sábado, 21 de agosto de 2010

PL E PRT APRESENTAM - RHYANNON BYRD - INSTINTO PRIMITIVO 02 - À BEIRA DO PERIGO










A Beira do Perigo



Livro disponibilizado da lista do PRT
Pesquisa: Safire
Tradução do inglês: Milla Nebias
Revisão inicial: Lucimar Cardoso
Revisão Final: Silvia Helena
Formatação: Karina Rodrigues
Logo/arte: Bia Costa










Informação da Série

Instinto Primitivo – 00. À Beira da Paixão – Pégasus Lançamentos (distribuído)
Instinto Primitivo - 01. À Beira da Súplica – Pégasus Lançamentos (distribuído)
Instinto Primitivo - 02. À Beira do Perigo - Pégasus Lançamentos (distribuído)
Instinto Primitivo - 03. À Beira do Desejo - Pégasus Lançamentos (revisão final)
Instinto Primitivo - 04. Toque de Sedução - PRT
Instinto Primitivo - 05. Toque de Rendição - PRT
Instinto Primitivo - 06. Toque de Tentação – PRT


Caro leitor,
   

Eu estou excitada por presenteá-lo com À BEIRA DO PERIGO (Edge of Danger), o segundo livro da minha nova série Instinto Primitivo com HQN Books. Situado num mundo onde criaturas paranormais vivem escondidas esta provocante trilogia continua com a história de Saige Buchanan e o sombrio e devastadoramente sexy metamorfo que rouba o seu coração.


Michael Quinn é um herói que se recusa a esquecer seu passado... Ou ariscar seu futuro. E no instante em que ele coloca os olhos em Saige num lotado bar brasileiro, ele a quer com uma fome implacável que é impossível negar. Mas Saige tem medo de si própria. Para conseguir o que quer, Quinn deve conquistar não apenas os seus próprios demônios, mas também daquela desconfiada e tempestuosa Buchanan.


Estou animada por compartilhar esse romance sedutor de Quinn e Saige com você e espero que seja algo que realmente toque seu coração!
Tudo de bom,
Rhyannon 




















Para a minha surpreendente editora, Ann Leslie Tuttle, sem o qual nada disto teria sido possível. Obrigado pela maravilhosa orientação final, o apoio e a compreensão. Você está me ajudando a crescer tanto como autor e sou incrivelmente afortunado por trabalhar com você! 
















Nota da revisora

Querida leitora,

Você vai adorar esses dois seres, tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais, na força e no amor. Por causa das diferenças e das igualdades eles demoram a se ajustar, mas quando se encontram...Ufa! é um alivio... para eles! Ambos altamente libidinosos o que transforma a primeira vez deles em algo maravilhoso. A forma como ele a inicia ao prazer é impagável. Insaciáveis é a palavra.
PS: a autora só pecou por não ter pesquisado mais sobre o Brasil, ao colocar nomes em alguns personagens em espanhol.

Lucimar Cardoso























Quinta à noite 
Na Amazônia 


  SE A MULHER estava tentando misturar-se, ela não era muito boa nisso. Michael Quinn levara não mais que cinco segundos para localizá-la no escuro, no interior lotado do bar de rua o Diabo dos Anjos, numa agitada movimentava cidade mercado de Coroza, Brasil. Ele viajava a dois dias, trabalhando à sua maneira nas sufocantes e úmidas profundezas da floresta amazônica, e mostrava uma aparência abatida. Dois dias que se pareciam como semanas, a cada hora que passava os seus nervos se pareciam com um prego enferrujado, até que pudesse ser classificado como de categoria cinco, fora da escala Richter, com um mau humor completamente fora do comum. 

  Não que geralmente fosse alegre. Normalmente Quinn apenas... Existia. Se passaram anos desde que alguma coisa, ou alguém, conseguiu tocá-lo ou tirá-lo do sério, mesmo esgotado e agora isto. Ele não podia explicar, mas a partir do momento que lhe deram a fotografia de Saige Buchanan, a tranquilidade, calmaria estável tinha começado a desvanecer-se, fugindo dele, como a água escoando lentamente pelo ralo. E este despertar, deixou essa intensidade fervorosa... Essa tensão emocionante.

  O que tornou ainda pior foi o fato de que Quinn não queria a atribuição dada, na verdade, foi inflexível em sua recusa. E, no entanto, ali estava ele, com a camisa úmida que aderia a sua pele, o cheiro forte de tabaco e suor fazendo sua cabeça doer, enquanto algo afiado penetrava e deslizava desconfortavelmente através de seus nervos na mira de sua presa. 

  Huh. Portanto, esta é a pequena Saige, pensou ele, que se deslocava ao longo da parede, longe da porta; tomando cuidado para evitar sua linha de visão quando ela se sentou numa mesa pequena no lado distante do cômodo, uma garrafa de água retida em uma das mãos delicadas. Ao seu lado estava sentado um jovem que não poderia ter mais de dezenove anos, sua pele escura, cabelos e olhos que atestavam a sua herança cultural brasileira. Os lábios do garoto estavam se movendo e, apesar de a habilidade de Quinn para ouvir era muito melhor do que a de um ser humano, ele não conseguia distinguir as palavras em meio à cacofonia estridente do som que vinha da multidão.

 Parecia um cenário estranho para uma mulher americana e seu jovem companheiro, e, ainda assim, ninguém os incomodou. Nem mesmo os bêbados. Ela era uma freguesa regular, então? Sob a proteção do proprietário? Ou havia algum outro motivo para os nativos manterem distância? 

  Seja qual fosse à resposta, não poderia ser por falta de aviso. Saige Buchanan se destacava entre os fregueses como um sinal de néon no céu noturno à meia-noite, reluzente e brilhante.
Quinn esfregou a palma da mão contra o crescimento irregular de pêlos que estavam surgindo após vários dias sem fazer a barba, depois abanou a cabeça lentamente, já revendo sua analogia. Não, a brilhante antropóloga não era descarada e atrevida, como um neon. Tão inteligente quanto brilhante, havia uma suave, quase delicada aura sobre ela, o que possivelmente sobressaia ainda mais do que o rosto angelical, corpo exuberante e o tom incomum de cabelo. Nem vermelho, nem castanho este pairava um pouco no meio, adquirindo o brilho suave nebuloso de luz que se derramava de cima abaixo, lutando contra as sombras longas da noite. 

A pesada porta de madeira do bar, de repente bateu para trás e Quinn enrijeceu sua mandíbula, maravilhando-se de que a estrutura em ruínas não desabasse ao seu redor em uma pilha de tijolos e argamassa. Lançando um rápido olhar para cima, ficou surpreso pelo teto manchado realmente conseguir permanecer no local, mesmo com os vários feixes grossos firmado entre ele e o chão coberto de serragem. Sem dúvida, este local deixava-o desconfortável. Ele não gostava de ficar fechado, confinado, preferia o ar livre e a liberdade infinita do céu.
 
  E por que você não para de se lamentar e apenas segue com isto? Quanto mais cedo você colocar suas mãos sobre ela, mais cedo você pode sair daqui. 

  O som das palavras e apesar de tê-la encontrado, a última coisa no mundo que Quinn queria fazer era tocar nela – colocar suas mãos sobre ela. Não que ele estivesse preocupado em não conseguir lidar com ela se ela se decidisse a tornar tudo difícil. Saige Buchanan poderia ser bem mais que uma fêmea meio humana, mas ele não era um homem comum. Ele poderia farejar seu Merrick que ainda não estava plenamente desperto e até fazer isto, ele seria capaz de manter a vantagem quando se tratasse de força física. 

  Mais tarde, após seu despertar... Bem, ele nunca tinha ficado cara-a-cara com uma mulher Merrick, mas ele com certeza não esperava que fosse capaz de chutar sua bunda. Se isso acontecesse, seus amigos nunca iriam deixá-lo viver com isso. 

  Como membro dos Guardiões, uma organização de mutantes, cujo dever era vigiar as linhagens remanescentes dos antigos clãs originais, Quinn tinha aprendeu um pouco sobre os Merrick's, que eram uma das espécies mais poderosas de não-humanos que caminhavam pela terra. E desde que a porcaria recentemente tinha ido abaixo com o irmão mais velho de Saige, Ian Buchanan, ele agora sabia ainda mais. Mas Saige era... Diferente. Diferente de seu irmão, que sofreu algumas alterações físicas quando o sangue Merrick em suas veias subiu à superfície de seu corpo; acreditava-se que as fêmeas Merrick, ao ganhar força e agilidade e sentidos aguçados, não mudavam de aparência. Ela não teria garras mutantes nas pontas dos seus dedos delicados. Nem volumosos músculos maciços. E o nariz não alteraria esta delicada forma feminina. 

 'Mas você está esquecendo as presas'.

Ahh, certo. Evidentemente, essa era uma das mudanças que as mulheres Merrick experimentaram, a fim de alimentar a mais primitiva parte de sua natureza. Levantando a mão, Quinn esfregou o formigamento estranho no lado do pescoço, como se ele já sentisse o doloroso prazer de Saige Buchanan afundando seus dentes brancos em sua carne, tendo o líquido quente de seu sangue em sua boca, ao mesmo tempo, que o levava para dentro do seu corpo. 

  'Pobre de mim... '

  Carrancudo, ele abaixou a mão, os dedos apertando os punhos, e perguntou o que havia de errado com ele. Tinha o calor lhe subido à cabeça? A ausência de sexo tinha deixado seu cérebro aturdido? Ou ele estava realmente perdendo a cabeça? 

  Inclinando o cotovelo contra o pequeno balcão embutido na parede lateral do bar, Quinn, sacudiu os pensamentos irritantes e sinalizou para uma mulher gorda e de meia idade que percorria a sala com uma bandeja, entregando bebidas, enquanto conversava com os clientes. Quando ela se aproximou, ele pôde ler o nome Inez bordado em seu avental, e apesar da forma amigável que atendia a multidão, ela deu-lhe um olhar frio, parecendo assustador até para ele. Seus olhos escuros eram cautelosos agora, e eles lentamente inspecionaram-no desde suas botas marcadas até seu sujo jeans e sua úmida camiseta preta, e ele lhe disse:

— Uma cerveja, por favor.

— Diga-me – respondeu ela em inglês com forte sotaque, os cantos de sua boca larga apertados com suspeita. — Por que você olha para nossa Saige como se estivesse faminto?

Quinn ficou sem fala, com raiva porque revelara o foco de sua atenção para àqueles que estavam o observando.

— Bem – ela persistiu com um ar de comando que o fez suspeitar que fosse mais que uma garçonete. 

 — Não faço idéia o que você está falando – rebateu ele, em voz baixa e grave, devolvendo seu duro olhar. Quando ficou óbvio que ele não responderia, ela resmungou baixinho e virou-se, caminhando de volta para o bar. 

Mentalmente, chutando-se na bunda, Quinn propositadamente retirou sua atenção da americana e olhou ao redor do bar. De uma forma estranha, ele sentiu como se tivesse andando em um set de filmagem. Era completamente surreal, com o barulho da porta, o véu de fumaça dos cigarros e charutos tão espesso que você podia cortá-lo com uma faca. A única coisa que fazia isto suportável era Saige. Seu cheiro enrolava-se em volta dele como um suave vinho aderindo, sedutor, quente, doce e viciante. Era como... Como uma chuva refrescante, e limpa, lavando a sujeira sufocante. Isto aliviava a tensão que sentia ao estar em um lugar tão lotado, barulhento e fechado. Com um esforço consciente, Quinn focou no cheiro delicioso, puxando mais para seus pulmões, desesperado para bloquear o resto a sua volta. 

Incapaz de ajudar a si próprio, seu olhar deslizou de volta para Saige, avidamente absorvendo os detalhes visuais, faminto por informações. Pela maneira como seu cabelo ondulado caía, os delicados ângulos de seu rosto. Essas sardas e a exuberante e provocante forma de sua boca enquanto falava com o jovem brasileiro. 

Mesmo sem a fotografia dobrada em seu bolso traseiro, Quinn sabia que teria reconhecido-a no momento que pôs os olhos nela. Apesar de sua pele ser mais clara do que a de seus irmãos, seu aspecto feminino era leve em comparação com a sua forte energia, ela ainda tinha as marcas da linhagem Buchanan. Apesar da fumaça espessa que enchia a sala, ele podia ver no escuro o azul profundo dos seus olhos como se estivesse sentado ao seu lado. E havia algo sobre o ângulo de seu queixo que atestavam a teimosia Buchanan como tinha constatado baseando-se de primeira mão na reunião com os irmãos dela. 

  A curta, apertada camiseta que usava se encaixava em seu corpo como uma luva, abraçando um par de seios exuberantes que eram surpreendentes numa silueta leve como a dela, e sua boca quase curva, com um sorriso que era apreciado pelo sexo masculino. Só porque ele não tinha planos de tocá-la, não significava que ele não pudesse apreciar a vista. O short cáqui desgastado e a camisa de flanela amarrada na cintura não fazia nada para disfarçar a curva dos quadris femininos, e Quinn encontrava-se imaginando se seu bumbum seria tão atraente quanto o resto dela. Ele percebeu que sua altura era algo em torno de um metro e setenta, e apesar de não ser muito alta, parecia menor, de certa forma frágil. Ainda assim, seus músculos eram tonificados sob a compleição da cremosa pele de pêssego, além do fato do trabalho exigir uma vida de atividade física. Ela provavelmente passava o tempo se arrastando dentro e fora das escavações arqueológicas, subindo pelos lados das montanhas traiçoeiras, perambulando pela floresta tropical, todos os lugares onde uma pequena criatura encantada como ela não poderia pertencer. 

O canto da boca Quinn estremeceu enquanto ele ponderava sobre sua reação a observação machista. O conjunto impudente de seu queixo lhe disse que Saige Buchanan era o tipo de mulher que ia onde ela queria, quando queria, a segurança e a opinião dos outros que se danassem. 

  O rapaz disse alguma coisa, sorrindo para ela, e ela estendeu a mão, bagunçando seus cabelos negros com uma camaradagem fácil, que falava de amizade. De proximidade.  Os olhos de Quinn se estreitaram, e sua pele se arrepiou quando a garçonete, Inez, veio por trás dele, batendo sua garrafa de cerveja no balcão. Ela murmurou algo baixinho quando se afastou, e ele pegou a garrafa, tomando um longo gole de cerveja morna, enquanto silenciosamente se repreendia. 

Passando a parte de trás de sua mão sobre a boca, fez uma careta, pensando que era impossível que pudesse estar com ciúmes de uma criança. Era idiota pensar que ele pudesse estar com ciúmes de todos. Ciúme fedia a posse, e ele rangeu os dentes, não querendo descer por este caminho em particular. 

  Ainda assim, Saige era sua responsabilidade até que ele a entregasse em segurança para Ravenswing, o Guardião no Colorado e na casa Quinn, onde seus dois irmãos estavam esperando por ela. Ele sabia que o Buchanans não queria um dos Guardiões sozinho com sua irmã caçula, assim como ele sabia que Kierland Scott, seu melhor amigo e líder não oficial de sua unidade, teria assegurado a Merrick que não tinha nada a temer dele. Dos outros, sim, mas não de Quinn. Suas parceiras de cama, quando ele precisava de sexo, sempre eram aquelas que provavelmente nunca veria novamente, o que significava que seus relacionamentos eram breves, passageiros. 

Movendo seu ombro num duro gesto irritante, Quinn focou de volta seus pensamentos na tarefa que estava à frente dele. Ele precisava chegar a casa, de uma só vez, e não seria fácil. Uma fêmea Merrick seria considerada colheita fácil por aqueles que estavam no seu encalço. Ele e os Guardiões tinham esperança de que Riley Buchanan, o filho do meio, despertasse antes de sua irmã, mas agora que ele tinha os olhos sobre Saige, Quinn sabia que não seria o caso. Ele podia sentir o cheiro vindo dela, o despertar de sua linhagem antiga, e que ela poderia não ter despertado plenamente, mas isto já estava a caminho. 

  O que significava que um Casus recém-libertado estava provavelmente já sobre ela, e o trabalho de Quinn tinha ido do perigo... à morte. Embora ainda houvesse muito que eles não entendiam, se acreditava firmemente que o despertar dos Merrick eram provocados pela presença do Casus, uma raça de monstros sobrenaturais predadores dos Merrick, alimentavam-se da sua carne, por poder, bem como vingança. O Casus imortal, que havia ficado preso por séculos por uma séries de mortes indiscriminadas, finalmente descobriu uma maneira de fugir de sua terra para possuir este reino. E, embora em números ainda fossem poucos, Quinn e seus colegas Guardiões temiam o que estava por vir. 

  Dando mais um longo gole de cerveja, ele observou Saige por baixo das pálpebras meio fechadas, imaginando o quanto ela sabia. O que ela estaria fazendo na América do Sul? Ela sabia que o Casus estava no seu encalço? E onde, diabos estava Paul Templeton? 

Templeton era o Guardião que tinha sido designado para Saige nos últimos meses, mas quando foi chamado para que a levasse de volta para a América, não receberam nenhuma resposta. Ou Templeton tinha se ausentado sem permissão, o que ninguém acreditava, ou ele já estava perdido em um incidente que estava para se tornar uma guerra de proporções mortais. 

Sendo nestas circunstâncias nas quais estavam, perto de uma milha de profundidade na merda e afundando rapidamente Quinn sabia que não tinha nenhuma escolha senão se mover o mais rapidamente possível. Ele precisava agir. Agora. Mas algo o segurava. Mantinha sua bunda plantada no balcão frágil, o seu corpo vibrando numa abrasadora inquietação irritante. 

Quando alguém acidentalmente derrubou uma cadeira, Saige voltou-se para o som, dobrando a cabeça para o lado, revelando a extensão vulnerável de sua garganta. Foi nesse momento que a fome tão duramente contida alongou a percepção de Quinn, o lado animal de sua natureza piscou num indolente fogo, ardendo perigosamente. Ele não tirava sangue da mesma forma que um Merrick fazia, mas ele ainda ansiava por afundar seus dentes na tenra, parte provocativa dela, enquanto entrava profundamente nela tanto quanto ele pudesse conseguir. 

Como se sentisse a pressão de seu olhar sobre a curva, pálida da carne feminina, ela levantou a mão para o lado do pescoço. Então de repente ela se virou em sua cadeira, fazendo a varredura no aposento, e Quinn rapidamente se virou para a parede, ficando de costas. Seus dedos se fecharam em torno da garrafa, quase quebrando o vidro com seu aperto. 

Teria saído de sua mente? Todo o inferno estava prestes a libertar-se, e aqui estava ele bombardeado por uma cerveja quente, com um caso furioso de luxúria que só poderia colocá-lo em apuros. Ele não tinha tempo para isto. 

'Pare de enrolar, caramba, e continue com isto'. 

Girando propositadamente em direção à sala, viu que ela disse alguma coisa ao rapaz e levantou-se, caminhando para o bar. Ela estava conversando com o pequeno homem, sorridente atrás do balcão quando Quinn moveu-se para o lado dela, drenando o último gole de sua cerveja. Num segundo, ela virou-se e levantou seu intenso olhar azul escuro, a cor tão fascinante como a perfeição de sua pele luminosa, e ele sabia que estava sendo marcado. 

  Quinn colocou sua garrafa de cerveja vazia no balcão, se preparando para se apresentar, quando ela chegou até ele. Ele se perguntava o que ela estava fazendo quando os seus dedos se fecharam em torno do vidro espesso verde, de imediato, sua expressão mudando de inquietação cautelosa para pânico completo. Então, antes que ele pudesse sequer imaginar sua intenção, de repente ela acertou a garrafa na cabeça dele. O vidro rasgou a borda de sua sobrancelha direita, dividindo a pele, o sangue quente ocultando sua visão. 

— Filho da puta.
 
Ela imediatamente começou a correr, gritando algo em português para o rapaz, que passou por Quinn em direção a porta da frente. Se movendo na direção oposta, Saige ergueu no ombro a mochila que pegou na mesa e impeliu-se a sua maneira para a saída dos fundos, desaparecendo no que Quinn sabia que era a selva. 

Xingando, ele jogou um maço de notas no balcão e partiu atrás dela, esperando que pudesse alcançá-la antes que a tola mulher conseguisse se matar. 

Quando ele correu para fora do bar, no calor úmido da noite, o ar espesso e úmido contra a sua pele, os últimos raios do sol começavam a esmorecer sob o peso carregado da noite. Quinn seguiu seu cheiro, esquivando-se das grudentas trepadeiras da selva, as longas pernas adiantando um bom tempo contra seus passos curtos, mas rápidos. 

  Muito rápido, ele percebeu no instante seguinte, quando forte odor nocivo atingiu seu nariz, vindo da mesma direção para onde Saige estava indo. 

'Nós estamos sem tempo', ele pensou, agarrando sua camisa e puxando-a sobre a cabeça, enquanto permitia sua transformação. 

O Inferno já chegou, e ela estava correndo em linha reta para o abraço mortal. 


 











































Capitulo Dois 

MOVA-SE... MOVA-SE... MOVA-SE. 
Saige Buchanan repetia o refrão agitado dentro de sua mente de novo... E de novo, forçando as pernas a continuar, mesmo depois das câimbras terem exigido que parasse. Embora ela tivesse esforçado-se para se sentar à mesa e agir como se nada estivesse errado, a realidade não poderia estar mais longe da verdade. O esgotamento pesava sobre seus ombros, seus nervos estavam bastante desgastados, sentiu-se como se estivesse desmoronando. Apesar do fato de que se sentia segura no bar local de Inez e de seu marido, Rubens, que eram seus bons amigos, Saige sabia que não deveria ter se arriscado a encontrar com Javier Ruiz em um lugar público. Mas ela precisava pegar os mapas valiosos que guardou no cofre de Inez antes de deixar a América, e esta seria a sua última chance de ver o seu jovem empregado. Na época ele tinha trabalhado para ela e com os outros membros da equipe de pesquisa em seu local de escavação, Saige tinha chegado a pensar no alegre brasileiro como um irmão mais novo e assim não queria simplesmente desaparecer sem dizer-lhe adeus. 

O plano tinha sido tão simples. Dizer adeus a seus amigos, pegar os mapas, em seguida tomaria um vôo simples à vista enquanto dirigia-se para o aeroporto na cidade vizinha de São Vicente. Em vez disso, ela corria sem os mapas, e por tudo que sabia poderia ter marcado Javier como alvo para o estranho de cabelos escuros que esteve observando-a com um olhar agudo, penetrante. Saige não tinha certeza de quem ou o que o homem era, ou o que aconteceu depois que ele foi, e odiava o fato de que poderia ter exposto Javier ao perigo. 

'Encare garota. Você cometeu um grave erro. Dê um tempo'. 

Um baixo e sufocado fluxo de maldições saiu de seus lábios ante o pensamento frustrante quando empurrou a folhagem densa floresta do seu caminho, saltando no meio do caminho para evitar um espesso emaranhado de raízes, mas era tarde demais para voltar atrás e desfazer suas ações. Ela cometeu um engano, e estava pagando o preço por isso, talvez com sua vida.

  Era um homem que perseguia uma nova ameaça, ou ele estava de alguma forma, envolvido com os que estavam controlando cada movimento seu nos últimos dias, perseguindo-a como uma sombra? Saige sentia sua presença malévola em quase todas as horas que trabalhou na selva, como uma onda de baixa frequência do mal que a fazia se arrepiar. Mesmo agora, ela poderia jurar que seu cheiro nocivo permanecia no ar à noite, deslizando em seus poros como uma doença. 

  Conhecendo a lenda cigana que predisse o tempo em que o Casus escaparia de sua prisão terrena e faria o caminho de volta para este mundo, causando o despertar da antiga linhagem Merrick, Saige não podia negar o véu crescente de terror mais insidioso, ligando-a em seu frio, viscoso aperto. Tinha o Casus escapado? Era o momento que sempre tinha temido desde que ouvira os primeiros fragmentos vago da lenda de sua mãe, que finalmente chegou? Fragmentos que fizeram com que Elaina Buchanan tivesse ficado quase insana para descobrir, quando sua obsessão por Merrick tinha chegado a um ponto que, mesmo Saige sabendo que era saudável à sua maneira, tinha entendido. Fragmentos que Saige passou sua vida trabalhando para reunir. Para entender completamente.
 
Ou... Era uma ameaça apenas mortal? Teria ela já se tornado um alvo do Exército Coletivo? Saige não tinha dúvidas de que, uma vez ciente dos despertares, os implacáveis mercenários humanos dedicados à obstrução de toda a vida sobrenatural no mundo faria tudo o que pudessem para destruir um Merrick. Tudo ganhou significado até que ela ficou realmente cara-a-cara com seu inimigo, ela poderia ter adivinhado que tinha encontrado o seu primeiro monstro sobrenatural... Ou um humano fanático? 

  E onde, exatamente, o cara do bar entrava nisto? – Ela resmungou baixinho enquanto erguia sua pesada mochila de seu ombro, seus dedos apertando a alça com tanta força que estavam entorpecidos. Ele estava atrás da Cruz poderosa que descobriu nas profundezas da selva... Ou de sua vida? Qualquer cenário parecia provável, no entanto, não foi as armas antigas ou assassinato que tinha visto quando tocou a garrafa de cerveja vazia. Foi sexo. Duro, áspero, imagens explícitas dos dois juntos, sua boca úmida cobrindo a dela, empurrando violentamente entre suas coxas abertas, enquanto ele rosnava o nome dela e ela afundava suas presas em sua garganta. Seu corpo se contorcendo sob sua forma escura, bonita, consumido por ondas ardentes de prazer, e ela quase tropeçou quando apertou sua mão esquerda em seu baixo ventre, contra a sensação estranha, provocativa que a encheu. Era quase como se ele fosse realmente uma parte sua – como se estivesse, naquele momento, dirigindo o grosso membro pesado dele profundamente dentro dela, acendendo um fogo que ameaçava consumi-la – e ela mordeu o lábio inferior para conter o gemido pela sensação de tirar o fôlego. Sua temperatura aumentou, um ardor na sua boca, ao contrário de qualquer coisa que ela já tivesse experimentado antes, uma dolorosa cadência em seu coração, pulsando de fome mais do que de medo.

'O que significa que você esta ficando louca! Você não se alimenta do inimigo, sua idiota. E aquele cara certamente como o inferno não era seu amigo'. 

Frustrada porque tinha tão pouco controle sobre os violentos desejos viscerais de sua Merrick, Saige rangeu os dentes e focou-se em manter seu corpo se movendo tão rapidamente quanto possível, sua velocidade era muito maior do que a de um ser humano, apesar do fato de que seu despertar apenas tinha começado. Ela ainda parecia à mesma... Ainda parecia a mesma, mas por dentro... Por dentro, ela iria se tornando algo muito mais do que aquilo que tinha sido. Seus sentidos estavam nítidos e vívidos, detalhes de cortar a respiração da selva circundante fervilha em sua mente como uma inundação, brilhante caótica de informação. As cores explodiram de uma forma eletrizante, sua audição tão precisa que podia detectar os animais noturnos correndo para buscar abrigo no mato. 

Sentindo algo estranho em suas costas, as pernas de Saige bombearam com mais força, ignorando a leva acentuada de dor em seus músculos, ela empurrou as grossas folhas úmidas que batiam sobre ela. O pequeno pingente de prata que ela usava no pescoço bateu repetidas vezes contra o seu coração que pulsava forte, debaixo de sua camiseta úmida de suor e por um momento ela desejou que fosse a cruz, que supostamente poderia ser usada como uma fonte de proteção para quem usasse. 

Fazendo uma careta quando os galhos e os ramos da selva arranhavam seus braços e pernas, Saige percebia a pouca proteção que tinha nesse momento, mas a cruz já tinha ido. Depois de finalmente descobrir o local de descanso do segundo marcador naquela manhã na sufocante e úmida profundeza da floresta tropical, Saige havia enviado secretamente a cruz para o Colorado aos cuidados de um colega chamado Jamison Haley, em seguida, propositalmente ficou para trás como uma isca. Esse tinha sido um movimento arriscado, mas ela tinha a esperança de que se eles estivessem lá fora, olhando para ela, a última coisa no mundo que o Casus esperaria que ela fizesse, depois de descobrir um dos marcadores, seria se separar do poderoso talismã. 

'Que, aparentemente, não foi à coisa mais inteligente, foi?' 

Obviamente que não. Ela pode ter conseguido despistar o rastro de Jamison, mas às custas jogou-se no que parecia ser um incêndio. 

'Mas não é como se você tivesse escolha', – ela murmurou para si mesma, lançando um rápido olhar sobre o ombro antes de estreitar o seu olhar para trás na floresta escura. Incontáveis perigos espreitavam nas profundezas das sombras, seu sangue Merrick alterando sua visão, permitindo-lhe ver muito melhor do que o olho humano nunca conseguiria e, no entanto, ainda não podia dizer que estava à frente na inundação vinda da noite. Ela só sabia que estava lá... 

Os inimigos estão chegando. 

Quando ela pôs as mãos em cima da arma misteriosa, essas foram às palavras que a voz tinha sussurrado em sua mente, misteriosa, antiga e suave, tão diferente das vozes ou imagens, que ouvia normalmente. Mas, até então, seu talento um pouco estranho para a leitura de objetos físicos era mais uma brincadeira... Um acaso. Só em seu trabalho costumavam dar-lhe algo significativo. Um objeto descoberto a partir de centenas de anos atrás, se não mais, revelando os seus segredos para ela quando Saige inicialmente tocava os dedos em sua superfície. 

  Foi quando isto veio à sua vida cotidiana que a excitação desvaneceu-se. Ela pegava uma garrafa de ketchup em um restaurante e encontrava-se a par dos pensamentos internos da última pessoa que a tinha usado. Eu liguei ou desliguei o ferro?  Essas calorias vão diretamente para as minhas coxas? Devo levar o sorvete para a sobremesa... Ou a torta de maçã? Muito aterradoras e ela tinha começado a misturar bem os fatos mundanos dentro e fora de sua mente, como uma porta giratória, dando-lhes pouca atenção. Só quando tocava algo do passado que ela pegava o foco de atenção e procurava mais. 

Como quando ela tinha encontrado a primeira cruz talhada ou o Marcador Escuro, Saige descobriu como que se chamava no ano passado na Itália, e ela lhe dissera sobre seu poder: que era uma das armas antigas que poderia destruir o inimigo, bem como uma fonte de proteção. Saige tinha ficado impressionada pelo seu calor contra sua pele, pela beleza de seu projeto intricado, e prometeu procurar os outros com o uso dos mapas que tinha encontrado embrulhados em um encerado de lona, enterrados ao lado desta. Preocupada que sua descoberta do Marcador fosse um sinal das coisas por vir, queria que sua mãe tivesse a proteção da Cruz, e deixou o talismã com Elaina Buchanan, quando viajou para casa na Carolina do Sul. Agora que sua mãe tinha morrido, Saige só esperava ter tomado a decisão certa ao passar a Cruz para seu irmão mais velho, Ian. Sua mãe havia escrito uma carta pedindo que a Cruz ficasse com Ian, e Saige concluiu que era impossível ignorar o último desejo de Elaina. Sabendo o quanto Ian sempre desprezara falar de Merrick, tudo o que podia fazer era rezar para que a primeira Cruz não estivesse perdida... Ou sido jogada fora, porque não havia dúvida de que eles iam precisar. Especialmente agora que sabia que havia outros que queriam as poderosas armas misteriosas. 

Depois de ouvir as palavras frias de advertência da segunda Cruz, Saige sabia que tinha que fazer tudo o que pudesse para protegê-la. Quando o resto da equipe de investigação internacional voltou para os seus diversos países de origem, uma semana antes, ela e Jamison, um arqueólogo de Londres, foram os últimos membros remanescentes a ficar para trás, continuando com a sua pesquisa privada. Ao longo do último ano e meio, Saige tinha chegado a conhecer Jamison bem, e ele foi um dos poucos de seus colegas, que realmente considerava um amigo. Jovem e estudioso, o Britânico sardento não era exatamente um guerreiro, mas o que lhe faltava em força bruta; ele mais do que compensava com cérebro e Saige confiava nele implicitamente, e foi por isso que lhe confiou a sua preciosa descoberta. Ela iria se encontrar com ele na terça-feira à tarde em Denver, e, depois de pegar a Cruz, seu plano era ir até seu irmão Riley e forçá-lo a aceitar o Marcador, quisesse ou não, sabendo que ele poderia protegê-la melhor do que ela jamais poderia.

Teria sido bom pensar que Riley, um xerife do condado nas Montanhas Rochosas, iria convidá-la para ficar com ele, para que pudessem passar por esse pesadelo juntos, mas Saige não tinha ilusões. Ela sabia que seus irmãos a amavam à sua própria maneira, mas a obsessão dela e de Elaina com o Merrick tinha conduzido a uma dolorosa separação entre eles, uma fenda que não só aumentou como tinha crescido demasiado. Ela não conversava com Ian há um ano, e mesmo que ainda visse Riley ao longo do tempo, seu relacionamento não era dos melhores. Eles não tinham conversado desde o funeral de Elaina, quase seis meses atrás, mas as feridas de seu argumento ainda estavam frescas em sua mente, nua e crua. Ele chamou sua obsessão com o Merrick de absurdo, um desperdício de vida, criticando os perigos que passou ao se submeter, movendo-se em todo o mundo em busca de respostas de um passado que não tinham certeza. Embora Saige soubesse que havia uma parte dele que acreditava nas histórias que tinham sido levantadas sobre isto, Riley não estava disposto a aceitar a verdade sobre sua linhagem com um coração aberto. Ele acreditava, mas ele não estava feliz com isso, abrigando uma amargura que Saige nunca tinha partilhado... Nem compreendido totalmente. A amargura que fizeram suas últimas palavras para ela o mais doloroso de tudo, assim como as que ela não iria esquecer... Ou perdoar.

E acima de tudo, ele deixou claro que estava sozinha nisso.
 
O deveria considerar a estas alturas.

Saige franziu o rosto com raiva no silêncio suspirando as palavras, recusando-se a perder tempo sentindo pena de si mesma, não importava o quanto estivesse assustada. E não havia como negar o medo, o revestimento da emoção doentia em sua pele, uma película lisa, úmida. Depois de passar toda a vida adulta, se preparando para este momento, agora que o tempo do despertar tinha finalmente começado, o terror a consumia. Ela não queria nada mais do que rastejar para um par de braços seguros e procurar conforto... Alívio. Se não fosse em sua família, então alguém que pelo menos se importasse com ela. Que poderia envolvê-la em seus braços e segurá-la firme, protegendo-a em seu forte abraço possessivo, mesmo que apenas por algumas horas roubadas de paz.

  'Sonhe, Saige, porque caso você não tenha notado, isto não é um conto de fadas.'

Outro, além da mãe, mais próximo dela nunca teria qualquer interesse em assumir o que acontecera com ela fora o Guardião, mas até este a tinha abandonado agora. Tinha sido um momento antes no bar, quando ela pensou que havia uma chance do lindo estrangeiro ser outro Guardião, como um homem que havia desaparecido no início daquela semana, mas isto era um sinal da sua organização, já que eles sempre se mantinham a distância, nunca chegando tão perto quanto ele. Saige percebeu que deviam saber, considerando que ela e seus irmãos tinham estado sob vigilância há anos, se não toda a sua vida, pelos metamorforfos cuja função era vigiar as linhagens antigas. A repentina ausência do Guardião tinham sido simplesmente o mais recente numa longa fila de homens e mulheres cuja responsabilidade tinha sido de manter um olho nela, esperando o dia em que ela não fosse mais humana.

Saige sempre tinha feito tudo para ignorá-los. Afinal, eles nunca interferiram em sua vida. Eles só estavam lá, como a marca de nascença em seu quadril, constante e previsível. E de uma forma estranha... Estranhamente reconfortante.

Mas tinha algo assustadoramente diferente sobre a respiração cortante do estranho no bar. Em vez de aliviar sua mente, ele oprimiu completamente seus sentidos. Quando ela tocou a garrafa de cerveja vazia, a visão que tinha chegado através de seu cérebro havia sido chocante em sua força, impressionando-a completamente. Saige normalmente não lia os objetos tão fortemente. Nem ela recebia tão poderosas emoções viscerais, e ela entrou em pânico... Correndo direto para os braços reconfortantes da selva. Um lugar onde ela sempre se sentiu em casa, apesar dos seus perigos inerentes. A floresta não era um inimigo, e não era simplesmente um lugar. Era sua companheira e, ela confiava e sabia o que esperar dela, ao contrário das pessoas.

As pessoas eram imprevisíveis, mas a natureza sempre seguia seu curso. Sim, poderia ser impiedosa e implacável, mas também poderia ser generosa no espírito, partilhando a sua beleza... O seu esplendor, não pedindo nada em troca, mas sim respeito. Saige sempre se sentiu em paz em seus braços, mas esta noite, ela não encontrou nenhum conforto no seu ambiente exuberante. As sombras estavam se aproximando dela, os pés tropeçavam em pânico, o ar compactado em seus pulmões, queimando em seus músculos. O aroma que tinha sido limpo e fresco agora deslizava contra sua pele, afundando em seus poros, molhando e umedecendo sua carne. Seu santuário estava sendo transformado, roubado dela, substituído pelo terror e o medo; ela queria colocar as mãos sobre o responsável e fazê-lo pagar.

O que seria um inferno muito mais fácil se você transformasse o seu corpo... E encontrar alguém para se alimentar. E a Cruz teria ajudado também.

Odiava que tivesse se tornado uma chorona, Saige rangeu os dentes e correu mais rápido, empurrando seu corpo ao seu limite, quando um uivo, extremamente demoníaco quebrou a noite, diretamente à sua frente. Ela tropeçou, quase caindo, mas se virou para a direita e continuou correndo, dolorosamente consciente do choque abalando seu organismo. Ela estava quente... Depois fria, os olhos arregalados enquanto lutava para clarear sua mente. Embora tivesse sido uma crente por tanto tempo, ainda era um ataque brutal em seu organismo saber o que de fato era.

Oh Deus, pensou, seguido rapidamente por uma explosão sufocada, sem fôlego de Merda! E inferno! E Não agora, porra!

Lutando para manter segura sua mochila, Saige conseguiu se inclinar para baixo e segurar a faca pequena que levava no topo de sua bota direita, apertando-a na sua mão úmida. O terrível grito doentio veio pela segunda vez, diretamente na sua direção novamente, e um som agudo de asfixiante pânico irrompeu em sua garganta. Não sabendo o que fazer, foi para a esquerda desta vez, sentindo como se estivesse sendo caçada, arrebanhada... ... Perseguida. O que era.

 Pense, maldição. Pense!

Sua Merrick ficou mais agitada, fervendo dentro de seu corpo, ansiosa para libertar-se e enfrentar a ameaça que vinha, mas até que ela se alimentasse a parte selvagem e primitiva de sua alma, a criatura antiga seria incapaz de afastar-se inteiramente do seu caminho, não importasse o perigo que fosse.

O que significava que estava tão confusa pensou ela, apenas alguns segundos antes do estranho de cabelos escuros gritar seu nome, sua voz profunda ressoando vindo de trás dela, cheia de fúria e de preocupação gutural.

— Saige! Maldita, pare de correr. O Casus está se aproximando. Você enlouqueceu e terá seu traseiro morto!

  'Não se eu puder evitar, eu não vou. '

Ela oscilou, o peito arfando quando foi para sua direita por uma segunda vez, completamente ignorante a respeito de onde estava indo. Ela estava correndo em círculos?  Fugindo para a direita em direção a isto? Outro uivo rampante veio à frente novamente, como se o monstro estivesse brincando com ela, insultando-a e ela lutava contra uma vontade estranha, instintiva, de repente, de virar e correr de volta para aquela voz áspera, ainda gritando obrigando-a a parar. Foi à coisa mais sexy que já ouviu, mesmo cortante, a beira de uma selvagem raiva, adequada a perfeita e úmida boca masculina.

Não fique apaixonada agora, mulher. Você não o conhece. E não se esqueça o que te fez correr, em primeiro lugar. Ele estava pensando em fazer sexo com você, não em salvar sua vida.

Certo, certo. Ela não estava pensando claramente. Deus, ela não estava pensando em nada, além de nada que atuasse como a pura adrenalina e medo neste momento.

O homem estava para alcançá-la, chegando mais perto, e ela poderia jurar que podia sentir seu cheiro inebriante. O bar estava demasiado fumacento para ela alcançá-lo imediatamente, até que o poder de seu olhar tocou-a como uma carícia física. Ainda assim, não foi até que ficou ao lado dele que sentiu, com efeito, o rico, amadeirado cheiro masculino tão diferente do vil odor que enchia a floresta à sua frente, vindo do Casus.

Ela diminuiu, com o rosto úmido pela trilha de lágrimas salgadas, e não tinha idéia para qual direção deveria girar.  Um soldado saberia.

  De repente, um estranho rugido de fúria, e no momento seguinte, a criatura que Saige passou a vida inteira imaginando sair da folhagem espessa, perto a cerca de trinta metros à sua frente. Ela tropeçou, gritando, com os olhos colados na visão de seu corpo maciço, grotesco e bestial de presas na boca, a forma amordaçada ondulando em um sorriso cruel, sádico, uma vez que se fixaram nela. Sua pele cinzenta esticada, aumentando os músculos do corpo, curvada nos cumes que marcavam a sua espinha encurvada. Um barulho fraco vinha de suas mãos, onde tilintavam suas garras afiadas em conjunto, as sombras do crepúsculo aprofundando e lançando um brilho prateado no seu comprimento sinistro.

— Merrick, – ele rosnou, e o sorriso espalhou-se em uma expressão de pura maldade.

  O terror parou na garganta de Saige, e ela podia ler em seus olhos de um azul pálido a sua antecipação, uma vez que foi em sua direção numa corrida, em desajeitado galope. Ela vacilou, sabendo que iria morrer, a faca firme em sua mão. Ela estava preparada para morrer lutando, quando algo grande correu e investiu no ar roçando-a nas costas.

No instante seguinte, a noite ficou escura.

Um segundo ela estava em pé na terra, enfrentando uma morte certa... Então Saige Buchanan estava voando.








Capítulo Três


APESAR DO FURIOSO, lamento dos uivos do Casus, Saige podia ouvir a voz grave do estranho rosnando uma sequência visceral de maldições perto de sua orelha. Ela torceu e chutou, lutando para se libertar... Para ver o que estava acontecendo, mas ele tinha jogado algo macio e úmido sobre sua cabeça, lançando-a em uma irritante sombra. Ela nem mesmo poderia socar ou arranhá-lo, os braços preso em num aperto firme, segurança inquebrável, a mochila desconfortavelmente esmagada contra o peito.

 — Porra – ele resmungou, firmemente apertado-a, enquanto seu corpo ardia como uma febre em suas costas. 

Outro ameaçador, som berrante e sinistro veio de baixo, apenas alguns segundos antes que algo cruelmente afiado, como uma garra, arranhou sua panturrilha esquerda. Saige recuou com a dor lancinante, um ruído parecendo soluço arrancou-se da sua garganta quando a faca que escorregou do seu atordoado alcance, caindo no chão.

Ela odiava não ser capaz de ver, a imagem medrosa de sua mente proporcionando um vívido, grosseiro cenário detalhado após o outro. Era o monstro pulando para ela novamente, suas garras terríveis escancarado-a? Chegando a ela com as garras estendidas? E exatamente como ela estava... Voando? O que em nome de Deus estava acontecendo com ela?

Ela queria exigir uma explicação do bonito estranho que tinha seus fortes braços musculosos em faixas em torno do seu tronco, segurando-a firme, mas não conseguia parar de gritar o tempo suficiente para formar as palavras. Por longos minutos, ele levou-a através do crepúsculo sufocante, sobre a selva densa que ela poderia cheirar logo abaixo deles, até que seus gritos finalmente morreram, seu medo doentio lentamente substituído por uma crescente fúria.

—Ponha-me no chão! – Ela fervia, o furioso som abafado sob o pano.  —Porra! Coloque-me no chão ou você vai se arrepender!

— E deixar você se tornar sua próxima refeição? – Ele rosnou, sua própria raiva dando a suas palavras uma margem cortante gutural. — Eu não penso assim.

  Ele estava obviamente irritado porque fugiu dele, e o fato de que ela testou o cérebro dele com a garrafa, provavelmente, não ajudou.

Recusando-se a se sentir culpada pelo que tinha feito, ela continuou a vociferar contra ele, embora isto levasse mais cinco minutos antes que ele finalmente a abaixasse, um apressado bater o que soou estranho como asas poderosas tornando-se mais suave à medida que eles desciam impressionante contra a copa alta da floresta. Uma situação embaraçosa, um grunhido completamente feminino saiu dela, quando começou a fazer sua vontade, embora não a completa liberdade até que seus pés tocassem o chão. Seu impulso para frente à fez tropeçar, de modo que pelo tempo em que conseguiu soltar a mochila, o objeto de proteção que parecia ser a camisa em sua cabeça foi tirada, e ela percebeu apenas um vislumbre de grandes asas pretas pelo canto do olho. No instante seguinte, desapareceu atrás dele, o movimento foi tão suave, como se ele as absorvesse em seu corpo.

Arquejando ante a visão deslumbrante, Saige recuou um passo, depois outro, enquanto ele espreitava em sua direção, seus músculos poderosos se movendo e flexionando sob o brilho da sua pele bronzeada. Sua boca estava fixada em uma dura linha intransigente, seus olhos escuros, irritados queimando como um fragmento da meia-noite no céu estrelado, puxando-a, tornando impossível desviar o seu olhar. Ela ficou presa no lugar pela força da sua presença, e Saige sabia que teria ficado aterrorizada pela força latente de sua fúria, se ela não tivesse cruelmente irritada.

— O quê é você? – Ela exigiu, firmando-se na terra quando ele deu mais um passo. Ela deliberadamente colocou ênfase sobre o quê em vez de quem, sua espécie era muito mais importante para ela do que o seu nome.

Em vez de responder, ele parou a poucos metros de distância e cruzou os braços fortes sobre o que era certamente o mais delicioso peito que Saige já vira, nem ao vivo ou na tela de TV. Sólido, poderosos blocos de músculos sob a lisa pele curtida que brilhava como cetim, pedindo o toque das mãos de uma mulher. Pelos seus lábios macios e sensuais, convidando-a a perder-se em seu sabor quente e masculino. Ela não precisava de qualquer prova para saber que seria perigosamente tentador. Não precisava provar-lhe para dizer que ele seria perfeito, excitante e viciante. Isto era o cheiro, evocativo da terra, reforçando o fato perturbador de que ela estava com fome, morrendo de fome por algo que sabia instintivamente que esse homem, esse desconhecido, poderia lhe dar. Algo que a criatura despertando dentro dela... Queria bastante.

E eu perdi a minha, aparentemente, excêntrica mente, pensou ela, perguntando-se como podia ser apanhada em tal urgência violenta de luxúria, quando tinha apenas escapado da morte por uma asa e uma oração. Literalmente.

— Você pertence ao Coletivo?

Suas escuras sobrancelhas levantaram-se. 

— Quantos você conhece no exército Coletivo?

Então ele era um convencido, mesmo quando ele estava chateado. Grande.

— Então, quem diabos você é?

— Meu nome é Michael Quinn, – ele respondeu com aquela voz profunda e rouca, que era o complemento perfeito para aqueles olhares devastadores. Havia até mesmo um pouco de sotaque nas palavras, insinuando um sotaque muito esquecido. Ele passou um tempo olhando-a de cima a baixo, e com um sotaque irônico aperfeiçoado para um discurso, e disse: — Eu ia perguntar se você é Saige Buchanan, mas eu acho que é bastante óbvio.

Ele deve ter percebido sua intenção de se virar e correr, porque os olhos dele estreitaram-se quando calmamente acrescentou:

— Eu a peguei uma vez, senhora. Não pense que eu não serei capaz de fazê-lo novamente.

— Você me sequestrará, então?

— Eu estou apenas afirmando um fato simples – ele murmurou, o tom dizendo que definitivamente pensava que estivesse louca.  — Se eu disser para você não correr, então será muito bem melhor ficar onde está.

— E apenas fazer o que você me mandar? – Ela contestou através dos dentes cerrados, reunindo o que restava de sua coragem, esperando que não enterrasse em mais problemas do que ela poderia lidar. E considerando que conseguisse soltar sua a arma somente, não parecia como se pudesse segurar muito no momento. Pelo menos não com ele. Ele tinha uma compleição física magra como um cavalo de raça que não era apenas insinuoso, mas elegante, os músculos sólidos e linhas bonitas, a personificação perfeita de um perigoso predador. Sem dúvida, o homem era construído para potência e velocidade, bem como outras coisas que ela não tinha nada que pensar, considerando que ela não o conhecia. E que estava sozinha com ele na selva.

— Poderíamos pensar que você seria um pouco mais agradecida, considerando que salvei sua vida – ressaltou com aquela fria e superior voz masculina, razão pela qual sempre a fez querer bater o pé em uma exposição infantil de temperamento. 

Felizmente, silenciou o impulso ridículo e ajeitou suas costas, determinada a defender seu mundo. Com os ombros erguidos, Saige levantou o queixo e desejou, pela milésima vez que tivesse crescido alguns centímetros a mais em algum momento de sua vida. Ela sempre odiou discutir com alguém que se elevava sobre ela, e de repente teve uma visão de si mesma, encarando-o de cima enquanto calçava um par de saltos de dez centímetros, em seguida, quase cheirou o absurdo disto. Não exatamente competindo vestida para matar, mas pelo menos poderia ter usado o calcanhar como uma arma.

 Através do peso espesso de seus cílios, ele observou a mudança caótica de emoções brilhando em seu rosto, seus pensamentos dispersos como confetes atirados numa brisa violenta. Ela moveu-se incômoda, a pele muito sensível, a respiração curta, e podia jurar que havia uma macia centelha nebulosa de humor aliviando as arestas desse olhar penetrante, que apenas a irritava mais. Aqui estava ela, trêmula nas botas e um idiota arrogante, pensando que era engraçada.

Antes que pudesse pensar melhor sobre isso, ela abriu a boca e deu voz a uma réplica maliciosa empoleirada na ponta da língua. 

— Vamos deixar uma coisa bem clara aqui, estúpido. Você pode ter sido útil lá, mas eu não pedi sua ajuda.


  Ele começou a se aproximar, mas parou a meio-passo, seus escuros olhos cor de ônix diminuindo para fendas ameaçadoras. 

— Você honestamente chamou- me de estúpido? 

Saige ergueu o queixo em tom indignado, quase tendo um torcicolo no pescoço. 

— Você está certíssimo, eu fiz – ela murmurou, pensando que não tinha escolha agora, mas insolentemente perdera sua sanidade.

Ele balançou a cabeça, claramente em detrimento sobre o que fazer com ela. 

— Estou começando a achar que você preferia que eu te deixasse lá para se tornar o seu próximo brinquedo. É isso, Saige? – Seu tom era mais intenso agora, o queixo endurecido enquanto caminhava se aproximando. — Ou você não sabe o que fazem os Casus com as mulheres antes de matá-las?

Ela estremeceu e abraçou-se, fria, apesar do calor sufocante da noite. Agora que o terror do vôo cego terminara, sua mente girou com velocidade vertiginosa, centrando-se em um fato inegável. Depois de todas as preocupações... E se perguntando, ela agora sabia, sem qualquer dúvida, que o Casus era real – que eles estavam atrás dela. Um monstro sanguinário que poderia rasgá-la dividindo-a com as mãos nuas, como se não fosse nada mais que um problema ou algum inseto e, nesse momento, Saige finalmente percebeu que tinha uma parte silenciosa dela, que tinha desejado... Esperando... Que talvez, apenas talvez a lenda estivesse errada. Após todo o planejamento e sua investigação e as coisas loucas que ela tinha feito para ter certeza de que protegia as sombrias Cruzes, ela tinha esperado que isto não fosse real – os monstros assassinos e mutiladores. E agora que sabia a verdade, não havia como voltar atrás. Nunca.

— Eu sei como os Casus são – do que são capazes – ela sussurrou, odiando o modo como sua garganta se apertou e seus olhos arderam. Odiando porque não podia esconder isso dele – deste belo estranho cuja presença a confundia completamente com seu corpo e sua mente. — Eu não preciso de mais detalhes.

  — Talvez você precise. – Seu tom era macio, mas duro, os seus olhos hipnotizantes ainda mais estreitos pela frustração. — Especialmente se você acha que pode arrastar-se através da selva como uma idiota estúpida quando você tem um sádico assassino em seu rabo.

— Desculpe-me por entrar em pânico – ela afastou-se, capturada nesse estonteante, explosivo estado entre a fúria e o medo — Mas eu não estava pensando em monstros quando eu corria. Eu estava muito ocupada tentando me afastar de você e de seu espetáculo mental de sexo pervertido!

Um segundo depois que as palavras deixaram sua boca, sua expressão ficou lívida. 

— O que diabos isso significa?

Saige olhou para ele, enquanto num canto distante de sua mente, aceitou o fato de que esta era, de longe, a conversa mais estranha que já teve, e só Deus sabia que ela tinha tido algumas. Ela não queria deixar escapar nem um pedacinho, mas o terror aparentemente tomou-lhe a capacidade de raciocinar.

Clareando a garganta, tentou um tom mais calmo. 

— Eu... Eu sei o que você estava pensando no bar lá atrás. 

Seu olhar aguçou com desconfiança, as nítidas maçãs altas do rosto coraram num tom opaco de vermelho no qual podia ver claramente no espesso crepúsculo lavanda. Por um momento, parecia que ele estava exigindo como ela sabia, mas ele raspou as mãos para trás no seu cabelo preto curto, a posição dos braços levantados acentuando o poder predatório de seus músculos, tornando-o parecido com algum tipo de deus sensual  que desceu para tentá-la com a beleza selvagem do seu corpo. Pressionando uma mão no seu coração pulsando, Saige poderia ter jurado que um silêncio aproximado, estouraria em resmungantes risadas secas e profundas do peito, embora o som bastante sedutor nunca chegou aos seus ouvidos.

 — Você lê mentes, então? – Perguntou ele.

Não querendo revelar a verdade, ela disse:

— Eu não sou cega, Sr. Quinn. Não foi difícil ler seus pensamentos com aquele olhar que você tinha em seu rosto.

Ela não podia acreditar, mas o seu enrubescimento realmente acentuou-se. 

— Cristo, vocês, Buchanans são todos iguais, não é? – Ele empurrou as mãos nos bolsos da frente da calça jeans, olhando para ela com uma intensidade ardente que a fez se sentir quente e fria ao mesmo tempo.

Respirando fundo, Saige observou sua expressão e ela encontrou-se fascinada pela transferência de calor e pelas sombras escuras em seus olhos, lindos olhos. Ele estava atrás da Cruz? Ou era alguma coisa diferente que queria. 

— O que você sabe sobre os Buchanans? O que exatamente você sabe sobre mim?  Além do fato de que você sabe que eu quero mordê-lo, ela gemeu em silêncio, pensando na incômoda visão. Era uma loucura, tanto como a idéia de afundar seus dentes nele excitava a ela. O peso e o calor pungente em suas gengivas foram piorando, sinalizando a liberação de presas de Merrick. 

'Não vai demorar muito agora', ela pensou. Como um estopim, havia alguma coisa sobre o tentador Michael Quinn que fazia seu sangue primitivo fluir, puxando o despertar mais perto da superfície... Exortando-o. O que significava que sua fome cresceria mais forte, exigindo ser alimentada. 

  Ele olhou para ela com aquele endurecido, silencioso olhar, fazendo-a sentir-se como se estivesse escutando seus pensamentos particulares, que ela seriamente esperava não fosse o caso. Finalmente, após o que parecia ser uma longa e dolorosa espera, ele respondeu a sua pergunta num baixo murmúrio de palavras. 

— Eu sei o suficiente para acreditar que você entende o que está acontecendo aqui. Eu também sei sobre sua família, sua mãe, até a cruz que você encontrou na Itália. E eu também tenho uma maldita certeza que você sabe exatamente o que quero dizer quando digo que sou Guardião – Fez uma pausa, como se estivesse esperando que ela negasse, mas ela simplesmente ficou ali, atordoada, imaginando o que em nome de Deus, ela estava fazendo. Sendo um Guardião significava que ele era um dos mocinhos, o que deveria ser um alívio... E embora, Saige não pudesse negar que se sentia mais agitada do que nunca. 

— Pode confiar em mim, Saige. Se fizer isto sairemos daqui vivos, você tem que confiar em mim.

— Confiar em você? – Ela olhou, pensando que ele era diferente de qualquer coisa ou pessoa que jamais imaginou como um Guardião e apesar da verdade arder nos escuros olhos ardentes. Ela acreditou nele. Mas se ele era o que dizia, ele estava claramente quebrando todas as regras dos guardiões. — Eu sei como se supõe que isto seja trabalhado – ela murmurou, incapaz de disfarçar a desconfiança. ¾ Significa que você deve me ajudar, mantendo-se distante. Nem andar próximo de mim no meio de uma multidão... E quanto a pensar sobre... Sobre o que você estava pensando, – ela terminou indevidamente. 

 — Você sabe o que eles dizem que em tempos desesperados exigem medidas desesperadas? Bem, este é um deles. – Tirou uma foto dela de seu bolso de trás, e ergueu-a para ela ver. — Tenho ordens para que o seu problemático rabinho volte ao Colorado, para sua família. Seu irmão Riley me deu isso para me ajudar a encontrá-la.

Saige olhou para sua foto tirada há dois anos, quando ela e Riley passaram o Natal em casa com Elaina, em seguida, voltou para o homem que se chamava Quinn. 

— Por que Riley lhe enviou atrás de mim? E o que era tudo aquilo no bar lá atrás? – Ela exigiu, apenas para imediatamente desejar que ela não tivesse, muito ciente do fato de que quanto mais pensasse na imagem explícita, ela ficava mais ardente, até sentir como se  estivesse derretendo de dentro para fora, e seu estômago deu um rugido realmente embaraçoso. 

— Calma, Saige. Você precisa ficar calma... Não passe fome. 

  Infelizmente, a criatura instintiva despertada nela tinha outras idéias.

  Quinn rolou um daqueles grandes ombros bronzeados num gesto casual, como se a situação não fosse grande coisa e que ela exagerava. 

— Sim, eu estava pensando em fazer sexo com você, mas isso não significa que eu vou fazê-lo. Não significa mesmo que eu queira.

Huh. Ela não sabia se ficava aliviada, insultada ou estranhamente desapontada.
 — Bem, obrigada.

— Olha, meu caso temporário de luxúria, ou loucura, ou o que você quiser chamá-lo foi curado, – acrescentou com uma careta impaciente, sondando significativamente a linha grossa à borda de sua sobrancelha. — Então vamos dar o fora daqui antes que a coisa siga nossa trilha.
 
Ele colocou de volta sua foto no bolso traseiro, então se abaixou e pegou sua camiseta de onde ela estava no chão, os músculos agrupando-se em seu peito e braços, em cada movimento do seu corpo bonito. Saige piscou, perguntando-se que tipo de combinação genética um cara tinha que vir a partir daquela boa aparência, o brilho escuro, vibrante do crepúsculo apenas acentuado sua masculinidade crua, como se ele fosse uma escura criatura silvestre que escapou de uma floresta virgem, e ela seriamente esperava, não ter nenhum um fluxo embaraçoso de baba deslizando no canto da boca. 

— Porque a venda, afinal? – Ela perguntou, sua voz estranhamente rouca enquanto olhava-o puxar a camisa por cima da cabeça, o macio algodão preto apertado contra a sua construção poderosa, uns bíceps rígidos esticando as costuras nas mangas. 

  Apesar de sua raiva persistente, ele dedicou-lhe um sorriso. 

— Seus irmãos mencionaram o seu medo de voar.

— Então você pensou que não vendo o faria melhor? – Ela balançou a cabeça, seu tom seco, esfregava as palmas das mãos na frente de seu short. — E para que conste, eu não tenho medo de voar. Eu sou apenas uma crédula firme que se os deuses quisessem que fossemos ao céu, nos teria dado asas.

Ele não disse nada, apenas arqueou um segundo uma sobrancelha em direção a ela, e ela apertou seus lábios, lutando contra o desejo ridículo de sorrir. 

Desde o primeiro momento que fixou olhos sobre este homem, se sentia como num náufrago hormonal, indo de um extremo ao outro em um redemoinho de emoções vertiginosas que estavam devastando a sua sanidade. Espinhosa. Frustrada. Á margem e incomodamente agitada, e ao mesmo tempo cheia de alguma forma estranha, de uma inexplicável segurança. Ela se sentia protegida e ameaçada de uma só vez, consciente de si de uma maneira que ela nunca tinha experimentado antes, a sensação inquietante que fluía através dela com penetrante intensidade. No passado, Saige sempre tinha facilidade em torno dos homens, trabalhando entre eles como igual... Somente entre rapazes. Ela geralmente não tomava conhecimento deles como criaturas sexuais, nem mesmo dos descadaramente bonitos – e nunca da maneira que estava "percebendo" Michael Quinn. 

  E seu fascínio por falta de uma palavra melhor, era oficialmente excêntrico. 
 
Não sabendo muito sobre como os guardiões mudavam para suas formas animais, queria perguntar-lhe para onde as asas negras incríveis tinham ido, mas era pouco tempo para uma profunda questão estranhamente pessoal, sentiria como se estivesse violando uma barreira íntima que ela não poderia cruzar. Não quando ele estava olhando para ela como se ele não pudesse parar. —Dê-me a foto – disse ela ao invés disso, estendendo uma mão. 

— Por quê? – Seu tom era estranho... Quase cauteloso enquanto sustentava seu olhar. 

Por essa exudante testosterona masculina, a qual não pôde deixar de notar que tinha os cílios mais incríveis, que realmente sombreavam suas angulosas maçãs. 

— Apenas me entregue a foto – ela repetiu, estalando os dedos como uma espécie de comando para um cachorro. Só Deus sabia que não estava dando uma boa impressão inicial, mas ela representava isto na circunstância, considerando que ele teria uma difícil noite – uma que estava apenas começando. 

Saige tirou a foto de seu alcance quando ele ofereceu a ela, e no segundo que seus dedos tocaram o papel, ela sabia que ele estava dizendo a verdade. Riley tinha dado a ele. Dane-se. Odiava ter que pedir desculpas, mas sabia que era a coisa certa a fazer. 

Ainda assim, as palavras ficaram apertadas na garganta.

— Sinto muito sobre o que aconteceu lá atrás – Terminou o pedido de desculpas com um olhar acentuado em direção a seu rosto ferido e tentou não estremecer. 

Em vez de aceitar, ele fez um som rude, totalmente arrogante no fundo da sua garganta.

— Você jogou uma maldita garrafa na minha cabeça, Saige. Eu não acho que alguma insatisfatória desculpa idiota vai alterar isso.

Ela mordeu a língua para se manter de boca fechada, esperando mais informações do que queria argumentar, mas Quinn tinha suas próprias dúvidas. 

— O que você pode me dizer sobre Paul Templeton? – ele resmungou, pegando o retrato dela e deslizando de volta ao bolso novamente. 

Saige não reconheceu o nome. 

— Eu não conheço ninguém chamado Templeton. 

— Ele é o Guardião que lhe foi designado – explicou com uma expressão sinistra, esfregando uma mão contra seu queixo sombreado. — E eu aposto uma nota que você sabia que Paul estava seguindo você. Você deve ter alguma idéia do que aconteceu com ele.

Ela encolheu os ombros, enquanto um sentimento amargo deslizou através de suas entranhas.
— Eu honestamente não sei. Ele apenas parece ter desaparecido alguns dias atrás. 

— Cristo – ele murmurou sob sua respiração, e ela questionou se o desaparecido Guardião tinha sido um amigo de Quinn. 

Era irônico, como ela sempre tinha tido a vigilância dos Guardiões como presunçosa, nunca realmente apreciando-a, até que este homem chamou o desaparecido de Templeton. De repente, ela estava sozinha e com medo, lembrando-se de como se sentia quando criança, quando todos os homens em sua vida tinha se distanciado dela, um por um. Depois que o pai dela tinha fugido deles, seus irmãos tinham sido o seu mundo, até que, também, tinham se afastado dela. Ian tinha fugido de casa, incapaz de lidar com a obsessão de Elaina com a linhagem da família, e só Deus sabia o que tinha acontecido para fazer Riley ficar tão ressentido. Ele mudou depois que Ian tinha partido, e eles nunca estiveram perto de novo. Retornando a sua atenção para Quinn e o desaparecido Paul Templeton, ela comentou.

— Eu comecei a me preocupar quando eu já não podia senti-lo me observando. Eu estive... Mais cautelosa do que o habitual nos últimos dias, incerta sobre o que esperar. 

  —Mentirosa.

— Não sou – ela resmungou de volta silenciosamente. Talvez essa não fosse a verdade completa... Mas era uma versão. 

  Uma verdade nua que não iria fazer tudo ficar um pouco melhor. Você precisa dizer a ele sobre a Cruz! 

Do jeito que ele olhava, ela não tinha certeza de que ele estivesse jogando, mas quando ele falou, simplesmente disse: — Nós podemos falar isso depois. Agora temos de entrar na jogada. Tenho um quarto em São Vicente, onde podemos passar a noite.

— Você ainda não explicou o que você está fazendo aqui – ela murmurou. Tudo que a foto disse para ela foi que Riley lhe pediu para levá-la para o Colorado, mas não falou nada sobre o motivo. 

— Como eu disse, estou aqui para levá-la de volta. Preferencialmente de uma única vez. – Seu tom eriçando-se impaciente, e havia uma corrente de energia zumbindo sobre ele que lhe disse que estava completamente em sintonia com a selva circundante, lendo os sinais e percebendo qualquer perigo que viesse.  — Depois de ver o que aconteceu quando eles vieram atrás de seu irmão, não tenho dúvida de que o canalha se arremessará para você duramente e rápido.

  Seu estômago contorceu-se, e sua a boca encheu de água, não gostando do som disso. Ela deu um passo súbito para frente, a distância entre eles não mais do que um pé agora, trazendo os detalhes de seu lindo rosto num foco mais nítido. 

— O que você quer dizer quando eles foram atrás do meu irmão? 

  Ao redor deles, a floresta ficou em silêncio e imóvel, como se esperasse ofegante em suspense quando Quinn disse calmamente: — Ele já passou por seu despertar. 

  Saige não esperava a aguda facada de medo retorcendo suas entranhas, junto de algo desconfortável que sentia como culpa. Por um momento, tudo o que podia fazer era manter aquele olhar escuro, tentando encontrar algum tipo de garantia nele, e então ela finalmente encontrou sua voz. 

— Riley está bem? O que aconteceu? Ele estava preparado? Por favor, me diga que Ian não jogou fora a Cruz. 

— Riley está bem – disse para ela, olhando-a de perto. — Mas foi ele.

Ela piscou. 

— Ian – ela disse, seu tom rouco cheio de surpresa. — Jesus, foi Ian?

— Sim, mas ele está bem. Um pouco perdido no início, mas nós o encontramos na hora de dar-lhe as informações que precisava.

Havia uma nota de censura na voz áspera que cortava o seu íntimo do que ela teria pensado possível. Afinal, não foi ela que tinha tentado compartilhar o que sabia com seus irmãos. Bem, talvez não com Ian, mas porra, ela tentou avisar Riley. Não que ela soubesse então, tanto quanto agora. Ela aprendeu muito desde que tinha o visto pela última vez no funeral da mãe, coisas que tinha planejado partilhar, quando conseguisse voltar para a América, se ele quisesse ouvir ou não. 

Mas o tempo se esgotou... Mais rapidamente para Ian do que para ela, se o que este homem dizia fosse verdade. 

— É claro que Ian está bem – disse ela, sua voz macia, enquanto sua mente agitava-se mais... E mais, tentando se assegurar disto. 

Ela deveria ter imaginado isso antes. Se não tivesse estado tão assustada, teria percebido que Riley não teria tido qualquer envolvimento com os Guardiões, dando para Quinn a foto dela e pedindo-lhe para vir atrás dela, a menos que já tivesse acontecido algo. E ela poderia apenas imaginar o quão furioso Ian ficou ao descobrir que ele foi o primeiro, considerando como ele sempre detestou qualquer conversa sobre Merrick. 

— De acordo com Riley, Ian é como um gato. Ele deve ter nove vidas.

— Eu imagino que ele perdeu uma companheira durante as últimas semanas – Quinn comentou secamente. — A coisa que o caçou, Saige, estava alvejando algumas das mulheres que ele namorava. Eles estão fazendo isto pessoal, batendo onde dói.

Atordoada, ela mal conseguiu dizer as palavras.

 — Você está me dizendo que isto matou as mulheres humanas?

— Matar é colocar isto levemente.  Torturaram, e fizeram num processo lento, penoso, só para mexer com a mente de seu irmão.

— Mas eu pensei que eles viriam atrás de nós por causa do Merrick – Ela colocou os braços em torno de sua cintura, novamente, de alguma forma tentando manter-se calma. — Nós somos o que eles supostamente desejam. Do que eles precisam.

— Oh, eles virão atrás de você – ele murmurou, as notas de sua voz rouca de veludo escuro acariciando-lhe os sentidos, apesar do seu horror com a situação. — E eles farão tudo que puderem para estragar sua vida até que tenham você – Ele moveu-se para perto, fazendo-a querer afastar-se do vigor dele... Desse olhar penetrante e de sua beleza devastadora. — É onde eu entro.
 
Sua respiração ofegava com tanta força que o peito doía. 

— Quer dizer? 

 — Quer dizer que você é minha responsabilidade agora. Onde quer que você vá, eu irei. Não vou deixar você fora da minha vista, assim que você poderá muito bem se acostumar com isso.

Saige poderia dizer pelo tom que ele não estava entusiasmado com as circunstâncias. 

— Eu não pedi isso.

— Sim? – Ele contrapôs. — Irei mais adiante e me pergunto quanto isto importa.

  Ela estava com mais raiva do destino no momento do que ele – mas o destino não estava lá para ouvir suas queixas. 

— Você é sempre assim irritante? – Ela exigiu, dando-lhe sua melhor olhada. 

Por uma fração de segundo, uma expressão engraçada cruzou características cinzeladas, e ele levantou aqueles ombros incríveis com um cáustico encolher de ombros. 

— Acredite ou não, eu geralmente sou o cara mais descontraído ao redor. Eu acho que você acabou de trazer à tona o pior em mim.

— O pior em você, hein? – Abaixando as sobrancelhas, ela se perguntava o que devia ter feito na vida passada para ter recebido tal sorte desagradável.  — Engraçado como eu sempre pareço ter esse efeito nas pessoas.

— Irritante ou não, tenho a intenção de mantê-la viva, e aquela coisa lá está programada para você. – Saige sabia o que significava. Ela tinha ouvido falar sobre a habilidade do Casus de bloquear uma Merrick, como se ela fosse algum tipo de farol metafísico para a sua fome. — É por isso que precisamos chegar à segurança de Ravenswing, o complexo dos Guardiões no Colorado, o mais rapidamente possível.

  Saige balançou a cabeça, um novo medo rapidamente tomando forma, torcendo-a como uma dor física, enquanto ela se abaixava e agarrava sua mochila, colocando-a sobre seu ombro direito. 

— Eu não vou a lugar nenhum até que eu tenha verificado Javier. 

As sobrancelhas escuras juntaram-se sobre seus olhos escuros. 

— Quem?

— O rapaz com quem eu estava esta noite – explicou ela, ajustando firme sua bagagem pesada. — Ele vive em Coroza com seus irmãos, não muito longe do bar. 

  Quinn franziu a testa. 

— Você sabe que ele vai ficar melhor se você ficar longe dele.

— Mas você mesmo disse que o Casus seguiu algumas das mulheres que Ian conhecia – argumentou. — Eu preciso ter certeza de que Javier está bem em casa. Dar-lhe dinheiro suficiente para sair da cidade por um tempo.

— Então, chame-o – afirmou categoricamente. 

— Ele e seus irmãos não têm telefone – explicou ela, com uma forte dose de frustração. 

  Ele estudou a sua postura, seu duro olhar hipnótico percorrendo seu rosto... Seus olhos, observando sua determinação. 

— Não é seguro para você chegar perto dele, Saige. Se eles o marcaram, você estará se colocando em perigo novamente. Apenas voltar a Coroza é um risco infernal.

Ela teria que voltar para Coroza de uma forma ou de outra, de qualquer forma, considerando que ainda tinha que recuperar os mapas que Inez guardou – mas ela não ia explicar nada disso para Quinn. E no momento, sua única preocupação era Javier. 

— Você pode tentar me parar, mas eu estou te dando apenas um aviso. Se o fizer, eu vou apunhalar você no coração no momento que você baixar sua guarda, em seguida, voltarei sem você.
 
