a t e n d e r a o s deficientes visuais.
MADRUGADA DE AMOR
Carlos Aquino
C e d i b r a
Editora Brasileira Limitada
Copyright M C M L X X V I I
CEDIBRA ��� Editora Brasileira Ltda.
Direitos exclusivos para o Brasil:
Rua Filomena Nunes, 162 ��� ZC-22
20.000 ��� Rio de Janeiro, Capital
Distribu��do por:
FERNANDO CHINAGLIA Distribuidora S/A
Rua Teodoro da Silva, 907 ��� Rio, RJ
Copyright e impresso pela CIA. GR��FICA LUX
Estrada do Gabinal, 1.521 ��� Rio, RJ
O texto deste livro n��o pode ser, no todo ou em
parte, nem reproduzido, nem registrado, nem re-
transmitido, por qualquer meio mec��nico, sem a
expressa autoriza����o do detentor do copyright.
CAPITULO 1
UM ESTRANHO NA CIDADE
O trem parou na esta����o e Maur��cio desceu
com uma pequena mala na m��o, sua ��nica ba-
gagem. Dirigiu-se a um homem que estava sen-
tado num banco e perguntou onde poderia hos-
5
pedar-se. Ficou sabendo que na pequena cidade
s�� existiam dois hot��is.
��� Qual �� o mais barato?
��� A pens��o de Dona Suely
respondeu o
homem.
��� Como �� que eu fa��o pra chegar l��?
��� �� s�� ir por esta rua e dobrar na primeira,
�� esquerda.
Maur��cio seguiu na dire����o indicada. �� medi-
da que andava pela rua sem cal��amento, obser-
vava as casinhas baixas e as poucas pessoas que
passavam por ele. Dobrou na primeira esquina ��
esquerda e encontrou logo um velho sobrado on-
de havia uma tabuleta com a inscri����o: PENS��O
FAMILIAR.
Entrou e dirigiu-se a uma mulher de seus qua
renta anos, ainda bonita. Era a propriet��ria, Do-
na Suely. Pagou adiantado o pre��o referente a
vima semana, sem deixar de notar que uma ve-
lhinha de seus setenta anos, pequena e magrinha,
parara de fazer seu tric��, para observ��-lo. P��G 6
Dona Suely entregou ao rec��m-chegado a cha-
ve do quarto, enquanto chamava a empregada:
��� Marisa, quer acompanhar o novo h��spede?
Uma mulata bonita saiu do interior da casa,
vindo da cozinha, e subiu os degraus de uma es-
cada. O rapaz a seguiu olhando seus enormes
quadris movimentando-se com sensualidade.
��� �� aqui ��� disse Marisa parando em frente
a um dos quartos.
Ele colocou a chave na porta e abriu-a. Ma-
risa voltou a descer a escada, sem olhar para
tr��s, enquanto Maur��cio entrava no quarto, fe-
chando-o por dentro. Deitou-se na cama, assim
mesmo vestido, sem abrir a pequena mala, que
deixou num canto. Estava muito cansado e em
pouco tempo adormeceu.
* * *
��� Como �� nome dele? ��� perguntou Dona
Aninha, enquanto continuava tricotando.
��� Maur��cio ��� respondeu Suely, olhando a
ficha do novo hospede, P��G 7
��� �� um bonito rapaz. O que ser�� que veio
fazer nesta cidade?
��� Como posso saber? Acha que ia perguntar
isso ao mo��o assim que chegou?
Suely foi para a cozinha e deixou a velha
sozinha na sala. Dona Aninha era muito viva
e curiosa. Nunca tendo se casado e sendo amiga
da fam��lia de Suely, alugara a pr��pria casa e fora
morar na pens��o, onde j�� estava h�� muito tempo
como h��spede fixa.
Sempre tivera mania de querer descobrir os
segredos da vida ��ntima dos outros, e seu maior
divertimento consistia em ler hist��rias policiais,
o que lhe dera uma tardia voca����o para detetive.
A chegada de um desconhecido �� cidade agu-
��ava-lhe a mente. O que viera fazer aquele ra-
paz? O que pretendia? Parou novamente de tri-
cotar, levantou-se e foi ao encontro de Dona Fi-
ninha, que estava no outra sala, diante do apare-
lho de televis��o.
Dona Fininha tamb��m morava na pens��o. Da
mesma idade da outra, era, no entanto, comple-P 8
tamente diferente em apar��ncia e temperamento.
Muito gorda e rom��ntica, vivia recordando o pas-
sado quando o marido ainda vivia. Sua distra-
����o predileta eram as novelas de televis��o, e n��o
sentia a menor atra����o por hist��rias de crimes.
Apesar de muito amigas, viviam sempre brigan-
do por causa das diverg��ncias de opini��o.
��� Sabe que chegou um novo h��spede? ���
perguntou Dona Aninha.
��� N��o.
��� Voc�� precisava ver. Parece at�� gal�� de no-
vela de t��o bonito.
Ao ouvir isso, Dona Fininha mostrou um in-
teresse que at�� ent��o n��o tinha demonstrado. Dei-
xou de olhar o v��deo por alguns instantes e olhou
para sua interlocutora:
��� Como �� ele? �� bonito mesmo?
��� S�� vendo ��� respondeu Dona Aninha. ���
Deve ter uns vinte e cinco anos de idade. Alto,
forte e muito musculoso. O cabelo �� louro e os
olhos s��o t��o azuis que parecem duas contas. P9
��� Voc�� est�� inventando ��� disse Dona Fini-
nha, incr��dula. ��� Isso n��o �� um homem, mas
um pr��ncipe encantado.
��� Exatamente. Voc�� disse tudo. Ele parece
mesmo um pr��ncipe encantado. Custei a acredi-
tar no que estava vendo quando ele chegou. Mas
uma coisa me deixou muito desconfiada.
��� Desconfiada? Por qu��?
��� O que vem fazer um rapaz t��o bonito nes-
ta cidade?
��� Sem d��vida veio passear.
��� Passear? Num lugar horr��vel desses? N��o
acredito!
��� Puxa, Aninha, voc�� est�� sempre imaginan-
do coisas.
��� E n��o �� para imaginar? Preciso descobrir
o que ele veio fazer aqui. Boa coisa n��o ��. . .
* * *
10
Na hora do jantar, Maur��cio ficou conhecendo
os poucos h��spedes da pens��o. Dona Aninha
sentou-se ao seu lado na mesa, a fim de fazer
logo amizade e satisfazer sua curiosidade, ao
mesmo tempo que lhe apresentou os outros.
Assim, Maur��cio ficou conhecendo Dona Fini-
nha, Helena, uma jovem bonita sobrinha de Do-
na Suely, e mais dois senhores, fazendeiros das
redondezas.
��� Pens��o em cidade como esta quase n��o d��
lucro ��� comentou Dona Aninha. ��� N��o sei
como Suely consegue sobreviver. Quase n��o che-
ga gente nova por aqui. Por isso eu fico t��o con-
tente quando vejo um rosto desconhecido. A pro-
p��sito, como foi que voc�� veio parar nesta ci-
dade?
-��� Vim passar as f��rias ��� respondeu Maur��-
cio com naturalidade.
A surpresa da velhinha foi enorme:
��� Passar as f��rias?! Aqui?!
��� Por que n��o? Estava precisando de um
11
lugar pequeno e tranq��ilo onde pudesse descan-
sar.
��� Bem. . . tranq��ilidade �� o que n��o falta
neste deserto. De onde voc�� ��?
��� De S��o Paulo.
��� Da capital?
��� Sim.
��� Voc�� trabalha em qu��?
Com meu pai.
O que ele faz?
Tem uma loja de tecidos.
��� Quer dizer que voc�� �� rico?
Maur��cio riu:
��� N��o, n��o chego a ser rico.
Dona aninha teve receio de continuar seu in-
terrogat��rio, �� fim de que Maur��cio n��o a achas- P12
se inconveniente. Para uma primeira conversa, j��
descobrira muita coisa da vida do rapaz.
Ap��s o jantar, Dona Aninha convidou Maur��-
cio para ver televis��o ao lado dela e dos outros
h��spedes.
��� Se eu fosse mais jovem ia lhe mostrar a
cidade, mas nesta idade mal consigo andar. O
reumatismo n��o deixa. Helena, por que n��o sai
amanh�� com Maur��cio?
A sobrinha da dona da pens��o sorriu:
���- Se ele quiser. ..
Durante o resto da noite, Dona Aninha resol-
veu bancar o cupido, aproximando Helena de
Maur��cio. A jovem n��o queria outra coisa e o
rapaz compreendeu logo que estava com sorte
em seu primeiro dia naquele lugar. Observou os
seios firmes de Helena, suas pernas longas e bem
torneadas e n��o teve d��vidas de que estaria bem
servido durante sua temporada ali.
��s dez horas retirou-se para o quarto depois
de combinar sair com Helena na manh�� seguinte. P13
Depois que todos se recolheram, Dona Ani-
nha e Dona Fininha ainda ficaram na sala para
ver um filme antigo de Bette Davis que iria passar
naquela noite.
��� Ent��o, o que achou do rapaz? ���- pergun-
tou Dona Aninha em tom baixo.
��� Voc�� tinha raz��o quando disse que era
muito bonito ��� respondeu a outra.
��� S�� n��o acreditei naquela hist��ria de f��-
rias .
��� Por qu��?
��� Acha que algu��m vem passar as f��rias aqui,
Fininha?
��� N��o existe lugar melhor para se descan-
sar.
��� N��o sei por que, mas te��iho a impress��o de
que ele n��o me disse a v e r d a d e . . .
��� Por que iria mentir?
��� B e m . . . realmente n��o s e i . . . mas vou
descobrir.
14
As duas ainda ficaram conversando a respeito
de Maur��cio durante muito tempo. Finalmente,
come��ou o filme de Bette Davis anunciado. Do-
na Fininha suspirou, relembrando que assistira
��quele filme, trinta anos atr��s, junto com o fale-
cido marido.
Dona Aninha n��o conseguiu prestar muita
aten����o ao que se passava no v��deo., N��o sossega-
ria enquanto n��o tivesse certeza absoluta se era
verdade o que Maur��cio lhe dissera.
* * *
Em seu quarto, Maur��cio custou a adormecer.
Sentiu falta de uma companhia na cama. Lem-
brou-se de Helena e suas pernas bem torneadas.
Seus seios palpitando por baixo da blusa. Re-
cordou tamb��m o movimento sensual dos qua-
dris de Marisa, a empregada. N��o podia se con-
formar em estar morando sob o mesmo teto da-
quelas duas mulheres e ter que dormir sozinho.
Ficou mais animado ao pensar que era apenas
uma quest��o de tempo. Em menos de uma sema-
15
na, certamente, j�� teria conseguido levar uma
das duas para a cama. Ou talvez as duas, quem
sabe? P16
16
CAP��TULO 2
A MULATA
No dia seguinte pela manh��, Maur��cio estava
de sunga quando bateram na porta do quarto.
Foi abrir assim mesmo e viu que se tratava de
Marisa.
17
��� Bom dia, Seu Mar��cio. Posso entrar pra
arrumar seu quarto agora?
��� Claro ��� respondeu o rapaz com um sor-
riso c��nico.
A empregada entrou sem dar a entender que
notara que ele estava quase despido. Maur��cio
teve vontade de fechar a porta do quarto e abra-
��ar a mulata. Mas conteve-se. Afinal de contas,
podia ser que ela se ofendesse. Era preciso ter
paci��ncia.
Depois do caf�� da manh��, saiu com Helena
para conhecer a cidade, conforme havia sido com-
binado na noite anterior. Ela mostrou-lhe a rua
principal ��� a ��nica que era cal��ada ��� a pra-
cinha, o cinema, a i g r e j a . . . Em pouco tempo
j�� tinham percorrido todos os pontos da peque-
na cidade.
��� Como v��, n��o tem muito o que se conhe-
cer aqui ��� disse Helena sentando-se num ban-
co da pra��a.
��� Mas �� justamente de um lugar assim que
estou precisando. J�� cansei de viver na capital,
naquele corre-corre. P18
18
��� Eu tenho loucura para conhecer o Rio de
Janeiro, S��o Paulo, Belo Horizonte. ..
��� Voc�� nunca viajou?
��� J�� estive em Juiz de Fora. Mas n��o co-
nhe��o nenhum outro lugar.
O sol batia em cheio sobre os rostos dos dois.
O dia estava muito bonito. Helena observou os
olhos azuis de Maur��cio que se haviam tornado
mais claros ainda, quase transparentes. Ele. fi-
xou-a com o olhar. Tinha plena consci��ncia de
seu fasc��nio para com as mulheres.
��� Sabe que voc�� �� muito bonita?
Helena baixou a vista encabulada:
��� Eu?!
��� �� uma das mo��as mais bonitas que j�� vi
em minha vida.
��� N��o acredito. Voc�� deve conhecer tanta
mulher linda e civilizada.. .
��� Mas posso garantir que poucas se compa-
ram a voc��.
19
Maur��cio viu que havia chegado a hora de
avan��ar um pouco, Segurou uma das m��os da
jovem. Ela procurou retir��-la, mas ele n��o dei-
xou, apertando-a um pouco. Helena falou:
��� Est�� na hora da gente voltar.
��� J��?
��� Deve ser quase meio-dia. Tia Suely detes-
ta quando a gente atrasa pro almo��o.
��� Seus pais n��o moram aqui?
��� Eles j�� morreram. Eu fui criada por minha
tia.
��� Dona Suely ainda �� solteira?
��� N��o. Vi��va.
