A Luz que Brilhou no
Abismo Escuro
MAGGI LIDCHI-
GRASSI
Editora
Shakti
Este livro � dedicado ao Grande Senhor e � Senhora
Celestial, Sri Aurobindo e a M�e.
Ele � tamb�m dedicado � minha amada m�e, Eliane, que
sofreu o ex�lio de seu lar, e ao meu pai, Henri Lidchi, que,
tendo lido o Mein Kampf de Hitler, teve a presci�ncia de
retirar-nos do cen�rio de seu terror.
AGRADECIMENTOS
Minha primeira d�vida de gratid�o vai para Arvind, que,
antes de qualquer pessoa e quando este livro era ainda um
ap�ndice � hist�ria de John Kelly, viu o significado do que
eu estava intentando. Em tr�s semanas de trabalho intensivo,
ele ajudou-me a peneirar o material que eu havia reunido at�
ent�o, e tamb�m conseguiu obter o livro de Peikoff e o
Ascens�o e Queda do Terceiro Reich Com inesgot�vel energia,
ele digitou minhas p�ginas no computador e foi uma fonte
de boas sugest�es. E a Suzanne, por sua meticulosa revis�o.
A Twinkie e Subash, cujo constante apoio e entusiasmo
sempre me sustentaram, digo "un grand merci". Obrigada
tamb�m a Swadhin, pela sua m�o sempre pronta a ajudar, e
tamb�m a Ulli.
Agrade�o a Dyumanbhai, atualmente curador gerente do Sri
Aurobindo Ashram, que serviu � M�e por muitos anos, pelas
�teis informa��es adicionais, pela ajuda e pelo caloroso apoio
e interesse, assim como a Nirodbaran, o secret�rio de Sri
Aurobindo.
Este livro procura reconhecer o que Sri Aurobindo, a M�e e
os instrumentos por eles escolhidos fizeram para salvar o
mundo da escurid�o. A todas as milh�es de pessoas que,
intencionalmente ou n�o, aderiram � Luz naquele momento
de grande prova��o, e assim permitiram que as for�as
evolucion�rias prevalecessem, e a todos que ainda o fazem,
nutrindo o conceito de uma nova consci�ncia e dessa forma
criando um clima que indubitavelmente possibilita que livros
como este sejam escritos, eu estendo meu cora��o e
agradecimento.
M.L.G.
INTRODU��O
Um amigo acabou de devolver-me um rascunho de A Luz
que Brilhou no Abismo Escuro, dizendo que eu jamais
poderia publicar este livro sem primeiro explicar Sri
Aurobindo e a M�e. Sri Aurobindo desencorajou todas as
biografias dizendo, "Minha vida n�o est� na superf�cie para
ser vista pelos homens". Quando me sentei para tentar
escrever algo sobre ele, percebi que n�o poderia. E a raz�o
pela qual n�o poderia � precisamente porque a vida de Sri
Aurobindo n�o est� na superf�cie para ser vista pelos
homens. Sri Aurobindo e a M�e s�o o futuro, a evolu��o
futura da humanidade. O futuro n�o pode ser compreendido
pelo presente, exceto profeticamente. Essa � a antiqu�ssima
situa��o do tempo linear em si pr�prio. Como traduzir uma
dimens�o para outra.
Tentarei explicar por analogia. Do raio X, Lorde Kelvin disse
ter certeza de que se mostraria uma farsa. Em 1943, o
presidente da IBM estimou que cinco computadores seriam
o m�ximo que o mercado mundial poderia absorver. No
s�culo passado, o Escrit�rio de Patentes dos Estados Unidos
escreveu ao presidente McKinley, dizendo que tudo que
poderia ser inventado j� o havia sido, e que n�o havia mais
raz�o para a exist�ncia de seu departamento. E na exibi��o
de Paris, quando o fon�grafo foi demonstrado pela primeira
vez, um dos ju�zes agarrou o exibidor pela lapela e o sacudiu
gritando, "Monsieur, voc� pensa que pode nos enganar com
seu ventriloquismo?"
Apesar da explos�o da bomba at�mica, o conceito do �tomo
n�o se tornou realidade na mente da maioria das pessoas. No
que se refere a isso, n�o nos atualizamos com o
conhecimento de que a Terra translada ao redor do sol,
enquanto gira em torno do pr�prio eixo. N�o apenas
retivemos as express�es do nascer e do p�r do sol, como
tamb�m � assim que vemos e sentimos isso: o Velho Sol
tranq�ilamente mergulhando atr�s das montanhas
ocidentais, recolhendo-se confortavelmente � noite, para,
brilhante, novamente se levantar cedo pela manh�. Apenas a
tentativa de experimentar o que est� na realidade
acontecendo j� causa vertigens na maioria dos organismos.
Geralmente, mesmo as descobertas simples levam uma
gera��o para tornarem-se lugares comuns, quer seja no
campo dom�stico, da f�sica ou m�dico, se pensarmos na
batalha travada contra a medicina homeop�tica. Hoje, a
hist�ria repete-se no campo do conhecimento oculto. A
despeito do fato de que o m�dium israelense Yuri Geller
tenha sido visto por milh�es na televis�o, demonstrando
entortar colheres com o poder da mente (n�o que Sri
Aurobindo tenha alguma coisa a ver com entortar colheres),
isso pareceu n�o causar uma mudan�a verdadeira no
entendimento do p�blico ou da ci�ncia sobre as leis f�sicas.
Enquanto a pesquisa acad�mica (Universidade Duke) sobre a
percep��o extrasensorial mostrou que o pensamento pode
ser transmitido � dist�ncia, e mesmo sonhos espec�ficos
podem ser implantados na mente de uma pessoa adormecida
por outra mente, sem est�mulo f�sico, achamos dif�cil
acreditar que a mente de l�deres pol�ticos possa ser
influenciada. Mas, temos alguma raz�o para n�o acreditar
que uma forma de bloqueio oculto ao projeto de Hitler tenha
sido utilizada com sucesso, desconhecida para o mundo?
Qualquer um de n�s, conscientemente ou n�o, pode apoiar
os poderes da Luz. Tais coisas somente podem ser
recontadas, n�o provadas, mas � isso exatamente que esta
compila��o est� tentando estabelecer. Fiz o m�nimo de
coment�rios poss�vel, de forma a permitir que o material
falasse por si pr�prio.
Esta � a hist�ria do violento ataque � evolu��o humana
empreendido pelo que �, agora, seu escuro passado
evolutivo, que a cada degrau resiste ao pr�ximo ciclo
evolutivo. Mais ainda, � a hist�ria das for�as que trabalharam
para det�-lo.
Tudo o que a humanidade alcan�ou espiritualmente e tudo
que estava avan�ando esteve sob um ataque de viol�ncia sem
precedentes durante a 2a Guerra Mundial. Nenhuma das
realiza��es externas de Sri Aurobindo nem da M�e podem
iluminar o papel que eles representaram nesse ponto de
nossa hist�ria. Fazer justi�a ao seu trabalho, localiz�-los
corretamente no tempo, espa�o e hist�ria, n�o � poss�vel
numa curta introdu��o. Basta dizer que eles foram a
vanguarda de um avan�o totalmente novo na evolu��o.
Resumidamente, Sri Aurobindo nasceu em Bengala, em
1872, estudou na Inglaterra, em St.Paul e em Cambridge, e
retornou � �ndia, onde se tornou um l�der revolucion�rio;
mas, depois de suas realiza��es espirituais numa pris�o
brit�nica, ele passou o resto de sua vida na Terra em retiro
I�guico, em Pondicherry, trabalhando a partir de planos
internos sutis.
A M�e, de descend�ncia sefardita do Oriente M�dio, nasceu
na Fran�a, em 1878, estudou artes em Paris, estudou
ocultismo com Th�on no norte da �frica, e juntou-se a Sri
Aurobindo em Pondicherry para apressar com ele o trabalho
da evolu��o. Dizer que seu trabalho sobre a consci�ncia
celular abre uma era totalmente nova na jornada da
humanidade em dire��o � luz seria dizer pouco.
A evolu��o terrestre trabalha em longos e tediosos ciclos,
mas a cada novo ciclo ela acelera; entre o come�o de um
novo ciclo e o fim de um velho existe um per�odo de
transi��o durante o qual o Esp�rito Supremo encarna para
iniciar e guiar a humanidade. Estamos agora vivendo
exatamente um desses per�odos cruciais.
T�tulos de livros da M�e e sobre o seu trabalho, assim como
de e sobre Sri Aurobindo, podem ser encontrados na
bibliografia. O Despertar dos M�gicos , que citamos
extensivamente, apareceu na Fran�a logo ap�s a 2a Guerra
Mundial e � de autoria de Louis Pauwels e Jacques Bergier,
que foi confinado num campo de trabalho nazista durante a
guerra. At� onde sabemos, foi o primeiro livro que tratou das
for�as n�o reveladas em a��o no Hitlerismo. Pauwels e
Bergier mencionam Sri Aurobindo, que eles haviam
obviamente lido. Eis o que dizem:
"A psicologia acompanha a ci�ncia muito de longe. A assim
chamada psicologia moderna ainda estuda o Homem
conforme a concep��o corrente num s�culo dezenove
entregue ao positivismo militante. A ci�ncia genuinamente
moderna lan�a-se � prospec��o de um Universo que se
descobre cada vez mais surpreendente e menos ajustado �
concep��o oficialmente aceita da estrutura da mente e da
natureza do conhecimento. A psicologia dos estados de
consci�ncia pressup�e um homem completo e est�tico: o
Homo sapiens do 'S�culo da Luz'. A f�sica desvela um
mundo que funciona em v�rios n�veis ao mesmo tempo e
que tem muitas portas se abrindo para o infinito.... As
ci�ncias exatas fazem fronteira com o fant�stico. As ci�ncias
humanas est�o ainda muradas por supersti��es positivistas. A
no��o do 'tornar-se', da evolu��o, domina o pensamento
cient�fico."
"A psicologia baseia-se ainda numa vis�o de homem
'acabado', cujas fun��es mentais foram catalogadas e
classificadas em ordem hier�rquica de uma vez por todas.
Agora nos parece, pelo contr�rio, que o Homem n�o est� de
maneira nenhuma em seu est�gio final; acreditamos ser
poss�vel discernir, atrav�s das grandes transforma��es que
est�o mudando a face do mundo, verticalmente na esfera do
conhecimento, horizontalmente como resultado dos agru-
pamentos de massa, os primeiros sinais de uma nova
tend�ncia na consci�ncia humana, uma 'mudan�a
rejuvenescedora' no interior do pr�prio Homem.
Conseq�entemente, uma psicologia adaptada ao tempo em
que vivemos, se for efetiva, deve, acreditamos, basear-se n�o
no que o Homem � (ou melhor, parece ser), mas no que ele
pode se tornar - ou seja, em sua evolu��o poss�vel." Na
�ltima d�cada deste s�culo, essa verdade torna-se
impressionantemente aparente.
Sri Aurobindo diz que uma das indica��es de que a Nova Era
est� se aproximando � que a ci�ncia reconhecer� mais e mais
as energias sutis. Esse momento est� pr�ximo.
M.L.G.
... Grandes seres tit�nicos e demon�acos poderes, Egos-
mundiais torturados pela lux�ria e pensamento e vontade,
Vastas mentes e vidas sem um esp�rito em seu interior:
Impacientes arquitetos da casa do erro, L�deres da ignor�ncia
e da instabilidade c�smicas E patrocinadores do sofrimento e
da mortandade Incorporavam as obscuras Id�ias do Abismo.
...
Sri Aurobindo de SAVITR1, Livro II, Canto VIII
"Se pudermos det�-lo (Adolf Hitler), toda a Europa estar�
livre e a vida no mundo poder� avan�ar para extensos e
ensolarados planaltos. Mas se falharmos, ent�o o mundo
inteiro afundar� no abismo de uma nova era de trevas."
Winston Churchill
I
"� parte da experi�ncia daqueles que avan�aram bastante no
caminho do Yoga que, al�m das for�as e atividades ordin�rias
da mente, da vida e do corpo na Mat�ria, existem outras
for�as e poderes que podem agir, e realmente agem, por tr�s
e de cima; h� tamb�m um poder espiritual din�mico que
pode ser possu�do por aqueles que s�o avan�ados em
consci�ncia espiritual, apesar de que nem todos se
interessem em possu�-lo ou, possuindo-o, em us�-lo, e esse
poder � maior que qualquer outro e mais efetivo."
Sri Aurobindo
Sem desculpas, mergulhamos o leitor diretamente no escuro
abismo do nazismo e da 2a Guerra Mundial, como registrados
por Leonard Peikoff em Os Paralelos Amea�adores:
"Os homens, mulheres e crian�as que se tornariam os
cad�veres saqueados ou os esqueletos vivos do sistema
nazista de campos de concentra��o foram aprisionados na
Alemanha, e depois por toda a Europa, �s centenas e aos
milhares, e depois aos milh�es. Eles eram aprisionados nas
casas, escrit�rios, f�bricas, fazendas, escolas, e mesmo ao
acaso, nos campos e nas ruas."
"O transporte dos prisioneiros aos campos seguia um certo
padr�o." De acordo com Bruno Bettelheim, um sobrevivente
de Buchenwald e um brilhante observador da vida nos
campos, "a natureza do traslado fazia parte de um plano
definido."
"Os prisioneiros recentes eram tratados com desprezo, aos
berros, eram esbofeteados, empurrados, chutados,
chicoteados... A alguns era ordenado que fitassem luzes ou
se ajoelhassem por horas.
Alguns era for�ados a bater ou a espancar outros
prisioneiros. Alguns eram for�ados a amaldi�oarem a si
mesmos, a seus entes amados e a seus mais preciosos valores.
Sob a amea�a de morte instant�nea, ningu�m ousava
pronunciar nem um murm�rio de protesto, fazer um gesto
em defesa pr�pria ou dar um passo para ajudar uma esposa
ou um marido ca�do � vista de todos, sangrando e morren-
do."
Hitler come�ou a tecer seu futuro infernal, preparando o
material humano necess�rio para torn�-lo realidade na Terra.
"Prisioneiros eram levados em vag�es de carga como gado,
comprimidos nus uns contra os outros, transportados de um
lado para outro sem raz�o, �s vezes por dias, e ent�o
depositados em centros de exterm�nio aos cuidados de
torturadores treinados."
"... A caracter�stica marcante do mundo dos campos n�o era
somente a injusti�a, ou mesmo o horror, mas o horror que
era inintelig�vel para a v�tima."
"Ao chegar aos campos, muitos dos prisioneiros,
estupidificados pelo pesadelo de sua pris�o e transporte, n�o
sabiam o que lhes estava acontecendo ou mesmo onde
estavam. Como regra, os nazistas n�o lhes diziam nada e n�o
respondiam perguntas. O comportamento dos guardas era o
de uma resposta ao evidente em si mesmo, comportavam-se
como se os prisioneiros fossem criaturas sem nenhuma
faculdade de intelig�ncia, ou como se os prisioneiros
houvessem agora entrado num mundo onde tal faculdade
fosse irrelevante."
"Na sociedade como um todo, os nazistas contavam
grandemente com o poder da ideologia; n�o existe outra
forma de reinar sobre um pa�s inteiro. A dissemina��o da
ideologia, no entanto - qualquer ideologia, mesmo a nazista -
implicitamente ratifica a import�ncia de id�ias de escolha e
julgamento individuais, da mente dos ouvintes.
Nos campos, tais implica��es n�o eram permitidas."
"N�o foi feita nenhuma tentativa de apresentar o ponto de
vista nazista aos prisioneiros. N�o havia pronunciamentos
justificat�rios, nem resumos do Mein Kampf, nem
propaganda, nem proselitismo. 'Educa��o (nos campos),'
declarou Himmler, 'consiste de disciplina, nunca de nem um
tipo de instru��o de base ideol�gica.'"
"A S.S. n�o queria que os prisioneiros aceitassem
intelectualmente o nazismo, e rejeitava qualquer tentativa de
aproxima��o da parte de pretensos convertidos. Quando
certos prisioneiros procuravam fazer as pazes com a Gestapo,
Bettelheim relata, a resposta da Gestapo era insistir em que
os prisioneiros reprimissem a express�o de qualquer um de
seus sentimentos, mesmo os pr�-nazistas. 'Livre aceita��o',
observa a senhorita Arendt, 'constitui-se num obst�culo
para a domina��o total, tanto quanto a livre oposi��o.'"
"Os dominadores dos campos n�o toleravam que um
prisioneiro se envolvesse com id�ias de nenhum tipo, quer
nazistas ou outras. Id�ias s�o irrelevantes para um prisioneiro
- essa era a id�ia mestra; em Buchenwald e em Auschwitz,
n�o havia lugar para o pensamento."
"Nem tampouco, os prisioneiros logo aprenderam, havia
lugar para a individualidade. Ao entrar num campo, o
prisioneiro trazia consigo o conhecimento alcan�ado pelo
homem civilizado; era evidente para ele que ele (como todos
os homens) era uma entidade individua1 com uma
identidade �nica. Os campos procediam metodicamente no
desprezo dessa evid�ncia."
"Caracteristicamente, os guardas n�o sabiam nem
procuravam saber nada sobre nenhum prisioneiro em
particular. Freq�entemente, eles n�o conseguiam, ou
deliberadamente recusavam-se a, reconhecer qualquer
diferen�a entre um prisioneiro e outro. Um assustador
igualitarismo prevalecia: para a S.S., as coisas sendo
manipuladas por gritos, chutes e armas n�o eram entidades
humanas individuais, cada uma com sua pr�pria apar�ncia,
car�ter, vida; elas eram c�lulas indistingu�veis de uma massa
indiferenciada, unidades sem face feitas de agonia, imund�cie
e indignas, cada uma igual e intercambi�vel com centenas ou
milh�es de outras tais unidades."
"A responsabilidade pessoal n�o era reconhecida nos
campos. Se um prisioneiro fizesse algo considerado como
pass�vel de puni��o, ele n�o era tratado como r�u. Ao inv�s
disso, tanto quanto poss�vel, todos os membros do grupo ao
qual ele pertencesse, inclusive ele mesmo, eram punidos
pela a��o, independentemente do comportamento ou do
conhecimento de cada membro com rela��o ao incidente;
todos eram cruel e igualmente punidos, e como um grupo.
(Fora dos campos uma variante desse m�todo era praticada: a
pol�cia intimidava algum grupo insatisfeito, como por
exemplo, m�dicos ou advogados, prendendo ao acaso uma
amostra de seus membros, sem refer�ncia a nenhuma a��o
individual, culpa ou inoc�ncia.)"
"Uma vez que os prisioneiros sabiam que todos poderiam ser
punidos pelos atos de qualquer um, eles freq�entemente
temiam e tentavam impedir a a��o independente por parte
dos outros prisioneiros, mesmo a a��o dirigida a ajudar
prisioneiros em especial necessidade ou perigo. Assim, feitos
de coragem her�ica eram geralmente condenados pelos
pr�prios benefici�rios, e os her�is, nas palavras de
Bettelheim, eram 'impedidos de reacender o respeito pelo
indiv�duo ou de inspirar uma aprecia��o da independ�ncia.'"
"Que uma inten��o espec�fica, e n�o apenas uma crueldade
fortuita, estava por tr�s disso � indicado pela pol�tica da S.S.
em rela��o aos prisioneiros que concordavam em servir
como seus espi�es. Um espi�o era vulner�vel a reprimendas
dos outros prisioneiros, mas a S.S. protegia-o apenas por um
tempo limitado, mesmo que ele estivesse transmitindo as
informa��es desejadas; depois desse tempo, matavam-no (ou
permitiam que fosse morto). 'Sob nenhuma circunst�ncia',
explica Bettelheim, 'eles deixariam que um prisioneiro se
tornasse uma pessoa atrav�s de seu pr�prio esfor�o, mesmo
que esses esfor�os fossem �teis � S.S.'"
"O prisioneiro n�o podia se tornar uma pessoa, acima de
tudo, a seus pr�prios olhos. Ele tinha que perder toda
conex�o com o mundo da efic�cia humana ou do valor
humano. Ele tinha que aprender a se ver como um sub-
animal acuado e fedorento, uma coisa sem nenhuma
capacidade, a n�o ser a de fugas moment�neas do terror e a
da satisfa��o moment�nea das necessidades f�sicas mais
baixas.
"N�o era suficiente que os prisioneiros enterrassem e
esquecessem sua individualidade; como alguns prisioneiros
compreenderam na �poca, a inten��o era que eles se
tornassem objetos repugnantes a seus pr�prios olhos."
"'No come�o [escreve um dos sobreviventes], os lugares
onde viv�amos, as valas, a lama, os montes de excremento
atr�s dos alojamentos chocaram-me profundamente com sua
horr�vel imund�cie... e ent�o eu vi a luz! Vi que aquilo n�o
era uma quest�o de desordem ou falta de organiza��o mas
que, pelo contr�rio, uma id�ia consciente muito bem
elaborada estava por tr�s da exist�ncia dos campos. Eles
haviam nos condenado a morrer em nossa imund�cie, a nos
afogarmos na lama, em nosso pr�prio excremento. Eles
desejavam nos degradar, destruir nossa dignidade humana,
apagar todo vest�gio de humanidade, levar-nos de volta ao
n�vel dos animais selvagens, encher-nos de horror e
desprezo por n�s mesmos e por nossos companheiros.'"
"Voc� n�o pode compreender, porque este mundo n�o pode
ser compreendido; essa era a primeira parte da mensagem
transmitida ao prisioneiro por todas as condi��es
degradantes e destruidoras da alma que ele encontrava,
incluindo os padr�es de vida incompat�veis com a vida, as
regras sem causa, as torturas sem prop�sito - as condi��es
que nenhuma mente poderia aceitar ou conceber, as con-
di��es impostas, porque nenhuma mente as poderia
conceber. E: voc� n�o pode entender porque voc� � nada;
essa era a segunda parte da mensagem."
"Um m�todo dessa campanha era confrontar o prisioneiro
com dilemas imposs�veis de serem resolvidos, que
apresentassem alternativas impens�veis, e ent�o exigir que
ele fizesse uma escolha. Um homem teria que escolher, por
exemplo, entre trair seus amigos, e assim mand�-los para a
morte, ou sua esposa e filhos; para tomar seu
posicionamento ainda mais imposs�vel, ele era acautelado de
que seu suic�dio levaria ao assassinato de sua fam�lia. Ou uma
m�e teria que escolher qual de seus filhos os nazistas
deveriam matar."
"N�o era suficiente que o prisioneiro suportasse o mal
passivamente; a inten��o era de primeiro paralisar sua
faculdade moral e ent�o for��-lo, qualquer que fosse sua
escolha, a implicar-se no mal. O prisioneiro torna-se, nas
palavras da senhorita Arendt, uma criatura que escolhe 'n�o
mais entre o bem e o mal, mas entre assassinato e
assassinato': e ele aparenta a si mesmo tornar-se, mesmo que
a contragosto, um acess�rio dos matadores. Racionalmente,
nenhum homem pode ser considerado respons�vel por atos
ou decis�es que lhe foram obrigados. Em muitos casos, no
entanto, a pol�tica dos campos conseguiu alcan�ar sua meta;
nas mentes de homens famintos e estupidificados, ela era
capaz de borrar a linha entre v�tima e matador. O resultado
era a eros�o do conceito de responsabilidade moral como tal,
e/ou o deslocamento da culpa para a v�tima.'"
"'N�o ouse perceber' - era ordenado aos prisioneiros - 'n�o
olhe para o que est� acontecendo ao seu redor, feche os
olhos e os ouvidos, n�o seja consciente. Violar essa regra',
coloca Bettelheim, 'era perigoso. Por exemplo, se um
homem da S.S. estivesse matando um prisioneiro e outros
prisioneiros ousassem olhar o que estava acontecendo em
frente a seus olhos, ele instantaneamente os matava
tamb�m.'"
"Para evitar tais repres�lias, o prisioneiro tinha que aprender
a suprimir qualquer sinal exterior de percep��o (assim como
ele tinha que suprimir qualquer sinal de individualidade); ou
ent�o ele tinha que realmente agir de acordo com a regra,
treinar-se na arte e na pr�tica da n�o-percep��o. Mas a n�o-
percep��o tamb�m n�o funcionava; na medida em que os
prisioneiros conseguiam sufocar seu poder de consci�ncia,
tornavam-se incapazes de se proteger at� do perigo evit�vel,
e n�o duravam muito."
"Era esperado que o prisioneiro renunciasse a tudo; ele
deveria renunciar a toda caracter�stica e fun��o volunt�ria,
desde pensamentos e valores at� o movimento de seus olhos
e de sua cabe�a." Os prisioneiros, � �bvio, eram for�ados a
um yoga pervertido. "Aquela penumbra s� fazia escurecer.
Aos homens da S.S. era proibido conversar com os outros,
exceto o que fosse necess�rio para o cumprimento de seus
deveres. Quando criticados em reuni�es, eles simplesmente
levantavam-se e sa�am. A id�ia, como salientou o ministro
do Reich Schwerin von Krozigk, era 'cultivar um
determinado car�ter'. O capit�o da S.S. Josef Kramer
descreveu em Nuremberg como matou com g�s oitenta
prisioneiros de Auschwitz. Foi-lhe perguntado quais eram os
seus sentimentos na �poca. 'Eu n�o tinha sentimentos', ele
respondeu. 'Assim ... foi como eu fui treinado'. 'Mas',
salienta Bettelheim, 'se algu�m desiste de observar, de reagir
e de agir, desiste de sua pr�pria vida. E era isso exatamente o
que a S.S. queria que acontecesse.'"
"A maioria dos guardas n�o sabia, mas o mesmo tipo de causa
estava produzindo o mesmo tipo de efeito neles tamb�m. O
jovem da S.S. pode ter pensado que estava meramente
fazendo um trabalho ou ganhando uma promo��o, mas, de
fato, ele tamb�m n�o estava mais vivendo sua pr�pria vida."
"Os guardas eram bem vestidos, bem alimentados e
ideologicamente treinados. Mas eles tamb�m estavam sendo
processados e moldados. O prisioneiro estava aprendendo a
submeter-se ao poder absoluto. O guarda estava aprendendo
a exerc�-lo, com tudo o que isso requer, e destr�i, daquele
que o exerce."
"Com toda puni��o imotivada que infligia, quer em resposta
a uma ordem ou por iniciativa pr�pria, o jovem guarda
estava negando a id�ia do homem como entidade soberana e
possuidora de direitos; ele estava negando-o n�o apenas na
mente do prisioneiro, mas na sua pr�pria. Com cada
atrocidade impens�vel que cometia, o guarda estava negando
seu senso pregresso de moralidade, estava ajudando a tornar
irreal a seus pr�prios olhos sua vida anterior ao campo,
incluindo os valores n�o nazistas que ele uma vez possu�ra.
Com cada regra insana e contradi��o mut�vel que mantinha
ou inventava, o guarda estava se educando na
insensibilidade, estava aprendendo a fazer da nega��o da
l�gica um h�bito mental que logo se tornaria para ele uma
segunda natureza. (O guarda experienciava todas essas
nega��es tamb�m como receptor: n�o havia forma de
puni��o ou de capricho maligno e selvagem que seus
superiores n�o infligissem nele quando sentissem vontade.)"
"Ningu�m, nem os prisioneiros nem os guardas, podia
suportar ou mesmo acreditar completamente naquilo. Os
prisioneiros n�o podiam acreditar num mundo no qual os
caprichos da S.S. estabeleciam todos os termos da exist�ncia
humana. Eles n�o podiam acreditar num mundo que parecia,
nas palavras da senhorita Arendt, 'perpetuar o pr�prio
processo da morte', como se 'algum esp�rito mau
enlouquecido estivesse se divertindo, mantendo-os entre a
vida e a morte. ... '"
N�o havia d�vida a respeito. Nada poderia ser mais claro.
Isso era o que realmente estava acontecendo.
"... Eles tinham que lutar at� para absorver os tipos de
eventos que testemunhavam ou ouviam falar, tais como
grandes cirurgias sendo executadas em prisioneiros por
m�dicos treinados, 'sem a menor raz�o', um sobrevivente
escreve, e sem anestesia; ou, como um outro relata, um
prisioneiro sendo jogado, como puni��o, numa 'grande pa-
nela de �gua fervente, que seria utilizada para preparar o caf�
do campo. A [v�tima] foi escaldada at� a morte, mas o caf�
foi preparado com aquela �gua do mesmo jeito'; ou crian�as
sendo escolhidas ao acaso, 'agarradas pelos p�s e
arremessadas contra troncos de �rvores'; ou chamas
'erguendo-se de uma vala, labaredas gigantes. [Os nazistas]
estavam queimando algo. Um caminh�o aproximou-se e
descarregou sua carga - crian�as pequenas. Beb�s! Sim, vi
com meus pr�prios olhos.... Estaria sonhando? N�o podia
acreditar.'"
"Afora os verdadeiros assassinatos, esta era a caracter�stica
mais letal dos campos: a maioria dos prisioneiros n�o podia
aceitar a realidade daquilo que viam, n�o podia conciliar o
horror com a vida que tinham conhecido um dia, e ainda
assim n�o podia negar a evid�ncia de seus pr�prios sentidos.
Para essas pessoas, os campos perderam toda a conex�o com
a vida na Terra e adquiriram um tipo de aura metaf�sica, a
aura de n�o serem institui��es humanas na Europa, mas um
'outro mundo', um mundo imposs�vel, como uma segunda
dimens�o sobrenatural da exist�ncia, inconceb�vel em si
pr�pria e ainda assim eliminando a primeira...."
Era realmente uma infiltra��o de outra dimens�o da
exist�ncia, um outro mundo feito de carne, n�o mais
mantido � baila por nenhuma fagulha de Raz�o. Aqui, o
inferno governava inteiramente.
"O produto final dos campos, que os nazistas
cuidadosamente moldavam, era a morte. O que a S.S. forjou
foi a morte em massa, sem um murm�rio de protesto, a
morte aceita placidamente, tanto pelas v�timas quanto pelos
matadores, a morte executada n�o como um tipo de exce��o,
nem como um ato de vingan�a proposital ou de �dio, mas
como uma rotina casual, sorridente e at� mesmo caseira,
freq�entemente com o pano de fundo de canteiros de flores
e ao acompanhamento de animadas operetas. Era a morte
como a confirma��o de tudo o que a havia precedido, a
morte como a demonstra��o final de um poder absoluto e da
falta de raz�o absoluta, a morte como o triunfo final do
nazismo sobre o homem e sobre o esp�rito humano."
Mesmo nessas an�lises intelectuais, Leonard Peikoff,
Hannah Arendt e Bruno Bettelheim intu�ram as realidades
por tr�s das transparentes apar�ncias e usaram imagens
ocultas e metaf�sicas. Nenhuma outra serviria.
"Mas os matadores, tamb�m, eram humanos, ao menos
biologicamente, e, mesmo com todo seu treinamento, mal
podiam digerir tal triunfo. A maioria n�o conseguia encarar o
que estava fazendo e tentava n�o saber de nada de que n�o
precisasse saber. Como os prisioneiros, a S.S. tamb�m
terminou, na verdade, praticando a arte de 'n�o perceber'. O
'perceber' do prisioneiro era erradicado dele pelo terror; para
ela mesma, a S.S. encontrou outro m�todo: a bebida. ...A
maioria dos guardas estava t�o freq�entemente b�bada, que a
sobriedade se tornou digna de nota: 'no seu relat�rio sobre
uma execu��o em massa pela S.S.', a senhorita Arendt
escreve, 'uma testemunha ocular [nazista] tece altos elogios a
uma tropa, que havia sido t�o "idealista" que foi capaz de
suportar "o exterm�nio inteiro sem a ajuda de bebidas
alco�licas.'"
"Os partid�rios de Adolf Hitler estavam proibindo seus
inimigos de perceber a realidade, e lutavam para induzir a
mesma nulidade em seus pr�prios cr�nios. Os oponentes da
consci�ncia estavam lutando para extingu�-la em suas
v�timas e neles mesmos." ...
"Os campos de concentra��o eram um importante fator de
abastecimento do reinado de terror nazista por todo o pa�s,
um reinado que, em algum grau, provou ser indispens�vel a
todas as ditaduras da hist�ria. Todos os detalhes da vida nos
campos eram escondidos dos alem�es por estrito edital
governamental, mas a exist�ncia dos campos, assim como a
amea�a que eles representavam a qualquer um culpado de
desobedi�ncia, eram vivamente anunciadas."
"Entretanto, como um todo, o fen�meno dos campos
transcendia essa explica��o, ele transcendia quest�es
econ�micas, c�lculos pol�ticos, precedente hist�rico, e
qualquer preocupa��o ou necessidade 'pr�ticas', incluindo
at� os requerimentos b�sicos da pr�pria sobreviv�ncia do
regime, fato eloq�entemente ilustrado pelas a��es das
lideran�as dos campos na �ltima parte da guerra.
Confrontados por uma amea�adora situa��o militar, esses
homens tomaram os desesperadamente necess�rios ve�culos
para transportar v�timas para os campos, constru�ram
enormes usinas de exterm�nio, apesar de uma aguda falta de
material de constru��o, e enfraqueceram projetos cr�ticos de
armamentos ao prender e deportar trabalhadores em massa.
'Aos olhos de um mundo estritamente utilit�rio [isto �, pr�ti-
co]', observa Hannah Arendt, 'a �bvia contradi��o entre
esses atos e o interesse militar deu ao empreendimento todo
um ar de louca irrealidade.' "
"Existe apenas uma explica��o fundamental para os campos
de concentra��o. Os campos s�o 'experi�ncias' sobre o
poder, mas experi�ncias de um tipo �nico, com um m�todo
e inspira��o, espec�ficos, e com resultados espec�ficos, que
est�o ainda para serem completamente identificados. A
inspira��o est� impl�cita na pr�pria natureza e nas pr�ticas da
vida nos campos. "Devemos nos lembrar que isso n�o era
apenas um m�todo para a vida nos campos, mas um padr�o
de treinamento a ser implementado no pa�s inteiro, e
finalmente na Europa e no mundo. Esta era a l�gica dos
campos de concentra��o: treinar os soldados do satanismo. "
Nosso esfor�o com este livro � justamente o de tra�ar a
inspira��o e identificar sua fonte, levantar o v�u de um
mundo que ainda existe.
Hitler vangloriava-se:
"Somos freq�entemente insultados por sermos os inimigos
da mente e do esp�rito. Bem, isso � o que somos, mas num
senso muito mais profundo do que a ci�ncia burguesa, em
seu orgulho idiota, jamais poderia imaginar."
II
O ano � 1932, v�rios anos antes dos campos de
concentra��o, sete anos antes do in�cio da guerra. O lugar � a
aconchegante e r�stica casa de Hitler no Obersalzberg. O
Dr.Hermann Rauschning, futuro governador de Danzig e
um dos confidentes de Hitler, est� ouvindo Hitler falar sobre
o problema de uma muta��o da ra�a humana. Rauschning
nunca havia sido mais nada que um humanista, no come�o
um admirador de Hitler e, n�o possuindo a chave para t�o
estranhas preocupa��es, interpreta as observa��es de Hitler
em termos de um criador de animais interessado no
melhoramento da ra�a alem�. Em seu A Vida de Hitler, ele
conta a sua resposta:
"Mas tudo o que pode ser feito � dar assist�ncia � Natureza e
encurtar a estrada a ser seguida! � a pr�pria Natureza que
deve criar para voc� uma nova esp�cie. At� agora, apenas
em raras ocasi�es, os criadores tiveram sucesso no
desenvolvimento de muta��es em animais - ou seja, nele
mesmo criar novas caracter�sticas." Hitler exclamou
triunfantemente:
"O novo homem est� vivendo entre n�s agora! Ele est� aqui!
Isso n�o � suficiente para voc�? Vou contar-lhe um segredo.
Eu vi o novo homem. Ele � intr�pido e cruel. Fiquei com
medo dele."
"Ao pronunciar essas palavras," completa Rauschning,
"Hitler estava tremendo, numa esp�cie de �xtase."
Outros t�picos queridos ao cora��o de Hitler foram
ventilados num fr�gido dia outonal, nas montanhas b�varas.
Hitler, cantarolando trechos de uma �pera wagneriana,
alegremente acolhe seus convidados, Dr.Rauschning e
Linsmayer.
"A �ltima guerra," diz Hitler, "degenerou ao final. Para a
pr�xima guerra, preciso n�o ter escr�pulos e escolherei
qualquer arma que julgue necess�ria. Os novos gases
venenosos s�o terr�veis... vamos arruinar a sa�de f�sica de
nossos inimigos da mesma forma como vamos despeda�ar
sua resist�ncia moral. Tem futuro a guerra microbiol�gica?
Eu digo que sim. Para dizer a verdade, n�o estamos ainda
muito avan�ados nessa t�cnica, mas experimentos est�o em
andamento e parecem estar se desenvolvendo bem.
Entretanto, o uso da arma � limitado. Ela � especialmente
�til no enfraquecimento dos advers�rios antes do in�cio das
hostilidades. Nossas guerras come�ar�o antes das opera��es
militares. E devo pensar que teremos os meios para cortar a
garganta da Inglaterra, caso ela se decida a enfrentar-nos. Ou
dos Estados Unidos."
Forster, um outro convidado: "Voc� fala em contaminar o
inimigo antes das hostilidades serem declaradas."
"Por nossos agentes, inofensivos viajantes."
Ent�o, muitos anos antes de a guerra ser declarada, com o
que Rauschning descreve com sua gutural e amea�adora voz,
Hitler pinta, para uma fascinada audi�ncia, um quadro de um
cortejador Herr Schmidt ou Herr Schultz, todo sorrisos ao
atravessar a fronteira, com o porta-malas cheio de amostras e
micr�bios, olhos faiscando de mal�cia por tr�s dos �culos.
Suficiente para botar uma cidade inteira por terra. Hitler
exclama, "Nunca sucumbiremos, mas se o fiz�ssemos,
arrastar�amos o mundo inteiro conosco". Mais trechos do
"Crep�sculo dos Deuses". Quando chegarmos aos �ltimos
dias de Hitler, teremos raz�es para lembrar sua amea�a.
O f�rtil c�rebro de Hitler produz grande n�mero de id�ias,
enquanto ele fita as ador�veis montanhas banhadas pelo sol.
"Se eu fizer a guerra, Forster, vou, talvez, mergulhar ao
fundo da paz, mandar nossas tropas marchando Paris adentro
em uniformes franceses. Elas marchar�o em plena luz do dia.
Ningu�m as deter�. Planejei tudo at� o mais �nfimo detalhe.
Senhores, sempre aquilo que � mais improv�vel � mais
seguramente bem sucedido."
Todos acreditariam, ele explica, que os numerosos grupinhos
cruzando a fronteira em �poca de paz fossem pac�ficos
turistas. Hitler desprezava militares que ficavam atolados em
t�ticas militares ou em c�digos de honra. Ele havia dissecado
o problema �s min�cias, e contava-o, Rauschning relata-nos.
"O que voc� est� dizendo," murmurou Forster para
Rauschning mais tarde. "Hitler � um g�nio, um especialista
universal."
Linsmayer pediu permiss�o para ser fotografado com Hitler.
