Armando Fernandes de Oliveira
Romance Esp�rita
�NDICE
Pref�cio
A guisa de apresenta��o
1 - Mans�o "Azul Celeste
2 - Expectativa otimista
3 - O retorno � veste f�sica
4 - Murilo e Val�ria
5 - O casamento
6 - O nascimento de Cristina
7 - A frustrada conquista
8 - Experi�ncias gratificantes
9 - O inimigo do passado
10 - Resgates dolorosos
11 - Tratamentos desiguais
12 - Atendimento fraterno
13 - O palha�o Bombom
14 - De espinhos, sem d�vida
15 - O rem�dio das almas
16 - A queda providencial
17 - A ovelha perdida
18 - Curioso contraste
19 - Agora sou feliz
20 - Pris�o e fuga
21 - A visita de Cristina
22 - L�grimas amargas
23 - Capturado novamente
24 - Di�logo proveitoso
25 - Cristina, � voc�?
26 - In�cio de reden��o
27 - O sonho revelador
28 - Dique, o companheiro
29 - Tratamentos espec�ficos
30 - Sofrimento superlativo
31 - Expia��o reparadora
32 - A morte � vida!
33 - O Evangelho no Lar
34 - Dirimindo d�vidas
35 - Reinaldo e C�ntia
36 - Oportunos esclarecimentos
37 - Servidor do Cristo!
38 - A liberdade, enfim
39 - Ao encontro da vida!
40 - Algemas abertas
PREF�CIO.
O que seria do verde se todos gostassem do azul, diz o ditado popular. Isso tamb�m ocorre no que se refere �s artes, aos esportes e �s actividades culturais.
E, como n�o poderia deixar de ser, tamb�m no que concerne � literatura. H� os que gostam de livros que tratam de prosa, de poema, de teatro, de conto, de ci�ncia,
de filosofia, de religi�o, de romance, etc. E h� os que mudam; ontem liam romance, hoje l�em biografias e amanh� ler�o filosofia. Pode ser por causa do amadurecimento,
mas tamb�m porque desejam conhecer outras facetas da literatura.
No meu caso, no que se refere ao Espiritismo, comecei com os romances, passei para as mensagens e hoje dou prefer�ncia aos livros que tratam de ci�ncia e filosofia,
embora esporadicamente leio romances. E o que estou prefaciando � excelente, porque possui um maci�o
conte�do doutrin�rio. Todo o desenrolar dos acontecimentos criados pelo autor, cont�m a mensagem explicativa da Doutrina Esp�rita, no seu tr�plice aspecto.
No presente livro, temos o m�dium esp�rita Matias, o seareiro incans�vel, que est� sempre � disposi��o dos que procuram para transmitir orienta��o ou a palavra
amiga; h� o palha�o Bombom, que alegra as crian�as e adultos, mas que chora as amarguras de seu pungente drama sem entreacto, pois o seu problema � insol�vel; h�
a bondosa Matilde, que embora sofra por causa do angustiante problema familiar, ainda lhe restam paci�ncia e compreens�o para enxugar as l�grimas dos que se encontram
em piores condi��es. H� o Reinaldo, belo mo�o, mas doidivanas, que acaba nas grades do xadrez, onde depois de alguns anos de amarguras recebe a visita daquela que
o far� mudar de caminho, por se tratar de seu grande amor, trazendo tamb�m alegria � sua m�e, t�o sofrida, por causa dos problemas de seu filho. H�, ainda, outros
importantes personagens, que sofrem o guante de lancinantes dores, somente suport�veis, gra�as aos benfeitores que os assistem, embora n�o possam carregar as suas
cruzes, pois seria violar as Leis Divinas, que preceituam que a semeadura � livre, mas a colheita � obrigat�ria.
Realmente, n�o existem pessoas neste mundo, que n�o tenham algum problema, por simples que seja, porque estamos num mundo de provas e expia��es, cujos habitantes,
com raras excep��es, ainda chafurdam nos v�cios e se comprazem no mal, que resultam em atrozes sofrimentos.
O livro, portanto, � um manancial de ensinamentos, transmitidos pela viv�ncia dos personagens da presente obra do consagrado romancista Armando Fernandes de
Oliveira.
S�o quarenta cap�tulos de um bem engendrado romance, que ir� emocionar os leitores, por mais insens�veis que sejam.
Ant�nio Fernandes Rodrigues
� GUISA DE APRESENTA��O
O romance que o leitor tem nas m�os relata hist�rias da vida, facilmente flagr�veis por n�s a cada passo.
Se algo daquilo que consta das p�ginas desta obra assemelhar-se a fatos do seu viver, dever� ser levado em conta como fortuita coincid�ncia. N�o tivemos em
mente consignar, no livro, epis�dios da vida de quem quer que seja.
Os personagens principais da hist�ria, em suas vidas atribuladas, nos d�o exactamente a medida do comportamento que devemos adoptar, a fim de seguirmos a estrada
recta das ac��es nobres e edificantes. A Lei Divina � imut�vel, n�o comportando privil�gios. Nada ocorre � revelia da Vontade de Deus; todas as coisas t�m uma raz�o
de ser.
Feliz daquele que vivencia as li��es de amor, ensinadas pelo Cristo; al�m de sofrer menos, chega mais rapidamente � perfei��o moral e espiritual, embora esta
seja sempre relativa, jamais absoluta! Aquele que abandona o verdadeiro caminho, para dar prefer�ncia aos atalhos convidativos de ilus�es passageiras, ir� conhecer
de perto a dor e a l�grima; isso porque deu maior aten��o �s coisas enganosas do mundo, entregando-se inclusive ao ego�smo e ao orgulho, que tantas v�timas t�m causado
ao longo dos mil�nios que se perderam na voragem do tempo.
Os que optaram pelos atalhos ilus�rios estar�o perdidos para sempre? N�o! O caminho de volta lhes facultar� a chegada � Casa do Pai. A par�bola do filho pr�digo
nos esclarece suficientemente a respeito (Lucas 15:11 a 32). O que ocorreu com o filho pr�digo est� ocorrendo com todos n�s, integrantes da Humanidade. Existem aqueles
que est�o abandonando a casa paterna; existem os arrependidos; existem os que j� est�o de volta, enfrentando sofrimentos e rudes sacrif�cios; existem aqueles que
j� foram recebidos pelo Pai de Infinita Bondade: Deus. O exemplo dado por Jesus � claro e insofism�vel.
O presente romance cont�m hist�rias de vidas sofridas, pontilhadas de actos e coragem e determina��o, cujos personagens conquistaram, no ep�logo, a aur�ola
dos vitoriosos.
Assim, o nosso escopo, ao narrar tais hist�rias, � o de que os exemplos de abnega��o e ren�ncia, vividos, possam igualmente ser o esperado apoio nas horas
amargas e dif�ceis de nossas jornadas, t�o plenas de alternativas de sofrimentos e de alegrias. Tal situa��o tem como objectivo principal, aprimorar o nosso esp�rito
�vido de progresso e liberta��o.
A mensagem que o livro cont�m � clara: Deus � Misericordioso, S�bio e justo sem quaisquer restri��es.
Todos os conceitos que colidem com a perfei��o e grandeza infinitas do Criador do Universo, s� podem ser danosos � nossa compreens�o e felicidade espirituais.
Que o Senhor da Vida nos conceda as d�divas da sa�de e da paz, hoje e sempre.
Campinas, Inverno de 1988
O Autor
1 - MANS�O "AZULCELESTE".
Diante dos olhos curiosos de �urea e Miguel, estava um pr�dio majestoso, edificado em plano mais elevado, dominando, portanto, toda a paisagem. Sua estrutura
em azul celeste era simplesmente maravilhosa! Circundado por espa�osas janelas, no momento, quase todas abertas. Ao seu redor, como sentinelas vivas, �rvores frondosas,
bel�ssimas, reproduziam um verde at� ent�o desconhecido pelos dois visitantes. As �rvores estavam plantadas a regular dist�ncia umas das outras. Entre elas, podia-se
observar canteiros de flores de variados matizes, plenas de vi�o e beleza, emprestando ao ambiente um colorido singular. A brisa refrescante que soprava de leve,
impregnava a atmosfera com os subtis perfumes das flores, jamais vistas na Terra, Em cima do pr�dio havia tr�s torres octogonais, terminando em ponta, parecendo
tocar a ab�bada celeste.
�urea teve a impress�o de que as vibra��es de mais alto, em favor daquela laboriosa comunidade, chegavam atrav�s das torres pontiagudas.
A movimenta��o de esp�ritos no local, era intensa, quase todos trazendo estampada no rosto uma expectativa de �xito para os ideais almejados. �urea e Miguel
foram caminhando em direc��o � porta de entrada do pr�dio, em cuja fachada, em letras brancas, salientes, podia-se ler o nome: Mans�o "Azul Celeste".
Atingiram uma escada, trabalhada em material semelhante ao m�rmore, de uma brancura imaculada. Os degraus eram gostosos de se pisar, sem serem macios. No topo
da escada, um pequeno patamar e, em seguida, uma robusta porta que impunha respeito. Estava entreaberta.
Logo � entrada deram os seus nomes ao atendente: um jovem sorridente e atencioso.
- Caminhem por este corredor --- disse ele -, ao final, � esquerda, h� uma sala de espera; aguardem a� a vez. Em cima da porta do gabinete do irm�o Saulo,
h� uma l�mpada verde, assim que ela acender-se, poder�o entrar.
Agradeceram a informa��o e foram caminhando pelo espa�oso corredor, ladeado por muitas salas, nas quais havia intensas actividades. Chegaram � sala indicada,
acomodando-se em fofas poltronas. O ambiente era acolhedor, pleno de calma que tocava as fibras mais �ntimas das almas, reequilibrando-as e transmitindo-lhes uma
confian�a sem par em um futuro melhor, embasado em fraternidade. Ali, os pensamentos se harmonizavam em torno de ideais sublimados, � procura da sabedoria e do amor
infinitos.
Ap�s breve momento de espera, a l�mpada acendeu-se; era chegada a ocasi�o da entrevista com o irm�o Saulo. Entraram. A sala, bastante ampla, estava ocupada
com mesas tipo escolar; � frente uma escrivaninha, atr�s dela, sentado, estava o irm�o Saulo; na parede do fundo, �s suas costas, portanto, um quadro destinado a
apontamentos a giz. Era uma aut�ntica sala de aula, semelhante �s conhecidas aqui na Terra. Ao lado direito da sua mesa, duas poltronas iguais �s da sala de espera.
Saulo, conquanto maduro na apar�ncia, tinha movimentos desembara�ados e resolutos, como os dos jovens. Falava com extrema facilidade, fazendo-se entender com precis�o.
- Sentem-se - falou, indicando as duas poltronas. - Ent�o o irm�o Miguel, quer retornar � carne, mais uma vez?
- Perfeitamente ... isso se Deus permitir.
- Sabe que j� estagiou na Terra, incont�veis vezes?
- Sei, sim. Como tamb�m sei que n�o fui nada feliz nessas oportunidades concedidas pela Miseric�rdia Divina.
Saulo sorriu compreensivelmente, perguntando a seguir;
- Agora disp�e de mais recursos e for�as para vencer?
- Penso que sim. Estou conscientizado dos verdadeiros sentidos da vida.
- Nas oportunidades desfrutadas voc� n�o enfrentou graves dificuldades, da� o seu pouco aproveitamento. As experi�ncias dif�ceis ensejam aprimoramento mais
r�pido. A dor � fundamental no refinamento dos seres humanos; assemelha-se a fogo depurador eliminando, a pouco e pouco, as mazelas morais que teimam em n�o nos
abandonar. Conhece algo do seu passado?
- Conhe�o. Sei que pesam sobre mim grandes d�bitos seculares e que � chegado o momento de resgat�-los - adiantou Miguel, confiante.
- A sua nova jornada terrestre vai ser bem diferente das demais j� desfrutadas. O amigo vai ser severamente provado, pagando inclusive as d�vidas do pret�rito.
Voc� desconhecer� a maneira de como vai poder libertar-se delas. Normalmente os esp�ritos de certa compreens�o, tomam conhecimento dos lances mais agudos da
sua futura vida; no seu caso isso n�o vai ocorrer. Estivemos examinando detidamente os seus valores �ntimos, da� julgarmos oportuno o seu desconhecimento ...
- Por qu�? - interrompeu-o �urea, que at� ent�o apenas ouvia o di�logo.
- Receamos que o Miguel, face aos dolorosos epis�dios da sua futura jornada, inicie o processo reencarnat�rio um tanto temeroso do sucesso; isso diminuiria
a sua expectativa de �xito; torn�-lo-ia inseguro e fr�gil. N�o podemos ignorar que o Miguel viveu as �ltimas experi�ncias terrenas f�ceis, agora imp�e-se uma das
mais �speras rudes. O que n�o foi logrado em muitas vidas de relativa facilidade, ter� que ser agora em uma vida marcada com amarguras e vicissitudes regeneradoras.
Quando as criaturas humanas n�o t�m no amor o seu sublime ideal, somente o tempo e a dor ser�o capazes de redimi-las definitivamente.
- Estou estreitamente ligada ao passado dele voltou a falar �urea - da� o meu empenho em v�-lo vitorioso. O seu �xito tamb�m ser� meu.
- Ali�s esse tamb�m � o meu desejo. Nos momentos mais agudos da jornada redentora do Miguel, voc� estar� ao seu lado, encorajando-o na luta, com empenho e
optimismo, para que se torne vencedor. O triunfo � dos que sabem perseverar com confian�a nos Des�gnios Divinos, apesar das asperezas da caminhada. Caso o Miguel
esteja realmente interessado em retornar � esfera f�sica, o seu reencarne se dar� em breve. Contudo, a sua volta, �urea, demandar� mais tempo.
- Concordo plenamente. Estou confiante quanto aos resultados a alcan�ar. Conhe�o o caminho e de modo algum me afastarei dele - aduziu �urea, feliz.
- O que importa � n�o mais reincidirem nos mesmos erros do passado; vencer as imperfei��es �ntimas e conquistar as virtudes crist�s, notadamente a humildade
e a caridade - acrescentou Saulo.
- Estou convicta, gra�as a Deus, e disposta a seguir � risca essa norma de conduta - tornou �urea.
- Esse tamb�m � o meu ideal. Sei que a minha liberta��o dos enganos e crimes do passado s� dependem de mim. Aceito, pois, sem restri��o essa nova oportunidade
de reabilita��o moral e espiritual - argumentou Miguel, optimista.
- Est� bem. Parab�ns pela acertada decis�o! Saulo apertou um bot�o em sua mesa; da� a instantes adentrou a sala uma jovem simp�tica, vestida de branco.
- Conduza o irm�o Miguel ao sector reencarnacionista, para as cab�veis provid�ncias - depois, dirigindo-se a �urea: - Ainda nos veremos, mais tarde, por ocasi�o
do seu regresso � forma f�sica, para acertos finais. At� o pr�ximo encontro.
2 - EXPECTATIVA OTIMISTA.
Os especialistas em reencarna��es ocuparam-se de Miguel, por um largo espa�o de tempo, durante o qual foram examinados detidamente todos os aspectos do seu
regresso � Terra. N�o existem dois processos reencarnacionistas iguais; semelhantes, sim. Foram levantados dados espec�ficos de suas vidas pregressas, levando-se
em conta os d�bitos assumidos e os poss�veis cr�ditos acumulados. Miguel sempre vivera exist�ncias relativamente f�ceis, da� o seu pouco aproveitamento espiritual.
Ocorre que, em uma das encarna��es mais antigas, Miguel, com a cumplicidade da esposa e de uma amiga, comprometera-se gravemente, em circunst�ncias bastante
tr�gicas. Ao tentarem tirar a vida de um advers�rio pol�tico, ocasionaram a morte de sua filha, garota de oito anos de idade. Agora avizinhava-se o momento do resgate.
Todos os seres humanos que almejam libertar-se das amarras de enganos e crimes do passado e conquistar a leg�tima felicidade, precisam se compatibilizar com os
ditames da Lei Divina; isso somente acontece com a quita��o dos d�bitos anteriormente assumidos. A colheita � obrigat�ria e representa valiosas experi�ncias a fortificarem
o ser a caminho de cometimentos nobres e dignos voltados ao bem-estar alheio.
Os Benfeitores espirituais dispensaram, a Miguel, carinho e aten��es fraternais, esclarecendo-o sobre os percal�os da jornada terrestre prestes a iniciar-se.
Seus futuros pais, gente simples e boa, procurariam ampar�-lo com amor, oferecendo-lhe os recursos indispens�veis � realiza��o do seu ideal: sua reden��o moral.
Miguel, que a princ�pio mostrara-se temeroso com a aproxima��o da sua volta � carne, agora revelava-se optimista, tendo em vista a expectativa de uma vit�ria
sobre os fatos delituosos que marcaram uma das suas vidas pregressas. Os Mentores n�o adiantaram de como seriam expiados esses crimes, julgando propiciar a Miguel
melhores condi��es �ntimas para tornar-se vencedor sobre tais actos adversos � Lei de Deus.
Completara o curso sobre reencarna��o, cuja finalidade era igualmente demonstrar aos alunos a import�ncia do retorno � veste fisiol�gica, para aprendizados
e resgates indispens�veis, at� porque todos n�s estamos, de alguma forma, comprometidos com as Leis que regem o Universo. Nessas oportunidades de estudo e avalia��es,
foi mostrado que a vida terrena � breve est�gio, se comparada com a eternidade. O que � uma vida de sacrif�cios e dores, quando se logra depois, na espiritualidade,
est�gios ditosos de labores enobrecidos?
Miguel, de quando em quando, dirigia-se a uma sala ampla, onde funcionava excelente biblioteca, mantendo-se entretido na leitura de bons livros, bebendo avidamente
as �guas puras do conhecimento que continham suas p�ginas de luz. A m�sica ambiente tocava as almas, sensibilizando-as. Quanta beleza existe no caminho daqueles
que conhecem a verdade e praticam o bem!
Irm�o Augusto, o respons�vel maior pelo sector reencarnacionista, certa vez, aproximando-se de Miguel, dirigiu-lhe a palavra, nestes termos:
- Como �, mais confiante? O momento do seu retorno �s porfias terrestres, aproxima-se. J� fui inteirado dos seus progressos e aproveitamento nas li��es ministradas.
Fico contente com isso!
- Estou determinado a aproveitar bem esse novo ensejo de reabilita��o moral; n�o quero perder mais tempo - respondeu Miguel, confiante.
- Voc� ser� amparado por amigos espirituais, depois contar� com o concurso de �urea, que se juntar� ao irm�o, mais tarde, para cumprimento do que foi planejado.
� nas horas mais dif�ceis que o refinamento espiritual se torna mais fecundo e marcante. seu regresso est� pr�ximo... Seja feliz! - finalizou Augusto, afastando-se.
As palavras do Mentor amigo calaram profundamente em seu cora��o, trazendo uma expectativa de vit�ria.
Era isso mesmo que Miguel ansiava: nova chance de reconcilia��o com o passado, a fim de conquistar condi��es de melhor progredir, crescer intimamente, valorizando
a pr�pria vida.
- Ol�, Miguel, vejo-o um tanto preocupado! O qu� aconteceu? - inquiriu-o um colega, igualmente interessado em retornar � paisagem terrestre.
- Nada de preocupa��o, essa fase est� passando; apenas mentalizando as coisas boas que ocorreram durante a minha perman�ncia neste departamento, onde fiz tantas
amizades sinceras. S� de pensar em me afastar daqui, sinto, por antecipa��o, forte saudade. Com voc�, �lvaro, n�o ocorre o mesmo?
- Realmente. Comigo se d� o mesmo fen�meno.
A minha hora de voltar tamb�m est� chegando. Eu sei dos percal�os da minha futura jornada; mas sei igualmente do empenho de v�rios irm�os interessados na minha
regenera��o. isso me d� for�as e coragem. Serei acompanhado, de perto, por esse grupo de irm�os admir�veis, incans�veis no labor sublime de ajudar aos mais fracos
e vacilantes. �, Miguel, a coisa n�o vai ser f�cil, n�o! Contudo, confio na vit�ria sobre as imperfei��es morais que ainda vicejam no meu �ntimo. Sem luta, nada
se consegue nas experi�ncias regeneradoras. A vit�ria � dos que perseveram sem temores.
Enquanto os dois conversavam fraternalmente, trocando pontos de vista, podia-se ver grupos de entidades dialogando animadamente, abordando as pr�prias frustra��es
acumuladas ao longo de vidas sucessivas, como tamb�m das conquistas auferidas nas porfias terrenas, e quais as provas e expia��es que enfrentariam, consequentemente.
Podia-se flagrar a alegria e a esperan�a existentes em todos os semblantes, apesar das vicissitudes porvindouras.
Miguel sentia-se perfeitamente integrado �quela comunidade, onde a fraternidade era uma constante. A Mans�o "Azul Celeste" era verdadeiramente um pouso de
amor crist�o, onde todos os integrantes, n�o obstante a pr�pria fragilidade, sentiam-se fortes para enfrentar e vencer as duras porfias do porvir. Como Deus � soberanamente
Misericordioso e Justo!
Se por um lado, os seres, fazendo uso da liberdade que o Pai Celestial lhes concedeu, comprometeram-se seriamente, por outro lado, a Provid�ncia Divina, proporciona
incont�veis recapitula��es de experi�ncias malogradas, no sentido de v�-los redimidos e felizes, para tanto contam com o tempo e a dor, factores decisivos na renova��o
�ntima.
Cada criatura vive experi�ncias espec�ficas, at� porque os compromissos com a Lei Maior jamais s�o iguais. Tanto os comprometimentos quanto as aquisi��es nobres,
diferem sensivelmente, dando a cada indiv�duo uma situa��o �mpar diante das vidas sucessivas. Assim, todos os retornos � carne merecem cuidados adequados de amigos
espirituais dedicados e laboriosos, incans�veis no seu elevado mister de conduzir os seres � paisagem das formas, para as imprescind�veis repeti��es de comportamentos
malogrados.
Quando os esp�ritos j� disp�em de algum merecimento e est�o realmente interessados em realizar labor digno em prol da colectividade a que v�o pertencer, notadamente
aos seres mais carentes, ent�o tornam-se alvo de aten��es e cuidados especiais, com vistas aos seus prop�sitos elevados. Como poss�veis trabalhadores da seara do
Cristo, n�o dispensam organiza��es f�sicas ideais ao mister que escolheram. Emmanuel, guia espiritual do m�dium Chico Xavier, disse:
-- "Deus ajuda o homem atrav�s do pr�prio homem " .
3 - O RETORNO � VESTE F�SICA.
O regresso dos esp�ritos � paisagem terrestre, para recapitula��es indispens�veis de insucessos verificados no passado, sempre foram alvo de detida an�lise
por parte de Mentores s�bios e bondosos, visando o aproveitamento nas experi�ncias e �xito nas metas ansiosamente almejadas. Quanto maior o d�bito a saldar, maior
igualmente a avalia��o da situa��o e das circunst�ncias a serem vividas na futura etapa evolutiva.
Cada criatura apresenta-se com necessidades e compromissos espec�ficos, cujas matrizes est�o em vidas pret�ritas, pontilhadas de actos de desamor, colocando
os seres em posi��es �mpares na escalada redentora. Ningu�m � igual a ningu�m. No �ntimo de cada indiv�duo h� uma gama de valores, cuja somat�ria distingue uns dos
outros, atribuindo m�ritos e dem�ritos que variam de zero ao infinito.
As reencarna��es, por isso, absorvem o tempo de entidades de escol, especialistas do assunto. Os pormenores de cada vida s�o levantados, no sentido de programar
com acerto e justi�a a futura experi�ncia carnal de resgate dos crimes praticados e erradica��o das mazelas espirituais que ainda dominam os sentimentos humanos.
Paralelamente, apresentar-se-�o oportunidades de servir ao pr�ximo, em actos de desprendimento e amor crist�o.
Assim, o retorno de Miguel � veste f�sica havia sido detidamente analisado, no sentido de que ele pudesse lograr �xito na nova jornada de aprimoramento moral.
Os especialistas da Mans�o Azul Celeste", como em todos os casos que exigem repara��es redentoras, procuraram dominar todos os �ngulos do processo reencarnat�rio,
a fim de que Miguel obtivesse, na programada experi�ncia, a vit�ria sobre os crimes a expiar.
Os pais j� haviam sido previamente escolhidos, eram esp�ritos vinculados ao pret�rito de Miguel. Amigos de �pocas distantes, que seriam convocados a prestar
valioso amparo para que ele pudesse sair vencedor da grande porfia. Levaria vida de minguados recursos, apesar dos trabalhos exaustivos executados. Conheceria, portanto,
necessidades de variadas gamas, como factor de burilamento interior. As exist�ncias anteriores, como j� vimos, haviam sido marcadas por facilidades inimagin�veis;
esta, portanto, n�o seria igual, at� porque Miguel alimentava desejos de progresso, o que s� seria vi�vel com os resgates dos crimes antigos, que ainda enegreciam
a sua consci�ncia.
Leandro e Of�lia, casados h� pouco mais de ano aguardavam ansiosamente a chegada de um filho, que viesse coroar de j�bilos o seu lar. Ele era pedreiro, apesar
da profiss�o, residia em casa alugada, confirmando o ad�gio popular: "Em casa de ferreiro, espeto de pau". Os recursos financeiros auferidos davam para viver; a
esposa, compreensiva e boa, o ajudava com o ganho na confec��o de pequenas costuras, encomendadas por vizinhas e amigas. N�o obstante as dificuldades, que n�o eram
poucas, eram felizes, um completando o outro; nada de des�nimo e ambi��o; viviam intensamente a expectativa da chegada de um filho, mensageiro de sadias alegrias.
No dia em que os especialistas em reencarna��o, da Mans�o "Azul Celeste" julgaram oportuno, o evento ansiosamente aguardado pelos c�njuges e por Miguel, decidiram
efectuar a concep��o. De madrugada, uma equipe de Servidores do Cristo, levando Miguel, conscientizado do fato, dirigiram-se ao lar do casal, a fim de procederem
ao in�cio do sublime labor que culminaria, mais tarde, com o renascimento de Miguel no cen�rio terreno, para novas e proveitosas experi�ncias de regenera��o moral.
Assim, t�o logo a oportunidade permitiu, os especialistas intervieram, propiciando ao espermatoz�ide seleccionado, condi��es de melhor atingir o ov�rio feminino
e acasalar-se com o �vulo, fecundando-o. Era o princ�pio da vida! Curiosa a corrida encetada pelos espermatoz�ides que nadavam no esperma, semelhantes a cardume
de peixes, agindo rapidamente em busca do seu elevado destino: a vida. O escolhido pelos Mentores ganhou acentuado vigor e com determina��o singular venceu a corrida,
encontrando-se com o �vulo feminino, fundindo-se a ele, completando-o, era o in�cio da gesta��o! Incontinenti Miguel foi ligado ao �vulo, por t�nues filamentos perispirituais
que, a partir daquele instante, iriam comandar decisivamente todo o processo reencarnat�rio iniciante.
O perisp�rito � o modelador do vaso f�sico, imprimindo-lhe as condi��es indispens�veis ao esp�rito, na sua exist�ncia futura. No corpo ir�o ficar as marcas
dos compromissos antigos, como matrizes de resgates porvindouros, a serem enfrentados e, igualmente, anota��es impercept�veis de conquistas logradas ao longo de
jornadas pret�ritas. Assim, tanto o bem quanto o mal realizados ir�o produzir efeitos na escalada evolutiva do ser a caminho de esferas de luz.
Os laboriosos Seareiros da Mans�o visitaram Of�lia durante todo o per�odo de gesta��o, procurando sempre facilitar o processo reencarnat�rio, eliminando toda
e qualquer possibilidade de insucesso. Miguel procurou manter-se d�cil e obediente �s determina��es superiores.
A medida que o tempo ia passando, as suas percep��es iam apagando-se aos poucos, gradativamente, dando a impress�o de que um len�ol de esquecimento amortalhava,
paulatinamente, as suas recorda��es, at� o esquecimento total.
A gesta��o n�o apresentou qualquer ind�cio de anormalidade. O m�dico respons�vel pelo pr�-natal, revelava-se confiante; tanto a futura mam�e quanto o b�b�
n�o apresentavam qualquer sintoma preocupante.
Ao final de nove meses, Of�lia deu � luz a um forte e lindo menino, que encantou a todos, cativando os pais, que o aguardavam como um mensageiro de todas as
boas-novas imagin�veis. O reizinho daquele lar havia chegado, era necess�rio atend�-lo com carinho e amor desmedidos; de regresso ao lar, depois de ter permanecido
dois dias na Maternidade, Of�lia levava, agora, nos bra�os amor�veis, o seu maior tesouro.
- Of�lia, voc� j� tem um nome para o nosso filho? - perguntou-lhe o esposo, afectuosamente.
- Ainda n�o. Pode ser: Carlos, Caio, Murilo, s�o nomes que eu gosto. O que voc� acha?
- Dos tr�s nomes mencionados, eu gosto mais de Murilo - respondeu o marido.
- Ent�o est� escolhido, a n�o ser que voc�, meu bem, tenha prefer�ncia por outro nome - acrescentou carinhosamente a esposa, olhando-o com ternura.
- Murilo � um nome bonito, sugere um ser forte e decidido, determinado para as conquistas da vida. Ser� Murilo. um pequeno nome para um grande homem, se Deus
quiser Assim, Miguel retornou ao cen�rio terreno, agora como Murilo. Vida nova, sem as lembran�as do passado que tanto dificultariam a sua nova etapa de reden��o.
O esquecimento � absolutamente necess�rio, para que se possa lograr vit�ria sobre os problemas oriundos do pret�rito. A programa��o de resgates e conquistas, pr�-estabelecida
na espiritualidade, cumprir-se-ia ao longo da sequ�ncia dos anos, para j�bilo de todos os implicados nas ac��es danosas, g�neses de dores e frustra��es reparadoras.
A Justi�a Divina � feita de Miseric�rdia, proporcionando, �s criaturas humanas, condi��es ideais para vencer os lances dif�ceis origin�rios de um passado long�nquo.
O sucesso, contudo, sempre depende do comportamento de cada pessoa � frente das situa��es inerentes ao respectivo comprometimento com as Leis de Amor. O esquecimento
� factor decisivo no �xito almejado pelos seres �vidos de evolu��o e conquistas enobrecidas.
4 - MURILO E VAL�RIA.
Aos c�njuges cabem s�rias responsabilidades, no que tange � direc��o do lar e, principalmente, na educa��o dos filhos. Deus outorgou-lhes � tutela, esp�ritos
necessitados de progresso moral e espiritual. As mais das vezes, s�o seres comprometidos com a Lei Divina, que buscam novas oportunidades de regenera��o, sem o que
jamais ser�o verdadeiramente felizes. Felicidade indestrut�vel, porque fundamenta-se na sabedoria adquirida e na pr�tica do bem, desinteressado e incondicional.
Quantas preocupa��es e trabalhos os filhos acarretam! Isso decorre, naturalmente, das tend�ncias e h�bitos que apresentam, quase sempre contr�rios � sadia
moral.
� mais f�cil recapitular actos reprov�veis, que trazem em si, origin�rios de outras vidas, do que aprenderem normas de conduta correctas e dignas. Tudo que
� errado a crian�a aprende com facilidade; o que � certo demanda tempo, requer actividades exaustivas por parte dos pais que sempre tem em mente o melhor para a
sua prole.
Na quest�o de n.o 208, de O Livro dos Esp�ritos, Allan Kardec aborda o tema em pauta, dirimindo poss�veis d�vidas. A resposta do Esp�rito de Verdade foi objectiva,
tornando claro o assunto ao ressaltar a responsabilidade dos pais.
- "Nenhuma influ�ncia exercem os esp�ritos dos pais sobre o filho depois do nascimento deste?"
- "Ao contr�rio: bem grande influ�ncia exercem.
Conforme j� dissemos, os esp�ritos t�m que contribuir para o progresso uns dos outros. Pois bem, os esp�ritos dos pais t�m por miss�o desenvolver os dos filhos
pela educa��o. Constitui-lhes isso uma tarefa. Tornar-se-�o culpados, se vierem a falir no seu desempenho". (O grifo � nosso).
A fase infantil � de capital valor na vigil�ncia e orienta��o aos filhos, no sentido de identificar suas anomalias de car�cter e ajud�-los a combat�-las, com
vistas �s aquisi��es futuras. O cora��o dos menores representa um trato de terra que precisa ser cultivado com muito carinho e amor, a fim de que se torne f�rtil
e produtivo. A pr�pria Natureza nos oferece excelente exemplo: se n�o cuidarmos devidamente da terra, o que ela fatalmente produzir�? S� erva daninha, Nada mais,
Contudo, lavrando-se o solo, adubando-o adequadamente, plantando boas sementes, o que teremos? Bons frutos, obviamente!
Se n�o dispensarmos boa educa��o ao nosso filho, no seu �ntimo ir�o germinar pensamentos conden�veis e imperfei��es morais, cujas consequ�ncias ser�o tristes
e dolorosas, na forma de resgates amargos, indispens�veis ao seu reequil�brio moral.
As entidades espirituais, mal�ficas, ardilosas e perspicazes, procurar�o, igualmente, realizar seus danosos intentos, interferindo no sentido de que o seu
advers�rio do passado n�o conquiste vit�ria sobre as mazelas que ainda medram em seu cora��o. Por que Deus permite tal situa��o? Porque � exactamente nos lares que
se re�nem, quase sempre, desafectos de outras �pocas, para os indispens�veis reparos e reconcilia��es.
A responsabilidade dos pais � muito grande, porque seus descendentes precisam de apoio, a fim de atingirem as metas previamente estabelecidas no plano espiritual,
visando o fiel cumprimento da jornada de reden��o encetada.
Murilo nascera em um lar onde os recursos de que precisava, para bem cumprir o seu mister, seriam assimilados como factores decisivos �s suas realiza��es.
Os genitores o adoravam; embora fossem criaturas um tanto iletradas, tinham sentimentos elevados, voltados ao bem-estar alheio. O garoto crescia rapidamente, seu
car�cter foi sendo forjado no caminho do bem e da virtude. Cursou, como os meninos da sua posi��o social, escola p�blica; por�m devido � sua aplica��o nos estudos,
aprendia todas as mat�rias com relativa facilidade, completando o 2� Grau sem repetir um ano sequer.
O aproveitamento do filho era motivo de satisfa��o por parte dos pais. Al�m de Murilo, o casal tinha agora mais duas meninas, que igualmente seguiam as pegadas
do primog�nito, tanto no comportamento exemplar quanto no aproveitamento escolar. O Murilo, que gostava demais de teatro, Assim que terminou o 2� Grau, ingressou
em um grupo teatral, que tinha � frente, como respons�vel maior, um excelente artista em artes c�nicas. O jovem, agora, com vinte anos de idade, estava maravilhado
com o seu trabalho. J� nas primeiras apresenta��es, conquistou um lugar de destaque no grupo, pelas magn�ficas interpreta��es, tanto em pap�is c�micos quanto em
apresenta��es dram�ticas. O ganho com tais actividades art�sticas cobria perfeitamente as suas despesas pessoais, n�o dependendo dos pais, nesse aspecto.
Representava com naturalidade e desenvoltura, vivendo, autenticamente, os personagens das pe�as, entregues a ele pelo director do grupo. Murilo destacava-se
em todas as apresenta��es, indo al�m das expectativas dos companheiros. Era, sem d�vida, o centro das aten��es do p�blico, motivo do sucesso crescente dos espect�culos
teatrais.
Nessa actividade Murilo teve durante cinco anos, os mais felizes da sua vida; dedicava-se, de cora��o, � arte de interpretar; vivendo, a cada passo, personagens
diferentes, de sentimentos antag�nicos: �s vezes bons, outras vezes perversos. Vivia, igualmente, situa��es hilariantes, entremeadas com epis�dios de grande e inusitada
dramaticidade. Essas alternativas davam a Murilo uma motiva��o at� ent�o desconhecida, gratificando-o sobremaneira. Sentia-se imensamente feliz!
Quem mais apreciava o jovem actor era o p�blico feminino. Murilo era um bonito rapaz: porte atl�tico, perfeito gal�. As mo�as estavam sinceramente enamoradas
pelo actor, e disso n�o faziam reserva. N�o regateavam aplausos a cada apresenta��o do jovem e futuroso artista.
Entre as f�s estava Val�ria, mo�a de vinte anos, que n�o perdia nenhum espect�culo, encantada que estava com a beleza m�scula de Murilo. Um dia, pessoalmente,
foi at� o seu camarim para conhec�-lo;
Murilo n�o se surpreendeu, pois fatos id�nticos ocorriam com certa frequ�ncia, em virtude do seu porte f�sico e tamb�m pelos dotes art�sticos que revelava
a cada espect�culo de que participava, sempre demonstrando versatilidade incomum.
- D� licen�a? ...
- Perfeitamente! ...
- Vim conhec�-lo, de perto. Sou Val�ria; n�o perco nenhuma das suas apresenta��es - adiantou a mo�a, sorrindo.
- Muito prazer. Gosto demais de conhecer e conversar com as minhas f�s; tenho inclusive me orientado bastante pelo que elas me dizem. Estar na plateia � bem
diferente do que estar no palco - Murilo estava encantado com a beleza da jovem. Val�ria era fisicamente perfeita, linda e inteligente, estatura mediana; dessas
pessoas que cativam a todos que t�m o prazer de conhec�-las.
- Eu acho voc� um rapaz muito bonito; estou sinceramente arrebatada por isso; al�m, naturalmente, de Ter qualidades art�sticas ineg�veis.
Murilo sorriu. A conversa entre os dois alongou-se por mais de uma hora, quando ent�o despediram-se, prometendo voltar a se reencontrarem brevemente.
5 - O CASAMENTO.
A partir do encontro dos jovens no camarim, outros ocorreram, ami�de. Murilo e Val�ria estavam verdadeiramente apaixonados. Entre os dois existia uma for�a
maior, unindo-os. Somente estavam felizes, quando juntos. Distantes, parecia que algo estava faltando, que seria indispens�vel completar. Os dois formavam um par
perfeito; admirado por todos. Tanto os pais de Murilo ficaram contentes, quanto os de Val�ria faziam gosto na uni�o dos jovens.
Nesta altura dos acontecimentos, Murilo empregou-se em um estabelecimento banc�rio, porque precisava pensar no casamento, da� a necessidade de emprego fixo
e rendoso. Em breve tempo, em virtude das suas aptid�es, ganhou uma posi��o de destaque no Banco, logrando boa remunera��o, o que j� lhe possibilitaria casar, concretizando,
assim, seu grande ideal.
Certa vez, em que passeavam, de m�os dadas, no jardim central da cidade, a conversa decorreu nestes termos:
- Val�ria, voc� n�o se cansa de repetir que aproximou-se de mim, porque sou um rapaz bonito.
- � verdade, Murilo. Desde menina que eu sonho em me casar com um mo�o bonito. Assim, no momento em que eu o vi, pensei: esse rapaz vai ser meu marido; ele
� bonito! - informou a mo�a, sorrindo.
- Isso me deixa encabulado. Caso voc� n�o me considerasse bonito, n�o teria me procurado? - adiantou o jovem, com uma ponta de tristeza na voz.
- Sem querer magu�-lo; mas � isso mesmo. Eu gosto de voc�, porque � bonito. n�o vejo nada de mal nisso!
- Val�ria, voc� n�o leva em conta as qualidades morais das pessoas? - inquiriu Murilo, com ternura.
