QUEIR��S
O TECEDOR DE OUSADIAS
JUAREZ LEIT��O
DEUSMAR
QUEIR��S
O TECEDOR DE OUSADIAS
FORTALEZA - 2017
Copyright �� 2017 Juarez Leit��o
Coordena����o Gr��fica
Wana Aparecida
Editora����o Eletr��nica
Ed Batalha
Revis��o
Rejane Costa Barros
Rua Manuelito Moreira, 55 - Benfica
CEP 60025-210 - Fortaleza-CE
Fone: (85) 3214.8181
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F i l i a d a a
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L533t
Leit��o, Juarez
Deusmar Queir��s - O tecedor de ousadias / Juarez Leit��o. -
Premius Gr��fica e Editora: Fortaleza, 2017.
472 p
ISBN 978-85-7564-966-4
1. Biografia 2. Deusmar Queir��s I. T��tulo
CDD920
Este livro �� dedicado �� mem��ria de
Ademar Bezerra de Albuquerque, Ant��nio Diogo Siqueira,
Ant��nio Gomes Guimar��es, Ant��nio Pompeu de Sousa
Brasil e Thomaz Pompeu Filho, Assis Vieira, Bento Alves
de Souza, Carlito Pamplona, Carlos Jereissati, Cl��vis Rolim,
Conrado Cabral, Edson, Yolanda e Airton Queiroz, Elano
de Paula e Bernardo Bichucher, Eliseu Batista, Ernesto
Deocleciano, Francisco de Almeida Sanford, Geminiano
Maia (Bar��o de Camocim), Gerv��sio Pegado, Gotran
Nascimento, Gustavo Silva, In��cio Parente, Jo��o Gurgel
Nogueira, Joaquim da Cunha Freire (Bar��o da Ibiapaba),
Jos�� Alcy Siqueira, Jos�� e Ant��nio Romcy, Jos�� Gentil de
Carvalho, Jos�� Guimar��es Porto, Jos�� Thom�� de Saboya,
Jos�� Vilar, Luiz Severiano Ribeiro, Manuel Dias Branco e
Ivens Dias Branco, Moys��s Pimentel, Petr��nio Andrade,
Pio Rodrigues, Quirino Rodrigues dos Santos, Raimundo
e Luiz Esteves, Te��filo Gurgel Valente e Vicente Gaspar,
que tiveram a coragem de empreender no Cear��,
contribuindo para seu desenvolvimento.
Dedicamos tamb��m esta hist��ria a tr��s grupos
farmac��uticos centen��rios:
�� Droga Raia, que �� a mais antiga rede de drogarias do
Brasil, fundada em 03 de agosto de 1905 em Araraquara,
SP, pelo farmac��utico Jo��o Baptista Raia, um italiano que
chegou ao Brasil com 16 anos de idade. Em 2 0 1 1 , fundiu-
se com a Drogasil, fundada em 1935, por Jos�� Pires
Oliveira Dias, atrav��s da fus��o das Drogarias Br��ulio e
Brasil, e juntas formam a RD Raia Drogasil S.A.
�� Drogaria Ara��jo, fundada em 20 de mar��o de 1906 em
Belo Horizonte, MG, por Modesto Carvalho de Ara��jo,
pioneira na instala����o de Telemarketing, Drive Thru e a
primeira drusgtore brasileira. Administrada, hoje, pelas
terceira e quarta gera����es do fundador.
A Eduardo de Castro Bezerra, o primeiro empres��rio
do ramo de medicamentos a criar uma rede de farm��cias
no Cear��, dirigindo os Estabelecimentos E. Bezerra S.A.
que, segundo a divulga����o da ��poca (a partir dos anos
20 do s��culo passado), era uma "Grande organiza����o
droguista, importadora de alta escala, composta dos
seguintes estabelecimentos: Farm��cia e Drogaria Pasteur,
Farm��cia Francesa, Farm��cia Modelo, Farm��cia Londres,
Farm��cia Excelsior, Farm��cia Brasil e Laborat��rio
Gonzaga".
Porque muitos momentos da hist��ria de Deusmar Queir��s
foram inspirados nos exemplos que viu e conheceu,
sobretudo, no respeito �� experi��ncia dos pioneiros.
Aos colaboradores, fornecedores, clientes e a todos
os que, com seu trabalho, confian��a e incentivo
contribu��ram para a hist��ria de Deusmar Queir��s e
edifica����o do sucesso da Pague Menos, primeira rede
de varejo presente em todas as Unidades da Federa����o
Brasileira.
��s fam��lias Queir��s e Alves, com quem Deusmar repartiu
momentos intensos da vida.
E, especialmente, �� Dona Auric��lia, amor definitivo,
eterna namorada, companheira das plan��cies, dos abismos
e dos altiplanos da perip��cia humana e dos sonhos do
dono desta hist��ria,
a homenagem do autor.
A todos que, direta ou indiretamente, contribu��ram para
a realiza����o deste ensaio biogr��fico,
o nosso agradecimento.
SUM��RIO
PREF��CIO 17
INTRODU����O 23
1. O Conferencista 29
2. A Lagoa do Barbat��o 45
3. A estirpe dos Queir��s 51
4. O menino de Amontada 59
5. No Barro Vermelho 71
6. A turma do Bola Sete 83
7. O escoteiro 101
8. O territ��rio do amor 111
9. Ingressando no mercado de capitais 129
10. O campe��o dos leil��es do FINOR 143
11. O nascimento das Farm��cias Pague Menos 153
12. A germina����o do sonho 163
13. A Pague Menos toma conta do pa��s 177
14. Os encantos da diversidade 191
15. Risco de vida 2 0 1
16. A amplia����o de servi��os Pague Menos 2 0 9
17. Congressos e conven����es 2 1 9
18. O Encontro de Mulheres Pague Menos 239
19. A a����o social da Pague Menos 249
20. O Projeto F��brica Escola e a ressocializa����o
de apenados 263
2 1 . A travessia para o futuro 287
22. O olhar dos filhos 295
23. As ep��stolas 325
24. O homem visto de perto 353
2 5 . Personagem da mitologia popular 389
26. E o sonho continua 407
CRONOLOGIA 413
BIBLIOGRAFIA 4 2 1
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
PREF��CIO
Raimundo Padilha
Ao receber o convite para prefaciar a biografia do
Deusmar Queir��s, tive sensa����es de orgulho e de res-
ponsabilidade.
Este livro tem uma combina����o de duas for��as
reconhecidas. A hist��ria, em si, de um empres��rio que
ultrapassou as fronteiras de nosso estado e alcan��ou os
limites territoriais do Pa��s, e a outra, tamb��m muito for-
te, do autor da obra, o jornalista, escritor e historiador
Juarez Leit��o.
Entendi que era mais um desafio a enfrentar.
Tamb��m, sou movido a desafios, pois considero um bom
combust��vel para a vida.
A narrativa do Juarez, na sua condi����o de pesqui-
sador, incorpora �� obra, curiosidades inerentes ao am-
biente hist��rico e geogr��fico, vividos pelo biografado
al��m, �� claro, de um passo a passo na sua estrada do em-
preendedorismo.
Conheci o Deusmar j�� adulto, embora ��s vezes, de
perfil irrequieto como de uma crian��a ou adolescente.
N��o conhecia o seu passado. E como est�� no meu depoi-
mento no corpo deste trabalho, a nossa apresenta����o se
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J U A R E Z L E I T �� O
deu atrav��s do meu concunhado Jos�� Ubirajara Alves,
irm��o da Auric��lia, esposa do biografado. Ele �� casado
com uma irm�� da minha esposa.
Ubirajara, tamb��m, de origem humilde, no in��cio
dos anos 60, foi estudar na Universidade de Stanford, nos
Estados Unidos, onde obteve os t��tulos de Mestre e de
Doutor em Matem��tica. Por ser o mais velho do cl�� da
fam��lia Alves, sempre se preocupou com os irm��os, tan-
to no que diz respeito aos estudos, quanto ��s atividades
profissionais.
Da��, tenho certeza, a raz��o pela qual me telefo-
nou de Bras��lia, onde exerceu o Magist��rio e a Dire����o
do CNPQ - Conselho Nacional de Pesquisas - solicitando
uma coloca����o para o Deusmar, seu futuro cunhado.
Aquilo que no seu pedido parecia um favor trans-
formou-se na apresenta����o de um excelente colaborador.
Ent��o, a minha amizade com ele, iniciou-se no
princ��pio dos anos 70. A CR��DIMUS Distribuidora de Va-
lores, da qual eu era Diretor Executivo, era uma empresa
do Grupo CR��DIMUS, que tinha como s��cios Elano de
Paula e Walder Ary, (s��cios da Master - Incosa e IPLAC
Cearense), de um lado e, do outro, os s��cios - Diretores
do Grupo EIT, (Geraldo Rola, Jos�� Nilson de S��, Aquiles e
Bol��var Gadelha, Bernardo Bichucher e P��ricles Pontes).
Colocando um pouco de humor e fazendo um
comparativo com a "Escolinha do Prof�� Raimundo", do
imortal Chico Anysio, todos fomos da escolinha do Pro-
f��. Elano de Paula (irm��o do Chico). Era uma escola de
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
empreendedorismo, onde conviveram tamb��m Jo��o Jos��
de S�� Parente, Nisabro Fujita, Jo��o Soares Neto, Danilo
Marques e muitos outros.
A alus��o a estas Empresas e personagens tem o
objetivo de mostrar o ambiente empresarial no qual o
Deusmar foi trabalhar.
Tamb��m percebi na leitura da obra, que foi na sua
inf��ncia que o biografado recebeu os seus primeiros en-
sinamentos empresariais, atrav��s de seu pai, Sr. Lisboa,
no seu pequeno neg��cio em Amontada. O treinamento
prosseguiu em Fortaleza, no Barro Vermelho, para onde
seus pais se transferiram com a mercearia.
O esp��rito empreendedor do seu genitor e a firme
decis��o de vir para a Capital, foram muito importantes
para alargar os horizontes do menino Deusmar, herdeiro
de um DNA vision��rio.
O "Escotismo", tamb��m, deixou marcas positivas
na sua forma����o. Civismo, cidadania e enfrentamento de
desafios s��o temas do cotidiano dos escoteiros, e isto, na-
turalmente, foi se incorporar ao alicerce da sua caminha-
da empreendedora.
Acho, at�� que algum "Chip" da IBM, onde ele tra-
balhou, e a numerologia do CENSO de 1970, onde ele
tamb��m colaborou, instalaram-se na sua cabe��a e pro-
duziram uma velocidade exponencial no seu racioc��nio.
O Mercado Financeiro deu ferramentas complementares
de avalia����o de riscos, que o tornaram, extremamente
��gil na tomada de decis��es.
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J U A R E Z L E I T �� O
Mas, al��m das experi��ncias empresariais, Deus-
mar teve uma educa����o formal de refer��ncia, gra��as aos
esfor��os de seus genitores. Em Fortaleza, foi disc��pulo de
Edilson Brasil So��rez, no Gin��sio 7 de Setembro, e dos
Irm��os Maristas, no Col��gio Cearense.
Graduou-se em Ci��ncias Econ��micas pela Univer-
sidade Federal do Cear�� e em seguida, foi Professor de
Mercado de Capitais e Chefe do Departamento de Eco-
nomia da UNIFOR - Universidade de Fortaleza, da Fun-
da����o Edson Queiroz.
Ali��s, vale o registro, que muito me orgulha, de
ter participado do Projeto de Cria����o da Universidade de
Fortaleza e onde o mesmo Jos�� Ubirajara Alves foi o ela-
borador do seu primeiro Estatuto. Nessa ��poca, o Reitor
convidado foi o Engenheiro e ex-Prefeito de Fortaleza,
Jos�� Valter Cavalcante.
Voltando ao biografado percebe-se que ele, al��m
do DNA vision��rio do Sr. Lisboa, teve uma boa educa-
����o formal e viveu desde crian��a nos laborat��rios da
vida empresarial.
Nessa combina����o, n��o poderia ocorrer outra coi-
sa, sen��o, empreender. E empreender, notadamente, para
quem n��o recebeu uma "gorda heran��a" �� ter muita gar-
ra para "come��ar do zero", ter perseveran��a, enfrentar
desafios, assumir riscos, ter vis��o de futuro. Ele mudou
de par��metro, aposentou a sua Carteira do Minist��rio do
Trabalho e passou a "assinar o ponto" de sua pr��pria Em-
presa, com 24 horas de preocupa����es di��rias.
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
O combust��vel que move o Deusmar �� o trabalho,
associado �� sua tend��ncia festeira. Alia-se a tudo isto, a
sua espiritualidade e o excessivo amor que devota �� sua
esposa Auric��lia, aos filhos e netos.
Com a dimens��o empresarial que conquistou sabe
que tem que ter um "olho no peixe e o outro no gato".
Acompanha as inova����es e o processo de globaliza����o e
sabe que "Fortaleza n��o �� o centro do Universo". Conhe-
ce o mundo, suas tend��ncias e oportunidades. A inova-
����o �� uma constante na sua vida e na de suas empresas.
Conhece a concorr��ncia, fornecedores, colaboradores e
clientes. Enfim, CONHECE.
E, em respeito �� sua fam��lia, ao seu patrim��nio e
aos seus neg��cios, desde cedo preparou a sua sucess��o
e implantou a governan��a coorporativa, que significa:
construir as pontes da longevidade e sustentabilidade do
seu imp��rio empresarial.
Com a transpar��ncia dada aos seus resultados eco-
n��mico-financeiros e elevado grau de profissionaliza����o,
as Farm��cias Pague Menos passaram a ser cortejadas pe-
los maiores players financeiros e n��o financeiros nacio-
nais e estrangeiros interessados na sua compra total ou
parcial.
Fez todo dever de casa de um IPO, que ainda n��o
ocorreu devido �� instabilidade da economia nacional.
Por��m, mesmo com a conjuntura desfavor��vel, os Fun-
dos de Investimentos continuaram interessados. At�� que
Deusmar optou pelo General Atlantic, vendendo por 600
milh��es de reais, 17% da sua rede de farm��cias.
21
J U A R E Z L E I T �� O
E aqui, vale lembrar que, em meados da d��cada de
70, quando se associou ao Bichucher na Pax Corretora, a
sua cota de participa����o de 15% foi paga "com a coragem
e a cara", isto ��, com trabalho, pois era a sua ��nica moeda.
Como nos contos de fada, os n��meros se agiganta-
ram. E sua varinha de cond��o foi um mix de muito traba-
lho, perseveran��a e otimismo.
Hoje, com mais de 1.000 farm��cias, com presen��a
em todos os Estados Brasileiros e Distrito Federal, t��m
porte para uma internacionaliza����o.
E, quem sabe, talvez j�� esteja no seu radar, at�� por-
que, tendo, tamb��m, como s��cio um investidor estran-
geiro, naturalmente, j�� disp��e de um passaporte para in-
gresso no Clube das Economias Desenvolvidas.
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
INTRODU����O
UM MARCO DE OUSADIA NA HIST��RIA DO PA��S
DEUSMAR QUEIR��S representa com distin����o o
moderno empres��rio brasileiro no sentido completo de
seus valores, reunindo em sua marcante personalidade,
qualidades essenciais e definidoras do sucesso, como a
determina����o, o esp��rito ousado, a intelig��ncia, o amor
pelo trabalho e a perseveran��a, aliados �� indispens��vel e
natural voca����o empreendedora.
No ontem e no hoje, a ousadia �� a principal ban-
deira da gente cearense.
N��o importam as crises proclamadas, as retic��n-
cias dos parvos, o medo do apocalipse. O cearense sem-
pre acha um caminho. E, se o caminho n��o existe, ele
o inventa e por ali p��e em marcha sua criatividade, seu
talento e sua garra ind��mita de conquistador.
A proverbial coragem da gente do Cear�� poderia
ser apenas um del��rio ufanista se a hist��ria n��o mostras-
se os exemplos que v��m desde a Confedera����o do Equa-
dor (quando um grupo de afoitos liberais proclamou
uma Rep��blica), passando pelo pioneirismo abolicionis-
ta, a conquista do Acre e muitas outras perip��cias que
abismaram a na����o.
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J U A R E Z L E I T �� O
Nos tempos atuais, a coragem e a tenacidade to-
mam novas formas de aplica����o. N��o �� preciso sofrer o
mart��rio do fuzilamento no Passeio P��blico aplicado a he-
r��is do porte de Carapinima, Pessoa Anta, Azevedo Bol��o
e Padre Moror��. O hero��smo hoje tem outras facetas.
Vencer como nordestino a discrimina����o nacional
requer bravura.
H�� quatrocentos anos chegavam os colonizadores
com suas cartas forais e seus bacamartes para ocupar a
terra, plantar as fazendas e os primeiros povoados. Fize-
ram a hist��ria a ferro e fogo.
Os personagens contempor��neos t��m outros per-
fis. S��o homens modernos e pr��ticos que, ao inv��s do
trabuco, usam a persist��ncia e a diplomacia para abrir
espa��o no inseguro mundo empresarial brasileiro.
S��o tempos e sistemas diferentes, mas a luta �� a
mesma e igualmente exige aud��cia e muita disposi����o.
Mas da mesma forma que a antiga ordem inspira a
nova, esta, por aprendizado hist��rico, se articula em fun-
����o de resultados que lhes garantam a exist��ncia.
Tratar de nossas qualidades, das demonstra����es de
resist��ncia e supera����o, relembrar a saga dos alencarinos
e contar a hist��ria de um empres��rio que, por leg��timas
qualidades pessoais, venceu em sua terra e conquistou o
pa��s, �� um exerc��cio animador.
�� frente do grupo empresarial PAGUE MENOS,
uma rede de farm��cias que est�� implantada em todas
as unidades da federa����o, DEUSMAR QUEIR��S man-
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
t��m a consci��ncia de que o sucesso �� um edif��cio em
eterna constru����o.
T��pico filho das necessidades sertanejas, oriundo
de Amontada, no interior do Cear��, pisou pela primeira
vez a Capital aos oito anos, quando seu pai procurava um
novo espa��o para sobreviver como pequeno comerciante.
O menino Deusmar, afilhado de S��o Francisco, j��
era portador de um sonho e, muito jovem, haveria de re-
velar-se um devoto do trabalho, procurando ajudar aos
pais como vendedor de rua.
Estudou, chegou �� universidade, cursou Econo-
mia, empregou-se como operador do Mercado de Capi-
tais, tornou-se professor de Economia.
Quando, em 1981, instalou a primeira FARM��CIA
PAGUE MENOS no sub��rbio de Fortaleza (bairro Ellery),
sabia que estava iniciando uma hist��ria que, na senda dos
seus sonhos, seria bela e vertiginosa.
Sonhar �� um de seus of��cios prediletos. Nasceu,
como ele mesmo diz, para "acreditar nas ideias e nos ide-
ais, nas pessoas e no Brasil."
Homem de f��, tem procurado ajudar a generosida-
de de Deus fazendo a sua parte. Nunca ficou olhando a
Hist��ria das margens pl��cidas da acomoda����o: aprendeu
desde cedo a cavalgar o pr��prio destino e a fitar o hori-
zonte com determina����o.
Otimista e entusiasmado por natureza, �� um habi-
tante de esperan��as e aspira����es, a um tempo sublimes e
pragm��ticas. Tem um p�� no umbral metaf��sico e o outro
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J U A R E Z L E I T �� O
no duro ch��o da realidade, administrando com igual ha-
bilidade a pedra e a nuvem, os sonhos e a vida.
Assisti-lo no desempenho de seu trabalho, coman-
dando de modestas instala����es um imp��rio empresarial,
d��-nos a perfeita no����o de como conseguiu atingir a po-
si����o que hoje desfruta na economia brasileira. Vestin-
do-se de humildade e bom senso, compatibiliza antigas e
serenas virtudes com ousadias e inova����es.
No frenesi da peleja di��ria parece, de fato, um ge-
neral comandando seu ex��rcito numa batalha decisiva,
um Napole��o em Austerlitz.
Convoca, orienta, usa o telefone, se informa, corre
daqui pra acol��, aponta o dedo, assina pap��is, consulta a
tela do computador, reflete, decide. De sorriso eterna-
mente pronto, n��o se exaspera nunca, n��o embrutece,
n��o se descabela, embora pare��a estar sempre debaixo
de fogo cerrado, com aten����o m��xima agindo sobre a
preciosidade dos minutos.
V��-se que est�� feliz, como um menino agarrado
ao seu brinquedo de Natal, contagiando a todos com sua
vibra����o, espargindo otimismo e fagulhas de alegria ao
derredor.
Na mesa de trabalho e nas paredes, veem-se re-
tratos da fam��lia, filhos e netos, todos sorridentes, todos
contagiados pelo bom humor do pai e av��, um vibrante
patriarca que se orgulha dos rebentos e com eles reparte
os prazeres e afazeres da vida.
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Cidad��o de seu tempo, DEUSMAR QUEIR��S tem
cumprido com absoluta lucidez sua trajet��ria vital, de-
monstrando a completa consci��ncia de sua tarefa humana
como l��der empresarial, como chefe de fam��lia, como ser
influente na sociedade e na hist��ria de seu estado e do pa��s.
Cheio de garra e brilho, ningu��m o conhece sem
ficar marcado por seu carisma natural, por sua cortesia e
afabilidade, por seu entusiasmo e otimismo contagiante.
DEUSMAR QUEIR��S ��, sem d��vida, um homem
incomum, que, na sua simplicidade carrega em sua gran-
de alma esta capacidade agregadora, a fa��sca m��gica do
realizador e algumas virtudes certamente raras nesses
tempos de ��speras not��cias.
Por isso, n��o podemos deixar de lan��ar um olhar
demorado sobre sua hist��ria edificante e exemplar. Seria
um descuido indesculp��vel.
Uma hist��ria que deve ser mostrada, hasteada
como modelo �� juventude, como mat��ria-prima do car��-
ter que queremos formar na ��ndole cearense e brasileira.
27
1
O CONFERENCISTA
"A Hist��ria n��o nos pertence:
n��s pertencemos a ela."
H a n s - G e o r g Gadamer ( 1 9 0 0 - 2 0 0 2 )
fil��sofo a l e m �� o
No audit��rio que vai sendo tomado por uma mul-
tid��o de jovens h�� um burburinho natural, um
rumor de muitas vozes em baixo tom enquanto
procuram uma poltrona, cada qual escolhendo sua fileira
e, nessa, o lugar de melhor ��ngulo para enxergar a mesa
diretora dos trabalhos e a tribuna dos conferencistas.
V��o se aconchegando aos conhecidos, �� gente de sua tur-
ma, escolhendo a vizinhan��a. S��o centenas de estudan-
tes, talvez um milhar de mo��as e rapazes, sorridentes,
g��rrulos, de olhares inteligentes, trescalados de energia e
29
J U A R E Z L E I T �� O
espontaneidade. Aqui e ali, naquela massa imensa, uma
cabe��a grisalha, um rosto mais maduro, um homem ou
uma mulher de m��dia idade, os mestres, certamente.
Participam do 35�� Encontro Nacional de Engenharia de
Produ����o - ENEGEP, promovido pela ABEPRO - Asso-
cia����o Brasileira de Engenharia de Produ����o.
Estamos em Fortaleza, no sal��o de eventos do Ho-
tel Praia Centro, em 13 de outubro de 2 0 1 5 . S��o nove
horas da manh��, ter��a-feira.
Composta a mesa por eminentes figuras do ma-
gist��rio da Engenharia de Produ����o oriundas de v��rias
universidades do pa��s e membros da diretoria da enti-
dade, sob a presid��ncia do Dr. Milton Vieira Jr., houve
uma breve apresenta����o dos dirigentes do congresso em
que procuravam esclarecer as raz��es daquele encontro e
anunciar as expectativas sobre os debates e as resolu����es
que ali seriam gerados.
Decorridas essas primeiras falas, foi anunciada a
palestra de abertura oficial do Encontro sob o t��tulo de
"Empreendedorismo e o Desenvolvimento de uma rede
nacional de lojas. A experi��ncia das Farm��cias PAGUE
MENOS", pelo Dr. DEUSMAR QUEIR��S.
Ao an��ncio do conferencista, correu pela plateia
um fr��mito de ansiedade. Os participantes j�� conheciam
o nome e a fama do orador anunciado por conversas de
ouvir dizer e at�� por refer��ncias em sala de aula, quando
professores dissertavam sobre ousadia e perseveran��a
no empreendedorismo. Um nome nacional, que conse-
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
guira levar as prateleiras de sua farm��cia para todos os
estados da Federa����o.
Os olhares se apontaram para o palco onde um ho-
mem de estatura mediana, um nordestino t��pico, cabe��a
chata, corpo roli��o de caboclo rural, sorriso franco e as-
pecto resoluto, varria todo o audit��rio com sua simpatia.
Um sil��ncio respeitoso desceu sobre o ambiente
antes que os versos de uma can����o de Geraldo Vandr��,
na voz de Jair Rodrigues, o interrompesse: "Prepare o
seu cora����o/Pra coisas que eu vou contar/Eu venho l�� do
sert��o...".
"- Bom-dia a todos!" - saudou o palestrante. E
continuou: "Eu tenho uma hist��ria e um segredo para
contar pra voc��s e gostaria que me ouvissem com muita
aten����o".
Mirou a plateia, estabeleceu uma pausa estudada,
previdente, e esperou que todos se colocassem em fran-
ca disposi����o psicol��gica para receber sua mensagem.
Ent��o come��ou a contar a sua vida de menino pobre e
inveterado sonhador.
Falou que nascera numa aldeia do litoral norte do
Cear��, um humilde distrito do munic��pio de Itapipoca, a
170 km de Fortaleza. Amontada hoje �� uma cidade eman-
cipada, que tem at�� ag��ncia do Banco do Brasil e, natu-
ralmente, uma Farm��cia PAGUE MENOS. Mas, no tempo
em que Deusmar nasceu, em 1947, a vida ali era muito
prec��ria e carecia dos recursos mais singelos de higiene
e saneamento b��sico. A casa de seu Ant��nio Lisboa, pai
31
J U A R E Z L E I T �� O
de Deusmar, n��o tinha banheiro nem energia el��trica e,
como consequ��ncia, sua fam��lia n��o usufru��a dos equipa-
mentos elementares da vida dom��stica civilizada, como
uma simples geladeira e um liquidificador. O r��dio fun-
cionava com uma bateria de caminh��o carregada por um
cata-vento. Mesmo assim, menino ainda, ouviu do pai
esta senten��a alvissareira: "Voc�� vai ser doutor!".
Ant��nio Lisboa de Queir��s era um afilhado da
esperan��a e conseguiu repassar essa virtude ao filho,
que haveria de multiplic��-la. Ele pr��prio n��o conseguira
concluir o antigo Curso Prim��rio, mas sonhava com um
destino diferente para os filhos, o menino Deusmar e
sua irm�� mais velha, Raimunda Nonata, que o antecedeu
na vinda para a Capital, onde se internara num col��gio
de freiras.
Quando Deusmar estava para completar oito anos
de idade, o pai vendeu o com��rcio onde moravam e veio
com a fam��lia para Fortaleza, estabelecendo-se com uma
mercearia no bairro Ant��nio Bezerra.
"Matriculou-me nos melhores col��gios. Estudei
no Sete de Setembro, do austero professor Edilson Brasil
So��rez, e no Col��gio Cearense dos Irm��os Maristas. Co-
l��gios caros, com mensalidades pagas suadamente com
o que apurava na Mercearia Santo Ant��nio. Nunca fui,
por��m, filhinho de papai, vivendo na moleza e deitado
em ber��o espl��ndido. Depois das aulas tinha que ajudar
a fam��lia ganhando nas ruas o meu dinheiro. Tirava o
uniforme escolar e pegava o cesto de bananas, laranjas
32
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
e rapaduras para vender de porta em porta, rua acima e
rua abaixo. Todos os dias tinha de ganhar pelo menos o
equivalente �� unidade da moeda corrente. E, quando pre-
cisava de um sapato, era preciso me esfor��ar mais para
compensar o investimento. Nunca escamoteei a ordem
paterna nem reclamei da sorte. Entendi muito cedo que o
destino me reservava duas miss��es, ESTUDO e TRABA-
LHO, e, ao aceit��-las, constru�� o sucesso de minha vida."
O relato continua e todo o audit��rio o acompanha
com respeito e admira����o. Atentos, todos parecem viajar
para as terras promissoras do conferencista, para a aurora
de sua ascens��o, para o come��o penoso de sua escalada.
E ele explica como conseguiu o primeiro emprego.
Foi na IBM do Brasil, onde come��ou como aprendiz e
chegou ao cargo de Operador S��nior.
Na sequ��ncia, passou no vestibular para o Curso
de Economia da Universidade Federal do Cear�� e, ain-
da como estudante, foi convidado para atuar no mer-
cado financeiro na CR��DIMUS DISTRIBUIDORA DE
VALORES.
Graduou-se em Ci��ncias Econ��micas e Adminis-
trativas em 1973 e, no ano seguinte, tornou-se professor
universit��rio, na UNIFOR (Universidade de Fortaleza),
das cadeiras de Mercado de Capitais, Microeconomia e
Macroeconomia.
Reconhecido como expert no mercado financeiro,
em 1976 foi convidado para montar a ��rea de opera����es
da Bolsa de Valores regional.
33
J U A R E Z L E I T �� O
Em maio de 1977, em sociedade com o empres��-
rio Bernardo Bichucher, cria a PAX Corretora de Valores
e C��mbio, tornando-se, dois anos depois, seu s��cio ma-
jorit��rio. Era, agora, de fato e de direito, um empres��rio.
Lembra a data de grande significado em sua vida: 26 de
maio de 1977, v��spera de seu anivers��rio de trinta anos.
"O mercado financeiro me deu muito dinheiro" -
afirma, categ��rico.
"Aos trinta e quatro anos alcancei meu primeiro
milh��o de d��lares, que �� o sonho americano de sucesso."
Quando se casou, em 1971, ainda vivia o tempo das
vacas magras, mas j�� era rico de sonhos. Sabia que iria ven-
cer porque tinha dentro dele as ferramentas fundamentais
dos vitoriosos: o otimismo, a aud��cia e a f�� em Deus.
Foi caprichoso tamb��m no campo do amor. Casou
com Maria Auric��lia depois de sete anos de namoro (ou
talvez de estudos), mas escolheu a companheira para a
vida inteira.
"Hoje, aos 44 anos de casado com a mesma mu-
lher, temos duas filhas e dois filhos, al��m de 14 netos.
S��o muitos? �� que eu combinei com eles que a heran��a
seria de acordo com o n��mero de netos. Por isso, produ-
ziram bastante."
Em 1 9 8 1 , come��a a hist��ria da PAGUE MENOS.
Fundou a primeira loja na periferia de Fortaleza. Um ano
depois j�� eram cinco lojas. O nome da farm��cia j�� ��, por
si, um achado publicit��rio. Se algu��m precisa de um re-
m��dio, anuncia que vai �� PAGUE MENOS e, assim, ad-
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
mite que, por escolh��-la, j�� est�� fazendo economia, est��
pagando menos. Economia de tempo e espa��o tamb��m,
porque as farm��cias do Deusmar est��o por toda parte e,
certamente, tem alguma perto de voc��.
O palestrante vai gradativamente se entusiasman-
do. �� um menino no esplendor da anima����o. Fala dos seus
neg��cios como um adolescente falaria de suas fa��anhas
amorosas. Parece um homem comum, agrad��vel e sor-
ridente, relatando a sua perip��cia humana, mas, apesar
do despojamento e da simplicidade, �� a segunda maior
fortuna do Cear�� e a 4 6 a do pa��s, dono de uma estrutu-
ra comercial que responde por um faturamento anual de
mais de 5 bilh��es de reais, segundo a Forbes, em 2 0 1 5 .
De repente, estaca. Fica s��rio e declara que vai
contar o seu segredo. Os olhos dos ouvintes se arregalam
curiosos e expectantes. Ser�� que o empres��rio bilion��rio
vai indicar para todos, o caminho das pedras, revelar o
pulo do gato?
E, ent��o, depois de uma pausa estrat��gica, ele con-
fessa, reverente:
"Fiquem certos, todos voc��s, que nada disso eu te-
ria conseguido sem as b��n����os de Deus. Pelo mesmo ca-
minho e pela mesma f�� voc��s podem tamb��m conseguir.
Por isso, eu os convido a chamar Deus para este congres-
so rezando o Pai-Nosso, agora! Vamos l��, pessoal! Quem
acredita que Deus pode ajudar, venha comigo. Em nome
do Pai, do Filho e do Esp��rito Santo, Am��m. Pai-nosso,
que estais no c��u..."
35
J U A R E Z L E I T �� O
E, depois, continua, exaltado como um mission��rio:
"Meus amigos, sem Ele eu n��o estaria aqui. Creio
nisto, sinceramente. E ter f�� nunca me fez mal. Expe-
rimentem. Mas experimentem tamb��m ser otimistas.
Plantem a esperan��a em seus cora����es. Botem a for��a
do entusiasmo em seu esp��rito e ajam. Executem. N��o
esperem sentados que a sorte lhes traga as venturas.
Porque h�� tr��s tipos de pessoas: as que olham as coisas
acontecer. As que perguntam o que foi que aconteceu.
E as que fazem as coisas acontecer. As primeiras, s��o
passivas. As da segunda alternativa, s��o sempre surpre-
endidas pelos fatos. As ��ltimas, sim, s��o proativas na
vida e fazem a hist��ria."
Os assistentes est��o capturados pelo orador. N��o
h�� um murm��rio nem ru��do nenhum no audit��rio imen-
so. E ele prossegue, persuasivo e sedutor:
"Acreditem em seus sonhos. �� fundamental acre-
ditar no que voc�� pretende, naquilo que quer fazer e acha
que vai dar certo. Sonhe alto e considere que vai conse-
guir. Se o seu sonho �� bom, Deus vai ajudar a realiz��-lo.
Nunca seja mais um. Procure ser especial. E, sobre-
tudo, acredite em seu pa��s. Eu acredito no Brasil. Acredito
muito. Sen��o, n��o teria aberto mais 90 lojas neste ano de
2 0 1 5 . Se fosse me deixar levar pela onda de pessimismo
que inunda os notici��rios e acinzenta as falas de muitos,
estaria descambando para o mesmo vale da amargura e
me atrelaria �� in��rcia. O potencial do Brasil �� bem maior
do que as mazelas que os insensatos podem produzir. A
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
economia brasileira, malgrado os que apostam no pior,
vai vencer a crise e crescer. E com a garantia da plena de-
mocracia. Algu��m duvida que conquistamos o almejado
Estado Democr��tico de Direito? Podemos mostrar com
fatos. Temos elei����es livres. Quantas, seguidas? 90, 94,
98, 2002, 2006, 2010, 2 0 1 4 e, com certeza, 2018. A im-
prensa livre exerce um grande poder sobre a opini��o p��-
blica. A Pol��tica de Cotas e o leque de oportunidades que
abriu. A independ��ncia do Judici��rio. H�� poucos anos,
se dizia que neste pa��s s�� os ladr��es de galinha iam pra
cadeia. Hoje, pol��ticos, ex-ministros e grandes empres��-
rios est��o presos pelas malfeitorias que praticaram. Uma
democracia consolidada.
Alerto-vos para que defendam as oportunidades
de trabalho para todos. Quanto mais empregos, menor
o ��ndice de inseguran��a. N��o adianta voc�� ser um enge-
nheiro de produ����o bem-sucedido, um gerente, um di-
retor de opera����es com um monte de favelados ao seu
lado, com uma multid��o de infelizes enchendo as ruas,
estendendo as m��os pedintes, vivendo as horas da morte.
Se voc�� puder, d�� emprego, invista na humanidade.
Por que embarcar na prega����o dos desanimado-
res? Acompanhem-se dos otimistas e fujam dos amargos,
dos incr��dulos, dos maledicentes, dos que dizem que
tudo vai piorar.
Estamos vivendo mais, nossa m��dia et��ria passa
agora dos setenta anos. Antigamente se morria antes dos
cinquenta. E muitos de n��s h��o de atingir os noventa.
37
J U A R E Z L E I T �� O
Estou vendo na minha frente futuros nonagen��rios. Por-
tanto, temos que alargar as portas dos banheiros para dar
passagem ��s cadeiras de rodas dos anci��os.
N��o se esque��am de ser positivos. Neste momento
de perplexidade os fomentadores de d��vidas indagam: o
que est�� pior, a pol��tica ou a economia? Uns v��o dizer que
�� a pol��tica e outros v��o afirmar que �� a economia. Mas vos
digo: uma �� consequ��ncia da outra e ent��o ambas podem
melhorar se todos n��s nos esfor��armos para isso. Nesses
��ltimos anos, 40 milh��es de brasileiros foram tirados do
estado de mis��ria e isso foi ��timo para a economia, fez,
provocou boas mudan��as sociais. Muita gente usufruiu,
comprou, vendeu, viajou, conseguiu um teto... Houve um
consumo positivo. Os pobres experimentaram um pouco
de felicidade. Agora est�� na hora de pagar a conta. Todos
t��m que ajudar, contribuir, porque s�� assim, repartindo
responsabilidades, seremos uma na����o. Vem a�� o ajuste
fiscal. Com certeza vai tirar e n��o botar dinheiro no bolso
das pessoas. �� uma necessidade deste momento. Na crise
�� preciso aprender a conviver com ela. Voc�� vai deixar de
comer ou de comprar medicamentos? (ali��s, nem pensem
nisso) Mas vai eleger prioridades. Todos os bens s��o de
consumo, mas alguns s��o essenciais e outros nem tanto.