� ainda Rauschning que nos relata o seguinte:
"Uma pessoa pr�xima a Hitler contou-me que ele acorda �
noite gritando e tendo convuls�es. Pede ajuda e aparenta
estar semi-paralisado. Ele � tomado por um p�nico que o faz
tremer at� sacudir a cama. Pronuncia sons inintelig�veis,
arquejando como que a ponto de se asfixiar. A mesma pessoa
descreveu-me um desses ataques com detalhes que me
recusaria a acreditar, n�o tivesse total confian�a em meu
informante. Hitler estava de p� em sua sala, o corpo
oscilando, olhando � volta como que perdido. '� ele, � ele,'
disse desesperado; 'ele veio me buscar!' Seus l�bios estavam
brancos, e suava profusamente. De repente, ele pronunciou
uma s�rie de sons sem significado, e ent�o palavras e esbo�os
de senten�as. Era aterrorizante. Ele usava express�es
estranhas, alinhavadas numa bizarra desordem. Depois,
recaiu no sil�ncio, mas seu l�bios ainda se moviam. Foi-lhe
aplicada uma massagem e dado algo para beber. A�,
repentinamente, ele gritou: 'Ali! Ali! Ali!, no canto! Ele est�
ali!' Todo o tempo batendo os p�s e gritando."
De novo Rauschning, "N�o se pode evitar pensar nele como
um m�dium. Pois, na maior parte do tempo, os m�diuns s�o
pessoas comuns, insignificantes. Subitamente eles s�o
brindados com o que parece ser poderes sobrenaturais, que
os destacam do resto da humanidade. Esses poderes s�o algo
exterior � sua verdadeira personalidade - visitantes, por assim
dizer, de outro planeta. O m�dium � possu�do. Uma vez
passada a crise, eles recaem na mediocridade. Era dessa
forma, indubitavelmente, que Hitler era possu�do por for�as
exteriores a ele - for�as quase demon�acas, de que o
indiv�duo chamado Hitler era apenas ve�culo tempor�rio.
Essa mistura do banal com o sobrenatural criou aquela
insuport�vel dualidade que era sentida na presen�a dele."
N�s omitir�amos o "quase", e este livro mostrar� por que. J.
H. Brennan, ele pr�prio um adepto, em seu livro Reich
Oculto , interpreta os sons bizarros como encantamentos
pronunciados por um adepto iniciante, para expulsar seu
visitante indesejado e aterrorizante, que ningu�m mais podia
ver. Retornaremos a esse epis�dio mais tarde.
Pauwels e Bergier em seu livro, O Despertar dos M�gicos,
tamb�m citam Strasser e Bouchez: "Ouvindo-se Hitler, tem-
se repentinamente a vis�o daquele que levar� a humanidade
� gl�ria.... Uma luz aparece na janela escura. Um senhor,
com um bigodinho c�mico, transforma-se num arcanjo.
Ent�o, o arcanjo voa para longe... e l� est� Hitler sentado,
banhado em suor, com olhos vidrados."
"Olhei nos olhos dele - os olhos de um m�dium em transe....
�s vezes parecia haver um tipo de ectoplasma; o corpo
daquele que falava parecia estar habitado por algo... fluido.
Posteriormente, ele recolhia-se novamente � insignific�ncia,
parecendo pequeno, e mesmo vulgar. Ele parecia exausto,
com as baterias descarregadas."
"Nas palavras do Dr. Delmas, um especialista em psicologia
aplicada: 'Um poderoso ressoador, Hitler sempre foi o 'alto-
falante' que ele alegou ser no julgamento de Munique, e
assim foi at� o final.' ..."
Pauwels e Bergier resumem:
"O que nos parece certo � que Hitler era animado por algo
diferente do que ele pregava: por for�as e doutrinas mal
coordenadas, sem d�vida, mas infinitamente mais perigosas
que a mera teoria do nacional socialismo - uma id�ia muito
maior que qualquer coisa que ele pensasse a seu pr�prio
respeito, que era mais do que ele podia conceber (e
infinitamente maior do que ele jamais poderia manipular), e
que ele s� podia transmitir a seu povo e a seus
colaboradores... numa forma muito vulgarizada e
fragmentada."
Rosenberg, um partid�rio assumido do satanismo
(erroneamente interpretado como mero paganismo), havia
sido nomeado o representante do F�hrer para toda a
educa��o e instru��o intelectual e filos�fica do Partido
Nacional Socialista. No programa de trinta pontos de
Rosenberg, Hitler emergia como o salvador do mundo, e a
sua nova Igreja Nacional do Reich controlava todas as igrejas
da Alemanha, seu Mein Kampf foi declarado o maior de
todos os documentos e apenas o s�mbolo inconquist�vel, a
su�stica, podia ser hasteada em catedrais, igrejas e capelas.
Hitler embriagava-se com �dio e com palavras de �dio. Ele
n�o era um grande orador. Sua voz era muito �spera. Ele era
entediante. Era repetitivo. Era impreciso. Shirer, em seu
Di�rio de Berlim , afirmou que, at� que se perdesse em suas
paix�es de raiva e �dio, ele nunca se elevava al�m do n�vel
da mais baixa mediocridade.
"Mas quando ele se soltava, quando realmente mergulhava
naqueles transes de ext�tica raiva, ondas de poder bruto
flu�am dele e envolviam a audi�ncia. Suas palavras n�o
tinham a menor import�ncia. H� pelo menos um caso de um
bret�o, que n�o entendia alem�o, assistindo a uma
assembl�ia de Hitler. Ele n�o entendeu uma palavra das
vocifera��es teatrais de Hitler, mas ao final encontrou-se
berrando "Heil Hitler!" com o resto da multid�o."
Qualquer pessoa que saiba alguma coisa sobre for�as sutis
sabe que, assim como a emo��o amor � a base de
lan�amento para alcan�ar os n�veis espirituais elevados, a
raiva e o �dio evocam os poderes do inferno. Hitler tinha
aprendido a se abrir para os poderes da escurid�o, de uma
forma que tra�aremos posteriormente, atrav�s da
amplifica��o de sua raiva e de seu �dio at� um ponto que sua
estrutura f�sica mal podia conter.
O impulso por tr�s disso tudo era uma certa cren�a.
Retornando ao testemunho do Dr. Rauschning, Hitler disse-
lhe:
"A cria��o ainda n�o est� completa. O homem alcan�ou um
est�gio definido de metamorfose. A antiga esp�cie humana j�
est� num estado de decl�nio, apenas conseguindo
sobreviver... e a meta suprema � a vinda dos Filhos de Deus.
Todas as for�as criativas concentrar-se-�o numa nova
esp�cie." Hitler estava certo. E precisamente porque, como
ele sabia, havia chegado o momento para algo novo, seu
ideal distorcido posto em igni��o pelo seu �dio, era poderoso
o suficiente para iniciar a produ��o de um novo tipo de ser.
Sua primeira manifesta��o foi os torturadores subhumanos,
que ningu�m em s� consci�ncia poderia associar com um
tipo mais elevado de humanidade. Seu discurso a Rauschning
continua, "... as duas variedades evoluir�o rapidamente em
dire��es diferentes. Uma desaparecer� e a outra vicejar�. Ela
ser� infinitamente superior ao homem moderno. Voc�
compreende agora o profundo significado de nosso
movimento nacional socialista?" ele perguntou a Rauschning
(que, seguindo o racioc�nio de Hitler, estava alarmado e
perplexo), e continuou, "quem quer que veja no nacional
socialismo nada mais que um movimento pol�tico n�o sabe
muito sobre ele...."
Existem relatos de fundamentados ocultistas de outras �pocas
que testemunham o horripilante poder de um certo tipo de
"Super Ser", que visita adeptos em busca de poder. Samuel
Mathers, fundador da sociedade inglesa Golden Dawn
(aparentemente m�e de todos os grupos ocultistas ocidentais
modernos):
"...senti estar em contato com uma for�a t�o terr�vel que s�
seria compar�vel ao choque que se receberia ao estar
pr�ximo a um raio numa grande tempestade,
experimentando ao mesmo tempo grande dificuldade em
respirar.... A prostra��o nervosa de que falei foi
acompanhada por suores frios e hemorragia pelo nariz, boca
e �s vezes ouvidos. ..."
A descri��o do encontro de Mathers encontra eco na
experi�ncia das cerim�nias iniciat�rias da Death's Head S.S.
(n�o confundir com a Waffen S.S.); ela era chamada de
"Cerim�nia da Asfixia". Essa ordem negra era o �mago da
doutrina nazista. Brennan, no Reich Oculto, remonta a
sauda��o nazista � inicia��o de segundo n�vel em sociedades
ocultas como a Golden Dawn.
"Foram delineados planos para isolar os homens da Death's
Head S.S. do mundo dos "pseudo-homens" para o resto de
suas vidas. Havia um esquema para criar cidades e col�nias
de veteranos no mundo todo, que seriam respons�veis
apenas pela administra��o e autoridade da Ordem. Himmler
e seus 'irm�os' tinham concebido um projeto ainda mais
vasto. O mundo teria por modelo um Estado da S.S.
soberano. 'Na Confer�ncia de Paz', disse Himmler, em
mar�o de 1943, 'o mundo ser� notificado da ressurrei��o da
antiga prov�ncia de Burgundy, anteriormente a terra das
artes e das ci�ncias, que a Fran�a reduziu ao papel de um
ap�ndice preservado no �lcool do vinho. O soberano Estado
de Burgundy, com seu pr�prio ex�rcito, suas pr�prias leis e
sistemas monet�rio e postal, ser� o estado S.S. modelo. Ele
compreender� a Su��a francesa, o Franche-Comt�, o Hainaut
e Luxemburgo. A l�ngua oficial, naturalmente, ser� o alem�o.
O Partido Nacional Socialista (nazista) n�o ter� jurisdi��o
sobre ele. Ele ser� governado apenas pela S.S. e o mundo
ficar� estupefato e cheio de admira��o por esse Estado, onde
as id�ias da S.S. ser�o corporificadas'." Himmler vangloriava-
se para seu massagista de poder invocar esp�ritos e conversar
com eles.
Esse era o homem que, em 1929, havia iniciado a
transforma��o da S.S. guarda-costas paramilitar de Hitler
numa ordem elitista, de magia; o homem que estava
planejando a nova ordem mundial e sobre quem o
Dr.Kersten , seu m�dico, d�-nos novas percep��es.
Himmler explicou ao Dr.Kersten como era recrutado o
pessoal para os campos de concentra��o. "Um soldado ou
um oficial n�o- comissionado da S.S. � julgado culpado de
uma infra��o, de falhar em obedecer a um superior, de faltar
sem licen�a ou alguma outra falha assim. �-lhe oferecida
uma escolha: ser punido e ter a puni��o inclu�da em seu
registro militar, o que naturalmente impossibilita qualquer
promo��o, ou ser guarda num campo de concentra��o, com
todos os privil�gios e liberdade com rela��o aos prisioneiros.
Ele faz a segunda op��o. Pouco depois de sua chegada ao
campo, seu superior pede-lhe - por favor, note, n�o ordena,
mas simplesmente pede-lhe - que torture e execute um
prisioneiro. Geralmente, o novo recruta reluta. Ent�o, seu
superior d�-lhe uma op��o: ser mandado de volta � sua
posi��o anterior e �s medidas disciplinares, ou fazer o que
tem que ser feito. A primeira vez que ele faz um homem
sofrer � contra a sua vontade, a segunda vez � mais f�cil e,
finalmente, ele vangloria-se de seus feitos." Depois de um
longo sil�ncio, Kersten perguntou a Himmler se ele havia
planejado esse sistema. "Ah n�o", exclamou Himmler, com
entusiasmo. "Foi o pr�prio F�hrer. Seu g�nio alcan�a at� o
�ltimo detalhe." Hitler parecia ser a fonte de toda inspira��o
demon�aca.
Kersten queria saber quem havia receitado as torturas em si.
"Como pode voc� pensar que alguma coisa possa ser feita
sem as ordens de Hitler? Quando a mais grandiosa mente
que j� viveu na Terra ordena tais medidas, quem sou eu para
criticar? E voc� sabe muito bem que, com minhas pr�prias
m�os, eu sou incapaz de machucar algu�m," foi a resposta de
Himmler. Ningu�m conhecia melhor do que Kersten qu�o
fraco e covarde era o sistema nervoso de Himmler. Ele n�o
ag�entava nem mesmo olhar para o sofrimento ou para o
sangue humano. Mas, ao ser questionado por Kersten, ele
disse que n�o hesitaria em mandar matar sua esposa e filha,
sem questionar a vontade de Hitler, caso lhe fosse ordenado.
Essa atitude representava a condi��o do alto comando e da
maioria da na��o, a aceita��o passiva e a implementa��o da
vontade do Poder que trabalhava atrav�s de Hitler; sangue e
tortura eram seus alimentos. Havia mais de 800.000
prisioneiros ainda vivos nos campos de concentra��o
quando a guerra estava se aproximando do fim. Hitler
ordenou que Himmler explodisse os campos quando os
Aliados se aproximassem.
Se a Alemanha perdesse a guerra, Himmler explicou a
Kersten, seus inimigos deveriam morrer com ela.
Na ocasi�o, Kersten conseguiu convencer Himmler de n�o
executar a ordem.
Himmler era conhecido, mesmo entre os nazistas de alto
escal�o, pela sua personalidade de rob�.
Manso, calmo e at� mesmo descrito como tendo boa
natureza no in�cio de sua carreira, Heinrich Himmler uma
vez escreveu em seu di�rio, 'Nunca deixarei de amar a Deus.'
Parece que ele nunca cedeu � f�ria ou ao �dio, ainda assim
mais do que qualquer outro homem, Heinrich Himmler foi
associado e responsabilizado pelas atrocidades perpetradas na
Alemanha nazista. Antes de conhecer Hitler, ele era
hesitante, inseguro e introspectivo. Como sabemos, pelas
evid�ncias fornecidas por seu m�dico Dr.Kersten, depois ele
deixou que Hitler pensasse por ele. Uma vez que o inimigo
tenha estabelecido uma posi��o segura atrav�s de um
instrumento como Hitler, como ele assegura a continuidade
de seu dom�nio sobre a na��o escolhida.
Hitler havia dado a Himmler a tarefa de forjar uma religi�o e
a biblioteca dele era forrada de volumes e mais volumes
sobre o assunto. Nada poderia dar-nos uma imagem mais
clara da insanidade reinante.
Um dia, Kersten, tendo que esperar por ele, foi convidado a
utilizar-se da biblioteca. O bom doutor ficou perplexo ao
constatar que todos os livros do Grande Mestre da S.S. e da
Gestapo eram sobre, ou relacionados � religi�o. Assim como
a B�blia, os Evangelhos, os Vedas, o Cor�o, tradu��es do
latim, grego e hebraico sobre a vida e escritos dos grandes
santos e m�sticos, havia coment�rios e tratados teol�gicos e
obras sobre a jurisdi��o teol�gica ao longo das eras. Himmler
apressou-se em assegurar a Kersten que os livros eram
apenas ferramentas de trabalho, pois nenhum nazista
verdadeiro poderia pertencer a nenhuma religi�o.
Himmler, reconta Kersten, tomou-se repentinamente s�rio e
seu rosto assumiu aquela express�o exaltada que sempre
assumia quando ele estava prestes a falar sobre Hitler (Hitler
referia-se a ele como 'meu fiel Himmler'):
O cristianismo seria abolido totalmente na grande Alemanha
e, para que fosse estabelecida a f� germ�nica, a id�ia de Deus
seria mantida, mas de forma vaga e confusa. E o F�hrer
tomaria o lugar do salvador da humanidade. Assim, milh�es
e milh�es de homens invocariam em suas preces ningu�m
mais que Hitler, e em cem anos ningu�m se lembraria de
nenhuma outra religi�o. O �nico modelo para a humanidade
seria algu�m que torturara milh�es e milh�es, cremara
crian�as e oferecera sacrif�cios humanos � sua deidade. Neste
ponto, deve-se relembrar �queles que podem estar pensando
que isso nunca aconteceria, que a su�stica j� estava
desfraldada sobre todos os pr�dios oficiais da maior parte da
Europa, e a pr�pria Inglaterra estava em perigo de invas�o.
Conjeturar o que acontece numa terra onde as preces e
aspira��es da humanidade s�o dirigidas a algu�m como
Hitler, abre os profundos abismos da escurid�o de onde
emergem os fantasmas da noite e estrangulam as esperan�as
mais elevadas e nobres da humanidade.
Muitas pessoas pensam que Hitler atormentado, de joelhos
no carpete, � apenas a imagem hilariantemente grotesca do
grande ditador de Charlie Chaplin. Mas, na verdade, era a
isso que o grande salvador do mundo se reduzia ap�s haver
alcan�ado um cl�max de �dio e raiva. Seus inimigos
referiam-se a ele como Teppichfresser - "o an�o do tapete".
O mundo estava desmoronando diante desse homem.
"N�o queremos eliminar as desigualdades entre os homens,"
disse Hitler, "mas, pelo contr�rio, aument�-las e tom�-las um
princ�pio protegido por barreiras impenetr�veis. Como ser� a
ordem social do futuro? Camaradas, vou contar-lhes: haver�
uma classe de super- senhores, depois deles, o regimento de
membros do partido em ordem hier�rquica, e ent�o a grande
massa de seguidores an�nimos, serventes e trabalhadores
perp�tuos, e ainda sob eles todas as ra�as estrangeiras
conquistadas, os escravos modernos. E acima de todos esses
reinar� uma nova e exaltada nobreza de quem n�o posso
falar. Mas sobre todos esses planos os membros militantes
comuns nada saber�o."
Atrav�s dos pronunciamentos de Hitler, come�amos a
apreender o horror da Nova Sociedade e da concep��o de
"mestres e super-senhores". Tamb�m come�amos a entender
contra o que as for�as da Luz lutaram para salvar a
humanidade.
O Dem�nio da Falsidade e da Morte estava fazendo um lance
desesperado para apossar-se irreversivelmente do mundo,
antes do surgimento da luz espiritual de uma Nova Era,
iluminada pela Mente do Homem.
Hoje, as profecias de Hitler podem soar como nada mais que
loucura megaloman�aca, mas se assim �, o mundo esqueceu-
se de qu�o pr�ximo Hitler chegou de realizar seus sonhos.
Certamente, nos campos de concentra��o, ele estabeleceu a
funda��o para sua sociedade escrava, seguramente para sua
hierarquia de barreiras impenetr�veis.
Denis de Rougemont diz "Algumas pessoas pensam, por
terem experienciado em sua presen�a (de Hitler) um
sentimento de horror e a impress�o de algum poder
sobrenatural, que ele � o assento dos "Tronos, Domina��es e
Poderes," como S�o Paulo denominou aqueles esp�ritos
secund�rios, que podem se incorporar num homem comum
e ocup�-lo como um ex�rcito. Eu o ouvi proferindo uma de
suas grandes palestras. De onde v�m os poderes super-
humanos que ele exibe nessas ocasi�es? E �bvio que uma
for�a desse tipo n�o pertence a um indiv�duo e, na verdade,
n�o poderia nem mesmo se manifestar, caso o indiv�duo
tivesse alguma import�ncia, exceto como um ve�culo de uma
for�a para que nossa psicologia n�o tem nenhuma
explica��o. O que estou dizendo seria o mais barato absurdo
rom�ntico, n�o fosse porque o que foi realizado por esse
homem - ou melhor, pelas for�as atuando atrav�s dele - �
uma realidade que � um dos mist�rios deste s�culo."
A Segunda Guerra Mundial marcou uma derrota para essas
For�as da Escurid�o e diminuiu consideravelmente sua
influ�ncia sobre o homem. Entretanto, a vit�ria final ser�
ganha quando o homem, plenamente consciente, aderir �
Luz, � sua inevit�vel Verdade.
Em seu trabalho pioneiro, Pauwels e Bergier, e tamb�m
Brennan, tra�ando o desenvolvimento da sujei��o de Hitler
ao ocultismo negro, finalmente identificaram o que Sri
Aurobindo e A M�e viram e sobre o que agiram
diretamente. Trataremos disso no pr�ximo cap�tulo.
O NAPOLE�O AN�O
Hitler, outubro de 1939
(um m�s ap�s a declara��o de guerra)
Veja, pela fantasia da vontade de Maya
Um violento milagre nasce repentinamente,
O real torna-se uno com o incr�vel.
Com o controle de sua vara de cond�o
O pequeno realiza grandes feitos, o med�ocre, grandiosos.
Esta insignificante criatura montaria na Terra
At� mesmo como os imensos colossos do passado.
A mente de Napole�o era �gil e destemida e vasta,
Seu cora��o era calmo e tempestuoso como o mar,
Sua vontade din�mica em seu dom�nio e poder.
Seu olho podia manter um mundo sob suas r�deas
E ver soberanamente as grandes e as pequenas coisas.
Um movimento de enorme profundidade e escopo
Ele tomou e deu coes�o � sua esperan�a.
Muito diferente desta criatura de barro inferior,
Desprovida de grandeza, como um gnomo a brincar,
Ferro e lama misturam-se no estofo de sua natureza.
Sri Aurobindo
III
Um n�mero muito pequeno daqueles que est�o conscientes
de que recebem de outros planos entendem. Na medida em
que os seres humanos est�o do lado das For�as da Luz,
tornam-se, conscientemente ou n�o, neutralizadores
efetivos das for�as sat�nicas.
Esses neutralizadores, ou mesmo transformadores, s�o na
maioria pessoas desconhecidas, que n�o escrevem sobre suas
experi�ncias, e �s vezes mal t�m um contexto para refletir
sobre elas ou relembr�-las. Por uma s�rie de concatena��es
de for�as, que chamamos de circunst�ncias, algumas pessoas
como John Kelly e Silviu Craciunas, de quem falaremos mais
tarde, entram em contato f�sico com os verdadeiros Seres,
que eles v�em como vis�es, e s�o feitos os elos entre o
mundo f�sico hist�rico e as dimens�es ocultas. Seu papel �
�bvio, mas, e o papel daqueles que os dirigiram como parte
de uma batalha oculta mais profunda?
Havia dois universos mutuamente exclusivos, lutando
ferozmente pela supremacia naquele ponto da evolu��o
humana. Poder-se-ia talvez dizer que a Luz estava destinada
a prevalecer, ainda assim a batalha tinha que ser lutada.
Na �ndia, Sri Aurobindo e a M�e haviam, por muitos anos,
trabalhado yoguicamente para ancorar na Terra a Luz do
pr�ximo est�gio da evolu��o do homem, o est�gio que lhe
dar� alcance ao degrau que est� acima da Mente, e para que
suas civiliza��es anteriores foram apenas uma prepara��o. Na
realidade, foi por causa da iminente realiza��o que o que
estava para ser destru�do reagiu convulsivamente.
(Conversa da M�e com Satprem, de 5 de novembro de 1961,
como registrada em sua Agenda, vol. II):
"Ao longo da guerra, Sri Aurobindo e eu ficamos numa tal
tens�o CONSTANTE que o yoga foi completamente
interrompido. E foi exatamente por isso que a guerra
come�ou - para parar o Trabalho. Naquela �poca, houve um
extraordin�rio descenso... estava vindo assim (gesto amplo),
um descenso! Exatamente em 39. Ent�o a guerra estourou e
congelou tudo. Pois tiv�ssemos n�s pessoalmente
continuado [o trabalho da evolu��o transformativa]... n�o
t�nhamos certeza de ter tempo suficiente para termin�-la
antes que "o outro" [o Dem�nio de Hitler] reduzisse a Terra
a p�, atrasando todo o Trabalho... por s�culos. A PRIMEIRA
coisa a ser feita era impedir a a��o do... Senhor da
Falsidade..."
Citaremos de Perguntas e Respostas da M�e (8 de mar�o de
1951), a respeito da natureza dos seres que podem possuir
um Hitler, (extra�do das palestras que ela costumava dar �s
crian�as do Ashram em franc�s):
"A M�E: ...A principal caracter�stica desses seres � a
falsidade: sua natureza � feita de engana��o. Eles t�m o
poder para iludir; podem assumir a apar�ncia de seres
divinos ou seres superiores, podem aparecer numa luz
esplendorosa, mas as pessoas verdadeiramente sinceras n�o
s�o enganadas, elas imediatamente sentem algo que as
previne. Mas se algu�m gosta do maravilhoso, do inesperado,
se ama as coisas fant�sticas, se gosta de viver um drama,
provavelmente ser� facilmente enganado."
"H� n�o muito tempo, houve um acontecimento hist�rico, o
de Hitler, que estava em contato com um ser que
considerava ser o Supremo: esse ser vinha e aconselhava-o,
dizia-lhe tudo o que tinha que fazer. Hitler costumava
recolher-se sozinho, e assim permanecer tanto tempo
quanto necess�rio para entrar em contato com seu "guia", e
receber dele inspira��es que executava muito fielmente.
Esse ser que Hitler tomava como o Supremo era muito
simplesmente um Asura , que � chamado no ocultismo de
'Senhor da Falsidade', mas que se auto-intitulava o 'Senhor
das Na��es'. Ele tinha uma apar�ncia brilhante, podia
enganar qualquer um, exceto quem realmente tivesse
conhecimento oculto e pudesse ver o que estava l�, por tr�s
da apar�ncia. Ele poderia ter enganado qualquer um, era
verdadeiramente espl�ndido. Geralmente, ele costumava
aparecer para Hitler usando coura�a e elmo de prata; uma
esp�cie de chama sa�a de sua cabe�a e havia uma atmosfera
de luz esplendorosa ao seu redor, t�o esplendorosa que
Hitler mal podia olhar para ele. Costumava dizer a Hitler
tudo o que deveria ser feito - ele o manipulava como a um
macaco ou um camundongo. Ele havia claramente decidido
fazer Hitler cometer todas as barb�ries poss�veis, at� o dia
em que torceria o pesco�o dele, o que de fato aconteceu.
Mas casos assim s�o freq�entes, apesar de em menor escala,
� claro.
"PERGUNTA: Quando Hitler morreu, o Senhor da Falsidade
passou para Stalin?"
"A M�E: N�o � de maneira nenhuma assim que essas coisas
acontecem, mas � algo similar. Esse ser n�o esperou a morte
de Hitler, � a� que voc� se engana. Esses seres n�o est�o de
forma alguma amarrados a uma �nica presen�a f�sica. O ser
em quest�o poderia muito bem possuir Hitler e ao mesmo
tempo influenciar muitos outros. Hitler foi eliminado porque
tinha toda uma na��o por tr�s dele e poder f�sico, e se ele
tivesse sucedido teria sido um desastre para a humanidade,
n�o havia ilus�o quanto a isso; n�o era suficiente que ele
fosse eliminado para que a for�a por tr�s dele o fosse - n�o �
t�o f�cil. Devo dizer-lhes que a origem desses seres �
anterior a dos deuses; eles s�o as primeiras emana��es, os
primeiros seres individuais do universo, e n�o podem ser
eliminados t�o facilmente, vencendo-se uma guerra."
O Senhor da Falsidade tomou ao mundo vinte milh�es de
vidas.
As vidas dos judeus e dos ciganos foram a primeira oferenda.
Em �ltima inst�ncia, Hitler foi inspirado a ordenar que
fechassem os port�es sobre seus leais alem�es, que haviam se
refugiado nos subterr�neos de Berlim e a abrir as comportas
para que eles se afogassem. Brennan v� isso como a �ltima
oferenda desesperada, a tentativa de Hitler de pacto com seu
Dem�nio. O exterm�nio de um vasto n�mero de seres
humanos foi considerado como um meio de comprar a ajuda
"Deles", os poderes da escurid�o. Desde �pocas remotas, o
sacrif�cio humano tem sido um poder de barganha.
Quanto mais pr�ximo e querido a voc� o sacrif�cio, maior o
seu valor. No final, Hitler fez com que seu cunhado e fiel
m�dico fosse executado. Ent�o, ele ficou virtualmente
sozinho com Eva Braun. O momento l�gico para o suic�dio
de Hitler teria sido ap�s o fracasso do assim chamado contra-
ataque Steiner contra os russos, uma vez que ent�o corria o
perigo de ser capturado pelos russos.
Sabemos que ele n�o queria que seu cad�ver tivesse o
mesmo destino que o de Mussolini. Os italianos penduraram
pelos calcanhares os corpos mortos de Mussolini e de sua
amante em uma pra�a p�blica. Ainda assim, Hitler esperou
mais duas semanas e suicidou-se com um tiro no dia 30 de
abril, data do antigo festival de Baltane, o dia que torna a
Noite de Walpurgis, a data mais importante de todo o
calend�rio satanista.
Surge agora uma imagem clara das for�as da escurid�o
lan�ando-se contra a Luz. Temos a sauda��o nazista, a
su�stica corrompida e a data escolhida por Hitler para
tomar e, como Brennan diz, oferecer sua vida, todos
aparentemente elos conscientes com caminhos esquerdos do
ocultismo.
IV
O Tibete � um centro de pr�ticas ocultas, tanto brancas
quanto negras, e o movimento nazista desde logo come�ou a
organizar expedi��es anuais para o Tibete, que continuaram
at� 1943. Que ningu�m pense ser isso de pouca
conseq��ncia, deve-se ressaltar ter sido calculado, que os
nazistas gastaram mais dinheiro em pesquisa oculta, do que
os americanos nos preparativos para a primeira bomba
at�mica. Essas pesquisas iam desde atividades estritamente
cient�ficas [Em 1939, a Ahnenerbe, uma organiza��o de
pesquisa cient�fica, foi incorporada � S.S.] at� a pr�tica do
ocultismo, e da vivissec��o, praticada em prisioneiros, �
espionagem em nome das sociedades secretas. Ap�s a queda
do comunismo na R�ssia, seu servi�o secreto abriu
documentos confidenciais revelando que Hitler havia sido
membro de uma sociedade secreta ocultista. A conex�o
tibetana tamb�m foi citada.
No Tibete, o budismo tem duas linhas espirituais. Uma � a
tradi��o B'on, mais antiga, em que sacerdotes oraculares s�o
treinados em telepatia, viagem on�rica, aquecimento sutil do
corpo, levita��o, viagem r�pida no ar, predi��o da morte e
todos os tipos de pr�ticas ocultas, incluindo a metempsicose.
Pode-se dizer que o Tibete � um dos centros da magia negra
oriental, e certamente Hitler n�o estava muito interessado
nos modos do compassivo Buda. Os mosteiros B'on viraram
o s�mbolo da su�stica ao contr�rio. (� fato atestado que os
russos encontraram uma for�a de tibetanos mortos, em
uniformes alem�es, quando invadiram Berlim.)
O B'on, que o budismo tentou liberar de suas ra�zes negras,
era baseado numa religi�o ainda mais antiga. Apesar de,
superficialmente, as formas se assemelharem, o B'on ainda
traz tra�os de uma religi�o que costumava praticar o
sacrif�cio humano. � um culto antigo sob um verniz de
budismo.
Para tentar compreender a infiltra��o das For�as da
Escurid�o e do Hitlerismo na Alemanha, devemos nos
lembrar que sociedades sat�nicas proliferaram na Europa,
logo ap�s a guerra de 1914-1918. Muitas pessoas bem
intencionadas e sens�veis foram envolvidas, sem entender
para onde estavam sendo levadas. A primeira aquisi��o de
poderes ocultos � inebriante e as pessoas acreditam, como
aconteceu com Hitler, poder utilizar esses Poderes para
alcan�ar seus pr�prios fins, mal sabendo que estes Seres
enormes alimentam-se das energias vitais dos homens, s�o
predadores de seus medos e ambi��es e descartam-nos ap�s
sugarem-nos totalmente.
Mestres e professores verdadeiros nunca se cansam de
relembrar ao aspirante de que grande pureza, humildade e
abnega��o s�o necess�rias para se evitar os perigos e as
armadilhas que esperam pelos ambiciosos e buscadores de
poder no caminho.
Os Poderes da Escurid�o estavam preparando um ataque em
grande escala contra a evolu��o espiritual do homem.
Aqueles que perceberam sua a��o por tr�s de seus
instrumentos humanos eram imediatamente liquidados, caso
ousassem desafi�-los. Teresa Neumann, a santa austr�aca que
recebeu os estigmas e que, como Santa Catarina de Siena,
recebeu a extraordin�ria gra�a da in�dia, n�o necessitando
comer nunca, imediatamente viu que Hitler estava possu�do
por uma for�a demon�aca. Ele � o diabo. Ele � a morte. Ele �
o caos. Ele � a destrui��o, ela declarou muito simplesmente.
De alguma modo, o plano da Gestapo de mat�-la nunca foi
executado. E dito que Hitler tinha conhecimento oculto o
suficiente para temer as conseq��ncias de feri-la.
Quem era o ser que tanto dominava Hitler, e o que eram as
seq��ncias de palavras que ele pronunciava aterrorizado.
Brennan, e tamb�m Pauwels e Bergier, sup�em que eram
encantamentos m�gicos, mantras para controlar seu
intr�pido e cruel visitante. Essa seria nossa interpreta��o
tamb�m. Hitler estava passando por uma experi�ncia que,
aparentemente, aconteceu com outros que contataram os
n�veis mais obscuros do ocultismo.
Brennan implica, atrav�s de uma hist�ria an�loga e
aterrorizante, que quem n�o possui as f�rmulas de palavras
m�gicas � incapaz de se proteger contra esses impiedosos
visitantes. "O Dr. Michael MacLiammoir, ator irland�s de
renome, forneceu-me algumas informa��es de consider�vel
relev�ncia aqui. Alguns anos antes da Segunda Guerra
Mundial, a irm� do Dr. MacLiammoir desenvolveu um
interesse por assuntos esot�ricos, e foi finalmente iniciada
numa ordem de magia chamada Argentum Astrum, ou
Estrela de Prata. Essa ordem era comandada pelo mago negro
Alister Crowley, anteriormente um iniciado da Golden
Dawn, que foi subseq�entemente apelidado pela imprensa
de 'O Homem mais Malvado do Mundo'. Ao ver algumas das
pr�ticas secretas da ordem, a senhorita MacLiammoir
rapidamente percebeu que talvez aquilo fosse mais do que
ela poderia lidar. Mas os iniciados s� podiam deixar a ordem
com a permiss�o expressa de Crowley. Ela foi ver o 'Mestre',
como Crowley insistia em ser chamado.
"Crowley fixou nela um olhar penetrante. 'Ent�o voc� quer
ir?' perguntou ele dramaticamente. A�, aproximando-se e
cutucando-lhe o ombro para enfatizar cada s�laba, ele
acrescentou gravemente, 'Cuidado com a escurid�o! Cuidado
com o calor! Cuidado com os macacos! Agora pode ir...' Foi
um gesto teatral, mas efetivo naquelas circunst�ncias. A
mo�a deixou a ordem, mas mergulhou no sofrimento de
uma crise nervosa. Essa doen�a, no entanto, raramente �
fatal, e com o passar do tempo ela se recuperou."
"Muitos anos depois, com o incidente j� esquecido, ela
encontrava-se na �frica. No final de uma tarde, com o sol j�
a ponto de se por, ela estava passeando na borda da floresta
com uma crian�a, filho de um amigo. De repente, o menino
exclamou, 'Veja - l� est� o tio George!' A senhorita
MacLiammor voltou-se para ver. 'Tio George' n�o estava l�.
A crian�a tinha obviamente se confundido com o jogo de
luz e sombra atrav�s da folhagem, durante o curto
crep�sculo africano. Ela voltou-se para dizer-lhe isso, e
naquele instante um macaco saltou de uma �rvore nas costas
dela e mordeu seu ombro, no mesmo ponto onde Crowley a
havia cutucado tantos anos antes. Ela gritou e o macaco
fugiu. Quando se recobrou do susto e examinou seu ombro,
n�o havia sinal de sangue e a ferida parecia
misericordiosamente pequena. Mas ela contraiu meningite
com a mordida, e depois de alguns dias caiu de cama,
assolada por ataques de del�rio crescentes."
"Durante um deles, ela sentou-se repentinamente, o rosto
p�lido, e apontou para um canto. 'Ele est� ali! Ele est� ali!
Est� no canto! Ele veio me buscar! Crowley veio me buscar!'
Ela n�o usou 'express�es estranhas alinhavadas numa bizarra
desordem', pois essas, no caso de Hitler, eram
provavelmente as 'palavras de poder' utilizadas por um
satanista treinado para controlar seu visitante indesejado."
"Talvez tivesse sido melhor se ela as conhecesse. Hitler
finalmente ca�a num sono profundo e recuperava-se de sua
experi�ncia. A senhorita MacLammoir afundou num coma
profundo e morreu."
Para provas mais substanciais, temos que examinar uma
pessoa que teve influ�ncia nos anos formativos de Hitler. Se
formos ao Ascens�o e Queda, Shirer leva-nos a acreditar
que, uma vez que um certo professor Karl Haushofer
lecionava geopol�tica na Universidade de Munique, sua
influ�ncia sobre Hitler tenha sido pol�tica. Isso � muito
enganador. Sua verdadeira influ�ncia foi ocultista. O Dr.W.
Ley, um especialista em foguetes de fama mundial, que fugiu
da Alemanha, em 1933, conta-nos sobre uma comunidade
espiritual de Berlim, fundamentada no livro de Bulwer
Lytton, A Ra�a Futura , que descreve homens divinos com
grandes poderes, que vivem em cavernas e que logo
emergir�o para reinar no mundo. Aqueles de n�s que n�o se
aliarem a eles se tornar�o escravos nas novas cidades do
futuro. Essa sociedade secreta era A Loja Luminosa (tamb�m
chamada de Sociedade Vril), de que Haushofer era um alto
iniciado.
Bulwer Lytton considerava-se um iniciado e escreveu muito
sobre o mundo infernal e sobre os seres super-humanos, que
surgiriam atrav�s de uma muta��o na elite dos humanos.
Obviamente, Haushofer transferiu seu conhecimento pelo
menos a Hitler, que disse ter mantido contatos bem-
sucedidos com esses super-homens. A id�ia desses super-
homens, que podem ser contatados atrav�s do
conhecimento oculto, � encontrada em todos os escritos
ocultistas, tanto do ocidente quanto do oriente, e existem
rituais para invoc�-los. Na verdade, o professor Haushofer
era um iniciado, n�o apenas da sociedade secreta Vril, mas
tamb�m do Grupo Thule, ambos pag�os, e, como Pauwels e
Bergier ressaltam, sociedades sat�nicas (como a de Crowley,
que tamb�m havia sido fundada com a san��o e instru��es
de uma certa senhora ocultista de Nuremberg). Rudolf Hess,
representante de Hitler , que era seu pupilo e tamb�m um
membro do Grupo Thule, conta-nos que Haushofer era um
mestre secreto.
Haushofer nasceu em 1869, e visitou a �ndia e o Extremo
Oriente, uma viagem raramente empreendida naquela �poca.
No Jap�o, ele tornou-se membro de uma sociedade secreta,
que prescrevia o suic�dio a seus membros, caso eles
falhassem em sua miss�o. Depois da guerra, em mar�o de
1946, Haushofer cometeu um suic�dio cerimonial, ap�s
matar sua esposa . Os membros do Grupo Thule tamb�m
cometiam suic�dio, caso fizessem algo que quebrasse seus
votos. No cad�ver de seu filho, que estava envolvido num
plano contra a vida de Hitler, foi encontrado o seguinte
poema, escrito com a letra do filho:
"Meu pai rompeu o selo.
Ele n�o sentiu o alento do maligno
Mas libertou-o para vagar pelo mundo."
O Haushofer pai acreditava que a ra�a indo-germ�nica era o
piv� do mundo. Durante a Primeira Guerra Mundial, como
general, seu dom de previs�o permitia-lhe saber quando e
onde o inimigo atacaria.
