quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

{clube-do-e-livro} Camille Flammarion - O Desconhecido e os Problemas Psiquicos - Volume II













Camille Flammarion - O Desconhecido e os Problemas Psiquicos - Volume II

 

Objetiva alcançar a verdade, através de ensaio de análise científica dos fatos considerados sobrenaturais ou imaginários. Aborda temas como: manifestações de moribundos; aparições; telepatia; comunicações psíquicas; sugestão mental; vista a distância; sonhos e predições do futuro, classificando, metodicamente, os fenômenos citados e procurando explicá-los. Constitui-se numa tese de estudo científico, concluindo que a alma é uma personalidade real, com faculdades ainda desconhecidas da Ciência. Convida-nos ao estudo e ao trabalho na busca do conhecimento deste mundo invisível.


 



 

 



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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

{clube-do-e-livro} Livro de Respostas - Emmanuel






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{clube-do-e-livro} Livros de Gabriel Delanne 2





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{clube-do-e-livro} LANÇAMENTO: MADRUGADA DE AMOR - CARLOS AQUINO - FORMATOS : EPUB,PDF,AZW3, DOC E RTF

L i v r o digitalizado p e l a Equipe Bons Amigos p a r a

a t e n d e r a o s deficientes visuais.



MADRUGADA DE AMOR

Carlos Aquino

C e d i b r a

Editora Brasileira Limitada

Copyright M C M L X X V I I

CEDIBRA ��� Editora Brasileira Ltda.

Direitos exclusivos para o Brasil:

Rua Filomena Nunes, 162 ��� ZC-22

20.000 ��� Rio de Janeiro, Capital

Distribu��do por:

FERNANDO CHINAGLIA Distribuidora S/A

Rua Teodoro da Silva, 907 ��� Rio, RJ

Copyright e impresso pela CIA. GR��FICA LUX

Estrada do Gabinal, 1.521 ��� Rio, RJ

O texto deste livro n��o pode ser, no todo ou em

parte, nem reproduzido, nem registrado, nem re-

transmitido, por qualquer meio mec��nico, sem a

expressa autoriza����o do detentor do copyright.





CAPITULO 1


UM ESTRANHO NA CIDADE


O trem parou na esta����o e Maur��cio desceu

com uma pequena mala na m��o, sua ��nica ba-

gagem. Dirigiu-se a um homem que estava sen-

tado num banco e perguntou onde poderia hos-





5


pedar-se. Ficou sabendo que na pequena cidade

s�� existiam dois hot��is.

��� Qual �� o mais barato?

��� A pens��o de Dona Suely

respondeu o

homem.

��� Como �� que eu fa��o pra chegar l��?

��� �� s�� ir por esta rua e dobrar na primeira,

�� esquerda.

Maur��cio seguiu na dire����o indicada. �� medi-

da que andava pela rua sem cal��amento, obser-

vava as casinhas baixas e as poucas pessoas que

passavam por ele. Dobrou na primeira esquina ��

esquerda e encontrou logo um velho sobrado on-

de havia uma tabuleta com a inscri����o: PENS��O

FAMILIAR.

Entrou e dirigiu-se a uma mulher de seus qua

renta anos, ainda bonita. Era a propriet��ria, Do-

na Suely. Pagou adiantado o pre��o referente a

vima semana, sem deixar de notar que uma ve-

lhinha de seus setenta anos, pequena e magrinha,

parara de fazer seu tric��, para observ��-lo. P��G 6

Dona Suely entregou ao rec��m-chegado a cha-

ve do quarto, enquanto chamava a empregada:

��� Marisa, quer acompanhar o novo h��spede?

Uma mulata bonita saiu do interior da casa,

vindo da cozinha, e subiu os degraus de uma es-

cada. O rapaz a seguiu olhando seus enormes

quadris movimentando-se com sensualidade.

��� �� aqui ��� disse Marisa parando em frente

a um dos quartos.

Ele colocou a chave na porta e abriu-a. Ma-

risa voltou a descer a escada, sem olhar para

tr��s, enquanto Maur��cio entrava no quarto, fe-

chando-o por dentro. Deitou-se na cama, assim

mesmo vestido, sem abrir a pequena mala, que

deixou num canto. Estava muito cansado e em

pouco tempo adormeceu.

* * *

��� Como �� nome dele? ��� perguntou Dona

Aninha, enquanto continuava tricotando.

��� Maur��cio ��� respondeu Suely, olhando a

ficha do novo hospede, P��G 7

��� �� um bonito rapaz. O que ser�� que veio

fazer nesta cidade?

��� Como posso saber? Acha que ia perguntar

isso ao mo��o assim que chegou?

Suely foi para a cozinha e deixou a velha

sozinha na sala. Dona Aninha era muito viva

e curiosa. Nunca tendo se casado e sendo amiga

da fam��lia de Suely, alugara a pr��pria casa e fora

morar na pens��o, onde j�� estava h�� muito tempo

como h��spede fixa.

Sempre tivera mania de querer descobrir os

segredos da vida ��ntima dos outros, e seu maior

divertimento consistia em ler hist��rias policiais,

o que lhe dera uma tardia voca����o para detetive.

A chegada de um desconhecido �� cidade agu-

��ava-lhe a mente. O que viera fazer aquele ra-

paz? O que pretendia? Parou novamente de tri-

cotar, levantou-se e foi ao encontro de Dona Fi-

ninha, que estava no outra sala, diante do apare-

lho de televis��o.

Dona Fininha tamb��m morava na pens��o. Da

mesma idade da outra, era, no entanto, comple-P 8

tamente diferente em apar��ncia e temperamento.

Muito gorda e rom��ntica, vivia recordando o pas-

sado quando o marido ainda vivia. Sua distra-

����o predileta eram as novelas de televis��o, e n��o

sentia a menor atra����o por hist��rias de crimes.

Apesar de muito amigas, viviam sempre brigan-

do por causa das diverg��ncias de opini��o.

��� Sabe que chegou um novo h��spede? ���

perguntou Dona Aninha.

��� N��o.

��� Voc�� precisava ver. Parece at�� gal�� de no-

vela de t��o bonito.

Ao ouvir isso, Dona Fininha mostrou um in-

teresse que at�� ent��o n��o tinha demonstrado. Dei-

xou de olhar o v��deo por alguns instantes e olhou

para sua interlocutora:

��� Como �� ele? �� bonito mesmo?

��� S�� vendo ��� respondeu Dona Aninha. ���

Deve ter uns vinte e cinco anos de idade. Alto,

forte e muito musculoso. O cabelo �� louro e os

olhos s��o t��o azuis que parecem duas contas. P9

��� Voc�� est�� inventando ��� disse Dona Fini-

nha, incr��dula. ��� Isso n��o �� um homem, mas

um pr��ncipe encantado.

��� Exatamente. Voc�� disse tudo. Ele parece

mesmo um pr��ncipe encantado. Custei a acredi-

tar no que estava vendo quando ele chegou. Mas

uma coisa me deixou muito desconfiada.

��� Desconfiada? Por qu��?

��� O que vem fazer um rapaz t��o bonito nes-

ta cidade?

��� Sem d��vida veio passear.

��� Passear? Num lugar horr��vel desses? N��o

acredito!

��� Puxa, Aninha, voc�� est�� sempre imaginan-

do coisas.

��� E n��o �� para imaginar? Preciso descobrir

o que ele veio fazer aqui. Boa coisa n��o ��. . .

* * *





10


Na hora do jantar, Maur��cio ficou conhecendo

os poucos h��spedes da pens��o. Dona Aninha

sentou-se ao seu lado na mesa, a fim de fazer

logo amizade e satisfazer sua curiosidade, ao

mesmo tempo que lhe apresentou os outros.

Assim, Maur��cio ficou conhecendo Dona Fini-

nha, Helena, uma jovem bonita sobrinha de Do-

na Suely, e mais dois senhores, fazendeiros das

redondezas.

��� Pens��o em cidade como esta quase n��o d��

lucro ��� comentou Dona Aninha. ��� N��o sei

como Suely consegue sobreviver. Quase n��o che-

ga gente nova por aqui. Por isso eu fico t��o con-

tente quando vejo um rosto desconhecido. A pro-

p��sito, como foi que voc�� veio parar nesta ci-

dade?

-��� Vim passar as f��rias ��� respondeu Maur��-

cio com naturalidade.

A surpresa da velhinha foi enorme:

��� Passar as f��rias?! Aqui?!

��� Por que n��o? Estava precisando de um





11


lugar pequeno e tranq��ilo onde pudesse descan-

sar.

��� Bem. . . tranq��ilidade �� o que n��o falta

neste deserto. De onde voc�� ��?

��� De S��o Paulo.

��� Da capital?

��� Sim.

��� Voc�� trabalha em qu��?

Com meu pai.

O que ele faz?

Tem uma loja de tecidos.

��� Quer dizer que voc�� �� rico?

Maur��cio riu:

��� N��o, n��o chego a ser rico.

Dona aninha teve receio de continuar seu in-

terrogat��rio, �� fim de que Maur��cio n��o a achas- P12

se inconveniente. Para uma primeira conversa, j��

descobrira muita coisa da vida do rapaz.

Ap��s o jantar, Dona Aninha convidou Maur��-

cio para ver televis��o ao lado dela e dos outros

h��spedes.

��� Se eu fosse mais jovem ia lhe mostrar a

cidade, mas nesta idade mal consigo andar. O

reumatismo n��o deixa. Helena, por que n��o sai

amanh�� com Maur��cio?

A sobrinha da dona da pens��o sorriu:

���- Se ele quiser. ..

Durante o resto da noite, Dona Aninha resol-

veu bancar o cupido, aproximando Helena de

Maur��cio. A jovem n��o queria outra coisa e o

rapaz compreendeu logo que estava com sorte

em seu primeiro dia naquele lugar. Observou os

seios firmes de Helena, suas pernas longas e bem

torneadas e n��o teve d��vidas de que estaria bem

servido durante sua temporada ali.

��s dez horas retirou-se para o quarto depois

de combinar sair com Helena na manh�� seguinte. P13

Depois que todos se recolheram, Dona Ani-

nha e Dona Fininha ainda ficaram na sala para

ver um filme antigo de Bette Davis que iria passar

naquela noite.

��� Ent��o, o que achou do rapaz? ���- pergun-

tou Dona Aninha em tom baixo.

��� Voc�� tinha raz��o quando disse que era

muito bonito ��� respondeu a outra.

��� S�� n��o acreditei naquela hist��ria de f��-

rias .

��� Por qu��?

��� Acha que algu��m vem passar as f��rias aqui,

Fininha?

��� N��o existe lugar melhor para se descan-

sar.

��� N��o sei por que, mas te��iho a impress��o de

que ele n��o me disse a v e r d a d e . . .

��� Por que iria mentir?

��� B e m . . . realmente n��o s e i . . . mas vou

descobrir.





14


As duas ainda ficaram conversando a respeito

de Maur��cio durante muito tempo. Finalmente,

come��ou o filme de Bette Davis anunciado. Do-

na Fininha suspirou, relembrando que assistira

��quele filme, trinta anos atr��s, junto com o fale-

cido marido.

Dona Aninha n��o conseguiu prestar muita

aten����o ao que se passava no v��deo., N��o sossega-

ria enquanto n��o tivesse certeza absoluta se era

verdade o que Maur��cio lhe dissera.

* * *

Em seu quarto, Maur��cio custou a adormecer.

Sentiu falta de uma companhia na cama. Lem-

brou-se de Helena e suas pernas bem torneadas.

Seus seios palpitando por baixo da blusa. Re-

cordou tamb��m o movimento sensual dos qua-

dris de Marisa, a empregada. N��o podia se con-

formar em estar morando sob o mesmo teto da-

quelas duas mulheres e ter que dormir sozinho.

Ficou mais animado ao pensar que era apenas

uma quest��o de tempo. Em menos de uma sema-

15

na, certamente, j�� teria conseguido levar uma

das duas para a cama. Ou talvez as duas, quem

sabe? P16





16


CAP��TULO 2

A MULATA

No dia seguinte pela manh��, Maur��cio estava

de sunga quando bateram na porta do quarto.

Foi abrir assim mesmo e viu que se tratava de

Marisa.





17


��� Bom dia, Seu Mar��cio. Posso entrar pra

arrumar seu quarto agora?

��� Claro ��� respondeu o rapaz com um sor-

riso c��nico.

A empregada entrou sem dar a entender que

notara que ele estava quase despido. Maur��cio

teve vontade de fechar a porta do quarto e abra-

��ar a mulata. Mas conteve-se. Afinal de contas,

podia ser que ela se ofendesse. Era preciso ter

paci��ncia.

Depois do caf�� da manh��, saiu com Helena

para conhecer a cidade, conforme havia sido com-

binado na noite anterior. Ela mostrou-lhe a rua

principal ��� a ��nica que era cal��ada ��� a pra-

cinha, o cinema, a i g r e j a . . . Em pouco tempo

j�� tinham percorrido todos os pontos da peque-

na cidade.

��� Como v��, n��o tem muito o que se conhe-

cer aqui ��� disse Helena sentando-se num ban-

co da pra��a.

��� Mas �� justamente de um lugar assim que

estou precisando. J�� cansei de viver na capital,

naquele corre-corre. P18

18

��� Eu tenho loucura para conhecer o Rio de

Janeiro, S��o Paulo, Belo Horizonte. ..