Ela esperava que ele gritasse com ela, mas rapidamente ficou claro que Michael Quinn não era um homem fácil de prever. Em vez de reagir com raiva, ele apenas sorriu tranquilo com sua clara ameaça, a curva diabólica de boca dura fazendo seus dedos encurvar-se dentro de suas botas, mas ela se esforçou para não mostrar isto. — Você não tem medo de mim, tem?
 
  Foi quase sorrindo de volta para ele que disse — Só não se esqueça isso.

— Eu não sou passivo – ele murmurou, o olhar pesado em seus olhos fazendo-a tremer consciente. Nesse momento, ela era claramente consciente de suas diferenças. De sua masculinidade robusta em relação à sua suave feminilidade. E, no entanto, ela ainda não se sentia ameaçada. Não por Quinn. 

  Não, por algum motivo insondável, ela sentia-se segura. 

Uma brisa suave soprou os cabelos de seu rosto, e ela levantou uma das mãos, colocando os fios rebeldes atrás da orelha. 

— Eu entendo o risco, Quinn. Mas eu tenho que fazer isso. Eu não poderia viver comigo mesma se eu não fizesse.
 
Ele sustentou seus olhos escuros por um longo segundo como um corpo que está sendo torturado num engradado. Justamente quando estava pronta para começar a discutir a sério, ele soltou uma respiração áspera, e disse calmamente:

— Como está a perna?

Sua perna? Olhando para baixo, Saige observou os arranhões que o maldito Casus deixou em sua panturrilha. Ela sabia que era um sinal de seus nervos que o ferimento não estava incomodando. Olhando para trás para Quinn, ela disse: — Ficarei bem.

Ele arqueou as sobrancelhas. 

— Então, iremos caminhando ou voando?

Um alívio bateu como um golpe físico no peito, apesar de tentar escondê-lo. Pensando sobre sua pergunta, Saige ouviu a noite. Ela poderia dizer com o som distante dos sinos da igreja que o vôo aterrador tinha deixado-os perto da periferia da cidade, ao invés de levá-los mais profundamente para a floresta. 

— Nós não estamos longe de Coroza – ela murmurou. — Você não pode ir voando para a cidade.

Ele deu de ombros, embora houvesse uma luz estranha nos olhos, como se estivesse brincando com ela. Não sabendo o que fazer com ele, Saige olhou para o céu noturno para se orientar, então para o oeste, muito consciente do homem chamado Michael Quinn acompanhando-a de perto... Cada passo do caminho. Era uma sensação estranha, esmagadora, tê-lo tão perto. E algo que ela desejava não gostar tanto. 

  Apertando a mão em seu estômago, se esforçou para afastar as sensações indesejadas, e lembrou-se de que sua vida tinha acabado de ser virada de cabeça para baixo... E nunca mais seria normal novamente.
 
'Não que você seja normal totalmente de qualquer maneira', ela pensou com uma careta. 

Ela não o conhecia, e com certeza não confiava nele com seus segredos, mas quando eles caminharam pela beleza verde da selva, Saige não podia negar que estava totalmente... excepcionalmente... ...e inequivocamente fascinada pelo escuro, intoxicante estranho que tinha acabado de desembarcar em sua vida. 

  Ela só queria que tivesse uma idéia do que fazer com ele. 









































 Capítulo Quatro 


  SENTINDO A CHEGADA do dominante predador, os animais selvagens correram de volta para o mato enquanto Gregory DeKreznick apareceu no véu grosso, úmido da floresta. Adotando um sorriso selvagem, ele espreitava em direção ao centro da clareira aninhado ao lado de um ramo sinuoso do rio, o céu do verão escurecendo com desvanecimento, em raias violentas de roxo e rosa. Uma isolada cabana de madeira situava-se na extremidade norte do pequeno pedaço de terra, livre de folhagem tropical densa, o barco de um pescador resistia encostado ao seu lado, prova do comércio do homem que morava ali, que Gregório já tinha matado mais cedo esta semana. Não mais que milhas do local onde Saige Buchanan esteve procurando outro dos perdidos Marcadores Escuro, a habitação pobre tinha sido um local ideal para ele e seu companheiro Casus e por isso eles a reivindicaram como sua. 

Nesta noite, a pequena cabana agrupava-se silenciosa e escura sob o luar, dizendo-lhe que, pelo menos no momento, ele tinha uma compensação para si mesmo. 

  Jogando para trás sua cabeça em forma de lobo, a monstruosa criatura olhou para cima, infinita nuvem marcante da noite, e permitiu que sua verdadeira forma se derretesse, voltando para o corpo de seu hospedeiro humano. Girando seus ombros largos, Gregory dirigiu-se para o lado com um estouro explosivo, então escorregou o queixo comprido, cabelo raiado de sol para trás de seu rosto cinzelado, respingando o sangue noturno dos assassinatos ainda quente contra sua pele. Coçando preguiçosamente seu peito, ele saboreou o grosso, carnudo gosto de suas vítimas mais recentes contra a sua língua, rodando a ponta em toda a superfície lisa dos seus dentes brancos. 

Ele poderia ter pegado Javier Ruiz e usado como isca para atrair suas presas, mas não havia nenhuma necessidade de passar pelo incômodo de matá-lo quando tinha provado que vivo era muito mais eficaz. Gregory havia conseguido o que precisava, e como um todo; os irmãos Ruiz tinham sido bastante satisfatórios, embora não tão doce como a carne quente, feminina. Os homens lhe satisfaziam, mas as mulheres lhe davam muito mais prazer... era como saborear um bom vinho depois de anos com água morna. 

Essa era a diferença entre ele e Royce. Um jogador de equipe até o fim, Royce Friesen tinham dito que não se alimentassem dos humanos, e assim ele obedecia, bebia a água, enquanto Gregory saboreava o banquete suculento. E isto era um verdadeiro banquete. Ele ansiou isso por muito tempo, enquanto ficou preso no subsolo como Meridian. Quando ficou longe das coisas que o fazia completo... que o completava, e não importava o que Calder e seus seguidores lhe tinham dito antes de sua liberdade, Gregory não tinha a intenção de obedecer as suas regras estúpidas.

Friesen, no entanto, viveu a existência servil de um pequeno bom soldado, apenas se alimentando do gado local. Ele foi advertido para não se alimentar da cadela Merrick, até que ela despertasse totalmente – e que isto tudo era contra tudo o que os Casus eram, o idiota obedeceu, seguindo suas ordens. Mesmo sabendo que Gregory estava ficando mais forte a cada dia, Royce continuava comprometido com sua decisão de cumprir as ordens ridículas de Calder, e hoje isto quase lhe custou à vida. Eles seguiram Saige Buchanan durante horas, esperando que ela deixasse o país, uma vez que encontrou o segundo Marcador que um tolo arqueólogo havia passado por cima, mas, ao invés disso, ela passou a tarde percorrendo toda a cidade. No momento que ela tinha se dirigido rumo ao Anjos dos Diabos no final do dia, Royce já estava há muito tempo sem uma de suas escassas refeições e estava fraco. Ele tinha sido forçado a viajar para a selva caçando animais, deixando Gregory para vigiar seu alvo, enquanto ela conversava com seus amigos no rústico bar. 

Desfrutando tê-la só para si, sem a presença irritante de Royce, Gregory tinha visto ela de longe, passando o tempo, como um tubarão circulando lentamente para matar, e quase a tinha liquidado. Quando ela corria para o mato, ele pensou que seria finalmente sua... Só para que ela fosse arrancada de suas mãos. Mas ele não tinha a intenção de deixar isto ficar assim.

Com um sorriso acentuado pela antecipação do momento no qual sabia que viria a ser dele, Gregory esticou os braços sobre a cabeça, consciente dos músculos flexionados sob sua pele, assim como as pontas dos ossos e tendões fibrosos. Para um ser humano, o corpo que ele tinha tomado não estava muito ruim. Mais de um metro e noventa, com uma estrutura muscular, isto era melhor do que ele esperava de algo que não era mais que uma mera presa, mesmo se o homem tivesse uma gota de sangue Casus fluindo em suas veias. Quando as sombras das espécies de Gregory foram libertados por Meridian, eles foram obrigados a procurar um homem que carregasse o antigo sangue de seus antepassados, a fim de retomar a forma física. Uma vez tomada, a alma humana era forçada a partir do seu corpo. O Casus, no entanto, mantinha as memórias do hospedeiro, o que lhes permitia uma função incomum dos tempos modernos – e que felizmente eram capazes de mudar para sua verdadeira forma, quando necessário. 

  Gregory se perguntou se Malcolm, seu único irmão de sangue e o primeiro a ser enviado de volta para Meridian, tinha gostado desta sua liberdade, em seguida, rapidamente afastou o pensamento destrutivo, trancando-o com o seu ódio, onde pertencia. Doía muito pensar em Malcolm – o bastardo mais velho dos Buchanan tinha acabado com ele. Foi por isso que Gregory queria por as mãos em Saige tão somente – para mostrar àquela imbecil como era ter algo tirado, rasgado da sua vida, sabendo que você nunca poderia recuperá-lo. 

Ela pode ter sido significava para Royce, mas Gregory não tinha nenhuma intenção de deixar outro Casus tê-la. Ela tinha se distanciado dele hoje, mas isso não aconteceria novamente. Não importa o que Friesen decidisse fazer a seguir, Gregory tinha um plano, e ele pretendia executar, com ou sem o seu companheiro Casus. 

  Enquanto Royce e os outros se preocupavam com a segurança dos cruzamentos e construindo a sua força, a fim de trazer mais de sua espécie de retorno a partir de Meridian, Gregory cuidava apenas do sangue Buchanan. Afinal, foi uma Merrick que tinha prendido o Casus tantos anos atrás, amaldiçoando-os num destino pior que a morte. Devido à sua imortalidade, eles não poderiam morrer, e por isso eles simplesmente perderam-se no disfarce simples dos seres poderosos que tinham sido uma vez, obrigados a habitar em corpos humanos, uma vez que tinha retornado para este reino. Mas foi o mais velho dos Buchanan que tinha usado o primeiro Marcador Escuro para destruir a alma de seu irmão, condenando Malcolm ao abismo do inferno por toda a eternidade. Para que, assim como a prisão de sua espécie, Gregory prometeu fazê-los pagar. A capacidade de amar poderia não ser um traço comum para o Casus, mas eles entendiam a lealdade à família como nenhum outro. Em um mundo tão cruel como o deles, às vezes era a única maneira de sobreviver. 

Com Guardião ou não, ele murmurou com um sorriso duro, lembrando o momento em que ele lambeu o sangue da sua perna escorrendo em suas garras. Eu vou aproveitar para cortar a pequena Saige Buchanan em pedaços. 

  A retumbante risada explodiu sombria por sua respiração, e ele começou a andar em direção à cabana, quando um som à sua esquerda roubou a sua atenção, e ele ficou tenso, ouvindo... Completamente alerta a área em volta, e pelo alastramento da sua prontidão muscular como uma forte e penetrante dor. Puxando seus ombros, ele tinha acabado de tomar um impulso profundo sobre o ar úmido, quando uma massa sólida de músculo e osso bateu nele, jogando-o no chão, coberto de musgo úmido da clareira. 

— Você quer explicar o que aconteceu esta noite? – O Casus rugia em seu rosto, prendendo seus braços ao chão. — Eu posso sentir o cheiro dela em você! 

Sabendo que Royce ficaria ainda mais enfurecido se ele permanecesse calmo, Gregory relatou casualmente os acontecimentos da noite, e seu companheiro recebeu a notícia tão mal quanto ele esperava. Escondendo o prazer que ele sentia ao ver Royce tão furioso, ele finalmente concluiu com uma fala arrastada solícita.

— Você me disse para ficar de olho nela.

— Seu idiota incompetente – Royce fervia, sua raiva brilhando como pedaços de gelo em seu olhar azul-claro. — Eu lhe disse para não perdê-la, para não se revelar. O que você achou que estava fazendo?

— Exatamente o que fui criado para fazer – ele respondeu com um sorriso agudo. 

Os olhos Royce se estreitaram com fúria.

— Não me pressione, Gregory. No futuro, fique longe dela. Se você não fizer isso, eu farei com certeza você pagar.

— Tanto como é divertido, irei para o inferno, Royce. Nós dois sabemos que você não pode me matar.

  O animal baixou o focinho, reunindo nariz-com-nariz. 

— É isso o que você acha? – Perguntou sedosamente, a expressão sinistra reprimida na forma de sua característica cabeça de lobo. — A única razão porque Calder permitiu-lhe vir atrás de mim, foi porque ele considera você bastante perigoso para as costas de um Meridian, e ele queria que você se fosse. E a única razão que eu concordei em trazê-lo tão longe foi porque eu queria sair de lá, e ninguém assumiria a responsabilidade para ti. Mas se você colocar um dedo em Saige Buchanan novamente, e eu mesmo vou matá-lo.

— E enfrentar a ira de Calder? – Gregory escarneceu, estalando a língua. 

As palavras de Royce agitou sua raiva.

— Após a confusão que Malcolm fez, não penso um segundo que Calder liga para o que acontece com você.

Gregory riu. 

— E você acha que Calder se importa mais com você, Royce? A verdade é que ele não dá a mínima para qualquer um de nós.

Deslocando-se para trás sobre as patas traseiras, Royce liberou suas garras dos braços de Gregory, olhando-o com um olhar frio e duro. 

— Ele é um bom líder – ele remoeu. 

— Apenas um não muito confiável. – Gregory resfolegou, içando para cima o cotovelo. — Já disse a você como ele aprendeu a enviar-nos de volta? Diabos, ele nem sequer lhe disse quantos Marcadores estamos procurando, ou exatamente porque nós precisamos deles.

Royce levantou-se em uma onda fluida de músculos poderosos, permitindo que sua verdadeira forma graciosa saísse, facilitando sua volta para a forma do seu hospedeiro humano. 

— Ele tem suas razões – ele murmurou. 

 — Claro que tem – Gregory falou arrastado, revirando os olhos. — E de qualquer forma, esta noite não foi culpa minha. Esta foi à melhor chance que tivemos para agarrá-la desde que encontrou o Marcador. Você queria apenas que a deixasse escapar? 
— Nós apenas queremos pegá-la, sem corrermos o risco de perdê-la. Caso contrário, seremos informados para esperar até que ela esteja completamente desperta.

— E o marcador?

— O Marcador poderia ser roubado dela – Royce grunhiu, seu lábio ondulando enojado. — Mas agora, por causa de seu pequeno truque, ela sabe que estamos atrás dela, o que significa que ela vai tomar cuidado com ele, tanto quanto puder.

— Ela já sabia – Gregory contrapôs, as sobrancelhas arqueadas enquanto ele olhava para cima do seu lugar no chão, quente úmido. — Por que outra razão você acha que ela está sempre olhando por cima do maldito ombro? Ela sabe que estamos olhando para ela.

A boca de Royce apertou-se, os músculos em seu peito flexionando com sua rigorosa respiração. 

— Saber e suspeitar são duas coisas diferentes. Esse bastardo Guardião não vai deixá-la fora de sua vista agora. E se ele voou, as chances são de que ele seja um maldito Raptor. – Royce olhou de cima para ele, seus lábios enrolados em uma expressão arrogante que fez Gregory querer rasgá-lo, lenta e dolorosamente possível. — Portanto, agora, graças a você, nós a perdemos – ela e o Marcador. 

— Não exatamente – ele ofereceu um burburinho suave das palavras quando se moveu. 

Royce parou no ato de se afastar, com a testa franzida numa profunda carranca. 

— Que diabos isso significa?

— Isso significa que eu acho que ela não a tem. Pelo menos não com ela.

Os punhos se estreitaram nas lateriais, as veias esticando-se em agudo alívio sob o brilho de sua pele.

— Sobre o quê você está falando?

— Eu fui capaz de cortar esta noite – Ele explicou, dando de ombros.

— Então, ela deve ter escondido – murmurou Royce, passando as mãos nos grossos fios chocolate de seu cabelo. Apesar do fato de que seus irmãos humanos hospedeiros americanos possuírem um barco de pesca turística no Rio de Janeiro eram quase idênticos na aparência, os cabelos de Friesen não era apenas mais curto, mas várias tonalidades mais escuras. 

— Se ela o fez, – Gregory contrapôs — então ela é uma idiota por não manter segura a única coisa que pode protegê-la. Calder havia dito para eles que nada seria capaz de matá-la enquanto ela usasse um dos Marcadores antigos, o poder das cruzes a protegeriam dos seus dentes e garras. 

— Ou isso, ou ela é muito inteligente. De alguma forma ela deve ter descoberto que nós estamos atrás dos Marcadores, também. Eu lhe disse antes, você está subestimando-a.

— Eu estou? – Gregory perguntou com uma risada enquanto raspou uma palma sobre o seu áspero maxilar. — Ela correu esta noite, assim como uma patética mulher. 

  Royce enviou-lhe um olhar impaciente. 

— E como você mesmo disse que fugia do Guardião, eu penso que nós podemos seguramente assumir que não tinha nada a ver com você naquele momento.

— Você está dando-lhe muito crédito – ele murmurou, sacudindo a cabeça. — Eu continuo dizendo que ela é nada mais do que alimento.

— Não importa o que você acha dela, Gregory, porque ela é minha comida. Assim como você sabe aonde seu Merrick vai, faça o que quiser, mas até então, fique longe da minha.

Gregory ergueu as mãos em sinal de rendição. 

— Vamos lá, homem. Não há necessidade de ser tão desconfiado. Eu ia trazê-la para você – ele murmurou, aproveitando a força potente de frustração de Friesen enquanto explodia contra ele como um vento quente. 

Royce empurrou o queixo e resmungou. 

— Você honestamente espera que eu acredite nisso?

— Ainda não confia em mim? – Ele perguntou levemente, usando um fantasmagórico sorriso. 
 
Um riso amargo saiu da boca Royce. 

¾ Tentarei nunca confiar em você.

— E também – Gregory disse suavemente, seu olhar duro e constante ¾ você precisa de mim.

— Eu preciso do Marcador... E então eu preciso de uma mulher. Para você, eu não tenho nenhum uso.

— Hmm, bem, eu acho que estaria mentindo se eu não dissesse que o sentimento é recíproco – ele ofereceu uma baixa, gutural risada. — E, como você disse, eu tenho a minha própria esperando por mim, assim você pode ter sua carne. – Era mentira, mas tanto quanto gostava de insultar o seu companheiro, ele sabia bem quando pressionar demasiado. Ainda não, quando já tinha um vigia para enfrentar. 

E Gregory sabia como Royce era melindroso quanto à vida da pequena cadela Merrick. 

Segundo a lenda, cada vez que uma sombra Casus escapava de Meridian, um Merrick iria despertar, de acordo com a necessidade da natureza para o equilíbrio. Em um esforço para promover a ordem entre os recém-escapados Casus, tinha sido decidido que apenas um Merrick totalmente desperto poderia fornecer para sua espécie o alimento final, para cada Casus que escapasse seria permitido direitos exclusivos de retornar para seu Merrick para o reino causando o despertar. Era uma regra importante, uma vez que apenas um Merrick poderia fornecer a carga de energia necessária para o Casus puxar outro de sua espécie de volta a partir de Meridian fazendo-o cruzar a divisa.  Vendo como o desejo de aumentar os seus em números para que eles pudessem governar como fizeram uma vez e foi como uma força motriz que motivou muitos de seus parentes, o Merrick despertado se tornaria uma mercadoria importante. 

Gregory, entretanto, não poderia importar-se menos com esta espécie de poder na base da energia. 

O único poder que o preocupava era o seu, e só por isso, ele planejou eventualmente encontrar seu Merrick e matá-lo. Mas, primeiro, ele lidaria com os Buchanans. 

— Até que você possa se concentrar – contrapôs Royce, — você sabe muito bem que você nunca vai encontrar o seu próprio Merrick. 

— Oh, eu vou encontrar meu – ele murmurou, coçando preguiçosamente no peito a mancha de sangue. Ele sabia a extensão da raiva de Royce pelo simples fato de que o filho da puta tenso não tinha percebido que ele estava coberto de sangue. — Mas, atualmente, o nosso problema é Saige Buchanan. Você não pode me culpar por esta noite. Se você estivesse lá, você não teria sido capaz de resistir mais do que eu.

— Eu tenho resistido até agora, não tenho? – Disse Royce por cima do ombro enquanto ia em direção à cabana. Embora o luar atenuasse um pouco os seus defeitos, esta ainda parecia maravilhosa enquanto a estrutura permanecia de pé, o seu telhado triste inclinado, olhando do lado direito, como se isto pudesse deslizar o seu caminho no escuro, nas águas turvas do rio. 

— Pelo menos eu não voltarei para casa de mãos vazias – comentou Gregory com indiferença casual, seguindo atrás dele. 

— Eu quero saber? – Royce perguntou com um suspiro duro quando ele abriu a porta da frente. 

  Entrando no interior da estrutura em ruínas, Gregory foi em direção a pia e começou a encher com água em uma bacia manchada. Seu reflexo olhou de volta para ele dos painéis sujos da janela ante ele, fornecendo uma visão obscura da lua e da água como um vinho escuro que serpenteava o seu caminho através da selva como uma serpente. 

— Eu fiz uma visita para ao seu pequeno ajudante no caminho de volta para cá.

Do canto de seu olho, ele observou como Royce enrolava as mãos nos punhos com raiva pela segunda vez naquela noite, mas sabia que o canalha não tinha coragem de dar um soco nele. Não quando Gregory estivesse vibrando com o poder, duro e grosso de sua recente matança.

— Idiota maldito – Royce resmungou entre os dentes fechados, sua ira ecoando pela sala como uma força física, quase balançando as sombras dos cantos com teias de aranhas. — Por que diabos você faria isso?

— Eu queria saber mais sobre o Marcador – explicou ele com calma, jogando água em seu rosto e no peito. Depois de perder Saige, ele queria bater-lhe onde doía. E ele fez.

— E? – Royce resmungou, dando um passo mais perto.

— O rapaz alegou não saber nada sobre onde ela está guardando a cruz, mas disse que pensa que ela está mantendo algum tipo de papéis no bar. – Virando, ele viu Royce pálido, o olhar interessado. — Se Calder estiver certo sobre ela ter os mapas, isto poderia ser eles.

Eles haviam dito que havia uma boa chance de Saige Buchanan ter encontrado um conjunto de mapas que levassem à localização dos Marcadores Escuros. Os mapas, segundo Calder, era um segredo bem guardado que nem mesmo os Guardiões sabiam, e um recurso inestimável para aqueles que os possuíam. O que significava que ele queria demais. 

— Você tem certeza? – Royce perguntou, sua voz enganosamente suave. 

Gregory levantou as sobrancelhas. 

— Confie em mim – ele ronronou. — O rapaz me disse tudo o que sabe.

— Não importa. – Royce suspirou. — Se os mapas estavam lá, provavelmente ela os pegou hoje.

Pegando uma toalha do balcão, Gregory enxugou o rosto úmido, em seguida, enganchou o pano atrás de seu pescoço. 

— Ela não os pegou. Ele disse que ela estava com medo antes que ela pudesse pegá-los.

Royce dedicou-lhe um olhar de cheio de frustração. 

— E alguma vez lhe ocorreu que ele poderia ter mentido?

Gregory revirou os olhos. 

— Eu tive minhas garras cravadas em sua virilha, Royce. O garoto teria me dito onde eu poderia encontrar sua mãe se fosse isso que eu quisesse.

  Empurrando com a mão o cabelo curto para trás, Royce olhou pela porta da frente aberta, obviamente, pensando sobre suas opções. Era um desperdício de tempo, mas Gregory deixou-o ter a ilusão de comando. No momento certo, ele iria mostrar ao bastardo exatamente quem era o Casus dominante. 

— Ela vai ter que ir voltar para eles – Royce finalmente resmungou. — Quando ela o fizer, não teremos outra escolha senão ir em frente e pegá-la, mas não será fácil.
 
Gregory sacudiu a cabeça, entendendo por que Calder confiava tanto em Royce Friesen. Calder, obviamente, reconhecia um seguidor, quando via um. Como primeiro Casus que desde o início do seu cativeiro teve sucesso na organização de seus parentes de uma força coesa, trazendo a regra para a anarquia, Calder foi o único que tinha finalmente oferecido-lhes esperança... A chance de escapar. Como um anjo cercado pelo diabo, ele prometeu entregá-los a salvação e ainda assim, Gregory não confiava nele. 

E ele tinha bons motivos para ser cauteloso, vendo como Calder era pouco honesto com seu irmão. Não só tinha negado a Malcolm certas informações, mas ele tinha sido levado a acreditar que iria demorar algum tempo antes que Calder e seus seguidores fossem fortes o suficiente para enviar Casus para atravessar para o outro lado. E, no entanto, tão logo souberam que Malcolm havia feito a transição de forma segura, eles enviaram mais dois. Dois Casus que caçariam seus próprios Merrick, e depois irem atrás do Marcador que Malcolm esperava garantir para si próprio. Calder não ficou contente, mas ainda porque seu irmão havia planejado usar a cruz para trocar pela liberdade de Gregory, no caso de ele não ser capaz de puxá-lo através de si mesmo. Malcolm não esperava ter a concorrência nos cruzamentos tão cedo, e Gregory sabia que ele devia ter ficado furioso quando descobriu que Calder tinha certamente enviado outros depois dele. 

Ainda assim, foi um longo e árduo processo que já estava fazendo estragos em Calder e seus seguidores, razão pela qual era tão importante para que o Casus liberado contribuísse e fizesse um esforço para puxar tantos quanto pudessem usar para seu próprio poder. Até o momento, havia três Merrick mortos: um no Canadá, um na Alemanha e o último foi na Austrália. Nas três ocasiões, o Casus tinha sido capaz de trazer um após o outro ao alimentar-se completamente do Merrick, e agora eles também irão aderir à caça dos Marcadores, fazer tudo o que pudessem para fazer chegar as suas mãos às antigas cruzes que Calder estava tão desesperado para possuir. Eles também poderiam continuar a caçada, em busca de qualquer Merrick, que conseguisse enviar um Casus de volta para Meridian. Sem o poder de um Marcador Escuro, um Merrick não seria capaz de destruir a alma do Casus da forma que Ian Buchanan tinha feito a Malcolm, mas eles ainda podiam matar o corpo do hospedeiro, de modo que uma alma Casus era imediatamente sugada de volta para a prisão na terra, onde esperaria ser liberado novamente. 

Enquanto seu número crescia, Gregory sabia que a esperança de Calder de manter a paz entre os fugitivos Casus não iria funcionar. Assim como seus parentes queria sua espécie para voltar ao poder, eles simplesmente teciam cada um em separado uma batalha sangrenta pela antiga Cruz, vendo como Calder havia prometido significativamente recompensar aqueles que encontrassem um Marcador e o entregasse com segurança na propriedade de Ross Westmore. Westmore era outro mistério no regime de Calder – que eles não sabiam quase nada sobre isso. Tudo o que ele e Royce tinham dito antes de atravessar era que o misterioso Westmore – cuja espécie era desconhecida – seria o homem de contato, uma vez que entrasse neste reino, e devia ser lhe confiado os Marcadores que eles conseguissem. Embora tivesse um breve contato com alguns dos homens de Westmore, eles tinham ainda de encontrar o homem em si e Gregory e não podia negar que sua curiosidade foi despertada. Afinal, Westmore era não apenas ajudou a orquestrar seu retorno ao poder, mas também havia conseguido se infiltrar em uma das organizações mais secreta na história, usando seus recursos para financiar a caça aos Casus. 

No que dizia respeito a Gregory estava em dúvida, o cara era um gênio... Ou completamente insano. 

Encostado no balcão, ele cruzou os braços sobre o peito, perguntando se esse Westmore misterioso concordaria com a previsão de que a captura de Saige por Royce não seria fácil. 

— Você sabe, eu sempre falei que você tem que ter muito respeito pelos Merrick. 

Friesen resfolegou.

— Eu os respeito, mas reconheço que é melhor não subestimá-los.

— Você não deveria desperdiçar o seu tempo. É óbvio que eles não são páreo para nós.

Levantando a mão direita, Royce esfregou a parte de trás do pescoço. 

— É pensando assim, Gregory, que faz de você uma responsabilidade. Entre outras coisas, – ele murmurou. Afastando-se da porta, andava em direção ao sofá puído encostado contra uma parede, em seguida, novamente, passando pelo arco único que levava ao quarto, onde um colchão manchado estava no chão. 

 — Você realmente acha que teremos problemas para levá-la? – Gregory perguntou, escondendo uma risada seca sob sua respiração. — Uma mulher? Você tem que estar brincando.

 — Ela não está exatamente sozinha, está? Raptores são algumas das raças mais sanguinárias que já existiram.

Gregory dobrou o lábio. 

— Não lhe envergonha isso soar como medo dele.

— O problema com homens como você – advertiu Royce, dedicando-lhe um olhar aborrecido, — é que vocês sempre não conseguem perceber a diferença entre medo e inteligência.

— Você está começando a soar mal-humorado, Royce. – Pegando a toalha em torno de seu pescoço, Gregório deixou-a na pia e penteou seu cabelo penteado para trás, em seguida, juntou-o em um rabo de cavalo com o elástico, que mantinha em torno de seu pulso. 

Cansado de desperdiçar seu tempo com um tolo obstinado, Gregory se virou para sair, só para ser apanhado de calças curtas quando Royce agarrou seu ombro. 

— Onde você pensa que vai?

Encolhendo as costas, soltou-se de Royce, ele deu-lhe um sorriso aguçado. 

— Conversar sobre tudo isso abriu o meu apetite. – As palavras foram apenas para incentivar, mas havia uma inegável verdade nelas. Seu pênis já estava endurecendo com o pensamento de satisfazer sua fome, a antecipação aumentando como um violento xarope em suas veias. 

 — Você não acha que já teve o bastante por esta noite?

— Eles foram apenas um lanche – ele contrapôs, a boca caindo para o canto com um sorriso arrogante enquanto se dirigia para a porta. — Agora estou pronto para o prato principal.

— Precisamos voltar ao bar e manter um olho nela. E se você não parar de pegar os moradores, – Royce gritou: — Vamos ter uma multidão enfurecida em nossas mãos.

Com um último olhar por sobre seu ombro, Gregory pôde ver o quanto Royce queria ir com ele, e seu sorriso derramou-se em um lento e satisfeito sorriso. 

— Então eu acho que vai ser como nos velhos tempos.

 

 















Capítulo Cinco
  Norte de Coroza 


 LEVOU horas para que Saige e Quinn chegassem ao lotado bairro onde Javier Ruiz vivia com seus irmãos. A noite já se derramava sobre a selva em um ambiente aconchegante, com o pesado fluido da escuridão, as últimas sombras da cor do tempo finalmente desaparecendo pela mudança do colorido céu. Apesar dos continuados protestos dela de que o Casus possivelmente não poderia atacá-los em uma área tão povoada, Quinn manteve um olho vigilante sobre as ruas estreitas e sinuosas, como se esperasse que a criatura obscena de repente emergisse da sombra espessa.

Vendo-o pelo canto do olho enquanto caminhavam na desgastada rua pavimentada, Saige podia sentir que ele tinha dúvidas sobre o que estava fazendo no Brasil. Mas Quinn estava dando tempo, seu foco, no momento, mais concentrado a sua volta do que em qualquer outra coisa. Nem de perto paciente consigo mesma, Saige atormentava-se com perguntas sobre o despertar de seu irmão, e compreendendo que Ian tinha usado a cruz que tinha encontrado na Itália para matar o Casus que tinha ido caçá-lo. Sua mãe, que mantivera o seu nome de solteira Buchanan para si e para seus filhos, tinha ouvido o termo Braço de Fogo de sua avó, no entanto, não entendeu até que Quinn explicou-lhe como a cruz tinha transformado literalmente o braço de Ian em uma arma ardente que Saige compreendeu o que termo significava. Ela também ficou sabendo que seu irmão tinha absorvido os pensamentos da criatura no momento de sua morte. Ele não só viu que mais Casus já tinha escapado de sua prisão no subsolo, mas que estavam atrás também dos Marcadores também. 

Saige absorveu a informação com uma sensação de um buraco no seu estômago, pensando na advertência que o segundo Marcador lhe dera naquela manhã. 

 'Os inimigos estão chegando e irão me tirar de você.'

  Durante o dia, ela tinha a consciência atormentada pelo envolvimento de Jamison Haley em seus problemas, e sabendo que era o Casus que procurava os Marcadores só aumentava seu sentimento de culpa. Se os monstros descobrissem que ela já não tinha o talismã antigo, poderiam muito bem concluir que tinha dado ao jovem arqueólogo, o que significava que iria colocar a vida dele em perigo extremo. 

 'Maldito seja, Haley. Você deveria ter me dito não.'

Qualquer outra pessoa que sem dúvida teria feito exatamente isso se pedisse um favor tão bizarro quanto o que ela pediu a Jamison. Mas o britânico amável era um dos raros que realmente acreditava que às vezes as coisas realmente chegam de um golpe pela noite – as coisas que a para humanidade era melhor não conhecer. Como tal, ele acreditou nela quando foi até ele para que a ajudasse. 

Ele também tinha um problema de dizer não às mulheres que lhe pediam favores, que ela usou impiedosamente a seu favor.

E, no entanto, Saige se sentia tão horrível por explorar o lado brando de Jamison, e havia ainda uma pequena voz em sua cabeça dizendo que ela tinha feito a coisa certa, enviando-lhe para o Colorado, com a cruz. Se Ian estivesse certo, e os Casus estavam atrás dos Marcadores, no entanto, proteger a cruz era a única coisa que realmente importava, independentemente do risco para si mesma e as pessoas que se preocupavam com ela e sabia que, se Quinn estivesse ciente do que ela descobriu, ele se sentiria da mesma maneira. 

  O intenso Guardião definitivamente parecia o tipo de homem que colocava seu trabalho acima de tudo. Mesmo que ela obviamente o frustrasse malditamente, ele permanecia com a intenção de mantê-la viva... Mantê-la segura. Quando eles se dirigiram até a cidade em ruínas, o seu olhar escuro constantemente verificava as ruelas estreitas e os edifícios altos, alerta a qualquer perigo, a tensão em seu corpo alto evidente no conjunto rígido de seus ombros largos e a flexão sutil de suas mãos fortes e poderosas. Ficou claro que ele não se importava com as apertadas e fechadas passarelas do aglomerado bairro.

— Quanto mais nós temos que andar? – Ele resmungou num sotaque sexy que fazia acelerar seu pulso cada vez que ele falava. Saige reagia estremecendo, de alguma forma, o sentimento que o som invocava no centro de seu corpo, penetrando quente, como se ela tivesse engolido uma bola quente e ardente de fogo.

— Apenas a uns poucos quarteirões – disse ela, desejando que o céu desencadeasse uma chuva gelada para esfriar o calor latente sob sua pele. 

Ela estava desconfortavelmente consciente da agitação do Merrick que piorava a cada momento que passava com ele. Ele vagava dentro de seu corpo como o passeio de uma pantera na gaiola, tendo um interesse instintivamente selvagem no homem andando ao seu lado. Lutando para manter a calma, ela cruzou os braços sobre o peito e respirou fundo enchendo seus sentidos com a vibração do bairro étnico e, mais importante, com aquele cheiro quente e delicioso que já chegou a reconhecer como puramente intoxicante de Quinn.

— Você já tinha vindo à América do Sul antes, Sr. Quinn? – Ela perguntou, surpresa com a rouquidão de sua voz.

— Só Quinn. – As linhas gravadas ao redor da boca se aprofundaram, enquanto acrescentava — Esta é minha primeira vez aqui.

— Eu pensei que sim – ela murmurou um pequeno sorriso tocando-lhe suavemente no canto dos lábios. 

A superfície áspera da rua triturou sob seus pés com as botas, mas Saige mal percebeu o rangido, também fascinada pelo jogo duro dos músculos sob sua pele curtida quando ele levantou uma mão, empurrando-a através do matagal escuro de seu cabelo. O corte teria parecido austero em qualquer outro homem, mas simplesmente enfatizava escandalosamente a boa aparência de Quinn. Apesar da severidade de seu rosto másculo, suas feições eram incrivelmente perfeita, como algo que tivesse sido esculpido em mármore, as maçãs do rosto salientes apenas acentuavam os fortes ângulos masculinos. Esclarecendo a garganta, ela disse.

— Você olha como se não soubesse bem o que fazer neste lugar.

Aparentemente indiferente ao fato de que ela estava praticamente babando em cima dele, a tensão em torno de sua boca aliviou um pouco quando ele dedicou-lhe um sorriso torto. 

— Isto é tão óbvio? – Ele perguntou, alargando o seu sorriso, enquanto esfregava a mão esquerda sobre o seu longo antebraço direito bronzeado. — Eu estou esperando que o bronzeado possa me ajudar a ajustar.

Um riso trêmulo vibrou em sua garganta, e ela revirou os olhos, incapaz de acreditar que ela, Saige Buchanan, a mulher mais independente que conhecia, tinha ficado completamente boba, sem fôlego pelo estranho maravilhosamente atraente, como um pequenino soco na cabeça. 

— Você parece preocupado com a vizinhança – Ela questionou, forçando a sua atenção a se voltar para a rua sombreada. Em ambos os lados da rua estreita, janelas cintilavam com o suave brilho da luz, fazendo-a lembrar de olhar rapidamente, os olhos atentos, e ela apertou a camisa de flanela em volta da cintura, em seguida, ergueu sua mochila até seu ombro direito, procurando conforto na mundana tarefa. — Eu acho que tudo isso provavelmente tem a ver com habituar-se – acrescentou, rodeando um grupo frenético de frangos que estavam bicando alguns pedaços de comida jogados em frente de uma porta aberta. — Especialmente se você está acostumado aos espaços abertos das montanhas.

— Eu acho que sim – ele respirou fundo, um burburinho degenerado de risos que soaram tão puramente masculino, sua temperatura elevando-se vertiginosamente.

Foi uma sensação quase de tontura, esta sua selvagem e constante companheira Merrick dentro de seu corpo, a criatura instintiva que se alterava sinuosamente sob sua pele, levantou a cabeça e cheirou o ar delicadamente. Ela reprimiu um ronronar, baixo sensual, o som lascivo vibrando suavemente sobre a sua língua, e podia jurar que ela podia sentir o sabor, rico e suntuoso de sua necessidade. Sua Merrick estava faminta, com sede de sangue, seu desejo de nutrir-se mais intenso do que jamais esteve antes, e Saige suspeitava saber por quê.

Era Quinn. Seu crescente fascínio místico pelo misterioso Guardião que facilmente tinha vencido a extremamente poderosa criatura viva dentro da mulher. Mesmo que seu despertar pelo sangue antigo tivesse apenas começado, ela podia sentir o calor aumentando em suas gengivas, queimando ardente em suas veias... E sabia que estava chegando mais perto. Crescendo. Cada vez mais forte. Ela estava sendo conduzida por um instinto primitivo de tocar... E saborear... E possuir – o impulso visceral sexual tão potente, que se sentia quase bêbada com seu poder.

Precisando desesperadamente de uma distração, procurou em sua mente por um assunto que conseguisse afastar o sexo de sua mente e voltar ao normal. 

— Assim nós, hum... Obviamente sabemos que o Casus está atrás de mim, mas e sobre o Coletivo?

Saige observou-o endurecer sua expressão, e poderia dizer pelo seu tom de voz que ele tinha mais amor pela organização cruel do que ela. 

— Qual deles?

— Eles já estão nos caçando? Eu e meus irmãos?

— Nós sabemos que alguns patrulheiros estão Henning, onde vivem seus irmãos... Ou viviam – explicou. — Ian está no Complexo agora, e nós ainda estamos tentando convencer Riley a ir, também. Estamos preocupados com sua permanência na cidade por conta própria, mas até agora os patrulheiros não fizeram nada mais do que cheirar ao redor.

— Isso parece estranho – ela murmurou. — Você acha que eles sabem Ian está em Ravenswing?

  Ele levantou uma mão forte e bonita, e esfregou a parte de trás do seu pescoço, seus bíceps poderosos esticando a manga de sua camiseta. 

— Se eles fizerem isso, eu tenho certeza que saberemos em breve, sabendo que os soldados do Coletivo não são os que usam a paciência. Mas, por enquanto, nossos maiores problemas são os Casus e o Consórcio.

Saige enviou-lhe um olhar assustado de surpresa. 

— Mas eu pensei que você fizesse parte do Consórcio.

— O que você sabe sobre o Consórcio? – Ele perguntou, sua própria surpresa evidente nas palavras suavemente faladas. 

Virando à direita na próxima esquina, eles continuaram entrando no bairro antigo, a rua sinuosa, com uma ligeira inclinação para montanha, de volta para a selva, enquanto os aromas suculentos, refeições cozidas caseiras enchiam o ar.

— Pelo que eu sei – disse ele — O Consórcio rege todos os clãs antigos, como uma espécie de sobrenatural das Nações Unidas.

  E tanto quanto Saige sabia, era que o Consórcio tinha ajudado Merrick a aprisionar o Casus mais de mil anos atrás, depois que o implacável Casus matou as pessoas que ameaçavam expor a existência das raças não-humanas. O Consórcio tinha criado os Marcadores Escuros para destruir os assassinos imortais apenas para ser assassinado pelo recém-criado Exército do Coletivo antes que pudessem concluir a tarefa. Anos mais tarde, o Consórcio tinha sido finalmente formado novamente, mas, então os seus arquivos originais foram perdidos... todos os vestígios dos marcadores supostamente destruídos durante os ataques sanguinários do Coletivo, que quase levou à destruição dos clãs. Até o momento o Consórcio retornou ao poder, ninguém sabia onde os marcadores estavam, ou como encontrá-los... Ou se tinha realmente existido. O novo consórcio supostamente havia procurado os arquivos originais ao longo dos séculos, como o tinha feito o Coletivo, esperando que os registros perdidos trouxessem algumas respostas, mas, tanto quanto Saige sabia, nenhum grupo já havia os encontrado.

— Você realmente se reporta ao Consórcio, não é? – ela perguntou, querendo saber se Quinn estava mesmo ciente da existência dos mapas.

—Sim – ele murmurou, lançando-lhe um estranho olhar.

—O quê?

Quinn deu de ombros, com apenas uma fração do movimento, finalmente, empurrando as mãos inquietas em seu bolso.

— Acho que estou surpreso com o tanto e quanto você sabe sobre tudo – que parece ser uma porção infernal — Você nunca tentou advertir seus irmãos sobre o que você aprendeu. Teria sido bom se soubessem o que estavam por vir.

Em vez de ficar na defensiva, Saige respondeu com um pequeno sorriso amargo. 

— Quem disse que eu não fiz?

Ela podia ler as perguntas em seus olhos escuros enquanto a cortava com um olhar lento, interessado.

Enrolando as mãos em torno da alça desgastada de sua mochila, ela explicou. 

— A última vez que vi Riley, tentei avisá-lo... Para lhe dizer que eu achava que tinha encontrado a cruz na Itália por um motivo. Que eu estava com medo de que pudesse ser um sinal, que significava o despertar lendário que os ciganos tinham predito que estava realmente chegando. E você sabe o que ele me disse? – Ela perguntou, seguindo adiante sem esperar por uma resposta. — Ele disse que nós seríamos os monstros se as coisas em que eu acreditava retornassem de verdade, mesmo o Casus, e que estaríamos melhor mortos. Então ele disse que se mencionasse o Merrick para ele novamente, eu poderia esquecer que ele era meu irmão.

Quinn franziu o cenho, voltando sua atenção novamente para as sombras invasivas. 

— Eu não sei qual o era problema de Riley, – disse ele — mas eu poderia muito bem ir em frente e avisá-lo agora, Saige. Seus irmãos vão ficar furiosos ao saber que seu despertar já começou e você não os chamou para ajudarem. Eles realmente estão preocupados com você.

— Duvido disso – ela disse com uma risada suave. 

Ela não tinha idéia de como lidar com esse pensamento bizarro... E não podia deixar de duvidar da sua verdade, não importa o quanto Quinn acreditasse.

Ele lançou-lhe um olhar curioso, estudando-a sob os cílios pesados e Saige teve a estranha sensação de que pudesse ver através dela, com todos os anseios embaraçosos e as dúvidas agitadas que a atormentavam. 

— Você apenas pode ter uma surpresa quando chegarmos ao Colorado.

— Olha, eu não sei a impressão que meus irmãos devem ter-lhe dado, mas não está exatamente perto – disse ela, seu olhar afastando-se daqueles olhos escuros que a faziam se sentir muito exposta... Muito nua. — Tem sido assim desde que Ian começou a amadurecer. Tudo começou a mudar depois disso. A preocupação de minha mãe com a linhagem da família trouxe um abismo entre nós, até que não falar sobre o Merrick tornou-se a máxima da nossa pequena família esquisita.

— Se isso é verdade, então eu acho que ajudaria a explicar porque Riley nunca mencionou seus avisos para Ian.

— Para ser honesta, eu não estou surpreso que ele não fizesse – ela respondeu com calma, sua mente levando-a de volta ao passado. — Alguma coisa aconteceu quando Riley estava na adolescência, depois que Ian já tinha fugido, mas ele nunca me disse o que era. Tudo o que sei é que ele nunca falou sobre o Merrick novamente a partir desse ponto. – Ela respirou profundo, olhando por um momento para a beleza calma do céu limpo, estrelado. — O que quer que seja, ainda o persegue. Quando as coisas começaram a acontecer com Ian, Riley, provavelmente, fez tudo que podia para convencer-se que havia uma explicação lógica, ou não, que não envolvessem o Casus e o Merrick. Eu posso imaginar como ele reagiu quando ele foi finalmente foi forçado a encarar a verdade.

Outro baixo ruído de gargalhadas vibrou no peito dele, o som irônico confirmando o que ela já tinha adivinhado. 

— Ele definitivamente não aceitou bem quando a minha unidade contatou-o, mas quando nós explicamos exatamente o que estava indo ao encontro de Ian, ele veio com a gente para ajudar. E depois que viu o que o Casus era capaz, isto o deixou maluco por não ter alguma maneira de contatá-la. Ele estava pronto para vir ele mesmo atrás de você quando não conseguimos entrar em contato com Templeton, mas Kierland Scott, que dirige nossa Unidade, se recusou a dizer-lhe onde estava. Riley disse que apenas fugiria e mataria, quando ele precisava estar em Ravenswing, aprendendo a preparar-se para seu próprio despertar.

— Mas ele ainda se recusa a permanecer no Complexo, certo?

Ele balançou a cabeça.
— Diz que ele precisa estar em Henning, protegendo o povo que confia nele para fazer isso.

? Isso soa como Riley. – Saige inclinou o rosto para a brisa lenta que soprava, como procurando alívio para o calor espesso da noite e sua própria ardente frustração. ? Mas, talvez ele esteja fazendo a coisa certa, mantendo um olho em todos. Eu estava tão certa de que o alvo do Casus seria apenas o Merrick, sem desperdiçar o seu tempo com os seres humanos, e parece que eu estava errada.

? Mesmo com tanto o que você conseguisse aprender, Saige, você não pode esperar saber tudo. Quando isso começou, ninguém sabia o que esperar, – ele disse num tom baixo, quase como se ele estivesse tentando colocá-la à vontade. ? Inferno! Ainda estamos remendando tudo... Ainda estamos tentando descobrir. Por que querem os marcadores? Do que eles estão realmente atrás? Como eles estão escapando do aprisionamento do subsolo e por que agora, após todo esse tempo?

Um riso frágil bateu-lhe da garganta. 

? É de enlouquecer, quando você pensa sobre isso. Cada resposta só leva a um questionamento mais... E mais frustração. – Levantando a mão, esfregou a parte de trás do seu pescoço novamente, fazendo-a saber o enorme esforço que ele tinha contabilizado. ? É por isso que minha Unidade quebrou o nosso código e fez contato com seu irmão.

  ? E é por isso que você está em apuros com o Consórcio? – ela perguntou, surpresa pela forma como estava curiosa a respeito dele. Não apenas sobre os acontecimentos que o levaram para a América do Sul, mas Quinn, o homem, e enquanto eles caminharam juntos até a rua rústica, havia ocasiões em que ela realmente deixava para trás a realidade, e encontrara-se simplesmente imersa nos padrões de sua persuasiva  fala e na maneira como ele se movia, a maneira como ele respirava... Mesmo quando ele ria.

Havia uma margem irônica em suas palavras quando ele respondeu a sua pergunta. 

? Nosso envolvimento com a despertares Merrick não foi exatamente sancionada por nossos superiores. Mas todos nós decidimos que era hora de fazer algo mais do que simplesmente assistir da bancada.

? Falando em assistir, como você deixou escapar a descoberta do marcador na Itália? Você disse antes que foi Ian, que lhe falou sobre ele, depois você fez contato com ele e a levou a Ravenswing. Mas não havia já um Guardião vigiando-me?

Quinn lançou outra risada áspera. 

? Kellan Scott estava observando você no momento. Ele é o irmão mais novo do meu melhor amigo, Kierland, e um bom garoto, mas ele ainda tem muito a aprender. Parece que ele ficou um pouco distraído pela população feminina local, quando deveria estar trabalhando, mantendo um olho sobre o que estavam fazendo.

Fungando um riso macio sob sua respiração, ela acidentalmente roçou-lhe quando evitou uma bicicleta enferrujada caída na rua. Sua respiração ofegou ao sentir o músculo duro e quente da pele masculina... Fazendo-a se perguntar se ele era tão duro e quente em toda parte.

Afastando sua mente do perigoso território deste pensamento em particular, ela limpou sua garganta, dizendo: ? Aposto que vocês estavam muito chateados quando percebeu que ele tinha se perdido.

Ele balançou a cabeça, o seu tom áspero.

? Sim, mas já estávamos marcando-o por não fazer seu trabalho e te observar da maneira como ele devia fazer.

Ela baixou os olhos, pensando no último Guardião que tinha sido designado a ela. 

? Você acha que Templeton está morto?

Com o queixo duro e a testa sulcada, a expressão de Quinn revelou sua preocupação e frustração. 

? Ele teria nos contatado agora, se ainda estivesse vivo. É um pensamento preocupante, considerando que Templeton não era um homem fácil de pegar, até mesmo por um casus.

? Espero que isto tenha sido rápido – disse ela baixinho, as palavras presas em sua garganta. ? Eu odeio a idéia de tortura do jeito que você disse que o Casus torturou as pobres mulheres que Ian conhecia.

? Se isso faz você se sentir melhor – ele murmurou ? Ian usou o marcador para fazer esse bastardo pagar. Ele fez um inferno com a arma.

? Eu suponho que não trouxe com você?

 Ele balançou a cabeça. 

? Pensamos que era demasiado arriscado, visto que estamos tão longe do Complexo. O que exatamente você está fazendo aqui?

? Templeton não lhe disse?

? Ele disse em seu último relatório, que tinha suas suspeitas. – Seu tom era casual, mas Saige podia sentir a ponta aguçada da sua curiosidade. ? Para ser honesto, eu prefiro ouvir isso de você.

Querendo saber o quanto devia revelar – e o quanto ela deveria guardar para si mesma, pelo menos até que soubesse mais sobre ele, Saige recolheu seus pensamentos por um momento quando seguiam seu caminho passando por um grupo de adolescentes ruidosos  esparramados nos degraus da frente de um edifício, as janelas abertas permitindo camadas, sons estridentes de música e vozes flutuando por alto. 

— Tenho certeza que você já sabe – ela começou ? que ao contrário dos meus irmãos, eu não quis fugir do que está dentro de nós. Eu sempre fui crente, e eu passei a minha vida pesquisando o Merrick. Eu acho que você poderia dizer que as peças do quebra-cabeça finalmente puxaram-me para cá.

 Quinn arqueou uma sobrancelha. 

? O que significa?

Molhando os lábios, ela ignorou a pontada de culpa irritante no fundo de seu estômago. Até que ela o conhecesse melhor, havia bem pouco que Saige estava disposta a compartilhar.

? O que significa que tenho razões para acreditar que um marcador pode estar enterrado aqui. Tive sorte e fui capaz de me juntar a uma escavação local que já estava em andamento, e eu estive trabalhando secretamente para encontrá-lo desde então.

? Nos perguntávamos se você estava à procura de outro – ele murmurou, olhando como se ele não soubesse muito que fazer com ela. ? A maioria dos humanos não seria tão ousada.

Um sorriso relutante enrolado no canto da boca. 

? Mas, nós, Buchanans, não somos exatamente humanos, somos?

? Não, vocês não são – ele concordou, esfregando a mão sobre a sombra do anguloso queixo, a barba escura somente acentuando a sensualidade de sua má aparência. ? Vocês também têm um ego infernal.

? Por que diz isso? – Perguntou ela, achando difícil acreditar que alguma coisa poderia diminuir seu orgulho masculino.

? Eu sou apenas um mero instrumento aqui, mas poderia ter algo com o que você testou meu cérebro com a garrafa de cerveja – ele ofereceu secamente.

 ? E aqui eu que pensei que os guardiões fossem duros – ela bufou, olhando sua têmpora ferida. ? isto nem está sangrando mais.

? Não é tanto o sangue que me irrita como o fato de que você não tinha nenhuma razão para me atacar.

O canto de sua boca se contorceu na sua expressão corada. 

? Será que isso faria você se sentir melhor se eu deixasse você me bater de volta?

 Saige nunca tinha realmente visto os lábios de um homem antes se enrolar, e ficou fascinada com a visão. 

? Eu não bato nas mulheres.

? Só porque sou mulher – ela repreendeu-o ? não significa que eu não consiga me garantir. Eu cresci com dois irmãos mais velhos, o que significa que eu aprendi a lutar sujo desde o início.

? Não se preocupe – ele respondeu em voz baixa, voltando sua atenção para a rua sombreada. ? Eu não acho que você é fraca, Saige. Eu só acho que você está louca.

Incerta se ele estava brincando ou realmente a sério, ela optou por permanecer em silêncio até que chegaram à próxima esquina. 

? O apartamento Javier é no final do bloco.

? Basta fazermos isso rápido – ele murmurou, olhando para a área. 

Era difícil dizer onde um prédio acabava e começava o vizinho, as várias varandas e toldos dando a três ou quatro das estruturas dos andares um olhar torto de desequilíbrio. Eles sempre lembravam a Saige blocos empilhados por uma criança, quase caindo se o vento soprasse mais forte. 

? Eu não gosto daqui. Nós não estamos tão longe da selva, e há muitos lugares para se esconder.

? Isso só vai levar um minuto – ela garantiu-lhe, ajustando mochila grande em seu ombro.

Caminhando para a varanda da frente do apartamento térreo, Saige ergueu a mão para bater, cada som que vinha dos edifícios próximos fazendo-a recuar. Obviamente, os nervos ainda estavam aparvalhados pela sua proximidade com a morte recente, bem como a sua preocupação com seus amigos.

Soprando seu cabelo para fora dos olhos dela, ela bateu uma vez... E esperou. Em seguida, bateu de novo. Carrancuda, Saige começou a se aproximar da maçaneta da porta, quando Quinn respirou fundo e grunhiu, de repente, agarrando sua mão e prendendo-a num aperto de aço.

? O que você está fazendo? – Ela murmurou, lançando-lhe um olhar assustado. Como ondas de calor, ela podia sentir uma estranha energia vinda do toque de sua pele contra a dela, e sua ansiedade elevava-se esquisita.

? Você não pode entrar lá – disse para ela em um tom baixo, quase um som rosnado.

Seus olhos se arregalaram.

? Ninguém na família Javier iria me machucar. Eles são meus amigos.

? É tarde demais – ele resmungou, sua expressão de uma resignação sombria.  ? Venha.

? O quê? – Saige tirou seus dedos do aperto dele e parou sobre seus saltos. ? O que você está falando?

? Casus, – ele rosnou.

? Cas... – A palavra foi sumindo enquanto ela repentinamente registrou o estranho odor espesso escorrer por baixo da porta, e seu estômago embrulhou-se.

  ? Oh Deus, não. Não. Não. Não. Javier – ela suspirou, balançando para se segurar, mas Quinn segurou-a no lugar. Enlaçando seu braço esquerdo em torno de sua cintura, ele a puxou para longe da porta e desceu os degraus de madeira da varanda.

? Confie em mim, Saige. Você não iria querer ir para lá.

As palavras foram duras... Dilaceradas, e ainda de alguma maneira convincentemente gentil quando ele examinou a rua de um lado para o outro. A rua estreita, no momento, estava vazia, esta parte do bairro tranquilo, mas próximo do rugido jantar de famílias compartilhando sua refeição noturna, o som ruidoso de louça extravasando das janelas e portas que haviam sido deixadas abertas para ajudar a aliviar o úmido calor da noite.

O vento aumentou, trazendo os aromas combinados de comida e sangue e que cheirava a carne queimada num foco mais nítido. 

? Eu não posso... Eu não posso – ela disse se balançando, dolorosamente ciente de que ela tinha que saber o que tinha acontecido. Ela não podia correr ? não apenas quando havia uma chance de que Javier estivesse lá, quebrado e sangrando... Mas vivo.

  Soltando-se do aperto de Quinn, Saige virou-se e correu de volta para subir os degraus, a mochila caindo no patamar enquanto ela empurrava a maçaneta. Quando a porta não se mexeu, ela jogou seu ombro contra a porta, de imediato, quebrando-a abrindo-a. No fundo de sua mente, ela reconheceu o fato de que não deveria ter sido forte o suficiente para derrubar a porta sozinha, não importa quantos anos ela tivesse, mas o pensamento se desvaneceu quando correu para o apartamento no andar térreo. Seus pés tocaram algo molhado e escorregadio... E a próxima coisa que ela soube é que estava com as suas mãos e os joelhos em uma piscina, grossa cheia de sangue. Se espalhava ao seu redor como um mar rubro infernal, e vomitou. Sua bile passou em sua garganta e ela ergueu a cabeça, também sufocando o grito quando viu o que tinha diante dela.

? Oh, meu Deus! – ela murmurou, os lábios tão insensíveis a partir do choque, as palavras possivelmente estavam estranhas, esquisitas em sua boca quando ela tropeçou lentamente a seus pés. 

Ela estava só vagamente consciente da força de Quinn, das mãos ásperas firmando-a, maldizendo, irritação venenosamente raspou fora, toda a sua atenção focada sobre os cadáveres mutilados dos irmãos Ruiz.

  Quatro corpos, todos mortos, estavam sentados com as costas encostadas à parede mais distante da pequena sala de estar, suas longas pernas esticadas à sua frente no chão, enquanto suas cabeças pendiam para o lado, como bonecas de pano sem vida. Horrível, como animal cortados e com marcas de mordida descoloridas enquanto seus corpos continuavam a encolher-se e queimar, enormes pedaços ausente em alguns lugares, como se tivessem sido comidos... O que restava dos seus corpos ardiam, sem fogo e chamas, como se sua pele fosse apenas a incineração de sua própria vontade – seus olhos esquerdo abertos, bocas relaxadas enquanto o sangue continuava a alagar em torno deles em um processo lento, fluindo lento.

  Um grito histérico de repente, arrastou-se da parte mais profunda de seu corpo, e ela raspou as mãos manchadas de sangue em seu cabelo, seu corpo curvado para frente, como se a dor estivesse puxando-a para si mesma. Ela balançava a margem de um abismo escuro e profundo, que era infinito e negro como breu, um fôlego mergulhando de cabeça no poço sem fundo, sufocante. O horror era cruelmente destrutivo, como um veneno correndo em suas veias enquanto ela pensava na família unida de Javier. Os irmãos não tinham nada, apenas uns aos outros e, ainda, que tinha sido as melhores pessoas que ela alguma vez conheceu. E agora eles estavam mortos, abatidos, por causa dela.

'O Casus, ela pensou. Isto tinha que ter sido o Casus.'

Combatendo as ondas nauseantes de sofrimento, ela engoliu em um enorme suspiro de ar desesperado, e transformou a dor em fúria – assassina, avermelhada – em um enfurecedor rangido que partiu da sola dos seus pés. Isto se espalhava por seu corpo como algo feio e grosso, deslizando sob a pele, e Saige percebeu naquele momento que a paixão instintiva de seu Merrick estava sendo distorcida pelo ódio e pela raiva. Quando ela levantou a cabeça e se virou para olhar para Quinn, seus olhos estavam escondidos. Seu corpo enrijecido. Saige sabia que ele poderia sentir. Sabia que ele podia sentir o aumento de seu animal e aceitava completamente pela sua expressão estóica.

Ele estava preparado para lidar com o que ela precisava lançar para ele. Para lidar com ela.

Soltando uma visceral raiva animalesca ardente, ela fez um som gutural profundo do fundo da garganta, em seguida, correu para ele, golpeando-o com seus punhos, seus socos aterrissando fortemente sobre os ombros e peito. Ela queria que ele lutasse de volta, se lançasse até ela, justificando o seu ataque, mas ele apenas segurou-a, resistindo à violência do seu ataque, enquanto fazia de tudo para evitar que se ferisse. Isto a enraivecia... a fez querer odiá-lo... Feri-lo. Saige gritou novamente, mais alto, mais profundo, até que o som diminuiu num angustiante choro soluçante, e sua fúria violenta desmoronou em outro tremor, levantando uma tempestade de lágrimas.

Incapaz de enfrentá-lo, ela se virou, enroscando-se em volta em si mesma, e encontrando-se olhando mais uma vez aos corpos carbonizados posicionado com sádico cuidado contra a parede. Piscando, ela foi arrebatada por uma pulseira de prata familiar sobre o corpo enegrecido que se sentava na extrema direita. A pulseira foi um presente de seus pais para Javier em seu décimo sexto aniversário, que morreram um mês depois em um incêndio na fábrica onde trabalhava.

Com olhos horrorizados arregalados, de repente ela notou que os dedos de sua mão direita haviam sido mordidos em lugares diferentes, como se tomados um a um. Sua bile subiu novamente em sua garganta, enquanto as lágrimas ardentes corriam incontroláveis pelo rosto. 

? Oh Deus. O monstro os torturou? E se é assim... Por quê? Javier não sabia nada sobre o marcador. – Não que ela não houvesse confiado nele, ela só não queria colocá-lo em risco.

'Huh. Parece que estraguei tudo de novo.'

Ela pensou que estava protegendo-o, mandando-o embora quando ela tinha visto Quinn no bar, e ao invés disso, ela mandou o jovem direitamente para os braços do inimigo. 

? Como... Como puderam fazer isso? – Ela sussurrou em um coaxar irreconhecível.

Colocando uma mão forte, quente em seu ombro, Quinn aproximou-se, até que ela sentiu o calor estranhamente reconfortante em sua volta.

 ? Eu não sei o que está acontecendo, mas isso não foi Casus. Pelo menos não tudo isto.

Saige sacudiu a cabeça, tentando entender o que ele disse. 

? Eu não... Eu não entendo.

? Os corpos. Alguém está encobrindo o fato de que eles foram assassinados, e eles ainda podem estar pertos. Precisamos sair daqui.

Ela assentiu com a cabeça entorpecida, balançando um pouco como se a sala parecesse girar. Quinn, amaldiçoando algo quente e áspero sob sua respiração, a levantou, então nos braços, carregando-a para fora do apartamento. Saige escondeu o rosto no lado de sua garganta, as mãos segurando em seus ombros largos. Ela não sabia onde ele a estava levando, e ela não se importava.

? Shh – ele sussurrou enquanto ela chorava em silêncio, seus ternos lábios quentes contra sua têmpora, as cerdas da sua barba macia contra a sua pele.  ? Eu estou com você.

Ela tremia, segurando-o apertadamente, e enrolada contra seu peito como uma criança, disposta a deixá-lo sair com ela na noite. Ele poderia tê-la levado até aos confins da terra naquele momento, e ela não teria argumentado... Não teria lutado com ele. Saige respirava o calor de sua pele rica, encontrando suor e sal e almíscar masculino limpo, e não queria nada mais do que a afogar-se na mistura inebriante da selva e do sol e do homem. Como um bálsamo para a alma, ela precisava para lavar aquele cheiro horrível de morte, iria sem dúvida, assombrá-la para sempre.

? Precisamos chegar a São Vicente – disse ela, sua voz suave enquanto ele se abaixou para pegar sua mochila do chão, em seguida, partiram pela rua escura, irregular com uma passada rápida e determinada. ? Nós vamos ficar no meu quarto esta noite, depois enfrentaremos o amanhã.

? Você deve fazer a coisa certa e fugir de mim, Quinn. – Ela fechou os olhos apertando-os, querendo expulsar a lembrança horrível, mas ela estava lá, voltando para os seus olhos, queimando a caminho de seu cérebro, como uma cicatriz. ? Você estava certo, em tudo. Eles vieram atrás de mim – ela explicou em voz grossa, movendo-se de modo que pudesse olhar para ele através da umidade quente de lágrimas. ? Eles não vão parar. Se eles estavam dispostos a fazer algo parecido com isso.

Sua expressão endureceu enquanto ele mantinha os olhos na rua. 

? É por isso que estou aqui. Isso não é algo pelo qual você tenha que passar sozinha.

? Eu não vou ter o seu sangue em minhas mãos, também – ela sussurrou, as palavras destruídas pela emoção.

? Você não vai. – Ele moveu o seu braço, apertado-a mais contra o peito. ? Eu sou um garoto grande, Saige. Eu posso cuidar de mim. Agora a única coisa com que temos que nos preocupar é sobre o que está acontecendo no Colorado.

Ela engoliu em seco, sabendo que ela teria que fazer, logo que tivesse força, e descansou a cabeça em seu ombro. Foi estranho, como que um íntimo abraço sentia que era o lugar mais natural do mundo para ela estar. 

? O quanto estamos longe do hotel?

? Cerca de meia hora. Eu estou indo encontrar um táxi – ele murmurou, e ela balançou a cabeça, lutando para conseguir controlar as suas lágrimas. 

Ela estava despedaçada brutalmente e sangrando por dentro com o coração partido... Pelo horror que tinha visto, e não importa o quanto tentasse, não conseguia desligar-se. Não era possível desligar-se. 

  E, no entanto, naquele momento, Saige sentia-se totalmente segura, protegida por nada mais do que um estranho forte abraço possessivo. 



 

Capítulo Seis
  São Vicente 


  QUINN PODERIA ouvi-la chorando no chuveiro. Passeando de um lado a outro pelo batente do quarto na cobertura do hotel rubro-dourado, ele se esforçou para afastar a tensão de seus músculos, subindo como um parasita insidioso na parte de trás de seus ombros e pescoço. Apesar do zumbido monótono do ar condicionado situado embaixo da janela solitária, sua pele estava escorregadia de suor, queimando com o calor, os músculos rígidos e firmemente endurecidos com a necessidade de agir, mas não havia nada que pudesse fazer. Não havia forma de fazer as coisas certas. Em vez disso, ele estava preso nesta suíte infernal, ouvindo Saige cair em pedaços... Incapaz de fazer uma coisa maldita para pará-la. 

'Cristo, se apenas se aliviasse com as lágrimas', ele resmungou em silêncio, saboreando o pensamento de como seria bom sentir suas mãos sobre o desgraçado responsável pelo assassinato dos irmãos Ruiz. Saige estava destruída pela perda de seu amigo, e embora tentasse absorvê-lo e minimizá-lo, ele não poderia conseguir tudo isto junto. Ele estava bastante preocupado, bastante próximo de fazer qualquer coisa, mas passeava pelo tapete barato, desejando que pudesse simplesmente desfazer as últimas horas e começar as coisas. 

Deus, se ele pudesse desfazer os últimos cinco anos de sua vida e voltasse no tempo em que suas entranhas não se retorcessem sempre que uma mulher atraia seu interesse.

Não que ela fosse como qualquer mulher que você já conheceu. 

Quinn fez uma pausa em seu passeio e esfregou o ângulo de pêlos ásperos de sua mandíbula, vociferando contra a verdade simples da relação. Murmurando uma maldição nítida sob sua respiração, ele lançou um olhar sombrio para a porta do banheiro, o som do choro dela socando-o como um golpe físico. Depois dos colapsos emocionais de Janelle, sua ex-noiva que tinha frequentemente sofrido diante do fim de seu relacionamento, Quinn tinha pensado que ele estava imune ao som de lágrimas de uma mulher, mas ele estava errado. Ouvindo a tristeza de Saige era como se mil lâminas de barbear cortassem seu íntimo, cada uma cortando-lhe um pouco mais profundo, arrancando uma camada extra de seu controle já retalhado. 

  Girando o pé direito, ele continuou olhando para porta do banheiro enquanto ele caminhava passando pela cama grande com a sua colcha de cetim ouro ofuscante, imaginando quanto tempo ela iria ficar lá. Duvidou que este local tivesse um suprimento infinito de água quente, e ele não a queria em pé lá congelamento seu traseiro. 

Depois que eles foram para o hotel, Quinn teve que imediatamente arrastá-la para o banheiro, mandando-a para o chuveiro, e pela primeira vez, a mulher obstinada não tinha discutido. Enquanto ela se se encostava à parede do banheiro com azulejos, mal olhando para o chão de linóleo, ele tinha começado a molhá-la, esperando que isto ajudasse a acalmá-la para que ela pudesse lavar as manchas escuras de sangue seco que havia em suas mãos e nos joelhos. Ela assentiu com a cabeça quando ele perguntou se estaria bem sozinha, e assim ele fechou a porta atrás dele, esperando até que ouviu o farfalhar das cortinas de plástico antes de ir embora. 

Uma vez que ele conectou o ultimo dispositivo tecnológico de Kellan do tamanho de uma moeda, – detectores ultra-sensíveis de movimentos na porta e na janela – Quinn agarrou seu telefone celular da mochila que deixou na sala e introduzido um breve texto que alimentava o sistema do computador principal de volta para Ravenswing. Como ele explicou antes para Saige durante sua caminhada pela selva, os guardiões nunca utilizavam linhas telefônicas de alta segurança, em situações como essas. Em vez disso, ele codificou uma breve linha de texto, deixando seus amigos saberem que tinha Saige e estaria voltando com ela pela manhã. Ele não mencionou Javier ou os irmãos do rapaz, não queria preocupá-los até que tivesse uma melhor compreensão de com o que estavam lidando. A matança parecia ser o trabalho de um Casus... E ainda, a carbonização dos corpos era um procedimento operacional padrão para o Exército do Coletivo, o que não fazia nenhum maldito sentido.

  Soldados dos Coletivos empregavam um agente bioquímico de nível militar para destruir as provas da sua matança quando tinham degolado um vampiro ou eviscerados um licantropo ?, mas Quinn, nunca tinha visto comedores de carne corrosivos utilizados em cadáveres humanos –. Em raras ocasiões, quando os soldados fanáticos foram os primeiros a descobrir que as vítimas que tinham sido mortos por uma espécie não-humana, ele sempre soube que ao morto era dado um secreto sepultamento cerimonial. 

Então o que aconteceu naquele apartamento? O Coletivo encontrou as vítimas assassinadas, e depois foram incapazes de remover os corpos para o enterro, usando os corrosivos como um último recurso para disfarçar a forma como os jovens haviam morrido? Ou eles tinham de alguma forma arranjado os assassinatos para dar aparência de matança por Casus, e depois os carbonizados? E se assim fosse, qual diabos era o motivo? 

Virando-se para caminhar pela sala, Quinn afastou essa última idéia com um frustrado dar de ombros, sabendo muito bem que era um cenário improvável. O Coletivo não tinha escrúpulos em massacrar aqueles que consideravam impuros – mas eles não matariam seres humanos. Aquele não era o modo como eles agiam, não importa o quão mentalmente cansados estivessem. A pureza da humanidade foi o que juraram proteger. Não fazia sentido eles matarem uma família de seres humanos – e ainda, seu íntimo lhe dizia que os militantes fanáticos de alguma forma estavam envolvidos com os assassinatos. 

Lançando outro olhar estreito em direção a porta do banheiro, Quinn sabia que este último acontecimento significava mais problemas para ele e sua carga. Não importava como interpretasse, havia muitos jogadores psicopatas neste pequeno pesadelo para ele ter nada além de um final arrepiante. E isto era, em todos os sentidos da palavra, um pesadelo. Ele estava a milhares de quilômetros da segurança do Complexo, tinha uma mulher emocionalmente perturbada em suas mãos, assim como um ataque sério inoportuno de luxúria, não só com um Casus em sua fuga, mas também o que poderia muito bem revelar-se como recursos ilimitados do Exército do Coletivo. 

Inferno, neste momento, dizer que ele estava alterado era apenas amenizar as coisas.

'E se você fosse esperto, você deveria ter dito a Kierland onde enfiar isto quando ele lhe deu essa atribuição. '

É verdade, mas seu íntimo apertou-se nesse pensamento. Aiden Shrader teria sido mais do que feliz em vir se Kierland houvesse permitido isto, e Quinn sabia muito bem como as coisas terminariam se seu amigo estivesse ali em seu lugar.  O convencido bastardo estaria fundido no chuveiro com ela, oferecendo a sua própria marca de conforto. 