Mas ainda mais pr�ximo de Hitler estava Dietrich Eckardt.
Ele � o homem conhecido como o fundador espiritual do
nazismo. Em 1920, Eckardt, poeta, autor teatral, jornalista,
bo�mio e membro do Grupo Thule, irm�o da Sociedade Vril,
ou A Loja Luminosa, juntamente com o arquiteto
Rosenberg, conheceu Hitler na casa de Wagner, em
Bayereuth, e eles foram, at� a morte de Eckardt por
alcoolismo e problemas pulmonares, em 1924,
companheiros constantes de Hitler e seus conselheiros.
Konrad Heiner, em seu livro sobre Hitler, escreve que foi
Eckardt que empreendeu a forma��o espiritual de Hitler.
Ensinou-lhe a doutrina secreta, e tamb�m orat�ria e
jornalismo. Antes de sua morte, Eckardt tornou- se um dos
sete membros fundadores do Partido Nacional Socialista. Em
seu Mein Kampf, Hitler conta-nos que seu encontro com
Eckardt foi o mais importante de sua vida. Ele agonizou por
dois dias antes de decidir juntar-se ao grupo. Essa decis�o,
como ele diz, mudou sua vida e realmente, como n�s
dizemos, o curso da hist�ria.
O que era o Grupo Thule? A seguinte cita��o � de O
Despertar dos M�gicos: "A lenda de Thule � t�o antiga
quanto a ra�a germ�nica. Sup�e-se que fosse uma ilha que
desapareceu em algum lugar do extremo norte. Perto da
Groenl�ndia? ou de Labrador? Como a Atl�ntida, pensava-se
que Thule era o centro de uma civiliza��o desaparecida.
Eckardt e seus amigos acreditavam que nem todos os
segredos de Thule haviam perecido. Seres intermedi�rios
entre o homem e outros seres inteligentes do Al�m
colocariam � disposi��o dos iniciados um reservat�rio de
for�as, que poderiam ser utilizadas para capacitar a
Alemanha a dominar o mundo novamente, e a ser o ber�o
de uma ra�a vindoura de Super-homens, que resultaria de
muta��es da esp�cie humana. Um dia, suas legi�es sairiam
para aniquilar tudo que se mantivera no caminho do destino
espiritual da Terra, e seus l�deres seriam homens que
saberiam tudo, derivando sua for�a da pr�pria fonte da
energia, e guiados pelos Grandes Seres do Mundo Antigo."
Posteriormente, sob a influ�ncia de Haushofer, o Grupo
Thule assumiu o car�ter de sociedade inici�tica, praticando
magia cerimonial para contatar o invis�vel. Ele foi o �mago
do nazismo, o verdadeiro centro do movimento. No
ocultismo, quando um pacto � feito com seres ocultos, esses
seres devem ser invocados por um iniciado, que por sua vez
necessita de um m�dium. "Hitler, foi-nos dito, foi o m�dium
utilizado por Haushofer."
Eckardt passou quase tr�s anos como �ntimo conselheiro do
jovem Hitler. Pauwels e Bergier contam-nos que ele
doutrinou Hitler em dois n�veis - um deles, sendo o da
revela��o oculta. Pouco antes de sua morte, ele disse a
amigos: "Sigam Hitler. Ele dan�ar�, mas conforme a m�sica
que eu determinarei. Demos-lhe os meios de comunicar-se
com Eles. N�o se lamentem por mim. Eu terei influenciado a
hist�ria muito mais que qualquer outro alem�o."
Os chefes ocultistas secretos e outros seres elevados n�o
est�o necessariamente encarnados. V�ria escolas esot�ricas -
incluindo virtualmente todas as que se desenvolveram a
partir da Golden Dawn inglesa - ensinam que eles existem
em uma outra dimens�o n�o f�sica, e apenas raramente
assumem corpos. Parte importante das t�cnicas pr�ticas
ensinadas nessas escolas � o m�todo de estabelecer contato
com tais entidades.
De acordo com Brennan, e muitas outras autoridades, as lojas
da tradi��o esot�rica ocidental ensinam a seus membros um
ou mais de tr�s segredos ocultistas gerais:
1) O controle de uma energia sutil, como a 'Vril' de Lytton
ou o 'magnetismo animal' de Mesmer. Uma vez sob controle
consciente, essa for�a pode ser utilizada como aux�lio para a
ilumina��o m�stica ou como um meio de dominar as pessoas,
dependendo do temperamento do iniciado.
2) O controle de eventos e a cria��o de situa��es desejadas
no plano f�sico. Isso � feito atrav�s do treino dos poderes de
concentra��o do iniciado, at� que ele seja capaz de focar sua
vontade como um laser. A for�a de vontade � assim
anormalmente aumentada, e � ent�o direcionada atrav�s de
visualiza��es v�vidas e relevantes, geralmente da situa��o
que o mago quer que aconte�a. A for�a diretriz por tr�s de
toda opera��o �, como dissemos antes, a emo��o amplificada
- amor, no caso do mago branco, �dio e raiva, no caso de
Hitler. Uma vez mais, os tipos de eventos e situa��es criados
dependem do temperamento do iniciado.
3) O estabelecimento de linhas de comunica��o com
entidades super-humanas, e �s vezes alien�genas, que
operem em n�veis que n�o o f�sico (e hoje geralmente
denominados de 'planos interiores' pelos ocultistas). Mas o
ne�fito logo descobre que as t�cnicas designadas para
coloc�-lo em contato, por assim dizer, com os c�us, podem
ser igualmente utilizadas para contatar as regi�es infernais.
N�o � dif�cil avaliar a escolha de Hitler."
Era uma reiterada cren�a de Hitler que qualquer coisa deve
ceder ante um poder superior... Ele estava certo. Quando
esse poder � branco, isso � uma verdade espiritual. Quando
n�o, � ocultismo negro.
Como diz-se geralmente, a �gua pode lavar suas roupas ou
afogar a vov�, o fogo pode cozinhar o mingau do caf� da
manh� ou imolar seu inimigo.
Chegamos a uma evid�ncia ainda mais convincente com o
s�mbolo que foi hasteado sobre todos os pr�dios oficiais da
Alemanha nazista, impresso em livros e documentos, usado
em bra�adeiras, incluindo a de Hitler, e assim incutido na
mente alem�: a su�stica corrompida.
A verdadeira su�stica � um s�mbolo antigo, que representa o
sol em movimento. Ela est� presente em v�rias civiliza��es
antigas e � um s�mbolo da luz e da vida. Na �ndia, ela � a
mais auspiciosa, portadora da felicidade e de toda boa
fortuna.
Temos hoje a possibilidade de medir muito acuradamente os
campos energ�ticos � nossa volta, e � de todos os objetos e
s�mbolos, com o aux�lio de um instrumento conhecido
como Antena de Lecher. Um franc�s chamado Bovis
desenvolveu uma escala, o biometro, atrav�s da qual s�o
medidas as unidades de energia, denominadas bovis.
Seis mil e quinhentos na escala bovis representam o n�vel de
energia de um ser humano normal saud�vel. Qualquer
diminui��o indica doen�a, e zero representa a morte. O
intervalo de energia dos diferentes centros energ�ticos do
corpo humano vai do n�vel energ�tico do corpo humano
at� dezesseis mil bovis. O badalar de sinos de igreja
produzem uma vibra��o de onze mil bovis. S�mbolos, como
a chave eg�pcia da vida, podem ser medidos em nove mil
bovis. Quer em papel, ouro ou qualquer outro material, um
dado s�mbolo mant�m a mesma energia. Mas a verdadeira
su�stica (n�o a de Hitler) tem uma energia positiva de
1.000.000 (um milh�o) de bovis. Hitler optou por inclin�-la,
de forma que ela n�o tivesse uma base firme, e cambaleasse
desequilibradamente. Essa su�stica, a 45 graus do eixo
cardinal e de cor negra, tem a energia extremamente baixa
de mil bovis, perigosamente pr�xima � morte. Na verdade,
juntamente com a ins�gnia da cabe�a da morte da S.S. de
Himmler, aquele estado secreto dentro do estado, era um
s�mbolo de total niilismo, mal, morte e caos.
Os s�mbolos sagrados s�o sempre modificados no satanismo
de modo a, ao inv�s de invocar a Luz, chamar os poderes do
mal e da escurid�o. Os satanistas rezam a missa negra de tr�s
para frente e usam o crucifixo de cabe�a para baixo para
conectarem-se com aqueles inexprim�veis poderes. Que n�o
se pense que a su�stica inclinada foi escolhida ao acaso; foi-
nos dito que Hitler correspondeu-se com um conselheiro
ocultista do noroeste da �ndia sobre assuntos ocultos a
respeito da su�stica. Ele foi informado de que, apesar de a
su�stica alterada ser extremamente poderosa e conseguir
ajudar a promover uma ascens�o r�pida ao poder, ela era
involutiva e trazia o caos e a destrui��o. Aparentemente,
Hitler desconsiderou o aviso em seu af� de ascens�o.
Quando a su�stica foi inclinada n�o sei, mas numa das
primeiras c�pias do Mein Kampf ela ainda estava ereta.
O tr�gico com rela��o aos satanistas � que eles invocam
poderes que no final os destroem.
Vamos agora tentar tra�ar a evolu��o da possess�o de Hitler,
t�o brevemente quanto poss�vel. Surge a pergunta, Hitler
sabia para onde seria finalmente levado, quando foi
primeiramente iniciado por Eckardt e Haushofer? Muito
provavelmente n�o. Talvez nem eles mesmos soubessem,
como dizia o poema do filho de Haushofer, seu pai n�o
sentiu o alento do mal. Ele inconscientemente o libertou,
abriu a caixa de Pandora, de onde algo horr�vel saltou para
vagar pelo mundo. Nos ensinamentos secretos, parte da
necessidade de segredo vem do fato de que, se o iniciado de
primeiro n�vel pudesse antever qu�o profunda e
inextricavelmente envolvido ele se tornaria com os Poderes
que o comandariam completamente, ele muito
provavelmente nunca daria o primeiro passo. Como no caso
de Miss MacLammoir, ele apenas come�a a entender o grau
de seu envolvimento em n�veis posteriores de inicia��o,
quando � muito tarde para voltar atr�s, sem ser amea�ado
por um perigo que come�a a assombrar sua consci�ncia.
Inicialmente, a pessoa pode ser iludida e acreditar que
poderes est�o sendo colocados � sua disposi��o para
quaisquer fins que ela escolha, e, ao ler-se Mein Kampf, v�-
se que, inicialmente, as ambi��es de Hitler eram
estritamente pol�ticas e nacionalistas. Ele ainda est� muito
preocupado com quest�es sindicais e com a burguesia
pol�tica.
� verdade que ele j� est� consciente de certos elementos
m�sticos negros, que ele pode manipular e manipula. Com
uma aparente ingenuidade, no Mein Kampf, ele explica ao
mundo todo que ele aprendeu a nunca proferir seus
discursos de manh� ou � tarde. A noite � o per�odo quando a
raz�o est� adormecida na audi�ncia e as faculdades de cr�tica
est�o fora de a��o.
Ele era basicamente, como Sri Aurobindo sempre afirmou,
um homenzinho sentimental e insignificante, interessado
em reformas sociais e com um sentimento pela Terra M�e;
sua consci�ncia era estreita e sua vis�o limitada. Quando
alcan�ou a fama, ou melhor, foi propulsionado a um enorme
sucesso em todos os seus empreendimentos, ele mal se
surpreendeu, pois isso era exatamente o que Eckardt e
Haushofer haviam-lhe prometido. No entanto, ele era
apenas um m�dium, e um m�dium raramente � consciente
do pre�o total que se paga por utilizar as for�as que o
possuem.
Citamos de Pauwels e Bergier:
"Ap�s a Purga��o, em 1934, com sua grande oferenda de
sangue, o movimento que Hitler havia pensado ser Nacional
Socialista foi substitu�do (como Gunther escreveu num
jornal alem�o) por uma id�ia que era puramente sat�nica.
N�o que Hitler, como Rauschning acreditava, tivesse se
tomado um completo lun�tico, apenas um instrumento mais
mold�vel. Com cada atrocidade, Hitler ia ocultamente de
for�a a for�a. A S.S. de Himmler foi organizada como uma
ordem religiosa, com uma hierarquia religiosa e um tipo de
um abade na dire��o. Os membros mais elevados eram uma
elite que tinha f� absoluta em poderes super-humanos.
Rauschning conta-nos que Hitler lhe confidenciou: 'Vou
contar-lhe um segredo', disse Hitler, 'Estou fundando uma
Ordem.' Era nos Burgos, os castelos iniciat�rios, que a
primeira inicia��o acontecia. Hitler continuou, '� de l� que o
segundo est�gio surgir� - o est�gio do Homem-Deus, quando
o homem ser� a medida e o centro do mundo. O Homem-
Deus, esse ser espl�ndido, ser� objeto de adora��o.... Mas h�
outros est�gios, sobre os quais n�o tenho permiss�o de
falar....'"
Por�m, sobre a mat�ria-prima necess�ria para esse Homem-
Deus ele falou e escreveu longamente. No Am Anfang war
Erziehung (No In�cio Houve a Educa��o) de Alice Miller,
encontramos Hitler dizendo:
"Minha pedagogia � severa. O que quer que seja fraco deve
ser cont�nua e energicamente eliminado. Nos castelos da
minha ordem, dever� crescer a juventude que alarmar� o
mundo. Eu quero uma juventude violenta, dominadora,
destemida e cruel. A juventude tem que ser tudo isso. Ela
tem que suportar a dor. N�o deve haver nada de fraco ou de
fr�gil nela. De seus olhos, o maravilhoso e libertador
predador deve uma vez mais brilhar. Quero que minha
juventude seja forte e linda... E assim que poderei criar
novas coisas."
De O Despertar dos M�gicos: "A Ordem Negra foi isolada do
mundo, e a essa ordem pertenciam todos os oficiais
superiores e todos em cargos superiores da S.S., que eram
iniciados nas severas e estritas exig�ncias da Ordem. Eles
tinham prote��o total contra qualquer a��o das autoridades
civis. Nenhuma corte podia convoc�-los, mas eles tamb�m
n�o tinham nenhuma vida privada. Eles tinham abdicado do
direito de escolher e de decidir. Tinham que obter permiss�o
dos seus superiores para se casarem.
"Nas escolas preparat�rias, as instru��es de Himmler eram,
'Acredite, obede�a, lute'. Nada mais. Era nesses castelos
iniciat�rios que os cadetes embarcavam irreversivelmente
num destino sobre-humano. 'Aquele que for julgado pelo
Partido como sendo desmerecedor da Camisa Marrom - e
todos n�s devemos saber disso - ser� n�o apenas expulso de
sua fun��o, como destru�do em sua pr�pria pessoa, e nas
pessoas de sua fam�lia, esposa e filhos. Tais s�o as severas e
impiedosas leis da nossa Ordem."
Ainda assim engana-se quem pensa que a organiza��o de
Himmler fosse feita apenas de fan�ticos s�dicos. Tratava-se
mais de iniciados acreditando-se acima do bem e do mal.
N�o soam dessemelhantes das de Sri Aurobindo as seguintes
palavras do Credo da Ordem, "O mundo � mat�ria a ser
transformada para liberar a energia concentrada do Homem
S�bio - energia ps�quica capaz de atrair os poderes de Al�m":
os Seres Desconhecidos Superiores, os Senhores do Cosmos.
Obviamente, a Ordem Negra n�o era pol�tica ou militar, de
maneira nenhuma. Ela era puramente de magia. A inten��o
dos campos de concentra��o era a de ser um modelo para a
ordem social do futuro. "Todos os povos do mundo ser�o
desenraizados e transformados numa imensa popula��o
n�made, uma esp�cie de mat�ria-prima que pode ser
explorada, e a partir da qual emergir� a flor: o Homem em
contato com os Deuses. E o molde para o gesso (como
Barbey d'Aurevilly costumava dizer, o inferno � o molde do
para�so) de nosso planeta, transformado num campo de
opera��es para os magos da Ordem Negra."
Uma doutrina bastante fascinante era aquela transmitida �
juventude alem�, "O cosmos � um ser vivo em que todas as
formas, incluindo o homem, s�o diversas express�es que se
multiplicaram ao longo das longas eras; s� estamos vivos
quando conscientizamo-nos desse Ser que necessita de n�s
para preparar novas varia��es." A Cria��o n�o est� completa,
ent�o os escolhidos nos castelos iniciat�rios t�m o destino de
moldar as massas humanas ignorantes. Para esse fim, tudo �
permitido. Os campos de concentra��o s�o parte do
processo; as torturas e cirurgias experimentais, parte do
ritual.
N�o apenas porque gosto muito deles, mas porque trazem
uma verdade muito profunda, cito aqui os coment�rios de
Pauwels e Bergier sobre os julgamentos de Nuremberg ap�s
a guerra:
"...E agora, como lesmas ap�s a chuva, tendo escapado da
tempestade de ferro, aqui est�o eles - ju�zes de mon�culo,
professores de direitos humanos e de virtudes horizontais,
doutores da mediocridade, bar�tonos do Ex�rcito da
Salva��o, carregadores de maca da Cruz Vermelha, todos
ingenuamente dizendo tolices sobre 'amanh�s mais
luminosos' - reunidos aqui em Nuremberg para pregar
serm�es elementares para os Grandes desta Terra, os monges
militantes que assinaram um pacto com os Poderes; os
Sacrificadores que podiam ler no espelho da Escurid�o; os
Aliados de Shamballah, os herdeiros do Santo Graal! E eles
realmente mandaram-nos � forca, e trataram-nos como
criminosos ou lun�ticos delirantes!"
"O que os prisioneiros de Nuremberg e seus l�deres, que se
suicidaram, n�o podiam entender � que a civiliza��o que
acabara de triunfar era tamb�m, e com muito mais certeza,
uma civiliza��o espiritual, um movimento formid�vel, que,
de Chicago a Tashkent, estava impelindo a humanidade em
dire��o a um destino mais elevado. O que eles, os nazistas,
fizeram foi destronar a Raz�o, colocando a Magia em seu
lugar. E verdade que a raz�o cartesiana n�o abrange o todo
do Homem ou o todo de seu conhecimento. Ent�o eles
tinham que a por para dormir. Mas quando a Raz�o dorme,
surgem monstros. O que tinha acontecido aqui foi que a
Raz�o, que n�o tinha sido posta para dormir, mas levada aos
seus limites extremos, estava operando num n�vel mais
elevado, unindo aos mist�rios da mente e do esp�rito os
segredos da energia e da harmonia universal. O Racionalismo
levado ao extremo d� origem ao Fant�stico, de que os
monstros engendrados pela Raz�o quando adormecida s�o
apenas uma sinistra caricatura. Mas os ju�zes de Nuremberg,
os porta-vozes da civiliza��o que triunfara, n�o sabiam que
aquela guerra havia sido uma guerra espiritual. Eles n�o
tinham uma concep��o elevada o suficiente de seu pr�prio
mundo; eles apenas acreditaram que o Bem triunfaria sobre o
Mal, sem ter percebido qu�o negro era o mal que havia sido
derrotado ou qu�o glorioso era o bem que havia triunfado."
Era �bvio, para observadores perspicazes do drama
subliminar, que certas sess�es do julgamento de Nuremberg
n�o tiveram sentido. Era imposs�vel aos ju�zes ter qualquer
tipo de comunica��o com aqueles que eram os respons�veis,
a maioria dos quais, de qualquer forma, havia desaparecido,
deixando para tr�s apenas os homens que haviam sido seus
instrumentos. Dois mundos totalmente estranhos
confrontaram-se. Os julgamentos de Nuremberg trataram os
nazistas como criminosos pelos padr�es de nossa sociedade
humanista, enquanto que aqueles que iniciaram a guerra n�o
tinham mais nenhuma afinidade intelectual, espiritual e
moral conosco, em qualquer sentido b�sico. Eles estavam
mergulhados no satanismo.
"Os guerreiros m�sticos alem�es e japoneses pensavam ser
magos melhores do que realmente eram. As na��es
civilizadas que os haviam derrotado n�o tiveram consci�ncia
do significado m�gico superior de seu pr�prio mundo. Elas
falavam de Raz�o, Justi�a, Liberdade, Respeito pela Vida
Humana, etc., num n�vel que n�o tem mais um lugar nessa
segunda metade do s�culo vinte, quando o conhecimento
est� sendo transformado e a transi��o para um outro estado
da consci�ncia humana j� � aparente."
O coment�rio acima coloca um argumento muito
importante, na verdade, fundamental. Mas n�o se pode
evitar pensar que, tendo t�o lucidamente identificado Hitler
como o protagonista da Escurid�o, Pauwels e Bergier e
Brennan falharam em identificar a figura que as for�as da
Luz inspiraram e guiaram para derrot�-lo. O nome de
Churchill n�o � mencionado nenhuma vez em nenhum dos
dois livros. Vamos abordar isso num cap�tulo posterior.
A M�e disse que foi um descenso maci�o de luz
transformadora que evocou as for�as do Abismo. Ambas as
for�as estavam trabalhando pelo "Novo Homem": chegamos
a um ponto de virada na evolu��o, diz Hitler, e ao seu novo
homem. Sim, realmente, dizem a M�e e Sri Aurobindo, mas,
muito obviamente, n�o era exatamente o mesmo "Novo
Homem". Disso pode-se apreender que n�o � suficiente
saber que chegamos a um ponto de virada, e sentir-se um
dos instrumentos escolhidos. N�o � suficiente estar pronto
para aniquilar a personalidade, como na verdade os cadetes
nos castelos iniciat�rios eram obrigados a fazer, e estavam
at� desejosos disso. A natureza abomina o v�cuo, e �
necess�rio saber o que ser� sugado para o vazio, uma vez que
a personalidade se tenha ido. Qual � a diferen�a, se ambos os
lados dizem a mesma coisa? Muito simplesmente, como Sri
Aurobindo coloca, � estar no lado do Senhor. Mas como
saber?
Como saber, Arjuna pergunta a Krishna na batalha de
Kurukshetra. Como saber se se est� fazendo a coisa certa.
Isso � uma quest�o de discernimento, diz Krishna. E sempre
uma quest�o de discernimento.
E nos est�gios iniciais do conflito, um alto grau de
discernimento teria sido necess�rio numa escolha entre o
bon viveur que era Churchill, que bebia e comia sem
modera��o, e exercitava sua pungente perspic�cia como um
florete , e o auto-negador vegetariano que teria de boa-
vontade se sacrificado ao chamado de seus deuses, assim
como todos os seus familiares mais pr�ximos, em nome da
grande causa e do Novo Homem.
Vimos que o dem�nio de Hitler lhe aparecia como um anjo
de deslumbrante luz, e muitos s�o os inocentes que teriam
sido enganados. As pessoas raramente t�m pensamento
pr�prio. Dado um l�der possu�do, uma na��o pode ser
guiada. E quase qualquer coisa vai servir como slogan, a Ra�a
Mestra, o Novo Homem, Ci�ncia para um Mundo Melhor. A
revista Harper's publicou os resultados de uma experi�ncia
conduzida nos Estados Unidos nos anos setenta.
Pessoas foram chamadas na rua e solicitadas a colaborar com
a causa da ci�ncia, para determinar quanta voltagem o
organismo humano poderia ag�entar. Elas eram solicitadas a
apertar um bot�o, que aparentemente fazia passar corrente
atrav�s de um homem, amarrado ao que parecia ser uma
cadeira el�trica, em quantidades crescentes, a cada vez que o
bot�o era pressionado. O homem na cadeira inicialmente
contra�a-se, fingindo desconforto, e ent�o reclamava,
lamentava-se, lamuriava-se e depois contorcia-se e for�ava
suas amarras em simulada agonia.
Quando o indiv�duo que estava apertando o bot�o hesitava
ou mostrava sinais de fraqueza, era incitado a continuar, com
a justificativa de que estava fazendo uma importante
contribui��o � ci�ncia. Estudantes, professores, advogados,
encanadores, e pessoas de todos os tipos de vida foram
envolvidas na experi�ncia. No primeiro lote, de cerca de
vinte pessoas (tanto quanto me lembro), apenas uma
recusou-se a apertar o bot�o, depois das duas ou tr�s
primeiras vezes. Parece-me que era uma vendedora de loja.
O professor universit�rio sufocou seu riso, enterrando o
queixo no ombro. O que � que coloca algu�m do lado do
Senhor? N�o � suficiente exclamar, Senhor, Senhor. N�o �
suficiente querer servir � evolu��o. Como foi visto, �s vezes
nada pode afastar-nos mais da Luz. Os jovens cadetes
alem�es eram sublimemente inspirados.
Quando lhe perguntaram qual era a marca distintiva do novo
homem evolutivo, Sri Aurobindo respondeu que era sua
equanimidade, um calmo desapego. Certamente, n�o se
encontraria um Hitler delirantemente hist�rico entre eles.
Como veremos, o relato de Churchill sobre o que ele sentiu
no Parlamento, um calmo desapego, � o tipo de condi��o
que se esperaria de algu�m que recebesse de planos
superiores.
V
No primeiro andar do Ashram de Sri Aurobindo, em
Pondicherry (em Madras, no sul da �ndia), existe uma
divis�ria que separa o corredor do apartamento da M�e. Os
ashramitas que ainda cuidam dos apartamentos e t�m
afazeres onde um dia foi a sala do secret�rio franc�s da M�e,
Pavitra (Saint Hilaire), andam ao lado das janelas que d�o
vista para a �rvore do servi�o , que protege o Samadhi de Sri
Aurobindo e de A M�e. Na divis�ria, gaivotas mergulham
em tranq�ilas ba�as, pintadas em estilo pontilhista, depois da
guerra, por um artista do Ashram. Algumas dessas pessoas
talvez mal se lembrem que, h� menos de meio s�culo
(alguns eram crian�as na �poca), ali, onde as ondinhas e as
gaivotas brincam, o avan�o das tropas de Hitler era marcado
a carv�o, por Pavitra, num mapa. Em menos de um ano, as
tropas de Hitler atacaram em dire��o ao oeste nos mapas da
Europa.
Em 9 de abril de 1940, as for�as nazistas ocuparam a
Dinamarca e a Noruega. Citamos O Reich Oculto:
"O movimento, como muitos dos movimentos de Hitler,
havia sido anteriormente considerado imposs�vel. A marinha
brit�nica, arrasadoramente superior a qualquer coisa que os
alem�es jamais tiveram, guardava os portos. As �guas
territoriais norueguesas estavam minadas. Ainda assim, com
a ajuda de uma sorte excepcional, os alem�es conseguiram.
Comboios de navios nazistas aproximaram-se furtivamente
da costa, de alguma forma conseguindo evitar todas as
embarca��es brit�nicas, exceto uma, que, em todo caso, eles
explodiram em peda�os, e na maioria alcan�aram porto
seguro antes das minas serem posicionadas.
"Em 10 de maio, Hitler avan�ou contra a Holanda, B�lgica e
Luxemburgo. 'A batalha que hoje se inicia,' disse Hitler �s
suas tropas em sua ordem do dia, 'decidir� o futuro da na��o
germ�nica pelos pr�ximos mil anos.' E suas tropas, parecia,
eram virtualmente invenc�veis. O ex�rcito holand�s (mais de
meio milh�o de fortes) capitulou em cinco dias. Em oito
dias, os alem�es alcan�aram Bruxelas. Mais importante ainda,
em 17 de maio a 'impenetr�vel' Linha Maginot francesa, a
estrutura que fora a inveja da Europa, foi traspassada
severamente. Ao final de maio, a Holanda havia sido
derrotada. A B�lgica fora derrotada, o norte da Fran�a
ocupado, os 1o, 7o e 9o ex�rcitos franceses nocauteados e a
famosa a��o de retaguarda em Dunkirk estava a postos. Em
14 de junho, Paris caiu. Dias mais tarde, o Marechal Petain
da Fran�a pediu um armist�cio." As for�as da escurid�o de
Hitler estavam em vantagem."
William Shirer anotou em seu di�rio de guerra, em 29 de
maio, "A primeira invas�o da Inglaterra desde 1066? As
bases inglesas no continente, a n�o ser por um milagre de
�ltima hora, j� eram." Dunkirk era em si um milagre e Sri
Aurobindo fala sobre interven��o divina. Todas as balsas de
invas�o estavam prontas em Dunkirk. Nenhum historiador
compreende por que Hitler recuou como tamb�m nenhum
explica por que ele atacou a R�ssia e se exp�s em duas
frentes de batalha.
A explica��o jaz por tr�s do v�u que nos separa de outras
dimens�es, e que tentaremos penetrar.
Na Batalha
Freq�entemente, no longo retiro das morosas eras
Na fina crista da Vida no enorme oceano do Tempo,
Aceitei a morte e suportei a derrota
Para ganhar pontos na minha queda por Ti.
Pois destes ao Inconsciente o direito obscuro
De opor-se � brilhante passagem de minha alma
E coletar a cada passo a taxa da Noite:
A Desgra�a, sua augusta contadora, registra os pagamentos.
� minha volta agora for�as Tit�nicas pressionam;
Este mundo � delas, que tomam os dias como honor�rios;
Estou muito ferido e a luta � cruel.
N�o � ainda o momento de Tua vit�ria?
Seja feita Tua vontade! O que ainda ao Destino deves,
O Anci�o dos mundos, Tu sabes, Tu sabes.
25 de setembro de 1939 (poucos dias antes do romper da 2a
Guerra Mundial).
Sri Aurobindo identificou-se dolorosamente com a Luz
amea�ada e escreveu esse poema algum tempo antes da
batalha real (por meses, ambos os lados esperaram pelo que
veio a ser chamado de Guerra de Mentirinha ou guerra
econ�mica. Os Aliados, em sua maioria, acreditavam que a
guerra estava para acabar. Sri Aurobindo, como veremos,
percebia o que estava por tr�s de Hitler).
A regra do Ashram sempre havia sido "sem pol�tica". No
come�o da guerra, pela primeira vez desde a chegada de Sri
Aurobindo a Pondicherry, um r�dio foi instalado no
Ashram. A M�e, dando b�n��os do alto da escada, assim que
o programa de not�cias entrava no ar, ia ao quarto de Sri
Aurobindo ouvi-las. A �ltima transmiss�o da BBC era �s duas
da manh� e na maioria das noites a M�e permanecia
acordada para ouvir, ou algu�m anotava as not�cias para ela.
Num momento em que qualquer amea�a ao poder brit�nico
era vista com exulta��o pela �ndia, num momento em que
qualquer inimigo brit�nico era necessariamente um amigo da
�ndia, Sri Aurobindo escreveu esta carta ao governador de
Madras:
"Sentimos que n�o apenas � essa batalha travada em defesa
pr�pria, e em defesa das na��es amea�adas pelo dom�nio
mundial da Alemanha e do sistema de vida nazista, mas
tamb�m que ela � uma defesa da civiliza��o e dos valores
sociais, culturais e espirituais mais elevados alcan�ados e de
todo o futuro da humanidade. A essa causa nosso apoio e
solidariedade ser� irrestrito, n�o importa o que aconte�a;
ansiamos pela vit�ria da Inglaterra e, como resultado final,
uma era de paz e uni�o entre as na��es e uma ordem
mundial mais segura."
Mais, Sri Aurobindo n�o poderia ter dito numa mensagem
p�blica.
Isso foi escrito na �poca do colapso da Fran�a e da amea�a de
colapso da Inglaterra e foi colocado � disposi��o do
governador para divulga��o em apoio � causa aliada.
Essa foi a primeira declara��o p�blica pol�tica que Sri
Aurobindo fez ap�s chegar a Pondicherry. "Imediatamente
houve uma chuva de protestos no pa�s contra a posi��o que
Sri Aurobindo tomara e alguns dos residentes do Ashram,
que tinham fortes sentimentos anti-Inglaterra e haviam
lutado pela liberdade da �ndia, tamb�m ficaram perplexos e
muito perturbados. Como podia Sri Aurobindo, uma vez um
mortal oponente da domina��o brit�nica na �ndia, 'n�o
meramente um n�o-cooperador, mas um inimigo do
Imperialismo Brit�nico', apoiar a causa da Inglaterra? Um
disc�pulo escreveu para A M�e, 'o Congresso est� nos
pedindo para n�o contribuir com o fundo de guerra. O que
devemos fazer?' A resposta foi: 'Sri Aurobindo contribuiu
por uma causa Divina. Se voc�s ajudarem, estar�o ajudando a
si mesmos.' Mas as cr�ticas continuaram e alguns residentes,
por causa de seu �dio pelos ingleses, proclamaram
abertamente seus sentimentos pr�-Hitler...."
Quando a Europa ainda n�o se conscientizar� da enormidade
da insanidade assassina de Hitler, Sri Aurobindo e A M�e j�
haviam h� muito percebido Hitler como um agente das
For�as das Trevas. Citamos da correspond�ncia entre
Nirodbaran e Sri Aurobindo (4 de abril de 1936, tr�s anos
antes de a guerra estourar) quando, respondendo, Sri
Aurobindo escreve:
"... Quem, exceto o dem�nio, dar� for�a � Alemanha? Voc�
acha que estou aliado a Hitler e sua tribo de nazistas
ululantes?" e tamb�m "Hitler e seus principais comandantes,
Goering e Goebbels, s�o com certeza seres vitais1, ou est�o
possu�dos por seres vitais, portanto n�o se pode esperar
bom-senso deles. O Kaiser , apesar de totalmente sat�nico,
era uma pessoa muito mais humana; essas pessoas mal s�o
humanas.
O s�culo dezenove na Europa foi uma era
proeminentemente humana - agora o mundo vital parece
estar descendendo aqui. (18 de setembro de 1936)"
"(22 de janeiro de 1939)... Quando dizemos que Hitler est�
possu�do por uma for�a vital, isso � uma constata��o da
realidade e n�o um julgamento moral. Isso est� claro pelo
que ele faz e pela maneira como o faz."
Ainda numa outra carta:
"N�o h� paralelo na hist�ria de um man�aco utilizando todos
os tipos de falsidade, hipocrisia e perversidade para capturar
a imagina��o de uma ra�a de cultura como a alem�."
Sri Aurobindo via no Mein Kempf - a B�blia do nazismo -
um tecido de mentiras que ele disse n�o iria tocar. Uma
revista francesa, L'Illustration, publicou uma foto de Hitler,
Goebbels e Goering sobre a qual Sri Aurobindo comentou:
"Hitler d�-me a impress�o do rosto de um criminoso de rua.
No caso dele, � um fac�nora de sucesso, com uma diab�lica
capacidade para o logro e, por tr�s dela, a psique de um
taxista londrino, - rude e subdesenvolvido. Isso significa que
o car�ter ps�quico desse homem consiste de f�til e tolo
sentimentalismo. Ele est� possu�do por algum Poder
sobrenatural e � desse Poder que a voz, como ele a chama,
vem. Voc� j� notou que as pessoas que foram uma vez seus
inimigos entram em contato com ele e tornam-se seus
admiradores? Isso � um sinal desse Poder. � desse Poder que
ele constantemente recebe sugest�es e a constante repeti��o
das sugest�es que dominaram o povo alem�o. Voc� tamb�m
perceber� que em seus pronunciamentos ele sempre enfatiza
as mesmas id�ias - isso � evidentemente um sinal de
possess�o vital."
Narayan Prasad, um ashramita, escreve, "O sentimento
nacional indiano contra os ingleses era t�o amargo que cada
vit�ria de Hitler era aclamada como se fosse nossa."
A ades�o de Sri Aurobindo � causa brit�nica foi muito
surpreendente, dram�tica e at� chocante, vinda de um
radical lutador pela liberdade, do porte de Sri Aurobindo,
que sofrera consideravelmente, inclusive na pris�o, nas m�os
do governo colonial de Sua Majestade.
Sri Aurobindo denominou a Segunda Guerra Mundial de "A
Guerra da M�e", e tanto ele como a M�e fizeram generosas
contribui��es aos v�rios fundos de guerra, apesar das r�gidas
condi��es financeiras de seu Ashram (10.000 francos na
�poca era gesto dos mais generosos), tudo isso apesar do
violento sentimento anti-brit�nico em toda a �ndia e mesmo
no Ashram.
Numa carta � seus disc�pulos, um deles havia sido seu
assistente quando ele (Sri Aurobindo) era o l�der
revolucion�rio mais eloq�ente da �ndia, temido por um setor
da administra��o imperial como o maior inimigo de seu
dom�nio na �ndia, Sri Aurobindo escreve:
"Afirmo novamente, com a maior veem�ncia, que essa � a
Guerra da M�e. Voc�s n�o devem pensar nela como uma
luta de algumas na��es por outras, nem mesmo pela �ndia;
ela � uma luta por um ideal que tem que ser estabelecido na
Terra na vida da humanidade, por uma Verdade que ainda
tem que se concretizar plenamente e contra uma escurid�o e
falsidade que est�o tentando subjugar a Terra e a humanidade
no futuro imediato. S�o as for�as por tr�s da batalha que t�m
que ser vistas e n�o esta ou aquela circunst�ncia superficial.
De nada adianta concentrar-se nos defeitos ou erros das
na��es; todas t�m defeitos e cometem erros graves; mas o
que importa � de que lado elas se colocaram na luta. � uma
luta pelo desenvolvimento da liberdade da humanidade, por
condi��es em que os homens tenham liberdade e espa�o
para pensar e agir de acordo com a luz neles e crescer na
Verdade, crescer no Esp�rito. N�o pode haver nem a mais
leve d�vida de que, se um lado vencer, ser� o fim de toda
liberdade e da esperan�a de luz e de verdade, e o trabalho
que tem que ser feito seria sujeito a condi��es que o
tornariam humanamente imposs�vel; haveria um reinado de
falsidade e de escurid�o, uma cruel opress�o e degrada��o da
maior parte da ra�a humana, de uma tal forma que as pessoas
neste pa�s nem sonham e n�o podem ainda perceber. Se o
outro lado, que se declarou a favor de um futuro livre,
triunfar, esse terr�vel perigo ter� sido evitado e condi��es
ter�o sido criadas em que haver� a possibilidade para o Ideal
crescer, para o Trabalho Divino ser feito, para a Verdade
espiritual pela qual lutamos estabelecer-se na Terra. Aqueles
que lutam por essa causa est�o lutando pelo Divino e contra
a amea�a do reinado do Asura."
No pa�s inteiro, Sri Aurobindo era a voz indiana levantada
em apoio � Inglaterra e a �nica a iluminar a verdadeira
natureza do conflito, e isso num momento em que o mundo
estava totalmente ignorante dos horrores dos campos de
concentra��o, das atrocidades que foram reveladas apenas
ap�s a guerra, quando os campos foram liberados.