��� Voc�� nunca viajou?

��� J�� estive em Juiz de Fora. Mas n��o co-

nhe��o nenhum outro lugar.

O sol batia em cheio sobre os rostos dos dois.

O dia estava muito bonito. Helena observou os

olhos azuis de Maur��cio que se haviam tornado

mais claros ainda, quase transparentes. Ele. fi-

xou-a com o olhar. Tinha plena consci��ncia de

seu fasc��nio para com as mulheres.

��� Sabe que voc�� �� muito bonita?

Helena baixou a vista encabulada:

��� Eu?!

��� �� uma das mo��as mais bonitas que j�� vi

em minha vida.

��� N��o acredito. Voc�� deve conhecer tanta

mulher linda e civilizada.. .

��� Mas posso garantir que poucas se compa-

ram a voc��.





19


Maur��cio viu que havia chegado a hora de

avan��ar um pouco, Segurou uma das m��os da

jovem. Ela procurou retir��-la, mas ele n��o dei-

xou, apertando-a um pouco. Helena falou:

��� Est�� na hora da gente voltar.

��� J��?

��� Deve ser quase meio-dia. Tia Suely detes-

ta quando a gente atrasa pro almo��o.

��� Seus pais n��o moram aqui?

��� Eles j�� morreram. Eu fui criada por minha

tia.

��� Dona Suely ainda �� solteira?

��� N��o. Vi��va.

* * *

Os passeios com Helena sucederam-se. Mas

Maur��cio compreendeu que ia levar tempo para

conseguir maiores intimidades com a mo��a. De-

duziu que ela provavelmente seria virgem e ele

n��o estava disposto a se meter em complica����es.

Por esta raz��o, voltou suas aten����es para Marisa

e, cada vez que a mulata entrava em seu quar-

to, procurava ser o mais simp��tico poss��vel.





20


Dois dias depois, n��o resistiu. Como- sempre,

estava de sunga quando abriu a porta para a em-

pregada. Enquanto ela arrumava sua cama, apro-

ximou-se por tr��s e encostou-se. Marisa recuou.

Ele afastou-se, apanhou um cigarro e come��ou

a fumar, sem saber se devia ou n��o insistir.

Quando viu que ela estava prestes a sair do

quarto, achou que n��o podia mais adiar. Era ur-

gente levar Marisa para a cama. H�� v��rios dias

que n��o tinha uma mulher e seu desejo se tornara

insuport��vel. Por um instante notou que a mula-

ta o olhou disfar��adamente. Compreendeu o

quanto estava sendo tolo em n��o revelar aberta-

mente suas inten����es.

Aproximou-se de novo da mulata e segurou-

lhe o bra��o. Ela virou-se com ar de espanto.

Maur��cio beijou-a. Marisa teve uma pequena rea-

����o como se quisesse desprender-se, mas o ra-

paz compreendeu que tudo n��o passava de fin-

gimento.

Segurou-lhe os seios com firmeza e depois aca-

riciou-lhe os quadris, levando-a para a cama.

��� N �� o . . . ��� protestou Marisa.

��� Por que n��o?





21


��� N��o posso fazer isso.

Deixe de bobagem. ..

��� Se Dona Suely me pegar aqui. . .

Mas o protesto era muito d��bil. Ela j�� estava

deitada na cama com Maur��cio, que tirara a sun-

ga e procurava caminho entre suas coxas. De

repente, Marisa empurrou-o e saltou da cama,

como um animal assustada, procurando se re-

compor.

O que deu em voc��?

��� Se Dona Suely souber. . .

Ele n��o vai saber.

Vai, sim. N��o posso demorar muito tempo

em seu quarto.

-��� N��o v�� embora ��� suplicou Maur��cio.

Marisa alcan��ou a porta:

Se quiser em venho aqui outra hora.

��� Quando? P22

��� Hoje de madrugada.

��� Vem mesmo?

��� Claro.

Marisa saiu rapidamente. Maur��cio, apesar de

um tanto frustrado, pois n��o sabia se podia

ag��entar ainda muitas horas sem possu��-la. Fi-

cou, no entanto, mais ou menos satisfeito. Pelo

menos tinha a certeza de que naquele mesmo dia

acabaria com o jejum de amor for��ado em que

se encontrava.

Passou a tarde passeando com Helena. Mal

podia suportar a chegada da noite. Depois do

jantar teve de suportar a conversa de Dona Ani-

nha:

��� Ent��o, est�� gostando da cidade?

��� Muito.

��� Sabe que custo a acreditar que esteja real-

mente gostando daqui?

* * *

Os minutos custavam uma eternidade para pas-

sar. Maur��cio arrependera-se por n��o ter pergun-





23


tado a que horas exatamente Marisa viria. Dei-

xara a porta do quarto apenas encostada e dei-

tara-se na cama, fumando um cigarro depois do

outro.

Ela viria �� meia-noite? Ou seria mais tarde? O

sil��ncio era completo. Provavelmente todos j�� es-

tavam dormindo. Marisa n��o deveria demorar.

Ouviu as doze badaladas do rel��gio. Meia hora

depois, Marisa ainda n��o tinha chegado. O que

estaria esperando? Por que n��o vinha logo?

Uma hora da madrugada. Uma e meia. E a

mulata nada de aparecer. Maur��cio come��ou a

pensar que ela o havia enganado. Apenas pro-

metera vir, a fim de se livrar dele. E sua madru-

gada de amor, pela qual tanto ansiava, podia

n��o acontecer.

Subitamente viu que a porta estava sendo aber-

ta devagar.

��� �� ela! ��� pensou.

Mas logo a seguir ouviu um miado. Olhou

para baixo e viu um gato entrando no quarto.

Teve vontade de esgan��-lo. Levantou-se e em-

purrou o animal, que saiu correndo pelo corredor.





24


Novamente deitado, Maur��cio n��o teve mais

esperan��as de que a mulata aparecesse.

Ouviu as duas batidas do rel��gio. Fumou mais

um cigarro. Mentalmente xingava a empregada

e maldizia n��o t��-la possu��do �� for��a naquela

manh��. Preparou ent��o uma vingan��a. No dia

seguinte, quando Marisa viesse arrumar o quarto,

pegaria �� for��a a mulata e faria sexo com ela

de qualquer maneira.

S�� ent��o lembrou-se de que tinha errado em

deixar a luz acesa at�� aquela hora. E se Dona

Suely reclamasse por estar gastando muita ener-

gia?

De repente lembrou-se de que talvez Marisa

n��o tivesse aparecido justamente por isso. Apro-

ximou-se do interruptor e apagou a luz, deixan-

do no entanto a porta entreaberta.

Com efeito, alguns minutos depois, na semi-

escurid��o, notou que a porta estava sendo em-

purrada levemente e viu o vulto de Marisa en-

trando. Ela deu a volta na chave e aproximou-se

da cama.

Maur��cio perguntou baixinho:





25


��� Por que demorou tanto?

Marisa colocou o dedo nos l��bios, pedindo

para n��o falar, e respondeu num sussurro:

��� Voc�� n��o devia ter deixado a luz acesa.

Todo cuidado �� pouco. Al��m de Dona Suely,

tem Dona Aninha que �� muito fofoqueira.

O rapaz n��o disse mais nada. Mesmo porque

n��o queria saber de nenhuma outra explica����o.

O que importava era que o corpo da mulata es-

tava de encontro ao seu.

Tirou-lhe o vestido e lhe acariciou os quadris.

Como era bom ter um corpo nu de mulher co-

lado ao seu! H�� mais de duas semanas que n��o

fazia sexo. Sua ansiedade para possu��-la era tanta,

que n��o perdeu tempo, penetrando sem maiores

pre��mbulos a carne quente que se oferecia. . .

Marisa continha-se o mais poss��vel para n��o

gemer de prazer. Mordia os pr��prios l��bios para

n��o deixar escapar o menor ru��do. Maur��cio con-

seguiu logo o orgasmo, mas continuou dentro do

corpo da mulher. Depois de tanto tempo sem fa-

zer amor, uma vez s�� n��o era o suficiente.





26


S�� muito tempo depois Marisa deixou o quar-

to do rapaz. Sentia o corpo dolorido e saciado.

Antes de ir embora prometeu voltar na madru-

gada seguinte. P 27





27


CAP��TULO 3

AMOR NO CAMPO

A partir desse dia, Marisa passou a voltar ao

quarto de Maur��cio todas as noites. Enquanto

isso, ele continuava com seus passeios inocentes

durante o dia com Helena. Esta, aos poucos, dei-





28


xava-se acariciar pelo rapaz, at�� trocarem o pri-

meiro beijo.

��� Minha tia n��o pode saber disso.

��� Por que tem tanto medo?

��� Ela �� muito religiosa. Nunca vai admitir

que a gente possa estar namorando.

��� Ora, Helena, se n��s sa��mos todos os dias

juntos e ela ainda n��o reclamou. Claro que

deve saber. ..

Helena o interrompeu:

��� Quem foi que disse que ela n��o reclamou?

Ontem mesmo falou que esses nossos passeios

deviam acabar. Ent��o, eu lhe disse que n��o ha-

via nada entre a gente, que ��ramos como irm��os.

S�� concordou em deixar que sa��sse de novo com

voc�� depois que prometi que a gente nunca iria

pra nenhum local deserto onde n��o passasse nin-

gu��m.

��� Pois eu acho que dev��amos fazer justa-

mente o contr��rio.





29


��� Voc�� �� maluco?

��� Por voc��.

Maur��cio aproximou o rosto do de Helena e

beijou-a na boca. Ela desprendeu-se rapidamente

e levantou-se do banco onde se encontravam.

��� Se algu��m viu, vai contar logo para minha

tia.

O rapaz come��ou a rir:

��� Por isso �� que devemos ir para um lugar

deserto, onde n��o possam ver o que estamos

fazendo.

Maur��cio come��ou a andar, afastando-se de

Helena. Sua inten����o era que a jovem o acompa-

nhasse. Esta, vendo-se no meio da pra��a sozi-

nha, entendeu perfeitamente o que ele estava pre-

tendendo. Quando viu que Maur��cio j�� tinha an-

dando uns dez metros, seguiu em sua dire����o,

apressando o passo para alcan����-lo.

Ele continuou andando em frente, sempre

acompanhado pela jovem que ia um pouco atr��s,

olhando assustada para todos os lados, a fim





30


de se certificar de que n��o estava sendo vista por

ningu��m.

Em pouco tempo tinham deixado as casas para

tr��s e entravam numa estrada deserta. Maur��cio

saiu da estrada e enveredou pelo mato. Helena

o seguiu. Quando ele notou que era absolutamen-

te imposs��vel que pudessem ser vistos, parou.

��� O que voc�� veio fazer aqui? ��� perguntou

Helena um tanto assustada.

��� Adivinhe!

Maur��cio segurou-a pela cintura e beijou-a de-

moradamente. Suas l��nguas se encontraram e He-

lena parecia que ia desmaiar de prazer. Depois

ele a soltou e deitou-se na grama, perguntando:

��� Quantos anos voc�� tem?

__Vinte e dois.

��� Nunca conheceu um homem?

A mo��a desviou o olhar:

31

��� Que conversa mais esquisita. ..

��� N��o vejo nada de esquisito nisso. S�� es-

tou querendo saber se voc�� j�� esteve na cama

com um homem antes.

��� O que voc�� julga que eu sou, Maur��cio?

��� Uma mo��a bonita, com quem tenho von-

tade de fazer amor.

Mal acabou de falar, agarrou novamente He-

lena e deitou-se por cima dela. Desabotoou seu

vestido e come��ou a acariciar-lhe os seios, en-

quanto a beijava. Sentiu que Helena correspon-

dia plenamente e decidiu n��o perder tempo, le-

vantando-lhe a saia e pegando-lhe no sexo por

cima da calcinha. Depois colocou a m��o por

dentro desta e alisou-lhe os pelos �� m i d o s . . .

��� N��o, Maur��cio, n��o abuse de mim. ..

Ele n��o lhe deu ouvidos e come��ou a tirar-lhe

a calcinha. Vendo o sexo da jovem, come��ou a

beij��-lo. Nada mais poderia faz��-lo recuar.





32


��� Maur��cio. . . eu n��o quero. . . eu n��o que-,

r o . . . ��� murmurava Helena com a voz entre-

cortada, mas sem fazer nenhum movimento que

confirmasse o que dizia.

O rapaz compreendeu que a jovem n��o queria

outra coisa, a n��o ser deixar-se possuir por ele.

Assim, satisfez seu desejo. . .

* * *

Quem foi o primeiro?

���

��� Por que quer saber?

��� Por nada. Simples curiosidade.

Maur��cio estava um pouco irritado por ter-se

deixado enganar por Helena. Ela n��o era mais

virgem e fingira t��o bem, que julgara tratar-se

de uma mo��a inocente. No entanto, a verdade ��

que j�� tinha sido de outro. Ou de outros. Talvez

at�� j�� tivesse tido rela����es com muitos homens.

E ele perdendo tempo, com receio de avan��ar o

sinal, durante mais de uma semana.





33


��� Por que fingiu esse tempo todo? ��� Ela

n��o respondeu. Maur��cio continuou falando. De-

testava ser enganado: ��� V�� ver j�� andou com

a cidade inteira.

��� �� mentira. S�� foi um.

��� Quem foi?

��� Voc�� n��o conhece ningu��m aqui. N��o

adianta lhe dizer.