- Levo em conta, sim. Contudo, para meu esposo, eu sempre almejei um homem que fosse bonito, antes de tudo. N�o sei explicar o que ocorre comigo, mas esse
sempre foi o meu ideal de jovem: a beleza em primeiro lugar, as qualidades, depois.
- O correcto seria o contr�rio: primeiro as qualidades, depois a beleza. H� um ad�gio popular que diz: "Beleza n�o p�e mesa". Quatro palavras que dizem muito,
t�m um significado bastante profundo. Voc� n�o acha?
- Concordo, sim. Todavia, voc� deve convir que o nosso namoro, de modo algum, corre risco de um rompimento, at� porque voc� � bonito e tem qualidades morais
que o distinguem como excelente pessoa - ponderou Val�ria, olhando-o bem no fundo dos olhos, como a querer descobrir uma pontinha de tristeza escondida.
Murilo, por uns instantes, permaneceu pensativo: que conversa esquisita! Estranha! Sem saber o porqu�, causara-lhe sensa��es de medo e amargura. O que estaria
acontecendo?
Ap�s pequeno intervalo para reflex�o, retomando a palavra, considerou:
- N�o parece, mas a conversa que tivemos, mexeu intimamente comigo; eu n�o vejo raz�o para isso! Por que, por um momento, eu me senti inseguro? Deu-me a impress�o
de um di�logo premonit�rio!
- Premonit�rio? N�o entendo. O que voc� quer dizer?
- S�o fatos pressentidos com anteced�ncia, assim como uma intui��o daquilo que vai ocorrer no futuro.
- O conhecimento antecipado do que vai acontecer?
- Exacto. incont�veis vezes isso j� ocorreu comigo, notadamente atrav�s de sonhos ...
- De sonhos? - interrompeu-o Val�ria - como assim?
- Sonhamos com certos fatos e, depois, eles tornam-se realidade - explicou o jovem, encabulado.
- Engra�ado! Isso j� aconteceu tamb�m comigo, principalmente nas ocasi�es em que eu estava bastante preocupada com determinados lances da minha vida. Os sonhos
n�o eram bem claros, n�tidos, deixando-me curiosa e, em muitos casos, at� amedrontada; por�m os seus enfoques acabaram acontecendo, posteriormente.
- � isso a�: sonhos premonit�rios. Certa vez eu conversei com um amigo, a respeito, e ele me esclareceu que quando dormimos, o nosso esp�rito n�o fica inactivo
isto �, participa de actividades no mundo espiritual, em decorr�ncia da sua parcial desliga��o do corpo som�tico, em repouso. Nessas oportunidades, os Benfeitores
espirituais que acompanham a nossa vida, julgando conveniente certas revela��es do porvir, visando o nosso preparo �ntimo, ou ent�o como advert�ncia, nos proporcionam
tais revela��es - argumentou Murilo.
- O conhecimento antecipado dos fatos que me foram revelados atrav�s de sonhos, constitu�ram advert�ncias, isso porque tais revela��es, ap�s concretizadas
n�o foram realmente boas; sempre desagrad�veis - ponderou Val�ria, pensativa.
O esp�rito jamais repousa; enquanto o corpo dorme, ele se lan�a pelo espa�o e entra em rela��o mais directa com os outros esp�ritos. Quest�o de n. 401 de O
Livro dos Esp�ritos.
Os jovens que se revelavam alegres e festivos, agora mantinham semblantes s�rios, denotando uma nuvem de preocupa��o, mas por que, S� o tempo daria as respostas
adequadas resolvendo as pend�ncias suscitadas com o di�logo.
- Val�ria, voc� me acha bonito e cheio de qualidades morais; eu acho voc� linda e igualmente virtuosa, da� eu vou adiantar uma premoni��o.
- Fale sem rodeios.
- Sabe o que vai acontecer?
- N�o; n�o sei.
- O nosso casamento! Voc� duvida?
- Para nossa felicidade - respondeu Val�ria, beijando-o namorado. - Quando estou em sua companhia eu me sinto segura, feliz. Tenho a certeza de que seremos
muito ditosos vivendo juntos para sempre at� que a morte nos separe ...
- O que � isso, Val�ria - interrompeu-a Murilo, apertando-a nos bra�os, n�o permitindo o seu afastamento.
A vida do jovem casal era assim: cheia de encantamentos, promessas, juras. Com a sequ�ncia dos meses a afinidade entre os dois, crescia paulatinamente. Assim,
a vontade de unirem-se, para todo o sempre, era quase que irresist�vel.
Murilo, para tanto, trabalhava com afinco e interesse no Banco, objectivando melhores sal�rios, a fim de poder concretizar seu casamento, sem d�vidas e temores;
almejava dar a Val�ria uma vida digna e folgada, sem preocupa��es de ordem financeira.
Ap�s decorrido um ano, o dia ansiosamente aguardado chegou! Que felicidade! ... Pela manh� o casamento no civil; � tarde, no religioso. Os jovens eram de fam�lia
cat�lica, mais por tradi��o que por convic��o.
A festa na resid�ncia da noiva, retratava bem a alegria que dominava os dois cora��es que uniram-se num s� ideal.
Entretanto, o destino que os aguardava seria pr�digo em epis�dios amargos. Os crimes cometidos em vidas pregressas, exigiam repara��es dolorosas, como refinamento
moral indispens�vel a conquistas de valores eternos.
Aproximava-se a hora da colheita de semeaduras passadas.
6 - O NASCIMENTO DE CRISTINA.
�urea, desde o casamento de Murilo e Val�ria, internara-se na Mans�o "Azul Celeste", a fim de submeter-se a novos aprendizados e avalia��es, com vistas ao
seu retorno � veste f�sica, para recapitula��o e liberta��o de comprometimentos antigos.
Apesar de ser uma criatura um tanto esclarecida, ainda n�o havia resgatado um crime dos mais graves, que enodoava a sua consci�ncia, cometido em passado long�nquo,
quando, ent�o, de comum acordo com Murilo, na �poca seu marido. Eles, com a cumplicidade de Onofre (reencarnado como Val�ria), amigo do casal, urdiram uma trama
odienta, cuja finalidade era eliminar um inimigo pol�tico, para tanto incendiaram-lhe a resid�ncia. Ocorre que a maior v�tima n�o foi o pol�tico que suportou as
queimaduras, vivendo ainda muitos anos, mas sua filha, garota de oito anos de idade, que morreu carbonizada. Agora, reuniam-se novamente os implicados no delito,
para ressarci-lo, conforme aval da Espiritualidade maior. O resgate, embora colectivo, envolvendo aos tr�s, tamb�m teria implica��es individuais, isto �, sofrimentos
espec�ficos compat�veis com o grau de participa��o de cada um dos respons�veis pelo ato criminoso.
O regresso de �urea ao cen�rio terrestre, foi examinado, inclusive, pelo irm�o Saulo, que almejava ardentemente v�-la vitoriosa. A expia��o era imprescind�vel
fundamental na conquista de valores de sabedoria e amor.
O esp�rito. quando atinge certos n�veis de amadurecimento, procura avidamente tarefas nobres, no sentido de progredir mais rapidamente, libertando-se das fieiras
de vidas sucessivas, repetitivas e dolorosas.
O estudo e o trabalho nobilitantes s�o factores primordiais na ascens�o espiritual do ser a caminho da luz.
�urea estava perfeitamente inteirada dessa real necessidade e para tanto empenhar-se-ia com todas as suas for�as; estava bem preparada para a dif�cil e amarga
porfia.
Conclu�das as avalia��es e o programa a ser obedecido na Terra, indispens�veis ao seu regresso � paisagem f�sica, foi recebida novamente pelo irm�o Saulo,
no seu gabinete de trabalho, que dirigiu-lhe a palavra nestes termos:
- �urea, estou contente com o seu progresso; avizinha-se o instante do seu retorno �s pelejas fisiol�gicas.
A sua perman�ncia na carne ser� breve; contudo, altamente significativa, colocando-a em condi��es �ntimas, ideais, de poder servir melhor aos seus semelhantes,
principalmente ao Murilo, que permanecer� largo espa�o de tempo no vaso f�sico, em �speras expia��es.
- Confio plenamente em Jesus e nos amigos espirituais que acompanhar�o os meus passos, apoiando-me, mormente, nos instantes de pungentes afli��es - acrescentou
�urea.
- Os envolvimentos e circunst�ncias de vida na Terra, exercem not�vel influ�ncia sobre os encarnados.
Quantas almas partiram daqui optimistas, compenetradas das provas e das expia��es a vencer, cheias de esperan�as na expectativa de vit�ria; depois, como deixaram-se
levar por conquistas puramente materiais, retornaram, mais tarde. frustradas e vencidas, e, �s vezes, o que � pior, mais comprometidas com as Leis que regem a Vida.
N�o quero, de modo algum, desanim�-la, enfraquec�-la; pelo contr�rio, o meu objectivo � esclarec�-la com rela��o aos percal�os na carne, quando as percep��es
fisiol�gicas tornam-se mais intensas e fortes, quase insuper�veis. A solu��o � orar e vigiar para n�o cair em tenta��o.
- Realmente, querido irm�o, eu mesma j� me senti assim, v�rias vezes; conhe�o bem de perto tais frustra��es e a necessidade de recome�ar falidas jornadas de
reden��o moral. Todavia, tenho certeza de que desta vez tudo ser� bem diferente, porque n�o estagiarei na veste f�sica por muitos anos. A minha finalidade primordial
na experi�ncia em pauta, � resgatar um delito dos mais graves, que tem prejudicado a minha ascens�o espiritual e a do Murilo; tudo farei para solver esse d�bito
e auxiliar o meu companheiro a lograr o mesmo �xito.
Saulo limitou-se a sorrir; confiava em �urea, n�o obstante os �speros obst�culos a superar. Ela encontrava-se preparada e consciente das dificuldades pr�prias
da jornada. Al�m do mais, desejava libertar-se de crime bem antigo, que tanto a marcara intimamente, limitando-lhe a evolu��o moral.
- �urea, tudo que estiver ao meu alcance fazer, ser� feito; isso. obviamente, sem desrespeitar a lei do merecimento, � claro! - finalizou Saulo.
- Eu entendo a sua posi��o e agrade�o o seu interesse em querer nos ajudar: a mim e ao Murilo - respondeu �urea, sensibilizada, quase �s l�grimas.
Entrementes, vamos encontrar Murilo e Val�ria na sala de estar, bastante preocupados. Casados h� mais de dez meses e a esposa n�o engravidava. O filho, ansiosamente
aguardado, seria, sem d�vida, o embaixador da felicidade. O enxovalzinho do beb�, bem como o bercinho e os pertences necess�rios, j� haviam sido providenciados.
A sequ�ncia dos meses motivava intensa expectativa.
Assim, resolveram procurar um m�dico ginecologista, para os exames indispens�veis. Murilo, igualmente, consultou um especialista, a fim de saber se poderia
ser pai, ou seja, se com ele tudo estava bem. Ambos os facultativos consultados, chegaram � conclus�o de que os jovens estavam perfeitamente bem e saud�veis. Era
apenas quest�o de tempo. Nada de preocupa��es.
Citadas declara��es, partindo de profissionais competentes, deixaram os c�njuges esperan�osos e � espera da t�o desejada concep��o e posterior visita da "cegonha".
O renascimento dos esp�ritos na Terra, sempre recebem o aval da Espiritualidade maior, sem o que o evento n�o se concretiza. Nada ocorre � revelia da Lei Divina,
que tudo prev� e prov� sabiamente, no sentido de auxiliar a reden��o da Humanidade.
As reencarna��es, tantas quantas necess�rias, t�m como objectivo, n�o s� o resgate de delitos cometidos em outras vidas, como igualmente o aprimoramento progressivo
da Humanidade. Sem isso, como entender a Justi�a Divina? - Quest�es de n�mero 16' e 69, de O Livro dos Esp�ritos.
Ap�s dois meses, Val�ria, certa manh�, levantando-se do leito, ao preparar-se para o caf� matinal, disse ao marido:
- Meu bem, est� acontecendo algo comigo, h� v�rios dias; por�m n�o consigo atinar com o que seja.
- Voc� est� doente? - interrogou-a o marido, manifestando preocupa��o.
- N�o! Pelo contr�rio, eu me sinto bem; n�o sei
dizer o que �, mas estou contente sem motivo. � curioso, n�o?
Murilo olhou-a significativamente, depois de breve instante, adiantou:
- Voc� est� pensando no que eu estou?
- Estou ... Ser�?!
- Aguardemos alguns dias; na pr�xima semana visitaremos o m�dico, para dirimir a d�vida.
Quando foram ao m�dico, este, ap�s alguns exames, foi categ�rico:
- A Val�ria vai ser m�e! Parab�ns!
Decorridos cerca de nove meses, nasceu uma linda menina, que, desde os primeiros dias de vida, encantou a todos. Os pais n�o cabiam em si de contentes, tendo
recebido o nome: Cristina. �urea voltara, para cumprimento da Lei Divina.
Os comparsas do passado estavam novamente juntos na arena terrestre, para as indispens�veis expia��es, com a quita��o plena dos d�bitos assumidos no pret�rito
distante.
7 - A FRUSTRADA CONQUISTA.
Jurandir, pr�spero comerciante, era propriet�rio de uma casa de campo, situada nas proximidades da cidade onde residia; nesse local, passava todos os fins
de semana, juntamente com sua fam�lia, esposa e um casal de filhos. Leonor, sua dedicada companheira e os garotos: Diogo, de sete anos, e Rita, de cinco.
A propriedade era cuidada por um caseiro, homem rude, introvertido, um tanto esquisito. Jurandir, apesar disso, confiava no seu empregado, que se revelava
cumpridor dos seus deveres. Cust�dio, o seu nome, levava uma vida solit�ria, longe de tudo e de todos. Jurandir jamais pensara em se desfazer dele, n�o obstante
o seu jeito reservado: cara fechada, criatura de poucos amigos.
O dono da ch�cara nunca teve motivos para sequer repreend�-lo. Todos os servi�os eram executados com perfei��o e a tempo. A terra era cultivada, propiciando
boas colheitas, tanto de cereais quanto de frutas, embora a �rea n�o fosse grande. As aves e os animais dom�sticos, igualmente, mereciam, de Cust�dio, cuidados especiais,
produzindo a contento.
O servi�al morava nas depend�ncias destinadas a empregados, ao lado da casa dos patr�es. Nos fins de semana, Leonor precisava cuidar dos afazeres dom�sticos,
o que lhe ocupava todo o tempo, impossibilitando-a de desfrutar da companhia do marido e dos filhos, que procuravam fugir dos h�bitos da cidade, gozando as del�cias
e belezas do campo.
- Jurandir, sabe de uma coisa? precisamos contratar uma empregada para os encargos da casa, do contr�rio a minha vida n�o muda em nada; deixo de trabalhar
na cidade para trabalhar no campo, ocupando-me dos mesmos afazeres. N�o levo vantagem alguma - ponderou Leonor, com carradas de raz�o.
- Realmente, querida, n�o havia pensado nisso.
Contratemos, ent�o, uma mulher para executar os servi�os caseiros, para que voc� possa, juntamente connosco, fruir de momentos agrad�veis aqui na ch�cara,
fugindo � cansativa rotina de todos os dias - acrescentou o marido.
Naquele mesmo dia, contrataram Madalena, senhora de quarenta anos, presumivelmente, que vivia de favor em casa de parentes. A sua situa��o era inc�moda, considerava-se
um "peso" para a fam�lia, o que lhe causava constante aborrecimento. Assim, a mudan�a de vida proposta por Leonor, trouxera-lhe grande alegria. Agora, sim, iria
comer do "suor" do seu rosto, n�o pesando a ningu�m as suas despesas.
O seu mister era cuidar da casa, deixando tudo em ordem para a chegada da patroa nos fins de semana e feriados. Madalena era fiel cumpridora dos seus deveres;
n�o dando margem a qualquer motivo de recrimina��es por parte de Leonor. O marido jamais interferira nos seus servi�os, deixando a crit�rio da esposa a orienta��o
da servi�al, que ocupava as depend�ncias destinadas a empregadas dom�sticas, situadas pr�ximo � cozinha e a �rea de servi�o da casa.
Os patr�es revelavam-se satisfeitos com a contrata��o feita, pensando, inclusive, com o tempo, lev�-la para a cidade, pois empregadas de confian�a escasseavam
no mercado. Seria um pr�mio � dedica��o de Madalena.
Cust�dio olhava de longe Madalena, com cupidez; sempre s�rio, introvertido, alimentando pensamentos reprov�veis e sentimentos doentios, libidinosos.
Os pensamentos humanos s�o matrizes de conquistas elevadas e tamb�m de s�rdidos actos. aviltantes e conden�veis. Quando se libera pensamentos nobres, n�s nos
afinamos com o bem, atra�mos para junto de n�s energias de vida, superiores e sublimes, que nos ajudam a superar os �bices da vida, tornando-nos vitoriosos e felizes.
Por outro lado, quando damos acesso a mentaliza��es doentias, fundamentadas em ego�smo, orgulho, sensualidade descontrolada, a� ent�o s�o as manifesta��es
do mundo espiritual inferior que nos envolvem, prejudicando-nos mais e mais, enredando-nos em teias de sofrimentos e ang�stias, inesperadas e incontidas. Sejamos
inteligentes escolhendo as melhores companhias.
Cada um de n�s � art�fice do seu pr�prio destino.
Cust�dio atra�ra, para junto de si, entidades mal�ficas e odientas, que procuravam igualmente atender aos seus nojentos desejos. Os homens tornam-se infelizes
ao deixarem-se levar por sentimentos mesquinhos e aviltantes, oferecendo campo prop�cio a tais entidades perversas e ignorantes, que inescrupulosas assenhoreiam-se
de suas incautas v�timas, dando origem a torpezas de variadas esp�cies.
S�o infelizes os que se deixam envolver por esse tipo de vibra��es daninhas e enfermi�as.
Certa vez, em que os patr�es estavam na cidade, Cust�dio, dando vaz�o aos seus instintos selvagens, adentrou a casa, procurando violentar Madalena, n�o conseguindo
lograr o seu intento, porque a servi�al que tamb�m era forte, apanhou r�pido uma tesoura e amea�ou-o de morte, caso levasse adiante o seu projecto criminoso.
- T� certo! ... As coisas n�o v�o ficar assim. Eu voltarei, me aguarde - amea�ou o cafajeste, afastando-se vermelho de raiva.
Madalena, incontinenti, apanhou todos os seus pertences e foi para a casa dos parentes, inteirando-os do sucedido, posteriormente afastou-se, tomando destino
ignorado.
No final da semana, Leonor, n�o encontrando Madalena, foi at� a resid�ncia da fam�lia que um dia acolhera a empregada, sendo inteirada dos motivos graves que
a levaram a tomar tal atitude. Assim que Jurandir tomou conhecimento do fato, chamou Cust�dio � sua presen�a sentenciando:
- J� sei de tudo! Voc� portou-se como um canalha. Pensei que voc� fosse pessoa merecedora de minha inteira confian�a. Estou decepcionado! Aqui est� o seu sal�rio,
pode juntar as suas coisas e partir quanto antes.
- O senhor ter� o seu troco. Eu me vingarei, pode escrever - replicou, afastando-se revoltado, alimentando pensamentos vingativos.
- Leonor, ele j� se foi ... gra�as a Deus! J� avaliou a nossa responsabilidade, se o animal conseguisse o seu nojento prop�sito? - desabafou Jurandir, abra�ando
a esposa.
- Agora precisamos ter cuidados redobrados, pois a gente sabe tratar-se de indiv�duo perigoso, dado a repres�lias - tornou a consorte, pensativa.
- N�o tenha medo. "C�o que ladra n�o morde" diz a sabedoria popular. Confio na minha intui��o; desse n�s estamos livres - concluiu o marido.
Cust�dio, saindo dali, enraivecido, come�ou a projectar vingan�a. Como n�o tinha para onde ir, passou a perambular sem destino. Vivia embriagado, dormia ao
relento.
Alimentava-se pouco, vivendo da caridade p�blica, de vez que o dinheiro que recebera de Jurandir, j� havia terminado. De quando em quando desaparecia, por
uns tempos, indo para outras regi�es, depois voltava sempre em condi��es f�sicas e mentais piores. Seu pensamento estava cristalizado na vingan�a.
- Ele vai me pagar, e bem caro! Ora se vai! As coisas n�o v�o ficar como est�o ... O que ele me fez tem troco... Ah! se tem! ... Acabou com a minha vida, tamb�m
vou acabar com a dele - pensava. Da sua boca gotejava uma baba viscosa, nojenta. Seus olhos injectados de sangue, brilhavam estranhamente.
8 - EXPERI�NCIAS GRATIFICANTES.
Sucediam-se os anos. Cristina crescia em ambiente dos mais promissores, ensejando realiza��es enobrecidas no futuro. Menina d�cil e compreensiva, sempre dera
alegrias aos pais que, generosamente, lhe dedicavam amor e carinho incompar�veis. Agora, contando com oito anos de idade, manifestava, �s vezes, atitudes de adulto,
opinando com acerto sobre os mais diversificados problemas da vida. � bem verdade que n�o chegava a ser uma crian�a prod�gio, isso n�o! Todavia, possu�a uma intelig�ncia
�mpar! Sabia encontrar solu��es adequadas a casos intrincados. Os pais a adoravam, e os av�s, ent�o? Nem se diga!
Os meses foram passando c�leres no rel�gio do tempo; nada de especial a registrar, tudo normal. Cristina, cada vez mais aplicada e inteligente, dando provas
disso nos estudos, pois obtinha sempre as melhores notas, para j�bilo dos genitores. Os professores a estimavam profundamente, de vez que, em in�meras ocasi�es,
ela os ajudara no esclarecimento de coleguinhas que n�o conseguiam dominar as mat�rias, devido a limita��es de entendimento. Era uma menina activa que sabia aproveitar
bem as oportunidades de aprendizado, comuns a sua preciosa vida.
Murilo era amigo de Jurandir, desde longa data, quando encontravam-se batiam demorados papos, matando, assim, velhas saudades. Os acontecimentos que marcaram
suas vidas de jovens eram lembrados com entusiasmo, trazendo � tela mental de ambos, epis�dios passados, que muito os alegravam, pois deram aos seus dias um colorido
especial, fruto de experi�ncias gratificantes.
Nesta altura, Murilo encontrava-se com Jurandir, no centro da cidade e o convida para um cafezinho.
- Aceito. Ali�s, chega em hora certa, at� porque j� estou com fome e o almo�o ainda demora um bocado - respondeu Jurandir, com um largo sorriso.
- Pois �, a gente n�o se fala h� tanto tempo, precisamos conversar, p�r, inclusive, as novidades em dia, o amigo concorda?
- Sem d�vida! ... Contudo, n�o ser� hoje. Estou assoberbado de trabalho. Voc� sabe que a vida est� dif�cil, quanto mais se ganha, mais se gasta. O dinheiro
n�o d� para nada, desaparece como por encanto - considerou Jurandir.
- E o tempo, ent�o? como voa! At� parece que eu me casei ontem mesmo; no entanto, j� faz dez anos. Na pr�xima semana estarei iniciando mais um per�odo de f�rias
e, lamentavelmente, n�o tenho nenhum programa feito. A Val�ria pensa em viajar, mas como fazer, sem dinheiro?
- Se voc� quiser eu posso apresentar uma sugest�o, n�o � um grande lugar para se ficar, por�m d� perfeitamente para se fugir aos h�bitos comuns, gozando uns
dias diferentes ...
- Fale sem pre�mbulos, homem! Como?
- Eu tenho uma ch�cara, distante da cidade, cerca de dez quil�metros, onde passo os fins de semana e feriados, com a esposa e os filhos; eles adoram a ch�cara.
No pr�ximo fim de semana n�o poderei gozar tal regalia. Assim, caso o amigo aceite eu lhe darei as chaves. Voc�s poder�o permanecer l� tranquilamente por uns dez
dias - esclareceu Jurandir.
- Por mim, aceito! Vou conversar com a Val�ria, a respeito; tenho a certeza que ela vai concordar, e a Cristina, ent�o? Estou convicto que ficar� feliz! As
crian�as da cidade, geralmente, adoram a vida do campo, no conv�vio com a Natureza e com os animais.
Nesse mesmo dia, Murilo inteirou Val�ria sobre o oferecimento do amigo, em ceder a ch�cara para eles fru�rem uns dias diferentes, por ocasi�o das f�rias. A
esposa aquiesceu prontamente, mostrando-se mais contente do que seria justo esperar. Assim, Murilo procurou o amigo, a fim de receber as chaves e o endere�o. Ap�s
cinco dias, estavam acomodados na propriedade de Jurandir. Os alimentos necess�rios foram levados da cidade. Cristina adorou a vida no campo; as f�rias do pai casaram
com as f�rias escolares. Era um pr�mio � sua dedica��o aos estudos.
A casa da ch�cara era simples e acolhedora, bem cuidada, atestando o bom gosto dos propriet�rios; dotada de luz el�ctrica. No pomar encontravam-se �rvores
frut�feras de variadas esp�cies, todas seleccionadas com crit�rio, produzindo frutos saborosos.
Enquanto Murilo, normalmente, deleitava-se na leitura de bons livros, e a esposa ocupava-se com labores dom�sticos, Cristina cuidava da alimenta��o das aves
e dos pequenos animais. Os pintinhos e os patinhos, desde logo, mereceram a sua prefer�ncia. Eles a conheciam pela sua generosidade, aproximavam-se em bando, contentes,
fazendo festa! A menina os acolhia com amor, distribuindo migalhas de p�o e quirera de milho. Um patinho, certa vez, apresentou-se enfermo, Cristina, com aten��o
e carinho, colocou-o em uma caixa de papel�o, durante um dia, dispensando-lhe cuidados especiais, no dia seguinte j� estava refeito; colocado em liberdade, juntou-se
aos irm�ozinhos, em n�mero de doze.
Na varanda da casa havia um grande aqu�rio, onde viviam dezenas de peixinhos vermelhos. Cristina ficava horas a fio, sentada diante do aqu�rio, encantada com
os peixinhos, alimentando-os, conforme recomenda��o recebida do "tio Jura", era assim que ela o tratava carinhosamente.
- "Cristina, n�o d� aos peixinhos mais de uma medida desta. de ra��o; uma quantidade maior ir� prejudicar a qualidade da �gua, pondo em risco a vida dos peixes.
D� somente ra��o".
Essas pequenas actividades enchiam o tempo da menina, que revelava-se feliz. Outras vezes passava longas horas brincando com as crian�as da redondeza, filhos
de colonos, que a visitavam, interessados inclusive em obter certos favores. Tratava-se de gente pobre, quase sem recursos. Murilo e Val�ria fizeram amizade com
o povo daquela regi�o, oferecendo-se, fraternalmente, para solucionar poss�veis necessidades e contratempos.
Nas visitas dos garotos a Cristina, o que ocorria com regular frequ�ncia, vinha o c�ozinho Boneco, pretinho pretinho. Boneco era assim chamado, porque n�o
sa�a do colo das meninas. Assim que Boneco via Cristina, punha-se a lhe fazer festa. A menina, igualmente, gostava do cachorrinho, ou melhor: estava fascinada por
ele, pela sua obedi�ncia, sujeitando-se � vontade de todos. Boneco n�o tinha dono, aparecera por aquela redondeza trazido por algu�m que, na certa, desfizera-se
do animal, pelo trabalho que este lhe causava.
Tais acontecimentos enfeitavam a vida de Cristina, que descobria, a cada momento, novos encantos de viver.
Assim, o tempo, que jamais p�ra, foi transcorrendo sem preocupa��es e problemas. Entretanto, avizinhavam-se momentos cruciantes de dores amargas e agudas,
indispens�veis � repara��o de delitos perpetrados em outras vidas. Ali�s, era exactamente para cumprir esses resgates dolorosos, que os tr�s estavam mais uma vez
reunidos. O per�odo de dores e l�grimas seria dos mais dif�ceis, exigindo de todos, ren�ncia e abnega��o �mpares.
Outro factor primordial, que n�o pode ser esquecido, para obter-se sucesso sobre o sofrimento e sacrif�cios a serem enfrentados, �, indiscutivelmente, a f�
nos Des�gnios Divinos.
9 - O INIMIGO DO PASSADO.
Matilde era vi�va h� uma dezena de anos, recebia mensalmente uma pequena pens�o do INPS, insuficiente para cobrir as suas despesas, apesar de pequenas. Assim,
a fim de saldar os seus compromissos, trabalhava de faxineira, alguns dias por semana. Seu filho Reinaldo, sempre fora rebelde aos seus conselhos, preferindo o di�logo
com os "amiguinhos" inconsequentes e perniciosos, que s� causavam malef�cios, motivo de constante preocupa��o para o seu cora��o sens�vel. Matilde, como todas as
m�es, somente queria o progresso e bem-estar do filho.
Reinaldo j� havia completado dezoito anos de idade.
Face � insist�ncia da genitora, Reinaldo foi, algumas vezes, falar com o m�dium Matias e tomar passes magn�ticos. Ali�s, Matilde frequentava com regularidade
a casa
do m�dium, velho simp�tico, de uma bondade e compreens�o a toda prova. Em uma das visitas de Matilde, o irm�o Matias, procurando esclarec�-la com rela��o ao
filho, dirige-lhe a palavra nestes termos:
- Tenho visto com frequ�ncia um esp�rito vingativo, a regular dist�ncia do seu filho, mas atento a tudo que acontece com o mo�o. Eu disse vingativo, porque
ele apresenta-se bastante escuro, fisionomia dura, punhos cerrados. Parece-me que aguarda ensejo prop�cio para vingar-se de situa��es dolorosas criadas pelo Reinaldo
em outras vidas, a seu dano. N�o fiz refer�ncias a esse fato, antes, porque a irm� n�o estava preparada para ouvir tal revela��o.
- Vingar-se de qu�? O Reinaldo n�o tem inimigos! - Matilde, � como eu lhe adiantei: trata-se de um advers�rio de outras vidas. N�s j� vivemos incont�veis exist�ncias
aqui na Terra, assim como viveremos outras tantas ou muito mais ainda. Nas encarna��es passadas, dando vaz�o ao orgulho e ao ego�smo, fizemos muitos inimigos. Agora,
desfrutando de nova oportunidade, somos for�ados a enfrentar lutas redentoras. Os advers�rios de outras jornadas terrenas, que ainda est�o no espa�o, aproveitam-se
da ocasi�o para fazer justi�a com as pr�prias m�os. Esse � o caso do Reinaldo.
- Mas Deus sendo Sabedoria e Amor sem limites, como � que permite tais vingan�as? - inquiriu Matilde, com veem�ncia.
- Realmente! Deus � Sabedoria e Amor infinitos; contudo, tamb�m � Justi�a inigual�vel. Conv�m levarmos em conta, antes de mais nada, que as v�timas de hoje
foram os algozes de ontem. A reaproxima��o dos litigantes de outras vidas, objectiva a reconcilia��o de todos, pois ningu�m atinge a perfei��o, embora sempre relativa,
caso n�o se liberte definitivamente dos compromissos assumidos diante das eternas e imut�veis Leis Divinas.
- Meu Deus! ... Como fazer, ent�o, para que o esp�rito obsessor seja afastado?
- Somente h� um rem�dio infal�vel: a terap�utica do amor e do perd�o sinceros. O esclarecimento do Reinaldo e do irm�o que se julga prejudicado, ter� a for�a
de afast�-lo regenerado e feliz para sempre.
- O Rei, infelizmente, n�o se submete a qualquer tipo de disciplina. Julga-se livre e auto-suficiente para resolver os seus problemas, apesar de s� contar
com dezoito anos de idade.
- Matilde, diz o ad�gio popular: "De pequenino se torce o pepino". Tudo fica mais f�cil quando a crian�a tem pouca idade. S�o mais d�ceis e obedientes, por�m
� medida que os anos passam, a tarefa de educ�-los vai tornando-se mais dif�cil. Emmanuel, guia espiritual do m�dium Chico Xavier, no livro O Consolador, quest�o
de n.o 109, esclarece que a idade mais apropriada para educar-se as crian�as, vai de 0 a 7 anos de idade. Nessa faixa et�ria o esp�rito ainda n�o est� perfeitamente
integrado ao vaso f�sico; da� a docilidade e obedi�ncia que os menores revelam. Todavia, vencida essa etapa, quando o esp�rito assenhoreia-se integralmente da veste
fisiol�gica, o comportamento tende a mudar. As experi�ncias vividas no passado come�am a alterar imperceptivelmente os h�bitos do menor, que passa a ter opini�o
pr�pria, n�o aceitando, muitas vezes, at� o aconselhamento dos genitores, revelando-se rebelde.
Ap�s a conversa com o m�dium, por sinal bastante proveitosa, Matilde regressou � sua casa, preocupad�ssima com a sorte de Reinaldo. Como proceder para ajud�-lo,
impedindo o ass�dio da entidade ignorante e vingativa?
Realmente, Rei, quando menino, gostava de furtar frutas, pequenos objectos, brinquedos; tudo que lhe ca�sse �s m�os, partilhando experi�ncias com "amiguinhos"
irrespons�veis do seu grupo. A t�tulo de divertirem-se, iam, aos poucos, adquirindo o v�cio de roubar. Os conselhos maternos eram repelidos com energia. Rei n�o
aceitava orienta��o de quem quer que fosse.
Ali�s, era esse exactamente o desejo do esp�rito obsessor: fazer com que Reinaldo, um dia, fosse preso e condenado a permanecer longos anos no pres�dio. Em
exist�ncia passada, Rei tamb�m tinha o v�cio de roubar. Em uma dessas ocasi�es fora preso e denunciara o comparsa � pol�cia, o que fez com que o inimigo de hoje,
amargasse muitos anos de pris�o.
A d�vida era antiga. O algoz o espreitava de longe, pacientemente. De quando em quando avizinhava-se do mo�o, a fim de poder submet�-lo � sua vontade aviltante,
incentivando-o � pr�tica do roubo.
Curiosamente, Reinaldo que n�o atendia os conselhos de ningu�m, aceitava com alegria os alvitres inferiores que lhe eram ditados pelo desafecto das sombras.
Assim, pouco a pouco, entregava-se � influ�ncia nefasta do inimigo invis�vel.
Quantos processos obsessivos t�m in�cio desse modo, subtilmente e, depois, tornam-se insuport�veis e de dif�cil diagn�stico e tratamento.
Incont�veis vezes os advers�rios do pret�rito, passam a conviver com as suas v�timas, desde os primeiros anos de idade, infiltrando-se subtilmente na vida
do menor, mudando-lhe os h�bitos devagarinho, sem que ningu�m perceba. Assim, ao longo dos anos, v�o dominando progressivamente a vontade da sua v�tima; quando os
pais descobrem que est� ocorrendo algo de anormal com o filho, as coisas j� est�o dif�ceis de serem solucionadas. � comum a gente ouvir certas frases como estas:
- N�o sei porqu�! De uns dias para c�, esse garoto virou um capeta, ningu�m pode com a vida dele. S� sabe aprontar!
Por que o filho n�o � mais aquele? Por qu� agora n�o atende mais ningu�m? � f�cil diagnosticar: os pais jamais estiveram atentos com rela��o ao seu comportamento,
como seria indispens�vel. Quantas vezes disseram :
- Ah! � uma crian�a, depois aprende. � cedo para ensinar, n�o devemos for��-lu, para n�o criar traumas, que seria bem pior. Por enquanto � cedo, com o tempo
tudo se ajeita. Realmente, com o tempo tudo muda; se n�o fizerem algo agora, as coisas mudam, sim, para pior. A verdade � que as crian�as est�o capacitadas a aprender
desde os primeiros dias de vida; as li��es � que precisam ser dosadas, conforme a idade do menor, sem deixar de lado a terap�utica do amor e da energia, em propor��es
correctas para cada �poca. Os pais que se omitirem com rela��o � educa��o dos seus filhos, ser�o responsabilizados diante da Lei Divina.
10 - RESGATES DOLOROSOS.
Cust�dio alimentava sentimentos de �dio, prometendo cumprir a promessa de acabar com a vida de Jurandir e da sua fam�lia; somente assim sentir-se-ia vingado
pelo fato de ter sido despedido pelo ex-patr�o. Em tempo algum ocorria a esse esp�rito, pobre de virtudes e rico de imperfei��es morais, que fora mandado embora
da propriedade, devido ter tentado estuprar Madalena, empregada contratada por Leonor, para executar labores dom�sticos na casa da ch�cara.
Cust�dio, portanto, havia merecido a atitude dr�stica tomada por Jurandir, despedindo-o. Somente ele, Cust�dio, era respons�vel por tudo que havia acontecido
em seu total preju�zo. A partir do momento em que deixou a ch�cara, passou a alimentar pensamentos sombrios de repres�lia contra os antigos patr�es. Afastava-se
da regi�o, perambulando pelas estradas, permanecendo distante muitos dias, depois voltava, sempre alcoolizado, remoendo pensamentos vingativos. A ideia de concretizar
o crime em tempo algum deixou de povoar a sua mente doentia.
Com o passar dos anos atra�ra para junto de si entidades perversas e ignorantes, que mantinham igualmente sentimentos de revolta e �dio. Citadas entidades,
al�m de divertirem-se � sua custa, tamb�m aumentavam o seu desequil�brio, colocando-o sempre como v�tima inocente e que precisaria, para sua tranquilidade �ntima,
levar a termo a prometida vingan�a. Tais esp�ritos ainda sugeriam de que maneira deveria levar avante a sua vontade, concretizando-a para dano do seu algoz.
Cada criatura liga-se, consciente ou inconscientemente, a entidades espirituais boas ou m�s, atrav�s da natureza dos seus pensamentos e sentimentos. Jesus
nos advertiu que dever�amos vigiar e orar, para n�o cairmos em tenta��es (Marcos 14:38). N�o foi por acaso que o Divino Amigo nos orientou nesse sentido. O Esp�rito
de Verdade, respondendo � quest�o de n.o 459, de O Livro dos Esp�ritos, levantada por Allan Kardec, afirmou que os esp�ritos interferem nos nossos pensamentos e
actos, muito mais do que imaginamos. influem a tal ponto, que, de urdin�rio, s�o eles que nos dirigem.
Nesta altura, Cust�dio, que havia permanecido meses distante, perambulando por outras paragens, remoendo pensamentos enfermi�os de �dio e vingan�a, retornou
� regi�o, mais uma vez, disposto a p�r termo no seu nefasto projecto. Vinha acompanhado de entidades sombrias, que o abra�avam incentivando-o a executar seus planos
criminosos. Alojou-se a um canto de um bar, permanecendo ali, grande parte do dia, alimentando-se pouco e bebendo bastante. Quando o rel�gio do bar anunciava vinte
e duas horas, levantou-se e foi em direc��o a um terreno baldio, abaixando-se para apanhar um vasilhame pl�stico, contendo gasolina. Em seguida afastou-se, cambaleando,
pelo excesso de bebida ingerida; por volta da meia noite, veio de volta!
O sil�ncio era absoluto; Cust�dio, com extrema dificuldade, foi em direc��o � ch�cara; remexendo em um dos bolsos, encontrou uma chave, dada a ele por Jurandir,
quando seu empregado. Abriu a porta da casa e entrou, sorrateiramente, deslizando na sombra. Ele conhecia bem o interior da moradia, sabia em que quarto Jurandir
dormia. Derramou gasolina em todos os lugares, principalmente nas cortinas e estofados, m�veis e roupas; ato continuo ateou fogo. Incontinenti, o interior da casa
ficou totalmente tomado pelas chamas, excepto o quarto de Jurandir. Cust�dio n�o se atreveu a entrar no dormit�rio, com receio de ser surpreendido pelo ex-patr�o.