A um disc�pulo, que expressou apreens�o em rela��o � ajuda
incondicional e assumida de Sri Aurobindo aos Aliados na
guerra, ele escreveu (3 de setembro de 1943):
"O que dizemos n�o � que os Aliados n�o tenham feito
coisas erradas, mas que eles est�o do lado das for�as
evolutivas. N�o disse isso ao acaso, mas baseado no que para
mim s�o fatos reais claros. Voc� fala do lado escuro. Todas as
na��es e governos foram isso em suas transa��es umas com
as outras - ao menos todos que tiveram a for�a e a
oportunidade. Espero que voc� n�o queira que eu acredite
que existam ou existiram governos virtuosos e povos sem
ego�smo nem pecado! Mas h� tamb�m o outro lado. Voc�
est� condenando os Aliados baseado em fatos sem
significado para as pessoas no passado, baseado em ideais
modernos de conduta internacional; olhando assim, todos
t�m registros negros. Mas quem criou esses ideais (liberdade,
democracia, igualdade, justi�a internacional e outros)? Bem,
os Estados Unidos, a Fran�a, a Inglaterra - as atuais na��es
Aliadas. Todas foram imperialistas e carregam ainda o fardo
de seu passado, mas elas tamb�m deliberadamente
divulgaram esses ideais, assim como as institui��es que os
tentam concretizar. Qualquer que seja o valor relativo dessas
coisas - elas foram um est�gio, mesmo que imperfeito, em
dire��o � evolu��o. (O que dizer dos outros? Hitler diz ser
um crime educar os povos de cor, que eles devem ser
mantidos como servos e trabalhadores.) A Inglaterra ajudou
certas na��es a se libertarem sem buscar nenhum ganho
pessoal; ela tamb�m concedeu a independ�ncia ao Egito e ao
Eire ap�s uma luta, ao Iraque sem luta. Ela tem se
distanciado consistentemente, ainda que vagarosamente, do
imperialismo em dire��o � coopera��o; a Liga das Na��es
Brit�nicas e Dom�nios � algo �nico e sem precedentes, um
come�o de coisas novas naquela dire��o: ela move-se em
id�ia � alguma forma de uni�o mundial em que a agress�o se
tornar� imposs�vel; sua nova gera��o n�o mais acredita
firmemente em miss�o e imp�rio; ela ofereceu
independ�ncia ao Dom�nio �ndia - ou at� a pura
independ�ncia isolada, se o quisermos, - depois da guerra,
com um acordo de constitui��o livre escolhido pelos
pr�prios indianos.... Tudo isso � o que eu chamo de evolu��o
na dire��o correta - n�o importa qu�o vagarosa, imperfeita e
hesitante possa ela ainda ser. Quanto aos Estados Unidos,
eles prometeram renunciar � sua pol�tica imperialista passada
em rela��o �s Am�ricas Central e do Sul, concederam
independ�ncia a Cuba e �s Filipinas... existe uma tend�ncia
similar do lado do Eixo? Deve-se analisar as coisas por todos
os �ngulos, para v�-las consistentemente e como um todo.
Uma vez mais, s�o as for�as trabalhando por tr�s que voc�
deve ver, n�o quero ficar cego aos detalhes superficiais. O
futuro deve ser salvaguardado; s� ent�o poder�o os presentes
problemas e contradi��es ter uma chance de serem
resolvidos,
eliminados...."
"Para n�s, tal quest�o n�o � relevante. Deixamos claro numa
carta, que foi tornada p�blica, que n�o consider�vamos a
guerra como uma luta entre na��es e governos (muito
menos entre boas e m�s pessoas), mas entre duas for�as, a
Divina e a As�rica. O que temos que ver � de que lado os
homens e as na��es se colocam; se colocam-se do lado
certo, eles de imediato tornam-se instrumentos do prop�sito
Divino, independentemente de todos os defeitos, erros,
movimentos errados, e a��es que s�o comuns � natureza
humana e a todas as coletividades humanas. A vit�ria de um
lado (os Aliados) manteria o caminho aberto para as for�as
evolutivas: a vit�ria do outro lado arrastaria a humanidade
para tr�s, degradando-a terrivelmente e poderia at� mesmo
levar, na pior das hip�teses, � sua eventual falha como ra�a,
como outras na evolu��o passada falharam e pereceram. Essa
� a quest�o toda e todas as outras quest�es s�o ou
irrelevantes ou de menor import�ncia. Os Aliados ao menos
ap�iam valores humanos, apesar de v�rias vezes terem agido
contra seus melhores ideais (seres humanos sempre fazem
isso); Hitler ap�ia valores diab�licos ou valores humanos
exageradamente errados, ao ponto de tornarem-se diab�licos
(por exemplo, as virtudes da Herrenvolk, a ra�a mestra). Isso
n�o faz das na��es inglesa e americana anjos irrepreens�veis,
nem da alem� uma ra�a m� e pecadora, mas, como um
indicador, tem import�ncia prim�ria."
"Devemos nos lembrar que conquista e reinado sobre povos
s�ditos n�o eram considerados errados, nem nas �pocas
antigas, nem medievais, nem em �pocas bem recentes, mas
sim algo grande e glorioso; os homens n�o viam uma
maldade especial nos conquistadores ou na��es
conquistadoras. Apenas o governo dos povos subjugados era
visualizado, mas nada mais - a explora��o n�o estava
exclu�da. As id�ias modernas sobre o assunto, o direito de
todos � liberdade, tanto de indiv�duos como de na��es, a
imoralidade da conquista e do imp�rio, ou tais acordos como
a id�ia inglesa de treinar as ra�as subjugadas para a liberdade
democr�tica, s�o valores novos, um movimento evolutivo;
esse � um novo Dharma que apenas vagarosa e inicialmente
come�ou a influenciar as pr�ticas, - um Dharma infante que
seria para sempre aniquilado caso Hitler sucedesse em sua
miss�o 'Avat�rica' e estabelecesse sua nova 'religi�o' sobre
toda a Terra. As na��es subjugadas naturalmente aceitam o
novo Dharma e criticam severamente os antigos
imperialismos; deve-se esperar que elas pratiquem o que
hoje pregam quando elas pr�prias tornarem-se fortes, ricas e
poderosas. Mas o melhor ser� se uma nova ordem mundial
evoluir, mesmo que num primeiro momento hesitante e
incompletamente, que torne as coisas passadas imposs�veis -
uma tarefa dif�cil, mas n�o absolutamente imposs�vel."
"O Divino toma os homens como eles s�o e usa-os como
Seus instrumentos, mesmo que eles n�o sejam impec�veis
em virtude, ang�licos, sagrados e puros. Se eles tiverem boa
vontade, se, para usar a frase b�blica, estiverem do lado do
Senhor, isso � o suficiente para o trabalho ser feito. Mesmo
se eu soubesse que os Aliados fariam mal uso de sua vit�ria,
ou estragariam a paz, ou pelo menos parcialmente
atrapalhariam as oportunidades abertas para o mundo
humano pela vit�ria, ainda assim colocaria minha for�a em
seu apoio. De qualquer modo, as coisas n�o poderiam ser
nem um cent�simo t�o ruins como seriam sob Hitler. Os
caminhos do Senhor estariam ainda abertos - mant�-los
abertos � o que importa. Vamos concentrar-nos no real, no
fato central, na necessidade de remover o perigo da servid�o
negra e de reviver a barb�rie que amea�a a �ndia e o mundo,
deixando para mais tarde todas as quest�es secund�rias e
menores ou problemas hipot�ticos que anuviariam a mais
importante e tr�gica quest�o ante n�s."
Al�m da carta que foi colocada � disposi��o do governador,
Sri Aurobindo uma vez mais posicionou-se firmemente
numa quest�o pol�tica vital. Citamos aqui a "All �ndia
Magazine", 1991, e um artigo de Nirodbaran, secret�rio de
Sri Aurobindo:
"O Jap�o entrou na guerra em dezembro de 1941 e, em tr�s
meses, varrendo tudo � sua frente, alcan�ara os port�es da
�ndia. Percebendo a extrema gravidade da situa��o,
Churchill anunciou que, em mar�o de 1942, ele mandaria Sir
Stafford Cripps � �ndia como seu enviado pessoal, para
negociar com o Congresso e com os l�deres mu�ulmanos,
para que um Governo Central respons�vel fosse formado
para mobilizar os recursos indianos para combater os
japoneses. Ele tamb�m ofereceu a cria��o de uma nova
Uni�o Indiana com status de Dom�nio e uma constitui��o
que seria formulada pelos pr�prios representantes indianos
ap�s a guerra. Quando Sir Stafford Cripps chegou � �ndia
para cuidar dos detalhes, Sri Aurobindo acolheu a miss�o e,
em 31 de marco, enviou-lhe uma mensagem nos seguintes
termos:
'Ouvi seu pronunciamento. Como algu�m que tem sido um
nacionalista e um trabalhador pela independ�ncia da �ndia,
apesar de minha atividade agora n�o ser mais no campo
pol�tico, mas no espiritual, quero expressar minha aprecia��o
por tudo o que voc� tem feito para realizar essa oferta. Eu
acolho-a como uma oportunidade dada � �ndia de
determinar por si mesma, e organizar com toda liberdade de
escolha, sua liberdade e unidade, e tomar um lugar efetivo
entre as na��es livres do mundo. Espero que ela seja aceita, e
correto o uso dado a ela, colocando-se de lado todas as
disc�rdias e divis�es. Espero tamb�m que rela��es amistosas
entre a Inglaterra e a �ndia, tomando o lugar de confrontos
passados, sejam um passo em dire��o a uma maior uni�o
mundial em que, como uma na��o livre, sua for�a espiritual
contribuir� para construir para a humanidade uma vida
melhor e mais feliz. Nessa luz, ofere�o minha ades�o
p�blica, caso ela possa ser �til ao seu trabalho.'"
Sir Stafford Cripps respondeu, 'Estou muito tocado e
gratificado por sua gentil mensagem, permitindo-me
informar � �ndia que voc�, que ocupa uma posi��o �nica na
imagina��o da juventude indiana, est� convencido de que a
declara��o do governo de Sua Majestade substancialmente
confere a liberdade que o Nacionalismo Indiano por tanto
tempo lutou.'
"Cripps agora entrou em longas discuss�es com os l�deres
pol�ticos indianos, mas falhou em conseguir que o Congresso
aceitasse suas propostas. Sri Aurobindo havia visto
claramente que a oferta de Cripps se constitu�ra numa
grande oportunidade que, se utilizada, levaria a �ndia tanto �
liberdade quanto � uni�o - note que ele usa essas duas
palavras em sua mensagem a Cripps. Ele considerava que um
Governo Central em que hindus e mu�ulmanos trabalhassem
juntos com um objetivo comum, alinhando firmemente a
�ndia contra as for�as anti-divinas, reduziria a tens�o entre as
duas comunidades e levaria � coopera��o em vez de ao
confronto. Sri Aurobindo tamb�m viu a necessidade de
organizar a for�a coletiva do pa�s para repelir o perigo
japon�s. Ele disse-nos claramente: 'O imperialismo japon�s,
por ser jovem, baseado no poder militar e industrial e
orientado para o ocidente, era para a �ndia uma amea�a
maior que o imperialismo brit�nico, que era velho, com o
qual o pa�s havia aprendido a lidar e que estava a caminho de
ser eliminado.' Mas os l�deres do Congresso foram
imperme�veis a essas considera��es vitais, parecendo mais
preocupados com c�lculos pol�ticos imediatos,
provavelmente influenciados pela opini�o de Gandhiji, de
que as propostas oferecidas pelos ingleses n�o eram nada
mais que um 'cheque pr�-datado de um banco que estava
falindo'. Sri Aurobindo chegou ao ponto de enviar um
emiss�rio pessoal a Delhi para tentar persuadir os l�deres do
Congresso a aceitarem a oferta de Cripps. S.Duraiswamy, um
eminente advogado de Madras e um disc�pulo, foi escolhido
para essa miss�o, talvez por ser ele amigo de C.
Rajagopalachari, um dos poucos l�deres de posi��o elevada
no Congresso a apoiar as propostas de Cripps. No entanto,
foi tudo em v�o; a oferta foi rejeitada pelo Congresso.
Quando a rejei��o foi anunciada, Sri Aurobindo disse num
tom sereno, 'Eu sabia que falharia'. N�s imediatamente
pulamos sobre suas palavras e perguntamos, 'Ent�o por que
voc� enviou Duraiswamy, afinal?' 'Por um pouco de niskama
karma'? foi sua resposta tranq�ila, sem nenhuma amargura
nem ressentimento."
"Muitos observadores perspicazes, analisando o passado com
atitude desapegada, agora consideram que, fosse a oferta de
Cripps aceita, todo curso da hist�ria recente poderia muito
bem ter sido mudado. Uma associa��o eficaz de hindus e
mu�ulmanos no governo poderia ter frustrado a teoria das
'Duas Na��es', evitando a Separa��o com toda sua deriva��o
de incalcul�vel sofrimento humano, assim como seu legado
de problemas pol�ticos que ainda nos atormentam. A vis�o
de Sri Aurobindo ia muito al�m de quest�es pol�ticas
imediatas e ele viu que a oferta de Cripps viera como
resultado de uma inspira��o divina. Os l�deres pol�ticos de
ent�o, mais preocupados com considera��es de curto prazo,
n�o puderam compartilhar dessa vis�o, e ent�o uma grande
oportunidade foi desperdi�ada. Devo mencionar aqui que
tamb�m a M�e exortara veementemente a aceita��o das
propostas. Ela disse: 'Meu ardente pedido � �ndia � que n�o
rejeite [a oferta de Cripps]. Ela n�o deve cometer o mesmo
erro que a Fran�a cometeu recentemente e cair no abismo.'
Quando foi anunciada a rejei��o da oferta, ela disse apenas,
'Agora a calamidade abater-se-� sobre a �ndia.'"
O mundo sabe que calamidade n�o � uma palavra forte
demais para descrever o que passou este subcontinente
durante a Separa��o.
Conv�m lembrar que Sri Aurobindo quebrou um per�odo de
trinta e quatro anos de n�o envolvimento com a pol�tica para
exortar Gandhiji e os l�deres do Congresso em Delhi a aceitar
a proposta de Cripps .
VII
Mahatma Gandhi escreveu uma carta aberta (2 de julho de
1940) aos membros do Parlamento ingl�s:
"Apelo por uma cessa��o de todas as hostilidades... porque a
guerra � em ess�ncia ruim.... Quero que voc�s combatam o
nazismo sem armas ou ... com armas n�o-violentas. Gostaria
que voc�s considerassem as armas que t�m como in�teis
para salv�-los ou � humanidade ... Deixe-os apossarem-se de
suas lindas ilhas com suas muitas constru��es lindas... mas
n�o de suas almas e mentes..." Sobre isso Sri Aurobindo diz:
"... Permanece a obje��o de que toda guerra � m� e que
nenhuma guerra pode ser apoiada; a for�a da alma ou algum
tipo de for�a espiritual ou �tica � o �nico tipo de for�a que
pode ser utilizado; a �nica resist�ncia permiss�vel � a
pac�fica, a n�o-coopera��o ou Satyagraha. Mas esse tipo de
resist�ncia, apesar de ter sido utilizada no passado, com
algum efeito, por indiv�duos ou numa escala limitada, n�o
pode impedir a invas�o de um ex�rcito estrangeiro, menos
ainda de um ex�rcito nazista; ela s� pode ser usada como
meio de oposi��o a um reinado opressivo j� existente. Surge
ent�o a quest�o se pode-se pedir a uma na��o que
voluntariamente sofra a amea�a de uma invas�o estrangeira,
ou a afli��o de uma ocupa��o estrangeira, sem usar nenhum
meio dispon�vel de resist�ncia material. � tamb�m uma
quest�o se alguma na��o no mundo � capaz desse tipo de
resist�ncia num prazo longo e de uma forma abrangente o
suficiente, ou � suficientemente desenvolvida �tica e
espiritualmente para satisfazer as condi��es que lhe trariam
sucesso, especialmente contra uma opress�o militar
organizada e sem compaix�o como a domina��o nazista; em
qualquer grau, � admiss�vel n�o querer arriscar a aventura
enquanto houver outra alternativa. A guerra � fisicamente
um mal, uma calamidade; moralmente ela tem sido, como a
maioria das institui��es humanas, uma mistura; na maioria
dos casos, mas n�o em todos, uma mistura de algum bem e
muito mal: mas � necess�rio, �s vezes, encar�-la, ao inv�s de
convidar e passar por um mal pior, uma calamidade maior.
Pode-se admitir que, enquanto a vida e a humanidade forem
o que s�o, n�o poder� haver tal coisa como uma guerra
correta.... Sem d�vida, numa vida espiritualizada da
humanidade, ou numa civiliza��o perfeita, n�o haveria
espa�o para a guerra ou a viol�ncia, - est� claro que esse � o
estado ideal mais elevado. Para lev�-la a esse estado �
necess�rio uma mudan�a espiritual imediata, da qual n�o h�
evid�ncia presente, ou uma mudan�a de mentalidade e de
h�bitos, que a vit�ria da id�ia totalit�ria e de seu sistema
tornaria imposs�vel; pois ela imporia justo a mentalidade
oposta, a mentalidade e os h�bitos de uma for�a bruta
dominante e violenta de um lado, e de uma n�o-resist�ncia
servil e prostrada de outro."
Sri Aurobindo diz dele mesmo:
"... Se ele (Sri Aurobindo) tivesse favorecido o ideal pacifista,
nunca teria apoiado os Aliados (nem ningu�m mais) nesta
guerra, muito menos sancionado que alguns de seus
disc�pulos se alistassem no ex�rcito como pilotos, soldados,
m�dicos, eletricistas, etc."
A. B. Purani, um obstinado revolucion�rio que lutara contra
os ingleses, era disc�pulo de Sri Aurobindo e levantou o
assunto da n�o-viol�ncia Gandhiana. Esse di�logo foi
registrado nos Evening Talks (8 de janeiro de 1939):
"Disc�pulo: ...Gandhi escreveu sobre o regime de Hitler, que
o sofrimento do Bispo Niem�ller n�o � em v�o. O cora��o
de Hitler pode ser duro como pedra, mas a n�o-viol�ncia
tem o poder de gerar um calor que pode fundir at� o mais
duro cora��o. O que voc� pensa sobre isso?"
"Sri Aurobindo: Temo que uma bela fornalha seria
necess�ria! (risos) Gandhi teve que lidar principalmente com
ingleses, e os ingleses querem ficar com a consci�ncia
tranq�ila. Al�m do mais, os ingleses querem satisfazer sua
auto-estima e querem estima mundial.... Hitler n�o estaria
onde est� se tivesse um cora��o mole."
At� mesmo Churchill, a �nica voz consistentemente
levantada contra o pacifismo cego na Inglaterra, exortando
um vigoroso rearmamento, e prevendo plenamente, ao
menos, a amea�a pol�tica do nazismo, ainda em 1935 tinha
esperan�a de um final feliz. Sua esperan�a por um resultado
favor�vel evidencia a boa vontade de um homem forte, mas
n�o a percep��o infal�vel do Vidente:
"N�o � poss�vel formar um julgamento justo de uma figura
p�blica que alcan�ou a enorme estatura de Adolf Hitler, at�
que o trabalho de sua vida se apresente como um todo ante
n�s. Apesar de que nenhuma a��o pol�tica subseq�ente
possa legitimar atos err�neos, a hist�ria � repleta de
exemplos de homens que subiram ao poder atrav�s de
m�todos duros, cru�is e at� mesmo aterrorizantes e que, no
entanto, quando suas vidas foram reveladas como um todo,
foram considerados como grandes figuras, cujas vidas
enriqueceram a hist�ria da humanidade."
"N�o somos agraciados com tal vis�o do todo hoje. N�o
podemos dizer se ele levar� o mundo a uma outra guerra, em
que a civiliza��o sucumbir� irrecuperavelmente, ou se ele
marcar� a hist�ria como o homem que restaurou a honra e a
paz de esp�rito da grandiosa na��o germ�nica e trouxe-a de
volta serena, sol�cita e forte ao primeiro plano do c�rculo
familiar europeu. � sobre esse mist�rio do futuro que a
hist�ria far� seu pronunciamento. Basta dizer que ambas as
possibilidades est�o abertas no presente momento. Se,
porque a hist�ria est� inacabada, porque, na verdade, seus
cap�tulos mais decisivos ainda est�o por serem escritos,
somos for�ados a focarmo-nos no lado mais escuro de seu
trabalho e credo, nunca devemos nos esquecer, nem deixar
de ter esperan�a em uma alternativa mais luminosa."
Mesmo antes da guerra, Sri Aurobindo disse:
"... Homens como Hitler n�o podem mudar, eles t�m que
ser eliminados da exist�ncia. N�o h� possibilidade de eles
mudarem nesta vida..."
Essa declara��o foi gravada em 8 de janeiro de 1939, nas
Evening Talks de Purani (oito meses antes da guerra
estourar).
VIII
"Muitas pessoas acreditavam que o nazismo era uma fase
tempor�ria, que suas enormidades passariam, a verdadeira
Alemanha automaticamente se elevaria � proemin�ncia e
novamente haveria a ador�vel m�sica, a grande literatura e a
elevada filosofia. Sri Aurobindo nunca corroborou com essa
vis�o ensolarada."
K. D. Sethna, em A Guerra por tr�s da Guerra , resumiu
como ningu�m, brilhantemente, a inabal�vel vis�o de Sri
Aurobindo. Ele continua:
"Pelo contr�rio, ele sustentava que o nazismo, da forma
como o via, era, apesar de sua terr�vel fei�ra, nada mais que
um pequeno e irrelevante come�o de uma escurid�o de que
n�o t�nhamos id�ia. Era para ele a ponta de lan�a de uma
ofensiva total das Trevas. Seu sucesso n�o seria um
fen�meno passageiro que se exauriria por si s�, deixando a
vida humana retornar � sua antiga forma de compreens�veis
fragilidades aliviadas por admir�veis for�as. Seu sucesso
introduziria o in�cio de uma era em que o diab�lico reinaria
sobre o humano..."
"Do ponto de vista oculto, o nazismo � o p�lo exatamente
oposto � din�mica de Aurobindo. N�o � um rompante ligeiro
tocando as superf�cies da vida material ou alguns de seus
dom�nios, mas uma tentativa de total supremacia, porque a
din�mica de Aurobindo tamb�m inclina-se a um
integralismo todo-abrangente de efeito na Terra. A
espiritualidade de Sri Aurobindo n�o � uma grande fuga do
enigma da vida: � uma solu��o radical a ele. Se o trabalho
dele n�o fosse nada al�m de se interiorizar e se elevar acima
do plano material, para um estado de alma n�o nascido e
imanifesto, ele n�o teria se incomodado com o colosso
Hitler avan�ando sobre a humanidade. Sri Aurobindo
defende a cria��o do lebensraum para o Esp�rito aqui e agora.
E o que finalmente determina que ele era o p�lo superior
oposto a Hitler, � que ele preconizava a diviniza��o da
consci�ncia da subst�ncia material n�o menos que as partes
sutis de nossa natureza - uma transforma��o nunca
claramente visualizada pelos santos, s�bios e profetas do
passado, apesar de sua intui��o de que o mundo material
viera originalmente do Divino. O Yoga daqueles santos,
s�bios e profetas, mesmo quando n�o completamente
escapista, n�o era completamente frustrado em sua fun��o,
pois sua meta �ltima era ainda uma realiza��o num Al�m no
final da vida na Terra. Mas um Yoga �nico, que insiste na
realiza��o de uma manifesta��o divina integral na pr�pria
mat�ria e n�o no avan�o para um estado sobrenatural ap�s a
morte, um Yoga objetivando p�r as m�os em cada um de
nossos aspectos para a cria��o de uma nova ra�a, teria suas
bases destru�das pelo triunfo do nazismo. Da mesma forma,
se � Nova Ordem de Aurobindo fosse permitido avan�ar, os
poderes corporificados em movimentos, como o nazismo,
sofreriam uma derrota definitiva, e seu dom�nio sobre a
Terra Seria fundamentalmente enfraquecido. Ent�o, contra a
marcha divina no plano terrestre, com o prop�sito de
embasar nele de uma vez por todas a consci�ncia da
Verdade, existe a contramarcha da morada oculta da
Falsidade, para ganhar soberania permanente. Porque Sri
Aurobindo sabia pelo que ele luminosamente trabalhava, e
percebeu num relance todo o car�ter e amea�a do
nazismo..."
"Por tr�s do cen�rio evolutivo da Terra existem mundos
t�picos, fixados numa certa ordem e harmonia pr�prios.
Esses mundos s�o de trevas, assim como de luz. N�o existe
progresso em seu pr�prio n�vel, eles est�o satisfeitos com seu
pr�prio tipo, possuindo sua natureza peculiar plenamente
expressa e manifestando-a de diversas formas. Mas esse
contentamento com sua plena manifesta��o n�o os eximem
do desejo de estender o jogo de sua satisfa��o do oculto para
o material. Eles fazem do cen�rio terrestre seu campo de
batalha. E, como o cen�rio terrestre inicia-se com uma
involu��o do Divino, uma oculta��o do Esp�rito, os mundos
ocultos das trevas t�m um papel mais f�cil que os da luz... �
por isso que toda verdade � distorcida ao longo do tempo e
torna-se, de fato, uma esp�cie de inverdade, religi�es
tornam-se uma praga obscurantista e a arte, decadentes
saturnais, a filosofia, uma insurrei��o de sofismas e a pol�tica,
uma grande maquinaria para a explora��o de muitos no
interesse de poucos... O caminho � sempre obstru�do e
interrompido por disformes massas de influ�ncia de mundos
misteriosos onde a brutalidade e a cegueira s�o os princ�pios
em que se baseia a exist�ncia, num molde imut�vel e n�o-
evolutivo."
"... A �ltima guerra foi diferente de qualquer outra, e o
nazismo n�o foi uma recrudesc�ncia da ignor�ncia humana,
mas uma tentativa de iniciar uma nova era de horror e terror
imut�veis, a mais monstruosa investida da Preternatureza
para fundar aqui o imp�rio do satanismo. A consci�ncia
humana est� quase morta naqueles que corporificam a
hierarquia preternatural - pela simples raz�o de que o
humano tem valor de possu�do. E porque a possess�o � t�o
extrema, a tarefa de derrotar o Asura e seu bando foi tanto
t�o imperativa e t�o �rdua. N�o � de se admirar que um
grande n�mero de combatentes, e tamb�m de neutros,
perguntava-se: 'Pode Hitler ser derrotado?' Ainda assim, a
pr�pria enormidade da invas�o invocou os poderes ocultos
da Luz de detr�s do v�u. E, apesar de ser mais dif�cil para o
instrumento humano ser um canal para o Divino do que um
m�dium para o Diab�lico, devemos nos lembrar que o
Divino � infinito, enquanto que o Diab�lico n�o � nada al�m
de imenso. Se o Diab�lico encontra um papel mais f�cil, o
Divino traz uma capacidade mais vasta - e vagarosamente,
passo a passo, as for�as da Luz foram mobilizadas, treinadas e
arremessadas contra o inimigo. N�o podia haver discuss�o,
acordo ou concess�es. O Asura n�o pode ser convertido: ele
tem que ser vencido."
"Embora sem clareza, essa verdade foi compreendida pelas
na��es Aliadas. Churchill deu a ela o empurr�o mais
din�mico poss�vel, na falta de vis�o espiritual e oculta
diretas. Quando a Fran�a prostrou-se, e Hitler anunciou que,
em 15 de agosto daquele ano, ele falaria ao mundo do
Pal�cio de Buckingham, e a infind�vel Luftwaffe sobre a
Inglaterra parecia sua deusa alada da vit�ria, Churchill soube
que n�o poderia haver retorno, nem cess�o. Ele foi
magn�fico sob aquela chuva di�ria de explosivos, e seu
instinto da verdade sobre-humana em jogo marcou-o como
um instrumento por excel�ncia do Divino na guerra. Na
long�nqua �ndia levantava-se uma voz, guiada n�o pelo
instinto, mas por brilhante percep��o. Estranhamente, a voz
era de algu�m nascido em 15 de agosto, o exato dia em que
Hitler esperava celebrar a morte de tudo o que a
humanidade valorizava3. Um poder Y�gico que trabalhava
secretamente como um d�namo, enviando correntes
mundiais, dirigindo uma vasta e invis�vel for�a inspirada aos
ex�rcitos, marinhas e aeron�uticas alinhados contra Hitler."
"Quando os livros de hist�ria s�o escritos, esses ex�rcitos,
marinhas e aeron�uticas, assim como os homens dirigindo os
governos Aliados, t�m neles grande proemin�ncia. A gl�ria
que eles recebem � amplamente merecida por seu idealismo,
coragem, perseveran�a e habilidade. Mas quem quer que
entenda o significado profundo da guerra e sinta o embate
incorporai de que ela foi uma reverbera��o externa,
certamente reconhecer�, como a ant�tese ativa ao mal oculto
que amea�ava engolfar completamente a humanidade
atrav�s de Hitler, o bem oculto que promete elevar a
humanidade. ..."
IX
"Doutor, por favor, n�o v� sem me ajudar. Sou uma mulher
velha e doente, por favor, ajude-me a ser levada a um
hospital."
"A s�plica foi feita numa voz suave, que me pareceu muito
familiar. Onde tinha ouvido aquela voz antes, e aquele
solu�ar triste e contido que parecia vir da cela duas portas
adiante? Ent�o me lembrei: a voz lembrava-me de minha
m�e no funeral de meu irm�o, quando ela chorara da mesma
maneira suave, de dar d�."
Citamos um trecho de As Pegadas Perdidas , de Silviu
Craciunas, que foi torturado pelo regime comunista romeno.
"No dia seguinte, a mesma cena se repetiu, mas dessa vez
pude ouvir mais claramente. Um homem, que, acredito, era
o m�dico da pris�o, dizia, 'Sinto muito, n�o est� em minhas
m�os. � verdade, voc� est� doente e deveria estar num
hospital. Mas apenas o Interrogador respons�vel por seu caso
pode deix�-la ir.'"
"'Por favor, doutor! Fa�a alguma coisa para me ajudar! N�o
me deixe neste estado..."
"Era, com certeza, a voz de minha m�e. Certamente, n�o
poderia estar enganado. Tinha ficado obcecado por isso
desde o dia anterior, e agora tinha quase certeza de que era
realmente minha m�e que estava encarcerada na cela
vizinha, apesar de tentar argumentar comigo mesmo que
aquilo era imposs�vel. Mas, no nonag�simo dia de meu
aprisionamento, fui levado ao interrogador, que, talvez para
analisar minha condi��o psicol�gica, questionou-me
brevemente antes de me dar um pequeno serm�o: 'Sua m�e
ser� responsabilizada por n�o t�-lo denunciado �s
autoridades quando voc� voltou do exterior. Temos certeza
de que voc�s se encontraram ap�s seu retorno...' "
"Na verdade, eu tinha cuidadosamente evitado o contato
com qualquer um dos meus - mas, obviamente, o
Interrogador manteve sua palavra assim mesmo. E o que eu
podia fazer agora?"
"O regime que os Interrogadores impuseram-me prendera,
por assim dizer, minha mente e alma num torno, e essa nova
agonia era infinitamente pior que a dor do chicoteamento."
"Foi por volta dessa �poca que fiquei obcecado com a id�ia
de suic�dio. Estava convencido de que apenas minha morte
salvaria minha fam�lia e aqueles que eu protegia com meu
sil�ncio. Mas como poderia me matar?"
"Por meses, examinei minuciosamente cada detalhe de
minha cela, esperando encontrar um meio de acabar com a
minha vida. As paredes eram absolutamente lisas, os canos
do radiador estavam embutidos em madeira, na janela havia
uma tela de arame de malhas pequenas entre o vidro e as
barras. N�o havia possibilidade de conseguir uma corda, e
menos ainda de encontrar algo para pendur�-la. E mesmo
que tivesse tais coisas, as visitas do carcereiro a cada trinta
segundos n�o me dariam tempo para preparar meu suic�dio.
Nos banheiros, as cisternas estavam fixadas t�o alto que
ficavam fora de alcance, e at� mesmo as correntes eram
embutidas em canos cimentados �s paredes."
"Em um dos cantos do banheiro, encontrei um cano grosso
de ferro - parte do esgoto - fixado � parede a uma altura de
aproximadamente tr�s metros, por uma grande argola de
ferro em cada ponta. Ele deve ter passado desapercebido aos
carcereiros e nele seria poss�vel suspender uma corda."
"Mas onde iria conseguir uma corda?"
"Enquanto eu tentava desesperadamente encontrar uma
solu��o, a porta da cela abriu-se e o oficial de plant�o jogou
um pijama fino na minha cama, e ordenou que lhe
entregasse a camisa imunda e malcheirosa, que naquela
altura j� tinha quase apodrecido em mim. Vestir o pijama
limpo foi uma experi�ncia agrad�vel, lembrou-me de uma
vida muito distante... No dia seguinte, percebi que um dos
bot�es de madrep�rola das cal�as rachara no meio e consegui
quebrar uma lasca afiada, de cerca de dois cent�metros."
"Eu pretendia cortar as veias do pulso esquerdo. Primeiro,
pensei em faz�-lo ao deitar-me, � noite - pois teria a chance
de esconder minha m�o sob as cobertas e o sangue seria
absorvido pelo colch�o, e assim, em cerca de uma hora, meu
cora��o pararia de bater, sem que o carcereiro notasse nada.
Mas, pensando bem, o que aconteceria se ele pedisse, como
freq�entemente o fazia, que eu mantivesse as m�os para fora
das cobertas e o rosto voltado para a luz? Ele certamente
perceberia minha crescente palidez ou manchas de sangue
nos len��is."
"Minha mente ent�o concentrou-se num �nico problema:
como conseguir uma corda. Depois de v�rios dias descobri
que havia um cord�o fino nas costuras externas das pernas
das minhas cal�as de pijama. N�o poderia desfazer as
costuras enquanto estava na cela, pois o carcereiro teria
notado meus movimentos, mas no lavat�rio eu podia ter dois
minutos e meio sozinho. Levaria as lascas comigo e cortaria
as costuras logo abaixo da cintura; ent�o poderia puxar os
cord�es para fora."
"Levei dois dias e noites calculando o tempo necess�rio para
cortar as costuras, puxar o cord�o, amarr�-lo no anel de ferro
da parede e colocar minha cabe�a no la�o... Acreditava
poder fazer isso em sessenta segundos, mas achava que o
outro minuto e meio n�o seria suficiente para me matar.
Cada manh� eu contava o n�mero de segundos que me era
permitido permanecer no lavat�rio. Quando chegava a cerca
de cento e cinq�enta, o carcereiro batia forte e ordenava que
eu sa�sse. Se depois disso eu ainda me demorasse um
momento, ele empurrava a porta e mandava que eu sa�sse.
Acreditava que, para ter certeza de que n�o sobreviveria,
eram necess�rios pelo menos duzentos e quarenta segundos.
Muito dependeria de qual carcereiro estaria respons�vel por
mim quando eu fosse ao lavat�rio."
"Aqueles jovens guardas tinham entre vinte e vinte e cinco
anos; a julgar por seus tra�os, fala e modos, a maioria vinha
das favelas suburbanas de Bucareste, ao passo que outros
eram camponeses. Sua disciplina era perfeita. Nunca
conversavam com os prisioneiros; suas �nicas respostas a
pedidos era 'Sim', 'N�o', ou 'Espere'. Todos aqueles jovens
viviam sob a press�o de regras severas e do perp�tuo medo
de puni��o, e era virtualmente imposs�vel at� mesmo tentar
se comunicar com eles. Ainda assim, um deles - acho que
era de origem camponesa - parecia mais tolerante que os
outros. Em uma ocasi�o, ele permitiu-me sessenta segundos
extras no lavat�rio; nesses segundos extras baseei minha
esperan�a de cometer suic�dio. Mas eu teria que esperar mais
cinco dias at� que esse carcereiro 'gentil' estivesse de
plant�o."
"Ent�o, dois dias antes do momento que eu esperava t�o
febrilmente, toda a equipe de carcereiros foi trocada por uma
nova, e tive que desistir de meu plano. Fiquei dominado pela
frustra��o, senti como se tivesse sido esmagado por uma
avalanche e soterrado sob os escombros sem mal poder
respirar."
"Depois disso, minhas alucina��es tornaram-se muito
freq�entes."
"Numa noite, quando o radiador come�ou sua m�sica
lamuriosa, a parede � minha frente distanciou-se e vi uma
cadeia de montanhas nevadas refletindo a luz do sol
nascente. Em primeiro plano, havia um pequeno templo
indiano dedicado � deusa Kali. Uma �rvore alta sombreava-o.
Aos seus p�s, sentava-se um homem velho, com as pernas
sob o corpo e as m�os pousadas nos joelhos � maneira
br�mane. Tinha uma longa barba branca muito fina. Seu
rosto asc�tico tinha a mesma serenidade que o c�u azul que
se estendia sobre os ofuscantes picos. Quando olhei, ele
inclinou levemente a cabe�a, sorriu e disse: 'Vejo que me
esqueceu. N�o se lembra de Aurobin Dogos, o br�mane?'"
�Ouvi-me respondendo: 'Voc� n�o tem id�ia de por quanto
tempo tenho procurado e chamado por voc�...'"
"'Tive que fazer uma longa viagem para chegar at� aqui,' ele
disse. 'Levou sessenta anos.' "
"Durante meses depois disso vivi na companhia do
'br�mane', que naquela �poca eu acreditava que fosse uma
pessoa real, diferente de mim mesmo. Mas essas vis�es eram
diferentes em car�ter dos pesadelos alucinat�rios que eu
tivera antes. Parecia que, de alguma forma, eu alcan�ara um
n�vel mais profundo do meu ser e essas novas experi�ncias,
em vez de ajudar os meus inimigos, marcaram o in�cio de
um per�odo de integra��o espiritual."
"Mantive longas conversas com o 'eremita', e foi 'ele' que me
convenceu a n�o cometer suic�dio, persuadindo-me de que a
vida � sagrada e deve ser vivida at� a �ltima respira��o."
"Reclamei que, trancado dentro daquelas paredes e pensando
dia e noite sem um momento de tr�gua, havia alcan�ado os
limites da minha resist�ncia. 'Diga-me,' implorei, 'sou v�tima
desses homens que me mant�m preso ou estou � merc� de
leis da natureza duras e cegas?' "
"Ele me explicou sua vis�o do sofrimento. 'Algumas pessoas
ele destr�i', disse, 'outras s�o desafiadas por ele a resistir a
algum mal ou a empreender uma a��o positiva, criativa;
alguns s�o corrompidos, perdem o controle sobre si mesmos
e tornam-se cru�is e vingativos, outros crescem em for�a e
gra�a.'"
"'Mas o que pode um homem fazer sozinho, armado apenas
de seu livre arb�trio, contra um mal avassalador?' Perguntei-
lhe." "Em resposta, contou-me uma hist�ria:" "'Duas
andorinhas aninharam sob o beiral da cabana de um
pescador, pr�ximo � costa. Ensinando seus filhotes a voar,
elas os levavam at� o mar, treinando-os gradualmente a
cruzar dist�ncias cada vez mais longas e a enfrentar as
dificuldades que encontrariam durante a migra��o. Os
filhotes lan�avam-se ao ar, exultando na alegria do v�o e da
liberdade, mas uma rajada de vento tomou um deles,
arremessando-o contra a superf�cie das ondas. O pequeno
p�ssaro manteve as asas abertas para n�o afundar, mas n�o
conseguia al�ar v�o; flutuando como uma folha, chamava
por seus pais a dar pena, enquanto eles voavam em c�rculos
sobre o filho. As andorinhas pais fizeram o m�ximo para
acalmar e encoraj�-lo, ent�o voltaram � margem e fizeram
in�meras viagens � beira da �gua, carregando uma gota de
�gua de cada vez e derramando-a na areia. Assim, elas
esperavam esvaziar o oceano para salvar seu filhote."