Alguns gastos podem ser adiados, como viagens, compra
de carros novos, troca de eletrodom��sticos... Bem, vamos
ter que administrar a transi����o at�� que as coisas melho-
rem. A ordem �� praticar a ren��ncia. Passou a folia dos
perdul��rios. No setor privado, redu����o do endividamento
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
e aumento da produtividade. Fazer mais com menos. No
com��rcio, por exemplo, precisamos de gente pensando
em como fazer bem feito, com menores recursos, meno-
res gastos e com maior rendimento.
Andei fazendo uns estudos do cen��rio econ��mi-
co brasileiro nas ��ltimas cinco d��cadas. De 1963 pra c��,
em somente tr��s momentos o Brasil teve o PIB abaixo de
zero. Esta, agora, �� a quarta vez. Nas outras tr��s, a recu-
pera����o n��o demorou mais do que tr��s anos. Por isso, eu
acredito que em 2017 ou 2 0 1 8 estaremos saindo dessa
malfadada condi����o e a nossa economia recuperando a
sua dignidade. Vejam bem: com todo esse esc��ndalo da
Lava Jato a Petrobras continua a bater recordes de produ-
����o, enquanto o setor de energia, mesmo vivenciando a
escassez de chuvas, n��o entrou em colapso. Al��m disso,
crescem as ades��es a outras formas de energia, como a
solar e a e��lica. Estamos batendo recordes tamb��m na
produ����o de gr��os, mesmo com cinco anos de seca, en-
quanto o turismo cresce, principalmente, no Nordeste.
Ent��o, minha gente, o nosso pa��s �� mesmo maior
do que as crises e apostar no futuro ser�� sempre um exer-
c��cio benfazejo.
Poderia ficar horas relatando as raz��es de minha
cren��a no Brasil e em sua extraordin��ria capacidade de
reagir ��s mazelas que o acometem.
Mas n��o temos todo o tempo do mundo.
Fa��am o que tenho feito: se embebedem de espe-
ran��a e naveguem altaneiros em qualquer turbul��ncia.
Vejam o nosso exemplo. Minha bandeira �� a do otimismo.
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J U A R E Z L E I T �� O
Hoje ( 2 0 1 5 ) , j�� estamos em mais de 300 munic��-
pios brasileiros, com mais de 800 lojas e pretendemos
atingir as 1.000 em 2017. Em nossa primeira etapa, que
durou 20 anos, atingimos todo o Nordeste e parte do
Norte. Em 2002 abrimos a primeira loja em S��o Paulo e, a
partir da��, fechamos todo o Sul, o restante do Norte, Acre,
Roraima, Amap��, Tocantins. Agora, estamos no miolo da
quarta etapa, esta que vai bater no teto das 1.000 lojas.
Depois vir��o outras".
Exibe um v��deo em que aparece no mapa do Brasil
a presen��a da PAGUE MENOS. Parece aqueles mapas da
Segunda Guerra Mundial, onde se v�� em vermelho ou
em verde o avan��o das tropas beligerantes de um lado e
de outro. No mapa do avan��o de Deusmar pelo pa��s, as
verdes s��o as lojas j�� constru��das e as vermelhas, as que
est��o em constru����o. ��, de fato, uma guerra. Com bata-
lhas di��rias, batalhas vitoriosas.
Fala da quest��o do abastecimento. Como levar
tanto rem��dio para tantas prateleiras? Tudo funciona a
partir da Central de Distribui����o. Houve o tempo em que
o Centro de Distribui����o de Fortaleza abastecia o pa��s
inteiro. Muita gente n��o sabe, mas sa��a mais em conta
abastecer a partir daqui do que de S��o Paulo, por exem-
plo. O custo de um centro de distribui����o em S��o Paulo ��
alt��ssimo. S�� no quesito seguran��a, teria que ter um guar-
da a cada dez metros. Fortaleza sedia o maior centro de
distribui����o de medicamentos da Am��rica Latina. Atu-
almente abastece as lojas da Bahia ao Amazonas. Porque
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
agora tem outro, sediado no Centro-Oeste, que cobre o
Centro-Oeste, o Sudeste e o Sul.
"Vejam mais - continua o conferencista - : n��s
somos uma empresa s��ria, boa pagadora, que cumpre as
suas obriga����es. Menos de 1% das empresas do pa��s igua-
lam o nosso desempenho. Em n��mero de lojas, somos
a segunda do Brasil. Em gera����o de empregos, sal��rios,
impostos, somos a s��tima melhor do varejo. Em liquidez,
isto ��, em capacidade de pagar suas contas, somos a sex-
ta. Est�� bom, assim?
E temos uma not��cia nova. N��s vamos mudar o
perfil das farm��cias no Brasil. Estamos colocando em
cada loja, farmac��uticos para atender. Em cada uma te-
mos, no m��nimo, tr��s profissionais graduados. N��o �� para
substituir o m��dico, mas resolver as pequenas urg��ncias.
Ele vai ter o seu recanto na farm��cia, uma esp��cie de am-
bulat��rio, onde pode fazer um curativo, aplicar uma in-
je����o, dar uma orienta����o ao cliente. Vi isso no Canad�� e
constatei que funciona muito bem. Mais farmac��uticos e
menos m��dicos cubanos, para desafogar os SUS."
O palestrante d�� sinais de que vai encerrar sua
participa����o. Olha o rel��gio e se despede com uma ad-
vert��ncia final:
"Esque��am aquela hist��ria do ap��stolo Tom�� de
ver para crer. A partir de agora, creiam para ver. A gente acredita, primeiro, e, depois, vai l�� buscar.
Esque��am as crises e sonhem, como eu fiz quando
ainda era menino. Todo grande um dia j�� foi pequeno e
quem �� pequeno pode ser grande.
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J U A R E Z L E I T �� O
Amem o seu pa��s, a sua fam��lia, o seu vizinho, o
an��nimo que est�� ao seu lado. Porque o amor �� o melhor
rem��dio. Um rem��dio que eu n��o posso vender em mi-
nhas farm��cias. Nelas o amor �� de gra��a.
E digo-vos, ainda: a felicidade �� um sentimento de
m��o dupla. S�� seremos felizes fazendo os outros felizes.
MUITO OBRIGADO PELA ATEN����O."
O audit��rio levantou-se e, un��ssono, aplaudiu o
doutor Deusmar Queir��s. Ele havia conquistado todos
com a sua hist��ria. Estava ali um semeador de esperan-
��as, cumprindo mais uma vez a miss��o de ensinar ousa-
dia, persist��ncia, f�� e dedica����o a quem estivesse dispos-
to a sonhar e a construir a luminosa alvenaria do futuro.
Estava satisfeito pelo que praticara, com efus��o,
honestidade e entrega generosa.
Todos vinham cumprimentar aquele homem gri-
salho, cordial e afetuoso que acabava de proferir sua
mensagem predileta de otimismo.
Dentro dele, em um canto aconchegante de sua
alma, como um Quixote de cal��as curtas, o menino da
vila de Amontada sorria.
42
2
A LAGOA DO BARBAT��O
"Gosto de ver um homem orgulhar-se de sua
terra. E gosto muito mais de ver um homem
de quem sua terra costuma orgulhar-se."
Abraham Lincoln ( 1 8 0 9 - 1 8 6 5 )
Amontada �� um munic��pio de 1.582 quil��metros
quadrados, situado na mesorregi��o do norte ce-
arense. Pertenceu a Itapipoca at�� 1985, quando
se emancipou pela Lei Estadual 11.010.
De clima tropical quente, t��pico do semi��rido, seu
inverno (como denominamos no Nordeste o per��odo
chuvoso) se estende de janeiro a maio.
Banhada pelos Rios Aracatia��u e Aracatimirim,
tamb��m abriga em seu territ��rio as Lagoas do Torto e
da Sabiaguaba.
45
J U A R E Z L E I T �� O
E, como faz fronteira com o Oceano Atl��ntico e
�� bem servida por um litoral de declive suave, possui
praias magn��ficas.
De terra ch��, plana e arenosa, sua mata �� consti-
tu��da da Caatinga, o bioma caracter��stico de nosso solo,
conhecido tamb��m como "mata branca" ou "mata espi-
nheira", porque perde as folhas nos extensos estios de
cerca de oito meses, mesmo quando h�� inverno, trans-
formando-se numa paisagem cinzenta de galhos retor-
cidos e caules que se descascam. Aos primeiros pingos
d'��gua, entretanto, se enfolha de um verde forte, esme-
raldino, ressuscitando todo o seu complexo biol��gico de
grande diversidade, com animais e vegetais nativos ou
adaptados esplendendo de vi��o e vitalidade.
Seus habitantes se sustentam dos pequenos neg��-
cios na sede e nos vilarejos e, mais verdadeiramente, do
cultivo do algod��o, do caju, do milho e do feij��o, al��m da
cria����o de bovinos e de gado mi��do (caprinos e ovinos).
Outra renda �� obtida com o turismo e o com��rcio
de hospedaria, principalmente, das pousadas instaladas
nas praias intensamente visitadas.
Antes, ao longo de mais de cem anos, foi por tr��s
vezes elevada a munic��pio, sendo, alternadamente, desti-
tu��da dessa condi����o, oscilando aos caprichos das querelas
regionais como um ioi�� pol��tico, subindo e descendo no
vai e vem das circunst��ncias e das hegemonias partid��rias.
Mudou de nome algumas vezes. Foi S��o Bento da
Amontada, depois, S��o Bento, simplesmente, e, final-
mente, AMONTADA, a partir de 1943.
46
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Muito antes destas denomina����es, na long��nqua
segunda metade do s��culo XVIII, Amontada foi uma la-
goa, incrustada nas terras do capit��o Manuel Gomes do
Nascimento. Este portugu��s tinha um boi arredio, animal
arisco e manhoso, que costumava desaparecer das vis-
tas do patr��o e dava muito trabalho aos seus vaqueiros.
Os bois brabos desses tempos da pecu��ria colonial eram
chamados de barbat��es. O barbat��o do fazendeiro Ma-
nuel, entretanto, tinha uma obriga����o e uma necessidade:
vinha todos os dias, bem cedinho, no resto da madruga-
da, saciar-se na lagoa, que ficava no exato local onde hoje
est�� o Centro da cidade. Os vaqueiros, descobrindo o se-
gredo do boi mandingueiro e a sua predile����o pelo aci-
dente geogr��fico, deram-lhe de presente aquela lagoa. A
pr��pria fazenda passou a ser a LAGOA DO BARBAT��O.
Reza a lenda que, num tempo de grande estiagem,
a lagoa ficou reduzida a lama. E ali foi encontrado, certa
manh��, atolado e morto, o valente barbat��o, uma das
mais remotas refer��ncias da coloniza����o de S��o Bento
da Amontada.
A Amontada original ficava a quinze quil��metros
da Lagoa do Barbat��o. Era outra fazenda, pertencente a
Jos�� Ant��nio dos Santos, que, embora n��o fosse de direi-
to, se autodenominava de "Capit��o-Mor".
Sabendo que a cruz era o chamariz para o povo-
amento, resolveu construir em suas terras uma capela,
obtendo do bispo de Lisboa uma licen��a paroquial e uma
imagem de Nossa Senhora da Concei����o.
4 7
J U A R E Z L E I T �� O
Mesquinho, Jos�� Ant��nio n��o doou nenhum peda-
��o de terra para o patrim��nio da santa. Por isso, tempos
depois, o portugu��s Gabriel Crist��v��o Muniz Barreto,
sucessor de Manoel Gomes em Lagoa do Barbat��o, cons-
truiu tamb��m uma capelinha, dedicada a S��o Bento, o
santo protetor contra mordidas de cobras, r��pteis abun-
dantes naquele lugar.
Querendo desenvolver sua propriedade e no in-
tuito de v��-la mais bem povoada, juntamente com seu
genro, Gabriel Barreto viajou para Portugal e, l��, reque-
reu das autoridades eclesi��sticas a transfer��ncia do orago
de Nossa Senhora da Concei����o para Lagoa do Barbat��o,
pois estava doando �� padroeira meia-l��gua quadrada de
suas terras e garantindo erguer uma igreja maior com
torre alta e um sino de qualidade.
Dessa forma, a Lagoa do Barbat��o, que j�� era co-
nhecida informalmente como S��o Bento, transformou-se
em S��o Bento de Amontada.
Houve brigas e amea��as entre Gabriel e Jos�� An-
t��nio dos Santos, mas o que restou para o sovina foi ter
o seu lugar conhecido, apenas, como Amontada Velha.
Amontada, territ��rio primitivo dos ��ndios Tre-
memb��s, est�� entre o Oceano Atl��ntico e os munic��-
pios de Itapipoca, Mira��ma, Santana do Acara��, Morri-
nhos e Itarema.
Nesse espa��o nasceu e passou a primeira inf��ncia,
serelepe e feliz, Francisco Deusmar, da estirpe dos Queir��s.
4 8
3
A ESTIRPE DOS
QUEIR��S
"A melhor maneira de honrar a
mem��ria dos antepassados �� caminhar
com um grau t��o claro de dignidade
pelo espa��o de sua vida que os seus
descendentes se sintam orgulhosos de
sua biografia".
Tetsuro Watsuji ( 1 8 8 9 - 1 9 6 0 )
fil��sofo j a p o n �� s
Aorigem da fam��lia QUEIROZ (ou QUEIR��S) re-
monta das Ast��rias, principado da Pen��nsula
Ib��rica, hoje uma prov��ncia da Espanha. Alguns
genealogistas afirmam que os QUEIROZ descendem do fa-
moso Pr��ncipe Constantino, defensor do Papa Estev��o III
51
J U A R E Z L E I T �� O
na luta contra os b��rbaros lombardos, no s��culo VIII. Ha-
via uma vila, nomeada de Queiroz, e alguns moradores
desse lugar, por homenagem, passaram a utilizar a desig-
na����o como sobrenome.
Um deles, Fernando ��lvares de Queir��s, transfe-
riu-se para Portugal, no ��ltimo quartel do s��culo XIV,
aliando-se ao Rei Fernando I, o Formoso, inimigo de
Henrique III, de Castela. Tendo o rei portugu��s obtido
��xito contra o Rei castelhano, Fernando de Queir��s tor-
nou-se um senhor de grande prest��gio e, como tal, despo-
sou D. Elvira de Castro, filha de D. Bernardo del C��rpio,
um fidalgo de alta linhagem.
Os Queiroz prosperaram na Lusit��nia e alguns
deles se destacaram nas guerras pela consolida����o da
monarquia portuguesa. Fam��lia numerosa, seus descen-
dentes espalharam-se por toda a Pen��nsula e muitos em-
barcaram nas expedi����es para as ��ndias e demais proje-
tos atl��nticos na Era dos Descobrimentos.
Certamente, elementos da fam��lia Queiroz parti-
ciparam dos prim��rdios da coloniza����o do Brasil. Mas,
an��nimos, n��o lograram registro nos anais da hist��ria
inicial de nosso pa��s.
Segundo Esperidi��o de Queiroz Lima, autor do Li-
vro Antiga Fam��lia do Sert��o, a primeira presen��a regis-
trada de um Queiroz no Brasil foi a de MANOEL PEREI-
RA DE QUEIROZ, em 1630. Esse portugu��s era natural
de Viana do Castelo e aqui se estabeleceu em Goiana,
Pernambuco. H��bil e diligente comerciante, �� frente de
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
uma tropa de mulas, entregou-se �� mascatea����o, venden-
do mercadorias diversas aos fazendeiros. A moeda utili-
zada era o a����car, que ele revendia com bom lucro nas
vilas e povoados. Bem-sucedido em seu empreendimen-
to, logo adquiriu sua pr��pria Fazenda, o Engenho Jacar��,
onde produzia a����car, cacha��a e rapadura. J�� rico, despo-
sa, em 1669, D. ngela Cavalcante de Vasconcelos, com
ela tendo a filha ��nica Isabel Cavalcante Vasconcelos de
Queiroz. O pioneiro morre em 1690, com a majestosa
idade de 80 anos, longevidade rara por aqueles tempos.
Muitos anos depois, um ramo dos Queiroz se ins-
talou no Rio Grande do Norte, liderado por Jos�� Pinto de
Queiroz, casado com uma mo��a de Goiana, Ana Martins
de Lacerda Queiroz, com quem constituiu uma fam��lia
de onze filhos.
Alguns de seus descendentes migraram para o Ce-
ar��, ainda no s��culo XVIII, se instalando, inicialmente,
nas margens do Jaguaribe e do Banabui��. Passaram ao
Baixo e M��dio S i t i �� se afazendando por ali.
No Maci��o de Baturit��, plantaram caf��. Na Vila de
Campo Maior de Quixeramobim, Ant��nio Queiroz Perei-
ra Filho foi Juiz Ordin��rio.
Em 1824, Ant��nio Francisco de Queiroz Barreira
e Miguel de Queiroz Lima participaram ativamente da
Confedera����o do Equador, movimento liberal que pre-
tendia libertar o Nordeste do Imp��rio Brasileiro e fun-
dar v��rias rep��blicas na regi��o. Formaram fileira, ao lado
de Trist��o Gon��alves, Pereira Filgueiras, Azevedo Bol��o,
53
J U A R E Z L E I T �� O
Pessoa Anta e Padre Moror��, por pouco, diante do fra-
casso da revolu����o, n��o sendo fuzilados, como aconteceu
com seus camaradas.
Nos in��cios do s��culo X I X , membros da fam��lia
Queiroz j�� ganhavam destaque institucional e mantinham
pretens��es pol��ticas, pois tr��s deles aparecem como can-
didatos �� Assembleia Provincial do Cear�� nas elei����es
de 1835, embora sem lograr ��xito: Ant��nio Francisco de
Queir��s Juc��, Francisco Sab��ia de Queir��s e Balthazar
Lopes de Queir��s.
Na segunda metade do s��culo X I X , um Queiroz do
Cear�� conquistou grande distin����o nacional. Jos�� Clarin-
do de Queir��s, nascido em Fortaleza, em 1 8 4 1 , fez bri-
lhante carreira militar. Participou da Guerra do Paraguai,
de l�� retornando com a patente de tenente-coronel. Aos
38 anos foi nomeado pelo Imperador Pedro II, Governa-
dor da Prov��ncia do Amazonas. Em 1891, j�� no regime re-
publicano, o Congresso Constituinte do Cear�� nomeou-o
Governador do estado. Coronel aos 39 anos, brigadeiro
aos 42 e General de Divis��o aos 49. Morreria no Rio de
Janeiro, aos 52 anos.
Seguiram os Queiroz, no s��culo X I X , como ses-
meiros das terras adjacentes a Serra Azul, alargando-se
territorialmente para as ribeiras do Pirangi e do Choro.
As propriedades da fam��lia no espa��o geogr��fico
que compreende o atual munic��pio de Quixad�� registra-
ram-se com as denomina����es de Natividade, Barro Ver-
melho, Junco e Calif��rnia.
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Calif��rnia, fundada por Miguel Francisco de Quei-
roz Lima e sua mulher, D. Maria da Penha, foi a maior e
mais importante fazenda da regi��o. Seus donos exerciam
o mando em estilo patriarcal, assistidos por um capel��o e
servidos por muitos escravos, em casa-grande de s��lida e
alpendrada constru����o. O casal n��o teve filhos, mas ele-
geu um sobrinho, Arcelino de Queiroz Lima, como her-
deiro universal. O Dr. Arcelino era advogado, formado
pela Faculdade de Direito de Recife, onde fora colega de
nomes que marcariam a hist��ria da literatura brasileira,
do porte de Castro Alves e Tobias Barreto. Deixando de
lado seus estudos jur��dicos e a oferta de cargos p��blicos,
inclusive, na magistratura, Arcelino de Queiroz tornou-
-se um dos mais dedicados fazendeiros do Cear��.
No dia em que morreu, o octogen��rio Miguel de
Queiroz Lima chamou o sobrinho (que cuidara dos ��lti-
mos anos do tio com desvelo e abnega����o) para lhe con-
tar um segredo. Entretanto, quando ia fazer a revela����o,
chegou sua hora final e Arcelino ficou sem saber do que
se tratava. Dizem que o anci��o iria indicar-lhe o local
exato onde escondera suas muitas moedas de ouro, acu-
muladas ao longo da vida e ciosamente guardadas num
pote de barro comprido (botija) enterrado nas terras da
fazenda. Ficou a lenda da botija do Velho Miguel na me-
m��ria dos parentes, passando de gera����o para gera����o.
Muitas foram as escava����es feitas no solo f��rtil de Cali-
f��rnia, mas o tesouro nunca foi encontrado.
Os Queiroz, j�� numerosos, enriquecidos pela pro-
du����o de algod��o, cana-de-a����car, mandioca e cereais,
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J U A R E Z L E I T �� O
criaram outras fazendas em paragens diversas do Cear��,
nas mesorregi��es Norte e Noroeste, no sop�� da Serra de
Uruburetama, e nas ribeiras dos Rios S i t i a , Pirangi, Cho-
r��, Munda��, Aracatia��u, Acara��, Groa��ras e Poti.
Do ramo quixadaense da fam��lia, destaca-se Da-
niel de Queiroz Lima, propriet��rio da Fazenda Junco
(hoje o povoado Daniel de Queiroz) e pai de Rachel de
Queiroz, primeira mulher a ocupar uma cadeira da Aca-
demia Brasileira de Letras. Um peda��o do antigo Junco
abriga as terras da "Fazenda N��o Me Deixes", criada pela
renomada escritora, que nela costumava veranear.
Outros Queiroz Lima sa��ram de Quixad�� para se
estabelecer em Cascavel, onde alcan��aram grande pros-
peridade. Dessa vertente da fam��lia descende o escritor e
jurista Pedro de Queiroz Lima e o industrial Edson Quei-
roz, o maior empres��rio cearense da segunda metade do
s��culo X X , neto de Galdino Clementino de Queiroz e fi-
lho de Gen��sio Queiroz.
Segundo Jos�� Bonif��cio de Sousa, autor de Quixa-
d�� e a Serra do Estev��o, todos os Queiroz do Cear�� s��o
parentes. Tudo da mesma tribo, gente da mesma ra��a.
Nas ��ltimas d��cadas do s��culo X I X , j�� era grande
o n��mero de membros da fam��lia Queiroz na Serra de
Uruburetama e suas adjac��ncias.
Em Itapipoca, chegaram por volta de 1865, se alo-
jando nas terras ribeirinhas do Aracatia��u. Fundaram al-
gumas fazendas, entre elas uma denominada Alto Para��so.
Juntaram-se aos Teles de Menezes, cruzando-se as
duas fam��lias em casamentos felizes e perp��tuos.
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Joaquim Vieira de Queir��s desposou Maria An-
g��lica do Esp��rito Santo. Laurentino Lourencir Teles de
Menezes casou com Rita Floresmina de Menezes. S��os os
pais de Raimundo Nonato de Queiroz.
Nos finais dos anos mil e oitocentos, Raimundo
Nonato de Queiroz casou com Francisca C��ndida Quei-
roz, tendo entre seus descendentes Ant��nio Lisboa de
Queir��s.
Francisca C��ndida era irm�� de Em��lio Ces��rio
Laurentino Teles de Menezes, da Fazenda Lages, que se
casou com Maria Laura de Oliveira Negr��o, pais de Maria
Madalena.
Ant��nio Lisboa e Maria Madalena s��o os pais de
FRANCISCO DEUSMAR DE QUEIR��S, nascido aos 27
de maio de 1947, numa boca de noite, pelas m��os da par-
teira Raimunda Cust��dio. Parto de grande e demorado
sofrimento, brindado com um trago de aguardente pelo
pai regozijado. Um filho homem para ser feliz, forte, rico
e venturoso, como profetizou, na hora, a velha aparadora
de meninos.
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4
O MENINO DE
AMONTADA
"O n��o saber da inf��ncia �� o momento
mais feliz da vida."
Erasmo de Roterd�� ( 1 4 6 6 - 1 5 3 6 )
Na mercearia do senhor Ant��nio Lisboa, o me-
nino Francisco Deusmar era o rei. Solto ali na
diversidade das mercadorias, exercia sua felici-
dade infantil mexendo em tudo, tocando nos produtos
arrumados nas prateleiras, nos sacos de cereais, nos bar-
ris resguardados embaixo do balc��o, na fileira de litros
de bebidas, nos potes de balas, nas caixas de rem��dios.
A mercearia era uma loja de secos e molhados,
bem ao modo das casas de com��rcio do interior do Cear��
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J U A R E Z L E I T �� O
nos anos 50 do s��culo passado, sortidas de todas as ne-
cessidades dos fregueses, da agulha de costura ao arroz,
da farinha de mandioca ao fumo de rolo, do querosene ao
mercurocromo.
Seu Ant��nio era um homem din��mico e um ex��-
mio fazedor de neg��cios.
Em Amontada, sua hist��ria �� contada por todos, de
modo vantajoso, com orgulho nativista. Quando falam do
sucesso do filho como empres��rio de renome nacional,
acrescentam logo o refr��o: "Mas ele tem a quem puxar!".
Ant��nio Lisboa de Queir��s experimentou muitas
atividades.
Antes de se firmar como comerciante, trabalhava
com couro. Fazia correias, bainha de faca, cintos, alper-
catas, perneiras... Um mestre da sola e do cutelo.
Praticava a agricultura, tinha suas ro��as de milho e
feij��o, mas, nas horas vagas, tamb��m era barbeiro. Fazia
barba e cabelo com admir��vel per��cia.
Depois, empreendeu em outros ramos. Teve pa-
daria, cria����o de porcos e, quando vislumbrou as neces-
sidades do progresso, tornou-se o fornecedor da energia
el��trica de seu distrito.
Nos prim��rdios dos anos 1950 estava muito bem
estabelecido. Os neg��cios prosperavam. Adquiriu qua-
tro casas na rua principal de Amontada e, demolindo-
-as, construiu ampla resid��ncia com casa de com��rcio e
armaz��m anexos. Talvez, o melhor im��vel do vilarejo,
onde, hoje, est�� instalada a ag��ncia do Banco do Brasil.
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Naquela manh��, o pequeno Deusmar, na garrulice
dos tr��s ou quatro anos, depois de mexer em quase tudo
na mercearia, tentava escalar uma pilha de surr��es de ra-
padura. Na segunda ou na terceira tentativa o monte de
surr��es desabou pesadamente sobre a crian��a. Ao cho-
ro aflito do menino correram para acudi-lo e, aliviados,
viram que o acidente n��o fora t��o grave, levando-se em
conta sua idade e o peso de centenas de rapaduras. Mas
quebrara a perna, na altura da coxa direita, e isso exigia
socorro imediato.
Longe da civiliza����o e sem outros meios al��m de
suas pr��prias habilidades, seu Lisboa n��o hesitou em as-
sumir o atendimento de emerg��ncia. Com talos de car-
na��ba e barbante providenciou a imobiliza����o do mem-
bro afetado, depois de, a ferro frio, recolocar os ossos no
lugar. Como n��o havia cama, colocaram uma porta sobre
tijolos que, bem forrada com mantas e coxonilhos, tor-
nou-se o novo leito do convalescente.
Apesar de todos os cuidados, depois de algumas
semanas na mesma posi����o, com as costas coladas no lei-
to, vieram as escaras. As costas do menino se abriram em
ferimentos feios. Pomadas vindas de Sobral, massagens
e outras provid��ncias recomendadas pelo farmac��utico
fornecedor dos medicamentos foram atenuando as dores
e promovendo a recupera����o das feridas.
Entretanto, a melhor provid��ncia do pai para ali-
viar o sofrimento de seu filho foi o sanfoneiro que con-
tratou. Pelas horas da tarde, justamente quando o calor
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J U A R E Z L E I T �� O
come��ava a incomodar, baixavam os m��sicos, com san-
fona e zabumba, para alegrar o menino doente. E tome
xote e bai��o a tarde inteira, ��s vezes, entrando pela noite.
E uma das m��sicas falava de um calango que ha-
via quebrado a perna, composi����o, sem d��vidas, comple-
tamente adequada para a situa����o. Deusmar aprendeu a
cantiga e se livrava de todas as dores quando cantava: "Ca-
lango quebrou a perna? Eu tamb��m quebrei a minha...".
O conserto do membro partido, feito por amador e
em condi����es prec��rias, teve ��xito extraordin��rio e defi-
nitivo. Hoje, Deusmar diz que n��o sabe qual a perna que
quebrou na inf��ncia.
Recuperado, no ano seguinte passou a frequentar
as aulas de dona Rita Vi��va. Ia de jumento, embora n��o
fosse grande a dist��ncia. A professora recebia os alunos
em sua casa, que ficava nas cercanias da vila. Eram cerca
de quinze meninas e meninos, da alfabetiza����o, primeiro
e segundo anos, todos juntos em sala ��nica.
A mestra adotava a pedagogia antiga, com argui-
����es severas e o uso da palmat��ria. Havia a tem��vel saba-
tina, verifica����o oral executada semanalmente, quando
dona Rita brandia uma vara para corrigir com tacadas na
cabe��a os desatentos. Na presta����o de contas de aritm��-
tica, por exemplo, sua t��tica consistia em envolver todos
os alunos num circuito continuado das quatro opera����es,
soma, diminui����o, divis��o e multiplica����o, assim: Fula-
no, 2 mais 2? O arguido respondia: 4. Ent��o, o vizinho
era convocado a participar: Com mais 3: 7. E o seguinte,
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
menos 4: 3. Vezes 10: 30. E assim por diante. Quem que-
brasse a corrente, por desaten����o ou erro, recebia uma
bordoada. Piaget devia se mexer na cova.
No campo da f��, al��m das aulas de catecismo, lem-
bra com muita emo����o a visita da imagem de Nossa Se-
nhora de F��tima a Amontada. Foi em 1953. A imagem
peregrina veio de Portugal e, acolitada pelo N��ncio Apos-
t��lico, percorreu todo o Brasil. No Cear�� ocorreu um in-
cidente em Crate��s: a comiss��o que acompanhava a ima-
gem decidiu que, naquela cidade, a passagem deveria ser
r��pida, de algumas horas, apenas. As autoridades locais
n��o concordaram e resolveram prender a santa. S�� saiu
no dia seguinte. A atitude teve repercuss��o internacional.
Os amontadenses se mobilizaram para receber
Nossa Senhora de F��tima com a maior demonstra����o
de f��. Nunca se vira tanta gente. Desde a noite anterior
chegavam os devotos vindos das fazendas, dos s��tios e
povoados. Formou-se uma fila enorme em volta da pra��a
para assistir de perto ao desfile da M��e de Deus firmada
num andor em carro aberto, tendo de um lado um cl��ri-
go vestido de batina vermelha e, do outro, o Padre Pe-
dro Vitorino, vig��rio local. Deusmar, que tinha seis anos,
vestido em roupa especialmente feita para aquele impor-
tante evento, segurava a m��o de seu pai e de sua m��e, que
o ladeavam, todos tomados de grande emo����o. Quando
o cortejo ingressava na pra��a, uma senhora avistou um
surr��o velho semienterrado no barro da via, enfeando
o trajeto m��stico. Imediatamente, precipitou-se para a
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J U A R E Z L E I T �� O
rua e, com esfor��o inaudito, arrancou aquela coisa feia e,
vitoriosa, foi aplaudida pela multid��o. Apesar da pouca
idade o menino detectou aquele gesto nobre, arquivando
em sua mente a imagem daquela senhora e a sua atitude.
O tempo passa devagar nas aldeias singelas do ser-
t��o. E o menino Francisco Deusmar usufruiu at�� os sete
anos daquela vida mansa, em contato com a natureza que
estava nas biqueiras de casa, pois o Aracatia��u corria a
100 metros de seu quintal. Os brinquedos eram artesa-
nais, como os carrinhos de madeira e os pi��es de arre-
messo, em que se tornou um ��s. Na propriedade da fam��-
lia aprendeu a armar fojos para pegar pre��s, um roedor
do mato, desprovido de rabo, de carne muito apreciada
no norte do Cear��. N��o se lembra de ter sido usu��rio de
baladeira, a arma feroz dos abatedores de pequenas aves,
pois a mata passarinheira ficava depois do rio e as in-
curs��es para aquelas bandas eram proibidas pelos pais.
Lembra-se dos banhos de chuva, dos a��udinhos feitos
nas ruas descal��adas em tempo de enxurradas, das brin-
cadeiras de esconde-esconde, das apostas de corridas
com os meninos de sua idade.
Um dia, os sonhos de seu Ant��nio Lisboa ficaram
maiores do que o lugar. Tinha planos de educar os filhos
em Fortaleza. Inicialmente, mandou a filha, Raimunda
Nonata, para uma escola de freiras, o Gin��sio Santa Ma-
ria Goretti.
Para o filho, queria a universidade. Deusmar have-
ria de se formar. Custasse o que custasse, iria estudar nos
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
melhores col��gios e ingressar numa faculdade de onde
sairia doutor. O seu filho doutor.
Para tanto, era preciso se mudar para a capital.
Em Fortaleza, fez sondagens para a futura resid��n-
cia. Queria um lugar calmo, tranquilo, mas com popu-
la����o suficiente para lhe possibilitar uma boa clientela.
Pretendia instalar uma mercearia.
Decidiu-se, afinal. Alugou uma casa no Barro Ver-
melho, um bairro na entrada oeste da Capital. Vendeu o
com��rcio que tinha em Amontada e partiu.
Sobre esse pai, que queria que o seu filho fosse dou-
tor, Deusmar Queir��s se manifesta com grande ternura:
"Meu pai, Ant��nio Lisboa de Queir��s, era conhe-
cido como Ant��nio Nonato. Considerado um verdadei-
ro vision��rio pelas concep����es de mundo que ele tinha
e capacidade de empreender neg��cios, foi um l��der em
sua regi��o. Nasceu em 17 de janeiro de 1909, e morreu,
muito cedo, por sinal, no dia 11 de janeiro de 1987. Mi-
nha m��e, Maria Madalena de Queir��s, era nove anos mais
nova do que ele, nascida no dia 12 de novembro de 1917
e falecida no dia Io de julho de 1989.
Ant��nio Nonato, meu pai, era reconhecido por to-
dos como um comerciante honesto. Coisa muito dif��cil
nos dias de hoje. Ele tinha uma caracter��stica que, para
mim, hoje em dia tem sido muito marcante. Comprava
grande quantidade de goma para vender aos tapioquei-
ros. Na d��cada de 60, era comum se vender tapioca de
porta em porta. Os tapioqueiros compravam fiado ao
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J U A R E Z L E I T �� O
meu pai, que neles confiava tranquilamente, certo de que
o pagariam no tempo combinado. O fornecedor de goma
vendia, tamb��m a cr��dito, porque acreditava que o meu
pai honraria o pagamento. �� que ele tinha uma m��xima:
"Vendo a minha cama, durmo no ch��o, mas o credor n��o
sai sem receber o dinheiro que lhe devo". Pois bem, at��
hoje essa postura me guia: a Pague Menos, at�� hoje, nun-
ca pagou um t��tulo com um ��nico dia de atraso. N��o me
importa ter mil lojas se eu n��o tiver capacidade de pagar.
Eu tenho que ter muita criteriosidade na sa��de financei-
ra da empresa. Esse �� um dos grandes ensinamentos do
meu pai. Outra coisa que ele dizia tamb��m �� que "o sol
nasce para quem compra um im��vel e se p��e para quem
vende". Ent��o, eu sempre fui, na medida do poss��vel, um
apaixonado por comprar im��veis. E ele ainda dizia: "S��
vale a pena se for um im��vel que gere renda, pois im��-
vel parado n��o d�� cria. Por isso, tem que ser um im��-
vel rent��vel! Um im��vel que voc�� compre e alugue para
gerar renda e com essa renda comprar outros im��veis".
Talvez por isso, hoje, n��s tenhamos uma empresa com
aproximadamente 500 im��veis que s��o alugados para as
Farm��cias Pague Menos e geram uma renda muito boa
aumentando cada vez mais o nosso patrim��nio. Im��vel ��
um bem que n��o �� perec��vel e que, a cada dia que passa,
se valoriza mais. A lembran��a que eu tenho dele �� de um
comerciante lutador, brigador, que acordava cedo, traba-
lhava muito, sempre cumpria com as suas obriga����es e
n��o tinha medo de nada. Saiu de Amontada e veio para
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Fortaleza para que eu fosse doutor. Para isso, procurou
me colocar em bons col��gios. Nunca perdeu totalmente
ou cortou o v��nculo com Amontada. Continuou manten-
do ali a sua fazenda e tendo outros im��veis, dentre eles
uma casa ampla e boa que se tornou a sede do Banco
do Brasil. Em Fortaleza, enfrentou muitas dificuldades,
porque era um comerciante de periferia, no bairro Ant��-
nio Bezerra, antigo Barro vermelho, e no final da d��cada
de 50, come��o da d��cada de 60 at�� 70. Tempo de coisas
dif��ceis. Mesmo assim, me colocou em bons col��gios, co-
l��gios caros, que custeava com os parcos lucros de seu
com��rcio. Aquela atividade n��o rendia muito, por isso,
me sugeria, mostrando caminhos, para que eu, depois
que chegasse do col��gio, o ajudasse na receita, venden-
do de porta em porta rapadura, laranja, banana e outras
frutas. Aos poucos, pelos 1 1 , 1 2 anos, passei a ficar aten-
dendo no balc��o. Os clientes chegavam para comprar
milho, arroz, feij��o, a����car, sab��o, caf��, bolacha... E eu
l��, despachando.
Ent��o, meu pai foi esse comerciante �� moda antiga.