Murilo acordou sufocado pela fuma�a espessa que entrava no quarto. A primeira provid�ncia foi acudir Cristina, que ocupava o quarto cont�guo. O aposento estava
totalmente dominado pelas chamas. Murilo corajosamente entrou, de olhos fechados para proteger suas vistas, foi at� a cama onde a filha dormia, procurou-a, enlouquecido,
constatando sua morte. Saiu correndo, desesperado, em direc��o ao fundo da casa, sempre entre as chamas, fugindo para o interior da ch�cara, quase fora de si, gritando:
- Meu Deus!... Meu Deus!.. Cristina!... Cristina!...
Correndo sempre. distanciou-se da propriedade, quando ouviu uma enorme explos�o. O fogo havia queimado a mangueirinha pl�stica do butij�o; o g�s, consequentemente,
come�ou a jorrar com for�a, ocorrendo a explos�o, que destruiu grande parte da casa.
Val�ria acordou com a explos�o, notando a aus�ncia do marido, abriu a janela que dava para o p�tio da casa, evadindo-se nas sombras da noite, apavorada, sem
poder atinar com o que fazia nem com o que teria acontecido naquele inferno de chamas.
Al�m de Cristina, Cust�dio tamb�m perdera a vida; embriagado n�o tivera for�as para fugir a tempo. Ca�ra na armadilha que criara para matar seu antigo patr�o.
Nesta altura, os esp�ritos obsessores divertiam-se com o desfecho, procurando, inclusive, raptar Cust�dio (esp�rito), com a inten��o de lev�-lo, a todo custo, para
zonas trevosas, de dores inenarr�veis. Cust�dio era fisicamente parecido com Murilo e n�o tinha documentos pessoais. A pol�cia accionada a respeito, chegara � conclus�o
�bvia: tratava-se de Murilo, at� porque ningu�m sabia da presen�a do criminoso naquela paisagem rural, desconhecendo, inclusive as suas ign�beis inten��es.
Val�ria, sem saber como agir, desorientada e infeliz, aproveitando o oferecimento fraterno de um motorista, retornou de carro ao seu lar, sendo posteriormente
informada pela pol�cia, da morte de Cristina e do seu marido, ambos carbonizados e irreconhec�veis. O laudo policial fora claro, sem deixar margem a qualquer d�vida:
Murilo e a filha foram as v�timas fatais do inc�ndio. Iriam investigar as causas do fogo; no momento, por�m, nada poderiam adiantar sobre a origem do sinistro.
� tarde desse dia, foi feito o sepultamento dos dois em jazido da fam�lia. Quantas l�grimas foram vertidas, tanto por parentes, quanto por amigos. Murilo era
por demais conhecido e estimado na regi�o, por seu comportamento correcto, sempre interessado em ajudar o pr�ximo; fosse quem fosse encontrava nele um amigo disposto
a partilhar das dores alheias. Cristina, igualmente, era admirada por todos, merc� das suas excelentes qualidades; era exemplo vivo para as garotas da sua idade.
Al�m de tudo, a forma de morte que tiveram, sensibilizara as pessoas que de alguma forma j� estiveram ligadas aos dois, por la�os de fam�lia ou sincera amizade.
A Lei de Causa e Efeito cumprira-se. Ali�s, foi para isso que os dois retornaram ao cen�rio terrestre. Cristina havia quitado grande d�vida assumida em outras
vidas; enquanto Murilo ainda precisava viver para liquidar de vez antigas pend�ncias, libertando-se de obst�culos que o impediam de progredir moralmente, capacitando-o
a realizar actos enobrecidos.
Val�ria, igualmente, pagara o seu tributo de dores.
A Lei Divina, que � feita de Sabedoria e Justi�a, jamais deixa de conceder miseric�rdia aos seres desditosos, envolvidos em lances aflitivos de expia��es indispens�veis.
H� alegrias, hoje, que ser�o tristezas, amanh�; assim como, h� tristezas, hoje, que ser�o alegrias, amanh�.
Aguardemos, pois, os epis�dios finais das vidas dos protagonistas desta hist�ria, para comprova��o das afirmativas em trato.
11 - TRATAMENTOS DESIGUAIS.
Ap�s a explos�o o inc�ndio tomou propor��es assustadoras. As chamas devoraram tudo com rapidez, reduzindo a casa a simples escombros. Agora, s� restava um
mont�o de ru�nas fumegantes, atestando o tamanho e a gravidade do acontecimento que marcara, com sinete em brasa, almas sens�veis cativas de vidas pret�ritas.
Assim que Cristina desencarnara, foi recolhida por bra�os amor�veis e levada com todo carinho a uma institui��o socorrista de refazimento espiritual. Os seareiros
que a atenderam, de pronto, estavam vestidos como enfermeiros, e a transportaram adormecida, dispensando-lhe aten��es especiais, compat�veis com a sua situa��o no
momento.
A institui��o estava localizada no cimo de uma montanha; tudo ali era de uma beleza sem par. Notava-se, nas suas imedia��es, uma movimenta��o bastante intensa,
dada a natureza dos seus labores. Criaturas iam e vinham, todas compenetradas dos seus misteres. Entidades em alta eram levadas por amigos e parentes a outros locais,
a fim de iniciarem aprendizados espec�ficos. Outros esp�ritos eram internados para o indispens�vel tratamento, como no caso de Cristina. No interior do pr�dio, onde
o asseio e a ordem eram a t�nica indiscut�vel, havia incont�veis salas, todas bem iluminadas, destinadas a actividades enobrecidas.
Cristina foi transportada a uma dessas salas e acomodada em cama confort�vel, coberta com len�ol de tecido t�nue e acariciante como p�talas de rosa. Logo,
em seguida, surgiram dois m�dicos, a fim de inteirarem-se perfeitamente do ocorrido. Ap�s breve exame, conversaram entre si:
- Tudo bem com a nossa irm�zinha; brevemente estar� trabalhando em favor do pr�ximo - adiantou um deles.
- Concordo com o seu parecer - disse o outro - o quadro cl�nico n�o apresenta nada de anormal que possa exigir tratamento mais demorado e altamente espec�fico.
- Realmente, ela foi feliz na quita��o do d�bito moral que pesava sobre a sua vida, impossibilitando-lhe a realiza��o de cometimentos elevados - tornou o primeiro.
- A sua fisionomia � a dos justos, est� tranquila; dorme serenamente. Trata-se de criatura merecedora da nossa maior aten��o e cuidado.
- O mister dela, depois de atendida, n�o ser� nada f�cil junto ao seu companheiro, nosso irm�o Murilo, que ainda encontra-se preso � veste f�sica.
Cristina permaneceu internada na Institui��o socorrista, cerca de dois meses, segundo o calend�rio da Terra. Ao receber alta, foi levada para uma escola, onde
recebeu, durante determinado per�odo, o aprendizado indispens�vel para poder bem cumprir a sua miss�o junto a Murilo.
Quando os dois ainda estavam no espa�o, antes da �ltima encarna��o, houve uma promessa de Cristina, no sentido de auxiliar a Murilo nas �speras porfias da
sua vida em curso. Assim, Cristina estava na imin�ncia de come�ar a cumprir o prometido, no que seria, inclusive, assistida por Benfeitores amigos. a fim de que
os lances mais agudos, de dores e l�grimas, n�o redundassem em fracasso. A dura experi�ncia do companheiro precisaria ser vencida com �xito, libertando os dois das
teias de comprometimentos dolorosos assumidos em vidas pregressas.
No mesmo instante em que Cristina era socorrida por entidades ben�volas, ap�s o desencarne, Cust�dio tamb�m recebia a visita de seres imateriais que vieram
� sua procura. Esp�ritos hediondos, sarc�sticos, aproximaram-se e o arrebataram � for�a, levando-o para local tenebroso, de "choro e ranger de dentes".
Esp�ritos vinculados ao seu passado de crimes e desatinos de toda ordem, levaram-no; alguns desses seres trevosos, que formavam a comitiva, foram atra�dos
por Cust�dio, atrav�s dos v�cios que possu�a, tais como: fumo, �lcool, t�xicos (h�bito adquirido nos �ltimos meses de vida na mat�ria); al�m, naturalmente, dos pensamentos
doentios de �dio e vingan�a que nutria contra o seu ex-patr�o. Tudo isso fez com que o cortejo de entidades sofredoras aumentasse consideravelmente, arrebatando-o
violentamente e desaparecendo na escurid�o compacta e sinistra, levando-o para locais de tormentos inauditos.
Na atmosfera terrestre existem institui��es de refazimento espiritual, escolas de aprendizados redentores locais de entretenimentos sadios, onde o merecido
j�bilo � uma constante em todas as fisionomias. Existem, igualmente, zonas de sofrimentos superlativos e revoltas que v�o al�m do que podemos imaginar. L�deres carrascos
comandam multid�es de criaturas amarguradas e infelizes.
Cada ser ao desencarnar-se segue o caminho que escolheu, juntando-se aos afins. Aqui na Terra a popula��o � heterog�nea, existem pessoas de todas as �ndoles
e condi��es morais. Pobres e ricos, perfeitos e imperfeitos, sadios e doentes, virtuosos e transgressores da Lei Divina, vivendo ombro a ombro, intercalados na
mesma colectividade.
No plano imaterial, ou seja, na psicosfera terrestre, na condi��o de esp�ritos errantes, ainda sujeitos a novas encarna��es de aprimoramento moral e aquisi��o
de valores eternos, existe uma multid�o de seres, agrupados conforme suas tend�ncias e merecimento. Cada qual com os seus pares, reunidos pelos mesmos pensamentos
e sentimentos.
Assim, podemos facilmente identificar grupos de viciados, de maledicentes, de malvados e vingativos, etc.
Por outro lado, podemos notar igualmente Esp�ritos laboriosos empenhados em ajudar a Humanidade a redimir-se Os crit�rios de merecimento e de sintonia s�o
observados com rigor e equidade. Nada escapa � perfeita Lei Divina, feita de Miseric�rdia e Justi�a.
Os seres arrebanhados �s zonas mais densas, de dores incalcul�veis, onde o crime � uma constante incontest�vel, somente reabilitar-se-�o quando se empenharem
na pr�pria melhoria �ntima. Ap�s exaustivas e dolorosas perman�ncias nesses locais trevosos, ambientes de l�grimas e gargalhadas sarc�sticas, em lutas acirradas,
ocorrer� pequenos vislumbres inesperados de felicidade, � semelhan�a de rem�dio utilizado no combate a dores lancinantes, que marcam intensamente aqueles seres desditosos.
Todos os seres humanos disp�em de livre arb�trio, ou seja, t�m liberdade para fazer o que bem entenderem; contudo, cada um receber� conforme a natureza dos
seus actos. A pr�pria Natureza nos oferece li��es das mais esclarecedoras e irrecus�veis. Quem semeia espinhos, de modo algum colher� flores. A boa semente produzindo
o bom fruto. assim como da m� semente nascer�o sempre maus frutos. E da Lei divina!
Tanto Cristina quanto Cust�dio foram recepcionados na chegada ao plano espiritual; no entanto, houve acentuada diferen�a de atendimento, em raz�o do merecimento
espec�fico de cada um deles. A morte n�o confere, a quem quer que seja, situa��es privilegiadas. Ela � apenas a porta para uma vida diferente. Ap�s o abandono do
vaso f�sico, o indiv�duo continua desfrutando das pr�prias experi�ncias, felizes ou infelizes. A natureza n�o d� saltos. A vida continua, independente da nossa vontade.
Cristina, em breve, estar� trabalhando em favor do bem-estar alheio, e, consequentemente, em benef�cio de si mesma. Cust�dio, lamentavelmente, curtir� momentos
de intensas dores, digladiando-se com seres odientos e perversos, alimentados por vingan�as seculares. Coitados daqueles que, consciente ou inconscientemente, aliam-se
a tais entidades sombrias, de sentimentos aviltantes.
Cada um de n�s � livre para escolher o pr�prio destino.
12 - ATENDIMENTO FRATERNO.
Murilo, descal�o e de pijama, ensandecido, correu v�rios quil�metros, at� que, sem for�as para prosseguir, sofrendo dores lancinantes, principalmente no rosto
e nas m�os, n�o suportando mais, caiu, perdendo os sentidos. Socorrido por uma mulher e pelo seu filho, foi levado para uma casa humilde, onde ficou alojado em um
c�modo dos fundos da moradia. Atendido fraternalmente por Matilde, que vivia ali com seu filho Reinaldo.
Assim que Murilo voltou a si, agradeceu o apoio crist�o que recebera, solicitando, inclusive, que nada dissessem a ningu�m, por quest�es de fam�lia. Gostaria,
igualmente, de permanecer ali at� recuperar-se das queimaduras. Matilde, mulher boa e compreensiva, entendera as solicita��es do ferido. Com panos alvos e macios,
humedecidos em �gua limpa e fluidificada (ela era esp�rita), foi tratando dos ferimentos, com carinho extremado.
A regenera��o dos tecidos levou muito tempo, at� porque Matilde n�o dispunha de rem�dios adequados ao tratamento das queimaduras. Assim, somente ao final do
primeiro m�s � que Murilo apresentava-se curado e em condi��es de poder seguir o seu destino.
Murilo prometeu pagar o trabalho e a dedica��o que lhe foram dispensados, por�m Matilde negou-se, terminantemente, receber qualquer tipo de remunera��o. Sentia-se
gratificada com o resultado obtido, acrescentando:
- Foi Jesus que o curou; eu nada fiz, apenas cumpri com o meu dever de crist�. Entendi e pus em pr�tica a li��o da par�bola do bom samaritano s Lucas 10:33
a 35).
- Eu conhe�o a par�bola; � uma das mais bonitas e edificantes da Boa Nova do Cristo, porque enfoca a caridade como a maior virtude, acima dos r�tulos religiosos
que nada valem sem a viv�ncia dos ensinamentos de amor.
- Voc� � esp�rita? - perguntou Matilde.
- N�o. N�o sou esp�rita. Gosto apenas de ler o Novo Testamento. Sempre encontrei, em suas p�ginas, as solu��es para os meus problemas e conforto para o meu
cora��o - aduziu Murilo.
- Eu sou esp�rita desde mocinha; tinha s�rias perturba��es que somente o Espiritismo resolveu. Hoje, eu procuro fazer o mesmo com as pessoas que precisam e
que cruzam o meu caminho. Tenho, inclusive, algumas obras esp�ritas sempre � m�o, para as minhas costumeiras leituras e reflex�es.
- Os livros s�o nossos mestres, n�o cobram nada e ensinam bastante...
- Principalmente os livros esp�ritas - interrompeu-o Matilde, com convic��o. - Eu o noto muito sofrido.
Voc� precisa ler O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec. Trata-se de excelente obra que tanto esclarece quanto consola o nosso cora��o, tornando-nos
fortes contra os percal�os da vida. Com o tempo voc� vai precisar de uma pl�stica no rosto, a fim de se livrar das sequelas deixadas pelas queimaduras. J� pensou
nisso?
- Agrade�o o seu interesse em me ajudar. Contudo, com rela��o � pl�stica, n�o sei, n�o. Isso vai depender de recursos financeiros que n�o possuo. N�o tenho
nada, nada mesmo! At� a esperan�a que morava no meu cora��o, j� partiu para rumo ignorado - tornou Murilo, revelando na voz a amargura que dominava o seu cora��o
sens�vel.
- Murilo, tudo que acontece, que marca demais a nossa vida, tem uma raz�o de ser. Eu tamb�m tenho s�rios problemas que procuro solucionar com a terap�utica
da paci�ncia e do amor; alguns s�o f�ceis, outros demandam tempo, boa vontade e empenho. Reinaldo, por exemplo, est� vivendo uma fase das mais dif�ceis, apesar dos
meus esfor�os em orient�-lo, ele n�o me d� aten��o, aceitando sempre os aconselhamentos perniciosos dos "amiguinhos" inconsequentes e irrespons�veis, dominados por
h�bitos ociosos, nutrindo pensamentos conden�veis.
Os frequentes di�logos de Matilde com Murilo, faziam-lhe um grande bem, revigorando-lhe as energias mentais, tornando-o mais paciente, compreensivo, resignado.
Matilde enfrentava experi�ncia dif�cil, no que tange � manuten��o do lar; os recursos financeiros eram minguados. Apesar dessa situa��o, cuidava com muito
zelo dos afazeres dom�sticos, executando-os a tempo e a contento.
A preocupa��o maior era o seu filho, acompanhava com extremada vigil�ncia o comportamento de Reinaldo que sempre revelava-se arredio �s suas bondosas palavras.
O que tem sido de muito valor a Matilde � a confian�a que tem em Deus e Jesus, fontes de d�divas infinitas de amor. Matilde sabe que, ap�s uma exist�ncia de
rudes repara��es, sempre surgir� a aurora de um novo dia, trazendo ensejos enobrecidos de enriquecimento �ntimo dos seres humanos, na esteira infinita do tempo.
Tal convic��o �, indubitavelmente, o grande sustent�culo da preciosa vida de Matilde. Ama o seu filho e o seu lar, embora pobre; luta, como ningu�m, a fim
de levar avante o seu fardo de provas e repara��es �speras.
Seu filho, rebelde �s suas bondosas e s�bias palavras, tem sido o motivo de suas constantes inquieta��es.
Desde pequeno, sempre revelara interesse pelas coisas alheias, furtando laranjas, l�pis, algumas moedas brinquedos dos amiguinhos. Matilde, que acompanhava
de perto os seus passos, o advertia constantemente, fazendo-o entender que ningu�m deve se apropriar indevidamente de objectos que n�o lhe pertencem. Sempre aparecia
com novidades em casa, o que trazia � m�e s�rias e frequentes preocupa��es a respeito do seu futuro. Considerado, por todos que o conheciam, como garoto de invulgar
intelig�ncia.
Matilde j� fora rica em outras vidas e n�o soubera administrar os bens que possu�a em proveito da colectividade carente; pelo contr�rio, envolvera seu filho,
na ocasi�o, em neg�cios desonestos. Agora vive uma exist�ncia plena de necessidades; trabalha exaustivamente e tem como finalidade maior, trazer o seu filho para
o caminho do bem. Reinaldo � a reencarna��o do filho do passado, desencaminhado por ela mesma, pela sua ambi��o desmedida. Nada ocorre � revelia da S�bia e Justa
Lei Divina.
Ningu�m conquista a perfei��o vivendo uma exist�ncia apenas: do ber�o ao t�mulo. A reencarna��o abre caminho para a perfei��o, embora esta seja apenas relativa.
A evolu��o � infinita. �, exactamente, atrav�s das vidas sucessivas que os esp�ritos atingem esferas de purifica��o e bem-aventuran�as indescrit�veis.
Quando Jesus disse: "� mais f�cil um camelo passar pelo fundo de uma agulha, que um rico se salvar" (Mateus 19:24), n�o quis, evidentemente, afirmar que os
ricos estariam perdidos, espiritualmente, para sempre. A li��o em foco apenas ressalta que a prova da riqueza � uma das mais dif�ceis, mas n�o imposs�vel de ser
superada com �xito.
A riqueza enseja orgulho e ego�smo, as duas mazelas piores que ainda medram no cora��o humano. O orgulho � contr�rio � humildade; o ego�smo � a ant�tese da
caridade, as duas maiores virtudes, delas derivam todas as demais qualidades morais.
Matilde, sempre que se sentia fragilizada pelas vicissitudes da vida, procurava aconselhar-se com o bondoso Matias, esp�rita e m�dium vidente que, al�m de
orientar as pessoas necessitadas de atendimento espiritual, igualmente aplicava passes magn�ticos. Ap�s as reiteradas visitas, voltava para sua casa, revigorada
e confiante na Vontade de Deus.
13 - O PALHA�O BOMBOM.
Jurandir, ao ser inteirado da trag�dia que destru�ra o lar de Val�ria, procurou-a para conversarem a respeito e confort�-la na dura expia��o. Val�ria estava
bastante traumatizada com o sucedido, tamb�m n�o era para menos, perder o marido e a filha, de repente, e de maneira t�o tr�gica. Jurandir revelou-se compreensivo
e fraterno ao colocar-se � disposi��o para quaisquer eventualidades.
Val�ria lamentou os preju�zos materiais que ele tivera, pois da propriedade sobrara bem pouco. O inc�ndio, em pouco tempo, consumira quase tudo, restando s�
escombros.
Agradecida por tudo, Jurandir. - disse Val�ria - N�o dispenso a sua amizade e, se necess�rio, recorrerei, sem d�vida, ao seu valioso apoio.
- Estarei sempre � sua disposi��o, lembre-se disso - respondeu, sublinhando as palavras.
Entrementes, Murilo, cada vez que olhava-se no espelho lembrava-se do di�logo que mantivera com Val�ria, quando namorados:
- ... Eu gosto de voc�, porque � bonito... "
- ... Voc� n�o leva em conta as qualidades morais das pessoas?"
- "Perfeitamente! Contudo, para meu esposo eu sempre almejei ter um homem que fosse bonito, antes de tudo... "
Diante dessa amarga realidade, ele com o rosto terrivelmente marcado e Val�ria desejando ter ao seu lado um companheiro que fosse bonito, resolveu deixar o
tempo passar, at� porque havia sido dado como morto.
Por outro lado, a pol�cia n�o havia chegado a uma conclus�o acerca das causas do inc�ndio, tendo em vista que pouca coisa escapara das labaredas fam�licas.
Murilo, com o transcurso dos meses, resolveu procurar um meio de vida para poder sobreviver; n�o poderia, evidentemente, permanecer por mais tempo na casa
de Matilde, apesar dela mostrar-se compreensiva e fraterna. Todavia, o qu� fazer? N�o poderia aparecer diante dos parentes e amigos, pois consideravam-no morto.
Al�m do mais, o seu aspecto, por certo, causaria compaix�o. Isso nunca! Agora, trazia, no rosto, sequelas da trag�dia que destru�ra seu lar, roubando-lhe, inclusive,
o bem mais precioso de sua vida: Cristina!
Murilo, dominado pela amargura, continuava procurando emprego, por�m sem sucesso, quando ocorreu um fato que alterou completamente a sua vida. Na periferia
da cidade montaram um pequeno Circo, desses que correm o interior do Estado, a fim de poder sobreviver � carestia dominante.
Murilo procurou falar com o senhor Arquimedes, dono do Circo "Tricolor"; este o recebeu muito bem, abra�ando-o, inclusive.
- Pois n�o; o que o amigo deseja?
- Estou sem emprego; como voc�s est�o chegando, quem sabe se n�o h� uma ocupa��o para mim? Fa�o qualquer coisa; preciso de dinheiro para me manter adiantou
Murilo, esperan�oso.
- Qual foi o seu �ltimo emprego?
- Trabalhava em um Banco. As condi��es que determinaram a minha sa�da, eu lhe contarei oportunamente - respondeu Murilo, humildemente.
- Voc� precisa ter alguma aptid�o, do contr�rio como empreg�-lo? Fica dif�cil. N�o � falta de boa vontade, o amigo compreende, � que precisamos de m�o de obra
especializada; trabalhadores bra�ais j� possu�mos um n�mero mais do que suficiente. Al�m, naturalmente, daqueles que foram contratados e, posteriormente, ser�odispensados,
t�o logo o Circo esteja em condi��es de funcionamento - informou Arquimedes. - Caso o amigo saiba fazer algo que o qualifique, teremos prazer em contrat�-lo.
Murilo ouviu com aten��o as justificativas do dono do Circo, ao final, agradeceu e afastou-se,pensativo e frustrado.
Na estreia do Circo, ocorreu um fato bastante triste: a trapezista Arine, jovem lind�ssima, caiu do trap�zio, fracturando as duas pernas. A mo�a trabalhava
no Circo, contrariando a vontade dos pais, que de modo algum conformavam-se com a profiss�o adoptada pela filha. Face ao acidente, Arine resolveu deixar a carreira
art�stica de vez, o que deixou seus genitores felizes, apesar do sucedido.
O palha�o Sabugo, que estava loucamente apaixonado pela jovem, n�o obstante os seus quarenta anos de idade e n�o ser correspondido, resolveu igualmente abandonar
o Circo, voltando para o norte do pa�s, onde residia toda � sua fam�lia; procedendo assim, pensava esquecer Arine, que era o maior sonho da sua vida. Se pudesse
despos�-la, isso o faria o homem mais feliz do mundo!
Entretanto, o destino n�o quis; resignou-se e retornou para junto dos familiares, deixando a fun��o de palha�o. T�o logo Murilo soube da ocorr�ncia, voltou
� presen�a do senhor Arquimedes, pleiteando o lugar, de vez que, quando solteiro, integrara um grupo teatral, representando, tanto com�dias quanto pe�as dram�ticas,
sempre a contento do p�blico.
O dono do Circo, face a essas informa��es e premido pela necessidade, contratou-o, por um per�odo experimental de noventa dias; caso correspondesse � expectativa,
ent�o o seu contrato seria renovado por dois anos, assim sucessivamente.
- Como ser� o seu nome art�stico?
- Bombom; quero ser a alegria das crian�as respondeu, confiante.
Como palha�o, Murilo foi um sucesso! Jamais tiveram um artista t�o completo nessa actividade circense. Em todos os espect�culos, Bombom era aplaudido com entusiasmo
pelo p�blico que costumeiramente superlotava as depend�ncias do Circo.
Os preparados que usava para maquiar seu rosto, serviam, inclusive, para corrigir as marcas deixadas pelo fogo e encobriam a sua verdadeira identidade, dando-lhe,
assim, mais liberdade para apresentar-se, sem receio de ser reconhecido por parentes e pessoas amigas que porventura comparecessem aos espect�culos circenses.
Bombom maquiava-se com prodigalidade, usando produtos adequados, a fim de aparecer em cena, devidamente produzido: rosto pintado de branco; nariz e boca vermelhos,
exageradamente grandes, definidos com l�pis crayon; vestimenta bem folgada, tipo macac�o, vermelha com bolas brancas; cinto preto, largo, com enorme fivela; sapatos
bem maiores que os p�s, dificultando e dando gra�a ao andar; luvas brancas; em uma das m�os trazia sempre um c�ozinho de pano, amarrado a uma corda; na outra m�o
uma bengala tamb�m branca, grossa e curta. Na cabe�a um chapeuzinho azul, charmoso. Esquecemos de dizer algo sobre a gravata: borboleta, vermelha, razoavelmente
grande, no colarinho folgado. Bombom era o centro de todas as aten��es.
Al�m das brincadeiras e piadinhas, o palha�o entrava no picadeiro dando cambalhotas, que a meninada adorava. O desejo de Bombom era fazer rir todas as pessoas,
principalmente as crian�as, �s quais amava. Todavia, o seu cora��o chorava copiosamente a perda dos seus entes queridos. As meninas presentes aos espect�culos, faziam-no
lembrar de Cristina, a amada filha, do seu cora��o sofrido. Quantas vezes n�o teve de esfor�ar-se ao m�ximo para n�o chorar no picadeiro.
Ah! Destino cruel; ter que fazer o povo rir, quando sua alma estava mergulhada em pranto, ensopada em l�grimas pungentes, resultado da trag�dia inomin�vel
que enlutara sua vida.
14 - DE ESPINHOS, SEM D�VIDA.
As vidas humanas, incont�veis vezes, est�o plenas de situa��es bastante diversificadas entre si. Alternativas de boas-novas contrastando com situa��es dolorosas,
exigindo sacrif�cios sem conta, factores de aprimoramento moral, de seres seriamente comprometidos com a Lei Maior. Feliz daquele que sabe avaliar a sua real situa��o,
mantendo-se equilibrado, tanto nas horas de dor quanto nos momentos de j�bilos.
O sofrimento humano assemelha-se a nuvens pesadas que v�m e que passam, nem sempre precipitando-se na forma de chuvas torrenciais, que levam tudo de rold�o,
deixando um saldo de dores e l�grimas dolorosas.
Murilo era um homem feliz, vivia com a esposa a quem amava e com a adorada filha. No horizonte da vida de sua fam�lia n�o havia qualquer sinal de iminente
tempestade; no entanto, bastou apenas um momento para que tudo que foi logrado com esfor�o e boa vontade, ruir-se fragorosamente, ficando reduzido a escombros. N�o
s� a fam�lia em si, mas principalmente os seus sentimentos sofreram um s�rio abalo emocional. As feridas causadas em sua alma eram profundas, de dif�cil cicatriza��o.
Murilo, de modo algum, vislumbrava a possibilidade de reorganizar a fam�lia, levando-se em conta a sua real situa��o, e as ulcera��es �ntimas abertas no seu
peito, com a partida prematura de Cristina, de maneira traumatizante.
A sua esposa, tendo em vista as sequelas existentes no seu rosto, de forma alguma gostaria de rev�-lo. Casara-se com Murilo porque ele era um rapaz bonito,
mais de uma vez ela referira-se a esse detalhe, para ele sem significa��o; por�m para Val�ria representava factor decisivo na sua felicidade.
Agora, com o rosto estigmatizado pelo fogo, n�o se sentia com coragem suficiente para retornar ao conv�vio da esposa. Perambulava por ermos caminhos, fugindo
do bul�cio da cidade para n�o ser reconhecido ou, ent�o, visto com piedade por parte dos transeuntes. A vida de Murilo, outrora t�o feliz, estava reduzida a cinzas...
cinzas escaldantes.
Vivia, comumente, instantes de intensa afli��o, sem saber aonde ir ou o que fazer. Quantas vezes perguntara a si mesmo: - O que ser� da minha vida daqui para
o futuro? S� Deus mesmo para p�r termo ao meu sofrimento. Tenho andado como um bicho, a fim de n�o ser visto por pessoas que poder�o me reconhecer. Isso � vida?!
Certa vez em que ousara fazer um passeio pelos arredores da cidade, detendo-se em um pequeno jardim, teve a oportunidade de ouvir um di�logo a seu respeito,
entre uma senhora e uma jovenzinha. A garota, ap�s olhar detidamente para o rosto de Bombom, dirigindo-se � m�e, disse:
- M�e, que homem feio!
- N�o diga isso, ningu�m � feio.
- Por que, mam�e?
- Porque todos n�s somos filhos de Deus.
- N�o entendo!
- Porque Deus � Bom, Justo e S�bio. Assim, todos n�s somos bonitos de alguma forma. A beleza, minha filha, expressa-se de diversificados aspectos. H� pessoas
lindas por dentro e feias por fora; outras, feias por dentro e lindas por fora. Entendeu?
- Eu ainda n�o sei ver a feiura ou a beleza de dentro das pessoas - lamentou a garota.
- A beleza de dentro revela-se quando a pessoa � boa e compreensiva, paciente e tolerante, laboriosa e fraterna ...
- Mam�e - interrompeu-a a mocinha - voc� � linda por fora e por dentro. Acertei?
- N�o sei, minha filha; tomara que sim. A feiura expressa-se atrav�s dos v�cios e mazelas morais. Esse homem que acabamos de ver, pelo seu aspecto sofrido,
deve ser bonito por dentro. A dor aprimora as criaturas.
- Voc� acha, mam�e?
- Essa a impress�o que eu tive ao olhar o seu rosto, mais precisamente os seus olhos. Vi estampado no seu olhar o desespero e a dor. Minha filha, precisamos
respeitar o sofrimento alheio, ningu�m conhece o seu dia de amanh�. Todos n�s devemos enfrentar uma determinada cota de amarguras e sacrif�cios nesta vida, como
elementos purificadores, sem o que n�o sairemos do marco inicial da esteira infinita do progresso. Quem n�o tem problema, j� � um problema.
- Coitado! A beleza de dentro, mam�e, n�o � todos que a enxergam. H� necessidade de uma an�lise mais profunda.
- Perfeitamente, minha filha.
A seguir mudaram de assunto, logo ap�s seguiram o seu caminho, afastando-se do local. Murilo que, at� ent�o, permanecia meio-escondido atr�s de uma �rvore,
n�o se contendo, foi � casa de Matilde, seu "ombro amigo" precisava falar com algu�m, desabafar.
- O que aconteceu? Voc� n�o est� passando bem?
- inquiriu a amiga, assim que p�s os olhos sobre o companheiro. - Entre.
A seguir, sem mais demora, Murilo colocou Matilde a par do fato. Ouvira palavras duras que fizeram as feridas do seu cora��o sangrar dolorosamente.
- O que voc� queria que acontecesse? � assim mesmo! Que diferen�a faz em nos classificar como bonitos ou feios? O que importa considerar s�o as pondera��es
acertadas da senhora, orientando a filha; a beleza interior � que tem valor. N�o perturbe-se por t�o pouco - argumentou Matilde.
- Estou bastante fragilizado; � por isso que tudo que ocorre ao meu redor acaba me machucando, causando confus�o na minha cabe�a.
- Murilo, n�s fomos criados por Deus, simples e ignorantes, ou seja, sem desejos exorbitantes e ilus�rios; pelo contr�rio, �ramos felizes com os recursos e
condi��es de vida, pr�prios, n�o t�nhamos ambi��es, pois ignor�vamos todas as coisas, at� as mais comezinhas. Contudo, Deus nos concedeu todos os valores �ntimos
indispens�veis � conquista da nossa evolu��o, doando-nos, inclusive, todo tempo necess�rio, atrav�s das vidas sucessivas.
A felicidade verdadeira e definitiva, depende do desenvolvimento dos valores divinos recebidos, ainda em estado latente, o que ser� feito pelo conhecimento
da verdade e pr�tica da Lei do Amor. Ocorre que, fazendo uso indevido da liberdade, sa�mos do caminho recto para os atalhos sinuosos da vida, comprometendo-nos com
o orgulho e com o ego�smo. Assim, tivemos chances de plantar flores, por�m preferimos semear espinhos. Agora eu pergunto: - De que natureza ser� a nossa colheita?
- De espinhos, sem d�vida.
- � o que est� acontecendo com voc� e comigo, tamb�m. Ou voc� pensa que eu n�o tenho responsabilidades com os desvios morais que vem praticando o meu filho
Reinaldo? Eu o desencaminhei no passado, agora preciso traz�-lo de volta ao caminho da virtude. A paci�ncia e a resigna��o ser�o o meu apoio, aconte�a o que acontecer.
Confio plenamente na Provid�ncia Divina!
- Matilde, querida irm�, como foi bom ter vindo aqui. Suas palavras balsamizaram as feridas do meu peito.
Obrigado. que Deus a aben�oe pelas suas palavras repassadas de bondade e luz. At� uma nova oportunidade.
- N�o esque�a: Deus � Justi�a feita de Miseric�rdia. At� um novo encontro.
15 - O REM�DIO DAS ALMAS.
Murilo,sempre que dispunha de tempo, visitava Matilde, sua benfeitora. Ele morava no Circo, em um pequeno alojamento, juntamente com mais dois companheiros:
Feliciano e Vicente; estes executavam qualquer tarefa, excep��o feita � parte art�stica; n�o tinham tais pendores.
Certa manh�, vamos encontrar Murilo na casa de Matilde, conversando, demoradamente.
- Quanto tempo faz que voc� est� radicado ao Circo?
- Um ano. J� estou perfeitamente integrado aos espect�culos circences. Gra�as a Deus encontrei o meu caminho - respondeu Murilo, pensativo.
Matilde olhou-o fixamente por alguns momentos, depois, retomando a palavra, perguntou:
- Voc� gosta do que faz?
- Gosto, sim. Contudo, entre o que eu fa�o e o que sinto, vai uma grande diferen�a.
- Caro amigo, a vida continua! J� pensou em procurar a esposa? Quem sabe se essa n�o seria a melhor solu��o?
- N�o, n�o �! Por raz�es �ntimas eu n�o devo procur�-la, at� porque receio muito a sua reac��o. Ela me julga morto, al�m disso sou um homem mutilado.
- Mutilado?! . . O que � isso! Procure esquecer esse epis�dio doloroso de sua vida. O passado � o passado. Seja resignado. Enquanto o amigo n�o adquire o livro
O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, leve o meu emprestado, pelo tempo que quiser - a seguir, Matilde entregou a Murilo um livro um tanto amarelecido
pelos anos de uso.
- Muito obrigado pela sua generosidade. Irei ler suas p�ginas com tanta f�, que as suas li��es ser�o o rem�dio providencial para a minha alma sofrida - duas
l�grimas, teimosamente, rolaram pelo seu rosto, denunciando a emo��o do momento, forte, por�m salutar.
- N�o se emocione; ainda v�o acontecer muitas coisas boas na sua vida; tenha certeza disso! - falou Matilde, confortando-o.
Ap�s breve sil�ncio, Murilo perguntou:
- E o Reinaldo? J� faz dias que eu n�o o vejo!
- Est� dormindo, chegou bem tarde, ontem. Ele � a minha preocupa��o maior. Quando garoto, muitas vezes eu o levei para conversar com o bondoso Matias; agora,
por�m, nem quer que mencione o nome desse benfeitor do povo. N�o sei, n�o; o futuro do Rei � preocupante. N�o quer estudar nem trabalhar; vive na companhia de amigos
viciados e de cabe�as vazias.
- Com o tempo ele muda; afinal, a vida � a grande mestra de todos n�s - tornou Bombom.
- Realmente; por�m eu n�o quero que ele complique-se primeiro, com algo grave, para aprender a li��o, depois. Diz a sabedoria popular: "� melhor prevenir,
que remediar".
Matilde era o apoio imprescind�vel na vida de Murilo, amenizando as amarguras do seu viver. Com a sua preciosa orienta��o, os leg�timos valores iam, aos poucos,
sendo incorporados � sua personalidade, robustecendo a sua vontade de viver e ser feliz. Quem pensa em termos de felicidade somente na exist�ncia que desfruta, quase
sempre acaba decepcionando-se. Quantas pessoas levam vida de sofrimentos a partir do ber�o at� o t�mulo! S�o in�meros esses casos, facilmente flagrados no seio da
Humanidade, cujas afli��es s�o mais de natureza moral do que materiais.
Ocorre que a vida humana n�o tem in�cio no ber�o, tampouco terminar� no t�mulo. Assim como j� tivemos incont�veis passagens pela Terra, teremos outras tantas
ou muito mais ainda. A reencarna��o ou vidas sucessivas � a �nica lei que nos revela a grandeza de Deus na sua plenitude, ou seja, infinitamente Misericordioso,
S�bio e justo.
Matilde, mais por intui��o, que por convic��o pr�pria, sabia que Murilo tinha poucas chances de lograr a felicidade na presente vida. Todavia, sabia igualmente
por experi�ncia pr�pria, adquirida ao longo de sequentes janeiros, e, baseada ainda nas leituras de obras esp�ritas, que ele, somente depois de conclu�da a presente
jornada de dores, teria ensejo de conquistar a felicidade, at� ent�o sequer imaginada.
Nesta altura, Reinaldo sa�a do quarto, indo em direc��o ao banheiro. Ao passar pela sala, cumprimentou Murilo e a genitora.
- Bom dia, Murilo. Como vai, mam�e? Ontem eu cheguei um pouco tarde; a senhora j� estava dormindo - justificou-se.
- Na hora em que voc� chegou eu estava fazendo as costumeiras ora��es. Meu filho, n�s n�o podemos olvidar de Deus, atrav�s da prece e do trabalho digno. Essas
as nossas necessidades maiores.
