas vezes, chega o cansa�o
<br>e sinto que mais uma vez serei enterrado no t�mulo da morte, tantas e tantas as
<br>preocupa��es que �s vezes me atingem. Mas, gra�as a Francisca Theresa, que
<br>nos mostra um caminho estreito, onde o perd�o � uma bela can��o de esperan�a,
<br>prossigo viagem, orando para que Jesus possa me amparar quando a minha
<br>cruz pesar demais em meus ombros. Confesso que �s vezes me sinto muito fraco
<br>diante de fatos que ocorrem, que jamais podemos aceitar.
<br>
<br>� Sabemos disso e oramos sempre a Deus por todos aqueles que se
<br>propuseram a levar as palavras do amor ao plano f�sico.
<br>Nessa altura, meus olhos n�o contiveram mais as l�grimas. E Marry,
<br>carinhosamente, mais uma vez me envolveu com seus bra�os carinhosos.
<br>
<br>� Marry � falou Paul �, a vida daqueles que lutam na estrada do
<br>Cristo � repleta de surpresas, e feliz aquele que estiver sempre ligado com o
<br>Alto. Pode chover granizo, podem surgir v�rios empecilhos, mas o trabalhador
<br>do Senhor prossegue viagem.
<br>� Vamos, agora, dar uma chegada a nossa faculdade, convidou-nos
<br>Trinit�.
<br>Logo divisamos um belo pr�dio azul bem claro, cujas portas brancas
<br>ofereciam-nos uma bela passagem. Paul conversava com Marry. Trinit� orava
<br>baixinho e eu, confesso, estava por demais impaciente. Aquela faculdade
<br>era muito singela, pois o branco sobressa�a pela beleza das flores, as mais
<br>belas que j� hav�amos visto. Fomos recebidos por Fani, que, sorridente, nos
<br>cumprimentou. Trinit� adentrou aquele lugar com tanta naturalidade, que cheguei
<br>� conclus�o de que ela ali morava. Eu tudo examinava. Os amplos sal�es
<br>continham tantos aparelhos que me agu�aram a curiosidade. A ala de
<br>circula��o era toda decorada por belos quadros, e todos muito coloridos.
<br>Reparando meu interesse, Paul me perguntou:
<br>
<br>� Gosta de arte?
<br>� Adoro. E depois, estes quadros s�o t�o coloridos, que me transportam
<br>para dentro deles. Eles me parecem estar em terceira dimens�o.
<br>� Luiz, � medida que o homem vai descobrindo o mundo espiritual,
<br>sua vis�o adquire maior nitidez, dando-lhe condi��o de enxergar melhor �
<br>disse-me Trinit�.
<br>Continuei admirando aqueles quadros e cada um deles me oferecia
<br>uma hist�ria. Era como se fossem transformando-se em um filme.
<br>
<br>� Por que, Marry, isso est� acontecendo comigo?
<br>
<br>� A irm� Trinit� j� lhe explicou: voc� est� vendo al�m do quadro, a
<br>hist�ria de cada pintor.
<br>Sorri.
<br>
<br>� E por qu�? Para que isto vai-me servir?
<br>Pensei, naquele momento, que aqueles tr�s Esp�ritos tiveram pena da
<br>minha ignor�ncia, pois somente abaixaram a cabe�a.
<br>Logo est�vamos em um audit�rio, onde uma m�sica suave invadia todo
<br>
<br>o ambiente. Foram adentrando o local v�rias pessoas, que deviam ser alunos,
<br>pois, como n�s, a tudo examinavam. Um instrutor subiu ao palco, fez a
<br>prece inicial e depois nos p�s a par do que ir�amos ver:
<br>� Irm�os, sejam bem-vindos � nossa faculdade. Estamos aqui para
<br>conhecer as v�rias moradas da casa do Pai.
<br>Nisso, ele apertou um bot�o e surgiu, em tela de propor��es gigantescas,
<br>o Universo em toda a sua grandeza. Na proje��o ele nos mostrou as
<br>condi��es diferentes dos mundos: uns, adiantados, outros, na inferioridade
<br>dos seus habitantes. Alguns eram bem inferiores � Terra, f�sica e moralmente.
<br>As in�meras casas do Pai, as moradas, pairavam no Universo, oferecendo-
<br>nos uma paisagem lind�ssima. E, como se transportados para cada uma delas,
<br>�amos conhecendo a evolu��o do Esp�rito, a passagem pelos tr�s reinos
<br>e depois, bem n�tido, vimos o homem, mal saindo da inoc�ncia, receber de
<br>Deus a chave do "para�so", o Universo. Nesse momento, o homem pode
<br>deixar aflorar as suas tend�ncias. A�, torna-se obrigat�ria sua descida ao
<br>mundo f�sico, para aprender nas escolas dos mundos materiais. O simbolismo
<br>de Ad�o e Eva narra o in�cio das vidas nos planos f�sicos, em planetas
<br>mais inferiores do que a Terra, as encarna��es na Terra e tamb�m em outros
<br>mundos f�sicos.
<br>
<br>Em dado momento, o instrutor parou para nos explicar o porqu� da
<br>explora��o do para�so, isto �, do Universo, ap�s o Esp�rito ter adquirido o
<br>livre-arb�trio: � que a viagem pelo Universo � o pr�mio dado por Deus aos
<br>Esp�ritos que conclu�ram o curso nos reinos da natureza. Quando estes rece
<br>
<br>
<br>
<br>bem o livre-arb�trio, isto �, a maioridade, ganham do Pai uma viagem para
<br>que cada um conhe�a as belezas do Universo. Mas � a� que tudo come�a: as
<br>tend�ncias de cada um podem aflorar e dar-se a queda. O homem escolheu
<br>na �rvore da vida a fruta da dor ou a da felicidade. Uns foram levados para
<br>mundos melhores; outros, para o mundo que as suas tend�ncias escolheram.
<br>
<br>Vimos na tela os mundos primitivos e constatamos que todos os Esp�ritos
<br>passam por eles. S� que, de acordo com as suas tend�ncias, os mundos
<br>se diferenciam. Uns v�o para mundos mais afortunados, outros para mundos
<br>onde ainda existem os sofrimentos. Nesse filme, ainda constatamos que todos
<br>os Esp�ritos possuem a forma humana, n�o vimos nenhum ser anormal.
<br>Parece que o instrutor captou meu pensamento, pois logo falou que se um
<br>Esp�rito precisar se deslocar de um mundo f�sico para outro � preste aten��o:
<br>mundo f�sico e n�o espiritual �, se precisar deslocar-se de um mundo
<br>f�sico para outro mundo, quem faz a viagem tem de ir equipado com vestes
<br>apropriadas ao mundo que ser� visitado. Talvez por isso. alguns terr�queos
<br>dizem que v�em extraterrestres. Se isso acontece, a forma deles tem de ser a
<br>humana. S� que eles, ou n�s do planeta Terra, se formos a outro planeta,
<br>teremos de ir tamb�m equipados. Pensei: "j� imaginaram se astronautas aparecerem
<br>para um campon�s, em pleno sert�o do Brasil? Ir� pensar que n�o
<br>s�o homens, e contar� hist�rias de que viu homens diferentes. E n�o estar�
<br>mentindo, pois aquela roupa dos astronautas, com o seu capacete, assusta
<br>qualquer mortal..."
<br>
<br>O instrutor nos falou, ainda, que as tend�ncias s�o o passaporte para a
<br>nossa morada. Fixei bem a tela e vimos as encarna��es primitivas, nos mundos
<br>bem prim�rios. Tamb�m ficou bem claro que o Esp�rito n�o retroage,
<br>mas que o perisp�rito pode deformar-se, porque em in�meras moradas da
<br>Casa do Pai, vimos Esp�ritos completamente perturbados, tanto nos mundos
<br>f�sicos, quanto tamb�m nos mundos espirituais. Muitos desses Esp�ritos rolavam,
<br>como se n�o tivessem um corpo, e isso s� aconteceu porque o Esp�rito
<br>n�o buscou uma bela morada.
<br>
<br>Com que emo��o divisamos o nosso planeta! Pareceu-me que o Cristo
<br>pairava no ar, segurando o globo terrestre, e presenciei uma Humanidade
<br>
<br>
<br>ainda endurecida, sem amor e sem f�. Mas tamb�m vimos a luta do Cristo
<br>para salvar um maior n�mero de pessoas.
<br>
<br>O instrutor nos mostrou a escalada do Esp�rito em forma��o, quando
<br>� colocada a ess�ncia espiritual na pedra. Depois, colocando no vegetal tamb�m
<br>a ess�ncia espiritual e logo o Esp�rito ficando adulto, o princ�pio espiritual
<br>adquirindo uma intelig�ncia rudimentar. Depois, o homem recebendo a
<br>consci�ncia com as leis de Deus nela grafadas.
<br>
<br>Quando Allan Kardec perguntou onde estavam as leis de Deus, os
<br>Esp�ritos responderam, na quest�o 621 de O Livro dos Esp�ritos: "Na consci�ncia."
<br>Depois, ainda temos o complemento da quest�o:
<br>
<br>a) Visto que o homem traz em sua consci�ncia a lei de Deus, que
<br>necessidade havia de lhe ser ela revelada?
<br>
<br>"Ele a esquecera e desprezara. Quis ent�o Deus lhe fosse lembrada".
<br>
<br>E quem veio fazer esse trabalho? Jesus. Como o Mestre reavivou a
<br>lembran�a de cada uma delas, atrav�s dos Seus in�meros exemplos de verdadeiro
<br>filho de Deus!
<br>
<br>Presenciamos, ainda, os seres vivos progredindo junto aos mundos
<br>onde habitam. E com que alegria acompanhamos a evolu��o dos mundos e
<br>dos seres vivos, desde o instante em que se aglomeraram os primeiros �tomos
<br>que serviram � sua constitui��o! Ali, ficava bem claro que tudo o que se
<br>encontra no caminho da evolu��o segue paralelamente ao progresso do homem,
<br>ao dos animais, ao dos vegetais, enfim, de tudo o que comp�e o mundo
<br>em que vivemos. Tudo progride: o homem e tudo o de que ele precisa.
<br>Naquele recinto, o Universo, a Casa do Pai, descortinava-se diante dos nossos
<br>olhos, deslumbrados com tanta luz e tamb�m pela bondade de Deus.
<br>
<br>O instrutor nos falou sobre os tr�s reinos da Natureza, sobre o homem,
<br>criatura de Deus, criado para ser feliz, para desfrutar de todas as propriedades
<br>do Senhor. Por sua ignor�ncia, retarda sua volta ao "para�so".
<br>Quando livre da mat�ria pesada, entretanto, encontra a paz. A proje��o ia-
<br>nos revelando as moradas da Casa do Pai. Em dado momento, divisamos os
<br>tribunais, para onde s�o levados os nossos livros da vida. Vimos, diante dos
<br>
<br>
<br>nossos olhos, as moradas dos planos espirituais e constatamos que todos os
<br>mundos espirituais foram criados antes dos mundos f�sicos. Portanto, leitor,
<br>J�piter tem o seu plano espiritual, morada de Esp�ritos errantes, sim, errantes,
<br>porque ainda ter�o de adentrar a mat�ria para progredirem. Em cada
<br>morada, seja em que planeta for, existe o firmamento, o mundo espiritual,
<br>onde os Esp�ritos se preparam para o seu retorno � mat�ria.
<br>
<br>O filme ainda estava diante dos nossos olhos, quando perguntei a mim
<br>mesmos, em voz alta: "Em quantos mundos j� vivemos?" Todos me olharam.
<br>Sacudi a cabe�a, dizendo: "Desculpem-me."
<br>
<br>Marry sorriu, dizendo-me, baixinho.
<br>
<br>� � mesmo, Luiz, quantas moradas j� tivemos na Casa do Pai, mas
<br>ningu�m pensa nisso. S� daremos valor � Sua bondade quando voltarmos
<br>para nossa real morada.
<br>� nossa frente, divis�vamos o Universo, a Casa do Pai. A imensa tela
<br>mostrou as diversas moradas, desde os mundos primitivos, onde se elaboram
<br>as ess�ncias espirituais, que ali s�o depositadas. Estes mundos elaboram
<br>as ess�ncias, seja na parte espiritual ou na material; os dois mundos se fundem,
<br>na grande responsabilidade como moradas da Casa do Pai. Nesses
<br>mundos primitivos, as ess�ncias desenvolvem-se e progridem, at� chegar a
<br>�poca prop�cia ao aparecimento do homem, Esp�ritos que faliram. Como
<br>todos os Esp�ritos, continuar�o nesse planeta ou ser�o dele banidos, quando
<br>essa morada passar a outro est�gio. S� sabemos que at� l� o planeta estar�
<br>servindo de morada para o princ�pio espiritual.
<br>
<br>E ali tivemos mais uma aula referente � desmaterializa��o das ess�ncias
<br>e sua passagem pelo mundo espiritual. J� tratei do assunto, n�o
<br>ser� necess�rio repeti-lo. Os mundos onde se opera a prepara��o das
<br>ess�ncias, dos princ�pios inteligentes, tamb�m foram-nos mostrados, assim
<br>como outros mundos. Nos mundos felizes, vimos as pessoas respeitando
<br>o seu pr�ximo e exuberante natureza compondo aquela morada.
<br>Todos s�o amigos; ali os homens n�o morrem, sofrem apenas uma transforma��o
<br>ao passarem para outro est�gio mais adiantado. O corpo ma
<br>
<br>
<br>
<br>terial, sendo menos compacto, goza de uma lucidez que lhe proporciona
<br>quase total liberdade. Os Esp�ritos em mundos felizes lutam pela pr�pria
<br>melhoria e tudo fazem para livrar-se das imperfei��es, e isto � o
<br>que os diferencia dos mundos de expia��o e provas, onde a viol�ncia
<br>e a maldade, a cada dia, fazem v�timas. Nos mundos felizes, os
<br>sentimentos de amor e de fraternidade unem todos os homens e os
<br>mais fortes ajudam os mais fracos. As conquistas sociais s�o correspondentes
<br>� intelig�ncia de cada um; n�o existe mis�ria, pois ningu�m
<br>ali se encontra em expia��o.
<br>
<br>Na tela, surgiram os mundos flu�dicos, destinados a Esp�ritos sublimados,
<br>aqueles que nunca faliram. � destes mundos que partem os grandes
<br>socorros aos outros, menos evolu�dos; � neles que se encontram os Esp�ritos
<br>prepostos, os auxiliares de Deus. Quando chega a estes mundos, o Esp�rito
<br>j� n�o sofre qualquer transforma��o. � o �nico mundo onde n�o existe a
<br>parte material. Como presenciamos na tela, todos os outros mundos: felizes,
<br>regeneradores, de expia��o e provas, primitivos, t�m o firmamento e a parte
<br>material. De todos os mundos, somente os celestes e os flu�dicos s�o compostos
<br>de Esp�ritos que j� atingiram a vida plena, os puros Esp�ritos.
<br>
<br>O que me prendeu a aten��o foram os mundos regeneradores, para
<br>onde o nosso planeta caminha. Nesses mundos, o Esp�rito est�-se libertando
<br>de uma parte da mat�ria perec�vel; o corpo f�sico � um pouco mais
<br>leve, sem, contudo, livrar-se da morte, da descida ao t�mulo. � um mundo
<br>a caminho da felicidade, mas ainda bem perto do mundo expiat�rio.
<br>No mundo de regenera��o, os homens ainda est�o sujeitos �s leis que
<br>regem a mat�ria. � um mundo sem viol�ncia, os homens est�o menos
<br>orgulhosos, s�o mais d�ceis e amorosos. Nos mundos regeneradores, os
<br>homens j� descobriram Deus, e Lhe rendem respeito, mas os homens
<br>ainda s�o carnais e fal�veis. O mal ainda pode domin�-los, o que pode
<br>lev�-los a cair novamente em mundos de expia��o, quando sofrem terr�veis
<br>provas. Porisso, o Esp�rito sempre ter� de lutar pela perfei��o, isto
<br>�, acompanhar o progresso, que � uma lei da natureza. Se podemos nos
<br>tornar felizes, por que negligenciar o chamado de Deus?
<br>
<br>
<br>O instrutor nos falou ainda que o Espiritismo ensina o homem a descobrir
<br>Deus. Em outras religi�es, o homem julga que Jesus � Deus e que basta
<br>am�-Lo para salvar-se, basta arrepender-se para n�o pagar o que fez. Na
<br>Doutrina Esp�rita, aprendemos que teremos de prestar contas a Deus por
<br>tudo o que fizermos de bom ou de mau, e que n�o basta dizer "Senhor,
<br>Senhor", para entrar no reino de Deus. Quando o homem torna-se esp�rita
<br>de fato, ele encontra Deus, fica conhecendo as Suas leis e toma conhecimento
<br>de que, se as desrespeitou, ter� de pagar ceitil por ceitil. Portanto, quando
<br>nos tornamos verdadeiros esp�ritas, renunciamos a muitas coisas e passamos
<br>a ser mais caridosos, amigos, leais e repletos de miseric�rdia, n�o s� para
<br>com a fam�lia, como para com os amigos e tamb�m os que nos ofenderam.
<br>
<br>S� a Doutrina esclarece sobre a nossa responsabilidade com a vida,
<br>porque gra�as � reencarna��o � que o Esp�rito pode pagar os delitos de suas
<br>vidas passadas. O esp�rita que n�o procurar melhorar-se pode admirar a
<br>Doutrina Esp�rita, mas n�o a compreende ou n�o a deseja como c�digo de
<br>vida. Ao esp�rita foi dado desvendar os mist�rios da morte. Ele toma conhecimento
<br>de onde veio e para onde vai; quais s�o as suas responsabilidades
<br>para com o seu Criador; aprende que Jesus � um filho de Deus, como todos
<br>n�s; que esse Pai, que chamamos de Deus, tem o Universo como Casa; que
<br>aqueles que est�o encarnados neste planeta, chamado Terra, n�o s�o seus
<br>�nicos habitantes, pois em cada ponto do Universo h� uma morada; que n�o
<br>lhe � permitido brincar com os Esp�ritos, pois, conforme o Pref�cio de O
<br>Evangelho Segundo o Espiritismo, eles formam um imenso ex�rcito que
<br>se movimenta ao receber as ordens do seu comando, espalham-se por
<br>toda a superf�cie da Terra e, semelhantes a estrelas cadentes, v�m iluminar
<br>os caminhos e abrir os olhos aos cegos.
<br>
<br>Em dado momento, o instrutor indagou:
<br>
<br>� Como pode uma pessoa chegar ao Espiritismo e continuar repleta
<br>de ego�smo, seja ouviu as orienta��es dos Esp�ritos?
<br>Em seguida, repetiu o que est� escrito no Pref�cio de O Evangelho
<br>Segundo o Espiritismo:
<br>
<br>
<br>As grandes vozes do C�u ressoam como sons de trombetas, e os
<br>c�nticos dos anjos se lhes associam. N�s vos convidamos, a v�s homens,
<br>para o divino concerto. Tomai da lira, fazei un�ssonas vossas vozes,
<br>e que, num hino sagrado, elas se estendam e repercutam de um
<br>extremo a outro do Universo.
<br>
<br>Homens, irm�os a quem amamos, aqui estamos junto de v�s. Amaivos,
<br>tamb�m, uns aos outros e dizei do fundo do cora��o, fazendo as
<br>vontades do Pai, que est� no C�u: Senhor! Senhor!... e podereis entrar
<br>no reino dos C�us.
<br>
<br>E continuou:
<br>
<br>� O esp�rita que n�o reformular o seu modo de viver, que n�o jogar
<br>fora toda a in�til bagagem de mil�nios, n�o vestiu a t�nica da humildade.
<br>Presenciamos alguns esp�ritas distantes da real proposta da Doutrina, que �
<br>tornar o homem melhor, cada vez melhor. Uns dizem que s�o esp�ritas s�
<br>porque buscam os passes, outros, porque s�o m�diuns, ainda outros, porque
<br>pertencem � diretoria da Casa. Mas a Doutrina n�o � s� isso: � mudan�a, �
<br>tornar-se manso e pac�fico, pobre de esp�rito, misericordioso, � tomar o seu
<br>caminho um c�ntico de caridade. As moradas est�o a�, � nossa espera, elas
<br>s�o propriedades de Deus e, como filhos que somos d'Ele, temos direito �
<br>Sua heran�a, que � todo o Universo. Tamb�m temos a liberdade de escolher
<br>onde iremos morar. Se renegarmos o nosso planeta Terra e partirmos para
<br>um bem inferior, a escolha ser� nossa.
<br>� dever de todos os Esp�ritos trabalhar pela reforma moral das criaturas.
<br>Devemos dar o p�o e o agasalho aos pobres, mas como? A caridade
<br>come�a em casa!... Est� nas m�os dos esp�ritas a transforma��o de cada um
<br>que bater �s portas da Casa Esp�rita, pondo fim ao fanatismo, que j� fez
<br>muitas v�timas. Aos esp�ritas n�o � dado cair nos mesmos erros das antigas
<br>religi�es, porque nelas existem a idolatria e o temor a Deus. Na Doutrina,
<br>existe o esclarecimento de que fomos criados simples e ignorantes, e caminhamos
<br>para a evolu��o. A medida que o homem vai conhecendo a origem
<br>da cria��o do Esp�rito, ele � apresentado a um Deus bom e justo. Longe do
<br>
<br>
<br>Espiritismo, o homem julga que Jesus e Deus s�o o Esp�rito Santo, quando
<br>quem estuda a Doutrina sabe que Deus � uno e indivis�vel, e que Jesus foi
<br>criado simples e ignorante, como todos os Seus irm�os. Enquanto Ele atingiu
<br>a perfei��o plena, n�s, os que ainda estamos no planeta Terra, teremos muito
<br>ainda que aperfei�oar o nosso Esp�rito, jogando fora todas as nossas imperfei��es,
<br>uma delas, o ego�smo.
<br>
<br>� O Deus que a Doutrina Esp�rita nos apresenta n�o castiga nem
<br>perdoa, porque a Sua perfei��o � infinita; Ele, ao outorgar aos Esp�ritos o
<br>livre-arb�trio, procura n�o intervir nas decis�es dos Seus filhos, mas nem por
<br>isso nos deixa �rf�os. O homem encontra a salva��o no Mestre Jesus Cristo,
<br>que veio at� o plano f�sico para ensinar � Humanidade o caminho da perfei��o.
<br>Portanto, ao esp�rita n�o s�o permitidos julgamentos, absolvi��o ou
<br>condena��o, porque ele bem conhece a lei de a��o e rea��o. Por isso se
<br>pede tanto o estudo da Doutrina Esp�rita, porque, � medida que o homem a
<br>compreende, vai fazendo as suas descobertas, e uma delas � amar a Deus
<br>sobre todas as coisas. Se amamos os nossos defeitos e nos apegamos a eles,
<br>distantes estamos do Pai. Se dizemos "Senhor, Senhor", e n�o procuramos
<br>viver as leis de Deus, dentro dos preceitos crist�os, continuamos repletos de
<br>defeitos e pronunciando o nome do Senhor em v�o. Em outras religi�es,
<br>onde o Cristo � louvado, basta clamar perd�o e se converter a esta ou �quela
<br>religi�o para estar salvo; o passado cruel, as maldades pret�ritas, tudo �
<br>esquecido, e de um dia para outro o criminoso arrependido pode at� tornar-
<br>se l�der de muitas e muitas pessoas. Na Doutrina Esp�rita, a realidade � outra:
<br>Jesus, o Cristo de Deus, � o Caminho, a Verdade e a Vida. No Seu caminho,
<br>iniciamos a caridade ao pr�ximo, que � o amor, a humildade, a paci�ncia e o
<br>respeito ao semelhante. A verdade � o Seu Evangelho de luz, de esperan�a,
<br>que tanto ensina o homem a viver as leis de Deus. O Cristo de Deus n�o �
<br>cat�lico, crente ou esp�rita. O Cristo de Deus � o Mestre, irm�o que veio ao
<br>plano f�sico indicar o caminho para vivermos dentro dos preceitos divinos.
<br>Ele nos ofereceu a li��o, ao sair do t�mulo, que ningu�m fica inerte numa
<br>campa, decompondo-se. O que fica � o corpo carnal, mas este � apenas
<br>uma veste que se desfaz. Ao sair do t�mulo, o Cristo nos ensinou que a morte
<br>n�o existe, que a vida que Deus ofertou ao homem � eterna. Gra�as � bonda
<br>
<br>de de Deus, o homem tem a eternidade para se corrigir. Nem Deus nem
<br>Jesus podem livrar o homem dos erros cometidos; logo, n�o basta dizer
<br>"Senhor, Senhor", para ser salvo. A Doutrina Esp�rita assusta os fracos, porque,
<br>ao chegar a ela, eles se defrontam com a verdade, que mostra a todos
<br>n�s as imperfei��es da nossa alma. Muitos recuam, amedrontados; outros
<br>v�o seguindo a vida, enganando a si pr�prios, dizendo-se esp�ritas, nada
<br>fazendo pela pr�pria melhoria. Feliz o homem que ama o Cristo; que coloca
<br>os p�s nas Suas pegadas e junto a Ele reverencia a Deus como Pai amado
<br>que nos espera no fim do caminho para que, juntos, desfrutemos da vida
<br>plena.
<br>
<br>� A Doutrina Esp�rita ensina as verdades do Esp�rito. Apresenta-
<br>nos a um Jesus manso, cordeiro, que n�o fundou religi�o alguma, porque a
<br>Sua religi�o chama-se Amor. No dia em que o homem amar verdadeiramente,
<br>ele pertencer� � religi�o do Cristo. S� a� compreender� Deus, a Sua
<br>bondade e a Sua miseric�rdia. Muitos julgam que Deus seja injusto, que
<br>deixa o pobre ao relento e que d� aos poderosos conforto e alegria; um Deus
<br>que mata a m�e, deixando o filho �rf�o, ou que tira o filho do colo materno;
<br>um Deus que traz a doen�a, que tanto maltrata a crian�a e o velho. Bendita
<br>Doutrina Esp�rita, que n�o s� nos apresenta Jesus, o Cristo de Deus, como
<br>nosso irm�o mais velho, como nos apresenta a Deus, nosso Pai Todo-Poderoso,
<br>que nos ama e nos permite estar sempre em busca do aperfei�oamento
<br>dos nossos Esp�ritos, atrav�s do perd�o das encarna��es sucessivas!
<br>� O esp�rita sabe que o Cristo � o filho de Deus. N�o entendemos
<br>por que algumas religi�es aceitam que o Cristo seja uma fra��o de Deus, ou
<br>melhor, o pr�prio Deus, se encontramos no Antigo Testamento, no Eclesi�stico,
<br>Cap�tulo LI, vers�culo 14: Invoquei o Senhor, pai do meu Senhor,
<br>para que n�o abandone o dia da minha atribula��o e durante o dom�nio
<br>dos soberbos. Como � clara esta passagem do Eclesi�stico! O Espiritismo
<br>bem esclarece que Deus � o pai do Senhor Jesus. Mas � mais f�cil jogar tudo
<br>para o sobrenatural, do que buscar a verdade. Outra passagem do Eclesi�stico,
<br>Cap�tulo XV, diz: l4Deus criou o homem desde o princ�pio, e deixou-
<br>o na m�o do seu pr�prio ju�zo. i5Deu-lhe mais os seus mandamentos e os
<br>
<br>seus preceitos. 16Se quiserdes observar os mandamentos, e tu conserva
<br>
<br>
<br>res sempre a fidelidade que agrada. 17Ele p�s diante de ti a �gua e o
<br>
<br>fogo; lan�a a tua m�o ao que quiseres. Nenhuma religi�o prega tanto a
<br>reforma �ntima como a Doutrina Esp�rita, que faz com que o homem tome
<br>conhecimento da sua grande responsabilidade com a atual encarna��o. Quem,
<br>na Doutrina Esp�rita, n�o sabe o que � o livre-arb�trio? Neste vers�culo 17,
<br>do Cap�tulo XV do Eclesi�stico: ele p�s diante de ti a �gua e o fogo;
<br>lan�a a tua m�o ao que quiseres, isso fica bem claro, confirmando o que
<br>nos dizem os livros espirituais. Todos t�m a liberdade de escolha, a cada um
<br>basta a pr�pria consci�ncia. E sabemos que no �ntimo da consci�ncia, se
<br>desejar, o homem descobre as leis de Deus que nela est�o grafadas, lei que
<br>n�o � ele a d�-la a si mesmo, mas � qual, ao inv�s, deve obedecer. � a voz
<br>que o chama sempre a amar, a fazer o bem e a fugir do mal quando necess�rio,
<br>e que diz claramente aos ouvidos do seu cora��o: "faze isto, foge daquilo".
<br>O homem tem realmente uma lei escrita por Deus na sua consci�ncia;
<br>obedec�-la depende do homem, e segundo sua consci�ncia ser� julgado.
<br>
<br>� Os Esp�ritos do Senhor, atrav�s dos mensageiros, fazem agu�ar as
<br>lembran�as adormecidas em nossos Esp�ritos imperfeitos, por isso dizemos
<br>que nas outras religi�es o homem ainda n�o conhece os atributos de Deus,
<br>chegando at� a tem�-Lo, pois dizem que Ele castiga as nossas faltas. E o
<br>Consolador, a Doutrina Esp�rita, coloca o homem diante dos atributos de
<br>Deus e ningu�m fica indiferente a tanta bondade e justi�a. Mas se ficarmos
<br>apegados � letra, iremos sentir medo d'Ele, pois O julgaremos erradamente,
<br>pois iremos pensar que Ele mata, castiga e manda para o inferno ou o purgat�rio.
<br>Bendita Doutrina Esp�rita, que t�o bem esclarece a quem deseja conhecer
<br>as belezas do Universo, onde Deus, como Pai nosso, est� atento �
<br>nossa evolu��o.
<br>� O Cristo, como filho dileto do Senhor, nosso irm�o mais velho,
<br>pacientemente, a cada dia, nos repete as li��es de amor a Deus e a todas as
<br>Suas criaturas. Como pode algu�m pregar a desuni�o, o �dio e atacar o
<br>pr�ximo, dizendo-se crist�o, um soldado do Cristo? Quando Jesus esteve
<br>no plano f�sico, disse aos Seus acusadores: O meu reino n�o � deste mun
<br>
<br>do. Os reinos do plano f�sico precisam de ex�rcito para defend�-los. O reino
<br>do Cristo � de amor e de fraternidade. Aquele que se diz Seu seguidor, mas
<br>� duro com o pr�ximo, critica e ataca outras religi�es com palavras
<br>caluniadoras, n�o pode, de maneira alguma, dizer-se um ap�stolo do Senhor.
<br>Bendita Doutrina Esp�rita, que educa o homem e cujos adeptos n�o
<br>est�o armados da cr�tica, dizendo-se defensores do Cristo. Desde o momento
<br>em que tentamos defender algo, usando a viol�ncia, seja atrav�s de
<br>palavras ou de atos, estamos ferindo os preceitos divinos.
<br>
<br>� Aqui estamos, estudando as v�rias moradas da Casa do Pai, de
<br>cuja exist�ncia s� ficamos sabendo atrav�s da Doutrina Esp�rita. Por que �
<br>perguntar�o � inserimos nesse estudo a educa��o do homem? Simplesmente,
<br>porque o homem encarnado precisa conscientizar-se de que a vida
<br>f�sica � muito r�pida. Em vez de se preocupar em s� adquirir propriedades
<br>no mundo terr�queo, ele deve preocupar-se com uma moeda s�lida e luminosa
<br>no mundo espiritual, sendo essa a tarefa da Doutrina Esp�rita: educar o
<br>homem.
<br>� Existem Centros Esp�ritas, nesse imenso pa�s, cujos freq�entadores
<br>jamais abriram O Livro dos Esp�ritos! Como pode algu�m compreender a
<br>problem�tica do Esp�rito, sem conhecimentos doutrin�rios? E ainda h� quem
<br>pense que os Esp�ritos � que necessitam dos encarnados para se tornarem
<br>bons, como se todos os Esp�ritos fossem obsessores. N�o � bem assim. Os
<br>Esp�ritos v�m at� o plano f�sico para elucidar o homem sobre a vida e a
<br>morte. Para que isso aconte�a, sugerem os livros doutrin�rios, onde O
<br>Livro dos Esp�ritos � o mapa do caminho. Uma pessoa, para dizer-se
<br>esp�rita, precisa conhecer os ensinos dos Esp�ritos. Mas h� quem diga
<br>que o livro � dif�cil, outros que o seu Centro � freq�entado por pessoas
<br>humildes, sem capacidade para compreend�-lo. Se os esp�ritas s�o os
<br>primeiros a fazer propaganda negativa do livro, como algu�m ir� l�-lo? A
<br>finalidade desta nossa conversa � que levemos aos leitores do plano f�sico
<br>o chamado, para que, ao se interessarem pelo Espiritismo, o fa�am
<br>de uma maneira certa, buscando um Centro onde primeiro se estude,
<br>para depois se educar a mediunidade. Porque hoje, vemos pessoas sem
<br>
<br>qualquer conhecimento doutrin�rio ou medi�nico, sentadas diante de uma
<br>mesa, dizendo "receber Esp�ritos". O mediunismo ocorreu antes do Cristo.
<br>Depois, veio Kardec, que t�o bem elucidou o homem sobre a morte.
<br>Ainda ouvimos alguns esp�ritas dizerem que, ao "desenvolver" a
<br>mediunidade, o encarnado est� sendo caridoso para com os Esp�ritos.
<br>Lenda, apenas lenda. A finalidade do Espiritismo � moralizar o homem, e
<br>n�o os desencarnados. Ainda existem encarnados que julgam que Centro
<br>Esp�rita � apenas para tratar dos obsessores. N�o, n�o � s� isso, n�o
<br>pode ser s� isso. O Centro Esp�rita � um col�gio onde se deve estudar o
<br>Espiritismo. E � medida que o compreende, vai-se modificando. Aquele
<br>que est� no Centro Esp�rita s� procurando educar os Esp�ritos est� perdendo
<br>a oportunidade de se auto-educar. Todas as Casas Esp�ritas deveriam
<br>ser chamadas de Instituto de Cultura Esp�rita, para que mudasse
<br>
<br>o conceito equivocado que alguns t�m sobre o Espiritismo. Ele existe
<br>para fundir os dois planos num abra�o respeitoso e amigo. Hoje, ainda
<br>se v� Centros Esp�ritas que apenas fazem trabalhos de desobsess�o e
<br>"desenvolvimento medi�nico". � verdade, meus irm�os, desenvolvimento
<br>medi�nico, nada mais que isso. Seus m�diuns nunca leram O Livro
<br>dos M�diuns. Para qu�? � sempre dizem � eu trabalho tanto, ajudo os
<br>Esp�ritos! Precisamos dizer aos esp�ritas que parem um pouco de ca�ar
<br>fantasmas e vamos come�ar a ajudar o homem encarnado, que est� muito
<br>necessitado, por se encontrar avaro, ego�sta, maledicente, repleto de
<br>�dio. Vamos unir todos os que freq�entam os Centros, do presidente ao
<br>freq�entador mais humilde, vamos estudar para conhecer as leis morais e
<br>ver como elas se encontram t�o bem explicadas em O Livro dos Esp�ritos!
<br>Se o homem n�o se auto-educar, pode ter qualquer religi�o, que ela
<br>jamais lhe apresentar� Deus, porque n�o desejar� conhecer a beleza das
<br>leis morais. E para respeitar a Deus, o homem tem antes de aprender a
<br>estudar o livro onde est�o bem explicadas essas leis. Os esp�ritas t�m O
<br>Livro dos Esp�ritos; quanto �s outras religi�es, n�o sabemos. O Espiritismo
<br>n�o � uma divers�o, uma curiosidade feita para o homem, n�o! O
<br>Espiritismo n�o � para os m�diuns receberem aplausos, serem admirados,
<br>n�o! O Espiritismo n�o � um pedido de socorro do mundo espiritual
<br>
<br>para os encarnados, para que uma d�zia de pessoas eduquem os Esp�ritos
<br>sofredores, n�o � isso! Os esp�ritas t�m de compreender que a finalidade
<br>da Doutrina � educar o homem. � t�o f�cil entender essa Doutrina
<br>de luz, que veio ao plano f�sico para queimar a carne podre de ego�smo e
<br>de vaidade. � essa a Doutrina, que tanto nos agu�a a consci�ncia, pedindo-
<br>nos reforma, mudan�a de atitudes!
<br>
<br>No decorrer da exposi��o, o instrutor citou a quest�o 624 de O Livro
<br>dos Esp�ritos:
<br>
<br>624. Qual o car�ter do verdadeiro profeta ?
<br>"O verdadeiro profeta � um homem de bem, inspirado por Deus. Podeis
<br>reconhec�-lo pelas suas palavras e pelos seus atos. Imposs�vel � que Deus se
<br>sirva da boca do mentiroso para ensinar a verdade."
<br>
<br>� Portanto, qualquer pessoa que chegar � Casa Esp�rita precisa
<br>se evangelizar, e evangelizar-se n�o � apenas ler O Evangelho
<br>Segundo Espiritismo; n�o, n�o se trata disso. � preciso saber que
<br>nunca se pode colocar m�diuns desequilibrados em contato com os
<br>Esp�ritos. Criou-se o mito de que os Esp�ritos fazem milagres, e muitos
<br>v�o � Casa Esp�rita atr�s deles. Ir�o dizer: mas se convidamos as
<br>pessoas a buscarem os estudos, elas fogem do Centro. � melhor
<br>mesmo que se v�o, porque disse Jesus: Ai daqueles que brincarem
<br>com o Esp�rito Santo. O Espiritismo � uma porta que se abriu e
<br>atrav�s dela o homem encarnado se defronta com o esclarecimento
<br>do mundo espiritual. Um Centro Esp�rita n�o � um lugar qualquer, ele
<br>deve constituir-se em um hospital de almas, uma cl�nica de cirurgia
<br>pl�stica onde, ao estudar a Doutrina e coloc�-la em nossas vidas,
<br>vamos, pouco a pouco, ficando menos feios. Para que isso venha a
<br>acontecer, � precisamos urgentemente munir seus adeptos de ferramentas
<br>chamadas f�, humildade, perseveran�a e amor.
<br>� As moradas s�o in�meras e passamos por algumas somente, mas
<br>todos ter�o, um dia, uma bela morada na Casa do Pai. Comecemos hoje a
<br>grande caminhada.
<br>
<br>Ap�s breve pausa, continuou o instrutor:
<br>
<br>� Temos a certeza de que as Casas Esp�ritas do plano f�sico, transformadas
<br>em pequenos hospitais-escolas, abrigar�o sob seus tetos todos
<br>aqueles que desejarem evoluir. O trabalho se avoluma, � medida que se aproxima
<br>a grande transforma��o da Humanidade. A Casa do Pai � a imensidade
<br>do Universo.
<br>
<br>Cap�tulo XV
<br>O RESPEITO AOS MAIS VELHOS
<br>
<br>
<br>Os mundos estavam bem presentes diante de n�s, mas o meu cora��o
<br>bateu forte quando vi a nossa Terra de expia��o e provas. Olhei os outros
<br>rostos, todos apresentavam uma express�o de amor, muito amor, pelo planeta
<br>em que vivemos. Nesse momento, foi projetada a quest�o 625 de O
<br>Livro dos Esp�ritos:
<br>
<br>625. Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem,
<br>para lhe servir de guia e modelo?
<br>"Jesus."
<br>
<br>Para o homem, Jesus constitui o tipo da perfei��o moral a que a
<br>Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais
<br>perfeito modelo e a doutrina que ensinou � a express�o mais pura da lei
<br>do Senhor, porque, sendo ele o mais puro de quantos t�m aparecido na
<br>Terra, o Esp�rito Divino o animava.
<br>
<br>Quanto aos que, pretendendo instruir o homem na lei de Deus, o
<br>t�m transviado, ensinando-lhes falsos princ�pios, isso aconteceu por
<br>haverem deixado que os dominassem sentimentos demasiado terrenos e
<br>por terem confundido as leis que regulam as condi��es da vida da alma,
<br>com as que regem a vida do corpo. Muitos h�o apresentado como leis
<br>divinas simples leis humanas estatu�das para servir �s paix�es e dominar
<br>os homens.
<br>
<br>
<br>Meditando sobre a palestra, eu me indagava: por que querem transformar
<br>a Doutrina em "templos" apenas, e n�o em hospitais de almas, cujo
<br>m�dico, Jesus Cristo, veio � Terra para curar, se a finalidade da Doutrina
<br>Esp�rita � educar o homem, lev�-lo � perfei��o? Essa � a causa de, na Doutrina,
<br>n�o existirem pastores ou sacerdotes; existem irm�os, no mesmo n�vel
<br>evolutivo, lutando para tornarem-se melhores. A Casa verdadeira ensina a
<br>sua diretoria a sentar-se nos bancos de estudo e, junto aos aprendizes, tamb�m
<br>aprender, porque ningu�m � professor; Mestre, somente Ele, Jesus. Como
<br>uma diretoria omissa pode bem conduzir os estudos doutrin�rios? Para que a
<br>Casa seja um hospital de almas, deve possuir uma diretoria disciplinada,
<br>cuja presen�a seja constante no Centro Esp�rita. Trabalho, estudo e disciplina
<br>n�o fazem mal algum. A neglig�ncia, a falta de amor � Doutrina, sim,
<br>acabam com qualquer Centro Esp�rita.
<br>
<br>Interessante � que, enquanto ouv�amos a palestra, na tela eram exibidas
<br>todas as Casas do Pai, como um convite � evolu��o.
<br>
<br>O instrutor encerrou sua exposi��o com uma prece, mas n�s ainda ali
<br>permanecemos, assistindo a v�rios filmes sobre o Universo, sobre a necessidade
<br>de o homem buscar a perfei��o, e o grande rem�dio � a Doutrina Esp�rita.
<br>
<br>
<br>Marry convidou-me a nos retirarmos e, mais uma vez, olhei aquele
<br>lugar lindo, realmente maravilhoso, e agradeci a Deus pelo chamado.
<br>
<br>� Marry, n�o entendi direito: fomos l� e tomamos conhecimento das
<br>in�meras moradas, mas depois foi feita uma prega��o sobre Espiritismo. Por
<br>qu�?
<br>� A grande tarefa dos Esp�ritos � melhorar o homem, para que ele
<br>busque a felicidade. O Espiritismo � um assistente social que tem como tarefa
<br>ensinar ao iniciante desde as primeiras coisas, para que ele venha, um dia, a
<br>saber morar numa bela casa.
<br>� Tem raz�o. Quem desejar ir para o "para�so" tem de arrumar uma
<br>bagagem de boas obras.
<br>
<br>Marry sorriu, e dali fomos saindo. Como sempre, a tudo eu observava.
<br>
<br>
<br>� Marry, por que o homem encarnado foge das verdades espirituais?
<br>Elas os assustam?
<br>� Cada ser tem lembran�a, nem que seja vaga, dos seus compromissos
<br>com Deus, e a Doutrina Esp�rita agu�a essas lembran�as. Sendo mais
<br>f�cil esquecer-se de tudo, para que recordar? � compromisso demais para
<br>ser assumido.
<br>� Tem raz�o. At� nos meios esp�ritas encontramos pessoas que s�
<br>gostam de ouvir palestras, tomar passes e nada mais. Est�o sempre alegando
<br>falta de tempo e � esse tempo que, cada vez mais, torna-se nosso inimigo.
<br>Logo est�vamos em minha Col�nia. Marry despediu-se, dando-me
<br>dois dias de folga, o que me pegou de surpresa.
<br>
<br>� O que farei nesses dois dias? logo perguntei.
<br>Ela sorriu.
<br>� Os dias lhe pertencem, s�o suas folgas, e bem merecidas. Luiz,
<br>depois do seu descanso, voltaremos a nos encontrar na ala quarenta e dois
<br>da Universidade. Bom repouso.
<br>� E quem disse que estou cansado? falei, j� me deitando na relva.
<br>Ali fiquei at� o entardecer, quando ouvi uma voz melodiosa cantar um
<br>louvor a Maria.
<br>
<br>Fui at� meu lar, uma casa pequenina, onde vivo com minha av�. Vov�
<br>Margarida, como sempre, recebeu-me sorridente e feliz. Quem a conheceu
<br>bem sabe do seu temperamento humilde e bom.
<br>
<br>� Luiz S�rgio, voc� n�o p�ra em casa!
<br>� Tem raz�o, fofinha, hoje sou um soldado do Cristo.
<br>Ela me abra�ou bem forte, falando:
<br>
<br>� Precisamos orar, e muito.