Por esse tempo, aconteceu um fato que preciso re-
latar. Eu fui crescendo dentro do com��rcio e o meu pai, a
certa altura, se apaixonou por uma senhora, dona Assun-
����o. Ele voltou a morar em Amontada, nas suas proprie-
dades. E eu assumi totalmente o com��rcio para manter a
minha m��e e a minha irm��, que era professora prim��ria e
naturalmente ganhava pouco. Isso foi por volta de 1963,
eu tinha 15, 16 anos. Desse relacionamento, nasceu um
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J U A R E Z L E I T �� O
filho, meu irm��o, Raimundo Nonato de Queir��s, que re-
cebeu o mesmo nome do meu av��. Raimundinho nasceu
no dia 24 de abril de 1968, quando eu estava prestes a
completar 21 anos. Hoje, ele trabalha numa empresa
nossa, �� corretor de im��veis e est�� l�� com a vida dele,
com uma estrutura boa de sobreviv��ncia, pois, sendo
meu irm��o, eu n��o posso deix��-lo passar dificuldades.
Dentro de todo esse universo, eu tive o privil��gio
de ter uma m��e que era uma santa. Minha m��e era de
prendas do lar, mas sabia fazer tudo. Tinha uma sabedoria
natural. Muito preocupada com a minha educa����o, al��m
disso, estimulava sempre para que eu trabalhasse. Dizia
que n��o se poder�� vencer sem ser pelo trabalho. Muito
paciente com o meu pai, um homem muito nervoso, ad-
ministrava com serenidade o temperamento dif��cil dele,
que queria as coisas, ��s vezes at��, antes da hora. Nunca
entendeu a separa����o, porque n��o deu raz��es para isso,
mas n��o abandonou o pai de seus filhos no momento que
ele precisou. Meu pai morreu, e a senhora Assun����o, que
era parceira dele, adoeceu - n��o vou cham��-la de aman-
te, porque foi um neg��cio consensual - e minha m��e pa-
gou os m��dicos, manteve a mesada, a alimenta����o, colo-
cou uma empregada para cuidar dela. Ela morreu antes
da minha m��e, que nunca deixou de lhe dar assist��ncia.
Ent��o, isso foi uma demonstra����o muito grande de amor
ao pr��ximo por parte da minha m��e. Ela sempre me mos-
trou esse lado bom da vida. Mesmo que se sentisse ofen-
dida, tolerava e respeitava aquela mulher. Nunca deixou
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5
NO BARRO VERMELHO
"As cidades s��o constru��das de
hist��rias, mem��rias e mist��rios, feitas
de um estu��rio de afetos, ret��ricas,
discord��ncias, interesses, apegos,
datas e festas. S��o os homens com
seus s��lidos perfis que constroem e
desmancham as cidades todos os dias".
Gylmar Chaves,
p o e t a c e a r e n s e c o n t e m p o r �� n e o
Obairro Ant��nio Bezerra, antigo Barro Vermelho,
situa-se ao oeste do Centro de Fortaleza, abran-
gendo uma ��rea de mais de dois quil��metros
quadrados ( 2 , 3 3 8 km2.) habitados, hoje, por cerca de
26.000 pessoas. Na divis��o administrativa municipal de
Fortaleza, pertence �� Secretaria Regional III.
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J U A R E Z L E I T �� O i
A ��rea que hoje compreende o Ant��nio Bezerra
foi sendo ocupada desde os fins do s��culo XVIII por s��-
tios e ranchos. Tropeiros e tangerinos, que debandavam
da regi��o norte da Prov��ncia, costumavam se arranchar
embaixo de ��rvores e em latadas constru��das �� beira do
caminho antes de ingressar em Fortaleza. Esse descanso
fazia parte do ritual de melhor aproveitamento de seus
neg��cios, principalmente, quando conduziam boiadas
por longas dist��ncias e as queriam exibir sossegadas e
saciadas de ��gua, ap��s quatro ou cinco dias de curral, na
feira da Vila do Forte. Havia ali fontes e lagoas, o que era
muito providente para os objetivos dos feirantes e tange-
dores de rebanhos.
Os fazendeiros e boiadeiros foram, paulatinamen-
te, construindo casas e cercando os espa��os para abrigar
gados e vaqueiros numa ocupa����o certamente de grila-
gem, como de costume ocorria naqueles ��speros tempos
da lei do mais forte ou de maior aud��cia.
As terras eram vermelhas e, quanto mais pisotea-
das e palmilhadas por reses e pessoas, mais intensa aflo-
rava a colora����o, vinda das camadas bas��lticas do subso-
lo infestado de magnetita. Por isso o lugar passou a ser
chamado de Barro Vermelho.
Barro Vermelho era a passagem natural para o ser-
t��o e o primeiro n��cleo urbano a que dava acesso era a
Vila Nova Real de Soure, atual cidade de Caucaia.
Ainda no s��culo X I X , os fortalezenses ricos cons-
tru��am ch��caras para os retiros de fim de semana e mora-
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
dia, algumas com belas e alpendradas casas. Dessas ch��-
caras do tempo antigo, a ��nica que escapou da voracidade
do progresso foi a Ch��cara Salubre, erigida em 1802.
Numa ��rea de 4 0 0 metros quadrados, a casa, de
paredes grossas e telhas grandes armadas sobre ripas e
caibros de carna��ba, tem seis c��modos e um quintal com
��rvores frut��feras. Nela mora a nonagen��ria Juracy da Sil-
va Gomes, que, sentada em sua cadeira de balan��o, conta
hist��rias do bairro e do desenvolvimento de que foi tes-
temunha ocular.
O primeiro marco de desenvolvimento do futuro
distrito de Barro Vermelho foi a constru����o da Esta����o
Ferrovi��ria, em 1917. Quando os trilhos da Rede Via����o
Cearense passaram por ali rumo a Sobral, Camocim e
Crate��s, o progresso, de fato, se iniciou.
No ano seguinte, o Padre Rodolfo Ferreira da
Cunha, vig��rio de Parangaba, encabe��ou um movimento
para a constru����o de um templo nas proximidades da an-
tiga capela erguida pelo Dr. Rufino Bezerra de Menezes
em sua propriedade em homenagem �� Sagrada Fam��lia.
Preservando o mesmo orago, que j�� estava arraigado na
devo����o do povo, a nova igreja foi dedicada a Jesus, Ma-
ria e Jos��, a Sagrada Fam��lia.
Em 1925, foi instalada no bairro uma unidade de
forma����o e treinamento da For��a P��blica Estadual: o Es-
quadr��o da Cavalaria e Escola Edgar Fac��.
A evolu����o urbana exigia, a cada dia, novos equi-
pamentos e eles foram sendo implantados:
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J U A R E Z L E I T �� O
O correio, em 1932. O cemit��rio, em 1935. A luz
el��trica, em 1937. A Escola Apost��lica S��o Vicente de
Paula, em 1942. O Grupo Escolar, em 1948. O Mercado
P��blico, em 1955.
O bairro, que oficialmente j�� mudara de nome
h�� muito tempo para Ant��nio Bezerra, continuou a ser
chamado de Barro Vermelho por seus moradores. Entre-
tanto, a partir de 1965, por raz��es pol��tico-ideol��gicas, a
antiga denomina����o foi proibida. O Regime Militar, im-
plantado no Brasil em 1964, n��o via com bons olhos um
espa��o importante de uma grande cidade brasileira com
a mesma denomina����o de um bairro de oper��rios de S��o
Peterburgo, na antiga Uni��o Sovi��tica. O anticomunismo
naquele per��odo de nossa hist��ria chegava a extremos e,
em nome dele, cometia atitudes espantosas. Barro Ver-
melho era nome de reduto comunista e tinha que ser ba-
nido do vocabul��rio de seus habitantes.
Por isso e por j�� existir naquela regi��o uma aveni-
da em homenagem ao Doutor Rufino Bezerra de Mene-
zes, pioneiro da ocupa����o do bairro, por que n��o o no-
mear de "Ant��nio Bezerra", sobrinho de Rufino e ilustre
historiador cearense?
Dona Auric��lia conta que, chegando ali em 1961,
seus vizinhos j�� se diziam moradores do Ant��nio Bezerra.
Ant��nio Bezerra de Menezes nasceu em Quixera-
mobim, em 1841, e faleceu em Fortaleza, em 1 9 2 1 . Foi
um brilhante historiador, naturalista e poeta. Destacado
abolicionista, participou ativamente do movimento pio-
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
neiro pelo fim da escravid��o no Cear��. Fundador do Ins-
tituto do Cear�� e membro da Academia Cearense de Le-
tras, escreveu obras marcantes para a literatura cearense,
como Notas de Viagem, o mais precioso estudo sobre os
munic��pios, vilas e povoa����es do Cear��.
Nos anos 50 do s��culo passado, Barro Vermelho
estava completamente integrado a Fortaleza. A velha
estrada do gado era agora a Avenida Mister Hull, uma
homenagem ao engenheiro ingl��s Francis Reginald Hull,
que trabalhara no projeto e execu����o da Estrada de Ferro
Fortaleza-Baturit�� e fizera importantes estudos sobre as
secas do Nordeste.
Fevereiro de 1956. Ant��nio Lisboa de Queir��s est��
de mudan��a para Fortaleza. Deusmar tinha oito anos,
mas se lembra muito bem daquele dia:
"Sa��mos de Amontada de manh��, cedinho, e via-
jamos doze horas no caminh��o do Ant��nio Chagas. A
primeira parada foi em Itapipoca. Depois, num vilarejo,
Riacho da Cela (hoje, Umirim). Houve outras paradas.
V��nhamos, meu pai, minha m��e, eu e outras duas ou tr��s
pessoas para ajudar. Minha irm��, Mundinha, j�� estava
em Fortaleza. Chegamos no come��o da noite �� Rua An��-
rio Braga, esquina com a Travessa S��o Joaquim. Chovia
muito, ficamos encharcados junto com todas as coisas
da mudan��a, m��veis, panos e utens��lios de cozinha. Isso,
por��m, n��o importava. Sentia uma sensa����o de euforia.
Uma mistura de anseio e perplexidade. Um mundo novo
estava nascendo para mim."
75
J U A R E Z L E I T �� O
A cidade que recebia a fam��lia Queir��s, de Amon-
tada, em 1956, tinha uma popula����o de 350 mil habitan-
tes. O prefeito era o dentista Acr��sio Moreira da Rocha,
um l��der de grande popularidade.
Muitos acontecimentos haveriam de marcar a Ca-
pital do Cear�� naquele ano.
Em janeiro, a funda����o da Faculdade de Engenha-
ria, a inaugura����o da sede da Associa����o Cearense de
Imprensa (ACI) e a incorpora����o do Banco Frota Gentil
ao Comind.
Em fevereiro, a not��cia da nomea����o pelo Presi-
dente JK de Parsifal Barroso para o Minist��rio do Traba-
lho e de Raul Barbosa para a dire����o do Banco do Nor-
deste do Brasil, futuro e ex-governador do Cear��.
Em mar��o, o lan��amento da pedra fundamental da
Maternidade-Escola Assis Chateaubriand, a funda����o da
Associa����o Pestalozzi (uma entidade de assist��ncia e pro-
te����o aos deficientes), a inaugura����o da primeira sala de
exibi����o de cinemascope no Cine Sambur�� e do Edif��cio Si-
queira, obra pioneira do sistema de condom��nio no Cear��.
Em abril, a funda����o da Federa����o Cearense de
Atletismo, do Instituto S��o Jos�� (abrigava mo��as pobres
desamparadas) e a federaliza����o da Faculdade de Medi-
cina do Cear��.
Em maio, a inaugura����o, no bairro da Floresta, da
Escola Apost��lica, regida pelos padres sacramentinos, a
funda����o da Escola de Belas Artes e a instala����o da In-
d��stria Cearense de Alum��nio, IRONTE.
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Em junho, a inaugura����o do Pronto Socorro Par-
ticular de Fortaleza, da Avenida Ded�� Brasil (hoje Silas
Munguba), da R��dio Uirapuru, da sede da Reitoria da
UFC no antigo palacete de Jos�� Gentil de Carvalho e a
transfer��ncia dos ��nibus da Pra��a do Ferreira para a Pra-
��a Jos�� de Alencar.
Em julho, a cria����o do sistema de ronda policial
em dupla (os famosos Cosme-e-Dami��o), a inaugura����o
da R��dio Verdes Mares e a aportagem no Mucuripe de
um navio norte-americano trazendo mil toneladas de lei-
te em p�� (o famoso leite do FISI) para ser distribu��do
para as crian��as pobres.
Em agosto, a morte de Mundi��a Paula, empres��ria
pioneira da ind��stria de confec����o do Cear��, e a visita do
Presidente Juscelino ao nosso estado.
Em setembro, o bairro de Reden����o passa a de-
nominar-se Bairro de F��tima, a VARIG inicia suas ope-
ra����es no Cear��, o lan��amento da pedra fundamental
do Hospital Batista e a surpreendente conquista do
campeonato cearense de futebol pelo Gentil��ndia, um
time menor.
Em outubro, a cria����o da Subprefeitura de Mondu-
bim, a funda����o do Observat��rio Astron��mico de Cl��u-
dio Pamplona e a inaugura����o da Igreja de F��tima.
Em novembro, s��o lan��adas em Fortaleza as ca-
mionetas DKW-Vemag, de fabrica����o nacional, e o escri-
tor Eduardo Campos toma posse no Instituto do Cear��, a
mais antiga entidade cultural do Cear��.
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J U A R E Z L E I T �� O
Em dezembro, a Rua Guilherme Rocha transfor-
ma-se em exclusiva "rua de pedestres", a Faculdade de
Ci��ncias Econ��micas �� encampada pela UFC e �� inaugu-
rado o Lord Hotel.
A fam��lia de seu Ant��nio Lisboa de Queir��s se ins-
talara na Rua An��rio Braga com uma mercearia, que ocu-
pava a parte da frente da casa, Mercearia Santo Ant��nio.
A rua n��o tinha maiores atrativos, a n��o ser pelas
mangueiras, ��rvores grandes, muito bem aproveitadas
pelos meninos do trecho para escaladas e desfrute das
mangas. Mundinha, a irm�� de Deusmar, achava aquela
rua muito sem gra��a, pura monotonia. E conta que, certo
dia, chegou a reclamar com o pai: "O senhor bem que po-
deria ter nos trazido para um cantinho mais animado!".
Mas havia um campinho de futebol, onde Deus-
mar participava de gostosas peladas e come��ou a fazer
seus primeiros amigos no bairro.
O pai, entretanto, n��o se esquecia de seu objetivo.
Perder tempo na rua n��o era coisa que aceitasse para
seu filho. Aquele menino seria o seu doutor. Para isso
tinha vindo para a Capital. Para educar os filhos e fazer
deles gente.
Deusmar, aos oito anos, mal havia conclu��do a
Carta de ABC. Por isso, logo que chegou ao Barro Ver-
melho foi encaminhado para a professora Lourdes, que
preparava crian��as para os col��gios do centro da Capital.
Simultaneamente, frequentava as aulas de catecis-
mo de dona Maria Nazar�� de Lima Rocha.
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
O menino se desenvolveu rapidamente e, logo
mais, j�� estava preparado para ingressar no Gin��sio 7 de
Setembro. Entraria no segundo semestre e j�� no tercei-
ro ano, uma verdadeira proeza para algu��m que chegara
praticamente analfabeto do interior. A escola, que ficava
na Avenida do Imperador e pr��ximo ao col��gio de sua
irm��, era severamente dirigida pelo doutor Edilson Bra-
sil So��rez. Homem austero, criou fama na cidade pela
rigidez de seu car��ter pessoal e a disciplina que impunha
aos alunos confiados aos seus cuidados.
Embora fosse um aluno de boas notas, Deusmar
era a peraltice em pessoa. Aquilo que os educadores cha-
mam de um menino danado. Irrequieto e traquino, foi
v��rias vezes castigado com a pena m��xima do col��gio: a
sala da pris��o. Quem cometesse faltas e praticasse mole-
cagens ganhava como castigo ficar preso depois das au-
las numa sala especialmente escolhida para aquele fim.
As aulas terminavam ��s onze horas e o condenado ficava
confinado at�� ��s doze e meia. Para um comil��o como o
Deusmar aquilo era uma dura puni����o: chegava em casa
amarelo de fome. Mesmo assim, gostava do col��gio, prin-
cipalmente, da Semana da P��tria, quando participava do
desfile pela Avenida Duque de Caxias, marchando com
sua turma, todo empertigado, sob os aplausos da multi-
d��o. Um requinte.
Ficou no 7 de Setembro at�� o quinto ano prim��rio,
quando se transferiu para o Col��gio Cearense. Na escola
dos Irm��os Maristas o rigor tamb��m era caracter��stico.
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J U A R E Z L E I T �� O
Deusmar agora estudava no mais afamado estabeleci-
mento particular de ensino de Fortaleza, por aquele tem-
po, frequentado pelos bem-nascidos, os de posse. Imagi-
na-se o esfor��o que o senhor Ant��nio fazia para honrar,
no decorrer do ano, o compromisso das mensalidades,
certamente, muito altas para os padr��es de um bodeguei-
ro do Ant��nio Bezerra.
Ent��o, sobravam para o filho os serm��es e a co-
bran��a laboral. Deusmar tinha que trabalhar durante as
tardes para compensar o investimento com sua forma-
����o. Voltando das aulas, terminado o almo��o, ei-lo com
uma cesta na cabe��a, repleta de mercadorias, para ven-
der de porta em porta pelo bairro. Eram laranjas, bana-
nas, rapaduras... O pr��prio tabuleiro da baiana, pesando
sobre a sua pouca idade e sobre sua vaidade ��s vistas dos
amigos, que talvez desdenhassem de sua obriga����o.
Hoje ele relembra de como era cansativa aquela
tarefa de mascate mirim, mas diz que cumpria o ��rduo
trabalho sem reclamar e, embora transeunte da puber-
dade, tinha consci��ncia de que estava se edificando para
a vida.
Permaneceu no Col��gio Cearense at�� a terceira
s��rie do antigo Curso Ginasial. O quarto e ��ltimo ano
fez no Col��gio Agapito dos Santos, tamb��m no centro
da cidade.
Aos 17 anos come��ou a trabalhar e, por isso, teria
que estudar �� noite, em col��gio menos exigente, pois o
tempo lhe seria escasso.
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E O O R DE O U S A D I A S
Assim, matriculou-se no Col��gio S��o Jos��, ali fa-
zendo os tr��s anos do Curso Cient��fico e concluindo o
Ensino M��dio.
Tinha 21 anos quando, depois de frequentar o cur-
sinho do DCE da Faculdade de Economia, conseguiu ser
aprovado no vestibular, em 1969.
81
A TURMA DO BOLA 7
"Como ser humano, seu valor �� maior
do que a sua riqueza. A fortuna n��o lhe
subiu �� cabe��a. Continua aquele mesmo
sujeito que conhecemos na juventude,
brincalh��o, companheiro, humilde,
cheio de energia e com um otimismo
contagiante".
Irapuan Braga Ven��ncio
amigo d e s d e a adolesc��ncia
Asegunda metade dos anos 60 foi marcada por
inova����es e rebeldias. As mudan��as j�� anuncia-
das desde a d��cada anterior ganharam uma es-
pantosa acelera����o a partir de 1965.
Na Medicina, anunciava-se, em 1967, o primei-
ro transplante de cora����o, pelas m��os de um m��dico da
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J U A R E Z L E I T �� O
��frica do Sul, um certo Christian Barnard. Em 1969, o
homem pisava na lua, colocando os EUA na ponta da cor-
rida espacial. O movimento hippie, surgido em protesto
�� Guerra do Vietn��, mobilizava milhares de jovens ame-
ricanos no Festival de Woodstock, 1969, com o grito de
"Fa��a amor, n��o fa��a guerra!". Estouravam nas paradas
de sucesso as bandas roqueiras dos Beatles e dos Rolling
Stones, levando a juventude ocidental ao puro del��rio.
Na pol��tica, a rebeli��o espocava nas ruas de Paris,
com os estudantes enfrentando as autoridades e o gover-
no do General De Gaulle. O l��der da revolta era o univer-
sit��rio Daniel Cohn-Bendit, o Vermelho. As manifesta-
����es da Fran��a ecoaram pelo mundo todo, provocando
movimentos semelhantes em v��rios pa��ses.
No Brasil, o Regime Militar endurecia, culminan-
do com a decreta����o do Ato Institucional N�� 5, em 1968,
implantando medidas repressoras e concedendo ao Pre-
sidente da Rep��blica poderes praticamente absolutos.
Os estudantes se organizavam nos DCEs (Diret��-
rios Centrais Estudantis), nas UEEs (Uni��es Estaduais de
Estudantes) e na UNE (Uni��o Nacional dos Estudantes).
Num congresso realizado num s��tio em Ibi��na, a 70 km de
S��o Paulo, onde se reuniam centenas de estudantes dos
mais diversos recantos do pa��s, aconteceu a invas��o da
pol��cia e a consequente pris��o de todos os participantes.
Enquanto alguns se engajavam na milit��ncia mais
aguerrida de esquerda, outros buscavam o caminho da
m��sica para expressar seus sentimentos e tentar expli-
car a vida.
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Na TV Record, os festivais de MPB estimulavam a
criatividade, lan��ando nomes novos como os de Gilberto
Gil, Caetano Veloso, Torquato Neto e Capinan, os princi-
pais poetas da corrente tropicalista. As musas do per��o-
do, que davam voz ��s composi����es, eram Gal Costa, Nara
Le��o, Maria Beth��nia, Maria Creusa e Elis Regina, al��m
dos conjuntos Quarteto em Cy e MPB-4.
No Cear��, as duas posturas assumidas pela juven-
tude em ��mbito nacional aconteciam com grande enga-
jamento, sobretudo, na universidade. Da op����o musical
haveriam de se destacar nomes que logo ganhariam espa-
��o nacional, como Fausto Nilo, Ant��nio Carlos Belchior,
Petr��cio Maia, Raimundo Fagner e Amelinha.
Mas outros partiram para as a����es extremas, como
assaltos a bancos, no intuito de obter recursos para o mo-
vimento de resist��ncia �� Ditadura. Muita gente daquela
gera����o foi presa e torturada. Um estudante de Qu��mica
da Universidade Federal do Cear��, Bergson Gurj��o Fa-
rias, foi morto na Guerrilha do Araguaia ( 1 9 6 7 - 1 9 7 4 ) ,
uma experi��ncia guerrilheira liderada pelo PCdoB (Par-
tido Comunista do Brasil), combatida e exterminada pe-
las For��as Armadas Brasileiras.
Fervia o mundo, o Brasil e o Cear��. E, nesse qua-
dro de inquieta����o e alvoro��o, parecia n��o haver espa��o
para os comedidos. Os jovens que n��o se engajassem nas
hostes do radicalismo eram taxados de alienados e, cer-
tamente, haveriam de sofrer discrimina����o na escola e
em seu meio social.
85
J U A R E Z L E I T �� O
Indiferente ao turbilh��o das ruas, um grupo de ra-
pazes do Ant��nio Bezerra, liderados por Deusmar Quei-
r��s, procurava simplesmente viver os encantos da idade
sem maiores temeridades. N��o eram militantes pol��ticos
nem artistas da m��sica popular. Queriam apenas ajudar
com sua energia e juventude o lugar onde viviam, ao seu
modo e no que pudessem. Mal sabiam que tamb��m esta-
vam fazendo a Hist��ria.
Cultivando o perfil de bons mo��os, frequentavam
a igreja do bairro, cujo orago era a Sagrada Fam��lia (Jesus,
Maria e Jos��), filiando-se a um movimento de forma����o
crist��, o CMC, Centro da Mocidade Cat��lica, sob a orien-
ta����o do Padre Jo��o Pessoa de Carvalho, o vig��rio.
Todos pensavam em fazer faculdade, conseguir
emprego, constituir fam��lia, enfim, caminhar sem muitos
riscos pelas sendas mais comportadas da vida. Sem abdi-
car dos programas de divertimento t��picos da idade e da
��poca, dan��avam, jogavam, faziam piqueniques, viajavam.
Frequentavam, principalmente, o M��nfis Clube,
na Rua Martins Neto, e o Clube de Regatas, na Barra do
Cear��, al��m das famosas tert��lias, aconchegantes reuni-
��es dan��antes em casas de amigos.
Uma vez ou outra iam ao Cai��ara Clube, que ficava
fora do bairro. Ali, certa vez, aconteceu incidente desa-
grad��vel, quando, por brincadeira, puxaram para dentro
da piscina o Deusmar, que, nessa noite, envergava palet��
novo, do selo CLUB-UM, uma grife Pr��t-��-porter muito
em voga na ��poca.
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
O pai de um deles tinha um caminh��o. Nos dias
de festa no Regatas, subiam todos na carroceria, metidos
em seus palet��s, mas mandavam parar o velho Ford nas
proximidades do clube, por pura vergonha de descer en-
fatiotados de um ve��culo utilit��rio que durante a semana
transportava gado e ra����o para animais. Precisavam fin-
gir-se de bacanas para os "brotos", como eram denomi-
nadas as meninas em flor.
No Patronato da Sagrada Fam��lia, dirigido pelas
irm��s de Caridade, aconteciam apresenta����es teatrais e
os jovens do CMC participavam dos apreciados "dramas"
encenados pela Irm�� Suzana. Em muitas dessas pe��as
Deusmar brilhou como ator principal. Contempor��neos
acham que poderia ter desenvolvido o dom, feito carrei-
ra como artista de teatro, cinema ou televis��o, mas ele
nunca "pegou essa corda". Confessando-se sem voca����o
para as artes c��nicas, preferiu ser apenas um espectador
do desempenho alheio, a dist��ncia, encaminhando-se
para atividades mais pragm��ticas e de retorno garantido.
Jogar bola era um fator de uni��o e as peladas, fre-
quentes e espont��neas, um dos pretextos para estreitar
os la��os de camaradagem, fortalecer a conviv��ncia sadia
e o bom companheirismo.
No futebol, Deusmar era o dono da bola e, por essa
condi����o inquestion��vel, sempre o primeiro escalado do
time. Mas ele era por todos, reconhecido como o ani-
mador da mo��ada. Chegou mesmo a fundar um time, de
ef��mera dura����o, o Cearazinho, em homenagem ao seu
amado Cear�� Sporting Clube.
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J U A R E Z L E I T �� O
Indo al��m das fa��anhas nos campos, o filho de seu
Lisboa invadiu as esferas da intera����o social, criando o
Bola 5. Seria um grupo especial de amigos, mais ��ntimo,
mais fiel, mais fervoroso, todos unidos por um pacto de
solidariedade absoluta, um juramento de amizade perp��-
tua e confian��a vital��cia.
Inicialmente, os integrantes eram Deusmar Quei-
r��s, Jackson Ari Moreira, Irapu�� Braga Ven��ncio, o Ne-
g��o, Rog��rio Teixeira Cunha e Jo��o Barbosa Pinheiro So-
brinho, o B��o.
A amizade entre eles chamava a aten����o do bairro,
ao ponto de serem apontados como exemplo. Eram ra-
pazes estudiosos, educados, bem-humorados... Uns bo-
as-pra��as. O sucesso, inclusive, com as meninas, chegava
a despertar um certo clima de inveja entre os outros j o -
vens. Muitos se insinuavam para pertencer ��quela patota
que parecia se dar t��o bem e praticar as alegrias da vida.
Depois de algum tempo, dois novos participantes foram
admitidos: Osvaldo Coelho da Fonseca Filho e Pl��nio de
Castro Bravo. Agora era o Bola 7.
O grupo costumava se reunir na casa do Jackson,
com a cobertura de D. Juraci, sua m��e, que tinha o maior
prazer em receber os amigos de seu filho. Ali, al��m da
merenda garantida, desenvolviam diversas atividades,
como o carteado sem aposta de dinheiro e o jogo da ris-
cadinha, esse, engendrado pelo Deusmar. A riscadinha
era uma disputa que envolvia racioc��nio e sorte, baseada
numa s��rie de n��meros que eram paulatinamente elimi-
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
nados. Quem riscasse o ��ltimo seria o ganhador. O Jo��o
Pinheiro, extremamente supersticioso, associava o seu
sucesso ou azar no jogo com a roupa que vestia: quan-
do achava que a camisa estava derrubando a sua sorte,
tirava-a fora. Um dia quase ficava nu, porque sup��s que
toda a roupa estava lhe passando infort��nio. Uma coisa,
entretanto, era sagrada naquele encontro de amigos: a
hora do estudo. Foi criado - imagine por quem - um
regulamento draconiano. Era expressamente proibido
conversar e quem o fizesse pagava uma multa, em di-
nheiro. Os infratores terminavam se endividando, por-
que n��o havia perd��o. E o que fosse arrecadado iria para
a tesouraria do Bola 7.
A turma do Bola 7 tinha projetos afoitos, geralmen-
te gerados na mente ousada de Deusmar, que j�� costuma-
va sonhar grande. Um desses planos foi cuidadosamente
constru��do e teve investimento. Os meninos decidiram
nada menos do que viajar para a Alemanha para assistir a
Copa do Mundo de 1974.
Come��aram a economizar o minguado dinhei-
ro que cada um obtinha no dia a dia, com sacrif��cio das
festas e programas de fim de semana. Os recursos eram
conjuntamente aplicados num fundo de investimento,
APLITEC.
Foram quatro anos de ingentes esfor��os e naturais
priva����es em prol do projeto grandioso, tema preferido
de todas as conversas: uma viagem para a Europa para
ver a Sele����o Brasileira de Futebol atuar, a travessia so-
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J U A R E Z L E I T �� O
bre o Atl��ntico, a alegria de pisar o Velho Continente, a
realiza����o, enfim, de uma fascinante utopia adolescente.
Aquele, realmente, poderia parecer um programa
pretencioso demais para rapazolas do sub��rbio de For-
taleza, mas n��o para o Bola 7. Eles iriam, sim, inserir em
suas hist��rias aquela incr��vel aventura humana. Muitos
admiravam a tenacidade daqueles sete jovens privando-
-se de tudo o que parecesse sup��rfluo ou que apenas n��o
fosse indispens��vel. Era a pol��tica do gasto absolutamen-
te essencial, uma postura certamente incompat��vel com
o natural comportamento perdul��rio da juventude.
Entretanto, o destino conspirou feio contra os pla-
nos do grupo. A Bolsa de Valores despencou, caiu ver-
tiginosamente, e o investimento, na hora do resgate, s��
valia 10% do valor que fora aplicado. Assim, o suado di-
nheirinho do Bola 7 foi para o brejo, levando junto o belo
sonho dos rapazes do Ant��nio Bezerra.
Nem s�� de preju��zos financeiros viviam as afoite-
zas do jovem Deusmar. Praticava outros riscos. Um dia
chegou para os amigos e prop��s um acampamento. Deve-
riam subir a Serra de Maranguape e ali acampar por tr��s
dias, enfrentando todas as dificuldades da natureza, frio,
insetos, chuvas e o perigo circunstancial das cobras. Afir-
mava que sabia como lidar com essas coisas, pois, como
chefe de escoteiros do Col��gio Cearense, estava suficien-
temente preparado para comandar aquela aventura.
A Serra de Maranguape fica a 27 quil��metros de
Fortaleza e tem como ponto culminante o Pico da Raja-
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
da, um rochedo de 920 metros de altitude. Cortada de
c��rregos que serpenteiam entre ��rvores majestosas, tem
clima ameno e vegeta����o exuberante. Da montanha se
descortina o vale, oferecendo uma paisagem encantado-
ra. Nas noites enluaradas os seresteiros costumam subir
para os s��tios e dos terreiros ficam a contemplar o c��u es-
pl��ndido, cantando e tocando as mais belas can����es num
exerc��cio de pleno romantismo. Em entrevista �� Revista
Cigarra, em 1936, Catulo da Paix��o Cearense declarou
que produziu sua mais famosa composi����o, o c��lebre
"Luar do Sert��o", numa dessas noites de lirismo na Serra
de Maranguape, quando ali esteve para curar-se de males
do peito.
O convite para a escalada da serra foi feito para o
Bola 7, mas nem todos toparam. Temendo os perigos e
as surpresas da floresta, quatro declinaram. Somente o
Osvaldo Coelho e o Jackson Moreira se mostraram su-
ficientemente destemidos para acompanhar o escoteiro
Deusmar. Conseguiram a ades��o de um amigo fora do
Bola 7, Ubiracele, que, tempos depois, viria a ser cunha-
do de Deusmar. Jo��o Barbosa foi franco: n��o iria acam-
par no meio do mato de jeito nenhum e muito menos
dormir ao relento, porque tinha medo de cobras e de al-
mas penadas.
Partiram pela madrugada com suas mochilas e de-
mais apetrechos de sobreviv��ncia e, depois de extenu-
ante caminhada, chegaram ao destino. Escolheram um
lugar apraz��vel e armaram a lona, tratando o Deusmar,
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J U A R E Z L E I T �� O
como vinha fazendo desde o in��cio, de anotar todas as
descobertas (aspectos geogr��ficos, pios de coruja, canto
de grilos, ventos sibilantes e outros ru��dos n��o identifica-
dos), para posterior relato aos outros membros do grupo.
Um incidente, por��m, iria perturbar aquela que se
anunciava como uma prosaica noite bandeirante. No lu-
gar onde Deusmar escolheu para se acomodar havia uma
caixa de maribondos e um deles o picou.
O maribondo �� uma esp��cie de vespa bem maior
do que as abelhas e, como elas, portador de um ferr��o que
inocula veneno. Sua picada produz dor intensa e imediata
inflama����o com edema avermelhado, al��m de sudorese,
febre, tremores e n��useas. Se as ferroadas forem muitas
podem acarretar um quadro de broncoespasmo, sobretu-
do, nos al��rgicos, que, sem atendimento adequado, che-
gam �� inconsci��ncia e at�� mesmo �� morte por asfixia.
Apesar de atingido possivelmente por apenas um
daqueles insetos vesp��deos, Deusmar teve uma rea����o
violenta. O local inchou muito e uma febre foi se gra-
duando rapidamente. Dali a pouco estava com ��nsia de
v��mito e, em seguida, passou a delirar. N��o dizia coisa
com coisa e isso p��s em p��nico os outros tr��s compa-
nheiros, que n��o sabiam o que fazer. Descer a serra, ��
noite, carregando o atl��tico Deusmar, seria imposs��vel e,
para completar o quadro de dificuldades, come��ou a cho-
ver. Agasalharam o doente com panos e folhas, fizeram
um ch�� de ervas colhidas ali mesmo e ficaram de vig��lia a
noite inteira rezando e fazendo promessas.
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Pela manh�� tudo estava superado, gra��as ao Deus
dos aflitos. A febre havia cessado e o acidentado reto-
mara sua disposi����o. Passado o susto, Osvaldo, Jackson e
o outro foram novamente surpreendidos: o comandante
n��o queria abortar a empreitada. Haviam combinado tr��s
dias? Pois seria de tr��s dias mesmo a dura����o do acam-
pamento, mas, diante de nova indisposi����o de Deusmar,
tiveram que descer a serra.
De outra feita, no meio de uma noitada tangida a
cuba libre no bar do Airton, Deusmar apresentou para o
Bola 7 mais uma de suas mirabolantes ideias de prova����o
da resist��ncia f��sica e forma����o de uma t��mpera forte.
A proposta era a realiza����o do que chamou de via-sacra,
uma grande caminhada pela Avenida Perimetral, a longa
art��ria que interliga v��rios bairros de Fortaleza.
Deveriam estar a postos ��s oito horas, na casa do
Jo��o Barbosa Pinheiro, de onde partiriam, com o m��nimo
de equipamento e muita disposi����o, para um dia de es-
for��os inauditos. �� hora aprazada, os sete companheiros
deram in��cio ao que consideravam uma memor��vel tra-
vessia pelos rebordos da capital, numa demonstra����o de
intrepidez e energia imp��vida, um feito digno de entrar
para a hist��ria.
A p�� por asfalto e terra batida, a brava patrulha
sorria no come��o da marcha e at�� contava piadas. Pouco
a pouco o cansa��o foi chegando. Passaram pelo Henrique
Jorge, pelo Rodolfo Te��filo e outros bairros, chegando ao
Mondubim ��s tr��s horas da tarde. J�� estavam esgotados,
93
J U A R E Z L E I T �� O
mas ainda faltava muito. Dali deveriam se encaminhar
para o Mucuripe e a Praia do Futuro, praticamente no
outro lado do mundo, o que os levou a reconsiderar o
percurso e cancelar aqueles dois objetivos.
��s dezessete horas chegaram ao Benfica, com as
energias no fundo do po��o. N��o dava mais para prosse-
guir. Os seis desistiram, mesmo tendo que ouvir do com-
padre Deusmar que eram uns frouxos, incapazes de fazer
um sacrif��cio a mais para cumprir o que haviam planeja-
do. Tomaram o ��nibus e finalmente retornaram ao Ant��-
nio Bezerra, onde chegaram exauridos de fadiga e juran-
do avaliar, a partir de ent��o, a sedutora ret��rica do l��der
sobre a forma����o impoluta do car��ter.
Deusmar estendia sua lideran��a para al��m do Bola
7. Era amigo de outros jovens no bairro. Muitos o des-
crevem como um ativador social, empreendedor entu-
siasmado e gerador dos acontecimentos de seu tempo.
