quinta-feira, 11 de abril de 2013

{clube-do-e-livro} Para Renato Alioti Tao te Ching -Lao Tzu em TXT

Tao Te Ching



por Lao Tzi





Sumário / TOC

Capítulo I

Capítulo II

Capítulo III

Capítulo IV

Capítulo V

Capítulo VI

Capítulo VII

Capítulo VIII

Capítulo IX

Capítulo X

Capítulo XI

Capítulo XII

Capítulo XIII

Capítulo XIV

Capítulo XV

Capítulo XVI

Capítulo XVII

Capítulo XVIII

Capítulo XIX

Capítulo XX

Capítulo XXI

Capítulo XXII

Capítulo XXIII

Capítulo XXIV

Capítulo XXV

Capítulo XXVI

Capítulo XXVII

Capítulo XXVIII

Capítulo XXIX

Capítulo XXX

Capítulo XXXI

Capítulo XXXII

Capítulo XXXIII

Capítulo XXXIV

Capítulo XXXV

Capítulo XXXVI

Capítulo XXXVII

Capítulo XXXVIII

Capítulo XXXIX

Capítulo XL

Capítulo XLI

Capítulo XLII

Capítulo XLIII

Capítulo XLIV

Capítulo XLV

Capítulo XLVI

Capítulo XLVII

Capítulo XLVIII

Capítulo XLIX

Capítulo L

Capítulo LI

Capítulo LII

Capítulo LIII

Capítulo LIV

Capítulo LV

Capítulo LVI

Capítulo LVII

Capítulo LVIII

Capítulo LIX

Capítulo LX

Capítulo LXI

Capítulo LXII

Capítulo LXIII

Capítulo LXIV

Capítulo LXV

Capítulo LXVI

Capítulo LXVII

Capítulo LXVIII

Capítulo LXIX

Capítulo LXX

Capítulo LXXI

Capítulo LXXII

Capítulo LXXIII

Capítulo LXXIV

Capítulo LXXV

Capítulo LXXVI

Capítulo LXXVII

Capítulo LXXVIII

Capítulo LXXIX

Capítulo LXXX

Capítulo LXXXI





Capítulo I


O Tao[1] que pode-se discorrer

Não é o eterno Tao.



O Nome que pode ser dito

Não é o eterno Nome.



O não-ser

Nomeia a origem do céu e da terra.



O ser

Nomeia a mãe das dez-mil-coisas.



Por isto:



No não-ser

Contempla-se o deslumbramento.



No ser

Contempla-se sua delimitação.



Ambos, o mesmo com nomes diversos

O mesmo diz-se mistério.



Mistério dos mistérios

Portal de todo deslumbramento.





* * *



↑ Tao é"(pronuncia-se tao, mas na grafia chinesa Pinyin escreve-se Dao) pode ser traduzido literalmente como curso ou caminho. Esta obra optou por manter a palavra original, que constitui-se da combinação dos símbolos de "cabeça" e "andar" (há uma segunda palavra para caminho em chinês Lu constituida de "pé" e "cada") , evitando a tradução que iria descaracterizar a abordagem do autor. O termo não é uma criação de Lao Tzu, mas já era de uso corrente em diversas escolas religiosas e filosóficas chinesas como caminho de como realizar algo (possivelmente sua origem esteja associada às trajetórias astronômicas), porém a necessidade de determinar este absoluto incompreensível fez com que o autor expandisse o significado da palavra para um conceito sem limites (o que implica também o abandono de uma abordagem teológica do conceito como pretendem muitos autores ocidentais).





Capítulo II





Sob o céu:



Quando reconhecemos o que faz o belo ser belo

Surge o feio!



Quando reconhecemos o que faz o bom ser bom

Surge o mal!





Por isto:



O ser e o não-ser

Surgem mutuamente



O fácil e o difícil

Complementam-se



O longo e o curto

Condizem



O alto e o baixo

Convivem entre si



O som e a voz

Casam-se



O antes e o depois

Seguem-se.





Por isto:



O homem santo cumpre suas ações sem agir

Pratica o ensino sem falar

E as dez-mil-coisas agem sem serem impedidas.





Ele cria e nada possui

Atua e não guarda coisa alguma

Realizada a obra ele não se apega

E justamente por não se apegar

Ela não se esvai.





Capítulo III





Se não privilegiamos os bons o povo não compete

Se não valorizamos os bens custosos o povo não rouba

Se não exibimos coisas desejáveis o coração do povo não erra.





Por isso o governo do homem santo:

Esvazia os corações e sacia as entranhas

Enfraquece as vontades e revigora os ossos

Nunca deixa o povo ter conhecimento e desejos

Para o douto não ousar agir.



Agindo o não-agir então não há desgoverno.





Capítulo IV





O Tao é um vaso vazio cujo uso nunca transborda



Abismo!



Parece o ancestral das dez-mil-coisas

Abranda o cume

Desfaz o emaranhado

Modera o brilho

Une o pó.





Profundo!



Parece existir

Eu não sei de quem é filho

Parece ser o anterior ao Ancestral.





Capítulo V





O céu e a terra não têm amor humano

Consideram as dez-mil-coisas como cães de palha.



O homem santo não possui amor humano

Considera as dez-mil-coisas como cães de palha.



O espaço entre o céu e a terra é como um fole!

Esvazia sem contrair-se, ao soprar-se mais sons produz.

Mas muitas palavras e números o esgotam

Melhor guardar o que está no íntimo.





Capítulo VI





O espírito do vale não morre

Ele é a mulher misteriosa.



A porta do feminino místico

É a raiz do céu e da terra.



Initerrupta e perpétua

Parece lá existir

Contudo age sem esforço.





Capítulo VII





O céu é eterno e a terra duradoura

O céu e terra são eternos e duradouros.

