DIVALDO PEREIRA FRANCO
DITADO PELO ESPÍRITO JOANNA DE ÂNGELIS
ÍNDICE
O Ser Consciente
PRIMEIRA PARTE - A QUARTA FORÇA
CAPÍTULO 1 = A quarta força
CAPÍTULO 2 = Definição e conceito
CAPÍTULO 3 = O homem psicológico maduro
CAPÍTULO 4 = Modelos e paradigmas
CAPÍTULO 5 = A nova estrutura do ser humano
SEGUNDA PARTE - SER E PESSOA
CAPÍTULO 6 = A pessoa
CAPÍTULO 7 = Fatores de desequilíbrio
CAPÍTULO 8 = Condições de progresso e harmonia
TERCEIRA PARTE - PROBLEMAS E DESAFIOS
CAPÍTULO 9 = Êxito e fracasso
CAPÍTULO 10 = Dificuldades do ego
CAPÍTULO 11 = Neurose
QUARTA PARTE - FATORES DE DESINTEGRAÇÃO DA PERSONALIDADE
CAPÍTULO 12 = Autocompaixão
CAPÍTULO 13 = Queixas
CAPÍTULO 14 = Comportamentos exóticos
QUINTA PARTE - PROBLEMAS HUMANOS
CAPÍTULO 15 = Problemas Humanos
CAPÍTULO 16 = Gigantes da alma
CAPÍTULO 17 = Ressentimento
CAPÍTULO 18 = Ciúme
CAPÍTULO 19 = Inveja
CAPÍTULO 20 = Necessidade de valorização
CAPÍTULO 21 = Padrões de comportamento: mudanças
SEXTA PARTE - CONDICIONAMENTOS
CAPÍTULO 22 = O bem e o mal
CAPÍTULO 23 = Paixão e libertação psicológica
CAPÍTULO 24 = Enfermidade e cura
SÉTIMA PARTE - A CONQUISTA DO SELF
CAPÍTULO 25 = A Conquista do Self
CAPÍTULO 26 = Mecanismos de fuga do ego
CAPÍTULO 27 = Medo e morte
CAPÍTULO 28 = Referenciais para a identificação do si
OITAVA PARTE - SILÊNCIO INTERIOR
CAPÍTULO 29 = Silêncio Interior
CAPÍTULO 30 = Desidentificação
CAPÍTULO 31 = Libertação dos conteúdos negativos
CAPÍTULO 32 = O Essencial
NONA PARTE - A FELICIDADE
CAPÍTULO 33 = Prazer e gozo
CAPÍTULO 34 = Felicidade em si mesma
CAPÍTULO 35 = Condições de felicidade
CAPÍTULO 36 = Plenificação pela felicidade
DÉCIMA PARTE - CONQUISTA DE SI MESMO
CAPÍTULO 37 = O homem consciente
CAPÍTULO 38 = Ter e ser
CAPÍTULO 39 = A conquista de si mesmo
O Ser Consciente
Esmagado por conflitos que não amainam de intensidade, o homem moderno procura mecanismos escapistas, em vãs tentativas de driblar as aflições transferindo-se
para os setores do êxito exterior, do aplauso e da admiração social, embora os sentimentos permaneçam agrilhoados e ferreteados pela angústia e pela insatisfação.
As realizações externas podem acalmar as ansiedades do coração, momentaneamente, não, porem, erradicá-las, razão por que o triunfo externo não apazigua interiormente.
Condicionado para a conquista das coisas, na concepção da meta plenificadora, o indivíduo procura soterrar os conflitos sob as preocupações contínuas, mantendo-os,
no entanto, vivos e pulsantes, até quando ressumam e sobrepoem-se a todos os disfarces, desencadeando novos sofrimnentos e perturbações devastadoras.
O homem pode e deve ser considerado como sendo sua própria mente.
Aquilo que cultiva no campo íntimo, ou que o propele com insistência a realizações, constitui a sua essência e legitimidade, que devem ser estudadas pacientemente,
a fim de poder enfrentar os paradoxos existenciais - parecer e ser -, as inquietações e tendências que o comandam, estabelecendo os paradigmas corretos para a jornada,
liberado dos choques interiores em relação ao comportamento externo.
Ignorar uma situação não significa eliminá-la ou superá-la. Tal postura permite que os seus fatores constitutivos cresçam e se desenvolvam, até o momento em
que se tornam insustentáveis, chamando a atenção para enfrentá-los.
O mesmo ocorre com os conflitos psicológicos. Estão presentes no homem, que, invariavelmente, não lhes dá valor, evitando deter-se neles, analisar a própria
fragilidade, de modo a encontrar os recursos que lhe facultem diluí-los.
Enraizados profundamente, apresentam-se na consciência sob disfarces diferentes, desde os simples complexos de inferioridade, os narcisismos, a agressividade,
a culpa, a timidez, até os estados graves de alienação mental.
Todo conflito gera insegurança, que se expressa multifacetadamente, respondendo por inomináveis comportamentos nas sombras do medo e das condutas compulsivas.
Suas vítimas padecem situações muito afugentes, tombando no abandono de si mesmas, quando as resistências disponíveis se exaurem.
O ser consciente deve trabalhar-se sempre, partindo do ponto inicial da sua realidade psicológica, aceitando-se como é e aprimorando-se sem cessar.
Somente consegue essa lucidez aquele que se auto-analise, disposto a encontrar-se sem máscara, sem deterioração. Para isso, não se julga, nem se justifica, não
se acusa nem se culpa. apenas descobre-se.
À identificação segue-se o trabalho da transformação interior para melhor, utilizando-se dos instrumentos do auto-amor, da auto-estima, da oração que estimula
a capacidade de discernimento, da relaxação que libera das tensões, da meditação que faculta o crescimento interior.
O auto-amor ensina-o a encontrar-se e desvela os potenciais de força íntima nele jacentes.
A auto-estima leva-o à fraternidade, ao convívio saudável com o seu próximo, igualmente necessitado.
A oração amplia-lhe a faculdade de entendimento da existência e da Vida real.
A relaxação proporciona-lhe harmonia, horizontes largos para a movimentação.
A meditação ajuda-o a crescer de dentro para fora, realizando-se em amplitude e abrindo-lhe a percepção para os estados alterados de consciência.
O auto-conhecimento se torna uma necessidade prioritária na pro gramática existencial da criatura. Quem o posterga, não se realiza satisfatoriamente, porque
permanece perdido em um espaço escuro, ignorado dentro de si mesmo.
Foi necessário que surgissem a Psicologia Transpessoal e outras áreas doutrinárias com paradigmas bem definidos a respeito do ser humano integral, para que se
pudesse propor à vida melhores momentos e mais amplas perspectivas de felicidade.
A contribuição da Parapsicologia, da Psicobiofísica, da Psicotrônica, ampliou os horizontes do homem, propiciou-lhe o encontro com outras dimensões da vida e
possibilidades extrafísicas de realização, que permaneciam soterradas sob os escombros do inconsciente profundo, ou adormecidas nos alicerces da Consciência.
Antes, porém, de todas essas disciplinas psicológicas e doutrinas parapsíquicas, o Espiritismo descortinou para a criatura a valiosa possibilidade de ser consciente,
concitando-a ao auto-encontro e à autodescoberta a respeito da vida além dos estreitos limites materiais.
Perfeitamente identificado com os elevados objetivos da existência terrestre do ser humano, Allan Kardec questionou os Espíritos Benfeitores. "Qual o meio prático
mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?"
Eles responderam: "- Um sábio da Antigüidade vo-lo disse. Conhece-te a ti mesmo."(*)
Comentando a resposta, Santo Agostinho, Espírito, entre outras considerações explicitou: "... O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual.
Mas, direis, como há de alguém julgar-se a si mesmo? Não está aí a ilusão do amor-próprio para atenuar asfaltas e torná-las desculpáveis? O avarento se considera
apenas econômico e previdente; o orgulhoso julga que em si só há dignidade. Isto é muito real, mas tendes um meio de verificação que não pode iludir-vos. Quando
estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, inquiri como a qualificaríeis se praticada por outra pessoa... " "E prosseguiu: "... dê balanço no seu
dia moral para, a exemplo do comerciante, avaliar suas perdas e seus lucros, e eu vos asseguro que a conta destes será mais avultada que a daquelas. Se puder dizer
que foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o despertar na outra vida."
Na análise diária e contínua dos atos, o auto e o alo-amor serão decisivos para a avaliação. A oração e a meditação irão constituir recurso complementar para
afixação das conquistas.
Quem ora, fala; quem medita, ouve, dispondo dos recursos para exteriorizar-se e interiorizar-se.
Há, no entanto, estruturas psicológicas muito frágeis ou assinaladas por distúrbios de comportamento grave. Nesses casos, urge o concurso da Ciência Espírita,
com as terapias
(*) O Livro dos Espíritos. 29ª edição da FEB. Questão 919.
profúndas que dispõe; e, de acordo com a intensidade do distúrbio, torna-se necessária a ajuda do psicoterapeuta, conforme a especificidade do problema, que será
eqüacionado pela Psicologia, pela Psicanálise ou pela Psiquiatria.
Em muitos conflitos humanos, entretanto, ocorrem interferências espirituais variadas, gerando quadros de obsessões complexas, para os quais somente as técnicas
espíritas alcançam os resultados desejados, por se tratarem, esses agentes pertubadores, de Entidades extracorpóreas, porém portadores dos mesmos potenciais das
suas vítimas: sentimentos e emoções, inteligência e lucidez, experiências e vidas.
*
O ser consciente é austero, mas sem carranca; é jovial, porém sem vulgaridade; é complacente, no entanto sem conivência; é bondoso, todavia sem anuência com
o erro. Ajuda e promove aquele que lhe recebe o socorro, seguindo adiante sem cobrar retribuição.
É responsável, e não se permite o vão repouso enquanto o dever o aguarda. Conhecendo suas possibilidades, coloca-as em ação sempre que necessário, aberto ao
amor e ao bem.
Só o amadurecimento psicológico, através das experiências vividas, libera a consciência do ser; e, ao consegui-la, ei-lo feliz, conquistando a Terra da Promissão
bíblica.
*
Este modesto livro, que ora trazemos à análise do caro Leitor, pretende, sem presunção, auxiliá-lo na conquista da consciência.
Não apresenta qualquer técnica nova ou milagrosa. Estuda algumas problemáticas humanas à luz da Quarta Força em Psicologia, colocando uma ponte na direção
da Doutrina Espírita, que é portadora de uma visão profunda e integral do ser.
Confiamos que será útil a alguém que se encontre aflito ou fugindo de si mesmo, ajudando-o na solução do seu problema, e isto nos Compensará plenamente.
Salvador, 19 de maio de 1993.
Joanna de Ângelis
PRIMEIRA PARTE
A QUARTA FORÇA
1
A quarta força
Os estudiosos da criatura humana, embora os rígidos controles exercidos pelas conquistas freudianas, anelavam por ampliar os horizontes da compreensão em
torno de fenômenos complexos e abrangentes, transumanos, capazes de elucidar problemas profundos da personalidade.
As explicações junguianas amplas, procurando enfeixar nos arquétipos todas as ocorrências da paranormalidade, deixaram espaços para reformulações de conceitos
e especulações que se libertam dos modelos e paradigmas acadêmicos, atendendo com mais cuidado, e observações menos ortodoxas, os acontecimentos desprezados, por
considerados patológicos ou fraudulentos.
Vez que outra, surgiram ensaios e tentativas de ampliação de conteúdos, como efeito das experiências de Rhine, Wilber, Grof, Kübler Ross, Moody Jr., Maslow,
Walsh, Vaughan, Assagioli, Capra e outros corajosos pioneiros, que se preocuparam em ir além dos padrões estabelecidos, penetrando a sonda da investigação no inconsciente
e concluindo por novas realidades, antes execradas, lentamente acumulando dados capazes de suportar refutação, critica e desprezo.
Era necessário revisar o potencial humano em toda a sua complexidade, sem preconceitos nem receios.
As teorias apressadas, que pretendiam reduzir a alma a um epifenômeno de vida efêmera, vinham sendo superadas pelas pesquisas de laboratório na área da Parapsicologia,
da Psicobiofisica, da Psicotrônica e da Ciência Espírita, cujos dados valiosos avolumaram-se de tal forma, com a contribuição da Transcomunicação Instrumental, que
não havia outra alternativa senão ampliar o esquema de interpretação do psiquismo, criando-se o que se convencionou denominar como a Quarta Força - além do Comportamentalismo
(Behaviorismo), da Psicanálise e da Psicologia Humanista - que é a Psicologia Transpessoal ou profunda.
Indispensável coragem para enfrentar o cepticismo e a arrogância dos acadêmicos, dos reducionistas que, mesmo diante do numinoso, de Jung, permaneciam aferrados
ao organicismo e à hereditariedade, aos fatores derivados das pressões de toda ordem, às seqüelas das enfermidades infecciosas, aos traumatismos físicos e psicológicos...
Os avanços da Física Qüântica, a Relatividade do Tempo e do Espaço, a Teoria da Incerteza, abriram perspectivas psicológicas dantes sequer sonhadas, tendo-se
em vista o conceito do vir-a-ser.
A abrangência da consciência como estágio mais elevado do processo antropológico-sociológico-psicológico do ser, passou a exigir mais acurada penetração, ampliando
o quadro de entendimento dos dementes (autist savant ou sábio idiota), portadores de capacidades e aptidões luminosas, perturbadoras... Revelando-se matemáticos,
músicos, artistas plásticos, lingüistas que, de repente, romperam o véu do silêncio e passaram a comunicar-se com lucidez, apresentando dotes de excepcional capacidade
realizadora, puseram-se a exigir elucidações que destruam as tradições negativas, atualizando a predominância do Espírito sobre a matéria, da mente sobre o cérebro
gravemente danificado, assim demonstrando que preexistem aos órgãos e os sobrevivem, ao invés de serem suas elaborações ou efeitos dos seus mecanismos.
A grandiosa contribuição do pensamento oriental, de Buda a Vivekananda, a Ramakrishna e outros, dos taoístas tibetanos aos físicos nucleares, enseja a revisão
dos parâmetros aceitos, bem como dos modelos estabelecidos, propondo a identificação de fórmulas com aparência diversa, no entanto, que se harmonizam, unindo as
duas culturas - a do passado e a do presente - em uma síntese perfeita, em favor de um homem e de uma mulher holísticos, completos, ao revés de examinados em partes.
Esse concurso que se vinha insinuando multissecularmente, logrou impor-se através das terapias liberadoras de conflitos, tais a meditação, a respiração, a oração,
a magnetização da água, a bioenergia, os exercícios da tai-chi-chuan, o controle mental de inegáveis resultados nas mais variadas áreas do comportamento, do inter-relacionamento
pessoal, da saúde...
Os diques erguidos pela intolerância romperam-se ante as novas conquistas, e as técnicas regressivas da memória, com exclusiva definição terapêutica, o uso de
algumas drogas psicodélicas como o ácido lisérgico, a hipnose, demonstraram que muitos fatores psicopatogênicos são anteriores à concepção do ser, eliminando a predominância
genética na condição de desencadeadora de psicoses, neuroses, conflitos e tormentos degeneradores da personalidade...
A telepatia, a clarividência, os fenômenos retro e precognitivos, as ectoplasmias, os deslocamentos de objetos sem contatos e outros facultaram mais acurados
exames do indivíduo, que a análise transpessoal pode abordar com segurança ou neles apoiar-se, a fim de solucionar os enigmas predominantes em pacientes marginalizados
pelas outras correntes da Psicologia ou facilmente rotulados de psicopatas.
O ser humano é constituído de elementos complexos, que escapam a uma observação superficial.
A conceituação materialista de forma alguma atende-lhe as necessidades éticas e sociológicas, não logrando elucidar o ser psicológico, exceto quando, ignorando-lhe
a realidade transcendente, relega-a àindiferença, à desconsideração catalogada de patologia irreversível.
O ser dual - Espírito e matéria - do espiritualismo ortodoxo, permanece incompleto, deixando escapar incontáveis expressões de conteúdo, por falta do elemento
intermediário, processador de inúmeros fenômenos que lhe completam a existência.
Somente quando estudado na sua plenitude -Espírito, perispírito e matéria - podem-se resolver todos os questionamentos e desafios que o compõem, alargando-lhe
as possibilidades de desenvolvimento do deus interno, facultando completude, realização plenificadora, estado de Nirvana, de samadhi, ou de reino dos Céus que lhe
cumpre alcançar.
Essa gigantesca tarefa cabe à moderna Psicologia Transpessoal ou Quarta Força, que inicia um período de real compreensão da criatura como ser indestrutível que
é, fadado à felicidade.
2
Definição e conceito
Definir, de alguma forma, é limitar, restringir. Mesmo quando as definições são elásticas, reduzem o pensamento e o enclausuram em palavras, retendo as largas
possibilidades que necessitam ser penetradas.
Conceituando a psicologia transpessoal, não nos podemos furtar aos seus paradigmas, que ampliam as linhas das definições clássicas da doutrina psicológica em
si mesma, de modo a dar-lhe a abrangência que alcança o ser humano na sua estrutura física, psíquica e transcendental.
Remontando-se à história do pensamento psicológico, encontraremos os seus primeiros postulados na ética filosófica ancestral, que se iniciou no ocidente com
Anaxímenes e Anaxágoras, percorrendo todos os períodos históricos até a sua formação organicista, na segunda metade do século 19, e prosseguindo pelas várias escolas
freudiana, junguiana, adleriana, enquanto se ia ampliando nas concepções humanista, comportamentalista e psicanalítica.
Nos seus primórdios, a ciência da alma encontrava-se embutida nos conceitos socráticos e platônicos, preocupados com a criatura humana dual, cujas origens se
encontravam no mundo das idéias, para onde retornava após o périplo carnal, a fim de experimentar felicidade ou desdita.
A sua ética moral, otimista, estimulava ao equilíbrio mente-corpo, conduta saudável e solidariedade com as demais criaturas.
Procedente de uma realidade metafísica, o ser a ela retornava com o somatório das experiências adquiridas, que lhe plasmariam futuros renascimentos na Terra,
conforme os conteúdos existenciais vividos.
Nessa paisagem, o planeta terrestre pode ser considerado uma escola, na qual se forma e aprimora o caráter, desenvolvendo o germe divino que nele dorme, qual
ocorre na semente com o vegetal...
Posteriormente, Aristóteles lhe agregou a enteléquia, e propôs uma criatura trinária, seguindo os modelos da filosofia oriental e recusando-se à aceitação dos
episódios reencarnacionistas necessários à evolução.
Concomitantemente, as propostas atomistas reduziam o ser humano ao amontoado de partículas infinitamente pequenas, esféricas, com ganchos, segundo uns, ou deles
destituídos, conforme outros, unindo-se e desestruturando-se graças ao vácuo e ao movimento, resultando, portanto, do capricho do acaso que os reúne e des agrega,
produzindo vida e morte ao sabor das ocorrências anômalas, eventuais.
Avançando, paralelamente, em antagonismo estrutural, alcançaram culminâncias ora uma, ora outra corrente, através de São Tomaz de Aquino ou de Leibniz, de Descartes
ou Bacon...
Enquanto o pensamento oriental estruturava o fenômeno psicológico em um ser herdeiro de Deus e a Ele semelhante, isto é, portador de recursos inimagináveis que
lhe cabe desenvolver, ampliaram-se as concepções em torno do universo, da criação, da vida, muito antes que a cultura ocidental se apercebesse da causalidade do
existir.
Como verdadeiro ponto de equilíbrio apareceu o pensamento ético de Jesus, colocando uma ponte psicológica e filosófica entre as duas civilizações, desenvolvendo
o idealismo socrático e o reencarnacionismo do vedanta e da budismo, então fecundado pelo amor, único tesouro que logra produzir a plenificação do ser humano.
Psicoterapeuta superior, Jesus não foi apenas o filósofo e o psicólogo que compreendeu os problemas humanos e ensejou conteúdos libertadores, mas permanece como
terapeuta que rompeu as barreiras da personalidade dos pacientes e penetrou-lhes a consciência de onde arrancou a culpa, a fim de proporcionar a catarse salvadora
e a recomposição da individualidade aturdida, quando não em total infelicidade.
Possuidor de transcendente capacidade de penetração nos arquivos do inconsciente individual e coletivo, Ele tornou-se o marco mais importante da psicologia transpessoal,
por adotar a postura mediante a qual considera o indivíduo um ser essencialmente espiritual, em transitória existência física, que faz parte do seu programa de autoburilamento.
Conscientizando as criaturas a respeito da sua responsabilidade pessoal diante da vida, estabeleceu terapias de invulgar atualidade, trabalhando a estruturação
da personalidade, com o passo de segurança para a aquisição da consciência.
No postulado não fazer ao próximo o que não deseja que ele lhe faça, estatuiu a condição de segurança para a identificação do indivíduo consigo mesmo, com o
seu irmão e com o mundo no qual se encontra, proporcionando uma ética simples e facilmente aplicável, no inter-relacionamento pessoal, sem conflito nem culpa.
Da mesma forma, propondo o auto-aperfeiçoamento pela superação das paixões dissolventes, trouxe o futuro para o presente, tornando o reino dos céus um estado
de consciência lúcida, longe do sono, do sonho e das psicoses totalmente superadas.
O Cristianismo, no entanto, através dos tempos, sofrendo as injunções dos pseudoconversos, invariavelmente portadores de grandes traumas e conflitos, procurou
castrar e coibir todas as fontes de prazer, as expressões existenciais, mediante regras e dogmas punitivos, que se caracterizaram pela repressão, restrição e condenação.
Não obstante os luminares que, de vez em quando, buscaram libertar os indivíduos do temor e do ódio, levando-os à confiança e ao amor, quais São Francisco de
Assis, Santa Tereza de Ávila e alguns outros, predominaram a ignorância e o terror, produzindo uma consciência de culpa coletiva, verdadeiro arquétipo de natureza
punitiva, que venceu as gerações e ressurge, ainda hoje, nos indivíduos e grupamentos sociais, fazendo-os responsáveis pelo deicídio no Calvário - confundindo Jesus
com Deus - ou, mais remotamente, com a herança da tentação, em que Eva tombou, levando Adão ao erro, assim tornando a mulher inferior no processo humano da evolução,
em flagrante desrespeito ao simbolismo da criação humana, que passou à condição de realidade.
O culto ao mito, ao símbolo, ao fantasioso, à aceitação do modelo, são necessidades psicológicas, para os mecanismos de transferência da realidade e fugas da
consciência responsável.
Assumindo a postura teológica, responde por males que se repetem milenarmente, possibilitando alienações e desditas inimagináveis.
A evolução das ciências vem logrando anular esse efeito pernicioso, e, graças ao advento da psicologia espírita com Allan Kardec, recupera-se o ser humano do
conflito em que se encontrava, promovendo-o à condição de possuidor de valores preciosos que lhe cumpre desenvolver, embora a esforço de trabalho paciente e constante.
A quarta força, alargando as imensas possibilidades da psicologia, faz que sejam descortinadas as possibilidades ímpares para a perfeita integração da criatura
com o seu Criador, e da sua com a Consciência Cósmica, pulsante e universal.
Nesse homem transpessoal cantam, então, as glórias da vida e se dilatam os dons nele existentes, em pleno desenvolvimento da sua realidade, que supera as culpas
e as dores, as angústias e as inquietações, tornando-o pleno e feliz.
3
O homem psicológico maduro
O ser humano é o mais alto e nobre investimento da vida, momento grandioso do processo evolutivo que, para atingir a sua culminância, atravessa diferentes
fases que lhe permitem a estruturação psicológico, seu amadurecimento, sua individuação, conforme Jung.
Ao atingir a idade adulta deve estar em condições de viver as suas responsabilidades e os desafios existenciais. É comum, no entanto, perceber-se que o desenvolvimento
fisiológico raramente faz-se acompanhar do seu correspondente emocional, o que se transforma em conflito, quando um aspecto não éidentificado com o outro. Em tal
caso, o período infantil alonga-se e predomina, fazendo-se característica de uma personalidade instável, atormentada, insegura, depressiva ou agressiva, ocultando-se
sob vários mecanismos perturbadores.
O seu processo de amadurecimento psicológico, portanto, pode ser comparado a uma larga gestação, cujo parto doloroso propicia especial plenificação.
Procedente de atavismos agressivos, imantado ainda aos instintos, o ser cresce sob pressões que lhe despertam a necessidade de desabrochar os valores adormecidos,
qual semente que se intumesce sob as cargas esmagadoras do solo, a fim de libertar o vegetal embrionário, que se agigantará através do tempo.
Fatores compressivos e difíceis de liberados, pelos processos castradores do ambiente, quase sempre contribuem para que se prolongue a sua imaturidade psicológica.
Do ponto de vista tradicional, apresentam-se os fatores hereditários, psicossociais, econômicos, que colaboram positiva ou negativamente para o desenvolvimento
psicológico, quase sempre contribuindo para a preservação do estado de imaturidade.
Graças à sua constituição emocional e orgânica, na vida infantil o ser é egocêntrico, qual animal que não discerne, acreditando que tudo gira em torno do seu
universo, tornando-se, em conseqüência, impiedoso, por ser destituído de afetividade ainda não desenvolvida, que o propele à liberdade excessiva e aos estados caprichosos
de comportamento.
Passado esse primeiro período, faz-se ególatra, acumulando tudo e apenas pensando em si, em fatigante esforço de completar-se, isolando -se socialmente dos demais
ou considerando as outras pessoas como descartáveis, cujo valor acaba quando desaparece a utilidade, de imediato ignorando-as, desprezando-as...
Em sucessão, apresenta-se introvertido, egoísta, possuindo sem repartir, detentor de coisas, não de paz pessoal.
A imaturidade expressa-se através da preservação dos conflitos, graças aos quais muda de comportamento sem liberar-se da injunção causal, que são a frustração,
o desconforto moral, a presença da infância. E mesmo quando se apresenta completado, as suas reações prosseguem infantis, destituídas de sensibilidade, no tormento
de metas sem significado.
Para ele, o sentido da vida permanece adstrito ao círculo estreito da aquisição de coisas e à sujeição de outras pessoas aos seus caprichos. Torna-se ditador
impiedoso, sicário implacável, juiz cruel. Proporciona-lhe prazer mórbido a dependência das massas e dos indivíduos particularmente, fruindo, de maneira masoquista,
do prazer na dor própria ou alheia, desenvolvendo a degenerescência afetiva até o naufrágio fatal...
Certamente, fatores genéticos contribuem para o desenvolvimento ou não da maturidade psicológica, em se considerando as cargas hereditárias na constituição orgânica,
na câmara cerebral, na aparelhagem nervosa e glandular, especialmente nas de secreção endócrina, na constituição do sexo.
Todavia, não podemos ignorar a preponderância do modelo organizador biológico (MOB) ou perispírito, responsável pela harmonização dos implementos de que o Espírito
se irá utilizar para o seu processo evolutivo no corpo transitório.
Face a isso, cada pessoa é a soma das suas experiências transatas, e sua mente é o veículo formador de quanto se lhe torna necessário para o processo iluminativo.
Essa percepção, o entendimento desse fator, faz-se relevante em qualquer proposta de psicologia trans-pessoal, no estudo das causalidades de todos os fenômenos
humanos.
Os velhos paradigmas e modelos sobre o homem cedem passo à introdução do conceito do ser ancestral, com toda a historiografia das suas reencarnações, que se
tornam responsáveis pelo desenvolvimento do eu profundo.
A enunciada cisão entre o eu e o si, atávica, desaparece quando a análise do perispírito demonstra que a personalidade resulta da experiência de cada etapa,
mas a individualidade é a soma de todas as realizações nas sucessivas reencarnações.
Graças a esses fenômenos, as pressões psicossociais - ambiente, educação, lutas e atividades - aparecem contribuindo, de uma ou de outra forma, para a realização
das metas ou reparação delas, em razão dos processos de mérito ou débito de que cada um se faz portador.
Todos nascem ou renascem nos núcleos familiares e sociais de que necessitam para aprimorar-se, e não conforme se assevera tradicionalmente: que merecem.
As cargas de genes e cromossomas, as condições psicos sociais e econômicas, formam o quadro dos processos de burilamento moral-espiritual, resultantes da reencarnação
caldeadora dos dispositivos individuais para a evolução.
Tal razão prepondera na elucidação das diferenças psicológicas dos indivíduos, mesmo entre os gêmeos uniovulados, defluentes das conquistas anteriores.
A maturidade psicológica tem um curso acidentado, feito de sucessos e repetições, por formar um quadro muito complexo na individualidade humana.
A sua primeira fase expressa-se como maturidade afetiva, quando o ser deixa de ser captativo por fenômeno atávico, para tornar-se ablativo, que é a fatalidade
do processo no qual se encontra.
Da posição receptiva egoísta, profundamente perturbadora, surge a necessidade de crescer e ampliar o círculo de amigos, na sua condição de animal gregário, surgindo
as primeiras expressões do amor.
Expande o sentimento afetivo e compreende que o narcisismo e o egoísmo somente conduzem à auto-destruição, à perturbação.
O amor é a chama que arde atraente, oferecendo claridade e calor, ao tempo que alimenta com paz, face à permuta de energias entre quem ama e aquele que se torna
amado.
Desenvolve-se então uma empatia que arranca o ser do seu primitivismo, conduzindo-o à imensa área do progresso, onde a experiência de doação torna-se enriquecedora,
trabalhando pelo olvido do ser em si mesmo com a lembrança constante do seu próximo.
Quem aspira por ser amado mantém-se na imaturidade, na dependência psicológica infantil, coercitiva, ególatra.
A afetividade é o campo central para a batalha entre as diversas paixões de posse e de renúncia, de domínio e abnegação, ensejando a predominância da doação
plena.
No amadurecimento afetivo, o ser esplende e supera-se.
O próximo passo éo amadurecimento mental, graças à compreensão de que a vida é rica de significados e o seu sentido é a imortalidade.
Com essa identificação alteram-se os interesses, e as paisagens se clareiam ao sol da razão, que consubstancia a fé no homem, na vida e em Deus.
O amadurecimento mental, que se adquire pela emoção e pelo conhecimento que discerne os valores constitutivos da filosofia existencial, amplia as perspectivas
da realização completadora.
Somente após lograr o amadurecimento afetivo, consegue o mental, por encontrar-se livre dos constrangimentos e das pseudonecessidades emocionais.
A conquista da razão é relevante, por ser o princípio ordenador, responsável pela formação do discernimento, que reúne em um só conjunto as diferentes conquistas
intelectuais, a fim de que possa utilizar o pensamento de maneira justa, real e compatível com a consciência.
A razão proporciona a superação do fenômeno infantil da ilusão, da fantasia, responsável pelo sofrimento, em se considerando a impermanência e todos os acontecimentos
e aspirações físicas.
A mente, no seu contexto e complexidade, resulta de duas expressões da sua natureza: o intelecto e a razão, sendo a segunda de formação discursiva e a primeira
de caráter intuitivo.
Disso decorrem duas condutas de aprendizagem no que tange ao pensamento e ao seu uso correto.
Pensar acertadamente é uma meta elevada, porque nem todo ato de pensar corretamente o é, face à interferência dos desejos e supostas necessidades. Assim, a concentração
nos objetivos ideais, distinguidos dos imaginados, leva à correção do pensamento.
Há uma grande variação de níveis de pensamento, resultantes das conquistas intelectuais.
Para que ocorra o amadurecimento se torna indispensável pensar, exercitando a mente e ampliando-lhe a capacidade de discernir.
Logo se apresenta o desafio do amadurecimento moral, responsável pela superação dos instintos, das sensações grosseiras, imediatistas.
A escala dos valores rompe os limites das conveniências restritivas e interesseiras, para apoiar-se nos códigos da ética universal, ancestral e perene, que têm,
por base, Deus, os seres, a natureza e o próprio indivíduo, compreendendo-se que o limite da própria liberdade começa na fronteira do direito alheio, nunca aspirando
para si o que não gostaria de receber de outrem...
A maturidade moral liberta, por despedaçar os códigos da hipocrisia e das circunstâncias que facultam o desenvolvimento do egoísmo, da vaidade, da autocracia.
Essa realização moral é dinâmica e entusiasta, alargando as possibilidades de crescimento ético, estético e espiritual do ser.
Dois sensos morais surgem no contexto da maturação: o convencional - que é o aceito, oportunista e, às vezes, amoral ou imoral, - porque imposto pelas conveniências
de cada época, civilização e cultura - e o verdadeiro - que supera os limites ocasionais e sObrepaira legítimo em todas as épocas, qual aquele estatuído no Decálogo
e no Sermão da montanha.
A conquista da maturidade moral verdadeira torna-se indispensável para a auto-realização do ser e da sociedade em geral.
Vencida essa etapa, a maturidade social surge naturalmente, porque, autoconhecendo-se e autotrabalhando-se, o homem psicológico torna-se harmônico no grupo,
é aglutinador, compreensivo, líder natural, proporcionando bem-estar em sua volta e alegria de viver.
O amadurecimento psicológico é imperativo que surge naturalmente, ou por necessidade que se estabelece no processo da evolução.
O ser imaturo, ambicioso, apaixonado, frustra-se, irrita-se sempre, mata e mata-se, porque o significado da sua vida é o ego perturbador e finito, circular-estreito
e sem metas.
Superar o estado egocêntrico, para tornar-se útil socialmente, caracteriza o rompimento com o círculo familiar da infância e abre-o à comunidade, que é a grande
escola da vida.
O indivíduo não pode viver sem relacionamentos, pois que, por contrário, aliena-se.
O seu desenvolvimento deflui dos contatos com a natureza e as criaturas, dos seus inter-relacionamentos pessoais, renunciando à liberdade interior, a
fim de plenificar-se no grupo.
Com o conflito embutido no comportamento pessoal, torna-se impossível o relacionamento social. Indispensável que sejam realizados encontros e experiências de
grupos, gerando adaptação e convivência salutar com outras pessoas.
Quem lograr a sua consciência individual, supera a violência, a separatividade e, afetuoso, racional, integra o grupo social promovendo-o e desenvolvendo-se
cada vez mais, rico de compreensão, fraternidade, amor e paz.
O homem maduro psicologicamente vive a amplidão infinita das aspirações do bom, do belo, do verdadeiro, e, esvaído do ego, atinge o self, tornando-se homem integral,
ideal, no rumo do infinito.
4
Modelos e paradigmas
O processo da evolução - antropológico, sociológico, psicológico - da humanidade vem impondo, ao largo do tempo, necessárias releituras e revisões de paradigmas
variados, que entram em choque com as descobertas do pensamento e a natural aceitação cultural de processus renovadores, estruturados na experiência humana diante
dos conceitos tradicionais.
Na área psicológica, por exemplo, a rigidez dos postulados ancestrais vem sofrendo fissuras estruturais diante da volumosa contribuição das filosofias orientais,
ora desveladas ao ocidente, ao mesmo tempo em que as conquistas relevantes da Parapsicologia, da Psicotrônica, da Psicobiofísica, da Física Qüântica, da Biologia
Molecular, vêm confirmar os paradigmas do Espiritismo, dilatando o campo da realidade humana - antes do berço e depois do túmulo -, assim modificando a concepção
dos estados alterados de consciência, que deixaram de ser patológicos para se confirmarem como de natureza paranormal.
Como conseqüência, o estudo e a observação imparciais dos fenômenos anímicos e mediúnicos não mais se submetem aos modelos estreitos da psicologia tradicional,
tornando-se urgente a adoção do comportamento transpessoal, face à sua abrangência, no que diz respeito ao homem integral.
Criada pela necessidade de atualização urgente de novos e complexos paradigmas, graças ao devotamento de homens e mulheres notáveis, que aprofundaram na vida
parafísica a sonda da investigação psicológica, a quarta força pode contribuir para uma interpretação mais coerente e racional do ser pensante, sem descartar a possibilidade
da precedência e sobrevivência da consciência à concepção fetal, assim como à anóxia cerebral.
Antes desprezadas ou marginalizadas por contundente preconceito, as manifestações paranormais deixaram de ser epifenômenos do sistema nervoso, para tornarem-se
expressões da realidade em níveis mais profundos da consciência humana.
O advento da Psicologia Transpessoal ocorreu no momento grave do desalinho comportamental das gerações novas, dos anos sessenta deste século, e por se tornar
evidente a necessidade do desenvolvimento da Psicologia Humanista, surgida na ocasião, mediante a ampliação dos seus conceitos e a aceitação de novos paradigmas,
qual sucedeu, na década imediata, consoante previra Maslow...
Assim, a Psicologia Transpessoal tem como meta ampliar a sua área de pesquisa levando em conta as experiências do ser, em laboratório e no comportamento humano,
vinculadas às necessidades do equilíbrio da saúde fisiopsíquica e da satisfação plenificadora. Como resultado, estrutura-se nas conquistas da ciência contemporânea,
unidas às contribuições vivenciais da experiência oriental, desenvolvendo as possibilidades adormecidas da criatura - o seu incessante vir-a-ser.
A sua proposta objetiva é tornar-se parte das multidisciplinas do comportamento, que contribuem para o logro da saúde mental.
Impossível descartar-se hoje os fatos decorrentes dos estados alterados de consciência, que são importantes para o equilíbrio fisiológico e o bem-estar psicológico
dos indivíduos.
O ser transcendental deixa, dessa forma, o estágio de paranóide, assumindo a paranormalidade indispensável à harmonia do seu comportamento com a sua realização
psicológica.
As experiências terapêuticas de muitos analistas transpessoais demonstraram que os seus pacientes transcendem os níveis normais de consciência, quando estimulados
por drogas químicas, auto-sugestão, ioga, hiperventilação, indução hipnótica, concentração, meditação, oração, interferências mediúnicas... Nesses estados dilatam-se-lhes
a percepção dos sentidos, a lucidez, o conhecimento do passado e do futuro, como expressões essenciais da natureza humana, após os quais há o retorno da saúde -
quando em psicoterapia - do bem-estar, do relacionamento interpessoal.
O ser humano, desse modo, deixa de permanecer fragmentado, para tornar-se inteiro.
Todos os modelos e paradigmas são passíveis de revisão, confirmação ou modificação.
Os antigos modelos psicológicos, por estreiteza de visão, não abarcavam as atuais conquistas que facultam mais ampla compreensão da personalidade humana, do
inconsciente, do eu profundo.
Uma larga documentação experimental, porém, veio facultar o surgimento do modelo transpessoal e dos seus atuais paradigmas.
A Psicanálise, por exemplo, tem concepção específica em torno da determinação da conduta, conflitando com a natureza da modificação do comportamento. O psicanalista
enfatiza as forças intrapsíquicas, como fundamentais, predominantes, responsáveis pelo comportamento. Já os comportamentalistas estabelecem, como indissociáveis
da conduta, as condições ambien tais.
Desse modo, surge o quesito da motivação, determinando o comportamento. Seja a libido - motivação freudiana -, o anseio de superioridade, como superação dos
instintos agressivos - motivação adleriana - ou o imperativo ambiental - motivação comportamentalista -, o ser é levado ao êxito nas suas buscas, não podendo fugir
a uma ou outra dessas condições.
Antes desse alargamento da visão transpessoal, todas as experiências místicas eram tidas como neurose narcisista, e a conquista da iluminação era considerada
como uma automática regressão a estágios intra-uterinos.
Nesses choques de modelos e propostas, tornava-se inevitável a disputa em torno de qual seria o verdadeiro, com desprezo pelos demais...
O estudo transpessoal não pretende ser único, antes alarga os conceitos existentes, respeita-lhes a validade, buscando desenvolver e ampliar as dimensões
da natureza humana e a sua realidade intrínseca. O seu potencial é imprevisível, e o ser espiritual éimensurável na sua estrutura profunda, que lhe cabe desenvolver
ao largo das sucessivas reencarnações. Unindo tecnologia e observação, experiência e treinamento paranormal, desenvolvem-se-lhe os recursos latentes, no rumo do
Infinito.
O novo modelo e paradigma transpessoal, portanto, estrutura-se na sabedoria do oriente e nas modernas experiências do ocidente, compondo o homem, o ser
interior: espírito, perispírito e matéria, conforme a proposta kardequiana, embora a nomenclatura diferenciada que vem sendo adotada pelos psicólogos e terapeutas
transpessoais.
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A nova estrutura do ser humano
À medida que a Psicologia vem aprofundando a sonda da investigação nos alicerces psíquicos do ser, tentando compreender as alterações da consciência, mais se
agigantam as perspectivas do conhecimento para tornar a existência humana mais digna de ser vivida.
A súbita mudança de conceitos cartesiano-newtonianos a respeito de tempo e espaço - graças aos admiráveis descobrimentos da física qüântica, face aos nobres
intentos vitoriosos das neurociências e da Biologia molecular, em razão do aprofundado estudo do cérebro através da holografia, diante da análise cuidadosa dos estados
alterados de consciência por meio da hipnose, da aplicação de drogas psicodélicas, da meditação, - ensejou melhor visão em torno do ser humano e sua grandiosa dimensão.
Estudos acurados dos hemisférios cerebrais concluíram que o esquerdo é responsável pela razão e lógica, pelas funções verbais, pela globalização, enquanto o
direito se encarrega do comportamento místico, indutivo, intuitivo, orientação espacial... Como conseqüência, estabeleceu-se que, nos ocidentais, o hemisfério esquerdo
é mais desenvolvido do que o direito, esse mais usado pelos orientais e, por isso mesmo, portador de mais amplos recursos.
Por outro lado, graças aos estudos e observações de alguns neuropsiquiatras, constatou-se que todo o cérebro é detector da memória, necessitando de ser devassado
para melhor compreender-se os múltiplos fenômenos paranormais de que se faz instrumento, ora inconscientemente, noutras ocasiões mediante induções, concentrações
e contribuições conscientes.
A Psicologia Transpessoal e a Parapsicologia, unindo-se para interpretar os estados alterados de consciência, eliminando a esdrúxula e tradicional explicação
de que são fenômenos patológicos, aproximam-se da realidade do Espírito, que é indissociável de todo acontecimento físico e psíquico.
Toda a gama de fenômenos parapsicológicos na ordem psigama - clarividência, telepatia, pre e retrocognição, escrita automática - ou psikapa - transporte, ectoplasmia,
desmaterialização, bicorporeidade -conduz à certeza de um agente racional e lúcido - o Espírito - como causa de todas as manifestações, encontrando-se encarnado
ou não.
O ser organicista, em razão disso, cede lugar ao indivíduo psi ou espiritual, portador de percepções extra-sensoriais e faculdades mediúnicas, que lhe constituem
instrumentos de trabalho e progresso, mediante as experiências continuadas na esteira das reencarnações.
O Espírito é a base da Psicologia Transpessoal, conforme demonstra a Ciência Espírita, em inumeráveis experiências mediúnicas.
Essa visão nova explica os desarranjos comportamentais, as diferenças de coeficiente intelectual, os estados patológicos variados, ao mesmo tempo enriquecendo
as psicoterapias com arsenal de informações libertadoras, hauridas no estudo das obsessões, das reencarnações e dos desconsertos mediúnicos.
Desse modo, o ser humano supera a condição reducionista a que foi submetido por alguns psicólogos e amplia a dualidade corpo-espírito, para apresentar-se em
estrutura completa, que abarca todas as ocorrências que lhe sucedem.
Organizando o corpo somático, o Espírito se utiliza dos equipamentos do perispírito, tornando-se o indivíduo um ser trino, no qual a morte física dilui a forma
sem aniquilar a sua realidade, transferindo, mediante o corpo intermediário, para o Espírito que sedia a vida, conquistas e prejuízos que lhe programam os futuros
renascimentos.
A unicidade da existência corporal não corresponde à realidade, face às diferenças morais, culturais, sociais, psicológicas, orgânicas, que caracterizam as criaturas
humanas, estagiárias nos mais diferentes patamares da vida.
A reencarnação, pelo contrário, faculta a compreensão dos fenômenos evolutivos, favorecendo todos os seres com as mesmas possibilidades de crescimento, desde
a monera ao arcanjo, vivenciando as mesmas oportunidades e adquirindo sabedoria - conquista do conhecimento e do amor - que culmina em sua plenitude.
Reconhecida a nova estrutura do ser humano -Espírito, perispírito e matéria - a Psicologia pode melhor penetrar nos arcanos do inconsciente, que possui todo
o conhecimento de tempo - passado, presente e futuro - como a dimensão de espaço - o infinito no finito.
Sediando o Espírito, conforme a visão espírita assevera, a lei de Deus está escrita na consciência (*) detentora da realidade, que a pouco e pouco se desvela,
conforme a evolução do próprio ser, no seu processo de lapidação de valores e despertamento das leis que nela dormem latentes.
Nos alicerces do inconsciente se encontram todas essas bênçãos que, lentamente, assomam à consciência e se tornam patrimônio da lucidez, fazendo o ser compreender
que nem tudo quanto pode fazer, deve-o; da mesma forma que nem tudo quanto deve, pode; conseguindo a sabedoria de fazer somente o que deve e pode como membro consciente
que age de acordo com a harmonia cósmica.
Esse, o grande desafio para a Psicologia profunda, qual seja, avançar cada dia mais na interpretação do ser humano, sem deter-se em modelos estáticos, tradicionais,
atenta às informações das demais ciências e do Espiritismo, assumindo uma posição aberta e holística.
(*) Questão 621 de O Livro dos Espíritos de Allan Kardec. - Nota da Autora espiritual.
SEGUNDA PARTE
SER E PESSOA
6
A pessoa
Boécio, poeta e filósofo da decadência romana, nos séculos 5º e 6º, definiu a pessoa como constituída por uma substância individual de natureza racional.
A filosofia, através dos séculos, buscou demonstrar que a pessoa é distinta do indivíduo e do ser psicofísico, o que deu margem a considerações demoradas por
pensadores e escolas variadas.
Santo Tomaz de Aquino, por exemplo, preferiu seguir o conceito de Boécio, que teve muita influência significativa durante a Idade Média, enquanto Emmanuel Kant
se apoiou em conteúdos mais profundos, quando da análise da pessoa em si mesma.
Do ponto de vista psicológico, a pessoa é um ser que se expressa em múltiplas dimensões, desde os seus conteúdos humanista, comportamentalista e existencial,
a novos potenciais que estruturam o ser pleno.
A psicologia ocidental, diferindo da oriental, manteve o conceito de pessoa nos limites berço-túmulo com uma estruturação transitória, enquanto a outra sustenta
a idéia de uma realidade transcendente, embora a sua imanência na expressão da forma e relatividade corporal.
Os estudos transpessoais, incorporando as teses orientais, consideram a pessoa um ser integral, cujas dimensões podem expressar-se em várias manifestações, quais
a consciência, o comportamento, a personalidade, a identificação, a individualidade, num ser complexo de expressão trinária.
Não apenas o corpo, o ser psicofísico, porém, a matéria - efeito -, o perispírito - modelo organizador biológico - e o espírito - a individualidade eterna.
Não pretendemos inovar modelos, antes resumir correntes e apresentar uma síntese.
A visão transpessoal espírita, porque completa, elucida os inúmeros fenômenos paranormais de natureza anímica e mediúnica que caracterizam a existência humana.
concedendo-lhe dinâmica imortalista e conteúdo de significado, de causalidade.
A pessoa, observada do ponto de vista imortal, é preexistente ao corpo, e sua origem perde-se nos milênios passados do processo evolutivo, desenvolvendo-se fiel
a uma fatalidade que se manifesta em cada experiência corporal - reencarnação - como aquisição de novos implementos, faculdades e funções que tangenciam ao crescimento
e à felicidade.
A pessoa sintetiza, quando corporificada, as dimensões várias que lhe cumpre preservar e aprimorar, facultando o desabrochar de recursos que lhe fazem embrionários
e são essenciais ao seu existir.
A consciência
Jung definiu a consciência como a relação dos conteúdos psíquicos com o ego, na medida em que essa relação é percebida como tal pelo ego.
A complexidade, no entanto, das conceituações de consciência, nem sempre responde aos conteúdos de que se constitui.
Para entendê-la, é necessário situá-la além dos limites do sono, do sonho, do delírio, e estabelecê-la como condição de ótima ou lúcida, na qual os episódios
psicóticos cedem lugar à normalidade, ao discernimento, ao equilíbrio gerador de harmonia.
A psicologia tradicional, aferrada ao organicismo ancestral, prefere ignorar os elevados níveis de consciência, nos quais os estados alterados transcendentes
facultam a visão dilatada da realidade, sem os limites do real aceito, do real psicótico, do real em sonho.
As experiências nas diversas áreas de consciência alterada, conseguidas por substâncias psicodélicas ou através de meditação profunda, ao invés de revelarem
situações patológicas, abrem perspectivas fascinantes para terapias liberadoras e que proporcionam dilatação do conhecimento e do sentido mais amplo da vida.
A psicologia filosófica do oriente sempre proporcionou os estados de plenitude e nirvana, ensejando a superação dos limites do estágio de normalidade, através
de transes e da contemplação profunda.
A consciência adquirida - a perfeita identificação do conhecimento e do fazer, do saber e do amar - faculta a ampliação das próprias possibilidades para penetrar
em dimensões metafísicas, onde outras realidades são bases do ser pessoal.
O comportamento
As atitudes que caracterizam a pessoa resultam do convívio social e das aspirações cultivadas, gerando a consciência individual, que responde pela do grupo social,
face à aplicação dos valores adquiridos.
Ressaltam, no comportamento, as ambições do desejo, responsáveis pelo grau de libertação emocional, ou presídio, no qual o ser transita pelos vínculos que se
permite desenvolver.
A pessoa é, acima de tudo, a sua mente. O que elabora, torna-se; quanto cultiva, experimenta.
A mente algema e libera, necessitando de austeras disciplinas para ser comandada, ao invés de ser a dominadora irredutível.
Nesse imperativo, o desejo expressa a qualidade evolutiva da pessoa, respondendo pela conduta e pelos fatores daí decorrentes.
O comportamento impõe necessidades e as expressa simultaneamente, definindo a pessoa.
Somente o autoconhecimento favorece o comportamento com as possibilidades de desenvolvimento pessoal, estruturador profundo do ser imortal.
A personalidade
Em permanente representação dos conteúdos mentais, e dominada pela imposição das leis e costumes de cada época e cultura, a personalidade representa a aparência
para ser conhecida, não raro, em distonia com o eu profundo e real, gerador de conflitos.
A personalidade é transitória e assinala etapas reencarnacionistas, definidoras de experiências nos sexos, na cultura, na inteligência, na arte e no relacionamento
interpessoal.
Cada pessoa reencarna com as características herdadas das experiências anteriores e submete-se aos condicionamentos de cada fase, por ela transitando com os
seus sinais tipificadores.
Assimilar todos os condicionamentos e exteriorizar uma personalidade consentânea com o ser real, eis o desafio da terapia transpessoal, trabalhando a pessoa
para que assuma a sua realidade positiva e superior, crescendo em conteúdos mentais e desencarcerando-se, até permitir-se a perfeita harmonia entre ser e parecer.
A identificação
De duas formas a pessoa se identifica com os valores do progresso: externa e internamente.
A identificação externa impõe as lutas e os conflitos da assimilação dos comportamentos sociais, nos quais o apego assume a condição mais importante, a primeira
e última da existência.
O apego externo, no entanto, é menos danoso do que o interior, responsável pelos vícios e paixões degenerativos, que conduzem a patologias dolorosas, crueis.
A identificação assinala o estágio de evolução de cada pessoa, fadada à elevação, que, para conseguir, deve liberar-se daqueles valores, desidentificando-se
de hábitos milenários, fixados, alguns, atavicamente, aos painéis do ser, gerando falsas necessidades, que se tornam fundamentais, portanto responsáveis pelo sofrimento
nas suas várias facetas.
A psicologia oriental estabelece na ilusão, na impermanência da vida física, com as quais a pessoa se identifica, algumas preponderantes razões para o sofrimento.
A desidentificação induz à conquista de patamares elevados, metafísicos, nos quais o ser se auto-encontra e se realiza.
A individualidade
Somatório de todas as experiências, a individualidade é o ser pleno e potente, que alcançou a auto-realização.
Imperecível, a individualidade é o Espírito em si mesmo, que reúne as demais dimensões e sabe conscientemente o que fazer, quando fazê-lo e como realizá-lo,
para ser a pessoa integral, ideal.
Enquanto a filosofia informava que a pessoa não é o indivíduo, na visão da psicologia profunda, este, que superou os condicionamentos e comportamentos pessoais
de consciência livre, é o ser total, pessoa transitória, individualidade eterna.
7
Fatores de desequilíbrio
A saúde da criatura humana resulta de fatores essenciais que lhe compõem o quadro de bem-estar: equilíbrio mental, harmonia orgânica e ajustamento sócio-econômico.
Quando um desses elementos deixa de existir, pode-se considerar que a saúde cede lugar à perturbação, que afeta qualquer área do conjunto psicofísico.
Sendo, a criatura humana, constituída pela energia que o Espírito envia a todos os departamentos materiais e equipamentos nervosos, qualquer distonia que a perturbe
abre campo para a irrupção de doenças, a manifestação de distúrbios, que levam aos vários desconsertos patológicos, conhecidos como enfermidades.
Por isso, é possível que uma criatura, em processo degenerativo, possa aparentar saúde, face à ausência momentânea dos sintomas que lhe permitem o registro,
a percepção do insucesso.
Da mesma forma, podemos considerar que, escrava da mente, a criatura transita do cárcere dos sofrimentos aos portões da liberdade - das doenças à saúde ou vice-versa
- através da energia direcionada ao bem, à harmonia, ou sob distonias, conflitos e traumas.
De relevantes significados são os conteúdos negativos do comportamento emocional, geradores das disritmias energéticas, que passam a desvitalizar os campos nos
quais se movimentam, enfraquecendo-os e abrindo-os à sintonia com os microorganismos degenerativos.
Entre os muitos fatores de destruição do equilíbrio, anotemos o amor, a angústia, o rancor, o ódio, que se convertem em gigantes da vida psicológica, com poderes
destrutivos, insuspeitáveis.
A mente desordenada, que cultiva paixões dissolventes, perde o rumo, passando a fixações neuróticas e somatizadoras, infelizes, que respondem pelos estados inarmônicos
da psique, da emoção e do corpo.
Os conteúdos do equilíbrio expressam-se no comportamento, propiciando modelos de criaturas desidentificadas com as manifestações deletérias do meio social, das
constrições de vária ordem, das dominações bacterianas.
A auto-análise, trabalhada pela insistência de preservação dos ideais superiores da vida, é o recurso preventivo para a manutenção do bem-estar e da saúde nas
suas várias expressões.
O amor
Confundidas as sensações imediatas do prazer com as emoções emuladoras do progresso moral, o amor constitui o grande demolidor das estruturas celulares, pela
força dos desejos de que se faz portador.
Certamente, referimo-nos ao amor bruto, asselvajado, possessivo, que situa no desejo a sua maior carga de aspiração.
Ocultando frustrações pertinazes e gerando mecanismos de transferência neurótica, as personalidades atormentadas aferram-se ao amor-desejo, ao amor-sexo, ao
amor-posse, ao amor-ambição, deixando-se consumir pelos vapores da perturbação, que a insistência mental e insensata do gozo desenvolve em forma de incêndio voraz.
O atormentado fixa a sua identidade na necessidade do que denomina amor e projeta-se, inconscientemente, sobre quem ele diz amar, impondo-se com sofreguidão
irrefreável, ou acalentando intimamente a realização do que anela, em terrível desarmonia interior. A quanto mais aspira e frui, mais exige e sofre; se não logra
a realização, mais se decompõe, perdendo ou matando, com os raios venenosos da mente em desalinho, as defesas imunológicas e a vibração de harmonia mental, logo
tombando nos estados enfermiços.
A angústia
A insegurança pessoal, decorrente de vários fatores psicológicos, gera instabilidade de comportamento, facultando altas cargas de ansiedade e de medo.
Sentindo-se incapaz de alcançar as metas a que se propõe, o indivíduo transita entre emoções em desconserto, refugiando-se em fenômenos de angústia, como efeito
da impossibilidade de controlar os acontecimentos da sua vida.
Enquanto transite nos primeiros níveis de consciência, a carência de lucidez dos objetivos essenciais da vida levá-lo-á a incertezas, porqüanto, as suas, serão
as buscas dos prazeres, das aspirações egoístas, das promoções da personalidade, sentindo-se fracassado quando não alcança esses patamares transitórios, equivocados,
em relação à felicidade.
Aprisionando-se em errôneos conceitos sobre a plenificação do eu, que confunde com as ambições do ego, pensa que ter é de relevante importância, deixando de
ser iluminado, portanto, superior aos condicionamentos e pressões perturbadoras.
A angústia, como efeito de frustração, é semelhante a densa carga tóxica que se aspira lentamente, envenenando-se de tristeza injustificável, que termina, às
vezes, como fuga espetacular pelo mecanismo da morte anelada, ou simplesmente ocorrida por efeito do desejo de desaparecer, para acabar com o sofrimento.
Normalmente, nos casos de angústia cultivada, estão em jogo os mecanismos masoquistas que, facultando o prazer pela dor, intentam inverter a ordem dos fenômenos
psicológicos, mantendo o estado perturbador que, no paciente, assume características de normalidade.
O recurso para a superação dos estados de angústia, quando não têm um fator psicótico, é a conquista da autoconfiança, delineamento de valores reais e esforço
por adquiri-los ou recorrendo ao auxílio de um profissional competente.
As ocorrências de insucesso devem ser avaliadas como treinamento para outras experiências, recurso-desafio para o crescimento intelectual, aprendizagem de novos
métodos de realizações humanas.
Exercícios de autocontrole, de reflexões otimistas, de ações enobrecedoras, funcionam como terapia libertadora da angústia, que deve ser banida dos sentimentos
e do pensamento.
O rancor
Fenômeno natural decorrente da insegurança emocional, o rancor produz ácidos destruidores de alta potencialidade, que consomem a energia vital e abrem espaços
intercelulares para a distonia e a instalação das doenças.
Entulho psíquico, o rancor acarreta danos emocionais variados, que levam a psicoses profundas e a episódios esquizofrênicos de difícil reparação.
A criatura humana tem a destinação da plenitude. O seu passo existencial deve ser caracterizado pela confiança, e os acontecimentos desagradáveis fazem-se acidentes
de percurso, que não interrompem o plano geral da viagem, nunca impeditivos da chegada à meta.
Por isso, os acontecimentos impõem, quando negativos, a necessidade de uma catarse libertadora, a fim de não se transformarem em resíduos de mágoas e rancores
que, de contínuo, assumem mais danoso contingente de ocorrência destrutiva.
A psicoterapia do perdão, com os mecanismos da renúncia dinâmica, consegue eliminar as seqüelas do insucesso, retirando o rancor das paisagens mentais e emocionais
da criatura, sem o que se desarticulam os processos de harmonia e equilíbrio psíquico, emocional e físico.
O ódio
Etapa terminal do desarranjo comportamental, o ódio é tóxico fulminante no oxigênio da saúde mental e física.
Desenvolve-se, na sua área, mediante a análise injusta do comportamento dos outros em relação a si, e nunca ao inverso. Fazendo-se vítima, porque passou a um
conceito equivocado sobre a realidade, deixa-se consumir pelo complexo de inferioridade, procedente da infância castrada, e descarrega, inconscientemente, a sua
falta de afetividade, a sua insegurança, o seu medo de perda, a sua frustração de desejo, em arremessos de ondas mentais de ódio, até o momento da agressividade
física, da violência em qualquer forma de manifestação.
O ódio é estágio primevo da evolução, atavicamente mantido no psiquismo e no emocional da criatura, que necessita ser transformado em amor, mediante terapias
saudáveis de bondade, de exercícios fraternais, de disciplinas da vontade.
Agentes poluidores e responsáveis por distúrbios emocionais de grande porte, são eles os geradores de perturbações dos aparelhos respiratório, digestivo, circulatório.
Responsáveis por cânceres físicos, são as matrizes das desordens mentais e sociais que abalam a vida e o mundo.
A saúde da criatura humana procede do ser eterno, vem das experiências em vidas anteriores, conforme ocorre com as enfermidades cármicas, no entanto, dependendo
da consciência, do comportamento, da personalidade e da identificação do ser com o que lhe agrada e com aquilo a que se apega na atualidade.
8
Condições de progresso e harmonia
Na estrutura profunda da individualidade humana, encontram-se as experiências milenárias do ser, nem sempre harmonizadas entre si, geradoras de conflitos e complexos
negativos que a atormentam.
Atavicamente vinculada ainda às sensações decorrentes da faixa primária por onde transitou, a líbído exerce-lhe poder preponderante no comportamento, conforme
as constatações de Freud, que a considerou fator essencial na vida humana. Observando os diversos fenômenos de conduta e as terríveis angústias, como exacerbações
da emotividade das criaturas, o mestre de Viena organizou todo o edifício da psicanálise na manifestação sexual castradora ou liberada, bem como na complexa influência
maternopaternal, que desde a infância conduziu o ser sob os tabus perniciosos e as constrições dos desejos irrealizados, das consciências de culpa, dos implementos
perturbadores da personalidade patológica.
Estamos, sem dúvida, diante de fatores incontestáveis, todavia adstritos às áreas fenomenológicas e não causais, em se considerando que, herdeiro de si mesmo,
o Espírito é o autor do seu destino - nunca será demasiado repetí-lo - renascendo em lares nos quais mantém vínculos afetivos e familiares, conforme a sua conduta
anterior.
Face à variedade de renascimentos, nem sempre consegue diluir as lembranças que permanecem em forma de tendências e aptidões, de desejos e necessidades. Não
digeridas, as frustrações, eis que se impõem mais graves, ao ressurgirem, na sucessão das ocorrências comportamentais, em forma de distúrbios psicológicos de variada
catalogação.
Preocupada com o ser-máquina, a psicologia não tem ensejado uma compreensão maior da criatura, que fica, na visão reducionista, limitada a um feixe de desejos
e paixões primitivas.
Em uma análise transpessoal, o ser enriquece-se de valores que lhe cumpre multiplicar cada vez mais, autoconhecendo-se e autodisciplinando -se, à medida que
a sua consciência adquire lucidez e torna-se ótima.
Abrem-se-lhe então as perspectivas antes cerradas, e facultam-se-lhe as oportunidades de dilatação do campo intelecto-emocional, passando a vencer as seqüelas
das existências anteriores, ainda predominantes no psiquismo, que se exteriorizam em forma de desarmonia.
A desidentificação com os graves compromissos que ainda o atormentam torna-se factível, mediante a impregnação com outros ideais e aspirações mais abrangentes
quão agradáveis, que passam a povoar-lhe a paisagem mental.
Nesse esforço, faz-se viável o autoconhecimento, como primeiro tentame de crescimento psicológico. A necessidade de tornar a mente um espelho, e
postar-se defronte dela desnudo, é inadiável. Somente através de um exame da própria realidade, observando-se sem emoção - o que impede os sentimentos de autocompaixão
como os de autopromoção, de justificação ou culpa - consegue-se um retrato fiel do que se é, e do que cumpre fazer-se para mais amar-se e ajudar-se como segmento
imediato do esforço.
Enquanto a criatura não se despoja dos artifícios com que se oculta, evitando desnudar-se em uma atitude infantil repressiva, qualquer tentame exterior para
o progresso e a harmonia resulta inócuo, quando se não torna perturbador.
Ninguém é culpado conscientemente de ser frágil, fragmentário, ocorrências naturais do processo de evolução. Não obstante, a permanência na postura denota imaturidade
psicológica ou manifestação patológica do comportamento.
Quando alguém aspira por mudanças para melhor, irradia energias saudáveis, do campo mental, que contribuem para a realização da meta. Através de contínuos esforços,
direcionados para o objetivo, cria novos condicionamentos que levam ao êxito, como decorrência normal do querer. Nenhum milagre ou inusitado ocorre, nessa atitude
que resulta do empenho individual.
O autodescobrimento tem por finalidade conscientizar a pessoa a respeito do que necessita, de como realizá-lo e quando dar início à nova fase. Acomodada aos
estados habituais, não se dá conta das incalculáveis possibilidades que lhe estão ao alcance, bastando-lhe apenas dispor-se a desdobrá-las.
O auto-encontro pode ser logrado através da meditação reflexível, do esforço para fixar a mente nas idéias positivas, buscando saber quem se é, e qual a finalidade
da sua existência corporal e do futuro que a aguarda.
Equipada de honesto desejo de eqüacionar-se, a esfinge perturbadora atira-se ao mar do discernimento e desaparece, deixando o indivíduo livre seguir, sem a maldita
fatalidade de ser desditoso.
A consciência liberta-o das heranças paterno-maternais, produzindo o conhecimento lúcido e benéfico, que se torna filho capaz de conduzi-lo pelos caminhos da
vida, sem a imposição caprichosa do deus-destino.
Ao lado da meditação, encontra-se a ação solidária no concerto social, que alarga as possibilidades no campo onde se movimenta e promove o ser profundo, limpando-o
dos caprichos do ego e liberando-o das arbitrárias injunções limitadoras, angustiantes.
O intercâmbio social com objetivos fraternais rompe as amarras do medo, dando outra dimensão à afetividade - sem apego, sem paixão, sem desejo, sem neurose -,
facultando a harmonia pessoal - sem ansiedade, sem conflito, sem culpa -, ensejando saúde mental e emocional indispensáveis à física.
As condições do progresso e harmonia do eu real propõem um estudo das virtudes evangélicas, uma releitura dos seus fundamentos e posterior aplicação na conduta
pessoal.
Amor indistinto, manifestando-se em todas as expressões e começando por si próprio, com segurança de propósitos, metas e realizações, é o passo inicial da fase
nova, ao lado do perdão liberador de ressentimentos, desgosto e inferioridade geradora de reações de violência ou de depressão com caráter autopunitivo.
Na visão transpessoal, o progresso e a harmonia são conquistas internas do ser humano, que se exteriorizam como entendimento da vida e atração por ela, num empenho
incessante de crescer e jamais cansarse, saturar-se ou desistir.
O progresso é fatalidade da vida, e a harmonia resulta da consciência desperta para a conquista da sua plenificação.
TERCEIRA PARTE
PROBLEMAS E DESAFIOS
9
Êxito e fracasso
O estado normal da criatura é o de saúde, no qual o bem-estar e o equilíbrio proporcionam clima respirável de satisfação.
Elaborada para um ritmo harmônico de vida, a maquinaria fisiopsiquica obedece a automatismos precisos, dos quais resultam a saúde e as disposições emocionais,
para galgar-se patamares reais elevados nos processos das aspirações idealistas.
Ser pensante, destaca-se a criatura na escala zoológica, compreendendo os mecanismos da vida e aplicando o conhecimento para os logros da auto-realização e da
autoplenificação que lhe constituem o ápice da saúde.
Saúde seria, portanto, um fenômeno natural. Não fossem, do ponto de vista biopsicológico, as heranças genéticas, os fatores psicossociais, as ocorrências familiares
e o convívio do lar, o ser não atravessaria os caminhos difíceis dos distúrbios e doenças perturbadoras.