��� Acha que vou acreditar que s�� teve um

homem antes de mim?

��� Foi s�� um; o Leonardo. Ele prometeu que

ia casar comigo. Voc�� n��o vai contar nada pra

minha tia, n��o ��?

Maur��cio teve pena da mo��a. Afinal, tinha

tido o que queria. Por que estava t��o irritado?

Devia sentir-se feliz, porque agora, com apenas

dez dias na cidade, tinha duas mulheres �� sua

disposi����o para satisfazer todos os seus capri-

chos.





34


Virou-se para Helena e beijou-a:


��� N��o vou dizer nada pra ningu��m. Pode

ficar descansada.

��� Est�� com raiva de mim?

��� N��o. S�� fiquei chateado porque voc�� me

enganou. Mas j�� passou.

Ele olhou o campo �� sua volta e teve uma sen-

sa����o de grande tranq��ilidade. Ouviu um galo

cantando ao longe. Um p��ssaro al��ou v��o. Hele-

na olhava-o com ternura. Uma brisa suave so-

prava, levantou-lhe os cabelos.

Pensou em tornar a possuir a jovem, mas de^

sistiu ao lembra-se de que �� noite iria receber

a visita de Marisa em seu quarto.

* * *

Dona Aninha, por mais que procurasse, n��o

conseguia descobrir nada de suspeito em Maur��-

cio. Mas nem por isso renunciara �� sua id��ia de"

que ele guardava um segredo. N��o lhe .entrava





35


na cabe��a que um jovem bonito e saud��vel esti-

vesse naquela cidade horr��vel apenas passando as

f��rias.

A velhinha estava na varanda quando Helena

chegou sozinha.

��� Onde est�� Maur��cio? ��� perguntou Dona

Aninha.

��� N��o sei.

��� Ele n��o estava com voc��?

��� N��o.

��� Voc��s n��o sa��ram juntos?

��� Mas eu tive que ir �� casa de Elisa e ele

me disse que ia passear pelo campo.

Dona Aninha piscou o olho:

��� Pensa que acredito nisso?

��� �� verdade. Juro.

Helena n��o adiantou conversa e entrou em ca-

sa. O sol j�� estava se pondo no horizonte. Dona





36


Aninha sorriu maliciosamente. Pouco depois,

avistou Maur��cio que apontou no fim da rua.

��� Ol��, Dona Aninha, apreciando o crep��s-

culo? ��� perguntou o rapaz ao chegar, procuran-

do ser agrad��vel.

��� O que voc��s estavam fazendo?

��� Voc��s?

��� Sim. Voc�� e Helena!

��� Eu n��o estava com Helena. Acho que ela

foi �� casa de uma amiga ��� disse Maur��cio,�� lem-

brando-se do que havia combinado com a ga- .

rota, no caso da velha come��ar a fazer pergun-

tas indiscretas.

��� Voc��s podem enganar qualquer um, me-

nos a mim. O que �� que tem dizer a verdade?

N��o vejo nada demais. Fa��o muito gosto do naT

moro de voc��s.

��� Mas n��s n��o estamos namorando, D o n a ,

A n i n h a . . .

37

Maur��cio tamb��m procurou se desembara��ar

da velha o mais r��pido poss��vel. J�� estava come-

��ando a se chatear com sua excessiva curiosidade.

�� noite, observou que Dona Suely estava mal-

humorada. Ali��s, essa atitude n��o tinha come-

��ado propriamente naquele dia. H�� algum tem-

po j�� que notara uma certa animosidade mal dis-

far��ada por parte da propriet��ria da pens��o. Mes-

mo assim n��o p��de deixar de notar que ela estava

com um vestido com um decote um pouco maior

do que habitualmente usava.

Um pensamento irreverente lhe passou pela

cabe��a. Dona Suely estava vi��va j�� h�� algum tem-

po. Como podia suportar viver sem um homem?

Ainda era uma mulher na plenitude da vida. Se-

r�� que aquele decote n��o significava alguma coi-

sa? N��o seria uma maneira de lhe dizer que ainda

era bastante desej��vel?

Maur��cio sentiu que n��o ia resistir ao impulso

de querer tamb��m conquistar Suely. Nunca pude-

ra ver uma mulher que n��o pensasse logo em

possu��-la. Mas como quebrar o gelo e se apro-





38


ximar de Suely? Mas n��o seria temer��rio tor-

nar-se amante, ao mesmo tempo, de tr��s mulhe-

res que moravam na mesma casa? Aquilo s�� po-

deria lev��-lo a meter-se em situa����es complica-

das.

No entanto, n��o resistiu em lan��ar olhares sig"

nificativos �� dona da pens��o, que por sua vez,

n��o deixou de observar o fato. Suely, apesar de

n��o querer dar a entender que sentia atra����o pelo

rapaz, ficava lisonjeada ao compreender que ele

tamb��m a desejava.

39





CAPITULO 4


A TERCEIRA CONQUISTA


Maur��cio passou a tratar Suely com uma aten-

����o um pouco maior do que a normal, mas sem-

pre sem deixar que ningu��m percebesse, a n��o

ser a pr��pria interessada. No entanto, Dona Ani-





40


nha, com seu faro de detetive, entendeu o que

se estava passando e n��o resistiu em comentar

com Dona Fininha o que tinha descoberto.

��� Fininha, voc�� n��o sabe o que venho ob-

servando! . ..

��� O que ��?

��� Maur��cio, apesar de t��o bonito e simp��-

tico, n��o �� um bom-car��ter.

��� Voc�� ainda continua desconfiando do ra-

paz?

��� Mais do que nunca.

��� Ele parece ser t��o bonzinho...

��� Bonzinho nada. Imagine que est�� namo-

rando a Helena e, no e n t a n t o . . . ��� Dona Ani-

nha procurou fazer suspense, n��o completando a

frase.

��� No entanto o qu��?

��� Est�� querendo conquistar tamb��m a Suely.

A outra arregalou os olhos de espanto:





41


��� Suely?!

��� Ela mesma.

��� N��o diga uma coisas destas, Aninha!

��� Digo, sim.

��� Suely �� uma mulher muito direita. Nunca

vai dar aten����o a um rapaz.

��� N��o sei n��o. Sabe como ��, afinal de con-

tas ele ficou vi��va muito cedo. Deve sentir-se

muito s��.

��� Cuidado com o que est�� dizendo, Aninha.

H��o procure manchar a reputa����o de Suely.

��� N��o estou falando que ela v�� cair nos bra-

��os de Maur��cio. Longe de mim querer insinuar

tal coisa. O que quero dizer �� que ele �� um per-

feito mau-car��ter, querendo conquistar a tia e a

sobrinha ao mesmo tempo. J�� me arrependi at��

de t��-lo aproximado de Helena.

��� Olhe, Aninha, n��o concordo de jeito ne-

nhum. Voc�� est�� sempre vendo maldade onde n��o

existe.





42


��� N��o precisa me ofender. Voc�� �� que vive

fora da realidade. S�� entende de novela de tele-

vis��o. Da vida real voc�� n��o pesca nada, Fini-

nha. A intelig��ncia n��o �� o seu forte.

��� Agora �� voc�� quem est�� me ofendendo.

��� O melhor mesmo �� a gente parar de agre-

dir uma �� outra, n��o acha? Afinal de contas,

somos amigas desde crian��as. E l�� se vai mais de

meio s��culo. . .

Antes de sair do quarto da amiga, Dona Ani-

nha ainda disse:

��� Este rapaz est�� escondendo alguma coisa

da gente. Quem sabe ele n��o est�� fugindo de al-

gu��m? Pode ser at�� que seja um ladr��o ou cri-

minoso que quer escapar da pol��cia e veio se

esconder aqui.

��� Que horror! Voc�� tem uma imagina����o

muito f��rtil, isso sim.

��� Vou descobrir o passado de M a u r �� c i o . . .

custe o que custar.

* * *





43


Maur��cio n��o conseguiu mesmo resistir �� com-

puls��o de estar sempre pensando em uma pr��xi-

ma conquista. Apesar do bom senso lhe afirmar

que uma aproxima����o mais ��ntima com Suely o

expunha a diversos perigos, n��o estava disposto

a renunciar a lev��-la para a cama.

Enquanto isso, continuou a encontrar-se com

Helena �� tarde no campo e com Marisa de ma-

drugada no quarto. No entanto, passou a tratar

Helena com a maior frieza diante dos outros, a

fim de que Suely pensasse que ele n��o tinha mais

-interesse pela jovem. Esta, por sua vez, concor-

dou com a t��tica, porque assim ficaria livre das

reclama����es da tia.

- .Come��aram ent��o a sair de casa em horas di-

ferentes e s�� se encontravam no meio do mato,

onde tinham certeza de que n��o poderiam ser

surpreendidos por ningu��m.

Todos os dias, quando se dirigia para os en-

contros secretos com Helena, Maur��cio via, sen-

tada na porta de uma casa, uma mulher mais

ou menos da idade de Suely, sempre conversan-

do com uma velhinha. Compreendeu tratar-se de

m��e e filha, pois ambas possu��am o mesmo nariz

enorme, parecendo o bico de um papagaio. N��o

deixava de observar tamb��m que, todas as vezes





44


que passava, a mulher mais nova o acompanhava

com o olhar.

"Se fosse um pouquinho menos feia at�� que

eu ia para a cama com ela", pensava Maur��cio

divertindo-se consigo mesmo.

Uma semana depois, ele j�� conseguira uma cer-

ta aproxima����o com Suely, procurando conver-

sar com ela sempre que n��o havia ningu��m por

perto.

Finalmente, uma tarde em que Suely estava na

janela, sozinha, chegou perto e ficou ao seu lado/

olhando a rua.

��� A senhora sempre viveu aqui?

��� Nasci e me criei nesta cidade.

��� Seu marido morreu h�� muito tempo?

��� H�� cinco anos e sete meses.

��� Deve ser muito dif��cil viver s o z i n h a . . .

��� J�� me acostumei ��� disse Suely.





45


��� N��o creio nesta teoria de que as pessoas

se acostumam com qualquer coisa.

Maur��cio aos poucos tinha se aproximado mais

de Suely e estava quase ro��ando seu bra��o no

dela. A mulher fingia n��o estar percebendo aque-

la aproxima����o, mas seu cora����o batia mais for-

te e seu peito arfava.

��� A gente pode n��o se acostumar, mas se

conforma.

��� N��o quando sente a vida pulsando, o san-

gue correndo nas veias.. .

O bra��o dele encostou de leve no de Suely.

Ela n��o o afastou e Maur��cio manteve o contato.

A mulher olhava para a rua, sem coragem de

encarar o- rapaz. Uma crian��a passou correndo na

cal��ada.

��� Quando o senhor vai embora?

��� Ainda n��o sei ��� respondeu Maur��cio. ���

Estou gostando daqui. Talvez n��o tanto da ci-

dade, como de algumas pessoas.

Ele a encarou. Suely sentiu que n��o podia mais

disfar��ar a emo����o, quando o ouviu acrescentar:





46


��� Por favor, n��o se ofenda, mas eu. ���

fingiu estar tamb��m emocionado ��� eu sim-

patizo muito com a senhora.

Maur��cio compreendeu que seria naquela mo-

mento ou nunca. Segurou os ombros de Suely e

fez com que ela o olhasse:

��� Por que foge de mim?

��� Mas eu n��o fujo do s e n h o r . . .

Neste momento, ouviram passos e Suely afas-

tou-se da janela.. Dona Aninha entrou na sala

e perguntou:

��� Voc�� estava aqui, Suely?

��� Estava olhando a rua.

A velhinha dirigiu-se ao rapaz:

��� N��o saiu hoje, Maur��cio?

��� Ainda n��o. Mas acho que vou dar uma

volta por a��. Talvez v�� ao cinema. N��o quer

ir assistir ao filme comigo, Dona Aninha?

47

��� Que convite maravilhoso! Mas claro que

quero, Maur��cio. Voc�� �� um rapaz formid��vel!

* * *

Maur��cio come��ou a planejar como fazer para

que Suely fosse sua. N��o precisou pensar muito

para arquitetar um plano. Naquela mesma noite

falou para Marisa, quando ela apareceu em seu

quarto de madrugada:

��� Acho melhor voc�� n��o vir aqui todos os

dias.

��� Por qu��? J�� enjoou de mim? Pensa que n��o

,sei do seu caso com Helena?

��� N��o se trata disso, Marisa.

��� O que ��, ent��o?

��� Dona Aninha hoje, quando saiu comigo,

veio com uma conversa estranha, umas indire-

t a s .

��� Ser�� que ela desconfia de alguma coisa?

��� Acho que sim.





48


��� Aquela velha n��o presta! Est�� sempre se

metendo onde n��o �� chamada. Tem uma l��ngua

maior do que ela.

��� Por isso penso que �� melhor voc�� passar

uma semana sem aparecer. Tenho a impress��o

de que anda vigiando o meu quarto.

��� �� bem capaz. . . E a gente n��o vai se en-

contrar mais?

��� Voc�� deixa de vir apenas durante alguns

dias. Talvez uma semana. Vou ficar de olho na

velha. Mesmo que ela esteja me vigiando, depois

que verificar que n��o vem ningu��m ao meu quar-

to de noite, desiste e a gente fica com o campo

livre de novo.

