quarta-feira, 13 de julho de 2011

{clube-do-e-livro} LIVRO ANEXADO: No Mundo Maior- André Luiz - Chico Xavier


Repassando:














 





Resenha:


Na jornada evolutiva

 

       Dos quatro cantos da Terra diariamente partem viajores humanos, aos milhares, demandando o país da Morte. Vão-se de ilustres centros da cultura européia, de tumultuárias cidades americanas, de ve­lhos círculos asiáticos, de ásperos climas africanos. Procedem das metrópoles, das vilas, dos campos ...

       Raros viveram nos montes da sublimação, vin­culados aos deveres nobilitantes. A maioria cons­titui-se de menores de espírito, em luta pela ou­torga de títulos que lhes exaltem a personalidade. Não chegaram a ser homens completos. Atraves­saram o "mare magnum" da humanidade em con­tínua experimentação. Muita vez, acomodaram-se com os vícios de toda a sorte, demorando volunta­riamente nos trilhos da insensatez. Apesar disso, porém, quase sempre se atribuíam a indébita con­dição de "eleitos da Providência"; e, cristalizados em tal suposição, aplicavam a justiça ao próximo, sem se com penetrarem das próprias faltas, esperan­do um paraíso de graças para si e um inferno de intérmino tormento para os outros. Quando perdi­dos nos intrincados meandros do materialismo cego, fiavam, sem justificativa, que no túmulo se lhes encerraria a memória; e, se filiados a escolas reli­giosas, raros excetuados, contavam, levianos e incon­seqüentes, com privilégios que jamais nada fizeram por merecer.

       Onde albergar a estranha e infinita caravana? como designar a mesma estação de destino a viajan­tes de cultura, posição e bagagem tão diversas?

Perante a Suprema Justiça, o malgache e o inglês fruem dos mesmos direitos. Provavelmente, porém, estarão distanciados entre si, pela conduta Individual, diante da Lei Divina, que distingue, in­variavelmente, a virtude e o crime, o trabalho e a ociosidade, a verdade e a simulação, a boa vontade e a indiferença. Da contínua peregrinação do sepulcro, participam, todavia, santos e malfeitores, homens diligentes e homens preguiçosos.

Como avaliar por bitola única recipientes hete­rogêneos? Considerando, porém, nossa origem co­mum, não somos todos filhos do mesmo Pai? E por que motivo fulminar com inapelável condenação os delinqüentes, se o dicionário divino inscreve a letras de logo as palavras "regeneração", "amor" e "mise­ricórdia"? Determinaria o Senhor o cultivo compul­sório da esperança entre as criaturas, ao passo que Ele mesmo, de Sua parte, desesperaria? Glorificaria a boa vontade, entre os homens, e conservar-se-ia no cárcere escuro da negação? O selvagem que haja eliminado os semelhantes, a flechadas, teria recebi­do no mundo as mesmas oportunidades de aprender que felicitam o europeu supercivilizado, que exter­mina o próximo à metralhadora? estariam ambos preparados ao ingresso definitivo no paraíso de bem-aventurança infindável tão sÔmente pelo ba­tismo simbólico ou graças a tardio arrependimento no leito de morte?

A lógica e o bom-senso nem sempre se com­padecem com argumentos teológicos imutáveis. A vida nunca interrompe atividades naturais, por im­posição de dogmas estatuídos de artifício. E, se mera obra de arte humana, cujo termo é a bolorenta placidez dos museus, exige a paciência de anos para ser empreendida e realizada, que dizer da obra sublime do aperfeiçoamento da alma, destinada a glórias imarcescíveis?

Vários companheiros de ideal estranham a co­operação de André Luiz, que nos tece informações sobre alguns setores das esferas mais próximas ao comum dos mortais.

Iludidos na teoria do menor esforço, inexistente nos círculos elevados, contavam com preeminência pessoal, sem nenhum testemunho de serviço e dis­tantes do trabalho digno, em um céu de gozos con­templativos, exuberante de conforto melifico. Pre­feririam a despreocupação das galerias, em beatitude permanente, onde a grandeza divina se limitaria a prodigioso. espetáculos, cujos números mais sur­preendentes estariam a cargo dos Espíritos Superio­res, convertidos em jograis de vestidura brilhante.

A missão de André Luiz é, porém, a de revelar os tesouros de que somos herdeiros felizes na Eter­nidade, riquezas imperecíveis; em cuja posse jamais entraremos sem a Indispensável aquisição de Sabe­doria e de Amor.

Para isto, não lidamos em milagrosos laboratórios de felicidade improvisada, onde se adquiram dotes de vil preço e ordinárias asas de cera. Somos filhos de Deus, em crescimento. Sela nos campos de forças condensadas, quais os da luta física, seja nas esfe­ras de energias sutis, quais as do plano superior, os ascendentes que nos presidem os destinos são de ordem evolutiva, pura e simples, com indefectível justiça a seguirmos de perto, à claridade gloriosa e com passiva do Divino Amor.

A morte a ninguém propIciará passaporte gra­tuito para a ventura celeste. Nunca promoverá com­pulsoriamente homens a anjos. Cada criatura trans-porá essa aduana da eternidade com a exclusiva bagagem do que houver semeado, e aprenderá que a ordem e a hierarquia, a paz do trabalho edifican­te, são característicos imutáveis da Lei, em toda parte.

Ninguém, depois do sepulcro, gozará de um descanso a que não tenha feito jus, porque "o Reino do Senhor não vem com aparências externas".

Os companheiros que compreendem, na expe­riência humana, a escada sublime, cujos degraus há que vencer a preço de suor, com o proveito das bênçãos celestiais, dentro da prática Incessante do bem, não se surpreenderão com as narrativas do mensageiro interessado no servir por amor. Sabem eles que não teriam recebido o dom da vida para matar o tempo, nem a dádiva da' fé para confundir os semelhantes, absorvidos, que se acham, na exe­cução dos Divinos Desígnios. Todavia, aos crentes do favoritismo, presos à teia de velhas ilusões, ainda quando se apresentem com os mais respeitáveis tí­tulos, as afirmativas do emissário fraternal provo­carão descontentamento e perplexidade.

É natural, porém: cada lavrador respira o ar do campo que escolheu.

Para todos, contudo, exoramos a bênção do Eterno: tanto para eles, quanto para nós.

 

                                                                                        EMMANUEL

 

                             Pedro Leopoldo, 25 de março de 1947.



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