O Guardião irreverente teria lançado um olhar para Saige Buchanan, e ele teria o que queria. Isto não era um palpite parcial de Quinn – isto era uma certeza. Ela era muito vibrante, suave e macia para não tentar um homem. 

E, no entanto, tão delicada e feminina, sua força era uma parte inata da sua, fazendo parecer completamente em casa ali na luxuriante, selvagem instintiva selva. Era como se ela fosse algo primitivo, ser simples que se mantinha escondida – poço secreto de energia que era. Quinn tinha ouvido falar que as mulheres Merrick eram criaturas fascinantes, e após se reunir a Saige, ele não podia evitar concordar.

'Encare, homem! Você está pronto para se deitar e deixá-la limpar o chão com você.'

Esfregando as mãos atrás do cabelo curto, ele soltou uma respiração áspera, desejando que ele tivesse idéia do que estava fazendo. Nada tinha acontecido da maneira como havia planejado, e ele com certeza não esperava encontrar-se afetado por ela. Era uma loucura, considerando que ela tinha sido nada mais que uma completa dor na bunda. 

Amaldiçoando o sinal, ele passou as mãos nas órbitas, mas não importa o quanto ele tentasse, ele não poderia se livrar das imagens constantemente girando lentamente tirando-o de sua sanidade. Eles oscilavam mais e mais, empurrando-o... Atando suas entranhas... Moendo-o até que ele ficasse estúpido. 

Saige sentada no bar, atraindo seus olhos quando levantou uma delicada mão e empurrou o longo cabelo ondulado atrás da orelha. 

Saige correndo pela floresta, parecendo selvagem e primitiva, a coisa mais deslumbrante que seus olhos já tinham visto. 

Saige chorando em seus braços, tão quente, feminina e suave, agarrando-se a ele como se nunca fosse deixá-lo partir.

'E onde exatamente você está indo com tudo isso?' 

Cristo, ele não tinha idéia do que estava acontecendo na sua cabeça. Tanto a umidade estava mexendo com sua mente, ou havia algo muito mais perigoso no trabalho. Quinn nem sequer a conhecia, mas ele a queria, em todos os sentidos da palavra, e isto o apavorava. Ele tinha estado tão certo que congelara esta fome, com curiosa parte de sua alma após Janelle, mas agora ele não podia evitar, mas perguntava-se se tinha sido errado. 

Se isto fosse apenas sexo, ele não teria gostado, mas poderia ter lidado com isto. Ele sempre tivera um impulso sexual saudável, mas a sua espécie geralmente tinha. Você não poderia ter uma natureza animal agressiva sem compartilhar seus desejos mais vorazes. Ainda assim, Quinn, não era um homem para ser governado por suas necessidades físicas. Ele tinha ido por esse caminho uma vez antes, e ele ainda carregava as cicatrizes como um lembrete cruel da sua estupidez. 

Sim, ele queria levar Saige sob seu corpo, perdendo-se em um prazer denso, destrutivo que ele sabia que seria diferente de tudo que já tinha experimentado, mas havia mais do que isso. E era muito mais do que tinha lhe torcido por dentro. 

Pobre Quinn. Talvez Saige estivesse certa, e você realmente não tinha cérebro. 

  A baixa risada autodepreciativa ressoou saindo de sua garganta, e ele apenas virou-se para o ritmado caminho de volta através do hediondo tapete carmesim, com as mãos entrelaçadas atrás da cabeça, quando uma batida monótona veio do banheiro.  Franzido o cenho, ele abaixou os braços enquanto caminhava até a porta, pressionando sua orelha contra a madeira.

? Saige? 

Quando ela não respondeu, ele chamou o seu nome novamente, mas ainda não houve resposta. 

? Ou você deixe-me saber que você está bem – ele rosnou, desejo e frustração aumentando suas palavras, ? ou eu vou entrar.

Novamente, Quinn esperou, sem ouvir nada, apenas o ímpeto da água correndo através das tubulações. Cerrando os dentes, ele torceu a maçaneta, uma explosão de calor úmido bateu-lhe na cara quando ele abriu a porta. Uma espessa neblina cobria o espelho sobre a pia, escurecendo seu reflexo, a cortina de ouro e vermelho do chuveiro continuava fechada.

? Saige? Venha conversar comigo, querida.

Ele esperou mais uns segundos, e então, sabendo que ele viveria para se arrepender, Quinn finalmente agarrou a borda da cortina. 

Com uma respiração profunda, ele puxou de volta. 

E lá estava ela.
 
Saige sentava-se preguiçosamente em um canto da banheira, braços delgados acondicionados em torno de seus joelhos dobrados, com o rosto virado para a parede, o perfil escurecido por mechas de cabelos molhado que se espalhavam sobre seus pálidos ombros como fios de seda bordô. Ela nem sequer vacilou ao som de sua voz quando ele disse seu nome, seu peito subindo e descendo, um padrão silencioso de sua respiração presa. 

  Abaixando-se, Quinn agachou-se ao lado da banheira, agradecido por que ainda usava calcinha e uma regata branca e fina. Ele sabia o quanto lhe custaria tocá-la, mas não haveria nenhum alívio para isto. Ele não podia simplesmente deixá-la ali, não importa o quanto quisesse. 

Sim, certo, que o familiar pungente corte em sua cabeça, e ele rangeu o queixo, dolorosamente ciente de que afastar-se dela era a última coisa no mundo que ele queria fazer. 

'Bem-vindo ao inferno, Quinn. Poderia muito bem fazer o melhor para se sentir confortável. Você não vai partir tão cedo.' 

? Saige, olhe para mim.

Ela engasgou com o leve toque da mão no braço e, finalmente, levantou o rosto, virando-se para ele com os olhos brilhantes encharcados de lágrimas. A palidez de sua pele só acentuava o azul tempestuoso profundo de seus olhos, as manchas fracas abaixo lhe dando um olhar vazio frágil que fizeram seu peito sentir como se tivesse sido esmagado com um martelo. 

  ? Vamos lá, – ele se forçou a dizer entre os dentes fechados, desgostoso com ele por ser tomado pela luxúria, quando ela estava num estado tão vulnerável. Ele não tinha nenhum direito de ficar perto dela e, no entanto, ele parecia destinado a desempenhar o papel de cavaleiro branco. 

Desligando a água, ele estendeu a mão para a toalha que pendia da grade a sua direita, e lembrou a si mesmo de ser gentil, mesmo que isto o matasse.

? Vamos tirar você daqui – ele murmurou, e, quando ela se virou para ele, erguendo os braços como uma criança à espera de ser agarrada e beijada completamente, ele usou tudo o que tinha para manter sua posição. ? Apenas relaxe e tente se controlar. Não há motivo para pânico, porque você sabe que é melhor do que deixar baixar sua guarda. 

Era verdade. Ele sabia o que era melhor. 

Mas quando ela chegou até ele, Quinn perguntou se esta mulher não viria a ser a morte dele, afinal.

SAIGE ESFORÇOU-SE PARA focar na dureza impossivelmente atraente do rosto que apareceu diante dela, sua visão embaçada pela combinação de tremores de água tépida e das lágrimas quentes. Em um canto distante de sua mente, ela sabia que deveria ter ficado mortificada com a situação, mas não conseguia encontrar a energia para se importar por estar nua, pois a roupa encharcada fazia muito pouco para esconder o que estava por baixo. 

Não que isso importasse. Quinn era obviamente muito experiente para olhar seu corpo seminu, como um adolescente no meio da luxúria. E ainda que Saige soubesse que ele não estava afetado, ela podia sentir a sua consciência sexual no ar quente e espesso como se fosse um espírito vivo que crescia entre eles, liso e pesado contra a sua pele. 

Mas não tinha nenhuma chance no inferno, ele reconhecia isto, ela pensou enquanto ele cuidadosamente puxou-lhe os pés, levantando-a da banheira antes de enrolar uma toalha macia ao redor de seu corpo. Olhando para cima em seu rosto escuro, ela piscou quando percebeu que ele prendia o lábio inferior. Entre sua áspera barba por fazer, a boca era uma dura linha sensual, no canto do lábio inferior inchado e machucado. 

? Eu fiz isso, foi? – ela perguntou em uma rouquidão áspera, lembrando vagamente que o socara no apartamento de Javier. O sangue ainda manchava sua têmpora, bem como, onde ela batera-lhe com a garrafa de cerveja no bar. 

  ? Não se preocupe com isto – resmungou, encolhendo-se. ? Eu fico pior do que isso lutando com Kierland atrás do complexo.

? Não merece isto, me desculpe. – As lágrimas na garganta deturparam a rouca confissão, mas ela lutou para retê-las, dando o melhor de si para não desmoronar em cima dele novamente. Depois de tudo o que ele tinha feito, o cara não merecia uma umidade emocional em suas mãos. Ela poderia poupar o resto de seu descontrole para mais tarde, quando ela estivesse sozinha.

? Nada para se arrepender – ele murmurou, num tom de alguma forma firme e suave ao mesmo tempo, e não podia evitar, mas lembrava-a da maneira heróica na qual ele a levara para fora da cena aterrorizante, embalando-a em seus braços. Havia uma pequena parte carente dela que queria rastejar de volta para dentro daqueles braços poderosos e encostar-se contra o peito dele, mas sabia que era demasiado patético. Sem mencionar completamente insano.

'Junto, Saige. Você Tem. Tem que. Ficar.  Estar. Juntos. '

Havia ainda tanta raiva dentro dela, misturada com a dor insuportável, como uma resfriada fúria atroz, que fez doer até para respirar... Para se mover. Mas, ao mesmo tempo, havia um calor estranho e desconhecido. Um lento, provocativo calor estendendo-se que começava a pulso profundo dentro dela, e ela se endureceu no seu aperto, tonta, a garganta seca, angustiada pelo seu acesso de choro. 

 Afastando o olhar dele, Saige molhou os lábios, querendo saber o que estava acontecendo com ela. Consciente da inundação sobre ela como uma fria calmante neblina, lembrando-lhe de uma abundante chuva brasileira, enquanto ela queimava sob pele irritada e quente. Ela precisava se movimentar, fugir, seus sentidos em alerta máximo, como se estivesse rodeada de perigo. 

E de certa forma, ela estava, vendo como estava cercada pela dura intensidade predatória de Michael Quinn. Ela não o temia fisicamente, mas ele era definitivamente perigoso para a sua paz de espírito. Seu sentimento próprio. Seu controle. 

Ela não podia negar que queria tomá-lo. E ela queria ser tomada. Deus, ela queria ser tomada. Queria perder-se... Queria esquecer... Para lavar o horror... O terror. Como se perseguisse o conforto ilusório de um sonho ou a proteção como a perfeição de uma nuvem cumulus no verão, Saige queria agarrar-se na aura impressionante de força que pulsava de seu alto e duro corpo e tombar nele. Queria respirar esse estranho poderoso no seu organismo, saturá-lo, tirar dele, gananciosa e desesperada por cada parte dele que ela pudesse receber. 

Ela queria tanto, tanto, que superava o senso comum. 

E a próxima coisa que sabia, era que estava perdida. 

Sem qualquer direção consciente de seu cérebro, Saige repentinamente pressionou seu corpo contra o dele, o rosto enterrado no lado de sua garganta, e com uma espessa onda voraz, fome insaciável, ela respirava o calor viciante de sua pele. Ela gemeu quando encontrou suor e sal e o rico, saboroso masculino, odor animal, que ela encontrou na floresta, o sol e o homem. A mistura excitante era tão inebriante quanto provocante, causando sua fome. Ela obrigou-se a agir com cuidado até a margem do perigo e mergulhar seus dedos dos pés na alteração violenta da emoção agitando-se dentro dela, golpeando sua mente, seus órgãos, fazendo-a sentir-se tonta e ferida. 

Ele tremia contra ela, seus músculos bloqueados duro e apertados, como se fosse afastá-la, mas ele não o fez. Em vez disso, Quinn lentamente pegou seu rosto em suas quentes palmas ásperas de trabalho e inclinou-o para trás, olhando-a nos olhos. Suas pupilas estavam dilatadas, o brilhante, reluzente preto engolia tudo, mas sua íris, as narinas em combustão enquanto ele respirava-a. Um rosnado baixo retumbou em seu peito, e seus lábios entreabertos numa simples fração, seu hálito quente, doce e delicioso, ampliando sua necessidade até uma intensidade insuportável. Ele tinha a aparência de um homem preso entre o céu e o inferno, suspenso lá no precipício doloroso, e, em seguida, com um tenso, bloqueado som de entrega irritado, ele finalmente baixou a cabeça. Uma mão forte e poderosa se envolveu no emaranhado úmido de seu cabelo, segurando-a ainda, enquanto a outra se curvava de encontro ao lado da sua garganta, seu polegar pressionando provocativo contra o pulso martelaste quando o calor de sua boca roçou a dela. Foi um toque leve, fugaz de lábios, como se ele estivesse com medo de tomar e alarmá-la, mas ela foi longe demais para se precaver. 

  Com um gemido profundo na garganta, Saige foi para um selvagem beijo de boca aberta, e quase morreu nesta quente doçura perfeita de seu sabor. Choramingando, ela estendeu-se nas pontas dos pés, querendo mais. Precisando disto. Rastejando para fora de sua pele até ele enquanto a toalha escorregou de seus ombros até o chão. Em toda a sua vida, ela nunca conheceu nada como está urgência e exigência, como se a fome por ele fosse uma coisa respirando viva derramando através de seu corpo, fazendo-a desejar... Tornando-a desesperada. E quando Quinn tomou o controle, beijando-a de volta com uma sombria, quase selvagem maestria, tudo em que conseguiu pensar era que precisava deste momento, desse beijo. Deus, como precisava. Isto era brilhante e brilhava puro, trazendo um ato de ternura e facilidade para cruel, ferida dolorida que havia cortado em sua alma. 

  Essa noite tinha sido um pesadelo, e agora ela se sentia como uma sobrevivente do naufrágio sendo puxada da gelada, açoitada tormenta do mar para ser entregue em segurança, envolto em ondas de combustão sem chamas, calor luxuoso. A sensação de bem-aventurança estava manchada e suave, como bolha de mel quente caindo, e ela queria se contorcer nisto. O calor provocante invadiu cada célula, cada fragmento de sua mente, até que só queria afundar-se, cavando mais fundo, e ficar lá para sempre. 

  Ela poderia se esconder ali, perdida naquele paraíso exuberante, abundante, e nunca ter que encarar a realidade novamente.

'Agarre isto, Saige. Faça o que fizer, não o deixe ir.'

 Fazendo um som áspero, que escorregou deliciosamente sexy em sua boca, Quinn encurvou as suas mãos grandes abaixo dos lados de sua coluna, sobre a curva de seu traseiro, as pontas dos dedos longos perversos pressionando intimamente entre suas coxas apertadas, golpeando a umidade de algodão da calcinha ela. Respirando uma maldição, áspero e gutural contra sua boca, ele escorregou um dedo abaixo da faixa de elástico, tocando o gritante calor, da sensível abertura de seu sexo, onde estava derretendo, se desfazendo por ele. 

 Saige gritou, tentando rastejar-se até seu corpo. 

? Mais. Oh Deus. Mais – ela gemeu, esfregando-se suavemente no investigativo dedo, querendo fazer coisas que não tinha querido negociar com um homem que ela mal conhecia.
 
Mas Michael Quinn não parecia um estranho. Sentia-se como o único lugar no mundo onde ela pertencia. Saige sabia que era perigoso, insano esse tipo de pensamento que seria sem dúvida no mundo dela, um grave problema, mas, naquele momento, ela simplesmente não dava a mínima. 

? Cristo – soprou no seu ouvido, duro o som masculino afiado com uma selvagem necessidade visceral que lhe disse o quanto ele queria a ela, até que suas palavras trouxeram de volta, um frio e cruel sentimento da realidade. ? Nós não podemos fazer isso, querida. Não assim.

Piscando, ela se esforçou para encontrar sentido nas palavras, aterrorizada com a tensão terrível que podia sentir tomando conta de seu corpo. Ele estremeceu contra ela, acariciando ternamente a entrada apertada, encharcado de seu sexo, então, cuidadosamente puxou a mão por entre suas pernas. Sua respiração soava como se ele estivesse sentindo dor enquanto colocou as mãos sobre seus ombros. 

  Com o seu coração afundando, Saige sacudiu a cabeça, enquanto ele pressionou as costas, longe de seu calor... De sua dureza. 

? Quinn? – Ela murmurou, incapaz de manter o lábio inferior sem tremer. 

? Não. – Ela se encolheu ante a dureza de uma única palavra, sua voz um pouco mais do que um áspero som, enquanto ele segurava-a num olhar duro e intenso. ? Não. Gosto. Disto. 

? Sim – ela argumentou, levantando a voz. ? Agora!

Antes que ela perdesse esse sentimento. Antes que ela perdesse a capacidade de sentir alguma coisa. 

Mas seus dedos apertaram seus ombros quando ela tentou pressionar mais, retendo-a. 

? Tocar em você agora me coloca na primeira classe de um território idiota, não importa o quanto eu queira. Eu não posso fazer isso.

Ela piscou mais rapidamente contra a corrente quente de lágrimas crescente, mentalmente deslizando de volta ao quarto horrível, em Coroza, enlouquecida pela perda insensível de seus amigos. 

? Oh Deus – ela chorou, e podia sentir a dor e o medo doentio ultrapassando-a, esmagando-a em algo pequeno e miserável. ? Por favor, Quinn. Leve isto. Basta mandá-lo embora.

Ele rangeu seu maxilar endurecendo-o, que ela se surpreendeu por seus dentes não quebrem. 

? Droga, Saige. Você não está pensando bem agora, e eu

? Você me queria no bar – ela o interrompeu, suas palavras emocionadas, surgindo de algum desespero, desconhecido inexplorado profundo. ? Eu sei o que você pensava. Você queria entrar em mim, você ainda queria meus dentes em sua garganta. Queria que me alimentasse de você.

Seus olhos escureceram com desconfiança para as palavras ditas, mas ele apenas disse:

? Eu quero um monte de coisas que eu não posso ter.

? Olhe ao redor, Quinn. Não há ninguém aqui dizendo que você não pode ter-me – ela sussurrou, em silêncio, pedindo-lhe apenas dar-lhe o que ela precisava. 

? Pare com isso Saige.

? Deus, que inferno.

? Eu estou tentando não ser um bastardo aqui – resmungou, soltando as mãos para os lados enquanto ele deu um passo para trás, enquanto algo doloroso e triste cintilou nos olhos escuros e devastadores. ? Eu só estou tentando fazer a coisa certa.

? Inacreditável! – ela disse com uma risada baixa, o som seco em sua garganta, sufocando-a. Ou talvez isto fossem as lágrimas. ? Uma vez que tento me perder em algum sexo casual, e o cara que apareceu tem que ser um maldito santo. Se você não estava interessado, tudo o que tinha que fazer era dizer isso.

? Jesus, se você soubesse. – Este duro olhar ardente queimava abrasador trilhando dos seus pés descalços até o comprimento de seu corpo trêmulo, em seguida, parou na altura do peito, onde os mamilos pressionavam atrevidos e escuros, sobre o algodão branco puído. ? Você poderia tentar um santo, mulher.

A boca dela retorceu, com um sorriso amargo. 

? Menos você não, huh?

Seu olhar voou de volta para o dela, e um som gutural rasgou em sua garganta, como um homem sendo torturado, empurrado para a margem de seu controle. 

? Esta não é uma situação simples, droga. Há muito que não sabe sobre mim.

Empurrando os cabelos molhados para trás de seu rosto, ela falou.

? Deus, Quinn. Não é como se eu estivesse pedindo-lhe para se casar comigo. Estranhos fazem sexo o tempo todo.

? Não é tão simples. – Ele cruzou os braços sobre o peito coberto pela camiseta, seu olhar intenso escondendo muito mais do que o revelava. ? E você faz mal o tipo de mulher que salta para a cama com um cara que apenas encontrou.

? Nós somos estranhos, lembra? – Agarrou, a toalha e segurando-a contra o peito, apertando-a como uma tábua de salvação. ? O que faz você pensar que sabe que tipo de mulher eu sou?

As linhas em volta da boca se aprofundaram, a neutralidade no seu rosto e na mandíbula dava-lhe uma rigidez escura e perigosa. 

? Eu posso dizer, só de olhar para você que não é do tipo que dorme com qualquer um por aí.

Ele poderia estar certo, mas suas palavras ainda a chateavam. 

? Ótimo. O que seja. Neste momento, eu realmente não dou à mínima – ela murmurou, roçando-lhe quando saiu do banheiro. Ela encontrou sua mochila apoiada no pé da cama, e rapidamente puxou uma camiseta para dormir, bem como calcinha seca. 

  Quando ela se voltou, ela quase colidiu com o peito largo de Quinn, que estava tão perto. 

? Eu preciso me trocar – disse ela em voz baixa e firme, olhando para largura forte e calorosa de sua garganta.

? Se serve de consolo – ele praticamente rosnou ? Eu daria qualquer coisa se fosse qualquer outra noite.

? Sim, eu também.

Queria agarrar-se na segurança de sua raiva, mas sem a distração do desejo, a dor era muito forte, sufocante e intensa, roubando o ar de seus pulmões. Ela gemia no ataque, um som duro, animal vindo do fundo dela, e a próxima coisa que ela percebeu foi Quinn puxando-a para seus braços novamente, enfiando a cabeça na curva de seu ombro. Ela apertou os olhos fechando-os, mas as lágrimas continuavam vazando, salgadas e quentes, desagradáveis trilhas através de seu rosto.

 Quando ela esfregou seu rosto contra o peito coberto de algodão, quase sentindo como se fosse uma criança com seu pai, que procura conforto e proteção. E ainda assim, seus sentimentos por ele não eram nada platônico. 

? Acho que vou te odiar por isso – disse ela com voz baixa, a humilhação adicionando uma nova camada de miséria à noite. 

Seu peito tremia com uma explosão silenciosa, do riso amargo, o coração batendo forte e poderoso sob seu ouvido quando ele acariciou uma mão quente pelas costas. 

? Você não poderia me odiar tanto quanto eu me odeio agora.

Saige começou a rir de sua confissão seca, em seguida, lembrou-se de imediato, Javier e sufocou o som alegre, sentindo-se como uma traidora. 

? Está tudo bem ? disse baixinho. 

Pensando que era estranho, como facilmente ele parecia ler sua mente, ela tirou de seu domínio, dizendo: ? Não esta noite, não esta.

? Você não deveria lutar contra isso – disse a ela. ? Minha mãe sempre dizia que o riso é o caminho para a alma lidar com a dor. Os dois opostos que de alguma forma equilibrada o outro.

? Como o Merrick e Casus – ela sussurrou, olhando para ele. ? Diabos e anjos. 
 
Seus olhos sexy se enrugaram nos cantos, momentaneamente amolecendo sua expressão.
? Não há dúvida, o Casus são alguns filhos demoníacos das putas, mas depois da reunião dos teus irmãos, eu não estou tão certo de que você pode chamar de angelical o Merrick. 

Saige balançou com uma borbulha de riso silencioso, mas só sangrou em algo mais nítido... Mais doloroso. 

? Eu subestimei o Casus. – Sua voz falhou, e ela sentiu uma nova onda de lágrimas com os dedos. Parecia uma eternidade desde que ela havia chorado, e agora não conseguia parar. Não era possível conseguir o controle de sua estonteante, emoções arrasadoras. ? Eu deveria ter conhecido melhor até agora, depois de tudo que eu aprendi. Eu pensei que tinha tudo planejado, porque entendi o que eles queriam, como eles funcionavam, mas eu não sei de nada. Eu cometi um erro estúpido, ficar aqui na cidade, e os jovens pagaram por ele.

? Você não pode culpar a si mesma.

Ela estremeceu, envolvendo os braços em torno da sua cintura, como se ela pudesse de alguma forma manter-se junta quando tudo parecia estar despedaçando. 

? A quem mais devo culpar?

? Os bastardos, que são responsáveis – ele murmurou seu passo inquieto enquanto se afastava ? Você não matou aqueles jovens homens.

Ela ergueu o queixo, indisposta deixar sua culpa ir tão facilmente. 

? Não, mas eles morreram por minha causa.

? Cristo – ele suspirou, seu tom de voz grosso com a frustração enquanto enfiou as mãos atrás dos seus cabelos. ? Se Kierland estivesse aqui, eu sei que ele seria capaz de dizer todo um inferno muito melhor do que eu. Eu não sou – ele interrompeu, parando para olhar pela janela a paisagem deslumbrante da cidade, antes hesitante, dizendo: ? Eu não sou sempre bom com palavras, mas sei o que é querer assumir a responsabilidade por coisas que você não pode controlar. – Ele virou a cabeça, enviando-lhe um olhar escuro, assombrado em toda a sala. ? Você tem que encontrar uma maneira de deixa isto partir.

? Você? – Perguntou ela positivo que ele carregasse seus próprios demônios.  ? Encontrou uma maneira de deixá-lo ir?

Ele voltou para a janela, em silêncio e imóvel, mas ela podia sentir a frustração dele, tão quente, uma onda primitiva de tensão cada vez mais forte, soprando contra ela. Ele parecia perigoso, ainda mais violento, mas ela não conseguia manter os olhos afastados dele – nem poderia parar de comê-lo como uma decadente festa visual. Ele estava tão intenso e bonito com as luzes brilhantes da cidade cintilando em seu perfil cinzelado, um guerreiro, invencível absorvente que não temia nada e, no entanto, havia algo de solitário e fragmentado sobre o Guardião misterioso. Algo que a chamava, que a fazia querer ser a única a andar com ele e oferecer conforto. Para ficar dentro de sua cabeça e aprender seus segredos. 

E isso poderia ser a sua pista para o início do inferno. 

Ela não tinha nenhum interesse em ficar perto dele. Depois do que tinha acontecido com Javier, ela não tinha nenhum interesse em chegar perto de ninguém. A melhor coisa que podia fazer era manter distância, e deixar Michael Quinn em paz. 

  Agarrando a camisa de dormir no peito, ela disse calmamente:

? Eu vou apenas me trocar agora – e se dirigiu até o banheiro. Fechando a porta atrás dela, Saige fez o melhor para manter sua mente em branco quando ela rapidamente pendurou a roupa molhada no chuveiro e vestiu as secas. Quando ela abriu a porta novamente, encontrou Quinn exatamente onde ela o deixou. 

? Você está com fome? – Ele perguntou, afastando-se da janela.

Pressionando uma mão em sua barriga, ela balançou a cabeça, a idéia de comer a fez se sentir subitamente nauseada. 

? Eu prefiro ir para a cama. – Ele acenou lentamente, obviamente fazendo o melhor para manter os olhos no rosto dela, e não em seu corpo, as pernas nuas sob a bainha de sua camiseta. Ela respirou fundo, pronta para lhe dizer boa-noite, quando Saige de repente ouviu-se dizendo: ? Deita comigo?
 
 As palavras saíram dela suave, trêmulas e, embora parecesse entre eles como o impacto de uma granada, rangendo e insuportavelmente , atordoando a terra. 

Quinn pigarreou, olhando-a como se tivesse acabado de lhe pediu para mergulhar em águas infestadas de tubarões.

? Depois do que aconteceu no banheiro – ele murmurou, sua voz grave e firme com moderação ? Eu não acho que seria uma boa idéia.

? Por favor – ela sussurrou, odiando porque estava pedindo novamente. 

Ela não tinha planejado pedir-lhe algo tão íntimo, mas a idéia do que o dia seguinte traria, a fez querer ficar perto dele enquanto podia. Fez querer estar no círculo de seus braços fortes, mesmo que eles não fizessem nada mais do que dormir. 

? Eu prometo que vou manter as minhas mãos quietas. Nada de gracinhas. Eu apenas – ela engoliu, expulsando uma confissão atípica ? Eu realmente prefiro sentir-me segura agora, Quinn.

  Ela se perguntou se ele tinha alguma idéia do quanto fora de si ela estava, neste momento. Se ele pudesse ver o quão difícil era para admitir que precisava de algo, qualquer coisa, de outra pessoa. Mesmo pedir, a Jamison para ajudá-la a tirar o marcador do Brasil tinha sido mais fácil do que isso, mas depois aquilo foi... Foi algo maior que ela.  Bem maior. A segurança do maldito mundo. Mas isso... isso foi por nada, mas que ela necessitava. Que ela queria. 

 Seus pulmões ardiam enquanto esperava pela sua resposta, seu coração batia tão rápido, que lembrava um pássaro se preparando para tomar o vôo de seu peito. 

 Depois do que pareceu um longo silêncio, Quinn finalmente levantou uma das mãos, esfregando-a contra a angulosa de sombra de sua mandíbula. 

? Nenhuma gracinha, huh? Acho que isso é deveria ser minha fala – ele murmurou secamente, e de repente, um imenso assombroso alívio a fez sentir-se quase tonta. 

 Ela não pôde ler no escuro, sombreado olhar dele, mas havia uma impiedosa, quase imperceptível curva no canto da boca enquanto ele apoiava seu quadril contra o parapeito da janela e se curvou para tirar suas botas. Preocupada de que ela pudesse se atirar nele, assustando-o, Saige virou quando ele chegou por trás de sua cabeça, agarrando um pedaço de sua camiseta. Afundando os dentes em seu lábio inferior, ela rapidamente puxou a colcha e caiu entre o fresco, lençol. Ela girou para o lado, consciente de seu coração batendo mais rápido... Um minuto depois, Quinn apagou a luz da cabeceira e caiu de costas, a sensação trouxe um sorriso aos lábios. Ele havia tirado a camisa, mas deixou o jeans. 

 ? Você sempre dormir assim? – Perguntou ela, escavando contra ele até que grudasse completamente nela. Sua cabeça se encaixava perfeitamente sob o queixo, as costas aconchegaram-se contra a largura, quente e dura do seu peito formoso. 

 ? Basta ficar quieta e deitar – resmungou, com a voz tensa quando ela mexeu os quadris em uma posição mais confortável, esfregando-se contra ele. Uma grande mão agarrou sua cintura, o calor de seus dedos entrando através de sua camiseta enquanto segurava-a no seu lugar e se distanciando completamente sua virilha de seu traseiro. ? Amanhã vai ser um dia infernal, durma enquanto você pode.

? E o que você vai fazer? – Ela murmurou, dormir era a última coisa que sua mente queria enquanto se permitia no momento imaginar qual poderia ser a sensação de ter sua potencia nela... Se movendo dentro dela. 

  Sua respiração era quente contra seu couro cabeludo, emitindo uma deliciosa onda de sensação vertiginosa de calor em toda a pele, e então ele disse calmamente:

? Eu vou ficar aqui, segurando você. Agora, durma Saige. 

? Você tem certeza que é seguro? 

? Eu tenho alarmes na porta e janela – ele murmurou em um baixo e rouco resmungo. ? Ninguém vai entrar sem o nosso conhecimento. Eu não vou deixar ninguém te machucar.

  Estremeceu ante a escura e possessividade característica da voz dele, enquanto algo bruto e quente derramava através de seu organismo. 

 Então é isso que se sente ao ter a proteção de um homem, pensou ela, um pouco confusa... E incerta. Não que não gostasse da sensação. Como não poderia? Isto era apenas... Bem, era um daqueles sentimentos que você sabia instintivamente, que eram bons demais para ser verdade. Que fez com que isto parecesse não apenas estúpido, mas perigoso. 

 Michael Quinn, não poderia ser uma ameaça à sua segurança – mas alguma coisa assegurava a Saige que ele poderia fazer um inferno no coração de uma mulher. 

? Apenas assim você sabe, não haverá qualquer segunda chance comigo. Você só tem uma chance – alertou ele, em parte, provocando, mas bem consciente do quanto ela queria que mudasse de idéia. Mesmo assim, tão arruinada quanto estava Saige não ia pedir-lhe novamente. O orgulho dela poderia ter ficado deitado em pedaços no chão do banheiro, mas ela estava determinada a manifestar sua defesa. 

? Nós veremos isso – ele rebateu com uma irritante tranquilidade, sua voz tão baixa, que ela não poderia dizer se ele quis falar para que ouvisse as palavras ásperas ou não. 

 Apesar da estranheza da situação, a exaustão finalmente começou a arrastar-se sobre ela um vasto fluxo pesado, mas havia uma última questão que queria perguntar-lhe.

? Antes de eu ir dormir, você vai me dizer quem você é?

? Você já sabe quem eu sou – ele sussurrou no ouvido dela, e ela quase pôde ouvir seu sorriso torto com aquela voz profunda e bela. ? Cristo, eu estou quase começando a pensar que sabe mais sobre Os Guardiões do que eu sei.

 Cutucando-o com o cotovelo, ela disse:

? Você sabe que não é o que eu quis dizer.

  Ele suspirou, e isto não foi até que ela finalmente fechou os olhos, decidindo que ele não ia responder, que ele disse calmamente:

? As asas vieram de meu pai, que era um Raptor. Sabe alguma coisa sobre eles?

? Eu ouvi boatos – ela disse suavemente.

? Uma palavra de conselho?

? O quê? – Perguntou ela, querendo saber mesmo se a metade do que tinha ouvido falar sobre o implacável, às vezes terríveis mutantes era verdade. 

 Quinn jogou seu braço sobre sua cintura, mantendo-a no lugar, então chegou mais perto, até que ela não tivesse dúvida de que ele estava tão excitado quanto ela. Um membro duro queimava contra a sua parte inferior, através de seu jeans, e ela prendeu a respiração... Esperando. Mas ele não sussurrou intenções eróticas em seu ouvido. Ele não sussurrava nada. 

Em vez disso, tudo o que ele lhe deu foi uma advertência simples, áspera. 

? Não acredite em tudo que você ouve. – Seu aperto, apenas o suficiente para ela tomar conhecimento enquanto acrescentou: ? Porque na maioria das vezes, não é nada mais que uma mentira.

? Eu sei – ela murmurou, escavando mais fundo no travesseiro. 

 E enquanto caía no sono, Saige não pôde deixar de se perguntar se suas palavras eram autodirigida. Teria ele mentido para ela? Ou ele sabia, de alguma forma, que ela mentira para ele? 


 
















Capítulo Sete 
  Sexta de manhã 


COM O BRILHANTE RESPLENDOR do Sol da América do Sul despejando através das cortinas inclinadas, Saige esforçou-se para abrir os olhos. Ela estava sozinha na cama king-size, mas ela não tinha ficado assim por muito tempo. Ela ainda podia sentir o calor do corpo de Quinn a sua volta, como uma lembrança tátil que tinham estabelecido sobre sua pele, sem vontade de desaparecer. Ele manteve sua palavra e segurou-a nas longas horas de sombria tranquilidade, tornando-se a primeira vez, em vinte e seis anos, que realmente passou a noite com um homem. 

 E no momento, também, ansiosa, um caso de stress por trabalho demais. 

  Gemendo com a triste realidade da declaração, ela rolou sobre seu estômago e puxou o lençol sobre a cabeça, enquanto seu rosto ardia com o calor. Ela não teria acreditado que fosse possível, mas de alguma forma conseguiu adormecer com esse corpo grande e áspero envolvido em torno dela. Ou talvez não fosse tão surpreendente, considerando que tinha sido movida por pura adrenalina o que parecia uma eternidade, sempre se preocupando se no momento seguinte poderia ser seu último. Apesar do fato de que mal conhecia o enigmático Guardião, não havia como negar que se sentira na noite passada segura de uma forma que nunca sentira antes, e seu corpo reagiu, apegando-se ao necessário descanso, enquanto ainda podia. 

— Eu percebo que foi uma semana difícil, mas você gostaria de se levantar tão cedo?

Saige balançou a cabeça com o rico e profundo som da voz de Quinn, pensando que o cara deve vir com uma etiqueta. Aviso: aproximar-se deste macho é por sua conta e risco. Possíveis perigos incluem salivação excessiva, ritmo cardíaco rápido... E em algumas ocasiões, hormônios induzidos por combustão espontânea. 

  Sua boca se contorceu ao pensamento caprichoso, que era tão diferente dela. Ela normalmente não perdia tempo sendo boba com alguns rapazes, muito de sua energia era dedicada ao trabalho e a busca de respostas sobre o Merrick – mas ela entendia por que estava acontecendo agora. Um senso inato de autopreservação fizera-a mentalmente se focar em Quinn, em vez da dor que ainda sentava como um peso doentio em sua barriga, pela perda de seu amigo que doía demais até em pensar. Ela faria mais tarde, quando pudesse se enrolar em um lugar escuro e silencioso... E lentamente desmoronar. Em algum lugar solitário e privado, sem quaisquer interrupções. Em algum lugar onde Michael Quinn não pudesse vir correndo resgatá-la dando-lhe outra oportunidade para se fazer de tola. 

  Retraindo-se, ela afundou mais na cama, desejando que houvesse alguma maneira de bloquear a memória humilhante daqueles momentos no banheiro. Ser rejeitada por ele uma vez foi bastante doloroso. Saige não tinha intenção de humilhar-se novamente. 

  Pensando que era hora de sair e parar de se esconder, ela só começou a empurrar para baixo os lençóis quando o som de seu nome estalou como uma explosão de canhão pela sala, fazendo com que ela recuasse. 

—Saige! 

 Ela aproveitou a rispidez do seu tom. 

— O quê? – disse, sua voz abafada pelo lençol. 

— Levante-se, já. Temos que começar a nos mover.

  Ele parecia mais perto do que antes, aquela rouquidão sexy enchendo sua cabeça... Seus sentidos, e viu-se perguntando se ele ficaria tão bem na dura realidade da luz do brilhante sol da manhã como tinha sido ontem à noite. Muito curiosa para resistir, ela conseguiu abrir as pálpebras e olhou ao longo da borda de algodão branco engomado, piscando uma vez, duas vezes... E mordeu um gemido quando percebeu que ele parecia ainda melhor.

— Droga. Isso não é justo. 

Engolindo, ela tentou um tom de que poderiam passar por normal. 

— Não teremos nenhum café?

Sua voz baixa, uma rouca gargalhada encheu a sala, fazendo aquela coisa derreter em suas entranhas novamente. 

— Se eu disser que sim, você vai finalmente sair dessa cama?

— Vou pensar nisso.

Sentando-se, ela libertou-se do aperto mortal que tinha sobre o lençol, e enfiou os dedos juntos no colo, tentando parecer como se esse tipo de coisa acontecesse com ela o tempo todo – acordar em um quarto de hotel estranho... Com um lindo metamorfo sorrindo ao pé da cama. Encontrar aquele elemento seminu, com o peito nu, um caminho escuro de pelo sedoso circundando seu umbigo atraindo seus olhos como um ímã. Ela continuou descendo... Descendo, até que a linha sexy de pelo precipitou-se para o interior do cós da calça, onde o botão de cima tinha sido deixado desabotoado.

  Por um momento o seu olhar simplesmente permaneceu sobre ele com um desejo vago passando maus pedaços em disfarçar, até que percebeu a navalha na mão direita. 

— O que você está fazendo?

 Levantando a mão livre, ele esfregou o escuro, sexy pêlos cobrindo seu queixo anguloso. 

— Eu estava lhe dando um minuto para acordar enquanto eu me barbearia.

— Não! – Ela explodiu, sem surpresa, quando ele olhou para ela como se estivesse louca. — Eu só... Eu acho... É, talvez você deva deixá-la.  Provavelmente é um bom disfarce, se o Coletivo já sabe como você é.

Suas sobrancelhas escuras reuniram em uma carranca curiosa. 

— Está se sentindo bem?

 Ele era louco? Não, ela não estava se sentindo bem. Como ela poderia estar se sentindo bem quando se sentia como se seu corpo tivesse ficado louco por um ladrão de corpo sexy?

  Se isto tivesse ocorrido apenas ontem à noite, no calor do momento, então ela poderia ter lançado e feito tudo para esquecer. Mas aquele não era o caso. Mesmo agora, depois de ser rejeitada uma vez, Saige queria atirar-se até ele. Era como se tivesse contraído algum tipo erótico de febre selvagem, que exigia que rebaixasse e se humilhasse com Michael Quinn, tão logo fosse humanamente possível. Ou não tão humanamente, considerando que ambos estavam longe de ser normal.

 Era definitivamente um violento caso de selvagem luxúria, as imagens tão claras em sua mente, queimando como torrada, incrível precisão que quase se sentia como se pudesse chegar e tocar. Tocá-lo. Ele virava-a de uma forma que nenhum outro homem jamais fizera, e agora ela não conseguia que seu corpo traidor recuasse. Ela quase zumbia, mas com uma baixa frequência faminta, em constante ebulição, queimando debaixo da pele pelo cheiro, pelo calor e o gosto dele.

 Tanto tempo para se transformar em uma ninfomaníaca, era triste, triste para uma pequena mulher.

  Carrancuda, Saige podia imaginar o relatório de Quinn ao retornar ao complexo. Elemento propenso a mostrar embaraçosa luxúria. Recomendo a todos os homens, manter a guarda em torno dela.

Wow. Isto não iria causar uma grande impressão sobre seus irmãos?

Ela sabia que, de certa forma, que sua busca pela verdade sobre o Merrick tinha sido um meio de provar para Ian e Riley e Elaina que ela não estava louca. Ela queria que a vissem como uma pesquisadora séria. Uma acadêmica. Voltando em suas vidas como um caso de caçadora faminta de homem não era assim que tinha em mente.

Olhando Quinn pelo canto do olho, ela não podia evitar, mas odiava como ele parecia alheio à tensão sexual que deslizava no ar entre eles. 

— Portanto, vamos fingir que a noite passada não aconteceu, então?

Por uma fração de segundo ele ficou tenso, e ela sabia que tinha o surpreendido, trazendo o assunto à tona. Inferno! Ela surpreendeu-se, as palavras escorregando novamente, sem direção consciente de seu cérebro. Talvez o terrível acontecido na selva tivesse soltado algo na sua cabeça, derramando suas palavras apenas para fora agora por vontade própria, como se sua boca tivesse mente própria.

 — Eu fui enviado para protegê-la, Saige. – Afastou-se da cama, em direção à cômoda, onde ele colocou a lâmina de volta dentro de sua mochila preta. — E para levá-la de volta para o Colorado de uma vez.

Ela arqueou uma sobrancelha, esperando que ele voltasse ao redor e explicasse o que aquilo tinha a ver com a atração física, mas ele permaneceu em silêncio e imóvel.

 — Bem, então. – Seu olhar deslizou em direção à janela, onde o horizonte da cidade esparramava como uma selva urbana sob o sol ardente de verão. Ela hesitou por um momento, pensando no que tinha de fazer. Ela o conhecia desde a noite passada. Desde o momento em que viu o que aquele bastardo Casus tinha feito com seus amigos.

A reação de Quinn à sua pergunta poderia ter cortado, mas não podia negar que ele tornava sua decisão apenas um pouco mais fácil de aceitar.

 — Eu tenho algumas coisas aqui em São Vicente – murmurou ela, tomando cuidado para evitar seu olhar enquanto dizia uma mentia. — Em um cofre em um dos hotéis locais, onde um amigo meu é gerente. Eu preciso pegá-los, antes de irmos.

  Ela podia sentir o peso de seu olhar quando Quinn se voltou para ela. 

— Se é algo que pode ser substituído, deixe-o.

— Eu não posso – ela suspirou, finalmente olhando para ele.

  Ele cruzou os braços sobre a camiseta preta que acabou de colocar, suas sobrancelhas desenhadas em conjunto numa carranca frustrada quando se inclinou para trás contra a penteadeira. 

— Você vai ter que me dar mais do que isso, Saige. Precisamos nos mexer. Ficar aqui mais um minuto do que temos é apenas pedir problemas. Nós já empurramos isto tanto quanto possível.

— Bem, isso é algo que nós definitivamente precisamos – Fez uma pausa, respirando fundo enquanto segurava seu profundo olhar escuro. — É toda minha pesquisa, Quinn. Todas as notas... Tudo que fiz. O que me trouxe aqui para pesquisar o Marcador.

  Descruzando os braços, ele se afastou da cômoda e caminhou em sua direção, em torno do pé da cama, não parando até que ele ficou em seu quadril. Empurrando as mãos nos bolsos, ele olhou para ela com aquela primitiva, penetrante intensidade que a fez se sentir despida até o osso. Completamente exposta. 

— Você realmente acha que está aqui? – Perguntou ele.

Ela fez o possível para manter sua expressão, não oferecendo nada de graça.

— Absolutamente. E quando estiver segura, eu vou ter que encontrar uma maneira de voltar.

Quinn meneou a cabeça, enquanto o jogo fascinante de calor e sombras em seus olhos escuros a fez estremecer. 

— Acho que vai ser melhor se nós enviarmos uma equipe. Você será capaz de lhes dizer onde procurar.

— Bem, se eu não fizer a minha pesquisa, eu não vou ser capaz de dizer nada a ninguém. Os trabalhos não podem ser deixados aqui, Quinn. Nós não podemos arriscar que eles caiam nas mãos erradas.

Ela podia ver a sua suspeita. Sua frustração. Isto tudo estava nos olhos escuros e hipnóticos. Mas não discutiu. E ele não a chamou de mentirosa.

  Em vez disso, ele deu um passo para trás e empurrou o queixo em direção ao banheiro.

— Então, levante-se e mexa-se. Nós não temos tempo a perder.
  
* * * * *

VINTE MINUTOS DEPOIS, eles tomaram duas xícaras de café e comeram alguns pastéis e estavam prontos para sair. Quinn fez arranjos para ter um carro alugado esperando por eles quando voltassem, em seguida, deixou sua bolsa na recepção, enquanto eles partiram a pé em direção ao Hotel Redondo, que ficava a uns poucos quatro quarteirões de distância.

— Esta é uma idéia estúpida – ele murmurou enquanto desciam caminho abaixo para a rua movimentada, no início da manhã de sol no sul da América já batendo em seus ombros como uma onda de calor sufocante, o ar tão denso que era como uma espessa névoa.

 — Falando de estúpido, você realmente acha que é inteligente voarmos hoje? Ir para o aeroporto? Será que eles não esperaram isso? – no café da manhã, Quinn havia compartilhado sua preocupação quanto à carbonização dos corpos dos irmãos Ruiz. Saige sabia que se o Coletivo estava caçando-os, suas chances de seguirem vivos para o Colorado estavam rapidamente diminuindo.

  O que só cimentou sua crença de que estava fazendo a coisa certa. Quinn não merecia o trabalho que lhe tinham dado. Ninguém merecia ficar preso com ela, muito menos um homem que não tinha nenhum envolvimento emocional com sua sobrevivência.

  Ele ergueu o braço direito, empurrando uma grande mão para trás através de seu cabelo, as cavidades de seu rosto sombrio debaixo da barba escura que ainda cobria a metade inferior do rosto. 

— Na verdade, nós vamos tomar precauções, dirigindo-nos para Ros Ablos primeiro, e depois pegar um vôo curto de lá até Santina, na Colômbia.

— E daí?

— Nós vamos ficar mudando, até pegar autoestrada 25 no México. Vai nos levar através de Novo México, e em linha reta acima do Colorado.

Viajar assim levaria tempo, mas era semelhante à rota que Saige tinha originalmente planejado para usar, já que manteria-se fora dos centros principais do curso, onde o Casus e o Coletivo poderiam estar procurando por ela. Ela teria que rever seu plano agora, uma vez que conseguisse abandoná-lo, fazendo certamente com que Quinn não pudesse encontrá-la.

Não que fazer a viagem com ele ao seu lado não teria sido maravilhoso. Ela teria adorado tê-lo com ela, oferecendo sua proteção... A sua companhia. Mas depois do que tinha acontecido a Templeton, e, em seguida, a Javier, sabendo que o Casus estava atrás dela, que estavam seguindo o seu rastro, ela simplesmente não estava disposta a aproveitar a oportunidade. Isto significava o que disse na noite anterior, como bem lhe disse que não teria o sangue dele em suas mãos.

 — Temos uma longa viagem pela frente – acrescentou.

— Sim, eu acho que temos – ela murmurou, incapaz de acalmar a voz irritante na cabeça dela que unicamente continuava insistindo que não era apenas por sua preocupação pela segurança Quinn, que ela inventara o plano.

'E você sabe exatamente o que é.'

  Não vamos lá, ela murmurou sob sua respiração, tentando empurrar o pensamento inquietante para longe. Mas estava ali, persistente no fundo de sua mente como uma mancha que não podia lavar ou ignorar.

  Era uma questão de confiança.

  Não por Quinn. Mas por ela mesma.

 Ela não podia garantir que não iria se jogar em cima dele novamente, e não estava pronta para outra rodada de humilhação. Uma lição era suficiente para durar uma vida inteira. E não havia nenhuma dúvida de que ela gostava de estar com ele, naqueles rígidos braços fortes segurando-a próxima, muito mais do que poderia estar.

  Não, a coisa mais inteligente seria cortar o laço, enquanto ainda podia.  Sempre esteve melhor por conta própria, de qualquer maneira.

 — Eu estive pensando, – ele resmungou, a profunda voz áspera a trazendo de volta para o presente.

— Sobre o quê?

— Por que você acreditou com tanta facilidade, desde o início.

— Sobre o Merrick? – Perguntou ela.

— Sim.

  Saige enviou-lhe um sorriso arrogante. 

— É coisa de mulher.  Somos mais intuitivas, você sabe. Na verdade, acho que conseguimos pensar com os nossos corações, ao invés de nossa...

— Não diga isso. Ele sorriu de uma maneira que fez franzir os olhos sexy nos cantos, o que era apenas um exagero. Eu não penso com meu pênis.

 — Jesus! Quinn. Piscou-lhe inocente. Eu só ia dizer sua cabeça. 

  Ele riu, e ela quase tropeçou na pequena e irregular calçada, sem conseguir tirar os olhos de sua boca. Esta era muito absorvente... Muito bonita. Perfeitamente masculina, e incrivelmente sexy.

— Pelo menos você não está me chamando de estúpido ainda – ele se ofereceu em um sorriso irônico.

 Ela abafou uma risada baixinha e exibiu-lhe outro sorriso.

— Isso foi muito engenhoso, não foi?

— Só não mencione isto para Shrader, – disse ele baixo em tom sofrido. — Ele aproveitaria isto se valendo dela.

— Quem é Shrader? – Perguntou ela, puxando o cabelo para trás em um rabo de cavalo quando a umidade parecia aumentar.

— Ele é um dos Guardiões de minha Unidade, no Colorado.

— E um amigo? – Ela murmurou, enquanto eles andavam pelas barracas da rua, onde os moradores vendiam tudo, desde alimentos, roupas a artigos domésticos.

 — Um amigo, tanto como uma total dor na bunda – ele respondeu. — Ele queria ser o único a vir atrás de você, mas seus irmãos não confiaram nele. Então, eu fui encarregado do trabalho em seu lugar.
— E pensei que você fosse a escolha mais segura? –Ela bufou, abanando a cabeça enquanto tentava ignorar a pontada de dor que veio ao saber que ele não queria o trabalho.

Ele resmungou sob a respiração, e ela teve pena dele, tirando uma dúvida dela. 

— Quando Templeton desapareceu, por que vocês não apenas enviaram um do Complexo da América do Sul atrás de mim?

— As famílias são geralmente atribuídas às unidades de seus países de origem. E a unidade mais próxima do Brasil aqui em baixo tem as mãos cheias com um ninho de velhos vampiros violentos no momento. Fazemos o melhor para controlar os vampiros, mas ainda há ninhos desonestos que deslizam sob o radar, até que decidem se estabelecer em um local de alimentação especial. Então nós temos que fazer o que podemos para controlar a situação até que o Consórcio tome uma decisão.

— Caramba – ela murmurou, agradecido por Quinn e sua Unidade terem estados dispostos a quebrar as regras para ajudar seu irmão. Voltando à sua pergunta anterior, ela disse: — Quanto à minha linhagem familiar, era fácil de aceitar. Eu sabia, desde o início, que eu e meus irmãos éramos... Diferentes. Salvei-me do problema tentando me adaptar e aprender a viver com essa loucura.

 — Você não é uma aberração – argumentou ele, adotando uma carranca sombria.

 — E isso de um cara com asas – brincou ela, enviando-lhe uma piscadela. Ele riu novamente, um som baixo e rico derretendo-se como chocolate, doce, suntuoso e viciante. — Eu acho que você tem um ponto a favor. 

— Eu tenho alguns, mas não espere receber o seu. Estou realmente com apenas uma dor na bunda, como você disse.

— Eu disse isso? 

— Se você não fez – suspirou — então eu tenho certeza que você estava pensando. 

 Em vez de oferecer uma negação, ele simplesmente empurrou as mãos nos bolsos e sorriu, seus dentes brancos piscando na escura beleza áspera do rosto dele.

 — Sabe, Quinn, você fica bonitinho quando sorri. 

 — E como eu disse antes – ele contrapôs, revirando os olhos — você faz um bem infernal ao ego de um indivíduo. 

— O quê? – Ela levantou uma mão para proteger os olhos, tentando saber se ele estava corando. Bonitinho não é viril o suficiente? 

— Bonitinho – explicou ele em outro tom fundo sofrível — não é aquilo que eu considero uma descrição viril. 

— Bem, você não me parece o tipo que precisa de elogios. 

  Sua boca comprimiu-se, como se agora percebesse que estava participando da brincadeira, e ele disse: — Eu não sou. 

— Eu sei, – disse ela. — Você usa sua arrogância como se fosse uma parte de você. 

  Ele grunhiu em resposta, novamente, seus olhos escuros varrendo a rua, e de repente ela percebeu que, apesar do fluxo da conversa casual, ele ainda agia de modo completamente protetor, totalmente focado a sua volta. Ele a fez olhar para as pessoas que lotavam as ruas com um olhar diferente, perguntando se eram o que pareciam. 

  Ou algo mais. 

 Algo mortal.

— Eles poderiam ser qualquer um, não poderiam? – Ela disse, com voz baixa... Macia. — Quero dizer, eles tomam um corpo humano que o fazem voltar a este reino. Então, quem pode dizer onde eles estão? Ou quem?
 
— Quando eles estão na forma de seu hospedeiro humano, como todos os outros. Eu não acho que eles liberam um odor quando em forma humana – disse numa voz de áspera, aproximando-se para seu lado na calçada lotada. — uma única característica distintiva que Ian reparou no Casus com qual lutou foi em seus olhos. De acordo com o seu irmão, eles emitiam uma frieza gelada azulada, não importando em qual forma esteja como o que viu na última noite. Então pode ser que isso seja algo que possamos usar a nosso favor.
 
— Bem, pelo menos é alguma coisa – ela sussurrou, sabendo que obsessivamente verificaria a cor dos olhos de cada pessoa com a qual entrasse em contato — Eu me pergunto por que eu nunca ouvi nada como isso antes. 

— Eu não reclamaria – disse ele, num tom irônico inconfundível. — Você já parece saber mais do que qualquer um de nós. Como exatamente você conseguiu isso, afinal?  

 Seus ombros se levantaram.

— Sorte realmente. Muitos deles vieram de Elaina, as coisas que tinham sido passados para nossa família, geração após geração. E então eu consegui juntar as peças ao longo do caminho, especialmente de algumas famílias ciganas com que fiz amizades na Europa. – Ela fez uma pausa, e então a pergunta que estava queimando no fundo de sua mente por meses. Anos. — O que exatamente vai acontecer comigo, Quinn? 

OLHANDO SAIGE PELO CANTO do olho, Quinn achou que isto era loucura, como o quão bom seria cuidar dela na noite infernal. Para não mencionar um dos piores ataques de choro ele já tinha visto.

 Pensando em sua pergunta, ele sabia por que ela perguntou. Podia senti-lo no prédio esta manhã, a necessidade de alimentar... Para mudar, mas ele não conseguia esconder sua surpresa, que ainda não compreendesse tudo o que aconteceria por ser um Merrick feminino. 

— Você não sabe?

  Com um pequeno gesto ela levantou ombros. 

— Minha mãe realmente não tem muita informação sobre os nossos ancestrais do sexo feminino. 

— Receio, não saber muito, também – disse ele, desejando bastante que eles estivessem em qualquer lugar, menos em uma lotada rua da cidade. Ele queria um lugar seguro. Em algum lugar no qual não teria de se preocupar com ela a cada segundo que passava. — Mas, pelo que pouco tem sido escrito sobre a Merrick, acredita-se que você não mudará da mesma forma que seu irmão.
 
 O canto de sua boca se contorceu em um pequeno sorriso. 

— Eu acho que é um alívio. Eu realmente não aguardo ansiosa me tornar como Hulk.  

  Um riso áspero saiu de sua garganta, surpreendendo-o. Foi estranho, como facilmente ele ria com ela. Ele não tinha se divertido tanto com uma mulher desde... 

'Não. Não continue.' 

  Mas ele não podia ignorar o fato de toda a atitude dela, ele gostava de estar perto de Saige Buchanan. Ela era... Contagiante, sua crepitante energia, agitando-o. Seu humor era instantâneo, bem como sua risada. O que era surpreendente, considerando que não tinha muito do que rir desde que ele a conheceu. 

  E a noite passada, ele não tinha sonhado. 

  Quinn não conseguia explicar, mas pela primeira vez em anos, seus sonhos o não tinham torturado nas horas quietas da noite. 

 — O que está sendo feito sobre os outros marcadores? – Perguntou ela, já se movendo para um novo tópico, enquanto o arrastava de seus pensamentos internos. 

— Para ser honesto – ele murmurou — não o suficiente. Nós estávamos esperando que você fosse capaz de lançar alguma luz sobre o assunto para nós.  Até que Ian nos mostrou a cruz que você descobriu na Itália, não tínhamos como saber se os Marcadores existiam mesmo, ou se eram apenas parte do folclore que rodeia o Merrick e o Casus. Foi um choque infernal perceber que eles não eram apenas reais, mas que tinha sido encontrado.
 
— Você tem alguma idéia de quantos são? 

  Ele balançou a cabeça. 

— Não há um indício. Mas eles vão ser inestimáveis para a próxima guerra. Eu falei com Kierland, e ambos acreditamos que vai se tornar uma corrida mortal para encontrar os outros. Não são apenas os Casus atrás deles, mas logo que disserem que estamos na posse de um Marcador em Ravenswing, cada despertar Merrick vai querer colocar as mãos nele, sabendo que é a única maneira de realmente destruir o bastardos caçadores. Poderíamos muito bem acabar ficando frente-a-frente com os bons, assim como os maus.
 
— Eu me pergunto o que os Casus querem com eles. Se eles não podem ser destruídos, então tem de haver outra razão. Por que estão tão desesperados para pôr as mãos neles?

— Eu não sei. Mas nós não podemos arriscar que isso aconteça. É por isso que decidi deixar o Marcador sob estreita vigilância em Ravenswing. E posso garantir-lhe agora, Kierland vai querer sentar com você e passar por cima de sua pesquisa com um pente fino, até que ele entenda exatamente como você encontrou o primeiro, e que faz você pensar que a segunda está enterrada aqui no Brasil.
 
— Você não quer saber como descobri? – Perguntou ela. 

— Uma vez que estivermos volta a Ravenswing, você pode apostar sua bunda que eu vou querer uma explicação. Mas agora, a única coisa que importa é você voltar atrás por uma peça.  

  Ela ficou em silêncio por um momento, e então ela disse:

— O marcador é muito mais importante do que a minha vida, Quinn. 

— Isso é uma coisa infernal para dizer – resmungou, as palavras árduas, cortante como algo escuro, nervoso e primitivo. Alguma emoção sem nome que o percorreu, torcendo-lhe por dentro, até que ele sentiu que um movimento errado poderia torná-lo ingênuo. Enviando-o para uma colisão com algumas barreiras internas que o ajudavam a se manter fechado, desligado. — Eles são importantes, sim. Mas não vale a pena morrer.
 
 Ela afastou o olhar dele, puxando a mochila mais sobre seu ombro magro.

— Eu acho que depende do seu ponto de vista – disse ela em voz baixa. 

 — Isso não depende de nada – ele rosnou, agarrando-lhe o braço e puxando-a para parar. Estavam no centro da calçada movimentada, mas ele não se importou. — Não há nenhum objeto sobre a terra que vale arriscar sua vida, Saige. E se seus irmãos estivessem aqui, eles te diriam a mesma coisa.
 
  Sem olhar para ele, ela empurrou o queixo para o lado, em direção ao prédio de quatro andares que ficava à sua direita. 

— Este é o hotel. Acho que vai ser melhor se eu entrar sozinha.
 
 Ele estendeu a mão e segurou seu queixo, forçando-a a encontrar os seus olhos.

— Por quê? 

  Ela piscou, olhando-o muito pálida, muito frágil. 

— Alguns dos arqueólogos com quem estive trabalhando ficam aqui e nos tornamos amigos do gerente. Ele é muito protetor – ela disse, puxando seu lábio inferior com os dentes. — Isso será muito mais rápido se eu não tiver de responder vinte perguntas sobre você. 

— Eu não gosto disso. 

— Goste ou não – ela disse – vai nos salvar do tempo. 

* * * * *
 
  SEU OLHAR DESCEU até ela, duro, e Saige viu suas narinas como ele puxou de forma lenta, uma respiração profunda. 

— Seu Merrick está chegando perto – disse baixo, as palavras fluindo rouca. 

— Como você pode dizer?
 
— Está no seu aroma... Nos seus olhos. – Tomou outra profunda, busca de ar, e olhou para o hotel singular. — Para quem não é humano, os sinais estão lá. Você não está muito forte ainda, mas é óbvio que há algo dentro de você.
 
  Embora ele não quisesse dizer as palavras em um sentido sexual, seu corpo aparentemente não se importou, alguma coisa abaixo do seu rígido abdômen com um suave chama consciente. Antes que ela se desse tempo para pensar sobre o que estava fazendo, Saige estendeu a mão e pegou-lhe sobre o pescoço, puxando sua cabeça para baixo para que ela pudesse tocar a boca dele. Ela queria ter um último sabor dele antes que ela se afastasse, mas perdeu certamente o controle de suas mãos e transformou o beijo em algo que ia além. 

  Com as mãos segurando a cintura, Quinn beijou-a de volta. Mais duro. Mais profundo. Provando todas as partes de sua boca, não deixando nenhuma parte sem explorar... Sem reclamar. Sua boca se moveu de uma forma que era totalmente masculina, inerentemente primitiva, deslumbrando-a com sua sexualidade. Seu corpo estava quente... Molhado... Inchado com o calor que não tinha nada a ver com o ar espesso e úmido que os pressionava, pesado e úmido. Ele aproximou-se, pressionando contra ela, sua dureza flagrante contra suas curvas suaves, e sua língua varreu a boca como um desafio, percorrendo toda a resistência. 

  Saige reconhecia isto pelo que era, embora nunca tivesse encontrado nada parecido antes. Nenhuma vez, em toda a sua vida. Como uma marca, ele colocou a sua propriedade sobre ela, aquele cuja natureza possessiva serpenteava através de seu organismo aquecendo de dentro para fora. 

  Sem fôlego, e um pouco em pânico, ela se separou, tropeçando para trás. Ele olhou-a com uma calma feroz intensa, seus olhos negros brilhantes e quentes. Ela abriu a boca, sacudindo a cabeça quando nada saiu, sua mente confusa. Aquela coisa que ele fez com a sua língua era... Ela se esforçou para soltar as palavras que lhe faria justiça. Era como sexo. Como ser penetrada, quente e úmida e escura possessividade. Ela provara a sua fome – sua necessidade – e se alimentou com a dela. 

— Seja rápida. – Sua voz era dura, rouca. 

 Ela molhou os lábios, saboreando-o lá, dividida entre a vontade de ficar lá com ele e saber que ele não merecia. 

'Afaste-se dele, Saige. Agora, enquanto você ainda pode.'

 Rangendo os dentes, ela virou-se, obrigando-se a caminhar. Ela chegou à entrada do hotel e segurou a maçaneta, registrando apenas a queimadura quente do metal contra a sua mão. Olhando por cima do ombro, ela lhe deu um sorriso pálido. 

— Por valer a pena, Quinn, eu queria lhe dizer obrigado. 

  Ele não perguntou por quê. Ele apenas deu um daqueles olhares escuros que de alguma forma silenciosa parecia dizer muito mais do que palavras. Depois, com uma respiração profunda, tremendo, Saige se virou e se dirigiu para o hotel. 



















Capítulo Oito 


  POR QUE A COISA CERTA a fez se sentir tão errada? 

  Essa foi à pergunta que havia sido passado pela mente de Saige desde o momento que ela andava, ou melhor, corria, para longe de Michael Quinn. Ela sentiu-se mal, seu interior em cólicas com uma mistura agitada de culpa, adrenalina e frio, e o cruel ardor de medo. 

  Isto não é onde você começa a agir como uma daquelas mulheres demasiado estúpidas que vivem no cinema, correndo em direção a casa grande e assustadora, onde o machado assassino está escondido, em vez distanciar-se dela? 

— Cale-se – ela resmungou, muito consciente de quão bem esse cenário se encaixa nos fatos. 

— Encare, senhora. Você é intelectual. 

  Provavelmente. Mas neste momento, a loucura parecia estar trabalhando por ela. 

  Abandonar Quinn foi surpreendentemente fácil, mas depois, ele não esperava que ela fizesse algo tão tolo como fugir. Uma vez que ela entrou no hotel, tinha sido uma simples questão de escrever-lhe uma nota rápida, que deixara na recepção, antes de resvalar pela saída traseira. Ela não sabia quanto tempo Quinn esperaria antes de iniciar a perseguição – ou se ele mesmo se deu ao trabalho de vir correndo atrás dela, mas as multidões nas ruas haviam trabalhado a seu favor. Ela dera o melhor para se certificar de que estivesse sendo seguida, tanto pelo Casus ou Coletivo, que ela abandonara alguém que poderia estar em seu encalço. Agora, enquanto se aproximava da entrada também Anjos dos Diabos, ela apertou a mão ao peito, sua respiração pronta para voltar ao normal. 

'Você está nervosa.' 

  Bem, sim, ela pensou. O Casus poderia estar em qualquer lugar. Em qualquer um. 

  'Relaxe. Este é o último lugar que eles esperam que você volte. Você está segura aqui.' 

 Talvez. Pelo menos tão segura quanto conseguisse estar. 

  'A menos que você estivesse com Quinn.' 

  Sufocando um gemido, Saige andou no mal iluminado bar. Demasiado cedo para a maioria dos clientes, somente alguns consumidores empoleirados nos banquinhos de madeira, mantendo a formalidade como uma realeza degenerada. Inez a viu de imediato, sinalizando para ela com a cabeça em direção ao escritório. Saige caminhou através das mesas, seguindo a velha mulher diante de uma porta de balanço, num corredor estreito. Ela não gostaria de ter retornado a este lugar, podendo colocar Inês e o marido, Rubens, em perigo, mas ela não podia deixar para trás os mapas. E depois do que tinha acontecido com Javier, tinha que ter certeza de que o casal, pelo menos, deveria ser advertido. 

  Era uma loucura, o limite aonde chegara a fim de proteger um pedaço de metal, mas a última maldita coisa que iria fazer era deixar que esses bastardos colocassem suas mãos sobre a Cruz. Ela preferia morrer. Isto não fazia sentido, mas o Marcador tinha... Ela lutou com a palavra certa para explicar o que era simplesmente inexplicável. Ela o encontrara, isto tornava a segurança deste sua responsabilidade. Então, lá estava ela, arriscando sua vida para conseguir os mapas que esperava como o inferno poderia levar até o resto deles. 

 Dois perdidos. Quem sabe quantas seriam. 

 Rangendo os dentes contra o aumento progressivo da dor de cabeça latejante por trás de seus olhos, Saige seguiu Inez através da última porta do corredor, um estampado descolorido privativo de superfície vermelha escura. No instante que Inez virou-se para ela, a garganta de Saige obstrui-se com as lágrimas. 

— Javier e seus irmãos estão mortos – ela resmungou. 

  Inez assentiu com a cabeça, os olhos avermelhados revelando o seu conhecimento sobre os assassinatos. 

— Onde está o americano? – Ela perguntou em português. 

  Saige deu de ombros, não se surpreendendo pela clarividência surpreendente de Inez. A mulher sempre parecia saber coisas que não deveria, como se ela tivesse algum tipo de sexto sentido.

— Eu o abandonei. 

  Inez estreitou seus olhos escuros, inspirando o ar. 

— Se ele estiver a protegendo do demônio que é o caçador, então isso não foi sábio. 

 —Sem escolha — ela murmurou surpresa com as palavras da amiga. Inez era geralmente tão desconfiada quanto ela. 

— Hmm – murmurou a mulher mais velha, e Saige lutou contra o desejo de se contorcer sob o controlado olhar penetrante de Inez. — Você se importa com ele, não? 

  A cor inundou seu rosto que não tinha nada a ver com o calor sufocante, o ventilador de mesa zunia apenas circulando o ar quente e úmido em uma luta ineficaz contra os elementos.

— Não seja ridícula. Eu mal conheço – Andou de um lado para o outro do pequeno e desordenado escritório, enquanto sua amiga curvava-se e começava a abrir o cofre. — Eu apenas o conheço há vinte e quatro horas, Inez. 

— E o tempo é realmente tão importante jovem? Eu pensei que você tinha aprendido mais do que agora.

 Ela fechou os olhos e silenciosamente rezando para que Inez não enveredasse em uma de suas bem-intencionadas palestras sobre o Universo e o destino. 

  Empurrando os fios de cabelo assanhados pelo vento que tinham escorregado de seu rabo de cavalo, ela viu quando Inez puxou os mapas pequenos, enrolados num laço, do cofre e os ofereceu a ela. 

— Assim foi melhor – disse Saige instável, tendo os mapas e deslizando-os para sua mochila. — Ele não merece ser puxado para o meu pesadelo. 

  Inez sacudiu a cabeça quando se levantou seus olhos escuros desconfortavelmente expressivos. 

— Talvez esta fosse a escolha a ser feita por ele,Saige.
 
— Não era. – Ela ergueu a mochila sobre o ombro e limpou a garganta contra os nós de emoção ameaçando sufocá-la. — Eles fizeram-no vir. Eu era apenas um trabalho. Um que sem dúvida iria conseguir matá-lo.
 
 — Hmm – murmurou Inez pela segunda vez. — Eu posso estar errada, mas ele não parecia o tipo de homem que faria algo se não quisesse. 

  Verdadeiro, mas Quinn lhe tinha dito que ele não queria a missão.

— Pare de tentar lidar com tudo isso sozinha e vá para casa, para sua família, – Inez lhe disse. — Rubens e eu podemos nos cuidar, mas aqui não é seguro para você, minha amiga. 

  Sábias palavras, mas pelo fato de que Saige sabia o perigo que a seguia. Sua única esperança era perder aquele que poderia estar seguindo ela e continuar se movendo tão rapidamente quanto possível até que fosse para o Colorado. Então, uma vez que ela se encontrasse com Jamison, em Denver, talvez pegasse o marcador e fosse atrás do bastardo assassino, assim como Ian tinha ido. Depois do que ele tinha feito para Javier, só Deus sabia que estava determinada. 

Colocando os braços ao redor da amiga, Saige deu em Inez um abraço rápido e forte. 

— Obrigada. Por tudo.  

  Inez pegou o rosto com as frias mãos macias. 
— Você não deve agradecer a alguém, quando a amizade é dada livremente, Saige. Tudo que eu quero é que você seja cuidadosa – Fungando, a mulher mais velha virou-se e abriu a porta do escritório. — Agora, venha comigo. Junte-se a Rubens e eu para um lanche rápido antes que você vá.  

 — Eu não posso – disse ela, seguindo Inez pelo corredor. — Se Quinn decidir vir atrás de mim, este é o primeiro lugar, que provavelmente vai procurar. Eu preciso continuar.  

  Sua amiga fez um som frustrado na garganta.

— Você precisa ser inteligente, Saige, e voltar para ele. Antes que seja tarde demais.
 
 Mas no instante em que caminhou de volta para o bar, ela sabia que já era. 

* * * * *  

  ESTE ERA O OLHAR que eles mostravam. 

No momento que Saige seguiu Inez no corredor, ela sabia que os recém-chegados recostados contra o bar estavam lá por mais do que uma bebida fresca para aliviar o calor sufocante manhã. Eles estavam lá por ela. 

  Foi um choque brusco em seu organismo, o fato de que ambos eram bonitos. Alto e moreno e musculoso. Lindo, mesmo. Irmãos, ela teria imaginado, com base nas semelhanças em seu físico e as características. 

 Eles poderiam parecer humanos, mas ela podia ver a sombra da verdade em seus frios olhos azul-gelo.

Por um momento, pensou em se virar e correr, mas ela não podia fazer isso. Não com Inez e seu marido lá. Rubens ficou atrás do bar, percorrendo as bancadas, indiferente ao perigo que estava a poucos metros, onde os homens – ambos Casus observaram-na com uma intensidade, predatória afiada. 