Considerado o ser apenas como uma máquina, teríamos a vida sem finalidade nem objetivo, porqüanto ele já nasceria sob os estigmas dos ancestrais - no que diz
respeito às heranças genéticas, ao lar condicionador e à sociedade - no caso das distonias e anormalidades, das síndromes degenerativas e dos fenômenos patológicos
vários, que determinam as desgraças de uns, e, por outro lado, os propiciatórios para a felicidade, a saúde e a beleza de reduzida faixa dos demais.
Sem dúvida, tal colocação falha pela ausência de uma sustentação lógica, considerando todas as ocorrências como procedentes do acaso fatalista e absurdo...
A análise transpessoal do ser concede-lhe dignidade causal e destinação final, mediante a travessia do percurso que lhe cumpre trilhar, gerando os meios felicitadores,
ou desditosos, que são efeitos das suas realizações precedentes.
Passo a passo, desenvolvem-se os atributos da personalidade, ampliando-se os conteúdos da individualidade e aprimoram-se as aptidões latentes que são o germe
da presença divina em todos.
Possuidor de recursos e potências não dimensionadas, o ser desabrocha e cresce sob as condições que lhe são inerentes, cabendo-lhe seguir o heliotropismo superior
que o leva à sua destinação gloriosa.
Impregnado pelas partículas e moléculas materiais que o vestem, enquanto reencarnado, não raro a visão do êxito apresenta-se-lhe distorcida, caracterizando-se
como o deleite contínuo, resultante dos prazeres hedonistas que a posição social relevante e o poder político-econômico proporcionam, ensej ando um prolongado desfrutar.
Esquecendo-se da impermanência de tudo e da fugacidade do tempo - pelo qual apenas transita, na sua dimensão de eternidade - desgasta-se, envelhece, adoece e
morre... O imprevisível surpreende-o, e surgem-lhe a saturação, o desinteresse, os sentimentos apaixonados e os frustrados, proporcionando desequilíbrios interiores
que se expressarão em tormentos para si e para os outros no inter-relacionamento pessoal.
Na busca do êxito, o ser, psicologicamente imaturo, investe todos os valores, e na competição encontra o estímulo para galgar os degraus do destaque, descendo
moralmente, na escala dos padrões, à medida que ascende na aparência.
Essa dicotomia de ocorrências - a interna e a externa - resultará em infelicitá-lo, perturbando-lhe o senso de avaliação e de consideração da realidade, talvez
ferindo profundamente a pessoa.
Caça-se o êxito como se fosse, na floresta humana, o objetivo essencial à vida, confundindo-se triunfo de fora com realização de harmonia interior.
Denigre-se então o adversário, que não o sabe, tornado assim por estar à frente ou mais alto; segue-se-lhe o passo, ocupando-lhe o lugar imediatamente inferior
por ele deixado, até emparelhar-se-lhe e derrubá-lo, assumindo-lhe a posição.
Inevitavelmente, porque não permanecem espaços vazios nos relacionamentos humanos, enquanto, por sua vez ascende, deixa o degrau aberto que logo estará ocupado
por aqueloutro que lhe será o substituto.
O triunfo de hoje é o prólogo do desencanto e das lágrimas de amanhã; sorrisos se tornarão esgares, e aplausos far-se-ão apedrejamentos, considerando-se, na
população humana, as mesmas aspirações e os equivalentes conflitos.
A criatura são as suas necessidades.
O psicólogo americano pragmatista, William James, classificou os biótipos humanos em espíritos fracos e fortes, enquanto Ernesto Kretschmer, psiquiatra alemão,
considerou as personalidades de acordo com a compleição do indivíduo em pícnico, ou pessoa redonda; atlético, ou pessoa quadrada; e o astênico, pessoa delgada. Face
a tal conclusão, afirmou que há espíritos esquizóides e ciclotímicos, enquanto Carlos Gustavo Jung os considerou introvertidos e extrovertidos.
Em todos há uma ânsia comum: os fracos fortalecerem-se, os ciclotímicos harmonizarem-se e os introvertidos exteriorizarem-se.
As psicoterapias são aplicadas conforme as revelações do inconsciente, arrancando dos arquivos do psiquismo os fatores que geraram os traumas e determinaram
os conflitos, interpretando as ocorrências dos sonhos nos estados oníricos e as liberações catársicas nas demoradas análises.
Nem sempre, porém, serão encontradas as matrizes de tais patologias, que estão profundamente registradas no Espírito, como decorrência de condutas, de atividades,
dos sucessos das reencarnações passadas.
Somente a sondagem cuidadosa dos arcanos do ser pretérito enseja o encontro das causas passadas, geradoras dos problemas atuais.
Uma análise transpessoal libera-o dos tabus, inclusive, da visão distorcida da realidade, que deixa de ser a exclusiva expressão terrena, para transportá-la
para a vida imortal, precedente ao corpo e a ele sobrevivente, demonstrando que o êxito, o triunfo, o fracasso, o insucesso, não se apresentam conforme a proposta
social imediatista, porém outra mais significativa e poderosa.
Convém determinar-se que o êxito material pode significar fracasso emocional, espiritual, e, às vezes, o insucesso, a aparente falta de triunfo constitui a plena
vitória sobre si mesmo, suas paixões e pequenezes, uma forma de opção para o crescimento interior, ao invés do empenho pelo amealhar de moedas e reunião de títulos
que não acalmam as emoções nem tranqüilizam as ambições.
Certamente, a criatura deve possuir e dispor de recursos necessários para uma vida saudável, consentânea com o grupo social no qual se encontra. No entanto,
o êxito não pode ser medido em contas bancárias, prestígio na comunidade e destaque político. Da mesma forma, não é factível definir-se por fracasso a ausência desses
troféus.
Os homens e mulheres plenos, vitoriosos de todos os tempos, venceram-se, completaram-se e, sem qualquer tipo de conflito, optaram pela realização interior, respeitando
todas as aspirações e direitos dos demais indivíduos, porém, a eles próprios impondo-se a auto-realização que lhes propiciou saúde - mesmo quando enfermos -, felicidade
- embora perseguidos algumas vezes - e êxito - isto é, a vitória no que anelavam, apesar de levados ao martírio.
A visão transpessoal do êxito e do fracasso está ínsita na pessoa interior, real, a criatura harmonizada consigo mesma, com as outras pessoas, com a natureza
e a vida.
Êxito é encontro, enquanto fracasso é domínio pelo ego.
O êxito gera paz, e o fracasso inquieta.
Auto-analisando-se, cada qual se descobre, assim dando-se conta do triunfo ou do insucesso, podendo recomeçar para alcançar o êxito, nunca o fracasso.
10
Dificuldades do ego
Característica iniludível de imaturidade psicológica do indivíduo, é a sua preocupação em projetar o próprio ego.
Atormentado pela ausência de valores pessoais, quão inseguro no comportamento, apega-se às atitudes afugentes da autopromoção, passando a viver em contínua inquietação,
porque sempre insatisfeito.
Afirmou Freud que o sofrimento é inevitável, considerando os grandes problemas que aturdem os seres nas várias expressões em que se exteriorizam.
De fato, a transitoriedade da vida física responde pela morte rápida da ilusão e pela destruição dos seus castelos, produzindo lamentáveis estados emocionais
naqueles que se lhes agarram com todas as veras. Logo percebem-se de mãos vazias, sem qualquer base em que apóiem e firmem as aspirações que acalentam.
As diversas enfermidades e as variadas frustrações, que se radicam no ego, têm, porém, uma historio-grafia muito larga, transcendendo a existência atual, remontando
ao passado espiritual do ser.
Não conhecendo a gênese das mesmas, o indivíduo centraliza, nas necessidades de afirmação da personalidade, os seus anseios, derrapando nas valas da projeção
indébita do ego.
Quando não se consegue aparecer através das realizações edificantes, mascara-se, e promove situações que vitaliza no íntimo, desde que chame a atenção, faça-se
notar.
Em alguns casos, vitimado por conflitos rudes, elabora estados narcisistas e afoga-se na contemplação da própria imagem, em permanente estado de alienação do
mundo real e das pessoas que o cercam.
Patologicamente sente-se inferiorizado, e oculta o drama interior partindo para o exibicionismo, como mecanismo de fuga, sustentando-se em falsos pedes-tais
que desmoronam e produzem danos psicológicos irreparáveis.
A criatura que não se conhece, atende ao ego, buscando tornar-se o centro das atenções mediante tricas e malquerenças, que estabelece com rara habilidade, ou
envolvendo-se nos mantos que a tornam vítima, para, desse modo, inspirar simpatia, colimando o objetivo de ser admirada, tida em alta conta.
Toda preocupação que se fixa, conduzindo a autopromoção, constitui sinal de alarme, denunciando manifestação dominadora do ego em desequilíbrio, que logo gerará
problemas.
A conscientização da transitoriedade da existência física conduz o ser ao cooperativismo e à natural humildade, tendo em vista as realizações que devem permanecer
após o seu desaparecimento orgânico.
Por outro lado, o autodescobrimento amadurece o ser, facultando-lhe compreender a necessidade da discrição que induz ao crescimento interior, à plenitude.
Toda vez que alguém se promove, chama a atenção, mas não se realiza. Pelo contrário, agrada o ego e fica inquieto observando os competidores eventuais, pois
que, em todas as pessoas que se destacam vê inimigos, face ao próprio desequilíbrio, assim engendrando novas técnicas para não ficar em segundo plano, não passar
ao esquecimento.
O tormento se lhe faz tão pungente e perturbador que, em determinadas áreas das artes, criou-se o brocardo: Que se fale mal de mim; mas que se fale, numa asseveração
de que a evidência lhes preenche o ego, mesmo quando é negativa.
A Psicologia Transpessoal, diante de tal estado, propõe uma revisão dos conteúdos da personalidade, do ego, estabelecendo, como fator essencial no processo da
busca da saúde, a conquista do ser pleno, realizador, identificando-se preexistente ao corpo e a ele sobrevivente, sem o que a vida se lhe torna, realmente, um sofrimento
inevitável.
Nas faixas da evolução mais densa, em que estagia a grande mole humana, o sofrimento campeia, por ser uma forma de malho e de bigorna que trabalham o indivíduo,
nele insculpindo o anjo e arrancando-lhe o demônio do primitivismo aí predominante.
Ciúme, ressentimento, inveja, ódio, maledicência e um largo cortejo de emoções perturbadoras são os filhos diletos do ego, que deseja dominação e, na ânsia de
promover-se, nada mais logra do que projetar a própria sombra, profundamente prejudicial, iníqua.
A superação dessa debilidade moral, dessa imaturidade psicológica ocorrerá, quando o paciente, de início, vigiar as nascentes do coração, conforme propôs Jesus,
o Psicoterapeuta Excelente, realizando um trabalho de crescimento emocional e uma realização pessoal plenificadores.
Qualquer escamoteamento da situação mórbida constitui risco para o comportamento, face aos perigos que são produzidos pelos problemas do ego dominador.
11
Neurose
Enfermidade apirética, decorrente de perturbações do sistema nervoso, sem qualquer lesão anatômica de vulto, a neurose é mal que perturba expressivo número de
criaturas da mole humana.
Com características próprias e sem causalidade cerebral, desequilibra a emoção e gera desajustes fisiológicos sem patogênese profunda.
Para um melhor, breve, estudo metodológico, recorremos a Freud, que classificou as neuroses em dois grupos, embora a complexidade moderna de conceitos e variedades
ora apresentados por especialistas.
O célebre médico vienense, que muito se interessou pelas neuroses, estabeleceu que as há verdadeiras e psiconeuroses. As primeiras decorrem de fixações e pressões
de vária ordem, desajustando o sistema nervoso, sem que necessariamente o lesionem. Ao lado do mecanismo psicológico causal, apresentam uma temporária perturbação
orgânica. São elas: a neurastenia, a hipocondria, as de ansiedade, as de origem traumática... Ao se instalarem, apresentam estados de angústia, de ansiedade, de
insegurança, de medos... As segundas, porque de origem psicogênica, conduzem a uma regressão de fixações da infância, expressando-se como manifestações de histeria
conversiva, ansiosa, incluindo os estados obsessivo e compulsivo.
As neuroses, porque de apresentação sutil no seu começo - tiques nervosos, repetições de palavras ou de gestos, dependências de bengalas psicológicas, fixações
psíquicas que se agravam - grassam, na sociedade, especialmente em decorrência de exigências do grupo social e da coletividade, em formas de pressões reais ou aparentes,
que, nos temperamentos frágeis, produzem desarmonia, dando curso a inquietações, às vezes, alarmantes.
É comum fazerem-se acompanhar de episódios e fenômenos somáticos mui variados, como taquicardias, prisões de ventre, dores que parecem reais. A medida que se
agravam, podem levar a paralisias, distúrbios de postura, de fonação, movimentos desconexos...
Quando se apresentam com manifestações fóbicas - medos de ambientes fechados, de altura, de doenças, amnésia, etc. - trazem componentes graves, de mais difícil
recuperação.
O quadro dos estados histéricos, conversivos e ansiosos, radica-se na psique e tende a avançar para as fixações obsessivas e compulsivas atormentantes.
Generalizando a sua etiopatogenia, também podem manifestar-se em caráter misto, isto é, verdadeiro e psicogénico, simultaneamente, assumindo proporções mais
sérias, a um passo dos estados psicóticos, às vezes, irreversíveis.
Não raro, as neuroses apresentam-se com caráter de culpa, atormentando o paciente com a inquietante idéia de que, sobre todo mal e insucesso que lhe acontece,
a responsabilidade pertence-lhe. A manifestação do pensamento de culpa tem um significado autopunitivo, perturbador, que dissocia a personalidade, fragmentando-a.
Outras vezes, expressam-se como forma de transferência, e a necessidade de culpar outrem aturde o paciente, que se apresenta sempre na condição de vitima, buscando,
fora de si, as razões que lhe justifiquem as ocorrências mínimas ou máximas que o desagradem. Quando ele não encontra um responsável próximo e direto, apela para
a figura do abstrato coletivo: a sociedade, o governo, Deus...
Os estados neuróticos são profundamente inquietadores e desarmonizam o psiquismo humano, necessitando receber conveniente terapia, bem como perseverante esforço
de recomposição psicológica.
Aprofundando-se a sonda da inquirição na psicogênese dos fenômenos neuróticos, defrontar-se-ão as causas reais na conduta anterior do paciente, que atrelou a
consciência a comportamentos desvariados e passou injustamente considerado, recebendo simpatia e amizade dos amigos e conhecidos, quando deveria haver sido justiçado,
transferindo os receios e inseguranças, que permaneceram camuflados por aparência digna para a atual reencarnação, na qual assomam do inconsciente profundo as culpas
e os conflitos que ora se manifestam como processos reparadores.
Eis por que, ao lado das neuroses, surgem episódios de obsessão espiritual que agravam a débil constituição do enfermo, empurrando-o para processos longos de
loucura.
Assim ocorre, porque as vítimas das suas ações ignóbeis morreram, porém não se consumiram, e porque prosseguiram vivendo, reencontram, por afinidade de consciência
de dívida-e-cobrança, os adversários, inflingindo-lhes então maior soma de aflições, a princípio telepaticamente, depois sujeitando-os pelo controle mental e, ainda,
mais tarde, de natureza física, quando ocorrem as subjugações lamentáveis.
A consciência inquieta, que reflete na psicologia do indivíduo os estados neuróticos, encontra-se vinculada a acontecimentos pretéritos, negativos, quão infelizes.
As moléstias, particularmente na área psíquica, instalam-se, por serem doentes da alma os seus portadores.
Toda terapia liberativa deve ter como recurso de auxílio a renovação moral do paciente, sua reeducação através das disciplinas espirituais da oração, da meditação,
da relevante ação caridosa, por cujo meio ele se lenifica e se apazigua com aqueles que o odeiam e consigo mesmo, por constatar a excelência da própria recuperação.
Lentamente, a Psicologia Transpessoal identifica esses seres - personalidades anômalas, dúplices, etc. - que interferem no comportamento das criaturas humanas
e as perturbam, não sendo outros, senão, as almas dos homens que antes viveram na Terra e permanecem vivos.
Como terapia preventiva a qualquer distúrbio neurótico, a auto-análise freqüente, com o exame de consciência correspondente, desidentificando-se das matrizes
perturbadoras do passado, e abrindo-se às realizações de enobrecimento no presente, com os anseios da conquista tranqüila do futuro.
Certamente, conhecendo a etiopatogenia das enfermidades em geral, Jesus asseverou: A cada um segundo as suas obras...
Atuar sempre com segurança após saudável reflexão, pensar com retidão e viver em paz consigo mesmo, representam o mais equilibrado e expressivo caráter psicológico
de criatura portadora de saúde mental.
QUARTA PARTE
FATORES DE DESINTEGRAÇÃO DA PERSONALIDADE
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Autocompaixão
Psicologicamente, o homem que cultiva a autopiedade desenvolve tormentos desnecessários que o deprimem na razão direta em que a eles se entrega.
Reflexões sobre dificuldades pessoais constituem fenômeno auxiliar para ações dignificadoras, facultando a identificação dos recursos disponíveis, bem como
avaliação das atitudes que redundaram em insucesso ou desequilíbrio, a fim de as evitar no futuro ou corrigi-las quanto antes.
Toda aprendizagem assenta-se nos critérios do erro e do acerto, selecionando as experiências consideradas saudáveis, benéficas, que se fixam pela natural
repetição.
Desse modo, os insucessos são patamares que propiciam avanços para que se alcancem degraus mais elevados.
Quando, porém, o indivíduo elege a posição de vítima da vida, assumindo a lamentável condição de infelicidade, encontra-se a um passo de perturbações emocionais
graves, logo derrapando em psicopatologias devastadoras.
A mente, conforme seja acionada pela vontade, torna-se cárcere sombrio ou asas de libertação, e ninguém se lhe exime à influência.
Conduzida pelos escuros corredores da lamentação, desatrela condicionamentos que aprisionam o ser demoradamente.
Por isso mesmo, o cultivo da autocompaixão, mediante a insistente reclamação em torno dos acontecimentos da vida, demonstrando insatisfação sistemática, transforma-se
em mecanismo masoquista de perturbadora presença no psiquismo. A pseudo-aflição mantida converte-se em motivo de alegria, realizando um mecanismo de valorização
pessoal, cujo desvio comportamental plenifica o ego.
Todo aquele que se faculta a autocompaixão neurótica é portador de insegurança e de complexo de inferioridade, que disfarça, recorrendo, inconscientemente, às
transferências da piedade por si mesmo, sem qualquer respeito pelas demais pessoas. Desenvolve os sentimentos de indiferença pelos problemas dos outros, fechando-se
no círculo diminuto da personalidade mórbida.
No seu atormentado ponto de vista, somente a sua é uma situação dolorosa, digna de apoio e solidariedade. E, quando essas expressões de socorro lhe são dirigidas,
reage, recusando-as, a fim de permanecer na postura de infelicidade que o torna feliz.
Aquele que se entrega à autocompaixão nunca se satisfaz com o que tem, com o que é, com os valores de que dispõe e pode movimentar. Não raro, encontra-se mais
bem aquinhoado do que a maioria das pessoas no seu grupo social; no entanto, reclama e convence-se da desdita que imagina, encarcerando-se no sofrimento e exteriorizando
mal-estar à volta, com que contamina as pessoas que o cercam ou que se lhe acercam.
Os grandes vitoriosos do mundo lutaram com tenacidade para romper os limites, os problemas, as enfermidades, os desafios. Não nasceram fortes; tornaram-se vigorosos
no fragor das batalhas travadas. Não se detiveram na lamentação, porque investiram na ação todo o tempo disponível.
Milton, o poeta cego, prosseguiu escrevendo excelentes poemas, ao invés de lamentar-se; Beethoven continuou compondo, e com mais beleza, após a surdez total;
Chopin, tuberculoso, deu seguimento às músicas ricas de ternura, entre crises de hemoptises, e Mozart, na miséria, sofrendo competições ultrizes, traduziu para os
ouvidos humanos as belas melodias que lhe vibravam na alma...
Epícteto, escravo e doente, filosofava, estóico; Demóstenes, gago, recorreu a seixos da praia, colocando-os sobre a língua, para corrigir a dicção; Steinmetz,
aleijado, contribuiu para o engrandecimento da Quimica...
Franklin D. Roosevelt, vitimado pela poliomielite, tornou-se presidente da América do Norte e colaborou grandemente para a paz mundial durante a Segunda Guerra;
Helen Keller, cega, surda e muda, comoveu o mundo com a sua coragem, cultura, e amor a Deus, ao próximo, à vida e a si própria...
A galeria é expressiva e iluminada pelo gênio e pela coragem desses homens e mulheres extraordinários.
Quando se mantém a autocompaixão, extermina-se o amor, não se amando, nem tampouco a ninguém.
O homem tem o dever de aprofundar meditações em torno das aflições e dos seus problemas, a fim de os superar.
A desenvolvimento saudável do ser psicológico impele-o à confiança e o induz à atividade para a aquisição do sentido da vida, da sua finalidade.
Quem de si se compadece, recusa-se a crescer e não luta, estagiando na amargura com a qual se compraz.
Fator de desintegração da personalidade, a auto-compaixão deve ser rechaçada sempre e sem qualquer consideração, cedendo espaço mental para os tentames que levam
à vitória, à saúde emocional e à harmonia íntima.
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Queixas
O golfo de Corinto, na Grécia, é região de beleza ímpar. As suas águas, em tonalidade azul-turquesa, parecem um espelho, emoldurado pelas montanhas que lhes
resguardam a tranqüilidade multimilenaria.
No monte Parnaso, em lugar de destaque, erguia-se o santuário de Delfos, o mais importante da época, onde se cultuava Apolo, o deus da razão, da cultura, da
luz.
Na mitologia grega arcaica, Apolo era o símbolo do conhecimento, eqüacionador dos enigmas e dos conflitos. Para o seu templo, em conseqüência, acorriam multidões
aturdidas e ansiosas em busca de orientação, de segurança emocional, de solução para os problemas.
Psicanaliticamente, era um reduto onde nasciam as identificações inconscientes do ser, organizadoras do eu. Ali, as sibilas, que transmitiam as repostas do deus
evocado, desempenhavam papel importante no comportamento dos consulentes, bem como das cidades-estados que lhes buscavam ajuda, inspiração.
Era o santuário no qual se sucediam os apelos, e se multiplicavam as queixas dos desesperados, dos que necessitavam de soluções imediatas para a sobrevivência
moral, financeira, social, emocional...
Hoje, reduzido a escombros, ainda permanece a sua mensagem no inconsciente da criatura, herdeira do arquétipo arcaico, que prossegue buscando soluções fáceis,
miraculosas, sem o contributo do esforço pessoal, que deve ser desenvolvido.
Permanecendo na infância psicológica, aquele que de tudo se queixa tem a personalidade desestruturada, permanecendo sob constantes bombardeios do pessimismo,
do azedume e dos raios destruidores da mente rebelde.
A queixa de que se faz portador é reação mental e emocional patológica, refletindo-lhe a insegurança e a perturbação, responsáveis pelas ocorrências negativas
que procura ignorar ou escamotear.
Ocultando os conflitos perturbadores, transfere para as demais pessoas as causas dos seus insucessos, sem conseguir enunciá-las, porque destituídas de lógica,
passando as acusações para os tempos nos quais vive, às autoridades governamentais, à má sorte, aos fados perversos, assim acalmando-se e tornando-se vítima, no
que se compraz.
Os mitos trágicos, que remanescem no inconsciente, assomam-lhe, e personificam-se nas criaturas, que passa a detestar ou nas circunstâncias, que são denominadas
como aziagas.
Certamente, há fatores humanos e ocasionais que respondem pelas dificuldades e problemas humanos. São, no entanto, a fragilidade e a insegurança do paciente
que ocasionam o insucesso, que poderia ser transformado em êxito, caso, no qual, abandonando a queixa, perseverasse na ação bem direcionada.
Não consideramos sucesso apenas o triunfo econômico, social, político, religioso, artístico, quase sempre responsável por expressões de profundo desequilíbrio
no comportamento, gerador de estados neuróticos e de perturbações lastimáveis, que se agravam com as queixas.
Referimo-nos a sucesso, quando o indivíduo, em qualquer circunstância, mantém a administração dos seus problemas com serenidade, conserva-se em harmonia no êxito
social ou na dificuldade, sem nenhuma perturbação ou desagregação da personalidade, através dos bem aceitos recursos de evasão da responsabilidade.
Por isso, o santuário de Delfos ensinava o conhece-te a ti mesmo como psicoterapia relevante, e mediante esta contribuição o ser amadureceria, crescendo interiormente,
assegurando-se da sua fatalidade histórica, a plenitude.
A queixa, como ferrugem na engrenagem do psiquismo, é cruel verdugo de quem a cultiva.
Substitui-la pela compreensão, perante os fenômenos da vida, constitui mecanismo valioso de saúde psicológica.
Diante de quaisquer injunções perturbadoras, o enfrentamento tranqüilo com as ocorrências deve ser a primeira atitude a ser tomada, qual se se buscasse Apoio
- o discernimento -, deixando-se conduzir pela razão lúcida - a sibila - e descobrisse a real finalidade de todos os fatos existenciais.
14
Comportamentos exóticos
A dependência psicológica do morbo da queixa, traduzindo insegurança e instabilidade emocional, leva a estados perturbadores que se podem evitar, mediante o
cuidado na elaboração das idéias e do otimismo na observação das ocorrências.
O queixoso perdeu o endereço de si mesmo, transferindo-se para os departamentos da fiscalização da conduta alheia.
Síndrome compulsiva para aparecer, o paciente oculta-se na mentirosa postura de vítima ou na condição de portador de conduta inatacável, escorregando pela viciação
acusadora, que mais lhe agrava o distúrbio no qual estertora.
Da simples fixação do erro e apenas dele - conforme afirma o brocardo popular, enxerga uma agulha num palheiro - modifica o comportamento perdendo a linha convencional
do que é correto e saudável para viver de maneira alienada, cultivando exotismos, dando largas ao inconsciente, responsável pelas repressões que se transformaram
em mecanismos de afirmação da personalidade.
Saúde, em realidade, é estado de bom humor, com inalterável tolerância pelas excentricidades dos outros e seus correspondentes erros.
O homem saudável sobressai pela harmonia e otimismo em todas as situações, mantendo-se equilibrado, sem os azedumes perturbadores, os ademanes chamativos, nem
as agravantes manifestações anômalas.
A doença caracteriza-se pela inarmonia em qualquer área da pessoa humana, gerando os distúrbios catalogados nos diferentes departamentos do corpo, da mente,
da emoção.
A insegurança, a frustração, os complexos de inferioridade, perturbando o equilíbrio psicológico, transferem-se para as reações nervosas, manifestando-se em
contrações musculares, fixações, repetições de gestos, palavras e conduta alienadoras, que degeneram nas psicoses compulsivas, específicas, cada vez mais constritoras,
em curso para o desajuste total...
O excêntrico é ser atormentado, ególatra; frágil, que se faz indiferente; temeroso, que se apresenta com reações imprevisíveis; insensível, que se recusa enfrentar-se.
Ignora os outros e vive comportamentos especiais, como única maneira de liberar os conflitos em que se aturde.
A psicoterapia própria, reajustadora, apresenta-se propondo-lhe uma revisão de valores culturais e sociais, envolvendo-o no grupo familiar e nos problemas da
comunidade, a fim de que rompa a carapaça da dissimulação e assuma as responsabilidades que interessam a todos, tornando-se célula harmônica, ativa, ao invés de
manter-se em processo degenerativo, ameaçador...
Atavicamente herdeiro dos hábitos pretéritos, conduz, de reencarnações infelizes, excentricidades multiformes, como arquétipos do inconsciente coletivo que,
no entanto, são gerados por ele próprio.
Nessa área, surgem os distúrbios do sexo, predominando a psicologia à morfologia, caracterizando biótipos extravagantes, que chamam a atenção pelo desvio de
conduta, por fenômeno psicológico de não aceitação de sua realidade, compondo uma personificação que agride aos outros, e a si mesmo se realiza em fenômeno de autodestruição.
A exibição não é apenas uma forma de assumir o estado interior, psicológico, mas, também, de chocar, em evidente revolta contra o equilíbrio mente-corpo, emoção-função
fisiológica...
Por extensão, a compulsão psicótica leva-o à extroversão exagerada, em todas as formas da sua comunicação com o mundo exterior, pondo para fora os conflitos,
mascarados em expressões que lhe parecem afirmar-se perante si mesmo e as demais pessoas.
Outrossim, algumas dessas personalidades exóticas fazem-se isoladas onde quer que se encontrem, evitando o relacionamento com o grupo, em postura excêntrica,
de natureza egoísta.
Exigem consideração, que não dispensam a ninguém; auxílio, que jamais retribuem; gentilezas, que nunca oferecem, sendo rudes, mal-humorados, insensíveis e presunçosos.
Essa é uma fase adiantada do comportamento exótico, que exige mais acentuada terapia de profundidade.
Nesse estágio da conduta, os sonhos são-lhes caracterizados pela necessidade tormentosa de conseguirem a realização plenificadora, que não atingem.
Devaneios íntimos povoam-lhes o campo onírico, referto de transtornos e pesadelos, que mais os inquietam quando no estado de consciência lúcida.
Os fatos da infância ressurgem-lhes fantasmagóricos, e a imagem da mãe, excessivamente dominadora ou tragicamente benévola, que transferiu para o rebento suas
frustrações e nele passou a realizarse, anelando para a felicidade do ser querido tudo aquilo quanto não fruiu, neurótica, portanto, na sua estrutura maternal.
A psicoterapia deve apoiar-se na busca da conscientização do paciente, para que assimile novos hábitos, empenhando-se em harmonizar a sua natureza interior com
a sua realidade exterior, exercitando-se no convívio social sem a tentação de destacar-se, sendo pessoa comum, identificada com os objetivos normais da vida, que
escolherá conforme as próprias aptidões, trabalhando com esforço a modelagem da nova personalidade.
O desenvolvimento da criatividade contribui para o ajustamento da personalidade ao equilíbrio, gerando o enriquecimento interior, que anulará os condicionamentos
viciosos.
Sem dúvida, o acompanhamento do psicólogo assim como do analista atentos lhe propiciará o encontro com o eu profundo e seus conteúdos psíquicos, liberando-se
das heranças neuróticas e dos condicionamentos psicóticos.
O homem e a mulher saudáveis têm comportamento ético, sem pressão, e tornam-se comuns, sem vulgarizarem-se.
QUINTA PARTE
PROBLEMAS HUMANOS
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Problemas Humanos
Os problemas humanos ou desafios existenciais fazem parte do organograma da evolução.
A criatura pensante é um ser incompleto ainda, em constante processo de aprimoramento, de transformações, em prolongado esforço para desenvolver os potenciais
psicofísicos, parapsicológicos e mediúnicos nela em latência.
Aferrada às impressões mais grosseiras do ego, face ao que considera como fatores indispensáveis à sobrevivência - valores materiais que propiciam alimentação,
vestuário, repouso, prazer e tranqüilidade ante a doença e a velhice - desenvolve o apego e exterioriza o sentimento centralizador da posse, mantendo-se em alerta
para a preservação desses bens, que lhe parecem de significado único, portanto, essenciais.
Qualquer ameaça, real ou imaginária, que possa produzir a perda, torna-se problema, que logo se incorpora à conduta, gerando perturbação, desar.
Além desses, outros (problemas) há de natureza psicológica, como heranças reencarnacionistas, que ressumam em forma de fenômenos patológicos, inquietadores.
Somem-se-lhes os que se derivam do inseguro inter-relacionamento pessoal, como decorrencia do que se consigna em condição de imperfeições da alma.
Os problemas enraízam-se, não raro, nos tecidos da malha delicada do psiquismo, avultando-se ou perdendo o sentido, de acordo com as resistências fortes ou frágeis
da personalidade individual.
O que a uns constitui gravame, aborrecimento, a outros não passa de insignificante acidente de percurso que estimula a marcha.
Quanto mais se valoriza o problema, mais vitalidade se lhe oferece, aumentando-lhe a força de ação com os seus correspondentes efeitos.
Nas personalidades instáveis, normalmente os complexos psicológicos assumem as responsabilidades pelas ocorrências problematizantes.
Quando algo em que se confia, ou do qual se espera resultado positivo, transforma-se em desastre, insucesso, o ego foge, escamoteia-o, por falta de consciência
lúcida, afirmando: Eu sou culpado.
A inferioridade psicológica desenvolve o complexo em que se refugia, e, mesmo quando em aparente conflito, nele se realiza, justifica-se, deixa de lutar.
Certamente, cada problema merece um tipo de atenção, de cuidado especial para a sua solução. Esse esforço deve ser natural, destituído dos estímulos negativos
do medo ou da ansiedade, de modo a analisar a situação conforme se apresente, e não consoante os fantasmas da insegurança desenhem na imaginação criativa - refúgio
para a irresponsabilidade que não assume o papel que lhe diz respeito.
Em outros temperamentos, quando o problema se converte em dificuldade e ocorrência prejudicial, o ego estabelece: A culpa é do outro; ou da saúde; ou da família;
ou do grupo social; ou da sociedade em geral, ou do destino...
Resolve-se a questão utilizando-se do complexo de superioridade, e mediante esta conduta coloca-se acima de qualquer suspeita de fragilidade, escondendo-se nas
justificativas de incompreendido, perseguido, infeliz...
Evitando considerar o problema na sua real significação, passado o momento, compõe a consciência de culpa e esse mesmo ego recorre à condicional dos verbos,
afligindo-se: Eu deveria ter feito de tal forma; eu poderia ter enfrentado; eu tentaria evitar...
Mecanismos perversos de imaturidade compõem a tecedura protetora do escapismo, para fugir das conseqüências dos problemas, cuja finalidade é testar as possibilidades
e valores de cada uma em particular e de todas as criaturas em geral.
O problema humano, portanto, maior e mais urgente para ser eqüacionado, é a própria criatura.
Para consegui-lo, mister se torna o amadurecimento psicológico, decorrente do esforço sério e bem direcionado, do estudo do eu profundo e da sua busca incessante,
que são as metas existenciais mais urgentes.
Na transitoriedade da condição humana, o eu profundo deve emergir, desatando os inestimáveis recursos que lhe são inatos, graças aos quais o psiquismo comanda
conscientemente a vida, abrindo o leque imenso das percepções paranormais.
Nesse elenco de registros parapsíquicos desabrocham os recursos mediúnicos que propiciam o livre trânsito entre as duas esferas da vida: a física e a espiritual.
Essa dilatação da capacidade parafísica propicia o mergulho do eu profundo - o Espírito - na causalidade dos fenômenos humanos, assim interpretando, na origem,
os problemas que sempre procedem das experiências anteriores.
Mesmo quando são atuais e começaram recentemente, o ser que os enfrenta necessita deles, recuperando-se moralmente, trabalhando o amadurecimento, porqüanto,
o estado de infância psicológica decorre da ausência de realizações evolutivas.
Ninguém permanece vivo sem o enfrentamento com os problemas, que existem para ser resolvidos, oferecendo o saldo positivo de evolução.
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Gigantes da alma
Envolto na pequenez das aspirações egóícas, o ser move-se sob as injunções das necessidades de projeção da imagem, por sentir-se incapaz de superar a sombra,
manifestando a força do eu real, imagem e semelhança de Deus.
Gerado para alcançar o Infinito e a Consciência Cósmica, é deus em germe, que as experiências evolutivas desenvolvem e aprimoram.
O ego, projetando-se em demasia, compõe os quadros de aflição em que se refugia e, negando-se a lutar, desenvolve os fantasmas gigantes que o protegem, quais
cogumelos venenosos que desabrocham em terrenos úmidos e férteis, medrando no seu psiquismo atormentado e passando ao domínio escravizador.
Entre os terríveis gigantes da alma, que têm predomínio em a natureza humana, destacam-se: os ressentimentos, os ciúmes e as invejas que entorpecem os sentimentos,
açulam a inferioridade e terminam por vencer aqueles que os vitalizam, caso não se resolvam enfrentá-los com hercúlea decisão e pertinaz insistência.
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Ressentimento
Entre os tormentos psicológicos alienadores, a presença do ressentimento na criatura humana tem lugar de destaque.
Injustificável, sob todos os pontos de vista, ele se instala, enraizando-se no solo fértil das emoções em descontrole do paciente, aí engendrando males que terminam
por consumir aquele que lhe dá guarida.
A vida expressa-se em padrões sociais, resultado da condição evolutiva das criaturas que se inter-relacionam. Como é natural, porque há uma larga variedade de
biótipos emocionais, culturais e religiosos ou não, as suas são reações compatíveis com os níveis de consciência em que se encontram, exteriorizando idéias e comportamentos
que lhes correspondem ao estado no qual se demoram.
A convivência humana é feita por meio de episódios conflitivos, por falta de maturação geral que favoreça o entendimento e a transação psicológica em termos
de bem-estar para todos os parceiros. Predominando a natureza animal em detrimento dos valores espirituais e éticos, a competição e o atrevimento armam ciladas,
nas quais tombam os temperamentos mais confiantes e ingênuos, que se deixam, logo após, mortificar.
Descobrindo-se em logro, acreditando-se traído, o companheiro vitimado recorre ao ego e equipa-se de ressentimento, instalando, nos painéis da emotividade, cargas
violentas que terminarão por desarmonizar-lhe os delicados equipamentos e se refletirão na conduta mental e moral.
O ressentimento, por caracterizar-se como expressão de inferioridade, anela pelo desforço, consciente ou não, trabalhando por sobrepor o ego ferido ao conceito
daquele que o desconsiderou.
No importante capítulo da saúde mental, indispensável ao equilíbrio integral, o ressentimento pode ser comparado a ferrugem nas peças da sensibilidade, transferindo-se
para a organização somática, refletindo-se como distúrbios gástricos e intestinais de demoradas conseqüências.
Gastrites e diarréias inexplicáveis procedem dos tóxicos exalados pelo ressentimento, que deve ser banido das paisagens morais da vida.
As pessoas são, normalmente, competitivas, no sentido negativo da palavra, desejando assenhorearse dos espaços que lhes não pertencem e, por se encontrarem em
faixas primitivas da evolução, fazem-se injustas, perseguem, caluniam. É um direito que têm, na situação que as caracterizam. Aceitar-lhes, porém, os petardos, vincular-se-lhes
às faixas vibratórias de baixo teor, no entanto, é opção de quem não se resolve por preservar a saúde ou não deseja crescer emocionalmente.
Quando o ressentimento exterioriza as suas manifestações, deve ser combatido, mental e racionalmente, eliminando a ingerência do ego ferido e ensejando a libertação
do eu profundo, invariavelmente esquecido, relegado a plano secundário.
O indivíduo, através da reflexão e do auto-encontro, deve preocupar-se com o desvelamento do si, identificando os valores relevantes e os perniciosos. sem conflito,
sem escamoteamento, trabalhando aqueles que são perturbadores, de modo a não facultar ao ego doentio o apoio psicológico neles, para esconder-se sob o ressentimento
na justificativa de buscar ajuda para a autocompaixão.
O processo de evolução é incessante, e as mudanças, as transformações fazem-se contínuas, impulsionando à conquista dos recursos adormecidos no imo, o Deus interno
que jaz em todos os seres.
A liberação do ressentimento deve ser realizada através da racionalização, sem transferências nem compensações egóicas.
À medida que a experiência fixa aprendizados, esse terrível gigante da alma se apequena e se dilui, desaparece, a partir do momento em que deixa de receber os
alimentos de manutenção pela idéia fixa e mediante o desejo de revidar, de sofrer, de ser vítima...
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Ciúme
Tipificando insegurança psicológica e desconfiança sistemática, a presença do ciúme na alma transforma-se em algoz implacável do ser. O paciente que lhe tomba
nas malhas estertora em suspeitas e verdades, que nunca encontram apoio nem reconforto.
Atormentado pelo ego dominador, o paciente, quando não consegue asfixiar aquele a quem estima ou ama, dominando-lhe a conduta e o pensamento, foge para o ciúme,
em cujo campo se homizia a fim de entregar-se aos sofrimentos masoquistas que lhe ocultam a imaturidade, a preguiça mental e o desejo de impor-se à vitima da sua
psicopatologia.
No aturdimento do ciúme, o ego vê o que lhe agrada e se envolve apenas com aquilo em que acredita, ficando surdo à razão, à verdade.
O ciúme atenaza quem o experimenta e aquele que se lhe torna alvo preferencial.
O ciumento, inseguro dos próprios valores, descarrega a fúria do estágio primitivista em manifestações ridículas, quão perturbadoras, em que se consome.
Ateia incêndios em ocorrências imaginárias, com a mente exacerbada pela suspeita infeliz, e envenena-se com os vapores da revolta em que se rebolca, insanamente.
Desviando-se das pessoas e ampliando o círculo de prevalência, o ciúme envolve objetos e posições, posses e valores que assumem uma importância alucinada, isolando
o paciente nos sítios da angústia ou armando-o com instrumentos de agressão contra todos e tudo.
O ciúme tende a levar sua vítima à loucura.
O ego enciumado fixa o móvel da existência no desejo exorbitante e circunscreve-se à paixão dominadora, destruindo as resistências morais e emocionais,
que terminam por ceder-lhe as forças, deixando de reagir.
Armadilha do ego presunçoso, ele merece o extermínio através da conquista de valores expressivos, que demonstrem ao próprio indivíduo as suas possibilidades
de ser feliz.
Somente o self pode conseguir essa façanha, arrebentando as algemas a que se encontra agrilhoado, para assomar, rico de realizações interiores, superando a estreiteza
e os limites egóicos, expandindo-se e preenchendo os espaços emocionais, as aspirações espirituais, vencidos pelos gases venenosos do ciúme.
Liberando-se da compressão do ciúme, a pouco e pouco, o eu profundo respira, alcança as praias largas da existência e desfruta de paz com alguém ou não, com
algo ou nada, porém com harmonia, com amor, com a vida.
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Inveja
Remanescente dos atavismos inferiores, a inveja é fraqueza moral, a perturbar as possibilidades de luta do ser humano.
Ao invés de empenhar-se na autovalorização, o paciente da inveja lamenta o triunfo alheio e não luta pelo seu; compete mediante a urdidura da intriga e da maledicência;
aguarda o insucesso do adversário, no que se compraz; observa e persegue, acoimado por insidiosa desdita íntima.
Egocêntrico, não saiu da infância psicológica e pretende ser o único centro de atenção, credor de todos os cultos e referências.
Insidiosa, a inveja é resultado da indisciplina mental e moral que não considera a vida como patrimônio divino para todos, senão, para si apenas. Trabalha, por
inveja, para competir, sobressair, destacar-se. Não tem ideal, nem respeito pelas pessoas e pelas suas árduas conquistas.
Normalmente moroso e sem determinação, resultado da sua morbidez inata, o enfermo de inveja nunca se alegra com a vitória dos outros, nem com a alheia realização.
A inveja descarrega correntes mentais prejudiciais dirigidas às suas vítimas, que somente as alcançam se estiverem em sintonia, porém cujos danos ocorrem no
fulcro gerador, perturbando-lhe a atividade, o comportamento.
A terapia para a inveja consiste, inicialmente, na-cuidadosa reflexão do eu profundo em torno da sua destinação grandiosa, no futuro, avaliando os recursos de
que dispõe e considerando que a sua realidade é única, individual, não podendo ser medida nem comparada com outras em razão do processo da evolução de cada um.
O cultivo da alegria pelo que é e dos recursos para alcançar outros novos patamares enseja o despertar do amor a si mesmo, ao próximo e a Deus, como meio e meta
para alcançar a saúde ideal, que lhe facultará a perfeita compreensão dos mecanismos da vida e as diferenças entre as pessoas, formando um todo holístico na Grande
Unidade.
20
Necessidade de valorização
Os destrutivos gigantes da alma, que exteriorizam os tormentos e a imaturidade do ego, de alguma forma refletem um fenômeno psicológico, às vezes de procedência
inconsciente, noutras ocasiões habilmente estabelecido, que é a necessidade da sua valorização.
Quando escasseiam os estímulos para esse cometimento do eu, sem crescimento interior, que não recebe compensação externa mediante o reconhecimento nem a projeção
da imagem, o ego sobressai e fixa-se em mecanismos perturbadores a fim, de lograr atenção, desembaraçando-se, dessa forma, do conflito de inferioridade, da sensação
de incompletude.
Tivesse maturidade psicológica e recorreria a outros construtores gigantes da alma, como o amor, o esforço pessoal, a conscientização, a solidariedade, a filantropia,
desenvolvendo as possibilidades de enriquecimento interior capazes de plenificação.
Acostumado às respostas imediatas, o ego infantil deseja os jogos do prazer a qualquer preço, mesmo sabendo que logo terminam deixando frustração, amargura e
novos anelos para fruir outros. A fim de consegui-lo e por não saber dirigir as aspirações, asfixia-se nos conflitos perturbadores e atira-se ao desespero. Quando
assim não ocorre, volta-se para o mundo interior e reprime os sentimentos, fechando-se no estreito quadro de depressão.
Renitente, faculta que ressumam as tendências do prazer, mascaradas de auto-aflição, de autoflagelação, de autodepreciação.
Entre muitos religiosos em clima de insatisfação pessoal, essa necessidade de valorização reaparece em estruturas de aparente humildade, de dissimulação, de
piedade, de proteção ao próximo, estando desprotegidos de si mesmos...
A humildade é uma conquista da consciência que se expressa em forma de alegria, de plenitude. Quando se manifesta com sofrimento, desprezo por si mesmo, violenta
desconsideração pela própria vida, exibe o lado oculto da vaidade, da violência reprimida e chama a atenção para aquilo que, legitimamente, deve passar despercebido.
A humildade é uma atitude interior perante a vida; jamais uma indumentária exterior que desperta a atenção, que forja comentários, que compensa a fragilidade
do ego.
O caminho para a conscientização, de vigilância natural, sem tensão, fundamentando-se na intenção libertadora, é palmilhado com naturalidade e cuidado.
Jesus, na condição de excepcional Psicoterapeuta, recomendava a vigilância antes da oração, como forma de auto-encontro, para depois ensejar-se a entrega a Deus
sem preocupação outra alguma.
A Sua proposta é atual, porqüanto o inimigo do homem está nele, que vem herdando de si mesmo através dos tempos, na esteira das reencarnações pelas quais tem
transitado. Trata-se do seu ego, dissimula-dor hábil que conspira contra as forças da libertação.
Não podendo fugir de si mesmo nem dos fatores arquetípicos coletivos, o ser debate-se entre o passado de sombras - ignorância, acomodação, automatismos dos instintos
- e o futuro de luz - plenitude através de esforço tenaz, amor e auto-realização - recorrendo aos dias presentes, conturbados pelas heranças e as aspirações. No
entanto, atraído pela razão à sua fatalidade biológica - a morte - transformação do soma - histórica - a felicidade - e espiritual - a liberdade plena - vê o desmoronar
dos seus anseios e reconstrói os edifícios da esperança, avançando sem cessar e conquistando, palmo a palmo, a terra de ninguém, onde se expressam as próprias emoções
conturbadas.
Essa necessidade de valorização egóica pode ser transformada em realização do eu mediante o contributo dos estímulos.
Cada ação provoca uma reação equivalente. Quando não se consegue uma resposta através de um estímulo positivo, como por exemplo: - Eu te amo, para uma contestação
equivalente: - Eu também, recorre-se a uma negativa: - Ninguém me ama, recebendo-se uma evasiva - Não me inclua nisso. Sob trauma ou rancor, o estímulo expressa-se
agressivo: - Não gosto de ninguém, para colher algo idêntico: - A recíproca é verdadeira.
Os estímulos são fontes de energia. Conforme dirigidos, brindam com resultados correspondentes.
O ego que sente necessidade de valorização, sem o contributo do self em consonância, utiliza-se dos estímulos negativos e agressivos para compensar-se, sejam
quais forem os resultados.
O importante para o seu momento não é a qualidade da resposta estimuladora, mas a sua presença no proscênio onde se considera ausente.
Verdadeiramente, no inter-relacionamento social, quando todos se encontram, o ego isola suas vítimas para chamar a atenção ou bloqueia-as de tal forma que não
ficam ausentes, porém tornam-se invisíveis. Encontram-se no lugar, todavia, não estão ali. Essa invisibilidade habilmente buscada compensa o conflito do ego, mantendo
a autoflagelação de que não énotado, não possui valores atraentes. Tal mortificação neurótica introjeta as imagens infelizes e personagens míticas do sofrimento,
que lhe compõem o quadro de desamparo emocional de desdita pessoal.
Nesse comportamento doentio do ego, a necessidade de valorização, porque não possui recursos relevantes para expor, expressa-se na enganosa autocomiseração que
lhe satisfaz as exigências perturbadoras, e relaxa, completando-se emocionalmente.
Quando o self assoma e governa o ser, os estímulos são sempre positivos, mesmo que tenham origem negativa ou agressiva, porque exteriorizam o bem-estar que lhe
é próprio.
Se alguém diz: Não gosto de você, a mensagem transacional retorna elucidando : - Eu, no entanto, o estimo.
Se a proposta afirma: - Detesto-o, a comunicação redargue: - Eu o admiro.
Não se contamina nem se amargura, porque, em equilíbrio, possui valor, não tendo necessidade de valorização.
21
Padrões de comportamento: mudanças
O comportamento desvela ao exterior a realidade íntima do ser humano. Nem sempre, porém, tal manifestação se reveste de autenticidade, pois que muitos fatores
contribuem para mascarar-se o que se é, numa demonstração apenas do que se aparenta ser.
A Psicologia Transacional procura desvelar os enigmas do comportamento, utilizando-se da comunicação interpessoal para libertar o indivíduo de conflitos e pressões.
De acordo com a maturidade ou não do ser psicológico, a comunicação padece dificuldades que somente poderão ser sanadas quando existir um propósito firme para
o êxito.
Há uma tendência natural para o disfarce do ego, quando prevalece um impulso dominante para a convivência, a experiência social, o diálogo.
A ausência de tais imperativos contribui para o desequilíbrio emocional e, por conseqüência, para os estados psicopatológicos que se multiplicam avassaladores.
A comunicação desempenha, em todas as vidas, um papel relevante, quando visceral, emocional, livre, sem as pressões da desconfiança e da insegurança pessoal.
À medida que o ser se descerra em narrativa afetuosa ou amiga, o interlocutor, sentindo-se acompanhado, descobre-se. Enquanto coordena as idéias para o diálogo,
auto-analisa-se, identifica-se, facilitando o próprio entendimento.
Liberando-se das conversações feitas de interrogações-clichês desinteressantes, penetra-se e faculta ao outro a oportunidade de igualmente desvelar-se.
Quando se repartem informações no inter-relacionamento pessoal, compartem-se emoções.
Quando a conversação, no entanto, é trivial, os clichês sem sentido e costumeiros não dizem nada. Quando se indaga: - Como vai? - a resposta é inevitável: -
Bem, obrigado!
Mesmo porque, se o interrogado se resolvesse dizer como realmente vai, é bem provável que o interlocutor não tivesse nenhum interesse em ouvir-lhe a resposta
mais complexa e profunda. Talvez a aceitasse de maneira surda, desinteressadamente, com enfado.
Na grande mole humana destacam-se os biótipos introvertidos e extrovertidos.
Os primeiros, na etapa inicial do desenvolvimento psicológico, assumem uma atitude tímida e fazem a introspecção. Passada a fase de auto-análise, torna-se-lhes
indispensável a extroversão, o relacionamento, rompendo a cortina que os oculta e desvelando-se.
Os segundos, normalmente, escondem a sua realidade e conflitos erguendo uma névoa densa pela exteriorização que se permitem, inseguros e instáveis. Descobrindo-se
honestamente, diminuem a loquacidade e, reflexionando, assumem um comportamento saudável, sem excesso de ruídos nem ausência deles.
Os padrões de comportamento estão estabelecidos através de parâmetros nem sempre fundamentados em valores reais. Aceitos como de conveniência, aqueles que foram
considerados corretos, podem ser classificados como sociais, culturais, morais e religiosos... Em todos eles existem regras estatuídas pelo ego, para uma boa apresentação,
que quer significar engodo, em detrimento do eu profundo ao processo de constantes mudanças e crescimentos.
Nos comportamentos sociais estão estabelecidas as regras do bom-tom, para deixar e transmitir impressões agradáveis, compensadoras.
As pessoas submetem-se às pequenas ou grandes regras da etiqueta, do convívio social, sempre preocupadas em dissimular os sentimentos, de modo que produzam os
resultados adrede esperados.
Convive-se com indivíduos em muito encontros sociais, permanecendo, no entanto, todos desconhecidos entre si.
O comportamento cultural reúne as aquisições intelectuais, artísticas, desportivas, mediante as quais a exibição do ego gera constrangimentos perturbadores,
às vezes despertando fenômenos competitivos e de presunção lamentável, em total desrespeito pelo si, pela pessoa humana real.
As preocupações financeiras de promoção egóica comprazem o indivíduo pela exposição desnecessária do desperdício e da dissolução, provocando estados auto-obsessivos-compulsivos
de ser-se o maior, o mais extravagante, o de mais larga renda...
Logo após, nos raros momentos de auto-encontro, surgem-lhe as depressões, que são asfixiadas sob a ação dos alcoólicos, das drogas aditivas, da auto-emulação
exibicionista com que foge da realidade interna para lugar nenhum.
O comportamento moral está sujeito aos imperativos legais, estabelecidos conforme o imediatismo dos interesses de grupos e legisladores, às vezes desavisados,
que pensam mais em seus prazeres do que no bem geral da comunidade que lhes paga para a servir...
Elaborando leis, desincumbindo-se do que lhes é dever, muitos desses homens públicos, insensatos, dão a impressão de que estão realizando algo extraordinário,
que os sacrifica, e não aquilo para o que são regiamente remunerados.
Apóiam-se, então, em comportamento moral-social de tendências egoísticas, sem qualquer consideração para com a vida.
Na área do comportamento religioso, inúmeras imposições castradoras contribuem para condutas falsas, sem qualquer consideração pelos fundamentos das Doutrinas
que se devem pautar pelos processos de libertação das consciências, e não de apavoramento, de pressão, de hipocrisia, de discriminação.
Jesus conclamou os Seus seguidores à busca da Verdade que liberta, em cujo comportamento se fundem o ego e o eu, numa formulação de amor sem máscaras e sem conflitos.
Os padrões de comportamento normalmente se fixam em diretrizes que não atendem à realidade do ser, geralmente mutilado nas suas aspirações nobres de vida, nos
relacionamentos dignos, confiantes, saudáveis...
A certeza da imortalidade da alma abre um elenco de comportamentos autenticados pela educação espiritual na busca do vir-a-ser, do transformar-se, do encontrar
o Outro, como propunha Kierkegaard, o filósofo e teólogo existencialista...
O Outro, que facilita o diálogo, Deus, é a Fonte que se deve buscar para atingir a plenitude, a felicidade existencial.
Mudanças
O ser humano prossegue em crescimento, em desenvolvimento contínuo, em mudanças.
É natural que, por efeito, o seu comportamento sofra alteração.
Toda a contextura celular renova-se incessantemente, e as experiências como as vivências contribuem para a mudança de padrões comportamentais, em inevitável
processo de aprimoramento do ser, àmedida que o self se liberta das contenções impostas pelos arquétipos, defluentes das reencarnações pretéritas.
A estruturação psicológica da pessoa humana está, como decorrência, a exigir renovação e estudo de si mesma, a fim de crescer psiquicamente, na razão em que
se lhe desenvolvem os equipamentos orgânicos, responsáveis pelo amadurecimento cultural e social, alargando-lhe a percepção moral e a religiosidade perante as exigências
da Vida.
Assim, ninguém é igual a outrem, nem pode ser avaliado mediante as comparações da frágil aparência.
A conquista de si mesmo é o desafio constante para a auto-realização, a harmonia psicológica, o desenvolvimento das percepções parapsíquicas e mediúnicas.
SEXTA PARTE
CONDICIONAMENTOS
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O bem e o mal
Questão de alta complexidade para a criatura humana, o dualismo do bem e do mal encontra-se ínsito na sua psicologia interior, confundindo-a e perturbando-lhe,
não raro, o discernimento.
Com características metafísicas, na sua formulação abstrata, essa dualidade concretiza-se nos atos do ser, gerando fenômenos relevantes de consciência, que contribuem
para o equilíbrio ou a desordem psíquica, de acordo com as suas respectivas manifestações.
Em todos os períodos da cultura ancestral encontramos o esforço da religião e do pensamento tentando estabelecer os paradigmas em que se apóiam um e outro, para
melhor explicá-los.
Ontem, era uma abstração meramente filosófica ou religiosa, passando, mais tarde, a fazer parte da ética, no capítulo da moral, avançando historicamente até
interessar à sociologia, ao comportamentalismo, à psicologia.
O código de Hamurabi, inscrito em uma estela de diorito, já definia as ações louváveis e as reprocháveis, simbolizando o bem e o mal, com as respectivas conseqüências
legais no comportamento humano em relação à criatura em si mesma, à sociedade e ao seu próximo.
Entre medos e persas - o livro sagrado ZendAvesta separava a mesma dualidade nas personificações de Ormuzde - ou representação do bem - e Ariman - ou personificação
do mal -, em cuja luta o último seria submetido e por conseqüência eliminado.
A Bíblia, por sua vez, representa o bem nas deidades angélicas e o mal, nas demoníacas, ambas, no entanto, sob o controle de Deus, contra Quem se rebelara Lúcifer
que, expulso do paraíso, tornou-se-Lhe o adversário temerário...
A Metafísica Tradicional, analisando a Criação, estabeleceu os dois princípios, do bem e do mal, que se vinculam ao conciliador, no vértice superior do simbólico
triângulo isósceles.
Logo depois, a interpretação chinesa apresentou-os nas duas admiráveis forças cósmicas: o Yang - masculino, positivo, seco, bom - e o Yin - feminino, úmido,
negativo, frio -, que se conciliam sob o comando da suprema perfeição ao confundirem-se, gerando a harmonia.
Inspirada no hinduísmo, a Trilogia da Criação apresenta Brama como Plenipotente, o Princípio Supremo, e as duas forças antagônicas, Vishnu, o Conserva dor, ou
princípio construtor e Shiva, o Destruidor, ou princípio aniquilador dos seres, em perene luta até a supremacia do edificador...
Das concepções pretéritas à realidade presente, filosoficamente o bem é tudo quanto fomenta a beleza, o ético, a vida, consoante a moral, e o mal vem a ser aquilo
que se opõe ao edificante, ao harmônico, ao bem.
Sociologicamente o bem contribui para o progresso, e todas as realizações que promovem o ser, o grupo social e o ambiente expressam-lhe a grandeza, a ação concreta
que resulta da capacidade seletiva de valores éticos para a harmonia e a felicidade.
Como efeito, o mal decorre de todo e qualquer fenômeno que se opõe ou conspira contra esse contributo superior.
A Psicologia não poderia ficar indiferente a essa dualidade que existe no ser humano, remanescendo como as suas aspirações de crescimento e elevação, do nobre
e equilibrado, do saudável e propiciador de paz.
Ao mesmo tempo, o atavismo dos instintos agressi vos propele-o para a violência - quando deseja possuir -, para o vilipêndio - quando se sente diminuído -, para
o grotesco e vulgar - quando derrapa no menosprezo de si mesmo...
Desenvolvendo, no entanto, a consciência que sai do torpor de nível de sono sem sonhos, imediatamente começa a perceber os valores que compensam e os que conflitam
o comportamento psicológico, impulsionando-o, embora lentamente, para a adoção de conduta mental e física, idealista e comportamental do bem, tornando-se instrumento
útil no grupo social, que se promove e eleva-o a estágio superior, permitindo-lhe aspirar sempre a mais e melhor.
Esse discernimento, que resulta da consciência em libertação dos condicionamentos escravizadores, amplia a capacidade para identificar o bem e o mal, predispondo-o
à eleição do primeiro em detrimento do outro.
Se, por acaso, incorre em equívocos de seleção e tomba nas malhas do mal, mesmo que sob as circunstâncias perturbadoras do ódio, do medo, da angústia, da volúpia,
da desordem interior, ao descobrir-se em falta, faz o quadro de consciência de culpa e sofre as patologias afugentes, que se lhe tornam mecanismos reparadores.
Afirma-se, porém, que a linha divisória entre o bem e o mal é tão fluida e oscilante que, não raro, o bem de hoje torna-se o mal de amanhã e vice-versa, numa
dialética sofista, que se poderia considerar anárquica...
Certamente, muitos códigos e leis, de acordo com as conveniências de grupos e castas, de partidos e raças, de religiões e credos, por questões imediatistas,
tentam tornar legais comportamentos que não são morais e, reciprocamente, justificando-se atitudes vulgares e tentando liberar-se comportamentos alienados, condutas
extravagantes e arbitrárias.
O Decálogo moisaico, no entanto, sintetiza os códigos moral e legal, portanto, o que é bem e o que é mal, havendo facultado a Jesus afirmar, em grandiosa proposta,
toda a complexidade desse fenômeno dual: - Não fazer a outrem o que não deseja que ele lhe faça.
Porque ainda injustos os homens, as leis que elaboram possuem os seus parcialismos, defecções, devendo ser respeitadas, sem que a algumas delas se atribuam reais
valores morais, significativos e definidores do bem e do mal.
O bem e o mal estão inscritos na consciência humana, em a natureza, na sua harmoniosa organização que deu origem à vida e a fomenta.
Tudo quanto contribui para a paz íntima da criatura humana, seu desenvolvimento intelecto-moral, é-lhe o bem que deve cultivar e desenvolver, irradiando-o como
bênção que provém de Deus.
E esse mal, aliás transitório, temporal, que o propele às ações ignóbeis, aos sofrimentos, é remanescente atávico do seu processo de evolução, que será ultrapassado
à medida que amadureça psicologicamente, e se lhe desenvolvam os padrões de sensibilidade e consciência para adquirir a integração no Cosmo, liberado das injunções
dolorosas, inferiores.
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Paixão e libertação psicológica
As tradições religiosas em torno da paixão de Jesus teimam por revestir-se da notícia trágica, na qual a ação autopunitiva sobressai no comportamento do fiel.
Trabalhando-lhe a mente, a fim de gerar-lhe consciência de culpa, com as conseqüências do medo em relação à justiça divina, intentam a lavagem cerebral para
produzir o ódio pelo mundo, ao tempo em que mantêm os lamentáveis processos de cilícios físicos entre os fanáticos, e mentais ou emocionais naqueles que são constituídos
por estrutura psicológica frágil.
Inegavelmente, as ocorrências dolorosas que assinalaram a última semana de Jesus, em Jerusalém, entre as criaturas, foram caracterizadas por ocorrências infelizes,
que ainda se repetem na sociedade, embora guardadas as naturais proporções.
Recordar-se da pusilanimidade humana, da fragilidade dos caracteres de Judas e de Pedro, faz-se necessário quando os objetivos são educativos, evocando-se, porém,
o estoicismo das mulheres piedosas, de João, de José de Arimatéia que Lhe cedeu o sepulcro novo, de modo que a aprendizagem se faça plena, através da dicotomia existente
no comportamento humano, buscando-se oferecer uma mensagem de confiança, de arrebatamento e de fé.
O ser humano é ainda muito fragmentário e dúbio, carecendo de amor e paciência, que são terapias excelentes para induzi-lo ao fortalecimento do caráter, da personalidade.
A constante condenação multimilenária deixou marcas profundas no inconsciente coletivo, de que ora se faz herdeiro natural, surgindo-lhe transformada em medo
e desprezo por si mesmo ou indiferença pessoal e desleixo no culto dos valores morais.
A lição viva que ressalta em Jesus desde a entrada triunfal e o julgamento arbitrário, sem qualquer defesa, propõe uma releitura do comportamento individual
e coletivo dos seres, oferecendo a contribuição de resultados positivos nas reflexões mentais.
As crenças ortodoxas satisfazem-se com as imolações e as atitudes condenatórias que, tomadas em consideração, reconduziriam à ignorância, à treva medieval tormentosa.
As conquistas do momento, nas mais diversas áreas, particularmente da psicologia, não mais facilitam atitudes alienadoras como essas, antes propõem a libertação
dos conflitos, a fim de que a responsabilidade, que decorre da consciência lúcida, impulsione o indivíduo ao avanço, ao crescimento, à maturidade.
Toda ação impositiva-castradora ou liberativa-insensata trabalha em favor do desequilíbrio, da desintegração do homem.
Toda a vida de Jesus é um processo que facilita o crescimento e a dignidade do ser humano.
Seus conceitos, refertos de atualidade, prosseguem sendo uma linguagem dinâmica, desobsessiva, sem compulsão, abrindo elencos de alegria e facultando o desenvolvimento
daqueles que os recebem.
Cada passo da Sua vida, leva-O a metas adredemente programadas. Sem rotina, mas, também, sem ansiedade, caracteriza-se pela vivência de cada momento, sem preocupação
pelo amanhã, pois que, para Ele, a cada dia bastam as suas próprias preocupações.
A alegria é uma constante em Sua mensagem, apesar das advertências freqüentes, das lutas abertas e de sempre O verem chorar...
A verdadeira alegria extrapola os sorrisos e se apresenta, não raro, como preocupação que não deprime nem fragiliza.
Torna-se uma constante busca de realizações contínuas, de vitória sobre as circunstâncias e os fenômenos que são naturais no processo da vida.
Sem paradigmas fixos, toda a Sua doutrina se constitui de otimismo e plenitude.
Quando os Seus seguidores marchavam para o holocausto, o martírio, o testemunho, faziam-no motivados pelo amor, sem fugas psicológicas, sem transferências, em
manifestações de fidelidade, joviais e exultantes, sem ressentimentos nem ódios pelos perseguidores, por ser uma opção livre de utilização da vida.
A dinâmica das palavras de Jesus logrou conduzir inumeráveis criaturas à realidade transcendente.
Libertador por excelência, a ninguém impôs fardo, asseverando que o Seu é leve e suave é a Sua forma de julgar, analisar e compreender.
Enquanto ressumem na consciência da Terra as condutas punitivas e as evocações deprimentes na área das religiões, o pensamento de Jesus permanecerá em sombras,
conflitos, perturbações.
A conquista de consciências para as fileiras da harmonia somente é possível mediante o estabelecimento de diretrizes saudáveis, nas quais, mesmo a dor assumiria
a sua realidade de fenômeno degenerativo inevitável, no entanto, possível de ser superada, resistida, diluída através das reflexões e da renovação de energia que
preserva o equilíbrio da existência.
A imposição temerária decorre do sentimento de culpa dos religiosos, que a transferem para aqueles que se lhes submetem, passando a depender das suas injunções
psicológicas mórbidas.
Sem a semana ultrajante, sem os conteúdos da ingratidão humana em extremo, não Lhe teríamos a morte estóica, eloqüente, grandiosa, demonstrando a Sua consciência
de imortalidade.
Após a sua ocorrência, todo um solene hino à vida foi apresentado através da ressurreição, do retorno ao convívio com os amigos temerosos e com a humanidade
arrependida que Ele veio libertar, amando, paciente e alegre, por conhecer os limites e deficiências daqueles que marcham na retaguarda, no entanto fitam expectantes
e avançam no rumo do futuro.
