por Lao Tzi
Sumário / TOC
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIII
Capítulo XXIV
Capítulo XXV
Capítulo XXVI
Capítulo XXVII
Capítulo XXVIII
Capítulo XXIX
Capítulo XXX
Capítulo XXXI
Capítulo XXXII
Capítulo XXXIII
Capítulo XXXIV
Capítulo XXXV
Capítulo XXXVI
Capítulo XXXVII
Capítulo XXXVIII
Capítulo XXXIX
Capítulo XL
Capítulo XLI
Capítulo XLII
Capítulo XLIII
Capítulo XLIV
Capítulo XLV
Capítulo XLVI
Capítulo XLVII
Capítulo XLVIII
Capítulo XLIX
Capítulo L
Capítulo LI
Capítulo LII
Capítulo LIII
Capítulo LIV
Capítulo LV
Capítulo LVI
Capítulo LVII
Capítulo LVIII
Capítulo LIX
Capítulo LX
Capítulo LXI
Capítulo LXII
Capítulo LXIII
Capítulo LXIV
Capítulo LXV
Capítulo LXVI
Capítulo LXVII
Capítulo LXVIII
Capítulo LXIX
Capítulo LXX
Capítulo LXXI
Capítulo LXXII
Capítulo LXXIII
Capítulo LXXIV
Capítulo LXXV
Capítulo LXXVI
Capítulo LXXVII
Capítulo LXXVIII
Capítulo LXXIX
Capítulo LXXX
Capítulo LXXXI
Capítulo I
O Tao[1] que pode-se discorrer
Não é o eterno Tao.
O Nome que pode ser dito
Não é o eterno Nome.
O não-ser
Nomeia a origem do céu e da terra.
O ser
Nomeia a mãe das dez-mil-coisas.
Por isto:
No não-ser
Contempla-se o deslumbramento.
No ser
Contempla-se sua delimitação.
Ambos, o mesmo com nomes diversos
O mesmo diz-se mistério.
Mistério dos mistérios
Portal de todo deslumbramento.
* * *
↑ Tao é"(pronuncia-se tao, mas na grafia chinesa Pinyin escreve-se Dao) pode ser traduzido literalmente como curso ou caminho. Esta obra optou por manter a palavra original, que constitui-se da combinação dos símbolos de "cabeça" e "andar" (há uma segunda palavra para caminho em chinês Lu constituida de "pé" e "cada") , evitando a tradução que iria descaracterizar a abordagem do autor. O termo não é uma criação de Lao Tzu, mas já era de uso corrente em diversas escolas religiosas e filosóficas chinesas como caminho de como realizar algo (possivelmente sua origem esteja associada às trajetórias astronômicas), porém a necessidade de determinar este absoluto incompreensível fez com que o autor expandisse o significado da palavra para um conceito sem limites (o que implica também o abandono de uma abordagem teológica do conceito como pretendem muitos autores ocidentais).
Capítulo II
Sob o céu:
Quando reconhecemos o que faz o belo ser belo
Surge o feio!
Quando reconhecemos o que faz o bom ser bom
Surge o mal!
Por isto:
O ser e o não-ser
Surgem mutuamente
O fácil e o difícil
Complementam-se
O longo e o curto
Condizem
O alto e o baixo
Convivem entre si
O som e a voz
Casam-se
O antes e o depois
Seguem-se.
Por isto:
O homem santo cumpre suas ações sem agir
Pratica o ensino sem falar
E as dez-mil-coisas agem sem serem impedidas.
Ele cria e nada possui
Atua e não guarda coisa alguma
Realizada a obra ele não se apega
E justamente por não se apegar
Ela não se esvai.
Capítulo III
Se não privilegiamos os bons o povo não compete
Se não valorizamos os bens custosos o povo não rouba
Se não exibimos coisas desejáveis o coração do povo não erra.
Por isso o governo do homem santo:
Esvazia os corações e sacia as entranhas
Enfraquece as vontades e revigora os ossos
Nunca deixa o povo ter conhecimento e desejos
Para o douto não ousar agir.
Agindo o não-agir então não há desgoverno.
Capítulo IV
O Tao é um vaso vazio cujo uso nunca transborda
Abismo!
Parece o ancestral das dez-mil-coisas
Abranda o cume
Desfaz o emaranhado
Modera o brilho
Une o pó.
Profundo!
Parece existir
Eu não sei de quem é filho
Parece ser o anterior ao Ancestral.
Capítulo V
O céu e a terra não têm amor humano
Consideram as dez-mil-coisas como cães de palha.
O homem santo não possui amor humano
Considera as dez-mil-coisas como cães de palha.
O espaço entre o céu e a terra é como um fole!
Esvazia sem contrair-se, ao soprar-se mais sons produz.
Mas muitas palavras e números o esgotam
Melhor guardar o que está no íntimo.
Capítulo VI
O espírito do vale não morre
Ele é a mulher misteriosa.
A porta do feminino místico
É a raiz do céu e da terra.
Initerrupta e perpétua
Parece lá existir
Contudo age sem esforço.
Capítulo VII
O céu é eterno e a terra duradoura
O céu e terra são eternos e duradouros.
Por não viverem para si mesmos
Isto lhes faz viver eternamente.
Por isto o homem santo:
Ficando atrás aparece em primeiro
Ficando fora persiste
Não é por nada ter seu
Que justamente pode realizar o que é seu ?
Capítulo VIII
O bem supremo é como a água.
Água
Beneficia as dez-mil-coisas sem conflito
Habita os lugares que os homens abominam
Por isto aproxima-se do Tao.
Para a moradia : bem é onde morar.
Para o coração : bem é a profundidade.