* * *
Os passeios com Helena sucederam-se. Mas
Maur��cio compreendeu que ia levar tempo para
conseguir maiores intimidades com a mo��a. De-
duziu que ela provavelmente seria virgem e ele
n��o estava disposto a se meter em complica����es.
Por esta raz��o, voltou suas aten����es para Marisa
e, cada vez que a mulata entrava em seu quar-
to, procurava ser o mais simp��tico poss��vel.
20
Dois dias depois, n��o resistiu. Como- sempre,
estava de sunga quando abriu a porta para a em-
pregada. Enquanto ela arrumava sua cama, apro-
ximou-se por tr��s e encostou-se. Marisa recuou.
Ele afastou-se, apanhou um cigarro e come��ou
a fumar, sem saber se devia ou n��o insistir.
Quando viu que ela estava prestes a sair do
quarto, achou que n��o podia mais adiar. Era ur-
gente levar Marisa para a cama. H�� v��rios dias
que n��o tinha uma mulher e seu desejo se tornara
insuport��vel. Por um instante notou que a mula-
ta o olhou disfar��adamente. Compreendeu o
quanto estava sendo tolo em n��o revelar aberta-
mente suas inten����es.
Aproximou-se de novo da mulata e segurou-
lhe o bra��o. Ela virou-se com ar de espanto.
Maur��cio beijou-a. Marisa teve uma pequena rea-
����o como se quisesse desprender-se, mas o ra-
paz compreendeu que tudo n��o passava de fin-
gimento.
Segurou-lhe os seios com firmeza e depois aca-
riciou-lhe os quadris, levando-a para a cama.
��� N �� o . . . ��� protestou Marisa.
��� Por que n��o?
21
��� N��o posso fazer isso.
Deixe de bobagem. ..
��� Se Dona Suely me pegar aqui. . .
Mas o protesto era muito d��bil. Ela j�� estava
deitada na cama com Maur��cio, que tirara a sun-
ga e procurava caminho entre suas coxas. De
repente, Marisa empurrou-o e saltou da cama,
como um animal assustada, procurando se re-
compor.
O que deu em voc��?
��� Se Dona Suely souber. . .
Ele n��o vai saber.
Vai, sim. N��o posso demorar muito tempo
em seu quarto.
-��� N��o v�� embora ��� suplicou Maur��cio.
Marisa alcan��ou a porta:
Se quiser em venho aqui outra hora.
��� Quando? P22
��� Hoje de madrugada.
��� Vem mesmo?
��� Claro.
Marisa saiu rapidamente. Maur��cio, apesar de
um tanto frustrado, pois n��o sabia se podia
ag��entar ainda muitas horas sem possu��-la. Fi-
cou, no entanto, mais ou menos satisfeito. Pelo
menos tinha a certeza de que naquele mesmo dia
acabaria com o jejum de amor for��ado em que
se encontrava.
Passou a tarde passeando com Helena. Mal
podia suportar a chegada da noite. Depois do
jantar teve de suportar a conversa de Dona Ani-
nha:
��� Ent��o, est�� gostando da cidade?
��� Muito.
��� Sabe que custo a acreditar que esteja real-
mente gostando daqui?
* * *
Os minutos custavam uma eternidade para pas-
sar. Maur��cio arrependera-se por n��o ter pergun-
23
tado a que horas exatamente Marisa viria. Dei-
xara a porta do quarto apenas encostada e dei-
tara-se na cama, fumando um cigarro depois do
outro.
Ela viria �� meia-noite? Ou seria mais tarde? O
sil��ncio era completo. Provavelmente todos j�� es-
tavam dormindo. Marisa n��o deveria demorar.
Ouviu as doze badaladas do rel��gio. Meia hora
depois, Marisa ainda n��o tinha chegado. O que
estaria esperando? Por que n��o vinha logo?
Uma hora da madrugada. Uma e meia. E a
mulata nada de aparecer. Maur��cio come��ou a
pensar que ela o havia enganado. Apenas pro-
metera vir, a fim de se livrar dele. E sua madru-
gada de amor, pela qual tanto ansiava, podia
n��o acontecer.
Subitamente viu que a porta estava sendo aber-
ta devagar.
��� �� ela! ��� pensou.
Mas logo a seguir ouviu um miado. Olhou
para baixo e viu um gato entrando no quarto.
Teve vontade de esgan��-lo. Levantou-se e em-
purrou o animal, que saiu correndo pelo corredor.
24
Novamente deitado, Maur��cio n��o teve mais
esperan��as de que a mulata aparecesse.
Ouviu as duas batidas do rel��gio. Fumou mais
um cigarro. Mentalmente xingava a empregada
e maldizia n��o t��-la possu��do �� for��a naquela
manh��. Preparou ent��o uma vingan��a. No dia
seguinte, quando Marisa viesse arrumar o quarto,
pegaria �� for��a a mulata e faria sexo com ela
de qualquer maneira.
S�� ent��o lembrou-se de que tinha errado em
deixar a luz acesa at�� aquela hora. E se Dona
Suely reclamasse por estar gastando muita ener-
gia?
De repente lembrou-se de que talvez Marisa
n��o tivesse aparecido justamente por isso. Apro-
ximou-se do interruptor e apagou a luz, deixan-
do no entanto a porta entreaberta.
Com efeito, alguns minutos depois, na semi-
escurid��o, notou que a porta estava sendo em-
purrada levemente e viu o vulto de Marisa en-
trando. Ela deu a volta na chave e aproximou-se
da cama.
Maur��cio perguntou baixinho:
25
��� Por que demorou tanto?
Marisa colocou o dedo nos l��bios, pedindo
para n��o falar, e respondeu num sussurro:
��� Voc�� n��o devia ter deixado a luz acesa.
Todo cuidado �� pouco. Al��m de Dona Suely,
tem Dona Aninha que �� muito fofoqueira.
O rapaz n��o disse mais nada. Mesmo porque
n��o queria saber de nenhuma outra explica����o.
O que importava era que o corpo da mulata es-
tava de encontro ao seu.
Tirou-lhe o vestido e lhe acariciou os quadris.
Como era bom ter um corpo nu de mulher co-
lado ao seu! H�� mais de duas semanas que n��o
fazia sexo. Sua ansiedade para possu��-la era tanta,
que n��o perdeu tempo, penetrando sem maiores
pre��mbulos a carne quente que se oferecia. . .
Marisa continha-se o mais poss��vel para n��o
gemer de prazer. Mordia os pr��prios l��bios para
n��o deixar escapar o menor ru��do. Maur��cio con-
seguiu logo o orgasmo, mas continuou dentro do
corpo da mulher. Depois de tanto tempo sem fa-
zer amor, uma vez s�� n��o era o suficiente.
26
S�� muito tempo depois Marisa deixou o quar-
to do rapaz. Sentia o corpo dolorido e saciado.
Antes de ir embora prometeu voltar na madru-
gada seguinte. P 27
27
CAP��TULO 3
AMOR NO CAMPO
A partir desse dia, Marisa passou a voltar ao
quarto de Maur��cio todas as noites. Enquanto
isso, ele continuava com seus passeios inocentes
durante o dia com Helena. Esta, aos poucos, dei-
28
xava-se acariciar pelo rapaz, at�� trocarem o pri-
meiro beijo.
��� Minha tia n��o pode saber disso.
��� Por que tem tanto medo?
��� Ela �� muito religiosa. Nunca vai admitir
que a gente possa estar namorando.
��� Ora, Helena, se n��s sa��mos todos os dias
juntos e ela ainda n��o reclamou. Claro que
deve saber. ..
Helena o interrompeu:
��� Quem foi que disse que ela n��o reclamou?
Ontem mesmo falou que esses nossos passeios
deviam acabar. Ent��o, eu lhe disse que n��o ha-
via nada entre a gente, que ��ramos como irm��os.
S�� concordou em deixar que sa��sse de novo com
voc�� depois que prometi que a gente nunca iria
pra nenhum local deserto onde n��o passasse nin-
gu��m.
��� Pois eu acho que dev��amos fazer justa-
mente o contr��rio.
29
��� Voc�� �� maluco?
��� Por voc��.
Maur��cio aproximou o rosto do de Helena e
beijou-a na boca. Ela desprendeu-se rapidamente
e levantou-se do banco onde se encontravam.
��� Se algu��m viu, vai contar logo para minha
tia.
O rapaz come��ou a rir:
��� Por isso �� que devemos ir para um lugar
deserto, onde n��o possam ver o que estamos
fazendo.
Maur��cio come��ou a andar, afastando-se de
Helena. Sua inten����o era que a jovem o acompa-
nhasse. Esta, vendo-se no meio da pra��a sozi-
nha, entendeu perfeitamente o que ele estava pre-
tendendo. Quando viu que Maur��cio j�� tinha an-
dando uns dez metros, seguiu em sua dire����o,
apressando o passo para alcan����-lo.
Ele continuou andando em frente, sempre
acompanhado pela jovem que ia um pouco atr��s,
olhando assustada para todos os lados, a fim
30
de se certificar de que n��o estava sendo vista por
ningu��m.
Em pouco tempo tinham deixado as casas para
tr��s e entravam numa estrada deserta. Maur��cio
saiu da estrada e enveredou pelo mato. Helena
o seguiu. Quando ele notou que era absolutamen-
te imposs��vel que pudessem ser vistos, parou.
��� O que voc�� veio fazer aqui? ��� perguntou
Helena um tanto assustada.
��� Adivinhe!
Maur��cio segurou-a pela cintura e beijou-a de-
moradamente. Suas l��nguas se encontraram e He-
lena parecia que ia desmaiar de prazer. Depois
ele a soltou e deitou-se na grama, perguntando:
��� Quantos anos voc�� tem?
__Vinte e dois.
��� Nunca conheceu um homem?
A mo��a desviou o olhar:
31
��� Que conversa mais esquisita. ..
��� N��o vejo nada de esquisito nisso. S�� es-
tou querendo saber se voc�� j�� esteve na cama
com um homem antes.
��� O que voc�� julga que eu sou, Maur��cio?
��� Uma mo��a bonita, com quem tenho von-
tade de fazer amor.
Mal acabou de falar, agarrou novamente He-
lena e deitou-se por cima dela. Desabotoou seu
vestido e come��ou a acariciar-lhe os seios, en-
quanto a beijava. Sentiu que Helena correspon-
dia plenamente e decidiu n��o perder tempo, le-
vantando-lhe a saia e pegando-lhe no sexo por
cima da calcinha. Depois colocou a m��o por
dentro desta e alisou-lhe os pelos �� m i d o s . . .
��� N��o, Maur��cio, n��o abuse de mim. ..
Ele n��o lhe deu ouvidos e come��ou a tirar-lhe
a calcinha. Vendo o sexo da jovem, come��ou a
beij��-lo. Nada mais poderia faz��-lo recuar.
32
��� Maur��cio. . . eu n��o quero. . . eu n��o que-,
r o . . . ��� murmurava Helena com a voz entre-
cortada, mas sem fazer nenhum movimento que
confirmasse o que dizia.
O rapaz compreendeu que a jovem n��o queria
outra coisa, a n��o ser deixar-se possuir por ele.
Assim, satisfez seu desejo. . .
* * *
Quem foi o primeiro?
���
��� Por que quer saber?
��� Por nada. Simples curiosidade.
Maur��cio estava um pouco irritado por ter-se
deixado enganar por Helena. Ela n��o era mais
virgem e fingira t��o bem, que julgara tratar-se
de uma mo��a inocente. No entanto, a verdade ��
que j�� tinha sido de outro. Ou de outros. Talvez
at�� j�� tivesse tido rela����es com muitos homens.
E ele perdendo tempo, com receio de avan��ar o
sinal, durante mais de uma semana.
33
��� Por que fingiu esse tempo todo? ��� Ela
n��o respondeu. Maur��cio continuou falando. De-
testava ser enganado: ��� V�� ver j�� andou com
a cidade inteira.
��� �� mentira. S�� foi um.
��� Quem foi?
��� Voc�� n��o conhece ningu��m aqui. N��o
adianta lhe dizer.
��� Acha que vou acreditar que s�� teve um
homem antes de mim?
��� Foi s�� um; o Leonardo. Ele prometeu que
ia casar comigo. Voc�� n��o vai contar nada pra
minha tia, n��o ��?
Maur��cio teve pena da mo��a. Afinal, tinha
tido o que queria. Por que estava t��o irritado?
Devia sentir-se feliz, porque agora, com apenas
dez dias na cidade, tinha duas mulheres �� sua
disposi����o para satisfazer todos os seus capri-
chos.
34
Virou-se para Helena e beijou-a:
��� N��o vou dizer nada pra ningu��m. Pode
ficar descansada.
��� Est�� com raiva de mim?
��� N��o. S�� fiquei chateado porque voc�� me
enganou. Mas j�� passou.
Ele olhou o campo �� sua volta e teve uma sen-
sa����o de grande tranq��ilidade. Ouviu um galo
cantando ao longe. Um p��ssaro al��ou v��o. Hele-
na olhava-o com ternura. Uma brisa suave so-
prava, levantou-lhe os cabelos.
Pensou em tornar a possuir a jovem, mas de^
sistiu ao lembra-se de que �� noite iria receber
a visita de Marisa em seu quarto.
* * *
Dona Aninha, por mais que procurasse, n��o
conseguia descobrir nada de suspeito em Maur��-
cio. Mas nem por isso renunciara �� sua id��ia de"
que ele guardava um segredo. N��o lhe .entrava
35
na cabe��a que um jovem bonito e saud��vel esti-
vesse naquela cidade horr��vel apenas passando as
f��rias.
