HANS HOLZER
A VERDADE SOBRE A BRUXARIA
Tradu��o de NADILE WERNECK
T�tulo original norte-americano:
THE TRUTH ABOUT WITCHCRAFT
Copyright (C) 1969 by Hans Holzer
DISTRIBUIDORA RECORD
RIO DE JANEIRO � S�O PAULO
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DAS ABAS DO LIVRO
Se a palavra bruxa faz pensar numa velha com uma verruga no nariz, que conversa com um gato e sai nas noites de lua-cheia montada numa vassoura, � preciso saber
que essa imagem representa um conceito arbitr�rio, talvez de valor folcl�rico, mas sem qualquer correspond�ncia com a realidade. E se o conceito implicar um fato
ou um tipo de pessoas pertencentes ao passado, o div�rcio da realidade � pior ainda.
A feiti�aria � coisa que vem da mais remota antig�idade e persiste at� aos nossos dias, como uma for�a religiosa positiva e v�lida que tem resistido a s�culos
de persegui��o.
Ainda que n�o acreditem, as bruxas de hoje podem usar minissaia e unir-se, na pr�tica de seus estranhos e antigos rituais, a donas de casa normais e homens de
neg�cios din�micos.
Hans Holzer, o autor deste livro, j� bem conhecido e admirado do p�blico pelo seu livro A Verdade Sobre a Reencarna��o, esteve presente a v�rias reuni�es de feiticeiros
nos Estados Unidos e na Inglaterra e teve permiss�o para gravar algumas das suas cerim�nias secretas, muitas vezes realizadas em estado de nudez. Este livro descreve
detalhadamente tudo o que ele viu, ao mesmo tempo que investiga as origens desses rituais. Pela primeira vez, s�culos de mito e incompreens�o s�o esclarecidos e
dissipados por este livro cheio de fatos e de dados pr�ticos.
�NDICE
INTRODU��O 4
1 - COMO SE TRANSFORMAR EM BRUXO 6
2 - POR QUE AS PESSOAS SE TORNAM BRUXAS? 29
3 - O QUE � REALMENTE A BRUXARIA 40
4 - A BRUXARIA NA AM�RICA 66
5 - A BRUXARIA NA INGLATERRA 111
6 - BRUXARIA E PERCEP��O EXTRA-SENSORIAL 138
7 - BRUXARIA, SEXO E M�TODOS DE CURA 146
8 - MAGIAS, ENCANTA��ES E F�RMULAS M�GICAS 151
9 - ADORA��O DO DIABO, SATANISMO E MISSA NEGRA 178
10 - RELIGI�O, BRUXARIA E MAGIA: QUAL A SUA EFIC�CIA DO PONTO DE VISTA PR�TICO? 193
INTRODU��O
Ao escrever sobre bruxaria, magia e outros cultos secretos, n�o tenho a m�nima inten��o de copiar, repetir ou apresentar sob novas fei��es material j� dispon�vel
nas bibliotecas. Mesmo porque os poucos livros que se dedicam ao assunto ou s�o antiquados ou n�o passam de pura literatura de fic��o.
Muito poucas pessoas, hoje em dia, acreditam na exist�ncia de magia e feiti�aria. Uma das raz�es que explicam este fato � a dificuldade, ou melhor, a quase total
impossibilidade de se obter material realmente esclarecedor. Como se isso n�o bastasse, a maioria das tradicionais fam�lias de feiticeiros e quase todos aqueles
que escolheram a bruxaria j� na idade adulta mant�m suas portas cerradas aos estranhos, receosos do conceito que deles se possa fazer. Apenas um ou outro adepto
da feiti�aria, tem a coragem de se apresentar abertamente como tal.
Qualquer pessoa de cultura m�dia tem uma id�ia completamente falsa do que seja a cren�a da antiga bruxaria. N�o se pode culpar o p�blico por isso, desde que nenhuma
fonte reput�vel de informa��o lhe chega �s m�os.
Sinto que � chegado o momento de falar clara e abertamente sobre este assunto, a fim de que, por ignor�ncia, esta pr�tica n�o seja, no aspecto secreto que ainda
cont�m, falsamente confundida com a pr�tica do mal.
A pr�tica da Antiga Religi�o, tamb�m conhecida como Arte dos S�bios, � um culto honesto e socialmente positivo, o que lhe concede o direito de merecer o interesse
p�blico.
� interessante notar que, se uma pessoa, curiosa ou atra�da pela bruxaria, procurar uma comunidade de feiticeiros, n�o ser�, necessariamente, recebida de bra�os
abertos. Ainda continua sendo uma prerrogativa da bruxaria escolher seu pessoal cuidadosamente, da mesma maneira que qualquer outro grupo social tem o direito de
admitir ou recusar seus membros na base do valor e do m�rito individuais. Talvez uma nova maneira de encarar o problema, a chamada pol�tica "de portas abertas",
seja apresentada por minha boa amiga Sybil Leek, ex-sacerdotisa-chefe na regi�o de New Forest, no Sul da Inglaterra.
Sybil Leek, que tanto tem feito para apresentar a imagem real do feiticeiro, atrav�s de seus livros e da televis�o americana, n�o tem nem nunca teve a inten��o
de conseguir adeptos. Nunca respondeu �s cartas de curiosos, mesmo os bem-intencionados, nem nunca entrou em discuss�es sobre aspectos particulares de qualquer uma
das v�rias comunidades de feiticeiros. Sua opini�o sobre a admiss�o de novos membros � ainda mais r�gida do que a da maioria dos membros da Antiga Religi�o.
S�o suas estas palavras: "A filtragem e a sele��o s�o ainda um fator essencial. Pelo menos, at� que o antigo sistema europeu de ensino e prepara��o seja trazido
para a Am�rica. Por enquanto, os poss�veis novos membros ainda ter�o que esperar. � impratic�vel uma admiss�o apressada, mesmo nos graus mais baixos. As pessoas
precisam estar realmente preparadas para poderem estudar e trabalhar com os outros, pois s� assim poder�o participar de uma reuni�o de maneira positiva e proveitosa.
Muitos americanos parecem pensar que se trata de um novo tipo de clube, o que, absolutamente, n�o �. Eu nunca seria contra a necessidade de uma verdadeira prepara��o,
pois foi uma boa e eficiente prepara��o que possibilitou �s comunidades europ�ias sobreviverem � situa��o ca�tica, � necessidade de se esconder, � grande devasta��o
geral. No que insisto � que � preciso que haja um senso de dignidade. Se assim n�o for, tudo estar� perdido."
O desenvolvimento espiritual do homem � mais importante que seu sucesso material. Tudo que abrir caminho para o estudo e compreens�o desse desenvolvimento ser�
�til neste nosso mundo repleto de falsos valores. Se a bruxaria ou a magia, ou ambas, conduzirem � realiza��o espiritual do homem, estou a seu favor.
Pois Deus est� em toda parte, e em toda parte est� Deus. Bendito seja!
Hans Holzer
1 - COMO SE TRANSFORMAR EM BRUXO
- Voc� ter� a oportunidade de assistir a uma aut�ntica cerim�nia de inicia��o.
Com estas palavras, Alex recebeu-me no sal�o de entrada do Royal Garden Hotel, em Londres, onde hav�amos marcado encontro. Alex Sanders � o sacerdote-chefe de
uma comunidade de bruxos em Londres. Hav�amos travado conhecimento numa visita anterior quando eu o entrevistara sobre o seu passado como sacerdote cat�lico romano
e seu presente como feiticeiro. N�o pensem, por favor, que eu esteja insinuando que exista alguma rela��o direta entre os dois fatos. Alex foi afastado da Igreja
n�o por falta de f�, mas, simplesmente, por uma fraqueza humana: como um homem jovem, n�o foi capaz de suportar o isolamento e a rigidez de comportamento impostos
pelo sacerd�cio e acabou por estabelecer com um colega seminarista la�os de amizade por demais �ntimos. Um dia, a coisa toda veio � tona e Alex tornou-se um ex-padre.
Isso, no entanto, n�o fez dele um homem amargo em rela��o ao catolicismo. Muito pelo contr�rio, ele sente e pensa agora exatamente como sentia e pensava antigamente
- todas as religi�es s�o essencialmente caminhos para Deus e o homem tem o direito de escolher qualquer um destes caminhos. Finalmente, escolheu o caminho paraps�quico
do mediunismo profissional. Da� para a feiti�aria, foi apenas mais um passo; e Alex tornou-se uma figura de grande import�ncia no mundo religioso da comunidade c�ltica
pr�-crist� de Londres.
Tudo isso parece soar tremendamente remoto da realidade daquele sal�o de hotel, mas o que importava no momento � que eu estava muito satisfeito por Alex nos oferecer
a oportunidade de testemunhar e filmar a cerim�nia - eu, meu s�cio Bob Wiemer, antigo produtor de document�rios para a CBS e que trabalharia realmente com a c�mara,
e o jovem Stephen Leek, filho de uma feiticeira tradicional, Sybil Leek, em carne e osso, como assistente. Naturalmente, eu havia oferecido garantias de que nada
apareceria publicamente que pudesse ferir a Comunidade da Arte dos S�bios, como eles chamam sua religi�o, e um estreito la�o de confian�a m�tua nasceu entre o grande
sacerdote e eu.
Era um dia frio de outubro e preocupava-me o fato de os membros da comunidade terem que enfrentar t�o baixa temperatura. Como voc�s j� devem ter ouvido falar,
os feiticeiros costumam celebrar suas cerim�nias nus. � parte de sua cren�a que o corpo cont�m um reservat�rio de poder e for�a que encontra na vestimenta um obst�culo
para sua livre express�o. Num n�vel ainda mais esot�rico, o fato de tirar a roupa - desnudar-se aos c�us, como costumam dizer os feiticeiros - ajuda o indiv�duo
a esquecer sua import�ncia mundana ou, quem sabe, a falta desta import�ncia, e leva todos a tornarem-se iguais diante da divindade que est�o prestes a adorar. Mas
eu n�o me deveria ter preocupado, pois Alex � um homem pr�tico que n�o permitiria que os membros de sua comunidade corressem o risco de apanhar uma pneumonia em
alguma floresta distante. Os encontros realizam-se a portas fechadas, e as reuni�es ao ar livre, que constitui seu verdadeiro ambiente, s�o reservadas apenas aos
meses quentes de ver�o.
O santu�rio de Alex � invis�vel durante o dia, isto �, ele se utiliza da sala de estar comum de seu modesto apartamento de tr�s c�modos na �rea londrina de Notting
Hill Gate. O gr�o-sacerdote n�o vive absolutamente no que se poderia chamar de estilo real. Ganha a vida trabalhando como superintendente de um grande pr�dio de
apartamentos. Por coincid�ncia, muitos dos apartamentos do edif�cio s�o alugados a feiticeiros. Na verdade, este fato n�o � ignorado pela vizinhan�a, mas Londres
� uma cidade cosmopolita, onde outros cultos ainda mais bizarros encontram hospitalidade.
A casa dos feiticeiros fica quase no fim de um beco sem sa�da. A �nica coisa que oferece de particular s�o as plantas sempre verdes e floridas que ladeiam a escadaria
que conduz ao subsolo, onde vivem os Sanders. Sinto muito se isto lhes causa estranheza, mas n�o se trata de um jardinzinho de ervas, mas de plantas realmente, plantas
mesmo, verdes e vivas, ver�o e inverno.
A vizinhan�a n�o � muito boa, mas, tamb�m, n�o chega a ser perigosa. Nos �ltimos anos, algumas lutas raciais t�m ocorrido a alguns quarteir�es, mas a �rea imediatamente
pr�xima � tranq�ila e tipicamente classe-m�dia.
Um pouco antes, j� havia encontrado os membros da comunidade num restaurante das redondezas. � dessa esp�cie de lugar que tem um bar comprido nos fundos, um pequeno
balc�o onde se servem saladas frias e sandu�ches e dez ou quinze, mesas espalhadas ao acaso no sal�o retangular. A clientela � constitu�da, na sua maioria, por pessoas
da vizinhan�a, quase todas jovens ou pretendendo ser jovens, e nada procura disfar�ar as caracter�sticas de um lugarzinho barato, tanto pela falta de servi�o como
pela aus�ncia de pratos quentes. A �nica coisa que tem para oferecer de relativamente interessante � a presen�a de certos tipos de fregueses, embora n�o todos. Trabalhadores
e alguns tipos locais tamb�m costumam entrar para uma cervejinha ou um u�sque, e voc� pode ficar a noite toda e n�o gastar mais do que cinco d�lares. O lugar estava
enfuma�ado e um tanto barulhento, principalmente por se tratar de uma noite de s�bado. Os feiticeiros costumam encontrar-se aos s�bados, se for poss�vel, pois esta
� a noite do chamado Esbath mensal. Esbath significa, mais ou menos, "dia regular de encontro", enquanto que o Sab� � o "grande dia de festa". Mas eu j� conheci
feiticeiros que se curvam � conveni�ncia e, uma vez ou outra, transferem suas celebra��es para um dia pr�ximo do Esbath ou do mais solene Sab�, quando a maioria
da comunidade encontra dificuldade em comparecer na noite certa; mas meus amigos ingleses da Velha Religi�o - que � como eles costumam chamar a bruxaria por l� -
acham que isso j� � um procedimento muito liberal demais e preferem manter-se mais dentro das regras.
Por que ser� que Alex escolheu este lugar t�o barulhento para nosso encontro inicial com o grupo?
Notei tr�s ou quatro "bandoleiras" de minissaia, encostadas no bar, esperando ser solicitadas por algum rapazinho mais ardente. Conversavam em voz alta e estridente
com a mo�a do bar, para que n�o deixassem de ser devidamente notadas. Aquele estava longe de ser o lugar adequado para uma calma contempla��o, alguns minutos antes
de uma cerim�nia religiosa. Mas a verdade � que simplesmente n�o havia por ali um local mais conveniente para o encontro, onde, ao mesmo tempo, se pudesse fazer
uma refei��o. Como eu j� havia dito, Alex � um feiticeiro de esp�rito pr�tico e, desde que seu pessoal vem de todos os cantos da cidade e mesmo de fora da �rea urbana,
este foi o lugar considerado mais pr�ximo do santu�rio onde se poderiam encontrar sem terem problemas de transporte.
Bob, Stephen e eu chegamos cedo. J� hav�amos deixado todo o equipamento de filmagem no apartamento de Alex � tarde, para evitar qualquer demora quando a cerim�nia
tivesse in�cio. Stephen Leek n�o sabe quase nada sobre a religi�o de sua m�e e parece incomodar-se menos ainda com isso. Isto � exatamente o que deveria ser, pois
a feiti�aria n�o est�, de modo nenhum, interessada em converter ningu�m, nem mesmo seus pr�prios filhos, se estes n�o demonstrarem um pendor especial para tal. Mas
ele � um rapag�o forte e Bob e eu precis�vamos de algu�m assim para nos ajudar. Para a comunidade, naturalmente, o filho de uma feiticeira c�lebre seria sempre um
visitante bem-vindo; assim, agradou-se a gregos e troianos.
N�o se sabe como, Bob conseguiu ainda os servi�os volunt�rios de uma aeromo�a entre dois v�os. A garota � de Houston, Texas, mas de mente suficientemente aberta
para se interessar por nosso trabalho. Bob permitiu que ela carregasse um trip� desde que prometesse manter a boquinha fechada, antes, durante e, especialmente,
depois da cerim�nia. At� que foi bom, pois mais tarde tivemos a oportunidade de contar com sua ajuda. Ela estava l�, t�o quietinha que parecia fazer parte do cen�rio,
engolindo em seco, de vez em quando, mas, de um modo geral, im�vel. Parece que ela esperava mais; tamb�m, do jeito que vivem as aeromo�as hoje em dia, chegando a
v�rios lugares e conhecendo tantas pessoas em t�o curto tempo, acho que, de seu ponto de vista, a coisa estava acontecendo um pouco devagar demais. Mas, afinal de
contas, ela n�o era uma feiticeira.
Logo a comunidade come�ou a chegar em pequenos grupos. L� estava Charles, um rapaz calmo de vinte e um anos, que trabalha numa loja de antiguidades ali por perto.
O velho rabugento, dono da loja, encarregou-o de cuidar dos objetos chineses de bronze e Charles saiu-se muito bem - limpa-os, d�-lhes brilho, ocasionalmente os
vende e sempre os admira. Chegou com ele uma pequena deslumbrante, uma esp�cie de Elizabeth Taylor mais jovem - cabelos longos e negros, c�lios que pareciam varrer
toda a sala e uma voz que fazia lembrar um filme antigo de Hedy Lamarr. Era Carolyn, a paix�o de Charles e causa de seus sofrimentos; eles n�o eram casados nem mesmo
noivos, mas passavam juntos os fins-de-semana. Carolyn j� tinha dezoito anos e, pelas leis inglesas, o direito de fazer o que bem entendesse de sua vida; mas, tudo
fazia crer que casar com ele n�o era o que ela queria. Quanto a seus pais, acho que eles nem suspeitavam de que ela era uma feiticeira iniciada, mas a garota ainda
mantinha com eles la�os emocionais bastante fortes para n�o ter coragem de se casar sem o seu consentimento. Havia ainda um rapaz alto, Francis, que trabalhava num
escrit�rio, e uma gracinha de garota chamada Linda, que, pelo que me informaram, ganhava a vida como recepcionista em algum lugar. Na primeira meia hora, nenhuma
das duas mo�as falou muito, mas, � propor��o que eu tentava animar o grupo para quebrar as barreiras iniciais, mais do que naturais em se tratando de estranhos,
elas come�aram a sorrir e, quando terminou o fim-de-semana, j� nos trat�vamos todos pelo primeiro nome.
Um rapaz de cabelos crespos e sotaque franc�s veio juntar-se a n�s: era Jacques - vinte e tr�s anos, cantor e compositor popular. Enquanto os outros continuavam
batendo papo, Jacques e eu tomamos a iniciativa de providenciar comida. Se assim n�o proced�ssemos, acho que passar�amos a noite inteira da inicia��o esperando sandu�ches
frios e caf�. J� tinham chegado nove deles ao todo agora, mais outro rapaz e o casal de sacerdotes, que entrava em cena neste momento.
O casal consistia de Alex, um gal�s magro, de aspecto severo, natural de Manchester, e sua terceira esposa Maxine, uns vinte anos mais jovem do que ele, loura
e de voz doce e macia. Haviam conseguido que uma pessoa entrasse para cuidar de sua filhinha enquanto eles estavam fora e, depois, durante a cerim�nia, esta amiga
ficou sentada no fundo da sala, mantendo a crian�a quieta. � preciso que se diga que se tratava de uma crian�a excepcionalmente boa. Se enfeiti�ada ou simplesmente
bem-educada, isto n�o consegui descobrir.
Apesar dos cabelos j� um tanto ralos e de seus quarenta e tr�s anos de idade, Alex era uma figura convincente e irresist�vel, de olhos negros penetrantes e movimentos
deliberados. Era evidente que seu emocionalismo lhe devia ter trazido problemas no passado. Quanto a este passado, Maxine sabia e conhecia tudo. Ao que transparecia,
ele era capaz de fazer dela uma mulher feliz: posso mesmo chegar a afirmar que poucas vezes vi um casal t�o amoroso, dentro ou fora da feiti�aria.
Quanto a Maxine, parecia ser uma mulher simples e pura, embora n�o completamente ignorante em rela��o ao mundo mais sofisticado a sua volta. No que dizia respeito
� feiti�aria, mostrava ser plenamente capaz de desempenhar satisfatoriamente suas fun��es. Mais tarde, vim a saber que ela � que havia escrito muito dos rituais,
e, se estes se desenrolavam segundo o esquema, era gra�as � sua eficiente supervis�o.
Quanto ao vestu�rio, n�o havia nada de particularmente especial sobre as roupas que o grupo usava. Tinha-se mais a impress�o de uma t�pica reuni�o de noite de
s�bado de um clube social londrino, pronto para mergulhar numa atividade nada mais excitante do que uma partidazinha de bridge. As minhas pr�prias roupas certamente
pareciam mais ex�ticas do que as de qualquer um deles - camisa de gola alta e uma medalha zodiacal de Aqu�rio. Mas eu sempre gostei de me vestir de acordo com a
situa��o.
Eram nove horas e mais do que tempo de come�ar. Aos poucos, o grupo come�ou a se dirigir ao apartamento de Alex, onde outros vieram juntar-se a n�s. Entre eles,
estava um casal, marido e mulher, cantores populares bastante conhecidos, que, apesar de muito solicitados, tinham deixado de se apresentar aquela noite para poderem
vir ao encontro. Havia tamb�m Patrick e sua esposa, que tinham viajado duas horas no seu carro para participarem da cerim�nia. Eu j� conhecia Patrick desde quando
ele tinha estado em Nova York numa viagem de neg�cios. � desenhista de modas e desfruta de uma situa��o de vida bastante invej�vel. L� estava ele, esplendidamente
bem vestido, com roupas escuras e uma corrente de prata com um pentagrama - o s�mbolo da feiti�aria - mais parecendo um membro graduado da Universidade de Oxford.
Enquanto Bob, Stephen e a aeromo�a se ocupavam com as c�maras e o equipamento de som, aproveitei para renovar antigas amizades e estabelecer novas com os membros
do grupo.
Os "Aben�oado seja!" corriam r�pido de um canto a outro da sala, e quando o esp�rito movia algum, ouvia-se o estalar de um beijo furtivo na face, que constitui
parte do cumprimento da feiti�aria. Mas, por favor n�o ponham mal�cia; este beijo � dado sem a menor implica��o er�tica. Eu, pessoalmente, acho muito mais agrad�vel
cumprimentar algu�m com um alegre e simp�tico "Aben�oado seja!" do que com um mec�nico "�i" ou "Como vai?"
A sala parecia completamente diferente agora. Toda a mob�lia, que antes ocupava a maior parte do espa�o, tinha sido levada para outro c�modo no final do corredor.
No fundo da sala foi erguido um altar, improvisado com uma mesa baixa coberta por um tecido branco. As cortinas das janelas foram baixadas, a porta cuidadosamente
fechada com duas voltas da chave e qualquer um que chegasse depois da hora teria que se fazer anunciar por uma senha para poder entrar.
Nenhuma interfer�ncia era esperada. Em Londres, a pol�cia n�o costuma perturbar ningu�m que pratique a feiti�aria, desde que ningu�m cause perturba��o a ningu�m.
Os ingleses s�o bem mais civilizados e intelectualmente mais sofisticados do que n�s: o fato de se estar nu n�o implica, necessariamente, em maldade. E os donos
do pr�dio de apartamentos administrado por Alex n�o consideravam de sua conta o que lhe fizesse de seu tempo vago, desde que suas tarefas fossem satisfatoriamente
cumpridas. Assim � que era e, at� ent�o, tudo vinha funcionando muito bem.
Alex come�ou a riscar o "c�rculo", assistido por dois homens - Charles, seu bra�o direito, e Jacques. Charles estava-se preparando com ele, aprendendo tudo que
era preciso para vir a exercer o sacerd�cio da feiti�aria.
Nesta religi�o, todas as cerim�nias precisam desenrolar-se dentro dos limites de um c�rculo consagrado. Este c�rculo n�o tem a m�nima rela��o com o c�rculo m�gico
que oferece prote��o contra as terr�veis for�as do mal vindas de fora. A sua fun��o � manter dentro de seus limites as for�as de poder ali mesmo levantadas. Normalmente,
este c�rculo mede 2,70 m de di�metro. Estava curioso em descobrir como Alex seria capaz de desenhar um c�rculo t�o grande numa sala t�o pequena. Mas ele conseguiu,
embora n�s tiv�ssemos que nos espremer todos nos quatro cantos.
O tapete vermelho, cuidadosamente limpo por Maxine na v�spera, serviu de base para que o c�rculo de giz fosse riscado. O resto do trabalho Alex deixou por conta
de seus dois assistentes, enquanto se retirava para se paramentar com seus trajes sacerdotais. Acima do c�rculo de giz branco, foi colocado um outro feito de tecido
negro e quatro velas vermelhas dispostas nos quatro cantos da sala, do lado de fora do c�rculo. Estas quatro velas, simbolizando os quatro pontos cardeais - leste,
sul, oeste e norte - fazem parte de todos os c�rculos de feiti�aria que eu conhe�o. Na dire��o norte foi colocado um pequeno relic�rio feito de madeira escura. Parecia
uma reminisc�ncia de um relic�rio cat�lico, mas continha nada mais do que uma brilhante pedra semipreciosa, cuja fun��o era servir de uma esp�cie de ponto de concentra��o
para o sacerdote. Debaixo dela estava escrito o nome do deus, da divindade particularmente ligada �quele grupo. Embora eu conhe�a o nome desta divindade, n�o posso
divulg�-lo, pois constitui uma cren�a sincera entre os feiticeiros que tornar p�blico o nome de seu deus diminui, consideravelmente, o poder de sua invoca��o. S�
o que posso adiantar � que este nome come�a com a letra S, faz parte do pante�o cabal�stico e n�o tem origem c�ltica. De fato, muitas das facetas do ritual de Alex
apresentam fortes nuan�as cabal�sticas e todo o tipo de adora��o praticada por ele e seus seguidores � uma mistura de v�rias formas de feiti�aria. Isto n�o tem a
m�nima import�ncia, nem diminui a efici�ncia dos resultados, pois tudo leva na mesma dire��o e os poderes b�sicos s�o realmente id�nticos.
De cada lado do relic�rio, o assistente colocou dois casti�ais de bronze com forma de serpentes. O s�mbolo da serpente deriva de mist�rios eg�pcios que Alex incorporou
em seu ramo particular da Antiga Religi�o.
Atr�s do relic�rio, num dispositivo dependurado por uma corrente de um suporte de bronze, o incenso foi aceso. Logo a sala foi invadida pela fuma�a adocicada
do s�ndalo e uma sensa��o de grand distanciamento e abandono parecia tomar conta de n�s. Incensos arom�ticos como este s�o usados por muitas religi�es, incluindo,
naturalmente, o catolicismo, e servem para levar os fi�is a uma maior receptividade e relaxamento a fim de que as preces, ou encanta��es, alcancem maior efeito.
Uma prece murmurada mecanicamente, sem o adequado envolvimento emocional � o mesmo que nada. Muitas das cerim�nias de Alex possuem paralelos no ritual cat�lico na'
maneira como envolvem a parte emocional do homem. N�o estou querendo dizer com isso que existe alguma semelhan�a ou alguma inten��o de cr�tica ou deboche em rela��o
� religi�o cat�lica; muito pelo contr�rio, Alex ainda acredita firme e sinceramente nos ideais de Jesus Cristo. Aproveito um par�ntesis para mencionar que muitos
dos membros desta comunidade de feiticeiros prov�m do catolicismo e o que eles dizem � que se tornaram desiludidos com a falta de profundeza da religi�o cat�lica
e que encontraram, na pr�tica da feiti�aria, maior liberta��o espiritual.
O sacerdote-assistente trouxe uma vara, objeto de muita significa��o dentro da feiti�aria, e uma espada, depositando-as diagonalmente no meio do c�rculo. Um prato
cheio de sal foi, ent�o, colocado na parte superior e direita do c�rculo e, no lado diagonalmente oposto, um c�lice de prata cheio d�gua.
Alex voltou, usando uma vestimenta branca na altura dos tornozelos. Para qualquer outra pessoa, ele parecia mais um gorila, com aqueles olhos encovados, cabelos
esparsos e ares distantes de superioridade. Rapidamente, disp�s no ch�o as cartas tarot de um baralho. Setenta e duas cartas logo cobriam o c�rculo negro de pano
e Alex explicou como o c�rculo seria consagrado, ao que, ent�o, se seguiria a cerim�nia. As cartas foram depois retiradas e um a�oite, algumas cordas, um pentagrama
e o athame - uma faca de cabo negro - foram colocados sobre o altar. Estes eram seus instrumentos, e mais aqueles j� colocados no ch�o, dentro dos limites do c�rculo:
a espada, o incenso, o c�lice com �gua e o prato com sal.
O ritual de consagra��o, aqui publicado na �ntegra, � proveniente de cren�as muito antigas, que remontam � Idade da Pedra e fazem parte das tradi��es da feiti�aria.
Mais tarde, terei oportunidade de analisar, com todo o senso de realidade, o que esta religi�o pode fazer para o homem e pelo homem. Por enquanto, confie em mim
e venha comigo at� o "Esbath" dos feiticeiros em um pequeno apartamento de Londres. � muito mais parte da verdadeira feiti�aria do que voc� poderia encontrar em
qualquer outro lugar, no tempo ou no espa�o - uma religi�o viva, plena de significado para seus praticantes, que n�o fere ningu�m e traz benef�cios a muitos.
Era chegado o grande momento. Uma r�pida palavra do sacerdote, um ligeiro movimento de cabe�a em dire��o ao corredor, isto bastou para nos fazer ver que t�nhamos
que nos retirar para nosso canto neutro, atr�s do c�rculo, onde Bob j� havia colocado o equipamento. Coloquei-me diante da c�mara principal, embora tivesse a certeza
de que eu teria sido igualmente bem-vindo dentro do c�rculo aquela noite. Mas eu n�o estava ali para entrar no c�rculo, e sim para contar ao mundo, talvez pela primeira
vez, o que realmente acontece quando alguns feiticeiros se encontram para um ritual.
Durante o �ltimo quarto de hora, a sala permanecera em sil�ncio, com exce��o de nossa conversa a meia voz e as ordens r�pidas que Alex dava a sua mulher e assistentes.
Os outros - nove deles - tinham entrado num pequeno quarto que desembocava lateralmente no corredor ligando a sala de estar com o quarto de dormir do pequeno apartamento.
Agora eles voltavam, os homens completamente nus e as mulheres usando apenas j�ias de prata.
Se n�o fosse pelo fato de haver pessoas de ambos os sexos, a cena poderia perfeitamente fazer parte de um banho de sauna, tamanha a naturalidade com que se comportavam.
Mas o brilho sobrenatural daquelas luzes vermelhas provocava uma sensa��o estranha, e por um momento fui sacudido pela excita��o de estar presente a uma cerim�nia
t�o antiga quanto a humanidade, por tudo que sugere a adora��o pura do sexo e pela incongruidade da situa��o.
N�o poderia haver meio-termo em rela��o � nudez numa genu�na comunidade de feiticeiros. O uso de um biqu�ni pelas mulheres e uma sunga pelos homens, como recomendava
o Dr. Gerald Garchner num de seus trabalhos mais populares sobre a feiti�aria, seria muito mais sugestivo e pouco inatural do que apresentar-se como a natureza nos
fez. Os feiticeiros americanos parecem ter mais preocupa��o quanto � nudez do que os ingleses, talvez devido a uma forte influ�ncia puritana entre n�s, mesmo em
se tratando de feiti�aria.
Os feiticeiros que desfilavam agora diante de meus olhos n�o estavam absolutamente tentando esconder seus �rg�os genitais ou comportando-se de maneira t�mida
e encabulada, nem mesmo enrubescendo quando seus olhares encontravam os nossos. Comecei a sentir que eu � que estava deslocado e que deveria tirar minhas pr�prias
roupas em defer�ncia a eles. A atmosfera parecia embebida de uma esp�cie de sensa��o de uni�o com o Criador. As circunst�ncias n�o admitiam que se tivesse qualquer
pensamento carnal do tipo daqueles provocados pelas p�ginas da revista Play-boy. Comecei a compreender como e por que aquelas pessoas sentiam que as for�as da vida
eram sagradas e que o princ�pio da fertilidade do homem era objeto solene de adora��o, e n�o algo a ser aceito simplesmente ou, pior ainda, como fazemos no mundo
ocidental, para ser suprimido e escondido.
A cerim�nia estava prestes a ter in�cio e os feiticeiros formaram um anel imperfeito do lado de fora do c�rculo a ser consagrado, aguardando instru��es do sacerdote-chefe.
O n�mero de mulheres era ligeiramente menor que o de homens, o que fugia ao comum nas comunidades de feiticeiros. Normalmente, ocorre o contr�rio, embora a condi��o
ideal seja considerada um n�mero igual de representantes de ambos os sexos, formando casais perfeitos. Procurando alternar os sexos, os feiticeiros paravam um em
frente ao outro atrav�s da sala, enquanto Alex Sanders fazia rever�ncias diante do altar. As mulheres ainda usavam maquilagem de noite e c�lios posti�os e haviam
soltado os cabelos que ca�am livremente at� os ombros. Com exce��o do sacerdote-chefe e mais tr�s membros, todos estavam ainda na casa dos vinte anos e tinham, certamente,
uma boa apar�ncia. O que os outros perdiam em mocidade ganhavam em dignidade, que chega aos trinta ou quarenta anos, quando o indiv�duo atinge o m�ximo de realiza��o
e estabilidade profissional. As mo�as, usando diademas de prata na cabe�a, co-lares e pulseiras balan�ando de seus pulsos delicados, ganhavam uma apar�ncia um tanto
inconsistente - acess�rios sem roupas. Isto, no entanto, estava plenamente de acordo com a cren�a da feiti�aria de que qualquer coisa de prata represente a deusa-lua
Diana, adorada como a deusa-m�e de toda a cria��o. Os feiticeiros nunca usam objeto algum feito de ouro.
Podia ouvir, atr�s de mim, o ru�do de Bob Wiemer engolindo em seco e n�o tinha coragem de me virar para ver como a mocinha texana estava aceitando aquilo. Al�m
do mais, eu estava por demais fascinado pelo espet�culo de nove pessoas nuas, homens e mulheres, aguardando de p�, do lado de fora do c�rculo, que a cerim�nia come�asse.
Todos eles pareciam sentir-se completamente � vontade, o que, ali�s, n�o era de se estranhar, desde que aquilo acontecia todas as semanas. Mas, apesar de tudo, esta
era a primeira vez que contavam com a presen�a de uma c�mara e tr�s estranhos - ou, melhor, um estranho, um amigo da comunidade e o filho de uma famosa feiticeira.
Mas nada, absolutamente, parecia perturb�-los; muito pelo contr�rio, agora, do que antes, no pequeno restaurante fumacento. Carolyn e Linda eram possuidoras de corpos
ainda mais bonitos do que eu imaginara no primeiro encontro. Mas, esse tipo de pensamento foi logo afastado quando a cerim�nia come�ou. As �nicas pessoas que n�o
estavam totalmente despidas, com exce��o de n�s tr�s, eram o sacerdote-chefe e sua mulher. Alex usava o robe branco e Maxine retornou envolvida por uma esp�cie de
capa azul transparente que cobria tudo mas n�o escondia nada. Ocupou seu lugar em frente ao altar, com os bra�os levantados e estendidos, as palmas das m�os para
fora, na posi��o da antiga Deusa-M�e, que ela representava neste rito. A id�ia geral de deuses e deusas na feiti�aria n�o tem liga��o alguma com a idolatria paga;
constitui simplesmente uma invoca��o simb�lica das for�as da natureza. A Deusa-M�e, representando a for�a da fertilidade e da cria��o, envia sua presen�a ao corpo
da sacerdotisa; o Deus de Chifres, antiga divindade da ca�a, princ�pio da masculinidade e da procria��o, acredita-se que esteja presente no corpo do sacerdote. No
que diz respeito a este aspecto, existe pouca diferen�a entre esta t�cnica e aquela empregada pelo celebrante cat�lico, que tamb�m representa o meio de liga��o com
Deus - a h�stia, que simboliza o corpo do Senhor, e o vinho, que representa o sangue. Isto tudo tamb�m � simb�lico e n�o pode ser tomado literalmente.
No sil�ncio da sala, Alex era, n�o mais um superintendente de um pr�dio de apartamentos, mas o grande sacerdote-chefe. Normalmente, a luz seria provida apenas
por quatro velas al�m daquelas do altar, mas, como precis�vamos de ilumina��o para a filmagem, uma licen�a especial nos foi concedida para usarmos luz artificial
el�trica, desde que as l�mpadas fossem cobertas por vidros vermelhos. Elas enchiam o ambiente de uma luminosidade sobrenatural, que, no entanto, casava perfeitamente
com a atmosfera de irrealidade e excita��o, que crescia, cada vez mais, � propor��o que nos aproxim�vamos do grande momento do Esbath.
O que Alex estava para fazer, nenhum estranho, que eu saiba, jamais testemunhou e, certamente, nunca ningu�m documentou num filme. Muito grande foi nossa sorte
por termos chegado a Londres exatamente na ocasi�o em que a cerim�nia de inicia��o de uma novi�a estava para acontecer. Hoje em dia, acontece que os feiticeiros
comparecem e participam de um c�rculo ou encontro muitas vezes antes de serem iniciados propriamente como membros. Na verdade, muitas comunidades n�o permitem mesmo
que a inicia��o ocorra antes de pelo menos um ano de atendimento regular e estudo da religi�o. Voc� simplesmente n�o pode decidir que quer-se tornar feiticeiro,
procurar a letra F nas p�ginas amarelas e entrar para o grupo da mesma maneira que voc� entraria para um clube de golfe. Antes de mais nada, os feiticeiros n�o gostam
de se fazer anunciar, por raz�es que abordarei em detalhes mais adiante neste livro. Se voc� for capaz de estabelecer contato com uma comunidade, e se conseguir
ser convidado, nunca poder� ser iniciado antes que o grupo o aprove e o sacerdote decida que voc� est� preparado. Desta vez, a candidata era uma mocinha chamada
Nikki, aparentando uns vinte anos, que trabalhava como vendedora de sapatos numa loja local. � noite, fizera uma tentativa, cantando ao som de uma guitarra, mas
parece que isso n�o lhe rendia muito dinheiro e tivera que se conformar em ganhar a vida apenas na sapataria. Provinha de uma boa fam�lia que vivia numa confort�vel
casa nos sub�rbios, mas ela possu�a alguma coisa de diferente de sua gente, que lhe fez procurar seu pr�prio caminho.
Esta era a noite de Nikki e ela tinha estado compreensivelmente nervosa durante todo o tempo. No restaurante, onde se tinha juntado a n�s, n�o fora capaz de comer
nada, mas bebera alguma coisa para ganhar for�as suficientes para enfrentar o grande momento. Agora era trazida com os outros, mas com os olhos vendados e o corpo
coberto por uma t�nica amarela. Estava de p� no canto direito da sala, fora do c�rculo, aguardando o momento da inicia��o. Podia-se ver que ela tremia, nervosa e
tensa, mas sem manifestar qualquer queixa. Ignorada, no momento, por todos, ela permanecia de p�, im�vel e silenciosa, aguardando sua vez.
Alex levantou a espada m�gica, ao que seus assistentes esvaziaram completamente o ch�o, tirando todos os objetos e deixando, apenas, o c�rculo de giz desenhado
no tapete e as velas nos quatro cantos, que, agora, eram acesas. Percebi que o risco do c�rculo estava aberto na dire��o nordeste; representava a porta de entrada
por onde deveria passar a iniciada. Este ritual desenvolve-se segundo uma esp�cie de b�blia da feiti�aria chamada "O Livro das Sombras". Toda comunidade possui uma
vers�o deste livro e uma das recompensas de se tornar um verdadeiro feiticeiro � o direito de copi�-lo pessoalmente a m�o. Nenhum feiticeiro se pode separar de seu
Livro das Sombras ou permitir que qualquer estranho o leia. Apesar disso, j� consegui ler, e at� mesmo ter comigo, v�rios Livros da Sombra, devido a minha posi��o
especial em rela��o � Antiga Religi�o. Mas n�o conhe�o mais ningu�m que o tenha feito.
O Livro das Sombras jamais foi impresso ou publicado. Esta ser� a primeira vez que um texto dele retirado ser� apresentado ao p�blico.
H� tr�s graus na carreira de um feiticeiro e estes devem ser separados pelo espa�o m�nimo de um ano. Embora n�o haja propriamente uma hierarquia, pois trata-se
da mais democr�tica de todas as f�s, existem tr�s graus, de acordo com os conhecimentos e a sabedoria do indiv�duo, pois o estudo est� no cora��o desta religi�o,
e nem mesmo a mais simples cerim�nia pode ser devidamente compreendida antes que se tenham estudado as bases da feiti�aria.
A inicia��o estava come�ando. Alex ergueu a espada consagrada e com ela, rapidamente, riscou no ar um c�rculo, correspondendo ao que estava desenhado com giz
no tapete vermelho, interrompendo o movimento na dire��o nordeste, correspondente � Porta de Entrada. Colocou, ent�o, a espada sobre o altar, apanhou o c�lice com
�gua e espargiu o c�rculo com ela, dizendo: "� c�rculo! Sejas o local de encontro do amor, da alegria e da verdade. Um abrigo contra o mal. Uma muralha de defesa
para aqueles que aqui se encontram. Eis por que te aben��o e consagro pelo grande poder de..."
Pronunciou, ent�o, o nome de sua divindade, S., espalhando incenso por sobre o c�rculo, da mesma maneira que um sacerdote cat�lico o faria em seu altar. Carregou
a vela em torno do c�rculo, colocando-a novamente no mesmo lugar, apanhou a faca de cabo preto chamada athame, que todo feiticeiro deve possuir, e continuou a consagra��o.
De frente para o leste, depois sul, depois oeste e, finalmente, norte, onde estava erguido o altar, Alex "invocou os Poderosos" - que � como os feiticeiros designam
o ato de chamar os poderes da Deusa-M�e e do Deus de Chifres. Erguendo a faca em cada dire��o e olhando fixamente para a frente, o sacerdote pronunciou a antiga
f�rmula de invoca��o dos Poderosos: "Chamo-vos neste momento, � Poderosos do leste, sul, oeste e norte, para que estejais presentes aos ritos e guardeis o c�rculo."
E Alex caminhou em volta do c�rculo com um passo lento de dan�a, cantando: "Eko, Eko, Azarak, Eko, Eko, Zamelak, Eko, Eko, Eko, Eko!" Isto, naturalmente, era
hebreu e parte do ritual cabal�stico de chamamento ou invoca��o. Mas sup�e-se que os Poderosos sejam poliglotas e o fato de se usar este ou aquele idioma realmente
n�o faz diferen�a.
Seguiram-se mais duas linhas de encanta��o, enquanto Alex novamente caminhava devagar em volta do c�rculo. Pude distinguir as palavras "Bacchus" e "Athame", mas
o resto perdeu-se no ar. Era evidente que os antigos mist�rios dionis�acos, o equivalente grego da feiti�aria, desempenhavam seu papel na forma do ritual de Alex.
Normalmente, Alex costuma usar m�sica de disco como est�mulo para a dan�a, o que constitui uma parte muito importante do ritual. Mas, esta noite, a comunidade
tinha a sorte de poder contar com a presen�a de dois renomados m�sicos profissionais - um casal de cantores de m�sica popular - que tinham trazido um viol�o e uma
concertina. Isto, naturalmente, os impedia de tomar parte na dan�a, mas, novamente, por uma dispensa especial do sacerdote-chefe, puderam, embora permanecendo num
canto, continuar fazendo parte do todo. Ao som de suas vozes melodiosas e fortes, os outros membros da comunidade tomaram-se as m�os e come�aram a dan�ar o que se
poderia chamar de dan�a da serpente. Alex deu in�cio � dan�a segurando o primeiro feiticeiro, que, por sua vez, segurou outro e assim por diante, at� que todos,
com exce��o da sacerdotisa e da novi�a, estavam dan�ando. A sacerdotisa permanecia im�vel diante do altar e a novi�a continuava de p�, com os olhos vendados, no
canto direito da sala, aguardando sua vez.
Constitu�a um estranho espet�culo aquelas nove pessoas nuas dan�ando em c�rculos, num cord�o que se dobrava sobre si mesmo como uma serpente, fazendo-me lembrar
o famoso grupo Laocoon, uma pe�a de escultura antiga que representa pai e filhos emaranhados por uma grande cobra e lutando por se livrar debaixo dela. N�o havia
nenhuma inten��o de encostar corpos, mas nos pequenos limites da sala era inevit�vel que peitos, costas e n�degas se ro�assem; e a m�sica forte fazia tudo ainda
mais empolgante. Assim que todos estavam dan�ando no centro da sala, Alex afastou-se e voltou ao altar para preparar o passo seguinte da inicia��o. Neste momento,
os cantores come�aram a entoar o hino tradicional da feiti�aria chamado "Hino R�nico dos Feiticeiros", que Alex Sanders havia feito reviver de velhas fontes. �,
mais ou menos, assim:
"Noite escura e lua clara,
Leste, sul, oeste, norte,
Escutem o Hino dos Feiticeiros,
Aqui estamos para chamar os quatro.
Terra e �gua, Ar e Fogo,
Vara e pentagrama e espada,
Trabalhem segundo nosso desejo,
Ou�am nossas palavras.
Cordas e incenso, a�oite e faca,
Poderes da l�mina dos feiticeiros,
Acordem para a vida,
Venham quando ouvirem a encanta��o.
Rainha do Para�so, Rainha do Inferno,
Ca�ador de Chifres da Noite,
Emprestem seu poder � nossa prece,
Satisfa�am nosso desejo atrav�s do m�gico rito.
Por todos os poderes da Terra e do Mar,
Por todas as for�as da Lua e do Sol,
Que o nosso desejo seja atendido,
Que as palavras da prece se tornem realidade."
Alternavam este hino com uma can��o folcl�rica chamada "Johnny Cevada", cuja letra conta a hist�ria do ciclo de um gr�o e como ele se transforma em u�sque. N�o
consegui estabelecer uma rela��o entre esta can��o e a feiti�aria, mas acho que foi escolhida por ser uma m�sica forte, capaz de ajud�-los a manter os passos dentro
da batida.
A dan�a parou de repente a um erguer de m�os de Alex. A comunidade novamente formou um c�rculo e a candidata ao noviciado foi trazida atrav�s da Porta de Entrada,
com os olhos ainda vendados e usando a t�nica amarela. Debaixo desta roupa de brocado, suas m�os estavam amarradas, segundo a tradi��o da feiti�aria. Uma corda vermelha
estava enrolada em seu pesco�o, descendo pelas costas e, novamente, enrolada nos pulsos, devendo a novi�a manter os bra�os cruzados para tr�s do corpo. Seus tornozelos
tamb�m estavam amarrados, embora n�o t�o firmes quanto os pulsos, para que seus movimentos de caminhar n�o fossem totalmente tolhidos. Estas medidas s�o puramente
simb�licas e n�o t�m nenhuma implica��o er�tica. Coisa semelhante acontece em algumas inicia��es ma��nicas e n�o s�o t�o desconfort�veis como podem parecer. Alex,
agora, come�a a ler as recomenda��es � nova candidata:
"Escutai com aten��o as palavras da Grande M�e, que, antigamente, j� foi conhecida entre os homens pelos nomes de Artemis, Astarte, Dione, Melusine, Afrodite,
Dana, Arianrid e por muitos outros. Aos p�s de meus altares, os jovens de Esparta fizeram sacrif�cios. Sempre que tiverdes necessidade de alguma coisa, uma vez por
m�s, de prefer�ncia quando a lua estiver cheia, reuni-vos em algum lugar secreto e adorai meu esp�rito, pois sou a Rainha das Feiti�arias. Ide ent�o reunir-vos ansiosos
por aprender todas as magias, mas ignorantes ainda de seus segredos mais profundos. Ensinar-vos-ei coisas que ainda n�o s�o conhecidas. Sereis livres da escravid�o,
e, como sinal de que sereis realmente livres, estareis sempre nus durante os rituais. E dan�areis, cantareis, festejareis, fareis m�sica e amor. Tudo em minha homenagem,
pois a mim pertence o �xtase do esp�rito, e minha tamb�m � toda a alegria na terra, pois minha lei � amor em rela��o a todos os seres.
Mantende sempre puro vosso ideal mais elevado, lutai sempre por ele, n�o deixeis que nada vos fa�a parar ou desviar do caminho. Pois minha � a porta secreta
que se abre para a mocidade e a mim pertence a ta�a de vinho da vida: e o Caldeir�o de Cerridwen, que � o C�lice Sagrado da Imortalidade. Eu sou a Deusa da Gra�a,
que envia a recompensa da alegria aos cora��es dos homens - por sobre a Terra, espalho a sabedoria do Eterno Esp�rito; para al�m da Morte, ofere�o paz e liberdade
e reuni�o com aqueles que partiram antes."
A cren�a na vida espiritual depois da morte e na reencarna��o s�o os alicerces da religi�o da feiti�aria, e n�o a id�ia tola de que os feiticeiros lan�am pragas
e misturam po��es venenosas para encantar os inocentes.
O sacerdote continuou com suas instru��es � candidata:
"N�o exijo sacrif�cios, pois sou a m�e de todos os seres vivos e meu amor espalha-se sobre a Terra."
As instru��es continuaram com mais detalhadas descri��es dos poderes e simbolismos da Deusa-M�e, mas tudo tinha a mesma finalidade: que o novo membro da comunidade
adorasse os poderes da natureza, representados pelo princ�pio feminino da fertilidade e da cria��o e pelo princ�pio masculino da procria��o e do atendimento das
necessidades da vida. Nenhuma palavra sobre dem�nios, rituais sinistros, sacrif�cios ou outras fantasias negras, com as quais a feiti�aria � muitas vezes confundida.
Agora, o passo seguinte nesta inicia��o, como acontece em muitas sociedades secretas, � uma forma de ritual de morte e posterior renascimento dentro do grupo.
A comunidade de Alex tirou muito desta parte do ritual da chamada hist�ria de Aradia, um documento tradicional que Alex Sanders foi capaz de reescrever sob forma
de um manuscrito particular chamado "A Lenda dos Feiticeiros". Assim como a B�blia Crist� fala da cria��o do mundo por Deus, assim tamb�m a hist�ria de Aradia fala
do tempo em que "Diana foi criada antes de toda a cria��o, nela estavam todas as coisas; ela se dividiu, fazendo nascer de si pr�pria a primeira escurid�o e a primeira
luz. L�cifer, seu irm�o e filho, ela pr�pria e sua outra metade, era a luz."
O que isto significa � que a energia chamada luz foi o princ�pio da vida, fato de que nenhum f�sico nuclear ser� capaz de discordar, assim como ter� que aceitar
tamb�m o conceito de autodivis�o.
"L�cifer" n�o tinha, ent�o, a mesma significa��o que veio a adquirir, mais tarde, dentro de um conceito crist�o: um dem�nio ou anjo ca�do. Primitivamente, significava
"aquele que carrega a luz".
Na hist�ria de Aradia, encontramos o ritual do cerimonial da morte tal como foi apresentado aqui na inicia��o de Nikki. Patrick, o desenhista de modas, representava
o papel da morte, colocando um cr�nio negro sobre sua cabe�a e apontando a espada na dire��o do cora��o de Nikki. Nikki, neste ponto, j� tinha entrado no c�rculo,
livrando-se das roupas, uma pe�a de cada vez. Enquanto os outros feiticeiros se sentavam no ch�o, observando a cerim�nia, Nikki foi chicoteada de leve pelo sacerdote-chefe;
sua roupa j� tinha sido tirada, mas suas m�os continuavam amarradas, enquanto ela fitava a Morte, personificada por Patrick. Na lenda, a Morte estava t�o apaixonada
pela beleza de Aradia que queria ajud�-la:
"Fica comigo. Deixa-me colocar minha m�o gelada em teu peito."
Nikki havia decorado bem suas linhas:
- N�o te tenho amor.
- Se n�o me amas, tens que te ajoelhar ao a�oite da Morte.
- Se este � meu destino, que assim seja, - dizendo isso, colocou-se de joelhos diante da personifica��o da Morte.
Patrick, rapidamente, desvencilhou-se da espada e, erguendo o a�oite, deu na mo�a algumas leves chicotadas. Depois, ajudou-a a se levantar, dizendo:
"Aben�oada sejas!"
Neste momento, foi-lhe devolvido o colar de pedras que ela antes tinha tirado. Isto simboliza o princ�pio do renascimento.
A candidata, j� tendo passado pela Porta da Morte, estava agora em condi��es de ser admitida dentro da comunidade. Alex entrou novamente em cena, abra�ando a
garota pela cintura e conduzindo-a, nua, em volta do c�rculo, apresentando-a aos deuses e proclamando:
"Prestai aten��o, senhores do leste, sul, oeste e norte, que est� devidamente preparada para se tornar sacerdotisa e feiticeira."
Aqui, pela primeira vez, seu nome de feiticeira, que � um nome que todos adquirem no momento da inicia��o, foi usado por Alex.
O sacerdote-chefe virou-se, ent�o, para a nova sacerdotisa e, ajoelhando-se diante dela, falou:
- Aben�oados sejam teus p�s que te trouxeram aqui. - E beijou os p�s da mo�a.
Levantando-se, pronunciou as seguintes palavras:
- Aben�oados sejam teus joelhos que se dobrar�o diante do altar sagrado. - E beijou-lhe os joelhos.
- Aben�oado seja teu ventre sem o qual n�s n�o existir�amos. - E beijou-lhe os �rg�os sexuais. No caso da inicia��o de um homem em vez de uma mulher, a sacerdotisa
� quem celebra todos os ritos. Ela, ent�o, substituiria o termo "ventre" pela palavra "falo". Quanto ao resto, o ritual seria em tudo an�logo.
O sacerdote-chefe levantou-se diante da nova feiticeira, dizendo:
- Aben�oados sejam teus seios, formados de beleza e for�a. - E beijou-lhe os seios. - Aben�oados sejam teus l�bios, que pronunciar�o os nomes sagrados. - E beijou-lhe
os l�bios.
Isto � o chamado Qu�ntuplo Beijo.
A seguir, as medidas da iniciada s�o tomadas e anotadas, como uma esp�cie de registro dentro do rebanho da comunidade.
Seguiram-se mais quarenta leves chicotadas, ao final das quais, Alex disse:
- Tu passaste muito bem pelos testes. Est�s preparada para jurar que ser�s sempre fiel � Arte, sempre pronta para ajudar, proteger e defender teus irm�os e irm�s
de Sabedoria, mesmo que isto te custe a pr�pria vida?
- Estou, - respondeu Nikki numa vozinha tr�mula.
- Ent�o, repete comigo: "Eu,... em presen�a dos Poderosos, de minha pr�pria e livre vontade, muito solenemente, juro que guardarei segredo e nunca revelarei os
mist�rios da Arte, a n�o ser a pessoas apropriadas, devidamente preparadas dentro de um c�rculo como eu estou sendo agora. Juro tudo isto e mais ainda que nunca
esquecerei em toda a minha vida futura que no grupo fui registrada. Que todas as armas se virem contra mim se eu quebrar minha promessa solene."
Terminado o juramento, Nikki p�s-se novamente de p�, sendo ungida por algumas gotas de �leo e vinho e beijada nos l�bios pelo sacerdote.
A venda dos olhos foi retirada e Nikki p�de, finalmente, ver o que estava acontecendo a sua volta. Eu, por mim, acho que ver todas aquelas pessoas nuas me causaria
uma esp�cie de choque, mas, se ela estava perturbada, certamente n�o o demonstrou.
Descobri, depois, que o que Alex estava fazendo n�o era conduzir Nikki ao primeiro grau da Feiti�aria simplesmente, mas, sim, pelo menos teoricamente, coloc�-la
em condi��es de se tornar sacerdotisa. Isto n�o parecia nada prov�vel de acontecer, desde que Nikki sabia apenas o que tinha lido em alguns poucos livros que Alex
lhe havia emprestado, e n�o tinha dito ainda a oportunidade de praticar nada, com exce��o daquelas poucas linhas que havia pronunciado durante a cerim�nia de inicia��o.
O que hav�amos testemunhado constitu�a o primeiro grau em muitas comunidades. O segundo consiste de outra cerim�nia de purifica��o, seguida de uma proclama��o
aos p�s do altar: "Escutai-me, � Poderosos,... sacerdotisa e feiticeira consagrada, est� agora devidamente preparada para se tornar uma grande sacerdotisa e rainha
feiticeira!" Segue-se, depois, uma tr�plice dan�a em volta do altar, ao som de c�nticos, e a posi��o de ajoelhar em frente ao altar. � preciso que se explique que
"purifica��o" em feiti�aria significa entrar em c�rculo devidamente consagrado atrav�s dos instrumentos, adequados especialmente o athame. A feiticeira-rainha �
a cabe�a da comunidade. O termo � de alguma forma an�logo ao de gr�-sacerdotisa ou sacerdotisa-chefe, mas refere-se especialmente a seus poderes temporais e disciplinares.
A feiticeira de primeiro grau, querendo alcan�ar o segundo, tem que ser novamente amarrada com cordas. Nikki passou por tudo isso numa s� sess�o, um procedimento
muito raro; n�o h� d�vida de que, se isto aconteceu, � porque Alex achou que era poss�vel, ou talvez quisesse abrir uma exce��o, em vista de n�s estarmos filmando
tudo para a posteridade.
- "Para alcan�ar este grau sublime � necess�rio sofrer e ser purificado", - disse o sacerdote. - "Tu est�s disposta a sofrer para aprender?"
- "Estou".
- "Eu te purifico, ent�o, para que fa�as este grande juramento como ele deve ser feito."
Seguiu-se uma solene promessa de n�o divulgar quaisquer segredos para pessoas n�o-autorizadas. Ent�o, a candidata foi ungida com �leo e vinho e as cordas que
a amarravam foram removidas.
- "Tens obedecido � lei, mas presta bem aten��o: quando receberes o bem, � preciso que saibas retorn�-lo triplicado".
Este � um dos princ�pios b�sicos da feiti�aria - retornar tr�s vezes tudo que receber. A lei refere-se tanto ao bem quanto ao mal naturalmente, mas os feiticeiros
positivos ou "feiticeiros-brancos", n�o tomam a iniciativa do mal; limitam-se a faz�-lo voltar se ele lhes for enviado.
Na inicia��o ao segundo grau, a hist�ria de Ar�dia � novamente encenada. Mas Alex decidiu pular esta parte muito longa do ritual e passar diretamente ao terceiro
grau de inicia��o. A candidata mulher assume o papel de Os�ris, enquanto o gr�o-sacerdote se ajoelha diante dela. Em se tratando de um candidato do sexo masculino,
a gr�-sacerdotisa � que assumiria a posi��o de Os�ris. O terceiro grau desenrola-se todo em torno do chamado "altar erigido no lugar secreto" - eufemismo usado para
designar os �rg�os sexuais femininos. De fato, uma grande parte da inicia��o ao terceiro grau, tal como � feita por Alex Sanders, deriva de antigos mist�rios eg�pcios,
especialmente este de Isis, e cont�m muitas invoca��es interessantes como esta:
"O lugar sagrado era o ponto bem no meio do c�rculo. Como h� muito tempo nos vem sendo ensinado que o ponto central � a origem de todas as coisas, n�s devemos
ador�-lo. Assim, invocamos aquilo que adoramos."
Nikki estava agora ajoelhada no ch�o, nua, mas n�o mais usando as vendas. Dava um pouco a impress�o de uma donzela pronta para o sacrif�cio, � espera de que sua
cabe�a fosse decapitada. N�o sei at� que ponto lhe contaram o que estava para acontecer, mas, se ela sabia tudo que a esperava, certamente demonstrava um grande
controle. Para ser sincero, agora que suas roupas tinham sido retiradas, ela at� parecia mais calma e confiante.
Enquanto Carolyn e Linda seguravam uma coberta sobre Nikki, o gr�o-sacerdote rapidamente se desvencilhou do robe branco e colocou-se de joelhos a seu lado. Podia-se
ver, apenas, seus p�s por debaixo da coberta, mas o que ele fez foi adotar a posi��o desejada, em frente � mo�a, para executar o ato final da cerim�nia de inicia��o
- contato lingual com seus �rg�os genitais para simbolizar que a suprema for�a da vida a ser adorada � a for�a da cria��o.
Em poucos minutos, estava terminado; o cobertor foi retirado e Nikki levantou-se, com a cintura cingida por uma corda que lhe fora colocada pelo gr�o-sacerdote.
Esta corda passava a ser um de seus instrumentos de trabalho, juntamente com o athame, o a�oite, o pent�culo e o incenso.
A mo�a agora fitava o altar, enquanto o sacerdote permanecia de joelhos. A gr�-sacerdotisa, ainda coberta de transpar�ncia azul, estendeu a ele o c�lice de prata
cheio de vinho. Ainda de joelhos, ele tomou um pequeno gole. Os pulsos da mo�a foram, finalmente, libertados e ela se virou para fitar os outros como um novo membro
da comunidade de feiticeiros.
A m�sica come�ou a tocar e a comunidade inteira uniu-se numa festiva dan�a da cobra, sendo que, desta vez, Nikki tamb�m p�de tomar parte. Parecia excitada e quase
flutuando no ar; poder dan�ar era bem melhor do que ter que permanecer quieta por mais de uma hora, enquanto o ritual se desenrolava.
Outras cerim�nias e certos ritos secretos adiantados tamb�m envolvem contato sexual. Mas s�o, geralmente, representados por marido e mulher, ou casais perfeitos,
pois os adeptos da feiti�aria enfatizam a necessidade de harmonia perfeita conseguida atrav�s do trabalho entre casais.
Para a maioria dos feiticeiros, as maiores e mais importantes atra��es s�o a inicia��o e as cerim�nias desenvolvidas para marcar as quatro grandes festas do ano.
Apenas alguns poucos escolhidos participam de certos de tipos de c�rculos, onde se desenvolvem rituais m�gicos mais complexos.
Olhei para Bob e seus ajudantes. Todos suavam ainda mais profusamente que os dan�arinos nus. A aeromo�a parecia calma e Stephen estava ocupado colocando filme
na m�quina. Se algum deles, tomasse a decis�o de se transformar em feiticeiro, pelo menos j� conheciam um pouco do riscado. Isto foi o que pensei, enquanto caminhava
de volta para o hotel e para o s�culo vinte.
Na manh� seguinte, eu j� tinha conseguido e arrumado tudo para que um micro�nibus levasse a comunidade inteira at� Stonehenge, um monumento antigo que atrai turistas
de todo o mundo, n�o s� por sua impon�ncia, como tamb�m, pelo mist�rio levantado pela pergunta de quem o teria erguido. Muitos livros j� foram escritos sobre Stonehenge,
e ele j� foi chamado de templo, observat�rio, monumento dru�dico e muitas outras coisas. Acontece que quase tudo isto est� certo, pois, na realidade, Stonehenge
foi um santu�rio pr�-dru�dico, constru�do pelos seguidores da muito antiga feiti�aria que existiu no solo da Inglaterra, usado tamb�m como observat�rio para estudar
e determinar o movimento das estrelas. Mais tarde, foi ocupado pelos druidas e usado como templo e foi nesta ocasi�o, e somente ent�o, que sacrif�cios humanos ocorreram
ali. Uma vez, levei Sybil Leek a entrar em transe ali; ela come�ou a pronunciar palavras e nomes em grego, confirmando o que eu j� vinha suspeitando h� anos - que
habitantes pr�-hel�nicos da Gr�cia tinham invadido a Inglaterra e vivido aqui numa determinada �poca.
O objetivo de nossa visita naquela manh� de domingo n�o era a explora��o arqueol�gica, ou mesmo paraps�quica, do passado fascinante das ru�nas de Stonehenge.
A Ordem Dru�dica representa anualmente seu ritual ali, o que conta com a presen�a de grande p�blico. Portanto, achei que seria bastante justo deixar que os feiticeiros
que, afinal de contas, foram os construtores do local, ali tamb�m representassem o seu pr�prio ritual. Naturalmente, eu n�o contaria nada �s autoridades encarregadas
do monumento, pois nunca acreditariam em nada que lhes falasse sobre feiticeiros. Mas parece que houve uma pequena confus�o e, quando l� chegamos, nossa permiss�o
para filmagem n�o tinha sido recebida pelo zelador das ru�nas. Foi preciso que ele desse um telefonema a seu superior.
Procurei deixar bem claro que n�o ir�amos interferir com os visitantes e que s� quer�amos filmar um document�rio. Quando mencionei as tradi��es dru�dicas do lugar,
notei qualquer mudan�a na voz do oficial do outro lado da linha.
- O senhor deve saber perfeitamente que o ministro n�o acredita em druidas. Somos de opini�o de que eles nunca existiram.
Esforcei-me por n�o dar uma risada ao telefone e disse que isso n�o tinha a m�nima import�ncia, pois est�vamos ali para filmar um document�rio e, desde que algumas
pessoas pensavam que os druidas fosses reais, t�nhamos raz�es suficientes para continuar com nosso trabalho. Ele ponderou um pouco e acabou perguntando quantos n�s
�ramos ao todo. Quando soube que n�o pass�vamos de onze poss�veis druidas e tr�s produtores, deu-nos a devida permiss�o.
Instalamos nosso equipamento o mais r�pido e discretamente poss�vel, enquanto Alex e seus companheiros trocavam de roupa atr�s de duas gigantescas lajes de pedra.
Eles tinham pensado em realizar os rituais nus, mas a grande multid�o presente tornou isso imposs�vel. Tiveram, ent�o, que usar as roupas coloridas que reservam
para certos rituais ao ar livre, quando a nudez se torna imposs�vel ou n�o muito conveniente. Alex vestiu uma t�nica de veludo preto, enquanto as mo�as e rapazes
usaram v�rias cores diferentes. Maxine escolheu o azul, que, decididamente, parecia ser sua cor preferida. Cada feiticeiro tomou posi��o perto de uma das grandes
lajes de pedra que formam o c�rculo perfeito que constitui o antigo santu�rio.
Alex colocou-se de p� entre duas colunas de pedra que representavam a entrada para o mundo subterr�neo. Preparavam-se para apresentar o rito feiticeiro de "Halloween",
dedicado ao deus da morte e da ressurrei��o, pois "Hallows", como os feiticeiros ingleses preferem denominar o dia, n�o � uma celebra��o de gra�as por um bom ver�o
e uma boa colheita, mas uma sombria lembran�a dos mortos, exatamente como o dia dos mortos no calend�rio crist�o. Este fato n�o constitui um acidente, pois os crist�os
fizeram este seu dia santo coincidir com o dos pag�os justamente para se beneficiarem de uma antiga rela��o j� existente.
Alex atirou-se ao ch�o diante das colunas de pedra, permanecendo assim por algum tempo, enquanto a comunidade dan�ava em carretel no centro do santu�rio. Depois,
ergueu-se dos mortos e retornou a seu rebanho, mas com a cabe�a coberta por um v�u, significando o conhecimento de novos mist�rios que ele havia recebido dos l�bios
da Morte.