Para a doação: bem é o amor.
Para o falar : bem é a sinceridade.
Para o governo: bem é a ordem.
Para o trabalho: bem é a competência.
Para o movimento: bem é a ação.
Eis que quando não há disputa não pode haver oposição.
Capítulo IX
Manter transbordando melhor parar
Manter afiando não vai durar
Uma sala cheia de ouro e jade não se pode guardar
Ser rico e famoso, e ainda arrogante, por si só leva-se ao danar.
Ao concluir a obra deve-se afastar-se
Este é o Tao do céu.
Capítulo X
Conseguir:
Unir a alma e o espírito em uma unidade inseparável
Ter o sopro maleável de uma criança
Polir a visão interior até torná-la sem mácula
Amar os homens e reger o estado sem-agir
No abrir e fechar da porta do céu ser como a fêmea de um pássaro
Penetrar nos quatro quadrantes sem saber.
Gerar e criar
Gerar e não possuir
Agir sem depender
Presidir e não controlar.
Eis a vida secreta.
Capítulo XI
Trinta raios cercam o eixo
O uso do carro está no seu vazio.
O jarro é feito de barro moldado
O uso do jarro está no seu vazio.
Fazem-se portas e janelas para a casa
O uso da casa está no seu vazio.
Portanto:
O ser serve para ser possuído
E o não-ser para ser utilizado.
Capítulo XII
> As cinco cores cegam a visão do homem
Os cinco tons ensurdecem a audição do homem
os cinco sabores embotam o paladar do homem
Galopar e caçar aceleram o coração do homem
Bens custosos atrapalham as ações do homem.
Por isto o homem santo:
Atendendo o interior e não a visão
Afasta uma coisa e adota outra.
Capítulo XIII
Honra e desonra são como cavalos em fuga
Causam grandes aflições para o corpo.
Mas porque se diz :
Honra e desonra são como cavalos em fuga ?
A honra eleva
A desonra derruba
Ganhar esta ou perder aquela é assustador
Por isto que se diz:
Honra e desonra são como cavalos em fuga.
Mas por que se diz:
Causam grandes aflições para o corpo?
É por ter um corpo que tenho grandes aflições
Mas sem corpo que aflições tenho eu ?
Portanto:
Quem honra o mundo como o seu corpo
A este pode-se confiar o mundo.
Quem ama o mundo como o seu corpo
A este pode-se entregar o mundo.
Capítulo XIV
Olhamos e não vemos: esse se chama J
Escutamos e não ouvimos: esse se chama H
Tocamos e não sentimos: esse se chama V
Estes três não podem ser decompostos.
Entrelaçados constituem um.
Seu alto não é luminoso
Seu baixo não é escuro
Contínuo...não se pode nomear
Retorna ao não-ser.
Isto é chamado :forma sem-forma
imagem da não-coisa
Isto é chamado: claro-escuro
Ao encontrá-lo não se vê rosto
Ao segui-lo não se vê as costas.
Voltando ao caminho antigo
Poderemos reger o presente
E conhecer a origem da antiguidade.
Isto é: o fio condutor do Tao.
Capítulo XV
Na antiguidade os que atuavam o Tao
Estavam sutilmente penetrados no místico
Tão profundamente que eram irreconhecíveis
E por serem irreconhecíveis força-se à descrever seu aspecto exterior.
Cautelosos! Como quem cruza águas no inverno!
Vacilantes! Como quem teme vizinhos dos quatro lados!
Reverentes! Como hóspedes!
Evanescentes! Como o gelo que derrete!
Genuínos! Como a lenha não trabalhada!
Abertos! Como o vale !
Opaco! Como a água escura!
Quem pode no repouso clarear pouco a pouco o escuro ?
Quem pode no movimento produzir pouco a pouco a paz ?
Quem guarda o Tao não deseja o muito
E por não buscar o muito pode renovar-se.
Capítulo XVI
Atingir o vazio absoluto
Conservar-se firme no repouso
As dez-mil-coisas fluem
E eu as contemplo no refluxo
As coisas florescem
E retornam todas a raiz.
O retorno à raiz soa: repouso
Isto é chamado retorno ao destino.
O retorno ao destino soa: eternidade
Conhecer a eternidade soa: iluminação.
Não conhecer a eternidade é o erro que traz o azar
Conhecer a eternidade é ser abrangente.
Ao conhecer a eternidade há justiça
Ao haver justiça há mediação
Ao haver mediação há o céu
Ao haver o céu há o Tao
Ao haver o Tao há duração.
Dissolvendo-se o corpo não há perigo.
Capítulo XVII
A alta antiguidade desconhecia a seus regentes
Tempos depois os regentes foram amados e louvados
Tempos depois os regentes foram temidos
Tempos depois os regentes são desprezados.
Estes não merecem fé.
Pensativos!
Aqueles sim ponderavam as palavras
E concluindo a obra as coisas seguiam sua natureza
E as cem famílias diziam:
"Por nós, somos o que somos".
Capítulo XVIII
Quando o grande Tao se retrai
Surgem o amor humano e a justiça.
Quando a sabedoria e a crítica prosperam
Surgem as grandes mentiras.
Quando os laços familiares se rompem
Surgem o dever filial e paternal.
Quando as nações estão em desordem
Surgem os funcionários leais.
Capítulo XIX
Dizendo não à santidade e fora ao saber
O povo é favorecido cem vezes mais.
Dizendo não ao amor humano e fora a justiça
O povo volta a ser filial e paternal.
Dizendo não a habilidade e fora ao lucro
Não há roubos não há assaltos.
Se nestas três sentenças só existir aparência
Aparência não é por si suficiente.