A velhinha estava na varanda quando Helena
chegou sozinha.
��� Onde est�� Maur��cio? ��� perguntou Dona
Aninha.
��� N��o sei.
��� Ele n��o estava com voc��?
��� N��o.
��� Voc��s n��o sa��ram juntos?
��� Mas eu tive que ir �� casa de Elisa e ele
me disse que ia passear pelo campo.
Dona Aninha piscou o olho:
��� Pensa que acredito nisso?
��� �� verdade. Juro.
Helena n��o adiantou conversa e entrou em ca-
sa. O sol j�� estava se pondo no horizonte. Dona
36
Aninha sorriu maliciosamente. Pouco depois,
avistou Maur��cio que apontou no fim da rua.
��� Ol��, Dona Aninha, apreciando o crep��s-
culo? ��� perguntou o rapaz ao chegar, procuran-
do ser agrad��vel.
��� O que voc��s estavam fazendo?
��� Voc��s?
��� Sim. Voc�� e Helena!
��� Eu n��o estava com Helena. Acho que ela
foi �� casa de uma amiga ��� disse Maur��cio,�� lem-
brando-se do que havia combinado com a ga- .
rota, no caso da velha come��ar a fazer pergun-
tas indiscretas.
��� Voc��s podem enganar qualquer um, me-
nos a mim. O que �� que tem dizer a verdade?
N��o vejo nada demais. Fa��o muito gosto do naT
moro de voc��s.
��� Mas n��s n��o estamos namorando, D o n a ,
A n i n h a . . .
37
Maur��cio tamb��m procurou se desembara��ar
da velha o mais r��pido poss��vel. J�� estava come-
��ando a se chatear com sua excessiva curiosidade.
�� noite, observou que Dona Suely estava mal-
humorada. Ali��s, essa atitude n��o tinha come-
��ado propriamente naquele dia. H�� algum tem-
po j�� que notara uma certa animosidade mal dis-
far��ada por parte da propriet��ria da pens��o. Mes-
mo assim n��o p��de deixar de notar que ela estava
com um vestido com um decote um pouco maior
do que habitualmente usava.
Um pensamento irreverente lhe passou pela
cabe��a. Dona Suely estava vi��va j�� h�� algum tem-
po. Como podia suportar viver sem um homem?
Ainda era uma mulher na plenitude da vida. Se-
r�� que aquele decote n��o significava alguma coi-
sa? N��o seria uma maneira de lhe dizer que ainda
era bastante desej��vel?
Maur��cio sentiu que n��o ia resistir ao impulso
de querer tamb��m conquistar Suely. Nunca pude-
ra ver uma mulher que n��o pensasse logo em
possu��-la. Mas como quebrar o gelo e se apro-
38
ximar de Suely? Mas n��o seria temer��rio tor-
nar-se amante, ao mesmo tempo, de tr��s mulhe-
res que moravam na mesma casa? Aquilo s�� po-
deria lev��-lo a meter-se em situa����es complica-
das.
No entanto, n��o resistiu em lan��ar olhares sig"
nificativos �� dona da pens��o, que por sua vez,
n��o deixou de observar o fato. Suely, apesar de
n��o querer dar a entender que sentia atra����o pelo
rapaz, ficava lisonjeada ao compreender que ele
tamb��m a desejava.
39
CAPITULO 4
A TERCEIRA CONQUISTA
Maur��cio passou a tratar Suely com uma aten-
����o um pouco maior do que a normal, mas sem-
pre sem deixar que ningu��m percebesse, a n��o
ser a pr��pria interessada. No entanto, Dona Ani-
40
nha, com seu faro de detetive, entendeu o que
se estava passando e n��o resistiu em comentar
com Dona Fininha o que tinha descoberto.
��� Fininha, voc�� n��o sabe o que venho ob-
servando! . ..
��� O que ��?
��� Maur��cio, apesar de t��o bonito e simp��-
tico, n��o �� um bom-car��ter.
��� Voc�� ainda continua desconfiando do ra-
paz?
��� Mais do que nunca.
��� Ele parece ser t��o bonzinho...
��� Bonzinho nada. Imagine que est�� namo-
rando a Helena e, no e n t a n t o . . . ��� Dona Ani-
nha procurou fazer suspense, n��o completando a
frase.
��� No entanto o qu��?
��� Est�� querendo conquistar tamb��m a Suely.
A outra arregalou os olhos de espanto:
41
��� Suely?!
��� Ela mesma.
��� N��o diga uma coisas destas, Aninha!
��� Digo, sim.
��� Suely �� uma mulher muito direita. Nunca
vai dar aten����o a um rapaz.
��� N��o sei n��o. Sabe como ��, afinal de con-
tas ele ficou vi��va muito cedo. Deve sentir-se
muito s��.
��� Cuidado com o que est�� dizendo, Aninha.
H��o procure manchar a reputa����o de Suely.
��� N��o estou falando que ela v�� cair nos bra-
��os de Maur��cio. Longe de mim querer insinuar
tal coisa. O que quero dizer �� que ele �� um per-
feito mau-car��ter, querendo conquistar a tia e a
sobrinha ao mesmo tempo. J�� me arrependi at��
de t��-lo aproximado de Helena.
��� Olhe, Aninha, n��o concordo de jeito ne-
nhum. Voc�� est�� sempre vendo maldade onde n��o
existe.
42
��� N��o precisa me ofender. Voc�� �� que vive
fora da realidade. S�� entende de novela de tele-
vis��o. Da vida real voc�� n��o pesca nada, Fini-
nha. A intelig��ncia n��o �� o seu forte.
��� Agora �� voc�� quem est�� me ofendendo.
��� O melhor mesmo �� a gente parar de agre-
dir uma �� outra, n��o acha? Afinal de contas,
somos amigas desde crian��as. E l�� se vai mais de
meio s��culo. . .
Antes de sair do quarto da amiga, Dona Ani-
nha ainda disse:
��� Este rapaz est�� escondendo alguma coisa
da gente. Quem sabe ele n��o est�� fugindo de al-
gu��m? Pode ser at�� que seja um ladr��o ou cri-
minoso que quer escapar da pol��cia e veio se
esconder aqui.
��� Que horror! Voc�� tem uma imagina����o
muito f��rtil, isso sim.
��� Vou descobrir o passado de M a u r �� c i o . . .
custe o que custar.
* * *
43
Maur��cio n��o conseguiu mesmo resistir �� com-
puls��o de estar sempre pensando em uma pr��xi-
ma conquista. Apesar do bom senso lhe afirmar
que uma aproxima����o mais ��ntima com Suely o
expunha a diversos perigos, n��o estava disposto
a renunciar a lev��-la para a cama.
Enquanto isso, continuou a encontrar-se com
Helena �� tarde no campo e com Marisa de ma-
drugada no quarto. No entanto, passou a tratar
Helena com a maior frieza diante dos outros, a
fim de que Suely pensasse que ele n��o tinha mais
-interesse pela jovem. Esta, por sua vez, concor-
dou com a t��tica, porque assim ficaria livre das
reclama����es da tia.
- .Come��aram ent��o a sair de casa em horas di-
ferentes e s�� se encontravam no meio do mato,
onde tinham certeza de que n��o poderiam ser
surpreendidos por ningu��m.
Todos os dias, quando se dirigia para os en-
contros secretos com Helena, Maur��cio via, sen-
tada na porta de uma casa, uma mulher mais
ou menos da idade de Suely, sempre conversan-
do com uma velhinha. Compreendeu tratar-se de
m��e e filha, pois ambas possu��am o mesmo nariz
enorme, parecendo o bico de um papagaio. N��o
deixava de observar tamb��m que, todas as vezes
44
que passava, a mulher mais nova o acompanhava
com o olhar.
"Se fosse um pouquinho menos feia at�� que
eu ia para a cama com ela", pensava Maur��cio
divertindo-se consigo mesmo.
Uma semana depois, ele j�� conseguira uma cer-
ta aproxima����o com Suely, procurando conver-
sar com ela sempre que n��o havia ningu��m por
perto.
Finalmente, uma tarde em que Suely estava na
janela, sozinha, chegou perto e ficou ao seu lado/
olhando a rua.
��� A senhora sempre viveu aqui?
��� Nasci e me criei nesta cidade.
��� Seu marido morreu h�� muito tempo?
��� H�� cinco anos e sete meses.
��� Deve ser muito dif��cil viver s o z i n h a . . .
��� J�� me acostumei ��� disse Suely.
45
��� N��o creio nesta teoria de que as pessoas
se acostumam com qualquer coisa.
Maur��cio aos poucos tinha se aproximado mais
de Suely e estava quase ro��ando seu bra��o no
dela. A mulher fingia n��o estar percebendo aque-
la aproxima����o, mas seu cora����o batia mais for-
te e seu peito arfava.
��� A gente pode n��o se acostumar, mas se
conforma.
��� N��o quando sente a vida pulsando, o san-
gue correndo nas veias.. .
O bra��o dele encostou de leve no de Suely.
Ela n��o o afastou e Maur��cio manteve o contato.
A mulher olhava para a rua, sem coragem de
encarar o- rapaz. Uma crian��a passou correndo na
cal��ada.
��� Quando o senhor vai embora?
��� Ainda n��o sei ��� respondeu Maur��cio. ���
Estou gostando daqui. Talvez n��o tanto da ci-
dade, como de algumas pessoas.
Ele a encarou. Suely sentiu que n��o podia mais
disfar��ar a emo����o, quando o ouviu acrescentar:
46
��� Por favor, n��o se ofenda, mas eu. ���
fingiu estar tamb��m emocionado ��� eu sim-
patizo muito com a senhora.
Maur��cio compreendeu que seria naquela mo-
mento ou nunca. Segurou os ombros de Suely e
fez com que ela o olhasse:
��� Por que foge de mim?
��� Mas eu n��o fujo do s e n h o r . . .
Neste momento, ouviram passos e Suely afas-
tou-se da janela.. Dona Aninha entrou na sala
e perguntou:
��� Voc�� estava aqui, Suely?
��� Estava olhando a rua.
A velhinha dirigiu-se ao rapaz:
��� N��o saiu hoje, Maur��cio?
��� Ainda n��o. Mas acho que vou dar uma
volta por a��. Talvez v�� ao cinema. N��o quer
ir assistir ao filme comigo, Dona Aninha?
47
��� Que convite maravilhoso! Mas claro que
quero, Maur��cio. Voc�� �� um rapaz formid��vel!
* * *
Maur��cio come��ou a planejar como fazer para
que Suely fosse sua. N��o precisou pensar muito
para arquitetar um plano. Naquela mesma noite
falou para Marisa, quando ela apareceu em seu
quarto de madrugada:
��� Acho melhor voc�� n��o vir aqui todos os
dias.
��� Por qu��? J�� enjoou de mim? Pensa que n��o
,sei do seu caso com Helena?
��� N��o se trata disso, Marisa.
��� O que ��, ent��o?
��� Dona Aninha hoje, quando saiu comigo,
veio com uma conversa estranha, umas indire-
t a s .
��� Ser�� que ela desconfia de alguma coisa?
��� Acho que sim.
48
��� Aquela velha n��o presta! Est�� sempre se
metendo onde n��o �� chamada. Tem uma l��ngua
maior do que ela.
��� Por isso penso que �� melhor voc�� passar
uma semana sem aparecer. Tenho a impress��o
de que anda vigiando o meu quarto.
��� �� bem capaz. . . E a gente n��o vai se en-
contrar mais?
��� Voc�� deixa de vir apenas durante alguns
dias. Talvez uma semana. Vou ficar de olho na
velha. Mesmo que ela esteja me vigiando, depois
que verificar que n��o vem ningu��m ao meu quar-
to de noite, desiste e a gente fica com o campo
livre de novo.
* * *
Como Marisa concordara em se afastar duran-
te uma semana, Maur��cio p��de levar avante seu
plano. Na manh�� seguinte, procurou chegar per-
to de Suely quando esta estava sozinha �� colo-
cou-lhe um bilhete na m��o. Ela guardou o pe-
da��o de papel rapidamente, antes que algu��m
pudesse ver, e dirigiu-se para seu quarto a fim
de ler o que estava escrito:
49
"Estou te esperando em meu quarto esta
noite".
Sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. Leu
e releu v��rias vezes. Ao mesmo tempo que estava
furiosa com a ousadia de Maur��cio, viu que n��o
iria resistir ao convite. Desde que aquele rapaz
chegara �� sua pens��o, tivera um pressentimento
de que n��o escaparia. Nunca sentira tanta atra����o
por uma pessoa quanto por Maur��cio.
H�� mais de cinco anos que vivia se reprimindo.
Mal olhava para os homens, com medo de deixar
de ser a mulher honesta que sempre fora. N��o
poderia nunca ter rela����es sexuais com algu��m
do lugar, pois sabia que o falat��rio seria grande
e muita gente deixaria at�� de falar com ela.
Assim, conseguiu resistir a diversas tenta����es,
impondo-se a si mesma uma r��gida disciplina.
- Mas �� noite, em seu quarto, tinha crises de
choro por causa de sua solid��o. Maur��cio dissera
a verdade. Ela ainda tinha sangue nas veias. A
vida ainda pulsava dentro dela com intensidade.
E, diante de um homem como ele, precisava ser
de pedra para poder resistir.
Principalmente agora, que sabia que o rapaz
tamb��m a desejava. E muito. Sen��o, n��o teria
50
sido t��o ousado. Passou o resto do dia atormen-
tada e desejou que a noite n��o chegasse nunca.