Durante todo este tempo, as c�maras trabalharam sem parar, Bob Wiemer correndo e pulando entre os celebrantes, tentando tomadas de todos os �ngulos. Os turistas
pensavam que se tratava de uma atra��o regular e os guardas passeavam por ali sorrindo, especialmente para Carolyn e Linda, que estavam simplesmente soberbas com
aquelas roupas.
Quando tudo terminou e os ventos gelados de Salisbury levaram os turistas embora, a comunidade voltou a vestir suas roupas normais e novamente embarcamos no micro�nibus
para a longa viagem de volta, interrompida somente pela grande institui��o inglesa - o ch� - que nem mesmo os feiticeiros dispensam.
Eis o texto original do ritual representado em Stonehenge:
"Senhor Terr�vel das Sombras, Deus da Vida, Doador da Vida, o conhecimento de ti � o conhecimento da Morte.
Imploramos que abras de par em par os port�es pelos quais teremos que passar.
. Permite que nossos entes queridos que j� partiram voltem esta noite para que, juntos, festejemos com alegria.
E, quando nossa hora chegar, como por certo chegar�, 6 Senhor do Conforto e do Consolo, doador da paz e do repouso, leva-nos a entrar em teus dom�nios com alegria
e sem medo. Pois sabemos que, quando repousarmos entre nossos entes queridos, renasceremos outra vez por tua gra�a e a gra�a da Grande-M�e.
Que tudo seja no mesmo lugar em que se encontram nossos amigos que partiram antes, para que possamos reencontr�-los, reconhec�-los, relembr�-los, relembr�-los
e am�-los novamente.
Vem a n�s, teu sacerdote e teus servos.
Algumas semanas mais tarde, depois de ter regressado da Inglaterra, recebi um telefonema do Departamento Brit�nico de Turismo:
- Aqui fala aquele oficial que lhe deu permiss�o para filmar um document�rio em Stonehenge. Soube que o senhor trouxe setenta e cinco atores, ao contr�rio do
que me havia dita.
Tive que morder com for�a os l�bios para evitar uma gargalhada:
- N�o, senhor, �ramos somente onze, exatamente onze. A voz do outro lado do fio pareceu aliviada:
- Ah, bom... mas, de qualquer maneira, o senhor n�o me havia dito que traria atores.
- E n�o levei realmente. N�o se tratava de atores, mas de feiticeiros verdadeiros.
Pensando melhor, eu estava perdendo meu tempo. Se eles l� n�o acreditavam em druidas, como poderiam aceitar a exist�ncia de feiticeiros?
2 - POR QUE AS PESSOAS SE TORNAM BRUXAS?
Por que uma atraente garota de vinte anos como Nikki seria levada a se tornar bruxa? Antes de mais nada, abandonar sua pr�pria religi�o nunca � f�cil, mesmo que
a pessoa n�o a pratique realmente ou n�o a leve muito a s�rio. N�o se pode deixar de levar em considera��o uma s�rie de fatores: pais, amigos, emprego e a sociedade
em geral. Apesar de toda a toler�ncia declarada por aqueles que seguem a bruxaria, esta pr�tica n�o � facilmente aceita pelo indiv�duo comum, como a de tocar piano
ou jogar golfe.
Basicamente, as pessoas podem ser classificadas em duas categorias no que diz respeito a sua rea��o em rela��o � bruxaria. A grande maioria simplesmente n�o acredita
na exist�ncia de tal coisa, ou pelo menos, que se trate de uma religi�o aut�ntica, quer dizer, uma religi�o na verdadeira acep��o da palavra. Para eles, pertencer
a um desses grupos n�o passa de uma piada: de uma atitude imatura de crian�as procurando a sensa��o forte de uma travessura; de coisa de pessoas que tentam iludir-se,
pensando que s�o capazes de praticar magias, mas que, na verdade, s�o pessoas frustradas, que necessitam de um pouco mais de aten��o para poderem compensar a monotonia
de suas vidas vazias.
Quando est�vamos filmando um document�rio para a televis�o sobre a bruxaria, Bob Weimer concebeu uma maneira muito engenhosa de dar in�cio ao show, uma esp�cie
de forte est�mulo para preparar o p�blico. Tomamos posi��o no alto de Primrose Hill em Londres, instalamos a c�mara sob as �rvores e ficamos esperando. Primrose
Hill � um parque onde os druidas se encontram para seus rituais e festivais anuais. Assim que se aproximava um inocente transeunte, eu surgia por detr�s dos arbustos
com um microfone e repetia a mesma pergunta. A coisa desenrolava-se, mais ou menos assim:
- Perdoe-me, senhor, mas estamos perto de Halloween e gostaria que o senhor me respondesse � seguinte pergunta: Como deve ser uma bruxa?
- Ha, ha, ha! Que pergunta tola! Bruxas n�o existem!
- Mas, se existissem, qual a apar�ncia que o senhor acha que deveriam ter?
- Acho que... uma velha horrorosa montada numa vassoura, com uma grande verruga no nariz... um chap�u preto na cabe�a... tinha que ser mesmo � muito feia.
Fiz a mesma pergunta a homens, mulheres, crian�as, jovens e velhos. Obtive uma variedade de respostas, mas nenhuma se aproximava, pelo menos, da verdade.
Finalmente, para atingir o objetivo do filme, virava-me para uma mo�a loura, vestida na �ltima moda, sentada num banco do parque:
- E a senhorita, como acha que uma bruxa deve ser?
- Bem, para falar a verdade, o senhor est� olhando para uma delas. Eu sou feiticeira.
Tratava-se, naturalmente de Maxine, a grande sacerdotisa, que tinha sido propositalmente colocada naquele banco como parte de nossa cena inicial.
� claro que muitas pessoas n�o acreditam, nem t�m conhecimento de que feiticeiros ainda existem e praticam sua antiga arte.
Mas um n�mero consider�vel de pessoas, especialmente pessoas com conhecimentos de religi�o e do oculto, ouviram falar de pr�ticas de bruxaria e sabem que existem
bruxos na Inglaterra e em muitos lugares.
A menos que eles pr�prios tenham estado presentes a uma reuni�o - termo normalmente utilizado pelos feiticeiros para designar suas cerim�nias - aumentam id�ias
um tanto estranhas e selvagens sobre o que pode acontecer quando feiticeiros se re�nem.
Existem ainda os puritanos, que n�o suportam admitir um pensamento sobre a adora��o da fertilidade.
O que estou querendo deixar bem claro � que a maioria das pessoas apresenta rea��es que variam de uma hostilidade declarada a uma muda desaprova��o, e que a Antiga
Religi�o � encarada como alguma coisa primitiva, remanescente de um est�gio muito atrasado do desenvolvimento do homem, algo indesej�vel e in�til.
Porque um n�mero t�o grande de pessoas ainda sente, pensa e age desta maneira, a bruxaria ainda continua sendo um culto secreto. As persegui��es chegaram ao fim
e as pessoas n�o s�o mais queimadas numa fogueira por serem bruxas ou acusadas de o serem, o que era exatamente a mesma coisa. Mas elas s�o desprezadas por serem
o que s�o e, numa �poca em que a comunica��o � a chave da felicidade do homem e da sua sobreviv�ncia entre seus semelhantes, isso n�o poderia ser pior.
Ao escrever este livro, tive a inten��o de mostrar a verdade e acabar com as fantasias, a fim de que as antigas tradi��es pudessem ser devidamente compreendidas
por aqueles que se interessem em ler alguma coisa sobre elas. Nisto, encontrei o apoio e o incentivo de muitos sacerdotes da bruxaria. Nem todos, � verdade, pois
existem conservadores tamb�m na feiti�aria que ainda acham que o segredo total � sua �nica t�bua de salva��o. Mas l�deres progressistas como Sybil Leek, Alex Sanders,
Anne S., George B., Bill J. e muitos outros permitiram-me publicar alguma coisa de seus rituais e quase tudo de suas cren�as e seu trabalho. Se alguns deles, aqui
neste livro, precisam esconder sua identidade atrav�s de iniciais, isto acontece para proteger seus empregos no sistema mundano.
Por que alguns indiv�duos se tornam feiticeiros? Por que realmente o fazem?
Antes de mais nada, existe o elemento negativo. A religi�o, no sentido tradicional, n�o mais oferece ao homem a dire��o espiritual e o conforto necess�rios nestes
nossos tempos de conflitos, como ocorria na �poca em que a Igreja representava a grande pot�ncia do mundo. As pessoas divorciam-se; rezam e n�o obt�m respostas;
s�o feridas por outras pessoas, e as igrejas? Colocam-se de lado em rela��o a todos estes acontecimentos, declarando nada poderem fazer, pois isto, dizem, faz parte
dos des�gnios de Deus. Verdade. Talvez; prefiro n�o discutir. Mas, para aqueles que procuram uma ajuda pr�tica e eficiente, isto � uma grande e forte raz�o para
abandonarem a religi�o. E acabam por faz�-lo, saindo, depois, em busca de alguma coisa capaz de saciar sua sede espiritual. O homem n�o pode resistir sem uma esp�cie
de �ncora espiritual ou f�. Os ate�stas s�o indiv�duos amargos, em muito menor n�mero do que se possa imaginar, que t�m sempre a apresentar um forte argumento em
defesa dos poderes aparentes e palp�veis da ci�ncia, mas s�o incapazes de encontrar respostas para muitas perguntas b�sicas. O homem, como j� disse, necessita de
uma religi�o, e o ate�smo n�o passa de um vazio.
Ouvem, ent�o, falar de uma antiga f�, que nada exige no que diz respeito a sacrif�cios, e oferece ritos pr�ticos atrav�s dos quais as pessoas podem alcan�ar o
que almejam. Que outra f� pode ser mais bem recebida do que esta, se tudo isto for verdade? N�o se pedem contribui��es em dinheiro. As pessoas t�m a chance de estabelecer
liga��es secretas, encontrar outras pessoas com inclina��es semelhantes, e, com isso, sentir-se alguma coisa especial. Acima de tudo, existe a promessa de que seu
esfor�o trar� resultados tang�veis e imediatos.
Ao contr�rio do err�neo conceito popular, a excita��o sexual n�o � uma das raz�es por que as pessoas se v�em atra�das pela feiti�aria. Mesmo que o sexo fosse
importante no sentido que lhe � atribu�do pela maioria dos americanos, o que certamente n�o acontece entre os membros da Arte dos S�bios, isto serviria mais para
espantar novos adeptos do que para atra�-los - especialmente as mulheres, que ainda constituem a maioria entre os novos feiticeiros em potencial.
Richard Gardner, um feiticeiro muito culto de Londres que' eu conhe�o, declarou que o problema com a ortodoxia � que a superioridade masculina � venerada em todas
as coisas, quer mundanas ou espirituais, enquanto que a bruxaria coloca o princ�pio feminino na frente do masculino. Quando os conceitos matriarcais prevalecem,
o homem aprende grandes verdades e participa de segredos que podem dar nova dire��o � sua vida. Logo, o que atrai as pessoas que s�o sinceras em seu desejo de entrar
para a bruxaria � a grande motiva��o sempre existente no homem: controlar seu destino. Neste ponto, j� n�o se torna mais t�o dif�cil renunciar � sua religi�o de
inf�ncia, principalmente se isto for feito discretamente, sem alarde. Nem isto a maioria das pessoas chegam a fazer, se est�o desiludidas com sua f�. Continuam a
pertencer nominalmente � antiga religi�o, mas na verdade n�o a praticam e nem comparecem mais � igreja ou sinagoga.
Aqueles que se rebelam contra sua religi�o abertamente, a ponto de levantarem gritos de protesto de suas fam�lias e a desaprova��o da comunidade, acabam, um dia,
procurando engajar-se em outra f�. Mesmo essas pessoas que t�m a coragem e a ousadia de enfrentar todos os problemas que acarretam o afastamento de uma institui��o
organizada do tipo que � a igreja, n�o o fazem com a inten��o de se livrarem da religi�o como tal. Mais cedo ou mais tarde, viram-se para uma f� mais promissora.
A maioria dos feiticeiros que conheci eram antes cat�licos, mas alguns eram judeus ou protestantes. Nunca soube de um ex-unit�rio ou outro crist�o-liberal que tivesse
procurado a bruxaria apenas porque a igreja crist� liberal possu�sse alguns ideais semelhantes. A maior queixa � de que sua antiga f� n�o lhes oferece nada al�m
de promessas vagas, em troco das quais eles t�m que se sujeitar a uma s�rie de exig�ncias. Eles rejeitam a no��o do pecado original e de um Deus cheio de �dio e
sentimentos de vingan�a, e acham imposs�vel rejeitar os aspectos alegres da vida por raz�es meramente intelectuais.
O sentimento de pertencer a um grupo selecionado e proibido - proibido no que diz respeito � reputa��o - tamb�m representa um forte atrativo, especialmente para
as pessoas que levam uma vida vazia e mon�tona. Mas a feiti�aria n�o serve de t�bua de salva��o neste sentido; ningu�m se torna fan�tico dentro dela, pelo menos
n�o na mesma extens�o do que acontece dentro do cristianismo. O fato de a congrega��o ser sempre reduzida (nunca mais que treze pessoas), a conseq�ente intimidade
em que se desenrola o ritual e o processo democr�tico de participar da pol�tica do grupo tamb�m representam vantagens adicionais para indiv�duos que nunca teriam
influ�ncia no governo de uma igreja ortodoxa ou uma sinagoga. N�o conhe�o ningu�m que tenha aderido � feiti�aria por querer aprender magia a fim de se vingar de
algum inimigo. A bruxaria n�o pode ser encarada como uma maneira de lograr a lei natural, mas, sim, como um meio de conhecer mais sobre ela e, talvez, neste processo,
compreender um pouco mais sobre si pr�prio.
Para uma pessoa condicionada dentro do cristianismo no Ocidente ou nas religi�es ortodoxas do Oriente, � dif�cil compreender como algu�m pode duvidar de seus
deuses e profetas. Para muitos, o simples fato de n�o se acreditar na divindade de Jesus Cristo j� representa, por si s�, uma atitude pecaminosa. No entanto, esquecem-se
de que a bruxaria j� existia milhares de anos antes de Cristo ter nascido.
Perguntei aos membros de algumas comunidades por que eles se tinham tornado bruxos. Charles, o jovem que aspira a ser sacerdote dentro da bruxaria, sentiu-se
atra�do pela Antiga Religi�o como resultado de seu ambiente de trabalho: passando a maior parte de seu tempo entre antiguidades orientais, ele aprendeu a considerar
de outra forma sua cren�a e chegou � conclus�o de que todas as religi�es, n�o apenas a sua, t�m bases id�nticas. Seu misticismo inato levou-o a se tornar fascinado
pelos conceitos de Alex Sanders no dia em que o conheceu.
Conheci uma professora que pertencera ao grupo de Alex Sanders at� o dia em que teve que se mudar e unir-se a outro grupo nos sub�rbios. Ela me confessou o quanto
o grupo havia significado para ela. Nele encontrou uma esp�cie de liberta��o das algemas da sociedade, uma igualdade imposs�vel de ser encontrada numa religi�o convencional
e, acima de tudo, um esp�rito de grande alegria durante os servi�os, o que ela nunca havia visto em nenhum tipo de massa.
Negar, n�o apenas a divindade de Jesus Cristo, mas sua pr�pria exist�ncia, n�o � o �nico grande pecado atribu�do aos feiticeiros. O outro � o fato de representarem
seus rituais nus. Numa sociedade saturada de exibicionismo sexual, este fato tem cada vez menos import�ncia, mas h� pouco menos de vinte anos isto representava um
esc�ndalo. Mesmo agora, os feiticeiros ainda n�o podem trabalhar nus livremente ao ar livre, a n�o ser em �reas particulares e longe das vistas do p�blico. Como
se sentem os feiticeiros - homens e mulheres - diante do fato de se apresentarem nus na presen�a de doze outras pessoas de ambos os sexos? Acostumam-se plenamente
a isso depois de algum tempo. Para alguns iniciantes, no entanto, n�o se pode negar que isso representa um problema. A professora confessou que teve necessidade
de vestir um robe nas primeiras vezes em que participou de um c�rculo. Alex nunca insistiu para que ela tirasse a roupa antes que se sentisse suficientemente � vontade
para tal. Um dia, ela compreendeu o quanto a sua atitude tinha de imatura e arrancou o robe. Ningu�m se preocupou em olhar para ela. Todos estavam nus e, de alguma
forma, isto lhes conferia maior moralidade do que se estivessem vestidos: tinham que cuidar mais de seus olhares para n�o ofender ningu�m, pois Alex e Maxine n�o
toleravam qualquer comportamento libidinoso em sua comunidade. Para falar a verdade, Maxine usa uma vara quando um dos novos rapazes se torna excitado diante da
vis�o de um corpo nu de mulher e n�o consegue controlar seu impulso natural: uma pancadinha com a vara o faz voltar � realidade e adotar um comportamento mais digno.
N�o �, com vistas a tal tipo de excitamento e sentimentos que as pessoas se tornam feiticeiras, pois n�o existem orgias dentro da bruxaria. Nenhum rapaz procura
a oportunidade de atrair uma bonita feiticeirinha em um encontro, pois quase todo mundo possui seu par e, se n�o s�o casados, est�o, pelo menos, comprometidos.
Outro tipo de motiva��o que n�o existe � o exibicionismo, embora, sem d�vida nenhuma, muitos feiticeiros sintam um genu�no prazer na nudez, proveniente do grande
relaxamento que isso lhes traz. Este prazer se estende � liberdade de movimentos que a falta de roupas lhes permite na dan�a e � satisfa��o de n�o terem que se preocupar
com as apar�ncias. Isto � a coisa mais natural do mundo. Eu pr�prio costumo trabalhar com pouca roupa, pois me aborrece ter que usar sapatos enquanto penso. Muitas
pessoas que n�o t�m nada a ver com a bruxaria tamb�m gostam de andar nuas dentro de casa. A quem interessa, afinal de contas, o que eu uso ou deixo de usar? Se o
fato de estar nu � natural quando estou sozinho ou com minha esposa, por que seria um pecado se os outros casais presentes tamb�m pensam da mesma maneira?
Geralmente, o corpo de uma mulher � mais bonito do que o de um homem e isto constitui um dos processos da natureza para levar o homem a desejar a mulher, garantindo,
assim, a continua��o da esp�cie. Mas conheci mulheres feiticeiras tristemente gordas ou malfeitas de corpo e isto n�o lhes parecia trazer nenhum sentimento de vergonha
quando estavam nuas diante da comunidade. Se o prazer de atrair o outro sexo fosse a raz�o principal de aparecerem sem roupas, certamente elas n�o haveriam de querer
exibir seus mal aquinhoados corpos numa luz t�o desfavor�vel; haveriam de preferir disfar�ar e esconder os pontos negativos. No entanto, feiticeiros - homens e mulheres
- aparecem de todos os tamanhos e formas e, como acontece entre os nudistas, isso n�o estimula o apetite sexual.
Acho que acabei de apresentar raz�es suficientes para que se acredite que os feiticeiros que se apresentam nus s�o sinceros em sua convic��o de que o corpo humano
somente est� livre para utilizar seu poder quando n�o est� coberto por roupas. Se eles sentem prazer nesta liberta��o das conven��es, ent�o, esta � uma alegria genu�na
e sincera que s� pode ser aprovada pela natureza; de outra maneira, ter�amos nascido vestidos.
Afinal de contas, o que � que a bruxaria oferece que as outras religi�es n�o t�m? Naturalmente que dan�ar nu e recitar f�rmulas m�gicas n�o podem ser seus �nicos
atrativos. Deve haver alguma outra coisa capaz de explicar este t�o forte fasc�nio que exerce sobre um n�mero cada vez maior de pessoas.
Acreditar somente n�o garante por si s� os resultados, mas se esta cren�a vier combinada com uma a��o f�sica, a efici�ncia do processo ser� mil vezes aumentada.
Os feiticeiros aprendem desde cedo e acreditam seriamente que a dan�a e o canto levantam "o poder", que consiste numa for�a el�trica que emana de seus corpos e que
poder� ser devidamente utilizada sob a dire��o do sacerdote ou da sacerdotisa.
N�o confundamos a feiti�aria ocidental com o vodu africano ou outros cultos de terror que ainda existem entre certos povos primitivos da Am�rica do Sul. O terror
� capaz de matar ou de criar uma a��o, mas os feiticeiros n�o trabalham neste sentido. A a��o da comunidade � conhecida apenas por seus membros e as poss�veis v�timas
nunca t�m consci�ncia do que lhes est� sendo feito ou, pelo menos, tentado. Logo, n�o podemos responsabilizar o terror ou o conhecimento antecipado por certos resultados
surpreendentes alcan�ados pela feiti�aria.
A concentra��o da for�a do pensamento por um �nico indiv�duo pode alcan�ar outro, mesmo a dist�ncia. Este fato recebe o nome de telepatia e o trabalho que explora
esta capacidade humana � geralmente designado por "percep��o extra-sensorial" (PES). O que a feiti�aria faz � organizar esta mesma faculdade humana e, conseq�entemente,
multiplicar os resultados, controlar a dire��o e transformar uma tentativa mais ou menos �s cegas numa arma certa, segura e eficaz para o bem. Pode acontecer, n�o
nego, que uma rara comunidade seja dominada por um sacerdote do mal ou negro, mas qual o grupo humano que n�o corre este rico?
O poder inerente � Bruxaria n�o � nem branco nem preto, mas pode ser usado de uma maneira ou de outra, dependendo do desejo de quem o invoca, do mesmo modo que
uma arma pode ser usada para sustentar ou atacar a lei. O grupo de Alex, por exemplo, levanta o poder em seus encontros regulares nas noites de s�bado e o conduz
em dire��o a um membro ausente que esteja precisando de ser curado de algum mal, ou o pressiona dentro da mente inconsciente de alguma pessoa poderosa que eles desejem
que aja de maneira diferente da maneira por que vem agindo at� ent�o.
Isso constitui um jogo perigoso? Em m�os erradas, pode ser que sim. Eu, pessoalmente, nunca encontrei um feiticeiro que n�o empregasse os poderes de seu culto
para o bem, de uma maneira ou de outra. Os poucos feiticeiros negros que exercem seu of�cio em segredo s�o, na verdade, os maiores inimigos dos feiticeiros brancos
e eles � que constituem, naturalmente, o objetivo das miss�es de "busca e destrui��o" levadas a efeito por v�rias ag�ncias de prote��o da lei.
Embora o poder seja geralmente enviado na dire��o de um trabalho construtivo, quando se torna necess�rio punir um transgressor, este mesmo pode ser utilizado
para o castigo. Um dos homens da comunidade de Alex cometeu, uma vez, um grande e grave erro contra a natureza, seduzindo sua pr�pria filha durante um ritual. Apesar
da liberalidade de Alex em rela��o a assuntos t�o pessoais como o sexo, isto o chocou e revoltou tremendamente. Imediatamente expulsou o culpado e, no s�bado seguinte,
usou o poder da comunidade para puni-lo.
O que aconteceu? Um homem at� ent�o saud�vel, este indiv�duo caiu doente de uma dia para o outro e sofre at� hoje do que os m�dicos diagnosticaram como "�lcera
de causa desconhecida". Foi esta a �nica ocasi�o em que Alex se viu for�ado a usar o poder no sentido negativo de um encantamento para o mal, mas ele acha que agiu
certo, segundo os moldes e princ�pios da Arte dos S�bios.
Conhe�o um caso semelhante de uma bruxa muito conhecida que usou seus poderes para punir um homem que quebrou sua palavra num assunto de grande responsabilidade.
A maioria das pessoas naturalmente apresentar� o argumento de que os tribunais s�o os lugares mais adequados para que se exer�a justi�a, mas ser� que realmente o
s�o? Qualquer caso normal nos Estados Unidos leva, pelo menos, dois anos para chegar a julgamento, nunca se pode ter a certeza dos resultados deste julgamento e
os custos do processo s�o alt�ssimos. A justi�a da bruxaria, por outro lado, � r�pida e eficiente.
O homem castigado pela magia negra - que consiste na concentra��o de uma energia negativa dirigida a seu corpo e mente - torna-se tremendamente fraco e cansado.
Ele n�o morrer� por isso, mas suas atividades normais ser�o muito abaladas. Naturalmente, quem enviou esta for�a negativa pode retir�-la ou anul�-la, enviando uma
for�a positiva em seu lugar. Mas � preciso, antes de tudo, que o culpado o mere�a.
A maioria das acusa��es de lan�ar um feiti�o a um vizinho ou seu rebanho n�o passa da express�o de supersti��o de pessoas ignorantes dirigida contra algu�m que
se torna suspeito por parecer diferente. Mas o poder combinado dos membros de uma comunidade pode reunir e enviar suficiente for�a de pensamento capaz de afetar
e alterar a vontade pr�pria de outra pessoa. N�o h� nada de sobrenatural em rela��o a este fato; tudo n�o passa de um conhecimento simples de como trabalhar com
as leis naturais e as for�as interiores que todos possu�mos.
O conhecido desenho animado Sino, Livro e Vela mostrava algumas feiticeiras pronunciando palavras m�gicas que apagava as luzes das ruas, abriam portas trancadas
e realizavam milh�es de outros truques. Como os rituais de O Beb� de Rosemary, essas cenas foram imaginadas por autores que n�o conhecem nada sobre a verdadeira
feiti�aria e que leram alguns livros cujos escritores quase nada sabiam sobre satanismo ou magia negra, o que, ali�s, n�o tem nada a ver com feiti�aria.
Uma rapariga solit�ria procura uma cigana ou feiticeira do Harlem em busca de um rem�dio para fazer mudar de id�ia um amante em potencial a fim de faz�-lo interessar-se
mais por ela. A falsa feiticeira lhe vender� um amuleto sem valor nenhum, desde que nenhuma comunidade lhe imprimiu a for�a combinada de seus pensamentos. O �nico
pensamento que lhe foi fixado foi o pensamento ganancioso que o vendedor tinha em mente.
Imaginem agora que esta mesma rapariga apaixonada fosse membro de uma comunidade que conhe�o. As coisas seriam bem diferentes. Tomemos o caso de Jane, por exemplo.
Ela tem um namorado que gosta realmente muito dela, mas n�o consegue encontrar coragem para se declarar. Depois de se encontrar com ele durante um ano de "chove
n�o molha", Jane est� a ponto de desistir at� que, um dia, acaba discutindo seu problema com uma amiga, Gl�ria, que � uma feiticeira. Um m�s depois, Jane � levada
a conhecer o sacerdote. Tr�s meses depois, � uma feiticeira iniciada que parece adorar sinceramente sua nova atividade. Mas, seu namorado, nada de se resolver e
Jane sofre muito com isso. Seu caso � colocado na lista das causas consideradas justas e, na primeira noite de lua cheia, na cerim�nia de sab�, a comunidade se decide
a ajud�-la. O poder � levantado, como sempre, atrav�s do canto, da dan�a e dos rituais e, ent�o, dirigido a Frank, ordenando-lhe que procure Jane e lhe declare seu
amor. Depois da cerim�nia, a garota veste-se novamente, n�o muito convencida dos resultados do trabalho, mas, de qualquer forma, agradecida pela tentativa.
Mal acaba de abrir a porta de seu apartamento, quando o telefone toca. J� � muito tarde e Frank desculpa-se pela hora e, ent�o, livre e abertamente, lhe confessa
uma grande necessidade de v�-la. "Venha imediatamente", Jane lhe responde, radiante. Duas semanas depois, est�o casados.
Existe, ainda, o caso de um certo membro do Parlamento que insiste em manter um projeto de lei hostil � liberdade de culto. Este projeto, provavelmente, nunca
passaria, mas os feiticeiros n�o gostam de facilitar nestes assuntos. No auge da campanha eleitoral, a comunidade lan�a sua magia e o pol�tico, para surpresa geral,
muda sua posi��o e retira o projeto.
As pessoas alcan�adas pelo poder da bruxaria n�o t�m consci�ncia da fonte artificial de seus pensamentos e a��es. Isto torna muito dif�cil qualquer possibilidade
de provar uma rela��o entre a a��o dos feiticeiros e os resultados, mas eu j� examinei muitos casos e posso garantir sua validade. Existem evid�ncias de que o pensamento
concentrado, levantado pela uni�o da for�a de v�rias pessoas e canalizados numa dire��o definida, pode alcan�ar seu objetivo, da mesma maneira que um raio de luz
alcan�a uma �rea espec�fica.
Naturalmente, n�o existe nada de miraculoso neste fato e n�s n�o precisamos recorrer a explica��es envolvendo o diabo, dem�nios ou outras criaturas do inexistente
mundo do al�m. O que existe, realmente, � o conhecimento e a aplica��o do conhecimento de que o homem possui uma for�a de pensamento que ele pode usar para influenciar
mentalmente outras, pessoas - uma esp�cie de onda de r�dio enviada de uma esta��o transmissora para um receptor existente na mente dessas pessoas.
Ser� poss�vel que as feiticeiras tenham o poder de praticar alguns desses truques que aparecem no cinema e na televis�o? Eu nunca vi uma feiticeira apagar a luz
da rua, mas conhe�o in�meros casos de esp�ritos habitando casas mal-assombradas que j� realizaram, aud�vel e visivelmente, coisas semelhantes e at� bem mais complicadas.
Um exemplo que posso citar agora � o fantasma que vive na casa do psiquiatra, Dr. Samuel Kahn, em Nova York. Tanto o m�dico como sua esposa viram claramente o interruptor
da luz ligar-se e desligar-se sozinho. Outro caso � o daquele pobre fantasma que tinha que dividir sua casa com seus descendentes - um arquiteto naval e uma pintora
famosa. Na presen�a de pessoas sens�veis e mentalmente s�s* uma faca ergueu-se no ar por si s� e, vagarosamente, desceu num arco perfeito, indo cravar-se num ponto
a seus p�s.
Registrei esses e muitos outros incidentes em meus livros e, embora eles se devam � exist�ncia de for�as inerentes a formas de energia n�o liberada chamadas fantasmas,
s�o relacionados, tecnicamente, a for�as que podem ser usadas por pessoas vivas, praticantes de feiti�aria, com prop�sitos similares.
Embora eu n�o estivesse presente ao incidente que vou narrar agora e n�o possa, por este motivo, oferecer garantias pela veracidade de todos os detalhes do caso,
conhe�o a senhora em quest�o suficientemente bem para presumir que ela realmente fez o que alega ter feito na ocasi�o. Tudo aconteceu; durante uma se��o esp�rita,
durante a qual Eileen Garrett deveria falar sobre o mediunismo f�sico com os presentes. Entre estes, encontrava-se o ator e cantor Yul Brynner, que apresentava d�vidas
quanto � efici�ncia desses poderes. Num determinado momento, quando o senhor Brynner estava fora da sala, para que n�o se dissesse mais tarde que ele tinha sido
influenciado mentalmente, a m�dium sugeriu que ele n�o seria capaz, de usar seu viol�o, por mais que o tentasse. Quando Brynner voltou � sala pronto para cantar
e tocar, percebeu que seus dedos n�o conseguiam arrancar um som do instrumento apesar de seus esfor�os. Estarrecido, olhou para os outros convidados,, que estouraram
em risadas. Depois que a Sra. Garrett lhe explicou as for�as que havia usado e como o havia feito, tudo voltou ao normal.
O que este caso procura provar � que existe uma psicocin�tica que entra em a��o quando os feiticeiros fazem um objeto f�sico mover-se ou exercem sobre eles uma
influ�ncia aparentemente contra as leis normais de causa e efeito. Em outro cap�tulo deste livro, abordarei a correla��o existente entre a feiti�aria e a PES. Mas,
desde j� posso adiantar que tudo que uma feiticeira faz ou pode fazer encontra uma explica��o baseada na exist�ncia de uma estranha faculdade humana que constitui
mat�ria de estudo de um ramo da psicologia denominado parapsicologia.
Embora n�o exista necessidade de que uma divindade onipotente exer�a sua influ�ncia no mundo atrav�s da feiti�aria, o fato de essas leis funcionarem sugere que
exista um poder al�m do homem, poder que deu ordem ao universo e capaz, portanto, de modificar esta ordem.
Os feiticeiros n�o esperam que a Deusa-M�e em pessoa des�a da Lua e apare�a entre eles. Mesmo porque ela n�o pode fazer isto, j� que se encontra presente no corpo
e no esp�rito da sacerdotisa-chefe da comunidade, da mesma maneira que o Deus de Chifres habita a pessoa do sacerdote-chefe durante os servi�os.
A que conclus�o se pode chegar afinal? Por que os indiv�duos se tornam feiticeiros? Para participar de cerim�nias interessantes, para aprender alguma coisa mais
do que o convencional sobre os poderes mentais e as leis misteriosas que regem o universo. Mas, acima de tudo, tornam-se feiticeiros porque juntamente com outros
como eles pr�prios podem praticar magias, provocar acontecimentos aqui e agora, e n�o em algum lugar m�stico al�m das estrelas, quando as trombetas soarem e os bons
forem para o c�u e os maus para o inferno. Os feiticeiros n�o acreditam no para�so, nem no inferno, nem no diabo. Acreditam na vida eterna, na imortalidade da alma
ou esp�rito humano e no ciclo eterno de reencarna��o, que constitui o �nico meio de premiar os justos e punir os �mpios.
No momento em que voc� compreender o que � a bruxaria e, principalmente, o que ela n�o �, voc� vai concordar comigo que se trata de uma for�a religiosa v�lida
e positiva.
3 - O QUE � REALMENTE A BRUXARIA
Talvez n�o nos possamos orgulhar muito de nossa maneira dita moderna e tolerante de encarar os praticantes e aqueles que acreditam na bruxaria. Pelo menos, em
algumas �reas do mundo, atitudes muito pouco razo�veis ainda prevalecem.
Em Uganda, um fazendeiro de quarenta e cinco anos, acusado de provocar, atrav�s da bruxaria, uma enchente que destruiu a colheita, foi espancado at� a morte,
e oito homens condenados por assassinato, segundo despacho da Reuters, de 16 de setembro de 1968.
Em outra parte do mundo, um teatr�logo belga, Hugo Claus, recebeu uma ordem de pris�o por quatro meses por apresentar no palco a Sant�ssima Trindade encarnada
por tr�s homens nus. Os atores tamb�m foram presos pelo seu "crime". Talvez tenha sido uma falta de bom gosto, mas n�o, absolutamente, um crime, segundo minha maneira
de ver.
Uma senhora em Nova York queixou-se a mim de um "feiticeiro m�gico" que lhe havia vendido um cobertor. Este cobertor, ela afirmava, a fizera sofrer de fortes
dores. A senhora exigia que o velho fosse "encarcerado" por seu "crime", dizendo: "Tirou-me a sa�de de uma maneira t�o sutil que n�o sou capaz de apresentar uma
prova contra ele."
Eu a considerei logo uma pessoa mentalmente perturbada, mas ser� que outros que ouviram a hist�ria n�o acreditaram em tamanha tolice?
As supersti��es custam muito a desaparecer.
Na Am�rica e no mundo anglo-sax�nico, as bruxas costumam aparecer principalmente em Halloween e parecem ter uma prefer�ncia especial pelos jovens. As festas de
Halloween s�o comemoradas a trinta e um de outubro ou no dia mais conveniente pr�ximo desta data. Todo mundo tem que se fantasiar de bruxas, duendes, fantasmas e
outras criaturas do outro mundo capazes de assustar os outros.
Tudo isto � feito de uma maneira ing�nua e brincalhona e nunca passou pela cabe�a de ningu�m que existisse uma base racional para isso, nem que feiticeiras fossem
mais do que velhas horrorosas montadas em suas vassouras, chamando seus gatos, rogando pragas a torto e a direito, fazendo de cera de seus inimigos e n�o passando
de um estorvo para a comunidade. E isto, � l�gico, se elas fossem reais.
Como surgiu esta imagem fant�stica dos feiticeiros e sua arte?
Nos princ�pios da civiliza��o, as sociedades eram organizadas segundo padr�es matriarcais. Isto quer dizer que a figura dominante era a da mulher, pois era ela
que dava � luz, tomava conta das necessidades da vida, do lar, dos doentes e suas habilidades e capacidades eram muito mais variadas e sofisticadas que as dos homens.
A este cabia, apenas, prover alimento e abrigo e proteger a comunidade contra assaltos de estranhos. As coisas mais importantes da vida j� pertenciam, desde ent�o,
ao dom�nio da mulher.
Nesta posi��o de dom�nio, � propor��o que o tempo passava, a figura matriarcal da mulher transformou-se, aos poucos, na da sacerdotisa.
A religi�o primitiva da Europa setentrional e ocidental era uma religi�o natural, na qual as for�as do mundo que rodeavam o homem eram consideradas manifesta��es
do poder divino. Neste aspecto, a religi�o era pante�sta, pois tudo na natureza era considerado uma express�o da divindade.
Mas a sacerdotisa precisava apresentar a seu rebanho uma imagem mais concreta dessa divindade. Desenvolveu-se, ent�o, a imagem da Deusa-M�e, representando as
for�as da natureza e, um dia, recebeu um companheiro - o Deus de Chifres, que representava o princ�pio masculino.
Para os contempor�neos dessa civiliza��o, esta f� era conhecida simplesmente como a "religi�o", mas, depois do advento do cristianismo, passou a chamar-se "Antiga
Religi�o", para dar mais �nfase ao contraste. At� hoje, os feiticeiros raramente se referem � sua antiga f� como "feiti�aria", mas preferem o termo "Antiga Religi�o".
Os seguidores da Antiga Religi�o, no per�odo que antecedeu o cristianismo, praticavam nada mais nem menos sinistro do que uma medicina baseada no conhecimento
�ntimo de ervas, de drogas, da maneira como a natureza age, da percep��o extra-sensorial, e de uma psicologia baseada no uso de palavras e encanta��es para evocar
certas rea��es nas pessoas.
Estavam muito mais interessados em fazer alguma coisa em benef�cio da comunidade do que a servi�o dos deuses. � verdade que era preciso manter boas rela��es com
os Poderosos, mas a maneira como essas obriga��es divinas eram cumpridas sugere, em rela��o ao elemento religioso em si, uma atitude de muito menor considera��o
e preocupa��o do que em rela��o � aplica��o dos princ�pios pr�ticos e ativos que eles haviam aprendido e passado de uma a outra gera��o.
Que divindades eram adoradas pelos praticantes da Antiga Religi�o? N�o, o diabo, n�o. Sinto muito, mas o diabo ainda n�o era nascido naquela �poca.
As sacerdotisas da Europa setentrional, central e ocidental, as principais �reas da Antiga Religi�o, mais tarde chamada feiti�aria, elevavam suas ora��es � Deusa-M�e,
identificada com Artemis dos gregos, Diana dos romanos, a deusa-lua dos eg�pcios e, mais profundamente ainda, com a deusa da fertilidade da Idade da Pedra. N�o consideravam
a Deusa-M�e antropomorfa, isto �, com forma humana, mas um esp�rito, de uma maneira muito semelhante � forma como muitas pessoas, hoje em dia, se referem a Deus.
� verdade que ainda encontramos quem ainda considere Deus um velhinho de barbas, mas a grande maioria, creio eu, encara Deus como impessoal, onipotente e invis�vel.
Gradualmente, � propor��o que o conceito matriarcal se transformava em patriarcal, o sacerdote-homem come�ou a ocupar uma posi��o de import�ncia. Seu traje oficial
consistia de um adorno para a cabe�a feito da galhada de um veado ou dos chifres de um touro. Esta tradi��o remonta � Idade da Pedra. Ao se identificar com um animal
forte, o homem acreditava estar adquirindo todas as propriedades e virtudes desse animal.
A esta altura, o sacerdote trabalhava junto com a sacerdotisa nos rituais da Antiga Religi�o, mas seu papel era ainda subordinado ao dela. Sendo mais resistente
fisicamente do que a mulher, a ele cabia a tarefa de dirigir o grupo durante os meses de inverno, enquanto a sacerdotisa o fazia durante os meses de ver�o.
A imagem de um homem usando na cabe�a os chifres de um veado ou de um touro foi mais tarde usada como uma "prova" de que a Antiga Religi�o venerava o diabo. O
diabo tem chifres; logo, o sacerdote era, nada mais, nada menos, a personifica��o do diabo.
Infelizmente, ou, melhor, felizmente, na Antiga Religi�o, n�o existe nenhum conceito, nem ao menos semelhante ao do diabo. Um dos principais elementos da cren�a
da feiti�aria era, e ainda �, a concep��o de que o homem nasce inocente e, se cometer faltas ou pecados durante sua vida terrena, ele s� tem a si pr�prio para responsabilizar.
O mal, ou o diabo dentro de si pr�prio, era simplesmente a falta do bem para os praticantes da Antiga Religi�o - um vazio espiritual, se preferirem assim - e,
embora n�o fosse nada desej�vel ser considerado dentro da comunidade, ningu�m chegava a fazer disso estardalha�o. O sentimento que se nutria em rela��o a essa pessoa
incapaz de contribuir com seu papel para o bem da comunidade era de pena, e n�o de horror.
A religi�o estatal greco-romana costumava incorporar as divindades das na��es conquistadas a seu pr�prio pante�o e as adorava juntamente com seus deuses, numa
demonstra��o um tanto ing�nua de franca amizade. O cristianismo n�o era t�o pr�tico ou caridoso e condenava os deuses das outras religi�es, rebaixando-os � posi��o
de dem�nios ou diabos. Sob este aspecto, � not�vel a semelhan�a entre os m�todos da igreja primitiva e do moderno marxismo. Ambos n�o podem ou n�o podiam tolerar
o mais leve desvio de sua linha de pensamento, e ambos condenam ou condenavam os l�deres do partido vencido ao que os romanos costumavam chamar "damnatio memoriae".
Se for imposs�vel apag�-los da mem�ria do povo, que sejam, ent�o, rebaixados e transformados em dem�nios.
A Antiga Religi�o parecia feita sob medida para o clima frio e chuvoso da Europa ocidental. � f�cil compreender que uma atmosfera quente e �mida como a da �frica,
por exemplo, n�o pode criar os mesmos elementos de adora��o que os c�us escuros da Esc�cia. Afinal de contas, a religi�o n�o � simplesmente uma d�diva dos c�us,
mas o resultado da combina��o das necessidades emocionais elementares do homem e de sua posi��o frente � natureza.
A grande dist�ncia geogr�fica de muitas regi�es brit�nicas, da Esc�cia e da Irlanda, e, ainda, da Escandin�via e certas partes da Europa central, impediam o avan�o
de quaisquer religi�es estatais, fossem elas greco-romanas ou crist�s. As antigas cren�as e costumes encontravam maiores chances de sobreviver do que as pr�ticas
dos homens nas plan�cies abertas, por exemplo.
A Antiga Religi�o tamb�m costumava absorver elementos de outros cultos se estes tinham alguma semelhan�a ou podiam melhorar seu pr�prio ritual. Da� n�s termos
a peculiaridade dos ritos dru�dicos amalgamados com rituais antigos remanescentes de pr�ticas da Idade da Pedra e em perfeita harmonia. Um bom exemplo da capacidade
de adapta��o da Antiga Religi�o e de seu grande e verdadeiro senso de toler�ncia � o observat�rio de Stonehenge, na Inglaterra. J� bastante antigo quando os druidas
alcan�aram esta parte do mundo, foi por eles usado sem qualquer altera��o, dando, talvez, at�, origem a um culto mais amplo e inteligente.
Aqui, talvez, esteja a chave da compreens�o da Grande Religi�o: ela era e ainda � um culto da intelig�ncia, da sabedoria. No idioma celta, era chamada "Wicca",
e as palavras witch (feiticeira) e witchcraft (feiti�aria) do ingl�s moderno derivam daquele termo; portanto, uma feiticeira � uma mulher s�bia, que possui conhecimentos
acima da m�dia das pessoas. O correspondente masculino era wizard (feiticeiro) e n�o warlock (bruxo, praticante de magia negra). Apesar da grande popularidade que
o termo warlock encontra na Am�rica, significando o homem adepto da feiti�aria, nenhum feiticeiro jamais o usou. Esta palavra significa m�gico, bruxo, praticante
de magia negra e, como demonstrarei neste livro mais adiante, existe uma grande dist�ncia entre magia negra e feiti�aria branca, t�o profunda, talvez ainda mais,
quanto o cisma que um dia separou a Igreja Cat�lica das igrejas reformadas.
Mas, j� que nos estamos ocupando de sem�ntica, vamos aproveitar a oportunidade para deixar bem claro que os sacerdotes e sacerdotisas eram conhecidos por estas
mesmas denomina��es: "sacerdotes" e "sacerdotisas", e n�o por outras palavras, e os membros da comunidade n�o se chamavam originariamente "feiticeiros", mas, simplesmente,
"membros da comunidade". O termo coven (comunidade), derivado da mesma raiz que conventio (conven��o, reuni�o), convent (convento), e covenant (conv�nio), significa
simplesmente "irmandade, comunidade, congrega��o".
A feiti�aria, como a Antiga Religi�o passou mais tarde a se denominar, n�o � nem nunca foi uma forma de zombaria de qualquer outra f�, nem inclui em seus servi�os
qualquer elemento que tenha a mais remota semelhan�a com a pr�tica ou a adora��o crist�s.
Na mente ignorante do povo, missa negra, satanismo e o conceito do anticristo misturaram-se com o pouco que sabiam sobre a Antiga Religi�o ou feiti�aria.
Levando-se em considera��o que a Antiga Religi�o antecede o cristianismo por v�rios s�culos e n�o tem mudado basicamente a n�o ser pela amalgama��o com outros
cultos primitivos como o dru�dico, � f�cil concluir que ela n�o podia incluir em seu seio elementos crist�os, nem manter inimizades em rela��o ao cristianismo, que
surgiu muito mais tarde.
Tentarei fazer agora uma descri��o das principais pr�ticas e cren�as da Antiga Religi�o.
Quatro vezes por ano, coincidindo com as mudan�as de esta��o, o homem celebra com alegria sua boa sorte, isto �, o fato de n�o lhe ter faltado alimento em seus
campos e de seu mundo material, enfim, estar em ordem. Quando as coisas v�o bem, � muito s�bio e prudente pronunciar uma prece de gratid�o. Todas as religi�es pregam
esta atitude em rela��o ao poder da divindade. � como que para se assegurar de que a benevol�ncia vai continuar no per�odo seguinte. Estas celebra��es n�o s�o muito
diferentes dos festivais de colheita e das festas das esta��es muito comuns em quase todas as culturas e povos, pois � natural ao homem querer manifestar sua gratid�o
� natureza pela que ela lhe oferece e orar para que tudo continue assim. O nosso pr�prio Dia de A��o de Gra�as nasceu da mesma motiva��o e podemos dizer que tamb�m
a P�scoa, pois a P�scoa no calend�rio crist�o combina a manifesta��o de alegria pela ressurrei��o de Cristo com a sauda��o � primavera pela renova��o da natureza.
Nem deixaram as pessoas de celebrar a inocente dan�a de "Maypole" com a feiti�aria? No entanto, a pr�tica de dan�ar em torno de um mastro deriva-se de uma adora��o
f�lica. A feira do condado (county fair) com suas divers�es n�o passa de uma vers�o atenuada das saturnais romanas ou das bacanais gregas. At� os budistas, especialmente
a vers�o tibetana do budismo, permitem, durante os festejos do Ano Novo, a libera��o de energias represadas, admitindo, inclusive, a promiscuidade sexual. A id�ia
geral em todos esses casos � de que o homem consegue comportar-se melhor e mais moralmente durante o resto do ano se lhe for dado um s� dia de liberdade total para
liberar seus impulsos reprimidos. Qualquer psiquiatra moderno concordar� com este argumento, com exce��o, talvez, da freq��ncia do exerc�cio.
N�o estou querendo dizer que as quatro maiores festas da Antiga Religi�o eram primitivamente dedicadas a orgias sexuais; muito pelo contr�rio. Antes de mais nada,
eram ocasi�es solenes de comemora��o, durante as quais a comunidade manifestava alegremente sua gratid�o por suas vidas terem sido boas e pr�speras. Festejavam juntos,
dan�ando e bebendo vinho. Antigamente, havia outras esp�cies de divertimentos, raramente encontrados nas festas da feiti�aria de hoje. � bom que se lembre que a
promiscuidade era encarada de maneira diferente h� dois mil anos atr�s, principalmente quando ocorria em ocasi�es solenes.
Basta que se lembrem os Mist�rios Asi�ticos e seus atos de amor sagrado para que se compreenda que aqueles momentos de uni�o carnal nada tinham de pecaminoso,
mas eram formas primitivas de express�o. O que � certo � que n�o violavam nenhuma lei natural ou humana.
As quatro principais comemora��es da Antiga Religi�o eram celebradas, e ainda o s�o, a trinta de abril, trinta e um de julho, trinta e um de outubro e dois de
fevereiro. S�o chamadas: "May Eve", marcando a chegada da primavera; "Lammas", em honra ao ver�o; "Halloween" ou "Hallows", anunciando o outono; e "Candlemas" ou
"Brigid's Day", o festival de inverno. De todas elas, Halloween talvez seja a mais conhecida por sua correla��o com a Antiga Religi�o; como tamb�m corresponde ao
festival da colheita, �, de uma certa maneira, a mais importante das festas. Nesta noite, os seguidores da Antiga Religi�o faziam uma revis�o do ano que passou e
suas realiza��es e celebravam um ano de duro trabalho. � preciso que n�o nos esque�amos de que a feiti�aria era originariamente um culto nascido de uma sociedade
agr�cola, profundamente ligado aos produtos da terra e dos campos.
Esta liga��o com a agricultura explica muitos dos instrumentos simb�licos do culto. Assim como os ma�ons usam ferramentas de pedreiro como simbolismo em seus
ritos, da mesma maneira a Antiga Religi�o tomou de empr�stimo ferramentas normais de trabalho da antiga dona de casa como s�mbolos de bem-aventuran�a e felicidade.
Provavelmente o mais famoso e menos compreendido desses instrumentos simb�licos seja a vassoura. A vassoura sempre significou ordem no lar, limpeza, o principal
instrumento da dona de casa. Muito antes da inven��o do barulhento aspirador de p�, a simples e conhecida vassoura de palha era um s�mbolo poderoso dentro de casa.
Limpava o ch�o, servia de ferramenta para consertar muitas coisas, era providencial para enxotar as galinhas da sala de visitas e, se necess�rio, podia ser usada
para ensinar aos homens um pouco mais de respeito para com a senhora do lar. Que outro melhor instrumento podia ser escolhido para representar um emblema da virtude
dom�stica?
A Antiga Religi�o sempre ofereceu � mulher um lugar de destaque dentro do culto, mesmo numa �poca em que a sociedade "de fora" j� havia transferido para o homem
a superioridade na dire��o de seus neg�cios. Quando as mulheres vinham para o "encontro" - este era e ainda � o termo mais comumente usado, e n�o "sab�" - esperava-se
que elas tradicionalmente carregassem o s�mbolo de sua posi��o: a vassoura. E elas o faziam. Quando essas mulheres e mo�as vinham das redondezas, das v�rias vilas
e fazendas, traziam suas vassouras. Novamente por tradi��o, elas deviam apresentar sua "vara de of�cio" quando entravam no recinto sagrado do c�rculo; ent�o, fingiam
que montavam cavalinhos de brinquedo, imitando os cavaleiros que se reuniam no p�tio diante do rei.
At� hoje, cavalinhos de pau de vassoura s�o usados como brinquedo, derivados diretamente desta antiga cerim�nia.
Esta era uma das duas ocasi�es em que as vassouras desempenhavam um papel no culto. A outra era, e ainda �, uma cerim�nia de colheita, na qual os membros da comunidade
desejam indicar at� que altura esperam que as novas sementes cres�am, se assim for do desejo da divindade. Pegam suas vassouras e as colocam bem alto entre eles
enquanto pronunciam f�rmulas antigas, implorando � divindade que os atenda. Fora dessas duas ocasi�es, as vassouras n�o participam de nenhum outro ritual da Antiga
Religi�o. As feiticeiras, naturalmente, n�o atravessam os ares montadas em cabos de vassouras, nem andam montadas neles com prop�sitos m�gicos. Esta id�ia n�o passa
de pura tolice, nascida, talvez, dos dois rituais mencionados acima, os quais os perseguidores da Igreja n�o compreendiam, nem queriam compreender. N�o existe nenhum
elemento m�gico na vassoura. Recentemente, um candidato a cargo p�blico na Am�rica usou este s�mbolo em sua campanha eleitoral para dar a entender que faria uma
limpeza geral na administra��o do pa�s.
Al�m destes quatro grandes dias santos, a Antiga Religi�o ainda celebra todas as luas cheias. Os nomes escolhidos para essas comemora��es s�o: "Sab�" para as
quatro grandes festas e "Esbath" para as celebra��es da lua cheia. Hoje em dia, muitas comunidades se re�nem num dia mais conveniente para seus membros, desde que
seja o mais pr�ximo poss�vel da lua cheia. Antigamente, isto seria inadmiss�vel, mas a feiti�aria n�o � mais o que era antes.
A liga��o entre a Lua e a Antiga Religi�o tem muito a ver com a posi��o da feiti�aria como um culto da noite, do oculto e dos poderes desconhecidos do homem.
� uma liga��o com Diana, a antiga deusa-lua, em sua manifesta��o como Tanith, senhora dos poderes paraps�quicos. Instintivamente, aquelas pessoas conheciam a conex�o
entre o poder da Lua, especialmente da lua cheia, e a mente humana, e em particular o fato de que o poder magn�tico da lua cheia aumenta sensivelmente a capacidade
de percep��o extra-sensorial do homem.
A feiti�aria � muito mais do que uma religi�o: � um m�todo pr�tico de obter certos efeitos, benef�cios e resultados para quem a pratica. A habilidade paraps�quica
� um desses objetivos. Isto entrava em conflito com a opini�o da Igreja, de que os m�diuns serviam ao dem�nio ou, na melhor das hip�teses, n�o passavam de loucos.
Para a Igreja, uma pessoa com sensibilidade paraps�quica, capaz de fazer coisas estranhas, era considerada um radical perigoso, um competidor em potencial para uma
verdade dogm�tica j� estabelecida, uma pessoa que a Igreja n�o podia controlar e precisava, portanto, destruir.
A Antiga Religi�o agia de maneira mais inteligente: seus membros aceitavam esta pessoa como uma contribui��o valiosa para a comunidade. Nem todas as feiticeiras
tinham poderes paraps�quicos e nem isso era exigido para que a pessoa fosse iniciada, mas muitas possu�am ou possuem esses poderes, como demonstrarei mais adiante.
� dif�cil saber ao certo se essas pessoas s�o atra�das pela feiti�aria devido a essa capacidade ou se a bruxaria estimula o desenvolvimento de habilidade para-ps�quica.
O mais prov�vel � que aconte�am as duas coisas.
J� presenciei um dos membros de um grupo entrando em transe durante uma reuni�o, enquanto o resto da comunidade observava atentamente, esperando o que ele tinha
a lhe dizer.
Margaret Murray, grande autoridade em antropologia e estudiosa dos fen�menos de feiti�aria, estabeleceu uma rela��o entre a pr�tica primitiva da feiti�aria e
a mais primitiva ainda adora��o de Janus, a deusa de duas cabe�as das encruzilhadas: "Como Janus Quadrifrons, tamb�m reinava nas encruzilhadas. Deve haver mais do
que uma simples coincid�ncia no fato de que o deus italiano de duas faces da fertilidade seja o patrono das encruzilhadas, e a deusa de duas faces dos feiticeiros
presida os ritos da fertilidade que eram celebrados em encruzilhadas."
Posso acrescentar que certamente a mesma divindade, com o nome de Carefour, � tamb�m adorada pelos seguidores do vodu, culto misterioso do Haiti.
A Antiga Religi�o adquiriu, no Ocidente, algumas facetas especiais, que, embora n�o exclusivas do Ocidente, eram um pouco violentas do que em outras partes do
mundo.
Estou-me referindo � no��o de que o deus encarnado, no final da cerim�nia, precisava ser sacrificado � divindade para assegurar o sucesso da planta��o. No M�xico
e na �sia Menor, sacrif�cios humanos eram bastante comuns numa determinada �poca. Na Europa setentrional, central e ocidental, eram muito raros e, muito cedo, foram
substitu�dos pelo sacrif�cio de um animal, o que, mais tarde, passou a ser representado por um ato apenas simbolizando o sacrif�cio.
Mitos e lendas sobre sacrif�cios de morte e sangue pelas comunidades da Antiga Religi�o t�m sido contados e recontados atrav�s dos s�culos. Gradualmente, essas
hist�rias fizeram nascer uma confus�o entre a Antiga Religi�o e a adora��o do diabo e ficou na mente do povo a id�ia de que sangue fresco, at� mesmo o sacrif�cio
de beb�s, era necess�rio no culto.
A Igreja aceitou esses mitos com muita satisfa��o, j� que eles constitu�am uma arma a mais para derrubar a seita. At� mesmo hoje em dia, de vez em quando, algu�m
me pergunta se � verdade que os feiticeiros sacrificavam crian�as. At� um autor t�o conhecido como Ira Lewin no seu famoso livro "O Beb� de Rosemary, engendrou uma
hist�ria, na qual algumas pessoas s�o acusadas de feiti�aria, quando, na verdade, o que fazem � realizar rituais dos satanistas. A verdade � que a �nica vez em que
os seguidores da Antiga Religi�o vertiam sangue humano era quando um deles, acidentalmente, se cortava com a faca simb�lica, o "athame". Mitos sangrentos custam
a desaparecer. Vejam a no��o medieval de que os judeus comiam crian�as, ou a exist�ncia do chamado Protocolo dos S�bios do Si�o, ou o pacto terr�vel entre o Dr.
Fausto e o Diabo.
Eu mesmo me espanto de como certas fantasias chegam a parecer verdade. Milh�es de vezes, as pessoas me contaram hist�rias de um fantasma, geralmente uma jovem
bonita, que aparece � noite, no meio de uma estrada, e pede uma carona at� a cidade. Quando o motorista chega � porta de sua casa, ela desaparece. Ele desce, toca
a campainha, conta o que aconteceu e descobre que a mo�a morreu h� exatamente um ano atr�s. Esta hist�ria me foi contada com algumas pequenas varia��es e sempre
vinha acompanhada de nomes de testemunhas que, no entanto, nunca eram encontradas. N�o passavam de hist�rias falsas, um mito que h� muito corre de boca em boca,
sem que o seu narrador tome consci�ncia de que est� sendo v�tima de uma fic��o e ajudando a manter uma lenda. Assim sempre foi e continua sendo em rela��o a muita
coisa que se ouve falar sobre a feiti�aria.
Qual a finalidade dos encontros? Basicamente, a raz�o do encontro entre feiticeiros equivale � de ir � igreja, isto �, influenciar favoravelmente a divindade
e ser visto e considerado pelos outros como um bom membro da comunidade.
De muitas maneiras, sua filosofia faz lembrar as concep��es do universo do fil�sofo Spinoza e das igrejas universalistas de hoje, que consideram Cristo meramente
um s�mbolo da divindade e n�o uma pessoa espec�fica. Mas, � propor��o que a feiti�aria passava do status de uma religi�o livre ao de um misterioso culto secreto,
outros elementos lhe foram adicionados.
Curar era um dos elementos mais importantes. Tratar dos doentes atrav�s da ora��o conjunta ou do conhecimento superior de ervas e rem�dios da natureza n�o era
uma fun��o reservada para uma classe profissional de m�dicos, mas entregue aos feiticeiros como parte de seu programa.
� propor��o que a sociedade se tornava menos exclusivamente agr�cola e outras maneiras de ganhar a vida se tornavam comuns, uma import�ncia, cada vez maior, foi
sendo atribu�da ao sucesso pessoal no caminho escolhido.
Da� foi gradualmente evoluindo o conceito de pensamento comunit�rio, isto �, de combinar os poderes do pensamento dos membros do grupo num s� "cone de poder",
que, ao ser erguido, ofereceria � comunidade um forte instrumento para ser usado sob a s�bia dire��o de seu l�der, a sacerdotisa-chefe.
N�o existe muita diferen�a entre este conceito e o fato de crist�os se reunirem na igreja para orarem juntos, apenas os resultados s�o melhores nas comunidades
de feiticeiros, onde o grupo � pequeno e rigorosamente controlado. � que as reuni�es da Antiga Religi�o foram-se transformando de grandes reuni�es de massa, quando
qualquer n�mero de pessoas podia comparecer, para a comunidade de n�o mais que treze membros como temos agora.
Muita coisa tem sido dita e escrita sobre o n�mero treze e seus estranhos poderes, e muitas pessoas acreditam que ele traz m� sorte. Alguns edif�cios comerciais
americanos omitem o d�cimo terceiro andar, quem recebe visitas para o jantar evitar ter treze pessoas � mesa, e indiv�duos supersticiosos n�o viajam no dia treze
do m�s. Existe at� mesmo um nome t�cnico para designar o terror m�rbido no n�mero treze - triscaide-cafobia.
Os feiticeiros n�o escolheram o treze como seu n�mero favorito por nenhuma raz�o funesta ou agourenta. Treze era o maior n�mero de indiv�duos que poderiam trabalhar
juntos sem a necessidade de uma disciplina dogm�tica. A semelhan�a e a uni�o no mesmo pensamento � um ponto vital na feiti�aria, mas, tamb�m por raz�es de seguran�a,
principalmente durante a �poca das persegui��es, grupos menores eram prefer�veis. Num n�vel mais esot�rico, treze representa doze mais um - doze feiticeiros e um
l�der - o que estabelece um paralelo com as doze horas do dia, os doze meses do ano e os doze signos do zod�aco. Isto n�o quer dizer que uma comunidade precisa contar
com treze membros, necessariamente, para poder funcionar; muitas trabalham bem com cinco ou sete membros; o que n�o podem fazer � aceitar mais do que treze.
Como outras organiza��es, a comunidade n�o consegue tirar de seu trabalho bons resultados se houver rupturas e desentendimentos dentro do grupo. � preciso que
haja, sim, liberdade de express�o, mas, quando a comunidade est� em sess�o e uma vez iniciado o ritual, todos devem-se tornar um s�. Esta � a raz�o que est� atr�s
da relut�ncia em aceitar novos membros e do fato de a Antiga Religi�o ter-se sempre comportado de maneira oposta � da Igreja no que diz respeito � sua atitude em
rela��o �s atividades mission�rias. A feiti�aria n�o procura convertidos; deseja apenas pessoas que tenham nascido dentro da pr�pria cren�a ou que a procurem por
si mesmas e movida por raz�es genu�nas.
As comunidades de no m�ximo treze pessoas ocasionalmente se reuniam numa esp�cie de confedera��o geral chamada a Grande Comunidade, presidida por um Gr�o-Mestre,
que aparecia sempre mascarado para que sua identidade n�o se tornasse p�blica. Na Idade M�dia, muitas pessoas importantes participavam ativamente das comunidades,
da� ser t�o importante esta necessidade de proteger a identidade.
Hoje em dia, n�o mais existe este tipo de organiza��o, mas as comunidades se conhecem entre si e, geralmente, mant�m la�os amistosos. Briguinhas mesquinhas existem,
pois afinal de contas os feiticeiros tamb�m s�o seres humanos, mas de um modo geral todos se d�o bem e nunca ouvi falar de um �nico incidente, na hist�ria, em que
uma comunidade acusou outra de um crime ou que os membros de uma e outra se tivessem ferido ou matado. Esta esp�cie de coisa � deixada aos crist�os e a outras cren�as
religiosas.
Quando o cristianismo se tornou um poder mundial, a Antiga Religi�o n�o o tomou como seu advers�rio. No princ�pio, nem tomou conhecimento da outra f�, o mesmo
fazendo a Igreja. Por v�rios s�culos, as duas religi�es coexistiram lado a lado e pacificamente. Mas, devido a sua situa��o de religi�o do Estado, o cristianismo
insistia em ser a �nica aceita: adotou esta posi��o n�o somente em rela��o ao culto pag�o, mas a todas as outras religi�es, mesmo aquelas que j� existiam milhares
de anos antes de seu aparecimento e n�o eram muito diferentes dela, como o juda�smo, ou outras cujos c�digos morais eram certamente t�o v�lidos quanto os conceitos
crist�os, como o islamismo.
A Antiga Religi�o n�o lutou contra o fato de ser relegada ao status de um culto secreto. N�o procurava converter as massas como a Igreja e ficaria bastante satisfeita
se, ao menos, a deixassem existir e trabalhar em paz. A Igreja n�o se importava muito com o que n�o fosse evidente e, muitas vezes, as pessoas pertenciam �s duas
cren�as. Mas, com a chegada da Idade M�dia e a queda cultural do homem na sarjeta do provincialismo, do fanatismo e da inseguran�a, a Igreja come�ou a tomar consci�ncia
da exist�ncia de um pr�spero rival. Foi somente no s�culo XII que descobriu que os feiticeiros eram perigosos e tinham um pacto com o diabo. Falarei desta interessante
figura - o diabo - mais tarde, pois acho que merece um cap�tulo especial. Quero apenas dizer agora que a inven��o do diabo como o conhecemos hoje foi trabalho da
teologia medieval e, parafraseando Bismarck, se existisse o diabo, n�o teriam que invent�-lo.
A Europa do ano 1100 estava longe de ser uma maravilhosa atra��o tur�stica. Com guerras constantes entre os senhores feudais, o abuso da escravid�o, a falta de
comunica��es, a peste e a destrui��o, n�o havia nada no horizonte para alegrar e dar esperan�a a uma popula��o d�cil mas, potencialmente, capaz de se revoltar.
Esses povos tinham perdido de vista todas as id�ias progressistas das eras romana e grega - as leis, o conhecimento m�dico, a liberdade de discuss�o. Foi tudo
levado torrente abaixo como conseq��ncia da guerra, da pobreza, da destrui��o e, acima de tudo, da cegueira intelectual.
O grande vazio foi ocupado pela teologia crist�. � imposs�vel deixar de culpar o aparecimento da Igreja Crist� (mas n�o da religi�o) por este melanc�lico estado
de coisas. Onde o fundador do cristianismo idealizou uma religi�o de amor e humanismo, seus int�rpretes trouxeram repress�o, pecado original e crueldade. Onde Jesus
pregou uma f� simples e autoconsciente, eles apresentaram uma monstruosa camisa-de-for�a.
Para entender a rigidez do sistema, basta estabelecer um paralelo com a R�ssia Stalinista e seu dogma comunista. A igreja medieval era exatamente a mesma coisa,
com uma �nica diferen�a - aquele em nome de quem todos os crimes eram perpetrados. Os m�todos, por�m, eram id�nticos.