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Enfermidade e cura
O fenômeno biológico do desgaste orgânico, das distonias emocionais e mentais da criatura humana, é perfeitamente natural como decorrência da fragilidade estrutural
de que se constitui.
Equipamentos delicados, que são, sofrem as influências externas e internas que contribuem para as suas alterações, e até mesmo a sua morte, mediante as incessantes
transformações a que se encontram sujeitos.
Temperaturas que se alternam e ultrapassam os limites da sua resistência, condições outras atmosféricas e de insalubridade, colônias de bactérias e microorganismos
agressivos, quão destruidores, atacam-lhe as peças e quase sempre as vencem, estabelecendo distúrbios que se transformam em enfermidades variadas.
Por outro lado, choques emocionais, estados inabituais de depressão e ansiedade, pressões de qualquer ordem, especialmente as psicossociais e econômicas, as
afetivas, arrastam-nos a desorganizações perturbadoras. Seqüelas de várias doenças, muitas delas agridem esses mais intrincados conjuntos eletrônicos, produzindo
perturbações funcionais e psíquicas, que tipificam desequilíbrios da mente e da emoção.
A própria constituição desses órgãos tem muito a ver com as origens genéticas e, posteriormente, com os fatores organizadores do lar, da família, do grupo social,
contribuindo decisivamente para as manifestações de saúde ou de desconserto.
O ser, porém, em si mesmo trinitário - Espírito, perispírito e matéria - é o resultado de largo processo de educação e desenvolvimento, através das contínuas
experiências reencarnacionistas.
Em cada fase da vilegiatura, no corpo ou fora dele, o Espírito conquista bênçãos que incorpora ao patrimônio evolutivo, moldando os futuros corpos de acordo
com tais aquisições, que são afetadas vibratoriamente pelas ondas de energia positiva ou negativa que emite sem cessar.
Como conseqüência, cada criatura é especial, com reações específicas e modelagem própria, embora semelhanças profundas em umas, quão discordantes em outras.
Esse logros da evolução refletem-se na constituição orgânica, na emocional e na psíquica, selecionando genes e valores que lhes facultem estabelecer os aparelhos
correspondentes e necessários para o prosseguimento da evolução.
Assim organizam-se moralmente as estruturas expiatórias e provacionais, como recursos necessários para a aprendizagem e a fixação dos valores propiciatórios
ao progresso.
As expiações normalmente talam o ser orgânico ou psíquico de maneira irreversível, como decorrência dos atos pretéritos de rebeldia: suicídio, homicídio, perversidade,
luxúria, concupiscência, avareza, ódio e os seus sequazes.
As provações, por sua vez, são corretivos temporários que servem de advertência à insânia ou à comodidade, ao erro ou ao vício, facultando a reconquista da harmonia
mediante esforço justo de recomposição interior, reintegrando o ser na ordem vigente do Universo.
Não nos referimos aqui aos quesitos das necessidades morais e sociais, detendo-nos, apenas, naqueles pertinentes à saúde e à doença.
Esses quadros das ações morais geram as reações correspondentes, como leis de causa e efeito, propelindo a resgates idênticos aos danos e prejuízos produzidos.
Conhecidos esses efeitos como carma, também esse pode ser positivo e edificante conforme as realizações anteriores, que propiciem felicidade e paz.
Vulgarmente, porém, o conceito de carma passou a ser aceito como imperativo afugente e reparador, a que ninguém foge, por efeito das suas más ações. Entretanto,
esse carma, quando provacional, tem a liberá-lo o livre-arbítrio daquele que o padece, como através do mesmo pode mais encarcerar-se, a depender do novo direcionamento
que lhe ofereça.
As realizações morais geram energias positivas que anulam aquelas negativas, que propiciam o sofrimento de qualquer natureza, ensejando estímulos para a superação
das antigas conjunturas atormentantes.
Sujeito, por espontânea escolha, ao carma negativo, o ser expressa, além dos problemas na área da saúde, conflitos diversos na emoção, no comportamento, a surgirem
como complexo de culpa (inconsciente), timidez, medo, ansiedade, insegurança... Ao mesmo tempo, autodesvalorização, ausência da auto-estima, presença de outros complexos,
como os de superioridade, de inferioridade, narcisismo, de Édipo, de Eletra, e mais outros, gerando patologias graves que, não obstante, podem ser superadas mediante
terapias especializadas e grande esforço pessoal.
No vasto quadro das enfermidades, a ausência do auto-amor do paciente responde pela desarmonia que o aflige. Nem sempre essa manifestação é consciente, estando
instalada nos seus refolhos como forma de desrespeito, desconfiança e mágoa por si mesmo, defluentes das ações infelizes pretéritas.
Quando uma doença se instala no organismo físico há uma fissura no conjunto vibratório que o mantém. A mente deve então ser acionada de imediato para corrigir
tal distúrbio, de modo a propiciar-se a saúde.
Quase sempre, porém, os tóxicos da ira, da rebeldia e do ressentimento são introjetados no organismo, agravando mais a paisagem afetada.
Quase sempre inseguro, o ser considera que não merece o que lhe ocorre agora e teme pelo agravamento do mal, que se lhe transforma em problema afugente, ao qual
acrescenta os fantasmas da dúvida, do aturdimento, do desamor cultivado sob muitos disfarces.
A amorterapia tem as suas diretrizes firmadas no ensinamento evangélico, proposto por Jesus, quando estabeleceu: - Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo
como a si mesmo, como a si mesmo é um imperativo que não pode ser confundido com o egoísmo, ou o egocentrismo, mas com o respeito e direito à vida, à felicidade
que o indivíduo tem e merece.
Trata-se de um amor preservador da paz, do culto aos hábitos sadios e dos cuidados morais, espirituais, intelectuais para consigo mesmo, sem o que, a manifestação
do amor ao próximo é transferência da sua sombra, da sua imagem (fracassada) que logo se transforma em decepção e amargura, ou a Deus, a Quem não vê, tudo dEle esperando,
ainda como mecanismo de fuga da responsabilidade.
O auto-amor induz à elevação dos sentimentos e à conquista de valores éticos que promovem o indivíduo e o iluminam interiormente, Nele estão os cuidados pelo
corpo e sua preservação através dos recursos ao alcance, estimulando órgãos e células a um funcionamento harmônico, decorrente dos pensamentos auto-estimulantes,
auto-refazentes. Igualmente énecessário desenvolver o intelecto e a emoção para marcharem juntos como asas para largo vôo, ensejando-se conhecimento e atividade
fraternal beneficente, que faz bem primeiro àquele que a pratica, auxiliando depois quem dela necessita.
Não é um referencial ao gozo pessoal nem às auto-satisfações dos sentidos, mas um notável recurso de equilíbrio íntimo com vistas à iluminação pessoal.
Esse amor terapêutico auxilia os campos vibratórios afetados pelas doenças, restaurando-lhes as deficiências e recompondo a harmonia do todo.
Com efeito, não evita que se adoeça ou que se morra, o que, se ocorresse, agrediria a lei da vida que estabelece: Tudo quanto nasce, morre, no que se refere
ao fenômeno biológico terminal da matéria, em incessantes transformações.
Nessa visão do auto-amor, a enfermidade e a morte não constituem fracasso do ser, antes o caminho para a vida, O conceito de realidade então se altera, passando
a constituir-se uma plenitude que se alcança no corpo e fora dele, com naturais acidentes de percurso. A saúde não é mais uma compulsória para a existência corporal,
senão um estado sujeito a múltiplas alterações que decorrem das variantes comportamentais do ser integral e que somente será lograda plenamente após o despir dos
andrajos físicos, desde que estes são temporais, impermanentes.
Não obstante, o auto-amor enseja o desfrutar de bem-estar, de equilíbrio, de funções e órgãos saudáveis, cooperando para a estabilidade emocional.
Tem-se asseverado que a tensão nervosa é um dos tiranos destruidores do corpo e dos seus equipamentos, no entanto, a forma como é enfrentada, tem muito mais
a ver com os seus prejuízos.
Na amorterapia a tensão cede lugar à confiança e amortece-se face à entrega do ser a Deus, relaxando os focos de desespero e ansiedade, os compressores dos nervos,
geradores de tensão.
No auto-amor, a confiança irrestrita na realidade, da qual ninguém foge, faculta o equilíbrio propiciador da saúde. Esse sentimento produz otimismo, que éfator
preponderante para o restabelecimento do campo de energia afetado pelo transtorno, já que favorece com uma mudança de comportamento mental, portanto, agindo no fulcro
gerador das vibrações.
Quando se vive de forma diversa à que se exterioriza, isto é, quando se fala e aparenta algo que se não faz, há uma tendência a contrair algum tipo de enfermidade,
porque a saúde não suporta essa duplicidade, que é geradora de infortúnio.
Há um inter-relacionamento entre mente e corpo mais sério do que parece. Desse modo, o auto-amor estimula à veracidade dos atos e das palavras, sustentando a
saúde ou corrigindo a doença.
Os tecidos orgânicos interagem por intermédio de substâncias químicas que se movimentam na corrente sanguínea e pelos hormônios do aparelho endócrino. A hipófise
é-lhes a responsável, que recebe os estímulos mediante impulsos nervosos do hipotálamo, que regula a maior parte dos fenômenos e automatismos fisiológicos. Todo
esse mecanismo ocorre através de fibras nervosas, procedentes do cérebro, que as comanda sob as ordens da mente, consciente ou inconscientemente. Por isso, a indução
do auto-amor promove vibrações harmônicas que terminam por manter, organizar ou reparar o organismo, propiciando-lhe saúde, quando enfermo.
Psicologicamente o auto-amor é, sobretudo, auto-encontro, conquista de consciência de si mesmo, maturidade, equilíbrio.
SÉTIMA PARTE
A CONQUISTA DO SELF
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A Conquista do Self
Todos necessitamos de viajar para dentro, a fim de nos descobrirmos, desidentificando-nos daquilo que nos oculta aos outros e a nós próprios.
Retraídos, em atitude defensiva, por falso apoio de raciocínios incompletos, preferimos não permitir que pessoa alguma volte a magoar-nos, como outras já o fizeram
no passado.
Colecionamos, desse modo, ressentimentos e te-mores que nos levam a um comportamento de autopiedade, marchando para um estado patológico de autodestruição.
Um enfrentamento consciente com nossas mágoas irá demonstrar-nos que elas não são verdadeiras, nem têm sentido, sendo fruto da imaturidade e da presunção do
ego que se atribui merecimentos que não tem.
Normalmente, o que consideramos desrespeito dos outros em relação a nós, resulta de nossa óptica equivocada ao observar os fatos, de precipitação ou mesmo de
certo grau de paranóia.
Constituído por estímulos, o nosso relacionamento é malsucedido, porque não sabemos produzir o encontro, quando nos acercamos de alguém.
Evitando abrir-nos à relação, permanecemos suspeitosos e a nossa estimulação é negativa, provocando uma resposta de rejeição.
Em processo de mudanças constantes, as pessoas são imprevisíveis, o que é muito bom, pois que esse fenômeno proporciona novos descobrimentos e correções de conceitos.
Quando nos apresentamos a alguém com sinceridade, esse alguém se nos desvela com fidelidade. Um estímulo revigorante e dignificador provoca uma correspondência
equivalente.
Ao nos darmos a alguém, conhecido ou não, ofertamos uma parte, algo valioso de nós.
Se a outra pessoa não souber responder, não há problema para nós, porque verdadeiramente somos o que expressamos, de que nos não podemos arrepender, nem nos
devemos sentir magoados.
Aceitar o mau humor alheio é sintonizar com ele, permitir que nos digam e imponham como devemos agir e nos comportar.
A nossa contribuição à sociedade é preservar-lhe a saúde na forma do inter-relacionamento pessoal, educando os rudes e medicando os enfermos, os anti-sociais.
A mágoa é conseqüência da imaturidade psicológica e a atitude retraída, desconfiada, resulta de predominância da nossa natureza animal sobre a natureza espiritual.
A conquista do self com todos os seus atributos e possibilidades constitui a meta primordial da existência terrena, em cuja busca devemos investir todo o potencial
humano, emocional, moral, intelectual.
Considerando-nos em constante processo de crescimento, que decorre das experiências vividas e dos conhecimentos hauridos, a nossa busca do ser espiritual que
somos, torna-se-nos imprescindível.
A vigilância em torno das armadilhas do ego, hábil disfarçador de propósitos, constitui-nos um motivo para superá-lo, a fim de fruirmos felicidade real.
Nesse sentido, a desidentificação dos apegos e paixões surge como passo decisivo no programa de libertação. Para o desiderato, o amor-próprio deve ser revisto,
a fim de ser substituído pelo auto-amor profundo, sem resquícios egoísticos, geradores do personalismo doentio que nos leva a conflitos perfeitamente evitáveis.
A reencarnação tem como objetivo a autoconquista, que propicia a realização intelecto-moral recomendada por Allan Kardec como indispensável à sabedoria, que
sintetiza a aquisição do conhecimento com o amor.
Quando essa meta não é alcançada, reencarna-se o ser e desencarna para retornar, em verdadeira roda de samsara, até quando as Leis estabelecem expiações lenificadoras
que interrompem o círculo vicioso, para fomentar o progresso.
Surge o imperativo da dor em lugar do amor, expressão inevitável para o progresso constante dos Estatutos Divinos.
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Mecanismos de fuga do ego
Habituado ao não enfrentamento com o self, o ego camufla a sua resistência à aceitação da realidade profunda, elaborando mecanismos escapistas, de forma
a preservar o seu domínio na pessoa.
Desse modo, podemos enumerar alguns desses instrumentos do ego, para ocultar-lhe a realidade, facultando-lhe a fuga do enfrentamento com o eu profundo, tais
como: compensação, deslocamento, projeção, introjeção e racionalização.
Compensação
Foi o admirável pai da Psicanálise individual, Alfred Adler, quem, percebendo que um órgão deficitário é substituído pelo seu par - um pulmão enfermo ou um rim
doente -, estabeleceu que ocorre uma compensação correspondente na área psicológica.
Grandes ases da cultura física tornaram-se atletas, porque buscaram compensar a fragilidade orgânica, ou algum limite, entregando-se a extenuantes exercícios
que lhes facultaram alcançar as metas estabelecidas. O mesmo ocorre nas artes, na ciência com muitos dos seus paladinos.
Essa compensação se enraíza nos fulcros de algum conflito, nos leva a exagerar determinada tendência como fenômeno inconsciente que nos demonstra o contrário.
O excesso de devotamento a uma causa ou idéia é a compensação ao medo inconsciente de sustentá-lo.
O fanatismo resulta da insegurança interior, não consciente, pela legitimidade daquilo em que se pensa acreditar, desse modo compensando-se.
Há sempre um exagero, um superdesenvolvimento compensador, quando, de forma inconsciente se estabelece um conflito, por adoção de uma crença em algo sem convicção.
O excesso de pudor, a exigência de pureza, provavelmente são compensações por exorbitantes desejos sexuais reprimidos e anelos de gozos promíscuos, vigentes
no ser profundo.
Sem dúvida, não se aplica à generalidade das pessoas corretas e pudicas, mas àquelas que se caracterizam pelo excesso, pela ênfase predominante que dão a essas
manifestações naturais.
Na compensação ocorre a formação de reação, que responde pela necessidade de um efeito psicológico contrário.
Desse modo, as atitudes exageradas em qualquer área camuflam desejos inconscientes opostos.
Nessa compensação psicológica, o ego exarcerbado está sempre correto e, sem piedade pela fragilidade humana, exprime-se dominador, superior aos demais, que não
raro persegue com inclemência.
Na distorcida visão egóica, a sua é sempre a postura certa, por isso exagera para sentir-se aliviado da tensão decorrente da incoerência entre o ego presunçoso
e o eu debilitado.
A compensação substituta - uma deficiência orgânica propele o indivíduo a destacar-se noutra área da saúde, sobrepondo a conquista de realce ao fator de limite
- também transfere-se para o campo emocional, e o conflito de ordem psicológica cede lugar ao desenvolvimento de uma outra faculdade ou expressão que se pode destacar,
anulando, ou melhor dizendo, escamoteando o ocasional fenômeno perturbador.
Graças a compensação substituta o ego se plenifica, embora tentando ignorar o desequilíbrio que fica sob compressão, reprimido. Todavia, todo conflito não liberado
retorna e, se recalcado, termina por aflorar com força, gerando distúrbios mais graves.
A conpensação egóíca é, sem dúvida, um engodo que deve ser elucidado e vencido.
Cada criatura é o que consegue e, como tal, cumpre apresentar-se, aceitar-se, ser aceito, trabalhando pelo crescimento interior mediante catarse, consciente
dos conflitos degenerativos.
Todo esse mecanismo de evasão da realidade e mascaramento do ego torna a pessoa inautêntica, artificial, desagradável pelo irradiar de energias repelentes que
causam mal-estar nas demais.
Deslocamento
A consciência exerce sobre a pessoa um critério de censura, face ao discernimento em torno do que conhece e experiencia, sabendo como e quando se pode fazer
algo, de maneira que evite culpa. Nesse discernimento lúcido, quando surge um impulso que a censura da consciência proibe apresentar-se sem reservas, o ego produz
um deslocamento.
Freud havia identificado essa capacidade de censura da consciência, que situou como superego.
Quando se experimenta um sentimento de revolta ou de animosidade contra alguém ou alguma coisa, mas que as circunstâncias não permitem expressar, o ego desloca-o
para reações de violência contra objetos que são quebrados ou outras pessoas não envolvidas na problemática.
Na antiga arena romana ou nos atuais ringues de boxe se traduzem esses sentimentos recalcados, contra a vítima momentânea, deslocando a fúria oculta, que se
mantém contra outrem, nesse ser desamparado.
Subconscientemente, a pessoa que apóia o dominador e pede-lhe para extinguir o contendor, mantém hostilidade que reprime, impossibilitada pelas convenções sociais
ou circunstanciais de exteriorizá-la.
A hostilidade da criatura leva-a a reagir sempre através de motivos reais ou imaginários. Um olhar, uma palavra malposta, uma expressão destituída de mais profundo
significado, são suficientes para provocar um deslocamento, uma atitude agressiva.
Face a essa postura, há uma tendência para camuflar os significados perturbadores da vida.
Ao reprimi-los, adota-se um comportamento agradável para o ego. Esse mecanismo é de fácil identificação, pois que o ego procura uma vivência de qualquer acontecimento
sem sentido, para ocultar um grave problema que não deseja enfrentar conscientemente.
Essa reação pode decorrer, também, de um ambiente hostil no lar, onde a pessoa se acostumou a deslocar os sentimentos que cultivou, na convivência doméstica,
e não deseja reconhecer como de natureza agressiva.
Somente uma atitude de auto-reflexão consegue despertar o indivíduo para a aceitação consciente do seu self, sem disfarce do ego, não deslocando reações para
outrem e lutando contra as perturbações psicológicas.
Projeção
A repressão inconsciente dos conflitos da personalidade leva o ego a projetá-los nos outros indivíduos, nas circunstâncias e lugares, evadindo-se à aceitação
dos erros e da responsabilidade por eles.
Se tropeça em uma pedra na rua, a culpa é da administração pública municipal; se choca com outrem, a culpa é dele...
A projeção alcança reações surpreendentes.
Um jovem esbarrou noutro na rua e reagiu, interrogando: Você é cego?", ao que o interlocutor respondeu: Sim, sou cego."
Atropelara o invidente e se permitia o luxo de fazer-se vítima.
Há uma natural e mórbida tendência no ser humano de ignorar certas deficiências pessoais para projetá-las nos outros.
Toda vez que alguém combate com exagerada veemência determinados traços do caráter de alguém, projeta-se nele, transferindo do eu, que o ego não deseja reconhecer
como deficiente, a qualidade negativa que lhe é peculiar. Torna a sua vítima o espelho no qual se reflete inconscientemente.
Há uma necessidade de combater nos outros o que é desagradável em si.
Pessoas existem que se dizem perturbadas pelas demais, perseguidas onde se encontram, desgostadas em toda parte, revelando caráter e comportamento paranóicos,
assim projetando a animosidade que mantêm por si próprias nos outros indivíduos, sob a alegação de que não os estimam, e tentam interditar-lhes o passo, o avanço.
A projeção é facilmente identificável e pode ser combatida mediante honesta aceitação de si mesmo, de como se é, trabalhando-se para tornar-se melhor.
Introjeção
Outro mecanismo de disfarçe do ego é a introjeção, que se caracteriza como a conscientizaçào de que as qualidades das pessoas lhe pertencem. Os valores relevantes
que são observados noutrem, são traços do próprio caráter, constituindo uma armadilha -defesa do ego.
A pessoa introjeta-se na vida dos heróis aos quais ama e com quem se identifica, aceitando ser parecida com eles. Assume-lhes a forma, os hábitos, os traquejos
e trejeitos, o modo de falar e de comportar-se...
Pode acontecer também que se adote o comportamento infeliz de personagens dos dramas do cotidiano, das películas cinematográficas, das telenovelas, das tragédias
narradas pelos periódicos.
Na atualidade, ao lado dos inúmeros vícios sociais e dependências dos alcoólicos, tabaco e drogas outras, há, também, a dependência das telenovelas, mediante
as quais as personagens, especialmente as infelizes, são introjetadas nos telespectadores angustiados.
Essa morbidez deve ser liberada e o indivíduo tem a necessidade, que lhe cumpre atender, de assumir a realidade interior, identificando-se numa harmoniosa combinação
entre o self e o ego, mantendo o equilíbrio emocional através do exercício de autodescobrimento, eliminando as ilusões, os romances imaginários, pois que tais mecanismos
de fuga, não obstante o momentâneo prazer que dispensam, terminam por alienar o ser.
Racionalização
A racionalização é o mecanismo de fuga de maior gravidade do ego, por buscar justificar o erro mediante aparentes motivos justos, que degeneram o senso crítico,
de integridade moral, assumindo posturas equivocadas e perniciosas. Sempre há uma razão para creditar-se favoravelmente os atos, mesmo os mais irrefletidos e graves,
através das razões apresentadas, que não são legítimas. Essa dicotomia - o que se justifica e o que se é - torna-se um mecanismo perturbador, por negar-se o real
a favor do que se imagina.
As razões legítimas dos hábitos e condutas são mascaradas por alegações falsas. Por não admitir o que se prefere fazer ou ser, e se tem em conta de que é errado,
assume-se a máscara egóica da racionalização.
Essa falta de honestidade, como expressão falsa do eu, torna-se um desequilíbrio psicológico, que termina em perda de sentido existencial.
Ninguém pode mudar um mal em bem, apenas porque se recusa a aceitar conscientemente esse mal, que lhe cumpre trabalhar para melhor, ao invés de ignorá-lo ou
justificá-lo com a racionalização.
A tendência humana da escolha é sempre direcionada para o bem. Assim, há uma repulsa natural pelo mal, de que a racionalização tenta alterar a contextura, a
fim de apaziguar a consciência, gerando a perturbação psicológica.
Essa luta, que se trava entre o intelecto e a razão, busca justificativa para tornar o mal em um bem, que é irreal. Desse modo, quando a pessoa age erradamente
e a razão lhe reprocha, o intelecto busca uma alegação justa para reprimir o bem e prossegui na ação.
A execução supera a razão e a mente justifica o mal, do qual surgirá um bem, para si ou para outrem, como racionaliza o ego em desequilíbrio.
Somente uma vontade severa e nobre, exercendo sua força sobre os mecanismos de evasão, para preservar o equilíbrio entre a razão e o intelecto com a emoção do
bem e do justo, propondo o ajustamento psicológico do ser.
Fora disso, tais mecanismos de camuflagem da realidade conduzem à alienação, ao sofrimento.
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Medo e morte
Os mecanismos de evasão do ego mascaram a realidade do self, normalmente receoso de emergir e predominar, o que é a sua fatalidade.
Fatores ponderáveis, porém, respondem pelos estados fóbicos do ser, desde os distúrbios gerados pelo quimismo cerebral, responsáveis por desarmonias variadas,
até os fenômenos de natureza psicológica, decorrentes dos conflitos vivenciados pela mãe gestante, reacionária à concepção, tensa ante a responsabilidade, amargurada
pelas incertezas, e os insucessos de parto, predominando os choques pósnatais quando o ser é retirado do aconchego intrauterino, onde se sente seguro, e colocado
num meio hostil no qual tudo parece ameaçar-lhe a frágil existência.
Podem-se assinalar ainda outros fatores, quais os de natureza psicogênica, como de caráter preponderante na formação patológica dos comportamentos fóbicos.
A educação no lar, a mãe dominadora e o pai negligente ou reciprocamente, não raro esmagam a personalidade do educando durante o trânsito infantil.
São inumeráveis os fatores preponderantes como predisponentes nas psicopatologias do medo, responsáveis por estados lamentáveis na criatura humana.
Insinua-se o medo de forma sutil, aparentemente lógica, tomando conta das paisagens da psique, como insegurança tormentosa povoada de pesadelos hórridos, que
levam a alucinações e impulsos incontroláveis de fuga até mediante o concurso da morte.
Com o tempo, alternam-se as condutas no paciente: apatia mórbida ou pavor contínuo, ambas de gravidade indiscutível.
Na psicogênese, porém, dos estados fóbicos em geral, não se pode descartar a anterioridade existencial do ser, em Espírito, peregrino que é de inumeráveis reencarnações,
cuja história traz escrita nas tecelagens intrincadas da própria estrutura espiritual.
Comportamentos irregulares, atividades lesadoras, ações perversas ocultas que não foram desveladas, inscrevem-se na consciência profunda como necessidade de
reparação, que ressurgem desde a nova concepção, quando ocorrem os fatores que os despertam, permitindo-lhes a imersão do inconsciente, e passam a trabalhar o ser
real, levando-o da insegurança inicial ao medo perturbador.
A reencarnação é método para o Espírito aprender, agir, educar-se, recuperando-se quando erra, reparando quando se compromete negativamente.
Inevitável a sua ocorrência, ela funciona por automatismo da Vida, impondo as cargas de uma experiência na seguinte, em mecanismo natural de evolução.
Inscritos os códigos de justiça na consciência individual, representando a Consciência Cósmica, ninguém se lhe exime aos imperativos, por ser fenômeno automático
e imediato.
A cada ação resulta uma reação semelhante, portadora da mesma intensidade vibratória.
Quando recalcado o efeito, ele assoma, predominante, propiciando os estados de libertação ou sofrimento, conforme seja constituído o seu campo de energia.
O autodescobrimento é a terapia salutar para que sejam identificadas as causas geradoras e, ao mesmo tempo, a conscientização de quais recursos se podem utilizar
para a liberação.
Conhecendo o fator responsável pelo medo, antepor-se-lhe-á a confiança nas causas positivas, que resultarão em futuros equilíbrios de fácil aquisição.
Ao lado das terapias acadêmicas, conforme a etiopatogenia do medo em cada criatura, a renovação pessoal pelo otimismo, a auto-estima, o hábito das ideações elevadas,
da oração, da meditação, constituem eficientes recursos curativos para o auto-encontro, a paz interior.
O medo é inimigo mórbido, que deve ser enfrentado com naturalidade através do exercício da razão e da lógica.
Entre as várias expressões de medo ressalta o da morte, herança atávica dos arquétipos ancestrais, das religiões castradoras e temerárias, dos cultos bárbaros,
das conjunturas do desconhecido, das imagens mitológicas que desenharam no tecido social as impressões do temor, das punições eternas para as consciências culpadas,
dos horrores inomináveis que o ser humano não tem condições de digerir...
O pavor da morte, às vezes patológico, afigura-se tão grave, que a criatura se mata a fim de não aguardar a morte...
Compreensívelmente, desde o momento da concepção manifesta-se o fenômeno da transformação celular ou morte biológica. Nesse processo de transformações incessantes,
chega o momento da parada final dos equipamentos biológicos, e tal ocorrência éperfeitamente natural, não podendo responder pelos medos e pavores que têm sido cultivados.
Não é a primeira vez que ocorre a morte do corpo, na vilegiatura da evolução dos seres. O esquecimento do fenômeno, de maneira alguma, pode ser considerado como
desconhecido pelo Espírito, que já o vivenciou antes.
Um aprofundamento mental demonstra que a morte não dói, não apavora, mas o estado psicológico de cada um, em relação à mesma, transfere as impressões íntimas
para o exterior, dando curso às manifestações aparvalhantes.
A Psicologia transpessoal, lidando com o ser psíquico, o ser espiritual, sabe-o em processo de evolução, entrando no corpo - reencarnação - e dele saindo - desencarnação
- da mesma forma que o corpo se utiliza de roupas, que lhe são necessárias e dispensáveis, conforme as ocasiões.
O simples hábito de dormir, quando se mergulha na inconsciência relativa, é uma experiência de morte que deve servir de padrão comparativo para o fim do processo
biológico.
Conforme o eu profundo considere a morte, povoando-a de incertezas, gênios do mal, regiões punitivas ou aniquilamento, dessa forma a enfrentará. O oposto igualmente
se dá. Vestindo a morte de esperança de reencontros felizes, de aspirações enobrecidas, de agradável despertar, ocorrerá o milagre da vida.
O medo da morte decorre da ignorância da realidade espiritual e do apego ao transitório físico.
Freud afirmava que o instinto da morte é superior ao de conservação da vida, o que é perfeitamente natural, tendo-se em vista que o corpo é fenômeno, e este
passa, permanecendo a causa, que é a energia, a vida em si mesma.
A psicoterapia preventiva, como curadora para o medo da morte, propõe uma conduta harmônica com os níveis superiores de consciência desperta, lúcida, avançando
para a transcendência do eu, até culminar na identificação com a Cósmica.
Pensar e agir bem.
Amar e amar-se.
Servir, como forma de ser feliz.
Vincular-se à Fonte da Vida Perene, Causal e Terminal.
Meditar, beneficiando-se com o autodescobrimento e tornando-se um agente de esperança e de paz, eis como viver sem morrer e morrer para perpetuar a vida.
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Referenciais para a identificação do si
Inevitavelmente, as pessoas necessitam de experienciar algumas dessas escamoteações do ego, seus jogos, por falta de estrutura psicológica para suportar a realidade,
a verdade.
O mecanismo de fuga pode constituir uma necessidade de reprimir algo para cuja manifestação o ser não se sente preparado.
É sempre um risco intentar-se, de inopino, empurrar o indivíduo para o encontro claro e imediato com o si, face à sua ausência de valores íntimos para reconhecer-se
frágil - sem deprimir-se, necessitado - sem insegurança em relação ao futuro, aturdido - sem esperança...
O ser psicológico é, estruturalmente, a soma das suas emoções e conquistas, que caracterizam a individualidade pessoal no processo de evolução.
A libertação, portanto, dos complexos artifícios de fuga, dar-se-á mediante terapias adequadas, que facultarão o amadurecimento psicológico para a auto-estima
e o enfrentamento da realidade suportável.
Qualquer tentativa de esgrimir a verdade - afinal, a verdade de cada qual - pode resultar em conflito mais grave. A queda da máscara desnuda o indivíduo e nem
sempre ele deseja ser visto como é - mesmo porque se ignora -, podendo sofrer um choque com o descobrimento prematuro ou alienar-se, por saber-se identificado de
forma inadequada, desagradável.
A verdade é absorvida, a pouco e pouco, através da identificação dos valores reais em detrimento dos aparentes, do descobrimento do significado da existência
e da sua finalidade.
Os convites existenciais que propelem para o exterior, para a aparência, modelam a personalidade impondo inúmeros mecanismos de sobrevivência do ego, aos quais
o indivíduo se aferra, permanecendo ignorante quanto à sua realidade e aos relevantes objetivos da vida.
As ilusões, desse modo, são comensais da criatura, que se apresenta conforme gostaria de ser e não de acordo com o si, o eu profundo, o que é. Extirpá-las é
condenar o outro ao desamparo, retirar-lhe as bengalas psicológicas de apoio.
Isto não significa apoio aos comportamentos falsos, às personalidades esteriotipadas, antes é respeito ao direito de cada um viver como pode, e não consoante
gostaria de ser.
Imprescindível que se seja leal, honesto para consigo mesmo, desvelando-se e trabalhando-se interiormente.
A experiência de identificação do si é um passo avançado no processo de autodescobrimento, de auto-amadurecimento.
Essa busca interior expressa-se como uma forma de insatisfação em relação ao já conseguido - os valores possuidos não preenchem mais os espaços interiores, deixando
vazios emocionais; uma necessidade de aprimoramento psicológico, superando os formalismos, os modismos, o estatuído circunstancial, nos quais a forma é mais importante
do que o conteúdo, o exterior é mais relevante que o interior; uma consciência lúcida, que desperta para os patamares superiores da existência física; uma incontida
aspiração pelas conquistas metafísicas, face à vigência permanente do fenômeno da morte em ameaça contínua, pois que a transitoriedade da experiência física se apresenta
de exíguo tempo, facultando frustração; uma imperiosa busca de paz desvestida de adornos e de condicionais, e um amplo anseio de plenitude.
Com estes referenciais há uma inevitável autopenetração psicológica, uma busca do si, do autodescobrimento, a fim de bem discernir o que se anseia e para que,
o que se possui e qual a sua aplicação, a análise do futuro e como se apresentará.
A emersão do si, predominando no indivíduo, e característica de cristificação, de libertação do deus interno, de plenitude.
Quando começa, uma transformação psicológica se opera automaticamente, a escala de valores se altera e o comportamento muda de expressão.
A saúde emocional e mental se estabelece, ensejando uma visão correta em torno dos acidentes orgânicos, que não mais desequilibram, e o fenômeno morte se torna
perfeitamente natural, sem fantasmas apavorantes ou anelos de antecipação.
Ocorre uma plena harmonia entre o viver - existência física - e a Vida - realidade total.
O self, em razão do processo reencarnatório, fica imerso na névoa carnal, adormecido pelos tóxicos e vapores da indumentária física sob a pressão das experiências
humanas, dos relacionamentos sociais, nos quais a astúcia e não a sabedoria, a simulação e não a honestidade, a falácia e não o silêncio promovem o indivíduo, granjeiam
lugar de destaque na comunidade. Essa conduta irregular, tal critério, são impeditivos para a liberação do si.
Campeiam as psicopatologias como efeito da atitude do ego em relação ao eu, estando a exigir maior conhecimento das necessidades legítimas.
A conquista do self é processo que se deve começar imediatamente, recorrendo-se às terapias próprias e, simultaneamente, aos recursos da oração, da meditação,
das ações edificantes.
Cada logro enseja a ambição de alcançar novo patamar, que se torna um desafio atraente, estimulador.
Ninguém, pois, pode deter-se nos níveis inferiores de consciência, relegando a plano secundário o si, a realidade ambicionada.
OITAVA PARTE
SILÊNCIO INTERIOR
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Silêncio Interior
A grande problemática-desafio da criatura humana é a aquisição da paz.
Empenhando-se na sua conquista, raramente busca e segue os caminhos ideais, capazes de conduzir à sua meta.
Vivendo uma época de conturbação nas diversas áreas, tumultua-se com facilidade, mesmo quando pensa encontrar-se no rumo certo.
Atavicamente amante do ego, apega-se aos valores externos, e esse comportamento se torna responsável pelos seus contínuos insucessos.
Desequipada dos instrumentos interiores que a harmonizariam em relação ao próximo e ao Cosmo, exaspera-se com freqüência e desanima diante dos primeiros impedimentos
que considera intransponíveis.
Adaptada às conquistas exteriores de fácil logro, abandona os propósitos iniciais de encontrar a paz, deixando a postura de não-violência para unir-se aos beligerantes,
embora disfarçando a agressividade. A Terra tem vivido sempre em guerra, e as Nações apenas repousam no interregno dos conflitos, saindo de um para outro, sem encontrar
o caminho para a preservação da tranqüilidade geral.
A essas guerras violentas sucedem os armistícios - que são pequenos períodos de repouso, nos quais os litigantes recuperam as forças para novas lutas -sempre
eclodindo focos de destruição decorrentes de motivos injustificáveis e de razões nenhumas, como se os houvesse legítimos para a hediondez das batalhas sangrentas.
Tal sucede, porque os indivíduos não têm paz íntima.
Desde que não são capazes de se tolerarem reciprocamente em pequenos grupos, não se encontram em condições de respeitar os tratados, por eles mesmos firmados,
os quais apenas escondem-lhes a brutalidade que passa a ter característica de civilização e cultura.
Como decorrência, a paz mundial ainda é uma utopia, em razão da falta de inteireza moral e pacificadora da própria criatura.
Esse fenômeno resulta dos seus apegos egóicos, das suas fantasias douradas, das suas paixões e da sua volúpia pela dominação dos outros.
Apegos morais, emocionais, culturais, pessoais, a objetos, a raças, a grupos sociais, são as fugas do ego arbitrário, ambicioso e louco, responsável pelas disputas
lamentáveis que, deterioradas, são os germes das guerras.
Esse estado psicológico, de transferência e projeção da sombra da personalidade imatura, é fruto da balbúrdia, dos interesses mesquinhos e múltiplos aos quais
se aferra, desajustando-se diante da ordem, da natureza e da vida.
É indispensável uma revisão do comportamento humano, de um estudo profundo a respeito do silêncio íntimo, assim como da harmonia interior.
A única maneira de lográ-lo, é viajar para dentro de si, domando a mente irrequieta - que os orientais chamam o "macaco louco que salta de galho em galho" -
e induzi-la à reflexão, ao autodescobrimento.
Há quem tema a quietude, porqüanto, ao dar-se esta, ocorre a libertação do ego e o ser se ilumina.
Todos somos escravos da mente.
O universo existe em razão daquele que o observa, da mente que o analisa, da percepção com que o abarca.
Aquele cuja mente não dispõe de tirocínio e lucidez, não se dá conta da realidade, que para ele tem outros conteúdos e significados.
Face a tal conduta, fala e produz ruído. É nobre e útil quando se comunica e, no entanto, torna-se grandioso se consegue viver em silêncio mental.
Os conteúdos psíquicos em relação ao ego, quando captados por este, constituem a consciência lúcida, e o silêncio torna-se de grande importância para essa conquista.
O silêncio interior é feito de paz e completude, quando o ser compreende o significado da sua vida e a gravidade da sua conduta em relação aos demais membros
que formam o Cosmo.
A Ciência hoje une-se à Religião - trata-se de uma perfeita identificação do ego e do eu, do Logos e de Eros - vinculando-se uma à outra, passando a contribuir
para a felicidade humana sem enfrentamentos, qual ocorreu outrora através dos antagonismos absurdos.
Até aqui a Ciência vinha trabalhando apenas pelo conhecimento, enquanto a Religião buscava somente religar a criatura ao Criador, marchando separadas e em oposição.
A Psicologia Transpessoal, estudando os estados alterados de consciência, indo além da consciência em si mesma, facultou a união das técnicas místicas do oriente
com a razão do ocidente, favorecendo o entrosamento de Eros e Logos a benefício da individuação plena do ser.
Marcham, vinculadas, agora, fé e razão, contribuindo para o surgimento do ser feliz. O silêncio interior constitui o grande intermediário da paz, que dessa união
advém, por desenvolver na criatura o sentimento de amor - por Deus, por si mesmo, pelo próximo -tornando-se este amor o produto alquímico que dilui o ódio, que vence
as barreiras impeditivas da fraternidade e inunda-a com os recursos e conteúdos psíquicos libertários.
O apego egoísta, superado, cede lugar à generosidade, à doação, e o indivíduo, livre de algemas, em silêncio íntimo, empreende a grande experiência de viver
o self em harmonia com as Leis da Vida. Isto porque, o nível mais elevado da consciência, pelo menos na graduação humana, é o cósmico, que resulta da identificação
entre o si e o Universo, mergulhando o pensamento em Deus e realizando-se totalmente.
30
Desidentificação
Podemos considerar a personalidade humana constituída de essência e substância. A primeira são as energias que procedem do Eu profundo, as vibrações que dimanam
da sua causalidade, e a segunda é a reunião dos conteúdos psíquicos, transformados em atos, experiências, realizações, decorrentes do ambiente, das circunstâncias,
e reminiscências das existências passadas.
São as substâncias que respondem pelo comportamento do ser, propiciando-lhe liberdade ou escravidão e dando nascimento ao eu.
Numa pessoa média, portadora de consciência, sem a nobre conquista do discernimento e da vivência compatível, a ilusão e os engodos se estruturam, passando à
posição das realidades únicas, que ignoram, por efeito, a legítima Realidade.
Essa deturpação psicológica proporcionada pelo ego, que se entorpece e se engana, contribui para as experiências utópicas e alienadoras, que lhe alteram a conduta,
produzindo estados profundamente perturbadores.
O hábito e o cultivo dos pensamentos viciosos, de qualquer natureza, tornam-se as substâncias que formam a personalidade doentia, que se adapta aos fatores dissolventes,
rompendo a linha do equilíbrio e do discernimento, empurrando para o trânsito pela senda da irrealidade.
Sem dúvida, a pessoa portadora de substâncias fragmentadoras move-se em um verdadeiro nevoeiro, que é mais compacto ou mais sutil, conforme as fixações, os vícios
a que se aferra.
Identificando-se com as idéias que lhe são convenientes - algumas de procedência psicopatológica - adapta-se-lhes e incorpora-as, deformando a personalidade,
e esta irrealidade termina por afetar-lhe a individualidade, caso não se resolva pela psicoterapia específica e urgente.
Expressam-se essas identificações nas áreas fisiológicas - como sensações - e psicológica - como emoções.
Toda vez que a pessoa tenta a conscientização íntima, o encontro com o Eu profundo, a busca interior, as sensações predominantes nas paisagens físicas perturbam-lhe
a decisão, impedindo a experiência. São sensações visuais, gustativas, olfativas, auditivas, tácteis, com as quais convive em regime de escravidão, e que assomam
no silêncio, na concentração, ocupando o espaço mental, desviando a atenção da meta que busca.
São ruídos externos que, em outras circunstâncias, não são percebidos; imagens visuais arquivadas, aparentemente esquecidas; olfação excitada, que provoca o
apetite; coceiras e comichões que surgem, simultâneos, em várias partes do corpo; salivação e desejo de alimentar-se, tomando os centros de interesse e desviando-os
da finalidade libertadora.
Por outro lado, nos tentames do silêncio interior para reequilíbrio da personalidade, as sensações produzem associações de idéias que levam a evocações insensatas.
Música e perfume retornam à sensibilidade orgânica e induzem a recordações atribuladoras, com lamentáveis anseios de repeti-las e frui-las novamente.
A mente viciada e o corpo acomodado dificultam o despertar da consciência para a lucidez.
A atividade de desidentificação, por isso mesmo, torna-se urgente.
Mediante a mudança dos hábitos mentais, do cultivo das idéias - substituindo as perturbadoras por outras saudáveis, já que todo espaço deve ser preenchido -
do exercício disciplinado dos pensamentos, passando à alteração dos prazeres e gozos ilusórios que devem ceder lugar àqueles que se expressam como manifestação da
Realidade plenificadora, ocorrerá a libertação dos vícios e fixações, desidentificando-se da conduta tormentosa.
Como envoltórios concêntricos que asfixiam as irradiações do Eu real, as identificações deverão ser liberadas de dentro para fora, portanto, da essência para
a substância.
A medida que a consciência se desenovela dos impedimentos psíquicos, mais amplas descobertas são logradas nas áreas das identificações, que passam a ser diluídas,
permitindo-a fulgir qual estrela poderosa no velário da noite transparente.
A consciência desidentificada com a personalidade fragmentada, enfermiça, proporciona bem-estar.
Essa conquista, a da consciência plena, faculta alegria. Como conseqüência, o silêncio interior consciente, responsável pela saúde psíquica e emocional, predispõe
o ser ao crescimento das aspirações e ao esforço dos ideais de enobrecimento.
Nessa fase de desidentificação e lucidez plena, a consciência predispõe-se à conquista do estágio mais elevado, pelo menos na área humana, que é a sua harmonização
total com a de natureza Cósmica.
31
Libertação dos conteúdos negativos
Graças ao atavismo predominante em sua natureza, o homem guarda as primeiras expressões da consciência em nível inferior, no qual confunde o eu com o objeto,
e a sua é somente uma percepção sensorial.
A identificação com o próprio corpo propicia-lhe uma consciência orgânica, deformada, de que se libera a pouco e pouco, avançando para a transferência desse
conteúdo para outro nível de discernimento e direcionamento.
No processo de evolução, porque estagia nas faixas do instinto que o submete, vai adquirindo outros valores, sem desidentificar-se dos conteúdos fixados, em
razão dos quais a marcha se lhe torna muito lenta.
A consciência individual, representando a Cósmica, a princípio parece deslocada e diferenciada. No entanto, o Deus em nós do conceito evangélico reflete-se nessa
percepção embrionária, que se desenvolverá na sucessão das experiências até liberar-se e alcançar a totalidade.
De forma penosa, não raro, a libertação dos conteúdos negativos - paixões dissolventes, apegos, ilusões, sentimentos inferiores - faculta os anseios pelas conquistas
de outros níveis, nos quais o bem-estar e a paz formam os novos hábitos, a nova natureza do ser.
A Psicologia tradicional, considerando patológicos os níveis superiores, define cada um deles com nomenclatura especial, por desinteresse de penetrar nos estados
alterados da consciência, que levariam à constatação do ser preexistente ao corpo como sobrevivente à morte.
No nível de consciência inferior, os estados alterados demonstram que muitos desses conteúdos negativos, emergentes e predominantes, procedem das reencarnações
passadas, não foram liberados, nem conseguiram diluir-se através das ações enobrecedoras.
Todos os conteúdos primitivos provêm de realizações e fixações sempre anteriores, que somente as disciplinas do esforço, da concentração, da meditação para a
ação, conseguem libertar.
Em razão disso, a meditação é uma terapia valiosa para superar os conteúdos negativos, com o objetivo de liberar o inconsciente, ao invés de esmagá-lo ou asfixiá-lo,
e, longe, ainda, de o conscientizar, gerar novas formulações e identificações atuais que, no futuro, assomarão como recursos elevados.
Todos os formuladores da consciência superior são unânimes, seja no orientalismo ou na Psicologia Trans-pessoal, em recorrer à terapia da meditação, que faculta
o autoconhecimento, preenche os vazios causados pela insatisfação, anula o eu corporal - rico das necessidades dos sentidos - para despertar os ideais subjetivos,
as transferências metafísicas.
No nível de consciência superior, o eu deixa de ser mais eu, para ser uma síntese e vibrar em harmonia com o Todo.
Desaparece a fragmentação da Unidade e o equilíbrio transpessoal sincroniza com a Consciência Universal.
A característica fundamental do nível inferior, portanto, da prevalência dos conteúdos negativos, é a fragilidade do Eu profundo ante as exigências do ego atormentado,
gerando projeções da sombra e desarticulando os projetos de paz.
A Psicologia espírita, por sua vez, cuidando do homem integral, distingue também nos conteúdos psíquicos, negativos, a ingerência de mentes desencarnadas obsessoras,
que se comprazem no intercâmbio perturbador, propiciando desconforto e aflição em desforços cruéis, mediante alienações de variados cursos.
Ao mesmo tempo, seres outros desencarnados, invejosos quão infelizes, vinculados às criaturas humanas por afetividade mórbida ou despeito cruento, estabelecem
fenômenos de hipnose que retardam o desenvolvimento da consciência daqueles que lhes experimentam o cerco.
Na psicoterapia espírita, o conhecimento da sobrevivência e do inter-relacionamento entre os seres das duas esferas - física e espiritual - oferece processos
liberativos centrados sempre na transformação moral do paciente, sua renovação interior e suas ações edificantes, que facultam o discernimento entre o bem e o mal,
propiciando a transferência para o nível superior, no qual se torna inacessível à indução perversa.
A meditação, a busca interna, nessa fase, são relevantes e cientificamente basilares para o processo de crescimento, de discernimento, de lucidez.
O homem avança no rumo da sua destinação, a passo vagaroso nos primeiros níveis de consciência, por desinteresse, ignorância, apressando a marcha na razão direta
em que vence tais patamares e descobre a excelência das conquistas com que se enriquece.
A libertação dos conteúdos negativos é inevitável; no entanto, vários fenômenos patológicos e preferências emocionais, perturbadoras, interferem para que sejam
mantidos, sendo necessário que os psicoterapeutas vigilantes insistam junto a esses pacientes em que se descubram e encontrem os benefícios dos níveis superiores.
Libertação é felicidade, e consciência enriquecida pelos conteúdos superiores significa plenitude, reino dos céus, mesmo durante o trânsito terrestre.
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O Essencial
Face ao inevitável processo de crescimento do Eu profundo, a vida assume características variadas, e as oportunidades se deparam convidativas, acenando com a
libertação, que somente se consegue a penosos esforços.
Na fase inicial da predominância egocêntrica, o ser projeta-se no mundo com o qual se identifica, aprisionando-se no emaranhado das coisas exteriores, sob conflitos
que não tem condições de administrar, quase sempre desequilibrando-se e passando a estados neuróticos de insatisfação, ansiedade, medo ou a alucinações variadas.
O apego, essa fixação perturbadora à ímpermanência, a que pretende dar perenidade, constitui-lhe a meta existencial.
Mais tarde, em tentativas de desvencilhamento da situação psicológica infantil, avança para a posição egoísta, cultivando os valores pessoais, narcisistas, com
os quais se engolfa, despertando na amargura, sob os camartelos do tempo degenerador e da frustração tormentosa.
O essencial, quase sempre, permanece-lhe em plano secundário na paisagem psicológica das aspirações conflitivas.
À medida que amadurece, transfere-se das coisas e prisões egóicas para a conquista da sua realidade: o desenvolvimento do Eu profundo que deve predominar
comandando os anelos e programas de libertação.
Somente a consciência de si propiciar-lhe-á a visão diferenciadora dos fenômenos perturbadores, em relação àqueloutros de plenificação.
Em tentativas brilhantes e sucessivas de penetrar os níveis, os patamares da consciência, psicólogos e estudiosos outros, das áreas das ciências psíquicas, levantam-lhe
a cartografia que, variando de escola e estágio, segue os mesmos processos de desenvolvimento que são compatíveis com o crescimento do ser, conforme as suas experiências
vivenciais na busca da saúde real.
Desejando ampliar o campo da análise dos seus pacientes, enquanto Freud fundamentava a Psicanálise e a difundia, Roberto Assagioli, na Itália, porque defrontava
com dificuldades para aplicar, em alguns deles, as recomendações da doutrina que absorvera do mestre vienense, começou a trabalhar na organização da Psicossíntese,
na qual encontrou mais amplos recursos terapêuticos para liberá-los, assim alargando os campos do entendimento das personalidades conflitivas.
Posteriormente, o bioquímico Robert De Ropp, estudando carinhosamente as reações cerebrais, entre outras experiências, e buscando produzir estados alterados
de consciência, formulou as bases e os paradigmas da sua Psicologia Criativa, inspirando-se nas experiências de George Ivanovitch Gurdjieff, com os seus complexos
contributos psicológicos e cosmológicos místicos.
Buscando interpretar o mestre russo, De Ropp classificou os níveis de consciência em cinco estágios: consciência de sono sem sonhos; de sono com sonho; de sono
acordado; de transcendência do eu e de consciência cósmica...
Para ele, o homem evolve de maneira inesperada, às vezes, de um para outro nível, especialmente nos dois primeiros estágios de adormecimento...
Mediante psicoterapia acurada e exercícios cuidadosos, logra-se o avanço pelos diversos patamares, até a etapa final, que se torna de difícil verbalização face
às emoções e descobrimentos conseguidos, nesse momento de perfeita integração com o que poderíamos chamar o Logos, o pensamento divino.
No primeiro nível - quando se transita no sono sem sonhos - apenas os fenômenos orgânicos automáticos se exteriorizam, assim mesmo sem o conhecimento da consciência,
tais: respiração, digestão, reprodução, circulação sanguínea...
Como se estivesse anestesiada, ela não tem ação lúcida sobre os acontecimentos em torno da própria existência, e a ausência de vontade do indivíduo contribui
para o seu trânsito lento do instinto aos pródromos da razão.
No segundo nível, o sono com sonhos, ele libera clichês e lentamente incorpora-os à realidade, passando pelas fases dramáticas - os pesadelos, os pavores - para
os da libído - ação dos estímulos sexuais
(*) Vide: Rumo às estrelas - Luis C. Postiglioni - Capítulo 20 - Espíritos diversos - Instituto de Difusão Espírita. Médiuns e Mediunidade - Espírito Vianna de Carvalho
- Capítulo 5 - Editora Arte e Cultura. - Nota da Autora espiritual.
- e os reveladores - que dizem respeito à parcial libertação do Espírito quando o corpo está em repouso...
O desenvolvimento da consciência atinge o terceiro nível, o de sono acordado, no qual a determinação pessoal, aliada à vontade, conduz o ser aos ideais de enobrecimento,
à descoberta da finalidade da sua existência, às aspirações do que lhe é essencial, ao auto-encontro, à realização total.
Naturalmente, a partir daí, ascende ao quarto estado, que é a descoberta da transcendência do eu, a identificação consigo mesmo, com a conseqüente liberação
do Eu profundo, realizando a harmonia íntima com os ideais superiores, seu real objetivo psicológico existencial.
A superação dos conflitos, das angústias, a desidentificação dos conteúdos psicológicos afugentes, permitem a iluminação, e a próxima é a meta da vinculação
com a consciência cósmica.
Nem sempre, porém, o homem e a mulher conseguem alcançar esse nível ideal, fenômeno que, não obstante, será realizado através das reencarnações que lhes facultarão
a vitória sobre os carmas negativos e, mediante as leis de causa e efeito, passo a passo, em esforço contínuo poderão fazê-lo.
Da mesma forma, a reencarnação aclara a cartografia da consciência de De Ropp, quando ele analisa os níveis que diferenciam os indivíduos na imensa mole humana.
As experiências acumuladas promovem ou retêm o indivíduo nos fenômenos decorrentes das ações praticadas, beneficiando-os ou afligindo-os com as sombras que lhes
permanecem dominadoras, na condição de resíduos espirituais. A consciência filtra-os e, por não os poder digerir, transforma-os em conflitos, perturbações, estados
psicopatológicos, requerendo terapias especializadas e contínuas.
Em qualquer nível, porém, a partir do sono com sonhos, a vontade desempenha um papel relevante, impulsionando o ser a novas realizações e conquistas completadoras
que enriquecem o arsenal psicológico, amadurecendo o essencial à vida e selecionando-o do amontoado egóico do supérfluo.
Psicoterapeuta Excepcional com a Sua visão realista e criativa, Jesus definiu a necessidade de buscar-se primeiro o reino dos Céus, pois que esse fanal ensejaria
a conquista de todas as outras coisas. E óbvio que, ao se adquirir o essencial, todas as coisas perdem o significado, por se encontrarem destituídas de valor face
ao que somente é fundamental. Outrossim, alertou sobre o imperativo de fazer-se ao próximo o que se gostaria que este lhe fizesse, fixando no amor o processo de
libertação, na ação edificante o meio de crescimento e na oração fortalecedora a energia que proporciona o desiderato.
Esse desempenho favorece a perfeita identificação do sentimento com o conhecimento, resultando na conquista do Eu profundo em sintonia com a Consciência Cósmica.
NONA PARTE
A FELICIDADE
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Prazer e gozo
O sentido, o significado da vida centra-se na busca e no encontro da felicidade. Constitui o mais freqüente desafio existencial responsável pelas contínuas
realizações humanas. A felicidade, por isso, torna-se difícil de ser lograda e, não raro, muito complexa, diferindo de conteúdo entre as pessoas em si mesmas e os
grupos sociais. Confundida com o prazer, descaracteriza-se, fazendo-se frustrante e atormentadora.
A visão da felicidade é sempre distorcida, levando o indivíduo a considerar que, quando não se encontra feliz, algo não está bem, o que é uma conclusão incorreta.
O sonho humano da felicidade é róseo, assinalado pelo conforto, o ócio e o poder, graças aos quais se desfrutaria de bem-estar e gozo, inadvertidamente
considerados o seu logro.
Certamente as pessoas ricas dispõem, em quantidade, de horas assim vividas, sem que se hajam considerado felizes, mas antes se encontrado tediosas, e o tédio
é, sem dúvida, um dos seus grandes opostos, em cujo bojo fermentam muitas desgraças.
A felicidade se expressa mediante vários requisitos, entre outros, os de natureza cultural, atavismo que lega ao indivíduo o meio social de onde se origina e
no qual se encontra, de nível de consciência e de maturidade psicológica.
Esses fatores estabelecem as diferenças de qualidade do que é ser feliz, face às variações que impõem nos grupos e nos seres humanos, demonstrando que as aspirações
de uns nem sempre correspondem às de outros.
O nível de consciência e o amadurecimento psicológico estabelecem os graus nos quais se expressa, as realizações plenificadoras, os estados de felicidade.
Perseguindo-se o gozo, o prazer, experimenta-se alegria toda vez que são alcançados, assinalando-se esses momentos como de felicidade que, no entanto, não correspondem
ao sentido profundo, de magnitude que ela reveste.
A interpretação equivocada conduz a buscas irreais, que perdem o significado quando se alteram os fatores que a constituem. A sua visão, em determinada época
da existência, muda completamente em outro período.
A imaturidade psicológica de uma fase, a juvenil, por exemplo, predispõe a uma aspiração de felicidade que, conseguida, logo desaparece, e observada mais tarde
apresenta-se desagradável, perturbadora. Por essa razão, é necessário que se entenda que a felicidade tem a ver com o que o indivíduo é e com o que ele pensa ser.
A diferença, entre o que supõe ser e a sua realidade, dimensiona o seu quadro de desejos, de prazeres e gozos que interpreta como a busca plenificadora da felicidade.
Assim, a felicidade tem a ver com a identificação do indivíduo com os seus sentidos e sensações, os seus sentimentos e emoções, ou as suas mais elevadas aspirações
idealistas, culturais, artísticas, religiosas, com a verdade.
Na fase dos sentidos, o gozo se transforma depois de fruido em insatisfação, ansiedade ou depressão; no período dos sentimentos, o prazer derrapa em paixões
possessivas, que dão margem a tragédias e angústias logo estejam saciados; no ciclo idealista, religioso, transcendental, a busca transpessoal fomenta a autodescoberta,
a auto-realização, a auto-doação, em serviços desinteressados de libertação do ego e participação na vida, individual como coletiva, dos seres, da vida, da Terra.
Essa busca é diferente da ambição de ser virtuoso, na qual mascara o ego e apresenta-o, entregando-se a macerações que ocultam gozos patológicos ou a narcisismos,
em mecanismos de evasão da realidade para planos egóicos, masoquistas-exibicionistas, com aparência de humildade e renúncia. Quando reais, essas expressões de virtude
são ignoradas pelo próprio candidato em quem são naturais, sem os condimentos do prazer embutidos na fuga psicológica que as falseiam.
Para que a identificação do indivíduo com a sua busca de serviço seja legítima, há uma perfeita união com o self, de tal forma que não haverá diferença entre
dar e receber, amar e ser amado, viver e morrer... Apressadamente, há quem afirme que a felicidade tem a ver com o princípio freudiano do prazer, e que através desse
comportamento se poderiam satisfazer as necessidades e evitar a dor. Não obstante, a dor não pode ser evitada. Considerá-la como um fenômeno natural do processo
de evolução, encarando-a como instrumento de promoção do ser em relação à vida, eis uma forma eficaz de lograr a alegria, superando os seus mecanismos desgastantes
e as ocorrências degenerativas, que não compreendidos e aceitos com equilíbrio conduzem à infelicidade.
Da mesma maneira, a felicidade não se radica na satisfação de qualquer desejo do ego, porqüanto, após satisfazê-lo, manifesta-se com veemência, gerando ansiedade
e desconforto.
Surge então a compreensão transpessoal da existência, e o desejo egóico cede lugar à aspiração espiritual, a uma busca mais profunda, desidentificada com os
condicionamentos passados com pessoas e coisas. Provavelmente, nessa busca surgirão o sofrimento, o desconforto, que irão cedendo lugar à harmonia e ao bem-estar,
a medida que se alcancem as bases objetivadas da realização plenificadora. Lentamente desaparece a frustração da vida cotidiana, alargando-se o campo do idealismo
e da identificação com a deidade, mediante afirmação religiosa ou, com o eu profundo, em manifestação psicológica. A princípio, o caminho da busca se afigura escuro
qual um túnel, cuja claridade está distante, mas que se torna maior quanto mais se lhe acerca da saída. Essa busca, qual ocorre com qualquer outra, é realizada com
a mente, que deve solucionar as dificuldades, à proporção que se apresentem, eliminando o sofrimento perturbador, tratando-se de um contínuo e lúcido trabalho interno.
Na busca da felicidade são inevitáveis os estágios de sofrimento e de prazer, por constituírem fenômenos da experiência humana, da realização do self desidentificando-se
do ego. O lamentável, nessa ocorrência, tem lugar com o surgimento e instalação do tormentoso sentimento de culpa, que nega inconscientemente ao indivíduo o direito
de fruir a felicidade, ou mesmo o prazer, sem o estigma do sofrimento. Para fugir-lhe à imposição, busca-se o oceano do gozo, afogando ali os ideais mais altos na
denominada opção realista, que entretanto consome os sentimentos e perturba as emoções, saturando-os ou desbordando-os, rebaixando-os ao nível das sensações.
Há um mecanismo castrador impeditivo da experiência do prazer, que podemos considerar como sendo inibição. Além dele, a consciência de culpa conspira contra
a realização da felicidade.
Tão arraigada se encontra no ser humano, que toda vez que as circunstâncias propiciam a presença do prazer - a pessoa crê não merecer desfrutá-lo - ou da felicidade
- o indivíduo receia vivê-la, não se permitindo experienciá-la - surge o temor de que algo mau sucederá.
Para desarticular es se mecanismo conflitador, torna-se necessária uma tomada de consciência de si mesmo, procurando descobrir a fonte geradora da inibição,
para a psicoterapia libertadora conveniente, que pode ter origem na conduta infantil - educação coercitiva, meio social asfixiante, família dominadora - ou proceder
de reencarnações passadas - uso incorreto do livre-arbítrio, conduta irregular, exagero de paixões. Tal inibição, associada ao sentimento de culpa, castiga o ser,
impedindo-o de fruir momentos de recreação, de ócio, levando-o a tormentos quando não se encontra produzindo algo concreto, o que se lhe torna uma necessidade compulsiva,
portanto patológica.
Certamente não se deve viver para a ociosidade dourada, tampouco, exclusivamente, para a atividade estressante. Há todo um rico arsenal desportivo, um infinito
painel de belezas naturais convidativas, um sem-número de estesias mediante a leitura, a arte, a conversação, um abençoado campo de idealismo através da prece, da
meditação, do controle da mente, que se constituem tônicos revigorantes para as ações geradoras da felicidade e dos quais todos podem e devem dispor quanto aprouver.
Esses interregnos nas atividades, enriquecidos de prazeres mais amplos, são estímulos para a criatividade, a libertação de cargas psicológicas compressivas, a auto-realização.
Essa busca, do self profundo, deve superar e mesmo arrebentar as resistências inibidoras, o sentimento de culpa, cujas energias serão canalizadas para a conquista
da felicidade.
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Felicidade em si mesma
Considerando a felicidade como sendo a harmonia entre o ego e o self, o descobrimento dos valores profundos do ser e a consciência da sua legitimidade que induz
a conquistá-los, eleger os métodos da plenificação interior torna-se o próximo passo nessa busca desafiadora.
Quem coloque a felicidade como sendo a conquista de títulos e triunfos mundanos, destaque social e poder, desfrutar de privilégios e dinheiro, não saiu da periferia
imediatista dos prazeres sensuais, que respondem pela competitividade e pelo desequilíbrio da emoção.
Jesus definiu com segurança o conceito pleno de felicidade, no conteúdo do pensamento meu reino não é deste mundo, tendo em vista a impermanência da vida física,
a transitoriedade do ser existencial, terrestre, em constante transformação, no seu contínuo vir-a-ser.
A criatura não é o que se apresenta, nem como se encontra. Esse estado impermanente é trânsito para o que se será. Em prazer ou em sofrimento, não se é isso,
mas se está isso, conscientizando-se do continuum no qual se encontra mergulhado.
O empenho para a busca da felicidade conduz àeleição de objetivos fora do mundo físico.
Todavia, não é necessário alienar-se do mundo, odiá-lo, para conseguir por meio de transferências e fugas psicológicas. A meta além do mundo se estabelece como
prioritária, porque, na vida terrestre, o que se constitui essencial numa faixa etária, noutra se transforma em pesada carga, responsável por arrependimentos e angústias
insuportáveis. De acordo com as mudanças e realizações culturais, alteram-se os objetivos da busca, superando-se uns anseios e surgindo outros.
Por isso, os valores sensuais tendem a produzir vazio, e as conquistas existencialistas perdem os seus conteúdos, logo são alcançadas, transformando-se em tédio.
Parte da Unidade Universal e individual nela, o ser humano pode desfrutar dos fenômenos existenciais, sem abandono da meta transpessoal, como degraus vencidos
na ascensão que levará ao patamar da felicidade. Quando se adquire a consciência da unidade e da valorização de si mesmo, sem a presunção narcisista do excesso de
auto-importância, avança-se na busca, desenvolve-se interiormente, acende-se a luz da determinação de fazer-se feliz em quaisquer circunstâncias, em todos os momentos,
prazenteiros ou não. Embora a felicidade não dependa do prazer, o prazer bem estruturado é-lhe caminho. A sua ausência, no entanto, em nada a afeta, por estar acima
das sensações e emoções imediatas.
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Condições de felicidade
Como decorrência de uma visão caótica e pessimista da vida, estabeleceu-se que a felicidade resulta do triunfo em qualquer área e dos prazeres de rápido deleite,
o que deu origem aos de natureza material, portanto sensuais, como o orgasmo, o dinheiro, o êxito com todo refinamento de sucedâneos, desde a alimentação aos relaxantes
banhos, massagens, variações de moda, frivolidades... Apesar do bem-estar que proporcionam, cedem lugar a outros anseios, convertendo-se em tormentos - conscientes
ou não - geradores de conflitos por competitividade, como diante do inevitável desgaste corporal face à idade e àdoença, às fugas espetaculosas para os alcoólicos,
drogas aditivas, tabaco ou depressões profundas...
Além desses, surgem, como metas felizes, os prazeres emocionais, que induzem aos relacionamentos humanos, promocionais, de lideranças e representações sociais,
políticas, econômicas, religiosas, portadoras de grande valorização para o ego.
Essas metas, que são gratificantes, também têm o sentido do efêmero, tão rápidos são os relacionamentos, e perturbadores os status humanos, que não preenchem
os vazios interiores.
Somente quando há uma reciprocidade honesta nesses relacionamentos, quando o intercâmbio se expressa leal e afetivo, é que a felicidade se estabelece, visto
que, do ponto de vista psicológico transpessoal, ela é o amar, possuir a capacidade de amar plenamente, sem imposições nem paixões egóicas.
Esse amor não pede e sempre doa; não tenta modificar os outros e sempre se aprimora; não se rebela nem se decepciona, porqüanto nada espera em retribuição; não
se magoa nem se impacienta - irradia-se, qual mirífica luz que, em se expandindo, mais se potencializa.