* * *

Como Marisa concordara em se afastar duran-

te uma semana, Maur��cio p��de levar avante seu

plano. Na manh�� seguinte, procurou chegar per-

to de Suely quando esta estava sozinha �� colo-

cou-lhe um bilhete na m��o. Ela guardou o pe-

da��o de papel rapidamente, antes que algu��m

pudesse ver, e dirigiu-se para seu quarto a fim

de ler o que estava escrito:





49


"Estou te esperando em meu quarto esta

noite".

Sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. Leu

e releu v��rias vezes. Ao mesmo tempo que estava

furiosa com a ousadia de Maur��cio, viu que n��o

iria resistir ao convite. Desde que aquele rapaz

chegara �� sua pens��o, tivera um pressentimento

de que n��o escaparia. Nunca sentira tanta atra����o

por uma pessoa quanto por Maur��cio.

H�� mais de cinco anos que vivia se reprimindo.

Mal olhava para os homens, com medo de deixar

de ser a mulher honesta que sempre fora. N��o

poderia nunca ter rela����es sexuais com algu��m

do lugar, pois sabia que o falat��rio seria grande

e muita gente deixaria at�� de falar com ela.

Assim, conseguiu resistir a diversas tenta����es,

impondo-se a si mesma uma r��gida disciplina.

- Mas �� noite, em seu quarto, tinha crises de

choro por causa de sua solid��o. Maur��cio dissera

a verdade. Ela ainda tinha sangue nas veias. A

vida ainda pulsava dentro dela com intensidade.

E, diante de um homem como ele, precisava ser

de pedra para poder resistir.

Principalmente agora, que sabia que o rapaz

tamb��m a desejava. E muito. Sen��o, n��o teria

50

sido t��o ousado. Passou o resto do dia atormen-

tada e desejou que a noite n��o chegasse nunca.

Pois tinha certeza de que n��o ia ter for��as para

deixar de atender ao apelo do rapaz e, ao mesmo

tempo, tinha medo de ir ao seu encontro. P 51





CAPITULO 5


NO SIL��NCIO DA NOITE

�� noite finalmente chegou. Durante o jantar,

Suely n��o olhou para Maur��cio uma ��nica vez,

o que fez com que o rapaz ficasse sem saber se

ela estava ofendida, ou apenas n��o queria dar





52


nenhuma pista �� Dona Aninha, sempre disposta

a encontrar inten����es ocultas nos menores gestos.

Assim que todos acabaram de comer, Suely

arranjou uma desculpa qualquer e foi logo dei-,

tar-se. Desejou ardentemente adormecer logo e

s�� acordar no dia seguinte, a fim de fugir' �� -ten-

ta����o. Mas tal n��o aconteceu. Seu corpo ardia de

desejo, e na escurid��o quase completa do quarto,

imaginava-se sendo possu��da por Maur��cio. . .

O rapaz assistiu televis��o junto com os outros

h��spedes e depois foi dar uma volta pelas ruas

desertas. Quase n��o se ouvia nenhum ru��do -a

n��o ser o latido de um ou outro cachorro. Olhou

a Lua no c��u e passeou pela pra��a. Quando viu

que j�� eram quase onze horas, retornou �� pens��o..

Como costumava fazer todas as noites para

que Marisa entrasse em seu quarto, deixou a

porta apenas encostada. S�� que agora n��o estava

esperando pela mulata, mas por Suely. Devido ��

relativa dificuldade da conquista, estava mais ex-

citado do que nunca.





53


Os minutos passavam e Suely teve plena cons-

ci��ncia de que sua carne era t��o fraca quanto a

das outras pessoas. Levantou-se sem fazer ru��do

e saiu do seu aposento descal��a, a fim de que

ningu��m pudesse ouvir seus passos.

Andou pelo corredor p�� ante p�� e come��ou a

subir os degraus da escada. Nesse instante ouviu

o barulho de uma porta sendo aberta e perce-

beu que algu��m se aproximava. Pensou em correr

de volta ao seu quarto, mas era tarde. Dona Ani-

nha j�� estava quase do seu lado.

��� O que est�� fazendo, Suely? ��� perguntou

a velha num tom de voz curioso e cheio de ma-

l��cia.

"Suely teve presen��a de esp��rito suficiente para

inventar uma mentira, que julgou mais ou menos

convincente:

��� A senhora n��o ouviu?

��� O qu��?

��� Um barulho l�� em cima?





54


��� N��o, n��o escutei nada ��� respondeu Dona

Aninha.

��� Ouvi uns passos. Pensei que talvez um la-

dr��o tivesse entrado aqui em casa e ia verificar.

��� E voc�� tem coragem de enfrentar um la-

dr��o sozinha?

��� Desde que meu marido morreu, que en-

frento tudo s��, Dona Aninha. Isso n��o �� novi-

dade.

Do seu quarto, Maur��cio ouviu as "vozes das

duas e entreabriu a porta, vendo Suely Dona

Aninha conversando. Entendeu o que estava; se

passando e maldisse a presen��a daquela velha na

pens��o, que n��o fazia outra coisa a n��o ser atra-

palhar a vida de todo mundo.

Depois de procurar junto com Dona Aninha

o hipot��tico ladr��o, Suely voltou ao seu quarto

mais frustrada do que nunca. Enquanto isso,

Maur��cio n��o teve outra op����o a n��o ser passar

a noite sozinho. Apenas uma coisa o consolava:

Suely tentara vir ao seu encontro, o que provava. '

que mais cedo ou mais tarde seria dele.





55


O ��nico problema era conseguir despistar Do-

na Aninha. A solu����o lhe apareceu alguns mo-

mentos depois, e no outro dia deu um jeito de

colocar na m��o de Suely um novo bilhete, que

dizia o seguinte:

"Para evitar o que aconteceu ontem, pen-

sei numa solu����o para o nosso caso. Como

seu quarto fica no t��rreo e a janela d�� para

a rua, pe��o deix��-la encostada quando for

dormir, a fim de que eu possa entrar sem

que Dona Aninha me veja."

Naquela noite Maur��cio saiu e foi ao cinema.

Depois dirigiu-se a um bar, tomou algumas cer-

vejas e s�� saiu de l�� quando fechou. Assim mes-

mo, ainda, foi" ��t�� a pra��a, para esperar a ma-

drugada. Quando teve certeza de que a cidade in-

teira dormia, voltou para a pens��o.

Seu cora����o batia ansioso, quando empurrou

a janela do quarto de Suely. Sorriu com satis-

fa����o ao constatar que a mesma estava apenas

encostada. Pulou para dentro do aposento e apro-

ximou-se da cama onde Suely estava deitada, fin-

gindo dormir.

56

Maur��cio despiu-se e enfiou-se por baixo das,

cobertas, abra��ando o corpo da mulher e come-

��ando a beij��-la. Sentiu que ela estava tr��mula:

��� Por que est�� assim? N��o h�� raz��o para

isso.

��� Por favor, n��o fale. Algu��m pode ouvir.. .

Ele continuou a beij��-la. Depois colocou a m��o

por dentro de sua camisola, apertando-lhe os

seios. Suely continuava tremendo, ele n��o sabia

se de medo ou de desejo. Abriu-lhe as pernas e

for��ou passagem. Suely gemeu baixinho e deixou

que ele a penetrasse. . .

H�� muito tempo que n��o experimentava uma

sensa����o assim. O sexo dilacerava-lhe as carnes.

Seu del��rio chegou ao auge e ela agarrou Maur��-

cio com for��a, quase ferindo-lhe as costas com

as u n h a s . . .

Da mesma maneira como tinha entrado, Mau-

r��cio saiu do aposento de Suely, pulando a janela

para a rua. Depois entrou na pens��o, normal-

mente, pela porta principal e foi para seu quarto.

N��o ouviu o menor ru��do e teve certeza de que

ningu��m o tinha visto. P 57 ;

A partir da��, Maur��cio procurou manter as

tr��s amantes satisfeitas na medida do poss��vel.

�� tarde encontrava-se com Helena no campo, em

dias alternados, Noite sim, noite n��o, Marisa vol-

tou a freq��entar sua cama. Nas outras noites ele

ia para o quarto de Suely, utilizando-se da ja-

nela, que dava para a rua.

Mas nem tudo estava correndo t��o bem quan-

to pensava. Suely apaixonara-se por ele e des-

confiava de que alguma coisa mais s��ria havia

entre o rapaz e sua sobrinha Helena, uma vez

que. quase todas as tardes os dois desapareciam

da pens��o,apesar de n��o sa��rem juntos. Resolveu

que teria de descobrir se suas suspeitas tinham

uma raz��o de ser. No entanto, n��o tinha a mais

leve desconfian��a de que ele tamb��m dormia com

a empregada.

Enquanto isso. Dona Aninha elaborou mais

um plano, a fim de descobrir o passado de Mau-

r��cio. N��o se convencia de que ele lhe tivesse di-

to a verdade. Conseguiu apanhar escondido a

chave do quarto do rapaz e mandou fazer uma

c��pia da mesma. De posse da c��pia resolveu es-

58

perar uma hora em que ele estivesse ausente..

Maur��cio se ausentava quase todas as tardes du-

rante muito tempo, a fim de encontrar-se com

Helena no campo.

Numa destas tardes, Dona Aninha subiu es-

cada sem ser vista e foi ao quarto de Maur��cio.

Come��ou ent��o a dar uma busca minuciosa nos

arm��rios e na mala do rapaz. Ficou decepciona-

da ao verificar que n��o existia vest��gio nenhum

de nada suspeito. N��o tinha armas, nem grande

quantidade de dinheiro escondido, conforme es-

perava. N��o havia nenhuma prova de que ele fos-

se um ladr��o ou criminoso.

Revirou todas as roupas, procurou nos bolsos

das cal��as e camisas, olhou no fundo das gave-

tas e n��o encontrou absolutamente nada que pu-

desse comprovar sua hip��tese. Desanimada, j�� es-

tava para sair do quarto, quando ouviu uns pas-

sos. Ficou apreensiva e depois aterrorizada, pen-

sando que era Maur��cio quem estava chegando.

Os passos se aproximavam e n��o dava mais para

fugir.





59


De repente, a porta se abriu. Mas n��o se tra-

-tava de Maur��cio. E sim de Suely. Tendo ouvido

movimentos estranhos no quarto do rapaz, resol-

vera ir ver o que estava acontecendo, desconfian-

do de que talvez Helena estivesse l��. Ao entrar e

. deparar com Dona Aninha, ficou satisfeita ao ve-

rificar que n��o era o que estava pensando, mas

ao mesmo tempo n��o encontrou nenhuma expli-

ca����o para o fato de a velha estar ali.

��� O que est�� fazendo neste quarto? Como foi

que conseguiu entrar?

Dona Aninha viu que n��o tinha outro rem��dio

sen��o confessa/ a verdade:

��� Mandei fazer uma c��pia da chave dele,

porque-desconfiava de que Maur��cio escondia al-

guma coisa aqui.

-��� Por que pensava isso?

��� Acho que ele �� meio esquisito. Julgava que

Maur��cio tinha vindo para esta cidade fugido da

pol��cia. P60

��� A senhora tem de acabar com estas suas

suspeitas absurdas e parar de ficar espionando

as pessoas. O melhor que tem a fazer �� deixar

de ler aquelas hist��rias policiais. Agora, vamos

botar as coisas dele nos seus lugares. Ah! Antes

que me esque��a, devolva-me a c��pia da chave

que mandou fazer. * **

Como uma crian��a surpreendida em flagrante

fazendo o que n��o devia, Dona Aninha, concor-

dou com tudo docilmente e em poucos^ minutos

as duas deixaram o quarto devidamente arruma-

do.

* * * �����

No meio do mato, Maur��cio acabava de pos--

suir Helena mais uma vez.

��� Voc�� n��o acha que tia Suely est�� mudada?

��� perguntou a jovem, encarando-o.

Maur��cio estremeceu:

��� Mudada como?

��� Sei l �� . . . Notei um brilho no olhar dela.

Parece at�� que est�� amando.





61


O rapaz recobrou o sangue-frio e deu uma gar-

galhada:

��� Amando? Ela n��o �� uma vi��va s��ria, co-

mo voc�� mesmo me informou?

��� Sempre pensei assim. Mas todo mundo

tamb��m julga que eu ainda sou virgem, n��o ��?

Por incr��vel que pare��a ningu��m soube at�� hoje

que eu andei com o Leonardo e agora com voc��.

Maur��cio come��ou a beij��-la e acarici��-la nos

lugares mais sens��veis, a fim de que n��o conti-

nuasse com aquela conversa. Mas Helena n��o

se deu por vencida:

��� Talvez tia Suely saiba disfar��ar t��o bem

quanto eu. O que acha disso? ��� Ela olhou de

maneira significativa. ��� Quem ser�� o amante

dela?

��� Como posso saber, se estou h�� t��o pouco

tempo na cidade?

Helena afastou-se do rapaz e falou muito s��-

ria:





62


��� Tenho a impress��o de que voc�� �� o amante

de minha tia.

Maur��cio retrucou num tom que n��o admitia

contesta����o:

��� Voc�� est�� louca?! Se permanecer com es-

tas desconfian��as idiotas n��o me encontro mais

com voc��.

Diante da amea��a, Helena preferiu calar-se.

Afinal de contas, era melhor ter que dividi-lo

com a tia do que perd��-lo definitivamente.