"'Seu esfor�o her�ico � para n�s uma li��o,' continuou o
'br�mane'. 'A vontade e o esp�rito humano tamb�m n�o
devem se resignar em momentos de crise; devem continuar
a buscar uma solu��o, n�o importa qu�o avassaladora a
situa��o. Voc� n�o deve aceitar a derrota, n�o deve acreditar
que seus esfor�os sejam v�os. Se tiver a coragem cega de
continuar, resistir e lutar, voc� encontrar� um novo come�o
em sua vida.'"
"Minhas conversas com o eremita, que vivia pr�ximo ao
templo da deusa Kali, haviam durado v�rios meses. L� fora
estava surgindo a primavera; a for�a da luz e a suspeita do
calor no ar foram os primeiros sinais. Quem era o 'br�mane'?
Por que estava tentando me dar um valioso apoio?
Compreendendo minha perplexidade, ele gentilmente
estendeu sua m�o p�lida e esquel�tica e tocou minha testa
com seus dedos frios. De uma forma transfigurada, disse-me
com emo��o:"
"'Voc� quer saber quem sou eu? Eu sou o seu esp�rito; sua
raz�o! Voc� apelou por mim num momento de intoler�vel
desespero. No seu isolamento e desamparo, sou somente
capaz de encoraj�-lo a animar sua moral e fortalecer sua
vontade; afora eu, ningu�m mais pode vir em seu aux�lio.
Confie em minha for�a e nunca se arrepender�!' "
"Esse encontro foi realmente um momento decisivo na
minha exist�ncia. Gradualmente, meus pesadelos me
deixaram, fui descobrindo calma e equil�brio interior e
consegui controlar minha mente e corpo."
"Ap�s dias e semanas de pr�tica, vi que conseguia sentar-me
im�vel em minha cadeira por horas, com minha cabe�a
gentilmente apoiada na parede e os olhos abertos. Respirava
profunda e tranq�ilamente, minha vontade controlando os
batimentos card�acos, mantendo-os est�veis. A fome e a
fadiga cobravam agora um tributo sobre minha for�a, menor
do que quando eu a dissipava andando de um lado para o
outro na minha cela, lutando contra a letargia. A minha
pequena ra��o de comida, e as duas ou tr�s horas de sono
que me eram permitidas a cada dia, eram agora suficientes
para as necessidades do meu corpo."
"Desapegar por completo minha mente do ambiente
requereu mais tempo e esfor�o. Inicialmente, disse a mim
mesmo, que eu era um espectador numa sala de cinema:
minha vida na pris�o nada mais era que um filme projetado
numa tela, que me treinei interromper segundo minha
vontade. Num est�gio posterior, consegui observar meu
corpo, sentado im�vel na cadeira, como se fosse uma
fotografia. Mais tarde ainda, senti meu esp�rito capaz de
escapar da pris�o e empreender inumer�veis longas viagens."
"Os carcereiros ficaram perplexos com a transforma��o que
ocorrera diante de seus olhos: um homem que fora
fren�tico, levado �s margens da loucura pela falta de sono,
agora sentava-se calmo e sereno como uma est�tua. De
tempos em tempos, eles batiam na porta e mandavam que eu
movesse a cabe�a ou piscasse os olhos, para certificarem-se
de que ainda estava vivo e l�cido. Interiormente, eu
alcan�ara uma paz e uma serenidade que nunca houvera
conhecido antes."
"O tempo n�o mais se arrastava; a solid�o n�o era mais um
obst�culo, mas uma oportunidade para incessante
contempla��o. Livre das ansiedades, minha mente devotou-
se apaixonadamente ao pensamento puro. Ansiava agora por
sobreviver - mesmo, se preciso fosse, na pris�o - pois estava
encantado com a felicidade de minha nova liberdade
espiritual. Ansiava por abranger o universo, buscar seus
mist�rios, t�o infind�veis quanto o infinito. Ao mesmo
tempo, essa transforma��o colocou � minha disposi��o uma
fonte de energia que aumentou enormemente meus poderes
de resist�ncia a meus advers�rios. Esse triunfo da raz�o sobre
a loucura mudou radicalmente toda a minha vida. Acredito
agora que, atrav�s daquela disciplina de contempla��o, na
verdade cheguei a uma nova filosofia baseada em valores de
humanismo e leis de conc�rdia. Libertando-me de teorias e
cren�as, tornei-me versado nas leis do universo e desenvolvi
uma nova compreens�o sobre o sofrimento, a liberdade, a
disc�rdia e a harmonia, a revolu��o e a evolu��o."
"Neste livro de eventos factuais n�o h� espa�o para um
tratado filos�fico. Menciono isso somente porque foi o
desenvolvimento dessas id�ias que me deram a vontade de
viver para transmiti-las ao ocidente."
Craciunas acabou por identificar Aurobin Dogos como
Aurobindo Ghose, que chamamos de Sri Aurobindo.
Quantas pessoas foram ajudadas por ele atrav�s de seu apoio
ao esp�rito humano, nunca saberemos. O que � not�vel na
hist�ria de Craciunas � que o autor experienciou Sri
Aurobindo quatro anos depois que o grande yogi deixou seu
corpo humano, em dezembro de 1950. Continuam a
aparecer hist�rias do aux�lio dele e de A M�e durante a
guerra, ou em circunst�ncias de opress�o pol�tica. Um
soldado de infantaria alem�o que viu Sri Aurobindo durante
a guerra veio ao Ashram nos anos sessenta.
O que chamamos de a For�a de Sri Aurobindo ou a For�a da
M�e, ou de a Luz de Sri Aurobindo ou a Luz da M�e, �
simplesmente a For�a ou a Luz evolutiva, e o esp�rito
humano aspirante vai automaticamente contat�-los, pois eles
s�o simplesmente essas for�as encarnadas. Quer digamos
contat�-"los", ou contat�-la", � a mesma coisa. E,
indubitavelmente, o esp�rito de Churchill sabia como
sintonizar-se com Isso.
X
Eis o que disse Sri Aurobindo sobre a a��o de sua for�a
espiritual:
"Certamente, minha for�a n�o � limitada ao Ashram e suas
condi��es. Como voc�s sabem, ela tem sido muito utilizada
em aux�lio do correto desenrolar da guerra e da mudan�a do
mundo humano. Ela � tamb�m utilizada para prop�sitos
individuais fora do escopo do Ashram e da pr�tica do Yoga;
mas isso, � claro, � feito silenciosamente e atrav�s de uma
a��o espiritual, principalmente."
Sri Aurobindo e A M�e declararam abertamente que
Churchill e de Gaulle eram muito abertos � sua for�a, e
Churchill declarou publicamente, em seu pronunciamento �
Casa dos Comuns, em 13 de outubro de 1942, "...Eu �s vezes
tenho uma sensa��o, na verdade muito forte, uma sensa��o
de que houve uma interfer�ncia. Quero enfatizar que �s
vezes sinto que uma m�o orientadora interferiu. Tenho a
sensa��o de que temos um guardi�o, porque servimos a uma
grande causa, e que teremos esse guardi�o enquanto
servirmos � causa fielmente. E que grande causa � esta!"
H� como ter certeza de que Churchill falava de causas
c�smicas? Na verdade sim, ele n�o deixou d�vidas quanto ao
que queria dizer. Em seu pronunciamento no r�dio, "As
Dores do Parto de uma Resolu��o Sublime"', em 16 de junho
de 1941, ele disse:
"...Nessa prodigiosa labuta h� muitas for�as elementais... O
mundo est� testemunhando as dores do parto de uma
resolu��o sublime...."
"O destino da humanidade n�o � decidido por c�lculos
materiais. Quando grandes causas movimentam-se no
mundo, instigando a alma de todos os homens, tirando-os de
seus lares, colocando de lado o conforto, a riqueza e a busca
da felicidade em resposta a impulsos simultaneamente
aterrorizantes e irresist�veis, aprendemos que somos
esp�ritos, n�o animais, e que algo est� acontecendo no
espa�o e no tempo, e al�m do espa�o e do tempo, que, quer
gostemos ou n�o, clama ao dever."
"Uma hist�ria maravilhosa est� se desenrolando ante nossos
olhos. Como ela terminar� n�o nos � permitido saber. Mas
em ambos os lados do Atl�ntico, como todos sentimos,
repito, todos, que somos parte dela, nosso futuro e o de
muitas gera��es est� em jogo. Temos certeza de que o
car�ter da sociedade humana ser� moldado pelas resolu��es
que tomarmos e pelos nossos atos. N�o precisamos lamentar
o fato de que tenhamos sido chamados a encarar t�o solenes
responsabilidades. Podemos nos orgulhar, e at� regozijar em
meio a nossas tribula��es, que tenhamos nascido neste
momento crucial, por ser esta uma �poca t�o grandiosa, com
t�o espl�ndida oportunidade de servi�o."
E ser� que ele compreendia que havia uma estrada evolutiva
a ser trilhada? Citamos seu discurso "N�o Falharemos �
Humanidade" , de 17 de janeiro de 1941: "...N�o tenho
absolutamente nenhuma d�vida de que teremos uma vit�ria
completa e decisiva sobre as for�as do mal, e que a vit�ria
em si ser� apenas um est�mulo para posteriores esfor�os para
conquistarmos a n�s mesmos."
Churchill escreve sobre o que lhe aconteceu em 3 de
setembro de 1939, quando estava sentado na Casa dos
Comuns ouvindo os debates, depois que o primeiro alarme
de ataque a�reo soara sobre Londres.... "Sentado em meu
lugar, ouvindo os discursos, fui tomado por um sentimento
muito forte de calma, depois das intensas paix�es e excita��o
dos �ltimos dias. Senti uma serenidade mental e fiquei
consciente de uma esp�cie de enaltecido desapego aos
assuntos humanos e pessoais. A gl�ria da Velha Inglaterra,
amante da paz e mal preparada como estava, mas imediata e
destemida ao chamado da honra, emocionou meu ser e
pareceu elevar nossos destinos �quelas esferas muito
distantes dos fatos terrenos e das sensa��es f�sicas. Tentei
transmitir algo desse esp�rito � Casa quando falei, n�o sem
aceita��o."
No Ashram, a M�e entrava em transes s�bitos, no meio do
servi�o da sopa ou de alguma outra distribui��o, �s vezes
deixando disc�pulos a esperar at� uma hora. "Fui chamada,"
ela diria ao retornar. Isso acontecia a qualquer momento do
dia ou da noite. A M�e disse-me que soube que a paz havia
sido declarada antes de que lhe contassem. Ao longo de toda
a guerra, ela sentiu como se houvesse uma grande central
telef�nica sobre sua cabe�a, algo que se conectava com o
espa�o. Um dia, isso simplesmente desapareceu, e ela soube
que era o sinal da paz. Hitler tamb�m estava operando com o
seu pr�prio tipo, bem diferente, de poder oculto. Haushofer
e Eckardt, os mentores ocultos de Hitler, ensinaram-lhe,
como faria qualquer ocultista, que a visualiza��o era a chave
essencial para dirigir os eventos ao fim desejado, que
qualquer coisa cederia � uma vontade forte o suficiente e
com a habilidade de projetar a imagem de sua pr�pria vis�o.
Vimos que Churchill sabia que estava sendo guiado e ele
conta-nos que recebeu, em seus sonhos, solu��es que sua
mente tentava desesperadamente formular, apesar de que
elas geralmente se esquivavam t�o logo ele acordava.
Entretanto, fica claro para os muitos que tiveram essa
experi�ncia e leram os relatos, que ele estava
suficientemente em contato com seu ser subliminar para
colocar em a��o as informa��es recebidas. Quando o Oficial
em servi�o na Sala de Guerra reportava um ataque a�reo a
Londres extraordinariamente pesado, de acordo com lorde
Ismay, Churchill "costumava insistir num recesso para que
todos pud�ssemos assistir aos acontecimentos no teto do
Minist�rio da Aeron�utica, que se transformava numa
admir�vel, apesar de n�o muito segura, tribuna de honra".
Ter se arriscado, e a seus comandantes, teria sido tolice, n�o
fosse ele guiado por sua intui��o. Ele sabia claramente que
era um dos escolhidos para aquela tarefa sobre-humana. Ele
disse com tanta ferocidade a Anthony Eden, seu Ministro
dos Neg�cios Exteriores, quando enfrentou um voto de n�o
confian�a do parlamento: "Somente eu posso vencer esta
guerra, somente eu. Nem voc�, nem Halifax, nem mesmo o
Rei... Tenho que sobreviver ou perderemos."
Os par�grafos seguintes s�o de Mist�rios da Mente, do
Espa�o e do Tempo, Vol. 2, n�mero 14:
Ataques a�reos eram uma caracter�stica t�o normal da vida
em Londres, durante a 2a Guerra Mundial, que muitos
londrinos se tornaram, se n�o um tanto indiferentes ao
perigo, relativamente indiferentes a respeito deles. O
primeiro ministro Winston Churchill, um homem
naturalmente corajoso, que muitas vezes esteve sob fogo
inimigo durante seus anos de servi�o na ativa, era pugnaz
como ningu�m na capital, e talvez ainda menos disposto que
a maioria a se deixar perturbar pelas bombas de Hitler. De
qualquer forma, esperava-se que ele fosse a personifica��o da
insubmissa resist�ncia brit�nica ao inimigo, e ele assumiu
seriamente o papel, mas quando sua voz interior disse-lhe
que o perigo era real e iminente, ele ouviu e -
figurativamente, � claro - pulou para a trincheira com toda a
agilidade necess�ria.
Certa noite, ele estava recebendo tr�s ministros do governo
na rua Downing, n�mero 10, a resid�ncia tradicional do
primeiro ministro, em Londres. Acontecia um ataque a�reo,
mas isso n�o dava permiss�o para interromper o jantar. De
repente, Churchill deixou a mesa e foi � cozinha, onde a
cozinheira e uma empregada estavam trabalhando. Num lado
da cozinha, havia uma grande janela de vidro temperado. Ele
disse ao mordomo que colocasse a comida num r�chaud na
sala de jantar, mandou que a equipe da cozinha fosse
imediatamente para o abrigo antia�reo, e ent�o voltou a seus
convidados.
Tr�s minutos mais tarde, uma bomba caiu atr�s da casa e
destruiu a cozinha completamente. O primeiro ministro e
seus convidados, no entanto, sa�ram, miraculosamente,
ilesos.
Uma das maneiras pelas quais Churchill desempenhava seu
papel de inspirar confian�a era visitando pessoalmente as
baterias antia�reas, durante os ataques noturnos. Numa
ocasi�o, depois de observar os artilheiros em a��o por algum
tempo, ele retornou a seu carro, talvez com a inten��o de
visitar ainda duas ou tr�s equipes antes do raiar do dia.
A porta do lado do carro onde ele geralmente se sentava
estava aberta para ele. Mas dessa vez ele a ignorou, dirigiu-se
para o outro lado do carro, abriu a porta e entrou. Poucos
minutos depois, quando o carro rodava pelas rua escuras,
uma bomba explodiu nas proximidades, levantando o carro,
fazendo-o oscilar perigosamente sobre duas rodas, n�o
capotando por um triz. Finalmente, entretanto, o ve�culo
endireitou-se e continuou seu trajeto em seguran�a. "Deve
ter sido o meu peso daquele lado que funcionou como
lastro," disse Churchill mais tarde.
Quando sua esposa perguntou-lhe sobre seu embate com a
morte, ele disse primeiro que n�o sabia por que, naquela
ocasi�o, deliberadamente escolhera o outro lado do carro.
Ent�o emendou, "� claro que sei. Algo disse 'Pare!', antes de
eu chegar � porta que estava aberta para mim. Ent�o
pareceu-me ter sido dito que eu deveria abrir a porta do
outro lado, entrar e sentar-me l� - e foi o que fiz."
O papel de Churchill como o homem de quem a guerra
dependia foi largamente compreendido. Mesmo assim, por
causa de seus diversos dons, g�nio e as encantadoras
qualidades humanas que a eclipsaram, justi�a n�o foi feita �
sua condi��o espiritual. Talvez seja digno de nota que, no
livro Sele��o dos Melhores Discursos de Churchill durante a
Guerra , o discurso "N�o vamos Falhar � Humanidade", de 17
de janeiro de 1941, n�o tenha sido inclu�do. Assim como o
mundo n�o encarou as conseq��ncias dos campos de
concentra��o, preferiu permanecer no conforto de seu
universo racional do que sondar as profundezas do que dizia
Winston Churchill. "O homem n�o ag�enta muita
realidade," diz T. S. Elliot.
Churchill � visto como um grande esp�rito, mas n�o como
uma grande figura espiritual no sentido mais profundo.
Ainda assim, foi um grande transmissor da For�a e da Luz. E
em algum lugar, de alguma forma, ele era consciente disso.
Foi ele e ningu�m mais que deu a conhecer a uma na��o
inteira, e a um mundo atento, o sentido das quest�es em
jogo atrav�s de suas mensagens; e a Inglaterra respondeu.
"Havia uma luz branca," escreveu ele, "irresist�vel, sublime,
que percorreu nossa ilha de ponta a ponta." A Inglaterra,
disse ele, estava completamente segura. Toque-a em
qualquer lugar e ela responder� com verdade. Foi Churchill,
como Lorde Ismay, seu Chefe do Estado-Maior, diz em suas
mem�rias, que, "... fez o povo ingl�s ver a si mesmo assim
como ele o via. As grandiosas qualidades da ra�a brit�nica
pareciam quase que adormecidas, at� que ele as despertou.
Mas, quando ele falava todos estavam prontos a seguirem-no
aonde quer que ele fosse, e a fazer qualquer sacrif�cio."
Fica claro pela mudan�a de tom de Churchill, e pela leitura
atenta de suas mem�rias, que em todas as crises da guerra
suas decis�es foram tomadas num plano intuitivo. Ao
discutir a invas�o dos Aliados, no avi�o a caminho do norte
da �frica, o general George Marshall inquiriu:
"Posso fazer uma pergunta direta? Voc� parece tomar
decis�es militares da mais alta import�ncia mais por instinto
do que por an�lise."
Muito simples e calmamente, Churchill respondeu, "Ora, �
isso mesmo."
"Qual � sua raz�o mais fundamental para opor-se � invas�o
do norte da Fran�a?" perguntou Marshall.
"Vejo o Canal da Mancha inteiro cheio de cad�veres,"
respondeu Churchill.
A profunda consci�ncia de Churchill e suas espl�ndidas
intui��es s�o proje��es, em nosso tempo, de uma dimens�o
futura, enquanto que os del�rios incompreens�veis de Hitler,
suas convuls�es aterrorizadas, foram ejetados de algum
mundo infernal de completo Terror, cuja express�o inicial
foram os campos de concentra��o.
"A noite � seu ref�gio e base estrat�gica." Esse n�o � um
verso do Savitri de Sri Aurobindo, � de Churchill.
O Yogi e o Estadista d�o voz ao mesmo tema. Apesar de Sri
Aurobindo nunca ter falado sobre isso, A M�e contou �
autora como Sri Aurobindo costumava dizer-lhe as palavras
que colocaria na boca de Churchill antes das famosas
transmiss�es, e certos trechos foram reproduzidos por
Churchill palavra por palavra. N�o encontrei nenhuma
refer�ncia a isso nos textos escritos por Sri Aurobindo, mas
seu secret�rio, Nirodbaran, ouviu falar sobre isso, e
Dyumanbhai, atual curador administrativo do Ashram,
confirmou. Este contou- me que certos trechos dos
discursos de Churchill eram freq�entemente repeti��o de
palavras j� ditas em Pondicherry. Anuben Purani disse-me
que seu pai, A. B. Purani, uma das poucas pessoas que via Sri
Aurobindo todos os dias, contou a ela a mesma coisa.
Quando a invas�o da Ilha parecia inevit�vel, ningu�m nega
que foram os discursos de Churchill que encorajaram sua
na��o e mantiveram sua motiva��o num n�vel elevado. O
capit�o Douglas Bader, que retornou � RAF em 1939, ap�s
perder as duas pernas em 1931, relata, "Todos esper�vamos
por sua voz no r�dio. Todos, no ar assim como em terra,
confiavam naquele homem �nico." (National Geographic)
Ele falava para cada ingl�s homem e mulher na Ilha durante
a guerra.
Culto, inteligente, espirituoso e, acima de tudo, com
resist�ncia, plasticidade e uma mente aberta a planos
intuitivos, ele tornou-se o pilar que apoiou o estremecido
templo da humanidade. Talvez ningu�m tenha se
pronunciado t�o entusiasticamente quanto Lady Violet
Bonham Carter:
"Em 1940, Winston Churchill mudou sozinho a mar� da
hist�ria. Seus 'ombros mantiveram os c�us em seu lugar.' Ele
salvou este pa�s e a causa da liberdade humana."
Em 1919, no Ideal de Unidade Humana de Sri Aurobindo,
encontramos:
"Por um s�culo inteiro a humanidade tem clamado e lutado
pela liberdade, conseguindo-a por um amargo pre�o de
labor, l�grimas e sangue."... Vinte e um anos mais tarde,
Churchill animou sua na��o: "...sangue, labor, l�grimas e
suor...," disse, era tudo o que tinha a oferecer na desesperada
batalha.
Eis uma outra frase que poderia ter vindo tanto de Churchill
como de Sri Aurobindo: "Eles rastejam ocultos no v�u da
noite." Acontece que tamb�m essa cita��o � de Churchill.
Evidenciam-se as implica��es dos universos invis�veis. No
caso de Hitler, � f�cil deduzir a presen�a de for�as
infinitamente poderosas; mas n�o era diferente o caso de
Churchill, apenas que as dele eram as For�as da Luz, e ainda
mais poderosas.
N�o � dif�cil ver que as sociedades secretas alem�s eram a
express�o de um mundo em que � poss�vel viver sem se
estar consciente disso. Era o mundo de Hitler, o mundo do
Mal, mas estamos igualmente inconscientes do mundo da
Luz, que se manifestou atrav�s de Churchill. Pauwels e
Bergier colocam-no bem: "Vivemos entre dois mundos e
fingimos que esta terra de ningu�m � id�ntica ao nosso
planeta inteiro. A ascens�o do nazismo foi um dos raros
momentos na hist�ria de nossa civiliza��o em que uma porta
foi sonora e ostensivamente aberta para algo, alguma "outra
coisa". E estranho que as pessoas finjam n�o ter visto ou
ouvido nada diferente das vis�es e dos sons intr�nsecos �
guerra ou �s contendas pol�ticas."
De fato, as pessoas n�o v�em nem ouvem nada mais.
Geralmente, os mundos subliminais da Luz e do Mal est�o
fora de nossa consci�ncia frontal, e apenas quando esta fica
quiescente � que temos vislumbres e percep��es de outros
mundos em que tamb�m existimos. Mas realmente estranho
� que, uma vez que, tanto Pauwels e Bergier quanto Brennan
identificaram t�o claramente Hitler como o m�dium para o
mundo da escurid�o, nem por uma vez eles mencionaram
Churchill em toda a extens�o de seus livros. Pauwels e
Bergier obviamente leram Sri Aurobindo, citando-o
brevemente, "Sri Aurobindo Ghose, o mestre do Sri
Aurobindo Ashram," como tendo a certeza da evolu��o
ascendente da humanidade. Eles parecem n�o ver que, se
Hitler falhou, foi porque Churchill foi o m�dium para as
for�as da Luz. Ele estava imbu�do de Luz. Haushofer e
Eckardt podem ter dado as cartas para Hitler, mas foram,
assim como tamb�m "Aqueles" com quem colocaram Hitler
em contato, derrotados pelos guerreiros da Luz. Os poderes
da escurid�o foram obrigados a operar atrav�s de um l�der
pol�tico e militar em sua tentativa de dominar o mundo. Os
poderes da Luz, da mesma forma, precisaram de um
estrategista pol�tico e militar. Os poderes da Luz n�o
compelem, apenas guiam; seu m�dium foi um homem de
suprema integridade.
A humanidade volta as costas quando s�o abertas as portas
para outras dimens�es, quer boa ou m�. � o que Pauwels e
Bergier dizem sobre os julgamentos de Nuremberg, que
preferiram ignorar que nosso mundo estremecera, e que em
todos os lugares rachaduras se abriram na separa��o com o
inferno: "... Era importante manter viva a id�ia da
perman�ncia e universalidade de nossa civiliza��o humanista
e cartesiana, e de uma forma ou de outra era essencial que os
acusados fossem integrados ao sistema. Isso era necess�rio
para que n�o fosse perturbado o equil�brio do nosso modo de
vida e consci�ncia ocidentais. O fato de que os prisioneiros
continuassem a fazer suas preces especiais e a conduzir seus
ritos at� o momento de sua execu��o foi largamente
ignorado e nunca realmente analisado."
Os fatos assumem grande import�ncia e dimens�o,
justamente porque muito de seu significado est� velado e
al�m da compreens�o humana, no momento de sua
precipita��o. Sri Aurobindo disse que sua vida n�o estava na
superf�cie para ser vista pelos homens, e que tentativas de
escrever sobre ele apenas iniciariam um movimento que
atrasaria seu trabalho. Segue uma das tr�s declara��es que Sri
Aurobindo fez sobre seu trabalho interior e os neg�cios do
mundo. Ele fala de si mesmo na terceira pessoa:
"Internamente, ele colocou sua for�a em apoio aos Aliados, a
partir do momento de Dunquerque (maio de 1941), quando
todos esperavam uma queda imediata da Inglaterra e o
triunfo definitivo de Hitler, e ele teve a satisfa��o de ver o
�mpeto da vit�ria alem� quase que imediatamente obstru�do,
e a mar� da guerra come�ar a mudar na dire��o oposta." No
mais, ele batalhou em sil�ncio.
Levados pelas circunst�ncias, sentimo-nos agora sancionados
a quebrar o sil�ncio. Segue-se um trecho de uma hist�ria de
guerra verdadeira, sobre a 2a Guerra Mundial.
Quarenta e cinco anos depois da guerra, a dez anos do s�culo
XXI, a hist�ria de John, um jovem soldado americano de
infantaria, que teve vis�es de Sri Aurobindo no campo de
batalha, durante a 2a Guerra Mundial, de certa forma um
documento, foi liberta de uma gaveta trancada. Certamente,
chegou o momento de tais hist�rias serem contadas.
A HIST�RIA DE JOHN
XI
Este trabalho, A Luz cjue Brilhou no Abismo Escuro, foi
originalmente concebido como um ap�ndice � hist�ria das
experi�ncias de guerra de John Kelly, um jovem soldado de
infantaria, de origem am�rico-irlandesa, na 2a Guerra
Mundial. � medida que ela se desdobrou, e que a pesquisa
revelou as horripilantes profundezas daquilo que Sri
Aurobindo e Churchill chamaram de abismo escuro, o
Inferno, sua import�ncia como documento tomou-se clara.
Ele era muito longo para um ap�ndice, mas havia pouco que
eu considerasse irrelevante. Inspirada pelo conselho
daqueles que o leram, decidi public�-lo separadamente. Uma
breve hist�ria de John torna-se agora uma esp�cie de
ap�ndice ao que originalmente fora o ap�ndice de sua
hist�ria. Ela � aqui apresentada em forma de trechos do livro
completo, O Grande Senhor e a Senhora Celestial, publicado
por P.Lal, de Calcut�.
John Kelly era um soldado americano de dezoito anos de
idade, na Fran�a. Ap�s dias e dias de guerra de trincheira,
mantendo uma posi��o numa colina, ele teve a seguinte
experi�ncia:
'... Um pontinho da trincheira come�ou a brilhar e cintilar,
expandindo e diminuindo, ansioso por se explicar. Esse
pontinho continha uma concha, uma estrela, um olho
observador. Ele era o universo, unido aos seus universos
vizinhos, que o mantinham atrav�s do amor. Pelo amor, ele
respirava. Seu trabalho era ser o que era e, se tivesse falhado,
teria causado um deslizamento de terra na trincheira. A Via
L�ctea dependia desse ponto.'
A fuma�a estava se dispersando. Algu�m ofereceu-lhe um
cigarro aceso. Ele empurrou a m�o.
"Ou�a Kelly, se voc� enlouquecer, n�o vai sobrar ningu�m."
N�o importa. N�o fale. N�o olhe, n�o olhe, n�o pense,
cintilava cada faceta do fragmento expandindo, indo em sua
dire��o. Seu mundo estava naquele microsc�pico e cintilante
gr�o de areia. O cigarro se foi, mas um anel de fuma�a
flutuou sobre o muro. Naquele momento, n�o havia
nenhum aroma de tabaco. Seria fuma�a ou as brumas do
tempo? Ela circulava ante seus olhos. Ele fixou o olhar at�
que ela cresceu e se estabilizou.
Nenhuma fuma�a poderia manter uma forma daquela
maneira. O que havia l� para ser entendido? Aquela fuma�a,
menos densa at� que part�culas de poeira, poderia tamb�m
pensar e saber? Era uma fuma�a luminosa, consciente, e
tomava a forma de algo semelhante a uma barba branca. Era
uma barba, com l�bios e ent�o um rosto emergindo da
neblina de luz. Ent�o mechas de um longo cabelo branco.
Ele olhava e olhava. Essa vis�o preencheu seu cora��o com
gratid�o e mais gratid�o.
Um som como o de um vinho espumante fluiu pelo ar. A
nuvem cintilante cresceu e dan�ou ante seus olhos. Os
pontos de luz uniram- se em longos filamentos que
cresceram em radi�ncia. O som fluido come�ou a trazer
notas disconectas, luz, notas de cristal. Ele percebeu uma
primeira melodia fugaz... et�rea, doce. Anjos haviam
descido. As melodias, os doces instrumentos n�o
identific�veis, preencheram-no de deleite... e de um medo
infantil, que quando crian�a ele n�o conhecera.
Imperceptivelmente, a princ�pio, mas gradualmente
intensificando-se, algo brotou da m�sica: um riso antigo e
s�bio. Era o cora��o do riso, a semente da alegria e da
celebra��o. Riso de Deus.
Agora aquilo falava com ele, confortava-o, disse-lhe que n�o
temesse. Disse:
O Senhor est� dentro de voc�... agora e sempre.
Assim foi sempre e sempre ser�.
Nada na vida ou na morte pode separar-nos,
pois vivo no seu cora��o e voc� no Meu.
A barba e a boca brilhavam radiantemente. Os olhos eram
olhos de majestade e poder, abrindo seu cora��o para o
amor. A realidade da guerra de membros mutilados e gritos
animais estava contida no sorriso profundo. A mat�ria e a
Divindade encontravam-se ali, na compaix�o de Deus. Seu
olhar foi atra�do para cima dos filamentos dan�antes e
bruxuleantes que eram a boca. Olhou nos olhos. Eles
incendiaram-no numa chama de luz atirando-o contra a
parede da trincheira. Um poder mais forte que uma bomba o
atingira. Ainda tremendo, at�nito e im�vel, ele ficou,
conservando aquele conhecimento denso e firme para sua
alma. Ele estava ainda carregado de Luz e tremendo tanto
quanto poss�vel. Ansiava por ver novamente, mas sabia ter
recebido a resposta.
Uma vez mais, o deleite inundou seu cora��o. A loucura era
apenas aparente. O caos do mundo era somente a superf�cie.
O universo permanecia seguro em seu Senhor, mas ele
estava nu na Luz que lhe perguntava:
O que voc� deseja, meu filho?
"Meu filho"! Era isso que ele tinha esquecido. Seu cora��o
emergiu das esquecidas profundezas e dissolveu-se na do�ura
e maravilha daquilo, mas a delicada entona��o da pergunta,
que lhe fora colocada em melodioso ingl�s brit�nico,
persistia com ele. O que ele desejava?
O sil�ncio aprofundou-se, e l� no fundo estava uma resposta
a que ele n�o conseguia chegar, como o reflexo de algo no
fundo de um po�o. Uma melodia suspirou em seus ouvidos.
Voc� deseja entender. Foi isso que Nos trouxe de volta.
Isso era o que ele queria. Apenas isso iria abri-lo para a gra�a.
Ainda assim, n�o havia ainda uma rever�ncia
suficientemente grande. Como dizer? Como dirigir-se a esse
Grande Comandante dos mundos? Ele n�o era nenhum
general para ser chamado de senhor. O Senhor sorriu com
compreens�o. Com toda sua alma, ele respirou: 'Grande
Senhor... Maior entre todos os Senhores: desejo entender.'
O sorriso ancestral aprofundou-se, e dentro dele estava uma
outra pergunta:
O que � que voc� deseja entender?
Seria poss�vel entender o caos, e por que deveria ele receber
respostas. Ainda assim, tinha que compreender. E agora,
como que para o colocar � vontade, a voz do Senhor veio at�
ele num espirituoso verso de p� quebrado:
Mas se minha ajuda voc� escolher, sua religi�o deve perder.
O que significava isso? Era cat�lico apenas no nome, e fazia
muito tempo que n�o ia � missa, mas ser� que teria que trair
a religi�o na qual nascera? Era seu cora��o que o
aconselhava.
"Grande Senhor", disse simplesmente, "n�o tenho religi�o.
N�o tenho nada dentro de mim. Sou como um espantalho
ou um homem de lata." Onde estivera a luz, ele n�o mais via
o Grande Senhor. Ele deveria t�-lo afastado. Procurou nos
c�us e viu uma figura trajando branco em p� � sua esquerda,
numa terra de ningu�m... O Grande Senhor deslocara-se
para o lado de uma �rvore destru�da, uma m�o descansava
num galho. Seu rosto meditativo e compassivo acendeu nele
nova adora��o. John sentiu como era cru o seu ser, como
um animal assustado na toca, sem saber ao certo porque
lutava e querendo ter mais para oferecer.
Seu ser foi atra�do para a esquerda da terra de ningu�m. Um
templo de um m�rmore transl�cido e vivo come�ou a
formar-se em pleno ar. L�grimas brotaram em seus olhos
pela sua inacessibilidade, a pureza do mundo do Senhor, que
agora se revelava para ele. Num div� dentro do templo,
encontrava-se uma deusa, envolta em trajes de um azul da
meia noite. Ao lado do div�, estavam pequenos chinelos de
veludo. Sabendo ser um sacril�gio fitar esse Ser enquanto Ela
dormia, ele fixou o olhar nos chinelos. Seu anseio pelo
Grande Senhor surgiu, e no local onde ele nascera, em seu
cora��o, encontrou um Ser maravilhoso esperando. Na
radi�ncia, seu corpo perdeu suas dores. N�o era loucura.
Seu olhar voltou-se para o templo. A Deusa estava agora
sentada numa cadeira de m�rmore, com um cotovelo
repousando no bra�o da cadeira e outro relaxadamente ao
longo do corpo, dedos polegar e indicador tocando-se. Ela
estava consciente de sua presen�a, cheia de compaix�o por
Seu filho e tamb�m de profundo amor. Essa era sua M�e. Em
todas as suas vidas, essa havia sido sua M�e. Ondas de do�ura
percorreram seu ser, subindo-lhe pela cabe�a. Um fino
cord�o prendia-o � noite hostil.
'Minha Senhora', murmurou, 'estamos em guerra aqui e sou
um soldado.' Com um sorriso de compreens�o, Ela come�ou
a se desvanecer. � medida que o brilho se dissipava, Seu
sorriso penetrou seu ser com uma aguda press�o de deleite
que o transportou para al�m do Tempo.
"Vamos l�, sargento, acorde. Voc� quer ficar para tr�s?"
Algo alcan�ara-o em seu sonho. Bill Brown chacoalhou seu
ombro. Ele viu nuvens brancas pairando bem acima de sua
cabe�a. Era quase manh�.
"Puxa, sargento, acabou nosso turno. Vamos descer a colina.
'C�' devia 't�' tendo um sonho bem bom. Era sua namorada,
sargento? Voc� estava sorrindo t�o docemente. Diga,
sargento, tem certeza que 'c�' 't�' bem?" John entendeu o
que era necess�rio fazer. "Vamos descer a colina! Vamos
descer a colina nesta manh�". Bill sorria.
Ele segurou a m�o de Bill e levantou-se. Se iam viver, ou
quanto, n�o mais importava. Agora ele havia visto que seu
mundo estava do outro lado, que Eles estavam l� e
esperariam, caso deixasse seu corpo nas trincheiras. Olhou
em volta e viu seu mundo militar em movimento. Novos
homens entravam nas trincheiras. Sua companhia esfor�ava-
se para sair, preparando as bagagens.
"Kelly, levanta logo. Estamos de sa�da." Ele come�ou a
dobrar seu poncho. A como��o a seu redor come�ou a
domin�-lo. Aqui estava a espada de Kathy. Procurou um
lugar para ela. As botas de chuva dos soldados novos
cruzavam por sobre sua cabe�a. Enquanto suas m�os
arrumavam seu equipamento, a noite desenrolava-se em
sil�ncio. Algu�m pulou para dentro da trincheira ao seu lado,
um garoto de uniforme limpo.
"Diga, como est�o as coisas por aqui?" Ele olhou nos olhos
do soldado e sorriu. O Senhor visitara esta colina.
"�timas. Uma verdadeira terapia de descanso", disse um
soldado que passava.
"Diga, o que aconteceu por aqui?"
"Coisas interessantes. Aquela �gua � de beber", ele disse,
apontando para uma lata. Por alguns instantes, pousou a m�o
sobre o ombro do novo garoto. Ent�o, ergueu-se para fora da
trincheira.
Uma linha verde movia-se trilha acima. Um grupo de
maltrapilhos amarronzados, sua companhia, seguia trilha
abaixo. Bill deve ter-lhes dito que ele os alcan�aria. Mas por
que n�o ficar? Um grande anseio brotou em seu cora��o. Seu
corpo queria descer e descansar, mas ser� que a Senhora o
encontraria em outro lugar? Onde estava seu gr�o de areia?
Vasculhou as paredes da trincheira de alto a baixo e
inclinou-se para pegar um punhado de terra, guardando-o
em seu bolso.
"Ei, d� o fora, pode ser?" Olhou em volta. As palavras eram
dirigidas a um outro homem, que tinha pesadas papadas
azuis. Seu pelot�o come�ava a perder-se de vista e ele
come�ou a correr.
"Voc� viu aquela luz ontem � noite?" Naquela confus�o de
barulhos, de p�s se arrastando, zunidos e de muitas vozes, as
palavras alcan�aram-no com aguda clareza. Um soldado
baixo e gordo falara � sua frente.
"Sim, acho que tinha alguma coisa l�. Tinha alguma coisa l�."
Seu companheiro balan�ou a cabe�a. "Era como se algu�m
tivesse ligado as luzes de um palco e uma pe�a fosse
come�ar."
"Foi lindo. Nunca vi nada assim. Foi um pouco assustador,
tamb�m."
"Eu achei que estava perdendo o ju�zo, mas quando aquilo
sumiu, ansiei que reaparecesse."
"Estamos indo. A pr�xima parada � Saar; n�o h� nada al�m
de Chucrutes no nosso trajeto, e eles v�o nos combater a
cada cent�metro do caminho. Em meia hora, a coisa vai
pegar fogo, e n�s vamos entrar nele, ent�o preparem-se. Sair
deste lugar vai ser muito mais dif�cil do que entrar. Eles est�o
nos esperando."
"Nunca nos cansamos de suas palavras doces. Fale mais",
disse Blom.
"Temos apoio a�reo e dos tanques."
Dez minutos ap�s cessarem fogo, Drummond conduziu-os
ao meio do ataque, atr�s de um tanque. Mal haviam eles
avan�ado vagarosos cem metros e o tanque parou, o canh�o
movendo-se para todos os lados, como a tromba de um
elefante perplexo. Choveu fogo sobre eles. Algu�m estava
gritando. John esfor�ou-se para ouvir.
Fuja daqui. Proteja-se.