Paulo Alexandre de Souza, Paulo Alex, empres��rio e ad-
ministrador, contempor��neo de adolesc��ncia e juventu-
de, o cita como o grande exemplo de sua gera����o, l��der
espont��neo que, desde muito jovem, j�� suscitava entre
os vizinhos os melhores progn��sticos de que seria um
bem-sucedido na vida.
No movimento de igreja organizava campeonatos
de futebol e v��lei e participava ativamente da festa de
Jesus, Maria e Jos��, o conjunto de padroeiros, ajudando
na procura de patroc��nios para os eventos do CMC. Nin-
gu��m o igualava no empenho de arrecada����o de prendas,
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
organiza����o das quermesses e instala����o dos leil��es da
par��quia. Tinha a confian��a do vig��rio, a boa vontade, a
disposi����o e o dinamismo adequados para aquele traba-
lho comunit��rio.
Companheiro leal, prestativo e solid��rio, o jovem
Deusmar Queir��s era o amigo que todos queriam ter. Bem-
-vindo a todas as rodas, circulava sua simpatia e vibra����o
pelos grupos sociais do bairro, de modo geral e ecum��ni-
co. Pelo estado de benqueren��a que conquistou, recebeu
um t��tulo afetivo, uma esp��cie de comenda carinhosa dos
favorecidos de sua simpatia: compadre Deusmar.
Exemplos n��o faltavam de sua disposi����o para am-
parar os amigos e ajudar com precis��o a qualquer momen-
to e em qualquer circunst��ncia. Numa noite de alegria no
Bar do Teixeira, perderam a hora e avan��aram nas con-
versas pela noite adentro. J�� passava das 23 horas quando
um dos participantes, o Jairo, sentiu-se mal. Suando frio
e pulsando as veias laterais da cabe��a, o rapaz apavorou-
-se pensando que iria ter um tro��o, um ataque card��aco.
Deusmar procurou seren��-lo, massageando-lhe os pulsos
e umedecendo-lhe a fronte latejante e febril. Em segui-
da, p��s o amigo nas costas e, a passo de tropeiro vexado,
o levou para casa. As testemunhas desse fato n��o sabem
como o samaritano de Amontada conseguiu transportar
o Jairo com tanta desenvoltura, pois tratava-se de um su-
jeito robusto, que certamente pesava muito mais que seu
carregador. A fam��lia de Jairo ainda hoje agradece o gesto
solid��rio e exalta os pendores caritativos de Deusmar.
95
J U A R E Z L E I T �� O
Nos anos setenta do s��culo passado o bairro An-
t��nio Bezerra tinha duas lideran��as populares, exercidas
pelos vereadores Ant��nio Costa Filho, conhecido como
Antoni Costa, e Ger��ncio Bezerra da Silva, o Bezerrinha.
Antoni, que nascera em Fortaleza em 1917, des-
cendia, pelo lado materno, do c��lebre Jo��o Br��gido, o
mais famoso jornalista cearense de todos os tempos,
fundador de O Unit��rio, atalaia de grandes arengas pol��-
ticas e ��rg��o de oposi����o a todos os governos. Aluno do
Col��gio Militar, tornou-se Antoni Costa, depois, aviador
e instrutor de avia����o, com curso de aperfei��oamento
nos Estados Unidos. Durante a Segunda Guerra Mundial
comp��s a For��a Auxiliar da FEB, patrulhando a costa ce-
arense e piauiense. Foi jornalista e funcion��rio p��blico
federal. Elegeu-se vereador de Fortaleza em 1958 para a
legislatura 1959-1963. Ap��s este primeiro mandato, so-
mente voltaria ao Parlamento Municipal pela elei����o de
1970 para o bi��nio 1971-1972. Reeleito em 1972, chegou
�� Presid��ncia da Casa do Povo e, nessa condi����o, assu-
miu a Prefeitura da Capital em dez ocasi��es. Em 1974
elegeu-se para um ��nico mandato de Deputado Estadual.
Presidiu o C��rculo dos Trabalhadores Crist��os de Ant��-
nio Bezerra e foi um dos fundadores do Clube de Regatas
Barra do Cear��, sendo tamb��m seu primeiro presidente.
Seu concorrente, Ger��ncio Bezerra, nascera em
Russas, em 1921, mas transferiu-se ainda muito jovem
para Fortaleza, onde concluiu o curso de T��cnico em
Contabilidade. Obteve emprego p��blico municipal, na
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
fun����o de Arrecadador Fiscal. Colecionador de amiza-
des, logo foi descoberto como um l��der espont��neo e de
not��vel trato social. Convidado para gerir a Subprefeitu-
ra de Ant��nio Bezerra, em pouco tempo ganhou a sim-
patia da popula����o e o incentivo para disputar a verea����o
pelo bairro, em 1966. Reeleito em 1970, 1972 e 1976,
conseguiu, nesta ��ltima, a maior vota����o para um ve-
reador de Fortaleza, at�� ent��o ( 1 0 . 5 7 8 votos). Em 1974
chegou �� Presid��ncia da C��mara Municipal de Fortaleza,
exercendo em situa����es de interinidade a Prefeitura. Em
1978 elegeu-se Deputado Estadual, repetindo o feito de
seu concorrente pol��tico do bairro.
O fato de contar com dois representantes na C��-
mara Municipal de Fortaleza comprovava a grande densi-
dade demogr��fica alcan��ada pelo bairro, al��m de garantir
no Executivo Municipal a implanta����o dos melhoramen-
tos urbanos e o atendimento ��s reivindica����es da popula-
����o. A disputa entre as lideran��as pol��ticas era, portanto,
muito salutar.
E, quando Antoni Costa e Ger��ncio Bezerra esca-
laram posi����o mais elevada na hierarquia pol��tica elegen-
do-se para a Assembleia Legislativa, procuraram indicar
os descendentes para ocupar suas cadeiras no Legislativo
Municipal. Assim, Antoni foi substitu��do por seu filho
S��rgio Costa e Ger��ncio por seu filho Jos�� Maria Couto,
ambos advogados.
Deusmar Queir��s e seus companheiros n��o esta-
vam diretamente envolvidos com a pol��tica partid��ria.
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J U A R E Z L E I T �� O
Por amizade com Jo��o Bosco, filho de Ger��ncio, votavam
em seu pai, mas sem estardalha��o ou maior engajamento.
Em 1970, a turma do Bola 7 e outros jovens do
bairro fizeram o concurso do IBGE (Instituto Brasilei-
ro de Geografia e Estat��stica) para trabalhar no recen-
seamento daquele ano. Deusmar j�� trabalhava na IBM,
desde 1967, mas resolveu concorrer. Tirou o primeiro
lugar. Alguns de seus amigos tamb��m foram aprovados.
O emprego poderia ser tempor��rio ou n��o. Havia uma
meta de desempenho que deveria ser alcan��ada por cada
recenseador. Muitos atingiram o objetivo exigido. Mas a
performance de Deusmar foi de tal modo prof��cua, que
ele logo ganhou a fun����o de coordenador, passando a
viajar para o interior para dar treinamento aos demais
recenseadores e ganhando por produ����o. No primeiro
m��s viu que conseguira praticamente o dobro do que re-
cebia na IBM, de onde j�� tinha se afastado. Ele precisava
ganhar mais porque tinha compromissos urgentes com o
sentimento. Estava noivo, completamente apaixonado e
precisava casar.
Algumas das afoitezas praticadas por Deusmar vi-
nham da pr��tica do escotismo. Ele era e sempre ser�� um
escoteiro, daqueles que seguem �� risca os preceitos de
Baden-Powell.
Deusmar mant��m, ainda hoje, contato com seus
companheiros de adolesc��ncia. A vida, pela variedade
de caminhos, naturalmente os separou, pondo-os em
carreiras e profiss��es diversas. Entretanto, sempre que
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se encontram fazem uma festa, relembram epis��dios, se
informam sobre a vida de cada um.
Com alguns, a oportunidade de conviv��ncia ��
maior. Jo��o Barbosa Pinheiro, empres��rio e ex-vereador
da Capital, ��, certamente, o que mais encontra o antigo
camarada dos ��ureos tempos da mocidade no Ant��nio
Bezerra. Levou-o, inclusive, para a Ma��onaria.
O ingresso de Deusmar Queir��s na Ma��onaria
ocorreu em 1984. Aceitara o convite de Jo��o Pinheiro
e rapidamente evoluiu naquela conceituada e vener��vel
sociedade. Foi iniciado como Aprendiz Ma��om em 30 de
junho de 1984 (1o Grau).
Em 16 de outubro daquele mesmo ano foi elevado
a Companheiro Ma��om ( 2 o Grau).
Em 7 de maio de 1985 foi exaltado a Mestre Ma-
��om ( 3 o Grau).
Por ter desembara��o para se expressar, exerceu a
condi����o de Orador Oficial da Loja Gon��alves Ledo en-
tre 1985 e 1987.
�� medida, por��m, que se envolvia mais com seus
neg��cios, Deusmar foi tamb��m se tornando menos ass��-
duo ��s reuni��es ma����nicas.
Sua posi����o atual na ordem �� a de Irm��o Adorme-
cido, por n��o dispor de tempo para frequentar.
99
7
O ESCOTEIRO
"O Escoteiro �� limpo em pensamento,
palavra e a����o. O verdadeiro escoteiro tem,
n��o s�� uma mente limpa, como tamb��m
uma vontade limpa. �� capaz de controlar
as tend��ncias intemperadas e d�� exemplo
aos demais sendo puro, franco, leal e
honesto em tudo que pensa, diz ou faz."
Baden-Powell, criador do e s c o t i s m o
Oescotismo foi um movimento de incentivo c��-
vico �� juventude que surgiu na Inglaterra em
1907, por iniciativa de um oficial do ex��rcito
ingl��s, Robert Baden-Powell, com o objetivo de, sem
qualquer filia����o a grupos pol��ticos ou religiosos, aper-
fei��oar conhecimentos e desenvolver princ��pios morais,
human��sticos e de organiza����o pessoal e coletiva.
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J U A R E Z L E I T �� O
No Brasil, o Movimento Escoteiro come��ou no
Rio de Janeiro, em 1910, com o suboficial da Marinha,
Am��lio de Azevedo Marques, tripulante do Encoura��ado
Minas Gerais, que trouxe o Manual de Instru����o, escrito
por Baden-Powell, e os primeiros uniformes.
Rapidamente o escotismo espalhou-se por todo o
pa��s, por se tratar de uma organiza����o que, aproveitando
o idealismo natural dos jovens, defende o esp��rito de so-
lidariedade humana, o senso de companheirismo, o tra-
balho de equipe e a pr��tica das boas a����es.
A esse elenco de princ��pios formadores do car��ter,
somam-se o est��mulo �� aventura e o aprendizado da so-
breviv��ncia em meio �� natureza, enfrentando as dificul-
dades da floresta ou da montanha, acampando ao relento
com um m��nimo de meios e utens��lios de defesa, tendo
que sair das dificuldades de maneira h��bil e produzindo
manualmente o abrigo, o fogo e a obten����o do alimento.
Para os meninos da cidade, sobretudo, �� um grande desa-
fio e uma interessante escola de resist��ncia.
Na d��cada de 1960, o Col��gio Cearense, a escola
marista em Fortaleza, promoveu uma inova����o. Sua di-
re����o decidiu que, al��m das mat��rias da grade escolar,
seria bom encaminhar seus alunos tamb��m para outras
atividades art��sticas, esportivas e culturais, como forma
de estimular a capacidade criativa e apoiar o sentimento
de companheirismo e congra��amento.
Assim, por iniciativa do Irm��o Raimundo Lobato,
o diretor do col��gio, surgiram os Clubes de Atividades
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Extracurriculares: o Clube de Cinema, o Clube de Aero-
modelismo, o Clube de M��sica, o Clube de Jornalismo e
o Grupo de Escoteiros Verdes Mares.
O Irm��o Lobato, depois de estudar o regulamento
do escotismo e ver a classifica����o dos tr��s grupos, Lobi-
nhos (dos 7 aos 11 anos), Escoteiros (dos 11 aos 15) e
S��nior (dos 15 aos 1 8 ) , estabeleceu que a associa����o que
estava criando deveria ficar na terceira categoria, embora
alguns dos participantes ainda n��o houvessem atingido
os tr��s lustros. Ele achou, por��m, que nesse caso e, em re-
fer��ncia aos demais alunos, valia a "experi��ncia de vida".
O Grupo de Escoteiros Verdes Mares era consti-
tu��do de duas patrulhas: Corcovado e Rajada. Os nomes
homenageavam dois magn��ficos picos gran��ticos, o do
Rio de Janeiro, ponto tur��stico famoso onde est�� assen-
tada a est��tua do Cristo Redentor, e o da apraz��vel Serra
de Maranguape, a 27 km de Fortaleza, no sop�� da qual os
maristas possu��am um s��tio.
Cada patrulha compunha-se de seis escoteiros, li-
derados por um Monitor e um Vice-Monitor.
A patrulha Corcovado era monitorada pelo aluno
Ant��nio Mour��o Cavalcante (hoje, m��dico psiquiatra,
professor da Universidade Federal do Cear��, escritor
e conferencista) e tinha entre seus integrantes: Ant��-
nio Roberto Menescal Macedo (hoje, engenheiro civil),
Frederico Ramde (ex-piloto e engenheiro), Paulo C��sar
Bayma (engenheiro civil) e Jos�� Escorteci de Paula (en-
genheiro civil).
103
J U A R E Z L E I T �� O
A patrulha Rajada tinha como Monitor Henrique
Mota (hoje, m��dico traumatologista e l��der classista),
Raimundo Willian Noronha Brasil (suboficial do Ex��rci-
to, falecido), S��rgio Menescal Macedo (m��dico cardiolo-
gista, escritor, poeta), Al��rio Viana J��nior (empres��rio),
Raul Armando Monteiro Jr. (engenheiro e psic��logo) e
Francisco Deusmar Queir��s (economista, empres��rio e
conferencista), que, embora atuando como Vice-Monitor,
desenvolvia uma atividade t��o intensa, que praticamente
puxava os colegas para os desafios e provas de resist��ncia.
A aplica����o dos ensinamentos do Manual do Esco-
teiro acontecia na Serra de Maranguape. As duas patru-
lhas acampavam no s��tio dos maristas e se provavam na
escalada do Pico da Rajada, um dos pontos mais elevados
do relevo cearense.
O grupo que primeiro chegasse ao cume da mon-
tanha ali fincava a sua bandeira e soltava pelas quebra-
das o grito ecoante de conquistador. Os perdedores
teriam que voltar, porque, l�� em cima, s�� havia espa��o
para uma turma.
Outra perip��cia desafiadora era o assalto �� barraca
dos advers��rios para surrupiar-lhes a comida. Certa feita,
o grupo do Ant��nio Mour��o conseguiu se aproveitar da
soneca do guarda do outro acampamento e roubou toda
a comida deles. A turma do Deusmar estava condenada
a passar fome, pois o ��nico alimento poss��vel eram os
cocos que pendiam do alto de suas palmeiras esguias e
aparentemente inating��veis. Foi, ent��o, que se revelou
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
uma nova voca����o no grupo: o Raimundo William de-
monstrou extraordin��ria habilidade para escalar ��rvores.
Num piscar de olhos l�� estava o garoto subindo aquele
tronco fino como se fosse um primata dos mais sagazes.
Logo mais, todos se fartavam da ��gua e da baga dos co-
cos, um alimento ricamente saciador e proteico. A partir
daquele dia o escoteiro William passou a ser chamado de
Macaquinho.
Entretanto, o grande acontecimento da participa-
����o de Deusmar no escotismo foi a excurs��o ao Rio de
Janeiro em 1965.
Comemorava-se o IV Centen��rio da Cidade Ma-
ravilhosa. E, para celebrar data t��o significativa e tam-
b��m os 50 anos da realiza����o do Primeiro Acampamento
Mundial de Escotismo na Ilha de Brownsea, a Uni��o dos
Escoteiros do Brasil decidiu promover o 1o JAMBOREE
SUL-AMERICANO.
Jamboree s��o os grandes acampamentos do esco-
tismo, geralmente, comemorativos de efem��rides impor-
tantes da Institui����o, quando se re��nem escoteiros de
v��rios estados ou na����es para se confraternizar e trocar
experi��ncias.
O Io JAMBOREE SUL-AMERICANO foi um acam-
pamento monumental, com representa����o de todos os
pa��ses da Am��rica Latina e convidados especiais de ou-
tros continentes.
Realizou-se na Ilha do Fund��o ( R J ) , entre 18 e 26
de julho de 1965.
105
J U A R E Z L E I T �� O
A abertura foi feita pelo governador Carlos La-
cerda, que, num discurso veemente, discorreu sobre o
papel dos escoteiros na sociedade e ofereceu os pr��sti-
mos de seu estado para os participantes daquele magno
encontro. A eloqu��ncia do governador impressionou os
escoteiros, principalmente, quando saudou as delega����es
estrangeiras na l��ngua de cada uma, demonstrando que,
mesmo sendo um autodidata, era um homem muito culto
e um poliglota, pois falou em ingl��s, franc��s e espanhol
com razo��vel desenvoltura.
Eram centenas, talvez milhares de jovens, quase
todos da mesma idade, todos ��vidos para exercer sua
empatia, confraternizar, comunicar e receber conheci-
mentos. Uma enorme cidade de lona, um congresso de
felicidade.
A programa����o di��ria come��ava com a alvorada,
onde ocorriam toques de clarim e dobrados executados
por uma banda de m��sica. Seguiam-se o caf�� da manh��,
o hasteamento da bandeira, jogos diversos e palestras, al-
mo��o, mais recrea����o, exibi����o de document��rios, servi-
��os de pioneiros, jantar, shows musicais, teatro e o Fogo
de Conselho (reuni��o em torno da fogueira para repasse
de doutrina e experi��ncias).
A Ilha do Fund��o possu��a algumas instala����es da
Marinha, na orla da Ba��a da Guanabara, mas era despovo-
ada na ��rea pr��xima do Aeroporto do Gale��o e da Aveni-
da Brasil. Havia ali espa��o suficiente para o encontro dos
escoteiros, que, pelo n��mero de participantes, requeria
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
condi����es para a instala����o das barracas e demais equi-
pamentos necess��rios.
Nunca, em toda a sua vida, Deusmar vira uma fes-
ta daquele tamanho e daquela import��ncia. O Jamboree
de 1965 haveria de marc��-lo definitivamente como uma
experi��ncia cultural e humana da maior envergadura e
muito enriquecedora de sua adolesc��ncia.
Ao voltar, tinha muito o que contar para seus
amigos e, sobretudo, para sua namorada, Auric��lia, que,
durante aqueles dez dias de aus��ncia, fora fervorosa-
mente alimentada por cartas apaixonadas expedidas
diariamente.
Mesmo depois de ingressar na universidade, Deus-
mar n��o abandonou o escotismo. Atingiu na organiza����o
patentes superiores. Com o Henrique Mota fez outras
viagens para o Rio de Janeiro e para Cuiab��.
Sua passagem pela Uni��o dos Escoteiros do Brasil
(UEB) foi importante para sua forma����o moral e deixou
impress��es favor��veis em seus antigos camaradas, que
hoje se pronunciam saudosos dos bons tempos.
Para Henrique Mota, Deusmar Queir��s continua
o mesmo adolescente dos anos 6 0 / 7 0 , afoito, irrequieto,
ousado e desafiador do destino. Um intr��pido compa-
nheiro em que a capacidade de ousar funcionou a favor
e que, mesmo conquistando o sucesso e a riqueza, conti-
nua do mesmo jeito, simples e leal com seus amigos.
Para Ant��nio Mour��o, as impress��es provocadas
na juventude continuam no atual est��gio de sua vida. Era
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J U A R E Z L E I T �� O
um d��namo, um guerreiro temer��rio e assim permanece.
Parece que �� movido a desafios, sem os quais n��o funciona.
Para S��rgio Macedo, Deusmar sempre reuniu to-
das as qualidades do vencedor e o dinamismo �� a que
lhe cabe melhor. Sua personalidade sempre foi assim,
exposta e verdadeira, alimentada pelo otimismo e pela
for��a de supera����o.
Segundo a doutrina de Baden-Powell, o lema dos
escoteiros, "SEMPRE ALERTA", n��o �� uma preven����o
aleat��ria de espanto aprior��stico. �� a luz do esp��rito eter-
namente preparada para a defesa do b e r n e o aprimora-
mento individual e humano.
O grupo de escoteiros do Col��gio Cearense assimi-
lou com muita consci��ncia os princ��pios da organiza����o
na juventude e, como suas biografias retratam, perseve-
raram em sua aplica����o.
108
8
O TERRIT��RIO DO
AMOR
"Minha fome era imensa e tu foste a fruta.
Era clara a minha dor e tu foste o milagre.
Ah, mulher, n��o sei como me pudeste conter
na terra de tua alma,
nessa ternura leve como a ��gua e a farinha.
Mas eras o meu destino e nele viajou minha esperan��a."
Pablo Neruda ( 1 9 0 4 - 1 9 7 3 )
Onamoro de Deusmar com a Auric��lia envolve um
dos mais complicados enredos. Coisa de roman-
ce antigo, com nega��as, desejos disfar��ados, bei-
jos roubados, vigil��ncia extrema de familiares e toda uma
gama de princ��pios recalcitrantes oriundos da renit��ncia e
111
J U A R E Z L E I T �� O
da severidade patriarcal. N��o se coadunaria com o tempo
em que decorreu, quando o mundo j�� respirava um ar de
revolu����o e a juventude era a pr��pria imagem da rebeldia.
Estamos em 1964, ano dif��cil no Brasil e no mun-
do. Enquanto a Guerra Fria se mantinha, alimentada pela
corrida armamentista e pela polariza����o pol��tica lidera-
da pelos Estados Unidos e Uni��o Sovi��tica, por aqui, na
Am��rica Latina, predominava a crescente influ��ncia da
Secretaria de Estado Norte-americana sobre a chamada
Intelig��ncia Militar dos pa��ses do continente, com est��-
mulo ��s interven����es das For��as Armadas em governos
n��o confi��veis �� pol��tica de hemisf��rio.
Pois, enquanto o mundo fervia, dois adolescentes,
num bairro humilde da capital do Cear��, come��avam um
processo de encantamento rec��proco, que haveria de edi-
ficar, com os tijolos s��lidos da paci��ncia, uma longa his-
t��ria de amor.
Conheceram-se naquele ano de 1964 e no esplen-
dor da adolesc��ncia, ela, com dezesseis anos, ele, com
dezessete.
Auric��lia relata: "Uma tarde, eu vinha de meu Co-
l��gio, o Erm��nio Barroso, com a minha amiga Miriam, e
passamos na Igreja Jesus Maria e Jos��, como costum��-
vamos fazer todos os dias. Ele estava com um amigo, o
Jackson, na pracinha. A Mirian, que j�� conhecia os dois,
resolveu apresent��-los a mim".
Nada de especial nesse primeiro encontro, a n��o
ser por um incidente que poderia n��o ter import��ncia
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
maior, mas talvez tenha gerado uma primeira impress��o
favor��vel em Deusmar. Jackson, ao ser apresentado a
Auric��lia, p��s-lhe a m��o no ombro, com aparente natu-
ralidade. Foi repelido, na hora e com uma reprimenda:
"Olha, mo��o, tira a m��o de meu ombro, pois eu n��o gosto
deste tipo de liberdade!". Jackson pediu desculpas, justi-
ficando-se humildemente por sua aparente aud��cia sem
maldade ou qualquer inten����o malferida.
Naquele instante se acendeu em Deusmar a fagu-
lha da admira����o, aquele sinal que surge, de repente, e
come��a a expedir os primeiros avisos. Que mocinha va-
lente, compadre! Com toda a moral calou o danado do
Jackson e interceptou o que certamente nem fora cogi-
tado como e n x e r i m e n t o ! ! ! Entretanto, serviu para que
as regras ficassem claras. Porque eram elas, as mulheres,
que estabeleciam as regras naquele tempo de pudores
ainda resistentes. Qualquer afoiteza masculina se acaba-
va quando encontrava pela frente um balde de gelo.
O rapaz de Amontada, a partir daquele dia, passou
a olhar com certo interesse, ainda insipiente, aquela me-
nina t��o franca e positiva.
As fam��lias dos dois procediam do interior do es-
tado. A dele, da mesorregi��o de Itapipoca, de um distri-
to antigo daquele munic��pio singular que apresenta tr��s
geografias: sert��o, praia e serra. A dela, da antiga Lic��nia
(atual Santana), plantada na margem esquerda do Aca-
ra��, o rio principal da Zona Norte, cantado em prosa
e verso por poetas e seresteiros habitantes de seu vale
1 1 3
J U A R E Z L E I T �� O
apraz��vel, raz��o e territ��rio de v��rios munic��pios da zona
fisiogr��fica adjacente de Sobral.
Auric��lia chegara h�� tr��s anos em Fortaleza. Era
um retorno �� terra natal. Nascera na Capital quando a
fam��lia toda, tendo �� frente o seu pai, Benone Alves, mu-
dara-se de Santana em busca de melhores condi����es de
estudo para os filhos. As lembran��as desse primeiro pe-
r��odo dos Alves em Fortaleza s��o de dificuldades e en-
frentamento de problemas relativos �� moradia e ao duro
tremendo que Benone dava, trabalhando como um mou-
ro numa oficina mec��nica e numa casa de fundi����o.
O senhor Benone era um mec��nico de m��o-cheia,
uma esp��cie de Professor Pardal da Caatinga, autodidata,
mas, merc�� de privilegiada intelig��ncia, capaz de resolver
qualquer problema em mat��ria de eletricidade, engrena-
gens e m��quinas pequenas ou pesadas. Em Santana, sua
fama corria solta, acudindo e "tirando do prego"qualquer
equipamento engui��ado.
Por ser detentor de tais aptid��es, conhecidas, so-
bretudo, pelos de sua terra, um dia recebeu um convite
vantajoso e surgido em muito boa hora.
Os irm��os Ara��jo (Cl��udio, Valter e Adauto),
propriet��rios de uma algodoeira em Santana do Acara��,
iriam transferir sua ind��stria para Sobral.
Seu Benone conhecia e se dava muito bem com
os Ara��jo e com a empresa, pois havia sido funcion��rio
deles na terra natal. Era a Usina Jo��o Alfredo de Ara��jo,
fundada pelo Velho Joca, como era conhecido o Sr. Jo��o
114
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E O O R DE O U S A D I A S
Alfredo, refer��ncia de homem rico e pr��spero em todo o
Vale do Acara��.
Entretanto, o convite era tamb��m um grande de-
safio. Benone teria de montar a usina em Sobral, aprovei-
tando o que pudesse do maquin��rio velho e instalando
as novas m��quinas adquiridas. A miss��o cabia, natural-
mente, a um engenheiro mec��nico, por se tratar de tarefa
complexa, que requeria um alto grau de especializa����o.
Por ter outros compromissos, o engenheiro iria demorar.
A impaci��ncia dos irm��os Ara��jo era maior do que os
receios de Benone Alves de n��o ter a devida capacidade
para o encargo que estavam lhe entregando. Corajosa-
mente, topou o desafio de montar a usina e, quando o tal
engenheiro chegou, n��o tinha mais nada a fazer. O pai da
Auric��lia era um g��nio. Agora, tinha um novo emprego e
a alta responsabilidade de manuten����o e perfeito funcio-
namento das m��quinas daquela f��brica de beneficiamen-
to de algod��o.
Ent��o, a fam��lia Alves foi morar em Sobral. Na ter-
ra de Dom Jos�� Tupinamb�� da Frota, Jos�� Benone Alves
e sua mulher, Ana Jurandy Lourinho Alves, aumentaram
a fam��lia e constitu��ram um patrim��nio suficiente para,
tempos depois, novamente pensando no estudo dos fi-
lhos, se transferir em definitivo para a Capital. O retorno
se dera em 1 9 6 1 , quando Auric��lia tinha 13 anos.
Todos os anos, em junho, a par��quia do Ant��nio
Bezerra promovia a Quadrilha de S��o Jo��o. Cabia aos ra-
pazes e mo��as do Centro da Mocidade Cat��lica (CMC)
115
J U A R E Z L E I T �� O
comandar o evento, que tinha intensa e festiva partici-
pa����o. Na forma����o dos pares da quadrilha Auric��lia e
Deusmar n��o fizeram dupla: cada um dan��ou com outro
par. �� que, at�� ent��o, ela n��o percebera ainda as inten-
����es afetivas dele. O mo��o guardava em segredo o seu
interesse l��rico, embora alguns amigos j�� estivessem a
notar, pelos frequentes elogios e certos olhares demora-
dos e insistentes, que a semente da paix��o come��ava a
brotar no cora����o do companheiro. Eterno brincalh��o,
desses que mexem com todo mundo e tiram sarro com
os amigos em qualquer ocasi��o, Deusmar passou a ser
mais comedido e menos ass��duo com as brincadeiras,
como se, de repente, sofresse um processo acelerado de
amadurecimento e estivesse disposto a se alistar no rol
dos s��rios, construindo propositalmente um novo tipo
de sujeito exemplar, esculpindo o perfil que as meninas
admiram nos que pretendem namorar.
Longos meses se passaram nesses ensaios de pla-
tonismo, leg��tima e dolorosa paix��o unilateral, at�� que,
em outubro daquele ano, manifestasse �� musa, assim, de
viva voz, que tinha pretens��es de namor��-la.
Entre junho e outubro, entretanto, teve a hist��ria
da aposta.
Auric��lia soube depois e agora relata: "Os meni-
nos do CMC propuseram entre eles um desafio. Quem,
at�� o Dia do Estudante, 11 de agosto, n��o conseguisse
uma namorada, pagaria uma multa para os companhei-
ros. Devido ao estado de pen��ria de todos, a multa seria
116
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
uma carteira de cigarros. Nessa ��poca eu namorava um
vizinho e tinha uma irm�� tr��s anos mais nova. Um dia,
Deusmar me falou: "Ser�� que voc�� poderia fazer o meu
namoro com a sua irm��?" Respondi que aquela seria uma
miss��o muito dif��cil porque minha irm�� tinha pavor a ele,
pois j�� o vira no ��nibus fazendo todo tipo de bagun��a e
mexendo com todo mundo, na maior gaiatice. Mesmo as-
sim, levei a proposta, prontamente recusada pela mana,
na base do "Deus me livre!".
Ele, ent��o, se arranjou com outra garota, compa-
receu com ela �� tert��lia na casa do Branco e cumpriu a
aposta, mas terminou o namoro no mesmo dia. E, naque-
la festa, enquanto dan����vamos, ele j�� com outra mo��a, ao
passar por mim, sem mais nem menos, falou: "Olha, eu
agora estou sem ningu��m. Livre de novo!'".
Tr��s meses depois desse epis��dio, houve um pi-
quenique da turma na Praia de Iparana, no vizinho mu-
nic��pio de Caucaia. Auric��lia, com a ajuda de uma amiga,
conseguiu dobrar o rigor vigente em sua casa e arrancar
o consentimento do pai para participar sob promessa de
regressar cedo. Na descontra����o desse encontro, houve
a oportunidade, longamente sonhada por Deusmar, para
uma declara����o: "Daquela vez, quando falei que queria
namorar sua irm��, estava apenas criando um pretexto
para me aproximar de voc��. Agora quero lhe propor cla-
ramente namorarmos, porque este �� o meu sonho de h��
muito tempo. Mas n��o me responda agora. Pense um��
semana e depois me diga se aceita".
1 1 7
J U A R E Z L E I T �� O
Auric��lia retrucou com uma bela esnobada: "Vejo
que tiraram o dia para me pedir em namoro. Ainda h��
pouco, seu amigo Ob��dio me prop��s a mesma coisa".
Deusmar considerou aquilo uma trai����o. O Ob��-
dio sabia que ele iria fazer a esperada declara����o �� Auri-
c��lia naquele dia e se antecipara, repetindo o enredo do
romance medieval de Trist��o e Isolda. Ou, quem sabe,
tentando ajudar o amigo, fora conferir se a sua desejada
era, de fato, dura na queda.
A estrat��gia da aparente paci��ncia envolvia a cons-
pira����o de uma amiga comum, a Cleidemar, que, todos os
dias, convenientemente ensaiada, zumbia no ouvido de
Auric��lia as qualidades de seu pretendente e de quanto
era verdadeiro o sentimento que manifestava: "Queira o
Bichim, ele est�� t��o apaixonado. Aceite, nem que depois,
se n��o se afinarem, voc�� dispense o coitado".
Na sexta-feira seguinte, 30 de outubro, Deusmar
passou pela casa de Auric��lia para acertar com um dos
irm��os dela, Ubiracele, um acampamento na Serra de
Maranguape com a participa����o de uns quatro outros
amigos. Visivelmente nervoso, pediu ��gua para beber e,
quando Auric��lia voltou e lhe entregava o copo, ele sus-
surrou-lhe que queria a resposta. Ela apenas acenou po-
sitivamente com a cabe��a, passando, desde ��quela hora,
�� condi����o de namorada secreta e a ser chamada na inti-
midade de "minha calanguinha".
No acampamento, ocorreu o epis��dio da picada
do maribondo e o socorro assumido pelo Ubiracele, que
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
transportou Deusmar, ardendo em febre, nos bra��os,
descendo a serra. Os colegas faziam tro��a: "S�� quem tem
cunhado forte pode adoecer!".
Em casa, Ubiracele reuniu os pais com os irm��os
para um conselho de fam��lia: "Fiquei sabendo que a Au-
ric��lia est�� namorando o Deusmar e ele n��o serve para
ela. �� um brincalh��o inconsequente que n��o leva nada a
s��rio e n��o queremos a nossa irm�� se metendo com ele".
O namoro foi prontamente condenado pela fam��lia
Alves com apenas um voto a favor, o do Ubirani. Voto ven-
cido. Escondida, Auric��lia ouvia tudo e o esconderijo era
t��o perfeito, que, por n��o encontr��-la, os familiares chega-
ram a cogitar se n��o teria fugido com o amado. N��o fugira.
Quando soube da reuni��o condenat��ria, Deusmar
fez quest��o de deixar Auric��lia �� vontade, pois n��o queria
indisp��-la com a fam��lia. Frisou, entretanto, que gostava
muito dela e deixava em suas m��os a espinhosa decis��o
de continuar. Ela, como toda adolescente desafiada, re-
solveu enfrentar corajosamente a situa����o, mantendo o
namoro em car��ter sigiloso, sem deixar de advertir ao seu
apaixonado Romeu que n��o morria de amores por ele.
Tr��s meses se passaram de namoro secreto, mas
t��o bem disfar��ado, que apaziguava a vigil��ncia dos ir-
m��os. Namoro s�� por dizer, pois n��o havia contato f��si-
co algum, nem um simples pegar de m��o. Isso aconteceu
pela primeira vez quando, por acreditar numa ing��nua
simpatia, ela apertou a m��o do namorado ao ver o n��-
mero 16 numa placa de carro. A simpatia dizia que, se
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J U A R E Z L E I T �� O
estando ao lado de um rapaz, vislumbrasse um n��mero
que coincidisse com a sua idade, pegasse na m��o dele,
que, com certeza, sairia casamento.
A evolu����o dos pequenos ganhos no campo dos
contatos foi lenta, t��mida e gradual. Ela era dif��cil mes-
mo. A rela����o medrosa e encabulada, ensombrada de
indecis��es, parecia aquela quadra do poeta mineiro Au-
reliano Lessa:
"Se eu pedia, ela n��o dava
se eu zangava, ela sorria.
Se eu fugia, ela buscava
se eu voltava, ela fugia".
O primeiro beijo foi roubado. Numa daquelas
festas na casa do Branco, os dois estavam dan��ando e o
Deusmar, sentindo o calor dela e o cheiro do perfume
Ramage, n��o conseguiu segurar a vontade e aplicou-lhe
um beijo na testa. Foi abandonado no meio do sal��o.
As d��marches da sedu����o continuaram com deci-
siva e arraigada persist��ncia. Tentava, nos passos de seu
objetivo, ganhar a confian��a da fam��lia. Num domingo,
chegou �� casa da amada e, na maior sem-cerim��nia, me-
teu-se a ajudar o pai dela na arruma����o de um api��rio
que o senhor Benone mantinha no quintal. Talvez tenha
mesmo levado umas ferroadas das abelhas por conta de
sua imper��cia e no esfor��o de demonstrar a disponibi-
lidade de ajudar o futuro sogro. A tentativa de agradar
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
n��o convenceu. Mais tarde o chefe da fam��lia comentava
com sua mulher: "O caboclinho �� atrevido! Mesmo sem
ser convidado se meteu a me ajudar com as abelhas, se
amostrando para agradar. Achei-o foi muito do introme-
tido pra meu gosto!".
A m��e advertia a Auric��lia: "N��o se apaixone pelo
rapaz, porque seu futuro com ele n��o est�� nada garanti-
do. Seu irm��o Ubirajara est�� chegando dos Estados Uni-
dos e voc�� sabe que a palavra dele pesa muito na fam��lia.
E, se ele n��o aprovar este namoro, pode tirar seu cavali-
nho da chuva, porque a coisa morre a��".
Deusmar tinha perfeita consci��ncia do valor da pa-
lavra do irm��o mais velho de sua namorada. Ele, que, bem
empregado no exterior, ajudava a sustentar a fam��lia, era
uma autoridade provedora naquela casa. Esperto e irre-
versivelmente apaixonado, Deusmar tratou de se aproxi-
mar do influente cunhado e, em pouco tempo, tornou-se
amigo dele. Pronto. Todas as fronteiras estavam agora
abertas e a terra adubada para o plantio da felicidade.
Aconteceram, por��m, alguns percal��os.