63





63


CAP��TULO 6

O BAILE

Estava se aproximando o dia de S��o Jo��o s

a cidade se movimentou para os festejos. Foi or

ganizado um baile ao ar livre, com a banda to

cando. Todos os habitantes da cidade come��a

64

ram a viver em grande euforia. S�� se falava na

grande festa.

Finalmente, o dia chegou. Na v��spera, Marisa

comentou com Maur��cio:

��� �� a melhor festa da cidade. Melhor mesmo

que o Natal e o Carnaval.

Maur��cio, bem como todos os outros h��spedes

seguiram para a pra��a mal o dia escureceu. Ha-

via grandes fogueiras e soltavam bombas, tra-

ques, busca-p��s e diversos outros tipos de fogos

de artif��cio, em meio aos gritinhos das mulheres.

As pessoas mais velhas como Dona Aninha,

ficaram sentadas nos bancos da pra��a, ou mes-

mo em cadeiras que haviam levado de suas ca-

sas e circundavam o local destinado ao baile.

A banda come��ou a tocar no velho coreto e

os primeiros casais foram para a pista dan��ar.

Maur��cio observava tudo, sem se aproximar de

nenhuma de suas amantes. N��o se atrevia a dar

um passo em falso. Dan��ar com algumas delas

65

causaria os ci��mes das outras. Assim, chegou ��

conclus��o de que aquela festa seria no m��nimo

tediosa para ele.

Mas Helena, depois de ter bebido um pouco,

tornou-se audaciosa e chegou perto do amante:

��� Vamos dan��ar?

��� Voc�� sabe que n��o podemos nos arriscar

respondeu Maur��cio sem nem ao menos virar-

se para a jovem.

��� Por-que n��o?

-Ele compreendeu que iria ter problemas:

��� N��o est�� vendo Suely olhando pra gente?

��� E o que tem isso?

Nesse momento, Maur��cio notou que Marisa

tamb��m n��o tirava os olhos dele e replicou:

��� Tem muita coisa. Quer que ela saiba que

voc�� �� minha amante?





66


��� O fato da gente dan��ar n��o quer dizer

nada.

��� N��o devemos dar margem a nenhuma des-

confian��a por parte dela.

��� N��o sabia que voc�� era t��o medroso.

Maur��cio estava cada vez mais irritado diante

da insist��ncia de Helena. Mesmo porque ele ti-

nha uma outra raz��o para n��o querer provocar

a ira de Suely. Seu dinheiro j�� acabara e n��o

tinha mais como pagar a pens��o. Se brigasse

com ela, como iria se arranjar? Mas Helena se

tornava cada vez mais inconveniente:

��� N��o estou me importando mais com nin-

gu��m. Se minha tia ficar com raiva, azar. Esta

sua atitude faz com que eu tenha certeza de que

tamb��m dorme com ela.

��� Quer fazer o favor de me deixar em paz ?

��� Voc�� tem que dan��ar comigo, Maur��cio.

Dizendo isso, Helena segurou-o por um bra��o

e arrastou-o para o meio da pista. O rapaz, n��o





67


teve outro jeito sen��o concordar em dan��ar com

a garota. Depois de algumas m��sicas, quis parar:

��� Acho que chega por hoje, n��o?

��� N��o. Voc�� tem que ficar comigo a noite

inteira.

Maur��cio desprendeu-se de Helena e saiu da

pista. Ela o acompanhou:

-��� Por que est�� fazendo isso comigo, Maur��-

cio?

��� Estou cheio. N��o quero mais nada com

voc��, ouviu bem?

Helena estava prestes a chorar.

��� Quer dizer que n��o vai mais encontrar-se

comigo? ��� perguntou.

��� N��o.

"Maur��cio afastou-se, deixando Helena falan-

do sozinha. Suely observava tudo e aproximou-se

do seu h��spede:





68


��� O que houve entre voc�� e Helena? Parece��

que brigaram?

��� N��o quer dan��ar comigo, Suely?

��� N��o fuja do assunto.

��� Que assunto?

��� Quero saber o que houve entre voc�� e.mi-

nha sobrinha. Pelo que pude observar, parecia

uma briga de n a m o r a d o s . . .

��� At�� voc��, Suely? Est�� com ci��mes?

Para ver se conseguia contornar a situa����o ele

puxou-a pelo bra��o, a fim de lev��-la para dan-

��ar. Mas Suely resistiu:

��� N��o fica bem, Maur��cio. Compreenda que

sou uma mulher de quarenta anos, vi��va. O que

v��o dizer os outros me vendo dan��ando com vo-

c��?

Neste instante, Maur��cio, procurando desviar

seu olhar do de Suely, avistou a solteirona com

o nariz em forma de bico de papagaio. Ela con-





69


versava com uma jovem muito bonita que Mau-

r��cio ainda n��o tinha visto na cidade at�� aquela

data. Teve uma id��ia que lhe pareceu brilhante

e resolveu p��-la em pr��tica sem demora: convi-

dar a solteirona para dan��ar. Assim estaria livre

de Suely, que obviamente n��o poderia ter ci��mes

daquela mulher t��o feia.

��� Uma vez que voc�� n��o quer, vou me diver-

tir com outra pessoa ��� disse Maur��cio aproxi-

mando-se da solteirona e convidando-a para o

meio da pista.

Florisbela n��o p��de acreditar no que estava

acontecendo, mas aceitou entusiasticamente dan-

��ar com o belo rapaz que sempre olhava quando

ele pjssava por sua porta.

Maur��cio apertou Florisbela entre os bra��os

e n��o a largou durante muito tempo. Enquanto

isso, puxou conversa:

��� Sabe que voc�� dan��a muito bem?

��� B o n d a d e sua ��� respondeu Florisbela meio

encabulada com o elogio.





70


��� Quem �� aquela mo��a que estava conver-

sando com voc��?

��� Marta.

��� Nunca a vi por aqui.

��� Ela �� filha do fazendeiro mais rico da ci-

dade. N��o conhece aquela casa branca, muito

bonita, que fica no fim da rua? Marta mora l��,

��� E como nunca a vi?

��� �� porque Marta est�� fazendo o segundo

grau em Outra cidade, uma vez que a escola da-

qui s�� ensina at�� o gin��sio. Ela chegou ontem

para passar as f��rias do meio do ano com os pais.

Maur��cio achou que estava na hora de mudar

o rumo de sua vida naquela cidade. Precisava

conquistar Marta, talvez at�� casar com ela. Por

que ele tamb��m n��o podia dar o golpe do ba��?

De qualquer maneira tinha de fazer a tenta-

tiva. Sabia que n��o poderia permanecer na pen-

s��o por muito tempo mais. As tr��s amantes es-

tavam quase descobrindo que ele as enganava.





71


E o pior �� que as tr��s viviam sob o mesmo teto,

que Maur��cio pressentia iria desabar dentro de

pouqu��ssimo tempo sobre seus ombros.

Terminou de dan��ar com Florisbela, que o

apresentou a Marta:

��� Este �� Maur��cio, um rapaz de fora que

est�� passando uns tempos na cidade.

��� Muito prazer ��� disse Marta estendendo a

m��o a Maur��cio.

��� N��o quer dan��ar um pouco? ��� convidou

o rapaz.

Marta concordou e os dois se encaminharam

para junto dos outros casais que continuavam na

maior anima����o. De longe, Suely olhou indigna-

da para o rapaz. Helena, que j�� havia bebido

mais, n��o suportou aquele novo golpe, e resol-

veu voltar para casa. Marisa desistira de fiscali-

zar o amante e divertia-se com um de seus an-

tigos casos.

Maur��cio desligou-se completamente de seus

problemas, procurando ser o mais agrad��vel pos-





72


s��vel com aquela que pretendia fosse sua pr��xima

conquista.

Marta, sob todos os aspectos, era bastante su-

perior a todas as mulheres que ele j�� tivera em

sua vida. Jovem, devia ter uns dezenove anos.

Muito bonita, com os cabelos e olhos pretos, bo-

ca sensual e dentes perfeitos. Isso sem falar no-

corpo admir��vel. E principalmente rica. Preci-

sava apenas saber se ele estava dispon��vel.

��� Florisbela me disse que voc�� veio passar

as f��rias, �� verdade?

��� ��.

��� Quer dizer que em agosto voc�� n��o vai es-

tar mais aqui?

��� N��o. Estou pensando em fazer vestibular

para Direito, e como aqui n��o tem Faculdade, o

jeito �� estudar fora.

��� Pelo visto voc�� tem todas as qualidades.

Al��m de bonita �� inteligente.

��� Florisbela n��o disse que sou rica tamb��m?P 73

��� Disse, sim. Uma mulher completa, coisa

muito dif��cil hoje em dia. O�� melhor, em todos

os tempos.

Marta riu:

��� E voc��? O que est�� fazendo neste fim de

mundo?

��� Vim tamb��m passar as f��rias aqui.

��� Mas nunca esteve antes na cidade, n��o ��?

��� N��o, nunca.

. ���; E j�� est�� h�� mais de um m��s. Suas f��rias

s��o t��o longas assim?

��� Pelo visto, voc�� tamb��m andou se infor-

mando a meu respeito.

��� Logo que cheguei ao baile, notei sua pre-

sen��a. E Florisbela se encarregou de me contar

tudo o que sabia sobre voc��.

Os dois riram e continuaram dan��ando. Pas-

saram o resto da noite juntos. Para Maur��cio, o

baile, que a princ��pio lhe parecera tedioso, trans-





74


formou-se num dos melhores momentos que j��

passara na cidade.

Resolveu aproveitar ao m��ximo a companhia

de Marta e iniciar um namoro com a mo��a, en-

quanto procurou esquecer os problemas que cer-

tamente teria que enfrentar no dia seguinte na

pens��o.

75





CAPITULO 7


O FLAGRANTE


Ao voltar para casa, depois do baile, Suely foi

at�� o quarto da sobrinha, que havia voltado an-

tes e j�� estava dormindo.

��� O que foi que houve entre voc�� e Mau-

76

r��cio? ��� perguntou assim que Helena abriu os

olhos.

��� Quando?

��� L�� no baile. Tive a impress��o de que voc��s

estavam discutindo.

��� Qual o interesse que a senhora tem nisso?

��� Veja como me responde, Helena, Afinal

sou quase sua m��e. Fui eu quem a criou. N��o

admito que fale comigo desse jeito.

��� A senhora est�� �� com ci��mes.

Suely empalideceu:

��� Eu?! Com ci��mes?! Voc�� perdeu o ju��zo?

Por que estaria com ci��mes?

Helena compreendeu que tinha ido longe de-

mais e resolveu recuar. Afinal de contas n��o po-

dia acusar a tia de manter rela����es sexuais com

Maur��cio, apesar de ter quase certeza disso. Mas.

dependia de Suely e n��o poderia enfrent��-la cara

a cara:





77


��� Desculpe. �� que estou muito nervosa. Fi-

quei chateada com Maur��cio, porque ele. . .

A mo��a calou-se. Suely estimulou-a a contar

�� verdade:

��� Eu s�� tenho interesse na sua felicidade, He-

lena. Por isso quero saber o que est�� acontecen-

do. Voc�� tem alguma coisa com esse rapaz?

��� N��s estamos namorando h�� algum tem-

p o . . .

Suely dissimulou seus verdadeiros sentimentos.

Precisava mostrar-se compreensiva, a fim de ar-

rancar uma confiss��o de Helena:

��� Desde quando est��o namorando? N��o te-

nho vi��to voc��s dois juntos ultimamente.

A gente sempre se encontra na rua. ..

��� Em que lugar?

Helena n��o ousou revelar a verdade:

��� Por a��. . . na pra��a, no cinema. . .

78

Suely arriscou uma pergunta ousada:

��� E voc�� s��o apenas namorados?

��� Como assim? ��� respondeu Helena com

outra pergunta, fingindo-se a mais pura das cria-

turas.

��� Quero d i z e r . . . at�� onde vai esse namoro?

Qual o tipo de intimidades que voc��s t��m?

��� Bem. . . �� um namoro comum. Ele me bei-

ja, me abra��a, conversamos e passeamos juntos.

��� S�� isso? ' *

Helena, mais segura de si, afirmou com con-

vic����o:

��� Claro que �� s�� isso. Ou a senhora est�� pen-

sando que sou capaz de fazer alguma coisa de

errado com um rapaz?

��� N��o estou pensanda nada, Helena. Apenas

quero saber toda a verdade.

��� Pois agora j�� sabe.

��� Jura que n��o est�� me escondendo nada?





79




Suely saiu do quarto, convencida de que real-

mente a sobrinha mantinha apenas um namoro

inocente com Maur��cio. Apesar de relativamente

satisfeita com a conclus��o que tirara, n��o podia

deixar de sentir raiva do rapaz. Afinal, ele de-

monstrava n��o ser boa coisa, namorando com

.Helena. De qualquer forma, estava enganando-a.

"

Outra coisa que n��o parava de lhe atormentar

era o fato de Maur��cio ter passado quase toda a

noite dan��ando com Marta. Na pr��xima vez que

ele fosse ao seu quarto, iria ter uma conversa

franca com o amante.

Al��m disso, tamb��m estava desconfiando do

verdadeiro motivo por que ele estava na cidade.