O sistema perdurou por, pelo menos, quinhentos anos. Nenhuma palavra era pronunciada contra ele, nem ningu�m ousava sequer murmurar seu descontentamento. Mas,
por mais deprimido que esteja o homem, a natureza humana nunca p�de deixar de manter esperan�as para o melhor, e come�aram a surgir sinais de inquieta��o entre os
crist�os que n�o passaram desapercebidos aos olhos vigilantes da Igreja.
O Papa e os governantes por ele controlados organizaram cruzadas, n�o contra os povos pag�os de terras distantes, mas contra os pr�prios irm�os crist�os que ousavam
por em d�vida detalhes da religi�o. Seitas diferindo ligeiramente da doutrina crist� foram exterminadas sem piedade.
Por essa �poca, em parte devido �s cruzadas e �s guerras estrangeiras, a peste grassou pela Europa, matando milh�es. P�ssimas eram as condi��es sanit�rias e higi�nicas
e nenhum o conhecimento m�dico (conhecimento este possu�do pelos "pag�os" romanos), mas a Igreja preferia lan�ar toda a culpa na ira de Deus contra os homens que
permitiam que a heresia existisse. Portanto, a destrui��o de toda heresia, de qualquer desvio da pol�tica oficial da Igreja, era uma tarefa vital dos verdadeiros
crist�os. A Igreja, desde que sucessora direta de Cristo atrav�s de seu primeiro papa, Pedro, era pura e isenta de culpa. Deveria, portanto, haver algum poderoso
e sinistro advers�rio, que, por conduzir a humanidade para fora do caminho, era o respons�vel por todo o mal do mundo. A Igreja, ent�o, foi buscar o diabo, para
melhor focalizar as for�as do mal existentes no homem. O diabo, portanto, surgiu de necessidades pr�ticas e pol�ticas da Igreja, que precisava de uma arma para lutar
contra uma forte amea�a � sua pr�pria exist�ncia.
Segundo os padr�es da Igreja, qualquer divindade adorada pelos n�o-crist�os era o diabo. Sua tarefa consistia em selecionar um prot�tipo do diabo dentre o grande
n�mero de deuses pag�os. Era preciso que essa criatura possu�sse uma apar�ncia f�sica suficientemente impressionante e amea�adora para poder ser qualificada como
a personifica��o do mal. Encontraram-na no antigo Belzebu fen�cio, uma forma da divindade geralmente chamada Baal. Est�tuas daquela �poca mostravam este deus com
apar�ncia feroz e m�, mas n�o ainda com todas as caracter�sticas da figura do diabo como a conhecemos hoje - cauda, pele avermelhada, p� fendido e odores repelentes.
Estes elementos foram sendo adicionados gradualmente, dependendo da habilidade dos ativistas da Igreja em elaborar sua descri��o. Neste processo de amalgama��o,
a imagem adquiriu qualquer coisa do deus de chifres da ca�a da antiga feiti�aria.
Aos poucos, o diabo come�ou tamb�m a se identificar com outra criatura fantasiosa, o anticristo, considerado pelos te�logos uma esp�cie de personifica��o do princ�pio
negativo. O mais terr�vel � que os homens da Igreja emprestavam a essa figura uma significa��o um tanto literal e pregavam essa doutrina a seus rebanhos, pois nada
� mais eficiente para manter as pessoas simples e ing�nuas sob controle do que um monstro tenebroso pronto a descer sobre elas a qualquer momento, desde que deixem
de se manter na linha.
Para aqueles que n�o se deixavam impressionar facilmente pelo diabo vivo ou o anticristo, havia uma s�rie de monstros, menores para atender �s necessidades particulares
e individuais. A estes, a Igreja chamou dem�nios, usando o termo grego, mas distorcendo seu significado para melhor atender ao seu objetivo. "Daimon" na mitologia
grega � o esp�rito de um objeto inanimado, a personifica��o de uma id�ia ou conceito. Nas religi�es orientais, dem�nios s�o semideuses que habitam as regi�es entre
a terra e o c�u e podem ser invocados para quaisquer tarefas, boas ou m�s.
Mas os dem�nios da Igreja Crist� eram pequenos diabos que influenciavam os mortais, levando-os a pensar alguma coisa que n�o estivesse estritamente de acordo
com a doutrina sagrada. Se algu�m tivesse experi�ncias paraps�quicos era porque o dem�nio estava a lhe cochichar nos ouvidos. Se algu�m ouvia a voz de um parente
ou amigo morto era porque um dem�nio astucioso o estava imitando a fim de confundir o fiel.
Esta era a situa��o no s�culo XI e seguintes. Mas, a supersti��o custa a desaparecer; at� hoje recebo cartas de pessoas que ainda acreditam que comunica��es paraps�quicos
s�o trabalho do dem�nio. A teologia do dem�nio ainda � levada a s�rio em muitas �reas ocupadas catolicismo, principalmente em algumas partes da Bav�ria. Todas essas
no��es inspiradoras de terror eram invocadas fria e deliberadamente pela grande organiza��o da Igreja medieval. O m�todo � de estrutura id�ntica ao usado pelos comunistas:
quando uma pessoa de boa reputa��o e muito ouvida e seguida pelo povo precisa ser destru�da, o espectro de atividades contra-revolucion�rias, de pensamento burgu�s
ou de seguir um l�der exilado � imediatamente levantado e o at� ent�o her�i transforma-se num vil�o. Uma vez destru�da a sua boa imagem, seus seguidores n�o precisam
mais ser-lhe fi�is e ele pode, ent�o, ser exterminado sem qualquer perigo. N�o � nem necess�rio documentar a acusa��o, desde que a mentira seja suficientemente grande
e emocionalmente forte para ser aceita sem contesta��o. � um triste fato constatar que os seres humanos s�o fracos e carentes de uma autoridade, tanto em coisas
espirituais como mundanas, e somente alguns poucos s�o bastante fortes para trilharem seu pr�prio caminho e tornarem-se l�deres eles pr�prios.
A ordem social da Europa s� come�ou a ser seriamente contestada a partir da chamada Guerra dos Camponeses em 1364. Aos olhos da classe dirigente, rejeitar sua
posi��o miser�vel na vida e exigir melhores condi��es era o mesmo que heresia, isto �, revoltar-se, n�o apenas contra os senhores feudais enviados por Deus, mas
contra a pr�pria Igreja, que se identificava com aquela classe. Isto n�o podia ser aceito pelas classes mais baixas; ao mesmo tempo, a Antiga Religi�o lhes oferecia
um lugar em seu seio, pois na feiti�aria todos os indiv�duos s�o iguais. A Igreja Cat�lica levou outros seiscentos anos para aprender o valor de uma f� democr�tica
e, ainda hoje, muitos l�deres cat�licos ainda procuram abrir caminho na luta contra a intoler�ncia e a injusti�a social.
Ian Ferguson, autor escoc�s de A Filosofia da Feiti�aria, considera Joana d'Are n�o apenas como o s�mbolo da revolta contra os ocupantes ingleses, mas tamb�m
contra a intoler�ncia e a colabora��o da Igreja da Fran�a. Muitas autoridades acham que Joana d'Are foi, al�m de uma santa cat�lica, uma sacerdotisa da Antiga Religi�o.
Isto pode perfeitamente ser verdade, mas o mais importante � que ela conseguiu o que parecia imposs�vel: desviar, por algum tempo, o poder das m�os da classe dirigente
para as m�os do povo.
Naquele tempo, n�o apenas as feiticeiras eram consideradas exemplos de heresia, mas, tamb�m, os cientistas, principalmente aqueles que contestavam a ordem divina
tal como era interpretada, na �poca, pela santa Igreja. Qualquer um, por exemplo, que duvidasse de que o Sol girava em torno da Terra era preso e executado, e havia
uma comiss�o � qual os cientistas tinham que submeter suas descobertas para que se decidisse se elas poderiam ou n�o ser tornadas p�blicas. Se estivessem de acordo
com a doutrina da Igreja, sim. Do contr�rio, eram suprimidas e aqueles que acreditassem nelas eram aconselhados a que desistissem da verdade. Esta situa��o monstruosa
persistiu por s�culos em nome de Jesus Cristo.
"Toda a vida fervilhava de pecados. A eterna amea�a da indigna��o de um Deus Todo-poderoso, lentamente criada por s�culos de teologia, ocupava a intelig�ncia
de todos os homens,... al�m da cidadela da Igreja, havia apenas desola��o social e espiritual", - escreveu Ian Ferguson.
Para desviar as aten��es das verdadeiras injusti�as da �poca, a Igreja elaborou para seus seguidores uma outra explica��o. Sim, havia guerra e peste, os servos
tinham uma vida terr�vel; mas de quem era a culpa? Enquanto existisse um �nico infiel dentro da Santa Igreja, Deus n�o estaria satisfeito. Se o povo quisesse mudar
seu destino, teria, primeiro, que agradar a Deus. E isto s� seria conseguido atrav�s da destrui��o daqueles que o tra�am.
As almas simples e ing�nuas dos que constitu�am a maioria dos fi�is, agarraram-se ansiosamente ao que se lhes oferecia como sendo a sua �nica t�bua de salva��o
- a �nica chance de melhorarem suas condi��es de vida. A velha, que silenciosamente curava os doentes em sua cabana distante, tornou-se suspeita de pr�ticas do mal.
Nada passava desapercebido aos olhos vigilantes da Igreja e de seus defensores fan�ticos. Igreja e Estado eram uma coisa s�, e a Antiga Religi�o, e qualquer pessoa
que a servisse, era portanto traidora. Este era o ponto de vista da Igreja Cat�lica no princ�pio do s�culo quinze.
Sat�, o pr�ncipe das trevas, era o t�tulo dado ao diabo pela Igreja medieval, e o feiticeiro era seu amigo. Tudo era muito simples: desde que todo o mal no mundo
era trabalho de Sat� e, como a salva��o s� era poss�vel dentro da doutrina da Santa Igreja, estava claro que todos os que n�o a seguiam pertenciam �s fileiras do
diabo. Mas o fato de a Antiga Religi�o ter sido denunciada pela Igreja n�o lhe roubou todos os seguidores. Para os camponeses, a pr�tica de seus antepassados estava
por demais gravada no fundo de suas mem�rias. Como a Igreja e o Estado eram os opressores dos camponeses, o l�gico seria que eles acreditassem que a Antiga Religi�o
estava do seu lado. Assim, a maioria da popula��o rural continuou com os antigos ritos, embora secretamente e sem deixar de comparecer � igreja para manter as apar�ncias.
Quando o Papa Inoc�ncio VII apresentou, na Bula de 1485, um resumo da posi��o da Igreja em rela��o � Antiga Religi�o, as comportas j� estavam abertas para a grande
e total persegui��o a feiticeiros, verdadeiros ou apenas supostos, e a uma grande quantidade de pessoas acusadas de feiti�aria por raz�es meramente pol�ticas.
Seguiu-se uma longa e inacredit�vel exibi��o de crueldade e perversidade humanas. Bastava a acusa��o de seguir a Antiga Religi�o para que a pessoa fosse presa.
A seguir, vinham as torturas e, sob coa��o, as v�timas confessavam qualquer coisa. Primeiro, contavam simplesmente a verdade sobre a Antiga Religi�o, mas isso n�o
era exatamente o que os inquisidores queriam ouvir. O que eles queriam e precisavam era de uma hist�ria forte e cheia de imagina��o que inclu�sse um pacto com o
diabo e, conseq�entemente, uma prova de alta trai��o para com a Igreja e o Estado. Se a pobre v�tima n�o entendia exatamente o que tinha que dizer, seus torturadores
preparavam-lhe uma confiss�o detalhada, pronta para ser assinada. Isto, no entanto, n�o devolvia � v�tima sua liberdade; servia apenas para esvaziar as pris�es para
a leva seguinte, pois o fim de todos era o mesmo: forca ou fogueira, dependendo do "costume" local.
Sprenger (o nome, por acaso, significa "maldito", "infernal"), um famoso inquisidor, escreveu um livro intitulado O Martelo dos Feiticeiros, no qual ele apresentava
uma lista de todas as marcas e sinais dos feiticeiros. Foi t�o meticuloso na apresenta��o de sua "pesquisa" que ningu�m, culpado ou inocente, conseguia escapar de
ser acusado. Este trabalho foi o primeiro documento oficial a relacionar a divindade r�stica do antigo culto de Diana com o diabo e, conseq�entemente, o anticristo.
Foi um passo certo para que se denominassem os seguidores da Antiga Religi�o de anticrist�os.
A Antiga Religi�o valorizava a sabedoria da mulher e exaltava sua posi��o como sacerdotisa; pregava a liberdade sexual, a igualdade entre os sexos e a livre express�o
do amor pelo que existe de belo e natural no universo. Todas estas concep��es constitu�am uma forte motiva��o para que a Igreja lutasse pela destrui��o da feiti�aria,
pois tudo ia contra o que ela exigia de seus fi�is: obedi�ncia cega a uma doutrina r�gida e impiedosa. No s�culo quinze, esta doutrina era anti-sexo e anti-mulher.
Toda a Igreja medieval era decididamente contra o sexo e a mulher. Nisto estava de acordo com as atitudes do sistema feudal, que impingia � mulher um papel muito
restrito: ligeiramente acima do gado e da mob�lia, mas muito abaixo do homem em direitos civis e humanos. A mulher s� era levada a grandes alturas na m�sica e na
poesia, mas, se tentasse colocar em pr�tica o que os poemas rom�nticos lhe ofereciam, terminaria como herege ou traidora ou, se pertencesse a uma fam�lia importante,
talvez conseguisse ir para um convento.
Al�m desta diferen�a fundamental na atitude em rela��o � mulher, a Igreja contava com muitas outras raz�es para suprimir a Antiga Religi�o. A dan�a, a m�sica,
a alegria de viver eram parte do credo e das pr�ticas da feiti�aria, o que refletia o fato de ser ela uma religi�o da natureza, que agradecia � divindade por todos
os prazeres da vida.
At� este ponto, as habilidades paraps�quicas de alguns feiticeiros e as pr�ticas de curar doentes que a maioria possu�a, n�o eram ainda considerados pontos focais
de heresia. Mas, � propor��o que a Igreja desenvolvia sua imagem do diabo, achou-se conveniente atribuir todas aquelas artes e talentos ao poder do Pr�ncipe das
Trevas. Afinal de contas, argumentavam os padres, o que n�o � proveniente de Deus vem do diabo, mesmo que inerentemente bom e �til. E o �nico caminho para Deus e
de Deus era, naturalmente, a Santa Igreja.
Alguns leigos pensam que a Antiga Religi�o e seus seguidores eram perseguidos porque adoravam deuses pag�os em vez de adorarem apenas o Deus da Cristandade. Mas
n�o. A antiga feiti�aria tinha apenas uma divindade - A Deusa-M�e, algumas vezes tamb�m chamada Diana - e a Antiga Religi�o nunca personificou esta divindade atrav�s
da forma humana; ela era encarada como um grande princ�pio, uma grande for�a espiritual.
O Cristianismo, sim, � que possui a Sant�ssima Trindade: o Deus Pai, onipotente como o deus pag�o J�piter; o Deus Filho, Jesus Cristo; e a M�e, a Virgem Maria.
E ainda, os ap�stolos, todos santos, e finalmente um imenso n�mero de santos de menor import�ncia; e todos eles podem ser adorados e a todos eles os crist�os podem
elevar suas preces. Se uma religi�o � considerada paga por possuir muitas divindades, ent�o o cristianismo medieval, certamente, est� enquadrado no conceito.
A princ�pio, a persegui��o dos seguidores da Antiga Religi�o foi um assunto meramente pol�tico e eclesi�stico. Mas, gradualmente, o povo come�ou a compreender
que, pelo simples fato de denunciar um vizinho como feiticeiro, este seria preso, deixando para tr�s valiosas propriedades. As propriedades de um condenado pertenciam
� Igreja, ao Estado e �quele que o havia denunciado.
Aqueles que me ouvem falar sobre feiti�aria apontam algumas vezes passagens da B�blia condenando a pr�tica, e perguntam como posso defender uma tradi��o t�o claramente
oposta ao Livro Sagrado.
As poucas passagens da B�blia que se referem a fen�menos paraps�quicos e feiti�aria podem ser lidas e interpretadas de v�rias maneiras, principalmente se levarmos
em considera��o que as tradu��es diferem muito entre si. Quando tomadas isoladamente, isto �, fora do contexto, estas passagens parecem condenar a pr�tica de clarivid�ncia
e outras artes ocultas, mas, se considerarmos todo o contexto, v�-se claramente que elas se relacionam com situa��es da �poca e do lugar e n�o podem ser consideradas
de nosso ponto de vista atual. A Igreja j� sabia disso, mas procurava tirar proveito das possibilidades contidas nestas passagens, pois tinha necessidade de encontrar
nas Escrituras uma justificativa para a persegui��o aos seguidores da Antiga Religi�o.
Pequena era a diferen�a entre os motivos apresentados pela Igreja Cat�lica Romana e pela Igreja Reformada para justificar a destrui��o dos feiticeiros: a primeira
os acusava de heresia por adorarem uma divindade qualquer em vez de Jesus Cristo; a outra preferia citar a B�blia. Duas passagens eram especialmente explorados para
acusar e condenar feiticeiros. No �xodo, 22:18, existe uma linha que diz: "N�o admitir�s que viva um feiticeiro." � preciso que se compreenda que esta passagem foi
escrita na Antiga Jud�ia, onde havia dois tipos de pessoas capazes de predizer o futuro: os profetas que possu�am licen�a especial e eram, portanto, facilmente controlados;
e os profetas do povo, os adivinhos, os amadores que n�o podiam ser politicamente orientados pelo governo. Mois�s n�o queria que ningu�m profetizasse contra sua
pol�tica, e somente tendo em mente este fato � que se pode compreender a passagem "profecia sem autoriza��o � proibida sob pena de morte."
Como os hebreus tinham o h�bito de constantemente consultarem tais fontes paraps�quicas, esta ordem parecia necess�ria do ponto de vista de Mois�s, que tinha
que controlar uma situa��o pol�tica muito dif�cil, sob pena de por em risco a pr�pria seguran�a da na��o. Utilizar-se desta situa��o especial em circunst�ncias totalmente
diferentes n�o passa de deliberada falsidade.
A outra passagem freq�entemente tomada quando se deseja citar a B�blia como condenando a feiti�aria � quando o rei Saul pede a seus escravos que lhe tragam uma
mulher que possu�a um "esp�rito familiar", para que ela lhe pudesse falar sobre seu futuro - uma m�dium, como dizemos hoje. Mas as adapta��es medievais das Escrituras
preferiam usar o termo "feiti�aria". O "esp�rito familiar" a que se refere corresponde ao que chamamos "controle" na moderna parapsicologia.
Ainda hoje, recebo algumas cartas de fan�ticos religiosos apresentando esta passagem. O rei Saul, conta-nos a B�blia, morreu devido a sua desobedi�ncia procurando
descobrir o futuro, apesar de Deus lhe ter dito que n�o o tentasse.
Qualquer pessoa que tenha um certo conhecimento sobre a hist�ria dos hebreus compreende que fazia parte de seu mundo acreditar num Deus pessoal, acostumado a
manter conversa��es com algumas pessoas. No cristianismo, esta fun��o � atribu�da a Jesus e, no Oriente, Buda aproximava-se de seu rebanho sempre que necess�rio.
Acho muito significativo que a religi�o dos feiticeiros, muito mais antiga e comparativamente primitiva, n�o tivesse necessidade da humaniza��o de sua divindade.
A Deusa-M�e nunca precisou conversar com os membros da comunidade ou com a sacerdotisa-chefe. Ningu�m nunca esperou ver uma deusa no meio deles, nem eles nunca tentaram
qualquer esp�cie de descri��o de sua suprema divindade. Acho que isto acontece porque os seguidores da Antiga Religi�o sempre foram capazes de compreender que a
divindade � a pr�pria natureza e, como todos eles fazem parte desta mesma natureza, tamb�m participam da divindade. Seria como que falar consigo pr�prio esperar
que a Deusa-M�e mantivesse conversa��o com algu�m.
O pacto com Sat�, parte indispens�vel num julgamento de feiticeiro, era geralmente um documento escrito e produzido pela pr�pria acusa��o para servir de prova
contra o r�u. Alguns desses incr�veis documentos ainda existem.
Pensam alguns pesquisadores que o adorno que os sacerdotes usam na cabe�a em algumas cerim�nias - galhadas ou chifres de animais - podiam ter sugerido � Igreja
a id�ia de que os feiticeiros adoravam a personifica��o do diabo. Certamente, nunca nenhum feiticeiro adorou Sat� ou qualquer figura semelhante. A feiti�aria n�o
possui um conceito de inferno ou purgat�rio, apenas uma cren�a firme e sincera numa outra vida, onde o homem continua uma exist�ncia espiritual, com direito � reencarna��o,
dependendo de seus m�ritos. Eles chegaram a formar este conceito de reencarna��o, n�o por contato com religi�es orientais, mas pela observa��o da natureza, onde
a vida sempre retorna.
J� demonstrei que sacrif�cios nunca fizeram parte da Antiga Religi�o, apesar de todas as hist�rias de adora��es sangrentas e matan�as de beb�s inocentes. No entanto,
existe realmente a id�ia de que o sacerdote-chefe que representa o Deus de Chifres da Ca�a deve morrer simbolicamente no final de seu reinado. Este sacrif�cio extremo
era necess�rio para assegurar uma vida feliz no ano seguinte. Mas n�o pensem que algum sacerdote tenha morrido de fato em sacrif�cio, mesmo em �pocas muito remotas.
Esta id�ia � bastante semelhante � de Cristo tendo que morrer por nossos pecados, ou � da lenda eg�pcia de Os�ris. Constitui apenas uma maneira de o homem reconhecer
o car�ter c�clico da natureza e da vida - que tudo e todos precisam morrer para nascer novamente.
Quando a Antiga Religi�o teve que se tornar secreta, aprendeu uma nova maneira de existir - aprendeu a ter cautela para n�o ser destru�da. Mas as pessoas n�o
desistiam de segui-la, e at� encontravam nisto um novo motivo de atra��o. Se antes n�o havia segredos sobre o fato de pertencer ao culto, isto agora constitu�a motivo
de m�xima precau��o. Com exce��o daqueles nascidos em fam�lias de feiticeiros, pessoas vindas de fora raramente eram admitidas, e isto somente depois de a comunidade
ter certeza de que n�o lhes causariam problemas. Embora pare�a estranho, n�o se conhecem casos de infiltra��o de algum elemento vindo de fora com a inten��o de melhor
poder denunciar seus colegas. A explica��o � simples: tal membro tempor�rio corria o risco de ser tomado como um genu�no feiticeiro, pois a Igreja n�o abria exce��es.
Temos conhecimento de documentos volumosos relatando o que faziam os feiticeiros em suas reuni�es. Mas a maioria destas fontes s�o registros de julgamentos, confiss�es
assinadas sob coa��o pelas pobres v�timas e que, portanto, n�o podem ser consideradas como prova de seu comportamento normal. Existiam ainda as confiss�es fornecidas
"livre e espontaneamente" pelos feiticeiros com esperan�as de evitar a tortura e � morte, pois muitos n�o sabiam que a tortura seria aplicada de qualquer maneira.
Contamos, tamb�m, com a tradi��o passada de boca em boca e que sobreviveu at� nossos dias. Estas s�o as fontes em que o povo se baseia para ter uma id�ia do que
era a feiti�aria.
No s�culo dezessete, por exemplo, os camponeses costumavam reunir-se durante os sab�s e o que geralmente ocorria estava muito mais pr�ximo de uma dan�a folcl�rica
do que de um ritual religioso ou sinistro. Homens e mulheres, jovens e velhos, ricos e pobres, participavam dessas formas comunit�rias de adora��o que existem desde
o aparecimento da humanidade. Ao chegarem ao local do encontro, geralmente uma clareira no meio de um bosque, as mulheres montavam suas vassouras simb�licas e entravam
no c�rculo sagrado. M�sica de flauta convidava para a dan�a. Esta id�ia era chocante numa �poca em que a dan�a era considerada pecado e Calvin mandava queimar as
pessoas pelo crime de dan�ar ou cantar. E os feiticeiros, seguindo uma antiga tradi��o celta, costumavam dan�ar, costas contra costas, formando um grande cord�o
que se enrolava sobre si mesmo. Isto era tomado como um sinal certo de que eles estavam fazendo alguma coisa demon�aca, pois tudo que era feito de costas significava
contr�rio a Deus. Pessoas canhotas, por exemplo, eram muitas vezes queimadas como feiticeiros ou, na melhor das hip�teses, condenadas ao desterro. Tudo isto porque
a palavra latina para "esquerda" e "escuro" � uma s�, e o Pr�ncipe das Trevas � o diabo.
Depois da dan�a, bebiam vinho e comiam bolos. Tomavam parte em orgias sexuais? N�o mais que os participantes de outra qualquer festa folcl�rica na �poca.
Os �nicos rituais que faziam com que estas reuni�es fossem diferentes de dan�as folcl�ricas comuns eram aquelas presididas pela sacerdotisa ou pelo sacerdote,
geralmente donos de fazendas conhecidos por todos, que abriam a cerim�nia com uma r�pida invoca��o da Deusa-M�e, para que aben�oasse a lavoura e lhes garantisse
boas colheitas.
Os encontros eram geralmente � noite, nos dias de festa e nas noites de lua cheia. Quando chegavam ao local de encontro, os feiticeiros costumavam tirar as roupas
e dan�ar nus. Este � um dos costumes particularmente ofensivo � Igreja e, mais tarde, aos puritanos, e at� hoje � a caracter�stica que torna mais dif�cil explicar
a feiti�aria a um grande n�mero de pessoas capazes de aceitar outros aspectos da religi�o. Pois o homem est� t�o condicionado � inibi��o sexual que n�o pode conceber
nudez sem pecado.
A Antiga Religi�o sempre alimentou a cren�a de que o corpo do homem possu�a um reservat�rio de for�a que podia ser usado pela comunidade para criar uma for�a
de concentra��o nas dan�as e reuni�es. Este "cone de poder", uma vez formado, podia ser utilizado e dirigido pelo l�der, a sacerdotisa-chefe, da maneira que ela
achasse conveniente. As roupas sempre bloquearam este "campo de for�a" e, por isso, o feiticeiro precisava trabalhar nu. Tudo � muito simples, sem a m�nima significa��o
er�tica. O erotismo inconseq�ente sempre foi e ainda � condenado pela feiti�aria, embora o amor espont�neo e livre n�o tenha sido suprimido dos rituais. Isto sempre
foi considerado problema pessoal, assunto pertencente � esfera da consci�ncia de cada um, e a verdade � que as reuni�es assumiam caracter�sticas de recato ou licenciosidade
dependendo do esp�rito do tempo em que se realizavam.
Ent�o, os feiticeiros dan�avam nus at� que chegasse a hora de se vestirem novamente, voltarem para casa e ca�rem na cama exaustos e esperarem at� o festival seguinte
para, novamente, liberarem um pouco mais de energia. Esta era a sua maneira pr�pria de se sentirem unos com a natureza e a divindade que a representava. N�o prejudicavam
a ningu�m, nem mesmo a eles pr�prios, e todos sabemos que pessoas felizes constituem um povo produtivo.
Para a Igreja, as coisas simples n�o bastavam e a tudo, ent�o, procuraram acrescentar a presen�a de Sat�. As mentes pervertidas dos padres inventaram hist�rias
como a de que as feiticeiras precisavam beijar a bunda do diabo e que possu�am o estranho poder de voar em suas vassouras. O beijo era pura invencionice, mas o v�o
na vassoura tinha, na verdade, uma certa base. Os feiticeiros untavam-se com um b�lsamo, contendo o que agora chamamos de drogas psicod�licas, extra�das de ervas
que eles conheciam muito bem. No �xtase da dan�a e sob o efeito da droga, imaginavam-se voando pelo ar. Levando-se em considera��o que os feiticeiros tamb�m s�o
pessoas capazes de sofrer de desejos sexuais reprimidos, as vis�es inclu�am mundos fantasiosos habitados por dem�nios, monstros e atos sexuais incluindo pervers�es
e tudo mais que o homem � capaz de imaginar.
Estas drogas produzem rea��es semelhantes em outras pessoas que n�o s�o feiticeiros. H� alguns anos atr�s, um pesquisador alem�o, o Dr. Erich Will Peuckert, seguiu
as instru��es da receita de um desses ung�entos do s�culo dezesseis e, em seguida, usou-o em si pr�prio e num amigo advogado. Os dois homens atravessaram um estado
de transe que durou umas vinte horas. Quando tudo passou, descreveram suas experi�ncias e verificaram que elas eram muito semelhantes. Ambos tinham atravessado os
ares at� chegarem a um sab� de feiticeiros, tinham visto o diabo e participado de orgias sexuais - tudo em suas mentes, naturalmente. Assim, tinham seguido fielmente,
em 1960, o caminho da fantasia trilhado pelos feiticeiros de tempos remotos.
Um fato interessante e ir�nico � que muitos feiticeiros eram levados para a fogueira acreditando verdadeiramente que tinham voado e participado de um desses estranhos
sab�s. Mas as drogas, contendo principalmente beladona e ac�nito, eram usadas ainda em outras ocasi�es e com determinados objetivos. Era quando os feiticeiros queriam
mas n�o podiam comparecer a um sab�. Eles acreditavam que seus esp�ritos estariam presentes, enquanto seus corpos permaneciam em casa na cama.
� propor��o que as persegui��es se tornavam mais duras e ficava mais dif�cil a realiza��o de grandes reuni�es, foi-se desenvolvendo a id�ia de pequenas comunidades.
Em vez das reuni�es de massa nas campinas ou em rom�nticos locais como Brocken, nas montanhas Harz, na Alemanha, passaram a se encontrar silenciosamente em lugares
fechados ou pontos distantes nos bosques. Nunca havia mais de treze num grupo, e um grupo raramente sabia onde outro grupo estava realizando suas reuni�es.
Embora as comunidades fossem pequenas, de vez em quando se realizavam encontros de grupos de comunidades, presididas por um l�der de renome que permanecia escondido
detr�s de uma m�scara. Este l�der costumava ser uma pessoa de import�ncia pol�tica como o Conde de Bothwell, no tempo de James I, e os la�os que mantinham com a
Antiga Religi�o tinham mais a ver com interesses pol�ticos do que com a adora��o da Deusa-M�e.
Na Inglaterra, a antiga lei que fazia da pr�tica da feiti�aria um crime deixou de vigorar em 1951, embora n�o viesse sendo mais levada em considera��o desde o
s�culo dezenove. Mas, na Irlanda, at� o final do s�culo dezenove, uma pessoa podia ser assassinada como feiticeira pelos camponeses supersticiosos, que lan�avam
a culpa de um insucesso na lavoura ou outras cat�strofes sobre qualquer velha de aspecto estranho, que, logo, era chamada de bruxa. Isto � o que resta da propaganda
de �dio lan�ada e desenvolvida pelo clero e que ainda levar� alguns anos para desaparecer completamente.
Os pr�prios puritanos j� tinham demonstrado com que crueldade s�o capazes de tratar outros seres humanos, durante a sangrenta guerra civil na Inglaterra. O que
as legi�es de Cromwell fizeram aos cat�licos romanos na Inglaterra e principalmente na Irlanda � compar�vel em ferocidade ao pior que a Inquisi��o fez aos "hereges".
O per�odo da Restaura��o na Inglaterra claramente favoreceu o conceito de liberdade religiosa e de igualdade para ambas as f�s. Foi por causa deste conceito liberal
que os puritanos deixaram o pa�s e n�o, como alegam, por motivo de persegui��o religiosa contra sua pr�pria cren�a. � preciso que se tenha isto em mente para que
se possa compreender o fato que vou narrar. Tudo come�ou quando uma �ndia que servia como empregada dom�stica em Salem, Massachusetts, n�o longe de Boston, come�ou
com hist�rias de comunica��es com for�as demon�acas. Se a garota era realmente m�dium e capaz de ouvir e conversar com vozes ou, apenas, frustrada e ansiosa por
chamar aten��o, � dif�cil dizer. Mas ela deu in�cio a um processo de histeria coletiva que se espalhou como fogo selvagem at� atingir toda uma comunidade.
Homens de cultura acreditavam seriamente que membros respeit�veis de sua pr�pria sociedade podiam ser feiticeiros contratados para prestar servi�os ao dem�nio.
A mais leve manifesta��o de comportamento fora do comum - deixar de comparecer � igreja, gostar de m�sica e dan�a, ou demonstrar habilidades paraps�quicas - era
suficiente para que um cidad�o fosse acusado, preso e levado a ser julgado como feiticeiro. Os puritanos da Nova Inglaterra consideravam at� mesmo uma f� t�o inofensiva
como a dos Quakers her�tica e perseguiam aqueles que a praticavam. Para eles, a bruxaria estava sempre relacionada com a pessoa do diabo e fazia parte do verdadeiro
esp�rito calvinista atribuir ao diabo todas as manifesta��es do comportamento humano que se afastassem da vida severa, sombria e mon�tona que eles consideravam apropriada
em sua comunidade.
Os julgamentos de Salem, no s�culo dezoito, produziram um n�mero bem menor de m�rtires do que o holocausto europeu do s�culo dezessete, mas os m�todos n�o diferiram
muito.
� facilmente compreens�vel que, em tais condi��es, a Antiga Religi�o fechasse suas portas a novos membros e admitisse somente pessoas das chamadas fam�lias tradicionais
de feiticeiros, pois a feiti�aria, como muitas outras f�s religiosas, passava de gera��o para gera��o. Muito pouco foi escrito e todo o cuidado era tomado para disfar�ar
algumas das instru��es de ritos, no caso de uma busca ser realizada pelas for�as hostis.
Mesmo depois que esta persegui��o louca terminou, os feiticeiros n�o se sentiam preparados para deixar seus esconderijos e dividir a luz do sol com as outras
f�s. Embora, aqui e ali, alguns praticantes da Antiga Religi�o voltassem a agir abertamente, o verdadeiro renascimento da feiti�aria data apenas do fim da Segunda
Guerra Mundial.
Conquanto grandes intelig�ncias como Aleister Crowley e Robert Graves tivessem escrito alguma coisa sobre a Antiga Religi�o e ajudado a reformular alguns dos
rituais, foi somente quando um antropologista chamado Gerald Gardner publicou sua aprecia��o da moderna feiti�aria, que surgiu um trabalho de maior vulto. Seu livro
Witchcraft Today ("Feiti�aria Moderna") surgiu em 1954, e � considerado uma obra modelar de consulta sobre a Arte dos S�bios. Outro livro s�rio que surgiu sobre
a Antiga Religi�o, do ponto de vista de observadores estudiosos de antropologia, foi o da Dra. Margaret Murray - The Witch-Cult in Western Europe ("O Culto da Feiti�aria
na Europa Ocidental"). O pr�prio Gardner entrou para uma comunidade e acabou por se tornar seu sacerdote-chefe. Nos �ltimos anos de sua vida, pesquisou antigas fontes,
enriquecendo, assim, o ritual da feiti�aria com um grande n�mero de cerim�nias esquecidas atrav�s dos anos por aquelas comunidades que tinham continuado a pr�tica
de seu antigo culto. Tanto as comunidades como os feiticeiros isolados atribuem ao Dr. Gardner o papel de um grande renovador e profeta moderno.
Se fizermos um retrospecto de sua vida, pois Gardner morreu h� alguns anos, n�o podemos deixar de admirar seu trabalho neste campo. � verdade, como dizem, que
ele elaborou um pouco os antigos ritos, acrescentando alguns toques pessoais, mas, se assim o fez, acho que foi movido apenas por um motivo: contribuir com sua parte
para o enriquecimento de uma experi�ncia de s�culos. Era enorme o conhecimento de Gardner sobre o passado e a hist�ria da feiti�aria - na verdade, de todas as outras
religi�es - e a maneira como ele abordou o assunto foi puramente cient�fica, baseada em s�rio trabalho de pesquisa. Mas, como membro ativo de uma comunidade, ele
tamb�m era obrigado a observar certas restri��es.
Naturalmente, n�o existe mais necessidade de medo na Am�rica, apesar da incr�vel histeria de Salem, em 1692, que custou a vida de muitas pessoas inocentes. Alguns
dos respons�veis, mais tarde, confessaram e reconheceram publicamente sua culpa, o que, infelizmente, n�o p�de fazer ressuscitar as v�timas. Mas a feiti�aria foi
retirada da categoria de pecados capitais nas col�nias americanas em 1736, e ningu�m mais foi oficialmente perseguido ou executado depois dessa data. Mas casos espor�dicos
de persegui��o levada a efeito por pessoas ignorantes e supersticiosas e, algumas vezes, at� mesmo, estimulada pelo clero, continuam at� hoje. No dia 3 de fevereiro
de 1968, a United Press noticiou, do M�xico, o caso do linchamento de uma feiticeira acusada de matar por magia negra uma menina. As dezesseis pessoas que participaram
do enforcamento da mulher - Bernardina Perez, de quarenta e dois anos de idade - foram, mais tarde, presas e julgadas por assassinato.
� dif�cil acabar com a histeria. O homem parece nunca poder abandonar completamente seus instintos animais, e a possibilidade de atos de terror, como o assassinato
ritual, permanecer� sempre latente sob a fina camada exterior de civiliza��o e amor ao pr�ximo.
"Somente Deus sabe o grande preju�zo trazido por nossas igrejas e sinagogas por n�o compreenderem as limita��es das aspira��es e realiza��es humanas. Quando grupos
religiosos se utilizam da histeria para chamar novos convertidos � sua f�, est�o usando m�todos m�rbidos em vez de m�todos de cura."
O orador era o Reverendo George Christian Anderson, presidente da Academia de Religi�o e Sa�de Mental de Nova York.
- A data?
1� de setembro de 1968.
Talvez n�o seja demais esperar que a Antiga Religi�o consiga, num futuro pr�ximo, assumir finalmente seu lugar de direito entre as grandes religi�es do mundo,
livre do terror, do ostracismo social e da falta de compreens�o dos homens. Pois toda boa religi�o � necess�ria ao homem, em sua infind�vel batalha contra o materialismo
e a semente de destrui��o escondida dentro de todos n�s.
4 - A BRUXARIA NA AM�RICA
Quem s�o os feiticeiros?
Se os feiticeiros n�o se designassem a si pr�prios por este nome, talvez ningu�m lhes prestasse muita aten��o. J� existe um novo grupo na Inglaterra que se autodenomina
"The Regency" (A Reg�ncia); s�o feiticeiros aut�nticos em tudo, apenas o nome � diferente.
Mas eles t�m o direito de usar o termo antigo (que significa "os s�bios"), da mesma maneira que t�m os crist�os de se chamarem crist�os. Se a imagem popular evocada
pela palavra sofreu s�rias distor��es na Am�rica, a culpa n�o � deles.
A primeira vez que travei conhecimento com um feiticeiro, eu estava muito mais fascinado do que amedrontado, mas isto porque j� tinha aprendido muita coisa sobre
m�diuns, pessoas com poderes paraps�quicos, yoguins, astr�logos e outros indiv�duos diferentes; aprendera, inclusive, a consider�-los pessoas essencialmente iguais
a voc� e a mim.
Agora que j� passei muitos anos em contacto com o culto e seus seguidores e chamo muitos deles de amigos sem medo de perder nenhuma de minhas outras amizades
ou um peda�o de minha alma, posso afirmar com seguran�a que enriqueci grandemente minha experi�ncia e muito acrescentei a meus conhecimentos. Aprendi, principalmente,
que feiticeiros s�o, antes de mais nada, seres humanos e n�o misteriosas criaturas da noite; que eles comem, dormem e fazem o amor como todo mundo e que a feiti�aria
pode atingir os n�veis religioso e social t�o profunda e decisivamente como qualquer outro interesse humano, pensamento ou filosofia. A feiti�aria aceita perfeitamente
o fato de voc� pertencer a sua igreja ou sinagoga, desde que n�o passe a atac�-la por ser uma f� muito mais antiga, Sou membro da Igreja Episcopal e acho que isto
n�o entra, absolutamente, em conflito com o interesse que mantenho em rela��o � Antiga Religi�o.
Este, naturalmente, � o ponto de vista atual, somente poss�vel na nova atmosfera de liberdade religiosa e espiritual (pelo menos, no mundo ocidental), pois j�
existe respeito � consci�ncia de cada um e n�o mais se dita ao homem aquilo em que ele deve acreditar ou que pessoas ou filosofias deve seguir.
Mas acho que qualquer comunidade de feiticeiros que agisse t�o livre e abertamente como qualquer outro grupo religioso de qualquer outra denomina��o seria logo
acusada de perverter os jovens ou amea�ar a imagem imaculada da sociedade. Por isso � que as comunidades que operam atualmente nos Estados Unidos t�m l� suas raz�es
para quererem manter-se discretamente no anonimato.
Parte da atra��o da feiti�aria � o que ela possui de aparentemente secreto e misterioso. Um grupo que se fizesse anunciar nos jornais n�o seria t�o procurado
e desej�vel como outro ao qual voc� s� pudesse ter acesso por meio de uma recomenda��o especial.
Pessoas jovens principalmente - n�o me estou referindo a crian�as, mas a pessoas entre os vinte e trinta anos - procuram ardentemente ser introduzidas na comunidade
local mais pr�xima. A maioria deles n�o conhece absolutamente nada sobre a feiti�aria, com exce��o de seu nome m�gico e misterioso. Muitos possuem certa familiaridade
com poderes extra-sensoriais e j� tiveram experi�ncias paraps�quicas em suas vidas; por isso, escolheram o caminho da feiti�aria para aprenderem sobre o oculto,
pois isto � bem melhor do que enviar cartas ao Dr. Rhine, mesmo porque elas raramente s�o respondidas. Muito poucas dessas pessoas sinceras e ansiosas que me procuram
recebem de mim qualquer ajuda no sentido de conduzi-las � comunidade local. Em farte, porque conhe�o um n�mero muito pequeno de comunidades pessoalmente e acho que
� de minha obriga��o, antes de eleger qualquer uma delas, presenciar algumas reuni�es e conhecer seus membros ou, pelo menos, seu l�der. Em segundo lugar, porque
essas pessoas geralmente est�o em busca de sensa��es fortes, mas, muito poucas vezes, realmente interessadas em se dedicar a um longo e �rduo caminho de estudos.
E, como Sybil Leek j� afirmou, esta � a �nica maneira de atingir os totais benef�cios da feiti�aria. O que a maioria desses simp�ticos jovens procuram � "Feiti�aria
Instant�nea" e isto, sinto muito, n�o existe.
Que esp�cie de pessoas praticam a feiti�aria hoje?
Para come�ar, h� aqueles que se dizem feiticeiros, mas, na verdade, n�o o s�o. Algumas dessas pessoas nem sabem direito em que consiste, realmente, ser feiticeiro.
Uma senhora encantadora chamada Vera - desculpem-me, mas n�o posso dar os sobrenomes dos feiticeiros neste livro, embora, naturalmente, eu conhe�a todos os nomes
completos e endere�os - informou-me, n�o h� muito tempo, que ela descendia de uma feiticeira de Salem. Na verdade, sua fam�lia celebra esta descend�ncia not�vel
anualmente numa grande reuni�o, durante a qual os v�rios membros da fam�lia podem trocar id�ias sobre suas pr�prias atividades de feiticeiros, quem as possui, ou
relembrar as hist�rias de Tia Mary de Salem, que foi julgada e condenada durante a famosa ca�ada de 1690. Mas isto n�o basta para fazer de Vera uma feiticeira. Para
come�ar, nem ao menos sua antepassada era uma feiticeira - apenas uma senhora acusada de feiti�aria numa �poca em que muitos o foram. Vera tem um certo interesse
nas coisas ocultas e j� me contou alguma coisa sobre as experi�ncias estranhas que viveu quando viajava pelo exterior. Ela � negra, mant�m not�veis pretens�es a
escritora e possui um certo poder extra-sensorial. Mas, se eu lhe tivesse contado o que � realmente a feiti�aria e descrito alguns de seus ritos, tenho certeza de
que ela desistiria de tudo. N�o acho que ela estivesse preparada.
Robert � um artista, casado, e vive em Concord, Calif�rnia. Parece que, h� muito tempo, v�rias pessoas de sua fam�lia t�m apresentado poderes de percep��o extra-sensorial,
mas seu interesse no presente n�o vai al�m de bola de cristal, mesas para receber mensagens medi�nicas e um transe ou outro de vez em quando. Sua esposa parece dar-se
muito bem com as habilidades fora do comum de Robert e ela pr�pria, pelo menos uma vez, parece j� ter conversado animadamente com o falecido sogro, que falou atrav�s
do filho.
"N�o insistimos muito mais neste caminho," explicou Robert. "A tentativa seguinte foi na casa da m�e de minha esposa e, quando entrei em transe hipn�tico, disse
� minha sogra coisas que nunca devia ter dito."
A conclus�o a que se chega � que estava claro que Robert precisava ter mais cuidado com seus talentos paraps�quicos.
Antes de seu casamento, ele realizou coisas que, tivesse vivido em outro s�culo, certamente o teriam qualificado como feiticeiro praticante. Quando sa�a com uma
garota, era capaz de lhe visualizar o futuro, n�o numa bola de cristal, mas num simples copo d�gua. Isto fazia dele um rapaz muito procurado pelas mo�as, at� que
come�ou a ser correto demais em suas predi��es e perdeu todas as namoradas. Quando morava em Aspen, Colorado, encantou, literalmente, uma certa senhorita. Descobriu
de repente que n�o precisava esperar que ela quisesse v�-lo. Bastava pensar em ela vir procur�-lo para que ela o fizesse. Embora n�o tivesse um gato preto para lhe
cumprir as ordens, ele fazia exatamente o mesmo que o personagem do livro de fic��o Bell, Book and Candle ("Sino, Livro e Vela"). Isto � telepatia e, se voc� preferir,
j� que parece transcender �s formas comuns de comunica��o e rela��es de causa e efeito.
Robert utilizou-se de seu talento freq�entemente e com grande prazer. Tudo que ele tinha que fazer era enviar uma ordem mental para que ela viesse � sua casa
e ela vinha correndo em poucos minutos. Mas, um dia, ele cometeu o erro de se gabar de seus poderes. Resultado: fim da amizade.
Se Robert tivesse querido, poderia ter-se tornado um bom feiticeiro. Tudo que ele queria saber era de que maneira funcionavam seus poderes. Depois que lhe expliquei,
nunca mais soube dele.
Por outro lado, o desejo de se tornar feiticeira pode ser muito forte em uma garota de quatorze anos. Nesta idade, inclusive, � alguma coisa muito rom�ntica ser
leitora de livros proibidos e sonhar em fazer parte de uma organiza��o considerada religi�o secreta. Mas tenho recebido muitas cartas inteligentes de meninas desta
idade, e at� mais jovens, que t�m no��es bem mais real�sticas sobre o assunto. Ter quatorze anos n�o � t�o ruim como pode parecer. Pelo menos, ainda n�o se teve
tempo de cometer todos os erros e acumular todos os preconceitos dos adultos. Por isso, n�o olho com pouco caso para ningu�m pelo simples fato de n�o ter idade suficiente
para votar.
Uma menina chamada Melissa implorou a meu editor que ele lhe desse meu endere�o. "Estou muito interessada na religi�o da feiti�aria", escreveu-me, "e gostaria
que o senhor me desse o endere�o de uma comunidade perto de minha casa. Moro em Thousand Oaks, Calif�rnia." E por que gostaria esta menina de entrar para uma comunidade?
"Sin (pecado) � meu apelido por ser o que sou - uma feiticeira. Nasci com "leite de bruxa" em meu peito e meu nascimento ocorreu no dia 30 de abril."
Achei que a conveni�ncia da data do nascimento tinha sido uma considera��o muito especial da parte de sua m�e, mas ainda continuo intrigado com essa hist�ria
de leite de bruxa nos seios. N�o pude encontrar nada de muito positivo para oferecer � jovem. Talvez um pouco de leitura sobre o assunto a ajudasse um pouco.
Muitas pessoas com capacidade de clarivid�ncia se julgam feiticeiras porque o que elas pressentem que vai acontecer realmente chega a ocorrer. Na sua maneira
ing�nua de raciocinar, acham que elas � que causaram o acontecimento. Se donas de casa do s�culo vinte pensam desta maneira - e tenho muitos casos deste tipo registrados
- acreditando realmente que elas fazem as pessoas ficarem doentes ou morrerem porque t�m uma premoni��o sobre esses fatos, imaginem a atmosfera de supersti��o e
terror dois ou tr�s s�culos atr�s. N�o me admira que muitas mulheres aceitassem passivamente o fato de serem acusadas de feiti�aria, quando, na verdade, o que acontecia
com elas era possu�rem uma natural capacidade paraps�quica com alguns poderes de percep��o extra-sensorial.
Mas, sempre que as perguntas vierem acompanhadas de uma atitude apropriada em rela��o a este culto fascinante, merecer�o uma resposta de minha parte.
"Acredito implicitamente nos poderes da mente; por isso, estou interessada nessa arte t�o antiga", explicou Pat, de Ohio, a prop�sito de seu desejo de aderir
a uma comunidade e estudar. Por outro lado, Barbara, da Pensilv�nia, tem uma tia que pratica magia negra em sua infeliz fam�lia. Pelo menos, isto � o que pensa Barbara.
Sombras de Salem!
O problema da jovem Linda � que j� realizou testes que demonstraram que ela possui de fato poderes de percep��o extra-sensorial, mas n�o consegue localizar uma
comunidade de feiticeiros no lugar onde mora - Mansfield, Ohio.
� muito dif�cil saber onde existem tais comunidades. O segredo � uma das marcas da verdadeira feiti�aria. Isto n�o ocorre apenas por raz�es de seguran�a, embora
as pessoas que s�o feiticeiros ainda temam um pouco que seus vizinhos conhe�am a verdade sobre este fato. O verdadeiro motivo est� na cren�a de que tornar conhecidos
detalhes dos rituais, principalmente os nomes das divindades, enfraquece os poderes m�gicos dos ritos e palavras. Se isto � verdade ou n�o, � o menos importante;
o que conta realmente � que eles acreditam nisto e suas cren�as s�o a mola de propuls�o que garante a efici�ncia de seus rituais; conseq�entemente, delas dependem
os resultados obtidos.
Acho que existe ainda uma outra raz�o para que os feiticeiros se agarrem t�o tenazmente � necessidade de manter segredos sobre seus rituais, nomes de feiti�aria
e os nomes de seus deuses. S�o esses segredos que lhes conferem alguma coisa de diferente das outras pessoas. Esta � sua forma de escapar da realidade mon�tona da
vida para um mundo de conhecimento esot�rico. Dividir seus segredos com os outros seria o mesmo que abrir m�o de seus status especial na sociedade.
O mais prov�vel � que a explica��o para o segredo esteja na combina��o de todas estas raz�es. J� que as comunidades n�o est�o interessadas em convertidos, n�o
se importam se � dif�cil localiz�-los. Foi por isso que Linda me procurou, na esperan�a de que eu conhecesse alguma feiticeira para os lados onde mora. Ela bem que
poderia unir suas for�as com Mary, uma dona de casa que vive em Massachusetts. Mary possui o que o Dr. Rhine chamaria de PK. Para exemplificar o que seja isto, vou
narrar dois incidentes que ela considera seus maiores triunfos de parapsicologia:
Quando tinha dezoito anos, morava numa casa perto da estrada de ferro. Uma manh�, olhando pela janela, viu, do outro lado da linha do trem, um rapaz a quem, h�
muito tempo, queria fazer uma certa pergunta, mas ainda n�o tinha encontrado uma oportunidade para lhe falar. Ela poderia muito bem correr e alcan��-lo ou gritar
para ele da janela. Mas, de repente, decidiu "querer" que ele viesse a ela. Com os olhos fixos no rapaz, enviou-lhe o pensamento de que ele deveria deixar a plataforma
e vir at� onde ela estava. Era uma ordem um tanto ousada, pois era de manh� e o rapaz estava indo para o trabalho. Ent�o o trem chegou e passou e Mary deixou-se
cair sentada, desapontada com o fato de seus poderes terem falhado. Mas, de repente, a porta se abriu e o rapaz entrou sem a m�nima cerim�nia, atirando-se numa poltrona.
- Gostaria de saber o que est� acontecendo comigo. Estava esperando o trem para Attleboro e, justamente quando ele chegou, senti que n�o podia tom�-lo. E deixei
que ele se fosse. Por qu�?
A mo�a apenas deu de ombros e pediu-lhe a informa��o de que precisava, deixando-o ir em seguida. Mas ela nunca lhe contou como se tinha utilizado de sua for�a
de vontade para faz�-lo mudar de id�ia.
Uma experi�ncia semelhante ocorreu alguns anos mais tarde. Estava atrasada para o trabalho numa manh� gelada de inverno. Encontrava-se num �nibus e os caminhos
estavam cobertos de gelo. Como pretendia descer duas paradas antes do ponto final, fez sinal e preparou-se para saltar, mas o condutor virou a cabe�a com indiferen�a
e n�o parou. Como j� estivesse atrasado, ele, com certeza, achou que recuperaria o tempo perdido se pulasse algumas paradas. Mary, por sua vez, sabia muito bem que,
se tivesse que caminhar dois pontos com aquele mau tempo, n�o seria capaz de chegar ao trabalho �s sete horas como precisava.
Uma s�bita onda de raiva e for�a apoderou-se dela e a fez pensar: "Ele tem que parar."
E, imediatamente, o �nibus parou e saiu do caminho. O �nibus vinha conseguindo fazer sem nenhum problema muitas curvas cobertas de gelo, mas, sem explica��o aparente,
num trecho reto de estrada, derrapou para fora e teve que parar. Mary aproveitou-se da confus�o para saltar e, ao passar pelo condutor, sorriu-lhe de lado, dizendo:
- Se o senhor tivesse parado quando toquei o sinal, isto n�o teria acontecido.
Mary tem consci�ncia de suas responsabilidades e nunca prejudica ningu�m com seus poderes. Entre seus antepassados houve uma mulher que era feiticeira, mas tudo
indica que tenha sido uma boa feiticeira, pois nunca foi levada a julgamento.
Hoje em dia, as feiticeiras s�o geralmente jovens bonitas com sorrisos encantadores e capazes de cativar os homens sem a m�nima necessidade de apelar para o sobrenatural.
A sua magia � a mesma usada por todas as mulheres bonitas do mundo; talvez que esta capacidade feminina de atrair os homens seja uma esp�cie de m�gica - m�gica da
natureza. Ao ver estas mo�as lindas na imprensa, dando entrevistas nas quais se declaram feiticeiras, penso em como estamos distantes do M�gico de Oz.
� o caso de Judith Malis ("Malis" � a palavra latina correspondente a "mal"), por exemplo, que realiza confer�ncias sobre o oculto em institui��es n�o relacionadas
diretamente com a feiti�aria como o Instituto de Cultura e Vida de Pensilv�nia, em Lancaster. Sua especialidade s�o po��es de amor contendo - ser� que voc�s est�o
preparados? - folhas de trevo, mel, p�talas de rosa e pernas de aranha. Esta feiticeira usa minissaia e o faz com muito sucesso.
E ainda temos Mimi, que parece ser um caso bem mais s�rio. Tem vinte e dois anos, � bonita, acredita em dem�nios, � casada com um feiticeiro e gosta de se dedicar
ao oculto de um modo geral. Mas ganha a vida trabalhando honestamente numa loja em East Village, em Nova York. Como vim a saber de sua exist�ncia?
Existe em Nova York um clube noturno psicod�lico chamado "The Cheetah" e seus donos queriam organizar uma festa de Halloween; uma festa completa, com uma feiticeira
aut�ntica e tudo. Vieram-me procurar com a esperan�a de que eu pudesse persuadir Sybil Leek a trabalhar para eles. Fui logo dizendo que n�o havia a m�nima chance,
pois conhe�o a opini�o inabal�vel de Sybil sobre essa esp�cie de com�rcio, que nada tem a ver com a pr�tica verdadeira da Antiga Religi�o, ou qualquer outra, exceto
a adora��o de Mamon.
Mimi foi a mo�a que eles, por acaso, conseguiram contratar e hoje n�o sei sinceramente o que aconteceu depois com ela; sei, apenas, que provavelmente j� fez vinte
e tr�s anos.
Sybil n�o era a �nica feiticeira aut�ntica de Los Angeles no tempo em que ela l� vivia, mas pode-se cont�-las nos dedos das duas m�os. Uma pessoa bastante interessante
� uma certa senhora Louise Huebner, que concentra sua a��o nos pol�ticos e "trabalha" isoladamente. Ela se diz a terceira gera��o de uma genu�na fam�lia de feiticeiros.
Vive numa casa de um sub�rbio retirado com um marido rico, tr�s filhos e sete gatos. Eu diria que a senhora Huebner � uma t�pica feiticeira da classe m�dia superior
da Calif�rnia'com um vasto conhecimento de ocultismo em geral. Nada sei sobre suas convic��es religiosas mais profundas, e acho isto um fator essencial para se julgar
uma verdadeira feiticeira, muito mais importante que possuir poderes de percep��o extra-sensorial e outros elementos ocultos que, embora sempre benvindos em qualquer
comunidade, n�o podem ser confundidos com a feiti�aria propriamente dita.
Na parte alta de Hollywood, o local da moda, vive Greta, uma ex-famosa estrela do cinema, com seu marido rancheiro. Ela se considera uma ardente seguidora da
Arte dos S�bios e possui amigos em muitas comunidades, mas acho que n�o � uma praticante regular, estando sempre muito ocupada com suas obriga��es sociais, seus
livros, amigos, casas e milh�es de outras coisas.
O Dr. H. Sloane vive em Toledo, Ohio. � um cartomante e hipnotizador, praticando ainda toda sorte de artes ocultas; em resumo, um m�dium profissional. Orgulha-se
em afirmar que � feiticeiro desde 1908 e eu n�o poderia deixar de cit�-lo, pois, ap�s tantos anos, as pessoas j� devem estar acostumadas com ele e suas cren�as.
Sua feiti�aria � s�ria, n�o sendo nem escondida nem completamente �s claras; mais ou menos como o grupo de Ed em Los Angeles, mas, quem quer que se interesse, n�o
ter� muita dificuldade em encontr�-lo.
Quanto a Ed, seu maior problema reside no fato de ser defensor fervoroso do nudismo no Estado da Calif�rnia. Eu, pessoalmente, nada tenho de especial contra os
nudistas, mas tamb�m n�o me deixo entusiasmar por essa esp�cie de coisa. Acho, no entanto, que, se algu�m aprecia o nudismo, isto � problema dele e ningu�m tem nada
com isso. Ed considera o nudismo muito saud�vel (embora as noites californianas sejam um tanto frescas demais) e � o que se pode chamar de um feiticeiro gardneriano
- absolutamente nenhuma roupa para ele e seu grupo. O pior que se pode dizer de Ed � que ele � um tanto liberal demais em rela��o a muitas coisas: embora ele n�o
saia � procura de convertidos, parece que gente demais procura seu grupo e, como acontece com todos os grandes amontoados humanos, algumas dessas pessoas n�o s�o
tipos l� muito desej�veis.
Esse fato � um tanto surpreendente, pois � amplamente sabido que a Antiga Religi�o, com rar�ssimas exce��es, n�o abriga criminosos ou pessoas de conduta conden�vel
entre seus membros. As comunidades s�o pequenas demais para algu�m nelas se esconder e, como todos trabalham juntos, segredos desta esp�cie tornam-se dif�ceis de
serem mantidos.
Atualmente, as comunidades constituem a dire��o principal na qual caminha a feiti�aria. Mas ainda h� os que praticam como "feiticeiros solit�rios" e nada sabem
sobre coisas tais como comunidades, rituais e cerim�nias; preferem as atividades mais simples e diretas de curar, fazer e desfazer magias e produzir po��es de amor.
No campo, essas po��es s�o de import�ncia muito maior do que na cidade, onde a deusa da oportunidade se encarrega desses assuntos. Os grandes espa�os tornam o namoro
um trabalho bem mais dif�cil; o que mais tem um camarada para oferecer a uma garota al�m de um carro e um drive-in? Por isso, uma pessoa capaz de misturar po��es
de amor sempre � algu�m interessante de se conhecer. � assim um pouco como o m�dico do interior que trata de todas as doen�as, n�o tem liga��o alguma com qualquer
hospital particular, nem recepcionista ou enfermeira - trabalha sozinho e por conta pr�pria. A �nica pessoa com quem conta, geralmente, � sua esposa, que funciona
como sua auxiliar e criada para todo o servi�o. O meu cl�nico particular, durante uns vinte anos, foi um m�dico assim; conhecia mais medicina do que as equipes reunidas
de uma meia d�zia de hospitais e cobrava muito menos por seus servi�os que qualquer rec�m-formado no momento em que acaba de colocar uma tabuleta de "especialista".
No Sul dos Estados Unidos, ainda existem desses feiticeiros - alguns brancos, outros pretos, de descend�ncia racial variada, empregando uma mistura de conhecimentos
adquiridos de v�rias fontes, principalmente atrav�s da tradi��o oral. S�o chamados curandeiros, e as pessoas da ra�a negra temem o seu poder, bom ou mal, e lhe d�o
o nome de obe�, que tem qualquer coisa de semelhante ao vodu, s� que o vodu � leg�timo e o obe� n�o. Entre esses povos, algumas pr�ticas de magia negra devem ter-se
misturado com a verdadeira feiti�aria, mas, na Europa Ocidental e nas regi�es dos Estados Unidos colonizadas por anglo-sax�es, povos de origem germ�nica e escandinava,
a feiti�aria pura ainda existe. O satanismo � novo na Am�rica; inovadores m�rbidos importaram-no da Inglaterra como mais um divertimento sensacional a ser oferecido
�quelas pessoas para quem a ingest�o de drogas j� n�o � suficiente. Mas n�o chegou a penetrar na verdadeira feiti�aria e os praticantes da Antiga Religi�o n�o s�
fogem dele como chegam a tem�-lo. Fogem porque t�m a convic��o de que � uma pr�tica degradante que n�o tem nada a acrescentar de construtivo a suas vidas; temem-no,
n�o por n�o serem capazes de enfrent�-lo, mas por n�o quererem ser identificados, mesmo por insinua��o, com aqueles que o praticam. A opini�o p�blica nem sempre
reconhece a diferen�a.
As acusa��es de feitos e a��es sinistras foram e s�o geralmente atribu�das ao feiticeiro isolado, pois ser diferente, viver afastado das multid�es e possuir habilidades
especiais s�o coisas que nunca foram bem aceitas pela sociedade. Conformar-se � abrigar-se sob a cobertura da mediocridade; ser diferente � fazer perguntas. As pessoas
que t�m poderes ocultos, ou pelo menos interesses, rapidamente adquirem a reputa��o de serem feiticeiros, mas muitos poucos delas realmente o s�o.
As outras pessoas s�o simplesmente indiv�duos que preferem viver um pouco afastados da vida intensa e confusa da sociedade. H� ainda aqueles milh�es de pessoas
que, por possu�rem algum poder de percep��o extra-sensorial, s�o sumariamente chamadas feiticeiras pelos que n�o compreendem o que significa tal poder. Muitos fan�ticos
religiosos que at� hoje seguem � risca a recomenda��o da B�blia contra a feiti�aria consideram todos aqueles que possuem poderes de percep��o extra-sensorial feiticeiros
e um perigo potencial para a sociedade. Esses fan�ticos n�o s�o indiv�duos ruins e destruidores, mas pessoas religiosas, na maioria das vezes bem intencionadas.
Alguns evangelistas com grande n�mero de seguidores, em vez de procurarem desfazer essas id�ias supersticiosas em rela��o �s pessoas "diferentes", t�m feito justamente
o contr�rio: encorajam, a sua maneira, os preconceitos, falando do diabo como se ele realmente existisse e, implicitamente, condenando todos aqueles que n�o est�o
de acordo com o evangelista, de estarem em conluio com o Pr�ncipe das Trevas.
Se voc� faz de um feiticeiro solit�rio a id�ia de uma velha corcunda, apoiando-se num bast�o, resmungando coisas que ningu�m entende e conversando com entidades
invis�veis, ao mesmo tempo em que chama um corvo para vir pousar em seu ombro e o infal�vel gato preto para segui-la, ent�o, posso garantir, voc� tem visto muito
daqueles velhos desenhos animados de Walt Disney.
Eu nunca vi um feiticeiro feio, pois o verdadeiro membro da Antiga Religi�o possui uma tranq�ilidade espiritual que brilha atrav�s dos olhos e que nos deixa perceber
que estamos na presen�a de um seguidor da Arte dos S�bios.
Em Houston, Texas, vive uma jovem feiticeira que se chama Pat. � uma feiticeira aut�ntica, que descende de uma fam�lia de v�rias gera��es de feiticeiros e � casada
com um adepto da Antiga Religi�o. Pat possui heran�a irlandesa pura e nasceu em 1948. Completou o curso secund�rio no gin�sio local e em seguida fez cursos por correspond�ncia
de jornalismo e desenho. Na escola secund�ria, foi presidente do clube de jornalismo e editou duas revistas estudantis. A fim de ajudar a pagar os estudos, trabalhou
para a banda local. Como podem ver, seu passado n�o parece o de uma pessoa capaz de "firmar pactos com o diabo".
Quanto a sua apar�ncia, ela mesma admite ser um pouco gordinha, e as feiticeiras de fic��o s�o sempre muito magras e ossudas. Em vez das proverbiais verrugas,
ela tem � muitas sardas. A �nica semelhan�a que possui com a imagem popular da feiticeira s�o seus longos cabelos pretos, que eu atribuo � sua ascend�ncia irlandesa.
Pat � casada com um rapaz chamado David, um ano mais mo�o do que ela, e est�o aguardando o nascimento de seu primeiro filho. Ambos j� tinham vivido uma s�rie
de experi�ncias paraps�quicas antes de se conhecerem e isto talvez tenha sido um dos motivos que fizeram com que eles se aproximassem um do outro. � um dos poucos
casamentos que eu conhe�o em que se pode dizer que marido e mulher foram feitos um para o outro. Ainda por cima, o sobrenome de David, por puro acaso, � um nome
antigo de feiti�aria.