Numa excurs��o do col��gio de Auric��lia �� cidade
do Crato, em 1966, um rapaz de l�� se apaixonou por ela.
Desse passeio, Deusmar n��o participou porque
n��o conseguira uma licen��a no rec��m-conquistado em-
prego na IBM. A namorada, comprometida, n��o aceitou
a corte do mo��o do Cariri, mas os colegas registraram
o epis��dio, sobretudo, pelas declara����es ardorosas pro-
feridas por ele em tom alucinado. Dizia o apaixonado
121
J U A R E Z L E I T �� O
interiorano que, se ela n��o o aceitasse como namorado,
passaria a beber e se transformaria num farrapo humano,
pois a vida n��o mais teria sentido. E dizem que cumpriu
o juramento tornando-se um alco��latra de sarjeta. Deus-
mar s�� veio a saber dessa hist��ria tempos depois e, mes-
mo assim, ficou magoado e cabreiro.
Magoada tamb��m haveria de ficar Auric��lia quan-
do, no fim daquele mesmo ano, n��o p��de acompanh��-lo
�� festa de t��rmino de curso no Clube de Regatas. O pai
tinha mandado que ela escolhesse entre a excurs��o do
meio do ano ao Crato e a festa de encerramento de ano
no Clube da Barra do Cear��.
Na tal festa, Deusmar andou se envolvendo com
uma criatura de Caucaia, com quem, segundo as amigas
informantes, ficou "se esfregando" a noite inteira.
Ao tomar conhecimento da aventura do namora-
do, Auric��lia, como nas letras pat��ticas dos antigos bole-
ros, foi perempt��ria: "Est�� tudo acabado!".
Deusmar, ao ver o desastre que a trai����o gerara,
jogou-se aos seus p��s e, em falas de afli����o, implorou o
perd��o da amada. Parecia teatro mexicano. Fez juras e
promessas definitivas de fidelidade e, dessa forma dra-
m��tica, conseguiu ser perdoado. �� que ela, naquelas al-
turas, j�� estava tamb��m irremediavelmente apaixonada.
Ele aprendeu a li����o. Em 1967 viajou para o Rio
de Janeiro numa excurs��o do escotismo. Na decantada
Cidade Maravilhosa n��o tinha olhos para ningu��m e, pra-
ticamente todos os dias, despachava uma carta de amor
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
para Auric��lia. Cartas apaixonad��ssimas que eram res-
pondidas por dona Jurandy, a m��e, j�� que Auric��lia n��o
se achava capaz de escrever no mesmo n��vel po��tico de
seu l��rico missivista.
Tendo conquistado a condi����o de namorado acei-
to pelo aval dos pais e cunhados, Deusmar anunciou que
pretendia noivar. Comprou as alian��as e entrou naquela
fase de ansiedade que antecede o pedido oficial, planeja-
do para o dia 8 de maio de 1970. Na v��spera, sugeriu a
Auric��lia ensaiarem as falas do solene momento do pedi-
do de m��o. Ela faria o papel do pai, ele o pr��prio, com os
nervos no limite e o pavor de receber uma negativa.
Deusmar: "Seu Benone, o senhor sabe que eu e a
Auric��lia nos gostamos e, agora, depois de cinco anos,
precisamos nos assumir como noivos. Por isso eu queria,
oficialmente, pedir a m��o de sua filha.
Auric��lia (fazendo as vezes do pai): Muito bem,
rapaz. E o casamento, ser�� pra quando?
Ele: �� pra logo, seu Benone. Pra logo, logo.
Ela: Logo, quando? Pra quantos logos?".
E o ensaio continuou neste tom.
No dia seguinte, na hora da comunica����o, viu que o
que fora ensaiado de pouco servira. As falas foram outras.
O pai da mo��a foi taxativo e quase rude: "Por mim,
nenhuma filha minha casava mais. A que casou n��o deu
certo e agora est�� a�� sofrendo. Se dependesse s�� de mi-
nha vontade, ficavam tudo em casa, no carit��, pra n��o
arriscar outras decep����es...".
123
J U A R E Z L E I T �� O
Deusmar, preocupado com o rumo da conversa,
retrucou timidamente: "Mas o senhor sabe que a gente
se gosta muito e j�� estamos namorando h�� muito tempo.
Acho que chegamos na idade de casar, pois eu j�� tenho 23
anos e ela 22. A gente noiva agora e casa no ano que vem".
E ele, o pai: "Pois bem. Como eu disse, por mim
n��o casava mais nenhuma. Mas, como n��o vale s�� o meu
gosto e ela quer, o que posso fazer? O jeito �� consentir. E
lhe aviso logo. N��o gosto de noivado demorado".
Ufa, que permiss��o suada. Deusmar respirou fun-
do e em sil��ncio agradeceu a Deus ter vencido mais uma
etapa importante de sua vida.
Auric��lia, que se postara atr��s da cadeira do pai e
fora testemunha ocular do tenso di��logo, recebeu a alian-
��a e, naquela noite, n��o dormiu olhando para o ouro que
em sua m��o simbolizava o compromisso de amor. Sim,
era verdade! Iria se casar mesmo com aquele sujeito in-
sistente, que finalmente, convencera a ela e aos seus pais
e irm��os de que era um bom partido.
Soube que, �� noite, o noivo fora comemorar o SIM
de seu Benone com os amigos no Bar do Airton, brin-
dando com doses fartas de cuba libre, a gostosa e barata
mistura de Coca-Cola com rum, lim��o e gelo. Uma farra
et��lica bem ao modo dos adolescentes dos anos 6 0 / 7 0 do
s��culo passado.
Deusmar evolu��a no mercado de trabalho. Fora fun-
cion��rio da IBM, estava no IBGE, mas agora precisava ga-
nhar melhor para viabilizar as condi����es para o casamento.
124
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Antes, ainda houve um fuxico. A Rosinha, sobri-
nha da Auric��lia, veio contar �� tia que tomasse cuidado
com o seu noivo, pois havia uma mo��a, l�� no IBGE, "ar-
rastando a asa" para o lado dele. Chamado ��s falas, o vi-
giado nubente explicou que n��o havia nada e, para amai-
nar todas as d��vidas, tratou de apressar o casamento.
Por interven����o do Padilha, mas se garantindo por
seu pr��prio talento, ingressou na CR��DIMUS, sociedade
de cr��dito imobili��rio, granjeando em pouco tempo um
bom conceito de operador. Com melhor sal��rio, n��o ti-
nha por que mais esperar: Deusmar e Auric��lia iam casar.
Sem meios de arcar com uma cerim��nia dispen-
diosa, optaram pela simplicidade. N��o avisaram aos ami-
gos (que ainda hoje reclamam), a n��o ser o pessoal da
empresa, comunicado por meio de um cart��o no fim do
expediente: "Colegas, estarei me casando hoje e s�� retor-
narei na segunda-feira. Segurem a�� por mim e me dese-
jem boa sorte. Obrigado".
Era o dia 21 de outubro de 1 9 7 1 , uma quinta-feira.
No mesmo dia o casamento civil e o religioso, com a
presen��a apenas da m��e, porque o pai estava assistindo aos
��ltimos momentos da m��e dele. O senhor Benone, antes
da cerim��nia, largou o leito da m��e por uns instantes para
aben��oar a filha e, ao retornar, a velhinha havia falecido.
No cart��rio e na igreja, os noivos, a m��e dela, dois
de seus irm��os com os c��njuges respectivos e as outras
testemunhas. Os pais dele, a av��, a irm�� e o cunhado. Um
molhinho de gente.
125
J U A R E Z L E I T �� O
Depois, foram jantar na casa da m��e dela e, antes
da meia-noite, partiram para a lua de mel na Col��nia de
F��rias dos Comerci��rios, na Praia de Iparana.
Naqueles quatro dias praticaram o grande encon-
tro. O encontro que haviam planejado h�� sete anos com
olhos e cora����es de meninos.
Agora estavam ali fechados dentro de seu sonho
com um mundo todo de coisas a constru��rem juntos.
Enla��ados, encantados, projetando nos intervalos dos
fren��ticos combates, outros del��rios, outras afoitas uto-
pias que o futuro terminou revelando que eram da mais
pura argila da verdade. Pedras e argamassa de uma s��lida
constru����o. Um edif��cio enorme sempre aberto a novas
esperan��as, ��s franquezas da vida e ��s ousadias de todos
os tamanhos.
126
9
INGRESSANDO NO
MERCADO DE CAPITAIS
"O dinamismo do novato era t��o
expressivo, que, ao inv��s de despertar
ci��mes nos demais companheiros,
poderia estimul��-los a acompanhar sua
garra e, dali a pouco, quem sabe, todos
multiplicassem a produ����o."
Raimundo Padilha, D i r e t o r da
CR��DIMUS q u a n d o c o n t r a t o u o j o v e m
D e u s m a r Q u e i r �� s
m 1966 Deusmar Queir��s conseguiu o primeiro
emprego com carteira assinada. Foi contratado
pela IBM, sigla que identifica a empresa ameri-
cana International Business Machines, com atua����o em
1 2 9
J U A R E Z L E I T �� O
todo o mundo, voltada para a ��rea de tecnologia de in-
form��tica. Definindo-se como uma empresa que objetiva
"tornar o planeta mais inteligente", a IBM est�� no Brasil
desde as primeiras d��cadas do s��culo X X . Detentora de
um conceito estelar em seu setor, era o sonho de empre-
go de muitos brasileiros e, naquele tempo, trabalhar com
computadores representava uma conquista no campo da
modernidade e da vanguarda cient��fica.
Ao jovem Deusmar coube operar uma daquelas
m��quinas inteligentes, digitando documentos, classifi-
cando cart��es de emiss��o de contas de luz, pagamentos
de telefones e fazendo a atualiza����o de dados de faturas
dos estados do Cear�� e Piau��.
Embora n��o fosse um trabalho que exigisse maio-
res pendores t��cnicos ou um exerc��cio refinado de criati-
vidade, para todos os efeitos e, principalmente, entre os
amigos do bairro, o que se sabia �� que o Deusmar traba-
lhava com computadores. Um luxo.
Evoluiu o que p��de ali. Chegou a Operador S��nior,
mas o sal��rio n��o compensava. Fez os c��lculos e consta-
tou que ganhava mais trabalhando no emp��rio da fam��-
lia. Pesou tamb��m o tempo que o expediente roubava do
col��gio. Por isso, no final de 1968 deixou a IBM e voltou
para o balc��o da Mercearia Santo Ant��nio.
Em 1970 veio aquele concurso do Instituto Brasi-
leiro de Geografia e Estat��stica - IBGE. Aprovado, como
vimos, em primeiro lugar, ocupou a fun����o de Coordena-
dor do Censo Demogr��fico.
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Quando ficou noivo da Auric��lia, entendeu que
precisava de maior espa��o para desenvolver as aptid��es
que sentia pulsar em seu esp��rito. Fazia uma leitura do
tempo e dos fatos, percebendo que estavam para aconte-
cer mudan��as substanciais na sociedade, avan��os vertigi-
nosos na tecnologia e grandes novidades no mundo dos
neg��cios. E ele n��o queria estar fora delas. Com maior
raz��o agora, que pretendia casar e teria as responsabili-
dades aumentadas e necessidade evidente de constituir
um p��-de-meia, uma base econ��mica que garantisse o
sustento da fam��lia.
Essa preocupa����o era, naturalmente, compartilha-
da com outras pessoas de seu c��rculo familiar, notada-
mente os pais e irm��os da futura esposa.
Um dos cunhados, Jos�� Ubirajara Alves, por ser
um homem inteligente e observador atento das circuns-
t��ncias e das pessoas, sabia que o marido de sua irm��
Auric��lia era um rapaz de grandes qualidades. Al��m de
muito ativo e disposto para o trabalho, tinha sonhos de
crescer na vida e coragem para lutar por esses sonhos
n��o lhe faltava.
Possu��do dessa convic����o e querendo ajudar, Ubi-
rajara resolveu dar um telefonema para o Padilha, seu
concunhado e homem forte na CR��DIMUS DISTRIBUI-
DORA, uma empresa que se destacava em alguns setores
elevados da economia cearense, trabalhando na distri-
bui����o e coloca����o de pap��is no mercado de Capital.
131
J U A R E Z L E I T �� O
Raimundo Padilha �� um t��cnico de reconhecido
conceito no mercado financeiro e no mundo empresa-
rial cearense e nordestino. Economista com p��s-gradu-
a����o em desenvolvimento econ��mico e especializa����o
em mercado de capitais na Bolsa de Nova Iorque. Com
passagem breve pelo Banco do Nordeste do Brasil - NB,
afastou-se dessa Institui����o para prestar seus servi��os
t��cnicos no Instituto de Pesquisas Econ��micas da Uni-
versidade Federal do Cear�� - UFC, como consultor e
professor. Titular da cadeira de Mercado de Capitais,
exerceu essas mesmas fun����es tamb��m na Universida-
de Estadual do Cear�� - UECE e na Universidade de For-
taleza - UNIFOR. Presidiu por 28 anos, em Fortaleza, a
Bolsa de Valores Regional, onde vivenciou todas as crises
econ��micas do pa��s, tornando-se um dos mais serenos
analistas da economia nacional, navegador competente
de mares revoltos e de calmarias, de onde entrou e saiu
sempre mais informado. Ativo ainda hoje em sua espe-
cialidade, �� um consultor requisitado e um eterno estu-
dioso da economia, a quem as empresas e os governos
recorrem com muita frequ��ncia, desde os tempos em
que participou da elabora����o do Diagn��stico Socioeco-
n��mico do Cear�� para o Governo Virg��lio T��vora.
Amigo e admirador de Deusmar Queir��s, relata-
-nos como o conheceu e tamb��m como foi surpreendido
pelo pujante dinamismo de nosso biografado.
"Conheci o Deusmar atrav��s de um telefonema do
Ubirajara, meu concunhado, que morava em Bras��lia e era
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
diretor do CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa). Ele que-
ria ver se eu arranjava uma coloca����o para o Deusmar, um
rapaz que estava noivo de sua irm�� Auric��lia. Estranhei.
Como era que um sujeito estava entrando numa fam��lia onde
predominava a dedica����o ao trabalho e n��o tinha um em-
prego? E o irm��o mais velho, ao inv��s de desestimular esse
casamento, estava era apoiando o malandro? Ao expressar
minha estranheza, fui informado que o cara tinha, sim, um
emprego, ou melhor, tivera, pois era no Recenseamento do
IBGE, que estava terminando. Pensei com os meus bot��es:
Puxa vida! Se esse indiv��duo que est��o me empurrando n��o
aprovar, vou ter de atur��-lo at�� o pr��ximo Censo, daqui a
dez anos?"
Padilha lembra-se do momento em que recebeu o
rapaz. Era um sujeito simp��tico que j�� chegou sorrindo
e se dizendo disposto a realizar o que fosse preciso para
ser avaliado.
A CR��DIMUS Distribuidora de Valores, do con-
glomerado do Grupo CR��DIMUS, dirigida por Raimundo
Padilha, ficava numa galeria entre as Ruas Major Facundo
e Bar��o do Rio Branco, no centro de Fortaleza. Instalar o
escrit��rio numa galeria por onde transitava muita gente e
de todas as classes sociais fora ideia do Dr. Elano de Pau-
la, presidente do Grupo CR��DIMUS, para desmistificar
esta ��rea do mercado financeiro. Quem passasse por ali
via atrav��s das amplas vidra��as quem estava operando,
fazendo aplica����o, vendendo e comprando cotas de in-
vestimento. Era a pol��tica de derrubar muros, mostran-
133
J U A R E Z L E I T �� O
do para todo mundo que aquela era uma atividade trivial
onde qualquer um poderia entrar.
Elano Viana de Oliveira Paula nasceu em Maran-
guape/CE, em 1923, e formou-se em Engenharia Civil
pela Escola Nacional de Engenharia da Universidade do
Brasil, em 1950. Irm��o do talentoso humorista Chico
Anysio, foi tamb��m um homem de m��ltiplas qualidades,
envolvendo-se com o mundo art��stico, como compositor
da MPB (M��sica Popular Brasileira), diretor art��stico da
R��dio Mayrink Veiga, produtor e redator da R��dio Gua-
nabara. Foi s��cio da Construtora Cedro e Conselheiro do
Clube de Engenharia do Cear��. Presidente do Conselho
da DOMUS e Diretor-Presidente do Grupo CR��DIMUS,
faleceu nonagenario em Fortaleza, em 2 0 1 5 .
Padilha tinha uma equipe grande sob seu coman-
do e trabalhava com um vasto elenco de opera����es, tais
como, T��tulo de Renda Fixa, Letra Imobili��ria, Certifica-
do de Dep��sito Banc��rio - CDB, Caderneta de Poupan��a
e Incentivos Fiscais.
N��o havia ainda o FINOR, mas o seu antecessor, um
incentivo do Governo Federal conhecido como 3 4 / 1 8 ,
que consistia na aplica����o, por pessoa jur��dica, sediada
em qualquer lugar do Brasil, em empresa a ser instala-
da no Nordeste, com a compensa����o de ter uma redu����o
no Imposto de Renda. O incentivo, que era inicialmente
exclusivo do Nordeste e somente do setor industrial, de-
pois expandiu-se para o Norte e incluiu os setores agr��co-
la, pecu��rio, reflorestamento, pesca e turismo.
134
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
O empres��rio que se convencesse dos benef��cios
da oferta oficial escolhia uma empresa do Nordeste (ou
do Norte, posteriormente) e a ela destinava metade de
seu imposto de renda pessoa jur��dica.
O papel da CR��DIMUS Distribuidora era identi-
ficar, no Cear��, os optantes dos incentivos fiscais e dire-
cionar as suas aplica����es para empresas aprovadas pela
SUDENE.
Quando viu o sorridente candidato a emprego es-
pargindo otimismo por todos os poros, Padilha resolveu
submet��-lo ao que chamava de "batismo de fogo".
Depois de explanar sobre a aplica����o no 3 4 / 1 8 e
explicar qual era a tarefa do corretor, definiu um quadri-
l��tero da cidade onde ele tinha de visitar um grupo de
empresas, de porta em porta, e convencer seus titulares
a optar por tais investimentos.
A miss��o n��o era brincadeira para um primeiro
dia de trabalho e Deusmar partiu para desempenh��-la
com o seu sangue de guerreiro.
Quando regressou, no fim da tarde, estarreceu o
novo patr��o. O garoto trazia um patu�� repleto de ades��es.
Quase todos os empres��rios visitados haviam aderido ��
lista da CR��DIMUS e o diretor, boquiaberto, n��o sabia
que recursos de persuas��o o jovem cunhado do Ubirajara
havia utilizado para obter tanto sucesso. Mas n��o havia a
menor d��vida de que estava diante de uma personalida-
de vencedora, algu��m de grande futuro.
135
J U A R E Z L E I T �� O
Diz o Dr. Padilha que, em face do desempenho de
seu novo contratado, postou-se diante de um dilema: ou
freava o Deusmar ou dava maior velocidade a sua equipe.
"Optei pela segunda alternativa, porque o dinamis-
mo do novato era t��o expressivo, que, ao inv��s de desper-
tar ci��mes nos demais companheiros, poderia estimul��-los
a acompanhar sua garra e, dali a pouco, quem sabe, todos
multiplicassem a produ����o".
A capacidade de fazer neg��cios e carrear fatura-
mento para a empresa elevou o prest��gio de Deusmar
diante da diretoria, condi����o de que ele nunca se prevale-
ceu para exibir-se como superior ou esnobar seus colegas.
Mas, certamente, era reconhecido como um ele-
mento galhardamente produtivo que, com o seu entusias-
mo, habilidade e incans��vel disposi����o, ajudava a CR��-
DIMUS a crescer e se firmar cada vez mais em seu setor.
Dois anos depois, a dire����o da CR��DIMUS S.A.
transferiu Raimundo Padilha da Distribuidora de Valo-
res para a Cr��dimus Imobili��rio, que era, assim como o
guarda-chuva do neg��cio, o lado mais gordo da empresa.
Na nova fun����o o tarimbado executivo iria alimentar a
Distribuidora com letras imobili��rias.
Padilha explica:
"A Distribuidora era como uma esp��cie de super-
mercado de pap��is, enquanto a Cr��dimus Imobili��rio
captava por interm��dio da Caderneta de Poupan��a, coisa
que a Distribuidora n��o fazia, mas vendia letras imobili-
��rias, emitidas por aquela. Ent��o, emit��amos letras imo-
136
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
biliarias por interm��dio do balc��o da CR��DIMUS, mas
vend��amos, principalmente, por interm��dio da Distribui-
dora. E l��, com base nessas capta����es, �� que consegu��a-
mos cr��ditos imobili��rios para os projetos habitacionais."
Uma respeit��vel promo����o, com certeza. Entre-
tanto, o presidente Elano de Paula informou ao Padilha
que, para ele galgar aquele novo degrau, teria que con-
seguir um substituto para sua antiga fun����o e com cacife
parecido com o dele.
Quando ouviu a condi����o imposta por seu chefe,
Padilha sorriu, matreiro, como um jogador de baralho
que tem a carta na manga:
"Pois eu tenho essa pessoa, Elano. �� o Deusmar. Ele ��
o homem certo para assumir a dire����o da Cr��dimus Distri-
buidora de Valores. E eu lhe garanto que vai dar no couro."
Os dois, agora parceiros igualados, intensificaram
a jornada de trabalho cada dia com mais entrega e dedi-
ca����o em suas diretorias.
Um dia, por��m, ainda nos anos 70, Elano e seus
s��cios resolveram vender a CR��DIMUS.
A nova dire����o pretendia manter toda a equipe.
Tinha informa����o dos antigos donos de que o capital hu-
mano da empresa era de um valor inestim��vel.
Quando foram tratar da transfer��ncia da titulari-
dade no Banco Central e Banco Nacional de Habita����o
(BNH), o nome do cidad��o que havia comprado a CR��-
DIMUS n��o foi aceito. Ent��o, era preciso vender nova-
mente, o que foi feito sem tardan��a.
137
J U A R E Z L E I T �� O
Os novos adquirentes, capitaneados pelo Dr. New-
ton Kleber de Thuin, tamb��m decidiram manter a mes-
ma equipe de assessores e funcion��rios.
No come��o, tudo parecia marchar muito bem em
mat��ria de conviv��ncia com os dirigentes, que prome-
tiam dar continuidade ao costumeiro da empresa na ope-
ra����o dos neg��cios e no tratamento com os integrantes
das equipes.
Depois, no entanto, a nova diretoria come��ou a fa-
zer substitui����es e a mudar quadros.
Deusmar estava cabreiro. Ser�� que iam mexer com
ele? O estado de expectativa agora o incomodava. Ele es-
tava perdendo a espontaneidade e ficando preocupado
com sua estabilidade no trabalho.
Nessa altura dos acontecimentos, Padilha foi esca-
lado para ir ao Rio de Janeiro tratar algumas pend��ncias
no BNH. Demorou alguns dias e, quando voltou, Deus-
mar teve com ele uma conversa franca. N��o queria mais
permanecer na CR��DIMUS. O ambiente estava ficando
pesado, nebuloso demais para o seu gosto. Com intimida-
de, recorreu ao amigo: "Olha, Irm��ozinho, n��o quero mais
ficar aqui. V�� se me arranja outra coisa, noutro lugar".
Um dos s��cios da CR��DIMUS era Bernardo Bichu-
cher, um judeu baiano que militava em variadas modali-
dades empresariais. Ele tinha um t��tulo patrimonial da
Bolsa de Valores do Cear�� que n��o estava operando por-
que a nossa Bolsa vivia uma fase de transi����o, em proces-
so de avalia����o pelo Banco Central.
138
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
A CR��DIMUS vendera a Distribuidora, mas n��o
vendera a Corretora de Valores, que era representada
pelo Padilha na Bolsa de Valores do Cear��. Mais tarde,
Padilha compraria o t��tulo da corretora, assumindo sua
dire����o.
E quando o Bichucher, decidido finalmente a
constituir sua corretora, a qual nominaria de PAX COR-
RETORA, convidou o Padilha para se associar com ele e
p��r em opera����o o t��tulo de que dispunha na Bolsa, este
lembrou-se do Deusmar.
Padilha informa que "n��o poderia ir para a PAX
porque havia comprado um t��tulo e ningu��m podia ter dois.
Mas, conhecendo a compet��ncia de Deusmar, o indiquei ao
Bichucher".
Quando voltou da entrevista com o Bichucher,
Deusmar j�� era s��cio da PAX CORRETORA, com 15% de
participa����o acion��ria. Agora, era, tamb��m, concorren-
te de seu amigo Padilha e um concorrente reconhecida-
mente h��bil, ousado e operoso. Mas, acima de tudo, um
amigo admir��vel e leal.
O conv��vio de Deusmar com o Bichucher foi im-
portante como aprendizado e constitui����o de conceito.
Quando da instala����o da Bolsa de Valores do Cea-
r��, em 1976, coube ao baiano presidi-la e ele convidou o
Deusmar, que j�� come��ava a ganhar a fama de "menino-
-prod��gio" no setor, para montar a ��rea de opera����es. Ali
ele esteve de setembro de 1976 a fevereiro de 1977. Esse
per��odo foi riqu��ssimo para a forma����o dos conhecimen-
139
J U A R E Z L E I T �� O
tos que aplicaria no escorregadio universo do mercado
de capitais.
Bernardo Bichucher gostava de Fortaleza, onde fez
amigos e teve espa��o na sociedade e reconhecimento no
mundo empresarial. Foi, como vimos, Presidente da Bol-
sa de Valores do Cear��. Mas vivia preocupado com seus
outros empreendimentos em S��o Paulo e, um dia, deci-
diu ir embora.
Precisava vender a PAX, mas, a quem?
Foi consultar o Padilha:
"- Quem me compraria a corretora?
- Voc�� tem o comprador dentro de casa! Por que
n��o vende para o Deusmar?
- O Deusmar? - retrucou o Bichucher - E como
ele vai me pagar?
- Oh, meu amigo, pagar ele vai porque �� uma pes-
soa honesta. Me pergunte quanto ele vai pagar e como
vai pagar. Ele vai te pagar a longo prazo, na valsa, com o
esfor��o do trabalho dele e, como ele trabalha muito, vai
te pagar logo, pelo retorno r��pido que nas m��os dele vai
acontecer."
A conversa foi pela manh�� e, ao meio-dia, Deus-
mar, que ainda n��o sabia de nada, chegou apreensivo ao
Padilha dizendo que o Bichucher ia vender a corretora e
ele ia ter que recome��ar a vida noutro galho.
Padilha disse ao Deusmar que ele �� que seria o
novo dono da PAX.
"- Mas eu?! Como?
140
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
- Voc�� compra e vai pagar a corretora com o seu
trabalho. Sei que vai conseguir, porque conhe��o sua gar-
ra." - respondeu-lhe o amigo.
Antes que aquele dia terminasse, Deusmar Quei-
r��s era o novo dono da PAX CORRETORA.
Acabava de completar trinta anos.
l4l
10
0 CAMPE��O DOS
LEIL��ES DO FINOR
"Quando o conhecimento vira
informa����o, deixa de ser uma simples
riqueza da mente para tornar-se um
produto de compra e venda."
Jean-Fran��ois Lyotard ( 1 9 2 4 - 1 9 9 8 )
OFundo de Investimentos do Nordeste - FINOR
�� um benef��cio do Governo Federal que objetiva
dar apoio financeiro ��s empresas sediadas em
sua ��rea de atua����o, constituindo-se no principal incen-
tivo disponibilizado pela Superintend��ncia do Desenvol-
vimento do Nordeste - SUDENE para estimular a econo-
143
J U A R E Z L E I T �� O
mia da Regi��o Nordeste, o Norte de Minas Gerais, o Vale
do Jequitinhonha e o Norte do Esp��rito Santo.
Criado em 1974, sucedeu ao Sistema 3 4 / 1 8 , aper-
fei��oando a ideia de incrementar a economia das regi��es
determinadas por meio de incentivos espec��ficos.
O FINOR tem como agentes do processo de incen-
tivo para estimular a economia regional as empresas op-
tantes (investidoras), as empresas benefici��rias, a S U -
DENE e o Banco do Nordeste (BNB).
A administra����o do Fundo cabe ao BNB e �� SUDE-
NE, que define as ��reas e setores onde os investimentos
devem ser feitos, analisa, aprova e fiscaliza os projetos,
al��m de autorizar a libera����o dos recursos.
O operador do FINOR �� o Banco do Nordeste,
que tem como fun����es processar as libera����es mediante
subscri����es de t��tulos, administrar o fluxo financeiro, a
contabilidade, a Carteira de T��tulos, bem como, tratar do
Sistema de Cotas e promover os LEIL��ES ESPECIAIS.
Al��m do FINOR, foram criados outros dois Insti-
tutos: o Fundo de Investimento da Amaz��nia - FINAM,
administrado pelo Banco da Amaz��nia, e o Fundo de In-
vestimento Setorial - FISET, administrado pelo Banco
do Brasil.
O FINOR tinha como p��blico-alvo, cotistas, inves-
tidores e empresas benefici��rias do incentivo, aquelas
que tivessem seus projetos aprovados pela SUDENE.
Como funcionava a rela����o das empresas com o
FINOR? O decreto que criou este fundo dizia que quem
144
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
tivesse Certificados de Investimento, conseguidos pe-
los optantes dos incentivos, poderia troc��-los por a����es,
negoci��veis, por interm��dio de corretores, na Bolsa de
Valores.
Deusmar Queir��s procurou especializar-se no
intrincado mundo do mercado de capitais estudando
os m��todos de opera����es na Bolsa de Valores de Nova
Iorque, via Graduate School of Business Administration.
Complementou sua expertise no exterior, com o curso
"Terceiriza����o e Moderniza����o de Neg��cios" na Univer-
sity of Central Florida - USA.
O Dr. Lima Matos, conceituado economista e ex-
-Secret��rio da Fazenda do Cear��, foi colega de Deusmar
na Faculdade de Economia e ambos foram alunos de Rai-
mundo Padilha na cadeira de Mercado de Capitais. Os
tr��s s��o muito pr��ximos.
Lima Matos acompanha com admira����o a carreira
do antigo colega e, nas ondula����es da vida, os dois t��m se
encontrado em v��rias ocasi��es, trabalhos e circunst��ncias.
Ele diz que a capacidade de Deusmar revelou-se
primordialmente como um agente de compra e venda, um
comprador e, simultaneamente, um vendedor de a����es.
Ele foi o mais sagaz operador dos leil��es do FINOR.
Os leil��es permitiam a negocia����o das a����es da
carteira de t��tulos do FINOR, quando eram permutadas
por cotas de propriedade dos optantes/investidores, sen-
do conferida ao BNB a faculdade de estipular o pre��o,
de acordo com a legisla����o em vigor. O banco estabele-
145
J U A R E Z L E I T �� O
cia anualmente a programa����o dos leil��es nas principais
Bolsas de Valores do pa��s. A moeda desses leil��es era o
Certificado de Investimento, obtido pela troca da op����o
pelo incentivo referente ao Imposto de Renda a pagar.
Lima Matos relata:
"Minha rela����o de amizade com o Deusmar am-
pliou-se, naturalmente, na fase ��urea dos leil��es do FI-
NOR. Eu representava o Banco do Nordeste. O papel dele
era comprar certificados de investimento das empresas
que pagavam imposto de renda e revend��-los para os em-
pres��rios que tivessem a����es na carteira do FINOR. N��o
era proibido. A quest��o �� que ele compreendeu o pro-
cesso primeiro do que a maioria dos que militavam no
sistema, p��s em a����o a sua garra e se deu bem."
O doutor Lima Matos explanou demoradamente
para o autor o essencial sobre o mercado de capitais e os
leil��es do FINOR, cabendo a ele, ao Raimundo Padilha,
ao Armando Caminha e ao Geraldo Gadelha os cr��ditos
pela maioria das informa����es contidas neste cap��tulo.
Francisco los�� Lima Matos, nascido em Fortaleza,
�� Bacharel em Ci��ncias Econ��micas pela Universidade
Federal do Cear�� (UFC) e em Administra����o P��blica pela
Universidade Estadual do Cear�� (UECE). Funcion��rio do
Banco do Nordeste do Brasil (BNB), iniciou sua carreira
aos 14 anos, no Curso de Aprendizagem Banc��ria (CAB),
exercendo na institui����o as fun����es de Chefe de Se����o,
Supervisor de Cr��dito, Chefe de Setor, Chefe de Divis��o
e de Departamento.
146
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Membro da Comiss��o de Consultoria de Mercado
de Capitais do Conselho Monet��rio Nacional, Secret��rio
da Fazenda do Estado do Cear��, Presidente do Conselho
de Administra����o do Banco do Estado do Cear�� (BEC),
Diretor Corporativo e de Desenvolvimento de Neg��cios
do Grupo J. Macedo. Vice-Presidente do Grupo Jereis-
sati, Diretor de Ci��ncias e Tecnologia da FIEC e Presi-
dente do Centro Industrial do Cear�� (CIC). Ensa��sta de
assuntos econ��micos, consultor de empresas e autor de
livros sobre economia contempor��nea e estudos cr��ticos
da hist��ria atual.
Conversamos tamb��m com outro personagem
contempor��neo de Deusmar Queir��s na faculdade e par-
ceiro de neg��cios. Trata-se do Dr. Fernando Cirino Gur-
gel, Diretor-Presidente da DURAMETAL, ex-presidente
do Centro Industrial do Cear�� (CIC), da Federa����o das
Ind��strias do Estado do Cear�� (FIEC) e Vice-Presiden-
te da Confedera����o Nacional da Ind��stria (CNI). Ele co-
menta sobre a atua����o da PAX Corretora e de seu titular:
"O Deusmar era um craque nos leil��es do FINOR.
Nesses leil��es, o arrematador tinha que ter uma correto-
ra e ele tinha a PAX Corretora de Valores e C��mbio Ltda.
Irrequieto e competente, tocava dez instrumentos den-
tro dela: tinha o contato com os empres��rios, ia para os
leil��es e ficava l��, disputando aguerridamente, acertando
compras e vendas, pintando e bordando no cen��rio das
negocia����es. Ele comprava aquelas a����es em nome dos
empreendedores e as revendia. E comprava tamb��m para
ele pr��prio, pois era igualmente um empreendedor.
147
J U A R E Z L E I T �� O
Eu tive tr��s empresas para as quais o Deusmar
fez esse trabalho. Uma foi a M��veis Otoch, que comprei
quando tinha 25 anos. Outra foi a Sider��rgica Uni��o e, a
atual, a DURAMETAL.
Esse sistema funcionou muito bem aqui no Nor-
deste e as empresas que fizeram o dever de casa de forma
adequada prosperaram. Isso foi uma coisa que promoveu
a nossa economia e muito contribuiu para o desenvolvi-
mento de nossa regi��o".
Fernando Cirino Gurgel, fortalezense, formou-se
em Ci��ncias Econ��micas pela UFC, tendo tamb��m cur-
sos de extens��o profissional e atualiza����o de sua ��rea
no Brasil e no exterior. Foi s��cio e diretor da tradicional
Fundi����o Cearense, transformada depois em DURAME-
TAL, hoje a maior fabricante de tambores de freio, discos
de freio e cubos de roda do pa��s.
Geraldo Gadelha, advogado e executivo do Grupo
Pague Menos, informa como se aproximou de Deusmar:
"Eu era do Banco do Nordeste e sou amigo-irm��o
do Armando Caminha. O Armando sempre foi muito
amigo do Deusmar. Certo dia, o Armando me diz: 'Ge-
raldo, tem um rapaz a�� do mercado de capitais que �� um
danado e est�� fazendo muito sucesso no setor. Vamos co-
nhec��-lo?'
Fui. E, a partir desse dia, nasceu um respeito pro-
fissional muito interessante entre n��s. E uma amizade de
alto n��vel. Quando ele fez seu depoimento para o livro do
Cleber Aquino, Hist��ria Profissional Vivida, citou os tr��s
148
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
executivos do BNB, o Lima Matos, o Armando Caminha e
eu, como pessoas que respeitaram, desde o in��cio, o tra-
quejo profissional dele. Ficamos muito amigos. Em muitos
momentos, chegamos a festejar o seu sucesso, um bom
neg��cio concretizado, uma opera����o bem-sucedida. Nes-
sas ocasi��es brind��vamos �� vida e ao trabalho, duro e ho-
nesto, com uma boa rodada de u��sque ou uma cerveja bem
gelada. Sempre otimista, sempre positivo. Vi, de cara, que
estava diante de uma pessoa que trabalhava no futuro."
Os leil��es do FINOR eram um mecanismo muito
inteligente e que obedecia rigorosamente ��s regras do
mercado. Gadelha explicita:
"Imaginemos um grande investidor, o Banco do
Brasil, por exemplo. O BB tem um imposto de renda al-
t��ssimo. Comprava a����es e fez uma Carteira robusta de
pap��is. Suponhamos que uma empresa qualquer, diga-
mos, Granitos e M��rmores do Cear��, tenha a����es na car-
teira do FINOR. Chega para o corretor e diz: 'Compre
Certificado de Investimento para mim, porque eu quero
recomprar minhas a����es.'
Quer dizer, voc�� mesmo recomprava suas a����es
em opera����o normal, tudo legal, bonitinho. Eram opera-
����es p��blicas, porque os leil��es do FINOR eram realiza-
dos nas Bolsas de Valores.