- Quando orar, mam�e, n�o se esque�a de mim - respondeu, afastando-se, com um risinho ir�nico nos l�bios.
- � sempre assim; n�o d� valor ao que eu falo, n�o sabe que est� pisando no terreno movedi�o dos v�cios; os "amiguinhos" est�o pondo-o a perder. infelizmente,
somente ir� dar conta da verdade, quando estiver com a vida complicada, a� eu sofrerei junto, porque sou m�e.
- Hoje eu sei, que todas as pessoas, de alguma forma, t�m algo a resgatar, devido a d�vidas antigas, bem como aprimorar-se intelectual, moral e espiritualmente,
com vistas � nossa sublime destina��o: seres perfeitos ponderou Murilo.
- Voc� est� aprendendo depressa; muito bem!
- parabenizou-o Matilde.
- O sofrimento � o grande mestre das nossas almas carentes. As experi�ncias dolorosas que estou vivendo t�m trazido compreens�o ao meu esp�rito, e as nossas
conversas. paralelamente, s�o portadoras de consolo ao meu cora��o - desabafou Bombom, quase chorando.
- Ao lado da dor, Deus p�e sempre o rem�dio adequado; afinal, a Sua Justi�a est� acompanhada da Miseric�rdia minimizando as repara��es dolorosas de todos os
seres humanos que aceitam resignadamente o sofrimento como caminho de reden��o - tornou Matilde.
- Concordo plenamente, porque eu avalio que isso � verdade! As horas de amarguras da minha vida, n�o s�o poucas; no entanto, depois, eu sinto um refrig�rio
indescrit�vel balsamizar meu cora��o, alentando-me para as lutas porvindouras, que ser�o duras e dif�ceis, certamente.
- O amigo tem feito um progresso elogi�vel; vem enfrentando as vicissitudes com resigna��o. Quando se sofre resignado, sofre-se menos; quando se sofre revoltado,
sofre-se mais. N�o � a dor que aumentou, apenas revelamo-nos despreparados para poder suport�-la com coragem e optimismo, confiantes na Provid�ncia Divina. De acordo?
- Sem d�vida. Todavia, em certos momentos, eu ainda vacilo muito, fruto do pouco conhecimento que desfruto- Apesar de tudo, confio na Bondade Divina. J� tomei
muito do seu precioso tempo. Estou de sa�da, assim que puder eu voltarei. Obrigado pelo apoio fraterno.
- Que Jesus nos aben�oe a todos. At� breve!
16 - A QUEDA PROVIDENCIAL.
No lar, conforme vimos em apontamentos anteriores, Reinaldo revelava-se rebelde, irritadi�o e at� revoltado. Somente na companhia dos amigos mostrava-se cordato
e acess�vel, isso devido a afinidade de prop�sitos existente entre todos os companheiros; dando a impress�o de que tinha duas personalidades.
N�o era observado pelos amigos, corrigido, repreendido; pelo contr�rio, seus actos sempre foram apoiados sem restri��o e aplaudidos em in�meras ocasi�es.
- Estes, sim, s�o meus verdadeiros amigos ponderava, algumas vezes, mentalmente.
Sua m�e, sempre d�cil e boa, orava frequentemente, rogando a Jesus ampar�-lo e esclarec�-lo, para que nada de mal pudesse ocorrer ao seu querido filho.
A exist�ncia humana � valiosa oportunidade de reden��o concedida por Deus, merc� da sua Miseric�rdia infinita, com a finalidade de nos proporcionar renovados
ensejos de refinamento espiritual. Cada um de n�s, de certo modo, assemelha-se ao filho pr�digo da par�bola evang�lica (Lucas 5:11 a 32).
Afastamo-nos da casa de nosso Pai Celestial, a fim de melhor desfrutar as riquezas e os gozos do mundo; por�m, depois de gastarmos recursos financeiros e energias
f�sicas; depois de empobrecidos e enfermos, arrependidos pelas atitudes tomadas, encetamos a viagem de volta � casa paterna, cheios de esperan�as e confiantes na
bondade e compreens�o de nosso Pai. A dor redime as almas comprometidas, fazendo com que as imperfei��es morais sejam alijadas definitivamente do �ntimo dos seres
humanos.
O caminho de volta est� pleno de dores e l�grimas acerbas, mas vale a pena perseverar no seu percurso, tendo em vista que ap�s o sofrimento bem suportado,
vir� o lenitivo e a cura. Depois das noites trevosas, plenas de incertezas, surgir� a alvorada de um novo dia, portador de renovados labores de reabilita��o. A semeadura
� livre, por�m a colheita � obrigat�ria.
Reinaldo, infelizmente, estava seriamente envolvido em pensamentos sombrios, que lhe eram ditados pelo inimigo oculto. Contudo, diga-se de passagem, havia
perfeita sintonia com as suas mentaliza��es doentias, fruto de experi�ncias desastrosas de outras vidas. Quando a v�tima oferece campo �ntimo favor�vel, os obsessores
agem livremente, com mais objectividade, a ponto de dominarem a vontade vacilante de suas v�timas, tornando-as aut�nticas marionetes.
As metas do advers�rio invis�vel eram perfeitamente vi�veis. Reinaldo deixava-se levar com relativa facilidade. A vida de aventuras e perigo fascinava-o; exercia
sobre ele uma atrac��o irresist�vel, incentivando-o ao roubo. A prepara��o e a concretiza��o dos assaltos, excitavam-no, exercendo forte dom�nio sobre a sua mente
invigilante e ambiciosa.
Os golpes sucediam-se, ininterruptamente. Matilde o aconselhava, ami�de, pois conhecia o caminho errado que Reinaldo teimava em palmilhar; caminho que o levaria
sem d�vida, a conhecer dias penosos no futuro.
Certa vez, Rei e os seus amigos resolveram assaltar uma resid�ncia situada em bairro nobre da cidade.
Quando j� estavam no interior da propriedade, foram surpreendidos por dois c�es-de-guarda que investiram ferozmente contra o grupo. R�pidos escalaram o muro
e, ao pular. Rei torceu um dos p�s, o que o imobilizou cerca de dez dias no leito. Sua m�e, como sempre, mostrou-se dedicad�ssima, aplicando compressas quentes e
pomadas adequadas ao tratamento da entorse.
Curioso! Distante dos companheiros e preso ao leito, Rei revelava-se outro jovem, d�cil e compreensivo. In�meras vezes dialogava com a genitora, colocando-se
ao seu lado nos argumentos ponderados sobre a vida.
Realmente, longe das conversa��es perniciosas dos companheiros e perto da m�e, Reinaldo era outra pessoa.
O acidente serviu igualmente como s�ria advert�ncia, ou seja, de que sempre que se faz o mal, corre-se o risco de enfrentar surpresas desagrad�veis e at� desastrosas,
�s quais poder�o levar o infractor a conhecer inclusive os tormentos do c�rcere.
Os males produzidos em detrimento do nosso pr�ximo, assemelham-se a semeaduras que ir�o produzir frutos a breve ou longo prazo. A Lei de Causa e Efeito ou
ac��o e reac��o, preside todas as ac��es. Cada um de n�s responde pelo que realiza; ningu�m pode fugir dessa lei de sabedoria e equidade inigual�veis.
Impossibilitado de agir livremente, cativo do leito, curtindo enfermidades, o ser humano afei�oa-se com mais facilidade � verdade e ao amor, origin�rios de
Deus. Nessas ocasi�es de recolhimento �ntimo e reflex�es, nas reavalia��es de sucessos e fracassos, acabamos descobrindo os leg�timos caminhos da Vida Eterna, que
n�o s�o, evidentemente, aqueles apontados pelo mundo.
Jesus deixou bem claro que h� uma porta larga e outra estreita (Mateus 7:13 e 14). A primeira � a das facilidades de todos os matizes; por ela podemos atravessar
tranquilamente com o fardo das nossas inutilidades e fantasias, mazelas e imperfei��es morais. A segunda exige a renova��o interior da criatura humana. A enorme
bagagem de fraquezas morais, vaidade e ambi��es, que costumeiramente levamos, de modo algum poder� ultrapass�-la. Precisamos, pois, erradicar dos nossos cora��es
todos esses empecilhos, a fim de podermos lograr �xitos evolutivos.
A dor e a l�grima s�o factores de progresso; pedem participa��o activa e �ntima do ser a caminho de uma vida melhor, mais condizente com os ditames das Leis
Divinas, eternas e imut�veis.
Todavia, como a entorse somente reteve Reinaldo na cama durante dez dias, t�o logo ficou bom, voltou � sua actividade rotineira, olvidando os di�logos com
a genitora, plenos de entendimento e compreens�o. Matilde continuava vigilante �s reais necessidades do filho, no que tange ao seu comportamento irrespons�vel e
altamente perigoso.
O inimigo do passado, ardilosamente, assediava a sua v�tima, mais na rua, em companhia dos "amiguinhos" e menos em casa, at� porque o sentimento e pensamento
de Matilde, impregnados de bondade e paci�ncia, estabeleciam, at� certo ponto, uma barreira contr�ria �s maquiav�licas pretens�es do advers�rio invis�vel. Matilde
obteve essa conquista, gra�as igualmente �s suas ora��es, n�o s� destinadas ao seu filho, como tamb�m a todas as pessoas sofredoras e, mais particularmente, aos
jovens imaturos do grupo ao qual Rei pertencia.
O obsessor sabia que a m�e de Reinaldo, era a grande causadora das dificuldades que vinha encontrando na realiza��o dos seus nefastos objectivos; intimamente
at� admirava os seus exemplos de amor e desprendimento dos bens materiais, muitas vezes direccionados �s pessoas mais carentes, apesar de enfrentar s�rias limita��es
no que concerne aos recursos financeiros. A sua palavra acolhedora, os seus gestos amor�veis, sempre faziam um bem indescrit�vel aos cora��es amargurados e aflitos
que a buscavam como uma t�bua de salva��o. Jamais deixou de atender quem quer que fosse; cumpria, assim, a sua parte na assist�ncia aos necessitados de toda sorte,
com muito amor.
As grandes almas s�o distinguidas mais pelos seus actos voltados a favor dos infelizes, do que pelo conhecimento das li��es evang�licas; da� o acerto das s�bias
palavras de Emmanuel: "Aquele que realiza, caminha � frente daquele que sabe".
17 - OVELHA PERDIDA.
Abrindo este cap�tulo, queremos ressaltar que esp�ritos de car�cter deformado t�m regressado com frequ�ncia � veste f�sica, nas mais diversificadas posi��es
sociais, em busca de reabilita��o moral, favorecidos pelo acr�scimo de Miseric�rdia da Provid�ncia Divina.
Entretanto, o cen�rio preferido para resgates dessa natureza, tem sido a periferia das grandes cidades, onde est�o localizadas as fam�lias de baixa renda,
que n�o disp�em, muitas vezes, at� do indispens�vel � pr�pria subsist�ncia. Os rudes sacrif�cios dessa ordem, quando n�o suportados com equil�brio e confian�a em
Deus, podem criar indiv�duos revoltados e propensos ao crime.
A excessiva liberdade que os descendentes de tais
fam�lias desfrutam, em virtude dos pais terem que trabalhar fora, pelo sustento do lar, igualmente constitui factor negativo. As crian�as vivem mais na rua
em companhias inconvenientes, do que dentro de casa, sob a vigil�ncia materna.
Os garotos que vivem ao l�u, sem disciplina e responsabilidade, somente assimilam exemplos nocivos e v�cios de toda sorte, o que representa, sem d�vida alguma,
um pesado �nus, que tende a norte�-los, quase sempre pelos atalhos sombrios da marginalidade.
Por outro lado, cumpre-nos assinalar a responsabilidade dos pais diante das Leis Divinas, pela omiss�o aos sagrados deveres assumidos na espiritualidade, antes
mesmo que as paredes do lar estivessem em p�, ou seja, antecedendo a reencarna��o dos dois, para as indispens�veis repeti��es de ac��es fracassadas.
Os c�njuges aceitaram o encargo de se unirem para receber, �s mais das vezes, advers�rios de outras vidas. Seres que voltaram ao corpo f�sico, merc� da Miseric�rdia
Divina, no sentido de libertarem-se das algemas de �dio que tanto retardam os seres na jornada de reden��o.
Assim, o grupo familiar, quase sempre, se comp�e de indiv�duos j� conhecidos, ligados desde o pret�rito e que almejam redimir-se aos olhos de Deus. O estudo
aliado ao trabalho, dignos, s�o indiscutivelmente o caminho da ascens�o espiritual.
O abandono a que os pais relegam seus descendentes, por for�a da necessidade, desde a mais tenra idade, s� produzem malef�cios de dif�cil repara��o. Nesses
casos os pais tamb�m s�o respons�veis pelas faltas e delitos que os seus filhos vierem a praticar, causados pela falta de orienta��o adequada que deixaram de receber
na ocasi�o oportuna. "H� necessidade de se educar a crian�a, hoje, para n�o termos que castigar o adulto, amanh�".
S�bias palavras de Emmanuel, guia espiritual do m�dium Chico Xavier.
Conv�m ressaltar, outrossim, o dano que causa a Essa gera��o florescente, a falta de vagas nas escolas, ou ent�o, car�ncia de recursos para que possam funcionar
regularmente. Quantos menores, com mais de sete anos de idade, moram nas zonas mais pobres da popula��o, que n�o disp�em de condi��es para escolarizarem-se.
Ficam, portanto, privados de estudar, deixando de preparar-se convenientemente para enfrentar as vicissitudes da vida, que n�o s�o poucas, nem f�ceis de serem
superadas.
Hoje em dia, � muito dif�cil conquistar um bom emprego, que d� para se obter os rendimentos indispens�veis para sobreviver-se dignamente. O que acontecer�
�s pessoas que n�o t�m as qualifica��es exigidas � admiss�o em bons empregos?
Pobreza familiar, falta de vagas nas escolas, excessiva liberdade, s�o factores adversos que podem gerar delinquentes, criaturas destinadas a superlotar pres�dios,
obsediadas por entidades espirituais infelizes e ignorantes, que se identificam com o modo de ser e de agir de suas v�timas.
Na viv�ncia das virtudes atrairemos Benfeitores espirituais que nos apoiar�o sempre; por outro lado, nutrindo pensamentos e sentimentos mal�volos, somente
atra�mos para junto de n�s esp�ritos inferiores, que se comprazem em nos infelicitar cada vez mais. Cada um de n�s escolhe a companhia que deseja. Sejamos, pois,
inteligentes. Somente o bem redime a criatura. O bem � doa��o de amor, e o amor � a maior for�a que existe no Universo.
A preocupa��o maior de Matilde era dar aten��o e afecto ao seu filho Reinaldo. Ali�s, isso era perfeitamente compreens�vel. Jesus, ao narrar a par�bola da
ovelha perdida, esclareceu que o pastor deixara noventa e nove ovelhas em local seguro e partira decidido � procura daquela que se desgarrara do rebanho, at� encontr�-la.
Foi tanta a sua alegria pelo �xito, que vinha apregoando pelos caminhos, aos parentes e amigos, para que se regozijassem com ele, pois havia encontrado a ovelha
perdida (Mateus: 18:12 e 13).
Com esse ensinamento de luz, o Cristo deixou bem claro o cuidado que todos os filhos merecem por parte de Deus. Incont�veis pessoas ainda n�o est�o conscientes
do caminho a percorrer, do dever a cumprir com rela��o aos labores espirituais que lhes cabe exercer. Citados labores representam, indiscutivelmente, ensejos renovados
de reden��o na esteira infinita do tempo. Cada indiv�duo est� exactamente no degrau evolutivo adequado ao seu merecimento, at� atingir est�gios superiores de sabedoria
e amor.
Matilde excedia-se em cuidados e aten��es para com seu filho, o que, nas circunst�ncias vividas, como j� dissemos, era perfeitamente louv�vel. Rei n�o gostava
do trabalho, tutor de progresso. O trabalho material afasta de n�s a ociosidade e a mis�ria, proporcionando-nos condi��es de vida, conforto, bem-estar, sa�de f�sica.
O trabalho espiritual proporciona ao nosso esp�rito �vido de evolu��o, condi��es �ntimas ideais � nossa ascens�o espiritual. Faz com que nos tornemos receptivos
�s energias positivas, portadoras de sa�de e paz, indispens�veis ao nosso perfeito equil�brio interior.
Reinaldo era uma ovelha perdida, desgarrada do rebanho, merecendo, portanto, cuidados especiais, a fim de n�o comprometer-se ainda mais diante das leis Eternas.
� medida que os anos iam fluindo no rel�gio do tempo mais ele afastava-se da disciplina materna, acatando, como v�lidas, as sugest�es dos companheiros de experi�ncias
danosas. O caminho que se desenhava � sua frente estava juncado de espinhos que somente ele n�o sabia ver. Sucessos dolorosos o aguardavam se n�o recuasse a tempo.
Seu inimigo do passado, agindo persistentemente, ia, aos poucos, atingindo os seus planos de vingan�a: lev�-lo � pris�o, afastando-o da sociedade.
Os obsessores encontram campo favor�vel para realizar seus nefastos intentos, quando as v�timas os acolhem intimamente, afinando-se com os seus sentimentos
inferiores. Rei acatava plenamente os alvitres conden�veis do advers�rio invis�vel, que eram ratificados pelos companheiros imaturos e invigilantes, que viam no
crime caminho florido, fascinados que estavam pelas facilidades do mundo.
Quando a criatura vive afastada de Deus, pelo comportamento errado que adopta, fica mais propensa ao ass�dio de entidades infelizes. Assim, pelos pensamentos,
palavras e ac��es, podemos perfeitamente nos ligar a esp�ritos mal�volos ou ben�volos, portadores de amargas decep��es ou de sadias alegrias.
N�s � que escolhemos as nossas companhias!
18 - CURIOSO CONTRASTE.
O Circo "Tricolor" estava habituado a dar espect�culos em um grupinho de cidades, pr�ximas umas das outras, jamais aventurando-se � grandes viagens, para n�o
correr o s�rio risco de um fracasso financeiro. As suas arrecada��es eram pequenas, face �s suas apresenta��es um tanto modestas, onde sobressa�a o excelente trabalho
do palha�o Bombom, sempre aplaudido com entusiasmo por parte do p�blico.
A contrata��o do palha�o constituiu medida das mais acertadas, tendo em vista os resultados financeiros auferidos. A sua presen�a marcante no picadeiro fazia
Arquimedes esquecer o trabalho exaustivo com as provid�ncias junto �s prefeituras, a fim de regularizar a situa��o do Circo; olvidava, igualmente, o labor cansativo
das montagens do mesmo, indispens�veis aos espect�culos nas cidades porventura visitadas, para temporadas circenses.
O resultado era realmente compensador.
As montagens do Circo sempre foram executadas por homens habilitados nesse tipo de servi�o, pertencentes ao quadro de funcion�rios, bem como com outros previamente
contratados para ajud�-los. Assim que o Circo esteja em p�, isto �, em condi��es de funcionamento, o pessoal extra � dispensado, pois a sua manuten��o acarretaria
despesas insuper�veis.
O espect�culo do Circo se comp�e de duas partes distintas. A primeira de variedades: com a apresenta��o de equilibristas, m�gicos, contorcionistas, malabaristas,
n�meros no trap�zio, agora comprometidos com a aus�ncia de Arine, jovem lind�ssima, que se apresentava com invulgar perfei��o e coragem nas acrobacias a�reas do
trap�zio.
Entretanto, o ponto alto do espect�culo era, sem d�vida, a apresenta��o �mpar do palha�o Bombom, com n�meros intercalados, dentro da programa��o de variedades,
entradas e sa�das r�pidas, dando cambalhotas, contando piadinhas, fazendo perguntas inesperadas e, �s vezes, at� absurdas, mas sempre engra�adas, provocando o riso
da plateia. Um homem triste fazendo o povo sorrir!
Segunda parte: apresenta��o de uma com�dia em um ato, com a participa��o dos artistas do Circo. Ao lado da porta que permitia o acesso dos artistas ao picadeiro,
h� espa�o para uma bandinha, composta por alguns m�sicos, cujo repert�rio de m�sicas carnavalescas, emprestam ao ambiente uma alegria contagiante. Os m�sicos s�
paravam de tocar, por ocasi�o das apresenta��es das com�dias.
Bombom era recebido com inexced�vel carinho. Figura das mais simp�ticas, sabia como ningu�m conquistar aplausos. Nas suas apresenta��es, t�o ao agrado do p�blico,
vivia situa��es inusitadas arrancando palmas merecidas de todos os presentes, notadamente das crian�as para as quais dava o melhor de si mesmo, no sentido de v�-las
contentes e felizes. A gurizada n�o poupava aplausos nem elogios. Tratava-se, pois, de um inigual�vel artista. Os frequentadores n�o regateavam demonstra��es de
carinho ao excelente profissional do picadeiro. Bombom vivia um drama dos mais dolorosos; contudo, sabia apresentar-se de modo a fazer rir, tanto aos garotos quanto
aos adultos.
A apresenta��o de Bombom era sempre festejada, principalmente pelo p�blico mirim que, costumeiramente, lotava as depend�ncias do Circo; um dos poucos entretenimentos
da regi�o; al�m do �nico cinema da cidade, obviamente.
Nesta altura, Bombom entra em cena, para mais uma apresenta��o, pulando e dando cambalhotas; os garotos divertem-se � be�a. Em dado momento, passa a aplicar
violenta surra, com a bengala, no coitado do Xereta, ningu�m sabia a raz�o de tanta f�ria; ap�s extravasar os seus sentimentos de revolta contra o pobre animal de
pano, encarando a plateia, diz, colocando suas m�os ao ladoda boca, em forma de concha:
- Voc�s sabem o motivo da surra que acabo de dar neste pulguento?
- N�o!... N�o!...
- Hoje, pela manh�, ele confundiu a minha perna com um poste. � mole ou querem mais?
Foi uma gargalhada s�! Era assim Bombom. Fazia o povo rir das suas piadinhas inocentes, contadas com tanta gra�a.
- Voc�s sabem por que, certo dia, o Xereta entrou na igreja?
- N�o ... N�o sabemos!...
- Porque encontrou a porta aberta.
- E por que ele saiu?
- Porque encontrou a porta aberta.
- N�o!... Porque havia entrado.
Enquanto o p�blico, na sua maioria crian�as, dava boas gargalhadas, Bombom sa�a correndo em zigue-zagues, dando piruetas engra�adas e cambalhotas inesperadas,
colorindo a sua apresenta��o. Era realmente uma festa!
Outras vezes, fazia apostas descabidas com os companheiros de Circo, ao final sa�a sempre ganhando; em tais n�meros, t�o apreciados pela gurizada, subtra�a
pequenos objectos dos amigos, escondendo-os no picadeiro ou ent�o nas suas pr�prias roupas, t�o folgadas que se prestavam a essas atitudes. Quando eles davam pela
falta dos pertences, com a cara mais deslavada do mundo, dizia:
Eu? ... nem conhe�o tal coisa!... Para que serve... Nunca vi nada igual! .. Ser� que tudo que acontece de errado, � de minha autoria, sou o grande respons�vel?!
.. - correndo para junto do p�blico, pedia: N�o digam nada, vamos faz�-lo de bobo, certo?
- Certo!... - respondiam em coro.
Outras vezes, dava um jeito de tirar a cadeira do lugar, onde o amigo ia sentar-se, provocando tombos espectaculares. Ap�s a gargalhada geral, perguntava:
- Voc�s sabem de que lado fica a asa da x�cara?
- Do lado direito! ... do esquerdo!... - gritavam.
- N�o, n�o... Do lado de fora...
Assim era Bombom: o �dolo da crian�ada e dos adultos, tamb�m. Entremeando os n�meros programados, ele sempre apresentava-se, enchendo o cora��o dos espectadores
de sadias alegrias.
Entretanto, Bombom vivia um curioso contraste. Seu cora��o ulcerado, tinha necessidade de chorar... chorar muito.
Quantas vezes durante o espect�culo, ele, olhando as garotinhas presentes, tinha a impress�o de estar diante da sua querida Cristina; nessas ocasi�es esfor�ava-se
ao m�ximo para vencer os �mpetos que o assaltavam, de sair correndo e n�o parar enquanto suas for�as permitissem correr; depois deixar-se cair e ficar no ch�o para
sempre, im�vel, sem querer nada... sem exigir nada...
A dor que se alojara nos escaninhos mais �ntimos de sua alma sens�vel, descontrolava os seus sentimentos, levando-o quase � loucura.
A aus�ncia de sua querida filha era o motivo de tanto sofrimento, fazendo com que o seu cora��o chorasse todas as l�grimas do mundo. Ele que precisava fazer
o povo rir. de modo algum partilhava dessa alegria que despontava naqueles rostos t�o amigos, que se habituaram a v�-lo e aplaudi-lo com espontaneidade.
Contrastes!... Coisas da vida!...
19 - AGORA SOU FELIZ!
A pessoa mais importante para Bombom, era, incontestavelmente, Matilde. Fora o indispens�vel suporte nas suas horas mais dif�ceis, ap�s o pavoroso inc�ndio
que lhe causara tanto dano, deixando, inclusive, a casa de Jurandir reduzida a um mont�o de escombros. A sua exist�ncia, agora, igualmente, assemelhava-se a ru�nas,
sem esperan�a e perspectiva de felicidade futura. Perdera todos os seus bens, sobretudo o maior deles: sua filha.
As amarguras que nos ferem intimamente, fazendo-nos sofrer e chorar, tornam-se, um dia, em motivos de alentadoras alegrias. Por qu�? Basta considerarmos que
os trope�os de hoje, caso n�o sejam reflexos de comportamentos danosos cometidos nesta jornada, representam, sem d�vida, resgates de delitos de exist�ncias pret�ritas.
N�o existe corrigenda que n�o tenha uma raz�o de ser.
N�o podemos olvidar que as leis Divinas est�o embasadas em Miseric�rdia, Sabedoria e Justi�a irrepreens�veis.
O sofrimento aprimora as almas calcetas de um passado tenebroso. Se por um lado o esp�rito logra o indispens�vel burilamento moral; por outro, conquista experi�ncias
valios�ssimas, que o tornam forte contra as vicissitudes e tenta��es. O �xito nas repara��es dolorosas torna-se valor espiritual indestrut�vel,fortificando-o contra
os reiterados desvios praticados em �pocas pret�ritas.
As s�bias e justas pondera��es de Matilde, plenas de bondade e compreens�o, agiam sobre o seu cora��o ulcerado, como um Lenitivo Divino, minimizando as amargas
dores, muito mais doridas que as queimaduras do corpo.
O que dizer, ent�o, dos ensinamentos de luz, ministrados pela grande amiga, fundamentados na ess�ncia do Evangelho do Cristo?
Essa terapia espiritual, dispensada com tanta dedica��o e amor, transformara sua vida. Agora j� n�o encarava as coisas somente pelo prisma material; sua vis�o
tomara uma dinamiza��o bastante diferente, sabia que os males que infelicitam as pessoas, t�m um objectivo sublime, torn�-las puras, capazes de cometimentos elevados,
em nome Daquele que nos criou simples e ignorantes, destinados � perfei��o: Deus.
O Evangelho do Cristo � luz do Espiritismo (o Consolador prometido - Mateus 14:26), havia sido o respons�vel pela renova��o �ntima que alterara profundamente
a sua vis�o e conduta, diante dos acontecimentos comuns � vida. Sabia que o corpo, como instrumento f�sico, quando bem utilizado, tem valor inestim�vel no refinamento
do esp�rito, �vido de evolu��o moral. Sabia que o esp�rito, ser imortal, precisa merecer cuidados e aten��es, por constituir-se personalidade indestrut�vel. A veste
fisiol�gica, embora imprescind�vel nos testemunhos individuais necess�rios ao progresso do ser, desaparece na voragem do tempo; ao contr�rio do esp�rito que � imortal,
e suscept�vel de caminhar pela esteira infinita de conquistas enobrecidas, com vistas � luz Eterna.
Certa tarde, Bombom estava a esquentar-se ao sol, pois fazia frio, quando uma senhora o procurou para um desabafo. As pessoas sofridas, de modo geral, confiavam
no palha�o. O seu comportamento reservado, fora do picadeiro, revelava o seu �ntimo de sofrimentos e amarguras, contrastando com as suas fun��es no Circo: fazer
rir os assistentes.
- Gostaria de conversar um pouco com algu�m.
Estou precisando de conselhos e o amigo parece que �, no momento, a pessoa mais indicada.
- N�o sei, n�o. Eu tamb�m guardo comigo, no fundo de minha alma, feridas profundas que tanto me fazem sofrer. Como � o seu nome?
- Zuleica.
- Vejamos; qual o seu problema?
- Sou vi�va h� quase dois meses. Am�rico, meu finado marido, sempre foi para mim o melhor homem do mundo. Vivi dias felizes ao seu lado, apesar de n�o termos
filhos. Deus n�o quis. Agora que ele morreu, eu o sinto ao meu lado a todo instante, tenho certeza que Am�rico jamais afastou-se do nosso lar - informou Zuleica,
um tanto chorosa.
- Certo! Os esp�ritos, conforme ensina o Espiritismo, n�o se isolam de n�s para sempre. A vida continua, a natureza n�o d� saltos, da� a raz�o porque os que
j� partiram, continuam mais vivos do que antes, desfrutando das conquistas �ntimas realizadas quando estiveram aqui na Terra. Jesus afirmou: "Onde estiver o teu
tesouro, a� estar� o teu cora��o" (Mateus 6:21 ).
- Ent�o o amigo confirma a presen�a dele ao meu lado? - inquiriu Zuleica, curiosa.
- Tendo em vista o que a irm� disse, parece que seu ex-marido ainda est� vinculado, por sentimentos, ao seu lar. Trata-se de fen�meno comum; ningu�m pode violentar
o seu modo de ser, de um momento para outro, sobretudo quando n�o examinou reflectidamente e aceitou com equil�brio o fen�meno da morte, enquanto esteve preso �
veste f�sica - aduziu Bombom.
- Como, ent�o, resolver esse problema? N�o que ele me perturbe, isso n�o. Contudo, agora sei que para ele n�o � o melhor ficar ligado ao lar, na situa��o de
desencarnado; entendi que ele precisa colher novas experi�ncias em actividades espirituais, estou certa?
- Perfeitamente. Oremos em favor dele, rogando a Jesus esclarec�-lo; depois, conscientizado do verdadeiro sentido da vida, partir� feliz - acrescentou Bombom.
- Am�rico sempre foi excelente marido; por�m, ap�s a sua morte, eu fiquei sabendo que ele me tra�a com uma vizinha, minha melhor amiga. Quantas vezes eu lhe
confidenciei meus problemas �ntimos! Hoje, a infeliz est�internada em um hospital de cancerosos, desenganada pela medicina oficial. O que devo fazer diante de tal
situa��o?
- A irm� quer saber mesmo a minha opini�o?
- � o que mais desejo neste momento de decep��es e amarguras. Agora eu sei por que muitas pessoas o procuram para um aconselhamento. Agora eu sei...
- N�o exagere - interrompeu-a Bombom, sorrindo. - O povo, de modo geral, me v� com lentes de aumento.
- Pode dizer com franqueza o que pensa do assunto; pretendo seguir � risca o que o amigo aconselhar.
- Ent�o v�, sem mais demora, ao hospital fazer uma visita � sua vizinha. Ela precisa do seu apoio, est� sofrendo demais. Nessas oportunidades remissoras, grandes
conquistas poder�o ser efectuadas, com a destrui��o de mazelas seculares. N�o fa�a, sequer alus�o, a fatos ocorridos no passado; pelo contr�rio, fale com veem�ncia
da grandeza de Deus, que jamais esquece dos seus filhos. Leve-lhe uma mensagem de optimismo e esperan�a.
- Eu irei, sem d�vida. Se a minha presen�a ao seu lado for ben�fica, eu ficarei imensamente feliz, apesar da trai��o. Gra�as a Deus que tal revela��o n�o chegou
aos meus ouvidos, na �poca, do contr�rio seria um sofrimento insuport�vel, podendo at� gerar fatos incompat�veis com a Vontade Divina. Caso isso ocorresse, talvez
eu n�o tivesse for�as para perdoar, agora. O seu estado de sa�de � dos mais prec�rios. Que Deus a ajude!
Zuleica, agradecida, despediu-se, compenetrada da visita a realizar. Ap�s decorridos dez dias, encontrando-se novamente com Bombom, nas proximidades do Circo,
falou, sorridente:
- J� n�o tenho mais problemas. Agora sou feliz!
Que Jesus o aben�oe sempre!
20 - PRIS�O E FUGA.
"Filhos criados, trabalhos dobrados", diz com acerto o ad�gio popular. Matilde tem vivido constantes situa��es aflitivas, criadas por Reinaldo, que teima em
levar avante a sua vida de irresponsabilidades, caminho que escolhera, pleno de experi�ncias amargas e dolorosas. A infelicidade humana � fruto do comportamento
irregular e irreflectido do pr�prio homem que comete, a todo instante, transgress�es aos ditames S�bios da Lei Divina. Jamais uma imposi��o de Deus, como castigo.
N�o podemos sequer admitir que o Pai Amant�ssimo seja verdugo dos seus pr�prios filhos.
Apesar de Rei j� ter completado a maioridade, era imaturo n�o levava nada a s�rio; passava o tempo na companhia de amigos que, lamentavelmente, compraziam-se
na marginalidade. O grupo s� pensava em conquistar fortuna de uma "tacada s�", como diziam. sem condi��es de avaliar o sofrimento que o crime imp�e, como tributo,
a todos que se deixam enredar nas malhas de compromissos dolorosos no presente e amargos resgates em outras vidas. A reencarna��o faz parte da Lei Divina, cobrando
dos culpados, no momento exacto, os d�bitos assumidos em exist�ncias vencidas, que se perderam na voragem dos s�culos.
Rei e os amigos planejaram roubar um supermercado da cidade. Os detalhes foram devidamente acertados e revistos; n�o haveria possibilidade para o menor erro.
O "trabalho" seria relativamente f�cil. Para tanto, contavam com o factor surpresa. Escolheram o melhor hor�rio: fim do expediente, quando h� poucas pessoas
dentro do supermercado e muito dinheiro nos caixas. Al�m do mais, as sombras da noite seriam favor�veis � fuga. Os prov�veis obst�culos foram detidamente examinados
com vistas ao sucesso do plano. A expectativa do golpe era excitante e optimista.
As armas e um carro roubado, utiliz�veis no assalto, j� estavam em poder dos quadrilheiros. Escolhido dia. foram ao supermercado para concretizar o crime.
Um dos companheiros permaneceu no autom�vel, garantindo a fuga; tr�s deles entraram e posicionaram-se em pontos estrat�gicos. O l�der do grupo anunciou:
- � um assalto. Todos deitados; n�o pretendemos machucar ningu�m. Obede�am!
Os poucos fregueses e os funcion�rios, temendo o pior, obedeceram incontinenti, face �s atitudes determinadas dos assaltantes, que revelavam coragem e frieza
nas ac��es.
Ocorre que algu�m percebeu o comportamento um tanto suspeito dos jovens � entrada do estabelecimento comercial, tomando a iniciativa de chamar a pol�cia de
um orelh�o pr�ximo, antes mesmo que o roubo fosse consumado. Os policiais agiram com presteza e efici�ncia. O rapaz do autom�vel, notando a ac��o frustrada, fugiu
amedrontado.
Os companheiros de Rei resistiram � pris�o, trocando tiros com os policiais; foram feridos e presos. Rei, por�m, entregou-se, sendo igualmente algemado e recolhido
com os demais � cadeia p�blica local.
Assim come�ava a peregrina��o de Reinaldo pelos pres�dios, conhecendo de perto as agruras da falta de liberdade, passando dias dos mais angustiantes. A imagem
dos companheiros feridos, que tanto o impressionaram na ocasi�o, j� n�o mais povoavam a sua mente. Sua m�e, a m�rtir de sempre, contratou advogado, assumindo pesadas
d�vidas para poder libert�-lo da pris�o. Todo crime tem um pre�o; quanto maior o desrespeito � Lei Divina, maior tamb�m, na mesma propor��o, a repara��o do delito.
O tempo e a dor cobrar�o dos faltosos o pagamento das d�vidas contra�das, encaminhando as almas para as leiras do bem e da verdade, libertando-as das sombras do
passado e oferecendo-lhes a perspectiva de um porvir ditoso.
Rei havia sido apanhado em flagrante; assim, apesar de ser prim�rio e de o assalto ter fracassado, n�o pode se safar de uma condena��o. Ap�s seis meses foi
julgado e condenado a cumprir quatro anos de reclus�o.
Quem j� teve oportunidade de visitar cadeias e pres�dios, sabe perfeitamente a vida que levam os habitantes desses locais de reabilita��o moral. Reabilita��o?!
Jamais! Quantos jovens, presos por terem cometido pequenas faltas, no conv�vio com os companheiros de cativeiro aprimoram-se no crime, orientados pelos amigos
de infort�nio. O fato que mais causa revolta � popula��o carcer�ria � tomar conhecimento de que os maiores criminosos, os de colarinho branco permanecem impunes,
enquanto os p�s de chinelo acabam recolhidos e isolados da sociedade por tempo consider�vel.
As celas est�o sempre superlotadas, onde cabem apenas dez reclusos, chega a abrigar, em in�meros casos mais de vinte detentos. A comida oferecida � pass�vel;
o tratamento m�dico e dent�rio, quando n�o � prec�rio, inexiste. Os ambientes s�o f�tidos, em raz�o da superpopula��o e, �s mais das vezes, pela falta de �gua. Outro
factor adverso � reabilita��o moral dos presos � a ociosidade que desfrutam. O Estado deveria criar meios de estudo e trabalho aos presidi�rios. A pregui�a � p�ssima
conselheira , j� disse algu�m com sabedoria.
Assim cada pres�dio ganharia condi��es de auto-sufici�ncia, deixando de onerar o Estado. Cabendo �s prefeituras, igualmente, criar verbas destinadas � preven��o
contra o crime, construindo oficinas das mais diversificadas modalidades para atendimento dos garotos que n�o disp�em de condi��es para lograr um bom emprego. A
falta de recursos financeiros tem gerado revoltas e crimes em todas as �pocas da nossa civiliza��o; para comprova��o desta afirmativa, basta consultarmos os apontamentos
da hist�ria da Humanidade, atrav�s dos tempos.
Reinaldo conhecia, h� mais de seis meses, as limita��es e amarguras do c�rcere; assim, inconformado pela deprimente situa��o que vivenciava, resolveu fugir.
Afinal, n�o seria t�o dif�cil, precisava apenas ser esperto e aguardar pacientemente uma oportunidade prop�cia. No sentido de ser bem sucedido na fa�anha, necessitava
contar com a cumplicidade de algu�m que tivesse, inclusive, habilidade para confeccionar uma "tereza", corda feita de len��is expediente muito usado pelos fugitivos
inconformados com a pris�o.
V�ctor, companheiro de infort�nio, t�o logo foi inteirado das inten��es de Rei, mostrou-se vivamente interessado em participar da proeza. Tudo foi bem pensado
e melhor executado. Certa manh�, em que os presos tomavam banho de sol no p�tio Rei e V�ctor r�pidos, atiraram a corda de pano sobre o alto muro do pres�dio, enroscando-a
nos ferros de protec��o e com determina��o �mpar conseguiram lograr sucesso, alcan�ando a rua e, consequentemente, a liberdade ansiosamente sonhada. Em virtude da
rapidez da ac��o, os policiais nada puderam fazer no sentido de frustrar a fuga.