Pat sempre teve o cuidado de que sua feiti�aria fosse resguardada dos vizinhos e amigos, mas seus poderes de percep��o extra-sensorial nunca puderam ser mantidos
em segredo. M�dium natural, por muitos anos manteve liga��es com o invis�vel e considera esta faceta de sua vida perfeitamente natural, embora, �s vezes, embara�osa.
Conheceram-me atrav�s de meus livros e acharam que um ca�ador de fantasmas talvez pudesse manter, em rela��o a um casal de feiticeiros, sentimentos de simpatia.
Por isso, confiaram em mim. E estavam certos - gosto muito deles.
A falecida m�e de Pat j� lhe apareceu em v�rias ocasi�es, especialmente quando havia situa��es dif�ceis a serem resolvidas, mas como, em vida, ela sempre demonstrou
talentos especiais para isso, Pat n�o se surpreendeu de que ela continue a se interessar por seus problemas.
"Mais do que qualquer outra coisa na vida", diz Pat, "gostaria de esclarecer as pessoas em rela��o ao mundo que as. rodeia. N�o posso perder todo o meu tempo
com po��es de amor, encanta��es e magias, n�o acha? N�o quero receber nenhum pagamento o que quero � sentir-me �til e ocupar-me com alguma coisa que d� sentido �
minha vida.
A monotonia � uma causa comum para a procura de uma religi�o bizarra, mas este, realmente, n�o � o caso de Pat. Ela chegou � feiti�aria atrav�s do caminho natural
de seus talentos, herdados.
Tudo come�ou em 1886, quando sua bisav� vivia sozinha com a filha Rosie, numa pequena cidade do Texas. Naquela �poca, a menina tinha onze anos de idade. A bisav�
de Pat j� havia adquirido uma certa reputa��o como feiticeira, e, embora sempre tivesse vivido pacificamente entre o pessoal da vila, durante mais de trinta anos,
de repente eles decidiram! que n�o poderiam mais suportar sua presen�a.
Acusaram a pobre mulher de ter pacto com o dem�nio e ter preparado feiti�os contra alguns dos habitantes da cidade. O que ela fez foi ler a sorte de alguns deles
e suas predi��es se revelaram verdadeiras, incluindo alguns acontecimentos desagrad�veis. Se ela n�o fosse uma m�dium honesta e lhes tivesse contado somente coisas
boas, nada disso teria acontecido. Tudo* colaborou para a acusa��o: o fato de ela viver sozinha com a menina, seu comportamento estranho e suas habilidades ocultas.
O pessoal da cidade decidiu, antes de mais nada, "salvar" a crian�a das garras da feiticeira.
Tivesse isto ocorrido no s�culo dezessete, ambas teriam sido levadas � fogueira sem piedade, pois acreditava-se que os filhos dos feiticeiros herdavam toda a
maldade dos pais. Mas estes texanos do s�culo dezenove resolveram educar a menina da maneira que eles consideravam adequada e arrancaram-na da m�e.
Isso despeda�ou o cora��o da infeliz mulher e, em seu di�rio, iniciado no dia em que levaram a menina, ela escreve sobre a crueldade de seu pr�prio povo e a desculpa
tola que encontraram para lhe causarem tanta infelicidade. Mas o pessoal da cidade tinha tanto medo dela que n�o ousava toc�-la; isto numa �poca em que os linchamentos
eram quase que obrigat�rios no Sul. O que fizeram foi expuls�-la para o ex�lio,, do qual nunca mais voltou.
� meia-noite do dia 12 de dezembro de 1898, n�o p�de mais suportar a vida e suicidou-se. A esta altura, Rosie j� tinha crescido e casado e estava presente com
o marido quando sua m�e, num gesto dram�tico, apunhalou o pr�prio cora��o.
Ao morrer, pronunciou com grande esfor�o suas �ltimas palavras - o juramento de que, exatamente cinq�enta anos depois, nasceria uma menina na fam�lia que herdaria
todos os seus segredos e poderes m�gicos. Rosie, o marido e quatro outras pessoas estavam presentes e escreveram tudo para que servisse de refer�ncia e prova no
futuro.
O estranho disto tudo � que Pat, minha amiga feiticeira de Houston, nasceu no dia 12 de dezembro de 1948, exatamente � meia-noite, como havia sido profetizado.
J� teve numerosas experi�ncias de percep��o extra-sensorial e j� viveu muitos transes; isso teve in�cio assim que come�ou a falar. Sua falecida m�e, Miriam, j� lhe
apareceu muitas vezes em sonho. Numa dessas ocasi�es, anunciou-lhe que, muito brevemente, lhe enviaria sua gata preta. Alguns dias depois, Pat acordou de um sonho
profundo com a id�ia fixa de que a gata estava esperando do lado de fora; despertou o marido e pediu-lhe que fosse abrir a porta para deix�-la entrar. Depois de
alguma relut�ncia, ele resolveu levantar-se e, ao abrir a porta, deparou com uma estranha gata preta que nenhum dos dois tinham visto at� ent�o. A gata, chamada
Pywacket (como no livro de fic��o Sino, Livro e Vela), tornou-se, desde ent�o, seu animal de estima��o.
A primeira vez em que vi Pat, ela tinha legalmente dezenove anos de idade. Mas indaga, e com raz�o, se ela n�o � sua pr�pria bisav�, pois neste caso ter� uns
cento e dez anos, o que � uma bela idade mesmo para uma feiticeira.
Por acaso, seu beb� est� sendo esperado para o dia 13 de dezembro, dia de seu anivers�rio. Ser� que herdar� todos os talentos de sua m�e, av�, bisav� e sabe l�
mais quem? � comum que habilidades ocultas sejam transmitidas atrav�s das gera��es, principalmente do lado das mulheres.
Ser feiticeira com poderes ocultos tem tamb�m suas inconveni�ncias. Por exemplo, j� aconteceu que ela, sem saber como, fizesse com que os �culos se quebrassem,
o alicate ca�sse sozinho no ch�o e ru�dos surgissem quando n�o havia nada nem ningu�m que os provocasse. Pat acredita que tem uma esp�cie de esp�rito de estima��o
que sempre a acompanha e faz estas coisas s� para aborrec�-la. Os amigos de Pat que estiveram presentes em algumas dessas ocasi�es observaram um estranho arrepio
em torno dela. Ela tem a sensa��o de n�o estar sozinha, como se algu�m a estivesse observando, mas, at� hoje, ainda n�o viu seu estranho "amigo".
As habilidades de Pat deixam seus amigos preocupados e os estranhos, confusos. Por exemplo, ela � capaz de descrever parentes mortos. Uma vez, passando por um
velho cemit�rio, ouviu a voz de uma mulher pedindo que ela fosse visitar-lhe o t�mulo, pois seus parentes e amigos tinham-se esquecido dela. Sua m�e participa de
algumas dessas estranhas experi�ncias, pois ela tamb�m foi uma feiticeira tradicional. Pat n�o se utiliza apenas de poderes de percep��o extra-sensorial para se
comunicar com os mortos ou prever o futuro dos vivos. Os amigos que lhe s�o mais �ntimos, nos quais ela confia, dizem que, �s vezes, ela lhes prepara um ch� de uma
erva especial capaz de provocar maravilhas. Pelo menos, isto � o que eles dizem.
� muito dif�cil determinar e separar que parcela das experi�ncias de uma pessoa � devida � percep��o extra-sensorial aut�ntica e at� que ponto sua personalidade
est� realmente envolvida com a feiti�aria como religi�o. Apenas uma pequena minoria de m�diuns, amadores ou profissionais, considera a feiti�aria sua f� leg�tima.
Paralelamente, a maioria dos feiticeiros n�o possui poderes paraps�quicos, pelo menos n�o num grau consider�vel. Mas todos eles, membros de comunidades ou praticantes
solit�rios, possuem uma compreens�o das leis ocultas, mesmo que n�o tenham talentos especiais de percep��o extra-sensorial. N�o se pode ser um feiticeiro sem acreditar
na exist�ncia de poderes de percep��o extra-sensorial, mas pode-se ser um vidente e achar que feiticeiros n�o existem. Muitos m�diuns, especialmente nos Estados
Unidos, s�o tamb�m crist�os fervorosos, tanto cat�licos como protestantes, e eles, por conveni�ncia, deixam de tomar conhecimento da atitude de hostilidade que a
maioria do clero ainda mant�m em rela��o �s suas atividades paraps�quicas. Mas essa atitude tamb�m est� mudando; um n�mero cada vez maior de padres, pastores e rabinos
j� encara de outra maneira tais atividades e poderes.
Mas ainda n�o chegou o dia em que o Papa convide um m�dium para almo�ar em sua companhia, nem que o Arcebispo de Canterbury esteja presente numa sess�o espiritualista
de cura.
Uma jovem de vinte anos veio me procurar com uma recomenda��o de Raymond Bockland, um feiticeiro de Long Island que dirige um pequeno museu de feiti�aria nos
moldes do que foi iniciado pelo Dr. Gardner na ilha of Man. A comunidade de Ray em Brentwood parece seguir cuidadosamente os antigos rituais. � um homem equilibrado,
nada dado a excessos, que trabalha na avia��o comercial brit�nica, sendo esta a �nica maneira de ele e seus feiticeiros voarem atrav�s dos ares.
� doutor em filosofia (se filosofia feiticeira, isto eu n�o sei), jovem e muito atraente. O pior que pode ser apontado contra sua pessoa � o fato de ele acreditar
que sua comunidade � a �nica que vale a pena ser conhecida na Am�rica; a maioria dos feiticeiros costuma mostrar um pouco mais de humildade em rela��o uns aos outros.
Ray tinha mandado Mary procurar-me porque ela tivera experi�ncias extra-sensoriais e ele sabia que eu conhecia bem este terreno. Os testes de habilidades paraps�quicas
foram positivos para Mary e logo passamos a discutir sua admiss�o na comunidade de Ray.
Quando Mary encontrou Ray, estava pronta e desejosa de aderir ao culto. Mas o gr�o-sacerdote logo fez arrefecer seu entusiasmo, dizendo que levaria, pelo menos,
um ano at� que ela pudesse ser aceita e, assim mesmo, se todos os membros da comunidade aprovassem sua admiss�o. Primeiro ele sugeriu que os dois mantivessem correspond�ncia,
mas, como ela confessou que n�o gostava de escrever, ele gentilmente a convidou para que fosse algumas vezes � sua casa. Nessas ocasi�es, nada de mais aconteceu
at� que, um dia, Ray planejou para que ela se encontrasse com outros dois membros da comunidade. Por ocasi�o do Halloween de 1964, Mary j� o havia convencido de
que estava pronta para ser iniciada.
Quando chegou o grande dia, ela se dirigiu a Brentwood, onde Ray e a esposa (ele a chama de Rosemary) a receberam cordialmente. Na sala de visitas da casa de
sub�rbio, mandaram servir ch� (ch� ingl�s, naturalmente, j� que eles s�o ingleses) e, enquanto bebiam, instru�ram-na sobre o c�rculo e a cerim�nia de inicia��o.
Apesar de seu grande interesse por tudo que diz respeito � feiti�aria, os detalhes lhe eram novos e ela prestou toda aten��o.
Falaram-lhe sobre o significado e finalidades da feiti�aria e os objetos simb�licos e ensinaram-lhe duas senhas: Confian�a Total e Amor Perfeito. Ao chegar �
porta do santu�rio, ela receberia uma sauda��o com uma espada; se sentisse qualquer d�vida quanto a entrar para o grupo, aquele era o momento de se virar e sair.
A esta altura, a sacerdotisa retirou-se para tomar o "banho ritual" e o sacerdote continuou sozinho a conversa. O banho � em �gua salgada e constitui uma forma
de purifica��o para a cerim�nia que se vai seguir.
Ao sair para tomar seu pr�prio banho, Ray deu instru��es a Mary para que ela tirasse toda a roupa.
Pouco depois, a sacerdotisa apareceu sozinha para lev�-la para o grande momento. Usava uma coroa de prata, um colar e um cinto.
Ray j� estava esperando na outra sala. Trazia na cabe�a o tradicional adorno de chifres, s�mbolo de seu sacerd�cio.
Mary foi admitida no c�rculo num rito bastante semelhante � inicia��o de Alex Sanders. A novi�a teve os olhos vendados e foi empurrada pelas costas pelo sacerdote-chefe
para dentro do c�rculo consagrado. Dentro do c�rculo imagin�rio, havia quatro velas e o altar; essas velas n�o s�o pretas, mas velas comuns de cor.
A novi�a foi, ent�o, amarrada por uma corda vermelha de quase um metro de comprimento, que foi passada por seu pulso esquerdo, depois pelo direito e, finalmente,
pelo pesco�o. Os tornozelos tamb�m foram amarrados de maneira semelhante. Em seguida, vieram as chicotadas simb�licas nas costas. Nesta comunidade, o costume � dar
quarenta chicotadas, mas elas n�o parecem doer nada, nem, ao menos, simbolicamente.
Chicotadas s�o um elemento presente em muitas religi�es. Os "Flagelantes", uma ordem religiosa de cat�licos fan�ticos, costumavam a�oitar-se t�o fortemente com
correntes de ferro que o Papa teve que proibir a pr�tica. At� hoje, em algumas partes da Am�rica Latina, os chamados "Penitentes dos Pecadores" ainda mant�m tal
pr�tica e tudo faz crer que isto ajuda os pobres camaradas (e mo�as) a limparem a consci�ncia culpada. Serve, tamb�m, para provocar alguns bons casos de infec��o.
O a�oitamento na feiti�aria tem um significado diferente. Simboliza a retirada das impurezas do corpo, uma outra forma de purifica��o. As chicotadas n�o trazem
em si uma manifesta��o latente de sadismo sexual; t�m, como j� disse, uma conota��o simb�lica, pelo menos nas chamadas comunidades "brancas". O que fazem os satanistas
n�o tem nada a ver com a Antiga Religi�o, nem, � claro, com nenhuma religi�o moderna.
Em Brentwood, portanto, n�o corre sangue. A novi�a foi, em seguida, apresentada aos quatro pontos cardeais, a fim de que os "Poderosos" do leste, sul, oeste e
norte tivessem oportunidade de conhecer o novo membro.
� interessante notar que o termo "Mighty Ones" (Poderosos), usado na maioria das comunidades, tem significado bastante pr�ximo do nome dado pelos espiritistas
e m�diuns aos seus controles - "Masters" (Senhores, Mestres), e ambos parecem exprimir a mesma id�ia b�sica: humana, mas superior.
Mas, t�nhamos deixado Mary, nossa novi�a, no santu�rio de Brentwood, ainda com os olhos vendados. As vendas foram, ent�o, retiradas e ela novamente apresentada
aos Poderosos, desta vez com os olhos abertos. O sacerdote explicou que aquele caminho � como uma rua de m�o dupla: os mortais prestam suas homenagens aos Poderosos,
mas estes, por sua vez, olham por aqueles que os servem. O compromisso foi selado com um beijo repetido oito vezes, administrado pelos Poderosos, representados pelo
sacerdote. Ao dar o beijo, o sacerdote descreve um s�mbolo consistindo de um tri�ngulo inscrito num pentagrama, tocando-lhe com os l�bios: os p�s, joelhos, �rg�os
sexuais, seios, l�bios e testa.
� bom que se lembre que todos estes beijos n�o s�o dados pelo sacerdote como se fosse ele mesmo, mas na sua personifica��o tempor�ria do Deus de Chifres - ou
como representante da Deusa-M�e, se os beijos s�o dados pela sacerdotisa.
O fato de os servidores dos deuses assumirem papel divino � um ritual muito antigo, de maneira nenhuma exclusivo da feiti�aria. Numa de suas formas mais primitivas,
est� presente at� entre os canibais que acreditam que, comendo a carne de um inimigo forte e poderoso que tenham aprisionado, estar�o adquirindo suas virtudes e
poderes.
Para a pessoa que est� sendo iniciada e recebe os beijos, eles n�o representam uma intrus�o em sua vida privada, nem possuem qualquer conota��o sensual, mas constituem
o s�mbolo da aprova��o divina e seu passaporte para uma comunidade de indiv�duos que participam das mesmas id�ias e � qual ela agora pertence.
Quero, mais uma vez, frisar que o beijo, na feiti�aria, n�o possui sequer a mais leve nuan�a de sensualidade; � uma express�o sincera de amor fraternal, compar�vel
ao beijo que um general franc�s d� no rosto de um her�i ao lhe entregar a Legi�o de Honra.
Neste ponto da cerim�nia, o membro rec�m-iniciado tem que escolher um novo nome, pois precisa abandonar o antigo antes de ingressar na feiti�aria. Esta escolha
� deixada inteiramente por conta da pr�pria pessoa, mas, geralmente, o nome escolhido � de origem c�ltica. Mary escolheu um nome grego que se refere ao culto dionis�aco,
que era o equivalente grego da feiti�aria ocidental. Conheci muitos membros de comunidades com nomes gregos; eles gostam de grav�-los em medalhas de metal e us�-las
dependuradas no pesco�o; do outro lado da medalha, mandam fazer algum desenho simb�lico. No momento exato da cerim�nia, a medalha � virada, mas s� se n�o houver
estranhos presentes. Embora eu conhe�a os nomes de meus amigos da Antiga Religi�o, n�o vejo necessidade alguma de torn�-los p�blicos. Esses nomes secretos s�o preciosos
para essas pessoas que nutrem um grande amor pelo que fazem e sinceramente acreditam que o conhecimento de seus segredos diminui seus poderes. De nada serviria na
pr�tica tentar derrubar estas cren�as.
De vez em quando, os nomes de feiti�aria s�o buscados no mundo n�rdico; a Escandin�via em geral e especialmente a Su�cia possuem, atualmente, um grande n�mero
de comunidades ativas.
A parte formal da inicia��o dava agora lugar � social. Era chegado o momento de todos se sentarem e comerem bolos e beberem vinho. Na Inglaterra costumam-se oferecer
massas deliciosas e, na Am�rica, bolinhos, mas estas guloseimas n�o t�m a m�nima rela��o com a h�stia sagrada dos crist�os. O vinho, tamb�m, n�o representa sangue
- nem de Cristo, nem de beb�s; n�o � nada mais que uma ta�a de alegria para selar uma ocasi�o feliz. N�o tem a m�nima import�ncia que este vinho seja branco ou tinto.
Uma vez, me pediram que levasse uma garrafa de clarete para uma reuni�o de feiticeiros e n�o vi nada de sinistro na maneira como ele foi apreciado por todos. Talvez
seja uma novidade para alguns que pessoas bebam vinho nuas; pelo menos, se algu�m derramar um pouco, n�o sujar� a roupa.
Se algu�m por acaso, mant�m a falsa no��o de que as comunidades exploram economicamente seus membros, pode afastar esta id�ia. Um dos princ�pios b�sicos da feiti�aria
� n�o agir nunca de maneira ego�sta em rela��o a seus membros e tudo fazer para que nenhum deles se sinta ferido ou prejudicado, incluindo, � claro, a reprova��o
do ganho indevido ou excessivo com a pr�tica da feiti�aria. Na comunidade de Long Island, a contribui��o � muito pequena; apenas o suficiente para cobrir as despesas
de velas e bolos.
A inicia��o de Mary se deu na v�spera de Halloween. Assim sendo, sua primeira chance de brilhar como um novo membro veio logo no dia seguinte - Halloween ou,
como as comunidades mais corretamente o denominam na Inglaterra, Hallows. Havia, ao todo, doze pessoas presentes, �s seis horas da tarde, sendo cinco mulheres e
sete homens - todas pessoas comuns que trabalham como todo mundo para ganhar a vida: um major da For�a A�rea, uma dona de casa, uma professora de escola prim�ria,
outro de escola secund�ria, um homem de neg�cios, um cabeleireiro, um motorista de caminh�o, outra dona de casa etc. As mesmas pessoas que a novi�a tinha conhecido
na primeira reuni�o a que esteve presente. Alguns deles j� eram feiticeiros de segundo grau.
Ficaram umas duas horas tomando caf� e conversando. At� que, um por um, come�aram a se retirar para o banho ritual - primeiro os chefes, depois os mais antigos
e, finalmente, os feiticeiros de primeiro grau.
Com apenas um banheiro � sua disposi��o, o grupo de doze precisava ficar matando o tempo na sala at� que todos pudessem tomar seu banho. Para evitar a curiosidade
dos vizinhos, as persianas foram baixadas, as portas fechadas e a ilumina��o reduzida � luz de velas apenas. Fazia lembrar uma cena do Inferno de Dante, s� que o
grupo estava feliz e descontra�do.
Apesar de todos os cuidados, doze carros parados na frente da casa sempre chamam a aten��o dos vizinhos para o que possa estar acontecendo do lado de dentro.
Sob este aspecto, os feiticeiros medievais tinham menos problemas - a �nica coisa que os vizinhos encontrariam para contar eram gatos.
Desceram todos para o andar t�rreo, onde o c�rculo foi consagrado a espada, enquanto o sacerdote convidava os Poderosos para virem presenciar os servi�os. A espada,
o incenso, a �gua e o sal, representando os elementos, foram carregados em torno do c�rculo. Nesta comunidade, a purifica��o de cada membro � feita individualmente,
tocando-se cada pessoa com incenso, sal e �gua nas �reas vitais do corpo. As m�os s�o amarradas com cordas e cada um chicoteado simbolicamente vinte vezes. O a�oitamento
� feito mutuamente pelos casais.
Depois que todos os doze tinham passado pelo ritual de purifica��o, a comunidade podia continuar a cerim�nia propriamente dita. Se a celebra��o tivesse ca�do
numa noite de lua cheia, usar-se-ia um rito muito po�tico chamado "Chamando a Lua Aqui Embaixo", durante o qual a Deusa-Lua � convidada a descer simbolicamente ao
corpo da sacerdotisa-chefe. Mas, como se tratasse de Halloween, a cerim�nia celebrava o in�cio do reinado do gr�o-sacerdote, j� que a parte do ano referente ao inverno
pertence ao deus e n�o � deusa. O que isto significa � simplesmente que, de novembro a maio, os campos n�o produzem e as pessoas precisam de ca�ar e pescar.
Portanto, � chegada a hora de a M�e-Deusa da agricultura passar seu reinado para as m�os do Deus de Chifres da Ca�a. Isto � simbolicamente encenado pela sacerdotisa,
representando a Deusa-M�e, passando para as m�os do sacerdote, representando o Deus da Ca�a, seu adorno de cabe�a, s�mbolo de seu of�cio, seguido de uma s�rie de
beijos rituais e algumas chicotadas.
O sacerdote prometeu fazer a ra�a exceder em fertilidade e, ent�o, toda a congrega��o apanhou suas vassouras e contornou o c�rculo aos pulos. Os pulos servem
para mostrar a altura a que desejam que a planta��o cres�a. � um rito que se preservou intacto desde a Idade da Pedra - isto encoraja as sementes a se desenvolverem
e a se transformarem em plantas t�o altas quanto a encena��o insinua.
Seguiu-se a b�n��o dos bolos e do vinho, como acontece, tamb�m, nas festividades de colheita e a��o de gra�as de muitas religi�es. Finalmente, os instrumentos
foram guardados e todos se vestiram e voltaram para suas casas.
Se fizermos uma compara��o, concluiremos facilmente que a maioria das festas populares de Halloween termina de maneira bem diferente.
A atra��o que a feiti�aria exerce nas mulheres jovens parece ser maior do que nas de meia-idade ou velhas, pelo menos na Am�rica Atual. N�o me lembro de nenhum
caso de uma pessoa idosa desejosa de aderir a uma comunidade, a n�o ser que j� existisse um caso de feiti�aria na fam�lia. Mas, com os jovens, � bem diferente. Naturalmente,
as id�ias do que seja a feiti�aria podem diferir de uma pessoa para outra. Tomemos o caso de Linda, por exemplo. Conheci-a em S�o Francisco, levado por uma recomenda��o
de Sybil Leek, que j� tinha ouvido falar nela. Linda j� me havia escrito: "Ganho a vida vendendo amuletos de cera. N�o sou velha, nem fan�tica, nem misteriosa. Apare�a
para me visitar."
Mas, como Linda vive num sub�rbio distante, ficou decidido que ela � que me viria ver em meu hotel. Com ela apareceu um rapaz taciturno, que mostrou um certo
interesse em ouvir nossa conversa, mas n�o abriu a boca para dizer nada. Fiquei sabendo depois que ele era apenas seu namorado, o que n�o o obrigava a ser tamb�m
um feiticeiro. Acredito que os feiticeiros modernos tamb�m acreditam em casamentos e integra��es mistas; s� o que me preocupa � o que far�o com os filhos. Talvez
seja pensando neste problema que os antigos e s�bios feiticeiros insistem nos "casais perfeitos" em seus encontros.
Linda mostrou-se uma mo�a atraente, usando um mini-vestido de cor viva, n�o muito diferente de qualquer estudante que voc� encontra em qualquer lugar dos Estados
Unidos. Seu interesse pelo ocultismo surgiu quando tinha dez anos, ocasi�o em que vivia com seus pais em Los Angeles, Calif�rnia. Tinha uma gata preta naquela �poca
e, um dia, de repente, descobriu que a gata passava a agir de maneira estranha sempre que lhe enviava um pensamento espec�fico.
- Enviava-lhe pensamentos de amor e carinho - explicou ela - e a gata, imediatamente, pulava para meu colo. Tentei isso muitas vezes e sempre funcionava.
Tentou a mesma coisa com outros gatos, mas, em vez de virem para serem acariciados, davam um salto e fugiam. Estava provado que aquilo s� dava certo com Sunshine,
que era o nome de sua gata. Linda ficava intrigada com o fato de poder fazer coisas que os outros n�o podiam. Embora seu pai fosse juiz e sua m�e, jornalista, eles
n�o desencorajavam sua curiosidade. Pelo contr�rio, a fam�lia at� que gostava de se concentrar em jogos de percep��o extra-sensorial depois do jantar, tentando adivinhar
o que os outros estavam pensando. Mas a atua��o de Linda com as cartas era sempre desastrosa, embora fosse capaz de ler a m�o de sua irm�.
Experi�ncias premonit�rias ocorriam-lhe de tempos em tempos, deixando-a cada vez mais certa de que ela era realmente uma pessoa "diferente". Uma vez, quando tinha
dezoito anos e trabalhava para uma companhia de seguros em Los Angeles, teve distintamente a sensa��o de que precisava comunicar-se com sua m�e para lhe dizer que
ela n�o deveria ir � praia. Achou que se tratava de uma compuls�o um tanto estranha, mas, mesmo assim, tentou comunicar-se com a m�e por telefone. Ningu�m respondia,
mas ela continuou tentando, cada vez mais preocupada. L� pelas quatro da tarde, estava quase em estado de p�nico e pediu para deixar o trabalho. Quando chegou a
casa, sua irm� lhe contou que a m�e fora � praia e ca�ra de um penhasco, quebrando uma costela.
Como se v�, percep��o extra-sensorial tem sido parte de sua vida por muitos anos. Saiu de casa, casou-se, divorciou-se, trabalhou para uma companhia de seguros,
deixou o emprego, come�ou a fazer amuletos e passou a trabalhar num caf�, onde acabou por adquirir a reputa��o de ser feiticeira. Ali mesmo, passou a atuar como
astr�loga, ler a m�o dos fregueses, fazer profecias; enfim, passou a ser a "feiticeira" da casa. Gostava muito de confeccionar j�ias, mas s� teve sucesso nesta atividade
depois que come�ou a produzi-las empregando s�mbolos ocultos.
O que tinha come�ado como uma brincadeira - fazer amuletos de feiti�aria e vend�-los - passou a ser um verdadeiro sucesso comercial depois que as pessoas come�aram
a voltar para lhe dizer que os amuletos realmente funcionavam. Os primeiros foram feitos de farinha, �gua e sal, misturando estes ingredientes numa esp�cie de argila.
- Eu nunca tive a coragem de garantir que eles funcionavam - explica Linda. - Mas aqueles objetos, principalmente os amuletos para autoconfian�a, faziam com que
as pessoas acreditassem que podiam fazer aquilo para que se destinava o amuleto e acontece que conseguiam mesmo.
Uma vez, quatro pessoas foram consult�-la e um deles precisava de um amuleto que "o protegesse em rela��o � lei". Parecia que ele negociava com drogas. Os outros
tr�s queriam ser ajudados a "aprender sobre a vida e a ser bons". Ela fez o que considerou sua obriga��o - produziu amuletos - nada sabendo sobre as pessoas que
os encomendavam.
Pouco tempo depois, os quatro foram presos. O homem que negociava com drogas tinha escondido sua mercadoria na casa dos outros tr�s. Estes acabaram cumprindo
pena na pris�o, enquanto o outro foi posto em liberdade!
Nesta altura, Linda j� havia criado uma s�lida reputa��o como feiticeira, embora nada soubesse sobre a feiti�aria. Decidiu abrir uma loja de artigos de feiti�aria
em Los Angeles. Depois, ela e um amigo chamado Louis, depois de estudar bastante, tentaram por em pr�tica seus rec�m-adquiridos conhecimentos, fundando uma comunidade,
mas esta s� durou dois meses. Los Angeles � uma cidade inquieta.
O ritual que eles desenvolviam inclu�a uma invoca��o a Pan; usavam roupas comuns, t�o comuns como as usadas pelos jovens californianos.
Neste ponto de sua vida, Linda mudou-se para S�o Francisco e come�ou a trabalhar para um professor de antropologia, enquanto estudava esta mat�ria num col�gio
local.
Ela ainda costuma adivinhar a sorte, sendo que possui um m�todo especial de leitura atrav�s da cera, m�todo semelhante ao do chumbo fundido, usado por alguns
m�diuns europeus. Isto ela tamb�m come�ou a fazer mais como uma brincadeira numa feira de caridade. Naquela �poca, seus instrumentos consistiam num grande caldeir�o
de �gua e algumas velas de cera. Chegou at� a inventar uma encanta��o m�gica que dizia mais ou menos assim:
Vela brilha, vela reluz,
Futuro vem, futuro vai -
O que mostrar� a �gua m�gica?
Diga-nos o que queremos saber!
Depois de recitar a encanta��o, ela fazia a cruz cabal�stica, o que deixava a todos muito impressionados.
Mas o que come�ou como uma simples brincadeira numa festa de caridade revelou-se, depois, algo muito s�rio. A maioria das "leituras" que fazia a pessoas que lhe
eram completamente estranhas, n�o eram apenas detalhadas, mas absolutamente corretas. Seus talentos paraps�quicos tinham estado apenas em repouso, mas n�o adormecidos.
Linda explicou-me:
- As religi�es que apelam para a natureza primitiva sempre me atra�ram. Gosto de viver ao ar livre e n�o quero perder meu relacionamento com a natureza, vivendo
na cidade.
Embora n�o pratique mais sua feiti�aria, nem fabrique mais amuletos, Linda n�o se considera "aposentada" com a idade de vinte e tr�s anos. Pelo menos, ainda possui
sua gata preta.
Os praticantes americanos da feiti�aria n�o possuem la�os quase naturais com um pa�s onde esta j� foi uma f� predominante, como acontece na Inglaterra. Este �
um mundo novo e todas as variedades de religi�es foram para aqui trazidas por todas as esp�cies de pessoas. Somente o �ndio americano possui um relacionamento verdadeiro
com a natureza que o cerca, e, assim mesmo, muito pouco foi deixado. Por esta raz�o, talvez, � que n�o encontramos muitas fam�lias tradicionais de feiticeiros por
aqui, mas aqueles que s�o membros da Antiga Religi�o foram levados a isso por convic��es geralmente muito fortes.
Talvez Cincinnati n�o seja o lugar mais prov�vel de se encontrar uma comunidade de feiticeiros funcionando, mas esta que conhe�o consiste de treze pessoas que
s�o membros �teis da sociedade. Apesar de n�o procurarem convertidos, reunirem-se discretamente e nunca terem feito publicamente qualquer declara��o sobre a religi�o
de outras pessoas, eles t�m sido, ultimamente, perseguidos por alguns vizinhos preconceituosos, e seu templo teve que ser fechado. Talvez o termo "feiti�aria" instile
nas pessoas o sentimento de que t�m o direito de ser intolerantes, talvez um elemento remanescente dos tempos em que a Igreja e o Estado faziam com que as pessoas
acreditassem que os feiticeiros representavam todo o mal sobre a terra. O que surpreende � que os membros americanos do Centro-Oeste que integram grupos ma��nicos,
como os Elks, Shriners e Pythians, se comportem de maneira t�o intelectualmente atrasada e mesquinha em rela��o a um culto que n�o � assim t�o diferente do seu.
As treze pessoas da comunidade de Bill t�m nomes como todo mundo: Judy � a dona de casa, David � desenhista comercial, Gl�ria � dan�arina profissional e Bill,
vendedor. Seus nomes de feiti�aria s�o todos gregos, talvez devido ao fato de esta comunidade ter incorporado muitos elementos do culto dionis�aco da Gr�cia antiga.
Possuem um bonito s�mbolo: uma crux ansata eg�pcia, em torno da qual se enrosca uma serpente, culminando num pentagrama; em cima, ent�o quatro letras b�sicas da
Cabala dos judeus. Entre os adornos de seu templo, encontra-se uma representa��o de Baom�, o deus de chifres medieval dos Cavaleiros Templ�rios, o que me leva a
pensar que a comunidade ampliou a base de sua adora��o a fim de incluir alguma coisa do misticismo templ�rio. N�o vejo nada de errado nisso, desde que ajude a criar
uma atmosfera satisfat�ria para os adoradores. Afinal de contas, essas pessoas n�o esperam que uma cabra com fei��es humanas apare�a no meio deles; apenas usam suas
imagens como ponto de concentra��o da maneira como os sacerdotes haitianos do vodu se utilizam de seus desenhos chamados vevers. Atendendo a um pedido do l�der desta
comunidade, n�o revelarei os nomes verdadeiros de seus deuses, que n�o podem ser conhecidos nem por um feiticeiro visitante, mas somente pelos membros do pr�prio
grupo.
A cren�a de que usar livremente o nome do deus resultar� na perda do poder da divindade n�o � uma inven��o da feiti�aria. Os hebreus escreviam "Jeov�", mas sempre
pronunciavam Adonai. A B�blia recomenda: "N�o useis o nome do Senhor em v�o."
Existe ainda um outro aspecto: o fato de se manter o nome da divindade em segredo traz em si um pouco daquilo que a maioria das pessoas procuram ao entrarem para
uma comunidade de feiticeiros - uma vida mais excitante e uma liberta��o da monotonia e insipidez do dia-a-dia.
Seja l� como for, a minha opini�o pessoal � de que o uso por mais indiscriminado que seja do nome da divindade de uma comunidade particular, mesmo por estranhos
ou pela imprensa, n�o poder� diminuir os poderes dessa divindade, simplesmente porque deuses s�o conceitos e n�o entidades reais. Mas a influ�ncia que isto exerceria
nos adoradores diminuiria sua f� na divindade, o que implicaria na redu��o de seus poderes, pois estes mesmos poderes encontram-se no interior do homem e s� podem
operar atrav�s do ser humano individual, seja sozinho ou em uni�o com outros. Algumas vezes, acontece que a atitude oposta fortalece os poderes da divindade: a simples
men��o do nome de "Kali", uma deusa indiana de um culto de terror, � capaz de inspirar um grande medo nos cora��es das pessoas. Nada � capaz de esvaziar mais depressa
as ruas - pelo menos, era, antigamente - do que uma prociss�o em honra a Kali, com o canto dos sacerdotes, pronunciando com �nfase o nome da deusa.
N�o � tanto o fato espiritual em si que influencia nossas vidas, mas, muito mais, a nossa rea��o a esse fato espiritual, traduzida em estados emocionais e, conseq�entemente,
em a��o e rea��o f�sicas.
- Acreditamos que nossos m�todos sejam aut�nticos porque pesquisamos incansavelmente cada aspecto de nossas cren�as - afirma o l�der da comunidade de Cincinnati.
- Isto conduz � descoberta de muitas cerim�nias esp�rias conduzidas por pessoas que, ou as inventaram, ou seguiram, sem o saber, pr�ticas in�teis e, �s vezes, at�
mesmo, nocivas, de uma natureza pseudo-oculta que pouco ou nada tem a ver com a verdadeira feiti�aria. A maioria das pessoas, atualmente, relaciona a pr�tica da
feiti�aria com o satanismo, quando, em verdade, o praticante da Arte dos S�bios nem, ao menos, acredita em Sat�. O verdadeiro feiticeiro acredita na reencarna��o,
um conceito religioso que n�o inclui, necessariamente, a exist�ncia de um inferno depois da morte, presidido pelo Pr�ncipe dos Dem�nios. A feiti�aria � na verdade
uma religi�o rica em bom senso e coer�ncia, que ensina que todo mal praticado um dia voltar� a quem o pratica.
Nesta comunidade, o ritual come�a l� pelas sete e meia da noite com uma reuni�o de neg�cios. Se isso, para alguns, parece um tanto trivial, � bom fazer lembrar
que a feiti�aria � uma religi�o e algu�m tem que cuidar de assuntos mundanos tais como o pagamento do aluguel do templo.
No primeiro s�bado de cada m�s, os membros se re�nem e, depois de discutirem assuntos comuns do dia-a-dia e os novos livros de interesse para a comunidade, passam
a colocar em foco o objetivo da reuni�o daquela noite. J� que todos estar�o ajudando a "levantar o poder" um pouco mais tarde, � preciso que tenham plena consci�ncia
da finalidade de sua a��o. A feiti�aria � uma religi�o muito democr�tica que n�o admite que uma doutrina seja ditada do alto ou que ordens sejam autoritariamente
dadas e cegamente seguidas sob pena de excomunh�o.
Na comunidade de Cincinnati, os gastos mensais v�o a cerca de cinco d�lares, incluindo o vinho usado durante as cerim�nias. S�o feitas atas de cada reuni�o e
a primeira parte do Esbath (ou Sab�) mais parece um encontro dos Elks locais do que um rito oculto. O aspecto de piquenique � refor�ado pelo fato de cada membro
trazer e oferecer um prato de comida.
O poder que eles v�o tentar levantar naquela noite deve ser dirigido a um �nico indiv�duo. Quando isto � para solucionar um problema pessoal, a pessoa atingida
dever� discuti-lo. Mas se for algu�m morando muito longe e impossibilitado de comparecer, uma fotografia � geralmente usada para ajudar a "alma do grupo" a estabelecer
la�os de rela��o com a pessoas ausente.
Quando a parte informal do encontro termina, o grupo transfere-se para outra sala, onde os membros da comunidade se sentam em volta do l�der, que d� in�cio �s
festividades. Erguendo o vinho em dire��o a leste, aben�oa-o com estas palavras:
"Yod He Vau He, bendito seja!
Assim vos chamo, "Antigos"; aben�oai este vinho e o impregnai com vosso amor infinito; deixai que ele venha a ser para vossos filhos o sangue da vida que corre
no interior de todas as coisas, a ess�ncia manifesta dos elementos sagrados."
O l�der acrescenta o nome da divindade e novamente as palavras:
"Bendito seja."
"Yod He Vau He" s�o as letras hebraicas para Jeov�. Os "Antigos" correspondem aos mesmos poderes que os "Poderosos", aos quais j� nos referimos, e a id�ia do
vinho simbolizando o sangue da vida n�o � nova, �nica ou particularmente pertencente � feiti�aria. O vinho, um presente da terra, representa aqui a fertilidade do
solo assim como a cor vermelha do sangue do corpo humano.
O vinho �, ent�o, despejado em ta�as, obedecendo � dire��o correspondente ao sentido inverso ao movimento dos ponteiros do rel�gio, isto �, no sentido do movimento
do Sol em rela��o � Terra. Todos, ent�o, erguem as ta�as em dire��o a leste e repetem o brinde.
O l�der continua:
"Com este vinho sagrado, selamos os poderes de...................................., sempre presentes em n�s. Vamos beber para brindar os Antigos. V�de-nos, �
Antigos, todos reunidos e felizes, aben�oai estes vossos filhos que se uniram aqui para fazer manifestar vosso poder. Deixai-nos, a n�s que praticamos vosso rito,
conhecer a alegria. Yod He Vau He, Bendito seja."
Se substituirmos as palavras "Antigos" por "santos" e pronunciarmos "Yod He Vau He" como "Jeov�" ou "Deus", estaremos chegando bem pr�ximo do ritual crist�o.
No entanto, estes ritos antecedem o cristianismo de milhares de anos!
A festa prossegue, numa sala iluminada apenas por velas; os pratos preparados e trazidos pelos membros da comunidade s�o servidos, comentados e comparados. Depois
do jantar, descansam at� meia-noite, hora de come�ar a "levantar o poder."
Estou relatando este ritual, n�o que o considere completo ou a �nica maneira de se desenvolver um rito feiticeiro, mas porque o acho bastante t�pico e representativo
dos rituais que se espalharam entre os modernos feiticeiros americanos, e estou certo de que os irm�os de Cincinnati n�o se importar�o com o fato de serem citados
como exemplos brilhantes. Muitas de suas cerim�nias s�o, naturalmente, secretas e o que descrevo aqui � somente parte do que fazem. Esta � a feiti�aria do Centro-Oeste,
simples, mas ao mesmo tempo inspiradora e plena de resultados.
O primeiro passo � a arruma��o do altar. Neste caso, � simplesmente uma pequena mesa retangular coberta de tecido preto, com os lados maiores apontando o norte
e o sul e os menores representando o leste e o oeste. Em seguida, um pentagrama, uma estrela de cinco pontas, � desenhado no interior de um c�rculo de uns 30 cm
de di�metro e colocado no centro do altar.
O pentagrama �, h� muito tempo, o s�mbolo da feiti�aria. S�o muitos os atributos simb�licos e as explica��es referentes a esta estrela e falaremos sobre tudo
detalhadamente mais adiante. �, antes de mais nada, o ideograma, como dizem os orientais, da Antiga Religi�o, da mesma maneira que a cruz o � do cristianismo e a
estrela de David do juda�smo. Existe uma maneira particular de desenh�-lo, apontando para o leste, com uma pequena abertura deixada na por��o inferior esquerda do
s�mbolo. Os cinco sentidos, os cinco "pontos quentes" do corpo, no sentido esot�rico, que s�o beijados na cerim�nia de inicia��o, os cinco dedos da m�o e do p�,
e muitos outros itens de significa��o mostram que cinco � um n�mero de grande import�ncia na vida do homem.
Em Cincinnati, o l�der coloca quatro velas em suportes iguais no lado leste do altar e um tur�bulo com incenso em cima do pentagrama. O incenso representa o elemento
ar. Um prato com sal, simbolizando a terra, � ent�o colocado pr�ximo ao altar em sua orla norte; um c�lice ou x�cara com �gua, simbolizando aquele elemento, no lado
oeste; finalmente, uma vela, s�mbolo do elemento fogo, no lado sul.
Esta comunidade tamb�m usa um aspergilo, ou planta sagrada, formada por quatro raminhos de sempre-verdes. Os raminhos t�m, aproximadamente, quatro polegadas de
comprimento e s�o amarrados juntos com uma linha vermelha e colocados no lado norte do altar.
Um item de grande significa��o no cerimonial feiticeiro � a espada. Atualmente, como ningu�m mais costuma carregar espadas, ela pode ser substitu�da e perfeitamente
representada por uma vara de madeira clara. Espada ou vara, seu lugar � no lado oeste do altar. Uma segunda vela � acesa no centro do pentagrama.
A cerim�nia � iniciada com o l�der ajoelhando-se em medita��o ao lado do altar representando a dire��o oeste. Permanece assim por uns dez segundos, com os bra�os
cruzados sobre o peito, as palmas das m�os abertas.
Esta posi��o � extra�da do misticismo eg�pcio - o hierofante (ou sacerdote) sempre assume esta posi��o de bra�os. As palmas abertas tamb�m est�o intimamente relacionadas
com a posi��o adotada nos servi�os de cura. Acredita-se que isto intensifica a capacidade de concentra��o. Ao virar as palmas das m�os para cima ou para fora, a
pessoa est� permitindo que os raios de for�as ben�ficas penetrem atrav�s delas. O cristianismo primitivo tamb�m adotava a posi��o de m�os elevadas como um gesto
de humildade e prece.
O l�der levanta uma vela e a carrega na dire��o oposta ao movimento dos ponteiros do rel�gio em torno do altar at� alcan�ar o outro lado, onde a coloca a leste
do c�rculo, mas fora de seus limites. Este c�rculo de 2,70 m de di�metro tinha sido desenhado a giz pelo l�der e devidamente consagrado; como j� dissemos, sua fun��o
n�o � a de manter os "dem�nios" do lado de fora, mas manter dentro de seus limites o poder levantado pelo grupo.
Tudo isto precisa ser desenvolvido atrav�s de rituais e movimentos corporais rigorosamente exatos. Se isso tem alguma import�ncia para a divindade, eu n�o sei,
mas parece que faz parte de uma rotina adotada pela comunidade. Como toda rotina, serve para garantir a disciplina e a concentra��o.
As pessoas costumam perguntar-me onde podem ler alguma coisa sobre estes rituais e ver gravuras ou desenhos do c�rculo, dos instrumentos e s�mbolos da feiti�aria.
Apesar do grande n�mero de livros sobre a feiti�aria (e o ocultismo em geral) e um imenso acervo de enciclop�dias que se prop�em a relacionar tudo que de interesse
exista sobre essas pr�ticas, o material que cumpriria realmente esta finalidade n�o consegue chegar �s m�os de estranhos. Refiro-me ao Livro das Sombras, possu�do
por quase todas as comunidades e que consta de uma cole��o de rotinas e cerim�nias adotados por aquele grupo espec�fico. � f�cil compreender que estes livros n�o
s�o necessariamente iguais em todas as comunidades. As descri��es que apresento aqui foram extra�das do Livro das Sombras da comunidade de Cincinnati, com algumas
altera��es, observa��es e coment�rios por mim introduzidos. Mas n�o adianta voc� correr � biblioteca p�blica e pedir o Livro das Sombras. Nem mesmo uma biblioteca
secreta o entregar� em suas m�os.
Em seguida, o l�der coloca outras tr�s velas no interior do c�rculo, pondo-se, cada vez, de joelhos como manda o ritual. Volta ao altar e apanha o tur�bulo, ajoelhando-se
sobre o joelho esquerdo ao se aproximar da mesa sagrada. Observem o sinal de rever�ncia atribu�do ao altar como representativo da divindade - da mesma maneira como
o sacerdote cat�lico se ajoelha ao se aproximar do altar crist�o e o budista se dobra em rever�ncia em dire��o � divindade entronada.
O incens�rio ou tur�bulo, representando o ar, � usado, acompanhado de uma breve encanta��o, assegurando para a comunidade seguran�a em rela��o �quele elemento.
Erguendo o incens�rio e uma vela, o l�der descreve o sinal do pentagrama com a vela, enquanto pronuncia as seguintes palavras:
- "Com este sinal, eu vos expulso, sombras malignas do Leste. Deixai nossos dom�nios livres de vossa influ�ncia negativa."
Outro pentagrama � feito (notem a semelhan�a com o ritual crist�o de persignar-se repetidamente durante a ora��o), ao mesmo tempo em que o l�der invoca "Rafael,
deus do ar" e a divindade da comunidade representativa daquele elemento, com a solicita��o:
- "Aben�oai este c�rculo, ajudando em sua consagra��o."
O incens�rio �, ent�o, colocado em seu lugar certo no lado leste do c�rculo, o incenso nele contido � aceso e o l�der retorna ao altar. Cada movimento obedece
a uma recomenda��o exata, n�o porque a Antiga Religi�o se apegue demais ao dogma, mas como um aux�lio ao l�der. N�o � muito diferente da interpreta��o coreogr�fica
de uma dan�a, que pode diferir de um int�rprete para outro, mas que precisa manter uma mesma base ou ponto de partida. As genuflex�es, as descri��es de pentagramas
no ar e os movimentos em torno do altar s�o puramente simb�licos e nada de terr�vel aconteceria se o l�der cometesse um erro ou desobedecesse ligeiramente � rotina.
Mas o esp�rito do grupo exige uma certa disciplina da parte do l�der, pois isto refor�a sua confian�a de que o objetivo do c�rculo ser� cumprido de acordo com o
plano.
Chegou a hora de o l�der apanhar o sal e coloc�-lo ritualmente no lado norte do c�rculo, enquanto pronuncia:
- "Com este sinal, eu vos expulso, sombras malignas do Norte. Deixai nossos dom�nios livres de vossa influ�ncia negativa."
Outro pentagrama.
- "Com este sinal, invoco Uriel, Senhor da Terra, e .............., seu servidor obediente e rei do dom�nio dos gnomos - aben�oai este c�rculo, ajudando em sua
consagra��o."
Naturalmente que s�lfides, gnomos, ondinas e salamandras n�o s�o animais e seres encontrados na natureza da maneira em que normalmente os conhecemos; s�o formas
simb�licas de pensamento - concentra��es, se preferirem - representativas dos quatro elementos. � um pouco diferente dos quatro arcanjos aqui invocados - Rafael,
Uriel, Gabriel e Miguel. Possivelmente existem homens santos com estes nomes vivendo sobre a terra em algum per�odo remoto da hist�ria dos hebreus. Mas, para os
cabalistas, eles s�o, estritamente, dementais, poderes de origem sobrenaturais e, como tais, reinam sobre cada um dos elementos. O que a comunidade de Cincinnati
possui em seu ritual que fa�a lembrar a Cabala vai al�m de um toque acidental. Outras comunidades, notadamente na Inglaterra, possuem mais conota��es c�lticas do
que orientais. Mas tudo leva ao mesmo fim: invocar certos s�mbolos de poder aos quais o homem atribui a capacidade de proteg�-lo ou ajud�-lo a realizar certas a��es
necess�rias � cerim�nia. Portanto, a invoca��o � uma esp�cie de aviso de que tais e tais condi��es precisam prevalecer no grupo. Existe um fato curioso, dif�cil
e raramente compreendido: a pessoa que cr� faz nascer de sua cren�a uma for�a; esta mesma for�a que nasceu da pessoa passa a representar para ela uma forma de prote��o.
O ritual continua com a invoca��o de Gabriel como Senhor das �guas, com a coloca��o no lugar apropriado do c�lice de �gua. O passo seguinte da cerim�nia � o chamamento
de Miguel, acompanhado da coloca��o de uma vela acesa no canto do c�rculo reservado ao elemento fogo. Em cada caso, a divindade "particular" da comunidade � rogada
a prestar sua assist�ncia.
As duas velas j� est�o acesas. O l�der apanha a espada ou a vara e aponta em dire��o ao leste num �ngulo de quarenta e cinco graus, o que � muito dram�tico e
de grande efeito, e toda a congrega��o vira-se para aquele lado. "Ex Oriente Lux" ou "Toda verdade vem do Leste", diziam os antigos sobre a vinda de Cristo. O mesmo
acontece com o Sol.
Ao segurar a espada, o l�der deve manter o polegar e o dedo m�nimo esticados para fora e toda a congrega��o imita esta mesma posi��o da m�o, enquanto juntos repetem
a invoca��o:
- "You He Vau He, � Antigos, senhores eternos dos elementos, de cujos dom�nios nasce o filho de ouro da manh�, Alfa e �mega, em nome............, benditos sejam."
O gesto de punho fechado, com tr�s dedos energicamente dobrados, o polegar e o m�nimo estendidos, � um s�mbolo muito antigo. A m�o assim adquire uma semelhan�a
pl�stica com a imagem do Deus de Chifres, uma divindade de grande proemin�ncia nos cultos medievais, mas de import�ncia apenas secund�ria na feiti�aria antiga.
A linguagem da comunidade de Cincinnati � muito po�tica e, creio eu, obra de seus dois talentosos l�deres, ambos de nome Bill, embora as mensagens e ritos mantenham
a autenticidade dos primeiros e velhos tempos.
A refer�ncia a Alfa e �mega como "o filho de ouro da manh�" � muito interessante, pois tamb�m � atribu�da a Jesus (Sou o princ�pio e o fim); "de ouro", significando
"ilustre", assim como "filho da manh�", significando "nascido no Leste", tamb�m s�o atributos de Cristo. A cren�a de que um salvador ou messias uma dia nascer� num
pa�s do Leste � de tal maneira universal e b�sica em um t�o grande n�mero de religi�es que levou alguns extremistas entre os estudiosos da B�blia a levantarem a
tese de que Jesus Cristo nunca viveu realmente. John Mackinson Robertson chegou a declarar em seu livro Pagan Christs (Cristos Pag�os) que Jesus � o personagem de
um drama passional reencenado anualmente e culminando no enigma da crucifica��o. Robertson procura provar seu ponto de vista atrav�s de uma quantidade de fatos hist�ricos,
cuja discuss�o n�o cabe neste livro. Ele est� certo ao apontar a universidade da espera de uma figura semelhante a Cristo e o fato de um Deus-Pai sacrificar seu
pr�prio "filho" a fim de pagar pelos pecados de seu povo n�o �, absolutamente, uma cria��o do cristianismo, pois � comum a muitas f�s mais antigas. A caracter�stica
c�clica da Vida est� presente tamb�m na reencena��o da morte simb�lica paga do gr�o-sacerdote no final do seu reinado, a fim de que a Vida (isto �, o Sol) possa
voltar mais uma vez para fazer crescerem as planta��es e renovar a fertilidade da terra e das gentes.
Ao invocarem Alfa e �mega (juntamente com sua pr�pria divindade), os feiticeiros de Cincinnati est�o, na realidade, dizendo: "O sol � o filho ilustre da divindade.
Enviem-nos o sol, pois sem ele n�o h� vida".
Isto � pag�o do ponto de vista crist�o?
"Eu sou a Luz do Mundo", s�o palavras de Cristo, segundo atestam as Escrituras, e as primitivas representa��es de Jesus, quase sempre o mostram com um halo, circundado
de raios de sol, ou exaltado numa aur�ola luminosa de cor dourada. Ele �, num sentido, tudo que existe de luz e de criativo no mundo. Os feiticeiros n�o dizem "Jesus",
mas adoram um conceito em tudo semelhante a esta imagem original do cristianismo.
Segue-se uma parte da cerim�nia em hebraico, que parece ser diretamente extra�da da Cabala, e na qual o l�der e o grupo se consagram aos ideais de sua f�, erguendo
dois dedos e com eles tocando a testa, ao mesmo tempo em que pronunciam a primeira palavra da f�rmula. Tocam depois os ombros e o peito. As palavras em hebraico
s�o seguidas da express�o em ingl�s: "Am�m, bendito seja", mostrando a estranha mistura de elementos que comp�em este servi�o. Os feiticeiros da Europa ocidental
n�o possu�am, nos primeiros tempos, express�es cabal�sticas, mas durante a Idade M�dia algum material do Livro de Zohar conseguiu introduzir-se no culto, assim como
uma boa quantidade de palavras e personagens de fantasia criados pelos alquimistas. Isto n�o � muito diferente do ponto de vista romano de que os deuses das na��es
conquistadas precisavam ser incorporados � religi�o estatal, pois, ao ador�-los, o conquistador assegurava o apoio da popula��o em vez de sua inimizade e, com a
inten��o de seus deuses, a pr�pria integra��o do povo.
Os feiticeiros incorporavam ritos alheios porque sentiam neles uma esp�cie de analogia ou parentesco com os seus, e isto seria capaz de dar mais for�a a seus
pr�prios rituais. �s vezes nem chegavam a compreender claramente o significado de nomes e express�es estrangeiras.
Parecia trazer bons resultados, pois desde que eles acreditavam no pensamento existente por tr�s da f�rmula, qualquer palavra serviria.
Em seguida, o l�der da comunidade retira, um por um, os objetos distribu�dos pelo c�rculo, fazendo uma r�pida genuflex�o antes de apanhar cada um deles.
Todos os instrumentos sacerdotais precisam ser recolocados exatamente nos mesmos lugares que ocupavam originalmente no altar, antes que o l�der se vire para o
leste, abra os bra�os em forma de cruz e invoque a divindade protetora da comunidade, pedindo-lhe que "aben�oe seus filhos". Depois o grupo forma um c�rculo, segurando-se
as m�os e olhando para a vela no centro do altar, enquanto recebe do l�der a seguinte instru��o:
- Todos aqui reunidos respirar�o sete vezes para cada elemento. Respiremos juntos profundamente...
Sob a dire��o do l�der, o grupo respira junto, tomando longas inspira��es de cerca de 5 segundos de dura��o e expirando igualmente no mesmo tempo. A respira��o
como forma de relaxamento, medida de sa�de e maneira de aumentar o campo de poder eletromagn�tico � usada em fen�menos paraps�quicos de um modo j� determinado e
estabelecido. A feiti�aria utiliza-se mais uma vez de uma lei natural e n�o apresenta seu m�todo como �nico ou original.
- A for�a imensur�vel do elemento ar est� retida em v�s, disc�pulos da divindade. O pode est� muitas vezes ampliado pela concentra��o e for�a combinadas de nossa
imagina��o - explica o l�der. - Embora todos j� tenham feito isto muitas vezes, o l�der sempre repete a mesma explica��o em cada encontro, pois, ao repetir as palavras,
ele refor�a o conhecimento de todos e assegura para o grupo o sucesso em "levantar o poder".
Os professores indianos de Yoga chamam esta for�a de prana, os kahunas havaianos a denominam mana, mas tudo leva ao mesmo fim: produzir vibra��es. Em seguida
vem a recomenda��o ao grupo para que se sintam bem pesados e conscientes da for�a de gravidade. Eles cr�em que, desta maneira, passam a fazer parte do elemento terra.
A assimila��o pelo elemento � depois levada a efeito em rela��o ao fogo e � �gua, com o l�der sugerindo uma "frescura sublime" para a �gua e um "forte calor"
para o fogo. O grupo individualmente concentra o pensamento nas caracter�sticas de cada um dos quatro elementos, refor�ando desta maneira as polaridades e "voltagem
paraps�quica" de cada um, o que n�o acontece usando apenas auto-sugest�o. Isto possui uma base cientificamente real, embora n�s ainda n�o conhe�amos bastante sobre
as propriedades eletromagn�ticas de nossos corpos. Mas � poss�vel que a Antiga Religi�o tenha maiores conhecimentos do que n�s com todos os nossos sofisticados equipamentos.
� prov�vel que os impulsos do pensamento, quando adequadamente produzidos e coordenados, sejam capazes de criar "vibra��es" nos indiv�duos dentro do grupo, formando
assim uma poderosa fonte de energia a ser utilizada no ritual que se segue.
Cada sess�o do ritual dos elementos � acompanhada de sete inspira��es, perfazendo um total de vinte e oito. � interessante notar que as fases da lua levam vinte
e oito dias para se completarem e a feiti�aria � baseada no ciclo lunar.
Agora chega a hora de os membros da comunidade moverem-se rapidamente no c�rculo na dire��o oposta ao movimento dos ponteiros do rel�gio. Enquanto dan�am, suas
mentes imaginam as for�as dos elementos que tinham sido levantadas dentro de si sendo atiradas para o centro do c�rculo. Ao rodopiarem cada vez mais r�pido, repetem
cantando em un�ssono: "Yod He Vau He - Aben�oado seja!" O movimento r�pido em coordena��o com a m�sica parece liberar o corpo da mente, criando um estado de maior
receptividade. Sob este aspecto, a dan�a obt�m o mesmo efeito que o r�pido rodopio dos dervixes da P�rsia. Segue-se uma forma extrema de exalta��o quando os est�mulos
sensoriais s�o temporariamente removidos. Num grau bem menor, o excitamento obtido da centrifuga��o usada em muitos carnavais � baseado num princ�pio semelhante.
A rota��o continua por alguns minutos, tornando-se cada vez mais r�pida. Quando a sala � grande, os feiticeiros d�o-se as m�os; sendo pequena, dan�am pr�ximos
uns dos outros, quase se tocando pelas costas. A esta altura da dan�a, o l�der grita: "Deixem-se cair" e todos se atiram imediatamente ao ch�o.
Ao mesmo tempo, o l�der entoa a palavra sagrada, isto �, o nome de sua divindade, e ao faz�-lo libera toda a energia concentrada no centro do c�rculo para que
ela tome a dire��o desejada. Esta dire��o havia sido previamente discutida e aceita pelo grupo. Os feiticeiros chamam a isto "levantar o cone de poder".
Isso traz algum resultado?
As ora��es t�m validade do ponto de vista pr�tico? Curar uma pessoa ausente � poss�vel? Podem as pessoas organizar seus pensamentos para que eles obtenham efeito
a milhas de dist�ncia? Se a telepatia � um fato real - e existem amplas evid�ncias de que sim - alguma coisa tang�vel deixa a mente durante a transfer�ncia de pensamento
e viaja qualquer dist�ncia para alcan�ar e ser recebida por outra mente, isto �, causar uma rea��o.
O cone de poder dos feiticeiros n�o � nada mais do que uma onda de energia produzida pelo pensamento altamente organizado e concentrado, transmitida de uma maneira
simples e direta. Quando se trata da cura de um doente, � f�cil verificar os resultados.
Um membro est� doente demais para comparecer ao encontro da comunidade. O l�der instrui o grupo sobre a natureza da doen�a. Assim que o cone de poder � levantado,
todos dirigem o pensamento em dire��o ao amigo enfermo, visualizando sua melhora e mantendo estes pensamentos pelo tempo mais longo poss�vel. A pessoa doente sabe
o que est� acontecendo e espera pelos resultados. A expectativa da cura � importante, pois representa uma atitude positiva e receptiva, mas n�o se pode responsabilizar
apenas a sugest�o mental pela obten��o dos resultados. A pessoa doente sente uma corrente muito forte penetrando seu corpo no exato momento em que o cone de poder
� liberado e enviado em sua dire��o.
Na semana seguinte, ele se re�ne � comunidade, completamente curado, pronto para adicionar seus pr�prios poderes ao cone, caso algum outro membro necessite de
ser curado.
Outro membro est� desempregado e precisando de ajuda. Novamente, a comunidade � instru�da para produzir vibra��es e o cone de poder � liberado com a tarefa espec�fica
de orientar o membro necessitado em dire��o a uma oportunidade. No dia seguinte, encontra trabalho. Coincid�ncia? Um esfor�o maior por parte da pessoa desempregada
sob a influ�ncia da sugest�o? Os feiticeiros n�o pensam assim. O importante � que o resultado desejado � obtido.
O propriet�rio de um apartamento alugado a um feiticeiro lhe est� criando problemas por causa de sua religi�o. A comunidade � chamada a ajudar. A imagem do propriet�rio
� submetida a ataques mentais pelos pensamentos combinados dos membros do grupo. Na semana seguinte, ele se encontra impossibilitado de continuar com o processo
de despejo. Est� acamado, sentindo-se por demais fraco com uma doen�a inexplic�vel, embora sem maiores conseq��ncias - fadiga. Uma semana depois, ele se sente bem
e forte novamente. Ele � exatamente o que era antes, exceto numa coisa: esqueceu tudo sobre o processo de despejo contra o feiticeiro. Por que � que uma pessoa,
pelo fato de crer em feiti�aria, n�o teria o direito de viver num pr�dio de apartamentos? Vivamos e deixemos os outros viverem. A maneira de pensar do propriet�rio
mudou e o feiticeiro foi deixado em paz. Coincid�ncia? Uma atitude humana de arrependimento? Talvez. Mas os feiticeiros que se esfor�aram para levantar aquele cone
de poder n�o pensam assim. Quando tarefas mais complexas s�o tentadas, tais como influenciar uma pessoa para agir de uma determinada maneira, as provas s�o dif�ceis
de serem avaliadas, ou s�o obscurecidas por explica��es variadas.
Louise Huebner, uma feiticeira de Los Angeles que trabalha com pol�tica, usa, no meu entender, este mesmo m�todo para influenciar os l�deres pol�ticos a fazerem
o que ela considera certo. Por outro lado, o m�todo tamb�m pode ser aplicado no sentido de prejudicar as pessoas. Certamente que a motiva��o � muito importante,
pois a t�cnica n�o possui liga��es sentimentais ou moralidade.
Mas a filosofia geral da feiti�aria, da magia branca e das for�as positivas do ocultismo que se utilizam destes m�todos n�o permite que a t�cnica seja aplicada
por raz�es contr�rias ao bem; quando mais n�o fosse, pelo temor que os atos malignos, como for�as negativas, podem destruir o potencial de poder.
Depois de um r�pido per�odo de descanso, o grupo se levanta do ch�o. Como a ordem de se deitar � dada no momento preciso em que o l�der nota que os membros do
grupo est�o exaustos de dan�ar e cantar, � natural que estejam ainda cansados a esta altura. Mas, depois de descansarem, levantam-se novamente e viram-se para o
leste. O l�der encerra o ritual da mesma maneira como o iniciou, cruzando os bra�os sobre o peito, ajoelhando-se e pronunciando as seguintes palavras:
"Em nome dos Antigos, n�s, que nos reunimos alegremente, possamo-nos separar em alegria, com a b�n��o de ................, Alfa e Omega, benditos sejam!" A men��o
de Alfa e �mega, al�m de seu significado esot�rico j� antes discutido, serve tamb�m para enfatizar o in�cio e o fim da cerim�nia, pois a alfa � a primeira e �mega,
a �ltima letra do alfabeto grego.
Os membros da comunidade s�o instru�dos no sentido de n�o discutirem partes do ritual, mas lembrarem-se dele apenas como um todo e como um ato positivo. "Manter
o pensamento" de algo realizado n�o � bom somente do ponto de vista psicol�gico, mas parece ainda refor�ar a forma de pensamento enviada pela libera��o do cone de
poder.
Uma das perguntas que fiz a Bill dizia respeito � vestimenta especial usada por sua comunidade.
- A cerim�nia precisa ser realizada com os membros de p�s descal�os - explicou. - Mas n�o � absolutamente necess�rio que se esteja completamente nu, embora seja
verdade que a roupa atrapalha a dan�a de uma certa maneira. O fato de tirar a roupa significa, ainda, a remo��o de tudo que nos liga e prende ao mundo material.
Embora o grupo de Cincinnati se refira a seus dirigentes como l�deres, eles s�o sacerdotes e sacerdotisas como em todas as outras comunidades. Para eles, como
para os demais feiticeiros, sacerdotisa significa fertilidade, vida e nascimento e o sacerdote simboliza o Deus de Chifres da "morte e ressurrei��o e tudo que existe
entre elas". Possuem muitos nomes diferentes e, quando s�o chamados em conjunto, recebem a denomina��o de "Antigos".