Pois tinha certeza de que n��o ia ter for��as para
deixar de atender ao apelo do rapaz e, ao mesmo
tempo, tinha medo de ir ao seu encontro. P 51
CAPITULO 5
NO SIL��NCIO DA NOITE
�� noite finalmente chegou. Durante o jantar,
Suely n��o olhou para Maur��cio uma ��nica vez,
o que fez com que o rapaz ficasse sem saber se
ela estava ofendida, ou apenas n��o queria dar
52
nenhuma pista �� Dona Aninha, sempre disposta
a encontrar inten����es ocultas nos menores gestos.
Assim que todos acabaram de comer, Suely
arranjou uma desculpa qualquer e foi logo dei-,
tar-se. Desejou ardentemente adormecer logo e
s�� acordar no dia seguinte, a fim de fugir' �� -ten-
ta����o. Mas tal n��o aconteceu. Seu corpo ardia de
desejo, e na escurid��o quase completa do quarto,
imaginava-se sendo possu��da por Maur��cio. . .
O rapaz assistiu televis��o junto com os outros
h��spedes e depois foi dar uma volta pelas ruas
desertas. Quase n��o se ouvia nenhum ru��do -a
n��o ser o latido de um ou outro cachorro. Olhou
a Lua no c��u e passeou pela pra��a. Quando viu
que j�� eram quase onze horas, retornou �� pens��o..
Como costumava fazer todas as noites para
que Marisa entrasse em seu quarto, deixou a
porta apenas encostada. S�� que agora n��o estava
esperando pela mulata, mas por Suely. Devido ��
relativa dificuldade da conquista, estava mais ex-
citado do que nunca.
53
Os minutos passavam e Suely teve plena cons-
ci��ncia de que sua carne era t��o fraca quanto a
das outras pessoas. Levantou-se sem fazer ru��do
e saiu do seu aposento descal��a, a fim de que
ningu��m pudesse ouvir seus passos.
Andou pelo corredor p�� ante p�� e come��ou a
subir os degraus da escada. Nesse instante ouviu
o barulho de uma porta sendo aberta e perce-
beu que algu��m se aproximava. Pensou em correr
de volta ao seu quarto, mas era tarde. Dona Ani-
nha j�� estava quase do seu lado.
��� O que est�� fazendo, Suely? ��� perguntou
a velha num tom de voz curioso e cheio de ma-
l��cia.
"Suely teve presen��a de esp��rito suficiente para
inventar uma mentira, que julgou mais ou menos
convincente:
��� A senhora n��o ouviu?
��� O qu��?
��� Um barulho l�� em cima?
54
��� N��o, n��o escutei nada ��� respondeu Dona
Aninha.
��� Ouvi uns passos. Pensei que talvez um la-
dr��o tivesse entrado aqui em casa e ia verificar.
��� E voc�� tem coragem de enfrentar um la-
dr��o sozinha?
��� Desde que meu marido morreu, que en-
frento tudo s��, Dona Aninha. Isso n��o �� novi-
dade.
Do seu quarto, Maur��cio ouviu as "vozes das
duas e entreabriu a porta, vendo Suely Dona
Aninha conversando. Entendeu o que estava; se
passando e maldisse a presen��a daquela velha na
pens��o, que n��o fazia outra coisa a n��o ser atra-
palhar a vida de todo mundo.
Depois de procurar junto com Dona Aninha
o hipot��tico ladr��o, Suely voltou ao seu quarto
mais frustrada do que nunca. Enquanto isso,
Maur��cio n��o teve outra op����o a n��o ser passar
a noite sozinho. Apenas uma coisa o consolava:
Suely tentara vir ao seu encontro, o que provava. '
que mais cedo ou mais tarde seria dele.
55
O ��nico problema era conseguir despistar Do-
na Aninha. A solu����o lhe apareceu alguns mo-
mentos depois, e no outro dia deu um jeito de
colocar na m��o de Suely um novo bilhete, que
dizia o seguinte:
"Para evitar o que aconteceu ontem, pen-
sei numa solu����o para o nosso caso. Como
seu quarto fica no t��rreo e a janela d�� para
a rua, pe��o deix��-la encostada quando for
dormir, a fim de que eu possa entrar sem
que Dona Aninha me veja."
Naquela noite Maur��cio saiu e foi ao cinema.
Depois dirigiu-se a um bar, tomou algumas cer-
vejas e s�� saiu de l�� quando fechou. Assim mes-
mo, ainda, foi" ��t�� a pra��a, para esperar a ma-
drugada. Quando teve certeza de que a cidade in-
teira dormia, voltou para a pens��o.
Seu cora����o batia ansioso, quando empurrou
a janela do quarto de Suely. Sorriu com satis-
fa����o ao constatar que a mesma estava apenas
encostada. Pulou para dentro do aposento e apro-
ximou-se da cama onde Suely estava deitada, fin-
gindo dormir.
56
Maur��cio despiu-se e enfiou-se por baixo das,
cobertas, abra��ando o corpo da mulher e come-
��ando a beij��-la. Sentiu que ela estava tr��mula:
��� Por que est�� assim? N��o h�� raz��o para
isso.
��� Por favor, n��o fale. Algu��m pode ouvir.. .
Ele continuou a beij��-la. Depois colocou a m��o
por dentro de sua camisola, apertando-lhe os
seios. Suely continuava tremendo, ele n��o sabia
se de medo ou de desejo. Abriu-lhe as pernas e
for��ou passagem. Suely gemeu baixinho e deixou
que ele a penetrasse. . .
H�� muito tempo que n��o experimentava uma
sensa����o assim. O sexo dilacerava-lhe as carnes.
Seu del��rio chegou ao auge e ela agarrou Maur��-
cio com for��a, quase ferindo-lhe as costas com
as u n h a s . . .
Da mesma maneira como tinha entrado, Mau-
r��cio saiu do aposento de Suely, pulando a janela
para a rua. Depois entrou na pens��o, normal-
mente, pela porta principal e foi para seu quarto.
N��o ouviu o menor ru��do e teve certeza de que
ningu��m o tinha visto. P 57 ;
A partir da��, Maur��cio procurou manter as
tr��s amantes satisfeitas na medida do poss��vel.
�� tarde encontrava-se com Helena no campo, em
dias alternados, Noite sim, noite n��o, Marisa vol-
tou a freq��entar sua cama. Nas outras noites ele
ia para o quarto de Suely, utilizando-se da ja-
nela, que dava para a rua.
Mas nem tudo estava correndo t��o bem quan-
to pensava. Suely apaixonara-se por ele e des-
confiava de que alguma coisa mais s��ria havia
entre o rapaz e sua sobrinha Helena, uma vez
que. quase todas as tardes os dois desapareciam
da pens��o,apesar de n��o sa��rem juntos. Resolveu
que teria de descobrir se suas suspeitas tinham
uma raz��o de ser. No entanto, n��o tinha a mais
leve desconfian��a de que ele tamb��m dormia com
a empregada.
Enquanto isso. Dona Aninha elaborou mais
um plano, a fim de descobrir o passado de Mau-
r��cio. N��o se convencia de que ele lhe tivesse di-
to a verdade. Conseguiu apanhar escondido a
chave do quarto do rapaz e mandou fazer uma
c��pia da mesma. De posse da c��pia resolveu es-
58
perar uma hora em que ele estivesse ausente..
Maur��cio se ausentava quase todas as tardes du-
rante muito tempo, a fim de encontrar-se com
Helena no campo.
Numa destas tardes, Dona Aninha subiu es-
cada sem ser vista e foi ao quarto de Maur��cio.
Come��ou ent��o a dar uma busca minuciosa nos
arm��rios e na mala do rapaz. Ficou decepciona-
da ao verificar que n��o existia vest��gio nenhum
de nada suspeito. N��o tinha armas, nem grande
quantidade de dinheiro escondido, conforme es-
perava. N��o havia nenhuma prova de que ele fos-
se um ladr��o ou criminoso.
Revirou todas as roupas, procurou nos bolsos
das cal��as e camisas, olhou no fundo das gave-
tas e n��o encontrou absolutamente nada que pu-
desse comprovar sua hip��tese. Desanimada, j�� es-
tava para sair do quarto, quando ouviu uns pas-
sos. Ficou apreensiva e depois aterrorizada, pen-
sando que era Maur��cio quem estava chegando.
Os passos se aproximavam e n��o dava mais para
fugir.
59
De repente, a porta se abriu. Mas n��o se tra-
-tava de Maur��cio. E sim de Suely. Tendo ouvido
movimentos estranhos no quarto do rapaz, resol-
vera ir ver o que estava acontecendo, desconfian-
do de que talvez Helena estivesse l��. Ao entrar e
. deparar com Dona Aninha, ficou satisfeita ao ve-
rificar que n��o era o que estava pensando, mas
ao mesmo tempo n��o encontrou nenhuma expli-
ca����o para o fato de a velha estar ali.
��� O que est�� fazendo neste quarto? Como foi
que conseguiu entrar?
Dona Aninha viu que n��o tinha outro rem��dio
sen��o confessa/ a verdade:
��� Mandei fazer uma c��pia da chave dele,
porque-desconfiava de que Maur��cio escondia al-
guma coisa aqui.
-��� Por que pensava isso?
��� Acho que ele �� meio esquisito. Julgava que
Maur��cio tinha vindo para esta cidade fugido da
pol��cia. P60
��� A senhora tem de acabar com estas suas
suspeitas absurdas e parar de ficar espionando
as pessoas. O melhor que tem a fazer �� deixar
de ler aquelas hist��rias policiais. Agora, vamos
botar as coisas dele nos seus lugares. Ah! Antes
que me esque��a, devolva-me a c��pia da chave
que mandou fazer. * **
Como uma crian��a surpreendida em flagrante
fazendo o que n��o devia, Dona Aninha, concor-
dou com tudo docilmente e em poucos^ minutos
as duas deixaram o quarto devidamente arruma-
do.
* * * �����
No meio do mato, Maur��cio acabava de pos--
suir Helena mais uma vez.
��� Voc�� n��o acha que tia Suely est�� mudada?
��� perguntou a jovem, encarando-o.
Maur��cio estremeceu:
��� Mudada como?
��� Sei l �� . . . Notei um brilho no olhar dela.
Parece at�� que est�� amando.
61
O rapaz recobrou o sangue-frio e deu uma gar-
galhada:
��� Amando? Ela n��o �� uma vi��va s��ria, co-
mo voc�� mesmo me informou?
��� Sempre pensei assim. Mas todo mundo
tamb��m julga que eu ainda sou virgem, n��o ��?
Por incr��vel que pare��a ningu��m soube at�� hoje
que eu andei com o Leonardo e agora com voc��.
Maur��cio come��ou a beij��-la e acarici��-la nos
lugares mais sens��veis, a fim de que n��o conti-
nuasse com aquela conversa. Mas Helena n��o
se deu por vencida:
��� Talvez tia Suely saiba disfar��ar t��o bem
quanto eu. O que acha disso? ��� Ela olhou de
maneira significativa. ��� Quem ser�� o amante
dela?
��� Como posso saber, se estou h�� t��o pouco
tempo na cidade?
Helena afastou-se do rapaz e falou muito s��-
ria:
62
��� Tenho a impress��o de que voc�� �� o amante
de minha tia.
Maur��cio retrucou num tom que n��o admitia
contesta����o:
��� Voc�� est�� louca?! Se permanecer com es-
tas desconfian��as idiotas n��o me encontro mais
com voc��.
Diante da amea��a, Helena preferiu calar-se.
Afinal de contas, era melhor ter que dividi-lo
com a tia do que perd��-lo definitivamente.
63
63
CAP��TULO 6
O BAILE
Estava se aproximando o dia de S��o Jo��o s
a cidade se movimentou para os festejos. Foi or
ganizado um baile ao ar livre, com a banda to
cando. Todos os habitantes da cidade come��a
64
ram a viver em grande euforia. S�� se falava na
grande festa.
Finalmente, o dia chegou. Na v��spera, Marisa
comentou com Maur��cio:
��� �� a melhor festa da cidade. Melhor mesmo
que o Natal e o Carnaval.
Maur��cio, bem como todos os outros h��spedes
seguiram para a pra��a mal o dia escureceu. Ha-
via grandes fogueiras e soltavam bombas, tra-
ques, busca-p��s e diversos outros tipos de fogos
de artif��cio, em meio aos gritinhos das mulheres.
As pessoas mais velhas como Dona Aninha,
ficaram sentadas nos bancos da pra��a, ou mes-
mo em cadeiras que haviam levado de suas ca-
sas e circundavam o local destinado ao baile.
A banda come��ou a tocar no velho coreto e
os primeiros casais foram para a pista dan��ar.
Maur��cio observava tudo, sem se aproximar de
nenhuma de suas amantes. N��o se atrevia a dar
um passo em falso. Dan��ar com algumas delas
65
causaria os ci��mes das outras. Assim, chegou ��
conclus��o de que aquela festa seria no m��nimo
tediosa para ele.
Mas Helena, depois de ter bebido um pouco,
tornou-se audaciosa e chegou perto do amante:
��� Vamos dan��ar?
��� Voc�� sabe que n��o podemos nos arriscar
respondeu Maur��cio sem nem ao menos virar-
se para a jovem.
��� Por-que n��o?
-Ele compreendeu que iria ter problemas:
��� N��o est�� vendo Suely olhando pra gente?
��� E o que tem isso?
Nesse momento, Maur��cio notou que Marisa
tamb��m n��o tirava os olhos dele e replicou:
��� Tem muita coisa. Quer que ela saiba que
voc�� �� minha amante?
66
��� O fato da gente dan��ar n��o quer dizer
nada.