Se tinha vindo passar apenas as f��rias, por que

se demorava tanto? Ser�� que no fundo Dona Ani-

nha unha raz��o? Andara t��o obcecada com as

noites de amor ao lado de Maur��cio, que n��o se

lembrara de pensar neste fato. Mas na pr��xima

oportunidade tiraria tudo a limpo. P 80

No dia seguinte, Maur��cio acordou tarde, n��o

indo tomar o caf�� da manh��. No entanto, na ho-

ra do almo��o, desceu e teve que enfrentar o

olhar de Suely. Mas a dona da pens��o n��o teve

oportunidade de aproximar-se dele, por causa de

Dona Aninha, que permaneceu ao lado do rapaz

comentando os acontecimentos do baile.

��� Voc�� se divertiu muito, hem, Maur��cio?

��� Afinal, sou jovem e cheio de sa��de, n��o ��,

Dona Aninha? Tenho que aproveitar a mocida-

de.

��� Ah, os meus tempos! ��� suspirou Dona

Fininha, que tamb��m participava da conversa. ���-

N��o perdia um baile com o meu marido na ��po-

ca em que ele era vivo. Joaquim gostava tanto

de dan��ar.

Dona Aninha piscou o olho:

��� Marta �� uma mo��a muito bonita, n��o ��?

��� E inteligente tamb��m.





81


��� Mas o que salta aos olhos �� sua beleza.

Voc�� tem muito bom gosto, rapaz! Passou a noi-

te inteira dan��ando com ela.

��� Eu tamb��m dancei com outras mo��as. A

Helena, a Florisbela.. .

Dona Aninha riu com gosto:

��� Voc�� s�� dan��ou com a Florisbela para con-

seguir, se aproximar de Marta, n��o foi mesmo?

Confesse que foi.

Maur��cio sorriu meio sem jeito. Do outro la-

do da mesa, Helena n��o levantava os olhos e

Suely encarava-o muito s��ria, sem deixar trans-

parecer o que lhe ia por dentro.

* * *

Naquela tarde, Maur��cio foi ver Marta, com

quem marcara encontro. Estava mesmo disposto

a levar avante o romance com a mo��a. Era a

sua grande cartada. Precisava agir depressa e fa-

zer com que ela se apaixonasse por ele.

Apesar de saber que Marta n��o era uma garo-

ta ing��nua e sem instru����o, tinha certeza de que

n��o iria resistir ao seu encanto. Afinal ele pos-





82


su��a um f��sico privilegiado e existiam poucas mu-

lheres que n��o sucumbiam ao seu charme.

Ao passar pela porta de Florisbela, parou para

conversar um pouco. Ela perguntou-lhe:

��� Ent��o, gostou do baile ontem, Seu Maur��-

cio?

��� Muito.

��� Quando �� que a gente vai ter oportunidade

de dan��ar juntos de novos?

��� Assim que tiver outra festa.

��� O senhor vai passar muito tempo ainda na

cidade?

��� Talvez at�� fique morando aqui.

��� N��o diga!

Maur��cio ainda demorou-se alguns minutos

com Florisbela e depois seguiu ao encontro de

Marta, que j�� o aguardava. Foram ao cinema e

ele segurou-lhe a m��o. Com meia hora de filme;

colocou o bra��o em volta do seu ombro. Quaren-

ta minutos depois deu-lhe o primeiro beijo. Marta





83


correspondeu naturalmente a tudo, sem falsos pu-

dores. . .

Terminada a sess��o, levou-a de volta a sua ca-

sa, marcando um novo encontro para o outro

dia.

* * *

Naquela noite, Marisa foi ao quarto de Mau-

r��cio:

��� Voc�� n��o presta mesmo.

��� Por que diz isso?

��� Ent��o n��o vi a confus��o que armou no bai-

le ontem?

��� N��o armei confus��o nenhuma ��� defendeu-

se Maur��cio.

��� Eu sabia do seu caso com Helena, mas

n��o com Dona Suely.

��� Que conversa �� esta, Marisa? Respeite sua

patroa.

��� Ora, Maur��cio, pra cima de mim? Pensa

que n��o sei dos seus encontros no mato com He-





84


lena? Nunca falei nada, porque n��o ia adiantar.

Mas fiquei surpresa ao descobrir que tamb��m

�� amante de Dona S u e l y . . .

��� Veja como fala, hem?

��� Ela ficou possessa de ci��mes, ontem �� noi-

te. Eu vi quando foi ao quarto da sobrinha e fi-

quei escutando atr��s da porta. . .

��� O que voc�� ouviu? ��� perguntou Maur��cio

subitamente interessado.

Marisa contou o que sabia e ele viu compro-

vados os seus receios. A bomba iria "estourar a-

qualquer momento. O que nunca poderia ima-

ginar �� que explodiria logo em seguida

Com a c��pia da chave que Dona Aninha man-

dara fazer, Suely abriu a porta do quarto de

Maur��cio. N��o ag��entou ficar mais tempo sem

ter uma conversa franca com o rapaz e resol-

veu procur��-lo naquela noite, sem esperar que

ele fosse ao seu quarto na noite seguinte.

Ela, ao entrar, n��o distinguiu bem o que es-

tava se pasando, devido �� escurid��o. Mas notou

85

que havia mais de uma pessoa na cama de Mau-

r��cio, e pensou com horror que devia ser Hele-

na. Acendeu a luz e viu Marisa procurando es-

conder-se embaixo dos len����is.

Suely quase caiu fulminada:

A mulher aproximou-se da cama e tirou o len-

��ol, deixando os dois descobertos: Marisa e Mau-

r��cio estavam completamente nus. A mulata le-

vantou-se correndo e procurou sua roupa, que co-

me��ou a vestir imediatamente. Maur��cio, por sa-

ber ser in��til qualquer tentativa para remediar

a situa����o, permaneceu deitado na cama.

A dona da pens��o voltou sua f��ria primeiro

contra a empregada:

��� O que �� que est�� pensando, sua vagabun-

da? Minha pens��o n��o �� um bordel. Eu descon-

fiava que voc�� n��o prestava, mas n��o julgava que

fosse capaz disso. Pode arrumar sua mala e ir

embora. Est�� despedida. N��o quero que fique

nem mais um minuto aqui. Saia j�� deste quarto.

Depois que a mulata se retirou, Suely dirigiu

seu ��dio para Maur��cio:





86


��� E quanto ao senhor, mude-se de minha

pens��o o mais r��pido que puder. Conv��m lem-

brar ainda que j�� est�� me devendo uma semana.

��� J�� expliquei que o dinheiro que estou es-

perando de casa ainda n��o chegou.

��� De qualquer maneira, pagando ou n��o,

quero que v�� embora. N��o pretendo ver sua ca-

ra na minha frente nunca mais em minha vida.

87





CAPITULO 8


A SALVA����O

Suely. saiu desesperada do quarto de Maur��cio.

Seus gritos foram ouvidos pelos outros h��spedes

do hotel. No corredor encontrou-se com Dona

Aninha, que queria saber o que tinha acontecido.





88


Suely ainda encontrou for��as para se controlar

e revelar-lhe em poucas palavras que encontrara

a empregada na cama com o rapaz. Helena e os

outros h��spedes tamb��m ouviram a explica����o.

��� Eu j�� estava at�� pensando que ele era um

bom rapaz. Bem, isso �� apenas uma fraqueza da

juventude.. .

��� De qualquer jeito, Dona Aninha, minha

pens��o n��o �� um bordel. Tenho de zelar pelo

bom nome da casa.

Depois de fazer as contas com a empregada,

Suely pagou-lhe o que lhe era devido e-voltou

ao seu quarto. Quando se viu sozinha, atirou-se

na cama e abafou os solu��os com o travesseiro.

Consciente do barulho que havia causado,

Maur��cio ficou surpreendentemente calmo. Afi-

nal, nada mais havia a fazer. Levantou-se da ca-

ma algum tempo depois, fechou a porta do quar-

to e apagou a luz. Tornou a deitar-se e tentou

adormecer logo. No outro dia, com a cabe��a mais

fria, haveria de encontrar a solu����o para seus

problemas.

89

Enquanto colocava suas coisas na maleta, na

manh�� seguinte, Maur��cio esfor��ava-se para des-

cobrir um meio de resolver a situa����o aflitiva em

que se encontrava. Ir para o outro hotel da ci-

dade era imposs��vel, pois n��o tinha dinheiro e

certamente teria de pagar adiantado.

Finalmente saiu da pens��o, ainda sem ter uma

id��ia do que iria fazer. Dirigiu-se para a pra��a

e sentou-se num banco, com a pequena mala ao

lado. Temeu que Marta por acaso o visse e de

repente teve um pensamento luminoso. Nem tudo

'estava perdido. Florisbela seria sua salva����o.

Decidido, pegou a maleta e encaminhou-se

para a casa da solteirona. Bateu �� porta e logo

depois Florisbela veio atender:

��� Seu Maur��cio, o senhor por aqui?

��� Preciso muito falar com voc��. Ser�� podia

me fazer um grande favor?

��� At�� dois.

��� Estou meio acanhado. N��o sei como co-

me��ar.

90

��� O que �� isso, Seu Maur��cio? Diga logo o

que �� . . .

��� Aconteceu uma coisa muito desagrad��vel

comigo na pens��o de Dona Suely e tive de sair

de l��. Depois lhe conto em detalhes o que houve.

Vim at�� aqui para saber se podia me alugar um

quarto em sua casa.

Florisbela ficou excitada com a possibilidade

daquele homem ficar morando sob o mesmo te-

to que ela:

��� Mas aqui n��o �� pens��o, Seu Maur��cio!

��� Eu sei disso, Florisbela. Mas n��o estou

querendo ir para o outro hotel. Cansei de viver

no meio de muita gente. Gostaria de ficar hos-

pedado numa casa de fam��lia...

A solteirona n��o via como negar o pedido.

Convidou-o a entrar e comunicou �� m��e a pre-

tens��o de Maur��cio. Dona Raimunda achou tu-

do muito estranho, mas Florisbela falou de modo

que n��o admitia recusa:

91

��� Seria ��timo para a senhora, mam��e, ter

algu��m t��o agrad��vel como o Sr. Maur��cio para

conversar. Afinal, n��s vivemos t��o sozinhas! E

nossa casa �� muito grande. S��o cinco quartos,

tr��s salas, quintal, copa, cozinha, jardim. Um

verdadeiro desperd��cio para duas pessoas apenas.

Maur��cio tinha vencido a parada. Sem teto

n��o iria ficar mais. Florisbela e a m��e discuti-

ram qual o quarto lhe seria destinado e depois

de chegarem a uma conclus��o, o rapaz instalou-

se confortavelmente no melhor aposento da casa.

. A primeira semana em casa de Florisbela

transcorreu tranq��ila. Ela e a m��e faziam tudo

para agradar Maur��cio, que por sua vez se des-

manchava em aten����es para com Florisbela, se-

gurando-lhe a m��o por mais tempo do que o

necess��rio e lan��ando-lhe olhares significativos.

Todas as tardes, no entanto, n��o deixava de ir

encontrar-se com Marta, alimentando o namoro

rec��m-iniciado.

Florisbela n��o conseguia dissimular sua atra-

����o irresist��vel pelo rapaz. Dona Raimunda, nu-





92


ma hora em que Maur��cio n��o estava presente,

comentou com a filha:

��� Voc�� parece gostar muito desse rapaz.

��� Al��m de bonito, ele parece ser t��o boa

pessoa...

��� Seria ��timo que voc��s se casassem.

Florisbela enrubesceu:

��� Ora, mam��e, n��o estou pensando numa

coisa destas.

��� Por que n��o?

��� Gosto de Maur��cio como um amigo. -Sei

que ele nunca poderia se interessar por mim,

com tantas mo��as bonitas e ricas por a�� ��� fa-

lou Florisbela lembrando-se de Marta, uma. vez

que n��o desconhecia os encontros dela com o

rapaz.

��� Deixe de bobagens. N��o se prende um ho-

mem apenas pela beleza e pelo dinheiro, mas

tamb��m pelo est��mago. Voc�� �� ��tima cozinheira P 93

e tem outras qualidades mais valiosas. Talvez

Maur��cio se encontre com essas sem-vergonha

porque �� jovem e quer se divertir. Mas se tiver

que escolher uma esposa, vai querer algu��m que

seja honesta e boa dona de casa.

Assim, Florisbela e a m��e passaram a prepa-

rar os pratos que Maur��cio mais gostava, al��m

de empanturr��-lo com bolos e doces de todas as

esp��cies.

Maur��cio, por seu lado, tamb��m procurava

agradar cada vez mais a solteirona. Um dia em

que estavam a s��s, repentinamente a abra��ou e

beijou. Florisbela teve a impress��o de que ia

morrer. Quando conseguiu voltar a falar, disse

timidamente sem ousar olh��-lo:

��� Por que fez isso?

��� Voc�� n��o gostou?

Florisbela n��o teve tempo de responder, pois

Maur��cio a beijou novamente, desta vez na boca

e segurando-lhe os seios. A solteirona n��o podia

acreditar no que estava acontecendo. Nunca an-

94

tes um rapaz tinha demonstrado uma paix��o t��o

arrebatadora por ela.

Ao fim de alguns minutos Maur��cio soltou-a e

saiu da sala em que estavam sem dizer mais na-

da. A partir desse momento, Florisbela perdeu

toda e qualquer no����o da realidade. Os dois bei-

jos que recebera eram uma recompensa para toda

a sua vida ins��pida. Tudo o que Maur��cio lhe pe-

disse de agora em diante, ela faria sem pensar

duas vezes.