J� havia dito que a divindade particular da comunidade exerce sua a��o juntamente com este par de princ�pios da natureza chamados "deuses", mas o grupo de Cincinnati
considera a sua pr�pria divindade superior e afirma seu credo da seguinte maneira:
"A divindade a qual tanto o deus como a deusa devem reverenciar chama-se.........., que significa a combina��o de todos os elementos trabalhando em misteriosa
harmonia, os aspectos positivo e negativo dos princ�pios masculino e feminino como a energia regenerativa que se estende por todo o universo. Um conceito perfeito
da for�a do grande deus � a interpreta��o dada por Elipha Levi a Baom�".
Elipha Levi, um ex-padre franc�s, era, no s�culo dezenove, l�der de um movimento oculto muito semelhante � feiti�aria em seus aspectos m�gicos, mas n�o em sua
filosofia religiosa.
Quanto a Baom�, o bode de chifres dos Templ�rios, esta representa��o simb�lica � formada de muitos conceitos. O deus Pan da antig�idade grega contribuiu com os
chifres e a identifica��o com o bode, pois os arcadianos consideravam o bode um animal sagrado, o que � facilmente compreens�vel se levarmos em considera��o que
este animal formava a maior parte de seus rebanhos. A palavra Baom� � uma distor��o medieval de Maom�, o profeta islamita. Os Templ�rios, uma ordem estabelecida
durante as Cruzadas, foram depois acusados de assimilar a f� dos maometanos, entre os quais viveram por muito tempo na Terra Santa. Quando foram trazidos de volta
� Fran�a para serem julgados, e conseq�entemente eliminados, foram acusados de pr�ticas muito semelhantes � feiti�aria e, principalmente, por n�o adorarem Jesus
Cristo, mas Baom�. Embora os Templ�rios inclu�ssem realmente muitos rituais secretos em seu ramo particular da religi�o crist� e fossem, portanto, hereges do ponto
de vista medieval, a raz�o principal para sua persegui��o foi o fato de se terem tornado ricos e poderosos, o que os tornava temidos pelo rei franc�s e o Papa.
Representa��es de Baom� s�o usadas n�o somente pelos chamados feiticeiros brancos como tamb�m pelos satanistas, pois o bode de chifres simboliza, em sua forma
mais pura, o princ�pio da fertilidade existente na natureza, podendo, portanto, representar tanto o bem como o mal.
A primeira vez que encontrei Martha pessoalmente foi no ver�o: 4 de julho de 1968; o local, uma casinha que ela e seu marido, qu�mico, advogado e funcion�rio
p�blico, chamam carinhosamente de seu lar, num sub�rbio de Los Angeles. Mas n�s j� mant�nhamos correspond�ncia desde 1965, quando ela veio de Cincinnati para Los
Angeles. � uma mulher gordinha, muito falante e cheia de vida; uma pessoa muito agrad�vel e interessante. Seu marido, Fred, mais reservado, como conv�m a um cientista,
dedica-se, nas horas vagas, ao artesanato. Cria objetos espantosamente belos, feitos de conchas, pedras semi-preciosas e tudo mais que possam encontrar nas areias
da praia.
N�o fosse pelos livros de feiti�aria nas prateleiras e a estranha decora��o da casa versando sobre a Antiga Religi�o, qualquer um pensaria que se tratava de mais
um simp�tico casal da classe m�dia americana. Martha j� �, h� algum tempo, a sacerdotisa-chefe da comunidade, mas Fred foi iniciado recentemente, a tempo de come�ar
seu "reinado" no �ltimo "Halloween", quando o sacerdote recebe o poder das m�os da sacerdotisa.
O pai de Martha, nos �ltimos anos, era docente em Cornell, embora a fam�lia seja do Sul. Martha nasceu em Ge�rgia, filha de um m�dico muito bem sucedido em sua
carreira. Quando tinha oito anos e vivia no Centro-Oeste, seu pai recebeu como paciente um haitiano que acreditava ter sido "enfeiti�ado". Apesar das receitas e
cuidados do m�dico, o rapaz morreu de causas desconhecidas. Este caso despertou seu interesse pelo assunto e ela se tornou uma freq�entadora ass�dua da biblioteca
local. Sem saber explicar por qu�, a palavra feiti�aria exercia um estranho fasc�nio sobre ela e a fazia devorar todas as leituras que encontrava sobre o assunto.
Come�ou a fazer o pr�-vestibular de medicina na Universidade de Indiana, mas o casamento fez com que interrompesse os estudos. Seu marido era na �poca estudante
graduado em qu�mica org�nica, preparando sua tese para tentar o doutorado.
- Eu gostava de enganar as pessoas dizendo que estudava alquimia e licantropia, - observou Fred, interrompendo nossa conversa. Ele, tamb�m, mantinha, h� algum
tempo, um certo interesse pelo ocultismo, embora Martha n�o soubesse disso desde o in�cio.
Em 1952, mudaram-se para Cincinnati, onde ele encontrou boa coloca��o como qu�mico, enquanto Martha trabalhava como enfermeira. Embora pare�a estranho, eles nunca
tinham ouvido falar na comunidade de Bill antes de virem para a Calif�rnia. Foi quando Sybil Leek os apresentou a Bill, e eles come�aram a se corresponder, que ela
se decidiu a abrir uma "comunidade-filial" de Cincinnati em Los Angeles. Isto foi em 1964 e tudo foi feito pelo correio - instru��es, gravuras, fotografias, um curso
completo por correspond�ncia de como fundar e conduzir uma comunidade. O processo culminou com sua pr�pria inicia��o por carta. Deve ter sido a primeira cerim�nia
de inicia��o pelo correio na hist�ria da feiti�aria, mas Martha sempre esteve t�o certa de ter sido uma feiticeira em outra encarna��o e conseguiu ser t�o persuasiva
que conseguiu que Bill concordasse com tudo.
- Fui uma feiticeira na Fran�a, no tempo de Maria Antonieta - Martha explicou, e poderia haver �poca melhor para algu�m ser feiticeira na Fran�a? Ela teve algumas
r�pidas vis�es sobre aquele e j� se visualizou durante a Revolu��o Francesa, assim como viajando para a Am�rica. Est� certa de que aqui, tamb�m, j� viveu uma vez
como feiticeira. Possui certas capacidades paraps�quicas e considera ser sacerdotisa a coisa mais importante em sua vida.
S� conseguiram fundar realmente a comunidade na terceira tentativa, pois, nas duas primeiras, tinham-se associado com pessoas pouco sinceras e interesseiras.
Existindo h� apenas um ano, o grupo j� conta com onze membros, sendo sete iniciados e os outros, candidatos � propor��o que v�o adquirindo a maturidade necess�ria
na feiti�aria, v�o sendo iniciados um por um. Seu ritual principal baseia-se nos ritos da "comunidade-matriz" de Cincinnati, mas j� incorporaram alguns toques da
comunidade dirigida por Joe em Wichita, Kansas, e outras.
A este ponto de nossa conversa, foram servidos sandu�ches, ap�s o que Martha prosseguiu com o assunto. V�rios membros da comunidade j� tinham ent�o chegado, todos
mulheres, com exce��o de um rapaz magro e p�lido.
- Mudamos alguns dos rituais do grupo de Cincinnati - explicou Fred, - substituindo o material cabal�stico pelo nosso pr�prio.
Fred possui algumas estranhas lembran�as de j� ter representado esses ritos antes, em algum lugar, h� muito tempo e, mergulhando mais profundamente nessas mem�rias,
reescreveu-os como achou que deviam ser desenvolvidos. Perguntei-lhes se alguma rara experi�ncia paraps�quica alguma vez j� lhes ocorreu ao representarem o ritual
de levantar o poder.
- Sim - concordou Fred. - Uma vez, quando represent�vamos o mesmo ritual simultaneamente com o grupo de Cincinnati, pudemos v�-los clara e perfeitamente aqui
na Calif�rnia. Embora nunca antes tivessem visto pessoalmente ningu�m do grupo de Cincinnati, escreveram-lhes, fornecendo todos os detalhes do que tinham podido
observar e tudo foi completamente confirmado.
S�o muito cuidadosos em n�o receber nenhuma contribui��o em dinheiro para n�o criarem embara�os com as leis da Calif�rnia que, embora n�o protejam os inocentes
dos adivinhos, criam, algumas vezes, s�rios empecilhos para os feiticeiros honestos. Como em todos os outros lugares, a estrutura das leis ainda n�o acompanha os
novos conhecimentos sobre fatos e pesquisas de experi�ncias de percep��o extra-sensorial e para-psicologia.
As cerim�nias costumam-se desenvolver em recinto fechado, principalmente quando as representam nus. No princ�pio, n�o se achavam preparados para isso e permaneciam
vestidos; ainda hoje, agem assim na maioria das vezes. Mas, nas datas especiais, seguem o ritual original com toda sua �nfase no nudismo.
- Tinha um pouco de medo no princ�pio - disse Martha. - Mas, assim que tomamos coragem, nem tomei mais consci�ncia de que estava nua.
- Quando tomo parte nessas cerim�nias, - acrescentou o marido, - roupas, ambiente e tudo mais que se encontra no exterior tende a desaparecer.
Os feiticeiros costumam referir-se a sua religi�o como "trabalho" - um feiticeiro "trabalha" num c�rculo ou sozinho, um rito � "trabalho" etc. Isto mostra que
a Antiga Religi�o considera o servi�o religioso uma atividade pr�tica, enquanto que outras f�s o encaram mais como uma subjuga��o do indiv�duo � vontade todo-poderosa
da divindade, de cujos caprichos depende totalmente.
Indaguei de Martha e Fred quais as raz�es que eles consideravam respons�veis pelo fato de se terem tornado feiticeiros.
Acharam dif�cil responder diretamente � pergunta. Disseram ser sua religi�o uma f� leg�tima que a pessoa pode abra�ar. Seus dois filhos nasceram dentro da feiti�aria
e parecem ter herdado as habilidades de percep��o extra-sensorial da m�e.
A comunidade n�o mant�m rela��es com outros feiticeiros da regi�o, nem tem conhecimento da exist�ncia de outra comunidade ativa em Los Angeles. J� ouviram falar
do grupo de Fred, que se re�ne uma vez ou outra fora da cidade, mas n�o o consideram verdadeira feiti�aria. Na verdade, os interesses de Fred prendem-se mais � �rea
do campo de nudismo; j� publicou v�rias revistas sobre o assunto. De vez em quando, Ed v�-se em maus len��is com as autoridades, mas ele me parece ser muito sincero
em suas cren�as, n�o prejudica ningu�m e, do que pude observar em suas revistas, as garotas s�o todas bonitas, ou, ent�o, as que n�o o s�o, n�o tiram as roupas.
Passei a observar os outros membros da comunidade. Elaine, uma morena esguia e elegante, explicou: "Sempre me interessei pela feiti�aria. Gosto de misturar ervas...
Tenho minha pr�pria planta��o... Sou membro da comunidade h� tr�s meses." Elaine tem vinte e sete anos e � desenhista comercial. Rocky, tamb�m com vinte e tantos
anos, � t�cnico de laborat�rio. Seu interesse pela feiti�aria nasceu h� uns dois anos.
- Sinto-me atra�da pela Antiga Religi�o desde que aprendi a ler, - disse uma mo�a morena de olhos e cabelos escuros, um tipo bem latino. - Minha m�e de cria��o,
embora n�o fosse feiticeira, possu�a alguns poderes paraps�quicos e me deixava ler todos os seus livros.
Mary ainda n�o tinha sido iniciada, mas como antigo membro de outra comunidade em Pasadena, veio com as melhores das recomenda��es. Trabalha como contadora respons�vel
por folhas de pagamento, mas dentro da feiti�aria � uma "especialista em ervas", como diz Fred. Embora nem todas as comunidades atribuam muita import�ncia ao tratamento
m�dico por meio de ervas como parte integrante dos rituais, tal n�o acontece com o grupo de Los Angeles - talvez pelo fato de terem um qu�mico como sacerdote-chefe.
Mary tamb�m possui mem�rias de reencarna��o e tem consci�ncia de j� ter sido feiticeira e participado de rituais numa exist�ncia anterior. Ela diz que tudo vem
muito facilmente para ela, como se j� conhecesse tudo antes.
Pat, uma robusta estudante secund�ria, irm� de um dos membros presentes, ainda n�o faz parte do grupo, mas eles se utilizam dela como sua "m�dium residente".
Sempre que existe um problema, fazem-lhe perguntas, da maneira como os antigos consultavam Pythia em Delfos ou como muitas comunidades o fazem com um membro de poderes
paraps�quicos quando ele entra em transe no c�rculo.
Donna, que trabalha como cosmetologista, tamb�m est� esperando para ser iniciada. Interessa-se pela feiti�aria h� muitos anos e tamb�m tem a sensa��o de j� ter
vivido como feiticeira em outra encarna��o.
Indaguei aos outros se a feiti�aria lhes tinha trazido alguma coisa que sua antiga religi�o ortodoxa deixara de lhes oferecer, se � que eles tinham seguido outra
f� anteriormente. Era verdade que eles n�o tinham podido aceitar uma religi�o ortodoxa e, por isso, procuraram a feiti�aria?
Elaine resumiu tudo para seus companheiros:
- N�o. A religi�o ortodoxa n�o me atinge absolutamente. A feiti�aria se adapta a mim como um sapato velho. Eu sou ela e ela sou eu.
- A religi�o ortodoxa n�o ajuda as pessoas, - acrescentou outro membro. - Quando estamos precisando de um aux�lio espiritual, dizem-nos que n�o devemos questionar
a palavra de Deus.
- Estudei catecismo na escola dominical e toquei �rg�o na igreja, - disse Mary. - A f� deve ser necess�ria para alguns, mas esse tipo de f� n�o serve, decididamente,
para mim.
- N�o creio que algum de n�s sinta que existe algo de sobrenatural em rela��o � nossa religi�o - disse Fred. - Tudo se resume em saber usar as habilidades e poderes
naturais. S�o poderes sobre os quais n�o conhecemos tanto como sobre f�sica ou qu�mica.
Perguntei-lhe o que a feiti�aria havia feito para eles no sentido pr�tico.
- Curar os doentes... controlar, at� um certo grau, os acontecimentos naturais...
- O que voc� gostaria de mudar em sua vida agora, se pudesse?
- A feiti�aria n�o pode ser usada para se obter ganhos pessoais. � um de nossos princ�pios mais importantes.
Os feiticeiros acreditam que seus poderes combinados venceram a Armada Espanhola no s�culo dezesseis e, novamente em Dunquerque, foram eles que impediram as for�as
de Hitler de invadir a Inglaterra. Isto, cr�em eles, � poss�vel atrav�s da convoca��o da Grande Comunidade, um tremendo reservat�rio de energia.
N�o pude conseguir que Fred falasse mais sobre os acontecimentos e resultados alcan�ados pela comunidade. Sei que ele precisa manter um certo segredo sobre estes
assuntos, pois, do contr�rio pode-se desfazer. Esta for�a-pensamento � uma for�a real e n�o imagin�ria. Funciona tamb�m com pessoas comuns, desde que elas conhe�am
os m�todos.
Quando me despedi, Rocky se ofereceu para me levar em seu carro at� o hotel. Fred me presenteou com um bonito prendedor de gravata que havia feito de uma cornalina
e ainda mandou outro objeto para minha esposa. Eram todos muito simp�ticos e gentis, pessoas sinceras e felizes na busca do que eles consideram a melhor maneira
de se chegar a Deus.
Martha assina suas cartas e bilhetes para mim com "Amor Perfeito. Aben�oado seja!"
Quem pode discordar disso?
Acho que nunca algu�m neste pa�s encarou a feiti�aria como algo mais s�rio do que uma extravagante brincadeira de "Halloween" antes da chegada de Sybil Leek.
A senhora Leek tem sido acusada por seus companheiros de feiti�aria mais acomodados de se preocupar muito com rela��es p�blicas, mas n�o fosse por muita coisa que
ela disse � imprensa e ao p�blico - e disse bem - a feiti�aria nos Estados Unidos continuaria ainda limitada � imagem de "Halloween".
Atualmente, a senhora Leek � uma muito ilustre feiticeira, inacess�vel a qualquer pessoa, com exce��o de seus amigos mais chegados e colaboradores. Acha que j�
encerrou sua tarefa; j� foi chefe de uma comunidade em New Forest, no Sul da Inglaterra.
No caso de Sybil, existe uma forte rela��o entre parapsicologia e feiti�aria. Filha de um ator ingl�s que se tornou, depois, homem de neg�cios, e de m�e em parte
irlandesa, Sybil foi criada numa fazenda no interior da Inglaterra. Existe conhecimento de uma tradi��o de feiti�aria na fam�lia de sua m�e e ela diz descender de
uma famosa feiticeira brit�nica que viveu h� quinhentos anos atr�s.
A excentricidade de Sybil, se podemos lhe dar este nome, manifestou-se pela primeira vez na �rea da percep��o extra-sensorial, quando ela era ainda bem pequena.
Tudo aconteceu numa festa de casamento, em que a menina insistia, repetindo alto e claro, que a noiva n�o devia ter-se casado com aquele rapaz, mas com um outro
cavalheiro. Embora seus pais tivessem conseguido contornar a situa��o na ocasi�o, o que a garota disse provou ser verdadeiro alguns meses depois. Da� por diante,
Sybil passou a ser conhecida como a "menina-fada", dona de uma segunda vis�o, mas ningu�m dava a isto uma import�ncia muito grande.
Abriu caminho na vida profissional como jornalista e escritora independente e j� publicou cerca de quatorze livros, n�o apenas sobre parapsicologia, mas tamb�m
sobre outros assuntos de seu interesse - antiguidades, crian�as e vida selvagem. Ela tem dois filhos, ambos adolescentes, com um imaculado sotaque e perfeitas maneiras
ingleses. Seu marido � um artista, herdeiro de uma rica fam�lia, e vivem perto de New Forest. Mas, atualmente, vive mais tempo numa mans�o igualmente grandiosa,
na Fl�rida.
No tempo em que trabalhava como jornalista, escreveu centenas de scripts de document�rios para a BBC e a televis�o e chegou mesmo a produzir alguns document�rios
ela pr�pria. A senhora Leek mant�m-se permanentemente interessada em novas id�ias, ativa em muitos setores, envolvida em muitos tipos de trabalho, do jornalismo
ao desenho comercial, da televis�o ao com�rcio, da Calif�rnia � Inglaterra.
Quanto � sua feiti�aria, sempre a considerou assunto particular, o que est� certo, s� que ela o tornou em parte p�blico, por falar nele atrav�s do r�dio e da
televis�o.
Seu interesse pela feiti�aria surgiu na adolesc�ncia, quando vivia em New Forest, uma regi�o muito calma, conhecida por seus la�os com a antiga religi�o da natureza.
Atingiu a posi��o de sacerdotisa-chefe em sua comunidade e conseguiu afirmar-se de tal maneira que seu nome passou a representar a pr�pria feiti�aria, numa �poca
em que poucos nomes apareciam publicamente.
Sybil acha que, se a religi�o que abra�ou, ou que talvez at� tenha nascido nela, � algo positivo e de valor, ent�o n�o h� motivo e de valor, ent�o n�o h� motivos
para segredos. Est� claro que ela nunca saiu contando segredos relativos aos ritos ou outros fatos que s� possam ser do conhecimento de pessoas que estejam dentro
da feiti�aria. Mas sempre tentou explicar da melhor maneira poss�vel o que a feiti�aria � e, principalmente, o que ela n�o �. Seu talento teatral inato levou-a a
escolher exclusivamente a cor p�rpura para suas roupas quando aparece em p�blico.
Aos poucos, Sybil foi deixando de dar essas entrevistas, reservando-as apenas para o lan�amento de um novo livro. Num desses livros, Di�rio de uma Feiticeira,
ela narra sua pr�pria hist�ria com um senso de humor t�o agudo que a leitura se torna f�cil e agrad�vel. Na realidade, confessar-se feiticeira n�o cria uma posi��o
muito f�cil para quem est� tentando fazer-se na vida. Preconceitos contra a feiti�aria sempre surgir�o, aberta ou sutilmente, mesmo da parte das pessoas que n�o
acreditam que ela exista. A senhora Leek diz que nunca teve ilus�es sobre sua posi��o ou sobre o que a feiti�aria significa para ela.
- Estou tentando demonstrar que algu�m pode ter uma religi�o perfeitamente v�lida sem crer em Jesus ou na Igreja - explicou-me j�, mais de uma vez. Sua capacidade
medi�nica � apenas uma coincid�ncia com sua cren�a religiosa, e todas as vezes que trabalhou comigo foi como m�dium, n�o como feiticeira. Sempre respeitei seu ponto
de vista religioso, sen�o por outros motivos, pelo menos por uma quest�o de toler�ncia.
No dia 23 de outubro de 1964, Sybil Leek veio at� a minha casa para me deixar hipnotiz�-la a fim de faz�-la regressar a uma poss�vel vida anterior. Acreditando
firmemente na reencarna��o, Sybil sempre teve a certeza de j� ter vivido antes como feiticeira. Por isso fica dif�cil constatar se este conhecimento consciente de
seu passado foi capaz de exercer alguma influ�ncia na regress�o ou se, ao contr�rio, ele � que foi influenciado pela realiza��o inconsciente daquela exist�ncia anterior,
profundamente enraizada em sua personalidade.
Sob hipnose, tornou-se outra pessoa com o nome de Margery Jourdemain, de Cork, Irlanda. Disse que seu pai era ferreiro e viviam �s margens de um lago. Morreu
quando tinha cinq�enta e cinco anos.
- As pessoas vieram ver-me morta, - disse numa voz apagada, n�o muito diferente de sua pr�pria voz, mas com algumas nuan�as que nunca notei quando ela est� acordada.
- As pessoas tinham medo de mim.
Morreu no lago, contou, e depois de ter morrido "esperei e esperei na praia; depois, eles me descobriram e eu parti."
Fiz, ent�o, que Sybil voltasse para o presente, mas sem tir�-la do estado hipn�tico e comecei a fazer indaga��es sobre seus pr�prios poderes.
Admitiu ter o poder de "ver coisas" e influenciar pessoas.
- Conhe�o uma por��o de segredos, segredos de como obrigar as pessoas a fazerem coisas. Alguns vieram de minha av� Louise, que viveu em Staffordshire... Tive
ainda uma outra av�... ela me ensinou que a gente pode conseguir qualquer coisa que queira se treinar a nossa mente e se conversar com outras pessoas, pessoas que
ningu�m mais v�...
Tudo isso me pareceu um pouco confuso, e pedi explica��es.
- Voc� est� querendo dizer que � capaz de fazer coisas �s pessoas sem que elas saibam de nada?
- Isso mesmo... Vou at� o bosque... l�, ent�o, minha av� aparece e me diz o que fazer... j� aprendi muita coisa... mas n�o � sempre que a gente pode fazer isto,
o senhor compreende...
- O que lhe diz exatamente sua av�?
- Ela diz que tudo que a gente quer pode conseguir, mas a gente precisa estar segura e n�o pensar bobagens... se a gente pensar bobagens, consegue resultados
igualmente tolos. Voc� pensa com for�a e a� seu corpo n�o � nada. � como uma forte luz saindo do meio de sua cabe�a... e voc� pode conseguir que as pessoas fa�am
as coisas ao contr�rio do que queriam... esta � a parte secreta da feiti�aria...
- Voc� j� influenciou algu�m dessa maneira?
- � preciso. �s vezes trabalho sozinha, outras vezes, com outros. Vou sempre na frente, pois conhe�o muito bem os caminhos do bosque. Os outros me seguem; �s
vezes, somos dez, outras, treze; extra�mos energia das �rvores. Se voc� n�o tiver uma �rvore, voc� morre. N�s sempre obtemos bons resultados porque conhecemos os
poderes.
- De onde v�m esses poderes, al�m das �rvores e seres vivos?
- V�m da Lua. As �rvores crescem em dire��o � Lua. A Lua desce do c�u por entre as �rvores e faz voc� sentir um agrad�vel calor. O luar � morno.
Bem, o que consegui n�o foi absolutamente uma prescri��o de seus poderes m�gicos, mas est� em tudo de acordo com o que outros feiticeiros me haviam contado. A
base de tudo est� numa maior compreens�o das for�as paraps�quicas, na utiliza��o das energias existentes na natureza, como os raios da Lua e, acima de tudo, na cren�a
firme e segura de que todos esses poderes e t�cnicas s�o realmente capazes de fazer o trabalho que a gente espera. Autoconfian�a �, pois, uma express�o real de energia,
um campo de for�a positiva que ajuda a pessoa a conseguir aquilo que a mente deseja.
Os feiticeiros ingleses, incluindo aqueles que se transferiram para o solo americano, s�o geralmente pessoas dedicadas, altamente espiritualizadas, para quem
a feiti�aria n�o � apenas um passatempo, mas algo ainda mais extenso do que uma religi�o - uma completa maneira de viver.
Como em todas as religi�es e, tamb�m, em todas as profiss�es, h� pr�ticas e praticantes que podem ser inclu�dos no rol da charlatanice. Certamente, nem todos
os feiticeiros s�o pessoas boas e possuidoras de grandes conhecimentos. Existem feiticeiros - pessoas que receberam esta designa��o por la�os de hereditariedade
ou por exercerem atividades semelhantes �s da feiti�aria - que s�o um tanto "comerciais". Agindo desta maneira, est�o, na verdade, desobedecendo a uma das regras
b�sicas da verdadeira feiti�aria - n�o procurar obter lucros ou bens materiais de suas pr�ticas. Por outro lado, n�o se pode conden�-los muito severamente, se eles
n�o possuem outros meios de vida. Afinal de contas, os padres, rabinos e muftis tamb�m recebem sal�rios por seu trabalho, sem desmerecerem a f�.
O caso em quest�o � de uma feiticeira de Boston, conhecida simplesmente como Feiticeira Leslie. A primeira vez que ouvi falar nela foi quando deparei com um an�ncio
num jornalzinho publicado particularmente por uma feiticeira de Kansas, denominado "Lua Cheia". Naquele pequeno an�ncio, a velha Feiticeira Leslie deixava o mundo
saber de suas atividades e convidava qualquer pessoa da regi�o de Boston a visit�-la.
Levei o convite ao p� da letra, mais ainda depois de ter recebido de sua parte um bonito cart�o com uma coruja e um morcego. Mais tarde, ela me explicou que aqueles
p�ssaros simbolizam a boa audi��o e a boa vis�o, sentidos que ela conserva perfeitos apesar da idade avan�ada.
Era uma noite fria e chuvosa aquela em que fui v�-la. Mora num dos mais conservadores quarteir�es de Boston, o tipo do lugar apropriado para cen�rio de romance.
Ca�a uma chuvinha de vento, dessas que cegam a gente, quando desci do t�xi e toquei a campainha do n�mero quatro e entrei, procurando o apartamento localizado ali
mesmo no primeiro andar.
Para minha surpresa, n�o foi a feiticeira que veio abrir a porta, mas seu marido, uma figura imponente de homem, num robe preto e uma corrente no pesco�o com
uma vela de papel�o pendurada. Pelas informa��es de Sybil Leek, vi logo que se tratava do marido, um cavalheiro de descend�ncia mista - africana e indiana - adepto
fervoroso do vodu e do obe�. Era muito mais mo�o do que ela, o que me levou a pensar que a velha feiticeira devia possuir charmes t�o fortes quanto os dele.
- Ela vir� num momento - disse ele e convidou-me a entrar. Era um apartamento grande e antigo, com as paredes cobertas com recortes, desenhos e posters, tudo
relacionado a aspectos da feiti�aria. O que mais me agradou foi a fotografia de uma garota de biqu�ni... e com chifres. Havia, tamb�m, um p�ster publicit�rio do
centro de Anton LeVay, em S. Francisco, dedicado � adora��o do diabo, a "Primeira Igreja Satanista".
Enquanto aguardava a chegada da feiticeira, seu marido, que se autodenomina "Bispo L. Qualls, D.D.D.M.", saiu da sala, voltando, quase que imediatamente, com
uma cestinha vermelha que estendeu sob meu nariz.
- Ponha qualquer coisa aqui - disse e ficou esperando.
- Ah - respondi, pensando compreender bem o que ele queria dizer. - Alguma coisa de prata?
Os feiticeiros adoram a deusa lua, que � simbolicamente representada pelo metal prata; logo, uma moeda de prata seria um gesto simb�lico de minha parte para expressar
simpatia em rela��o a eles.
- N�o, senhor - disse o "bispo". - � preciso que seja papel; cobramos vinte e cinco d�lares por entrevista.
- Ah, agora � assim? - disse eu vagarosamente, enquanto tirava uma nota de um d�lar e a colocava delicadamente na cesta vazia. - Que tal isto?
Ele olhou para minha oferta e balan�ou a cabe�a com desprezo:
- Oh, n�o! � preciso que seja, pelo menos, quinze d�lares.
Apanhei rapidamente a minha nota de um d�lar e levantei-me para sair.
- Vim para uma visita social e n�o para que ela lesse a minha sorte. O senhor poderia, por favor, mandar que me chamassem um t�xi?
Sabia que n�o seria poss�vel, nem mesmo para um "obe�" t�o poderoso como o Dr. Qualls, conseguir um t�xi ou qualquer outro meio de transporte num dia de chuva
como aquele. N�o sei por que ele retirou a cesta e indicou-me novamente a sala:
- Est� bem, fique assim mesmo. Afinal de contas, foi ela que o senhor veio ver e n�o o marido.
Como "ela" aparecia justamente naquele momento, fiquei.
Parece que a senhora Qualls vem de Salem, Massachusetts, onde a feiti�aria � uma atra��o tur�stica, e que ela e o marido costumavam realizar confer�ncias e demonstra��es
paraps�quicas em v�rios clubes e col�gios. Publicam, ainda, um jornalzinho feito a m�o, O Gato Sorridente. Na capa, aparece uma fotografia do gato preto da Feiticeira
Leslie, mas, quando a foto foi tirada, o gato n�o estava com a m�nima vontade de rir.
Dentro, est�o v�rios trabalhos sobre feiti�aria e mediunismo da maneira como os Qualls os interpretam. "Doctor" Qualls - o diploma est� l�, emoldurado na parede,
de uma das melhores escolas de metaf�sica por correspond�ncia - � tamb�m conhecido entre seus amigos e "clientes" como "Irm�o Cora��o de Rubi" ou "Feiticeiro Cora��o
de Rubi". Pelo menos, � o que ele conta.
N�o aprendi nenhum segredo de feiti�aria deste estranho casal, mas, como a Feiticeira Leslie possui um certo charme ing�nuo e, sem d�vida nenhuma, deve ter poderes
de percep��o extra-sensorial, a visita n�o foi uma total perda de tempo.
Pelo menos, serviu para confirmar que feiticeiros s�o seres humanos e, como tal, diferentes uns dos outros. Nem todos s�o sinceros, altru�stas, almas interessadas
e dedicadas em ajudar seus companheiros. Alguns comercializam um pouco sua religi�o e, embora eu n�o possa ser contr�rio a que algu�m tente ganhar a vida da melhor
maneira poss�vel, a religi�o deve permanecer um assunto pessoal, e a Feiticeira Leslie est� muito longe de saber respeitar a verdadeira feiti�aria.
Algumas semanas depois, seu filho, um jovem ator de muito valor, que vive em Nova York, procurou-me para que lhe conseguisse contatos no teatro. Sua m�e enviava
um bilhete exatamente igual ao que qualquer outra m�e na mesma situa��o escreveria. Eu gostaria, sinceramente, de ter podido ajudar o rapaz, apesar da cestinha de
dinheiro do Irm�o Cora��o de Rubi.
Mas, se sua m�e, a grande feiticeira, e seu pai, o vodu e obe�, n�o conseguiram nada, como � que eu, simples mortal, teria a pretens�o de conseguir alguma coisa?
5 - A BRUXARIA NA INGLATERRA
Assim como a mentalidade popular sup�e que todos os gangsters v�m de Chicago, as corujas, de Atenas e a cerveja, de Munique, os feiticeiros s� poderiam nascer
e viver (e, freq�entemente, serem executados) na Inglaterra. Isto � t�o verdadeiro quanto a alega��o de que todos os castelos ingleses s�o mal-assombrados ou de
que os irlandeses costumam ver almas penadas.
Mas uma coisa � verdade: a atitude das popula��es de origem c�ltica - povos que habitam atualmente a Inglaterra, a Irlanda, a Esc�cia e o Oeste da Fran�a - em
rela��o � Antiga Religi�o � muito mais real�stica do que em outras partes do globo. Isto n�o significa que os cl�rigos e dirigentes ingleses fossem necessariamente
mais liberais em rela��o ao feiticeiro do que os italianos e espanh�is. Mas, na Inglaterra, por exemplo, as autoridades n�o se tornavam hist�ricas em rela��o aos
seguidores da Antiga Religi�o. Elas tinham conhecimento de sua exist�ncia e, em determinadas �pocas, tentaram mesmo destru�-los, mas nunca se tornavam fan�ticas
nesta persegui��o. Talvez o clima concorresse para favorecer uma certa aceita��o do sobrenatural; talvez a heran�a c�ltica ainda estivesse por demais presente na
ra�a. A verdade � que, quando a bruxaria foi perseguida na Inglaterra, n�o se recorreu � demonologia fant�stica e ao terror teol�gico criados pela inquisi��o francesa
e espanhola. Relacionar a feiti�aria com o diabo parecia suficiente para as autoridades brit�nicas e, quando a tortura ocorria, n�o possu�a a mesma ferocidade, fruto
da mentalidade gaulesa e latina.
A bruxaria na Inglaterra tem sido uma tradi��o n�o interrompida desde a Idade da Pedra. Uma vez ou outra, viu-se aparentemente extinta ou condenada a permanecer
secreta; nunca, no entanto, perdeu seus la�os primitivos; dessas ra�zes que permaneceram intactas � que a moderna feiti�aria extraiu nova vida.
A atual feiti�aria na Inglaterra � t�o complexa quanto a religi�o protestante na Am�rica. H� muitas seitas diferentes, desprezando-se umas �s outras, cada qual
alegando ser a deposit�ria da verdadeira tradi��o. Mas n�o existem guerras e nunca uma tentou for�ar a outra a aceitar a sua pr�pria vers�o como sendo a genu�na.
Muito pelo contr�rio: t�m medo da publicidade e n�o se interessam em fazer adeptos, nem diretamente atrav�s de contatos pessoais, nem indiretamente atrav�s de livros
e publica��es. Qualquer indiv�duo que deseje tornar-se feiticeiro ter� que lutar muito e, se conseguir ser aceito, ver� que ser� preciso muito tempo e dedica��o
para progredir dentro da feiti�aria.
� um fato lament�vel que os v�rios ramos da feiti�aria se comportem em rela��o uns aos outros da mesma maneira que os diferentes credos de outras religi�es. Mas
isto n�o deve trazer surpresas a ningu�m, pois, afinal de contas, os feiticeiros s�o pessoas como todas as outras, embora seus perseguidores medievais n�o pensassem
assim. Testes tremendamente cru�is com alfinetes eram levados a efeito a fim de que se descobrisse no corpo da pobre v�tima um lugar insens�vel � dor, pois se acreditava
que todos os feiticeiros possu�am no corpo um ponto assim. Corria um outro mito de que os feiticeiros n�o podiam chorar. Bem, eles choraram muito atrav�s dos s�culos
e o pior � que geralmente em v�o. � um pouco como as invencionices sobre os judeus - que eram "diferentes", comiam criancinhas e odiavam Jesus Cristo. Eles s�o diferentes,
sim, mas apenas em sua cultura; e, nesta cultura, est� fortemente enraizado o amor pelas crian�as; quanto a Jesus Cristo, consideram-no apenas um mestre, um rabi;
e por que n�o teriam este direito? Estes tipos de falsidades, surgidas h� muitos s�culos, custam muito a desaparecer, e talvez estas linhas apressem um pouco sua
extin��o.
Antes de 1951, se algu�m quisesse entrar em contato com uma feiticeira, precisava conhecer outra primeiro. N�o se poderia por um an�ncio procurando uma no Times.
No tranq�ilo interior, especialmente nos Cotswolds da Inglaterra ocidental; em New Forest, perto de Southampton, no Sul; em Border, Country, no norte, e em outras
�reas isoladas, a Antiga Religi�o sempre existiu, mas, para encontrar um feiticeiro, era preciso ter muita paci�ncia e bons conhecimentos. Eles s�o capazes de pressentir
um rep�rter curioso a milhas de dist�ncia e os feiticeiros l� nunca concedem entrevistas. A imprensa brit�nica � muito mais irrespons�vel do que a americana, e acho
que n�o � preciso dizer mais nada.
Com a lei de 1951, que anulava a antiga Lei de Repress�o � Feiti�aria, at� mesmo o pretexto de ilegalidade foi removido e algumas comunidades sentiram que finalmente
tinham conquistado o direito de exercerem suas pr�ticas livre e abertamente. O entusiasmo n�o foi muito longe, pois outro tipo de persegui��o j� ocupava o lugar
da fogueira e da espada. Ningu�m conseguia ser ao mesmo tempo feiticeiro e continuar mantendo uma posi��o de respeito e responsabilidade dentro da sociedade, e era
totalmente imposs�vel encontrar casamento numa "boa fam�lia". Sybil Leek, que nunca escondeu seus pontos de vista e opini�es sobre a Antiga Religi�o, nem o fato
de ser uma de suas praticantes, j� foi for�ada a sair de sua casa e teve sua carreira prejudicada na BBC, apesar de sempre se ter distinguido como excelente escritora
e produtora de document�rios. A situa��o do feiticeiro �, sob este aspecto, semelhante � do ex-prisioneiro que, j� tendo pago sua d�vida para com a sociedade, encontra
sempre barreiras por um dia j� ter estado na pris�o. S� que os feiticeiros nem, ao menos, uma vez praticaram crime algum; nunca foram culpados de nada, mas sempre
v�timas. Mesmo depois de 1951, pouco se tem progredido em dire��o � igualdade com outras religi�es e cultos.
Para tornar as coisas mais suport�veis para os membros da feiti�aria, que inclu�am entre si pessoas ocupando posi��es de import�ncia, alguns praticantes da Antiga
Religi�o resolveram fundar uma esp�cie de conselho de rela��es p�blicas. Na mesma hora, os feiticeiros se dividiram em dois grupos: de um lado, os conservadores,
negando-se a tomar parte no movimento, de outro, os liberais, decididos a continuar de qualquer maneira, com esperan�as de que os resultados seriam compensadores.
Gerard Noel, um jovem editor especialmente interessado pela feiti�aria, come�ou a editar o Pentagrama, que trazia na capa os seguintes dizeres: "Uma revista de
feiti�aria para circula��o privada". O primeiro n�mero surgiu em agosto de 1964.
Nesse primeiro n�mero, ele apresentou uma institui��o denominada Associa��o de Pesquisas sobre Feiti�aria, que, infelizmente, foi de curta dura��o, devido � falta
de pessoal e de dinheiro. A publica��o tamb�m apresenta livros selecionados sobre feiti�aria, nomes e endere�os de museus especializados como o existente na ilha
de Man, fundado pelo falecido Dr. Gardner, e o de Bourton-on-the-water, no interior, perto do local chamado Rollright Stones, onde antigamente se reuniam feiticeiros.
Para manter financeiramente a revista, aparece em suas p�ginas um an�ncio de um licor italiano chamado "Strega", que significa "feiticeira". Esta deve ser a primeira
vez em que um an�ncio comercial faz parte de uma publica��o sobre feiti�aria.
A revista aparecia quatro vezes por ano, coincidindo com as quatro grandes datas da feiti�aria e custava apenas um d�lar. Antes que voc�, distinto leitor, pergunte
como fazer uma assinatura dessa fabulosa publica��o, deixe-me avis�-lo que n�o se trata de um cat�logo onde possa encontrar o endere�o de feiticeiros atraentes.
Mas, se seu interesse nasceu de uma motiva��o mais aut�ntica ou por considerar a feiti�aria uma religi�o ou por motivos s�rios de pesquisa, posso enviar-lhe uma
carta com as explica��es e dados necess�rios.
No dia 3 de outubro de 1964, Pentagrama promoveu o primeiro jantar de feiti�aria da hist�ria moderna. Foi iniciado com uma ora��o de a��o de gra�as, uma prece
do s�culo doze ao Deus de Chifres, seguida por um discurso pronunciado pela poetisa Doreen Valiente, feiticeira h� muitos anos e grande autoridade em feiti�aria.
Insistiu ela na necessidade de coopera��o entre as comunidades e na urg�ncia em se redescobrirem grupos esquecidos de feiticeiros espalhados pelo mundo.
Citou outra autora, Dion Fortune, tamb�m, como ela, uma mulher que se dedicou profundamente � feiti�aria durante sua vida: "Todos os deuses s�o um Deus; todas
as deusas s�o uma Deusa; e tudo vem de um mesmo Princ�pio".
Pedindo toler�ncia entre as comunidades assim como em rela��o ao mundo, Doreen pronunciou a antiga f�rmula anglo-sax�nica denominada "Wiccan Rede" ou s�bio ensinamento:
"Fa�a o que sua consci�ncia mandar, mas tenha sempre a certeza de n�o prejudicar a ningu�m".
Ao fim do jantar, todos se conheciam - era a primeira promo��o social da feiti�aria na Inglaterra e um novo princ�pio para uma tradi��o muito antiga. Com muitos
"Encontramo-nos em alegria, separemo-nos em alegria", os senhores e senhoras feiticeiros despediram-se e partiram na noite escura.
"Os feiticeiros j� n�o se podem afastar do mundo", escreveu outro feiticeiro tradicional, Robert Cochrane. "Para conquistarmos o direito a um lugar na sociedade,
precisamos, antes de mais nada, ter alguma coisa de v�lido para lhe oferecer, participando, assim, de sua evolu��o social."
Todas as diverg�ncias foram temporariamente esquecidas entre as duas fac��es da Antiga Religi�o, isto �, os feiticeiros heredit�rios que defendem seus direitos
adquiridos pelo nascimento dentro de uma tradi��o que remonta � Idade da Pedra, e os novos convertidos, na maior parte seguidores do movimento de renascimento e
renova��o do Dr. Gardner, de 1940-1950. Um pouco separada de tudo est� a tradi��o da feiti�aria dru�dica, seguindo rituais antigos, mas n�o necessariamente formadas
de feiticeiros natos.
Os argumentos surgiram r�pida e energicamente nas colunas do Pentagrama durante todo o ano de 1965, mas, antes que a discuss�o alcan�asse o controvertido tema
de quem possu�a o ritual verdadeiro, Pentagrama transformou-se numa nova e muito bem apresentada revista com o subt�tulo "O Homem e suas Indaga��es", apresentando,
principalmente, trabalhos eruditos sobre variados aspectos de religi�o em geral, magias e cultos que tivessem qualquer rela��o com a feiti�aria ou, pelo menos, que
n�o entrassem em contradi��o com ela. Um n�mero inteiro foi dedicado � discuss�o do trabalho de Aleister Crowley, autor e fil�sofo da feiti�aria, que tamb�m realizou
experi�ncias com drogas alucinat�rias, tais como o haxixe.
Conheci o editor de Pentagrama numa reuni�o em Londres, um homem de excelente apresenta��o, muito bem vestido, talvez um tanto educado demais para quem pretende
vencer como editor. Ele expressou seu pensamento de que continuaria a publicar a revista mesmo que n�o conseguisse que a publica��o sa�sse regularmente, o que realmente
aconteceu.
Depois que a Antiga Religi�o conquistou, pelo menos legalmente, um lugar ao sol e, com isto, o direito de trazer � baila seus pensamentos e opini�es, surgiram
as mesmas dificuldades com que deparam todas as outras religi�es. Dissens�es, dissid�ncias e uma tend�ncia a desprezar quem pensa de maneira diferente. Mas aquele
que possuir um aut�ntico senso de discrimina��o pode, do exame cuidadoso de todas as opini�es, formar a sua pr�pria, pois existe algo de bom em todas as seitas,
assim como um pouco de ilus�o em cada uma delas.
Doreen Valiente, uma das pessoas de maior atua��o neste novo movimento da feiti�aria na Inglaterra, � escritora profissional e uma grande oradora, realizando
freq�entes confer�ncias sobre feiti�aria. Seu livro, Where Witchcraft Lives ("Onde Vive a Feiti�aria"), � um testemunho da vida rigorosa ainda encontrada nas comunidades
do Sul da Inglaterra, onde ela mora. A senhora Valiente possui poderes medi�nicos e sua mais recente experi�ncia de percep��o extra-sensorial foi um sonho premonit�rio,
no qual ela previu o assassinato do embaixador americano na Guatemala. Contou este sonho detalhadamente a um amigo seu, dono de uma livraria em Brighton e, quando
o fato ocorreu realmente, a r�dio local procurou-a para uma entrevista, n�o s� sobre este fato, como tamb�m sobre suas cren�as em geral. Naturalmente que, nessa
entrevista, n�o podia faltar a pergunta cl�ssica: se suas habilidades de percep��o extra-sensorial tinham alguma rela��o com o fato de ela ser feiticeira.
"Sim", respondeu Doreen Valiente, "tudo est�, de alguma forma, relacionado, pois segundo o ensinamento da feiti�aria todos n�s possu�mos tais faculdades em estado
latente e o objetivo dos rituais � fazer com que elas se manifestem."
A senhora Valiente n�o toma parte na discuss�o sobre a validade ou n�o da contribui��o do Dr. Gardner ao atual status conquistado pela feiti�aria:
- Conheci Gerald Gardner muito bem durante muitos anos e, embora eu n�o seja uma "gardneriana", tenho muito respeito por aquele senhor. Ele possu�a muito maiores
conhecimentos e era uma pessoa de muito mais valor do que a maioria dos que o criticam.
Atualmente, quando os cultos da feiti�aria voltam a florescer, a interpreta��o gardneriana da Antiga Religi�o � uma das tr�s principais dire��es tomadas pela
feiti�aria. Um feiticeiro praticante pode ser inclu�do numa das seguintes classifica��es: dru�dico, gardneriano, neogardneriano ou, ainda, pr�-gardneriano. Procurarei
explicar rapidamente as diferen�as e rituais de cada seita.
At� as �ltimas d�cadas do s�culo dezenove, existia apenas na Europa ocidental o movimento secreto da feiti�aria medieval, mas, cessadas as persegui��es, as pessoas
que n�o tinham, at� ent�o, tido qualquer liga��o com antigas fam�lias de feiticeiros come�aram a se interessar pela Antiga Religi�o, fosse por motivos rom�nticos,
fosse pela procura aut�ntica de uma outra f�. Naquela �poca, os ingleses consideravam os druidas como seus honrosos ancestrais, da mesma maneira como os alem�es
consideram os g�dos e os teut�nicos da antig�idade. O estudo da cultura dru�dica come�ou a fascinar a classe m�dia assim como os intelectuais; foram reconstitu�das
muitas ordens dru�dicas e outras, simplesmente inventadas. Calcula-se que existam hoje cerca de meia d�zia de ordens e sociedades dru�dicas na Inglaterra. Reunem-se
nos antigos feriados pag�os, especialmente, nos solst�cios, e todos s�o bem-vindos a essas reuni�es. Chegam, mesmo, a anunciar suas cerim�nias no "Sunday Times",
na mesma p�gina dos servi�os religiosos regulares. Mas n�o confundam estes ritos com os rituais secretos dos druidas. As pessoas que se re�nem em alguma colina de
um sub�rbio de Londres s�o, todas, cidad�os respeit�veis, muitas vezes membros convictos da Igreja da Inglaterra. Para eles, tais festas constituem assunto nacional
e hist�rico, uma maneira de manter os la�os com o passado do pa�s. Vestindo longas roupas brancas, realizam pitorescas cerim�nias.
Realizam dan�as em volta de grupos de �rvores semelhantes a um pequeno bosque ou em torno de um altar, mas � muito improv�vel que eles desejem tirar o nosso sangue.
As cerim�nias parecem mais o renascimento de uma Isadora Duncan do que um Sab�; s�o bonitas e trazem muita alegria �queles que delas participam. Como em todos os
cultos secretos, as roupas especiais e as ins�gnias s�o t�o importantes quanto os ritos. � uma caracter�stica fortemente humana o desejo e a necessidade de pertencer
a uma unidade maior do que si pr�prio ou sua fam�lia, e, a fim de se identificar com o grupo, a pessoa precisa ter uma esp�cie de passaporte, identifica��o ou, mesmo,
uniforme. Todas as ordens ma��nicas e sociedades secretas emprestam especial �nfase a este ponto. Tal sentimento existe desde os princ�pios da humanidade e o desejo
de fazer parte de uma unidade maior reflete a necessidade do homem de se sentir protegido.
Na feiti�aria propriamente dita, como veremos mais tarde, existem ainda outras raz�es que explicam a maneira uniforme como os membros se vestem ou deixam de se
vestir.
Possuir descend�ncia pr�-anglo-sax�nica ou pr�-normanda � considerado at� hoje na Inglaterra como algo favor�vel e positivo e foi, justamente, entre as pessoas
que dizem possuir esses la�os que os cultos dru�dicos arregimentaram seus membros. Encontramos um certo interesse por tais cultos na Fran�a e na Esc�cia, mas muito
pouco na Irlanda, com exce��o do norte. Esse interesse � ainda maior no Pa�s de Gales, que constitui uma das regi�es mais c�lticas das Ilhas Brit�nicas.
Entre as cerim�nias mais importantes do culto dru�dico, estava o corte das visgueiras que cresciam nos bosques sagrados. Esta planta possui propriedades medicinais
assim como uma grande significa��o m�stica, pois cresce acima da terra. Era preciso que se escolhesse uma noite de lua cheia para o ritual; havia cantos e dan�as
e os druidas sempre se vestiam de branco. No Pa�s de Gales, os festivais dru�dicos ainda s�o celebrados; seus concursos de m�sica e canto s�o mundialmente famosos.
Atualmente, as ordens dru�dicas s�o locais e, dependendo da localidade, possuem s�mbolos diferentes que usam em suas roupas brancas. Possuem conven��es como os
ma�ons americanos e muito poucos segredos.
A feiti�aria "dru�dica" j� � uma outra coisa diferente. A�, a Antiga Religi�o adota as vestimentas dru�dicas e substitui as cerim�nias mais f�sicas do antigo
culto por um maior n�mero de encanta��es, recitativos, invoca��es de divindades, enfim, por um tipo mais intelectual de cerim�nias. Suas roupas s�o sempre pretas.
Um observador casual poderia pensar que o fato de usarem roupa preta est� relacionado com a adora��o do diabo (parece que o diabo � preto ou vermelho, dependendo
do estado de esp�rito); mas � claro que esta rela��o n�o existe - o preto simboliza o eclipsamento tempor�rio da personalidade individual.
Este � um dos elementos-chave da feiti�aria: o indiv�duo precisa abandonar, temporariamente, seu ego a fim de se juntar aos outros na persegui��o de um objetivo
comum. Geralmente, este objetivo � levantar o poder. Para conseguir mais facilmente este desligamento da consci�ncia individual, os feiticeiros preferem fazer-se
cobrir da cabe�a aos p�s por vestimentas id�nticas - sempre pretas. Dizem ainda que obt�m o mesmo efeito quando est�o nus - todos se assemelham uns aos outros.
Esse conceito � refor�ado ainda mais pela exig�ncia, em todos os grupos de feiti�aria, de os novos membros abandonarem seu nome real e assumirem um novo e especial
nome de feiti�aria. A raz�o da troca do nome n�o vem, pois, como muita gente pensa, da necessidade de os feiticeiros se esconderem das autoridades ou por se sentirem
envergonhados de sua f�. Tal pr�tica est� tamb�m intimamente ligada ao ritual de morte e renascimento, parte importante de qualquer cerim�nia de inicia��o. N�o difere
muito, em ess�ncia, da ado��o batismal de um nome pelos cat�licos ou do novo nome que os anabatistas conferem �queles que aderem � sua f�. Se a pessoa deixa para
tr�s seu antigo nome, � como se come�asse tudo outra vez, deixando com ele a parte negativa de sua personalidade que impediria seu progresso na nova f�.
Um iniciante na feiti�aria dru�dica, ou nos outros ramos, tem toda a liberdade de escolher qualquer nome que desejar, mas, na pr�tica, os nomes escolhidos s�o
sempre peculiares � tradi��o da feiti�aria. Alguns deles s�o gregos, outros, latinos, outros, ainda, n�o possuem uma raiz ling��stica f�cil de se determinar, mas
s�o tomados, creio eu, de nomes de famosos praticantes da feiti�aria no passado, de divindades conhecidas, relacionadas de alguma forma � religi�o, ou de nomes de
ancestrais que n�o vinham sendo comumente usados por muitos s�culos. O novo nome deve ser mantido em segredo em rela��o aos estranhos, mas eu conhe�o pelo menos
uma comunidade na Inglaterra cujos membros usam, durante as cerim�nias, medalhas redondas no pesco�o com seus nomes de feiti�aria gravados. Parecem aqueles cart�ezinhos
que s�o pregados com alfinetes nas roupas dos rec�m-chegados desconhecidos, em algumas festas americanas. Mas, como os membros de uma comunidade certamente se conhecem
uns aos outros muito bem, isso n�o serve para identific�-los, mas possui um valor simb�lico - serve para mostrar que quem usa essa medalha n�o � mais John Smith,
mas sim Triarchus ou qualquer que seja seu nome de feiti�aria, o que significa que ele, agora, faz parte do c�rculo.
Nas comunidades dru�dicas, o chefe ou "senhor" divide o poder com uma mulher que � chamada de "senhora". Os termos "sacerdote" e "sacerdotisa" s�o geralmente
encontrados somente nas formas mais antigas de adora��o.
Os feiticeiros tradicionais - membros heredit�rios da feiti�aria - olham com um certo desprezo para os chamados gardnerianos. Mas, n�o fosse pelo movimento de
restaura��o e renascimento dirigido pelo falecido antropologista Dr. Gerald Gardner, da ilha de Man, talvez a feiti�aria j� estivesse extinta.
No processo de estudar os rituais antigos, o Dr. Gardner acabou por se tornar feiticeiro ele pr�prio. Dizem alguns que ele conheceu apenas os aspectos superficiais
da feiti�aria, ignorando seu significado esot�rico mais profundo. Mas a verdade � que ele fez renascer um interesse geral pela feiti�aria entre as pessoas com inclina��es
pelo ocultismo, contribuindo, assim, para reviver uma antiga tradi��o. N�o podemos negar que o Dr. Gardner tomou a liberdade de acrescentar muito de sua contribui��o
pessoal - mais dan�a e mais gritaria, um refor�o do interc�mbio social entre os membros, menos segredo e menor �nfase no aspecto puramente religioso do ritual. Acima
de tudo, muito mais import�ncia � depositada na Deusa-M�e, o princ�pio feminino, como centro do ritual, enquanto que os tradicionalistas atribuem ao princ�pio masculino,
o Deus de Chifres, uma posi��o igual. Gardner dava muito valor �s mulheres e, na revis�o dos ritos, procurou enfatizar fortemente o princ�pio feminino da fertilidade.
Abandonou, tamb�m, a conduta austera das comunidades dru�dicas, que sempre se vestiram, pois os gardnerianos trabalham nus. Os gardnerianos costumam dar �nfase a
alguns elementos teatrais e dram�ticos tais como o rito em torno de um caldeir�o fervendo.
Dan�ar em torno de um caldeir�o fervendo n�o tem nada de demon�aco; � uma express�o de alegria pela chegada de uma nova esta��o e pelo fato de se ter calor e
um lar onde se abrigar. H� poucos anos, muita publicidade foi feita na revista Life em torno das cerim�nias dirigidas por Ray Bon�. Elas se desenvolviam em recintos
fechados e todos se apresentavam nus. Mas n�o existia nada de moralmente ofensivo naqueles corpos nus, nem mal nenhum naquela meia d�zia de pessoas de diferentes
idades, tamanhos e formas, erguendo uma espada em dire��o ao norte ou dan�ando de m�os dadas em torno de um caldeir�o de cobre fervendo ao fogo. A senhorita Bon�s
e um oficial de pol�cia reformado dirigem um grupo num sub�rbio de Londres, enquanto que, na ilha de Man, um cavalheiro de nome Warrock mant�m um museu de hist�ria
e objetos da feiti�aria fundado pelo falecido Dr. Gardner. Estes s�o provavelmente os dois elementos mais p�blicos da feiti�aria para os curiosos. N�veis mais profundos
da Antiga Religi�o n�o s�o t�o facilmente encontrados.
Uma amiga minha, uma jovem senhora que j� foi feiticeira por alguns anos, ajudou-me na pesquisa de alguns dos aspectos desses rituais que s�o freq�entemente mal
compreendidos pelos leigos. Existe, para come�ar, a no��o de que os feiticeiros adoram o diabo (em ingl�s: "devil"), Anne, minha amiga, observa, com raz�o, que esta
palavra significa apenas "senhor" na linguagem cigana. Os povos de origem romana praticavam sua pr�pria vers�o da feiti�aria onde que vivessem. Uma de suas sauda��es
tradicionais era: "O boro Duvel atch' pa leste", significando: "Que o grande Senhor esteja a teu lado". Da�, pode-se ver facilmente como "Duvel" se transformou em
"devil"; ficou por conta da Igreja medieval a identifica��o deste senhor com o Sat� b�blico.
J� vi feiticeiros dan�arem usando uma m�scara de Pan, e uma das cerim�nias mais marcantes a que assisti denominava-se "a invoca��o de Pan".
Esta antiga divindade grega parece ter sido trazida para a Inglaterra com os druidas, que eu tamb�m considero de origem mediterr�nea. Pan, como todos sabemos,
� normalmente representado como um ser com fei��es de bode; descende do antiq��ssimo deus arcadiano dos rebanhos; para os arcadianos, os bodes e carneiros eram t�o
importantes que sua divindade tinha que ter algumas de suas qualidades e apar�ncia. A m�scara do "Grande Deus Pan" pode, portanto, apresentar um pouco de semelhan�a
com a id�ia tradicional do diabo, mas n�o possui a m�nima rela��o sequer com o inferno ou com Sat�. Na Europa ocidental, num per�odo muito remoto, este mesmo deus
Pan, extra�do da mitologia grega, foi identificado como a divindade local da ca�a, que os imigrantes j� encontraram sendo adorada. Portanto, o Deus de Chifres dos
celtas e o Grande Deus Pan fundiram-se num s� deus. � esta mesma divindade da ca�a que o sacerdote personifica durante os ritos de inverno. Como o sacerdote usa
um adorno de chifres na cabe�a, as pessoas estranhas � religi�o podem confundir esse traje com uma identifica��o com o diabo, mas n�o existe, absolutamente, nenhuma
rela��o. O conceito de Sat�, como j� disse, � totalmente distanciado das cren�as da feiti�aria. Esta � uma adora��o da natureza e da alegria e n�o uma religi�o de
amea�as, �dio e pecado.
Muitas outras divindades gregas foram trazidas para a Europa ocidental, onde acabaram por se fundir com os conceitos locais de divindades femininas. A Deusa-M�e
� a mesma que a deusa da terra, a Cerridwen dos celtas, a Artemis dos gregos, a Isis dos eg�pcios e, algumas vezes, ainda: Nemesis, Fate, Tanith, Lilith - todos
estes conceitos derivados do princ�pio feminino da natureza.
As comunidades usam nomes diferentes para invocar sua divindade, mas, em ess�ncia, est�o todas dizendo a mesma coisa - "os poderes da cria��o".
Todos os candidatos, seja nas comunidades vestidas, nas nuas ou nas dru�dicas, precisam primeiro conhecer a natureza da feiti�aria e estar preparados para responderem
a perguntas sobre a religi�o feitas pelos membros mais antigos ou pelos l�deres. As cerim�nias de inicia��o s�o geralmente um dos rituais mais secretos. Algumas
comunidades n�o admitem nem mesmo a presen�a dos outros membros, mas somente o candidato � inicia��o, o sacerdote e a sacerdotisa. Em outras, a cerim�nia � realizada
no c�rculo completo. Por tradi��o, o futuro membro precisa passar por mais um teste, s� que, desta vez, se trata de um teste simb�lico.
Nas comunidades vestidas, todos usam roupas pretas id�nticas durante a cerim�nia de inicia��o. Nas pr�-gardnerianas (isto �, nas que mant�m as tradi��es da Idade
da Pedra), nas gardnerianas e nas neogardnerianas, os participantes precisam ficar nus, podendo usar, apenas, alguns ornamentos e algumas gotas de perfume. A maioria
dos encontros realizam-se � noite, em recintos fechados, embora todas as comunidades prefiram reunir-se ao ar livre, sob as copas das �rvores. Mas, vestidos ou n�o,
a curiosidade p�blica - e muitas vezes o preconceito - obriga os feiticeiros a realizarem suas cerim�nias dentro dos limites de suas pr�prias casas. Poucas comunidades
possuem templos ou santu�rios.
As raz�es para o nudismo nada t�m de er�tico. Os feiticeiros acreditam sinceramente que seus corpos possuem certos poderes que seriam bloqueados pelo uso de roupas.
Existe alguma base verdadeira para esta cren�a?
Como parapsicologista, sei perfeitamente que a personalidade humana �, em ess�ncia, um campo eletromagn�tico preso numa grossa camada exterior chamada corpo f�sico.
Todos os processos mentais e todos os sentimentos est�o dentro dos limites desse campo e n�o na superf�cie, a pele. Mas � atrav�s da pele que os raios de energia
saem, pequenas part�culas da personalidade capazes de serem recebidas por outras pessoas - pensamentos, sugest�es e imagens. A roupa � feita de mat�ria e toda mat�ria,
quer org�nica ou inorg�nica, tamb�m emite pequenas part�culas de si mesma, pois o universo n�o � algo est�vel, mas um mundo em cont�nuo movimento.
As irradia��es da pessoa podem muito bem sofrer as interfer�ncias das irradia��es da roupa, ou esta pode agir como um escudo ou barreira, bloqueando a irradia��o
natural daquela ou "vibra��o", como � �s vezes denominada. Sendo assim, os feiticeiros t�m um ponto a seu favor. No entanto, tenho minhas d�vidas de que a maioria
dos feiticeiros conhe�a cientificamente este fato. Na verdade, existe uma outra raz�o muitas vezes apresentada pelos sacerdotes e sacerdotisas para explicarem o
fato de sua comunidade trabalhar nua.
Estar nu � renunciar ao mundo material: estar nu � ser igual a todos os outros membros da comunidade, pois a maneira de as pessoas se vestirem denota sua posi��o
social e as diferen�as existentes no mundo exterior. Sob este aspecto, a pondera��o � semelhante a um dos princ�pios b�sicos dos nudistas, mas estes consideram de
igual import�ncia dois outros elementos: sa�de e sol. Realmente, na minha opini�o, n�o pode existir nenhuma diferen�a entre o fato de se "trabalhar" nu ou totalmente
vestido de preto - de uma maneira ou de outra, o ego passa para um segundo plano e os membros da comunidade n�o s�o mais indiv�duos diferentes, mas parte de um grupo.
� verdade que, na Idade M�dia, antes do aparecimento das pequenas comunidades, as grandes reuni�es realizadas por ocasi�o da festa de "May Eve" ("V�spera de Maio")
conduziam, invariavelmente, a uma grande e completa promiscuidade. Era um acontecimento biol�gico associado ao festival pag�o da primavera, n�o muito diferente dos
festivais dionis�acos da Gr�cia antiga, das orgias anuais que acompanhavam as primeiras celebra��es natalinas na Inglaterra e, de uma maneira mais circunspecta (mas
provavelmente n�o muito diferente na pr�tica), das reuni�es de primavera em certos locais da Fl�rida, principalmente em For Lauderdale. A motiva��o sempre foi e
continua sendo a mesma: dar vaz�o � energia reprimida depois de um duro inverno. Suprimir estas ocasi�es � agir contra a pr�pria natureza humana e buscar problemas
para o resto do ano. Mas o melhor uso dos poderes naturais � um dos princ�pios e objetivos da feiti�aria.
Uma das mais antigas sauda��es da feiti�aria diz assim: "Que os poderes que se encontram na terra, no ar, no fogo e. na �gua te sejam sempre favor�veis - a ti
e a teu trabalho".
Faz parte da natureza do ritual o elemento dram�tico. O homem, desde o seu aparecimento, parece gostar do drama e do teatro. � uma maneira que encontrou de abandonar
temporariamente sua vida mon�tona e identificar-se romanticamente com pessoas que vivem de maneira mais excitante. Na sociedade moderna, gostamos de entrar num cinema
e, durante duas horas, viver as maravilhosas aventuras dos protagonistas do filme, embora sabendo perfeitamente que aquilo n�o pode acontecer conosco, mas procurando
manter, l� no fundo, a ilus�o de que sempre existe uma pequena chance. Essa pequena chance chama-se esperan�a. E, sem um pouco de esperan�a, n�o podemos viver bem.
Na feiti�aria, as cerim�nias, nas quais os grandes acontecimentos da natureza s�o encenados pelo sacerdote, pela sacerdotisa e pela comunidade, os feiticeiros emprestam
um significado mais profundo ao que ocorre no mundo que os rodeia.
- A descida do Rei do Ver�o na Terra do Inverno � seguida pelo Esp�rito da Colheita, que a tudo rege - explica Anne. Este ritual po�tico n�o deve ser tomado literalmente,
mais do que uma boa pe�a teatral. Ele demonstra que, para os seguidores da feiti�aria, os poderes da natureza s�o como pessoas e podem ser controlados atrav�s da
prece. A cerim�nia tem cerca de quarenta minutos de dura��o e cont�m muito canto e muita a��o dentro do c�rculo. A comunidade assemelha-se a um coro grego, marcando
ritmicamente cada linha.
Tudo isso vai ajudando a criar um clima intoxicante - as pesadas batidas de p�s, os movimentos r�tmicos da dan�a, os gritos de I-VO-EVO-HE - Bendito Seja!", em
un�ssono e continuamente, cada vez mais alto, com os participantes dan�ando, cada um com a m�o no ombro do que est� a sua frente, com passos cada vez mais r�pidos,
formando um c�rculo apertado - tudo contribuindo para uma atmosfera de excita��o.
� propor��o que v�o girando no c�rculo, sempre acontece que um ou outro membro fique tonto, mas geralmente esta parte da cerim�nia � r�pida e, antes que todos
se tornem demasiado zonzos para continuarem, a uma r�pida ordem do l�der, eles se atiram ao ch�o. Isso, de acordo com suas cren�as, liberta o poder levantado com
os gritos, preces e movimentos, que pode, ent�o, partir em dire��o ao objetivo previamente combinado.