��� N��o devemos dar margem a nenhuma des-
confian��a por parte dela.
��� N��o sabia que voc�� era t��o medroso.
Maur��cio estava cada vez mais irritado diante
da insist��ncia de Helena. Mesmo porque ele ti-
nha uma outra raz��o para n��o querer provocar
a ira de Suely. Seu dinheiro j�� acabara e n��o
tinha mais como pagar a pens��o. Se brigasse
com ela, como iria se arranjar? Mas Helena se
tornava cada vez mais inconveniente:
��� N��o estou me importando mais com nin-
gu��m. Se minha tia ficar com raiva, azar. Esta
sua atitude faz com que eu tenha certeza de que
tamb��m dorme com ela.
��� Quer fazer o favor de me deixar em paz ?
��� Voc�� tem que dan��ar comigo, Maur��cio.
Dizendo isso, Helena segurou-o por um bra��o
e arrastou-o para o meio da pista. O rapaz, n��o
67
teve outro jeito sen��o concordar em dan��ar com
a garota. Depois de algumas m��sicas, quis parar:
��� Acho que chega por hoje, n��o?
��� N��o. Voc�� tem que ficar comigo a noite
inteira.
Maur��cio desprendeu-se de Helena e saiu da
pista. Ela o acompanhou:
-��� Por que est�� fazendo isso comigo, Maur��-
cio?
��� Estou cheio. N��o quero mais nada com
voc��, ouviu bem?
Helena estava prestes a chorar.
��� Quer dizer que n��o vai mais encontrar-se
comigo? ��� perguntou.
��� N��o.
"Maur��cio afastou-se, deixando Helena falan-
do sozinha. Suely observava tudo e aproximou-se
do seu h��spede:
68
��� O que houve entre voc�� e Helena? Parece��
que brigaram?
��� N��o quer dan��ar comigo, Suely?
��� N��o fuja do assunto.
��� Que assunto?
��� Quero saber o que houve entre voc�� e.mi-
nha sobrinha. Pelo que pude observar, parecia
uma briga de n a m o r a d o s . . .
��� At�� voc��, Suely? Est�� com ci��mes?
Para ver se conseguia contornar a situa����o ele
puxou-a pelo bra��o, a fim de lev��-la para dan-
��ar. Mas Suely resistiu:
��� N��o fica bem, Maur��cio. Compreenda que
sou uma mulher de quarenta anos, vi��va. O que
v��o dizer os outros me vendo dan��ando com vo-
c��?
Neste instante, Maur��cio, procurando desviar
seu olhar do de Suely, avistou a solteirona com
o nariz em forma de bico de papagaio. Ela con-
69
versava com uma jovem muito bonita que Mau-
r��cio ainda n��o tinha visto na cidade at�� aquela
data. Teve uma id��ia que lhe pareceu brilhante
e resolveu p��-la em pr��tica sem demora: convi-
dar a solteirona para dan��ar. Assim estaria livre
de Suely, que obviamente n��o poderia ter ci��mes
daquela mulher t��o feia.
��� Uma vez que voc�� n��o quer, vou me diver-
tir com outra pessoa ��� disse Maur��cio aproxi-
mando-se da solteirona e convidando-a para o
meio da pista.
Florisbela n��o p��de acreditar no que estava
acontecendo, mas aceitou entusiasticamente dan-
��ar com o belo rapaz que sempre olhava quando
ele pjssava por sua porta.
Maur��cio apertou Florisbela entre os bra��os
e n��o a largou durante muito tempo. Enquanto
isso, puxou conversa:
��� Sabe que voc�� dan��a muito bem?
��� B o n d a d e sua ��� respondeu Florisbela meio
encabulada com o elogio.
70
��� Quem �� aquela mo��a que estava conver-
sando com voc��?
��� Marta.
��� Nunca a vi por aqui.
��� Ela �� filha do fazendeiro mais rico da ci-
dade. N��o conhece aquela casa branca, muito
bonita, que fica no fim da rua? Marta mora l��,
��� E como nunca a vi?
��� �� porque Marta est�� fazendo o segundo
grau em Outra cidade, uma vez que a escola da-
qui s�� ensina at�� o gin��sio. Ela chegou ontem
para passar as f��rias do meio do ano com os pais.
Maur��cio achou que estava na hora de mudar
o rumo de sua vida naquela cidade. Precisava
conquistar Marta, talvez at�� casar com ela. Por
que ele tamb��m n��o podia dar o golpe do ba��?
De qualquer maneira tinha de fazer a tenta-
tiva. Sabia que n��o poderia permanecer na pen-
s��o por muito tempo mais. As tr��s amantes es-
tavam quase descobrindo que ele as enganava.
71
E o pior �� que as tr��s viviam sob o mesmo teto,
que Maur��cio pressentia iria desabar dentro de
pouqu��ssimo tempo sobre seus ombros.
Terminou de dan��ar com Florisbela, que o
apresentou a Marta:
��� Este �� Maur��cio, um rapaz de fora que
est�� passando uns tempos na cidade.
��� Muito prazer ��� disse Marta estendendo a
m��o a Maur��cio.
��� N��o quer dan��ar um pouco? ��� convidou
o rapaz.
Marta concordou e os dois se encaminharam
para junto dos outros casais que continuavam na
maior anima����o. De longe, Suely olhou indigna-
da para o rapaz. Helena, que j�� havia bebido
mais, n��o suportou aquele novo golpe, e resol-
veu voltar para casa. Marisa desistira de fiscali-
zar o amante e divertia-se com um de seus an-
tigos casos.
Maur��cio desligou-se completamente de seus
problemas, procurando ser o mais agrad��vel pos-
72
s��vel com aquela que pretendia fosse sua pr��xima
conquista.
Marta, sob todos os aspectos, era bastante su-
perior a todas as mulheres que ele j�� tivera em
sua vida. Jovem, devia ter uns dezenove anos.
Muito bonita, com os cabelos e olhos pretos, bo-
ca sensual e dentes perfeitos. Isso sem falar no-
corpo admir��vel. E principalmente rica. Preci-
sava apenas saber se ele estava dispon��vel.
��� Florisbela me disse que voc�� veio passar
as f��rias, �� verdade?
��� ��.
��� Quer dizer que em agosto voc�� n��o vai es-
tar mais aqui?
��� N��o. Estou pensando em fazer vestibular
para Direito, e como aqui n��o tem Faculdade, o
jeito �� estudar fora.
��� Pelo visto voc�� tem todas as qualidades.
Al��m de bonita �� inteligente.
��� Florisbela n��o disse que sou rica tamb��m?P 73
��� Disse, sim. Uma mulher completa, coisa
muito dif��cil hoje em dia. O�� melhor, em todos
os tempos.
Marta riu:
��� E voc��? O que est�� fazendo neste fim de
mundo?
��� Vim tamb��m passar as f��rias aqui.
��� Mas nunca esteve antes na cidade, n��o ��?
��� N��o, nunca.
. ���; E j�� est�� h�� mais de um m��s. Suas f��rias
s��o t��o longas assim?
��� Pelo visto, voc�� tamb��m andou se infor-
mando a meu respeito.
��� Logo que cheguei ao baile, notei sua pre-
sen��a. E Florisbela se encarregou de me contar
tudo o que sabia sobre voc��.
Os dois riram e continuaram dan��ando. Pas-
saram o resto da noite juntos. Para Maur��cio, o
baile, que a princ��pio lhe parecera tedioso, trans-
74
formou-se num dos melhores momentos que j��
passara na cidade.
Resolveu aproveitar ao m��ximo a companhia
de Marta e iniciar um namoro com a mo��a, en-
quanto procurou esquecer os problemas que cer-
tamente teria que enfrentar no dia seguinte na
pens��o.
75
CAPITULO 7
O FLAGRANTE
Ao voltar para casa, depois do baile, Suely foi
at�� o quarto da sobrinha, que havia voltado an-
tes e j�� estava dormindo.
��� O que foi que houve entre voc�� e Mau-
76
r��cio? ��� perguntou assim que Helena abriu os
olhos.
��� Quando?
��� L�� no baile. Tive a impress��o de que voc��s
estavam discutindo.
��� Qual o interesse que a senhora tem nisso?
��� Veja como me responde, Helena, Afinal
sou quase sua m��e. Fui eu quem a criou. N��o
admito que fale comigo desse jeito.
��� A senhora est�� �� com ci��mes.
Suely empalideceu:
��� Eu?! Com ci��mes?! Voc�� perdeu o ju��zo?
Por que estaria com ci��mes?
Helena compreendeu que tinha ido longe de-
mais e resolveu recuar. Afinal de contas n��o po-
dia acusar a tia de manter rela����es sexuais com
Maur��cio, apesar de ter quase certeza disso. Mas.
dependia de Suely e n��o poderia enfrent��-la cara
a cara:
77
��� Desculpe. �� que estou muito nervosa. Fi-
quei chateada com Maur��cio, porque ele. . .
A mo��a calou-se. Suely estimulou-a a contar
�� verdade:
��� Eu s�� tenho interesse na sua felicidade, He-
lena. Por isso quero saber o que est�� acontecen-
do. Voc�� tem alguma coisa com esse rapaz?
��� N��s estamos namorando h�� algum tem-
p o . . .
Suely dissimulou seus verdadeiros sentimentos.
Precisava mostrar-se compreensiva, a fim de ar-
rancar uma confiss��o de Helena:
��� Desde quando est��o namorando? N��o te-
nho vi��to voc��s dois juntos ultimamente.
A gente sempre se encontra na rua. ..
��� Em que lugar?
Helena n��o ousou revelar a verdade:
��� Por a��. . . na pra��a, no cinema. . .
78
Suely arriscou uma pergunta ousada:
��� E voc�� s��o apenas namorados?
��� Como assim? ��� respondeu Helena com
outra pergunta, fingindo-se a mais pura das cria-
turas.
��� Quero d i z e r . . . at�� onde vai esse namoro?
Qual o tipo de intimidades que voc��s t��m?
��� Bem. . . �� um namoro comum. Ele me bei-
ja, me abra��a, conversamos e passeamos juntos.
��� S�� isso? ' *
Helena, mais segura de si, afirmou com con-
vic����o:
��� Claro que �� s�� isso. Ou a senhora est�� pen-
sando que sou capaz de fazer alguma coisa de
errado com um rapaz?
��� N��o estou pensanda nada, Helena. Apenas
quero saber toda a verdade.
��� Pois agora j�� sabe.
��� Jura que n��o est�� me escondendo nada?
79
Suely saiu do quarto, convencida de que real-
mente a sobrinha mantinha apenas um namoro
inocente com Maur��cio. Apesar de relativamente
satisfeita com a conclus��o que tirara, n��o podia
deixar de sentir raiva do rapaz. Afinal, ele de-
monstrava n��o ser boa coisa, namorando com
.Helena. De qualquer forma, estava enganando-a.
"
Outra coisa que n��o parava de lhe atormentar
era o fato de Maur��cio ter passado quase toda a
noite dan��ando com Marta. Na pr��xima vez que
ele fosse ao seu quarto, iria ter uma conversa
franca com o amante.
Al��m disso, tamb��m estava desconfiando do
verdadeiro motivo por que ele estava na cidade.
Se tinha vindo passar apenas as f��rias, por que
se demorava tanto? Ser�� que no fundo Dona Ani-
nha unha raz��o? Andara t��o obcecada com as
noites de amor ao lado de Maur��cio, que n��o se
lembrara de pensar neste fato. Mas na pr��xima
oportunidade tiraria tudo a limpo. P 80
No dia seguinte, Maur��cio acordou tarde, n��o
indo tomar o caf�� da manh��. No entanto, na ho-
ra do almo��o, desceu e teve que enfrentar o
olhar de Suely. Mas a dona da pens��o n��o teve
oportunidade de aproximar-se dele, por causa de
Dona Aninha, que permaneceu ao lado do rapaz
comentando os acontecimentos do baile.
��� Voc�� se divertiu muito, hem, Maur��cio?
��� Afinal, sou jovem e cheio de sa��de, n��o ��,
Dona Aninha? Tenho que aproveitar a mocida-
de.
��� Ah, os meus tempos! ��� suspirou Dona
Fininha, que tamb��m participava da conversa. ���-
N��o perdia um baile com o meu marido na ��po-
ca em que ele era vivo. Joaquim gostava tanto
de dan��ar.
Dona Aninha piscou o olho:
��� Marta �� uma mo��a muito bonita, n��o ��?
��� E inteligente tamb��m.
81
��� Mas o que salta aos olhos �� sua beleza.
Voc�� tem muito bom gosto, rapaz! Passou a noi-
te inteira dan��ando com ela.
��� Eu tamb��m dancei com outras mo��as. A
Helena, a Florisbela.. .
Dona Aninha riu com gosto:
��� Voc�� s�� dan��ou com a Florisbela para con-
seguir, se aproximar de Marta, n��o foi mesmo?
Confesse que foi.
Maur��cio sorriu meio sem jeito. Do outro la-
do da mesa, Helena n��o levantava os olhos e
Suely encarava-o muito s��ria, sem deixar trans-
parecer o que lhe ia por dentro.
* * *
Naquela tarde, Maur��cio foi ver Marta, com
quem marcara encontro. Estava mesmo disposto
a levar avante o romance com a mo��a. Era a
sua grande cartada. Precisava agir depressa e fa-
zer com que ela se apaixonasse por ele.
Apesar de saber que Marta n��o era uma garo-
ta ing��nua e sem instru����o, tinha certeza de que
n��o iria resistir ao seu encanto. Afinal ele pos-
82
su��a um f��sico privilegiado e existiam poucas mu-
lheres que n��o sucumbiam ao seu charme.