Por isto deve-se seguir esta regência:
Mostrar-se como a seda
Abraçar a simplicidade
Diminuir os interesses
Dissolver as paixões.
Capítulo XX
Dizendo-se não ao estudo vai-se a inquietação
Pois entre um sim e um pois não qual a distinção ?
Quando bem e mal se diferenciam ?
O que os homens temem não pode-se não temer ?
Estéril! Esse nem sim nem não!
A massa está radiante
Como na alegria da festa sagrada
Como a subir nos altos na primavera
E só eu hesitante não recebi sinais auspíciosos
Como um recém-nascido que não sabe brincar
Uma marionete sem saber para onde voltar.
A massa tem o supérfluo
E só eu sou como esquecido.
Eu, com um coração idiota
Confuso e obscuro.
As pessoas são brilhantes
E só eu sou ofuscado e tolo.
As pessoas são vibrantes
E só eu sou melancólico.
Irrequieto como o mar
Rodopiando como o vento sem lugar.
A massa tem suas metas
E só eu sou teimoso e tosco.
Mas só eu sou diferente dos outros
Pois honro a Mãe nutriente.
Capítulo XXI
O conteúdo da grande virtude
Provém inteiramente do Tao.
O Tao gera todas as coisas
De modo tão ofuscante que obscurece.
Obscuras e ofuscantes são suas imagens.
Ofuscantes e obscuras, nele estão as coisas.
Tenebrosa e insondável, nele está a semente.
E esta semente é a verdade
E no seu interior está a autenticidade.
Da antiguidade até hoje
Temos de usar nomes
Para se examinar todas as coisas
Mas como sei como surgem todas as coisas ?
Justamente por sua semente.
Capítulo XXII
Ao curvar fica-se inteiro
Ao torcer fica-se reto
Ao esvaziar-se fica-se cheio
Ao envelhecer fica-se novo.
Quando se tem pouco obtêm-se
Quando se tem demais perturba-se.
Desta forma:
O homem santo abraça a unidade
E torna-se modelo abaixo do céu.
Não se exibindo, brilha
Não se afirmando, aparece
Não se gloriando, obra
Não se enaltecendo, perdura.
Não disputa
Logo ninguém sob o céu pode com ele disputar.
A palavra antiga: Ao curvar fica-se inteiro
Não é uma palavra vazia
Em verdade está nela a unidade.
Capítulo XXIII
Falar pouco é o natural.
Um ciclone não dura uma manhã inteira
Um temporal não dura um dia inteiro.
Quem os produz ?
Céu e terra.
Mas se as coisas do céu e da terra não duram
Quanto mais devem durar as coisas humanas.
Portanto:
Quem segue o Tao é um ao Tao
Quem segue a virtude é um com a Virtude
Quem segue a perdição é um com a perdição.
Quem se une ao Tao
O Tao o acolhe alegremente.
Quem se une a virtude
A virtude o acolhe alegremente.
Quem se une a perdição
A perdição o acolhe alegremente.
Onde há pouca fé
Não se encontra fé.
Capítulo XXIV
Colocar-se na ponta dos pés
Não se obtém firmeza.
Com as pernas abertas
Não se pode andar.
Quem aparece
Não pode brilhar.
Quem se afirma
Não pode figurar.
Quem se gloria
Não terá méritos.
Quem se enaltece
Não pode perdurar.
Para o Tao ele soa:
Supérfluo
Parasita
Coisas que todos abominam
Por isto, quem está no Tao
Nelas não cai.
Capítulo XXV
Há uma coisa indefinida mas perfeita
Que existe antes do Céu e da Terra.
Silenciosa e separada
Fica sozinha e imutável
Tudo permeia mas nada põe em risco.
Pode ser chamada de Mãe sob o céu.
Não sei seu nome
Escrevo Tao.
Forçado a nomear
Chamo de Grande.
Grande significa além
Além significa longe
Longe significa retorno.
Por isto:
O Tao é grande
O Céu é grande
A Terra é grande
O Homem é grande.
No Universo há quatro grandes:
O Homem é um dos quatro.
O Homem segue a terra
A Terra segue o céu
O Céu segue o Tao
O Tao segue a si mesmo.
Capítulo XXVI
O pesado é a raiz do que é leve
O repouso é o senhor da agitação.
Por isto o homem santo:
Em viagem não larga o peso de sua bagagem
Solitário e calmo mesmo com visões gloriosas.
Mas o senhor de dez mil carros
Por eles despreza o Império ?
Pela pressa perde-se a raiz
Pela agitação perde-se a soberania.
Capítulo XXVII
Quem bem caminha não deixa rastros
Quem bem fala não necessita desmentir
Quem bem calcula não usa ábaco
Quem bem fecha não precisa de trancas
E ninguém abre o fechado.
Quem bem liga não usa cordas
E nada se solta.
Por isto o homem santo:
Sabe como salvar homens
Não há homens rejeitados.
Sabe como salvar coisas
Não há coisas rejeitadas.
Isto é chamado: entrar na lucidez.
Portanto:
O homem bom é modelo para o não bom
O homem não bom é o incentivo para o bom.
Mas se não reconhecemos o modelo
Nem cuidamos do incentivo
Haverá erro mesmo que haja acúmulo de conhecimento.
Isto é chamado: grande segredo.
Capítulo XXVIII
Quem conhece o masculino
E preserva o feminino
É o abismo do mundo.
Sendo o abismo do mundo
A virtude eterna não escorre para fora
E ele volta a ser um recém-nascido.
Quem conhece o claro
E preserva o escuro
É o modelo do mundo.
Sendo o modelo do mundo
A virtude eterna não escorre para fora
E ele volta a unidade.