  Se ela corresse, seus amigos poderiam muito bem pagar o preço, e ela não ia deixar isso acontecer. Obrigando-se a permanecer calma, Saige colocou a mão no braço de Inez e forçou a um pequeno sorriso em seus lábios. 

— Os homens no bar são da companhia de guia que estávamos usando. Eu preciso falar com eles sobre a próxima expedição que virá durante o outono, mas posso fazer isso no caminho para a estação de ônibus.

 Inez assentiu com a cabeça, mas Saige podia ver as perguntas nos olhos da outra mulher.

— Tem certeza de que eles não são o problema? 

  Saige inclinou-se para colocar um beijo no rosto.

— Eu vou ficar bem, eu prometo. E eu vou ligar assim que puder.

 Ela podia sentir em Inez a preocupação no olhar queimando-a de volta quando ela se virou e foi em direção ao Casus aparentemente humano. Um teria sido ruim o suficiente, mas dois era impossível, e ela submeteu seu cérebro a uma busca por uma maneira de sair de uma situação que sabia que não tinha nenhuma infernal chance de escapar. 

  Quando ela se aproximou, um baixo, decididamente malevolente sorriso estendeu-se em toda a boca do homem à direita, o seu longo cabelo apenas roçando as bordas de sua mandíbula. 

— Bem, se não é a pequena Saige – respondeu asperamente com uma fala arrastada, baixa e rouca. 

— O que você quer? – Ela perguntou, espantada por conseguir falar nesse tom, frio e calmo de voz, considerando que sabia exatamente o que eles queriam. 

— Qualquer coisa, o seu sangue. Sua carne. Sua vida. 

 O sorriso do homem ampliou-se, lembrando a Saige o gato Cheshire em o estranho pesadelo de Alice, e ela desejava que isso fosse apenas um sonho ruim do qual poderia acordar. Mas ela não teria aquela sorte. 

 O outro com o cabelo mais curto, à esquerda, lançou um olhar para o local onde Inez e Rubens estavam sussurrando agora na extremidade do bar.

— Vamos terminar esta conversa em algum lugar mais privado? 

  Saige deu um aceno brusco, sabendo que ela não tinha nenhuma escolha. Sua pulsação encheu a cabeça dela, como uma batida primitiva, agitada de um tambor na selva, uma neblina surreal caindo no momento, como se não fosse real. Como se ela pudesse estalar os dedos... E puf! ... E apenas fazer tudo ir embora. 

  Mas ela sabia que eles não iriam a lugar algum. Não sem ela. 

  Juntos, eles entraram na luz brilhante do sol da América do Sul, cada um gesticulando para que andasse entre eles. Apesar de sua camiseta e short, o calor era sufocante, cobrindo-a com um brilho frio de umidade. Ou talvez fosse simplesmente seu medo. Agarrando a alça de sua mochila com as duas mãos, Saige abaixou o olhar, olhando para as rachaduras semelhantes a teias de aranhas que floresciam entre o concreto desigual como uma estrela de explosão. Suas emoções eram tão caóticas, zumbindo de uma estratosfera para outra, e ela se moveu torpemente quando eles se dirigiram para a rua rústica, para a periferia da cidade. Ela estava distante ciente de alguns caminhões que passava... Uma mãe andando com seus quatro filhos para o mercado... Um rapaz andando de bicicleta. Ela deu uma respiração funda, e seu pulso começou a bater mais rápido, a respiração ficava mais rápida... Mais rápida. Apenas quando o pânico tomou conta e fez um movimento brusco para se virar e correr, o homem à sua direita segurou a mão em torno do bíceps dela, puxando-a para seu lado com tanta força que ficou surpresa que o osso em seu braço não se quebrasse. 

— Eu acho que você não vai a lugar nenhum, querida. 

— Relaxe, Gregory – aquele com o cabelo mais curto advertiu em voz baixa.  — Nós ainda estamos na cidade, onde muitos olhos poderiam estar assistindo. 

 — Não se preocupe, Royce. Eu não vou machucá-la. – Ele se inclinou mais perto, sussurrando palavras roucas em seu ouvido. — Ainda não. 

  O homem chamado Royce aproximou-se e pegou sua mão esquerda, segurando-a num cruel aperto, de modo que ela ficou presa entre eles quando eles se dirigiram para o caminho em direção ao fim da rua, a selva densa, brilhante verde que aparecia à frente.

— Você me colocou num monte de problemas, Saige – ele resmungou em um tom de conversa, como se estivessem fazendo nada mais sinistro do que desfrutar de um passeio matinal. — Ainda assim, eu não posso te dizer como oportuno você tornou para nós, voltando ao bar. 

  O clarão luminoso da luz do sol matutino chamuscava os olhos dela, e ela podia sentir a umidade do suor reunindo-se contra a sua pele, onde eles agarravam seu braço e mão. A cada passo, as suas opções iam desaparecendo rapidamente, seu pânico crescia, quando ela percebeu que apenas valsava em direção a sua morte, sem fazer nada para detê-la. 

  E pelo que Quinn havia dito, ela sabia que não seria rápida. 

 — Eu não sabia que vocês caçavam em duplas. São irmãos? – Ela resmungou, orando silenciosamente para um milagre. Por Quinn. 

 O que segurava seu braço, Gregory, deu uma risada áspera. 

— Seu irmão bastardo matou o meu. Agora eu não tenho irmãos.  

 Saige piscou, tentando absorver a informação impressionante percebendo num nível instintivo que o seu ódio atingia um sabor pessoal. Um que ia além de uma rixa antiga. Um que faria de sua morte, seu sofrimento, muito mais importante para ele. 

— Os corpos humanos que tomamos eram irmãos – Royce ofereceu por meio de explicação. 

— Como você... Fez isso? Pegando esses corpos?  

  Mantendo um olho vigilante em seu entorno, ele disse:

— Quando estamos livres, nossas almas automaticamente procuram um hospedeiro humano que possui sangue Casus, assim como na lenda. Mesmo agora, despertares estão acontecendo em todo o mundo e os nossos números crescendo mais a cada dia.  

— Mas como? – Ela sussurrou, em silêncio, contando os passos que iriam levá-los para a cobertura da floresta. — Como você escapou de sua prisão? 

— Há um Casus, um grande líder, – explicou Royce – que descobriu uma maneira de combinar a sua força de vida com seus seguidores e enviar as nossas almas através do portão. 

— Mas há outra forma, também, – Gregory sussurrou perto de seu ouvido.  — Aquela que é mais divertido. Mais gratificante. Quer saber qual é? – Sem esperar pela sua resposta, ele disse: — Quando nos alimentamos de um Merrick plenamente desperto, ganhamos força suficiente para puxar um de nossos parentes de volta a partir do nosso completo Meridian.  

— Meridian? 

 — Nosso nome para o aprisionamento no solo – Royce disse em voz baixa.

— Isso significa que você vai continuará caçando meu irmão? – Perguntou ela, esperando que Ian estivesse fazendo tudo o que pudesse para se proteger. 

— É claro que, apesar de saber que ele está fazendo um bom trabalho ao se esconder com seus pequenos guardiões aliados. Mas o maior dos Merrick nós matamos, o maior Casus fizemos retornar. E desde que aquele bastardo matou Malcolm, ele agora está livre para jogar. 

— Se a lenda é verdadeira, e um despertar para cada Merrick começa quando um Casus escapa desse... Meridian, então quem de vocês causara a minha? – Perguntou ela, dolorosamente ciente de que não era capaz de passar qualquer coisa do que sabia para Quinn e os outros. Que provavelmente fosse por isso que os Casus estavam dispostos a lhe dizer. Eles sabiam que os seus segredos não iriam a lugar nenhum.

— O privilégio de se alimentar de você pertence a mim – Royce disse macio, o rumor das palavras áspero. — Depois que a alcançamos quando viemos aqui, Gregory vai encontrar o seu próprio Merrick. 

  Ela poderia dizer que as palavras de Royce irritaram seu parceiro, quando os dedos longos de Gregory apertaram-se em seu bíceps tão profundamente, que sabia que seu braço ficaria escuro e azul. Fazendo o melhor para ignorar a dor, ela disse:

— Posso perguntar para onde estamos indo? 

 — Isso é com você – Royce murmurou, lançando um olhar rápido sobre o ombro, como se certificasse que não estavam sendo seguidos. — Nós sabemos que você já encontrou um segundo marcador, Saige. 

 — Que... que Marcador? – ela sussurrou, enquanto que por dentro estava gritando... Caindo aos pedaços. Será que eles sabem sobre Jamison? Será que eles sabem o que ela fez com a Cruz?

 O que se chamava Gregory aproximou-se. 

— Eu posso cheirar seu medo. Você não está enganando ninguém, puta. Vimos o que você descobriu na selva ontem de manhã.  

 — Quanto tempo vocês tem me seguido? – Ela resmungou, estremecendo quando ambos Casus reforçaram seus apertos, a ponto de esmagar os ossos. 

 — Tempo o bastante para saber que você é um pé no saco – Gregory contrapôs, dando-lhe um sorriso afiado. 

 Saige teria rido se não estivesse tão apavorada.

— Então, eu tenho sido seguida. 

  Ela pensou na conversa engraçada que teve com Quinn, naquela manhã e alguma coisa doeu em seu peito, à dor em seu sangue e seus ossos. Deus, ela tinha sido tão estúpida por deixá-lo. Absurdo pensar que poderia fazê-lo retornar aos EUA por conta própria. Ela ainda não tinha conseguido sair de Coroza.

  Eles se aproximavam da selva, e ela disse:

— Se você já está aqui por muito tempo, por que não ainda não me matou? 

Algo baixo e impiedoso saía da boca de Gregory, muito mal para ser uma risada. 

— Porque ele estava esperando você amadurecer. 

— Você quer dizer despertar? – Ela perguntou com sua voz grossa. 

—Isso. – Ele se inclinou mais, apertando o nariz em sua têmpora enquanto ele respirava seu cheiro, seus lábios contra o frio o calor de sua pele, fazendo com que seu estômago revirasse. — Comer você é muito cedo, se você não estiver forte o suficiente para dar ao velho Royce o que ele precisa. 

  Eles chegaram ao fim da rua, e deram os primeiros passos para a selva, a densa folhagem parecia engoli-los, como um monstro instintivo. A floresta já não era o seu refúgio... Seu santuário. Dentro de momentos, era como se estivessem em um mundo diferente, um onde os predadores reinavam supremos e o mal se escondia dentro das sombras do sol manchado, esperando para atacar. 

— No caso de nenhum de vocês terem notado, eu ainda não despertei. 

— Nós sabemos disto – Gregory disse-lhe. — Mas depois de ontem à noite, não correremos o risco de você errar com o pequeno Guardião. 

— Você não deveria ter fugido do Raptor – acrescentou Royce, finalmente liberando a mão dela. Ele manteve-se ao seu lado enquanto acrescentava: — Ele era a sua melhor chance. 

— Quinn virá até mim – sussurrou ela, desejando realmente acreditar que era verdade. 

 — Você acha? – Ele respondeu num macio do riso, um fantasma de um sorriso brincando no canto de sua boca. — Depois da maneira que você o abandonou? 

 — Vocês estavam me vigiando em São Vicente? 

  Royce sacudiu a cabeça, chegando a puxar um espesso emaranhado de cipós fora de seu caminho, às folhas da grama úmida que cobriam o chão roçando suas panturrilhas. 

— Não precisamos. Nós sabíamos que você poderia voltar para o bar, por isso estivemos esperando por você. Mas é óbvio que você fugiu do seu protetor. Não havia maneira dele deixar você vir aqui por sua conta.  

 Ela mordeu a língua, recusando-se a dizer-lhe algo sobre Quinn ou por que fugira, e ele disse:

— E agora você vai nos levar até o marcador. 

— Não – ela disse lentamente, erguendo a cabeça, quando um bando de pássaros multicoloridos revoou para as copas das árvores, a vibração de suas asas como mil pés minúsculos tamborilando contra o chão. Saige desejava que pudesse voar exatamente da mesma maneira. Que, como Quinn, ela pudesse afastar-se do pesadelo, sabendo que suas palavras próximas poderiam provavelmente ser as últimas. — Eu acho que eu não vou. 

  Royce agarrou seu braço esquerdo, empurrando-a. 

— Você se importa com as pessoas lá atrás, Saige? – Ele murmurou, os olhos azul-gelo diminuindo com o ódio... Com fome. 

 — Você não quer que acabem como o rapaz, você quer? – Gregory murmurou antes que ela pudesse responder, ela moveu rápido sua cabeça em sua direção. 

 — O que você acabou de dizer? – Sua voz era pouco mais que um suspiro, ofegante e suave, enquanto a névoa de terror que a paralisava finalmente começou a desaparecer. Em seu lugar, uma escura, implacável fúria começou a subir de dentro dela, alimentando a companhia com a sua furiosa Merrick, arremessando tudo de seu foco, surpreendente. Lembrou-se do jovem Javier e seus irmãos. Lembrou-se da sua felicidade. Sua risada e seu sorriso. 

 E acima de tudo, ela se lembrou do que esses bastardos tinham feito com ele. 

 — O garoto fez o melhor para proteger você, mas no final, ele cooperou bastante ao nos deixar saber que você deixou algo de valor no cofre do bar. – Gregory enviou um olhar significativo para a mochila ainda presa em seu ombro. — Nós assumimos que você tem os mapas. Seria uma vergonha ele ter sofrido por nenhuma razão.
 
— Filho da puta! – Ela assobiou, querendo destruí-lo simplesmente com as mãos nuas. Ela podia sentir a raiva primitiva do Merrick ganhando força dentro dela, podia sentir a frustração por não poder bater e ir para a garganta do monstro. 

— É isso aí, menina. – Gregory se aproximou, cheirando-a como um leão de olho em um pedaço de carne saborosa. — Seu Merrick quer sair e brincar, mas primeiro você tem que dar o que ele precisa. 

  Ele estava certo. Sua Merrick queria sair, mas não era o que tinha em mente. Estava rastreando no caminho para a superfície, desesperada pela liberdade, mas ela não estava forte o suficiente. Até que ela se alimentasse, levando o sangue que o Merrick necessitava para se nutrir, a parte primitiva de sua alma seria incapaz de se libertar. 

Mas estava lá, se contorcendo de raiva... Com a necessidade de atacar e causar tanta dor como Javier tinha sofrido. 

— Foi você, não foi? – Ela rosnou, enojada pelo ardente calor de prazer aquecendo o gelado olhar de Gregory. — Você o torturou! Mordeu seus dedos! Seu demônio!  

  Ele sorriu como uma víbora se preparando para atacar. 

— Se você está preocupada com os dedos, – ele contrapôs — então você não quer saber o que eu mordi depois. 

No instante em que ela registrou seu significado, ela enlouqueceu. Não havia outra maneira de descrevê-lo. Trêmula de raiva, Saige soltou-se das garras de Royce e atirou-se contra Gregory, arranhando seu rosto, chutando gritando e dando socos em cada parte dele que pudesse alcançar. Ele grunhiu quando Royce a agarrou por trás, afastando-a dele. Através de uma névoa vermelha tingida de fúria e dor, Saige observou o desgraçado levantar o braço. Em seguida, um punho poderoso bateu em seu queixo, e tudo ficou escuro. Um segundo ela estava gritando, chutando, arranhando. E depois... Nada. Apenas um escuro, o esquecimento, branco vazio. 

  Quando ela finalmente voltou a si, ela não tinha idéia de quanto tempo tinha passado. Minutos? Uma hora? Duas? Sua garganta doía, e ela podia sentir as lágrimas e sangue em sua boca, o queixo pulsando com uma dor fraca e dolorida. Orando para que ela não tivesse sido estuprada quando inconsciente, ela passou as mãos sobre sua camisa e short, uma corrente de lágrimas silenciosas escorrendo de seus olhos fechados quando se encontrou intacta. Levantando as pálpebras, Saige viu que estava deitada no chão no meio de uma pequena clareira. Ela podia ouvir o fluxo do rio próximo, o céu sem nuvens dolorosamente azul contra os olhos quando piscou contra a luz ofuscante do sol. Selva escura, densa rodeava por três lados, a única construção era uma cabana de aparência triste que ficava no lado norte da clareira, perto da margem do rio. 


 Por um incrível instante, Saige pensou que estivesse sozinha. Sua respiração ofegante, intensa, tomada de alegria e alivio tornando difícil para respirar. 

  E então ela viu o Casus.

 Eles ficaram cerca de dez metros de distância, inclinando-se sobre uma desgastada mesa de madeira que estava embaixo de uma árvore imponente, seus olhares intensos concentrados nos mapas que estavam distribuídos ao longo da superfície da desgastada mesa. Sua mochila estava caída no chão atrás deles, jogada para um lado. Royce estava falando, sua voz baixa cortante com a mordida de frustração.

— Eu não posso acreditar que estas malditas coisas estão em código. 

— O que você esperava? Eles não foram feitos para facilitar – Gregory contrapôs e, em seguida, como se ele pudesse sentir o toque de seu olhar, ergueu a cabeça e sorriu. — A vadia está acordando. Talvez ela possa lançar alguma luz sobre a situação.

Levantando-se da mesa, Royce empurrou o queixo para os mapas. 

— Você vai nos mostrar como ler estes. 

— Ler o quê? – Ela murmurou, lutando para ignorar a dor em seu queixo enquanto ficava de joelhos. Ela teria se levantado, mas sua cabeça estava girando bastante e sabia que terminaria deitando o seu rosto sobre o chão coberto de musgo. 

Agarrando um dos mapas, Royce caminhou em sua direção, enquanto Gregory acompanhou de perto nos calcanhares. 

— Resposta errada – ele rosnou, e Saige podia ver as pontas afiadas do que parecia ser um jogo letal de presas em repouso sob o lábio superior, brilhando ao sol. 

— Se você vai me comer – ela desafiou — então, vai ter que consegui-lo no inferno. 

— Eu vou matar você quando estiver pronta – ele rosnou, empurrando o mapa no seu rosto. Mas primeiro você vai nos dizer como usá-los para encontrar os Marcadores. 

— Por que você se importa? – Ela gritou, empurrando o mapa de seu rosto. — O que você quer com eles? Que bem os Marcadores farão aos Casus?  

 Ele olhou, duro, e havia algo em seus olhos que lhe davam um distanciamento. Uma explosão, quebradiça irregular da risada que rasgou sua garganta, e ela apertou as mãos em seu estômago.

— Oh, meu Deus! Você não sabe mesmo, não é?

— Porque queremos não é assunto seu maldita – ele rosnou — E se você não quer morrer, agora, então é melhor você começar a explicar. 

 Saige ergueu o queixo, quase esperando que pudesse fazê-lo ficar com raiva o suficiente para matá-la rapidamente, em vez de arrastá-lo para fora... Tornando-se isto passado. 

— Então, você pode também seguir em frente e fazer isto, porque eu nunca vou te dizer como ler eles!

 Dobrando os joelhos, ele se abaixou na frente dela, ao mesmo tempo, ele estendeu a mão, segurando o cabelo dela na mão livre, e ela gritou inflamada pela crueldade da dor. 

— Você vai me dizer, Saige. 

— Mesmo se eu quisesse, eu não posso apenas dizer-lhe como os ler – ela suspirou, puxando ineficazmente do seu pulso grosso. — O código é complicado, e ela muda de mapa para mapa. Eles não são nada mais do que uma longa corrente de indicações, cada um se mistura para no próximo. Eu nem sei ao certo quantos são listados nas páginas, e eu provavelmente não saberei em anos. Levei meses apenas para decifrar o que me trouxe até aqui.

 Lançando um profundo som de desgosto na garganta, Royce empurrou-a para longe e ergueu-se em toda sua altura. Rastejando de costas com as suas mãos e os pés, como um caranguejo, Saige olhou para sua expressão assassina, perguntando se iria finalmente seguir em frente e tirar a vida dela. 

— E agora? – Gregory perguntou, dando um passo para o lado de Royce. 

— Nós a manteremos viva – ele resmungou entre os dentes fechados quando ele se virou, tendo o mapa de volta à mesa, onde o colocou com os outros. 

Ela engasgou quando viu que ele tinha uma arma escondida no cós da calça jeans, descansando em suas costas. Parecia uma arma estranha para um Casus transportar e ela se perguntou com uma estranha sensação de distanciamento, se ele sabia mesmo como usar isto. 

— Mantê-la viva? – Gregory repetiu, cortando Royce com um olhar de descrença enojado quando ele se virou para enfrentá-lo. — Você não pode estar falando sério. 

 — Até sabermos se alguém pode lê-los – disse Royce, raspando as mãos para trás com os fios de seu cabelo curto — não temos outra escolha. E uma vez que não há sentido alimentar-se dela até que desperte completamente de qualquer maneira, eu posso muito bem esperar.
 
  Aproximando-se mais, Gregory mudou seu pálido olhar para seu rosto enquanto disse — Ela ainda não nos disse o que ela fez com o segundo marcador. Eu poderia fazê-la falar.  

— Não! Não, eu vou te dizer! – De repente ela gritou, movendo-se instável erguendo-se. — Eu escondi, no parque do campo onde eu estava hospedado com a equipe de investigação. Eu sabia que estava sendo vigiada, e eu não quis arriscar que roubassem o marcador.  

— É pequena mentirosa. – Royce caminhou para frente em passos rápidos, batendo com as costas das mãos no rosto dela com tanta força que quase caiu no chão novamente. Atordoada, Saige sacudiu a cabeça, o gosto, quente metálico do sangue na boca dela fazendo a criatura instintiva dentro de si acelerar sua compreensão. 

— Já viramos de cabeça para baixo aquele parque e não está lá. Então eu vou lhe dar mais uma chance, Saige. Diga-nos onde está o marcador ou eu vou fazer Gregory um rapaz muito feliz e deixar que ele tenha o que está querendo desde que colocou primeiro os olhos em você. – Sua voz baixa, quase como se ele estivesse dizendo a ela um segredo. — Isso não vai matar você, mas posso prometer que você desejará isto quando ele a tiver. 

  Uma profunda, demoníaca estrondosa risada veio de Gregory, seu sorriso largo revelando claramente suas intenções. Com uma rápida olhada para baixo de seu corpo alto, Saige podia ver que ele já estava duro, e era a coisa mais difícil que ela já tivera que fazer, ali diante deles com a sua coluna reta, quando ela não queria mais do que envolver-se em uma bola dura apertada e rezar por Quinn. 

— Um pouco irônico, não acha? Considerando que você fugiu dele. 

 Royce colocou seus longos dedos abaixo do queixo dela, puxando seu rosto para trás para ele até que ela encontrasse seu olhar zangado. 

— Última chance, Saige. Onde ele está?

 Ela molhou a boca. 

— Eu disse a você, que está no...

  A mentira morreu em seus lábios enquanto a mão segurava o rosto transformado imediatamente, e um som agudo assobiou enchendo os ouvidos quando ela sentiu o osso dele se quebrar, enquanto se transformava, as garras longas, aterrorizantes cortavam as pontas dos dedos humanos.

— Não pense por um segundo que eu consiga me controlar se você me fizer mais alguma raiva. Eu quero o poder de seu Merrick, bem como o código dos mapas de sangue, mas se me irritar demais, minha raiva vai superar os meus desejos. Você me entende?

 Inclinando o seu olhar para o lado, ela se esforçou para pensar numa maneira de sair disto, enquanto focalizou sobre um monte distante do que parecia lixo apodrecendo na beira da clareira, sob uma árvore perto do rio. Primeiro Saige não tinha certeza do que estava olhando. Ela só sabia que não era... Certamente. Ela estreitou os olhos, incapaz de afastar o seu olhar enquanto uma verdade horrível e insuportável deslizava através de seu cérebro.

 E então ela percebeu a forma masculina em pé coberta de sangue saindo da pilha de lama e vestida... E agora percebia o que ela estava vendo. Repulsa percorreu o seu organismo, amordaçando-a. Royce puxou a mão monstruosa longe de seu rosto, e ela se inclinou, apoiando as mãos sobre os joelhos enquanto lutava com uma onda, acentuada súbita de náusea. 

— Saige, conheça Paul Templeton. Ou pelo menos o que sobrou dele – Gregory ofereceu uma risada cruel. 

— Oh, meu Deus! – ela gemeu, tomando cuidado para manter longe o olhar do que restou do cadáver mutilado de Templeton. — Por que você simplesmente não o queimou, como você fez com os outros?

 Royce agarrou seu braço, puxando para ficar em pé. 

— Que diabos você está falando? De que outros?

— O corpo de Javier foi carbonizado, do mesmo modo que seus irmãos. Por que você não fez isso com Templeton? Por que deixá-lo... Assim?

 Ela observou o pulso de Royce latejar em sua têmpora quando ele a deixou ir e virou-se para Gregory. 

— Você sabe o que isso significa, não é? 























Capítulo Nove 

  
  PELA SEGUNDA VEZ em vinte e quatro horas, Quinn viu-se na posição desagradável de salvar a louca de Saige Buchanan com seu suicida traseiro irritante. Ou a mulher tinha um maldito desejo de morrer ou ela era comprovadamente insana. De qualquer maneira, ela era uma mentirosa, e ele não queria desperdiçar seu tempo lidando com ela. Se não fosse pelo fato de que ele sabia que seus irmãos fariam se sua vida um inferno, ele já teria retornado para casa, deixando-a descobrir uma maneira de sair dessa sozinha.

 'Você pode continuar pensando, mas isso não vai tornar-se realidade'.

  Ele rosnou silenciosamente em pensamento, odiando a facilidade com que havia se deslizado sob sua pele. O pedaço de papel preso no fundo de seu bolso direito queimava com um calor fantasmagórico, ofendendo seu amor-próprio. Um bilhete.  Seu lábio enrolou-se ao pensar nele. Ele não podia acreditar que tinha tido a ousadia de deixar-lhe uma maldita nota, não apenas agradecendo sua ajuda, mas também lhe dizendo para voltar para casa, como se fosse algum lacaio que podia mandar como um capricho.

  Ele só não conseguia entender porque ela tinha feito isso. Não era como se estivesse melhor sem ele. Ela não havia ficado sozinha por mais que algumas horas, e já havia conseguido ser capturada não por um Casus, mas por dois. Agora ele estava em uma puta situação dividido entre o desejo de estripar os bastardos e a necessidade de manter Saige em segurança, mas, então só havia realmente apenas uma escolha. Não importava o quanto ele quisesse o sangue deles, ele sabia muito bem quem era sua prioridade número um. Ele faria o que fosse necessário para mantê-la segura – se ela quisesse ou não sua ajuda.

  E considerando que ela o abandonou, Quinn poderia somente supor que ela não estava procurando um cavalo branco. Isto era muito bom, vendo como seu humor estava tão escuro quanto o resto dele.

  Ela se agarrou a seu lado enquanto ele segurava uma espessa e resistente videira para escalar o caminho até a árvore, as botas apoiadas no rugoso tronco. A vegetação era muito densa nesta parte da selva para ele voar nessa altitude, o que significava que eles precisavam ir mais alto. Mas primeiro ele tinha que pegar a mulher tola em suas costas, onde ela não poderia sufocá-lo no aperto da morte enquanto se segurava no pescoço dele.

 — Segure-se na árvore – resmungou quando ele virou-a para a próxima ramificação ampla.

 — Oh, meu Deus! – ela sussurrou seus olhos arregalados movendo-se entre a terra distante e seu rosto quando se apoiou no galho ao lado dela, tentando encontrar uma vinha tão forte que poderia levá-los até a copa superior. 

Mesmo o ar sobre o rio estando claro para o vôo, ele não poderia correr o risco de serem vistos por quem viajava de barco, o que significava a sua única opção era ir até onde ele poderia voar logo abaixo da cobertura da floresta tropical. 

— Você está louco? – Gritou baixinho quando ele afastou-se dela, alcançando outra vinha para testar sua força. — Você não pode deixar-me aqui!

— Eu não vou deixar você – ele rosnou, lançando um olhar rápido em direção à clareira, onde os Casus movimentavam-se lutando, fazendo o melhor para bater o inferno um do outro. Eles ainda não tinham notado que Saige estava ausente, mas ele sabia que isso poderia mudar a qualquer momento, o que significava que precisava sair de lá. — Nós vamos subir mais alto, assim você vai ter que ficar nas minhas costas.

— Ok – ela suspirou obviamente com medo de altura. Ela piscou, tentando dar-lhe um sorriso pequeno, frágil, os olhos luminosos e brilhantes. — Deus! Quinn. Tenho de lhe dizer o que eles disseram. O que eu soube.

 — Mais tarde – ele murmurou, sua raiva crescendo quando ele avistou o queixo ferido e machucado, os lábios ensanguentados. Ele queria gritar com ela. Queria insistir no que ela estava pensando quando decidiu abandoná-lo. Queria torcer o pequeno pescoço magro para afastar-se do inferno.

  Cristo, ele queria deitá-la e fazer coisas com ela que ele nunca tinha pensado em fazer com outra mulher. O desejo era uma besta feroz, mordendo em seu íntimo, exigindo o que lhe era devido. Ele não se importava com o modo que a teria. Ele somente a queria, de todas as maneiras possíveis, até que ele imprimisse a si próprio tão profundamente nela, que ela não conseguiria se livrar dele. Até que ela estivesse marcada por seu cheiro... Por a sua semente... Por sua alma, a ponto de que qualquer homem que chegasse perto dela saberia exatamente a quem ela pertencia.

  'O que significa que você perdeu seu juízo'.

 Um momento Quinn estava lá, rosnando para si mesmo por ser um tolo. E na próxima, ele encontrava-se agarrando o braço dela. Ele puxou-a para si, batendo-a contra seu corpo com tanta força que a respiração dela escapuliu de seus pulmões, seu outro braço torceu-se num cipó grosso para equilibrar. Então, ele cobriu a boca dela com a sua. Cobrindo-a... e a possuindo-a, penetrando profundamente, na doçura com um roçar agressivo de sua língua, mostrando como ele estava zangado com ela. O beijo tinha gosto de dor, fúria e ganância, cada emoção distinta e inconfundível, revelando partes de si mesmo, ele sabia que estavam bem guardadas.

  Ele esperava que ela lutasse contra ele, considerando como ela fugiu. Perfurando, arranhando e chutando-o, mas Saige se surpreendeu mais uma vez beijando-o de volta, jogando os braços em volta de seu corpo, apertando-o quando ela tentou mover-se a sua maneira sob seu corpo. Perdido em seu gosto, Quinn beijou tanto quanto ele se atrevia, sabendo que a qualquer momento os Casus notariam sua ausência e viriam atrás deles para matá-los.
Abalado pela irresponsabilidade do que estava fazendo, ele a empurrou, impelindo suas costas contra o tronco da árvore.

  'Porra', ele pensou, passando sua mão livre pelo seu rosto, enquanto seu peito arfava ante a cadência irregular de suas respirações.

  Ofegante, ela estendeu a mão e tocou a pele quente e ardente de seu peito nu, a camisa descartada em algum lugar na selva, antes quando ele liberou suas asas na sua corrida louca para encontrá-la. Havia tantas perguntas flutuando através de seus olhos, como as ondas coloridas de um mar agitado, mas ele a calou com um aceno brusco de cabeça.

  Ou pelo menos tentou.

 — Quinn – ela sussurrou. Eu não posso acreditar que você voltou para...

Antes que ela pudesse terminar, as palavras ásperas abafaram a sua suavidade dela por um barulho de disparo de balas descarregadas de baixo, afastando-se dos ramos nas proximidades, e Quinn sabia que sua sorte tinha acabado. Abrindo suas asas, ele pressionou Saige contra a casca rugosa da árvore e envolveu o seu corpo em torno dela, fazendo o seu melhor para protegê-la completamente dos poderosos disparos enquanto deslocava-a através da folhagem espessa da selva.

  Ele não esperava que os bastardos tivessem armas, e agora eles estavam presos, sem ter para onde ir.

 — Aconteça o que acontecer – ele rosnou contra o topo de sua cabeça — continue a subir e fuja do inferno. Assim será mais difícil para eles.

 Um momento mais tarde, as balas pararam o que significava que ele tinha apenas alguns segundos antes que eles recarregassem. Ela tentou segurá-lo enquanto ele empurrou-a para trás, afastando-se dela, mas ele era muito rápido. Caindo para trás, Quinn torceu-se no ar e disparou em direção à borda da clareira, onde estavam os dois Casus, mas ele não foi rápido o suficiente. Outra rodada de balas rasgou o céu, e a dor explodiu através de sua asa direita, como uma rajada de fogo líquido. Cerrando os dentes, ele lutou contra o sofrimento e a agonia e bateu em alta velocidade contra o primeiro Casus, que bateu no segundo. Os três desceram deslizando, batendo duro os corpos, as armas espalhando-se sobre a superfície coberta de musgo da clareira.

  Ele podia ouvir Saige gritando para ele ter cuidado, pois ele ficou de pé e Casus fez o mesmo, lentamente circulando-o, suas bocas armadas quase sorrindo enquanto aguardavam o momento de atacar.

— Ninguém nunca te disse que as balas enganam? – Ele resmungou, sabendo que tinha que encontrar uma maneira de tirar suas armas. Se ele pudesse retirar as armas dos dois, ele teria uma boa chance de retornar para Saige e depois voar para assegurar a segurança dela. E enquanto ele queria destruí-los com as mãos vazias, ficar e lutar não eram uma opção. Não quando a vida de Saige estava em risco.

— Nós estávamos apenas tentando chamar sua atenção – à sua esquerda raspou uma fala arrastada, intensamente áspera. — Não é verdade, Royce?

— Não perca tempo conversando com ele – Gregory, o outro gritava. — Basta apenas matá-lo. Eu disse que esses bastardos são perigosos.

  Embora cada um dos Casus ostentasse, por um momento, uma mão humana para usar as armas de fogo, o resto de seus corpos já estavam transformados inteiramente nas formas monstruosas das suas feras interiores, com desmedidas, cabeças em forma de lobo. Quando Quinn liberou suas próprias garras mortais, um conjunto de garras afiadas letal penetrou toda a parte inferior das costas, cortando sua pele. Rugindo, Quinn usou sua asa ilesa para jogar o Casus no chão, em seguida, contorceu-se, derrubando o outro com um soco poderoso quando este pulou em sua direção, com as enormes mandíbulas escancaradas. Ambos vieram para ele inflexíveis e rápidos, depois disso, o mundo se tornou uma mancha caótica de golpes, chutes e selvagens rosnados guturais. Quinn penetrou no couro de seus corpos com suas garras afiadas, fazendo tudo o que podia para manter-se fora do alcance de suas garras e presas.

  Não importa o quão brilhante ele fosse como lutador, não havia chance naquele inferno, não era que ele deveria ter sido capaz de mantê-los fora, mas a necessidade de proteger Saige era tão forte, ele ficou em pé quando ele deveria ter se abaixado. Repetidamente, ele usou suas garras para rasgar seus corpos poderosos, uma torrente de primitivos rugidos arrancados de seu peito, girou e chutou os adversários. E de alguma forma ele achou um jeito de ignorar a dor no entorpecimento mental e seu poder no caminho, fazendo o melhor para permanecer vivo.

'Não que a pequena mentirosa mereça'.

  Ele lutou para se manter violento com a ardente raiva que sentia por Saige, mas não era tão fácil como deveria ser. O medo de que os Casus poderiam fazer a ela espalhava-se friamente em suas veias, estimulando-o. Ele girou em circulo sobre seu pé esquerdo, levando a perna direita para trás em torno e contra a mandíbula de Royce quebrando-a. Osso triturou com revoltante vigor, mas o Casus se recusou a cair. Este se defendeu com um golpe mortal de suas garras viciosas, e ele abaixou-se, apenas a tempo de evitar o golpe fatal. Chutando com a perna esquerda, Quinn bateu com as pernas no outro pondo seu corpo desmedido fora de combate, levando-o ao solo, quando Royce veio com ele novamente.

  'Tempo para acabar com este', pensou ele, percorrendo suas garras em toda a garganta do bastardo. O Casus caiu imediatamente no chão, agarrando selvagem a ferida com as mãos cobertas de sangue.

 Rosnando, o que se chamava Gregory colocou-se de pé e deslocando suas horríveis mandíbulas escancarou-as, salivando. Quinn usando suas asas poderosas para levantar seu corpo do chão, em seguida, torceu-se no ar, levando o pé direito na têmpora da criatura. O Casus caiu no chão, atordoado. O golpe esmagador teria, sem dúvida, matado um homem, mas ele sabia que o Casus sobreviveria. Mesmo agora, ele estava começando a se agitar, e uma rápida olhada para a esquerda mostrava o outro, Royce, tentar ficar em pé, mesmo que suas mãos ainda estivessem pressionando a garganta que sangrava. Sabendo que precisava fugir, enquanto ainda poderia Quinn rapidamente recolheu suas garras e pegou as armas. Retorcendo-se para trás, ele enfiou-as no cós da calça jeans, em seguida, limpou a boca que sangrava em seu ombro.

 Se estivesse sozinho, teria ficado e aproveitado suas chances contra os monstros sádicos, mas preocupação com os gritos de Saige lá em cima ganhou de longe de sua ira sanguinária. Lançando de volta um gemido de dor sufocante, ele rapidamente fez seu caminho até a outra vinha, subindo até onde ele a deixara. No instante em que seus pés estavam apoiados contra a largura do ramo, ela o tocava com as mãos trêmulas, uma onda de suavidade rouca das palavras que fluíam em seus lábios quando ela tomou conhecimento de seus ferimentos.

— Deus, você está machucado – disse ela em voz baixa, olhando para sua asa direita coberta de sangue que ele com uma respiração profunda acabou recolhendo em seu corpo. Ela fez um som grosso em sua garganta, passando o olhar triste sobre as suas feridas. — Eles cortaram você. Todo. 

 — Eu vou ficar bem – ele resmungou, sabendo que no momento em que retornasse para a cidade, a maior parte da dor se desvaneceria, seu corpo restauraria-se mais rápido do que de um ser humano. O buraco de bala através do osso em sua asa era o único ferimento que o preocupava, e levaria mais tempo para curar.

 'Iria também dificultar infernalmente sua capacidade de voar'.

 — Vire-se – disse a Saige para subir em suas costas, e enviando para uma oração silenciosa de agradecimento, quando ela não discutiu. Em vez disso, ela se apertou contra a sua coluna, envolvendo os braços em volta dos ombros, as pernas em torno de sua cintura, e ele começou a subir, mão sobre mão, seus músculos protestando contra o esforço. — Qualquer coisa que eu fizer – ele rosnou: — não olhe para baixo.

 — Eu não vou – ela sussurrou, segurando-o apertado. Levando ambos até cerca de vinte metros, antes de parar num dos galhos mais altos. Apoiando os pés, Quinn ajudou Saige a deslizar girando para sua frente, em seguida, segurou-a contra o peito dele enquanto ele corria ao longo da ponta do galho e liberou suas asas, apanhando o vento. Ramos e galhos arranharam seus braços e pernas, mas ele ignorou a dor, voando tão rápido quanto pôde, alimentando-os através do ar úmido da selva. Ainda assim, apesar de sua determinação, ele só poderia viajar para tão longe antes que a dor em seu braço direito, finalmente o levasse para baixo.

  Num segundo, seus pés tocavam o chão coberto de grama com segurança, Quinn liberou-a e logo recuou, travando sua mandíbula quando ele forçou suas asas a retornar para seu corpo. 

— Você pode andar? – Ele resmungou, percorrendo o seu olhar para baixo do corpo dela, procurando por todos os ferimentos.

  Como se ela nem sequer tivesse ouvido-o, ela se adiantou, sua voz calorosa e suave quando disse:

— O que você fez lá atrás. Meu Deus, Quinn, foi surpreendente. Eu nunca vi ninguém lutar assim em toda minha vida.

— Você. Pode. Andar? – Ele rosnou, odiando que tivesse visto esse lado dele. Era algo que tinha sempre escondido de Janelle, uma vez que ele percebeu como ela se sentia sobre seus talentos mais mercenários. Mas Saige não estava olhando para ele com um olhar aterrorizado em seu rosto bonito, machucado. Na verdade, ela olhou... Faminta, como se estivesse queimando com a mesma energia violenta rasgando através dele.

  Ela assentiu com a cabeça em resposta à sua pergunta, e ele virou as costas para ela, disparando em direção Coroza. 

— Precisamos avançar rápido e conseguir sair do inferno desta selva.

— Quinn – ela ofegou, praticamente correndo para acompanhar seu ritmo apressado. — Você salvou a minha vida lá. Novamente. Eu não sei como...

 — Não – ele rosnou, não estava interessado em nada que ela tinha a dizer. — Se eu fosse você, Saige, eu apenas ficaria quieta, porque qualquer coisa que sair certamente de sua boca agora, provavelmente, só vai me irritar.

— Será que sua asa vai ficar bem? – Perguntou ela, obviamente, ignorando o seu aviso. — Será que vai continuar sangrando?

— Sim, ela vai continuar sangrando até eu cuidar dela – ele murmurou, usando as mãos para empurrar o denso emaranhado de folhas fora de seu caminho.  — Agora cale a boca e continue andando.

— Mas eu quero... Oomph.

 Ele virou-se para ela tão depressa, que ela colidiu com o peito dele, as mãos macias frescas contra o calor da sua pele, pressionadas contra o batimento furioso do seu coração. Cerrando os dentes, Quinn empurrou pelos seus ombros, forçando-a para trás, não confiava em si mesmo para ficar próximo a ela. 

— Você quer ficar por aí e conversar agora? – Ele gritou, olhando para ela.  — Então tudo bem. Irei em frente. Mas, logo que estes bastardos forem capazes de se mover, eles vão se projetar sobre nós. Você realmente quer estar aqui quando isso acontecer, ou você prefere chegar em algum lugar seguro?

— Eu só quero explicar o que aconteceu. – Seus olhos eram dolorosamente azuis sob a franja escura de seus cílios, a voz grossa... Sem fôlego. — Eu tinha meus motivos para fugir, mas eu sei que cometi um erro.
— Sim, eu estou apostando que você contaria cerca de dois segundos depois que eles colocassem suas mãos sobre você.

*****
 
  CRUZANDO OS BRAÇOS sobre a cintura, Saige respirou fundo, determinada a encontrar uma maneira de chegar até ele. Ela não sabia por que era tão importante, além do fato de ele salvar-lhe a vida abnegadamente, não uma, mas duas vezes agora. Tanto quanto razões tivessem, não havia dúvida de que era persuasiva. Mas era mais do que isso. Se ela não o conhecesse, pensaria que ela estava realmente em pânico com a idéia de perdê-lo, o que era loucura, considerando que ela nunca o teve em primeiro lugar.

E nunca o teria.

 — Eu pensei que estivesse fazendo a coisa certa, Quinn. E eu posso explicar, se você apenas me der uma chance.

  Ele tremia, como se estivesse segurando alguma emoção, escura devastadora. 

— E você acha que eu vou acreditar em qualquer coisa que você tenha a dizer? Inferno! Saige. Pelo que sei, cada palavra que saiu da sua boca foi uma mentira.

— Você realmente não acredita nisso – argumentou ela, enquanto ficasse servil, sabendo que ele ficaria ainda mais furioso quando ela lhe contasse a verdade. Sobre tudo.

Seus olhos escuros moveram-se sobre o rosto com uma intensidade feroz, cheios de uma dor que era mais profunda do que seus ferimentos físicos, e ele balançou a cabeça lentamente.

— Para ser honesto, eu não sei em que acreditar quando eu olho para você.

— Quem foi, Quinn? – Ela podia ver uma verdade incômoda latente lá em sua violência, no olhar raivoso, e a questão saiu dela, numa necessidade de conhecer, ao qual era impossível resistir.

 — Quem foi o quê? – Agarrou, enquanto seu peito arfava, sua respiração rápida num ritmo intensamente irritado.

— A pessoa que machucou você? – Ela disse suavemente, devastada pelo pensamento de alguém, alguma mulher, tendo esse tipo de poder sobre ele. Mas ela sabia que estava certa. Saige poderia ver os demônios de seu passado, podia senti-los, levantando-se dentro dele. A fúria visceral primitiva que tinha sido despertada por suas ações, naquela manhã, levando algo escuro e destrutivo para sua superfície.

  Ele chegou mais perto, sua voz nada mais do que um som rasgante, áspera e gutural.
— Isto não é sobre mim. É sobre você. E a minha vida não é nada da sua maldita conta.

— Não é? Você sabe tudo sobre mim. Não é justo que eu conheça os seus segredos?

— Você fugiu de mim, e então eu quase morri para salvar seu traseiro! – Ele rugiu, vibrando de raiva e frustração. As emoções violentas atirando-se contra ela como uma força calorosa e detestava que ela o tivesse machucado. Odiava, mas não podia negar. Como se tivessem substância física, ela podia sentir as mágoas que tinha feito em seu ego. Ouvi-as na proteção áspera de sua voz. Vi-as nas linhas devastadas da sua expressão.

 A partir do momento em que ela fugiu, Saige tinha lamentado que, cada passo afastado dele cortara-lhe um pouco mais fundo, como se uma crua ferida que sangrava tivesse sido esculpida em sua carne. Ela não entendia isto, mas então, isto não era novidade para ela. Toda a sua vida parecia ser um mistério inexplicável após o outro. Por que deveria seus sentimentos pelo impossivelmente complicado, absurdamente lindo Michael Quinn ser diferente?

 Ela não tinha ilusões sobre como iria terminar, mas quem poderia dizer quanto tempo ela tinha até o fim, afinal? Tudo que ela sabia era que, naquele momento, a verdade tornou-se cega, dolorosamente clara, como se tivesse acabado de abrir os olhos para a revelação, espetacular que cortava a respiração.

  Ela o queria. Não apenas para um rápido arrebatamento de prazer, e nem para usar como uma maneira de esquecer seu sofrimento. Mas por um momento roubado no tempo, onde ela podia se perder dentro dele... Fundir-se... E tê-lo. Completamente.

  Trêmula de emoção, Saige sussurrou seu nome, querendo nada mais do que estender a mão e tocá-lo... Segurá-lo. 

— Por favor. Deixe-me explicar. Eu vou te dizer a verdade, se você me der uma chance.

— Você pode falar quando nós retornarmos à cidade. Até então, eu manteria minha boca fechada, se eu fosse você. Você nunca sabe – ele murmurou.  — Talvez eu não goste do que você tem a dizer e decida deixá-la aqui depois de tudo.

 Ela odiava o olhar frio e vazio que caiu sobre os olhos dele, uma estranha espécie de pânico dentro de sua resolução, que foi de alguma forma pior do que quando ela estava com os Casus. 

— Eu sei que você está com raiva de mim, mas você nunca faria algo assim.

— Se isso é o que você realmente acredita, então eu acho que você não é tão esperta, afinal – ele grunhiu, e, virando-lhe as costas, ajustou-se para trás através da selva, em direção Coroza.

  Na sequência, depois disto, Saige sabia que se houvesse uma porta entre eles, tinha sido apenas batida em seu rosto. Encontrar uma maneira de corrigir isto não ia ser fácil, mas não havia nenhuma maneira que a fizesse desistir.

 Em algum lugar nas ultimas vinte e quatro horas, as regras mudaram sobre ela, e agora ela se viu querendo correr na direção dele... Ao invés de distanciar-se. Ele viera atrás dela... Arriscando sua vida para salvá-la, provando que ele era resistente o suficiente para lidar com o Casus. Saige queria agradecer-lhe. Consolá-lo. Queria perder-se no calor, o calor latente que os rodeava sempre que estavam juntos. Queria fazer-lo entender por que ela fizera aquilo. Vê-lo sorrir. Ouvi-lo rir. E de alguma forma, ganhar a confiança dele novamente.

 Mas acima de tudo, ela queria encontrar uma maneira de afugentar as sombras de dor de seus bonitos olhos escuros.




































 Capítulo Dez


  CONSIDERANDO QUE ASA de Quinn estava danificada, não tiveram outra escolha senão encontrar outro quarto de hotel onde eles pudessem ficar quietos por um tempo, neste centro escondido de São Vicente. E como não era o Ritz, pelo menos eles tinham um lugar decente para recuperar-se das horas angustiantes na selva.

  Saige só esperava que não acabasse com a polícia batendo à sua porta, exigindo uma explicação para seus ferimentos.

 Embora Inez tivesse dado a Quinn uma camiseta de Rubens, quando foram para os Anjos do Diabo, alertar o casal para sair da cidade por alguns dias, eles ainda tinham atraído a atenção durante toda à tarde. O gerente do hotel onde Quinn havia deixado a sua mochila esta manhã olhou-os com suspeita quando eles correram para pegar suas coisas, enquanto ia ao caixa da farmácia local, onde eles tinham comprado alguns suprimentos médicos, artigos de higiene e algumas peças de vestuário genérico para ela usar, uma vez que sua mochila tinha sido deixada para trás na floresta. Mas ninguém tinha olhado para eles tão estranhamente como o gerente que tinha acabado de negociar no vestíbulo. Ele tinha olhando seus corpos feridos, machucados com um olhar desconfiado enquanto eles faziam check-in, educadamente perguntando se eles necessitavam assistência médica. Saige forçou um sorriso acanhado, então soltou uma mentira por entre dentes, dizendo-lhe que tinha tido um acidente de carro justamente de manhã e simplesmente precisavam de um lugar para se deitar e se recuperar.

  Esperançosos que ele engolisse a sua história e os deixasse em paz.

  Quando ela olhou ao redor do pequeno quarto, observou que o brilho do hotel que tinha ficado na noite anterior tinha sido substituído pela estranheza de uma decoração tradicional, oferecendo conforto casual, e, no entanto, a simples presença do enigmático Michael Quinn deu ao ambiente sóbrio uma agitação eletrizante. No segundo em que a porta foi fechada e travada atrás deles, Saige podia sentir a sua necessidade de censurá-la no calor do ar, mas ele permaneceu numa calma taciturna. Sua raiva latente revelou-se de outras maneiras, pulsando em seu corpo grande em ondas de calor ardente, evidente no modo rigidamente controlado que andou diante da porta de correr de vidro. Suas cortinas abertas revelaram os tons vibrantes do primeiro crepúsculo quando o sol começava a sumir lentamente no horizonte, os cortes profundos de ocre e carmim lembrando-lhe das feridas de corte na imagem do céu ameaçador, um complemento perfeito seguindo o que tinha sido um horrível dia.

  'Enfrente-o, mulher. Você errou muito'.

 Ela mentalmente freou o irritante pensamento, e se esforçou para encontrar uma maneira de começar, perguntando como poderia fazer Quinn compreender suas razões para mentir para ele... E deixá-lo.
Cuidadosamente rompendo o silêncio carregado, ela perguntou calmamente: — Tem certeza que você vai ficar bem?

  Ele rolou o ombro direito com um movimento, numa rigidez espasmódica. 

— Como eu disse, eu vou viver.

— Então... Podemos conversar agora?

  Empurrando as mãos nos bolsos, ele ficou de costas para ela já que ele parou de olhar para fora da porta de vidro, seu corpo grande e largo contra a linha do horizonte da cidade. 

— Eu estou tentando na realidade, rigorosamente entender por que você fugiu, Saige. Mas, pela primeira em minha vida, eu não consigo entender. O que você achou que estava fazendo?

  Ela respirou instável e, finalmente, deu-lhe a verdade. 

— Protegê-lo.

  Ele bufou, claramente sem estar convencido enquanto dava-lhe um cortante olhar sombrio sobre o ombro. 

— Essa é sua desculpa? Você queria me proteger?

— Sim. – Ela passou a língua no seu lábio inferior, com as mãos torcendo-se juntas, inquietas e úmidas de nervosismo. — Isso é parte dela. No começo eu simplesmente não confiava em você o suficiente para dizer a verdade sobre tudo, mas depois, o que você me contou sobre Ian... E descobrimos Javier, eu não poderia colocar você em perigo. Eu já tinha envolvido Jamison, e não me parecia justo cometer o mesmo erro com você, considerando que eu não sou nada mais do que uma carga que você não queria.

 Ela queria que ele discordasse, para dizer que ela estava errada, mas ele não fez nenhuma dessas coisas. Em vez disso, ele virou-se lentamente até que a enfrentou, com os braços fortes cruzados sobre o peito agressivamente musculoso. O olhar árduo em seu rosto belo dizendo claramente que ele ainda não estava aceitando, mas em vez de chamá-la de uma mentirosa, ele disse — Nós vamos para a parte sobre me contar a verdade em um minuto. Agora, eu quero saber quem diabos é esse Jamison.

  Esfregando a testa, ela perguntou como explicar tudo o que ela precisava dizer-lhe.

— Seu nome é Jamison Haley, e ele é um colega meu, assim como um amigo.

 Com suas pestanas cobrindo seu olhar, era difícil dizer o que ele estava pensando.

— E o que isso tem a ver com ele?

 Saige fez o melhor para ignorar a descida acentuada da culpa que a percorreu quando ela pensou no perigo que ela tinha colocado Jamison, no fato de que ela mentira para ele, também, não ajudava. Oh, ela tinha sido totalmente honesta com ele sobre o possível perigo, ela apenas não tinha exposto seu plano. Jamison tinha acreditado que ela estava voltando para os Estados logo atrás dele. Eles decidiram evitar os principais aeroportos, viajando por outros meios, tais como ônibus, trens e aviões de pequenas dimensões, o que ela esperava que os mantivesse fora da área do radar.

 Clareando a garganta, Saige sentou-se no pé da cama grande e se obrigou a começar o que ela sabia que ia ser uma explicação longa e difícil. 

— Eu vou dizer-lhe tudo sobre Jamison em um minuto. Mas existem algumas coisas que eu preciso explicar primeiro. – Ela empurrou os cabelos emaranhados de volta de seu rosto, desconfortável sob a intensidade do seu olhar, e se forçou a continuar. — Eu estava dizendo a verdade sobre a minha razão de estar na América do Sul. Eu não te disse... Tudo. Como você provavelmente já adivinhou, não havia trabalhos de pesquisa para ir atrás no Hotel Redondo, esta manhã. Eu só disse isso para que eu pudesse... ir embora, e eu sabia que você não voltaria para o Colorado se eu pedisse a você. Mas havia algo que eu precisava pegar, de volta no cofre do bar de Inez. É onde eu guardei o conjunto de mapas que eu encontrei enterrado, com o primeiro Marcador na Itália. Mapas que mostram as localizações dos outros Marcadores Escuros. Ou pelo menos alguns deles.

— Você tem os mapas? – Ele murmurou, sua voz tão suave, que quase não o ouviu.

 — Eu tinha. Agora... Não mais. Eles estão lá na selva, com tudo o que eu carregava na mochila, quando os Casus me encontraram.

  Quinn esfregou as mãos no rosto, enquanto uma risada baixa amarga retumbou em seu peito. 

— Então porque você não confiou em mim, você está me dizendo que esses bastardos Casus agora têm um conjunto de mapas que irão levá-los direto para as outras cruzes?

  Ela assentiu, sentindo-se doente quando pensou nisso. 

— Obviamente, nós vamos precisar recuperá-los de alguma forma.

— Nós não faremos nada. Eu acho que você já fez o suficiente – ele murmurou sob sua respiração.

— Não é tão ruim quanto parece. Quero dizer, é ruim, mas não serão capazes de quebrar os códigos para lê-los. Pelo menos, eu não acho que eles vão conseguirão.

— Os mapas são codificados? – Ele resmungou, empurrando para trás as mãos nos bolsos.

  Ela assentiu com a cabeça novamente, e ele bufou: — Então, como você pode lê-os?

  Saige pressionou os dedos para suas têmporas, o início de uma dor de cabeça vindo enquanto lutava para encontrar a melhor forma de explicar. 

— Antes de chegarmos a isso, eu preciso lhe dizer sobre o marcador.

— Que tal isso? – Ele exigiu, claramente perdendo sua paciência.

  Sabendo que ia ficar furioso, levantou o queixo e disse: — Eu encontrei, Quinn. A segunda cruz. Ontem de manhã, eu encontrei o lugar onde tinha sido enterrado... na selva.

  Ele puxou uma respiração aguda, e ela esperou, esperando que ele explodisse. Os segundos passavam, a tensão crescendo, estreitando-se mais... e mais, mas a erupção nunca veio. Em vez disso, ele simplesmente olhou através desse escuro, sombrio olhar, até que ele disse calmamente:

— Onde ele está?

— A maioria dos outros membros da nossa equipe de pesquisa partiu na semana passada, mas Jamison, um arqueólogo, ficou comigo. Ele é um bom amigo e não queria que eu fosse sozinha. Depois eu encontrei o marcador, eu... Expliquei a situação para ele, e então eu pedi-lhe para levar o talismã para o Colorado para mim.

  Lançando-lhe um olhar afiado de desgosto, andou para a porta de vidro, maldizendo algo tenebroso e feio sob sua respiração. Quando ele tinha feito isso em toda a sala ele voltou-se para ela, sua voz num som cortante golpeando enquanto ele zombava. 

— Então você derrama toda esta história feia para esse cara, e ele acreditou em você?

— Sim.

 — Isto foi muita lealdade para com ele, você não acha? – Antes que pudesse responder, ele inclinou a cabeça uma fração para o lado e disse: — Você fode com ele?

  Apertando as mãos no colchão ao seu lado, Saige estreitou os olhos. 

— Isso não é da sua conta – disse ela baixinho.

— Como o inferno não é – ele resmungou, puxando para trás os ombros, as mãos ainda empurrando profundamente em seus bolsos, como se ele precisasse mantê-las fechadas. — Você foi e tem o pobre filho da puta enroscado na confusão e agora ele provavelmente vai acabar machucado por causa de você. Eu preciso saber quanto você está envolvida com ele.

— Ele é meu amigo – ela insistiu com os dentes fechados. — Assim como meu colega. Deus, Quinn, eu pareço o tipo de mulher que dorme de algum modo com seus colegas de trabalho?  

  Algo ciumento e cruel deslizou através de seus olhos, e ela se preparou, sabendo que suas palavras iam cortar como uma lâmina. 

— Você tentou foder comigo depois que nós só conhecemos algumas horas. O que eu devo pensar?
 
— Filho da puta! – ela assobiou levantando-se da cama com a mão direita levantada. Ele pegou seu pulso quando ela começou a balançar a raiva nos olhos diferente de tudo que já tinha visto antes. 

— Eu fui espancado hoje o suficiente por sua causa – ele murmurou em voz baixa, quase num rosnado silencioso, olhando para ela. — Então, nem sequer pense nisso. 

  Como se queimasse com o toque da sua pele, Quinn, de repente soltou seu pulso e virou as costas, olhando para a mancha púrpura do crepúsculo através da porta de vidro. Saige fechou os olhos e passou as palmas na frente da sua camiseta manchada, esforçando-se para conseguir controlar as suas caóticas emoções. 

 Durante muito tempo não houve nada, apenas o som áspero da respiração, e então ele finalmente falou em um processo lento, sotaque rouco. 

— Então você pede esse cara, o Haley para retornar para o Colorado com a cruz, sabendo que ela poderia muito bem ser perigosa. Quero dizer, Templeton já tinha desaparecido, e seu despertar já tinha começado. – Uma baixa, áspera risada deslizou resmungante acima de seu peito. — Cristo, eu estou quase com medo de ouvir o que você tem planejado para o pobre coitado, uma vez que ele chegar lá. 

— Eu não tenho nada planejado para ele. Ele vai me encontrar no café do Resort Douglas fora de Denver, na tarde de terça-feira. Então, uma vez que eu receber de volta a cruzar, ele vai retornar para casa na Inglaterra.

— Se o Casus suspeitar, ele estará morto antes de chegar lá. Você precisa ligar para ele. Diga a ele para dirigir a sua bunda para Riley o mais rapidamente possível.

— Eu não posso chamá-lo – explicou ela, se deslocando para o lado dele. Enquanto Quinn manteve os olhos no horizonte escuro, Saige olhou avidamente para a perfeição acidentada do seu perfil. A angulosa sombra de sua mandíbula o fez parecer duro... perigoso, enquanto sua forma sensual de seus firme os lábios masculinos o tornava maravilhoso. Lembrou-se de como o sabor quente e provocante de sua boca tinha derretido-a na selva, e sua voz engrossou com a luxúria quando disse — Eu estava preocupada que alguém pudesse ser capaz de rastrear a localização de Jamison, através de seu telefone, então eu disse-lhe para aguardasse a menos que houvesse uma emergência. Claro, meu telefone estava na minha mochila, agora ele não tem nenhuma maneira de se comunicar comigo.  

  Um som rude profundo saiu de sua garganta. 

— Sim, bem, o Casus provavelmente arremessou-o agora. A única coisa que eles vão se preocupar é com os mapas. Lançando-lhe um olhar duro de frustração, ele disse: — Que diabos você estava pensando?
 
  Saige não tinha certeza se ele estava perguntando sobre Jamison, do telefone ou de toda a situação, mas isso não importava. Ela não tinha uma boa explicação para alguns deles, e sabia disso. 

— Eu não estava – disse ela em voz baixa, desejando que ele chegasse perto dela e a tocasse. Segurasse-a. Beijasse-a e ajudasse-a esquecer de tudo que passou. — Eu acho que não tenho pensado direito, deste o início. 

— Será que esse cara tem mesmo um indício do que ele está levando? 

— Ele sabe o que está fazendo. Jamison vem de uma longa fila de crentes do ocultismo. Os seus avós maternos realmente são alguns dos mais famosos caçadores de fantasmas da Grã-Bretanha. – Desta vez, ela foi quem deu uma risada silenciosa, amargo. — É provavelmente por isso que nos damos tão bem. Ele sabe que o que ele está fazendo é perigoso, no entanto o marcador disse... Quer dizer, eu tinha motivos para acreditar que alguém viria atrás da cruz. Na época, eu não via outra maneira de mantê-la segura, por isto entreguei para ele.  

— E ele deixou você aqui? Sabendo que você estava em perigo?

  Ela balançou a cabeça. 

— Não exatamente. 

— Deixe-me adivinhar – ele murmurou, arqueando a sobrancelha castanha escura. — Você mentiu para ele, também? 

— Eu lhe disse que partiria logo após ele, só que por um caminho um pouco diferente. 

— Você alguma vez diz a verdade? – Sua voz emocionada estava áspera, e ele mudou de posição, se deslocando em direção a ela, até que realmente podia sentir o calor do seu corpo, seu calor, cheiro forte enchendo a cabeça dela, despertando seus sentidos. 

— Eu odiei mentir para ele, mas eu tinha que fazer tudo o que pudesse para manter o marcador em segurança. Achei que não poderia danificar-se ficando perto de Coroza pelo o resto do dia e deixar Jamison levar o marcador, pois alguém poderia estar me observando, pensando que eu ainda o tinha. E acho que funcionou, porque o Casus nem sequer mencionou seu nome para mim hoje.

— Então, você coloca a Cruz acima da vida do seu amigo. E da sua própria. – Isto não era um pergunta, mas uma simples declaração de fato, e ela poderia ler o seu tom de desaprovação. 

— Você não deveria ter feito isso, Saige. Você cometeu um erro... E Jamison vai pagar por isso. 

— Eu não tive escolha, Quinn. Você sabe o que está por vir. Se os Casus querem os marcadores, como o Ian disse, como eles me disseram hoje, então deve haver algo que não sabemos, e há bastante também que não sabemos. As Cruzes são importantes, Gregory e Royce, mal sabiam por que eles precisavam delas. Depois do que o marcador me disse, eu não conseguia pensar em mais nada a fazer. Isso não significa que eu estivesse feliz. Se alguma coisa acontecer com Jamison, eu nunca vou me perdoar.
 
— Falou com você? – Ele exclamou. — Que diabos isso significa, Saige? 

Ela estremeceu, perguntando como ele aceitaria a próxima parte de sua confissão. 

— Eu receio que esta seja a parte onde as coisas ficam ainda mais complicadas... 

— Eu não me importo se ela é a maldita teoria da relatividade – ele resmungou, prendendo-a com seu olhar. — Basta explicar. 

  Ela mastigou o canto da boca, ciente intensamente de que além da mãe, Quinn seria a única outra pessoa com a qual já tinha partilhado com o seu segredo. 

— Quando eu era adolescente – começou ela, lutando para controlar o tremor em sua garganta: — Eu, Deus, você pensará que isto parece loucura, mas eu desenvolvi uma... Bem, eu acho que você poderia chamá-lo de poder. 

  Ele aguardou... Esperando, até que as palavras de repente saíram dela num rápido sussurro. 

— Quando eu toco um objeto físico, ele me diz ou mostra-me alguma coisa. 

 O silêncio se estendeu, lento e opressivo, como um derramamento de melaço grosso, os olhos de algum modo mais escuros, mais profundos... e então ele finalmente disse:

— Nós não tivemos mentiras suficientes? 

— Sei que parece loucura, mas é verdade.

— Você honestamente espera que eu acredite que os objetos falam... Com você? Mostram-lhe as coisas?

— É mais loucura do que ter asas? 

  Ele deixou o queixo cair, olhando-a como se ele não pudesse decidir entre sua estrangulá-la... Ou beijá-la, e querendo ambos com igual medida. 

— Dê-me alguma coisa – ela sussurrou. — Algo que pertence a você. 

— Eu acho que não – ele rosnou, na verdade, dando um passo para longe dela. Se ela não estivesse tão nervosa, Saige pensou que poderia ter sorrido com a reação dele. 

— Você quer uma explicação? – Perguntou ela, segurando seu olhar, tentando dizer-lhe com os olhos que ele poderia acreditar nela. — Então você vai ter que confiar em mim, Quinn. Preciso tocar em algo que lhe pertence. Alguma posse pessoal. 

  Usando um cauteloso olhar curioso, ele enfiou a mão no bolso e tirou um lustroso, celular prata. Sua mão tremia quando ela aproximou-se dele, ela respirou profundo no instante em que ela tocou a superfície metálica quente. Como ela segurava o telefone entre as palmas das mãos, uma série de imagens afundou em seu organismo com uma sensação de formigamento quente, vibrando contra sua pele. 

 A mandíbula de Quinn estava rígida. 

— Você quer explicar o que está acontecendo? 

Cheia de remorso, Saige desejou que pudesse voltar atrás e desfazer essa manhã. 

— Você estava apavorado quando percebeu que eu tinha fugido.

— Não seja convencida – disse ele, num tom estranhamente desprovido de emoção, como se tivesse encontrado alguma maneira de enterrá-lo dentro. 

  Mas ela podia sentir sua raiva e medo fluindo através do telefone, pulsando contra a sua pele, o metal era tão quente como seu dono, uma criatura viva dentro de sua mão. 

— Depois que você brigou com o gerente do hotel, você tirou esse telefone e ligou para o Diabo Dos Anjos. Foi quando Inez disse que eu tinha saído com dois homens. Olhando nos olhos dele, ela mal conseguia respirar enquanto ela afundava na escura intensidade de sua expressão. Você estava preocupado que eles fossem Casus, e assim você sinalizou para um táxi e ofereceu o triplo da taxa se ele chegasse ao bar, o mais rápido que pudesse, onde sabia que poderia sentir meu cheiro. 

 — Como você sabe disso? – Ele rosnou, na testa uma veia profunda pulsando sobre o seu olhar desconfiado. 

 Saige lhe deu um sorriso pequeno, experimental, suas entranhas brilhando com um brilho incandescente quente, no conhecimento que ele tinha estado tão preocupado com ela. 

— O telefone – disse ela simplesmente, oferecendo-o de volta para ele. Ele recebeu dela, segurando-o cuidadosamente entre o polegar e o indicador, como se ele não quisesse tocá-la. — Eu normalmente não recebo muita informação, mas eu acho... Que poderia ter algo a ver com a forma como você estava chateado. 

— Cristo – ele rosnou, empurrando rapidamente o telefone de volta no bolso.  — Você está realmente falando sério, não é? 

 Cruzando os braços, Saige virou a cabeça, vistoriou além da porta de correr de vidro.

— Tudo começou quando eu era adolescente, mas eu não sei por quê. Tanto quanto sei, ninguém na minha família é capaz de fazê-lo, mas nós não compartilhamos muito, assim como sabe sobre Ian e Riley. Acho que todos nós temos nossos segredos e com o tempo eu percebi meu dom, Ian tinha partido há anos e Riley, e eu não éramos próximos. – Olhou para trás até Quinn, e encontrou-se preso na intensidade de seu olhar penetrante. — Elaina ficou emocionada quando percebeu que eu poderia fazer, acreditando que ele iria ajudar em nossa busca por respostas sobre o Merrick. Mas a maior parte, é algo que eu aprendi a bloquear. Se eu foco, então eu geralmente posso pegar informações.

  Sombras escuras no seu olhar derramaram-se com uma espessa e súbita fúria e, se fosse possível, ele parecia ainda maior, aparecendo diante dela como uma força grande, cheio de frustração. 

— Isso tudo foi àquela merda no bar, não foi? Você assustada depois de tocar a garrafa de cerveja.

  O calor em seu peito subia suspeito até sua garganta, florescendo sobre sua pele como um incêndio. Ela assentiu com a cabeça, sua voz rouca enquanto admitiu.

— Eu vi o que você tinha pensado. 

  Ele virou o corpo dela, as costas para a porta de vidro, e levantou um braço, esfregando na parte de trás do seu pescoço novamente. Assim ficou por um período sem fôlego uns segundos, e depois com uma aspereza em suas palavras, ele disse.

— Inez estava histérica na hora que eu cheguei ao bar. Ela enviou Rubens para seguir você, mas ele voltou dizendo que tinha perdido você na selva. Quando eu apareci, tudo o que me importava era ter certeza que você ia ficar bem.

— Você realmente acha que eles vão deixar a cidade por um tempo, como você disse a eles para fazerem? 

— Felizmente – ele murmurou. — Mas se há uma coisa que eu aprendi, é que você não pode fazer as pessoas fazerem algo que eles não querem. Mesmo quando você sabe que suas escolhas vão feri-las.  

 Ela estremeceu, engolindo o nó na garganta, incapaz de dizer se ele estava falando sobre ela... Ou alguém. O que quer que tenha acontecido em seu passado, suas ações recentes trouxe de volta para ele, acrescentando-lhe uma culpa arrasadora. 

— Então, esse poder – retumbou um segundo momento, seus olhos escuros focados em algum ponto distante no horizonte. — Você usou isso para encontrar o primeiro marcador? 

 — De certa maneira. É uma longa história – ela murmurou — Mas basicamente eu usei o poder para seguir pistas que me levaram a cruz onde foi enterrada na Itália, e descobri os mapas enterrados ao lado dela.
 
— Se os códigos são tão complicados, como você descobriu como os ler? Não, espere, deixe-me adivinhar – ele contrapôs, um segmento inconfundível de sarcasmo arredondando das suas palavras. — Os mapas disseram a você. 

— Seja sarcástico se quiser, Quinn. Mas foi isso que aconteceu.  

— Então onde está o próximo marcador? – Ele perguntou, lançando um olhar para os lados.

 Ela levantou os ombros.

— Eu não sei. Eu estava tentando descobrir isso quando as coisas começaram a desmoronar. Mas eu acho que em algum lugar na América do Norte.

— Sua mãe sabe sabia estes mapas? – Ele perguntou, olhando para trás em direção ao sol. 

 Saige olhou para o comprimento, forte polido de sua garganta, consciente da fome borbulhante que, mesmo agora, espreitava logo abaixo da superfície da sua pele. Mesmo quando ela estava chateada, a crescente necessidade de sua Merrick nunca a deixava, estava sempre lá... Sempre querendo, esperando. 

— Não – ela disse roucamente, percorrendo sua garganta. — Eu não lhe disse sobre eles quando eu trouxe a cruz. 

— Não confiava nela, é? – Perguntou ele, parecendo cansado quando ele empurrou para trás as mãos nos bolsos. 

— Eu não sabia até ontem de manhã se elas realmente funcionam, e eu não estava disposta a dar-lhe outra coisa para se preocupar quando já estava muito doente. – Ela respirou fundo, incapaz de acreditar que sua mãe tinha partido há quase seis meses, em seguida, respondeu baixinho: — Me desculpe, eu não lhe disse tudo isso ontem, mas você... Você era um estranho. E eu acho que você ainda é... Só que você não se sente como um estranho mais, Quinn. Na verdade, para ser honesta, eu não tenho certeza de que você realmente faz. É... Complicado.  

  Ele manteve o olhar fixo naquele ponto distante no horizonte, e então ele finalmente disse:

— Você me disse ontem à noite que não sabe quantos existem, ou onde eles estão escondidos. Era a verdade, ou apenas mais uma mentira?

— É verdade. Eu só decodifiquei o primeiro mapa, que me trouxe até aqui. O código alterado do segundo situava as direções, e como eu te disse, eu não tive a oportunidade de terminá-lo. Uma vez que estão todos interligados, não tenho certeza quantas direções estão listadas, ou mesmo se eu tenho todos os mapas. Quem sabe quantos marcadores poderiam estar lá fora, esperando para serem encontrados.
 