Era o Grande Senhor, sereno e pleno de poder. John estivera
acocorado atr�s da �nica cobertura, o tanque. Ele correu para
a esquerda e jogou-se numa vala que seguia ao longo da
estrada. Do tanque estavam saindo chamas. Da fuma�a, onde
ele estivera at� momentos antes, vieram gritos. Na sua
frente, quando a fuma�a esvaneceu, ele p�de ver os
capacetes e um grupo de soldados que avan�avam. For�ou-se
a levantar e, com joelhos flexionados e ombros arqueados,
arrastou-se pelo caminho para acompanhar. Quatro soldados
abrigaram-se num portal � sua esquerda. Fumavam, levando
os cigarros aos rostos sem express�o, talvez estivessem
abrigando- se da chuva.
N�o. A parede vai cair. V� embora.
Antes mesmo de o pensamento de John tomar forma, o
Grande Senhor dissera-lhe o que fazer. Os pelos de seus
antebra�os arrepiaram-se. Movendo-se em c�mara lenta,
como em um sonho, chegou ao portal.
"V�o embora. Saiam daqui. A parede vai cair", gritou ele,
gesticulando, apontando e fazendo m�mica. Um dos quatro
jogou fora o cigarro e avisou os outros. John correu para a
esquina e olhou para tr�s.
A parede, como se esperasse por seu olhar, come�ou a
mover- se. Um buraco come�ou a surgir, como se os
pedreiros houvessem esquecido de ciment�-lo. Tijolos
come�aram a se soltar e cair na rua, enquanto os quatro
homens corriam em dire��o a ele em meio � fuma�a.
Chegaram a uma ampla �rea pouco habitada, nos arredores
de Kreuzbach. � sua frente, estavam �rvores que, quando o
vento levou embora a cortina fuma�a, se transformaram em
floresta. Haviam conseguido escapar. Ele relaxou. ...
Mais batalhas, mais fadiga, e ent�o o seguinte incidente:
'...Eles estavam espalhados, avan�ando lentamente por uma
campina limitada ao longe por um campo rec�m-arado,
quando houve um relance de pensamento.'
Haver� bombardeio aqui.
O olhar relutante de John foi levado � uma �rea junto �
borda da campina, pr�xima ao campo arado. Capim novo
dobrava-se � gentil brisa. O local parecia singularmente
inocente. ... Os homens encaminhavam-se diretamente para
ela. Ele apertou o passo, passando por eles e alcan�ando
Drummond.
"Tenente", Drummond olhou para ele com o canto dos
olhos e soltou um grunhido. "Vamos atravessar aqui?"
"Sim."
"Bem, haver� um bombardeio, bem ali, cerca de 400 metros
� frente."
"N�o diga."
"Sim." Caminharam em sil�ncio, Drummond numa batalha
interior.
"Bombardeio, ahn", murmurou.
"�, tenente, isso mesmo", disse John com determina��o...
Descubra exatamente o que voc� deveria estar fazendo.
'Grande Senhor, devo ter falado da maneira errada. Diga-me
o que fazer.' Lan�ou um olhar ao redor, viu rostos aturdidos,
cansados, e quis det�-los gritando, 'os Chucrutes planejam
bombardear aqui', mas apenas o considerariam louco.
Fique sereno, o Grande Senhor silenciou seu protesto, Ou�a
atentamente.
Sua mente clareou.
Tome... seus... homens... e... v�... primeiro.
Tome seus homens e v� primeiro?
Atraia o fogo inimigo para que Drummond compreenda.
Atrair o fogo inimigo para seu esquadr�o e deixar que o
Grande Senhor se encarregasse do resto.
"Ou�a tenente", ele ouviu sua voz tr�mula, esfor�ando-se
inutilmente para soar casual.
Grunhido.
"Deixe-me dar uma outra olhada naquele mapa. Voc� quer
que cheguemos aqui, n�o �?"
"Como j� disse antes." John mordeu os l�bios, fingindo
repensar a situa��o. Ele contou at� seis... chega. Se fosse at�
dez, nunca diria nada.
"Tenente, sabe de uma coisa... Vou pegar meus homens e ir
primeiro", disse atrav�s de l�bios anestesiados. Encontrou o
olhar teimoso de Drummond. Aumentava a press�o em sua
cabe�a, sua t�mporas pulsavam. Um repentino arrepio de
pavor incitou-o a ir... agora. Quis gritar, acertar o rosto
incr�dulo de Drummond com seu incr�dulo bigodinho, um
arremedo de bigodinho, que nenhum homem cr�dulo
poderia ter.
"� melhor eu lev�-los agora."
Drummond preparou-se para dizer "N�o", mas disse "O.K.".
Ele correu de volta a seus homens, viu Wacky, Dikson e
Perez fitando-o atentamente.
"Voc�s v�em aquelas casas ali? Temos que chegar l�.
R�pido."...
... A campina tremeu. Gritou ao mundo em erup��o, com
voz entrecortada, "Corram... corram!" Crateras apareciam
num padr�o sim�trico, e ent�o, com um pulo, eles sa�ram da
fina faixa do bombardeio. 'Obrigado, Senhor. Obrigado,
Grande Senhor.'
Haviam atravessado. Mais leves e com novo f�lego, passaram
rapidamente por uma galeria ferrovi�ria, cruzaram outro
campo e, com o que restara de suas for�as, ajudaram-se a
pular um muro de um metro. Ele atravessara, seu rifle
batendo. Um por um, todos pularam o muro.
Ele bateu a porta atr�s de Perez, que carregava o rifle
autom�tico Browning, e despencou contra a parede. Todos
agacharam-se, resfolegando, enquanto bombas de morteiro
explodiam � volta da casa. Wacky tirou o capacete... 'Grande
Senhor, e agora?'
Fechou os olhos e respirou fundo. O medo bloqueava a
resposta. Fique calmo. Fique calmo. Abriu os olhos. Estavam
todos olhando para ele. ...
Esperavam. Ouviam o som das bombas caindo dos tubos, de
tr�s em tr�s. Dup, dup, dup. Ent�o, as explos�es. Mais tr�s.
Densos c�rculos de fuma�a.
Repentinamente, veio a mensagem, clara e calma:
Saiam pela porta � sua direita.
'Grande Senhor, estamos cercados. Completamente
cercados.'
Eu disse, saiam pela direita. ...
'Grande Senhor, eu acredito, mas...'
V�o entre as explos�es. Um de cada vez.
"Vamos entre explos�es", disse John.
V�O!
"O sargento est� planejando alguma coisa", murmurou
Wacky. "Vamos entre as explos�es." O terror condensou-se
na sala. 'Somos quatro, Grande Senhor. Como tirar quatro
homens daqui entre...' Os segundos corriam. A serenidade
que esperava dentro dele se tomou um murm�rio de
esperan�a. Ent�o o dup, dup, dup, novamente. Ele entendeu.
...
"Ou�a, Wacky, ou�a... quero que voc� corra para fora.
Aquela porta, ali. Quando eu mandar, empurre aquela cerca
l� com toda sua for�a, ela j� est� meio ca�da. Do outro lado �
a esta��o ferrovi�ria. Diga ao tenente para manter o ch�
quente para n�s." Wacky pontuava cada frase com um aceno
de cabe�a.
"Ap�s cada s�rie tem um intervalo, como agora. N�o
discutam." Eles ouviram o intervalo....
"N�o temos mais tempo, Wacky, a pr�xima � sua vez." Eles
agacharam-se sob uma chuva de gesso que atingiu seus
capacetes.
Mais explos�es sacudiram a casa. A porta foi escancarada.
"Agora!"
Sentiu seu p� elevando-se. Chutou os quadris duros e
magros. Com a cabe�a abaixada, Wacky desapareceu na
fuma�a. Apertando os olhos, John procurou na fuma�a,
ouviu os disparos de uma metralhadora com o terr�vel som
da morte de Wacky. 'Grande Senhor, ajude-o.' Atrav�s de
uma clareira repentina, o capacete de Wacky apareceu e
sumiu novamente. 'Obrigado, Grande Senhor.' Ent�o, com o
dispersar da fuma�a, Wacky foi visto esguio, alto e
esquel�tico em seu novo contorno sem jaqueta.
"Perry! Vem c�. Dikson, continue atirando, continue
atirando... V�!"
Perry desapareceu na fuma�a. ...
"Dikson?... Quando eu disser "Vai", voc� vai". ...
"Agora, VAI", John empurrou-o para fora. E ent�o ficou
sozinho....
Ele foi propulsionado pela porta.
V�!
Algu�m chutara-lhe o traseiro e ele corria.
Suas pernas movimentavam-se de forma rid�cula, inadequada
ao que era necess�rio. Estava cego de fuma�a e l�grimas. O
mundo passava por ele com rapidez, pesadas partes dele
voando perigosamente � sua volta. A cerca parecia
infinitamente remota. Homens miravam nele, suas longas
capas ao vento e seus rifles apontados. Mudou de dire��o ao
encontr�-los. Estava novamente a c�u aberto, e eles fora de
vista. Havia ru�dos em seus ouvidos. Vozes do inimigo, at�
que percebeu serem sua respira��o resfolegante. L� estava a
cerca e a t�bua solta, ele ia conseguir. 'Obrigado, Grande
Senhor. Perdoe-me as d�vidas'. Ele estava correndo t�bua
acima, que se tornara uma gangorra capaz de catapult�-lo,
atirando-o aos c�us. Ent�o, bra�os amigos estiraram-se para
ampar�-lo, estava do outro lado, m�os apoiando-o, algu�m
batia �s suas costas com os punhos fechados. Tossindo e
rindo, olhou o trecho de plataforma ferrovi�ria.
"Bom e velho Kelly... irland�s sortudo!" Todos falavam ao
mesmo tempo. "Quando ouvi aquele dup, dup, dup, cara,
pernas pr� que te quero!"
"O sargento me empurrou para a fuma�a."
"Chutou meu traseiro com tanta for�a que eu j� estava no
meio do caminho antes de come�ar a correr."
"Voc� pode imaginar aqueles Chucrutes idiotas xingando-se,
Donnerwetter, eles pregarram uma trruque em n�s", disse
Dikson. Ele riam, abra�ando-se em inocente e triunfante
hilaridade. Drummond dirigiu-se a eles com semblante
s�brio.
"Bom trabalho", ele disse. "Achei que nunca mais veria
voc�s." Ele apertou a m�o de John. Houve um sil�ncio
repentino. De repente, pareceu desonesto assumir o cr�dito
por tudo aquilo. 'Grande Senhor, devo contar-lhes?'
N�o diga nada. De que me serviria uma fileira de medalhas?
John sorriu, segurando as l�grimas.
"Voc� est� bem, Kelly?"
"Legal", ele engoliu o choro. "Legal". N�o tinha palavras.
"...Ou�am, esta � a Linha Siegfried, lembram?" Drummond
sempre falava � artilharia com mortal do�ura. "Para que
voc�s est�o economizando suas balas? Olha, se n�o
acreditam em mim, podem mandar seu pr�prio observador.
... Sim, fa�am isso. E n�o mandem longe, eles est�o t�o perto
que posso ouvir cada arroto que eles soltam...." interrompeu-
se para acenar aos homens para que se abaixassem. Saraivada
de balas.
Enfiados nos buracos de cimento frio, eles esperaram. O ar
come�ou a tomar vida com assobios amea�adores, lam�rias e
confus�o. John sentiu um choque agudo no est�mago, que o
fez levantar, segurou-o por alguns momentos e atirou-se no
ch�o novamente.
Quando a fuma�a se dissipou, via-se brilhando na manh�
fria, o mesmo cen�rio friamente complacente.
"Obrigado", disse Drummond ao telefone, numa voz rouca.
"Foi bem no alvo... Negativo... Eu disse 'negativo'. Todos os
suportes das armas est�o em p�, uma m�o de tinta e estar�o
como novos outra vez".
... "Mas como vamos atravessar, tenente?"
Quando Drummond disse que os generais queriam que eles
atravessassem o rio, ele viu o pesadelo de Metter tornar-se
realidade.
"Eles querem que atravessemos em uns barquinhos".
"Barcos?", sua voz engasgou, "Talvez submarinos".
"Barcos", repetiu Drummond com um cansa�o impass�vel,
como se j� houvesse aprendido a repetir tudo pelo menos
duas vezes.
Eles encararam-se. Era um disparate, do tipo que somente
um general poderia sonhar, depois de uma farta refei��o e de
balan�ar- se no lustre. "Peter, vamos mandar os homens
atravessar o Saar nuns barquinhos. Eu sempre quis brincar de
barquinho no Saar".
"Mas por que meu regimento, tenente?" Talvez, se hesitasse
o suficiente, Drummond reconhecesse a absoluta injusti�a
de design�-lo para todas as patrulhas est�pidas, in�teis e
suicidas inventadas por gorilas disfar�ados de oficiais.
"Por que sempre eu?", disse.
"Eu tamb�m vou".
"Voc� � um her�i".
"Todos seremos her�is quando isto terminar". Os olhos
cansados de Drummond olharam nos de John. Eram olhos
cinza, como o cinza de seixos muito lisos. Havia uma esp�cie
de confian�a neles que nunca antes vira. E viu tamb�m algo
mais naquele momento: em seus olhos brilhava uma luz
vagamente familiar, a mesma luz que permeava a floresta,
quando Bill apareceu.
"Est� olhando o qu�, soldado?", Drummond perguntou.
"Voc� est� bem? Precisamos de voc� na regata". John
voltou-se para olhar o que estava do outro lado da �gua.
"Voc� quer dizer que eles realmente esperam que um
punhado de homens atravessem de barco e assaltem aquelas
fortifica��es?"
"N�o seremos s� n�s. Partir�o pequenos grupos ao longo de
todo o rio. Algo tem que ser feito, e isso � o que os generais
decidiram. Olha, me deixa em paz, t� bom, Kelly? N�o �
culpa minha. V� encher o capit�o ou o major".
"Eles s�o t�o loucos quanto os generais. O major estava se
balan�ando num lustre em Kreuzbach. Se eles acham que
essa id�ia � t�o boa, eles que v�o. Quero dizer, mesmo
supondo que a gente consiga atravessar aquele maldito rio, o
que � que vamos fazer ent�o, cantar para os Chucrutes
sa�rem das bases?"
"Olha, Kelly, chega. V� chamar o Walker e os dois novatos".
"Dikson e Perez? Eles s�o completamente verdes".
"S�o seus homens. Teste-os com uma de suas id�ias
irlandesas loucas".
A balsa de compensado tinha uma apar�ncia odiosamente
leve e vulner�vel, mas pesavam uma montanha. Em meio �
desordem de equipamentos para demoli��o, um rolo de fio
telef�nico vagarosamente forneceu uma t�nue liga��o com o
quartel general.
Desceram a encosta tateando na escurid�o, xingando e
resfolegando, enrijecendo as pernas para segurar o peso do
corpo. Relutantemente, Drummond deu um intervalo,
depois de alguns poucos minutos, e ent�o, mal haviam seus
membros parado de tremer, a voz de Drummond incitou-os
a continuar. Por duas vezes precisaram proteger-se de
bombardeios.
Suas respira��es fundiam-se num �nico som �spero.
Moviam- se como as pernas de uma centop�ia
descoordenada. Parte de seu c�rebro procurava evitar que
seu peso ca�sse para frente. Outra parte concentrava-se nas
suas m�os em carne viva e nas escoria��es, onde os rifles
atritavam seu corpo.
Drummond levou-os ao p�tio de uma f�brica junto ao rio.
Baixaram o barco com cuidado, e instalaram o telefone num
pequeno abrigo. M�os nervosas exploraram a superf�cie do
barco.
"Bom", disse Drummond.
"O que est� bom, tenente? Se tivesse buracos voc� poderia
ligar para o quartel dizendo que n�o poder�amos atravessar".
"Dikson, corta essa", sibilou Drummond.
Ao longo de todo o rio escuro e frio, pequenos barcos cheios
de explosivos, fios detonadores, torpedos Bangalore, alicates
e todos os outros brinquedos, com que os homens haviam
sido hipnotizados a acreditar que quebrariam os Dentes do
Drag�o, esperavam serem lan�ados como barquinhos de
brinquedo na �gua mortal. Algu�m deve ter-se esquecido
que eles estariam cheios de soldadinhos vivos.
A noite iluminou-se por alguns instantes com sinais de luz.
Quando se extinguiram, mal�volos pontos escuros dan�avam
ante seus olhos... ou seria atr�s deles? Quando os fechou, os
pontos transformaram-se em espectros com olhos frios e
cheios de �dio. Com caretas contorcidas, preveniam-no a
permanecer daquele lado do rio, caso quisesse ficar longe do
desespero do mundo. Estavam cheias de mal�cia e
dominaram-no com algo al�m do medo. Seriam verdadeiras
as hist�rias escabrosas sobre campos de concentra��o, onde
prisioneiros eram levados a morrer de fome e de
espancamentos? Suas peles eram usadas para fazer abajures.
Ele lutou para voltar os olhos da figura cinza que se formara
do outro lado do rio. Mas milh�es e mais milh�es de
formigas foi o que ele distinguiu. N�o, n�o eram formigas.
Com profundo horror, viu homens arqueados, milhares de
homens arqueados, exaustos, cinzas, marchando ao longo do
horizonte. Sobre eles, uma m�o brandia um chicote, que
tinha tiras de couro preto, nas quais estavam penduradas
muitas su�sticas de ferro. Ca�am golpes sobre os homens que
marchavam, flagelando os corpos esqu�lidos, derramando o
sangue da pele cinza e enrugada, expondo ossos e v�sceras.
As su�sticas voavam para cima, arrancando peda�os de
carne, e novamente ca�am.
'Grande Senhor', veio seu grito, 'N�o quero atravessar. N�o
posso'.
As cenas de horror ante seus olhos desvaneceram, as severas
�guas negras continuavam a mover-se rapidamente. Estariam
os outros tamb�m sendo advertidos a n�o atravessar? Seria
aquilo realidade? O que era mais real? Dikson e Perez,
alternando o olhar entre Drummond e seus rel�gios de
pulso, ou os milh�es de seres torturados, arrastando-se no
c�u da outra margem? Porque ele tinha que escolher.
Poderia ouvir o tenente, ir adiante e tentar atravessar um rio
mortal, numa balsa de madeira compensada, ou ceder ao
imperativo terror que dizia que qualquer coisa seria melhor
que atravessar em dire��o ao inferno certeiro.
Os fantasmas de horrores de inf�ncia ergueram-se ante ele.
Sentiu-se sendo varrido por uma respira��o fria, que fazia o
gelado ar noturno parecer um quente e aconchegante abrigo,
que ele n�o conseguia alcan�ar. Um outro mundo sugara-o e
enfeiti�ava-o com pavor, amea�ando matar sua alma, e isso
era apenas uma sombra do terror que seria encontrado do
outro lado das �guas infernais. Sabia que as coisas s�
piorariam, escrevera para casa que a guerra n�o tinha
sentido. Estava enganado. Aquela guerra estava cheia de um
significado maligno e de maldade plena. E ele estava perdido.
Sua alma estava perdida. Pois, se atravessasse, sabia que os
espectros n�o o poupariam. Sua mente teria que habitar no
terror escuro e abjeto por toda a eternidade.
E se se escondesse? E caso se esgueirasse para as sombras?
Esperou pela resposta de sua mente. Mas sua mente tamb�m
estava presa no gelo, e ele poderia esperar somente a morte.
Se apenas tivesse se jogado para o outro lado de Billy, ou se a
bala o tivesse encontrado ao inv�s de Impi. Impi flutuava
num mundo de amor eternamente inating�vel para ele. Os
que foram mortos nos primeiros meses eram os
sobreviventes. E os sobreviventes em carne estavam
amaldi�oados, pois eles � que teriam que atravessar para a
noite. Eram filhos da perdi��o, numa batalha perversa e
invenc�vel.
O bra�o de Drummond come�ou a erguer-se. As ondinhas
batiam contra o barco, lambendo-o. Sua alma ergueu-se em
protesto. N�O. N�o atravessaria. Ningu�m podia obrig�-lo.
Se falharmos, ent�o o mundo inteiro, incluindo os Estados
Unidos, incluindo tudo o que conhecemos e prezamos,
afundar� no abismo de uma nova era de trevas...
O Grande Senhor falava n�o nos guturais tons inspirados de
Churchill, mas a partir de sua mente de sil�ncio. Calmas,
serenas, uma palavra depois da outra aliviavam-no de um
anel de gelo depois do outro.
No interior do profundo sil�ncio que se abriu como o ventre
primal da esperan�a, encontrou seu cora��o e sua mente,
que disseram o que ele sempre soubera. O Grande Senhor
falava aos soldados e generais. Falava atrav�s de Churchill. O
Grande Senhor estava com ele, contando-lhe que a guerra
tinha sentido, inspirando-lhe inabal�vel determina��o.
O barco foi colocado na �gua suavemente. Eles estavam
esfregando as m�os e respirando nelas quando o c�u tornou-
se repentinamente incandescente. Chamas explodiram no
rio.
"Malditos".
"Eles sabiam de tudo". O Dente do Drag�o brilhou na luz
ofuscante. O som dos disparos de metralhadora e o zunido
das balas que chegavam rasgavam o ar. O barco afastou-se
lentamente na �gua. Rastreadores encontraram-no.
"Voltem, voltem". Uma tremenda explos�o. Botas
pisoteando o p�tio da f�brica. Drummond desapareceu no
abrigo. Era poss�vel ouvi-lo girando selvagemente a manivela
do telefone. "N�o podemos atravessar", gritava Drummond
ao aparelho, "Eu disse, n�o podemos atravessar! O maldito
barco foi atingido... Consertar! O tro�o 'tava cheio de
explosivos de demoli��o, n�o sobrou nada. Idiotas, filhos da
m�e", murmurou, "... como assim, 'outro'? Vamos achar um
no iate clube local, por acaso? ...Olha, estamos voltando. �
melhor avisar aqueles sentinelas brutamontes que somos
n�s"...
Em algum lugar, do outro lado do Saar, estava escondido o
general Patton. De alguma forma ele conseguira atravessar.
Sem perdas. Com severas perdas. Cada relat�rio contradizia o
anterior. Mas por que estava escondido? Esperava por
refor�os que n�o conseguiam atravessar. N�o. Estava
juntando provis�es. Estava isolado. N�o. Estava planejando
um grande golpe. 'O que est� acontecendo, Grande Senhor?'
Um dia, ent�o, inacreditavelmente, John estava assistindo
caminh�es americanos atravessarem ruidosamente uma
ponte flutuante. Os capacetes americanos n�o mais se
escondiam. Os soldados atravessavam o Saara a cantar. Risos
ecoavam pelo rio e seus ve�culos passavam pregui�osamente
pela estrada, n�o mais correndo ao longo dela. Guinchos de
breques, atrito de embreagens. C�maras dos notici�rios de
cinema seguiam sua movimenta��o, com suas duas curiosas
cabe�as pretas.
Do outro lado do concreto, dentes rangiam
inofensivamente, seu veneno havia sido extra�do. Num
outro dia, ele tamb�m cruzou o rio em dire��o �s
fortifica��es vazias, com suas armas silenciadas. Onde
estavam os dem�nios do terror que ele vira na outra
margem? Deve ter sido fadiga. Olhou para cima e viu uma
bonita casa, com telhas vermelhas e ger�nios nas janelas;
seria uma foto digna de um cart�o postal. Nuvens brancas
surgiam atr�s dela. Olhou para baixo. Sob suas botas, o rio
sorria entre as t�buas da ponte. Ningu�m parecia saber a
verdade. 'O que aconteceu, Grande Senhor?'
"Avancem". O major impacientemente incitava os tanques
todas as vezes que faziam contato. "Avancem. Comuniquem
qualquer resist�ncia". John estava sentado no alto do
primeiro tanque, investigando a floresta que se aproximava,
com bin�culos militares. Abriram caminho entre as sombras
vespertinas das �rvores. P�ssaros chilreavam animadamente.
N�o houvera batalhas ali.
No v�o entre duas montanhas, apareceu uma cidade alem�,
como as de cart�o postal: pra�a com igreja, est�tua eq�estre,
homens trajados de ternos e chap�us negros, crian�as com
longas meias brancas e shorts de couro, senhoras em
vestidos regionais vermelhos, verdes e brancos. Onde
estavam os soldados? Podia-se ver a cidade toda, as torres da
igreja iluminadas pelo sol, elevando-se sobre ruas estreitas,
bordejadas por casas t�picas, limpas e intocadas pela guerra.
Havia nas redondezas cerca de cem metros de uma muralha
medieval em ru�nas, atacada pelo tempo apenas.
"Tomem a cidade", trepidou a voz do major.
Os tanques n�o encontraram resist�ncia para entrar,
trovejando na pra�a. Em poucos minutos, toda a cidade
acenava com branco: em todas as casas, len�os, fronhas e
len��is foram postos ao vento. O prefeito, um homem alto e
asc�tico, vestido de l� preta, p�lido, estupefato e
empunhando uma fronha branca engomada sobre a cabe�a,
apresentou-se para entregar a cidade para o rec�m-chegado
major. O tanque de John uma vez mais penetrou pela
floresta, procurando um conjunto de edifica��es que o
reconhecimento a�reo havia localizado. Sua apreens�o
crescia juntamente com as sombras. Bebera o conhaque de
seu cantil, mas isso n�o o relaxara naquela �rea, perfeita para
atiradores camuflados. De repente, ele ficou paralisado. Um
estranho e esquel�tico rosto aparecera atr�s de uma �rvore e
depois desaparecera. Estava na terra dos espectros. Estavam
entrando no abismo negro. Outro rosto fantasmag�rico. O
tanque parou, ele e Dikson desceram. Com a carabina em
punho, ele rodeou o tanque, com as costas voltadas para o
ve�culo. Algo moveu-se rapidamente � sua direita, fazendo-o
voltar-se. Uma das figuras veio em sua dire��o e duas na de
Wacky, que as fitava de olhos arregalados. A coisa que se
aproximava dele vinha com o bra�o esticado, oferecendo a
m�o, que parecia uma garra, e um sorriso retardado, que o
fizeram voltar um passo. Aquilo era um homem.
A criatura baixou a m�o, constrangida. O cora��o de John
palpitava dolorosamente. O homem oferecia sauda��es.
Cambaleou para frente.
"Pode ser uma armadilha", advertiu Wacky.
John estendeu a m�o. O homem aproximou-se lentamente.
"Estou te cobrindo".
Quando se deu conta, John estava abra�ado por bra�os que
assemelhavam-se a galhos e sentiu o est�mago agitar-se. O
fedor... Reprimiu a �nsia. Era um ser humano. Os outros
rostos fantasmag�ricos tornaram-se reais.
"O que est� acontecendo?". Wacky voltou dois passos,
apontando o rifle, perplexo. As m�os tateantes ignoraram-
no. Come�ou a surgir um murm�rio em v�rias l�nguas. John
procurava palavras. "Obrigado". L�grimas inundaram seus
olhos.
"Obrigado".
"Obrigado. Obrigado. Bem-vindos Dankesch�n,
libertadores". Eles empurravam-se para aproximarem-se. Ele
dizia "Obrigado" a cada m�o que se aproximava e era
apertada.
"Ei, o que � isso?"
"Deve ser um campo de concentra��o."
"Ya, ya. Lager de concentra��o, sim."
"Ya, ya". Eles mostraram os n�meros p�rpura tatuados no
antebra�o.
Criaturas emaciadas apareciam de todos os lados, �s
dezenas... no m�nimo uma centena. Gesticulando e rindo,
cheirando � morte e a excremento. Com seus sorrisos
fantasmag�ricos, tocavam suas mangas e ombros. John
colocou a m�o nos bolsos, pegando barras de chocolate,
cigarros, uma caixa de f�sforos e um caderno, e distribuiu-os
por m�os vazias. Pegou sua mochila e come�ou a abrir os
pacotes de ra��o K, queijo � esquerda, feij�es ao centro, caf�
� direita; quando acabaram os alimentos, meias e papel
higi�nico. Deu tudo, e quando n�o havia mais nada para
oferecer, entregou a mochila a um par de m�os vazias.
Olhou em volta. Semi-encoberto por bra�os acenantes,
Wacky olhava para uma mochila vazia. Perez conversava em
espanhol com um idoso de apar�ncia b�blica.
Uma senhora jogou-se aos p�s de Dikson, agarrando-se �s
suas cal�as. Sem conseguir chamar a aten��o dele, ela
mordeu algo que estava segurando. John foi at� ela e viu que
na lata em suas m�os escorriam sangue e saliva. Ele a abriu e
carinhosamente serviu uma colherada de cozido, que ela
devorou.
Duas, tr�s vezes ela avan�ou para abocanhar a carne. Na
quarta vez, estacou de s�bito e, sorrindo embara�ada,
apontou para a colher e ent�o para a boca dele. Queria que
ele comesse! Ele discordou com a cabe�a, "Obrigado,
obrigado". Tr�s pequenas colheradas, tudo o que foi
necess�rio para relembr�-la de sua dignidade.
'Grande Senhor, perdoe-me. Perdoe-me por n�o ter sido um
melhor soldado, perdoe-me por todas as reclama��es. � isso
o que voc� queria dizer. � por isso que Voc� est� de nosso
lado. As trevas que eles disseminaram n�o devem
prevalecer'.
O clamor esvaeceu. Um homem apresentou-se ante ele.
"Coronel Grissinsky do Ex�rcito Polon�s". O coronel uniu os
calcanhares. John olhou o rosto alto e anguloso. Os
profundos olhos cinza estavam firmes, sustentando o seu
pr�prio olhar calmo. Ele vestia o mesmo pijama que os
outros. Estava emaciado e com os ombros curvados, mas era
diferente. John levantou-se e fez contin�ncia. "Sargento na
ativa John Kelly, da 70a Divis�o de Infantaria, 2760
Regimento de Infantaria...." O coronel fitou-o por alguns
instantes e, ent�o, sorrindo solenemente, fez contin�ncia.
A Guarda de Campo havia se retirado, explicou o coronel, e
os prisioneiros sa�ram em busca de alimentos. Haviam
ouvido falar que os americanos estavam chegando, mas ainda
estavam com medo dos fazendeiros alem�es.
John deu uma arma ao coronel. "Tomamos a cidade, e as
florestas parecem estar seguras, mas talvez voc� se sinta
melhor tendo isso". O coronel Grissinsky pesou a arma na
m�o, fitando-a por um longo tempo, em sil�ncio.
"Tudo bem?", perguntou John.
"Uma Luger. �timo". Outra longa pausa. "Mas sabe, eu
esperava nunca mais ter que usar uma destas". Segurando-a
com ambas as m�os, ele olhava para baixo. "Logo que
cheguei aqui, eu rezava todas as noites para Deus mandar-me
uma destas. Queria matar os guardas da minha cabana.
Depois isso passou, porque a �nica coisa que passou a me
amedrontar era a possibilidade de me tornar t�o bruto
quanto eles. Voc� entende?" John assentiu. "Deus permita
que eu nunca perca esse medo."
O coronel calou-se. Envergonhado pela humanidade, John
n�o encontrava palavras. Finalmente disse, "Sinto muito,
coronel", assentiu com a cabe�a e repetiu a frase, e sentindo
sua inadequa��o, disse, "Sinto muito, sinto muito." O coronel
estreitou os olhos, avaliando-o e medindo o valor de uma
r�plica.
"Por que voc� sente muito?", murmurou o coronel. John n�o
entendeu. N�o se pode oferecer um pouco de consolo e
achar que a d�vida foi paga. Solidariedade n�o era suficiente.
O que seria suficiente? N�o sabiam, pois nada era suficiente.
Eles deveriam saber disso.
"Estou envergonhado."
"De qu�?"
"N�o sei. Talvez de ser humano."
O coronel indicou a floresta com a cabe�a, voltou-se e
come�ou a adentr�-la, tendo John a seu lado. Ele poupava a
perna esquerda, ent�o John ofereceu o bra�o, onde o
coronel apoiou a m�o.
"Desculpe n�o ter sido um melhor soldado". O coronel
apoiou agora a m�o no ombro de John, firmando o peso.
Andavam no mesmo passo, no sil�ncio de uma pergunta
in�til. Depois de alguns momentos, o coronel parou ao lado
de uma �rvore e pegou uma pinha. Examinando-a, e
delicadamente testando-a com a unha, como se fosse algo
desconhecido, disse: "Foi a gra�a. Foi a gra�a de Deus. Sim,
foi terr�vel, foram trevas t�o negras que n�o pod�amos
procurar pela luz do homem. A luz do homem fora extinta.
T�nhamos que procurar a luz de Deus. Alguns encontraram-
na, outros n�o. Voc� entende, n�o �?"
"Coronel, acho que n�o tenho o direito de dizer que
entendo, e ainda assim isso � a �nica coisa que compreendo.
Nada mais faz sentido."
"E ent�o voc� v�, aqueles que a encontraram, nunca a
esquecer�o. Essa luz n�o pode ser apagada. A luz do
homem... eu vi o que �, puf', disse, assoprando uma vela
imagin�ria, "acabou-se. Portanto, Deus �s vezes apaga a luz
humana para que possamos ver Sua luz."
"A luz do homem e a luz de Deus n�o brilham juntas,
coronel?"
"Voc� n�o pode ver a luz das estrelas durante o dia, pode?"
"N�o."
O coronel deu de ombros. "E a mesma coisa."
"Venha Kelly, estamos indo embora. Vai ficar escuro daqui a
pouco." Era Wacky. "Esta floresta me d� arrepios."
"Perd�o, coronel, precisamos voltar ao acampamento.
Teremos que passar um relat�rio para nosso major. Eu o
convidaria para vir conosco no tanque, mas seria melhor se
o senhor afastasse seu povo."
"Diga ao seu major para mandar m�dicos, rem�dios e
alimentos t�o logo puder. H� centenas de pessoas que talvez
possam ser salvas. Quando vir� seu major?"
"Talvez esta noite, talvez amanh�. N�o sei, ele est� com o
prefeito."
"Estas pessoas voltar�o ao Campo. Elas n�o t�m outro lugar
para ir."
Ao redor de uma fogueira, em um dos p�tios entre as
cabanas, John sentou-se ao lado do coronel, juntamente com
a equipe de reconhecimento e os prisioneiros do Campo.
Sobre as brasas, tr�s espetos de carne de vaca eram girados.
O cheiro de carne assada quase que mascarava o de morte e
excremento. Apesar de ser uma noite fria, fora imposs�vel
manter as pessoas em alguma das vinte e seis cabanas.
"N�o podemos fazer nada por eles antes de seu major enviar
os suprimentos que prometeu", disse o coronel Grissinsky,
servindo bebida em copos que a equipe de busca trouxera
dos aposentos dos guardas. "Vou ter que pedir licen�a, para
providenciar que as pessoas que est�o dando assist�ncia aos
moribundos sejam rendidas. Fazemos turnos de uma hora.
Vou fazer a troca, depois retorno."
Quando o coronel voltou, John disse, "Quero perguntar-lhe
uma coisa."
O coronel assentiu, tragando sua bebida.
"Tudo isso", disse John, apontando com a cabe�a para as
cabanas cheias de pessoas agonizantes, os humanos sentados
em sil�ncio no p�tio, alguns chorando ao ouvir a
melanc�lica m�sica cigana que flu�a como um rio do violino
de um jovem sobrevivente. O coronel tornou a encher seu
copo, John olhou em volta. Viu uma senhora idosa l�
sentada, passando entre os dedos as contas de um ros�rio,
sorrindo. Talvez fosse isso o que ele queria perguntar: como
podiam ainda sorrir? N�o, havia algo mais importante. Era
t�o feio. Altas torres de vigia fitavam com seus olhos cegos
as malcheirosas cabanas de madeira constru�das ao redor do
p�tio. N�o eram as m�os esquel�ticas que constantemente se
ofereciam, nem os sorrisos agradecidos que ele sempre
encontrava, t�o fracos que pareciam idiotizados, nem
mesmo que algumas mulheres estivessem vestindo algumas
roupas melhores que tinham conseguido salvar, usando fitas
esfarrapadas ao redor da cabe�a e do pesco�o, que o levavam
a chorar... n�o conseguia chorar. Bem no meio de campos
verdes e de florestas virgens, a cidadezinha de contos de fada
aparecera entre as colinas... Como aquele p�tio est�ril de
sacos de ossos e esqueletos surgira dela.
"Por que � t�o feio?"
Cuidadosa e elegantemente, o coronel serviu-se de mais
bebida. Balan�ou a cabe�a. "Quero dizer, quando eles
cortaram as �rvores?" - abaixou a cabe�a, consciente de que
estava sentado no meio daquilo sobre o que os espectros o
haviam acautelado.
"N�o deixaram nem uma �rvore", disse. Sabia que s� estava
dizendo aquilo por causa da bebida, mas n�o estava b�bado.
"Poderiam ter poupado uma �rvore". O coronel puxou a
cabe�a de John para seu ombro. Por um momento, ele
sentiu a clav�cula saliente, o cheiro das roupas mofadas e o
conforto de estar perto daquele homem.
"N�o, filho, eles n�o podiam deixar nenhuma �rvore. Onde
quer que os homens n�o sejam livres n�o deve haver
�rvores, n�o deve existir nem mesmo uma flor, porque isso
os faz relembrar. N�o deve haver nada, de uma floresta cria-
se um deserto". O sotaque do coronel tornara-se mais
pesado. "Eles estavam fazendo um deserto onde nem eles
mesmos poderiam viver. Ou�a. O comandante do Campo
tinha algumas flores, umas rosas. Quando elas floresceram,
os prisioneiros come�aram a inventar desculpas para poder
parar e olhar. Um dia, ele encontrou um prisioneiro, um
professor de matem�tica, cheirando-as. Os guardas
espancaram-no at� a morte e o comandante arrancou as
flores. Voc� compreende? Voc� v� aquele rapaz?",
perguntou, apontando o violinista, "Uma vez por semana,
Joaquim tocava para o comandante, Mozart, sempre Mozart.
H� duas noites, ele encontrou dez prisioneiros escutando
sob sua janela. Ele ordenou que os prisioneiros e o rapaz
fossem executados. Mas chegou a not�cia de que voc�s
estavam se aproximando e os guardas fugiram antes. Voc�
compreende? Eles poderiam ter interrompido a m�sica,
quebrado o violino, n�o �? Mas n�o, queriam matar a fonte
da m�sica. Mesmo ao transformar a terra num deserto." Deu
de ombros novamente. "Ignor�ncia. N�o se pode fazer isso.
Voc� pode mandar a m�sica de volta � sua origem, evitar
que se manifeste na Terra. Pode fazer com que nenhum ser
se lembre como trazer a m�sica de volta." Estendeu a m�o
nodosa em dire��o ao c�u. "Eles somente podem
transformar a terra num deserto. Quando se luta por uma
�rvore, luta-se pela floresta inteira, e, ao faz�-lo, luta-se pelo
planeta. O mundo da m�sica � imperturb�vel."
John fitava as brasas. Em algum lugar, de alguma forma, ele
j� sabia disso, que o mundo inteiro poderia ser destru�do e
que nada poderia ser destru�do, que mesmo se tudo fosse
destru�do ele ainda pertenceria � Senhora. O mundo inteiro
podia apenas ser privado de sua perman�ncia. Mas, naquele
momento, a m�sica nost�lgica deu lugar a uma polca. Os
homens giraram os espetos. A bebida come�ou a fazer
efeito, ajudando a enunciar a pergunta que ele nunca tinha
ousado fazer, nem a si mesmo.