Quem conhece a honra
E preserva a vergonha
É o vale do mundo.
Sendo o vale do mundo
A virtude eterna é o bastante
E ele volta a simplicidade.
Se a simplicidade é decomposta
Compõem-se as funções.
O homem santo usa-a
E torna-se mestre dos funcionários.
Portanto:
O grande governo não necessita de cortes.
Capítulo XXIX
Querer abarcar e manipular o mundo
Eu vejo que não é possível.
O mundo é uma coisa espiritual
É impossível manipular.
O manipulador iria arruiná-lo
O abarcador iria perdê-lo
Pois as coisas :
ora precedem, ora seguem
ora acalmam , ora enfurecem
ora fortalecem, ora fraquejam
ora ascendem, ora descendem.
Por isto o homem santo evita :
O excessivo
O desmedido
O desqualificado.
Capítulo XXX
Quem ajuda o soberano através do Tao
Nâo viola com armas o mundo
Porque tal ação sempre leva a uma reação.
Onde acampam exércitos crescem espinhos
Sempre após combates seguem anos de miséria.
Boa é apenas a decisão e nada mais que isto !
Não há ousadia de conquistar pela violência!
Decisão sem auto-glorificação
Decisão sem repressão
Decisão sem orgulho
Decisão devido a ser único modo de atuação
Decisão sem violência.
Coisas que necessitam de reforço constante
Logo envelhecem
Isto é chamado sem Tao.
Sem Tao logo não há Tao atuante.
Capítulo XXXI
Armas não são instrumentos de boa-sorte
São coisas que todos odeiam.
Portanto:
Quem está no Tao nelas não se ocupam.
Quando em casa o nobre honra seu lado esquerdo
Quando usa armas honra seu lado direito.
Armas não são instrumentos de boa-sorte
Não são instrumentos para nobres.
Mas se é impossível deixar de usá-las
Usa com calma e ponderação.
Ao vencer não louva a vitória
Quem o faz alegra-se em assassinar
E não pode alcançar seus objetivos no mundo.
Nos dias felizes prefere-se o lado esquerdo
Nos dias infelizes prefere-se o lado direito.
O vice-comandante fica à esquerda
O comandante fica a direita
Do mesmo modo que o serviço fúnebre.
Massacres devem ser chorados com ais e lamentos
Na vitória militar deve-se agir como em um serviço fúnebre.
Capítulo XXXII
Tao...o intocável e inominável
Embora muito pequeno
O mundo não o pode controlar.
Se reis e príncipes o preservarem
As dez-mil-coisas por si mesmas se controlam.
Céus e terra se unem para destilar doce orvalho
E o povo sem ordenação por si mesmo se coordena.
Mas quando ocorre a limitação
Logo surgem os nomes.
Quando os nomes surgem
Deve-se então saber parar.
Sabendo-se parar
Não se corre perigo.
Uma similaridade do Tao no mundo:
Os riachos da montanhas e águas do vales
Indo para o rio e mar.
Capítulo XXXIII
Quem conhece os outros é inteligente;
Quem conhece a si mesmo é sábio.
Quem vence os outros é forte;
Quem vence a si é poderoso.
Quem é auto-suficiente é rico;
Quem persevera tem aspiração.
Quem não perde seu lugar é estável;
Quem na morte não morre é vivo.
Capítulo XXXIV
O grande Tao é transbordante
Está a direita
Está a esquerda.
As dez-mil-coisas provêm dele
E ele não as rejeita.
Realiza a obra
E não as chama de propriedade.
Ele veste e alimenta as dez-mil-coisas
E não se assenhora delas.
Não tem desejos
E por isto é pequeno
Mas como tudo depende dele
Chamamos grande.
Assim o homem santo:
Não se engrandece
Por isto executa a grande obra.
Capítulo XXXV
Quem é fiel ao princípio
O mundo submete-se a ele.
Submete-se e não é prejudicado
E há grande paz.
Música e iguarias
Fazem o peregrino estagnar.
Mas o Tao surge da boca
Sem som e sem sabor.
Olha-se e nada se vê
Ouve-se e nada se escuta
Usa-se e nunca se esgota.
Capítulo XXXVI
Para comprimir
Deve deixar expandir.
Para enfraquecer
Deve deixar fortalecer.
Para destruir
Deve deixar desabrochar.
Para retirar
Deve dar.
Isto é chamado:
Conhecer o invisível.
A leveza é maior que a dureza.
A fraqueza maior do que a fortaleza.
Não se tira o peixe das profundezas
Não se mostra ao povo
Os mecanismos pela qual age o reino.
Capítulo XXXVII
O Tao é eterno não-fazer
E nada fica por fazer.
Se reis e príncipes o preservarem
As dez-mil-coisas por si se transformam.
Se tudo se faz provocando desejo
Eu o evito através da simplicidade.
A simplicidade inominável não gera desejos
A ausência de desejos cria a paz
E o mundo se endireita por si mesmo.
Capítulo XXXVIII
A virtude superior não se ostenta virtude
Por isto tem virtude.
A virtude inferior não larga a virtude
Por isto não tem virtude.
A virtude superior não age
E por isto não deixa de agir.
A virtude inferior não age
E por isto deixa de agir.
Quando a moralidade atua e ninguém reage
Ela então atua com grande provocação.
Portanto:
Perdendo-se o Tao eis a virtude
Perdendo-se a virtude eis o amor humano
Perdendo-se o amor humano eis a justiça
Perdendo-se a justiça eis a moralidade.
A moralidade reduz a fé e a fidelidade
Sendo a origem de toda desordem
O saber prematuro é mera aparência do Tao
E o começo de toda loucura.