— Você não pode pedir às informações que você quer? 

  Ela deu outra baixa risada amarga. 

— Eu desejo poder, mas não funciona dessa maneira. 

  Ele virou a cabeça para olhar para trás e para ela, claramente querendo saber se ela estava mentindo. 

— Eu estou te dizendo a verdade, Quinn. Mesmo sabendo ler, o código não é fácil de decifrar. É quase como se o código evoluísse a cada mapa, tornando-se mais complicado. Duvido que jamais teria sido capaz de quebrá-lo, se os mapas não tivessem partilhado o seu segredo.

— E o Casus, você disse que sabia sobre os mapas? 

  Ela engoliu com o aumento repentino da dor que veio com sua pergunta. 

— Javier. Eles o torturaram até que ele lhes disse que eu deixei alguns papéis no cofre de Inez. Eles presumiram que eram os mapas, e estavam me esperando para pegá-los de volta.  

  Ele moveu o corpo dele, apoiando impassível o ombro contra o vidro, uma pose masculina, os poderosos músculos nos braços parecendo longos e magros enquanto ele manteve as mãos empurradas profundamente nos seus bolsos. 

— Você sabe como eles sabiam sobre eles? 

— Eu não tenho idéia. Eu nunca tinha sequer ouvido falar nada sobre mapas até que eu encontrei com o marcador. Mas é por causa do código que eles não me mataram. Bem, isso e o fato de que eu não estou completamente desperta. – Ela respirou fundo, tentando lembrar exatamente o que havia dito a ela. — Eles disseram que há um poderoso líder que descobriu uma forma de enviar as almas dos Casus através do portão. E há outra maneira, também. Quando se alimentam de um Merrick que foi totalmente desperto, a carga de energia é, supostamente, o suficiente para que eles realmente puxem de volta uma alma de Meridian por conta própria.

 Ele fez uma careta. 

— O Meridian do inferno? 

— O nome que deram a prisão no solo. 

 Balançando a cabeça, sua voz era baixa, o som rouco ressoando quando ele disse:

— Então, eles querem o Merrick mais do que apenas uma boa refeição e vingança, então. 

— Eu acho que sim. E o que se chama Gregory disse que outros Casus já estão aqui, e que os despertares Merrick estão ocorrendo em todo o mundo.

— Você sabe alguma coisa? 

— Só que o Casus que o Ian matou era irmão de Gregory. – Ela virou a cabeça e olhou para o borrão ardente dourado do sol, sabendo que suas palavras seguintes só iriam aumentar a sua dor. — E você estava certo também sobre Templeton. Seu corpo estava lá... Na clareira. 

— Cristo! – ele murmurou, esfregando a mão direita sobre a metade inferior do rosto quando ele inclinou a cabeça para trás. 

— Quando eu perguntei por que eles não o tinham queimado, como eles fizeram com Javier e seus irmãos e foi quando eles começaram a lutar. Royce ficou furioso com Gregory. Ele disse na confusão que depois que o irmão de Gregory tinha feito sua caça, que alguém chamado Westmore estava cobrindo suas pistas. Eu não sei quem é esse Westmore, mas Royce disse que estava em parceria com Calder. 

— E quem diabos é Calder? – Ele rosnou. 

  Ela levantou os ombros.

— Eu não sei, e eu não ia ficar por perto para fazer perguntas. Mas ele deve ser alguém importante.

  Trêmula pela memória do medo, ela olhou para trás para Quinn. 

— Enquanto eu viver, eu nunca serei capaz de compensá-lo por me tirar de lá. – Ela se atreveu andar até ele, e estendeu a mão, apertando sua mão firme, na sua pele bronzeada do braço, os bíceps poderosos esticando as mangas da camiseta emprestada. O sangue manchando sua pele, seca ao toque, mas não conseguia encontrar as feridas que ela tinha visto. Ela estava prestes a perguntar-lhe como ele havia se curado tão rapidamente, quando ele colocou a mão direita sobre o ombro dela e empurrou para longe. 

— Não fique perto de mim agora, Saige. 

— Por que não? 

  Sua mandíbula fechou-se, e ele resmungou baixinho:

— Porque eu ainda estou chateado o suficiente para fazer algo do qual irei me arrepender. 

 — E eu sou estúpida o suficiente para me arriscar – ela disparou de volta, disposta a recuar. 

 Ele deu uma risada baixa irregular, estudando-a através das pálpebras pesadas sobre os olhos.

— Você tem um sério devaneio de cabeça, você sabe disso? 

— Eu fiz o que fiz porque eu quis mantê-lo seguro, Quinn. Eu não quero que você se machuque por minha causa.  

  Ele ergueu a sobrancelha. 

— E você? 

 Ela deu de ombros.

— Eu estou acostumada a cuidar de mim mesma. 

— Não é de admirar que você afaste seus irmãos de sua mente – ele resmungou. — Eu nunca conheci uma mulher que fosse uma grande dor no traseiro. 

— Sim, bem, eu ouvi isso muito ultimamente – ela contrapôs, seu tom seco. 

 Ele fez uma careta, mas ela não poderia dizer se era de raiva ou de dor. No momento seguinte, ele afastou-se da janela e caminhou em direção à cômoda, onde tinha colocado as armas que ele tinha tomado dos Casus, junto com a mochila e as coisas que tinha comprado. Pegando o saco da farmácia, ele despejou o conteúdo sobre a superfície de pinho da cômoda e pegou os suprimentos médicos, em seguida, dirigiu-se para o banheiro. 

— Eu vou tomar um banho – disse ele, lançando um olhar duro. — Se você deseja fugir, tudo bem. Eu realmente não dou a mínima. Mas se você sair, estará sozinha. Eu não vou persegui-la novamente.

— Você de verdade me deixaria sair por aquela porta? 

  Ele revirou os ombros, como se dissesse que ele não se importaria com o que ela fizesse. 

— Se é isso que você quer. 

 Saige procurou em sua expressão, rezando para que ele não quisesse dizer isso. 

— Me desculpe, eu não confiei em você antes, Quinn. Mas eu confio agora.

 — Sim? – Ele contrapôs. — Bem, só para que conste, eu não confio em você merda nenhuma. 

  A porta do banheiro se fechou atrás dele, e Saige andou pela sala quando ouviu a água correndo, pensando sobre tudo o que ela compartilhara com ele. Apesar de sua atitude e raiva, havia uma leveza no peito que ela não sentia há muito tempo, porque compartilhou seus segredos com alguém em que confiava. Ela se sentiu em paz de uma forma que ela tinha experimentado há anos e, no entanto, ela também estava no limite, uma sutil tensão tremula vibrando sob a pele. Era uma necessidade, ardente crescendo, acentuada, doce e estonteante. Impossível de ignorar. 

  A água parou e ela esperou, esperando que aquele homem teimoso pudesse pedir sua ajuda para limpar as feridas dele. Mas à medida que os minutos passavam, ela continuou caminhando sobre o tapete barato. Quando uma maldição acentuada veio do banheiro, ela finalmente caminhou até a porta e abriu-a lentamente, olhando para dentro. Assim como ela suspeitava, Quinn estava com nada além de um par de jeans, de costas para o espelho, a sua asa direita estendida. Gotas de suor pontilhavam por sua testa, a prova da sua dor enquanto ele aproximava por cima do ombro com a mão esquerda, tentando limpar o ferimento irregular da bala. 

 Determinado a não deixar que ele assustasse-a, ela abriu a porta e entrou, o quente de perfume de Quinn encheu o ar.

— É ridículo para você fazer isso quando eu estou aqui – ela lhe disse, apontando para o assento do vaso sanitário fechado. — Sente-se. 

— Eu consigo – ele resmungou sob sua respiração. 

  Ignorando a sua raiva, ela disse — Sente-se, Quinn. 

 Ele olhou para seu reflexo no espelho e rosnou: — Eu não quero sua ajuda, Saige. 

 — Sim, eu notei isso. Então é uma coisa boa que estou lhe dizendo o que fazer, ao invés de pedir. Agora, seja um bom rapaz e sente-se.  

  Ele soltou um baixo som grave do fundo de sua garganta, mas finalmente fez o que ela disse, jogando o bloco anti-séptico que ele estava usando no lixo antes de virar de costas para ela, abarcando o vaso de porcelana. Com o espelho estendendo a todo o comprimento do balcão do banheiro, Saige encontrara-se olhando para a direita em seus olhos quando ela parou atrás dele. Ela poderia ter caído no escuro, inebriante poder daquele endurecido olhar selvagem, mas sacudiu sua agitação mental firmemente e obrigou-se atentar para os itens no balcão. Alcançando um novo anti-séptico, ela pegou da embalagem aberta, um pequeno curativo quadrado de algodão limpo com a ponta dos dedos. 

  Aproximando-se das costas de Quinn, ela levou um tempo para simplesmente apreciar a originalidade, a beleza sobrenatural de sua asa. As penas de seda estavam tão escuras, que parecia quase azul sob o brilho da luz fluorescente derramando de cima para baixo, de cor idêntica aos curtos, fios pretos de seu cabelo. Devido ao espaço limitado, ele teve que dobrar o braço poderoso na articulação, mantendo sua asa esquerda dentro do seu corpo. Com o cotonete na mão esquerda, Saige ergueu a direita e acariciou delicadamente os dedos sobre as suaves penas reluzentes, maravilhada com os mistérios de seu corpo com a forma como ele era capaz de simplesmente absorver algo tão forte e bonito dentro dele. 

  A bala atingiu a parte mais espessa do osso coberto de carne da asa, não mais que quinze centímetros de onde se estendia a partir de suas costas. Respirando fundo, ela afastou cuidadosamente as penas para o lado, estremecendo quando ela tocou o cotonete com remédio na ferida e ele assobiou por entre os dentes. Como se ele precisasse de algo para se distrair da dor, ele murmurou:

— Isso foi uma jogada inteligente, Saige. Afundando-me num hotel como este. Muitas pessoas ao redor para que pudesse voar, e muita porcaria no ar para que eu seguisse o seu cheiro. Eu tenho que lhe dar crédito por isso. É claro que, voltar para do bar foi a coisa mais estúpida que eu já ouvi falar.

  Cuidando para manter seu toque tão suave quanto possível, disse:

— Eu queria dizer que eu lhe disse antes, Quinn. Eu achava que estava fazendo a coisa certa. – Sentia a pressão de seus olhos em seu rosto no espelho enquanto concentrou-se na sua tarefa. — Eles não me violentaram – acrescentou baixinho — no caso de você estar pensando. 

 — Confie em mim – ele murmurou. — Eu sei. 

 — Como? – Perguntou ela, encontrando seu olhar escuro no espelho. 

— Se eles tivessem feito – ele respondeu — Você não estaria andando. Caramba, você provavelmente não conseguiria sequer respirar.  

— Cuidado – ela murmurou — ou você pode até soar como você se importasse. 

  Ele resmungou em resposta a seu tom seco, e agarrou outro cotonete. Quando ela se voltou para ele, sua atenção foi para o lado esquerdo das costas, onde uma marca, espessa e esbranquiçada marcada a perfeição de sua pele bronzeada. Cerca de vinte centímetros, que começava na borda interna do seu ombro e corria para o lado esquerdo de sua coluna vertebral, terminando na borda inferior de sua caixa torácica. 

— Isso é uma cicatriz? – Perguntou ela, arrastando a ponta dos dedos levemente em toda a linha antes de levantar o olhar para o espelho. Ela notou a marca antes, quando ele esteve com as costas nuas voltadas para ela, assim como a lado direito de sua coluna, mas nunca teve coragem de perguntar sobre eles até agora. — Ou tem algo a ver com suas asas? 

  Sua boca ficou rígida, assim como seus olhos. 

— A cicatriz do tecido.

Querendo saber o que tinha acontecido, ela arrastou os dedos para o local onde as asas direitas surgiam nas suas costas, se senti uma porção da crista grossa lá, como se a asa tivesse dividida ao meio. 

— Elas doem? – Ela perguntou, mantendo o seu leve toque quando o sentiu tremer, com medo de causar-lhe dor. 

  Por um momento, ela não achou que ele se daria ao trabalho de responder, e então ele suspirou e murmurou: — Só quando mudam. 

 — Como você as conseguiu?

— Nada disso é de sua maldita conta – ele rosnou, seu tom de voz gutural tão cruel, que realmente fez recuar. 

 Mudando seu olhar de volta para o espelho novamente, ela sustentou seu olhar brilhante e se recusou a desviar. 

— Você pode ser tão desagradável quanto quiser, – disse-lhe em voz baixa. — mas não vai assustar-me. 

— Cristo – ele ladrou, sua voz grossa de frustração. — Você é incomparável, Saige. Ontem, eu tentei da minha maneira jogar limpo com você, te tratando com respeito, protegendo-a, e você reage fugindo. Mas na hora que eu fico repulsivo, você age como se nada do que eu possa fazer vai fazê-la fugir. Que raio de jogo você está jogando?

— Eu disse a verdade, Quinn. Sinto muito sobre o que eu fiz. Desculpe por ter mentido para você, e por fugir. Isso não vai acontecer novamente.

— Certo – ele contrapôs, seu tom amargo como foi sarcástico. 

— É verdade – disse roucamente, desejando que pudesse encontrar uma maneira de fazê-lo acreditar nela. Que ela pudesse encontrar uma maneira de chegar até ele.  Respirando profundamente irregular, ela se inclinou e deu um suave beijo carinhoso na extremidade superior da cicatriz em seu lado esquerdo. No instante em que seus lábios tocaram o calor de sua pele, ele ficou em pé, o movimento súbito a fazendo cambalear para a parede do banheiro. A maldição áspera saída de sua garganta quando ele virou e rosnou:

— Nunca coloque sua boca em mim de novo! – Com seu rugido pulsando nos seus ouvidos, ela olhou para sua expressão, escura e furiosa e tentou recuperar o fôlego.

— Quinn... 

  O peito arfava enquanto ele percorria o seu corpo com um olhar quente escaldante, e então ele mirou para fora do banheiro. Saige olhou depois dele, não sabendo o que fazer... Como conseguir o que queria. Mas ela não ia desistir. Ele podia ficar furioso com ela, mas ele ainda era o único homem que a fazia se sentir desse jeito e Saige queria perder-se nele. Queria se entregar para intensa necessidade escura, de prazer e exultação que crescia nela, enquanto protegeria de alguma forma o coração dela nessa armadilha. 

— Continue escavando suas mentiras, Saige. Pois você sabe bem. Você já está caindo duro. E quanto mais tempo você gasta com ele, mais duro você caíra. 

  'Talvez, mas ela realmente se importava?' 

 — Porque no final, não seria melhor ter um coração partido do que um coração inteiro? 

 
































Capítulo Onze 


AO SOM DA PORTA da frente da cabana rangindo ao ser aberta, Royce Friesen levantou a cabeça de seu travesseiro manchado de sangue. Piscando os olhos agressivos, ele se esforçou para se concentrar através de um véu de dor enquanto ele olhava Gregory na porta do quarto, segurando firme uma aterrorizada mulher humana contra a frente de seu corpo. A cintilação da faixa de luz da vela solitária que se assentava no chão ao lado de seu colchão ficou aquém de sua trêmula forma, mas sua visão aguçada permitiu que Royce visse-a claramente, apesar das sombras espessas da noite. Suas mãos estavam amarradas atrás das costas, os restos do que tinha sido uma vez um vestido vermelho-sangue pendurados em pedaços ao redor da forma exuberante, feminina de sua figura. Ela tinha uma beleza, terrena sensual, com suas pernas longas, seios pesados e grossos, cabelos encaracolados, que caíam em ondas desenfreadas sobre os ombros trêmulos. Mas era o medo, extremo inconfundível nos olhos profundamente escuros que lhe chamou atenção fazendo sua virilha se apertar com a necessidade. 

 — Que diabos você está fazendo? – Ele murmurou, sua voz irritada pelas feridas profundas que ainda estavam se curando em sua garganta. 

 O lento sorriso de Gregory em seu rosto humano enquanto ele aproximou-se do ouvido da mulher. 

— Considere um presente para ajudar na sua recuperação. 

  Levantando em seu cotovelo direito, Royce umedeceu os lábios, seu instinto natural para matar em guerra com o conhecimento que ele não corria o risco de se deixar perder o controle. Apesar de seu coração ainda bater, ele tinha perdido muito sangue com os ferimentos, e agora a fome era como uma besta feroz, feroz em seu corpo, faminto por uma alimentação boa e longa. Ele queria ela, mas temia que sua sede de sangue, uma vez saciados, rapidamente subisse novamente, tornando-se muito forte, muito poderoso, privando-o de seu controle e ele acabar por sofrer o mesmo destino de Malcolm. 

 Como se estivesse lendo sua indecisão, Gregory sacudiu a cabeça, enquanto um baixo, malvado riso ressoou escorregando de seus lábios. 

— Pobre Royce. Você está se esforçando para ser bom, mas adivinhe? O diabo pode agir como santo, mas ele ainda não vai levá-lo para o céu.
 
— Eu não quero o céu, – ele rosnou, curvando os lábios. — Eu só quero ficar fora do inferno. Eu não quero acabar como seu irmão.

— E você não pensa que é onde você está indo? – Gregory contrapôs. — Se você estiver fraco demais quando enfrentar nossos inimigos, o inferno é exatamente para onde eles lhe enviarão. 

  Royce não acreditava que Gregory DeKreznick valesse nada, sabendo que o Casus só o queria saudável o suficiente para ajudar a encontrar a cadela Buchanan, agora que eles a tinham perdido. E uma vez que a tinha perdido, ele tinha pouca dúvida de que Gregory viria para cima dele, vendo enquando suspeitava que Gregory planejasse ter Saige para si próprio, independentemente do fato de que ela pertencia a ele. Mas ele não poderia argumentar que o bastardo psicótico tinha um assunto pendente. Como estava, ele seria uma presa fácil para qualquer um que tentasse derrubá-lo, e ele não podia deixar isso acontecer. Não quando ele finalmente ganhara a liberdade depois de tantos excruciantes anos de cativeiro. 

  Royce entendia as regras sobre a alimentação de Calder, concordando que a matança indiscriminada de humanos rapidamente chamaria para eles atenção indesejada, mas estava se tornando cada vez mais claro que se ele continuasse neste ritmo, ele acabaria por destruir a si mesmo. 

Como se sentisse a sua determinação enfraquecendo, Gregory abaixou a cabeça em direção a sua chorosa cativa. Com um brilho malicioso em seus olhos claros, ele sustentou o olhar enfurecido de Royce quando ele passou a língua ao longo da coluna trêmula de sua garganta, fazendo-a chorar contra a mordaça suja que partia os lábios vermelhos. A máscara corria em regatos escuros de terror sob os olhos assustados, as manchas pretas de alguma forma aumentando seu apelo básico. E apesar do estado de seu vestido rasgado, Royce poderia dizer pelo seu cheiro que Gregory não tinha estuprado-a. 

  Sua boca umedeceu, suas gengivas estavam pesadas por causa do peso de suas presas de saber que ela seria macia e fresca entre as coxas, como algo doce e inocente. Ele queria afundar seus dentes nela, bem como o seu pênis, com uma fome que ardia em seu cérebro como uma chama, mas ele não tinha dúvidas de que era um jogo perigoso, deixando-se seduzir pela oferta de Gregory. De alguma forma, ele tinha a sensação preocupante de que todos tinham subestimado o irmão caçula de DeKreznick, e pagaria por isto no final. 

Tão insano quanto ele estava, havia uma determinação implacável de Gregory que poderia muito bem voltar e condenar inteiramente seus traseiros. 

  Determinado a evitar a armadilha, Royce começou a mentira de volta, pronto para dizer a ele para tirá-la de lá, quando Gregory deu-lhe um lento, conhecido sorriso... e passou a mão sobre o peito generoso da mulher, desabotoando o macio vestido. Com um simples puxão, ele tirou a parte superior da roupa do corpo, expondo um par de peitos cheios, arredondados envolto em renda preta provocante, os montes cremosos trêmulos enquanto ela respirava ofegante. 

  Fome rasgou através do seu interior como uma lâmina cortante quando Royce imaginou-se afundando seus dentes num dos seios perfeitos, seu sangue quente e grosso na sua boca... Na garganta. O suor cobriu sua pele, enquanto pensava em como ele iria beber dela como um glutão, martelando o seu corpo entre suas coxas cremosas, forçando-a a vir, apesar do seu medo. Não era fácil, mas ele já tinha feito isso antes, quando ele era livre para andar na terra e o prazer selvagem tornou-se um vício, que tinha rasgado e arranhado sua alma depois que a Merrick tinha prendido o Casus nesse buraco fétido de Meridian. Aquilo foi quando ele matou naquele momento perfeito, de tirar o fôlego quando ela apertou o cerco contra a carne dele. Ele sorria para seus olhos, fazendo-a pensar que havia uma chance infernal dele permitir que ela vivesse. Saboreando o aroma de sua paixão lasciva... A doçura da sua esperança, e então ele ia permitir que o seu verdadeiro eu se libertar-se. 

  E com um sorriso largo e grande, ele ia rasgar a carne de seu corpo e alimentar a fome da sua alma. 

  Seu coração batia forte, socando contra suas costelas, seu ritmo acelerado, e Royce sabia que não importava quão lógica era sua mente, ele não era páreo para a fome voraz do instinto animal. 

— Então, que é que vai ser? – Gregory murmurou, enquanto sua mão esfregava pequenos círculos íntimos em torno do umbigo da mulher, o vestido mal pendurado na curva dos quadris femininos. — Devo comê-la? Ou você finalmente chegou a razão?  

— Deixe-a e saia – disse ele agressivo, suas presas já escapando de suas gengivas. E como o desejo alcançou-o, engolindo-o como uma grande onda de fúria da violência, ele podia ouvir o riso louco de Gregory abafando acima dos gritos roucos da mulher. 

   
* * * * *

 QUANDO ROYCE SURGIU na cabana meia hora mais tarde, sentia-se como um novo homem. Vestindo a forma humana de seu anfitrião, ele projetou um profundo suspiro no ar com cheiro fértil e encaminhou-se em direção as escuras, águas correntes do rio. Sangue cobria o rosto e tronco, entre outros fluidos corporais, e ele precisava se lavar. Como ele entrou na água fria, Gregório apoiava o ombro contra uma árvore próxima e perguntou: — Teve um bom momento? 

 Royce grunhiu em resposta, e Gregory disse: — Eu estive pensando sobre o marcador. 

— E? – Alertou, espirrando água em seu rosto. Seu coração batia com um ritmo vigoroso, potente, à noite chegando viva a seu sentidos aguçados de uma maneira que ele tinha quase esquecido, como se ele pudesse absorver seus aromas e sons e segredos, respirando-os em seu organismo. 

— Há apenas um lugar que poderia estar. Ela enviou de volta para seus irmãos, o que significa que terminamos aqui. O Raptor vai levá-la de volta ao Colorado, e nós estaremos esperando-os quando chegarem lá.
 
— Bom – ele assegurou, inclinando a cabeça para trás de modo que pudesse olhar-se no vago, brilho prateado da lua. Ele tinha estado tão certo que ele não sentiria nada, mas se culpava por quebrar as regras e se alimentar de carne humana, mas ele estava errado. — Depois de hoje à noite, eu estou mais ansioso do que nunca para colocar minhas mãos sobre ela. E por esse tempo, seu despertar deverá estar completo.

— Se eu fosse um homem de apostas – acrescentou Gregory — eu poria o dinheiro de Westmore sobre o fato de que ela a enviou aos cuidados do arqueólogo que a seguia ao seu redor como um cachorro. 

 Ele balançou a cabeça, cheio de um poder que não tinha conhecido há muito tempo, era quase como renascer.

— Falaremos com Westmore novamente – ele murmurou, estendendo seus braços sobre sua cabeça. — Se tivermos sorte, eles podem pegá-lo e prendê-lo até chegarmos lá. 

— E então nós podemos balançá-lo na frente dela como um pedaço doce, uma saborosa isca – brincou Gregório, o branco de seus dentes piscando na sombra, iluminado pela lua. Então ele virou e dirigiu-se para o calor da selva verdejante. 





































 Capítulo Doze


 OLHANDO FIXAMENTE ATRAVÉS do vidro da porta, Quinn usou todas as técnicas de controle que nunca ouviu falar para manter-se controlado, mas elas não estavam funcionando nada. A noite avermelhada finalmente fundia-se em uma sombra sufocante que derramava sobre o horizonte como uma tinta espessa cobrindo a luz. Era a mesma escuridão ardente dentro dele, furiosa e violenta, querendo atacar e lutar, necessitando o calor duro de agressão para queimar a sua energia. 

  Era uma loucura que ele se sentisse tão ferido pelas mentiras de Saige, no entanto, ele não podia negar o arranhão amargo da traição em seu íntimo. 

  Se estivesse em Ravenswing, ele teria convidado Shrader para uma sessão de luta braço-a-braço, onde poderiam bater o inferno um no outro até Kierland intervir. Isso não acontecia frequentemente, mas ao longo dos anos, quando o pesadelo tornava-se extremo, Shrader tinha estado sempre ali para servir como uma saída para os demônios de Quinn. 

 Ele esperava que ele fosse capaz de exorcizá-los agora, mas como as cicatrizes em suas costas, eles permaneciam como um lembrete constante e brutal de seus erros passados. 

  'E a partir da aparência das coisas, você não aprendeu porra nenhuma'.

 Cerrando os dentes, ele escorou seus braços contra a vidraça fria do vidro, pensando que tinha sido um dia infernal. Primeiro Saige tinha fugido dele. Então ele quase teve seu traseiro chutado por aqueles bastardos Casus. E acima de tudo, ela brincou de babá, como se ela pudesse beijá-lo com sucesso e ele esquecesse as últimas vinte e quatro horas. Qual será a próxima?  Ela iria rasgar o coração dele e oferecê-lo para Satanás numa bandeja? 

  Cristo, ele rosnou, pressionando a testa no vidro liso enquanto ele fechou os olhos, travando sua mandíbula tão duramente que a dor irradiou através de seu crânio. Ele não tinha idéia do que ia fazer com ela, mas se ele vivesse até os cem anos, Quinn sabia que ele nunca iria esquecer o terror que tomou conta dele quando ele percebeu que Saige tinha fugido dele. Ele tinha ficado cruel e agressivo, como uma dor física contra o qual não podia se defender. Não podia destruir. Depois de pensar que a tinha perdido, o animal selvagem reivindicou a irritante mulher que era agora quase tão forte para resistir à fome fluindo em seus próprios ossos. Isto estava consumindo-o. Primordial. Primitivo. Ele a queria por horas a fio, sem parar. Queria imprimir-se nela tão profundamente, que poderia ficar marcada eternamente pela sensação de seu corpo cobrindo o dela... Arrojando-se profundamente nela... Possuindo-a com uma selvagem, ardente intensidade. Queria provar cada parte dela, assegurando-se que ela estava segura e inteira e não mais em perigo. 

 Isto era loucura aquilo poderia preocupá-lo muito rapidamente. Ele havia conhecido Janelle meses antes caindo de amor por ela, e olhe onde ele tinha ido parar. Ele gastou não mais que poucas horas com Saige Buchanan, e ainda, de alguma forma ela forçou seu caminho em partes dele que nenhuma outra mulher jamais violara. 

  Mesmo sabendo que ela mentira para ele desde o início, ele não podia ir embora. 

  Ele abriu os olhos devagar, e por um momento ele realmente pensou em ligar para Kierland pedindo que ele enviasse Shrader para ficar no seu lugar. Mas tão logo que o pensamento lhe passou pela cabeça que ele percebeu que não poderia seguir com isto.

  Não, tudo o que podia fazer era ficar ali e ferver de raiva, aterrorizado pela necessidade por ela. E uma vez que ele fizesse isso, a natureza da sua besta assumiria... E ele ficaria marcado.

'Então haverá um inferno para pagar. Mas você já sabe isso, não é?'

  Depois que ele saiu do banheiro, ela fechou a porta, e um minuto depois ele ouviu o chuveiro funcionando. Quinn tinha usado o tempo para disparar outro texto para Kierland, em seguida, esforçou-se para não pensar no corpo nu Saige sob o jato quente, mas agora, como a água parada, ele podia vê-la em sua mente tão claramente como se ele estivesse no quarto com ela. Sua imaginação fornecia as imagens que não eram nada mais que pura e devastadora tortura, e seu sangue engrossou, endurecendo seu corpo contra sua vontade. Ele podia vê-la sair do chuveiro, alcançando uma toalha. Podia ver o brilho da sua pele luminosa, o deslizar sensual das gotas de água através de suas suaves curvas femininas.

 Um punhado de segundos, e então a porta do banheiro abriu. Sabendo que isto estava somente levando-o da terra ao inferno, Quinn enviou um olhar ardente sobre seu ombro. Seu coração quase saltou para fora do peito, quando ela saiu vestindo nada mais do que uma maldita toalha.

 Ele silenciosamente amaldiçoou, imaginando que tipo de idiota vil ele deve ter sido numa vida passada para merecer esse tipo de tormento.

— Eu estive pensando – ela disse suavemente, segurando o nó na frente da toalha com uma mão enquanto puxava a massa úmida brilhante de seus cabelos por cima do ombro com o outro. Ela encontrou seu olhar ardente, depois lambeu o lábio inferior, e ele quase se perdeu nisto. Quase se encontrou cruzando a sala e derrubando-a no chão e então aí, não dando a mínima para as consequências.

Não confiando em si mesmo, ele enfiou as mãos nos bolsos e esperou para que ela continuasse.

 — Obviamente tem que haver algo mais nos marcadores do que a proteção – disse ela. — Mais do que o fato que pode ser usado como uma arma. Por que outra razão os Casus querem eles?

— Você não tem tempo para se preocupar com isso agora – ele murmurou, esfregando os olhos enquanto ele olhava para trás para fora da janela, desejando que houvesse uma maneira de apagar da memória o seu corpo envolto naquela peça pequena de algodão.

— O que você quer dizer? – Ela perguntou, soando mais desconfiada.

— Ter um desses monstros atrás de você é ruim o suficiente, Saige. Dois vai ser um inferno vivo. A única coisa que você precisa se preocupar, até chegar no Colorado é manter-se viva. Então você pode resolver o pequeno enigma.

 Houve um silêncio por um momento e, em seguida, ela sussurrou seu nome.

 —Sim?

  Desta vez, quando falou, não havia dúvida de que ela estava logo atrás dele. 

— Você me deixou bater em você ontem à noite, quando eu estava chateado. Eu só... Eu sei que você ainda está zangado, e eu queria que você soubesse que eu estou aqui por você.

 Quinn abaixou a cabeça, um som áspero arrancando da garganta que quase soava como uma risada, mas era demasiado amargo, demasiado áspero.

— Eu não quero bater em você – ele rosnou, forçando as palavras afiadas por entre os dentes fechados. O suor pontilhava sua testa, uma pérola salgada deslizando em seu olho esquerdo, enquanto seu peito arfava.

— Então o que você quer? – Perguntou ela, e enquanto como ele aspirava profundamente o ar, não havia nada, mas pura, inebriante que Saige.

  O que ele queria? Deus, se ela tivesse alguma idéia, ela estaria fugindo tão duro e tão rápido quanto podia. 

— Confie em mim – ele resmungante, fungando um estouro curto, áspera de riso com a respiração. — Você não iria querer saber.

— Seja o que for – disse a ele, parecendo determinada — Eu posso fazer isso.

* * * * *
 
  APESAR DA TOALHA ENROLADA em torno de seu corpo, Saige sentia-se nua... Completamente exposta, quando Quinn olhou por cima do ombro, lançando-lhe um daquele escuro, investigativo olhar que sempre a fazia se sentir como se estivesse espiando em sua mente como um voyeur.

— Quero dizer – ela disse com voz rouca, suas terminações nervosas gritando sensíveis, alguma coisa doendo pela pressão do corpo dele contra o dela. Pelo seu calor... Pelo seu peso.

 O canto da boca dele pulsou com um arrogante, conhecido sorriso, e ele sacudiu a cabeça.

— Você diz isso agora, mas eu não ficaria tão ansiosa, se eu fosse você, querida.

  Ela respirou fundo e disse rapidamente: — Você é ... É sexo que você quer?

  Sua expressão apertada, seus olhos escuros lembrando-lhe do trecho, brilhante infinito do céu à meia-noite quando ele virou lentamente em sua direção, suas mãos em punhos apertados nas laterais, o corpo rígido e apertado atingido pela tensão. 

— A menos que você esteja oferecendo – disse ele em voz baixa e áspera inebriante — Eu calaria a boca, Saige.

 Ela liberou um rápido olhar para baixo de seu corpo... E quase engoliu a língua quando viu a prova dura inconfundível do seu interesse. Mesmo contido pelo jeans desbotado de sua calça, ela podia ver o quão duro e grosso, ele era, e que a quente, a agitação irradiando de necessidade fixando no interior do seu corpo. A humilhação foi ainda um fator, considerando que ele se virou uma vez mais, quando ela olhava para o bojo de tirar o fôlego por trás do solto botão superior da calça jeans que deixara aberto, fornecendo uma visão provocativa de escuro pêlo cobrindo a pele, ela não poderia duvidar de que hoje, neste momento, ele a queria.

 Molhando os lábios, ela conseguisse murmurar

— Eu estou oferecendo.

  Seus músculos agruparam-se sob o trecho polido de sua pele, como se estivesse pronto para estourar em um movimento, assegurando pela força da sua vontade. Determinado, áspera quase silencioso, ele disse:

— Pense bem onde você está entrando, Saige. Eu não sou como quaisquer um dos outros homens que você conheceu.

— Eu sei disso. – Mordendo o lábio inferior, incapaz de parar a confissão, macia sem fôlego. — Eu quero você, Quinn. Eu sinto como que tivesse desejado sempre você.

— Eu não estou procurando brincar agora – ele rosnou, estudando o seu peso através dos espessos cílios. — Nem procurando oferecer conforto e afastar de sua mente o que você está passando. Qualquer que seja o inferno que você estiver fazendo, você tenha isso em mente.

  Ela engoliu em seco, nervosa, sabendo que ele estava tentando avisá-la sobre algo, mas também desesperada para ele desejar.
— Eu não sou uma criança, Quinn. Eu sei que você é perigoso para mim. Não fisicamente, mas de outras formas... Maneiras que eu não entendo. Mas também sei que vou me arrepender para o resto da minha vida se eu não chegar perto de você. – Ela deu um passo na direção dele, esperando, rezando que ele não se afastar dela. — Eu preciso estar perto de você.

  Seus olhos ardiam, denso, negros e bonitos, brilhantes, como se iluminado por um fogo interior, a boca dividida na simples fração de cadência, dura correndo sua respiração. Ele parecia um homem preso entre o céu e o inferno, dividido entre o querer fugir e a necessidade de levá-la... Tocá-la, seu rosto ilustrado com a tensão... Com a dor.

  E então ele lentamente atraiu uma respiração profunda, estremecendo o ar, e aproximou-se da toalha. Num piscar de olho, ele conseguiu abri-la e deixá-la cair no chão enquanto ela fechava os olhos.

  Houve um momento de silêncio pesado, durante o qual Saige sabia que ele estava olhando para seu corpo. A dura, violenta batida de seu coração enchia sua cabeça, o peito doía pela força da sua respiração, com as palmas úmidas pelo nervosismo e pela excitação, e ela esperou... Não sabendo o que fazer, apavorada em quebrar o feitiço e perdê-lo. Ela podia sentir pressão de seu escuro, fumegante olhar em sua pele. Sentia o olhar demorando em seus seios... nos mamilos. Na curva dos quadris, o recuo de seu umbigo. No cachos suaves entre as pernas. Então ele soltou um som baixo, como um animal na parte detrás de sua garganta, e estendeu a mão, tocando-a, esfregando o dorso dos dedos sobre os cachos úmidos, acariciando-os, e ela se derreteu com a nova onda de calor, incapaz de ficar em pé.

  E dentro de seu corpo, Saige podia sentir sua Merrick levantando-se, levantando o nariz, cheirando delicadamente no ar, ansiosa por seu cheiro quente e inebriante. Enchendo a sua cabeça como uma lembrança estranhamente esquecida de algo reconfortante e quente como sua casa e isto era dolorosamente emocionante, incrivelmente sedutor.

 Com a respiração presa em seu peito, ela abriu os olhos e viu seu rosto estreitar-se com uma selvagem expressão instintiva que o fez parecer duro... Perigoso... Invencível, embora soubesse muito bem que ele poderia sangrar. E, de repente, ela estava em seus braços, contra o seu corpo, que era exatamente onde queria estar. Ela não sabia por que precisava dele tanto, tudo o que sabia era que precisava. Tinha que possuí-lo. Ele teria que mergulhar em seu organismo, seus sentidos, sua alma, levando-a como ele. Como algo que pertencia a ela... Com ela.

 Se alguém lhe dissesse há dois dias que ela poderia se sentir assim com um homem, muito menos que ela mal conhecia, ela nunca teria acreditado. Mas era verdade.

 E de alguma forma, inexplicável loucura, ela percebeu que sabia que conhecia Quinn. Talvez não os detalhes e fatos que fizeram a sua vida, seu passado, mas ela sabia do homem. Seu cheiro. Seus humores. Seu gosto e seu temperamento e do calor, sedução devastadora da sua boca.

  Ele reinvidicou-a com um profundo beijo que era como o sexo em si. Com um rosnado surdo sexy em seu peito, ele penetrou a boca roçando sua língua quente, tocando-lhe os dentes, o interior suave de seu rosto, o topo do seu paladar. Ele bebeu dela, tendo sua respiração ofegante... seus gemidos ofegantes, puxando o prazer dela como se ele pudesse se alimentar deste. Suas ásperas mãos poderosas agarraram o rosto dela, segurando sua presa para a sua posse implacável, o toque de suas mãos calejadas apenas aumentando a selvagem sensação primitiva.

 Ela não fazia idéia que poderia ser assim. Quinn era uma força da natureza sobre ela, através dela, oprimindo os sentidos, mas ela não iria recuar agora. Ávida por tudo o que tinha, que ele era, ela passou as mãos sobre a larga, sedosa amplitude dos ombros, até o seu árduo bíceps saliente e ele suspirou profundamente em sua garganta.

Imediatamente, ela parou, erguendo as mãos distantes quando ela lembrou-se da forma selvagem que o Casus tinha agarrado o belo corpo dele.

— Deus, você está bem? – Ela ofegou. — Eu não queria machucá-lo.
  
* * * * *

  QUINN ENRIJECEU pela preocupação que ele podia ouvir em sua voz. Como um homem surdo de repente bombardeado com som, ele não sabia o que fazer... Como processar a idéia além da sua esfera de experiência.

  Ele não podia negar que a preocupação de Saige tocara-o, e de uma maneira que não era de tudo confortável, sugerindo um nível mais profundo de conexão que ele nem estava preparado para lidar. Não que ele ia deixá-la parar de tomar o que ele queria... O que ele precisava.

  Puxando-a contra ele em um aperto desesperado, ele enterrou seu rosto contra seu cabelo, querendo que ela respirasse no seu organismo. Ele queria estar em sua mente, em seus sentidos, em sua alma. Cristo, ele queria ficar ligado a ela para sempre, e matou uma parte dele para saber que isso nunca iria acontecer. Não importa o quão bem ele segurava-a hoje à noite, ele não poderia abalar o conhecimento doloroso que ela ia escorregar por entre os dedos...

  Ele estremeceu incapaz de lidar, sentindo-se como um predador, o animal dentro dele levantando-se, determinado a participar de seu pedido. E de repente a fome que ele vinha lutando para controlar nas últimas vinte e quatro horas foi desencadeada em uma explosão violenta viciada de necessidade.

 Ele fez um som – duro e grosso – e estourou em ação.

 Com as mãos na cintura dela, Quinn ergueu-a do chão, atravessou a sala em passos longos, rápidos e rapidamente deitou-a na cama. Em vez de cobrir seu corpo com o dele, ele se ajoelhou entre as coxas e forçou-a a afastá-las, espalhando suas pernas largas quando ele agarrou por trás de cada joelho, segurando-a aberta. A lasciva posição explícita abriu as dobras delicadas de seu sexo, e ele olhou duro, com água na boca para os sucos espessos derramando a doçura de seu corpo. Ela cheirava diferente de tudo que ele já tinha conhecido – perfeito, acolhedor e único – E ele mal a tocou e ela já estava molhada, as tímidas, sensíveis dobras inchadas e escorregadias.

  Ele soltou um som primitivo no fundo da garganta, e moveu a mão direita entre as pernas dela, acariciando a dobra delicada suavemente rosada com a ponta dos dedos, enquanto ela se movia, irrequieta na cama, seus músculos trêmulos de necessidade, as mãos agarrando desesperadamente seus ombros. Ela era quente e úmida ao toque, e ele moveu-se sobre ela, apoiando o seu peso em seu braço esquerdo, em seguida, levantou os dedos reluzentes no peito, necessitando o seu gosto, antes que saísse de sua mente. Um angustiante, rosnado gutural rasgou de seu peito, quando ele usou os dedos molhados para pintar seu mamilo direito com o seu creme, em seguida, inclinou-se e tomou a brilhante gema em sua boca, chupando-a tão duramente quanto podia. Suas costas arqueadas, um grito agudo lamentoso de prazer saindo dela que ainda tentou sufocá-lo de volta. Quinn trabalhou o mamilo deliciosamente grosso contra o céu da boca, e seu sabor quente e doce explodiu através de seus sentidos. Incapaz de esperar, empurrou a mão entre as pernas. Ela era delicada e pequena, e ele não era. Ele estremeceu com a necessidade de rasgar sua calça jeans e enterrar-se dentro dela, mas sabia que seria mais fácil para ela se ele pudesse fazê-la chegar em primeiro lugar. Ofegante contra seu peito, ele acariciava os dedos em toda a sua carne macia, escorregadia, em seguida, esfregou os dedos úmidos contra o nó duro pulsante do seu clitóris. Ele sugou o mamilo em profundidade, rítmica puxado no ritmo de seus dedos, e pôde sentir isso na sua construção, seu corpo contorcendo-se quando ela lutou contra.

— Faça-o, Saige. Venha para mim – ele rosnou, mantendo o polegar contra o clitóris enquanto deslizava apenas dois dedos dentro da abertura, inchada delicada de seu sexo, e o orgasmo bateu através dela como um choque de eletricidade impressionante, chocante e afiada. Ela endureceu em baixo dele, dura, um grito gutural saindo de seus lábios, enquanto as violentas ondas de prazer varriam através dela, aniquilando o seu controle.

* * * * *

  COM SEU CORPO AINDA pulsando profundamente, no ritmo de um êxtase devastador, Saige viu através das pálpebras pesadas dos olhos de Quinn quando alcançou o seu zíper. Sua respiração estava ofegante num ritmo rápido, animado, e ela ergueu seu olhar, para ver a beleza, a sombria aspereza de seu rosto. Parecia algo primitivo e selvagem, os olhos enrugados sexy nos cantos, a boca abriu para respirar e então ela sentiu o peso, duro grosso de seu ardente pênis contra o interior de sua coxa. Olhando para baixo, ela lambeu o lábio inferior, e respirava uma trêmula — Mãe de Deus.

  Sua voz rouca, embaraçada risada ressoou estrondosamente em seu interior aquecendo-a, mas ela ainda estava muito fria sem ele, muito vazia. 

— Eu preciso de você dentro de mim, Quinn. Eu preciso... Eu preciso que você me faça esquentar por dentro.

Ele gemeu, trêmulo, os músculos vibrando com um tremor, arduamente vicioso. Ela queria alcançar embaixo e ondular os dedos em torno da longa e larga lança, para sentir o seu calor e o ritmo violento de seu pulso nas grossas veias dilatadas, mas ele agarrou seus pulsos, puxando-os acima da cabeça.

  Levantando seu olhar, ela estava pronta para pedir... Para pleitear, quando o calor em suas gengivas virou uma chama de fundição, e com sua próxima respiração, as presas de Merrick romperam subitamente em sua boca, pesadas e afiadas. Impulsionada por uma necessidade instintiva selvagem pelo gosto dele, ela levantou a cabeça e cravou suas pontas afiadas na coluna forte de sua garganta, rompendo a pele. O sabor quente e inebriante de seu sangue caiu sobre sua língua, suave e delicioso, e com os lábios contra sua pele quente, ela sussurrou — Quinn?

 — Seu Merrick – ele ofegou, sua voz nada mais do que um som rouco e áspero enquanto ele estremeceu em cima dela. — Ela precisa se alimentar.

 Ela choramingou, faminta e assustada ao mesmo tempo. Apesar de tudo o que sabia sobre a Merrick, ainda era um choque sentir seu corpo mudar, a força poderosa e visceral dos anseios da criatura, possuindo-a, demasiado forte para resistir.

— Está tudo bem – ele garantiu a ela com palavras sem fôlego, colocando-se nos cotovelos para que ele pudesse segurar o seu rosto com as calorosas palmas ásperas do trabalho. — Está tudo bem, Saige. Não lute contra isso.

  Sua boca tremia, dando a Quinn uma visão sensual dos pequenos dentes brancos e as palpitações, a dor de urgência em seu pênis duplicou-se, o eixo rígido com tanta força que era quase mais dor do que prazer. Ele nunca tinha sentido algo tão primitivo... Nem tão bonito quanto Saige deitada embaixo dele, com a boca inchada de seus beijos, seus olhos tempestuosos escuros arregalados, com fome, um azul brilhante sobrenatural, enquanto seu Merrick se levantava dentro dela, lutando para ficar livre. Afastando sua mão direita para o lado dela, tocando a mais preciosa peça delicada novamente, acariciando a seda macia de seu sexo, e enfiou dois dedos grossos dentro dela, pressionando profundo. O corpo dela, quente e liso e incrivelmente pequeno, se agarrou a ele, segurando-o, a sensação tão boa, que ele quase se perdeu. Na necessidade de esticá-la, ele pressionou mais profundo... Então ainda mais fundo.

  E quase morreu quando ele de repente percebeu porque estava tão apertado.

 — Não – ele engasgou com uma voz crua e áspera. — Isso não pode ser possível.

  Abrindo os olhos horrorizados, Saige sentiu seu corpo ficar frio, as presas Merrick instantaneamente recuando. 

— O que há de errado?

 — Você é uma virgem – ele murmurou, afastando-se da cama tão rapidamente, 'você devia ter pensado porque ela estava em chamas'.
Esforçando-se para fazer o seu prazer destruído mover os músculos, ela conseguiu se erguer sobre um cotovelo e empurrar o cabelo do rosto. 

— Calmamente – ela disse — Eu não ... Eu não achei que você se importaria.

  Ele andou indo e vindo, ao pé da cama, enfiou as duas mãos no cabelo, tão rígido que parecia doloroso. 

— Cristo, isto não pode estar acontecendo. – Ele lançou-lhe um olhar escuro, acusador, soando como se fosse algum tipo de crime. — Como diabos você pode ainda ser virgem?

  Movendo-se de joelhos no meio do colchão, Saige puxou o edredom para frente de seu corpo nu e elevando uma sobrancelha. 

— Bem – disse ela secamente — é muito simples de explicar realmente. Veja, se uma mulher nunca...

— Maldição – ele rosnou, cortando-a. –– Isto não é uma piada, Saige.

— Sim – ela disparou de volta, sua própria raiva começando a aumentar à medida que o choque desvanecia-se. — Bem, dê uma boa olhada em mim, Quinn. Pareço achar isso engraçado? Confusa, sim. Mas eu não estou rindo!

— Eu não entendo – ele murmurou, percorrendo o seu olhar sobre o rosto, os ombros nus, antes de grunhir. — Como isso é possível?

— Não foi assim que eu planejei perder minha virgindade – ela retrucou, então se forçou a respirar fundo, lutando para conseguir o controle de suas emoções. — Eu acho... Eu sempre tive problemas para confiar quando se trata de homens, e a próxima coisa que você sabe, aqui estou eu, uma virgem em 2006. Eu deveria saber melhor, mas por algum motivo, eu obviamente pensei que você fosse diferente – acrescentou ela com um dar de ombro, e ele rosnou baixo em sua garganta.

 — Não jogue isso na minha cara – ele murmurou, de repente, aproximando-se e fechando o seu jeans.

— Por que não? Você é o único me virou para baixo. Não o contrário. E isto é o que está acontecendo aqui, não é?

 Apoiando as mãos nos quadris, ele continuou a andar, rosnando:

— Era bastante perigoso quando eu pensei que você fosse experiente. Mas isto é...

— Perigoso – ela repetiu, cortando-lhe a palavra. — Que diabos é tão perigoso nós fazermos sexo? Eu não tenho nenhuma doença. E eu tomo pílula desde quando eu tinha 22 anos, no caso de encontrar um homem que poderia me envolver. Então você não pode me deixar grávida.

  Ele estreitou os olhos, e ela estremeceu, imaginando o que em nome de Deus estava se passando por sua mente. 

— Sou mais exigente que a maioria dos homens, Saige.

— Sim? – Ela ergueu o queixo. — Bem, talvez eu seja mais exigente do que a maioria das mulheres.

  Uma risada amarga saiu de sua garganta seca, e ele esfregou as mãos pelo rosto. 

— Deus, você não tem idéia. Ter esse tipo de conexão com você sabendo que eu sou o único, que nunca... Cristo, se eu perdesse você, isto iria me destruir.

— Me perder? – Ela murmurou. — Eu pensei que o plano era manter-me viva, Quinn.

  Ele não explicou o seu significado. Em vez disso, ele só posicionou o queixo e afastou o seu olhar, murmurando:

— Eu não durmo com virgens. Nunca.

  'Bem, aqui está. O momento que você temia que acontecesse'

 Saige sabia que não poderia mantê-lo, mas ela não tinha percebido que doeria tanto. Ela compreendeu que os homens como Michael Quinn não foram feitos para serem sempre aprisionados. Não por mulheres como ela. Mas, enquanto ela pudesse roubar alguns dias com ele, tinha estado preparado para lidar com o que viria no final.

 Corações partidos não matam. Se o fizessem, ela teria morrido há muito tempo, quando cada homem que ela amou tinha se afastado dela. O pai dela. Ian. Então Riley. Ela aprendeu desde cedo que não contar podia com a permanência dos homens. As lições de sua infância tinha transitado para a vida da mulher, mas ela não iria explicá-las para Quinn. Ela não tinha nenhum desejo de derramar seus desejos para ele, confessando os seus temores secretos. Que ela era indesejável. Que, mais cedo ou mais tarde, não importa com quem ela se importasse, ela iria perdê-los.

  'Pobre, pequena Saige assustada. Tão medrosa por nunca deixar um homem chegar perto de seu coração.'

  Mas ela não estava falando sobre amor aqui, de qualquer maneira. Ela estava falando sobre a conexão e necessidade. A luxúria e a fome. Sobre as sensações de tirar o fôlego, ela sentia como se estivesse próxima de Quinn, e pela primeira vez em sua vida, fazendo algo por nenhuma outra razão a não ser porque queria. Ela passou anos doando a sua vida na busca de respostas sobre a Merrick, vivendo por conta própria, confiando em ninguém além de si mesma. E então ele entrou em sua vida, fazendo-a querer as coisas que ela nunca tinha esperado... Nem preparada, somente para afastar-se dela antes que ela tivesse sentido o gosto delas. Isto a enraiveceu tanto que ela queria gritar. E isto era ruim, ela queria se encolher como uma bola e chorar.

  Teria ela realmente achado que poderia lidar com um coração partido se ela se apaixonasse por ele? Deus, ela não conseguia nem segurar um ego ferido.

— Então, você estava certo sobre mais um encontro sem sentido sexual, mas Deus não permita que haja algo... o quê? – Perguntou ela. — Significativa sobre isso? Memorável? Está preocupado por me entristecer com você?

— Você não sabe o que diabos você está falando – disse ele em voz baixa.

— Você está certo, eu não sei. Ninguém sabe os profundos e escondidos segredos dentro do coração e da cabeça de Michael Quinn. É um dos mistérios do universo desconhecido. Diga-me a verdade, Quinn. Seria tudo isso apenas uma maneira de me punir? Usar-me? Dormir comigo e depois ir embora?

— Você realmente não acredita nisso – resmungou ele, lançando-lhe um olhar escuro pelo canto dos olhos.

— Eu não sei em que acreditar. Então me explique.

Isto soou como se as palavras fossem arrancadas dele enquanto ele enfiou as mãos profundamente nos bolsos e disse:

— Quando as emoções estão envolvidas, o sexo pode ser ... Complicado com para os de minha espécie.

— Considerando o quão íntimo é – disse ela — eu acho que sexo é sempre complicado.

  Seus olhos se afastaram, deslizando seu olhar em direção ao chão, enquanto os topos das maçãs do rosto agudas pareciam queimar de rubor. 

— Nem sempre.

  O ciúme deslizou através de suas entranhas, doloroso e cruel. 

— O que significa que só dorme com mulheres que não se importa? E então está tudo bem?

— Isso é exatamente o que isso significa. – Ele segurou seu queixo tão forte que parecia doloroso, a tensão ao redor dos olhos fazendo-o parecer abatido e cansado. — Eu desejo... Coisas.

— Coisas que você não quer comigo? – Ela sussurrou, piscando contra o aumento da emoção em seus olhos, queimando na parte detrás de sua garganta.

  Ele fez um som rude e balançou a cabeça. 

— Dormir com você me gratificaria muito mais do que você espera. Você não tem idéia de como... Possessivo eu posso ser. Eu exigiria de você muito mais do que você estaria disposta a dar, Saige.

— Eu não acho que é isso – ela murmurou, um tom duvidoso. — Eu acho que você está com medo.Com medo de que se você tirar a minha virgindade, esses instintos possessivos vão chutar em alta velocidade, e apesar do fato de que você quer ir para a cama comigo, você não quer ficar preso a mim, não é, Quinn?

— Eu não quero ficar preso a qualquer mulher, Saige. Não tem nada a ver com você.

 Ela não tentou esquivar-se, mas falhou. Ele tinha encontrado a arma perfeita para usar contra ela. Rejeição. Dolorosa e gritante. 

— Se isso é porque eu fugi, eu já lhe pedi que me desculpe.

— Há coisas que não entendo. Vamos deixar por isso mesmo. – Ele lançou-lhe um intenso olhar pelo canto do olho, parecendo como se quisesse comê-la viva.  — Você deveria se vestir – disse ele, sua voz grossa.

— Eu não posso acreditar que eu realmente pensei que você me queria – ela murmurou baixinho, saindo da cama com o edredom seguramente apertado contra seu corpo nu. Ela deu dois passos antes que ele viesse por trás dela, pressionando-a contra a parede mais próxima. Saige arquejou como o calor e a dureza de seu corpo cobrindo as costas nuas, seu hálito quente contra seu ouvido, áspero e escuro e profundo.

— Isso não tem nada a ver com querer – ele rosnou, suas mãos grandes em punhos contra a parede de cada lado da cabeça. — Meus apetites... São anormais. Ser o homem que tira a sua virgindade só piora a situação. Para mim e para você.

  Ela engoliu, suando, a necessidade dele espalhando por todos seus ossos, puxando sua carne. 

— Eu sou uma menina grande, Quinn. Eu posso ser virgem, mas eu não sou uma criança. Seja lá do que você tem tanto medo eu não vou correr e me esconder.

  Ele tremia, descansando sua testa contra o topo de sua cabeça, as veias no dorso das mãos espessando-se quando ele apertou os punhos. 

— Você torna bastante difícil fazer a coisa certa – ele murmurou, e então ele deu um passo atrás, longe do seu corpo.

  Saige virou, com o olhar caindo imediatamente no alto e grosso abaulamento contra a braguilha, querendo ver a prova de que ele ainda a queria. Ela molhou os lábios e fez um som, como se estivesse com dor, dando mais um passo para trás. 
— Se você soubesse alguma coisa sobre mim – ele rosnou — você me agradeceria por isso.

  Ela não sabia o que fazer, mas se perguntou sobre que diabos ele estava falando. Tanto quanto sabia, Raptores eram famosos por serem guerreiros letais, barbaramente ferozes no campo de batalha, mas ela nunca tinha ouvido falar de qualquer coisa incomum sobre sua sexualidade. Tal como todos que compunham os guardiões, estava destinado a ser algum dos maiores alfa masculino, com poderosa reputação direcionada para o sexo primitivo para torná-los amantes inacreditáveis.

 Só pensou que ele tinha sangue quente sob a pele. Ou talvez fosse simplesmente Quinn. Só Deus sabia o que sentia como se ardesse febril toda vez que ficava perto dele. Ela começou a dar um passo em frente, mas caiu de costas contra a parede, a cabeça girando com uma súbita onda de tontura. Erguendo a mão, ela pressionou a palma da mão contra a testa quando fechou os olhos, bem conscientes do Merrick fervendo sob a pele, furiosa por ter sido negado o que precisava.

— Você se sente fraca, não é? – Ele perguntou, sua voz baixa e áspera.

— Estou cansada – ela sussurrou, consciente da proximidade dele.

Ele soltou uma respiração áspera, então disse calmamente:

— Eu sei que agora não é hora, mas o seu Merrick está pronto, Saige. Se você não der o que ele precisa, ele vai drená-la. Você precisa ir em frente e se alimentar.

  Abrindo os olhos, ela olhou para ele com claro espanto quando ele começou a dizer:

— Aqueles bastardos vão vir atrás de você. Não só por causa de seu despertar, mas porque eles precisam de você para ler os mapas. Você precisa estar em plena força.

  Ela balançou a cabeça, uma explosão de risadas frágeis afastando-se da garganta. 

— E o que exatamente você quer que eu faça, Quinn? Eu sei sobre alimentação Merrick. Eu não só preciso do seu sangue, eu preciso sentir prazer, ao mesmo tempo. Preciso de sangue e sexo, e você deixou mais do que claro seus sentimentos sobre o assunto de sexo esta noite.

— Um macho Merrick precisa de sangue e sexo – ele respondeu, sua expressão sombria quando ele enfiou as mãos nos bolsos.— Mas é diferente para uma mulher.

  Saige estreitou os olhos. 

— Diferente como?
— Contanto que eu faça você gozar enquanto estiver tomando o meu sangue, você terá a carga total que precisa.

— Oh Deus, isso é impagável. – Ela olhou-o, rígida, incapaz de dizer se ela estava começando a rir ou a chorar. — Diga-me que você não esta falando sério.

— Eu posso te dar o meu sangue – ele disse numa voz sem emoção – e fazê-lo sem tirar a sua virgindade. 

  Outra risada frágil estremeceu de sua garganta, e ela agarrou o edredom apertado contra o seu corpo. 

— Ooh, Quinn, você é um amor. Você é realmente romântico, não?
 
— Você não tem o luxo de esperar, Saige. Você precisa alimentar-se. 

— Sim, bem, obrigado pela bonita oferta – ela contrapôs — mas eu vou recusar.  

  Ela tinha acabado de voltar-se em direção ao banheiro quando ele disse:

— Apesar do que aconteceu entre nós, ainda temos que lidar com a situação. E nós temos um longo caminho para cobrir antes de ir para o Colorado.  

— Eu vou lidar com isso – ela murmurou, recusando-se a olhá-lo enquanto ia rumo ao banheiro, usando a parede como apoio. Pouco antes dela fechar a porta, ela olhou para trás, segurando o escurecido olhar de Quinn enquanto disse

— Mas eu vou fazer sem você. 


 




















Capítulo Treze 
  Segunda de manhã 
Novo México 


  SENTADO À MESA PEQUENA no canto do café da moda, Jamison Haley tomou um gole de seu cappuccino duplo e fez esforço para projetar uma imagem de confiança relaxada, enquanto dentro de seu coração martelava um ritmo nervoso, frenético. Ele tinha estado por conta própria, durante cinco dias e finalmente se hospedou num hotel local na noite anterior, onde ele dormira firme por oito horas. Ele precisava estar de volta à rua, se ele estivesse retornado para Denver, em tempo para atender Saige amanhã à tarde, mas depois das horas que ele passou confinado em trens e ônibus e aviões de pequenas dimensões, ele queria um pequeno almoço rápido em algum lugar que não tinha cheiro de suor e passageiros. 

  No bolso da frente da sua jeans, a Cruz misteriosa de Saige queimava como um fantasma de calor, um lembrete constante de sua amiga e do perigo que ela acreditava que iria segui-los. Ele queria chamar e certificar-se que estava bem, mas havia prometido não entrar em contato com ela a menos que fosse uma emergência. E até agora, a viagem foi bastante tranquila. Ele meio que esperava encontrar-se desviando de monstros, como algo saído de um filme de horror, mas o pior que ele tivera que lidar fora com um bêbado agressivo que havia tomado por engano seu assento em um trem no México. Ele só esperava que Saige pudesse dizer o mesmo. Jamison não gostava de separar-se dela, mas ela prometeu ser cuidadosa, implorando-lhe para fazer este favor. E enquanto Jamison era geralmente muito auto-indulgente para sempre arriscar sua vida por ninguém, ela era diferente. 

  Por Saige, ele teria viajado para os confins da terra. 

  Recostado na cadeira, olhou em torno do café lotado, maravilhado com a clientela variada, de adolescentes de olhos sonolentos para frenéticos jovens profissionais cujos telefones celulares parecia colado aos seus ouvidos. Mas foi a ruiva de minissaia de couro preto e botas que chamou sua atenção. Talvez fosse porque ela lhe lembrava Saige e ele sempre teve uma paixão secreta por sua colega, ou talvez fosse o jeito que ela olhou para ele, como se ela quisesse comê-lo vivo. Fosse o que fosse, Jamison não podia tirar os olhos dela quando ela dirigiu-lhe um quente, convidativo olhar. Ela era tão linda, sentiu-se enrubescer, o rubor aumentando em seu rosto, sem dúvida, embaraçosamente óbvio. 

 Quando o café dela ficou pronto, mandou-lhe outro sorriso lento, em seguida, saiu da loja, na calçada, e desapareceu na multidão matutina. Balançando a cabeça, Jamison estourou uma respiração irregular e esperou seu corpo se acalmar antes dele agarrar seu próprio café e voltar para o hotel. Ele precisava pegar sua bagagem e conferir tudo antes de se instalar em seu carro de aluguel para a longa viagem até Denver. Uma vez lá, ele gostaria de encontrar um bom lugar para ficar sossegado, até que chegasse a hora de encontrar Saige e devolver-lhe a Cruz. Então ele voaria para a Inglaterra, e tiraria as férias tão necessárias, antes de ir ao seu próximo destino. 

  Sorrindo para o caixa da mesa dianteira do hotel, Jamison caminhou até o elevador, subiu até o quinto andar, em seguida, usou sua chave de cartão de plástico para entrar no seu quarto. Ele apenas fechou a porta atrás de si e enfiou a chave no bolso, ao lado de Cruz de Saige, quando ele pegou um lampejo vermelho pelo canto do olho. Girando, ele reprimiu um grunhido agudo de surpresa com a visão da ruiva linda do café sentada ao pé de sua cama. Suas pernas longas e bonitas estavam cruzadas nas suas coxas esbeltas, mãos femininas atrás dela apoiada sobre o colchão, a pose provocante acentuando a forma dos seios sob uma preta apertada do algodão, camiseta. 

  A posição era descaradamente sedutora, como se tivesse escapado de seu quarto por algo mais sinistro do que um tempo suado entre os lençóis com um desconhecido. Mas foi o olhar, friamente calculista de seus grandes olhos verdes que o fez afastar-se dela. 

  Bem, e uma arma de 9 milímetros de aparência ameaçadora repousava na cama ao lado dela. 

— Como você me encontrou? – Ele perguntou, sua voz grossa quando ele se afundou na cadeira solitária na sala, suas pernas não bastante estáveis o suficiente para sustentá-lo. 

— Oh, querido, foi fácil – ela contrapôs, anéis de prata brilhantes em seus dedos enquanto ela empurrou vários fios brilhantes de cabelo para trás de seu rosto em forma de coração, a luz do sol filtrando em meio às cortinas inclinadas fazendo os fios ruivos brilharem como chamas, como se estivesse quente ao toque. — Você realmente não deveria ter se registrado no hotel com seu nome real. Mesmo os Guardiões sabem fazer melhor do que isso.
 
 — Você não pode me machucar – ele gaguejou, pensando na cruz que ardia em seu bolso. — Saige disse que eu seria protegido. 

— Bem, isso seria verdade – ela ronronou, tomando posse da arma, enquanto se levantava devagar, num sinuoso movimento. Ela atravessou o espaço curto entre eles, e Jamison viu com os olhos arregalados quando suspendeu sua minissaia, revelando na abertura uma área úmida no cetim preto entre as pernas, antes de escanchar as pernas no colo dele. Ela colocou suas mãos sobre seus ombros, o peso da arma parando perto de seu coração quando ela disse — Mas há apenas um problema pequeno. 

— O que é isso? – Ele murmurou, sua testa começando a suar frio e úmido. 

  Ela deu um profundo, gutural burburinho de risos e arrastou a mão livre sobre o peito, pressionando a palma da mão aberta contra o martelar, aterrorizado da batida do seu coração. 

— O pequeno talismã não vai salvar você de mim, Haley. Porque eu não sou um Casus. 

  As sobrancelhas reuniram-se enquanto ele olhava para os olhos brilhantes de verde-garrafa. 

— Se não é um Casus, então o que você é? 

— Não importa – ela disse, inclinando-se para frente e colocando um lento, evocativo beijo contra seus lábios. Apesar de seu medo, seu corpo engrossando... endurecendo dentro de sua calça, e dela esfregar-se contra ele, praticamente ronronou quando ela disse — Tudo o que importa é que você pode fazer para mim e para as pessoas quem eu trabalho. 

— Você quer a cruz – disse ele surdamente, insuficientemente sentado como um peso da morte em seu íntimo, sustentando sua companheira com o terror. 

— Oh, nós queremos mais do que isso – ela sussurrou contra sua boca, e ele podia sentir o metal frio de seus anéis de prata enquanto ela envolveu seu rosto com as mãos. Deslocando-o para trás, ela olhou em seus olhos quando ela acrescentou: — E você vai nos ajudar a consegui-lo. 

 Engolindo o nó em sua garganta, Jamison lutou por sua voz. 

— Seja o que for que você quer que eu faça você pode esquecê-lo. Eu não vou te ajudar.

 Ela balançou a cabeça, a curva exuberante dos lábios lembrando-lhe uma serpente venenosa, tão bonita quanto mortal.

— Não se preocupe, Haley. Você não precisa fazer nada.

— Então o que você quer de mim? – Perguntou ele, imaginando que tipo de jogo doentio que ela estava jogando com ele. Ela iria colocar a arma na sua têmpora e estourar seus miolos? Ou continuaria dando-lhe uma joelhada enquanto assustava-o até ficar fora de si? 

  Suas perguntas foram respondidas no momento seguinte, quando ela apertou a mão dela contra o lado direito de sua garganta, e de repente ele sentiu uma picada aguda, como se um de seus anéis de alguma forma perfurasse sua pele. Sua mente já estava embaçada quando ele percebeu que ela injetou-lhe com algum tipo de droga.
 
— Não lute contra isso – ela murmurou, empurrando os fios úmidos de seu cabelo para trás de seu rosto. — Por enquanto, tudo que você precisa fazer é dormir. Então, quando chegar a hora, você vai entender por que precisamos de você.

— Quem é você? – Ele falou arrastado, com a cabeça reclinada para trás contra a cadeira, os músculos do pescoço não conseguindo mais suportar seu peso. 

— Meu nome é Elizabeth – disse-lhe, saindo de seu colo. Ele se esforçou para manter os olhos abertos enquanto ela esperava a droga agir completamente, seu cabelo vermelho fluindo sobre seus ombros como uma onda, grosso luminosa de seda. — Mas meus amigos me chamam Spark. 

— Spark – pensou ele, perguntando quem era ela. Ele queria exigir mais informações, algum tipo de explicação, mas ele já estava apagando, as bordas de sua visão tornando-se nebulosa e cinzenta. 

O último pensamento dele quando passava para a inconsciência foi para Saige, e o que aconteceria com ela agora que ele falhou. 










































 Capítulo Quatorze 
Terça-feira, 05h00 
Novo México 


  COMO ELE TINHA FEITO nos últimos cinco anos de sua vida, Quinn sonhou. Enterrado sob o fundo, as camadas sufocante de um sono exausto, visões do passado assaltaram seus sentidos, a dor tão viva, tão real, era tudo o que podia fazer para não gritar de agonia. 

 Ele podia sentir o empurrão e o puxar da faca serrada através de sua asa esquerda, sentindo o líquido quente do seu sangue derramar-se, uma vez que partia sua carne. Depois de mergulhar suas lâminas em um composto especialmente modificado que tornara quase impossível para ele se curar, os soldados do Coletivo tinham esculpido abrindo sua pele e puxou a asa esquerda de sua volta. Mas suas lâminas tinham sido incapazes de cortar através da asa em si, e assim eles tinham serrado no osso, com suas facas, afastando-a no músculo e tendão espesso, a dor tão excruciante, ele poderia ficar inconsciente, só para jogarem seu rosto na água gelada  antes que eles começassem nele mais uma vez. Neste dia, Quinn ainda não tinha idéia de quanto tempo ele suportara suas maquinações sádicas. Horas? Dias? Semanas? Ele esteve ausente por quase um mês inteiro no momento que Kierland e os outros tinham encontrado onde ele estava sendo mantido e resgatado, mas ele não poderia fazer nada com o caos que permaneceu em sua mente. 

  Suas asas haviam crescido finalmente de volta depois de um tempo longo, meses cheio de dor, mas ele ainda tinha as marcas da sua tortura – e ainda, as cicatrizes físicas nas costas que Saige tinha comentado não foram nada comparadas com as feridas que ele carregava dentro. 

  E depois de todo esse tempo, os sonhos se recusavam a deixá-lo em paz. 

  Arremessando o frio lençol úmido de suor da outra cama dura do hotel, ele lutava para se libertar do pesadelo, mas era impossível. Ele rangia os dentes, disposto a não dar aos soldados fanáticos a alegria de sua rouca voz chorando arrasado porque cortaram-no através de sua asa. Ele queria por suas garras seus rostos, varrer longe suas expressões de regozijo, mas eles rasgaram as suas garras, uma por uma, deixando as mãos inchadas e dormentes. 

Quando eles finalmente foram capazes de cortar sua asa esquerda, Quinn jogou a cabeça para trás, o som saindo dele, uma coisa mais desumana que ele nunca tinha ouvido, gutural e austera. Agonia rolou sobre ele abundante, espancando ondas, a dor crescendo, crescendo, como se brasas tivessem sido derramadas na ferida. Ele se levantou, mas não tinha nada para expulsar do seu estômago, mas uma mistura infame de sangue e bílis. Um dos soldados tinha agarrado a parte de trás de sua cabeça e empurrou o rosto com o líquido rançoso, batendo seu crânio contra o concreto do chão frio. Envolto em trevas nas bordas de sua visão, seu corpo torturado com espasmos enquanto um deles cortava o lado direito das costas, o excruciante tormento tão intenso, que ele só queria morrer quando eles começaram a cortar sua asa direita de seu corpo, também. 

  Ele orou para eles ir em frente e depois matá-lo, mas não havia mais para vir. 

  Como tinha ficado ali, ferido e sangrando, um dos soldados tinha arrastado Janelle pelos cabelos. Era claro que ela já havia sido estuprada, seu corpo nu golpeado e ferido, os olhos vidrados, como se seu espírito já tivesse morrido. Quinn tinha rugido por McConnell, o tenente do Coletivo que ele sabia que havia planejado a sua captura, mas nunca tinha visto McConnell. 

  Em vez disso, ele tinha sido obrigado a mentir e assisti-los matá-la lentamente e dolorosamente, enquanto eles perguntaram de novo e de novo se ele estava pronto para dizer a eles onde poderiam encontrar mais do seu tipo. Quinn gostava de pensar que nunca poderiam tê-lo quebrado, mas a ironia é que ele nem sabia de qualquer outro Raptor. Seu pai tinha sido o último de sua linha, sua mãe humana, e seus pais tinham sido mortos por soldados do coletivo quando ele tinha apenas dez anos. 