Por não viverem para si mesmos

Isto lhes faz viver eternamente.



Por isto o homem santo:

Ficando atrás aparece em primeiro

Ficando fora persiste

Não é por nada ter seu

Que justamente pode realizar o que é seu ?





Capítulo VIII





O bem supremo é como a água.



Água

Beneficia as dez-mil-coisas sem conflito

Habita os lugares que os homens abominam

Por isto aproxima-se do Tao.



Para a moradia : bem é onde morar.

Para o coração : bem é a profundidade.

Para a doação: bem é o amor.

Para o falar : bem é a sinceridade.

Para o governo: bem é a ordem.

Para o trabalho: bem é a competência.

Para o movimento: bem é a ação.



Eis que quando não há disputa não pode haver oposição.





Capítulo IX





Manter transbordando melhor parar

Manter afiando não vai durar

Uma sala cheia de ouro e jade não se pode guardar

Ser rico e famoso, e ainda arrogante, por si só leva-se ao danar.



Ao concluir a obra deve-se afastar-se

Este é o Tao do céu.





Capítulo X





Conseguir:

Unir a alma e o espírito em uma unidade inseparável

Ter o sopro maleável de uma criança

Polir a visão interior até torná-la sem mácula

Amar os homens e reger o estado sem-agir

No abrir e fechar da porta do céu ser como a fêmea de um pássaro

Penetrar nos quatro quadrantes sem saber.



Gerar e criar

Gerar e não possuir

Agir sem depender

Presidir e não controlar.

Eis a vida secreta.





Capítulo XI





Trinta raios cercam o eixo

O uso do carro está no seu vazio.



O jarro é feito de barro moldado

O uso do jarro está no seu vazio.



Fazem-se portas e janelas para a casa

O uso da casa está no seu vazio.



Portanto:

O ser serve para ser possuído

E o não-ser para ser utilizado.





Capítulo XII





> As cinco cores cegam a visão do homem

Os cinco tons ensurdecem a audição do homem

os cinco sabores embotam o paladar do homem

Galopar e caçar aceleram o coração do homem

Bens custosos atrapalham as ações do homem.



Por isto o homem santo:

Atendendo o interior e não a visão

Afasta uma coisa e adota outra.





Capítulo XIII





Honra e desonra são como cavalos em fuga

Causam grandes aflições para o corpo.





Mas porque se diz :

Honra e desonra são como cavalos em fuga ?

A honra eleva

A desonra derruba

Ganhar esta ou perder aquela é assustador

Por isto que se diz:

Honra e desonra são como cavalos em fuga.





Mas por que se diz:

Causam grandes aflições para o corpo?

É por ter um corpo que tenho grandes aflições

Mas sem corpo que aflições tenho eu ?





Portanto:

Quem honra o mundo como o seu corpo

A este pode-se confiar o mundo.

Quem ama o mundo como o seu corpo

A este pode-se entregar o mundo.





Capítulo XIV





Olhamos e não vemos: esse se chama J

Escutamos e não ouvimos: esse se chama H

Tocamos e não sentimos: esse se chama V

Estes três não podem ser decompostos.

Entrelaçados constituem um.





Seu alto não é luminoso

Seu baixo não é escuro

Contínuo...não se pode nomear

Retorna ao não-ser.





Isto é chamado :forma sem-forma

imagem da não-coisa

Isto é chamado: claro-escuro

Ao encontrá-lo não se vê rosto

Ao segui-lo não se vê as costas.



Voltando ao caminho antigo

Poderemos reger o presente

E conhecer a origem da antiguidade.

Isto é: o fio condutor do Tao.





Capítulo XV





Na antiguidade os que atuavam o Tao

Estavam sutilmente penetrados no místico

Tão profundamente que eram irreconhecíveis

E por serem irreconhecíveis força-se à descrever seu aspecto exterior.



Cautelosos! Como quem cruza águas no inverno!

Vacilantes! Como quem teme vizinhos dos quatro lados!

Reverentes! Como hóspedes!

Evanescentes! Como o gelo que derrete!

Genuínos! Como a lenha não trabalhada!

Abertos! Como o vale !

Opaco! Como a água escura!



Quem pode no repouso clarear pouco a pouco o escuro ?

Quem pode no movimento produzir pouco a pouco a paz ?



Quem guarda o Tao não deseja o muito

E por não buscar o muito pode renovar-se.





Capítulo XVI





Atingir o vazio absoluto

Conservar-se firme no repouso

As dez-mil-coisas fluem

E eu as contemplo no refluxo

As coisas florescem

E retornam todas a raiz.



O retorno à raiz soa: repouso

Isto é chamado retorno ao destino.

O retorno ao destino soa: eternidade

Conhecer a eternidade soa: iluminação.



Não conhecer a eternidade é o erro que traz o azar

Conhecer a eternidade é ser abrangente.



Ao conhecer a eternidade há justiça

Ao haver justiça há mediação

Ao haver mediação há o céu

Ao haver o céu há o Tao

Ao haver o Tao há duração.



Dissolvendo-se o corpo não há perigo.





Capítulo XVII





A alta antiguidade desconhecia a seus regentes

Tempos depois os regentes foram amados e louvados

Tempos depois os regentes foram temidos

Tempos depois os regentes são desprezados.

Estes não merecem fé.



Pensativos!

Aqueles sim ponderavam as palavras

E concluindo a obra as coisas seguiam sua natureza

E as cem famílias diziam:

"Por nós, somos o que somos".





Capítulo XVIII





Quando o grande Tao se retrai

Surgem o amor humano e a justiça.



Quando a sabedoria e a crítica prosperam

Surgem as grandes mentiras.