�s vezes, as comunidades dru�dicas - isto �, os feiticeiros vestidos, e n�o a ordem dos druidas - chamam seus l�deres de senhor e senhora em vez de sacerdote
e sacerdotisa. Em New Forest e alguns outros lugares, a denomina��o mais usada � sacerdote-chefe e sacerdotisa-chefe, mas Robin e Maid tamb�m s�o termos comuns.
Um fato interessante � que a lenda de Robin Hood e Maid Marian possui certas conota��es da feiti�aria.
J� disse mais de uma vez que fen�menos paraps�quicos e feiti�aria n�o est�o necessariamente relacionados, mas que muitos feiticeiros possuem tais poderes e que
as pessoas comuns que os t�m mais desenvolvidos costumam se interessar pela feiti�aria. O que acontece � que estas pessoas n�o conseguem encontrar uma outra maneira
de estimular seus poderes de percep��o extra-sensorial; procuram, ent�o, um envolvimento mais pessoal, o que, naturalmente, a feiti�aria pode-lhes oferecer. Por
isso, � comum encontrar-se uma dessas pessoas entre os membros de uma comunidade.
- Um rito tradicional usado em muitos grupos - explicou-me Anne - � a utiliza��o de um dos membros como m�dium. O transe medi�nico � induzido pelo uso de incenso
obtido de ervas tais como a beladona, o meimendro negro, a cicuta e outras, que provocam uma esp�cie de desligamento mental e alucina��es. A indu��o ao transe pode
tamb�m ser obtida pelo canto e marca��o r�tmicos num pequeno c�rculo, at� que o m�dium fique parcialmente hipnotizado. O l�der ou outros membros come�am, ent�o,
a lhe fazer perguntas sobre o que a comunidade deseja saber; �s vezes, apenas cantam Responda! Responda!, enquanto continuam girando.
J� tive oportunidade de presenciar um desses transes. A m�dium, uma mulher de trinta anos, calma e de pouco falar, forneceu espontaneamente a informa��o de que
"vai ser um inverno muito rigoroso". Este tipo de informa��o teria muita import�ncia para os antigos seguidores da Antiga Religi�o; hoje, n�o, pois temos outros
problemas mais complexos e urgentes.
Em agosto de 1967, Anne conseguiu que eu me encontrasse com um amigo seu que mantinha atividades em v�rios ramos da feiti�aria. O cavalheiro, cujo primeiro nome
� George, encontrou-se comigo na Casa Branca, em Londres, e falamos sobre meu interesse pela Arte dos S�bios. Come�ou a me examinar com olhos penetrantes assim que
fomos apresentados e continuou a me estudar durante toda a conversa.
Parece que consegui deixar uma boa impress�o, pois no dia seguinte recebi pelo correio um convite para uma reuni�o especial que seria realizada em sua casa, num
sub�rbio. N�o se tratava de uma reuni�o regular da comunidade, mas de uma audaciosa experi�ncia: reunir v�rios ritos, representando diferentes seitas. Acho que George,
um homem muito astuto e sofisticado, queria observar as pequenas fraquezas de seus amigos e as sutilezas de que se utilizariam para tentar disfar��-las, quando colocados
frente a frente numa competi��o amistosa. A raz�o declarada, no entanto, foi outra: conhecer um cavalheiro chamado Bill, um cabalista e, como disse George, um "antifeiticeiro".
A falta de toler�ncia � a pr�pria nega��o da feiti�aria e eu esperava ansiosamente por aquela tarde.
Os pendores po�ticos de George se deixavam evidenciar no convite:
Atravessaremos matas e p�ntanos,
Passaremos atrav�s de moitas e espinhos,
Venceremos montanhas e vales,
N�o usaremos roupas, mas n�o estaremos nus,
N�o viremos pelo ar, mas n�o tocaremos o solo,
N�o viajaremos nem sob a luz do sol, nem sob o luar,
N�o passaremos �leo no corpo, mas estaremos ungidos dele,
N�o caminharemos devagar, mas n�o teremos pressa.
Viremos em nome de Nossa Senhora.
Uma nota ao p� do convite pedia uma pequena contribui��o de uma garrafa de vinho branco. Comprei a garrafa, tomei um t�xi e dirigi-me para a casa de George, no
sub�rbio, acompanhado de minha esposa. Levamos cerca de quarenta minutos. Catherine, minha esposa, nunca em sua vida tinha assistido a uma reuni�o de feiticeiros.
Quando chegamos, encontramos muitas pessoas bem vestidas tomando ch� na sala de George. A maneira como se portavam fazia lembrar um coquetel, s� que os assuntos
eram bem outros: quest�es esot�ricas, algumas superficiais, outras mais profundas, mas todas interessantes. Uma multid�o heterog�nea de artistas, intelectuais, donas
de casa e funcion�rios de colarinho e gravata enchiam a sala. N�o encontrei Anne, o que n�o me surpreendeu, pois sei que ela leva muito a s�rio a feiti�aria e aquela
seria uma experi�ncia um tanto ex�tica e estranha.
Mas George, que se considera tanto gardneriano como um feiticeiro vestido, possui uma mentalidade mais liberal em rela��o a tais assuntos. Participei de muitas
discuss�es sobre as comunidades americanas e o que eu sabia de seus ritos, enquanto minha pobre esposa olhava vagamente pela janela, indagando-se quando chegaria
a hora de irmos embora.
Muitas pessoas me deram seus cart�es; o mais interessante de todos era de um tal R. Turner, que se intitulava a si mesmo Sentinela da Ordem da Pedra C�bica. No
rito que se seguiu uma hora depois, apresentou-se vestido de uma maneira que fazia refor�ar sua convic��o: com uma t�nica grega e empunhando uma faca antiga. Quando
nos encontramos, usava um terno e mais parecia um vendedor de livros. Um pouco antes do in�cio do ritual, George convidou os que desejassem presenci�-lo para que
se dirigissem � outra sala, enquanto que os outros poderiam continuar conversando. Foi seguido por uma meia d�zia de pessoas, inclusive eu. V�rios convidados subiram
ao segundo andar, onde trocariam as roupas por vestimentas pr�prias para a cerim�nia.
A sala dos fundos, onde o rito seria apresentado, era uma sala quadrada, de tamanho m�dio e teto alto, de onde todas as cadeiras tinham sido retiradas. Era o
que se poderia chamar a "capela particular" de George e tinha as paredes ornamentadas com s�mbolos e trabalhos de arte relativos � feiti�aria. Num dos cantos estava
a "m�scara do diabo" - na verdade, a m�scara do deus grego Pan. No lado direito, tinha sido instalada uma pesada poltrona, o �nico assento deixado na sala. Algumas
almofadas espalhavam-se pelo ch�o para aqueles que quisessem observar o rito sem participar dele. O incenso, que tornava o ar fumacento, e o calor de tantas pessoas
reunidas contribu�am para uma atmosfera quente.
George, usando um robe preto, uma senhora vestida de maneira semelhante, o jovem da Ordem da Pedra C�bica numa t�nica grega e uma outra senhora, que tamb�m trajava
uma t�nica, tomaram posi��es, formando um quadrado, representando as quatro dire��es. � direita, Bill sentou-se na poltrona, dando as ordens e lendo as encanta��es.
Era uma esp�cie de colet�nea de ora��es retiradas dos ritos de v�rios cultos; com isto, Bill esperava produzir um rito uniforme.
A id�ia b�sica era de que cada um dos quatro l�deres invocaria um dos deuses - os Antigos - do leste, sul, oeste e norte, em sua linguagem particular. Para mim,
as invoca��es soavam de maneira muito semelhante, sen�o nas palavras, pelo menos na inten��o. Depois disso, o c�rculo foi formado e Bill, usando um robe de mandarim,
para o qual n�o consegui encontrar nenhuma raz�o aparente, come�ou a recitar ritmicamente estas palavras: "Eu sou eu e tu �s tu, eu sou eu e tu �s tu...", ao som
das quais o c�rculo come�ou a se movimentar cada vez mais depressa, como na maioria dos ritos de feiti�aria.
Na atmosfera nebulosa, iluminada n�o por velas, mas por l�mpadas el�tricas comuns, a atividade que se desenrolava diante de meus olhos tinha algo da apar�ncia
de uma dan�a folcl�rica, s� que os participantes estavam mais integrados nela e totalmente dedicados ao que faziam. A senhora em frente a George movia o corpo numa
dan�a r�tmica que se casava perfeitamente com o esp�rito do rito. Descobri depois que era uma bailarina profissional. Num determinado momento da cerim�nia, os l�deres
percorreram a sala, oferecendo vinho e bolo como s�mbolo de boas-vindas. Depois, todos recebemos uma espiga de trigo, simbolizando o esp�rito dadivoso da natureza,
fato que tem grande significa��o dentro do rito. Se o objetivo da reuni�o era a unidade entre diferentes grupos religiosos, ent�o a tarde tinha sido um sucesso.
Terminada a cerim�nia, a maioria dos convidados deixou-se ainda ficar por muito tempo, saboreando sandu�ches e discutindo, em pequenos grupos, principalmente sobre
literatura relativa � feiti�aria.
Tr�s dias depois, Anne mandou-me um carro para me levar a uma reuni�o da comunidade, desta vez uma reuni�o estritamente privada, para que eu tivesse a oportunidade
de assistir, pelo menos, a um de seus pr�prios ritos. Desta vez, minha esposa Catherine preferiu ficar no hotel. Ao chegar, encontrei cinco pessoas de idade indeterminada,
usando roupas comuns de rua, � minha espera. George e Anne eram os �nicos que eu conhecia. Ao todo, eram dois homens e quatro mulheres. Depois de um r�pido e amistoso
bate-papo, eles subiram para mudar de roupa e voltaram usando suas longas t�nicas pretas. Todos os membros da comunidade usavam uma corrente ao pesco�o com uma medalha
- de um lado, um pentagrama; do outro, a grava��o de seus nomes secretos de feiti�aria. O rito que me apresentariam seria uma esp�cie de ensaio para a reuni�o regular
de s�bado � noite, j� que est�vamos numa quarta-feira. Era uma cerim�nia muito antiga, pesquisada por George, que eles tentariam pela primeira vez naquela noite:
"Invoca��o de Pan".
- � um ritual de feiti�aria pr�prio de Halloween - explicou-me Anne. - A cerim�nia tem in�cio com os feiticeiros desfilando um a um diante do senhor e da senhora
- os l�deres da comunidade em nosso caso n�o s�o chamados sacerdotes -, confessando que durante o ano cometeram muitas faltas e querem ser perdoados.
Na cerim�nia, recebiam uma leve chicotada simb�lica e, com isso, eram absolvidos de seus pecados. Os membros, ent�o, apresentavam ofertas de flores azuis, s�mbolo
da morte, que colocavam no altar situado na parte norte do santu�rio. Esta era a sua maneira de se submeterem ao destino, incluindo a morte. Erguiam-se em seguida
e formavam o c�rculo. O membro mais jovem era quem abria o c�rculo com um gesto reverenciai repetido quatro vezes, em dire��o aos quatros cantos. Depois disso, o
senhor e a senhora continuavam com a cerim�nia de abertura. A senhora desenvolvia o ritual de purifica��o do c�rculo com a vassoura simb�lica, considerada aqui um
sinal de domesticidade e afei��o. George, como senhor deste grupo particular, erguia uma espada como s�mbolo de for�a e autoridade. A vassoura e a espada eram colocadas
no ch�o formando uma cruz e os membros entravam no c�rculo por sobre elas - "em verdadeira confian�a e amor perfeito".
- E a vassoura? - perguntei a Anne. - Qualquer vassoura velha serviria?
- Nesta forma particular de culto, a vassoura � um s�mbolo de amor. Embora as vassouras, hoje em dia, sejam compradas numa loja, antigamente elas eram feitas,
em casa, de tr�s madeiras: o cabo era de freixo, madeira m�gica que � o s�mbolo da for�a; as cerdas eram feitas da madeira da b�tula, uma �rvore outrora considerada
sagrada, e a fibra para amarrar as cerdas era extra�da do salgueiro, �rvore consagrada a Hecate, a terceira deusa da Lua. Serve para expulsar o mal e aquilo que
expulsa o mal � o amor; logo, a vassoura � um s�mbolo do amor.
Depois da invoca��o dos deuses e do poder da Lua, a comunidade come�ava a cantar e dan�ar no c�rculo, com o prop�sito de chamar os deuses para o meio deles. Esperava-se
que um dos membros do grupo viesse a ser utilizado como m�dium durante esta cerim�nia; seria levado � inconsci�ncia atrav�s de um estado hipn�tico auto-induzido.
- �s vezes, durante as comemora��es de Halloween - explica ela -, os membros mortos do grupo eram invocados. O senhor ou a senhora, dependendo de o morto ter
vivido como homem ou mulher, chamava estas pessoas, usando uma prece especial, e, muitas vezes, no passado, os esp�ritos deles apareceram entre n�s. Mais de um de
n�s j� os viu.
Halloween � uma data particularmente apropriada para a invoca��o dos mortos, pois tamb�m � um dia em que se prestam homenagens aos que j� se foram, tanto na feiti�aria,
como no cristianismo.
Na comunidade de Anne, eles nunca tinham ouvido um esp�rito falar diretamente, mas sempre atrav�s de um m�dium em transe. Vi com meus pr�prios olhos uma das mulheres
do grupo atirar-se ao ch�o de repente, permanecendo im�vel e respirando pesadamente. O resto do grupo, ainda de m�os dadas, aproximou-se dela, esperando ansiosamente
pelo que ela tinha a dizer. Depois de algum tempo, a mo�a sentou-se e, fitando vagamente o espa�o, disse numa voz tr�mula bastante diferente da sua: "Vai ser um
inverno muito longo e rigoroso."
Para um pesquisador do s�culo vinte, isto pode soar um tanto banal e dificilmente constituir uma evid�ncia do ponto de vista paraps�quico. Mas, se uma feiticeira
dos velhos tempos estava verdadeiramente falando atrav�s da m�dium em transe, a informa��o teria muita import�ncia e o que ela pretendia - avisar seu povo a fim
de se preparar para o inverno - estava de acordo com a rela��o que a feiti�aria mantinha com a agricultura no passado.
� deixada totalmente ao acaso a escolha de quem ser� o m�dium durante a cerim�nia. N�o existem "m�diuns residentes" na feiti�aria, mas o dom � sempre considerado
�til e bem recebido.
Nas comemora��es de Halloween, a Deusa-M�e � invocada em sua terceira forma - Hecate, a deusa da morte, porque � a "morte" do ano.
Depois da cerim�nia de Halloween, a comunidade fez uma demonstra��o de como consagrar a faca m�gica, o athame: faz-se passar o poder de uma faca j� consagrada
para a l�mina de outra. O uso de um �leo sagrado especial, composto de ervas e resinas, facilita a transfer�ncia do magnetismo m�gico.
A base te�rica � id�ntica � dos talism�s: o poder � depositado num objeto inanimado atrav�s da concentra��o do pensamento e de processos mentais.
A cerim�nia terminou com a distribui��o ritual de bolos e vinho. Desta vez, eram bolinhos de mel realmente muito gostosos. Teve ainda um beijo ritual que o senhor
deu no rosto da senhora.
Depois do bolo e do vinho, o c�rculo foi fechado e todos vestiram novamente suas roupas comuns e voltaram para casa. N�o havia nada de extraordin�rio nos membros
desta comunidade em suas ocupa��es mundanas. Na maioria funcion�rios e secret�rias, artistas e profissionais liberais, todos um pouco receosos de serem "descobertos",
embora tenham certeza de n�o estarem fazendo nada de ilegal ou imoral. Mas, inconscientemente, ainda mant�m um pouco do temor que sempre existiu atrav�s dos s�culos.
A comunidade de Anne possui origens e ra�zes c�lticas e est� classificada no grupo que designei como feiti�aria dru�dica. As comunidades preferem ser chamadas
de comunidades vestidas, mas suas tradi��es s�o fortemente c�lticas e nada possuem de cabal�stico nem t�m qualquer rela��o com as tradi��es medievais do Deus de
Chifres.
Anne, que est� na casa dos vinte anos, � membro da comunidade h� sete.
Ela diz preferir os grupos de somente seis ou sete pessoas ao m�ximo tradicional de treze, principalmente quando trabalham em recinto fechado. Um n�mero muito
grande de pessoas acaba levando a choques de personalidade e precisamos confiar muito em nossos colegas a fim de que sejamos capazes de fazer uma magia "trabalhar"
para eles.
Acrescentou que a feiti�aria � muito diferente das outras f�s - nunca foi uma religi�o para as massas. Por se constituir de pequenos grupos trabalhando separadamente,
sem qualquer organiza��o mais ampla que os una, ela nunca poder� ser como as grandes religi�es. Outra raz�o � que seus rituais s�o altamente simb�licos e esot�ricos,
provavelmente acima da capacidade de compreens�o da maioria das pessoas.
Ser� que a feiti�aria � mesmo capaz de realizar magias tais como fazer coisas a pessoas que se encontram a dist�ncia, por exemplo?
Eis a explica��o fornecida por Anne:
- Os feiticeiros preferem fazer estas coisas em segredo. Nunca se encontra no jornal um an�ncio de algu�m que fa�a imagens de cera.
- Mas, ser� que funciona mesmo?
- Sim, dependendo da inten��o. Naturalmente que nenhum feiticeiro amaldi�oaria algu�m, a n�o ser que tivesse um forte motivo para isso. Mas eu n�o estou querendo
dizer que ele n�o possa. Embora a cura de doen�as e a confec��o de talism�s sejam os principais objetivos da feiti�aria, e, no nosso caso, a busca do conhecimento,
� preciso deixar bem claro que o poder em si � neutro.
Observei que a feiti�aria � uma express�o religiosa; n�o est� nem do lado do bem, nem do lado do mal, com o que ela concordou plenamente.
- Pode algu�m ser membro de uma igreja e, ainda assim, um bom feiticeiro? - perguntei.
- Est� claro que sim - respondeu Anne. - S�o duas express�es muito diferentes. Mas, raramente, algu�m continua indo � igreja depois que se torna feiticeiro, embora
n�o exista raz�o nenhuma que o pro�ba. Acho que � porque encontra plena satisfa��o na feiti�aria.
Passei, ent�o, a ouvir a palavra de George, meu anfitri�o, e chefe da comunidade:
- Para mim, a feiti�aria � uma express�o muito mais pessoal que as igrejas convencionais. Acho que os seguidores de outras religi�es perderam o senso de realidade
e o est�o reencontrando de outra forma. A feiti�aria � basicamente ajust�vel ao temperamento brit�nico e capaz de se integrar ao esp�rito nacional.
George pertence � alta classe m�dia da Inglaterra. � muito dif�cil faz�-lo falar, principalmente quando sabe que suas palavras ser�o levadas ao conhecimento p�blico.
Quando lhe perguntei se preferia a interpreta��o gardneriana ou a dru�dica, declarou que ambas possu�am m�rito, mas que ele preferia a interpreta��o mais intelectual
das comunidades vestidas do que o apelo fortemente emocional das gardnerianas com sua �nfase na dan�a.
- Mas, basicamente, ambas as escolas possuem uma grande semelhan�a, - acrescentou. - Seja tirando a roupa ou cobrindo o corpo com um uniforme negro, o resultado
obtido � o mesmo: eliminar as caracter�sticas fortemente pessoais.
- De que maneira um convertido em potencial chega a ser aceito por uma comunidade como a sua? - perguntei.
- A primeira exig�ncia � demonstrar sua sinceridade. � preciso ainda que acredite na reencarna��o e possua uma maneira de certa forma m�gica e pante�stica de
encarar a vida e a religi�o...
Numa das reuni�es de George, fui apresentado a uma senhora alta de seus quarenta e poucos anos, que acabava de dar in�cio � sua pr�pria comunidade. O marido da
senhora M. n�o aprovava suas atividades; vivem os dois numa casa muito agrad�vel a uma hora de Londres. Ela se interessa genuinamente pela feiti�aria e considera
a dan�a de import�ncia vital.
No ano seguinte, fui convidado a uma de suas reuni�es, que ela faria realizar na casa de um cavalheiro que parecia trabalhar com ela como sacerdote-chefe. Arquiteto
de profiss�o, era um homem de fala macia, aparentando uns trinta e muitos ou quarenta e poucos anos. Arthur era tamb�m pintor amador, dedicando-se especialmente
a temas de feiti�aria.
Naquela noite, enquanto esper�vamos em sua elegante sala pela chegada de mais dois membros do grupo, saboreando sandu�ches de pepino e tomando um excelente ch�
ingl�s, falamos sobre alguns dos rituais. A feiti�aria na Inglaterra possui, atualmente, caracter�sticas essencialmente brit�nicas. Como George tinha dito, casa-se
perfeitamente com o temperamento ingl�s.
Logo depois, chegaram as duas senhoras por quem esper�vamos e, ap�s os beijos rituais e os "Aben�oado seja", subimos ao andar superior, onde uma sala especial
tinha sido preparada para a "reuni�o". Havia um altar, os instrumentos usuais da feiti�aria e pinturas apropriadas nas paredes.
A mais velha das duas senhoras era professora e escritora, enquanto a outra, ali�s bem bonita, trabalhava como atendente num posto de gasolina. Esta era a segunda
reuni�o do grupo a que comparecia, embora j� fosse membro iniciado de outra comunidade. Infelizmente, aquela noite, n�o quis participar do rito, talvez por n�o me
conhecer. Ficamos, ent�o, mais um pouco por ali e acabamos retornando � sala para mais sandu�ches e bate-papos. O grupo da senhora M. est� muito distanciado do grupo
de Ray Bon� no que diz respeito � publicidade. Tenho certeza de que s� fui convidado para esta reuni�o por me interessar e estudar muito sobre feiti�aria. A comunidade
n�o tem interesse em adquirir novos membros indiscriminadamente. A senhora M. j� foi membro da comunidade de Ray Bon� e a deixou para formar seu pr�prio grupo.
No outro extremo est�o os feiticeiros que mant�m um grande desprezo pelo Dr. Gardner e todos os seus seguidores e imitadores. Acho que o que eles n�o podem aceitar,
essencialmente, � a �nfase depositada por Gardner na Deusa-M�e e o rito altamente emocional associado a este conceito. Estes s�o os chamados feiticeiros heredit�rios
a que j� me referi antes e ainda aqueles que, embora n�o tenham nascido feiticeiros, adoram outras divindades que n�o Diana: Baom�, a divindade de cabe�a de bode,
e o antigo Deus de Chifres.
A adora��o de Baom� vem dos Templ�rios dos s�culos onze e doze. O Deus de Chifres, como conceito - deus da ca�a - existe desde a Idade da Pedra, mas, como divindade
representante de um culto, data da Idade M�dia. O culto de Diana, enfatizando a Deusa-M�e, � muito mais antigo. Portanto, as duas principais dire��es tomadas pela
feiti�aria surgiram da diferen�a de seus deuses, do sexo de seus deuses e das caracter�sticas mais emocionais e sensuais ou puramente intelectuais de seus rituais.
Um senhor de nome A. Damon, que, ao contr�rio dos feiticeiros gardnerianos, n�o insiste no anonimato, parece viver sua cren�a de maneira totalmente isolada e
independente. Acredita, orgulhosamente, ser a sua interpreta��o particular da religi�o a �nica que se identifica com a verdadeira feiti�aria. Convidou-me para visit�-lo
na casa onde vive com sua esposa. Seu s�mbolo � uma interessante combina��o dos chifres e �rg�os sexuais do Deus de Chifres delimitados por um tri�ngulo. Expressou
sua opini�o de que a sauda��o dos gardnerianos - "Aben�oado seja" - e o pentagrama n�o t�m significado real dentro da feiti�aria.
A maneira como Damon se situa dentro do cen�rio geral da feiti�aria expressa muito bem sua situa��o de total distanciamento:
- A minha posi��o � a mais elevada dentro da feiti�aria. E, por incr�vel que pare�a, nunca encontrei outro feiticeiro em minha vida desde que minha av� morreu.
O que torna ainda mais interessante a interpreta��o puritana de Damon � o fato de ele se declarar o Guardi�o do Livro da Inglaterra. Sua forma particular de culto
remonta � Inglaterra do s�culo doze. Existe at� mesmo um "pacto" - n�o com o diabo, mas com o Deus de Chifres - assinado com sangue.
A id�ia de assinar com sangue n�o traz em si nada de terr�vel ou canibal�stico. O sangue, para o homem, � seu "fluido essencial", que transporta a for�a da vida.
Sem sangue, o corpo morre. A perda de sangue o enfraquece. Um conceito perfeitamente aceit�vel � o de que o poder paraps�quico est� na corrente sang��nea da mesma
maneira como se encontra nas emana��es que partem do corpo. Portanto, uma gota de sangue representa a pessoa inteira.
Enviamos uma gota de nosso sangue ao laborat�rio e a an�lise desta �nica gota revela o estado de sa�de do corpo. Falamos em derramar "uma gota de sangue" por
nosso pa�s ou nosso maior ideal e, com isso, estamos querendo dizer que vamos dar tudo de n�s.
Quando Martha, minha amiga da Calif�rnia, foi iniciada pela comunidade de Cincinnati, mas n�o p�de comparecer pessoalmente, determinou-se que uma gota de seu
sangue a representaria. Ela enviou uma gota simb�lica e, desta maneira, foi iniciada sacerdotisa-chefe. Na Idade M�dia, um cavaleiro podia enviar sua espada para
o representar em seu casamento, se ele estivesse longe empenhado em lutas.
Michael, um jornalista independente que vive perto de Londres, n�o acredita nos m�ritos dos feiticeiros gardnerianos, assim como Damon, mas tamb�m n�o acredita
em Damon. Ao que parece, o caminho de Michael toma uma dire��o diferente de todos os outros.
- Adoro as for�as que se escondem atr�s dos s�mbolos e n�o os s�mbolos em si. Minha "adora��o" do Deus-Bode situa-se num n�vel metaf�sico; para mim, todos os
deuses s�o um s� Deus e a for�a da cria��o manifesta-se atrav�s da natureza.
Seguindo os passos de Dion Fortune, Michael considera a feiti�aria gardneriana uma "blasf�mia grosseira", mas � tolerante bastante para achar que deve permitir
que cada um descubra seu pr�prio caminho para a luz. Costuma citar Aleister Crowley: "Fa�a o que achar que deve fazer", e ningu�m se pode julgar no direito de discordar
disto.
Michael n�o considera apropriado o uso do termo "feiti�aria dru�dica", pois os druidas, a seu ver, eram M�gicos Adoradores do Sol, procedentes da Atl�ntida. Tampouco
aceita a palavra "feiticeiro", "porque ela d� aos outros uma m� impress�o daquilo que somos... Prefiro considerar-me um pag�o... Talvez nem existam verdadeiros feiticeiros
hoje em dia, mas apenas pessoas que acham que o s�o."
Michael pertence � tradi��o medieval, assim como Damon, e presta adora��o ao deus com p�s de cabra da magia cerimonial, al�m de outros. Ele compara sua divindade
medieval com o deus grego Pan. Na Gr�cia antiga, os pastores de cabras da Arc�dia e da Tess�lia praticavam uma feiti�aria semelhante � da tradi��o ocidental ou c�ltica,
ambas nascidas de uma mesma base natural, mas que tomaram formas diferentes por terem recebido influ�ncias diversas pr�prias do territ�rio e do clima de cada regi�o
e da mentalidade dos povos que as habitavam. Isto explica por que o deus de chifres da Inglaterra � um deus da ca�a, amea�ador, sempre preparado para se defender
contra os animais ferozes e a natureza muitas vezes adversa. O deus grego Pan, por outro lado, � brincalh�o e artista como os pr�prios gregos - gosta de tocar flauta,
dan�ar e viver a vida despreocupada do sol do Mediterr�neo.
Os deuses � que s�o criados � imagem dos homens e n�o ao contr�rio. No entanto, � poss�vel que existam for�as na natureza que se aproximem, no impacto, sen�o
na forma, do conceito primitivo de uma divindade pessoal. Somente uma coisa � certa: muito limitado � o conhecimento do homem.
N�o foi preciso que eu vivesse muito tempo na Inglaterra para chegar � conclus�o de que a feiti�aria se encontra na mesma situa��o que a Igreja: quando tr�s feiticeiros
se encontram, surgem logo quatro opini�es. Tudo indica que o que est� acontecendo com a feiti�aria � o aparecimento dos mesmos sintomas que fizeram com que as diferentes
seitas do cristianismo se transformassem em sociedades em luta assim que encontraram liberdade suficiente para isso.
Agora que a feiti�aria � sen�o social, pelo menos legalmente aceita, a primeira considera��o - seguran�a - n�o � mais um fator v�lido. Com isto, todas as energias
puderam ser dirigidas a outras finalidades. Infelizmente, a energia assim dispon�vel n�o foi toda ela empregada no estudo e na pesquisa das ra�zes e tradi��es da
feiti�aria; levou tamb�m a um di�logo cada vez mais controvertido entre suas v�rias escolas, cada qual se considerando a verdadeira e desprezando as outras como
inferiores. Gostaria de deixar bem claro que os feiticeiros nunca levaram esta luta al�m do campo ideol�gico, isto �, nunca lutaram fisicamente; nunca se denunciaram
uns aos outros a qualquer poder superior capaz de prejudic�-los; sempre souberam manter seus debates longe das vistas e dos olhos do p�blico. Mas sou de opini�o
que o simples fato de tal debate existir j� � totalmente contr�rio ao esp�rito da feiti�aria.
N�o posso compreender todo este estardalha�o em torno da interpreta��o que o Dr. Gardner deu � Antiga Religi�o. Por que n�o poderia ele acrescentar alguma coisa
criada por ele aos ritos tradicionais? Por acaso ele tamb�m n�o era feiticeiro? A religi�o � um dogma fixo e r�gido? N�o pode e deve desenvolver-se, expandir-se
e mudar de acordo com os tempos? Pelo que sei, a feiti�aria rejeita o dogma em todas as suas formas e, como uma religi�o natural, precisa ser capaz de mudan�as peri�dicas,
altera��es e aperfei�oamentos. Se se trata de uma religi�o viva, precisa aceitar a exist�ncia de reformadores e l�deres com id�ias pr�prias e originais e com alguma
coisa a acrescentar ao ritual j� estabelecido. A �nica diferen�a entre a forma mais antiga de adora��o e as inova��es trazidas por um novo l�der � o tempo. Os pr�prios
ritos originais foram criados e interpretados por homens que viveram o seu tempo.
Ao ponderar estes problemas, tentando v�-los e encar�-los de todos os pontos de vista, comecei a pensar se, por acaso, n�o existiriam comunidades capazes de adotar
uma atitude de equil�brio sem lutas e sem serm�es.
Naturalmente que devem existir. Encontrei uma que pode ser considerada a comunidade t�pica deste g�nero, embora �nica e singular em muitos outros aspectos. Trata-se
da comunidade de Alex Sanders, em Londres. Os interesses esot�ricos de Alex estendem-se para al�m da feiti�aria. �, tamb�m, o Mestre-de-Cerim�nias de uma ordem secreta
com fortes nuan�as ma��nicas. - Os Cavaleiros do Deucali�o - e da Ordem do Dil�vio, esta �ltima de escopo mundial, dedicada ao estudo da Atl�ntida e dos seus elementos
que sobreviveram em outras terras.
- Fa�o parte da feiti�aria desde os sete anos de idade - explicou com sua voz sonora e profunda. - A maneira como tudo teve in�cio foi um tanto surpreendente.
Numa reuni�o de feiti�aria da qual minha av� fazia parte, entrei acidentalmente no meio do c�rculo. Para que eu ficasse quieto e n�o interrompesse o trabalho, ela
tirou minhas roupas e deixou-me continuar ali.
A impress�o que tive de Alex � que ele devia possuir algumas das qualidades do grande deus Pan.
- Minha av� ensinou-me a maneira de cortejar as mulheres. - Disse isso com um r�pido sacudir de ombros e a sugest�o de um sorriso.
- Ela me ensinou que o homem possui um magnetismo pr�prio e, sabendo us�-lo, � capaz de facilmente "encantar" uma mulher. Meu primeiro ato sexual foi com minha
av�, quando eu tinha dez anos.
N�o prestou a m�nima aten��o � minha rea��o de espanto e continuou no mesmo tom s�rio de quem se limita a narrar simplesmente os fatos:
- Ela foi respons�vel por minha maturidade precoce. Aos onze anos, eu j� me barbeava. Lembro-me de que meu pai costumava dar-me pontap�s quando eu apanhava sua
navalha. Nesta �poca, fui afastado do coro da igreja.
A narra��o de todos estes assombrosos acontecimentos deixou-me mudo por alguns momentos. Finalmente, consegui falar:
- Sua av� deve ter sido uma mulher extraordin�ria.
- Realmente. Pequenina e morena... era galesa... a feiti�aria veio do seu lado da fam�lia. Descendia diretamente do poeta Cadwallader. Chamava-se Mary Bevin.
A m�e de Alex n�o tinha a m�nima no��o de qu�o �ntima e profunda era a "amizade" entre o netinho e a vov�. O conhecimento da feiti�aria em sua fam�lia sempre
passava de av� para neta, pulando uma gera��o. Alex foi o primeiro homem a ser iniciado desde 1458. Por isso, parecia perfeitamente natural � sua m�e o fato de ela
ter sido deixada de lado e ele escolhido para continuar a tradi��o.
Alex continuou a narra��o de sua vida; friamente, sem nem mesmo pestanejar uma s� vez:
- Quando meu primeiro filho nasceu, eu tinha quatorze anos e meio. Ele conhece tudo sobre meu trabalho, mas me odeia; no entanto, tenho certeza de que ele herdou
meus sentimentos religiosos.
Pedi a Alex que me apresentasse um resumo de suas cren�as e ensinamentos para que eu pudesse comparar a natureza de seu trabalho com o de outros l�deres de comunidade.
- Na escola me ensinaram que "no princ�pio era o verbo e o verbo estava com Deus", mas comecei a achar tudo muito confuso quando minha av� me disse que a palavra
n�o estava com Deus, mas com a Deusa. Isto me obrigou a come�ar a pensar - foi o ponto de partida para minha filosofia de feiti�aria. � uma religi�o com caracter�sticas
essencialmente pr�ticas. Se assim n�o fosse, n�o seria de utilidade para ningu�m. Seu lado pr�tico, para mim, expressa-se perfeitamente na exist�ncia de uma divindade
masculina e outra feminina, e isto basta para representar toda a for�a da vida. Faltando um dos princ�pios - o masculino ou o feminino - nada se completa e isto,
a meu ver, � o que est� errado com o cristianismo.
- De que maneira voc� considera a feiti�aria uma religi�o pr�tica?
- Quando ensina, por exemplo, que os ciclos do ano podem ser aproveitados pelo homem e, mais ainda, como pode ele extrair o que existe de melhor em cada dia.
Uma vida natural, apenas recebendo o que a natureza tem para lhe oferecer, sem se deixar envolver demais pelos acontecimentos que o cercam. Venha para a verdadeira
feiti�aria; ela cuidar� de voc�. Por isso � que os "nossos" feiticeiros n�o freq�entam psiquiatras.
Nem mesmo m�dicos feiticeiros, n�o pude deixar de pensar.
Deixei que ele continuasse:
- Considero as reuni�es muito importantes e necess�rias para que possa existir amizade - acho que � assim tamb�m com a Igreja crist�. Os feiticeiros, quando se
encontram para levantar o poder, formam la�os e cadeias entre eles Este fato exerce uma profunda influ�ncia em suas vidas di�rias. Tanto � assim que, muito comumente,
as pessoas procuram a ajuda e confiam num feiticeiro sem saberem que se trata de um feiticeiro.
- No seu grupo, com que finalidade principal voc�s se utilizam do poder?
- Antes de mais nada, para oferecer estabilidade aos novos iniciados. Quando se trata de pessoas de meia-idade, procuramos devolver-lhes as boas condi��es de
sa�de que perderam com os anos; isto lhes traz uma repousante sensa��o de bem-estar e equil�brio. Em segundo lugar, utilizamo-nos do poder para curar e ajudar as
pessoas que precisam de n�s.
- Como podem voc�s influenciar condi��es materiais?
- Trabalhando no c�rculo m�gico. Os gardnerianos trabalham com quatro pontos cardeais do c�rculo; os cabalistas usam doze pontos; eu me utilizo de setenta e dois.
O treinamento que exijo de meus membros para atingirem o primeiro grau leva dois anos para se completar.
- De que maneira os futuros disc�pulos o encontram?
- N�o me escondo. As pessoas l�em sobre mim na imprensa. J� tenho, at� mesmo, aparecido na televis�o.
Os disc�pulos contribuem, cada um, com dois shillings para caf� e incenso. O treinamento pode se estender por muitos anos, especialmente se o feiticeiro deseja
alcan�ar o terceiro grau. Um fato est� absolutamente claro e fora de d�vidas: Alex � um homem honesto que n�o tira nenhum proveito material de sua escola.
- Atualmente, cada uma de minhas turmas se constitui, tamb�m, numa comunidade - ele explicou. - Dou-lhes aula nas noites de ter�a-feira, durante a qual eles devem
tomar notas. Nas noites de s�bado, temos a parte pr�tica referente �quela aula. � um treino muito �rduo e rigoroso. Temos, no momento, quatro pessoas iniciadas e
seis aguardando inicia��o. N�o existe garantia. Qualquer um pode falhar.
Ele supervisiona agora sete comunidades. Assim que considera uma dessas "classes" competente, deixa-os partir a fim de fundarem sua pr�pria comunidade. Mas costuma
continuar comparecendo �s reuni�es como sacerdote-chefe-supervisor.
- Eles ainda me procuram sempre que n�o est�o muito certos de alguma coisa, mas possuem completa independ�ncia.
Embora Alex tenha nascido dentro da feiti�aria, foi criado-e educado como crist�o. Foi batizado, recebeu a confirma��o e,. durante muitos anos, foi sacerdote
cat�lico romano, at� que se envolveu num caso que p�s fim � sua carreira. Trabalhou depois como m�dium profissional. J� foi casado tr�s vezes. Sua primeira esposa
morreu muito cedo, deixando-o com dois filhos. Seu segundo casamento foi um desastre. S� conseguiu encontrar a felicidade completa com sua terceira e atual esposa,
Maxine.
- Casamo-nos segundo a antiga cerim�nia do aperto de m�os - uma forma de contrato de casamento. Houve uma investiga��o e posterior persegui��o, s� porque eu era
divorciado e ela, ex-cat�lica. Sacerdotes vieram exorcism�-la, detetives foram colocados em nosso caminho, as pessoas atiravam pedras quando ela passava na rua,
mas tem sido um casamento muito feliz para n�s.
- Mas esse contrato � considerado legal na Inglaterra?
- N�o, o casamento feiticeiro precisa de uma cerim�nia civil que o torne legalmente v�lido. A feiti�aria ainda n�o � registrada como religi�o. Acho que j� � mais
do que tempo de algu�m tomar provid�ncias. Tenho feito tudo que posso para chamar a aten��o sobre nossa religi�o. N�o somos hippies nem desocupados, mas pessoas
s�rias e equilibradas que possuem uma f� espiritual.
- O que voc� me diz sobre o fato de apresentarem suas cerim�nias nus?
- Quanto a "trabalhar" nu... bem, na Idade M�dia, as pessoas costumavam dormir nuas. A nudez fazia parte da vida di�ria ent�o e ningu�m se sentiria chocado por
encontrar uma pessoa nua. Antigamente, as orgias eram dedicadas � glorifica��o dos deuses e � fertilidade do culto - um ato sexual puro e simples. No mundo de hoje,
o sexo encontra-se freq�entemente reduzido � esfera f�sica. Acho isto muito errado. Penso que, se a gente consegue reunir as pessoas certas, todos os pensamentos
de mal�cia s�o afastados, pois nossa nudez, quando estamos juntos, � magn�tica e temos pleno conhecimento do que estamos fazendo. Determinadas parte de nosso corpo
liberam certas for�as. Quando, em nossa comunidade, um homem e uma mulher se sentem atra�dos um pelo outro, verificamos que muito poucas vezes eles se deixam envolver
pela atra��o em servi�o, mas mant�m suas vidas pessoais fora do c�rculo. Quando acontece de algum dos novos rapazes ter uma ere��o, ignoramos completamente o fato;
com o tempo, a pessoa se acostuma com a nudez e at� deixa de not�-la. N�o estamos interessados na fertilidade para as pessoas, mas na fertilidade da mente.
- Voc� est� querendo dizer que n�o aprova qualquer contato sexual entre um homem e uma mulher em seu grupo?
Alex balan�ou a cabe�a:
- N�o � bem assim. Existem certas esferas de magia e certos campos de treinamento muito elevados... ent�o, a magia sexual � ensinada. Fornecemos-lhes apenas uma
pequena no��o, pois a essa altura eles j� devem estar mais do que preparados para descobrirem a verdade sozinhos. Isso � algo muito diferente e nada tem a ver com
orgia. Eleva o sexo ao seu mais alto e mais belo aspecto.
6 - BRUXARIA E PERCEP��O EXTRA-SENSORIAL
J� apontei a rela��o entre a faculdade de percep��o extra-sensorial e a cren�a na Antiga Religi�o, mas deixei bem claro que uma n�o est� necessariamente ligada
� outra.
Antigamente, o fato de um bruxo possuir poderes paraps�quicos ajudava-o a manter uma posi��o de destaque entre seus companheiros. Se um sacerdote ou sacerdotisa
fosse capaz de predizer o futuro ou ver a dist�ncia, a influ�ncia por ele ou ela exercida dentro da comunidade era grandemente refor�ada. Mas nunca � demais repetir
que a pr�tica da bruxaria � essencialmente uma t�cnica; tanto as pessoas que possuem tais poderes como os indiv�duos comuns podem desfrutar igualmente dos resultados.
Esta t�cnica baseia-se na convic��o de que todas as pessoas trazem em si a potencialidade de um sexto sentido e que este sentido extra precisa, apenas, ser encorajado
a se manifestar, disciplinado e adequadamente usado para que os resultados, aparentemente sobrenaturais, logo se revelem. Na realidade - tanto do ponto de vista
cient�fico como do ponto de vista da feiti�aria - tais resultados nada t�m de sobrenatural. Nascem simplesmente de uma melhor compreens�o dos princ�pios da lei natural,
normal e de suas aplica��es.
Muitas pessoas que descobrem em si a habilidade de fazer coisas consideradas extra-sensoriais tendem a buscar uma filosofia de vida que leve em considera��o tais
faculdades e as considere normais e desej�veis. Apesar do interesse cient�fico em rela��o �s faculdades de percep��o extra-sensorial, pessoas com habilidades paraps�quicas
ainda s�o olhadas com curiosidade por alguns, terror por outros e uma total falta de compreens�o pela maioria.
N�o acredito que um principiante tenha aderido � feiti�aria em busca de algum substitutivo para suas frustra��es ou por um desejo de exibi��o no caso de uma comunidade
nua. Alguns poucos procuram a Antiga Religi�o porque as igrejas convencionais n�o preenchem todas as suas necessidades ou porque o fato de ser feiticeiro lhes traz
uma autovaloriza��o muito necess�ria numa sociedade de conformistas. Existem realmente os que pensam e sentem desta maneira e eu n�o os estou condenando. Mas tenho
a certeza de que a maioria das pessoas que tentam ser aceitas na feiti�aria o fazem por acreditarem, pelo pouco que conhecem desta religi�o, que ela se casar� perfeitamente
com seu pr�prio desenvolvimento paraps�quico.
Apenas uma percentagem muito reduzida das pessoas com poderes de percep��o extra-sensorial demonstra interesse pela bruxaria. Conhe�o muitos excelentes m�diuns
e alguns paraps�quicos espiritualistas que desmaiaram ante a simples id�ia de serem considerados feiticeiros; h� duzentos anos atr�s, certamente, seriam assim rotulados.
Sim, esta � a verdade, pois somente depois que as igrejas permitiram a seus seguidores qualquer atividade espiritual que n�o pertencesse � religi�o em si foi que
os m�diuns ousaram confessar-se m�diuns.
Um exemplo t�pico da esp�cie de pessoas que desejam tornar-se feiticeiras na Am�rica atualmente � o caso de duas mulheres muito atraentes que me escreveram em
1967 a fim de me pedirem uma apresenta��o numa comunidade de sua regi�o. Isso foi o resultado de um artigo que escrevi sobre feiti�aria, publicado simultaneamente
em 165 jornais do pa�s. Considero bastante sintom�tico que, em conseq��ncia desse artigo, tenha recebido somente correspond�ncia amistosa e nenhuma carta depreciativa.
Se tivesse escrito o mesmo artigo h� vinte anos atr�s, tenho certeza de que choveriam protestos de todos os lados.
Fiquei t�o impressionado com a sinceridade de suas cartas - elas s�o amigas �ntimas - que pedi a Sybil Leek que as ajudasse a encontrar uma comunidade em Los
Angeles. Mas, como Sybil viaja muito, o encontro s� foi poss�vel muito tempo depois num coquetel. A essa altura, j� conhecia as duas e t�nhamos-nos tornado bons
amigos.
Pat, uma loura de origem anglo-sax�nica, de vinte e quatro anos, divorciada, trabalha numa grande companhia gravadora de Hollywood. Mora com sua amiga Jill numa
grande casa em Hollywood, e � Pat quem dirige tudo, pois Jill n�o possui a m�nima inclina��o dom�stica.
Por que Pat quer tornar-se feiticeira?
- Creio que tudo aquilo em que acredito coincide perfeitamente com as cren�as e ensinamentos da feiti�aria; outra raz�o � que parece que tenho certas habilidades
fora do comum, mas, que, por falta de oportunidade, n�o puderam ser devidamente desenvolvidas. Acho que uma comunidade seria o ambiente ideal para lev�-las a se
expandirem a ponto de se tornarem �teis a mim e aos outros.
Sua �nica experi�ncia paraps�quica deixou-a um tanto amedrontada, mas atualmente ela j� n�o teme essas coisas. Embora tenha sido um acontecimento de pequenas
propor��es (um pressentimento de que seu namorado teria problemas ao ir para casa depois de deix�-la), deixou marcas em seu subconsciente. Quando outro incidente
paraps�quico lhe aconteceu, no Pomona College, tamb�m envolvendo algu�m a dist�ncia, ela percebeu que possu�a um certo poder extra-sensorial.
Conheceu Jill em 1963 e logo come�aram a dividir n�o apenas muitos de seus interesses, mas tamb�m experi�ncias de telepatia. Por exemplo: um dia, Pat decidiu
repentinamente passar pela casa de Jill sem qualquer aviso, o que nunca fizera at� ent�o. Jill sabia que Pat estava voltando da casa de seus pais e que teria que
passar por uma caminho n�o muito longe de sua pr�pria casa. Jill queria muito falar com Pat aquela noite, mas de nada adiantaria telefonar, pois sabia que ela n�o
estava em casa. Pat, por seu lado, n�o tinha a m�nima inten��o de visitar a amiga. No entanto, Jill concentrou seu pensamento em Pat para faz�-la "vir a ela", como
os feiticeiros costumavam dizer na Idade M�dia. No mesmo momento, Pat sentiu uma forte necessidade de sair da estrada e dirigir-se � casa da amiga, e foi o que fez.
A partir de ent�o, as mo�as desenvolveram suas comunica��es telep�ticas a ponto de alcan�arem um perfeito controle. A caminho de casa, uma poderia passar pelo
supermercado e comprar exatamente aquilo de que a outra estava precisando para fazer o jantar. Ou Pat poderia telefonar para a amiga num momento em que Jill precisava
falar com ela sem saber onde encontr�-la.
O interesse delas pela feiti�aria nasceu de conversas que mantinham, e, quando leram meu artigo no jornal, descobriram as respostas para muitas de suas perguntas.
Embora j� tivessem lido muitos livros sobre parapsicologia, conheciam muito pouco sobre os rituais de feiti�aria. Tinham um grande respeito pela miss�o de Jesus
Cristo, mas n�o estavam ligadas a qualquer igreja e achavam que a Antiga Religi�o era a f� mais adequada para elas. Como muitas outras pessoas, n�o encontravam nas
religi�es convencionais nada mais para lhes oferecer. Adoravam a vida ao ar livre e uma religi�o que prega a unidade do homem com a natureza e a identifica��o da
natureza com a divindade s� poderia atra�-las. Ambas gostam de nadar, apanhar sol, acampar - levar, enfim, a vida ao ar livre, muito comum na Calif�rnia. Talvez
isto tenha influenciado sua atra��o por uma religi�o da natureza, embora n�o existam muitas �rvores altas e frondosas no Sul da Calif�rnia, sob cujas copas os feiticeiros
se possam reunir.
Nenhuma das duas atribu�a muita import�ncia ao aspecto sexual do ritual. Achavam que, se uma comunidade trabalhava nua longe das vistas do p�blico e se todos
os seus membros concordavam com isso, tudo estava muito certo. Mas nenhuma delas � exibicionista e os aspectos mentais e intelectuais da feiti�aria as interessam
muito mais do que o elemento de libera��o sensual atrav�s da dan�a e do canto.
Jill tem vinte e oito anos, nasceu em Los Angeles, acusou um Q.I. de 139 na idade de dezoito anos e � escritora por voca��o. Infelizmente, quando nos conhecemos,
ela n�o atravessava uma fase financeira muito boa, o que a obrigava a trabalhar aqui e ali como secret�ria e recentemente entrou para uma companhia que vende cosm�ticos
e produtos de beleza. Assim, ela p�de alcan�ar e manter uma certa estabilidade material, que lhe permite continuar escrevendo e lendo. Tamb�m � divorciada, alta,
loura e bonita.
Eis como Jill explica seu desejo de se tornar feiticeira: - A feiti�aria � uma for�a e um poder que me parece ser a �nica coisa capaz de levar este nosso pobre
velho mundo a uma melhor compreens�o de si mesmo... Quero ser feiticeira porque acho que esta � a �nica maneira de conciliar a minha vida com tudo aquilo que me
cerca.
Ela tamb�m j� viveu experi�ncias paraps�quicas de muitas esp�cies, e bem mais significativas que as de Pat. Podemos dizer que j� desenvolveu sua capacidade de
percep��o extra-sensorial a ponto de poder ser considerada uma m�dium perfeita. :Seu recorde de casos de clarivid�ncia, predi��es e impress�es paraps�quicas de pessoas
a dist�ncia, tanto no tempo como no espa�o, � realmente impressionante, e para a maioria desses casos apresenta testemunhas.
Na casa em que vivia sozinha antes de ir morar com Pat, existia um "fantasma residente" que se manifestava atrav�s dela, tanto mental como fisicamente, fazendo
com que objetos se movessem. Verificamos isto numa sess�o esp�rita, depois da qual as coisas se acalmaram e voltaram ao normal.
Sua primeira experi�ncia paraps�quica lhe ocorreu quando tinha treze anos e seus pais estavam-se divorciando. Pela lei daquele Estado, ela teria que ficar com
a m�e, mas, numa r�pida vis�o, ela se viu na sala de julgamento ouvindo o juiz decidir que ela teria que acompanhar o pai. Uma semana depois, sua vis�o se tornou
realidade, em todos os m�nimos detalhes, e at� mesmo as pessoas que ela tinha visualizado na sala de julgamento eram as mesmas.
Na escola, sempre conseguia notas altas sem precisar estudar: simplesmente j� "sabia" os assuntos ensinados. Al�m de Pat e de uma velha senhora j� falecida, Jill
j� se comunicou com dois de seus namorados pela telepatia. Com o primeiro, era capaz de v�-lo quando ele estava a cinco milhas de dist�ncia; depois, ele sempre confirmava
o que ela dizia que ele estava fazendo. Com o segundo namorado, aconteceu de ele comparecer ao enterro de um amigo que morrera num desastre de motocicleta, sem que
ela tivesse conhecimento de coisa alguma. No mesmo momento, Jill, que estava trabalhando, sofreu as mesmas emo��es por que passou o namorado em rela��o ao amigo
morto. Depois que os dois se encontraram e contaram o que havia acontecido a um e outro, confirmaram a coincid�ncia de seus sentimentos.
Mais de uma vez, seus poderes de percep��o extra-sensorial salvaram-lhe a vida. Uma vez, enquanto dirigia, teve uma r�pida vis�o dela mesma dirigindo ladeira
abaixo sob a chuva. Um Jaguar parou de repente na sua frente bem no meio da ladeira. Ela puxou os freios, mas derrapou, bateu no outro carro e foi atirada longe
atrav�s do p�ra-brisa - tudo isto em sua vis�o.
Tr�s semanas depois, seu irm�o estava de visita a ela. Chovia muito, mas ele insistia para que fossem de carro visitar alguns amigos. Quando vinham descendo uma
ladeira, ela percebeu que, a sua frente, ia um Jaguar. Na sua vis�o, ela tinha reparado no n�mero da placa; era o mesmo. Imediatamente ela parou e deu marcha-�-r�
o mais r�pido e distante que p�de. Aconteceu realmente o que esperava: o Jaguar parou repentinamente no meio da ladeira; ela puxou os freios e derrapou, mas, devido
a sua precau��o de se distanciar bastante, n�o bateu no outro carro.
Jill sempre foi uma crian�a muito estranha. Come�ou a ler quando tinha tr�s anos e, naquela �poca, j� andava sozinha pela vizinhan�a sem que ningu�m se preocupasse
com isso, pois sempre voltava s� e salva para casa, como se tivesse uma esp�cie de anjo da guarda. Tinha uma grande capacidade de comunica��o com os animais; fazia
amizade at� com cor�as e gatos selvagens. Sobreviveu a v�rios acidentes - caiu de �rvores, penhascos, sofreu asfixia, grave intoxica��o alimentar e precisou submeter-se
a uma s�ria interven��o cir�rgica quando tinha somente dois anos e meio. Comia todas as plantas que cresciam perto de casa, inclusive beladona e hibisco, mas algum
estranho poder parecia sempre proteg�-la. Antigamente, tais cousas seriam encaradas como uma esp�cie de feiti�aria.
Por puro e simples acaso, Jill come�ou a ler a m�o das pessoas e, para sua surpresa, percebeu que o fazia muito bem. A not�cia se espalhou e ela ganhou a reputa��o
de ser capaz de ler m�o e prever o futuro com muita exatid�o. Naturalmente que ela n�o o fazia por dinheiro.
Logo depois, come�ou a diagnosticar doen�as. Isso tamb�m surgiu de maneira totalmente espont�nea. Era capaz de localizar com exatid�o as �reas dolorosas e doentes
do corpo e isto deixava as pessoas muito impressionadas. Felizmente, a essa altura, j� nos conhec�amos e eu a aconselhei a anotar detalhadamente tudo que dizia respeito
a seu trabalho paraps�quico, com a apresenta��o de testemunhas que pudessem confirmar cada uma de suas fases, para que, assim, pud�ssemos acompanhar o caminho tomado
por seus talentos de percep��o extra-sensorial.
Suas predi��es - aquelas que se referem a fatos que j� �se tornaram realidade e a outros cuja ocorr�ncia ainda esperamos - n�o cabem na finalidade deste livro.
Elas incluem assuntos nacionais - na primeira quinzena de mar�o de 1968, disse a todos os seus amigos que o presidente Johnson n�o mais se candidataria; a confirma��o
deste fato veio no dia trinta e um, quando o presidente anunciou sua decis�o. Dizem respeito, tamb�m, a acontecimentos pessoais e at� mesmo triviais, mas que sempre
ocorrem da maneira como foram previstos.
Um dos acontecimentos por ela previstos est� Intimamente ligado ao destino do senador Robert Kennedy. No dia 14 de maio de 1968, escreveu-me contando estar muito
preocupada com a seguran�a do senador, que se encontrava em Los Angeles. Tinha um mau pressentimento de que "alguma coisa aconteceria a ele" e que "um objeto voador"
o atingiria na cabe�a. Mais tarde, naquela noite, algu�m atirou uma pedra no senador. Mas Jill continuou sentindo que "o ferimento seria mais s�rio do que parecia",
e acrescentou: "� poss�vel que represente uma amea�a � sua vida". Ao mesmo tempo, sabia perfeitamente que avisar o senador seria imposs�vel, da mesma maneira que
ela estava convencida de que o assassinato do presidente Kennedy nunca poderia ter sido evitado.
Tr�s semanas mais tarde, no dia 6 de junho, o senador Robert Kennedy foi assassinado, atingido por uma bala na cabe�a. Quando a not�cia se tornou p�blica, ainda
se mantinham esperan�as de que ele sobrevivesse. �s duas e meia da madrugada, hora de Los Angeles, Jill anunciou que o senador j� tinha morrido. Isto foi algumas
horas antes da not�cia oficial de sua morte.
No momento, Jill est� muito preocupada e ansiosa por causa de terremotos e outras cat�strofes naturais que ela pressente que v�o acontecer na Calif�rnia; gostaria
muito de estar errada desta vez. As datas que ela forneceu j� passaram e nada do que temia aconteceu ainda. Como ocorre com muitos outros m�diuns, Jill n�o pode
saber se o que as suas vis�es revelam constitui um fato que n�o pode ser alterado ou um aviso para que sejam tomadas precau��es a fim de que tal fato n�o aconte�a.
� dif�cil compreender, mas n�o � um fato raro que m�diuns, que sempre est�o certos em rela��o a acontecimentos, situa��es e at� mesmo nomes, possam errar nas datas.
Talvez, portanto, seja poss�vel que ainda venha a acontecer um terremoto na Calif�rnia.
Quando eu disse isto a ela, concordou prontamente comigo, mas contou-me que, na data prevista - 29 de agosto de 1968 - tinha ocorrido um terremoto muito forte,
mas n�o na Calif�rnia e, sim, nas Filipinas.
No dia treze de junho, Jill fez a seguinte predi��o:
"A Fran�a deixar� de ser a mesma Fran�a dentro de duas semanas."
Est�vamos �s v�speras do plebiscito de De Gaulle, logo ap�s os movimentos estudantis que varreram toda a Fran�a em 1968. Bem, de uma certa maneira, a vit�ria
de De Gaulle naquele plebiscito mudou consideravelmente a situa��o do pa�s, sem que, no entanto, a Fran�a deixasse por isso de existir. Gostaria de transcrever o
que foi publicado no Variety do dia 9 de julho de 1968: "Apesar da vit�ria alcan�ada por De Gaulle nas urnas, o pa�s n�o continua mais sendo o mesmo..."
Al�m de seus extraordin�rios poderes de percep��o para-ps�quica, Jill vive sonhos envolvendo uma vida anterior na Creta antiga e em outros lugares. J� a hipnotizei
v�rias vezes e consegui que ela regressasse a exist�ncia anteriores � sua vida presente. Mas isso tamb�m � assunto para fazer parte de um outro livro. Serve, entretanto,
para mostrar que o princ�pio da reencarna��o, uma das bases da Antiga Religi�o, est� fortemente presente tanto em Pat como em Jill.
Ser�o elas realmente capazes de se tornarem exemplos perfeitos da feiti�aria americana? J� est�o tentando formar sua pr�pria comunidade, reunindo amigos �ntimos
que partilham das mesmas id�ias e interesses.
Um dos instrumentos usados pela feiti�aria e que, embora n�o fazendo parte do culto, est� intimamente relacionado a ele, � o chamado "ber�o dos feiticeiros".
Vem sendo usado h� muitos s�culos e com muitas varia��es. Sua finalidade � eliminar a percep��o sensorial de quem o usa para que a pessoa se possa concentrar exclusivamente
na percep��o extra-sensorial. William Seabrook (Witchcraft, Its Power in the World Today - "Feiti�aria e seu Poder no Mundo Atual") atesta que esse instrumento foi
muito usado na Fran�a em sua �poca - por volta de 1940. Impossibilita os movimentos corporais e isola a pessoa de qualquer contato com o mundo exterior. A consci�ncia
se v� assim for�ada a procurar outros meios de express�o e da� resulta a percep��o extra-sensorial. Outro meio tentado pela feiti�aria para alcan�ar esse tipo de
liberta��o do mundo exterior e conseq�ente aproxima��o do que os feiticeiros chamam de "Planos Interiores" � o uso de drogas alucinar t�rias tais como a mescalina,
o peiote e o �cido lis�rgico. Naturalmente que os antigos feiticeiros conheciam estas drogas em seu estado natural, isto �, como ervas e fungos. Outro meio tamb�m
eficaz de se alcan�ar um estado semelhante � atrav�s do movimento r�pido do corpo numa mesma dire��o.
Os feiticeiros acreditam que tanto a restri��o f�sica como o movimento ritmado em un�ssono s�o capazes de produzir o poder; os dois m�todos de "erguer o cone"
t�m sido usados.
Manter a espinha ereta tamb�m � considerado importante para a cria��o do poder. Numa das vers�es do "ber�o dos feiticeiros", os bra�os s�o mantidos esticados
acima da cabe�a para for�ar a espinha a uma posi��o ereta. De uma certa forma, o ritual de experimentar a morte simb�lica durante a cerim�nia de inicia��o � interpretado
e sentido como se o candidato estivesse dentro do "ber�o" - o isolamento do mundo exterior � completo e semelhante � morte f�sica.
Se n�o fosse pelos acontecimentos milagrosos que cercaram o nascimento e a morte de Jesus Cristo, a religi�o crist� n�o se teria transformado na grande for�a
espiritual e pol�tica que � hoje. Seria simplesmente uma outra filosofia ou seita oriental derivada do juda�smo. Aqueles milagres s�o considerados fatos inteiramente
poss�veis quando encarados do ponto de vista da parapsicologia - simples exemplos da aplica��o da lei natural, embora de uma esp�cie rara e pouco comum, e vividos
e interpretados por uma pessoa ainda menos comum.
Da mesma maneira, as pr�ticas surpreendentes e prodigiosas da feiti�aria fizeram dela uma f� fascinante. A promessa da magia como parte desta religi�o � t�o importante
para seus seguidores como a promessa da intercess�o celestial para o crist�o.
H� essencialmente dois aspectos dentro da pr�tica da feiti�aria; a pessoa pode-se deixar envolver por um ou outro, ou ambos, dependendo de seus desejos e capacidades.
O aspecto da pura adora��o das for�as da natureza, representadas pelos deuses da Antiga Religi�o, � uma coisa; o uso de capacidades de percep��o extra-sensorial
associada � f� � outra. A �nica liga��o direta entre as duas � que o fato de algu�m ser feiticeiro o ajuda a compreender melhor suas pr�prias experi�ncias e capacidades
de percep��o extra-sensorial e, tamb�m, o contr�rio: possuir tais capacidades pode levar a pessoa a procurar a feiti�aria como a religi�o que mais se lhe adapte.
Seria querer destorcer a realidade dos fatos afirmar que todos os feiticeiros s�o indiv�duos extraordin�rios, possuidores de fortes habilidades paraps�quicas
e de percep��o extra-sensorial. Na verdade, os poderes que possuem nascem deles mesmos, no c�rculo, atrav�s de certas pr�ticas e ritos.
� um grande erro tamb�m chamar de feiticeiro algu�m s� porque � capaz de predizer o futuro, saber coisas que ningu�m mais seria capaz de conhecer ou realizar
feitos agora classificados como percep��o extra-sensorial. As pessoas que usam o termo "feiticeiro" indiscriminadamente fazem-no por gra�a ou ignor�ncia, mas � preciso
que saibam que ningu�m � feiticeiro a menos que fa�a parte de uma comunidade praticante ou, no caso de trabalhar sozinho, que tenha estudado e praticado os princ�pios
da Antiga Religi�o por um tempo consider�vel.
7 - BRUXARIA, SEXO E M�TODOS DE CURA
Muito se tem escrito e, mais ainda, dito sobre a rela��o entre sexo e bruxaria, mas pouco corresponde � verdade dos fatos. Existe, antes de mais nada, a falsa
no��o de que os ritos da feiti�aria s�o sensuais; esta id�ia tanto atrai certas pessoas como afasta outras. Aqueles que se sentem atra�dos por esperarem encontrar
nos ritos feiticeiros uma esp�cie de orgia sexual, melhor seria se se mantivessem afastados, pois a bruxaria n�o � nada disso, mas "alguma coisa" profundamente espiritual
e intelectual.
Qualquer pessoa que conhe�a um pouco dos ensinamentos da Antiga Religi�o saber� de sua insist�ncia na forma��o de "casais perfeitos" e da relut�ncia em aceitar
membros solteiros nas comunidades. N�o � por falta de pudor, mas porque os feiticeiros sabem que as pessoas "trabalham" melhor quando est�o intimamente ligadas uma
� outra, tanto f�sica como espiritualmente. Preocupam-se com os resultados, n�o com a moral. A promiscuidade e uma exagerada �nfase nos aspectos sexuais seriam um
obst�culo e n�o uma ajuda dentro do c�rculo; por isto, e apenas por esta raz�o, os feiticeiros as repelem. As tens�es que uma pessoa mant�m quando sexualmente atra�da
por outra representam uma subtra��o de for�as que poderiam ser mais bem empregadas no trabalho conjunto do grupo. Eis a raz�o por que esta esp�cie de situa��o �
sempre desencorajada.
Existe, na mente do povo, uma confus�o entre satanismo e feiti�aria. Abordarei melhor este aspecto num outro cap�tulo.
Os feiticeiros n�o s�o sexoman�acos. Acreditam na fidelidade dentro do casamento e nunca adoraram s�mbolos er�ticos num n�vel f�sico. A adora��o da fertilidade,
um aspecto muito antigo do culto, � puramente religiosa no sentido de que os �rg�os reprodutivos do homem s�o venerados como s�mbolos de criatividade. Toda cultura
humana j� atravessou uma fase em que tais s�mbolos eram adorados e tais pensamentos eram considerados importantes em seu relacionamento com a divindade. Considerar
o culto da fertilidade como alguma coisa suja ou desprez�vel � possuir uma vis�o distorcida do sexo - conseq��ncia de um condicionamento negativo por parte de alguma
igreja ou religi�o hostil � express�o sexual natural e espont�nea. N�o � preciso ir muito longe para encontrar exemplos deste tipo de influ�ncia exercida pela Igreja;
basta considerar a atitude repressiva do cristianismo medieval e, at� certo ponto, tamb�m do islamismo, em rela��o a tudo que dizia respeito � express�o sexual e
� equipara��o da mulher ao homem. As mulheres, consideradas culpadas por atra�rem sexualmente os homens, eram relegadas a uma posi��o inferior e mantidas prisioneiras,
afastadas do mundo, para que pudessem ser rigidamente controladas e limitadas ao papel m�nimo de garantir a continua��o da esp�cie.