<br>Como vov� tem raz�o! N�o se concebe um esp�rita sem ora��o. N�o
<br>existe esp�rita crist�o se ele n�o orar e vigiar, medindo as palavras para n�o
<br>deixar ruir a sua casa pelos remorsos. Falamos sobre v�rios assuntos e ningu�m
<br>melhor do que vov� Margarida para me animar a prosseguir o meu
<br>trabalho. Ana, que mora conosco, aproximou-se e disse:
<br>
<br>� Luiz, ningu�m tem o direito de destruir os trilhos, principalmente
<br>quando o trem necessita tanto deles.
<br>� Ficar nas bordas do caminho e s� apedrejar o pr�ximo � falta de
<br>Evangelho.
<br>� Vov�, esque�a isso, ningu�m cont�m o vento e n�s fazemos parte
<br>desse imenso ex�rcito do Cristo.
<br>Como � bom estar em casa! Muitas coisas fiz nesses dois dias, ajudando
<br>minha av� a completar o seu trabalho. Ela, muito saltitante, logo estava
<br>me paparicando, toda feliz. Presenciando a felicidade da vov�, recordei
<br>os idosos que s�o rejeitados pelas fam�lias, sem compreenderem o comportamento
<br>deles. Qu�o bonita � a fam�lia onde filhos e av�s, se presentes,
<br>entrosam-se harmoniosamente! Mas tamb�m queremos dizer que � preciso
<br>saber envelhecer, e envelhecer bem significa auto-satisfa��o, sentir-se aceito
<br>pela sociedade, porque existem pessoas que s�o complexadas, julgando que
<br>a sociedade n�o gosta delas. Portanto, os idosos devem tudo fazer para n�o
<br>se tornarem decr�pitos. Existem muitos idosos que desejam passar por v�timas
<br>e tudo fazem para serem chamados de coitadinhos. Ainda � na fam�lia
<br>que o idoso encontra o seu bem-estar. A fam�lia deve ter respeito por eles,
<br>porque eles sempre se sentem inseguros, temendo ser rejeitados. Vov� foi
<br>sempre muito amada pela nossa fam�lia. Mas ela sempre foi doce e querida,
<br>jamais se metendo onde n�o era convidada. O idoso deve respeitar a casa
<br>onde mora, n�o dando palpite sobre a educa��o dos netos e bisnetos, pois
<br>torna-se algu�m desagrad�vel.
<br>
<br>Hoje, vemos v�rios aposentados afastados dos amigos e colegas, com
<br>baixa renda, sentindo-se extremamente infelizes, amedrontados mesmo, di
<br>
<br>
<br>
<br>ante da possibilidade de serem rejeitados pela familia, principalmente se ela
<br>passa por dificuldades. Aconselhamos a quem tem um idoso em casa a trat�lo
<br>com respeito. Lembre-se de que ele � como se fosse uma crian�a, necessitando
<br>de est�mulos para viver bem os anos que ainda lhe restam. As Casas
<br>Esp�ritas deveriam iniciar um trabalho para idosos. Eles precisam do est�mulo
<br>e da confian�a dos mais novos. � necess�rio fazer com que as fam�lias se
<br>conscientizem de que o idoso s� lhes pede respeito. Nada de risos quando
<br>ele comete alguma falta. Se todos os componentes de uma fam�lia tamb�m
<br>est�o envelhecendo, desde o beb�, por que s� o velho � discriminado? Apenas
<br>porque viveu mais anos? As Casas Esp�ritas devem conscientizar os seus
<br>freq�entadores de, que para o esp�rita, n�o existem jovens ou velhos, e sim
<br>responsabilidade, oferecendo ao idoso trabalho de artesanato para que ele
<br>se sinta �til. Em uma Casa Esp�rita bem organizada, como encontramos o
<br>que fazer! Podemos cortar casaquinho, pregar bot�o, enfim, h� sempre um
<br>servi�o para o idoso sentir-se �til.
<br>
<br>Estava ali, junto � vov� Margarida, recordando-me dela ao lado da
<br>mam�e, amada e respeitada por todos, sendo essa a causa da minha preocupa��o
<br>com outros idosos, desrespeitados pela fam�lia. O Espiritismo nos
<br>concede condi��es de atender aos idosos com amor e respeito. Muitas coisas
<br>o idoso pode fazer: croch� para o bazar anual da Casa, sapatinhos para
<br>os enxovais, confeccionar enxovais para as crian�as pobres, aprender a pintar
<br>quadros, cantar no coral, enfim, existem tantas coisas para se fazer na
<br>Casa Espirita!... O homem n�o tem idade. Desde os quatro at� os cem anos,
<br>
<br>o ser humano deve ser tratado com confian�a e respeito. No Brasil, h� muito
<br>preconceito com os idosos, e esse preconceito vem de dentro da pr�pria
<br>fam�lia. Em outros pa�ses os velhos vivem melhor assistidos, passeiam, amam-
<br>se. Agora, no Brasil, o velho � tratado como traste que n�o serve mais para
<br>nada. Sabemos que Francisca Theresa sonha com uma creche, onde os idosos
<br>ir�o cuidar das crian�as. Eles ter�o preocupa��o com as crian�as, que
<br>encontrar�o nos idosos o carinho de pais e de av�s. Hoje uma jovem de
<br>vinte e cinco anos j� se considera velha, porque a m�dia elege ninfetas de
<br>treze e quatorze anos como s�mbolos sexuais. O que estamos presenciando �
<br>o fim da fam�lia, a falta de respeito aos mais velhos. Hoje os jovens est�o
<br>
<br>fantasiados de mendigos � cal�as com fundilhos grandes, arrastando pelo ch�o,
<br>com apar�ncia de sujas, brincos e piercing em todos os lugares poss�veis, mascando
<br>chicletes e cuspindo pelo ch�o. � modismo. E o bon�, virado para tr�s,
<br>sujo ou contendo alguma propaganda, �s vezes at� da maconha? E a fam�lia,
<br>como procede com estes filhos? Acham que ir�o mudar com a chegada dos
<br>anos. Quanto ao caso do bon�, causa-nos estranheza que at� alguns jovens esp�ritas
<br>adentram o Centro de bon�, quando sabemos que a boa educa��o ensina o
<br>homem a tirar o chap�u quando entrar em qualquer recinto. O mesmo deveria ser
<br>feito quando adentramos um Centro Esp�rita. Tamb�m vemos jovens e senhores
<br>sentados � mesa de refei��o, de bon� ou de chap�u. Ser� educado esse ato?
<br>Perguntei � vov� o que ela achava do assunto.
<br>
<br>� Luiz S�rgio, diante de Deus devemos ter uma postura digna, e Ele
<br>sempre senta-se conosco � hora da refei��o. Portanto, sentar-se � mesa sem
<br>camisa ou de chap�u � falta de respeito, ou melhor, falta de educa��o.
<br>Em nosso lar desfrutei de horas proveitosas e busquei na lembran�a o
<br>in�cio do meu trabalho com os drogados, com o livro Na Esperan�a de uma
<br>nova Vida, o quanto me assustava com o fato que at� a� era desconhecido por
<br>mim. Foi um livro importante em minha exist�ncia. Quanto aprendemos com ele!
<br>Ao escrev�-lo, ficava horas estudando o Evangelho, querendo memorizar as
<br>p�ginas desse livro amigo. Quanta li��o de amor, de caridade! Ningu�m pode
<br>calcular. Antes, eu era um p�ssaro, deslumbrado com o sussurro dos ventos.
<br>Quando me preparava para o trabalho com os Mensageiros de Maria, encontrei
<br>um ninho onde abrigado fui por um imenso amor, e grandes li��es de humildade
<br>e caridade recebi. Mas esse livro tamb�m me trouxe algumas rejei��es do mundo
<br>esp�rita alguns ataques. Muitos me julgavam pra frente, jovem inexperiente,
<br>porque usava uma linguagem simples. Um dia estava tristonho, quando Ocaj, o
<br>nosso querido amigo, aconselhou-me:
<br>
<br>� Luiz, n�o desanime nunca, quaisquer que sejam as circunst�ncias,
<br>pois tamb�m n�s, no plano f�sico, muitas vezes fomos atacados e ca�mos,
<br>mas sempre nos erguemos, sempre nos levantamos. Quantas vezes fomos
<br>criticados e ofendidos! Quantas vezes choramos por todos aqueles infelizes
<br>que pregavam a viol�ncia, querendo mostrar-lhes a verdade! Muitos n�o
<br>
<br>entendiam, mas com f� em Deus e um grande amor pela paz acabamos por
<br>concluir nossa jornada reencarnat�ria, saindo vitoriosos. Lembre-se, Luiz,
<br>de que em todos os caminhos que levam �s vit�rias encontramos ofensores e
<br>desafetos, m�os ociosas que atiram pedras pontiagudas de cal�nias e �dio.
<br>Mas aquele que cr� em Deus e em si pr�prio sempre chegar� ao final da sua
<br>jornada vitorioso. O importante. Luiz S�rgio, � n�o se sentir ofendido, orar
<br>sempre por aqueles que caluniam, calar-se diante dos trov�es das cr�ticas e
<br>voar al�m das cal�nias.
<br>
<br>Meus olhos marejaram de l�grimas ao recordar esse instante de paz com
<br>Ocaj, quando escutei meu nome sendo pronunciado com imenso carinho:
<br>
<br>� Luiz S�rgio...
<br>Era vov�, que me chamava para participar do Culto do Evangelho no
<br>Lar. Assim passei os meus dias de folga. Lemos muito, fizemos, cada qual,
<br>uma boa avalia��o de todas as nossas pegadas no mundo espiritual e percebemos
<br>que j� demos alguns passos para frente, gra�as a voc�, leitor amigo,
<br>que sempre vibra em prol do nosso crescimento espiritual. Oramos por voc�,
<br>garot�o, cuja m�e o obriga a ler os meus livros. A mulher sozinha, que nos
<br>pede que a ajudemos no problema do filho viciado, dizemos: "estamos ao
<br>seu lado, pedindo a Maria de Nazar� que lhe d� for�as." Suplicamos pela
<br>m�e, que olha as estrelas no c�u em busca do filho que voltou ao mundo
<br>espiritual, cuja saudade lhe fere o cora��o partido pela dor. Estamos ao lado
<br>do m�dium iniciante, que julga que ao estudar a mediunidade tudo vai ficar
<br>mais f�cil, n�o sabendo que a vida medi�nica � um sacerd�cio repleto de
<br>ren�ncias. Estamos ao lado do Centro Esp�rita que luta pela verdade, cuja
<br>disciplina � a sua bandeira. N�o somos uma estrela de real grandeza, mas
<br>tentamos nos tornar uma brisa que refresca, que abra�a e faz companhia ao
<br>nosso pr�ximo.
<br>
<br>� isso a�, camarada, o papai aqui hoje est� rom�ntico, saudoso e enchendo
<br>o pulm�o de oxig�nio para voar al�m das estrelas e galgar as moradas
<br>da Casa do Pai.
<br>
<br>Assim passei meus dias de folga.
<br>
<br>
<br>Cap�tulo XVI
<br>O AVAN�O DA TUBERCULOSE
<br>
<br>
<br>Saindo do devaneio, deixei nossa casinha e logo estava com a amiga
<br>Marry.
<br>
<br>� Luiz, como foram aproveitados os seus dias?
<br>� Muito bem. Coloquei as id�ias em ordem e continuo do jeito que
<br>sou: alegre e esperan�oso. E como o vento que sopra, a chuva que cai, a
<br>brisa que refresca, a semente que germina, o sol que beija o charco, assim
<br>procuro me tornar. De hoje em diante, Marry, deixamos de ser uma areinha,
<br>cujo brilho do sol impulsionava para frente, mas que o gato de botas a cada
<br>dia oprimia com sua for�a e com sua maldade. Deixei de ser areia e, por
<br>merc� de Deus, conscientizei-me de que sou Seu filho e de que estou sendo
<br>levado at� Ele pelas �guas do mar da vida. J� n�o temo o trov�o, as tempestades
<br>ou as pedras pontiagudas. Nada det�m os passos de um filho de Deus,
<br>e sei que a Ele pertencem as nossas tarefas.
<br>� Bravo! Ficamos felizes, assim � o menino que conhecemos: bom,
<br>forte e crian�a.
<br>� Marry, voc� n�o acha que devo amadurecer?
<br>� N�s sempre amadurecemos, queiramos ou n�o. Agora, n�o gostaria
<br>que voc�, Luiz, ficasse sisudo para ser agrad�vel �queles que julgam que
<br>
<br>o Espiritismo � l�grima, sofrimento e dor. N�o, a sua alegria � o n�mero da
<br>sua identidade.
<br>Abra�amos aquela amiga t�o fortemente que ela falou:
<br>
<br>� Calma, n�o exagere!
<br>� N�s amamos voc�!
<br>� Eu tamb�m te amo � respondeu Marry.
<br>E assim fomos andando pela imensidade, o Universo, a Casa do Pai.
<br>� Marry, para onde estamos indo?
<br>Ela nada respondeu, mas logo vi que est�vamos em uma col�nia cient�fica
<br>do mundo espiritual. Era um lugar que nos lembrava uma esta��o de
<br>�guas, com v�rias pequenas faculdades circulando o grande edif�cio-sede,
<br>com o seguinte aspecto:
<br>
<br>
<br>
<br>O edificio-sede � composto de v�rias portas, que levam �s pequenas
<br>faculdades. A sede tem tr�s andares. No edif�cio principal ficam os computadores,
<br>no primeiro piso; os outros s�o audit�rios onde os grandes cientistas
<br>fazem as suas confer�ncias.
<br>
<br>A tudo olhava, deslumbrado. As flores eram orvalhadas de b�n��os,
<br>lindas, lindas, lindas. Quando adentramos o edif�cio-sede, fomos
<br>recebidos por Meg, uma bela senhora, que logo foi buscando os nossos
<br>dados no computador de registro de presen�a. Entregou-me uma ficha.
<br>Com surpresa, vi que revelava a minha vida desde o �tero materno, as
<br>doen�as de crian�a, as artes que fiz, enfim, um belo dossi� da vida do
<br>Luiz S�rgio. Curioso, busquei o de Marry. Estava apenas escrito: Marry
<br>Julien.
<br>
<br>� Por que a diferen�a? indaguei.
<br>Ela sorriu.
<br>� Porque n�s somos somente Marry.
<br>� Sem genealogia? Voc� � um desses astronautas?
<br>� N�o, Luiz, sou uma filha de Deus em tarefa.
<br>� Marry, o que h� nos andares de cima?
<br>� Os audit�rios e alguns laborat�rios cient�ficos.
<br>� Podemos visit�-los?
<br>� Agora n�o. Estamos apenas inscritos para que o irm�o possa freq�entar
<br>algumas das aulas das faculdades.
<br>Enquanto Marry conversava com os encarregados daquele departamento
<br>cient�fico, aproximou-se de n�s o doutor Ken, com o seu sorriso franco
<br>e amigo.
<br>
<br>� Como vai, Luiz?
<br>� Oh!, doutor Ken, que bom v�-lo aqui!
<br>
<br>� Estamos sempre aqui, buscando novos conhecimentos para o nosso
<br>trabalho de cura no plano f�sico.
<br>� Doutor Ken, sabemos que a sua �rea est� ligada ao tratamento dos
<br>pulm�es.
<br>� Sim. Preocupamo-nos muito com os pulm�es dos encarnados. A
<br>cada minuto as vias respirat�rias s�o agredidas cruelmente pelo homem, alheio
<br>� b�n��o divina que vem a ser o simples ato de respirar.
<br>Nisso, doutor Ken convidou-nos a visitar a faculdade onde ele trabalha.
<br>Sa�mos do edif�cio-sede e percorremos uma rua florida e muito
<br>ampla, at� chegarmos � faculdade, onde o movimento era intenso. O doutor
<br>Ken cumprimentava todos os que passavam, sempre sorrindo. Gentilmente,
<br>convidou-nos a adentrar uma das salas de pesquisa, onde telas
<br>imensas circulavam o ambiente, e nos apresentou � sua equipe. Um pulm�o
<br>imenso, parecendo infl�vel, enfeitava o centro do sal�o. Marry falou:
<br>
<br>
<br>� Ken, o homem encarnado s� se lembra de algum �rg�o seu quando
<br>este fica doente. Veja o caso dos fumantes: a cada segundo agridem as vias
<br>respirat�rias.
<br>� N�o somente os viciados em cigarro e nos t�xicos agridem os seus
<br>pulm�es, como tamb�m os que brincam com a temperatura ambiente.
<br>� Como assim? Explique, doutor.
<br>� Se temos as esta��es do ano, por qu�, mesmo as conhecendo, n�o
<br>as respeitamos? Quantos relutam em se agasalhar, alegando n�o sentir frio!
<br>Essas criaturas n�o sabem o perigo que correm, pois as vias respirat�rias
<br>n�o gostam de ser agredidas. E o abuso ocorre principalmente com crian�as,
<br>jovens e idosos.
<br>� O certo � usar agasalho?
<br>� Sim, o certo � vestir-se de acordo com as esta��es do ano.
<br>� Mas no Brasil h� cidades que, em um dia, temos tr�s esta��es.
<br>
<br>� Conhecendo a cidade, vista-se de acordo com o seu clima, levando
<br>sempre um leve agasalho. O encarnado respira mal. Muitos nem tomam
<br>consci�ncia que respiram, que precisam respirar.
<br>Aproximando-se do projetor, doutor Ken ligou-o e ali, na nossa frente,
<br>foi exposta a grande preocupa��o do mundo cient�fico do Plano Maior
<br>com os pulm�es da Humanidade.
<br>
<br>� Vejam bem estas cenas: quantas pessoas infectadas pelo
<br>bacilo causador da tuberculose! E o pior � que a doen�a est� fora de
<br>controle na maior parte dos pa�ses pobres. Muitos nem tomam conhecimento
<br>se est�o infectados ou n�o. O Mycobaterium Tuberculosis
<br>� uma das grandes preocupa��es do departamento cient�fico
<br>da Espiritualidade.
<br>� E os �rg�os governamentais encarregados da sa�de n�o est�o cientes
<br>desses fatos?
<br>� Sim, Luiz, mas os pa�ses que n�o se preocupam com a sa�de do
<br>seu povo ser�o os mais afetados.
<br>� No momento, quais os pa�ses mais atingidos?
<br>� �ndia e China.
<br>� Doutor Ken, sabemos que nesses pa�ses reina a mis�ria. N�o ser�
<br>essa a causa da tuberculose?
<br>� Paises com alto n�vel de vida correm menor risco, mas n�o est�o
<br>isentos, porque v�rios fatores levam � doen�a. Em muitos casos, as pessoas
<br>est�o infectadas, mas sem os sintomas da doen�a. Sendo ela contagiosa,
<br>logo se alastra. Em pa�ses onde o sistema de sa�de � prec�rio, o aumento da
<br>tuberculose ser� alarmante.
<br>� Ela ataca somente os homens?
<br>� Hoje existem muitas mulheres jovens infectadas pela doen�a.
<br>� Ela causa morte fulminante?
<br>
<br>� N�o. A bact�ria pode permanecer oculta durante anos e se manifestar
<br>quando o sistema imunol�gico estiver enfraquecido.
<br>� A tuberculose � t�o preocupante quanto a Aids?
<br>� Sim. Qualquer doen�a, quando se alastra, � preocupante. Ningu�m
<br>hoje se preocupa com a tuberculose; antes, dizia-se que era doen�a de bo�mios
<br>e poetas. Vejam bem: bo�mios e poetas. Muitos, na bo�mia, se esquecem
<br>de proteger o corpo e, expondo-se ao sereno e � friagem das madrugadas,
<br>o corpo se enfraquece em noitadas. Os poetas alimentavam-se mal,
<br>sendo muitas vezes essa a causa de aparecer a doen�a. Hoje, o jovem troca
<br>o dia pela noite e se alimenta erradamente.
<br>� Irm�o, por que o encarnado n�o respeita o seu corpo? Veja o caso
<br>dos viciados: picam-se, cheiram, enfim, violentam-se a cada instante...
<br>� � verdade, hoje o homem est� t�o materialista que n�o p�ra um
<br>segundo para pensar que existe algu�m que a tudo comanda. No simples ato
<br>de respirar, provamos o ar de uma usina divina. Se cada criatura tirasse uns
<br>minutos para louvar a Deus atrav�s da respira��o controlada, ela se sentiria
<br>mais feliz.
<br>� Doutor Ken, hoje h� uma luta para conter a Aids, mas o c�ncer
<br>est� matando mais do que a Aids. Qual � a causa?
<br>� Luiz, acredito que a Marry ir� lev�-lo �s outras faculdades, e l�
<br>encontrar� a resposta que deseja. Minha especialidade � a broncopneumologia,
<br>entretanto quero dizer a voc�s que a tuberculose � uma doen�a
<br>perfeitamente cur�vel, mas que atualmente est� levando ao desencarne mais
<br>ou menos tr�s milh�es de pessoas por ano, no mundo inteiro.
<br>� Ken, tamb�m sabemos que a popula��o carcer�ria � uma das suas
<br>v�timas, devido �s m�s condi��es sanit�rias, ou seja, a mis�ria humana ainda
<br>� a grande causadora das dores do homem. E o pior � que o pr�prio homem
<br>n�o procura ajudar o seu pr�ximo � disse Marry.
<br>� Doutor Ken, quando fazemos um trabalho no plano f�sico, sempre
<br>percebemos a falta de higiene em muitos lares, n�o s� nas casas dos pobres,
<br>
<br>como nas das classes m�dia e rica. Vemos sobras de comida serem guardadas
<br>na geladeira em panelas de alum�nio, sem tampa, sem os devidos cuidados.
<br>Est� provado que o alum�nio faz mal � sa�de. Vemos donas de casa
<br>guardando as sobras de arroz por dias e dias; tamb�m aprendemos que os
<br>fungos tomam conta do arroz em poucas horas depois de cozido. Quantas
<br>vov�s adoram guardar a clara de ovo para o suspirinho, e estas claras tamb�m
<br>em poucas horas ficam contaminadas. Ser� que os �rg�os governamentais
<br>respons�veis pela sa�de n�o deveriam levantar campanhas de esclarecimento?
<br>Algumas entidades de assist�ncia social poderiam criar cursos para
<br>as dom�sticas, alertando-as sobre o perigo de alguns alimentos mal lavados
<br>ou quando n�o s�o bem cozidos.
<br>
<br>� � verdade, Luiz, toda essa preocupa��o existe neste departamento,
<br>onde hoje voc�s est�o. A maioria das doen�as s�o causadas pelo pr�prio
<br>homem, pela invigil�ncia de cada um.
<br>� E aqueles que s�o escravos dos rem�dios?
<br>� Neste departamento, voc�s tamb�m ser�o alertados quanto a isso,
<br>Marry.
<br>� Irm�o, gostaria que passasse para o leitor alguns exerc�cios para o
<br>fortalecimento dos pulm�es.
<br>� Luiz, as doen�as respirat�rias precisam de cuidados m�dicos; muitos
<br>pacientes al�rgicos acham mais f�cil se auto-medicar do que consultar um
<br>especialista. Aqueles que sofrem de bronquite, por exemplo, vivem em busca
<br>de milagres; deveriam, sim, fazer um bom tratamento. Tudo tem al�vio, �
<br>s� encontrar o rem�dio que o organismo aceite.
<br>� Irm�o, estamos preocupados com a tuberculose, n�o existe vacina
<br>para cont�-la?
<br>� H�, sim. E logo no plano f�sico a vacina j� estar� ajudando os
<br>m�dicos encarnados, Luiz. O paciente que sofre com problemas respirat�rios
<br>deve manter os pulm�es livres das toxinas, procurar fazer exerc�cio,
<br>tomar muito sol nas costas, principalmente nas primeiras horas do dia; evitar
<br>
<br>bebidas geladas e tamb�m, sempre que puder, fugir do sereno da noite, mantendo
<br>a cabe�a sempre protegida.
<br>
<br>Muito ainda ouvimos do nosso doutor Ken, quando ficamos sabendo
<br>que ele sempre presta socorro �s v�timas de overdose. Despedimo-nos do
<br>nosso amigo e visitamos outros centros cient�ficos, onde Esp�ritos abnegados
<br>est�o preocupados com as doen�as terr�queas.
<br>
<br>
<br>Cap�tulo XVII
<br>AUTO-ESTIMA: CHAVE DA FELICIDADE
<br>
<br>
<br>Marry levou-me a um outro Departamento, onde fomos recebidos por
<br>Tanaj�, psic�logo e psiquiatra. Com seu carisma, logo nos colocou � vontade.
<br>
<br>
<br>� Irm�o, nesta faculdade trata-se da mente?
<br>� Um pouco de cada coisa. Quase todas as doen�as partem de um
<br>s� princ�pio: mente enferma.
<br>� Tudo � "cuca"?
<br>� Mais ou menos.
<br>Tanaj� convidou-nos a acompanh�-lo ao seu local de trabalho e ali
<br>encontramos v�rios outros m�dicos. Cumprimentamo-los, mas ficamos poucos
<br>minutos, pois Tanaj� levou-nos a uma ampla sala com v�rios
<br>retroprojetores � n�o como os do plano f�sico, por�m os mais modernos
<br>que se pode imaginar.
<br>
<br>� Tanaj�, h� pouco, falamos com o doutor Ken e ficamos assustados
<br>com o avan�o da tuberculose; ela, que parecia doen�a do passado, agora
<br>volta com mais for�a.
<br>� Luiz, tudo � preocupante, mas o que tamb�m nos tem deixado
<br>apreensivos por demais s�o as doen�as psicossom�ticas.
<br>
<br>� Parece que ficar estressado � moda, Tanaj�.
<br>� A vida moderna leva o homem ao estresse, porque ele n�o busca
<br>um momento para si.
<br>� Como, Tanaj�? Explique.
<br>� Est� provado cientificamente que a prece ajuda o homem. Quantas
<br>pessoas oram? Muito poucas. Alguns acham que � ignor�ncia orar.
<br>� Quer dizer que a prece nos ajuda na manuten��o do nosso c�rebro?
<br>� Luiz, a prece, a medita��o, a dietoterapia energ�tica, a nutrologia,
<br>a medicina ortomolecular e a fitoterapia s�o tamb�m caminhos eficazes para
<br>o homem proteger-se contra a danifica��o dos neur�nios e a defici�ncia dos
<br>neurotransmissores. Com nutrientes adequados, poupamos o c�rebro do
<br>desgaste que ele teria, com todas as turbul�ncias da vida moderna. � normal
<br>o decl�nio da mem�ria pela morte de um grande n�mero de neur�nios, devido
<br>aos radicais livres e ao menor aporte de sangue e oxig�nio ao c�rebro.
<br>� Tanaj�, o que leva � a��o desses radicais livres?
<br>� O desequil�brio, a insufici�ncia entre v�rias subst�ncias respons�veis
<br>pela neurotransmiss�o, que s�o conseq��ncias dos desarranjos que o
<br>homem causa ao c�rebro com a sucess�o de maus tratos e instabilidades.
<br>� O estresse ent�o leva a isso tudo?
<br>� Em rela��o ao estresse, ocorre o excesso de secre��o cortical, um
<br>dos horm�nios fabricados pelas gl�ndulas supra-renais, que em excesso no
<br>dia-a-dia, danifica e mata milh�es de neur�nios. O homem, por qualquer
<br>coisa, se desespera, vendo-se acuado e amedrontado. E a� diminui-lhe a
<br>auto-estima, vindo, ao mesmo tempo, a tristeza, pelo d�ficit de serotonina, e
<br>a diminui��o da libido, pela defici�ncia hormonal, porque corpo e mente est�o
<br>desgastados.
<br>� Ent�o o homem deve evitar o estresse, que pode levar � depress�o,
<br>e esta causar danos ao c�rebro, certo?
<br>
<br>� Luiz S�rgio, o homem suicida-se atrav�s da m� alimenta��o e dos
<br>maus pensamentos. Ele n�o deseja aprender a pensar bem; almeja, sim, viver
<br>al�m das horas do rel�gio, e como o seu corpo tamb�m � uma m�quina, que
<br>precisa ser respeitada, quando � agredida, vem a falhar. O estresse afeta o
<br>sistema imunol�gico, aumentando o risco tamb�m das infec��es.
<br>� Em um livro nosso falamos da fadiga cr�nica4.
<br>� Muitos rem�dios ajudam a reduzir os efeitos da fadiga cr�nica, ao
<br>inibirem a libera��o de cortisol, o horm�nio do estresse, impedindo, desta
<br>forma, que ele sobrecarregue o sistema imunol�gico.
<br>� Ent�o, Tanaj�. a f� � que traz alegria ao cora��o, podendo fortalecer
<br>a mente?
<br>� Sim. O homem deve dar os passos de acordo com sua capacidade.
<br>O mal da �poca moderna � que o homem est� parecendo um animal:
<br>corre, corre e corre, e muitas vezes esquece-se at� de se alimentar. Vemos
<br>pessoas cuja vida lhes proporcionou todo conforto, fam�lia equilibrada, mas
<br>vivem estressadas e em depress�o, tudo as aborrece. O que o homem necessita
<br>� buscar Deus e fazer um acordo com Ele, para que o Criador possa
<br>ouvi-lo todos os dias, atrav�s da medita��o; s� assim o homem vai parar um
<br>pouco o fluxo do seu pensamento e procurar fortalecer o c�rebro. Os orientais
<br>costumam dizer que o cora��o rege a mente, e o que � bom para o
<br>cora��o � bom para o c�rebro. Hoje vemos que o homem est� infeliz, porque
<br>o seu cora��o est� inquieto e vazio. E quando o cora��o est� desocupado,
<br>a mente entra em desalinho. A� vem a falta de auto-estima e, sem motiva��o,
<br>o homem se entristece. Quem pode viver sem sonhos? O sonho � a
<br>esperan�a de alcan�ar a felicidade. Portanto, vamos, como disse o Mestre
<br>Jesus, tornar-nos misericordiosos, principalmente conosco mesmos, respeitando-
<br>nos, amando-nos, porque s� assim saberemos como � bom ser amado
<br>e respeitado; e com isso vamos amar e respeitar o pr�ximo. Ter o cora4
<br>N.E. � Consultar o livro Driblando a Dor, 13.� da S�rie Luiz S�rgio, Cap. VI � Casa Esp�rita:
<br>Oficina de Deus. A Caridade cobre a Multid�o de Pecados.
<br>
<br>193
<br>
<br>
<br>��o vazio de sentimentos nobres faz com que coloquemos nele a tristeza e o
<br>medo; e a�, como � o cora��o que rege a mente, esta morre de tristeza, como
<br>dizem os orientais. O homem corre em busca do conforto, da proje��o social,
<br>dos divertimentos, sem recordar que o ar que respira � uma emana��o
<br>divina, sem se lembrar de agradecer a fonte de onde prov�m. O homem quer
<br>ganhar o c�u, mas n�o deseja colocar os p�s na estrada do Mestre, preferindo
<br>os caminhos asfaltados do mundo material. E ningu�m vive bem, longe da
<br>fonte da vida e do equil�brio: Deus. Esta � a causa de presenciarmos, no
<br>momento atual, tanto desequil�brio, tais como incompreens�o conjugal, desrespeito
<br>� fam�lia, falta de for�a na educa��o dos filhos, enfim, o desconhecimento
<br>total das leis de Deus. Muitos homens julgam que n�o possuem um
<br>mandat�rio, que n�o t�m um dono e que, estando no plano f�sico, a ningu�m
<br>devem satisfa��o de seus atos. Puro engano. Cada ser, por mais simples que
<br>seja, obedece � hierarquia da vida, e seus atos est�o sendo catalogados nos
<br>computadores do Plano maior. Poucos se contentam com o que t�m, ou
<br>melhor, sabem aproveitar as horas de um dia. Alguns choram de saudades;
<br>outros preocupam-se com o dia de amanh�. Por que n�o procuram viver as
<br>horas do dia, como se elas fossem os doze meses do ano? Desde o amanhecer,
<br>ao se espregui�ar na cama, deve o homem parar um pouco e perguntar:
<br>quem � capaz de fazer um corpo t�o perfeito como este que eu tenho? Procure
<br>espregui�ar o m�ximo poss�vel, bem devagar. Se prestar aten��o no
<br>fluxo da sua respira��o, ir� sentir que Deus est� dentro de si, que o ar que
<br>respiramos d'Ele emana. Ao nos auto-analisararmos, adentramos o nosso
<br>corpo f�sico e descobrimos que cada departamento seu merece respeito,
<br>principalmente a nossa mente e o nosso cora��o. Por que sobrecarreg�-los
<br>com o lixo da saudade em desequil�brio? N�o bastam as muitas horas do dia
<br>que devemos bem aproveitar no hoje, e ainda vamos buscar as que j� passaram
<br>ou as que ainda nem sabemos como ser�o: as do amanh�? "Morrer de
<br>saudade", como dizem alguns, ou ficar irritado ao recordar os fatos tristes
<br>que vivemos causados por algu�m � tudo � lixo, e esses detritos poluem o
<br>nosso c�rebro e fazem mal para o nosso cora��o. O Cristo, como Mestre
<br>que �, e grande conhecedor das almas, alertou a todos de que n�o se preocupassem
<br>com o dia de amanh�, tamb�m falando: "deixai os mortos enterra
<br>
<br>
<br>
<br>rem seus mortos". Aquele que n�o aproveita o dia que chega com o alvorecer,
<br>e fica jogando l�grimas no jardim da saudade e da revolta � um "morto
<br>que enterra morto", porque quem � "vivo" busca viver, e viver � aproveitar
<br>bem as horas de um dia, plantando a cada segundo um jardim de esperan�osas
<br>realidades. Para que isso venha a acontecer, o homem tem de buscar a
<br>auto-estima, nunca desanimar, nunca pensar negativamente, nunca sentir-se
<br>a pior e a mais infeliz das criaturas. Com a chegada da aurora, que � o amanhecer
<br>de cada dia, o homem tem de buscar o n�ctar da vida e do amor, que
<br>� Deus. Se n�o nos agarrarmos a Ele, n�o obteremos a for�a necess�ria para
<br>superar a ociosidade da alma, muitas vezes comprometida com o ontem,
<br>sendo esta a causa de hoje. mesmo vivendo uma nova exist�ncia, n�o desejarmos
<br>lutar para obter a felicidade. A ignor�ncia leva o homem a n�o observar
<br>o que se passa ao seu redor e o desequil�brio leva-o a desejar uma felicidade
<br>fict�cia. Muitas vezes, ao procur�-la, deixa l�grimas no seu caminho e,
<br>em vez de felicidade, sente � remorsos. Uns dizem que a f� apalerma; outros,
<br>que leva ao fanatismo: outros, ainda, que � coisa de gente ignorante. Queremos
<br>dizer que a f� em Deus, o respeito � Sua constitui��o, que � imut�vel,
<br>
<br>jamais conduz ao fanatismo. Muitas vezes s�o essas pessoas sem f� que se
<br>tornam presa f�cil dos �dolos de pedra, que s�o as seitas com homens desprovidos
<br>do amor a Deus. Mas aquele que segue as leis divinas encontrar�
<br>for�a nele mesmo para se auto-educar, e quem se auto-educa tem autoestima.
<br>
<br>
<br>� Tanaj�, hoje parece que todo mundo sofre de depress�o. Pode
<br>dizer-me a causa?
<br>� Luiz S�rgio, o que acabamos de falar � uma verdade. O homem
<br>vive insatisfeito com tudo. Ele n�o agradece a Deus o que tem e, muitas
<br>vezes, perde at� o que considera pouco. Na vida f�sica, Luiz S�rgio e Marry,
<br>o homem est� sempre estudando; desde que nasce ele reaprende a viver em
<br>um corpo f�sico e, quando atinge a maioridade, come�a a ter vida independente.
<br>� o mesmo que j� lhe aconteceu, quando era apenas uma crian�a
<br>espiritual, vivendo no reino mineral. Portanto, o Esp�rito retorna � carne e �
<br>recebido por uma fam�lia composta n�o de desconhecidos, mas de velhos
<br>
<br>companheiros nos erros e nas conquistas. E esta familia � como fazem os
<br>Esp�ritos encarregados de velarem pelas ess�ncias quando elas est�o adormecidas,
<br>ou sonhando, ou despertando dos seus reinos � tem de ajud�-lo,
<br>orient�-lo, gui�-lo, at� o despertar da consci�ncia, para que se veja livre e
<br>tome o caminho do resgate das d�vidas passadas. Por isso � importante o
<br>fortalecimento da fam�lia, que tem um papel relevante no crescimento espiritual
<br>de cada Esp�rito confiado a ela. Aos pais que abandonam os filhos, �queles
<br>que s�o indiferentes a eles, ou aos fracos, muito ser� cobrado.
<br>
<br>� Ent�o, o certo � a fam�lia preparar a crian�a para ter auto-estima,
<br>s� assim ela vai respeitar a si mesma e ao pr�ximo?
<br>� Sim, Luiz. Auto-estima � auto-equil�brio. Sem equil�brio, disciplina
<br>e amor o homem n�o tem o que ofertar a outrem. A educa��o da crian�a
<br>deve iniciar-se no ventre materno. O triste � muitos desconhecerem a responsabilidade
<br>da procria��o, julgando que o momento sexual � apenas um
<br>momento de prazer � n�o deixa de ser, pois o sexo � prazeroso � mas ele,
<br>assim como d� prazer, tamb�m traz conseq��ncias s�rias se n�o for respeitado
<br>como deve ser.
<br>� Tanaj�, parece que atualmente � normal, para os jovens, ter in�meros
<br>parceiros. Por que isso est� acontecendo?
<br>� Porque a fam�lia est� desequilibrada. Hoje os lares s�o apenas pousadas,
<br>poucos chefes de fam�lia ainda sentam-se � mesa e exigem a presen�a
<br>dos filhos. As crian�as, os jovens e os adultos t�m vida independente e muitas
<br>vezes n�o se v�em, s�o estranhos uns dos outros, desconhecendo o que
<br>est�-se passando com aquele que foi escolhido por um e por outro para
<br>viverem uma exist�ncia juntos. � essa indiferen�a familiar a causa de quase
<br>todas as neuroses que hoje o homem carrega vida afora. Poucos podem
<br>dizer: "eu tenho um lar onde os meus pais, os meus irm�os, preocupam-se
<br>comigo".
<br>� Tanaj�, essa � a causa da gravidez precoce?
<br>� Luiz S�rgio, as meninas est�o ficando adolescentes muito cedo,
<br>e as adolescentes ficando mulheres ainda mais cedo. Sem preparo para
<br>
<br>enfrentar a vida sozinha, a jovem inicia a bela �poca de uma vida, a adolesc�ncia,
<br>com graves problemas, como: controlar a natalidade, esconder
<br>relacionamentos dos pais, conciliar estudo e vida sexual, que �s vezes
<br>� intensa. N�o acham que isso � demais para um cora��o e um c�rebro
<br>jovens? N�s achamos que � uma bomba poderosa, criando conflitos
<br>de consci�ncia que v�o tornar fraca e insegura a jovem que tinha tudo
<br>para ser feliz. S�o esses pais que amanh� entregar�o � sociedade homens
<br>e mulheres. Queira Deus a imaturidade n�o fa�a com que eles entreguem
<br>ao conv�vio social doentes do corpo e da alma.
<br>
<br>� N�o h� meios de segurar essa juventude?
<br>� Sim, atrav�s da orienta��o da fam�lia. A mulher e o homem adultos
<br>devem olhar ao redor e avistar bem junto de si almas que lhe foram confiadas
<br>por Deus, e n�o bonecos de carne.
<br>� O irm�o acha que a mulher liberou-se demais?
<br>� N�o, Marry. A liberdade nunca � demais, ela � uma conquista
<br>do homem, como s�o os conhecimentos. Entretanto, n�o podemos confundir
<br>liberdade com irresponsabilidade. O que vemos agora n�o � uma
<br>juventude vivendo com liberdade. Deparamo-nos com uma juventude sem
<br>limites, dizendo-se livre, mas prisioneira dos v�cios, matando sonhos,
<br>destruindo lares, envergonhando os pais com seus atos indignos. Liberdade
<br>total ningu�m tem. Cada um de n�s tem nas m�os algo sublime,
<br>chamado livre-arb�trio, e quem conhece o valor desse tesouro respeita o
<br>que chamamos liberdade. Quem n�o conhece o que vem a ser o livre-
<br>arb�trio julga que quem plantar irresponsabilidade vai colher felicidade.
<br>Hoje, acreditam que t�m liberdade para tudo fazerem: abortar, trair, furtar,
<br>causar esc�ndalo, matar sonhos e esperan�as, causar dores, desenganos,
<br>enfim, serem semeadores de desgra�as. Isso � liberdade? Claro
<br>que n�o. Liberdade � ser livre para pensar, e feliz aquele que s� pensa
<br>coisas boas e cujos pensamentos se concretizam em a��es nobres. �
<br>esta a liberdade que algumas grandes mulheres lutaram para conquistar,
<br>em uma �poca em que a mulher era considerada apenas uma f�mea. A
<br>
<br>emancipa��o conquistada pelas grandes mulheres deu-se gra�as � luta
<br>para tornarem-se respeitadas, para terem direito � educa��o, ao trabalho,
<br>� seguran�a, enfim, para deixarem de ser tratadas apenas como f�meas
<br>que serviam aos homens e tinham filhos. A liberdade que as grandes
<br>mulheres do passado lutaram para obter n�o foi essa liberdade de
<br>sexo que hoje algumas mulheres dizem ter conquistado. Ao contr�rio,
<br>acreditamos que as grandes mulheres que lutaram pelos seus direitos devem
<br>chorar de tristeza ao verem que, infelizmente, muitas n�o entenderam
<br>a mensagem que elas gravaram com as letras da dignidade. Todos �
<br>homens e mulheres � desfrutam de relativa liberdade, porque, quando a
<br>nossa liberdade vai contra a constitui��o divina, deixa de ser liberdade,
<br>tornando-se irresponsabilidade. O que est� faltando hoje � a busca do
<br>fortalecimento espiritual; s� assim iremos dar valor � passagem recebida
<br>das m�os de Deus para retornarmos ao corpo f�sico, para continuar a
<br>tarefa que deixamos inacabada, como diz Ocaj: a volta �s oportunidades
<br>perdidas no ontem.
<br>
<br>� Tanaj�, a auto-estima n�o pode levar o homem ao ego�smo?
<br>� N�o, Luiz, ao adquirir a auto-estima, o homem n�o � levado ao
<br>ego�smo por ela, por que a auto-estima � a descoberta dos valores da alma.
<br>Quem a descobre aprende a respeitar a alma do seu pr�ximo. Ao conhecer
<br>a pr�pria alma, buscar� n�o causar trauma na alma do pr�ximo, enfim, respeitar,
<br>somente respeitar.
<br>� Tanaj�, n�o � perigoso, ao procurar ajuda terap�utica, o homem
<br>n�o entender bem o que � auto-estima e assumir uma posi��o dura em rela��o
<br>ao seu pr�ximo? indagou Marry.
<br>� Irm�, n�o queremos acreditar que um psic�logo venha a causar
<br>dano a um dos seus pacientes. Seria muito triste para a ci�ncia se algu�m que
<br>cursa uma faculdade, tendo nas m�os a responsabilidade de adentrar a alma
<br>de outro, abusasse dessa regalia. Quando um paciente abre a porta da sua
<br>alma para o terapeuta, este tem de conscientizar-se de que, antes do diploma,
<br>deve vir o seu pr�prio equil�brio.
<br>
<br>� Hoje, vemos um n�mero cada vez maior de crian�as sendo levadas
<br>aos consult�rios.
<br>� Isso est� acontecendo porque os pais n�o encontram tempo para
<br>ouvir seus filhos.
<br>� A medita��o � t�o importante quanto a prece, Tanaj�?
<br>� Sim. Est� provado cientificamente que a prece acalma e traz esperan�a
<br>� alma. A medita��o proporciona paz interior e faz com que o homem
<br>encontre o descanso por alguns momentos.
<br>� Se algu�m imaginar que � amado, sentir-se-� mais feliz?
<br>� Sim, Luiz, quando o homem imagina que � amado, sente que �
<br>amado, isso aumenta a sua auto-estima. Quando se aproxima dos outros,
<br>n�o tem medo de n�o ser aceito. Ele possui um reservat�rio magn�tico que
<br>atrai as pessoas e o torna simp�tico. Agora, se o homem se julga um traste,
<br>sem valor, feio, pavoroso, insignificante, ningu�m vai julgar o contr�rio. Se
<br>ele n�o gosta de si pr�prio, quem ir� gostar dele? O homem de baixa estima
<br>vive imaginando situa��es negativas, enxergando somente desentendimentos;
<br>basta algu�m n�o notar sua presen�a para sentir-se ofendido. Vive exagerando
<br>os defeitos das outras pessoas e torna-se maledicente. E ningu�m
<br>suporta uma pessoa descontrolada, pois vive azeda e mal humorada, somente
<br>porque enxerga fei�ra ao redor, faltando-lhe amor no cora��o. S�o criaturas
<br>infelizes, sem auto-estima. Todos os filhos de Deus foram criados para
<br>serem felizes. E toda pessoa, por mais feia que seja, se possuir controle
<br>mental, ou seja, se controlar sua imagina��o de forma positiva, come�ar� a
<br>se sentir bonita e amada e logo muitos tamb�m assim pensar�o. O homem
<br>tem de se gostar, para direcionar o que tem dentro de si at� os outros.