  Os gritos de Janelle ecoaram nas paredes de pedra da câmara em que tinham começado sobre ela, apavorada e rouca, e ele lutou contra as correntes que o prendiam apoiado para baixo no banco de madeira estreitas, incapaz de se libertar para ajudá-la. Embora ela não tivesse nada mais que um rastro de sangue de pantera, foi suficiente para o Coletivo a considerá-la um animal. Enquanto ele cada vez que revivia os momentos terríveis, Quinn viu como eles lentamente tiraram sua vida, desejando que ele pudesse acordar e encontrar alguma maneira de parar a cena dolorosa expulsando a paisagem danificada de sua mente, uma e outra vez. Fechando os dentes, ele ordenou a seu corpo a sair das profundezas do sonho destrutivo – somente para vê-lo mudar com ele, tendo uma versão nova, que ele experimentou pela primeira vez na noite de sexta-feira, após sua discussão com Saige. Ele berrou, lutando contra o aprisionamento de forma tão violenta que destruiu as algemas de metal em seus tornozelos e pulsos, os cabelos longos de Janelle mudou para um quente, castanho avermelhado. E, de repente, ao invés de sua namorada traidora, era Saige que estava gritando lá embaixo com um dos bastardos, o soldado rindo segurando uma faca em sua garganta, lentamente, cortando a sua carne, enquanto ele violava o corpo dela, seus amigos segurando seus braços e pernas. Quinn podia ver a fúria de seu Merrick brilhando nos olhos dela, mas ela estava muito fraca para se libertar, o corpo esgotado pela fome que ela se recusou a alimentar. Cruelmente, devastadores sons de raiva perderam-se em sua garganta, até o momento em que o soldado finalmente cortou sua jugular, a cor carmesim de seu sangue derramando na mente Quinn com a dor mais angustiante que ele já tinha conhecido. Ele abriu a boca para um grito gutural primitivo, em predatória fúria... 

  E então, num sopro ofegante, ele estava acordado. 

  Com o peito dele cheio, seu corpo escorregadio de suor e dolorido de tensão que tinha o agarrado, Quinn fechou os olhos ante o som da chuva batendo no teto pintado de outro quarto de hotel barato. Só Deus sabia que ele deveria ter ficado exausto demais para sonhar depois da maratona que eles tinham feito através da América Central e México, só parando para dormir por um punhado de horas em um momento, mas ele não teve a mesma sorte. Em vez disso, os pesadelos tinham deslizado através de sua exaustão e pressionado com a força devastadora de um martelo, a nova reviravolta com Saige no final fazendo-o se perguntar se ele estava lentamente perdendo a cabeça. 

  Passando as mãos em seu cabelo, ele fechou os olhos e, silenciosamente, repetiu as palavras que havia em sua cabeça durante os últimos cinco anos. 

 'Eles não são reais, idiota patético. Não é. Real'. 

 Mas, apesar de falar baixinho as palavras, a memória do sonho ainda ardia em sua mente, dolorosa e cruel. Por muito tempo, pensou que se podia fechar-se apenas o suficiente, então seria capaz de bloquear os pesadelos, as visões terríveis de sangue e de dor e traição que se desenrolou em toda a sua mente nas horas mais sombrias da noite. Mas não importava o quão longe ele se retirava, ele não poderia afugentá-los, revivendo o pesadelo de sua tortura nas mãos dos tempos do Coletivo mais do que ele poderia contar. 

  Esfregando as mãos pelo seu rosto, ele desejou poder limpar o gosto amargo da traição em sua boca, mas estava demasiado entranhado em seus sentidos. Ele deveria ter tomado o assunto em suas próprias mãos e tratado com Seth McConnell há muito tempo. Talvez então ele não fosse continuar vivendo as horas mais terríveis de sua vida mais e mais, lentamente, dirigindo-se insano, incapaz de seguir em frente. 

  'E você sabe exatamente onde você gostaria de mover-se, não é?'

Balançando a cabeça por sua própria estupidez, sabendo que ele não teria nenhuma chance nem um futuro com Saige, ele impeliu sua mente para a sua viagem. Ele sabia que tinha chegado até aqui sem problemas com os Casus. Não sabia se era apenas porque eles tinham achado melhor fugir deles... Ou se os bastardos tinham se baseado aonde iam e, simplesmente, decidiram ir para Denver, esperando que eles os levassem até Jamison Haley  e o marcador. 

  Seja qual fosse o motivo, Quinn sabia que sua sorte não iria durar, e os momentos finais do sonho o estremeceu novamente, fazendo com que ele xingasse algo feio e atroz sob a sua respiração. 

— Outro sonho ruim? 

A voz Saige veio da escuridão sombria, e quando ele levantou a cabeça, ele a encontrou aconchegada debaixo de um cobertor numa das cadeiras na janela do quarto do terceiro andar, o brilho cintilante de um sinal de néon pintando o rosto nas barras iridescente de cor. A chuva batia em um ritmo constante contra o vidro turvo, o que representava uma aurora de nuvens escuras, o rumor longínquo de um trovão ecoando em sua cabeça. O resmungo irritado da tempestade parecia o complemento perfeito para o seu humor, a eletricidade queimando no ar como uma fome física repentina rastejando em suas veias, fixando-se na borda. Era como se toda a emoção de agonia de seu pesadelo tinha se canalizado num escaldante luxúria poderosa, e Quinn estremeceu com o esforço de manter-se de costas. 

— Você poderia dizer isso – murmurou em resposta à sua pergunta sobre o seu sonho, perguntando se ele estava gritando em seu sono. Erguendo-se, ele sustentou seus ombros contra a corrente fria da cabeceira da cama, sem conseguir tirar os olhos dela. Apesar dos efeitos nefastos do pesadelo horrível, não havia dúvida de que ele a desejava. Péssimo. — Você ainda está chateada comigo? – Ele murmurou. Eles estavam na garganta um do outro desde que perderam a paciência na sexta-feira à noite, mal falando enquanto eles viajavam de uma cidade para outra. E enquanto ele não tinha nenhuma intenção de discutir seus atormentadores sonhos com ela, ele estava pateticamente grato por ela ter lhe falado, em vez do silêncio frio que se instalou entre eles. 

  A suave, quase silenciosa explosão de risada saiu de seus lábios. 

— Por me deixar pendente na sexta-feira? Por que eu iria ficar puta? Você provavelmente fez-me um favor, Quinn. Se você tivesse tomado a minha virgindade, eu seria forçada a viver com a lembrança para o resto da minha vida.

  Ele deixou cair o queixo, lutando para controlar seu temperamento. Era incrível a facilidade com que ela podia irritá-lo, mas então, ela também poderia fazê-lo sorrir... Fazê-lo rir, mais fácil do que qualquer um que ele já tinha conhecido, como se suas emoções fosse dela para manipular à vontade, como um escultor molda o barro. 

— Eu disse a você minhas razões, Saige. Minha intenção nunca foi te machucar.
 
'Apenas para proteger o meu coração... Minha sanidade'. 

  Ela se virou para olhar para trás para fora da janela, e levantou o cobertor debaixo de seu queixo. Embora ele tivesse feito a barba no sábado, em dois dias os pêlos cobriam a metade inferior do rosto, e ele esfregou seu maxilar, lutando contra o desejo de escapar da cama e caminhar para ela, afastando a manta de si, intensamente consciente de que ela usava nada mais do que um camiseta branca sem manga e calcinha de algodão. 

— Eu estou apenas tentando salvar-nos de entrar em algo que vai acabar mal. 

  Sua voz foi pouco mais que um sussurro.

— E como você sabe que vai acabar sem sequer dar-lhe uma chance? A vida esta cheia de riscos, Quinn. Eu não quero esperar muito tempo; no entanto eu me protegi numa bolha, sempre fugindo, nunca deixando nada, nem ninguém chegar perto de mim. Eu tenho feito isso por muito tempo, e estou cansada disso.

  Ele resmungou em resposta, incapaz de chegar a alguma coisa inteligente quando o seu cérebro estava enevoado pelo ardor do desejo. Tinha que ser a coisa mais difícil que ele já tinha feito, permanecendo sob esse lençol, seu pau tão duro que ele poderia ter batido em um muro, quando cada célula do seu corpo queria estar com ela. 

'Não, a coisa mais difícil que você já fez foi se afastar dela sexta à noite, em vez de reclamar tudo o que queria'. 

 — Se eu pegar o que você está oferecendo – ele rosnou — Eu vou querer mantê-lo. 

  Ela virou a cabeça, segurando o seu olhar no quarto completamente sombreado. 

— E quem disse que você não pode? Talvez eu me sinta da mesma maneira.
 
 Ele não acreditava nela, mas queria. Deus, como queria. Ele podia ver a chama escura de fome dentro dela, e ele queria ser a única pessoa da qual ela se alimentaria e que a satisfaria. Queria afundar o seu pênis nela, enquanto ela afundava os dentes pequenos em sua garganta, queria tomá-la do mesmo modo como ela o tomaria numa carnal e primitiva troca de prazer. O desejo era tão forte que ele se sentia drogado por ela, completamente fascinado pela forma como ela ardia de calor, os olhos tempestuosos escuros brilhantes na tranquila escuridão, como se iluminada pelo calor abrasador do sol. 

— Por que vale a pena – ele murmurou. — Eu queira que as coisas pudessem ser diferentes. Você não tem idéia do que eu daria para ser capaz de mudar a forma como eu sou.

* * * * *
 
  SAIGE OLHOU ATRAVÉS DA ESCURIDÃO, maravilhando-se com o fato de o homem ser uma contradição, tão carinhosa, e ainda, tão distante.  Tão áspero e ao mesmo tempo, totalmente controlado por seus medos. Sua raiva e mágoa sobre a sua rejeição ainda fervia sob sua pele, mas ela não poderia criticar o cuidado dele para protegê-la. Depois de tantos anos cuidando de si, era estranhamente reconfortante saber que havia alguém que se preocupava com ela. E, no entanto, sabia que deveria ser inteligente e proteger o coração. 

 O Casus tinha a capacidade de machucar seu corpo. Mas Quinn... ficava cada vez mais claro que ele tinha o poder de feri-la de formas que eram muito mais profundas. Portanto, muito mais dolorosa. 

— Você sabe, para um homem com asas, você está muito ligado ao lugar – ela murmurou, pensando nos pesadelos que ele sofria todas as noites. Pesadelos, ela acreditava eram uma parte da razão pela qual ele tinha tanto medo de deixá-la se aproximar. 

 Sua voz veio diluída das sombras como rouca, um som cortante incrivelmente sexy.

— O que significa isso? 

 —Você tem mais liberdade do que qualquer um que eu já conheci, e ainda assim, você não pode ir além do passado. É irônico, quando você olha para ele dessa forma.
 
  Seu tom era pura frustração gutural como ele desabafou:

— E o que você sabe sobre o meu passado? 

— Eu sei que é como uma corrente em torno de seu pescoço – ela disse a ele, a amargura de suas emoções pesando contra ela, apesar da distância que os separava. — Aquilo que está apertando-se mais a cada dia. 

  Ele não respondeu à primeira vista. Em vez disso, ela observou pela primeira alva, os raios brilhantes da aurora, enquanto ele jogou as pernas para o lado da cama, seus músculos agrupando completamente no seu deleitoso abdômen quando ele ficou de pé. Vestindo nada mais que um moletom de cós baixo preto, ele andou até a janela, apoiando um braço para o alto contra a chuva salpicada na janela, quebrando o alvorecer dando-lhe um brilho sobrenatural. Havia tanta energia nele, tanto a força predatória e de fome e de paixão, que quase poderia vê-lo pulsando com ele em lentas e provocativas ondas, como um batimento cardíaco. 

 Saige tremeu na cadência erótica do som imaginado, se perguntando se sempre seria afetada por ele, e de alguma forma, sabendo que ela seria. 

  Quando ele finalmente falou, ele manteve o seu olhar centrado na chama rosa no horizonte. 

— E você? 

  Ela moveu-se desconfortavelmente na cadeira. 

— E eu? 

 Ele fez um som rude, totalmente masculino sob sua respiração, então inclinado a cabeça para o lado enquanto ele inclinava-lhe um olhar irônico. 

— Você não acha que seu estilo de vida, diz algo sobre você?

— O que você acha que ele diz, Quinn? 

— Que você está fugindo – ele murmurou, olhando além da janela. 

— De quê? – Perguntou ela, sentindo como se ele pudesse enxergar dentro dela, lendo-a como um livro aberto. 

— De tudo – ele respondeu com uma baixa rouquidão agitada nas palavras.

— Você sabe – disse ela, incapaz de tirar o seu olhar da perfeição, rígida esculpida de seu perfil — não parece justo que você saiba todos os meus segredos, mas não confia em mim o suficiente para me contar a verdade sobre o que lhe aconteceu.

  Sua mandíbula travou, os músculos em seus braços e torso encheram-se com alguma emoção sem nome. 

— Nada me aconteceu, insistiu. 

— Seus sonhos são muito reais para você – ela discutiu com uma voz suave.  — Somente lembranças poderosas podem ter esse tipo de controle sobre nós. 
   
* * * * *

  QUINN QUERIA DIZER ALGUMA coisa sarcástica... Algo cortante que iria fazê-la mudar de assunto, mas tudo o que saiu foi uma risada dura áspera que ecoaram seus medos... A sua dor. Ele não queria enfrentar os demônios na sua cabeça. E ele com certeza não queria Saige em torno de como aconteceu.

  Tudo o que ele queria era entregá-la a Ravenswing de uma vez por todas, e esperava como o inferno que ele pudesse manter suas mãos longe dela, até que chegasse lá. 

'Continue lutando, idiota, pois você sabe o que deve fazer'. 

  Ele enrijeceu com o pensamento, imaginando de onde ele tinha vindo. 

'Você pode dar a ela o que ela precisa'.
 
 De repente, os últimos momentos de horror do sonho vieram a sua mente novamente, e ele estremeceu, lembrando-se de como o Merrick dela tinha dificuldades para sair dela, enquanto o soldado tinha tomado a sua vida sem esforço. Cristo, de alguma forma ele poderia estar vendo algum tipo de versão do futuro? Depois das coisas estranhas que aconteceram durante o despertar do irmão dela, Quinn estava com medo de que seus sonhos sinalizassem algo mais do que uma extensão louca de seus temores obsessivos. 

 O que significa que de uma forma ou de outra, ele tinha que ter certeza que ela se alimentaria, antes que a fome da Merrick a drenasse por completo. Mas... Ela já deixou claro o que pensava da sua oferta, a cena amarga da sexta-feira muito fresca em sua memória. Ele sabia muito bem que ela não o deixaria tocá-la, a menos que ela achasse que ele queria fazer amor com ela.

'Então, faça-a pensar que você mudou de idéia'.

 Ele passou a mão pelo seu rosto, seu estômago revirando com o pensamento, sabendo que faria dele o maior idiota.

  'É verdade, mas você não tem escolha. Então pare de ser assim tão patético e comece a fazer.'

  Ela, provavelmente, iria odiá-lo por isso mais tarde, mas Quinn sabia que a voz estava certa. Ele não podia levá-la para Denver, sem dar-lhe todas as vantagens possíveis se as coisas piorassem quando se encontrasse com Jamison. E considerando a sua sorte ultimamente aquilo parecia bastante provável.

— O que você está pensando? – Ela murmurou, o tom curioso... Cauteloso, e ele sabia que ela poderia ver a fome em seus olhos quando ele se virou em sua direção, chegando próximo, até que pairava sobre ela na escuridão.

—Quinn?

— Por favor, não diga nada, Saige. – Aproximando-se, ele segurou seu queixo, esfregando o polegar contra o canto da boca, imaginando sua suave boca rosada em torno do seu pênis. Imaginando o êxtase ao se derramar em sua garganta. Ele não sabia por que ele torturava-se com as latejantes fantasias eróticas, sabendo que eram coisas que ele nunca ia ter, mas ele não podia parar.

— O que você está fazendo? – Ela sussurrou, sua voz trêmula, mas não havia medo em suas pesadas pálpebras, nos escuros olhos tempestuosos.

 Era fácil dar-lhe as palavras, considerando que elas eram verdadeiras. 

— Eu sei que o certo é ficar longe de você, mas eu não posso continuar lutando.

 Por um momento ele pensou que ela iria dar-lhe o silêncio que pedira, sua respiração acelerada entre os lábios entreabertos. Mas então ela puxou o lábio inferior com os dentes, e de repente disse:

— Nem eu posso. Você é tudo o que eu posso pensar, Quinn.

  Ele gemeu em suas palavras, enterrando as mãos em seus cabelos enquanto ele puxou-a até sua boca, precisando certamente do seu sabor, então, antes que ele saísse de si. Faminto pelo sabor quente e doce, beijou a sua maneira dentro daquele suave calor, com uma intensidade bem agressiva, primitiva que a fez choramingar, o seu corpo arqueando contra o dele, tornando-o selvagem.

  Desesperado para prová-la mais intensamente, ele inclinou sua cabeça para o lado. Os lábios dela eram macios... Incrivelmente doce, os suspiros sob a respiração ofegante que ela roubava cada vez que ele movia-se inclinando para empurrar-se mais e mais em direção à beira do descontrole. Suas mãos estavam por toda parte. Tocando. Afagando. Agarrando ela com voracidade, apertando intensamente que o preocupava pelas marcas que deixaria.

  Afastando a boca da dele, ela suspirou

— Você não está preocupado que seus amigos tenham alguma idéia errada sobre nós?

— O que você quer dizer?

— Eu vou ter seu cheiro em mim hoje – explicou ela, a timidez que podia ouvir em suas suaves palavras fez alguma coisa em seu peito apertar-se de emoção. — Eles vão saber.
— Você deixe-me preocupar com eles – disse a ela, sabendo que não ia ser um problema. Ninguém saberia, porque não seria ele que viria, mas ele empurrou esse pensamento doloroso na parte escondida de sua mente, onde não poderia causar tantos danos. — Eu não quero pensar em ninguém além de mim.

— Tudo bem – Saige sussurrou sua voz vacilante, sua mente um amontoado caótico de medo, de desejo e excitação. Apavorada de que ele pudesse mudar de idéia, ela escorregou a mão na cintura da sua calça de moletom e enrolou os dedos em torno do músculo rígido, impressionante de seu pau. — Quinn, ela suspirou – medindo-o com o aperto dela, deslizando a mão para cima e para baixo da grossa rigidez, apertando os nós das veias dilatadas externas. Ele era quente ao toque, com o calor abrasador... Com fome, e ela nunca se sentiu mais feminina do que ela sentia-se naquele momento, quando segurou a prova de tirar o fôlego de seu desejo por ela na palma da sua mão.

— Você não pode medi-lo, pode? – Ele rosnou, as palavras ásperas suavizadas por um tom de humor enquanto ele olhava para baixo nos olhos dela.

  Um sorriso lento apareceu na boca dela, e ela teria rido, se o peito não estivesse fechado com um nó desesperado de desejo. Deus, ela queria muito este homem, tudo o que ele tinha. Esse gosto, escuro convincente que a fazia ansiar pelo calor da sua boca... Seu sangue. O aroma rico, inebriante da sua pele e o peso, rígido potente do seu corpo.

  Ela não sabia por que tinha mudado de idéia, e nesse momento, ela simplesmente não ligava. Mesmo sabendo que isto era errado, ela não podia parar. Seu coração pagaria um preço elevado, mas se isso seria tudo que ela ia ter com ele, então ela iria levá-lo. Levar e torcer por cada gota de prazer que ela pudesse, porque não tinha outra escolha. Não era desejo ou a fome que a levou. Não era apenas por que ele era misterioso, bonito e tão incrivelmente sexy, doía só de olhar para ele.

 Era Quinn.

 Alguma coisa tinha acontecido com ela, e ela não podia desfazê-lo. Não era possível fazê-la ir embora e negar a sua existência. Era algo que ela não podia lutar contra algo que ela não queria mesmo.

 Ele ergueu-a nos braços e colocou seu corpo longo na cama, puxando-a sobre ele. Ela montou em sua cintura, esfregando-se contra ele, enquanto suas mãos emaranhadas em seus cabelos, segurando-a ainda para a escura devastação da sua boca. Prazer erguido como uma tempestade no horizonte, fazendo as sensações dela mais profunda... E mais profunda. Sentia-se hipersensível, o calor da pele dele ardendo contra a dela, úmido e quente e tão diferente da dela. O calor da sua boca deliciosa drogando-a, enquanto o cheiro dele, quente e selvagem, como uma refeição, enchia a cabeça dela. Ele cheirava a algo ao qual necessitava afundar seus dentes. Algo que ela precisava para saborear.

Rompendo o beijo, Saige olhou para os famintos olhos ardentes que brilhavam com um fogo sobrenatural, como se iluminado por uma chama interior. 
— Quando você olha para mim desse jeito – ela sussurrou — Eu me sinto como se eu tivesse ganhado na loteria.

  Seus olhos escureceram de emoção, um sorriso levantando o canto da boca. 

— Na medida em que os prêmios venham – ele murmurou, empurrando seu cabelo para trás de seu rosto, correndo a ponta dos dedos sobre seu rosto... Sua têmpora — eu não sou muito de me gabar.

— Isso não é verdade. – Ela passou as mãos sobre seu peito musculoso, amando como ele se sentia, tão firme, sedoso e quente, rezando para que ele não escorregasse por entre seus dedos novamente. — Você é lindo, Quinn.

* * * * *

VACILANDO COM AS PALAVRAS DELA, Quinn se esforçou para lembrar seu plano, mas Cristo, não era fácil. Ele teve de pisar com cuidado e levá-la a tomar o que precisava, sem desencadear a veia feroz possessiva de sua natureza animal mais do que ele já tinha.

 'Será que a decepção tornava-o um idiota?'

 'Definitivamente'.

 'Mas ele poderia seguir e não tocá-la... Não saboreá-la?'

 Não era uma boa chance.

  Considerando que ele já estava condenado, ele imaginou que poderia muito bem dar-se pelo menos uma fração do paraíso. E ele ia fazer ela se sentir bem, em troca, dando-lhe o poder que ela precisava.

 Rolando-a para debaixo dele, Quinn cobriu-a com seu corpo, esmagando-a na cama aquecida enquanto ele deslizou entre as coxas. Ele colocou a boca no centro de seu peito, sobre a batida frenética do seu coração, e puxou uma respiração profunda e gananciosa. Ela já estava escorregadia entre suas pernas, molhando seu moletom, tornando-o mais duro do que jamais estivera antes. Ele empurrou contra ela, querendo se enterrar profundamente dentro dela. Querendo ir suficiente fundo nela para que pudesse sentir as batidas do seu coração. O calor de sua alma.

  Empurrando a mão em sua calcinha de algodão, ele quase morreu com a sensação dela. Úmida. Inchada. Queimando com o calor.

 'Você pode sempre tê-la. Basta pegar o que quiser'.

  Com as palavras perigosamente tentadoras sussurrando em sua mente, a mandíbula de Quinn baixou, sabendo muito bem que deveria se levantar e fugir, se tivesse metade de juízo.

 Em vez disso, ele entregava-se a uma primitiva e lasciva fome que vinha deixando-o louco desde que colocara os olhos sobre ela, então deslizando até embaixo, passando ao lado de seu corpo. Levantando a parte superior da camiseta sem manga, ele pressionou um caloroso, íntimo beijo contra a pele suave e trêmula logo abaixo do umbigo, e arrastou sua calcinha para baixo. Num segundo ele raspou seus dedos, ele moveu-se para trás entre suas coxas, forçando-as a estenderem-se amplamente na largura dos ombros.

— Ainda não – ela gemia, sua voz nebulosa com luxúria quando ela tentou abraçá-lo de volta.

— Por que não? – Exigiu em áspera rouquidão, afastando seu ávido olhar da perfeição, doce de seu sexo quando ela levantou a cabeça e olhou para ele.

 Ela lambeu o lábio inferior, e ele seguiu o movimento sensual da sua língua como um predador olhando sua presa. 

— Porque tanto quanto eu quero a sua boca em mim – disse ela com voz rouca — Eu queria fazer isso com você primeiro.

 Um lento, um sorriso triste curvou sua boca, seu pênis maldito perto de estourar com o pensamento desses macios e rosados lábios em volta do seu eixo. 

— Mais tarde – ele murmurou, soando como algo macio sendo arrastado através de uma lixa. — Você pode fazer isso para mim mais tarde.

— Promete? – ela murmurou, afundando seus pequenos dentes brancos na almofada exuberante de seu lábio inferior, enquanto que o brilho sobrenatural por trás de seus olhos ardia, iluminando-os como vitrais colocados contra o sol.

— Sim – disse com voz grossa — eu prometo, querida.

Ela lhe deu um pequeno sorriso, ansioso, e se estendeu debaixo dele, um movimento inerentemente felino e elegante. Querendo-a com uma fome que queimou seu corpo como uma necessidade física, como se precisasse do sabor de seu prazer como ele precisava de água e ar, Quinn abaixou a cabeça e lambeu-a. Um grunhido primitivo, gutural brotou do peito, e ele abriu a boca avidamente sobre a seda, úmida de suas dobras, necessitando mais... Necessitando tudo nela. Seu aroma quente, puro rasgou outro som áspero de sua garganta, mas que não era nada comparado ao que seu gosto fazia com ele. Comendo-a com uma avidez proposta que ele não poderia controlar, seus dedos beliscaram a carne pálida de suas coxas enquanto ele segurava-a aberta, enfiando a língua na abertura doce, delicada, querendo penetrar em cada parte dela. Para chegar tão profundo dentro dela, ele podia sentir o ritmo de seu pulso... Ver os pensamentos em sua cabeça. Ela foi se aproximando, o prazer de montá-la... crescendo como o calor no fundo de uma panela, e apertou o plano de sua língua contra o clitóris inchado, esfregando-o... Mamando... Provocando este com os dentes dele. E ela explodiu. Um segundo ela estava se contorcendo sob ele, e no próximo, o prazer deixou de funcionar através dela como uma força da natureza deslumbrante, chocante, poderosa, forte, selvagem e Quinn manteve sua boca contra ela, desesperado por cada momento disto.
Quando o orgasmo poderoso finalmente veio solto, ele tomou uma respiração profunda, irregular e deslizou o dedo dentro de sua macia pulsante carne, o seu olhar avidamente viajando ao longo da linha pálida feminina de seu corpo. Suas costas estavam arqueadas, pétalas macias abertas tão afiadas, pungente choro amolecido em seus lábios, e que podia ver o brilho branco da sua presa que escorregou de suas gengivas, sinalizando o aumento de sua Merrick.

Como se ela pudesse sentir a intensidade do seu olhar, ela levantou a cabeça, mandando-lhe um sorriso, trêmula de tirar o fôlego. 

— É a minha vez – disse ela em tom esfumaçado que derreteu a espinha como uma gota quente, grande quantidade de mel.

 Essas palavras, combinada com o faminto, inerentemente inocente olhar em seus olhos, empurrando para a borda, golpeando através de sua retenção, e ele sabia que seu tempo se esgotara. Se ela não o fizesse agora, ele levaria isso longe demais. Ondulando ao longo dela, Quinn virou a cabeça para o lado e enrolou uma mão em seu cabelo, empurrando seu rosto em direção a sua garganta. 

— Agora Saige. Faça isso agora.

— Não – ela disse com voz grossa, sacudindo a cabeça.

— Sim – ele rosnou, seu corpo tremendo, balançando a cama enquanto ele lutava para manter-se atrás. — Você precisa de sangue, baby. Eu preciso que você faça-o, agora, enquanto seu corpo ainda esta quente de prazer.

— Estou com medo – ela murmurou, soando como se ela estivesse admitindo um pecado, e seu coração apertou-se com ternura.

  Olhando para ela, ele embalava seu rosto na palma da mão, segurando-a com seu olhar. 

— Vai ficar tudo bem.

— E se eu te machucar? – Ela murmurou, seus dentes brilhando sob a curva exuberante de seu lábio superior.

— Você não vai – ele ofegou, apertando seu rosto de dor enquanto se agarrava sobre a sua intensa fome. — Você não vai me machucar.

— Eu quero você dentro de mim em primeiro lugar – ela gemeu, descendo entre eles enquanto levantava a cabeça, os dentes ameaçadores ao longo da coluna de sua garganta.

  Quinn pegou seu pulso, puxando-o até o travesseiro, e seus olhos apertados com cautelosa surpresa quando ele rosnou:

— Tire o sangue primeiro. 

  Algo em sua expressão deve ter revelado mais do que ele queria, e os olhos dela, de repente arregalaram-se chocados.

— Oh. Meu Deus.

— Saige! – Ele rosnou, mas ela já estava movendo-se para longe dele. Ou pelo menos tentando, incapaz de ir mais longe, considerando que ele ainda segurava seu pulso. — De novo não! – Ela soluçou, empurrando seu peito, pois ambos moveram os joelhos, o magníficos olhos brilhando com uma fúria selvagem.  — Você não faria isso comigo de novo! Você não pode!

— Eu só estou tentando mantê-la viva – ele resmungou entre os dentes fechados. — Você precisa disso, porra! 

— E CHAMOU-ME MENTIROSA! – Saige gritou, não importando se ela acordasse o hotel inteiro. — Você é um bastardo! 

— Droga, você vai se machucar! – ele resmungou quando ela bateu seu punho contra ele enquanto torcia seu pulso capturado, tentando se libertar. 

— Deixe-me ir, Quinn. – Era difícil conversar com ela as presas ainda descendo, a fome atroz do seu Merrick cortando seu corpo como uma faca, a dor tão intensa, que ela queria enrolar em si mesma. Mas não foi nada comparado ao dano que Quinn havia causado. 

— Eu pensei que conhecia você – ela gritou, a voz embargada, com um soluçando intenso, que só o deixou mais irritado. — Como você pôde fazer isso?

— Eu estou apenas tentando protegê-la – ele murmurou, e ela podia ouvir a sinceridade em suas palavras, cortada por uma profunda emoção. 

—Você quer me proteger? – Ela piscou os olhos, esforçando-se para entendê-lo. — Porque, quando você não confia em mim mesma? 

— Isso não tem nada a ver com confiança – argumentou ele, sua boca triste, emoldurada por vincos profundos quando ele finalmente libertou-a. 

— Tem tudo a ver com confiança. – As palavras eram suaves, amargas, e ela se afastou dele, rastejando para fora da cama e pegando sua mochila nova de cima da penteadeira. 

— Isso não é mais – ele rosnou, movendo-se para ficar em pé, seu corpo, rígido potente vibrando de frustração. 

— Você está errado – ela sussurrou, com a cabeça girando com uma mistura vertiginosa de confusão, dor e raiva quando ela tropeçou para o banheiro. Com uma mão na porta, ela olhou para trás e segurou seu olhar escuro, sombrio. — E, uma vez que estivermos em Ravenswing, eu quero que você fique bem longe de mim, Quinn. 

— Você está cometendo um erro – argumentou, os pés apoiados abertos, os punhos fechados na lateral. 

 Saige engoliu um nó trêmulo de emoção e forçou a sua voz. 

— Meu único erro foi confiar em você, ela finalmente disse. 

 Então ela fechou a porta silenciosamente. 










































Capítulo Quinze
Terça à tarde 
Colorado 

 A VIAGEM DE VOLTA PARA a América tinha sido a mais longa de quatro dias de vida da Saige. Para não mencionar o mais frustrante. Depois de todo o tempo que passaram juntos, todas as horas tinham estado apertados em carros e comboios e em pequenos aviões fretados, ela ainda não estava mais perto de entender alguma coisa sobre o enigmático Michael Quinn do que quando eles tinham se encontrado na primeira noite. Tudo o que tinha eram os detalhes físicos que ele não podia esconder. Seu cheiro... Seu gosto. O que era sentir isto, quando o corpo dele cobria o dela. O rugido, sons de animais, que ele fazia quando ele estava ativo. Em um quarto escuro, ela poderia escolhê-lo entre centenas de homens, ele estava impresso em seu organismo. Mas ela não sabia nada do seu coração, ou do seu passado. Ele permanecia um mistério, um quebra-cabeça que ela não podia resolver sozinha, não importasse o quanto ela quisesse. Apesar de sua amargura, ela estava cativada por suas expressões, sua linguagem corporal, o padrão de sua respiração. Mesmo a colocação de suas mãos fortes no volante, escurecida pelo sol era um fascínio inegável. 

 Ela pensou que sabia o que era luxúria, mas nada do que tinha experimentado a havia preparado para isso. Para Quinn. Toda vez que ele a tocava, era como afundar no paraíso, afogando-se nele, como se o prazer fosse uma piscina, claro enterrada nas profundezas da selva flamejante. Um lugar no qual poderia cair, escorregando para superfície manchada, as ondas do prazer engolindo-a toda, penetrando seu corpo. Era o sentimento mais perfeito do mundo, até que ele arrancou-a do paraíso, jogando-a na realidade fria, dura, porque ele não queria tocá-la. 

  'Porra, pare de se torturar'. 

 Ela sabia que era masoquista, mas não importava o quanto tentasse, não conseguia parar de pensar naquela manhã. Toda vez que o fazia, queria ferir alguma coisa. Principalmente Quinn. 

  E o que tornava isso ainda pior foi que ainda queria-o. Queria derrubá-lo e puxá-lo para ela, sobre ela, dentro dela. Derretê-lo em seu organismo, até que ela pudesse senti-lo em toda parte. Até que ele escutasse sua pulsação, o sangue correndo. E mais do que tudo, ela queria para reclamá-lo como seu. 

  Mas isso nunca iria acontecer. Ele era muito marcado, por dentro, muito fechado, olhando para tudo com uma precaução, um olhar desconfiado. Quem lhe fez isto, fizera muito bem feito. Saige não tinha dúvidas de que era uma mulher. Apenas um amante poderia causar esse tipo de dor. O tipo que era pior do que tortura, causando um tipo de destruição que quebrava você à parte até que você nem sequer se reconhecia mais, fechando-o de modo que você não sentia absolutamente nada. 

  Assim era Quinn. Ele fingia suficientemente bem. Ele sorria. Ele brincava. Ele mesmo, por vezes, riu, mas seu senso de humor era definitivamente irônico. Mas nenhuma dessas coisas jamais o alcançou em momento algum... Nunca se aproximou intimamente. Nunca chegava aos olhos dele e Saige tinha sempre acreditado firmemente que os olhos eram o espelho da alma. Ela acreditava, e vivia com isto. Mesmo agora, ela ainda confiava sua vida a ele. 

  Os olhos de Quinn, embora bonitos, sempre estavam torturados. Até agora, quando ele voltava da empresa de aluguel após o bombeamento de gás, ela podia ver as sombras de seu passado sob a beleza da meia-noite no olhar dele. 

— O que está acontecendo? – Ela perguntou quando ele dirigiu-se para um dos lugares de estacionamento atrás do posto de gasolina em vez de dirigir de volta para a rua. 

 Ele esfregou a parte de trás do seu pescoço, olhando para o pára-brisa do seco dia tempestuoso de final de verão. 

— Eu apenas liguei para Kierland. Ele e Shrader estão vindo encontrar-se conosco nos arredores de Denver, de modo que não seguiremos nossa própria rota. 

— Se os Casus estiverem observando o complexo, poderiam segui-los até nós. – Sem falar no Coletivo, ela acrescentou silenciosamente. Embora eles ainda não entendessem como Javier e seus irmãos tinham sido queimados por um produto químico desenvolvido pelo Coletivo, Saige tinha um mau pressentimento de que eles não gostariam das respostas, quando os encontrasse. 

— Nós temos maneiras de fugir de Ravenswing sem revelar a ninguém – explicou, apoiando o cotovelo na porta do lado do condutor, esfregando sua mão esquerda em sua boca sensual. 

— Então o que estamos esperando? 

  Ele suspirou, virando-se para ela, sua expressão gravada de pura frustração. 

— Você precisa se alimentar antes de ir mais longe. 

  Saige arqueou uma sobrancelha. 

— Você honestamente não quer começar essa conversa de novo, não é? Eu pensei que você fosse mais esperto do que isso, Quinn. 

— Nós não temos conhecimento do que nos espera – ele resmungou — e você está ficando fraca. Eu posso ver isto cada vez que olho para você. Não vou deixar você entrar nisto sem estar fortalecida totalmente.
 
— Você não deixará? – Ela repetiu, sacudindo a cabeça. — Desde quando você "deixa" qualquer coisa?

— Você deveria ter feito isso muito antes — argumentou. — Não podemos continuar adiando. Você precisa da força que isto lhe dará.  

 Ele começou a aproximar da mão dela, e ela arrebatou-a. 

— Nem pense nisso – disse ela vacilante. — Você pode ter salvado a minha vida na selva, mas tanto quanto me concerne, você perdeu o direito de me tocar. 

  Ele olhou-a, sustentando em seu lugar.

— Eu posso fazer você se sentir bem. Já fiz isso antes. Ela abriu a boca, uma réplica mordaz na ponta de sua língua, mas ele a cortou, dizendo: — Eu não estou tentando soar arrogante. Estou só... Estou com medo por você, Saige. 

— Não – ela sussurrou, odiando a facilidade com que ele poderia rasgar dentro dela. Bastou um olhar. Seus olhos tão negros, profundos e preocupados. Uma rouquidão trêmula na aveludada voz que praticamente a derreteu como uma manteiga. Patético. Ele a destruía sem nenhum esforço, e ela nem mesmo podia fazê-lo dormir com ela. 

— Eu sei que você está com raiva de mim, mas isso não é hora de ser teimosa. 

— Você quer falar sobre teimosia? – um seco, abafado som que deveria ter sido uma risada saiu de seu peito, e ela fez um gesto de agarrar o refrigerante que tinha bebido durante o caminho, sabendo muito bem que ele poderia pará-la antes que tocasse a garrafa de plástico. Desde que ela lhe contara sobre seu poder, ele guardava seus objetos físicos como um dragão protegendo seu tesouro, sabendo que poderia ser capaz de "ver" dentro da cabeça dura dele se colocasse as mãos em qualquer coisa que ele  tocou. — Você deveria dar uma olhada no espelho – ela brincou com uma nota amarga de sarcasmo quando ele agarrou seu pulso. 

  Livrando-se de seu aperto de mão, Saige voltou-se para a janela do lado do passageiro, determinada a ignorar a maneira que seu pulso formigava pelo toque de sua mão. A vista sobre a floresta circundante não era tão persuasiva quanto olhar para Quinn, mas ela não se importou. Qualquer coisa era melhor do que enfrentar aquele olhar escuro cheio de suspeita em seus olhos. Isto estava cruamente, e ela já estava bastante destruída de preocupação por Jamison, os mapas e os Casus. 

 O silêncio imperava dentro da cabine quente como uma espessa de névoa emocional que dificultava a respiração. Culpa. Raiva. Luxúria. Medo. Estavam todos lá, agitando como um veneno arrasador. 

 Ela podia sentir a pressão de seus olhos em seu perfil, quase podia sentir a força de sua necessidade, de sua própria fome atroz quando seu olhar ardente tocou sua boca, o queixo... Escorregando para baixo da linha quente de sua garganta. Mais abaixo, sobre a suada camiseta que cobrias os seios, os mamilos pressionando duros e cheios contra o algodão cinza pálido. Ela ouviu o agitado suspiro em sua respiração e fechou seus os olhos, incapaz de manter a esperança por palavras que ela reconhecia que nunca iriam sair dos lábios dele. 

 O momento esticou-se, a tensão fazendo ter vontade de gritar, e então ele finalmente rosnou:

— Lembre-se de ficar atenta – colocando o caminhão em ré, puxando-o para fora do espaço. 

  Saige engoliu a seco, a rouca explosão de riso e forçou um suave: — Não importa que você diz, Quinn. 

 Quando ele saiu para a interestadual, ela encostou a testa contra o vidro refrigerado e perguntou por que sempre quis as coisas que não poderia ter. 

* * * * *
 

APÓS DUAS horas de um silêncio tenso sufocante, finalmente se encontraram com os amigos de Quinn e companheiros Guardiões no estacionamento de uma loja de conveniência que ficava no caminho de que eles tinham transformado em Campanha. Quinn fez uma rápida apresentação e, em seguida, todos se amontoaram dentro de um imponente Avalanche preta e se dirigiram de volta à estrada, com outros dois guardiões na frente, enquanto ela e Quinn sentaram-se no fundo. 

  Esfregando a palma da mão contra os pêlos da mandíbula, Quinn imediatamente perguntou:

— Onde estão os irmãos dela? 

— Nós saímos furtivamente, enquanto eles estavam no meio de outro assunto. Eles não pararam isto desde Riley admitiu que Saige tentou avisá-lo sobre o despertar – o de nome Aiden Shrader respondeu com um profundo, som rouco quando ele moveu-se de lado no banco do passageiro. Seus cabelos cor de caramelo caiam abaixo de seu queixo em ondas pelo vento, o rosto atraente mesclando beleza e vigor, sem dúvida, que o fazia popular entre a população feminina. Piscando num sorriso agudo, ele disse: — Saímos lá de Kellan para lidar com eles. 

— Você quer dizer que eles queriam vir? – Saige perguntou incapaz de disfarçar sua surpresa. Apesar das garantias de Quinn de que seus irmãos estavam preocupados com ela, ela ainda tinha muitas dificuldades aceitar a idéia. 

  Foi o melhor amigo de Quinn, Kierland Scott, que respondeu a ela, enquanto ele dirigia, dizendo:

— Quando voltarmos, eles estarão prontos para matar pelo fato de que os deixamos para trás. – Ele tinha o cabelo ruivo, seus olhos de um pálido, penetrante verde e Saige interiormente revirou os olhos quando ela lançou seu primeiro olhar até ele, perguntando se todos Os Guardiões em Ravenswing eram tão devastadoramente bonito como esses três. 

— Eles vão ficar puto, certamente – Shrader concordou, o canto de sua boca grande retrocedendo num sorriso torto malfeito como ele viu o seu olhar.  — Receio que não seremos sempre as pessoas favoritas dos teus irmãos. 

— Eles nunca se sentiram bem com os outros – ela murmurou, e os dois homens dividiram um riso calmo, embora fosse uma vantagem seu senso de humor sombrio que não poderia ser ignorado. Apesar de tentar colocá-la à vontade, era óbvio que eles estavam todos ansiosos, não sabendo o que iam encontrar quando chegassem ao Resort Douglas, onde Jamison, estaria esperando por ela. 

— De qualquer forma, – Kierland observou — Molly irá mantê-los na linha até que possamos voltar. 

 Quinn tinha brevemente contado a ela sobre a mulher que tinha finalmente conseguido derreter o coração de seu irmão intransigente, e Saige não podia esperar para conhecer a noiva de Ian. Ela queria saber dos dois guardiões mais detalhes sobre Molly Stratton, mas Quinn capturou o olhar de Kierland no espelho retrovisor e disse:

— Ponha-me em dia rapidamente sobre o que tenho perdido. 

— Eu gostaria de ter notícias melhores – ele respondeu com um suspiro duro — mas parece que todo o inferno vai libertar-se por aqui. Alguns dos outros complexos começaram a fazer contato com o despertar Merrick, explicando a situação para aqueles que não têm idéia do que está acontecendo com eles. E, como era esperado, uma vez que Ian matou um casus com o primeiro Marcador Escuro, os relatórios começaram a chegar de Merrick, que estão ansiosos para por suas mãos sobre a única arma que pode ajudá-los. O complexo Reno abriu as suas portas a qualquer Merrick que pretendam procurar abrigo ali, mas a maioria dos complexos estão ainda receosos de chatear o Consórcio que acaba de nos enviar uma nota oficial que está sendo colocada sob controle judicial.

— E ainda por cima – Shrader acrescentou — apenas as mais fortes linhagens estão recebendo vigilância do Guardião, ainda há muitos lá fora por conta própria que precisam ser seguidos. Complexos estão tentando fazer contato, mas isto vai levar tempo.  

— O tempo nós não temos – murmurou Quinn, que passou a informá-los em maior detalhe sobre o que ele descobriu no Brasil. Ele terminou com uma explicação mais profunda do poder de Saige e, em seguida, contou sobre o uso da substância estranha do Coletivo sobre Javier e seus irmãos. 

— Então você acha que pode haver alguma ligação entre o Casus e o Coletivo? – Kierland perguntou, seu pálido olhar centrando-se na rua. 

  Raspando uma mão atrás dos cabelos, Quinn exalou um ar áspero. 
— Eu não sei. Mas algo não está certo. Quem diabos é esse cara Westmore que o Casus mencionou frente da Saige, ele deve ter encontrado uma maneira de colocar as mãos sobre os produtos químicos.
 
  Voltando seu olhar avelã para Kierland, Shrader girou o ombro forte e disse:

— Tem que haver algum tipo de explicação razoável. Aquela que realmente faça algum sentido.  

— Os corpos estavam carbonizados, assim como o Coletivo mata – disse Quinn com os dentes fechados. — Eu não imaginava isso. 

— Agora não é hora entrarmos nisto – respondeu Kierland, obviamente, o pacificador do grupo. — Quando nós voltaremos para Ravenswing você pode argumentar o quanto quiser, mas por enquanto vamos manter o foco. 

  Um momento de silêncio instalou-se no grupo quando Kierland virou numa rua sinuosa que parecia levá-los para os arredores da cidade, em direção às montanhas. Saige olhava para fora da sua janela, sua ansiedade crescendo, até que ela sentiu o peso de um olhar focado em sua direção. Olhando para frente, ela encontrou Shrader observando-a com uma expressão estranha e curiosa sobre o seu rosto bonito. 

— Há algo de errado? – Perguntou ela, querendo saber o que ele parecia achar tão fascinado. 

— Você ainda está faminta – afirmou em voz baixa. 

  O rubor floresceu sob a pele, queimando seu rosto. 

— É tão óbvio? – Ela perguntou hesitante, ciente de Quinn amaldiçoando algo sujo sob a respiração. 

  O canto da boca Shrader se contraiu com um sorriso.

— É para nós. Importa-se de explicar porque você não tem comido?  

— Acho que não faria muita bem para mim em dizer-lhe para cuidar de sua própria vida – ela murmurou, cruzando os braços sobre o peito, incapaz de sacudir a sensação de que estava andando por aí com um letreiro em néon piscando na testa. 

— Doçura, uma vez que arriscamos nossos pescoços por sua família, tudo que você fizer é nosso negócio – Shrader contrapôs, os olhos cor de avelã, de repente queimando com um brilho de âmbar abrasador, dentro da margem de espessa de suas pestanas. — Então eu vou em frente e dizer-lhe que isto é estúpido, permitindo-se ficar fraca. Você precisa se alimentar.

  Saige balançou a cabeça, fungando uma risada seca sob sua respiração. 

— Você não tem idéia de como estou doente em particular com esta frase.
Shrader liberou um olhar irônico para Kierland.

— É só eu, ou você está sentindo problemas no paraíso?

— Estou sentindo que você precisa cuidar de sua própria vida, caçamba, Aiden, – respondeu o guardião tomando a próxima curva à direita.

— Bem inferno. – Ele suspirou, erguendo uma bela tatuagem na mão ao coçar o queixo. — Onde está a diversão nisso?

— O tempo para a diversão acabou – Kierland resmungou, e ela podia ver através do pára-brisa dianteiro que eles tinham acabado virar para a garagem que levava até o Resort Douglas. 

Situado nos arredores de Denver, o exclusivo resort foi construído na beira de uma floresta de pinheiros de espessos e majestosa beleza das árvores, elevando-se no cenário perfeito no estilo de Frank Lloyd Wright dos edifícios. Eles estacionaram num dos estacionamentos traseiro, perto da mata, e saíram da Avalanche juntos.  A respiração de Saige se acelerou, as palmas das mãos úmidas devido ao nervosismo enquanto eles encaminharam-se para o saguão, em seguida, rapidamente foi em direção ao café. Ela disse a si mesma para ficar calma, silenciosamente repetindo que tudo ia ficar bem. Ela encontraria Jamison, pegaria o Marcador depois de agradecer-lhe profundamente, e então ele poderia sair bem de lá, voltar para casa, onde estaria a salvo do perigo.

  Mas, vinte minutos depois, ela praticamente hiperventilava. Apesar de uma busca exaustiva no saguão, restaurantes e salas de estar, Jamison estava longe de ser encontrado.  A garganta de Saige apertou-se aterrorizada enquanto comprimia uma mão contra seu estômago, um milhão de cenários de horror correndo através de seu cérebro, fazendo-a passar mal.

 Enviando-lhe um sorriso tranquilizador, Aiden disse:

— Eu vou falar com as senhoras na recepção. Talvez ele tenha adquirido um quarto aqui ou deixado uma mensagem para você.

— Se ele fez, eles não vão lhe dar a informação – disse ela com voz rouca, os lábios entorpecidos.

 Ele piscou para ela, ronronando

— Elas vão me dar o que eu pedi, querida.

 Piscando, ela o viu se afastar, então enviou para Quinn um olhar duvidoso. 

— Eu pensei que você disse que não gostava de humanos.

— Ele não gosta – ele murmurou, ficando ao seu lado enquanto Kierland procurava nos banheiros dos homens. — Ele só gosta de enrolá-los.

— Que charmoso – ela murmurou, cruzando os braços sobre o peito, como se pudesse segurar os batimentos do seu coração.

— Por alguma razão, eles parecem pensar assim. – Ele mandou um desses olhares longos, pesados, parecendo sondar sua alma que sempre a fazia se sentir como se estivesse deslizando em sua pele, escolhendo seu caminho através de sua mente. — Nem pense misturar-se com ele.

— Deixem-me adivinhar. Ele não dorme com virgens? – Ela contrapôs, seu tom cheio de sarcasmo.

— Se alguma vez ele colocar uma mão em você – ele disse baixinho, voltando seu olhar para trás para as pessoas andando no saguão — Eu vou matá-lo.

Incapaz de dizer se ele estava brincando ou não, Saige olhou para trás em direção à recepção. Shrader já estava caminhando para eles de novo, na sua cara toda a resposta que ela precisava. 

— Oh Deus – sussurrou ela, o fundo de sua garganta queimando com a picada das lágrimas salgadas.

 Kierland se juntou a eles um pouco mais tarde, sua busca sem sucesso, e Quinn agarrou seu braço, dizendo:

— Nós precisamos sair daqui.

 Saige movia-se torpemente enquanto ele a guiou para fora do resort, com os olhos úmidos, enquanto a culpa queimava suas entranhas como o ácido. 

— Isso não está acontecendo – ela continuava a sussurrar baixinho, como se de algum modo dizer as palavras, poderia torná-los realidade. — Isto não está acontecendo.

 Quinn deixou-a em pé ao lado da Avalanche, e saiu a uma curta distância, lançando a cabeça para Shrader e Kierland enquanto os três homens, obviamente, discutiam a situação. Ela perguntou se a culpavam, então percebeu que era uma pergunta estúpida, considerando que era a culpada.

  Afastando-se, tentava decidir o que fazer em seguida, quando sentiu que Quinn vinha atrás dela, instantaneamente reconhecendo o seu cheiro quente e delicioso. 

— Você está bem? – Ele perguntou seu tom de voz baixo... Cuidadoso, e ela perguntou se parecia tão frágil quanto se sentia, já que um movimento errado poderia quebrá-la em um milhão de pedaços.

— Onde você acha que ele foi? – Ela quase chorou, sentindo como se o fundo de seu estômago tivesse soltado-se quando ela se virou e olhou para ele.

  Linhas severas de preocupação gravaram-se em sua expressão escura. 
— Eu gostaria de poder lhe dar algumas respostas, Saige, mas nós simplesmente não sabemos. Todos com quem Shrader e Kierland falaram lá disseram que não tinha visto ninguém que se encaixa na descrição de Haley. Eu acho que ele nunca se hospedou aqui.

— Eu não posso acreditar que ele foi embora. Estava combinado que ele se esconderia até que eu chegasse aqui. Eu nunca pensei... Nunca pensei que ele poderia realmente..

— Shh – ele murmurou de repente, segurando sua mão num sinal para que todos pudessem ficar em silêncio. Ele lançou um olhar significativo para Kierland, que ergueu o rosto, cheirando o ar.

— O que é isso? – Ela sussurrou, mas ninguém se preocupou em responder, sua atenção centrou-se na floresta próxima, como se esperasse alguma coisa arrebentar dos espessos bosques sombreados.

  Prendendo a respiração firme em seu peito, Saige pressionou as costas contra o lado frio da Avalanche enquanto o vento soprava seus cabelos lançando-os em seu rosto. O estacionamento atrás estava vazio, mas além de alguns carros estacionados espalhados do outro lado, a maioria dos clientes utilizavam a frente mais próxima à entrada, o que significava que não havia ninguém por perto. Ela não tinha idéia do que esperar. Ela só soube que o que quer que fosse, ia ser ruim.

— Dê-lhe as chaves – resmungou Quinn, Kierland as entregou em suas mãos trêmulas. Sem tirar os olhos da mata, Quinn disse então:

— Eu quero que você entre no caminhão, Saige, e se acontecer alguma coisa, você fuja rapidamente daqui e volte para o lugar onde nós alugamos. Nós nos encontraremos lá, logo que resolvermos disso.

—Resolver o quê? – Perguntou ela, desejando saber o que estava acontecendo.

— Eu vou explicar mais tarde – ele explodiu. — Basta entrar na merda do caminhão.

  Antes que ela pudesse argumentar, Shrader disse:

— É cheiro de humano. – Seu lábio superior curvou-se sobre os dentes, revelando um par deslumbrante de alongados incisivos, e lembrou-se de Quinn dizendo que a besta interior Shrader era um tigre. Desde a aparência dos seus dentes, ela poderia muito bem imaginar o quão mortal o Guardião poderia ser quando enfrentava seus inimigos.

— Poderia ser o Coletivo – Kierland murmurou, uma aspereza gutural nas suas palavras, que não tinha estado lá antes. De acordo com Quinn, Kierland Scott era um lobisomem, e Saige não tinha dúvida de que o licantropo poderia ser tão letal quanto seus amigos.

— Há apenas um deles – resmungou Quinn, dando um passo em direção à árvore.

— Isso é bom, certo? – Ela suspirou, deslizando as chaves no bolso do jeans.

— Acredite ou não – Shrader resmungo — às vezes um é tudo o que preciso. Alguns dos soldados da comitiva do Coletivo são um dos maiores canalhas que você já viu, e então eles guarnecem com armamento que faz o com que os caras especiais da ops pareçam como brincadeira de criança. – Retorcendo para as costa dele, sob o paletó, o tatuado Guardião puxou um revólver da cintura da calça jeans, em seguida, passou a dizer: — E vendo como você é um de nós agora, é melhor aprender rápido para nunca subestimá-los. – Ele jogou a arma em direção a Quinn, que a pegou no ar, então se abaixou e puxou uma faca terrível de uma bainha que abraçava o músculo cheio da panturrilha.

  Logo Shrader tinha endireitado, Quinn jogou a arma de volta, empurrando o queixo em direção a lâmina. 

— Eu vou pegar a faca.

— O Guardião franziu a testa – mas entregou-a, murmurando: — Você sempre quer ter toda a diversão.

— Cortar alguém é divertido? – Ela resmungou, sentindo como se tivesse tropeçado em algum tipo de pesadelo bizarro.

  Shrader encolheu os ombros largos. 

— Depende do que você está cortando.

  Obviamente, cansado de esperar por quem estava lá fora a vir para frente, Quinn aproximou-se da margem da floresta. 

— Nós sabemos que você está aí – ele rosnou. — Poderia muito bem parar de se esconder e mostrar seu rosto.

  Saige podia ouvir seu rugido pulsando em seus ouvidos enquanto todos eles olhavam para a floresta, o coração martelante dentro do peito, difícil e doloroso, e, em seguida, um homem alto e esguio, com cabelos louro-dourado, vestindo jeans e uma camiseta branca, de repente, saiu da linha de sombra de árvores, com as mãos levantadas, em sinal de rendição. 

— Eu não estava escondido, ele respondeu de volta, mantendo seus olhos escuros verde focados em Quinn. – Somente fui caminhar um pouco através da maldita floresta. E isto é malditamente irritante quando um bastardo como vocês fazem aquela coisa toda de rastreamento do cheiro de alguém.

  Antes que alguém pudesse responder, Quinn rugiu de fúria, e então de repente ele foi correndo para frente, à lâmina afiada caiu no chão enquanto ele levantou o punho e bateu-o na mandíbula, agarrando a cabeça do homem para o lado com uma voz alta, doloroso quebrando o som.

— Maldição! – O homem resmungou, o bloqueio imediato do outro golpe que Quinn apontado para o nariz. — Será que você me escuta por um minuto? Eu não vim aqui para lutar com você! Eu não estou mesmo armado!

— Eu não ligo merda nenhuma porque você está aqui – resmungou Quinn, batendo o corpo musculoso do louro em uma árvore próxima com tanta força que esta sacudiu uma chuva de agulhas dos ramos resistentes.

— Quem é ele? – Saige sussurrou enquanto Kierland e Shrader moviam-se para o lado dela, construindo entre ela uma óbvia prova de proteção, enquanto o louro continuou a fazer o seu melhor para evitar a violência de Quinn, seus socos martelastes.

— A questão não é quem – Shrader murmurou. — mas o quê. 

— Eu não entendo. Será que alguém, por favor, pode me dizer o que está acontecendo?

  Antes que qualquer um dos Guardiões pudesse responder, Quinn teve sua mão em torno da garganta do homem, aprisionando-o contra o tronco de uma árvore de pinho maciço. 

— Ele é um deles, Saige – ele resmungou, já não soando também humana.

  Ela estudou o estranho alto de cabelos amarelados, com óbvia surpresa. 

— Mas seus olhos não são azuis.

 Um riso cínico resmungou no peito de Shrader — Ele não é um casus.

— Seu nome é McConnell – Quinn disse a ela, sua voz um som profundo, gutural de fúria ao contrário de qualquer coisa que ela nunca tinha ouvido. — Seth McConnell, tenente-coronel do Exército Coletivo.

  Sua respiração suspendeu com um suspiro duro. 

— Ele é um soldado?

— Um dos mais mortais que já existiu – resmungou Quinn. — Isto não está certo, McConnell?

— Eu não vim aqui para causar nenhum problema – rosnou o louro, puxando o pulso grosso de Quinn. 

— Qual é a única razão de eu não ter chutado sua bunda ainda. Eu vim porque eu preciso falar com você. Por que outra razão você acha que eu deixei o meu carro em um acampamento e caminhei pela floresta? Eu estou tentando manter em segredo, mas ainda é um risco danado para mim estar aqui.

— Não há nada que você poderia dizer que eu estou interessado em ouvir – resmungou Quinn, estreitando seu aperto na garganta do homem.

  O olhar verde escuro McConnell moveu em sua direção, e ele murmurou:

— Eu posso lhe dar informações sobre o ser humano.
 
Quinn resfolegou. 

— Você sabe muito bem que ela não é humana.

— Não é ela – McConnell engasgou, começando a se tornar uma sombra azul interessante. — O arqueólogo.

— Jamison! – Ela gritou, começando a ir para frente, apenas para ser capturada de ambos os lados por Kierland e Shrader, que a puxaram de volta entre eles.  — Onde ele está? O que aconteceu com ele?

  Soprando uma respiração desgostosa, Quinn soltou sua presa, e McConnell puxou um pouco de ar muito necessário em seus pulmões, seu olhar verde cortante em direção a Kierland enquanto ele disse:

— Eu tenho autoridade para dizer que o arqueólogo fugiu com uma determinada ruiva antes que ele se dirigisse para o Colorado.

  Todos os três Guardiões amaldiçoaram sob sua respiração, trocando olhares sombrios, obviamente compreendendo algo que Saige não entendeu. 

— O quê? O que isso significa? O que está acontecendo? – Ela exigiu, à beira da histeria. Ela sentia como se estivesse ausente as peças vitais da conversa, algum tipo de comunicação não-verbal acontecendo que não conseguia entender. — Se alguém não começar a falar, agora, eu vou gritar. E eu não me importo que seja aqui!

— Isso significa que eles enviaram Spark atrás dele – disse a ela Kierland em voz baixa.

— Spark? Quem é Spark?

— Uma completa cadela violenta, é o que ela é – Shrader rosnou. — Aquela cuja especialidade é atrair os homens para perto dela, pouco antes dela cortar suas gargantas. Ou explodir seus cérebros. Ouvi dizer que ela gosta de misturá-los, guardando-os fascinada.

— Uma assassina? – Ela suspirou, sentindo-se tonta como se afundasse por dentro. — Por que o Coletivo enviaria uma assassina atrás de um ser humano? Isso não faz qualquer sentido!

— Vocês agora matam seres humanos, também? – Sorriu desdenhoso Quinn, apertando os dedos novamente.

— Se você tirar a sua maldita mão da minha garganta – McConnell resfolegou — Vou lhe dizer o que eu sei.

— Quinn! – Ela gritou, sabendo que se ele matasse o soldado, nunca poderia descobrir o que tinha acontecido a Jamison.

  Quinn fez um som rude no fundo de sua garganta e continuou pressionando.

— Não deixe que ele te engane, Saige. Tudo o que ele faz, em seguida, é uma armação. McConnell, aqui, não cuida de nossa espécie, e que inclui os nossos amigos, o que significa que ele não está nem aí para o que acontece com Haley.

— Ele está certo – murmurou Shrader, virando para as costas e deslizando a arma em sua cintura.

 Aproximando mais para o lado dela, Kierland manteve sua voz suave.

— A família McConnell foi morta por um ninho de vampiros trapaceiros quando ele tinha quinze anos. Ele se juntou ao Coletivo logo depois, e subiu rapidamente através da graduação.

— E não demorou muito para que ele se tornasse um dos caçadores mais cruéis que já recrutaram – acrescentou Shrader, encurvando os lábios, enquanto olhava para o soldado.

  Os olhos verdes penetrantes de McConnell diminuíram de frustração. 

— Pense no que você quiser – ele suspirou — mas eu nunca matei um inocente, não importa de que as espécies eram.

— Não – murmurou Quinn, olhando diretamente a cara do homem — Você os torturava até eles desejassem estar mortos. Não é verdade, coronel? 

  Um silêncio pesado caiu entre os dois adversários, enquanto a raiva de Quinn estalava no ar como uma tempestade que se aproximava, e que podia jurar que das sombras escurecidas nos olhos de McConnell surgia arrependimento. 

— Eu cometi erros – o soldado finalmente disse — Mas eu nunca ordenei a tortura de alguém.

  Quinn rosnou baixo em sua garganta, os músculos em seu braço trêmulos de fúria e, em seguida, ele aliviou o aperto por um segundo, permitindo que o homem respirasse o necessário. Em uma voz gritante fragmentada, ele disse:

— De que diabos você está atrás, McConnell?

— Eu vim aqui para dizer que, tanto quanto sei o homem ainda está vivo. Mas estão mantendo-o prisioneiro. – Ele tomou outra respiração profunda do ar dos pinheiros, em seguida, disse — E, acredite ou não, eu vim aqui para te ajudar.

—Você deve estar brincando. – Quinn zombou.

— Na verdade, quero que você me ajude. Há algo errado no coletivo. Preciso da ajuda de uma fonte externa, antes que saia do controle.

 Quinn olhou duramente, as narinas alargando-se enquanto ele estudava os olhos do homem. Em voz baixa e gutural, ele disse:

— Você está mentindo.

 McConnell nem sequer pestanejou.

— Eu gostaria que fosse verdade. Se fosse, não estaríamos nesta merda. E eu não estaria arriscando minha vida por vir aqui.

— Nós não queremos nada com você – resmungou Shrader a lado dele.

— Eu sei que você me odeia – McConnell disse a Quinn, fazendo Saige saber exatamente o que tinha acontecido entre os dois homens no passado. Fosse o que fosse, ela sabia que o soldado desprezava Quinn o suficiente para querer matá-lo. — Mas eu tenho aprendido muito desde a última vez desde que vimos um ao outro.

— E o que você aprendeu? – Quinn rosnou, ainda segurando sua garganta.

— Que nem todos os de sua espécie são maus. E nem todos os soldados do Coletivo lutam com honra, ou até mesmo pelos mesmos ideais. Mas isso é uma conversa para deixar para outra vez. Eu vim aqui hoje porque eu tenho uma informação importante.

 — Queria que Jamison dissesse a vocês que iríamos encontrá-lo aqui? – Perguntou ela, querendo saber como ele sabia onde encontrá-los.

— Tanto quanto eu sei, ele não contou nada a ninguém. Eu tive os meus homens vigiando todas as estradas de Henning – McConnell explicou. — Assim que eles viram Shrader e Scott dirigirem para cidade, eles entraram em contato comigo, e eu segui os guardiões, esperando ter uma oportunidade como esta.

  Shrader amaldiçoado sob sua respiração, então disse:

— E agora você veio só para partilhar conosco a bondade do seu coração?

— Deixe-o falar – Kierland comandou. — Nós também podemos ouvir o que ele tem a dizer.

  Com um grunhido desgostoso, Quinn liberou seu punho de McConnell, mantendo a distância como um animal selvagem, predador que tinha acabado de negar a sua próxima refeição.

— Eu não acredito nisso – resmungou, empurrando as duas mãos para trás com seu cabelo.

— Diga a que você veio, McConnell, e depois dê o fora daqui – Kierland resmungou numa voz profunda e autoritária.

  McConnell caiu de volta contra a árvore, esfregando sua avermelhada garganta, mantendo um olhar atento sobre Quinn. 

— Como eu lhe disse, há algo errado no Coletivo.

  Shrader deu uma áspera risada. 

— Diabos, eu poderia ter lhe falado dos bajuladores há muito tempo. Vocês todos tem a cabeça corrompida.

— Quero dizer, dentro das fileiras – McConnell rebateu, o sol brilhando contra as costas pelo vento no seu cabelo dourado fazendo-o parecer mais como um surfista da Califórnia do que um soldado cruel do Coletivo. — Há um ramo novo que foi criado, aquele que está tentando manter segredo, mas alguns dos funcionários, como eu, foram informados da sua existência.

— Porque o segredo? – Shrader murmurou, esfregando uma mão tatuado contra seu queixo. — Eu pensei que vocês fossem todos uma grande feliz e psicótica família.

— Esta unidade – McConnell explicou — Não é como as outras. Estão sendo dados subsídios especiais.

— Como trabalhar com o inimigo? – Kierland perguntou.

  McConnell assentiu com a cabeça, as feições douradas de seu rosto sombrias, que quase alcançaram Quinn.

— O Coletivo prefere morrer do que aliar-se com os monstros – resmungou Quinn, suas mãos grandes flexionando em sua lateral.

— Não, se os monstros têm algo que eles querem – disse McConnell em voz baixa.

  A expressão escura de Quinn se retorceu numa careta. 

— O que significa isso?

— Isso significa que alguém pode pagar, se o preço estiver correto – murmurou Kierland. — Eu acho que McConnell está falando sobre uma troca de informações.

  Shrader fez uma forte som de descrença. 
— O quê os Casus teriam que o Coletivo deseja?

— Não é o Casus, McConnell o corrigiu — mas eu acredito que o homem está planejando seu retorno a este mundo. Uma vez que ele tiver a posse completa dos marcadores escuros, ele prometeu dar ao Coletivo a localização de cada clã de subumanos que já caminharam sobre a Terra.

— Se o Coletivo possuir esta informação – Saige ofegou — Poderiam caçá-los, um por um, e destruir o que resta de cada espécie.

  Cruzando os fortes braços sobre o peito, Shrader olhou ao soldado com um olhar estreito.

— Quem é o pau que comanda o show?

— Seu nome é Westmore.

 Quinn lançou um olhar aguçado, advertindo-lhe para não dizer nada, e ela se esforçou para esconder sua surpresa, enquanto os outros dois guardiões, obviamente, fizeram o mesmo.

— O que você pode nos dizer sobre ele? – Kierland perguntou.

 McConnell sacudiu a cabeça, sua expressão com uma amarga frustração. 

— Não muito. Ele só apareceu um dia, prometendo que nos daria esses locais depois de ter os marcadores, bem como exigindo todo o dinheiro e mão de obra que ele poderia precisar, além de acesso ilimitado a nossa biblioteca.

— E o que há de tão especial em sua biblioteca? – Quinn pediu num baixo rosnado.

  Sustentando o olhar irritado de Quinn, McConnell disse:

— Aparentemente os arquivos contêm as informações que precisava.

  Uma onda de choque bateu no grupo, todos olhando para McConnell com o mesmo grau de descrença absoluta. 

— Você está dizendo que o Coletivo tem encontrado os arquivos perdidos, que pertencia ao antigo Consórcio? – Perguntou ele hesitante.

— Nós encontramos no ano passado, e a próxima coisa que foi que esse cara Westmore veio bater à nossa porta. Parece que os generais do Coletivo estavam ansiosos para o que ele prometeu entregar, uma vez que os arquivos acabaram sendo uma pequena de decepção para eles. Enquanto estes forneceram algumas informações interessantes sobre muitos clãs antigos, estes não informavam onde poderia ser encontrado.

— Ele nunca seria capaz de informar – argumentou Quinn asperamente, ainda andando com energia incansável.
— Ele já tem – murmurou McConnell. — Para provar, ele nos deu a localização de quatros vampiros da sua nidificação na Europa Oriental, os quais já foram destruídos.

— Então ele deve ser um vamp maldito – Shrader resmungou.

  McConnell sacudiu a cabeça novamente. 

— Eu pensei a mesma coisa, até que eu o conheci. Mas eu juro que o cara é tão humano quanto eu sou.

— Então como ele sabia onde a nidificação ficava? – Quinn exigiu, finalmente parando cerca de dez metros de distância de onde McConnell ainda encostava-se na árvore.

  Erguendo os ombros num confuso encolher de ombros, o soldado deu um suspiro duro, dizendo:

— Eu não sei.

— É melhor saber – Kierland disse, empurrando os fios de cabelo acaju que o vento havia soprado sobre a testa.

  Quinn enfiou as mãos profundamente nos bolsos. 

— E o que Westmore queria com os arquivos?

— Eu não consegui ter acesso – explicou McConnell, esfregando a sua mandíbula espancada — por isso não posso dizer com certeza o que eles contêm. Mas seja qual for Westmore encontrou, permitiu-lhe fazer contato com o Casus no aprisionamento da terra e, agora, esses bastardos vêm transversalmente. Ele é definido como algo mortal em movimento, e tem que ser interrompido.

  Uma risada amarga baixa saiu do peito do Shrader. 

— E os generais do Coletivo não têm nenhum problema com o fato de que ele usou os arquivos para trazer de volta uma das espécies mais perigosas que sempre andaram na terra? Considerando a sua linha de trabalho – ele contrapôs uma nota grave de sarcasmo — Parece estranho que vocês, rapazes aceitariam eles em sua pequena família tortuosa.

— Pelo que eu entendo, Westmore os convenceu de que ele está do nosso lado, mas que algo grande está vindo do mundo sobrenatural. Um aumento da violência e agressão entre os clãs antigos que nem mesmo o Consórcio será capaz de controlar. Ele argumentou que quando chegar a hora, ele vai precisar dos marcadores e dos Casus para lutarem contra os clãs e, em seguida, uma vez que forem derrotados, ele vai usar os marcadores para destruir os Casus. Pessoalmente, eu não confio nele, e eu não estou comprando a sua história.

 — E os seus superiores não estão preocupados com a fuga das vítimas que os Casus estão deixando atrás de si? – Quinn perguntou.
— Depois que o primeiro Casus matou aquelas mulheres, Westmore colocou seus homens em campo. Tanto quanto eu sei, eles estão fazendo o melhor para cobrir a matança. E, neste ponto, os generais já foram longe demais para voltar atrás. Eles se convenceram de que o final justificará os meios.

  Os olhos de Quinn escureceram, e Saige sabia que ele estava pensando em como Javier e seus irmãos tinham sido carbonizados. Obviamente, Westmore estava usando os agentes químicos do Coletivo para destruir as matanças feitas pelos Casus, assim como McConnell disse.

— E qual era o seu interesse pelo arqueólogo? – Kierland raspou.

— Westmore foi contactado por dois Casus que estavam no Brasil. Eles acreditavam Saige deu a Haley o marcador e pediu que Westmore o pegasse. Então ele enviou Spark atrás dele. Tanto quanto eu sei, eles estão segurando-o na sede de Westmore, que supostamente é nas montanhas, mas eu posso ir para o inferno se encontrar alguém que me dirá onde é. – Ele olhou para Quinn e acrescentou: — Agora que os dois Casus chegaram no Colorado e Westmore tem a posse dos mapas, ele quer colocar as mãos na pessoa que lhe disseram que poderia lê-los.

  Olhando para Quinn, Saige pôde ler o medo nos olhos dele, e sabia que devia parecer bastante assustada. Era ruim o suficiente saber o que o Casus queria, mas agora eles sabiam que Westmore poderia colocar toda a força do Coletivo atrás dela, também.

— E então você simplesmente decidiu compartilhar isso conosco, porque você mudou de lado? –Shrader contrapôs com uma nota forte de ceticismo.

— Eu disse a você por que eu estava aqui – disse McConnell disse com um suspiro cansado. — Se pudermos encontrar uma maneira de trabalhar em conjunto, então talvez possamos acabar com isso antes que se torne demasiado grande para controlar.

— O que você sugere? – Kierland perguntou.