Por isto o homem maduro
Atém-se ao real e não a aparência.
Atém-se ao palpável e não ao impalpável
Afasta o ali e agarra o aqui.
Capítulo XXXIX
Esta é a unificação dos príncipios:
O céu uno ficou limpo
A terra una ficou sólida
O espírito uno ficou avivado
O vale uno ficou cheio
As dez-mil-coisas unas ficaram geradoras
Os reis e príncipes unos ficaram dignos
Isto pela unificação.
O céu não limpo talvez rachasse
A terra não sólida talvez vacilasse
O espírito não avivado talvez sucumbisse
O vale não cheio talvez se esgotasse
As dez-mil-coisas não geradoras talvez se extinguissem
Os reis e príncipes não dignos talvez se destronariam.
Por isto:
O nobre tem suas raízes no humilde
O alto tem seu fundamento no baixo.
Por isto
Reis e príncipes devem ser intitulados:
Orfãos, viúvos e sem mérito
Porque suas raízes está na humildade. Ou não ?
Portanto:
A glória verdadeira não se gloria.
Não deve-se buscar o esplendor do jade
Mas sim a rudeza da pedra.
Capítulo XL
O retorno é o movimento do Tao
Suavidade é a operação do Tao.
Sob o céu:
As dez-mil-coisas nascem do ser
E o ser nasce do não-ser.
Capítulo XLI
Quando uma pessoa superior escuta o Tao
Ele pratica zelosamente.
Quando uma pessoa mediana escuta o Tao
Ela segue alguns momentos
Em outros não segue.
Quando uma pessoa inferior escuta o Tao
Ela ri às gargalhadas
Se não rir alto
Então não é o Tao.
Por isto existem as sentenças:
O Tao claro parece escuro
O Tao progressivo parece retrógrado
O Tao plano parece escabroso
A Virtude suprema parece um vale
A Virtude firme parece vazia
A Virtude sólida parece vacilante
O grande quadrado não tem cantos
O grande talento não termina cedo
A grande música não se ouve
A grande imagem não tem definição.
O Tao oculta-se no sem-nome
E só o Tao pode bem atuar
Dando a si mesmo.
Capítulo XLII
O Tao gera o um
O um gera o dois
O dois gera o três
O três gera as dez-mil-coisas.
As dez-mil-coisas tem atrás de si escuridão
A sua frente elas abraçam a luz
E o vazio lhes dá a harmonia.
O que os homens mais detestam
É serem orfãos, viúvos ou sem méritos
Títulos de reis e príncipes.
Portanto:
As coisas se perdem quando se ganham
E se ganham quando se perdem.
Eu também ensino conforme a tradição dos homens:
Os violentos não alcançam morte natural
Isto eu considero o fundamento do ensino.
Capítulo XLIII
Sob o céu o mais suave
Vence aquilo que é mais firme.
O não-manifesto penetra
Aquilo que é impenetrável.
Nisto reconheço o valor da não-ação.
O ensino sem palavras
O valor da não-ação
Sob o céu poucos conseguem.
Capítulo XLIV
O nome ou a pessoa
O que devemos privilegiar ?
A pessoa ou as posses
O que devemos valorizar ?
O ganho ou a perda
O que é pior ?
Por isto:
Acumular coisas traz grande gasto
Juntar coisas traz enorme desperdício.
Só se tendo o bastante não se passa vergonha
Sabendo controlar-se não se corre perigo
E por isto pode durar permanentemente.
Capítulo XLV
A grande realização parece insuficiente
Mas seu efeito é permanente.
A grande abundância parece vazia
Mas seu efeito é inesgotável.
A grande retidão parece tortuosa
A grande habilidade parece tolice
A grande eloquência parece balbuciante.
O movimento vence o frio
O repouso vence o calor
Pureza e repouso são o padrão do mundo.
Capítulo XLVI
Quando o Tao reina sob o céu
Usamos corcéis para puxar esterco.
Quando o Tao não reina sob o céu
Cavalos de batalha procriam nos pastos verdes.
O maior erro é submeter-se ao desejo
A maior violação é ser insaciável
A maior falta é querer possuir.
Por isto:
Saber bastar-se no que basta é o bastante.
Capítulo XLVII
Sem sair de casa
Conhece-se o mundo.
Sem olhar pela janela
Vê-se o Tao do céu.
Quanto mais longe se vai
Menos se conhece.
Por isto o homem santo
Não viaja e conhece
Não olha e sabe
Não age e realiza.
Capítulo XLVIII
No estudo a cada dia se cresce mais
No Tao a cada dia se decresce mais
E decresce, decresce
Até chegar-se a não-ação.
Na não-ação nada deixa de agir.
Conquista-se o mundo
Quando não se tem o que fazer
Quando se tem o que fazer
Não se conquista o mundo.
Capítulo XLIX
O homem santo não tem coração
Ele faz seu o coração das cem-famílias.
"Para os bons eu sou bom
Para os não-bons também sou bom
Esta é a bondade da virtude."
"Com o fiel eu sou fiel
Com o infiel também sou fiel
Esta é a fidelidade da virtude."
Sob o céu o homem santo é pacífico
E faz com que os corações se unam.
As cem-famílias lhe dão olhos e ouvidos
E o homem santo as recebe como suas crianças.
Capítulo L
Expôr vida é impôr morte
Três em dez são companheiros na vida
Três em dez são companheiros na morte
Três em dez são companheiros que caminham para o campo de morte.
E qual é a razão ?
Por viverem intensamente a vida.
Ouve-se do que bem cultiva a vida
Por terra não encontra rinocerontes ou tigres
Entre um exército não sofre com armas e escudos.