Ao passar pela porta de Florisbela, parou para
conversar um pouco. Ela perguntou-lhe:
��� Ent��o, gostou do baile ontem, Seu Maur��-
cio?
��� Muito.
��� Quando �� que a gente vai ter oportunidade
de dan��ar juntos de novos?
��� Assim que tiver outra festa.
��� O senhor vai passar muito tempo ainda na
cidade?
��� Talvez at�� fique morando aqui.
��� N��o diga!
Maur��cio ainda demorou-se alguns minutos
com Florisbela e depois seguiu ao encontro de
Marta, que j�� o aguardava. Foram ao cinema e
ele segurou-lhe a m��o. Com meia hora de filme;
colocou o bra��o em volta do seu ombro. Quaren-
ta minutos depois deu-lhe o primeiro beijo. Marta
83
correspondeu naturalmente a tudo, sem falsos pu-
dores. . .
Terminada a sess��o, levou-a de volta a sua ca-
sa, marcando um novo encontro para o outro
dia.
* * *
Naquela noite, Marisa foi ao quarto de Mau-
r��cio:
��� Voc�� n��o presta mesmo.
��� Por que diz isso?
��� Ent��o n��o vi a confus��o que armou no bai-
le ontem?
��� N��o armei confus��o nenhuma ��� defendeu-
se Maur��cio.
��� Eu sabia do seu caso com Helena, mas
n��o com Dona Suely.
��� Que conversa �� esta, Marisa? Respeite sua
patroa.
��� Ora, Maur��cio, pra cima de mim? Pensa
que n��o sei dos seus encontros no mato com He-
84
lena? Nunca falei nada, porque n��o ia adiantar.
Mas fiquei surpresa ao descobrir que tamb��m
�� amante de Dona S u e l y . . .
��� Veja como fala, hem?
��� Ela ficou possessa de ci��mes, ontem �� noi-
te. Eu vi quando foi ao quarto da sobrinha e fi-
quei escutando atr��s da porta. . .
��� O que voc�� ouviu? ��� perguntou Maur��cio
subitamente interessado.
Marisa contou o que sabia e ele viu compro-
vados os seus receios. A bomba iria "estourar a-
qualquer momento. O que nunca poderia ima-
ginar �� que explodiria logo em seguida
Com a c��pia da chave que Dona Aninha man-
dara fazer, Suely abriu a porta do quarto de
Maur��cio. N��o ag��entou ficar mais tempo sem
ter uma conversa franca com o rapaz e resol-
veu procur��-lo naquela noite, sem esperar que
ele fosse ao seu quarto na noite seguinte.
Ela, ao entrar, n��o distinguiu bem o que es-
tava se pasando, devido �� escurid��o. Mas notou
85
que havia mais de uma pessoa na cama de Mau-
r��cio, e pensou com horror que devia ser Hele-
na. Acendeu a luz e viu Marisa procurando es-
conder-se embaixo dos len����is.
Suely quase caiu fulminada:
A mulher aproximou-se da cama e tirou o len-
��ol, deixando os dois descobertos: Marisa e Mau-
r��cio estavam completamente nus. A mulata le-
vantou-se correndo e procurou sua roupa, que co-
me��ou a vestir imediatamente. Maur��cio, por sa-
ber ser in��til qualquer tentativa para remediar
a situa����o, permaneceu deitado na cama.
A dona da pens��o voltou sua f��ria primeiro
contra a empregada:
��� O que �� que est�� pensando, sua vagabun-
da? Minha pens��o n��o �� um bordel. Eu descon-
fiava que voc�� n��o prestava, mas n��o julgava que
fosse capaz disso. Pode arrumar sua mala e ir
embora. Est�� despedida. N��o quero que fique
nem mais um minuto aqui. Saia j�� deste quarto.
Depois que a mulata se retirou, Suely dirigiu
seu ��dio para Maur��cio:
86
��� E quanto ao senhor, mude-se de minha
pens��o o mais r��pido que puder. Conv��m lem-
brar ainda que j�� est�� me devendo uma semana.
��� J�� expliquei que o dinheiro que estou es-
perando de casa ainda n��o chegou.
��� De qualquer maneira, pagando ou n��o,
quero que v�� embora. N��o pretendo ver sua ca-
ra na minha frente nunca mais em minha vida.
87
CAPITULO 8
A SALVA����O
Suely. saiu desesperada do quarto de Maur��cio.
Seus gritos foram ouvidos pelos outros h��spedes
do hotel. No corredor encontrou-se com Dona
Aninha, que queria saber o que tinha acontecido.
88
Suely ainda encontrou for��as para se controlar
e revelar-lhe em poucas palavras que encontrara
a empregada na cama com o rapaz. Helena e os
outros h��spedes tamb��m ouviram a explica����o.
��� Eu j�� estava at�� pensando que ele era um
bom rapaz. Bem, isso �� apenas uma fraqueza da
juventude.. .
��� De qualquer jeito, Dona Aninha, minha
pens��o n��o �� um bordel. Tenho de zelar pelo
bom nome da casa.
Depois de fazer as contas com a empregada,
Suely pagou-lhe o que lhe era devido e-voltou
ao seu quarto. Quando se viu sozinha, atirou-se
na cama e abafou os solu��os com o travesseiro.
Consciente do barulho que havia causado,
Maur��cio ficou surpreendentemente calmo. Afi-
nal, nada mais havia a fazer. Levantou-se da ca-
ma algum tempo depois, fechou a porta do quar-
to e apagou a luz. Tornou a deitar-se e tentou
adormecer logo. No outro dia, com a cabe��a mais
fria, haveria de encontrar a solu����o para seus
problemas.
89
Enquanto colocava suas coisas na maleta, na
manh�� seguinte, Maur��cio esfor��ava-se para des-
cobrir um meio de resolver a situa����o aflitiva em
que se encontrava. Ir para o outro hotel da ci-
dade era imposs��vel, pois n��o tinha dinheiro e
certamente teria de pagar adiantado.
Finalmente saiu da pens��o, ainda sem ter uma
id��ia do que iria fazer. Dirigiu-se para a pra��a
e sentou-se num banco, com a pequena mala ao
lado. Temeu que Marta por acaso o visse e de
repente teve um pensamento luminoso. Nem tudo
'estava perdido. Florisbela seria sua salva����o.
Decidido, pegou a maleta e encaminhou-se
para a casa da solteirona. Bateu �� porta e logo
depois Florisbela veio atender:
��� Seu Maur��cio, o senhor por aqui?
��� Preciso muito falar com voc��. Ser�� podia
me fazer um grande favor?
��� At�� dois.
��� Estou meio acanhado. N��o sei como co-
me��ar.
90
��� O que �� isso, Seu Maur��cio? Diga logo o
que �� . . .
��� Aconteceu uma coisa muito desagrad��vel
comigo na pens��o de Dona Suely e tive de sair
de l��. Depois lhe conto em detalhes o que houve.
Vim at�� aqui para saber se podia me alugar um
quarto em sua casa.
Florisbela ficou excitada com a possibilidade
daquele homem ficar morando sob o mesmo te-
to que ela:
��� Mas aqui n��o �� pens��o, Seu Maur��cio!
��� Eu sei disso, Florisbela. Mas n��o estou
querendo ir para o outro hotel. Cansei de viver
no meio de muita gente. Gostaria de ficar hos-
pedado numa casa de fam��lia...
A solteirona n��o via como negar o pedido.
Convidou-o a entrar e comunicou �� m��e a pre-
tens��o de Maur��cio. Dona Raimunda achou tu-
do muito estranho, mas Florisbela falou de modo
que n��o admitia recusa:
91
��� Seria ��timo para a senhora, mam��e, ter
algu��m t��o agrad��vel como o Sr. Maur��cio para
conversar. Afinal, n��s vivemos t��o sozinhas! E
nossa casa �� muito grande. S��o cinco quartos,
tr��s salas, quintal, copa, cozinha, jardim. Um
verdadeiro desperd��cio para duas pessoas apenas.
Maur��cio tinha vencido a parada. Sem teto
n��o iria ficar mais. Florisbela e a m��e discuti-
ram qual o quarto lhe seria destinado e depois
de chegarem a uma conclus��o, o rapaz instalou-
se confortavelmente no melhor aposento da casa.
. A primeira semana em casa de Florisbela
transcorreu tranq��ila. Ela e a m��e faziam tudo
para agradar Maur��cio, que por sua vez se des-
manchava em aten����es para com Florisbela, se-
gurando-lhe a m��o por mais tempo do que o
necess��rio e lan��ando-lhe olhares significativos.
Todas as tardes, no entanto, n��o deixava de ir
encontrar-se com Marta, alimentando o namoro
rec��m-iniciado.
Florisbela n��o conseguia dissimular sua atra-
����o irresist��vel pelo rapaz. Dona Raimunda, nu-
92
ma hora em que Maur��cio n��o estava presente,
comentou com a filha:
��� Voc�� parece gostar muito desse rapaz.
��� Al��m de bonito, ele parece ser t��o boa
pessoa...
��� Seria ��timo que voc��s se casassem.
Florisbela enrubesceu:
��� Ora, mam��e, n��o estou pensando numa
coisa destas.
��� Por que n��o?
��� Gosto de Maur��cio como um amigo. -Sei
que ele nunca poderia se interessar por mim,
com tantas mo��as bonitas e ricas por a�� ��� fa-
lou Florisbela lembrando-se de Marta, uma. vez
que n��o desconhecia os encontros dela com o
rapaz.
��� Deixe de bobagens. N��o se prende um ho-
mem apenas pela beleza e pelo dinheiro, mas
tamb��m pelo est��mago. Voc�� �� ��tima cozinheira P 93
e tem outras qualidades mais valiosas. Talvez
Maur��cio se encontre com essas sem-vergonha
porque �� jovem e quer se divertir. Mas se tiver
que escolher uma esposa, vai querer algu��m que
seja honesta e boa dona de casa.
Assim, Florisbela e a m��e passaram a prepa-
rar os pratos que Maur��cio mais gostava, al��m
de empanturr��-lo com bolos e doces de todas as
esp��cies.
Maur��cio, por seu lado, tamb��m procurava
agradar cada vez mais a solteirona. Um dia em
que estavam a s��s, repentinamente a abra��ou e
beijou. Florisbela teve a impress��o de que ia
morrer. Quando conseguiu voltar a falar, disse
timidamente sem ousar olh��-lo:
��� Por que fez isso?
��� Voc�� n��o gostou?
Florisbela n��o teve tempo de responder, pois
Maur��cio a beijou novamente, desta vez na boca
e segurando-lhe os seios. A solteirona n��o podia
acreditar no que estava acontecendo. Nunca an-
94
tes um rapaz tinha demonstrado uma paix��o t��o
arrebatadora por ela.
Ao fim de alguns minutos Maur��cio soltou-a e
saiu da sala em que estavam sem dizer mais na-
da. A partir desse momento, Florisbela perdeu
toda e qualquer no����o da realidade. Os dois bei-
jos que recebera eram uma recompensa para toda
a sua vida ins��pida. Tudo o que Maur��cio lhe pe-
disse de agora em diante, ela faria sem pensar
duas vezes.
Maur��cio tinha plena consci��ncia da situa����o
perigosa em que estava se metendo. Principal-
mente, quando, no jardim da casa de Marta, na-
quela noite, ela lhe falou:
��� Eu o amo, Maur��cio.
��� De verdade?
��� Nunca gostei tanto de um rapaz como de
voc��.
��� Quer casar comigo?
��� Quando voc�� quiser.
95
Ele c o m p r e e n d e u q u e e s t a v a e m v i a s d e c o n -
seguir o m a i o r o b j e t i v o de s u a v i d a : dar o g o l -
p e d o b a �� . S �� q u e p r e c i s a v a agir d e p r e s s a .
��� E s e u s e s t u d o s ? ��� p e r g u n t o u a M a r t a , p r e o c u p a d o c o m a f a t o d e q u e e l a d e v e r i a viajar n o m �� s s e g u i n t e .
V o c �� �� m u i t o mais i m p o r t a n t e d o q u e t u d o .
V o c �� est�� d i s p o s t a a d e i x a r o c u r s o pra se c o m i g o ?
M a s c l a r o , M a u r �� c i o . . .
Ao sai da c a s a de M a r t a , o rapaz r e s o l v e u or-ganizar s u a v i d a d e m a n e i r a q u e n a d a d e s s e er-r a d o at�� o c a s a m e n t o c o m a m o �� a . E s t i m u l a r a p a i x �� o de F l o r i s b e l a lhe parecia um p e r i g o a evitar, u m a v e z q u e c o m b i n a r a noivar c o m Marta d e n t r o d e q u i n z e d i a s .
A s s i m , M a u r �� c i o a c h o u q u e o m e l h o r a fazer seria e s c r e v e r p a r a s e u s p a i s , p e d i n d o p a r a m a n -
dar-lhe a l g u m d i n h e i r o , a f i m d e q u e p u d e s s e s e m u d a r p a r a o H o t e l G i r a s s o l .
96
Por uma associa����o de id��ias, lembrou-se dos
dias que passara na pens��o de Suely e os seus
amores com as tr��s mulheres ao mesmo tempo.
Desde a festa de S��o Jo��o que n��o tivera mais
rela����es sexuais com ningu��m. E j�� fazia duas
semanas. O namoro com Marta era s��rio e ele
n��o se arriscava a maiores intimidades, com m e -
do de que a garota se ofendesse. Quanto a Flo-
risbela, al��m de ser muito feia, n��o devia se atre-
ver a deix��-la perdidamente apaixonada.