Quando os laços familiares se rompem

Surgem o dever filial e paternal.



Quando as nações estão em desordem

Surgem os funcionários leais.





Capítulo XIX





Dizendo não à santidade e fora ao saber

O povo é favorecido cem vezes mais.



Dizendo não ao amor humano e fora a justiça

O povo volta a ser filial e paternal.



Dizendo não a habilidade e fora ao lucro

Não há roubos não há assaltos.



Se nestas três sentenças só existir aparência

Aparência não é por si suficiente.



Por isto deve-se seguir esta regência:

Mostrar-se como a seda

Abraçar a simplicidade

Diminuir os interesses

Dissolver as paixões.





Capítulo XX





Dizendo-se não ao estudo vai-se a inquietação

Pois entre um sim e um pois não qual a distinção ?

Quando bem e mal se diferenciam ?

O que os homens temem não pode-se não temer ?

Estéril! Esse nem sim nem não!



A massa está radiante

Como na alegria da festa sagrada

Como a subir nos altos na primavera

E só eu hesitante não recebi sinais auspíciosos

Como um recém-nascido que não sabe brincar

Uma marionete sem saber para onde voltar.



A massa tem o supérfluo

E só eu sou como esquecido.

Eu, com um coração idiota

Confuso e obscuro.

As pessoas são brilhantes

E só eu sou ofuscado e tolo.

As pessoas são vibrantes

E só eu sou melancólico.



Irrequieto como o mar

Rodopiando como o vento sem lugar.



A massa tem suas metas

E só eu sou teimoso e tosco.



Mas só eu sou diferente dos outros

Pois honro a Mãe nutriente.





Capítulo XXI





O conteúdo da grande virtude

Provém inteiramente do Tao.



O Tao gera todas as coisas

De modo tão ofuscante que obscurece.



Obscuras e ofuscantes são suas imagens.

Ofuscantes e obscuras, nele estão as coisas.

Tenebrosa e insondável, nele está a semente.

E esta semente é a verdade

E no seu interior está a autenticidade.



Da antiguidade até hoje

Temos de usar nomes

Para se examinar todas as coisas

Mas como sei como surgem todas as coisas ?

Justamente por sua semente.





Capítulo XXII





Ao curvar fica-se inteiro

Ao torcer fica-se reto

Ao esvaziar-se fica-se cheio

Ao envelhecer fica-se novo.



Quando se tem pouco obtêm-se

Quando se tem demais perturba-se.



Desta forma:



O homem santo abraça a unidade

E torna-se modelo abaixo do céu.



Não se exibindo, brilha

Não se afirmando, aparece

Não se gloriando, obra

Não se enaltecendo, perdura.



Não disputa

Logo ninguém sob o céu pode com ele disputar.



A palavra antiga: Ao curvar fica-se inteiro

Não é uma palavra vazia

Em verdade está nela a unidade.





Capítulo XXIII





Falar pouco é o natural.

Um ciclone não dura uma manhã inteira

Um temporal não dura um dia inteiro.

Quem os produz ?

Céu e terra.

Mas se as coisas do céu e da terra não duram

Quanto mais devem durar as coisas humanas.





Portanto:



Quem segue o Tao é um ao Tao

Quem segue a virtude é um com a Virtude

Quem segue a perdição é um com a perdição.



Quem se une ao Tao

O Tao o acolhe alegremente.



Quem se une a virtude

A virtude o acolhe alegremente.



Quem se une a perdição

A perdição o acolhe alegremente.



Onde há pouca fé

Não se encontra fé.





Capítulo XXIV





Colocar-se na ponta dos pés

Não se obtém firmeza.



Com as pernas abertas

Não se pode andar.



Quem aparece

Não pode brilhar.



Quem se afirma

Não pode figurar.



Quem se gloria

Não terá méritos.



Quem se enaltece

Não pode perdurar.



Para o Tao ele soa:



Supérfluo



Parasita



Coisas que todos abominam

Por isto, quem está no Tao

Nelas não cai.





Capítulo XXV





Há uma coisa indefinida mas perfeita

Que existe antes do Céu e da Terra.



Silenciosa e separada

Fica sozinha e imutável

Tudo permeia mas nada põe em risco.



Pode ser chamada de Mãe sob o céu.





Não sei seu nome

Escrevo Tao.



Forçado a nomear

Chamo de Grande.





Grande significa além

Além significa longe

Longe significa retorno.





Por isto:



O Tao é grande

O Céu é grande

A Terra é grande

O Homem é grande.



No Universo há quatro grandes:

O Homem é um dos quatro.



O Homem segue a terra

A Terra segue o céu

O Céu segue o Tao

O Tao segue a si mesmo.





Capítulo XXVI





O pesado é a raiz do que é leve

O repouso é o senhor da agitação.



Por isto o homem santo:

Em viagem não larga o peso de sua bagagem

Solitário e calmo mesmo com visões gloriosas.



Mas o senhor de dez mil carros

Por eles despreza o Império ?

Pela pressa perde-se a raiz

Pela agitação perde-se a soberania.





Capítulo XXVII





Quem bem caminha não deixa rastros

Quem bem fala não necessita desmentir

Quem bem calcula não usa ábaco

Quem bem fecha não precisa de trancas

E ninguém abre o fechado.

Quem bem liga não usa cordas

E nada se solta.





Por isto o homem santo:



Sabe como salvar homens

Não há homens rejeitados.

Sabe como salvar coisas

Não há coisas rejeitadas.



Isto é chamado: entrar na lucidez.



Portanto:



O homem bom é modelo para o não bom

O homem não bom é o incentivo para o bom.

Mas se não reconhecemos o modelo

Nem cuidamos do incentivo

Haverá erro mesmo que haja acúmulo de conhecimento.