Ent��o, o Deusmar, que tinha a PAX Corretora e
era expert em mercado de capitais, inteligente e inten-
so como sempre foi, descobriu o mecanismo dos leil��es
e transformou sua empresa na maior corretora do pa��s
149
J U A R E Z L E I T �� O
nessa especialidade. Ganhou at�� pr��mio nacional por seu
desempenho".
A refer��ncia do Dr. Gadelha corresponde ao ano
de 1980, quando Deusmar Queir��s operava com afinco
no mercado financeiro para si e para grandes grupos em-
presariais, como VICUNHA e COTEMINAS (do futuro
Vice-Presidente Jos�� Alencar). Com o aval do ex-presi-
dente Ernesto Geisel (ent��o presidente da NORQUISA),
a PAX Corretora de Valores intermedia a aquisi����o de
66% do capital da Companhia Petroqu��mica do Nordeste
- COPENE nas Bolsas de Valores e se torna, realmente, a
maior corretora de valores do pa��s na intermedia����o de
a����es de empresas benefici��rias do sistema de incentivos
fiscais, conhecido como FINOR.
Nesse tempo, bateu um recorde nacional de assi-
duidade: foi o ��nico que compareceu aos cem primei-
ros leil��es do FINOR.
Armando Caminha, hoje s��cio de Deusmar
numa das empresas do Grupo Pague Menos, rememora
o epis��dio:
"Nessa ��nsia de recomprar a����es ele ganhou nome,
mesmo. E se aproximou de grandes empres��rios, gente
muito forte. Ganhou nesse tempo muito dinheiro e muita
credibilidade.
Em 1980, o Geisel, que era Presidente do Polo Pe-
troqu��mico da Bahia, onde se concentravam as maiores
empresas petroqu��micas do Brasil, fez uma tomada de
pre��os com os corretores do Brasil num tipo de leil��o
150
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
inverso. Queria recomprar todas as a����es da COPENE, da
POLIPROPILENO... Isto foi numa reuni��o com o Brades-
co, o Banespa e grandes corretoras de S��o Paulo e Rio de
Janeiro. Todas se apresentaram como sendo as maiores
do pa��s.
Quando o Deusmar se apresentou, disse o seguinte:
'Eu sou a PAX Corretora, verdadeiramente o maior ope-
rador do FINOR no Brasil, e estou disposto a fazer uma
oferta superior a qualquer uma que for aqui apresentada!'
Voc�� se lembra de quando ele falou do primeiro
milh��o de d��lares que acumulou? Pois foi nessa opera-
����o que ele o ganhou. Com as b��n����os do ex-Presidente
Ernesto Geisel."
Assim, Francisco Deusmar Queir��s, o menino de
Amontada, aos 34 anos ganhava o seu PRIMEIRO MI-
LH��O DE D��LARES e se tornava o CAMPE��O NACIO-
NAL DO MERCADO DE CAPITAIS, na ��rea de incenti-
vos fiscais.
Vitorioso, aplaudido, laureado, manteve a humil-
dade. E, muito mais do que isso, n��o se deixou afagar pe-
los louros do triunfo. Nem, muito menos, se acomodou
nos len����is da indol��ncia, porque - como repete sempre
- o horizonte o espera l�� na frente e, todos os dias, a es-
trada de seus sonhos reclama novos passos.
151
11
O NASCIMENTO DAS
FARM��CIAS PAGUE
MENOS
"O trabalho de um l��der, de certa maneira,
tem a ver com a capacidade de enxergar o
futuro, de imaginar o que pode acontecer.
Enquanto faz isso, precisa, simultaneamente,
guiar sua equipe no presente, levando-a a
uma linha de chegada que s�� ele pode ver."
D a n W a r d ( 1 9 7 3 - )
c o n s u l t o r e m p r e s a r i a l e s p a n h o l
Naquele domingo de maio, em 1981, repetia-se
um ritual na resid��ncia do Sr. Benone, pai de
Auric��lia. Filhos e filhas, com genros, noras e
153
J U A R E Z L E I T �� O
netos, vinham para a casa do patriarca para o tradicional
almo��o de fim de semana. Ali, bem no estilo das fam��lias
interioranas, se punham as conversas em dia. Falava-se
do progresso dos jovens nos estudos, comentavam-se ca-
sos pitorescos, relatavam-se sucessos e dilemas e, natu-
ralmente, tamb��m se faziam consultas e se anunciavam
sonhos e desejos. Era um bom e animado sarau, regado
a cerveja e a guisado de carneiro, ambiente gostoso de
aconchego familiar, instrumento da intera����o afetiva em-
pregado com resultados positivos certos no cl�� dos Alves.
Por aqueles dias, uma atmosfera de euforia cerca-
va aquela fam��lia. O genro ousado, o irrequieto Deusmar,
faturara uma nota preta no mercado de capitais, interme-
diando a compra e venda de a����es nos leil��es do FINOR.
Com um bom dinheiro no bolso anunciou que estava
pensando em diversificar suas atividades, investir em al-
gum neg��cio diferente, pois n��o queria ficar pondo tudo
o que ganhava numa cesta s��.
Outro genro do Sr. Benone, Maric��lio Barros, casa-
do com a Aurimeire, ao ouvir as pretens��es de Deusmar,
disse que tinha uma not��cia boa para ele:
"Tem um cidad��o querendo vender uma farm��cia
no bairro Ellery. Quem me falou foi o gerente dele. E,
como o homem quer se desfazer da farm��cia de qualquer
jeito, pode ser um bom neg��cio pra voc��".
Ao ouvir aquela conversa, Deusmar viajou por sua
mem��ria. Lembrou que na ��ltima viagem que fizera aos
Estados Unidos para um curso de reciclagem em Bolsa
154
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
de Valores, quando entrara numa farm��cia, viu que ali
se vendia de tudo. Disputando espa��o com os medica-
mentos, a loja oferecia tamb��m chocolates, perfumes,
aparelhos de medir press��o, sorvetes, material de toalete
e maquiagem, luvas, balan��as, enlatados, refrigerantes,
jornais... Era a tal da DRUGSTORE, uma esp��cie de bazar
ou de minimercado em que a pessoa que entra em busca
de um rem��dio pode ser atra��da para comprar muitos ou-
tros itens de suas necessidades imediatas.
Como costuma fazer logo que assimila uma ideia,
Deusmar imediatamente pensou grande e se viu �� frente
de uma imensa cadeia de lojas se espalhando por todo o
Cear�� e, quem sabe, pelo Brasil inteiro, ramificando-se
para todos os lados como uma planta����o de feij��o de cor-
da em terra boa e em tempo de bom inverno.
Voltando �� realidade, quis saber onde ficava a far-
m��cia que queriam vender e, levantando-se j�� cheio de
decis��o, proclamou para quem o quisesse seguir: "Pois
vamos l��, agora!".
O bairro Ellery, que se formou nos anos 60 do s��-
culo passado, fica na regi��o Noroeste de Fortaleza. Tem
uma ��rea de pouco mais de meio quil��metro quadrado,
englobando 85 quadras.
Surgiu a partir de uma propriedade da fam��lia El-
lery, oriunda da Inglaterra e de um imigrante, Henry
Ellery, nascido em Liverpool, que aportou em Fortaleza
no s��culo X I X . Os Ellery, em Fortaleza, dedicaram-se ao
com��rcio de exporta����o de v��rios produtos e �� ind��stria
155
J U A R E Z L E I T �� O
de carnes secas, instalando uma oficina (charqueada)
para processamento de gado bovino, cujo produto final,
o charque, era enviado para a Europa e para os Estados
Unidos. Os descendentes do pioneiro formaram uma es-
tirpe numerosa, onde muitos se destacaram em diversas
profiss��es, comerciantes, militares, engenheiros, m��di-
cos, banc��rios, advogados e professores. Um desses des-
cendentes, Francisco Humberto Ferreira Ellery, general
do ex��rcito, chegou �� Vice-Governadoria do Estado du-
rante o Regime Militar ( 1 9 6 4 - 1 9 8 5 ) .
Antigos moradores contam que no local onde
hoje ficam a Pra��a Manoel Dias de Macedo e a Igreja de
Nossa Senhora de Lourdes existia uma lagoa que desa-
pareceu para dar lugar ��s primeiras resid��ncias. O A��u-
de Jo��o Lopes, que ficava na ��rea, foi tamb��m, pouco a
pouco, sendo aterrado at�� sumir totalmente pelo avan��o
da urbaniza����o.
Henrique Ellery, neto do ingl��s, era o titular do
s��tio onde nasceria o bairro. Humberto, o filho militar,
idealizou construir na propriedade uma grande casa, no
modelo das vilas romanas, e, ao redor, cinco casas para
os seus filhos. As casas dos filhos n��o deveriam ter co-
zinha, para que todos viessem almo��ar com ele todos os
dias. O sonho n��o chegou a ser completamente concre-
tizado, mas ele mandou fazer uma placa e nela escrever
pomposamente: VILA ELLERY.
Os Ellery tinham suas casas, espa��osas e alpendra-
das, mais ou menos pr��ximas umas das outras, o que con-
156
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
corria para que as reuni��es familiares fossem frequentes
e festivas. At�� pouco tempo, morava numa dessas casas a
octogen��ria dona Aurora, vi��va de Hugo Ellery, da quar-
ta gera����o dos imigrantes ingleses.
Em meados dos anos 1960 o loteamento da regi��o
j�� era uma realidade com muitas ruas abertas, o espa��o
da pra��a e a instala����o de mercearias, escolas e feiras.
A prefeitura terminou oficializando o bairro com a
denomina����o tradicional de VILA ELLERY.
A farm��cia ficava na Rua Bar��o do Crato, 1.280, no
cora����o do bairro. Farmacinha acanhada, num espa��o n��o
superior a 50 m2. Por sorte o gerente estava l�� e forneceu as
informa����es necess��rias para o pretendente da aquisi����o.
Na casa do propriet��rio, depois dos regateios de
costume, a compra foi realizada. Agora, a medida seguin-
te era partir para um apronto ligeiro no im��vel, fazer o
registro na Junta Comercial e dar in��cio ao seu novo em-
preendimento.
Precisava pensar num nome para a farm��cia. Um
nome chamativo, com apelo popular. Alguma coisa, as-
sim, simples, mas que se impregnasse de imediato na
mente e no cora����o das pessoas. Tinha visto nos Esta-
dos Unidos uma cadeia de lojas de sapatos chamada PAY
LESS SHOES (PAGUE MENOS SAPATOS). Em Fortaleza,
j�� existia uma empresa varejista com a marca de fanta-
sia BOM PRE��O. Havia tamb��m uma FARM��CIA DOS
POBRES. Dormiu se indagando: por que n��o FARM��CIA
PAGUE MENOS?
1 5 7
J U A R E Z L E I T �� O
Pronto, acabava de encontrar a pedra filosofal,
aquela que, segundo a lenda medieval, transformava em
ouro tudo em que fosse tocada.
Pr��tico, Deusmar preferiu manter o gerente, que
estava no ramo h�� quinze anos. Prop��s-lhe, inclusive, so-
ciedade, com cota de 10%. Pretendia abrir muitas farm��-
cias e precisava de algu��m que conhecesse bem aquela
atividade de vender rem��dios.
Quando informou ao seu pai que estava entran-
do no neg��cio de farm��cia e que pretendia formar uma
grande rede, com centenas de lojas, o Sr. Ant��nio Lisboa
ficou preocupado. Ele conhecia a afoiteza do filho e jul-
gava que, ��s vezes, era preciso pedir que tirasse o p�� do
acelerador, voasse mais baixo, porque l�� de cima a queda,
quando acontece, �� definitiva e sem escapat��ria.
Deusmar contra-argumentou que somente com
uma grande cadeia de pontos de venda poderia ter acesso
privilegiado aos laborat��rios, bons descontos, melhores
prazos... Enfim, um tratamento compensador.
Empreender nos anos 1980 era, de fato, uma teme-
ridade. A economia do pa��s come��ava a enfrentar uma si-
tua����o cr��tica e, logo mais, entraria numa recess��o braba.
Logo no primeiro ano daquela que os analistas
chamam de "a d��cada perdida", os bancos internacio-
nais interromperam o fluxo de financiamentos, o que,
para o Brasil, trouxe consequ��ncias terr��veis. O pa��s, que
passara a d��cada anterior recebendo recursos reais do
exterior e encantado com o discurso oficial do propalado
158
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
"Milagre Brasileiro", sofria agora uma dr��stica redu����o
da capacidade de investimento, com crise no balan��o de
pagamentos. Em 1 9 8 1 , o PIB caiu 3%, a produ����o indus-
trial refluiu 10% e a infla����o chegou a 120%.
Assustado com o rumo das coisas e sem poder
saldar compromissos externos e internos, o pa��s, no ano
seguinte, 1982, �� obrigado a recorrer ao FMI, Fundo
Monet��rio Internacional, que, naturalmente, exigiu que
a economia brasileira seguisse as suas diretrizes, reali-
zando reformas estruturais e impondo limites de gastos,
com sacrif��cios imediatos nos programas sociais do go-
verno e encolhimento de verbas para a sa��de e a educa-
����o. Com a desvaloriza����o da moeda, o pa��s passa a ter os
pre��os dos produtos agr��colas aumentados, pois os insu-
mos eram importados, bem como, os custos de transpor-
te. A desvaloriza����o cambial e o choque agr��cola fazem a
infla����o saltar para 2 1 1 % nos finais de 1982.
Ca��am os sal��rios, a produ����o de bens de capital e
do setor industrial, enquanto subiam o desemprego e a
instabilidade. Em 1984 a infla����o avan��a para os 235%.
O resto da d��cada foi uma sucess��o de promessas
do governo e lastim��veis decep����es, com a aplica����o de
tr��s planos econ��micos que se mostraram ineficazes.
No fim dos malfadados anos 80, batemos nas por-
tas da hiperinfla����o, com a marca de 1.764% em 1989,
chegando aos inacredit��veis 6.584% em abril de 1990.
Parecia a Alemanha no auge da Segunda Guerra Mundial.
159
J U A R E Z L E I T �� O
No meio desse tiroteio, onde todo mundo se deses-
perava e tentava se recolher, Deusmar galopava fagueiro
na escalada de seu novo neg��cio, adotando, j�� naquele
tempo, um jarg��o que o acompanharia para sempre:
"As crises v��m e v��o embora. E n��s s�� as vence-remos trabalhando e investindo."
Seguiu este princ��pio desde o come��o. E, no cam-
po do varejo, com a Pague Menos, fez-se cavaleiro deste-
meroso, cumprindo �� risca o que adotara como filosofia
empresarial.
N��o demorou muito e j�� montava a segunda loja,
na Avenida Bezerra de Menezes. A terceira, na Avenida
da Aboli����o. A quarta, na Rua Guilherme Rocha, no cen-
tro. A quinta, tamb��m do centro da cidade, na Rua Sena-
dor Pompeu.
Assim, antes que o ano de 1981 terminasse, o agora
chamado Grupo Pague Menos contava com cinco lojas.
Era s�� o come��o.
Como a loja da Rua Senador Pompeu, a quinta do
primeiro lote, era muito comprida, com mais de cinquen-
ta metros de profundidade, teve uma parte do im��vel
aproveitada para a instala����o do primeiro CD (Centro de
Distribui����o).
Fortaleza ainda mal havia percebido que um fator
novo se incorporava �� sua economia. Enfrentando as nu-
vens negras que pesavam sobre a realidade brasileira, um
jovem ousado buscava o seu espa��o no com��rcio vare-
160
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
jista. Cheio de entusiasmo, otimismo e vigor, as armas
prediletas dos bons pelejadores.
Talvez s�� ele soubesse, por conta dos sonhos que
cavalgava, que um novo imp��rio estava come��ando.
161
12
A GERMINA����O DO
SONHO
"Todos os dias a vida nos avisa que o
horizonte est�� ali, na frente, cobrando
os nossos passos. O horizonte parece
inating��vel, mas ele existe para que nos
lembremos de que �� preciso tomar a
estrada e caminhar para a frente a cada
amanhecer."
D e u s m a r Queir��s
Deusmar Queir��s, que se sabia possuidor da obs-
tinada vontade de vencer, tamb��m conhecia as
qualidades de seus cunhados, os irm��os de Au-
ric��lia. Eram portadores de intelig��ncia, dedicados em
seus of��cios e tinham todos, essa vontade de conquistar,
163
J U A R E Z L E I T �� O
com trabalho e empenho pessoal, um espa��o respeit��vel
na sociedade. Eram 12 irm��os, oito homens e quatro mu-
lheres, uma verdadeira rep��blica de cunhados, os quais,
se no in��cio do relacionamento com a irm�� deles haviam
apontado algumas restri����es, agora j�� o tinham absolvido
e, conhecendo a sua personalidade e o boa-pra��a que ele
era, o admiravam de verdade.
De todos, o mais aproximado de Deusmar, desde o
come��o, era o Ubiranilson, o d��cimo filho do Sr. Benone
Alves e de dona Ana Jurandi. No tempo do namoro entre
Deusmar e Auric��lia, como tinha apenas dez anos, n��o
se manifestara contra, como os mais velhos haviam feito
por prote����o exagerada e ci��mes da irm��. Ao contr��rio
dos outros, tinha era uma grande admira����o pelo futuro
cunhado, um sujeito sempre de bom humor a quem to-
dos no bairro queriam bem.
Adulto, fez-se m��dico veterin��rio e foi trabalhar
na EMATERCE, Empresa de Assist��ncia T��cnica de Ex-
tens��o Rural do Cear��.
Atuava em Corea��, a antiga Palma, munic��pio da
Zona Norte, e costumava vir a Fortaleza nos fins de se-
mana, quando sempre se encontrava com o cunhado.
Nessas ocasi��es, trocavam informa����es sobre trabalho e
Deusmar sempre perguntava como estava l�� no interior,
se estava satisfeito... Numa esp��cie de ass��dio sutil, pois
o queria trabalhando com ele nas farm��cias.
Casado, quando a mulher engravidou, Ubiranilson
come��ou a refletir sobre o futuro da fam��lia. Talvez aquela
164
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
pequena cidade do interior n��o fosse o lugar ideal para edu-
car seus filhos. Come��ava a sonhar com o retorno �� Capital.
Deusmar deve ter percebido a preocupa����o do
cunhado e decidiu tornar-se mais expl��cito nas d��mar-
ches para t��-lo ao seu lado no empreendimento varejista.
Ubiranilson relata:
"Uma noite, uma quinta-feira, por volta das oito
horas, recebi um telefonema de Deusmar. O telefone era
monocanal. Um telefonema ��quela hora, da capital para
o interior, poderia ser uma not��cia ruim. Mas ele j�� foi me
tranquilizando: "Est�� tudo bem, n��o houve nada. Quero
apenas te convidar para a gente jantar, aqui no Regatas.
Quero conversar contigo."
Eu vim".
O Clube de Regatas da Barra do Cear�� promovia
umas festas a partir das sextas-feiras, animadas por Ca-
nhoto e seu Conjunto. Nos anos 7 0 / 8 0 frequentar essas
reuni��es dan��antes na enseada da Barra era um progra-
ma apraz��vel e relaxante. Muita gente atravessava a cida-
de para conversar e se divertir naquele conhecido clube,
assentado no espa��o f��sico do marco inicial da coloni-
za����o do Cear��, o local hist��rico do Forte de S��o Tiago,
fundado por Pero Coelho de Souza, em 1604.
Foi uma boa festa, modestamente movida a bife
acebolado e ao barat��ssimo u��sque Drury's.
Entretanto, o prato principal era a proposta, o
convite de Deusmar para que Ubiranilson largasse tudo
e viesse se juntar a ele na Pague Menos.
165
J U A R E Z L E I T �� O
Deixar um emprego p��blico, seguro, onde estava
exercendo a profiss��o em que se graduara, para embar-
car no que parecia uma aventura de risco n��o era uma
decis��o f��cil. Estava h�� dois anos e meio no munic��pio de
Corea�� cuidando da febre aftosa, da raiva e da brucelose
do rebanho local, enfim, desenvolvendo um trabalho de
preven����o, profilaxia e orienta����o para os criadores da
regi��o. Mais do que uma tarefa profissional, aquilo era
uma esp��cie de miss��o no meio rural, na Zona Norte do
Estado, na mesma regi��o de onde provinha a sua fam��lia.
Mas Ubiranilson nutria pelo Deusmar uma admi-
ra����o singular e alguma coisa lhe dizia que aquele sujeito
era capaz de se dar bem em qualquer neg��cio em que
se metesse. E acreditava que, com o seu otimismo con-
tagiante e a energia que punha em tudo o que fazia, n��o
tinha como n��o ser bem-sucedido. Por isso, apostou no
projeto e subiu na espa��onave da ousadia para o primeiro
grande desafio de sua vida. Era agosto de 1982.
Ubiranilson �� um homem de comedidas atitudes,
de poucas palavras e a����o centrada nos objetivos, que
tem o h��bito de avaliar e ponderar as iniciativas. Ao lado
de Deusmar, que tem voca����o vision��ria e costuma ca-
valgar afoitezas, funciona como um "sossega-le��o" para
as temeridades.
Nunca tomou como miss��o interceptar os sonhos
ousados do cunhado, pois sabe que isso seria imposs��-
vel e de uma inconveni��ncia constrangedora. Mas tem
consci��ncia da validade de sua parceria, sobretudo, no
166
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
tocante �� pr��-an��lise das a����es e nas conversas de p��
de ouvido que o outro precisa ter com ele quando se v��
possu��do de um novo sonho, dos impulsos de um novo
salto abissal.
No come��o, cabia-lhe, entre outras fun����es, acom-
panhar o movimento do CD, controlando a entrada e a
sa��da das mercadorias, as necessidades de abastecimen-
to, problemas e urg��ncias da distribui����o.
Nessa tarefa, mostrou-se extremamente r��gido e
cuidadoso, como conv��m a quem assume a responsabi-
lidade de dar conta do estoque com relat��rios di��rios de
todo o movimento ali desenvolvido. Por isso, era inflex��-
vel nas emiss��es da nota fiscal de tudo o que sa��sse da-
quele departamento.
O que �� o Centro de Distribui����o?
Quem milita no com��rcio atacadista precisa estar
atento �� reposi����o do estoque. O ramo de medicamentos,
ent��o, requer cuidados redobrados.
As farm��cias precisam estar com suas prateleiras
cheias e nelas os rem��dios n��o podem faltar nem demo-
rar. Um item muito importante �� a validade: n��o se pode
descuidar dela sob pena de gerar um problema s��rio para
a empresa e at�� um processo.
O Centro de Distribui����o (CD) �� o cora����o pul-
sando das grandes empresas de varejo. N��o �� apenas um
dep��sito de mercadorias, como se poderia pensar. Mas
um lugar de responsabilidades variadas e complexas,
onde, diariamente, se medem os percentuais de venda da
1 6 7
J U A R E Z L E I T �� O
empresa, sua rela����o com os fornecedores e os produtos
que t��m melhor aceita����o no mercado e maior velocida-
de de consumo.
O Vice-Presidente Ubiranilson, que, como vimos,
esteve no comando do primeiro CD da Pague Menos, ��
um especialista nesse setor da empresa e fala-nos com
absoluto conhecimento de causa:
"As principais atividades do CD s��o o recebimento
de mercadorias, a confer��ncia, a guarda e armazenagem,
a separa����o dos pedidos e a expedi����o/transporte do que
�� destinado ��s lojas."
O recebimento ��, pois, o in��cio e a base de todo
o processo das atividades do CD. Ali acontecem a des-
carga dos produtos, a confer��ncia de quantidades e a
verifica����o minuciosa da integridade do que est�� sendo
entregue. Isso posto, todas as informa����es s��o lan��adas
no sistema de gerenciamento da armazenagem e de toda
a rede central de estoque. Essa atualiza����o imediata de
informa����es possibilita a exata localiza����o de cada lote,
com datas de chegada e sa��da.
O primeiro CD da Pague Menos foi instalado na
Rua Senador Pompeu, 1.593. Quando se tornou pequeno,
pois s�� conseguia abastecer dez lojas, Deusmar o trans-
feriu para o atual pr��dio sede, na mesma Rua Senador
Pompeu, onde ocupou o primeiro e o segundo andar.
O n��mero de lojas foi crescendo e tamb��m a ne-
cessidade de amplia����o do Centro de Distribui����o.
Ubiranilson prossegue relatando:
168
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
"Apareceu uma oportunidade na Avenida Francis-
co S��: um terreno de 8.000 metros, com 5.400 m2 de ��rea
coberta. Mas logo ficou pequeno tamb��m e come��amos
a procurar outro espa��o. Mudamos para a Avenida Les-
te-Oeste, ocupando a ��rea onde antes estivera a f��brica
de cofres de ngelo Figueiredo: 110.000 m 2 , 1 1 hectares.
Em 2 0 0 9 , soubemos que o CD da Drogaria Santa-
na, a maior da Bahia, fora completamente destru��do por
um inc��ndio. A empresa faliu. Alertado por esse fato,
conversei com Deusmar: 'Olha, n��s estamos com um
��nico CD e, se isso pegar fogo, quebramos. Temos que
dividir.' E dividimos. Hoje, temos um em Fortaleza, ou-
tro em Goi��s (munic��pio de Hidrol��ndia), um terceiro
em Pernambuco e um quarto na Bahia. Logo mais, tere-
mos outros em Minas Gerais, no Par��, em S��o Paulo (no
interior), Rio de Janeiro, Paran�� e etc. Com todos esses
CDs montados poderemos atender duas mil lojas".
Mas voltemos aos prim��rdios.
Certa vez, durante a crise de falta do Leite Ninho
em Fortaleza, Ubiranilson flagrou um funcion��rio levan-
do duas caixas do produto para a camioneta do Deusmar,
que tinha filhos com necessidade daquele alimento l��cteo:
"- ��pa, rapaz, isso a�� pra onde vai?!"
O empregado respondeu que era para o doutor
Deusmar.
"- E a Nota Fiscal, onde est��?"
E, como n��o havia nota, Ubiranilson mandou vol-
tar as caixas. O funcion��rio correu para informar ao seu
169
J U A R E Z L E I T �� O
patr��o que o homem l�� do CD havia lhe tomado a merca-
doria dizendo que dali nada sa��a sem nota fiscal.
Deusmar veio falar com Ubiranilson e dele rece-
beu a explica����o de estar cumprindo uma regra da em-
presa e combinada entre eles.
Entendeu e valorizou a atitude. A honestidade
�� um dos pilares mestres das Farm��cias Pague Menos.
E, naquele caso, o privil��gio da omiss��o seria um mau
exemplo.
Por esse mesmo senso de dever, Ubiranilson de-
sentendeu-se com o s��cio minorit��rio, o antigo gerente
da primeira farm��cia:
"Percebi que o sujeito queria me tirar do ambiente,
como se a minha presen��a ali o incomodasse ou atrapalhas-
se os seus planos."
Preocupado, Ubiranilson procurou o Deusmar
para pedir as contas. Alegou que s�� poderia permanecer
na empresa se fosse para fazer a coisa direita, "p��o, p��o,
queijo, queijo".
Na disputa pelo poder entre o s��cio e o cunhado,
Deusmar optou pelo cunhado. Recomprou as a����es da-
quele e, assim que o desligamento foi efetivado, Ubiranil-
son passou a integrar a empresa com a mesma participa-
����o de 10% do s��cio anterior.
A partir desse momento, fortificou-se o pacto de
trabalho e confian��a entre eles, onde haveria de predo-
minar o desenvolvimento do projeto sonhado por Deus-
mar de implanta����o de uma grande rede varejista de
170
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
medicamentos, com adi����o de v��rias outras iniciativas,
paulatinamente incorporadas.
A hist��ria dos empreendedores de sucesso con-
t��m um elemento comum. Todos eles tiveram em sua
ascens��o um parceiro de apoio, algu��m de toda a con-
fian��a com quem repartem os planos, compartilham pro-
jetos e discutem as d��vidas. Por n��o terem a faculdade da
onipresen��a, precisam se fazer representar em diversas
circunst��ncias por um ou mais de seus executivos, por-
tadores fi��is e capacitados, que estejam conscientemente
embebidos dos objetivos, perspectivas e abalizado co-
nhecimento de toda a engrenagem da empresa.
Na Pague Menos, esse homem se chama Ubiranil-
son Alves, presente desde o segundo ano e, ainda hoje,
em plena atua����o de seu papel, como Vice-Presidente.
De 1981 a 1982, a Pague Menos montara cinco lo-
jas. Em 1989, j�� eram quarenta.
Todos sabiam que a escalada, movida �� for��a mo-
triz de seu fundador, iria muito longe. Cada um dos que ali
chegavam percebia, em pouco tempo, que o infinito seria
a meta visada do cavaleiro andante que a comandava.
Ubiranilson explica como, naquela crise aguda da
economia nacional, com a infla����o na estratosfera, pude-
ram sobreviver:
"N��s ��amos tocando as lojas. O Deusmar estimu-
lando e a gente crescendo com certa velocidade. Durante
a infla����o, o medicamento aumentava uma vez por m��s.
O que faz��amos? Compr��vamos na pr��-alta. Nossa mar-
171
J U A R E Z L E I T �� O
gem de lucro era de 3 0 % e compr��vamos com 10% de
desconto. Nesse mesmo espa��o de tempo a infla����o era
de 20%. Ent��o, se t��nhamos uma margem de trinta, 10%
de desconto e 20% de infla����o, era chutar a bola e correr
pro abra��o."
O come��o foi mesmo de rude aprendizado. N��o
havia departamentos definidos e "todo mundo ajudava
todo mundo", como informa Ros��ngela Alves, carinho-
samente chamada de Rosinha, que est�� na Pague Menos
desde 1983, contratada para o Financeiro. "A gente tra-
balhava at�� oito, nove horas da noite, sem reclamar. Sa-
b��amos que era ali, naquela empresa, que ganh��vamos o
nosso p��o e que, se ela crescesse, crescer��amos com ela".
- completa.
O corpo de funcion��rios era pequeno, mas o
exemplo do chefe animava todos a vestir a camisa.
Quando da mudan��a do Centro de Distribui����o da
Rua Senador Pompeu para a Avenida Francisco S��, Deus-
mar juntou-se aos demais botando caixas de medicamen-
tos nos ombros e ajudando a carregar os caminh��es que
faziam o transporte do estoque. Diante desse exemplo
os funcion��rios se tomaram de energia nova e, cheios de
garra, em pouco tempo esgotaram o antigo dep��sito.
Dona Auric��lia participava, ao lado do marido, da
faina esgotante do dia a dia. Todas as noites, ficava at��
tarde nas lojas conferindo recibos e notas fiscais, reven-
do a arruma����o das prateleiras, ajudando no fechamento
dos caixas.
172
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Faz parte da estrat��gia empresarial de Deusmar
Queir��s envolver a fam��lia em seus neg��cios. Sempre
pensou que dessa forma estar�� preparando a sucess��o
e garantindo a continuidade da empresa que fundou.
Lembra que na hist��ria da economia do Cear�� muitos
sucessores n��o foram capazes de assegurar os neg��cios
da fam��lia, levando o empreendimento que herdaram ao
fracasso. Viu nos pa��ses que visitou empresas com du-
zentos anos, vigorantes e continuamente evoluindo atra-
v��s de gera����es. Aqui, poucas fortunas chegaram �� ter-
ceira gera����o, dilapidadas pelos herdeiros malformados,
criados como "filhos de papai" na irresponsabilidade
perdul��ria, julgando que aquilo que lhes caiu nas m��os
nunca iria se acabar.
�� dos que reconhecem e propagam para seus des-
cendentes que "dinheiro merece respeito e n��o aceita
desaforo".
Ubiranilson tamb��m navega nessas ��guas da cons-
ci��ncia do futuro e costuma igualmente olhar longe,
apostando firme na perpetua����o dos sonhos.
Mas o grande fator de sucesso na Pague Menos ��
o otimismo.
Richard Bach, escritor norte-americano, projetou
numa de suas palestras uma frase que parece coisa copia-
da da caminhada empresarial de Deusmar Queir��s:
"Os que costumam ganhar s��o aqueles que pen-
sam que podem."
1 7 3
J U A R E Z L E I T �� O
O Homem da Pague Menos sempre se acreditou
um vencedor. Seu esp��rito se moldara no exerc��cio dos
desafios.
Poderia n��o ter dado certo. Nascido no mato, num
lugarejo do interior do Nordeste, tinha tudo para pen-
sar pequeno. Seria um agricultor ou um bodegueiro de
Amontada, aquele distrito humilde de Itapipoca, ativida-
des que, certamente, n��o o maculariam como cidad��o,
porque s��o trabalhos dignos e honrados. Mas ele queria
mais. E muito mais.
O pai, que em seu tempo sofrera limites de opor-
tunidade, come��ou a desenvolver sonhos maiores atra-
v��s do filho. Logo cedo, o menino ouvira dele aquela
senten��a alvissareira e perempt��ria de que deveria ser
doutor, um sonho colossal para os filhos dos sertanejos
do Cear��, quando n��o se tratasse dos patriarcas latifun-
di��rios, dos velhos e ricos coron��is do s��culo X I X que
mandavam seus rebentos para se formar nas grandes
metr��poles com o intuito de os verem na pol��tica, nos
postos elevados da magistratura, do clero ou do ex��rcito.
A lucidez de Ant��nio Lisboa, aliada �� esperan��a
de prosperidade que almejava para o filho, teve um s��cio
e a segura garantia de sucesso. Contou com a dedica����o
decidida de Deusmar, que fez tudo para cumprir sua par-
te, porque sabia que nele sua fam��lia estava apostando
todas as fichas.
Com pouco mais de dez anos, a Pague Menos se-
meara suas lojas por v��rias cidades do Cear��.
174
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
A partir de 1988, adotou o conceito de Drugsto-
re e foi incorporando uma s��rie de iniciativas e medidas inovadoras, al��m de compromissos altaneiros de cidadania, como haviam de demonstrar os programas de pro-
mo����o social.
A interioriza����o come��ou por Juazeiro do Norte
e Sobral, grandes cidades cearenses. Outros munic��pios
foram recebendo as Farm��cias Pague Menos, com priori-
dade para aqueles com mais de 100.000 habitantes.
E agora a empresa j�� estava pronta para romper as
fronteiras do Cear�� e ganhar o Brasil no processo ventu-
roso de germina����o.
175
13
A PAGUE MENOS TOMA
CONTA DO PA��S
"O que sou neste momento n��o passa de
uma prepara����o do que serei. Esperem-me
na pr��xima curva do destino.
Simon V i n k e n o o g , p o e t a h o l a n d �� s
( 1 9 2 8 - 2 0 0 9 )
o dia em que voc�� abrir uma farm��cia aqui em
S��o Paulo, eu abro uma l�� em Fortaleza. Vou
disputar com voc�� dentro do seu mercado."
A frase, dita durante uma reuni��o da Abrafarma
por um forte empres��rio, dono da ent��o maior rede de
farm��cias em opera����o no Brasil, traduz bem o mapa de
177
J U A R E Z L E I T �� O
posicionamento das redes brasileiras nos anos 1990. As
opera����es eram praticamente locais e cada grande rede
era a dona do seu quinh��o de mercado. Redes paulistas
operavam na capital e no interior do estado; redes ca-
riocas, somente no Rio de Janeiro, e assim por diante.
A Rede Ara��jo, dominadora absoluta da cidade de Belo
Horizonte, operava somente at�� a Avenida do Contorno,
que circundava a capital mineira.
"Era como se houvesse um acordo t��cito: voc��
n��o entra no meu mercado, que eu tamb��m n��o entro no
seu", conta Sergio Mena Barreto, hoje Presidente-Execu-
tivo da Abrafarma e respons��vel pelo processo de expan-
s��o inicial da Pague Menos.
Sergio ingressou na Pague Menos aos 23 anos de
idade, "um pirralho com a arrog��ncia t��pica dessa idade,
que acha poder mudar o mundo, mas com uma alma an-
tiga cujos conselhos sempre eram levados em conta pelo
Deusmar" - como ele mesmo explica.
Deusmar conheceu Sergio durante um semin��rio
que sua consultoria ministrara na Pague Menos e se em-
polgara com o jovem especialista em marketing e RH. O
convite para gerir as duas ��reas da empresa foi feito ��
queima-roupa e aceito na hora. "Ele n��o me deu muito
tempo para pensar na proposta. E eu nem ousaria. Na
mesma hora que nos encontramos, vi que ele era um
empreendedor admir��vel, com grandes sonhos, e um ser
humano impressionante. Tive a sensa����o de que nos co-
nhec��amos de muito tempo" - conta.
178
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
A jun����o das duas ��reas, de marketing e RH, deu
origem depois �� Diretoria de Opera����es, que Sergio pas-
sou a ocupar, tendo como uma das miss��es a expans��o
da empresa.
"Deusmar havia decidido que Fortaleza j�� se tor-
nara pequena demais para a sua Pague Menos. Por outro
lado, as cidades do interior do estado ainda n��o dispu-
nham de capacidade econ��mica para receber suas farm��-
cias. O jeito, ent��o, era partir para as outras capitais do
Nordeste, e Natal foi escolhida para ser a primeira pra��a
a ser desbravada" - conta.
A escolha levou em considera����o alguns princ��pios:
primeiro, por estar a pouco mais de quinhentos quil��me-
tros da capital cearense; segundo, porque tinha um merca-
do maior do que a outra capital vizinha, Teresina; tercei-
ro, porque as redes locais tamb��m j�� tinham certo n��vel de
diversifica����o de produtos, apesar de uma lei local impor
uma parede de vidro para a ��rea de conveni��ncia das lojas.
Era, portanto, o mercado perfeito para o pr��ximo passo.