Porque esse amor não tem apego, nunca é possessivo, portanto faz-se libertador, infinito, não se confundindo com a busca do relacionamento sexual, que pode estar
embutido nele, sem lhe ser causalidade. O prazer que gera na comunhão dos sentidos não éfundamental, embora seja contributivo.
A saúde, nos seus vários aspectos, depende muito do amor, especialmente a de natureza psicológica, emocional, resultante, quase sempre dos relacionamentos íntimos,
conjugais, como mecanismo completador da harmonia pessoal. Esse contributo do amor preserva também o equilíbrio mental, sem o qual a felicidade se torna uma utopia
paranóica. Nesse caso, o relacionamento proporciona um bem-estar igualmente físico e espiritual, já que não se pode dissociá-los, enquanto na conjuntura carnal.
Para esse amor de plenitude torna-se indispensável uma entrega autêntica, sem subterfúgios, sem aparências, fazendo-se que sejam retiradas as máscaras e as sujeições.
A felicidade se estabelece quando os dois níveis - físico e mental - harmonizam-se, ensejando o prazer emocional e transpessoal.
Nesse passo alcança-se, mediante a criatividade, o prazer mental, o bom direcionamento da mente, que consegue alterar para melhor a compreensão do mundo.
Esse sentido da vida, essa finalidade induz a sacrifícios de bens, riquezas, relacionamentos, para a entrega à inspiração, do significado à busca da felicidade.
Tal prazer não se restringe apenas à arte em si mesma, ou à cultura, porém, à vida e aos seus valores, às realizações no campo pessoal, com vistas ao bem da humanidade,
à superação do ego.
Um dos pontos-chave da desdita, como dos conflitos, reside na evocação dos acontecimentos infantis menos felizes, que ressumam freqüentemente em ressentimentos
e torturas.
A crença indevida de que a infância tranqüila, descuidada, sem preocupações, seria um período sem traumas, nem sempre corresponde à realidade. Sem dúvida, uma
infância rósea é fator positivo, porém, não essencial à felicidade.
Certas constrições e castrações, o relacionamento com a mãe, as inibições e pavores infantis geram inegavelmente tormentos que surgem e ressurgem em todos os
demais períodos da existência. Apesar disso, em uma visão transpessoal da vida e do ser, cada um traz consigo as predisposições comportamentais e cármicas para a
atual experiência, convivendo com os fatores que merece, graças aos quais deve amadurecer emocionalmente e dispor-se para a auto-realização.
Qualquer tipo de crescimento, especialmente psicológico, redunda em sofrimento emocional.
A libertação de uma fase - infantil, adolescência, idade da razão - ocorre como se fora um parto com dor, culminando, biologicamente, com a terceira idade, quando
se dá a morte do invólucro carnal.
Os períodos infantil e adolescente são decisivos na existência, e todas as pessoas passam por dificuldades e crises durante a formação da personalidade, favorecendo
conflitos compreensíveis, que levam à independência pessoal. Nem todos logram vencer as tensões internas e externas que se estabelecem a partir de então. E, no entanto,
nessa fase que se definem os rumos futuros do comportamento, necessitando-se de psicoterapias emocionais e espirituais, próprias para a libertação. Mesmo essa ocorrência,
feliz ou desventurada, e sua aceitação, com o conseqüente crescimento, têm a ver com a estrutura profunda do self, a realidade do Espírito.
Naturalmente, as recordações infantis positivas ficam submersas, sob aquelas negativas, em razão da valorização do desagradável marcar mais o ser, do que os
outros, que deveriam ser mais considerados. Trata-se de um atavismo masoquista inconsciente, que predomina em a natureza humana. Assim, os problemas existenciais
podem perturbar a identidade, quando o ser é frágil, psicologicamente, e sem experiências desafiadoras, espiritualmente. Mesmo nas infâncias assinaladas por dificuldades,
há muita beleza a recordar e momentos inesquecíveis, que são inerentes a essa fase, exceção feita às personalidades psicopatas e arredias, que cultivam, no seu mutismo
ou exacerbação, os conflitos de que padecem.
Seja, porém, qual for a herança infantil que se carregue, a busca da felicidade não deve sofrer solução de continuidade, especialmente se as vivências são conflitivas,
merecendo, nesse caso, mais intensidade de reidentificação com o self.
Avançando-se terapeuticamente para a libertação dos traumas, com a fixação dos propósitos e logros de saúde emocional, consegue-se dar o passo primeiro para
a conquista da felicidade que logo virá.
Nos períodos de formação da personalidade - infância e juventude - é comum orientar-se o educando para as conquistas externas a qualquer preço, identificando
os valores sociais e econômicos, não raro em detrimento da realização interior. Somente quando são estabelecidas metas de triunfo íntimo, é que se alcança a correta
identificação do ser com os lídimos objetivos da reencarnação.
Nessa fase de indefinição, muitos indivíduos são induzidos a satisfazer as ambições malogradas ou vitoriosas dos seus pais, educadores e chefes, que projetam
sua sombra nos filhos, alunos e subordinados, sem pensarem na realização pessoal dos seus dependentes.
Essa conduta é responsável por muitos conflitos, que impedem um discernimento claro do que seja realmente a felicidade. Diante disso, a idade da razão pode apresentar-se
atemorizante e perturbada por contínuas crises existenciais.
Constatar que as conquistas feitas não são plenificadoras, defrauda as aspirações e tira o sentido da vida, O triunfo e o fracasso externo também produzem a
mesma frustração e incompletude.
Nesse período, a constatação do tudo efêmero impulsiona o ser na direção da felicidade, e é nesse nível de consciência que a busca alcança os patamares elevados
do amor desinteressado, da paz íntima e da realização espiritual, que são as condições essenciais para culminar no encontro.
A partir daí, a reflexão se torna freqüente, a oração faz-se natural e a meditação é um reconforto normal. Amadurecendo, o indivíduo irradia do mundo interior
o bem-estar e passa a fruir de felicidade.
Isto não o impede de ter problemas, que passa a administrar com equilíbrio, não se perturbando, nem se deprimindo com eles.
São os problemas, solucionados, que proporcionam maturidade e harmonia íntima. Sem eles, como exercícios, torna-se improvável o êxito.
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Plenificação pela felicidade
Todo cometimento decorre da planificação mental, o que é fator de triunfo ou não, de acordo com o investimento da razão. Para a plenificação do ser, mediante
a felicidade, o treinamento mental e emocional torna-se preponderante, a fim de facultar o nível de consciência compatível.
Não há vitória sem esforço. Com a mente e a emoção tranqüilas, experimenta-se o prazer transpessoal plenificador, gerando o campo para a capacitação intuitiva.
Com ela, mediante o silêncio da mente e a calma dos anseios do corpo, o self é penetrado em profundidade, e a sua percepção da realidade aumenta, facultando-lhe
a conquista do conhecimento - a sabedoria que decorre da informação e da ação do amor - que o projeta em outras dimensões do Espírito.
Agigantando-se a consciência, o ser alcança a paranormalidade superior e inter-relaciona-se com os seres de faixas espirituais mais elevadas, vivendo no corpo
e fora dele em plenitude.
Assim alcança a iluminação, a bem-aventurança, que são as expressões máximas da felicidade.
O encontro com a vida espiritual pujante se torna uma perene fonte de alegria, refletindo-se em todas as coisas e pessoas.
A consciência, portanto, iluminada, é a responsável final pela felicidade. No começo é apenas vislumbrada, intuída, até tornar-se realidade, sem a necessidade
de alienação do mundo.
Todos os seres humanos têm direito à felicidade e devem fruí-la, desde as suas mínimas expressões às mais grandiosas, em todo o painel da existência.
Com a visão transpessoal da felicidade, tudo e todos devem ser vistos, sentidos e amados como são. A consciência os absorve com a sua estrutura.
Não seja a felicidade, no entanto, o resultado da indução externa ou de uma auto-sugestão, pois que se tornaria um engodo proposto e conseguido pelo inconsciente.
A intimidade, a identificação com a unidade, de forma persistente e natural, propiciam o manifestar da felicidade, permitindo uma entrega consciente ao self
plenificador.
A felicidade é, portanto, uma forma de viver e, para que se torne permanente, é necessário que seja adquirido o nível de consciência do Espírito, e isto começa
quando se descobre e se atenta para o que realmente se deseja da vida além dos níveis imediatos do gozo e do prazer.
DÉCIMA PARTE
CONQUISTA DE SI MESMO
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O homem consciente
Gurdieff, o eminente psicólogo russo, em uma análise feliz a respeito do homem, referiu-se aos dois estados em que o mesmo se apresenta como decorrência do seu
nível de consciência: adormecido e desperto.
O trânsito pela reencarnação enseja ao ser o desenvolvimento dos valores éticos, ampliando-lhe o espaço mental para as conquistas relevantes.
Ao mesmo tempo, quando entorpecida a consciência, antes lúcida, o indivíduo deixa-se conduzir através do mergulho nas distrações, que lhe constituem os interesses
máximos do dia-a-dia, olvidando as qualidades superiores que propiciam realmente a felicidade.
Essas distrações prendem-lhe a atenção e detêm-lhe o processo de busca interior, empurrando-o para as fugas espetaculosas e as transferências das metas prioritárias,
importantes, para aquelas que enganam, apaixonando-o e levando-o às conquistas vazias das coisas que não proporcionam mais do que o breve bem-estar da volúpia egoística
do momento, expressa nos prazeres que logo se esfumam.
Quando convidado às reflexões profundas a respeito da sua realidade como ser imortal, encharcado pelas paixões como se encontra, não consegue deter-se em uma
demorada análise de si mesmo, porque logo os pensamentos se expandem em várias direções, afugentando-o do objetivo essencial propicia-dor do auto-encontro.
Saciado pelo gozo, embora atormentado pelo desejo de novos prazeres, a sua fixação mental é somente possível quando se refere ao campo das sensações, nas quais
chafurda até a exaustão, para retornar à posição anterior de ansiedade e insatisfação.
Acostumado às idéias do imediato, que trazem respostas momentâneas, logo a seguir, qualquer projeção no tempo constitui-lhe sacrifício vão, porqüanto não se
dispõe a levar adiante a proposta inicial de realização demorada.
Os indivíduos, psicologicamente adormecidos, são ainda fisiológicos, não obstante possam estar projetados na sociedade e até mesmo bem considerados por ela.
Despertar significa identificar novos recursos ao alcance, descobrir valores expressivos que estão desperdiçados, propor-se significados novos para a vida e
antes não percebidos...
O despertamento retira o véu da ilusão e faculta a percepção da realidade não fugidia, aquela que precede a forma e permanece depois da sua disjunção.
Estar desperto é encontrar-se participe da vida, estuante, tudo realizando com integral lucidez.
E mesmo o ato de dormir, para a aquisição do repouso físico, porque precedido de conhecimento do seu objetivo, torna-se um fenômeno de harmonia, sem os assaltos
de clichês mentais arquivados, que assomam em forma de pesadelos tormentosos.
A fixação do despertamento resulta dos insistentes e contínuos espaços da mente, preenchidos pelo desejo veemente de adquirir lucidez.
Tudo quanto faz, realiza-o de forma consciente, desde o ato de coçar-se, quando concentrado, até o de superar o cansaço com o seu séquito de indisposições orgânicas
e psíquicas.
Estar desperto é mais do que encontrar-se vivo, do ponto de vista fisiológico, superando os automatismos, para localizar-se nas realizações da inteligência e
do sentimento enobrecido.
As distrações habilmente se disfarçam, justificando trabalho exaustivo, repouso demorado, conversações prolongadas, caminhadas e ginásticas que consomem horas,
e que, não obstante úteis, desviam da meta essencial que é o despertamento de si mesmo.
Há uma generalizada preferência humana pelas distrações, pela fuga da realidade, consumindo-se tempo e saúde no secundário, com desconsideração ou por ignorância
do essencial.
Lentamente, por processo de saturação das distrações ou pelo imperativo de novas reencarnações, o homem aspira à conquista de outros níveis de consciência e
emerge do sono, passando a identificar o atraso em que se encontra, diante das infinitas possibilidades de que dispõe.
Altera-se-lhe então a visão para a auto-identificação, entendendo que o largo período de sono é responsável pela existência dos inúmeros conflitos que o aturdem,
das contradições entre o que pensa e o que faz, entre ao que aspira e o que realiza, mantendo a sensação permanente de incompletude.
Quando anestesiado no nível de sono, sente a mesma necessidade de completar-se, porém, identificando os meios para o tentame, arroja-se mais nas experiências
do instinto, frustrando-se e sofrendo.
A razão propele-o para a tomada de consciência e, nesse estado, à medida que se envolve na libertação das cargas psicológicas opressoras, asfixiantes, passa
a fruir emoções que o enlevam, aumentando o número de vivências dos logros íntimos, que lhe constituem degraus e patamares a galgar, tendo em mente o acume, que
será a perfeita conscientização de si mesmo.
Ser consciente significa estar desperto, responsável, não-arrogante, não-submisso, livre de algemas, liberado do passado e do futuro.
Cada momento atual é magno na vida do homem consciente, e tudo quanto se propõe realizar, ao invés de tornar-se desafio, é-lhe estímulo ao prosseguimento tranqüilo
da iluminação interior.
Usa a inteligência e aplica o sentimento em perfeita interação, avançando sempre, sem recuos nem amarguras.
Certamente experimenta as contingências da vida social, dos prejuízos políticos, das injunções do corpo, sem que tais ocorrências o desanimem ou o infelicitem.
Consciente desses fenômenos, mais se afervora na busca da harmonia, conquistando novas áreas que antes permaneciam desconhecidas.
Age sempre lúcido, e cada compromisso que assume, dele se desincumbe em paz, sem a preocupação de vitória exterior ou mesmo de superação.
A autoconquista é-lhe um crescimento natural e não-perturbador, assinalado pelo aprofundamento da visão da vida, totalmente diverso do comum, passando-a a transpessoal,
portanto, espiritual.
Harmonizando aspirações e lutas, buscas e realizações, o homem consciente vive integralmente todos os momentos, todas as ações, todos os sentimentos, todas as
aspirações.
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Ter e ser
Remanescem da infância física traços de insegurança, e conflitos perduram na idade adulta, em razão da falta de maturidade psicológica do ser, expressando-se
como apegos às coisas e pessoas, com a conseqüente rejeição de si mesmo, instabilidade emocional e desajuste social.
Usando os conhecidos mecanismos de evasão da responsabilidade e sentindo-se fragilizado, o indivíduo busca a auto-realização, fixando-se em valores externos
como forma de destaque no grupo social, ignorando a sua realidade profunda.
Sentimentos egocêntricos passam a aturdi-lo e, inconscientemente, acredita-se merecedor de tudo em primeiro lugar, com desconsideração pelos demais. Quando tal
não ocorre, surgem-lhe as marcas predominantes do egoísmo e passa a reunir recursos que amontoa satisfazendo o ego, mesmo quando atinge os picos do poder ganancioso.
A imaturidade asselvaja-lhe e obnubila-lhe a razão, que permanece asfixiada pelos tormentos do ter, enlouquecendo, a pouco e pouco, a sua vítima, cada vez mais
ansiosa por novos haveres.
Ninguém vive bem sem a segurança de si mesmo. Quando esta não decorre do auto-encontro libertador, é buscada através dos meios externos, que envolvem o seu possuidor
em preocupações de aumentá-las, em medos de perdê-las, passando à angústia de mais assegurar-se da sua retenção. Como efeito, vai traído pela concupiscência da posse,
tornando-se possuído pelo objeto que supõe possuir.
Desperta-se-lhe em grau crescente a avareza que o amarfanha, e, depois da alegria fugaz da posse material, transfere-se para a ilusão da dominação arbitrária
de outras vidas, de outras pessoas, acreditando-se capaz de detê-las, subjugá-las como conquistas a mais.
Autodesprezando-se, graças à insegurança íntima, não se considera merecedor de afetos, supondo que, quantos se lhe acerquem, estão interessados no que ele tem,
e jamais no que é.
Porque se sente sem possibilidade de amar, embora lhe irrompam episódios de afetividade, que converte em paixões de gozo imediato, não crê que pode ser amado
com desinteresse pelos seus haveres.
Assim não sucedendo e vindo a consorciar-se, ele o faz mediante cláusulas de separação de bens, bens que lhe são alicerces de segurança no inconsciente.
Com a percepção embotada, mede os fenômenos existenciais com os instrumentos da atividade contábil, considerando triunfadores somente os que dispõem de contas
bancárias volumosas, latifúndios largos e semoventes aos milhares...
A sua louca ambição torna-o misantropo, detendo-o no pórtico das grandes realizações, sem a coragem moral para atravessá-lo, amesquinhando-o. Se vence o medo
de doar algo e o realiza, necessita de ter o ego recompensado pela gratidão, passando àcondição de benfeitor, quando tudo no mundo, com o seu caráter de transitoriedade,
faz, das criaturas aquinhoadas, mordomos que prestarão contas, ou servidores encarregados de bem aplicar, qual o ensinamento de Jesus através da parábola dos talentos
no Evangelho.
O bom aplicador, além dos juros que recebe, experimenta o júbilo da realização, a imensa alegria do serviço, exteriorizada no bem-estar que proporciona.
Ninguém tem coisa alguma no mundo: nem corpo, nem valores amoedados, nem pessoas sob domínio... A incessante transformação, vigente no Cosmo, tudo altera a cada
instante, e o vivo de agora estará morto logo mais; o dominador torna-se vítima; o corpo se dilui; os objetos passam de mãos...
Todo aquele que busca a posse, o ter e reter, permanece vazio de sentimentos e, porque nada é, enche-se de artefatos e coisas brilhantes, porém mortas, prosseguindo
cheio de espaços e abarrotado de preocupações afugentes.
O objetivo da vida humana parte do ponto inicial no corpo - a infância - e cresce sem perder o contato com a sua realidade original, ser transcendental que é.
Chegando à realização da consciência, deve expandi-la, enquanto mais se autopenetra e descobre novos potenciais a desenvolver.
Ser consciente de si mesmo é a meta existencial, conseguindo o auto-amor que desdobra a bondade, a compaixão, a ação benéfica em favor do próximo.
Alguns psicólogos transpessoais concluem que, à meditação transcendental - abstrata-, os sentimentos de amor e autodoação - concretos - devem prevalecer emulando
o indivíduo a ser integral, realizado, capacitado para a felicidade.
Os conflitos então cedem lugar, quando os seus espaços são preenchidos pelas realizações expressivas, libertadoras.
A autovalorização não-egoísta, despretensiosa, permite o encontro do self, que se desvela com infinitas possibilidades. Rompem-se os limites que amesquinham
e ampliam-se as áreas de produção que engrandecem.
Correspondendo a esse estágio, o amadurecimento psicológico faz que o indivíduo cresça sempre e cada vez mais, reconhecendo a sua pequenez, que se agranda ante
a excelência da Vida que ele conquista.
O individualismo que nele prevalecia cede lugar ao amor que convive e se expande na direção dos outros, aqueles que constituem a sociedade na qual se encontra,
passando a trabalhá-la, a fim de que também ela seja feliz.
A vaidade, o narcisismo, que existiam na sua personalidade, desaparecem por ausência da vitalidade fornecida pelo ego inseguro, que tinha necessidade de sobreviver,
já que o self se encontrava soterrado no desconhecimento.
A conquista do si é realização que independe do ter, do reter, mas que não prescinde do interesse e da luta enviada para ser.
A segurança psicológica do indivíduo centraliza-se no autoconhecimento, na auto-identificação, no auto-amor, no ser.
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A conquista de si mesmo
A aquisição da consciência demanda tempo e esforço humano, tornando-se o grande desafio do processo da evolução do ser.
Surgem-lhe os pródromos, na fase do instinto, abrindo espaço para a razão, como fenômeno natural do desenvolvimento antropológico-psicológico-socio-lógico da
criatura.
O discernimento do bem e do mal, do certo e do errado, e as aquisições ético-morais aparecem, como se fossem o medrar espontâneo da essência divina de que é
constituído o Espírito; todavia, o aprimoramento e a profundidade desses valores dependem do empenho, do interesse, das realizações de cada um.
Herdeiro dos arquétipos remotos dos seus antepassados, o indivíduo mantém por atavismos religiosos e culturais a consciência de culpa, especialmente os ocidentais,
vitimados pelas heranças judaico-cristãs, no que diz respeito à desobediência de Eva, no paraíso, e ao fratricídio cometido por Caim contra Abel.
A divina punição de Deus pela rebeldia da mulher e pela insensatez do homem, que a seguiu no erro, responde pelo sofrimento que os acicata, assim como a expulsão
do criminoso aumenta-lhe a angústia, dando-lhe margem ao ciúme doentio e à raiva, considerando a preferência injustificável de Deus por Abel, cujas oferendas mais
O agradavam...
A absurda aceitação literal do texto bíblico, que tem um caráter simbólico, quiçá para demonstrar o momento em que surge a consciência, - quando o ser pode identificar
o que deve, daquilo que não lhe é lícito realizar, saindo do automatismo do instinto para a seleção do discernimento racional, representados no mito da Árvore do
conhecimento do bem e do mal -devido a interpretações apaixonadas e fanáticas, gerou conflitos que ainda remanescem nas vidas psicologicamente imaturas.
Na fase do instinto, os fenômenos biológicos automáticos não se fazem acompanhar das dores, que são maiores conforme mais seja apurada a sensibilidade, qual
sucede na ocorrência do parto, que passou a ser punição divina, tornando a procriação um verdadeiro castigo, fruto ainda da desobediência que, milenarmente, transformou
a comunhão sexual em condenável e imunda, do ponto de vista puritano e hipócrita.
Fonte de vida, o sexo é o instrumento para a perpetuação da espécie, não sendo credor de qualquer condenação. O ultraje e a vulgaridade, a nobreza e a elevação
amorosa mediante os quais se expressa, dependem do seu usuário e não da sua função em si mesma.
Igualmente a arbitrária eleição celeste de um por outro irmão, ambos gerados em circunstâncias iguais, teria que despertar ressentimentos contraditórios, de
ciúme e de raiva, no rejeitado, que levariam inevitavelmente ao hediondo fratricídio...
De geração em geração, a criança que se sentia desprezada, desenvolveu esses sentimentos perversos, perturbando o desenvolvimento da consciência e a conseqüente
conquista de si mesmo.
Em qualquer atividade, competitiva ou não, o inconsciente desatrela a insegurança infantil, ali adormecida, e surgem os conflitos, a infelicidade, a desconfiança
desastrosa.
Graças, porém, à reencarnação, o progresso do ser é imperioso, inevitável, e os mecanismos da evolução se expressam, trabalhando-o e promovendo-o a níveis e
patamares cada vez mais elevados, até quando o ser, liberto dos conflitos, conquista os sentimentos que canalizará na direção de novas metas, que alcança realizando-se,
plenificando-se.
Já não luta contra as coisas, mas luta pelas coisas, que aprende a selecionar e qualificar, abandonando, por superação, as paixões dissolventes e fixando os
valores que enobrecem.
Percebendo-se instrumento da vida, que faz parte da harmonia do Universo, o indivíduo supera a raiva, por ausência do ciúme, e não compete para destruir, mas
trabalha para fomentar o progresso, no qual se engaja e se realiza.
A conquista de si mesmo resulta, portanto, do amadurecimento psicológico, pela racionalização dos acontecimentos, e graças às realizações da solidariedade, que
facultam a superação das provas e dos sofrimentos, os quais passam então a ter um comportamento filosófico dignificante - instrumentos de valorização da vida - ao
invés de serem castigos àculpa oculta, jacente no mundo íntimo.
A libertação dessa consciência doentia facilita o entendimento do mecanismo da responsabilidade no comportamento que estabelece o lema: A cada um conforme os
seus atos, segundo ensinou o Terapeuta Galileu.
Senhor do discernimento, o homem descobre que colhe de acordo com o que semeia, e que tudo quanto lhe acontece, procede, não tendo caráter castrador ou punitivo.
Sente-se emulado a gerar novos futuros efeitos, agindo com consciência e produzindo com eqüidade. Tal conduta proporciona-lhe a alegria que provém da tranquilidade
da realização, considerando que sempre é tempo de reparar, e postergação é-lhe prejuízo para a economia da sua plenificação.
O homem que se conquista supera os mecanismos de fuga, de transferência de responsabilidade, de rejeição e outros, para enfrentar-se sem acusação. sem justificação,
sem perdão.
Descobre a vida e que se encontra vivo, que hoje é o seu dia, utilizando-o com propriedade e sabedoria. Não tem passado, nem futuro, neste tempo intemporal da
relatividade terrestre, e a sua é uma consciência atual, fértil e rica de aspirações, que busca a integração na Cósmica, que já desfruta, vivendo-a nas expressões
do amor a tudo e a todos intensamente.
A conquista de si mesmo é lograda mediante o querer.
Jesus afirmou que se poderia fazer tudo quanto Ele fez, se se quisesse, bastando empenhar-se e entregar-se à realização. Para tanto, necessário seria a fé em
si mesmo, nos valores intrínsecos, que seriam desenvolvidos a partir do momento da opção.
Francisco de Assis, o santo, assim quis e o conseguiu.
Apóstolos do bem, da ciência e da fé, do pensamento e da ação quiseram, e o lograram.
Homens e mulheres anônimos entregaram-se aos ideais que lhes vitalizaram as existências e, superando-se, autoconquistaram-se.
A conquista de si mesmo está ao alcance do querer para ser, do esforçar-se para triunfar, do viver para jamais morrer...
Fim FLORAÇÕES EVANGÉLICAS
DIVALDO PEREIRA FRANCO
DITADO PELO ESPÍRITO JOANNA DE ÂNGELIS
ÍNDICE
FLORAÇÕES EVANGÉLICAS
CAPÍTULO 1 = SEMEADOR DE LUZ
CAPÍTULO 2 = PRESENÇA
CAPÍTULO 3 = CRISTO EM CASA
CAPÍTULO 4 = OBREIROS DA VIDA
CAPÍTULO 5 = ILUSÕES
CAPÍTULO 6 = INVESTIMENTOS
CAPÍTULO 7 = PROBLEMAS PESSOAIS
CAPÍTULO 8 = PRESUNÇÃO
CAPÍTULO 9 = NAS MÃOS DE DEUS
CAPÍTULO 10 = DISSENSÃO
CAPÍTULO 11 = COM REGOSIJO
CAPÍTULO 12 = EXAMINANDO A DESENCARNAÇÃO
CAPÍTULO 13 = CONFIANÇA EM DEUS
CAPÍTULO 14 = PROVAÇÃO REDENTORA
CAPÍTULO 15 = SEM PARAR
CAPÍTULO 16 = DESGRAÇAS TERRENAS
CAPÍTULO 17 = ANTE À DOR
CAPÍTULO 18 = TESTEMUNHO
CAPÍTULO 19 = EXAMINANDO A SERENIDADE
CAPÍTULO 20 = RETORNO
CAPÍTULO 21 = MEDO
CAPÍTULO 22 = INCOMPREENSÃO E FIDELIDADE
CAPÍTULO 23 = ACUSAÇÕES E ACUSADORES
CAPÍTULO 24 = MÁGOA
CAPÍTULO 25 = VELÓRIOS
CAPÍTULO 26 = DIRETRIZES
CAPÍTULO 27 = SACRIFÍCIO
CAPÍTULO 28 = GRATULAÇÃO
CAPÍTULO 29 = LOUVOR AO LIVRO ESPÍRITA
CAPÍTULO 30 = RESIGNAÇÃO
CAPÍTULO 31 = AINDA A HUMILDADE
CAPÍTULO 32 = COM DISCERNIMENTO
CAPÍTULO 33 = UM CORAÇÃO AFÁVEL
CAPÍTULO 34 = ACIDENTES
CAPÍTULO 35 = CIZÂNIA
CAPÍTULO 36 = PERDOAR
CAPÍTULO 37 = ESPÍRITO DA TREVA
CAPÍTULO 38 = LOUVOR
CAPÍTULO 39 = MAIS AMOR
CAPÍTULO 40 = UMA PAGA DE AMOR
CAPÍTULO 41 = PESSIMISMO E JESUS
CAPÍTULO 42 = LÂMPADAS, RECEPTORES E TRANSMISSOR
CAPÍTULO 43 = PROMOÇÃO
CAPÍTULO 44 = EM REVERÊNCIA
CAPÍTULO 45 = ANTE À JUVENTUDE
CAPÍTULO 46 = BOM ÂNIMO
CAPÍTULO 47 = MARCO DIVISÓRIO
CAPÍTULO 48 = BENS VERDADEIROS
CAPÍTULO 49 = VALORES E POSSES
CAPÍTULO 50 = TOLERÂNCIA E FRATERNIDADE
CAPÍTULO 51 = RECURSOS ESPÍRITAS
CAPÍTULO 52 = RESPOSTAS INDIRETAS
CAPÍTULO 53 = PENHOR DE FÉ
CAPÍTULO 54 = PROBLEMAS, FÁCILIDADES E FÉ
CAPÍTULO 55 = FALSOS PROFETAS
CAPÍTULO 56 = SEXO E OBSESSÃO
CAPÍTULO 57 = CULTOS AOS MORTOS
CAPÍTULO 58 = PIEDADE FRATERNAL
CAPÍTULO 59 = SOCORRO MEDIÚNICO
CAPÍTULO 60 = ORAÇÃO NO ANO NOVO
FLORAÇÕES EVANGÉLICAS
Nestes dias tumultuosos, quando o homem sofre o impacto de várias vicissitudes e os conceitos tradicionais experimentam severa crítica, dando surgimento à nova
ética, é mister que se faça uma pausa nas atividades complexas quão apressadas no dia-a-dia, para indispensáveis reflexões.
A rebeldia e a violência que irrompem em todos os campos como de todos os lados, parecem ameaçar as estruturas antiquadas, malgrado asseverando a necessidade
de mudanças radicais, não apresentem qualquer programa merecedor de consideração, que valha a pena respeitar, pelo menos inicialmente.
Dizem, porém, os partidários da chamada "revolução das idéias novas" que o essencial é tudo mudar de imediato, renovando as fórmulas, por estarem erradas as soluções
vigentes.
O futuro, afirmam algo incoerentes, dirá, posteriormente, o que se deverá fazer. Este seria o momento de modificar, de destruir os ídolos da ficção e da mentira,
convocando o homem, desde a mais jovem idade à realidade, aos valôres legítimos da vida, conquanto não deixem de ser transitórios.
Indubitavelmente, muita coisa merece, deve ser transformada e o será a seu tempo.
Em qualquer época de renovação social - como só acontecer a êste período histórico, já previsto há um século pelo Codificador do Espiritismo (*) - a queda das
Instituições ultramontanas, dos podêres arbitrários, superados pelas próprias finalidades e realizações, sempre mereceu destaque no programa dos paladinos encarregados
das demolições para as conseqüentes reedificações a benefício da nova sociedade, em outras bases favoráveis ao homem e à comunidade.
Ocorre, porém, que os remanescentes dos idealistas de todos os tempos se deixaram hoje fascinar pelas aberrações de variada expressão, elegendo mini-conceitos
e mini-valôres, sem dúvida, que a êles próprios, sequer, não conseguem convencer.
São divulgadas com entusiasmo as conquistas intelectuais, e nos laboratórios os modernos investigadores sonham com uma genética a seu bel-prazer, que lhes sofra
incursões da mais ampla aventura como da fantasia, e, estimulados pelos resultados a que chegaram as Ciências modernas, eliminam a ética que deve vigir no âmago
de tôdas as realizações, apresentando-se, êles mesmos, atormentados, sediciosos, inquietos...
Substituindo as expressões da cultura, cunham-se vocábulos que traduzam as aspirações e usos da atualidade: "onda", "embalo", "curtição", "fossa", "cafonice",
partindo-se de imediato para as questões palpitantes que descem a vulgaridades inconseqüentes, tais como o "adultério", o "homossexualismo",
(*) "O Espiritismo não cria a renovação social: a madureza da Humanidade é que fará dessa renovação uma necessidade. Pelo seu poder moralizador, por suas tendências
progressistas, pela amplitude de suas Vistas, pela generalidade das questões que abrange, o Espiritismo é mais apto, do que qualquer outra doutrina, a secundar o
movimento de regeneração; por isso é ele contemporâneo desse movimento". "A Génese", de Allan Kardec, 14ª Edição da FEB - Capítulo 18º - Item 25. - Nota da Autora
espiritual.
o "divórcio", a "inseminação", o "bebê-de-proveta", o "abôrto", a "prostituição", a "toxicomania" como que estimula mais a alucinação que domina em quase
todos os departamentos humanos da Terra, na atualidade.
O homem, assim, conquista o Sistema Solar em que se encontra localizado o domicílio terrestre, mas perde a paz.
Descobre o mecanismo da vida e malbarata a existência.
Realiza Incursões vitoriosas nas partículas constitutivas do átomo, porém desagrega-se interiormente.
Sonha com o amor, todavia entorpece-se nas paixões -
Aspira à felicidade, entretanto intoxica-se nos gozos brutalizantes -
Estudos, técnicas, programas para verificação e avaliação do nOvo "status" engendrados por organismos especializados apresentam relatórios, sugerem fórmulas;
apesar disso os resultados redundam inóquos, quando não se revelam simplesmente nulos...
Faleceram, sim, os valOres morais, substituidos por uma pseudomoralidade e as conquistas inestimáveis, resultantes dos tempos e dos esforços heróicos, parecem
impotentes para deter as aberrações.
Verdadeiramente, de tOda a mixórdia que decorre dêstes dias de transição, surgirão os nobres valores da evolução inadiável, cujo investimento superior a Divina
Misericórdia desde há muito vem aplicando através do Senhor da Vida, mui sàbiamente.
Tarefa inapreciável está reservada ao Espiritismo nestes dias em que o progresso moral, e somente êle, poderá assegurar a verdadeira felicidade, por dispor dos
meios hábeis para suplantar e vencer as paixões predominantes ainda em a natureza humana. Ao Espiritismo, sim, porque Cristianismo redivivo que é, através da sua
estrutura doutrinária, científica, filosófica, religiosa e moral e das diretrizes iluminativas de que se constitui, está destinado o dever de contribuir com eficácia
para o trabalho de construção da geração porvindoura, conduzindo, em conseqüência, a nova mentalidade e desarticulando o materialismo.
Por isso, reverenciando e atualizando os ensinamentos cristãos, "O Evangelho Segundo o Espiritismo", em estudando as lições morais de Cristo, apresenta-se como
a ética legítima para o hoje como para o amanhã da Humanidade, que não é possível subestimar.
Através destas páginas (**) - que nada adicionam aos sublimes ensinos de Jesus Cristo nem às nobres lições de Allan Kardec - trazemos a lume mais uma dentre as
muitas florações evangélicas, como resultante do carinho do Jardineiro Divino em trabalho contínuo no campo fértil das almas humanas, fazendo que espouquem côres,
aromas e belezas evocativos do Reino de Deus, que em futuro já presumível e não muito remoto se estabelecerá na Terra, ora balizada para a Era Feliz a que todos
aspiramos.
Joana de Ãngelis
Salvador, 13 de setembro de 1971.
(**) Oportunamente, à medida que as escrevíamos, diversas das páginas que constituem o presente volume apareceram na Imprensa Espírita. Agora, porém, tôdas
foram revisadas por nós própria, para melhor entrosamento no conjunto, às quais ora adicionamos os textos que nos inspiraram ao grafá-las, conforme estão insertos
em "O Novo Testamento, e em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de Allan Kardec, 52ª Edição da FEB. - Nota da Autora espiritual.
1
SEMEADOR DE LUZ
Esparzem os raios de luz que. espoucam na tua alma, junto ao solo dos corações, enquanto medram soberanas sombras e imprecações.
Malgrado estejam feridas tuas mãos pelo cajado das lutas quotidianas, não seja isto empecilho para o mister da sementeira. Pelo contrário, permite que as gôtas
de suor da face cansada e as bagas sanguinolentas, caindo na terra das almas se transformem na umidade generosa que desenvolve o embrião a dormir no casulo do amor
latente em todos.
Embora os pés assinalados pela presença dos espinhos e da urze, avança na direção do Infinito, alargando a vereda que se estreita à frente para que os da retaguarda
possam avançar também.
Não fales de cansaço nem arroles decepção. Aquêles que entesouram o amor podem desdobrar em milhares as moedas da coragem, para continuarem ricos de entusiasmo.
Multiplicam os haveres na razão em que os doam e quanto mais distribuem mais possuem, conseguindo o milagre da felicidade onde se encontram.
Passam muitas vêzes combatidos pela indolência de uns e perseguidos pela rebeldia de outros, mas não se detêm.
Utilizando o tempo com propriedade, por reconhecerem que a hora da semeação passa breve e é necessário aproveitar o momento azado, não se rebelam, nem recalcitram,
insistindo e perseverando com otimismo.
Semeador da luz: não temas a treva nem a discórdia, a precipitação ou a preguiça.
Muitos se dizem cansados no campo; outros se afirmam desiludidos; vários desejam renovar emoções caracterizando-se por inusitada saturação; alguns simplesmente
desertaram, e onde medravam as primeiras plântulas a erva daninha triunfa e a desolação governa... Prossegue tu, porém, insistentemente, mesmo que te suponhas abandonado,
a sós
* * *
Há aquêles que semeiam animosidades e deparam idiossincrasias.
Abundam os que espalham a ira e defrontam resíduos de ódios onde chegam.
Na alfândega da vida muitos apresentam disfarçadas as sementes da maledicência e da infâmia esperando liberação.
O imposto da impertinência, porém, cobra taxas pesadas àqueles que se fazem fiscais em nome da impiedade.
Por isso, na gleba imensa dos homens surgem e ressurgem tantos afligentes e afligidos disputando espaço na ribalta da ilusão fisiológica. Passam disfarçados,
enganadores ou enganados, na busca do desencanto. São, também, semeadores do desconcêrto que defrontarão adiante...
Mesmo os cardos se enflorescem, algumas vêzes, e as pedras refulgem quando lapidadas.
Semeia, pois, a luz da esperança, ainda e sempre, desde que se te depare oportunidade feliz.
* * *
Um dia, um Homem Sublime abandonou por um pouco um jardim de estrêlas para depositar nas criaturas da Terra gemas de refulgente esperança em torno do Seu Reino.
Ímpios e caídos, hipócritas e pecadores, nobres e plebeus, gentes simples e prepotentes receberam Sua dádiva e fizeram que mergulhassem na terra das suas vidas
os raios da Sua luz, transformando-se em sóis de bênçãos que, desde então, clareiam os destinos da Terra. E ele mesmo, quando foi desdenhado numa cruz, fulgurou
numa excelente madrugada, continuando a semear a luz da imortalidade na mente e no coração dos que jaziam na sombra da saudade e do medo.
*
"Pondo-vos a caminho, pregai que está próximo o Reino dos Céus".
Mateus: capítulo 10º, versículo 7.
*
"As grandes vozes do Céu ressoam como sons de trombetas, e os cânticos dos anjos se lhes associam. Nós vos convidamos, a vós homens, para o divino concêrto. Tomai
da lira, fazei uníssonas vossas vozes e que, num hino sagrado, elas se estendam e repercutam de um extremo a outro do Universo".
Prefácio, parágrafo 3.
2
PRESENÇA
E Ele veio!
Multissecularmente aguardado como a esperança de Israel, ei-Lo que surge no período em que a História repete as glórias de Péricles e o pensamento cultiva as
belezas, conquanto a barbaria comandasse homens e governos, estabelecendo um marco nOvo para a contagem das Idades em relação ao porvir.
Não que os tempos fOssem diferentes. Herodes, na sua jactância, não passava de subalterno áulico de César, guindado à posição de relêvo graças à impiedade de
que se fazia instrumento. A política de dominação, em tOda parte, estabelecia a exploração do homem pelo homem e a opressão da fôrça em detrimento do direito. A
sociedade desvairava e o valor do homem eram as suas posses transitórias. As ambições se avolumavam traçando as diretrizes do poder e estiolavam as mais nobres florações
do sentimento...
As artes e a cultura, porém, desabrochavam nesses dias, ensejando maiores ideais na capital do Império que exportava conceitos de paz e beleza não obstante o
clangor da guerra e o aríete das arbitrariedades...
E Ele veio!
A Sua presença assinalou de paz o período da nova Era. Não a paz externa, lavrada em audaciosos conciliábulos e sustentada pela usurpação do crime: Era uma
aragem de ventura que penetrava os Espíritos e os pacificava interiormente, predispondo-os ao amor.
Seu verbo manso e ameno, marchetado da severidade que dimana do conhecimento da Vida e da Verdade, modificou a estrutura do pensamento filosófico e social, desde
então traçando nova pauta para as criaturas do porvir.
Perseguições e calúnias - miasmas dos pequenos homens de todos os tempos - não Lhe diminuiram a grandeza do ensino nem a elevação do serviço. E mesmo crucificado
não foi vencido...
Submisso pela humildade excelsa nunca apareceu alquebrado, curvado ante os contemporâneos.
Erecto esteve na Cruz, donde partiu para a Pátria Verdadeira, ooncitando-nos a segui-Lo.
* * *
Ainda hoje Jesus é a esperança que se tornou realidade.
Israel desejava um Rei arbitrário e vingador.
A Humanidade tentou fazê-Lo dominador e cruel através dos séculos.
Israel aguardava e ainda espera um Enviado implacável no seu ódio de raça e de ambição.
A Humanidade procurou torná-Lo senhor de todos, esmagando os insubmissos e rebeldes...
Hoje também ainda é assim.
Jesus, porém, nestes dias de inquietação e desassossêgo, é a esperança que domina os espíritos e a paz que penetra os corações.
O homem subjuga o homem, os governos se entrechocam no domínio das armas, a fome ameaça e dizima milhões de vidas cada ano, as enfermidades espalham pavores,
a escassez de amor enlouquece, no entanto, neste clima sócio-moral da atualidade, Jesus retorna e convida a outras cogitações.
Canta um nôvo e permanente Natal no burgo das almas da Terra que O esperam.
Estado interior, Jesus é comunhão de alma para alma a emboscar-se nos homens confiantes.
O Cristo amansa as paixões e suaviza as Inquietações da vida, fixando naqueles que O conhecem os caracteres iniludiveis da Sua presença.
* * *
Sentindo a mensagem dEle no espírito que agora se volta para as coisas elevadas da vida - após o cansaço e o desgôsto das investidas infrutíferas na vivência
da ilusão - não te permitas contaminar pelos fluídos maléficos dêstes dias turbulentos. Movimenta os braços e atua na ação enobrecedora a benefício dos que sofrem.
E, se ao te reclinares ao leito estiveres assinalado por alguma dor ou desencantado por qualquer afronta, mergulha o pensamento na mensagem dEle e busca escutá-lo
no coração.
Fazendo o necessário silêncio interior, ouvirás a Sua voz em acalanto de ternura e alento, encorajando-te para prosseguir, constatando que em verdade Ele veio
e demora-se ao teu lado, esperando, hoje como ontem, que o mundo moral da Terra modifique o seu clima e haja paz perene entre todos os homens, através dos teus sacrifícios
desde agora.
*
Segui-me, e eu farei que vos torneis pescadores de homens".
Marcos: capítulo 1º, versículo 17.
*
"Mas o papel de Jesus não foi o de um simples legislador moralista, tendo por exclusiva autoridade a sua palavra. Cabia-Lhe dar cumprimento às profecias que
Lhe anunciaram o advento; a autoridade Lhe vinha da natureza excepcional do Seu Espírito e da Sua missão divina".
Capítulo 1º - Item 4.
3
CRISTO EM CASA
Contrapondo-se à onda crescente da loucura que irrompe avassaladora de tõda parte, e domina, penetrando os lares e os destroçando, o Evangelho de Jesus, hoje
como no passado, abre larga faixa para a esperança, facultando a visão de um futuro promissor onde os desassossegos do coração não terão ensejo de medrar.
A par da lascívia e do moderno comércio do erotismo, que consomem as mais elevadas aspirações humanas na Indústria da devassidão, as se-mentes luminosas da Boa
Nova, plantadas na intimidade do conjunto familiar, desdobram-se em embriões de amor que enriquecem os espíritos de paz, recuperando os homens portadores das enfermidades
espirituais de longo curso e medicando-os com as dádivas da saúde.
Enquanto campeia a caça desassisada aos estupefacientes e barbitúricos a os narcóticos e aos excessos do sexo em desalinho, a mensagem do Reino de Deus cada semana,
na família, representa placebo valioso que consegue recompor das distonias psíquicas aquêles que jazem anestesiados sob o jugo de forças ultrizes e vingadoras de
existências pretéritas.
Há mais enfermos no mundo do que se supõe que existam. Isto porque, no reduto familiar raramente fecundam a conversação edificante, o entendimento fraterno, a
tolerância geral, o amor desinteressado... Vinculados por compromissos vigorosos para a própria evolução, os espíritos reencarnam-se no mesmo grupo cromossomático,
endividados entre si, para o necessário reajustamento, trazendo nos refolhos da memória espiritual as recordações traumáticas e as lembranças nefastas, deixando-se
arrastar, invariàvelmente, a complexos processos de obsessão recíproca, graças ao ódio mantido, às animosidades conservadas e nutridas com as altas contribuições
da rebeldia e da violência.
Em razão disso, o desrespeito grassa, a revolta se instala, a indiferença insiste e a aversão assoma...
A família, em tais circunstâncias, se transforma em palco de tragédias sucessivas, quando não se faz aduana de traições e desídias...
Estimulando os desajustes que se encontram inatos nos grupos da consangüinidade, a hodierna técnica da comunicação malsã tem conspirado poderosamente contra a
paz do lar e a felicidade dos homens.
* * *
Cristo, porém, quando se adentra pelo portal do lar, modifica a paisagem espiritual do recinto.
As cargas de vibrações deletérias, os miasmas da intolerância, os tóxicos nauseantes da ira, as palavras azedas vão rareando, ao suave-doce contágio do Seu amor
e se modificam as expressões da desarmonia e do desconfôrto, produzindo natural condição de entendimento, de alegria, de refazimento.
Cristo no lar significa comunhão da esperança com o amor.
A Sua presença produz sinais evidentes de paz, e aquêles que antes experimentavam repulsa pelo ajuntamento doméstico descobrem sintomas de identificação, necessidade
de auxílio mútuo.
Com Jesus em casa acendem-se as claridades para o futuro, a iluminar as sombras que campeiam desde agora.
* * *
Abre o "livro da vida" e medita nos "ditos do Senhor" pelo menos uma vez na semana, entre aquêles que vivem contigo em conúbio familiar. Mergulha a mente nas
suas lições, embriaga o espírito na esperança, sorve a água lustral da "fonte viva" generosa e abundante, esquece os painéis tumultuados que são habituais e marcha
na direção da alegria.
Se não consegues a companhia dos que te repartem a consangüinidade para tal ministério, não desfaleças. Faze-o, assim mesmo.
Se assomam óbices inesperados não descoroçoes, insistindo, ainda assim.
Se surprêsas infelizes conspiram à hora do teu encontro semanal com Ele, não desesperes e retoma as tentativas, perseverando...
Quando Cristo penetra a alma do discípulo, refá-la, quando visita a família em prece, sustenta-a.
Faze do teu lar um santuário onde se possa aspirar o aroma da felicidade e fruir o néctar da paz.
* * *
Sob o dossel das estrêlas, no passado, o Senhor, enquanto conosco, instaurou nos lares humildes dos discípulos o convívio da prece, da palestra edificante,
inaugurando a era da convivência pacífica, da discussão produtiva, do intercâmbio com o Mundo Excelso...
Abrindo-lhe o lar uma vez que seja, em cada sete dias, experimentarás com Ele a inexcedível ventura de aprender a amar para bem servir e crescer para a liberdade
que nos alçará além e acima das próprias limitações, integrando-nos na família universal em nome do Amor de Nosso Pai.
*
"Senhor, não sou digno de que entres em minha casa".
Mateus: capítulo 8º, versículo 8.
*
"Um dia, Deus, em sua inesgotável caridade, permitiu que o homem visse a verdade varar as trevas. Esse dia foi o do advento do Cristo. Depois da luz viva, voltaram
as trevas. Após alternativas de verdade e obscuridade, o mundo novamente se perdia. Então, semelhantemente aos profetas do Antigo Testamento, os Espíritos se puseram
a falar e a adverti-los, O mundo está abalado em seus fundamentos; reboard o trovão. Sêde firmes!"
Capítulo 1º - Item 10.
4
OBREIROS DA VIDA
Enquanto soam as melodias da esperança, cantando a música do trabalho nos ouvidos da vida, porfia na fidelidade ao dever.
Enquanto a Terra se reverdece e uma primavera brota do caos das dissipações generalizadas, prenunciando o largo dia do Senhor, prossegue em atividade.
Enquanto as perspectivas sombrias do desastre e da guerra campeiam, curva-te ante as leis de seleção que realizam o Ministério Divino, a fim de modificar a estrutura
do Orbe na sua inevitável transformação para Mundo Regenerador. E não obstante a ingente tarefa a que és convocado, sê daqueles que adquirem dignidade no culto da
reallzação nobre produzindo em profundidade e com a perfeição possível.
Armado como te encontras, com os sublimes instrumentos do discernimento e da razão, sobre a estrutura de fatos inamovíveis, sê dos que edificam o santuário da
paz universal sôbre os pilotis da renúncia, vencendo as ambições desmedidas e as vaidades Injustificáveis.
Não te importes saber donde vieste, não te convém examinar o que és; interessa-te em observar o que produzes e o que deixas de produzir.
Se os teus celeiros de luz se encontram abarrotados pelos grãos da Misericórdia ou com o feno inútil que os transformou em depósito de treva e de dissensões
a responsabilidade é tua.
Se até ontem padronizaste o comportamento pelo equívoco, não te é lícito doravante repetir enganos e insistir em engodos. Vives na Terra o instante definitivo
da grande batalha e Jesus necessita de alguns estóicos servidores que a Ele se entreguem totalmente, para o combate final.
* * *
Estão espalhadas em vários pontos do Planeta as fortalezas da esperança onde se resguardam os lidadores do amanhã.
Convém ressaltar que o Senhor nos reuniu a todos, não pelo império caprichoso do acaso, nem pela ingestão mirabolante do descuido, ou pela contingência precária
das nossas manifestações gregárias alucinadas, mas por uma pré-determinação de Sua sabedoria, que nos convocou, devedores e credores reunidos, cobradores inveterados
e calcetas para a regularização dos débitos pesados a fim de nos reajustarmos à lei sublime do Amor, longe das subalternidades das paixões. Não permitamos, assim,
que medrem sentimentos inferiores na nossa gleba de luz, não deixemos que o descuido de uns ou a invigilância de outros nos supreendam no pôsto do nosso combate,
transcorridas tantas lutas, assinaladas pelas ações nobres, após tantos anos de perseverança no dever, depois de tantas esperanças que fomos obrigados a adiar e
tantas ilusões que asfixiamos na realidade da vida.
Não disseminemos os grãos da desídia nem deixemos que a semente nefária da emotividade subalterna desenvolva em nosso lar, em nossa família ampliada, os gérmens
virulentos das manifestações amesquinhantes, capazes de nos enfermarem o organismo ciclópico da alma, tombando-nos adiante e deixando-nos na retaguarda.
Todos nós, nós todos, somos peças importantes quão valiosas das determinações divinas neste momento azado e estamos sob vigilância rigorosa da fatuidade e da
idiossincrasia, sofrendo a pressão das fôrças baixas da animalidade, que pretendem conspirar contra o espírito do Cristo, que vive dentro de nós, em tôrno de nós,
conduzindo-nos a todos.
É necessário não negligenciar atitude, não ceder ao mal e orar, orar sempre.
Não há porquê recearmos, sejam quais forem as conjunturas, mesmo as aparentemente adversas que nos sitiem, pois não temos sequer um motivo falso para sob êle
nos albergarmos justificando a ausência da excelsa misericórdia Divina que nos protege, que nos ampara, aquiescendo nas negociatas da usurpação e do êrro, da frivolidade
e do conúbio com a insensatez. Não estamos diante de uma gleba cuidada por "meninos espirituais".
Assim sendo, melhor seria que nos alijássemos espontâneamente do dever, a que nos constituamos pedra de tropêço na Obra do Cristo, neste momento de decisão.
Impõe-se examinar as suas disposições para adquirires maioridade espiritual nas tuas decisões imortalistas, diante das tarefas assumidas com o Senhor, na pauta
do teu progresso espiritual, com a visão colocada no futuro dilatado.
* * *
Esforça-te, vencendo o adversário oculto que reside na plataforma do eu enfêrmo, e, combatendo-o aguerridamnente com as armas superiores do amor e da perseverança,
não recalcitres mais, não te permitas a negligência da ociosidade, nem o sonho utópico do prazer chão que obscurece os painéis da alma e entorpece as aspirações
para vôos mais altos.
Como as "más palavras, corrompem os costumes", os pensamentos frívolos intoxicam o espírito.
Um dia, o sublime Espírito do Cristo desceu à Terra para fundar um Reino e atirou os alicerces da sua construção na alma humana dando início à edificação de um
País como jamais alguém houvera sonhado - O Reino dEle está em todos nós, pedras angulares que nos tornamos, do edifício da esperança, para a futura humanidade feliz.
Enquanto raia nova aurora para o homem melhor, levanta-te obreiro da Vida para o trabalho sublime do Reino de Deus que já está na Terra e no qual te encontras
engajado desde ontem para o breve término, quando o Senhor tomará das tuas e das nossas mãos alçando-nos, pelas asas da prece, à plenitude vitoriosa do espírito
vencedor da matéria e da morte.
*
"Pois digno é o trabalhador do seu salário"
Lucas: capítulo 10º, versículo 7
*
"Á cada um a sua missão, a cada um o seu trabalho. Não constrói a formiga o edifício de sua república e imperceptíveis animálculos não elevam continentes?
Começou a nova cruzada. Apóstolos da paz universal, que não de uma guerra, modernos São Bernardos, olhai e marchai para a frente: a lei dos mundos é a do progresso".
Fénelon (Poitiers, 1861.)
Capítulo 1º - Item 10, parágrafo 3.
5
ILUSÕES
Como se demoram no invólucro carnal, em que a ilusão dos sentidos predomina, têm dificuldade de agir com inteireza e crer integralmente, em regime de tranqüilidade.
Graças às equívocas atitudes que no consenso social lhes permitem triunfos enganosos, transferem tal comportamento, quase sempre para a fé que esposam, acreditando-se
resguardados nos sentimentos íntimos.
Porque produziram com acêrto nas tarefas encetadas onde se encontram assumindo posições controversas, ora de leviandade, ora de siso, supõem poder prosseguir
com o mesmo procedimento quando se adentram nas tarefas espíritas, que os fascinam de pronto. E porque se acostumaram à informação de que os Espíritos são invisíveis
ou pertencem ao Imaginoso reino do sobrenatural, tratam-nos como se assim fosse, olvidados de que conquanto invisíveis para alguns homens, estão sempre presentes
ao lado de todos, ou apesar de tidos por gênios e encantados pertencem à Criação do Nosso Pai, em incessante marcha evolutiva.
Constituindo o Mundo Espiritual, já estiveram na Terra; são as almas dos homens ora vivendo a existência verdadeira.
Vêem, ouvem, sentem, compreendem e somente têm as diversas faculdades obnubiladas ou entorpecidas quando narcotizados pelas reminiscências do corpo somático,
demorando-se em perturbação.
* * *
Estuda com sinceridade as lições espíritas para libertar-te da ignorância espiritual. Elas te facultarão largo tirocínio e invejável campo de liberdade interior,
promovendo meios de ação superior que produz paz e harmonia pessoal. Dir-te-ão o que fazer, como realizar e porque produzir com eficiência.
Cada Espírito é o que aprendeu, o que realizou, quanto conquistou. Não poderá oferecer recursos que não possui nem liberar-te das dores e provas que a si mesmo
não se pode furtar.
Se algum te inspirar ociosidade ou apoiar-te em ilício, não te equivoques: é um ser enganado que prossegue enganando. Para poupar-te o desaire mediante a constatação
dolorosa neste capítulo, não transfiras para os Espíritos as tuas tarefas, não os sobrecarregues com as tuas lides. Nem exijas, - pois é sandice, - nem te subordines,
- pois representa fascinação.
Mantém-te em respeitável conduta, em ação enobrecida e êles, os Espíritos bons e simpáticos ao teu esforço, virão em teu auxílio, envolvendo-te em inspiração
segura e amparo eficaz.
Rompe com a ilusão e não acredites que te sejam subalternos aos caprichos os Desencarnados, exceto os que são mais infelizes e ignorantes do que tu mesmo.
Evolve e conquista para ser livre.
* * *
Jesus, antes de assomar ao lado das aflições de qualquer porte, junto a encarnados ou desencarnados, cultivou a prece e a meditação. E ao fazê-lo sempre se
revestiu de respeito e piedade. No Tabor ou em Gadara a Sua nobreza se destacava na paisagem emocional dos diálogos inesquecíveis que foram mantidos.
Acende, também, a luz legítima da verdade no coração e, em contato com os Espíritos ou os homens, sê leal sem afetação, franco sem rudeza e nobre sem veleidades.
Os Desencarnados te conhecem e os homens te conhecerão hoje ou mais tarde, não valendo, pois, o esfôrço de iludir-se ou iludi-los.
*
"Entrai pela porta estreita (larga é a porta e espaçosa a estrada que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela.)
Mateus: capítulo 7º, versículo 13.
*
"Pelo simples fato de duvidar da vida futura, o homem dirige todos os seus pensamentos para a vida terrestre. Sem nenhuma certeza quanto ao porvir, dá tudo ao presente.
Nenhum bem divisando mais precioso do que os da Terra, torna-se qual a criança que nada mais vê além de seus brinquedos".
Capítulo 2º, - Item 5, parágrafo 2.
6
INVESTIMENTOS
Na desenfreada correria da ambição, a que se vê impelido, o homem moderno investe.
Investimento na bôlsa de valôres, perseguindo moedas, acumulando títulos contábeis.
Investimento nas loterias, tentando as raras explosões da "sorte".
Investimento em negócios mirabolantes, buscando resultados de alta compensação.
Investimento nos jogos cambiais, ante as perspectivas da oscilação freqüente da moeda-ouro, na balança internacional, para os cometimentos da estroinice.
Investimento em empresas audaciosas, aspirando às promoções no campo dos altos negócios do utilitarismo.
Investimento no mercado de capitais, para os grandes jogos financeiros, de modo a alcançar as altas metas do poder terreno.
Investimento da saúde nas competições desportivas, disputando primazia.
Investimento da paz, nos complexos mecanismos da usura como da desonestidade, por cujos processos supõe e quer vencer...
E não poucos são vencidos em tais investimentos, padecendo neuroses angustiantes, aflições inomináveis, desgovernos odientos.
* * *
A máquina publicitária, muito bem trabalhada para estimular a ganância dos incautos que sintonizam com os refrões da moda negocista, estimula o comércio hediondo
do sexo desgovernado, conspirando afrontosamente contra as fontes genésicas, abastardando-as, ante a conivência e aceitação mais ou menos generalizada.
A onda alucinógena, invadindo lares e educandários, reduz as aspirações da inteligência e as expressões da emotividade, conduzindo todos às fugas espetaculares
da realidade objetiva, facultando inevitáveis conúbios obsessivos com desencarnadoS do mesmo teor, em intercâmbio nefário.
A pregação da filosofia cínica encarrega-se de descoroçoar os ideais da beleza, fomentando os campeonatos da insensatez como da desordem, reduzindo a cultura
e a moral à condição de ultrapassadas pelo impositivo da nova ordem em que os valôres apresentados são destituídos de valor real.
* * *
Indubitavelmente o progresso é imperiosa necessidade de crescimento.
Progressos, no entanto, na vertical das conquistas superiores e não na horizontalidade das paixões animalizantes e dos agentes dissociativOs da comunidade, da
família, do indivíduo.
Investe, porém, tu, no espírito imortal.
Sem que abandones o campo de trabalho onde fôste convidado a operar, lembra-te dos tesouros inesgotáveis da vida e aplica algum capital de horas, de valôres monetários,
morais, intelectuais e da saúde nos sublimes comércios com a Espiritualidade Superior.
Com certeza, no jôgo dos investimentos chegará a hora da prestação de contas, e então compreenderás que os investimentos imediatos ficarão retidos nas aduanas
da Terra, enquanto os da vida abundante e somente estes, seguirão contigo por todo o sempre.
*
"Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem os dez talentos".
Mateus: capítulo 25º, versículo 28.
*
"Aquele que se identifica com a vida futura assemelha-se ao rico que perde sem emoção uma pequena soma. Aquêle cujos pensamentos se Concentram na vida terrestre
assemelha-se ao pobre que perde tudo o que possui e se desespera".
Capítulo 2º, - Item 6, parágrafo 3.
7
PROBLEMAS PESSOAIS
Os teus são problemas iguais aos de tôdas as pessoas. Por mais te creias infeliz, há outros que jazem em grabatos de maiores dores ou que estão encurralados em
sombras mais espessas. Mesmo que teimes em ignorar, desfilam ao teu lado na passarela da ilusão os campeões do infortúnio e brilham nas disputas sociais os ases
do sofrimento sob cargas de desespero que não suportarias.
Os teus são os problemas do quotidiano, que todos experimentam, mas que se avolumam e agravam por leviandade ou rebeldia da tua parte.
Não desconheces que o renascimento é condição impostergável e que ele é exigido a todos os espíritos endividados para benefício dêles mesmos. Ao revés de punição
é precioso auxílio que lhes faculta liberação dos pesados débitos contraídos nos dias da ignorância.
Nenhum de nós tem estado isento de ressarcir... Trânsfugas da reta conduta, somos o que merecemos. A exceção única é Jesus, nosso Modelo e Guia. Mesmo assim,
Ele enfrentou problemas sõbre problemas até o triunfo na Ressurreição.
* * *
A semente que se beneficia e se desdobra no solo fértil enfrenta o problema da terra que a esmaga.
O rio cantarolante, que esparze linfa preciosa para a manutenção da vida, experimenta o problema do leito em que corre.
A ave, que chilreia e adorna a natureza, padece o problema da subsistência e do agasalho.
A flor, que aromatiza, sofre o problema do inseto que lhe suga a vitalidade e a fecunda com outro pólen.
A vida em todas as manifestações é uma sucessão de testes e exames a que são submetidos os aprendizes da evolução.
* * *
Poupa os teus amigos à litania improdutiva dos teus problemas. Eles também os têm, conquanto não se queixem aos teus ouvidos.
Medita as lições evangélicas e supera-te, banhando teu espírito no precioso lenitivo da mensagem sublime.
Quando, porém, as tuas dificuldades se fizerem maiores e os teus problemas se tornarem mais dificeis de serem suportados, em atitude de respeito ao teu amigo
ou irmão, busca narrá-los com seriedade, sem as complicações do pieguismo nem as rebeldias da alucinação, ouvindo-lhe, depois, os conselhos, as sugestões, as boas
palavras. Se te convierem ou não as diretrizes recebidas toma o caminho que melhor te aprouver.
Evita azorragar a bondade dos que te escutam com a imposição do que pensas ou a exigência do que desejas. Não desconsideres o teu interlocutor, gerando debate
ou desídia. Teu ouvinte é, também, - não te esqueças, - alguém que luta e sofre sob maior quota de resignação e paciência, digno, portanto, de ser amado e
acreditado por ti.
Na via dolorosa, ante as mulheres que o choravam, Jesus advertiu: "Filhas de Jerusalém: não choreis por mim, mas chorai por vós mesmas e por vossos filhos...
", caracterizando a necessidade da reflexão e do robustecimento de ânimo de cada um para o invariável compromisso de enfrentar e liberar-se de problemas.
*
"No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo".
João: capítulo 16º, versículo 33.
*
"O Espiritismo dilata o pensamento e lhe rasga horizontes novos. Em vez dessa visão, acanhada e mesquinha, que o concentra na vida atual, que faz do instante que
vivemos na Terra único e frágil eixo do porvir eterno, êle, o Espiritismo, mostra que essa vida não passa de um elo no harmonioso e magnífico conjunto da obra do
Criador".
Capítulo 2º - Item 7.
8
PRESUNÇÃO
Sutil quão traiçoeiro é miasma de fácil assimilação, que produz danos graves nos tecidos delicados da alma.
Herança dos vícios pretéritos de que somente a pouco e pouco se liberta, o espírito que empreende a tarefa do aprimoramento não deve poupar esforços contra inimigo
vigoroso e disfarçado qual êsse.
Apresenta-se multiface e sabe afivelar máscaras de hediónda feição, sorrindo nas situações em que se vê descoberto e chorando nos momentos de que se deveria
utilizar para a libertação, adquirindo fõrças novas com inusitada selvageria para continuar os desmandos a que se afeiçoa.
Reponta aqui na condição de melindre, em cuja exagerada suscetibilidade encontra campo para generalizar suas argumentações falsas, com graves danos para quem
lhe enseja a penetração.
Apresenta-se como ufania exacerbada e apropria-se dos requisitos morais daquele que se lhe faz vítima, conquistando láureas à própria incúria.
Alma gêmea do orgulho, é filho especial do egoísmo, inimigo sórdido de tôda construção moral do homem, comprazendo-se em desequilibrar e malsinar.
Discreto, enreda mentes invigilantes, e, soez, maquina estranhos raciocínios que distraem os seus cultores.
Imantado à própria natureza animal do homem, investe contra a natureza espiritual sob disfarces inesperados.
Esse revel, atro e torvo inimigo do espírito, éa presunção.
* * *
Se alguém admoesta com carinho, objetivando ajudar, êle instila, malsão, odiosa irritabilidade no ouvinte, inspirando que ali se encontra um mau caráter desejando
humilhar o indefeso lidador...
Quando o amigo convida ao serviço com mansuetude o outro amigo, ei-lo a informar que alquile deseja dêste fazer besta de carga. - -
Se o patrão, por impositivo da ordem, observa o servidor descuidado, eis que a sua maléfica presença degenera o alvitre fazendo que o reprochável subalterno se
transforme em inimigo silencioso...
Quando o cooperador do serviço de elevação adverte o Irmão de trabalho, por esta ou aquela razão, sua voz brada, na acústica da alma: - "Ele toma esta atitude
porque é com você"...
E prossegue arregimentando vítimas que lhe dão guarida às Insinuações infelizes, até o desespero em que se verão a braços mais tarde.
* * *
Abstém-te do convívio da presunção e arrebenta-lhe o cêrco nefando.
Faze honesta fiscalização íntima à luz do Evangelho e descobri-la-á.
Na tarefa de muitos, se te isolas; no agrupamento fraterno, se te supões desconsiderado; na atividade encetada, se reclamas falta de auxílio; na comunidade,
se te tens na conta de humilhado; na realização do bem, se suspeitas de deslealdades sistemàticamente; e se te afirmas desamado, cuidado! -a presunção está corroendo-te
por dentro.
Examina Jesus e toma-O como modêlo, situando-te no devido lugar, e se prossegues acreditando que necessitas lapidar a alma da incessante faina do bem, com otimismo
e perseverança, estarás combatendo êsse verdugo ominoso que tanto poderás chamar presunção como orgulho, melindre ou suscetibilidade, mas que em resumo é, sem dúvida,
um dos piores Inimigos da tua evolução.