Isto é chamado: grande segredo.





Capítulo XXVIII





Quem conhece o masculino

E preserva o feminino

É o abismo do mundo.



Sendo o abismo do mundo

A virtude eterna não escorre para fora

E ele volta a ser um recém-nascido.





Quem conhece o claro

E preserva o escuro

É o modelo do mundo.



Sendo o modelo do mundo

A virtude eterna não escorre para fora

E ele volta a unidade.



Quem conhece a honra

E preserva a vergonha

É o vale do mundo.



Sendo o vale do mundo

A virtude eterna é o bastante

E ele volta a simplicidade.



Se a simplicidade é decomposta

Compõem-se as funções.

O homem santo usa-a

E torna-se mestre dos funcionários.



Portanto:

O grande governo não necessita de cortes.





Capítulo XXIX





Querer abarcar e manipular o mundo

Eu vejo que não é possível.



O mundo é uma coisa espiritual

É impossível manipular.



O manipulador iria arruiná-lo

O abarcador iria perdê-lo



Pois as coisas :



ora precedem, ora seguem

ora acalmam , ora enfurecem

ora fortalecem, ora fraquejam

ora ascendem, ora descendem.





Por isto o homem santo evita :



O excessivo

O desmedido

O desqualificado.





Capítulo XXX





Quem ajuda o soberano através do Tao

Nâo viola com armas o mundo

Porque tal ação sempre leva a uma reação.



Onde acampam exércitos crescem espinhos

Sempre após combates seguem anos de miséria.



Boa é apenas a decisão e nada mais que isto !

Não há ousadia de conquistar pela violência!

Decisão sem auto-glorificação

Decisão sem repressão

Decisão sem orgulho

Decisão devido a ser único modo de atuação

Decisão sem violência.



Coisas que necessitam de reforço constante

Logo envelhecem

Isto é chamado sem Tao.



Sem Tao logo não há Tao atuante.





Capítulo XXXI





Armas não são instrumentos de boa-sorte

São coisas que todos odeiam.

Portanto:

Quem está no Tao nelas não se ocupam.



Quando em casa o nobre honra seu lado esquerdo

Quando usa armas honra seu lado direito.



Armas não são instrumentos de boa-sorte

Não são instrumentos para nobres.

Mas se é impossível deixar de usá-las

Usa com calma e ponderação.

Ao vencer não louva a vitória

Quem o faz alegra-se em assassinar

E não pode alcançar seus objetivos no mundo.



Nos dias felizes prefere-se o lado esquerdo

Nos dias infelizes prefere-se o lado direito.

O vice-comandante fica à esquerda

O comandante fica a direita

Do mesmo modo que o serviço fúnebre.



Massacres devem ser chorados com ais e lamentos

Na vitória militar deve-se agir como em um serviço fúnebre.





Capítulo XXXII





Tao...o intocável e inominável

Embora muito pequeno

O mundo não o pode controlar.



Se reis e príncipes o preservarem

As dez-mil-coisas por si mesmas se controlam.

Céus e terra se unem para destilar doce orvalho

E o povo sem ordenação por si mesmo se coordena.



Mas quando ocorre a limitação

Logo surgem os nomes.

Quando os nomes surgem

Deve-se então saber parar.

Sabendo-se parar

Não se corre perigo.



Uma similaridade do Tao no mundo:

Os riachos da montanhas e águas do vales

Indo para o rio e mar.





Capítulo XXXIII





Quem conhece os outros é inteligente;

Quem conhece a si mesmo é sábio.



Quem vence os outros é forte;

Quem vence a si é poderoso.



Quem é auto-suficiente é rico;

Quem persevera tem aspiração.



Quem não perde seu lugar é estável;

Quem na morte não morre é vivo.





Capítulo XXXIV





O grande Tao é transbordante

Está a direita

Está a esquerda.



As dez-mil-coisas provêm dele

E ele não as rejeita.



Realiza a obra

E não as chama de propriedade.



Ele veste e alimenta as dez-mil-coisas

E não se assenhora delas.

Não tem desejos

E por isto é pequeno

Mas como tudo depende dele

Chamamos grande.



Assim o homem santo:

Não se engrandece

Por isto executa a grande obra.





Capítulo XXXV





Quem é fiel ao princípio

O mundo submete-se a ele.

Submete-se e não é prejudicado

E há grande paz.



Música e iguarias

Fazem o peregrino estagnar.



Mas o Tao surge da boca

Sem som e sem sabor.

Olha-se e nada se vê

Ouve-se e nada se escuta

Usa-se e nunca se esgota.





Capítulo XXXVI





Para comprimir

Deve deixar expandir.

Para enfraquecer

Deve deixar fortalecer.

Para destruir

Deve deixar desabrochar.

Para retirar

Deve dar.



Isto é chamado:

Conhecer o invisível.



A leveza é maior que a dureza.

A fraqueza maior do que a fortaleza.



Não se tira o peixe das profundezas

Não se mostra ao povo

Os mecanismos pela qual age o reino.





Capítulo XXXVII





O Tao é eterno não-fazer

E nada fica por fazer.



Se reis e príncipes o preservarem

As dez-mil-coisas por si se transformam.



Se tudo se faz provocando desejo

Eu o evito através da simplicidade.

A simplicidade inominável não gera desejos

A ausência de desejos cria a paz

E o mundo se endireita por si mesmo.





Capítulo XXXVIII





A virtude superior não se ostenta virtude

Por isto tem virtude.



A virtude inferior não larga a virtude

Por isto não tem virtude.



A virtude superior não age

E por isto não deixa de agir.



A virtude inferior não age

E por isto deixa de agir.





Quando a moralidade atua e ninguém reage

Ela então atua com grande provocação.