- Rei, conseguimos, que alegria! - falou o companheiro, que n�o cabia em si de contente.
- Eu sabia que daria certo - aduziu Reinaldo.
- Viver preso como um passarinho? Jamais! "
- Agora precisamos ter cuidados redobrados, para n�o voltarmos a conviver com aquela sujeira. Aquilo n�o � vida! merecemos um hotel cinco estrelas. Estou certo?
- questionou V�ctor, sorrindo ironicamente.
- Nada de preocupa��es descabidas. Somos jovens e o futuro sorri � nossa frente.
- � isso a�, amig�o! voc� vai pertencer ao meu grupo. Gente fina! O nosso esconderijo fica em local dos mais seguros.
Rei n�o sabia que V�ctor era elemento de alta perigosidade e com ele, fez uma alian�a. Cada criatura humana escolhe o seu pr�prio caminho, feito de flores
ou de espinhos.
21 - A VISITA DE CRISTINA.
Ap�s o adequado tratamento espiritual e o aprendizado imprescind�vel dispensados a Cristina, esta j� se apresentava perfeitamente capacitada para cumprir as
suas nobres tarefas junto a Murilo, seu genitor. Os Benfeitores espirituais sabiam que o mister n�o era f�cil, por�m quando citados labores s�o aceitos com optimismo
e realizados com determina��o, os naturais �bices s�o removidos e os valores individuais enriquecidos, para j�bilo das almas que buscam avidamente a pr�pria reden��o,
depois de reiteradas frustra��es, sofridas na sequ�ncia de incont�veis vidas sucessivas.
Certa manh�, em que os raios solares fizeram-se mais intensos, vivificando seres e coisas, Cristina foi levada � presen�a de seu pai. A emo��o que dominou
o seu cora��o sens�vel n�o foi pequena, diante daquele que sempre fora importante na sua vida. Cristina o encontrou triste, e, no momento. era nela, exactamente,
que se fixava seu pensamento, como que adivinhando a visita de sua querida filha.
Papai, quanta saudade! Vejo-o triste, um tanto fragilizado com as amarguras da jornada. Coragem! Seremos vencedores; confiemos em Jesus - os olhos de Cristina
estavam marejados de l�grimas.
Murilo acordara naquela manh�, sentindo um peso enorme no cora��o, angustiado pelo sofrimento. Sentia uma necessidade incontrol�vel de chorar... chorar muito...
Assim que a filha aproximou-se dele, o dique que represava suas l�grimas, ruiu. As l�grimas afloraram aos seus olhos, copiosamente; todo o seu rosto ficou
molhado de pranto. Nunca havia pensado tanto na sua querida filha que partira, a seu ver, prematuramente, motivando todas as desditas que ca�ram de chofre em seu
cora��o ulcerado e fr�gil.
Cristina aproximou-se mais de Murilo, acariciando-lhe os cabelos que j� come�avam a embranquecer precocemente, face ao sofrimento superlativo que se instalara
nos escaninhos mais profundos de sua alma infeliz. A esta altura, Murilo pressentiu que algo diferente estava acontecendo, parou de chorar, seus olhos secaram, sentiu-se
de um momento para outro, mais forte e at� optimista. O qu� teria ocorrido? Acordara t�o deprimido e agora sentia-se confiante!
- Jesus ouviu as minhas preces! - monologou. baixinho, quase sorrindo.
Aquele dia foi dos mais tranquilos em sua vida, n�o obstante os revezes comuns � sua vida. A sua participa��o nos espect�culos do Circo foi um sucesso absoluto!
Bombom estava revitalizado, at� parecia que tinha alma nova, plena de vigor. Assim que o tempo permitiu, foi � casa de Matilde, cientificando-a dos motivos
que o levaram l�. Esta, ap�s ouvi-lo, disse:
- Murilo, "depois da tempestade vem a bonan�a" esclarece a sabedoria do povo. Melhor assim. Agrade�a a Deus pelas d�divas que voc� tem recebido, sobretudo
as de hoje - finalizou a amiga, colocando fraternalmente uma das m�os no ombro do palha�o, que sorriu, exibindo dentes alvos.
� noite. terminado o espect�culo, Bombom retirou a maquilhagem do rosto, higienizou-se com um banho reconfortante, alimentou-se um pouco, comendo um sandu�che
refor�ado e tomando um copo duplo de suco de frutas.
Em seguida, recolheu-se ao seu leito, adormecendo tranquilamente.
Ap�s breve instante, viu-se sentado na cama, notando que n�o estava s�. Ao seu lado havia uma jovem, sorrindo; olhando-a fixamente p�de, sem d�vida, identificar
sua amada filha.
- Cristina! ... Cristina! ... querida filha, como voc� est� diferente! Agora voc� est� mo�a e mais bonita, n�o � mais aquela menina que iluminou o nosso lar,
com a sua vivacidade e intelig�ncia �mpares.
- Papai, eu sou a mesma, apenas cresci, n�o podia permanecer como crian�a. Aqui onde eu me encontro as coisas acontecem assim: as crian�as crescem fluidicamente,
a n�o ser quando est� iminente um novo regresso � veste f�sica, para continua��o de jornadas de repara��es dif�ceis e burilamento espiritual...
- Depois n�s conversaremos a esse respeito - interrompeu-a Murilo, ansiando por not�cias gratificantes, que pudessem minimizar seu cora��o ferido.
- Est� bem ... est� bem ... Antes do nosso retorno ao corpo f�sico, do qual voc�, papai, ainda est� preso, foi programado na espiritualidade, que enfrentar�amos
juntos as adversidades que passamos e outras que est�o por vir...
- Agora, com a sua presen�a, minha filha, tudo ser� mais f�cil - interrompeu-a novamente Murilo, tomado de justific�vel euforia.
- Querido papai, conforme permiss�o Divina, eu procurarei ajud�-lo, a partir deste momento inolvid�vel. As lutas n�o ser�o pequenas, porque as d�vidas a solver
s�o grandes. Com o aux�lio dos Benfeitores espirituais que trabalham em nome de Jesus, tenho a certeza que sairemos vencedores. Contudo, a f� nos Des�gnios Divinos
precisa palpitar viva nos nossos cora��es, para tanto, devemos igualmente buscar sempre o conhecimento da verdade que liberta e a pr�tica da lei do amor que enobrece.
O amor � caridade, a caridade � amor. E o amor no conceito de Jo�o evangelista (1.a ep�stola 4:7 e 8), � Deus presente em nossas vidas - adiantou Cristina, sorrindo.
Murilo fitou a filha por algum tempo, fascinado pela beleza de Cristina. Como Deus manifestava-se Misericordioso, presenteando-o com a visita da criatura mais
querida de sua vida. Depois, retornando ao di�logo, disse:
- Apesar do meu sofrimento ser intenso, pelas raz�es que voc� conhece, eu tenho, �s vezes, momentos de felicidade; isso porque eu conheci uma irm�, que desde
a trag�dia que nos vitimou, tem se mostrado fraterna e generosa comigo. Uma alma verdadeiramente crist�! N�o fosse o amparo que ela me dedicou nas horas mais amargas
e eu, na certa, teria sucumbido. A dor tem sido a minha maior mestra, revelando aspectos excelentes da vida, isto �: da verdadeira vida. O Evangelho do Cristo, tanto
esclarece as nossas almas com rela��o aos problemas humanos, quanto minimiza as dores causadas pelas profundas feridas �ntimas, promovendo a cura definitiva. Ah!
Se os homens conhecessem essa fonte bendita de d�divas celestiais e a procurassem com sinceridade e pureza de sentimentos, teriam todos os seus problemas solucionados
a contento.
- Papai, eu o vejo diferente, gra�as a Deus para melhor, muito melhor mesmo! isso me deixa feliz e optimista quanto ao futuro. Venceremos as duras lutas com
o aux�lio de Jesus - finalizou Cristina, confiante.
Ambos abra�aram-se, como h� muito n�o faziam, permanecendo assim por largo tempo, como que matando velhas saudades. A seguir, Cristina foi afastando-se, devagarinho,
at� desaparecer na dist�ncia, deixando ainda por uns instantes a luminosidade da sua presen�a.
Nessa noite, Bombom repousou como n�o fazia h� muito tempo. Acordou, pela manh�, descansado e feliz.
N�o tinha lembran�a do que havia acontecido, por�m tinha certeza de que algo muito bom tinha ocorrido naquela noite maravilhosa.
- At� parece que Cristina veio ao meu encontro esta noite. Alegrias como as que eu sinto, no momento, somente foram desfrutadas por mim quando Cristina estava
viva - monologou, optimista quanto �s repara��es futuras.
22 - L�GRIMAS AMARGAS.
Quando a felicidade faz moradia nos cora��es humanos, as tristezas e frustra��es batem em retirada. O indiv�duo passa a observar os fatos com optimismo. O
encantamento emoldura o cen�rio, o perfume da vida torna-se mais subtil e agrad�vel, convidando-nos a reflex�es elevadas, plenas de vi�o e vigor. Por outro lado,
quando a tristeza domina os nossos sentimentos, tirando o brilho do nosso viver, todas as realiza��es e ideais tornam-se inatingidos; o des�nimo aloja-se no nosso
�ntimo, impedindo a conquista de cometimentos nobres e edificantes.
Algo de bom havia acontecido a Murilo, seu cora��o estava sereno, seu olhar tranquilo. O peso, que at� ent�o oprimia seu peito, havia desaparecido, como por
encanto. A saudade de sua querida filha era suave e gostosa, ensejando medita��es sadias. Nesta altura, Bombom monologou:
- Coitado daqueles que n�o t�m saudades de ningu�m... n�o vivem; est�o morrendo aos poucos sem saber. N�o obstante a dist�ncia entre mim e a Cristina ser enorme,
eu sempre a tive presente na minha lembran�a.
Hoje, mais do que nunca, eu a tenho presente no meu cora��o. Gra�as a Deus! Ela tem sido o meu lenitivo, dando-me for�as para prosseguir lutando em busca de
um porvir melhor. Confio plenamente na Provid�ncia Divina.
As apresenta��es de Bombom no picadeiro, nesse dia, foram mais festejadas e aplaudidas pelo p�blico. O palha�o n�o saberia dizer o porqu�, mas sentia-se mais
leve, seus pensamentos mais soltos e livres, sua mente mais desanuviada das costumeiras tristezas e amarguras, suas companheiras habituais nas horas de solid�o no
vazio das noites sem fim.
O motivo � insofism�vel: a visita de Cristina, que assistira, inclusive, � sua apresenta��o no Circo, naquela tarde, ao lado das crian�as que se divertiram
� be�a.
O mister que Cristina havia recebido da espiritualidade, de amparar e orientar Murilo, n�o era f�cil, n�o.
Bombom levava vida solit�ria, memorizando com frequ�ncia os fatos que destru�ram a sua fam�lia, culminando com a morte de sua filha. Entregava-se, com relativa
facilidade, a constantes depress�es. Murilo era de natureza emotiva. Assim, tais epis�dios estavam cristalizados na sua mente. A cicatriza��o das feridas do seu
cora��o, somente o tempo poderia curar.
Cristina sabia disso e, a partir do primeiro encontro, jamais deixou de visitar seu pai, o que fazia ami�de,
confortando-o nos momentos mais angustiosos. � noite, visitava-o, para orient�-lo melhor, levantando-lhe as for�as combalidas; incentivando-o aos labores �speros
e necess�rios � sua reabilita��o moral. A dor e o tempo sempre foram os grandes rem�dios da Humanidade ao longo dos mil�nios sucessivos.
O Circo "Tricolor", de quando em quando, transferia-se de localidade, buscando novo p�blico. Tratava-se de um Circo pequeno, sem grandes recursos, da� a raz�o
porque n�o aventurava-se a visitar cidades distantes, mais promissoras. As despesas com o transporte era o empecilho maior. Caso n�o fosse bem sucedido, e como os
minguados recursos dispon�veis seriam gastos com a viagem, o Circo ficaria impossibilitado de retornar, enfrentando, portanto, futuro incerto.
Por outro lado, a regi�o em que estava instalado, propiciava um bom n�mero de frequentadores, que se divertiam e incentivavam a repeti��o dos espect�culos
t�o a gosto da gurizada, principalmente. Nesse Particular, Bombom tinha um lugar destacado: era, sem d�vida, a figura central. As suas piadinhas inocentes e as suas
inesperadas piruetas e cambalhotas faziam a alegria dos garotos.
Al�m do mais, a presen�a do c�ozinho de pano, sempre castigado pelo palha�o, dava aos seus n�meros um colorido �mpar. Outras vezes, brincava com algum companheiro
do Circo, levando sempre a melhor com suas artimanhas, o que divertia demais os espectadores. Bombom sabia, como ningu�m, cativar as crian�as.
- Voc�s sabem quantas voltas o cachorro d� antes de deitar-se? - perguntava com ares enigm�ticos.
- N�o ... N�o ... - gritavam a uma voz.
- Quantas ele quiser - respondia, sorrindo.
O povo divertia-se para valer, sobretudo as crian�as, porque tudo que o palha�o dizia, tinha algo de diferente, de encantamento. E as quedas? Por menores que
fossem os obst�culos, os tombos eram espectaculares, provocando gargalhadas do p�blico. �s vezes, at� colocava um dos p�s adiante do outro, trope�ando e caindo espalhafatosamente.
Ao levantar-se, atribu�a a responsabilidade da queda ao pobre do Xereta, aplicando-lhe, ent�o, severo castigo com a bengala. Logo em seguida, perguntava:
- Voc�s conhecem a piada do pinto?
- N�o conhecemos - respondiam.
- Piu. .. Piu.. . - dizia, com a cara mais deslavada do mundo.
Esse era o ambiente do Circo, muito riso acompanhado de pipoca e amendoim. Tudo era festa! � bem verdade que os demais artistas igualmente eram festejados,
aplaudidos. Equilibristas que andavam no arame; malabaristas; contorcionistas; m�gicos utilizando cartolas, fazendo pombos e coelhos surgirem miraculosamente; os
dois c�ezinhos amestrados, com suas apresenta��es �mpares.
Todavia, quem centralizava as aten��es era, sem d�vida Bombom. As suas participa��es entremeavam os n�meros de variedades. dando um colorido especial ao espect�culo.
Ap�s cumprida a parte de variedades, havia um pequeno intervalo, seguindo-se a encena��o de uma com�dia de quarenta minutos, aproximadamente. Tomavam parte
na com�dia quase sempre, todos os artistas do circo. Bombom, por�m, n�o participava das pe�as teatrais, a n�o ser, quando era absolutamente necess�rio, na hip�tese,
por exemplo: do papel Exigir a sua presen�a. ou ent�o, quando ocorria a aus�ncia de algum integrante do grupo.
Apesar do palha�o viver intensas amarguras, ele sempre se apresentava diante do p�blico de maneira elogiosa. arrancando merecidos aplausos; ningu�m sequer
suspeitava do seu drama �ntimo. Seu cora��o ulcerado era um reposit�rio de l�grimas candentes, contrastando com o SEU comportamento no picadeiro. pois a sua participa��o,
marcada de optimismo e de alegria, dava a entender que ali diante do povo, fazendo gra�a, estava uma criatura imensamente feliz.
Terminada a primeira parte dos espect�culos, Bombom recolhia-se ao seu cub�culo, dando vaz�o aos seus verdadeiros sentimentos. Quantas vezes ele chorara l�grimas
amargas, ap�s a apresenta��o dos seus n�meros hilariantes! Ap�s chorar abundantemente, sentia-se mais aliviado, as dores morais tornavam-se menores, menos pungentes,
e o seu carma mais leve e suport�vel. Nos momentos de duras reflex�es e sofrimentos, podia melhor entender o drama de sua vida e o seu destino ingl�rio. Em seguida,
entregava-se a sinceras preces, expondo aos Benfeitores amigos os motivos do seu viver aflito e desesperado, como se eles n�o soubessem de suas expia��es dolorosas.
Finalizava rogando a protec��o de Jesus, pois reconhecia tratar-se de pessoa fr�gil e imperfeita, altamente necessitada de amparo espiritual.
Ap�s as rotineiras ora��es, sentia-se bem melhor e suas for�as robustecidas pelas b�n��os espirituais, desfrutadas nesses momentos de recolhimento �ntimo.
Ali�s, todas as criaturas que confiam na Provid�ncia Divina e que t�m o louv�vel h�bito de orar, sincera e espontaneamente, sempre s�o favorecidas pelas d�divas
celestiais, portadoras de sa�de f�sica e energias espirituais, que as tornam fortes contra as lutas e tenta��es pr�prias da vida humana.
23 - CAPTURADO NOVAMENTE.
Aqueles que se deixam envolver pelas malhas da marginalidade, encontram s�rias dificuldades para se libertarem delas de vez. Torna-se necess�rio bastante for�a
de vontade, apoio da fam�lia e da sociedade. Rei, infelizmente, desconhecia tais valores, pois ainda via no destino que escolhera, o caminho florido da felicidade,
sem qualquer compromisso e submiss�o.
Assim que lograram a liberdade, V�ctor levou Rei a uma casa fora da cidade, esconderijo dos companheiros de delinqu�ncia e crimes. Esse local era desconhecido
das autoridades policiais e onde, de quando em quando, os quadrilheiros se reuniam para tomar certas provid�ncias, com vistas a assaltos em perspectiva.
Chegaram exactamente no momento em que os companheiros examinavam a viabilidade de um novo golpe. O grupo formado por homens bastante conhecidos da pol�cia,
planejavam um grande assalto, cujo produto possibilitaria afastarem-se da cidade em demanda de outra localidade distante, adoptando novas identidades.
- Afinal - disse o l�der, um rapaz loiro, truculento - � hora de parar e parar bem!
Rei entrou nessa sem pestanejar. Como era um tanto desconhecido da pol�cia, teria condi��es mais favor�veis de efectuar os primeiros contactos com o Banco
a ser roubado, fazendo o reconhecimento do local, levantando a viabilidade de sucesso no crime. As condi��es foram checadas com aten��o: hor�rio mais prop�cio e
os pormenores da fuga, que n�o poderia fracassar.
Rei, sob disfarce para n�o ser reconhecido, esteve v�rias vezes nas proximidades do banco, examinando, inclusive, a situa��o do tr�nsito, tendo entrado algumas
vezes no estabelecimento banc�rio para certificar-se de tudo. Afinal, o assalto teria que dar certo; para tanto, teriam muita cautela e perspic�cia. Definiram o
dia e hor�rio mais favor�veis: quando os valores monet�rios dispon�veis, movimentados com os clientes, seriam maiores.
O grupo seria composto por quatro quadrilheiros bem armados. Rei fora escolhido de comum acordo para executar a tarefa de vanguardeiro; teria que entrar primeiro,
seguindo-se dois companheiros munidos de grandes sacolas, camufladas embaixo das malhas, destinadas a recolher todo dinheiro dos caixas. O quarto assaltante ficaria
no carro, cujo motor estaria em constante funcionamento.
N�o � necess�rio que se diga que o ve�culo havia sido roubado na v�spera em cidade pr�xima e substitu�da a sua chapa por uma "fria".
No dia e hora aprazados, o esquema foi colocado em pr�tica. Todavia, o gerente do Banco, homem experiente e perspicaz, notando a atitude suspeita dos rapazes,
colocou-se r�pido em um ponto estrat�gico pr�ximo ao alarme. Assim que o assalto foi anunciado, o gerente fez funcionar o sistema de alarme do Banco. Em poucos minutos
a entrada do estabelecimento estava completamente bloqueada por policiais. Os tr�s assaltantes que agiam no interior do Banco, renderam-se, incontinenti, ao verificarem
o fracasso da opera��o. O quarto elemento apenas aguardou um momento; notando o insucesso dos comparsas, nada podendo fazer, fugiu apavorado.
Assim, Reinaldo e V�ctor, acompanhados de Gat�o, terceiro elemento, foram algemados e retornaram ao pres�dio, para aguardar novo julgamento, o que se verificou
depois de decorridos oito meses. Reinaldo foi condenado a mais oito anos de pris�o, tendo em vista agora ser reincidente.
V�ctor e Gat�o, ap�s a condena��o que receberam em virtude dos muitos anos de reclus�o que pesavam sobre ambos, foram removidos para uma Penitenci�ria do Estado,
onde est�o at� hoje. Rei, agora, teria que cumprir n�o s� os quatro anos da primeira pena, mas sim doze, que �, indiscutivelmente, um per�odo muito grande para quem
tem a cabe�a cheia de sonhos e esperan�as.
O c�rcere que recebera Reinaldo de volta, com acomoda��es prec�rias para dez presidi�rios, hospedava, na ocasi�o, um n�mero bem maior, que disputava suas acomoda��es.
Os c�rceres enfileirados davam para duas alas laterais de um p�tio, local onde os reeducandos tomavam sol diariamente e jogavam futebol, realizando campeonatos internos,
procurando, assim, fugir de algum modo � monotonia de suas vidas cativas.
As duas fileiras de xadrezes que ladeavam o p�tio, t�m como cobertura grossas Lages de cimento armado, isso a uma altura de aproximadamente seis metros. Sobre
as Lages est�o edificadas quatro guaritas, cujas sentinelas, fortemente armadas, davam cobertura ao pres�dio vinte e quatro horas por dia, em sistema de rod�zio.
S�o testemunhas de tudo quanto ocorre sob as suas vistas. Olhos vigilantes da lei humana, no cumprimento da ordem e da disciplina exigidas na pris�o.
A alimenta��o � apenas razo�vel. Afinal, n�o poderia ser melhor, em virtude da eleva��o constante dos pre�os dos g�neros aliment�cios e tendo em vista ainda
os custos elevados do sistema penitenci�rio. � bem prov�vel que se gaste mais, hoje em dia, com os presidi�rios do que com os menores abandonados. Ali�s, deveria
ser o contr�rio, considerando-se que � exactamente no aprimoramento intelectual e moral do menor, que est�o fundamentados os valores do progresso de um povo. Disse
algu�m sabiamente: "Eduquem as crian�as para n�o ser necess�rio castigar os homens".
Os reeducandos, na sua maioria, representam as camadas mais pobres da popula��o, portadoras de diversificadas car�ncias. A tristeza e a solid�o fazem moradia
em suas almas que, de quando em quando, s�o tomadas pela revolta e descren�a na Provid�ncia Divina.
Cada caso � um caso. Contudo, depois de algum tempo de reclus�o, tais criaturas assemelham-se no comportamento e tend�ncias. Citado fen�meno � f�cil de ser
explicado, pois as experi�ncias vividas e permutadas nas horas vazias v�o, a pouco e pouco, moldando seus caracteres, da� a origem da afirmativa popular de que o
indiv�duo, no pres�dio, acaba ficando pior do que quando ali entrou.
Raros permanecem imunes a esse tipo de contamina��o moral.
N�o devemos, pois, desrespeitar as leis humanas, a fim de n�o perdermos a liberdade, d�diva concedida por Deus a todos os seus filhos. A liberdade, quando
bem desfrutada, proporciona � criatura enriquecimento espiritual e j�bilos celestiais.
Jesus tornou bem clara a quest�o quando afirmou:
"Dai a C�sar o que � de C�sar e a Deus o que � de Deus (Mateus 22:21 ). Assim, tanto a lei dos homens quanto a Lei Divina precisam ser respeitadas. A primeira,
suscept�vel de progresso � medida que o tempo passa; a segunda, eterna e imut�vel, pois est� embasada na infinita Perfei��o de Deus, nosso Criador.
Deus outorgou a todos os seus filhos a liberdade de agir, destinando-os � conquista da verdade e � pr�tica do bem. Todavia, os homens ignorantes e imaturos,
atrav�s dos mil�nios, deram vaz�o aos instintos grosseiros, cometendo todo tipo de delitos, comprometendo-se a passar por �speros resgates em vidas sucessivas, a
fim de lograrem o refinamento espiritual indispens�vel.
24 - DI�LOGO PROVEITOSO.
Cinco anos j� se passaram na ampulheta do tempo.
As reiteradas visitas de Cristina ao seu pai, sobretudo � noite, por ocasi�o do sono f�sico, constitu�am um refrig�rio para sua alma lancetada pela dor. N�o
fosse isso e ele, por certo, n�o suportaria tanta amargura. Sabia da exist�ncia da esposa e n�o podia aproximar-se dela, gritar bem alto que ele vivia e desejava
retornar ao lar, onde outrora fora t�o feliz.
Sempre que era tomado de assalto por esse tipo de reflex�o, afloravam � sua mente as duras palavras de Val�ria, que agora tinham mais vigor do que na �poca
em que foram proferidas:
- "Eu gosto de voc�, porque � bonito... "
- Se ela me visse agora - monologava Bombom - naturalmente n�o me aceitaria mais como marido; sou exactamente o oposto dos seus rom�nticos ideais.
O palha�o precisava esquec�-la, olvidar seu lar; conscientizar-se de que tinha necessidade de viver uma etapa nova de vida. Apesar dos anos decorridos, ele
ainda n�o aceitava plenamente a sua real situa��o. Cristina, incansavelmente, minimizava as dores produzidas pelas feridas abertas em seu cora��o, com palavras de
bondade e energias espirituais condizentes.
Certa vez, aproveitando-se da oportunidade que o sono f�sico de seu pai propiciava, procurou-o para mais um di�logo. Nesse ensejo ele manifestava a vontade
derever a esposa para um entendimento e, quem sabe, chegarem � conclus�o de edificarem novamente o lar desfeito.
- Papai, n�o fa�a isso! Mam�e j� refez a sua vida, casou-se e tem, inclusive, um filhinho, a quem adora.
- Isso � irregular, e como fico eu nessa hist�ria? N�o � poss�vel!
- Mam�e ignora que o senhor esteja vivo. A pol�cia concluiu pela sua morte. Ela aguardou algum tempo, depois resolveu refazer a sua vida. A sua reaproxima��o
seria um desastre. N�o fa�a isso! - aconselhou a filha, abra�ando-o.
- Voc� sabe onde ela mora?
- Sei. Tenho me aproximado dela e da sua nova fam�lia, algumas vezes. N�o vamos ser pedra de trope�o na vida deles. Aceitemos com resigna��o a parte de sofrimento
que nos cabe; � consequ�ncia do nosso passado pontilhado de ac��es contr�rias � lei do amor.
- S� eu sei o que � sofrimento...
- N�o se deixe envolver por sentimentos enfermi�os, eles acabam com a nossa resist�ncia �ntima, colocando-nos em condi��es favor�veis � interfer�ncia de entidades
das sombras na nossa vida, causando s�rios descontroles. S�o seres inferiores que s� almejam a infelicidade alheia. Eles est�o por toda parte na atmosfera terrestre,
est�o vinculados ao mundo em que habitamos. O senhor j� sabe disso; logo, n�o h� motivos para lam�rias, sejamos fortes. Deus conhece a nossa dor e no dia certo,
no momento exacto, nos conceder� a solu��o salvadora, se fizermos por merec�-la. Deus jamais esquece dos seus filhos.
Bombom ouvia com aten��o as s�bias pondera��es de Cristina, que, ap�s pequena pausa, continuou:
- O importante, papai, � fazer com que as feridas profundas do seu cora��o, cicatrizem-se, e jamais magoar ou ferir algu�m, sob pretexto algum, seja l� quem
for. A sua reaproxima��o de mam�e seria um aut�ntico desastre na vida de voc�s dois. Tal comportamento trar� imprevistas e graves consequ�ncias, das quais o senhor,
papai, ser� o maior respons�vel. O mais acertado � deixar tudo como est�, confiando na Miseric�rdia Divina, que prev� e prov� todas as nossas necessidades, conforme
o nosso merecimento - aduziu Cristina, que se apresentava iluminada.
- Aguardar... aguarda ...
- Paci�ncia, papai, esse � o rem�dio. Contudo n�o devemos permanecer inactivos, torna-se necess�rio trabalhar, fazer algo em favor dos que sofrem...
- Precisa trabalhar? - interrompeu-a Bombom.
- Perfeitamente. Enquanto aguardamos solu��o ditosa, que ponha em festa o nosso cora��o, procuremos conhecer as mazelas �ntimas que ainda habitam o nosso cora��o,
procurando, com empenho e boa vontade, venc�-las uma a uma. Paralelamente, utilizemos o tempo para igualmente fazer o bem, at� porque o bem cobre uma multid�o de
pecados, conforme apontamento do ap�stolo Pedro (3.a ep�stola 4:8).
- Conhe�o essa passagem evang�lica.
- Ent�o? Vamos exemplific�-la na nossa viv�ncia.
- Eu j� tenho feito alguma coisa nesse sentido. Sempre que algu�m me procura, eu o atendo com todo amor, reconhecendo-o sofredor como eu...
- Quando eles o procuram?! � necess�rio procur�-los, papai, interessar-se por eles, conhecer-lhes os problemas aflitivos. S�o muitos e est�o presentes em toda
parte. Hoje, em dia, o povo sofre mil e uma vicissitudes n�o podemos olvidar que o mundo ainda � planeta de provas e de expia��es, e que ningu�m, ningu�m mesmo,
est� isento dessa programa��o de resgates e burilamentos individuais e colectivos.
- Cristina, minha filha, eu tenho feito alguma coisa no sentido de ajudar o nosso pr�ximo...
- Alguma coisa � muito pouco. � preciso fazer muito mais - esclareceu Cristina, falando com �nfase.
Voc� est� certa. A esse respeito eu tenho conversado bastante com a irm� Matilde, e ela sempre bate na mesma tecla. insistindo na pr�tica da caridade como
solu��o adequada aos nossos problemas. Ela diz mais, que devemos seguir as pegadas do Cristo, isto �, exemplificar as suas li��es de luz, s� assim baniremos do nosso
�ntimo o orgulho e o ego�smo, as maiores mazelas morais que tanto t�m infelicitado a Humanidade, desde os seus prim�rdios.
- Muito bem!... � isso mesmo, sem tirar nem p�r - ratificou Cristina, tomada de justificado j�bilo, pelas acertadas pondera��es do pai.
- Cristina, vou lhe confidenciar uma coisa: quando rememoro o passado, desde a fase em que fomos felizes at� a cat�strofe que se abateu sobre a nossa fam�lia,
todos os lances dram�ticos voltam � minha mente, vivos como se estivessem ocorrendo agora; todo sofrimento ressurge, intenso, dominando as minhas for�as, fazendo
as feridas do meu peito sangrarem novamente; depois, intensa revolta toma conta de todo o meu ser. Querida filha, a nossa fam�lia foi destru�da, n�s �ramos t�o
felizes!
- Papai, n�o se torture tanto ... por que lembrar-se das dores lancinantes do passado, se podemos perfeitamente seguir um caminho novo que nos leve a conhecer
e realizar tarefas enobrecidas? Para sermos realmente felizes, h� necessidade de fazermos a felicidade alheia.
Jamais esquecer que somos filhos de Deus. A m�xima maior deixada pelo Divino Amigo, �: "Amar a Deus acima de todas as coisas e ao pr�ximo como a n�s mesmos
(Mateus 22:37 a 39).
Bombom e Cristina silenciaram, olhando-se nos olhos, como que ratificando todos os argumentos permutados naquele instante inolvid�vel.
25 - CRISTINA, � VOC�?
Val�ria procurava dar um novo sentido � sua vida, fugindo das lembran�as amargas do passado, que abalaram sensivelmente a sua personalidade forte e optimista.
Havia casado pela segunda vez e tinha um filho. Seu esposo, pr�spero industrial, proporcionava-lhe uma vida sem preocupa��es. Artur, o seu nome, adorava a
esposa e o filho: Jorge, de tr�s anos de idade, de boa �ndole, inteligente e d�cil �s orienta��es dos pais.
Apesar da harmonia reinante no lar de Val�ria, de quando em quando o passado voltava com recorda��es tristes, que ela procurava esquecer imediatamente, interessando-se
mais pelos afazeres dom�sticos. De um tempo a esta data, Val�ria tem, �s vezes, a impress�o de n�o estar sozinha, apesar de, como cat�lica, n�o aceitar a interfer�ncia
de esp�ritos na vida dos vivos.
Certa madrugada, Val�ria teve um sonho revelador, que determinou uma mudan�a radical em sua exist�ncia.
O quarto foi invadido por uma claridade diferente da produzida por luz el�ctrica, ela n�o saberia definir, mas era sem d�vida diferente. A seguir, aos poucos,
ela p�de perceber que n�o estava s�; prestando mais aten��o ao fen�meno, ela viu claramente uma mo�a ao lado da cama, cuja fisionomia ela reconheceu, de pronto:
- Cristina, � voc�, minha filha?!
- Sim, sou eu, mam�e. Eu preciso falar com a senhora.
- Como eu estou contente em poder rev�-la! Eu tamb�m. J� estive aqui, v�rias vezes, inteirando-me da sua nova vida. A senhora casou novamente, tem um filho.
isso mesmo, mam�e, n�o devemos ficar cativos do passado, principalmente quando foi feito de dores e l�grimas - esclareceu Cristina carinhosamente.
- Voc� est� diferente n�o � mais aquela crian�a; agora � mo�a e bonita!
- Aqui onde eu me encontro a gente cresce tamb�m; n�o seria bom para mim permanecer crian�a para sempre. Agora, mam�e eu trabalho juntamente com amigos espirituais,
procurando realizar tarefas que sejam do agrado de Jesus - informou a filha.
- Eu estou notando; a sua apar�ncia � das melhores. A sua visita est� me fazendo um bem extraordin�rio. Cr
- Eu necessito falar com a senhora.
- Not�cias do papai?
- N�o. Trata-se de outro assunto.
- Voc� tem estado com o Murilo, minha filha?
- Sim, quase que diariamente.
- Por que voc� n�o o trouxe � minha presen�a? Gostaria de rev�-lo, conversar com ele.
- Os Benfeitores espirituais ainda n�o permitiram. O certo � que ele est� muito bem. Isso � o que importa, n�o �, mam�e?
- Exato, minha filha. Quantas vezes sinto uma saudade, quase incontida, daqueles tempos felizes em que estivemos juntos; momentos inesquec�veis, aqueles. Em
seguida, procuro olvid�-los, porque igualmente trariam de volta amarguras superadas, abrindo velhas feridas �ntimas, que tanto nos fizeram sofrer e chorar - desabafou
Val�ria, bastante emocionada.
- Como eu lhe disse, mam�e, tenho estado aqui, ao seu lado, algumas vezes.
- Eu tenho pressentido a presen�a de algu�m junto a mim. Agora sei que era voc�, isso me deixa contente e despreocupada. N�o sabia que os esp�ritos dos nossos
familiares tivessem condi��es de nos visitar.
- Mam�e, voc� precisa aprender muitas coisas importantes enquanto estiver encarnada. N�o se apegue, em demasia aos valores materiais, eles prejudicam a ascens�o
dos esp�ritos. Jesus, a esse respeito, nos legou precioso ensinamento: Onde estiver o teu tesouro, a� estar� o teu cora��o(Mateus 6:21). Hoje, a senhora sabe que
h� uma vida melhor, mais din�mica, a do plano espiritual, onde eu me encontro feliz.
- Como foi bom ouvi-la, minha querida filha; vou pensar no que voc� me disse.
- Que Jesus a aben�oe, mam�e. Voc� precisa aprender muitas coisas importantes enquanto estiver na Terra... Pense nisso ... pense nisso... - repetiu Cristina,
afastando-se.
Ap�s uma hora, Val�ria acordou, consultando o rel�gio, eram sete horas. O dia principiava.
Artur estava no banheiro, barbeando-se. A seguir, veio � presen�a da esposa, que arrumava a cama.
- Bom dia, meu bem.
- Bom dia. Agora de manh� eu tive um sonho bastante interessante - disse Val�ria, inteirando o esposo dos detalhes do sonho que tanto a impressionara.
- �, d� para pensar; mais tarde conversaremos novamente a respeito. Querida, estou atrasado - justificou, saindo do dormit�rio em direc��o � copa, para o habitual
caf� da manh�.
Val�ria rememorou o sonho o dia todo; precisava, sim, pensar e muito. Se n�o foi uma alucina��o dos sentidos, ent�o a realidade da vida futura era bem outra!
Entardecia, quando Val�ria resolveu procurar uma amiga esp�rita, para conversarem sobre o assunto e eliminar as d�vidas pendentes.
- Como vai, Clarice. H� tanto tempo que n�s n�o nos vemos! - adiantou Val�ria.
- Estou bem. Sempre me esquivei de procur�-la por sab�-la cat�lica praticante e sempre revelar avers�o pelo Espiritismo - acrescentou Clarice.
- Eu vim disposta a conversar bastante com voc�.
Inicialmente eu quero lhe contar um sonho que me deixou singularmente impressionada.
- N�o diga?
- J� disse - brincou Val�ria, colocando Clarice, a seguir, a par do sonho e das suas d�vidas a respeito.
- Val�ria, os sonhos retratam a nossa viv�ncia espiritual, durante o sono fisiol�gico. Sonhos atribulados e confusos, nos d�o conta de que estivemos em m�
companhia, isto �, com esp�ritos sofredores ignorantes, e at� maldosos. Sonhos felizes na conviv�ncia de amigos e parentes, como no seu caso, com sua filha, comprovam
o interesse deles em nos orientar, podendo at�, dependendo das circunst�ncias, servirem de advert�ncia com rela��o a actos incorrectos que porventura tenhamos praticado,
ensejando-nos oportunidades para corrigi-los enquanto � tempo.
Val�ria limitava-se a ouvir, sumamente interessada nos esclarecimentos. Ao sair, despediu-se agradecida, levando consigo v�rios livros esp�ritas, tomados emprestados,
prometendo l�-los, uma um, com o maior interesse e aten��o.
O sonho com a filha mudou completamente a rotina da vida de Val�ria: deixou de ir � Igreja e come�ou a frequentar o Centro Esp�rita, em companhia de Clarice.
Tornaram-se amigas insepar�veis.
Os Benfeitores amigos, ami�de, nos d�o noticias da vida espiritual, sobretudo atrav�s dos sonhos. O importante � analis�-los correctamente, colocando em pr�tica
os conselhos e aceitando as advert�ncias, para nossa pr�pria felicidade.
26 - IN�CIO DE REDEN��O.
Reinaldo est� preso h� mais de seis anos, cumprindo a pena que lhe foi imposta pela Justi�a. Nesse longo lapso de tempo, o seu esp�rito �vido de liberdade,
havia feito proveitosas avalia��es. Aquilo ali n�o era vida! S� o caminho do bem pode proporcionar felicidade, de nada adianta querer ficar rico na Terra, quando
se tem o esp�rito vazio dos leg�timos valores espirituais, isto �, das virtudes.
Agora, sim, as palavras da sua m�e ganharam um sentido real na sua mente. Rei, mais maduro, com as experi�ncias vividas, acabara entendendo o objectivo elevado
das argumenta��es maternas; n�o era mais aquele jovem de cabe�a vazia, atr�s de facilidades perigosas. Como perdera tempo, deixando de lado os s�bios conceitos expendidos
pela sua genitora, ao longo dos anos em que vivera em sua benfazeja companhia.
A viv�ncia desfrutada no lar, era, sem d�vida, valiosa oportunidade de aprimoramento interior. Quantas vezes sua m�e lhe dirigia a palavra, com paci�ncia e
carinho, chamando-o � realidade da vida e ele, imaturo, dera de ombros, saindo ir�nico, na certeza de que ele, somente ele, dispunha do caminho mais acertado e promissor,
para os seus dias. Que caminho?! Viver entre grades, como um animal raivoso, segregado da colectividade, limitado nos seus passos, nos seus anseios?