*
"Bem-aventurados os pobres de espírito, porque dêles é o reino dos céus".
Mateus: capítulo 5º, versículo 3.
*
"O orgulho me perdeu na Terra".
Capítulo 2º - Item 8.
9
NAS MÃOS DE DEUS
A injustiça experimentada foi semelhante a gume afiado que retalhou os tecidos sutis do espírito, deixando escombros nos painéis da esperança onde antes se desenhavam
edificações nobilitantes.
O veneno da calúnia logo alcançou o teu coração, deu início à ação nefanda da destruição, lobrigando atingir os melhores propósitos que acalentavas, produzindo
o inenarrável prejuízo da desmoralização em torno dos elevados programas de santificação -
O abandono a que te relegaram pode ser comparado ao desprezo a que se atirasse uma plântula débil mas cheia de vitalidade, que as intempéries, os insetos e a
erva daninha se encarregariam de destruir, tal é a situação em que agora te achas ante as circunstâncias várias que poderiam aniquilar-te.
O ciúme ferino produziu o câncer da suspeita conduzindo os sonhos de tua esperança à condição de pesadelo ultriz que agora se converte em enfermidade demorada,
a corroer-te interiormente.
A malquerença acercou-se da porta do teu lar, e de convidada pela negligência da família tornou-se residente e senhora da casa, aliciando a leviandade generalizada
à infeliz peleja em que todos se atiram, inimigos gratuitos que se transformaram entre si.
Quantas outras experiências anotas, como resultado das lutas que vens travando nas províncias do mundo íntimo!
Acumulas a borra do desânimo e destilas o ácido da amargura logo és convidado a programas novos.
Relegas a Religião a plano secundário e apoquentas-te por nonadas, infeliz, desesperançado.
Tudo parece sombrio, desanimador, ao teu lado.
Retempera as experiências com os condimentos do otimismo e as poções da prece bem urdida na emoção reajustada.
Modificar-se-ão as concepções, aragem agradável perfumada pelo aroma da paz produzirá harmonia íntima, e constatarás que tudo está nas mãos de Deus e a Êle deves
entregar problemas e aflições, fazendo, porém, a tua parte a benefício próprio
* * *
A Via-Láctea, serena, bordada de bilhões de astros, gravita sob a segura diretriz das mãos de Deus.
O carvão, transformando-se paulatinamente através dos milênios em diamante que luzirá claridades coruscantes, segue o esquema das mãos de Deus.
A vida infinitesimal que pulsa na molécula e o impulso que aciona o eléctron encontram-se submetidos às seguras linhas, inabordáveis, tracejadas pelas mãos de
Deus.
O destino do homem é a perfeição, seu fanal é a glória imarcescível.
As lutas que apequenam os fracos, ajudam-nos a adquirir fOrça para conquistas outras e desdobram as possibilidades no forte agigantando-o para o futuro.
Não te aferres, desse modo, aos incidentes lamentáveis da jornada evolutiva.
Problema é teste à aprendizagem moral e dor significa exame em face às conquistas do espírito.
Assim, liberta-te dos que te escravizaram com os seus atos à angústia que teima por dilacerar-te, abre os braços no rumo do amanhã e avança tranqüilo.
Jesus não é apenas oportunidade redentora, representa, também, lição viva que não pode ser desconsiderada.
* * *
Quando os amigos O abandonaram, experimentando inenarrável soledade; à hora em que todos os Seus ditos foram deturpados; face à constrição decorrente da fuga
dos beneficiários dos Seus atos; diante do azedume de uns e da impiedade de quase todos; nas sombras a obsessão coletiva que àquela hora campeava triunfalmente,
contemplou todos e repassou pela memória atos e palavras, culminando por ensinar a mais preciosa lição no instante mais grave: - entregou-se às mãos de Deus e permaneceu
confiante até o fim.
*
"Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito".
Lucas: capítulo 23º, versículo 46.
*
"A casa do Pai é o Universo".
Capítulo 3º - Item 2.
10
DISSENSÃO
Medra com fácilidade por encontrar os elementos que lhe facultam o enriquecimento da vitalidade, multiplicando dissabores e contribuindo para a destruição dos
mais elevados ideais.
A princípio tem o aspecto de melindre insano e logo se transforma em agastamento fomentador de inimigos cruéis e acirrados do espírito humano. Suas raízes, no
entanto, se cravam com vigor no "eu" enfêrmo criador de condicionamentos infelizes, teimando por impor as diretrizes que acredita serem as melhores, porque partidas
do seu querer.
Infelizmente, em todos os setores das atividades humanas, ocorrem dissensões e debates, alguns dos quais se fazem fatores de ordem e evolução.
Dissentir, porém, não é separar. Discordar de opinião, não significa provocar querela ou balbúrdia, divisão ou anarquia.
É lamentável considerar que a dissensão campeia porque os elementos constitutivos do grupo social se caracterizam por qualidades que supõem possuir mas que não
se esforçam sequer por conquistar.
A maioria se acredita formada de "campeões da humildade"; grande parte se pressupõe "azes do dever retamente cumprido"; excessiva massa se nomeia como "líder
do trabalho", no entanto, raros desejam ser apenas "servidor", o melhor título que se pode disputar, considerando que o Mestre Jesus outra coisa não fêz que se tornar
o servidor de todos por excelência.
* * *
Diante dos dissidentes contumazes e dos que se adornam de melindres - enfermos habituais carecentes de compaixão por se alimentarem de venenos destruidores -
mantém a serenidade e não te agastes com êles. Esquecem-se do "lado bom" que possuem e se aferram à natureza inferior que nêles predomina. tornando-se algozes impiedosos
de si mesmos.
Estão sempre contra.
Cultivam o amor próprio com esmêro.
Uns ofendem com fácilidade e se arrependem com precipitação. Outros se agarram aos revides que receberam e se pretextam no que lhes disseram, esquecidos do que
disseram, para fugir espetacularmente ao serviço encetado.
Não vês com eles, nem os sigas mentalmente sequer. Aprenderão amanhã ou mais tarde com a vida ou por si próprios.
Quase sempre são falazes, inconvenientes. Ameaçam "tudo contar" e mentem, refugiando-Se na própria alucinação como se justificando o desequilíbrio que os aflige.
Dissensões - sempre houve, em todos os campos e por muito tempo as haverá.
Sê tu cordato, não, porém, subserviente; humilde, contudo, não vulgar; bondoso, sem a preocupação de conquistar afeição por êsse meio. A amizade é o salário honroso
que os socorridos podem tributar aos seus benfeitores. Se são ingratos, não poderás receber nem esperar outra coisa senão o ultraje.
* * *
Considerar as dores que afligiam o Amigo Divino, ante as dissensões que dividiam os que o acompanhavam; escutar as querelas miúdas dos que disputavam a Terra,
enquanto Ele, ao lado, ensinava o Reino; sentir os ciúmes mórbidos do desamor que apenas desejava aparecer, embora ele se apagasse para apresentar o Pai; atender
aos exploradores que desejavam utilizar-se dos Seus recursos; conhecer as imperfeições dos companheiros convidados e, no entanto, amá-los, estimulando-os pelo lado
bom de modo a se levantarem da inferioridade em que se compraziam para ascenderem aos cimos da paz que ele oferecia. Assim, também encontrarás no teu caminho as
dissensões e fugas ao dever. Quem não puder seguir contigo, não poderás exigi-lo. Ajuda, portanto, e passa, prosseguindo no rumo da paz, apesar de tôdas as dissensões
e ofensas que te chegarem na tarefa maior da tua redenção.
*
"Havia dissensão entre eles".
João: capítulo 9º, versículo 16.
*
"A Terra pertence à categoria dos mundos de expiação e provas, razão porque aí vive o homem a braços com tantas misérias"
Capítulo 3º - Item 4.
11
COM REGOZIJO
Sempre que sejas defrontado por intrincados problemas na senda que percorres, busca soluções na informação cristalina do Espiritismo, que te aclarará o entendimento,
traçando diretrizes eficazes para dirimires quaisquer dificuldades.
Solicitado intempestivamente à dor, dirige-te ao ensinamento espírita, em cuja vitalidade defrontarás a segurança, a fim de porfiares desassombradamente sob qualquer
constrição.
Surpreendido nos ideais pela chuva da incompreensão ou banido do labor edificante por pedradas contundentes, marcha na direção da fé espírita em cuja lição dulcificadora
receberás o lenitivo do reconfôrto e a estabilidade da segurança para não desanimares, nem te excederes.
* * *
O homem que reencontrou a fé consoladora, através das lições dos imortais, vive em regozijo. Examina as atitudes pretéritas e estabelece normativas diretoras
com olhos postos no futuro. Quando reconhece os próprios erros envida esforços para os não repetir e diàriamente faz um exame de atitudes de modo a melhorar-se sempre
e incessantemente, bafejado pelo consôlo da vida espiritual, fonte geratriz da verdadeira felicidade.
E não obstante as dificuldades do caminhar entre os homens, destaca-se na comunidade pelas preciosas lições de renúncia a que se impõe e pelos salutares exercícios
de abnegação a que se entrega, fazendo-se irmão de todos, sem a expressão malsinante do reproche enquanto ajuda, nem a falsa austeridade da censura enquanto serve.
Ninguém se pode atribuir a posição de ser inatacável, não lhe sendo facultado o direito de acusador impertinente ou contumaz ante a fragilidade do próximo a
quem lhe compete ajudar e edificar, oferecendo a luz nova do Espiritismo revelador. Doa o esfôrço não como quem ajuda, mas em condição de quem se ajuda a si mesmo,
pois que tôda edificação imortalista que o homem consegue, aplica-a na realização da própria paz, para a qual necessàriamente utiliza o material de sacrifício que
o enobrece e liberta.
* * *
O regozijo de quem encontrou Jesus decorre da certeza inapelável de que a ilusão já lhe não é mais comensal e a realidade áspera não o atordoa, apresentando
a contínua madrugada da esperança, conquanto a demorada noite dos resgates demorando-se em sombras.
- "Regozijai-vos!" - disse Jesus.
- "Regozijai-te, companheiro da ação enobrecida, na continuidade da luta em que forjas a tua liberdade intransferível e não te detenhas a arrolar as imperfeições
alheias, nem as tuas próprias limitações.
Evita considerar-te desventurado porque o rio das tuas necessidades não trouxe a embarcação das surprêsas diante da qual poderias apresentar tesouros transitórios
que a ficção aplaude e a realidade devora.
És filho de Deus, e nenhum título é maior do que este: o da filiação divina que te irmana a Ele, a Fonte Excelsa de onde procedes, o colo generoso no qual te
encontras, o ar sublime de que te nutres!
E se alguém te humilha graças ao teu desvalor e se os óbices te obstruem o caminho por tua inépcia, ou se a tua pequeneZ não te permite agigantar-te quanto gostarias,
regozija-te ainda mais uma vez, porque já encontraste o meio-dia da vida em plena meia-noite das tuas aflições.
Os que viram aquêle magote constituído por uma farândola de sofredores, gargalharam, zombeteiros, pôr estarem êles colocando na Terra os alicerces do Reino de
Deus. Os que acompanharam a marcha dos pescadores simples que abandonaram as rêdes por escutarem aquela voz, chasquinaram e os perseguiram até ao cansaço, nunca
porém lobrigaram extingui-los. E, todavia, foram êles os heróis da Era Melhor, continuando a ser os modelos que deves seguir em regozijo, como em regozijo o fizeram,
seguindo as pegadas do Modêlo Divino, que se deixou crucificar em testemunho de amor por um mundo melhor.
*
"Mas não vos regozijeis em que os EspíritOS se vos submetem, antes regozijai-VOS em que os vossos nomes estão escritos no céu".
Lucas: capítulo 10º, versículo 20.
*
"Naqueles outros (mundos venturosos) não há necessidade desses contrastes. A eterna luz, a eterna beleza e a eterna serenidade da alma proporcionam uma alegria
eterna, livre de ser perturbada pelas angústias da vida material, nem pelo contacto dos maus, que lá não têm acesso".
Capítulo 3º - Item 11.
12
EXAMINANDO A DESENCARNAÇÃO
Fatalidade biológica, a morte, ou seja a mudança de uma forma para outra, por impositivo da necessidade de transformações incessantes, começa quando ocorrem as
primeiras expressões da vida.
No homem, por exemplo, em cada segundo, no seu aparêlho circulatório, morrem um milhão de hemácias que são aproveitadas por células especiais, no fígado, para
a elaboração de outras, graças ao ferro que é delas extraído.
Segundo alguns biólogos, em cada sete anos, o corpo humano se renova quase integralmente, à exceção das células nervosas, graças ao processo de transformação
ou morte que ocorre na estrutura somática.
Modificações incessantes em que a matéria assume a forma energética e esta se adensa em novas expressões físicas, a, morte da aparência éuma constante indispensável
à evolução.
Do resfriamento da energia que se condensa em matéria, da dissociação das moléculas para o retôrno à energia, no homem, o espírito, que é o modelador da forma,
sofre na sua intimidade os diversos fenômenos de aglutinação e desagregaçãO estrutural.
Morrer, portanto, ou desencarnar, significa, só-mente, mudar de estado.
* * *
A desencarnação tem início de dentro para fora do corpo, nos tecidos sutis do perispírito, que condicionado a vibrações especiais, encarregadas de manterem a
vitalidade físiopsíquica, começam a perder a sintonia, por cuja exteriorização mantêm nas suas órbitas as moléculas constitutivas da matéria.
Mesmo nas ocorrências da desencarnação violenta, por circunstâncias de vária ordem, não obstante a morte fisiológica por interrupção da corrente mantenedora
da vitalidade, o processo desencarnatório só a pouco e pouco se consuma, através da liberação dos liames psicossomáticos que se encontram imantados ao corpo.
Disso decorrem as sensações violentas, danosas, aflitivas que experimentam os desencarnados, ainda imantados à carne, que são à violência arrancados da estrutura
material, sem o correspondente desligamento dos núcleos vitalizadores pelo processo paulatino da dissociação liberativa.
As expressões cadavéricas, em tais casos, transitam em forma de dor ou angústia, dos tecidos em decomposição ao espírito, mediante a complexa rêde de filamentos
semi-materiais que se fixam nas intimidades celulares, encarregadas do processo aglutinador dos átomos nas realidades das funções e formas fisiológicas.
Expressiva a contribuição da mente no processo desencarnatório. Seja o hábito salutar do desprendimento, exercitado pelo espírito encarnado, seja a lembrança
mental dos que se vinculam aos desencarnados, as vibrações se transformam em sensações, produzindo, obviamente, liberação ou cativeiro do espírito às formas materiais,
conquanto muitas vêzes reduzidas a resíduos já em fase final de fusão na química inorgânica do subsolo ou nas carneiras em que jazem.
Comumente, após o desaparecimento da forma, as construções mentais, elaboradas em contínuas fixações nos centros da memória espiritual, se encarregam de reproduzir
nas telas sensíveis do perispírito as formas-pensamento que se transformam em suplício de demorado curso, - fantasmas que se corporificam e se atam ao desencarnado,
angustiando-o e atemorizando-o - até que a dor corretiva, por paulatino processo de coercitivo desgaste das imagens vitalizadas, desapareça dos painéis mentais.
O mesmo ocorre no campo da organização semática, quando o espírito sofre a constrição das elaborações mentais, a elas submetendo-Se, e experimentando o efeito
do seu efeito -, círculo vicioso, dominante - que somente se modifica ao império da renovação interior, através de registros salutares que realizarão o ministério
da paz, como resultante das conseqüências favoráveis que decorrem dessas causas edificantes.
* * *
Descontrai-te, libertando-te do mêdo, das paixões, das limitações e voa na direção das paisagens superiores, a fim de que a desencarnação, cujo processo lento
já experimentas sem que o saibas, em se consumando, não te agrilhoe ao mundo das formas de que necessitas desvincular-te.
Dia chegará em que o teu processo reencarnatório culminará com a cessação dos ciclos vibratórios no corpo e terás que pairar além e acima das circunstâncias
materiais, desencarnado, porém vivo, morto na forma, no entanto, em transformações de dentro para fora, prosseguindo na direção da Vida Abundante.
*
"O que ore em mim, ainda que esteja morto, viverá".
João: capítulo 11º, versículo 25.
*
"A própria destruição, que aos homens parece o têrmo final de tôdas as coisas, é apenas um meio de chegar-se, pela transformação, a um estado mais perfeito,
visto que tudo morre para renascer e nada sofre o aniquilamento".
Capítulo 3º - Item 19.
13
CONFIANÇA EM DEUS
Em qualquer circunstância, mantém tua confiança em Deus, que rege o Universo e guarda tua vida.
Nunca te revoltes, seja qual fôr o problema que te surpreenda.
Fora do teu sofrimento sofrem também outros filhos de Deus sob estigmas de aflições que desconheces.
Normalmente relacionas as provações que te alcançam e derrapas em regime de rebeldia caindo nos alçapões das inconseqüências de vária ordem.
Deixas-te intoxicar pelos vapôres da felonia e afasta-te da diretriz do bem, fugindo para lugar algum onde sofres mais por desespêro injustificável do que pela
Intensidade do padecer que te atinge.
No entanto, êles estão ao teu lado, os irmãos do carneiro da agonia.
Disputam casebres miseráveis pendurados em morros onde fermentam ódios ou aglutinados em declives e baixas infectas onde dominam sombras, acondicionando retalhos
de velhas latas e tábuas imundas, que transformam em lar e ali se rebolcam em inenarrável desesperação.
Dormem sob as pontes das estradas ou nas calçadas das vielas sombrias em espaços exíguos à mercê do abandono.
Espiam por olhos que se apagaram e não têm possibilidade de ver, marchando em densas trevas.
Agitam-se em corpos mutilados e anseiam alucinadamente por conseguir andar, abraçar, mover-se em alguma direção.
Perderam a razão, um sem número dêles, e correm pelos dédalos da loucura indimensional, sob pesadelos horrendos, em que seguem até à idiotia.
Experimentam fome contínua e sentem a constrição da máquina orgânica, desajustada ao império das necessidades que se sucedem.
Têm o espírito dilacerado por diagnósticos de enfermidades que sabem irreversíveis e, piorando-lhes a situação, não estão preparados para a desencarnação.
Aguardam notícias funestas que os alcançarão logo mais e expungem as agonias sem nome sorvendo o veneno da amargura, revoltados sem lograrem a extinção do Sofrer...
Faze um giro além das fronteiras do "eu" enfermiço e tristonho a que te recolhes.
Abre os olhos e espia na direção da Terra perto e longe de ti. Há poemas de beleza na paisagem em festa e tragédias nos bastidores dos corações em comunhão com
as torpezas morais em agitação. Pensarás, então, que o homem e somente êle éinfeliz numa esfera de luz e côres como a da Natureza.
Em verdade ainda é a Terra a abençoada escola de redenção. Contrastando com as necessidades de cada aluno, ela se mantém festiva para ensejar uma visão panorâmica
convidativa para o bem e para a ação integral que facultam a superação das dificuldades.
Todos aquêles calcêtas que lhe desconsideraram as classes ontem, ora retornam para refazer e aprender fixando em definitivo as lições superiores de amor e vida
que desprezaram.
* * *
Após examinares tôdas as circunstâncias provacionais do caminho da evolução, bendirás o que tens no corpo e na alma, utilizando-te com meridiana sabedoria dos
dons incomparáveis de que te encontras investido, elaborando condições novas interiormente, para superar os óbices naturais e agradecer as excessivas concessões
que fruis e das quais inapelavelmente prestarás contas mais tarde ao Excelso Administrador, como já lhes sofrem os resultados êstes que ora resgatam mais em regime
carcerário, porém que aguardam a dádiva do teu auxílio para diminuir-lhes as aflições superlativas.
Tem, pois, confiança em Deus, alma irmã! Ama e agradece o quinhão de dor que te chega para o próprio aprimoramento espiritual e prossegue sereno ajudando aquêles
outros espíritos igualmente ou mais atribulados que tu mesmo a seguirem pela rota abençoada da reencarnação.
*
"Confia em Deus".
Mateus: capítulo 27º, versículo 43.
*
"Os (Espíritos) que se conservam livres velam pelos que se acham em cativeiro. Os mais adiantados se esforçam por fazer que os retardatários progridam".
Capítulo 4º - Item 18, parágrafo 2.
14
PROVAÇÃO REDENTORA
A voz que laboraste por modular docemente agora se transforma em brado de acusação impiedosa; as mãos que uniste muitas vêzes dentro das tuas, em gesto de ternura,
parecem prontas a esbordoar-te; o rosto tantas vêzes osculado com meiguice surge congestionado diante da tua presença; os gestos que plasmaste com incansável devotamento,
fazem-se bruscos e violentos em desafio à tua serenidade; aquêles olhos que enxugaste com desvêlo, quando choravam, fitam-te com chispas de ódio; o corpo que embalaste
noites a-fio, ora freme de revolta e se agiganta diante do teu atual carinho; todo aquêle ser que cumulaste de amor, então, se contorce sob o gás da rebeldia e não
trepida em malsinar-te, ferindo as mais caras aspirações que demoradamente acalentaste, bem como os nobres objetivos que tõda a vida perseguiste - a meta da tua
realização interior.
Insultado por tão grotesca reação tentas, ainda, acercar-te do ser querido, escondendo a decepção e a dor íntima; no entanto, não consegues transpor a barreira
entre ti e êle, colocada propositadamente para produzir distância, não obstante o êxito dêle depender do teu suor e da tua soledade, das tuas lágrimas e dos teus
silêncios.
Permite-se acusar-te, censurar-te, e não te concede a condição ao menos de "ser humano".
Reserva-se o direito de magoar-te e explora os teus sentimentos para pisoteá-los logo depois.
Enquanto o envolves em otimismo, há muito tempo a inferioridade dêle espezinha-te com recalques cruéis, que procedem de vidas consumidas no passado do espírito
e não te oferece a concessão das queixas ou das justas censuras que são descargas da tensão que te atormenta.
E dizer que te deste com o melhor que possuias, oferecendo-te todo por êle, para a felicidade dêle!
Retempera, porém, o ânimo e insiste no dever que te cabe ou que assumiste, mesmo incompreendido, apesar de sitiado pela ingratidão com que êle te retribui o carinho
demorado.
* * *
Seja quem fôr o ingrato - filho, amigo, afeto, companheiro -, é alguém vitimando-se com o ácido que o destruirá logo depois.
A ingratidão é enfermidade de erradicação difícil e demorada; a rebeldia reflete distonia espiritual; o azedume exterioriza infelicidade interior; a agressão
atesta primitivismo; a cólera é morbidez de complexa definição no campo da mente em desalinho. Todo aquêle que se permite conduzir por tais famanazes da indisciplina
e do orgulho merece caridade pelo tratamento do amor que ora e socorre, insiste ao lado e não revida mal por mal.
Ele, aquêle que te acicata o espírito, caminhará pela estrada da experiência, avançando na rota do futuro.
Aprenderá inevitavelmente e tornar-se-á brando.
Não é necessário que o desejes: a vida se encarrega de nós todos, cada um a seu turno...
* * *
É pena - e sofres com isso - que te não saibas valorizar o amor, aquêle que hoje te fere e subestima.
Jesus, porém, experimentou, e em grau muito maior, a ingratidão e o desinterêsse dos companheiros mais amados. Medita nEle, na Sua vida e não te abales com a
provação redentora. Felizes são os que amam, e amam sempre, reconhecidos, fiéis, Os outros, dentre os quais o ser que ora não te retribui amor por amor, já estão
justiçados em si mesmos, sorvendo a amargura da inquietação e o tóxico da insegurança pessoal, que os envenenam paulatinamente.
*
"Mas na hora de provação volta atrás".
Lucas: capítulo 8º, versículo 13.
*
"Os que, ao contrário, usam mal da liberdade que Deus lhes concede retardam a sua marcha e, tal seja a obstinação que demonstrem, podem prolongar indefinidamente
a necessidade da reencarnação e é quando se torna um castigo". São Luiz. (Paris 1859).
Capítulo 4º - Item 25, parágrafo 2.
15
SEM PARAR
Agora que assumiste compromissos no movimento espírita, que te comove e abrasa, percebes. Registras, com a alma dorida, que os companheiros de ideal - salvas
expressivas exceções - ainda se encontram em dubiedade, face à decisão de transporem a aduana da luz.
Conquanto se digam espíritas, longe se encontram de manter as enobrecedoras atitudes do verdadeiro crente, aquêle que, impregnado pela fé, pauta a conduta nas
linhas da convicção esposada.
Antes supunhas que nos arraiais espiritistas a paz houvera feito morada... Pareciam-te resignados e felizes, lutadores intrépidos os novos discípulos do Evangelho.
No entanto, observas como estão transidos de amargura, quando não rebelados, ante a dor, e interrogas: que fazem da fé clara e pura? por que ferem, quando conhecem
de perto as realidades das leis de "causa e efeito"? como se deixam conduzir pelos obsessores!...
Sem dúvida, porque em se, assenhoreando da fé, a fé sublimada dêles não se assenhoreou.
Ficaram apenas mimetizados mas não penetrados. Apressados, não mergulharam realmente o espírito nas lides do conhecimento da Doutrina libertadora.
Alguns se fazem notados, mas não conseguiram as íntimas e reais transformações para melhor. Projetaram-se, sem se renovarem. E derrapam com facilidade nos mesmos
equívocos, quando contrariados, sofridos ou simplesmente não considerados quanto se supõem merecedores...
São homens e preferem continuar a sê-lo, quando se poderiam tornar cristãos...
O Espiritismo é a doutrina do amor por excelência e tem a caridade por meio e meta. Eles sabem disto, mas apenas sabem. Não vivem a vida que dizem saber e crer,
por estarem acostumados a outra conduta. Mudaram de conceito religioso mas não de comportamento moral.
Não os estranhes, nem os censures para que não incidas nos erros dêles.
Sensibilizado pelas lições imortalistas que estudas, vive-as cordialmente, sejam quais forem as circunstâncias.
* * *
Repetidamente falarão os Desencarnados sôbre e contra os obsessores que perseguem e dificultam a obra do bem, detidos na Erraticidade inferior. E os há em número
incontável.
Outros tantos, porém, estão em regime carnal, no domicilio orgânico. Atenazam, perseguem, cruciam, afligem não porque estejam sob obsessões, mas porque são obsessores
reencarnados. Procedem de baixos círculos vibratórios e a diferença existente é a da matéria que os envolve na Terra. Certamente se fazem instrumentos dos outros
- os desencarnados - por um fenômeno natural de afinidade, o que os tornam ainda mais violentos.
Diante disso, não acuses os Espíritos de mente atribulada que estagiam no Mundo Espiritual, tendo em vista aquêles que, ao teu lado, no corpo, continuam acumpliciados
com os antigos sequazes, em regime de conúbio espontâneo -
Estes, os da caminhada carnal, atingir-te-ão mais vêzes, por estarem domiciliados nas mesmas faixas vibratórias em que te demoras.
Acautela-te, orando e trabalhando incessantemente - Não serás poupado, pois que o êxito da tua produção fraterna na Vinha do Senhor incomoda-os, irrita-os, e,
na falta de argumentos justos, usarão estranhas armadilhas e conceitos infelizes para se realizarem ante a chuva de amargura e fel que desabe sôbre a tua cabeça.
Não obstante, prossegue, sereno e confiante -
* * *
Não apenas os sacerdotes e políticos em Israel, a soldadesca e os bandoleiros crucificados ao Seu lado, zombaram, sarcasticamente, de Jesus.
Não somente os estranhos conspiraram antes para colocarem-No perdido.
Foram os amigos invigilantes, os comensais do Seu amor, aquêles que O conheciam e sabiam, que o entregaram, para logo após fugirem.
Diante dessa comovedora realidade, refugia-te nEle e compreende, integrando-te no Evangelho Restaurado, a necessidade de viver pelo exemplo o Espiritismo que
o descerra para ti e não olhes para trás, não reclames, não te defendas quando acusado, nem te justifiques - ama, e serve sem parar.
*
"Todavia, quem perseverar até o fim, esse será salvo".
Mateus: capítulo 24º, versículo 13.
*
"A encarnação, aliás, precisa ter um fim útil".
Capítulo 4º - Item 26, parágrafo 3.
16
DESGRAÇAS TERRENAS
Tôda vez que uma desgraça se abate sôbre um homem, a verdadeira desgraça para êle é não saber receber devidamente o infortúnio que lhe chega.
Desgraça, realmente, é o mal, o prejuízo, o dano que se pode praticar contra alguém e não o que se recebe ou se sofre.
O que muitas vêzes tem aparência de desgraça - e isto quase sempre - é resgate intransferível e valioso que assoma à alfândega do devedor, cobrando-lhe os
débitos livremente assumidos e aceitos. Das mais duras provações sempre resultam benefícios valiosos para o espírito imortal. Há que considerar cada um a própria
posição que mantém na vida terrena para avaliar com acêrto os acontecimentos que o visitam.
Quando somente se experimentam as emoções físicas e conceituamos os valôres imediatos, desgraças, em realidade, para tais, são os pequenos caprichos não atendidos,
as veleidades vaidosas não respeitadas, as ambições ridículas não satisfeitas que assumem papel preponderante e se transformam em infelicidades legítimas, porqüanto,
ignorando propositalmente as realidades superiores, êsses descuidados se apegam às menores coisas e aos recursos de nenhuma monta, derrapando para a irritabilidade,
as paixões, a loucura, o suicídio: desgraças que levam o espírito às províncias de amarguras inomináveis, a vencerem tempo sem limite em etapas de dor sem nome...
* * *
As desgraças que foram convencionadas como:
perda de saúde, prejuízos financeiros, ausência de pessoas amadas, desemprêgo, acidentes, abandono por parte de queridos afetos, se constituem áspero testemunho
que chega ao ser em jornada redentora, se transformam também em portal que transposto estõicamente decerra a dádiva da felicidade permanente e enseja paz sem refrega
de luta em atmosfera de harmonia interior.
Quando o infortúnio não resulta de imediato desatino ou leviandade é bênção da Vida à vida, facultando vitória próxima.
Nesse particular os Espíritos Superiores levam em alta consideração os sofrimentos humanos, as desgraças que abatem homens, famílias, povos e, pressurosos, em
nome da Misericórdia Divina, acorrem a ajudar e socorrer êsses padecentes, dando-lhes fôrças e coragem para permanecerem firmes e confiantes, buscando diminuir nêles
a intensidade da dor, e, noutras circunstâncias, tendo em vista os novos méritos que resultam das conquistas individuais ou coletivas, desviando-as, atenuando-as,
impedindo mesmo que se realize, pela constrição do sofrimento, a depuração espiritual, o que faculta meios de crescimento pelo amor em bênçãos edificantes capazes
de anular o saldo devedor constritivo e perseverante, porque se a Justiça Divina é rigorosa e imutável, a Divina Misericórdia se consubstancia no amor, tendo-se
em vista que Deus, nosso Pai Excelso, "é amor".
*
"Bem-aventurados os que choram, pois que serão consolados".
Mateus: capítulo 5º, versículo 4.
*
"De duas espécies são as vicissitudes da vida, ou se o preferirem, promanam de duas fontes bem diferentes, que importa distinguir. Umas têm sua causa na vida presente;
outras, fora desta vida".
Capítulo 5º - Item 4.
17
ANTE À DOR
Quando a alma mergulhou na carne referta de vibrações, desejou transmitir tôda a musicalidade que conduzia virgem, e para que o tumulto do ambiente não lhe perturbasse
a evocação, perdeu, paulatinamente, os registros auditivos para somente escutar nas telas da mente os acordes sublimes da natureza e de Deus - e Beethoven ficou
surdo!
Para expressar a melancolia suave e a pungente saudade de algo que não se pode identificar, Chopin experimentou a amargura do coração perdido entre desejos e
decepções.
Destinado a ferir as cordas da emoção e tangê-las com habilidade, o espírito retornou ao palco de antigas lutas para defrontar-se com inimigos acirrados e vencê-los
através da auto-doação, enchendo a Terra de musicalidade superior. Inquieto, todavia, fraquejando sem cessar, Schumann deixou-se arrastar pela caudal da obsessão,
conquanto fizesse incomparável legado, através do Lied e das nobres melodias para piano -
* * *
Oh! dor bendita, libertadora de escravos, discreta amiga dos orgulliosos, irmã dos santos, mensageira da verdade, tanto necessitamos do teu concurso, que se
nos afiguras um anjo caído, a serviço da misericórdia para sustentar-nOS na luta redentora! Ensina-nOS a descobrir a rota da humildade para avançarmos com acêrtO.
* * *
A dor é a mensageira da esperança que após a crucificação do JustO vem ensinando como se pode avançar com segurança. Recebamo-la, pacientes, sejam quais forem
as circunstâncias em que a defrontemos, nesta hora de significativas transformações para o nosso espírito em labor de sublimação.
O sofrimento de qualquer natureza, quando aceito com resignação - e tõda aflição atual possui as suas nascentes nos atos pretéritos do espírito rebelde - propicia
renovação interior com amplas possibilidades de progresso, fator preponderante de felicidade.
A dor faculta o desgaste das imperfeições, propiciando o descobrimento dos valiosos recursos, inexoráveis, aliás do ser.
Após a lapidação fulgura a gema.
Burilada a aresta ajusta-se a engrenagem.
Trabalhado, o metal converte-se em utilidade.
Sublimado pelo sofrimento reparador o espírito liberta-se.
*
"De tal modo brilhe a vossa luz diante dos homens, para que êles vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos Céus.
Mateus: capítulo 5º, versículo 16.
*
"Daí se segue que nas pequenas coisas, como nas grandes, o homem é sempre punido por aquilo em que pecou. Os sofrimentos que decorrem do pecado são-lhe uma
advertência de que procedeu mal".
Capítulo 5º - Item 5.
18
TESTEMUNHO
Que se dirá do médico que teme o contato com a enfermidade que desfigura o semblante do doente; do advogado que receia a convivência com os malfeitores; do mestre
que abomina ensinar a crianças difíceis; do juiz que se poupa a examinar contendas e desdenha enfrentá-las; do amigo que foge aos ensejos de ser útil; do servidor
que ressona em pleno serviço; do aprendiz que desrespeita o ensino; do cristão que, no exercício da caridade, zelando pelo equilíbrio pessoal, se furta ao trabalho
eficiente ao lado de infelizes e desajustados?
Qual o homem que se pode dizer realizado sem se conhecer a si mesmo; que se pode considerar vitorioso sem haver saído triunfador da luta íntima; que espera o
deleite da paz sem haver modificado as disposições bélicas do espírito; que aspira a amplos horizontes e não é capaz de caminhar através de pequenas rotas com segurança;
que espera triunfos e não se permite ajudar; que aguarda Jesus e ainda não sabe descobrir o Cristo nos corações atribulados que defronta pelo caminho?
Que se pode pensar de um crente que se debate, amargurado, quando afligido por naturais problemas; que se revolta ante as dificuldades que todos defrontam na
jornada; que se afaga nos vasilhames da queixa improdutiva; que se desespera ante as oportunidades do aprendizado e que se deixa vencer pela cólera, quando no exercício
do socorro ao próximo?
* * *
O Evangelho, como sempre, apresenta no Excelso Mestre a resposta transparente e nobre!
Instado ao desespêro por dificuldades de tôda natureza e acoimado por famanazes do poder temporal, a situações difíceis, perseguido pela inveja e desconsiderado
pelos que O não podiam entender, conduzido ao sarcasmo e à zombaria, vez alguma se deixou descoroçoar no ministério de amor empreendido ou se permitiu isolar-se
da comunhão com os aflitos. Em tôda e qualquer circunstância estêve ao lado dos sofridos e desamparados, conquanto reconhecesse que isto lhe custaria a vida - Não
temeu, não se evadiu...
Mesmo quando injustamente foi arrastado àinfame punição indébita pela Crucificação, dignificou as traves de madeira, transformando-as, desde então, no símbolo
perfeito da redenção e do martírio para quantos tenham os olhos postos na glória da Imortalidade.
*
"As obras que eu faço em nome de meu Pai, dão testemunho de mim".
João: capítulo 10º, versículo 25.
*
"Não há crer, no entanto, que todo sofrimento suportado neste mundo denote a existência de uma determinada falta. Muitas vêzes são simples provas buscadas
pelo Espírito, para concluir a sua depuração e ativar o seu progresso".
Capítulo 5º - Item 9.
19
EXAMINANDO A SERENIDADE
Em face das dificuldades inadiáveis que surgem e ressurgem, senda afora por onde avanças, reveste-te de serenidade para prosseguir.
Surpreendido pelas contingêncías afligentes que chegam a cada instante ao país do teu coração, envolve-te na serenidade para discernir.
Diante das inforniações malsãs que te são endereçadas com o sal da impiedade ou a pimenta do despeito, examina a serenidade para acertar.
Conquanto inquietudes te assaltem produzindo sulcos de dor e agonia na tua alma, não te situes a distância da serenidade, para atingir o êxito que te propões,
na tarefa do equilíbrio.
Serenidade é também medida que resulta de uma atitude reflexiva!
A serenidade não é uma posição estática que transcorre entre dias parados e atitudes indefinidas em volta da tua existência.
O rio singelo, que passa modulando entre seixos e pedregulhos, eriçando pequeninas ondas e espraiando-as pelas margens, transmite agradável sensação de serenidade
sObre o leito conquistado.
Serenidade é atitude rítmica de ação que não atinge altissonâncias nem reflui em pianíssimos que logo desaparecem. A serenidade resulta de uma vida metódica,
postulada nas ações dinâmicas do bem e na austera disciplina da vontade.
O espírito pacificado pode ser comparado ao solo que foi trabalhado demoradamente, arrancando escalracho e urze, drenando cursos violentos dáguas e semeando,
em derredor, sebes protetoras para que as plantas do seminário nôvo possam desenvolver-se com harmonia em direção do alto.
* * *
Diante da turbamulta que rogava, esfomeada, pães e peixes, Jesus, imperturbável, examinou as possibilidades de que dispunha no momento e multiplicou o repasto...
Surpreendido em colóquio afetivo com os párias encontrados na sua rota se manteve tranqüilo, sem anuir às acusações indébitas de que Ele tratava com gente de
má vida e sem jactar-se de ser o salvador dos infelizes...
Exaltado pelo entusiasmo transitório dos que Lhe receberam o carinho salutar, conservou-se sereno, na direção do bem sem limite de que se fizera o instrumento
excelente do Pai...
Aclamado pelo delírio popular na entrada de Jerusalém, refletiu, no semblante contristado, a dor que o aguardava após o torvelinho da exaltação da massa em desassossêgo.
Inquirido pelos condutores de varapaus, após o beijo de Judas, se era Ele o buscado, não titubeou em assentir, afirmando: - "Eu o sou".
Experimentando as mais cruas acusações sem uma palavra de defesa, na mais dura soledade, sem uma só exigência, Jesus deu o testemunho mais pesado através da agonia
pelo amor, e, sem qualquer constrangimento, se manteve em serenidade admirável, para ensinar que a dinâmica da vitória sôbre si mesmo é resultante do auto-descobrimento
e da aplicação das próprias fôrças no exercício do perdão incondicional a situações, pessoas e coisas da rota evolutiva.
* * *
Em qualquer situação em que te vejas colocado impostergàvelmente, considera a serenidade dinâmica que produz equilíbrio e que resulta da ponderação demorada,
para agires com acêrto e atingires o ápice da tua integração no apostolado do amor verdadeiro.
*
"Vai-te em paz".
Lucas: capítulo 7º, versículo 50.
*
"Aquele, pois, que muito sofre deve reconhecer que muito tinha a expiar e deve regoeijar-se à idéia da sua próxima cura. Dêle depende, pela resignação, tornar
proveitoso o seu sofrimento e não lhe estragar o fruto com as suas impaciências, visto que, do contrário, terá de recomeçar".
Capítulo 5º - Item 10.
20
RETORNO
Retornarás!
Por mais longos sejam os teus dias na Terra, durante a abençoada jornada corpórea, dia luze em que retornarás à Pátria espiritual que é o teu berço de origem
e a sagrada morada onde permanecerás nas emprêsas do porvir...
Medita!
Absorvida pela atmosfera, a linfa cantante flutua na nuvem ligeira para retornar ao seio gentil da terra que a conduzirá logo mais aos imensos lençÓis dágua do
subsolo, que afloram em correnteza cantante, mais além.
A semente exuberante enclausurada no fruto que balouça nos dedos da árvore retorna ao âmago do solo generoso donde prevejo.
Também o homem.
Afastado do círculo donde procede em excursão de lazer ou refazimento, de trabalho ou produtividade, de estudo ou repouso sente o chamado longínquo dos amôres
da retaguarda, retornando logo para o labor em que as emoções se renovam e as esperanças se realizam.
Muitos cantam a Pátria com o seu magnetismo e as suas tradições, explicando as evocações e os impulsos heróicos dos homens, seus sonhos de glória e suas lutas
de sacrifício. Assim, também, a Pátria do Espírito sempre presente nos painéis mentais como paisagens etéreas, porém vivas, longínquas, no entanto latejantes, murmurejando
salmodias, que se transmudam, às vêzes, em melancolias longas e tormentosas ou excitantes expectativas que exaltam o ser a providências sublimantes...
Considera a lição necessária do retôrno.
Como organizas equipagem, mimos e lembranças, arquivas roteiros e assinalas fatos para futuras narrações e imediatos aprestos, prepara a bagagem com apuro e justeza,
demorando-te em vigília para quando chegue o esperado momento da volta.
Retornarás, sim! Vive, pois, de tal modo, na laboriosa escola do corpo disciplinado e em equilíbrio, que facultem uma valiosa colheita de bênçãos a se transformarem
em luzeiro clarificante para o caminho espiritual por onde retornarás.
*
"Nós sabemos que já passamos da morte para a vida".
1ª Epístola de João: capítulo 3º, versículo 14.
*
"Ao entrar no mundo dos Espíritos, o homem ainda está como o operário que comparece no dia do pagamento. A uns dirá o Senhor: "Aqui tens a paga dos teus dias de
trabalho"; a outros, aos venturosos da Terra, aos que hajam vivido na ociosidade, que tiverem feito consistir a sua felicidade nas satisfações do amor próprio e
nos gozos mundanos: "Nada vos toca, pois que recebestes na Terra o vosso salário. Ide e recomeçai a tarefa".
Capítulo 5º - Item 12, parágrafo 5.
21
MEDO
Esmagadora maioria das criaturas padece a rigorosa constrição do mêdo. Adversário dos mais cruéis, o mêdo é responsável por tragédias inomináveis que varrem a
Terra em tôdas as direções, gerando clima nefando de atrocidades de classificação muito complexa.
Sob o comando do mêdo, homens e mulheres se atiram a dissipações venenosas, entregando-se a paulatino aniquilamento, do qual dificilmente se libertam.
Jovens em todos os hemisférios do planêta sofrem na atualidade os miasmas do mêdo, que os intoxicam, enlouquecendo-os de surpresa.
Não obstante as superiores conquistas do pensamento, as largas expressões da comunicação os debates francos e livres, as liberdades dos costumes, as realizações
tecnológicas preciosas para o contexto humano, nos dias modernos, falecem os ideais do enobrecimento e as linhas da sóbria razão, graças às tenazes do mêdo dominante
em todos os campos da ação.
A fuga espetacular dos deveres e os desregramentos sexuais são portas falsas pelas quais enveredam as hodiernas comunidades subitamente transformadas em manicômios
de largas proporções, permitindo-se os jovens, em razão disso, encontros periódicos e maciços para se sentirem uns aos outros e, ao impacto da música selvagem como
dos entorpecentes, esquecer, sonhar, embalar aspirações para êles irrealizáveis na sociedade chamada de consumo...
O mêdo de enfrentar problemas e solvê-los, como conseqüência do falso paternalismo do passado, empurra as mentes novas a formas diversas de expressão, muitas
delas inspiradas por outras mentes desencarnadas que intercambiam psiquicamente em clima obsidente de longo curso entre as duas esferas: aquém e além da morte.
Alimentado ou esmagado nos painéis da alma, raramente vencido nos combates face a face de cada dia, o mêdo se alonga e prossegue, mesmo quando o espírito desencarna,
permanecendo atado às reminiscências infelizes, anestesiado pela hipnose do pavor.
Dizimando em largas faixas da experiência humana, o mêdo não tem recebido o necessário investimento do estudo psicológico na Terra, quanto às suas raízes, que
se encontram cravadas nos recessos íntimos do espírito, bem como não tem merecido a justa apreciação para combatê-lo com os hábeis recursos, específicos, capazes
de o vencer e destruir.
* * *
O criminoso inqualificável que mata com requintes de sadismo e o suicida melancólico que investe, cobarde, contra a própria vida, sofrem a psicose do mêdo.
O grupo anarquista que consuma agressões revoltantes em nefastas maquinações da crueldade e o pai de família insensível no lar, ocultam-se nos rebordos do mêdo,
buscando ignorar a enfermidade que os desequilibra.
Na quase totalidade dos crimes que explodem, opressivos, encontram-se os rastros do mêdo sempre presente.
As constrições morais pungentes, econômicas apavorantes, sociais caóticas, educacionais de solução difícil, das enfermidades de caráter irreversível, se fazem
fatôres preponderantes para que grasse o mêdo, soberano. Em tal particular, desempenharam relevante papel as normas religiosas do passado que ensinavam o "temor"
em detrimento do amor" a Deus, os preconceitos exacerbados ante os quais a gravidade do êrro era ser êste conhecido e não apenas praticado, desde que se demorasse
ignorado, contribuíram expressivamente para a atmosfera que hoje se espalha célere e morbífica.
Contudo, as informações espíritas responsáveis pela natural realidade do além-túmulo, desvelando os falsos "mistérios" e elucidando os enigmas ontológicos, são
portadoras do antídoto ao mêdo, mediante a confiança que ministra aos que se abeberam da sua água lustral, penetrando de paz quantos se comprazam em meditar e agir
com segurança nas diretrizes de fácil aplicação.
O labor fraternal, o culto doméstico do Evangelho, o pensamento de otimismo freqüente e o recolhimento da oração, a par do uso da água magnetizada e do passe,
produzem expressiva terapêutica valiosa e de imediatos resultados para a
aquisição da saúde e da renovação, combatendo o mêdo.
* * *
Retornando da sepultura vazia, disse Jesus aos discípulos amedrontados: "Sou eu, não temais".
Todo o Evangelho é lição viva de sadia tranqüilidade e elevado otimismo.
Ora reeditado através do Espiritismo, é o mais eficaz processo psicológico atuante, capaz de edificar nos corações e nos espíritos conturbados do presente a consubstanciação
das promessas de Jesus:
"Eu vos dou a minha paz.
"Eu ficarei convosco por todo o sempre.
"Vinde a mim os cansados e oprimidos.
"Tende bom ânimo: eu venci o mundo!"
Reflitamos, e, sem receio, avancemos construindo com o amor a fim de que o amor nos responda à sementeira de esperança, com a floração da paz e da alegria a benefício
de todos.
*
"Não temais: ide avisar a meus irmãos que se dirijam à Galiléia e lá me hão de ver".
Mateus: capítulo 28º, versículo 10.
*
"A calma e a resignação hauridas da maneira de considerar a vida terrestre e da confiança no futuro dão ao espírito uma serenidade, que é o melhor preservativo contra
a loucura e o suicídio".
Capítulo 5º - Item 14.
22
INCOMPREENSÃO E FIDELIDADE
A consideração que desfrutavas, sübitamente desapareceu e passaste a engrossar as fileiras dos que padecem difamações, entre doestos sibilinos e acusações impiedosas.
As palavras bordadas de melodias que cantavam aos teus ouvidos, agora chegam agressivas, arrasadoras, como trovoada que prenuncia tempestade imediata.
Os sorrisos murcharam em muitos lábios, hoje contraídos em ríctus de amargura, quando não de cólera prestes a explodir em fúria destrutiva.
As afeições que insinuavam segurança e as amizades que produziam ruido, sem que possas explicar, se converteram em sombrias ameaças como tiranos soezes, que não
ocultam os sentimentos acalentados interiormente.
As mãos da fraternidade sempre distendidas a fim de envolver-te, recolheram-se e cederam lugar a tenazes que poderiam dilacerar-te com inusitada crueza.
A alfândega da cordialidade que trazia as portas abertas para os tesouros da tua alegria, jaz cerrada, e fiscais impenitentes conferem as suas bagagens, comprazendo-se
em afligir-te demasiadamente, através de referências odientas quão inconcebíveis.
Estranha amargura domina as ambições e os sonhos do teu espírito, enquanto sombras densas comandam os teus painéis mentais.
Não estranhes o cometimento necessário de dor e o suplemento de agonia que te chegam. Constituem indispensável processo de burilamento que não podes postergar.
Facilidade é sinônimo de amolentamento do caráter.
Cicatriz é ônus que a ferida exige ao organismo para liberá-lo.
Teste, avaliação de fôrça e capacidade são medidas aplicáveis para verificação de aprendizagem.
* * *
Em nenhum momento Jesus prometeu a Terra dos homens aos seguidores da Boa Nova.
Tôdas as suas doações se referem ao Reino dos Céus, que ora está sendo levantado entre as criaturas, tendo em vista que as suas fundações só a pouco e pouco penetram
na rocha dura das almas.
Disse Êle que o "caminho é apertado" e "a porta estreita", reservando àqueles que lhe fôssem fiéis o mesmo cálice que sorveu.
Não é, portanto, estranhável, desde que O sigas em regime de fidelidade, que te sintas deslocado, expulso da roda da comodidade pelos salteadores da paz alheia,
cultivadores da insensatez, usurpadores dos bens de todos.
Renteando com êles, enquanto não te conheciam e criam na possibilidade de subornar-te a alma sensível, para envileceres a mensagem de que te fazes portador, por
coerência, mensageiro do Senhor, utilizavam-se de oferenda mentirosa das aparências para conquistar-te.
Constatando, porém, que o Evangelho é luz, e o Senhor é Rei, ante a impossibilidade de os destruírem, planejam destroçar-te, silenciando-te o verbo, ferindo-te
até as entranhas, calcinando tuas horas ou amordaçando-te.
Pigmeus não enfrentam gigantes. Traem-nos ou aliciam outras fôrças para engendrarem o combate, no qual seriam esmagados, não fOssem utilizadas a astúcia e a intriga,
que pensam dominar as cidadelas da força nobre por dentro, Invencíveis, todavia, na sua nobre estrutura.
Liga-te, mais, portanto, ao Senhor.
Passaram os enganosos favores que supunhas receber. Também passarão as débeis perseguições que ora experimentas
Içando o Espírito ao Amigo Divino, dar-te-á Êle desconhecida coragem e ignorada resistência, revestindo-te de dúlcida alegria, enquanto perseveres no cumprimento
do dever reto, no qual avanças na direção das estrêlas.
Se sentires, nessa luta, o cêrco de outras fôrças conjugadas àquelas que pertencem aos teus antigos amigos, hoje transformados em irmãos atormentados, recorda
dos Espíritos Infelizes, que se rebolcam além do túmulo em desespero e rebeldia, comprazendo-se em os afligir e os azucrinar - como fuga para a própria desdita -,
envolvendo-os na luz da oração, de modo a ajudá-los, conquanto não te compreendam o gesto fraternal nem creiam na honestidade dêle, entregando-os todos ao Excelso
Benfeitor em regime de totalidade, a fim de permaneceres em paz.
*
"Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa".
Mateus: ´capítulo 5º, versículo 11.
*
"Quando vos advenha uma causa de sofrimento ou de contrariedade, sobre ponde-vos a ela, e, quando houverdes conseguido dominar os ímpetos da impaciência,
da cólera, ou do desespêro, dizei, de vós para convosco, cheio de justa satisfação: "Fui o mais forte".
Capítulo 5º - Item 18 parágrafo 2.
23
ACUSAÇÕES E ACUSADORES
Quando o estudante da Boa Nova se adentrou pela senda luminosa do esclarecimento renovador, sentiu-se dominado por ignota emoção, permitindo-se arrastar por aspirações
superiores, planejando programas abençoados a favor da própria paz e em volta dos passos que pretendia imprimir pela rota.
Tudo sorriam flõres, ofertando largas dádivas de alegrias: amigos gentis, esclarecedores, de segura aparência interior, como se se encontrassem realmente forjados
nos altos fornos do sofrimento e da abnegação; tarefas múltiplas favoráveis, em clima de fraternidade convidativa; oportunidades felizes de exercitar as lições vivas
do Mestre no convívio comunitário...
Entusiasmo singular dominou-o com as mais agradáveis impressões que se convertiam em convites à doação total.
Legitimamente concitado à construção dos postulados formosos no dia-a-dia das lutas, envidou esforços e entregou-se ao labor.
A princípio, incipiente, era dirigido pelos companheiros mais experimentados, desconhecendo a escolha de serviços e a todos se entregando com alto espírito de
abnegação.
Passou a despertar interêsse e granjeou simpatias, inspirando respeito A ociosidade que estava à espreita, vigilante, bradou por uma bôca malsã: "Tudo no comêço
é fácil. Vejamos daqui a alguns anos".
Não obstante a decepção sofrida, o candidato ao bem afervorou-se mais e insistiu na realização dos serviços nobres.
A maledicência que lhe seguia os passos, almejando ensejo, não aguardou mais tempo e blasonou:
"Parece o dono da Casa, e apenas chegou ontem. Presunçoso e fingido, dará o golpe, quando menos se espere".
O estudante da lição evangélica anotou o apontamento soez e, embora sofrendo, superou os próprios melindres, laborando Infatigável.
A inveja que lhe não perdoava a ação elevada, surpreendeu-o através dos companheiros de trabalho e destilou veneno: "Interesseiro e falso que é. Será que pretende
tomar todo o trabalho nas suas mãos? Não pergunta nada a ninguém e crê-se auto-suficiente. Merece desprêzo e expulsão antes que seja tarde demais".
O servidor da gleba, coração ralado, asfixiou as lágrimas e, orando pelos ofensores, prosseguiu confiante.
A viciação segura das vitórias incessantes a que se acostumara nas continuas investidas à fraqueza humana, fêz cerrado sitio e requisitou a seu serviço a sensualidade,
que após os primeiros cometimentos foi rechaçada.
Ferida no brio, convocou a vaidade que envolveu o lidador no incenso da palavra vã, esparzindo os fluídos do egoísmo em forma de ardilosas insinuações que redundaram
Inoperantes. O subõrno pelo dinheiro foi, então, estimulado, e como não conseguisse desligar da órbita dos deveres o discípulo afervorado, êste, com os recursos
de que dispunha, passou a engendrar dificuldades, multiplicando óbices e malquerenças onde medrava o despeito e campeava a disputa das cogitações inferiores.
Embrulhado, todavia, nas vibrações da prece, o seareiro da luz insistiu no serviço edificante, apesar da dor que o trespassava interiormente.
Nesse ínterim, porém, a calúnia resolveu comparecer ao campo das ações variadas, e, afrontosa, se impôs o compromisso de cravar as garras nas carnes da alma do
operário incansável, O ácido da acusação indébita, produzindo a impiedade, desvelou os inimigos que jaziam ocultos e o fel do descrédito cobriu-lhe as pegadas; o
enfado antecipou-lhe o avanço e malquerença, abraçada à ignorância, armou áspera e alta muralha; todavia, cansado e humilhado, o servo do Cristo se negou saltá-la,
deixando-se abater, então, pelos ardis da calúnia hàbilmente manejada pelas mãos da mentira que, confundindo os frívolos e os vãos, estabeleceu primado, transformando
o antes verde campo de esperança em caos de dor e reduto de animalidade...
* * * .
Entrega-te a Deus, Nosso Pai, e deixa-te conduzir por Ele docilmente, confiantemente, até o momento da tua libertação...
Eles, também, os teus acusadores experimentarão em breve o trânsito para a própria libertação. Perdoa-os, e insiste no bem, haja o que haja, certo de que Jesus,
a Quem amas, continuará com êles, mas contigo também.
*
"Não te envolvas na questão dêste Justo".
Mateus: capítulo 27º, versículo 19.
4
"O Senhor apôs o seu sêlo em todos os que nêle crêem. O Cristo vos disse que com a fé se transportam montanhas e eu vos digo que aquêle que sofre, e tem a fé por
amparo, ficará sob a sua égide e não mais sofrerá.
Capítulo 5º - Item 19 parágrafo 4.
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MÁGOA
Síndrome alarmante, de desequilíbrio, a presença da mágoa faculta a fixação de graves enfermidades físicas e psíquicas no organismo de quem a agasalha.
A mágoa pode ser comparada à ferrugem perniciosa que destrói o metal em que se origina.
Normalmente se instala nos redutos do amor próprio ferido e paulatinamente se desdobra em seguro processo enfermiço, que termina por vítimar o hospedeiro.
De fácil combate, no início, pode ser expulsa mediante a oração singela e nobre, possuindo, todavia, o recurso de, em habitando os tecidos delicados do sentimento,
desdobrar-se em modalidades várias, para sorrateiramente apossar-se de todos os departamentos da emotividade, engendrando cânceres morais irreversíveis. Ao seu lado,
instala-se, quase sempre, a aversão, que estimula o ódio, etapa grave do processo destrutivo.
A magoa, não obstante desgovernar aquêle que a vitaliza, emite verdadeiros dardos morbíficos que atingem outras vítimas incautas, aquelas que se fizeram as causadoras
conscientes ou não do seu nascimento...
Bôrra sórdida, entorpece os canais por onde transita a esperança, impedindo-lhe o ministério consolador.
Hábil, disfarça-se, utilizando-se de argumentos bem urdidos para negar-se ao perdão ou fugir ao dever do esquecimento.
Muitas distonias orgânicas são o resultado do veneno da mágoa, que, gerando altas cargas tóxicas sôbre a maquinaria mental, produz desequilíbrio no mecanismo
psíquico com lamentáveis conseqüências nos aparelhos circulatório, digestivo, nervoso...
O homem é, sem dúvida, o que vitaliza pelo pensamento. Suas idéias, suas aspirações constituem o campo vibratório no qual transita e em cujas fontes se nutre.
Estiolando os ideais e espalhando infundadas suspeitas, a mágoa consegue isolar o ressentido, impossibilitando a cooperação dos socorros externos, procedentes
de outras pessoas.
* *
Caça implacavelmente êsses agentes Inferiores, que conspiram contra a tua paz.
O teu ofensor merece tua compaixão, nunca o teu revide.
Aquêle que te persegue sofre desequilíbrios que ignoras e não é justo que te afundes, com êle, no fôsso da sua animosidade.
Seja qual fôr a dificuldade que te impulsione à mágoa, reage, mediante a renovação de propósitos, não valorizando ofensas nem considerando ofensores.
Através do cultivo de pensamentos salutares, pairarás acima das viciaçôes mentais que agasalham êsses miasmas mortíferos que, infelizmente, se alastram pela Terra
de hoje, pestilenciais, danosos, aniquiladores.
Incontáveis problemas que culminam em tragédias quotidianas são decorrência da mágoa, que virulenta se firmou, gerando o nefando comércio do sofrimento desnecessário.
* * *
Se já registras a modulação da fé raciocinada nos programas da renovação interior, apura aspirações e não te aflijas.
Instado às paisagens Inferiores, ascende na direção do bem.
Malsinado pela Incompreensão, desculpa.
Ferido nos melhores brios, perdoa.
Se meditares na transitoriedade do mal e na perenidade do bem, não terás outra opção, além daquela: amar e amar sempre, impedindo que a mágoa estabeleça nas fronteiras
da tua vida as balizas da sua província infeliz.
*
"Quando estiverdes orando, se tiverdes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe, para que vosso Pai que está nos Céus, vos perdoe as vossas ofensas".
Marcos: capítulo 11º, versículo 25.
*
"Não sou feliz! A felicidade não foi feita para mim! exclama geralmente o homem em tôdas as posições sociais. Isto, meus caros filhos, prova melhor do que todos
os raciocínios possíveis, a verdade desta máxima do Eclesiastes: "A felicidade não é deste mundo".
Capítulo 5º - Item 20.
25
VELÓRIOS
Diante do corpo de alguém que demandou a Pátria Espiritual, examina o próprio comportamento, a fim de que não te faças pernicioso, nem resvales pelas frivolidades,
que nesse instante devem ser esquecidas.
O velório é um ato de fraternidade e de afeição aos recém-desencarnados que, embora continuem vinculados aos despojos, não poucas vêzes permanecem em graves perturbações.
Imantados à organização somática, da qual são expulsos pelo impositivo da morte, que os surpreende com o "milagre da vida", não obstante em outra dimensão, desesperam-se,
experimentando asfixia e desassossegos de difícil classificação, acompanhando o acontecimento, em crescente inquietude.
Raras pessoas estão preparadas para entender o fenômeno da morte, ou possuem suficientes recursos de elevação moral a fim de serem trasladadas do local mortuário,
de modo a serem certificadas do ocorrido em circunstâncias favoráveis, benignas.
No mais das vêzes, atropelam-se com outros desencarnados, interrogam os amigos que lhes vêm trazer o testemunho último aos despojos carnais, caindo, quase sempre,
em demorado hebetamento ou terrível alucinação...
Em tais circunstâncias, medita a posição que desfrutas nos quadros da vida orgânica, considerando a inadiável imposição do teu regresso à Espiritualidade.
* * *
Se desejas ajudar o amigo em trânsito, cujo corpo velas, ora por êle.
No silêncio a que te recolhes, evoca os acontecimentos felizes a que êle se encontrava vinculado, os gestos de nobreza que o caracterizaram, as renúncias que
se impôs e os sacrifícios a que se submeteu... Recorda-o lutando e renovando-se.
Não o lamentes, arrolando os insucessos que o martirizaram, as aflições em rebeldia que experimentou.
O chôro do desespero como as observações malévolas, as imprecações quanto às blasfêmias ferem-nos à semelhança de ácido derramado em chagas abertas.
De forma alguma registres mágoas ou desaires entre ti e êle, os vínculos da ira ou as cicatrizes do ódio ainda remanescentes.
Possivelmente êle te ouvirá as vibrações mentais, sem compreender o que se passa, ou sofrerá a constrição das tuas memórias que acionarão desconhecidas fôrças
na sua memória, que, então, sintonizará contigo, fazendo que as paisagens lembradas o dulcifiquem - se são reminiscências felizes - ou o requeimem interiormente
- se são amargas ou cruéis - fomentando estados íntimos que se adicionarão ao que já experimenta.
A frivolidade de muitos homens tem transformado os velórios em lugares de azêdas recriminações ao desencarnado, recinto de conversas malsãs, cenáculo de anedotário
vinagroso e picante, sala de maledicências insidiosas ou agrupamento para regabofes, onde o respeito, a educação, a consideração à dor alheia, quase sempre batem
em retirada...
E não pode haver uma dor tão grande na Terra, quanto a que experimenta alguém que se despede de outrem, amado, pela desencarnação!
* * *
Sem embargo, o desencarnado vive.
Ajuda-o nesse transe grave, que defrontarás também, quando, quiçá, êsse por quem oras hoje seja as duas mãos da cordialidade que te receberão no além ao iniciares,
por tua vez, a vida nova...
Unge-te, pois, de piedade fraternal nas vigílias mortuárias, e comporta-te da forma como gostarias que procedessem para contigo nas mesmas circunstâncias.
*
"Deixai que os mortos enterrem os seus mortos".
Lucas: capítulo 9º, versículo 60.
*
"Vós, espíritas, porém, sabeis que a alma vive melhor quando desembaraçada do seu invólucro corpóreo".
Capítulo 5º - Item 21, parágrafo 5.
26
DIRETRIZES
Cresce a planta atraida pelo sol. Avança o rio buscando o mar.
Renova-se a árvore desdobrando ramos e enrijando fibras.
Engrandece-se o amor distribuindo bênçãos.
Sofre o homem sublimando aspirações.
A manifestação da misericórdia divina chega à Terra em diretrizes imutáveis que são leis inamovíveis, fomentando o progresso.
No limiar da vida, o princípio sspiritual são fascículos de luz.
No mineral a vida repousa e dorme. No vegetal a vida sonha e sente.
No animal a vida se desenvolve e adquire instintos que a resguardam.
No homem a vida se levanta e compreende. No anjo a vida se liberta e engrandece.
A constante diretriz é crescer, superar, aperfeiçoar.
* * *
Modela-se o vaso saindo da lama desprezada graças às ágeis mãos do oleiro; a utilidade doméstica toma forma sob a lâmina vigorosa do instrumento que fere a madeira,
aprimorando-a para se tornar comodidade e confôrto; encandece-se o minério e se faz moldável ao império do calor que o aquece; aprimora-se o homem através dos atos
que lhe traçam os dias na terra, plasmando nêle os valôres da ascensão ou da queda, aos quais se afeiçoe.
Em tudo palpita a ordem, em todo lugar vibra o equilíbrio, se manifesta Q vigor da Lei.
O chicote que vergasta nem sempre está punindo; não poucas vêzes trabalha pela retificação do infrator.
A reprimenda não tem caráter de humilhação; antes é advertência para evitar nôvo êrro.
A bitola que limita também ministra a bênção da direção, tanto quanto o trilho que obriga a máquina a deslizar nêle imprime-lhe diretriz segura para atingir o
objetivo ao qual se destina.
É necessário, pois, que em nossos atos esteja presente sempre a ordem, essa filha da obediência e irmã da disciplina, formando uma harmônica tríade para o nosso
sucesso na materialização dos objetivos elevados que perseguimos.
Examinemos com a necessária atenção o ensinamento do Mestre que, desejando administrar-nos preciosa lição, sintetizou sublimes discursos na singeleza dêste postulado:
"Conhece-se a árvore pelo fruto", deixando que se compreendesse que os seus seguidores se fariam identificar pelos atos.
Para que te possas tornar conhecido como discípulo do Senhor é necessário agires no bem, infatigàvelmente. Para tal é imprescindível que imprimas em todos os
compromissos a austera diretriz do Evangelho vivo e vibrante como normativa segura para a própria felicidade.
*
"Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros".
João: capítulo 13º, versículo 35
*
"Que, pois, o Espiritismo vos esclareça e recoloque, para vós, sob verdadeiros prismas, a verdade e o êrro, tão singularmente deformados pela vossa cegueira!
Agireis então como bravos soldados que, longe de fugirem ao perigo, preferem as lutas dos combates arriscados, à paz que lhes não pode dar glória, nem promoção!"
Capítulo 5º - Item 24, parágrafo 5.
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SACRIFÍCIO
Não cogites de eliminar da órbita das atividades a que te vinculas, objetivando a redenção do próprio espírito, o sacrifício, que é cantinho de redenção.
Todos os pés que transitam pelas dificuldades aprendem a contornar obstáculos e a vencer impedimentos. As mãos que se calejam no afã sublime da produtividade
perdem a sensibilidade às coisas vãs que agradam a cobiça e a insensatez, e o corpo, em geral, disciplinado pela continência e educado na contenção, transforma-se
em veículo dúctil e nobre ao cumprimento dos deveres superiores da vida.
Sacrifício é, também, atestado inequívoco de devoção ao bem e à verdade.