O m��todo de escolha dos primeiros pontos foi o
mesmo utilizado em Fortaleza. Tinha que ter uma farm��-
cia no centro da cidade, como se fosse uma bandeira que
marcasse o territ��rio, bem como, presen��a em bairros
de melhor poder aquisitivo, em avenidas de alto tr��fego,
sempre no sentido centro-bairro.
"- Os clientes n��o compram rem��dio quando v��o
pro trabalho, e sim quando voltam pra casa" - Deusmar
ensinava.
179
J U A R E Z L E I T �� O
Com os primeiros pontos escolhidos, era hora de
selecionar a equipe para operar o novo mercado. Um dos
melhores supervisores de Fortaleza, o Od��sio Carlos, j��
havia sido escolhido, e passaria a morar no andar supe-
rior de uma das lojas.
"Por alguns dias - conta o executivo - eu e o RH,
com a Magna Castro �� frente, nos mudamos para um pe-
queno hotel da cidade para fazer a sele����o da primeira
equipe. Longas filas se formaram na frente do hotel com
o an��ncio colocado nos dois maiores jornais da cidade.
Os testes e entrevistas duravam o dia inteiro. Eu e a equi-
pe ��amos dormir cedo, exaustos pela maratona de entre-
vistas com gente ��vida, disputando uma vaga, muitas ve-
zes seu primeiro emprego".
Sergio prossegue:
"- Aqui vai ser f��cil competir, visse? - um candidato me confessou durante a entrevista. - e explicou que
a maioria das farm��cias n��o queria receber cart��o de cr��-
dito, onde j�� se viu? Faltavam muitos produtos, n��o tinha
entrega em domic��lio, e �� noite era dif��cil arrumar uma
farm��cia aberta...
A dica estava dada. A opera����o moderna que a
Pague Menos empregava poderia ser um grande suces-
so no mercado local. As lojas seriam grandes, com pro-
dutos de conveni��ncia, mas sem o vidro imposto pela
legisla����o local. "Os advogados cuidariam dessa quest��o
assim que as primeiras mercadorias fossem apreendi-
das" - conta o executivo.
180
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
O processo seletivo chegara ao fim. "Montamos
um quadro enxuto, com profissionais que tinham a cara
da empresa: ��vidos por aprender, com um tanto de ou-
sadia e, por fim, o elemento diferenciador: o brilho no
olhar. Era isso que, ao final, desempatava o jogo a favor
de um candidato".
O at�� ent��o jovem executivo extremamente in-
tuitivo e - descobriu depois - com uma "sensibilidade
espiritual de outro mundo", faz uma confiss��o: "Tenho
muita satisfa����o de ter errado muito pouco na escolha
das pessoas que passaram a compor nosso quadro de co-
laboradores. Era at�� bem f��cil: se passasse no meu crivo
intuitivo, seguia adiante. A energia tinha que ser boa, e a
vontade de crescer, mais ainda. N��o �� �� toa que centenas
deles est��o na Companhia at�� hoje".
A mesma f��rmula foi repetida em cada processo
seletivo, cidade ap��s cidade, a cada nova Pague Menos
aberta: uma farm��cia que oferecia muito mais que a con-
corr��ncia local, com servi��os at�� ent��o in��ditos, aten-
dimento 24 horas e uma equipe muito especial, com o
brilho no olhar, encantada em fazer parte de uma fam��-
lia, a "Fam��lia Pague Menos", que crescia a cada bairro
conquistado.
Depois do Rio Grande do Norte, cada um dos es-
tados nordestinos foi sendo desbravado, segundo a rota
do pav��o que o Deusmar n��o cansava de desenhar a cada
ocasi��o em que falava �� sua equipe.
181
J U A R E Z L E I T �� O
"O pav��o era um desenho com hastes e, na ponta
de cada uma delas, um pequeno c��rculo com a abrevia-
tura do estado correspondente. O Deusmar era mestre
em tornar gr��fica a sua vis��o, e que podia muito bem ser
o sonho de todos que se engajavam no projeto de fazer
da Pague Menos a primeira Rede a quebrar fronteiras e
tomar conta do pa��s" - conta Sergio.
Mas, como diria o grande Garrincha, s�� faltava com-
binar com os russos. A cada novo passo dado fora do Ce-
ar�� pela Pague Menos, aumentava o rol dos incomodados
com tamanha ousadia. Eram os donos de farm��cias locais,
eram seus pares da associa����o nacional, a Abrafarma, sem-
pre havia algu��m para reclamar dos pre��os, da dist��ncia
das lojas, presentes nas mesmas grandes avenidas da con-
corr��ncia, ou da venda de produtos de conveni��ncia. Para
as muitas den��ncias, a maioria dos pr��prios concorrentes,
novas medidas judiciais eram tomadas para proteger o in-
teresse da empresa e de seus clientes - o direito de ofere-
cer uma gama mais ampla de produtos e vend��-los mais
barato, �� claro. Esse tipo de rea����o era o velho modo de
fazer as coisas batalhando contra o novo. O medo diante
de uma empresa que n��o tinha f��rmulas prontas, a n��o ser
querer ser pioneira e inovadora para onde quer que fosse.
Da primeira onda do pav��o, talvez o estado mais
emblem��tico nessa batalha do velho contra o novo tenha
sido Pernambuco, como Sergio nos conta:
"O estado era o mais bem estruturado da regi��o
em termos de concorr��ncia. Havia Redes locais fortes e
182
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
emblem��ticas, com seu p��blico cativo, e um modus ope-
randi muito pr��prio. A maior rede, por exemplo, s�� acei-
tava pagamento em dinheiro, mas suas lojas eram gran-
des e bem estruturadas. O recall de marca tamb��m era,
at�� ent��o, imbat��vel".
Esse seria, portanto, um desafio muito maior e di-
ferente dos demais. A estrat��gia para entrar em Pernam-
buco deveria ser bem estudada. De certo modo, a amea��a
feita pelo empres��rio paulista tamb��m pairava no ar. "E
se os empres��rios pernambucanos se rebelassem e resol-
vessem baixar em bando em Fortaleza, para concorrer
na base de sustenta����o econ��mica da empresa?". Esse era
um perigo real e deveria ser levado em considera����o.
Mas a sorte estava ao lado do jovem executivo
e do pav��o do Deusmar com sua haste "PE" numa das
pontas. Um ex-profissional da maior Rede local estava
h�� meses dispon��vel no mercado e, na sincronicidade es-
piritual que Sergio carregava com ele, seus caminhos se
cruzaram. O profissional foi contratado e passou a des-
bravar, com esp��rito pernambucano, a ��rea que conhecia
como ningu��m. Os "russos" esbravejaram, �� claro. "Isso se transformou numa briga pessoal de muitos anos. N��o
por parte do Deusmar, �� claro, um gentleman em todos
os sentidos, mas por parte daqueles que se sentiam ata-
cados. Algu��m estava mexendo nos feudos, e os senho-
rios n��o se sentiram nada bem com isso". Os reflexos da
perna do pav��o "PE" reverberaram por longo tempo, e
sobrou at�� mesmo para o executivo, que recebia ataques
183
J U A R E Z L E I T �� O
pessoais enquanto apenas tocava o barco na rota que ti-
nha sido tra��ada.
Se o reflexo da entrada da Pague Menos numa cida-
de grande causava uma tempestade, numa cidade menor,
isso podia parecer um tsunami. Em alguns lugares, quan-
do tinham not��cia de que a empresa pretendia instalar
uma filial na cidade, os comerciantes locais tratavam de
"mover os pauzinhos" com os vereadores e aprovavam as
famosas leis de zoneamento, tornando a vida da ousada
forasteira muito mais dif��cil. Algumas dessas p��rolas le-
gislativas impunham restri����es do tipo "�� proibido abrir
uma nova farm��cia a menos de 6 0 0 metros de outra exis-
tente", e chegavam ao c��mulo de determinar que "a ven-
da de uma farm��cia j�� instalada dever�� ser feita prefe-
rencialmente a outra existente no munic��pio". Outras leis
proibiam opera����o 24 horas, t��pica da Pague Menos, ou
impunham restri����o de metragem m��xima para os novos
estabelecimentos.
Mas, no fundo, a chegada da Pague Menos numa
nova cidade fazia muito bem a todos. As pequenas far-
m��cias davam um banho de loja no estabelecimento, se
preocupavam em melhorar a apar��ncia e refor��avam o
volume de estoques. "Algumas at�� copiavam o padr��o
visual da empresa, e era divertido ver que o desafio do
novo servia para espantar um pouco da poeira de tantos
anos dessas empresas servindo mal aos clientes".
Sergio prossegue:
"Lembro-me muito bem do dia em que nos prepa-
184
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
r��vamos para abrir a primeira loja em Juazeiro do Norte,
na principal rua da cidade, a Padre C��cero. Eu sempre
tive por h��bito visitar as farm��cias pr��ximas para me
apresentar, deixar um cart��o e informar ao propriet��rio
que ir��amos abrir uma nova loja ali na vizinhan��a. Sem-
pre acreditei no jogo limpo, na transpar��ncia, em ser res-
peitoso com os que l�� j�� estavam".
O propriet��rio de uma dessas farm��cias recebera
mal a not��cia. Reclamou que os neg��cios estavam p��s-
simos, e que a decis��o s�� iria piorar as coisas. Ao final,
num tom quase amea��ador, recomendou ao executivo
que escolhesse outro ponto longe dali, pois os maus re-
sultados das pequenas farm��cias locais iriam ser debita-
dos na sua conta. Sergio engoliu em seco e embarcou de
volta para a sede da empresa, em Fortaleza. �� obvio que
a nova farm��cia foi aberta, e foi um sucesso. Tempos de-
pois, numa visita �� nova filial, Sergio voltou a conversar
com o concorrente para perguntar como iam as coisas.
"Ah, melhorou muito! Agora tem mais gente circulando,
e, quando voc��s n��o t��m algum produto, a gente ven-
de. Est�� t��o bom, que at�� defendi voc��s na reuni��o l��
do sindicato". O executivo n��o p��de deixar de abrir um
sorriso quando o homem at�� lhe deu um tapinha amig��-
vel nas costas.
A expans��o continuou no ritmo ditado pelo Deus-
mar, pisando fundo no acelerador, estado ap��s estado,
sempre com um estoque de novas lojas por abrir. E assim,
seguiam os novos processos seletivos, e mais gente com
1 8 5
J U A R E Z L E I T �� O
brilho no olhar engrossando as fileiras da Pague Menos.
Mas n��o bastava abrir novas lojas. Era necess��rio "regar
as antigas", como conta Sergio. Ele implantou, ent��o, um
processo de gest��o com o p�� na estrada. Ou melhor, no
ar. Montado no primeiro avi��o da empresa, um King Air
C-90, e depois num jato Citation II, durante duas sema-
nas por m��s, de forma intercalada, Sergio decolava de
Fortaleza na segunda-feira cedo e sa��a "visitando o pa-
v��o", haste por haste, at�� a sexta-feira. Com ele seguiam
gerentes de opera����o, gente de manuten����o, sistemas e
o que fosse necess��rio. "Um dia t��pico era assim: pous��-
vamos na cidade, e, do aeroporto, eu seguia direto para
uma reuni��o com os gerentes locais. Cobrava deles os
resultados combinados e eles me contavam os problemas
e pediam solu����es. Tudo olho no olho, preto no branco.
Depois da reuni��o, ��amos almo��ar, para honrar a m��xima
de que 's�� conhecemos bem uma pessoa ap��s comer ao
menos 1 quilo de sal com ela'. Depois do almo��o, deco-
l��vamos para outra cidade, onde faz��amos nova reuni��o,
seguida de jantar com um pouco mais de 'sal'. Depois
pernoit��vamos, e no dia seguinte realiz��vamos a mesma
rotina em outras cidades".
E assim acontecia m��s ap��s m��s. Na rodada se-
guinte, ele tinha que trazer solu����es combinadas e os ge-
rentes, entregar as vendas prometidas.
Numa dessas viagens, Sergio e a equipe sofreram
um incidente inesquec��vel. "Era in��cio da noite. T��nha-
mos decolado de Teresina no King Air, e, quando est��va-
186
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
mos sobrevoando a regi��o da Serra da Ibiapaba, no Cear��,
o avi��o enfrentou uma turbul��ncia impressionante: havia
entrado numa cumulonimbus uma nuvem na qual nunca
se deve entrar" - conta. Dentro do temporal, a pequena
aeronave se transformou numa folha de papel por longos
minutos, quase entrando em parafuso. Os passageiros
vomitaram muito, tudo ficou revirado a bordo.
Descobriu-se, tempos depois, durante uma revi-
s��o, que o radar do avi��o estava em pane. "Nos minu-
tos em que est��vamos em queda livre, um filme passou
pela minha cabe��a. Eu era um jovem destemido, mas a
possibilidade de morrer me colocou frente a frente com
minha fr��gil humanidade. Mas, no fundo, eu sabia que
n��o ia ser daquela vez, pois ouvi uma voz clara no meu
ouvido esquerdo dizendo: calma, filho, que eu estou com
voc��s". Ele continua: "Por muito tempo pensei que tives-
se sonhado com aquilo. S�� depois entendi que era meu
anjo da guarda, que me acompanha at�� hoje" - conta,
comovido.
No dia seguinte ao epis��dio, os passageiros do voo
n��o conseguiram ir trabalhar, exceto um. Sergio ficou de
cama com fortes dores por todo o corpo, talvez pela des-
carga de adrenalina, ou das pancadas contra as paredes
da aeronave, apesar do cinto de seguran��a. Uma presta-
dora de servi��os foi internada, e o ��nico corajoso que
foi para a empresa desmaiou no meio do expediente. A
vida era mesmo fr��gil, conclu��ram todos, mas, passado o
susto, duas semanas depois, Sergio e a equipe j�� estavam
187
J U A R E Z L E I T �� O
singrando os c��us. A bicicleta n��o podia parar. Havia
muito Brasil ainda a ser conquistado.
Pav��o tra��ado, pav��o cumprido. Dez anos depois
de muitos desafios, e encerrada a expans��o de todo o
Norte e Nordeste, Sergio deixou a empresa para assumir
a Presid��ncia-Executiva da Abrafarma, onde permane-
ce at�� hoje, dezessete anos depois. "Foi um convite do
Deusmar, que assumiu a entidade num momento dif��cil,
e foi imposs��vel recus��-lo mais uma vez" - ele conta. O
executivo levou toda a sua viv��ncia adquirida na Pague
Menos para influenciar os rumos das vinte e oito maiores
Redes de farm��cias do pa��s e da pr��pria sa��de brasilei-
ra. Tem sido um respeitado e influente protagonista dos
maiores avan��os do setor nas ��ltimas duas d��cadas.
188
14
OS ENCANTOS DA
DIVERSIDADE
"Os limites dos comedidos n��o s��o os
meus limites."
Ludwig W i t t g e n s t e i n ,
fil��sofo austr��aco ( 1 8 8 9 - 1 9 5 1 )
Oesp��rito ir��nico do Cear�� Moleque (atitude ri-
sonha com que os cearenses reagem ��s dificul-
dades) moldou uma express��o que, aos de fora,
poderia parecer um estranho paradoxo: "nas Farm��cias
Pague Menos se vendem at�� rem��dios."
�� que, no af�� de bem servir ao cliente que entra
em suas lojas, Deusmar Queir��s oferece variadas op-
����es para suas necessidades imediatas ou deleite pessoal,
191
J U A R E Z L E I T �� O
como material de toalete, perfumes, bombons, chocola-
tes, sorvetes, canetas, brinquedos e muitos outros itens
de consumo para adultos e crian��as.
A farm��cia tamb��m vende ingressos para jogos e
shows, aparelhos e linhas de celulares, facilitando a vida
de quem quer encontrar tudo num mesmo espa��o e por
pre��o de mercado.
O grande salto no campo da diversifica����o de ati-
vidades da Pague Menos ocorreu a partir de 1989, quan-
do se tornou a pioneira no recebimento de contas e ven-
da de vales-transporte.
O pr��prio Deusmar relata como lhe ocorreu a ideia
de dar esse novo salto do trampolim de afoitezas que tem
sido a sua vida:
"Em setembro de 1988, eu estava em Belo Hori-
zonte participando de um daqueles leil��es do Fundo de
Investimentos do Nordeste, FINOR, em que me tornara
especialista e ass��duo frequentador. Na ocasi��o, come-
morava com amigos o sucesso de mais uma opera����o en-
volvendo a compra e venda de a����es de empresas finan-
ciadas pelo FINOR.
Da cal��ada do im��vel em que me encontrava, na
Rua dos Carij��s, 126, em companhia dos senhores Ruy
Lage, da Sociedade RL Corretora de T��tulos Ltda., Pre-
sidente da Bolsa de Valores de Minas Gerais, Esp��rito
Santo e Bras��lia e da Comiss��o Nacional de Bolsas de
Valores, CNBV, e Leonel Pequeno, Superintendente da
BOVMESB, vi uma imagem inusitada. Um rapaz pedalava
192
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
uma bicicleta e na sua jaqueta tinha essa inscri����o: La-
vanderia Eureka - Venda de Vale-Transporte.
Uma coisa esquisita estalou dentro de mim, uma
ideia luminosa. Procurei saber de meus amigos como en-
trar em contato com o dono daquela lavanderia e, con-
seguido o encontro para o dia seguinte, tratei de adiar
minha passagem. De noite, no Hotel Wembley (do Gru-
po Coteminas, do Jos�� Alencar, futuro Vice-Presidente
da Rep��blica), n��o preguei o olho, acometido de grande
emo����o expectante. Minhas farm��cias iriam vender va-
les-transporte, sim, senhor, pois em Fortaleza somente
o SINDI��NIBUS (Sindicato das Empresas de Transporte
de Passageiros do Cear��) os vendia e todo m��s se for-
mava uma fila enorme para atender ��s empresas que os
queriam adquirir para seus funcion��rios.
A reuni��o, marcada para as dez horas, transcorreu
num clima de grande cordialidade. O senhor Cavalini, um
mineiro t��pico, foi extremamente gentil, explicando-me
como funcionava a venda dos vales, disponibilizando,
inclusive, uma c��pia do contrato com o SINDI��NIBUS
de Minas Gerais. Dois de seus assessores mostraram-me
pacientemente a legisla����o que normatizava o assunto e
como se processavam todas as etapas e opera����es que se
faziam necess��rias para o recebimento dos vales-trans-
porte, em consigna����o, com a obrigatoriedade de paga-
mento, em tr��s dias ��teis, ao sindicato".
No retorno a Fortaleza, enquanto o avi��o singrava
os c��us, os sonhos de Deusmar visitavam outros pagos de
193
J U A R E Z L E I T �� O
sua euforia. Sua empresa estava mesmo galgando os de-
graus da ousadia, sem medo de arriscar novos caminhos
fora do quadrado que o destino reserva aos acomodados.
Lembrou-se de um antigo relaxo dos caboclos de sua terra
natal, "quem n��o arrisca n��o petisca!" e se fez pronto para p��r em pr��tica a experi��ncia que acabava de conhecer.
No encontro com o senhor Edgar Gueths de
Aguiar, Superintendente do SINDI��NIBUS do Cear��, re-
quereu sua licen��a de revenda, pois, segundo a legisla-
����o, para cada 100.000 habitantes era exigido um posto
de vendas de vales-transporte. O Sr. Edgar, conhecedor
daquela obriga����o legal, concordou de imediato e at��
informou que estava se preparando para instalar vinte
pontos de venda em Fortaleza. A Pague Menos, que j��
dispunha de 28 filiais em diversos bairros da cidade, se-
ria o parceiro ideal.
Deusmar quase n��o se conteve de alegria quando
o Sr. Edgar colocou como condi����o, inegoci��vel, que o
contrato autorizando a venda de vales-transporte tivesse
as mesmas cl��usulas e condi����es do contrato que regia
a opera����o realizada em Belo Horizonte. E ele tinha no
bolso uma c��pia do contrato e o havia estudado muito
bem com o pessoal do Sr. Cavalini.
Tudo rigorosamente acertado, finalmente o con-
trato foi assinado. E, em janeiro de 1989, come��aram as
vendas de vales-transporte. Primeiro na matriz da Pague
Menos, no centro de Fortaleza, e, aos poucos, nas demais
filiais, cobrindo, afinal, toda a cidade.
194
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Como Deusmar previa, a Opera����o Vale-Trans-
porte se tornou muito rent��vel, em fun����o da elevada
infla����o que beirava os 80% ao m��s. O dinheiro prove-
niente da venda dos vales era aplicado a uma taxa de 3%,
ao dia, ou seja, 9% pelos tr��s dias, opera����o conhecida
como overnight.
Pela facilidade, em virtude da localiza����o de seus
pontos de venda, a Pague Menos chegou a vender muito
mais vales do que o pr��prio sindicato, em sua sede.
Deusmar sempre esteve alerta para aproveitar as
oportunidades, mesmo aquelas desconhecidas e, conse-
quentemente, arriscadas. Ele costuma dizer que Deus
foi muito generoso com ele por t��-lo privado do senti-
mento do medo de correr riscos, dotando-o da capaci-
dade de ousar.
O ano de 1989 se tornaria um marco em sua vida
de caprichoso tecedor de ousadias. Parecia que todos os
astros lhe sorriam. Em tudo o que se meteu, obteve su-
cesso, tudo deu certo. Como aconteceu com outra ventu-
rosa oportunidade.
Em abril daquele ano bendito, estava numa reu-
ni��o do Conselho da Bolsa de Valores do Cear��, que de-
pois, por conta do trabalho realizado pelo seu incans��vel
presidente, Raimundo Padilha, se tornaria Bolsa de Va-
lores Regional (abrangendo do Rio Grande do Norte ao
Amazonas), quando recebeu uma provoca����o. As corre-
toras de valores - falou o Padilha - deveriam ser como
bancos, poder receber contas de ��gua, luz e telefone.
195
J U A R E Z L E I T �� O
Ao ouvir isso, Deusmar sente no corpo a mesma
vibra����o que sentiu na tarde do dia 9 de setembro do ano
anterior. N��o diz nada, fica calado, mas n��o consegue
mais escutar os demais assuntos em discuss��o. O c��re-
bro, trabalhando na velocidade da luz, n��o lhe permitia
pensar em qualquer coisa que n��o fosse receber contas
de ��gua, luz e telefone.
A princ��pio, achou que era sonho de sobra. Aquilo
era uma atividade exclusiva do sistema banc��rio. Como
poderia uma farm��cia receber contas de ��gua, luz, telefo-
ne, col��gio, condom��nios e o escambau?!
Entretanto, era tudo verdade. Estava criado o em-
bri��o do Correspondente Banc��rio, que somente doze
anos depois seria regulamentado e incentivado pelo Ban-
co Central do Brasil.
Tomada a decis��o, Deusmar partiu para fazer os
contatos com as concession��rias de ��gua, luz e telefo-
ne. Dezenas de reuni��es aconteceram at�� que todos se
convencessem do ineditismo de uma farm��cia realizar
atividade financeira at�� ent��o, no Brasil, exclusiva do
sistema banc��rio.
Referente a esse momento hist��rico da Pague Me-
nos, ilustra o nosso relato o depoimento do Dr. Edmo Li-
nhares, Secret��rio de Finan��as da Prefeitura de Fortaleza
na administra����o de Ant��nio Cambraia:
"Estava em meu gabinete quando fui procura-
do pelo empres��rio Deusmar Queir��s (��quela ��poca j��
com muitas farm��cias disseminadas em todo o Centro
196
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
da cidade e na periferia de Fortaleza) querendo oferecer
servi��o para cobran��a de IPTU. Justificava o seu pedido
afirmando que os pontos de farm��cia dele cobriam todo
o cintur��o urbano de Fortaleza e isso facilitaria a vida
do contribuinte.
Entramos em detalhes quanto �� tarifa. Os bancos,
na ��poca, estavam querendo majorar as tarifas, que j�� es-
tavam a Cr$ 1,20 ou Cr$ 1,50, e o Deusmar garantia que
cobraria o IPTU todo de Fortaleza a 0,30 centavos. Basi-
camente um quinto do que os bancos cobravam. Amiu-
damos a conversa e marcamos nova reuni��o na qual defi-
nimos nossa estrat��gia.
Deusmar disse: 'N��s oferecemos um contrato, um
conv��nio D+2' (na linguagem banc��ria D+2 significa que,
no dia do pagamento, quem recolhe fica mais dois dias
com o dinheiro. E ele s�� queria isso. Os bancos eram D + l .
Recebia do contribuinte hoje e, no dia seguinte, repassa-
va o dinheiro para a prefeitura. Deusmar queria D+2. Ele
ficava com toda essa massa de recurso, que era alimenta-
da permanentemente por dois dias, e, logicamente, pega-
va esse dinheiro e aplicava no overnight).
Fizemos o conv��nio, acrescentando uma pondera-
����o: 'Olha, Deusmar, como se trata de um ��rg��o p��blico
e n��o de uma empresa privada, isso requereria at�� uma li-
cita����o. Mas �� poss��vel sem licita����o, desde que voc�� ofe-
re��a uma fian��a pessoal'. 'N��o tem problema', disse ele.
Fizemos um contrato com a pessoa jur��dica do Gru-
po Pague Menos e ele e a esposa entraram como fiadores,
1 9 7
J U A R E Z L E I T �� O
garantindo a opera����o. Cadastramos todas as m��quinas
autenticadoras da Pague Menos, quer dizer, qualquer ou-
tra autentica����o ou qualquer papel que fosse recebido e
n��o tivesse o n��mero daquelas m��quinas n��o seria rece-
bido. E um detalhe. Eu fui �� Associa����o dos Bancos e co-
muniquei ao presidente Jos�� Afonso Sancho. Antes disso
mantive contato com a Secretaria da Fazenda, Telemar,
Coelce, Cagece e formei essa parceria. �� reuni��o com-
pareceram representantes da Cagece, Coelce e Telemar.
Na Associa����o dos Bancos nos ironizaram. A Pre-
feitura vai correr um risco desses? Deixar de recolher na
Rede banc��ria para recolher em uma empresa privada?
Vem calote a��, na certa'. Eu disse: 'Eu confio no empres��-
rio. Sei que �� uma pessoa id��nea e, al��m da pessoa jur��-
dica, com a qual estamos celebrando o contrato, tamb��m
tem a fian��a dele como pessoa f��sica. Dele e da esposa'.
E eles disseram: 'Podemos saber quanto?...' E eu disse:
'Ele vai cobrar um quinto do que voc��s est��o cobrando'.
'Mas isso �� um absurdo. N��o vai cobrir nem os custos
dele'. Retruquei: 'Olha, o neg��cio j�� est�� fechado. Ele vai
recolher o IPTU. N��s vamos fazer o conv��nio. Ali��s, j��
est�� pronto'.
Tirei o conv��nio da pasta e mostrei. Eu sei que fo-
mos ousados em assumir isso, mas deu tudo certo. O ho-
mem honrou o compromisso assumido".
Assim tem sido a voca����o da Pague Menos. A vo-
ca����o de surpreender. Aquele passo foi decisivo em sua
escalada, pois, a partir dali, mais do que receber contas
198
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
diversas, montava a base da ascens��o que levaria o ou-
sado menino de Amontada a figurar no rol dos homens
mais ricos do Brasil, segundo a Revista Forbes de agosto
de 2013.
199
15
RISCO DE VIDA
"No meio do caminho tinha uma pedra.
Tinha uma pedra no meio do caminho."
Carlos D r u m m o n d de A n d r a d e
"N��o fez Deus a quem desamparasse."
Padre M a n o e l Bernardes
Os anos 90 tiveram import��ncia significativa na
evolu����o da Pague Menos. Tudo parecia mar-
char dentro dos sonhos de Deusmar, talvez at��
com o registro de ultrapassagens, pois alguns fatos esta-
vam chegando antes do esperado.
Em outubro de 1993, a empresa rompeu os limites
do Cear�� e instalou a primeira loja em Natal/RN. A marca
201
J U A R E Z L E I T �� O
Pague Menos encontraria campo f��rtil entre os rio-gran-
denses-do-norte, pois hoje ( 2 0 1 7 ) j�� s��o cerca de 40 lojas
no solo potiguar, empregando 800 colaboradores diretos.
Nesse mesmo ano, nascia a Pague Menos Manipu-
la����o, com a produ����o de medicamentos e cosm��ticos
obtidos pelo processo artesanal da mistura de ess��ncias
em dosagens certas, como faziam os antigos botic��rios
do porte de Ant��nio Ferreira, o c��lebre farmac��utico e
intendente que hoje d�� nome �� pra��a s��mbolo da capital
do Cear��, a Pra��a do Ferreira.
Em 1997, nascia o Encontro de Mulheres Pague
Menos, que, j�� em sua 1 1 a edi����o, �� o maior evento femi-
nino do pa��s.
Em 1998, a Pague Menos torna-se a primeira em-
presa privada nordestina a adotar um munic��pio no Pro-
grama Alfabetiza����o Solid��ria. A imagem da propens��o
idealista de apoiar os bons projetos sociais come��ava a se
firmar e se acentuaria com o correr do tempo.
O Fundador andava feliz. Suas lojas se espalhavam
pelo Nordeste e, logo mais, estariam presentes em todo
o pa��s. Seus sonhos, por��m, eram cada vez mais amplos
e neles cabiam muitos outros alcances, muitas outras nu-
merosas conquistas.
Inquieto e bravio, n��o tinha tempo para cuidar
da sa��de. Sertanejo t��pico, glut��o e sem preocupa����es
com a qualidade alimentar, em mat��ria de comida der-
rubava o que aparecesse �� sua frente, sem traumas e
sem pondera����o.
202
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Um dia, em 2 0 0 0 , Deusmar acordou indisposto.
Sentia uma dor no peito e certa dificuldade para respirar.
N��o disse nada a Auric��lia, achando que fosse coisa pas-
sageira. Entretanto, a dor come��ou a crescer e a respira-
����o foi ficando mais dif��cil, n��o lhe restando alternativa
que n��o fosse comunicar �� esposa o inc��modo por que
estava passando. Lembrara-se que tivera uma gripe, re-
centemente, e aquilo talvez fosse rescaldo dela.
Sergio Mena Barreto, Gerente de RH e Marketing
da Pague Menos em 2 0 0 0 , conta que, certa manh��, estava
em sua sala quando entra o patr��o. Entrou, deu duas vol-
tas pela sala e saiu. Barreto estava numa liga����o e, assim
que terminou, viu que perdera a oportunidade de receber
alguma comunica����o de Deusmar. Alguns minutos de-
pois, estando em outra liga����o, novamente entra o che-
fe, que d�� outra meia-volta e sai. Entraria uma terceira
vez e, ent��o, sentou-se para dizer que estava empachado,
com uma sensa����o de est��mago cheio. "N��o seria ��lcera
ou uma gastrite brava?" - indagou o gerente. "N��o. Fiz
endoscopia recentemente e n��o deu nada no est��mago.
Hoje �� tarde vou fazer um exame. Acho que tenho algu-
ma coisa no pulm��o. Ando com dificuldade de respirar."
�� tarde, Auric��lia acompanhou o marido ao m��dico.
Examinado, n��o soube, o doutor, informar exata-
mente do que se tratava. E, como houvesse melhorado,
voltou para casa. No outro dia, a mesma coisa, a mesma
dor, o mesmo sufoco respirat��rio. Come��ou a ficar com
medo. Procurou outro m��dico. Mas, como se fosse uma
203
J U A R E Z L E I T �� O
brincadeira, assim que sa��a de casa, a dor se atenuava. O
segundo m��dico tamb��m n��o lhe tra��ou um diagn��stico,
mas um terceiro, quando j�� estava perdendo a cren��a na
Medicina conterr��nea, indicou-lhe uma tomografia tor��-
cica e uma radiografia de pulm��o.
Detectaram uma mancha estranha, que sugeria a
presen��a de ��gua na pleura, aquela membrana que en-
volve o pulm��o. Estava, possivelmente, ocorrendo um
derrame pleural.
O m��dico explicou que a pleura �� composta de
duas camadas: a pleura visceral, que �� a camada inte-
rior e fica colada ao pulm��o; e a pleura parietal, a cama-
da mais externa, que fica em contato com as estruturas
anat��micas ao redor dos pulm��es. Entre as duas camadas
encontra-se uma fin��ssima l��mina de l��quido que faz pa-
pel lubrificante, impedindo o atrito entre as duas cama-
das. �� o l��quido pleural. Quando essa subst��ncia come��a
a aumentar fora das medidas �� porque est�� havendo uma
anormalidade, um derrame.
A provid��ncia indicada nesse caso �� a toracocen-
tese, que �� a pun����o do l��quido pleural com uma agulha
introduzida atrav��s do t��rax entre as costelas, para se co-
lher entre 50 a 100 miligramas de material para exame.
Estava sendo atendido no Hospital S��o Carlos por
dois amigos m��dicos que indicaram um especialista para
fazer a tal pun����o e o paciente foi, ent��o, transferido
para o Hospital S��o Mateus, onde estava aquele que iria
realiz��-la.
204
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Recebendo anestesia local, Deusmar submeteu-
-se �� invas��o da agulha perscrutadora e, ao fim do pro-
cedimento, o examinador tentou tranquiliz��-lo: "Olha,
pelo que eu vi aqui, est�� tudo bem. Vamos fazer um
curativo, o senhor aguarda um pouco e, em meia hora,
estar�� liberado".
O m��dico saiu e Deusmar, que estava sentado na
cama, come��ou a passar mal. O mundo come��ou a rodar,
veio uma sensa����o de vertigem e a falta de ar voltou a se
manifestar com mais intensidade e de modo mais sufo-
cante. Apavorado, gritou pela esposa, que estava na sala
de espera, e disse-lhe que o mandasse acudir, rapidamen-
te, se quisesse salvar a sua vida. Mesmo se achando em
estado cr��tico comandou as a����es. Pediu que chamassem
uma ambul��ncia e o levassem urgentemente ao Hospital
Ant��nio Prudente, cujo dono, Dr. C��ndido Pinheiro, era
seu conterr��neo de Amontada. Ademais, tinha um plano
de sa��de expedido por aquele hospital e, com certeza,
seria muito bem assistido por uma equipe m��dica de co-
nhecidos e em quem confiava inteiramente.
Chegou ao Hospital Ant��nio Prudente com dores
agudas no peito e, submetido �� nova bateria de exames,
constatou-se que ocorrera um acidente por ocasi��o da
pun����o: a perfura����o de um vaso, com consequente he-
morragia interna que invadia o pulm��o.
Diante do quadro de risco de vida, os m��dicos he-
sitaram em operar Deusmar e aconselharam a fam��lia a
lev��-lo a S��o Paulo com o m��ximo de urg��ncia poss��vel.
205
J U A R E Z L E I T �� O
Era preciso contratar uma UTI a��rea e a ��nica do
Cear�� naquele tempo era a da UNIMED, que n��o estava
dispon��vel, pois se encontrava em opera����o fora do es-
tado. Restava apelar para Recife, contatando o Weston
T��xi A��reo, que tinha um servi��o aerom��dico, equipado
com UTI e profissionais treinados para atendimentos
de urg��ncia.
Os executivos mais pr��ximos mobilizaram-se para
salvar o chefe, pois percebiam que a situa����o era s��ria.
Armando Caminha e Mena Barreto acionaram as provi-
d��ncias, iniciando uma batalha contra o tempo.
Nesse momento, entram em cena as amizades. In-
formado da situa����o, o empres��rio J��lio Ventura Neto
p��s em a����o toda a sua influ��ncia, conseguindo a UTI da
Weston para aquela mesma noite e uma vaga no Hospital
Albert Einstein, em S��o Paulo.
O jatinho da Weston partiu de Fortaleza ��s 22h30,
chegando a S��o Paulo ��s duas horas da madrugada daque-
le dia 4 de mar��o de 1999. Deusmar sangrava por dentro
desde as 14h do dia anterior, quando, ao se submeter ��
pun����o, fora acidentado. Durante o voo, o bal��o de oxi-
g��nio deixou de funcionar e o doente ficou se acabando
com falta de ar, tentando sugar, desesperadamente, o que
sa��a dos respiradouros da aeronave. Sergio Mena Barre-
to, que acompanhava o doente, viu que Deusmar estava
piorando e perguntava a todo momento quantos minutos
separavam aquele avi��o do pouso em S��o Paulo. Falta-
vam ainda 50 minutos.
206
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Mas, em S��o Paulo, ocorreu outra complica����o. O
aeroporto de Congonhas, alegando um motivo qualquer,
negava a autoriza����o de aterrissagem ao jatinho da Wes-
ton. Novamente, foi preciso recorrer ao bem relacionado
Julinho Ventura, que, por interm��dio do ent��o senador
Romeu Tuma, obteve a permiss��o requerida. Deusmar
estava no limite da sobreviv��ncia.
Deu entrada no hospital ��s duas e pouco da manh��.
Atendido pelo Dr. Ribas Milanez e pela Dra. Car-
mem Valente Barbas, foi operado com ��xito e est�� a�� para
contar esta mirabolante hist��ria.
Depois �� que se soube que passara por outro vexa-
me ��s sete horas, quando, durante ou logo ap��s o proce-
dimento cir��rgico, o cora����o quis baquear. Mas ele sal-
tou mais esse abismo e chegou �� outra ribanceira.
Quando a batalha contra a morte foi vencida, os
m��dicos revelaram �� esposa: "Na Medicina n��o h�� expli-
ca����o para ele estar vivo. Este aqui n��o morre nem a pau.
�� um fen��meno".