O pior �� que estava extremamente necessitado
de uma mulher. Mas tinha que ag��entar firm��.
Depois de escrever a carta aos pais solicitando
o dinheiro, foi coloc��-la no Correio. Aquela car-
ta representava todo o seu futuro. Com a impor-
t��ncia enviada pelos pais ele se mudaria para o
hotel, onde ficaria at�� o casamento com Marta.
Mas �� noite, uma surpresa o aguardava. Mau-
r��cio estava dormindo, quando Florisbela entrou
em seu quarto, sorrateiramente. Aproximou-se
do rapaz e ficou olhando-o. Maur��cio sempre se
deitava de sunga e, num movimento que fez du-
97
rante o sono, jogou o len��ol para um canto da
cama , descobrindo-se.
Florisbela olhava extasiada o corpo seminu do
rapaz. N��o se conteve e estirou o bra��o. Sua m��o
quase o tocava. Sentia o corpo arder como se
estivesse com febre. N��o resistiu e deixou a m��o
ro��ar levemente no corpo de Maur��cio. Este fez
um movimento e ela afastou-se um pouco.
Notando, por��m, que ele continuava dormin-
do profundamente, tocou-lhe de novo, desta vez
com mais ousadia. Logo em seguida, n��o resis-
tindo mais, segurou-lhe o sexo com for��a.
O rapaz acordou e viu o que estava se pas-
sando. Pensou em mand��-la embora, mas o con-
tato daquela m��o lhe era muito agrad��vel. No
estado em que se encontrava, qualquer mulher,
mesmo Florisbela, o excitava.
Ela compreendeu que Maur��cio acordara, mas
j�� era tarde demais. Ele agarrou-a com for��a e
depois tirou-lhe a camisola, fazendo-a deitar-se
na cama.
98
Florisbela n��o teve d��vidas de que havia che-
gado o seu grande momento. Virgem at�� aquela
data, por absoluta falta de oportunidade, uma
vez que nunca tivera antes um contato mais ��n-
timo com qualquer outro rapaz, perdeu comple-
tamente o bom-senso.
N��o lhe importava mais as conseq����ncias. To-
da a repress��o contida durante anos e anos de-
sapareceu diante da possante masculinidade de
Maur��cio. Ele conseguiu em poucos instantes pe-
netrar-lhe na carne e Florisbela sentiu uma dor
forte, misturada a um prazer que a levava ao de-
l��rio. . .
Depois de ser possu��da por Maur��cio, saiu do
quarto t��o silenciosamente quanto tinha entrado.
99
CAPITULO 9
SURPRESA DESAGRAD��VEL
Maur��cio arrependeu-se de ter possu��do Floris-
bela quando j�� n��o tinha mais jeito. Agora, mais
do que nunca, sabia que seus problemas iam
aumentar. O que de fato aconteceu. A solteiro-
100
na perdeu-se de amores por ele e come��ou a
aborrec��-lo com os ci��mes que sentia de Marta.
O rapaz decidiu apressar os acontecimentos:
��� Por que a gente n��o se casa logo, Marta?
N��o ag��ento esperar. Quero que voc�� seja minha
o mais depressa poss��vel.
Marta procurou desprender-se dos seus bra��os:
��� Mas n��s ainda nem ficamos noivos, Mau-
r��cio!
��� E o que tem isso?
��� N��o acha que est�� sendo muito apressado?
��� N��o gosto nem de lembrar que ainda vai
demorar muito para sermos um do outro, Marta.
Se voc�� ag��enta �� porque n��o me ama.
��� O que v��o dizer os outros com um casa-
mento t��o repentino?
��� Quanta se trata da nossa felicidade, o que
importa o que as outras pessoas possam pensar?
101
Estavam no jardim da casa da mo��a, numa
noite de luar. Ele deitou-a na grama e recome-
��ou a beij��-la com ardor. Levantou-lhe o vestido
e come��ou a alisar-lhe as coxas.
��� Marta, eu n��o posso mais. Se n��o casar-
mos logo, sou capaz de fazer uma loucura.
��� Eu tamb��m lhe desejo muito, Maur��cio.
Voc�� tem raz��o. Amanh�� voc�� vem falar com
papai e me pedir em casamento.
Seu Nelson, pai de Marta, concordou com o
noivado, pois sempre fizera tudo o que a filha
queria. Argumentou, no entanto que ningu��m
conhecia Maur��cio direito na cidade e que sem
d��vida ele era pobre.
Mas Marta respondeu que isso n��o tinha a
menor import��ncia, uma vez que Maur��cio de-
monstrava ser um bom rapaz e poderia muito
bem trabalhar numa das fazendas que eles pos-
su��am.
Por outro lado, Seu Nelson ficou satisfeito por-
que s�� assim a filha deixaria de estudar fora e
102
permaneceria ao seu lado durante todo o ano.
Ele sempre temera que alguma coisa aconteces-
se �� mo��a durante os meses que passava estu-
dando em outra cidade.
Maur��cio esfor��ou-se para adqurir a confian��a
do pai de Marta, procurando mostrar que era um
rapaz s��rio, e tudo come��ou a andar conforme
os seus desejos.
O pai de Marta teve outra surpresa, ao saber
que os dois pretendiam casar o quanto antes.
��� Por que esta pressa? ��� perguntou, des-
confiado, �� filha.
��� O senhor n��o quer me ver feliz, papai?
��� N��o desejo outra coisa na vida.
��� Ent��o, n��o comece a p��r obst��culos. Eu
quero me casar com Maur��cio o mais r��pido pos-
s��vel. Ele �� o grande amor de minha vida.
* * *
103
Florisbela ficou possessa ao saber do noivado
de Maur��cio, mas ele soube apazigu��-la.
��� Voc�� vai me deixar? ��� perguntou a sol-
teirona, quase se desmanchando em l��grimas?
��� Claro que n��o, Florisbela.
��� E por que vai casar com Marta?
��� Porque ela �� muito rica.
��� �� s�� por isso?
��� Voc�� acha pouco?
��� E depois que casar, como a gente vai con-
tinuar se encontrando?
��� N��o se preocupe. Eu dou um jeito.
��� Como?
Ele n��o deixou que Florisbela permanecesse
falando. Deitou-a na cama e come��ou a acarici��-
la nas partes ��ntimas, possuindo-a a seguir.
* * *
104
O casamento de Maur��cio com Marta foi mar-
cado para o m��s seguinte. Mas uma nova on-
da de dissabores estava reservada para o rapaz.
A carta que fizera aos pais pedindo dinheiro, em
vez de resolver-lhe os problemas, conforme espe-
rava, complicou-lhe a vida irremediavelmente.
Alguns dias depois, Florisbela entrou em seu
quarto e avisou:
��� Maur��cio, tem um homem a�� dizendo que ��
seu irm��o.
��� Meu irm��o?
��� Sim. Posso mandar entrar?
��� Claro.
A solteirona saiu do quarto e pouco depois
Maur��cio viu Marcos entrando em seu aposento:
��� Veio trazer o dinheiro que eu pedi?
��� Trouxe, mas acontece que tenho um ne-
g��cio desagrad��vel para lhe dizer.
105
��� O que ��?
��� Seu Epaminondas descobriu que voc�� est��
aqui. Voc�� tem que sair imediatamente da cida-
de.
Maur��cio sentiu como se o ch��o fugisse de
seus p��s:
��� Como ele descobriu?
��� Lembra-se de Bernadete, a empregada l��
de casa? Pois acontece que ela tinha recebido di-
nheiro de Seu Epaminondas para vigiar a gente.
Quando recebemos sua carta, Bernadete conse-
guiu peg��-la escondido, descobrindo seu ende-
re��o. Eu viajei imediatamente e devo ter chega-
do antes de Seu Epaminondas. Parece que ele
estava tendo dificuldades em convencer Cl��udia a
vir junto, o que retardou sua viagem.
Seu Epaminondas era o pai de Cl��udia, uma
jovem que tinha sido namorada de Maur��cio em
sua terra. A mo��a engravidara, o rapaz fugira e
o velho jurara vingan��a, dizendo que iria at�� o
106
fim do mundo, a fim de obrig��-lo a casar de
qualquer maneira.
Maur��cio viajara por muitas cidades, at�� que
encontrara aquela onde resolvera se estabelecer,
muito distante do seu lugar de origem. Arrepen-
deu-se amargamente de ter feito a carta pedin-
do o dinheiro. Agora estava tudo perdido.
��� Cl��udia est�� com uma barriga enorme,
com sete meses de gravidez ��� informou-lhe o
irm��o.
��� Maldi����o! ��� exclamou Maur��cio batendo
com os punhos num arm��rio.
Atra��da pelo barulho, Florisbela surgiu �� por-
ta:
��� O que aconteceu, Maur��cio? Alguma no-
t��cia ruim?
Ele perdeu completamente a paci��ncia:
��� Suma j�� de minha frente, Florisbela.
107
A solteirona saiu correndo, amedrontada. Mau-
r��cio sentou-se na cama e colocou as m��os na
cabe��a:
��� E agora, o que eu vou fazer?
��� Fugir o mais r��pido que puder ��� acon-
selhou o irm��o.
��� Nunca! ��� exclamou Maur��cio.
��� Ent��o, o jeito �� casar com Cl��udia.
Tamb��m n��o.
��� Est�� querendo morrer? Todo mundo co-
mentava que Seu Epaminondas ia viajar com uma
espingada, a fim de lhe matar se n��o casar com
Cl��udia.
Maur��cio contou ao irm��o que estava noivo
da mo��a mais rica da cidade e com casamento
marcado para o m��s seguinte. N��o era agora que
iria desistir.
��� Mas Seu Epaminondas tem seu endere��o,
Maur��cio! A qualquer momento bate aqui.
108
O rapaz pensou um pouco:
��� J�� sei. Vou sair desta casa. Vamos para o
Hotel Girassol. Eu dou um outro nome e ele n��o
vai descobrir que estou l��.
��� E se ele se hospedar tamb��m no mesmo
hotel?
��� Existe uma outra pens��o na cidade. N��o ��
poss��vel que eu tenha tanto azar assim.
Naquela mesma noite, Maur��cio mudou-se.da
casa de Florisbela. Arrumou escondido sua ma-
leta e mandou que o irm��o sa��sse com ela, re-
servando um quarto para duas pessoas no hotel.
Marcos cumpriu as ordens e Maur��cio saiu da
casa da solteirona sem dizer-lhe nada.
�� noite, Florisbela, j�� desconfiada porque o
amante n��o viera jantar, procurou-o no quarto e
n��o o encontrou. Compreendeu que fora aban-
donada, uma vez que tamb��m as roupas do ra-
paz haviam desaparecido.
109
Atirou-se na cama e come��ou a chorar. Os
solu��os foram aumentando, incontrol��veis. Dona
Raimunda veio ver o que era e surpreendeu a
agarrada com o travesseiro de Maur��cio.
��� O que aconteceu, Florisbela?
��� Maur��cio foi embora.
��� E o que voc�� est�� fazendo na sua cama?
���- Eu desconfiei que ele n��o tinha voltado
pra casa e vim verificar. Maur��cio me deixou por
causa de Marta. E agora, o que �� que eu vou fa-
zer de minha vida?
* * ���
No outro dia, logo de manh�� bem cedo, um
��nibus chegou �� cidade. Entre as poucas pessoas
que desenbarcaram estavam Seu Epaminondas e
uma jovem gr��vida. Dirigiram-se diretamente pa-
ra a casa de Florisbela.
��� O Maur��cio est��? ��� perguntou o velho.
110
A solteirona, com os olhos inchados, pois pas-
sara a noite inteira chorando, respondeu:
��� Ele n��o mora mais aqui.
��� N��o tente me enganar.
��� N��o estou enganando. Ele foi embora on-
tem �� noite.
��� Sabe para onde foi?
��� N��o.
��� Mas ainda deve estar na cidade, n��o?
��� Est��, sim. Ele vai casar com a Marta.
��� Ele vai o qu��?
��� Casar com Marta, a mo��a mais rica daqui.
��� Quer me dizer onde mora esta mo��a?
��� O senhor anda por esta rua, dobra a pri-
P 111
meira �� direita e segue at�� o fim. L�� tem uma
casa branca muito bonita. �� l��.
Seu Epaminondas nem sequer agradeceu a in-
forma����o. Pegou a filha gr��vida por um bra-
��o e disse:
��� Vamos at�� l��.
Cl��udia, por��m, resistiu:
��� N��o acha melhor a gente ir primeiro at��
um hotel, onde eu possa descansar um pouco,
papai? Estas horas todas de viagem me deixa-
ram exausta. Al��m disso, estou morta de fome.
Maur��cio n��o vai poder fugir.
O velho concordou. Virou-se novamente para
Florisbela, que ainda estava na porta da casa,
observando os dois com curiosidade, e pergun-
tou.
��� A gente pode se hospedar aqui?
��� Minha casa n��o �� pens��o.
112
��� E como Maur��cio morava aqui? Como ex-
plica isso?
��� Bem, ele alugou um quarto durante algum
tempo porque eu estava passando por dificulda-.
des financeiras ��� explicou Florisbela, satisfeita '
por ter inventado uma mentira rapidamente.
Depois a solteirona informou que na cidade
havia a pens��o de Dona Suely e o Hotel Girassol,
indicando aos rec��m-chegados o caminho a se-
guir. ontem, por��m, que os dois partissem, per-
guntou:
��� O senhor podia me dizer por que est�� ��
procura de Maur��cio?