Examina a história dos crucificadores e vê-los-ás triunfantes sob o aplauso da ilusão enlouquecida, carregados em triunfo momentaneamente, enquanto os crucificados
permanecem em silêncio. Logo, porém, êles passam e aquêles que foram as suas vítimas levantam-se do olvido para perpetuarem, através do martírio de que foram instrumento,
os ideais nobilitantes da vera Humanidade.
* * *
Falar-te-ão da necessidade de poupares as tuas energias quando aplicadas ao Bem; conclamar-te-ão à inutilidade do nada e à vaidade enganosa, como explicando
a nulidade do investimento homem, nos turbulentos dias da atualidade; estimular-te-ão emoções grosseiras, o cultivo de idiossincrasias, fazendo-te aferrado ao azedume,
à intolerância e à perniciosidade.
Outras bõcas apresentarão aos teus ouvidos os convites da felicidade, qual estupefaciente que absorvido produz o sonho ilusório, antecedendo o despertar da crua
e inditosa realidade...
Quando, porém, fascinado pela quimera perceberes o engôdo em que caíste e desejares retornar; quando descobrires que tudo não passou de um sonho de loucura acalentado
numa hora de angústia; ao perceberes que estes na Terra e que por enquanto o Planêta se mantém sob o fragor das provações e o sôpro dos sofrimentos e desejares buscar
aquêles que foram comparsas da tua desdita, possivelmente não os encontrarás receptivos nem ateveis ao teu lado...
Consultados dir-te-ão: "Não sabias? Que espe ravas do mundo, tu que emboscaste o Cristo no coração e o atiraste fora, no lôdo da paixão? Agora, caro amigo, é
contigo".
Verificarás, então, somente na via da soledade, o pêso do remorso e o travo de amargura sem nome. Nessa hora, todavia, com sacrifício te imporás o recomêço difícil
e necessário.
Sacrifica-te, pois, antes, renunciando, não cedendo ao mal, olvidando vaidades e superstições. Sacrifica à vida a tua vida para que a paz te entesoure as moedas
da harmonia interior.
Chegarás, depois, à conclusão do porque Ele, teu Amigo Divino, preferiu o sacrifício a todo instante, desde as palhas úmidas de um estábulo pobre, às jornadas
a pé sob sol causticante, o encontro e a convivência com as pessoas mal cheirosas dos caminhos, em regime de misericórdia para com os pecadores e infelizes até a
hora da cruz de ignomínia e de horror, sacrificando-se sempre para a fulguração perene como Rei Excelso em plena Glória Solar.
*
"O reino dos céus é tomado à fôrça, e os que se esforçam, são os que o conquistam".
Mateus: capítulo 11º, versículo 12.
*
"O verdadeiro devotamento consiste em não temer a morte, quando se trate de ser útil, em afrontar o perigo, em fazer, de antemão e sem pesar, o sacrifício da vida
se fôr necessário"
Capítulo 5º - Item 29, parágrafo 2.
28
GRATULAÇÃO
No torvelinho das aflições, fácil é para o homem esquecer-se das doações superiores com que o Senhor da Vida o aquinhoou.
Por qualquer insignificante problema, a contrariedade lhe tisna a lucidez, fazendo que blasfeme ou se desgaste em injustificável rebelião.
Diz-se comumente que a vida não merece ser vivida, pois que somente decepções e lutas se amontoam por todo lado, em tôrva conspiração contra a paz.
E há tanta beleza e harmonia na Terra!
No entanto, acostumado às bênçãos, não as aquilata devidamente, reportando-se ao seu valor somente quando as circunstâncias o privam de qualquer uma dessas concessões.
Necessário é, portanto, sair um pouco do castelo do eu para examinar com lucidez a Casa do Pai Criador e valorizar os tesouros de que pode dispor, exaltando a
glória do viver.
* * *
Se possuís visão, recorda os que a perderam. Se dispões da audição, pensa nos que não conseguem ouvir.
Se podes movimentar-te, evoca os limitados na paralisia.
Se desfrutas saúde, considera os padecentes das múltiplas enfermidades.
Se és aquinhoado com um lar, examina a situação dos desabrigados.
Se te fizeste pai ou mãe, tem em mente os que não lograram fruir tal aspiração.
Se reténs os valôres transitórios, medita a respeito dos que nada possuem.
Mas se te escasseia esta ou aquela dádiva, tem paciência e espera.
Ninguém na Terra se encontra afortunadamente completo, como ninguém há que esteja em abandono total.
Aquêles que te parecem felizes, apenas parecem. E os que se te afiguram desgraçados, estão temporariamente resgatando dívidas, dirigidos por sábios desígnios.
Gratidão é rara moeda entre os homens. Habituados à ambição desenfreada, da vida somente desejam gozar, sem outra aspiração, aquela que conduz à plenitude permanente,
a dos valôres imperecíveis.
* * *
Os problemas são frutos da inércia do próprio homem que, negligente, acumula dificuldades, por egoísmo, desaire ou precipitação -
A vida é um desafio que merece carinhoso esfôrço de coragem e significativa contribuição de trabalho.
Ser grato pela oportunidade de crescer, significa o mínimo que se pode responder a êsse empreendimento que é a reencarnação.
Todos rogam atingir novas metas, sem embargo não se fazem reconhecidos do Senhor pelos alvos lobrigados.
Gratidão, por isso, nas horas da agonia, como do testemunho, mediante a humildade ante as provações redentoras, necessárias.
Em qualquer situação em que te encontres, agradece a Deus, abençoando por meio da confiança no futuro as horas difíceis do presente.
Convidado diretamente ao desespêro, não olvides as alegrias fruídas, e, conduzido à rebeldia, recua na direção da paz já desfrutada.
Reconhecido ao Pai Amantíssimo, Jesus, mesmo perseguido, incompreendido, atormentado, permaneceu tranqüilo e fiel em confiança absoluta, como a expressar Sua
sublime gratidão.
*
"Um dêles, vendo-se curado, voltou, dando glória a Deus, em alta voz, o prostrou se com o rosto em terra aos pés de Jesus, agradecendo-lhe".
Lucas capítulo 17º, versículos 15 e 16.
*
"Todos os sofrimentos: misérias, decepções, dores físicas, perda de seres amados, encontram consolação em a fé no futuro, em a confiança na justiça de Deus, que
o Cristo veio ensinar aos homens. Sôbre aquêle que, ao contrário, nada espera após esta vida, ou que simplesmente duvida, as aflições caem com todo o seu peso e
nenhuma esperança lhes mitiga o amargor - Foi isso que levou Jesus a dizer: Vinde a mim todos vós que estais fatigados, que eu vos aliviarei".
Capítulo 6º - Item 2.
29
LOUVOR AO LIVRO ESPÍRITA
Fixa-se na epopéia da Boa Nova o verbo divino relatado pela palavra dos evangelistas, retratando a jornada do inesquecível Rabi Galileu, ensejando à posteridade
de todos os tempos a incomparável mensagem de redenção para os homens.
Antes disso, desde Hamurábi, que registrava em estelas de pedras a intuição do Alto, dando origem aos códigos de moral que norteariam os passos das criaturas
na direção do bem, homens inspirados, heróis do pensamento e santos da ação relevante, gravaram as instruções do Mundo Superior, em tijolos, pedras, papiros, peles,
pergaminhos, madeiras e papel, oferecendo preciosos legados para as idades futuras, como contribuição inalienável da felicidade humana.
Em todas as épocas, desde as mais recuadas, o verbo, ora na eloqüência do discurso oral, ora através do livro abençoado, tem sido mensagem de Deus que chega à
Terra, a fim de conclamar mentes e corações ao nobre ministério da evolução -
Retratando estágios das diversas civilizações, construindo idéias, levantando impérios, a palavra sadia é semente de luz atirada ao solo dos séculos pela excelsa
providência de Nosso Pai, atestando a Sua comunhão com as criaturas.
Foi por essa razão que os Espíritos Superiores, encarregados de apresentar ao emérito Codificador do Espiritismo as linhas básicas da Religião da Humanidade para
o porvir, foram peremptórios nos postulados do amor e da instrução, como corolários essenciais da Caridade.
No amor o homem sublima os sentimentos e marcha no rumo nobilitante da felicidade, amparando e ajudando em nome de Jesus.
Mediante a instrução, a criatura se liberta das amarras da ignorância, estabelecendo a ponte de luz entre os abismos que o separam dos objetivos que persegue.
A instrução, no sentido superior da educação, que é construção e preservação da paz no íntimo, consegue conduzir o amor, para que este não se entorpeça nem se
envileça ante as paixões individuais ou as expressões poderosas de grupos, refletindo aquele sentimento com o qual Jesus nos amou.
Assim considerando, ontem como hoje, o livro é pão da vida, preparado com o trigo da sabedoria para sustentação das criaturas todos os dias.
* * *
Quando o canhão ameaça e a bomba dizima, o livro consegue silenciosamente modificar o statu quo e erguer os ideais que jazem amortalhados sob o pavor ou dormem
em baixo das cinzas da destruição, ou vencidos pelas labaredas do ódio, de modo a renovar as expressões da criatura em nome da paz, da liberdade e do amor.
O livro espírita, nesse sentido, guarda o hálito superior da vida para a manutenção das aspirações da Terra, no justo momento em que desajustados, os indivíduos
se atiram em louca e desabalada correria pelos sombrios meandros da indiferença, do descaso, do cinismo e da criminalidade.
O livro espírita, preservando a palavra do Mundo Maior para a clarificação do mundo menor, transcende a própria contextura, pois que nele são registradas
as experiências dos que passaram pela Terra e superaram o portal de cinza e lama da sepultura.
Bem-aventurado seja, pois, aquele que esparze alegria, o que doa pão, o que oferta medicamento, o que distende linfa generosa, o que concede agasalho, mas, sobretudo,
o que planta o futuro, luarizando com a palavra espírita inserta no livro libertador a grande noite da ignorância, na qual padecem os espíritos jugulados ao passado
delituoso ou atados às reminiscências dolorosas sob o talante com que renasceram para resgatar e libertar-se.
Jesus, o Mestre por excelência, até hoje trabalha, ensina e, tomando a Natureza como motivação superior, dela faz um livro divino para ofertar-nos preciosas lições
de amor e sabedoria com que prossegue conclamando-nOS à ventura plena e à paz integral.
Semeemos, pois, o livro espírita, e estaremos libertando desde agora o mundo de amanhã, com a madrugada da Era Nova de que o Espiritismo se faz mensageiro.
*
"Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito".
João: capítulo 14º, versículo 26.
*
"Venho, como outrora aos transviados filhos de Israel, trazer-vos a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me, O Espiritismo, como o fez antigamente a minha
palavra, tem que lembrar aos incrédulos que acima deles reina a imutável verdade: o Deus bom, o Deus grande, que faz com que germinem as plantas e se levantem as
ondas. Revelei a doutrina divinal Como um ceifeiro, reuni em feixes o bem esparso no seio da Humanidade e disse: Vinde a mim, todos vós que sofreis".
Capítulo 6º - Item 5.
30
RESIGNAÇÃO
Na atual conjuntura intelectual do planêta e considerando-se o clima de rebeldia que irrompe virulenta por tôda a parte, a resignação para os aficcionados da
violência e do prazer é manifestação patológica que tipifica as personalidades anômalas.
Diante do conceito disparatado e frágil, muitos se auto-afirmam pelos desmandos, quando convidados às paisagens da reflexão, pelo sofrimento, gerando males muito
mais danosos do que aquêles dos quais pretendem fugir -
Porque os seus planos colimam resultados diversos aos que aguardavam, atiram-se ao desalento, quando não partem para as reações abastardantes da crueldade ou
do cinismo.
Se as enfermidades chegam, exasperam-Se, bandeando para a revolta, intoxicando-se interiormente com as emanações venenosas do inconformismo.
Quando os insucessos lhes drenam as ambições desmedidas, desgarram-se para os "sonhos róseos" dos estupefacientes e barbitúricos.
Diante das necessárias provações que os colocariam nas corretas engrenagens da máquina da vida, vituperam, ferozes e se destroçam nos abusos do sexo e do álcool,
em dissipações inomináveis a que se arrojam.
Suas resistências são tôdas comandadas pelos impulsos da ira ou da insatisfação, distantes das reações construtivas da inteligência que discerne, lógica e produz.
A resignação para êles é cobardia moral no entanto, fogem à realidade até que a desencarnação os surpreende tardiamente com as realidades verdadeiras da vida,
das quais se afastaram, encetando a partir daí longos períodos de sombra, dor e desassossego inimaginável.
* * *
Tu que ouviste a voz da mansuetude do Cristo e que te encorajaste face à grandeza da Sua vida, resigna-te, fortalecendo o ânimo, ante qualquer cometimento que
te produza dor e que seja rotulado como desgraça ou infortúnio.
Nada ocorre por capricho pernicioso da vida. Recebemos conforme damos, assim como colhemos consoante a qualidade dos grãos que ensementamos.
Resignação significa coragem e fôrça na voragem do desespêro. Somente os cristãos autênticos e os homens possuidores de elevados ideais se fazem capazes de resignar-se
quando o desalento e a alucinação já se apossaram de outros seres.
Os que se encastelam nas chacinas e nos desvãos da anarquia, dizendo-se superiores, são meninos medrincas, que não dispõem de energias para se reorganizarem e
prosseguirem na atitude reta.
Se te convidam ao revide - resigna-te e ora.
Se te convocam ao ódio - resigna-te e confia.
Se te afrontam com agressões - resigna-te e agradece a Deus.
Os dias sempre e inevitavelmente se sucedem para bons e maus, e ninguém se eximirá jamais ao amanhã que a todos alcança, refletindo na claridade forte e pujante
do tempo a manifestação - resposta dos nossos atos nas mesmas expressões com que desde hoje as produzimos.
Resignação, também, é vida, e vida abundante, na direção da vida eterna.
*
"Vinde a mim, todos vós que estais aflitos e sobrecarregadOS, que eu vos aliviarei.
Mateus: capítulo 11º, versículo 28.
*
"O sentimento do dever cumprido vos dará repouso ao Espírito e resignação. O coração bate então melhor, a alma se asserena e o corpo se forra aos desfalecimentos,
por isso que o corpo tanto menos forte se sente, quanto mais profundamente golpeado é o Espírito". - O ESPÍRITO DE VERDADE. (Havre, 1863).
Capítulo 6º - Item 8.
31
AINDA A HUMILDADE
A fôrça da humildade!
Grandiosa, passa na maioria das vêzes como fraqueza, ante os conceitos gastos da falsa moral. Tão nobre que se desconhece a si mesma.
Atravessa uma existência sem despertar atenção, e nisso reside a essência do seu valor.
Serva fiel do dever, não malbarata o tempo nas frivolidades habituais que exaltam os ouropéis. Avança sempre, produzindo com objetividade na direção dos fins
que busca colimar.
A humildade é muito ignorada.
Virtude excelente é precioso aroma de sutil característica que vitaliza os que a conduzem.
Toma diversas aparências conforme as necessidades das circunstâncias em que se manifesta.
Aqui é renúncia, cedendo a benefício geral, esquecida de si mesma.
Adiante é perdão a serviço da paz de todos.
Além é bondade discreta, produzindo esperança.
Hoje é indulgência para oferecer nova oportunidade.
Amanhã é beneficência para manter a misericórdia.
É sempre a presença de Jesus edificando a felicidade onde quer que escasseie a colheita de luz.
A humildade, porém, somente é possível quando inspirada nos ideais da verdade.
Enquanto o homem não se abrasa da certeza da vida superior, a humildade não lhe encontra guarida.
Sabendo que a Terra é uma escola de experiências e ensaios da vida para a verdade, do mundo somente lhe vê as oportunidades de progresso, compreendendü a necessidade
de aproveitar as horas.
Todos os grandes heróis do pensamento, os mártires da fé e os santos da renúncia para lobrigarem o êxito dos objetivos a que ligaram a existência, se firmaram
na humildade por saberem do pouco valor que representavam ante as grandes diretrizes da vida.
A humildade em última análise representa submissão à vontade de Deus, doação plena e total às Suas mãos, deixando-se conduzir pela Sua Diretriz segura que governa
o Universo.
* * *
No culto da humildade não tenhas a presunção de resolver todos os problemas que te chegam. Preocupa-te em desincumbir-te fielmente dos deveres que te dizem respeito.
Qualquer tarefa, por mais insignificante que te pareça, é de alta importância no conjunto geral. Faze, portanto, a tua função no concêrto das coisas consciente
de que tua colaboração é preciosa e deve ser doada.
Não ambiciones a tarefa que te não diz respeito. Aprende a considerar o labor alheio e produze o teu serviço cônscio da significação do que realizas, adornando
de belezas o que passe pelo crivo do teu interêsse e do teu zêlo.
Responderás diante da vida não pelo que gostarias de ter proporcionado, mas pelo que tiveste diante das possibilidades e de como te comportaste ante a ensancha.
Cultiva a humildade.
A humildade pela força da sua fraqueza nunca vai ser atingida: a lisonja não a envaidece, e a zombaria não a humilha. É inatingível pelo mal em qualquer expressão
como se apresente.
Olha o firmamento e faze um paralelo: as estrêlas faiscantes e tu! Compreenderás o valor da humildade.
* * *
Conquanto Jesus fôsse o Arquiteto Sublime da Terra, não desconsiderou a carpintaria singela de José; caminhou imensos trechos descampados de solos agrestes a
serviço do amor; conviveu com os mais difíceis caracteres sem melindres, sem falsa superioridade. Tão igual se fêz aos infelizes que o acompanhavam que nem todos
acreditaram fôsse Ele "o escolhido".
No entanto, ainda aí não usou a presunção de convencer a ninguém, fazendo tudo aquilo para quanto veio e depois retornou, sereno. sem abandonar os a quem veio
amar.
Lição viva e desafiadora, a Sua vida é convite para que meditemos e vivamos, incorporando à nossa existência essa pérola sublime da redenção espiritual: a humildade!
*
"Aquele que quiser tornar-se o maior, seja vosso servo".
Mateus: capítulo 20º, versículo 27.
*
"A humildade é virtude muito esquecida entre vós. Bem pouco seguidas são os exemplos que dela se vos têm dado. Entretanto, sem humildade, podeis ser caridosos com
o vosso próximo?"
Capítulo 7º - Item 11, parágrafo 3.
32
COM DISCERNIMENTO
Não somente os espinhos, mas as rosas também.
Não apenas os pedregulhos, igualmente a estrada.
Não exclusivamente as sombras, porém a claridade do dia.
Não só a enfermidade, também a saúde.
Não unicamente os desencantos, senão as esperanças e as alegrias.
* * *
O espinho que fere defende a rosa, e esta ignora que se evolando no leve ar da manhã aromatiza em derredor.
Os pedregulhos dilaceram os pés, entretanto, são parte da segurança na estrada, que oferece possibilidades de avanço na direção dos objetivos.
As sombras amedrontam, todavia, facultam, também, os recursos para o repouso, de modo a oferecerem forças para as atividades da luz.
A enfermidade que macera ajuda a valorizar a saúde e desperta o homem para a própria fragilidade orgânica, trabalhando pelo seu labor imortalista.
Os desencantos doem, enquanto convocam a mente e o sentimento para as esperanças e as alegrias da vida espiritual.
Todos os que deambulam no carro fisiológico, enganados momentâneamente pelas limitações da caminhada humana, gostariam de estar guindados aos tronos da vaidade,
sob as luzes abundantes quão transitórias dos refletores da glória, que provocam inveja e trabalham pela loucura.
Afadigados sob o peso das ambições, aparecem de sorrisos largos os cultores da alegria efêmera e coração estilhaçado pela ansiedade. Profissionais do bom humor
experimentam o travo insolvente do cansaço que não podem revelar, obrigados pela compulsória da bajulação popular a desvios da realidade até às alucinações odientas.
São afáveis por compromisso dos interêsses imediatos, trabalhando para a insânia das vacuidades impreenchíveis, que o despertar próximo ou remoto transformará
em travas de desesperação.
Invejados são também invejosas, sempre em guarda contra os outros que, segundo êles, são constante ameaça ao trono onde brilham e se desgastam.
Cercados por amôres compulsórios, que os utilizam para suas próprias ambições, frustram-se, e experimentam soledade interior, malgrado as multidões que os ovacionam.
* * *
A rebeldia contra o sofrimento é minoridade espiritual.
O desespêro face às lutas caracteriza as disposições inferiores do ser.
A ansiedade descabida pelo triunfo na Terra significa desequilíbrio da razão.
A acrimônia contumaz responde pelo primarismo de quem a cultiva.
As paixões de qualquer natureza vinculam o espírito às formas primeiras, impedindo-o de plainar acima das vicissitudes.
Considera que exame é teste de avaliação das conquistas.
Prova constitui técnica de valorização dos bens adquiridos nos empreendimentos do caminho humano.
Sofrimento, portanto, dêste ou daquele matiz, também significa desgaste para mudança de tom vibratório, no ritmo da evolução.
Ninguém confia responsabilidades maiores àqueles que não se permitiram promover antes as inquirições selecionadoras dos tipos e das realizações conseguidas.
* * *
Não te facultes espezinhar, quando convidado aos testemunhos da vida, essas abençoadas oportunidades de superação de ti mesmo. O labor de qualquer natureza afere
as resistências de quem se propõe a maiores realizações.
Em tôda parte defrontarás a dor trabalhando silenciosamente os espíritos, mesmo quando rebelados, a fim de os alçar à felicidade que aspiram e não sabem como
por ela esforçar-se.
Dêsse modo, ludibriado ou aparentemente vencido, perdendo o que se convencionou chamar "a oportunidade de gozar", evita o desânimo e desatrela-te do carro da
amargura.
Fortemente vinculado ao espírito da vida, que avança sem cessar e adorna tudo; inspirado pelo ideal do amor, que representa a Paternidade Divina no teu coração;
e orando pelo pensamento e através dos atos, poderás alcançar a fortuna da paz interior e acumular os tesouros da alegria plena, que bastarão para a concretização
da felicidade do teu espírito.
* * *
Nos espinhos está a segurança das rosas.
Nos pedregulhos o refôrço da estrada.
Nas sombras a oportunidade da meditação.
Na enfermidade o convite à prece.
Nos desencantos a superação da forma física.
Reflete, assim, para discernimento na jornada do Rabi, em que não faltaram espinhos de ingratidão, pedregulhos de maldade, sombras de perseguição, enfermidades
da inveja e desencantos da deserção dos companheiros mais queridos, enquanto Ele prosseguiu sem desfalecimentos até o fim, de modo a legar-nos a lição da resistência
contra o mal, em qualquer lugar e em qualquer circunstância.
*
"Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu, e não podeis discernir os sinais dos tempos?"
Mateus: capítulo 16º, versículo 3,
*
"A natureza do instrumento não está a indicar a que utilização deve prestar-se? A enxada que o jardineiro entrega a seu ajudante não mostra a êste último
que lhe cumpre cavar a Terra? Que diríeis, se êsse ajudante, em vez de trabalhar, erguesse a enxada para ferir o seu patrão? Diríeis que é horrível e que êle merece
ser expulso".
Capítulo 7º - Item 13.
33
UM CORAÇÃO AFÁVEL
A complexidade da vida moderna parece conspirar contra a tua paz interior e, maquinalmente conduzido pela multifária engrenagem, sentes verdadeira conjuração
dos fatõres que conseguem, por fim, sulcar a tua face com os sinais da intranqüilidade, da revolta, do azedume.
Não obstante o confôrto que deriva das facilidades ao acesso de grande parte dos homens, experimentas sérias conjunturas afligentes que te molestam, solapando
os alicerces da tua estrutura emocional.
Todavia, se te permitires ligeira análise das possibilidades que fluem ao teu alcance, modificarás as disposições negativas e te renovarás.
Enseja-te um coração afável.
Experimenta aplicar esses valôres desconsiderados que são a palavra gentil, o gesto simpático, o sorriso delicado, a paciência generosa, e fortunas de verdadeira
alegria espalharão moedas de bem-estar através de ti, envolvendo-te, também num halo de felicidade interior.
Francisco de Assis, embora enfêrmo e asceta, caminhando por sendas de cruas dificuldades, conseguia cantar as belezas da "irmã natureza", dos "irmãos animais",
dos "irmãos pássaros"...
Helen Keller, conquanto limitada pela surdez, pela cegueira e pela mudez, péde exaltar a beleza das paisagens, a claridade das manhãs, a fragrância das flôres,
fazendo da existência um hino de louvor à vida...
Gandhi, apesar de dispor de vastos recursos para o triunfo mundano, abraçou a causa da "não violência" e deu-se integralmente aos aflitos e necessitados em constantes
recitativos de amor à vida e abnegação pela vida.
Corações afáveis!
Quantas oportunidades desperdiças de semear júbilos fora e dentro de ti mesmo, porque insignificante problema toldou a luz do teu amanhecer, ou irritação por
coisa de monta insignificante produziu um mal-estar na execução do teu programa? Lutaste para conservar a mágoa, disputando a tarefa de parecer e ser infeliz, esquecendo
as fartas concessões que o teu coração, tornado afável, poderia conseguir!
Simplifica o teu roteiro de ação, dilata a visão do bem no panorama das tuas horas, e com o preço mínimo de um sorriso considera a coleta de júbilos que dêle
se deriva e que poderás colher.
Jesus, dilatando o seu coração afável, contou as mais belas hipérboles e hipérbatos, parábolas e poemas que o homem jamais escutou. Um grão de mostarda, uma moeda
insignificante, algumas varas, uma pérola luminosa, peixes e rêdes, talentos e sementes receberam da sua afabilidade um toque especial de beleza que comoveram, a
princípio, uma mulher atormentada por obsessão pertinaz, um príncipe petulante e douto, um cobrador de impostos rejeitado, jovens homens da terra e velhos marujos
decididos, sensibilizando, depois, incontáveis corações para com êles inaugurar um reino diferente de amor, que até hoje é a mais fascinante História da Humanidade.
Começa, dêsse modo, desde agora, a experiência de manter um coração afável, disseminando bênçãos.
*
"Bem-aventurados os limpos de coração, porque êles verão a Deus".
Mateus: capítulo 5º, versículo 8.
*
"A pureza do coração é inseparável da simplicidade e da humildade. Exclui tôda idéia de egoísmo e de orgulho"
Capítulo 8º - Item 3.
34
ACIDENTES
Talvez possas evitá-los.
Surgem impulsionados por fôrças descontroladas, por injunções negativas, produzindo acerbas dores de conseqüências quase sempre funestas.
Na atualidade convulsionada por fôrças tiranizantes que conspiram contra o equilíbrio geral, ocorrem inumeráveis e adversos, graças à densidade populacional e
à expressiva soma de veículos que transitam pelas ruas do mundo, desabaladamente.
Cada minuto as estatísticas registram expressões alarmantes de acidentados que resgatam, em agonias longas, velhos processos espirituais que os atingem, incoercível,
inevitàvelmente.
Em face disso, refugia-te na oração e entrega-te às mãos sublimes do Cristo, facultando que os Seus mensageiros conduzam os teus passos com segurança e tranqüilidade
pelas rotas em que tens de avançar na direção do futuro.
Surprêsas dolorosas espiam nas esquinas das ruas e se guardam nos alcouces das mentes alucinadas.
Muitos daqueles que cruzam com os teus passos ou te provocam reações inesperadas estão ultrajados pelos Espíritos Infelizes, iguais a êles mesmos, atormentando-os,
quanto atormentados se encontram.
Não revides ante provocações, nem te extremunhes conduzindo vibrações molestas contigo.
Raciocina crestamento tendo em vista que és valioso na economia do Planêta e que a tua vida é patrimônio de alta significação, que não deves arriscar nos jogos
das frivolidades.
O discípulo do Cristo é alguém em programa de reajustamento e renovação tropeçando com o passado culposo, que reaparece em mil apresentações conspirando contra
a paz ou sugerindo reparação edificante mediante o teu esfôrço enobrecido.
* * *
Acidentes, acidentados!
Acidentes do trabalho quais bigorna e malho de aflições esfaceladoras, advertindo.
Acidentes de veículos em desgovernos de equipamentos ou desajustes emocionais dos seus condutores, ou surpresas do inesperado, gritando avisos que não podes deixar
de examinar com respeito e atenção.
Acidentes nas multidões, em forma de agressão da ferocidade, da rapina, do terrorismo, da loucura de todo jaez em conúbio com a desagregação da esperança e da
paz, como escarmento necessário.
Acidentes da Natureza em maremotos e terremotos, furacões e calamidades, chamando o homem à meditação dos substanciais quão Intransferíveis deveres de cuidar
do espírito na sua oportunidade redentora, transitória, que passa célere.
Acidentes da alma invigilante sob acúleos da insensatez e sObre pedrouços da desconsideração do patrimônio da vida carnal, nos quais, não raro, desperdiças os
mais expressivos tesouros que se convertem em escassez dolorosa que conduz o desassisado às sombras do desespêro tardio.
* * *
Em Jesus encontrarás a segurança inabalável e na Sua mensagem de amor terás sempre o manancial de sustentação capaz de ajudar-te, lenindo sofrimentos da tua alma
e preparando-te para o retorno, através da desencarnação, que a seu turno é acidente orgânico da máquina que se nega a prosseguir, libertando o prisioneiro, o qual,
na vida espiritual, seguirá tranqüilo e feliz ou ficará retido na aflição desconcertante de que não se desejou desvincular.
*
"Melhor para vós será que entreis na vida tendo um só Ôlho, do que terdes dois e serdes precipitados no fogo do inferno".
Mateus: capítulo 5º, versículo 30.
*
"Tudo aquilo a que se dá o nome de caprichos da sorte mais não é do que efeito da justiça de Deus, que não inflige punições arbitrárias pois quer que a pena esteja
sempre em correlação com a falta".
Cap, 8º - Item 21.
35
CIZÂNIA
Os lexicógrafos definem a cizânia como sendo "rixa, desarmonia, discórdia entre pessoas de amizade".
A cizânia constitui, pela sua própria estrutura, adversário ferino da obra de edificação do bem, onde quer que se manifeste. Parte integrante da personalidade
humana, o espírito da cizânia facilmente se instala onde o homem se encontra. Estimulada pelo egoísmo, distende com muitas possibilidades as suas tenazes, surpreendendo
quantos incautos se permitem, por invigilância, trucidar.
Soez, persistente, contínua, a cizânia, ao manifestar-se, divide o corpo coletivo em falsos grupos de eleição, que logo se entredisputam primazia, estabelecendo
o combate aguerrido e franco sob os disfarces da pusilanimidade ou da simulação.
A cizânia deve ser combatida frontalmente onde quer que o bem instaure o seu reinado.
Para tanto, faz-se mister que cada membro ativo do grupo da ação nobilitante compreenda o impositivo da humildade. Como a característica essencial da humildade
é fazer-se identificar sempre carecente de aprimoramento, enquanto se luta por adquiri-la, as farpas da inveja não se cravam no seu corpo o as disputas infelizes
não vicejam.
Ante o esfôrço para a fixação da humildade legítima, a cizânia não consegue proliferar, isto porque é muito mais produtivo ser taxado de ingênuo ou tolo, porém
pacífico e cordato, a dúctil e lúcido, no entanto, combativo e promovedor da discórdia.
* * *
Não esqueças que mesmo no Colégio Galileu, não poucas vêzes êsse tóxico letal foi identificado, pernicioso, pelo Incomparável Senhor, que, não obstante o alto
patrimônio da Sua elevação, teve que enfrentá-la com energia e humildade.
Vigia, espírito dedicado, nas nascentes do labor que desdobras, na tarefa empreendida, e sê daqueles cujo serviço pode prosseguir sem tua cooperação, embora não
possas marchar sem êle, por indispensável à tua elevação.
Oferece a quota do teu trabalho, compreendendo que no cômputo geral a importância de cada um está na medida do esfôrço despendido, nunca em relação à função exercida.
Impossível fulgir a jóia não houvesse sido êsse brilho precedido pelo esfôrço do garimpeiro ignorado, que se adentrou pela mina perigosa a buscá-la.
A pérola pálida a refulgir ostenta sua beleza graças ao estoicismo do mergulhador que desceu às águas abissais para arrancá-la da ostra ergastulada nas rochas
submarinas -
No trabalho renovador ao qual te afervoras, não te olvides dos que atuam nas funções modestas, todavia indispensáveis ao serviço que desdobras.
O rei não poderia rodear-se de confôrto e grandeza sem o concurso do operário humilde que lhe ergueu o trono ou a cozinheira que lhe sustenta a manutenção do
equilíbrio orgânico.
E a estabilidade do seu império estaria sempre ameaçada não fôsse a fidelidade dos que o mantêm, vigilantes, e muitas vêzes ignorados.
A cizânia nasce sempre no seio da vaidade que se faz nutrir pela presunção.
Esquece, portanto, os títulos e valôres a que te apegas, pois que êles nada valem diante dAquêle a quem serves ou a quem procuras servir.
A obra do bem tem passado sem ti e depois que passes ela prosseguirá passando.
Reage à cizânia, impedindo que ela te domine no pensar, no falar, a fim de que não se desdobre através do agir.
* * *
Examina o íntimo do espírito para que as mentes geratrizes da cizânia, vitalizadas pelo pretérito infeliz e corporificadas em grupos de perturbadores do Mundo
Espiritual, não encontrem na tua mente açulada o campo para as cogitações da censura injustificada aos que não podem ser iguais a ti, quer estejam abaixo ou acima
do teu nível de produtividade. Não olvides que ao mais esclarecido é exigida maior dose de tolerância, de compreensão e de misericórdia.
Quantas vêzes o amigo, habitualmente fiel, em se voltando para agredir não se encontra enfêrmo? Neste momento, não há outras alternativas senão piedade e socorro
para êle.
Se desejas realmente, como apregoas, que cresça o trabalho do Cristo, não faças perniciosa distinção entre os servidores, não sugiras separativismos, não confrontes
mediante opiniões que criam ciümes ou açulam vaidades vãs pelo elogio gratuito, indiscriminado e improcedente, porque todo coração é maleável à palavra da bajulação
dourada como todo espírito é acessível à referência azeda da impiedade, ao licor embriagante da perversão.
Mantém, por tua vez, o compromisso da doação da palavra amiga e estimulante, quanto da advertência gentil, a fim de que possas prosseguir, seguro, na diretriz
do equilíbrio.
Recorda que foi a cizânia dos homens que levou Jesus à cruz, através da invigilância de um companheiro enganado.
*
"Eu, porém, vos digo que quem quer que se puser em cólera contra seu irmão merecerá ser condenado no juízo".
Mateus: capítulo 5º, versículo 22.
*
"A benevolência para com os seus semelhantes, fruto do amor ao próximo, produz a afabilidade e a doçura que lhe são as formas de manifestar-se".
Capítulo 9º - Item 6.
36
PERDOAR
Sim, deves perdoar! Perdoar e esquecer a ofensa que te colheu de surprêsa, quase dilacerando a tua paz. Afinal, o teu opositor não desejou ferir-te realmente,
e, se o fêz com essa intenção, perdoa ainda, perdoa-o com maior dose de compaixão e amor. Ele deve estar enfêrmo, credor, portanto, da misericórdia do perdão.
Ante a tua aflição, talvez ele sorria. A insanidade se apresenta em face múltipla e uma delas é a impiedade, outra o sarcasmo, podendo revestir-se de aspectos
muito diversos.
Se êle agiu, cruciado pela ira, assacando as armas da calúnia e da agressão, foi vitimado por cilada infeliz da qual poderá sair desequilibrado ou comprometido
orgãnicamente.
Possivelmente, não irá perceber êsse problema, senão mais tarde.
Quando te ofendeu deliberadamente, conduzindo o teu nome e o teu caráter ao descrédito, em verdade se desacreditou êle mesmo. Continuas o que és e não o que ele
disse a teu respeito.
Conquanto justifique manter a animosidade contra tua pessoa, evitando a reaproximação, alimenta miasmas que lhe fazem mal e se abebera da alienação com indisfarçável
presunção.
Perdoa, portanto, seja o que fôr e a quem fôr.
O perdão beneficia aquêle que perdoa, por propiciar-lhe paz espiritual, equilíbrio emocional e lucidez mental.
* * *
Felizes são os que possuem a fortuna do perdão para a distender largamente, sem parcimônia.
O perdoado é alguém em débito; o que perdoou é espírito em lucro.
Se revidas o mal és igual ao ofensor; se perdoas, estás em melhor condição; mas se perdoas e amas aquêle que te maltratou, avanças em marcha invejável pela rota
do bem.
Todo agressor sofre em si mesmo. É um espírito envenenado, espargindo o tóxico que o vitima. Não desças a êle senão para o ajudar.
Há tanto tempo não experimentavas aflição ou problema - graças à fé clara e nobre que esflora em tua alma - que te desacostumaste ao convívio do sofrimento. Por
isso, estás considerando em demasia o petardo com que te atingiram, valorizando a ferida que podes de imediato cicatrizar.
Pelo que se passa contigo, medita e compreenderás o que ocorre com êle, o teu ofensor.
O que te é inusitado, nêle é habitual.
Se não te permitires a ira ou a rebeldia -perdoarás!
* * *
A mão que, em afagando a tua, crava nela espinhos e urze que carrega, está ferida ou se ferirá simultaneamente. Não lhe retribuas a atitude, usando estiletes
de violência para não aprofundares as lacerações.
O regato singelo, que tem o curso Impedido por calhaus e os não pode afastar, contorna-os ou pára, a fim de ultrapassá-los e seguir adiante.
A natureza violentada pela tormenta responde ao ultraje reverdescendo tudo e logo multiplicando flôres e grãos.
E o pântano infeliz, na sua desolação, quando se adorna de luar, parece receber o perdão da paisagem e a benéfica esperança da oportunidade de ser drenado brevemente,
transformando-se em jardim.
Que é o "Consolador", que hoje nos conforta e esclarece, conduzindo uma plêiade de Embaixadores dos Céus para a Terra, em missão de misericórdia e amor, senão
o perdão de Deus aos nossos erros, por intercessão de Jesus?
Perdoa, sim, e intercede ao Senhor por aquêlo que te ofende, olvidando todo o mal que ele supõe ter-te feito ou que supões que êle te fêz, e, se o conseguires,
ama-o, assim mesmo como êle é.
*
"Não vos digo que perdoeis até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes".
Mateus: capítulo 18º, versículo 22.
*
"A misericórdia é o complemento da brandura, porqüanto aquele que não for misericordioso não poderá ser brando e pacífico. Ela consiste no esquecimento e no perdão
das ofensas".
Capítulo 10º - Item 4.
37
ESPÍRITO DA TREVA
Está em toda parte.
Surge inesperadamente e assume faces de surprêsa que produz estados dalma afligentes, configurando pungentes conflitos que conduzem, não raro, a nefandas conseqüências.
As vêzes, no lar, os problemas se avultam, na ordem moral, desconcertando a paisagem doméstica; no trabalho, discussões inesperadas, por nonadas, tomam aspectos
de gravidade, que conduz os contendores a ódios virulentos e perniciosos; nas relações, irrompem incompreensões urdidas nas teias da maledicência, fragmentando velhas
amizades que antes se firmavam em compromissos de lealdade fraterna Inamovível; na rua e nas conduções gera inquietações que consomem e lança pessoas infelizes no
caminho, provocantes, capazes de atirar por coisas de pequena monta, nos rebordos de abismos profundos, aquêles que defrontam...
É o espírito da treva. Está, sim, em tõda parte.
Membro atuante do que constitui as "fôrças do mau", que por enquanto ainda assolam a Terra, na atual conjuntura do planêta, irrompe inspirando e agindo, nos múltiplos
departamentos humanos, objetivando desagregar e infelicitar as criaturas, no que se compraz.
Espírito estigmatizado pela agonia íntima que sofre, envenenado pelo ódio em que se consome ou revoltado pelo tempo perdido, na vida passada, sintoniza com as
imperfeições morais e espirituais do homem, mantendo comércio pernicioso de longo curso.
Está, também, às vêzes, encarnado no círculo das afeições. Aqui é o espôso rebelde, a genitora alucinada, a nubente corroída por ciúme injustificável, o filho
ingrato, o irmão venal, a filha viciada e ultrajante, a irmã desassisada; ali é o vizinho irritante, o colega pusilânime, o chefe mesquinho, o amigo negligente,
o servidor cansativo, o companheiro hipócrita exigindo atitude de sumo equilíbrio, em convite contínuo à serenidade e à perseverança nos bons propósitos.
Transmite a impressão de que não há lugar para o amor nem o bem, como se a vida planetária fôsse uma arbitrária punição e não sublime concessão do Amor Divino,
a benefício da nossa redenção.
* * *
Como quer que apareça o espírito das trevas, no teu caminho, enfrenta-o simples de coração e limpo de consciência. Não debatas nem te irrites com êle.
Ante os doentes, o medicamento primeiro e mais eficaz é a compaixão que - se lhes dá, não levando em conta o que dizem ou fazem por considerar que estão fora
da razão e do discernimento, pela ausência da saúde.
Arma-te a todo instante com a prece e põe o capacete da piedade, conduzindo a luz da misericórdia para clarificar o caminho e vencerás em qualquer luta, permanecendo
livre face a qualquer das suas ciladas.
E quando, enfraquecido na luta, o espírito da treva estiver a vencer-te após exasperar-te danosamente, quase colimando por empurrar-te ao fôsso da insensatez,
lembra-te de Jesus e dize:
- Afasta-te de mim, espírito do mal -, e avança sem parar na direção do dever sem olhar para trás.
*
"Depois vai e leva consigo mais sete espíritos piores do que ele, ali entram e habitam".
Mateus: capítulo 12º, versículo 45
*
"O Espírito mau espera que o outro, a quem êle quer mal, esteja preso ao seu corpo e, assim, menos livre, para mais facilmente o atormentar, ferir nos seus interêsses,
ou nas suas mais caras afeições".
Capítulo 10º - Item 6.
38
LOUVOR
A manhã esplende jubilosa, louvando a terra adormecida com a dádiva do despertar.
A vida canta estuante ao nascer do dia, louvando a mensagem da luz.
As flôres sorriem perfumes ao contato dos raios selares, louvando a graça do calor.
A terra umedecida produz, louvando a felicidade da doação fertilizante.
O rio abraça jubilosamente o oceano, louvando a amplidão marinha.
O diamante brilha, louvando as marteladas lapidadoras que o fizeram fulgir.
O homem ama, louvando a oferenda divina que lhe felicita o coração.
O crente ajoelha-se ditoso e louva o Senhor agradecendo a dádiva da fé.
* * *
Flutuando, corre a nuvem louvando a oportunidade de distender-se na atmosfera rarefeita.
A árvore cresce e louva o solo que a viu nascer, estendendo galhos que projetam sombra acolhedora, multiplicando bênçãos de flõres e frutos...
Tôda a vida na terra é um hino de louvor ao Senhor de tôdas as coisas.
O sol que brilha, o coração que ama, a ave que canta, as mãos que socorrem, a flor que perfuma, o ser que perdoa, o diamante que fulge, o sentimento que ajuda,
são manifestações do espírito de louvor que vivifica o mundo, entoando a. música de gratidão à Fonte Doadora e Soberana da Vida.
Através do trabalho ativo e continuado, entoa, também, o teu hino de louvor ao feliz ensejo de realização na terra dolorida, fazendo dos braços instrumentos de
progresso que gera a harmonia e do coração harpa divina a modular contínua canção de esperança e paz.
Agora que encontraste a Doutrina Espírita que te liberta da pesada canga da ignorância e que te dá ao lado do discernimento o entusiasmo e o amor à vida, louva
e agradece a Deus a felicidade que ora te enriquece, distribuindo as flôres da tua alegria íntima em forma de caridade para com todos e amor a tudo e todos, jubiloso
ao claro sol da legítima razão de viver: servir para redimir-se!
*
"Todo o povo, vendo isto, deu louvor a Deus"
Lucas: capítulo 18º, versículo 43.
*
"Espiritismo! doutrina consoladora e bendita! felizes dos que te conhecem e tiram proveito dos salutares ensinamentos dos Espíritos do Senhor!"
Capítulo 10º - Item 18, parágrafo 2.
39
MAIS AMOR
Malgrado a nuvem da incompreensão, cuja sombra permite lamentáveis atritos e rudes embates que esfacelam as elevadas programações traçadas para o êxito da tua
tarefa, reserva-te mais amor.
Não obstante os raios dispendidos pela malquerença agora sistemática, que produzem dor, certeiramente dirigidos, doa mais amor.
Enquanto a maledicência grassa arrebanhando mentes frívolas e companheiros invigilantes, que se comprazem na disseminação das idéias espúrias, faculta-te mais
amor.
Embora a suspeita semeie surdas acrimônias e acusações que sabes ser indébitas, no labor em que profligas o mal, concede-te mais amor.
Apesar da ausência dos mínimos requisitos de consideração ao teu serviço edificante, por parte dêles - aquêles que se permitem somente a censura ou a lisonja
mentirosa, a acusação ou o azedume contumaz - continua com mais amor.
* * *
Muitas vêzes parece impossível sequer suportar quantos nos ferem e magoam injustamente - dentro, porém, da programática de recuperação que nos impomos experimentar
pelos erros passados - quanto mais conceder-lhes o amor. Todavia, animosidade como afeição resultam de atitudes mentais e emocionais que podemos condicionar com
o livre querer.
Se consideras que o opositor se encontra enfermo, ser-te-á mais fácil amá-lo.
Se tiveres em mente que êle está mal informado, tornar-se-á melhor para ti desculpá-lo.
Se pensares que êle não conseguiu alcançar o que em ti combate e não possui fôrças para compartir o teu êxito ou a tua oportunidade feliz, farsa-á lógico entendê-lo
e amá-lo.
Revidando, porém, acusação por acusação, suspeita por suspeita, ira com ira, mui difícil a reconciliação e a paz, paz e reconciliação a que amanhã ou depois serás
constrangido a realizar.
Tôda obra em comêço na retaguarda, que ficou ao abandono, ou qualquer aquisição negativa permanecem aguardando o responsável.
O milagre da vida chama-se amor -
Quando crescemos em espírito, lamentamos tardiamente a mesquinhez em que teimávamos permanecer.
A visão da montanha, na direção da paisagem, apaga as sombras temerosas das furnas e cobre o charco transposto na baixada, quando o sol da alegria distende claridade
festiva ampliando os horizontes.
* * *
Não te apoquentes, portanto, ante o triunfo enganoso do engôdo ou a vitória da irresponsabilidade.
Catalogado pelo Estatuto Divino com a função de crescer, tens a destinação de mais amor.
Assim, em qualquer circunstância de tempo ou lugar, em claro céu ou sombrio firmamento, na saúde ou na doença, na realização ou na queda, no poder ou na dependência,
entre amigos ou adversários, para a tua plenitude e perfeita paz, ama muito mais e distende sempre mais amor porque só o amor tem a substância essencial para traduzir
a realidade do Pai em nossas vidas.
*
"Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de tôda a tua alma e de todo o teu espírito; este o maior e o primeiro mandamento. E aqui tendes o segundo, semelhante
a este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo".
Mateus: capítulo 22º, versículo 37.
*
"O amor é de essência divina e todos vós, do primeiro ao último, tendes, no fundo do coração, a centelha dêsse fogo sagrado".
Capítulo 11º - Item 9.
40
UMA PAGA DE AMOR
Quando a chispa do ódio lavrou o Incêndio da malquerença, deixaste-te carbonizar pelas chamas do desespêro...
Quando o veneno da intriga te visitou a casa do coração, permitiste-te a revolta que se converteu em injustificada aflição...
Quando o chicote da calúnia estrugiu nas tuas intenções nobres, concedeste-te a insensatez do desânimo que se transformou em enfermidade difícil...
Quando a nuvem da discórdia sombreou o grupo feliz das tuas amizades, julgaste-te abandonado, destroçando os planos superiores da edificação da alegria, onde
armazenavas sonhos para o futuro...
Quando o fel do ciúme tisnou o sol do amor que te iluminava, resvalaste na alucinação morbífica que te aniquilou as mais belas expressões de amparo pelo caminho
redentor...
Quando o ácido da irritabilidade alheia te foi atirado à face, fôste dominado pela fúria da reação desvairada, fazendo-te perder abençoada ocasião de ajudar...
* * *
Tudo porque esqueceste da justa e necessária dose de amor.
Uma baga apenas teria sido suficiente.
Se amasses, todavia, com legítima qualidade de amor, o ódio cederia lugar à expectativa do bem, a intriga se desagregaria, a calúnia seria dissipada, a discórdia
se apaziguaria, o ciúme se teria anulado, a irritabilidade se dulcificaria e a vida, então, adquiriria a sua santificante finalidade.
Com a moeda do amor se adquirem todos os bens da Terra e os incomparáveis tesouros do Céu.
O amor persevera - insistindo nos propósitos superiores que o vitalizam.
Convence - produzindo pela fôrça da sua magnitude a excelência dos seus propósitos.
Transforma - pela natureza dulcificadora de que se constitui.
Dignifica - em razão do conteúdo de que se faz mensageiro.
Liberta - por ser o poder da vida de Deus transladada para tôda a Criação.
O amor - alma da vida e vida da alma -é a canção de felicidade que vibra do Céu na direção da Terra, sem encontrar, por enquanto, ouvidos atentos que lhe registrem
a incomparável melodia, de modo a se transformar em harmonia envolvente que penetra até onde cheguem as suas ressonâncias...
* * *
Ele se misturou às massas sofridas, e era a Saúde por Excelência; se submeteu a arbitrário interrogatório, e era Juiz Supremo; se permitiu martírio infamante,
e era o Embaixador Sublime de Deus; se deixou assassinar, e era a Vida Abundante
- por amor. E pelo amor retornou aos que o não amaram para ensinar a supremacia da Verdade sobre a ignorância e do bem sobre o mal, oferecendo-se pelos séculos
porvindouros, porque o amor é a manifestação de Deus penetrando tudo e tudo sublimando.
*
"Tratai todos os homens como quereríeis que eles vos tratassem".
Lucas: capítulo 6º, versículo 31.
*
"Não acrediteis na esterilidade e no endurecimento do coração humano; ao amor verdadeiro, êle, a seu mau grado, cede. É um Imã a que não lhe é possível resistir"
Capítulo 11º - Item 9, parágrafo 5.
41
PESSIMISMO E JESUS
Dores multifárias assomam vigorosas e crês ser impossível suportar as tenazes agonias que agora parecem dominar todos os painéis da tua mente, avassalando órgãos
e músculos do veículo físico.
Relacionas dificuldades e provações com os olhos nublados, enquanto observas os que passam exibindo saúde, guindados ao poder, brilhando entre amigos sorridentes,
amparados pela cornucópia da fortuna. Estes, consideras, triunfam cada dia nos empreendimentos comerciais; aqueles conquistam títulos invejáveis; êsses são requisitados
para empreendimentos de realce social; uns estão disputando primazia no jôgo das posições políticas; outros armazenam bens da usura; alguns estão distraídos e felizes,
acumulando vitórias sôbre vitórias; diversos passeavam ontem contigo amarrados a problemas, agora, no entanto, distantes, conseguiram os alvos que não lobrigaste.
Quase todos são homens sem fé, que freqüentam as diversas Igrejas, desfilando vaidades e alardeando louros ao invés de procurarem o silêncio para a prece e a
solidão para falar com o Senhor...
Todos felizes, menos tu.
Mergulhado nas tristes reflexões deprimentes
arrolas a convicção cristã que arde na alma e os testemunhos da vivência evangélica, sem que te cheguem as dádivas dos Céus...
Reconsidera, porém, as observações de pessimismo e confia em Deus entregando-te totalmente a Ele, enquanto fazes a tua parte, o que deves, empenhado no culto
elevado do dever. O pessimismo é lente que deforma a realidade -
Desconheces os problemas alheios, por estares empenhado na coleta das próprias aflições.
Todos os que se encontram na Terra estão em consêrto, em ressarcimento, sendo que alguns, enquanto resgatam, aumentam, impudentes, os débitos trazidos, mediante
compromissos novos -
Agradece a Deus a fé que luze no teu imo e a oportunidade de fazer o que possas e como possas com os que padecem mais do que tu mesmo.
Dentre os que estão sorrindo e triunfando, muitos sabem que se encontram moralmente falidos (e estão tentando fugir); outros protelam o inevitável encontro com
a severa consciência; inumeráveis situam-se à borda da loucura e não sabem; êstes buscam o nada e, frustrados, se atormentam tentando fingir ante a desilusão; aquêles
apresentam-se lutando, desesperados, antes de caírem em terrível infortúnio que já pressentem; êsses, esforçando-se por negar a vida, imergem nas alucinações psicopatas,
não mais se suportando a si mesmos.
Se soubesses o que se passa além das fronteiras do teu "eu", serias mais benigno ao examinar o teu próximo e desculparias mais.
Sofredores não são apenas os que já estão chorando. Há infelizes que perderam a faculdade de verter pranto e adicionam essa às outras aflições que os constringem...
Os "filhos do Calvário", da expressão evangélica, não são somente os desendinheirados, os coxos, os pustulentos do corpo. Não conheces os abismos dos espíritos
que sofrem na opulência enganosa da vida física.
Corrige a angulação do "ponto-de-vista", dilata o amor e aprende com Jesus os exercícios da caridade discreta da compaixão em relação aos outros e da paciência
ante os próprios sofrimentos, servindo e servindo, sem esperar resultados imediatos. transferindo para a Imortalidade o que ora não consegues...
* * *
À multidão esfaimada Jesus ofereceu pães e peixes que se multiplicavam em abundància; à samaritana, além da água do poço, ofertou-lhe a "água vita" do Evangelho
do Reino; a Maria e a Marta devolveu Lázaro arrancado da sepultura em que se encontrava; a Nicodemos, concedeu o conhecimento das vidas sucessivas; a Simão ensejou
a honra de pernoitar no Lar... dilatando para todos, indistintamente, a visão espiritual quanto às responsabilidades de cada um ante a consciência universal, ensejando
a compreensão do Reino dos Céus e a oportunidade de um dia fruir-lhe as alegrias. E nunca discrepou das atitudes de amor para arrolar queixas ou quaisquer lamentações,
vitalizando as fôrças infelizes do pessimismo.
*
"Então, o Senhor, tocado de compaixão, o mandou embora e lhe perdoou a dívida".
Mateus: capítulo 18º, versículo 27.
*
"Amar, no sentido profundo do termo, é o homem ser leal, probo, consciencioso, para fazer aos outros o que queira que estes lhe façam; é procurar em torno
de si o sentido íntimo de todas as dores que acabrunham seus irmãos, para suavizá-las; é considerar como sua a grande família humana, porque essa família todos a
encontrareis dentro de certo período, em mundos mais adiantados, e os Espíritos que a compõem são, como vós, filhos de Deus, destinados a se elevarem ao infinito".
Capítulo 11º - Item 10, parágrafo 2.
42
LÂMPADAS, RECEPTORES E TRANSMISSOR
Recebem o raio luminoso e se inebriam de imediato com as impressões visuais transformadas em imagens que se gravam nos recônditos da memória, impressas em côr
para serem evocadas logo se acionem os mecanismos próprios capazes de selecioná-las e retirá-las dos arquivos neuroniais.
Penetrados pela sonora vibração, que deambula através da câmara acústica, classificam os ruídos e os discriminam para gravá-los em sutil engrenagem, na qual perduram
as impressões transformadas em mensagens inapagáveis nos fulcros profundos do espírito.
Acionada pelo mecanismo automático dos centros especializados, converte idéias em música e dispara dardos orais ou veludosa melopéia que faculta comunicação,
gerando singular meio de entendimento ou desgraça, conforme a direção aplicada.
Lâmpadas são os olhos derramando claridade pela senda por onde correm os rios dos dias, acionando as alavancas do movimento humano na extensão do progresso.
Receptores são os ouvidos, por cujos condutos as vozes da vida atingem o espírito eterno, momentâneamente revestido pela matéria, de forma a ajudá-lo no crescimento
e na evolução.
Transmissor eficaz é a bôca encarregada de exteriorizar as impressões que transitam dos centros pensantes ao comércio exterior da vida.
Aparelhos preciosos de que se encontram investidos os homens são inestimáveis tesouros da concessão divina, cuja valorização merece a cada instante maior soma
do capital de amor para que, através dêles, o espírito aprenda a ver e a marchar, saiba ouvir e guardar, disponha-se a sentir e expressar consubstanciando os ideais
enobrecedores na elaboração da paz íntima.
Nem todos porém que vêem, conseguem com elevação selecionar o que enxergam e assimilar o que devem.
Muitos que ouvem não se comprazem ainda em fixar o que é nobre, olvidando o que é espúrio e vulgar para construir sabedoria pessoal.
Poucos apenas falam, na multidão dos que usam a palavra, de forma eficiente, sem conspurcarem os lábios, macularem a própria ou a vida alheia, derrapando, não
raro, para as figurações deprimentes da censura e da crítica indevida, aspirando em decorrência os vapõres tóxicos da impiedade e da insensatez.
* * *
Mantém acesas as lâmpadas dos olhos e contempla tudo com amor, a fim de que as belezas povoem as paisagens do teu pensamento.
"A candeia do corpo são os olhos".
Liga os receptores somente quando as convenientes mensagens sonoras produzam vibrações de nobres sinfonias nos teus painéis mentais, de modo a possuíres permanente
festa no espírito, não obstante as tormentas exteriores que te cerquem "Quem tiver ouvidos ouça".
Externa apenas o que possa ajudar e silencia tudo aquilo que aguilhoa e martiriza, pois o homem superior é considerado não pelo muito que diz, mas pelo conteúdo
enobrecedor do que carregam suas palavras.
"Porque a boca fala o de que está cheio o coração".
* * *
O olhar de Jesus dulcificava as multidões, Seus ouvidos atentos descobriam o pranto oculto e identificavam a aflição onde se encontrava, e Sua bõca bordada de
misericórdia somente consolou, cantando a eterna sinfonia da Boa Nova em apêlo insuperável junto aos ouvidos dos tempos, convocando o homem de tôdas as épocas à
epopéia da felicidade.
Procura fazer o mesmo com a tua aparelhagem superior.
*
"Os fariseus, tendo-se retirado, entenderam-se entre si para enredá-lo com as suas próprias palavras".
Mateus: capítulo 22º, versículo 15.
*
"Sem levar em conta as vicissitudes ordinárias da vida, a diversidade dos gostos, dos pendores e das necessidades, é esse também um meio de vos aperfeiçoardes, exercitando-vos
na caridade. Com efeito, Só a poder de concessões e sacrifícios mútuos, podeis conservar a harmonia entre elementos tão diversos".
Capítulo 11º - Item 13, parágrafo 2.
43
PROMOÇÃO
Incontáveis companheiros espíritas, na atualidade, revivem o espírito de serviço cristão que nêles se agiganta, conclamando-os ao intérmino labor de preparação
da Era nova.
Multiplicam-se êles em formosa sementeira e já se podem observar os resultados positivos da sua atividade proveitosa, a benefício de tôda a Seara do Amor.
Entre eles corporificam-se a abnegação e a renúncia, emuldurando-lhes os esforços lavrados à base da vivência evangélica na integral harmonia dos seus postulados.
Escrevem e pautam a conduta na elevada correção de modos.
Falam e aplicam na vida diária os ensinamentos divulgados.
Oram e agem no campo da fraternidade transformando palavras em socorro eficiente, que espalham, generosos, em nome do Senhor.
Proclamam a excelência do amor e desdobram esforços na compreensão dos espíritos sofredores que buscam amparar no carinho dos sentimentos.
Preconizam o perdão e esquecem as ofensas, disseminando a alegria, mesmo quando o pessimismo insiste em dominar, pernicioso.
Convém, no entanto, refletirmos com atenção Surgem e desaparecem com celeridade, na esfera do serviço ativo, trabalhadores diversos que se dizem fascinados por
Jesus ou se apresentam tocados pela excelência da Doutrina Espírita que dizem e aparentam desposar.
Todavia, somente alguns perseveram fiéis ao programa encetado, por longo tempo.
Enquanto brilham facilidades e o alarde dos aplausos estruge, ei-los a postos. Entrementes, logo são chamados ao testemunho do silêncio, no anonimato ou na ação
aparentemente insignificante, debandam rancorosos, com queixas, estremunhados...
São os que promovem o Espiritismo, Promovendo-se também.
* * *
Paulo, de tal forma se esqueceu de si mesmo, no serviço de Jesus, que exclamou: "Estou crucificado com Cristo; logo já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive
em mim"...
Francisco de Assis, servindo ao Senhor com elevada abnegação, olvidou, inclusive, a própria saúde, para doar-se totalmente à lição da renúncia e da humildade
por amor a Ele.
Vicente de Paula, tocado pela necessidade do próximo, alcançou os extremos da auto-doação, trocando a sua pela vida de um galé, a fim de libertá-lo das cadeias
que considerava injustas.
Joanna dArc, convencida do amparo que as suas vozes lhe ofereciam, deixou-se queimar, superando o instinto de conservação da vida física, fiel à Imortalidade.
Allan Kardec, conquanto advertido reiteradas vêzes pelo espírito generoso do dr. Demeure, seu médico, então desencarnado, quanto à saúde, dela descurava para
trabalhar, rompendo-se-lhe o aneurisma, em plena ação iluminativa de consciências.
E João Batista, o Precursor, enunciava em júbilo: "Necessário é que Ele cresça e eu diminua", promovendo-o e apagando-se.
* * *
Cuida de promover a Causa e olvida as transitórias casas a que te vinculas; propagando o Espiritismo em tôda a sua pureza, fiel aos postulados Kardequianos, ilumina-te
na Sua claridade, deixando a tua pessoa em plano secundário; ampliando o campo para sementação da Verdade não te iludas...
A promoção da Doutrina que te honra não deve constituir-te motivo de destaque personalista, porque o verdadeiro trabalhador ama na semente a planta futura, e
na terra reverdescida encontra a resposta da vida ao esfôrço desenvolvido.
Servindo desinteressadamente não te alcançarão as agressões dos maus - que são transitórios no caminho; e a perseverança da tua atividade, quando outros a deixaram,
responderá pela nobreza dos teus propósitos e do teu valor aplicados à fidelidade do ideal que te abrasa.
Porque Jesus distendesse o pensamento divino sõbre a Terra conturbada, quando pretendiam afetar a Mensagem de que se fizeram Mensageiro Celeste, invectivava,
enérgico e pulcro, no entanto, quando se levantavam contra Ele, deixava-se conduzir, confiando no Pai, a ensinar que a Palavra de Vida Eterna é pão insubstituível
para a manutenção do espírito, enquanto que aquêle que dela se faz portador, entregue à Verdade, não se deve preocupar consigo, por estar nas mãos de Deus que tudo
supervisiona e dirige com sabedoria.
*
"É necessário que Ele cresça, e que eu diminua".
João: capítulo 3º, versículo 30.
*
"Não ouso falar do que fiz, porque também os Espíritos têm o pudor de suas obras".
- SÃO VICENTE DE PAULA.
Capítulo 13º - Item 12, parágrafo 6.
44
EM REVERÊNCIA
Ei-la cansada, com o peito ofegante e o andar em desalinho, que passa...
O tempo sulcou-lhe a face, apergaminhando-a, deixando em cada ruga um sofrimento, uma decepção, uma amargura.
Quem a vê não é capaz de avaliar as lutas que travou com estoicismo demorado.
Talvez tenha vendido o corpo para que o pão mmguado não faltasse totalmente em casa, ou a gôta de leite nutriente não fôsse negado ao filho, que sustentou com
abnegação e devotamento.
Possivelmente, quando percebeu a presença do gérmen da vida movimentando-se na intimidade do ventre e cantou a notícia aos ouvidos do amor que a fecundou, foi
convidada a extirpá-lo e preferiu a rota da soledade, do abandono, ao infanticídio...
Quem sabe os demorados travos de amargura que lhe tisnaram os lábios e os silêncios que foram sufocados no coração, a fim de que, misturando as suas com as lágrimas
do filho, não o deixasse sofrer em demasia?...
Há, sim, muitas mães que se transformaram em hienas desapiedadas. Outras se fizeram indiferentes ao sublime cometimento maternal, deixando os filhos a êsmo. Muitas,
incontáveis, fizeram-no vitimadas pela miséria, pela ignorância, pelo desespêro... E são, no entanto, exceção.
Um sem número de jovens traídas no sonho de felicidade a que se deixaram arrastar, santificaram as horas mais tarde sustentando o filhinho nos braços como o mais
precioso tesouro que jamais ambicionaram.
Desde a hora em que lhes sorriu o pedacinho daquela vida, parte da sua vida, elas se esqueceram de si mesmas e empenharam-se com sofreguidão a protegê-lo, acalentando,
talvez, a ambição de receberem um amparo mais tarde para si mesmas, não obstante amparando em regime integral de proteção e defesa o filhinho que sustinham nos braços...
Há, também, os filhos ingratos, que se transformaram em abutres que sobrevoam o quase cadáver de quem lhes ofertou o vaso orgânico...
Também os há que se converteram em regaço de luz e em aroma de benignidade, em santa devoção, tentando retribuir...
Mães - estrêlas da Vida, multiplicando vidas!
Filhos - gemas brutas a serem trabalhadas para as fulgurações estelares!
* * *
Muitos corpos não geraram outros corpos, no entanto fizeram-se mães da dedicação em nome do amor de Nosso Pai, sustentando essas vidas que não se estiolaram porque
elas tomaram a si o ministério de socorrê-las e ampará-las.
São as mães da abnegação e do sofrimento...
Em singela manjedoura, um dia, uma mulher sublime fêz-se Mãe Santíssima e depois de uma cruz de infâmia transformou-se na mãe-modêlo de tôdas as mães, simultãneamente
mãe de todos nós.
Quando as criaturas da Terra evocam para homenagear a própria genitora, Maria, a Santíssima, roga ao Filho Celeste que abençoe a Humanidade, especialmente as
mães, no momento em que, ultrajada e sofrida, a maternidade é considerada punição e desgraça pelas mulheres e pelos homens que passam enlouquecidos na direção do
desespêro...
*
"Honrai a vosso pai e a vossa mãe".
Lucas: capítulo 18º, versículo 20.
*
"Honrar a seu pai e a sua mãe não consiste apenas em respeitá-los; é também assisti-los na necessidade; é proporcionar-lhes repouso na velhice; é cercá-los de cuidados
como eles fizeram conosco na infância".
Capítulo 14º - Item 3, parágrafo 2.
45
ANTE À JUVENTUDE
Como jovem arrolas queixas e azedumes, apontando o fracasso das gerações transatas, derrapando nos desfiladeiros da insensatez, em busca de novos desencantos.
Anotas erros que se sucedem na chamada "sociedade de consumo", com prevenções injustificáveis e complexas, sem que apresentes qualquer programa correto de elevação
eficiente.
Repassas mentalmente as conquistas tecnológicas dêstes dias, acusas os familiares e genitores que debandam da intimidade doméstica para as lutas externas, entregando
os filhos a servos e a escolas-maternais, a creches e jardins de infância, do que resultam desamor e desajustes irreversíveis.
A "volta às origens", que preconizas, inspirada na rebeldia contra a organização social, impõe-te reações que fazem esquecer os patrimônios da inteligência para
açularem os instintos que se desgovernam, conspirando lamentàvelmente contra a vida...
