terça-feira, 2 de março de 2010

Trilogia espírita 01 - Nas Voragens do pecado.zip


 

YVONNE A. PEREIRA
 
Nas
 
Voragens
 
do
 
Pecado
 

Pelo
Espírito
 
CHARLES
 
 
Naquela manhã de 20 de outubro de 1572, Paris se apresentava envolvida
em brumas pesadas, prenunciando aguaceiro e frio intenso provindos das
correntes geladas dos Alpes, recobertos de neve, como sempre. Desde a
véspera, uma chuva fria, impertinente, caía sem interrupção para alagar
as enormes lajes que calçavam as ruas e as praças principais,
engrossando sempre mais as torrentes que transbordavam das sarjetas ou
formando atoleiros nas vielas e travessas que ainda não haviam merecido
as atenções do Sr. Governador da cidade para o aristocrático luxo do
calçamento...
Com a chuva constante e o presságio dos ventos portadores de longas
nevascas, esvoaçava pelos ares da velha e lendária metrópole vaga
sensação de terror. Silêncio impressionante, qual quietação traumática,
estendia apreensões desoladoras, de choque e pavor, pelos quatro cantos
da capital dos Valois-Angoulême, que então reinavam na França, silêncio
apenas alterado, de espaço a espaço, pelo bulício de marcha lenta da cavalaria dos homens de
armas do Sr. Duque de Guise, chefe da Santa Liga, os quais, à plena luz
meridiana, inspecionavam bairros, ruas, habitações, zelosamente
verificando se algo desagradável não se tramaria contra o Governo e a
Igreja, esta desagravada, havia dois meses apenas, dos supostos ultrajes
da Reforma Luterana, que lhe fazia sombra às ambições com a
superioridade dos conceitos sobre as Sagradas Escrituras. Vezes havia
que nem só a ronda do Sr. de Guise fazia ressoar pelos lajedos das ruas
as patadas dos cavalos cuidadosamente calçados de ferro e aço ou o tacão
dos seus mercenários, cujas espadas e lanças também tiniam belicamente,
para alarme dos habitantes de Paris que se enervavam atrás das rótalas e
das persianas, temerosos de novos morticínios como os verificados dois
meses antes. Também os archeiros e alabardeiros (2) de Carlos IX iam e
vinham, reforçando a vigilância, ao mesmo tempo que demonstravam ao povo
a força sempre vigorosa do governo que a Rainha-mãe - Catarina de
Médicis - dirigia, atrás da inépcia do seu enfermiço filho Carlos DE de
Valois-Angoulême, Rei da França.
Dois meses antes dessa manhã penumbrosa de outubro, verificara-se em
Paris o grande massacre dos "hereges" denominados "huguenotes", levado a
efeito por um conluio político-partidário mascarado de fé religiosa, ao
qual a Igreja, sob a responsabilidade do Papa Gregório XIII, anuira por
instâncias do governo francês, ou antes, por exigências da política
opressora da Rainha Catarina, interessada muito mais nas conveniências
pessoais ou dinásticas, do que nas da própria Igreja, mas para a
realização do qual se tornava indispensável
 
 
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