sábado, 30 de janeiro de 2010

O GRANDE LÁBIO DA PALAVRA MAIS CARNUDA!

O GRANDE LÁBIO DA PALAVRA MAIS CARNUDA!
 
Raiblue
Salvador (BA) 5/8/2008 19:39
 

Noite...
A cidade começa a recolher suas asas, e as chamas do desejo começam a aquecer o quarto e o meu corpo inteiro! Farejo o cheiro dele e incendeio!
 
Inicio o meu vôo na penumbra cintilante, que sempre me seduz com seu mistério feito de seda azul, azul marinho que sempre nos atrai...
 
A lua vermelha excitada acumula o gozo perolado, o nosso gozo em sua boca redonda e sedutora, que contorna o quarto amarelo. Se existe eternidade, ela está aqui, nesse mundo secreto, paralelo, onde me deito no instante atemporal e finalmente alcanço as mãos dele, ou melhor, elas me tocam como se já soubessem o caminho para colher a fruta repleta do sumo arcoirisado de outros tempos, talvez; como se já soubessem de cor as minhas sinfonias e todas as partituras do meu corpo ...
 
O céu todo vibra no grande violino dos seus olhos a me embalarem em sonatas solares que atravessam a fumaça do tempo, nas noites feitas de pura purpurina soprada na pele...
 
Seus olhos iluminam o silêncio, anunciando sua chegada, meu doce cavaleiro e seu Pégasus, no rastro da lua vermelha que rege o meu sonho...
 
Minha respiração ofegante, diante do milagre de sua presença, faz borbulhar o mar em ebulição, que corre dentro de nós... O grande céu de Magritte pinta o cenário, no qual minha flor se abre, e me deixo despetalar em sua boca, onde queimo e ardo... Doce inquisição e minha redenção!
 
Sinto pulsar a membrana do seu coração se movimentando como um polvo, no meio de nossos lençóis naturais, me engolindo com seus tentáculos, como o grande lábio da palavra mais carnuda: Amor!
 
Assim, ultrapassamos a névoa do tempo e ficamos suspensos em alguma região desconhecida.
 
Sobre seu corpo, cavalgo cometas e atravesso uma Ásia inteira, descobrindo os segredos da Índia... Deciframos o Sutra na cama que flutua em uma outra dimensão, quase tocando as estrelas, aumentando a temperatura de nossa carne crua,
carne mal passada, temperada com o sal que emerge das subcutâneas camadas, sangrando o desejo e fazendo-nos beber o vermelho que escorre pela fechadura da pele...
 
Somos, então, carne em estado de 'composição'! Prelúdio da mais transcendental sinfonia!
 
Nesse país que criamos, não sou mais estrangeira, é nesse reino desconhecido que me reconheço, que reencontro um pedaço perdido de mim....’oh pedaço de mim...oh metade afastada de mim...leva o teu olhar...’
E agora estou aqui, diante da mágica, ao abrir a cortina do sonho...Sempre é uma viagem, quando a noite vem...
 
Serpentes, dragões e o fogo rabiscam nosso corpo, mas não sentimos..., nada mais dói...
 
Há uma ponte que destrói o tempo e nos religa ao eterno que conduz os destinos silenciosamente...
É nesse terreno que sua língua serpenteia, com a certeza da maçã no caminho do meio e a mordida no pecado, desfazendo os dogmas terrenos, tornando o obsceno uma flauta doce, conduzindo constelações dentro de nós..., meu doce mágico de sóis!
 
E ele morde a maçã, como quem morde o segredo e descobre o gosto do enigma por trás da esfinge ..., gosto de bocas se devorando, de sexos orvalhando beijos, de corações entrelaçados por seus tentáculos, puro afrodisíaco, como é tudo que é secreto...
 
Por isso nunca quero entender nem explicar nada, para que nunca deixe de ser enigma, para que a esfinge sempre abra os portais do sonho e conduza a viagem até ele, já que, em nosso mundo, a distância se dissolve em minúsculas partículas e o longe se desintegra no infinito, onde tudo é possível e o universo cabe na palma da mão...
 
Estamos tão próximos, sobrepostos, líquidos, quase dissolvidos no outro, como se tivéssemos nos bebido na fúria dos amantes canibais e não houvesse mais dois rios, mas um imenso oceano sideral, no qual asteróides traçam as rotas para além do horizonte perdido dentro dos seus olhos, onde estou presa aos mais loucos redemoinhos...
 
Nenhum fio de Ariadne é capaz de me salvar desse labirinto, pois me entrego nua à boca do Minotauro por livre arbítrio, por querer sentir suas presas arranharem todas as minhas certezas e me ensinarem as correntezas e seus perigos e toda alucinante aventura de viver o instante que é, sem nunca ter sido...
 
Milagre? Amor- eu diria- magia que dá dentro da gente, de repente, e não sai mais, é para sempre...
 
Nas pontas dos dedos, um sonho sempre brinca de escorregar em meu corpo, e eu me deixo girar na roda-gigante dos seus olhos..., os olhos do meu cavaleiro de longas cavalgadas...
 
Ao descer do sonho, guardo sob o travesseiro os beijos decorados de melado de anis, para quando for de novo hoje... E sempre é... Noites em que sua língua tatua em mim a eternidade, tatuagem definitiva...
 
Aguardo uma vaga no lume dos seus olhos, nos verdes campos da alucinação, onde os vaga-lumes
nos vigiam, piscando no ritmo do nosso orgasmo-cadente...
 
E, então, bocejo, espreguiço e salto feito bailarina, que logo se alucina quando a noite vem...
 
 
 

(Raiblue)
 

 
 
 
***
 
"Fale com delicadeza hoje; quando o amanhã chegar, você já estará habituado".
 
Sérgio Pinto da Cunha
 

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