Jamais os conselhos de sua querida m�e, soaram t�o fortemente em seu c�rebro. Ela, que sempre fora boa para com ele; e ele, de que modo retribu�ra esse amor?
S� com sofrimentos, sacrif�cios, amarguras. At� quando seus destinos estariam sujeitos a tantas vicissitudes?
Matilde visitava o filho todas as semanas. Submetia-se a rigorosa vistoria �ntima, por parte da pol�cia feminina, a fim de poder entrar no pres�dio, ela que
era t�o recatada, sentia-se, nessas ocasi�es, humilhada. Humilhada, sim, pois sua vida fora um exemplo de dignidade, de correc��o, ningu�m poderia apontar, sequer
um fato menos nobre ao longo de sua jornada terrena.
Naquele dia, ao se encontrarem no p�tio, para a costumeira visita, Rei veio ao encontro da m�e, com uma express�o fision�mica diferente, inclusive nas suas
palavras havia uma entona��o que fugia do seu habitual modo de falar. O que teria acontecido?
- Mam�e! ...
- Meu filho!...
Os dois vencidos pela emo��o, entregaram-se �s l�grimas. Nenhum dos dois conseguiu falar, de pronto, a voz n�o sa�a de suas gargantas. Aquele curto di�logo
de apenas tr�s palavras dizia tudo! Permaneceram longamente abra�ados, chorando copiosamente.
Curiosamente, durante o tempo em que a m�e e o filho estiveram abra�ados, irmanados na mesma dor lancinante que retalhava fundo seus cora��es sens�veis, na
tela mental de Reinaldo, sucediam-se, numa velocidade incr�vel, os acontecimentos que marcaram profundamente sua vida na meninice e na juventude e, principalmente,
ressurgiam vivas as palavras de bondade e ternura, entendimento e compreens�o, de sua genitora, n�o o condenando jamais; pelo contr�rio, mostrando-lhe o verdadeiro
caminho da reden��o com Jesus, feito de ren�ncia e abnega��o, fraternidade e amor.
" Esse momento foi marcado por poucas palavras e inusitadas emo��es, assinalando sua vida com o fogo do arrependimento, limiar de uma nova exist�ncia. As velhas
concep��es do passado, de assalto e vida f�cil, ru�ram por terra de vez. Agora, sim, teria condi��es de entender e aceitar os padr�es de virtude que enobrecem os
seres, incentivando-os a labores dignos em favor de si mesmo e dos desprotegidos da Terra, na edifica��o de um mundo novo, onde a palavra amor, na sua leg�tima acep��o,
n�o seja uma utopia e sim uma realidade indestrut�vel.
Ainda ecoavam, no seu �ntimo, nos escaninhos mais profundos de sua alma, aquelas tr�s palavras de vida, proferidas com tanta emo��o, que abriram os diques
de suas almas sens�veis e sinceras, fazendo-as chorar convulsivamente:
- "Mam�e!..."
- "Meu filho!..."
N�o era preciso dizer mais nada; j� haviam falado tudo! H� sentimentos represados na alma, que as palavras s�o pequenas e pobres, desprovidas de sentido, incapazes
de bem retrat�-los, defini-los. Nessas oportunidades decisivas, as atitudes sinceras e espont�neas, nascidas do cora��o aflito, falam muito mais alto que incont�veis
palavras. Passados os primeiros instantes, Matilde foi quem rompeu o sil�ncio:
- Rei, nesta madrugada, eu tive um sonho com voc�, meu filho, bastante significativo...
- Conte, mam�e! Como foi?
- Uma entidade de luz, aproximou-se de minha cama e disse: "O amor salvar� seu filho. Saiba esperar. Confie em Jesus." Depois afastou-se, desaparecendo. S�
isso, N�o sei o que aquele Benfeitor amigo quis me dizer. Suas palavras, repassadas de amor, me fizeram um bem indescrit�vel.
- Esquisito, n�o, mam�e? "S� o amor..."
- O amor � tudo, meu filho. O amor � Deus, segundo nos asseverou o ap�stolo Jo�o, em sua ep�stola: I .a0 4:8.
As reflex�es de Reinaldo, aliadas ao sonho de Matilde, alteraram profundamente os conceitos de vida do jovem assemelhando-se a violento terremoto que p�e a
descoberto regi�es f�rteis, sepultando de vez as ru�nas do ego�smo e do orgulho milenares. Terremoto que n�o deixa "pedra sobre pedra ", mas n�o destr�i os verdadeiros
ideais humanos na edifica��o de um mundo melhor, a fim de que os princ�pios sublimes de vida se perpetuem para todo o sempre, atrav�s do comportamento da Humanidade,
que, quando voltado � verdade e ao amor, concretizam a Vontade de Deus.
Rei, mentalmente, considerava: - Como a fam�lia � importante na vida dos seres humanos, sobretudo quando se � apoiado por uma m�e extremamente abnegada e amorosa
como a minha, plena de entendimento e compreens�o, sem esmorecimento ou cansa�o, sempre preocupada com a minha reabilita��o moral. Como fui ingrato e rebelde �s
suas palavras de amor!
Os longos anos de reclus�o, per�odo in�til da sua vida, materialmente falando, foram de uma import�ncia �mpar no seu progresso moral. O ambiente do c�rcere,
t�o triste e desolador, onde a revolta mais e mais se acentua no �ntimo dos reeducandos. Reeducandos? N�o! Ali ningu�m aprende nada de bom, s� exemplos mal�ficos,
pois as criaturas vivem sem orienta��o, entregues a per turba��es mentais, matrizes de sofrimentos de variada natureza. O tempo � ocupado com pequenos trabalhos
manuais que n�o despertam interesse em ningu�m. N�o t�m com�rcio!
As proveitosas prova��es de Rei, acompanhadas de amadurecidas medita��es, levaram-no a concluir, sabiamente, que a vida na marginalidade s� avilta o ser, embrutecendo-o.
Compreendeu, tamb�m, que os transgressores da lei, quase sempre, n�o superam a faixa et�ria dos vinte e cinco anos. O indiv�duo ou morre em entreveros com a pol�cia,
ou � assassinado pelos pr�prios companheiros de crimes.
O caminho do crime est� jucado de espinhos!
27 - O SONHO REVELADOR.
Na noite desse dia inolvid�vel, Rei teve um sonho significativo, dos mais esclarecedores. Sentiu-se fora do c�rcere, isolado numa plan�cie, nem casas nem �rvores
� vista, nada!... Havia uma brisa fresca e agrad�vel que acariciava sua pele. Nesse instante, surgiu no horizonte um homem que veio ao seu encontro, aproximando-se
aos poucos. Seu aspecto esquisito... sua fei��o dura... um tanto triste...
- Rei, eu o conhe�o de outras vidas, cometemos juntos muitos delitos -- come�ou a falar o estranho personagem - no momento, talvez voc� n�o se recorde de mim.
O que eu tenho a lhe dizer � muito importante para n�s dois. S�o revela��es de um passado remoto, de outras experi�ncias na carne.
Reinaldo vivia indefin�veis emo��es, tinha plena certeza do valor daquele contacto inamistoso, por�m n�o saberia como defini-lo, explic�-lo.
Eu sou um dos seus inimigos do passado - continuou a falar, imperturb�vel, a esquisita criatura, - o velho m�dium me viu muitas vezes, fazendo refer�ncias,
inclusive, aos meus prop�sitos inconfess�veis. Voc� jamais submeteu-se � vontade de sua m�e, procurando ser independente para fazer o que bem entendesse; todavia,
nunca fugiu � minha influ�ncia negativa, sempre fez o que eu quis. Hoje, voc� est� preso porque foi esse o meu desejo, precisava vingar-me do que voc� me fez; exigir
pagamento na mesma moeda.
O esp�rito obsessor parou de falar, por alguns minutos, como que colocando seus pensamentos em ordem para depois dar continuidade � revela��o com mais clareza.
Nesse pequeno lapso de tempo, tamb�m Rei deu asas aos seus pensamentos: - Que situa��o estranha estava vivendo! Jamais poderia sequer pensar que um dia defrontar-se-ia
com aquele personagem singular, surgido das cinzas do passado, na figura de credor de actos que fizeracontra ele em circunst�ncias, no momento, ignoradas!
- Ap�s o sil�ncio verificado, de parte a parte, o obsessor prosseguiu no seu relato:
- Realizado o meu desejo, despe�o-me agora de voc�. N�o estou contente com o que fiz. Afinal, o �dio e a vingan�a deixam sempre um saldo de amargura, frustra��o
e arrependimento, que marcam profundamente a nossa alma. Algo grita dentro de mim que eu sou o grande perdedor da porfia que mantivemos, consequ�ncia de faltas graves
que cometemos em vidas pregressas.
- N�o estou entendendo! Fale mais claro! - essas foram as primeiras palavras pronunciadas por Rei, diante daquele ser que provava conhec�-lo t�o bem.
- Acompanhe atentamente o meu racioc�nio, � muito importante. Voc� actualmente est� resgatando um d�bito contra�do em outra vida, da qual n�o se recorda; eu,
por�m, tenho vivos na lembran�a todos os lances dessa jornada passada. Hoje, eu sei que o sofrimento que me foi imposto no pret�rito, j� representava pagamento de
d�vidas anteriormente contra�das por mim. Logo, a execu��o da vingan�a contra voc�, constitui novos d�bitos ; que ter�o de ser saldados por mim no futuro.
- Curioso o seu comportamento de agora, apesar de dizer-se meu inimigo, mostra-se compreensivo e, at�, arrependido pelo que me fez - argumentou, Reinaldo.
- Com rela��o �s profundas modifica��es �ntimas operadas em mim, eu as devo, principalmente, � sua abnegada genitora. As suas reiteradas ora��es em nosso favor
agiam sobre mim como um lenitivo, como um b�lsamo minimizando os meus sofrimentos, desanuviando a minha mente em constante conflito, fazendo-me entender o sublime
sentido da vida. Sua m�e � uma alma boa e generosa, que semeia incansavelmente o bem.
- A partir de quando voc� atua sobre mim?
- Desde o seu nascimento. N�s est�vamos juntos na espiritualidade, da� voc� resolveu voltar � esfera f�sica para tanto obteve permiss�o dos Benfeitores amigos.
A minha actua��o sobre voc� sempre foi impercept�vel e continuada, a fim de n�o levantar suspeitas e poder aos poucos, fazer com que os seus conden�veis h�bitos
do passado pudessem aflorar, produzindo situa��es danosas em seu preju�zo. O que facilitou a minha empreitada foi voc� n�o aceitar os s�bios conselhos de sua m�e.
Assim, identificou-se mais comigo, abrindo brechas �s minhas influencia��es negativas e, ao mesmo tempo, recha�ando as palavras bondosas de sua genitora, seus ensinamentos
de luz.
O desconhecido fez longa pausa, possibilitando a Rei meditar rapidamente sobre as argumenta��es apresentadas; depois, retomando a palavra, considerou:
- Rei, a sua vida est� um tanto complicada. Longe da minha presen�a, voc� vai poder avaliar melhor a sua real situa��o. Nisso constituir� o seu resgate. Em
outra �poca, talvez eu me sentisse plenamente realizado; hoje, n�o! Gra�as � sua m�e que, em pensamento, tamb�m me acolhia como filho. A pequena semente da regenera��o
est� principiando a germinar no duro solo do meu cora��o.
- Ent�o, voc� me perdoa?
- Sem d�vida... sem d�vida. Tudo que aconteceu entre n�s dois, foi somente fruto da ignor�ncia e da ociosidade que dominavam nossas personalidades. Buscar
solu��es mais f�ceis para poder fruir de gozos puramente materiais, que n�o levam a nada, somente a decep��es e sofrimentos, � a pior decis�o que se pode tomar -
acrescentou o esp�rito, finalizando: - At� um dia, se Deus permitir.
Em seguida a estranha criatura desapareceu na dist�ncia, de onde veio, para ignotas plagas.
Os sonhos s�o viv�ncias dos esp�ritos no espa�o.
Por ocasi�o do sono, o corpo f�sico repousa; o esp�rito, n�o. Enquanto a veste carnal se refaz das energias gastas durante o dia, os esp�ritos semilibertos
(a liberdade total significa a morte) gozam de relativa liberdade, convivendo por algum tempo com aqueles que lhe s�o afins. Assim, dependendo das nossas actividades
durante o dia, teremos as companhias durante o sono fisiol�gico.
Ac��es nobres em favor do pr�ximo, estudo e trabalho dignos fazem com que a nossa perman�ncia no espa�o durante a noite, seja feliz e proveitosa, na breve
conviv�ncia com aqueles que nos querem bem, que se rejubilam com o nosso progresso.
Comportamentos mesquinhos embasados no orgulho e no ego�smo, direccionados aos nossos irm�os de jornada terrena, acarretam noites de pesadelos na companhia
de entidades infelizes e ignorantes que ainda n�o se desapegaram de imperfei��es morais seculares. Tais esp�ritos alegram-se em nos infelicitar e destruir. Assim,
cada um de n�s escolhe a companhia que deseja e merece. Essa a grande verdade!
Os Benfeitores espirituais nos ajudam de mil e uma formas; atrav�s de sonhos, como ficou bem claro pelo relato acima, pois n�o fosse a permiss�o deles e a
ajuda dedicada ao esp�rito vingador, e o desfecho n�o teria tal ep�logo; atrav�s de um di�logo com um amigo ou parente, os Mentores fazem com que a conversa siga
um determinado sentido, para poderem, intuitivamente, manifestarem-se oferecendo-nos preciosas li��es; atrav�s da leitura de um livro, principalmente se for esp�rita,
quais fontes de luz, luarizando o nosso interior, fazendo com que as sombras da ignor�ncia ali existentes batam em retirada.
A luz da sabedoria espiritual espanca as trevas da ignor�ncia secular, que tanto t�m dificultado a marcha da Humanidade nas vias do progresso moral.
28 - DIQUE, O COMPANHEIRO.
Apesar de estar preso, isolado da sociedade, Rei, naquele dia amanhecera quase feliz. Sabia que havia acontecido algo que iria mudar sensivelmente a sua vida,
n�o obstante reconhecesse que teria que permanecer ali longos anos naquela experi�ncia de frustra��es inquietantes.
Ele sentia-se no in�cio de uma nova etapa e suficientemente forte para enfrentar e vencer os obst�culos da exaustiva caminhada.
- Como a vida, �s vezes, torna-se engra�ada! - pensou. - Agora que eu n�o tenho liberdade, posso enfim valoriz�-la como D�diva Divina das mais preciosas e
ansi�-la com todas as minhas energias, mais que nunca!
Como mam�e tinha raz�o! Quantas palavras repassadas de bondade e de li��es sublimes eu ouvi de sua boca santa! E eu o que fiz? Pensando saber tudo n�o aceitei
as suas valiosas pondera��es sobre a vida, entregando-me �s conversas f�teis e danosas dos meus pobres companheiros, que ter�o, como eu, que aprender pelo sofrimento
a verdadeira realidade. Agora eu sou outra pessoa. Hei de vencer!...
Os seus companheiros de infort�nios, criaturas cheias de problemas �ntimos e conflitos desesperadores, n�o saberiam compreend�-lo. Rei vivia agora em um mundo
� parte, apesar de conviver com eles a mesma experi�ncia. Contudo, em toda e qualquer situa��o, notadamente nas mais desditosas, sempre aparece um "ombro amigo".
Para Rei esse apoio era Ricardo, o Dique, tamb�m oriundo de fam�lia pobre. Conhecera car�ncias de todas as naturezas, da� a sua resolu��o em roubar e, para
n�o fugir � regra, dera-se mal, acabando nas limita��es de um c�rcere.
Havia entre Rei e Dique muitos pontos em comum, afora aqueles que os levaram a vivenciar a mesma experi�ncia dolorosa no pres�dio. Dizem que o destino costuma
pregar pe�as. O que ocorre, por�m, � que as coisas seguem o ciclo normal, sempre conforme a necessidade e merecimento de cada indiv�duo. Ali estavam dois jovens
saldando d�vidas com a sociedade. Agora, j� um tanto compenetrados pelas amarguras, almejavam vidas novas, correctas e dignas. Queriam ardentemente seguir pela estrada
recta da virtude e do dever, n�o mais pelos atalhos sombrios e enganosos do crime, que s� criam decep��es e sofrimentos.
Jesus, ao longo de sua vida mission�ria, sempre deixou claro que devemos ocupar as nossas horas, no cumprimento do nosso dever, amando-nos uns aos outros.
Na realiza��o desse sublime ideal, lograremos combater tenazmente, com sucesso, as imperfei��es morais que ainda moram nas fibras mais profundas do nosso cora��o.
Somente a partir da� � que teremos reais condi��es de poder viver intensamente as verdades da Boa Nova do Cristo. Todavia, enquanto n�o atingirmos o citado
n�vel de evolu��o, cabe-nos intensificar os nossos esfor�os nesse sentido, sem o que, nada ir� ocorrer de bom no transcurso da nossa jornada terrena.
Os dois amigos j� sentiam no �ntimo essa necessidade maior de afei�oarem-se � verdade e ao bem, como solu��es definitivas aos males da vida. Somente a sabedoria
e o amor exercidos de conformidade com os preceitos evang�licos, t�m a propriedade de cobrir uma multid�o de pecados (I Pedro 4:8).
O princ�pio da renova��o j� era uma realidade no cora��o dos dois jovens, tornava-se agora necess�rio perseverar nesse elevado ideal de liberta��o. Quem sabe
at� poderia acontecer um fato novo, inusitado, dando rumos diferentes �quelas duas vidas, trazendo para a percep��o de ambos uma perspectiva promissora. Cada criatura
humana edifica o seu destino, conforme a sua vontade e a natureza das suas ac��es. N�o podemos ignorar que, quem semear espinhos, jamais colher� flores!
A propriedade do amor � sensibilizar as almas profundamente, motivando-as a despertar de vez do torpor anestesiante em que ainda teimam em permanecer, indiferentes
e amolentadas, sem ideais que provem a grandeza de suas vidas.
O amor � sopro Divino que penetra os recessos mais sens�veis das almas, tornando-as mais felizes, at� nos momentos adversos, incentivando-as a conquistas enobrecedoras.
Todos que amam, verdadeiramente, procuram levantar os ca�dos nas estradas da vida, solucionando-lhes os problemas angustiantes adequadamente; sentem-se ditosos com
a felicidade alheia e trabalham persistentemente nesse labor elevado, buscando construir um novo mundo, com a predomin�ncia da fraternidade entre os homens.
O pres�dio era visitado todos os s�bados � tarde, por um grupo de religiosos, ecum�nico, que tinham em mente evangelizar os reeducandos. Al�m dessa fraterna
actividade, os componentes do grupo, distribu�am pequenos objectos t�o necess�rios aos reclusos, tais como: sabonetes, creme dental, l�minas de barbear, l�pis, envelopes,
selos postais, etc.
Luiz�o, companheiro de cela de Rei, certa vez manteve um di�logo bastante interessante, com o padrinho Fernando, que merece ser aqui relembrado. Tanto Rei
quanto Dique acompanharam a conversa, obtendo precioso ensinamento.
- Padrinho Fernando, voc�s procuram, com as suas pondera��es evang�licas, nos tirar do caminho da marginalidade. Tudo bem! Eu concordo em parte com isso -
disse Luiz�o.
- S� em parte, por qu�? - interrogou-o Fernando.
- Depois que eu sair daqui, preciso fazer um "servicinho" rendoso, que me d� possibilidades de parar e viver tranquilamente. A partir da� eu at� posso me tornar
um religioso.
- Luiz�o, voc� acredita em Deus?
- Naturalmente que sim.
- Aceita a reencarna��o, isto �, a volta dos esp�ritos � vida f�sica, tantas vezes quantas forem necess�rias?
- Apesar de n�o ser esp�rita, aceito a reencarna��o, pois do contr�rio Deus n�o seria S�bio, Misericordioso e Justo.
- Muito bem! Acompanhe agora o meu racioc�nio.
Voc� � posto em liberdade, comete um assalto a um Banco, que lhe rende uma import�ncia consider�vel. Com uma parte desse valor voc� compra uma bela resid�ncia
em bairro nobre da cidade; a outra parte, voc� aplica na poupan�a, passando a viver folgadamente com tais rendimentos.
- O padrinho entendeu bem o meu projecto. � isso mesmo! Afinal, estou no preju�zo, preciso recuperar.
- Admitamos a hip�tese de voc� cometer um assalto perfeito, que a pol�cia n�o consiga esclarec�-lo. Que o amigo esteja em seguran�a.
- Exactamente! � isso mesmo que vai acontecer.
- Vamos considerar que tudo d� realmente certo.
Todavia, atrav�s da reencarna��o, voc� vai retornar ainda outras vezes � paisagem terrestre, tendo que saldar esse crime. Todos os bens conseguidos por n�s
de maneira indevida, ter�o de ser devolvidos � sociedade, quase sempre nas mesmas condi��es. Isso quer dizer que em encarna��o futura o amigo ter� de sofrer uma
perda igual �quela que lhe proporcionou os recursos desfrutados de modo ilegal. Se numa vida voc� apropriou-se de bens que n�o lhe pertenciam, em outra vida ter�
de restitu�-los � comunidade, em id�nticas condi��es. A Lei Divina tem a propriedade de registrar todos os acontecimentos de nossa exist�ncia. A d�vida acompanha
o devedor em todas as circunst�ncias de sua peregrina��o terrena. Luiz�o, cada um de n�s escolhe o seu pr�prio destino!
- Padrinho... Voc� me apertou sem me abra�ar! - respondeu, de pronto, Luiz�o. demonstrando ter entendido, a argumenta��o de Fernando.
29 - TRATAMENTOS ESPEC�FICOS.
O amor � a terap�utica ideal no tratamento das enfermidades e mazelas morais humanas. Constitui a presen�a Divina em todo o Universo. � vida palpitante em
todas as coisas. Nessa sublime energia estamos mergulhados.
O amor est�, inclusive, dentro de n�s, dinamizando a nossa vida, elevando-a acima dos interesses e conveni�ncias puramente materiais.
� bem verdade que, em muitas pessoas, o amor � apenas uma chamazinha inexpressiva ou, ent�o, ainda encontra-se em estado latente. Uma coisa, por�m, � certa:
o amor ir� redimir um dia toda a Humanidade, isso quando os homens estiverem cansados de sofrer, desiludidos da luta ingl�ria encetada na conquista das ilus�es
e fantasias que s� premiam os sentidos f�sicos.
Rei, no �ltimo encontro com a genitora, sentira uma sens�vel modifica��o �ntima. Quantos ideais, at� ent�o nutridos com tanto carinho, ru�ram, deixando em
seu lugar escombros de inutilidades que n�o levaram a nada, somente � dor e � l�grima! Era preciso construir intimamente um mundo novo, onde a esperan�a pontilhasse
como a primeira conquista indestrut�vel � noite, o sonho completara a grande metamorfose preparando o solo do seu cora��o para semeaduras promissoras. O advers�rio
de outras vidas partira, deixando-o livre para proveitosas reflex�es. Quanto tempo havia perdido, Jamais dera ouvidos �s s�bias e bondosas palavras de sua abnegada
m�e. Anjo tutelar de sua vida!
Certa vez, conversando com Dique, Reinaldo argumentou:
- Quanta tristeza e revolta ao nosso redor, Companheiros que, como n�s, alimentavam desejos de vida f�cil, sem responsabilidades, partilham, agora, das nossas
infelizes experi�ncias. Acomoda��es prec�rias e insuficientes, alimenta��o apenas razo�vel, pouco agasalho, aus�ncia de m�dicos e dentistas, nenhuma orienta��o.
Essa � a realidade da vida nos pres�dios! Ah! Que mundo pequeno � o do c�rcere, pequeno em todos os sentidos que se possa imaginar, sobretudo para aqueles
que procuram dar asas aos seus pensamentos e sentimentos. Estes sentem a dureza da realidade que os rodeia!
- O amigo est� revelando-se excelente fil�sofo
- aduziu Dique, sorrindo.
- Somente agora, ap�s longos anos de deten��o, e com base nas experi�ncias vividas � que tenho condi��es de avaliar e entender as edificantes palavras de minha
querida m�ezinha.
- A sua m�e � uma pessoa especial. As suas palavras nunca recriminam; pelo contr�rio, est�o sempre impregnadas de compreens�o e fraternidade - adiantou Dique.
- Observe, Dique, que ambiente de sofrimento e solid�o. Aqui nas limita��es do pres�dio, tudo � rotina. As mesmas actividades di�rias, os di�logos s�o f�teis,
abordam constantemente os mesmos assuntos marcados por frustra��es, muitos t�m vontade de sair daqui e trabalharem honestamente, enquanto a maioria, que se julgam
em preju�zo prometem reincidir no crime, por�m de maneira perfeita, n�o deixando pistas, a fim de n�o mais serem apanhados e recambiados ao pres�dio. H� os delinquentes
prim�rios e os contumazes.
- Estou gostando das suas pondera��es. Muito bem!
- Os longos anos de perman�ncia neste local de �speras decep��es, trouxeram-me valiosas experi�ncias.
Hoje, eu sei que a Justi�a humana deveria fazer distin��o, aplicar tratamentos espec�ficos, compat�veis com a situa��o de cada indiv�duo. Conforme bem esclareceu
minha genitora, n�o existem duas pessoas absolutamente iguais; semelhantes, sim. Logo, as puni��es e os tratamentos deveriam variar sempre, de acordo com os delitos
praticados e a situa��o moral de cada indiv�duo, levando-se em conta, inclusive, a vida familiar pregressa.
- O que voc� sugere, caro professor? - inquiriu-o Dique, sorrindo ironicamente.
- Dique, eu tenho meditado atentamente no assunto e pensado tamb�m nos conselhos de minha querida m�e. Assim, eu acho que aos delinquentes prim�rios deveria
ser dispensado todo apoio poss�vel, inclusive escolar e profissional, no sentido de reabilit�-los e capacit�-los a reintegrarem-se � sociedade. A eles deveria igualmente
ser ministradas aulas de evangeliza��o. A minha m�e � bondosa e compreensiva porque vive as li��es do Evangelho do Cristo. S�o exemplos que eu n�o posso ignorar!
- E aos reincidentes, prezado mestre, qual deveria ser o tratamento dispensado? - voltou a perguntar Dique, sorrindo.
- Os reincidentes ficariam em col�nias penais agr�colas, trabalhando pelo pr�prio sustento, recebendo igualmente tratamentos adequados, a fim de se regenerarem,
por�m jamais convivendo com infractores prim�rios, considerando que estes s�o mais facilmente recuper�veis.
- Sinceramente, eu gostei da sua argumenta��o, muito boa; boa mesmo! - finalizou Dique, colocando as m�os nos ombros do amigo.
- Hoje, eu entendo que somente a terapia do amor ter� condi��es de recuper�-los, at� porque o amor � Deus presente no Universo. O amor mudar� os sentimentos
de cada um deles, ensinando-lhes comportamentos novos, de h�bitos renovadores, onde o estudo e o trabalho dignos sejam uma constante, aliados ao respeito e � fraternidade
m�tuos, como factores decisivos na reden��o individual e colectiva do ser humano - tornou Reinaldo.
S� agora florescia e frutificava o trabalho consciente de Matilde junto ao filho. A sua preocupa��o maior sempre fora Reinaldo, pois desde crian�a ela percebera
o interesse do menor pelas coisas alheias. Orienta��es adequadas nos momentos prop�cios, jamais faltara! Ela o acompanhava "passo a passo" examinando cuidadosamente
os seus h�bitos. � noite orava fervorosamente, rogando a Jesus for�as e discernimento para poder bem realizar o seu mister junto ao filho. A ele jamais faltaram
conselhos de sabedoria e amor.
Rei, quando garoto, era alvo das aten��es do advers�rio do pret�rito, que a todo custo desejava vingar-se de epis�dios ocorridos em outras vidas, a seu dano.
O que propiciou facilidade ao inimigo invis�vel, foi exactamente a conduta do menor, rebelde aos conselhos maternos e acess�vel �s influencia��es prejudiciais do
desafecto de outras exist�ncias. O bem sempre encontra dificuldades para se fixar no cora��o humano, por se tratar de costume ainda n�o vivido; por outro lado,
o mal � facilmente assimilado e posto em pr�tica, porque j� se encontra radicado no interior das pessoas, bastando, apenas, record�-lo e coloc�-lo em evid�ncia nos
actos di�rios.
A sequ�ncia dos anos de pris�o, os h�bitos virtuosos de Matilde, acrescidos das observa��es que Rei vinha fazendo reiteradamente, deram-lhe uma vis�o completamente
diferente dos conceitos que nutria a respeito da vida. Quantos casos tristes ele presenciara, frutos da ignor�ncia e da pregui�a! Quantos dramas pungentes, marcando
almas com o fogo do arrependimento, que poderiam facilmente ser evitados, se houvesse um pouco de amor nos cora��es humanos! Quantas criaturas entregaram-se, invigilantes,
a sentimentos destruidores, buscando fazer justi�a com as pr�prias m�os, ocorrendo, inclusive, em muitos casos, que o ofendido � que foi morto nas pugnas de sangue!
Quando o leg�timo amor palpitar em todos os cora��es humanos, n�o haver� mais necessidade de pres�dios!
30 - SOFRIMENTO SUPERLATIVO.
J� fazia uma semana que Bombom n�o visitava Matilde, a grande amiga que tanto �nimo lhe dava ao cora��o, em raz�o das suas palavras generosas, impregnadas
de compreens�o e fraternidade. Como havia acordado, naquela manh�, angustiado em demasia, inconformado, fora � casa da amiga, a fim de fugir um pouco do seu pungente
drama.
Matilde o recebeu na sua modesta casa, com a sua habitual bondade, fazendo-o entrar.
- Como �, amigo, as coisas n�o v�o bem para o seu lado? - perguntou Matilde, com do�ura.
- Esta noite n�o dormi nada bem, parecia que grandes tenazes me comprimiam o peito, fazendo-me sofrer como nunca. N�o sei at� quando suportarei esse supl�cio
- desabafou Bombom, quase chorando.
- Caro amigo, se olharmos para tr�s, vamos encontrar pessoas muito mais sofredoras do que n�s; precisamos confiar em Deus. Voc� sabe que o meu sofrimento tamb�m
n�o � pequeno, mas o que posso fazer, se ainda n�o ressarci os meus d�bitos? Assim, procuro fazer a minha parte, com f� na Bondade Divina.
- Eu tamb�m tenho agido assim, por�m, �s vezes, a dor parece maior do que o meu peito, asfixiando-me.
Quando sonho com a Cristina, acordo melhor. Ela � o anjo tutelar que guia os meus passos, balsamizando-me o cora��o ferido. S�o sonhos maravilhosos que me
fazem t�o bem; no entanto, nem sempre os sonhos acontecem, o que me deixa deprimido.
- Ela tem outras ocupa��es. Al�m do mais, voc� precisa viver a sua pr�pria experi�ncia, para que o m�rito do �xito seja seu e n�o dela.
- Voc� pensa assim? - perguntou o palha�o.
- Naturalmente. Os esp�ritos que j� disp�em de certo grau de evolu��o, t�m labores a realizar. N�o se entende criaturas capacitadas ao trabalho, permanecerem
de bra�os cruzados, ociosamente, quando h� mil e um necessitados por toda parte. N�o podemos olvidar que o estudo e o trabalho s�o factores decisivos de progresso,
tanto aqui na Terra quanto no plano espiritual.
- A irm� realmente tem raz�o. Reconhe�o que estou fragilizado demais; n�o disponho de for�as para prosseguir na luta.
- N�o repita isso! Tudo tem uma raz�o de ser. Confie na Provid�ncia Divina. O irm�o sabe que de Segunda a sexta-feiras eu fa�o faxinas. Aos s�bados, aconselhada
pelo bondoso Matias, eu visito algumas fam�lias muito mais sofredoras do que n�s. Se voc� concordar podemosir juntos � casa da Alzira, pobre mulher que cuida de
duas filhas excepcionais. Gostaria de ir?
- Irei, sim. Preciso fugir do meu mart�rio, esquec�-lo. Estou � sua disposi��o.
- Ent�o vamos. Eu estava de sa�da, quando o amigo chegou - aduziu Matilde, fechando a porta de sua casa.
Os dois caminharam em direc��o a zona mais pobre da cidade, ap�s vencerem regular dist�ncia, entraram num declive.
- Alzira mora naquele barraco que voc� v� l� em baixo. Tudo aqui � desola��o e tristeza!
Assim que chegaram, Matilde bateu palmas, alertando a moradora da sua presen�a.
- Pode entrar Matilde; a porta est� apenas encostada - a dona da casa j� sabia da visita da amiga, que ocorria todos os s�bados. exactamente naquele hor�rio.
O barraco era dos mais pobres daquela regi�o, apenas um c�modo; mais pr�ximo � janela, estava o fog�o, na outra extremidade uma cama de casal, onde Alzira
dormia com as duas filhas g�meas, que contavam cinco anos.
No centro do barraco, uma mesa com duas cadeiras, encostado a uma das laterais, um arm�rio improvisado feito de caixotes, destinado aos poucos pertences e
aos alimentos; escassos, por sinal.
Assim que as meninas nasceram, o pai, quando percebeu que eram excepcionais, abandonara a fam�lia deixando-a entregue � pr�pria sorte. Alzira, infelizmente
n�o podia trabalhar fora de casa, pois n�o havia ningu�m que se propusesse cuidar das menores. Esse era o seu drama, dos mais pungentes. Vivia da caridade alheia,
almas bondosas levavam, de quando em quando, alimentos para as tr�s infelizes criaturas, ignoradas pela maioria das pessoas, interessadas em atender apenas os cinco
sentidos f�sicos, com esquecimento absoluto que s�o almas imortais.
- N�o repare na casa, ainda est� em desordem - falou Alzira aos visitantes, com a sua costumeira simplicidade.
- Bom dia! Hoje eu trouxe um amigo, interessado em conhecer a sua fam�lia - esclareceu Matilde, carinhosamente.
- Satisfa��o em conhec�-la; sou o palha�o Bombom, do Circo "Tricolor"! Sou amigo de Matilde, como ela vinha para c�, eu aproveitei para acompanh�-la. A vida
pelo visto, n�o tem sido nada boa para voc�s.
- N�o fosse a bondade de algumas pessoas caridosas e n�o ter�amos recursos de sobreviv�ncia. Minhas filhas s�o por demais dependentes de mim, n�o disponho,
portanto, de condi��es para me afastar, sequer por breve tempo. Quem sabe se com o passar dos anos as coisas mudam. Confio em Deus; afinal somos seus filhos. Tenho
certeza que Ele conhece bem a minha afli��o e nos ajudar� no momento certo. Deus � Pai e n�o padrasto!
Matilde leu uma p�gina evang�lica, de Emmanuel, guia espiritual do m�dium Francisco C�ndido Xavier, comentando-a; depois oraram em favor do grupo; a seguir,
aplicou passes magn�ticos de reconforto e coragem nas tr�s: m�e e filhas.
� sa�da prometeram retornar, ainda naquele dia com uma sacolada de v�veres, inclusive, leite e p�o para as desditosas meninas, que cumpriam um carma dos mais
dolorosos.
- Matilde, como voc� analisa o drama dessa fam�lia? - perguntou o palha�o, buscando novos esclarecimentos.
- Voc� j� sabe que cada caso � um caso. N�o h� dois iguais, de vez que as criaturas implicadas tamb�m s�o �mpares. Logo, n�o posso adiantar com certeza o que
teria ocorrido �s tr�s, motivando essas vidas sofridas que o amigo acaba de conhecer. Contudo, posso afirmar que o sofrimento de hoje, retrata delitos praticados
por Alzira em outras vidas, como respons�vel, com a cumplicidade atida das atuais filhas. Agora, ela que complicou a exist�ncia desses dois esp�ritos, tem a seu
cargo a tarefa sublime de reabilit�-los, sofrendo, inclusive, as situa��es criadas a dano do pr�ximo, como resgate purificador.
Bombom acompanhava com interesse, palavra por palavra, as pondera��es de Matilde, sobre o tema enfocado. Ap�s pequena pausa, ela continuou:
- Pode dar-se tamb�m o caso de que Alzira, levando vidas f�ceis, no pret�rito, n�o conseguira desvencilhar-se de imperfei��es morais, da� ter escolhido uma
exist�ncia dif�cil para poder, em uma vida s�, lograr a conquista t�o almejada: libertar-se de vez de mazelas que a prendem � retaguarda de compromissos dolorosos.
Assim, se por um lado ela promove a pr�pria reden��o moral, por outro lado, dois seres est�o igualmente sendo ajudados por ela com o aval da espiritualidade, confiados
� sua tutela materna - finalizou a companheira.
Face �s pondera��es ouvidas, Bombom pensou:
- Como Deus � justo e Misericordioso!
31 - EXPIA��O REPARADORA.
Ap�s uma semana dos �ltimos acontecimentos narrados, Matilde levou Murilo � casa do irm�o Matias, a fim de conhec�-lo pessoalmente. Murilo j� conhecia o m�dium,
atrav�s das informa��es dadas pela amiga; ocorrendo o mesmo fato com Matias, que j� ouvira falar do artista, muitas vezes. A visita foi das mais proveitosas, pois
a conversa versou sobre a Doutrina Esp�rita. Os visitantes ouviam os ensinamentos evang�lico-doutrin�rios com avidez, pois tinham necessidade premente desse tipo
de esclarecimento, com vistas aos problemas angustiantes que enfrentavam. A certa altura da conversa, Murilo perguntou:
- Ent�o, o irm�o confirma que os fatos que marcam a nossa vida t�m uma conota��o com o nosso passado?
- Perfeitamente! Nada escapa � S�bia e Justa Lei Divina. Tudo tem uma raz�o de ser, do contr�rio como explicar racionalmente as diferen�as facilmente observadas
entre as pessoas? O sofrimento que se abateu sobre a sua vida � consequ�ncia natural de actos conden�veis praticados pelo amigo em outras vidas a dano do seu semelhante.
N�o podemos pensar de outra forma, at� porque a Provid�ncia Divina fundamenta-se em perfei��o absoluta. Deus quer o progresso de todos os seus filhos, criou-nos
para viv�ncia no bem que enobrece, e para o conhecimento da verdade que liberta o ser a caminho da luz.
O sofrimento que se abate, implac�vel, sobre as vidas humanas, corresponde exactamente � quita��o de d�vidas outrora contra�das.
- Irm�o Matias, recapitulando o que foi dito, n�o h� inocentes sofrendo sobre a Terra, nem privilegiados desfrutando de bens imerecidos? - Perguntou Murilo,
interessado em ratificar conhecimento.
- N�o, n�o h�. A Lei de Deus abrange a todo o Universo, est� presente na vida de todas as criaturas, at� na dos seres infinitamente pequenos. Nada escapa �
S�bia e Justa Vontade Divina - acrescentou Matias, convictamente.
- Eu tenho lido O Evangelho Segundo o Espiritismo, que trata detalhadamente desse assunto; todavia, ainda n�o disponho de recursos para entender todos os assuntos
que o livro cont�m. Assim, �s vezes creio e �s vezes descreio, vencido pela dor. Vacilo demais! � bem verdade que as li��es tomadas em sentido diverso, deixam de
atender as nossas necessidades imortais e nos tornariam meros joguetes do destino.