Requisitas justificações para a fuga da realidade, evadindo-te na direção dos alucinógenos e do sexo em desalinho, flutuando, desde então, em sonhos fantásticos
que se transformam em altas cargas esquizofrênicas nos tecidos sutis do espírito encarnado...
São de todos os tempos, porém, as lutas juvenis laborando por afirmação, renovando estruturas sociais e econômicas, ativando interêsses artísticos e culturais,
abrindo horizontes dantes jamais sonhados nas paisagens da Ciência.
Doutrinas cínicas medraram sempre desde Diógenes que estruturava o seu pensamento ético na concepção do desrespeito à ordem, fundamentando as suas lições no culto
à liberdade excessiva em detrimento da liberdade mesma que devia existir entre as demais pessoas à sua volta...
Floresceram, também, os motivadores da ação edificante que enobreceram a espécie humana, fazendo-a sobreviver às calamidades e impulsionando o ser na direção
da saúde e da relativa felicidade que já alguns podem fruir mesmo na Terra.
Jovem, não é apenas aquêle que dispõe de aparelhagem fisiológica nova. A juventude é estado interior que resulta do otimismo e da elevação a que se vincula o
homem, inspirado pela indestrutibilidade do espírito - única segurança para quem empreende a tarefa da própria paz.
Jovens há que envelheceram nos compromissos negativos e não podem recomeçar, amargurados e amargurantes como se encontram. Enquanto outros, idosos, estão rejuvenescidos
pelo ideal que esposam sem envelherecem na caducidade dos propósitos em que insistem.
Corpo jovem não indica posição ideal da vida, antes é compromisso para com a própria evolução.
Espíritos amadurecidos no bem, em se emboscando nos corpos, refletem na indumentária de que se utilizam para avançar as condições de equilíbrio e sensatez, com
que impulsionam a máquina do progresso. O mesmo ocorre com os espíritos em experiências iniciais da programática evolutiva, que apenas exteriorizam as paixões do
instinto e as expressões da forma sem maiores vôos para as elevadas aspirações.
Não cogites, pois, de considerar pelo corpo o valor do homem. Enquanto se pode marchar sem remorsos nem constrições mantém-se a juventude, possui-se a condição
de mocidade para sustentar a jornada.
* * *
Constrói, dêsse modo, o amanhã, desde hoje, enquanto jovens são as tuas carnes e poderosas as tuas fôrças, dinamizando as possibilidades fomentadoras da harmonia,
a fim de que o teu amanhã te chegue com bênçãos de paz, mediante o legado de gerações felizes, para os quais colaboraste, pelo sentido da ordem e do dever retamente
cumprido à semelhança de Jesus, que, aos 12 anos, já superava os doutores da Lei, e, ao partir da Terra, muito jovem, renovou pelo exemplo tôdas as paisagens do
planêta e plantou as bases do Nôvo Mundo, para cuja construção fôste chamado e na qual te encontras.
*
"Foge também das paixões da mocidade e segue a justiça, a fé, o amor, a paz com aquêles que invocam o Senhor com um coração puro".
2ª Epístola de Paulo a Timóteo: capítulo 2º, versículo 22.
*
"Desde pequenina a criança manifesta os instintos bons ou maus que traz da sua existência anterior. Ao estudá-los devem os pais aplicar-se. Todos os males
se originam do egoísmo e do orgulho. Espreitem, pois, os pais os menores indícios reveladores do gérmen de tais vícios e cuidem de combatê-los, sem esperar que lancem
raízes profundas".
Capítulo 14º - Item 9, parágrafo 8.
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BOM ÂNIMO
Hoje experimentas maior soma de aflições. Observaste a grande mole dos sofredores: mães desnutridas apertando contra o seio sem vitalidade filhos misérrimos,
desfalecidos, quase mortos; mutilados que exibiam as deformidades à indiferença dos passantes na via pública; aleijões que se ultrajavam a si mesmos ante o desprezo
a que se entregavam nos "pontos" de mendicância em que se demoram; ébrios contumazes promovendo desordens lamentáveis; enfermos de vária classificação desfilando
as misérias visíveis num festival de dor; jovens perturbados pela resolução dos novos conceitos e vigentes padrões éticos; órfãos...
Pareceu-te mais tristonha a paisagem humana, e consideras mentalmente os dramas íntimos que vergastam o homem, na atual conjuntura social, moral e evolutiva do
planêta.
Examinas as próprias dificuldades, e um crepúsculo de sombras lentamente envolve o sol das tuas alegrias e esperanças.
Não te desalentes, porém.
O corpo é oportunidade iluminativa mesmo para aquêles que te parecem esquecidos e que supões descendo os degraus da infelicidade na direção do próprio aniquilamento.
Nascer e morrer são acidentes biológicos sob o comando de sábias leis que transcendem à compreensão comum.
Há, no entanto, acompanhando todos os caminhantes da forma carnal, amorosos Benfeitores interessados na libertação deles. Não os vendo, os teus olhos se enganam
na apreciação; não os ouvindo, a tua acústica somente registra lamentos; não os sentindo, as parcas percepções de que dispões não anotam suas mãos quais asas de
caridade a envolvê-los e sustentá-los.
* * *
Perdido em meandros o rio silencioso e perseverante se destina ao mar.
Agitada e submissa nas mãos do oleiro a argila alcança o vaso precioso.
Sofrido o espírito nas malhas da lei redentora atinge a paz.
Ante a sombra espêssa da noite não esqueças o Sol fulgurante mais além. E aspirando o sutil aroma de preciosa flor não olvides a lama que lhe sustenta as raízes...
Viver no corpo é também resgatar.
O espírito eterno, evoluindo nas etapas sucessivas da vestimenta carnal, se despe e se reveste dos tecidos orgânicos para aprender e sublimar.
Numa jornada prepara o sentimento, noutra aprimora a emoção, noutra mais aperfeiçoa a inteligência...
Nascer ou renascer simplesmente não basta.
O labor, interrompido, pois, prosseguirá agora ou depois.
Não cultives, portanto, o pessimismo, nem te abatam as dores.
Cada um se encontra no lugar certo, à hora própria e nas circunstâncias que lhe são melhores para a evolução. Não há ocorrência ocasional ou improvisada na Legislação
Divina.
* * *
Quando retornou curado para agradecer a Jesus da morféia de que fôra libertado, o samaritano que formava o grupo dos dez leprosos, conforme a narração evangélica,
fêz-nos precioso legado: o do reconhecimento.
Quando o centurião afirmou ao Senhor que uma simples ordem Sua faria curado o seu servo, ofertou-nos sublime herança: a fé sem limites.
Quando a hemorroíssa, vencendo todos os obstáculos, tocou o Rabi, deixou-nos precioso ensino: a coragem da confiança.
Identificado ao espírito do Cristo, não te deixes consumir pelo desespêro ou pela melancolia, sob revolta injustificada ou indiferença cruel. Persevera, antes,
no exame da verdade e insiste no ideal de libertação interior, ajudando e prosseguindo, além, porque se hoje a angústia e o sofrimento te maceram, em resgate que
não podes transferir, amanhã rutilará no corpo ou depois dêle o sol sublime da felicidade em maravilhoso amanhecer de perene paz.
*
"Tem ânimo filho: perdoados são os teus pecados".
Mateus: capítulo 9º, versículo 2.
*
"Deus não dá prova superior às fôrças daquele que a pede; só permite as que podem ser cumpridas. Se tal não sucede, não é que falte possibilidade: falta a
vontade".
Capítulo 14º - Item 9, parágrafo 9.
47
MARCO DIVISÓRIO
Houve na Roma antiga um templo dedicado a Jano, que durante um milênio somente fechou as suas portas nove vêzes, correspondentes aos períodos em que a República
estêve em paz. O deus singular era representado com duas faces, o que o tornou conhecido como bifronte, atributo conseguido de Saturno, a quem favorecera, e que
o dotara com a capacidade de penetrar o passado e o futuro, conforme narra a mitologia, ao se referir ao mais antigo rei do Lácio conhecido,
* * *
Utilizamo-nos da lenda para considerar a visão cristã como possuidora da possibilidade de examinar o passado e o futuro, ensejando valiosas meditações.
Em Saulo, o jovem atormentado, que se fizera sicário, dormitava aquêle Paulo que, abrasado por Jesus, se tornou o arauto da Boa Nova por tôdas as terras da antigüidade.
Em Jeziel, o israelita pulcro e sofrido, se encontrava em potencial o- nobre Estêvão, que se faria o excelso mártir da Mensagem nascente, abrindo os braços de
encorajamento na direção do futuro.
Em Madalena, a mulher obsidiada e trôpega nas aspirações morais, vivia enclausurada a impoluta faculdade de amar até o sacrifício, doando-se à Causa do Cristo
com abnegação dificilmente encontrada.
Em Simão, temeroso e reticente, vibrava o apóstolo Pedro, que se entregaria à fé rutilante, após o sacrifício de Jesus, de modo a selar com sangue a audácia
de porfiar fiel até o fim, na expansão do Reino de Deus entre as criaturas de Roma.
Em Joana de Cusa, a matrona romana, se agitava a discípula fiel que doaria a vida às labaredas pela honra de ser fiel ao Mestre.
* * *
Era como se o passado de dificuldades e viciações argamassasse o futuro com o cimento divino do amor, transformando-se em base de sustentação aos grandes investimentos
da luz na direção do Infinito.
No passado, queixas, lamentos, enfermidades, dissensões.
No futuro, esperanças, gratidão, saúde e paz.
Ontem, óbice, desânimo, perturbação, agonia.
Amanhã, aptidão, alento, ordem, serenidade.
Antes, o espírito alquebrado e o coração ralado de dores e ansiedades incontáveis.
Depois, o ser renovado pela mente voltada ao dever e os sentimentos cantando júbilos.
A Doutrina Cristã é o templo da fé aberto perenemente, facultando a paz e acolhendo o amor.
E o Espiritismo que no-la traz de volta, na atualidade, é o grande hoje, marco divisório dos tempos que separam o antes e o depois do encontro com Jesus.
Por essa forma, se as tuas aspirações superiores ainda não se converteram em flôres de alegria e as ásperas batalhas teimam por manter-te nos embates duradouros
não desfaleças. O passado de sombras para ser vencido necessita de ser retificado e os abusos agasalhados demoradamente requerem disciplina espartana para serem
superados.
Importa considerar que já não és o que eras, nem sentes o que sentias, embora, não poucas vêzes, o assédio do hábito te atormente as pausas de equilíbrio.
Examina o passado para verificação do que te compete refazer, mas não te fixes nêle.
Prepara o futuro através de atitudes corretas mas não te angusties pela chegada dêle.
Vence a hora de cada hora, realizando o que possas, através de como possas, lidando infatigável na república do espírito em atribulação.
Os acontecimentos vividos são experiências para as realizações a viver.
Jesus é o teu divisor de águas.
Kardec é o condutor do teu amanhã. Eleva-te ao Mestre através do Seu apóstolo moderno e fecha às paixões o templo da tua alma, em caráter definitivo, aspirando
à glória do Mundo Maior que a todos nos espera.
*
"Ninguém, tendo pôsto a mão ao arado e olhando para trás, é apto para o reino de Deus".
Lucas: capítulo 9º, versículo 62.
*
"Meus amigos, agradecei a Deus o haver permitido que pudésseis gozar a luz do Espiritismo".
Capítulo 15º - Item 10, parágrafo 2.
48
BENS VERDADEIROS
Os verdadeiros bens são aquêles que têm caráter inalienável. O que transita não constitui posse, antes é mordomia. Nesse particular, os tesouros terrenos valem
pela tônica que lhes emprestamos, caracterizados pelas paixões que envilecem, aquêles que os dominam parcialmente ou pela dinâmica do trabalho valioso que fomentam.
A posse monetária, no entanto, em si mesma não é responsável pelos bens que produz nem pelos males que gera.
Manipulando a posse encontra-se sempre o espírito, que a faz nobre ou perniciosa.
O dinheiro, de tão desencontradas conceituações, não é o responsável direto pela miséria social nem o autor das glórias culturais.
A moeda que compra consciências é a mesma que adquire leite para a orfandade; o dinheiro que entorpece o caráter é aquêle que também salva uma vida, doando sangue
a alguém que esteja à beira da desencarnação; o numerário que corrompe moçoilas invigilantes, fascinadas pelo momentâneo ouropel da glória social, faculta igualmente
sucesso às grandes conquistas do conhecimento.
Se êle favorece o tráfico de entorpecentes e narcóticos, a prostituição e rapina, também estimula
o progresso entre as Nações, drena as regiões pantanosas e transforma os desertos em abençoados pomares, educa...
Em mãos abençoadas pela caridade, êle dá lume e pão, distribui reconfôrto e alegria, difunde o alfabeto e a arte, amplia a fraternidade e o amor, atenuando as
asperezas da senda. por onde transitam os infelizes.
Movimentado por ociosos consome-se na usura e, insensatamente, vai conduzindo para perverter, malsinando vidas e destroçando-as.
As legítimas fortunas são as que têm fôrça indestrutível.
Valem muitas vêzes menos, porque desconsideradas pelo egoísmo geratriz dos males que infestam os espíritos multimilenarmente. Raros as disputam. São os valôres
morais.
* * *
Certamente a ganância, resultante da má educação religiosa e social do homem, fomenta os crimes que são catalogados como conseqüências das riquezas mal dirigidas.
A ganância. de uns engendra a miséria de muitos e a ambição desmedida de poucos faz-se a causa da ruína generalizada que comanda multidões.
O Evangelho de Jesus, no entanto - inapreciável fortuna de paz e amor ao alcance de todos -, possui a solução para o magno problema da riqueza e da pobreza, em
se referindo às leis do amor e da caridade que um dia. unirão todos os homens como verdadeiros irmãos.
E o Espiritismo, confirmando as lições do Senhor, leciona, soberano, graças à informação dos imortais, que o mau uso da riqueza impõe o recomeço difícil na miséria,
àquele que a tenha malbaratado.
Multiplica, então, os bens verdadeiros de que disponhas nas leiras do amor e reparte os valôres transitórios de que te faças detentor na seara da Caridade para
que tranqüilos sejam os teus dias no Orbe e feliz o teu renascimento futuro, quando de volta à Terra
*
"Vendei o que possuís e dai esmolas. fazei para vós bolsas que não envelheçam, um tesouro inexaurível nos céus, onde o ladrão não chega nem a traça roi".
Lucas: capítulo 12º, versículo 33.
*
"O homem só possui em plena propriedade aquilo que lhe é dado levar deste mundo".
Capítulo 16º - Item 9.
49
VALORES E POSSES
Não somente o dinheiro constitui fortuna, conforme supõem muitos homens enganados, referindo-se à vida e às posses na Terra.
Em diversas circunstâncias, o patrimônio amoedado se converte em aflição e desgraça, amargando as horas e, ao mesmo tempo, aniquilando a alegria, em detrimento
da paz.
Há fortunas de valor incalculável que apenas são consideradas nas suas significações legítimas quando perdidas...
E são êsses tesouros que merecem cuidados especiais, porqüanto não exclusivamente o dinheiro se converte em pesada carga de responsabilidade.
Como são conhecidos homens e mulheres cujos bens se transformam em grades de presídio e corredores de loucura, outros existem, através de cujas abençoadas mãos
a esperança e a saúde, o reconforto e a caridade escorrem em abundância, na direção das aflições humanas. São mãos estrelares que fazem fulgir e refulgir o amor
divino como luarização do bem, amenizando as agonias de todo jaez. Por meio dêles o progresso se desenvolve, as atividades se multiplicam benéficas, o carro da felicidade
esparge oportunidades, a ciência investiga, as artes atingem as mais belas expressões, os males e as calamidades no mundo diminuem, sofrendo acirrado combate...
Não fôra a êstes dirigida a referência do Senhor, quando acentuando sôbre a escassez de ricos no Reino dos Céus.
* * *
Muitos dons humanos são fortunas inapreciáveis que não raro se convertem em cárcere e limitação de conseqüências calamitosas.
Mesmo entre os chamados à lavoura do Evangelho, não poucos se utilizam da riqueza da palavra. Usam-na destrutivamente no comércio da maledicência, na alfândega
da calúnia, no tribunal da acusação, no intercâmbio da intriga. E a palavra pode transformar-se, no entanto, em rota luminescente, pão de sustento, água refrescante
a benefício de incontáveis corações...
A juventude, campo sublime de aprendizagem, representa posse incomparável, que reúne as condições para a verdadeira felicidade. E malbaratam-na no jôgo de prazeres
embriagantes, na disputa de ouropéis enganosos, na aventura dos entorpecentes destruidores... Dela, assim, aplicada, decorrem alucinações e escravidão de longo curso,
na qual muitos se perdem por anos a fio...
A saúde, doação excelsa de Deus, é poderosa riqueza que ninguém malbaratará Inconseqüentemente. E jogam-na nos resvaladouros da insensatez e da leviandade...
A inteligência, elaborada através de milênios e milênios na escala evolutiva, traduz concessão libertadora que não se pode aplicar no sentido destrutivo, sem
ácidos corretivos.
Todavia, milhares e milhares de criaturas nublam-na, apagando as suas claridades sublimes, com as nuvens do ódio e do primitivismo moral...
Riquezas, fortunas, poder estão na própria indumentária carnal, à disposição de todo espírito em romagem evolutiva, mediante as reencarnações redentoras.
Mesmo quando temporariamente enfêrmo ou limitado um corpo, conduzindo o dispositivo reparador em forma de coerção ou sofrimento, é, para o espírito, excelente
concessão do Alto a seu benefício, que lhe serve de bênção superior.
Assim, examinando, não penses em moedas e notas fiduciárias, em cheques e depósitos, cédulas e promissórias para as necessidades aquisitiva imediatas.
Penetra-te da certeza dos bens maiores com que a vida te aquinhoa e coloca em multiplicação os recursos de que te encontras possuído, espalhando alegria e entusiasmo
por onde sigam os teus pés.
Compadece-te sempre, socorre; exorta com amor, ajuda; perdoa generosamente, ama; harmoniza as expressões do verbo servir e usa as mãos na lavoura da semeação
da esperança; movimenta o corpo na direção do dever e faze que se renovem sempre os valõres poderosos de que te encontres possuído.
És detentor de fortunas que jazem enferrujando ao abandono, ante os ladrões da indolência que as roubam e as traças da negligência que as gastam e paralisam.
* * *
Jesus visitou a casa de Zaqueu, concedeu entrevista a Nicodemos, aceitou o sepulcro nôvo doado por José de Arimatéia, como abençoando os tesouros amoedados
e os seus mordomos temporários. No entanto, foi severo com Judas, retrucando, quando êste se referiu ao valor do bálsamo com que a pecadora lhe banhava os pés e
cujo produto, se vendido, poderia auxiliar os pobres: "Os pobres, vós os tereis sempre, mas a mim, nem sempre".
Preciosa lição, na qual tôda fortuna aplicada na construção do amor é alavanca do progresso proporcionada por Nosso Pai para a grandeza do mundo e, ao mesmo tempo,
ensinando que as fortunas pessoais, que todos detemos mediante a reencarnação, representam a nossa oportunidade para crescer em plena glória solar na direção do
Rei Divino, que nasceu numa estrebaria para alar-se às estrêlas desde os braços de uma Cruz.
*
"Porque onde está o vosso tesouro, ai estará, também, o vosso coração".
Lucas: capítulo 12º, versículo 34.
*
"Os bens da Terra pertencem a Deus, que os distribui a seu grado, não sendo o homem senão o usufrutuário, o administrador mais ou menos íntegro e inteligente desses
bens".
Capítulo 16º - Item 10.
50
TOLERÂNCIA E FRATERNIDADE
O ser querido desertou do lar, vencido pela fragilidade das fôrças ainda impregnadas de alta dose de animalidade; todavia, acusa-te, fazendo-te responsável pela
sua fuga. Sê tolerante e conserva-te fraterno em relação ao evadido.
O antigo dedicado de ontem não deseja mais a tua lealdade e sai, arremetendo diatribes que te maceram. Sustenta a tolerância e mantém a fraternidade pensando
nêle.
O beneficiário da tua bondade, navegando em situação de bonança, esquece as tuas dádivas e faz-se soberbo, malsinando o teu nome. Acautela-te na tolerância e
reserva-lhe a fraternidade.
As tuas palavras de advertência, tocadas no mais nobre desejo de acertar, são agora transformadas por antigos comparsas que se fizeram teus adversários, em açoites
que te alcançam. Continua tolerante e dissemina a fraternidade.
Os convidados pela tua lição de sacrifício a participarem do banquete de luz e vida do Evangelho, apontam-te mil débitos, e sofres. Porfia na tolerância e trabalha
pela fraternidade.
Divulgas o bem por amor do bem, tentando viver o bem, mas, apesar disso, não faltam as agressões ao bem que fazes e desafios por parte daqueles que supões beneficiar.
Confia na tolerância e aciona a fraternidade...
Tolerância e fraternidade sempre.
Em tôda e qualquer circunstância essas duas armas cristãs, da "não violência", podem operar milagres. Talvez aquêles a quem as ofertas, recusem-nas momentaneamente,
todavia, ser-te-ão benéficas utilizá-las, já que elas restaurarão tua paz, se a perdeste, ou manterão tua tranqüilidade, se a conservas.
* * *
"Bem-aventurado aquele que sofre a tentação porque quando fôr provado receberá a coroa da vida à qual o Senhor tem prometido aos que o amam" - conforme ensinou
o apóstolo Tiago, na sua Epístola universal, Capítulo um, versículo doze.
A tentação, por isso mesmo, possui as suas raizes no cerne daquele que é tentado, e como é natural, reponta freqüentemente, ensejando-lhe a nobre batalha da própria
redenção.
Viajores de muitas experiências malogradas, somos a soma das nossas dívidas em operação de resgate.
Cada ensejo depurador é bênção impostergável. Ora, se alguém nos fere ou magoa, nos acusa ou abandona, com fundamentos injustos, tentando nossa fraqueza ao revide
ou à deserção do combate, mantenhamos tolerância para com êle - o instrumento inconsciente da Lei - e sejamos fraternos. facultando-lhe retornar com a certeza de
se recebido pelo nosso coração.
A sombra é geratriz de equívocos como o êrro é matriz de tormentos íntimos naquele que o pratica. A punição mais severa, portanto, para o transviado é o despertar
da consciência, hoje ou amanhã.
Jesus convocou-nos ao amor incondicional e ao perdão das ofensas, e Allan Kardec, o discípulo fiel, na tríade que formulou, situou a Tolerância como uma das bases
da felicidade humana, sendo a fraternidade, dessa forma, o espelho onde se pode refletir a alma do amor, em tôdas as circunstâncias e lugares.
Tolerância e fraternidade, como roteiros para a harmonia que buscamos, são lições vivas de entendimento humano, nos deveres que esposamos à luz do Cristianismo
Redivivo.
*
"Pois o filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos".
Marcos: capítulo 10º, versículo 45.
*
"O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de RAÇAS NEM DE CRENÇAS, porque em todos os homens vê irmãos seus
Capítulo 17º - Item 3, parágrafo 7.
51
RECURSOS ESPÍRITAS
Agora que assimilaste o precioso conteúdo das lições espiritistas, deparas com as excelentes concessões da vida que já não podes desconsiderar. A fé, que então
clareia os teus passos, se mantém graças ao combustível da caridade, que podes utilizar indefinidamente, por estar ao alcance dos teus recursos.
Em razão disso, já não te podes permitir navegar como antes: em "maré baixa".
Descobriste os recursos do otimismo, e conquanto haja sombra circundando a tua oficina de ação nobilitante, abre a janela da esperança e vislumbra adiante a claridade
que logo mais te envolverá.
Nominalmente convocado ao pátio da censura ou ao balcão das queixas e reclamações, concorre com o rol da compreensão e da afabilidade, da mansuetude e da desculpa
espontânea aos que não compartem contigo os propósitos de elevação, insistindo na tarefa encetada.
Conhecendo as "leis dos fluídos" poderás fàcilmente identificar as companhias espirituais, saindo pela porta da oração dos redutos de vibrações negativas e perniciosas
em que te encontres.
Se te sentires inquieto no serviço que te compete realizar, insultado por companheiros que não acreditam no teu esfôrço, silencia e produze mais.
Se perturbações de variada ordem te impedem de prosseguir na execução do programa da tua própria libertação, não lamentes nem recalcitres:
eleva o pensamento aos Planos da Misericórdia Divina e labora ainda mais.
Assediado psiquicamente por Entidades levianas ou perseguidoras, trabalha pelo bem de todos, utillzando os recursos de que disponhas e preenche os espaços mentais
vazios, não concedendo trégua àociosidade.
Vencido pela fadiga desta ou daquela natureza, renova as fôrças, meditando uma página consoladora antes lida.
Algumas vêzes o veneno da ira amargurará teus lábios; em muitas ocasiões a balbúrdia dos desocupados te atordoará, envolvendo-te em atroada avassaladora; repentinamente
sentirás a mágoa insidiosa e injustificável, açulando a indiferença muda, que te ameaça, cruel; a tentação de "tudo abandonar", reiteradamente chegará à tua casa
mental; a deserção de inúmeros companheiros será estímulo para o teu desânimo; as facilidades do caminho estarão fascinantes à tua frente, convidativas; e perguntarás:
que fazer?
Recorre aos recursos espíritas: ora, e ora sempre, para adquirires resistência contra o mal que infelizmente ainda reside em nós; permuta conversação enobrecida,
pois que as boas palavras e os pensamentos bons renovam as disposições espirituais; utiliza o recurso do passe socorrista, rearticulando as fôrças em desalinho;
sorve um vaso de água fluidificada, restaurando a harmonia das células em desajustamento e, sobretudo, realiza o bom serviço.
Nenhum mal consegue triunfo no terreno reservado ao bem atuante.
Não te concedas a insensata cooperação com o pessimismo ou o desalento, a rebeldia ou o egoísmo, estimulando a produção do ôrro ou a multiplicação da anarquia.
Aquele que conhece o Espiritismo é beneficiário do Consolador, em cuja fonte haure fôrças e resignação, mas é, também, amigo da Verdade, em cuja companhia não
tergiversa, sejam quais forem as circunstâncias, avançando em rumo definido, certo da vitória final.
Tem como modêlo e guia Jesus, cujo chamado escutou e atende, prosseguindo na marcha após "renunciar a si mesmo, tomar a própria cruz" e transformar-se em espírita
autêntico, o que equivale a cristão verdadeiro.
*
"Se podes! Tudo é possível àquele que crê".
Marcos: capítulo 9º, versículo 23.
*
"Muitos, entretanto, dos que acreditam nos fatos das manifestações não lhes apreendem as conseqüências, nem o alcance moral, ou, se os apreendem, não os aplicam
a si mesmos".
Capítulo 17º - Item 4, parágrafo 2.
52
RESPOSTAS INDIRETAS
Rogavas, ainda ontem, saúde para o corpo alquebrado e constatavas a presença da enfermidade.
Confiavas, ainda ontem, que o problema moral fôsse suavizado ante o auxílio que aguardavas do Céu, e o defrontas a martirizar o coração.
Esperavas, ainda ontem, que os óbices desaparecessem do caminho, considerando a nobreza dos teus intentos, e encontras a dificuldade ampliada como a zombar do
teu esfórço.
Oravas, ainda ontem, buscando fôrças e robustez para o trabalho, e despertas com as mesmas fraquezas do dia anterior.
Solicitavas, ainda ontem, auxílios eficazes para a continuação do labor socorrista, e surpreendes a ausência dos valôres necessários.
Deixas-te abater pelo desânimo, acreditando-te esquecido dos favores divinos.
Sucede, porém, que o Celeste Pai responde aos nossos apelos, não conforme os nossos desejos, mas consoante as nossas necessidades.
A tenra plantinha roga altura; mas sem que robusteça o tronco candidata-se à destruição.
A fonte modesta roga caminho para correr; sem a fôrça da corrente, porém, perde-se, consumida pelo solo.
É necessário, pois, discernir para entender.
Muitas vêzes o bem mais eficaz para o doente ainda é a enfermidade.
O lavrador atende ao solo com os recursos que conta em si mesmo e na terra. A chuva e o sol são contribuições que a misericórdia celeste lhe dispensará correspondendo
ao mérito da sua seara. Mas não se descoroçoa se o excesso da chuva e o calor do sol lhe destróem a sementeira. Refeito da dor retorna ao campo e prossegue resoluto.
Procura, assim, entender também as respostas indiretas com que o Sublime Amigo nos atende.
Nem sempre o que nos parece o melhor é realmente o melhor para nós.
Persevera no trabalho nobre e honroso, atende aos deveres que te competem realizar; e, mesmo que as tuas mãos doloridas e calejadas roguem ungüento que não chega,
prossegue esperando, firme e sobranceiro, recordando que o fruto nunca precede à florescência e que esta desponta nos dedos da planta que se dilacera para perpetuar
a própria espécie. Deixa-te chegar, e, coroado com o suor, o sangue e as lágrimas do teu esfôrço, as flôres da esperança no Céu responderão às tuas ansiedades com
os frutos da paz e da felicidade.
*
"Outra, finalmente, caiu em terra boa e produziu frutos, dando algumas sementes cem por uma, outras sessenta e outras trinta".
Mateus: capítulo 13º, versículo 8.
*
"O homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais do que as criaturas e ama as criaturas mais do que a si mesmo. É a um tempo juiz e escravo em causa própria".
Capítulo 17º - Item 7, parágrafo 4.
53
PENHOR DE FÉ
Não te surpreendam as dificuldades nem as incompreensões na esfera da. ação em que te encontras a serviço da Era Melhor do Espírito Imortal. Todo empreendimento
que visa a modificação de estrutura ultramontana do êrro experimenta a reação contrária da própria fôrça em atuação.
Apontas ásperas lutas e duras provas, referes-te a desencantos e dubiedades, arrolas desassossêgo e evasão, abisma-te em desaire e amargura como se desejasses
um jardim florido para aspirar aroma e não uma gleba a transformar-se em seara de bênçãos, tõda por inteira.
Considera, porém, que a lâmina que produz desgasta-se, a pedra que atrita destrói-se, o lume que clareia consome o combustível de sustentação, o corpo que se
desenvolve e cresce para a glória do espírito caminha para o sepulcro... Tudo são permutas incessantes.
Átomo a átomo agrega-se à molécula.
Célula a célula compõe-se o órgão.
Partícula a partícula forma-se o vegetal.
Vibração a vibração aglutinam-se as fôrças do Universo.
O sol que nos sustenta aniqUila-se paulatinamente ao converter massa em energia para o equilíbrio e manutenção dos astros que gravitam na sua órbita...
Assim, também, ocorre no campo das aspirações morais.
A excelência dos nossos ideais se revela no testemunho que dêles oferecemos.
Começamos e recomeçamos tarefas de sublimação até atingirmos o ápice da libertação, resgatando todos os débitos.
Por essa forma, cada qual respira no clima elaborado pelo pensamento e cultivado pela vontade.
Ante o que fazer, não te aquietes no já feito.
Fase ao produzir em nome do amanhã, evita a paisagem do passado.
Projetando o bem esquece o mal, que em última análise é apenas o bem ausente.
Não desfaleças, não retrocedas, porque as tuas aspirações sofrem a baba da injúria e as tuas expressões são entendidas como acicates que no entanto não esparzes.
Reverenciando Jesus, a Quem procuras atender e cujo amor te incendeia a alma em pleno despertar, agradece todo empeço e azedume que te apareçam, perdoando sempre,
porqüanto, testemunhando a legitimidade dos teus propósitos, o perdão que ofertes é oportunidade para ti mesmo, como perdão de Nosso Pai na direção dos teus desejos.
*
"Tende fé em Deus!"
Marcos: capítulo 11º, versículo 22.
*
"A verdadeira fé se conjuga à humildade; aquêle que a possui deposita mais confiança em Deus do que em si próprio, por saber que, simples instrumento da vontade
divina, nada pode sem Deus".
Capítulo 19º - Item 4.
54
PROBLEMAS, FACILIDADES E FÉ
Enquanto o discípulo do Evangelho laborava em dificuldade sob o pêso de problemas de variada denominação, amargando enfermidade e dor, afervorava-se na vivência
cristã, em cuja trilha encontrava segurança para a marcha e sob cujo amparo lenha as feridas do sentimento estiolado.
Emocionado, deixava-se vencer pelas dúlcidas consolações a fluírem da Boa Nova, penetrando-se de fervor e desejoso por servir com abnegação e renuncia.
Planos de auxílio fraterno enfloresciam sua alma e suas mãos diligentes arregimentavam ações superiores para o exercício da caridade sem mesclas.
Nas jornadas de estudos embaía-se de responsabilidade e permitia-se comunicar pelas excelentes diretrizes que se transformavam em roteiro de seguro comportamento.
Jungido à dor possuía a fé.
Paulatinamente modificou-se a paisagem e o discípulo, graças ao labor abençoado, granjeou amizades eternas, lobrigando sensibilizar Benfeitores Desencarnados
que interferiram junto aos promotores do progresso humano, modificando, a benefício dêle, os mapas provacionais de modo a que fõssem atenuados seus débitos e modificada
a mecânica da sua luta, objetivando-se mais amplo campo de serviço a bem do próximo.
A saúde recebeu mais expressiva carga de energia positiva, foram tomadas providências no metabolismo orgânico e, a breve tempo, os equipamentos físicos e psíquicos
apresentaram-se saudáveis, aquinhoados pela harmonia.
Sorriam êxitos e abundavam lucros.
Insensivelmente o discípulo modificou as expressões íntimas do comportamento -
Dominado pelos compromissos novos afastou-se da charrua da caridade, tornando-se onzenário, e como o tempo lhe representasse patrimônio monetário que poderia
conseguir fêz-se faltoso, sob justificativas superficiais até que abandonou em definitivo o labor a que se encontrava ligado por novos deveres a que se submeteu
dócilmente -
Pela memória, às vêzes recordava os dias idos experimentando, é verdade, inusitada nostalgia.
A volúpia dos valôres novos, a ambição desmedida, a bajulação da leviandade e o aplauso da fatuidade, embora lhe agradassem à prosápia, não conseguiam preencher-lhe
o imenso vazio que vagarosa, porém, seguramente o dominava, terminando por vencer-lhe as resistências.
Enriqueceu e conquistou amigos.
O tempo tomou-lhe a saúde e alterou diversas amizades. O cansaço venceu-lhe a intrepidez e os desenganos terminaram por deixá-lo só -
Quando chegou a desencarnaçãO, encontrou-se de consciência atormentada, e conquanto portador de expressiva fortuna econômica partiu da Terra com as mãos vazias.
Amigos e bens não foram além do túmulo, atingiram-lhe apenas e somente os portais de cinza e lama, antes que êle mesmo se adentrasse pela Imortalidade...
* * *
Diante das dificuldades de qualquer denominação, face aos infortúnios de variada classificação, perante as graves e dolorosas conjunturas, da existência planetária,
sob a constrição de qualquer enfermidade ou sofrendo transes afetivos sem nome e sem esperança, não te arrojes ao desespêro nem rogues soluções apressadas à Vida
-
Tem paciência e sofre confiante.
Tudo passa -
Qualquer situação, como tôda a circunstância boa ou má são transitórias pelo caminho da evolução.
Espera e persevera no exercício do bem sem limite, recuperando o passado de sombras e acendendo luzes de esperanças para o futuro -
Quando menos esperes, descobrirás que as dores se foram, as lutas cessaram, mas em paz de consciência estarás livre das conjunturas carnais adejando além das
situações dolorosas no rumo da plenitude da paz interior.
*
"Tudo o que com fé pedirdes em vossas orações, haveis de receber".
Mateus: capítulo 21º, versículo 22.
*
"A fé raciocinada, por se apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura então crê, porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque
compreendeu. Eis porque não se dobra. FÉ INABALÁVEL SÓ É A QUE PODE ENCARAR DE FRENTE A RAZÃO, EM TODAS AS ÉPOCAS DA HUMANIDADE".
Capítulo 19º - Item 7, parágrafo 3.
55
FALSOS PROFETAS
Caracterizam-se pelo verbalismo exagerado, quando utilizando a instrumentalidade mediúnica. Em arroubos dourados comentam, prolixos, os mais variados temas, não
obstante chegarem a conclusão nenhuma.
Cultores da própria vaidade, comprazem-se em estimular o fanatismo exacerbado, utilizando a palavra com habilidade, através de cujo recurso encorajam os sentimentos
infelizes do orgulho entre os seus ouvintes, cumulando-os de referências pomposas embora vazias de significação.
Quando se lhes solicitam esclarecimento ou permitem interrogações à cata de informes com os quais seja possível aquilatar-lhes a evolução, rebelam-se ferozes,
dizendo-se feridos nos valôres que a si se atribuem, traindo a inferioridade em que se demoram.
Arrogantes, estimam a ignorância presunçosa dominadores e arbitrários, com altas doses de empáfia com que se jactam guias e condutores.
Outras vêzes arremetem-se pela seara do profetismo sensacionalista, enveredando pelo terreno das fantasias, tão do gõsto da frivolidade ou da ingenuidade de grande
cópia das criaturas humanas. Tecem comentários vastos sôbre a vida em outros planêtas, discorrendo, levianos, temas controvertidos nos quais, sejam quais forem as
conclusões da honesta investigação do futuro, dispõem de válvulas para escapatórias vulgares.
Pseudo-sábios conforme os denominou o Codificador do Espiritismo, quando se percebem suspeitos ante os que os ouvem, não se constrangem de utilizar nomes que
exornaram personalidades históricas, sábios ou santos para melhor enganarem os espíritos invigilantes, embora encarnados, que se comprazem na ilusão, distantes da
responsabilidade pessoal e intransferível da tarefa de renovação interior.
Falsos profetas da Erraticidade, que são!
A desencarnação não os modificou -
Amantes da ficção e sócios da mentira, quando no corpo somático, prosseguem no engôdo a que se permitiram arrastar, sintonizando com outras mentes ociosas do
plano físico, a que se vinculam, dando prosseguimento aos programas infelizes que lhes apraz.
Fáceis de identificar, devem evangelicamente receber instrução, advertidos e reprochados fraternalmente.
Às vêzes, investem contra grupos respeitáveis, testando a excelência moral dos componentes da atividade espírita em comêço - Precipitados, todavia, logo desvelam
os propósitos que os inspiram.
* * *
Também os há no plano físico -
Zelosos, passam como fiscais do labor alheio, preocupados em encontrar em tudo e em todos mistificações e mistificadores, com que traem o estado Íntimo - Acreditam-se
encarregados de guardar a Verdade e somente êles a possuem em mais altas expressões, descuidando, como é natural, do próprio comportamento, revelando, assim, nas
atitudes apaixonadas e nas posições inamovíveis a que se fixam, a condição de espíritos atormentados, companheiros atormentadores -
Confiam nas fôrças que supõem possuir, jactanciosos, esquecidos de que a Vinha pertence ao Senhor que labora incessantemente -
Preocupados em descobrir falhas e engodos descuram a atividade nobre de ensinar corretamente, relegando como deveriam os irresponsáveis à Lei que dêles se encarregará,
fiscalizando-se com maior serenidade, a benefício da Causa ou das Idéias que dizem defender.
Expressam uma classe especial de falsos profetas - são os novos zelotes -
* * *
A mentira, porém, de qualquer procedência, não resiste ao tempo, nem à meridiana luz da autenticidade.
Os que mentem, encarnados ou desencarnados, não desacreditam a verdade: iludem-se, perturbando-se, em decorrência das atitudes e conceitos cultivados.
Por essa razão, ama tu a atitude correta, ora e vigia, para que não sejas vítima daqueles espíritos atormentados e enganadores do Além - Da mesma forma não te
faças acusador de ninguém, antes impõe-te a tarefa de proceder com retidão, ensinar com segurança doutrinária e servir sempre, pois que o Senhor até hoje trabalha,
sem a excessiva preocupação de eliminar do campo os maus trabalhadores aos quais concede Ele oportunidade e oportunidades, por não desejar que ovelha alguma que
o Pai lhe confiou se perca, mas antes seja salva.
*
"Meus bem-amados, NÃO CREAIS EM QUALQUER ESPÍRITO; experimentai se os Espíritos são de Deus, porqüanto muitos falsos profetas se têm levantado no mundo".
São João, Epístola 1ª, Capítulo 4º, versículo 1.
*
"O Espiritismo revela outra categoria bem mais perigosa de falsos Cristos e de falsos profetas, que se encontram, não entre os homens, mas entre os desencarnados:
a dos Espíritos enganadores, hipócritas, orgulhosos e pseudo-sábios, que passaram da Terra para a erraticidade e tomam nomes venerados para, sob a máscara de que
se cobrem, facilitarem a aceitação das mais singulares e absurdas idéias".
Capítulo 21º - Item 7, parágrafo 2.
56
SEXO E OBSESSÃO
Espíritos perturbados em si mesmos reencarnam-se anatematizados por desequilíbrios físicos e psíquicos que procedem das lembranças negativas e dos erros anteriormente
praticados.
Espíritos inquietos reemboscam-se na indumentária fisiológica, açulados por falsas necessidades a que se atiraram impensadamente nas existências passadas.
Espíritos aturdidos recomeçam a experiência carnal sob o guante de paixões que devem superar e derrapam nas experiências comprometedoras em que mais se infelicitam.
Espíritos ansiosos vitalizam as idéias que os atormentam e estabelecem conexões enfermiças com outras mentes, engendrando dramas obsessivos de conseqüências lastimáveis.
Espíritos viciados se reacondicionam no corpo somático e se permitem acumpliciamento com outros sêres reencarnados em ultrizes processos de vampirização recíproca,
em que desarticulam os centros genésicos, passando a experimentar desditas inenarráveis.
Estatísticas eficientes realizadas do lado de cá informam que os processos infelizes da criminalidade e do desespêro procedem invariavelmente do ódio. Merece,
porém, examinar, que o ódio resulta das frustrações afetivas, das ansiedades incontidas, do egoísmo exacerbado, da maledicência sinistra, da ira freqüente, das ambições
desmedidas, dos amôres alucinados que se conjugam em nefandos conciliábulos de imprevisíveis resultados.
Por isso, o amor é fundamental na vida de todos.
E por ser o sexo a fonte poderosa que faculta a perpetuação da espécie, entre os homens, invariavelmente vai confundindo nos delineamentos afetivos, como fator
essencial para a comunhão, senão o único meio de exteriorização do amor.
Diariamente, milhões de criaturas mal informadas ou desavisadas, fascinadas pelas ilusões do prazer, arrojam-se a despenhadeiros da loucura, por frustrações e
desassossegos sexuais. Sublime campo de experiências superiores normalmente se converte em paul sombrio de miasmas asfixiantes e tóxicos nefastos.
Através dêle, todavia, o espírito que recomeça a caminhada na Terra encontra o regaço materno, as mãos vigorosas da paternidade, os braços fraternos transformados
em asas de socorro, o ósculo da amizade pura e a certeza do reequilíbrio na oportunidade nova, como porta abençoada para a própria redenção.
Não o esqueças propositadamente nos cometimentos humanos em que te encontras. Não o espicaces levianamente, buscando as expressões da sua violência. Sublima-o
pela continência, mediante a correção do comportamento, através da disciplina mental.
Não esperes a senectude para que te apresentes sereno.
Muitas pessoas idosas expressam amarguras, que decorrem de frustrações coercitivas a que se viram impelidas; outras se caracterizam conduzindo excessivas doses
de pudor, após a travessia lamentável pelos perigosos rios do uso desequilibrado, de que se arrependem dolorosamente, descambando para a aversão sistemática; diversas
fingem ignorá-lo, após perderem as exigências naturais pelo cansaço e disfunção que a velhice impõe...
Muitos males que não podem ser catalogados fàcilmente decorrem de íntimas inquietações nos departamentos do sexo atribulado, desde os dias da juventude...
Em razão disso, ama, quanto te permitam as fõrças.
Não esperes, porém, que o ser amado seja compelido a responder-te às aspirações.
Provavelmente êsse espírito está vinculado a outro espírito e chegaste tarde, não te sendo facultado desatrelálo das ligações a que se permitiu prender espontãneamente.
Se chegas antes, não o atormentes com exigências, porque é possível que o compromisso dêle esteja à frente. Se te aproximas tardiamente e desfazes os laços que
já mantém, não fruirás a felicidade, e se impedes que marche na direção das tarefas para as quais reencarnou sofrerás, mais tarde, o travo da desilusão, quando passe
o infrene desejo imediato...
Entrega o teu amor à vida e envolve-o nas vibrações da ternura que felicita e dulcifica aquêle que ama, quanto o que é amado.
Se, todavia, não possuíres fôrças para o cometimento, não te permitas a conjectura de sonhos escravocratas. Antes, ora e roga o socorro do Alto, para que os anjos
guardiães vigilantes te distendam mãos compassivas e bálsamo tranqüilizador.
O teu íntimo amor resplandecerá um dia, após a superação do tormento sexual, em paisagem de festa em que o teu espírito cantará a música da liberdade e
da paz.
* * *
Há mentes ociosas, na Erraticidade, atormentadas e sedentas, vitimadas por paixões que ainda não se aplacaram, que estão realizando incessante comércio obsessivo
com os que se permitem, na Terra, as alucinações sexuais e os desavisos afetivos. Em conúbios terríveis atiram-se com virulência, explorando os centros genésicos
dos encarnados e esfacelando nêles a esperança e a alegria de viverem.
Sutilmente instilam os pensamentos depressivos ou açulam falsas necessidades, absorvendo por processos mui complexos as expressões do prazer fugidiço e instalando
as matrizes de desequilíbrios irreversíveis.
Vigia a mente e controla o sexo.
Quando pensamentos inusitados te sombrearem os painéis mentais com idéias infelizes; quando afetos dúlcidos se transformarem nos recessos do teu coração em fornalha
de desejos; quando a ternura com que envolves os a quem estimas ou amas se te apresentar ardente ou angustiante; quando passares a sofrer dolorosas constrições na
organização genésica tem cuidado! Certamente estarás sendo obsidiado por outros Espíritos, encarnados de mente vigorosa ou desencarnados infelizes, em trama contínua
para te arrojarem nos despenhadeiros da alucinação. Levanta o pensamento a Jesus e a Ele te entrega em regime de total doação, certo de que o Vencedor de todos os
embates te ajudará a sair da constrição cruel, encaminhando-te na direção da harmonia. Para tanto, ora e trabalha pelo bem comum, e o bem de todos te oferecerá o
lenitivo e a fôrça para a libertação a que aspiras.
*
"Pois do coração procedem maus pensament os, homicídios, adultérios, fornicações, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias".
Mateus: capítulo 15º, versículo 19.
*
"Ide, portanto, meus filhos bem-amados, caminha sem tergiversações, sem pensamentos ocultos, na rota bendita que tomastes. Ide, ide sempre, sem temor: afastai
cuidadosamente tudo o que vos possa entravar a marcha para o objetivo eterno".
Capítulo 21º - Item 8, parágrafo 5.
57
CULTOS AOS MORTOS
Resultante da ignorância, o culto dos mortos entre os povos primitivos se espalhou pelas múltiplas Civilizações da antigüidade, gerando, em conseqüência, lamentáveis
processos de desregramento religioso, que derrapavam, quase sempre, em dolorosos conúbios obsessivos.
Entidades primárias e viciosas, utilizando-se das paixões vigentes, exigiam, selvagens, sacrifícios de vidas humanas, que o tempo se encarregou de suprimir...
Os holocaustos desta e daquela natureza foram sofrendo variações por impositivos do progresso até assumirem conceituação metafísica, transmudando a mecânica da forma
para a essência do espírito sacrificial.
Concomitantemente, estabeleceu-se o intercâmbio entre os dois mundos: o dos encarnados e o dos desencarnadOS, que retornavam com as mesmas características da
personalidade desenvolvida antes do túmulo, exteriorizando as emoções e as sensações compatíveis ao estado de evolução de cada um.
Nos santuários dos Templos, nas Escolas de iniciação, nos "Mistérios", os mortos sempre assumiram papel preponderante, traduzindo os desejos dos "deuses", - "deuses"
que se fariam crer, - conduzindo, não raro, e em consequência, o pensamento humano às nascentes da vida, e elucidando os enigmas do ser, as diretrizes dos destinos
e os impositivos da dor...
Filósofos e heróis, conquistadores e reis, magos e sacerdotes do passado mantiveram, dessa forma, longo comércio com o Mundo Espiritual em inolvidáveis diálogos,
dos quais ressumavam a essência da vida verdadeira, a imortalidade, a comunicabilidade e a reencarnação do espírito...
* * *
Com Jesus, no entanto, os chamados mortos receberam o necessário respeito, ocupando o devido lugar. Seus encontros com os libertos da carne, mencionados no Evangelho,
são memoráveis, inconfundíveis. E a ética decorrente dêsse convívio, vazada na elevação moral e na renúncia, no amor e na caridade constitui, ainda hoje, a linha
de equilíbrio e base de segurança para a vida.
Depois dEle, Allan Kardec, o Missionário francês, de Líon, foi investido pelo Alto com a inapreciável condição de desvelar a vida além da sepultura, facultando
o renascimento do Cristianismo nos espíritos e nos corações, e abrindo nobres ensanchas para o intercâmbio com as Esferas Espirituais.
Os próprios Imortais aquiesceram em elucidar os enigmas humanos com a divina permissão, ampliando enormemente os horizontes do entendimento sobre a vida imperecível,
após o decesso orgânico.
Porque a Terra necessitasse de inadiável despertamento para as realidades do espírito, os Embaixadores dos Céus mergulharam no corpo e renasceram nos diversos
campos do pensamento e da investigação, colaborando com tirocínios lúcidos e comprovações indubitáveis da continuidade da vida após a morte.
Luminares do Reino mantiveram comunhão com os homens, através da mediunidade dignificada, repetindo a mensagem do Cordeiro de Deus aos corações amargurados e
contribuindo com farta cópia de revelações novas.
Não mais a morte. Em tõda a parte exulta a vida.
Ninguém se aniquila na morte. Muda-se de estado vibratório sem que se opere mudança intrínseca naquele que é considerado morto.
Morrer é, também, reviver.
Mortos estão, em realidade, aquêles que têm fechados os olhos para a vida e jazem anestesiados na ilusão, deambulando, em hipnose inditosa, entre viciações e
engodos.
Cada ser é além do corpo o que cultivou na indumentária carnal. Nem melhor nem pior do que era. As construções mentais, longamente atendidas, não se apagam dos
painéis espirituais ao toque mágico da desencarnação, nem tampouco o culto da personalidade, os hábitos infelizes se rompem, de imediato, graças ao bisturi miraculoso
da morte.
Morrer e viver nas vibrações materiais são contingências que dizem respeito a cada um.
* * *
Por essa razão, em memória dos teus mortos queridos, que vivem, não lhes açules as paixões subalternas com oferendas de ordem material, Já não necessitam dos
mimos enganadores nem das demonstrações exteriores do mundo da forma. Têm agora outro conceito, compreendem melhor o que foram, como poderiam e deveriam ter sido,
e lamentam, se não souberam conduzir a experiência pelas nobres linhas da elevação moral.
Respeita-lhes a memória, mas desvincula-os das coisas transitórias.
Ama-os, e liberta-os das evocações dolorosas do vaso carnal.
Ajuda, através da tua valiosa dádiva de amor, os que se demoram ao teu lado experimentando aflições e desesperos.
Transforma as flôres débeis que logo fenecem em pães de esperança, que sustentarão vidas em quase extinção.
Apaga os círios de parca luminescência e acende a luz da caridade, pensando nêles, para que as lâmpadas de misericórdia que coloques em outras vidas possam transformar-se
em claridade sublime nas consciências dêles.
Mitiga a sêde, diminui a fome, alfabetiza, enseja o medicamento, fomenta a concórdia, distribui a esperança, divulga a paz, recordando aquêles a quem amas e que
partiram para o mais além, e chuvas de bênçãos cairão sôbre êles, abençoando-te também.
Não os pranteies em desesperos, não os exaltes em qualidades que não possuem.
Recorda-os na saudade e mantém-nos na lembrança do carinho, sabendo por antecipação que um dia virá em que jornadearás, também, na direção dêsse Mundo em que
êles se encontram, voltando a estar ao lado dêles, sendo feliz outra vez. E como dispões ainda de tempo para preparar a sua viagem de retôrno à Pátria Espiritual,
organizais emocionalmente, entregando tua vida à Providência Divina e vivendo de tal forma no corpo que, em chegando o momento da desencarnação, não te detenhas
atado às mazelas nem às constrições do vasilhame carnal.
*
"Se alguém guardar a minha palavra, nunca, jamais, provará a morte".
João: capítulo 8º, versículo 52.
*
"O respeito que aos mortos se consagra não é a matéria que o inspira, é, pela lembrança, o Espírito ausente quem o infunde".
Capítulo 23º - Item 8, parágrafo 2.
58
PIEDADE FRATERNAL
Perfeitamente natural é o sentimento de compaixão pelos que padecem aflições inominadas no carreiro das provações humanas.
A dor, mercadejando os interêsses aflitivos, convoca as atenções para as feridas que expõe no corpo dilacerado dos que lhes caem nas malhas, esperando socorro.
Lágrimas copiosas, gritando misericórdia aos ouvidos atentos à musicalidade dos sofrimentos, aguardam o lenço que lhes enxuguem tôdas as expressões de infortúnio.
Soledade falando baixinho à necessidade de um braço amigo, de uma companhia discreta e de um auxílio, em forma de migalha de entendimento a fim de diminuir o
abismo do vazio interior.
Viuvez e orfandade apresentando angústias indescritíveis na expectativa de compreensão, de modo a tornar menos ácido o cálice horrendo de desespêro e de mágoa.
* * *
A piedade fraternal, que é o amor em comêço, filha dileta da caridade excelsa, logo descobre como co-participar de todo êsse triste festival de angustias no
cenário desolador das dores humanas.
No entanto, mui difícil é a dádiva da piedade fraternal, à presunção, à soberbia.
Pelas características de que se revestem, o presunçoso e o soberbo, a ira nos que o cercam éo primeiro sentimento que investe promovendo reações imediatas às
suas atitudes ferintes.
Ao lado do ingrato assinalado pelo esquecimento de todo o bem que recebeu, a atitude próxima é a da revolta que assoma no coração generoso do doador, agora cioso
por um pronto desforço.
A agressividade desta ou daquela natureza compõe naturalmente um quadro de reações que o instinto engendra, oscilando entre a perspicácia da contrariedade ao
azedume cruel do ódio que conseguem, não poucas vêzes, roubar a paz tisnando a lucidez dos que lhe são vítimas indefesas.
Piedade, piedade para os maus, os ingratos, os soberbos, os cruéis porque são possivelmente membros de um organismo social dos mais doentes, porqüanto ignoram
o câncer que os vitima por dentro, mais próximos do aniquilamento da vaidade do que êles próprios supõem.
O sofrimento resignado nos compunge, a dor discreta nos comove, as lágrimas em silêncio nos chamam à compaixão, mas, é piedade também o ato de paciência ao lado
do rebelde, do conduzido pelo corcel fogoso das paixões arbitrárias que nos humilha e nos aguilhoa, zombando muitas vêzes do nosso valor, por ignorância total da
infelicidade que portam consigo.
A piedade é um sentimento multiface, que todos devemos agasalhar no coração.
Como é verdade que Jesus se compadeceu da pobre mulher surpreendida em adultério, que ignorava a sandice atormentadora e a obsessão de que era objeto, convém
não esqueçamos que ante a surra da ingratidão geral que o levou à Cruz, o seu último pensamento e suas últimas palavras foram a rogativa ao Pai para que perdoasse
os crucificadores e os traidores, pois que êles não sabiam o que estavam a fazer, ensinando com a eloqüência do exemplo a mais sublime página de piedade fraternal,
que continua qual luminoso roteiro para o homem através dos tempos sem fim, até o dia em que seja possível a perfeita fraternidade Universal.
*
"Tende cuidado em não praticar as boas obras diante dos homens, para serem vistas, pois, do contrário, não recebereis recompensa de vosso Pai que está nos
céus".
Mateus: capítulo 6º, versículo 1.
*
"Todos então se porão sob a mesma bandeira: a da caridade, e as coisas serão restabelecidas na Terra, de acordo com a verdade e os princípios que vos tenho
ensinado".
Capítulo 23º - Item 16, parágrafo 2.
59
SOCORRO MEDIÚNICO
Uma dor que se alonga, amenizada por intervalos de paz e repouso; uma aflição que constringe, diminuída por estados de renovação e esperança; uma angústia esmagadora,
amainada por freqüentes raios de alegria penetrante; uma soledade devastadora, desagregando a harmonia interior, interrompida pela presença fraterna de corações
amigos e mentes abnegadas ao lado; uma ansiedade que despedaça, apagada, de quando em quando, por pausas de paz refazente; uma enfermidade de longo curso sob anestésico
calmante nos instantes de grande crise, são pungentes provações ao lado de outros abençoados recursos de que a Vida se utiliza para conduzir o homem encarnado à
rota da Espiritualidade, por cujos caminhos êle resgata os débitos e se aprimora.
E o mergulho no corpo físico, por mais afligentes sejam as dores, fá-las diminuídas pela intensidade das vibrações do veículo carnal que concede tréguas à consciência,
tendo-se em vista as pausas do sono reparador, o medicamento operante, a presença de afetos generosos, o concurso da oração e vários outros misteres com que a Divindade
faculta a amenidade das provas e expiações ao espírito calcêta, em romagem redentora.
Com a medida das tuas dores que nunca atingem o superlativo das desesperações, examina as dores daqueles outros espíritos que se perderam em si mesmos, apagando
a lucidez da razão e demorando-se longamente em contínuo padecer, sem ao menos um repouso, o concurso de uma palavra gentil, as mãos em concha de caridade ou uma
prece emocionada e intercessória, capaz de lenir a profunda exulceração que perdura...
Tais sêres são os nossos irmãos que jazem além da sepultura, nas regiões retificadoras do Mundo Espiritual, perdidos na consciência vilipendiada pelos próprios
erros, na cela apertada das tristes e cruéis evocações sob o látego das lembranças ultrajantes ou revivendo sem termo as dores que neles precederam à desencarnação...
* * *
Reflexionando no quanto devem doer essas dores, sentirás diminuídos os teus problemas e um sentimento de puro amor animar-te-á, empurrando-te na direção dêles
para oferecer-lhes o mecanismo da tua mediunidade, a fim de que, conduzidos pelas mãos anônimas e misericordiosas da caridade do Senhor, possam as suas lágrimas
escorrer pelos teus olhos e na tua face exsude o suor que nêles goteja, podendo falar pela tua garganta e ouvir a palavra esclarecedora do Evangelho pelos teus ouvidos,
conseguindo renovar-se interiormente e, logo após, libertar-se de tão pesada canga, recomeçando em província nova o tratamento das enfermidades e preparando-se para
o amanhã.
Esquecerás, desse modo, os teus pequenos problemas e as tuas débeis agonias para os ajudar, contribuindo eficazmente no ministério socorrista pela mediunidade
com Jesus, para os que tombaram por ignorância, negligência ou impiedade, dignos todos, nossos irmãos que são, da colaboração amorosa da nossa solidariedade fraternal.
E perceberás porque Jesus, sendo a "Luz do Mundo", desceu até nós, nas sombras da morte, para nos ensinar a amar, alçando-nos, assim, na direção da Excelsa Felicidade.
*
"Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: sai dêle e nunca mais nêle entres"
Marcos: capítulo 9º, versículo 25.
*
"A mediunidade não implica necessàriamente relações habituais com os Espíritos superiores. É apenas uma aptidão para servir de instrumento mais ou menos útil aos
Espíritos, em geral".
Capítulo 24º - Item 12, parágrafo 5.
60
ORAÇÃO NO ANO NOVO
Senhor Jesus!
Ante as promessas do ano que se inicia, não nos permitas que esqueçamos aquêles com quem nos honraste o caminho iluminativo:
As mães solteiras, desesperadas, a quem prometemos o pão do entendimento;
As crianças delinqüentes que nos buscaram com a mente em desalinho;
Os calcêtas que, vencidos em si mesmos, nos feriram e retornaram às nossas portas;
Os enfermos solitários, que nos fitaram, confiantes em nosso auxílio;
Os esfaimados e desnudos que chegaram até nossas parcas provisões;
Os mutilados e tristes, ignorantes e analfabetos, que nos visitaram, recordando-nos de Ti...
Sabemos, Senhor, o pouco valor que temos, identificamo-nos com o que possuímos íntimamente, mas, contigo, tudo podemos e fazemos. Ajuda-nos a manter o compromisso
de amar-Te, amando nêles toda a família universal em cujos braços renascemos.
*
"Seja o que for que peçais na prece, crede que o obtereis e concedidos vos será o que pedirdes".
Marcos: capítulo 11º, versículo 24.
*
"Pela prece, obtém o homem o concurso dos bons Espíritos que acorrem a sustentá-lo em suas boas resoluções e a lhe inspIrar idéias sãs".
Capítulo 27º - Item 11.
FimDivaldo Pereira Franco
Episódios Diários
Ditado pelo Espírito
Joanna de Ângelis 2 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Índice
Episódios Diários ............................................................................ 4
1 Ao Amanhecer ............................................................................. 5
2 A Preparação ............................................................................... 7
3 O Primeiro Desafio...................................................................... 8
4 A Irritação.................................................................................... 9
5 O Trabalho ................................................................................. 11
6 O Cansaço .................................................................................. 12
7 Conversações Infelizes .............................................................. 13
8 Hora Vazia ................................................................................. 14
9 Ação – Bondade ........................................................................ 15
10 O Desânimo ............................................................................. 17
11 A Palavra ................................................................................. 19
12 Insegurança .............................................................................. 21
13 Inquietação .............................................................................. 23
14 Dividir com Amor ................................................................... 25
15 Desconfiança ........................................................................... 27
16 Calma para o Êxito .................................................................. 29
17 Arte de Ouvir ........................................................................... 31
18 Altercação ................................................................................ 33
19 Perturbações ............................................................................ 35
20 Programa Evolutivo................................................................. 37
21 Doenças ................................................................................... 39
22 A Mágoa .................................................................................. 41
23 Desforço................................................................................... 43
24 O Poder .................................................................................... 45
25 Necessário e Dispensável........................................................ 47
26 Filosofia de Compreensão....................................................... 49 3 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
27 Critério de Julgamento ............................................................ 51
28 Crítica ...................................................................................... 53
29 Moda ........................................................................................ 55
30 Ante a Calúnia ......................................................................... 57
31 Meditação ................................................................................ 59
32 Inexoravelmente ...................................................................... 61
33 Em Ti ....................................................................................... 62
34 Adversidades e Insucessos...................................................... 63
35 Pensamentos ............................................................................ 65
36 Serenidade Sempre .................................................................. 67
37 Reclamações e Queixas ........................................................... 69
38 Coerência e Firmeza................................................................ 71
39 Evidência Pessoal.................................................................... 73
40 Alegria e Ação ......................................................................... 75
41 Ação de Paz............................................................................. 77
42 Saúde........................................................................................ 79
43 O Sexo ..................................................................................... 80
44 Instrumento ou Arma .............................................................. 81
45 Força da Fé .............................................................................. 83
46 Busca Incessante...................................................................... 85
47 Velhice ..................................................................................... 87
48 De Retorno ............................................................................... 88
49 Sono e Repouso ....................................................................... 90
50 Morte........................................................................................ 92
4 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Joanna de Ângelis
Episódios Diários
– Seria muito bom e oportuno – pensava uma amiga nossa –
se Joanna escrevesse um pequeno livro para ser lido com rapidez.
Os seus capítulos deveriam ser breves e os seus conceitos leves,
firmados na experiência do cotidiano, de modo a tornar-se um
guia prático para as diferentes ocorrências diárias.
Ouvimos a solicitação gentil e recebemos o apelo, diretamente
a nós endereçado.
Aquiescendo, elaboramos a presente obra.
Não pretendemos com ela oferecer receitas novas, de comportamento,
que já não sejam conhecidas.
Reunimos, porém, cinqüenta episódios que sucedem na vida
de quase todas as pessoas e os examinamos com enfoques evangélicos
e espíritas, convidando o leitor à reflexão para a ação feliz,
que lhe resulte proveitosa.
Cada episódio ou capítulo poderá ser lido em um ou dois minutos,
como sendo uma dose homeopática do medicamento do
amor e da sabedoria dos séculos, de que Jesus e Allan Kardec se
fizeram os excelentes modelos para a Humanidade.
Desejando que este pequeno livro alcance a finalidade para a
qual foi elaborado, rogamos a Deus bênçãos de paz e felicidade
para todos nós.
Salvador, 7 de outubro de 1985. 5 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
1
Ao Amanhecer
Dia novo, oportunidade renovada.
Cada amanhecer representa divina concessão que não podes
nem deves desconsiderar.
Mantém, portanto, atitude positiva em relação aos acontecimentos
que devem ser enfrentados;
otimismo diante das ocorrências que surgirão;
coragem no confronto das lutas naturais;
recomeço de tarefa interrompida;
ocasião de realizar o programa planejado.
Cada amanhecer é convite sereno à conquista de valores que
parecem inalcançáveis.
À medida que o dia avança, aproveita os minutos, sem pressa
nem postergação do dever.
*
Não te aflijas ante o volume de coisas e problemas que tens
pela frente.
Dirige cada ação à sua finalidade específica.
Após concluir um serviço, inicia outro e, sem mágoa dos acontecimentos
desagradáveis, volve à lição com disposição, avançando,
passo a passo, até o momento de conclusão dos deveres
planejados.
*
Não tragas do dia precedente o resumo das desditas e dos aborrecimentos.
6 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Amanhecendo, começa o teu dia com alegria renovada e sem
passado negativo, enriquecido pelas experiências que te constituirão
recurso valioso para a vitória que buscas. 7 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
2
A Preparação
A fim de ser preservado e mantido, o corpo exige cuidados
vários, desde a higiene à conservação das peças que o constituem,
sem o que inumeráveis males lhe perturbam o equilíbrio, interrompendo-
lhe a existência.
Assim também a alma. Responsável pela organização somática,
é a geradora de forças que facultam a vida física, exigindo, por
conseqüência, atendimento especial, sem o que se lhe desarticulam
os equipamentos sutis, fazendo-a tombar no desfalecimento
ou na alucinação com todos os prejuízos disso decorrentes.
*
Desse modo, antes de qualquer atividade, ao iniciar-se o dia,
reserva-lhe alguns minutos para a sua sustentação.
Faze uma pequena leitura de página otimista e consoladora,
que te fixe clichês mentais positivos e agradáveis.
Medita um pouco no seu conteúdo valioso, como a imprimilo
nas telas delicadas da memória, de modo que dele te impregnes,
estabelecendo uma disposição favorável às lutas que enfrentarás.
Encerra esses minutos com uma prece, através da qual intentes
sintonizar com o pensamento da sabedoria universal, haurindo
inspiração e forças no amor de Deus.
Equipado com estas energias, terás atendido, em terapia preventiva,
a tua realidade eterna – o eu espiritual – podendo, então,
partir para os primeiros confrontos da experiência do teu novo
dia. Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
faz.
