DEZESSETE DE FEVEREIRO foi um dia fatídico para Sam
Flemming.
Sam considerava-se uma pessoa extremamente afortunada.
Como corretor de uma das grandes empresas de Wall Street,
tornara-se rico aos vinte e seis anos. Depois, como um
jogador que sabia quando parar, recolhera seus ganhos e fora
para o Norte, fugindo dos cânions de concreto de Nova
York para a idílica Bartlet, em Vermont. Ali começara a
fazer o que realmente sempre quisera: pintar.
Parte de sua boa sorte fora sempre a saúde. Mas às quatro e
meia de 17 de fevereiro alguma coisa estranha começou a
acontecer. Numerosas moléculas de água dentro de muitas
de suas células começaram a se partir em dois fragmentos:
um átomo de hidrogênio relativamente inofensivo e um
radical livre hidroxila, altamente reativo e perversamente
destrutivo.
Enquanto ocorriam esses eventos ao nível molecular, as
defesas celulares de Sam foram ativadas. Mas
especificamente naquele dia essas defesas contra os radicais
livres se exauriram depressa; até mesmo as vitaminas
antioxidantes E, C e betacaroteno que ele tomava
diligentemente todos os dias não puderam impedir a maré
súbita e avassaladora.
Os radicais livres hidroxilas começaram a abocanhar o cerne
do corpo de Sam Flemming. Em pouco tempo, as
membranas das células afetadas começaram a vazar líquido e
eletrólitos. Ao mesmo tempo, algumas das enzimas das
células foram partidas e desativadas. Até mesmo muitas
moléculas de DNA foram atacadas, e genes específicos
foram danificados.
Em sua cama no Hospital Comunitário de Bartlet, Sam
permanecia inconsciente da perigosa batalha molecular
dentro de suas células. O que ele percebia eram algumas
seqüelas: uma elevação da temperatura, alguns distúrbios
digestivos e o princípio de uma congestão peitoral.
Quando veio examiná-lo no final daquela tarde, o Dr.
Portland notou com alarme e desapontamento a febre.
Depois de ouvir-lhe o peito, tentou explicar-lhe que
aparentemente houvera uma complicação. Disse que um
princípio de pneumonia estava interferindo com a
recuperação da cirurgia no quadril, que afora isso vinha
correndo bastante bem. Mas Sam tinha começado a ficar
apático e ligeiramente desorientado. Não compreendia o
relatório do Dr. Portland sobre seu estado. A prescrição de
antibióticos e a garantia de uma recuperação rápida não se
registraram em seu pensamento.
E, pior ainda, os prognósticos do médico se mostraram
errados. O antibiótico prescrito não conseguiu interromper
o desenvolvimento da infecção. Sam jamais se recuperou
suficientemente para apreciar a ironia de sobreviver a dois
assaltos em Nova York, à queda de um avião em
Westchester County e a um terrível acidente entre quatro
veículos na auto-estrada de Nova Jersey somente para
morrer de complicações resultantes da queda numa calçada
coberta de gelo diante da Loja de Ferragens Staleys, na Main
Street em Bartlet, Vermont.
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