<br>� Para voc�, Tanaj�, n�o existem pessoas feias e insignificantes?
<br>� Para mim n�o existem pessoas insignificantes nem feias, porque
<br>todas s�o criaturas de Deus, e Ele n�o criou monstros, as criaturas � que se
<br>enfearam e se tornaram insignificantes. Portanto, nelas est� a chave que pode
<br>abrir o local lacrado pela falta de auto-estima. A beleza da criatura est� la
<br>
<br>tente nela, basta conhecer a Deus e pensar que � uma escultura moldada pelo
<br>Construtor do Universo. Ele, o Pai Todo-Poderoso, n�o criou ningu�m feio,
<br>pois t�o bem embelezou o Universo. A Natureza � bel�ssima e o homem faz
<br>parte dela, � um dos elementos necess�rios para o equil�brio do Universo.
<br>Ningu�m � insignificante; desde o s�bio at� o tido como med�ocre, todos s�o
<br>criaturas de Deus e passaram pelas Suas m�os de artista do Universo. Se as
<br>criaturas pensassem assim, n�o se auto-destruiriam nem se sentiriam incapazes
<br>de fazer algo que desejam, porque veio o Mestre Jesus e disse: Pedi e
<br>obtereis, batei e abrir-se-vos-�. Ele n�o disse: s� bata aquele que � bonito,
<br>inteligente e bom. N�o. Ele disse a todas as criaturas de Deus que o Pai
<br>espera a todos os Seus filhos. Para o Criador, todos s�o importantes. Se
<br>existem, como em todas as boas fam�lias, criaturas dif�ceis e desequilibradas,
<br>que estas n�o sejamos n�s, que estamos tudo fazendo para adquirir a autoestima.
<br>
<br>
<br>� Isso tamb�m serve para as pessoas negativas, que vivem pensando
<br>o pior; aquelas que hoje j� est�o preocupadas com o amanh�?
<br>� Sim, irm�. As pessoas negativas n�o imaginam que o pensamento
<br>de algo negativo as prejudicar�.
<br>� Como assim, Tanaj�?
<br>� No c�rebro de cada indiv�duo, Luiz, existe um computador � vamos
<br>falar assim para tornar mais f�cil a compreens�o. No pessimista, que
<br>vive pensando mal, o seu computador vai programando esses pensamentos e
<br>eles v�o ficando impressos em sua aura; s�o as chamadas formas-pensamento,
<br>que podem tornar-se realidade. Portanto, o homem pode programar
<br>para melhor ou para pior os acontecimentos de sua vida. Tanto a medita��o
<br>quanto a prece ajudam o homem a manter-se equilibrado, e com isso ele
<br>aprende a controlar sua imagina��o e a sentir se pensou de forma negativa ou
<br>positiva. Programe-se, tenha pensamentos positivos, e ver� que os fatos normais
<br>da vida di�ria deixar�o de tomar propor��es negativas, porque a sua
<br>alma estar� fortalecida. Na sua aura, ficar�o impressos somente fluidos magn�ticos
<br>do otimismo.
<br>
<br>� Acho dif�cil, Tanaj�, passar vinte e quatro horas pensando apenas
<br>positivamente.
<br>� Tudo � exerc�cio na vida. O homem que � avaro tem de exercitar a
<br>caridade; hoje somos uma caixa de f�sforo, amanh�, uma caixa de vela,
<br>outro dia, a luz el�trica. Tudo � uma quest�o de come�ar; � ligar o computador
<br>mental e programar coisas positivas, para que voc� seja o primeiro beneficiado
<br>e, ao se transformar, viver melhor, ser mais feliz. No entanto, se
<br>viver agoniado, infeliz, com medo de perder o emprego, de n�o ter o que
<br>vestir e o que comer amanh�, gritando e brigando com as pessoas que est�o
<br>perto de voc�, se se aborrecer quando faltar �gua em casa, se queimaram os
<br>aparelhos el�tricos, se quebrou a fruteira de cristal da Bav�ria, se a empregada
<br>n�o veio, se o filho n�o obteve boas notas, se n�o teve dinheiro para
<br>comprar um belo terno, a vida vai ficar cada vez mais dif�cil. Voc� est� programando
<br>na sua mente o que vai lan�ar na sua aura: um campo negativo, e
<br>este campo vai lev�-lo ao desespero.
<br>� Amigo Tanaj�. as religi�es d�o ao homem uma certa for�a, atrav�s
<br>da f�. Muitas pessoas chegam �s Casas religiosas em total desespero e, ao
<br>encontrarem irm�os equilibrados, que as aconselham, mudam sua vida e muitas
<br>vezes julgam que isso ocorreu porque foi milagre de Deus. E todos n�s sabemos
<br>que, � medida que mudamos de comportamento, tamb�m as coisas ao
<br>nosso redor, pouco a pouco, v�o mudando.
<br>� Marry, os Esp�ritos est�o hoje levando at� as Casas Esp�ritas essas
<br>orienta��es, para que cada freq�entador torne-se um membro da fam�lia do
<br>Cristo, e n�o apenas mais um freq�entador da Casa. Um ajudando o outro,
<br>ambos aprender�o a programar sua mente de forma positiva, e n�o somente
<br>buscando as cabines de passe, julgando que s�o os Esp�ritos menores que os
<br>levam a ter pensamentos maus.
<br>� A irm� acha que devem terminar com os passes?
<br>� N�o, Luiz, os passes s�o important�ssimos, pois foram utilizados
<br>at� por Jesus Cristo. N�o devemos � pensar que eles nos livram de tudo,
<br>principalmente dos nossos defeitos. A Casa Esp�rita deve ensinar seus
<br>
<br>freq�entadores a buscar na prece ou na medita��o um modo de deixarem de
<br>pensar em muitas coisas ao mesmo tempo. E tamb�m a se conscientizarem
<br>de que mediunidade n�o significa sofrimento; que mediunidade � trabalho e
<br>auto-melhoramento; que Doutrina Esp�rita n�o � apenas contato com Esp�ritos,
<br>e sim a descoberta da verdade, que faz com que o homem se liberte.
<br>
<br>� Liberte-se como, Marry?
<br>� Descobrindo a verdade, que � jamais morrer e progredir sempre.
<br>Assim, o homem come�a a se desprender das coisas materiais, pois sabe
<br>que os bens materiais s�o passageiros e passa a n�o temer a dor e a sentir-se
<br>protegido por Deus, pois a Doutrina Esp�rita ensina ao homem que Deus �
<br>onipresente; se Ele � onipresente, est� sempre junto a n�s. Se est� junto a
<br>n�s, por que tanto medo dos Esp�ritos inferiores? Percebemos que temos �
<br>de nos evangelizar, para nos tornarmos dignos da presen�a do Pai em n�s. A
<br>Casa Esp�rita que amedronta os iniciantes n�o est� apta a se tornar um templo
<br>de amor, porque a Doutrina esclarece, e veio para burilar o homem. O
<br>esp�rita tem conhecimento de que nada se leva de material do plano f�sico. �
<br>com pesar, Tanaj�, que ainda hoje presenciamos confrades levantando bandeiras
<br>contra companheiros, querendo ser os donos do Espiritismo, levando
<br>ao descr�dito este ou aquele Esp�rito, armando os opositores da Doutrina. O
<br>que est� faltando no Espiritismo � a uni�o. Em Mateus, Cap�tulo XII, vv. 2427,
<br>est� escrito: Ele expulsa os dem�nios por Belzebu, pr�ncipe dos dem�nios.
<br>Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Todo reino que
<br>se dividir contra si mesmo n�o subsistir�. Ora, se Satan�s expulsa a
<br>Satan�s, est� ele dividido contra si mesmo; como poder� ent�o o seu
<br>reino subsistir? Se � por Belzebu que expulso os dem�nios, por quem
<br>expulsa vossos filhos? Estes, por isso mesmo, � que ser�o os vossos
<br>ju�zes. Achamos que todos os esp�ritas devem ler esta passagem, principalmente
<br>aqueles que est�o criando uma nova inquisi��o, ca�ando as bruxas
<br>nos m�diuns e nas Casas Esp�ritas. Quando Jesus diz: Se � por Belzebu que
<br>expulso os dem�nios, por quem expulsam vossos filhos?, os filhos a que
<br>Ele Se refere s�o os exorcistas que existiam nas sinagogas. Portanto, esses
<br>exorcistas podiam expulsar os Esp�ritos, mas Jesus, n�o, porque n�o era um
<br>
<br>deles. Estes, por isso mesmo, � que ser�o vossos ju�zes. Por que um pode
<br>ser esp�rita, expulsar Esp�ritos, receber mensagem, e outros n�o? Dizem coisas
<br>pesadas sobre m�diuns, cuja vida esp�rita desconhecem, apenas dizendo-
<br>se defensores da Doutrina, como fizeram outrora com Jesus. Em Jo�o,
<br>Cap�tulo VIII, vers�culo 49, encontramos: Respondeu Jesus: Eu n�o tenho
<br>dem�nio, ao contr�rio, honro o Pai e v�s o desonrais. N�o busco minha
<br>gl�ria. H� quem a busque e julgue. O Cristo honrou a palavra de Deus, e
<br>O culparam. Ser� que hoje alguns esp�ritas n�o est�o fazendo o mesmo? No
<br>Cap�tulo VIII, ainda de Jo�o, vers�culo 52, lemos: Disseram os judeus:
<br>Agora nos convencemos de que tens dem�nio. Abra�o morreu, tamb�m
<br>os profetas, e tu dizes: quem guardar minhas palavras nunca provar�
<br>morte. Hoje, esta passagem tamb�m se repete. S�o o m�dium ou a Casa
<br>Esp�rita que tentam mudar as pessoas para melhor, guardando as palavras de
<br>Deus, ensinando a viverem os Seus mandamentos, como fez Jesus. Esta passagem
<br>deve ser lida para melhor compreens�o da tarefa dos esp�ritas. Continuou
<br>Jesus, nos vers�culos 56 e 57: Abra�o, vosso pai, alegrou-se, porque
<br>havia de ver meu dia. Viu e exultou. Os judeus retrucaram: Ainda n�o
<br>tens cinq�enta anos e viste Abra�o ? O estudioso das Escrituras deve prestar
<br>aten��o para o aumento da idade, t�o comum nos escritos b�blicos. Respondeu
<br>Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abra�o
<br>fosse, eu sou. Apanharam pedras para atirar-lhe; mas Jesus se escondeu
<br>e saiu. Tanaj�, desculpe se estamos falando sobre esta passagem. O
<br>que o irm�o nos passou � necess�rio para o homem atual, principalmente os
<br>esp�ritas, que precisam se auto-educar para tentar evangelizar os outros. Aqui,
<br>
<br>o Cristo afirma: Antes que Abra�o fosse, eu sou. Sim, Ele � Jesus, o Governador
<br>do Planeta, e Abra�o alegrou-se quando o Messias chegou at� o plano
<br>f�sico para viver as leis divinas. No Cap�tulo X, vers�culos 17-21, diz
<br>Jesus: O Pai me ama, porque dou minha vida para de novo a retomar.
<br>Ningu�m a tira de mim. Sou eu mesmo que a dou. Esp�ritas, estudem estes
<br>vers�culos, por favor, antes de atirar pedras. (...) Tenho o poder para d�-la
<br>e para novamente retom�-la. Tal a ordem que recebi de meu Pai. N�s,
<br>os Esp�ritos errantes, temos este poder? l9De novo originou-se desacordo
<br>entre os judeus a prop�sito daquelas palavras. 20Muitos diziam: Ele est�
<br>
<br>possu�do do dem�nio. Perdeu o ju�zo, porque o escutais? 21Outros diziam:
<br>Estas palavras n�o s�o de quem est� possu�do de dem�nio. Por
<br>acaso um dem�nio pode abrir os olhos aos cegos? Quantos m�diuns est�o
<br>trabalhando em prol do pr�ximo, abrindo os olhos aos cegos, n�o tendo
<br>tempo para nada, a n�o ser para servir! Vamos ao livro Deuteron�mio, Cap�tulo
<br>I, vers�culo 17: N�o deis aten��o em vossos julgamentos � apar�ncia
<br>das pessoas. Ouvi tanto as pequenas como as grandes sem temor de
<br>ningu�m, porque a Deus pertence o ju�zo. Diz Jesus em Mateus, Cap�tulo
<br>X, vers�culos 24-25: O disc�pulo n�o est� acima do mestre nem o escravo
<br>acima do patr�o. Ao disc�pulo basta ser como o mestre e ao escravo
<br>como o patr�o. Se ao chefe de fam�lia chamaram de Belzebu, quanto
<br>mais aos seus familiares. Ningu�m defende o Cristo com pedras nas m�os.
<br>Podemos defend�-Lo, tornando-nos um mensageiro da paz, da Doutrina
<br>que dizemos professar. Se Ele, o Cristo, condenou a viol�ncia, como podem
<br>os que se dizem Seus seguidores viverem armados de �dio contra esta ou
<br>aquela doutrina, ou contra companheiros de f�?
<br>
<br>� N�o sabia, Marry, que a irm� t�o bem conhecia as Escrituras.
<br>� Luiz S�rgio, se os esp�ritas n�o a estudarem a fundo, tornar-se-�
<br>dif�cil orarem em paz nas Casas Esp�ritas, porque, se atacaram o chefe da
<br>fam�lia, imagine o que n�o far�o com seus dom�sticos! Por isso, Tanaj�,
<br>achamos o seu trabalho junto � Casa Esp�rita muito valioso. O Centro Esp�rita
<br>tem de preparar os seus m�diuns, fortalec�-los, faz�-los obter auto-estima;
<br>caso contr�rio, ser�o cegos guiando cegos. A orienta��o s� deve ser
<br>ministrada por pessoas equilibradas. Aquele que chega precisa ouvir palavras
<br>que o far�o mudar de comportamento. Agu�ar o orgulho do iniciante,
<br>dizendo que ele � portador de uma mediunidade gloriosa, leva-o ao caminho
<br>mais tortuoso da Doutrina: a vaidade. Ao iniciante, deve-se oferecer conhecimento
<br>da Doutrina dos Esp�ritos. Quando ele adentra uma Casa Esp�rita,
<br>est� transpondo a porta onde ir� encontrar informa��o sobre a vida e a morte,
<br>sobre como proceder bem no mundo f�sico para encontrar a paz na sua
<br>consci�ncia, que vai dar-lhe um passaporte para desencarnar bem. As pessoas
<br>que se dizem esp�ritas, e que s� pioram os acontecimentos nos seus
<br>
<br>lares, n�o est�o preparadas para enxergar a luz da Doutrina Esp�rita; est�o
<br>em busca apenas dos fen�menos e dos milagres.
<br>
<br>� Marry, voc� tamb�m acha que o m�dium tem de fortalecer a sua
<br>mente para servir n�o s� aos Esp�ritos, como aos encarnados que o buscam?
<br>� Sim, Tanaj�. O Centro Esp�rita que n�o procurar educar os seus
<br>freq�entadores, desde o maternal at� os m�diuns que trabalham na Casa,
<br>n�o suportar� os melindres daqueles que viver�o criando celeuma e abandonando
<br>a Casa, levando m�goas e partindo para as cal�nias, como esses que
<br>aparecem nas televis�es. � prefer�vel um Centro Esp�rita com poucos m�diuns
<br>equilibrados, do que muitos, que mais precisam de ajuda do que levar
<br>a ajuda ao pr�ximo. A Doutrina Esp�rita � o �ltimo chamado para que compare�amos
<br>ao festim das bodas, quando ser�o separados o joio do trigo. Ao
<br>n�o preparar o homem para essas "bodas", as Casas Esp�ritas perdem sua
<br>finalidade. Foi-se o tempo em que os esp�ritas estavam preocupados em
<br>doutrinar os Esp�ritos. Hoje, para que o homem n�o sofra influencia��o dos
<br>Esp�ritos inferiores, ele tem de se auto-fortalecer, atrav�s da ora��o e da
<br>medita��o, procurando trabalhar em prol do pr�prio crescimento espiritual e
<br>o do seu pr�ximo. Do contr�rio, demonstrar� que est� apenas conhecendo a
<br>Doutrina, mas n�o se tornando o trabalhador da �ltima hora. O esp�rita n�o
<br>p�ra de trabalhar. Como diz Francisca Theresa, Esp�rito n�o tem idade, sim
<br>responsabilidade. E o Cristo disse: "Meu Pai trabalha sem cessar e eu tamb�m
<br>trabalho". A sua tarefa, Tanaj�, � merit�ria, e queira Deus chegue aos
<br>esp�ritas, fazendo com que cada um busque a auto-estima. Irm�o, a passagem
<br>de Jesus, quando atacado pelos fariseus, mostra a grandeza do Seu
<br>Esp�rito, pois Ele confirma que � o Filho de Deus, dizendo que o Pai � quem
<br>tem o poder de conhecer e computar as obras dos Seus filhos e n�o Ele,
<br>Jesus; Ele apenas procurou reavivar o que Deus Lhe deu, para ser trazido
<br>aos Seus irm�os. O Mestre d� uma verdadeira aula de Doutrina Esp�rita,
<br>neste Cap�tulo de Mateus, e o esp�rita que estuda tem em suas m�os, n�o a
<br>defesa do Espiritismo, mas a confirma��o que o Espiritismo � o Consolador
<br>prometido por Jesus. O que tem de parar � a falta de conhecimento doutrin�rio.
<br>O verdadeiro esp�rita chama a aten��o para a sua pessoa quando tem
<br>
<br>uma conduta crist�. Ao dizermo-nos esp�ritas, se n�o possuirmos uma conduta
<br>esp�rita, faremos muito mal � Doutrina. O Cristo � o verbo de Deus,
<br>nada que fez comprometeu a Sua miss�o, ao contr�rio, quando levado ao
<br>Calv�rio, falou para o Pai: "Perdoa, Senhor, eles n�o sabem o que fazem".
<br>Com que piedade Ele recitou estas palavras, por conhecer bem os habitantes
<br>do planeta que governa! Jesus n�o criticou nem foi juiz de ningu�m, nem de
<br>Judas ou de Pilatos. O que Ele nos ensinou, o Consolador confirma: o amor
<br>a Deus e ao pr�ximo como a si mesmo. O Consolador tamb�m n�o deu a
<br>nenhum esp�rita o diploma de juiz ou o de acusador. � bom que cada um
<br>comece a julgar as suas pr�prias obras, porque o Senhor n�o ir� perguntar o
<br>que fez o esp�rita que voc� est� acusando, mas perguntar� a cada um de n�s
<br>pelas nossas pr�prias obras. E se respondermos: ficamos armados de canetas
<br>e de microfones para defender o Cristo e a Doutrina Esp�rita, e n�o tivemos
<br>tempo para fazer boas obras, Ele dir�: apartai-vos de mim, v�s que
<br>praticais iniquidades.
<br>
<br>Tanaj� completou:
<br>
<br>� Gostamos tamb�m, Marry, deste trecho de Isa�as, Cap�tulo XLII,
<br>vers�culo 1�., cujas palavras prenunciavam a presen�a do Cristo entre
<br>n�s: Eis o meu servo, a quem apoio; o meu eleito, no qual a minha
<br>alma p�s a sua complac�ncia; pus nele o meu esp�rito; ele levar� o
<br>direito aos povos. Temos aqui o primeiro poema do assim chamado servo
<br>do Senhor. Quem diz que o Cristo � Deus n�o estuda a B�blia. Nesta
<br>linda passagem, o Cristo mostra o quanto � fiel � lei de Deus. Ele, o
<br>Messias esperado, disse categoricamente que n�o veio condenar nem
<br>julgar ningu�m, Ele veio ao plano f�sico ensinar aos Seus irm�os o caminho
<br>que leva � perfei��o. Ningu�m, a n�o ser Ele, Jesus, tem o Esp�rito
<br>de Deus a gui�-Lo; acreditamos que somente Ele, no planeta Terra, tem
<br>o poder de conversar com Deus. 2N�o gritar�, nem far� acep��o de
<br>pessoas, nem levantar� a voz. Jesus � manso e pac�fico. E n�o far�
<br>ouvir sua voz pelas ruas. Ser� que os ofensores do Espiritismo l�em
<br>mesmo a B�blia e este trecho que dela tiraram? Jesus n�o sa�a gritando
<br>pelas ruas, menosprezando e atacando os escribas e os fariseus. Ele bus
<br>
<br>cou os estropiados, o que deveriam fazer os esp�ritas, porque se tamb�m
<br>erguerem a voz e partirem em campanha contra outras religi�es ou contra
<br>os pr�prios esp�ritas, estar�o indo contra as palavras do Mestre, o Cristo,
<br>cuja miss�o central foi levar o direito ou a verdadeira religi�o aos
<br>povos � a religi�o do amor, da humildade, do respeito ao pr�ximo. 3N�o
<br>quebrar� a cana rachada, nem apagar� a mecha que est� morrendo.
<br>A cana rachada � o homem que cumpre a lei da reencarna��o, vestido
<br>de um corpo carnal. Jesus veio ao plano f�sico para salv�-lo, mostrando
<br>
<br>o caminho que leva ao Pai. Ele n�o veio mandar para o inferno, para
<br>serem queimadas as canas rachadas de imperfei��o. A mecha que est�
<br>morrendo; com fidelidade levar� o direito. O homem, quando cessa o
<br>seu fluido vital, deixa a morada carnal e leva com ele o que tem direito, o
<br>que fez de bom ou de mau.4 Ele n�o esmorecer� nem se deixar� abater,
<br>at� estabelecer na terra o direito, as ilhas aguardam sua doutrina.
<br>O trecho refere-se � miss�o do Cristo: tornar o povo da Terra feliz,
<br>quando esta se regenerar. Os outros vers�culos s�o lindos tamb�m, o que
<br>o seu leitor, Luiz S�rgio, deve procurar ler. No Cap�tulo XLV, vers�culo
<br>9, lemos: Ai daquele que reclama contra seu criador, quando � simples
<br>vasilha de barro entre vasilhas de argila! Porventura a argila
<br>dir� a quem a molda: O que est� fazendo? Pobre do homem sem f�,
<br>que culpa Deus pelas horas de sofrimento que ele mesmo plantou! Vasilha
<br>de barro significa que os homens ainda est�o sujeitos a provas e
<br>expia��o. Vasilha de argila, o homem que respeita a Deus e sabe o
<br>quanto Ele � justo e bom. S� a Doutrina Esp�rita ensina o homem a tentar
<br>livrar-se das imperfei��es, e ser forte na hora do sofrimento. Todas essas
<br>cita��es est�o relacionadas com o momento em que o Cristo foi chamado
<br>por curar um endemoninhado cego e mudo. Ele foi acusado de praticar
<br>uma seita demon�aca. O mesmo est� acontecendo com os esp�ritas:
<br>quase todas as religi�es que se dizem crist�s acusam os esp�ritas de serem
<br>guiados pelos dem�nios. E foi nesse cap�tulo que o Mestre falou:
<br>Por isso vos digo: todo pecado e blasf�mia ser�o perdoados aos homens,
<br>por�m, a blasf�mia contra o Esp�rito Santo n�o ser� perdoada
<br>(Mateus, Cap. XII, v. 31). O Cristo tem raz�o, acusar o homem � erra
<br>
<br>
<br>
<br>do, mas ele pode defender-se. Mas levantar campanha contra este ou
<br>aquele Esp�rito � covardia, porque eles n�o podem defender-se. Principalmente,
<br>quando as acusa��es beiram a loucura, tanto que ofendem os
<br>Esp�ritos, merecedores de todo o respeito.
<br>
<br>Intervi:
<br>
<br>� Tanaj�, hoje basta um Esp�rito escrever um livro e "l� vem paulada",
<br>como se ele fosse destruir o edif�cio da fraternidade, constru�do por
<br>Kardec e pelos fil�sofos do Espiritismo. Entre os disc�pulos dos fariseus,
<br>haviam exorcistas aos quais os fariseus n�o atribu�am poderes de satan�s.
<br>Por que, ent�o, atribu�-los a Jesus, que com Seu poder sobre o dem�nio
<br>demonstra Sua autoridade de Mestre e de arauto do reino de Deus, que veio
<br>se instalar no planeta Terra? Hoje, os detratores do Espiritismo, e tamb�m
<br>alguns doutores da Doutrina, s� aceitam os seus exorcistas, o que eles e os
<br>seus disc�pulos realizam, os seus poderes n�o prov�m de Satan�s nem de
<br>Esp�ritos inferiores. Por que ent�o atribu�-los ao Espiritismo e a m�diuns desconhecidos?
<br>O estudo s�rio leva o homem a n�o praticar injusti�a. Ainda em
<br>Isa�as, Cap�tulo LVII, vers�culo 11, lemos: De que tiveste tanto medo e
<br>pavor para te tornares infiel? N�o te lembraste de mim, nem te preocupaste
<br>comigo. Sim, eu fiquei quieto e fechei os olhos de modo que n�o
<br>me temeste. Quantos, acovardados quando lhes perguntam que religi�o � a
<br>sua, respondem outra, com medo de se dizerem esp�ritas. nVou denunciar
<br>tua justi�a, e tua conduta n�o te trar� proveito. Quantos saem das Casas
<br>Esp�ritas pressionados por m�e, pai, filho, marido, enfim, pela fam�lia! Quando
<br>ocorrer a separa��o do joio e do trigo, ser� que ir�o se salvar? l3Quando
<br>gritares por socorro, que teus numerosos �dolos te libertem.(...) Quantas
<br>criaturas fogem das tarefas, deixando para tr�s compromissos intransfer�veis,
<br>apenas porque se melindram, ou para agradar a fam�lia! Quando gritares
<br>por socorro, que teus numerosos �dolos te libertem(...). Ser� que ser�o
<br>capazes? A�, n�o digam: "eu n�o sabia!..." (...) o vento os arrebatar� a
<br>todos sem exce��o, uma simples brisa os levar�; mas quem confia em
<br>mim possuir� o pa�s e ter� como parte o meu santo monte. Pode existir
<br>felicidade maior do que esta, de ficar no pa�s, o planeta Terra, na hora em
<br>
<br>que ele receber o pr�mio da regenera��o? Quem tiver a felicidade de ser
<br>escolhido cantar� louvores ao Senhor. Mas para que isso ocorra, n�o importa
<br>a doutrina que professemos, e sim o que fizermos com a Doutrina do
<br>Cristo, o que pregarmos em Seu nome; se perdoamos infinitamente ou se
<br>apenas acusamos o nosso pr�ximo. Ser� que fomos fi�is a Ele, que tanto nos
<br>ensinou a humildade, ou tentamos fazer uma barreira entre n�s e os pecadores,
<br>com medo deles contaminarem a "nossa" Doutrina e o "nosso" Cristo? �
<br>bom refletir enquanto h� tempo, antes que o vento os arrebate a todos sem
<br>exce��o. Aquele que foi fiel � palavra, uma simples brisa o levar� a possuir o
<br>pa�s, isto �, o Planeta. Este trecho lembra os estrangeiros ilegais em um pa�s,
<br>sem visto de perman�ncia: n�o adianta argumentar, s�o presos e banidos do
<br>pa�s. Marry e Tanaj�, nesta passagem, o Cristo � atacado por praticar o
<br>Espiritismo, quando os detratores se levantaram contra Ele. Em Mateus foram
<br>lembrados os trechos de Isa�as que aqui citamos, mas o Cap�tulo LVIII
<br>de Isa�as tamb�m diz o que o Seu seguidor precisa para expulsar o dem�nio,
<br>isto �, os Esp�ritos inferiores: ora��o e jejum. E vai mais al�m: d� a todos a
<br>orienta��o sobre o que devemos fazer para obter autoridade com os Esp�ritos
<br>inferiores, e qual � o jejum verdadeiro. Isa�as, Cap�tulo LVIII, vers�culo
<br>
<br>5: Acaso o jejum que eu aprecio consiste em um dia em que a pessoa se
<br>mortifique? Acaso basta andar de rosto ca�do como junco, deitar-se em
<br>saco de cinzas? Chamas isso de jejum, dia agrad�vel ao Senhor? N�o.
<br>N�o. N�o. O jejum que aprecio � este: solta as algemas injustas, desata
<br>as buchas da canga. O que conta para Deus, nesta passagem, n�o s�o os
<br>ritos ou atitudes externas, vestir-se de mendigo, mas a atitude interior e, especialmente,
<br>o esp�rito de solidariedade. 6Solta as algemas injustas, isto �,
<br>solta os presos inocentes. 1Reparte o p�o com o faminto, acolhe em casa
<br>os pobres sem teto. Quando vires um homem sem roupa, veste-o. E n�o
<br>receies a ajudar o pr�ximo. Ent�o tua luz romper� com a aurora, e tua
<br>ferida depressa ficar� curada. Quem procede assim pode contar com o
<br>aux�lio de Deus. E a pessoa ter� luz interior, que a ajudar� a espantar as
<br>trevas. Na par�bola sobre o ju�zo final, Jesus acentuou ainda mais o valor da
<br>caridade, e no Serm�o da Montanha reprovou a caridade ostensiva.
<br>
<br>� O irm�o conhece bem os textos b�blicos? perguntou-me Tanaj�.
<br>
<br>� S� um pouco, n�o tenho muito tempo para estud�-los. Mas quando
<br>posso, procuro um grande amigo e fico muitas horas estudando com ele.
<br>Esse querido amigo, por quem tenho uma grande estima, sempre descobre
<br>maravilhas nas Escrituras, de onde a Doutrina Esp�rita surge, majestosa. Hoje,
<br>Tanaj�, o esp�rita que n�o estuda a B�blia pouco ir� entender da Doutrina,
<br>porque ela � o belo diamante que est� nas garras lapidadas das p�ginas
<br>b�blicas.
<br>Mostrei, ent�o, o seguinte desenho, que eu havia feito:
<br>
<br>
<br>Marry elucidou:
<br>
<br>� � tamb�m muito importante para o esp�rita este trecho de Isa�as,
<br>Cap�tulo LXV, vers�culo 17, quando � anunciado um novo �xodo: Sim, vou
<br>criar novo c�u e nova terra. J� n�o haver� lembran�a do que passou.
<br>Nisto j� n�o pensar�. O homem, reencarnado no mundo de regenera��o,
<br>ainda estar� sujeito �s reencarna��es sucessivas. i8Antes exultai e alegraivos
<br>sem fim, por aquilo que eu crio: pois fa�o de Jerusal�m uma cidade
<br>de j�bilo e de seus habitantes um povo alegre. Aqui Jesus falou, por interm�dio
<br>de Isa�as, que Jerusal�m ser� o centro do planeta renovado. 19(...)
<br>Nela n�o haver� choros nem gritos de dor. 20N�o haver� crian�as que
<br>vivem apenas alguns dias, pessoas idosas que n�o levem a pleno termo
<br>os seus dias. Pois ser� jovem quem morrer aos cem anos.(-) A Doutrina
<br>Esp�rita a� est�. Para melhor compreens�o desses vers�culos, vamos at� O
<br>Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap�tulo III � H� muitas moradas
<br>na Casa de meu Pai, item 17, Mundos regeneradores: (...)Nesses mundos,
<br>todavia, ainda n�o existe a felicidade perfeita, mas a aurora da
<br>felicidade. O homem l� � ainda de carne e, por isso, sujeito �s vicissitu
<br>
<br>
<br>
<br>des de que libertos s� se acham os seres completamente desmaterializados.
<br>Ainda tem de suportar provas, por�m, sem as pungentes
<br>ang�stias da expia��o. Comparados � Terra, esses mundos s�o bastante
<br>ditosos e muitos dentre v�s se alegrariam de habit�-los, pois que eles
<br>representam a calma ap�s a tempestade, a convalescen�a ap�s a mol�stia
<br>cruel. Contudo, menos absorvido pelas coisas materiais, o homem
<br>divisa, melhor do que v�s, o futuro; compreende a exist�ncia de outros
<br>gozos prometidos pelo Senhor aos que deles se mostrem dignos, quando
<br>a morte lhes houver de novo ceifado os corpos, afim de lhes outorgar a
<br>verdadeira vida. Ent�o, liberta, a alma pairar� acima de todos os horizontes.
<br>N�o mais sentidos materiais e grosseiros; somente os sentidos de
<br>um perisp�rito puro e celeste, a aspirar as emana��es do pr�prio Deus,
<br>nos aromas de amor e de caridade que do seu seio emanam.
<br>
<br>Ainda em Isa�as, Cap�tulo LXV, vers�culo 20, lemos: (...) e quem n�o
<br>alcan�ar os cem anos passar� por maldito. Aquele que n�o procurar tornar-
<br>se bom ser� exclu�do do mundo regenerador. 21E edificar�o casas, e
<br>habitar�o nelas; e plantar�o vinhas, e comer�o o seu fruto. 22N�o lhes
<br>suceder� edificarem eles casas, e ser outro quem as habite; nem plantarem
<br>para que outro coma (o fruto); porque os dias do meu povo ser�o
<br>como os dias das �rvores (que duram muito), e as obras das suas m�os
<br>
<br>2iOs
<br>
<br>envelhecer�o. meus escolhidos n�o trabalhar�o debalde, nem gerar�o
<br>filhos para a turba��o; porque ser�o uma estirpe de benditos do
<br>Senhor, eles e os seus netos com eles. 24E acontecer� que, antes que eles
<br>
<br>250
<br>
<br>clamem, eu os ouvirei; estando eles ainda a falar, eu os atenderei.
<br>lobo e o cordeiro pastar�o juntos, o le�o e o boi comer�o palha; e o p�
<br>ser� para a serpente o seu alimento. N�o haver� quem fa�a mal nem
<br>cause mortes em todo o meu santo monte, diz o Senhor.
<br>
<br>O interessante, amigo leitor, � que a nossa conversa iniciou-se com
<br>Tanaj�, falando da necessidade de os esp�ritas desenvolverem a auto-estima,
<br>e que a Doutrina Esp�rita tem de tornar o homem bom e forte. Depois, Marry
<br>falou do perigo das brigas religiosas, que podem ocorrer onde n�o houver
<br>humildade e fidelidade �s palavras do Cristo.
<br>
<br>211
<br>
<br>
<br>Para encerrar este estudo, nada melhor do que lermos no
<br>Apocalipse, Cap�tulo XXI, vers�culo 1o.: Vi um c�u novo e uma terra
<br>nova, porque o primeiro c�u e a primeira terra haviam desaparecido
<br>e o mar j� n�o existia. 3(...) Eis o tabern�culo de Deus com os homens(...).
<br>Os vers�culos 12, 14 e 22 falam que a nova Jerusal�m n�o
<br>
<br>12E
<br>
<br>possui templo. tinha um muro grande e alto com doze portas, e
<br>nas portas doze anjos, e uns nomes escritos, que s�o os nomes das
<br>
<br>14E
<br>
<br>doze tribos dos filhos de Israel.o muro da cidade tinha doze fun
<br>
<br>
<br>22E
<br>
<br>damentos; e neles os doze nomes dos doze Ap�stolos do Cordeiro.
<br>n�o vi templo nela, porque o Senhor Deus onipotente e o Cordeiro
<br>s�o o seu templo.
<br>
<br>� Porque, no mundo regenerador, o templo de Deus estar� erguido
<br>no c�rebro e no cora��o � falou Tanaj�.
<br>� Ser� que esse dia ir� chegar?
<br>� Esse dia j� est� chegando, Luiz S�rgio.
<br>� Tanaj�, por que o homem se auto-desvaloriza?
<br>� Porque com o passar dos anos ele acumula em sua psique as neuroses.
<br>Mas, sendo o mundo f�sico uma escola redentora, todos devem buscar
<br>a cura das suas fraquezas na consci�ncia, onde se encontram as leis de
<br>Deus, e nelas buscar a for�a para enfrentar as leis da carne, leis essas que
<br>dominam o homem encarnado.
<br>� Todos t�m condi��o de cura?
<br>� Sim, basta desejar. O mal � que a maioria dos homens n�o se
<br>esfor�a para ser boa. Foge da cruz do Cristo e parte em busca das bolhas de
<br>sab�o, que s�o os prazeres da carne.
<br>� Tanaj�, a prece d� ao homem a esperan�a, mas volto a perguntar:
<br>e a medita��o?
<br>� A medita��o eleva o homem a Deus, colocando-o face a face com
<br>o Senhor.
<br>
<br>� Ent�o, atrav�s da medita��o enxergamos o Pai?
<br>� N�o, os nossos olhos ainda cont�m impurezas. Com a medita��o,
<br>sentimos o Pai em n�s.
<br>� Hoje em dia presenciamos ainda alguns m�diuns vaidosos desejando
<br>os primeiros lugares. O que acha disso, Tanaj�?
<br>� A mediunidade � faculdade org�nica, aperfei�o�-la e torn�-la gloriosa
<br>� m�rito do m�dium. Se ele tem conhecimento da Doutrina Esp�rita,
<br>sentir-se-� como um ve�culo que s� funciona se acionado pelos Esp�ritos.
<br>Para possuir um bom relacionamento com os Esp�ritos, ele, o m�dium, precisa,
<br>e muito, de humildade, porque sem ela o m�dium � apenas feiticeiro,
<br>adivinho ou mago. A humildade d� ao m�dium o direito de desfrutar das mais
<br>seletas companhias.
<br>Marry comentou:
<br>
<br>� O grande mal do Espiritismo atual � a grande vontade de levantar
<br>Centros Esp�ritas, e n�o � esse o prop�sito verdadeiro. Ele veio para educar
<br>o homem, salv�-lo. Se olharmos o passado dos grandes esp�ritas, veremos o
<br>rastro de luz e de fraternidade que eles deixaram por onde passaram. Os
<br>vaidosos, os caluniadores, os fan�ticos, estes escrevem, com letras negras
<br>da falta de amor ao pr�ximo, a sua hist�ria. Se lermos a hist�ria religiosa,
<br>defrontar-nos-emos com esses irm�os levando o terror aos lares e queimando
<br>sem piedade os seus irm�os.
<br>� Tanaj�, voc� tem raz�o. Tem neguinho a� que s� sabe atirar pedras;
<br>plantar, que � bom, nada. Como falar do Cristo, se n�o seguimos o Seu
<br>exemplo? Quem viu o Cristo dizer ao gentio: "�s um renegado do meu Pai"?
<br>Quem viu o Cristo dizer: "os samaritanos s�o perigosos"? Ao contr�rio, Ele
<br>lhes rendeu gra�as. Quem viu o Cristo negar a cura a uma mulher fen�cia?
<br>Quem viu o Cristo deixar sem aux�lio o servo do centuri�o? Quem viu o
<br>Cristo atacar Paulo de Tarso no caminho de Damasco? Ao contr�rio, disse a
<br>ele: Saulo, Saulo, por que me persegues! Saulo, antes de encontr�-Lo,
<br>tamb�m dizia que defendia as leis de Deus, e matava sem piedade, como fez
<br>com Est�v�o. Ser� que ainda n�o aprendemos a lei do amor e precisamos
<br>
<br>ver sangue e l�grimas para provar a nossa f�? Achamos que n�o. A doutrina
<br>do Cristo � a doutrina do amor e, sendo o Espiritismo a terceira revela��o,
<br>tamb�m tem de tornar-se a doutrina do amor. Os homens passam, perdem-
<br>se no caminho da eternidade, mas aqueles que escreveram os seus nomes no
<br>livro do Cordeiro ser�o sempre citados como exemplos a serem seguidos. E
<br>a finalidade do Espiritismo � reformular o homem para lev�-lo a Deus. Fen�menos
<br>e fen�menos n�o s�o Doutrina. A Doutrina Esp�rita � a Doutrina dos
<br>Esp�ritos, ela veio ao plano f�sico para elucidar os homens e lev�-los a Deus.
<br>Brincar com ela � ir contra o Esp�rito Santo, e Jesus foi implac�vel quando
<br>disse: Os pecados ser�o perdoados, mas o que fizerdes contra o Esp�rito
<br>Santo, isto n�o ser� perdoado. O Esp�rito Santo � a pl�iade de Esp�ritos do
<br>Senhor, trazendo o alerta a todos os encarnados, dizendo a cada um: "o
<br>amor � que cobre a multid�o de pecados".
<br>
<br>Aproveitei para fazer mais um coment�rio:
<br>
<br>� A valoriza��o da vida s� ocorre quando nos conscientizamos do
<br>seu real valor. S� valorizaremos a Doutrina no dia em que dermos valor a n�s
<br>mesmos. Se gostamos de ser respeitado, devemos respeitar o nosso pr�ximo.
<br>� Fale-nos alguma coisa sobre medita��o, Tanaj�.
<br>� Estudando a mente humana, Marry, chegamos � conclus�o de que
<br>ela necessita de descanso. A medita��o � o descanso da mente porque, ao
<br>iniciarmos a medita��o, concentramos a mente unicamente em Deus; s� assim
<br>conseguimos a uni�o total com Ele. � diferente de uma concentra��o
<br>mental. A medita��o � mais completa.
<br>� A medita��o n�o � uma pr�tica esot�rica? Na Doutrina pode-se
<br>fazer medita��o?
<br>� Luiz S�rgio, m�diuns brasileiros muito respeitados, leais trabalhadores
<br>da Doutrina Esp�rita, usam a medita��o para manterem-se equilibrados.
<br>A medita��o n�o pertence a este ou �quele credo, ela � necess�ria para
<br>nos aproximarmos de Deus. Ela aquieta a alma para a prece, fazendo com
<br>que o homem deixe o mundo dos cinco sentidos e adentre o mundo de
<br>
<br>Deus. Quando estamos meditando, procuramos visualizar um mundo infinitamente
<br>belo. Ao nos aquietarmos neste mundo, iniciamos o louvor a Deus e
<br>vamos recebendo d'Ele Sua infinita for�a.
<br>
<br>� Ent�o o irm�o aconselha que todas as pessoas pratiquem medita��o?
<br>� Irm� Marry, n�s sempre aconselhamos a medita��o para o homem
<br>domar o seu Esp�rito; ela d� � alma o frescor da paz. Entretanto, o
<br>homem que pratica a medita��o tem de levar em sua consci�ncia uma
<br>bagagem de reais valores, porque ela n�o � uma simples brincadeira.
<br>Quando paramos para apreciar o fluxo da nossa respira��o, encontramonos
<br>com o Condutor da Vida: Deus, e diante d'Ele agradecemos o trabalho
<br>dos nossos �rg�os. Mentalizando bem cada centro de for�a que os
<br>comanda, levamos at� eles as nossas vibra��es de paz. O homem tem de
<br>aprender tamb�m a jogar fora as suas preocupa��es. Para ser feliz, ele
<br>precisa viver o hoje, esquecendo-se do ontem e n�o se preocupar com o
<br>amanh�. Sempre dizemos ao nosso grupo: se todos os anos jogamos fora
<br>o calend�rio antigo, por que n�o fazemos o mesmo com o que se passou
<br>em nossas vidas? Mas existem muitas pessoas que adoram sofrer, recordando
<br>o que passou. A medita��o tamb�m nos ensina que s� devemos
<br>estar preocupados para viver o hoje, porque a nossa grande oportunidade
<br>n�o � no amanh�, � hoje. Recordar � normal do homem, por�m sentir
<br>saudade ou revolta do que passou � um rem�dio amargo em nossa mente.
<br>Para viver bem temos de caprichar no dia de hoje, porque, se n�o
<br>apreciarmos cada segundo do dia, estaremos jogando fora a grande oportunidade
<br>que a vida nos d�.
<br>Marry agradeceu ao amigo. N�s o abra�amos com amor e respeito,
<br>pedindo-lhe:
<br>
<br>� Mande uma mensagem aos nossos leitores, Tanaj�.
<br>� S� podemos dizer: gostem-se muito, porque se n�s n�o nos gostamos,
<br>como vamos amar nosso semelhante? A auto-estima ajuda nos nossos
<br>relacionamentos. Cada homem tem de lutar pela auto-estima, s� assim des
<br>
<br>cobrir� o seu pr�ximo. Quem nao se ama tamb�m n�o ama o pr�ximo.