- Exacto. Enquanto n�o se tem uma boa base de conhecimentos, as li��es ficam dif�ceis de serem assimiladas; no entanto, podemos adiantar, sem medo de errar,
que as verdades espirituais s�o simples, racionais, convincentes. N�o h� religi�o ou filosofia capaz de destruir os princ�pios espiritistas, porque est�o sedimentados
no Evangelho do Cristo. O Espiritismo � o Consolador prometido pelo Divino Messias (Jo�o 14:26).
- As suas palavras caem no meu cora��o como um refrig�rio, balsamizando as feridas; al�m de alargar a minha mente, criando uma expectativa feliz para o futuro.
- Agrade�a a Jesus, de cora��o, tudo que o irm�o est� recebendo neste instante. Ao seu lado est� uma jovem que diz chamar-se Cristina, foi sua filha nesta
encarna��o. Ela diz, igualmente, que tamb�m � respons�vel por muita coisa de ruim que acontece na sua vida e na dela, raz�o porque est� seriamente empenhada em ajud�-lo.
Diz mais, para que o amigo, em tempo algum, se entregue ao des�nimo e � revolta.
- Sim... sim, � minha filha. Coitada! Como sofreu!
Eu a sinto a meu lado nos momentos mais agudos e dif�ceis do meu viver. N�o fosse ela e eu n�o teria for�as para suportar o meu destino.
- Tenha confian�a na Miseric�rdia Divina, que jamais falha. Cristina est� pedindo para que eu tamb�m lhe diga que por mais �spero que seja o seu caminho, n�o
se esque�a de orar. A ora��o � ponte que faculta � criatura chegar at� o Criador, possibilitando-lhe receber incont�veis d�divas espirituais, condizentes com a necessidade
e merecimento de cada ser.
- Querida filha, que Jesus a aben�oe. N�o se afaste de mim; n�o sei se estou pedindo muito, � que �s vezes me sinto t�o fraco e indeciso que temo fracassar
aduziu o artista, baixando a cabe�a, humildemente.
- N�o se martirize � toa - interveio Matilde, quantas vezes eu causei s�rias preocupa��es ao nosso generoso irm�o Matias. S� ele sabe quantas!
- Deixe disso; sinceramente n�o me lembro de nenhuma. Apenas cumpri, imperfeitamente, com o meu dever. Al�m do mais, "in�til � o ombro do pai que n�o conhece
as l�grimas da filha". - acrescentou Matias, sorrindo.
- Aproveitando a oportunidade, queremos lhe dizer que fomos visitar a irm� Alzira - informou Matilde.
- Coitada! Est� passando por uma fase das mais dif�ceis de sua peregrina��o terrena. Pretendemos, inclusive, voltar l�, ami�de, para ajud�-la.
- Eu conhe�o bem o problema dela. Infelizmente n�o disponho de condi��es f�sicas para ir at� a sua casa.
Contudo, aqui distante tenho rogado o acr�scimo de miseric�rdia de Jesus, para ela e suas desditosas meninas.
Deus sabe o que faz! - comentou Matias.
- S�o vidas feitas de sacrif�cios, que proporcionam largas experi�ncias de valor incalcul�vel, promovendo a reden��o de seres seriamente comprometidos com
a Lei Maior. Afinal, depois de tantos ensinamentos, j� estou entendendo um pouco do assunto, n�o fosse assim e eu seria catalogada como p�ssima aluna, n�o �? - inquiriu
Matilde.
Matias sorriu, concordando. Tratava-se de um homem bastante cansado, envelhecido. O tempo deixara marcas da sua passagem por todo o seu corpo. Seus olhos,
por�m, vivos e penetrantes, buscavam o �mago das pessoas para conhec�-las melhor. Ele sabia n�o estar muito distante a sua alforria desta vida. Aguardava com serenidade
o momento decisivo: a grande metamorfose, que cedo ou tarde sempre chega, promovendo a indispens�vel liberta��o dos leg�timos seareiros do bem comum.
At� aqueles que sofrem nas vias p�blicas, ostentando corpos disformes, incapacitados de raciocinar com clareza, s� podem agradecer ao Pai Amant�ssimo a experi�ncia
dolorosa que vivem, porque ao final, quando desencarnarem, � que ter�o condi��es de bem avaliar as d�vidas ressarcidas e o triunfo logrado. A morte f�sica s� leva
ao desespero e a decep��es, aqueles que perderam o tempo entregando-se ao mal, esses ter�o que passar por duros resgates nas leiras da dor.
- Sei que tenho de abandonar este corpo f�sico, um dia, o que n�o est� longe de acontecer. Assim, gostaria que voc�s dois estivessem bem preparados para assumir
as tarefas assistenciais nesta regi�o. N�o podemos olvidar que Deus ajuda o homem atrav�s do homem; sejamos, pois, emiss�rios da Bondade Divina.
- Eu, particularmente, conhe�o as minhas limita��es. Sinto-me ainda bastante fr�gil incapacitada de poder assumir um mister dessa envergadura - respondeu Matilde,
humildemente.
- O seu rude resgate ter� um fim - tornou profeticamente Matias. - O sofrimento burila o nosso esp�rito, dando-nos condi��es para realizar cometimentos elevados
em nome de Jesus. Muitas coisas boas ainda v�o acontecer na vida de voc�s dois, tenham a certeza disso.
Mais tarde, a irm�, com o cora��o serenado, sentir� necessidade de amparar os mais fracos, em viv�ncias de amor crist�o.
A conversa com o bondoso Matias fez brotar em seus cora��es expectativas optimistas. Assim, tanto Matilde quanto Murilo, sa�ram de l� revigorados, quase felizes.
32 - A MORTE � VIDA!
Durante um largo lapso de tempo, os acontecimentos n�o apresentaram nenhuma novidade que mere�a ser registrada. Os problemas vividos pelos personagens desta
hist�ria n�o se modificaram sensivelmente, s� amarguras e sacrif�cios faziam-se presentes, como t�nica persistente, corrigindo erros e redim�ndo-os de mazelas morais
decorrentes de vidas anteriores. Os seres somente deixam de sofrer no momento em que se libertam dos d�bitos cometidos no passado, ou seja, em outras vidas. A Terra
ainda � planeta de provas e de expia��es, da� a raz�o porque a dor e a l�grima tem sido companheiras ass�duas da Humanidade.
Matias pediu a Matilde e Murilo para que fizessem uma visita de atendimento espiritual a um doente. O casal Oleg�rio e Iolanda, frequentador de sua casa, vivia
aflitivo drama. Oleg�rio estava seriamente enfermo e desenganado pelos m�dicos. Ele contava com oitenta janeiros e ela setenta e oito. Criaturas sofridas, somente
nos �ltimos anos � que se aproximaram das verdades espiritistas, conduzidas pela dor, como ocorre com a grande maioria das pessoas, poucas s�o aquelas que buscam
conhecer os princ�pios b�sicos do Espiritismo, levadas pelo amor.
O convite feito � Matilde e ao Murilo ensejava dinamizar mais o atendimento crist�o aos necessitados daquela regi�o, preparando, inclusive, seareiros para
os labores futuros. Por outro lado, o m�dium Matias, tendo em vista a idade um tanto avan�ada, precisava preparar algu�m que pudesse substitu�-lo no mister fraterno
que exercia junto ao povo sofredor daquela cidade.
Assim, de posse do endere�o, os dois dirigiram-se � casa do casal indicado. Eles residiam na �ltima casa da rua sem sa�da, como era denominada; situada n�o
muitodistante do domic�lio de Matias. N�o foi dif�cil localizar a moradia. Atendidos por Iolanda, que mostrava-se bastante preocupada com a sorte do marido.
- Agrade�o a voc�s pela presen�a fraterna; meu marido tem c�ncer e foi desenganado pelos m�dicos. O seu estado � dos mais graves, e o pior, n�o conforma-se
com a sua situa��o de enfermo terminal. N�o quer de modo algum morrer - confidenciou Iolanda, encaminhando-os ao quarto onde o marido encontrava-se recolhido ao
leito.
- Bom dia! - cumprimentou-o Matilde. - Viemos visit�-lo. Soubemos, atrav�s do irm�o Matias, que o senhor est� doente.
- Bom dia! Estou contente com a visita de voc�s - respondeu Oleg�rio, com voz apagada.
- Confie em Jesus! Ele � o m�dico dos m�dicos conhece todos os nossos problemas e na hora certa, naturalmente, o atender� com o seu acr�scimo de miseric�rdia...
- Eu sei ... Eu sei ... por�m n�o quero morrer e sei que � chegada a minha hora de partir.
- Ningu�m sabe qual � o seu dia. S� Deus tem conhecimento do instante do nosso desencarne - falou Murilo, aproximando-se mais do leito.
- Admitindo-se que o seu momento de partir esteja prestes a acontecer; o irm�o j� sabe que a vida continua - tornou Matilde.
- Sei, sim, que somos imortais; mas como ficar� Iolanda sem mim?
Curiosa a coloca��o do enfermo. A esposa cuidava dele h� dezenas de meses. No princ�pio, nem tanto, mas agora, no final, o seu trabalho junto ao marido n�o
era nada pequeno. Contudo, a sua preocupa��o era de como ficaria Iolanda, ap�s a sua morte!
- N�o se preocupe com isso. Deus est� em toda parte, ningu�m portanto est� sozinho, todos n�s estamos na companhia de Deus, nosso Pai celestial - aduziu Matilde.
- N�s temos conversado muito sobre esse assunto; por�m, Oleg�rio n�o aceita certas verdades - esclareceu a esposa, acariciando os cabelos do marido.
- Todos dizem que a morte � liberta��o, mas eu n�o quero morrer, tenho ainda muitas d�vidas. O bondoso Matias disse que o Espiritismo nos esclarece a esse
respeito, conscientizando-nos para o verdadeiro sentido da vida - falava o enfermo, com dificuldade.
- N�s �ramos cat�licos, at� bem pouco tempo, agora, com os problemas de sa�de dele, temos procurado frequentemente o irm�o Matias, que sempre se mostrou fraterno
conosco, inclusive ensinando-nos algumas verdades, da� a raz�o porque ainda n�o estamos bem inteirados dos conceitos esp�ritas. A nossa mente est� cheia de d�vidas
- ponderou Iolanda, emocionada.
- A morte n�o � o fim; assim como o nascimento n�o � o princ�pio da vida. O esp�rito j� existia antes do seu retorno ao vaso f�sico, da mesma maneira continuar�
existindo ap�s a morte da veste carnal - esclareceu Matilde.
- O bom Matias certa vez falou isso mesmo! concordou Iolanda, que acompanhava a argumenta��o de Matilde, com interesse incomum.
- Cada um de n�s - tornou Matilde - j� viveu incont�veis vidas, agora estamos recapitulando experi�ncias fracassadas e nos preparando igualmente para o porvir.
Assim, n�o s� temos que quitar certos d�bitos assumidos no pret�rito, quando desrespeitamos a lei do amor, como tamb�m evoluir intelectual, moral e espiritualmente.
A Terra assemelha-se a uma grande escola; logo, somente depois de dominarmos todas as disciplinas escolares, ganharemos condi��es �ntimas para galgar degraus superiores
na escada da perfei��o infinita. Deus criou leis perfeit�ssimas de amor e justi�a. Os transgressores de tais leis sofrer�o o choque de retorno; isto �, ter�o a infal�vel
visita da dor, nas varia��es condizentes a cada caso.
- Como tudo isso � dif�cil de entender! A nossa cabe�a n�o assimila essas li��es, da� a nossa d�vida - desabafou Iolanda, ajeitando os len��is sobre o enfermo.
- N�o tenham receio algum. O irm�o Oleg�rio n�o tem motivos para ter medo. Sempre levou uma vida honrada, primando pela correc��o em tudo que fez: bom filho,
bom esposo; zeloso e digno no seu trabalho. Logo, nada de temores, quem fez o melhor enquanto viveu, n�o deve ter medo da morte. Al�m do mais, a morte � vida! Por
que � vida? Porque a vida prolonga-se infinitamente, o desencarne � apenas uma metamorfose indispens�vel � evolu��o dos indiv�duos. Confiem em Deus, saibam acatar
sem reservas a sua Soberana Vontade! Caso o irm�o realmente desencarne vitimado por essa enfermidade que o atormenta, siga tranquilo, esperan�oso de um porvir melhor.
O senhor estar� apenas nos antecipando nessa grande viagem nada mais! - finalizou Matilde.
Oleg�rio sorriu, naturalmente aceitando as considera��es expendidas pela visitante, que se revelava bem inteirada do assunto, al�m de inspirada.
Em seguida, Matilde leu uma p�gina de O Evangelho Segundo o Espiritismo, comentando-a; aplicou passes de reconforto espiritual no casal; fluidificou a �gua
de uma jarra, esclarecendo que o enfermo deveria tom�-la como rem�dio: aos poucos, pela manh�, � tarde e � noite. Ap�s o atendimento despediram-se, retornando �s
suas tarefas di�rias. No dia imediato inteiraram o irm�o Matias a respeito do mister executado. O velho m�dium ficou feliz, pois havia encontrado dois seareiros
prestativos.
Ao final do terceiro dia, Oleg�rio encerrou a sua romagem terrestre, seguindo tranquilo e confiante na Bondade de Deus. Na hora extrema, sorriu � esposa e
apertou as suas m�os, como a despedir-se dela, deixando uma mensagem inarticulada: -- At� breve!
33 - O EVANGELHO NO LAR.
Os Centros Esp�ritas, actualmente, t�m sido procurados por um n�mero consider�vel de pessoas; a grande maioria delas em busca de um lenitivo para os seus males
e, quem sabe at�, a cura definitiva de tais problemas, quase sempre de natureza espiritual. Aquelas que procuram as casas esp�ritas, levadas pelo interesse de conhecerem
a verdade da terceira Revela��o, constituem um n�mero bastante reduzido.
O irm�o Matias vinha observando esse fen�meno, apesar da casa dele n�o ser um Centro, era procurado por incont�veis pessoas da regi�o, no sentido de serem
atendidas espiritualmente, com orienta��o espec�fica e aplica��o de passes magn�ticos.
Como o importante � ensin�-las a pescar e n�o simplesmente doar os peixes, Matias julgou de bom alvitre conversar com os interessados no sentido de implantarem
o Evangelho no Lar, pois via nessa pr�tica uma terap�utica adequada � maioria dos problemas que possu�am. Assim, julgou oportuno e conveniente convidar os frequentadores
de sua casa e os interessados a respeito, a ouvirem as suas explica��es sobre a actividade enfocada.
No dia e na hora escolhidos, a sala da sua pequena moradia estava literalmente tomada por pessoas simples, interessadas na palavra do m�dium. Matilde e Murilo
tamb�m estavam presentes, ansiosos pela orienta��o do bondoso seareiro. Matias, abrindo a reuni�o, fez uso da palavra. proferindo uma prece de agradecimento a Deus,
pelo ensejo do evento, e rogando o apoio da espiritualidade no sentido de que o tema em pauta pudesse ser bem assimilado por todos os presentes. A seguir, abordou
o assunto, deixando claro que todos poderiam fazer as perguntas que julgassem necess�rias para o bom entendimento do grupo.
- Caros irm�os, inicialmente desejo-lhes muita paz espiritual. O motivo da reuni�o j� � sobejamente conhecido. O tema que procuraremos desenvolver � dos mais
relevantes, no que diz respeito ao bem-estar e harmonia que devem reinar no seio da fam�lia. O Evangelho no lar corresponde a uma visita semanal de Jesus em nossa
casa, atrav�s dos seus ensinamentos de luz. - Matias fez uma pequena pausa, a fim de concatenar os pr�prios pensamentos, depois prosseguiu, sereno.
- A grande maioria dos problemas da Humanidade, actualmente, s�o de ordem espiritual. O Evangelho no Lar � o rem�dio adequado na solu��o de tais problemas.
A primeira provid�ncia a tomar � marcar, com a fam�lia, um dia da semana e hor�rio mais prop�cio para as reuni�es.
- Irm�o Matias, por que marcar um dia, n�o pode ser em qualquer dia? - inquiriu um dos presentes.
- Precisa ser sempre no dia da semana previamente escolhido, e no mesmo hor�rio tamb�m, porque os Benfeitores espirituais, sabedores do nosso interesse, designar�o
um Mentor para dirigir espiritualmente a reuni�o.
Fazendo-se o Evangelho semanalmente em qualquer dia com hor�rios vari�veis, os Benfeitores amigos n�o poder�o nos orientar com efici�ncia, de vez que eles
t�m misteres a cumprir, n�o est�o o tempo todo ao nosso dispor.
- Perfeitamente! N�o pensei nisso! - respondeu o interlocutor.
- Designar, de comum acordo, quem deve dirigir a
reuni�o; a escolha deve recair sobre o chefe da fam�lia ou, ent�o, na pessoa que tiver mais conhecimentos doutrin�rios. Se puderem escolher um c�modo da casa
para esse tipo de trabalho, � melhor. No entanto, caso n�o seja poss�vel, realiz�-lo de qualquer forma, pelos benef�cios que trar�, indiscutivelmente.
- Por que escolher um c�modo? - perguntou Matilde.
- H� c�modos da casa que servem de passagem para as demais depend�ncias, ocorrendo da�, certos contratempos, caso as pessoas que n�o participarem da reuni�o
estejam circulando de um lado para outro. Seleccionar o livro a ser estudado. O mais indicado � O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, por tratar-se
de obra adequada ao tipo de trabalho a ser realizado. Meia hora antes do in�cio da reuni�o, desligar os aparelhos de comunica��o: r�dio, televis�o. O importante
� a prepara��o do ambiente, podendo, inclusive, ser utilizada m�sica suave em volume brando, para a harmoniza��o dos pensamentos e sentimentos. Colocar um recipiente
com �gua, no local da reuni�o, a fim de ser fluidificada e ao final possam todos utilizarem-se dela bebendo um pouco. - Ap�s breve momento, Matias continuou, imperturb�vel.
- O roteiro da reuni�o deve ocorrer da seguinte maneira: prece inicial, simples, breve, espont�nea; que seja uma retrata��o do nosso pensamento e sentimento
voltados ao ideal de aprender e servir em nome de Jesus.
A seguir leitura de uma p�gina do livro escolhido, de forma sequente, com breve coment�rio sobre o assunto, n�o exceder a quinze minutos. Procurar a ess�ncia
dos ensinamentos doutrin�rios, comparando-a com as necessidades humanas. Ressaltar, ainda, que os benef�cios advir�o da viv�ncia de tais li��es, quando devidamente
aplicadas nas actividades do dia-a-dia.
- As crian�as tamb�m podem participar desse estudo? - inquiriu Murilo.
- Desde que tenham idade suficiente, capaz de aproveitarem o aprendizado; em caso contr�rio, dever�o permanecer em outro local, ou at� dormindo se estiver
na hora de recolherem-se para o repouso f�sico. As crian�as muito pequenas s�o demasiadamente irrequietas, prejudicando, por isso, o andamento da reuni�o.
- Realmente! - concordou um dos participantes.
- Todos os presentes devem participar do trabalho, tanto na prece inicial, quanto nas leituras e coment�rios, em forma de rod�zio. Ap�s a leitura e o coment�rio
fazer vibra��es pela implanta��o e viv�ncia das li��es evang�licas em todos os lares; pela paz na Terra; em favor das criaturas necessitadas e aflitas presentes
em toda parte; pelas pessoas com quem temos dificuldades em nos relacionar; pelo incentivo e protec��o dos trabalhadores do bem e da verdade; pelo lar onde est�
sendo realizado o Evangelho, bem como em prol de todos os presentes - Matias fez uma pequena pausa, dando oportunidades para perguntarem a respeito, como ningu�m
se manifestou, prosseguiu:
- Logo ap�s, encerrar com uma prece, tamb�m simples, breve e espont�nea. N�o fazer da ocasi�o um trabalho medi�nico, tarefa da compet�ncia somente de Centros
Esp�ritas. N�o permitir igualmente que a dura��o da reuni�o ultrapasse a trinta minutos, e n�o suspend�-la por motivos f�teis, perfeitamente adi�veis. Trata-se de
trabalho importante, que diz respeito ao bem-estar da fam�lia no �mbito espiritual. Passes poder�o ser aplicados pelas pessoas que tiverem conhecimento do assunto
e s� para atender eventualmente quem tenha problema de sa�de e precise desse tipo de terap�utica.
- H� necessidade de cobrir a mesa com uma toalha branca? - perguntou uma das senhoras.
- Absolutamente! O importante no trabalho � termos pensamentos e sentimentos harmonizados com a verdade e o bem. com a finalidade de servir � causa de Jesus.
A seguir, Matias encerrou a reuni�o com uma ora��o. rogando as b�n��os do Cristo, em benef�cio de todos os presentes.
N�o poderia ter havido acontecimento t�o bom, cujo rendimento n�o s� trouxe ensinamentos profundos da vida eterna mas tamb�m justificados j�bilos, que puderam
ser flagrados no rosto de todos.
34 - DIRIMINDO D�VIDAS.
Terminada a reuni�o, por sinal bastante proveitosa, os presentes manitestaram-se interessados em formular algumas perguntas sobre v�rios assuntos, a fim de
que as poss�veis d�vidas fossem devidamente eliminadas. O irm�o Matias concordou, feliz, considerando o desejo de todos em obter novos esclarecimentos a respeito
dos princ�pios espiritistas. O primeiro a fazer uso da palavra foi um jovem.
- Gostaria de saber o que o Espiritismo ensina sobre o suic�dio.
- O suic�dio, caro irm�o, � crime aos olhos de Deus, pois ningu�m tem o direito de tirar a pr�pria vida.
A exist�ncia Humana n�o termina no t�mulo; pelo contr�rio, a vida ap�s a morte f�sica desdobra-se mais actuante e din�mica, at� porque a vida espiritual �
a essencial. A vida na mat�ria � secund�ria. O corpo f�sico apenas enseja ao esp�rito oportunidades de resgatar d�bitos do passado, isto �, outras vidas, e aprimorar-se
com vistas ao futuro. Logo, ap�s o suic�dio, o esp�rito se v� mais vivo que antes, com todos os problemas angustiantes que tinha, acrescidos das consequ�ncias dolorosas
de haver tirado a pr�pria vida f�sica, em desrespeito � S�bia e Justa Lei Divina.
- � verdade que o esp�rito, em muitos casos, ainda preso ao corpo, sofre com o processo da decomposi��o do cad�ver? - tornou o jovem, �vido de novos esclarecimentos
sobre o assunto.
- Perfeitamente. Os efeitos danosos da rebeldia manifestada contra os s�bios e justos des�gnios das Leis Eternas, causar-lhe-�o s�rias decep��es e inesperados
sofrimentos, at� porque os la�os que o prendem � mat�ria f�sica, de modo algum, se desatam com facilidade, levando, �s vezes, largo espa�o de tempo. O sofrimento
dos suicidas � deveras impressionante, causando-lhe marcas �ntimas profundas, que somente s�culos de rudes experi�ncias, ou seja, expia��es indispens�veis, determina
o seu final.
- O que o senhor pode nos dizer sobre a pena de morte, ela � v�lida ou n�o? - inquiriu um dos participantes.
- A pena de morte � uma grave transgress�o �s Leis Divinas. Deus, que tudo sabe e tudo pode, cujas Leis est�o embasadas em Sabedoria, Miseric�rdia e Justi�a
sem limites, n�o tira, por antecipa��o, a vida de nenhum dos seus filhos. Como � que n�s queremos nos atribuir a compet�ncia de julgar e condenar � morte os nossos
semelhantes? Todos os indiv�duos que causam danos �s pessoas e � sociedade, s�o doentes da alma que reclamam tratamento adequado; manifestam o que lhes vai no �ntimo,
�s vezes fruto da pr�pria marginaliza��o da sociedade e do meio ambiente em que se criaram. � por isso que o Evangelho no Lar representa um freio a todas as manifesta��es
de desamor. No dia em que os homens vivenciarem as li��es evang�licas, diariamente, n�o teremos mais necessidade de pres�dios, porque cada integrante da Humanidade
amar� a Deus acima de todas as coisas e ao pr�ximo como a si mesmo. O ego�smo e o orgulho deixar�o de existir. A criatura humana ser� verdadeiramente livre das ilus�es
terrenas e estar� altamente interessada na conquista das virtudes, valores eternos.
- Estou satisfeito com o esclarecimento.
- Irm�o Matias, a respeito da eutan�sia, o que o amigo poderia dizer? - solicitou Matilde.
- A eutan�sia, igualmente, representa uma agress�o �s Leis Eternas. Ningu�m est� autorizado a tirar a vida do seu semelhante, sob pretexto algum. Quem � que
sabe exactamente o dia do desencarne do enfermo considerado terminal? Pode perfeitamente ocorrer a reabilita��o f�sica, h� incont�veis casos registrados nos anais
da medicina, de enfermos terminais que recobraram a sa�de e retornaram ao seio da pr�pria fam�lia. Ademais, n�s, esp�ritas, sabemos que o sofrimento � elemento depurador.
Na hip�tese do esp�rito ser libertado antes do tempo previsto, regressar� � espiritualidade levando em si mazelas que deveriam ser extirpadas do seu perisp�rito,
atrav�s do sofrimento interrompido. Se Deus, usando de miseric�rdia, n�o interrompe a vida de seus filhos enfermos por que n�s, que nada sabemos dos sublimes Des�gnios
Divinos, iremos nos antecipar realizando esse ato conden�vel, contr�rio � Sua S�bia e Justa Vontade?
- O que o senhor teria a nos dizer sobre a crema��o? H� muitas autoridades interessadas em adoptar tal pr�tica, tendo em vista a falta de espa�os nos cemit�rios
- abordou Murilo.
- A crema��o de cad�veres, igualmente, n�o deve ser procedida t�o logo a morte cl�nica seja anunciada. Isso porque nem sempre o esp�rito disp�e de condi��es
morais que facilitem a sua liberta��o do corpo, incontinenti. Caso a provid�ncia seja levada a efeito com o esp�rito ainda ligado �s vestes fisiol�gicas, ele ir�
fatalmente sofrer com o fato. N�o podemos olvidar que o esp�rito est� vinculado ao corpo atrav�s do perisp�rito, mol�cula por mol�cula. Emmanuel, guia espiritual
do m�dium Chico Xavier, aconselha termos piedade com os cad�veres, respeitando-se um prazo m�nimo de 72 horas para destrui��o do corpo som�tico, considerando os
fortes liames ainda existentes entre o esp�rito e a mat�ria, que dificultam a separa��o definitiva, face a transi��o imposta pela desencarna��o.
- Estou satisfeito com a resposta. Agradecido.
- O Espiritismo resolve todas as d�vidas de maneira l�gica, racional e convincente. N�o dando margem a quaisquer d�vidas. Caso encontremos algum tema insol�vel
isso s� significa que ainda n�o assimilamos determinada quest�o, convincentemente. A codifica��o da Doutrina Esp�rita est� contida em O Livro dos Esp�ritos, de Allan
Kardec. Os demais livros da codifica��o ampliam o que foi abordado de maneira resumida na obra em trato.
Os temas foram registrados de modo sucinto, por�m claros e intelig�veis - ratificou Matias.
- Caro Matias, poder�amos saber o seu ponto de vista a respeito da mediunidade? H� pessoas que revelam inconforma��o porque s�o m�diuns - perguntou uma senhora
que acompanhava com aten��o as valiosas pondera��es do expositor.
- A mediunidade n�o � castigo nem tampouco privil�gio. Trata-se de faculdade que, quando bem exercida em nome de Jesus, permite ao medianeiro acelerar o pr�prio
progresso moral e espiritual. O dom medi�nico � concedido por Deus, para que o homem exer�a mister dos mais sublimes, dando inclusive de gra�a o que de gra�a recebeu
(Mateus 10:8). Os m�diuns s�o os intermedi�rios entre os dois planos de vida: espiritual e material. Gra�as ao trabalho desses laboriosos e incans�veis seareiros,
estamos perfeitamente inteirados de que a vida continua; que os familiares que nos antecederam na grande viagem: a morte, nos aguardam a chegada; isso naturalmente
se estivermos sintonizados com eles, pelo sentimento e pensamento, nutrindo os mesmos ideais.
- Outro dia, uma senhora me disse que n�o desejava ser m�dium, pois a faculdade n�o s� absorvia o seu tempo como causava-lhe transtornos - voltou a ponderar
a interlocutora.
- Todos n�s somos co-participantes da obra de Deus. O exerc�cio correcto da mediunidade enseja realiza��es elevadas no campo do esclarecimento e bem-estar
alheios. A tal senhora pensa mais em termos materiais e menos nas conquistas espirituais. Est� presa �s coisas da Terra e divorciada das coisas celestiais. Quando
se pensa em valores puramente materiais, os que transcendem a mat�ria densa n�o s�o levados em conta. Contudo, as experi�ncias terrenas nos far�o entender, um dia,
a realidade da nossa passagem pela carne. O retorno ao vaso f�sico ocorre face � nossa premente necessidade de recapitular ac��es fracassadas. Somos filhos ingratos
e recalcitrantes, que refutam, sem saber, as d�divas celestiais que lhe foram doadas pela Provid�ncia Divina, objectivando o progresso e a felicidade. No entanto,
o tempo e a dor s�o os infal�veis instrumentos de que se serve o Pai Amant�ssimo, no refinamento moral da Humanidade.
A seguir, Matias deu a reuni�o por encerrada. O j�bilo era geral, motivado pelas edificantes li��es recebidas.
35 - REINALDO E C�NTIA.
Dia de Natal!... �poca em que a Humanidade presta significativa homenagem a Jesus, pelo seu nascimento. Os homens confraternizam-se, deixando de lado m�goas
e ressentimentos, entregando-se a sentimentos fraternos atendendo � sublime vontade do excelso mission�rio, l�dimo representante de Deus entre as criaturas humanas:
Jesus Cristo!
Jesus representou fielmente Deus, de tal forma, entre os homens, que Ele afirmou ser "um" com o Pai Celestial (Jo�o 10:30); assim como tamb�m poderemos ser
"um" com o Cristo, se cumprirmos fielmente a sua vontade sublime, qual seja, a nossa pr�pria evolu��o embasada na verdade e na pr�tica da lei do amo -Jo�o 17:23
A movimenta��o das visitas no pres�dio, nos dias de Natal, excedia ao normal. A direc��o do estabelecimento penal, com a participa��o das fam�lias dos reeducandos,
realizava todos os anos, uma festa de confraterniza��o entre todos, com farta distribui��o de salgadinhos, bolos, balas, refrigerantes, etc. N�o faltavam, igualmente,
m�sicas alusivas � magna data.
Normalmente, somente as m�es de Reinaldo e Ricardo � que compareciam para visit�-los. Ali�s, as m�es jamais esquecem de seus filhos, por piores que estes sejam.
Nesta ocasi�o no entanto, a genitora de Ricardo fazia-se acompanhar de uma das suas filhas, irm� de Dique, portanto.
A mo�a contava vinte anos, presumivelmente. Estatura mediana, pele clara, cabelos castanhos, fei��es delicadas, expressivos olhos azuis e corpo bem moldado.
Era realmente uma linda jovem, que impressionava a todos que tivessem o ensejo de v�-la. C�ntia, o seu nome.
Rei, ao v�-la, sentiu algo diferente que modificara intimamente o seu ser. Um sentimento novo, at� ent�o desconhecido, aflorara impetuosamente, misto de alegria
e de tristeza. Alegria por ver ali, diante de si, a mulher dos seus ideais mais puros; tristeza em sentir que era um prisioneiro, sem direito � liberdade, sem condi��es,
portanto, de lhe oferecer um nome digno e poder participar activamente da sua vida.
Com rela��o a C�ntia, ocorreu fen�meno semelhante: ficara enamorada de Rei, � primeira vista. Sentimentos dos mais fortes e leg�timos tomaram conta de todo
o seu ser, ao ponto de torn�-la, por um instante, confusa e perturbada, ela que normalmente tinha comportamento dos mais equilibrados, pensamentos dos mais l�cidos,
que lhe conferiam capacidade invulgar de avaliar e discernir as situa��es por mais discrepantes e embara�osas que estas pudessem ser.
Realmente ali estavam dois jovens nascidos um para o outro, com resgates c�rmicos e deveres comuns a cumprir; personagens vinculados desde outras vidas, que
retornaram � paisagem terrestre para repeti��o de nova jornada redentora, desde que baseada nas virtudes crist�s. Ansiavam um futuro promissor, pleno de realiza��esnobres,
onde o entendimento e a compreens�o, o respeito e o amor, seriam factores decisivos para uma vida feliz a dois.
Sem d�vida, nascera ali, naquele momento, em circunst�ncias especial�ssimas, um grande e verdadeiro amor. Ambos, at� ent�o, buscavam algo que n�o saberiam
definir o que seria. Naquele momento inesquec�vel, das fibras mais �ntimas de suas almas, aflorou o amor, sentimento sublime que renova e redime as criaturas humanas,
capacitando-as a conquistas enobrecidas e a elevados eventos.
Reinaldo era alto, forte, saud�vel, pele morena, olhos bem pretos e penetrantes. Jovem simp�tico de atitudes bem definidas. Rei e C�ntia, inegavelmente, formavam
um par perfeito. Matilde e Rosalina, m�es do casal, assim que notaram a troca de olhares entre os dois mo�os, adivinharam o que se passava nos refolhos mais �ntimos
de suas almas enamoradas.
A partir desse encontro inolvid�vel, somente o tempo iria dizer a �ltima palavra, aproximando-os para o s�rio compromisso do casamento e edifica��o do lar
programado na espiritualidade, antes de retornarem � carne, onde o amor, na sua mais elevada express�o, teria todas as prioridades admiss�veis.
A presen�a de C�ntia, mexendo com os sentimentos de Reinaldo, fizeram com que o jovem avaliasse com clareza a sua real situa��o de detento. Agora, encontrava-se
completamente inconformado, precisava conquistar urgentemente a sua liberdade para poder unir-se a C�ntia pelos sagrados la�os do casamento, para sempre. Chamando
sua m�e � parte, confidenciou-lhe:
- N�o sei o que a senhora poder� fazer por mim. Conhe�o as suas limita��es, sobretudo as financeiras; no entanto, eu lhe pe�o, do fundo do cora��o, fa�a at�
o imposs�vel, mas tire-me daqui, pelo amor de Deus.
- Voc� sabe que n�o � f�cil - respondeu a custo Matilde, com os olhos marejados de pranto. As palavras de Rei tocaram fundo os seus sentimentos maternos.
- Hoje, eu reconhe�o que a senhora, com as suas orienta��es, sempre quis o meu bem. Eu � que sempre fui um filho ingrato. Jamais quis dar ouvidos �s suas palavras
cheias de amor; todavia, dava todas as aten��es imagin�veis aos companheiros de cabe�a vazia, imaturos e irrespons�veis. Como eu fui ignorante!
Matilde estava surpresa com a radical modifica��o de car�cter de Reinaldo. O amor por C�ntia, aflorando no seu cora��o sens�vel, fizera com que o jovem entendesse
ali, naquele momento, o verdadeiro sentido da vida. Agora, precisava da liberdade, mais que nunca!
- Vou ver o que posso fazer; precisamos encontrar uma solu��o. Eu tenho sofrido demais. Jesus ouvir� as minhas ora��es ...
- N�o s� as ora��es, mam�e! - interrompeu-a Rei. - � necess�rio fazer muito mais! Mam�e, eu preciso sair daqui; desejo, mais do que nunca, libertar-me!
- Certo, meu querido filho. Encontraremos um caminho - prometeu Matilde, chorando.
A partir desse dia, C�ntia passou a visitar Rei todas as semanas, �s vezes acompanhada da m�e, outras vezes sozinha. N�o deixou de ir uma semana, sequer. Entre
os dois jovens nascera um forte e sincero amor, poder-se-ia dizer: inquebrant�vel.
Durante os encontros conversavam sobre os projectos futuros, trocando juras de amor; planejando, inclusive, como seria a vida dos dois, ap�s o casamento, detalhe
por detalhe.
Rei e C�ntia, antes de retornarem � Terra, haviam programado viver juntos a fim de solucionarem pend�ncias antigas, envolvendo ambos, bem como aos seus familiares.
O casamento n�o � institui��o que ocorre por acaso, fortuitamente. Ali�s, todos os acontecimentos que realmente marcam as nossas vidas, t�m conota��es com o pret�rito,
s�o repeti��es de actos fracassados, que precisam ser revistos e corrigidos, para que se d� o aprimoramento moral e espiritual interior, sem o que jamais seremos
autenticamente livres e felizes.
A reencarna��o possibilita o reexame de tais comportamentos danosos, criando ensejos de reabilita��o quando corrigidos. Assim, ganharemos capacidade e merecimento
de poder, um dia, conviver com esp�ritos elevados, voltados ao amor, ou seja, seres redimidos. Vencedores de �rduas porfias nas jornadas de refinamentos �ntimos
e trabalhos enobrecidos em favor do bem-estar do pr�ximo.
36 - OPORTUNOS ESCLARECIMENTOS.
Tanto Matilde quanto Murilo adquiriram o h�bito salutar de visitar, com relativa frequ�ncia, o irm�o Matias.
Eles sabiam que o bom m�dium sempre tinha algo para oferecer a todos que o buscavam �vidos de orienta��es e lenitivos para as suas dores. Assim, vamos encontrar
os dois, neste instante, na casa do incans�vel seareiro do bem.
Ap�s conversarem, por mais de hora e meia, sobre assuntos ligados � Doutrina Esp�rita, cada um expondo o seu ponto de vista a respeito, chegou algu�m igualmente
necessitado em dialogar com o m�dium, no sentido de obter elucida��es doutrin�rias. Tratava-se de um jovem frequentador da casa. Chamava-se Arlindo. Entrou, cumprimentando
a todos.
- Arlindo, faz tempo que voc� n�o aparece! O que o traz aqui? - perguntou Matias.
- Eu deixei de comparecer, por duas semanas, em virtude de ter que solucionar alguns problemas. Agora est� tudo em ordem. N�o sabia que o senhor estava com
visitas. Eu voltarei mais tarde.
- Depende do motivo da sua visita.
- Eu tenho uma d�vida; gostaria de saber a sua opini�o a respeito.
- Diga do que se trata - solicitou Matias.
- � o seguinte: um dos meus colegas afirmou que todas as religi�es levam as criaturas a Deus. � verdade? - inquiriu Arlindo, interessado em dirimir a d�vida.
- N�s est�vamos exactamente trocando pontos de vista sobre temas doutrin�rios. Assim, o seu desejo vem a prop�sito. Vamos examin�-lo, n�s quatro, a fim de
obtermos a elucida��o almejada - acrescentou o m�dium, sorrindo.
- �ptimo! Sou todo ouvidos.
- Caro Arlindo, n�s sabemos que Deus � esp�rito; logo, s� deve ser entendido e procurado dessa maneira (Jo�o 4:24), conforme deixou bem claro o Divino Mestre.
- Boa argumenta��o - adiantou Murilo, que acompanhava vivamente as pondera��es do bondoso Matias.
-Vejamos como procedem os cat�licos nas suas actividades religiosas. Usam velas, incenso, ter�os, santinhos, altares, imagens, paramentos, etc. Tais pr�ticas
exteriores jamais foram adoptadas pelo Cristo. Administra��o de sacramentos, realiza��o de baptismos e casamentos, concess�o de indulg�ncias. Actos que n�o encontram
igualmente respaldo nas orienta��es dadas por Jesus.
- Realmente - comentou Matilde. - N�o d� para entender como citadas normas foram introduzidas nessas pr�ticas religiosas classificadas como crist�s!