"Mas coronel", parou, embara�ado. N�o, precisava perguntar,
"se nada pode ser destru�do, ent�o de que importa o
deserto?" Nada mais era importante, se pudesse ficar com
Ela. Seu gesto abrangeu os sobreviventes, a floresta. O
coronel empertigou-se. O horror das trincheiras, Impi, Bill,
o bravo Tenente, o desperd�cio, o esfor�o desperdi�ado. Se
podiam ir diretamente ao para�so estrelado de Impi, ao
abrigo celestial de Bill, ao Templo e ao Amado, por que
lutavam?
O coronel inclinou-se para frente e fitou-o. Franziu o cenho,
os olhos cinza-azulados tornaram-se duros como o a�o. "Se
isso importa? Nunca fa�a essa pergunta. Tudo importa." Sua
voz estava suavemente selvagem. O coronel virou-se e
olhou o fogo. A m�sica continuava animada. "E ainda assim,
eu mesmo me fiz essa pergunta. Venho de uma fam�lia
longeva. Meu av� foi pai quando tinha quase noventa anos.
N�s sugamos a vida at� o �ltimo dia. Mas cheguei a essa
quest�o."
"Senhor, qual a resposta?" O coronel olhou-o.
"N�o procure as respostas em mim, meu garoto."
"Estou procurando respostas. Com quem posso encontr�-
las?"
O coronel correu o olhar pelo c�u noturno.
"Deus?", perguntou John.
"Se voc� gosta desse nome." Por que o coronel dissera
aquilo?
"Suponha que Ele escolheu voc� para me dizer?" 'Grande
Senhor, que estou dizendo'.
A m�sica estava agora fren�tica. Os prisioneiros revezavam-
se nos espetos com mais freq��ncia, girando-os cada vez
mais rapidamente, acompanhando o ritmo. Aquilo tomara-se
um tipo de dan�a, um jogo.
"O senhor percebeu?" disse John, pensativo, "que quando os
ajudamos a colocar a carne nos espetos, parecia que eles n�o
iam ag�entar a noite. Agora reviveram. A bebida com
certeza n�o � assim t�o boa."
"A liberdade � uma droga poderosa. O �lcool � �gua t�nica
comparado a ela. N�s, poloneses, aprendemos isso na carne,
desde o come�o, quando Chamberlain ainda dormia. Esse �
o eixo desta guerra. Se n�o fosse por Churchill e pelo Deus
que o guia, o mundo perderia-se em trevas por mais um ou
dois mil anos. Voc� sabe disso, n�o �?"
Fosse por causa das palavras do coronel, ou pelo que o
Grande Senhor mostrara-lhe, renovou-se nele o
entendimento de por que lutara para tomar cada cent�metro
daquelas montanhas. Billy e os outros n�o tinham morrido
em v�o, e o presidente Roosevelt tamb�m deveria estar sob
o comando do Grande Senhor. Largos corredores de luz
abriram-se em sua mente. Teria apreciado falar disso ao
coronel, mas n�o encontrou palavras, nenhuma palavra.
O coronel come�ou a falar num murm�rio, levando John a
inclinar-se para ouvir. "Fiz essa pergunta e foi-me mostrado.
Ele me mostrou o mundo em chamas, e era Seu corpo em
chamas, e perguntei o que poder�amos fazer, porque n�o
podia suportar aquela vis�o. Perguntei-Lhe o que fazer. Ele
me mostrou. Ele queria um novo Corpo, queria a Terra
como seu novo corpo, e que fosse eterno. Mostrou-me
como Ele pr�prio j� a havia queimado e destru�do, para
prepar�-la, queimou e destruiu-a um milh�o de vezes para
preparar um corpo para si mesmo. Desta vez..." A m�sica
aquietou-se, "Ele deve descender. Vai descender."
O Grande Senhor vibrou e ressoou dentro de John.
"Um dia, a Luz entrou em meu desespero, e Ele apareceu
ante mim", disse, "com olhos brilhantes, curou-me e salvou
minha raz�o." Grande Senhor! "Se me esquecer de tudo o
que j� soube, isso nunca esquecerei, porque sei que qualquer
vida que me restar devo gastar � procura d�Ele. Ent�o, como
voc� v�, importa. Ele veio para me mostrar que importa.
Sim, meu filho, importa, e muito. Ele tinha uma apar�ncia de
oriental, com profundos olhos negros e cabelo tamb�m
preto." Em sil�ncio, escutaram a m�sica. Finalmente, John
perguntou, "Aonde vamos agora?"
"Aonde.... Ah, sim." O coronel subitamente explodiu em
riso, e John p�de ver naquilo o homem que ele tinha sido, o
homem cujo av� gerara filhos aos noventa anos. "Sim, isso �
sempre um problema". O coronel sentou-se com as costas
bem eretas. "Vou lhe contar", seu olhos cinza dan�avam,
"amanh� ambos iremos � floresta, l�. Vamos desenraizar uma
arvorezinha e traz�-la para c�". Apontou para as pessoas ao
redor do churrasco. "Vamos plant�-la ali, bem no meio.
Amanh� plantaremos uma �rvore."
Carros blindados aproximaram-se do port�o do Campo e os
prisioneiros, acenando com os bra�os, dirigiram-se a eles. No
primeiro jipe estava o major, aprumado num uniforme novo,
o bigode prateado brilhando ao sol p�lido, todos os detalhes
irrepreens�veis, tudo no seu perfeito lugar. Afastou-se das
m�os esquel�ticas que se estendiam em sua dire��o, olhando
em volta, e, quando elas subiram no tanque, utilizou seu
cacetete para afast�-las.
O major olhou furtivamente ao seu redor, tentando
descobrir a origem daquilo que a brisa trouxera �s suas
narinas. Seu olhar parou em John. "Ei, soldado..."
John prestou contin�ncia.
"N�o foi voc� que passou o relat�rio noite passada?"
"Sim, senhor."
"Voc�s n�o chegaram aqui ontem � tarde?"
"Sim, senhor."
"Voc�s deveriam ter mantido esta passagem desobstru�da. O
coronel vem bem atr�s de mim, com m�dicos e
suprimentos". Ele estava chocado. "Por que eles est�o aqui?"
"Senhor, acho que vieram ficar ao sol. Alguns est�o
morrendo."
O major fechou os olhos. Quando os reabriu, disse, numa
voz diferente, "Eles n�o deveriam estar, n�o seria melhor
que estivessem l� dentro?", apontou com o cacetete para a
cabana mais pr�xima.
"Senhor, h� cad�veres nas cabanas. Os prisioneiros est�o
fracos demais para carreg�-los para as sepulturas atr�s do
arame farpado, ali. H� a cabana da administra��o, mas ela
tamb�m est� lotada."
O major olhou desconfort�vel para os espantalhos que
tentavam lisonje�-lo com sorrisos, alguns deles tinham
v�mito ressecado em seus imundos pijamas listados, olhos
vermelhos, dentes quebrados, descoloridos ou faltando. Por
um momento, John teve a disparatada id�ia de que o major
iria ordenar a seu motorista que os atropelasse todos. O
major voltou a cabe�a, apontando com o queixo para um
pequeno grupo de prisioneiros, que permaneceu do lado de
fora dos port�es.
"Voc� recebeu ordens de que ningu�m deveria ter permiss�o
de sair. Deve haver tifo e todos os tipos de doen�a aqui, e
n�o sabemos quem � esta gente."
"Sim, senhor, mas eles n�o querem fugir. Est�o fracos demais
para ir a qualquer lugar. Sabem que pedimos alimentos e
suprimentos m�dicos."
O major passou o olhar pelos prisioneiros. "Como eles
sabem?", perguntou, como se os prisioneiros devessem ter
um tipo anormal de comunica��o.
"Senhor, o boato se espalhou. O senhor sabe como �. Tem
um coronel polon�s que parece ter assumido a lideran�a
depois que os alem�es fugiram." O major ficou aliviado e
perturbado ao mesmo tempo.
"Por que voc� n�o me disse isso antes, soldado? Leve-me at�
ele." John olhou em volta. Onde estava o coronel? L� estava
ele, falando a um grupo de prisioneiros, parecendo mais alto,
magro e fr�gil agora que � luz do fogo. Finas linhas
vermelhas emolduravam seus olhos fundos. As faces
murchas nos ossos de m�scara mortu�ria. Os l�bios
recobriam o que restava dos dentes, e no queixo e na testa
havia finas cicatrizes que n�o vira na noite anterior.
Aproximou-se num passo sem pressa, cumprimentando John
com um meio sorriso. John retribuiu e fez contin�ncia. "�
ele, senhor, aquele na frente." O major foi a seu encontro.
"Ele fala ingl�s?", perguntou, nervoso.
"Muito bem, senhor", John seguia-o dois passos atr�s. O
coronel parou primeiro, e ent�o o major. O coronel
inclinou-se levemente, e depois endireitou-se e fez
contin�ncia.
"Coronel Grissinsky, da Infantaria Polonesa." O major
resmungou algo em resposta e correspondeu � contin�ncia.
"Saudamos nossos libertadores." A entona��o polonesa
ecoou como um trov�o. O coronel estava se esfor�ando para
manter sua voz forte. John viu o suor que apareceu em sua
testa, e, com pesar, deu-se conta, pela primeira vez, de que o
coronel poderia estar morrendo. Houve uma mudan�a no
rosto do major. O sorriso r�gido e incerto desfez-se. O
andaime que lhe permitira se alienar da situa��o subitamente
cedeu, finalmente atirando-o para a calamidade. Ele deu o
passo que faltava � frente, estendendo a m�o, e come�ou a
dizer algo, mas mordeu os l�bios e apertou a m�o do coronel
com as suas duas. Ele assentiu pesarosamente e disse, quase
num sussurro, "Coronel, sinto muito. Sinto muito n�o
termos vindo antes. N�o sab�amos."
N�o sabiam, n�o poderiam saber. Ent�o, o coronel, apoiado
no bra�o do major, levou-os a visitar as cabanas: os
dep�sitos, onde estavam entulhados sapatos e roupas at� o
teto; as salas de tortura, onde chicotes, aventais de couro e
instrumentos de metal encontravam-se ordenadamente
pendurados, em macabra organiza��o; a sala de cirurgia,
onde os prisioneiros foram as cobaias; a vala comum, para
al�m do arame farpado, onde milhares de prisioneiros,
executados a tiro pouco antes da fuga dos alem�es, jaziam
nus, esqu�lidos, as cabe�as grandes e os escuros genitais �
mostra.
John permaneceu ao lado do coronel Grissinsky nos port�es,
enquanto o major ia ao encontro da equipe do Coronel, que
se aproximava.
"Onde", John perguntou com desesperada urg�ncia, "onde
vamos encontr�-lo?"
"Ele ama tanto a Terra que n�o pode estar longe, mas n�o sei.
N�o estudei tais coisas, fui um soldado. Vou come�ar a ler e
a buscar. N�o sei. Se Ele estiver na Terra, eu o encontrarei,
se me for concedido tempo de vida..."
Agora os dois coron�is e o major estavam na sede
administrativa. John foi encarregado de trazer o prefeito e
civis para limpar o Campo. Quando retomou, o coronel
Grissinsky havia partido. Um prisioneiro entregou-lhe um
peda�o de papel: "Ele precisa de uma nova Terra. Precisamos
plantar �rvores e mostrar aos outros como plant�-las."
N�o � que fosse sempre f�cil ter um Comandante Celestial s�
para si:
'...O resto do batalh�o encontrou-os depois do Campo. J�
n�o eram mais a vanguarda, uma outra divis�o adiantara-se,
deixando- os com as sobras. Patrulha ap�s patrulha.'
"Fiquem espalhados. N�o percam contato." Os homens
penetraram num trecho de floresta. Avan�aram at�
encontrar uma encosta pontilhada de crateras. Trilhos de
trem passavam ao p� da montanha, em dire��o � esta��o de
Saarbrucken. Bombas dos Aliados tinham deixado aquele
lunar cen�rio. Vag�es descarrilhados brilhavam pregui�osos
ao sol da manh�, totalmente quietos, n�o fosse pelo canto
dos p�ssaros a avis�-los.
"Podem estar guardados, portanto olhos atentos e fiquem
prontos", disse John.
"Parecem abandonados", falou Wacky, "vamos ver o que
tem dentro, pode ser birita".
"Para mim parece armadilha", continuou John. Desceram a
encosta. A trinta metros do trem:
"N�o tem nenhum Chucrute. J� teriam atirado", a voz de
Dikson fez arrepiar seus cabelos...
"Fiquem espalhados", ordenou John, Perry acompanhava-o.
Com um gesto, John indicou que parassem e que Wacky lhe
desse cobertura. Perez cobria a direita, Dikson vinha atr�s.
Mais um passo, e outro, e mais um. Se fosse haver problema,
aquele era o momento. Mais um passo... esperou pelo armar
de um rifle. Um p�ssaro piou e ele ouviu sua pr�pria
respira��o.
Um enorme cadeado trancava a porta do vag�o.
Champanhe? Ouro? Caixas de iguarias, salame, arenque,
anchovas e azeitonas... O volumoso cadeado correspondia a
seu olhar.
N�o.
Nem tinha dito o que ia fazer, mas seu comandante-em-
chefe estava sentado em seu ombro. Olhou furtivamente
para o cano de sua arma.
N�o atire. N�o podia ser o Grande Senhor. N�o atire.
Aquele irritante sotaque brit�nico s� podia ser do Grande
Senhor, e era uma ordem, da mesma forma que um general
mandaria que fizesse algo, sem �nfase ou explica��es. Olhava
o cadeado.
Eu disse: n�o atire.
O tom era agora imperativo, como a necessidade. Algo
puxou seu dedo indicador no gatilho.
Sentiu uma coisa quente entrar em seu ombro, o calor
espalhou- se, chegando �s axilas. Algu�m atirara em seu
peito. Uma torrente de l�grimas cegou-o. Por que seus
homens n�o estavam atirando?
"Voc� est� bem, Kelly?" Wacky bateu em suas costas, sua
vis�o come�ou a clarear. Seu idiota cretino! Disse a si
mesmo. Fragmentos do cadeado devem t�-lo atingido.
"O que aconteceu?"
"Estilha�os do cadeado, acho". Seu ombro estava queimando,
tocou-o com a m�o, o sangue sujou a palma.
"Maldito sortudo", disse Dikson. Hospital, descanso, cama
limpa. Acabaram-se as patrulhas. Olhou para cima, onde as
nuvens passavam indiferentes a ele.
Atravesse para o outro lado por baixo do vag�o.
"Fique aqui", disse a Wacky. Rastejou sobre os trilhos,
procurando por botas alem�s. Nada al�m do mesmo cen�rio
lunar de desola��o. Ficou em p�, vasculhando todos os lados.
Nada. Deu um passo.
Volte-se.
A ordem veio t�o intensa que ele se voltou sobre os
calcanhares, colocando o rifle a postos. Este lado do vag�o
estava aberto, revelando o seu interior, onde havia pilhas e
mais pilhas de cilindros. Caiu em si.
Bombas.
Bombas! Ele poderia ter pulverizado a todos, teriam
explodido antes de se darem conta do que estava
acontecendo. ...Perdeu a for�a nos joelhos, olhando os
montes de bombas. Aos poucos, seu cora��o foi parando de
palpitar. Acendeu um cigarro e tragou profundamente.
Depois da segunda tragada, apagou-o e verificou seu
ferimento. Do�a. A superf�cie estava rija, e ainda sangrava.
Seria mandado ao hospital.
N�o.
'� Grande Senhor, por favor! Estou cansado'.
N�o.
Outra ordem sem detalhes ou explica��es. Estupefato, John
sentou-se numa pedra e acendeu outro cigarro. Ele sorveu a
fuma�a, e uma onda de indigna��o preencheu-o junto com
ela. L�grimas ressentidas.
'Veja todos os outros. Veja Robe e todos os soldados que se
mataram ou simplesmente n�o fazem nada. Nunca nem me
passou pela cabe�a fazer isso. Meu ferimento � real'.
� por causa dessas atitudes que a guerra est� demorando
tanto. H� mais campos de concentra��o.
John atirou o cigarro longe, com raiva, o cora��o doendo.
Somente um Ser no universo tinha compaix�o. Ela tinha que
vir ao encontro dele agora, precisava vir, ou ele morreria.
Mas a �nica coisa que veio a ele foi Dikson, que olhou para o
vag�o e para ele aterrorizado.
"Voc� poderia ter matado todos n�s." John recusou-se a
olh�-lo. Iria gritar se Dikson falasse novamente. Ningu�m
nunca mais deveria falar com ele.
Deveria ter ido embora com Ela da primeira vez. A guerra
aqui em baixo ia continuar muito bem sem ele. John
levantou-se e apagou o cigarro com o calcanhar.
"Vamos embora."
Depois da guerra, John entrou numa depress�o profunda,
pensando ter perdido contato com seu Grande Senhor. Certa
noite, estava deitado, convencido de que ia morrer:
'...Tudo bem, desta vez iria faz�-lo e nunca mais retornaria
ao caos deste mundo. Os horrendos espectros apavoraram-
se. Depois de esperar e orar para a Senhora por dois dias,
soube que n�o era o suficiente, deveria determinar-se a
morrer. Nunca conseguiria enquanto alimentasse seu corpo
com batatas fritas e cerveja. Se o anseio pela Senhora
pudesse lev�-lo a Ela, teria deixado seu corpo. Era necess�rio
parar de comer, de sair, e simplesmente querer morrer com
todas as fibras de seu ser.'
Na manh� seguinte, abriu as janelas para um sol decidido.
Deveria tomar caf�? N�o era realmente importante. N�o
havia como se esconder na vida de novo,
independentemente do que comesse. Viu a carta para Kathy.
Talvez algu�m a enviasse, mas n�o adiantava fingir que se
importava, o que sentira por Kathy havia dois dias fora
devorado por um faminto desejo de dormir para sempre nos
bra�os da �nica Amada poss�vel. Coou um caf� forte e
surpreendeu-se de como era gostoso: fragrante, rico, amargo
e doce.
Sentou-se na poltrona, esperando, olhando a parede. Mas a
porta � que foi escancarada.
"Kelly, 'c�' tem uma garrafa de vinho? Devolvo amanh�. Os
rapazes..."
"Pode pegar, ali. N�o, � direita." Com os olhos fixos em John,
hipnotizado, o rapaz foi at� o arm�rio e pegou a garrafa
como se fosse uma bomba.
"Que que 'c�' tem, Kelly? Posso ajudar?"
"Sim, feche a porta devagar." Tranq�ilizado, o rapaz correu
at� a porta. Bateu-a com um estrondo. Abriu-a novamente.
"Voc� n�o regula bem, Kelly." Bateu a porta de novo.
Grandiosas �ltimas palavras: "Feche a porta devagar." O
Doutor flutuou por ali por alguns instantes. 'N�o precisa
tomar cuidado, simplesmente v� em frente.'
A morte aproximava-se um passo cada vez que ele olhava.
Estaria com Ela.
Uma vez que estivesse com Ela, nunca retornaria.
Agora precisava preparar seu corpo. Escovou os dentes.
Encheu de �gua a grande banheira branca. Observava-se
perder as for�as. Entrou em seu �ltimo banho.
Cuidadosamente ensaboou-se, relembrando por alguns
momentos, agora rid�culos, a id�ia da imortalidade do coipo.
Ap�s secar-se com a toalha, pausou por um momento,
indeciso. Parou ante o interruptor de luz. A morte viria mais
certa e rapidamente no escuro.
Deitou-se na cama. "Ave Maria cheia de Gra�a...". N�o.
Palavras afastavam-na. A morte era mais predisposta ao
sil�ncio e ora��es mantinham-na � dist�ncia. A morte era o
vazio.
Cruzou as m�os sobre o peito. N�o tinha cortado as unhas.
'N�o importa', disse � sua mente, agora cheia de trivialidades.
Tinha penteado o cabelo. Agora v� em frente. Sil�ncio.
Subitamente uma erup��o. Jazz. A porta foi escancarada e
tr�s mo�as inclinaram-se sobre sua cama. Ele rezou
desesperadamente. N�o, n�o, n�o. V�o embora. Elas foram.
Sil�ncio novamente. Deixou-se ser levado �s suas
profundezas, at� que nas trevas insond�veis encontrou um
cord�o de luz, que se transformou num min�sculo diamante.
Seu brilho cresceu, espalhando luz, cascateando luz. Dentro
dele surgiu uma Presen�a. Era Ele, seu Senhor, seu Salvador
e Protetor.
'Grande Senhor'.
Energias murmuravam e pulsavam, aproximando-se de seu
cora��o, como um grande motor em a��o. Fortalecendo-se,
as energias reuniram-se e come�aram a subir, atravessando
sua cabe�a.
Esperando por ele, com bra�os como diamantes azuis
abertos, estava o Grande Senhor. John fitou-o. Fulgurava
amor entre eles.
Venha comigo, disse o Grande Senhor, mas n�o olhe para os
lados nem para baixo.
John segurou os tornozelos e sentiu-se sendo levantado. Sua
velocidade aumentava. Como um grande p�ssaro,
atravessavam mundos de sufocante ang�stia nos quais, n�o
fosse por estar se segurando no Grande Senhor, teria se
asfixiado. Viravam e giravam pela escurid�o, atrav�s do
horror que lhes abria passagem. Fantasmas fugiam, vis�es
noturnas na madrugada. Apertou o rosto contra os
calcanhares daquele que sempre fora seu Adorado Amigo.
Havia agora menos resist�ncia e algo sutilmente novo, que o
levou a abrir os olhos. Era menos opaco, menos denso, com
clareiras e redemoinhos numa bruma, e com um �ltimo giro
penetraram num mundo mais doce e claro de infinitas praias
e brilhantes oceanos prateados.
Olhou para baixo maravilhado, era um eterno e sereno ver�o
de inoc�ncia e tranq�ilidade, onde se sentia a paz como um
orvalho. Pulsando com beatitude, radiantes formas de deuses
flutuavam. Era um vale de deleite al�m do tempo.
Temos que ir mais al�m. As coisas aqui nunca mudam.
Sem aviso pr�vio, sem transi��o, estavam voando na noite, a
noite da Terra, sobre a It�lia. Juntos viram as pontes de
Floren�a, atravessando sobre o Arno com seus po�ticos
arcos; essa cidade de realiza��es, uma senten�a em seu
di�logo eterno. Seu riso derramou- se sobre as colinas de
Assis, a terra vermelha de Siena. O nascente tingiu o mundo
de cor-de-rosa e laranja sobre as areias do Egito.
As perguntas dissolveram-se quando viu o lar de seu
cora��o. O pa�s em forma de cora��o sobre o qual sua m�e
havia falado. Era a terra do Mestre. Baixaram no lado leste e
passaram sobre um agrupamento de inocentes casas cinza,
frescas ao sol nascente. Um terra�o de cobertura brilhava
com lustrosas bouganv�lias carmim. Entre as casas e o cinza
mais escuro das ruas moviam-se pessoas trajando branco.
Agora voc� se lembra.
'Eu sei. Voc� � o Amigo Adorado.' Trocaram um olhar que
atravessou muitas vidas. Uma voz soou em seu cora��o,:
Voc� v�, nosso amor est� al�m da perda, al�m das
perturba��es. Nosso amor permanece intocado.
Seu cora��o, infundido de paz e banhado em gra�a, estava
aos p�s do Mestre. Fechou os olhos. Sua alma estava
envolvida por uma chama, ele foi consumido.
Finos filamentos de luz iluminaram os pontos de sua vida e a
do Mestre em que havia escolhido se voltar. Cada conceito
que lhe fora ensinado o afastara de seu pr�prio ser e do
conhecimento de sua liberdade.
Reviu o momento de seu nascimento e toda sua vida, seu
Mestre mostrando-lhe que havia encarnado num centro de
ignor�ncia e supersti��o b�rbaras, como nunca em toda sua
vida ningu�m lhe explicara que tivera vidas anteriores;
ningu�m sabia. Agora a vida do Mestre revelou-se, simples,
humana. A Consci�ncia, em seu amor ilimitado, assumindo
as dores da vida.
Ele viera para vestir-se da resistente mat�ria terrestre e
acender sua chama. E o que se requisitava de John Kelly era
que auxiliasse o Grande Senhor e a Senhora.
Vou mostrar-lhe algo.
Sobre um outro terra�o, ao seu lado estava o Grande Senhor,
seu sedoso cabelo branco ao vento.
Veja.
Fuma�a, tanques, mais fuma�a, homens marchando em
forma��o. N�o estavam vendo o horror do passado, mas o
futuro, o que ainda estava por vir. Ele voltou-se em protesto.
Se lhe pedissem que passasse por tudo aquilo novamente,
seria imposs�vel. N�o conseguiria. Lembrou-se que tinha
deixado seu corpo e que n�o retornaria, nunca mais
abandonaria seu Amigo. A resist�ncia abandonou-o, �
necess�rio serenidade para compreender.
Voc� sabe o que estamos fazendo aqui?
Uma vez mais olharam as inocentes casas coloridas, onde
homens e mulheres estavam oferecendo suas vidas � for�a
que procurava penetrar na Terra. O sono do mundo
mantinha a luz � dist�ncia. As for�as das trevas seguravam as
r�deas. Seu lugar era aqui em baixo, junto a essa guarda
avan�ada do esp�rito. Seu corpo jazia envolto em sua
mortalha, esperando. Mas precisava encontrar a Senhora.
Seu desejo levou-o a uma catedral feita de anjos e de deuses
semi-ocultos, cujas faces constitu�am uma arquitetura viva.
No topo de uma escadaria transparente estava sua liberdade:
n�o podia hesitar. Trajada de verde-mar, semi-oculta em
brumas, havia uma silhueta, seu rosto escondido pelo v�u
que impede nosso conhecimento.
Porque o instrumento humano falhou,
O Supremo frustrado dorme em sua semente.
O que havia por tr�s do v�u, t�o di�fano e ainda assim
oculto? Tentou penetr�-lo. Quando havia perdido toda
esperan�a, um bra�o branco elevou-se. O v�u desapareceu.
Ele leu o segredo de Seus olhos, que penetrou seu sangue,
transformando-o em mel, em ouro l�quido, em vinho e fogo.
Seu ser fundiu-se, tornou-se ilimitado. Ele era a Exist�ncia
�nica que governa os mares do Tempo. Era o Sorriso. Era o
Uno.
Ele ca�a extaticamente, sem dire��o, medo ou preocupa��o,
aterrissando de forma perfeitamente controlada numa
nuvem rosa e laranja, onde estava sentado... o Grande
Senhor.
Sobreveio uma mem�ria acinzentada de algo grosseiro,
pesado e ignorante que jazia l� em baixo. Algo que rastejava
como um verme, ignorante do mundo de alegria e de luz.
Nada no universo poderia obrig�-lo a voltar para aquele
obscurantismo. Tinha a liberdade de ficar. Esperou, suspenso
em anseio. A op��o era-lhe oferecida com amor. Virou a
cabe�a, encontrou o olhar do Grande Senhor. Uma vez mais,
a chama de amor varreu-o, tudo o que queria era servir seu
Amigo.
Com um lamento mudo de amor e de adeus, e uma prece de
que lhe fosse permitido lembrar o que vivera, ele foi caindo,
caindo, caindo e esquecendo.
Benditos, benditos sejam,
O magro, o alto e o baixo
Voc�s n�o v�o ter promo��o deste lado do oceano,
Portanto, alegrem-se meus rapazes...
N�o morrera! Tivera um sonho curativo e acordara para um
universo puro e imaculado. Esfor�ou-se para lembrar onde
estivera, sabendo apenas que o Grande Senhor viera ao seu
encontro, que estivera com sua Senhora e que ansiava por
Sua presen�a novamente; mas havia algo para ser feito aqui
em baixo por Eles. Estava vivo e bem.
Despiu-se, e foi, nu, at� a janela. Uma pessoa apareceu entre
as �rvores escuras, cambaleando em dire��o � cal�ada. Que
obra de beleza � a figura humana, transbordante de gra�a.
Cada movimento descuidado do bra�o, o mais b�bado apoio
dos p�s, era inspirado pelo Supremo e trilhava para a
Divindade. Owens n�o sabia. "Benditos sejam". O coronel
polon�s. Havia agora tantas coisas para fazer, serena e
calmamente. Encontraria o coronel e contaria o que
acontecera, de como ele estava certo. Escreveria para Kathy.
E iria para seu lar. Lar. Um pensamento surpreendeu-o:
todos os lugares eram seu lar.
As �rvores elevavam-se ao redor da fonte de brilho prateado.
O c�u ainda estava cheio de estrelas. Nunca as tinha visto t�o
abundantes de vida ordenada. Viu sua pr�pria m�o apoiada
no peitoril da janela, o branco contrastando com o preto do
ferro batido das grades. Tudo era perfeito, o brilho suave, a
silhueta escura das �rvores, a luz do lago entre elas, o
mist�rio da est�tua feita pelo homem, um reflexo do
Supremo. O soldado e sua voz distanciaram-se rua acima,
semeando b�n��os.
Quando o caf� estava borbulhando na cafeteira, o Grande
Senhor chegou, atrav�s da parede, sentado numa grande
poltrona verde. John fitou-o, enquanto sua m�o direita
desligava a m�quina. Viu-se de joelhos, l�grimas correndo
pelo rosto, o cora��o transbordando de amor, enviando
palavras silenciosas. 'Meu Grande Senhor, mal compreendo
Seu poder, Seu amor e Seu trabalho; mas qualquer que seja
Sua miss�o, o que quer que Voc� queira, dedicarei minha
vida a isso. Dedicarei minha vida a Voc�. Sou Seu por toda
minha vida e depois. N�o sei de que mundo Voc� vem, nem
mesmo qual � Seu nome. Sou Seu servidor.'
Olharam-se nos olhos. Algo come�ou a mover-se dentro do
peito de John. A m�o mais forte e gentil tocou seu cora��o,
acariciando-o.
Oro... Os l�bios do Grande Senhor tinham dado forma a uma
palavra. John inclinou-se � frente.
Oro... Os l�bios moviam-se em sil�ncio.
'Oro...?', perguntou John, ao que o Grande Senhor sorriu e
assentiu. Seria uma palavra sagrada? Um abre-te s�samo?
Os l�bios fecharam-se, para pronunciar outra palavra.
'Bend?', perguntou John, aproximando-se ainda mais.
'Assim?', inclinou-se.
O Grande Senhor sorriu.
Ondas de for�a emanavam da cadeira verde do Grande
Senhor, atingindo-o de quando em quando, fazendo-o
tremer e bater os dentes. Ele n�o era forte o suficiente. O
tremor interior apossou-se de todos os seus membros. O
rosto lindo e s�rio permanecia sereno. 'Grande Senhor, a
noite passada voc� me mostrou o que devo fazer, mas n�o
consigo me lembrar'. As palavras sa�ram num jorro, o tremor
tornara-se t�o violento que estava jogando at� os
pensamentos uns contra os outros. Ele ia precisar sair da sala.
Ainda assim, n�o podia simplesmente sair correndo, nem se
a for�a o despeda�asse.
Voc� � um soldado, disse o Grande Senhor. Coloque-se em
posi��o por um momento.
John lutou para colocar-se em p� e endireitar-se, olhando
para sua querida vis�o, com sua moldura de cabelos
iluminados pela lua e a barba esvoa�ante. Batendo os joelhos,
os dentes, olhou para os olhos que repousavam na
eternidade, o corpo resplandecente, gravou tudo em sua
mem�ria e cambaleou para fora.
No corredor, seus joelhos ainda tremiam violentamente.
L�grimas de amor desceram por suas faces quando pegou o
corrim�o. Desceu as escadas, abriu a porta, percebeu que
ainda estava de roup�o de banho, fechou-a novamente.
Come�ou a subir as escadas, seus joelhos perderam a firmeza
novamente.
Pendurou seu robe no cabide, tirou os cigarros, f�sforos e
len�o dos bolsos, secou o rosto e olhou para a rua. Um
jovem capit�o vinha da esquerda, uma m�e empurrando um
carrinho de beb� da direita, um velho Peugeot preto fazia a
curva ao redor do parque. Nuvens no c�u azul eram
gentilmente levadas pelo vento. O vento encontrou-o sob
sua camisa leve, fazendo-o estremecer.
Colocou um p� na rua, para atravessar em dire��o ao parque,
e percebeu que estava usando um chinelo marrom peludo. O
outro p�, que veio em seguida, usava um encerado sapato.
Ele hesitou.
N�o, iria continuar e sentar-se no parque. Poderia mancar e
fingir que tinha machucado um p�. N�o importava. Nada
disso importava. Onde deveria ir para encontrar respostas a
suas perguntas, encontrar a explica��o para aquilo tudo. Sabia
que a resposta lhe seria dada antes que alcan�asse o poste de
luz.
�ndia.
A resposta veio claramente, na voz do Grande Senhor.
Houve um sil�ncio perplexo. Tinha querido morrer, ouvira o
conselho do doutor. Teria oferecido sua vida ao Grande
Senhor e � Senhora. Mas �ndia!
'�ndia?' Da �ltima vez que lera o jornal, l� havia fome e
levantes. Viu uma foto com pilhas de cad�veres esperando
para serem cremados, fileiras e mais fileiras de esqu�lidos
corpos escuros, bra�os e pernas r�gidos, feridas abertas
negras de moscas. ...Outro campo de concentra��o. N�o, n�o
poderia. N�o poderia ag�entar mais sofrimento,
simplesmente n�o conseguiria. Quem poderia dar-lhe
respostas na �ndia?
Sua mente passeou pelas pestilentas ruas coalhadas de
cad�veres da �ndia, tentando encontrar respostas. Numa
caverna no Himalaia. Ouvira falar sobre buscadores que
dedicavam toda sua vida � Verdade. N�o fora talhado para
isso. Teria sido melhor n�o saber.
Seu cora��o ainda ardia de doce devo��o pela Senhora e pelo
Grande Senhor. Era triste e dolorido que n�o pudesse ser
volunt�rio para ir � �ndia.
'Perdoe-me, Grande Senhor'. Parou, pegou uma folha e
continuou a andar. 'Uma vez que posso escolher...
Realmente, n�o posso ir. Sinto muit�ssimo'.
Apoiou-se numa �rvore. 'N�o posso mais ag�entar viol�ncia.'
'... "Vamos meus amores, do�uras, voc�s v�o rolar pela
Myrtle; a Myrtle precisa de um carro, ela quer dar uma volta;
Myrtle � sua mam�e." John parou para olhar. Dikson olhou
para cima, com um lento sorriso paternalista.
"Oi, Dikson, tudo bem?"
"Oi, sargento", respondeu. "Este seu homem n�o � mais
volunt�rio para ir primeiro a nenhum lugar, exceto
Manhattan Plaza. Dois mil d�lares", Dikson sacudia
carinhosamente os dados, passando- os de uma m�o para
outra. John assobiou.
"D� mesmo para comprar um carro para a Myrtle."
"Vou comprar um Ca-dy-lac para ela. Tente a sorte, Kelly,
voc� me quebrou um galho naquela casa de fazenda." Com
descuidada magnific�ncia, Dikson jogou-lhe duas notas de
vinte d�lares e, com o feliz sorriso carism�tico de um
vencedor, assoprou entre as palmas das m�os. Ao redor dele,
um pequeno grupo de homens observava cada um de seus
movimentos. Dikson sacudiu os dados ao lado da orelha.
Olhou para cima, ouvindo o som seco do marfim.
"Vou apostar trinta."
"'Pera a�, dez para mim", bra�os estendidos, dinheiro
vibrando.
"Vamos, dadinhos, rolem para o papai." Uma m�o tomou as
notas de John. Se ganhasse, compraria algo lindo para Kathy.
Perdeu. Bem, a �ltima coisa no mundo a que poderia se dar
ao luxo seria ganhar uma bolada. J� estava confuso o
suficiente. Restava t�o pouco tempo para fazer a transi��o de
volta a Kathy: cada balan�ar do navio aproximava-o do dia.
Foi passeando pelos jogos de dados. Os perdedores desistiam,
os ganhadores juntavam-se aos grandes ganhadores, os
grupos iam se fundindo, as apostas subindo. Grandes
vencedores, como Dikson, emanavam uma envolvente aura
de glamour. Eram os generais, agora.
Foi embora. Subitamente, uma voz irrompeu cantando:
"Tem um m�dico morando na nossa cidade, um advogado e
um cacique."
Era o �nico disco que tinham a bordo. ...
A ang�stia de John crescia � medida que os outros homens
ficavam mais falantes. Era como se a vida estivesse baixando
sobre eles e estaria l�, em toda sua gl�ria, quando chegassem
a Nova York. Alguns homens aproveitariam seus ganhos
para se casarem, outros para abrir seu pr�prio neg�cio ou
comprar as quotas de seus s�cios. Cada um sabia que abriria
uma oficina mec�nica, uma lanchonete, trabalharia numa
fazenda, iria � universidade ou ajudaria no neg�cio de seu
pai, trabalharia num banco ou assaltaria um. Por que ele n�o
sabia? O que faria ele? O que era ele? Era um servidor. ...'
'... Era o mesmo restaurante italiano, com as mesmas toalhas
de mesa, verdes e vermelhas, e velas em garrafas de Chianti.
Apenas Mario, o bonito rapaz napolitano que tocava no
bandolim suas m�sicas especiais, n�o estava l�. Morrera em
a��o. Um violinista velho e baixo inclinava-se sobre Kathy,
tocando uma melodia nost�lgica. A m�o dela estava na de
John. Ao t�rmino da melodia, o senhor inclinou-se para eles,
sorrindo com olhos doces e satisfeitos. Aplaudiram
entusiasticamente e ergueram-lhe as ta�as, antes de se
voltarem um para ou outro. Seus olhares ficaram mais
carinhosos.'
"O que voc� descobriu na biblioteca hoje?"
Ele abriu a boca. Estar com Kathy fizera-o divagar. "Kathy,
esqueci. � t�o maravilhoso estar com voc� que me esqueci
de tudo. Depois de tr�s semanas, acho que estou no caminho
certo, Kathy. Encontrei algo." Colocou a ta�a na mesa t�o
bruscamente, que gotas de Chianti respingaram em seus
dedos. Come�ou a tirar de seus bolsos peda�os de papel de
todos os tamanhos. Pegou o maior e come�ou a ler:
'A primeira f�rmula para a Sabedoria promete ser tamb�m a
�ltima, � Deus, Luz, Liberdade, Imortalidade.'
Pausou para olhar para ela. Kathy, confusa, fitava-o. "Kathy,
n�o consigo explicar. Isso me deu arrepios. Aconteceu
novamente quando reli essas palavras. At� mesmo neste
momento..." estendeu o bra�o, apresentando-lhe o papel.
"Acontece o mesmo com voc�?"
"� lindo, John, isso � tudo o que posso dizer, � lindo."
Tirou do bolso mais pap�is, bilhetes de �nibus, recibos e um
cart�o de biblioteca. Procurou entre eles agitadamente.
'Esses ideais persistentes da ra�a s�o, a um s� tempo, uma
contradi��o de sua experi�ncia cotidiana e uma afirma��o de
experi�ncias mais elevadas e profundas, que s�o anormais
para a humanidade e somente pass�veis de serem alcan�adas,
de forma organizada e integral, por um esfor�o individual
revolucion�rio ou uma progress�o evolutiva generalizada.'
Olhou para ela ao terminar a senten�a. Kathy estava
ouvindo.