— Por enquanto, trocarmos informação. – Caminhando para frente, McConnell parou em frente Kierland e pegou um pequeno pedaço de papel do bolso, oferecendo-a ao guardião. — Esse é o meu número. Eu já lhe disse tudo o que eu sei. Se você souber alguma coisa que possa me ajudar, esperarei você devolver o favor.

  Ele começou a se virar, em seguida, voltando para a floresta, quando Saige de repente aproximou-se, agarrando o braço dele enquanto ela gritava:

— Espere!

  A voz de Quinn cortou o ar com a força de quebrar um chicote, fazendo-a estremecer como ele rosnou:

— Não toque nele, Saige!

  Tirando as mãos de seu braço, ela sustentou o olhar verde escuro de McConnell e rapidamente recitou o número do telefone celular que tinha escolhido para ela naquela manhã.

— Por favor – ela acrescentou — se algo acontecer ou se tiver alguma informação nova sobre Jamison, me chame.

  Ele susteve seu olhar preocupado por um momento, em seguida, deu-lhe um aceno de cabeça rápido e virou-se, desaparecendo na mata tão depressa como tinha aparecido.

 






































Capítulo Dezesseis
Terça à noite
Ravenswing


  SENTINDO-SE COMO UMA CRIANÇA escondendo-se no escuro, Quinn pegou a cerveja que ele havia deixado sobre a mesa pequena à sua direita. Ele se sentou no adorável assento na suíte de Saige no Complexo, a única luz do crepúsculo que desvanecia derramando-se através das longas janelas na parede. Com um suspiro áspero, ele levantou a garrafa, observando o anel de água deixado na brilhante antiguidade, mas ele não estava surpreso. Parecia que ele tinha um jeito de danificar tudo em que chegava perto, como uma espécie de maldição ou praga sobre a humanidade.

 Inclinando a cabeça para trás, tomou um longo gole, o frio gelado da cerveja queimando na garganta até os olhos umedecerem. Com uma cara feia, ele colocou a garrafa de volta na mesa, estremecendo com a sensação de frio em seu peito, e puxando para trás seus ombros, aborrecido consigo mesmo.

  Ele nunca percebeu o quanto ele era um covarde, até que ele tinha sido forçado a enfrentar sua necessidade de Saige. E agora que sabia, ele queria levar tudo o que agitava, a fúria destrutiva que ele tinha sentido por Seth McConnell todos estes anos e vi-la-á para dentro, onde pertencia. O soldado de rosto bonito pode ter sido responsável por destruir sua vida com Janelle, mas Quinn sabia que só ele era o culpado por arruinar qualquer chance de um futuro que possa ter tido com Saige.

 Após McConnell ter deixado a estância, ele subiu no banco de trás da Avalanche ao lado dela, furioso porque ela não tinha apenas tocado no bastardo, mas lhe deu seu número de telefone. Ele queria tomar o telefone novo e jogá-lo fora pela janela, mas ela tinha colocado no jeans dela e deixando-o fora de sua vista.

 Quando eles se dirigiram da montanha para o Complexo, ele pensava sobre a conexão entre os Casus e o Coletivo, ainda achando difícil de acreditar. Mesmo depois de tudo o que tinha ouvido naquele dia, muitas das peças do confuso quebra-cabeça finalmente começando a se encaixar, ele ainda só podia balançar a cabeça em como isso estava impelindo tudo. Ele queria conversar sobre isso com Saige, mas ela não disse uma palavra a ele. Além de responder a algumas perguntas que Kierland Shrader lhe fizeram, ela sentou-se no outro lado do assento, braços delgados cruzados sobre o peito, e olhou para fora da janela, sua mente a um milhão de milhas de distância.

 Quinn sabia que ela se culpava pelo que tinha acontecido com seu amigo, e ele orou para que eles fossem capazes de recuperá-lo vivo. Mas ele não tinha muita esperança. Se o negócio foi oferecido, ele sabia o que eles queriam em troca do Britânico, e não tinha nenhuma chance infernal dele permitir que Saige chegasse perto Westmore e seus asseclas.

  E Quinn sabia que não era somente por causa do seu bem-estar.

  Tomando outro gole de sua cerveja, sua garganta apertou-se emocionada enquanto pensava na cena quando Saige tinha sido finalmente se reencontrado com seus irmãos. No segundo que ela entrou pela porta, no corredor principal em Ravenswing, ele esperava que Ian e Riley começassem a enfurecerem-se porque ela não ligou, porque ela não tinha chamado-os para ajudar. Em vez disso, eles revezavam-se a agarrando e abraçando-a apertada contra o peito musculoso, como se para assegurarem-se de que ela estava segura e ilesa. Quinn tinha visto do lado de fora, sentindo-se como um estranho, o que ele era. Depois do jantar, ela tinha ido partilhar uma bebida com seus irmãos e Molly e ficou claro que ele não era bem-vindo. Uma coisa estúpida para se incomodar, e que não gostava de admitir, mas foi difícil se esconder de seus demônios quando estava sentado sozinho no escuro, bebendo sozinho como um idiota patético.

'Então por que não para e vai atrás do que você quer?'

  Amaldiçoando sob sua respiração, ele apenas levantou-se para andar no piso de madeira de sala dela quando Saige abriu a porta, pisando nas sombras do crepúsculo.

— Quinn? O que você está fazendo aqui? – O tom rouco deixou claro que tinha surpreendido-a enquanto ela lentamente fechou a porta atrás de si.

  Sentindo-se irritado e impaciente, ele deu um passo para frente, fixando-a com um olhar beligerante enquanto ela acendeu uma lâmpada pequena. A claridade suave de ouro maduro aqueceu o centro da sala sem alcançar muito os cantos escuros, como o tipo de forma que ele sentia por dentro. Ele só estava disposto a revelar um tanto, mantendo o resto na sombra. Embora fosse aquela escuridão isolada que o sufocava, sufocando sua capacidade de pensar... de respirar. Seu passado se tornou uma corda em seu pescoço e ele não sabia como se livrar dele. Ele estava segurando a corda com ambas as mãos, os pés pendurados fora do chão... e sua única esperança era Saige. Ele precisava dela, de maneiras que iam além dos instintos possessivos de seus animais, para algo mais profundo e infinitamente mais poderoso. Algo que se instalara em seu coração e não podia ser desfeito.

 E este eterno amor o assustava infernalmente.

Presa em seu olhar, ela mordeu o lábio inferior, parecendo dolorosamente linda em uma blusa verde e calça jeans emprestada quando ela disse

— Eu perguntei o que você está fazendo aqui, Quinn.

— Que tipo de pergunta é essa? – Ele murmurou, quando o que ele realmente queria dizer eram coisas que ele não tinha nada que pensar, muito menos expressar em voz alta.

'Por que não posso confiar em você para ficar comigo?'

'Porque você não pode me amar?'

— Eu não estou tentando irritar sua sensibilidade – ela murmurou, a sedosidade grossa dos cabelos caindo em torno de seus ombros em uma onda quente e vibrante no qual queria enterrar o rosto, respirar o cheiro dela em seu organismo. — Achei que não custaria muito perceber que agora não estou mais sob sua responsabilidade.

 Você sempre será minha responsabilidade, pensou de forma selvagem, odiando porque não podia dizer-lhe a verdade. Em vez disso, ele simplesmente disse:

— Precisamos conversar.

 Ela ergueu as sobrancelhas, uma expressão de curiosidade casual, mas ele podia ver a tensão em suas mãos enquanto ela agarrou o couro encerado macio por trás da poltrona, os nós dos dedos ficando brancos de tensão. 

— Sobre o quê?

  Ele abaixou a cabeça, olhando para o reflexo escuro do chão enquanto ele levantou uma mão e esfregou a nuca tensa, em seguida, ergueu o olhar, pegando seu olhar azul bonito... e segurando-o. 

— Vamos começar com Jamison. Eu estive pensando.

— Porque estou com um sentimento que este assunto só irá me chatear? – Perguntou ela, no canto de sua boca se contraindo com um sorriso triste.

 Empurrando as mãos nos bolsos ele disse:

— Você já considerou a idéia de que ele poderia ter jogado com você? Talvez até mesmo manter um olho em você para o Coletivo?  McConnell poderia ter planejado a coisa toda.

 Seus olhos foi-se alargando, e então ela riu na verdade, o som suave e rouco raspando contra o seu orgulho como um pedaço recortado de metal enferrujado. 

— Você está falando sério?

— Você tem que ser razoável sobre isso e, pelo menos, admitir que é uma possibilidade – ele murmurou, lutando para manter controlado seu temperamento. — Especialmente depois de hoje. Quão suspeito é isto por encontrarmos o Haley em um tempo predeterminado e acabamos ficando cara-a-cara com McConnell? Você tem que, pelo menos, considerar a idéia, Saige.

  Ela balançou a cabeça, mandando-lhe um olhar compassivo que fez ele estremecer. 

— Sinto muito, – ela disse suavemente — mas eu não posso fazer isso.

— Por que não? – Ele rosnou, as palavras duras e beligerantes em sua garganta.

— Porque às vezes – disse roucamente — você apenas tem a confiança das pessoas.

— Então você tem muita fé em Haley – ele murmurou, tentando bloqueá-la com a força do seu olhar, mesmo sabendo que isto não era nada, mas uma ilusão. O mais difícil seria tentar segurá-la, mais ela apenas deslizaria afastando-se e o pensamento disto fez algo rasgar dentro dele, como uma ferida. — Só não em mim, não é?

 Sua expressão fechou-se, como se uma sombra caísse sobre o rosto como um véu. 

— Eu já lhe disse porque eu fugi de você em São Vicente – disse ela calmamente. — Eu queria protegê-lo, Quinn.

 Dando de ombro num duro gesto, fazendo tudo o que podia para esconder sua mágoa.

—Sim, foi isso que você disse.

 Seus olhos se estreitaram com frustração. 

— E você ainda não confia em mim o suficiente para acreditar em mim.

— Isso parece tão complicado – rosnou, sua frustração crescendo, socando contra seu interior, precisando sair. — Os marcadores. Os mapas. Os códigos. O Casus e Coletivo e Haley, e agora McConnell aparecendo, pedindo por uma ajuda.

— Então você suspeita de mim? – Ela perguntou com uma voz pequena, envolvendo os braços acima da cintura, a posição feminina somente acentuando a ondulação luxuriante do peito. Forçando seu olhar a subir, Quinn viu o tremor de seu pulso na base do pescoço, subindo mais, demorando-se sobre a pálida textura luminosa de sua pele, a cor rosa selvagem de sua boca. Ela era tão forte... e ainda assim inegavelmente frágil, feminina e suave. Queria enrolar-se em torno dela e protegê-la do mundo.

 Ele simplesmente a queria. Muito. Intensamente.

  Enviando-lhe um olhar escuro e atormentado, perguntava-se o que faria, impassível quando nem sequer reconhecendo o homem que estava lá no quarto com ela. Ele olhou para si mesmo.Parecia o mesmo. Mas por dentro ele se tornara um estranho.

— Claro que eu não suspeito – ele resmungou sob sua respiração.

— Então você não acha que eu sou uma traidora – ela murmurou. — Só uma idiota. Aquela que foi estúpida o suficiente para enviar o marcador nas mãos de um agente coletivo.

— Eles podem ser bons para enganar as pessoas – disse ele, consciente do calor subindo debaixo de sua pele, queimando em seu rosto. — Confie em mim, Saige. Eu sei o que estou falando.

Ela endureceu o queixo, o rosto bonito apertando-se injuriada enquanto disse

— Jamison não trabalha com o coletivo. Não acredite em mim. Eu honestamente não me importo mais, Quinn.

— Você está com raiva de mim. – Seu tom era inalterado, mascarando suas emoções. — Eu entendo. Mas não deixe isto ofuscar o seu julgamento.

— Estou frustrada, não furiosa. Esta é a diferença – disse a ele. — E você é último que pode falar de julgamento ofuscado.

 Ele soltou uma respiração áspera e olhou para o lado, para as profundezas sombreadas da sala, desejando que soubesse fazer as coisas direito. Desejando que ele não estivesse tão confuso. Limpando a garganta, ele disse:

— Acredite ou não, eu não vim aqui para brigar com você. Eu só... – Ele revirou os ombros de novo e olhou para trás em direção a ela, querendo tão somente coisas que ele nunca iria ter a oportunidade de lhe dizer. — Eu não quero que seja assim entre nós.

— Você não quer ficar perto de mim, não quer o peso da minha virgindade, não quer confiar em mim. E agora você não quer que haja o quê? A tensão entre nós? – Ela perguntou hesitante, sacudindo a cabeça. — Você nem sabe mesmo o que você está dizendo?

— Você quer saber o que eu quero? – Ele engasgou, dando um passo mais perto dela, quase como se ele fosse puxá-la contra a vontade dele.

— Deus Quinn! Como você pode me dizer o que você quer? – Ela perguntou, batendo as mãos contra o topo da cadeira. — Você nem mesmo sabe o que quer!

— Como diabos não – ele rosnou, sua voz uma raspando um som visceral, torturado e cru. — Quero levá-la para o quarto atrás de você e não deixá-la de novo, Saige. Quero mantê-la lá por alguns dias. Mais. Fodê-la até que você não consiga nem caminhar direito. Até que você me sinta em seu corpo, mesmo quando eu não estiver lá. Até que comece não suportar sentir o meu sabor para fora de sua maldita mente!

  Seu peito subia e descia com a cadência suave, correndo por sua respiração enquanto olhou de volta para ele, seus belos olhos azuis encoberto pela confusão. 

— E você não pode ter isso porque ...?

— Porque uma vez indo tão longe – prometeu, passando mão para trás através de seu cabelo — Não há como voltar atrás para mim. Eu quero que você fique. Aqui. Comigo. Sempre. Eu vou querer segurá-la, possuí-la, de maneira que você nem pode imaginar.
  
* * * * *

E ISSO O ASSUSTA. Esta era a questão. Saige poderia dizer pelo seu tom, pela sombra do medo em seus olhos, exatamente como ele estava apavorado.

  Uma risada amarga saiu de seu peito que parecia difícil e doloroso, e ele balançou a cabeça lentamente. Cristo. Assustado nem chegava perto.

  Ela molhou o lábio inferior, trêmula por dentro, sentindo como se estivesse à beira de uma ravina profunda e insondável, onde um movimento errado poderia levar ao desastre.

— Você já parou para pensar que talvez eu estou cansada de estar sempre em movimento, sempre andar na margem? Que talvez eu esteja pronta para mais?

 Ele olhou duro, como se quisesse penetrá-la com os olhos escuros da cor da meia-noite. 

— Eu acho que você poderia dizer alguma coisa agora – disse a ela numa voz rouca grossa — se você acha que conseguiria o que você quer.

— E eu acho que você está apenas com medo de acreditar em mim – argumentou em voz baixa, afastando-se.

— É mesmo? – Ele rosnou, rodeando a cadeira e pegando seu ombro, virando-a com tanta facilidade, não havendo dúvida de que ele poderia facilmente dominá-la, com sangue Merrick ou não. Não que sua Merrick estivesse em posição para travar uma luta. A fome estava rasgando-a, roendo-a, a necessidade de alimentar a criatura instintiva dentro dela como uma ferida sangrenta na sua alma, que apenas a mantinha cansada, hora após hora, dia a dia.

  Saige poderia dizer que ele queria uma luta, mas ela não lutaria. Em vez disso, ela deu um passo para trás, e depois outro, até que ela veio de encontro à parede junto à porta de seu quarto. Lutando para conter as lágrimas quentes, ela disse:

— Eu vou embora daqui a poucos dias. Rumo a Reno, ao complexo que Kierland disse que está aceitando Merrick.

  Algo que parecia pânico iluminou seu olhar, afastando seu coração. 

— Por que diabos você iria querer fazer isso?

— Eu acho que seria melhor se colocamos algum espaço entre nós – sussurrou ela, querendo que ele argumentasse, mas ele não fez. Infelizmente ela não tinha o mesmo dom do silêncio. — E é melhor para mim estar longe daqui, de qualquer maneira. Seguramente Riley estava certo sobre mim, afinal. Eu não estou segura... .

— Isso é besteira – ele moveu o corpo grande e duro vibrando com a tensão, raiva e a frustração.

  Ela sorriu ironicamente. 

— Vamos, Quinn. Dê uma olhada. Javier está morto, e agora Jamison está sofrendo, só Deus sabe o que em suas mãos. Riley estava certo. Eu sou como um veneno.

— Nada disso é culpa sua! – Ele praticamente gritou.

— Por que você se preocupa em me defender, quando eu sei que você não me quer aqui?

O queixo dele caiu.

— Eu não disse isso.

— Você não precisa – disse ela trêmula. — E eu não quero estar aqui também. Não em torno de você. Eu não quero cada ação minha questionada.

— Eu não farei.

— Você faz isso que nem sequer perceber que você está fazendo – disse a ele com uma voz vazia. Ela não parecia triste ou zangada ou confusa. Só... Cansada. Apesar de tudo, desejo... — Quero coisas boas para você, Quinn.

  Ele olhou para ela tão duro, que ela sentiu como um toque físico que fez ficar quente sob a pele. 

— Droga Saige. Por que você tem que fazer tudo tão malditamente difícil?

— Eu não estou tentando fazer qualquer coisa – ela disse baixinho, desejando que pudesse chegar e tocar a sedosidade escura de seu cabelo. Pressionar os lábios para na linha polida das maçãs do rosto. A borda dura de sua mandíbula. — É o que é, como Riley costumava sempre dizer.

 — Eu não vou deixar você sair daqui. – Sua voz estava tão áspera, que o som nem sequer parecia dele. — E você ainda vai precisa se alimentar. Quando a fome se torna muito grande para lutar, venha me encontrar. Não... Não faça nada estúpido.

  Sua risada soou oca mesmo para seus próprios ouvidos. 

— Não se preocupe. Eu não tenho nenhuma intenção de afundar meus dentes em ninguém por aqui. Incluindo você.

— Maldição – ele gritou. — Odeie-me se você quiser, Saige, mas eu não vou permitir que você seja teimosa a esse respeito.

— Você não vai permitir-me coisa alguma, Quinn. O que eu faço ou não faço absolutamente não diz respeito a você.

— Eu pensei que você fosse mais esperta do que isso – ele murmurou, aproximando-se. Ele atraiu-a, trazendo para perto dos blocos rígidos de seu peito em contato com as sensíveis, pontas dos inchados seios.

— Sim, bem, eu pensei que você fosse um monte de coisas, também. – Ela inclinou a cabeça para trás, olhando para ele, tão confusa como sempre com sua crua sexualidade, tão ardente, abundante e incrivelmente sedutora. — Eu acho que nós devemos nos acostumar com a decepção. Porque se você quiser me dar o seu sangue, você vai ter que me levar para cama primeiro.

Mexendo os quadris, ela podia sentir a prova dura e rígida de seu desejo pressionando contra o jeans desgastado. 

— O que será? – Ela sussurrou, desejando que pudesse ler sua mente... Sua alma. Desejando que pudesse quebrá-lo, abri-lo e encontrar o que doía, despejando toda sua energia e vontade em encontrar uma maneira de torná-lo melhor. — Você receia que não vá me ver Quinn? Que irá ver outro rosto embaixo de você, ao invés de mim?

  Ele empurrou-a como se tivesse sido queimado, a expressão em seu escuro rosto belo e de puro dor no escuro brilho leitoso da luz. Sem uma palavra, ele se virou e cruzou a sala, em direção à porta, pegando a maçaneta.

 Mas então ele parou e se inclinou para frente, pressionando a testa contra a corrente clara da madeira, e uma voz profunda e torturada, ele disse calmamente:

— O nome dela era Janelle.

  Foi irracional, mas apenas o som do nome da mulher colocou uma dor aguda e penetrante no peito, e Saige se esforçou para permanecer em pé, ao invés de abraçar a si mesma.

  Ele limpou a garganta, o ritmo da sua respiração dura preenchendo o silêncio, no delicado espaço que os separava. 

— Nós... Nós iríamos nos casar.

  Seus pulmões pararam e ela fechou os olhos, à espera, não tendo certeza se queria ouvir isso... Mas sabendo que precisava. Erguendo os cílios, Saige estudava a sua postura, ressaltando a tensão rígida em seus ombros largos, no modo como ele segurava o seu corpo, rígido potente.

 Ele se virou ligeiramente para o lado, inclinando o ombro contra a porta, seus olhos escuros focado no céu iluminado pela lua através da parede de janelas do outro lado do quarto dela. 
— Quando McConnell se aproximou dela, pegou o caminho mais fácil. Ela não era forte o suficiente para fazer diferente.

— O que aconteceu? – Ela perguntou, sua voz cheia de emoção.

  Esfregando uma mão pelo rosto, e em uma áspera e profunda rouquidão, ele disse:

— Ela tinha apenas uma fração do sangue de pantera, nem sequer o suficiente para permitir a sua plena mudança, mas ela sempre tinha ficado aterrorizada com o Coletivo. Sua família tinha sido morta quando ela era uma garotinha, como a minha, e ela vivia com medo todos os dias desde então. Então, Seth McConnell veio até ela um dia, quando ela estava no shopping de Denver, e eu acho que ele fez uma oferta que não podia recusar. Se ela ajudasse o Coletivo me capturar, ele prometeu que ela estaria protegida pela organização para o resto de sua vida, e ela... Ela estava desesperada o suficiente para acreditar nele.

— Por causa do seu medo do Coletivo? – Perguntou ela, querendo tanto ir até ele e abraçá-lo. Para pressionar os lábios contra o calor úmido da sua têmpora, acariciar seu rosto, a curva sensível do pescoço forte, e simplesmente confortá-lo, como se ela pudesse com uma nuvem de ternura se derramar sobre ele. Aliviá-lo. Mas ela não fez nenhuma dessas coisas, saber que ele só iria se rebelar, se ela o fizesse.

— Janelle tinha medo de tudo – ele murmurou, olhando para um lugar escuro, vazio no chão, sua mente um milhão de milhas de distância, não mais no quarto com ela, mas enterrado em algum lugar de um passado que havia se entranhado nele tão profundamente, que iria se tornar uma prisão. — No início, era quase como se eu fosse o seu salvador, seu protetor, que provavelmente foi o que me atraiu para ela no início. Kierland diria que o meu desejo de encontrar essas coisas provavelmente veio do fato de que meu pai tinha sido incapaz de proteger a minha mãe dos soldados do Coletivo que os tinham matado. Quem sabe? Talvez ele esteja certo. Mas no final, acho que acabou assustando-a, também. Nós começamos a discutir na semana antes que McConnell se aproximou dela. Ela alegou que não gostava da parte física do nosso relacionamento. Pensei que eu era demasiado exigente, demasiado possessivo. Para minha espécie, nossas necessidades físicas são muitas vezes... Excessiva. Ainda assim, eu tentei ser gentil com ela – explicou ele em voz áspera, dolorosa — mas eu acho que isso não era suficiente. Até o momento que Seth veio com sua proposta, ela estava procurando uma maneira para sair, e ela pensou que ele tinha lhe dado esta maneira.

— Ela te traiu? – Ela sussurrou, odiando as fortes ondas de deslocamento do desespero que sentia sair dele, deslizando pela sala como uma doença. Algo que não tinha dúvida vinha corroendo a alma de Quinn há anos.

— Ela me localizou, e eu fui pego. – Um som áspero, amargo saiu de seu pescoço. — E a promessa de Seth ficou aquém. Até o momento de Kierland e os outros descobrirem onde estávamos, ela já havia sido estuprada e morta pelos soldados que estavam no meu chamado interrogatório, se é isso o que você pode chamá-lo. Parece que, apesar das promessas de McConnell de proteção, os seus colegas sentiram que não valia a pena mantê-la viva. Mais tarde, eu ouvi dizer que ele ficou como um macaco enfurecido quando ele descobriu que eles tinham feito com ela. Mas maldição, Janelle nunca deveria ter confiado nele em primeiro lugar.

— Você culpa si mesmo mais do que a ela, não é? – Perguntou ela, vendo-o sob uma nova luz, finalmente capaz de ver sob as sombras escuras dele. E agora que ela o fez, ela não podia imaginar a força que fez para continuar, de alguma forma colocar os pedaços de sua vida de volta juntos.

— Eu esperava muito dela – ele murmurou, passando a mão pelo cabelo. — Não quis vê-la claramente. Talvez se eu tivesse sido mais perspicaz, eu poderia ter visto o que estava por vir e nos salvasse de um inferno de muita dor.

— Você cometeu um erro ao confiar na pessoa errada – ela sussurrou, ousadamente deu um passo mais perto dele... e depois outro. — Mas isso significa que você tem que viver com isto para sempre, Quinn?

  Ele virou a cabeça, segurando seu olhar cheio de lágrimas por um momento, resfolegando, e depois moveu o seu corpo para longe da porta, chegando na maçaneta como ele murmurou:

— Às vezes nós simplesmente não temos escolha.

— E às vezes temos – ela argumentou suavemente.

Mas ele já tinha ido.
























Capítulo Dezessete
  Quarta-feira, 02h00
Montanhas Rochosas

 MARICAS. COVARDE. IDIOTA.

  Auto-aversão derramava pelas veias de Jamison Haley como o ácido, grosso xarope, puxando seu interior cruelmente. Sua cela era fria, com os braços doendo porque tinham sido acorrentados a uma parede áspera, de concreto, para não mencionar o seu corpo, que tinha sido submetido a mais do que ele jamais imaginou que ele poderia suportar. Ele desejava que pudesse dizer que tinha suportado o interrogatório como um herói, mas sabia que não seria nada menos do que uma mentira. Enquanto ele se orgulhava do fato de que ele não tinha dito nada sobre Saige, a verdade era que ele estava chorando como uma criança enquanto eles o cortavam implorando aos monstros sádicos para matá-lo ou deixá-lo sozinho.

  Ainda assim, ele conseguiu reunir uma seqüência de mentiras convincentes sobre onde ele deveria encontrar Saige naquela tarde. E agora ele poderia morrer. Ele sabia que, uma vez que eles voltassem para casa, ele estaria finalmente acabado. Ele nem sequer entendeu porque eles estavam guardando-o. Eles tinham o Marcador. O que mais eles queriam?

  Respirando fundo, trêmulo, ele usou o ombro para enxugar o filete frio de medo de sua testa e fez o melhor para pensar sobre as coisas que lhe dera alegria na vida. Sua obra. Seus amigos. Boa comida e carros rápidos.

  E Saige.

  Quando um som de raspagem suave veio de repente de algum lugar fora de sua cela, ele apertou os olhos, esforçando-se para ver através de seu olho direito inchado, suas pestanas revestidas com o sangue que continuava infiltrando-se no corte profundo logo acima da sobrancelha direita. Quando o ferrolho passado na porta começou a girar, ele reprimiu um gemido. O medo queimava no fundo de sua garganta, seu estômago torcendo-se tão acentuado, que não sabia como ele não conseguia vomitar.

  Desculpa patética para um homem.

  As palavras dele caíram, como se tivesse sido um golpe físico. Jamison tinha ouvido palavras similares em sua vida, mas somente a partir da língua de seu pai, os insultos como armas destinadas a danificar e destruir seu orgulho. Nunca tinham sido autodirigida, e que ficou surpreso o quanto mais destrutivo que poderia ser quando provenientes de sua própria mente.

 Esforçando-se para ver através das sombras que a lua derramava de uma janela, distante alta, ele viu um homem alto, musculoso, de queixo longo, de cabelo castanho entrar na sala. Ele foi informado que o nome do homem era Gregory, Jamison imediatamente o reconheceu como metade da dupla que tinha participado de sua tortura. E enquanto os dois homens pareciam humanos, Jamison sabia muito bem que eles não eram. E tudo o que ele não poderia fazer era choramingar enquanto ele se lembrava do caminho que as mãos transformadas em garras terríveis que haviam usado em suas costas e coxas, a sua carne desfiada e ainda crua, com sangue endurecido.

  Ele supunha que era um milagre que não tinha sangrado até a morte, mas o pensamento fatalista desapareceu de sua mente quando Gregory se aproximou e ele avistou o homem de olhar frio e mortal. Mas ainda mais arrepiante do que o olhar nos olhos de um azul pálido era o que ele segurava na mão direita.

  Um par, rude prateado de tesouras de poda.

  Seu sangue correu para a cabeça, rugindo através de seus ouvidos, enquanto seu coração tentou forçar seu caminho em sua garganta. Ele teria aberto a boca e exigiu saber o que o canalha pretendia fazer, mas tinha certeza de que nada mais que um soluço ininteligível escaparia.

  A voz aristocrática de seu pai explodiu em sua cabeça, áspera e determinada. Um Haley, nunca se acovarda. Nem corre. Um Haley nunca precisa de ninguém além de si mesmo.

Jamison imaginou se em algum momento em sua vida provou que era filho de seu pai, até o presente. Porque tão corajoso quanto ele queria ser, ele pediu silêncio para se libertar do pesadelo fechando-se em torno dele.

  O Casus se aproximou, Jamison percebeu que ele não precisava perguntar o que o homem pretendia. Não, a resposta já estava lá nos frios olhos penetrantes. Como se ele estivesse realmente ansioso pela dor de Jamison.

— Ninguém nunca te disse que mentir é pecado?

  Sentindo-se como se um estranho de repente tomasse o controle de seu corpo, Jamison ouviu-se dando um pequeno riso sarcástico e fala arrastada.

— O que posso dizer? Eu acho que sou apenas um rebelde.

 A risada resmungante soou da garganta do homem, e ele coçou preguiçosamente peito enquanto estudava-o através de seus cílios. Finalmente, ele murmurou:

— Eu ouvi que você está bastante amigável com a minha menina.

  Jamison ignorou a dor latejante na testa e levantou as sobrancelhas.

— A menina? O outro cara me disse que Saige era dele.

— Isso é o que ele pensa, mas o que ele não conhece não vai machucá-lo. – Um sorriso torto enrolou na sua boca, e deu outro baixo, o riso rouco. Ou, neste caso, acho que isto irá machucá-lo. — Eu precisava do velho Royce, mas logo eu não vou precisar mais dele.

— Algo me diz que ele não vai aceitar a notícia muito bem – Jamison ofereceu secamente, espantado por ele ainda pode encontrar seu senso de humor quando a morte estava olhando na cara dele.

— Ele não tem escolha – murmurou Gregory. — Uma vez que Saige vier até você, e eu a terei no meu controle, será a vez Royce cair.

— Saige não virá, ele rosnou – rezando para que ela fosse inteligente o suficiente para ficar em algum lugar seguro. — Você nunca colocará suas mãos sobre ela, seu filho da puta doente.

— Ao contrário – contrapôs Gregory um lento, revoltante sorriso enquanto se aproximou dos dedos de Jamison. — E serão as suas mãos, Haley, que vão trazê-la para mim.


 































Capítulo Dezoito
  Quarta à tarde
 


OS ÚLTIMOS DIAS tinham sido um inferno.

  Mas isto... Isto era uma tortura. Empoleirado no telhado da extensa garagem, em forma de L, onde os Guardiões alojavam sua coleção eclética de carros e caminhões, Quinn passou as últimas duas horas assistindo Saige lutar com Aiden no campo de treinamento abaixo. Embora ela já tivesse uma sólida formação em autodefesa, o guarda estava ensinando-lhe alguns movimentos avançados, bem como trabalhar com ela sobre como usar corretamente o Marcador Escuro que tinha desenterrado em Itália, no caso de ela ter que enfrentar  um Casus.

  Ele não gostava de outro homem estar tão perto dela, e se Aiden colocasse as mãos nos quadris dela mais uma vez, fingindo corrigir sua postura, Quinn iria pessoalmente ver os pulsos dele se transformarem em tocos. Ele não poderia ter a mordida do tigre letal de Aiden, mas suas garras eram nítidas o suficiente para começar o trabalho.

  Ela estava indo bem, mas ele poderia dizer que estava cansada... Para não mencionar a fome, a exigida pela sua Merrick mais e mais, a cada dia. Mesmo do seu lugar no telhado, ele podia ver a tensão em torno dos olhos, a prova da sua exaustão... Assim como sua preocupação com Jamison Haley. Não tinham nenhuma noticia do arqueólogo, e suas buscas na noite passada e esta manhã nada tinha aparecido. Os outros não estavam totalmente convencidos de que a história de McConnell fosse verdadeira, acreditando que Haley poderia ter simplesmente levado a cruz ou mesmo a tenha entregado ao Coletivo. Mas Quinn não conseguia afastar a sensação de que Haley tinha caído nas mãos erradas e se o Coletivo tivesse realmente colado as suas mãos sobre ele, ele sabia que o Britânico estaria implorando para a morte no momento em que o encontrasse.

— Você sabe, se olhares pudessem matar, – Kierland murmurou, como aparecendo do nada quando ele se sentou ao lado dele no telhado inclinado — então eu acho que certamente Aiden seria um homem morto agora.

  Desejando que ele fumasse, só para ter uma saída para sua frustração, Quinn quase fechou os olhos contra o sol de fim de tarde, odiando que Kierland pudesse entendê-lo tão facilmente. Esse era o problema de ser o melhor amigo de um cara por mais de vinte anos. Não importa quão duro ele tentasse enterrar seus sentimentos, Kierland ainda podia entendê-lo como um livro aberto. 

— Eu não vejo sentido algum nisso – resmungou. 

— Isto não é como se ela enfrentasse uma daquelas coisas por conta própria.

— Ela não? – O Guardião perguntou, lançando um olhar estranho questionador.

  Esfregando a mão sobre sua boca, ele disse:

— Eu não a quero envolvida nesta guerra.

— Não é sua escolha – Kierland disse com um suspiro duro, puxando seu cabelo para trás pelo vento a partir de sua testa. — Ela é uma Merrick, Quinn. O que significa que ela é uma parte disso, você querendo que ela seja ou não.

— Pô, ela pode se machucar – ele rosnou, as emoções ferventes remanescentes apenas sob sua superfície calma começando a sangrar completamente.

  Kierland ficou em silêncio por um momento, os únicos sons eram da rajada de vento explodindo e do treinamento no espaço abaixo. Apesar da distância que os separava, Quinn podia sentir o cheiro morno de Saige, delicioso no ar, e com o aumento inevitável do desejo dentro de seu corpo apenas aumentava sua tensão, tornando-o mais rebelde e inquieto.

  Depois do que pareceu uma eternidade, Kierland finalmente soltou uma respiração áspera, seu pálido olhar focou Saige enquanto ele disse

— Eu sei que sua cabeça está girando agora, mas ela não é Janelle. Você não pode julgá-la pelo seu passado. Pense nisso, Quinn. Janelle foi facilmente machucada... Facilmente assustada. Saige não é nenhuma dessas coisas.

  Ele deu uma risada áspera sutil.

— Diga para a minha cabeça.

— O que está acontecendo? – O Guardião pediu, suas ruivas sobrancelhas desenhadas com preocupação.

— Sonhos – ele murmurou. — Desde que fomos para América do Sul. Mesmo antes de nos encontrarmos com Seth. Eu vejo a cena com Janelle, e, em seguida – ele engoliu, forçando as palavras — então se transforma em Saige que estão estuprando... Matando.

  Kierland amaldiçoado sob sua respiração, uma margem áspera na sua voz profunda enquanto ele disse

— E você acha que os sonhos significam algo?

— Eu sei que eles são apenas pesadelos, – ele murmurou, forçando as palavras após o aperto no peito — mas depois de toda essa merda de psiquismo que apareceu entre Molly e Ian, eu estou... Caramba, eu não sei o que  pensar.

— Você sabe – Kierland resmungou, descansando os braços sobre os joelhos — às vezes os nossos sonhos são apenas a maneira de confundir e estragar nossa mente. Não coloque demasiada importância neles, Quinn. Você vai perder algo especial se você fizer isso.

  Ele cortou seu amigo com um olhar agudo pelo canto do olho, como se dissesse: — Como diabos você sabe isso?

  Balançando a cabeça, o canto da boca Kierland foi empurrado para cima em um sorriso torto.

— Vamos lá, homem. Eu tenho olhos. Você não olhou Janelle com este tipo de intensidade. Há algo acontecendo entre você e essa mulher, e é um idiota se você deixá-la escorregar por entre os dedos. – Baixou a voz, acrescentando: — E não diga a ninguém, mas acho que os sonhos que Ian e Molly compartilhavam tinha mais a ver com ele do que o seu despertar.

— O que você quer dizer?

  Kierland levantou um ombro. 

— Está se tornando claro que cada um dos Buchanans tem dons. Ian com aqueles sonhos que estavam realmente acontecendo, bem como, por exemplo, as premonições. Saige com sua capacidade de ler objetos. Riley... Quem sabe, mas eu não tenho dúvida de que vamos descobrir em breve. O despertar de Ian pode ter trazido os seus poderes em foco, mas acho que os sonhos são o seu próprio dom especial, completamente diferente das habilidades de Saige. – Fez uma pausa, empurrando seu cabelo novamente, antes de empurrar seu queixo em direção ao campo. — O que significa que os sonhos são provavelmente apenas isto. Sonhos. Você não pode deixá-los estragar o seu pensamento, e você não pode manter Saige comparando a algo que ela não é. Em muitas maneiras, Janelle já estava despedaçada quando você a encontrou e foi por isso que você tanto queria cuidar dela, mas Saige é uma das mulheres mais fortes que eu já conheci. Ela é sólida. Ela não vai quebrar sob pressão, e ela está com você. Ela vai ser uma boa parceira de maneiras que Janelle nunca poderia ter sido.

  'Porque no final, Janelle só tinha se preocupado com ela.'

— Você sabe que como nossa espécie é – ele murmurou, olhando para trás em direção ao campo de treinamento, querendo tanto acreditar. — Nosso sentimento de posse, especialmente para os Raptores, é... Intenso. Se eu perdê-la, eu poderia acabar com mais do que apenas um coração quebrado. Eu poderia cair completamente.

— Sim, talvez – concordou com Quinn — Por outro lado, você pode acabar com algo formidável. – o Guardião virou-se, dando-lhe uma palmada cordial no ombro enquanto ele disse — Há uma diferença entre aprender com o passado e deixá-lo controlar-nos. E você, meu amigo, está lutando uma batalha que já está perdida. A única coisa a fazer agora é descobrir como você vai se render.

 Perdido em pensamentos, Quinn calmamente deixou o homem que era como um irmão para ele sentado em cima da garagem e caminhou de volta para a casa principal, o angulo de inclinação do telhado magnífico lembrando-lhe uma asa mais escura, poderosa levantada durante o vôo. A casa estava silenciosa e fria, os aromas de madeira e algo fermentando na cozinha aliviando sua alma, e enquanto ele escalava até seu quarto, ele não conseguia parar de pensar sobre as coisas que Kierland tinha dito.

  Sentado na beira do seu colchão, momentos mais tarde, Quinn passou as mãos pelo rosto, conscientes de uma forte dor no peito, como se o duro e calejado invólucro circundante seu coração estivesse finalmente começando a desmoronar. Ele projetou de forma lenta, a respiração instável, espantado como o derramamento de fluxo quente, de algo que sentia estranhamente como esperança espalhando-se docemente em suas veias.

  E pela primeira vez em cinco anos, as correntes que o tinham ligado ao seu passado começaram a quebrar.

  Retorcendo-se para trás, ele puxou o instantâneo de Saige de seu bolso traseiro. As arestas já estavam gastas pelo número de vezes que tinha tirado fora, apenas para segurá-lo, olhando. Mas, como ele carinhosamente passou o dedo sobre o rosto sorridente, silenciosamente ele admitiu que não poderia se contentar mais com uma imagem.

  Não, ele queria que a mulher de carne e osso.

  Ele só pedia a Deus que não fosse tarde demais.

* * * * *
  
ENQUANTO ENXUGAVA SEU CABELO depois de um longo banho quente que ela esperava aliviar seus músculos doloridos, Saige olhava para a superfície coberta de vapor do espelho do banheiro, pensando em como era estranho que, depois de passar tanto tempo sozinha, ela agora tinha tantas pessoas tendo um interesse em sua segurança. Ela só podia agradecer a Deus por Molly, que acabou sendo uma pessoa maravilhosa para conversar, ajudando a manter a calma com tudo isso.  A noiva de Ian era como o sol, com calor fervente, e Saige poderia facilmente ver o que tinha impelido seu irmão para a bela e vibrante loira. Saige tinha especialmente gostado de ouvir sobre como Molly e Ian se conheceram. Por incrível que pareça, tinha sido o espírito de Elaina que havia sido responsável por juntar os dois. Como Saige, Molly possuía um dom incomum próprio, e realmente podia se comunicar com os fantasmas em seu sonho. O espírito da sua mãe pedira a Molly para ir para o Colorado e avisar a Ian sobre o Casus que vinha atrás dele, e o resto foi história. Eles haviam caído perdidamente apaixonados e Ian parecia em paz de uma forma que Saige nunca teria pensado possível.

 Quando ela não estava falando com Molly ou trabalhando no treinamento no campo, tinha estado conversando com seus irmãos e os Guardiões sobre os Marcadores Escuros, assim como os mapas que tinha encontrado na Itália. E enquanto Saige tinha respondido a suas perguntas da melhor maneira possível, ainda havia muito que não conseguia explicar. Ela não sabia como os marcadores foram espalhados sobre a terra, ou mesmo como os mapas foram criados... Ou quem os havia criado. Ela, no entanto, acreditava que os mapas tinham apenas algumas centenas de anos, o que significava que teria sido criado em séculos depois que os arquivos originais foram perdidos.

  Kierland e os outros pediram para olhar sua pesquisa, e assim ela fez arranjos para que seus cadernos, que tinha guardado em um instituto de pesquisa no Estado da Virgínia antes de se dirigir para o Brasil, fossem enviados para o Colorado. Se alguém teria a paciência e determinação que levaria a busca através das resmas de notas que tinha acumulado ao longo dos anos, ela achava que eram os homens de Ravenswing. Quanto mais Saige aprendia sobre os Guardiões, mais eles a fascinavam. Eles eram tão diferentes um do outro, e ainda em muitos aspectos, tão parecidos. Cada um tinha seus pontos fortes, bem como os seus pontos fracos, mas eles estavam todos empenhados em ajudar Merrick derrotar os Casus.

  E, embora ela nunca acreditasse que iria realmente acontecer, Saige foi lentamente conhecendo seus irmãos novamente, o que era estranho e maravilhoso ao mesmo tempo. Ainda assim, já tinha havido alguns momentos quando ela se viu querendo torcer o pescoço de Riley, a mais irritante ocorreu quando soube que ele tinha deixado o primeiro marcador em uma unidade de armazenamento excêntrico juntamente com objetos pessoais de sua mãe. Quando Molly contou, que ela quase morreu, horrorizado ao pensar quão facilmente a antiga cruz poderia ter sido roubada, e não podia deixar de ser grata porque ainda a possuíam. Apesar de sua determinação de lutar contra seu destino, Saige não tinha dúvidas de que o próprio despertar de Riley iria começar a qualquer momento, e quando o Casus viessem atrás dele, iria necessitar do Marcador.

  Especialmente agora que Westmore e o Casus tinham informações que ela havia encontrado no Brasil.

  Estalando uma respiração agitada, ela desligou o secador de cabelo e estendeu a mão para o hidratante que Molly lhe dera, dolorosamente consciente da preocupação torcendo suas entranhas. Apesar de ter mantido um olho constante no seu celular, não tinha havido chamadas ou mensagens de Seth McConnell, e ela estava apavorada que Jamison já estivesse morto.

  E, enquanto pensamentos constantes em seu amigo preenchiam sua mente, ela fez tudo ao seu alcance para evitar pensar em Quinn. Toda vez que o fazia, Saige queria fazer alguma loucura. Para perder completamente o controle. Para zangar-se e gritar e segui-lo, exigindo saber por que ele não conseguia encontrar uma maneira de confiar nela.

Seus amigos sabiam que algo estava errado. Eles ainda tiveram a audácia de perguntar o que ela tinha feito para o pobre rapaz, como se o tivesse rejeitado. Açoitando as lágrimas em seus cílios, ela fungou, sabendo que tinha que ser forte. Mas Deus, não era fácil. Ela só queria se enrolar numa bola e lamber suas feridas. Queria rastejar para ele e pedir-lhe para encontrar uma maneira de amá-la. Porque, enquanto o Merrick queria o seu sangue com um primitivo desejo selvagem, a mulher queria que seu coração ainda mais. 

  Estúpida, garota estúpida. 

— Você é uma idiota – ela murmurou, abrindo a porta e entrando em seu quarto escuro, as cortinas fechadas bloqueando as vibrantes, sombras cintilantes do crepúsculo. 

— Eu acho que você é brilhante, – uma sombria voz aveludada, raspou das sombras. — Linda, também. E sexy como o inferno.
 
  Com os dedos trêmulos, Saige estendeu a mão e acendeu a lâmpada que estava sobre a penteadeira próxima, incapaz de acreditar em seus olhos. Situado na claridade mais fraca, a luz lançava apenas clareava o suficiente para localizá-la no quarto. 

 Quinn estava deitado em sua cama, vestindo apenas um par de jeans desbotados, com um braço dobrado atrás da cabeça, acentuando a posição da musculatura dura esculpida de seu corpo, enquanto a perna esquerda pendia para o lado do colchão, com o pé descalço apoiado no chão. Estava indolente, relaxado, uma aprazível pose masculina.  Uma de um homem forte, confortavelmente confiante no espaço que ele tomou, como se tivesse todo o direito de estar lá, e ela não conseguia tirar os olhos dele. 

— O que você está fazendo aqui? – Ela sussurrou, sua voz tão rouca quanto instável. Saige não o tinha visto desde o começo da tarde, quando ele observou a seu treinamento do telhado da garagem. Ele ainda não tinha descido para jantar, e ela encontrara-se olhando de novo e novamente em sua cadeira vazia, desesperada para vê-lo. 

  E agora, como se por algum milagre, ele estava lá. Em seu quarto. Olhando como se quisesse comê-la viva. 

  Saige não sabia se beliscava... Ou caía de seus joelhos e agradecia a Deus por responder a suas orações. 

  Mantendo o seu olhar cauteloso faminto nela, ele rolou para fora da cama em um suave movimento animal, seus músculos se enrolando e flexionando sob a seda reluzente da sua pele. Ela ficou realmente tonta assistindo os poderosos e intoxicantes conjunto de músculos em seu abdômen quando ele atravessou a sala, o tecido apertado em seu corpo magro e afinando para baixo as duras linhas elegantes de um predador. Ele era tão bonito, isto machucava, e ela quase apertou os olhos, como se estivesse olhando para o brilho do sol ardente de verão.

  Quando ele estava mais do que um punhado de centímetros de distância, ele parou.

— Eu fui tão burro.
 
— O... O quê? – Ela suspirou, piscando para ele, sentindo como se tivesse batido a cabeça numa parede de tijolos, seu cérebro pateticamente mexido com o golpe. 

 Seu olhar queimava escuro, o brilho cintilante do céu da meia-noite, sua voz baixa, o som raspando provocadoramente.
— Eu tentei lutar contra isso desde o momento que botei os olhos em você. Mas a coisa é, eu nem sei por que eu estou lutando mais, Saige. Então... Eu estou pronto.  

— Está? – Ela sussurrou, as palavras suaves engrossando de desejo. Ela o queria tanto que ela mal podia ficar lá, sua fome por ele diferente de tudo que ela já conhecera. Uma que ficou mais exigente a cada momento que passava, se estivesse com ele ou não. 

  E que temia nunca mais deixá-la em paz. 

— Eu só preciso estar perto de você – ele murmurou, levantando a mão, as pontas dos dedos passando pela rosada curva de seu rosto, enfiando-os em seu cabelo. — Eu não me importo se eu me machucar. Eu não me importo com nada mais que estar perto de você. – Ele olhou para ela com uma intensidade selvagem e primitiva que lhe roubou o fôlego, os olhos pesados e quentes sob as pálpebras enquanto ele disse: — Sem mais jogos. Sem mais temores. Apenas sim ou não, Saige. Isso é tudo que você precisa me dizer. Sim? Ou não? 

— Eu quero você, Quinn. Você sabe que eu quero. – Ela tremia, piscando contra as lágrimas em seus olhos. — Mas eu não posso... Eu tenho medo de confiar em você. Por acreditar que você não vai afastar-se de mim novamente.
 
  Ela esperava que ele argumentasse, mas ele simplesmente caiu de joelhos na frente dela.

— O-o quê você está fazendo? – Ela gaguejou, olhando com olhos arregalados como ele deslizou as mãos por baixo da grande bainha de sua toalha, levantando o algodão branco macio enquanto se aproximava mais do alto, tomando posse de seus quadris. 

— Eu estou falando de seus medos – disse para ela numa rica e sedutora voz.  Então ele abaixou a cabeça e pressionou o maravilhoso calor da boca dele contra a superfície interna e lisa de sua coxa. — Todos eles – ele respirou contra sua pele. 

  Seus joelhos dobraram-se e ele apertou seus braços, ajudando-a a ficar de pé.

— Eu não... Eu não entendo. 

  Lançando uma rápida olhada em seu rosto afogueado, os olhos calorosos com uma determinação feroz e primitiva.

— Eu posso me sentar e fazer promessas durante todo o dia, mas no fim, elas serão apenas palavras. Eu acho que a melhor maneira de fazer você entender é te mostrando.  – O canto de sua boca se elevou sensualmente num sorriso quente, torto, e murmurou: — Não dizem que as ações falam mais que palavras?

— Quem são eles? – Ela engasgou, tremendo por dentro, mas ele não pôde responder imediatamente. Sua boca estava muito ocupada, seus lábios macios roçando sua coxa novamente, mais desta vez, pouco antes de sua língua, malvadamente lasciva rodar com fome em todas as suas dobras úmidas. 

— Eu não sei quem são eles – ele rosnou contra sua carne gritante sensível — e eu não me importo. Tudo o que sei é que eu quero você. Mais do que eu sempre quis alguém. – deu outra gananciosa lambida persistente, e deslocando-se para trás, pegando seu olhar sonolento. — Nós apenas temos que dar um salto de fé, Saige.

— Por que eu tenho a sensação de que não está realmente acontecendo? – Ela sussurrou. — Que se eu piscar, você vai simplesmente desaparecer? 

  Sua boca torceu num ângulo libertino, fazendo-o parecer mais jovem... Quase feliz.

— Você quer me dar um beliscão? 

  Ela umedeceu o lábio inferior, a respiração vinha mais rápida, apressando-se passando pelos lábios numa cadência suave e ofegante. A timidez ardia sob o calor de sua pele, mas a fome era muito urgente para negar, muito poderosa para resistir, obrigando-a a dizer coisas que nunca teria coragem de dizer antes. 

— Me chame de sem vergonha – ela murmurou — mas eu posso pensar num milhão de melhores destinos para as suas mãos hábeis. 

Um baixo, malicioso ressoar de risada roçou a coxa quando ele de repente pressionou dois grandes dedos grossos em seu corpo. Sua cabeça caiu para trás, um som profundo, primitivo de prazer saiu da garganta dela. Ela estava apertada, mas o desejo já a tinha deixado relaxada e macia, a tinha expandido, os dedos quentes forçando a passagem pela sua resistência, e ela desceu a cabeça novamente, segurou seus ombros, olhando para ele com um ganancioso ávido olhar. Seu corpo zumbia em um lento, doce pulsar de prazer que ele criava, como se um brilho quente, líquido de felicidade estivesse queimando em sua barriga. 

— Eu quero você dentro de mim – ela gemeu, consciente do calor agudo em suas gengivas, sabendo que suas presas estavam se preparando para descer. 

No instante seguinte, ele levantou-se e suspendendo-a em seus braços, sua respiração pesada quando ele se moveu rapidamente para a cama. Antes que sua cabeça tivesse caído contra o travesseiro, a toalha foi retirada de seu corpo e suas mãos estavam entre as pernas os ombros largos espalhando suas coxas. Um som baixo, gutural, animal vibrou em seu peito enquanto ele a abria com seus polegares, e Saige sabia que ele podia vê-la completamente. Tudo. Cada detalhe rosado incrivelmente íntimo. Mas ela não estava envergonhada. Sentia-se... bem, a posição explícita aumentando seu prazer, simplesmente porque ela podia sentir o quanto ele amava-a. 

 Ela sentiu o hálito quente contra sua dobra quando ele abaixou a cabeça e, em seguida, empurrou sua língua dentro dela, beijando-a lentamente, avidamente, como se fosse a coisa mais deliciosa que já tinha provado. Ela queria se agarrar nisto, fazer isto passar mas ao mesmo tempo prolongar, mas no instante em que seus lábios fecharam sobre o calor pulsante de seu clitóris, ela caiu. Absorvente. Seu corpo arqueando, enquanto gritos selvagens saiam de sua garganta que soava como dor, uma mistura estranha, rouca de maldições e gritos, o prazer tão intenso que ela podia sentir a sua parte humana deslizar quando o poderoso Merrick se levantou dentro dela. 

 E ele não abaixou os braços. Ele continuou empurrando-a para o prazer, mais e mais profundo até que tivesse engolido inteiro, destruindo-a completamente. Saige queria odiar o quão bom ele era, sabendo que vinha de anos de experiência, mas se sentiu insanamente maravilhosa para se queixar. Ele sabia quando ser ganancioso e implacável, e quando devia ser suave, apenas descansando o calor da sua língua contra a entrada calorosa de seu corpo... Esfregando em suaves movimentos acariciantes que a fazia estremecer e derreter. 

Ela flutuava leve, numa piscina quente, espessa de prazer, sentindo-se derramar através do seu organismo, embebendo-a em sensação... E quando ela chegou a outro orgasmo, muito doloroso, levado pelo apressado redemoinho de êxtase, ele rosnou, bebendo-a até que se ela deitou ali nos lençóis emaranhados, suas pernas abertas, com as mãos acima da cabeça em um estado enternecedor de entrega. Ela sentiu seu sorriso e os olhos aqueceram-se com uma quente lágrima. Ele se sentia feliz por levá-la além... Para destruí-la, e seu prazer ampliado pelo dela, até Saige não saber como ela segurou tudo dentro, maravilhando-se que isto saísse como brilhantes raios de luz de seus dedos e os dedos dos pés. 

  Ele se ergueu sobre ela, em seguida – um escuro, selvagem, um deus humano – escorou-se sobre seus punhos, enquanto ela passava as mãos pela força de seus braços musculosos, sobre o poder de seus bíceps protuberantes e, em seguida espalhando sobre ele deliciosos beijinhos. 

— Deus, eu amo o seu peito – ela respirou suavemente, pensando que ele tinha que ser o homem mais perfeito já criado. 

 Ele deu uma risada baixa sexy, inclinando-se para dar uma lambida faminta em um mamilo rígido, suavemente rosado enquanto ele resmungava

— Você não pode amá-lo tanto quanto eu amo você. 

 Arrastando sua mão direita para baixo, Saige explorava a força, dura e áspera de seu corpo, até que ela atingiu o seu jeans. Observando-o debaixo de seus cílios, ela puxou o lábio inferior com os dentes e o botão superior estalando ao ser aberto, então, cuidadosamente deslizou o zíper antes de deslizar a mão para dentro e ao contrário da noite no hotel, desta vez ele não a impediu. Ele não estava usando cueca e no instante em que ela tocou seu pênis, ele ficou completamente imóvel, nem mesmo respirando. 

 Mordendo o lábio, Saige rapidamente empurrou seu jeans passando pelos quadris, em seguida, enrolou a mão em torno da pesada forma dele, amando como ele se sentia. Ele estava quente e pulsando em sua mão, tão grande que ela sabia que ela deveria estar preocupada, mas não havia nada, mais forte e intensa chama de antecipação em seu sangue, ela apertou seu comprimento, espesso rígido. 

— O Quinn poderoso, hein? – Ela murmurou, nem mesmo reconhecendo o ronronar gutural que era a voz dela. 

 Ele soltou um som puramente irônico, masculino, e ela observou o aumento do alastramento colorido ao longo do arco das belas maçãs do rosto dele. 

  Inclinando a cabeça para o lado, ela sorriu, quando ela o liberou e colocou as mãos no rosto quente. 

— Você está corando? 

— Os homens não coram – grunhiu ele, mesmo enquanto a cor em seu rosto flamejava ardente, fazendo-a rir. 

* * * * *

DEUS, QUE SENSAÇÃO BOA ouvi-la rir novamente. Até aquele momento, Quinn não tinha percebido o quanto ele perdera. Vê-la sorrir, vê-la feliz... Isto fez algo nele. Algo estranho, incompreensível, marcando-o de forma maravilhosa. 

  Apoiando-se num cotovelo, ele ergueu a outra mão e empurrou a quente sedosidade de seu cabelo para trás de seu rosto. 

— Eu tenho que ser honesto com você – ele murmurou, incapaz de disfarçar a áspera rouquidão de emoção em suas palavras. — Se fizermos isso, Saige, será mais do que sexo. 

  Ela olhou para ele através das abundantes pestanas, seu olhar profundo azul luminoso e macio e brilhante. 

— O que você quer dizer? 

— Quero dizer que é mais que agora. Mais do que isso nesse momento. Mais do que hoje.

  Sua boca tremia, e ele pôde ler o medo nos olhos dela... As sombras de seus próprios demônios tentando pegá-la, mas ela não recuou como ele temia. E, com um tímido sorriso espalhando por toda sua boca macia, algo dentro dele explodiu. 

 Esfregando a boca contra a dela, Quinn colocou um dedo entre eles e suavemente empurrou um dedo dentro da entrada apertada, distendida de seu corpo, em seguida, acrescentou outro, trabalhando lentamente dentro e fora, fazendo o melhor para prepará-la. 

— O-o que você está esperando? – Ela suspirou, quando ele entrou mais fundo, puxando um pouco, deixando escapar um trêmulo gemido de sua garganta. 
— Estou preparando você para mim – disse ele através de seus dentes. Ela apertou os dedos com tanta força, que Quinn sabia que ia matá-lo quando ele sentisse tudo isso, a acolchoada maciez segurando seu pênis. Quando seu corpo virginal finalmente se abria para ele levando-o para dentro. 

— Confie em mim – ela suspirou, sua voz presa. — Eu estou pronta. Na verdade, se você não se apressar, eu vou chegar lá sem você.
 
* * * * *
   
 SEU RICO, AVELUDADO sorriso ressoando fez Saige sorrir e ele puxou a mão, roçando-a, deixando-a acostumar-se com o calor dele... a dureza. 

— Quando eu começar vai ser uma noite difícil. Tem certeza de que isso é o que você quer Saige?

 Ela estreitou seus olhos. 

— Se você me deixar agora, eu vou ter que caçar você e te matar. Entendido? 

  Sem outra palavra, ele pousou seu nebuloso olhar no dela enquanto ele empurrava contra a resistência natural de seu corpo. Respirando profundamente, ela passou as mãos para baixo nos duros músculos tensos das costas, encantada com o poder dele... Pela beleza, primitiva de tirar o fôlego. Com um sorriso, pequeno e perverso, enfiou os dedos em seus flancos sensíveis, amando a maneira que sua respiração sibilou por entre os dentes. Sua testa brilhava e ela viu como uma gota de suor caiu em seu cabelo escuro e pegando na ponta do seu rosto de ébano. 

— Tão apertada – ele disse sua voz áspera de prazer e brutal, rangendo controlado enquanto ele cuidadosamente movia-se indo e vindo nela. Ele estava tentando arduamente não machucá-la, controlando-se quando Saige sabia que ele queria se impulsionar, dirigindo a desmedida grossura dentro dela até que tivesse tomado cada centímetro dele. Ela esperava que ele entrasse facilmente, mas sua inexperiência, bem como seu tamanho, fez isso impossível. 

— Muito pequena? – ela ofegante, afundando seus dentes em seu lábio inferior enquanto se agarrava em seus ombros largos e brilhantes. 

  Ele lhe deu um sorriso terno, empurrando seu cabelo para trás de seu rosto, antes de se inclinar para pressionar um beijo quente contra o canto do olho. 

— Você é perfeita. Eu amo o jeito que você está me apertando, segurando-me tão bem. É uma sensação incrível.

— Não é fácil... – ela sussurrou. 

  O lento, tortuoso sorriso que se espalhou pela sua boca firme foi à coisa mais sexy que já tinha visto.

— Nós nunca fizemos nada fácil, Saige. Você realmente esperava que isso fosse diferente?

— Eu só... Eu esperava... 

  Girando seus quadris, ele pressionou outra polegada, grosso incrivelmente difícil e, embora não houvesse a dor esperada, a sensação dele dentro dela, penetrando-a, foi mais surpreendente do que qualquer coisa que ela poderia ter imaginado. 

— Pare de se preocupar – ele murmurou, esfregando a boca contra a dela. 

   * * * * *

— ENTÃO PARE CONTROLAR isto e deixe ir – ela murmurou contra seus lábios, seu hálito doce, quente e delicioso, como o seu gosto. — Eu só quero você dentro de mim. Eu quero que você me dê tudo o que tem Quinn. Tudo isso. 

  Foi o suave, pedido de urgência na voz, no arquear de seu corpo feminino sob o seu, que lhe desfez completamente. Com um gemido, Quinn tomou sua palavra e se dirigiu para dentro dela, enterrando-se profundamente, até que ele foi cercado pelo calor exuberante, encharcado. A apertada sensação de maciez era tão boa, que os olhos dele malditamente reviraram-se em sua cabeça, seus músculos apertados, o prazer tão intenso que era quase como uma dor. Com um braço apoiado ao lado de sua cabeça, ele passou a mão para baixo da lateral dela, sobre a curva delicada de sua cintura. Devastando sua boca, ele esfregou sua língua contra a dela, provando cada parte dela, enquanto seu corpo apenas continuava empurrando mais... e mais fundo. Seus lábios de pétalas macias estavam mornos, o sabor da sua boca drogando sua mente, enquanto seu corpo tornava-o selvagem. Encolheu a mão em torno de seu quadril, deslizando mais abaixo, ao longo de sua coxa, pegando-a atrás do joelho. Levantando-a mais, trabalhando dentro da maciez sedosa úmida de seu corpo com ritmo, cada deslizar, martelante impulso de algum modo melhor do que o último. Toda vez que ele entrava nela, ela puxava mais fundo, o atrito provocante do seu corpo movendo-se fazendo deslizar, sons molhado contra a cadência sensual da tempestade que tinha explodido dentro, furiosa além das janelas. 

— Quando você vir – ele rosnou, batendo nela com tanta força que ela suspirou — terá o que você precisa, Saige. Você não vai me machucar.

— Agora – ela gemeu contra sua garganta, ela segurou a cabeça em suas pequenas e apertadas mãos, seu orgasmo varrendo através dela, atordoando-o com o seu poder. — Eu preciso de você agora. 

  No instante seguinte, ela afundou seus dentes profundamente em sua carne, seu baixo rosnado faminto vibrando contra sua pele, e Quinn irrompeu na versão mais violenta que ele já tinha conhecido. Isto raspou as terminações nervosas dele, saindo sons animalescos de sua garganta quando o êxtase bateu a caminho através de seu corpo com a pressão, a força explosiva, quase o revirando, uma vez que tinha passado... E em um ataque implacável, como um quebra-cabeça. Era como estar dilacerado de prazer, e em seguida, colocado juntos de uma maneira que era maravilhosa, certa e nova. 

  E no final, tudo o que podia fazer era segurar, determinado a nunca deixar ir. 

* * * * *
   
  ELES SE AGARRAVAM UM AO OUTRO depois como náufragos que apareciam na praia, ofegante e pateticamente em uma expansão derretida de prazer. Depois do que parecia ser uma eternidade, ele saiu da cama, chutou seu jeans e desligou a lâmpada. Então, ele caminhou até a janela e abriu as cortinas. Com seu corpo banhado no etéreo brilho do luar leitoso, Saige viu quando ele moveu-se no chão, em direção ao banheiro, todos aqueles longos, deliciosos músculos deslocando sob a beleza de sua pele reluzente. Ele voltou momentos depois com uma toalha quente, espalhando-a nas dobras de seu sexo quente, limpando-a como se ela fosse sua para fazer o que quisesse, o seu toque suave quando ele passou o algodão macio sobre seu corpo. Quando ele terminou, ele jogou a toalha para o lado e se inclinou sobre ela na sombra do luar, fechou a boca pecaminosa perversamente num bico... Depois no outro. Ele soltou um som quase amedrontado de sua garganta, sua mente atordoada com a rapidez com que ele podia despertar sua fome... Seus desejos. Um olhar. Uma respiração. Um toque. Seu gosto sentou-se na sua língua, como o tesouro mais perfeito, mais suculento, quente e gostoso, o Merrick satisfeito e completo. E, no entanto, ela queria sentir o seu corpo grande e bonito penetrá-la novamente. Reclamando-a. Levando-a de forma selvagem. 

  Deslizando os dedos entre as pernas, ele pressionou sua boca aberta contra a batida de seu agitado coração e perguntou:

— Você pode me levar de novo? 

— Sempre – ela sussurrou, já desesperada por ele enquanto ele se movia sobre ela, empurrando-a de costas com um leve toque firme, possessivo. 

E mais tarde, na sombra tranquila, ele finalmente contou a ela sobre a tortura que ele sofreu nas mãos do Coletivo. Sobre como eles tinham cortado as asas do seu corpo, deixando as cicatrizes que cobriam suas costas, assim como o horror de observar o assassinato de Janelle.

Saige colocou os braços ao redor dele, desejando que pudesse tirar a dor, odiando aquilo que os tinham colocado no inferno. Seja qual fossem os pecados de Janelle, a mulher não merecia morrer daquela forma. 

— Me desculpe, eu tenho sido um bastardo – ele admitiu, segurando-a contra o peito. — Eu nunca quis te machucar, Saige. Acabei...
 
— Shh – ela sussurrou, passando por cima dele para dar um carinhoso beijo contra seus lábios. — Eu entendo. Estou grata por ter você aqui comigo agora.

  Ele resmungou baixo em sua garganta e rapidamente se virou de costas, empurrando entre as pernas como se fosse seu lugar. Segurando o rosto em suas quentes mãos calejadas, ele aprofundou o beijo, puxando o prazer até que ela estivesse agarrada a ele, de alguma forma ainda mais desesperada por sua posse do que tinha estado antes. 

— Eu não posso acreditar que você e sua teimosia grande finalmente cederam – ela ofegou, dando-lhe um sorriso tímido. 

— Sorte para você – ele murmurou, entrando mais fundo entre as coxas — minha cabeça não é a única coisa que é dura. 

  Ela ainda estava sorrindo quando ele empurrou de volta para dentro dela, empurrando fundo... Mais fundo, tão duro, grosso e quente que lhe roubou o fôlego. Ele era grande o suficiente de modo que nunca iria deslizar facilmente, mas ela não se importava. Ela adorava o jeito que ele tinha se esforçando para estar dentro dela, colocando sua força e habilidade nessa tarefa, e as costas arqueadas, a sensação de plenitude ao contrário de qualquer coisa que ela poderia ter imaginado. Perfeito. Maravilhoso. Sentia-se unida. Sentia-se... bem, como se isto fosse o modo que ela deveria existir, com Quinn dentro dela, uma parte dela, tornando-a completa. As horas tranquilas da escuridão, no círculo de seus braços, mesmos nos espaços ocos de suas palmas. Ele preencheu todos os espaços vazios de sua vida. Até em seu corpo, seu coração e sua alma. 

  Nas horas silenciosas da noite, ele a tomou novamente e outra vez, provando o quão exigente poderia ser... como estava com fome. Começaram contra a cabeceira. Em suas mãos e seus joelhos com os dentes dele apertados possessivamente sobre a macia conjuntura entre o pescoço e o ombro. Uma posição, até que caíram nos pés da cama, e ele tomou-a no chão, poderosamente rígido, seu bonito corpo dentro dela até que os gritos roucos selvagens de prazer saíram de sua garganta. Ela não sabia como ele fazia isso, mas cada vez, era de algum modo melhor do que o outro, como se o prazer derreter os ossos e jamais parasse de arder... Cada vez mais nítido, mais profundo. Ele não deixou nenhuma parte sua intocada... não reclamada, e apesar da dor em seu corpo, ela se divertia com a força visceral, lasciva de sua posse. Ele não assustava-a. Como poderia ele, quando ele era tudo que ela sempre quis? Sempre precisou. 

— Você sabe – ela sussurrou, quando estavam novamente aconchegados nos braços um do outro, depois da paixão — de acordo com as histórias de minha mãe sobre meus antepassados, eu encontraria um macho Merrick para proteger-me no momento que despertasse. 

  Sua voz era profunda, áspera ressoou na escuridão, enquanto a apertava segurando, dizendo:

— Bem, isso não é nada mau, porque você me pegou. 

  A pura e surpreendente possessividade de suas palavras a fez sorrir, mas quando ela fechou os olhos, Saige não pode evitar se perguntar saber quanto tempo iria durar. 

 

Capítulo Dezenove
  Quinta-feira, 05h00 


COM O SEU CORPO ABALADO PELA PAIXÃO ainda em ritmo lento, o demorado pulsar de prazer, Saige puxou o xale suave apertando em volta dos ombros cobertos pela camiseta. Caminhando para as janelas da parede na sala de sua suíte, ela olhava para as raias iniciais da madrugada cortando o céu escuro da tempestade. O frio da manhã do Colorado combinava com o seu humor. Ela estava congelando, sem o calor de Quinn, mas desassossegada pelo conforto de seus braços. 

  A noite tinha sido nada menos do que surpreendente, a sua preocupação com a segurança de Jamison era a única coisa que estragava a perfeição. Ela não conseguia parar de se perguntar onde ele estava, seu sentimento de culpa se agravando a cada momento que passava. Aqui ela passara as horas mais maravilhosa de sua vida com um homem pelo qual tinha caído irremediavelmente apaixonada, e seu amigo estava em algum lugar lá fora, o sofrendo só Deus sabia o quê. 

 Ela trouxera do quarto seu novo telefone celular com ela, querendo fazer uma chamada rápida para falar com Inez e Rubens, só para se certificar que estivessem bem. Ela estava pronta para introduzir o código de chamada internacional para o Brasil, quando de repente o telefone vibrou em sua mão. Rapidamente apertou o botão da fala, seu coração martelava em seu peito enquanto ela levantou o telefone no ouvido. 

— Olá – sussurrou ela, segurando o telefone pequeno com tanta força, que estava espantada por não quebrá-lo. 

— É Seth – murmurou uma voz profunda e familiar. — Nós temos um problema. 

  Saige afundou-se na borda do assento adorável, doente de medo. 

— O que você quer dizer?

— Eles sabem que eu falei – ele grunhiu, e então antes que ela pudesse comentar, ele disse — Haley usa um anel? 

  As visões das mãos mutilados de Javier deslizou através de sua mente, e ela soltou de volta um grito gutural. 

— Sim – respondeu ela com uma voz suave. — Em sua mão esquerda. O brasão da família. Um leão com arco e flecha.

— Assim é como sei que descobriram – ele murmurou. — Quando eu abri a porta do meu quarto de motel alguns minutos atrás, eu encontrei um pacote que tinham deixado para mim. O anel estava dentro.  

  'Bem como o dedo de Jamison', ela pensou, incapaz de deter as quentes lágrimas. 

— Eu não acredito nisso – ela gemeu, apertando bastantes os olhos, como se pudessem bloquear as imagens horríveis enchendo sua cabeça, mas estas eram inevitáveis. 

— Saige. – Ela poderia dizer pelo seu tom que ela não ainda tinha ouvido o pior. — Há uma nota com o anel... Eles disseram que se eu quiser o resto dele, tenho que levar até eles o primeiro marcador, assim como você.

— Oh, Cristo – ela suspirou, abrindo os olhos enquanto empurrava os cabelos para trás da testa. — Onde eles estão mantendo-o? 

— Eu ainda não sei. A nota diz onde encontrá-los aqui na cidade, uma vez que tenha o que eles querem. Você precisa convencer Quinn para falar comigo. Eu ainda tenho alguns homens da minha equipe, que são leais, aqueles que não gostam da forma como estes estão atuando mais do que eu. Talvez juntos possamos unir forças e buscar nas montanhas. Se tivermos sorte, podemos ser capazes de encontrá-lo em tempo.
 
— E se você não estiver – ela rebateu — eles vão acabar por massacrá-lo. 

— Se eu soubesse onde ele está, eu iria atrás dele – disse ele, sua voz grossa de frustração. — Mas eles poderiam estar em qualquer lugar no meio destas montanhas. Se você o quer de volta, você vai ter que convencer os guardiões a trabalhar comigo.
 
  Mascando o canto de sua boca, ela tentou decidir o que fazer. 

— Por que você arrisca sua vida por alguém que você nem conhece, McConnell? – Perguntou ela, esperando com loucura que não estivesse cometendo nenhum erro em confiar neste homem. 

— Pense no que você quiser – ele resmungou — mas eu não sou um assassino indiscriminado. 

— Você caçou pessoas como eu quase sua vida inteira – argumentou ela calmamente. 