Mas a feiti�aria trata as mulheres como iguais e, em alguns cultos, at� como superiores. � a �nica, entre todas as religi�es do mundo, a adotar esta atitude.
Isto talvez explique a forte atra��o que exerce sobre as mulheres.
Al�m dos supostos aspectos sexuais dos ritos, a Antiga Religi�o adquiriu a reputa��o de ter poderes para aumentar a pot�ncia sexual, produzir amuletos de amor
e contribuir, de maneiras n�o ortodoxas, para os apetites sexuais de seus praticantes. Mas nada existe de sobrenatural em rela��o a estes fatos. Quanto a aumentar
o apetite e pot�ncia sexual, os feiticeiros simplesmente aprenderam a usar certas drogas afrodis�acas extra�das de plantas e ervas e h� muito tempo conhecidas.
Quanto a amuletos e encanta��es, explicarei como e quando eles funcionam. Em ess�ncia, pouca diferen�a existe entre um amuleto para encontrar o amor e uma medalhinha
benta de Santo Ant�nio de P�dua; entre uma encanta��o de amor recitada com muita devo��o e sinceridade e uma ora��o fervorosa pronunciada por um crist�o que espera
ser amado por outra pessoa. As po��es de amor, feitas de subst�ncias naturais contendo drogas conhecidas pela medicina por suas propriedades, agem da mesma maneira
que o �lcool ou um alucin�geno: influenciam diretamente a consci�ncia e produzem certas rea��es qu�micas respons�veis pela mudan�a de atitudes, apar�ncia e a��es.
Nada existe de miraculoso nisso. Os feiticeiros tinham j� conhecimento disso h� milhares de anos.
Quanto � magia capaz de fazer uma pessoa, sem o saber, amar e procurar outra, � verdade que existe, mas requer t�cnicas, ou ritos, muito apuradas, e nem sempre
os resultados desejados s�o obtidos. Mas � poss�vel desde que todos os elementos estejam corretos. N�o � um poder m�gico e misterioso, mas uma compreens�o muito
avan�ada do potencial energ�tico f�sico-mental do homem, devidamente orientado e projetado. O poder que os feiticeiros possuem de fazer outra pessoa pensar e agir
de determinada maneira n�o � mais milagroso do que as experi�ncias de percep��o extra-sensorial � dist�ncia realizadas por grandes pioneiros da pesquisa no campo
da parapsicologia como o falecido Sir Hubert Wilkins e o m�dium Harold Sherman; ou in�meras outras experi�ncias semelhantes que t�m sido demonstradas, pesquisadas
e publicadas por parapsicologistas respons�veis. S� que os feiticeiros possuem estes conhecimentos h� milhares de anos.
O que afasta o rito altamente disciplinado e de efici�ncia comprovada da Antiga Religi�o das experi�ncias cl�nicas e nem sempre bem sucedidas realizadas em laborat�rio
� a diferen�a de atitudes: na feiti�aria, o envolvimento pessoal � completo; nas experi�ncias de laborat�rio, tudo se realiza num n�vel cient�fico de observa��o.
Os feiticeiros n�o duvidam de seus poderes nem � preciso que ningu�m lhes diga como esses poderes funcionam. Sabem, simplesmente, que lhes pertencem e, por isso,
utilizam-se deles. Se voc� entrar para uma comunidade, passar� tamb�m a crer firmemente nas mesmas coisas.
Apesar do progresso da ci�ncia humana, que encontrou explica��es para muitos fatos da feiti�aria, algumas perguntas ainda continuam sem respostas e persistem
elementos que n�o podem ser definidos: os deuses, os "Antigos" e certos aspectos puramente religiosos da feiti�aria.
Assim, com a Antiga Religi�o, chegamos a uma barreira que n�o pode ser atravessada pela ci�ncia: Quem � o princ�pio de tudo? Quem o colocou l� (se � que � ele,
e n�o ela como muitos feiticeiros acreditam)?
De nada adianta especular sobre a poss�vel exist�ncia de um fen�meno duplo, rotativo e rec�proco - de um lado, a divindade, criada pela imagina��o do homem; do
outro, o pr�prio homem, que adora seu deus e lhe atribui o papel de criador. Admitindo que at� a� seja verdade, ainda fica faltando verificar a natureza desses deuses
criados pelo homem. E sempre continua sendo um milagre - t�o grande quanto a exist�ncia de entidades n�o relacionadas com a ra�a humana e seu ciclo vital - o fato
de o pensamento humano criar uma entidade capaz de adquirir personalidade pr�pria.
Os feiticeiros n�o precisam por em d�vida a realidade de seus deuses. Sabem que suas divindades trabalham para eles e com eles e que sua exist�ncia � um elemento
necess�rio aos ritos; isto basta para aceit�-las sem maiores perguntas. Alguns feiticeiros aceitam t�o naturalmente a exist�ncia de tais seres e princ�pios que n�o
podem nem admitir a possibilidade de que deuses n�o existam objetivamente. Apenas uma minoria de esp�ritos muito avan�ados e esclarecidos compreendem a rela��o entre
os deuses e a maneira como o homem precisa dar nome �s coisas e rotular tudo na natureza � sua imagem.
Sexo e sa�de est�o intimamente relacionados e a feiti�aria considera muito importante a manuten��o da for�a e da sa�de, tanto f�sica como mental. Muitos feiticeiros
s�o vegetarianos. De um modo geral, possuem amplos conhecimentos de culin�ria e muitas feiticeiras foram grandes cozinheiras. Sybil Leek j� escreveu dois livros
sobre culin�ria. Um relacionamento mais �ntimo com a natureza e um maior conhecimento do que ela tem para oferecer ajuda muito nas artes culin�rias. Muitos feiticeiros
s�o praticantes de yoga, embora a feiti�aria n�o "endosse" os exerc�cios yogas. As dan�as rituais tamb�m trazem efeitos salutares para o corpo, relaxando as tens�es
e aumentando a tonicidade muscular.
A feiti�aria � capaz de devolver a sa�de �queles que a perderam. Cristo e muitos santos curaram doentes pelo simples fato de toc�-los. Al�m deste tipo de cura
f�sica, a feiti�aria ainda pratica a cura espiritual, que se baseia na cren�a de que a concentra��o na prece � capaz de expulsar a doen�a.
No cristianismo, a doen�a era considerada uma conseq��ncia da vontade divina, dos pecados do homem, ou de ambas as coisas. Foi preciso muito tempo para que a
medicina chegasse � conclus�o de que v�rus, bact�rias e outras causas externas pudessem provocar doen�as. Quando a Igreja desistiu de lutar contra os cientistas
- alguns papas tinham at� proibido a pr�tica da cirurgia sob pena de morte - a medicina tornou-se t�o autoconfiante a ponto de atribuir todas as doen�as a causas
externas ou provenientes do pr�prio corpo, mas sempre de natureza f�sica.
Na feiti�aria, a cura de doen�as � fun��o natural do sacerdote. Em vez da prece individual - embora esta tamb�m seja �s vezes empregada - a Antiga Religi�o prefere
o trabalho do c�rculo. Ao combinar as for�as de cada um dos membros da comunidade, consegue-se gerar uma quantidade muito maior de "poder" que fica, assim, dispon�vel
para ser usada em benef�cio da pessoa doente.
Como isso � poss�vel?
Como ficou demonstrado pelo Dr. Walter Killner, h� sessenta anos, a doen�a � uma disfun��o da aura, o campo eletromagn�tico existente no interior do corpo humano
e que se estende ligeiramente para fora dele. Logo, � poss�vel que a concentra��o de energias derivadas de uma mesma fonte, mas provenientes de indiv�duos fortes
e saud�veis, traga bons efeitos para a pessoa doente.
O cone de poder erguido pela comunidade atrav�s da dan�a ritual e do canto dentro do c�rculo, resultado da concentra��o do pensamento e da disciplina, pode, ent�o
ser enviado em dire��o � pessoa doente, "queimando" a �rea do corpo afetada pela doen�a. Assim que isto acontece, as �reas saud�veis do campo eletromagn�tico da
pr�pria pessoa reproduzem-se a si mesmas, estendendo-se at� cobrirem novamente todo o campo - e a isto se segue a cura total e instant�nea.
Al�m dos processos descritos, a feiti�aria possui um imenso conhecimento da qu�mica da natureza. Muitas plantas eram tamb�m usadas fora da feiti�aria no tratamento
de doen�as, mas como a Antiga Religi�o n�o encontrava os obst�culos representados pelas limita��es impostas por uma Igreja supersticiosa em rela��o ao que se podia
ou n�o fazer ao corpo do paciente, os tratamentos feiticeiros freq�entemente obtinham melhores efeitos do que as receitas dos m�dicos convencionais que seguiam a
orienta��o da Igreja.
A Antiga Religi�o nasceu profundamente ligada � cura. A feiticeira era, antes de mais nada, a pessoa a quem todos recorriam em caso de doen�a. Lembrem-se de que
os m�todos usados pela medicina moderna s�o muito recentes. No fim do s�culo dezoito, processos atualmente banais, tais como desinfec��o, assepsia e uso da eletricidade,
n�o somente eram desconhecidos, como qualquer pensamento ou tentativa de pesquisas ou estudos em tais dire��es eram consideradas inspira��es do diabo, se o m�dico
fosse religioso, e pura tolice, quando se tratava de um homem com inclina��es mais cient�ficas e materialistas. H� duzentos anos, a maior parte do conhecimento m�dico
de hoje ainda n�o existia. Muito pequena era a preocupa��o em descobrir novos meios de salvar aqueles que sofriam e caminhavam inexoravelmente para a morte. Somente
a feiticeira tinha o cuidado de cur�-los; o mundo ortodoxo deixava-os sofrer e morrer.
Freq�entemente, a feiticeira n�o sabia dizer como e por que certos procedimentos traziam resultados. Mas sempre sabia o que fazer em cada circunst�ncia e aplicava
seus conhecimentos. Ainda atualmente, muitos m�dicos usam t�cnicas ou drogas que eles t�m certeza de que far�o bem ao paciente, embora n�o saibam exatamente como
o processo se desenvolve. Isto os impede de realizar experi�ncias? Certamente que n�o, desde que o procedimento seja seguro.
As feiticeiras n�o se importavam em compreender ou n�o como afiam os rem�dios; o importante era que eles curassem. Freq�entemente, essas po��es eram administradas
durante uma cerim�nia religiosa, pois acreditava-se que o estado de esp�rito do paciente - acreditar e esperar a ajuda dos deuses - era um fator muito importante
no processo de cura.
Os m�dicos modernos tamb�m pensam assim. O �nimo e a esperan�a apressam a cura, enquanto que uma atitude mental destrutiva ou desinteressada retarda o processo.
8 - MAGIAS, ENCANTA��ES E F�RMULAS M�GICAS
Desde o mais antigo est�gio do desenvolvimento humano que sempre esteve presente uma for�a secund�ria denominada m�gica ou magia.
O que � isto exatamente?
Hoje em dia, quando se fala em m�gica ou m�gicos logo relacionamos estas palavras a um espet�culo de variedades. M�gica, para n�s, � sin�nimo de faz-de-conta,
de falsifica��o - inteligente e capaz de iludir as pessoas, mas irreal.
M�gica � prestidigita��o, destreza manual, uma maneira engenhosa de iludir os ing�nuos, uma apresenta��o teatral que nos oferece apenas um pouco de distra��o
e divertimento. Os m�gicos modernos s�o as pessoas mais c�ticas que conhe�o quando lhes falamos de percep��o extra-sensorial ou qualquer outra coisa transcendendo
os cinco sentidos.
Quando neste livro me refiro � m�gica ou magia, n�o � nesse sentido que estou falando. Magia para os antigos era alguma coisa muito diferente. Nas sociedades
primitivas ainda hoje existentes, "fazer m�gica" � colocar for�as em movimento. Os �ndios americanos chamam influ�ncias positivas de "boa medicina"; presume-se que
o homem da Idade da Pedra se utilizasse daquilo que hoje chamamos de "magia positiva". Mais tarde, isto se tornou "magia branca" em contraposi��o � "magia negra".
A magia, portanto, assim como o pr�prio homem, pode ser boa ou m�, e n�o existe nenhuma diferen�a nas t�cnicas em si quando usadas com objetivos construtivos ou
destrutivos. A m�gica � como o destino - n�o possui sentimentos, n�o � capaz de distinguir o certo do errado, o bem do mal. Aquele que se vai utilizar dessa for�a
� que decide com que objetivos usar� seus poderes.
O objetivo � a obten��o de certos acontecimentos que, ou n�o podem ser provocados por meios normais, isto �, n�o-m�gicos; ou s� podem ser alcan�ados atrav�s de
grandes dificuldades, com um grande disp�ndio de tempo, dinheiro, energia ou emo��es; ou que, de alguma forma, apresentam um problema. A m�gica � uma esp�cie de
atalho para se alcan�ar determinado objetivo e, muitas vezes, � o �nico caminho para se chegar at� ele. Este objetivo pode ser qualquer esp�cie de desejo, mundano
ou espiritual, pessoal ou impessoal, envolvendo um princ�pio, uma institui��o ou pessoas como indiv�duos; pode pertencer ao presente ou ao futuro, mas nunca ao passado,
a menos que seja uma lembran�a que a pessoa queira alterar.
Desde o in�cio da exist�ncia do homem neste planeta, a magia sempre caminhou paralelamente � religi�o e � rela��o com a divindade por esta representada. N�o era
f�cil estabelecer uma separa��o entre o que era propriamente religi�o e o que pertencia aos dom�nios da m�gica. A tend�ncia era atribuir � magia a obten��o de certos
resultados em evidente e ineg�vel contradi��o com os padr�es considerados normais de comportamento e contra todas as probabilidades. � preciso ter sempre em mente
que tudo sofre mudan�as; muitos fatos antes considerados "milagres" s�o hoje melhor compreendidos e interpretados � luz da ci�ncia e de um maior conhecimento humano.
Por exemplo: atualmente, consideramos a televis�o e a eletricidade como instrumentos cient�ficos normais, mas seriam, infalivelmente, classificados como "m�gica"
uns duzentos anos atr�s.
A linha demarcat�ria entre religi�o e magia sempre foi e sempre continuar� sendo incerta e inconstante, e aqueles que est�o certos de que a ci�ncia moderna tudo
sabe precisam n�o se esquecer de que a improbabilidade de hoje ser� o lugar-comum de amanh�.
Mas existem certos elementos na m�gica que sempre continuar�o "m�gicos" - particularmente as �reas de influ�ncia de mente para mente, envolvendo, n�o m�quinas,
mas est�mulos e emo��es humanas. O homem est� progredindo cada vez mais r�pido nos campos cient�fico e tecnol�gico e em muitas outras �reas, mas ainda n�o somos
capazes de compreender muitos dos processos interiores do homem; n�o sabemos o que � a for�a da mente, nem como utiliz�-la a fim de conseguirmos o que parece ser
m�gica, mas na realidade n�o �.
Nas sociedades primitivas, a magia sempre foi prerrogativa do sacerdote, feiticeiro ou curandeiro. Qualquer indiv�duo que desejasse participar de seus benef�cios
tinha que consult�-lo. Naturalmente que sempre existiram aqueles que tentavam "trabalhar" sozinhos. � curioso notar que, mesmo num est�gio muito primitivo do desenvolvimento
humano, aquele que praticava a m�gica por conta pr�pria j� era considerado uma amea�a � seguran�a da "magia estabelecida". � f�cil explicar por que os feiticeiros
da Idade da Pedra pensavam assim. Um dos fatores mais importantes para fazer da m�gica uma for�a poderosa � a cren�a inabal�vel em seu poder. Criam-se for�as de
pensamento nas mentes dos componentes da tribo que s�o dirigidas ao representante da magia no meio deles. Se existir um outro ponto de reuni�o de for�as - um feiticeiro
por conta pr�pria - essas for�as ser�o dispersadas e, portanto, menos efetivas.
Naturalmente que acreditar que a magia faz milagres n�o � suficiente para criar milagres. A cren�a, como a prece, limita-se a fornecer a energia necess�ria que
o feiticeiro dever� moldar numa certa forma e orientar numa determinada dire��o. Alguns observadores de fatos extraordin�rios pensam que os milagres s� existem na
mente dos que neles acreditam e que tudo n�o passa de alucina��es, de ilus�es em que as pessoas se enganam em pensar que experimentam alguma coisa, quando, na realidade,
nada acontece. Eu n�o penso assim. Para mim, a f� n�o � tanto uma atitude positiva em rela��o a um fen�meno; � muito mais um reservat�rio de energia positiva. �
um fato ineg�vel que o valor da prece vem de um transbordamento emocional de energia, e n�o de certas frases e palavras-chave. As palavras t�m um significado para
quem as pronuncia e, por isso, fortalecem a prece, mas, em rela��o ao objeto da prece, s�o a forma e a intensidade da ora��o, e n�o tanto seu conte�do, que a transformam
numa for�a real e muito poderosa, tanto na magia como nas religi�es convencionais.
Se a m�gica fosse usada para resolver assuntos e problemas cotidianos que poderiam ser resolvidos de outra maneira, logo perderia sua for�a e, o que � mais importante,
sua atra��o. Deve ser reservada para os momentos de desesperan�a, quando todos os outros m�todos j� falharam. O homem sempre teve necessidade psicol�gica desta esp�cie
de fuga.
A magia do homem primitivo e a do moderno feiticeiro diferem apenas em seu grau de sofistica��o, mas n�o em seu conceito b�sico. N�o consiste em lograr ou alterar
as leis naturais; isto ningu�m poderia fazer. Consiste em conhecimentos, t�cnicas e habilidades aplicados �s leis naturais, as quais a maioria dos homens n�o sabem
que existem, ou em geral n�o sabem utiliz�-las em seu benef�cio.
A magia pode ser comparada ao que um cabo de alta tens�o representaria para Benjamin Franklyn no dia em que ele realizou sua experi�ncia com a pipa e o rel�mpago.
Se, naquela ocasi�o, tivesse conhecimento de um m�todo mais f�cil e efetivo de obter eletricidade, ele o teria utilizado. O que acontece com aqueles que praticam
a magia � que eles possuem este conhecimento; conhecem as maneiras mais eficientes de se utilizarem das leis naturais. Mas, raramente, revelam suas descobertas.
E por que o fariam? Existe a convic��o de que entregar a todo mundo o poder da m�gica diminuiria sua for�a. Supersti��o ou n�o, todos os cultos secretos pensam
e sentem desta maneira.
Parece fazer parte da natureza humana procurar sempre um meio mais r�pido e direto a fim de eliminar as dificuldades, toda vez que o homem luta por aquilo que
considera importante, desej�vel ou muito dif�cil. "A honestidade pode ser a melhor pol�tica" para o moralista: o instinto primitivo no homem est� sempre � procura
de um caminho mais r�pido e melhor de alcan�ar um objetivo. A magia � este caminho e muitos dos que acreditam ser este caminho a resposta para seus apelos, necessidades
e desejos, pouco sabem sobre o que � realmente a m�gica e como ela funciona. A f� transforma-se na pr�pria aplica��o da m�gica; a cren�a em seu poder � sua for�a
inicial; e aquele que acredita nela tende a aceitar como um acontecimento certo e infal�vel a obten��o do resultado desejado, mesmo antes de o processo m�gico ter
in�cio. Por causa deste estado de antecipa��o mental � que aqueles que acreditam na magia d�o freq�entemente a falsa impress�o de estarem sonhando e vivendo uma
ilus�o. � preciso que n�o se confunda este estado de feliz expectativa com os reais resultados alcan�ados pela m�gica.
Na feiti�aria, a magia � o poder oculto que torna as coisas poss�veis. Na sociedade primitiva, � o m�todo segundo o qual poucos podem fazer coisas que a maioria
n�o pode. Naturalmente que estes indiv�duos sempre precisaram apresentar provas ou evid�ncias de que eram realmente capazes de realizar tais feitos. A sociedade
primitiva, apesar de todas as suas supersti��es e limitada compreens�o do universo, exigia a apresenta��o de tais provas. A magia sempre precisou mostrar que � mais
do que um truque inteligente, mais do que um estado hipn�tico das massas, mais do que uma alumina��o coletiva, como tentam explicar alguns modernos antropologistas.
Esta id�ia pode ser facilmente derrubada ante os feitos surpreendentes do verdadeiro feiticeiro. Estes feitos s� podem ser satisfatoriamente explicados se admitirmos
que o m�gico possui um conhecimento muito desenvolvido da maneira como atua o poder da mente.
Aquilo em que o moderno pesquisador parece muitas vezes falhar � em compreender a necessidade de um certo clima emocional para que a m�gica produza os resultados
esperados. N�o � poss�vel faz�-la nascer de uma fria experi�ncia laboratorial. Sob este aspecto, a magia � muito semelhante � percep��o extra-sensorial, com a qual
possui muitos outros elementos em comum.
De que era capaz a m�gica e o que pode ela ainda fazer?
A m�gica do homem primitivo lidava apenas com a esp�cie de problemas que poderiam surgir numa civiliza��o em estado prim�rio de desenvolvimento. Por exemplo:
fazer a planta��o crescer apesar da falta de chuva, apesar da falta de sol - apesar da l�gica.
A atitude religiosa seria orar � divindade respons�vel pela planta��o, deixando tudo em suas m�os, submetendo-se � sua vontade e decis�o. Se a divindade quisesse
que a planta��o se desenvolvesse, muito bem; se n�o, era porque este era o seu desejo e o homem precisava aceit�-lo. A atitude m�gica seria muito diferente; n�o
se deixaria a escolha por conta do poder. A magia � controlada por aquele que a pratica. Se falhar, � porque alguma coisa estava errada na aplica��o das t�cnicas.
Antes de sorrir diante destes conceitos, lembre-se da tremenda influ�ncia exercida pela opini�o p�blica. � imposs�vel que um governante ignoreen�o se deixe influenciar
pelos pensamentos de seu povo, se uma parte desse povo se unir para express�-lo. Mas isso � influ�ncia indireta.
Muito recentemente, pesquisadores s�rios conseguiram provar que as flores crescem melhor quando se conversa com elas e quando s�o amadas por seu dono - em outras
palavras, quando est�o sujeitas �s influ�ncias de um campo de energia positiva. Isto pode parecer incr�vel a um cientista do passado, mas � absolutamente verdadeiro
e fora de d�vida. Sim, voc� pode rezar para que suas plantas cres�am melhor; voc� pode conversar com elas am�velmente e dizer: "Por favor, cres�am. Quero muito que
voc�s cres�am." Seus amigos dir�o que voc� est� ficando maluco, mas na verdade voc� est� colocando em movimento correntes de energias positivas que, alcan�ando a
flor, a far�o crescer. N�o estou querendo dizer que o "esp�rito da planta" lhe ficar� agradecido e, por isso, ela crescer�. Nada existe de pessoal no relacionamento
entre a planta e seu dono; o que acontece � um movimento de pequenas part�culas de energia, carregadas positivamente com instru��es para o crescimento; isto, de
alguma maneira, aumenta o impulso normal de crescimento j� existente na planta. Este impulso normal de crescimento pode estar-se ressentindo da falta de condi��es
adequadas, como normalmente ocorre em ambientes muito civilizados: falta de ar, �gua, luz, etc. A energia positiva fornecida pelo dono da planta em suas ora��es
ou express�es de amor ajudar� a planta a crescer apesar das condi��es adversas.
Isso n�o � um sonho nem uma suposi��o de minha parte. � um fato cient�fico provado e demonstrado publicamente no show Johnny Carson Tonight, diante de milh�es
de expectadores. Mas, se voc� encarar este fato em termos da atitude moderna em rela��o a tais assuntos, ver� que isto � uma forma de magia.
De maneira semelhante, embora sem o conhecimento cient�fico de como isso acontece, os m�gicos primitivos conseguiam influenciar o crescimento das planta��es.
Por que, ent�o, nem todas as pessoas o podem fazer? Por que isso s� era poss�vel ao feiticeiro da tribo e seus adeptos?
Em primeiro lugar, havia certas dificuldades que impediam a populariza��o desses conhecimentos. N�o existia a escrita e, muito menos, a imprensa, e a tradi��o
oral tinha suas limita��es. Al�m disso, este tipo de m�gica n�o consistia apenas �em dizer certas palavras pedindo � planta que crescesse. Mesmo o homem primitivo
sabia que certas f�rmulas obtinham melhores resultados que outras. A cren�a na verbaliza��o �dos desejos � inata no homem desde o in�cio de sua exist�ncia. Pronuncie
a palavra certa e as coisas acontecem, diga a palavra errada e voc� se ver� em apuros. Palavras, segundo a defini��o do psiquiatra californiano R. Newman, "s�o impulsos
para a a��o". A verbaliza��o apropriada, a f�rmula certa, � um dos pontos b�sicos da m�gica.
Quanto mais resumida e compacta a frase, maior ser� sua pot�ncia. Por isso, procurava-se condensar o que se queria dizer num m�nimo poss�vel de palavras significativas.
Em vez de dizer: "Por favor, sementes, ser� que voc�s n�o querem tentar crescer mais, apesar do mau tempo, pois isto � muito importante para todos n�s?, o homem
primitivo diria apenas: "Cres�a... Cres�a..." e repetia esta f�rmula o mais poss�vel, pois acreditava que a repeti��o refor�ava a possibilidade de se alcan�ar o
objetivo. Por isso, as palavras tinham que ser cuidadosamente escolhidas. No entanto, encontrar as palavras certas do ponto de vista do objetivo n�o era suficiente.
Era preciso ainda que se tivesse muito cuidado para que a frase n�o fosse facilmente compreendida pelos estranhos. Lembrem-se de que, se muitas pessoas se utilizassem
da m�gica, seu poder se enfraqueceria. Por isso � que as f�rmulas tinham que ser o mais �obscuras poss�veis.
Muitas vezes, as f�rmulas m�gicas eram t�o veladas que os pr�prios adeptos acabavam perdendo o seu significado; continuavam a repeti-las sem saber o que elas
queriam dizer. "Oh, Senhor das �rvores, descei sobre n�s e aben�oai vossos filhos" - talvez isto significasse um pedido ao poder invis�vel para mandar um pouco de
chuva, cuidar para que nada atrapalhasse o crescimento das plantas, �rvores e frutos e tudo mais de que o homem tinha necessidade numa sociedade agr�cola.
Toda magia est� relacionada a um tipo de percep��o extra-sensorial - aquela que "faz" as coisas acontecerem. Voc� se levanta de manh� cheio de energias positivas
e sem qualquer temor em rela��o �quele dia. Voc� � um homem de neg�cios e o resultado de sua primeira entrevista naquele dia � um sucesso - voc� consegue exatamente
aquilo que queria. A segunda � ainda melhor, porque voc� est� projetando f�rmulas de pensamentos positivos. Voc� pensa: "Tomara que ele aceite minha oferta!" e,
enquanto voc� visualiza a realiza��o de seu desejo, alguma coisa parte de sua mente para a dele e ele come�a a pensar exatamente como voc� queria, sem saber que
as id�ias dele s�o as suas. Pensa que � um pensamento original que surgiu nele, vindo n�o sabe de onde. Tanto melhor, pois, quando a magia n�o � conhecida por aquele
a quem � dirigida, seus resultados s�o sempre mais garantidos.
Ensinei a muitos indiv�duos nervosos a procurar emprego e consegui-lo. Como? Mantendo pensamentos positivos e um relaxamento mental feito de autoconfian�a. Na
maioria dos casos, isto d� certo. Se voc� est� seguro de seu desejo e � capaz de formular um pensamento simples e claro que o contenha, voc� j� est� a meio caminho
da consecu��o de seu objetivo. O truque � muito simples: esteja certo de seu desejo e procure express�-lo de uma maneira direta, num m�nimo de palavras capazes de
demandar uma a��o imediata. Pensamentos como: "Gostaria que ele fizesse alguma coisa por mim" ou "Espero que ele goste de mim" n�o o conduzir�o a lugar nenhum. Experimente
pensar alguma coisa como: "Vou deixar uma boa impress�o. Sou a pessoa certa para ocupar aquele lugar; ele vai-me pedir que a aceite." Esta ser� a frase m�gica certa.
Tais verbaliza��es - ou ordens sutis, se voc� preferir - passam imperceptivelmente para o inconsciente da outra pessoa; essa passagem se d� como j� expliquei
e n�o atrav�s da concentra��o. Um aperto de m�o antes do pensamento sempre ajuda; parece que estabelece uma liga��o f�sica adicional. Isto pode parecer estranho
e compar�vel � id�ia m�gica de se possuir uma parte do corpo da pessoa, como fios de cabelos ou peda�os de unha, como um meio de estabelecer contatos. Mas uma coisa
nada tem a ver com a outra; o que existe � uma semelhan�a com certos fatos da psicometria, a arte de "ler" o passado, o presente e o futuro de uma pessoa pelo simples
toque de um objeto que esta pessoa usou no corpo por algum tempo.
A linha de demarca��o entre a sugest�o, tanto consciente como sublimar, e a magia � indistinta; parece-me que a m�gica deste tipo �, na verdade, uma combina��o
de sugest�o, organizada e intensificada, mais transfer�ncia de pensamento. Mas, para outras civiliza��es, para quem palavras como "sugest�o", "telepatia" e "subliminar"
eram desconhecidas, tudo era exclusivamente m�gica.
Um exemplo disto aconteceu recentemente comigo. Um dia, �s quatro horas da tarde, a pior hora para se encontrar um t�xi em Manhattan, eu estava atrasad�ssimo
para um encontro �s quatro e meia e procurava desesperadamente uma condu��o. Tudo indicava que eu ficaria esperando ou correndo atr�s de um t�xi por pelo menos uma
boa meia hora. Mas alguma coisa dentro de mim me dizia: "N�o. Voc� vai encontrar um t�xi daqui a pouco." N�o sei explicar por que eu tinha certeza disto. E a "voz"
(n�o, n�o era voz; eram apenas pensamentos) continuou a falar dentro de mim: "V� andando e fique em frente ao Hotel Algonquin." Bem, parecia haver uma certa l�gica:
na porta de um hotel popular como o Algonquin, sempre h� t�xis chegando a toda hora. Mas tamb�m h� muitas pessoas esperando por eles. Comecei a duvidar da sabedoria
daquela "ordem". Mas a "voz" continuava insistindo em que eu fosse para a frente do hotel. Visualizei um t�xi chegando l� exatamente junto comigo. Enquanto atravessava
calmamente a rua, percebi outra "ordem": "Ande mais depressa. Ele est� quase l�".
Comecei a andar mais depressa e a olhar rua abaixo; podia ver, pelo menos, dois quarteir�es. N�o havia t�xi nenhum. Estava quase desistindo de acreditar, mas,
no exato momento em que cheguei em frente � entrada do hotel, um t�xi virou a esquina e parou perto de mim. O homem que desceu at� segurou a porta para mim.
Coincid�ncia? Racionaliza��o de um desejo? Percep��o extra-sensorial? Um pouco de percep��o extra-sensorial, talvez; e muito de magia. A possibilidade de um t�xi
vazio naquela hora e naquele lugar era muito remota, principalmente se levarmos em considera��o que tudo aconteceu dentro do tempo m�nimo de cinco minutos desde
que comecei a pedir. Desde aquele dia, comecei a "chamar" t�xis freq�entemente e, na maioria das vezes, conseguia um em um minuto ou dois. Sim, a feiti�aria funciona!
Voc� alguma vez j� se encontrou com uma pessoa cujos pensamentos s�o impenetr�veis, algu�m que parece hostil e distante? J� estive presente a muitas sess�es esp�ritas,
onde o m�dium conseguia comunicar-se com todo mundo at� que chegava a uma dessas pessoas e, com ela, nada acontecia.
- N�o consigo alcan��-lo - dizia. - Est� cercado por uma barreira impenetr�vel.
E � isto mesmo. Uma barreira feita de pensamentos � uma coisa real; part�culas de energia provenientes da mente, enviadas atrav�s do c�rebro, s�o capazes de criar
uma tela invis�vel mas de efeitos reais em torno da pessoa. O Dr. Walter Killner, famoso escritor e f�sico ingl�s, conseguiu demonstrar, h� sessenta anos, a exist�ncia
da aura humana. � um campo de energia que envolve todo corpo vivo, tanto do homem como dos animais. Quando contra�mos e estreitamos os limites externos da aura,
forma-se uma barreira que nos separa do mundo exterior, mesmo dos pensamentos vindos de outras pessoas.
Na magia, � poss�vel que os pensamentos do m�gico criem um escudo que �, ent�o, projetado num animal vivo. Torna-se, ent�o, parte da aura do animal - uma tela
protetora - pelo tempo que o m�gico desejar. Outros animais - os animais s�o muito mais suscept�veis � parapsicologia do que o homem - s�o repelidos por essa tela.
Mas a m�gica vai al�m disso; inclui ainda a cura ou tratamento de doen�as. Milhares de anos antes do Dr. Killner, o feiticeiro primitivo j� tinha conhecimento
da aura humana, embora pensasse que ela era o pr�prio esp�rito do homem. Para curar o "esp�rito doente", ele produzia certos pensamentos que penetravam a aura do
indiv�duo doente, limpando-a e devolvendo-lhe a sa�de. Mesmo do ponto de vista atual, isto pode ser considerado milagre.
Vamos agora tratar de um assunto muito discutido - a parte que � considerada o lado negativo da magia: a destrui��o do inimigo. � poss�vel que a magia possa causar
a morte de um homem � dist�ncia? Os feiticeiros acreditavam que sim e muitas vezes o conseguiam e ainda o conseguem. Ainda hoje, o fetiche existe livremente nas
selvas africanas.
Ao contr�rio da opini�o leiga, o fato de uma pessoa saber que uma maldi��o lhe foi enviada ou que o feiticeiro est� decidido a mat�-lo n�o � suficiente para lev�-la
� morte. Este tipo de terror mata apenas os que sofrem de s�rias doen�as card�acas, e o feiticeiro n�o seria t�o ing�nuo a ponto de confiar nisso.
In�meros casos observados servem para demonstrar que muitas pessoas morreram devido � interven��o direta de um feiticeiro, sem que tivessem a m�nima no��o do
que estava para acontecer.
Quando isso � feito por raz�es m�s ou ego�stas, falamos de "magia negra" e s� podemos condenar a pr�tica. Mas, quando o motivo � a prote��o da tribo ou do pa�s,
o termo usado � "magia branca" e o feiticeiro transforma-se num salvador. Esta interpreta��o fica por conta da consci�ncia de quem julga. Mas, como pode, afinal,
um feiticeiro matar algu�m que se encontra � dist�ncia?
Chegou a hora de tentarmos compreender o significado da imagem de cera, da boneca vodu dos africanos, da ef�gie da pessoa que se deseja matar. Antes de mais nada,
a confec��o de uma imagem da v�tima representa uma ajuda apenas no sentido de que auxilia o feiticeiro na concentra��o visual.
Dependendo de sua capacidade art�stica e artesanal, ele far� com que a imagem em miniatura de sua v�tima se pare�a o m�ximo poss�vel com a pessoa. � propor��o
que vai recitando a encanta��o, ele vai gradualmente fundindo a imagem do boneco com a imagem mental da pessoa, refor�ando, assim, seu v�nculo com a v�tima. Se lhe
for poss�vel obter mechas de cabelo ou peda�os de unha da v�tima, isso ajudar� ainda mais. Portanto, a cren�a que existe entre os povos primitivos de que permitir
que outras pessoas possuam qualquer coisa tirada de seu corpo representa uma amea�a � sua seguran�a n�o � de todo supersti��o. O cabelo e as unhas carregam em si
a imagem psicossom�trica de seu dono e permitem ao feiticeiro "sintonizar-se" mais facilmente com as vibra��es da v�tima. Constituem, pois, elos adicionais entre
ele e a v�tima.
Atualmente, uma fotografia tamb�m tem o mesmo efeito e muitos povos que habitam os desertos da Ar�bia, P�rsia e �ndia n�o permitem que voc� os fotografe por uma
raz�o muito simples: Uma imagem da pessoa � parte desta pessoa. Fui testemunha pessoal de fatos que servem para corroborar este conceito. Muitas vezes, submeti fotografias
de uma pessoa a m�diuns psic�metras que, atrav�s delas, forneciam detalhes impressionantes da vida desta pessoa, inclusive informa��es que diziam respeito a personalidades
secund�rias ligadas a ela. Numa recente investiga��o, na qual cooperei com a pol�cia, um m�dium conseguiu localizar um assassino em potencial atrav�s do "estudo"
da fotografia da v�tima.
Quando chega o momento adequado de matar a v�tima, o feiticeiro entra num estado de exalta��o e del�rio, alcan�ado por meio de drogas arom�ticas ou auto-hipnose;
formula o ato de morte em sua mente, com a miniatura nas m�os e em frente de seus olhos. Emite, ent�o, a f�rmula de pensamento da morte da v�tima. Se ele sabe onde
esta se encontra, a mensagem a alcan�a e ela n�o pode escapar daquilo que nem sabe que est� indo a seu encontro. A concentra��o de energia contendo o desejo de morte
alcan�a e fere sua aura. Muitas vezes, s�o necess�rios muitos desses assaltos mentais antes que a pessoa morra.
Pe�o, outra vez, a indulg�ncia dos leitores em acreditar que pensamentos podem realmente matar uma pessoa.
Lembram-se do argumento desenvolvido na pe�a Gaslight? A insinua��o de loucura levando uma pessoa lentamente a enlouquecer? Pensamentos introduzidos sorrateiramente
no inconsciente da v�tima conseguem alterar sua mente, consci�ncia, autovaloriza��o e outros fatores respons�veis por uma personalidade sadia. Nunca lhe aconteceu
de sentir que algu�m o estava fitando pelas costas e, ao se virar, verificava que era verdade? Os pensamentos podem ser sentidos; s�o part�culas reais de energia
capazes de alcan�ar uma pessoa, muitas vezes, com um grande impacto.
�s vezes, somos invadidos pela sensa��o de que uma pessoa amada que se encontra distante est� pensando em n�s; sentimos uma grande alegria, embora sem nenhuma
evid�ncia concreta de que essa pessoa nos est� realmente dirigindo seu pensamento naquele momento. Mais tarde, quando conversamos com ela ou trocamos cartas, verificamos
que ela mantinha o pensamento em n�s naquela hora, atrav�s do espa�o. Atualmente, isto � considerado um caso de percep��o extra-sensorial, embora moderado e de pouca
intensidade. Mas, para os povos primitivos, era m�gica.
Pensamentos negativos - compreendendo fortes desejos de destrui��o, sentimentos de �dio, vingan�a e inveja - s�o muito mais fortes do que mensagens positivas.
Por isso � que as for�as malignas s�o capazes de atravessar dist�ncias e chegar com um impacto ainda maior; e a v�tima n�o tem conhecimento do que est� acontecendo.
Quando descobre as fontes de seus dist�rbios, j� � tarde demais.
At� agora, falamos sobre o que chamamos de m�gica direta - aquela que requer apenas pr�tica e concentra��o. Mas h� outras esp�cies de m�gica que envolvem elementos
intermedi�rios. Para come�ar, existe a pr�tica dos talism�s. Talism�s s�o objetos que v�o de j�ias a ossos, de dentes de animais a mechas de cabelo, enfim, quaisquer
objetos que sejam suficientemente pequenos para poderem ser levados com a pessoa. Alguns s�o met�licos ou, at� mesmo, medalhas, mas qualquer objeto pode ser transformado
em talism� atrav�s do "trabalho" de um m�gico.
Est� claro que o objeto em si n�o possui propriedades m�gicas. N�o acredite nisto por mais convincentes que lhe possam parecer os argumentos de uma vendedora
de Harlem. Os talism�s s�o recept�culos para as concentra��es de energia neles depositadas por uma pessoa ou acontecimento. Sem isto, n�o passam de objetos interessantes.
A mesma coisa tamb�m acontece com as chamadas rel�quias sagradas, a vers�o crist� do talism� pag�o. Se todos os peda�os da cruz de Cristo, atualmente oferecidos
como aut�nticos, fossem colocados juntos, formariam uma cruz mais alta que o Empire State. E, se todos os ossos dos santos m�rtires guardados em relic�rios - um
aspecto um tanto sombrio do catolicismo - fossem reunidos, descobrir�amos que estes santos possu�am muito mais bra�os e pernas que os homens normais.
Mas, mesmo sem considerar as falsas rel�quias, ser� que os genu�nos talism�s crist�os possuem algum poder? Ser� que a f� espiritual do antigo possuidor permanece
numa parte de seu corpo?
Novamente, vamos encontrar a resposta na psicometria, grandemente refor�ada pela f� da pessoa que usa o objeto em que ele realmente o proteger�; esta f� funciona
como um est�mulo para a pessoa se utilizar de todas as suas naturais capacidades sempre que a situa��o o exigir. A �gua benta tamb�m funciona se a pessoa acreditar
nela. Para aquele que n�o cr�, n�o passa de um pouco de �gua suja.
Assim n�o acontece com os talism�s "pag�os". A cren�a em sua efici�ncia �, apenas, uma condi��o secund�ria. Naturalmente que sempre ajuda e � importante para
o feiticeiro que o comprador em potencial acredite na efic�cia do talism�, pois, do contr�rio, n�o o compraria. Mas esta n�o � a qualidade mais importante do objeto.
Um verdadeiro feiticeiro n�o vende brinquedos ou atra��es tur�sticas; ele realmente coloca "alguma coisa" no objeto inanimado que transformou em talism�.
Mas que poder � esse que o feiticeiro coloca no talism�? Primeiro, ele se concentra na cria��o de imagens de prote��o, que s�o, ent�o, dirigidas ao objeto. Ao
mesmo tempo, o feiticeiro visualiza a passagem destes pensamentos de sua pessoa para o �mago do talism�. Este, ent�o, se transforma no que podemos comparar a uma
pilha de lanterna, estocando energias e libertando-as com o tempo. Os talism�s perdem seu poder com o passar dos anos e precisam ser novamente "carregados" por um
feiticeiro (naturalmente que isto n�o precisa ser feito pelo mesmo feiticeiro). No catolicismo existe um rito semelhante. Levar a imagem de Nossa Senhora ou o ros�rio
para ser aben�oado no altar da igreja � exatamente a mesma coisa, embora o poder assim obtido n�o tenha a mesma for�a, pois a a��o do sacerdote n�o se aplica individual
e diretamente a cada objeto. Ele se limita a expor ligeiramente o objeto � atmosfera geral de irradia��es existentes no templo.
Os talism�s - ou amuletos, como s�o tamb�m chamados - surgiram com o aparecimento da pr�pria humanidade. Ainda existem e continuar�o existindo enquanto houver
homens lutando por alcan�ar seus ideais e necessitando de prote��o.
O homem primitivo costumava usar uma parte do corpo de um animal na esperan�a de que este objeto guardasse em si um pouco da for�a do animal morto. O feiticeiro
refor�ava este conceito colocando na encanta��o dirigida ao talism� uma ordem para fazer de seu dono um homem t�o forte quanto aquele animal.
Muitos talism�s s�o s�mbolos sexuais usados como amuletos da fertilidade. Este h�bito persiste at� nossos dias. Muitas pessoas usam ao pesco�o uma cruz semelhante
a uma chave e n�o sabem o que ela significa; � a "cruz ansata" de origem eg�pcia, s�mbolo da vida (e da morte); sua forma representa uma combina��o inteligente dos
princ�pios masculino e feminino.
Um talism� cumprir� sua fun��o se contiver em si a combina��o de tr�s elementos: o esfor�o inicial do feiticeiro que o produziu, colocando nele a f�rmula de pensamento
correta (a parapsicologia demonstrou recentemente que pensamentos s�o campos magn�ticos que aderem aos objetos); a f� por parte de quem o usa; e, finalmente, � preciso
que a finalidade, forma e apar�ncia do objeto transformado em talism� tenha alguma rela��o com a finalidade para a qual est� sendo usado, para poder sugerir a seu
dono determinados pensamentos.
A doutrina secreta dos judeus conhecida como cabala criou uma grande confus�o em torno dos talism�s; seu uso acabou por se abstrair a ponto de se transformar
em exerc�cios intelectuais que devem obedecer a instru��es rigorosas e exatas.
Por mais complexas que sejam as formas dos objetos ou as instru��es sobre seu uso, o talism� n�o ter� efeito algum se a pessoa que o usa se limitar a seguir "receitas"
contidas nos livros. Somente o poder emocional do homem pode emprestar validade ao talism� e apenas a capacidade de visualiza��o do homem � capaz de extrair do talism�
o resultado esperado. Em resumo, o valor do talism� depende da pessoa que o fazedaquele que o usa.
A magia tinha ainda outra finalidade: proteger os vivos dos mortos. Atualmente, este tipo de m�gica existe apenas entre os povos remanescentes das sociedades
primitivas. O homem civilizado n�o teme mais os mortos, gra�as ao espiritualismo e � pesquisa no campo da parapsicologia. Mas, para o homem primitivo, a morte representava
o pr�prio terror.
O materialismo, uma filosofia que nega a exist�ncia do esp�rito, � muito recente. Desde os princ�pios da humanidade, as pessoas aceitavam como perfeitamente natural
a dualidade do homem, consistindo de corpo e esp�rito. Com a morte, o esp�rito deixava o corpo. Muitas eram as formas de tratamento dadas ao corpo; muitas vezes,
era destru�do pelo fogo. Mas o que fazer em rela��o ao esp�rito era um outro assunto muito mais dif�cil de resolver. A grande dificuldade residia no fato de os esp�ritos
dos mortos n�o poderem ser vistos nem com eles se poder falar. Estes contatos s� eram poss�veis atrav�s de rituais especiais. Nas sociedades primitivas, o pensamento
contido no culto dos mortos n�o era de rever�ncia e respeito pelos que j� tinham partido, mas de medo do que eles poderiam fazer aos vivos.
At� hoje, os chineses - isto �, aqueles que ainda praticam a religi�o - incluem a adora��o dos antepassados em seu culto. Eles t�m apenas uma vaga consci�ncia
de que isso n�o representa piedade e preocupa��o pela seguran�a dos que morreram, mas necessidade de se proteger a si pr�prios, os vivos, da ira dos mortos.
O culto da morte existiu tamb�m entre os romanos, que constru�ram templos em honra a seus antepassados. J� os gregos, que possu�am uma cultura mais orientada
�s coisas mundanas, limitaram este culto � adora��o de divindades do al�m e ao simbolismo que a acompanhava.
No Haiti, pratica-se um culto conhecido como Papa Nebo; no pante�o vodu, Baron Samedi, o guardi�o do cemit�rio, � uma figura poderosa e temida. A melhor maneira
de produzir uma "contra-magia" para se proteger das incurs�es de Papa Nebo e Baron Samedi, seu servidor, � roubar alguma coisa de seu dom�nio, pois isto torna o
ladr�o igual a eles. Por isso, os haitianos costumam roubar ossos das sepulturas e peda�os de l�pides de t�mulos, que s�o transformados em amuletos, usados pela
pessoa ou escondidos em casa. Isto cria no indiv�duo a sensa��o de estar protegido contra os poderes dos mortos. Outro meio de se obter prote��o � uma encanta��o
na qual se presta obedi�ncia a alguma divindade considerada mais forte que a morte. Damballah Uedo, o todo-poderoso "rei do para�so" � invocado com uma prece creole,
na qual o adorador roga uma vida longa para ele e sua fam�lia. Mas a m�gica sempre � uma maneira mais f�sica e direta; o amuleto oferece uma evid�ncia palp�vel de
prote��o.
A cren�a de que ossos de mortos ou peda�os de t�mulos constituem amuletos contra a morte parece ser comum a muitas civiliza��es. Mesmo no cristianismo, os ossos
dos santos s�o venerados nos relic�rios.
Na m�gica, a morte pode ser comparada a uma porta girat�ria - o feiticeiro � bem recebido tanto de um lado como do outro. Assim como certos m�diuns conseguem,
quando em transe, flutuar entre os dois mundos - o f�sico e o espiritual - certos m�gicos primitivos conseguiam entrar em contato com os mortos, pois, al�m de feiticeiros,
eles tamb�m eram m�diuns.
A magia, portanto, � uma cren�a que est� muito acima dos conceitos materialistas quando ela aceita como um fato perfeitamente normal a dualidade do homem e a
exist�ncia da alma ou esp�rito.
Existem certos aspectos da m�gica que nunca puderam ser provados; outros que, decididamente, n�o s�o verdadeiros; e alguns que o s�o apenas em parte.
Um desses conceitos � a id�ia de "mau-olhado", t�o antiga quanto a humanidade. Prevalece ainda entre certos povos subdesenvolvidos, principalmente em certas regi�es
rurais da It�lia e Sul da Europa.
Acreditam que o olho humano possui poderes ocultos capazes de causar uma mal a uma pessoa pelo simples fato de fit�-la: o mal provocado pode ser a doen�a, a pobreza
e, at� mesmo, a morte. Uma grande parte da supersti��o medieval baseava-se no conceito do mau-olhado e, durante a pior fase das persegui��es, este tipo de acusa��o
sempre surgia em todo julgamento de feiticeiro.
Aqueles que acreditam no poder do mau-olhado concordam unanimemente em que ele possa ser tanto intencional como involunt�rio. O mau-olhado involunt�rio � uma
certa maneira penetrante de olhar que algumas pessoas possuem e que n�o conseguem evitar; precisa-se sempre ter cuidado em evitar estas pessoas e fugir delas. At�
mesmo reis e papas sofreram desta afli��o e ningu�m podia fazer nada a n�o ser desviar os pr�prios olhos.
Os crit�rios para se reconhecer o mau-olhado s�o um tanto vagos, como acontece com toda supersti��o, mas parece que olhos particularmente penetrantes s�o uma
das marcas reveladoras.
Quanto �queles que, deliberadamente, praticavam a m�gica associada a este poder, eram considerados m�gicos ou feiticeiros "negros". T�o forte era esta cren�a
que muitas pessoas foram denunciadas como tendo lan�ado maldi��es apenas por terem fitado algu�m diretamente. Ainda hoje, isto acontece em algumas �reas remotas
da It�lia e do M�xico, e provavelmente em outros lugares, onde uma popula��o rural ignorante � capaz de espancar uma velha at� a morte por acharem que ela dirigiu
um mau-olhado a algu�m.
Para afastar o mau-olhado, toda esp�cie de "contra-magia" tem sido empregada, variando do uso de amuletos ao gesto de erguer as m�os em frente dos olhos com os
dedos cobrindo-se uns aos outros; o importante � que estes m�todos protetores sejam usados no momento do mau-olhado. Os amuletos possuem a forma de uma m�o humana
com o polegar ou indicador esticados; podem ainda consistir de um s�mbolo f�lico, pois se acredita que a "m�gica" do sexo masculino � uma for�a capaz de deter o
mau-olhado.
Embora estas pr�ticas e amuletos ainda estejam em uso, pouqu�ssimas pessoas t�m a menor id�ia de como eles funcionam. N�o t�m consci�ncia da rela��o existente
com os cultos da fertilidade da Idade da Pedra e com a cren�a muito antiga de que os s�mbolos do sexo masculino representam a divindade criadora, sendo, portanto,
superiores a qualquer for�a que seja enviada contra uma pessoa.
Existem fatos capazes de comprovar a validade do mau-olhado?
Muitas pessoas decentes possu�am o chamado mau-olhado involunt�rio: o rei da Espanha, Afonso XIII e, at� mesmo, um papa famoso. Se uma dessas pessoas olhar para
voc�, algo imediatamente lhe acontece. Pode ser apenas uma atra��o incontrol�vel por essa pessoa de olhos fascinantes ou alguma coisa bem mais sinistra. Por exemplo:
numa aldeia italiana, no fim do s�culo dezenove, vivia um fazendeiro em tudo igual aos outros homens, com exce��o de um pequeno detalhe: mau-olhado. Um dia, olhou
casualmente para uma mo�a na presen�a de seu pai. A mo�a come�ou a agir de maneira muito estranha. Ela n�o se apaixonou pelo homem, mas come�ou a se mostrar doente
a partir de ent�o. Sofreu uma mudan�a de personalidade: de uma mo�a saud�vel e alegre, amante do sol e da vida ao ar livre, transformou-se numa criatura sombria
e melanc�lica, que fugia da luz do dia e se trancava em casa todo o tempo. Psic�logos modernos teriam logo a apresentar dois argumentos: ou o olhar do homem tinha
provocado na mo�a uma mudan�a bioqu�mica da personalidade ou ela estava dando vaz�o �s suas frustra��es er�ticas. Mas n�o poderia, perfeitamente, ser um excesso
de energia mental, transportando a mensagem escondida no inconsciente do homem e estimulando o inconsciente da mo�a, plantando sementes que ela n�o podia permitir
que dessem frutos?
Um outro caso ocorreu numa cidade da �ndia, h� quarenta anos. Um religioso hindu fitou amea�adoramente um mu�ulmano. Os indianos costumam ter olhos negros e penetrantes
como parte de suas caracter�sticas raciais. Mas acontece que o mu�ulmano ficou logo doente, incapaz de ingerir qualquer alimento; atribuiu �quele olhar a causa de
sua doen�a. Seguiram-se algumas lutas religiosas, nas quais muitas pessoas foram feridas e mesmo mortas. Ser� que podemos atribuir tudo � fantasia? Alguma coisa
passou de um olhar ao outro e alguma coisa causou uma rea��o em quem recebeu aquele olhar, uma rea��o sobre a qual n�o podia exercer controle.
Numa cidade do Centro-Oeste americano, uma policial estava perseguindo, um. criminoso. O homem parou e fitou o policial e este sentiu como se uma for�a el�trica
o estivesse atingindo, como se ele ficasse momentaneamente cego por um raio luminoso invis�vel. Isto provocou nele uma rea��o imediata, agindo de uma maneira como
nunca teria agido em condi��es normais: puxou a arma e atirou no criminoso. Por sorte, n�o o matou, mas este � um caso que foge a todas as explica��es normais.
Os gregos antigos diziam que os olhos humanos eram o espelho da alma e era atrav�s deles que todo contato mais profundo se realizava, tanto humano como sobre-humano.
Por outro lado, o espelho sempre possuiu conota��es m�gicas em v�rias �pocas e lugares. Os gregos acreditavam que o mundo do al�m poderia ser atingido por aquele
que conseguisse atravessar um espelho. Alice tamb�m precisou passar por um espelho para encontrar seu pa�s das maravilhas. Caliostro, o grande mago do s�culo dezoito,
podia facilmente atravessar um espelho e alcan�ar o mundo sombrio dos mortos. Os olhos e os espelhos possuem em comum as mesmas conota��es m�gicas: atr�s deles se
esconde um outro mundo invis�vel.
� atrav�s do olhar que o homem melhor expressa sua personalidade. Uma pessoa mon�tona possui olhos apagados; os olhos de uma pessoa din�mica s�o brilhantes. Atualmente,
usamos o termo "carisma" para designar a capacidade quase sobrenatural que certas pessoas possuem de fascinar as outras. "Fascina��o" � o termo usado pelos que acreditam
em mau-olhado; significa a capacidade de captar a aten��o de outra pessoa.
Os olhos s�o as portas de sa�da das vibra��es produzidas pelos pensamentos das pessoas, das f�rmulas de energia em sua mente, que, tamb�m, podem ser expressas
por meio das palavras.
Para que um pensamento passe de uma mente � outra, � preciso um grande esfor�o e uma esp�cie de feixe luminoso ao qual o pensamento possa aderir para ser transmitido.
Isto explica a grande dificuldade e limita��o de tais contatos. Os olhos podem ainda ser comparados a far�is na escurid�o: por meio deles, uma pessoa procura e encontra
outra. A outra pessoa for�osamente olhar� para os olhos de quem o procura; assim, o contato se realiza. O feixe luminoso de um olhar a outro � muito mais direto
do que a energia que passa de uma mente para outra. As duas coisas podem ser comparadas ao r�dio e � televis�o: a imagem acrescenta muito � mensagem, a televis�o
� mais expl�cita do que o r�dio, um olhar � muito mais efetivo do que um pensamento.
Tanto pensamentos conscientes como inconscientes podem ser transmitidos pelos olhos. Muitas vezes, sentimentos inconscientes dif�ceis de serem expressados conseguem
"sa�da" pelos olhos. Sob este aspecto, os olhos s�o verdadeiramente o espelho da alma, pois escapam � censura da raz�o que, de outra maneira, tentaria suprimir ou
alterar a mensagem original.
Quando uma pessoa fita outra, ocorre muitas vezes uma resposta imediata - excita��o, viol�ncia, atra��o ou �dio -, uma resposta t�o definida e r�pida como se
um di�logo completo se tivesse conclu�do.
Os impulsos transmitidos pelo olhar podem ser de natureza sexual, devido ao est�mulo representado pela impress�o visual de outra pessoa. Acredito que estas respostas
sejam muito mais do que simples "rea��es qu�micas", como alguns psiquiatras modernos as chamam. Pessoas muito pouco atraentes fisicamente conseguem fascinar outras.
Algumas vezes, este contato � primeira vista n�o � de natureza rom�ntica, mas profissional, envolvendo, n�o sexo, mas rela��es comerciais.
N�o tenho d�vidas de que as primeiras impress�es s�o muito fortes e duradouras. Existem exce��es como, por exemplo, quando a pessoa que est� olhando est� entregue
a pensamentos negativos e destrutivos, o que torna sua "vis�o" pouco clara.
Indiv�duos de sexos diferentes sentem-se, muitas vezes, atra�dos um pelo outro atrav�s unicamente do olhar. Alguns consideram isto um caso de fascina��o, mas
eu prefiro achar que o que geralmente ocorre � uma atra��o m�tua. Embora uma dessas pessoas possa n�o ter consci�ncia disso, j� existe nela uma predisposi��o a ser
fascinada, um desejo inconsciente de estabelecer uma rela��o, que precisa, apenas, ser guiado pela outra pessoa.
� verdade que os olhos possuem um certo valor como elemento est�ticos, mas o que � mais importante para a magia � a combina��o de olhos bonitos com a express�o
neles contida; acho que podemos dizer que eles s�o 10% beleza e 90% express�o. E o que � express�o sen�o a pr�pria personalidade escapando atrav�s do olhar, a forma
mais pura, verdadeira e direta de manifesta��o?
A for�a do olhar pode ser usada com finalidades boas ou m�s* pois os homens n�o s�o todos nem santos nem dem�nios, mas, cada um, uma combina��o, em doses diferentes,
das duas coisas.
� poss�vel a uma pessoa exercer dom�nio sobre outra apenas atrav�s do olhar? N�o, no sentido do "mau-olhado", mas � poss�vel que uma pessoa cause uma impress�o
muito forte em outra, impress�o essa que favorece outros contatos, cada vez mais profundos. Um indiv�duo de personalidade fraca pode at� ser hipnotizado, no verdadeiro
sentido desta palavra. Mas, novamente, eu acredito na presen�a de uma necessidade de ser dominado.
N�o acredito que algu�m possa ficar doente simplesmente por ter sido olhado, por um momento, a uma certa dist�ncia. Esta esp�cie de doen�a reside na mente daquele
que se considera amea�ado, e pode ser classificada como um dist�rbio psicossom�tico.
N�o posso acreditar na efici�ncia de certas "contra-magias" para afastar o mau-olhado, como cruzar as m�os em frente dos olhos ou usar determinados amuletos.
Mas, se voc� acredita nestas coisas e o amuleto tem para voc� o valor de um fetiche, ele servir� para fortalecer suas convic��es de que voc� � capaz de escapar �s
m�s influ�ncias. Neste caso, n�o vejo motivos para deixar de us�-lo, pois seus pensamentos de rejei��o dessas influ�ncias constituem for�as positivas capazes de
repelir todo e qualquer pensamento destrutivo dirigido � sua pessoa, qualquer maldi��o que lhe tenha sido lan�ada.
Vamos tratar agora de um outro assunto - a maldi��o lan�ada por meio de f�rmulas m�gicas.
Em que consiste exatamente uma f�rmula m�gica? � a verbaliza��o de um pensamento destinado a outra pessoa; a transforma��o deste pensamento em palavras � acompanhada
da firme convic��o de que a frase ser� capaz de transportar o desejo de quem a pronuncia. Duas coisas s�o importantes: aquele que emite a f�rmula m�gica precisa
acreditar nela e aquele a quem se destina precisa ter conhecimento de sua exist�ncia.
Se fosse verdade que essas f�rmulas m�gicas s� obt�m resultado por causa do medo que inspiram, ent�o, s� surtiriam efeito com pessoas neur�ticas.
Quando um m�dico diz a seu paciente que ele sofre do cora��o e pode, a qualquer momento, sofrer um ataque card�aco, as chances s�o muito grandes de que isto realmente
aconte�a. O medo, a expectativa e as d�vidas sobre seu estado de sa�de ser�o os grandes respons�veis pelo ataque card�aco. Acho que um m�dico inteligente n�o contaria
este tipo de coisas a seus pacientes, mas muitos membros distintos da Associa��o M�dica Americana acham que t�m obriga��o de manter o paciente informado.
Mas, como j� disse, as f�rmulas m�gicas cont�m outros elementos. Ao verbalizar um pensamento contendo em si a insinua��o de uma a��o, a pessoa que emite a f�rmula
m�gica coloca nela uma grande for�a emocional; � este poder que alcan�a a v�tima. Existem aqueles que acreditam que f�rmulas m�gicas e maldi��es obt�m efeito mesmo
que a v�tima n�o tenha conhecimento delas. Na antiga forma havaiana de magia, conhecida como "huna", existe uma s�rie de regras para se lan�arem f�rmulas m�gicas
ou maldi��es e, at� mesmo, para quebr�-las. O Dr. Max Freedom Long descreveu pr�ticas, que existem at� hoje, numa s�rie de livros, dos quais o mais significativo
� The Secret Science Behind the Miracles (A Ci�ncia Secreta Atr�s dos Milagres). A m�gica haitiana n�o difere essencialmente em metodologia da europ�ia; apenas os
termos s�o diferentes.
Muitas vezes, uma f�rmula m�gica exige determinadas condi��es para ser emitida. � importante, antes de mais nada, que o m�gico ou feiticeiro alcance o estado
de esp�rito adequado, conseguido atrav�s do uso de drogas, ervas ou l�quidos, ou atrav�s da dan�a e m�sica r�tmica. A presen�a de muitas pessoas durante estes rituais
� desej�vel por dois motivos: representa um poder adicional extra�do do campo magn�tico de seus corpos e promove uma circula��o maior da f�rmula m�gica, tornando
mais f�cil que ela chegue ao conhecimento da v�tima, caso isto seja desejado.
Mas, quando a maldi��o � lan�ada espontaneamente num momento de raiva, toda esta prepara��o se torna imposs�vel. Em caso algum, por�m, o feiticeiro confia unicamente
no medo do indiv�duo contra quem lan�a a maldi��o; o verdadeiro poder sempre esteve na maneira como a f�rmula m�gica � enunciada.
Os modernos psicologistas conhecem perfeitamente o poder numa maneira direta e compacta � capaz de produzir um impacto muito maior do que se o fosse de um modo
difuso e vago. Um orador din�mico � aquele que consegue fascinar mais pela flu�ncia de sua orat�ria do que pelo que tem a dizer.
As pessoas encarregadas de criar slogans de propaganda comercial conhecem o valor de cada palavra e da maneira correta de combin�-las. Os propagandistas modernos
sabem que as pessoas respondem a uma verbaliza��o bem elaborada de maneira direta. Os antigos feiticeiros tamb�m sabiam disto.
Parece incr�vel que uma frase pronunciada por um homem a milhares de milhas de dist�ncia possa afetar outra pessoa que nada sabe sobre isso. No entanto, isto
n�o passa de uma tentativa de transfer�ncia unilateral de pensamento. Que a telepatia � real j� foi provado muitas vezes, tanto fora como dentro dos laborat�rios.
Quando um grande n�mero de pessoas se re�nem para enviar o mesmo pensamento simultaneamente, o poder assim conseguido � muito maior. Esta � uma das pr�ticas da
feiti�aria "branca", da qual falaremos daqui a pouco. Durante a Segunda Guerra Mundial, naqueles dias terr�veis em que as for�as de Hitler se estavam preparando
para invadir a Inglaterra, todas as comunidades inglesas se reuniram numa esp�cie de assembl�ia geral - A Grande Comunidade. Todos os feiticeiros praticantes que
formaram esta assembl�ia emitiram simultaneamente o mesmo pensamento dirigido � mente de Hitler: "N�o venha, n�o venha; voc� n�o conseguir�; portanto, n�o venha!"
� imposs�vel provar que este m�todo tenha afastado o F�hrer de seus planos, mas a verdade � que sua mudan�a de id�ia foi repentina. � tamb�m verdade que as for�as
invasoras j� se tinham reunido; s� faltava marcar o dia da invas�o.
S� o que podemos afirmar � que houve a reuni�o da Grande Comunidade, que a mensagem de um pensamento foi enviada com uma grande for�a, e que, mais ou menos ao
mesmo tempo, a invas�o foi subitamente cancelada.
Para emitir uma f�rmula m�gica, n�o � necess�rio agir como os feiticeiros medievais - ingerir po��es fedorentas, queimar incenso ou fazer outras coisas estranhas.
Isto era puro efeito teatral.
Necess�rio mesmo � uma grande disciplina mental; isto torna a emiss�o de f�rmulas m�gicas algo muito real e bastante pr�ximo dos fatos englobados sob a denomina��o
de percep��o extra-sensorial.
Para quebrar uma f�rmula m�gica, ou seu parente mais sinistro, a maldi��o, n�o � preciso recorrer � magia mumbo-jumbo, mas aos mesmos princ�pios que fizeram da
f�rmula m�gica algo efetivo: pensamento disciplinado e verbaliza��o apropriada. � surpreendente notar como t�o poucas s�o capazes de se expressarem de uma maneira
em que possam ser r�pida e claramente compreendidas. Combinar palavras de modo a conseguir transmitir uma mensagem imediata � um talento muito raro.