<br>
<br>� Tanaj�, como o homem pode buscar a sua auto-estima, quando se
<br>defronta com crise econ�mica, desemprego, viol�ncia, droga, prostitui��o
<br>infantil?
<br>� Luiz S�rgio, se cada ser humano harmonizar a sua alma, a sociedade
<br>ganhar� um pouco de paz. O mal do homem moderno � que ele pensa que
<br>pode comprar tudo, fabricar tudo, criar tudo, at� seres humanos.
<br>� O que voc� acha certo? Como deve proceder o homem?
<br>� O homem necessita de mais entusiasmo, mais otimismo, e tem de
<br>conscientizar-se de que a felicidade total n�o existe. E nada melhor do que a
<br>Doutrina Esp�rita para esclarecer sobre este assunto. Mas confundem felicidade
<br>com consumismo, pensando que aquele que tudo tem � felizardo. Com
<br>o avan�o da ci�ncia, as pessoas acham que podem fazer tudo, comprar tudo,
<br>fabricar tudo. A crian�a e o jovem n�o admitem que nem tudo podem ter.
<br>Eles querem, cada vez mais, e os pais, sem amor, sem autoridade, v�o fazendo
<br>as suas vontades. Pobres familias, at� quando Jesus as ver� sofrer? O
<br>homem deve aprender a viver o presente e n�o deve passar as horas do dia
<br>sonhando com a felicidade e ficando cada vez mais longe dela.
<br>� Tanaj�, como � poss�vel um pai de fam�lia desempregado ter autoestima?
<br>� Existem muitos que vivem infelizes, mesmo tendo bons empregos,
<br>�timas fam�lias, bons amigos; s�o infelizes por n�o serem belos, altos ou magros,
<br>ou bem mais ricos do que s�o.
<br>� Como pode um terapeuta cur�-los?
<br>� Levando-os buscar a realidade da vida. Essas pessoas s�o pessimistas,
<br>insatisfeitas, reclamam de tudo e tornam as suas vidas infelizes. Elas
<br>precisam aprender a se colocarem como donas do seu destino. Elas t�m de
<br>ser chamadas � responsabilidade. O sonho pertence a cada ser, porque desejar
<br>viver o sonho proposto por outrem � se anular e abdicar de seu pr�prio
<br>desejo. Vemos os homens correrem atr�s de uma felicidade fict�cia, mas a
<br>
<br>realidade � hoje, e o hoje tem de ser vivido. E para que ele seja mais bonito,
<br>n�o podemos desejar mais do que o dia possa nos dar, por�m, sempre com
<br>
<br>o prop�sito de embelezar os nossos dias.
<br>� Ent�o, Tanaj�, o homem deve correr atr�s dos seus sonhos de
<br>melhoria de vida, ou n�o?
<br>� Sim, o homem tem o dever de batalhar para melhorar o seu conforto,
<br>mas n�o sonhar demais, fugindo da realidade, deixando passar as oportunidades
<br>que a vida lhe d�. Porque, se ficar esperando uma felicidade total,
<br>jamais vai atingi-la, pois nunca se contentar� com o que tem, n�o se sujeitando
<br>sequer aos n�veis m�nimos de frustra��es que a sociedade imp�e �s pessoas.
<br>Ele precisa conscientizar-se de que os dias s�o preciosos em nossas
<br>vidas e procurar n�o viver correndo atr�s da felicidade, porque as horas
<br>perdidas de um dia nos trar�o muitos remorsos.
<br>� Os psic�logos ensinam que o homem deve buscar ser feliz.
<br>� Tamb�m afirmamos, Marry: o homem tem de viver a sua felicidade.
<br>Se viver somente sonhando em ser feliz, deixar� de viver as suas horas felizes.
<br>� Tanaj�, qual a causa de hoje vir aumentando a incid�ncia das doen�as
<br>nervosas?
<br>� O medo. O homem est� com medo, e quem melhor nos ensina a
<br>nos livrarmos dele � a Doutrina Esp�rita. Quem a estuda descobre um universo
<br>de conhecimentos, passando a melhor compreender as leis de Deus.
<br>� Voc� tem raz�o, conhe�o pessoas que vivem cobertas de preven��es
<br>contra o pr�ximo, o que os outros fazem de errado, enquanto ele, o
<br>"s�bio", o belo, vive de sonhos.
<br>� Jesus, o S�bio dos s�bios, ensinou o homem a viver o hoje. Mas
<br>t�o poucos escutaram a Sua voz! observou Marry.
<br>� A ora��o coloca o homem defronte de Deus, Tanaj�?
<br>� Feliz aquele que ora, Luiz S�rgio. O homem que ora encontra a
<br>
<br>for�a em si mesmo.
<br>
<br>Despedimo-nos do nosso querido amigo, que t�o bem conhece os
<br>homens.
<br>
<br>� Marry, querida, a cada dia encontramos em nossas vidas grandes
<br>amigos e Tanaj� � um deles. Conhecemos pessoas que, ajudadas por ele,
<br>recuperaram a auto-estima.
<br>� Luiz, muitos julgam que a felicidade se encontra nos bens materiais
<br>e ignoram o seu dia-a-dia, quando muitas vezes ele est� repleto de momentos
<br>felizes.
<br>
<br>Cap�tulo XVIII
<br>O FLAGELO DAS DROGAS
<br>
<br>
<br>Acompanhando sempre a querida amiga Marry, prossegui viagem pelo
<br>educand�rio divino, onde tenho aprendido tanto. Parando para pensar, recordei-
<br>me de quando iniciei a grande caminhada, a minha entrada na Universidade
<br>Maria de Nazar�, e divisei seu p�tio, onde grupos de estudantes,
<br>como ocorre na Terra, todos com suas pastas sob o bra�o, discutiam as
<br>teses da mat�ria daquele dia. Ainda escuto o tilintar da sineta. E sorri. Marry
<br>percebeu o meu semblante.
<br>
<br>� Em que est� pensando, Luiz?
<br>� Estou recordando-me de quando cheguei � Universidade Maria de
<br>Nazar�. Quem diria que viria at� aqui, onde hoje me encontro!...
<br>� Tem raz�o. Foi um longo caminho j� percorrido, e quantas informa��es
<br>o irm�o j� levou ao plano f�sico! Se n�o obtivemos vit�ria, pelo
<br>menos o seu grito de socorro no livro Na esperan�a de uma nova vida foi
<br>valioso, quando, corajosamente, Luiz S�rgio, voc� segurou o cajado da responsabilidade
<br>e partiu em defesa dos jovens. Quantas revela��es! Hoje,
<br>quando o Brasil enfrenta o tr�fico bem armado, lendo os seus primeiros livros,
<br>vemos quantos alertas, quantas revela��es, mas alguns esp�ritas n�o
<br>gostaram de se defrontar com uma realidade dura e cruel: a droga. Mas ela a�
<br>
<br>est�, cada vez mais forte, e as autoridades sem meios de dar um basta. E
<br>como o Espiritismo se preparou para elucidar seus jovens: proibindo seus
<br>livros ou procurando estud�-los? Os jovens est�o morrendo e a fam�lia junto
<br>a eles, e n�s, como nos fazermos ouvidos?
<br>
<br>� Irm�, eu e meus companheiros j� fizemos a nossa parte, j� demos o
<br>nosso recado. Quem ouviu, ouviu; quem n�o ouviu, foi porque n�o quis.
<br>� Uma vez que estamos recordando seus primeiros trabalhos sobre o
<br>assunto droga, vamos at� o Departamento Cient�fico n�mero cinq�enta e
<br>nove. L�, desenvolvem um estudo sobre o mundo dos drogados.
<br>� �, Marry, a minha tarefa com os drogados ainda n�o terminou ?
<br>Ela sorriu.
<br>� Se desejar, levamos voc� at� eles.
<br>� Eu adoraria, com certeza, s� que este lugar fica t�o longe...
<br>� Bem, Luiz, vamos ao departamento de pesquisas.
<br>� Marry, a sociedade est� brincando ao ignorar o terr�vel mal das
<br>drogas.
<br>E assim fomos recebidos por Karachi. Marry apresentou-me e ele,
<br>muito sorridente, perguntou:
<br>
<br>� H� quanto tempo o irm�o n�o trabalha com os Raiozinhos de Sol?
<br>� Estou um pouco afastado. Apenas me junto a eles quando estou
<br>em f�rias na Universidade.
<br>� Irm�o, no mundo f�sico o tr�fico de drogas est� terr�vel. O que est�
<br>fazendo este laborat�rio contra elas? indagou Marry.
<br>Ele nos fez entrar em uma sala de pesquisa e foi esclarecendo:
<br>
<br>� As drogas qu�micas e especialmente as pastilhas de ecstasy,
<br>identificadas como o mais perigoso inimigo da juventude mundial, queimam o
<br>c�rebro, levando o usu�rio � morte. O ecstasy n�o d� �xtase nem felicidade,
<br>
<br>apenas mata. O perigo, Marry, � que as drogas qu�micas, por serem as mais
<br>baratas, est�o sendo mais consumidas e tamb�m matando mais tamb�m. O
<br>ecstasy � uma droga perigosa, que tem lesado muitos jovens que correm
<br>para ela. As pastilhas s�o produzidas pelos laborat�rios holandeses, poloneses
<br>e alem�es.
<br>
<br>� O que ela acarreta aos usu�rios?
<br>� Provoca o empobrecimento da medula �ssea, a coagula��o do
<br>sangue, o aumento da press�o arterial e das pulsa��es card�acas, hemorragia
<br>de vasos do c�rebro, ressecamento no nariz, boca e garganta, inapet�ncia e
<br>intoxica��o do f�gado.
<br>� S� isso?... indaguei.
<br>Ele sorriu.
<br>� �, Luiz S�rgio, e os jovens enfrentam esses danos em busca de
<br>alguns minutos de sensa��es fortes.
<br>� Podemos saber que sensa��es s�o essas?
<br>� Todos os viciados s�o fracos. Quando o jovem parte para os v�cios,
<br>ele est� buscando auto-estima, euforia, rapidez de racioc�nio e a t�o falada
<br>loquacidade, o desejo sexual e v�rios tipos de alucina��es.
<br>� Por que os col�gios n�o levantam bandeiras contra as drogas?
<br>� Boa pergunta, Luiz. Por que as escolas tamb�m n�o alertam os
<br>jovens sobre o perigo do ecstasy? � acrescentou Marry. Irm�o, achamos
<br>f�cil as autoridades conterem a juventude, basta efetuar visitas inesperadas
<br>�s discotecas, boates, bares noturnos, � procura de provas e flagrantes de
<br>venda ou circula��o de drogas qu�micas. Os estabelecimentos flagrados ser�o
<br>considerados transgressores da lei e ter�o fechadas as suas portas. Muitos
<br>jovens desencarnam intoxicados pelas pastilhas de ecstasy. Para n�s, que
<br>estudamos os males das drogas, o ecstasy � uma verdadeira bomba.
<br>� N�o compreendo como as autoridades n�o chegam aos traficantes.
<br>� muito triste presenciar o aumento assustador de dependentes. Os sis
<br>
<br>temas de disque-drogas s�o t�o intensos no Brasil, que assustam. E esses
<br>sistemas atendem geralmente a clientes vips.
<br>
<br>� O Brasil, Luiz, ainda n�o se preparou para esta guerra e o que
<br>presenciamos � o fortalecimento dos traficantes. Eles movimentam cerca de
<br>tr�s toneladas ou mais de coca�na por ano. As autoridades necessitam equipar
<br>seus departamentos de investiga��es sobre narcotr�fico.
<br>� Olha que j� escrevi sobre isso h� quase quinze anos.
<br>O nosso amigo projetou na tela os pontos chaves da droga. E presenciamos
<br>que em cada regi�o h� um narcotraficante operando, dono do fornecimento.
<br>V�rios Estados recebem a droga de pa�ses ligados ao tr�fico.
<br>
<br>� Irm�o, o que pode ser feito em defesa do jovem e da crian�a?
<br>� Colocar a fam�lia bem informada; ela tem de tomar conta dos seus
<br>jovens, orient�-los, gui�-los, defend�-los.
<br>� Como fazer?
<br>� A fam�lia tem de conscientizar-se de que o t�xico � um mal mundial
<br>e de que � uma corrida desigual do bem contra o mal. As autoridades n�o
<br>t�m o poder de educar a juventude, mas t�m o dever de defend�-la. A fam�lia
<br>deve, desde a tenra idade das crian�as, alert�-las sobre o perigo das drogas.
<br>� As campanhas de esclarecimento s�o v�lidas?
<br>� Sim, mas � preciso muito mais. As autoridades precisam urgentemente
<br>pedir ajuda �s fam�lias, porque o foco parte delas.
<br>� Como assim?
<br>� A falta de educa��o, de limites, de amor � vida, de conhecimento
<br>sobre a morte, a fragilidade do corpo f�sico, enfim, � na fam�lia, no lar, que
<br>aprendemos os reais valores da vida. Est� na hora de cada um buscar os
<br>valores do Esp�rito. N�o d� mais para esperar, porque o tempo � agora. A
<br>cada dia a crian�a est� mais sem educa��o e o jovem mais sem limites. Com
<br>o progresso do planeta, a ci�ncia oferece muitas e muitas coisas bonitas e
<br>�teis para o conforto do corpo f�sico, mas n�o vai criar algo que favore�a o
<br>
<br>crescimento da alma. � preciso que cada ser lute por isso. E foi dada aos
<br>pais a incumb�ncia de prepararem as crian�as e os jovens para crescerem
<br>moral e intelectualmente. Muitos pais s� desejam que as autoridades defendam
<br>os seus filhos, quando � no afeto do lar que cada ser sente-se protegido.
<br>Temos piedade de alguns Esp�ritos que est�o voltando ao corpo f�sico e encontrando
<br>m�es e pais irrespons�veis, sem tempo para abra��-los e educ�los,
<br>porque, para educar algu�m, temos de possuir educa��o. E muitos jovens
<br>que brincam de sexo n�o possuem a m�nima educa��o, vestem-se, procedem
<br>e vivem longe de qualquer moral. E s�o eles, os pais, que recebem de
<br>Deus os Esp�ritos para cumpririrem a lei reencarnat�ria. A� � que reside a
<br>fragilidade da sociedade. Como pode haver uma sociedade feliz, se dos lares
<br>saem verdadeiras feras, sem conhecimento de Deus? � f�cil atacar ou culpar
<br>governo, pol�cia, enfim, o sistema governamental. Ningu�m, por�m, p�ra um
<br>pouco e analisa o seu procedimento junto � familia. No momento atual, as
<br>crian�as e os jovens est�o sem her�is, os seus pais vivem nas festinhas, aproveitando
<br>a vida, enquanto eles est�o diante de um televisor ou de um computador,
<br>sendo educados por eles. � dos lares que saem os traficantes, os
<br>homicidas, os drogados. No dia em que a fam�lia se auto-educar, teremos
<br>uma sociedade mais justa.
<br>
<br>� �, irm�o, � dos lares tamb�m que saem os chefes de governo.
<br>� Tem raz�o. No dia em que o homem for educado para ser digno,
<br>ele, ao chegar ao poder, n�o desejar� tirar vantagens. Saber�, como
<br>filho de Deus, ajudar os menos favorecidos e n�o veremos mais nas manchetes
<br>dos jornais os esc�ndalos administrativos. Cada homem ligado ao
<br>poder governamental estar� preocupado com o crescimento do seu pa�s
<br>e com a felicidade do povo, sem estar apenas voltado para si mesmo,
<br>porque o ego�smo e a gan�ncia � que levam certas pessoas a se apoderarem
<br>do que n�o � seu.
<br>� Ent�o, um mau presidente, um mau senador, um p�ssimo deputado,
<br>um vereador e um prefeito corruptos assim o s�o porque n�o receberam
<br>no lar uma educa��o correta?
<br>
<br>� Cada homem leva consigo, guardados na consci�ncia, os seus valores
<br>e as suas imperfei��es, chegando ao corpo de crian�a esquecido do
<br>bem e do mal que o acompanha. Cabe aos pais acompanhar o seu despertar;
<br>se tiver ego�smo, avareza, �dio, cobi�a, vontade de se apropriar das coisas
<br>alheias, instinto de destrui��o, maledic�ncia, enfim, muitos outros defeitos,
<br>cabe aos respons�veis tentararem mudar a sua �ndole. Para isso existem os
<br>lares. N�o vamos dizer que todos ser�o capazes, mas, mesmo assim, os pais
<br>n�o est�o isentos do dever de tornar digno um Esp�rito.
<br>� Irm�o, coitados desses menininhos e menininhas que est�o brincando
<br>de colocar Esp�rito no corpo f�sico!...
<br>� Voc� est� certo, Luiz, eles n�o sabem a grande responsabilidade
<br>que est�o assumindo.
<br>� Tem raz�o, Karachi. Hoje, o que mais se v� s�o pobres av�s cansados,
<br>tentando criar os netos; jovens saindo � rua, trazendo os filhotes para
<br>os lares dos pais e n�o tendo coragem de assumi-los. Quantos "filhinhos de
<br>papai" t�m um filho com uma jovem, com outra jovem, e assim v�o indo; e
<br>muitos pais julgam que eles � que s�o as v�timas das meninas. Mas n�o s�o
<br>apenas os garotos que est�o agindo assim, as meninas tamb�m, e acho que
<br>em maior n�mero. � um filho de um pai; � um filho de outro pai, e assim v�o
<br>indo. Quando isso ocorre e a m�e assume o filho como seu peda�o de alma,
<br>ela luta para fazer dele um ser digno, n�o importando os parceiros, mas sim a
<br>sua dignidade de mulher. Brincar de colocar crian�a no corpo f�sico e
<br>abandon�-la para outro cri�-la � d�vida contra�da. O que leva a juventude a
<br>essa liberdade excessiva? A liberdade foi outorgada por Deus, no entanto,
<br>como us�-la? At� que ponto ela nos prejudica? O que a juventude chama de
<br>liberdade n�o ser� um veneno que mata sonhos, ilus�es, dignidade, respeito,
<br>amor?
<br>� Luiz, Deus outorgou o livre-arb�trio e o Esp�rito, inebriado diante
<br>do Universo que lhe pertence, como filho de Deus que �, julgou-se o dono
<br>dele e se perdeu nas nuvens do erro e das culpas. Mesmo assim, o Pai amado
<br>ofertou ao Esp�rito culpado o retorno �s oportunidades perdidas. Por
<br>
<br>isso, n�o pode jog�-las fora, e infeliz aquele que cooperar com a sua queda.
<br>Muitas vezes n�s, por omiss�o, deixamos as pessoas amadas se perderem
<br>no vendaval dos pesadelos. A fam�lia tem de buscar em Deus a orienta��o;
<br>ela n�o pode esquecer as suas responsabilidades e deixar uma crian�a crescer
<br>sem educa��o e sem limites. A crian�a tem de aprender que a moralidade
<br>� a brisa que d� paz � consci�ncia.
<br>
<br>Marry, que at� aqui apenas ouvia, perguntou ao nosso amigo:
<br>
<br>� Por que nem todas as religi�es procuram educar o homem?
<br>� As religi�es existem para fazer reavivar no homem as leis morais
<br>contidas na sua consci�ncia. Elas n�o podem ir al�m, porque, a cada um,
<br>Deus ofertou a pr�pria consci�ncia.
<br>� Mas muitos homens nem parecem ter consci�ncia!... � comentei.
<br>Ele sorriu e Marry completou:
<br>� Tem raz�o, � como o solo que esconde a semente e como o cascalho
<br>que esconde o diamante. Para ach�-lo, o garimpeiro precisa, antes, tirar
<br>os cascalhos in�teis. Assim � o homem, as leis est�o na consci�ncia de cada
<br>um. Cabe ao homem a luta para jogar fora o que est� ofuscando a beleza
<br>dela, a consci�ncia.
<br>� Marry, como o mundo seria melhor se o Espiritismo adentrasse
<br>todos os lares, n�o como religi�o, e sim como o Consolador prometido por
<br>Jesus, esclarecendo o homem sobre a vida ap�s vida, dando-lhe informa��es
<br>sobre o mundo aonde ter� de retornar, informando sobre as suas responsabilidades
<br>como ser eterno, o que deve fazer para n�o deixar passar em
<br>v�o o seu atual est�gio reencarnat�rio! Por qu�? Sem saber o quanto ela �
<br>importante para cada Esp�rito, nem se pode conceber quantos jogam fora a
<br>preciosa vida.
<br>� O que est� precisando, Luiz, � as Casas Esp�ritas evangelizarem os
<br>seus freq�entadores e estes levarem o Cristo at� seus lares. A Doutrina existe
<br>para educar a alma, ela n�o � somente teoria, ela � o Cristo nos dizendo:
<br>"se �s meu fiel seguidor, vende tudo o que tens e segue-me".
<br>
<br>� Marry, por que voc� est� citando isso, se estamos tratando de
<br>t�xico e de juventude?
<br>� Logo chego ao assunto. Estamos preocupados com a fam�lia e a
<br>fam�lia de alguns esp�ritas est� muito mal. Muitos, que s�o excelentes oradores,
<br>n�o s�o ouvidos em seus lares, pois ningu�m da casa � esp�rita.
<br>� H� alguma coisa errada?
<br>� � disso que queremos falar. O Espiritismo s� vai atingir plenamente
<br>seus objetivos quando aqueles que se dizem conhecedores da Doutrina jogarem
<br>fora a capa do orgulho e se tornarem reais mensageiros de amor nos
<br>lares, porque nos causa apreens�o perceber que os familiares de alguns homens,
<br>respeitados como esp�ritas, t�m verdadeiro horror ao Espiritismo. Algo
<br>deve estar errado. A Doutrina � linda e bem esclarece a todos.
<br>� Voc� tem raz�o, Marry, sempre escrevo sobre isso.
<br>� Quantos oradores e presidentes de Casas Esp�ritas que pregam
<br>contra a carne, o fumo, o �lcool e d�o festas em suas casas, onde o �lcool e
<br>o fumo est�o presentes! Esses s�o os falsos profetas. Quem vai acreditar em
<br>quem s� fala e n�o exemplifica? Se o esp�rita diz que o �lcool prejudica, ele
<br>n�o pode ingerir bebida alco�lica, mesmo "socialmente". Ou gosta ou n�o
<br>gosta. S�o esses absurdos que tentam prejudicar a Doutrina que tanto amamos.
<br>Muitos desses "respeit�veis" senhores e senhoras, que s�o esp�ritas
<br>apenas nas palavras e no Centro, quando casam um de seus filhos ou comemoram
<br>algum anivers�rio, a bebida, o �lcool e o fumo n�o fazem mal. Se
<br>indagados por que consentem, respondem: "como posso ser contra meus
<br>filhos? Tenho muitos amigos, n�o posso priv�-los dos prazeres da vida."
<br>Mas na tribuna ou como dirigentes de grupo medi�nico s�o implac�veis: "Cuidado
<br>! Cuidado!" � � o que sempre dizem. O Espiritismo tem de atualizar-
<br>se. Alguns credos se perderam por tudo proibir e por seus sacerdotes n�o
<br>darem exemplos. N�o conhecemos nenhum m�dium respeitado pela
<br>Espiritualidade que nas suas festas familiares a bebida e o fumo estejam presentes.
<br>Ou somos esp�ritas ou n�o somos. Esp�rita morno s� prejudica a
<br>dignidade da Doutrina. E diz Kardec: Reconhece-se o verdadeiro esp�rita
<br>
<br>pela sua transforma��o moral. Se nos dissermos esp�ritas, estudarmos a
<br>Doutrina, pregarmos o Evangelho, mas n�o nos educarmos espiritualmente,
<br>n�o teremos condi��o moral de transformar os nossos familiares em seres
<br>espiritualizados. Somos esp�ritas, mas os nossos filhos, noras e netos odeiam
<br>
<br>o Espiritismo. Por que isso ocorre? Respondemos: porque n�o nos tornamos
<br>uma carta de carne da Doutrina. N�o temos condi��o de transmitir, atrav�s
<br>dos nossos atos, a beleza da Doutrina Esp�rita. Ainda mentimos em nome
<br>dos Esp�ritos, ainda julgamos que somos os melhores, ainda somos ego�stas,
<br>ainda somos avaros, e a fam�lia, observando. Por que ela iria nos seguir, se
<br>n�o v� em n�s melhora alguma? Continuamos a mesma pessoa vaidosa, intransigente
<br>ou omissa; aquela que a fam�lia faz tudo errado, mas n�s queremos
<br>ser os bonzinhos, ficando quietos e participando das suas loucuras.
<br>� Marry, voc� est� fogo, hem?...
<br>� Luiz, � vergonhoso o que se v� em algumas Casas Esp�ritas: os
<br>dirigentes brigando uns com os outros por cargos, todos querendo mandar.
<br>E Doutrina, s� nas palavras. Como pode um iniciante dessas Casas buscar
<br>for�as para as lutas da vida, se ele n�o encontra nos oradores, nos m�diuns,
<br>na diretoria, exemplos bons a serem seguidos? Doutrina n�o � emprego, �
<br>trabalho, � luta, � igualdade, solidariedade.
<br>� Marry, como voc� est� com raz�o! Alguns estudiosos esp�ritas, �
<br>medida que v�o crescendo intelectualmente, iniciam um processo de indiferen�a
<br>para com a evangeliza��o. E sem ela, como o irm�o Jo�o costuma
<br>dizer, s�o homens sem cora��o. O conhecimento espiritual � o c�rebro; o
<br>Evangelho, o cora��o. Vemos muitos conhecedores de Doutrina que s� sabem
<br>proibir, quando a Doutrina nada pro�be; ela alerta sobre o que faz mal, o
<br>que � nocivo � nossa evolu��o. Viver criticando os outros n�o � Doutrina, �
<br>orgulho e preconceito. Toda Casa Esp�rita precisa preparar o homem para a
<br>vida f�sica e a vida espiritual. Apenas freq�entar uma Casa Esp�rita n�o vai
<br>salvar ningu�m; o mais importante � a reforma �ntima, a melhoria da alma, �
<br>banhar-se na cascata dos conhecimentos espirituais, mas tamb�m comer do
<br>p�o de Deus; � ele que vai amansar o Esp�rito, tornando-o digno do Cristo;
<br>� ele que vai matar a vaidade, o orgulho, a avareza, a maledic�ncia, a c�lera
<br>
<br>do nosso Esp�rito. E o p�o de Deus, trazido pelo Consolador, � que vai-nos
<br>tornar esp�ritas-crist�os, dignos do chamado. Dizer: sou esp�rita, conhe�o as
<br>obras doutrin�rias, tenho sessenta anos de Doutrina, fa�o parte desta ou
<br>daquela Casa ou Federa��o, de nada adianta, pois o seu nome n�o estar�
<br>entre os fi�is servidores da Doutrina. Muitas vezes aquele humilde freq�entador
<br>da Casa, que nunca foi a uma mesa medi�nica, nem a diretoria o conhece,
<br>est� entre os primeiros, porque assimilou os ensinamentos da Doutrina e os
<br>levou ao seu lar, onde ocorreram transforma��es, todos largaram os v�cios,
<br>todos tornaram-se esp�ritas, todos tornaram-se mais crist�os; nestes, a Doutrina
<br>entrou no cora��o. � assim que deve ser.
<br>
<br>� O Espiritismo � falou Karachi � veio para mudar as almas, tom�las
<br>melhores. E Espiritismo n�o � espet�culo para ser admirado, ele � o freio
<br>trazido pelo Consolador, dizendo: basta de erros, agora � chegada a hora da
<br>reforma �ntima. Vamos jogar fora todas as nossas tend�ncias negativas e buscar
<br>na consci�ncia as leis divinas, procurando resgat�-las. O chamado ocorreu
<br>e n�s fomos os privilegiados. Cabe a cada um de n�s fazer a sua parte:
<br>sair � procura das ovelhas perdidas que se encontram longe do Senhor. Mas
<br>para isso acontecer, precisamos estar com o cora��o repleto de amor e caridade,
<br>porque n�o gritaremos em pra�as p�blicas nem obrigaremos algu�m
<br>a seguir Jesus, apenas seremos uma pessoa diferente das outras, pelo olhar
<br>de amor e paz que transmitiremos aos que cruzarem o nosso caminho. Importa
<br>que mudemos para melhor; os outros mudar�o, tamb�m, por estarem
<br>ao nosso lado. Assim deve ser o esp�rita: um raio de luz na escurid�o do
<br>materialismo. O esp�rita, quando estuda, encontra Deus e sabe por que a
<br>Doutrina nos revela a Sua bondade, o Seu amor infinito; s� ela nos ensina
<br>que Ele n�o castiga, que Ele � justo. Por isso, ao esp�rita � ensinado que
<br>devemos proceder com os outros como queremos que os outros procedam
<br>conosco. Como narra O Evangelho Segundo o Espiritismo, no Cap�tulo
<br>11, item 7, devemos seguir os preceitos de Jesus, e um deles � aquele em que
<br>o mestre condena todo preju�zo material e moral que se possa causar a outrem,
<br>toda posterga��o de seus interesses. Este princ�pio prescreve o respeito
<br>aos direitos de cada um, como cada um deseja que se respeitem os
<br>seus. Estende-se mesmo aos deveres contra�dos com a fam�lia, a sociedade,
<br>
<br>a autoridade, tanto quanto com os indiv�duos em geral. O esp�rita n�o pode
<br>alegar ignor�ncia, pois todos os livros doutrin�rios ensinam como deve ele
<br>proceder, como filho de Deus que �. Outras religi�es dizem que basta pedir
<br>perd�o para ser perdoado, basta batizar-se para ser crist�o, basta dizer "Senhor,
<br>Senhor", e ganhar os c�us. O Espiritismo � mais racional, pois coloca o
<br>homem a par de todo o conhecimento da vida e da morte, e aquele que o
<br>professa descobre Deus; n�o um Deus dividido em tr�s peda�os, mas um
<br>Deus uno, eternamente justo. Por que o esp�rita ainda duvida do poder de
<br>Deus e das Suas leis? Porque n�o deseja segui-las. A Doutrina veio para
<br>mudar o homem velho em um novo homem, renovado e justo. Se n�o for
<br>assim, o Espiritismo para nada serve, a n�o ser para aumentar a loucura. E
<br>essa n�o foi a finalidade do trabalho dos Esp�ritos Codificadores. Em qualquer
<br>livro da Codifica��o, encontramos o convite para a reforma �ntima, para
<br>alcan�ar a perfei��o. Se a Doutrina Esp�rita nada acrescentar de melhor na
<br>vida do homem, perde sua finalidade, vira religi�o, e religi�o, muitas vezes,
<br>mata, separando uns dos outros. O Espiritismo veio para congregar os filhos
<br>de Deus num s� rebanho, o do amor. Enquanto as religi�es se dizem donas
<br>da verdade, prometendo o c�u �s suas criaturas, o Espiritismo coloca um
<br>espelho � frente de cada ser, para que sejam analisadas as suas imperfei��es.
<br>Por isso, a Doutrina n�o tem mestre, tem companheiros de evolu��o. Todas
<br>as Casas Esp�ritas precisam orientar aqueles que chegam, e desejam "desenvolver"
<br>a mediunidade, que a Doutrina � mais do que mediunidade, ela � a
<br>m�o de Jesus nos guiando pelo caminho da perfei��o. Devemos dizer, �queles
<br>que julgam ter mil mediunidades, que o que importa s�o os seus bons
<br>atos, e n�o o dom medi�nico. Eles � que ir�o formar a aura divina e esta,
<br>como uma antena, captar� as mensagens. Queira Deus que aquele que desejar
<br>educar a sua mediunidade venha primeiro fortalecer a sua aura com conhecimentos
<br>doutrin�rios e, evangelizando-se, tornar-se �til aos Esp�ritos do
<br>Senhor.
<br>
<br>� Karachi, como voc� conhece Doutrina Esp�rita!...
<br>� Luiz e Marry, se os esp�ritas levassem a Doutrina aos seus lares,
<br>educando filhos e netos, ter�amos menos drogados. Mas hoje encontramos
<br>
<br>em muitos lares esp�ritas pessoas viciadas em fumo, em �lcool e em drogas.
<br>E, junto aos Raiozinhos de Sol, oramos para que os esp�ritas se conscientizem
<br>de que a droga � uma besta que aleija e mata, e que a sua for�a aumenta
<br>quando a fam�lia � omissa, mesmo tendo conhecimentos espirituais.
<br>
<br>� Irm�o, se todas as Casas Esp�ritas se preocupassem com crian�as
<br>e jovens, dando-lhes uma orienta��o segura para que eles fugissem dos v�cios,
<br>eu me daria por satisfeito. Com pesar, constatei que v�rios esp�ritas n�o
<br>aceitaram meus livros, porque alertavam para o perigo das drogas. Quando
<br>escrevi Na Esperan�a de uma Nova Vida, recebi muitos a�oites, pois muitos
<br>julgaram que os Raiozinhos de Sol estivessem fantasiando. Falei em outros
<br>livros que, se as autoridades n�o tomassem provid�ncia, o Brasil se
<br>tornaria a rota das drogas. Tamb�m afirmei que o grande traficante n�o se
<br>encontra nas favelas, nas ruas ou nos lugares pobres. N�o era o Luiz S�rgio
<br>falando, eram os Esp�ritos Superiores mandando suas orienta��es, atrav�s
<br>daqueles humildes escritos, num linguajar simples, para que a leitura atingisse
<br>crian�as e jovens, pobres e ricos. E o que recebi? Cr�ticas e mais cr�ticas.
<br>Mas no dia em que algu�m disser que est� escrevendo livro do Luiz S�rgio,
<br>e este livro estiver repleto de palavras dif�ceis, tiradas do dicion�rio para
<br>agradarem doutores da lei, pode crer, amigo, que o Luiz S�rgio se encontrar�
<br>bem longe desses falsos profetas. Ningu�m muda de uma hora para outra;
<br>quem me conheceu, quando encarnado, encontra-me na simplicidade dos
<br>meus escritos.
<br>� Luiz S�rgio, o Brasil antes apenas servia de corredor para o tr�fico
<br>de drogas, era usado para fazer o transporte da droga para a Europa ou
<br>outros pa�ses. Esse corredor ainda existe, mas, com ele, desenvolveu-se uma
<br>perigosa falange de trevosos desencarnados e encarnados, os narcotraficantes.
<br>Eles crescem assustadoramente, porque o neg�cio envolve milh�es de d�lares.
<br>E como o dinheiro abre quase todas as portas, eles montaram uma estrutura
<br>fenomenal. Possuem as mais modernas armas, m�sseis anti-a�reos, enfim,
<br>um verdadeiro arsenal de guerra, e ainda contam com colaboradores
<br>importantes, que ningu�m imagina serem cooperadores dessas organiza��es.
<br>� S� Deus tem o poder para combat�-los.
<br>
<br>� Sim, Luiz, Deus vai dar um basta, mas at� l� presenciaremos muitas
<br>pessoas desencarnando de "parada card�aca e problemas respirat�rios"...
<br>� Qual o pa�s com mais consumidores da droga?
<br>� Infelizmente, j� � o Brasil. Antes, eram os Estados Unidos. Com a
<br>estrutura montada atualmente pela m�fia da droga, a quantidade de drogas
<br>vendidas no Brasil aumenta a cada minuto. Enquanto em outros pa�ses existem
<br>as drogas conhecidas, os chef�es do narcotr�fico do Brasil est�o criando
<br>drogas novas, desde as mais baratas, o que leva os jovens a adquiri-las.
<br>� Irm�o Karachi, por qu�, enquanto em outros pa�ses as organiza��es
<br>est�o-se enfraquecendo, no Brasil elas se expandem cada vez mais?
<br>� Quem disse que elas est�o-se enfraquecendo? N�o, Luiz, as organiza��es
<br>das drogas operam no mundo todo, mas logo, se Deus permitir, a
<br>Terra, sendo fortalecida, expulsar� daqui todos os que causam as dores. E
<br>estas organiza��es ser�o destrutivas.
<br>� Irm�o, este lugar onde estamos parece ser um laborat�rio cient�fico,
<br>como ele funciona?
<br>� Os Raiozinhos de Sol recebem daqui as informa��es sobre as quadrilhas
<br>brasileiras que transportam as drogas, e tamb�m identificam os laborat�rios
<br>para a transforma��o da pasta de coca em coca�na.
<br>� Agora me recordo. No livro Na esperan�a de uma nova vida
<br>falei sobre esses laborat�rios. Neles, trabalham qu�micos de v�rios pa�ses.
<br>Fomos convidados a visitar o laborat�rio e, com espanto, vimos as
<br>fotos de todos os chef�es, os perigosos inimigos da sociedade.
<br>
<br>� � a globaliza��o do p� � comentou Marry.
<br>� Tem raz�o, irm�, a� � que est� o perigo.
<br>� O que a Espiritualidade est� esperando para dizer: basta?
<br>� Luiz, a cada dia � descoberto um carregamento de drogas e desmascarados
<br>muitos traficantes.
<br>
<br>� S� que eles nos lembram os formigueiros: se destru�mos um, surgem
<br>vinte...
<br>� Isso mesmo, Luiz S�rgio, e o pior � que o neg�cio envolve muito
<br>dinheiro e os chef�es s�o milion�rios, tornando-se dif�cil chegar at� eles. Cremos,
<br>e muito, no poder de Deus, e chegar� a hora para as v�timas e para os
<br>algozes, e infeliz aquele que brincou com o plano de Deus.
<br>Fomos andando por aquele lugar, em cujas paredes eram projetados
<br>filmes de todas as organiza��es do narcotr�fico em terras brasileiras. Boquiabertos,
<br>v�amos as quantias exorbitantes de dinheiro que correm onde � intenso
<br>o tr�fico de drogas. Paramos diante de um monitor onde as v�timas da
<br>droga, mais parecendo mortos vivos, injetavam o t�xico. Balancei. Tapei o
<br>rosto com as m�os e chorei. Sim, chorei. � deprimente, muito triste! Que
<br>dinheiro maldito o que leva um ser a destruir os sonhos do seu pr�ximo!
<br>
<br>Refiz-me, rapidamente, desculpando-me, e perguntei:
<br>
<br>� Por que n�o se aumenta a repress�o � droga, Karachi?
<br>� O governo investe muito pouco nesse campo, Luiz. Acho que os
<br>policiais que combatem o narcotr�fico s�o her�is, pois lutam contra um poderoso
<br>inimigo: dinheiro, dinheiro, muito dinheiro e poder. Ontem, o policial
<br>corria atr�s do pequeno traficante e do usu�rio. Hoje, ele n�o disp�e de
<br>meios de chegar at� eles. Para que isso aconte�a, torna-se preciso um grande
<br>investimento. H� pouco, falamos sobre a responsabilidade dos esp�ritas,
<br>que n�o podem negligenciar a educa��o de uma crian�a ou de um jovem,
<br>porque o esp�rita conhece as conseq��ncias de uma exist�ncia perdida. E s�
<br>a educa��o da fam�lia pode diminuir os consumidores de drogas.
<br>Fomos olhando aquelas telas e vimos o quanto o homem � ignorante,
<br>ele n�o p�ra para pensar que um dia ter� de prestar contas a Deus. Naquele
<br>departamento cient�fico, a Espiritualidade acompanhava todos os movimentos
<br>das opera��es da droga em solo brasileiro; at� as redes banc�rias das
<br>pequenas cidades de fronteira estavam � nossa frente, sendo analisadas pelos
<br>irm�os daquele departamento.
<br>
<br>
<br>� E voc�s fazem alguma coisa? perguntei, curioso.
<br>� Sim, os nossos relat�rios levam os Raiozinhos a intu�rem as autoridades.
<br>Compreendi o quanto os esp�ritos encarregados do combate �s drogas
<br>trabalham junto aos policiais, para que as descubram onde uma pessoa,
<br>sem ajuda espiritual, jamais descobriria. E olhe que a droga � transportada
<br>em cada lugar!
<br>
<br>� O que o irm�o acha da libera��o da droga? perguntou Marry.
<br>� Representa simplesmente o suic�dio coletivo da juventude.
<br>� Mas dizem que na Holanda deu certo!...
<br>� Em pa�s nenhum a libera��o dar� certo. A pra�a de Amsterd�,
<br>onde os viciados mais parecem mendigos, � o retrato cruel de que a libera��o
<br>� suic�dio. O que n�o deve ocorrer � condenarmos o dependente, ele �
<br>a maior v�tima das organiza��es das drogas. O caso n�o � liberar ou n�o a
<br>droga, o importante � tratar os dependentes e educar os s�os. E a Doutrina
<br>Esp�rita tem tudo para educar os jovens, pois coloca o homem diante dos
<br>esclarecimentos sobre a vida e a morte. D� � crian�a e ao jovem elucida��es
<br>sobre o que ocorre com aquele que se suicida. E quem consome droga � um
<br>suicida inconsciente.
<br>Voltei a olhar aquele lugar, onde v�rios Esp�ritos, sob a orienta��o de
<br>Karachi, vigiam as organiza��es da droga e prestam aux�lio �s autoridades.
<br>
<br>� Esse inferno vai acabar, estou certo disso.
<br>� Sim, Luiz S�rgio, logo, no Brasil, muitas coisas ser�o descobertas e
<br>muitas pessoas ilustres ser�o denunciadas pelo envolvimento com o
<br>narcotr�fico.
<br>� Ser�?
<br>� Espere e ver�. A Espiritualidade est� sempre ao lado daqueles que
<br>sofrem. E hoje muitas fam�lias choram pelo flagelo das drogas.
<br>
<br>Despedimo-nos do amigo e enlacei o ombro de Marry, nossa companheira,
<br>que, agradecendo a Karachi, disse:
<br>
<br>� Esperamos, irm�o, que amanh� seja um novo dia e que quando
<br>voltarmos aqui, venhamos a divisar uma nova terra. E que estas criaturas sem
<br>Deus j� tenham recebido a volta do que plantaram. Que as l�grimas que
<br>causaram a morte de esposas, de m�es e pais, tenham-lhes tocado o cora��o,
<br>para que um dia retornem ao caminho digno.
<br>Meu Deus, como � triste o mundo dos dependentes! S�o mortos-
<br>vivos em busca de esperan�a. Karachi despediu-se de n�s e, dando contin�ncia
<br>aos outros, dali partimos, em busca de mais conhecimentos, porque
<br>em cada posto de trabalho aprendo a viver de amor. Em cada local visitado,
<br>vejo florir na �rvore da minha vida muitos frutos do esclarecimento.
<br>
<br>� Luiz, agora vamos dar uma chegada � Universidade Maria de
<br>Nazar�; a nossa visita aos laborat�rios cient�ficos ser� interrompida temporariamente.
<br>� Por qu�, Marry?
<br>� Torna-se necess�ria a nossa ida at� a Universidade, pois h� dias
<br>viajamos em busca de conhecimento.
<br>� O papai aqui est� �s suas ordens, princesa.
<br>Ela, carinhosamente, alisou meu rosto e, sorrindo, falou:
<br>� Obrigada, amigo, obrigada, irm�o, em um trabalho onde convivemos
<br>com a dor, � muito bom encontrar pessoas como voc�, alegres e repletas
<br>de esperan�as.
<br>Dei-lhe um beijo, orvalhado de l�grimas de agradecimento. E, assim,
<br>fomos em busca da nossa amada Universidade.
<br>
<br>234
<br>
<br>
<br>Cap�tulo XIX
<br>A TAREFA DOS LIVROS
<br>
<br>
<br>Chegando � Universidade Maria de Nazar�, detivemo-nos no seu
<br>campus, para admirar a beleza da natureza. As flores pareciam falar conosco.
<br>Cumprimenti-as, sorrindo:
<br>
<br>� Oi, irm�s flores.
<br>Marry sorriu.
<br>� Luiz, veja que rosa enorme!
<br>Quando a olhei at� me assustei com o seu tamanho.
<br>� Que linda, Marry! Creio que no plano f�sico ainda n�o existe essa
<br>esp�cie.
<br>� N�o podemos afirmar, pois com o progresso da engenharia gen�tica
<br>acreditamos que j� exista.
<br>Apreciando o belo jardim, voltou-me � lembran�a o inferno da droga,
<br>e pedi a Deus pelos encarnados.
<br>
<br>� Luiz, aqui � o �den, o para�so, onde o Esp�rito aprende a ser bom.
<br>Hoje, no plano f�sico, o homem corre em busca das coisas materiais.
<br>
<br>� Marry, esta sua compara��o recorda-me o Eclesiastes, Cap�tulo
<br>IV, vers�culo Io.: Voltei-me para outras coisas e vi as opera��es que se
<br>fazem debaixo do sol, as l�grimas dos inocentes e que ningu�m os consola,
<br>nem eles podem resistir � viol�ncia, visto estarem abandonados de
<br>todo socorro.