Portanto:



Perdendo-se o Tao eis a virtude

Perdendo-se a virtude eis o amor humano

Perdendo-se o amor humano eis a justiça

Perdendo-se a justiça eis a moralidade.





A moralidade reduz a fé e a fidelidade

Sendo a origem de toda desordem

O saber prematuro é mera aparência do Tao

E o começo de toda loucura.





Por isto o homem maduro

Atém-se ao real e não a aparência.

Atém-se ao palpável e não ao impalpável

Afasta o ali e agarra o aqui.





Capítulo XXXIX





Esta é a unificação dos príncipios:



O céu uno ficou limpo

A terra una ficou sólida

O espírito uno ficou avivado

O vale uno ficou cheio

As dez-mil-coisas unas ficaram geradoras

Os reis e príncipes unos ficaram dignos

Isto pela unificação.



O céu não limpo talvez rachasse

A terra não sólida talvez vacilasse

O espírito não avivado talvez sucumbisse

O vale não cheio talvez se esgotasse

As dez-mil-coisas não geradoras talvez se extinguissem

Os reis e príncipes não dignos talvez se destronariam.



Por isto:

O nobre tem suas raízes no humilde

O alto tem seu fundamento no baixo.



Por isto

Reis e príncipes devem ser intitulados:

Orfãos, viúvos e sem mérito

Porque suas raízes está na humildade. Ou não ?



Portanto:

A glória verdadeira não se gloria.

Não deve-se buscar o esplendor do jade

Mas sim a rudeza da pedra.





Capítulo XL





O retorno é o movimento do Tao

Suavidade é a operação do Tao.



Sob o céu:

As dez-mil-coisas nascem do ser

E o ser nasce do não-ser.





Capítulo XLI





Quando uma pessoa superior escuta o Tao

Ele pratica zelosamente.



Quando uma pessoa mediana escuta o Tao

Ela segue alguns momentos

Em outros não segue.



Quando uma pessoa inferior escuta o Tao

Ela ri às gargalhadas

Se não rir alto

Então não é o Tao.



Por isto existem as sentenças:



O Tao claro parece escuro

O Tao progressivo parece retrógrado

O Tao plano parece escabroso

A Virtude suprema parece um vale

A Virtude firme parece vazia

A Virtude sólida parece vacilante

O grande quadrado não tem cantos

O grande talento não termina cedo

A grande música não se ouve

A grande imagem não tem definição.



O Tao oculta-se no sem-nome

E só o Tao pode bem atuar

Dando a si mesmo.





Capítulo XLII





O Tao gera o um

O um gera o dois

O dois gera o três

O três gera as dez-mil-coisas.



As dez-mil-coisas tem atrás de si escuridão

A sua frente elas abraçam a luz

E o vazio lhes dá a harmonia.



O que os homens mais detestam

É serem orfãos, viúvos ou sem méritos

Títulos de reis e príncipes.



Portanto:

As coisas se perdem quando se ganham

E se ganham quando se perdem.



Eu também ensino conforme a tradição dos homens:

Os violentos não alcançam morte natural

Isto eu considero o fundamento do ensino.





Capítulo XLIII





Sob o céu o mais suave

Vence aquilo que é mais firme.



O não-manifesto penetra

Aquilo que é impenetrável.



Nisto reconheço o valor da não-ação.



O ensino sem palavras

O valor da não-ação

Sob o céu poucos conseguem.





Capítulo XLIV





O nome ou a pessoa

O que devemos privilegiar ?



A pessoa ou as posses

O que devemos valorizar ?



O ganho ou a perda

O que é pior ?



Por isto:



Acumular coisas traz grande gasto

Juntar coisas traz enorme desperdício.

Só se tendo o bastante não se passa vergonha

Sabendo controlar-se não se corre perigo

E por isto pode durar permanentemente.





Capítulo XLV





A grande realização parece insuficiente

Mas seu efeito é permanente.

A grande abundância parece vazia

Mas seu efeito é inesgotável.



A grande retidão parece tortuosa

A grande habilidade parece tolice

A grande eloquência parece balbuciante.



O movimento vence o frio

O repouso vence o calor

Pureza e repouso são o padrão do mundo.





Capítulo XLVI





Quando o Tao reina sob o céu

Usamos corcéis para puxar esterco.



Quando o Tao não reina sob o céu

Cavalos de batalha procriam nos pastos verdes.



O maior erro é submeter-se ao desejo

A maior violação é ser insaciável

A maior falta é querer possuir.



Por isto:

Saber bastar-se no que basta é o bastante.





Capítulo XLVII





Sem sair de casa

Conhece-se o mundo.

Sem olhar pela janela

Vê-se o Tao do céu.

Quanto mais longe se vai

Menos se conhece.





Por isto o homem santo

Não viaja e conhece

Não olha e sabe

Não age e realiza.





Capítulo XLVIII





No estudo a cada dia se cresce mais

No Tao a cada dia se decresce mais

E decresce, decresce

Até chegar-se a não-ação.



Na não-ação nada deixa de agir.



Conquista-se o mundo

Quando não se tem o que fazer

Quando se tem o que fazer

Não se conquista o mundo.





Capítulo XLIX





O homem santo não tem coração

Ele faz seu o coração das cem-famílias.



"Para os bons eu sou bom

Para os não-bons também sou bom

Esta é a bondade da virtude."



"Com o fiel eu sou fiel

Com o infiel também sou fiel

Esta é a fidelidade da virtude."



Sob o céu o homem santo é pacífico

E faz com que os corações se unam.

As cem-famílias lhe dão olhos e ouvidos

E o homem santo as recebe como suas crianças.





Capítulo L





Expôr vida é impôr morte

Três em dez são companheiros na vida

Três em dez são companheiros na morte

Três em dez são companheiros que caminham para o campo de morte.

