sábado, 6 de março de 2010

Meu dia de cafajeste - Luís Campos

Meu dia de cafajeste

Luís Campos (Blind Joker)


Naquela manhã acordei com o chamado do telefone. A ligação era de uma
prima carnal que morava no Rio de Janeiro. Estaria chegando dali a três
horas em Salvador.
Após as oito horas liguei para o escritório e avisei à secretária que
não iria trabalhar nessa quinta-feira e que ela desmarcasse toda minha
agenda. Tomei um banho, fiz a barba e fui preparar meu desjejum.

Por volta das nove horas me dirigi ao aeroporto para buscar Arilma. O
voo dela chegaria perto das dez horas. Após estacionar o carro, entrei
no saguão do aeroporto e, após verificar se o voo chegaria no horário,
fui até a loja de revistas. Folheei alguns livros, comprei o jornal e
um livro para ofertar à prima.
Sentei-me e fiquei a ler as notícias do dia, muitas das quais já ouvira
no jornal televisivo da manhã.
Às dez e vinte e cinco eu me encontrava com ela. Nos abraçamos
apertadamente, trocamos dois beijinhos, peguei sua mala e nos dirigimos
ao estacionamento. Como o aeroporto ficava perto da minha casa, em menos
de trinta minutos havíamos chegado. Desde sua chegada a conversa era
aquela de praxe, quando perguntamos pelos familiares, como fora o voo,
como estão as coisas, o tempo que não nos víamos, os amigos comuns, as
brincadeiras de infância juntos, entre outras frases coloquiais.
Ao chegarmos em casa, coloquei sua mala no quarto de hóspedes e fui
ao meu quarto, dizendo-lhe, antes, que a casa era dela.
Quinze minutos depois Arilma já tomara um banho e estávamos na cozinha
comendo algumas frutas, bebendo suco e tomando um cafezinho...

- Primo, vou dar uma chegada na praia! Estou muito branquela e preciso

- Você se aborrece se eu não for contigo? Preciso adiantar algumas
coisas!

- Que é isso, primo? Eu já sou grandinha... não preciso mais do
"cavaleiro do Oeste" para salvar a "donzela indefesa"!- disse ela
sorrindo, relembrando uma das nossas brincadeiras infantis.

Arilma vestiu o maiô, colocou uma saída de praia e saiu.

A praia ficava a três quarteirões de casa, assim, não me preocupei em
levá-la.
Arilma era da minha idade. Aos trinta e oito anos tinha o mesmo corpo
de quando era mocinha. Era um pouco mais alta do que eu. Morena, olhos
e cabelos castanhos, sempre com um sorriso nos lábios e no olhar.

Quando éramos criança, eu queria namorá-la, mas, naquela época, primo
não namorava prima, segundo nossos pais. Mas, de qualquer forma, ela
nunca quis namorar comigo, embora brincássemos muito com isto. Até hoje
muitos dos nossos familiares pensam que fomos namorados.
O "problema" era que, na família dela eram nove mulheres, cada uma mais
bonita do que a outra... dava pra escolher.

Enquanto Arilma estava na praia, aproveitei para fazer algumas ligações
e "trabalhar" um pouco. Antes das duas horas da tarde ela retornou.
Disse-lhe que se aprontasse para irmos almoçar. Ela foi banhar-se e logo
estava pronta... e cheirosa!

Às três horas já estávamos almoçando numa churrascaria que ficava
próxima à minha casa.

Assim que voltamos, falei que ela poderia descansar um pouquinho só,
porque eu iria pegar minha namorada e ela iria comigo. Ela concordou
e entrou em seu quarto. Fui pro gabinete adiantar algumas coisas.
Lá pelas cinco e meia chegamos no "Comércio". Estacionei o carro e nos
dirigimos à "repartição" que Nelma trabalhava.
Ao passarmos numa grande praça, de mãos dadas e rindo muito, vi uma
garota parecida com Nelma, chegando a comentar com Arilma que, se não
fossem os cabelos, grandes e cacheados, eu diria que era ela. Mas logo
a moça desaparecia numa esquina.
Quando cheguei no trabalho de Nelma, aproximamo-nos de um casal de
atendentes e pedi-lhes que ligassem para o setor que ela trabalhava.
Enquanto aguardava que a ligação fosse completada, senti uma pancada
nas costas e algo caindo ao chão, atrás dos meus pés.
Virei-me, olhando para o chão... ali estavam algumas tranças de cabelos
cacheados, ainda úmidos. O povo em volta sorria, mas eu, muito sério,
percebi o que havia acontecido e procurei Nelma. A avistei quando ela
saía por uma segunda porta do prédio público.
Chamei Arilma e fomos atrás dela. Nelma já tomara uma boa distância e
eu gritei seu nome...

- Nelma! Nelma... espere!

Ela nem se virava e, sem que esperássemos, entrou num táxi que passara
e foi embora.

Desiludido do meu intento e sem condições de explicar o que ocorrera,
mas imaginando o que ela pensara ao ver-me de mãos dadas com uma bela
mulher, aos risos e abraços, chamei minha prima para irmos ao Mercado
Modelo beber uma cerveja, dizendo-lhe que, à noite, telefonaria para
Nelma e explicaria o ocorrido...

- Será que ela irá compreender, primo?

- Ora, Arilma... foi só um mal-entendido!

- Você não entende as mulheres, Rodrigo!

- Realmente, prima, mas o problema é que os indícios estão contra mim!

- Acho que você deveria passar na casa dela!

- Boa ideia! Faremos isto... depois da cerveja!

Após bebermos umas duas cervejas e comermos algumas "lambretas" de
tiragosto, peguei o carro e fui até a casa de Nelma.
Segundo Dona Mariana, sua mãe, ela ainda não havia chegado, mas a filha
lhe dissera que sairia comigo e ela estranhava que eu estivesse ali à
procura de Nelma. Expliquei-lhe o que acontecera e ela me disse que
ligasse mais tarde, pois iria conversar com a filha assim que ela
chegasse. Voltamos para casa e, uma hora mais tarde liguei para Nelma.
Segundo sua mãe, ela disse que não atenderia e que eu nunca mais a
procurasse, isto tudo depois que ela, Dona Mariana, lhe contara o que
ouvira de mim.
Na noite anterior havíamos ido ao cinema e depois jantamos num dos
restaurantes da orla. Nós já namorávamos há uns quatro meses e tudo
era "divino e maravilhoso". Ficou a saudade dos bons momentos!

Mesmo sem ter culpa, fui alçado à categoria de cafajeste!

FIM


_ * _

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não suprima o nome do autor. Esta atitude caracteriza crime!

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Luís Campos (Blind Joker)

Brincar, sorrir e sonhar são coisas sérias!

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