<br>� � linda, Luiz, esta passagem do livro Eclesiastes. Gosto tamb�m
<br>do vers�culo 17, desse mesmo Cap�tulo: V� onde p�es os p�s. Vale dizer:
<br>cuida de proceder de acordo com as instru��es recebidas. De que adianta
<br>ouvir e n�o obrar? Deus n�o aceita sacrif�cios e sim ren�ncias. No vers�culos
<br>14 e 15 do Cap�tulo V, encontramos: Do modo que ele saiu nu do ventre de
<br>sua m�e, assim mesmo sair� desta vida, e n�o levar� nada consigo do
<br>seu trabalho. Isto � uma desdita inteiramente lament�vel; do modo que
<br>veio, assim voltar�. Ainda encontramos, no Cap�tulo XII, vers�culo 14: E
<br>(lembremo-nos que) Deus far� dar contas no seu ju�zo de todas as faltas
<br>e de todo o bem e mal feito. E o homem encarnado briga, calunia, mistifica,
<br>enfim, brinca com Deus, esquecendo que cada ser tem de prestar contas dos
<br>seus atos.
<br>Olhei o vaiv�m dos alunos e me recordei de quando aqui vim pela
<br>primeira vez. Quantos anos j� se passaram! Quanto aprendi! Quem acompanha
<br>a minha trajet�ria deve perceber o quanto lutei para passar para os
<br>leitores o aprendizado que fui alcan�ando. Agora, mesmo aprendendo muitas
<br>coisas, ainda n�o perdi a minha personalidade. Sou o mesmo Luiz S�rgio
<br>de ontem, irm�o de todos e amigo daqueles que desejam encontrar na Doutrina
<br>Esp�rita a verdade. N�o tenho inten��o de ser amado pelos leitores,
<br>apenas uma grande preocupa��o: a de levar at� eles tudo o que aprendo.
<br>
<br>� Luiz, olhando este belo jardim e ouvindo o irm�o falar dos seus
<br>leitores, assusta-nos, e muito, o que vem ocorrendo no meio espiritista.
<br>� N�o entendi, Marry.
<br>� Luiz, Allan Kardec, quando escolhido para codificar o Espiritismo,
<br>o fez dentro de um crit�rio divino. Ele n�o se envaideceu nem
<br>desejou tornar-se conhecido. Ele apenas tentou, desesperadamente, re
<br>
<br>alizar um trabalho digno e verdadeiro. A� est� a beleza da Doutrina Esp�rita.
<br>Ao ler os livros doutrin�rios, o homem n�o se preocupa com o nome
<br>de quem os escreveu nem com quem recebeu as mensagens. E hoje n�o
<br>� assim. Existe uma vaidade muito grande entre os m�diuns; eles desejam,
<br>logo que iniciam, escrever e se tornarem conhecidos. A Doutrina � a
<br>Doutrina e a obriga��o de qualquer m�dium � estud�-la. Se ele estuda,
<br>n�o tem a preocupa��o de colocar nomes conhecidos nas suas mensagens.
<br>
<br>
<br>� � verdade, Marry. Quantos m�diuns j� disseram que recebiam
<br>Andr� Luiz, Emmanuel, Joanna de Angelis, Bezerra, e os seus livros se perderam
<br>na brisa do esquecimento; perpetuaram-se apenas as obras dos seus
<br>verdadeiros m�diuns, escolhidos por eles para essa tarefa.
<br>� E depois, Luiz, existem Esp�ritos preparados para transmitirem as
<br>mensagens, mentores dos pr�prios m�diuns. Ambos � Esp�ritos e m�diuns
<br>�, munidos de vaidade, despreparados, colocam em seus escritos nomes
<br>respeitados e conhecidos.
<br>� Marry, j� falei tanto sobre isso que at� cansei.
<br>� A Universidade Maria de Nazar� existe para educar o Esp�rito, e
<br>as Casas Esp�ritas, para evangelizar quem as busca. Portanto, elas t�m por
<br>dever orientar os seus m�diuns sobre o perigo do deslumbramento.
<br>� Deslumbramento?
<br>� Sim, Luiz. Quase todos os m�diuns, iniciantes ou n�o, podem cair
<br>no rid�culo de usar nomes conhecidos, para "sair do anonimato".
<br>� Tarefa n�o � miss�o, tarefa � trabalho. Conhece-se o trabalhador
<br>por suas obras. Quem recebeu de Deus uma tarefa tem de torn�-la uma bela
<br>obra divina.
<br>� A� est� a diferen�a, Luiz. Nem todos os que se dizem obreiros do
<br>Senhor realizam algo em Seu nome. Julgam-se tarefeiros, mas a vaidade e a
<br>gan�ncia lhes fazem companhia.
<br>
<br>Est�vamos apreciando o jardim da Universidade, e quem vem ao nosso
<br>encontro? Irm�o Jo�o e Corina.
<br>
<br>� Luiz S�rgio, que bom v�-lo de novo entre n�s!
<br>Corina abra�ou Marry; Jo�o, respeitosamente, cumprimentou-a.
<br>� Assim que pudermos o visitaremos, Jo�o � informou Marry.
<br>Olhando-nos com aquele olhar t�o querido, irm�o Jo�o sorriu tristemente:
<br>
<br>
<br>� Luiz S�rgio, cuidado. As aves t�m ninhos e Deus ampara os que
<br>lutam pela verdade, mas abutres fazem tudo para atrapalhar o seu caminhar.
<br>Marry comentou:
<br>
<br>� Jo�o, no livro de Jeremias, Cap�tulo VI, vers�culos 10-11, encontramos:
<br>A quem falarei eu? A quem conjurarei que me ou�a? Os seus
<br>ouvidos est�o incircuncidados, n�o podem ouvir; a palavra do Senhor
<br>tornou-se para eles um motivo de opr�brio, n�o a receber�o. Por isso �
<br>que eu estou cheio de furor do Senhor, estou cansado de sofrer.
<br>Jo�o permaneceu calado e logo perguntei:
<br>
<br>� Algu�m pode explicar esta passagem?
<br>� Incircuncidados quer dizer insens�veis, incapazes de ouvir a lei de
<br>Deus; e assim o profeta n�o sabe a quem falar � explicou-nos irm�o Jo�o.
<br>� Agora compreendi. Tamb�m, explicado pelo irm�o!...
<br>Ele sorriu e Corina nos cumprimentou pelo estudo do Evangelho. Logo
<br>ap�s, eles se despediram e Marry, olhando aqueles dois belos Esp�ritos se
<br>afastarem, disse-me:
<br>
<br>� Querido Luiz, basta de apreciarmos a natureza. Vamos at� os nossos
<br>irm�os que nos esperam, e saber o que eles t�m para n�s.
<br>Estava t�o curioso, que tive vontade de gritar:
<br>
<br>� N�s amamos voc�s!
<br>
<br>Percebi, junto a n�s, um canteiro de gramas formando a seguinte frase:
<br>"N�s amamos voc�", que muito representa para mim, pois me coloca novamente
<br>diante da Universidade Maria de Nazar�.
<br>
<br>Este � um lugar aonde todos os Esp�ritos sonham chegar, mas poucos
<br>renunciam o suficiente para receber esse pr�mio. Em uma determina sala,
<br>encontramos Elvino e Hort�ncia que, com carinho, nos receberam.
<br>
<br>� Irm�os, este � o Luiz S�rgio, aluno da Universidade, que presta
<br>servi�o nos umbrais e leva at� o plano f�sico as suas experi�ncias.
<br>Hort�ncia me saudou:
<br>
<br>� Que Deus nos ampare hoje e sempre. Feliz o Esp�rito que luta pela
<br>perfei��o, que n�o se det�m diante das dificuldades. Acompanhamos o seu
<br>trabalho e oramos para que o irm�o continue ajudando seus irm�os.
<br>Com emo��o, escutamos a nossa irm�, n�o s� a nos dar as boas-
<br>vindas, como a nos alertar para os perigos que podem ocorrer com os
<br>Esp�ritos que trabalham junto aos encarnados. Ela falou que nada deve
<br>nos barrar os passos; que mesmo decepcionados, tristes e �s vezes at�
<br>magoados, os tarefeiros t�m de entregar o cajado da miss�o cumprida
<br>nas m�os de Jesus; que os Esp�ritos que trabalham junto aos encarnados
<br>t�m de compreender que a vaidade e o ego�smo ainda s�o o grande mal
<br>da Humanidade; que � mais f�cil comprar uma casa pronta do que constru�-
<br>la desde o alicerce; que todos aqueles que fizeram alguma coisa para
<br>
<br>o pr�ximo encontraram muitas pedras de trope�o. E continuando sua
<br>orienta��o, Hort�ncia esclareceu:
<br>� Jo�o Batista, por respeitar as palavras de Deus e procurar pass�las
<br>a Herodes, foi decapitado. O pr�prio Jesus Cristo, o Governador do
<br>planeta, foi julgado por um Sin�drio relapso e sanguin�rio, que O pregou
<br>em uma cruz. Imaginemos o homem pecador que deseja servir ao Cristo,
<br>o que ele encontra no seu caminho: vaidade, vaidade, apenas vaidade,
<br>porque � mais f�cil comer a uva no p�, do que plantar a videira. � muito
<br>mais f�cil comer a ma�� madura, do que plantar a macieira.
<br>
<br>� Irm� Hort�ncia, obrigado, muito obrigado, estava precisando ouvir
<br>as suas palavras.
<br>� Luiz, se o Cristo, ao ser crucificado, pedisse a Deus que O tirasse
<br>do Seu posto de Governador da Terra, o que seria de n�s, os Seus irm�os?
<br>Quando Hort�ncia parou, Elvino continuou:
<br>
<br>� Luiz S�rgio, se hoje voc� parasse de escrever, poderia se considerar
<br>um vitorioso, porque muitos jovens deixaram as drogas por sua causa e
<br>muitas mulheres n�o fizeram aborto ao lerem o seu livro Deixe-me viver. As
<br>tarefas s�o intransfer�veis, mesmo as que nos parecem insignificantes. Consultamos
<br>a sua ficha e com alegria vimos o alcance dos seus livros, n�o s�
<br>entre os jovens, mas tamb�m chegando �s m�os de pessoas de todas as
<br>idades. Quando foi lan�ado Na Esperan�a de uma Nova Vida, os esp�ritas
<br>se assustaram com o seu linguajar simples. O seu jeito jocoso agradou aos
<br>leitores. Agora, para a sua fam�lia e os seus amigos, era voc� que voltava ao
<br>plano f�sico. Quem o conhecia n�o teve d�vida, era o mesmo Luiz que estava
<br>de volta, como ele era: jovem, e �s vezes at� exagerado. N�o � um livro, dois
<br>ou tr�s, escritos por voc�; hoje o irm�o tem uma obra. E para que ela se
<br>tornasse respeitada, precisou de firmes alicerces. Como todo edif�cio parte
<br>de uma base s�lida, s� devemos nos preocupar com essa obra. As pinturas,
<br>os adere�os, o tempo vai provar se s�o ou n�o verdadeiros. O que est�
<br>faltando na Doutrina Esp�rita � a cura da alma. Enquanto o homem estiver
<br>doente, os seus passos ser�o dif�ceis. Mas, para curar-se, a alma deve procurar
<br>o Consolador e se esfor�ar para dissipar suas tend�ncias malignas pela
<br>brisa do Evangelho de Jesus. A caminhada � longa e repleta de atalhos e o
<br>viajante atento deve estar sempre preparado. Nada deve peg�-lo desprevenido.
<br>As obras do m�dium Francisco C�ndido Xavier est�o a�, e a cada dia
<br>s�o mais e mais respeitadas e amadas. Onde est�o os outros m�diuns que
<br>psicografam com os Esp�ritos mission�rios que escrevem com o Chico? As
<br>obras de outros m�diuns, escritas por Emmanuel, Andr� Luiz, perderam-se
<br>no esquecimento. A obra de Andr� Luiz � um farol de luz na Doutrina Esp�rita.
<br>Os livros de Emmanuel, psicografados atrav�s do Chico, formam um
<br>alicerce de paz e conhecimento na biblioteca esp�rita. Luiz S�rgio, o Cristo
<br>
<br>continuou sendo o Cristo, mesmo crucificado entre dois ladr�es. Ele escreveu
<br>no livro da Humanidade o Seu nome de gl�ria. Hoje o chamamos aqui
<br>para cumpriment�-lo e para lhe dizer que prossiga a sua tarefa, lembrando-
<br>lhe para ler, no livro Eclesi�stico, o Cap�tulo XXXVII, vers�culos 19-27:
<br>
<br>Mas, sobretudo, pede ao Alt�ssimo que dirija o teu caminho em
<br>verdade. Preceda todas as tuas obras a palavra ver�dica, e antes de
<br>toda a��o um conselho est�vel. Uma palavra m� transtornar� o cora��o:
<br>dele nascem quatro coisas, o bem e o mal, a vida e a morte, e sobre
<br>elas quem domina de cont�nuo � a l�ngua. H� homem sagaz, que ensina a
<br>muitos, e para a sua alma � in�til. Um homem prudente instrui a muitos,
<br>e para a sua alma � suave. Aquele que usa duma linguagem sof�stica
<br>� digno de que o aborre�am: este tal em toda a coisa ficar� defraudado.
<br>N�o lhe foi dada pelo Senhor a gra�a: pois se acha destitu�do de toda a
<br>sabedoria. � s�bio o que � s�bio para a sua alma: e o fruto da sua
<br>sabedoria � louv�vel. O homem s�bio instrui o seu povo e os frutos da
<br>sua sabedoria s�o fi�is. O homem s�bio cheio ser� de b�n��os, e louv�lo-
<br>�o os que o virem.
<br>
<br>Enquanto eles falavam, as l�grimas corriam pelo meu rosto e a nossa
<br>instrutora Marry tudo fazia tamb�m para conter o pranto. Hort�ncia continuou:
<br>
<br>
<br>� Chamamos o irm�o para prepar�-lo para o futuro, porque muitos
<br>acontecimentos desagrad�veis surgir�o no seu caminho.
<br>� Obrigado, irm�os, espero contar sempre com a ajuda dos amigos;
<br>e voc�s, que sabemos velarem pelos Esp�ritos que labutam na Crosta da
<br>Terra, orem por n�s.
<br>� Luiz, a palavra de Deus � semente fecunda. Em Isa�as, Cap�tulo
<br>LV, vers�culos 1-3, encontramos: Oh! v�s todos que tendes sede, vinde �s
<br>�guas! Mesmo que n�o tenhais dinheiro, vinde. O alimento gratuito e
<br>confortante � a palavra de Deus, no vers�culo 11: assim acontece com a
<br>palavra que sai de minha boca: n�o volta para mim chocha sem ter
<br>realizado a minha vontade, sem ter cumprido a sua miss�o. Tamb�m em
<br>
<br>Prov�rbios, Cap�tulo IX, vers�culos 4-6, lemos: quem for simples venha a
<br>mim. Ao insensato ela diz: Vinde comer do meu p�o e beber do vinho
<br>que misturei. Deixai a insensatez e vivereis, segui o caminho da prud�ncia.
<br>
<br>
<br>Cumprimentamos aqueles dois irm�os e dali nos retiramos, calados.
<br>Foi Marry quem quebrou o sil�ncio:
<br>
<br>� Luiz, o irm�o n�o deve estar compreendendo o porqu� da orienta��o
<br>dos nossos irm�os.
<br>� Sim, Marry, estou at� ficando preocupado.
<br>� Queremos apenas que voc� se conscientize do valor do seu trabalho
<br>e que seja fiel a tudo o que lhe � permitido transcrever, porque os livros
<br>esp�ritas existem para orientar o homem e lhe curar a alma. Eles n�o existem
<br>para envaidecer m�diuns que os psicografam, pois n�o pertencem ao m�dium,
<br>e sim aos Esp�ritos. Desejar apenas vender livros � brincar com o
<br>Esp�rito Santo.
<br>� Quanto a isso, irm�, fico descansado, pois a minha maior preocupa��o
<br>� com os leitores. Luto para que tudo o que chegar �s m�os
<br>deles tenha sa�do do Departamento da Psicografia, sendo essa a causa
<br>dos meus livros demorarem tanto a ser publicados: eles sofrem uma censura
<br>severa dos mentores da Casa de Maria. As vezes, ficamos impacientes
<br>com a demora, mas Deus conhece as minhas limita��es.
<br>� Luiz, engana-se quem julga que basta desejar para psicografar.
<br>� � isso mesmo. Tudo tem de obedecer a uma disciplina dura. A
<br>m�dium com quem psicografo tem livros escritos h� vinte anos, que ainda
<br>n�o foram liberados. Ainda bem que � assim, porque Esp�rito n�o contrata
<br>advogado nem pode fazer exame de DNA.
<br>Marry sorriu:
<br>
<br>� Voc� � demais, Luiz, brinca at� com coisas s�rias.
<br>� � verdade, Marry, como pode o Esp�rito provar que o filho n�o � dele?
<br>
<br>� Irm�o, o leitor estudioso conhece o estilo da escrita e jamais ser�
<br>enganado.
<br>� N�o sei, n�o, Marry, quantos homens inteligentes julgam que um
<br>filho � de algu�m, quando n�o �.
<br>� N�o brinque, Luiz, o assunto � s�rio e necessita ser analisado. N�o
<br>� justo o que alguns m�diuns v�m fazendo, colocando nomes de Esp�ritos
<br>conhecidos nas mensagens que recebem.
<br>� Irm�, at� Jesus e Maria v�m psicografando...
<br>� Tem raz�o, s�o esses tristes fatos que desmoralizam a Doutrina. O
<br>certo foi Allan Kardec, que ignorou quem segurava o l�pis, s� se interessando
<br>pelos que elaboraram a Codifica��o.
<br>� Infelizmente, os tempos mudaram.
<br>Nisso, algu�m aproximou-se de n�s.
<br>� Como vai, Luiz?
<br>Abracei o amigo Carlos e ele, respeitosamente, beijou as m�os de
<br>Marry.
<br>
<br>� O que faz aqui, Carlos?
<br>� Estou trabalhando nos departamentos cient�ficos.
<br>� Ent�o n�o tem acompanhado os Raiozinhos de Sol?
<br>� N�o. Hoje quem acompanha o Enoque s�o psic�logos, psiquiatras,
<br>psicoterapeutas, enfim, Esp�ritos que tratam de doentes da mente.
<br>� Est� certo, os dependentes s�o mesmo doid�es.
<br>� E voc�, amigo, como est�? Sempre alegre e feliz?
<br>Marry respondeu por mim:
<br>� O Luiz continua o mesmo garoto querido e amigo, que busca desesperadamente
<br>crescer; e para que isso ocorra, trabalha... trabalha... e trabalha.
<br>
<br>� Quando desejar, d� uma chegada at� o Departamento de Cura
<br>para conversarmos.
<br>� Obrigado, Carlos, mas estou fazendo muitos cursos e o tempo �
<br>pouco para tanto trabalho.
<br>Ainda conversamos muito com aquele grande amigo, m�dico querido
<br>de muitos encarnados. Ele nos fez lembrar a Comunh�o Esp�rita de Bras�lia,
<br>onde trabalhava no grupo de cura. Acreditamos que quando terminar os seus
<br>cursos ele voltar� �quela querida Casa, onde sempre trabalhou. Agora ele
<br>deve estar buscando novos recursos para melhorar a vida dos encarnados.
<br>Quando Carlos se retirou, Marry segurou bem forte o meu bra�o, dizendo:
<br>
<br>� Admiro o seu amor pelas pessoas que passam pela sua vida.
<br>� Marry, adoro todos aqueles que me ajudaram e que ainda me ajudam
<br>a escrever o livro da minha vida, livro esse que entregarei a Deus, um
<br>dia. S�o criaturas que amo muito e a nenhuma delas poderei esquecer.
<br>� Luiz, muitos perguntam por que o irm�o deixou de escrever com a
<br>m�dium Alayde.
<br>� Alayde foi o farol, a m�o amiga, o beijo suave, o amor irm�o, o
<br>riacho humilde que molhou meus l�bios ressequidos de saudades, Marry. Foi
<br>o primeiro porto seguro, o barco amigo que me socorreu naquelas horas de
<br>torpor, que ocorrem com todos os que deixam o corpo f�sico, principalmente
<br>como deixei o meu. Alayde foi a primeira amiga, a orqu�dea da minha vida
<br>espiritual. N�o deixei de psicografar com Alayde, a doen�a � que tirou Alayde
<br>do meu caminho, impossibilitando-a de psicografar. Sabe, Marry, quando
<br>Alayde parou, Irene j� estava sendo preparada para fazer esse trabalho comigo.
<br>No in�cio, Irene relutou muito em contar para a sua fam�lia e tamb�m
<br>para a nossa que recebia minhas mensagens.
<br>� Achamos �timo voc� esclarecer esse fato.
<br>� Sei que v�rios leitores escrevem, perguntando porque deixei Alayde.
<br>Tudo na Espiritualidade obedece a uma disciplina r�gida, e a psicograf�a �
<br>uma das mais duras. Sempre vou visit�-la e ela, sentindo a minha presen�a,
<br>
<br>chora baixinho. Sabemos que logo ela estar� deixando o corpo f�sico5, corpo
<br>esse que muito a maltratou. Mas Deus me dar� condi��o de estar ao seu lado
<br>na hora suprema; quero abra��-la bem forte e demonstrar-lhe o quanto a
<br>amo. Alayde recebeu a tarefa de me guiar os primeiros passos no mundo
<br>espiritual, e Irene recebeu a tarefa de, juntos, iniciarmos uma campanha contra
<br>as drogas. E voc� bem conhece as dificuldades desse trabalho; quando o
<br>iniciamos, nem o mundo esp�rita o aceitava. Era cr�tica de todos os lados.
<br>Mas, tudo o que escrevi hoje tornou-se t�o comum... Alertei que o Brasil
<br>corria o perigo de se transformar na rota da droga, e hoje os traficantes
<br>dominam e assustam a sociedade brasileira com seus atos de viol�ncia. E o
<br>nosso pa�s querido, que foi escolhido por Deus para tornar-se a P�tria do
<br>Evangelho, est� sofrendo por ver as suas crian�as se prostituindo para comprar
<br>drogas. No livro Driblando a Dor fiz novo alerta, mas alguns disseram
<br>que tudo o que eu escrevera era pura fantasia.
<br>
<br>� Sua tarefa n�o � f�cil, Luiz. No mesmo momento em que voc� trata
<br>de alertar a sociedade para o perigo das drogas, assiste a aulas na Universidade
<br>e fala sobre Doutrina e mediunidade.
<br>� Marry, procuro fazer um trabalho s�rio, mas para isso preciso de
<br>ajuda e de ora��o. As vezes, quando fatos desagrad�veis acontecem, temo
<br>ter de parar, e oportunidades n�o devemos deixar passar. Luto para bem
<br>realizar o meu trabalho e hoje quero pedir ao leitor amigo que me ajude com
<br>suas preces de carinho e respeito. Quando o vendaval me amea�a, leio o
<br>livro de Ezequiel, Cap�tulo XII, vv. 21-28: A palavra do Senhor me foi
<br>dirigida nestes termos; que tendes na terra de Israel? Os dias v�o passando
<br>e todas as vis�es se desvanecer�o. Por isso, dize-lhes: Assim diz o
<br>Senhor Deus: Acabei com este ditado. N�o mais o repetir�o em Israel!
<br>Ao contr�rio fala-lhes: Est�o pr�ximos os dias e o cumprimento de todas
<br>as vis�es. Pois n�o haver� mais nenhuma vis�o ilus�ria, nem previ5
<br>N.E. � Alayde de Assun��o e Silva, m�dium do livro O Mundo que Encontrei, desencarnou em
<br>15/11/1999, em S�o Bernardo do Campo, S�o Paulo, aos oitenta anos de idade.
<br>
<br>245
<br>
<br>
<br>s�o enganadora dentro da casa de Israel. Porque eu, o Senhor, falo o
<br>que eu quero e se cumprir� sem demora. Antes, � nos vossos dias,
<br>corja de rebeldes, que eu cumprirei tudo que digo. A palavra do Senhor
<br>me foi dirigida nestes termos. Filho do homem, olha, a casa de
<br>Israel anda dizendo: As vis�es que este homem tem s�o para os dias
<br>
<br>futuros. Por isso, dize-lhes: Assim diz o Senhor Deus: j� n�o ser�
<br>protelada nenhuma de minhas palavras. O que eu falar se cumprir�.
<br>Estes vers�culos do livro de Ezequiel s�o lindos. Sempre os leio, t�m
<br>muito a ver com Espiritismo.
<br>
<br>Continuamos a conversar, at� que Marry retirou-se. Busquei o jardim,
<br>olhando-o com carinho, e fiquei pensando em Alayde. Pegando o viol�o,
<br>cantei esta can��o, feita para a querida amiga:
<br>
<br>Seu corpo forte
<br>
<br>Que hoje o tempo maltrata
<br>
<br>Foge da morte
<br>
<br>A doen�a nunca mata
<br>
<br>Seu corpo amigo
<br>
<br>Feito pedra, feito p�, feito fibra
<br>
<br>Est� sempre comigo
<br>
<br>Com voc� meu cora��o vibra
<br>
<br>Seu corpo cansado
<br>
<br>Pede paz, pede carinho
<br>
<br>E o Mestre amado
<br>
<br>Sempre mostra o Seu caminho
<br>
<br>Seu corpo doente
<br>
<br>A luz de Deus o ilumina
<br>
<br>E voc� t�o diferente, t�o menina
<br>
<br>Corre pra meus bra�os
<br>
<br>Sorrindo t�o contente
<br>
<br>Sorrindo, sorrindo, t�o contente.
<br>
<br>
<br>Terminei com as l�grimas correndo pelo meu rosto e ali fiquei, apreciando
<br>a beleza da Universidade Maria de Nazar�, o seu movimento, e n�o
<br>pude deixar de sorrir, lembrando que muitos encarnados julgam que n�o
<br>ter�o de responder pelo que fizerem; que ao pedirem perd�o ele vir�, e esquecidos
<br>ser�o os seus erros. Pobres coitados! Assustados, ver�o que a
<br>justi�a de Deus � verdadeira, e aquele que erra tem de corrigir todos os seus
<br>erros. Como � f�cil pensar que nada existe depois do t�mulo, e deixar as
<br>�guas rolarem, nada fazendo pela pr�pria melhoria! As pessoas levam muito
<br>susto quando se apalpam e sentem que a morte n�o ceifou sua alma, que �
<br>eterna.
<br>
<br>
<br>Cap�tulo XX
<br>ENCONTRO CONSOLADOR
<br>
<br>
<br>Tudo apreciando, n�o percebi que algu�m, muito querido, estava me
<br>observando. Mas os bons Esp�ritos possuem intenso magnetismo no olhar, e
<br>me senti observado. Busquei logo a dona daquele olhar. Ela me sorriu.
<br>
<br>� Como vai, Luiz, aproveitando bem as li��es junto a Marry?
<br>� Oh, irm� Francisca Theresa, perdoe-me o susto; � que estava pensando,
<br>ou melhor, recordando quando aqui cheguei pela primeira vez, deslumbrado
<br>com tantos ensinamentos. E muito devo � irm�, que me ensina a
<br>cada dia.
<br>� Quando o irm�o adentrou esta Casa de aprendizado, o seu Esp�rito
<br>ouvia o grito de Jesus na cruz: Tenho sede! Estas palavras acendiam no irm�o
<br>um ardor desconhecido e muito vivo. Querendo dar de beber ao nosso
<br>amado Mestre, o seu cora��o de bom menino sentiu-se devorado pela sede
<br>dos sofredores e n�o relutou em entregar-se ao trabalho. Feliz, Luiz, o homem
<br>que n�o corre das responsabilidades por covardia. Ningu�m deve deixar
<br>na beira do caminho a sua cruz. Quando chamados ao trabalho do Cristo,
<br>devemos oferecer o nosso cora��o a Ele, a fim de que se realize em n�s
<br>a Sua vontade, sem que as criaturas jamais venham a colocar obst�culos; se
<br>isso ocorrer, devemos lembrar que nossa uni�o com Jesus n�o se realizou
<br>entre trov�es e rel�mpagos, mas sob o sopro de uma suave brisa, semelhante
<br>
<br>� que Elias ouviu no monte Horeb, em III Reis, Cap�tulo XIX, vers�culos 12
<br>
<br>
<br>14: Depois do terremoto houve fogo, mas o Senhor tampouco estava no
<br>fogo. Finalmente, passado o fogo, percebeu-se uma brisa suave e amena.
<br>Quando Elias a percebeu, encobriu o rosto com o manto e saiu, colocando-
<br>se na entrada da caverna. Ent�o uma voz. lhe falou: O que est�s
<br>fazendo aqui, Elias ? Ele respondeu: Estou zeloso pelo Senhor Deus todo
<br>poderoso. � assim, Luiz, que temos de nos sentir quando o Cristo � nosso
<br>amigo e mestre, se Ele nos chamou e nos concedeu uma tarefa, mesmo nos
<br>sentindo fraca avezinha, apenas revestida de leve penugem. N�o perguntemos:
<br>por que n�s fomos chamados; por que o Mestre n�o entregou tal tarefa
<br>aos grandes Esp�ritos, �s �guias que planam nas alturas? O Cristo, Luiz, como
<br>Mestre dos mestres, conhece a alma das criaturas e delas s� espera amor,
<br>amor e amor. Contente-se em n�o ser uma �guia e lute para que, mesmo
<br>sendo uma areinha do caminho de Jesus, o sol da verdade venha e projete a
<br>sua luz sobre voc�. N�o gostar�amos, Luiz, de sermos chamadas de �guia,
<br>sentimo-nos felizes em sermos chamadas de areinha, pois junto a milh�es de
<br>outras podemos formar um todo e muito fazer pelo trabalho do Senhor.
<br>Emudecido pela emo��o, ouvia Francisca Theresa, que com carinho
<br>dava ao meu Esp�rito muito consolo. Ela prosseguiu:
<br>
<br>� Devemos, Luiz, procurar agradar a Jesus e am�-Lo como jamais
<br>foi amado. O nosso �nico desejo � fazer sempre a vontade d'Ele, enxugando
<br>as l�grimas que os pecadores O fazem derramar. Devemos esquecer-nos de
<br>n�s mesmos e procurarmos converter, curar todas as almas erradas da Terra,
<br>estando elas no plano f�sico ou no mundo espiritual, n�o nos importa;
<br>importa, sim, que cheguemos at� elas. Quando o cora��o se entrega a Deus,
<br>n�o perde sua ternura natural, pelo contr�rio, esta ternura cresce, tornando-
<br>se mais pura e mais divina. N�o pensemos que, por servir ao Senhor, estaremos
<br>isentos dos obst�culos; � necess�rio que venhamos a compreender que
<br>todas as dificuldades se desvanecem diante da nossa f� e da nossa lealdade
<br>a Jesus. N�s, Luiz, quando nos oferecemos ao trabalho do Senhor, n�o calcul�vamos,
<br>ent�o, quanto seria preciso sofrer para chegar aonde chegamos.
<br>Mas como valeu a pena n�o ter jogado a cruz na beira do caminho! Luiz, �s
<br>
<br>vezes o vemos cabisbaixo; n�o se entriste�a com coisa alguma, o nosso amado
<br>Jesus n�o tem necessidade que os Seus trabalhadores preguem com palavras
<br>dif�ceis o Seu Evangelho, para demonstrarem cultura. Ele, Jesus, tem
<br>as Suas legi�es de Esp�ritos celestes, cuja ci�ncia ultrapassa infinitamente a
<br>dos maiores g�nios da nossa triste Terra. Jesus, Luiz S�rgio, ama a simplicidade,
<br>e o que fazemos s� temos de prestar contas a Ele. E Ele, Jesus, oh! se
<br>quisesse lan�ar por escrito tudo o que sabe, sublimes p�ginas ter�amos para
<br>ler. Mas n�o o fez. Ele deseja que cada um de n�s torne-se uma carta viva
<br>dos Seus ensinamentos. E depois, Luiz, cada um dos filhos de Deus recebeu
<br>um talento, e ai daquele que impedir algu�m de progredir! A ora��o n�o �,
<br>por assim dizer, maior que a palavra? A nossa miss�o, como irm�os de Jesus,
<br>trabalhadores da Sua Seara, � a de formar oper�rios da Caridade, curar
<br>almas doentes e transform�-las para o Senhor. Esse, Luiz, � o seu trabalho,
<br>trabalho que ningu�m pode impedir o irm�o de realizar. A nossa tarefa n�o �
<br>a de ir ceifar nos campos de trigos j� maduros, mas � tamb�m sublime: ver os
<br>cora��es vazios e ench�-los de f�, de humildade, de amor. Um s� que venhamos
<br>a salvar, o Cristo ir� sorrir. Mesmo conhecendo as nossas capacidades
<br>e sabendo que ainda n�o somos perfeitos, devemos lutar, e muito, para
<br>levar as palavras de Jesus e plantar em terras infi�is a semente do amor.
<br>Temos necessidade de realizar, por Jesus, todas as obras, principalmente
<br>aquelas que testam em n�s a humildade.
<br>
<br>� Irm�, porque acontecem fatos t�o desagrad�veis, que tanto mal
<br>causam a todos?
<br>� A blasf�mia dos imperfeitos ressoa dolorosamente em nossos ouvidos.
<br>Que fazer? Implorar ao Senhor a gra�a de trabalhar junto aos que
<br>precisam, mesmo nos considerando pequenos demais para fazer grandes
<br>coisas e jamais esperar aplausos, pois a alma pequena s� deseja um olhar de
<br>amor. E depois, s� mesmo Deus conhece a fundo os cora��es. O Senhor
<br>sempre Se serviu de Suas criaturas, como instrumentos para a execu��o de
<br>Suas obras nas almas. Sem as obras, as mais elaboradas palavras nada s�o;
<br>como o fariseu, assemelham-se aos que morrem de fome diante de bem
<br>servida mesa, enquanto todos os seus convidados a� encontram abundante
<br>
<br>nutri��o e lan�am, por vezes, um olhar de inveja ao possuidor de tantos bens.
<br>Luiz, muito nos ensina a Doutrina Esp�rita. Como � bela a nossa Doutrina!
<br>Em vez de tornar insens�veis os cora��es � como o mundo cr� � ela os
<br>eleva e os torna capazes de amar, de amar com amor quase infinito, visto que
<br>nos ensina que existe vida ap�s a vida, que nos � dada para adquirirmos a
<br>P�tria dos C�us, onde tornaremos a encontrar os seres queridos que tivermos
<br>amado na Terra. Quem conhece a Doutrina n�o pode viver brincando
<br>com os Esp�ritos, pois disse Jesus: ai dos que brincarem com o Esp�rito
<br>Santo! Meu irm�o Luiz S�rgio, como gostar�amos de derramar em seu cora��o
<br>o b�lsamo do consolo! Como nos sentir�amos felizes se o irm�o tentasse
<br>persuadir-se de que todos esses fatos desagrad�veis, que v�m ocorrendo,
<br>far�o com que o irm�o trabalhe mais na Seara do Cristo, e que Ele n�o o
<br>deixar� jamais, pois j� marcou com o dedo aqueles cujo devotamente �
<br>apenas aparente, aqueles que n�o respeitam os Esp�ritos e brincam usando
<br>os seus nomes. Por�m, �queles que n�o recuaram diante das suas tarefas �
<br>que Ele, Jesus, vai confiar as mais dif�ceis, pois agora � a hora em que todos
<br>teremos de cooperar para a regenera��o do planeta. Jesus mesmo nos orientou
<br>para que f�ssemos cautelosos, pois os falsos profetas tudo far�o para
<br>atrapalhar a marcha do Espiritismo. Acreditamos no irm�o e colocamos sobre
<br>os seus ombros a responsabilidade dos nossos trabalhos. O irm�o tornou-
<br>se querido por alguns leitores, mas o seu trabalho � muito maior do que
<br>as pessoas julgam, a sua tarefa � transformar almas, salv�-las, orient�-las, e
<br>n�o apenas vender livros. Pode unir-se intimamente a Deus um cora��o entregue
<br>� vaidade e �s coisas do mundo f�sico? � t�o f�cil conhecer os trabalhadores
<br>do Senhor! A fascina��o das bagatelas do mundo seduz at� as
<br>almas afastadas do mal, como vemos em Sabedoria, Cap�tulo IV, vers�culo
<br>
<br>12: Porque a fascina��o das frivolidades escurece o bem, e a inconst�ncia
<br>da paix�o transforma os esp�ritos inocentes.
<br>� Irm� Francisca, n�o compreendo como pode algu�m que j� chegou
<br>� Casa Esp�rita n�o respeitar os Esp�ritos.
<br>� Irm�o, em todas as religi�es existem aqueles que acreditam em
<br>Deus, mas a leve brisa, cujo murm�rio o profeta Elias ouviu no monte Horeb,
<br>
<br>n�o lhes tocou o cora��o; dizem crer, mas nada fazem para serem dignos da
<br>sua cren�a. O verdadeiro homem de f� recebe a for�a ao sofrer, pois no
<br>caminho da perfei��o o viajor n�o est� isento de cal�nias, das maledic�ncias,
<br>da trai��o, das mentiras. Para enfrentar o �rduo caminho � que o Cristo-
<br>Irm�o coloca em nossos ombros a Sua iluminada cruz, para ir clareando o
<br>nosso caminho e nos livrando dos obst�culos colocados para nos desviar da
<br>estrada do Mestre. Nada deve atrapalhar a caminhada de um servidor fiel a
<br>Ele. Deve valer-se das coisas pequenas, fazendo-as por amor, porque, se
<br>desejar as grandes tarefas, deixar� de realizar os pequenos gestos de amor.
<br>Oh! como nos custa dar a Jesus o que Ele nos pede! Mas qual a felicidade
<br>que n�o custa tanto? Que alegria inef�vel levar as nossas cruzes, sentindo
<br>que a m�o do Amigo e Mestre nos est� ajudando.
<br>
<br>� Irm� Francisca, sempre leio o Salmo L, vers�culos 11-14: Desvia
<br>tua face de meus pecados e apaga todas as minhas faltas! O Deus, cria
<br>em mim um cora��o puro e suscita em meu peito um esp�rito resoluto!
<br>N�o me rejeites de tua presen�a nem retires de mim teu santo esp�rito!
<br>Concede-me o gozo de tua Salva��o e um esp�rito generoso que me
<br>ampare. E Ele sempre me ouve, pois todas as vezes que me encontro preocupado
<br>a irm� vem em meu aux�lio e muito me consola.
<br>� Luiz S�rgio, esse Salmo did�tico � feito em forma judicial entre
<br>Deus e Seu povo; destina-se a uma ocasi�o lit�rgica e cont�m uma violenta
<br>cr�tica contra o formalismo do culto judaico e � infra��o da lei divina. Deus
<br>n�o atua como juiz, no sentido humano, mas como parceiro que persuade
<br>seu povo a confrontar sua conduta com as exig�ncias da alian�a, tomando
<br>por norma o Dec�logo. O culto externo prestado a Deus s� tem valor quando
<br>acompanhado de sentimentos crist�os de fidelidade � lei divina em rela��o
<br>aos direitos de Deus e do pr�ximo. Desde que a nossa felicidade �
<br>calcada na infelicidade do pr�ximo, n�o somos criaturas de Deus. E depois,
<br>Luiz S�rgio, n�o devemos ficar encontrando sofrimento em n�s; pensando
<br>no passado ou no futuro, perderemos a coragem e nos desesperaremos, e
<br>muito teremos ainda de caminhar na senda estreita de Jesus. Antes de conhecer
<br>o Mestre, ador�vamos sofrer ou queixar-nos dos sofrimentos; depois
<br>
<br>que O encontramos, d'Ele fizemos a nossa alegria. O que nos deixa contentes
<br>� unicamente a vontade do nosso Deus e Ele n�o criou o sofrimento nem
<br>a tristeza. Cada um tem de carregar a sua cruz, mas se olharmos para o lado,
<br>veremos que o Cristo est� ao nosso lado, dando-nos for�a e coragem.
<br>
<br>� Irm�, ajude-me no cumprimento da minha tarefa.
<br>� Como Jesus disse certo dia a Pedro: apascenta meus cordeiros,
<br>dizemos, Luiz S�rgio, n�o somente para apascentar os peda�os da minh' alma,
<br>como tamb�m que o irm�o procure estar junto deles, caminhando lado a
<br>lado, sem deixar de ser crian�a, distribuindo sorriso e carinho, jamais querendo
<br>crescer. Jesus n�o gosta das coisas grandes, Ele adora as areinhas do
<br>Seu caminho. Gostamos do Luiz S�rgio alegre e menino, curioso e fiel � sua
<br>f�. Que Deus o aben�oe e que Jesus, o nosso Mestre amigo, sempre nos
<br>ajude a carregar a nossa cruz. Felicidades no seu trabalho. A chuva, por mais
<br>forte que seja, n�o estraga um telhado bem feito nem os ventos fortes derrubam
<br>uma casa com firme alicerce. Alguns respingos da chuva podem incomodar,
<br>mas o sol da verdade, ningu�m conseguir� ofusc�-lo. Deus o aben�oe.
<br>Abra�ou-me com carinho. Apenas murmurei:
<br>
<br>� Irm� Francisca, n�s amamos voc�.
<br>� N�s o amamos muito mais.
<br>Permaneci cabisbaixo. As l�grimas molhavam meu rosto e ela, cantando
<br>uma bela can��o, foi-se retirando. Levantei a cabe�a para olhar aquele
<br>Esp�rito t�o amigo de todos n�s. Depois de passada a emo��o, sa� correndo,
<br>dando pulos e socos no ar. Foi quando dei de encontr�o com ele, o nosso
<br>Enoque.
<br>
<br>� Que f�ria, parece at� que viu Jesus!
<br>� Quem me dera! Mas conversei com algu�m que j� plasmou o Cristo
<br>em seu cora��o.
<br>� Francisca Theresa!
<br>
<br>� Adivinhou!... � falei, rindo. Mas, Rayto, que satisfa��o em v�-lo
<br>mais uma vez! Como andam as aulas, sempre proveitosas?
<br>� Sim, Luiz, as turmas est�o enormes. Como os jovens est�o suicidando-
<br>se!
<br>� Qual vem a ser a causa?
<br>� Falta de sonhos.
<br>� Rayto, voc� tem ido at� o plano f�sico?
<br>� Muito pouco. O nosso trabalho aqui na Universidade n�o nos permite
<br>ir at� o plano f�sico. S� vamos at� a crosta em ocasi�o especial, isto �,
<br>quando os Raiozinhos precisam da nossa presen�a.
<br>� Enoque, agrade�o a Deus me ter permitido trabalhar ao seu lado.
<br>Como aprendi com voc� e com os outros amigos!
<br>� � Luiz, j� naquela �poca nos preocup�vamos com tudo isso que
<br>est� acontecendo, e iniciamos um trabalho esp�rita. Com pesar, constatamos
<br>que n�o fomos compreendidos. Muitos esp�ritas ortodoxos s� souberam criticar,
<br>dizendo que a m�dium era fantasiosa, que tudo o que voc� narrava nos
<br>seus livros era mentira. Diziam, ainda, que o t�xico era assunto de pol�cia, e
<br>n�o dos esp�ritas. E agora, o que estamos presenciando? Uma sociedade em
<br>p�nico com o avan�o do tr�fico.
<br>� �, Enoque, felizmente, muitos aceitaram meus livros e nos ajudaram,
<br>a mim e a Irene, atrav�s de suas preces.
<br>� Luiz, os pais ou querem parecer ing�nuos, ou n�o acompanham o
<br>notici�rio policial, julgando que os seus filhos ainda s�o santas crian�as. O
<br>que vem ocorrendo no Brasil � constrangedor. E ainda existem criaturas que
<br>desejam ignorar os fatos...
<br>� Sei que voc� trabalha na Universidade e por amor aos jovens tamb�m
<br>faz esse trabalho de ajuda aos dependentes.
<br>� Luiz, trabalhamos com os suicidas, e os dependentes s�o suicidas
<br>inconscientes, voc� sabe disso.
<br>
<br>� Voc� faz outro trabalho al�m desse?
<br>� N�o. O nosso trabalho � com jovens, e jovens suicidas. N�o temos
<br>tempo de ficar no plano f�sico ao lado de encarnados.
<br>� Desculpe-me, Rayto, mas existem alguns m�diuns que v�em voc�
<br>em muitas Casas Esp�ritas, fazendo v�rios trabalhos, at� no receitu�rio e na
<br>psicografia.