— Eu não vou ficar aqui e justificar o meu trabalho para vocês – ele rebateu com uma cruel determinação áspera deslizando nas palavras. — Tudo que posso dizer é que às vezes não é tão fácil deixar o passado ir, como nós gostaríamos. 

  Apertando a mão nos olhos lacrimejantes, Saige abafou uma risada afável sob sua respiração. 

— Eu disse alguma coisa engraçada? – Ele brandiu. 

  Ela balançou a cabeça, olhando para a porta entreaberta do quarto. Ela podia ver o corpo longo de Quinn deitado sobre a cama, apenas metade coberto pelo lençol enrolado, um sorriso apareceu no canto de sua boca, quando ela disse

— É que você me lembra Quinn. Gostaria de saber se vocês sabem o quão semelhantes são.

  Houve um momento de silêncio, e então finalmente disse:

— Lamento o que aconteceu com ele. Se eu o tivesse conhecido a tempo, eu teria colocado um fim nisso.  

— Então você não sabia o que tinha planejado? – Perguntou ela, pegando um lenço e comprimindo-o sob seu nariz. 

— Eu não tolero a tortura ou estupro, e eu só mato aqueles que merecem – ele respondeu com um suspiro cansado. — Quinn... Ele não é o que eu pensava. 

— Não, ele não é – ela murmurou, pensando em tudo o que ele havia sofrido nas mãos do coletivo, e sabendo naquele momento o que tinha que fazer.

 Ela olhou de volta para o quarto, entendendo muito bem que ele jamais poderia perdoá-la. As probabilidades eram de que ele não iria entender mesmo. Ela pensou uma forma de fazê-lo pensar diferente, mas não havia como. Jamison estava nessa confusão por causa dela, e não havia chance nenhuma, dela colocar em perigo Quinn, também. Não depois de tudo o que ele já tinha sofrido nas mãos do Coletivo. E como ela não sabia se eles iriam matá-lo já tendo suas mãos sobre ele novamente. 

— Quinn nunca concordará em trabalhar com vocês – disse ela, movendo os pés enquanto tirava o xale de seus ombros, em seguida, olhou em volta para o jeans que ela havia pegado emprestado de Molly. — E enquanto os dois argumentam, Jamison será morto. Eu tenho outra idéia. Mas você vai precisar me pegar. Eu vou encontrá-lo em meia hora, na estrada que leva até o retorno de Ravenswing a autoestrada. Você sabe onde está, não é?

— O que você está falando? – Ele murmurou. 

— A estrada – repetia ela, finalmente localizando o jeans. — Você sabe onde é?

— Sim, eu sei – ele murmurou. — Mas exatamente o que você está planejando? 

— Eu vou encontrá-lo no caminho. Sozinha. 

— Você está louca? – Ele resmungou. — Quinn nunca vai concordar com isso. 

— Eu não quero que Quinn saiba – ela sussurrou — é por isso que eu vou sair escondida antes que todos por aqui acordem. 

— Você está louca! – Ele rosnou. 

— Apenas certifique-se de trazer o anel com você – disse ela, pegando um par de meias limpas da mochila que havia deixado sobre a cadeira. — Eu preciso ver isso. 

  Ele deu um gemido áspero, gutural, e ela pode apenas imaginar o olhar em seu rosto. 

— Não há nada nele que vai ajudá-la – ele murmurou. — Você já sabe exatamente o que parece. 

  Sentando-se para calçar suas botas, Saige disse:

— Você só vai ter que confiar em mim, McConnell. 

 Um silêncio pesado caiu sobre a linha novamente, e então ele disse calmamente:

— Por que tenho a sensação de que há algo que você não está me dizendo? 

— Há muito que eu não estou dizendo a você – respondeu ela, o cuidado de manter sua voz baixa. — Mas você só vai ter que lidar com isso, se você está pronto para ajudar-me a trazer Jamison de volta. 

— E o que você vai fazer depois de ver o anel? – Perguntou ele, a resignação em sua voz profunda dizendo que ela havia ganhado. 

Isto dependia do que dissesse o anel, mas ela não ia perder tempo explicando tudo para McConnell. Em vez disso ela simplesmente disse:

— Tomara que eu saiba onde ele está, e então eu irei atrás dele, com ou sem a sua ajuda. 

  Um baixo som de uma tensa rouca risada ecoou na conexão, e ela escondeu o mau humor, sabendo que ela não tinha tempo para isso. 

— Você precisa deixar Quinn saber o que está fazendo – disse a ela. 

  Ela olhou de volta para a outra sala, onde Quinn estava deitado como um deus grego sobre o linho branco-neve, tão bonito que fez o peito doer só de olhar para ele. 

— Eu não posso. 

— Porque você sabe que não existe uma chance infernal que ele vá deixar você passar por isso – disse ele com uma dose veementemente séria de impaciência. 

— Essa bagunça é minha – argumentou, colocando o telefone entre a orelha e o ombro, ela torceu o cabelo num rabo de cavalo. — E eu não desejo que ele arrisque sua vida. Então é só levar sua bunda para cima da montanha e venha me pegar. 

Ele amaldiçoou algo feio sob sua respiração, então murmurou
— Isto não vai fazer Quinn ficar do meu lado. 

  Saige revirou os olhos quando alcançou atrás de sua cabeça para desprender a corrente de prata que usava no pescoço, o seu pequeno compasso de prata cintilante à luz da manhã.

— Eu odeio lançar isto para você – ela contrapôs — mas vocês não estão exatamente do mesmo lado de qualquer maneira. 

  Ele suspirou. 

— Valeu a pena sua explosão. 

— Sim, bem, eu percebo que Quinn se apega ao passado tanto quanto você. 

— Talvez – ele murmurou. — Mas eu tenho a impressão de que ele estava finalmente começando a olhar para o futuro. 

 Ela engoliu em seco, incapaz de dar uma resposta, e estava prestes a desligar a chamada quando de repente ele disse:

— Saige. 

— Sim? 

— Você não é nada parecida com Janelle – disse ele. — Eu só... Espero que Quinn perceba isso. 

— Eu também – ela sussurrou. 

  Mas quando ela desligou a chamada e silenciosamente rastejou de volta para a cama, olhando para as pálidas duplas de cicatrizes nas costas de Quinn, Saige sabia que ela poderia muito bem estar jogando fora qualquer chance de felicidade que teria com o escuro arrebatador Guardião. Ela fechou os olhos, dando-lhe um adeus silencioso, cheio de lágrimas, e colocou o colar em seu travesseiro.

 Então, ela pegou uma camisola e calmamente deslizou afastando-se. 

   * * * * *

  ESPERANDO NA ESPESSA floresta que cercavam a casa grande isolada de estrutura de madeira, Quinn lutou para manter a calma... Alerta. Os outros provavelmente pensaram que finalmente enlouquecera, mas ele não se importou. Ele sabia que esta era a coisa certa a fazer, como ele sabia que tinha ficado desamparado, mergulhara de cabeça no amor por Saige Buchanan. 

  E ela estava na maldita casa com os monstros.

  Basta ficar no controle. Aguarde o sinal. E então você pode ir lá e rasgar esses bastardos em pedaços. 

  Depois de procurar em todos os cantos de Ravenswing por ela naquela manhã, Quinn finalmente chamou os outros juntos, dizendo-lhes que ela tinha deixado o complexo... e levou o primeiro Marcador Escuro com ela. Quando todo mundo começou a discutir, ele sentiu-se partido, como se alguma coisa tivesse quebrado dentro dele. Eles mostraram sua forma de usar o alarme, assim que sabia que conseguiria escapar sem ser detectada. O que eles não podiam entender porque ela tinha feito, e os argumentos se alastraram. 

— Quantos de nós sabemos realmente sobre ela?
 
— Se ela está em apuros, não faz sentido que não pedisse ajuda. 

—Sabemos que eles precisam dela para os mapas. Talvez eles fizeram uma oferta que ela não poderia recusar – como fizeram com Janelle. — Sua própria vida para o marcador e os códigos . 

— Miséria, ela poderia dar a nossa localização para eles. Eles podem até já estar no caminho para cá.  

  Enquanto Kierland tinha sentado em silêncio, ouvindo tudo isso, o Buchanans tinha discutido com Shrader e Kellan, até que, finalmente, Quinn disse apenas que todos eles se calassem. Com a corrente de prata da bússola que havia deixado em seu travesseiro segurando firme na mão, ele caminhou até uma das janelas alta da cozinha e olhando para o trecho marcado de nuvem do céu, a chuva que caía pesada em um martelante ritmo. Cruzando os braços, ele pensava sobre as horas que Saige passou com ele, debaixo dele, dando de seu corpo tão doce... Tão livremente. Lembrou-se da maneira que ela tão bem entregou-se à agressão escura de sua fome física, nunca se afastando dele, não importando o que ele tinha pedido dela. Lembrado como ela se alimentou tão provocante de seu sangue, alimentando a parte Merrick de sua natureza. E como ele a segurou em seus braços, ela contou a história da bússola, explicando como Elaina tinha dado a ela como um presente em seu décimo sexto aniversário. Era pra sempre ajudá-la a encontrar seu caminho para casa, para o lugar onde o seu coração pertencia, e como ele apertou bastante sua mão em torno do colar, ele finalmente entendeu por que ela tinha deixado para ele. Ela estava dizendo algo significativo com esse gesto pequeno, simples e, nesse momento, ele encontrara a fé para acreditar nela. 

  Uma vez que passou sua raiva inicial, de que ela havia fugido dele novamente e estava pensando claramente, não foi difícil descobrir que McConnell tinha chamado pelo telefone celular. Se a ela tivesse sido oferecida a oportunidade de ajudar Jamison, Quinn sabia que teria feito tudo em seu poder para salvar seu amigo. Seu senso de honra era demasiado forte para permitir que ela fizesse de forma diferente. 

  Ele poderia viver com isso. Inferno, ele poderia até mesmo viver com sua determinação de colocar o Marcador acima de tudo em sua vida, tão longo como ele pudesse viver com ela. 

  Se ele a perdesse... Não, ele não podia pensar nisso. Se o fizesse, ele iria perder o controle e enlouquecer, e ele não podia arriscar isto, quando a vida dela estava em perigo. 

Lançando um olhar sombrio para McConnell, que tinha tomado uma posição a esquerda na copa da floresta espessa, o olhar verde escuro do soldado se concentrava na casa, Quinn lutou para segurar sua raiva. Era culpa do desgraçado que Saige estivesse nessa confusão. Mas, também, a única maneira que ele tinha sido capaz de encontrar esse lugar – que eles acreditavam que era a temporária da sede de Westmore – foi porque McConnell tinha chamado pelo telefone celular que Saige havia deixado para trás em Ravenswing e disse-lhe onde ela estava. Quinn tinha deslizado o telefone em seu bolso quando ele o encontrou sobre a cômoda no quarto dela, e chamada de McConnell tinha chegado no momento que estava parado na janela da cozinha segurando seu colar. Com as fortes chuvas que só recentemente tinham parado completamente lavando o cheiro dela, não havia chance não dele ser capaz de seguir seu rastro a este local remoto, o que significava para Quinn que devia ao cara um maldito agradecimento. Claro, ele também queria matá-lo meramente com as mãos por envolvê-la neste pesadelo para começar.

 Segundo McConnell, Saige lhe disse onde poderia encontrar Jamison depois que ela tocou o anel que havia sido deixado em seu motel, junto com três dedos do arqueólogo. E como McConnell não tinha entendido como tinha feito, ele seguiu suas instruções, que tinha levado a esta casa. Mas enquanto ele e seus homens estavam observando a área, ela deslizou para longe deles. Quando ele não conseguia localizá-la, finalmente fez a chamada para o celular dela, na esperança de chegar até alguém em Ravenswing. Então, ele e seus homens tinham recuado e esperaram Quinn e os outros chegarem. 

  Quinn não tinha dúvidas de que Saige tinha escapado para dentro de casa para encontrar Jamison. Mas o fato dela não ter retornado significava que ela tinha sido capturada. 

  'Não, não pense nisso. Ela vai ficar bem. Ela é dura'. 

— Eu não tenho tempo para ficar aqui à espera de que seus homens façam a sua jogada – ele rosnou baixinho, olhando para McConnell. — Saige está lá dentro com aqueles bastardos. 

— Ok, então – Shrader contrapôs logo atrás dele. — Todos aqueles a favor de invadir os portões do castelo agora, digam sim. 

— Quieto – ele rosnou, olhando por cima do ombro com uma carranca para o sorriso afetado do Guardião que usava uma camiseta com a foto de um esquilo e duas nozes gigantes, a escrita da camiseta dizendo Minhas Nozes São Maiores Do Que As Suas. — Eu não estou com humor para lidar com a sua merda hoje, Aiden. 

— Você diz isso agora – murmurou o Guardião — mas após a luta, eu estarei brilhante e você vai beijar minha bunda. 

— Você vai nos ajudar a tirar minha irmã sair de lá viva, Ian raspou, disparando a Aiden um sorriso aguçado, seus olhos azuis escuros brilhando com a fúria de seu totalmente Merrick desperto — e eu vou beijar qualquer porcaria que você quiser. 

  As sobrancelhas de Shrader elevaram-se na testa. 

— Isso foi realmente uma piada? 

— Não dê nenhuma atenção a ele – Riley murmurou, olhando tão sinistro como Quinn. — O stress subiu para a cabeça. 

— Vou me mover para mais perto e ver qual é a dificuldade – resmungou McConnell, permanecendo na copa da floresta enquanto deslizava silenciosamente em direção à parte de trás da casa, onde os seus homens inventavam um desvio que permitiria que eles se esgueirassem para dentro. 

  Kierland deslocado mais para o lado de Quinn, sua voz baixa, quando ele disse — Você está bem? 

 Ele estava indo tão bem tanto quanto poderia estar, considerando que estava apavoradoramente fora de si. 

— Eu sou um bastardo – ele resmungou, perguntando onde ela estava na casa. O que ela estava fazendo. Se ela estava assustada. Cortada. Com medo. — Eu nunca disse a ela como eu sinto sobre ela. 

— Sim? Bem, se eu fosse você – o melhor amigo dele disse — Eu recomendo isto no momento que ela voltar.  

 Explodindo uma respiração áspera, ele lançou ao Guardião de cabelos castanhos um olhar tenso.

— Obrigado por me apoiar no Complexo – ele murmurou, pensando em como Kierland tinha estado com ele quando ele anunciou que estava vindo atrás dela. 

— Eu te conheço o suficiente para confiar em seus instintos – Kierland disse a ele, a luz dos olhos verdes brilhando com um fogo, frio mortal quando ele olhou em direção a casa. — E Shrader e Kellan se sentem da mesma maneira. Eles só não querem ver você se machucar.
 
— A única coisa que me machucará é perdê-la – disse ele por entre os dentes fechados, e tão logo a última palavra saiu de sua boca, uma enorme bola de fogo explodiu na mata atrás da casa, as chamas laranja brilhante subindo para o céu como a respiração ardente de um dragão. Levou apenas alguns segundos para os homens de Westmore responderem, e no instante em que ouviu a unidade de Seth retornando tiros, Quinn olhou por cima do ombro. — Vocês todos sabem o que fazer – ele resmungou. 

— Queimem os vilões e salve o dia – Shrader contrapôs, uma brilhante 9 milímetros firmemente segura na mão direita, enquanto as pontas dos dentes brancos letais de tigre brilhavam sob a curva de seu lábio superior. 

— Eu não dou a mínima para o dia – resmungou Quinn. — Basta encontrar Haley, os mapas e o segundo Marcador, e depois começar o inferno lá. Vou pegar Saige. 

 Sem outra palavra, os vigilantes e os Buchanans movimentaram-se, sabendo exatamente o que tinham que fazer. Levou apenas alguns segundos para Quinn escorregar para extensa casa de dois andares, com entrada na lateral, e ele de imediato, encontrou-se lutando contra dois dos homens de Westmore. Os soldados lutaram duro, mas a fúria do seu animal estava em plena posse, e ele rapidamente desarmou-os, antes de passar suas garras em suas gargantas. Enquanto os outros revistaram o nível principal e subiam as escadas para o andar superior, Quinn percebeu um leve rastro do cheiro delicioso de Saige e foi em direção ao subsolo, onde ele se deparou com outro guarda, maciçamente volumoso. Sem perder tempo, ele rapidamente tratou o desgraçado, então começou uma busca frenética na escuras e sujas câmaras que ladeavam o longo corredor. Quando ele abriu o último cubículo no final do corredor e vislumbrou o cabelo escuro, castanho-avermelhado, seu coração quase parou. Saige estava encolhida no canto, e como ele correu em direção a ela, retraindo suas garras mortais, ela levantou a cabeça, olhando para ele como se estivesse em estado de choque. 

— Quinn! – Ela soluçou, rompendo imediatamente em lágrimas. 

— Você está bem? Eles machucaram você? – Ele perguntou, sua voz profunda devastado pela emoção, e ela balançou a cabeça enquanto ele ajudou-a a ficar em pé, correndo as mãos grandes sobre seu corpo, procurando algum sinal de ferimentos graves. 

— Não... Eu estou bem – disse roucamente, as lágrimas escorrendo pelo rosto, as mãos segurando em seus ombros. — Eu ainda tenho o marcador comigo, e acreditem ou não, eu não vi mesmo Westmore ou os Casus ainda. Onde está Jamison? Ele está bem? Será que ele ainda está vivo? Os soldados que me colocaram aqui não me disseram nada!

— Os outros estão pegando ele. – Ele olhou para o vermelho, inchado e escavado arranhões em seu rosto delicado, e rosnou: — Se você tem o marcador, como diabos eles cortam o seu rosto?

 Ela estremeceu, seu tom seco, quando ela disse

— O talismã protege apenas contra o Casus. Depois que eu entrei, consegui esgueirar passando pelos homens de Westmore, mas depois eu corri para pequena ruiva demoníaca de cabelo vermelho. – Ela indicou o pequeno e úmido cubículo com um empurrão de seu queixo, acrescentando: — E foi assim que acabei aqui. 

— Cristo – ele murmurou instável, empurrando seu cabelo para trás de seu rosto, seus olhos, reagindo suspeitosamente ao quente e úmido. Ela não estava lá há muito tempo, mas ele sabia que tinha sido afortunado como o inferno porque tinha sido deixada sozinha. Era assustador o suficiente apenas pensar nela indo contra tal assassino mortal. — Você tem alguma idéia de como Spark facilmente poderia ter matado você? 

— Não se preocupe – disse ele com um pequeno sorriso estreito. — Eu não iria cair sem uma luta. Com a minha Merrick totalmente carregada, eu seria capaz de segurar a minha própria arma contra ela. E eu teria ganhado, também, se os homens de Westmore não tivessem aparecido e me jogado aqui.  

  Uma risada rouca e dolorida saiu de seu peito.

— Você é especial, Buchanan. 

— É bom saber, considerando que me sinto certamente no inferno agora. – Os sons de tiros distantes ecoaram pela casa, lembrando-lhes que ainda estavam em perigo. Ele se preparava para levantá-la nos braços e tirá-la de lá quando ela perguntou: — O que você está fazendo aqui, Quinn? Como você me encontrou?  

— McConnell foi inteligente o suficiente para me chamar logo que ele percebeu que você fugiu dele – ele rosnou, seu alívio em encontrá-la viva lentamente dando lugar à sua raiva e frustração. — Que diabos você estava pensando? 
   
* * * * *

  SAIGE PASSOU A LÍNGUA sobre o lábio inferior, incapaz de acreditar que ele realmente estava lá com ela.

— Eu não estava pensando em fazê-lo desta maneira, mas quando chegamos aqui, era óbvio que Seth e os seus homens estavam em desvantagem. Enquanto eles estavam discutindo a melhor maneira de entrar, um cara com roupas saiu da casa. Ele deixou a porta traseira aberta e começou a trabalhar em um dos seus jipes. Eu sei que provavelmente foi estúpido, mas eu pensei que se eu pudesse esgueirar-me em silêncio, então talvez eu pudesse encontrar Jamison, antes que alguém soubesse que eu estava lá. – Ela olhou para ele, esperando que ele pudesse entender. — Eu não tive nenhuma escolha senão tentar, Quinn. Tinha que ajudar Jamison. 

  Segurando o queixo, ele esfregou seu polegar contra o canto da boca machucada, num macio e cuidadoso gesto. 

— E assim, você apenas decidiu lidar com tudo sozinha? Você não poderia ter me pedido ajuda?
 
— Eu fiz a única coisa que eu poderia imaginar – disse a ele, o estômago apertando quando pensou no horror que ele tinha sofrido durante sua tortura. — Eu não quero que você seja parte disto, não quero você perto do Coletivo. Você já sofreu o suficiente em suas mãos, e se eu encontrar uma maneira, você nunca vai chegar perto outra vez, enquanto vivermos.
 
— E os outros? – Ele resmungou. — Eu não fui o único que poderia ter ajudado você. 

  Balançando a cabeça, ela estreitou-se apertando os seus ombros, não querendo deixá-lo, como se temesse que ele pudesse escapar dela... Ou que ela acordasse, achando que isso tinha sido tudo uma ilusão, um sonho. 

— Eu sabia que se eu pedisse a Kierland ou os meus irmãos para ajudar, eles acabariam dizendo a você. E ter certeza que você estivesse fora isso era mais importante para mim do que...

— Sua própria vida? – Ele rosnou, cortando-a. — Cristo, Saige. Você tem alguma idéia de como estamos felizes de que você não tenha sido morta? Se não fosse pelo fato de que Westmore precisa de você para ler os mapas, você já estaria morta e não teria nada que eu pudesse fazer para salvá-la.  

 Ela respirou fundo, depois se forçou a perguntar:

— Então os outros Guardiões convenceram-no a vir atrás de mim, então? 

Sua mandíbula endureceu, e ela podia vê-o lutando para controlar sua irritação. 

— Na verdade – ele finalmente murmurou, erguendo uma escura e macia sobrancelha. — Isto foi o contrário. 

 Ela arregalou os olhos, o som de sua pulsação correndo através de seus ouvidos como a fúria de um acidente de surf do oceano quando ela disse

— Você quer dizer... Você não... Você não pensou no pior? 

— Que você tinha fugido para fazer um acordo para a sua vida ou para Jamison, como Janelle fez? 

  Ela assentiu com a cabeça, e algo deslocou através de seus olhos, como uma explosão de luz latente por trás da beleza da meia-noite de seu olhar. 

— Talvez por cinco segundos – confessou ele, o canto da boca, elevando-se em um sorriso diabolicamente sexy — mas depois percebi que não havia nenhuma chance infernal de você não estar loucamente apaixonada por mim.

  A risada que explodiu em seu peito a pegou de surpresa, e ela ergueu a mão, apertando-a contra os lábios. 

— É mesmo? 

— Você maldita, certamente será melhor depois do que você me fez passar – ele murmurou num baixo rugido, deslizando uma mão grande, quente sob o seu casaco para descansar contra a parte inferior das costas. 

— Eu admito que fui estúpida, Quinn, mas eu não fiz isso para te machucar – disse desejando que houvesse alguma maneira de mostrar para ele o quanto ele significava para ela. — Eu estive apenas tentando mantê-lo seguro. 

  A luz em seus olhos ardia, subindo em um brilho ardente.

— E você acha que morrer por mim vai me manter seguro? Você tem alguma idéia do que iria fazer-me perdê-la? – Ele tomou o rosto entre as mãos grandes, esfregando o polegar no calor salgado de suas lágrimas, e ela poderia ter jurado que podia sentir o tremor. — Você vai ser a minha morte, mulher. E no instante em que chegarmos a casa, eu a colocarei sobre o meu joelho por me colocar nisso.

  Apesar do aperto no peito, ela deu outra risada suave, rouca. 

— Você é bem-vindo para tentar, mas não fique demasiado arrogante. Agora que minha Merrick está alimentada, eu posso ser muito cruel se necessário.  

  Ele lhe deu um sorriso arrogante e Saige podia ver aumentando um primitivo desejo incrível apertar a sua expressão. 

— Sou ainda maior – murmurou com uma voz tremendamente sexy e malditamente muito fraco. 

— E ainda assim, eu sei que você preferiria morrer a me machucar – disse ela com um sorriso suave. 

— Eu não quero te perder Saige, – ele murmurou, a expressão evidentemente soando como se tivesse sido arrancado dele. Enfiou a mão sob o espesso cabelo dela, segurando-a quando ele abaixou a cabeça e gentilmente, avidamente beijou o caminho em sua boca. — Mas eu não mudaria uma única coisa em você – ele respirou contra seus lábios. — Você é a mulher mais corajosa que já conheci. 

 As lágrimas escorreram de seus olhos, descendo quentes, continuas sem que puder controlar. — Eu pensei que você iria me odiar. – ela sussurrou — Deus, eu estava com tanto medo, Quinn. 

— Eu virei sempre para você, querida, e você não irá me perder. – Ele a puxou contra seu corpo, pressionando um beijo na sua têmpora — E depois disso, eu espero que não haja nenhuma maneira de que você nunca duvide o quanto eu confio em você. Mas seria amável se você pudesse encontrar em seu coração um pouco de confiança para me dar também. Seria acrescentar anos à minha vida se você não correr por sua conta.  

— Sinto muito – ela sussurrou contra seu peito. — Eu só estava... Eu não queria que nada lhe acontecesse. 

  Com os polegares sob o queixo, ele inclinou o rosto, um afetuoso sorriso masculino curvando sua boca linda.

— Eu sou um homem crescido, Saige, e embora eu não gosto de me gabar, eu posso ser uma verdadeira intimidante quando eu preciso. Então você não tem que continuar tentando me proteger.
 
 Ela engoliu as lágrimas queimando na garganta e disse calmamente:

— Depois do que fizeram com você, como você pode pensar que eu lhe pediria para chegar perto deles? 

— Saige, ouça. Estar ao seu lado e o que aconteceu com Janelle são duas coisas completamente diferentes – retumbou, esfregando o polegar contra as linhas suaves de sua mandíbula. — Você nunca se voltará contra mim, nunca me delatará. Não importa o que aconteça, eles não vão nunca colocar as suas garras em mim novamente.
 
— Oh, eu não estaria tão certo sobre isso – uma profunda voz rouca contrapôs da porta, e Saige enrijeceu com medo, percebendo que o tempo deles tinham acabado. 



 
































Capítulo Vinte


  VIRANDO-SE, Quinn rosnou baixo em sua garganta com a visão de Gregory e Royce caminhando para dentro da célula em sua forma humana.

— É apenas para mim ou isto o faz pensar que é Natal esta manhã? – Royce brincou com um sorriso largo arrogante enquanto fixou seu pálido olhar azul-frio sobre Saige. — E aqui está o meu suculento pequeno presente. 

  Gregory ergueu o nariz, farejando o ar.  Humm, ele murmurou. 

— Alguém cheira... Diferente. – Ele lançou para Saige um sorriso inflexível e entrou mais na cela. — Eu sabia que os dedos do fracote fariam o serviço, trazendo-lhe direto para nós. Eu os teria mordido, da mesma forma que fiz com o pequeno brasileiro, mas Westmore queria mantê-lo vivo, e eu não poderia garantir que eu não iria terminar o trabalho, uma vez que eu tivesse o gosto dele na minha boca. – Girando o ombro num gesto arrogante, seu sorriso alargou-se quando ele disse — Então, ao invés disso, eu cortei-os com um par de tesouras de poda.  

— Filho da puta – ela gritou e Quinn moveu-se na sua frente, rezando como o inferno que a Merrick dela fosse capaz de ajudá-lo quando as coisas ficassem feias.  Ele seria capaz de apostar que ia ser a qualquer momento agora. 

— Você não pode matá-la – ele rosnou, mantendo um olhar atento sobre os homens enquanto eles se aproximaram. — Westmore ainda precisa dela para ler os mapas. 

— Mas o velho Westmore não está aqui agora está? – Gregory murmurou, os olhos ardendo como um fogo frio, cheio de ódio. — Parece que ele foi chamado para alguns negócios urgentes, esta manhã. Ordens de esquerda para todos nós, para limpar este lugar e levar a pequena Saige daqui para sua nova sede. Um lugar onde ninguém nunca vai ser capaz de encontrá-la.

— É uma infernal viagem, e isso significa que estará livre para o nosso divertimento com ela, se ainda respirar quando chegarmos até lá – acrescentou Royce, esfregando seu pulso na umidade dos lábios sorridentes. — Embora, para ser honesto, no momento eu realmente não dou a mínima para o que quer Westmore. Estou começando a pensar que ele pode figurar nos mapas de sangue por conta própria – ele murmurou, seus olhos claros como vidros enquanto olhava lascivo para Saige com um aspecto doentio de luxúria, e as garras de Quinn subiram para as pontas dos dedos com um assobio quente de dor. Ele podia sentir sua raiva crescendo, podia sentir o poder de sua fúria primitiva bombeando através de seu organismo, instando-o a arrancar suas gargantas. Com os sentidos aguçados dos seus animais, ele podia sentir o calor do seu corpo... Sentir o cheiro de seu sangue. Ele sabia que eles eram uma ameaça à sua mulher, e Quinn nunca sentira uma necessidade visceral mais primitiva, de destruir como o que sentia naquele momento. 

  Mantendo sua voz baixa, ele disse:

— Faça o que fizer Saige, não deixe que eles te tirem daqui.

  Ele queria dizer-lhe mais, mas de repente Gregory veio para ele num borrão de velocidade, e eles caíram no chão duro de concreto. Parecia que tinha sido atingido por um caminhão, e ele se esforçou para puxar o ar em seus pulmões quando ele empurrou com o calcanhar da mão direita, direto no nariz de Gregory. O sangue jorrou, e o Casus jogou a cabeça para trás, revelando um longo e letal par de presas. 

  Do canto do olho, viu quando Royce se moveu para Saige. Ele não podia ouvir o que o sacana disse, mas Saige reagiu rosnando para ele, e Quinn rugiu o seu nome quando o filho da puta sarcástico inclinou o rosto dela com um poderoso golpe que lançou sua cabeça para o lado. 

 * * * * *

  COM O GOSTO DE METAL de seu sangue enchendo a boca, Saige ouviu Quinn dar um grito selvagem de indignação, ao mesmo tempo, ela sentiu que a sombra dentro dela se espalhava se abrindo, como uma flor desabrochando sob o dourado dos raios do sol pulsante, queimando vermelho contra suas pálpebras. Erguendo os cílios, ela olhou para o Casus que a tinha atingido. 

— Você vai se arrepender por isso – ela murmurou, erguendo a mão para limpar o lábio sangrando. 

— Depois de todas as dificuldades que você me fez passar, você é quem vai se arrepender, sua pequena cadela insolente. 

— Não quando eu estiver enviando o seu rabo de volta para o inferno, eu não vou – ela contrapôs, dando-lhe um sorriso afiado. 

— Você sabe, vai ser divertido quebrá-la com esta boca hábil. Se suportar esse tempo. – Ele ergueu a mão, apoiando-a contra a base de sua garganta, onde seu pulso batia num ritmo selvagem e irresponsável. Seus lábios enrolados quando apertou, esperando ela a gritar com medo, mas Saige não estava disposta a lhe dar satisfação.

 Inclinando a cabeça para o lado, ele avaliou-a com uma expressão curiosa. 

— Se eu usar minhas garras, então?

— Você pode tentar – ela sussurrou — mas elas não vão lhe fazer muito bem. 

— É mesmo? – Ele rosnou, retirando a mão enquanto dava um passo adiante. Ele estava tão próximo que ela teve de inclinar a cabeça para trás para olhar para ele, o cheiro grosso de seu corpo fazendo seu estômago revirar. — Westmore já pegou o segundo marcador de seu pequeno amigo, e Spark disse que você não trouxe o primeiro com você. 
—B em, eu acho que vou te ensinar a ouvir pequenas idiotas bonitas, então, não? – Ela riu, dando um passo para trás quando ela se abaixou e tirou o Marcador do interior de sua bota direita, onde ela manteve-a escondido. Puxando seu cordão de veludo preto em torno de seu pulso, ela se endireitou enquanto disse — Oops parece que ela estava errada. Imagine.
 
— Você não seria estúpida o suficiente para trazer o Marcador real com você – ele rosnou, olhando para a cruz ornamentada com os olhos apertados. — Não depois de você já ter perdido o outro. 

  Suavemente, ela disse:

— Na verdade, parecia uma boa idéia, pois estou pensando em matá-lo com ela. 

— Você está mentindo – bufou Royce em voz baixa. — Não há nenhuma maneira de que seja um Marcador real. 

Percebendo sua inquietação, Saige olhou em seus olhos pálidos e sorriu lentamente. 

— Você realmente não acredita nisso. Eu posso ver o medo em seus olhos. Eu estaria disposta a apostar que você pode sentir o seu poder tão facilmente como eu posso – ela murmurou, de repente atingindo o Casus em seu peito com um poderoso chute lateral. Embora seu corpo não experimentasse a mesma transformação que Ian, ela ainda era muito mais forte que uma fêmea humana. Forte o suficiente, de fato, para enviar Royce para trás sobre sua bunda com seu chute.
 
 Segurando a cruz em sua mão, disse:

— E você vai descobrir o quão real isso é a qualquer momento agora. 

* * * * *

EMBORA TIVESSE PLENAMENTE SUAS mãos esquivando das garras e das presas letais de Gregory, Quinn não conseguia tirar os olhos de Saige quando ela pegou a cruz que Ian mostrara-lhe, segurando-a pressionado contra a palma de sua mão direita. Ela suspirou, e ele sabia que o Marcador estava machucando, derretendo em sua carne, uma vez que começou a transformar seu braço em uma arma mortal que poderia destruir o Casus. 

  O sangue que ela tinha tirado dele a noite tinha feito o seu trabalho, dando-lhe o poder que precisava para que sua Merrick plenamente saísse de dentro dela. Ela brilhava, primitiva e selvagem, com os olhos brilhantes, o corpo movendo-se como um elegante e felino movendo-se sorrateiro através da selva. 

  Enquanto ela caminhava para Royce, o Casus rastejava de costas em suas mãos e joelhos, os olhos azul-frios, agora, arregalados de medo.

— Ajude-me a matá-la, gritou para Gregory, mas o outro Casus começava a recuar de Quinn, uma ponta da garra da mão segurando seu lado sangrando, enquanto ele deu um passo em direção à porta... E depois outro. 

— O que você está fazendo? – Royce rosnou. — Não se atreva a fugir sem mim! 

— Eu iria matá-lo eu mesmo – murmurou Gregory, olhando o brilho da arma de Saige um amargo desprezo — então eu poderia muito bem deixar a pequena cadela fazer isso por mim. E ao contrário do meu irmão, parece que eu sei quando parar minhas lutas, e quando esperar outro dia. – Seu lábio ondulando quando ele ergueu o olhar furioso para enfrentar Saige. — É melhor observar a sua volta, Merrick. Eu não terminei com você ainda.
 
E então ele se virou, saindo da cela. Quinn deu um passo à frente, querendo ir atrás do safado e arrastá-lo de volta, mas depois olhou para trás para Royce, que estava se movendo a seus pés, seu corpo começando a se contorcer poderoso, afastando as costuras de sua roupa quando ele mudou para o Casus em forma monstruosa. 

— Não fique muito perto dele! – Quinn gritou, de repente, agarrando o braço de Saige. Ela estava queimando ao toque, como se tivesse colocado a mão no calor de uma chama, e ele imediatamente soltou gemendo de dor. 

  Mantendo o seu brilhante olhar sobre Royce, ela disse:

— Você tem que confiar em mim, Quinn. Eu não sou fraca. Eu posso lidar com esse imbecil.  

— Eu sei disso – resmungou, sua voz profunda cheia de raiva e medo, bem como um segmento inconfundível de orgulho. — Mas isso não significa que você tem que fazer isso sozinha. 

  Ele esperava que ela argumentasse, mas ela o surpreendeu com um sorriso rápido e duro. 

— Então, quer dizer que nós podemos pegar juntos esse cara? 

— Só tome cuidado, ele resmungou – aterrorizado por sua segurança, moveu-se para a direita, ajudando-a a dominar o Casus rosnando.

* * * * *

— VOCÊ TAMBÉM, SAIGE SUSSURROU, e então eles passaram a se mover juntos. 

Tudo aconteceu tão rápido, era difícil manter o controle dos cortes das garras afiadas do monstro, estalando o queixo Royce lutou arduamente para mantê-los afastados, batendo em Saige de novo e de novo, mas o poder do marcador protegia sua carne, suas garras simplesmente deslizavam para fora de seu corpo, incapaz de penetrar em sua pele. Embora ela fizesse o melhor para evitar, Quinn fez a maior parte dos combates, afastando sua camisa e usando suas asas enormes para bloquear os ataques do Casus. Tomou o fôlego, a maneira poderosa e predatória que Quinn mudou seu corpo grande e musculoso. Com suas garras perigosas para frente, ele agarrou a pele grossa do Casus, pele cinzenta, de novo e de novo, evitando cuidadosamente uma mordida letal de Royce, que sabia que poderia tão facilmente matá-lo. Ela estava desesperada para acabar com a batalha o mais rapidamente possível, odiando que enquanto estava protegida pela cruz, Quinn poderia ainda ser prejudicado. 

  O marcador queimava contra a palma da mão como o inferno abençoado, derretendo sua pele, e ela esforçou-se para trabalhar com a dor, tentando ajudar, principalmente quando sentia como se ela devesse apenas afastar-se de Quinn, considerando que ele foi um combatente tão brilhante. Embora ela não tivesse sido capaz de vê-o lutar com Gregory, uma vez que sua atenção estava focada em Royce, estava claro para ela agora porque os Raptores eram considerados uma raça tão feroz quando se transformavam. 

  Lançando um grito sobrenatural, o Casus de repente pulou para a garganta de Quinn, mas ele era muito rápido, facilmente evitando o ataque. 

— Prepare-se! – Gritou, e no instante seguinte, ele deu um chute esmagador como pé arrancando para o lado o focinho de Royce, conduzindo primeiro a face do Casus contra a parede. Rapidamente jogando o corpo do monstro contra a superfície áspera de concreto, ele rosnou: — Agora! – E Saige correu, batendo o marcador contra a base do pescoço de Royce, da massa muscular, assim como Ian tinha dito para fazer. O calor imediatamente tragou o braço, a dor lancinante excruciante e afiada, fazendo-a gritar. O corpo da criatura convulsionava-se contra a parede, batendo com espasmos violentos, quando sua cabeça caiu para trás e gritou um som, asfixiante de fúria. Ela estava apavorada de que ele pudesse empurrá-la e fugir, mas, em seguida, Quinn moveu-se atrás dela, colocando o braço contra o dela. Ele envolveu sua mão grande em torno de seu pulso, e com um rosnado profundo, gutural, ele ajudou a conduzir o impetuoso Marcador profundamente no corpo do Casus. 

  Douradas chamas cobriram os seus braços, enquanto o corpo de Royce começou a arder com um brilho crepitante de fundição, como se estivesse pegando fogo de dentro para fora. Horríveis, bolhas borbulharam em toda a superfície de sua pele, seu corpo cada vez mais brilhante, ferindo os olhos, o cheiro intenso, o repulsivo odor de sua carne queimada fazendo-lhe sufocar. Desumanos gritos saíram da boca aberta do Casus, ecoando nas paredes, e pouco antes ele foi consumido em uma explosão maciça e deslumbrante, Quinn envolveu-a com suas asas, protegendo-a do calor escaldante das chamas. A força da explosão derrubou os dois contra a parede de concreto em frente, os corpos caindo no chão, quase inconsciente. Saige não tinha idéia de quanto tempo tinha passado quando ela lentamente abriu os olhos, o som suave da voz de Quinn preenchendo seus ouvidos quando ele disse

— Venha, baby. Temos que dar o fora daqui.

Atordoada, eles lentamente ficaram em pé, e Saige tropeçou lentamente alguns passos à frente. Uma pilha de cinzas derretida ainda chiava onde o corpo do Casus estava, e ela franziu a testa, esfregando a palma da mão. 
— Droga – ela gemeu, soprando o cabelo de seus olhos. 

— O que há de errado? – Quinn perguntou, sua voz aguda, com preocupação. — Você está ferida?

— Estou chateado que eu não vi nada, quando ele morreu – ela murmurou — do modo que Ian disse. Sinto-me enganada!  

  Vindo por trás dela, Quinn envolveu seus braços ao redor de seu corpo, apoiando o queixo contra o alto da cabeça. 

— Verdade? – Ele murmurou, abraçando-a contra ele. — Porque eu me sinto muito sortudo de estar aqui segurando você em meus braços. 

— Eu me sinto muito sortuda – também, ela sussurrou, inclinando a cabeça para o lado para que ela pudesse enviar-lhe um sorriso torto. 

  Virando-a em seus braços, levantou sua mão e carinhosamente tocou seu rosto.  O Marcador definitivamente fez seu trabalho. Não só fritou o asno, como seus cortes já estão curados. Ele olhou para seu braço, e havia uma grande reverência em sua voz profunda quando ele disse:

— Porra, meu braço não está mesmo queimado.  

  Sorrindo, ela levantou o Marcador e colocou-o sobre sua cabeça. 

— Graças a Deus Spark era demasiada estúpida para não olhar isso em minha bota. Embora, para ser honesta – acrescentou com uma risada suave — ela estava muito chateada no momento, vendo como eu tinha batido.

— Para onde agora? – Ele perguntou, e ela olhou com olhos deslumbrados quando ele recolheu suas enormes e bonitas asas negras de volta em seu corpo. — Devo ir atrás de Westmore e conseguir o segundo Marcador? Se eu for rápido, eu provavelmente poderia seguir seus homens e monitorá-los para sua nova sede.
 
  Carrancuda, ela disse:

— O que em nome de Deus faz você pensar que eu ia mandar você atrás de Westmore? 

  Ele olhou para ela com um olhar estranho, indagador em seu rosto.

— Eu pensei que os marcadores eram as coisas mais importantes para você – explicou ele, sua voz rouca e baixa. 

— Não seja ridículo – ela murmurou, odiando que ele pudesse pensar que ela iria colocar os marcadores acima de sua vida. Colocando a mão dela contra a batida forte e poderosa de seu coração, ela disse — você é o mais importante para mim. E agora você precisa de algum tempo de inatividade antes de correr para enfrentar quaisquer caras maus. 

  Nesse caso, disse para ela, com os olhos brilhando de uma maneira que ela nunca tinha visto antes, derretendo seu coração.

— Porque nós não vamos encontrar os outros e dar o fora daqui. 

* * * * *

QUANDO ELES SAÍRAM da base, ficou claro que os homens de Westmore já tinham fugido da luta.  Focado em conseguir segurança para Saige, Quinn silenciosamente tomou conhecimento do fato estranho de que nenhum dos corpos que ele tinha derrubado a caminho de sua cela, onde haviam caído, como se tivessem sido removidos... Ou tinham se consumidos ou se afastados. Eles correram para Riley e Ian no piso térreo, quando os irmãos estavam voltando para casa para procurá-los. 

Os Buchanans explicaram rapidamente que os homens de Westmore tinham se posicionado nos andares superiores em chamas, a fumaça estava ondulando as escadas tornando difícil respirar. Juntos quatro deles dirigiram-se para a segurança do bosque, e Quinn perguntou aos irmãos se eles tinham visto Gregory. 

— O Casus? – Ian resmungou, seus olhos azuis ainda brilhando com um fogo sobrenatural, embora seu corpo já voltara a sua forma humana. Quinn assentiu, e o mais velho dos Buchanan sacudiu a cabeça. — Não o vi. Ele deve ter escapado para fora da mesma maneira como os outros, porque tínhamos as saídas cobertas.  

 Eles avistaram Shrader esperando apenas dentro da linha ao redor das árvores, e no instante seguinte, as janelas do segundo andar destruídas pelo calor das chamas, envolveram a casa em um infernal rugido. 

— Está todo mundo para fora? – Quinn perguntou, esperando como o inferno que a resposta fosse sim. O Guardião acenou com a cabeça, e ele disse: — Algum problema? 

— Essa é a coisa mais estranha – Shrader disse, abanando a cabeça. — Eu acho que Westmore e os seus homens já a planejavam abandonarem este lugar.

— De acordo com o Casus, eles estavam se movendo para uma nova sede. Parece que Westmore queria levar Saige ao Colorado, colocando-a em um lugar onde não poderíamos encontrá-la. – Ele estremeceu ao pensar que se tivessem sido apenas um punhado de minutos mais tarde, poderia ter sido tarde demais.

— Eles com certeza não colocaram muita luta – Riley murmurou, deslizando sua arma de volta em seu coldre de ombro.

— Certamente Riley – Ian concordou. — Eu acho que a maioria deles não ficou muito tempo depois que cheguei aqui.

— Westmore não veio até aqui – Quinn disse-lhes, explicando como o Casus tinha dito que ele fora sido chamado para longe.

 Olhando para o grupo, Saige, de repente segurou seu braço quando – ela disse — Onde está Jamison e os irmãos Scott?

* * * * *

  IAN E RILEY olharam para longe dela, enquanto a expressão de Shrader tornou-se desagradável, e Saige sabia que algo estava errado. 

— Oh Deus, o que aconteceu?

— No momento em que o encontramos – explicou o Guardião, levantando uma mão para esfregar a parte de trás do seu pescoço — ele estava morrendo. Mas... ah, ele vai ficar bem agora.

— Eu não entendo – ela sussurrou. — Será que Kierland e Kellan o levaram para um hospital?

  Shrader sacudiu a cabeça.

— Não houve necessidade.

— Mas eu pensei que você disse que ele estava morrendo – ela praticamente gritou, perguntando o que em nome de Deus o cara não estava dizendo a ela.

— Kierland não teve escolha – ele resmungou, parecendo desconfortável como o inferno. — Não se o rapaz quisesse se manter vivo.

— A escolha sobre o quê? – Ela exigiu.

— Você está dizendo que eu acho que está dizendo? – Quinn passou a seu lado, seus olhos escuros arregalados de surpresa.

  Respirando fundo, ela disse:

— Pela última vez, será que alguém, por favor, me diga o que está acontecendo!

— Kierland mordeu-o! – Aiden e seus irmãos, de repente gritaram em um coro de vozes masculinas profunda.

— Você quer dizer que... – A voz dela sumiu o entendimento começando percorrer através de seu organismo chocando sua fala. Ela poderia dizer a partir de suas expressões que a mordida do lobo em Kierland deveria ter o poder de mudar o outro.

 Ela cobriu o rosto com as mãos, os ombros em silêncio abalados a partir da força dissonante de sua ênfase, e antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, Shrader rosnou:
— Porra, mulher, achamos que você não queria que ele morresse.

  Engolindo as lágrimas em seus olhos, ela enviou ao carrancudo Guardião um sorriso trêmulo acanhado. 

— Eu não estou chateada, Aiden. Acho que isso é... Bem, é maravilhoso.

— É? – Quinn grunhiu, olhando-a com atenção, como se perguntando se a cabeça dela tinha sido ferida quando o corpo Royce tinha explodido e eles bateram na parede.

  Ela levantou os ombros encolhendo os pequenos ombros. 

— Jamison sempre foi fascinado por saber sobre os que mudam de forma. Considerando a alternativa, acho que vai ficar emocionado ao saber que agora ele é um lobisomem...

  Roçando o cabelo cor de caramelo para trás de sua face, Shrader deu um baixo, áspero rasgar de risos e revirou os olhos.

— Ele parecia bastante animado, mas eu achei que ele estava apenas em estado de choque.

— Alguém achou os mapas ou o marcador? – Ian perguntou, coçando o queixo barbudo quando ele olhou em volta do perturbado grupo. — Eu sei que Kierland e Kellan não têm quando voltei para Ravenswing com Jamison.

 Todos balançaram a cabeça, e Quinn puxou mais para o lado dele, dizendo:

— Vamos rastrear Westmore, e quando o fizermos, vamos trazer o Marcador e os mapas de volta.

— Não precisamos dos mapas – McConnell de repente proferiu atrás deles. À medida que se voltou, Saige viu que Seth estava oferecendo-lhes o que parecia ser sua mochila velha.

— Que diabos é isso? – Quinn exigiu, tomando posse da embalagem suja.

— Os mapas – McConnell disse a ele. — Eu gostaria de dizer que eu fui inteligente, mas a verdade é que apenas tive sorte e peguei-os de um dos homens de Westmore, enquanto ele estava tentando fugir. Parece que ele estava trabalhado para decifrá-los, mas eu acho que ele não teve nenhuma sorte com isto.

— Oh, meu Deus! Eu não posso acreditar que você os encontrou! – Ela engasgou, rapidamente tomando a mochila de Quinn para se certificar de que os mapas estavam todos dentro, e quase cedendo com alívio quando descobriu que eles estavam.

  Parecendo inquieto, Seth friccionou a nuca. 

— Eu achava que era o mínimo que eu podia fazer, depois do que aconteceu hoje.

— Isso não foi culpa sua – Saige disse-lhe, passando a mochila para o ombro quando ela lançou ao soldado um sorriso suave. — Se você não tivesse me chamado, nunca teríamos sido capaz de tirar Jamison de lá.

— Seus homens estão bem? – Shrader perguntou, olhando para o oficial do Coletivo com um cauteloso olhar de respeito.

  McConnell assentiu. 

— Sim, eles fizeram tudo certo. Nós tentamos parar o fogo no andar de cima, na esperança de que pudesse haver algo na casa que poderia nos dar alguma informação sobre Westmore, mas espalhou-se rápido demais. Uma vez que vocês partirem, eu vou fazer uma chamada para os bombeiros antes que isso fique fora de controle.

— Há algo que não está certo – murmurou Quinn. — Eu não sei sobre o restante de vocês, mas alguns dos corpos que combati no caminho até Saige não estavam lá quando saímos da casa. Qualquer que seja o inferno onde Westmore e seus homens estão, eu estou bastante certo de que ele não é humano.

  Coçando preguiçosamente seu peito, Shrader disse:

— Nós vimos a mesma coisa.

— Eu tenho um sentimento muito ruim sobre isso – Ian murmurou, empurrando as mãos nos bolsos.

— Bem, o que quer que seja, até que ele seja agarrado, eu vou ser um homem procurado – resmungou McConnell. — Mas eu vou tentar ver o que mais eu posso aprender com ele.

— Vigie suas costas – Quinn disse numa voz de áspera — e deixe-nos saber o que você encontrou. – Saige notou que ele parecia um pouco verde em torno das guelras, mas ele conseguiu acrescentar: — E nós vamos fazer o mesmo. Quem sabe, talvez nós seremos capazes de conseguir algo juntos.

  O homem que tinha sido seu inimigo mortal assentiu, e Shrader revirou os olhos novamente.

— Ótimo – ele contrapôs. — Então, vamos todos nos abraçar agora, ou vamos partir deste inferno?

  McConnell riu baixinho e enviando Quinn um olhar simpático. 

— Como diabos você vive com ele?

— Eu não tenho escolha Quinn – suspirou — considerando que eu não posso matá-lo.

 Eles ainda estavam rindo quando dizia adeus à Seth e dirigiram-se para casa, compartilhando suas histórias, enquanto Quinn disse-lhes sobre como Saige tinha usado o Marcador para matar Royce. Claro, não contou a eles sobre como ele lhe ajudara, disposto a lhe dar todo o crédito. Tanta coisa tinha acontecido, e Saige sabia que no dia seguinte, sem dúvida, seria preenchido com as horas intermináveis de conversas de planejamento enquanto analisariam tudo o que tinham descoberto. 

Havia o estranho fato de que os homens de Westmore pareciam ter evaporado e saído daquela casa, quando deveriam ter sido mortos ou gravemente feridos. Depois, havia o fato preocupante de que Gregory ainda estava lá, ansioso pelo sangue Buchanan, bem como a estranha previsão de Westmore de anarquia entre os clãs, que ainda não entendiam. Se tivesse sido uma mentira que ele tinha usado no Coletivo... Ou outro elemento desta bizarra guerra, frequentemente aterrorizando como um pesadelo em torno deles? E por último, mas não menos importante foi à questão do segundo mapa que ela precisava terminar de decifrar, e o que eles fariam uma vez que sabiam onde encontrar o terceiro Marcador.

  Seria um dia longo e cansativo, mas depois destas passassem, Saige estaria apenas feliz por estar viva. No momento que eles se aproximavam de Ravenswing, ela verificou com Kierland, que lhe assegurou que Jamison estava indo bem. Ele ainda acreditava que os dedos ausente de Jamison iriam regenerar-se na primeira vez que fizesse uma completa mudança na forma de seu novo lobo, embora Kierland não achasse que iria acontecer, pelo menos, em algumas semanas. Entretanto, ele disse a ela que Jamison estava sedado e só precisava descansar.

  Até o momento que ela e Quinn chegaram a seus quartos, Saige sabia que estavam tão exaustos para fazer qualquer coisa, mas desmonoram na cama juntos. E ainda, no instante em que estavam sozinhos, entraram num quente, vapor do chuveiro. Com brilhantes gotas d'água agarrado à seus escuros cílios espessos, ele apertou-a contra os azulejos quentes, suas mãos grandes atrevidas e possessivas enquanto percorriam seu corpo, não deixando nenhuma parte sua intocada.

— Deus, Saige, nós somos tão sortudos – ele murmurou, a rígida massa quente de seu pênis esfregando-se contra sua barriga enquanto ele enfiava suas mãos através de seu cabelo úmido, puxando seu rosto até o dele. — As coisas poderiam ter sido tão diferentes hoje – ele gemeu, esfregando o polegar através do calor em seu rosto. — Prometa-me que você nunca vai me colocar nesse tipo de inferno de novo.

— Eu prometo – ela sussurrou, descendo as mãos para enrolá-las em torno dele. Ele rosnou contra seus lábios, em seguida, tomou sua boca, desvatando-a com a natural, provocativa exigência de seu beijo, até que suas pernas trêmulas não pudessem segurá-la na posição vertical. E momentos depois, eles caíram em sua cama enorme.

* * * * *

   HAVIA UM BRILHO SUAVEMENTE vago no escuro dos olhos azuis de Saige quando olhou para ele, que chamou a sua besta interior, fazendo com que Quinn reivindicasse-a de cada maneira possível, marcando-a como dele. 

— Eu não quero assustá-la – disse a ela — mas eu não estou certo de quanto controle tenho hoje.

— Eu gosto quando você perde o controle – ela murmurou, um tímido sorriso curvando em sua boca de sereia tão bonita, que fazia seu peito doer. — Não importa o que aconteça, Quinn, nunca irá me assustar.

  Ele podia ver o poder primitivo do seu ardor Merrick nos olhos dela, e sabia que era verdade. Ela seria capaz de encontrar o seu poder escuro exigente, e então torná-los seus, e ele tremia com o pensamento. Ela era o seu par perfeito, em todos os sentidos, e ele não tinha dúvida de que iria passar o resto de sua vida se perguntando o que tinha feito para merecê-la.

 A necessidade de por suas explicações para fora enquanto ainda podia, ele lutava para encontrar sua voz.

— Eu vou tentar me controlar, mesmo sabendo que não será fácil. Quando eu me tornar exagerado, diga-me, e eu vou tentar me esforçar. Mas você nunca vai ter qualquer dúvida sobre o quanto eu te quero. Nunca duvidará de como eu me sinto. Você vai ser a mulher mais querida do mundo, Saige, e eu passarei todos os dias da minha vida fazendo tudo que posso para fazer você feliz.

— O que mais eu poderia pedir? – Ela murmurou, dando-lhe um sorriso suave e deslumbrante.

  Engolindo a emoção, ele conseguiu dizer:

— Tudo o que você puder pensar, eu vou fazer o meu melhor para dar a você.

— Falando de me dar coisas, você percebe que, quando tivermos filhos, eles estarão indo para o inferno sobre rodas, não é? Ou talvez eu devesse dizer asas – ela contrapôs, passando as mãos nas suas costas.

  Ele fungou uma explosão de riso suave e apertou os lábios para contra os dela. 

— Eu vou te dar os bebês, Saige. Tantos quanto você desejar. – A idéia de ter crianças era algo que ele nunca havia se permitido pensar, e seu coração quase estourou de emoção por isto... Com a alegria pura e divertida de ter uma família própria. — Deus, você me faz tão feliz, mulher.

  Antes que ela pudesse responder, ele empurrou dentro dela, tão intenso, tão rápido, mas ela derreteu-se em torno dele, levando-o, e ele rosnou baixo em sua garganta. Ele precisava daquela união para saber que ela estava viva, que ela era dele.

Ela sussurrou seu nome, e ele respirava o cheiro quente e doce do seu corpo, sabendo que ele tinha encontrado sua casa. Ele empurrou mais fundo, e ela aceitou-o com avidez, segurando-o numa constrição, calor macio, e nesse momento perfeito, em graça desvairada, ele se abriu, e as palavras que ele tinha trancado dentro por muito tempo vieram para fora, sem fôlego e inevitável.

— Eu te amo – disse, movendo-se dentro dela, alongando-se, segurando-a firme, apertado dentro de seu corpo fazendo-o estremecer com a mandíbula rangendo de prazer. Ele puxou seus quadris, em seguida, empurrou seus quadris para trás, penetrando nela mais fundo... e mais fundo, o prazer tão intenso que quase o matou. — Cristo – ele rosnou, lutando para manterem-se juntos. — Eu te amo tanto, Saige.

  Os olhos dela arregalaram-se, e ele sacudiu a cabeça, sabendo que ela nunca realmente esperava ouvi-lo dizer aquelas palavras, o que tornou o momento ainda mais significativo.

— Eu também te amo – ela sussurrou, envolvendo seu rosto quente com as suas frescas e pequenas mãos. Suas costas arqueadas quando ele aumentou seu ritmo, movendo-se nela mais firme... Mais rápido, a profusa fricção escorregadia, a coisa mais erótica que ele já sentiu em toda sua vida, tão perfeito que era como se ela tivesse sido feita para ele. — Eu te amo, e quero te fazer feliz. O que você quiser Quinn. É seu.

— Tudo que eu quero é você. Sempre – ele gemeu, perdendo-se no sabor da sua boca. Era como o sol. Como as promessas de esperança, e Quinn beijou mais firme... Mais fundo, enquanto ele aproximava-a mais dele, empurrando nela tão intenso que eles moviam a cama. Apoiando o braço contra a cabeceira da cama, ele rosnou um som selvagem primitivo de fome quando ela levantou as pernas longas em torno de sua cintura, permitindo-lhe se impulsionar completo para dentro, até que ela tinha tomado cada centímetro grosso exigente dele. 

Seu amor derramava-se através do toque do seu corpo contra o dele, a cegueira, a emoção de cortar a respiração preenchendo todo o frio, as feridas de raiva que tinham sido marcadas no tecido da sua alma. E quando o prazer da mente quebrando caiu neles, vinculando-os juntos, Quinn baixou seu corpo sobre o dela, prendendo o pequeno compasso de prata que ele tinha colocado em volta do pescoço entre eles... Sabendo que finalmente eles encontraram o lugar onde seus corações pertenciam.


Fim.



Não deixe de ler a emocionante conclusão da trilogia Instinto Primitivo, Á BEIRA DO DESEJO, em que Riley Buchanan se reúne com a mulher que ele nunca esqueceu. Continue lendo para uma prévia!
 

Capítulo Um
  Alguns desejos podem ser mortais...
  Sábado de manhã

  Ele precisava de uma mulher. Na pior das hipóteses, assim, possivelmente arrasadora. E, no entanto, nenhuma das mulheres por onde Riley Buchanan passou em seu caminho pela cidade à beira-mar de Pureza, Washington, serviria. Nenhuma delas era exatamente o que ele queria. O que ele desejava.

  Curvando os ombros contra o acelerado vento frio soprando do Pacífico, ele deixou o perfumado ar salgado tão diferente dos ventos seco da montanha que chamava de casa em Henning, Colorado encher sua cabeça, e por um momento, ele capturou um rápido cheiro que esfaqueou no seu interior, golpeando-o. Era familiar e ainda deliciosamente diferente, e ele parou no centro da calçada, seus olhos vasculharam a rua principal movimentada de Pureza, lutando para discernir sua origem. Ele ficou lá preso num nó de pânico, atordoado, enquanto seu peito arfava com a força da sua respiração. Mas não havia nenhum suave, surpreendente rosto de seu passado. Nenhum olho luminoso grande piscando de volta para ele, em reconhecimento atordoado. Nenhuma boca curvada em um sorriso tímido e concentrado. Ninguém que ele pudesse pegar no enxame caótico de pessoas da cidade que cutucou sua memória, levando-o de volta a um tempo que ele tinha feito tudo para esquecer.

  Explodindo uma respiração áspera, ele admitiu que fosse apenas sua mente pregando peças, que parecia estar acontecendo mais e mais estes dias. Ele pensou que empurrando o período de sua vida em uma abóbada impenetrável mental, travando-o afastado para sempre, mas o maldito despertar estava enroscando com a sua sanidade mental, fazendo-o lembrar de coisas e pessoas, que estariam melhores no esquecimento.

  'E, no entanto, ela não é a mesma coisa que você anseia?'

  Irritado por deixar sua imaginação tirá-lo do sério, Riley forçou uma onda de memórias indesejadas de sua mente, e partiu novamente para baixo na calçada lotada, enquanto a nervosa, inquieta necessidade continuava a arrastar-se debaixo de sua pele. Ele sabia sua fonte, sabia exatamente de onde surgiu, mas não havia nada que ele pudesse fazer sobre isso. O antigo sangue Merrick dentro de seu corpo estava chegando vivo dentro dele, e isso significava apenas uma coisa: Seus dias estavam contados.

A escuridão estava batendo em sua porta, mas não era a sua vida que pendia na balança. Era a sua alma.

  Xingando baixinho sob a respiração, Riley enfiou as mãos nos bolsos da calça jeans, enquanto que as rajadas de vento que sopram do mar batiam seu cabelo em torno de seu rosto. Apesar do clima de violência, Pureza, Washington, era um lugar bonito, preso entre a beleza, áspera majestosa de uma floresta de outono e um imponente rochedo escarpado que olhava o espancamento da fúria do Oceano Pacífico. 

Em qualquer outro dia ele teria ficado cativado pela cidade, mas esse não era qualquer outro dia. Ele e Kellan Scott tinham acabado de chegar em Pureza, naquela manhã, com o objetivo de recuperar o Marcador Escuro que eles acreditavam que estava enterrado aqui na comunidade costeira sonolenta. Sua irmã, Saige, só tinha acabado de decifrar o mapa codificado que deu instruções para a localização do marcador no dia anterior, e Riley tinha imediatamente insistido que ele fosse o único a ir atrás da cruz poderosa. Seu irmão e irmã tinham argumentado que nem uns loucos, mas no final Riley tinha ganhado com a simples força da sua vontade obstinada.

 Localizando Kellan vindo da direção oposta, ele evitou um grupo de mães conversando em torno de um círculo de carrinhos de criança e esperou que o Guardião o alcançasse. Eles dividiram-se não muito tempo depois de chegar na cidade, Riley dirigindo-se para descobrir o que podia sobre a terra onde eles acreditavam que a cruz estava sepultada, e Kellan para verificar o banco de dados de notícias local para ver se quaisquer acontecimentos estranhos ou desaparecimentos estavam relatados. Era quase positivo que o Casus, que brevemente tomou posse dos mapas misteriosos poucas semanas antes, não tivesse sido capaz de decodificá-los. Mas eles não estavam dando quaisquer chances.

— Encontrou alguma coisa? – Perguntou ao Guardião que se aproximava.

O jovem balançou a cabeça, o sol brilhando como cobre fora do abismo, nos fios do seu cabelo ruivo, os olhos azul-esverdeados brilhantes, com uma faísca, sempre presente nos guardiões. Kellan Scott era um bastardo, musculoso e forte, razão pela qual ele tinha sido enviado junto com Riley para encontrar o marcador.

— E você? – Kellan perguntou, enquanto duas jovens em torno dos vinte passavam, seus olhares brilhantes olhando-os com satisfação óbvia. Kellan olhou rapidamente a loira gostosa, vem-e-me-pega sorriu antes de Riley encará-las furioso.

— A terra onde Saige nos disse para procurar é da mesma mulher que possui um café que vimos quando chegamos na cidade, nos penhascos. Summers Millicent é o nome dela – disse ele, quando finalmente Kellan voltou seu estranho olhar colorido do grande traseiro loira e voltou o para a carranca de Riley.

— Millicent. Mmm... Parece doce. Vamos conhecê-la – murmurou o Guardião, sorrindo quando ele elevou as sobrancelhas.

— Eu acho que Millicent poderia ser um pouco velha para você – ele lamentou, tentando desviar a direção dos pensamentos de Kellan. A mente do cara parecia uma bússola permanentemente apontada para o sexo. Manhã, tarde e noite.

  O sorriso de Kellan se contraiu no canto quando ele levantou os ombros.

— As mulheres são como o vinho, Ri. Eles só melhoram com a idade.

  Balançando a cabeça, Riley partiu pela calçada, uma vez mais, com Kellan seguindo a seu lado. Quando uma morena sorridente atravessou seu caminho, um instantâneo sorriso nos lábios, dirigido em sua direção, Riley olhou para longe. Novamente. O mesmo que ele vinha fazendo há semanas.

 — Olha, é óbvio que você não tem problemas em atrair mulheres – Kellan murmurou enquanto eles viraram à esquerda na próxima esquina. — Então, basta escolher uma e dar para o Merrick o que ele precisa, já. E eu não sou o único que está pensando. Todos em volta de Ravenswing estão dizendo a mesma coisa.

— Não é um caso de escolher apenas uma – ele rangeu. — Acredite ou não, Kell, alguns de nós são realmente mais exigente que você.

  O Guardião murmurou algo sob sua respiração, levou a mão para trás dos cabelos, em seguida, enviou-lhe um olhar de confusão frustrada. 

— Honestamente, cara, eu não sei o que é isto sobre vocês Buchanans. Por que você sempre tem que fazer tudo tão malditamente difícil?

  Riley resmungou, sabendo exatamente o que significava para Kellan. O despertar de Ian não foi nada fácil. Mas ao contrário de seu irmão, que tinha medo de alimentar-se da mulher que em breve seria sua esposa, preocupado se tomaria muito sangue e a mataria acidentalmente, não era a esta parte da alimentação do seu despertar que apavorava Riley. Ele sabia que, depois de ver Ian e Saige atravessar a mudança, que ele poderia tomar o que ele precisava, sem agredir a mulher embaixo dele. Mas isso não mudava o fato de que ele ainda teria que encontrar uma mulher disposta a deixá-lo afundar seus dentes em sua garganta, que era muito malditamente improvável. E depois havia a questão do Casus, que iria, sem dúvida caçar qualquer uma que ele escolhesse.

  Para não mencionar, você ainda não encontrou o que você quer...

 Ele sabia que, caramba. E ele também sabia que não ia encontrá-la. Não quando ela estava do outro lado do país, provavelmente se estabelecendo com uma ninhada de filhos e um marido adorável que a adorava o jeito que merecia ser adorada. Inferno, mesmo se ele achasse as bolas para localizá-la, ele sabia muito bem o quão Hope Summers reagiria se o visse novamente. Ele poderia receber sua mão em seu rosto, ou o punho em seu olho, e o que quer que fosse. Não mais do que ele merecia, e não menos do que ele esperava.

  Fechando os dentes, ele empurrou o queixo em direção ao pitoresco lugar de dois andares, café de madeira com telhas que se situava à frente, aninhado entre as deslumbrantes, cercas de falésias e a floresta espessa altos. Esse é o lugar.

  Kellan leu a placa de madeira virada em um poste para baixo na rua. 

— Millie. Nome bonito.

Riley enviou o sorriso forçado de aviso ao Guardião. 

— Só me faça um favor e tente se comportar.

— Eu sempre o faço – Kellan contrapôs, coçando preguiçosamente seu peito coberto de moletom, onde os restos desbotados de logo do AC/DC apenas poderia ser lida.

— Como diabos você faz – resmungou Riley, uma estridente trovoada pontuando suas palavras, anunciando uma tempestade.

  Abrindo a porta do café, eles entraram dentro e Kellan dizia o que tinha perdido sob o zumbido nos ouvidos Riley enquanto ele vasculhava em uma respiração profunda e maldição... perto da morte. Aconteceu novamente. Este cheiro. Familiar, como algo que ele tinha conhecido antes... Mas diferente. Rico. Doce. Mais profundo do que se lembrava.

  Ele olhou, procurando, tentando encontrar a fonte, o coração batendo como um tambor excêntrico, e depois a porta da cozinha se abriu perto de sua visão. Hope? Ele suspirou, incapaz de acreditar que pudesse ser verdade. Era... Impossível.

  Como se ela tivesse ouvido o nome dela sussurrado nos seus lábios, a mulher em pé atrás do balcão de madeira brilhante lentamente se virou em sua direção. Ela piscou um par de grandes, luminosos, olhos cor de topázio, o queixo trêmulo como se tivesse visto um fantasma. Como se ela não pudesse acreditar que ele estava ali, no meio do café lotado. Ela abriu a boca, rosa suave, e ele deu um passo para frente, acidentalmente batendo em outro cliente. Ela engoliu em seco, olhando... Os seios pesados subindo e descendo por baixo de uma camiseta, muito folgada.

 E então, de repente ela soltou um grito horripilante de raiva.

 — O que ele...

  Antes que Kellan pudesse terminar sua maldição assustada, Hope Summers mirou e bateu estapeando Riley no centro de sua testa. Mas não foi um soco que tinha acertado ele. Nenhum meramente desordenado bofetão ou tapa de mão aberta. Não, pensou ele, fazendo caretas enquanto a quente derretida sujeira que ela tinha atirado com precisão mortal pingava em seus olhos, ofuscando sua corada expressão furiosa. A mulher tinha lhe batido com uma quente torta de maçã caseira.

  E o destino, parecia que tinha encontrado uma última forma de confundi-lo depois de tudo.

















 

 

  

PEGASUS LANÇAMENTOS
E
PROJETO REVISORAS TRADUÇÕES

APRESENTAM...

 

Instinto Primitivo 02

A Beira do Perigo

Rhyannon Byrd

 

 

 

Livro disponibilizado da lista do PRT

Pesquisa:  Safire

Tradução do inglêsMilla Nebias

Revisão inicial:  Lucimar Cardoso

Revisão Final:  Silvia Helena

Formatação:  Karina Rodrigues

Logo/arte:  Bia Costa

 

 

Informação da Série

Instinto Primitivo – 00. À Beira da Paixão – Pégasus Lançamentos (distribuído)

http://www.4shared.com/document/MCxEyIfH/Instinto_Primitivo_-_00_-_A_be.html

Instinto Primitivo - 01. À Beira da Súplica – Pégasus Lançamentos (distribuído)

http://www.4shared.com/document/N8lUDFzY/Instinto_Primitivo_-_01_-_A_be.html

Instinto Primitivo - 02. À Beira do Perigo - Pégasus Lançamentos (distribuído)

http://www.4shared.com/document/fcu8c2rB/Rhyannon_Byrd_-_Instinto_Primi.html

Instinto Primitivo - 03. À Beira do Desejo - Pégasus Lançamentos (revisão final)

Instinto Primitivo - 04. Toque de Sedução - PRT  

Instinto Primitivo - 05. Toque de Rendição - PRT

Instinto Primitivo - 06. Toque de Tentação – PRT

 Caro leitor, (Nota Rhyannon)


   Eu estou excitada por presenteá-lo com À BEIRA DO PERIGO (Edge of Danger), o segundo livro da minha nova série Instinto Primitivo com HQN Books. Situado num mundo onde criaturas paranormais vivem escondidas esta provocante trilogia continua com a história de Saige Buchanan e o sombrio e devastadoramente sexy metamorfo que rouba o seu coração.

Michael Quinn é um herói que se recusa a esquecer seu passado... Ou ariscar seu futuro. E no instante em que ele coloca os olhos em Saige num lotado bar brasileiro, ele a quer com uma fome implacável que é impossível negar. Mas Saige tem medo de si própria. Para conseguir o que quer, Quinn deve conquistar não apenas os seus próprios demônios, mas também daquela desconfiada e tempestuosa Buchanan.

Estou animada por compartilhar esse romance sedutor de Quinn e Saige com você e espero que seja algo que realmente toque seu coração!

Tudo de bom, Rhyannon 

Nota da revisora

 

Você vai adorar esses dois seres, tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais, na força e no amor. Por causa das diferenças e das igualdades eles demoram a se ajustar, mas quando se encontram...Ufa! é um alivio... para eles! Ambos altamente libidinosos o que transforma a primeira vez deles em algo maravilhoso. A forma como ele a inicia ao prazer é impagável. Insaciáveis é a palavra.

PS: a autora só pecou por não ter pesquisado mais sobre o Brasil, ao colocar nomes em alguns personagens em espanhol. Lucimar Cardoso

 

 


 

 

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