Seu Epaminondas respondeu:
��� Est�� vendo minha filha? Ela est�� gr��vida
de sete meses. Maur��cio, depois de fazer este
"trabalho", fugiu. H�� muito tempo que estou
atr��s dele para obrigar aquele vagabundo a casar.
Ou ele casa com Cl��udia ou eu mato aquele des-
gra��ado.
113
Florisbela sorriu, apesar da hist��ria t��o tr��gi-
ca. Um prazer enorme lhe invadiu a alma. Estava
vingada. Maur��cio n��o ficaria com ela, mas tam-
b��m, n �� o casaria com Marta. N��o tinha sido a
��nica que fora enganada. P114
CAPITULO 9
O NOVO HOSPEDE
Mauricio estava na casa de Marta, entre juras
de amor.
��� Eu o amo tanto, Mauricio.
115
��� Mesmo assim n��o estava querendo se casar
logo comigo.
��� Mas agora que meu pai concordou com
tudo e a data est�� se aproximando, eu vivo con-
tando os dias para que chegue o momento de
voc�� me levar ao altar.
Por mais que se esfor��asse para disfar��ar suas
preocupa����es, Maur��cio n��o conseguia deixar de
transparecer um certo nervosismo, que n��o pas-
sou despercebido' �� noiva. A presen��a de Seu
Epaminondas na cidade era uma amea��a para
que seu casamento com Marta n��o se realizasse.
��� Por que est�� t��o nervoso hoje, Maur��cio?
��� perguntou a mo��a.
��� N��o estou nervoso. �� que qevo ter comido
alguma coisa que me fez mal e n��o estou me
sentindo bem.
��� Depois que estivermos morando juntos,
nunca mais vai acontecer isso. Vou cuidar pes-
soalmente de sua alimenta����o.
116
Marta segurou a m��o do noivo com mais for-
��a e aproximou o rosto, a fim de beij��-lo.
��� * *
Seu Epaminondas mal podia conter sua im-
paci��ncia:
��� Ainda n��o acabou de se aprontar, Cl��udia?
A filha aproximou-se:
��� O que adianta eu me casar com Maur��cio,
se ele n��o me quer?
O velho deu a impress��o de que ia explodir
de raiva:
��� Adianta muita coisa. Pior �� voc�� conti-
nuar solteira com um filho. E n��o me fale nisso
outra vez. Voc��s v��o casar de qualquer jeito.
Os dois sa��ram do quarto do hotel e ganharam
a rua. Cl��udia seguia os passos do pai, obediente-
mente. Andaram na dire����o que Florisbela in-
117
dicara naquela manh�� e se encaminharam para a
casa de Marta.
Ao chegarem ao port��o do jardim do bonito
palacete branco, bateram palmas. Uma empre-
gada veio atender:
��� O que o senhor deseja?
��� Preciso falar com o dono da casa.
A criada abriu o port��o e fez os dois entrarem,
levando-os �� sala de espera. Indicou-lhes um so-
f�� onde os visitantes se sentaram. Alguns minu-
tos depois, o pai de Marta apareceu:
��� Est�� querendo falar comigo?
��� Exatamente. �� um assunto muito grave.
��� De que se trata?
��� O senhor conhece Maur��cio?
��� O noivo de Marta?
118
��� Ele mesmo. ��� Seu Epaminondas apontou
para Cl��udia. ��� Est�� vendo esta mo��a? �� mi-
nha filha. Tem apenas dezessete anos. Maur��cio
namorava com ela e depois de deixar a garota
gr��vida, fugiu da cidade onde morava.
O pai de Marta ouviu tudo estarrecido. De-
pois lembrou-se de que o que aquele homem de.
conhecido estava dizendo podia n��o ser a ver-
dade.
��� Como posso saber que o senhor n��o est��
mentindo?
��� �� muito f��cil. Basta botar a gente cara a
cara com aquele sem-vergonha. Ele n��o vai ter
peito de negar. O senhor sabe onde Maur��cio se
encontra neste momento?
��� Na sala ao lado, em companhia de minha
filha.
Seu Epaminondas sorriu vitorioso:
��� Ent��o podemos esclarecer tudo agora.
119
��� Queiram fazer o favor de me acompanhar
��� disse o dono da casa.
No momento em que os tr��s entraram na sala
onde Maur��cio estava, este ficou terrivelmente
p��lido e incapaz de articular uma ��nica palavra:
Seu Nelson dirigiu-se a ele, dizendo-lhe:
��� Este senhor acabou de me dizer que voc��
seduziu a filha dele e depois fugiu. �� verdade
essa hist��ria, Maur��cio?
Marta n��o sabia para quem olhar: se para a
mo��a gr��vida, para o pai dela ou para o noivo.
Cl��udia n��o resistiu e come��ou a chorar.
N��o era necess��rio mais nada para Marta com-
preender que Maur��cio n��o estava inocente. Sua
atitude demonstrava claramente que era culpa-
do.
��� Maur��cio, como voc�� explica tudo isso?
* * *
Naquele mesmo dia, Maur��cio foi embora da
cidade, junto com o irm��o, Cl��udia e Seu Epa-
120
minondas. O fato serviu de coment��rio durante
muito tempo. Todas as mulheres que ele havia
conquistado ali se sentiram vingadas. Suely, He-
lena, Marisa e Florisbela n��o resistiram e foram
ver o rapaz tomar o ��nibus que o levaria para
sempre. Dona Aninha tamb��m n��o poderia dei-
xar de comparecer por nada deste mundo. Quan-
to a Marta n��o quis falar com ningu��m a respei-
to do assunto e trancou-se em casa.
Dona Aninha, que nunca deixara de descon-
fiar de Maur��cio, comentou com Dona Fininha,
quando ambas assistiam televis��o:
��� Lembra-se quando eu lhe disse que Mau-
r��cio estava aqui fugindo de alguma coisa? Des-
de o come��o eu sabia que ele n��o prestava. Se
eu fosse mais jovem, era capaz de ter querido
me seduzir tamb��m. Mas de qualquer modo n����
se pode negar que sua presen��a na cidade fez
com que a gente tivesse um divertimento. Aqui
nunca acontece nada. . . P121
* * *
121
Em sua terra natal, Maur��cio casou-se com
Cl��udia; Apesar das condi����es em que a ceri-
m��nia foi realizada, n��o deixou de haver festa,
onde todos se divertiram, menos Maur��cio, evi-
dentemente. Estivera a um passo de se tornar
milion��rio. N��o se conformava em ter escrito
aquela maldita carta para casa pedindo dinheiro
aos pais. Se n��o fosse isso, Seu Epaminondas n��o
teria descoberto seu paradeiro e ele se teria ca-
sado com Marta. . .
* * *
Alguns dias depois, Marta viajou para conti-
nuar seus estudos. Florisbela continuou sentan-
do-se todas as tardes na porta de casa, conver-
sando com sua m��e. Sentia saudades de Maur��cio,
mas n��o se arrependera de ter-se deixado por-
suir por ele, pois pelo menos n��o passara a vida
em branco. Quanto a Suely e Helena, fizeram as
pazes e nunca mais mencionaram o nome do ra-
paz. '
Tudo voltou �� calma antiga. Mas numa ma-
nh�� de domingo, no ver��o seguinte, Dona Ani-
122
nha, que vivia muito chateada por causa da mo-
notonia da cidade, teve sua aten����o despertada
por algu��m que acabava de entrar na pens��o.
Levantou os olhos e parou de fazer o seu eterno
tric��.
O desconhecido que acabara de chegar diri-
giu-se a Suely. Era um rapaz bonito, com pouco
mais de vinte anos, cabelos longos e pretos. A
dona da pens��o estremeceu quando ele escreveu
o nome na ficha:
��� O senhor se chama Maur��cio?
O jovem sorriu e comentou:
��� Por que este espanto todo? N��o gosta do
meu nome?
Suely n��o respondeu e mandou a nova empie-
gada mostrar-lhe o quarto que lhe destinara. As-
sim que o rapaz se afastou, Dona Aninha falou:
��� Bonito rapaz, n��o ��? O que ser�� que ele
veio fazer aqui?
123
��� Como posso saber? ��� respondeu Suely
procurando dar um tom natural �� voz.
��� Ele disse que se chama Maur��cio, ou eu
ouvi mal?
Suely teve ��dio da velhinha:
��� Ele se chama Maur��cio mesmo. A senhora
ouviu perfeitamente.
Na hora do jantar, como n��o podia deixar de
acontecer, Dona Aninha sentou-se ao lado do
novo h��spede:
��� O que voc�� veio fazer neste fim de mundo?
��� Vim passar as f��rias.
��� Logo aqui? Por qu��?
��� Estou precisando de um lugar tranq��ilo
onde possa descansar.
O novo h��spede n��o entendeu por que Dona
Aninha lhe piscou o olho, mas sorriu divertido.
124
Logo em seguida fixou a vista em Suely e obser-
vou que, apesar da idade, ela era uma mulher ain-
da muito bonita.
Dona Aninha compreendeu que o rec��m-che-
gado iria provocar, como o outro Maur��cio, mui-
tas atribula����es na cidade. Esfregou ��s m��os de
contentamento. Tinha certeza de que iria diver-
tir-se muito nas pr��ximas semanas.
FIM
DIGITALIZADO POR LEANDRO
125
N��o �� apenas mais um livro de Vladimir Nabokov.
do autor de "Lolita", " A d a "
q �� tantois outros sucessos!
�� o encontro de um; homem com o seu presente
visto atrav��s das coisas transparentes do passado!
Pode ser adquirido por voc�� pelo Reembolso
Postal. Pe��a o seu exemplar por apenas CrS 30,00.
�� C E D I B R A - Rio de Janeiro - RJ
Caixa Postal 20.095
Pe��o enviar-me . exemplar(es) de:
T R A N S P A R �� N C I A S
Nome>>,...
Endere��o:
C E P : Cidade: Est.:
OS PIANOS PARA
SEQ��ESTRAR
A DESCOBERTA DO COMPL�� CONTRA HTILER!
A LISTA NEGRA DA
GESTAPO E DAS SS!
Todos os sinistros meandros da espionagem
nazista est��o contados com detalhes em
O JOGO DAS RAPOSAS
Um livro de LADISLAS F ARI AG O, escrito a partir
dos documentos secretos do Reich apreendidos
pelos aliados no final da II Guerra Mundial!
Pe��a o seu exemplar por apenas Cr$ 40,00.
�� CEDIBRA - Rio de Janeiro - RJ
Caixa Postal 20.095
Pe��o enviar-me . . . . exemplar(es) de:
O JOGO DAS RAPOSAS
Nome:
Endere��o:
CEP: Cidade: i Est.:
AS OBRAS
M��XIMAS
DE UM GENI
DA LITERATU
O RETRATO
DE DORIAN CRAY
CONTOS COMPLETOS
Voc�� precisa conhecer as obras de Oscar Wilde,
o autor que escandalizou a Inglaterra vitoriana.
Aproveite a chance de adquirir estes livros, que n��o
podem faltar em sua biblioteca.
Pe��a o seu exemplar por apenas CrS 20,00 pelo
Reembolso Postal, usando, o pedido abaixo:
A CEDIBRA ��� Rio de Janeiro ��� RJ
Caixa-Postal 20.095 ��� 20.000
Pe��o enviar-me pelo Reembolso Postal o(s) exem
plar(es) abaixo assinalado(s):
��� O Retrato do Dorian Gray
��� Contos Completos -
Nome:'
Endere��o:
CEP: Cidade:
Est.
Certo dia, depois de "ofender" uma moça ele foge da sua cidade para uma cidade do interior. Lá, Maurício se hospeda numa pensão de uma viúva.
Digitalização : Leandro Medeiros
Revisão : Equipe Bons Amigos
Sobre o autor:
Escritor, jornalista e ator, Carlos Aquino nasceu em Sergipe, mas foi para o Rio de Janeiro ainda adolescente.Trabalhou em filmes e peças de teatro, mas finalmente descobriu que sua verdadeira vocação era escrever, passando a dedicar-se à literatura. Sua estréia foi com o romance: Verão no Rio" em 1973. Com seu.estilo vigoroso e moderno, colocando sempre uma dose de verdade em seus personagens, ele foi no século passado na década de 70 e 80 um dos escritores de mais prestigio junto ao público. Detalhes sobre sua morte leia em : https://www.terra.com.br/istoegente/79/tributo/index.htm
Lançamento: Grupo Bons Amigos :
http://groups.google.com.br/group/bons_amigos?hl=pt-br
Este e-book representa uma contribuição do grupo Bons Amigos para aqueles que necessitam de obras digitais como é o caso dos Deficientes Visuais
É vedado o uso deste arquivo para auferir direta ou indiretamente benefícios financeiros.
Lembre-se de valorizar e reconhecer o trabalho do autor adquirindo suas obras .
Livros:
http://bezerralivroseoutros.blogspot.com/
Áudios diversos:
http://bezerravideoseaudios.blogspot.com/
--
Seja bem vindo ao Clube do e-livro
Não esqueça de mandar seus links para lista .
Boas Leituras e obrigado por participar do nosso grupo.
==========================================================
Conheça nosso grupo Cotidiano:
http://groups.google.com.br/group/cotidiano
Muitos arquivos e filmes.
==========================================================
Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "clube do e-livro" em Grupos do Google.
Para postar neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro@googlegroups.com
Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro-unsubscribe@googlegroups.com
Para ver mais opções, visite este grupo em http://groups.google.com.br/group/clube-do-e-
---
Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "clube do e-livro" dos Grupos do Google.
Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com.
Para mais opções, acesse https://groups.google.com/d/optout.
Nenhum comentário:
Postar um comentário