<br>� Enoque e Rayto s�o nomes que um m�dium pode dar ao Esp�rito
<br>que com ele trabalha, sempre de acordo com a veracidade da sua
<br>mediunidade. Portanto, que os leitores fiquem cientes de que o Enoque,
<br>este seu amigo, n�o tem tempo para buscar m�diuns no plano f�sico. O
<br>nosso trabalho � o de socorrer Esp�ritos muito necessitados, e n�o o de
<br>"desenvolver" mediunidade. H� muito, Luiz, voc� vem orientando os seus
<br>leitores sobre o perigo dos falsos profetas. Luiz S�rgio, o Espiritismo � o
<br>Consolador prometido, e quem trabalha na Doutrina tem de dignific�-la,
<br>e n�o envergonh�-la. O trabalho de psicografia n�o � meu. O meu � com
<br>os Raiozinhos, e para que voc� tome conhecimento do que vem ocorrendo
<br>com os dependentes, convido-o a chegar at� o nosso Departamento
<br>de Trabalho. O irm�o disp�e de tempo?
<br>� Sim. Marry est� em uma reuni�o com os instrutores e eu estava
<br>passeando pelos jardins da Universidade.
<br>� E por merc� de Deus, encontrou-se com Francisca Theresa...
<br>� Sim, estava precisando do orvalho da esperan�a e do amor.
<br>� Rom�ntico, hem?
<br>� Sempre fui.
<br>Rayto segurou meus ombros e adentramos a Universidade. Logo est�vamos
<br>em um de seus departamentos, uma ala enorme, com v�rias salas de
<br>aula e um pequeno audit�rio com uma sala de proje��o. Sentamo-nos, e ele,
<br>Rayto, conduziu a proje��o dos filmes apenas com sua for�a mental. Na tela,
<br>apareciam os fatos como se estiv�ssemos assistindo a um filme em tr�s di
<br>
<br>
<br>
<br>mens�es. Os personagens quase chegavam at� n�s, de t�o reais... Olhei para
<br>
<br>o Rayto e ele, com seu belo sorriso, falou-nos:
<br>� Logo, no plano f�sico, isto vai ser colocado em uso e o homem desfrutar�
<br>de mais um avan�o da ci�ncia. Aqui, no mundo espiritual, essas proje��es
<br>s�o como � a televis�o, hoje em dia, no plano f�sico: coisa rotineira.
<br>O filme mostrava uma turma de jovens: �ureo, Austin, Brites � uma
<br>linda jovem, Carmelita e Catulo. Nisso, chegou Host�lio e ofereceu o t�xico.
<br>Brites, a jovem alta, loura, de seus quinze anos, foi a primeira a pegar a
<br>droga.
<br>
<br>� Ele est� vendendo maconha? perguntei ao Enoque.
<br>� Que maconha, que nada. Olhe bem e veja o que hoje est� aumentando
<br>o consumo entre os jovens.
<br>Rayto fez com que no filme os jovens ficassem t�o perto de n�s, que
<br>pod�amos ver as bolinhas da droga.
<br>
<br>� O que � isso, alguma droga nova?
<br>� Essa droga � uma mistura de maconha com haxixe; as bolas s�o
<br>menores do que uma bola de gude.
<br>Ali, bem pr�ximo de nossos olhos, presenciamos aqueles jovens fumando
<br>haxixe. E Brites, sentada no ch�o, pareceu-me estar consumindo LSD.
<br>
<br>� Rayto, por que ela est� assim, o haxixe causa essa rea��o?
<br>� Luiz, o haxixe � tirado do sumo da Cannabis sativa e tem o THC
<br>(delta-9-tetrahidrocanabinol, subst�ncia ativa da planta) muito mais forte. Ela
<br>� uma droga perturbadora, que altera a percep��o, atuando no sistema nervoso
<br>central. Sua perman�ncia no organismo � de aproximadamente quarenta
<br>dias. Olhe bem as meninas. Vamos acelerar a fita.
<br>Nisso, vimos Carmelita, que me pareceu drogada.
<br>
<br>� Luiz, acredita-se que essa droga demore mais tempo para sair do
<br>organismo das mulheres.
<br>
<br>� E por que isso acontece, Enoque?
<br>� Porque as mulheres t�m mais c�lulas adiposas do que os homens.
<br>� Notei, Rayto, que Carmelita est� a�rea.
<br>� Sim, entre os malef�cios do haxixe, est�o a falta de aten��o, de
<br>mem�ria e a depress�o.
<br>� Quem chega at� essa droga pode livrar-se dela?
<br>� Luiz S�rgio, a abstin�ncia da droga no organismo causa irritabilidade,
<br>ins�nia e falta de apetite. A� � que mora o perigo: mulheres que n�o querem
<br>engordar fumam o haxixe e param alguns dias, para perderem o apetite.
<br>� Que loucura!
<br>Olhava, assombrado, aqueles jovens que tinham tudo para serem felizes,
<br>e estavam jogando fora as suas vidas.
<br>
<br>� Enoque, o haxixe tamb�m � extra�do da Cannabis sativa?
<br>� Sim. O haxixe, como a maconha, � extra�do do Cannabis sativa e
<br>tem origem asi�tica; s� que ele � muito mais forte que a maconha.
<br>� E essa conversa de que a maconha n�o faz mal?
<br>� Conversa de viciado e de traficante. Muitos viciados em maconha
<br>dizem que ela e o haxixe n�o fazem mal, que s�o naturais. "Natureba � limpo".
<br>� Agora, essa de misturar haxixe com maconha me assusta!...
<br>� E o pior, Luiz, � que poucos se preocupam com a droga. Nos seus
<br>livros, h� muito, alertamos que um pa�s n�o pode ter futuro, se a sua juventude
<br>est� doente.
<br>� Ser� que algu�m ter� condi��o de sair dessa limpo?
<br>� Duvidamos. A droga n�o s� mancha a ficha do cidad�o, como
<br>destr�i o seu corpo f�sico e danifica o seu perisp�rito. Todos os ex-viciados
<br>gostariam de rasgar algumas p�ginas do seu livro da vida.
<br>
<br>Afundado na poltrona, eu n�o perdia um s� detalhe, abismado. O filme
<br>continuava. Dali, aquele grupo saiu em disparada; o carro era dirigido por
<br>loucos, loucos varridos.
<br>
<br>� � por isso, Enoque, que nos fins-de-semana sempre encontramos
<br>um carro abra�ado a um poste.
<br>A proje��o era t�o perfeita que me abaixava, pois parecia que o carro ia-
<br>me atropelar. Saindo dali, aquela turma buscou as boates da cidade e foi misturando
<br>tudo: �lcool, droga e sexo. Enquanto isso, a sociedade dormia em paz.
<br>Ser� que em paz? N�o sei. Mas sei que os pais est�o ignorando a vida de seus
<br>filhos. N�o � poss�vel que uma m�e durma tranq�ila, com sua filha de quatorze ou
<br>quinze anos, at� tarde da noite, na rua. Assim tamb�m os meninos. Como pode
<br>um pai n�o se preocupar com seu filho? Um jovem de quinze anos � uma crian�a
<br>e os barzinhos est�o cheios deles. Pensando sobre tudo isso, indaguei:
<br>
<br>� E a lei, Rayto, onde est�?
<br>� Guardada nas gavetas, Luiz. Se cada fam�lia constru�sse uma trincheira
<br>contra as drogas, protegendo seus filhos, tudo seria mais f�cil para a Espiritualidade.
<br>Mas o que estamos vendo s�o poucas fam�lias os protegendo. Mesmo aqueles
<br>que se dizem esp�ritas n�o est�o preocupados em resguardar os seus filhos, que
<br>est�o nos bares, consumindo bebidas, fumo e drogas. Preferem seus filhos nos
<br>bares do que nas Casas Esp�ritas, trabalhando para o pr�ximo. Para n�s, essas
<br>pessoas n�o s�o esp�ritas, porque o esp�rita que n�o se preocupa com a eleva��o
<br>moral dos seus filhos n�o conhece a Doutrina, pois ela coloca no jovem e no
<br>velho o cajado da responsabilidade. E quem deseja se perder nas noitadas, dizendo
<br>estar aproveitando a vida, n�o tem Deus no cora��o, pois n�o deseja a
<br>perfei��o. No Salmo LXX, vers�culos 17-18, encontramos: � Deus, tu me instru�ste
<br>desde a juventude, e at� hoje proclamei teus prod�gios. Agora na
<br>velhice e de cabelos brancos, n�o me abandones, � Deus, at� eu anunciar
<br>aos descendentes os feitos do teu bra�o, e �s gera��es vindouras teu poder!
<br>Como � bom o jovem que luta para servir a Deus, que desde cedo conhece a
<br>fragilidade de um corpo de carne e sabe qu�o grandes s�o as responsabilidades
<br>do Esp�rito! E ainda mais felizes s�o os pais que levam seus filhos a Deus.
<br>
<br>259
<br>
<br>
<br>Rayto encerrou a proje��o. Antes disso, ainda vimos aquela turma
<br>aprontando bastante; as duas jovens, completamente drogadas, eram joguetes
<br>nas m�os dos seus colegas.
<br>
<br>� Que mundo c�o!
<br>� Luiz, a Terra � um planeta de cria��o divina; infeliz aquele que n�o
<br>se tornar digno dela. Ela est� progredindo, quem n�o acompanh�-la ser�
<br>deportado e, em mundo inferior, aprender� a li��o amarga do remorso.
<br>� Rayto, por que o homem � t�o bobo? Todos os dias partem do
<br>plano f�sico muitos encarnados, e eles n�o procuram saber para onde v�o e
<br>por que partem. Pensam que os seus corpos s�o eternos e ficam aprontando.
<br>� Tem raz�o. E aqueles que lesam a Na��o, que levam para seu
<br>bolso aquilo que daria ao povo: educa��o, seguran�a e sa�de? Ser� que
<br>essas criaturas dormem em paz?
<br>� Claro, Rayto. Na consci�ncia deles n�o existe dignidade.
<br>� Tem raz�o, Luiz. Como pode esperar o amanh�, ou buscar a Deus,
<br>o homem cujas atitudes causam dores e sofrimentos?
<br>� Essa gente � tal qual bicho: s� no corpo f�sico, sem responsabilidade
<br>espiritual. E o pior � que n�o s�o somente aqueles que n�o conhecem as
<br>responsabilidades como Esp�ritos que s�o. Muitos que se dizem esp�ritas
<br>brincam com os Esp�ritos, n�o os respeitam, e tamb�m n�o transmitem para
<br>os filhos a moral esp�rita, os deveres daquele que foi apresentado a um Deus
<br>bom e justo, a quem ter� de apresentar a consci�ncia, um dia.
<br>� � mesmo. Como � triste defrontarmos com m�diuns vaidosos, enganadores,
<br>falsos profetas e esp�ritas que nada fazem de bom para a Doutrina;
<br>fumam, bebem, s�o escravos do sexo e ainda se julgam donos da verdade.
<br>Como os jovens podem crer, se n�o encontram exemplos nos pais? Rayto,
<br>estou abobado. Como andam feias as coisas no plano f�sico! Depois desse
<br>filme, gostaria de gritar bem alto: "segurem bem forte as m�os de seus filhos,
<br>pais! Cuidado para n�o virem a chorar de vergonha!"
<br>
<br>Rayto convidou-me a acompanh�-lo, pois estava sendo esperado no
<br>audit�rio para dar uma aula a alguns suicidas recentes.
<br>
<br>� Podemos mesmo acompanh�-lo? perguntamos.
<br>� Sim. Disp�e de tempo?
<br>� Marry disse que iria demorar.
<br>Dirigimo-nos para o audit�rio. Como j� narrei, tudo nas Col�nias redentoras,
<br>nas universidades e faculdades � limpo e bonito; a sujeira e a
<br>indisciplina ficam nos umbrais. Cercado de plantas, o audit�rio, com sua
<br>m�sica melodiosa, dava a cada um muita paz. Por�m, nas fisionomias, muitos
<br>olhares eram de desespero. At� crian�as ali se encontravam. E pensei: "o
<br>que leva uma crian�a a se suicidar?" Quase todos tinham a apar�ncia de
<br>desespero, o olhar vazio, pareciam dementados. Enquanto se acomodavam,
<br>notei que eram banhados por fluidos magn�ticos. Busquei de onde partiam
<br>aqueles fluidos e pude ver que vinham de m�os aben�oadas. Tentei ver os
<br>rostos daqueles Esp�ritos, mas a pequenez do meu Esp�rito n�o me concedeu
<br>tal gl�ria. Cerrei os olhos para que tamb�m fosse beneficiado e, em sil�ncio,
<br>orei:
<br>
<br>"� amado Jesus, manso e humilde cora��o, n�o pude divisar esses
<br>Esp�ritos, mas eles podem abaixar-se e chegar mais perto de todos n�s, que
<br>aqui estamos, para nos ensinarem a humildade, para que possamos compreender
<br>melhor o Vosso amor por n�s. Desejo que eles me ensinem a colocar-
<br>me sempre nos �ltimos lugares e persuadir-me sinceramente de que este � o
<br>meu devido lugar. Suplico-Vos, Jesus, dai-me a repreens�o, cada vez que eu
<br>procurar elevar-me acima das outras criaturas, porque tenho conhecimento
<br>de que Deus d� a gl�ria da eternidade �quele que s� deseja servir. Queremos,
<br>por isso, trabalhar sempre pela felicidade de todas as criaturas.
<br>Conheceis, Jesus amigo, minha fraqueza. A cada manh�, tomo a resolu��o
<br>de praticar a humildade, e � noite reconhe�o que cometi v�rias faltas por
<br>orgulho. Quero, Jesus, fundamentar minhas esperan�as em V�s somente,
<br>porquanto sois o Filho de Deus. Fazei, Senhor, nascer no meu Esp�rito as
<br>pequenas virtudes, uma das mais importantes: a Caridade. Para obter essa
<br>
<br>
<br>gra�a da Vossa miseric�rdia, repito muitas vezes: Jesus, manso Cordeiro de
<br>Deus, fazei o meu cora��o semelhante ao Vosso e dai-me coragem para
<br>prosseguir sem m�goas, sempre fiel � tarefa que me foi concedida, ao buscar
<br>trabalho, logo que desencarnei. Senhor, Amigo e Mestre, lembrei-me das
<br>palavras que proferistes, quando Vos inclinastes para lavar os p�s dos Vossos
<br>ap�stolos, ensinando a todos a praticar a humildade (Jo�o, Cap�tulo
<br>XIII, v. 15): Dei-vos o exemplo, para que fa�ais como eu fiz. O disc�pulo
<br>n�o � maior do que o Mestre. Se cumprirdes estas coisas, sereis felizes
<br>pondo-as em pr�tica. Ajudai-me, quero coloc�-las em pr�tica, com o Vosso
<br>aux�lio. Como est� dif�cil levar a minha tarefa at� o fim! S�o tantos os
<br>obst�culos que tentam me barrar os passos!... Ajudai minha m�e Zilda, a
<br>quem muito amamos, assim como a meu pai e meu irm�o; que eles lutem pela
<br>f� e pelos conhecimentos. E que minha m�e sempre esteja ao meu lado,
<br>cuidando dos nossos livros, porque s�o t�o meus quanto dela e da m�dium
<br>Irene, escolhida quando cessou nosso trabalho com Alayde. Obrigado, Jesus,
<br>por me ouvir. E ajudai todos os Esp�ritos que v�o at� o plano f�sico com
<br>a tarefa de salvar almas. Sede, Senhor, meu advogado junto a todos aqueles
<br>que brincam com o Esp�rito Santo. Obrigado, Senhor."
<br>
<br>Quando terminei minha ora��o, feita com todo o meu amor, Enoque
<br>iniciou a prele��o. E com que carinho me preparei para ouvi-lo! Ali, diante
<br>de n�s, estava aquele Esp�rito humilde e amigo. Muitos falam dele, mas poucos
<br>o conhecem. Rayto � um amigo, � um irm�o de cada um de n�s. O seu
<br>olhar de crian�a penetra o esp�rito e toca o pensamento, suavemente, daqueles
<br>que dele precisam; e um dos mais necessitados sou eu mesmo, um dos
<br>seus mais fi�is amigos. Rayto, ou Enoque, � meu professor, � a m�o amiga
<br>que quando preciso vem at� mim e me abra�a, dizendo: tome vergonha na
<br>cara e me siga. Ele � o raiozinho de sol que clareia as noites escuras das
<br>preocupa��es que �s vezes nos atingem. Ele n�o � um Esp�rito qualquer, ele
<br>� o astro-rei que me orienta, como jovem que sou na Espiritualidade.
<br>
<br>Aquietei-me, para aguardar o in�cio da prele��o do Rayto.
<br>
<br>
<br>Cap�tulo XXI
<br>CRESCIMENTO MORAL E INTELECTUAL
<br>
<br>
<br>Antes do Rayto iniciar sua prele��o, observei aquele belo audit�rio,
<br>onde o sil�ncio era divino. Mesmo em se tratando de uma assist�ncia de
<br>suicidas e alunos, a harmonia se impunha, e acredito que todos estavam sentindo
<br>o bem-estar que me invadia o Esp�rito. Enoque n�o estava sozinho, um
<br>grupo de jovens sentou-se em semi-c�rculo, enquanto ele se conservava entre
<br>duas irm�s, cujos semblantes nos pareciam luminosos. Olhamos mais uma
<br>vez a assist�ncia e, mesmo tendo ao meu lado criaturas sofridas e preocupadas,
<br>o sil�ncio n�o era quebrado; harmoniosa e tocante melodia oferecia
<br>�quele lugar uma imensa paz. Ondas magn�ticas reparadoras eram conduzidas
<br>atrav�s de um painel que circulava o palco. A emana��o sacudia o meu corpo;
<br>era um momento inenarr�vel. Foi quando Enoque levantou-se e, com voz
<br>melodiosa, falou:
<br>
<br>� Prov�rbios, Cap�tulo I, vers�culos 1-7: Par�bolas de Salom�o,
<br>filho de Davi, rei de Israel. Para se aprender a sabedoria e a disciplina;
<br>para se entender as palavras da prud�ncia: e receber a instru��o da
<br>doutrina, a justi�a, e o ju�zo, e a eq�idade; afim de se dar aos pequeninos
<br>habilidade, e ci�ncia e entendimento ao mancebo. O s�bio, ouvindo-as,
<br>ficar� mais s�bio; e, entendendo-as, possuir� o leme. Atinar� com as
<br>par�bolas, e sua interpreta��o, com as palavras dos s�bios, e seus enigmas.
<br>O temor do Senhor � o princ�pio da sabedoria. Os insensatos des
<br>
<br>prezam a sabedoria, e a doutrina. Deus, bondade suprema, ampare a todos
<br>n�s, os Seus filhos, e n�o nos deixe perdidos no deserto da indiferen�a.
<br>Que, atrav�s da prece, possamos chegar at� o Pai, pois Ele jamais de n�s se
<br>separou. A prece � o nosso elo com o Criador Todo-Poderoso. Todos os
<br>Seus filhos t�m condi��o de dialogar com o Pai, � o nosso dever, s� Ele
<br>conhece-nos muito bem. Alguns est�o aqui porque praticaram o suic�dio;
<br>fizeram-no porque n�o encontraram for�as para se livrarem dos obst�culos
<br>do mundo f�sico. N�o conheceram o valor da prece; se a tivessem buscado,
<br>n�o estariam aqui, alquebrados e machucados pelo remorso. S� aprece d�
<br>ao homem condi��o de chegar a Deus e n'Ele haurir for�as para enfrentar as
<br>mais �rduas tarefas. Deus existe, e por mais que queiram desarrumar a Sua
<br>Casa e destruir a Sua fam�lia, Ele resplandece bondade em todos os lugares,
<br>basta que o ser deseje enxergar a luz. Todos aqui est�o para colocarem as
<br>consci�ncias no altar de Deus e Lhe implorarem perd�o pelas suas culpas, e
<br>ao encontr�-Lo, sentirem-se livres das dores e dos remorsos. N�o importa
<br>de que tamanho s�o os erros cometidos, vamos deix�-los para tr�s. Agora
<br>temos de aproveitar as novas oportunidades surgidas. J� que chegamos at�
<br>aqui, � Casa da M�e de Jesus, cada um deve conscientizar-se de que � filho
<br>de Deus e buscar a coragem para mergulhar nas profundezas do Esp�rito,
<br>enfrentar a pr�pria consci�ncia e bater de frente com as lembran�as, tudo
<br>fazendo para amenizar os remorsos. O primeiro passo � aprender a orar,
<br>pois somente a prece aplaca a dor e o desespero. E esta bendita Casa nos
<br>oferece ensinos salutares para conversarmos com Deus. Portanto, antes de
<br>qualquer coisa, vamos aprender a orar. S� aquele que ora coloca Deus no
<br>cora��o.
<br>
<br>Depois dessa explica��o sobre Deus e a prece, Rayto orou junto a
<br>todos n�s que, inebriados de emo��o, deixamos que as l�grimas molhassem
<br>
<br>o nosso rosto. E prosseguiu:
<br>� Irm�os, n�o estamos aqui como oradores nem como mestres, mas
<br>como servos de Jesus e Maria, sem nenhuma inten��o de julg�-los, porque
<br>se o Cristo, o Esp�rito mais perfeito que viveu no plano f�sico, a ningu�m
<br>condenou, quem somos n�s, pobres pecadores, para faz�-lo? Vimos aqui
<br>
<br>para apresentar a cada um a nossa amizade, como trabalhadores da Seara
<br>do Cristo, e dizer que n�o existe evolu��o sem ren�ncia. Podemos ter praticado
<br>atos indignos, mas nem por isso devemos permanecer no erro. Deus
<br>espera que cada filho atinja a perfei��o, porque ela � a meta de cada um de
<br>n�s. O Pai n�o discrimina Seus filhos; o mesmo amor que nutre por Jesus,
<br>Esp�rito perfeito, Ele tem pelo mais imperfeito dos homens e nele deposita
<br>esperan�a de melhora. Se assim n�o fosse, Deus n�o seria o Pai sublime que
<br>�. A Humanidade anseia pela paz e n�s temos de acreditar que o Planeta
<br>prepara-se para a aquisi��o de uma nova e elevada moral. Para que isso
<br>ocorra, o homem tem de buscar a felicidade eterna, que s� � conquistada
<br>quando nos propomos a ser bons. Quem lhes fala ama a Deus sobre todas as
<br>coisas e ao pr�ximo como a si mesmo, porque essa � a lei, j� tendo sido
<br>apresentado ao Mestre e d'Ele se fez servo. Ele nos ensinou que devemos
<br>nos reerguer das sombras da impiedade, pois nos ofertou a verdade quando
<br>caminhou nas sendas do mundo f�sico. At� quando n�o seremos crist�os, e
<br>sim advers�rios do Cristo, ovelhas rebeldes que, em verdade, n�o conhecem
<br>
<br>o Seu pastor? At� quando seguiremos outros mestres, o mestre do materialismo,
<br>da gan�ncia, da mentira e crucificaremos o nosso Irm�o Maior, representante
<br>de Deus, a Sua palavra? At� quando lutaremos contra n�s mesmos,
<br>porque n�o queremos servir ao Cristo? N�o compreendemos o que espera a
<br>Humanidade, ou melhor, o que pensam da vida alguns encarnados. O homem
<br>n�o quer sofrer, e o pior � que ele nem sabe o que vem a ser a dor.
<br>Muitos vivem choramingando, diante de fatos corriqueiros. Se, nesse instante,
<br>buscarmos na mem�ria o que nos levou ao suic�dio, veremos que as preocupa��es
<br>eram menores do que o remorso de hoje. E quem lhes fala tamb�m
<br>j� viveu no plano f�sico e tamb�m j� sofreu.
<br>Nesse momento, o nosso Rayto, o Esp�rito amigo de todos, que tem a
<br>fisionomia de um garoto de dezoito anos, que luta desesperadamente pela
<br>juventude sadia, ali, na nossa frente, junto �queles outros Esp�ritos, projetava,
<br>atrav�s de sua prodigiosa mente, as suas palavras, traduzidas em imagens
<br>e cenas a se refletirem no palco. Era o que eu chamava, quando aqui cheguei,
<br>de "teatro vivo". Como no teatro, vemos atores atuando junto ao p�blico, e
<br>essa foi a express�o que achei mais adequada, naquela �poca. Hoje, com
<br>
<br>
<br>mais maturidade, posso dizer que o "teatro vivo" da Espiritualidade funciona
<br>gra�as � for�a mental dos Esp�ritos com capacidade para tal trabalho. Ali, o
<br>Enoque, auxiliado pelo seu grupo, projetava as cenas mais comoventes da
<br>passagem de Jesus pela Palestina e as dificuldades que enfrentava. A plat�ia
<br>solu�ava, diante da proje��o mental, ou "teatro vivo", como gosto de chamar.
<br>Agora, prestando mais aten��o, posso narrar ao leitor que o que assist�amos
<br>era muito mais convincente do que as cenas teatrais que tanto nos
<br>emocionavam quando chegamos � universidade; era a vida de Jesus em si
<br>mesma, natural, vivida. Era o Mestre diante de n�s, no Seu dia-a-dia. O
<br>retrospecto do pensamento de Enoque era projetado no palco, auxiliado
<br>pelos outros companheiros. A vida dos ap�stolos e tamb�m a de Jo�o Batista
<br>foram ali projetadas, at� a festa de Herodes, Herod�ades e Salom� desenrolou-
<br>se diante dos nossos olhos, bem como o mart�rio dos ap�stolos, a
<br>morte de Est�v�o, de Pedro, de Paulo.
<br>
<br>Quando cessaram as dram�ticas cenas, a plat�ia chorava copiosamente.
<br>As pessoas, que se diziam crist�s, que imploravam ao Cristo
<br>para n�o sofrerem qualquer arranh�o, descobriram o mart�rio vivido pelos
<br>seguidores de Jesus. Aquelas criaturas ainda possu�am no corpo
<br>perispiritual as marcas do suic�dio, suic�dio este praticado, uns, porque
<br>perderam a fortuna, outros, por separa��o de marido ou mulher, porque
<br>brigaram com as namoradas, porque n�o passaram no vestibular, porque
<br>perderam o emprego, por estarem deprimidos. Enfim, analisando os fatos,
<br>percebemos que muitos sofriam realmente, mas nada justificava terem
<br>atentado contra a pr�pria vida, enquanto nos hospitais existem milhares
<br>de criaturas tudo fazendo para permanecerem no corpo f�sico.
<br>Assistindo ao "teatro vivo", ou � proje��o mental, apaixonamo-nos por
<br>Jo�o Evangelista. A sua dor, diante daqueles que voltavam para o mundo
<br>espiritual, era por demais sentida.
<br>
<br>Rayto ou Enoque, o nosso raiozinho de sol, terminou a sua conversa
<br>conosco e retirou-se junto aos seus companheiros.
<br>
<br>Fiquei ali sentado, observando a retirada dos doentes, conduzidos por
<br>m�dicos e enfermeiros. Alguns alunos tamb�m sa�ram, enquanto eu olhava
<br>
<br>
<br>aquele maravilhoso audit�rio, e continuo a dizer: s�o lindas as casas, os edif�cios,
<br>os jardins das Col�nias redentoras. S� os umbrais s�o feios e sujos.
<br>
<br>Depois, fui saindo devagar � o que n�o � h�bito meu � mas aquele
<br>lugar, com seu magnetismo, levava-me ao Alto. Quando j� estava quase na
<br>porta, o Rayto me enla�ou os ombros.
<br>
<br>� Como v�o os seus estudos?
<br>� Ah! Rayto, nem lhe conto!...
<br>� J� sei. Espere, e tudo vai serenar.
<br>� Foi muito bom reencontr�-lo. Voc�, Enoque, � o meu barquinho,
<br>quando estou em apuros, voc� surge como o sol depois do temporal.
<br>� Luiz, Luiz, elogio � como agrot�xico: aumenta o tamanho do alimento,
<br>mas lhe altera o sabor.
<br>Rimos, os dois.
<br>
<br>� Sei, Rayto, que voc� � muito ocupado, mas gostaria de passar
<br>para o leitor explica��es de como se processa esse teatro, que sempre
<br>falo em meus livros. Somente hoje prestei aten��o que da sua mente e da
<br>dos outros irm�os � que parte a proje��o dos personagens. N�o posso
<br>dizer que � um filme, pois os personagens nos parecem vivos, eles transitam
<br>� nossa frente, quase podemos toc�-los. O irm�o tem permiss�o
<br>para nos informar melhor sobre o assunto? Se n�o, pode ignorar a pergunta.
<br>� Luiz, os fatos vividos e presenciados por cada filho de Deus jamais
<br>lhe s�o retirados da casa mental. A mente fotografa e os pensamentos lhe
<br>d�o vida; as lembran�as e recorda��es reproduzem-se tal qual se acham
<br>arquivadas nos livros secretos do nosso Esp�rito.
<br>� Rayto, eu tamb�m posso projetar os fatos por mim vividos?
<br>� Sim, � claro. Mas para que isso venha a ocorrer, o irm�o tem de
<br>fazer os cursos, que n�o s�o poucos, e dedicar-se a eles.
<br>
<br>� Ent�o n�o � f�cil, n�o � qualquer um que trabalha com essa proje��o?
<br>� � uma opera��o melindrosa, que exige do operador fluidos magn�ticos
<br>puros, necess�rios � corporifica��o das imagens. Luiz, n�o sei se o
<br>irm�o percebeu que acima de n�s e dos nossos amigos chegavam tamb�m,
<br>at� o palco, ondas especiais, de um magnetismo superior, emitidas por Esp�ritos
<br>superiores. O trabalho n�o � somente nosso.
<br>� Tem raz�o, Rayto, tudo o que � para eleva��o do nosso Esp�rito
<br>pede de cada um de n�s muito estudo, amor e ren�ncia. Entristece-me quando
<br>alguns encarnados julgam que n�o temos o que fazer e que vamos de
<br>Centro em Centro, tentando desenvolver alguns m�diuns. N�o sabem eles
<br>que, quando a gente deseja trabalhar para o Cristo, falta-nos at� tempo,
<br>tantos e tantos os cursos que temos de fazer.
<br>� Luiz, a Doutrina Esp�rita precisa elucidar os seus adeptos sobre a
<br>necessidade urgente do estudo, para que o homem n�o veja no Centro Esp�rita
<br>apenas o mediunismo, pois a Doutrina Esp�rita � conhecimento e reforma
<br>�ntima
<br>� Sabemos que nem o nosso Jesus Cristo conseguiu convencer Seus
<br>contempor�neos com os prod�gios que operou, pois h� pessoas que mesmo
<br>presenciando os fatos, n�o cr�em. Por que, Rayto?
<br>� Porque � mais f�cil n�o crer, principalmente quando o fato coloca-
<br>nos diante da nossa consci�ncia. E depois, Luiz S�rgio, Doutrina Esp�rita � o
<br>reencontro do homem com Deus, e n�o espet�culo que precise de atores.
<br>� De que forma o Espiritismo pode contribuir para o progresso do
<br>homem?
<br>� Fornecendo-lhe a arma do conhecimento, que o ajudar� a combater
<br>em si pr�prio o materialismo, a vaidade, o orgulho, a avareza, a maledic�ncia,
<br>o ego�smo, fazendo com que ele conhe�a as responsabilidades, como
<br>filho de Deus que �, como tamb�m o fato de que o seu pr�ximo � seu irm�o,
<br>com os mesmos direitos, caminhando igualmente em dire��o ao Pai. Mas
<br>
<br>para chegar a Ele � preciso que disperse para longe, bem longe de si, as
<br>iniquidades, maiores inimigas do homem.
<br>
<br>� Rayto, analisando a Hist�ria da Humanidade, vemos que os fatos
<br>esp�ritas s�o t�o velhos quanto ela.
<br>� Luiz S�rgio, o Espiritismo reside na Natureza, muitos dos seus fen�menos
<br>s�o provocados pelos Esp�ritos. Por isso n�o cansamos de recomendar
<br>que o estudo da Doutrina torne-se obrigat�rio para quem chega ao
<br>Espiritismo. Se n�o houver estudo, deparar-nos-emos com criaturas dizendo-
<br>se m�diuns e infernizando a vida do pr�ximo, nada realizando de bom
<br>para a Humanidade, apenas brincando de mediunismo. Se o progresso intelectual
<br>� infinito, por que o homem que se diz m�dium n�o deseja progredir
<br>intelectualmente?
<br>� E se ele n�o tiver cultura?
<br>� Ele encontrar� oportunidade de aprender. Para isso � que existe
<br>Doutrina Esp�rita, e nela torna-se necess�rio o Estudo Sistematizado da Doutrina
<br>Esp�rita.
<br>� Rayto, hoje a Humanidade vive diante de tantos chamamentos ao
<br>consumismo! Antigamente talvez fosse mais f�cil, n�o existia carr�o de luxo,
<br>academia de gin�stica, computador, internet, roupas de grife, enfim, tudo o
<br>que a civiliza��o oferece.
<br>� O homem, filho de Deus, que respeita as Suas leis, agradece a Ele
<br>o progresso da Terra e o conforto que ela lhe est� proporcionando. Mas ai
<br>dele, se n�o fizer jus ao muito que vem recebendo. O homem tem de
<br>conscientizar-se de que Deus nele confia e deseja que conclua o curso, chamado
<br>perfei��o. Deus � um Pai que sonha com a felicidade do filho e ora por
<br>ele. Qual o pai carnal que n�o sonha que o filho venha a cursar uma universidade
<br>e se forme em algum curso ou em v�rios? Deus, como Pai perfeito que
<br>�, deseja que os Seus filhos concluam o curso do amor e da perfei��o.
<br>� Os jovens, principalmente, acham dif�cil trilhar o caminho da perfei��o,
<br>Rayto.
<br>
<br>� Hoje a condi��o humana oferece ao homem muitos prazeres, principalmente
<br>para os jovens. Antigamente o jovem chegava a casa antes das
<br>vinte e tr�s horas; hoje ele sai de casa a essa hora. Volto a dizer: os prazeres
<br>s�o in�meros. Ser� que algu�m vai privar-se deles para servir a Deus? O Pai
<br>n�o deseja que ningu�m venha a repelir os prazeres que a condi��o humana
<br>lhe oferece, mas o homem de moral elevada aproveita os prazeres que a
<br>condi��o humana lhe permite, por�m sem se contaminar com os v�cios morais
<br>da Humanidade. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo encontramos,
<br>no Cap�tulo XVII � Sede Perfeitos � item 10, O homem no Mundo:
<br>N�o imagineis, portanto, que para viverdes em comunica��o constante
<br>conosco, para viverdes sob as vistas do Senhor, seja preciso vos cilicieis
<br>e cubrir-vos de cinzas. Quem julga que para ser digno � necess�rio tornar-
<br>se ermit�o n�o conhece a verdade. Quando desejamos servir a Deus, seguindo
<br>o Evangelho de Jesus, pouco a pouco vamo-nos modificando. E essa
<br>mudan�a � que assusta, �s vezes, at� os nossos familiares. Com o estudo da
<br>Doutrina Esp�rita, vamos aprendendo a ter um comportamento crist�o, largamos
<br>os v�cios e os nossos lares transformam-se em verdadeiros lares, onde
<br>mora o respeito e o amor. Podemos desfrutar do conforto que a vida nos
<br>oferece, por�m conscientes de que devemos agradecer a Deus por possuir
<br>tanto.
<br>� Rayto, ent�o voc� acredita que s� o Espiritismo pode tornar a
<br>Humanidade moralmente melhor?
<br>� Tanto o Espiritismo, quanto outras religi�es. O Espiritismo leva vantagem,
<br>porque explica o que ontem era mist�rio. A Doutrina coloca o homem
<br>diante de um espelho, para ele se auto-analisar e ver claramente as imperfei��es
<br>da sua alma. A Doutrina tamb�m ensina que a fam�lia dif�cil de hoje
<br>pode ser o reencontro das oportunidades perdidas no ontem. Mas tamb�m
<br>que, na mesma fam�lia, pode haver o parentesco corporal e o espiritual.
<br>� Mas existe cada fam�lia, Rayto...
<br>� Todos estamos no Planeta para progredir moral e intelectualmente.
<br>� Qual dos dois � o mais dif�cil?
<br>
<br>� O progresso moral � mais dif�cil, porque o homem n�o deseja a
<br>reforma interior. E �s vezes at� luta contra Deus, principalmente porque n�o
<br>deseja respeitar Suas leis.
<br>� Muitos at� julgam, Rayto, que Deus � mau, que castiga. Felizmente,
<br>a Doutrina Esp�rita apresenta Deus ao homem, um Deus bom e justo, que
<br>tem por cada filho um amor exigente; por isso, �s vezes, Suas leis podem
<br>parecer, para o homem, muito severas e exigentes.
<br>� Tem raz�o, Luiz S�rgio, mas � medida que o homem conhece Deus,
<br>ele tamb�m come�a a entender por que tem de respeitar as leis, sejam as de
<br>Deus ou as humanas. Uma sociedade violenta necessita de leis severas. A
<br>medida que a sociedade for evoluindo, mais brandas ser�o suas leis. Assim
<br>tamb�m � o homem, � medida que ele evolui, acha mais f�cil respeitar as leis
<br>de Deus e as leis humanas.
<br>� Que maravilha, Rayto, quando o homem respeitar as leis do tr�nsito!
<br>� Por que o irm�o, de repente, lembrou-se das leis do tr�nsito?
<br>� Porque � de estarrecer a viol�ncia no tr�nsito e a quantidade de
<br>jovens que est�o desencarnando por desrespeito a essas leis.
<br>� No dia, Luiz, em que o homem respeitar e amar as leis de Deus,
<br>n�o ser�o mais necess�rias as leis humanas.
<br>� � mesmo, Rayto. O homem n�o matar�, n�o roubar�, n�o levantar�
<br>falso testemunho, portanto, n�o mentir�, n�o cobi�ar� as coisas alheias,
<br>n�o adulterar�.
<br>A�, soltei uma gargalhada. Rayto me olhou firme.
<br>
<br>� Qual a gra�a?
<br>� Apenas lembrei-me de alguns pol�ticos. E por falar neles, nos maus
<br>pol�ticos, para onde eles ir�o?
<br>� Luiz S�rgio, estamos falando da Terra regenerada, da regenera��o
<br>da Humanidade, de uma sociedade mais justa, e n�o de pol�ticos. Todos n�s
<br>
<br>temos de prestar contas a Deus, e ai daquele que n�o respeitar a Deus e ao
<br>pr�ximo.
<br>
<br>� Ainda bem, Rayto, que somente Deus det�m o �pice da
<br>intelectualidade e os Seus filhos sempre ter�o de buscar conhecimentos em
<br>ci�ncia universal.
<br>� Luiz S�rgio, querido frade, o que t�m Deus e o progresso intelectual
<br>com os pol�ticos?
<br>� Muito, Rayto, j� pensou um mau pol�tico, que j� se julga um deus,
<br>com o conhecimento igual ao d'Ele? Coitada da Humanidade!...
<br>� Luiz, quando a gente pensa que voc� est� falando s�rio, vem com
<br>uma das suas.
<br>� Desculpe, Enoque, �s vezes esque�o que devo e preciso aproveitar
<br>os momentos do nosso reencontro.
<br>Rayto deu aquele sorriso de menino amado, o sorriso dos justos, dos
<br>bons.
<br>
<br>� Luiz, por isso sempre mandamos atrav�s dos seus livros um alerta
<br>para os dirigentes esp�ritas, para que eles segurem a batuta do Espiritismo,
<br>para que o fanatismo e a ignor�ncia n�o venham a destruir a pureza doutrin�ria.
<br>Que os falsos profetas n�o se aproveitem da ingenuidade dos leitores
<br>com teorias novas, deixando de fortalecer o �nico caminho que nos leva a
<br>Deus, e que Allan Kardec, como mensageiro do Alto, desbravou com as
<br>ferramentas do conhecimento, entregando-o � sociedade, para que ela se
<br>tornasse mais justa: a nossa Doutrina Esp�rita. Com o seu bom senso, o
<br>Codificador catalogou os ensinos dos Esp�ritos sem pressa, sendo um dos
<br>mais importantes ensinamentos por ele deixado, para os esp�ritas, o de que
<br>tudo deve obedecer a um criterioso exame e n�o ser jogado nas m�os do
<br>leitor, apenas para agu�ar a vaidade de quem escreve. Quem desejar conhecer
<br>o que ontem era mist�rio, basta estudar a Doutrina Esp�rita, n�o com o �nico
<br>prop�sito que, infelizmente, alguns buscam nas Casas Esp�ritas: o mediunismo,
<br>mas para aproveitar tudo de bom que a Doutrina Esp�rita oferece ao homem.
<br>
<br>� Rayto, o que voc� acha da reencarna��o?
<br>� Para n�s, que vivemos em um pa�s que sempre acreditou nela, �
<br>f�cil estud�-la e aceit�-la. Contudo, para o materialista, a encarna��o � uma
<br>realidade perigosa que ele teme, e muito. Se n�o houvesse reencarna��o,
<br>cremos que a Terra seria a mesma de milhares de anos atr�s.
<br>� Pode explicar isso melhor, Rayto?
<br>� Sem a reencarna��o, Luiz S�rgio, os Esp�ritos que est�o nascendo
<br>hoje estariam sendo criados hoje, sem conhecimento algum anterior. S� a
<br>reencarna��o explica que esse progresso da Humanidade ocorreu justamente
<br>com os Esp�ritos que o ajudaram, indo e voltando para captarem os seus
<br>conhecimentos; e com essas idas e vindas, levaram para o plano f�sico o que
<br>aprenderam e viram no mundo cient�fico da Espiritualidade. Portanto, S�rgio,
<br>o progresso da Humanidade pode ser explicado pela reencarna��o. Sem
<br>ela, torna-se dif�cil entender Deus como um Ser perfeito.
<br>� Por que os esp�ritas, Rayto, n�o procuram convencer a sociedade,
<br>por meio de palestras, nos meios de comunica��o, enfim, os esp�ritas com
<br>capacidade, apresentarem os seus conhecimentos, diante de pessoas que
<br>julgam que Espiritismo � doutrina de fan�ticos, feiticeiros e ignorantes?
<br>� O leitor deve ler a quest�o 802 de O Livro dos Esp�ritos:
<br>802. Visto que o Espiritismo tem que marcar um progresso da Humanidade,
<br>por que n�o apressam os Esp�ritos esse progresso, por meio
<br>de manifesta��es t�o generalizadas e patentes, que a convic��o penetre
<br>at� nos mais incr�dulos?
<br>"Desejar�eis milagres; mas Deus os espalha a mancheias diante dos
<br>vossos passos e, no entanto, ainda h� homens que o negam. Conseguiu,
<br>porventura, o pr�prio Cristo convencer os seus contempor�neos, mediante
<br>os prod�gios que operou? N�o conheceis presentemente alguns que negam
<br>os fatos mais patentes, ocorridos �s suas vistas? N�o h� os que dizem que
<br>n�o acreditariam, mesmo que vissem? N�o; n�o � por meio de prod�gios que
<br>Deus quer encaminhar os homens. Em Sua bondade, Ele lhes deixa o m�rito
<br>de se convencerem pela raz�o."
<br>
<br>
<br>� E depois, Luiz S�rgio, fazer propaganda do Espiritismo deve ser
<br>tarefa de todos os esp�ritas e n�o de algumas pessoas ou alguns m�diuns.
<br>Cada esp�rita leva consigo a responsabilidade de bem representar a Doutrina
<br>Esp�rita. Atrav�s do exemplo de cada um, o Espiritismo se tornar� conhecido.
<br>E queira Deus os esp�ritas verdadeiros deixem um facho de luz por onde
<br>passarem. A conquista da felicidade est� nas m�os do homem, ele � que tem
<br>de lutar por ela.
<br>� Sendo o homem filho de Deus, por que ele demora tanto a crescer
<br>moralmente?
<br>� Porque, Luiz, ao inv�s de buscar a virtude, ele tem por companhia
<br>o orgulho e o ego�smo. O progresso intelectual efetua-se mais rapidamente.
<br>� Por qu�, Rayto?
<br>� O progresso intelectual efetua-se gra�as �s idas e vindas do Esp�rito.
<br>O Esp�rito sempre traz para a mat�ria o que aprendeu no mundo espiritual
<br>e vice-versa.
<br>� Entendemos. E ele esquece a moralidade, quando busca o gozo
<br>dos bens terrenos e mergulha de corpo e alma na mat�ria, esquecendo-se de
<br>tudo o que aprendeu. Desculpe-me, Rayto, mas alguns homens ainda est�o
<br>bem perto do reino animal. � carne, carne, somente carne.
<br>Enoque sorriu gostoso.
<br>
<br>� � bom o leitor estudar a resposta � quest�o 785 de O Livro dos
<br>Esp�ritos:
<br>785. Qual o maior obst�culo ao progresso?