Maur��cio tinha plena consci��ncia da situa����o

perigosa em que estava se metendo. Principal-

mente, quando, no jardim da casa de Marta, na-

quela noite, ela lhe falou:

��� Eu o amo, Maur��cio.

��� De verdade?

��� Nunca gostei tanto de um rapaz como de

voc��.

��� Quer casar comigo?

��� Quando voc�� quiser.





95


Ele c o m p r e e n d e u q u e e s t a v a e m v i a s d e c o n -

seguir o m a i o r o b j e t i v o de s u a v i d a : dar o g o l -

p e d o b a �� . S �� q u e p r e c i s a v a agir d e p r e s s a .

��� E s e u s e s t u d o s ? ��� p e r g u n t o u a M a r t a , p r e o c u p a d o c o m a f a t o d e q u e e l a d e v e r i a viajar n o m �� s s e g u i n t e .

V o c �� �� m u i t o mais i m p o r t a n t e d o q u e t u d o .

V o c �� est�� d i s p o s t a a d e i x a r o c u r s o pra se c o m i g o ?

M a s c l a r o , M a u r �� c i o . . .

Ao sai da c a s a de M a r t a , o rapaz r e s o l v e u or-ganizar s u a v i d a d e m a n e i r a q u e n a d a d e s s e er-r a d o at�� o c a s a m e n t o c o m a m o �� a . E s t i m u l a r a p a i x �� o de F l o r i s b e l a lhe parecia um p e r i g o a evitar, u m a v e z q u e c o m b i n a r a noivar c o m Marta d e n t r o d e q u i n z e d i a s .

A s s i m , M a u r �� c i o a c h o u q u e o m e l h o r a fazer seria e s c r e v e r p a r a s e u s p a i s , p e d i n d o p a r a m a n -

dar-lhe a l g u m d i n h e i r o , a f i m d e q u e p u d e s s e s e m u d a r p a r a o H o t e l G i r a s s o l .





96


Por uma associa����o de id��ias, lembrou-se dos

dias que passara na pens��o de Suely e os seus

amores com as tr��s mulheres ao mesmo tempo.

Desde a festa de S��o Jo��o que n��o tivera mais

rela����es sexuais com ningu��m. E j�� fazia duas

semanas. O namoro com Marta era s��rio e ele

n��o se arriscava a maiores intimidades, com m e -

do de que a garota se ofendesse. Quanto a Flo-

risbela, al��m de ser muito feia, n��o devia se atre-

ver a deix��-la perdidamente apaixonada.

O pior �� que estava extremamente necessitado

de uma mulher. Mas tinha que ag��entar firm��.

Depois de escrever a carta aos pais solicitando

o dinheiro, foi coloc��-la no Correio. Aquela car-

ta representava todo o seu futuro. Com a impor-

t��ncia enviada pelos pais ele se mudaria para o

hotel, onde ficaria at�� o casamento com Marta.

Mas �� noite, uma surpresa o aguardava. Mau-

r��cio estava dormindo, quando Florisbela entrou

em seu quarto, sorrateiramente. Aproximou-se

do rapaz e ficou olhando-o. Maur��cio sempre se

deitava de sunga e, num movimento que fez du-





97


rante o sono, jogou o len��ol para um canto da

cama , descobrindo-se.

Florisbela olhava extasiada o corpo seminu do

rapaz. N��o se conteve e estirou o bra��o. Sua m��o

quase o tocava. Sentia o corpo arder como se

estivesse com febre. N��o resistiu e deixou a m��o

ro��ar levemente no corpo de Maur��cio. Este fez

um movimento e ela afastou-se um pouco.

Notando, por��m, que ele continuava dormin-

do profundamente, tocou-lhe de novo, desta vez

com mais ousadia. Logo em seguida, n��o resis-

tindo mais, segurou-lhe o sexo com for��a.

O rapaz acordou e viu o que estava se pas-

sando. Pensou em mand��-la embora, mas o con-

tato daquela m��o lhe era muito agrad��vel. No

estado em que se encontrava, qualquer mulher,

mesmo Florisbela, o excitava.

Ela compreendeu que Maur��cio acordara, mas

j�� era tarde demais. Ele agarrou-a com for��a e

depois tirou-lhe a camisola, fazendo-a deitar-se

na cama.

98

Florisbela n��o teve d��vidas de que havia che-

gado o seu grande momento. Virgem at�� aquela

data, por absoluta falta de oportunidade, uma

vez que nunca tivera antes um contato mais ��n-

timo com qualquer outro rapaz, perdeu comple-

tamente o bom-senso.

N��o lhe importava mais as conseq����ncias. To-

da a repress��o contida durante anos e anos de-

sapareceu diante da possante masculinidade de

Maur��cio. Ele conseguiu em poucos instantes pe-

netrar-lhe na carne e Florisbela sentiu uma dor

forte, misturada a um prazer que a levava ao de-

l��rio. . .

Depois de ser possu��da por Maur��cio, saiu do

quarto t��o silenciosamente quanto tinha entrado.

99





CAPITULO 9


SURPRESA DESAGRAD��VEL

Maur��cio arrependeu-se de ter possu��do Floris-

bela quando j�� n��o tinha mais jeito. Agora, mais

do que nunca, sabia que seus problemas iam

aumentar. O que de fato aconteceu. A solteiro-





100


na perdeu-se de amores por ele e come��ou a

aborrec��-lo com os ci��mes que sentia de Marta.

O rapaz decidiu apressar os acontecimentos:

��� Por que a gente n��o se casa logo, Marta?

N��o ag��ento esperar. Quero que voc�� seja minha

o mais depressa poss��vel.

Marta procurou desprender-se dos seus bra��os:

��� Mas n��s ainda nem ficamos noivos, Mau-

r��cio!

��� E o que tem isso?

��� N��o acha que est�� sendo muito apressado?

��� N��o gosto nem de lembrar que ainda vai

demorar muito para sermos um do outro, Marta.

Se voc�� ag��enta �� porque n��o me ama.

��� O que v��o dizer os outros com um casa-

mento t��o repentino?

��� Quanta se trata da nossa felicidade, o que

importa o que as outras pessoas possam pensar?





101


Estavam no jardim da casa da mo��a, numa

noite de luar. Ele deitou-a na grama e recome-

��ou a beij��-la com ardor. Levantou-lhe o vestido

e come��ou a alisar-lhe as coxas.

��� Marta, eu n��o posso mais. Se n��o casar-

mos logo, sou capaz de fazer uma loucura.

��� Eu tamb��m lhe desejo muito, Maur��cio.

Voc�� tem raz��o. Amanh�� voc�� vem falar com

papai e me pedir em casamento.

Seu Nelson, pai de Marta, concordou com o

noivado, pois sempre fizera tudo o que a filha

queria. Argumentou, no entanto que ningu��m

conhecia Maur��cio direito na cidade e que sem

d��vida ele era pobre.

Mas Marta respondeu que isso n��o tinha a

menor import��ncia, uma vez que Maur��cio de-

monstrava ser um bom rapaz e poderia muito

bem trabalhar numa das fazendas que eles pos-

su��am.

Por outro lado, Seu Nelson ficou satisfeito por-

que s�� assim a filha deixaria de estudar fora e





102


permaneceria ao seu lado durante todo o ano.

Ele sempre temera que alguma coisa aconteces-

se �� mo��a durante os meses que passava estu-

dando em outra cidade.

Maur��cio esfor��ou-se para adqurir a confian��a

do pai de Marta, procurando mostrar que era um

rapaz s��rio, e tudo come��ou a andar conforme

os seus desejos.

O pai de Marta teve outra surpresa, ao saber

que os dois pretendiam casar o quanto antes.

��� Por que esta pressa? ��� perguntou, des-

confiado, �� filha.

��� O senhor n��o quer me ver feliz, papai?

��� N��o desejo outra coisa na vida.

��� Ent��o, n��o comece a p��r obst��culos. Eu

quero me casar com Maur��cio o mais r��pido pos-

s��vel. Ele �� o grande amor de minha vida.

* * *





103


Florisbela ficou possessa ao saber do noivado

de Maur��cio, mas ele soube apazigu��-la.

��� Voc�� vai me deixar? ��� perguntou a sol-

teirona, quase se desmanchando em l��grimas?

��� Claro que n��o, Florisbela.

��� E por que vai casar com Marta?

��� Porque ela �� muito rica.

��� �� s�� por isso?

��� Voc�� acha pouco?

��� E depois que casar, como a gente vai con-

tinuar se encontrando?

��� N��o se preocupe. Eu dou um jeito.

��� Como?

Ele n��o deixou que Florisbela permanecesse

falando. Deitou-a na cama e come��ou a acarici��-

la nas partes ��ntimas, possuindo-a a seguir.

* * *





104


O casamento de Maur��cio com Marta foi mar-

cado para o m��s seguinte. Mas uma nova on-

da de dissabores estava reservada para o rapaz.

A carta que fizera aos pais pedindo dinheiro, em

vez de resolver-lhe os problemas, conforme espe-

rava, complicou-lhe a vida irremediavelmente.

Alguns dias depois, Florisbela entrou em seu

quarto e avisou:

��� Maur��cio, tem um homem a�� dizendo que ��

seu irm��o.

��� Meu irm��o?

��� Sim. Posso mandar entrar?

��� Claro.

A solteirona saiu do quarto e pouco depois

Maur��cio viu Marcos entrando em seu aposento:

��� Veio trazer o dinheiro que eu pedi?

��� Trouxe, mas acontece que tenho um ne-

g��cio desagrad��vel para lhe dizer.





105


��� O que ��?

��� Seu Epaminondas descobriu que voc�� est��

aqui. Voc�� tem que sair imediatamente da cida-

de.

Maur��cio sentiu como se o ch��o fugisse de

seus p��s:

��� Como ele descobriu?

��� Lembra-se de Bernadete, a empregada l��

de casa? Pois acontece que ela tinha recebido di-

nheiro de Seu Epaminondas para vigiar a gente.

Quando recebemos sua carta, Bernadete conse-

guiu peg��-la escondido, descobrindo seu ende-

re��o. Eu viajei imediatamente e devo ter chega-

do antes de Seu Epaminondas. Parece que ele

estava tendo dificuldades em convencer Cl��udia a

vir junto, o que retardou sua viagem.

Seu Epaminondas era o pai de Cl��udia, uma

jovem que tinha sido namorada de Maur��cio em

sua terra. A mo��a engravidara, o rapaz fugira e

o velho jurara vingan��a, dizendo que iria at�� o





106


fim do mundo, a fim de obrig��-lo a casar de

qualquer maneira.

Maur��cio viajara por muitas cidades, at�� que

encontrara aquela onde resolvera se estabelecer,

muito distante do seu lugar de origem. Arrepen-

deu-se amargamente de ter feito a carta pedin-

do o dinheiro. Agora estava tudo perdido.

��� Cl��udia est�� com uma barriga enorme,

com sete meses de gravidez ��� informou-lhe o

irm��o.

��� Maldi����o! ��� exclamou Maur��cio batendo

com os punhos num arm��rio.

Atra��da pelo barulho, Florisbela surgiu �� por-

ta:

��� O que aconteceu, Maur��cio? Alguma no-

t��cia ruim?

Ele perdeu completamente a paci��ncia:

��� Suma j�� de minha frente, Florisbela.





107


A solteirona saiu correndo, amedrontada. Mau-

r��cio sentou-se na cama e colocou as m��os na

cabe��a:

��� E agora, o que eu vou fazer?

��� Fugir o mais r��pido que puder ��� acon-

selhou o irm��o.

��� Nunca! ��� exclamou Maur��cio.

��� Ent��o, o jeito �� casar com Cl��udia.

Tamb��m n��o.

��� Est�� querendo morrer? Todo mundo co-

mentava que Seu Epaminondas ia viajar com uma

espingada, a fim de lhe matar se n��o casar com

Cl��udia.

Maur��cio contou ao irm��o que estava noivo

da mo��a mais rica da cidade e com casamento

marcado para o m��s seguinte. N��o era agora que

iria desistir.

��� Mas Seu Epaminondas tem seu endere��o,

Maur��cio! A qualquer momento bate aqui.





108


O rapaz pensou um pouco:


��� J�� sei. Vou sair desta casa. Vamos para o

Hotel Girassol. Eu dou um outro nome e ele n��o

vai descobrir que estou l��.

��� E se ele se hospedar tamb��m no mesmo

hotel?

��� Existe uma outra pens��o na cidade. N��o ��

poss��vel que eu tenha tanto azar assim.

Naquela mesma noite, Maur��cio mudou-se.da

casa de Florisbela. Arrumou escondido sua ma-

leta e mandou que o irm��o sa��sse com ela, re-

servando um quarto para duas pessoas no hotel.

Marcos cumpriu as ordens e Maur��cio saiu da

casa da solteirona sem dizer-lhe nada.

�� noite, Florisbela, j�� desconfiada porque o

amante n��o viera jantar, procurou-o no quarto e

n��o o encontrou. Compreendeu que fora aban-

donada, uma vez que tamb��m as roupas do ra-

paz haviam desaparecido.





109


Atirou-se na cama e come��ou a chorar. Os

solu��os foram aumentando, incontrol��veis. Dona

Raimunda veio ver o que era e surpreendeu a

agarrada com o travesseiro de Maur��cio.