E qual é a razão ?

Por viverem intensamente a vida.



Ouve-se do que bem cultiva a vida

Por terra não encontra rinocerontes ou tigres

Entre um exército não sofre com armas e escudos.



O rinoceronte não encontra onde cravar o chifre

O tigre não tem onde cravar as garras

As armas não encontram onde cravar a lâmina.



E qual é a razão ?

O homem santo não tem campo de morte.





Capítulo LI





O Tao dá vida

A virtude cultiva

O ambiente molda

As influências desenvolvem.





Por isto as dez-mil-coisas

Honram o Tao e dignificam a virtude.



O Tao é honrado e a virtude dignificada

Isto não se ordena mas vem espontâneamente.



Portanto:

O Tao dá vida

A virtude cultiva

E o crescimento se aprimora

E a proteção amadurece

E a manutenção se renova.





Capítulo LII





O mundo tem uma origem

Que pode-se chamar Mãe do mundo.



Quem tem a mãe

Conhece seu filho

Quem conhece o filho

Retorna para a mãe

E desaparecendo o corpo

Não há perigo.



Fechando as entradas

Trancando suas portas

Findando o corpo

Não há perigos.



Abrindo as entradas

Aumentando seus afazeres

Findando o corpo

Não há salvação.



Ver pequenas coisas chama-se discernimento

Conservar a suavidade chama-se força.



Se usarmos nossa luz para retornar à iluminação

Não há perigo quando este corpo passar

E isto é chamado vestir-se da eternidade.





Capítulo LIII





Se eu tivesse o conhecimento

De como agir de acordo com o grande Tao

Justamente temeria a atividade.



O grande Tao é plano

Mas o povo prefere atalhos

Onde a corte é rígida

Mas os campos enchem-se de ervas daninhas

E celeiros ficam vazios.



Enfeitam-se com brocados

Andam com espadas afiadas

Refinam-se no comer e beber

Com bens e riquezas excessivos.



Isto chama-se : ostentar rapina

Não, mas isto não é o Tao.





Capítulo LIV





Quem planta o bem não perde a raiz

Quem abraça o bem não se separa

E seus filhos e netos

Não cessarão de lembrar.



Quem cultiva a virtude em si é eficiente

Quem cultiva a virtude na família é pleno

Quem cultiva a virtude na família é durável

Quem cultiva a virtude no reino é fecundo

Quem cultiva a virtude no mundo é imenso.



Portanto:

Através de si veja os outros

Através de sua família veja as famílias

Através de sua comunidade veja as comunidades

Através de seu reino veja os reinos

Através de seu mundo veja os mundos.



E como sei que o mundo é assim ?

Pelo que está aqui.





Capítulo LV





Quem mantém a plenitude da virtude

É como uma criança recém-nascida

Insetos venenosos não a picam

Feras não a atacam

Aves de rapina não a raptam

Possui ossos frágeis e tendões elásticos

Mas agarra com força

Não conhece a relação sexual

Mas seu sangue se estimula

Pois possui a plenitude do sêmen.

O dia inteiro grita sem rouquejar

Pois possui o auge da harmonia.



Conhecer a harmonia é ser eterno

Conhecer a eternidade é ser iluminado

Acrescer a vida é fatalidade

O coração no controle da vida é rigidez.



Quando as coisas se fortalecem caducam.



Isto se diz sem - Tao

E quando sem-Tao não há Tao.





Capítulo LVI





Quem sabe não fala

Quem fala não sabe.



Fechar as entradas

Trancar as portas

Abrandar o cume

Desfazer o emaranhado

Moderar a luz

Reunir o pó

Isto chama-se união misteriosa com o Tao.



Portanto quem a tem:



É incompatível com a intimidade

É incompatível com a estranheza

É incompatível com o lucro

É incompatível com a perda

É incompatível com a glória

É incompatível com a vileza.



Por isto:



Constitui-se glorioso no mundo.





Capítulo LVII





Pela normalidade governa-se um reino

Pela anormalidade usam-se armas

Mas quando não há atividades

Conquista-se o mundo.



Mas como sei que é assim ?

Pelo que está aqui.



Sob o céu:



Quanto mais proibições e superstições

Mais o povo se empobrece.

Quanto maior o poder de guerra

Mais o reino se arruina.

Quanto maior a arte e esperteza dos homens

Mais presságios nefastos surgirão.

Quanto mais leis e decretos promulgados

Mais ladrões e assaltantes surgirão.



Por isto um homem santo disse:



Eu não-ajo e o povo muda por si

Eu amo o repouso e o povo endireita por si

Eu nada empreendo e o povo enriquece por si

Eu não tenho desejos e o povo torna-se como lenho-tosco por si.





Capítulo LVIII





Com governo tranquilo e discreto

O povo é expressivo e honesto.

Com governo vigilante e atuante

O povo é retraído e omisso.



Na desgraça apoia-se a felicidade

Na felicidade encosta-se a desgraça

E quem conhece seus limites ?



Na ausência de leis

O normal passa por anormal

E o bom passa por ilusão.



O desvio do homem

Com teimosia dura muitos dias.



Por isto o homem santo:



Delimita sem demarcar

Modela sem talhar

Corrige sem deformar

Brilha sem ofuscar.





Capítulo LIX





No governo dos homens

No serviço do céu

Nada como a moderação.



Pois com moderação

Há submissão prévia

Com submissão prévia

Há reiteração da virtude.



Reiteração da virtude

Invencibilidade!

Invencibilidade

Não se conhecem as limitações!

Sem limitações

Pode-se possuir o reino!



Tendo a Mãe do mundo

Duramos eternamente.