'Conhecer, possuir e ser a exist�ncia divina numa natureza
animal e ego�sta, converter nossa semi-iluminada ou obscura
mentalidade f�sica em plena ilumina��o supramental,
construir a paz e uma beatitude auto-suficiente onde v�-se
�nfase apenas em satisfa��o transit�ria, cercada pela dor
f�sica e pelo sofrimento emocional, estabelecer uma
liberdade infinita num mundo que se apresenta como um
conjunto de necessidades mec�nicas, descobrir e realizar a
vida imortal num corpo sujeito � morte e � muta��o
constante, � isso tudo nos � oferecido como a manifesta��o
de Deus na Mat�ria, a meta da Natureza em sua evolu��o
terrestre.'
"S� um minuto, tem mais um peda�o de papel. Acho que
escrevi atr�s de um envelope." Folheou seus pap�is.
"Tudo bem, John, j� entendi." Ela tomou um gole de vinho.
"N�o � a coisa mais linda que voc� j� ouviu?" Um longo
instante decorreu antes que ela dissesse, "� lindo, John. N�o
diria, 'a mais linda'. O que h� de errado com o Serm�o da
Montanha? O que h� de errado com o que dizem alguns dos
m�sticos cat�licos?"
"Nada de errado, voc� tem toda raz�o. Anotei algumas coisas
deles tamb�m. Mas voc� n�o percebe, a diferen�a � que o
Grande Senhor estava l�. Achei que eram palavras dele, mas
a foto do escritor mostra um indiano de barba e olhos
escuros e brilhantes. Suponho que o Grande Senhor estava
apenas lendo as palavras para mim, para que eu soubesse que
era o Seu tipo de coisa. Queria que eu soubesse."
"...Voc� n�o percebe, Kathy, qual era a mensagem. Trata-se
de experi�ncias exaltadas. Ele diz que n�o s�o normais para a
humanidade, mas n�o significa que eu n�o seja normal."
Ela esquadrinhou o rosto dele.
"Ao ler, agora h� pouco, voc� mudou, sua voz mudou, seus
olhos mudaram. Voc� ficou muito... lindo. Havia como que
prata em sua voz, ela estava cheia de luz." Disse isso com
dor. "Tenho medo, John. Eu sou a humanidade. Seu indiano
moreno est� certo, pode ser que o que esteja acontecendo
com voc� seja muito grandioso para mim. N�o sei se
ag�entaria se o Grande Senhor viesse. Isso de uma certa
forma afastou-o de sua fam�lia. E se isso o fizesse se
comportar da mesma maneira com nossos filhos. ..."
Poderia haver coisas a que ele simplesmente n�o saberia
como se opor, como �s ondas de for�a que vieram do
Grande Senhor depois do sonho curativo, ou como quando
fora atirado contra a parede da trincheira pela Luz dos olhos
do Grande Senhor.
... "Voc� recebeu todas aquelas instru��es durante a guerra, e
tamb�m depois. Foram Eles que lhe disseram para ler?"
"N�o, foi o coronel."
"Eles n�o lhe deram nenhum tipo de orienta��o para o
futuro?"
"Nem sempre fiz o que me foi sugerido." Ela ponderou sobre
isso, segurando a ta�a contra a luz da vela. A vela chorava
pela garrafa de Chianti.
"Quando voc� n�o o fez, quase se explodiu em pedacinhos.
Bem, o que Eles disseram para voc� fazer?"
"Disseram-me que fosse � �ndia."
"�ndia?" Ela baixou o copo, e colocou as m�os na cabe�a,
"Voc� disse �ndia?", deu uma risadinha.
"�ndia?". Ela saiu de atr�s das m�os, voltando-as para
pressionar as t�mporas com os n�s dos dedos. "Mas se Eles
pedirem novamente e voc� disser n�o, voc� pode explodir.
Talvez haja algumas coisas que alguns seres humanos
tenham que fazer. Isso me assusta. O que voc� respondeu?
Como pode ter certeza de que nunca ir�?"
"Kathy, na �ndia h� fome, levantes, milhares de pessoas
morrem nas ruas. Acho que disse justamente isso, que j�
tivera minha quota disso tudo na guerra". No entanto, ap�s
um longo sil�ncio, ele se ouviu dizer, "Terei que ir um dia,
Kathy. Voc� vem comigo?". Queria muito que ela o
acompanhasse. "Poder�amos passar pela Alemanha e plantar
a �rvore juntos". Mostraria a colina a ela. Ela entendeu. Ele a
olhou por um longo tempo, ela olhava sua ta�a. Balan�ou a
cabe�a.
"Acho que tenho que plantar minha �rvore aqui... no
hospital." Sua clareza obscureceu a dor da recusa.
L�grimas brotaram de seus olhos, rolando pelas faces e todas
as certezas dele foram por terra.
"Ei, espere a�, Kathy", disse, inutilmente. Nada vinha � sua
mente. Teria dito qualquer coisa para confort�-la. Lutava
com sua l�ngua, chocado com o que estava acontecendo.
Olhou para ela, que estava mais pungente, mais linda do que
nunca. A consci�ncia de que n�o se sentaria ao seu lado,
nem a veria, abriu uma ferida. Pediu por um sinal. Por um
momento, tudo parou, suspenso num estado como que de
sonho, esperando. Uma grossa gota de parafina rolou pela
lateral da garrafa. O violino tocava uma can��o hipnotizante,
da-de-di-da-dididi-dididi, e, como uma resposta em eco...
finicula. Tr�s mesas adiante, um jovem casal de cabelo
moreno cantava, olhando um nos olhos do outro. A can��o
percutia no sangue dele, irresistivelmente, levando-o a
voltar-se para olhar o rosto do rapaz, feliz com a can��o.
Lembrou-se de Impi, Impi cantando animadamente Sheik of
Araby, e dizendo, "Fui feito para amar, Kelly", bem, quem
n�o foi? Quem n�o foi feito para ser assim, com can��es
brotando de um cora��o transbordante? Quem n�o gostaria
de se sentar assim, olhando nos olhos apaixonados de sua
garota?
Kathy tamb�m os estava olhando. Seu olhar baixou para suas
alian�as de casamento. Aqueles dois c�rculos dourados era
tudo o que conseguia ver atrav�s do tecido. Todos estavam
olhando para o casal agora, sorrindo, assentindo, marcando o
ritmo, o violinista aproximou-se deles. A vida foi feita para
pessoas assim, para os que a celebram, e ela entregou-se a
eles, derramando-se. A mo�a, que come�ara cantando
timidamente, agora ganhara for�a do rapaz:
Jamme jamme n'coppa jamme je
Finiculi, finicula,
Jamme n'coppa jamme
Finiculi, Finicula...
Ele n�o compreendia a letra da can��o, mas ela teve o efeito
de um encantamento, e a cena assumiu um significado. Era
como um c�digo estabelecido especificamente para que ele o
decifrasse, e havia duas respostas poss�veis. Precisava
encontr�-la antes do final da m�sica. Ou a vida tinha sido
feita para ser vivida em alegria, derramando-se atrav�s de
m�sica e vinho e da luz nos olhos dos amantes, ou era algo
totalmente diferente. Fizera malabarismos com sua mente
por toda manh�. Agora pedia um sinal.
A m�sica ia acabar, o casal terminaria a refei��o e talvez
caminhasse pelo parque juntos. Ao passo que ele,
possivelmente, iria fazer Kathy chorar mais um pouco antes
do final da noite, por causa de... dois Seres que amava, mas
que tinha visto apenas em vis�es, e de um novo mundo
sobre o qual ouvira num campo de concentra��o.
Nunca, nunca houvera op��o. Essa tinha sido a maior ilus�o
de todas. Nada podia fazer por Kathy, exceto o que tinha que
fazer. Era in�til tentar escapar do Grande Senhor, muito
menos cham�-Lo, pois naquele mesmo momento a sala
principiou a encher-se de Sua presen�a. O rapaz e a mo�a
haviam parado de cantar e estavam brindando um ao outro
com vinho, com os olhos, enquanto que, com um floreio
final, o violinista jogou a cabe�a triunfantemente.
John tomou a m�o de Kathy.
"Est� tudo bem?" Ela assentiu.
"Voc� tem peito, Kennedy", disse, fazendo uma careta
ir�nica, levantando as sobrancelhas, e apertando a m�o dele.
"E voc� estar� bem, John. Voc� vai plantar sua �rvore".
Ele n�o pediria por mais sinais. Tivera tantos quanto um
homem poderia querer em uma vida inteira, v�rios. Havia
apenas uma coisa a ser feita, seguir a Senhora e o Grande
Senhor. Ir aos picos nevados da �ndia, ou caminhar entre os
cad�veres por toda sua vida. Tinha que ir. Eles eram o
sentido de sua vida, sem eles, era o abismo escuro. Agora era
um volunt�rio.
Aqui termina o livro, apesar de a hist�ria de John estar longe
do fim. Mas, antes de continuar, gostaria de citar uma
hist�ria da Primeira Guerra Mundial que �, em alguns
aspectos, an�loga � hist�ria de John. O escritor de hist�rias
fant�sticas gal�s Machen, que chegou a ter um certo sucesso,
escreveu para o "The Evening News" um conto intitulado O
Arqueiro , publicado pelo jornal em 29 de setembro de
1914, o dia seguinte � retirada das tropas aliadas da frente de
Mons. Nesse conto, o autor descreve S�o Jorge em brilhante
armadura, seguido por seus anjos, disfar�ados em arqueiros,
na batalha de Angicourt. Tinham vindo salvar o ex�rcito
ingl�s. Como conseq��ncia, o jornal recebeu centenas de
cartas de soldados que haviam estado na batalha de Mons,
dizendo que tinham realmente visto os anjos de S�o Jorge
lutando a seu lado, muitos estavam dispostos a jurar essa
verdade. V�rias dessas cartas foram publicadas pelo "The
Evening News".
Ap�s terminar de escrever este livro, li Markides, e em seu
Margus de Strovolos, o primeiro livro da trilogia sobre
Daskalos, o mundialmente famoso m�stico e curandeiro
cipriota, conta-nos como seu mestre visitou os campos de
batalha do Oriente M�dio em seu corpo sutil.
NOTA DA AUTORA
John realmente foi, h� vinte anos, � �ndia.
Quando John irrompeu em meu jardim certa manh�, ap�s
uma estada em Nainital (norte de �ndia), e come�ou a contar
sua hist�ria pela terceira vez, imaginei como poderia
retornar � reclus�o de meu quarto, sem ofend�-lo. Por
muitos anos, de acordo com as instru��es de meu Guru,
reservei minhas manh�s para o sil�ncio e para escrever, mas
John sempre contava suas hist�rias num fluxo ininterrupto,
imitando as metralhadoras, uma pilha de nervos. Quanto
mais eu tentava encontrar uma maneira de retirar-me
gentilmente, mais incessantemente ele falava, e sem
remorsos. H� apenas uma coisa a ser feita nessas situa��es:
ficar sereno e perguntar-se porqu� aquilo est� acontecendo.
A resposta veio, 'apenas ou�a'.
Quando John veio novamente, comecei a tomar notas.
Come�amos tudo novamente e descobri que tivera
conhecimento de seus Pais Celestiais desde o come�o de sua
exist�ncia, antes mesmo de seus pais f�sicos.
Trabalhamos todos os dias por v�rios meses e anos. Ele
revivia sua hist�ria cada vez que a contava. Escrevi tudo at�
sua chegada ao Ashram, mas depois resolvi terminar o livro
com sua decis�o de vir � �ndia. Portanto, aqui tentarei
explicar como John terminou por entrar em contato com sua
Senhora Celestial em carne e osso. (o Grande Senhor j� havia
deixado seu corpo.)
Mas primeiro, deixem-me contar a hist�ria do manuscrito
que enviei para a Inglaterra, em 1970, aproximadamente, e
que me foi enviado de volta, com o coment�rio do editor de
que a hist�ria n�o poderia ser verdadeira e que, na melhor
das hip�teses, era um relato da minha experi�ncia trajada de
hist�ria de guerra!
O processo de enviar manuscritos a diferentes editores �
desgastante e consome tempo. Al�m do mais, supus que
receberia o mesmo veredicto da maioria dos editores.
Amigos meus e de John queriam ler a hist�ria, e v�rias
c�pias datilografadas foram emprestadas e perdidas de vista.
H� alguns anos, um amigo em Paris tirou uma fotoc�pia do
�ltimo e sovado exemplar, mas quando decidi escrever um
artigo sobre John para a revista italiana "Domani", ano
passado, n�o consegui encontrar nenhuma c�pia para
refer�ncia e tive que trabalhar sem o livro. Parecia que o
livro havia sido realmente perdido, estando destinado a
nunca ser publicado.
Estava eu feliz e ocupada a trabalhar no terceiro volume de
minha vers�o do Mahabharata quando tive o seguinte sonho:
Dirigia uma pequena motocicleta num campo aberto, que
me lembrava Auroville, apesar de mais ondulado, quando a
moto parou. Verifiquei o tanque de combust�vel: estava t�o
seco que n�o se via nem mesmo o brilho iridescente de uma
�ltima gota. Ent�o, sem transi��o, vi-me com Sri Aurobindo,
e entendi que minha tarefa era aquecer �gua para Ele.
Quanto � primeira parte do sonho, no momento em que
acordei, entendi que o fluxo cont�nuo e freq�entemente
inspirado do escrever do O Grande Sacrif�cio Dourado do
Mahabharata n�o estaria dispon�vel, pelo menos
temporariamente. Realmente, quando tentei escrever, vi-me
t�o seca como um tanque de combust�vel enferrujado. Disse
ent�o a Sri Aurobindo que estava preparada para fazer o que
quer fosse necess�rio para aquecer a �gua da forma
requerida, mas que, por favor, precisava de instru��es
espec�ficas. Nenhuma apareceu.
Nenhum escritor jamais acolhe um bloqueio com um tapete
de boas-vindas, mas dessa vez realmente desfrutei de meu
intervalo, apesar de nunca antes ter me deparado com uma
parada t�o abrupta. Nos dois ou tr�s dias seguintes, escrevi
cartas e cuidei de toda esp�cie de assuntos que estavam
pendentes.
Tr�s ou quatro dias depois do sonho, algu�m chamou um
carpinteiro para pequenos reparos em minha porta. Quando
o carpinteiro veio me dizer que o servi�o estava pronto,
ocorreu-me a id�ia de pedir-lhe para abrir uma gaveta que
estivera emperrada por v�rios anos. Ele pediu-me que a
esvaziasse. Assim que tirei uma c�pia de O Grande Senhor
eu sabia, e abracei-a. 'Obrigada, Grande Senhor'.
Em vinte anos, alguma coisa eu aprendera sobre meu of�cio
desde que escrevera a hist�ria pela primeira vez. Como
aquela velha c�pia datilografada resistira ao teste do tempo?
John n�o mais estava em seu corpo para responder a
nenhuma pergunta nova. Reli o livro e comecei a gostar a
partir do segundo cap�tulo. Assim, o primeiro foi descartado.
Hospedei-me em um albergue por tr�s dias para dar ao livro
toda minha aten��o.
O combust�vel mostrou-se dispon�vel uma vez mais. Fui
para casa e comecei a trabalhar na revis�o. Ent�o Nancy
apareceu e ofereceu-se para digitar a vers�o revisada no
computador. Por ser americana, ela cuidou para que palavras
e express�es brit�nicas fossem eliminadas. Tudo encaixava-se
em seu lugar.
Com tudo isso, nunca duvidei de que o livro fosse publicado.
Al�m do mais, o que parecera fant�stico e inveross�mil nos
anos 60 n�o mais o era. O conceito da evolu��o espiritual do
homem j� havia ingressado na consci�ncia humana.
Come�a-se a entender agora que at� mesmo as c�lulas t�m
uma consci�ncia individual.
N�o sou normalmente recipiente de milagres, que n�o o
milagre di�rio da vida; ainda assim, uma noite deixei o
manuscrito de O Grande Senhor no jardim onde trabalho
durante os meses de inverno.
Caiu uma tempestade naquela noite de mon��es, e na manh�
seguinte minha empregada veio correndo me contar que eu
havia deixado meus pap�is no jardim. Com um frio na
barriga, lembrei-me ter sido chamada � frente da casa na
noite anterior. Havia me esquecido de voltar e recolher meu
trabalho! Imaginei o papel barato reduzido a uma polpa
ileg�vel. 'Grande Senhor'. Minha empregada estava me
dizendo algo animadamente em tamil. O que consegui
entender foi que ela conseguira sec�-lo e disse-lhe que n�o o
tocasse. Sa� e encontrei os pap�is totalmente secos. Tinha
recolhido, afinal de contas, o trabalho. Minha empregada
insistiu: "N�o, ele ficou aqui a noite inteira", e apontou para
o pano encharcado sob o livro. Nitya Menon, que ent�o
trabalhava comigo, testemunhou todo o epis�dio. O papel
simplesmente refutou a �gua.
Comecei a perceber que me estava sendo mostrado ser
importante terminar o livro. Somente ao escrever o
ap�ndice percebi qu�o importante era.
E agora deve ser explicado que John finalmente chegou a
conhecer sua Senhora Celestial.
O Grande Senhor e a Senhora Celestial, como escrevi,
terminava com John procurando numa biblioteca e
encontrando o livro Vida Divina de Sri Aurobindo. Apesar
de n�o ter reconhecido o Grande Senhor no radiante jovem
indiano de olhos brilhantes que aparecia no frontisp�cio, a
prosa iluminada do livro f�-lo ressoar com o Grande Senhor.
A consagra��o das energias da vida pr�tica de John era agora
transferida para aquele Sri Aurobindo.
Pode-se perguntar se John nunca suspeitou de que os dois
eram um s� ser, mas qualquer um que conhe�a a foto que
Cartier-Bresson tirou de Sri Aurobindo, alguns meses antes
deste deixar o corpo, entender�.
O rosto tornara-se mais redondo e n�o mais apresentava o
olhar de profunda e absorta intensidade da foto do livro, mas
de serenidade da eternidade, e a pele assumira um tom de
dourado claro, a barba e o cabelo eram obviamente brancos.
Era esse Sri Aurobindo, com a apar�ncia que ele realmente
tinha em Pondicherry durante a guerra, que John vira no
campo de batalha, numa �poca em que tais fotos ainda n�o
haviam sido feitas. At� 1950 (cinco anos depois da guerra),
existiam apenas as fotos de Sri Aurobindo com cabelo preto.
John encontrou o Centro de Sri Aurobindo na lista
telef�nica de Nova York e ofereceu seu servi�o volunt�rio.
O Centro funcionava mais como uma biblioteca para os
livros de Sri Aurobindo.
Um dia, John estava esperando a �gua ferver para um ch�,
depois de enviar pacotes de livros de Sri Aurobindo para
todo o pa�s pelo correio. Com seus p�s apoiados na mesa,
folheava uma das revistas do Centro, quando algo o apanhou
de surpresa: o rosto da Senhora. Voltou as p�ginas. Era Ela,
exatamente como a vira no campo de batalha.
O conte�do do sonho curativo, que havia sido quase que
completamente obliterado assim que ele acordara, veio
como uma avalanche e o jovem Sri Aurobindo fundiu-se
com o Grande Senhor que, no dia posterior ao sonho,
tentara dizer qual era Seu nome... Oro Bendo. Sri
Aurobindo. Grande Senhor. L�grimas come�aram a inundar
os olhos de John.
Tudo isso aconteceu pelo menos dois anos depois que as
primeiras fotos de Cartier-Bresson foram tiradas do Grande
Senhor. Quando as fotos chegaram ao Centro, Sri Aurobindo
j� havia deixado o corpo.
Muitos anos ainda se passaram at� que John chegasse � �ndia,
por muitas raz�es, algumas financeiras. Ele cuidou de sua
m�e, que tinha c�ncer, at� o momento de sua morte. Ent�o
tomou-se bombeiro.
As vis�es n�o pararam e, assim que falou sobre elas, o
psiquiatra do Corpo de Bombeiros recomendou que ele
recebesse uma pens�o e que se aposentasse antes dos
quarenta anos.
Ele encontrou A M�e pela primeira vez no anivers�rio dele,
pouco depois de sua chegada, em fevereiro de 1966. A M�e
aproximava-se dos noventa anos e John finalmente
ajoelhava-se aos p�s de sua Senhora Celestial. Ela fitou-o por
um longo tempo, e ent�o lentamente aquiesceu com a
cabe�a. Depois de alguns momentos, ele fez o mesmo.
Palavra alguma foi pronunciada.
Ela deu-lhe flores de anivers�rio; ele deixou hesitantemente
a sala.
Permaneci na sala com A M�e, e foi nessa ocasi�o, depois
que John partiu, que A M�e me contou muitas coisas sobre o
papel dela e de Sri Aurobindo na 2a Guerra Mundial.
O leitor pode estar imaginando se outros seres com poderes
i�guicos tamb�m n�o assumiram o mesmo papel, e
similarmente ajudaram a derrotar as for�as das trevas. Deve-
se lembrar que, na maioria dos yogas, a primeira condi��o �
conservar-se equ�nime, elevar-se acima do jogo das
dualidades para permanecer completamente intocado pelo
jogo dos opostos. Grandes yogis podem ter tido, durante a
guerra, o potencial para lan�ar certo poder contra os
nazistas, mas podem ter achado n�o ser correto ou
necess�rio faz�-lo. (Apesar de Gandhi n�o ser um yogi,
vimos qual foi seu posicionamento). Se a Terra tiver que ser
destru�da, isso deve ser aceito como a Vontade Divina, e essa
aceita��o � parte da entrega total � Vontade Suprema. A
destrui��o pode ser considerada em alguns yogas como parte
do Plano Divino. Shiva, o Destruidor, dan�ando no c�rculo
de fogo c�smico. O Yoga de Sri Aurobindo � um yoga de
evolu��o e transforma��o da Terra, e de lev�-la ao descenso
de uma for�a mais elevada para o pr�ximo est�gio da
evolu��o humana, uma condi��o para a alegria e a harmonia.
Na minha pesquisa para este livro, li sobre v�rios yogis com
poderes bem documentados, mas em nenhum lugar est�
registrado que tenham utilizado seus poderes ocultos para
influenciar um lado ou outro durante a guerra, apesar de que
um deles mencionou que Hitler fora ajudado por for�as
demon�acas.
Quando terminei a revis�o do livro sobre John, comecei um
ap�ndice que se tornou este livro, A Luz que Brilhou no
Abismo Escuro.
John deixou seu corpo na �ndia, em 1985. Sua Unidade do
Ex�rcito e seu n�mero no regimento eram: 70a Divis�o de
Infantaria, 276a Regimento de Infantaria, "Companhia Easy".
AP�NDICE
H� poucas semanas, quando terminei, ou quando pensei ter
terminado, de escrever o ap�ndice para o Grande Senhor,
que acabou por se tomar, como disse, este pequeno livro,
estava folheando a revista M�e �ndia, um dia, quando
encontrei o seguinte relato de como A M�e disse a Udar
como pretendia provocar Hitler a atacar a R�ssia, ANTES de
ele realmente atac�-la. Udar foi levado a escrever o artigo
pela morte de Pavita (Margaret Aldwinlke), a mesma que
costumava ir � casa dele todas as noites para ouvir e anotar as
not�cias da guerra com Pavitra.
Esse artigo � significativo, uma vez que Udar deve ser um
dos poucos, al�m de Sri Aurobindo, a quem A M�e falou
sobre sua inten��o de provocar Hitler a atacar a R�ssia. Eis
seu relato:
"A M�e disse-me que Hitler estava totalmente possu�do pelo
Asura que se autodenominava o Senhor das Na��es. N�o
t�nhamos transmiss�o radiof�nica na �ndia, naquele tempo, e
as �nicas not�cias que receb�amos eram as da BBC, que
vinham �s 21:30, toda noite. Na �poca, viv�amos num
bangal� no final da Rue Dumas, e eu tinha que preparar um
grande r�dio de 9 v�lvulas, com uma antena alta, para
receber as transmiss�es. Ent�o, A M�e acertou para que
Pavitra e Pavita viessem a nossa casa. E uma boa caminhada
do Ashram at� nosso bangal�, e assim sugeri � M�e que
ficasse com nosso aparelho de r�dio. Toda a agenda do
Ashram foi ajustada aos hor�rios da transmiss�o dos
notici�rios."
"...Ent�o come�ou a prepara��o para a grande invas�o da
Inglaterra, quando Hitler reuniu uma enorme for�a de
invas�o, que realmente teria sucedido, uma vez que a
Inglaterra estava t�o Mother India devastada pelos
bombardeios alem�es, que n�o tinha nada com que resistir,
exceto por sua vontade.... Naquela �poca, uma manh�
quando fui, como de costume, ter com A M�e, ela me disse:
'Aquele sujeito (assim Ela chamava o Dem�nio") veio � noite
passada vangloriar-se de como esmagaria a Inglaterra sob
seus p�s, e eu lhe disse que, 'Agora voc� vai ver, vou usar o
mesmo truque que voc� usa contra n�s; usarei seus pr�prios
instrumentos para lutar uns contra os outros, e assim acabar
com eles'. Ent�o A M�e explicou como assumira a forma e a
voz do Senhor das Na��es (o Dem�nio de Hitler), foi at�
Hitler e disse-lhe que a R�ssia lhe representava grande
perigo, que o apunhalaria pelas costas quando ele estivesse
totalmente envolvido com a invas�o da Inglaterra. Portanto,
ele deveria dar conta da R�ssia primeiro. A Inglaterra era
f�cil, foi-lhe dito, a R�ssia � que era o grande perigo, ent�o
que esta deveria ser liquidada primeiro. Assim, Hitler
desviou-se de sua tentativa de invas�o para atacar a R�ssia, e
isso acabou com ele. Esse � um fato conhecido, mas conto-o
aqui para enfatizar que A M�e disse-me tudo isso ANTES de
acontecer."
Como Churchill destacou em seu pronunciamento no Usher
Hall, Edimburgo, em 12 de outubro de 1942, a decis�o de
invadir a R�ssia foi tomada por Hitler sozinho: "...O
Marechal de Campo Goering j� apressou-se em indicar que a
decis�o foi de Hitler apenas. Que Hitler conduz a guerra
sozinho e que os generais do ex�rcito alem�o s�o apenas
assistentes que executam suas ordens...." A implica��o �
muito clara. Mesmo aqueles que haviam seguido Hitler
cegamente at� aquele ponto, n�o podiam fazer nada quanto �
sua decis�o.
Quando A M�e encontrou o Asura, este disse:
"Eu SEI, sei que voc� vai me destruir, mas antes de ser
destru�do, vou causar toda devasta��o poss�vel".
Churchill disse sobre a invas�o alem� da R�ssia, em seu
discurso pelo r�dio, de 22 de junho de 1941,"A Quarta Fase":
"... de repente, sem declara��o de guerra, sem nem mesmo
um ultimato, as bombas alem�s come�aram a chover sobre
as cidades russas, as tropas alem�s violaram as fronteiras; uma
hora mais tarde o embaixador alem�o, que at� a noite
anterior declamava suas juras de amizade, quase de alian�a,
aos russos, chamou o Ministro do Exterior da R�ssia para
comunicar-lhe a exist�ncia de um estado de guerra entre a
Alemanha e a R�ssia. ..."
A Opera��o Barbarossa come�ou num domingo, 22 de junho
de 1941, com Hitler invadindo a R�ssia ao longo de um
frente de batalha de dois mil e trezentos quil�metros. Em 28
de fevereiro de 1942, as perdas sofridas pelo ex�rcito alem�o
chegavam a um milh�o, quinhentos mil, seiscentos e trinta e
seis homens, ou 31% de suas for�as, para n�o falar das graves
perdas sofridas pelas for�as italianas. Na v�spera da
Barbarossa, Hitler ditou uma longa carta para Mussolini, que
encerrava com o seguinte par�grafo:
"... Quero dizer ainda uma coisa, Duce. Desde que, depois de
muitos conflitos, cheguei a essa decis�o, sinto-me
novamente livre espiritualmente..."
Caso se pense que Udar fosse apenas mais um yogi avoado,
relacionamos aqui alguns relevantes dados biogr�ficos.
Laurence M. Pinto, a quem Sri Aurobindo deu o nome de
Udar, nasceu em Goa e estudou engenharia aeron�utica na
Inglaterra. Ele planejava aeronaves e trabalhou numa oficina
em Somerset.
Ele era o homem mais qualificado na �ndia, na �poca em que
foram montados centros de treinamento para mec�nicos,
soldadores, eletricistas, carpinteiros e torneiros mec�nicos,
necess�rios para a manuten��o de avi�es. Sri Aurobindo
instrui-o a aceitar o cargo, quando foi chamado pelo
Departamento de Avia��o Civil, em Delhi.
Aquilo significava trabalho. Dezenas de milhares de pessoas
inscreveram-se para os treinamentos.
Depois de um ano, quando o departamento j� estava
azeitado, Sri Aurobindo permitiu que Udar retornasse ao
Ashram.
Talvez seja dif�cil para o leitor acreditar que Hitler, que
dominara a Europa em poucos meses, considerado por seus
pr�prios generais como o estrategista supremo, fosse
enganado pelos poderes ocultos da M�e e levado a cometer
t�o grotesco erro, que nem um cadete novato cometeria.
O general Walter Dornberger, respons�vel pelos testes dos
m�sseis V.2, aqueles mortais proj�teis teleguiados, t�o
temidos pelos ingleses, e com os quais Hitler pretendia
destru�-los, ao final de seu Mem�rias , reconta como recebeu
ordens de que fosse interrompido todo o trabalho no vital
projeto do V.2. Durante um de seus transes, Hitler vira que
o V.2 n�o funcionaria, ou que, se funcionasse, atrairia a
vingan�a dos c�us. Os m�sseis V. 1 tinham deixado a
Inglaterra em nada menos que peda�os, o V.2 era ainda
muito mais mortal, a arma secreta e decisiva de Hitler. N�o
sabemos quem enviou a ele o feliz sonho, e provavelmente
nunca saberemos. Perguntei a v�rias pessoa pr�ximas de Sri
Aurobindo e de A M�e, mas alguns milagres permanecem
como mist�rios.
A interven��o da M�e na decis�o de Hitler de atacar a R�ssia
pode levantar muitas perguntas. Ser� que as For�as da Luz
interferem de forma positiva da mesma forma que as das
Trevas criam destrui��o e caos? A resposta � n�o,
definitivamente, n�o. Est� registrado que tanto Sri
Aurobindo como A M�e disseram que a For�a Divina n�o se
utiliza de compuls�o nos assuntos humanos. A exce��o pode
ter ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial, quando a
evolu��o humana como um todo estava amea�ada. Numa
carta enviada a Brennan, um "experiente ocultista ingl�s",
que ele n�o identifica, escreve o seguinte sobre Hitler e os
Senhores da Luz: "Hitler estava indefeso nas m�os daqueles
que o estavam usando. Eles, atrav�s da manipula��o das
grandes correntes et�ricas das terras alem�s, causaram
rea��es reflexas nas mentes e nas emo��es dos povos
germ�nicos. Foi um hipnotismo de escala gigantesca - e o
mesmo ainda acontece hoje em alguns pa�ses do mundo. Da
mesma forma, essas mesmas correntes nacionais s�o
manipuladas pelos Senhores da Luz. A diferen�a est� na
inten��o e na forma como as for�as afetam a quem a elas est�
sujeito. Portanto, os Mestres da M�o-Direita nunca dominam
ou for�am. As correntes de energia � sua disposi��o agem
como for�as incubadoras que capacitam aqueles a elas
expostos a naturalmente evoluir a novos n�veis de
consci�ncia. N�o h� coa��o". De fato, o leitor pode
relembrar que, na hist�ria de John, ele teve a op��o de n�o
mais voltar a seu corpo, ou voltar para terminar seu trabalho
naquele mesmo corpo.
Assim, com este breve ap�ndice, nosso livro de ap�ndices
chega ao fim.
Termina com o apelo de que hist�rias comecem a ser
escritas trazendo uma compreens�o de outras dimens�es.
Livros de hist�ria poder�o ent�o deixar de ser quase que
exclusivamente sagas de guerra e derramamento de sangue, e
come�ar a contar a muito mais interessante f�bula da
ascens�o do homem pela escada da evolu��o, e o
correspondente descenso da for�a que vem para encontr�-lo
e transform�-lo.
Para isso, deve haver um entendimento de que o mundo da
mat�ria, onde estamos situados por causa das limita��es de
nossa consci�ncia, � a esfera onde n�o temos condi��es de
perceber o que nos conecta com o que � subliminar ao nosso
mundo, acima e abaixo, al�m e dentro.... Aquilo a que
Churchill se refere quando diz, "acima e al�m do espa�o".
N�o existem palavras adequadas para retratar outras
dimens�es. Para englobar ou come�ar a compreender outros
mundos � necess�rio que entremos neles. Palavras n�o
adiantam.
O pr�ximo ciclo da evolu��o nunca se distancia deste
mundo material, que � o ponto focal de todos os universos.
� por isso que o desrespeito de Hitler para com sua santidade
evocou reverbera��es, naquele momento em que, como diz
A M�e, acontecia um descenso em massa da Luz. Mas por
outro lado, as trevas amea�adas e amea�adoras trouxeram
ainda mais Luz.
Luz contra Trevas, Trevas contra Luz, em todos os disfarces
e manifesta��es. ...Ser� sempre a mesma hist�ria, at� que as
Trevas deponham suas armas, removam suas m�scaras para
revelarem-se instrumento do Criador, para levar-nos � meta
para a qual fomos feitos. Ent�o n�o mais precisaremos de
nenhum tipo de livro de hist�ria. As p�ginas poder�o todas
derreterem-se nas estantes ou, envergonhadas, dobrarem-se
sozinhas, formando origamis de auspiciosas gar�as, que
voar�o levando as boas novas �s esferas.
"� Mundo-Sol, elevar�s a alma-Terra � Luz
E trar�s Deus � vida dos homens;
A Terra ser� minha oficina e meu lar,
Meu jardim de luz onde plantarei divina semente.
Quando todo teu trabalho no tempo humano houver
terminado,
A mente da Terra ser� uma morada da Luz,
A vida da Terra uma �rvore crescendo para o Para�so,
O corpo da Terra um tabern�culo de Deus".
Sri Aurobindo
SAVITRI, Livro XI, Canto I
GLOSS�RIO
Ahimsa - n�o-viol�ncia, n�o ferir e n�o matar.
Asura - ser hostil do vital mentalizado; o forte, o poderoso,
Tit�.
Dharma - literalmente aquilo que segura e que mant�m as
coisas unidas, a lei, a norma, a regra da natureza, a��o e vida.
Dharma � a concep��o indiana do conjunto das regras de
conduta religiosas, sociais e morais.
Niskama karma - obras feitas sem interesse pessoal nos
resultados.
Rudra - feroz, violento.
Sadhana - a pr�tica do yoga.
Tapasya - concentra��o da vontade para conseguir os
resultados da sadhana e conquistar a natureza inferior.
Vishnu - a divindade onipresente.
Extra�do do Glossary of Sanskrit and Other Indian Terms
Used in Sri Aurobindo's Writings.
The Rise and Fall of the Third Reich
2 Uma dose muito forte de for�a evolucion�ria em a��o agora para tornar o mundo mais consciente
claramente despeda�aria os organismos resistentes.
A medicina homeop�tica entende a doen�a como uma tentativa da intelig�ncia celular de restabelecer
o equil�brio do organismo que foi perturbado no n�vel sutil. Ela incentiva o processo de cura com
subst�ncias sutis. Este respeito pela intelig�ncia das c�lulas do corpo s� ser� compreendido quando a
consci�ncia das c�lulas o for. Apesar de explicado em grande detalhe pela M�e, a aceita��o desse
conhecimento deve esperar pelo momento correto, apesar de que a consci�ncia no interior das c�lulas
j� est� em a��o.
The Morning of the Magicians.
Pauwels e Bergier pesquisaram cinco mil documentos em um per�odo de cinco anos, num escrit�rio
que eles alugaram em Paris, na rue du Berri, para o projeto de seu livro.
6 The Ominous Parallels.
Hannah Arendt: autora de A Condi��o Humana (The Human Condition).
Occult Reich.
Berlin Diary.
Apenas o m�dico finland�s era capaz de aliviar Himmler de suas excruciantes dores. O que quer que
o Dr. Kersten nos conte � provavelmente inteiramente confi�vel. Ap�s a Guerra, o governo holand�s
instituiu um corpo de inqu�rito para examinar as a��es e negocia��es do Dr. Kersten na Alemanha
nazista, e validou todas as suas apela��es.
Dem�nio.
Um s�mbolo oculto sagrado, mas usado de maneira pervertida pela Alemanha. Veja o cap�tulo IV.
The Coming Race.
Rudolf Hess voou sozinho para a Inglaterra numa tentativa n�o oficial de negociar a paz com os
ingleses. Hitler afirmou n�o saber nada sobre o assunto e que Hess estava louco. Hess afirmou ter
sido "guiado" em seu empreendimento.
O servi�o secreto russo tamb�m confirmou a conex�o da sociedade secreta japonesa com o grupo
ocultista de Hitler.
Prabhat Poddar: A Misteriosa Energia � Nossa Volta (The Mysterious Energy That Surrounds Us),
Heritage Magazine.
Speer, o arquiteto de Hitler, que era pr�ximo dele, escrevendo sua mem�rias na pris�o, ap�s a
guerra, confirma a id�ia da mediocridade de Hitler: os jantares que ele oferecia, que era obrigat�rio
comparecer quando convidado, eram mortalmente chatos, a comida ruim e a conversa pior. O jantar
era seguido por filmes caseiros banais. O marechal de campo G�ring, o oficial do alto comando menos
arregimentado e que sofreu menos lavagem cerebral, parece ter sido o que mais sofreu.
Churchill era �s vezes muito provocante no (e fora do) Parlamento, e era uma das maiores
perspic�cias da tradi��o parlamentar inglesa. Uma vez, uma exasperada senhora, membro do
Parlamento, disse a ele, "Se voc� fosse meu marido, eu envenenaria seu caf�." Churchill respondeu,
"Se voc� fosse minha esposa eu o beberia."
Peltophorum pterocarpum
Tivesse Sri Aurobindo sido ouvido, a separa��o da �ndia teria quase certamente sido desnecess�ria,
pois a proposta de Cripps assegurava garantias absolutas aos grupos raciais e religiosos.
The War Behind the War.
The Lost Footsteps.
"We Will Not Fail Mankind."
Ideal of Human Unity.
Goebbels em seu �ltimo escrito na casamata, antes de matar sua esposa, filhos e a si mesmo,
declarou que a trag�dia alem� estava sendo encenada num plano c�smico: "nosso fim ser� o fim do
universo."
N da T: jogo de palavras com o verbo ingl�s bend, inclinar-se, curvar-se.
The Bowman.
A Luz que Brilhou no Abismo Escuro - Maggi Lidchi-Grassi Digitalização, formatação e revisão - Lucia Garcia agradecimentos pela doação do ebook para o Memorial do Conhecimento Sinopse: A Luz que Brilhou no Abismo Escuro é um livro sobre as forças que agiram por trás da guerra, o choque entre a Luz e a Escuridão de Hitler, que ameaçou engolfar o mundo, um ponto crítico na evolução do mundo, como o livro mostra. Ele dá um relato detalhado de Sri Aurobindo e de A Mãe neste conflito, tanto no plano oculto como no prático. |
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