��� O que aconteceu, Florisbela?

��� Maur��cio foi embora.

��� E o que voc�� est�� fazendo na sua cama?

���- Eu desconfiei que ele n��o tinha voltado

pra casa e vim verificar. Maur��cio me deixou por

causa de Marta. E agora, o que �� que eu vou fa-

zer de minha vida?

* * ���

No outro dia, logo de manh�� bem cedo, um

��nibus chegou �� cidade. Entre as poucas pessoas

que desenbarcaram estavam Seu Epaminondas e

uma jovem gr��vida. Dirigiram-se diretamente pa-

ra a casa de Florisbela.

��� O Maur��cio est��? ��� perguntou o velho.





110


A solteirona, com os olhos inchados, pois pas-

sara a noite inteira chorando, respondeu:

��� Ele n��o mora mais aqui.

��� N��o tente me enganar.

��� N��o estou enganando. Ele foi embora on-

tem �� noite.

��� Sabe para onde foi?

��� N��o.

��� Mas ainda deve estar na cidade, n��o?

��� Est��, sim. Ele vai casar com a Marta.

��� Ele vai o qu��?

��� Casar com Marta, a mo��a mais rica daqui.

��� Quer me dizer onde mora esta mo��a?

��� O senhor anda por esta rua, dobra a pri-

P 111



meira �� direita e segue at�� o fim. L�� tem uma

casa branca muito bonita. �� l��.

Seu Epaminondas nem sequer agradeceu a in-

forma����o. Pegou a filha gr��vida por um bra-

��o e disse:

��� Vamos at�� l��.

Cl��udia, por��m, resistiu:

��� N��o acha melhor a gente ir primeiro at��

um hotel, onde eu possa descansar um pouco,

papai? Estas horas todas de viagem me deixa-

ram exausta. Al��m disso, estou morta de fome.

Maur��cio n��o vai poder fugir.

O velho concordou. Virou-se novamente para

Florisbela, que ainda estava na porta da casa,

observando os dois com curiosidade, e pergun-

tou.

��� A gente pode se hospedar aqui?

��� Minha casa n��o �� pens��o.





112


��� E como Maur��cio morava aqui? Como ex-

plica isso?

��� Bem, ele alugou um quarto durante algum

tempo porque eu estava passando por dificulda-.

des financeiras ��� explicou Florisbela, satisfeita '

por ter inventado uma mentira rapidamente.

Depois a solteirona informou que na cidade

havia a pens��o de Dona Suely e o Hotel Girassol,

indicando aos rec��m-chegados o caminho a se-

guir. ontem, por��m, que os dois partissem, per-

guntou:

��� O senhor podia me dizer por que est�� ��

procura de Maur��cio?

Seu Epaminondas respondeu:

��� Est�� vendo minha filha? Ela est�� gr��vida

de sete meses. Maur��cio, depois de fazer este

"trabalho", fugiu. H�� muito tempo que estou

atr��s dele para obrigar aquele vagabundo a casar.

Ou ele casa com Cl��udia ou eu mato aquele des-

gra��ado.





113


Florisbela sorriu, apesar da hist��ria t��o tr��gi-

ca. Um prazer enorme lhe invadiu a alma. Estava

vingada. Maur��cio n��o ficaria com ela, mas tam-

b��m, n �� o casaria com Marta. N��o tinha sido a

��nica que fora enganada. P114





CAPITULO 9


O NOVO HOSPEDE


Mauricio estava na casa de Marta, entre juras

de amor.

��� Eu o amo tanto, Mauricio.





115


��� Mesmo assim n��o estava querendo se casar

logo comigo.

��� Mas agora que meu pai concordou com

tudo e a data est�� se aproximando, eu vivo con-

tando os dias para que chegue o momento de

voc�� me levar ao altar.

Por mais que se esfor��asse para disfar��ar suas

preocupa����es, Maur��cio n��o conseguia deixar de

transparecer um certo nervosismo, que n��o pas-

sou despercebido' �� noiva. A presen��a de Seu

Epaminondas na cidade era uma amea��a para

que seu casamento com Marta n��o se realizasse.

��� Por que est�� t��o nervoso hoje, Maur��cio?

��� perguntou a mo��a.

��� N��o estou nervoso. �� que qevo ter comido

alguma coisa que me fez mal e n��o estou me

sentindo bem.

��� Depois que estivermos morando juntos,

nunca mais vai acontecer isso. Vou cuidar pes-

soalmente de sua alimenta����o.





116


Marta segurou a m��o do noivo com mais for-

��a e aproximou o rosto, a fim de beij��-lo.

��� * *

Seu Epaminondas mal podia conter sua im-

paci��ncia:

��� Ainda n��o acabou de se aprontar, Cl��udia?

A filha aproximou-se:

��� O que adianta eu me casar com Maur��cio,

se ele n��o me quer?

O velho deu a impress��o de que ia explodir

de raiva:

��� Adianta muita coisa. Pior �� voc�� conti-

nuar solteira com um filho. E n��o me fale nisso

outra vez. Voc��s v��o casar de qualquer jeito.

Os dois sa��ram do quarto do hotel e ganharam

a rua. Cl��udia seguia os passos do pai, obediente-

mente. Andaram na dire����o que Florisbela in-





117


dicara naquela manh�� e se encaminharam para a

casa de Marta.

Ao chegarem ao port��o do jardim do bonito

palacete branco, bateram palmas. Uma empre-

gada veio atender:

��� O que o senhor deseja?

��� Preciso falar com o dono da casa.

A criada abriu o port��o e fez os dois entrarem,

levando-os �� sala de espera. Indicou-lhes um so-

f�� onde os visitantes se sentaram. Alguns minu-

tos depois, o pai de Marta apareceu:

��� Est�� querendo falar comigo?

��� Exatamente. �� um assunto muito grave.

��� De que se trata?

��� O senhor conhece Maur��cio?

��� O noivo de Marta?





118


��� Ele mesmo. ��� Seu Epaminondas apontou

para Cl��udia. ��� Est�� vendo esta mo��a? �� mi-

nha filha. Tem apenas dezessete anos. Maur��cio

namorava com ela e depois de deixar a garota

gr��vida, fugiu da cidade onde morava.

O pai de Marta ouviu tudo estarrecido. De-

pois lembrou-se de que o que aquele homem de.

conhecido estava dizendo podia n��o ser a ver-

dade.

��� Como posso saber que o senhor n��o est��

mentindo?

��� �� muito f��cil. Basta botar a gente cara a

cara com aquele sem-vergonha. Ele n��o vai ter

peito de negar. O senhor sabe onde Maur��cio se

encontra neste momento?

��� Na sala ao lado, em companhia de minha

filha.

Seu Epaminondas sorriu vitorioso:

��� Ent��o podemos esclarecer tudo agora.





119


��� Queiram fazer o favor de me acompanhar

��� disse o dono da casa.

No momento em que os tr��s entraram na sala

onde Maur��cio estava, este ficou terrivelmente

p��lido e incapaz de articular uma ��nica palavra:

Seu Nelson dirigiu-se a ele, dizendo-lhe:

��� Este senhor acabou de me dizer que voc��

seduziu a filha dele e depois fugiu. �� verdade

essa hist��ria, Maur��cio?

Marta n��o sabia para quem olhar: se para a

mo��a gr��vida, para o pai dela ou para o noivo.

Cl��udia n��o resistiu e come��ou a chorar.

N��o era necess��rio mais nada para Marta com-

preender que Maur��cio n��o estava inocente. Sua

atitude demonstrava claramente que era culpa-

do.

��� Maur��cio, como voc�� explica tudo isso?



* * *

Naquele mesmo dia, Maur��cio foi embora da

cidade, junto com o irm��o, Cl��udia e Seu Epa-





120


minondas. O fato serviu de coment��rio durante

muito tempo. Todas as mulheres que ele havia

conquistado ali se sentiram vingadas. Suely, He-

lena, Marisa e Florisbela n��o resistiram e foram

ver o rapaz tomar o ��nibus que o levaria para

sempre. Dona Aninha tamb��m n��o poderia dei-

xar de comparecer por nada deste mundo. Quan-

to a Marta n��o quis falar com ningu��m a respei-

to do assunto e trancou-se em casa.

Dona Aninha, que nunca deixara de descon-

fiar de Maur��cio, comentou com Dona Fininha,

quando ambas assistiam televis��o:

��� Lembra-se quando eu lhe disse que Mau-

r��cio estava aqui fugindo de alguma coisa? Des-

de o come��o eu sabia que ele n��o prestava. Se

eu fosse mais jovem, era capaz de ter querido

me seduzir tamb��m. Mas de qualquer modo n����

se pode negar que sua presen��a na cidade fez

com que a gente tivesse um divertimento. Aqui

nunca acontece nada. . . P121

* * *





121


Em sua terra natal, Maur��cio casou-se com

Cl��udia; Apesar das condi����es em que a ceri-

m��nia foi realizada, n��o deixou de haver festa,

onde todos se divertiram, menos Maur��cio, evi-

dentemente. Estivera a um passo de se tornar

milion��rio. N��o se conformava em ter escrito

aquela maldita carta para casa pedindo dinheiro

aos pais. Se n��o fosse isso, Seu Epaminondas n��o

teria descoberto seu paradeiro e ele se teria ca-

sado com Marta. . .

* * *

Alguns dias depois, Marta viajou para conti-

nuar seus estudos. Florisbela continuou sentan-

do-se todas as tardes na porta de casa, conver-

sando com sua m��e. Sentia saudades de Maur��cio,

mas n��o se arrependera de ter-se deixado por-

suir por ele, pois pelo menos n��o passara a vida

em branco. Quanto a Suely e Helena, fizeram as

pazes e nunca mais mencionaram o nome do ra-

paz. '

Tudo voltou �� calma antiga. Mas numa ma-

nh�� de domingo, no ver��o seguinte, Dona Ani-





122


nha, que vivia muito chateada por causa da mo-

notonia da cidade, teve sua aten����o despertada

por algu��m que acabava de entrar na pens��o.

Levantou os olhos e parou de fazer o seu eterno

tric��.

O desconhecido que acabara de chegar diri-

giu-se a Suely. Era um rapaz bonito, com pouco

mais de vinte anos, cabelos longos e pretos. A

dona da pens��o estremeceu quando ele escreveu

o nome na ficha:

��� O senhor se chama Maur��cio?

O jovem sorriu e comentou:

��� Por que este espanto todo? N��o gosta do

meu nome?

Suely n��o respondeu e mandou a nova empie-

gada mostrar-lhe o quarto que lhe destinara. As-

sim que o rapaz se afastou, Dona Aninha falou:

��� Bonito rapaz, n��o ��? O que ser�� que ele

veio fazer aqui?





123


��� Como posso saber? ��� respondeu Suely

procurando dar um tom natural �� voz.

��� Ele disse que se chama Maur��cio, ou eu

ouvi mal?

Suely teve ��dio da velhinha:

��� Ele se chama Maur��cio mesmo. A senhora

ouviu perfeitamente.

Na hora do jantar, como n��o podia deixar de

acontecer, Dona Aninha sentou-se ao lado do

novo h��spede:

��� O que voc�� veio fazer neste fim de mundo?

��� Vim passar as f��rias.

��� Logo aqui? Por qu��?

��� Estou precisando de um lugar tranq��ilo

onde possa descansar.

O novo h��spede n��o entendeu por que Dona

Aninha lhe piscou o olho, mas sorriu divertido.





124





Logo em seguida fixou a vista em Suely e obser-

vou que, apesar da idade, ela era uma mulher ain-

da muito bonita.

Dona Aninha compreendeu que o rec��m-che-

gado iria provocar, como o outro Maur��cio, mui-

tas atribula����es na cidade. Esfregou ��s m��os de

contentamento. Tinha certeza de que iria diver-

tir-se muito nas pr��ximas semanas.

FIM

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125




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 Título do livro : Madrugada de Amor - Carlos Aquino

Sinopse:
 Maurício é estudante universitário. Filho de família rica.

             Certo dia, depois de "ofender" uma moça ele foge da sua cidade para uma cidade do interior. Lá, Maurício se hospeda numa pensão de uma viúva.


Digitalização  : Leandro Medeiros

Revisão : Equipe Bons Amigos

Sobre o autor:


 Escritor, jornalista e ator, Carlos Aquino nasceu em Sergipe, mas foi para o Rio de Janeiro ainda adolescente.Trabalhou em filmes e peças de teatro, mas finalmente descobriu que sua verdadeira vocação era escrever, passando a dedicar-se à literatura. Sua estréia foi com o romance: Verão no Rio em 1973. Com seu.estilo vigoroso e moderno, colocando sempre uma dose de verdade em seus personagens, ele  foi no século passado na década de 70 e 80  um dos escritores de mais prestigio junto ao público.  Detalhes sobre sua morte leia em : https://www.terra.com.br/istoegente/79/tributo/index.htm


Lançamento: Grupo Bons Amigos :  

http://groups.google.com.br/group/bons_amigos?hl=pt-br


Este e-book representa uma contribuição do grupo Bons Amigos  para aqueles que necessitam de obras digitais como é o caso dos Deficientes Visuais 

e como forma de acesso e divulgação para todos. 
É vedado o uso deste arquivo para auferir direta ou indiretamente benefícios financeiros. 
 Lembre-se de valorizar e reconhecer o trabalho do autor adquirindo suas obras .


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Áudios diversos:

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