Isto se diz:



Raiz profunda

Fundamento sólido

O Tao da existência eterna

E da visão perpétua.





Capítulo LX





Governar um grande reino

É como fritar peixe pequeno.



Quando o mundo é governado pelo Tao

Os mortos não se passam por espíritos.



Não somente os mortos não se passam por espíritos

Mas os espíritos também não atormentam pessoas.



Não somente os espíritos não atormentam pessoas

Mas o homem santo também não as atormenta.



Quando ambos não se atormentam

A virtude conjuga seus efeitos.





Capítulo LXI





Um grande reino é um rio de baixo curso

Lugar de reunião do mundo

Feminino do mundo.



O feminino pela sua passividade

Vence o masculino

Porque por sua passividade

Ela se mantém abaixo.



Portanto:

Se um grande reino submete-se a um pequeno

O grande conquista o pequeno

Se um pequeno reino submete-se a um grande

O pequeno conquista o grande.



Assim:

Uns submetem-se para conquistar

Outros submetidos conquistam.



Um grande reino

Só quer juntar e alimentar pessoas.



Um pequeno reino

Só quer participar do serviço das pessoas.



Mas para que ambos consigam seu desejo

O grande deve sempre submeter-se.





Capítulo LXII





O Tao é o refúgio das dez-mil-coisas

Tesouro dos bons

Refúgio dos não-bons.



Com belas palavras negocia-se honras

Com nobre conduta destaca-se diante dos outros

Mas porque devemos rejeitar os não bons ?



Por isto:

Foi investido o filho do céu

E estabelecidos os três príncipes.



Mas empunhar o cetro de jade

E desfilar em um cortejo festivo

Não se iguala a assentar e adentrar no Tao.



E qual a razão dos antigos apreciarem o Tao ?

Não é porque se diz:

"Quem pede recebe

Quem errou evita a perversão?".



Por isto o Tao é o bem mais precioso do mundo.





Capítulo LXIII





Agir o não-agir

Ocupar o não-ocupar

Saborear o não-saborear

Engrandecer o pequeno

Retribuir rancor em virtude

Planejar o difícil quando ainda é fácil

Fazer o grande do que é pequeno.





Por isto o homem santo :

Não se engrandece

E realiza grandes atos.



Quem promete levianamente

Não merece crédito

O que se acha muito fácil

Acaba sendo muito difícil.



Por isto o homem santo:

Considera tudo bem difícil

E por isto tudo fica fácil.





Capítulo LXIV





O que é calmo é fácil manter

O que não surgiu é fácil programar

O que é frágil é fácil quebrar

O que é pequeno é fácil espalhar.



Deve-se agir no que ainda não-foi

Deve-se pôr em ordem antes da desordem.



Uma árvore com braças de diâmetro

Nasce como uma raiz de cabelo.

Uma torre de nove andares

Surge de terra amontoada.

Uma viagem de uma milha

Começa sob os pés.



Quem age arruina

Quem segura perde.

O povo após terminar uma obra sempre o estraga

Cuidando do fim como do começo nada se estraga.



Por isto o homem santo:

Deseja não desejar

Não valoriza bens custosos

Aprende não-aprender

Recorre ao que o povo deixa de lado

Ajuda a natureza das dez-mil-coisas

E nunca ousa agir.





Capítulo LXV





Na antiguidade os que bem atuavam no Tao

Não buscavam a iluminação do povo

Mas sim a sua simplicidade.



Não é possível governar o povo

Quando ele sabe demais.



Portanto:

Governar pela sabedoria

É roubar a nação.

Não governar pela sabedoria

É prosperar a nação.



Quem conhece estes dois

Aprofunda-se no ideal.

Saber aprofundar no ideal

É chamado de Virtude oculta.



Virtude oculta

Profunda ! Distante !

Vem com as dez-mil-coisas

E resulta na grande concordância.





Capítulo LXVI





Rios e mares regem os cem vales

Por saberem manter-se abaixo deles.

Portanto regem os cem vales.



Assim o homem santo:



Se deseja ficar acima do povo

Coloca-se abaixo quando fala.

Se deseja ficar a frente do povo

Coloca-se atrás.



Portanto o homem santo:



Fica acima

E o povo não sente seu peso.

Fica à frente

E o povo não sofre prejuízo.



Assim:



O mundo com alegria é impelido

E não há nenhuma opressão.

Como não há disputa

Ninguém sob o céu pode com ele disputar.





Capítulo LXVII





Sob o céu todos dizem

Que meu Tao é grande

E por isto é anormal.



Por ser grande parece anormal

Porque se fosse normal

Há muito teria ficado pequeno.



Três jóias aprecio e preservo:



A primeira chama-se misericórdia

A segunda chama-se moderação

A terceira chama-se não buscar o poder.



Antes a misericórdia, depois coragem

Antes moderação, depois generosidade

Antes não buscar o poder, depois liderar homens de talento.



Mas se:

Sem misericórdia querer-se coragem

Sem moderação querer-se generosidade

Sem ficar atrás querer poder

Isto é morte.



Se na guerra atacar com misericórdia

Vence-se

Se na defensiva

Fortalece-se

Por isto aquele que o céu quer salvar

É protegido pela misericórdia.





Capítulo LXVIII





O bom militar não é marcial

O bom guerreiro não é colérico

O bom vencedor não precisa lutar

O bom utilizador de homens submete-se a eles.



Isto é chamado: virtude sem luta

Isto é chamado: força que manipula os homens

Isto é chamado: o auge da união com o céu.





Capítulo LXIX





Do estrategista existe este ditado:

"Não ouso ser o senhor mas o hóspede

Não ouso avançar uma polegada mas recuar um passo".



Isto se chama:

Avançar sem pernas

Lutar sem braços

Repelir sem atacar

Capturar sem armas.