O rinoceronte não encontra onde cravar o chifre
O tigre não tem onde cravar as garras
As armas não encontram onde cravar a lâmina.
E qual é a razão ?
O homem santo não tem campo de morte.
Capítulo LI
O Tao dá vida
A virtude cultiva
O ambiente molda
As influências desenvolvem.
Por isto as dez-mil-coisas
Honram o Tao e dignificam a virtude.
O Tao é honrado e a virtude dignificada
Isto não se ordena mas vem espontâneamente.
Portanto:
O Tao dá vida
A virtude cultiva
E o crescimento se aprimora
E a proteção amadurece
E a manutenção se renova.
Capítulo LII
O mundo tem uma origem
Que pode-se chamar Mãe do mundo.
Quem tem a mãe
Conhece seu filho
Quem conhece o filho
Retorna para a mãe
E desaparecendo o corpo
Não há perigo.
Fechando as entradas
Trancando suas portas
Findando o corpo
Não há perigos.
Abrindo as entradas
Aumentando seus afazeres
Findando o corpo
Não há salvação.
Ver pequenas coisas chama-se discernimento
Conservar a suavidade chama-se força.
Se usarmos nossa luz para retornar à iluminação
Não há perigo quando este corpo passar
E isto é chamado vestir-se da eternidade.
Capítulo LIII
Se eu tivesse o conhecimento
De como agir de acordo com o grande Tao
Justamente temeria a atividade.
O grande Tao é plano
Mas o povo prefere atalhos
Onde a corte é rígida
Mas os campos enchem-se de ervas daninhas
E celeiros ficam vazios.
Enfeitam-se com brocados
Andam com espadas afiadas
Refinam-se no comer e beber
Com bens e riquezas excessivos.
Isto chama-se : ostentar rapina
Não, mas isto não é o Tao.
Capítulo LIV
Quem planta o bem não perde a raiz
Quem abraça o bem não se separa
E seus filhos e netos
Não cessarão de lembrar.
Quem cultiva a virtude em si é eficiente
Quem cultiva a virtude na família é pleno
Quem cultiva a virtude na família é durável
Quem cultiva a virtude no reino é fecundo
Quem cultiva a virtude no mundo é imenso.
Portanto:
Através de si veja os outros
Através de sua família veja as famílias
Através de sua comunidade veja as comunidades
Através de seu reino veja os reinos
Através de seu mundo veja os mundos.
E como sei que o mundo é assim ?
Pelo que está aqui.
Capítulo LV
Quem mantém a plenitude da virtude
É como uma criança recém-nascida
Insetos venenosos não a picam
Feras não a atacam
Aves de rapina não a raptam
Possui ossos frágeis e tendões elásticos
Mas agarra com força
Não conhece a relação sexual
Mas seu sangue se estimula
Pois possui a plenitude do sêmen.
O dia inteiro grita sem rouquejar
Pois possui o auge da harmonia.
Conhecer a harmonia é ser eterno
Conhecer a eternidade é ser iluminado
Acrescer a vida é fatalidade
O coração no controle da vida é rigidez.
Quando as coisas se fortalecem caducam.
Isto se diz sem - Tao
E quando sem-Tao não há Tao.
Capítulo LVI
Quem sabe não fala
Quem fala não sabe.
Fechar as entradas
Trancar as portas
Abrandar o cume
Desfazer o emaranhado
Moderar a luz
Reunir o pó
Isto chama-se união misteriosa com o Tao.
Portanto quem a tem:
É incompatível com a intimidade
É incompatível com a estranheza
É incompatível com o lucro
É incompatível com a perda
É incompatível com a glória
É incompatível com a vileza.
Por isto:
Constitui-se glorioso no mundo.
Capítulo LVII
Pela normalidade governa-se um reino
Pela anormalidade usam-se armas
Mas quando não há atividades
Conquista-se o mundo.
Mas como sei que é assim ?
Pelo que está aqui.
Sob o céu:
Quanto mais proibições e superstições
Mais o povo se empobrece.
Quanto maior o poder de guerra
Mais o reino se arruina.
Quanto maior a arte e esperteza dos homens
Mais presságios nefastos surgirão.
Quanto mais leis e decretos promulgados
Mais ladrões e assaltantes surgirão.
Por isto um homem santo disse:
Eu não-ajo e o povo muda por si
Eu amo o repouso e o povo endireita por si
Eu nada empreendo e o povo enriquece por si
Eu não tenho desejos e o povo torna-se como lenho-tosco por si.
Capítulo LVIII
Com governo tranquilo e discreto
O povo é expressivo e honesto.
Com governo vigilante e atuante
O povo é retraído e omisso.
Na desgraça apoia-se a felicidade
Na felicidade encosta-se a desgraça
E quem conhece seus limites ?
Na ausência de leis
O normal passa por anormal
E o bom passa por ilusão.
O desvio do homem
Com teimosia dura muitos dias.
Por isto o homem santo:
Delimita sem demarcar
Modela sem talhar
Corrige sem deformar
Brilha sem ofuscar.
Capítulo LIX
No governo dos homens
No serviço do céu
Nada como a moderação.
Pois com moderação
Há submissão prévia
Com submissão prévia
Há reiteração da virtude.
Reiteração da virtude
Invencibilidade!
Invencibilidade
Não se conhecem as limitações!
Sem limitações
Pode-se possuir o reino!
Tendo a Mãe do mundo
Duramos eternamente.
Isto se diz:
Raiz profunda
Fundamento sólido
O Tao da existência eterna
E da visão perpétua.
Capítulo LX
Governar um grande reino
É como fritar peixe pequeno.