Para fazer voltar uma maldi��o (quando a pessoa tem plena consci�ncia de que ela lhe foi lan�ada, ou quando apenas suspeita que ela existe), � preciso erguer
mentalmente uma tela protetora. Este escudo invis�vel, impedir� a entrada das cont�nuas radia��es da maldi��o pelo tempo em que a pessoa for capaz de "manter" o
pensamento da tela protetora firmemente alicer�ado em sua consci�ncia. Toda a realidade deste mundo, assim como do mundo n�o-f�sico da mente, depende de pensamentos
apropriados. Somente quando voc� � capaz de um pensamento sobre um objeto � que esse objeto se transforma em realidade para voc�. Por isso, considero muito importante
desenvolver a arte de pensar bem.
Mas, o que � preciso para quebrar uma maldi��o? Antes de mais nada, uma firme convic��o para que a pessoa se possa manter fiel � linha de pensamento adotada;
� necess�rio ainda que esta pessoa acredite possuir for�as superiores �s vibra��es negativas que lhe tenham sido enviadas; � preciso tamb�m uma forte capacidade
de abstra��o e medita��o.
Durante a medita��o, o mundo exterior desaparece temporariamente e o consciente da pessoa se ocupa de um �nico e puro pensamento. Quando se est� lutando contra
uma maldi��o, os pensamentos precisam ser firmes e positivos, capazes de conter a convic��o inabal�vel do sucesso.
No meu livro Ghosts of the Golden West (Fantasmas do Oeste Dourado), um dos casos por mim narrados � o do conde austr�aco von Wurmbrand, cuja vida foi tristemente
afetada por uma antiga maldi��o lan�ada contra sua fam�lia e mantida por entidades sobrenaturais que "habitavam" seu castelo. Por mais estranho que possa parecer,
o �dio acumulado ainda continuava sendo uma for�a atuante, capaz de faz�-lo voltar da ensolarada Calif�rnia, onde possu�a seu segundo lar. O conde acabou sendo v�tima
de circunst�ncias um tanto estranhas: estava hospitalizado para tratamento de uma doen�a sem nenhuma gravidade, quando a forma��o repentina de um co�gulo sang��neo
exigia a a��o imediata de um m�dico ou enfermeira. Inexplicavelmente, naquela hora, nenhum dos dois p�de ser encontrado. Coincid�ncia? m investigador racional poderia
pensar assim. Mas s�o muitas as estranhas "coincid�ncias" na vida deste homem e de toda sua fam�lia. Considero este um caso bastante persuasivo e evidente em favor
da realidade das maldi��es.
Ningu�m se pode sentir seguro e livre de qualquer maldi��o enquanto existir no homem uma inclina��o � destrui��o de seus semelhantes, enquanto as emo��es humanas
forem formadas de impulsos de amor e �dio. Mas, enquanto o indiv�duo conseguir manter uma atitude positiva em rela��o ao mal que possa vir dos outros e for capaz
de levar uma vida alicer�ada em valores construtivos - n�o, necessariamente, uma vida moral nos moldes da Igreja e do Estado -, as possibilidades de essas for�as
estranhas penetrarem sua camada exterior de defesa s�o bastante remotas.
A m�gica n�o est� presente somente em verbaliza��es de f�rmulas; est� tamb�m contidas em certos n�meros e s�mbolos. Podemos considerar que a moderna numerologia
teve seu in�cio na t�bua m�gica de Dem�crito, atrav�s da qual o destino do homem podia ser calculado. Temos, ainda, as t�buas m�gicas da Cabala, formadas de algarismos
combinados de uma maneira aparentemente sem sentido. Na constru��o de Stonehenge, as pilastras s�o dispostas de tal maneira que representam equa��es matem�ticas.
Estou convencido de que o universo inteiro e todas as suas criaturas e cria��es podem ser matematicamente expressos. As f�rmulas de Albert Einstein representam
apenas um primeiro passo no longo caminho da compreens�o das equa��es que se encontram por tr�s de todas as formas de manifesta��o da vida. Nada em nosso mundo �
casual ou acidental; existem rela��es matem�ticas definidas entre todos os componentes do universo. Isto tamb�m � verdadeiro em rela��o ao destino do homem. A partir
do conhecimento dos fatores determinantes do nascimento de um indiv�duo, � poss�vel, atrav�s de c�lculos numerol�gicos, determinar as probabilidades da vida desse
homem. Uma companhia de seguros pode fornecer, atrav�s de c�lculos estat�sticos, o �ndice de mortalidade de uma determinada popula��o. Mas � um tipo de c�lculo baseado
em m�dias, diferente e muito menos exato do que o c�lculo "m�gico" aplicado individualmente a um �nico homem.
No antigo Egito, os m�gicos, que muito comumente acumulavam a fun��o de sacerdotes desta ou daquela divindade, trabalhavam com f�rmulas m�gicas, amuletos, t�buas
de n�meros m�gicos, oferendas e todos os demais instrumentos obrigatoriamente usados, numa determinada �poca, pelos m�gicos de todo o mundo. Numa �poca em que toda
a Europa Central e Oriental era habitada por b�rbaros incapazes at� de cozinhar, os eg�pcios j� possu�am um complexo sistema de magia, atrav�s do qual o m�gico conseguia
persuadir os deuses e os poderes a satisfazerem seus desejos. Para isso, ele assumia, temporariamente, as propriedades dos deuses; o m�gico transformava-se, ele
pr�prio, num deus ou representava o papel desta divindade, dispensando, desta forma, a necessidade da m�gica.
Isso n�o � muito diferente da t�cnica de personifica��o usada na psiquiatria moderna, no sistema terap�utico chamado psicodrama, no qual o doente mental vive
seus problemas atrav�s da identifica��o com o papel que representa. Este m�todo obriga o "ator" a "viver o seu papel" no sentido literal da express�o. O que surge
no palco n�o � uma c�pia, mas o pr�prio, verdadeiro personagem - uma vers�o moderna da m�gica.
Para aqueles que ainda relacionam feiti�aria e m�gica com a adora��o do diabo, gostaria de transcrever a encanta��o gardneriana usada nas festividades do inverno
como parte do chamado "rito do caldeir�o". Este ritual assinala o solst�cio do inverno e destina-se a chamar de volta o Sol para que os homens possam sentir-se novamente
aquecidos e protegidos. A comunidade dan�a em torno de um caldeir�o fervendo na dire��o contr�ria ao movimento dos ponteiros do rel�gio; de um lado, fica a sacerdotisa-chefe,
representante da Lua, assumindo uma posi��o que sugere a forma de um pentagrama ou estrela de cinco pontas; do lado oposto, fica o sacerdote, que � quem d� in�cio
ao canto. Eles imploram � Rainha da Lua - a Deusa-M�e da cria��o - para lhes dar de volta o "filho da promessa", o Sol que traz a vida e que se afasta no inverno
para retornar na primavera.
"A Grande M�e vai dar � luz.
O Senhor da Vida nascer� outra vez.
A escurid�o e a tristeza morrer�o
No momento em que o Sol nascer de novo."
Na atmosfera de excita��o assim criada, os casais pulam, de m�os dadas, por sobre o caldeir�o fervente.
Outra ora��o (sim, ora��o, pois o que � uma encanta��o sen�o uma forma de orar?) que eu gostaria de transcrever aqui foi a pronunciada, a meu pedido, na triste
noite em que soube do falecimento de meu pai em Nova York. Eu me encontrava em Lenane, no Oeste da Irlanda, com minha esposa Catherine e Sybil Leek. S� poder�amos
voltar a Nova York tr�s dias depois, e por isso pedi a Sybil Leek para "oficiar" uma reuni�o particular. Ela mesma comp�s e leu a ora��o de meu pai:
"� Deusa-M�e, tamb�m chamada por alguns de Diana, Astartes e outros milhares de nomes, imploramos-vos que guardeis vosso filho que partiu... cuidai dele durante
a viagem, conduzi-o cuidadosamente � sua amada, pois ela, que j� partiu h� mais tempo, lhe ensinar� amor, bondade e toler�ncia. Assim, quando chegar o momento deles
retornarem juntos, estar�o preparados para estender a sabedoria adquirida neste per�odo de descanso a outros seres menos felizes.
� Deusa-M�e, dai a vossos filhos, t�o ligados �s coisas terrenas, for�as suficientes para poderem suportar este momento dif�cil. Que todas as nossas viv�ncias
sejam aproveitadas sob a forma de pensamentos, palavras e a��es dedicadas a satisfazer o vosso desejo. Humildemente agradecemos pelas alegrias passadas, por vosso
amor e indulg�ncia em nossos momentos de fraqueza."
Meu pai tem-se comunicado comigo atrav�s de v�rios m�diuns. Acho que a ora��o, embora n�o tenha sido uma ora��o nascida da Igreja, foi recebida com gra�a.
As pessoas que vivem no campo possuem um vasto conhecimento sobre plantas e rem�dios naturais. Uma das principais fun��es da Antiga Religi�o sempre foi o tratamento
dos doentes por meios naturais. Era de muito valor para um feiticeiro o conhecimento dos poderes medicinais de ervas e po��es preparadas com plantas. Este fato tem
sido freq�entemente mal interpretado, dando origem � falsa no��o de que os feiticeiros s�o monges envenenadores e ex�ticos fornecedores de po��es de amor. Numa �poca
em que qualquer pessoa encontrava todas as facilidades em obter venenos letais e em que n�o existia, por parte do governo, qualquer controle na produ��o de drogas,
ao contr�rio do que acontece hoje, os feiticeiros n�o se interessavam nem mais nem menos por venenos do que qualquer outra pessoa; a �nica diferen�a � que eles eram
mais cuidadosos, pois conheciam os perigos de certas ervas e po��es.
Quanto �s po��es de amor, elas n�o s�o t�o "m�gicas" como acreditam os "leigos". O que existe s�o bebidas e p�lulas que transportam aqueles que as tomam a um
estado de confus�o mental e de distanciamento da realidade. Certas drogas s�o capazes de levar as pessoas � excita��o sexual, mas n�o existe nada de novo nisto e
nem pode este conhecimento ser considerado do dom�nio exclusivo da feiti�aria. Mas n�o � poss�vel fazer uma pessoa cair apaixonada por outra s� porque bebeu uma
po��o de amor, a n�o ser que a pessoa interessada esteja presente quando a outra toma a po��o. A po��o de amor e a f�rmula m�gica possuem um mesmo elemento comum:
o desejo por parte de uma pessoa de vencer ou dirigir a vontade de outra.
Mas, enquanto as f�rmulas m�gicas se baseiam nos poderes da mente e na exist�ncia de correntes de energia, as po��es de amor constituem uma arma de natureza puramente
qu�mica. A po��o � capaz de obter bons resultados se for associada a uma f�rmula m�gica, mas neste caso nunca se pode saber qual das duas provocou o acontecimento
desejado.
Qualquer droga que prejudique a consci�ncia pode ser usada como "po��o de amor", mas � preciso que a pessoa interessada esteja presente quando a droga fizer efeito
para poder aproveitar-se da situa��o. Algumas dessas misturas, como uma pequena quantidade de beladona misturada a outros alucin�genos tamb�m extra�dos de plantas,
podem produzir efeitos que perduram por um dia ou dois. Neste caso, n�o � necess�rio a presen�a imediata da pessoa interessada. Mas n�o existem po��es de amor capazes
de manter uma pessoa em estado influenci�vel por semanas e messes; isso n�o passa de pura fic��o.
Os feiticeiros ou outros praticantes de magia sempre dizem �quele que vai � procura da po��o de amor que pronuncie certas palavras no momento em que der a po��o
� "v�tima". Estas palavras funcionam apenas como um refor�o mental, n�o estando diretamente relacionadas com a po��o em si.
Eis um exemplo de uma dessas verbaliza��es: "Que esta po��o penetre no corpo e na alma de..................................... como meus pensamentos penetram
em sua mente. Que seja capaz de traz�-lo(la) a mim."
A magia, ao trabalhar com f�rmulas, encanta��es e outros instrumentos verbais, aproxima-se muito da religi�o. Simples palavras s�o capazes de provocar a��o?
N�o � apenas na R�ssia "sem-deus", mas tamb�m nos chamados pa�ses capitalistas, que um n�mero cada vez maior de pessoas nega o valor da prece, pois n�o podem
acreditar que simples palavras possam fazer alguma coisa al�m de manter na ilus�o quem as pronuncia.
Isto � o resultado de longos anos de propaganda materialista, martelada dia e noite na cabe�a dos jovens atrav�s da escola, da imprensa, do r�dio e da televis�o.
Somente aquilo que voc� pode tocar, ver, ouvir, cheirar � real. Palavras n�o possuem subst�ncias; logo, como podem conduzir � a��o f�sica?
Aos poucos, esta maneira de pensar come�a a ser modificada pelos trabalhos de pesquisa no campo da parapsicologia, psicologia e demais �reas do conhecimento humano
dedicadas ao estudo das chamadas for�as invis�veis no homem.
"Um dos grandes problemas da religi�o", escreve Dr. Joseph Rhine, eminente parapsicologista, "talvez o seu maior problema pr�tico, � o da efic�cia da prece."
Antes que a parapsicologia se ocupasse disso, n�o havia nenhuma maneira de testar cientificamente essas cren�as ou, pelo menos, de investig�-las sem qualquer
influ�ncia predisponente.
"Um grande n�mero de trabalhos de pesquisa realizados nos Estados Unidos e no exterior representam uma prova incontest�vel a favor da a��o psicocin�tica de um
sujeito sobre um objeto".
E o Dr. Rhine acrescenta: "Se a ora��o produz efeitos e se os pensamentos humanos podem alcan�ar outras personalidades no universo, num plano al�m dos sentidos,
ent�o tudo isto deve ocorrer atrav�s da percep��o extra-sensorial".
E, no entanto, n�o fosse pelos fen�menos que atualmente chamamos de paraps�quicos ou extra-sensoriais, toda a estrutura da religi�o cairia por terra. A exist�ncia
no homem dessas habilidades e sua ocorr�ncia s�o a ess�ncia de todos os conceitos religiosos, desde a profecia � ressurrei��o, da cura milagrosa de doen�as aos feitos
dos santos.
Mas, incompreensivelmente, a Igreja ortodoxa organizada sempre fechou suas portas aos mesmos poderes que lhe deram in�cio.
Isto explica por que muitas pessoas com poderes paraps�quicos procuram a Antiga Religi�o. A f� paga sempre aceitou como perfeitamente natural a exist�ncia de
poderes paraps�quicos no homem, embora nem todas as pessoas os possu�ssem. As poucas pessoas que apresentavam tais poderes n�o eram elevadas � posi��o de santos,
mas, sim, orientadas no sentido de assumirem uma posi��o mais pr�tica e de utilidade imediata: tornavam-se sacerdotes e sacerdotisas.
No que diz respeito aos m�todos e t�cnicas, n�o existem diferen�as entre uma prece e uma f�rmula m�gica. Ambas se constituem basicamente da verbaliza��o de um
desejo humano. A grande diferen�a est� na motiva��o de cada uma destas pr�ticas e na id�ia conceituai que se tem delas. Mas, em ess�ncia, for�as semelhantes entram
em a��o.
Durante muitos anos, os homens praticaram a religi�o e a magia simultaneamente; conhecem-se mesmos casos de pessoas ocupando elevadas posi��es na sociedade que
buscavam a magia quando todos os outros m�todos falhavam. Muitos poucos, com exce��o dos verdadeiramente devotos ou dos fan�ticos, acreditavam que sua religi�o era
capaz de provocar uma a��o imediata e direta. Mas a maioria dos m�gicos acredita na efici�ncia de suas habilidades. A religi�o possui a grande vantagem de ser uma
for�a moral e social, o que n�o acontece com a magia. Se a religi�o n�o alcan�a os resultados desejados na pr�tica, isto se deve ao desejo da divindade. Mas, se
a m�gica n�o for capaz de produzir os efeitos esperados, � porque alguma coisa est� errada, ou com o m�gico, ou com suas f�rmulas.
Como poderia a religi�o organizada sobreviver tendo que existir lado a lado com a feiti�aria, que possu�a m�todos muito mais pr�ticos e diretos de satisfazer
os desejos de seus seguidores? Surgiu da� a necessidade de perseguir e suprimir os praticantes da magia.
Atualmente a Igreja n�o d� mais t�o grande import�ncia �s pr�ticas secretas, com raras exce��es de alguns padres que continuam a conden�-las. N�o existe proibi��o
nenhuma em rela��o � pesquisa paraps�quica, ao espiritualismo ou qualquer outra forma encontrada pela curiosidade humana de lidar com as for�as secretas existentes
no homem.
No entanto...
"� aconselh�vel evitar qualquer tipo de associa��o com os espiritistas e com aqueles que participam da cren�a do "mau-olhado". N�o se devem aceitar objetos de
uma dessas pessoas, pois aqueles que aceitam estes objetos podem estar cooperando, embora sem o saber, no processo usado por um feiticeiro para lan�ar uma maldi��o."
Isto parece ter sido escrito no s�culo dezessete, quando a insanidade religiosa estava no auge. Mas, n�o. Foi transcrito de uma publica��o chamada Awake da Watchtower
Society das Testemunhas de Jeov�. Data: 8 de maio de 1967.
A m�gica nunca morrer�. Nem tampouco, a supersti��o humana.
9 - ADORA��O DO DIABO, SATANISMO E MISSA NEGRA
A casa � toda pintada de preto, do cume do telhado � �ltima persiana. � uma dessas constru��es residenciais do final do s�culo, t�o comuns em S�o Francisco. Fica
na Rua Calif�rnia, a caminho do mar, a cerca de meia hora de carro da zona comercial da cidade com seus hot�is e lojas sofisticadas.
Reparei bem na casa antes de subir os poucos degraus que conduziam � porta de entrada. Uma tabuleta sobre a campainha dizia: "N�o toque, a menos que esteja sendo
esperado."
Felizmente, eu estava sendo esperado e toquei. Custei a ouvir qualquer som vindo do interior, at� que se aproximou um arrastar de p�s; a porta dos fundos se abriu,
emoldurando o rosto p�lido de uma mulher jovem e loura.
"Ol�! Desculpem; custei um pouco a ouvir; estava com a m�quina de lavar roupa ligada."
Convidou-me a entrar, a mim e a minha esposa. Era Diana mulher do sacerdote satanista Anton LeVay. Naquela noite' ela o assistiria nos "servi�os" como sacerdotisa-chefe,
mas' agora, era simplesmente uma dona de casa. A casa da Rua Calif�rnia serve, ao mesmo tempo, de sede da Primeira Igreja Satanista de S�o Francisco e de resid�ncia
da fam�lia LeVay. Encontramos at� um carrinho de beb� na entrada e n�o pude deixar de imaginar se n�o seria o beb� de Rosemary.
Naturalmente que eu sabia muito bem que os satanistas apresentados por Ira Levin em seu livro s�o criaturas nascidas de sua imagina��o. Mas posso garantir que
Anton LeVay � real. Come�ou a trabalhar como treinador de animais num circo; tornou-se, depois, fot�grafo policial; toca t�o bem o �rg�o que poderia ser organista
profissional. Todas estas suas habilidades foram muito bem aproveitadas no movimento satanista: o �rg�o servia para ajudar a criar a atmosfera sinistra; sua antiga
liga��o com a pol�cia contribu�a para que ele fosse deixado em paz, ao mesmo tempo em que o protegia dos curiosos que ousavam aparecer mesmo sem "serem esperados".
Fomos conduzidos por Diana a uma pequenina sala de estar mobiliada no estilo victoriano, decorada com muito bom gosto no que s� posso chamar de "pr�to-purgat�rio".
As paredes eram ornamentadas por pinturas de representa��es tradicionais do Inferno, casas mal-assombradas e dem�nios. A mesa era feita de uma lousa de m�rmore retirada
de um t�mulo, ainda com a inscri��o de seu �ltimo "ocupante". Num dos cantos, um esqueleto num arm�rio de vidro parecia estar-nos olhando de soslaio. Corujas empalhadas
completavam a atmosfera l�gubre. No primeiro momento, cheguei a pensar que se tratava de um cen�rio para "A Fam�lia Addams", mas depois compreendi que o satanismo
era levado muito a s�rio por Anton Szandor LeVay e cheguei mesmo a admirar sua capacidade de criar uma decora��o t�o apropriada. Todos os outros c�modos da casa
seguiam o mesmo esquema geral: paredes pretas ou vermelhas; decora��o segundo as linhas tradicionais do Inferno. Enquanto esper�vamos que LeVay voltasse de um passeio,
Diane nos ofereceu caf�. N�o, n�o foi sangue; este para�so satanista � muito burgu�s.
Logo chegou o sacerdote-chefe, todo vestido de preto. Seu rosto p�lido tinha deliberadamente conseguido uma apar�ncia demon�aca, pois Anton raspara todo o cabelo
no alto e deixara crescer uma barbicha.
Algumas horas mais tarde, aquele am�vel artista transformou-se numa pessoa completamente diferente. At� mesmo a casa parecia ter adquirido uma nova apar�ncia.
A tranq�ilidade de um museu satanista de cera deu lugar � excita��o de um ritual proibido.
Era quase meia-noite e as vozes da congrega��o enchiam a sala. Cerca de quinze ou dezesseis pessoas, na maioria homens, tinham comparecido aquela noite, alguns
jovens, nem tanto, quase todos usando pequenas barbas, talvez em honra a seu sacerdote-chefe. As poucas mulheres presentes movimentavam-se nervosamente nas cadeiras,
aguardando com ansiedade o in�cio dos "servi�os". LeVay tinha conseguido transformar a antiga lareira da sala de estar em seu altar satanista. Sobre ele, estava
estendido o corpo de uma mo�a coberto por uma pele de leopardo. Entrou na sala um homem todo vestido de preto com um capuz do tipo Ku-Klux-Klan com duas aberturas
para os olhos. Foi seguido por quatro ou cinco homens em indument�rias semelhantes, que permaneceram um pouco atr�s. Num gesto r�pido e seguro, retirou a pele de
leopardo que cobria a mo�a do altar. Ela estava nua. Sua cabe�a repousava confort�velmente numa esp�cie de apoio para o pesco�o que parecia ter sido constru�do especialmente
para tal fim; o altar era um pouco pequeno para seu corpo, de modo que os p�s sobravam para fora na outra extremidade. A luz, embora de velas, era suficientemente
clara para tornar-lhe o corpo vis�vel mesmo para aqueles que estavam sentados no fundo da sala.
Como o culto de LeVay presta adora��o a Sat� como o deus da carne, era perfeitamente natural a presen�a daquele corpo nu sobre o altar. Neste caso particular,
o corpo bem proporcionado da mo�a era um digno representante daquele conceito filos�fico.
Um dos homens vestidos de preto entregou uma pequena ta�a ao l�der. Durante toda a cerim�nia de abertura, algu�m tocava o �rg�o colocado � direita, mas n�o era
LeVay, pois ele ainda n�o tinha aparecido. A m�sica havia sido escolhida muito apropriadamente e completava a atmosfera geral; fazia-me lembrar a m�sica de fundo
de Hiss the Villain, num teatro antigo.
A ta�a continha uma mistura de s�men e urina - a vers�o satanista da �gua benta. Com um instrumento de forma semelhante a um falo humano, o homem de capuz preto
aspergiu a congrega��o com a mistura, enquanto que um sino soava a pequenos intervalos anunciando o in�cio do culto.
Diane, a sacerdotisa-chefe, tamb�m vestida de preto, mas sem capuz - seria uma pena esconder aquele lindo rosto e aqueles cabelos louros - tomou posi��o junto
ao altar, segurando uma espada embainhada. O cen�rio estava pronto para a entrada do sacerdote-chefe: Anton Szandor LeVay.
A m�sica parou e ele entrou, caminhando com passos largos e firmes, numa atitude teatral, vestido de preto e usando, firmemente ajustado � cabe�a, um capacete
negro com dois chifres vermelhos.
Era, sem tirar nem por, a pr�pria figura do Dem�nio num Mardi Gras de New Orleans.
Tomou a espada da sacerdotisa-chefe e apontou para os quatro cantos da sala.
"In nomine dei Satan�s, L�cifer excelsi! Em nome de nosso grande deus, Sat� L�cifer, senhor e rei das profundezas negras do Inferno; ordeno-te que deixes por
um momento a escurid�o de teus dom�nios e venhas at� n�s; em nome dos quatro pr�ncipes negros do Inferno, Sat�! L�cifer! Belial! Leviat�!"
O �rg�o tocava o "tema" enquanto estas palavras eram pronunciadas.
"Sat�, toma o c�lice do �xtase... que est� cheio do elixir da vida... e faze-o penetrar pelo poder da Magia Negra... a for�a que criou e mant�m o universo..."
Algu�m lhe estendeu o c�lice e ele ergueu um brinde em honra ao Pr�ncipe das Trevas. Quando acabou de beber, colocou o c�lice vazio no p�bis da mo�a estendida
no altar, e l� ele permaneceu at� o final do culto.
O sacerdote-chefe, ent�o, abriu um livro encadernado de preto, presumivelmente a B�blia do Satanismo, na qual LeVay vinha trabalhando h� muitos anos, e come�ou
a recitar para a congrega��o:
"Amigo e companheiro da noite; v�s, que vos regozijais com o ladrar dos c�es e com o sangue derramado; v�s que caminhais por entre as sombras dos t�mulos; v�s
que tendes necessidade de sangue e que trazes perigo aos mortais; Gorgo, Mormo, lua de mil faces, que nossos sacrif�cios vos pare�am favor�veis! Permiti que os port�es
do Inferno sejam abertos e vinde at� n�s... pelos raios e rel�mpagos, descei sobre a terra... Ouvi os nomes! Moloch!"
"Moloch!", repetiu a congrega��o em un�ssono.
"Samiel!"
"Samiel!", repetiu a congrega��o.
"Asmodeus!"
E o grupo continuava repetindo cada nome.
Depois vieram Belzebu, Dagan, Lilith, Azazel, Haboreen, Nantar, Marduk, Typhon, Melek, Taus, Lok, Baom�, Shemen-Phorash, e a resposta era sempre a mesma.
Parecia que LeVay fazia bastante uso de sua biblioteca oculta, pois os nomes por ele conjurados provinham de, pelo menos, tr�s mundos hist�ricos diferentes: da
antiga Cabala hebr�ia, do pante�o n�rdico e da religi�o misteriosa dos fen�cios. Mas todos significavam a mesma coisa: diabo ou dem�nio.
"Salve Sat�", entoou LeVay, e a congrega��o respondeu obedientemente com outro "Salve Sat�!"
Ouviu-se o soar de um gongo, marcando o final da invoca��o. Seguiu-se uma longa prece, que LeVay leu do Livro. N�o tenho certeza, mas me pareceu ser em hebraico
antigo; soava um pouco como mau espanhol, mas a m� pron�ncia ou o sotaque de LeVay n�o tinham a m�nima import�ncia diante de sua magn�fica entona��o.
A prece a L�cifer foi seguida por outra coisa em ingl�s, algo sobre o Misterioso Leste, o Mundo das Chamas, Dom�nio do Senhor da Escurid�o. Ouvi bem as palavras,
mas n�o consegui compreender seu significado. Foi ent�o que me lembrei das palavras de LeVay, tentando resumir, para mim, sua f� satanista:
"Acreditamos nos prazeres da carne, aos quais devemo-nos entregar, tirando o m�ximo proveito de tudo que a vida na terra tiver para nos oferecer."
No entanto, os satanistas - pelo menos aqueles que empregam este termo no sentido que lhe � atribu�do por LeVay - n�o s�o puros materialistas, pois acreditam
numa vida que se seguir� a esta. Para eles, os esp�ritos sobreviventes s�o as for�as dos homens que n�o conseguiram encontrar o prazer total durante sua vida terrena.
A for�a vital continua a existir al�m da morte, e isto, para os satanistas, prova que a maneira certa de viver � fazer pleno uso destas for�as enquanto se est� na
terra e se possui um corpo. LeVay acha necess�rio, embora muito dif�cil, demonstrar que a Primeira Igreja Satanista de S�o Francisco n�o pode ser confundida com
as supersti��es medievais. N�o se matam beb�s ainda n�o batizados durante os rituais; nunca ocorreu um assassinato ritual, a Missa Negra n�o existe. O satanismo
� um culto dedicado aos prazeres mundanos, livre de qualquer restri��o moral, de sentimentos de culpa, do medo e do conceito do pecado original.
Ser� que os satanistas acreditam no dem�nio como criatura viva? LeVay assegurou-me que n�o. O dem�nio para eles existe em cada homem; � aquela parte da natureza
humana que tem necessidade de viver integralmente os prazeres da carne. Ao invocar Sat�, sua congrega��o est� invocando seus pr�prios desejos inconscientes, a fim
de encoraj�-los a se manifestarem. Ficou bem claro para mim que o satanismo de LeVay n�o � exatamente aquilo que o termo significava na Idade M�dia, quando n�o passava
de um culto da deprava��o. Tamb�m n�o � verdade que os satanistas esperam pelo nascimento do Filho de Sat�, como no filme O Beb� de Rosemary, embora LeVay tenha
trabalhado como consultor t�cnico e, mesmo, aparecido naquele filme. Ele admite que n�o conseguiu esclarecer seus pontos de vista, mas que, de qualquer maneira,
a publicidade n�o lhe tem feito mal algum.
"Que venham os dem�nios, que saiam do Inferno, pois o mal sempre acaba por conquistar o bem." Dando prosseguimento � cerim�nia LeVay recitou uma longa poesia
digna de qualquer poeta de Greenwich Village. Fez, ent�o, um serm�o, no qual demonstrou como a religi�o convencional tem falhado em satisfazer o homem; os �nicos
resultados por ela conseguidos, segundo sua opini�o, s�o lutas e destrui��o.
"Os deuses do passado transformaram-se em seus pr�prios dem�nios para poderem sobreviver. Tentam jogar o mesmo jogo do diabo para conseguirem encher seus tabern�culos
e pagar as hipotecas de seus templos."
LeVay assegura que eles falharam, apesar do recente concilio ecum�nico, e que o fim se aproxima e � inevit�vel:
"Os corvos negros da noite al�aram v�o para buscar Loki, que destruir� o Valhala em suas chamas."
A imagem n�o era das piores, pensei; Loki, o rei do fogo, representando as chamas da guerra destruindo o mundo. LeVay era contra a guerra e esta era uma causa
que poderia utilizar-se de todo tipo de defensores, at� mesmo dos satanistas.
"L�cifer ergueu-se para proclamar que esta � a idade de Sat�! Sat� rege a terra... levanta e faz o "sinal dos chifres"! A carne prevalece e a grande igreja ser�
constru�do em seu nome. A salva��o do homem n�o mais depender� de sua pr�pria autocondena��o. E todos aprender�o a grande li��o: O mundo da carne e dos vivos ser�
a maior prepara��o para todas as del�cias eternas. J� est�s pronto, Satan�s?
E a congrega��o repetiu:
"J� est�s pronto, Satan�s?"
Algu�m tocou o gongo novamente.
"Ave, Satan�s!", o sacerdote-chefe pronunciou gravemente.
"Ave, Satan�s!", repetiu a congrega��o.
"Salve, Sat�!", disse LeVay. A esta altura, acho que, se Sat� ainda n�o tinha recebido a mensagem, nunca mais a receberia.
Enquanto o �rg�o recome�ava a tocar, acompanhado pelo soar dos sinos, o sacerdote-chefe encaminhou-se para o altar, onde repousava um cr�nio humano. Tomou-o em
suas m�os, beijou-o e o entregou a seu assistente, o homem com o capuz Ku-Klux-Klan; ficou depois im�vel, como que entregue � medita��o.
O cr�nio passou de m�o em m�o para que todos tivessem oportunidade de beij�-lo. Depois que todos o fizeram, o homem vestido de preto colocou-o entre os seios
da mo�a deitada no altar e o deixou l� durante todo o resto da cerim�nia, juntamente com o c�lice que tinha sido colocado sobre o p�bis.
LeVay esclareceu que sua cerim�nia representava, simplesmente, uma restaura��o do conceito original da religi�o paga, que, segundo sua opini�o, tinha sido encampada
e enfraquecida pelo cristianismo.
- N�o estamos celebrando uma missa negra para parodiar a missa crist�. Esta � que representa uma par�dia do ritual pag�o e n�o se pode parodiar uma par�dia.
O s�mbolo de Sat� � o pentagrama invertido com uma cabe�a de bode sobre ele. Representa a natureza carnal do homem em contraposi��o ao elemento espiritual que
seria representado pela estrela em sua posi��o correta. Dois chifres apontando desafiadoramente em dire��o ao C�u e outros tr�s apontando para baixo, representando
a nega��o da Sant�ssima Trindade, s�o simbolismos adicionais desse emblema.
LeVay explicou que a l�ngua usada em suas evoca��es era o "Inelkian", um idioma muito antigo, usado apenas em cerim�nias sat�nicas. Est� certo, pensei, s� que
consiste em uma forma de distor��o do hebraico e se desenvolveu durante os dias de apogeu das pr�ticas cabal�sticas na Idade M�dia. Est� t�o distanciado do hebraico
como o i�diche do alem�o; existe, no entanto, uma base comum e muitas palavras s�o realmente de origem hebraica. Isto n�o significa que somente judeus, ou mesmo
que muitos judeus, eram satanistas. Muito pelo contr�rio, as pr�ticas cabal�sticas atra�am um n�mero muito maior de crist�os e mesmo maometanos, talvez por representarem
uma esp�cie de fuga de uma religi�o r�gida e dogm�tica para um mundo m�stico e misterioso, onde tudo parecia poss�vel desde que se conhecessem as f�rmulas m�gicas.
LeVay tamb�m possui algumas id�ias sucintas sobre o que o homem realmente deseja. Seu ramo religioso defende o ego�smo humano e despreza todo e qualquer tipo
de humanitarismo. Politicamente, gostaria de ver o mundo governado por monarcas e ditadores, pois liberdade demais n�o � bom para o homem, com exce��o da liberdade
da carne, que precisa ser encorajada. Alguns aspectos de seu conceito satanista n�o podem ser chamados de maus; apenas se pode dizer que sua imagina��o foi longe
demais.
- N�o sacrificamos animais, - explicou Diane. - Animais e crian�as s�o venerados por n�s.
Seu marido continuou o pensamento:
- S�o a coisa que mais se aproxima da divindade. S�o criaturas incapazes de fingir, que agem segundo seus impulsos emocionais, pois n�o foram condicionados pela
sociedade. Nunca far�amos nada para prejudicar essas criaturinhas.
Quanto aos sacrif�cios de seres humanos adultos, eles tamb�m n�o os praticam, embora LeVay admita que muitos s�o os candidatos para esta pr�tica. Mas o fazem
simbolicamente atrav�s da m�gica.
A parte do ritual dedicada a esta pr�tica j� se estava aproximando. LeVay disse que aqueles na congrega��o que tivessem qualquer desejo ou ressentimento que dessem
um passo � frente, caso desejassem ser ajudados. Embora LeVay n�o pregue o assassinato, nem mesmo o assassinato ritual, alguns dos pensamentos enviados pela congrega��o
s�o dirigidos � destrui��o do inimigo. Os resultados s�o os mesmos obtidos pela feiti�aria branca, o que prova que o m�todo � independente da inten��o ou daqueles
que se utilizam dele.
Quatro pessoas aproximaram-se do altar: uma mo�a e tr�s homens, que permaneceram de p�, aguardando nervosamente que seus pedidos fossem ouvidos.
O primeiro homem pediu � congrega��o que o ajudasse a obter um emprego melhor. LeVay pronunciou o pedido e o grupo repetiu a frase. O homem agradeceu ao sacerdote-chefe:
e deu lugar ao seguinte.
Este precisava urgentemente de uma certa quantia em dinheiro. LeVay n�o preencheu um cheque, mas implorou a Sat� que ajudasse o homem a resolver seu problema.
A mo�a tinha certas dificuldades com o namorado: ele n�o lhe dava suficiente aten��o. Ser� que o sacerdote poderia conseguir alguma coisa com Sat�?
O sacerdote-chefe fez o pedido de bom grado e a congrega��o o refor�ou.
Chegou a vez do �ltimo homem, um rapaz de olhar penetrante, que fez seu pedido em voz muito baixa. Deu o nome de um homem que o havia prejudicado. Queria que
este homem morresse.
O sacerdote-chefe concordou gravemente e solicitou a morte do homem, no que foi ruidosamente seguido pela congrega��o.
N�o havendo mais pedidos, LeVay leu mais algumas passagens sucintas do Livro, acompanhado da m�sica triste e melanc�lica do �rg�o. Ent�o, a espada foi novamente
colocada na bainha pela sacerdotisa-chefe e Anton LeVay retirou-se de cena.
O assistente de capuz negro aproximou-se tocando o sino, mas desta vez n�o aspergiu a congrega��o com a mistura de urina e s�men. O servi�o estava terminado e
todos se foram embora.
Apreciei mais uma vez os interessantes trabalhos de pintura de LeVay. N�o havia d�vida de que o homem possu�a talento. Nos �ltimos dois anos, no entanto, sua
principal atividade tem sido o servi�o de Sat�; as musas foram abandonadas.
Ser sacerdote-chefe de uma comunidade religiosa � uma tarefa muito �rdua, mesmo levando em considera��o o fato de que n�o existe qualquer concorr�ncia - N�o existe
uma Segunda Igreja Satanista em S�o Francisco, nem Anton LeVay abriu qualquer semin�rio para formar sacerdotes satanistas.
As pessoas que se sentem atra�das pelo satanismo por raz�es puramente sexuais ficar�o desapontadas, pois LeVay d� muito pouca import�ncia ao sexo em si. Considera-o
uma express�o perfeitamente normal que n�o precisa de nenhum tipo especial de propaganda. Toda sua insist�ncia se dirige ao aproveitamento do lado mau do homem que
precisa sobrepujar todo o bem que possa existir em n�s. Acho que, no mundo de hoje, ele possui um grande n�mero de seguidores em potencial.
Enquanto que Anton LeVay admite prontamente que n�o existe nenhum dem�nio formal, outros, antes dele, pensavam de maneira bem diferente em rela��o ao Pr�ncipe
das Trevas. Para eles, o diabo existia realmente como pessoa, senhor de uma regi�o conhecida como Inferno, onde toda esp�cie de coisas desagrad�veis acontecia a
todo momento. O diabo n�o existia at� que a Igreja o inventou como ponto de concentra��o para todas aquelas for�as que se opunham �s doutrinas da Igreja. A Igreja
tinha plena consci�ncia do que estava fazendo, mas os l�deres eclesi�sticos que se seguiram e que se encarregaram de perpetuar a inven��o eram homens de firmes convic��es
religiosas que acreditavam realmente que estavam desempenhando uma fun��o �til e sagrada. O diabo n�o nasceu da maldade nem do �dio, mas da ignor�ncia e fraqueza
humanas.
Certamente que j� existiam for�as representantes da escurid�o muito antes de o diabo medieval ter sido criado, pois � inerente � pr�pria humanidade a necessidade
da polaridade do mal, assim como existe a polaridade do bem. Sem as for�as do mal, as for�as do bem n�o poderiam ser mantidas. Mas os dem�nios gregos e a longa lista
de divindades do mundo das trevas encontradas em todas as religi�es n�o representavam personifica��es do mal, da maneira como o diabo veio a representar. Todas aquelas
divindades, embora nascidas da escurid�o, possu�am alguns aspectos bons e, como senhores das regi�es subterr�neas ou suboce�nicas, desempenhavam certas fun��es administrativas,
que n�o eram todas, obrigatoriamente, de natureza destrutiva. Receber a alma dos mortos em seus dom�nios era uma tarefa respeit�vel e o mundo subterr�neo n�o era
o inferno sempre em chamas criado pela imagina��o do clero medieval.
Na religi�o mitra�sta, Ormazd e Ahriman representam, respectivamente, as for�as da luz e das trevas. O islamismo possui o conceito de Sheitan, senhor do mundo
subterr�neo. Somente, por�m, o cristianismo medieval foi capaz de criar a figura do Pr�ncipe das Trevas como uma personalidade t�o real que com ela as pessoas podiam
at� fazer pactos: n�o apenas uma divindade do al�m a quem as pessoas podiam recorrer em suas preces, mas uma entidade f�sica capaz somente de praticar o mal e que,
portanto, deveria ser temida e destru�da pelos crist�os. Gradualmente, os te�logos decidiram combinar este dem�nio com o conceito b�blico de L�cifer, o anjo ca�do.
Quando os m�gicos e alquimistas passaram a representar uma for�a temida e fora do controle da Igreja, o conceito de Mefist�feles, o ajudante dos m�gicos, foi acrescentado
� "imagem p�blica" do diabo. Infelizmente para os te�logos, Jesus quase nada tinha a dizer sobre o dem�nio, mas o Antigo Testamento mencionava um certo Belzebu e
este, ent�o, tornou-se um outro aspecto do dem�nio.
Os astecas do M�xico possu�am uma divindade do fogo e da guerra - Huitzilopochtli - a quem se prestavam sacrif�cios humanos. Como os �ndios mexicanos eram pag�os
e, portanto, necessitavam de ensinamentos crist�os, que lhes foram impostos pelas espadas espanholas, seus deuses tamb�m tinham que ser considerados dem�nios.
Por isso, Huitzilopochtli transformou-se em Fitzliputzli, outro nome para o muito vers�til pr�ncipe das trevas. Mas, por qualquer nome que fosse chamado, o dem�nio
crist�o possu�a sempre dois chifres e um rabo comprido e sua pele era vermelha ou negra. Os chifres, o rabo e os cascos fendidos foram tirados da imagem de Pan,
que representava simplesmente a deifica��o do bode como o elemento mais importante de uma sociedade pastoril que vivia quase exclusivamente de seus rebanhos. Esses
elementos foram tamb�m pedidos de empr�stimo ao Baom� dos Templ�rios, que ainda teve a oferecer seu cheiro caracter�stico de enxofre. O inferno era formado de cavernas
fedorentas nas quais as almas dos pecadores seriam atiradas depois da morte.
A principal finalidade que se tinha em vista ao ser criada a figura do dem�nio n�o era a de se obter um "parceiro rival" para Jesus, embora esta tamb�m fosse
uma forte raz�o. Mas for�a nenhuma seria mais eficiente em manter a sociedade sob controle do que o medo, o terror inspirado pelo diabo. Tudo n�o passava de uma
chantagem pura e simples: ou o homem se submetia � Igreja e se tornava um bom crist�o ou teria que passar toda a eternidade no inferno. A Igreja conseguiu uma elabora��o
t�o minuciosa deste inferno fict�cio, geralmente produto da mente de indiv�duos psicopatas ou, pelo menos, com fortes tend�ncias sadomasoquistas, que o homem comum
n�o tinha escolha - tinha que submeter-se �s doutrinas da Igreja. Afinal de contas, ele n�o podia ter certeza se esse inferno existia ou n�o, pois nunca ningu�m
l� estivera nem de l� conseguira voltar.
Quando a Igreja percebeu a concorr�ncia representada pela feiti�aria e sentiu a necessidade de derrub�-la, a �nica coisa que precisou fazer foi estabelecer uma
rela��o entre a Antiga Religi�o e o conceito j� bastante difundido do dem�nio, a personifica��o do anticristo. Isto foi conseguido atrav�s do artif�cio do pacto,
um documento escrito em que o signat�rio empenhava sua alma ao diabo em troca de certos favores obtidos durante sua vida na terra. A Inquisi��o "fabricou" muitos
destes documentos que eram apresentados durante os julgamentos; muitos deles ainda podem ser encontrados em museus. Mas, os julgamentos de feiticeiros se tornaram
t�o numerosos, que ningu�m mais se incomodava em apresentar provas escritas - uma simples confiss�o era suficiente para condenar o acusado. Esta confiss�o era facilmente
obtida atrav�s da tortura, quando a infeliz v�tima confessaria qualquer coisa para ser deixada em paz.
At� hoje, ainda existem pessoas, particularmente entre os seguidores de f�s fundamentalistas, que acreditam literalmente na exist�ncia do dem�nio como pessoa.
Eles tamb�m aceitam a B�blia como um documento entregue aos homens diretamente por Deus. Bem, mas n�o � minha inten��o, aqui neste livro, entrar em debates sobre
cren�as t�o ing�nuas, mas que constituem um elemento importante na f� dessas pessoas.
Como o diabo est� muito desacreditado na sociedade moderna, � surpreendente encontrar pessoas que prestam adora��o a este conceito, num culto muito antigo, mas
que n�o tem nada a ver com a feiti�aria. Em muitas civiliza��es, havia grupos de pessoas que pensavam que adorar o bem, a divindade representante do que existe de
positivo na natureza, nem sempre surtia os resultados desejados. Por que, ent�o,.n�o procurar a for�a oposta, pois estava claro que "algu�m" estava interferindo
e parecia que este "algu�m" sa�a ganhando? Ao apelarem para as for�as das trevas em vez da luz, eles eram sinceros em suas cren�as. Ao adorarem a for�a que causava
tanta mis�ria no mundo, eles estavam tentando proteger-se dela. Era assim como prestar colabora��o ao inimigo durante a guerra.
Adoradores do diabo existiram na P�rsia em �poca relativamente recente, e na Europa o conceito de "buscar a outra polaridade" � t�o antigo quanto a pr�pria civiliza��o
europ�ia. Quando a feiti�aria estava no poder com seus ritos m�gicos, n�o havia necessidade de se procurar em outro culto, mas, com a supremacia crist�, toda a �nfase
antes depositada na a��o e seus resultados passou a ser desviada para a f� e a ora��o. Surgiu, assim, a necessidade de se buscar um outro caminho. Aos poucos, o
culto do diabo come�ou a se utilizar de tudo que era contr�rio ao cristianismo. Isto n�o era feito, como acreditavam os cl�rigos, para zombar de Cristo. Os adoradores
do diabo n�o se preocupavam com Cristo. Eles invertiam os s�mbolos e os ritos do cristianismo simplesmente porque acreditavam em seu poder e achavam que, se os invertessem,
esse poder passaria para eles e para seus ritos, em vez de se dirigirem ao Deus dos crist�os. Tamb�m n�o � verdade, como afirmaram alguns escritores, que a persegui��o
da feiti�aria fez com que os feiticeiros inclu�ssem a missa negra em seus ritos. Outros apresentaram a estarrecedora vers�o de que os feiticeiros foram perseguidos
porque desenvolviam o ritual da missa negra. Mas a verdade � que a missa negra n�o tem nada a ver com a verdadeira feiti�aria.
Em que consiste, exatamente, a missa negra?
� uma cerim�nia feita de blasf�mias, uma c�pia da missa crist� em todos os seus aspectos, apenas com uma diferen�a: tudo � feito ao contr�rio. O crucifixo � pendurado
de cabe�a para baixo, o altar � coberto de preto em vez de branco, as velas s�o negras, os hinos s�o cantados de tr�s para a frente, o ritual � desenvolvido de prefer�ncia
por um ex-padre cat�lico destitu�do de suas fun��es; sempre que o nome do Senhor ou de Cristo teria que ser pronunciado, � substitu�do por uma cuspidela. Somente
h� muito tempo, ritos sexuais passaram a ser desenvolvidos em correla��o com a missa negra. No in�cio, esta era exata e estritamente uma cerim�nia religiosa realizada
ao contr�rio e nada que n�o fizesse parte da verdadeira missa podia ser inclu�do. Existe uma correla��o entre missa negra e a adora��o do diabo: o lugar de Cristo
� ocupado pelo Pr�ncipe das Trevas. A missa negra costumava ser "rezada" sempre que surgia uma necessidade especial. Catarina de Mediei ordenou a celebra��o de uma
quando tentava salvar a vida de seu marido, o rei da Fran�a. Mas ele morreu, apesar do assassinato ritual de uma crian�a. O assassinato de crian�as e o derramamento
de sangue foram introduzidos na missa no Final da Idade M�dia, mas nunca foram costumes diretamente ligados com a missa em si. �s vezes, ocorriam sacrif�cios de
animais. Acredito que isto seja um elemento derivado da "doutrina" da adora��o do diabo: praticar o mal pelo mal e como um caminho para a salva��o.
Podemos chegar � conclus�o de que os adoradores do diabo tamb�m eram v�timas das fantasias da Igreja. Aceitando a id�ia de que realmente existia um diabo, o que
eles fizeram foi passar para o outro lado. Em vez de tem�-lo, resolveram unir-se a ele e ador�-lo. A perversidade era a mola propulsora de suas a��es. Tudo que era
considerado bom pela Igreja e pela sociedade era por eles desprezado, enquanto que toda e qualquer maldade praticada era considerada mais um passo no caminho da
salva��o. Somente quando encarados desta maneira, os atos dos adoradores do diabo fazem algum sentido. Estes homens n�o podem ser considerados propriamente criminosos,
mas indiv�duos mal orientados, seguindo uma f� que se confunde a si mesma com um programa de destrui��o, sendo, portanto, uma for�a muito perigosa em nosso mundo.
Zombar de Cristo era o aspecto mais brando desta f�; praticar todos os pecados contra os quais a Igreja Crist� sempre lutou, e faz�-lo com a maior freq��ncia
poss�vel, representava um grande feito aos olhos do adorador do diabo. Todas as formas de pervers�o sexual eram encorajadas, todos os excessos carnais, todo e qualquer
tipo de ambi��o materialista. Tudo devia ser exatamente o inverso da moralidade aceita. Eles acreditavam que, tendo afundado o mais baixo poss�vel em suas vidas,
nada mais teriam a temer do inferno depois da morte: eles j� eram parte desse inferno.
Mas, os indiv�duos que adoravam o diabo eram muito poucos e raros. As acusa��es lan�adas contra os feiticeiros, de que eles eram adoradores do diabo, eram falsas
e sem qualquer fundamento.
No final do s�culo dezoito, um grupo de nobres ingleses, cansados de viver na lux�ria e na dissipa��o, resolveram sair em busca de novas formas de emo��o. Encontraram
o que queriam em alguns livros antigos: a adora��o do diabo. Os chamados Clubes do Fogo do Inferno da Inglaterra georgiana n�o eram propriamente orientados no sentido
da religi�o, mas incorporaram muitos dos elementos de blasf�mia da verdadeira adora��o do diabo. Durante as orgias sexuais, por exemplo, sempre usavam h�bitos de
monges e freiras e seu "santu�rio" perto de High Wycombe, n�o muito longe de Londres, imitava uma igreja.
Na Inglaterra, em certas noites escuras, pequenos grupos se re�nem a fim de realizarem cerim�nias sat�nicas reais, nas quais ocorre um ou outro assassinato ritual.
Mas a adora��o do diabo � um aspecto de muita pouca import�ncia dentro do panorama geral da vida religiosa da humanidade. Levando-se em considera��o o grande n�mero
de v�timas inocentes assassinadas pelo cristianismo, islamismo e outras religi�es, ningu�m deve ficar muito alarmado diante dos ritos fat�dicos realizados por um
n�mero muito pequeno de indiv�duos, embora estes ritos tenham que ser condenados.
Transform�-los em conspira��es amea�adoras n�o � a conduta certa, pois oferece-lhes uma publicidade que eles n�o merecem. Esta esp�cie de publicidade atrai a
aten��o de pessoas curiosas e, entre elas, � poss�vel que se encontrem indiv�duos com a esp�cie de desajustamento mental capaz de os fazerem interessar-se por esses
ritos.
Na Idade M�dia, era necess�ria a ajuda de um livro, chamado grimoire, se algu�m quisesse praticar a magia negra. Esses grimoires se constitu�am de uma esp�cie
de colet�nea de s�mbolos cabal�sticos, palavras e desenhos, derivados de antigas fontes alquimistas, frases retiradas de ora��es crist�s e palavras estranhas pertencentes
a n�o se sabe que idioma. As palavras usadas para invocar os dem�nios eram fruto da fantasia e da imagina��o, sem qualquer significado aparente. Todas as esp�cies
de dem�nios e esp�ritos podiam ser invocados com a ajuda do grimoire; podemos encontrar uma transcri��o completa desses livros na obra de Arthur Edward Waite, The
Book of Cerimonial Magic (O livro da Magia Cerimonial).
A curiosa mistura de cristianismo, cabala e outros elementos, tinha, provavelmente, a fun��o de confundir e manter o intelecto do indiv�duo fora do processo,
pois aquilo que a pessoa n�o compreende, mas pronuncia por acreditar em seu poder, possui, fora de d�vida, este poder. Compreender � analisar e os praticantes da
magia n�o queriam que seus adeptos analisassem o ritual, que devia obedecer ao que estava escrito, sem qualquer hesita��o.
Todo esp�rito do mal, todo dem�nio, qualquer esp�rito de um praticante de magia negra j� falecido, possui uma forma particular de tratamento que precisa ser usada
em sua conjura��o. Existe ainda um selo pessoal que, quando transposto para o papel ou gravado num anel, possui certos poderes. Pelo menos, assim pensam os m�gicos
negros. � muito grande o n�mero desses personagens e dem�nios e seu uso muito espec�fico, pois, enquanto alguns s�o bons para certas tarefas, outros s�o preferidos
para determinados pedidos e necessidades.
Existem semelhan�as fant�sticas com os santos crist�os, que se encarregam de certas qualidades do homem ou s�o "bons" para problemas e curas espec�ficas. De certa
maneira, o comunismo tamb�m empresta a seus santos departamentos separados. Certos autores s�o pr�prios para serem citados quando se trata de um tema dentro da �rea
do materialismo dial�tico, enquanto que outros s�o apropriados para outros assuntos.
� preciso muito cuidado para n�o "trocar as bolas": se os resultados n�o s�o alcan�ados, � porque voc� est�-se utilizando do santo errado, do dem�nio errado ou
da fonte de refer�ncia errada.
As entidades que apareciam diante dos m�gicos negros podiam adquirir a forma de animais ou objetos inanimados. O Grand Grimoire, juntamente com outro livro chamado
Grimoire de Honorio (que, segundo se afirma, foi escrito por um papa com este nome), fornecem o que existe de mais interessante sobre magia negra. Talvez um exemplo
retirado destas fontes sirva para ilustrar a esp�cie de ritual levado a efeito pelos m�gicos negros. Se as evoca��es e invoca��es por eles feitas alcan�avam algum
resultado, isto s� poderia ser explicado atrav�s da feiti�aria, da percep��o extra-sensorial e do reservat�rio de poder existente na mente humana tanto no mundo
f�sico como na metade espiritual do universo, que, para mim, � t�o real quanto a exist�ncia do corpo.
O executante da magia, chamado Karcist, precisa segurar uma hematita, uma jaspe sang��nea, a fim de se proteger das m�s influ�ncias; depois, deve levar uma cabritinha
virgem para ser sacrificada ritualmente numa �rea deserta, onde ningu�m possa perturbar o ritual.
"� grande Adonay, Eloim, Ariel e Jehova, imolo esta v�tima em honra do poder e da gl�ria de vosso nome, que � superior a todos os esp�ritos. � grande Adonay,
aceitai esta oferta. Am�m!"
Adonai e Elohim s�o nomes hebreus significando Deus, assim como Jehova; Ariel � o elemento ar. Isto, naturalmente, � pura cabala, n�o muito diferente das antigas
tradi��es hebraicas, quando os sacrif�cios de animais eram permitidos como parte do culto.
Acho mais interessante a conjura��o ao "Imperador L�cifer, Senhor e Pr�ncipe dos Esp�ritos Rebeldes". Elementos crist�os se introduzem nesta conjura��o, mostrando
que o ritual negro se desenvolveu a partir de muitas sementes, mas poucas delas reais. N�o podemos dizer que o "caminho das trevas" � completamente destitu�do de
qualquer valor, pois, afinal de contas, deve ser um culto de finalidades pr�ticas, sen�o n�o seria capaz de manter a lealdade daqueles que o seguem. O grande perigo
est� em se aplicarem t�cnicas poderosas com finalidades basicamente m�s. Ao apelar para os instintos primitivos do homem, como faz Anton LeVay com sua igreja satanista,
ou ao estimular as mais negras tend�ncias do homem, como fazem os praticantes das artes negras, essas pessoas n�o fazem a m�nima tentativa de conciliar a natureza
carnal do homem com o elementos espiritual mais elevado. Somente a feiti�aria � capaz disso, o que a torna a religi�o mais equilibrada do mundo.
Somente aqueles que caminham no meio da estrada est�o livres do perigo dos desfiladeiros. Nem a indulg�ncia excessiva nem a condena��o extrema s�o a melhor maneira
de se utilizar com proveito a grande for�a potencial do homem.
10 - RELIGI�O, BRUXARIA E MAGIA: QUAL A SUA EFIC�CIA DO PONTO DE VISTA PR�TICO?
Os resultados obtidos pela pr�tica da religi�o podem ser objetivamente observados? Sim, falando de uma maneira geral, podemos dizer que sim. O homem usa suas
convic��es religiosas para estimular os poderes existentes nele e na natureza, conduzindo, assim, � a��o e � obten��o de certos resultados.
A quest�o da natureza da divindade continua sendo uma pergunta sem resposta; vamos, ent�o, deixar de lado por enquanto a quest�o fundamental da exist�ncia ou
n�o de uma Divindade Suprema neste universo.
Presumindo que exista, de fato, alguma esp�cie de entidade, qualquer que seja, fora do homem e capaz de aplicar leis al�m da compreens�o e conhecimentos atuais
da humanidade, passamos para a pergunta seguinte: � poss�vel que exista algum tipo de liga��o entre o homem e essa entidade? A resposta e afirmativa e fora de qualquer
d�vida.
Partindo do fato de que pode existir, e realmente existe, tal liga��o, podemos muito mais facilmente chegar � compreens�o da natureza dessa divindade.
No campo da ci�ncia, sabemos perfeitamente que para que uma corrente el�trica possa passar de um ponto de refer�ncia a outro, � preciso que exista um condutor
entre eles. O condutor, no caso particular, � a religi�o. Mas, n�o pode haver passagem de corrente a menos que os dois pontos de refer�ncia possuam alguma qualidade
em comum. Se for um peda�o de vidro, isto �, um mau condutor de eletricidade, e o outro, um peda�o de metal (metais s�o bons condutores de eletricidade), n�o haver�
passagem de corrente el�trica entre eles. Tal fato s� ser� poss�vel se os dois pontos forem de materiais que permitam a passagem de corrente. Isto quer dizer que
os dois pontos possuem algum elemento comum em sua composi��o, embora seus outros elementos possam ser consideravelmente diferentes uns dos outros. O mesmo acontece
na rela��o entre a divindade e o homem - existe a necessidade da presen�a, num e noutro, de um elemento id�ntico.
A atitude mais natural consiste em presumir que tanto a divindade como o homem possuem um componente espiritual; e � este elemento comum que permite o estabelecimento
da rela��o.
Minha interpreta��o � a seguinte: a natureza essencial do homem � uma entidade espiritual; a divindade � formada de um n�mero infind�vel de entidades espirituais
que existem e agem em harmonia sob a reg�ncia de alguma lei suprema.
Existem fortes indica��es, tanto do ponto de vista filos�fico como do ponto de vista experimental, de que esta interpreta��o seja a verdadeira. Assim sendo, �
preciso que exista uma intercomunica��o constante e cont�nua entre a divindade e o homem: a divindade expressando-se atrav�s do homem e vice-versa.
Quando o homem se utiliza da religi�o para obter benef�cios pr�prios, ele est�, na realidade, pedindo ajuda a seu semelhante atrav�s da liga��o com a divindade.
A divindade �, pois, um super-reservat�rio de poder para ser utilizado por todos aqueles que dele necessitam e o procuram. Exige, apenas, como um estabelecimento
banc�rio, que o homem d� alguma coisa em troca, principalmente se possui um certo poder extra, que se pode expressar sob a forma de preces ou pensamentos de adora��o,
mesmo quando n�o se tem necessidade de pedir nada. Tanto as ora��es como os ritos de feiti�aria levados a efeito somente quando se tem necessidade de pedir alguma
coisa s�o uma p�ssima maneira de investir em Deus.
Do ponto de vista pr�tico, o que pode a religi�o fazer para ajudar o homem em seus problemas terrenos, tanto f�sicos como mentais?
V�rias mentes somam uma for�a maior do que a de uma s� mente; o poder criado pela reuni�o de um n�mero incont�vel de mentes � muito maior do que o poder de um
s� indiv�duo. A prece e o rito apropriados s�o meramente a senha, a palavra-chave, para que a porta seja aberta e o pedido encaminhado. Sendo controlada com um certo
rigor pela lei natural, a divindade exige do homem uma certa padroniza��o de comportamento quando dela se quiser aproximar. � assim como saber apresentar ao computador
IBM o cart�o perfurado certo para que ele possa come�ar a responder �s suas perguntas.
Religi�o n�o � auto-ilus�o.
Religi�o n�o � supersti��o.
Mas ela nada poder� fazer pelo homem, a menos que este tudo fa�a pela auto-realiza��o de seus poderes. O homem precisa saber que � uma entidade tanto f�sica como
espiritual, possuidora de poderes que podem ser postos em uso sob a orienta��o da divindade.
Todo aquele que fizer da religi�o uma fuga da realidade est� destinado ao insucesso. Aquele que pensa que vai encontrar um Deus pessoal pronto a satisfazer todos
os seus desejos est� tentando enganar-se a si pr�prio. A intercess�o divina n�o depende somente da vontade de Deus, mas tamb�m dos m�ritos dos homens.
Embora o homem seja fraco e imperfeito, existe nele uma certa quantidade de mat�ria divina; contando com a ajuda da divindade, que � puro poder mental, ele �
capaz de alcan�ar os resultados almejados. Quanto mais de seus pr�prios poderes o homem conseguir transportar para a a��o, mais ele poder� contar com a divindade.
A religi�o � mais efetiva quando associada a uma atitude mental positiva, na qual o homem assegura, tanto � divindade como a si pr�prio, que ele � um ser espiritual
capaz de fazer pleno uso de suas for�as. Desta maneira, ser� capaz de transportar para a realidade aquilo que pensa. Estes pensamentos s�o o est�mulo necess�rio
para colocar em movimento o mecanismo existente no homem, que, de outra maneira, permaneceria silencioso.
As dificuldades surgem quando a religi�o n�o � aut�ntica, mas apenas uma atitude superficial sem significado interior. Toda a��o, seja f�sica ou mental, s� tem
validade quando acompanhada de um pensamento. De outra maneira, n�o passar� de um gesto vazio que n�o alcan�ar� nada. Se uma pessoa foi criada dentro de uma religi�o
ortodoxa e, devido a seu passado, posi��o social e outras press�es, n�o pode deixar de freq�entar a igreja, que siga, ent�o, as necessidades de sua consci�ncia e
continue fazendo parte da estrutura de uma igreja tradicional. Mas, ao agir desta maneira, a pessoa deve, ao mesmo tempo, tentar enriquecer este procedimento com
a �nica coisa capaz de tornar o gesto significativo e efetivo: faz�-lo acompanhar de pensamentos de natureza espiritual.
Se uma pessoa se sentir atra�da pela Antiga Religi�o ou qualquer outro culto secreto, esta tamb�m � uma forma perfeitamente v�lida de estabelecer uma rela��o
com a mesma divindade.
E a feiti�aria � capaz de trazer resultados pr�ticos?
Certamente que sim. O ritual se baseia na exist�ncia de um reservat�rio de poder no interior de cada homem; os poderes provenientes de cada um destes reservat�rios
se unem e partem, ent�o, em dire��o ao reservat�rio maior representado pelos "deuses". A nomenclatura pode variar de uma religi�o para outra, mas o verdadeiro adepto
sabe que n�o existe uma diferen�a essencial e que os conceitos b�sicos s�o os mesmos. O homem que se afasta demais dos Planos Interiores � que n�o � capaz de ver
que as diferen�as s�o pequenas e de pouca import�ncia diante das semelhan�as profundas e b�sicas.
Ao lidarmos com os chamados elementos m�gicos de nossas vidas, devemos ter sempre em mente que muitas coisas na natureza, imposs�veis de serem conseguidas pelo
esfor�o individual, s�o facilmente alcan�adas atrav�s do poder combinado. � preciso ficar esclarecido que o homem n�o pode, nem nunca p�de, num determinado momento,
saber tudo sobre a natureza, mas muitas revela��es lhe v�o sendo feitas � propor��o que o tempo vai passando.
O valor pr�tico da religi�o n�o � de fundo social nem econ�mico.
Uma pessoa pode influenciar consideravelmente sua vida se for capaz de viver uma a��o religiosa positiva. Naturalmente que isto inclui, tamb�m, a aceita��o de
contratempos e insucessos. Lado a lado com a convic��o de que uma lei natural superior opera muito al�m das rela��es de causa e efeito, precisamos acreditar que
existe uma entidade superior guiando nossos destinos.
A consci�ncia de sermos um "templo", onde habitam elementos espirituais imortais, e a certeza de nunca estarmos sozinhos, mas sempre interligados com numerosos
outros seres em muitos planos da exist�ncia, s�o no��es suficientes para oferecer maior conforto �queles que se sentem incertos quanto ao seu lugar no esquema geral
das coisas e que ficam buscando em v�o uma resposta para suas vidas.
A religi�o s� falha quando os sentimentos religiosos sofrem a interfer�ncia de conceitos materiais e pensamentos negativos. Intoler�ncia, �dio, inveja, persegui��o,
repress�o, ambi��o, conformismo, dogma, orgulho - estas s�o qualidades negativas que representam uma barreira na experi�ncia religiosa de liga��o com a divindade.
Por isso � que alguns aspectos da teologia e da Igreja Crist�, especialmente na Idade M�dia, representavam, na minha opini�o, a incapacidade do homem de vencer
suas fraquezas, o que o impedia de estabelecer com a divindade a liga��o desejada. Alguns aspectos da adora��o paga, como o satanismo, tamb�m representam a incapacidade
do homem de entrar em contato com o lado espiritual do universo.
N�o acredito que exista, no mundo de hoje, necessidade de religi�es ortodoxas e religi�es secretas. O que precisamos � de uma grande religi�o, englobando todas
as outras, que favore�a a liga��o do homem tanto com a divindade como com seus semelhantes, de muitas maneiras e em muitos n�veis, mas tendo sempre por base o amor,
o respeito e a toler�ncia.
Assim como um c�rculo � composto por um n�mero infinito de linhas retas que se interligam em uma e outra dire��o, assim tamb�m a divindade possui um n�mero incalcul�vel
de aspectos, que, vistos � dist�ncia, parecem constituir-se num �nico e indivis�vel aspecto.
Qualquer pr�tica ou cren�a religiosa que reconhe�a a dualidade do homem e a unidade da divindade � digna daquilo que existe de melhor no ser humano. E a aceita��o
desta natureza f�sico-espiritual do homem acabar� por conduzir � compreens�o da pr�pria natureza da divindade.
Abraços fraternos!
Bezerra
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