<br>" O orgulho e o ego�smo". Refiro-me ao progresso moral, porquanto o
<br>intelectual se efetua sempre. A primeira vista, parece mesmo que o progresso
<br>intelectual reduplica a atividade daqueles v�cios, desenvolvendo a ambi��o
<br>e o gosto das riquezas, que, a seu turno, incitam o homem a empreender
<br>pesquisas que lhe esclarecem o Esp�rito. Assim � que tudo se prende, no
<br>mundo moral, como no mundo f�sico, e que do pr�prio mal pode nascer o
<br>bem. Curta, por�m, � a dura��o desse estado de coisas, que mudar� � pro
<br>
<br>
<br>
<br>por��o que o homem compreender melhor que, al�m da que o gozo dos
<br>bens terrenos proporciona, uma felicidade existe maior e infinitamente mais
<br>duradoura."
<br>
<br>� O homem, Luiz S�rgio, tem de conscientizar-se de que � eterno, e por
<br>ser eterno, ele n�o morre; se ele n�o morre, existe vida al�m vida e temos de
<br>responder pelos nossos erros. Porque, se amoralidade n�o fosse necess�ria ao
<br>Esp�rito, que valor teria o homem de ser bom? A Doutrina elucida muito bem este
<br>assunto: que o homem tem de respeitar o plano de Deus, que � ver todos os Seus
<br>filhos reunidos e felizes. E isso n�o � poss�vel em raz�o de o homem ainda se
<br>encontrar colado ao corpo de carne, sem vontade de respirar os ares da
<br>Espiritualidade Maior. Enquanto s� buscar os progressos do mundo f�sico, esquecendo-
<br>se de Deus, ele poder� crescer intelectualmente, mas se encontrar�,
<br>moralmente, retardado. Hoje constatamos uma triste realidade: os pais nada est�o
<br>fazendo para que seus filhos cres�am moralmente.
<br>� Essa � uma das in�meras tarefas da Doutrina Esp�rita?
<br>� Sim. A miss�o dos Esp�ritos do Senhor � levar, at� o mundo f�sico,
<br>as elucida��es sobre a responsabilidade de cada um dos filhos de Deus. A
<br>Casa Esp�rita que n�o mudar o homem para o bem perder� sua finalidade.
<br>As Casas Esp�ritas existem para ensinar ao homem a ser bom, a crescer
<br>moralmente e, se ele busca o conhecimento doutrin�rio, cresce tamb�m intelectualmente.
<br>Muitas Casas vivem preocupadas em doutrinar Esp�ritos inferiores,
<br>esquecendo-se de que eles se manifestam, no mundo f�sico, por encontrar
<br>criaturas semelhantes a eles. No dia em que o homem crescer em
<br>moralidade, ter� melhores companheiros. A Casa Esp�rita tem de orientar os
<br>seus freq�entadores a buscarem a verdade e, diante dela, lutarem para crescer
<br>moralmente. O mal de alguns esp�ritas � julgar que as Casas Esp�ritas
<br>existem somente para dar assist�ncia aos desencarnados.
<br>� Enoque, espere a�, explique melhor.
<br>� Luiz, a Casa Esp�rita deve ser um instituto de cultura esp�rita.
<br>� Tamb�m penso assim, Rayto, mas, pelo que entendi, na sua opini�o
<br>na Casa Esp�rita deve existir somente o estudo da Doutrina?
<br>
<br>� O estudo deve ser obrigat�rio. N�o se concebe que um homem
<br>que se diga esp�rita n�o seja espiritualizado, continuando materialista. Portanto,
<br>o estudo � necess�rio, e deve estar em primeiro lugar; julgar que os
<br>Centros Esp�ritas s� existam para ajudar os Esp�ritos sofredores � um grande
<br>erro doutrin�rio, porque, sendo o plano espiritual organizado, nele n�o faltam
<br>hospitais para os Esp�ritos doentes. A finalidade da Casa Esp�rita � ajudar o
<br>encarnado para que ele se defenda das influencia��es dos Esp�ritos inferiores.
<br>Ao fazer o contr�rio, isto �, somente criar grupos medi�nicos com a
<br>finalidade �nica de doutrinar Esp�ritos, longe estas Casas se encontrar�o do
<br>objetivo da Doutrina. Curemos a ferida para que os insetos n�o a busquem.
<br>Quando a Casa tem por meta a cura da alma, pouco a pouco tudo se entrela�a:
<br>estudo e trabalho. Ao desejar apenas criar grupos medi�nicos, grupos
<br>estes compostos de m�diuns desequilibrados e doentes, perder� a Casa a
<br>grande oportunidade de ajudar a Espiritualidade Maior. Porque, tornamos a
<br>dizer, a finalidade da Doutrina Esp�rita � levar almas at� Deus; e sem a educa��o
<br>doutrin�ria torna-se dif�cil.
<br>� Entendi, Rayto.
<br>� N�o basta apenas levantar um templo nem construir altares, o que
<br>a Espiritualidade Maior deseja � que cada um de n�s tenha o Cristo plasmado
<br>no cora��o e que nos tornemos um oper�rio humilde da Sua vinha. Caso
<br>contr�rio, se chegamos � Casa Esp�rita mas vivemos criando caso, brigando,
<br>desejando nos tomar m�diuns da Casa ou ocupar um lugar na diretoria, estamos
<br>em lugar errado. A Casa Esp�rita deve ser um tabern�culo divino, onde devemos
<br>estudar e viver as leis de Deus. No dia em que cada presidente de
<br>uma Casa Esp�rita e sua diretoria entrela�arem as suas m�os com as dos seus
<br>freq�entadores, esquecendo que pertencem � diretoria e juntos trabalharem
<br>em prol do pr�ximo, tudo se tornar� mais f�cil. No entanto, se o presidente
<br>ou a diretoria de uma institui��o esp�rita n�o procederem consoante aos princ�pios
<br>�ticos doutrin�rios, continuaremos a presenciar fatos tristes, como os
<br>que v�m ocorrendo: brigas e mais brigas nas diretorias das Casas Esp�ritas.
<br>� Rayto, o que nos assusta � a vaidade. Existem esp�ritas que, por
<br>possu�rem vasto conhecimento, julgam que seus companheiros s�o ignoran
<br>
<br>tes, enquanto o Cristo Se disse servo dos Seus amigos e com humildade lhes
<br>banhou e beijou os p�s.
<br>
<br>� Exatamente, Luiz. � constrangedor que muitos esp�ritas, importantes
<br>para a Doutrina pelo grande conhecimento que possuem, vivam o seu
<br>dia-a-dia vestidos com o manto da vaidade, do orgulho e do ego�smo, por se
<br>julgarem com mais conhecimento doutrin�rio. E quanto mal est�o causando
<br>ao movimento esp�rita! Enquanto eles, como inquisidores, p�em-se a julgar,
<br>os falsos profetas proliferam, principalmente dentro da pr�pria Doutrina.
<br>� Como parar com isso?
<br>� Outras filosofias religiosas se perderam, porque formaram um
<br>colegiado e este se distanciou do povo. Infelizmente, � o que vem ocorrendo
<br>no meio esp�rita. � a indiferen�a dos que pensam que muito sabem, para com
<br>o movimento. Por esse Brasil afora, a mediunidade sem Jesus est� levando
<br>criaturas respeit�veis ao rid�culo, julgando-se mission�rias, quando s�o presas
<br>de Esp�ritos mistificadores. Quantos Centros Esp�ritas pelo Brasil afora
<br>n�o t�m a preocupa��o de melhorar o homem! S�o verdadeiros ca�adores
<br>de fantasmas... E, para que isso ocorra, colocam pessoas dizendo-lhes serem
<br>portadoras de mediunidade gloriosa, levando-as ao mediunismo desenfreado,
<br>enquanto os doutores da lei est�o brigando entre si e se julgando grandes
<br>conhecedores do Espiritismo. Fazem at� quest�o de dizer os anos que est�o
<br>na Doutrina, esquecendo-se de ler a passagem do Evangelho sobre os trabalhadores
<br>da �ltima hora. Na Doutrina, n�o existe antig�idade, devemos ter
<br>responsabilidade e dignidade. S� isso. � preocupante vermos jovens completamente
<br>fan�ticos, falando mole e baixo, para aparentarem moralidade,
<br>enquanto longe se encontram da reforma interior. Continuam com a mesma
<br>vidinha: barzinhos, noitadas, enfim, s�o esp�ritas s� na Casa Esp�rita. Enquanto
<br>isso, nos meios de comunica��o os ataques s�o in�meros. E o pior �
<br>que a vaidade de alguns esp�ritas � tanta, que eles julgam que nada devem
<br>fazer, que devem, sim, continuar na sua vidinha materialista, sem compromisso
<br>para com Deus e o pr�ximo. Apenas estudando a Doutrina Esp�rita ele
<br>ter� conhecimento.
<br>
<br>� Enoque, ent�o para a Espiritualidade Maior o estudo da Doutrina �
<br>mais que necess�rio?
<br>� Sim, Luiz. Sem esse estudo o homem n�o compreende o porqu�
<br>da obrigatoriedade da reforma �ntima em sua vida.
<br>� Rayto, quando desencarna, o Esp�rito leva para a vida espiritual as
<br>imperfei��es rec�m-adquiridas, quando encarnado? As novas somam-se �s
<br>antigas?
<br>� Se o Esp�rito sa�sse da vida material pior do que nela entrou, ele
<br>estaria retroagindo. O Esp�rito, Luiz S�rgio, leva para a vida espiritual as
<br>perfei��es conquistadas. Pode, entretanto, sair da vida material sem haver
<br>efetuado qualquer progresso, permanecendo estacion�rio.
<br>� Passou pela vida, Rayto, e n�o viveu, isto �, n�o progrediu?
<br>� Sim. Se o Esp�rito n�o efetuou qualquer progresso, manteve-se
<br>estacion�rio.
<br>� Confesso que n�o entendi. Ent�o esses traficantes, esses
<br>estupradores, esses assassinos cru�is, eles n�o voltam para o plano espiritual
<br>piores do que eram antes de reencarnar?
<br>� Luiz, se o Esp�rito sa�sse da vida material pior do que nela entrou
<br>ele estaria retroagindo, como expliquei, o que n�o pode acontecer, como
<br>sabemos.
<br>� Desculpe, Rayto, mas na minha cabe�a deu um n�. Esses Esp�ritos
<br>cru�is sempre foram assim?
<br>� E duro admitir, mas as nossas faltas de hoje s�o as conseq��ncias de
<br>tudo o que j� est�vamos cansados de praticar em outras vidas, apenas repetimos
<br>os fatos. O estuprador de hoje � o mesmo sexoman�aco de ontem; s� que no
<br>ontem, quando as mulheres eram submissas e ignoradas pela sociedade, o seu
<br>ato cruel n�o era considerado crime. Hoje, na era moderna, a mulher pede socorro.
<br>Por tudo isso, no hoje � que devemos procurar melhorar; e n�o existe
<br>lugar melhor para crescer em moralidade do que nos ensinos de Jesus.
<br>
<br>� Rayto, fazendo men��o aos ensinos de Jesus, o irm�o quer nos
<br>dizer que, em qualquer lugar onde se pregam as leis de Deus, o homem pode
<br>modificar-se?
<br>� Sim, os esp�ritas n�o podem julgar-se os �nicos mensageiros do
<br>Senhor, pois assim tamb�m cair�o nos mesmos erros dos inquisidores. Todas
<br>as religi�es, que ensinam ao homem tornar-se bondoso, e lutam pela paz
<br>entre as criaturas de Deus, s�o aben�oadas. A Doutrina Esp�rita n�o deve
<br>ser chamada de religi�o esp�rita, porque ela n�o � religi�o. As religi�es brigam
<br>entre si, todas desejam apoderar-se do Cristo. Para n�s, religi�o �, sim,
<br>a cruz infamante que o Cristo carrega at� hoje nos Seus iluminados ombros.
<br>Religi�o, muitas vezes, faz id�latras, fan�ticos, m�sticos, supersticiosos,
<br>charlat�es, e torna os homens inimigos uns dos outros, por julgarem que a
<br>sua cren�a � a �nica que salva.
<br>� Ent�o, o que � Doutrina Esp�rita?
<br>� E uma filosofia de vida, � o encontro do homem com Deus. E o
<br>Consolador prometido por Jesus. S�o os Esp�ritos soprando por toda a parte
<br>o hino da caridade, que tamb�m pode ser chamado de hino do amor. A
<br>Doutrina Esp�rita, ao apresentar o homem a Deus, faz com que o ser comece
<br>a entender as diferen�as sociais, o porqu� da dor e dos sofrimentos e, �
<br>medida que vai amando o Senhor, tamb�m vai aceitando melhor as vicissitudes
<br>da vida material. E n�o fica t�o enraizado � mat�ria, vive no corpo f�sico,
<br>mas sua alma, quando precisa, corre em Esp�rito para os bra�os do Pai amado.
<br>A Doutrina esclarece o homem, conscientizando-o de que tudo o que
<br>existe de bom no plano f�sico � obra de Deus e foi feito para o conforto dos
<br>encarnados, e que ele, o homem, pode desfrutar de todo avan�o cient�fico,
<br>desde que n�o prejudique a si mesmo e ao pr�ximo. Para servir a Deus e
<br>crescer espiritualmente, o homem n�o precisa cobrir-se de andrajos. A Doutrina
<br>Esp�rita, com sua vasta biblioteca, chama o homem para a realidade
<br>espiritual, e este n�o pode, jamais, dizer-se ignorante. A� est� a diferen�a das
<br>religi�es com a Doutrina Esp�rita. Ela veio para mostrar que s� existe um
<br>caminho, chamado perfei��o, e � obrigat�rio todos os filhos de Deus caminharem
<br>por ele. Por isso, na Doutrina n�o se concebem �dolos, porque o
<br>
<br>�nico �dolo que n�o decepciona o homem � Deus. Podemos dizer Jesus e
<br>Deus. Mas Jesus, sendo um Esp�rito sublimado, disse: Bom, s� Deus o �. E
<br>Ele, sendo o nosso Mestre amado, que sempre est� nos ensinando a humildade,
<br>n�o gostaria que n�s O transform�ssemos em nosso �dolo supremo e
<br>brig�ssemos em nome d'Ele, caluniando irm�os de cren�as diferentes, como
<br>se o nosso Cristo fosse melhor do que o deles. Por isso o Mundo Maior
<br>sempre afirma que Jesus n�o criou religi�o alguma e que enquanto o homem
<br>s� buscar religi�o, ele vai-se esquecer de lutar pela pr�pria perfei��o. A
<br>religi�o separa os homens, e o Cristo nos ensinou muito bem que o maior
<br>mandamento � amar a Deus e ao pr�ximo. Como pode um fan�tico religioso
<br>amar algu�m que n�o professa a mesma f� que ele?
<br>
<br>� Enoque, ent�o se os esp�ritas tamb�m ficassem brigando, por julgarem
<br>que o Espiritismo � o �nico caminho da salva��o, eles estariam errados?
<br>� Mais do que errados. Eles chegaram � Doutrina, banharam-se na
<br>fonte do conhecimento, mas nenhuma gota da �gua purificada da Doutrina
<br>adentrou seu cora��o. A Doutrina Esp�rita n�o foi entregue a Allan Kardec
<br>para criticar, separar ou julgar-se a melhor. Ela � a terceira carta de Deus
<br>para os homens. A primeira, quem a recebeu foi Mois�s; a segunda, Deus fez
<br>com que Seu filho querido a trouxesse at� os homens e a lesse para a Humanidade.
<br>E com que autoridade divina o Cristo o fez! Ele foi expl�cito quando
<br>apresentou o samaritano como exemplo, quando curou o servo do centuri�o,
<br>quando curou a mulher fen�cia. Quanto exemplo de bondade! O Cristo n�o
<br>repudiou o samaritano nem o soldado romano ou a mulher fen�cia, Ele mostrou
<br>ao mundo f�sico que s� o amor leva o homem a Deus, e n�o s� a f� que
<br>ele diz professar. A Doutrina Esp�rita � a terceira carta, trazida pelos Esp�ritos.
<br>Para melhor compreender essa carta, vamos at� Jo�o, Cap�tulo XIV,
<br>vers�culos 15-16: Se me amais, guardai os meus mandamentos. E eu rogarei
<br>ao Pai, e Ele vos enviar� outro Par�clito, para que fique eternamente
<br>convosco. E o Consolador a� est�, ao lado dos encarnados, consolando,
<br>explicando tudo o que ontem assustava. Hoje, quem estuda a Doutrina
<br>sabe que os Esp�ritos est�o em toda parte, e para que o homem tenha
<br>
<br>boas companhias, tem de lutar pela perfei��o. Na terminologia jur�dica grega,
<br>o termo par�clito significava o advogado chamado para defender a causa
<br>de algu�m. Em Jo�o, significa intercessor, consolador, que ajuda os disc�pulos
<br>do Cristo, no vasto processo que o mundo materialista desenvolve
<br>contra eles. Portanto, a Doutrina Esp�rita n�o � uma inven��o de Allan Kardec
<br>nem uma doutrina "kardecista". Ela � simplesmente mais uma carta de alerta
<br>ao homem e, como tudo que � divino, o homem precisou de algu�m para
<br>explic�-la. A primeira, Mois�s a recebeu; a segunda, Jesus a explicou, e a
<br>terceira, os Esp�ritos do Senhor, ao lado dos homens de boa vontade, est�o
<br>tentando explicar � Humanidade. Sendo assim, com podem as Casas Esp�ritas
<br>esquecerem-se da grande miss�o de melhorar a criatura humana?
<br>
<br>� Tem raz�o, Rayto, � com pesar que, ao visitarmos alguns Centros
<br>Esp�ritas, vemos que a grande preocupa��o deles � formar grupos medi�nicos
<br>e de desobsess�o, para auxiliarem os desencarnados, esquecendo que a Terra
<br>vive momentos de dor e de desespero e que a finalidade da Doutrina � melhorar
<br>os homens, e n�o os Esp�ritos. Se cada Casa Esp�rita conseguir mudar
<br>a conduta de alguns dos seus freq�entadores, poder� considerar-se uma casa
<br>do Senhor. Mas a Casa Esp�rita cujos freq�entadores n�o se preocupam
<br>com a reforma �ntima, e por onde passam deixam um rastro de falta de educa��o
<br>doutrin�ria, essa Casa precisa reformular os seus ensinos. Doutrina
<br>Esp�rita n�o � mediunismo, � trabalho ao Senhor. Enoque, acho rid�culos
<br>aqueles que se dizem esp�ritas, mas conforme o Centro que freq�entam mudam
<br>at� a voz, que fica cavernosa, falam baixinho, igual �s almas do outro
<br>mundo.
<br>Rayto riu gostosamente e prosseguiu:
<br>
<br>� A Espiritualidade preocupa-se, e muito, com as Casas que pregam
<br>o medo, assustando os freq�entadores com a lei de a��o e rea��o, com os
<br>umbrais, com os Esp�ritos menores, enfim, que transformam suas Casas em
<br>hosp�cios, onde os freq�entadores morrem de medo dos Esp�ritos, o que
<br>deveria ser o contr�rio. O encarnado, na Doutrina, deve aprender a respeitar
<br>os desencarnados, porque sabe que, amanh�, tamb�m ser� um deles. Deve,
<br>sim, ajud�-los com o trabalho de caridade, com amor, lutando sempre pela
<br>
<br>pr�pria melhoria. Essa � a finalidade de uma Casa Esp�rita verdadeira: que
<br>todos se conscientizem de transform�-la em uma casa do Senhor.
<br>
<br>� Perdoe-me, Enoque, mas isso vai demorar a acontecer; tenho conhecido
<br>Centros Espiritas bons, mas basta alguns de seus m�diuns apresentar
<br>um livro psicografado por Esp�ritos conhecidos na Doutrina para o Centro
<br>edit�-lo, sem uma an�lise s�ria, apenas visando o lucro das vendas.
<br>� Luiz S�rgio, quantos m�diuns j� psicografaram Emmanuel, Andr�
<br>Luiz, Bezerra e muitos desses livros se perderam no esquecimento! J� a obra
<br>de Andr� Luiz, escrita pelo Chico, a� est�, � uma j�ia do Espiritismo. O
<br>Emmanuel � um baluarte da Doutrina Esp�rita, um dos mais inteligentes Esp�ritos
<br>mensageiros do Cristo.
<br>� � isso, Rayto, o que me preocupa. Por que o Centro Esp�rita,
<br>que deve ter um mentor que zela pela disciplina da Casa, aceita tais fatos,
<br>colocando a p�blico livros ditos escritos por Esp�ritos conhecidos na Doutrina,
<br>sem crit�rio? O erro n�o � s� dos m�diuns, mas das Casas Esp�ritas,
<br>onde esses m�diuns trabalham, porque se o m�dium deseja colocar
<br>as suas psicografias nas m�os dos leitores, elas precisam ser analisadas
<br>por pessoas estudiosas da Casa Esp�rita. Outro fato que precisa de orienta��o
<br>dos respons�veis � referente �s preces longas e cansativas e tamb�m
<br>quanto aos seus oradores. No Antigo Testamento encontramos, no
<br>Eclesi�stico, Cap�tulo XXXII, vers�culo 6: N�o desperdices palavras,
<br>onde n�o h� quem d� ouvidos a elas, e n�o queiras elevar-te fora de
<br>tempo na tua sabedoria.
<br>� Vaidade, sempre a vaidade. Luiz, o bom orador � aquele que
<br>fala com o cora��o. Est�-se tornando comum os oradores esp�ritas imitarem
<br>os grandes tribunos, sempre contando uma hist�ria por eles narradas;
<br>outras vezes, chegam ao c�mulo de decorar as palavras j� gravadas
<br>em fitas e, com a maior desfa�atez, pass�-las como sendo id�ias dele, o
<br>orador. Quantos n�o dizem uma palavra sem citar um personagem famoso;
<br>S�crates j� deve estar cansado de ouvir o seu nome. O que se deve
<br>fazer para realizar uma boa palestra? Falar com o cora��o, preparar-se,
<br>
<br>e n�o jogar palavras fora. O fato � que h� falta de bons palestrantes.
<br>Felizmente, j� est�o surgindo cursos destinados a prepar�-los.
<br>
<br>� E por que a car�ncia de oradores?
<br>� Porque n�o basta fazer o curso. Quem deseja falar em p�blico tem
<br>de colocar-se no lugar de quem ouve as palestras, do contr�rio toraar-se-�
<br>mais um orador cansativo. Acreditamos que quase todos os Centros Esp�ritas
<br>hoje ficam � procura de bons oradores.
<br>� Desculpe-me, Rayto, mas existem tamb�m muitos esp�ritas que n�o
<br>t�m ''desconfi�metro", sobem � tribuna e s� falam abobrinhas, s�o verdadeiros
<br>son�feros.
<br>� Concordo plenamente, Luiz. Aquele que se prop�e a falar em nome
<br>da Doutrina Esp�rita tem de se preparar. Falar em p�blico exige t�cnica, n�o
<br>basta somente boa vontade. Um mau palestrante expulsa da Casa Esp�rita
<br>quem vem pela primeira vez.
<br>� Rayto, todas as Casas Esp�ritas devem primar pelo estudo, ningu�m
<br>deve adentr�-la pelo telhado ou pela janela, para que n�o ocorra que a
<br>Doutrina caia nas m�os de criaturas sem nenhum conhecimento, com id�ias
<br>pr�prias, distantes da pureza doutrin�ria. Infelizmente, essas criaturas existem
<br>e orientam outras nas Casas Esp�ritas, quando a finalidade da Doutrina �
<br>tornar humildes as criaturas. A orienta��o para que o iniciante busque a regress�o
<br>a vidas passadas n�o � recomend�vel. A Doutrina nos ensina que o
<br>esquecimento do passado revela a a��o providencial e sabedoria divinas.
<br>Deus � s�bio e bem conhece as Suas criaturas. A lembran�a traria grav�ssimos
<br>inconvenientes; pode, em certos casos, humilhar ou ent�o exaltar o orgulho,
<br>e, assim, dificultar o livre-arb�trio. Tudo tem uma raz�o de ser, e n�o � o
<br>homem que vai atrapalhar o plano de Deus. A Doutrina entrega a chave da
<br>porta do conhecimento, por�m, de posse dela, o homem n�o deve ultrapassar
<br>a linha do bom senso, porque Doutrina Esp�rita � responsabilidade e
<br>amor. E nem todos est�o aptos a conhecer o que Deus t�o bem guarda em
<br>segredo. Rayto, o que est� faltando aos esp�ritas � humildade. E esp�rita sem
<br>humildade � como um rio sem �gua.
<br>
<br>� Tem raz�o. N�o se concebe aquele que se diz esp�rita coberto de
<br>orgulho e vaidade, porque a ele foi concedida a chave do conhecimento dos
<br>dois planos: f�sico e espiritual, e o Cristo recomendou: ai daquele que brincar
<br>com o Esp�rito Santo, esse n�o ser� perdoado. Quem conversa com
<br>os desencarnados precisa ter uma postura digna e verdadeira, onde a vaidade
<br>e o orgulho n�o cheguem perto.
<br>� Rayto, noto, nas obras b�sicas, a aus�ncia dos nomes dos m�diuns
<br>que auxiliaram na sua feitura. N�o seria bom se isso voltasse a acontecer?
<br>� Allan Kardec, grande esp�rita, o bom senso encarnado, deixou de
<br>cit�-los, nem por isso a obra se perdeu, ao contr�rio, ningu�m sequer pergunta
<br>quais foram os m�diuns da Codifica��o. E sabemos que isso ocorreu a
<br>pedido dos pr�prios m�diuns, porque os seus nomes valor algum acrescentariam
<br>� obra dos Esp�ritos. Citar os nomes dos m�diuns geraria, somente,
<br>uma satisfa��o do amor pr�prio de cada um, pela qual os m�diuns verdadeiramente
<br>s�rios n�o se interessam. O m�dium de Jesus jamais se envaidece
<br>por um trabalho intelectual, a que prestam apenas o seu concurso mec�nico,
<br>sabendo muito bem que a obra n�o � dele. O m�dium vaidoso coloca o seu
<br>nome, e a vaidade toma conta da sua alma, julgando que a obra � sua. Muitas
<br>vezes o que diz que escreve, deste ou daquele Esp�rito, longe da verdade se
<br>encontra. Nas p�ginas dos livros, o leitor s� encontra fragmentos de algumas
<br>obras esp�ritas e que o m�dium vaidoso diz pertencerem a este ou �quele
<br>Esp�rito conhecido no meio esp�rita.
<br>� Voc� � a favor de pseud�nimo, Rayto?
<br>� O pseud�nimo, na �poca atual, n�o seria aceito pelo leitor, que j�
<br>se acostumou a buscar o nome dos m�diuns. Os respons�veis pela Doutrina
<br>� que deveriam ter continuado a n�o citar o nome dos m�diuns.
<br>� Ser�, Rayto, que n�o ia virar uma bagun�a?
<br>� N�o. O leitor estudioso, fiel � Doutrina, busca o bom livro pelo seu
<br>conte�do. Fiscal vigilante, ele conhece o modo de escrever do Esp�rito e tem
<br>o conhecimento de que ningu�m retroage, principalmente o Esp�rito que j�
<br>possui uma obra respeit�vel.
<br>
<br>� Mas existem m�diuns que dizem que o Esp�rito mudou, porque
<br>evoluiu...
<br>� Desculpe-me, Luiz, o Esp�rito n�o pode evoluir, retroagindo. Muitas
<br>vezes deparamo-nos com livros, que se diz de Esp�rito conhecido, que
<br>nos causam pesar, pois, em vez do Esp�rito ter progredido, ele andou para
<br>tr�s. S� o m�dium vaidoso � que n�o percebe.
<br>� Dif�cil, n�o, Rayto?
<br>� N�o, n�o acho dif�cil. Est� na m�o do leitor analisar cada escrito
<br>que chega �s suas m�os. n�o aceitando tudo, apenas porque no livro est� o
<br>nome de um Esp�rito que ele aprecia.
<br>� Voc� tem raz�o. Rayto. H� leitor que apenas coleciona as obras e
<br>n�o as estuda. Basta um m�dium colocar o nome de Andr� Luiz em um de
<br>seus livros e o leitor compra a cole��o. A� nos faz lembrar do M�rcio
<br>Bittencourt, eminente m�dico da Casa de Maria. Ele sempre diz: "quem n�o
<br>estuda come minhoca por caviar". Quantos m�diuns hoje dizem que recebem
<br>Jesus, Maria, enfim, Esp�ritos vener�veis! H� muito tempo venho pedindo
<br>� minha m�e, Zildinha, que fique atenta, pois estou ciente de muitos fatos
<br>desagrad�veis que est�o ocorrendo pelo Brasil afora. Toda teoria, em contradi��o
<br>com o meu modo de escrever, deve ser rejeitada. Tudo partiu de um
<br>gr�o de areia, e jamais irei contra um item de tudo o que at� hoje escrevi. O
<br>que me assusta � a insufici�ncia de conhecimento de certas pessoas e a tend�ncia
<br>de outros, de tomarem seu pr�prio ju�zo em rela��o � minha tarefa.
<br>� Luiz, a Espiritualidade Maior exerce um controle universal, e esse
<br>controle � uma garantia para a unidade futura do Espiritismo, que anular�
<br>todas as comunica��es opostas e contradit�rias que ocorrem com este ou
<br>com aquele Esp�rito por ela escolhido.
<br>� Assim espero, porque os Esp�ritos n�o t�m como se defender.
<br>� Bem, querido amigo, at� mais ver. Quando desejar nos encontrar,
<br>busque-nos aqui, na universidade, porque ultimamente, devido a muitos jovens
<br>estarem desencarnando por excesso de velocidade e overdose, quase
<br>
<br>n�o estamos indo � Crosta da Terra. Mas tenha a certeza de que o querido
<br>amigo e irm�o ser� sempre bem recebido onde n�s estivermos, porque o seu
<br>trabalho, Luiz, n�s o consideramos um pomar, onde o irm�o depositou a
<br>semente do amor; esta semente tornou-se �rvore frondosa, cujos frutos alimentam
<br>as almas famintas de amor. Continue regando com a �gua do Evangelho
<br>o seu pomar. E se alguma ave daninha desejar bicar um dos seus frutos,
<br>recorde-se de que o Cristo, mesmo sendo um Esp�rito sublimado, o Filho de
<br>Deus, n�o Se viu livre dos a�oites do caminho. Espere, que o nosso Pai
<br>Todo-Poderoso, que faz cair a chuva sobre os justos e os injustos, estar�
<br>sempre ao lado do filho que se empenha em cumprir, com lealdade, a tarefa
<br>de velar pelos seus irm�os sofredores.
<br>
<br>Rayto me abra�ou com carinho e saiu radiante. Ele � o jovem mensageiro
<br>de Jesus, que tanto tem ajudado minhas tarefas. Dali, fui andando, ou
<br>melhor, correndo, abra�ando cada �rvore e gritando:
<br>
<br>� Obrigado, meu Deus, por tanto amor!
<br>Parece que as �rvores irm�s me compreenderam, porque muitas delas
<br>me cobriram o corpo de flores.
<br>
<br>
<br>Cap�tulo XXII
<br>A OPORTUNIDADE DO APRENDIZADO
<br>
<br>
<br>Caminhando pelo mundo espiritual, cheguei a uma cascata.
<br>Entrei em suas �guas cristalinas e fiquei meditando, pedindo
<br>a Deus pela Humanidade, principalmente pelos esp�ritas; que
<br>cada um se conscientize do seu trabalho e lute para bem servir
<br>ao Cristo. A �gua nos acariciava o corpo e nela mergulhei como
<br>se fosse o po�o de Silo�; queria esquecer algumas coisas e colocar
<br>em na consci�ncia o Cristo querido, nosso Amigo e Mestre.
<br>Enquanto me mantinha mergulhado na �gua, senti-me muito
<br>feliz por Deus ter-me criado, pois bem sei que Ele � nosso Pai
<br>amado. Quando voltei � realidade, deparei-me com Marry, que
<br>sorria.
<br>
<br>� O que aconteceu com voc�, Luiz S�rgio? Buscou as �guas para
<br>espantar o calor?
<br>Sa� ligeiro da �gua, envergonhado, dizendo:
<br>
<br>� O calor n�o, mas ao adentrar nesta �gua desejei livrar-me de
<br>certos fatos tristes que est�o acontecendo.
<br>Com seu sorriso lindo, ela come�ou a cantar a m�sica de Ros�lia,
<br>para magnetiza��o das �guas:
<br>
<br>
<br>�gua que cai do c�u
<br>�gua que comp�e meu corpo
<br>�gua que molha as flores
<br>�gua que cura as dores
<br>�s t�o bonita
<br>Que vives a jorrar
<br>�gua bendita
<br>Vem me curar
<br>Nos riachos, nos rios,
<br>Nas cidades, nas matas,
<br>Nos lagos t�o frios,
<br>Nas lindas cascatas
<br>Sempre est�s, �gua amiga,
<br>Est�s a jorrar
<br>Sempre est�s, �gua amiga,
<br>Est�s a jorrar.
<br>�gua que cai do c�u
<br>�gua que comp�e meu corpo
<br>�gua que molha as flores
<br>�gua que cura as dores
<br>Nas casas t�o lindas
<br>Nos barracos pobrezinhos
<br>�s sempre bem-vinda
<br>Nem que seja um pouquinho
<br>Sempre est�s, �gua amiga,
<br>Est�s a jorrar
<br>Sempre est�s, �gua amiga,
<br>Est�s a jorrar
<br>Vamos magnetizar
<br>Estas �guas
<br>Para curar
<br>As dores e as m�goas
<br>
<br>
<br>288
<br>
<br>
<br>� Luiz S�rgio, ficamos contentes em reencontr�-lo mais alegre, notamos
<br>que ultimamente o irm�o anda t�o compenetrado...
<br>� N�o � bem assim, Marry, � que n�o posso brincar quando estou
<br>fazendo um trabalho s�rio. Quando passei para o papel o estudo que fiz
<br>sobre o Serm�o da Montanha, muitos estranharam o nosso modo de escrever.
<br>Mas como poder�amos brincar diante de algo t�o sublime, o Serm�o do
<br>Monte? Ele � para o homem o segundo chamado de Deus, � o Cristo explicando,
<br>como Mestre que �, palavra por palavra, as leis de Deus.
<br>� Sabemos disso, Luiz, e nesses dias de conv�vio que tivemos, pudemos
<br>perceber o quanto voc� se esfor�a para n�o deixar passar em v�o as
<br>oportunidades de aprender.
<br>� Marry, poucos Esp�ritos rec�m-desencarnados tiveram a oportunidade
<br>que me foi concedida. E gra�as � ajuda de minha fam�lia carnal, dos
<br>amigos, dos leitores, estou lutando para bem cumprir com a minha tarefa. As
<br>vezes, fico apreensivo, pois n�o gostaria que algu�m usasse o meu nome
<br>para desvirtuar a simplicidade de um trabalho, que est� sendo feito com base
<br>doutrin�ria, pois desde que o iniciei, tudo fiz para passar para o papel a
<br>verdade, porque s� ela pode ajudar o crescimento moral do nosso pr�ximo.
<br>� Luiz, est� na hora de buscarmos o audit�rio, onde ser� realizada
<br>uma palestra que muito nos interessa e, como sua instrutora, fazemos quest�o
<br>que o irm�o a escute e sempre a guarde na mem�ria.
<br>Enlacei o seu ombro amigo; antes, fitei os seus olhos com carinho,
<br>enquanto os meus estavam marejados de l�grimas. Ela tamb�m se emocionou,
<br>mas logo se refez.
<br>
<br>� Menino, estaremos sempre orando pela sua obra e pedindo a Deus
<br>que o trabalho possa ajudar a muitos.
<br>Passamos por uma caminho que eu desconhecia, na linda Universidade
<br>Maria de Nazar�. Seu corredor refletia uma luz, cujos reflexos o ampliavam,
<br>dando �s paredes tonalidades diferentes; o teto nos chamava a aten��o,
<br>pois me pareceu que v�amos nuvens, e o azul era t�o belo que pensei:
<br>
<br>
<br>"deve ser a cor do para�so". A tudo ia observando, at� chegarmos ao auditorio.
<br>Desde o primeiro livro, sempre procurei descrevemos a beleza do mundo
<br>espiritual e fico intrigado, por que alguns esp�ritas julgam que os Centros
<br>Esp�ritas t�m de ser sujos e mal conservados, enquanto no mundo espiritual
<br>as col�nias redentoras s�o belas e floridas. Mas, deixa pra l�.
<br>
<br>Sentamos naquelas poltronas, cujos recursos para levar a plat�ia a se
<br>comunicar com o orador s�o dos mais modernos; cada bra�o da cadeira
<br>tinha um painel repleto de bot�es. Algum leitor ir� perguntar: "Mas no mundo
<br>espiritual os Esp�ritos n�o se comunicam pelo pensamento?" Onde este Esp�rito,
<br>ainda imperfeito, chamado Luiz S�rgio, trabalha, a comunica��o entre
<br>as criaturas ainda se parece muito com a do plano f�sico. As conversas telep�ticas
<br>ocorrem, mas somente entre Esp�ritos de mais alta hierarquia, quando
<br>se faz preciso, nas ocasi�es onde o Esp�rito, menos evolu�do, precisa
<br>receber orienta��o dos Esp�ritos superiores, em algum trabalho que realiza
<br>em prol do pr�ximo.
<br>
<br>Reparei bem minha cadeira e me coloquei apto a fazer algumas perguntas.
<br>Nisso, adentrou o audit�rio um Esp�rito, cujos raios de luz davam �
<br>sua figura uma sublime leveza, como se estivesse flutuando. Cumprimentou a
<br>todos e orou:
<br>
<br>"Senhor, cujos olhos penetram o abismo da consci�ncia humana, mesmo
<br>que nela esteja oculto algo que n�o quer confessar. O homem pode esconder-
<br>se de si mesmo, mas nunca poder� esconder-se de V�s, Senhor.
<br>Agora, que a carca�a da carne ao p� retornou, nossos gemidos d�o testemunho
<br>do quanto desagradamos os Vossos olhos. V�s, Senhor, iluminastes a
<br>Terra e aos seus habitantes com a luz do Vosso olhar, mandastes as Vossas
<br>leis, e o homem preferiu o bezerro de ouro. Ainda acreditando na perfei��o
<br>dos Vossos filhos, mandastes � Terra o Vosso primog�nito, o nosso amado
<br>Jesus, Mestre e irm�o da Humanidade. Mesmo assim, ainda n�o desejamos
<br>conhecer-Vos, Senhor, mas V�s nos conheceis tal qual somos. N�o adianta
<br>confessarmos com palavras, com a voz da carne, os nosso erros; precisamos,
<br>Senhor, usar as palavras da alma, com os gritos do pensamento, pois
<br>que Vossos ouvidos j� t�o bem conhecem cada um dos Vossos filhos. Tam
<br>
<br>
<br>
<br>b�m sabemos, Senhor, que como aben�oais os justos, assim, � nosso Deus,
<br>desejamos que nos perdoeis os erros cometidos, por n�o obedecermos as
<br>Vossas leis. Aqui nos encontramos para nos dirigirmos a esses nossos irm�os
<br>que, como n�s, um dia tamb�m desrespeitaram as Vossas leis e foram para a
<br>cadeia da carne. Pedimos que, neste momento, em que vamos conversar
<br>com os nossos irm�os, eles sintam que lhes declaro a verdade. Gostar�amos
<br>que, para cada aluno desta Casa divina, pud�ssemos provar que falamos a
<br>verdade, e que eles nos ou�am; contudo, sabemos que �queles a quem a
<br>caridade j� abriu os ouvidos ir�o acreditar em n�s. Mas ainda, Senhor, pedimo-
<br>Vos miseric�rdia para todos os que foram chamados de Esp�ritos maus, que
<br>ainda desconhecem o �nico caminho que nos conduz a V�s: a caridade.
<br>Alguns, que aqui se encontram, nos conhecem, outros n�o; ou, ent�o, simplesmente
<br>ouviram falar de n�s ou a nosso respeito alguma coisa, mas os
<br>seus ouvidos n�o nos auscultaram o cora��o, onde somos o que somos no
<br>nosso interior, para onde n�o podem lan�ar o olhar, o ouvido ou o esp�rito.
<br>Querem, contudo, ouvir-nos, dispostos a acreditar que a caridade � que nos
<br>torna justos, � ela que nos faz acreditar em V�s e em n�s mesmos. O Esp�rito
<br>que n�o busca a caridade est� sujeito � morte, pois peregrina no mundo,
<br>sempre em busca das coisas temporais, esquecendo que tudo o que h� no
<br>plano f�sico a V�s pertence. E quem j� Vos foi apresentado, nosso Deus
<br>amado, n�o pode viver apegado aos aplausos, � gl�ria e �s riquezas. Porque
<br>
<br>o amigo Mestre, Jesus Cristo, ensinou que quem O seguisse no caminho da
<br>vida, estes seriam os Vossos servos, os irm�os de Jesus. A Ele, Senhor
<br>Deus, nos mandastes servir, se quis�ssemos viver em V�s e convosco. E
<br>Jesus, o Vosso Verbo, foi � frente com obras, atapetando o ch�o, antes repleto
<br>de espinhos, com as rosas da Vossa bondade. Deus amado, que estais
<br>em n�s, ainda que n�o estejamos convosco, prometemos revelar a Vossa
<br>bondade �queles a quem nos mandais servir, mesmo que n�o nos acreditem,
<br>como irm�os que somos. Eles podem at� nos atirar pedras, caluniar-nos,
<br>mas somente V�s, Senhor, podeis julgar, porque ningu�m conhece o que se
<br>passa no �ntimo de cada um, a n�o ser o Esp�rito que nele reside e V�s, Deus
<br>amado. E homem que somos, ainda n�o libertos das tenta��es, imploramo-
<br>Vos que nos ajudeis a curar-nos da imperfei��o. Para isso, oferecemo-Vos o
<br>
<br>que temos de melhor: ir at� os confins do planeta para levar a Vossa mensagem
<br>de amor. Queremos ultrapassar a for�a que nos prende ao corpo
<br>perispiritual e encher os nossos Esp�ritos de amor. Queremos, Senhor, transportar
<br>esta for�a do amor, subindo degrau por degraus at� V�s, Deus, que
<br>nos criastes, e esquecer o dia em que nos distanciamos de V�s, procurando
<br>novamente ouvir a Vossa voz. Sabemos, Senhor, que n�o esquecemos as
<br>dores passadas no corpo; n�o � de admirar, porque fomos durante muito
<br>tempo apegados a ele. Hoje, queremos que o nosso Esp�rito esque�a as
<br>tristezas passadas e busque na mem�ria a alegria nela contida, de modo que
<br>os nossos Esp�ritos se regozijem com a oportunidade que ainda nos ofereceis,
<br>atrav�s do trabalho de levar at� os encarnados os nossos conhecimentos.
<br>Permiti, Senhor, que levemos mais al�m as nossas investiga��es, e que essas
<br>tarefas jamais sejam perturbadas; que todos n�s, aqui presentes, n�o venhamos
<br>a ser transformados em adivinhos ou feiticeiros. Ainda que narremos os
<br>acontecimentos ver�dicos do passado, lembremos que vamos, at� o plano
<br>f�sico, ensinar ao encarnado a respeitar a vida e a n�o temer a morte do
<br>corpo material, que nos foi confiada a tarefa de levar at� os homens encarnados
<br>o rem�dio para torn�-los melhores, n�o para envaidec�-los. N�o � nossa
<br>tarefa predizer o futuro � que equivale ao fen�meno de se apresentar ao
<br>Esp�rito as imagens das coisas que ainda n�o existem. De qualquer modo,
<br>que saibamos evitar que esses fatos tenham lugar em nossos trabalhos. Ora,
<br>
<br>o que j� existe n�o � futuro, mas presente, e o presente, triste ou violento, �
<br>o presente, e n�o � a finalidade das tarefas esp�ritas prever o futuro. Os
<br>antigos profetas prediziam os acontecimentos, mas, aos esp�ritas, foi feito o
<br>chamado, e cada um tem de tornar-se digno desse chamado, n�o deixando
<br>para tr�s o momento sublime de suas vidas: o de servir. Recordemo-nos de
<br>Mateus, que contava as suas moedas, quando o Cristo o chamou. Assim
<br>somos n�s: o Cristo nos chamou e V�s, Senhor Deus, nos esperais."