Quando o mundo é governado pelo Tao
Os mortos não se passam por espíritos.
Não somente os mortos não se passam por espíritos
Mas os espíritos também não atormentam pessoas.
Não somente os espíritos não atormentam pessoas
Mas o homem santo também não as atormenta.
Quando ambos não se atormentam
A virtude conjuga seus efeitos.
Capítulo LXI
Um grande reino é um rio de baixo curso
Lugar de reunião do mundo
Feminino do mundo.
O feminino pela sua passividade
Vence o masculino
Porque por sua passividade
Ela se mantém abaixo.
Portanto:
Se um grande reino submete-se a um pequeno
O grande conquista o pequeno
Se um pequeno reino submete-se a um grande
O pequeno conquista o grande.
Assim:
Uns submetem-se para conquistar
Outros submetidos conquistam.
Um grande reino
Só quer juntar e alimentar pessoas.
Um pequeno reino
Só quer participar do serviço das pessoas.
Mas para que ambos consigam seu desejo
O grande deve sempre submeter-se.
Capítulo LXII
O Tao é o refúgio das dez-mil-coisas
Tesouro dos bons
Refúgio dos não-bons.
Com belas palavras negocia-se honras
Com nobre conduta destaca-se diante dos outros
Mas porque devemos rejeitar os não bons ?
Por isto:
Foi investido o filho do céu
E estabelecidos os três príncipes.
Mas empunhar o cetro de jade
E desfilar em um cortejo festivo
Não se iguala a assentar e adentrar no Tao.
E qual a razão dos antigos apreciarem o Tao ?
Não é porque se diz:
"Quem pede recebe
Quem errou evita a perversão?".
Por isto o Tao é o bem mais precioso do mundo.
Capítulo LXIII
Agir o não-agir
Ocupar o não-ocupar
Saborear o não-saborear
Engrandecer o pequeno
Retribuir rancor em virtude
Planejar o difícil quando ainda é fácil
Fazer o grande do que é pequeno.
Por isto o homem santo :
Não se engrandece
E realiza grandes atos.
Quem promete levianamente
Não merece crédito
O que se acha muito fácil
Acaba sendo muito difícil.
Por isto o homem santo:
Considera tudo bem difícil
E por isto tudo fica fácil.
Capítulo LXIV
O que é calmo é fácil manter
O que não surgiu é fácil programar
O que é frágil é fácil quebrar
O que é pequeno é fácil espalhar.
Deve-se agir no que ainda não-foi
Deve-se pôr em ordem antes da desordem.
Uma árvore com braças de diâmetro
Nasce como uma raiz de cabelo.
Uma torre de nove andares
Surge de terra amontoada.
Uma viagem de uma milha
Começa sob os pés.
Quem age arruina
Quem segura perde.
O povo após terminar uma obra sempre o estraga
Cuidando do fim como do começo nada se estraga.
Por isto o homem santo:
Deseja não desejar
Não valoriza bens custosos
Aprende não-aprender
Recorre ao que o povo deixa de lado
Ajuda a natureza das dez-mil-coisas
E nunca ousa agir.
Capítulo LXV
Na antiguidade os que bem atuavam no Tao
Não buscavam a iluminação do povo
Mas sim a sua simplicidade.
Não é possível governar o povo
Quando ele sabe demais.
Portanto:
Governar pela sabedoria
É roubar a nação.
Não governar pela sabedoria
É prosperar a nação.
Quem conhece estes dois
Aprofunda-se no ideal.
Saber aprofundar no ideal
É chamado de Virtude oculta.
Virtude oculta
Profunda ! Distante !
Vem com as dez-mil-coisas
E resulta na grande concordância.
Capítulo LXVI
Rios e mares regem os cem vales
Por saberem manter-se abaixo deles.
Portanto regem os cem vales.
Assim o homem santo:
Se deseja ficar acima do povo
Coloca-se abaixo quando fala.
Se deseja ficar a frente do povo
Coloca-se atrás.
Portanto o homem santo:
Fica acima
E o povo não sente seu peso.
Fica à frente
E o povo não sofre prejuízo.
Assim:
O mundo com alegria é impelido
E não há nenhuma opressão.
Como não há disputa
Ninguém sob o céu pode com ele disputar.
Capítulo LXVII
Sob o céu todos dizem
Que meu Tao é grande
E por isto é anormal.
Por ser grande parece anormal
Porque se fosse normal
Há muito teria ficado pequeno.
Três jóias aprecio e preservo:
A primeira chama-se misericórdia
A segunda chama-se moderação
A terceira chama-se não buscar o poder.
Antes a misericórdia, depois coragem
Antes moderação, depois generosidade
Antes não buscar o poder, depois liderar homens de talento.
Mas se:
Sem misericórdia querer-se coragem
Sem moderação querer-se generosidade
Sem ficar atrás querer poder
Isto é morte.
Se na guerra atacar com misericórdia
Vence-se
Se na defensiva
Fortalece-se
Por isto aquele que o céu quer salvar
É protegido pela misericórdia.
Capítulo LXVIII
O bom militar não é marcial
O bom guerreiro não é colérico
O bom vencedor não precisa lutar
O bom utilizador de homens submete-se a eles.
Isto é chamado: virtude sem luta
Isto é chamado: força que manipula os homens
Isto é chamado: o auge da união com o céu.
Capítulo LXIX
Do estrategista existe este ditado:
"Não ouso ser o senhor mas o hóspede
Não ouso avançar uma polegada mas recuar um passo".
Isto se chama:
Avançar sem pernas
Lutar sem braços
Repelir sem atacar
Capturar sem armas.
O maior desastre é subestimar o inimigo
Subestimando o inimigo perco as minhas jóias.