- Analisemos, agora, o protestantismo, englobando todas as ramifica��es ditas evang�licas. Os adeptos consideram-se filhos de Deus, aqueles que n�o professam
tais ideologias n�o passam de criaturas, apenas. Estudam a B�blia, de capa a capa, com base na letra que mata, en�o pelo esp�rito da letra que vivifica, conforme
bem acentuou o ap�stolo Paulo (II aos Cor�ntios 3:6). Os protestantes julgam-se salvos, os demais irm�os de outras religi�es, coitados! Est�o destinados ao inferno
eterno.
- Existem conceitos comuns entre as duas correntes religiosas citadas e o Espiritismo? - inquiriu Arlindo.
- A exist�ncia de Deos e a imortalidade da alma.
O catolicismo prega que o esp�rito nasce juntamente com o corpo e, por ocasi�o da morte, se durante a vida cometeu pecados capitais, ir� fatalmente para o
inferno. Caso n�o tenha se comprometido tanto. n�o chegando a ser bom. estagiar� por algum tempo no purgat�rio, podendo ainda um dia ser promovido ao c�u. Aqueles
que cumpriram fielmente os sacramentos da igreja, ir�o sem d�vida para o c�u. S�o princ�pios b�sicos da igreja.
- Eu conhe�o bem essas coisas. antes de ser esp�rita, era cat�lica - argumentou Matilde.
- Os protestantes tamb�m aceitam a exist�ncia de Deus e a imortalidade da alma. Para eles a alma � criada no ato do nascimento da crian�a. Ap�s a morte, a
criatura passa a dormir at� o dia do ju�zo final. Aquelas que tiveram f� no sangue de Cristo, ser�o levadas para o c�u; aquelas que, infelizmente, n�o acreditaram,
ter�o o destino do inferno. A f� para os protestantes � o fiel da balan�a. Ignoram o que o ap�stolo Tiago anotou na sua carta: "A f� sem obras � morta" [2:2U). Afirmam
que no dia do ju�zo final, haver� "a separa��o dos bodes das ovelhas" (Mateus 25:32 a 46). Matias fez breve pausa. depois continuou:
O Espiritismo ensina que todos n�s fomos criados simples e ignorantes, dispondo dos recursos necess�rios � nossa evolu��o, que se dar� atrav�s das incont�veis
reencarna��es, tantas vezes quantas forem necess�rias. Al�m das vidas sucessivas, iremos tamb�m, pelo progresso conquistado, ingressar em outros mundos, ou seja,
outras moradas da casa do Pai [Jo�o 14:2), mais adiantadas que a Terra, at� atingirmos a perfei��o, embora esta seja sempre relativa, jamais absoluta. Infinito s�
Deus, n�s seremos sempre finitos. Atrav�s das reencarna��es n�s enfrentaremos exactamente as situa��es criadas por n�s mesmos no pret�rito, corrigindo o que fizemos
de errado, resgatando delitos cometidos a dano do nosso semelhante; al�m de desfrutar de ensejos de aprimoramento espiritual nos campos: intelectual, moral e espiritual.
- A Doutrina Esp�rita tem como base fundamental os ensinamentos de luz do Cristianismo. Ali�s � o Consolador prometido por Jesus (Jo�o 14:26) - argumentou
Matilde, que n�o perdia uma s� das palavras do expositor, que se revelava inspirado.
Exactamente! O fogo eterno citado na b�blia, corresponde � dor, que � eterna, sim, como factor de reabilita��o, considerando que sempre existir�o esp�ritos
necessitados desse tipo de terapia redentora. Contudo, assim que os d�bitos forem sendo saldados, a criatura deixar� de sofrer e passar� a desfrutar da felicidade.
N�o podemos olvidar que Deus � Justi�a, por�m igualmente Miseric�rdia. Todos os seres por mais culpados e comprometidos com as Leis Divinas, ser�o um dia livres
e felizes.
Se Jesus pregou o perd�o (Mateus 18:22), como entender que Deus, sendo amor, permita que os seus filhos sejam condenados eternamente ao inferno? Jamais! Trata-se
de absurdo dos absurdos!
- As suas afirmativas s�o bastante claras e expressam a verdade. N�o podemos aceitar tal realidade de outra forma, sem colidirmos com os s�bios Des�gnios Divinos
- aduziu Murilo.
- � f�cil, queridos irm�os, distinguir a verdade da impostura. Tudo que se choca com a Sabedoria, Miseric�rdia e Justi�a de Deus, precisa ser descartado como
in�til e prejudicial. N�o importa quem esteja afirmando; as li��es do Evangelho n�o se contradizem, basta compararmos vers�culo com vers�culo, ensinamento com ensinamento.
Dessa avalia��o nascer� a luz, n�o a dos homens, evidentemente, mas a de Deus.
- Muito bem! ... muito bem! ... - o grupo fez coro.
- O que nos leva a Deus n�o � esta ou aquela religi�o, mas a espont�nea e genu�na viv�ncia do Amor e da Bondade para com todos sem querer receber recompensas
ou gratid�o. Todavia, podemos afirmar, sem laborar em erro, que a Revela��o Esp�rita, fundamentada na verdade sem interpola��es e artif�cios, oferece melhores esclarecimentos
espirituais � conquista da nossa reden��o.
37 - SERVIDOR DO CRISTO!
Em uma manh� de sol, na esta��o mais bela do ano: a primavera, quando o cen�rio terrestre veste-se de flores, balsamizando a atmosfera de delicados e subtis
perfumes, levados ao sabor da brisa acariciante, o velho Matias deixou o vaso f�sico, vitimado por um enfarto do mioc�rdio.
Como n�o poderia deixar de ser, todos prantearam a sua partida. Abriu-se uma lacuna dif�cil de ser preenchida, tendo em vista a natureza do seu elevado labor
junto �quela comunidade das mais humildes e carentes.
Matilde, mais do que ningu�m, sentiu a partida do grande benfeitor. Sabia da perda irrepar�vel, sobretudo naquela altura da sua vida de sofrimentos.
Quantas pessoas, vencidas por dores superlativas encontraram lenitivo, conforto e, �s vezes, at� a cura dos seus males no atendimento amoroso do prestativo
m�dium. Ap�s ter bem cumprido a sua nobre miss�o, por certo estaria agora recebendo os louvores de sua vit�ria sobre as coisas transit�rias, perec�veis e enganosas
do mundo.
Conv�m lembrar que esse incans�vel benfeitor dos oprimidos e necessitados, era vi�vo e n�o tinha filhos todavia, cuidava como ningu�m dos filhos alheios, mister
dos mais enobrecedores aos olhos de Deus. Criar e educar os pr�prios filhos � dever intransfer�vel que compete aos pais realizar com muita dedica��o e amor, abnega��o
e ren�ncia.
Cuidar dos filhos alheios, proporcionando-lhes recursos para crescerem dignos, principalmente transmitindo-lhes li��es e exemplos saud�veis, �, sem d�vida,
tarefa das mais merit�rias. Ao longo da sua preciosa vida, quantas criaturinhas receberam de suas m�os aben�oadas: agasalho, alimento, rem�dio, ou ent�o, de seus
l�bios, palavras de entendimento e amor.
Bom velhinho! Que Jesus, amigo incondicional de nossas almas, o ampare e ilumine sempre, norteando seus passos na vida espiritual! Sabemos que o seu mister
de auxiliar o pr�ximo continuar�, agora, mais intenso, tendo em vista o sofrimento que se abate sobre a Humanidade enferma, esquecida de que o �nico caminho que
nos leva � reden��o definitiva �, inegavelmente, o conhecimento e a viv�ncia das li��es de vida Eterna do Evangelho do Cristo.
Nas camadas mais pobres e sofridas da popula��o, com muita frequ�ncia, surgem aut�nticos seareiros do bem. Suas tarefas consistem em esclarecer e orientar,
apoiar e amar os seus semelhantes nas lutas �speras da exist�ncia terrena, sempre pr�diga em expia��es dolorosas, dif�ceis de serem suportadas, sobretudo por indiv�duos
que n�o est�o amadurecidos e preparados para tal fim. Contudo, as experi�ncias da vida v�o, a pouco e pouco, aprimorando o ser humano, indicando-lhe, inclusive,
o melhor caminho a ser palmilhado na aquisi��o da felicidade almejada.
Citados ap�stolos dobem representam a Miseric�rdia Divina junto ao povo amargurado e infeliz, que segue desfalecente sem rumo, desorientado e aflito em busca
de algo que possa ajud�-lo de alguma forma a entender e aceitar os sacrif�cios e os obst�culos da jornada.
Os ensinamentos sublimes da Boa Nova do Cristo s�o, indiscutivelmente, a solu��o indicada para os problemas angustiantes da alma humana. � bem verdade que
tais li��es precisam ser testemunhadas por n�s, ou seja, exemplificadas nas actividades do dia-a-dia, comprovando a nossa convic��o nas Verdades Eternas. O Evangelho
ensina amor, deve-se, pois, amar a todos os nossos semelhantes indistintamente, inclusive aos nossos inimigos (Mateus 5:44), at� porque se amarmos somente aos nossos
amigos, nada de especial estaremos fazendo aos olhos de Deus. O Evangelho ensina perd�o, devemos, portanto, perdoar sem reservas a todas as pessoas, com esquecimento
completo de todos os agravos recebidos.
Quanto maior a agress�o e o preju�zo sofridos, maior o perd�o e, consequentemente, maior o m�rito conquistado diante da Provid�ncia Divina. Sobre o assunto,
Jesus manteve breve di�logo com o ap�stolo Pedro, quando este lhe perguntou:
- "Senhor, at� quantas vezes pecar� meu irm�o contra mim, e eu lhe perdoarei? At� sete?"
- "N�o te digo que at� sete, mas, at� setenta vezes sete". - Respondeu-lhe o Divino mestre (Mateus 18:21 e 22).
Matematicamente o resultado do c�lculo acima nos oferece o seguinte n�mero: 490. Atingindo esse n�mero devemos parar de perdoar? Absolutamente! Precisamos
perdoar 490 vezes por minuto, por hora, por dia, ou seja, perdoar sempre.
Matias conhecia e exemplificava tais ensinamentos de Jesus, favorecendo com o seu apoio aos mais carentes. Assim, o povo daquela regi�o pobre, compareceu,
em massa, ao sepultamento do leg�timo seareiro do Cristo, retribuindo a aten��o fraterna que sempre recebera, ratificando o amor que lhe dedicava. Havia tristeza
nos cora��es e l�grimas nos olhos. Aquele esp�rito abnegado que parti a do cen�rio terreno bem que merecia a liberta��o, depois de vencer tantas porfias �speras
e dif�ceis que tivera pela frente, logrando a palma da vit�ria com louvor!
No plano espiritual havia intensa actividade, bem antes do ep�logo de sua vida terrena. Os Benfeitores amigos, sabedores do desencarne, por antecipa��o, apresentaram-se
sol�citos e operosos, recebendo nos bra�os amor�veis aquele que havia sido o sustent�culo dos seus semelhantes, atingidos pela dor, amparando-os crist�mente.
Os Mentores colocaram carinhosamente Matias em uma maca e levaram-no a um hospital de atendimento espiritual. A morte sempre causa alguma perturba��o na hora
extrema, salvo raras excep��es. O Livro dos Esp�ritos, na quest�o de n. 164, esclarece:
- "A perturba��o que se segue � separa��o da alma e do corpo � do mesmo grau e da mesma dura��o para todos os esp�ritos?"
- N�o; depende da eleva��o de cada um. Aquele que j� est� purificado, se reconhece quase imediatamente, pois que se libertou da mat�ria antes que cessasse
a vida do corpo, enquanto que o homem carnal, aquele cuja consci�ncia ainda n�o est� pura, guarda por muito mais tempo a impress�o da mat�ria.
O estado espiritual dos seres ap�s a morte fisiol�gica, varia de zero ao infinito. N�o h� dois casos absolutamente iguais. Cada um de n�s � um indiv�duo �mpar.
Feliz daquele que cumprir com zelo e dedica��o o seu dever na Terra, realizando o programa adredemente preparado pelos Benfeitores amigos, antes do seu regresso
� veste f�sica.
No plano espiritual, o que valem s�o as obras dignas realizadas em prol da necessidade alheia, com desapegado amor, objectivando sempre a vontade de servir.
O Espiritismo ajuda bastante o indiv�duo na hora extrema; todavia, n�o � o suficiente, falam mais alto os actos de amor, marcados pela ren�ncia e concretizados em
nome de Jesus, ou seja, sintonizados com as normas estabelecidas pelo Evangelho do Cristo.
Cada uma daquelas criaturas que acompanharam o f�retro, no retorno aos seus lares, levava consigo sentimentos de carinho e gratid�o para com aquele que se
fora, deixando na sua passagem pela Terra um rastro de luz e o perfume da caridade, em testemunhos de amor aos pequeninos que seguem aflitos e desorientados, necessitados
de amparo e orienta��o.
Matias jamais disse n�o, a quem quer que fosse.
Atendia a todos, sorrindo, proferindo palavras de conforto e confian�a nos Des�gnios Divinos.
Foi, sem d�vida, um aut�ntico ap�stolo do bem, servidor do Cristo!
38 - A LIBERDADE, ENFIM.
Matilde envelhecera demais durante a perman�ncia de Reinaldo no pres�dio. Sua fisionomia apresentava evidentes sinais de velhice precoce, motivada pela longa
preocupa��o com o filho. Os seus recursos financeiros eram minguados, n�o havendo, portanto, possibilidades de se contratar um bom advogado, no sentido de avaliar
correctamente a situa��o de Rei e tomar as provid�ncias cab�veis sobre o assunto.
Diante de tal obst�culo, resolveu trabalhar mais, conquanto j� se sentisse bastante cansada pelas constantes faxinas que executava semanalmente. Uma das suas
amigas lhe dissera que a dona Eunice, esposa do Dr. Di�genes. precisava de uma faxineira. Assim, naquela manh�, Matilde dirigiu-se � resid�ncia indicada.
Atendida pela interessada, aceitara, de pronto, o servi�o em sua resid�ncia, uma vez por semana. Agora, teria que trabalhar a semana inteira, excepto aos domingos.
O seu objectivo era economizar o suficiente, para poder contratar um advogado capaz de defender os direitos do seu filho, colocando-o em liberdade.
Eunice ficara maravilhada com a nova servi�al, sabia executar o servi�o de limpeza com rapidez e perfei��o. At� ent�o, jamais havia encontrado pessoa mais
capacitada nesse mister. Sempre silenciosa e interessada nas tarefas, deixando tudo limpo a contento. Eunice notara que Matilde tinha problemas, sua fisionomia revelava-se
um tanto triste, por�m n�o quis fazer perguntas nesse sentido, a fim de n�o tornar-se inconveniente. Ao final do dia, quando o esposo regressou ao lar, inteirou-o
do sucedido:
- A nova faxineira, meu bem, � excelente profissional, esperta e limpa, sabe trabalhar como ningu�m.
Contudo, tenho certeza de que ela tem s�rios problemas, pode-se facilmente concluir pela tristeza que seu rosto revela, mais particularmente seus olhos - informou
Eunice. - Eu j� a conhecia. Ela frequentava a casa do bondoso velho Matias...
- Ent�o ela � esp�rita? - interrompeu-o Eunice.
-- Parece que sim. Converse com ela na pr�xima semana, quem sabe se at� poderemos auxili�-la a solucionar os seus angustiantes problemas.
- Perfeitamente! Preciso saber o que se passa com ela. Talvez at� possamos ajud�-la, o que seria muito bom.
Na semana seguinte, Matilde, pontualmente, compareceu ao servi�o, com a mesma disposi��o e boa vontade. Eunice observou-a mais atentamente, chegando � conclus�o
de que a servi�al realmente vivia situa��es aflitivas. Assim, procurou conversar com ela, na inten��o de conhec�-la melhor; por outro lado, Matilde igualmente, precisava
se desabafar, liberar o seu peito da m�goa represada ali h� tantos anos. Como confiava na discri��o da patroa, resolveu confidenciar-lhe todo o seu pungente drama.
Eunice ficou admirada com a for�a interior daquela mulher, que fazia da abnega��o e da ren�ncia, os apoios mais decisivos da sua preciosa vida.
-- Matilde, posso contar ao Dr. Di�genes o seu caso? voc� ainda n�o sabe, mas ele � advogado, e dos bons.
- Dona Eunice, se ele puder me ajudar eu ficarei imensamente grata e pagarei com o meu trabalho o que ele pedir - respondeu Matilde, com os olhos marejados
de l�grimas.
- Confiemos na Provid�ncia Divina - tornou Eunice.
Ao final do dia, o Dr. Di�genes foi inteirado pela esposa dos acontecimentos tristes que marcavam a alma sens�vel de Matilde, esclarecendo-o ainda tratar-se
de excelente pessoa, merecedora do seu apoio profissional. De posse do nome do rapaz, fornecido pela m�e, o advogado foi ao F�rum e retirou o processo para estud�-lo,
conhecendo, ent�o, os pormenores do caso. Reinaldo cumpria pena h� mais de sete anos.
Ap�s essa verifica��o, foi ao pres�dio, a fim de saber dos h�bitos do rapaz, junto ao director do estabelecimento penal, sendo inteirado do seu bom comportamento;
pediu, inclusive, uma declara��o daquela autoridade, nesse sentido.
Em seguida, procurou conhecer Ricardo, que ratificou, detalhe por detalhe, tudo que ele j� sabia. Tratava-se, realmente, de um bom mo�o, que almejava reabilitar-se
e n�o mais reincidir nos crimes praticados. Os longos e penosos anos de pris�o modificaram radicalmente o seu car�cter. Agora, o jovem via a vida como verdadeiramente
ela �, n�o mais com as tintas da ilus�o e da fantasia. Ele pretendia voltar a estudar e trabalhar, ser �til � sociedade.
Assim, o Dr. Di�genes, com base no processo e nas informa��es recebidas, encaminhou ao Juiz da comarca um pedido de soltura, a fim de colocar o seu tutelado
em liberdade condicional. Decorridos alguns dias, o Dr. Di�genes recebe a resposta ao seu pedido: concedido. Uma c�pia do expediente foi encaminhada ao director
do pres�dio, para os devidos fins.
Entretanto, havia ainda uma pend�ncia a solucionar: era preciso arranjar uma carta de emprego a Reinaldo, sem a qual n�o seria poss�vel libert�-lo. O Dr. Di�genes
prontificou-se a contrat�-lo para preencher a vaga deixada por uma funcion�ria que pedira demiss�o por ter-se casado.
Assim, os obst�culos foram removidos e, na tarde do dia seguinte, Rei foi colocado em liberdade, estando, por�m obrigado a comparecer regularmente ao pres�dio,
a fim de cumprir exig�ncias da Lei.
No grande port�o do estabelecimento penal, duas pessoas queridas ao seu cora��o o aguardavam: Matilde, sua abnegada m�e e C�ntia, sua namorada, que haviam
sido informadas da sua sa�da. Os tr�s abra�aram-se forte mente, chorando emocionados, pela vit�ria alcan�ada. Matilde foi quem quebrou o sil�ncio:
- Gra�as a Deus, meu filho. Foi Deus quem colocou o Dr. Di�genes no nosso caminho. A ele devemos tudo! Que pessoa maravilhosa!
- Mam�e, C�ntia ... agora vou come�ar vida nova, hoje finalmente eu renasci, jamais pretendo p�r em perigo a minha liberdade. Quero seguir os seus passos,
mam�e; quero ser estudioso e trabalhador; quero me casar com C�ntia, ter um lar e filhos. Ah! Como eu fui ignorante! Quantas coisas boas eu deixei de realizar durante
os sete anos de pris�o; reconhe�o que mereci o castigo. Agora estou renovado! Mam�e... Vida nova!...
- Deus o ou�a, meu filho. Fa�o gosto em v�-los casados - falou Matilde, abra�ando carinhosamente os dois jovens.
- Amanh�, bem cedo, iremos ao escrit�rio do Dr.
Di�genes, precisamos conversar com ele, agradecendo, inclusive, pelo trabalho eficiente que efectuou a nosso favor. Necessitamos, igualmente, saber quanto
lhe devemos pelos excelentes servi�os que nos prestou - falou C�ntia.
- C�ntia, voc� sabia que eu vou trabalhar no escrit�rio dele?
- Sabia, sim; sua m�e me contou. Estou imensamente feliz!
Assim, os tr�s seguiram em direc��o � casa de Matilde, lev�ndo nos cora��es uma grandiosa esperan�a, que os fazia entrever um futuro pleno de felicidades.
39 - AO ENCONTRO DA VIDA!
Seis meses passaram-se, depois dos �ltimos acontecimentos narrados no cap�tulo anterior. Bombom acordara deprimido, at� parecia que toda m�goa do mundo estava
concentrada no seu peito. Havia um press�gio de dores intensas ao redor de si; nem mesmo a visita que fizera a Matilde, naquele dia, dissipara a triste expectativa
em que se via mergulhado. O dia todo transcorreu dessa forma: amargurado, inquieto; tinha a n�tida impress�o deque algo grave estava na imin�ncia de acontecer.
Durante toda a sua apresenta��o no Circo, teve que superar-se, em muito, para levar o espect�culo at� ao seu final. No �ltimo n�mero, quando a dor fizera-se
mais intensa, uma garota de oito anos, presumivelmente, veio ao seu encontro com os bracinhos estendidos, querendo abra��-lo. Bombom teve a n�tida impress�o de que
era a sua Cristina que ali estava diante de si. Suas pernas curvaram-se e ele, de joelhos, abra�ado � menina, come�ou a rir, enlouquecidamente, depois passou a chorar
convulsivamente, ao entender que n�o era a sua filha e, sim, uma menina da plateia. A menor ficou assustada com o comportamento do palha�o; desvencilhando-se dos
seus bra�os, correu para junto dos pais. O p�blico, pensando tratar-se de um quadro adredemente preparado, aplaudiu-os de p�.
Entretanto, ao notar que os companheiros do artista, correram para socorr�-lo, entenderam o drama vivido pelo palha�o. Bombom foi levado, �s pressas, ao seu
quarto humilde e acomodado no leito. Em seguida, disseram-lhe, com carinho:
- Fique tranquilo, agora tudo est� bem; depois voltaremos. Descanse. Foi um dia muito desgastante.
Anoitecia. Bombom n�o conseguia tranquilizar-se.
Levantou-se e saiu. As primeiras sombras da noite amortalhavam o dia. O palha�o tinha necessidade de andar, de fugir de tudo e de todos. O peito do�a. A cabe�a
estava confusa. Precisava chorar... chorar muito. Ap�s ter andado por mais de uma hora, chegou at� a margem de um rio, ali j� estivera anteriormente, v�rias vezes.
Conhecia bem o local. Estava escuro como breu. Levantara um vento impetuoso, forte, que agitava com viol�ncia as �rvores; rel�mpagos cruzavam a atmosfera, de todos
os lados.
Bombom julgou oportuno procurar um abrigo, pois a chuva n�o demoraria a desabar torrencialmente sobre aquela regi�o. Nas imedia��es, havia uma velha casa em
ru�nas, toda destelhada, sem janelas nem portas, situada bem pr�ximo � margem do rio. O palha�o, algumas vezes, refugiara-se no seu por�o. Foi em direc��o � casa;
o por�o estava h�mido e f�tido. Entrou. Caminhou dois ou tr�s passos, encontrando uma pedra. Sentou-se.
Naquele instante, inolvid�vel para ele, toda a sua vida foi relembrada, at� parecia que os acontecimentos, felizes e infelizes, ganharam vida nova, tal a for�a
com que afloravam � sua mente: a inf�ncia, a juventude, a maturidade. Que fen�meno maravilhoso! O que estaria acontecendo? Os epis�dios contrastantes pela sua natureza,
apresentaram-se com o mesmo vigor da �poca! Passou, ent�o, a fazer uma avalia��o da sua vida. Afinal, conquanto as amarguras enfrentadas, havia ficado um saldo de
conquistas e experi�ncias valiosas que enriqueceram o seu esp�rito! Agora tinha convic��o de que Deus � realmente Sabedoria, Miseric�rdia e Justi�a sem limites.
Que havia sofrido situa��es criadas por si mesmo em vidas pret�ritas, que se perderam na voragem do tempo. Que, conclu�da a sua actual exist�ncia, continuaria a
viver, pois era imortal, destinado a lograr a perfei��o em todos os aspectos, apesar desta ser sempre relativa, jamais absoluta. A dor aprimorara o seu esp�rito,
sentia isso no imo do seu ser. A vida de dores e sacrif�cios n�ohavia sido em v�o, fora um bem e n�o um mal. Quantas li��es magn�ficas havia recebido dos companheiros:
Matilde e Matias! E a ajuda fraterna de Matilde, no momento decisivo de sua jornada terrena, ap�s o inc�ndio, n�o significava a Miseric�rdia Divina, que jamais
faltara nashoras mais dif�ceis do seu destino, de amarguras incontidas.
Nesta altura, o temporal desabara, incontrol�vel, torrencial. Bombom ouvia o estrondo provocado pela queda de algumas �rvores, Pensou: - O c�u est� chorando
por mim - O rio transbordou, as �guas seguiam em todas as direc��es, amea�adoras, avan�aram contra a casa, derrubando, inclusive, v�rias paredes e enchendo o por�o.
Bombom, assim que pressentiu a trag�dia prestes a acontecer, levantou-se e correu em direc��o � sa�da, mas j� era tarde demais! N�o teve for�as!
- Jesus! Querido Mestre!... Socorrei-me! .
Aquele grito proferido com tanta for�a e desespero, antecedeu o grande sil�ncio.
Tudo estava terminado. O corpo do artista foi encontrado dois dias depois, por garotos que colhiam frutos silvestres, naquelas imedia��es, e reconhecido imediatamente,
pois ainda estava vestido de palha�o. No seu sepultamento, os companheiros do Circo, acompanhados de uma pequena multid�o lhe prestaram a �ltima homenagem. Acompanharam-no
at� a derradeira morada, todos cabisbaixos, chorando todas as l�grimas do mundo.
Na hora do desencarne, assim que Bombom rogou Jesus socorr�-lo, sentiu que m�os carinhosas o ampararam com amor. O horror do epis�dio havia desaparecido por
completo, dando lugar a gratificantes vibra��es amor�veis que tomavam todo o seu ser. Em seguida, p�de ver ao seu lado algu�m muito querido ao seu cora��o!
- Cristina!... Cristina!...
- Papai!... Agora tudo passou; gra�as a Deus... temia por este momento. Uma grande d�vida contra�da pelo senhor em outra exist�ncia, foi devidamente quitada.
Agora poderemos realmente ser felizes!
- Ent�o, eu tirei a vida de algu�m, por afogamento?
- Perfeitamente! O seu ego�smo falou mais alto, determinando uma torpe vingan�a. O senhor eliminou um seu desafecto dessa forma. Conseguiu fazer com que ele
dormisse pesadamente, sob o efeito de tranquilizantes, administrados na bebida, depois libertou-se dele precipitando-o nas �guas revoltas de um rio.
- Preciso ajudar esse irm�o! - falou Murilo com �nfase, revelando os seus renovados sentimentos.
- Com o tempo. Agora vamos providenciar o mais urgente - informou Cristina, acenando para que dois jovens se aproximassem, para o indispens�vel atendimento.
Eles estavam vestidos de branco e pertenciam a uma Institui��o socorrista; fizeram com que Murilo deitasse em uma maca e carregaram-no: velozes, at� a casa
de recupera��o, destinada a atender rec�m-desencarnados merecedores de ajuda espiritual. Durante trinta dias, Murilo esteve ali internado, recebendo tratamento espec�fico
ao seu caso; atrav�s de terapia adequada e passes magn�ticos aplicados regularmente. As poss�veis vibra��es materiais que ainda persistiam em seu perisp�rito foram
eliminadas. As suas for�as foram levantadas, agora sentia-se possu�do de vigor at� ent�o desconhecido; estava leve e forte, seus pensamentos flu�am equilibrados
e saud�veis; a tristeza e o desespero n�o mais atormentavam o seu cora��o.
- Papai!... � chegada a hora de partir...
- Para onde, minha querida filha? - interrompeu-a Murilo, demonstrando toda a alegria de que estava possu�do.
- Vamos trabalhar! H� muito que fazer em prol dos sofredores, presentes em grande n�mero por toda parte, precisamos corresponder � ajuda de Jesus, que acabamos
de receber. O acr�scimo de miseric�rdia a nosso favor foi imensamente grande!
Assim, os dois, abra�ados, afastaram-se da Institui��o socorrista, em busca de tarefas enobrecidas.
40 - ALGEMAS ABERTAS.
Como a Terra ainda � planeta de provas e de expia��es, a Humanidade enfrenta vicissitudes e sacrif�cios de todos os matizes, notadamente neste fim de s�culo,
ocasi�o em que o sofrimento se far� presente, cada vez mais intenso, como elemento de depura��o individual e colectiva dos seres humanos compromissados com o passado
e pertencentes a esta habita��o de progresso redentor.
Todos n�s, de alguma forma, estamos ligados a esse processo evolutivo, como precursor de um tempo novo. �poca em que reinar� entre os habitantes desta moradia
a verdadeira fraternidade, sedimentada na conscientiza��o de valores espirituais logrados e a consequente pr�tica da lei do amor na sua mais sublime express�o. Enquanto
o advento dessa nova era n�o se instala na face deste planeta, seremos apenas criaturas algemadas .
Algemadas ao ego�smo, disputando ferozmente os bens materiais, perec�veis e transit�rios, que sofrem a ac��o das tra�as e da ferrugem, al�m de despertar a
cobi�a dos ladr�es (Mateus 6:19). A confirma��o de tudo isso podemos facilmente encontrar nos jornais, r�dios e tev�s. Quem � rico materialmente quase sempre � pobre
espiritualmente, ou vice-versa. N�o podemos, ao mesmo tempo, servir a Deus e �s riquezas do mundo (Mateus 6:24). O ego�smo � a ant�tese da caridade, a excelsa virtude.
Algemados ao orgulho, nutrindo pensamentos de que s�o seres privilegiados, de que tudo gira ao seu redor a fim de atender apenas �s suas conveni�ncias. O orgulho
cega tais criaturas, fazendo-as sentirem-se maiores e melhores que todas as demais pessoas; julgando merecer a aten��o e considera��o de todos, em qualquer circunst�ncia.
Jesus afirmou: "Quem se exaltar ser� humilhado e quem se humilhar ser� exaltado" (Mateus 23:2).
O orgulho � o oposto da humildade, uma das maiores virtudes. Quem a considerar covardia, est� totalmente equivocado!
Algemados a preconceitos religiosos, limitados no entendimento, arvorando-se em �nicos donos da verdade, esquecidos de que "onde h� o esp�rito do Senhor a�
h� liberdade", conforme deixou bem claro o ap�stolo Paulo na sua segunda ep�stola aos Cor�ntios, � 3:17. A leg�tima religi�o � a do amor. O Evangelho do Cristo,
em s�ntese, � amor sublimado, que n�o conhece fronteiras nem obst�culos de quaisquer naturezas, livre de preconceitos absurdos e tacanhos. N�o existe senda libertadora
fundamentada em outro princ�pio, que n�o seja o do amor crist�o.
Algemados � incredulidade, desconhecendo ou ent�o n�o aceitando a exist�ncia de Deus, nosso Pai Celestial. O perfume delicado da flor do campo. A brisa suave
que beija a nossa face. A actividade disciplinada dos insectos. A vida dos animais, seres em progresso constante e ininterrupto. O sorriso ing�nuo e confiante das
crian�as, que ser�o o futuro da Humanidade. A intelig�ncia dos homens na busca permanente de novas conquistas no campo da tecnologia e, infelizmente, marcando passo
no aspecto moral e espiritual. A harmonia reinante no Universo, Casa de Deus, onde tudo est� subordinado a Leis S�bias e Perfeitas, que n�o comportam falhas nem
omiss�es.
Tudo prova a exist�ncia de Deus, basta termos olhos de ver e ouvidos de ouvir (Marcos 8:18).
Algemados � ignor�ncia, desconhecendo os mais comezinhos princ�pios da sabedoria, justi�a e amor, flagr�veis por toda parte, comprovando a maravilhosa e perfeita
Obra Divina. Voltados unicamente para as coisas terra-terra, sem poder avaliar a grandeza espiritual retratada nas pequenas coisas e nas incomensur�veis, como o
Universo, composto de milh�es de milh�es de gal�xias, cada uma contendo centenas de milhares de planetas e de estrelas fosforescentes.
Algemados a sofrimentos depuradores que bem revelam os graves comprometimentos de cada criatura face �s falhas e delitos cometidos em vidas pregressas.
Agora, a Lei de Causa e Efeito exige a indispens�vel repara��o pelos crimes perpetrados, na forma de dores e l�grimas lancinantes. Somente depois de ressarcidos
os d�bitos anteriormente contra�dos, � que o esp�rito, ganhar� condi��es para desfrutar de posi��o melhor na escala evolutiva, podendo inclusive conviver com seres
j� redimidos e felizes.
Algemados... algemados... algemados...
Assim, os principais protagonistas deste romance, n�o fugiram � rotina, tamb�m estiveram algemados.
Matilde, a situa��es aflitivas com seu filho, empenhando-se em traz�-lo para o caminho do bem; al�m de conhecer a pen�ria em que vivia o seu lar. Fazia da
paci�ncia e da pen�ria as suas melhores companheiras, confiando sempre na Provid�ncia Divina.
Reinaldo, segregado da sociedade, pagando delitos cometidos e procurando conquistar novamente a liberdade para ter condi��es de realizar os seus ideais, casando-se
com a mulher amada e construindo um lar feliz.
Cristina, presa a d�bito de vidas anteriores, enfim livre e capacitada a dedicar-se a eventos sublimes na seara do Divino Amigo, de quem se tornara serva incans�vel.
Matias, o grande benfeitor dos pobres e desventurados, ap�s o t�rmino de sua jornada, conquistou merecidamente a t�o almejada liberdade e condi��es favor�veis
de prosseguir nas tarefas de amor, com vistas a reabilita��o dos infortunados de toda sorte.
Murilo, todavia, foi o grande vitorioso; numa vida de sofrimentos intensos e pungentes, seu esp�rito logrou um triunfo dos maiores. A dor e o tempo produziram
no seu �ntimo uma marcante renova��o, propiciando-lhe ensejos de poder viver feliz ao lado daquela que sempre foi o seu tesouro sublime. O �xito conquistado criara
uma perspectiva de elevadas realiza��es de amor, nas leiras infinitas do tempo e do espa�o.
Quando as criaturas humanas triunfar�o de vez sobre as depend�ncias constrangedoras que ainda as algemam ao passado de sombras e delitos?
A vit�ria sobre os compromissos antigos somente acontecer� quando a Humanidade conhecer a verdade e viver espontaneamente a lei do amor na sua plenitude.
Nessa ocasi�o, os homens estar�o libertos das algemas inoportunas que tanto limitam as actividades humanas. A Terra � escola bendita de instru��o e trabalho
e a dor � a mestra infal�vel e incans�vel.
Na sequ�ncia de longos per�odos de expia��es e de provas correspondentes, atrav�s de incont�veis vidas sucessivas, os esp�ritos v�o atingindo est�gios indispens�veis
de conscientiza��o a respeito da verdadeira vida, quando estar�o capacitados a realizarem ac��es compat�veis com a Sabedoria e Justi�a Divinas.
Nesta altura, reinar� sobre a Terra o advento de uma nova Era, de estudos e de trabalhos dignos, em prol de uma Humanidade livre das limita��es impostas pelo
passado e capacitada a realiza��es de amor sublimado, em nome daquele que � o Caminho, a Verdade e a Vida.
Que as vibra��es amor�veis de Jesus sejam uma constante em nossas vidas.
FIM
* VOC� LEU E GOSTOU, POR CERTO, DE CONHECER UM POUCO MAIS SOBRE O ESPIRITISMO, QUEREMOS QUE VOC� LEIA AGORA AS OBRAS B�SICAS:
- O Livro dos Esp�ritos;
- O Livro dos M�diuns;
- O Evangelho Segundo o Espiritismo;
- O C�u e o Inferno ou a Justi�a Divina Segundo o Espiritismo;
-A G�nese ou os Milagres e as Predi��es Segundo o Espiritismo.
Esses excelentes livros, codificados por Allan Kardec, podem ser encontrados em qualquer livraria ou banca de livros esp�ritas de sua cidade. Se voc� j� desfruta
do conhecimento dessas obras citadas, queremos oferecer a voc� um complemento doutrin�rio, s�o os cursos:
- Inicia��o ao Espiritismo;
- Estudos sobre Mediunidade;
- Estudos sobre Reuni�es Medi�nicas;
- Orat�ria a Servi�o do Espiritismo;
- Fluidos e Passes.
*INFORME PUBLICIT�RIO - Mensagens de Sa�de Espiritual.
H� dias estava eu hospitalizado na expectativa de que, Finalmente, as enfermeiras me levassem � sala de cirurgia card�aca. Os dias no hospital se passavam
lentos... A opera��o ser� hoje ou amanh�? Minha f� na Espiritualidade superior era inabal�vel, mas, devo dizer, a leitura (e releitura) do livro de bolso "Mensagens
de Sa�de Espiritual" muito me ajudou na sustenta��o do n�vel vibrat�rio elevado. Aben�oadas mensagens!
Toda pessoa, s� ou enferma, do corpo ou da alma, devia ter esse livreto luminoso � cabeceira e ler uma mensagem por noite.
Correspond�ncia e indica��o do jornalista e m�diumJorge Rizzini.
*Preces e Mensagens Espirituais.
Depois do enorme sucesso alcan�ado levando uma mensagem de sa�de aos cora��es amigos com o livro MENSAGENS DE SA�DE ESPIRITUAL a Eclito EME resolveu continuar
no projecto de antologia esp�rita e popular e organizou mais este agrad�vel e interessante livro. Nele est�o reunidas preces que correm o Brasil confortando e consolando
como: salmo do Amanhecer; Ora��o de Sabedoria; Prece (de Rabindranath Tagore); Em Nosso Aux�lio; Di�logo com Cristo; Deus; Dai-nos sabedoria; Muito obrigado, senhor
(Poema de Gratid�o, de Am�lia Rodrigues)... etc. As mensagens que elevam nossa alma e d�o ao viajante cansado o repouso tranquilo e a esperan�a no futuro est�o aqui
seleccionadas: Ao levantar-se; Arar e Orar; Do amor ao Pr�ximo e ao Inimigo; O Eterno Descontente; A L�ngua; Dimens�es do Verbo Dar; Reajuste da Emo��o e da Ideia;
Alma e Corpo; Querer e Poder; Dez Preceitos de Serenidade ; Se...; Ser Bom; Alegria; Profilaxia da Alma; Aben�oa; Desejo; P�rolas Esquecidas; Caridade e Voc�; Estrelas
do Mar; Retrato do homem Atido; Considera��es de um S�bio; Aviso, e muitas outras excelentes p�ginas
esp�ritas e populares.
DO MESMO AUTOR:
- CANDEIA ACESA - p�ginas esp�ritas;
- JORNADAS DE REDEN��O - romance;
- TERCEIRA REVELA��O - temas doutrin�rios;
- CATIVOS DO PASSADO - romance;
- VIDAS EM CONFLITOS - romance;
- ALGEMAS ABERTAS - romance;
- PAIX�O E VINGAN�A - ROMANCE.
Abraços fraternos!
Bezerra
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