<br>O orador fez breve pausa, para Jogo retornar:
<br>
<br>"Senhor, aqui se encontram todos os Esp�ritos a quem foi dada uma
<br>tarefa na Doutrina Esp�rita. E estamos, em Vosso nome, procurando transmitir
<br>a todos, o que V�s esperais das Vossas criaturas, de que modo ensinar as
<br>
<br>
<br>almas a enfrentar os acontecimentos futuros, pois n�o podemos duvidar de
<br>que, um dia, tamb�m, Senhor, V�s os revelastes aos Vossos profetas. Se
<br>alguns fracassaram, n�o cabe a n�s julg�-los. A Doutrina Esp�rita � a terceira
<br>revela��o divina e ningu�m tem o direito de ultraj�-la. Os Esp�ritos vaidosos,
<br>pseudo-s�bios, que v�m ditando mensagens, apoderando-se de nomes respeit�veis,
<br>esses sentir�o o ranger dos dentes. Os escritos que s�o levados at�
<br>
<br>o plano f�sico obedecem a uma disciplina divina. Para que cheguem �s m�os
<br>dos leitores, passam pelo Departamento da Psicografia. N�o se trata de brincadeira.
<br>Essa opera��o est� demasiado acima da nossa intelig�ncia. O nosso
<br>Esp�rito arde em �nsias de compreender este enigma t�o complicado. Se
<br>existem criaturas que brincam em nome dos Esp�ritos, logo receber�o a conseq��ncia
<br>dos seus atos levianos. Fazei, Senhor, com que nelas penetrem, e
<br>lhes sejam claros, os Vossos ensinos da humildade. A quem devemos interrogar
<br>sobre estas quest�es ou a quem poderemos confirmar a nossa ignor�ncia?
<br>A V�s, Senhor, e � nossa consci�ncia. Somente V�s nos ensinais a viver
<br>de verdades. Cada um de n�s deve sempre Vos pedir que nos livreis da
<br>vaidade. Dai-nos, Pai, o que Vos pedimos, V�s, que verdadeiramente sabeis
<br>presentear os Vossos filhos com dados valorosos, dai-nos o bom senso de
<br>tudo analisar antes de levar at� nossos irm�os encarnados. Pedimos para
<br>V�s, Deus amado, que Jesus seja sempre o nosso Mestre de humildade, e
<br>em nome dos Esp�ritos do Senhor, que ningu�m nos perturbe o trabalho doutrin�rio.
<br>Prometemos estar firmes na Vossa verdade; n�o toleraremos a vaidade,
<br>a falta de conhecimento da Doutrina Esp�rita, devido ainda � enfermidade
<br>das almas dos homens. Concedei-nos, Senhor, a gra�a de continuarmos
<br>o nosso trabalho em prol do nosso pr�ximo. Qu�o longe eles se encontram
<br>de V�s, Senhor, esquecendo as conseq��ncias dos seus delitos. Sarai
<br>nossos olhos, para nos alegrarmos com a Vossa luz. Entoai Vossos louvores
<br>�quele que Vos compreende e � Doutrina Esp�rita; e quem n�o Vos compreender,
<br>ainda, abrigai-o em Vossos bra�os tamb�m. Oh! qu�o sublime sois,
<br>por levantardes os que ca�ram, mas n�o deixeis cair aqueles de quem sois o
<br>Pai Todo-Poderoso. Gra�as a V�s, os humildes de cora��o possuem as
<br>suas moradas e os seus trabalhos. Guardai, Senhor, a todos aqueles em quem
<br>confiais. Assim seja."
<br>
<br>Quando ele se calou, suave m�sica tomou conta do ambiente. S� ent�o
<br>reparei os nossos companheiros e vi que todos os Esp�ritos ali presentes
<br>estavam chorando de emo��o, pois todos t�m sobre seus ombros a tarefa de
<br>ajudar os encarnados. Percebi que ali se encontravam Esp�ritos de todo o
<br>Planeta, n�o s� brasileiros, como de outros pa�ses. Marry me convidou a sair
<br>e, quando o fizemos, observamos que o audit�rio tinha v�rias frisas; acreditamos
<br>que cada uma delas era ocupada por Esp�ritos de graus evolutivos
<br>diferentes.
<br>
<br>O audit�rio possu�a o seguinte aspecto:
<br>
<br>
<br>Os compartimentos pareciam camarotes. Os Esp�ritos que ali estavam
<br>eram tarefeiros no plano f�sico, trabalhadores do Senhor.
<br>
<br>
<br>� Marry, que lugar lindo! Pena que era tanta a minha emo��o, que
<br>n�o queria desgrudar os olhos do palestrante, mas quando pude perceber
<br>aqueles andares repletos de irm�os atentos e emocionados, em algumas daquelas
<br>frisas s� via os lugares, pois meus olhos n�o tinham condi��o de divisar
<br>os Esp�ritos ali presentes.
<br>� Eles foram acomodados, Luiz, por grau evolutivo.
<br>� Irm�, a Espiritualidade Maior est� preocupada com o Espiritismo?
<br>� Sim, Luiz, pela falta de estudo nas Casas Esp�ritas e pela paran�ia
<br>que toma conta de algumas pessoas, que se dizem m�diuns mission�rios,
<br>enquanto bem sabemos que o verdadeiro trabalhador esp�rita � aquele que
<br>apenas serve em sil�ncio. A Espiritualidade Maior est� criando grupos compostos
<br>de Esp�ritos com imenso conhecimento doutrin�rio, para atuar em
<br>muitas Casas, para que elas se conscientizem de que o homem, quando as
<br>busca, � para aprender o que ontem era mist�rio.
<br>� Marry, vou escrever um livro com o t�tulo: "Os embustes na Doutrina"...
<br>� � t�o f�cil reconhecer um m�dium s�rio, Luiz!
<br>
<br>� Marry, pode definir os atributos de um m�dium com Jesus?
<br>� Luiz, n�o devemos procur�-lo entre os grandes, mas muito longe,
<br>isto �, no nada. Ele est� o mais distante poss�vel de tudo o que brilha, ama a
<br>pequenez, � pobre de esp�rito. Bem escondido por detr�s dos seus trabalhos
<br>de caridade, est� trancafiado, em chaves de amor, o seu dom medi�nico,
<br>esperando pelo dia em que, humildemente, apresentar� a Jesus o seu cajado,
<br>que durante a sua vida medi�nica n�o � florido, ao contr�rio, � pesado pelas
<br>ingratid�es. Na hora em que ele apresent�-lo ao Cristo, ver� que o cajado,
<br>pesado e espinhoso de ontem, estar� leve, florido e perfumado, pois ele n�o
<br>desvirtuou sua tarefa medi�nica. Atrav�s do Estudo Sistematizado da Doutrina
<br>Esp�rita, aprendeu a ser um pobre gr�o de areia e n�o se importou em
<br>ser desprezado, pois, estudando, ele aprendeu que as montanhas s�o compostas
<br>de muitos gr�ozinhos de areia. O m�dium com Jesus procura n�o
<br>sobressair aos olhos dos encarnados, mas luta para tornar-se grande diante
<br>da Espiritualidade.
<br>� Marry, mediunidade � um sacerd�cio, n�o � mesmo?
<br>� � muito mais. � lutar para ser esquecido, n�o somente das criaturas
<br>que, �s vezes, desejam glorificar sua mediunidade. � entregar a sua vida nos
<br>bra�os de Jesus, sem volver a cabe�a, unir-se a Ele e o resto lhe ser� dado
<br>por acr�scimo, como narra Mateus, Cap�tulo VI, vers�culo 33.
<br>� Irm� Marry, por isso existem t�o poucos m�diuns de verdade!...
<br>Ela sorriu.
<br>� Mas foi o nosso Mestre quem advertiu: "ai daquele que brincar
<br>com o Esp�rito Santo."
<br>� E como tem neguinho a� pendurando melancia, ab�bora, jaca etc.
<br>no pesco�o. Estes n�o est�o brincando com o Esp�rito Santo, est�o armando
<br>um circo e tentando desmoralizar a Doutrina Esp�rita.
<br>� Mas n�s sabemos que a Doutrina � inating�vel; passam os homens
<br>e Ela permanece cada vez mais brilhante.
<br>
<br>� Marry. gostaria que a irm� dissesse mais alguma coisa para conhecermos
<br>um bom m�dium.
<br>� Luiz. � t�o f�cil reconhecer um bom m�dium!... Ele n�o vive falando
<br>de Esp�ritos em qualquer lugar.
<br>� Est� bem, Marry, isso j� sei. Agora, por favor, algumas coisas mais
<br>para os m�diuns.
<br>Marry sorriu e me alisou a face.
<br>
<br>� Luiz S�rgio, a orienta��o de Francisca Theresa � a seguinte: "como
<br>h� diferen�a muito maior entre as almas do que entre as fisionomias, � imposs�vel
<br>agir com todos da mesma maneira. Com certas criaturas, percebo que
<br>tenho de diminuir, de n�o recear humilhar-me, revelando meus combates,
<br>minhas derrotas. Ao verem que tenho as mesmas fraquezas que elas, as minhas
<br>irm�s me confessam tamb�m, por sua vez, as faltas de que se recriminam,
<br>e se alegram de que eu as compreenda. Com outras, percebi que, para
<br>lhes fazer algum bem, preciso, ao contr�rio, usar de minha firmeza; abaixar-
<br>me, nestes casos, n�o seria humildade, mas fraqueza". Sendo assim, Luiz, um
<br>bom m�dium � aquele que se julga igual aos outros, possuidor de qualidades
<br>e de imperfei��es; jamais se julga superior a ningu�m ou pensa ser um mission�rio.
<br>Quem n�o tem esse proceder jamais poder� dizer-se um trabalhador
<br>do Cristo.
<br>� Obrigado, Marry, n�s amamos voc�.
<br>� Obrigada, Luiz, voc� � um grande amigo. Mas agora, vamos ganhar
<br>estrada.
<br>� Oba, adoro viajar! At� pare�o algu�m que conhe�o: adora uma
<br>estrada. Para onde vamos, J�piter ou V�nus? Dizem que as mulheres venusianas
<br>s�o lindas!
<br>� N�o, Luiz, n�o vamos a V�nus. Estamos contentes com este c�u
<br>que vemos e com esta Terra, que � o nosso planeta amado, donde tirei os
<br>elementos que comp�em meu perisp�rito. Recitemos o Salmo CXV: 16O mais
<br>alto dos c�us � para o Senhor, mas a terra, deu-a aos filhos do homem.
<br>297
<br>
<br>
<br>Apesar de n�o irmos a V�nus, devemos agradecer a Col�nia que nos abriga,
<br>os nossos amigos protetores, a nossa Universidade. As vezes questionamos,
<br>achando absurdo que cada um desses dois mundos � o espiritual e o f�sico
<br>
<br>� comp�em a Terra. Devemos dizer aos que est�o presos na cadeia da
<br>carne que a Terra � um presente de Deus, e foi confiada a Jesus para a
<br>evolu��o dos Seus irm�os imperfeitos.
<br>� �s vezes, Marry, julgo que onde estou trabalhando seja o c�u, de
<br>tanto gostar do que hoje fa�o. Quantos no mundo f�sico julgam que existe um
<br>c�u misterioso, que pertence a Deus e a todos os bonzinhos. Pobres coitados
<br>! Um dia, ter�o consci�ncia da verdade e, a�, sentir�o o ranger dos dentes.
<br>Naquele instante, recordei Jesus Cristo criando a Terra, formando
<br>e diferenciando sua mat�ria informe. Antes, n�o existia cor, figura ou corpo,
<br>somente os Esp�ritos sublimados, auxiliares de Jesus. Por�m, n�o era
<br>
<br>o nada abstrato, era, antes, uma massa informe, quando Ele, o nosso
<br>Mestre amado, iniciou o Seu belo trabalho.
<br>� Procuremos, Luiz, elevar os nossos sentimentos para atingir a
<br>grandeza do trabalho de Jesus, quando preparava o nosso planeta. Qu�o
<br>grande � o nosso amor pelo nosso Governador! Nossa intelig�ncia cessa
<br>de interrogar a imagina��o e nosso cora��o canta hosanas ao Senhor,
<br>agradecendo por tudo, por este belo Planeta que caminha para a maturidade.
<br>Luiz S�rgio, em Isa�as, Cap�tulo VI, vv. 2-4, encontramos: Os
<br>Serafins estavam sobre Ele: seis asas tinha um, e seis asas tinha outro:
<br>com duas cobriam a sua face, e com duas cobriam os seus p�s, e
<br>com duas voavam e clamavam um para o outro, e diziam: Santo,
<br>Santo, Santo, Senhor Deus dos ex�rcitos, cheia est� toda a terra da
<br>sua gl�ria. E estremeceram os umbrais com as couceiras a voz do
<br>seu clamor, e a casa se encheu de fuma�a. Esta passagem � a �nica em
<br>que os serafins s�o mencionados nas Escrituras. A humildade deles manifesta
<br>a grandeza divina, por isso, cobrem o rosto, porque sentem-se indignos
<br>de fixarem o olhar em Deus. Nesta passagem, sentimos qu�o sublime
<br>� a miss�o dos Esp�ritos chamados para trabalhar com Jesus. A f�
<br>
<br>� conquista do Esp�rito, principalmente a f� raciocinada, como ensina o
<br>Espiritismo. Bem, querido amigo, agora vamos retornar �s nossas Col�nias.
<br>Gostamos muito de ter trabalhado ao seu lado.
<br>
<br>� Mas j�, Marry?
<br>� Antes de terminar esse estudo, queremos dizer que foram dias muito
<br>proveitosos, esperamos reencontr�-lo muitas vezes mais.
<br>� A querida irm� sabe que n�o gosto de despedidas, elas deixam as
<br>marcas da saudade em meu Esp�rito.
<br>� Mas n�o ser� uma despedida e, sim, um at� logo.
<br>� Marry, com voc� aprendi que a alegria n�o se encontra nos objetos
<br>que nos cercam nem nos lugares onde estamos; a alegria � muito mais do que
<br>muitos imaginam.
<br>Ela sorriu e fomos caminhando pelas alamedas da Universidade Maria
<br>de Nazar�. Meus olhos, marejados de l�grimas, contemplavam toda a natureza
<br>e, em louvor a Deus, fiz uma ora��o.
<br>
<br>Logo est�vamos na magnetosfera, zona em torno do planeta, controlada
<br>pelo campo magn�tico da Terra. Observei que era uma esp�cie de escudo,
<br>protegendo a superf�cie terrestre. Estava boquiaberto, pois percebi
<br>que as vibra��es pesadas dos homens ali chegavam como explos�es solares.
<br>Bem � nossa frente, notei o impacto das tempestades magn�ticas nas comunica��es.
<br>Presenci�vamos a intera��o do vento solar com a magnetosfera e
<br>como este reage �s tempestades magn�ticas, pois as part�culas carregadas
<br>podem danificar os sat�lites e afetar usinas de energia el�trica, no solo. E a
<br>esp�cie de escudo protetor da Terra era constitu�da n�o somente da
<br>magnetosfera, como tamb�m do vento solar.
<br>
<br>� Marry, como � grande a bondade e o poder de Deus! Neste momento,
<br>como gostaria de gritar o quanto O amo! E os encarnados ainda
<br>julgam que o planeta est� na pior... O planeta est� evoluindo! Entretanto,
<br>muitos homens est�o comprando a passagem para outro planeta, inferior �
<br>Terra. Hoje, a sociedade moderna n�o sabe viver sem sat�lites, telefones
<br>
<br>celulares e outros confortos. Mas est� nas m�os de Deus, e n�o nas do
<br>homem, esse conforto. Se a Humanidade n�o respeitar a Natureza, logo ser�
<br>privada de todas essas conquistas.
<br>
<br>� E os cientistas sabem disso, Luiz.
<br>� Marry, como gostar�amos de ter o curso do Rayto para fotografar
<br>toda essa beleza e depois projetar essas imagens mentalmente, para quem
<br>n�o tem o privil�gio de chegar at� aqui.
<br>Marry nada falou. Fixei o olhar nos buracos negros e nos choques das
<br>gal�xias. O que me impressionou foi o bombardeio dos pr�tons, que pareciam
<br>guardi�es mostrando o seu poder, como se desejando nos expulsar dali,
<br>como se f�ssemos intrusos ou espi�es.
<br>
<br>� Parece que estamos incomodando � comentei.
<br>� N�o, Luiz, a nossa presen�a em nada incomoda, pois tamb�m pertencemos
<br>a este espa�o.
<br>� Por que o homem ainda duvida que exista vida em outros planetas,
<br>Marry?
<br>� Ignor�ncia e falta de conhecimento da grandeza de Deus. Caso
<br>somente a Terra fosse habitada, Deus n�o seria o Ser mais inteligente do
<br>Universo. � como se algu�m constru�sse um pa�s, dividisse em Estados, colocasse
<br>as cidades e somente uma casinha fosse habitada. A vaidade do
<br>homem � que o leva a imaginar que s� existe ele no Universo. Bendita Doutrina
<br>Esp�rita, que afirma que a Casa do Pai tem muitas moradas.
<br>� Por que o nosso Planeta querido ainda � um lugar bem distante das
<br>moradas celestes? Por que os cientistas ainda n�o descobriram vida em outros
<br>planetas?
<br>� Porque os elementos que resguardam esses planetas emitem raios
<br>que n�o podem ser vistos pela faixa �tica dos terr�queos. Mesmo com o
<br>avan�o da ci�ncia, os telesc�pios n�o s�o ainda capazes de enxerg�-los.
<br>Quando o povo estiver regenerado, os cientistas estar�o aptos a divisar o
<br>
<br>Universo. At� l�. o Pai estar� esperando pela regenera��o do nosso Planeta.
<br>Ainda bem que a Casa do Pai � o Universo e n�s somos herdeiros dele; e
<br>ele, o Universo, nos pertence.
<br>
<br>� Desculpe-me. Marry, mas me d� uma canseira pensar que temos
<br>de lutar para voltar ao para�so...
<br>� � bom que se diga que o para�so � o Universo e quando o Esp�rito
<br>atinge a perfei��o, n�o mais precisa reencarnar, ele conquista a vida plena.
<br>Para quem saiu da pedra lascada e j� passou pelo reino vegetal e animal, at�
<br>que j� caminhamos muito.
<br>� Devemos dar gra�as a Deus, Marry, por n�o nos encontrarmos
<br>estacionados, porque o Esp�rito n�o retroage, mas o seu perisp�rito, sim. E
<br>como tem neguinho com o perisp�rito completamente deformado!... esteja
<br>tem passagem, visto e passaporte para o planeta que est� se aproximando da
<br>Terra, para busc�-lo.
<br>Marry lutava para n�o rir e, carinhosamente, convidou-me a retomarmos
<br>�s nossas col�nias. De bra�os abertos, buscamos os bra�os abertos de Jesus
<br>Cristo, o Governador do nosso planeta, e me imaginei bem perto d'Ele,
<br>colocando o meu cora��o junto, bem junto ao Seu e, com muita humildade,
<br>apenas sussurrei o Seu nome: "Amigo e Mestre, tenha piedade de n�s, pois
<br>�s vezes nos sentimos um gr�o de areia sem valor algum. Mas quando O
<br>buscamos, sentimo-nos um pr�ton, e cheios de esperan�a colocamos os nossos
<br>p�s nas Suas pegadas e continuamos caminhando. Bom Jesus, amigo
<br>querido, guarde-nos no Seu manto de luz, que � o c�u estrelado, e quando o
<br>buraco negro da vaidade humana desejar nos sugar, projeta-nos, Senhor,
<br>hoje e sempre."
<br>
<br>Quando terminei a prece, j� est�vamos no jardim do Departamento
<br>do Trabalho, onde me separaria de Marry. Notei sua emo��o. E eu senti uma
<br>paz imensa, como se o Cristo estivesse me abra�ando bem forte. Sorri de
<br>felicidade, pelo mundo que um dia encontrei.
<br>
<br>� Luiz, quando desejar nos encontrar, procure-nos, porque aprendemos
<br>a lhe querer muito.
<br>
<br>� Marry, muitos encarnado julgam que os Esp�ritos n�o t�m o que
<br>fazer. Enquanto estamos estudando e trabalhando no mundo espiritual, criaturas
<br>sem conhecimento doutrin�rio brincam com o nosso nome.
<br>� Irm�o, esque�a isso, nada melhor do que as nossas obras, elas s�o
<br>a nossa carteira de identidade.
<br>� Gostei dessa compara��o.
<br>� �, Luiz, mas como o Esp�rito � uma individualidade, ele � eterno, e
<br>as suas caracter�sticas ningu�m consegue imitar.
<br>� Isso mesmo, Marry. N�o � o nome de um Esp�rito que valoriza ou
<br>prova uma mensagem e sim o seu conte�do.
<br>� O Esp�rito, quando escolhido para uma tarefa no mundo f�sico, �
<br>preparado junto �quele com quem exercer� uma miss�o. E, muitas vezes,
<br>esses Esp�ritos incomodam as legi�es trevosas; e a tarefa por ele efetuada, se
<br>est� sendo �til ao progresso dos encarnados, sofre o ass�dio dessas entidades.
<br>� Irm�, mas estamos em pleno ano de 1998, e alguns m�diuns ainda
<br>se deixam enganar?
<br>� Quando o pomar est� repleto de frutos � que � cobi�ado. N�o
<br>importa se estamos quase chegando ao ano 2000 e se os esp�ritas deveriam
<br>ter mais conhecimento, o que importa, Luiz, � que realizemos o nosso trabalho
<br>e pe�amos a Deus ajuda para n�o interromper a nossa tarefa. E a sua �
<br>levar a Doutrina �queles que n�o s�o esp�ritas.
<br>� Marry, obrigado. Muito obrigado.
<br>� Foi gratificante ter trabalhado com voc�. Agora vamos adentrar
<br>este departamento para prestarmos contas do trabalho realizado.
<br>E assim fizemos, o que foi bem r�pido. Despedi-me de Marry, com os
<br>olhos rasos de l�grimas. Apertei bem forte aquela querida irm� em meus
<br>bra�os, recordando da minha Zildinha; era como se, com aquele gesto, pedisse
<br>prote��o � minha m�e amada. Marry alisou meus cabelos e com seu
<br>
<br>
<br>belo porte foi caminhando, devagar. Fitei-a at� sumir. A�, olhando tudo o que
<br>nos rodeava, aproximou-se de mim um cachorro, saltitante, e parou � minha
<br>frente. Sorri, pois ali estava mais um amigo que viera me cumprimentar. Acariciei-
<br>o; como j� narrei, logo ele estar� dando o grande salto em dire��o a
<br>Deus, quando, obedecendo �s leis da Natureza, chegar� � condi��o de homem.
<br>Chamei-o de Tom. Ele desapareceu, depois de me saudar, e continuei
<br>a minha caminhada.
<br>
<br>Recordei a quest�o 591 de O Livro dos Esp�ritos:
<br>
<br>591. Nos mundos superiores, as plantas s�o de natureza mais perfeita,
<br>como os outros seres?
<br>"Tudo � mais perfeito. As plantas, por�m, s�o sempre plantas, como
<br>os animais, sempre animais, e os homens, sempre homens."
<br>
<br>Como Deus � perfeito! Ele espera, como bom Pai, que todos n�s
<br>venhamos a nos tornar perfeitos. Recitei o Salmo XXVIII, vers�culo 7: O
<br>Senhor � a minha for�a e meu escudo. Nele confia meu cora��o, e exulto,
<br>pelo que meu cora��o salta de prazer, e com o meu canto o louvarei.
<br>
<br>Sim, meu Deus, agrade�o-Vos por ter-me ensinado a falar de amor,
<br>�nico hino que devo cantar, agradecido. Obrigado, Deus amado, pelo Mestre
<br>Amigo que tantos ensinamentos tem dado � Humanidade. Obrigado, Senhor,
<br>por tudo o que tenho recebido, principalmente as li��es preciosas da
<br>Doutrina Esp�rita, que me colocam junto a cada leitor, para tamb�m transmitir-
<br>lhe o que aprendo: falar de amor.
<br>
<br>LUIZ S�RGIO
<br>
<br>
<br>Obras do Esp�rito Luiz S�rgio
<br>
<br>O mundo que eu encontrei - Psicografado por Ala�de de Assun��o e Silva
<br>Novas Mensagens - Psicografado por Ala�de de Assun��o e Silva
<br>Interc�mbio - Psicografado por Ala�de de A. e Silva e L�cia M. S. Pinto
<br>Na esperan�a de uma nova vida - Psicografado por Irene Pacheco Machado
<br>Ningu�m est� sozinho - Psicografado por Irene Pacheco Machado
<br>Os mios�tis voltam a florir - Psicografado por Irene Pacheco Machado
<br>O v�o mais alto - Psicografado por Irene Pacheco Machado
<br>Um jardim de esperan�as - Psicografado por Irene Pacheco Machado
<br>M�os estendidas - Psicografado por Irene Pacheco Machado
<br>Consci�ncia - Psicografado por Irene Pacheco Machado
<br>Chama eterna - Psicografado por Irene Pacheco Machado
<br>L�rios colhidos - Psicografado por Irene Pacheco Machado
<br>Driblando a dor - Psicografado por Irene Pacheco Machado
<br>Deixe-me viver - Psicografado por Irene Pacheco Machado
<br>Dois mundos t�o meus - Psicografado por Irene Pacheco Machado
<br>Cascata de luz - Psicografado por Irene Pacheco Machado
<br>Na hora do adeus - Psicografado por Irene Pacheco Machado
<br>Universo de amor - Psicografado por Irene Pacheco Machado
<br>Amigo e Mestre - Psicografado por Irene Pacheco Machado
<br>Ensina-me a falar de amor � Psicografado por Irene Pacheco Machado
<br>CD Louvando a Natureza - Co m m�sicas psicografadas por Irene P. Machad o
<br>
<br>Obras de autores diversos psicografadas por
<br>IRENE PACHECO MACHADO
<br>
<br>
<br>Di�logo com Jesus - Pelo esp�rito Francisca Theresa
<br>Reflex�es de Jac� - Pelo esp�rito Jac�
<br>N�s amamos voc� - Por esp�ritos diversos
<br>Reflex�es de Jac� II - Pelo esp�rito Jac�
<br>Por que as l�grimas? - Por esp�ritos diversos
<br>Alicerce da F� - Pelos esp�ritos L�zaro Jos� o Jo�o Batista
<br>Sonhos & Realidades - Pelo esp�rito Jac�
<br>Uma rosa em meu caminho - Pelo esp�rito Ros�lia
<br>Cora��es amigos - Por esp�ritos diversos
<br>C�ntico de paz - Pelo esp�rito Jac�
<br>As flores tamb�m choram - Pelo esp�rito Jac�
<br>
<br>O G�nesis - Pelo esp�rito Cec�lia
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<br>Obras de autores diversos
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<br>O Barco dc Maria � Mauricio Maia Soutinho
<br>Conquista do Reino � Jo�o J. Moutinho
<br>A Longa Estrada � Mauricio Maia Soutinho e ]ab Sousa Silveira
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<br>ATENDEMOS PEDIDOS PELO REEMBOLSO POSTAL
<br>ATRAV�S DO SEGUINTE ENDERE�O:
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<br>Livraria e Editora Recanto
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<br>70084-970 Bras�lia DF � Brasil e-mail: rema@ <a href="http://rema.org.br">rema.org.br</a> site: <a href="http://www.rema.org.br">www.rema.org.br</a>
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<br><div dir="ltr"><br><br><div class="gmail_quote"><div dir="ltr" class="gmail_attr">---------- Forwarded message ---------<br>De: <strong class="gmail_sendername" dir="auto">Reginaldo Mendes</strong> </div><br><div dir="ltr"><div style="font-size:small"><br></div><div class="gmail_quote"><br><br><div dir="ltr"><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif">Olá, pessoal:</span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif"> Este é mais um livro de nossa campanha de doação e digitalização de livros para atender aos deficientes visuais.</span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:16pt;font-family:"Times New Roman",serif"> Agradecemos ao irmão Fernando pela doação e digitalização.</span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:14pt;font-family:Arial,sans-serif;color:black"> Pedimos que não divulguem em canais públicos ou Facebook. Esta nossa distribuição é para atender aos deficientes visuais em canais específicos.</span></p><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:14pt;font-family:Arial,sans-serif;color:black"><br></span></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8UMl0glV8YZR5ASuxG-DMNrg2AF99FujpseB5eKkX1I8XKFjWZL62tZwT_JU5H52YxVexFy5fd8Ae_nS6qYkPg-Ox-fddpHH2mXq1f4AFZqcAPq6GfhQK0ujE_BCAVaeHewCGrsEBzvY/s1600/ALLAN+KARDEC-709330.jpg"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8UMl0glV8YZR5ASuxG-DMNrg2AF99FujpseB5eKkX1I8XKFjWZL62tZwT_JU5H52YxVexFy5fd8Ae_nS6qYkPg-Ox-fddpHH2mXq1f4AFZqcAPq6GfhQK0ujE_BCAVaeHewCGrsEBzvY/s320/ALLAN+KARDEC-709330.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_7064261326150092226" /></a><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><span style="font-size:large;font-family:Arial,Helvetica,sans-serif">O Grupo Allan Kardec lança hoje mais um livro digital !</span><br></p><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><div dir="ltr"><font size="4">Desejamos a todos uma boa leitura !</font></div><div dir="ltr"><font size="4"><br></font></div><font size="4">Ensina-me a falr de Amor - Luiz Sérgio</font></div><div dir="ltr"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNNCMM84LzcW5VmtUSS8N7O1zes41Ftd1D5C72cY95xHFdgxFza82mRqDv7JGypVM0zQUAd3qurSxsTObHZsnSFGBZ5c1tKk_UIgsl50AHkUw-b_teyAccRaw8ZcLtoTIdmZBXbFy_4pQ/s1600/ENSINA-ME+FALAR-712853.jpg"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNNCMM84LzcW5VmtUSS8N7O1zes41Ftd1D5C72cY95xHFdgxFza82mRqDv7JGypVM0zQUAd3qurSxsTObHZsnSFGBZ5c1tKk_UIgsl50AHkUw-b_teyAccRaw8ZcLtoTIdmZBXbFy_4pQ/s320/ENSINA-ME+FALAR-712853.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_7064261337463631106" /></a></div><div><font size="4">Sinopse:</font></div><div><font size="4"></font><span style="color:rgb(64,64,64);font-family:Calibri,"Helvetica Neue",Helvetica,Arial,sans-serif;font-size:14px;text-align:justify">Em comunicação com a médium Irene Pacheco Machado, depois de brindar-nos com uma obra em que foi enfocado o Sermão da Montanha, Luiz Sérgio retorna com seu estilo inconfundível de transmitir tudo o que aprende no mundo espiritual. Agora, faz até aos seus leitores explicações sobre a passagem do Espírito pelos reinos da Natureza, palmilhando a rota do princípio espiritual, em aprendizado constante em direção a Deus, Criador de Tudo o que existe.</span><br></div><span style="color:rgb(64,64,64);font-family:Calibri,"Helvetica Neue",Helvetica,Arial,sans-serif;font-size:14px;text-align:justify">Segundo o próprio autor, esse livro não está repleto de palavras difíceis, tiradas dos dicionários para agradarem doutores da lei, mas foi escrito com a simplicidade de seu coração, ansioso para transmitir o conhecimento adquirido nas instituições de ensino do Mundo Maior.</span></div><div dir="ltr"><div><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-family:Calibri,sans-serif"><font size="6">Lançamento<span style="color:rgb(0,0,0);font-family:Arial">:</span></font><span style="font-size:large;color:rgb(0,0,0);font-family:Arial"> Grupo Espírita Allan Kardec</span><br></p><p><a href="https://groups.google.com/forum/?hl=pt-br#!forum/grupo-espirita-allan-kardec" style="font-family:Arial;font-size:large" target="_blank">https://groups.google.com/forum/?hl=pt-br#!forum/grupo-espirita-allan-kardec</a></p><p><span style="color:rgb(0,0,0);font-family:Arial;font-size:large">Grupo parceiro : </span><font size="4">Grupó</font><span style="color:rgb(0,0,0);font-family:Arial;font-size:large"> Mente Aberta</span><br></p><p><a href="https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/grupo-de-livros-mente-aberta" target="_blank">https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/grupo-de-livros-mente-aberta</a></p></div><p class="MsoNormal" style="margin:0cm 0cm 0.0001pt;line-height:normal;font-size:11pt;font-family:Calibri,sans-serif"><br style="font-size:14.6667px"></p></div></div></div></div></div></div> </div><br clear="all"><div><br></div>-- <br><div dir="ltr" data-smartmail="gmail_signature"><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"><div><div dir="ltr"> <p><br></p><p><br></p><p><br></p><p> <br></p> <p> </p></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div></div><div><br></div>-- <br><div dir="ltr" class="gmail_signature" data-smartmail="gmail_signature"><div dir="ltr"><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Abraços fraternos!</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial"> </span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Bezerra</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Blog de livros</span></p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Blog de vídeos</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Meu canal:</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk" target="_blank">https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk</a><br></p></div></div></div> <p></p> -- <br /> -- <br /> Seja bem vindo ao Clube do e-livro<br /> <br /> Não esqueça de mandar seus links para lista .<br /> Boas Leituras e obrigado por participar do nosso grupo.<br /> ==========================================================<br /> Conheça nosso grupo Cotidiano:<br /> <a href="http://groups.google.com.br/group/cotidiano">http://groups.google.com.br/group/cotidiano</a><br /> <br /> Muitos arquivos e filmes.<br /> ==========================================================<br /> <br /> <br /> Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "clube do e-livro" em Grupos do Google.<br /> Para postar neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro@googlegroups.com<br /> Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro-unsubscribe@googlegroups.com<br /> Para ver mais opções, visite este grupo em <a href="http://groups.google.com.br/group/clube-do-e">http://groups.google.com.br/group/clube-do-e</a>-<br /> --- <br /> Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "clube do e-livro" dos Grupos do Google.<br /> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para <a href="mailto:clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com">clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com</a>.<br /> Para ver essa discussão na Web, acesse <a 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Solidão acompanhada marca mais uma incursão da consagrada psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva na ficção, desta vez em parceria com a estreante Lauren Palma. Eleonora, a protagonista, está solteira, mora num quarto e sala bancado por seus pais e não tem muita ideia do que fazer com a tela em branco que parece ser sua vida. Seu mundo é extremamente conectado, embora ela tenha uma crescente noção de que cada pessoa é, mais do que nunca, uma ilha. Enquanto tenta arrumar um amor, uma vocação, um grupo de amigos, o sucesso nas redes sociais e algum sentido para sua existência, Eleonora diverte o leitor com as confusões do seu dia a dia e suas observações ácidas e sagazes sobre o mundo que a cerca. Impossível não se identificar.<br></div> <p></p> --</div><div><br></div>-- <br><div dir="ltr" class="gmail_signature" data-smartmail="gmail_signature"><div dir="ltr"><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Abraços fraternos!</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial"> </span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Bezerra</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Blog de livros</span></p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Blog de vídeos</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Meu canal:</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk" target="_blank">https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk</a><br></p></div></div></div> <p></p> -- <br /> -- <br /> Seja bem vindo ao Clube do e-livro<br /> <br /> Não esqueça de mandar seus links para lista .<br /> Boas Leituras e obrigado por participar do nosso grupo.<br /> ==========================================================<br /> Conheça nosso grupo Cotidiano:<br /> <a href="http://groups.google.com.br/group/cotidiano">http://groups.google.com.br/group/cotidiano</a><br /> <br /> Muitos arquivos e filmes.<br /> ==========================================================<br /> <br /> <br /> Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "clube do e-livro" em Grupos do Google.<br /> Para postar neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro@googlegroups.com<br /> Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro-unsubscribe@googlegroups.com<br /> Para ver mais opções, visite este grupo em <a href="http://groups.google.com.br/group/clube-do-e">http://groups.google.com.br/group/clube-do-e</a>-<br /> --- <br /> Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "clube do e-livro" dos Grupos do Google.<br /> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para <a href="mailto:clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com">clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com</a>.<br /> Para ver essa discussão na Web, acesse <a href="https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhnTHAO9nHXW1fOKfOzmcJ2Axbr%3DPGZMuJNq_0fYHsR3hg%40mail.gmail.com?utm_medium=email&utm_source=footer">https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhnTHAO9nHXW1fOKfOzmcJ2Axbr%3DPGZMuJNq_0fYHsR3hg%40mail.gmail.com</a>.<br /> Capixabahttp://www.blogger.com/profile/13630360338415941372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5804863141581911173.post-39517745371760935262022-02-05T09:18:00.000-08:002022-02-05T10:17:40.332-08:00{clube-do-e-livro} Angélica A. Silva de Almeida. - Uma Fábrica de Loucos: Psiquiatria X Espiritismo no Brasil (1900-1950) - Editora Dialética - 2021<div dir="ltr"><br><br><div class="gmail_quote"><div dir="ltr" class="gmail_attr">---------- Forwarded message ---------<br>De: <strong class="gmail_sendername" dir="auto">Roseli Fuchs Botta</strong><br></div><br><br><div dir="ltr">As histórias do Espiritismo e da Psiquiatria apresentam vários pontos de contato, mas este tem sido um tema pouco explorado pelos historiadores. No Brasil, particularmente, houve um acirrado, mas pouco investigado, confronto entre psiquiatras e espíritas na primeira metade do século XX em torno da "loucura espírita".<br>O objetivo deste estudo foi investigar o processo de construção da representação da mediunidade enquanto loucura, aqui definida como "loucura espírita", ou seja, como as experiências mediúnicas espíritas passaram a ser interpretadas pelos psiquiatras como causa e/ou manifestação de doenças mentais. Este estudo se concentrou no local e período onde este conflito foi mais intenso, ou seja, no sudeste brasileiro, entre 1900 e 1950. No Brasil da primeira metade do século XX, tanto a Psiquiatria como o Espiritismo estavam em busca de legitimação, de seu espaço cultural, científico e institucional dentro da sociedade brasileira. Estes dois atores sociais estavam ligados às classes urbanas intelectualizadas e defendiam diferentes visões e abordagens terapêuticas relacionadas à questão da mente e da loucura. Ambos disputavam um mesmo espaço no campo científico, cultural, social e institucional, buscando a afirmação da própria legitimidade. Este conflito se manifestou através de constantes embates entre psiquiatras e espíritas. Além da publicação de livros, artigos científicos, este embate atingiu também a imprensa leiga, gerando um grande número de matérias sobre o tema em jornais de ampla circulação.<br>A resolução deste conflito se relaciona com o alcance de inserção e de legitimação social pelos dois grupos, mas em campos diferentes. A Psiquiatria conquistou o seu espaço majoritariamente no meio médico-acadêmico, enquanto o Espiritismo se legitimou, basicamente, dentro do campo religioso. Esta disputa simbólica entre representações sobre a mente, a loucura e a mediunidade colaborou na constituição da Psiquiatria e do Espiritismo como os entendemos hoje no Brasil.<br></div> <p></p> --<br> </div><br clear="all"><div><br></div>-- <br><div dir="ltr" class="gmail_signature" data-smartmail="gmail_signature"><div dir="ltr"><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Abraços fraternos!</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial"> </span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Bezerra</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Blog de livros</span></p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Blog de vídeos</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Meu canal:</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk" target="_blank">https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk</a><br></p></div></div></div> <p></p> -- <br /> -- <br /> Seja bem vindo ao Clube do e-livro<br /> <br /> Não esqueça de mandar seus links para lista .<br /> Boas Leituras e obrigado por participar do nosso grupo.<br /> ==========================================================<br /> Conheça nosso grupo Cotidiano:<br /> <a href="http://groups.google.com.br/group/cotidiano">http://groups.google.com.br/group/cotidiano</a><br /> <br /> Muitos arquivos e filmes.<br /> ==========================================================<br /> <br /> <br /> Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "clube do e-livro" em Grupos do Google.<br /> Para postar neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro@googlegroups.com<br /> Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro-unsubscribe@googlegroups.com<br /> Para ver mais opções, visite este grupo em <a href="http://groups.google.com.br/group/clube-do-e">http://groups.google.com.br/group/clube-do-e</a>-<br /> --- <br /> Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "clube do e-livro" dos Grupos do Google.<br /> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para <a href="mailto:clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com">clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com</a>.<br /> Para ver essa discussão na Web, acesse <a href="https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhnE3dW7%2BMXzcVFMiPPmkTufH3KPY0Rbvb0VrXXXuY1dCg%40mail.gmail.com?utm_medium=email&utm_source=footer">https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhnE3dW7%2BMXzcVFMiPPmkTufH3KPY0Rbvb0VrXXXuY1dCg%40mail.gmail.com</a>.<br /> Capixabahttp://www.blogger.com/profile/13630360338415941372noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5804863141581911173.post-20705076407634183652022-02-05T09:17:00.000-08:002022-02-05T10:16:16.212-08:00{clube-do-e-livro} Hallie Rubenhold - The Five: a história não contada das mulheres assassinadas por Jack, o Estripador - Editora Wish - 2021<div dir="ltr"><br><br><div class="gmail_quote"><div dir="ltr" class="gmail_attr">---------- Forwarded message ---------<br>De: <strong class="gmail_sendername" dir="auto">Roseli Fuchs </strong><br></div><br><br><div dir="ltr"><b>Hallie Rubenhold - The Five: a história não contada das mulheres assassinadas por Jack, o Estripador - Editora Wish - 2021</b><br><div>O ano de 1888 é marcado pela história de cinco assassinatos.<br>Polly, Annie, Elizabeth, Catherine e Mary-Jane levavam vidas comuns e distintas, até o dia em que seus corpos foram encontrados violentamente mutilados pelo assassino que ficou conhecido como Jack, o Estripador – hoje, mais lembrado como lenda. Este personagem criado pela imprensa tornou-se muito mais famoso do que qualquer uma de suas vítimas.<br>Em uma narrativa devastadora, a pesquisadora Hallie Rubenhold nos desafia a questionar a história contada sobre essas vítimas, resumida pelos jornais e pela polícia a um cenário de prostituição, como se esse rótulo tivesse tornado suas vidas menos dignas de reconhecimento ou celebração. Mas e se descobríssemos que nenhuma delas nasceu em Whitechapel, mas acabou lá depois de viver uma vida plena em outro lugar? E se soubéssemos que essas mulheres eram esposas e mães? O que pensaríamos de nós mesmos e de nossa sociedade por nunca termos questionado o que nos foi contado?<br>Durante 130 anos, a mídia se preocupou em alimentar o mito de Jack, o Estripador, através de livros, filmes e séries de TV. The Five (As Cinco) é o primeiro livro que afasta os holofotes do assassino, jogando luz sobre os triunfos e dificuldades que essas mulheres encontraram ao longo da vida, revelando uma Londres de escuridão, pobreza e misoginia desenfreada.<br></div></div> <p></p> --<br></div>-- <br><div dir="ltr" class="gmail_signature" data-smartmail="gmail_signature"><div dir="ltr"><p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Abraços fraternos!</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial"> </span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Bezerra</span></p> <p class="MsoNormal"><span style="font-size:10pt;font-family:Helvetica;background-image:initial;background-position:initial;background-repeat:initial">Blog de livros</span></p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerralivroseoutros.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Blog de vídeos</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/" target="_blank">https://bezerravideoseaudios.blogspot.com/</a></p> <p class="MsoNormal"> </p> <p class="MsoNormal">Meu canal:</p> <p class="MsoNormal"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk" target="_blank">https://www.youtube.com/watch?v=K8S_fz0WyUk</a><br></p></div></div></div> <p></p> -- <br /> -- <br /> Seja bem vindo ao Clube do e-livro<br /> <br /> Não esqueça de mandar seus links para lista .<br /> Boas Leituras e obrigado por participar do nosso grupo.<br /> ==========================================================<br /> Conheça nosso grupo Cotidiano:<br /> <a href="http://groups.google.com.br/group/cotidiano">http://groups.google.com.br/group/cotidiano</a><br /> <br /> Muitos arquivos e filmes.<br /> ==========================================================<br /> <br /> <br /> Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "clube do e-livro" em Grupos do Google.<br /> Para postar neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro@googlegroups.com<br /> Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro-unsubscribe@googlegroups.com<br /> Para ver mais opções, visite este grupo em <a href="http://groups.google.com.br/group/clube-do-e">http://groups.google.com.br/group/clube-do-e</a>-<br /> --- <br /> Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "clube do e-livro" dos Grupos do Google.<br /> Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para <a href="mailto:clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com">clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com</a>.<br /> Para ver essa discussão na Web, acesse <a href="https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhnK%2BnKNQujw5kEjz%2BKAkR5bawPrp07vCy%3Dr251hVUt7eg%40mail.gmail.com?utm_medium=email&utm_source=footer">https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhnK%2BnKNQujw5kEjz%2BKAkR5bawPrp07vCy%3Dr251hVUt7eg%40mail.gmail.com</a>.<br /> Capixabahttp://www.blogger.com/profile/13630360338415941372noreply@blogger.com0