Portanto:
Quando exércitos se confrontam
Vence o mais compassivo.
Capítulo LXX
Minhas palavras
São fáceis de entender
São fáceis de praticar.
Mas sob o céu
Não são compreendidas
Não são praticadas.
As palavras tem tradição
Os eventos tem um senhor
E por serem incompreendidos
Eu também sou incompreendido.
Os que me conhecem são raros
E nisto está o meu valor.
Por isto:
Sob as vestes de aldeão
O homem santo possui jade.
Capítulo LXXI
Saber o não-saber é o bem superior
Não-saber o saber é uma alienação.
O homem santo não é alienado
Ele aliena a alienação.
E por alienar a alienação
Ele não é um alienado.
E somente por isto
Não é um alienado.
Capítulo LXXII
Se o povo não teme a autoridade
Então vem a grande autoridade.
Nada diminui sua moradia
Nada oprime a subsistência
E por não haver opressão não há aborrecimento.
Por isto o homem santo:
Conhece a si mesmo mas não se exibe
Ama a si mesmo mas não se glorifica.
Portanto:
Ele recusa o ali e admite o aqui.
Capítulo LXXIII
Quem mostra coragem com ousadia morre
Quem mostra coragem sem ousadia sobrevive
Dos dois um ganha e outro perde.
Mas alguém sabe a razão
Porque o céu abomina alguém ?
Por isto o homem santo vê as dificuldades.
O Tao do céu :
Sem lutar é hábil em vencer
Sem falar é hábil em responder
Sem sinalizar vêm por si
Passo-a-passo é hábil em planejar.
A rede do céu tem malhas largas
Mas nada passa por elas.
Capítulo LXXIV
Se o povo não teme a morte
Para que intimidá-lo com a morte ?
Se o povo sempre teme a morte
E uma dela age de forma estranha
Devo capturá-la e matá-la ?
Quem ousaria isto ?
Há sempre o ofício da morte a executar
Querer tomar o lugar da morte
É como querer talhar no lugar do lenhador
Dificilmente deixará de ferir as mãos.
Capítulo LXXV
A fome do povo
É fruto dos seus superiores devorarem impostos.
E por isto há fome.
O desgoverno do povo
É fruto dos seus superiores se intrometerem demais.
E por isto há desgoverno.
O descaso do povo com a morte
É fruto dos seus superiores viverem na boa-vida.
Por isto o descaso com a morte.
Por isto aquele que não-age na vida
É o único que pode dignificar a vida.
Capítulo LXXVI
Quando nasce, um homem é suave e fraco
Quando morre, um homem é rígido e forte.
Quando nasce, uma planta é suave e fraca
Quando morre, uma planta é murcha e seca.
Por isto:
Rigidez e força são companheiros da morte
Suavidade e fraqueza são companheiros da vida.
Por isto:
Se as armas são fortes não serão vitoriosas
Se as árvores são fortes são abatidas.
Força e grandeza fazem diminuir
Suavidade e fraqueza fazem crescer.
Capítulo LXXVII
O Tao do céu
Como lembra o armar de um arco !
O que é alto abaixa-se
O que é baixo levanta-se
O que tem mais tira-se
O que tem menos completa-se.
O Tao do Céu
Tira do mais e completa o menos.
O Tao do homem é o contrário
Tira do menos para dar ao mais.
Mas quem tem a mais para dar ao mundo ?
Só o possuidor do Tao.
Assim também o homem santo:
Age sem depender
Realiza a obra sem se apegar
Ele não quer mostrar-se importante.
Capítulo LXXVIII
Sob o céu
Não há nada mais fluido e suave do que a água
Não há o que a iguala no ataque ao duro e forte
Já que nada pode modificá-la.
A fraqueza vence a força
A suavidade vence a dureza.
Sob o céu
Isto não pode-se conhecer
Isto não pode-se praticar.
Por isto disse um homem santo:
Quem suporta a sujeira do reino
Esse é o senhor dos sacrifícios da terra
Quem suporta os males do reino
Esse é o rei do mundo.
Palavras corretas sempre parecem contraditórias.
Capítulo LXXIX
Quando se aplaca uma grande discórdia
Sempre resta alguma discórdia.
Como considerar que seja um bem ?
Por isto o homem santo
Cumpre sua parte do contrato
Mas não obriga a outra parte.
Quem tem virtude
Cumpre seu dever.
Quem não tem virtude
Cobra dos outros.
O Tao do céu não tem sentimentos
Mas sempre está com o homem bom
.
Capítulo LXXX
Um reino deve ser pequeno
E ter poucas pessoas.
Utensílios que aumentam a força
Não devem ser utilizados.
As pessoas devem temer a morte
E não migrar.
Barcos e carros
Não devem ser movidos
Armas e couraças
Não devem ser exibidas.
Que o povo volte ao uso de nós em cordas
Ao doce do seu alimento, à beleza de suas roupas
À paz de sua casa e ao conforto de seus costumes.
Com reinos vizinhos aqui e ali
Com canto de galos e latidos de cães aqui e ali
Com gente envelhecendo e morrendo
Sem mudar para lá e para cá aqui e ali.
Capítulo LXXXI
Palavras verdadeiras não são belas
Belas palavras não são verdadeiras.
O bom não se discute
E o que se discute não é bom.
Saber não é erudição
Erudição não é saber.
O homem santo não acumula bens:
Mais possui quanto mais faz pelos outros
Mais recebe quanto mais dá aos outros.
O Tao do céu beneficia sem prejudicar
O Tao do homem santo age sem lutar.
Para Renato Alioti e quem se interessar em texto
Abraços fraternos !
Bezerra
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