Disposto a esquecer o mal, dedicando-te ao bem, enfrentas o
primeiro desafio.
Sentes os nervos abalados e estás a ponto de aceitar a pugna.
Silencia, porém, e age.
O hábito da discussão perniciosa se te instalou no comportamento
e crês que não possuis forças para superar o acontecimento
danoso.
Recorda que estás num clima de efeitos que vêm dos dias anteriores,
quando te engajavas nas provocações, reagindo no mesmo
tom.
Os familiares não sabem das tuas disposições novas e, porque
estão acostumados às querelas e agressões, preservam o ambiente
prejudicial.
Em teu procedimento de homem novo necessitas do autocontrole,
reconquistando os familiares, que se surpreenderão com a
tua nova filosofia de vida.
Contorna o primeiro desafio, dilui por antecipação e com sabedoria
o mal-estar que ele podia gerar.
Este é o passo inicial para o teu dia feliz.
3
O Primeiro Desafio
Incidente doméstico ocorre envolvendo-te emocionalmente.
Tens a impressão que todo o planejamento para o dia se des-
*
*
8
9 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Mantém a calma.
4
A Irritação
Ao sair do lar, defrontas os problemas da condução e do trânsito,
na busca da tua oficina de trabalho.
Transportes abarrotados, pessoas rudes, multidões apressadas,
violência pela disputa de lugares, ruas e avenidas movimentadas...
*
Se chove, emperra o trânsito e as dificuldades se ampliam.
Se faz sol, o calor produz mal-estar e as reclamações promovem
aborrecimento.
Se dispões de veículo próprio, não te podes mover conforme
gostarias, pelas vias de acesso, em congestionamento crescente.
*
Todos têm que chegar a tempo.
O relógio não pára.
Os que se atrasaram pretendem recuperar os minutos perdidos
e atropelam os que estão ao lado ou à frente...
*
A irritação chega e se instala, perturbando-te e levando-te a
competir também com os agressivos.
As buzinas produzem bulha, os semáforos te interrompem a
marcha, e tudo parece estar contra os teus propósitos.
* 10 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Amanhã, propõe-te a sair de casa mais cedo.
A tranqüilidade de todo um dia merece o teu investimento de
alguns minutos.
Não te irrites, portanto, evitando os perigos da ira, que instala
desequilíbrios graves que podes evitar. 11 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
5
O Trabalho
Após a tensão experimentada no trânsito sufocante, chegas
invariavelmente ao local de trabalho com mau humor, cansaço ou
indisposição.
Relacionas então as necessidades que deves suprir, e sofres
sob a conjuntura que se te impõe, no trabalho diário.
Vês outros indivíduos que parecem prósperos e felizes, usufruindo
benefícios da vida, que nunca te chegaram, e a amargura
começa a aninhar-se no teu sentimento doído.
*
Evita cair no desalento, face à insinuação falsa.
O trabalho é dom da vida, que dignifica e mantém o homem.
Em toda parte o trabalho se impõe como lei mantenedora do
equilíbrio.
Sem ele tudo retornaria ao caos do princípio, e os objetivos
superiores naufragariam no tédio e na ociosidade doentios.
Busca, portanto, motivação para fazeres bem o teu trabalho,
renovando-te nele e nele colocando os teus melhores empenhos,
de modo a te enriqueceres de justa gratificação emocional em
relação ao teu maravilhoso meio de ganhar com nobreza o pão
diário. Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
refaze-te.
cansaço nem enfado.
Quando te sintas sitiado pelo desfalecimento de forças ou o
cansaço se te insinue em forma de desânimo, pára um pouco e
O cansaço é mau conselheiro.
Produz irritação ou indiferença, tomando as energias e exau-
Renova a paisagem mental, buscando motivação que te pre-
Por um momento, repousa, a fim de conseguires o vigor e o
Noutra circunstância, muda de atividade, evitando a monoto-
Não te concedas o luxo do repouso exagerado, evitando tom-
Com método e ritmo, conseguirás o equilíbrio psicológico de
rindo-as.
disponha ao prosseguimento da tarefa.
entusiasmo para a continuidade da ação.
nia que intoxica os centros da atenção e entorpece as forças.
bar na negligência do dever.
que necessitas, para não te renderes à exaustão.
Jesus informou com muita propriedade, numa lição insuperável,
que "o Pai até hoje trabalha e eu também trabalho", sem
A mente renovada pela prece e o corpo estimulado pela consciência
do dever não desfalecem sob os fardos, às vezes, quase
inevitáveis do cansaço.
Age sempre com alegria e produze sem a perturbação que o
cansaço proporciona.
6
O Cansaço
*
12
13 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
7
Conversações Infelizes
Naturalmente, porque estes são dias de insatisfação, as pessoas
que de ti se acercam trazem, quase sempre, comentários negativos
e observações deprimentes.
Surgem, nas conversas, apontamentos depreciativos que chamuscam
a honra alheia, quando não lhes atiram lama na conduta
que invejam.
Intrigas urdem vinganças sórdidas, entre sorrisos e sarcasmos,
gerando inquietação, soprando suspeitas ignóbeis.
Assuntos triviais tomam o tempo e expressões chulas, com
anedotário vulgar, entorpecem a razão, mantendo psicosfera doentia.
*
Quando te vejas envolvido pelo clima das conversações nefastas,
muda de assunto, propõe tema diferente, conciliador, edificante,
substituindo a vulgaridade e o pessimismo, que devem
ceder espaço ao conhecimento da beleza e da verdade.
As conversas vis envenenam aqueles que as sustentam, enquanto
vilipendiam vidas outras que padecem constrições e vivem
situações difíceis buscando superá-las a contributo de muito sacrifício.
Seja tua a palavra de gentileza e de esperança em qualquer situação.
Entretece comentários respeitosos e educa os que te compartem
as palavras, gerando otimismo e fraternidade a todo momento.
Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
lira.
mental em aberto.
Hora vazia, nunca!
Cuidado com a hora vazia, sem objetivo, sem atividade.
Nesse espaço, a mente engendra mecanismos de evasão e de-
Cabeça ociosa é perigo à vista.
Mãos desocupadas facultam o desequilíbrio que se instala.
Grandes males são maquinados quando se dispõe de espaço
Se, por alguma circunstância, surge-te uma hora vazia, preenche-
a com uma leitura salutar, ou uma conversação positiva, ou
um trabalho que aguarda oportunidade para execução, ou uma
ação que te proporcione prazer...
O homem, quanto mais preenche os espaços mentais com as
idéias do bem, mediante o estudo, a ação ou a reflexão, mais
aumenta a sua capacidade e conquista mais amplos recursos para
o progresso.
Estabelece um programa de realizações e visitas para os teus
intervalos mentais, as tuas horas vazias, e te enriquecerás de
desconhecidos tesouros de alegria e paz.
8
Hora Vazia
*
14
15 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
9
Ação – Bondade
A cobrança da gratidão diminui o valor da dádiva.
O bem não tem preço, pois que, à semelhança do amor, igualmente
não tem limite.
Quando se faz algo meritório em favor do próximo aguardando
recompensa, eis que se apaga a qualidade da ação, em favor do
interesse pessoal grandemente pernicioso.
O Sol aquece e mantém o planeta sem qualquer exigência.
A chuva abençoa o solo e o preserva rico, em nome do Criador,
sustentando os seres e se repete em períodos ritmados, não
pedindo nada.
O ar, que é a razão da vida, existe em tão harmonioso equilíbrio
e discrição, que raramente as criaturas se dão conta da sua
imprescindibilidade.
*
Faze o bem com alegria e, no ato de realizá-lo, fruirás a sua
recompensa.
Ajuda a todos com naturalidade, como dever que te impões, a
favor de ti mesmo, e te aureolarás de paz.
Se estabeleces qualquer condição para ajudar, desmereces a
tua ação, empalidecendo-lhe o valor.
Une-te ao exército anônimo dos heróis e apóstolos da bondade.
Ninguém te saberá o nome, no entanto o pensamento dos
beneficiados sintonizará com a tua generosidade estabelecendo
elos de ligação e segurança para a harmonia no mundo. 16 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Os que se destacam na ação comunitária e são aplaudidos,
homenageados, sabem que, sem as mãos desconhecidas que os
ajudam, coisa alguma poderiam produzir.
Assim, os benfeitores verdadeiros são os da retaguarda e não
os que brilham nos veículos da Comunicação.
Aproveita o teu dia e vai semeando auxílios, esparzindo bondade
de que esteja rica a tua vida, e provarás o licor da alegria na
taça da felicidade de servir. Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
fícios.
Tóxico imobilizador, o desânimo se insinua suavemente, dominando
as reservas da coragem e submetendo o combatente à
sua ação perturbadora.
Instala-se, a pouco e pouco, inspirando pessimismo e malestar,
que se agrava, qual invasor que conquista passo a passo os
espaços abandonados à sua frente.
O desânimo é inimigo covarde que ceifa mais vidas do que o
câncer, pelos resultados que logra na economia do comportamento
humano.
Quando sintas a insinuação do desânimo, ciciando-te falsos
motivos para que abandones a peleja, ou a postergues, ou a desconsideres,
tem cuidado.
Usa a razão e expulsa-o da casa mental.
Às vezes se te apresenta na condição de mágoa defluente de
qualquer incompreensão sofrida e, noutras ocasiões, em forma de
exaustão de forças, que deves superar, mediante mudança de
atitude mental e de atividade física.
A marcha do tempo é inexorável.
De qualquer forma, as horas se sucedem.
Utiliza-as de maneira condigna, mesmo que, a peso de sacri-
Quando transponhas a barreira da dificuldade, constatarás a
vantagem de haver perseverado, descobrindo-te rico de paz, face
aos tesouros de amor e realização que adquiriste.
10
O Desânimo
*
17
Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
de valores, na harmonia e na glória do bem.
Motivo algum deve servir de apoio para o desânimo.
Tudo, na vida, constitui convite para o avanço e a conquista
18
Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
11
A Palavra
Poderoso veículo de comunicação, a palavra é instrumento
A boa palavra ergue e consola, ensina e corrige, ampara e
A má palavra envenena e mata, enlouquece e fulmina, dese-
Muitos falam sem pensar, gerando antipatias e fomentando
Outros pensam sem falar e perdem as oportunidades edifican-
Falar por falar expressa desequilíbrio, tanto quanto calar,
que poucos utilizam como deveriam.
salva.
quilibra e arma de ódio.
crimes.
tes de sustentar o ideal do bem e da vida.
sempre, denota doentia introspecção.
*
Dispões desse abençoado instrumento para preservar a vida e
enriquecê-la de bênçãos, que é a palavra.
Usa o verbo com sabedoria, ensinando, ajudando e impulsionando
as pessoas ao avanço, ao progresso.
Articula a palavra sem gritaria nem desconcerto emocional,
de modo que se te faça agradável, inspirando os que te ouvem e
gerando simpatia em teu favor.
A arte de falar é conquista que todos devem lograr.
Não a esgrimas com teu verbo, nem a sepultes no mutismo da
alienação.
19
20 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Fala sobre o bem, o amor e a esperança, propondo a alegria
entre as criaturas e ensinando-as a adquirir segurança pessoal no
processo da evolução. Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
insegurança.
Há momentos em que se imiscuem, no sentimento do combatente,
emoções desconcertantes.
Ressaibo do atavismo ancestral, que remanesce em contínuas
investidas, logra vencer quantos lhe dão guarida, estimulados pela
autopiedade e pela presunção.
Porque se espalha a agressividade, tens a impressão de que
lhe serás a próxima vítima.
Diante das incertezas que decorrem da beligerância generalizada,
absorves o vapor deletério que se expressa em forma de
Tem cuidado com esse tipo de fobia em relação ao presente,
ao futuro e aos que te cercam.
Há os que se armam, pensando em reagir, quando agredidos.
Outros se condicionam para a agressão em primeiro passo,
como mecanismo de defesa.
Diversos revestem-se de falsa condição de superioridade, evitando
os contatos humanos que lhe parecem desagradar.
Desarma-te desses vãos atavios.
Ergue-te em pensamento a Deus e n'Ele confia.
Somente acontece o que é necessário para o progresso do
homem, exceto quando ele, irresponsavelmente, provoca situações
e acontecimentos prejudiciais, por imprevidência e precipitação.
12
Insegurança
*
*
21
22 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Cultivando o otimismo e a paz avançarás no teu dia-a-dia,
vencendo o tempo e poupando-te aos estados de insegurança
íntima, porque estás sob o comando de Deus. 23 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
13
Inquietação
Vez que outra, apresenta-se, inesperadamente, e toma corpo,
terminando por gerar desconforto e depressão.
Aparece como dúvida ou suspeita e ganha forma, passando
por diferentes fases, até controlar a emotividade que se transtorna,
levando a estados graves.
Aqui, se apresenta na condição de medo em relação ao futuro.
Ali, se expressa em forma de frustração, diante do que não foi
Acolá, se manifesta como um dissabor qualquer, muito natu-
Há momentos em que se estabelece como conflito, inspirando
Noutras ocasiões, ei-la em forma de desconforto íntimo e nelogrado.
ral, aliás, em todas as vidas.
rebeldia e agressividade.
cessidade de tudo abandonar...
*
No turbilhão da vida hodierna em face do intercâmbio psíquico
nas faixas da psicosfera doentia que grassa, é muito difícil a
A inquietação, porém, constante, deve merecer mais acurada
Não lhe dês guarida, dialogando com as insinuações de que se
Evita as digressões mentais pessimistas e não te detenhas nas
manutenção de um estado de equilíbrio uniforme.
atenção, a fim de ser debelada.
faz objeto.
conjecturas maliciosas. 24 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Ninguém a salvo desses momentos difíceis. Todavia, todos
têm o dever de superá-los e avançar confiantes nos resultados
opimos das ações encetadas.
Assim, age sempre com correção e não serás vítima de inquietações
desgastantes. 25 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
14
Dividir com Amor
A miséria sócio-econômica, que entulha as avenidas do mundo,
mistura-se à de natureza moral, que atulha os edifícios e residências
de luxo como os guetos da promiscuidade libertina.
O que podes fazer, parece-te quase sem sentido ou significação,
tão grande e volumoso é o problema. Apesar disso, não te
escuses de auxiliar.
Se não consegues ir à causa do problema, minimiza-lhe os efeitos.
Desde que não podes erradicar, de um golpe, a fome, a enfermidade,
a ignorância, contribui com a tua quota de amor, por
mínima que seja.
Sempre podes dividir do que possuis, com aquele que nada
tem.
Quando repartes com amor, multiplicas a esperança, favorecendo
a alegria.
Menos tem, aquele que se nega a doar algo.
*
Afirma-se que esse gesto de amor gera o paternalismo, promove
o vício...
Não têm razão os que assim informam.
Muitos males e alguns crimes são abortados quando uma atitude
de amor interrompe o passo do infeliz que padece fome,
desespero e dor...
Somente quem aprende a abrir a mão, descerra o bolso, terminando
por oferecer o coração. Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis 26
Faze o que te esteja ao alcance e a vida fará o resto. 27 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
15
Desconfiança
Certamente, um coração que pulsa com equilíbrio é resultado
de uma consciência pacificada.
Para que tal ocorra é indispensável que o homem adquira a
sabedoria da confiança.
Graças a ela, goza de tranqüilidade íntima, agindo com inteireza
moral e sem qualquer prevenção.
A confiança deflui de uma atitude sempre positiva em relação
à vida, à criatura em si mesma e ao próximo.
Educando-se a vontade e corrigindo-se a óptica para melhor
observar os acontecimentos, logra-se adquirir a confiança pessoal
que é uma forma de segurança de conduta, elegendo o que fazer,
como realizá-lo e para que executá-lo.
*
A desconfiança grassa entre os homens com ou sem motivo
que a justifique.
Gera desconforto e mal-estar, armando indivíduos uns contra
os outros, dando margem a suspeitas infundadas e a ódios que se
instalam, prejudiciais.
Quem padece o mal da desconfiança, apresenta-se instável,
arredio, caindo em alienações que estiolam a alegria de viver.
*
Se alguém age mal em relação a ti, ele é quem deve estar inquieto.
28 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Se outrem te prejudica, propositadamente, o drama deve ser
dele.
Em qualquer situação, espanca a desconfiança da tua agenda
de atividade, permanecendo tranqüilo e feliz. Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
bram e sofrem.
Em todos os passos da vida, a calma é convidada a estar presente.
Aqui, é uma pessoa tresvariada, que te agride...
Ali, é uma circunstância infeliz, que gera dificuldade...
Acolá, é uma ameaça de insucesso na atividade programada...
Adiante, é uma incompreensão urdindo males contra os teus
esforços...
É necessário ter calma sempre.
A calma é filha dileta da confiança em Deus e na Sua justiça,
a expressar-se numa conduta reta que responde por uma atitude
mental harmonizada.
Quando não se age com incorreção, não há por que temer-se
acontecimento infeliz.
A irritação, alma gêmea da instabilidade emocional, é responsável
por danos, ainda não avaliados, na conduta moral e emocional
da criatura.
A calma inspira a melhor maneira de agir e sabe aguardar o
momento próprio para atuar, propiciando os meios para a ação
correta.
Não antecipa, nem retarda.
Soluciona os desafios, beneficiando aqueles que se desequili-
16
Calma para o Êxito
*
*
29
30 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Preserva-te em calma, aconteça o que acontecer.
Aprendendo a agir com amor e misericórdia em favor do outro,
o teu próximo, ou da circunstância aziaga, possuirás a calma
inspiradora da paz e do êxito. Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
tamente.
Onde quer que te encontres, de uma ou de outra forma, despertarás
o interesse de alguém.
Algumas pessoas poderão arrolar-te como antipático e até
buscarão hostilizar-te.
Outras se interessarão por saber quem és e o que fazes.
Inúmeras, no entanto, te falarão, intentando um relacionamento
fraterno.
Cada qual sintonizará contigo dentro do campo emocional em
que estagia.
Como há carência de amigos e abundância de problemas, as
criaturas andam a cata de quem as ouça, ansiando por encontrar
compreensão.
Em razão disso, todos falam, às vezes simultaneamente.
Concede, a quem chega, a honra de o ouvir.
Não te apresses em cumulá-lo de informações, talvez desinteressantes
para ele.
Silencia e ouve.
Não aparentes saber tudo, estar por dentro de todos os acontecimentos.
Nada mais desagradável e descortês do que a pessoa que toma
a palavra de outrem e conclui-lhe a narração, nem sempre corre-
17
Arte de Ouvir
*
31
32 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Sê gentil, facultando que o ansioso sintonize com a tua cordialidade
e descarregue a tensão, o sofrimento...
No momento próprio, fala, com naturalidade, sem a falsa postura
de intocável ou sem problema.
A arte de ouvir é, também, a ciência de ajudar. Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
ações deploráveis.
quem se debate.
Surge, inesperada, com ou sem motivo que a justifique.
Toma vulto e leva às mais cruéis conseqüências, se não é policiada
a tempo.
Tem início numa palavra destituída de maldade, num olhar de
aparente reproche, numa negativa, ou simplesmente em nada...
A altercação é virose que contamina com facilidade.
Perturba o discernimento, desarmoniza a emoção e deixa rastros
significativos no comportamento alterado.
Os altercadores sempre encontram motivo para as suas discussões
infrutíferas.
Desarmonizados em si mesmos, agradam-se quando ferem e
encontram resposta para os duelos verbais que, não raro, levam a
A altercação é portadora de alta carga prejudicial de cólera,
que atinge quem lhe tomba nas redes perversas e aquele com
Provocado, e convidado diretamente à altercação, desvia o assunto
ou desvia-te do agressor.
Ele talvez "nada tenha a perder", conforme alguns apregoam
no auge da discussão.
Tu tens a paz que deves preservar, o bem-estar que não podes
tisnar com a perturbação e os sagrados compromissos com a vida.
18
Altercação
*
*
33
34 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Não te detenhas, nunca, em altercação, porquanto, todos aqueles
que se permitem induzir, deixam-na arranhados, quando
não saem vítimas de sutis mutilações emocionais ou orgânicas,
graças aos golpes que sofrem. 35 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
19
Perturbações
Apesar de tuas boas disposições, surgem momentos em que
estranhos estados d'alma assomam, perturbando-te a lucidez e o
entusiasmo.
Esses constituem desafios graves, que podem levar a imprevisíveis
resultados negativos.
Surgem como depressão ou desinteresse, que deflui de uma
observação infeliz, ou de uma palavra azeda, ou de uma discussão
desgastante...
Há ocasiões em que se manifestam como nuvem obnubiladora
do discernimento, insistente, que termina por gerar indisposição
íntima, quando não leva a distonias e agressividade mais contundente.
Além dos fatores normais sociopsicológicos do relacionamento
ou da emoção, originam-se na interferência psíquica de desencarnados
que se comprazem em inquietar, inspirando desespero e
conduzindo a estados afligentes...
Vivemos em quase permanente intercâmbio psíquico uns com
os outros, no corpo físico e fora dele.
Mentes disparam dardos contra outras, atingindo o alvo com
pontaria segura e estabelecendo telefonia de comunicação perturbadora.
*
Interrompe as telepatias deprimentes, sobrepondo a tua vontade
e corrigindo a sintonia psíquica.
Sai um pouco e respira ar puro. 36 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Recorda os planos ideais que acalentas.
Dialoga um pouco com alguém que te inspira simpatia.
Ora, por alguns instantes.
Estes expedientes expulsarão a onda de perturbação que te
envolve e tornarás ao estado de tranqüilidade. 37 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
20
Programa Evolutivo
O delinqüente primário, diante das leis humanas, não raro,
tem o direito de responder ao processo em clima de liberdade e,
mesmo quando condenado, faz jus a vários recursos que lhe amenizam
a pena.
O criminoso renitente, pela circunstância da conduta, encontra-
se incurso nas penalidades severas e experimentará o isolamento
em educandários de segurança, não fruindo de maior consideração...
Assim também ocorre com o Espírito.
Quando os seus erros e delitos são de pequena monta, reencarna-
se sob provações reparadoras, enfrentando as disciplinas
que o reeducarão, para depois gozar de paz e de liberdade.
Os calcetas e empedernidos, os refratários ao amor e os que
se arrojaram aos despenhadeiros do suicídio, do homicídio, recomeçam,
na Terra, encarcerados nas expiações lenificadoras...
*
A provação é oportunidade para o Espírito renovar-se.
A expiação constitui-lhe corretivo severo.
Provado, o Espírito se sente estimulado a conquistas novas,
enquanto resgata os débitos anteriores.
Expiando, recupera-se e aprende, sem outra alternativa, enjaulado
no processo de depuração.
A provação é solicitada.
A expiação é imposta. 38 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Na primeira, há liberdade de ação; na segunda, desaparece a
livre opção, ante o impositivo estabelecido.
*
Sob prova ou expiação, estás colocado no dispositivo da evolução
de que necessitas e que é melhor para o teu progresso.
Aplica a razão e o sentimento lúcidos nesse programa evolutivo
e ergue-te, da posição em que te encontres, alcançando o
triunfo da tua reencarnação. Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
sional.
Qualquer equipamento de uso, sofre os efeitos do tempo, o
desgaste dos serviços, os desajustamentos, caminhando para a
superação, o abandono...
O que hoje é de relevante importância, amanhã encontra-se
ultrapassado e, assim, sucessivamente.
O corpo humano, da mesma forma, não pode permanecer indene
às injunções naturais da sua aplicação e das finalidades a que
se destina.
Elaborado pelos atos pretéritos, é resistente ou frágil, conforme
o material com que foi constituído em razão dos valores
pertinentes a cada ser.
Muito justo, portanto, que enferme, se estropie, se desgaste e
morra.
Transitório, em razão da própria junção, é, todavia, abençoado
instrumento do progresso para o Espírito na sua marcha ascen-
Chamado à reflexão, por esta ou aquela enfermidade, mantém-
te sereno.
Vitimado por uma ou outra mutilação, aprofunda o exame dos
teus valores íntimos e busca retirar da experiência as vantagens
indispensáveis.
Surpreendido pelos distúrbios da roupagem física ou da tecelagem
no sistema eletrônico do psiquismo, tenta controlá-los e,
mesmo lutando pela recuperação, mantém-te confiante.
21
Doenças
*
39
40 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
*
Não te deixes sucumbir sob as injunções das doenças.
Através da mente sã reconquistarás o equilíbrio da situação. E
se fores atingido na área da razão, desde hoje entrega-te a Deus e
confia n'Ele.
A doença faz parte do processo normal da vida como parcela
integrante do fenômeno da saúde. 41 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
22
A Mágoa
À semelhança de ácido que corrói a superfície na qual se encontra,
a mágoa desgasta, a pouco e pouco, as peças delicadas das
engrenagens orgânicas do homem, destrambelhando-lhe os equipamentos
muito delicados da organização psíquica.
A mágoa é conselheira impiedosa e artesã de males cujos efeitos
são imprevisíveis.
Penetra no âmago do ser e envenena-o, impedindo-lhe o recebimento
dos socorros do otimismo, da esperança e da boa vontade
em relação aos fatores que o maceram.
Instalando-se, arma a sua vítima de impiedade e rancor, levando-
a a atitudes desesperadas, desde que lhe satisfaça a programação
vil.
Exala amargura e desconforto, expulsando as pessoas que intentam
contribuir para a mudança de estado, graças às altas cargas
vibratórias negativas, que exteriorizam mau humor e azedume.
*
Quem acumula mágoas, coleciona lixo mental.
Reage às tentativas de alojamento da mágoa nos teus senti-
Não estás no mundo por acaso; antes, com finalidades adre-
Acompanha a marcha do Sol, e enriquece-te de luz, não mermentos.
demente estabelecidas que deves atender.
gulhando na sombra dos ressentimentos destrutivos. 42 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Sorri ante o infortúnio, agradecendo a oportunidade de superá-
lo através dos valores éticos e educativos que já possuis, poupando-
te à consumpção de que é portadora a mágoa. Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
seu perseguidor.
Fere, profundamente, o sentimento e a razão, a injustiça.
Magoa, sem dúvida, a agressão injustificável.
A rede das maldades, quando envolve alguém, asfixia-o e a-
São muitos os fatores e acontecimentos que surgem à frente,
Não o deplores, nem revides deixando-te empolgar pelo anflige-
o.
obstaculizando a tua marcha.
seio do desforço.
Os outros, os infelicitadores, já são infelizes sem que lhes
aumentes a carga de desar com os revides e a vingança, tão covardes
e insensatos quanto as más ações danosas.
Certamente, não mereces muitas dessas dores, pelo menos na
atual conjuntura e na forma como te alcançam...
Sem embargo, não és viajor de primeira experiência, incurso
num passado que te serve de base para o presente.
Como deves lutar para modificar, nas causas, os efeitos perniciosos
que afetam a muitas outras criaturas, não te é lícita a ação
ignóbil de vingança.
Só os homens de pequeno porte moral se desforçam, tombando
em fosso mais profundo do que aquele em que se encontra o
Se desculpas o acusador, és melhor do que ele.
23
Desforço
*
*
43
44 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Se perdoas o inimigo, te encontras em mais feliz situação do
que a dele.
Se ajudas a quem te fere, seja por qual motivo for, lograste
ser um homem de bem, um verdadeiro cristão.
Desforço, jamais! Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
todas as atividades.
Não deplores a função ou tarefa humilde, na qual te encontras
edificando o futuro.
Todas as realizações, por mais grandiosas, não dispensam a
participação das aparentes e pequenas contribuições que, em
A melhor engrenagem pode desarticular-se quando alui mo-
A maquinaria mais sofisticada estrutura-se com o mineral
Todas as tarefas que promovem a vida são de relevante signi-
Não é a função que dignifica o homem, mas este quem a eno-
Realiza, desse modo, o teu dever, com a consciência de que
última análise, são-lhes fundamentais.
desto parafuso.
transformado, antes sem outra serventia.
ficado.
brece.
ele é de suma importância no concerto geral da vida.
O fastígio e o poder são compromissos graves para aqueles
que os detêm.
O fastígio facilmente leva à queda, sob as circunstâncias em
que se apresenta e as facilidades de que se reveste.
O poder, quase sempre, leva à corrupção, face à transitória
posição de que se faz cercar, com perigos e gravames.
O verdadeiro poder é o do amor, aquele que vem de Deus,
que faz homens fortes em qualquer função e dignos, íntegros, em
24
O Poder
*
45
Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Faze a tua parte com o poder do amor e segue, feliz, até a tua
vitória final.
46
Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
indivíduos.
O consumismo atual responde por muitos problemas.
As indústrias do supérfluo apresentam no mercado da vacuidade
um sem-número de produtos desnecessários, que aturdem os
Estimulados pela propaganda bem elaborada, desejam comprar,
mesmo sem poder, o que vêem, o que lhes é apresentado,
numa volúpia crescente.
Objetos e máquinas que são o último modelo, em pouco tempo
passam para o penúltimo lugar, até ficarem esquecidos em
No entanto, se não fossem adquiridos, naquela ocasião, a vida
Consumismo é fantasia, transferência do necessário para o
O consumidor que não reflete antes de adquirir, termina conarmários
ou depósitos de coisas sem valor.
perderia o sentido para quem os não comprasse.
secundário.
sumido pelas dívidas que o atormentam.
Muita gente faz compras, por mecanismos de evasão.
Insatisfeitas consigo mesmas, fogem adquirindo coisas mortas,
e mais se perturbando.
Enquanto grande número de indivíduos se afogam no oceano
do supérfluo, multidões inteiras não possuem o indispensável para
uma vida digna.
Abarrotados, uns, com coisas nenhumas, e outros vitimados
por terrível escassez.
25
Necessário e Dispensável
*
47
48 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
São os paradoxos do século e do comportamento materialistautilitarista
da atualidade.
*
Confere a necessidade legítima, antes de te permitires o consumismo.
Coisas de fora não equacionam estados íntimos. Distraem a
tensão por um momento, sem que operem real modificação interi-
Quando o excesso te visite, reparte-o com a escassez ao teu
or.
lado.
Controla e dirige a tua vontade, a fim de não seres uma vítima
a mais do tormento consumista. 49 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
26
Filosofia de Compreensão
No transcurso de um dia não faltam motivos para revides, agressões,
quedas morais.
Uma pessoa desatenta choca-se contigo e não se desculpa.
Outra, irreverente, diz-te um doesto e segue, sorrindo.
Mais alguém, em desequilíbrio, não oculta a animosidade que
lhe inspiras.
Outrem mais, de quem sabes que te censura e, mentindo contra
ti, acusa-te, levianamente...
Tens vontade de reagir.
"Também sou humano" – costumas pensar.
Somente que reações semelhantes àquelas não resolvem o
Deves nivelar-te às pessoas, pelas suas conquistas e títulos de
Ninguém passa, na Terra, sem provar a taça da incompreen-
Cada qual julga os outros pelos próprios critérios, mediante a
O que se não possui é desconhecido; portanto, difícil de idenproblema.
enobrecimento, numa linha superior, e não pela sua mesquinhez.
são.
sua forma de ser, como é natural.
tificado noutrem.
*
Não é necessário que se te despersonalizes evitando apresentar-
te conforme és. 50 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Faz-se mister que te superes vencendo a parte negativa do teu
caráter, aquela que censuras nos outros.
Lapidando as tuas arestas, tornar-te-ás melhor e mais feliz.
Aqueles que são exigentes, que gostam de aclarar tudo, resolver
as situações que lhes surgem, padecem de distúrbios emocionais,
sofrem ulcerações gástricas e duodenais, vivem indispostos.
Será que esses perturbadores e insolentes do caminho merecem
que te desarmonizes?
Segue em paz, durante todo o teu dia, e arrima-te na filosofia
da compreensão e da solidariedade, ajudando-os, sem reagires
contra eles.
Isto será melhor para ti e para todos. 51 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
27
Critério de Julgamento
Há uma tendência muito grande para o indivíduo supervalorizar
ou desconsiderar as tarefas que executa.
*
Por processo de auto-afirmação, um grande número de criaturas
se crê a razão pela qual o Sol se movimenta nos espaços,
superestimando-se, em prosaico processo de engrandecimento
Não se dão conta de que todos possuem critérios de avaliação
pessoal.
e de julgamento, derrapando no ridículo que poderiam evitar.
Tornam-se, assim, desagradáveis no trato e na convivência,
evitados por uns e antipatizados por outros.
*
Da mesma forma, encontramos larga faixa de pessoas que se
subestimam e não concedem o valor que merecem às suas realiza-
Crêem-se incapazes para qualquer atividade e supõem-se disções.
pensáveis em toda parte.
Pessimistas, por índole, fazem-se desestimulantes e arredios,
caindo em frustrações desnecessárias.
*
Dá o valor real aos teus atos.
Se poderias fazer melhor o que te parece imperfeito, logra-o
da próxima vez.
Se consideras insignificante o teu feito, menor seria sem ele. 52 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Se outros realizam com mais eficiência qualquer coisa, exercita-
te e chegarás à mesma posição dele.
Todas as ações positivas são importantes no contexto geral da
vida.
Até mesmo o erro tem o sentido de ensinar como se não deve
fazer o que ora resulta prejudicial.
Esforça-te um pouco mais, quando estiveres produzindo algo,
e, mediante o teu critério de julgamento, valoriza sem excesso
nem depreciamento o que faças, pensando na finalidade para que
se destina. 53 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
28
Crítica
Diante dos acontecimentos chocantes do dia-a-dia e face a determinados
comportamentos equivocados que recebem aplauso
geral, vem-te a tentação de criticar.
Algumas palavras bem colocadas, e serão suficientes para
desmascarar mandatários inescrupulosos e indivíduos subservientes
de conduta vil.
Quase todas as pessoas do círculo onde eles se movimentam,
conhecem-lhes as falhas. Não obstante, sorriem com falsa anuência
em relação à sua forma de viver, quase os detestando.
*
Tu, que procuras ser honesto contigo mesmo e com o teu próximo,
ficas magoado, desejoso de te referires às deficiências que
caracterizam essas pessoas e esses fatos.
Este procedimento em nada ajudará aos criticados, que se irritarão,
carregando-se de ódio contra ti e passando a perseguir-te,
piorando a própria situação.
A crítica ácida, inspirada pela revolta ou pelo ressentimento,
não contribui para a mudança delas ou das ocorrências examinadas.
Ninguém gosta de sofrer críticas, mesmo quando merecidas.
*
A palavra gentil de ajuda e de esclarecimento produz melhor
efeito do que a acusação, irada, a censura severa. 54 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
A tua melhor maneira de criticar o erro será agir com acerto,
diferenciando-te pela forma de atuar, em relação àquele que se
A força da retidão se expressa pela conduta, muito mais do
Evita a crítica, forma sutil de vingança e, não raro, de despei-
A tua vida deve tornar-se uma lição viva de correção e dignicomporta
irregularmente.
que através das palavras.
to sórdido.
dade, sem que estejas apontando os erros e debilidades alheios. 55 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
os lançamentos últimos.
29
Moda
Os caprichos da moda!
As criaturas engendram tormentos nos quais tombam de forma
leviana e lamentável.
Dentre outros, assoma o que se refere à moda.
Versatilidade no vestir e calçar, variedade para usar.
Armários abarrotados e as pessoas lamentando-se ausência de
Noites insones por causa de um modelo; preocupações exage-
Roupa exclusiva para causar sensação ou extravagante para
A vacuidade inspira formas de automaceração e de realização
trajes condignos para este ou aquele evento.
radas para a aquisição de uma indumentária.
chamar a atenção.
em disfarces de trapos de alto custo, que logo perdem o sentido.
*
Não são poucas as criaturas que se consideram infelizes por
causa da moda, que as impede de estar em dia com os figurinos e
. E são portadoras de apenas um corpo!
*
Veste-te para que te sintas asseado e confortável na tua roupa.
Se for factível usar o que ora é aceito, fica à vontade para fazê-
lo.
Se não puderes acompanhar os lançamentos, usa da simplicidade
e veste o que te seja possível, sem tormento nem angústia. 56 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Na maioria das vezes, ninguém nota como estás vestido, exceto
quando chamas a atenção pela originalidade, pelo inusitado...
Importa o que és e não como te vestes.
O invólucro ajuda, porém, o importante mesmo é o produto
que ele reveste.
Excesso, em moda, jamais! 57 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
30
Ante a Calúnia
É inevitável ser vítima da calúnia, que faz parte do orçamento
moral de muitas pessoas, a fim de ser apresentada no mercado da
Muitos se comprazem em urdi-la e desferi-la, por inveja, cileviandade
humana.
úme ou, simplesmente, por doença moral.
Outros se encarregam de divulgá-la, alegrando-se em fazê-lo,
porque também atormentados.
*
Não sintonizes com aqueles que vivem nessa faixa.
Igualmente não te permitas atingir pelas farpas caluniosas que
te arrojam.
Vive de tal forma, que o caluniador fique desmoralizado por
falta de provas.
Cada dia é lição que se transforma em vida, ao longo do teu
caminho eterno.
Diariamente surgem episódios de calúnia, intentando alcançar
alguém.
Assim, perdoa o caluniador.
Ele não fugirá de si mesmo.
*
Contam que uma caluniadora buscou o seu confessor e narrou,
arrependida, a sua insensatez.
Pedindo a absolvição para o triste delito, perguntou ao ouvinte
atento qual era a sua penitência. 58 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Aquele reflexionou e pediu-lhe que fosse ao lar e trouxesse
uma almofada de plumas, subisse à torre da igreja e dali as espalhasse
ao vento com máximo cuidado, e, após, viesse receber a
competente liberação.
Tão logo terminou de fazê-lo, a confessa retornou e perguntou:
– E agora?
– Volta lá – respondeu o sacerdote – recolhe todas as plumas
e refaze a almofada.
A calúnia são plumas ao vento que vão sempre adiante para a
amargura do caluniador. 59 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
31
Meditação
Reserva-te alguns minutos para a meditação antes de tomares
atitudes, de assumires compromissos.
Os melhores conselhos que recebas são guias e não soluções.
Os teus problemas pertencem-te e a ti cabe solucioná-los.
Transferir responsabilidades para os outros é fugir ao dever.
Como não é justo que te acredites responsável por tudo, também
não é correto que culpes os outros por todas as ocorrências
Renovação moral é compromisso para já, e não para oportuinfelizes
que te alcancem.
namente.
Cada vez que postergas a ação dignificadora em favor de ti
mesmo, as circunstâncias se tornam mais complexas e difíceis.
*
Em ti próprio estão as respostas para as interrogações que
Aclimata-te ao silêncio interior e ouvirás com clareza as dire-
No dia-a-dia aprenderás a te encontrares, se o intentares sem-
Um dia é valioso período de tempo, cheio de incidentes para
Ganha cada momento, fazendo uma após a outra cada tarefa,
bailam em tua mente.
trizes para equacioná-las.
pre.
serem resolvidos e rico de oportunidade para elevação pessoal.
e terminarás a jornada em paz. Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Reflexiona, portanto, antes de agires, para que, arrependido,
não venhas a meditar só depois.
60
Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
um.
É da lei o axioma que "cada um evolui com o esforço próprio"
e que "a colheita é a resposta da sementeira".
Fadado à perfeição, o Espírito adquire sabedoria mediante as
experiências que vive, conquistando, palmo a palmo, os espaços
da evolução.
Semeando sempre, porque a cada ação corresponde uma equivalente
reação, seguirás adiante conforme te proponhas e te
empenhes por executá-lo.
Ocorrendo injunções afligentes que te levem à dor, conscientiza-
te de que são necessárias para mais valiosas conquistas morais,
e esparze bondade embora as circunstâncias dolorosas.
mentações que somente perturbam e geram mal-estar.
Uma atitude otimista e uma realização fecunda fomentam resultados
positivos que se transformam em conquistas libertadoras.
32
Inexoravelmente
Quando erra, repete o tentame até acertá-lo.
Quando prejudica, volve a reparar, auxiliando a quem afligiu.
Desse modo, o trabalho é pessoal e intransferível.
Embora receba ajuda, orientação e estímulo, a ação é de cada
*
O que hoje te chega, foi arrojado ontem.
Da mesma forma, o que ora aciones, reencontrarás mais tarde.
Não desperdices este momento recorrendo a queixas e a la-
61
62 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
33
Em Ti
Porque te acontecem coisas desagradáveis e nem tudo corra
conforme gostarias que sucedesse, não te creias fora do auxílio de
Deus.
Ninguém que siga ao desamparo divino.
O que ocorre de prejudicial, neste momento, bendirás depois.
O insucesso de agora se transformará em bênção mais tarde,
se souberes esperar superando este momento.
Deus está em toda parte e, obviamente, em ti e contigo também.
Procura encontrá-lO, não somente nas ocorrências ditosas,
senão em todos os fatos e lugares.
O desafio da evolução é proposta de vida a ser conquistada
por cada um em particular e por todos em geral.
*
Intenta retirar o melhor proveito do aparente insucesso, que
se converterá em lição preciosa em teu favor, quando de outros
cometimentos.
O homem é templo de Deus, qual ocorre com a Natureza.
Reserva-te a satisfação de ser cada dia melhor do que no anterior,
de forma que Ele em ti habite e, sentindo-O, conscientemente,
facultes que outros indivíduos também O encontrem.
Assim, não te concedas idéias perniciosas, nem te proponhas
frustrações ou amarguras dispensáveis, no teu programa de redenção.
63 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
34
Adversidades e Insucessos
Todos nos encontramos sujeitos ao que se convencionou
chamar adversidade.
Uma tragédia, uma ocorrência marcante pela dor que produz,
um acontecimento nefasto, a perda de uma pessoa querida, constituem
infortúnios que maceram.
Prejuízos financeiros, danos morais, enfermidades catalogadas
como irreversíveis, são adversidades desastrosas em muitas
existências.
No entanto, se fosse encarada a vida sob o ponto de vista espiritual,
o homem compreenderia a razão de tais insucessos e não
se entregaria a desastres mais graves, quais a loucura e o suicídio,
a fuga pelo álcool ou pelos tóxicos...
A existência física não transcorre qual nau sem rumo em mar
encapelado.
Os atos anteriores e a conduta atual são-lhe mapa e rota para
chegar ao destino pelo qual o indivíduo opta.
Realmente desastrosos são os males que se praticam em relação
ao próximo, pois que eles irão fomentar as adversidades de
amanhã, que são os inadiáveis resgates do infrator.
*
Trabalha para te impedires infortúnios, especialmente os atuais,
que defluem da insensatez, da malversação de valores, da
malquerença. Entretanto, se fores colhido por insucesso de qualquer
natureza ou algum sinistro, assume um comportamento de
equilíbrio e enfrenta-os com serenidade.
Tudo passa, às vezes, mais rápido do que se espera. 64 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Contorna os danos causados e, se estiveres ferido no sentimento,
confia no tempo, que te pensará a chaga, ajudando-te a sair
do embate mais forte e com visão mais clara a respeito da vida.
Em qualquer circunstância, projeta-te mentalmente na direção
do amanhã, vendo-te feliz como gostarás de estar.
Com essa imagem positiva avança, superando o primeiro
momento inditoso e o próximo, passo a passo, e te surpreenderás
vitorioso, no alvo almejado. Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
são afins.
temente.
A ação do pensamento sobre a saúde é incontestável.
Vejamos alguns exemplos:
a ansiedade estimula a secreção de adrenalina, que sobrecarrega
o sistema nervoso e o descontrola;
o pessimismo perturba o aparelho digestivo e produz distúrbios
gerais;
o medo, a revolta, são agentes de úlceras gástricas e duodenais
de curso largo.
Da mesma forma, a tranqüilidade, o otimismo, a coragem, são
estimulantes que trabalham pela harmonia emocional e orgânica,
produzindo salutares efeitos na vida.
O homem se torna o que pensa, portanto, o que quer.
Os pensamentos emitidos atraem ou sintonizam outros semelhantes,
nas mesmas faixas de ondas mentais por onde transitam
as aspirações e os estados psíquicos de toda a Humanidade.
Adicionados a estes, temos as mentes dos desencarnados que
se intercomunicam com os homens, vibrando nos climas que lhes
Acostuma-te a pensar de forma edificante.
Assume uma postura vitoriosa.
Atrai pensamentos salutares.
O cérebro é antena que emite vibrações e as capta incessan-
35
Pensamentos
*
65
Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Irradia idéias do bem, do progresso, da paz, e captarás, por
Quem pensa em derrota, já perdeu uma parte da luta por em-
Quem cultiva o insucesso, dificilmente enfrentará os desafios
sintonia, equivalentes estímulos para o teu bem.
preender.
para a vitória.
*
A cada momento adicionas experiências novas às tuas conquistas.
A todo instante pensa corretamente e somarás força psíquica
para o êxito da tua reencarnação.
66
67 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
36
Serenidade Sempre
Todo homem sábio é sereno.
A serenidade é conquista que se consegue a esforço pessoal e
passo a passo.
Pequenos desafios que são superados; irritação que se faz
controlada; desajustes emocionais corrigidos; vontade bem direcionada;
ambição freada, são experiências para a aquisição da
serenidade.
Um Espírito sereno já se encontrou consigo próprio, sabendo
o que, exatamente, deseja da vida.
A serenidade harmoniza, exteriorizando-se de forma agradável
para os circunstantes.
Inspira confiança, acalma e propõe afeição.
O homem sereno já venceu grande parte da luta.
*
Que nenhuma agressão exterior te perturbe, levando-te à irritação,
ao desequilíbrio.
Mantém-te sereno em todas as realizações.
A tua paz é moeda arduamente conquistada, que não deves atirar
fora por motivos irrelevantes.
Os tesouros reais, de alto valor, são aqueles de ordem íntima,
que ninguém toma, jamais se perdem e sempre seguem com a
pessoa.
Tua serenidade, tua gema preciosa.
* 68 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Diante de quem te enganou, traindo a tua confiança, o teu ideal,
ou envolvendo-te em malquerença, mantém-te sereno.
O enganador é quem deve estar inquieto, e não a sua vítima.
Nunca te permitas demonstrar que foste atingido pelo petardo
da maldade alheia.
No teu círculo familiar ou social sempre defrontarás com pessoas
perturbadas, confusas e agressivas.
Não te desgastes com elas, competindo nas faixas de desequilíbrio
em que se fixam.
Constituem teste à tua paciência e serenidade.
Assim, exercita-te com essas situações para, mais seguro, enfrentares
os grandes testemunhos e provações do processo evolutivo.
Sempre, porém, com serenidade. 69 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
37
Reclamações e Queixas
Lenta, mas, sistematicamente, vai-se arraigando na personalidade
do homem o hábito infeliz da queixa e da reclamação.
Insubordinado, em razão da predominância dos próprios instintos
agressivos, o indivíduo sempre encontra motivos para apresentar-
se insatisfeito.
Saúde ou doença, trabalho ou desemprego, alegria ou tristeza,
calor ou frio, servem-lhe sempre de pretexto para queixar-se, para
reclamar...
Instala-se, esse vício, fixando-se no comportamento, que se
torna azedo e desagradável, ao tempo em que fomenta distonias
íntimas, neuroses, abrindo campo para que se originem diversas
enfermidades.
O queixoso padece de hipertrofia da esperança e do otimismo.
Atrai a desdita e sintoniza com amargura, passando a sofrer
aquilo de que aparenta desejar libertar-se.
Para quem deseja encontrar, nunca faltam motivos de queixas
e reclamações.
*
Estabelece, no teu cotidiano, o compromisso de solucionar dificuldades,
ao invés de gerá-las, ou complicá-las quando se te
apresentem.
Silencia o queixoso, propondo-lhe fazer o melhor que lhe esteja
ao alcance em detrimento do tempo perdido em reclamações.
O azedume responde pela idéia malsã de tudo ver de forma
negativa, engendrando mecanismos de falso martirológio. 70 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
O queixoso, normalmente, gosta da indolência e se compraz
no pessimismo.
Põe sol e beleza nas tuas paisagens, passando de uma para outra
área de ação sem o fardo do mau humor, efeito de algo desagradável
que por acaso tenha-te acontecido na anterior.
Quem sabe confiar e trabalha, sempre alcança a meta que
busca. 71 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
38
Coerência e Firmeza
Comporta-te com a mesma firmeza e dignidade, quando a sós
ou na multidão, no lar ou fora dele.
O homem de bem é sempre o mesmo, não possuindo duas faces
morais.
Trabalhando-te interiormente, fixarás os ideais de enobrecimento
nos atos, que se exteriorizarão, sempre iguais, nas mais
variadas situações.
O homem consciente das suas responsabilidades tem uma só
conduta, seja na vida privada ou na pública, caracterizando-se
pela retidão, que lhe expressa a grandeza do ideal esposado.
Se adquires o hábito da dissimulação, em breve derraparás na
hipocrisia e na pusilanimidade.
Exercitando-te na concentração dos pensamentos superiores,
eles fluirão pelos teus atos no lar, no serviço e nas horas de recreio.
O lar é a sociedade miniaturizada nas fronteiras domésticas.
Aí se forjam os valores indispensáveis para o crescimento intelectomoral
do indivíduo, preparando-o para o mundo.
*
Sê refratário à lisonja.
Prefere uma verdade ácida a uma mentira adocicada.
O lisonjeador é desonesto com aquele a quem elogia.
Interrompe-lhe a insinuação perturbadora, que te atribui valores
que não possuis. 72 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Sê, então, coerente, em todos os atos, não amparando o vício,
nem passando recibo em favor da fraude, das posturas reprocháveis.
Talvez não mudes o mundo.
Se, no entanto, te tornares melhor, o mundo se terá renovado
com disposições superiores para o fanal da fraternidade e da paz. 73 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
trabalhada.
çar.
39
Evidência Pessoal
Cada degrau de ascensão que logres, mais te exporá a críticas
e ciúmes.
Os indivíduos medíocres vibram na mesma faixa de necessidade
e de aspirações. Porque se confundem na vacuidade, não
toleram aqueles que se destacam e granjeiam notoriedade.
A evidência financeira, social, cultural, ou de qualquer matiz,
faz-se pesado fardo sobre os ombros de quem a conquista.
A inveja dos frívolos segue-lhe os passos, intentando diminuir-
lhe o brilho e armando ciladas sob o amparo da calúnia bem
Todos os homens que se destacam, na comunidade, são convidados
a pagar alto tributo aos que permanecem na retaguarda.
*
Procura agir com modéstia, sem te deixares empolgar pelo
brilho das situações relevantes, poupando-te, de certo modo, ao
azedume e à perseguição dos insensatos.
Age com naturalidade, sendo sóbrio em tudo.
Os homens que muito exibem, quase sempre possuem pouco.
As ações sóbrias dão paz ao espírito e alimentam o coração.
Não te procures sobrecarregar com o supérfluo que os destaques
humanos impõem, a fim de que isto não te perturbe a vida.
Se atrais, mesmo inconscientemente, a inveja dos enfermos,
receberás altas cargas de energia negativa, que te poderão alcan-
74 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Teus atos bons não necessitam de ser conhecidos, para que se
façam comentados e adquiram valor. Eles são valiosos, embora
desconhecidos.
Descarta, portanto, quanto possível, a evidência pessoal, e
quando as circunstâncias o exijam, não lhe vistas a pesada e fulgurante
indumentária, mantendo-te simples e puro de coração,
mediante o que permanecerás feliz e sem amarras com a transitoriedade
das situações. 75 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
40
Alegria e Ação
A alegria espontânea, que decorre de uma conduta digna, é
geradora de saúde e bem-estar.
O homem que executa com prazer os seus deveres e sabe
transformar as situações difíceis, dando-lhes cor e beleza, supera
os impedimentos e facilita a realização de qualquer empresa.
A alegria, desse modo, resulta de uma visão positiva da vida,
que se enriquece de inestimáveis tesouros de paz interior.
Viver, deve ser um hino de júbilo para todos quantos se movimentam
na Terra.
Oportunidade superior de ascensão, pode ser considerada uma
bênção de alto porte, que somente uma conduta jubilosa e reconhecida
pode exteriorizar como forma de gratidão.
*
Quanto faças, realiza-o com alegria.
Põe estrelas de esperança no teu céu de provações e rejubilate
pelo ensejo evolutivo.
Abre-te a outros corações que anelam por amizade e aumenta
o teu círculo de companheiros, transmitindo-lhes as emoções
gratas do ato de viver.
Qualquer ação inspirada pela alegria torna-se mais fácil de ser
executada e aureola-se da mirífica luz do bem.
Nem sempre é o fato, em si, o grande problema, mas o estado
de ânimo e a forma de o encarar por aquele que o deve enfrentar. 76 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Coloca o toque de alegria nas tuas realizações e elas brilharão,
atraindo outras pessoas, que se sentirão comprazidas em
O Evangelho é uma Boa Nova de alegria, pois que ensina a
poder ajudar-te, estar contigo, participar das tuas tarefas.
superar a dor, a sombra da saudade, e aclara o enigma da morte.
Neste, como em todos os teus dias, sê alegre, demonstrando
gratidão a Deus por estares vivendo. Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
se firma.
No teu círculo de amigos não faltam aqueles que cultivam a
violência, a arrogância, o espírito perturbador...
Bulhentos, irrequietos, gostam de promover desordens sempre
armados contra tudo e todos.
Cuidado com eles!
Aconselham a anarquia, estimulam as arruaças, encorajam a
Não te inspires na sua poluição mental, responsável pelo seu
Trata-os com gentileza, no entanto poupa-te à sua convivên-
Eles são cansativos pela instabilidade e exaurem aqueles que
malquerença.
comportamento alienado.
cia malfazeja.
os cercam, em razão da agressividade em que se debatem.
Há quem aconselhe revide a qualquer ofensa; reproche a toda
insinuação; respostas ácidas às provocações...
O fogo não se acaba, quando se lhe atira combustível.
Assim também acontece com o mal.
A única alternativa é a que decorre da ação do bem, que apaga
as labaredas da violência e estabelece a paz na qual o progresso
És instrumento da vida, para a tua e a felicidade geral.
Esparze alegria, sem fomentar o pandemônio.
41
Ação de Paz
*
*
77
78 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Irradia dignidade, sem carantonha ou simulação sisuda.
Favorece a paz, sem pieguismo ou receio da perturbação.
Tua realidade íntima, tua forma de vida pessoal.
Vive em paz, e apazigua todos quantos se acerquem de ti. 79 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
42
Saúde
Estás mergulhado, psiquicamente, na Mente Universal e Divina.
Seguindo a diretriz ética do equilíbrio e da ordem, que fluem
e refluem em toda parte, respiras em clima de saúde e de paz.
Quando te desconectas do complexo mantenedor da harmonia
que te envolve, desconcertam-se as peças da maquinaria física,
face às vibrações violentas da mente, favorecendo a instalação das
doenças.
A enfermidade, geralmente, procede do ser espiritual, resultante
do seu passado, que encontra ressonância no psiquismo
atual, gerando o campo propício à instalação da desordem.
*
Durante o dia, muitos fatores conspiram contra a tua harmonia
mental, não te cabendo agasalhá-los.
Resolve, assim, cada situação, com calma e segurança, não
guardando resíduos mentais negativos.
Fato consumado, mente liberada, em programação de novo
cometimento superior.
A tua saúde depende sempre do teu comportamento moral e
espiritual.
E, não obstante, se a enfermidade encontrar guarida no teu
organismo, recorre à oração e resgata a tua dívida com alegria, em
pleno processo de libertação total. 80 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
43
O Sexo
Face à vulgarização das falsas necessidades sexuais, aturdeste,
perdendo o rumo do comportamento.
Apelos vis se apresentam, nos veículos de comunicação de
massa, e os comentários descem a expressões chulas, regadas de
baixezas, fazendo do sexo um instrumento de servilismo que o
leva a situação mais grotesca do que a animal, de onde procede.
Até certo modo, é compreensível a moderna reação cultural, a
esse respeito, como conseqüência aos séculos de ignorância e
proibição. Todavia, substituir-lhe a função precípua pela malversação
danosa é lamentável para o próprio homem.
O sexo é para a vida, e não esta para aquele.
*
Diante das atitudes insensatas e as conotações servis a que está
levada a função genésica, dirige-a, tu, com equilíbrio, a fim de
que o seu desregramento não te conduza à alucinação.
O sexo foi colocado abaixo do cérebro para ser por este conduzido.
Posto na cabeça pela revolução dos frustrados, ei-lo transformado
em peça principal do corpo, em detrimento da própria vida.
Conduze-o com equilíbrio, a fim de que não derrapes na sofreguidão
que enlouquece, sem resolver o problema. Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
cia.
Está presente em quase todos os movimentos da atualidade e
é responsável por incontáveis fenômenos do processo evolutivo
da Humanidade.
Facilita as trocas, impulsiona o progresso, faculta o conforto e
sustenta a vida.
A sua presença modifica muitas situações e resolve incontáveis
problemas.
Ajuda na enfermidade, na educação e na caridade.
Todavia, responde por crimes inumeráveis: corrupção, desdita,
miséria e fome...
Catastrófico em mãos irresponsáveis, estimula o ódio e favorece
a violência.
Denigre o caráter, conduz à traição, entorpece os sentimentos...
Referimo-nos ao dinheiro.
Não é ele, porém, bom ou mau.
O uso que se lhe faz e a ambição humana que o cerca, o tornam
instrumento de vida ou arma de morte.
Trabalha por adquiri-lo, a fim de o aplicares nas necessidades
e deveres morais.
44
Instrumento ou Arma
Muitos o consideram fator primordial para a felicidade.
*
Não transformes o dinheiro em meta essencial da tua existên-
81
82 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Busca viver, dele fazendo um meio para as finalidades superiores
da vida, sem que te escravizes à sua paixão vivendo para
ele.
Conquista-o mediante o labor digno, de modo que ele seja,
em tuas mãos, em tua vida, recurso de elevação e mensageiro da
felicidade, para ti e para aqueles a quem possas beneficiar. 83 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
45
Força da Fé
A fé religiosa, assentada nas sólidas bases da razão, constitui
equipamento de segurança para a travessia feliz da existência
corporal.
Luz acesa na sombra, aponta o rumo no processo humano para
a conquista dos valores eternos.
O homem sem fé é semelhante a barco sem bússola em oceano
imenso.
Quando bruxuleia a fé, e se apaga por falta do combustível
que a razão proporciona, ei-lo a padecer a rude provação de ter
que seguir em plena escuridão, sem apoio nem discernimento.
A fé pode ser comparada a uma lâmpada acesa colocada nos
pés, clareando o caminho.
*
Sustenta a tua fé com a lógica do raciocínio claro.
Concede-lhe tempo mental, aprofundando reflexões em torno
da vida e da sua superior finalidade.
Exercita-a, mediante a irrestrita confiança em Deus e na incondicional
ação do bem.
A fé é campo para experiências transcendentes, que dilatam a
capacidade espiritual do ser.
Com o dinamismo que a fé propicia, cresce nas tuas aspirações,
impulsionando a vontade na diretriz da edificação de ti
mesmo, superando impedimentos e revestindo-te de coragem com
que triunfarás nos tentames da evolução. Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Conforme a intensidade da tua fé, agirás, fazendo da tua vida
aquilo em que realmente acreditas.
84
85 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
46
Busca Incessante
Uma das formas de ser feliz é buscar a Verdade sempre, não
estacionando no já conseguido, e seguindo além.
Não tenhas, porém, a pretensão de obrigar os outros a aceitarem
o que hajas conquistado.
As criaturas estacionam e progridem em faixas de valores diferentes,
não podendo ser padronizadas mediante a mesma escala.
Além disso, a Verdade absoluta não será conseguida pelo
homem finito.
Assim, ela se apresenta com matizes variados que atendem
aos diversos graus da evolução humana, sem imposições constrangedoras.
Conquista sem humilhar; submete sem ferir; domina, libertando.
Quem a encontra, modifica-se inteiramente, alterando, para
melhor, o padrão do comportamento.
Livre, com ela faz-se mais sábio e paciente, apaziguado e feliz.
Como não gostas que te cerceiem a faculdade de pensar e eleger
o que te parece melhor, não te imponhas nem as tuas aquisições
intelecto-morais a ninguém.
*
Através do exemplo leciona a verdade, nunca revidando mal
por mal, desculpando a ignorância e olvidando toda ofensa. 86 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Com uma visão mais clara e perfeita da vida, entendes melhor
os homens e suas debilidades, sendo paciente com eles e conquistando-
os para o clima de bem-estar que desfrutas.
O sábio não é aquele que conhece, mas quem aplica o conhecimento
na vivência diária.
A verdade é manifestação de Deus, que a pouco e pouco o
homem penetra.
Por isso, ensinou Jesus que todos buscássemos a verdade,
pois que ela, expressando o amor em plenitude, liberta e torna
feliz o ser. Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
decadência.
A vida, para desenvolver-se, exige energia.
O envelhecimento, resultado do desgaste energético, é fenômeno
natural.
Irreversível, a idade conquista espaço no organismo humano,
combalindo-lhe as forças e conduzindo-o à desencarnação.
Apesar da importância de serem preservados a juventude interior,
o entusiasmo pela vida, as ocasiões de prosseguir servindo e
iluminando-se, isto não descarta o fenômeno de velhice.
Cada minuto que passa, adiciona consumo à máquina orgâni-
A velhice é quadra abençoada da existência planetária, que
Repositório de experiências, é campo de sabedoria a serviço
ca impondo-te sisudeza, maturidade, consciência responsável.
nem todos têm oportunidade de alcançar.
da vida.
Respirando e agindo, estás envelhecendo.
Pensa nisso.
Vive, desse modo, programando a tua terceira idade, jovialmente,
a fim de não seres colhido pela amargura e o dissabor,
quando as forças se te apresentarem diminuídas, portanto, em
O pior da velhice é a forma refratária com que muitos a consideram,
ingratamente.
47
Velhice
*
*
87
88 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
48
De Retorno
Quando volvas ao lar, deixa, à distância, os resíduos das dificuldades
e problemas enfrentados durante o dia.
A família não pode arcar com o ônus do teu cansaço, das mágoas,
das frustrações e do mau humor que reuniste, por contingências,
às vezes inevitáveis, do teu trabalho.
O ninho doméstico deve ser preservado das tempestades exteriores,
a fim de que encontres nele forças e estímulos para os
deveres a desempenhar no dia imediato.
Mesmo que te sintas deprimido ou fatigado, busca renovar-te
com disposição otimista, mediante a qual tornarás ali a tua presença
sempre desejada e querida.
Torna o teu lar uma permanente fonte de inspiração, de modo
que, ao te recordares dele, em qualquer lugar, experimentes motivação
para um feliz desempenho dos compromissos abraçados.
*
São inúmeros os desafios que o homem probo experimenta
durante um dia.
Nem sempre triunfará em todos eles. No entanto, cada vez
que se sinta defraudado por si mesmo, na luta, cabe-lhe o dever de
Quem não tropeça, nem cai, certamente não sai do lugar onde
preservar a confiança e programar a recuperação.
se encontra imobilizado.
Ação é, também, sinônimo de movimento, de experiências
com erros e acertos. 89 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Desse modo, não conduzas contigo a amargura dos insucessos,
nem o ressaibo da insatisfação.
Terminado o teu compromisso fora da família, volve ao lar
com disposição positiva, entusiasmado com os valores alcançados
e confiante nos futuros resultados dos esforços a desprender mais
tarde.
O teu lar deve ser o santuário-escola, a oficina-recreio onde o
amor predomine e a felicidade, em qualquer situação ou circunstância,
sempre se faça presente. 90 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
49
Sono e Repouso
O sono é uma experiência que faz recordar a desencarnação.
É uma pré-morte ou treinamento para ela, em razão do entorpecimento
da consciência, da vontade e graças à ausência de
defesa a que fica exposta a criatura.
No sonho, às vezes, a lucidez espiritual, sintonizando com a
vida exuberante, fixa impressões que se incorporam às lembranças
em tons agradáveis ou afligentes, representativas dos lugares e
pessoas onde e com quem se esteve.
Como ninguém sabe com segurança se, ao dormir, despertará
no corpo, mais tarde, dois impositivos se fazem indispensáveis
A oração abre as portas da percepção ao indivíduo e o equilí-
O sono é fenômeno fisiológico de alta magnitude para a vida
Não apenas dormir é importante, senão, bem dormir, especi-
O repouso físico aliado ao prazer emocional constitui-lhe fapara
um bom repouso: a prece e a harmonia mental.
brio mental o conduz às regiões felizes.
animal, sem o qual inúmeros distúrbios se instalam no ser.
almente para o homem.
tor indispensável à saúde.
*
Antes do repouso noturno, deixa as preocupações à margem.
O travesseiro não aconselha a ninguém.
A noite bem repousada, os encontros espirituais durante a fase
do sono, são os propiciadores da inspiração que soluciona as
questões em pendência. 91 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Assim, lê uma pequena página de otimismo antes de dormir, a
fim de que ela te estimule os centros do pensamento sadio.
Ora com íntima confiança em Deus.
Entrega-te em paz ao repouso.
Quando despertares, estarás renovado e, se retornares à Pátria
Espiritual, enquanto o corpo dorme, terás melhor condição de
compreender e seguir tranqüilo os novos rumos que a vida te
concede. 92 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
50
Morte
Tudo que nasce, vive, morre e se transforma.
O corpo se organiza, tem o seu ciclo vital, desagrega-se e
modifica as moléculas que o constituem, mediante o fenômeno da
morte.
A morte é, portanto, acontecimento biológico, inevitável, para
todas as formas vivas na Terra.
*
Considera a fragilidade orgânica na qual te movimentas e, ao
cair do dia, antes do repouso no lar, pensa na possibilidade de a
perderes mediante a transformação pela morte.
O sono é uma quase desencarnação e ninguém tem segurança
se despertará na aparelhagem física no dia seguinte...
Faze uma avaliação do teu dia, busca retificar o em que te enganaste,
reprograma as tuas atividades e vive com a retidão que
caracteriza aquele que dispõe de pouco tempo, confiando no
prosseguimento da vida após o transe.
*
Desenfaixa-te dos elos retentivos com a retaguarda, sempre
que te sintas atado, recordando que a vida prossegue e toda vinculação
com os caprichos humanos representa sofrimento em programação.
Todos os momentos que passam podem ser considerados adeuses.
Assim, avança para o amanhã, libertando-te, para alcançares
o triunfo da tua imortalidade. Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
--- Fim ---
93
94 Divaldo Pereira Franco - Episódios Diários - Pelo Espírito Joanna de Ângelis
Amigo(a) Leitor(a),
Se você leu e gostou desta obra, colabore com a divulgação
dos ensinamentos trazidos pelos benfeitores do plano
espiritual. Adquira um bom livro espírita e ofereça-o de
presente a alguém de sua estima.
O livro espírita, além de divulgar os ensinamentos filosóficos,
morais e científicos dos espíritos mais evoluídos,
também auxilia no custeio de inúmeras obras de assistência
social, escolas para crianças e jovens carentes, etc.
As obras espíritas nunca sustentam, financeiramente, os
seus escritores; estes são abnegados trabalhadores na seara de
Jesus, em busca constante da paz no Reino de Deus.
Irmão W.
"Porque nós somos cooperadores de Deus."
Paulo. (1ª Epístola aos Coríntios, 3, versículo 9.)
Muita paz!
Bezerra
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