O maior desastre é subestimar o inimigo

Subestimando o inimigo perco as minhas jóias.



Portanto:

Quando exércitos se confrontam

Vence o mais compassivo.





Capítulo LXX





Minhas palavras

São fáceis de entender

São fáceis de praticar.



Mas sob o céu

Não são compreendidas

Não são praticadas.



As palavras tem tradição

Os eventos tem um senhor

E por serem incompreendidos

Eu também sou incompreendido.



Os que me conhecem são raros

E nisto está o meu valor.



Por isto:

Sob as vestes de aldeão

O homem santo possui jade.





Capítulo LXXI





Saber o não-saber é o bem superior

Não-saber o saber é uma alienação.



O homem santo não é alienado

Ele aliena a alienação.



E por alienar a alienação

Ele não é um alienado.

E somente por isto

Não é um alienado.





Capítulo LXXII





Se o povo não teme a autoridade

Então vem a grande autoridade.



Nada diminui sua moradia

Nada oprime a subsistência

E por não haver opressão não há aborrecimento.



Por isto o homem santo:

Conhece a si mesmo mas não se exibe

Ama a si mesmo mas não se glorifica.



Portanto:

Ele recusa o ali e admite o aqui.





Capítulo LXXIII





Quem mostra coragem com ousadia morre

Quem mostra coragem sem ousadia sobrevive

Dos dois um ganha e outro perde.

Mas alguém sabe a razão

Porque o céu abomina alguém ?



Por isto o homem santo vê as dificuldades.



O Tao do céu :

Sem lutar é hábil em vencer

Sem falar é hábil em responder

Sem sinalizar vêm por si

Passo-a-passo é hábil em planejar.



A rede do céu tem malhas largas

Mas nada passa por elas.





Capítulo LXXIV





Se o povo não teme a morte

Para que intimidá-lo com a morte ?



Se o povo sempre teme a morte

E uma dela age de forma estranha

Devo capturá-la e matá-la ?

Quem ousaria isto ?



Há sempre o ofício da morte a executar

Querer tomar o lugar da morte

É como querer talhar no lugar do lenhador

Dificilmente deixará de ferir as mãos.





Capítulo LXXV





A fome do povo

É fruto dos seus superiores devorarem impostos.

E por isto há fome.



O desgoverno do povo

É fruto dos seus superiores se intrometerem demais.

E por isto há desgoverno.



O descaso do povo com a morte

É fruto dos seus superiores viverem na boa-vida.

Por isto o descaso com a morte.



Por isto aquele que não-age na vida

É o único que pode dignificar a vida.





Capítulo LXXVI





Quando nasce, um homem é suave e fraco

Quando morre, um homem é rígido e forte.



Quando nasce, uma planta é suave e fraca

Quando morre, uma planta é murcha e seca.



Por isto:

Rigidez e força são companheiros da morte

Suavidade e fraqueza são companheiros da vida.



Por isto:

Se as armas são fortes não serão vitoriosas

Se as árvores são fortes são abatidas.



Força e grandeza fazem diminuir

Suavidade e fraqueza fazem crescer.





Capítulo LXXVII





O Tao do céu

Como lembra o armar de um arco !



O que é alto abaixa-se

O que é baixo levanta-se

O que tem mais tira-se

O que tem menos completa-se.



O Tao do Céu

Tira do mais e completa o menos.



O Tao do homem é o contrário

Tira do menos para dar ao mais.



Mas quem tem a mais para dar ao mundo ?

Só o possuidor do Tao.



Assim também o homem santo:

Age sem depender

Realiza a obra sem se apegar

Ele não quer mostrar-se importante.





Capítulo LXXVIII





Sob o céu

Não há nada mais fluido e suave do que a água

Não há o que a iguala no ataque ao duro e forte

Já que nada pode modificá-la.



A fraqueza vence a força

A suavidade vence a dureza.



Sob o céu

Isto não pode-se conhecer

Isto não pode-se praticar.



Por isto disse um homem santo:

Quem suporta a sujeira do reino

Esse é o senhor dos sacrifícios da terra

Quem suporta os males do reino

Esse é o rei do mundo.



Palavras corretas sempre parecem contraditórias.





Capítulo LXXIX





Quando se aplaca uma grande discórdia

Sempre resta alguma discórdia.

Como considerar que seja um bem ?



Por isto o homem santo

Cumpre sua parte do contrato

Mas não obriga a outra parte.



Quem tem virtude

Cumpre seu dever.

Quem não tem virtude

Cobra dos outros.



O Tao do céu não tem sentimentos

Mas sempre está com o homem bom

.





Capítulo LXXX





Um reino deve ser pequeno

E ter poucas pessoas.



Utensílios que aumentam a força

Não devem ser utilizados.



As pessoas devem temer a morte

E não migrar.

Barcos e carros

Não devem ser movidos

Armas e couraças

Não devem ser exibidas.





Que o povo volte ao uso de nós em cordas

Ao doce do seu alimento, à beleza de suas roupas

À paz de sua casa e ao conforto de seus costumes.



Com reinos vizinhos aqui e ali

Com canto de galos e latidos de cães aqui e ali

Com gente envelhecendo e morrendo

Sem mudar para lá e para cá aqui e ali.





Capítulo LXXXI


Palavras verdadeiras não são belas

Belas palavras não são verdadeiras.



O bom não se discute

E o que se discute não é bom.



Saber não é erudição

Erudição não é saber.





O homem santo não acumula bens:

Mais possui quanto mais faz pelos outros

Mais recebe quanto mais dá aos outros.



O Tao do céu beneficia sem prejudicar

O Tao do homem santo age sem lutar.





Para Renato Alioti e quem se interessar em texto



Abraços fraternos !

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