Ao ouvir, depois, essa confiss��o, Deusmar pergun-
tou a Auric��lia: "E, ent��o, quantas promessas fez"?
Ela respondeu, cheia de sinceridade: "A mais leve
foi a de irmos, a p��, de Fortaleza a Canind��, agradecer a
S��o Francisco".
Garantem os dois que cumpriram o que promete-
ram ao santo.
207
16
A AMPLIA����O DE
SERVI��OS PAGUE
MENOS
"Posso dizer: Preparado
estou para atravessar
agora mesmo estas ��guas.
Viajei sempre na proa,
n��o sou homem de por��o.
Thiago de Mello,
p o e t a a m a z o n e n s e ( 1 9 2 6 - )
medida que evolui como empresa, a Pague Menos
vai assumindo outras responsabilidades e oferen-
do aos seus clientes variadas op����es de servi��os.
209
J U A R E Z L E I T �� O
Mirella Correia Reis Rapetti, psic��loga por forma-
����o e, hoje, no setor de Marketing, como Coordenado-
ra de Eventos, do alto de seus dezesseis anos de Pague
Menos, sabe tudo sobre a evolu����o da empresa, especial-
mente do que lhe diz respeito como fun����o.
Ela, que passou por v��rios setores, come��ou como
estagi��ria de Psicologia. Portou-se certamente com com-
pet��ncia e, como ocorre nesses casos, qualificou-se para
a inclus��o no quadro de funcion��rios. Esteve no setor
de Recursos Humanos e no Departamento de Expans��o,
quando p��s o p�� na estrada abrindo lojas por esse Brasil
afora. Fala de seu trabalho de modo apaixonado, vibran-
do com todos os lances vitoriosos da Pague Menos e tam-
b��m da personalidade de seu fundador, por quem nutre
uma admira����o mitol��gica:
"Conheci o Dr. Deusmar Queir��s nos corredo-
res da Pague Menos, em pleno exerc��cio de comando
direto, misturado aos colaboradores. Ele �� uma pessoa
muito presente na empresa, apegado ao trabalho, com
uma disposi����o sem limites. Lembro-me de um s��bado,
a gente trabalhando, e ele falando com os filhos ao tele-
fone: 'Onde �� que voc�� est��?' - perguntaram os filhos. E
ele respondeu: 'Estou na empresa que paga meu sal��rio,
trabalhando'.
E �� assim mesmo. Se est�� em Fortaleza, no s��bado,
o patr��o vem para a empresa, olhar o seu neg��cio, ver se
est�� tudo em ordem, manter contatos pela Internet com
outros estados, enfim, trabalhar".
210
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Mirella fala do dinamismo do chefe. De como pro-
cura sempre trazer inova����es para adaptar a empresa ��
contemporaneidade. Nunca se acomoda, nunca se deixa
chumbar no mesmo ponto. Est�� sempre um passo �� fren-
te dos outros:
"N��s j�� passamos por v��rias gera����es de lojas. Dr.
Deusmar tem, no seu DNA, esse esp��rito inovador, essa
coisa de se jogar na vanguarda do empreendedorismo.
Constantemente traz ideias de fora, sempre pensando
em como fazer diferente e melhor. Por isso, a inova����o
est�� dentro do trip�� filos��fico da Pague Menos: CONVE-
NI��NCIA, INOVA����O e CIDADANIA. Conveni��ncia, no
bom sentido. Tudo o que a gente faz tem que ser c��modo
para o cliente, tem que ter alguma inova����o e tem que ter
v��nculo com a defesa e o respeito do cidad��o. Ent��o, �� o
trip�� do cidad��o.
Veja como evolu��mos, desde a primeira farm��cia,
l�� no bairro Ellery. Fomos a primeira farm��cia a traba-
lhar 24horas, sem portas. Antigamente as farm��cias ti-
nham aquela janelinha para atender o p��blico. Na inova-
����o do Deusmar, ele disse: 'Eu quero uma loja sem porta'.
Naquela ��poca, a quest��o da seguran��a n��o era t��o
aguda como hoje em dia, e ele disse: 'Eu quero que todo
mundo entre na loja e tenha f��cil acesso a ela. N��o quero
nenhum impedimento'.
Ent��o, t��m lojas sem porta e funcionando 24 horas
por dia desde a d��cada de 1980. Depois apareceu o autos-
servi��o, com uma s��rie de op����es, como a revela����o de fo-
211
J U A R E Z L E I T �� O
tos, por exemplo. O pessoal vinha do Sul do pa��s e n��o acre-
ditava nisso. 'Voc�� vai aonde? Na farm��cia, revelar as fotos
das f��rias? Mas como?' Na Pague Menos havia esse servi��o.
Do mesmo jeito eram as contas. 'Mas s�� se paga
contas em banco?' 'N��o. Aqui, em Fortaleza, a gente tam-
b��m paga conta na Farm��cia Pague Menos'. Por causa
disso o Dr. Deusmar ganhou o pr��mio de Melhor Em-
preendedor do Ano e foi indicado para concorrer ao
pr��mio mundial nessa categoria, em M��naco, depois de
ganhar o nacional.
Foi com essa inova����o de servi��os banc��rios que
mudou a vida de muita gente. Foi assim. Mas ele j�� disse
que n��o foi f��cil. Come��ou recebendo ��gua e luz; depois
��gua, luz e telefone. Finalmente ��gua, luz, telefone e bo-
leto banc��rio. N��o foi f��cil, mas era uma coisa na qual
ele acreditava muito. E, ent��o, ele disse: 'Quero insistir
nisso. E deu certo'".
Outro servi��o especial: Drive Thru. As pessoas
n��o precisam descer do carro para comprar. A gente tem
loja desse modelo. Fica ali na Av. Santos Dumont, esqui-
na com Ildefonso Albano (Fortaleza). A pessoa encosta
o carro numa janela lateral, compra, faz o pagamento e
n��o precisa descer do carro. Comodidade. Espa��os. Lojas
dentro de lojas. Aqui est�� o Cantinho do Beb��. A m��ezi-
nha ou o paizinho chegam aqui e sabem que v��o encon-
trar tudo pr��ximo. Espa��o VIP Dermocosm��tico. N��o s��
mulheres, homens tamb��m est��o preocupados com o seu
bem-estar e sua apar��ncia. Ent��o, os produtos dermocos-
m��ticos est��o a�� para servi-los.
212
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
A informa����o institucional da Pague Menos expli-
ca o programa CLINIC FARMA, que, segundo Mirella Ra-
petti, �� a nova "menina dos olhos" do Dr. Deusmar:
"CLINIC FARMA AMPLIA PARA TODO O BRA-
SIL SERVI��OS E ATEN����O FARMAC��UTICA"
As Farm��cias Pague Menos, primeira Rede de va-
rejo farmac��utico presente em todos os estados e no Dis-
trito Federal, refor��am o compromisso com a popula����o
de todo o Brasil ao disponibilizar servi��os gratuitos de as-
sist��ncia farmac��utica em duas modalidades: o SAC Far-
ma e o Clinic Farma (sala de atendimento farmac��utico).
As Clinic Farma s��o salas, dentro das Farm��cias
Pague Menos, exclusivamente para presta����o de servi-
��os farmac��uticos, como acompanhamento do tratamen-
to prescrito pelo m��dico, revis��o da medica����o, esclare-
cimento de d��vidas, acompanhamento para clientes com
diabetes, hipertens��o, risco cardiovascular, asma e obe-
sidade, entre outras a����es. O atendimento, que �� gratui-
to, acontece individualmente em uma sala privativa, est��
aberto ao p��blico em geral.
O objetivo do Clinic Farma �� possibilitar um me-
lhor resultado do tratamento prescrito pelos m��dicos,
garantindo mais qualidade de vida ao paciente e contri-
buindo com a sa��de p��blica brasileira", explica a coorde-
nadora regional do Clinic Farma no Acre, Grace Rodri-
gues de Ara��jo.
Nas salas de atendimento farmac��utico da Rede
Farm��cias Pague Menos h�� ainda orienta����o em rela-
213
J U A R E Z L E I T �� O
����o a intera����es com outros rem��dios ou alimentos, me-
lhores hor��rios para a administra����o do medicamento,
esquema posol��gico, al��m de aferir a press��o arterial,
glicemia capilar para o controle de diabetes e tempera-
tura corp��rea.
O farmac��utico �� o ��ltimo profissional da cadeia
de sa��de ou mesmo o ��nico que o paciente aciona ap��s
a prescri����o m��dica, e a maioria dos clientes chega ��
farm��cia com muitas d��vidas. O Clinic Farma procura
orientar e, assim, garantir maior ades��o ao tratamento e
a melhoria do quadro de sa��de do paciente. Quando sen-
timos necessidade, recomendamos o retorno ao m��dico",
explica a coordenadora F��tima. Ap��s cada atendimento,
o paciente recebe uma declara����o do servi��o farmac��u-
tico prestado e um cart��o de acompanhamento, para que
ele possa levar para o m��dico ou outros profissionais de
sa��de que o acompanha.
O primeiro Clinic Farma iniciou em junho de 2014
em Fortaleza (CE) e hoje s��o centenas distribu��dos em
todos os estados. Desde o in��cio do projeto-piloto, foram
realizados milhares de atendimentos e servi��os farma-
c��uticos, especialmente orienta����es para portadores de
diabetes e hipertens��o.
O projeto foi regulamentado pela Resolu����o da Di-
retoria Colegiada (RDC) N�� 44 da Ag��ncia Nacional de
Vigil��ncia Sanit��ria (ANVISA) e da Lei N�� 13021, de 8
de agosto de 2014. Segue tamb��m recomenda����es e pro-
tocolos da Organiza����o Pan-Americana de Sa��de (OPAS)
214
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
e da Organiza����o Mundial de Sa��de (OMS) quanto ao uso
correto dos medicamentos e a contribui����o da sa��de p��-
blica, bem como, da legisla����o vigente.
Al��m dos postos do Clinic Farma, as Farm��cias
Pague Menos mant��m desde 2 0 0 0 tamb��m o servi��o
SAC Farma, ��nico no Brasil em opera����o 24 horas e
365 dias por ano.
O atendimento telef��nico �� realizado por uma
equipe composta por profissionais farmac��uticos e aca-
d��micos de Farm��cia, que orientam e tiram d��vidas do
consumidor relativas �� posologia, compara����o entre f��r-
macos, esclarecimento de d��vidas sobre gen��ricos, medi-
camentos controlados, contraindica����es, associa����es me-
dicamentosas, an��lise da compreens��o das receitas que
n��o est��o leg��veis ou d��vidas no tratamento prescrito."
Mirella complementa:
"E o que acontece ou por que �� importante o nosso
projeto? O farmac��utico pode revisar a cesta de medica-
mentos e indicar o seguinte: 'Olha, de manh�� voc�� toma
esse, mas, �� noite, voc�� toma esse outro. N��o tome os dois
juntos. Olha esse aqui, se voc�� sofre de gastrite, n��o �� bom
tomar antes da alimenta����o, mas depois...' Esse tipo de
coisa. E isso �� interessante. In��meras pessoas sabem que
t��m a doen��a, mas n��o t��m ades��o ao tratamento. Sabem
que precisam aferir a press��o constantemente para ter
um melhor tratamento, mas n��o fazem isso. Ent��o, a Pa-
gue Menos veio com essa inova����o para, justamente, cui-
dar melhor da sa��de do brasileiro. O farmac��utico n��o vai
215
J U A R E Z L E I T �� O
prescrever nada. O programa tem o objetivo de melhorar
a comunica����o entre paciente e m��dico. Assim como o
psic��logo n��o pode prescrever o tratamento, o psiquiatra
�� quem pode; o farmac��utico tamb��m n��o pode prescre-
ver, mas faz o acompanhamento. A gente v�� v��rias pres-
cri����es m��dicas orientando o paciente a ir at�� a Pague
Menos fazer a press��o, por exemplo, duas ou tr��s vezes
por semana. A gente v�� isso. Meu pai, que �� oftalmologis-
ta e trabalha aqui no centro, j�� me ligou v��rias vezes para
saber o endere��o. Ele manda seus pacientes para c�� para
aferir a press��o ou medir a glicemia porque um dos sinto-
mas da glicemia ��, justamente, a vis��o turva. Ele j�� manda
para c�� para ver como est�� a glicemia. Muitas pessoas me
disseram que nunca tiveram contato com exame de gli-
cemia. O exame capilar, que �� o mais simples de todos.
Por isso, os m��dicos mandam pacientes para c�� para ter
esse acompanhamento com o farmac��utico. Esse projeto
�� para a sa��de do brasileiro e �� inovador. A gente j�� viu
trabalho apresentado em Portugal com imagem do Clinic
Farma e da Pague Menos. Hoje, outras redes farmac��uti-
cas j�� est��o fazendo isso, mas quem come��ou fomos n��s".
Outras etapas, eventos e programas v��o marcando
a constante travessia da Pague Menos para o futuro. S��o
um universo de descobertas e atitudes, um arco imenso
de comportamentos econ��micos, administrativos, t��cni-
cos e socioculturais que vem das origens da empresa e
caminham com ela todo esse longo itiner��rio de trinta e
seis anos ( 2 0 1 7 ) .
216
17
CONGRESSOS E
CONVEN����ES
"O mundo est�� cheio de gente com
muita vontade de trabalhar, mas sem
vontade alguma de aprender."
Eric Messa, Prof0, da Faculdade de
C o m u n i c a �� �� o e Marketing da FAAP/SP
Uma das raz��es do crescimento da Pague Menos
�� o constante e persistente aprendizado. A em-
presa n��o se acomoda. Sempre est�� reciclando
seu corpo de funcion��rios, seus diretores, seus chefes de
departamento, em congressos e semin��rios.
H�� uma preocupa����o com o conhecimento, que,
seguindo o exemplo do fundador, deve ser de assimila-
219
J U A R E Z L E I T �� O
����o di��ria, pois o mundo muda a cada instante e requer
uma adapta����o imediata.
No decorrer do ano, a companhia faz v��rios en-
contros de forma����o e reciclagem profissional, apostan-
do na instrumentaliza����o mental de seus chefes como
condi����o de aprimoramento de desempenho e capaci-
ta����o para as conquistas din��micas da tecnologia e das
posturas contempor��neas.
Sabem os que dirigem a Pague Menos - �� frente, o
incentivador Deusmar - que o chamado bonde da Hist��-
ria passa com velocidade e n��o muitas vezes pelo mesmo
lugar. Ele �� o portador das novidades, o mensageiro dos
avan��os cient��ficos, o anunciador do futuro. E quem n��o
o toma certamente ser�� ultrapassado pelos fatos.
O mais importante desses eventos de atualiza����o
de conhecimentos e cruzamento de informa����es �� a
CONVEN����O ANUAL PAGUE MENOS.
Nela, os diretores-gerais, diretores e gerentes de
opera����es e chefes de setor de todo o Brasil, al��m de
receber completa informa����o sobre o estado econ��mi-
co, abrang��ncia geogr��fica e projetos de curto e m��dio
prazos, confraternizam-se, d��o depoimentos sobre seus
desempenhos, exp��em ideias e propostas, divertem-se,
assistem a shows art��sticos e palestras, recebem instru-
����es funcionais e celebram a vida numa verdadeira festa.
Os conferencistas convidados s��o pessoas de des-
taque nacional, economistas, publicit��rios, jornalistas,
militantes do setor de varejo, entusiastas da vida, ven-
220
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
cedores que sa��ram do nada e conquistaram relevo no
mundo capitalista e outros fomentadores do entusiasmo
e da autoestima, desportistas campe��es e outros her��is.
Todos contando as suas experi��ncias e hist��rias de su-
pera����o conseguidas depois de muita luta e espinhosas
dificuldades, mas coroadas, finalmente, de ��xito, brilho e
reconhecimento p��blico.
Acompanhamos a Conven����o de 2017, realizada
entre 16 e 18 de fevereiro, no Hotel Gran Marquise, na
Avenida Beira-Mar, em Fortaleza.
Chegamos no segundo dia do evento, ��s oito ho-
ras, quando Deusmar Queir��s fazia a abertura dos traba-
lhos. O congresso daquele ano tinha como temas: FOCO,
FOR��A e F��.
Iniciando a sua palavra, o fundador dizia:
"Ontem n��s falamos sobre FOCO. Hoje, vamos fa-
lar sobre FOR��A e, amanh��, sobre F��. E uma das coisas
mais importantes que disse ontem foi baseada no filme
O Amor �� Contagioso. Dele, a li����o que ficou: por mais
FOCO que a gente tenha em vendas, n��o podemos ver
o nosso cliente apenas como n��mero. Isso ficou muito
claro ontem. Por mais que a gente queira bater todas as
metas de vendas, de abertura de lojas, faturamento e lu-
cro, n��o podemos ver o nosso cliente como uma refer��n-
cia fria, uma estat��stica. E n��o estava me referindo s�� ao
cliente externo, mas ao interno tamb��m.
Hoje vou falar sobre FOR��A.
H�� 36 anos sonhamos, inovamos e respiramos
porque acreditamos que temos Foco, For��a e F��.
221
J U A R E Z L E I T �� O
Um, em um milh��o dos que v��m ao mundo, nasce
para vencer e nada impede que esse vencedor seja voc��.
Acreditam? Eu n��o diria um milh��o. 999.000. Mas n��o ��
f��cil. E nada impede que esse "um" seja voc��. Nada im-
pede. Coloque For��a e Foco no que voc�� quer e tenha F��.
Essa m��sica diz tudo o que a gente pretende dizer nesses
tr��s dias. A gente tem que acreditar... (m��sica 'Depende
de N��s', de Ivan Lins).
Ent��o, o que voc�� precisa ter? Foco, for��a, amor e
acreditar em voc��. Seja qual for a sua posi����o. Seja qual
for a sua religi��o.
Quantos podem contar uma hist��ria de supera-
����o? Contar que a condi����o deles, financeira, n��o era
boa e isso n��o os impediu de enfrentar os desafios e su-
per��-los. N��o estou dizendo que eram humildes ou que
passavam fome. N��o importa o que voc�� estiver fazendo
(fez ou faz). O seu esfor��o pessoal pode mudar a reali-
dade. S�� voc�� pode mudar sua condi����o e tecer o seu
destino. Acontece alguma coisa. Ganha na Loto. Isso n��o
acontece todo o dia. O que quero dizer �� que voc��, com
seu esfor��o, pode evoluir e ascender para outros pata-
mares da vida. Aqui, na Pague Menos, colocando for��a,
foco e f�� e vindo para nossas conven����es, tem oportu-
nidade de ver que a cada ano a gente procura crescer e
se atualizar, trazendo o que h�� de mais moderno para
aplicar em nosso neg��cio, fazendo o que �� preciso para
acompanhar o progresso do tempo e o desenvolvimento
de nossa empresa.
222
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Na minha juventude, eu trabalhava catorze horas
por dia na IBM. E o sujeito, ao ouvir isso, dizia: 'Mas que
loucura! N��o dormia e ainda estudava'?
��, meus amigos, eu ia para casa morto de cansa-
do. Minha m��e, um dia, quando o carro da IBM foi me
buscar, mandou o motorista embora: 'Olha, ele n��o vai,
porque est�� esgotado'.
Eu delirava. Passava a noite mandando as pesso-
as fazerem qualquer coisa. N��o dormia direito. Dormia
quatro horas. Eu queria ganhar dinheiro para comprar as
coisas com que sonhava. Eu tinha um objetivo, um foco,
e n��o tinha dinheiro nem havia ningu��m da minha fa-
m��lia para me dar o que eu precisava e que eu achava
necess��rio ter.
Em 1967 eu fazia o censo educacional na IBM.
Altamente exigente comigo mesmo, trabalhava duro ao
mesmo tempo em que estudava das sete ��s dez da noite.
Comecei a ganhar melhor. Para meu n��vel, de segundo
grau ainda, ganhava um sal��rio maravilhoso.
Ideias. Os avan��os tecnol��gicos saem de ideias.
N��s temos, precisamos ter for��as para p��r essas ideias
em pr��tica. Estamos ricos de ideias. Mas temos que co-
loc��-las em pr��tica. Nosso objetivo �� este: trazer voc��s
para escutar o que estamos fazendo, as ideias que temos
e vamos, com certeza, realizar. Gra��as a Deus tudo o que
a gente pensa, mais cedo ou mais tarde, a gente p��e em
pr��tica. Somos, repito, ricos de ideias.
223
J U A R E Z L E I T �� O
Vejam tudo o que pensamos e conseguimos apli-
car: sonhamos em colocar lojas 24 horas sem portas e
colocamos. Come��amos a vender sorvete quando nin-
gu��m vendia. E tamb��m biscoito, Coca-Cola, chocolate...
Pensamos e fizemos. Sonhamos em conquistar o Brasil,
conquistamos. Nenhuma Rede do Brasil, at�� hoje, est��
presente em todos os estados da Federa����o. N��s estamos.
Loucura? N��o. Foco e For��a em uma ideia. Quando voc��
p��e for��a em uma ideia, a natureza trabalha a seu favor.
Voc�� tem que ter disposi����o. Concentrar energia para
isso. Quando voc�� quer, consegue energia. Consegue a
sua vontade.
Aqui est��o as suas outras fam��lias. Essa fam��lia
aqui. A fam��lia dos funcion��rios. A dos clientes. A fam��lia
brasileira. Isto �� a For��a da fam��lia. A sua lhe ajudando.
Voc�� ajudando a sua.
Vou repetir o que disse ontem: na p��gina 178 - se
n��o me engano - do Livro Sonho Grande, de Cristiane Correa, que faz a biografia de v��rios empres��rios, dentre
eles, a de Jorge Paulo Lemann. L�� ele diz: 'Quando sua
esposa reclamar porque voc�� est�� trabalhando muito,
diga que est�� conquistando o conforto do futuro'. Ele,
um dos caras mais ricos do Brasil e do mundo, n��o sei se
est�� certo ou se est�� errado. Mas essa �� uma forma inte-
ligente de dizer para seu marido, para sua esposa, para
seu pai: 'Olha, pai, estou trabalhando muito, mas estou
fazendo o que gosto. Estou trabalhando muito mesmo.
Estou pegando o carro em Altamira, no Bico do Papagaio
224
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
(regi��o que inclui partes dos estados do MA, PI, TO e
BA), rodando 500 quil��metros, poeira, terra. Estou pe-
gando o carro ��s sete da manh�� e dormindo �� meia-noite,
mas sei por que estou fazendo isto. Estou investindo no
meu futuro e gerando riqueza por meio do pagamento de
sal��rios e impostos'.
A hist��ria dos que venceram n��o �� muito diferente
da nossa. Todos os que triunfaram na vida se entregaram
ao trabalho, lutaram pelo que acreditaram, foram al��m
dos acomodados, dos pregui��osos, dos indolentes. Foram
fortes e firmes na busca de seus horizontes. Investiram
energia, sonhos, dedica����o e, por isso, venceram. Vamos
imitar a hist��ria dos vencedores e n��o adotar as descul-
pas dos que fracassaram".
Nesses congressos, as hist��rias de vida, contadas
pelos mais experientes, s��o importantes li����es para os
outros, para os mais recentes na empresa.
O Fundador nos explica que um bom n��mero dos
que est��o ali trabalham h�� vinte, trinta anos na empresa.
N��o tem esse neg��cio de alta rotatividade, n��o. Os que
s��o bons ficam e fazem carreira profissional ascendente.
O crit��rio �� a compet��ncia, aliada �� disciplina no traba-
lho, �� dedica����o nas miss��es e ao foco nos objetivos.
E nos aponta alguns veteranos: o Fl��vio, o Od��sio,
o Jucely, o Francisco...
Fomos em busca das hist��rias.
Francisco Fl��vio Ferreira �� Gerente de Opera����es
Fortaleza/Rio Grande do Norte/Piau��/Interior do Cear��:
225
J U A R E Z L E I T �� O
"Sou natural de Itarema, pr��ximo de Amontada, a
terra natal do Deusmar. Toda a minha hist��ria profissio-
nal �� em farm��cia. Em 1981 fui convidado para trabalhar
na Pague Menos. Naquele momento eram apenas duas
lojas. Entrei para trabalhar na loja da Avenida da Aboli-
����o, em Fortaleza. Fui indicado por um amigo e o meu
primeiro encontro com o Deusmar foi na loja.
Na ��poca ele visitava assiduamente as lojas. Ainda
n��o tinha o Ubiranilson como s��cio. Eu comecei como
vendedor. Naquele momento eu n��o tinha condi����es
nem almejava crescer na empresa, at�� porque era uma
empresa que estava no mercado h�� pouco tempo. Eu
pensava assim: 'Vou passar um ano como experi��ncia'.
Mas o Deusmar tinha uma proposta muito alta. Depois
de algum tempo como vendedor fui promovido a gerente
da loja.
A Pague Menos nasceu em 19 de maio de 1981
e eu comecei a trabalhar nela no dia Io de outubro de
1 9 8 1 . E fui galgando outros degraus. Comecei, como dis-
se, vendendo no balc��o e passei a gerente de loja. Depois
fui transferido para outra loja. Assumi o cargo do super-
visor. Passei a trabalhar na matriz. Em v��rios cargos. E
tive uma ascens��o grande at�� chegar, hoje, a Gerente de
Opera����es.
O Gerente de Opera����es trabalha com vendas.
Hoje, sob meu comando, tenho todo o estado do Piau��
com suas 30 lojas e uma parte do Cear��: Sobral e tr��s Re-
gionais em Fortaleza. Normalmente passo uma semana
226
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
em Fortaleza e outra fora. Tenho acesso livre da Presi-
d��ncia at�� os Servi��os Gerais. Fico nesse meio de campo.
Tenho um chefe, que �� o Diretor de Opera����es. Mas a
gente faz de tudo. Voc�� participa das sele����es das pesso-
as, d�� treinamento, trabalha na venda. Esse �� o nosso dia
a dia.
Todo mundo aqui me conhece. Tem gente que diz
assim: 'Rapaz, como �� que tu passas 36 anos em uma em-
presa s��?' Mas eu gostei da empresa. Gostei do fundador.
Identifico-me muito com ele. Ele �� muito transparente.
Essa rela����o com o fundador tem sido uma inspira����o
para mim. Sinto confian��a, vejo lealdade e, por isso, visto
mesmo a camisa da empesa.
Para mim, Deusmar �� um grande l��der. Eu leio
muitos livros de pensadores, pessoas de sucesso, vejo
as hist��rias dos grandes vencedores. Pois eu conhe��o
um vencedor de perto. Uma pessoa que eu vi crescer e
vencer como empres��rio. Voc�� agora vai contar a hist��-
ria dele num livro, mas n��s j�� sabemos essa hist��ria h��
muito tempo. Eu convivo com ele. Essa �� a diferen��a. Do
tempo em que o conheci at�� agora, ele �� o mesmo, alegre,
cordial com seus funcion��rios... Eu nunca vi o Deusmar
que n��o seja desse jeito. E isso a�� tem muita import��ncia
numa conviv��ncia de longo prazo. �� uma qualidade que
voc�� n��o imagina. Ali��s, uma das raz��es do sucesso do
Deusmar �� essa empatia que ele tem com seus auxiliares.
Essa coisa dele chegar �� loja e falar com todo mundo. Isso
encanta as pessoas.
227
J U A R E Z L E I T �� O
Agora, ele �� rigoroso na cobran��a. Ele quer resul-
tado.
Existe todo um trabalho de cobran��a, de acompa-
nhamento. Tem que estar no DNA da gente gostar do que
faz. Tem que ter muita for��a e vontade de fazer as coisas.
Para mim, por exemplo, n��o tem esse neg��cio de hor��-
rio. Meu trabalho �� o outro nome de minha casa".
O Gerente de Opera����es Francisco Fl��vio �� casado
com Sueli Mangeth. Amor constru��do dentro da Pague
Menos. Conheceram-se ali, namoraram e casaram, com
o aval do fundador.
O depoimento de Sueli �� muito importante pelas
informa����es que cont��m sobre os prim��rdios da empre-
sa com o relato de passos importantes desse empreendi-
mento constru��do, tijolo por tijolo, com sangue no olho.
"Meu nome �� Sueli Mangeth Ferreira. Nasci na
cidade de Maranguape e, ainda pequena, nos mudamos
para Fortaleza. Meu pai tinha neg��cios na Capital. Entrei
na Pague Menos em agosto de 1990. Entrei no caixa. Era
operadora caixa. Em menos de dois meses fui escolhida
para fazer um trabalho: arrumando loja. Era um servi��o
que o Deusmar tinha comprado fora. Um servi��o de ges-
t��o de estoque e layout de loja. Foi uma mudan��a muito
grande na ��poca e n��o tinha equipe para fazer. Ele mes-
mo era o l��der da equipe. Eu via, muitas vezes, dona Au-
ric��lia ajudando no trabalho. Esse trabalho era uma no-
vidade no in��cio. Tanto para o estado e o mercado como
para os funcion��rios.
228
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Comecei a trabalhar com estoque. Depois fui cha-
mada �� sala do Dr. Deusmar. Eu estava fazendo um tra-
balho bom. Sempre tive jeito nessa ��rea, de layout. Fui
conversar com ele. Trabalhei diretamente com ele du-
rante muitos anos. Dr. Deusmar era muito envolvido
com a disposi����o do estoque, com a apar��ncia das lojas.
Ele trabalhava com a gente. Arrastava g��ndola e colocava
balc��o. Uma vez fomos trabalhar em uma loja do centro.
Acho que ficava na Liberato Barroso. Dr. Deusmar tirou a
camisa e se p��s a trabalhar no pesado. N��s outros, vendo
o exemplo, nos esfor����vamos mais.
A gente quase n��o tinha perfumaria. Ele comprou
um sistema de autosservi��o junto com o sistema de ges-
t��o de estoque. Nesse autosservi��o a gente ia trabalhar
com perfumaria em g��ndolas. A gente tinha que transfor-
mar a loja toda. A loja fechava durante um ou dois dias.
Mudava toda a apar��ncia. Botava g��ndolas e arrumava a
mercadoria. Tudo por ordem alfab��tica. O layout da loja
ele fazia com a gente. A gente foi se acostumando com a
velocidade dele. Ele influenciou muito na forma como eu
trabalho hoje. Ele �� muito r��pido. Tinha um pensamen-
to muito acelerado e a gente tinha que acompanhar essa
velocidade. Ele �� uma pessoa muito bacana, mas �� muito
cobrador. Ele quer empenho e frutos no trabalho.
Pois, ��. Aquele Fl��vio, que me recebeu de forma
t��o dura, hoje �� meu esposo. S��o os milagres da Pague
Menos".
229
J U A R E Z L E I T �� O
Circulo pelos espa��os da Conven����o e s�� vejo ale-
gria e trabalho por toda a parte. Em cada audit��rio, um
palestrante, uma exposi����o de desempenho, uma apre-
senta����o de projeto a ser aplicado. Em cada pessoa uma
hist��ria de trabalho e progresso pessoal advindo desse
trabalho.
Algu��m, com jeito de intelectual e de quem n��o
anotei o nome, me diz que considera a Pague Menos um
pa��s, uma na����o. A Na����o Pague Menos - proclama euf��-
rico. E prossegue:
"O que caracteriza uma na����o �� o fato de possuir
um territ��rio, falar a mesma l��ngua e ter um mesmo sen-
timento. E a Pague Menos possui tudo isso. Possui um
territ��rio de atua����o, que �� o Brasil todo. Uma mesma
linguagem, que s��o os objetivos. E um sentimento entra-
nhado de amor �� empresa. Uma coisa quase japonesa �� o
que se v�� aqui na Pague Menos na rela����o entre os fun-
cion��rios e a empresa. No Jap��o, os funcion��rios chegam
a brigar nos bares e a cantar o hino da empresa quando
encontram um concorrente".
Vou atr��s de mais hist��rias e encontro outro casal.
Outro amor edificado na Pague Menos pela conviv��ncia.
Converso com o Carlos e a Renata.
"Sou o Carlos Freitas. Tenho 48 anos e 27 de Pa-
gue Menos. Antes trabalhava em uma drogaria pequena.
Mas tinha o sonho de trabalhar em uma empresa gran-
de. Meus amigos trabalhavam em grandes empresas e, de
vez em quando, est��vamos comemorando a promo����o de
230
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
um deles. Eu dizia: um dia vou entrar em uma empresa
de porte. Ent��o, tive a sorte de trabalhar na Pague Menos.
Entrei como vendedor.
Sou de Sobral, do distrito de Taperuaba. Tr��s me-
ses depois de entrar na Pague Menos fui convidado para
ser gerente de uma loja. Aceitei. Entrei na loja 35, de
Caucaia, no dia 1o de outubro de 1 9 9 1 . Fui gerenciar a
loja da Mozart Lucena, no bairro de Nova Assun����o. Eu
estava em uma reuni��o e o doutor Deusmar falou que ia
abrir uma loja em Messejana. Naquela ��poca eu morava
em Messejana. Eu me candidatei para ser gerente daque-
la loja e o meu gerente disse o seguinte: "N��o sei se vai
dar para voc��, porque a loja vai ser muito grande".
Vinte e dois meses depois, ele disse: "Carlos, a loja
vai abrir. Voc�� vai querer? Pois v�� para l��, amanh��, que
v��o montar a loja".
Depois de um ano e meio fui gerenciar outra loja
no Shopping Iguatemi e, quando estava l��, com tr��s me-
ses, fui chamado para participar de uma sele����o para su-
pervisor. Gerente Regional. E fui selecionado.
Um dia a gente estava em uma reuni��o para mudar
de ��rea. O Dr. Deusmar abriu a porta e o Jucely, que era
o coordenador da ��poca, falou: 'Doutor, vamos mudar as
��reas aqui, o senhor quer falar alguma coisa?' Ele disse:
'Quero. Deixa o Carlos de fora, que segunda-feira ele vai
para S��o Lu��s do Maranh��o'. Eu n��o sabia nem onde fica-
va S��o Lu��s. Depois fui falar com ele e Dr. Deusmar me
disse: 'Estamos montando uma loja em S��o Lu��s, voc�� vai
231
J U A R E Z L E I T �� O
para l��, o endere��o �� tal (me deu o endere��o). Na pri-
meira banca que tiver voc�� compra um mapa da cidade,
se localiza e vai para l��'. Sa�� daqui em um Fiat Uno e fiz
justamente tudo que ele mandou. Montamos a loja.
Quando est��vamos na quarta loja ou na terceira
em S��o Luiz, Dr. Deusmar me chamou para abrir a loja
de Recife. Fui para Recife. L��, o desafio foi maior. Isso
em 1997. Fora para S��o Lu��s em 1996 e, em 1997, para
Recife. Foi quando a Pague Menos implantou a comuni-
ca����o visual nas lojas. A primeira loja a gente montou e
desmontou quatro vezes para acertar.
A sele����o em Recife para contratar os funcion��-
rios foi feita em uma quadra de est��dio coberto, de tan-
ta gente que havia. Na ��poca o Sergio Mena Barreto era
quem comandava essa parte. Foram selecionados 12 ge-
rentes e o maior desafio de minha vida foi trabalhar com
esse pessoal contratado para a gente fazer uma expans��o
muito forte em Recife.
Passei tr��s anos em Recife. De l�� fui para Salva-
dor. Abrimos a primeira loja de Salvador no dia 30 de
dezembro de 2 0 0 0 . No dia 31 tinha aquele neg��cio de
bug do mil��nio e a loja era 24 horas. Eu me lembro que o
r��veillon neste ano foi na loja. A gente ficou a noite toda
nessa loja. O tal do bug passou e os computadores fun-
cionaram normalmente.
Em Salvador foi onde me separei. Conheci a Re-
nata. A gente come��ou a namorar. Tenho um filho com
minha primeira esposa.
232
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Passamos quatro anos em Salvador e fui convidado
para abrir a Regional de Curitiba, no Paran��. Os pontos,
naquela ��poca, eram decididos pelo Regional e Dr. Deus-
mar. A gente, depois que alugava, comandava a opera����o
para montagem. Lembro que, em Curitiba, t��nhamos tr��s
lojas prontas para abrir, mas tivemos um bloqueio des-
tinado a retardar nossa entrada l��. A gente com todas as
lojas prontas, mas n��o aprovavam as plantas nem os alva-
r��s. O poder p��blico emperrava a tramita����o. Acho que
estava sendo manipulado. A gente n��o entendia. Fazia
reuni��o com o Chefe da Vigil��ncia e nada. Eu tinha sete
velas de devo����o em casa. Todas acesas para que o Chefe
da Vigil��ncia Sanit��ria aprovasse a nossa solicita����o. To-
dos os dias rezava nessa inten����o.
Um dia Dr. Deusmar me telefonou: 'Carlos, voc��
est�� a�� e sabe que o seu sal��rio �� muito alto para n��o abrir
essas lojas'. Foi a�� que me lembrei de acender as velas. Fi-
nalmente, conseguimos abrir as lojas. Passei um ano em
Curitiba e fui chamado para comandar a Regional de S��o
Paulo, que j�� tinha sido inaugurada. Fui para S��o Paulo
em 2004. Foi um desafio muito grande tamb��m. Mas foi
muito prazeroso.
Deusmar �� um l��der que tem a virtude de reconhe-
cer o trabalho das pessoas. Ele ensina muito. �� como se
fosse um pai do tempo antigo, exigente e rigoroso. Mas
muito reconhecedor dos m��ritos e sempre pronto a nos
apoiar. Ele est�� junto da gente o tempo todo e sabe a hora
de cobrar".
233
J U A R E Z L E I T �� O
Renata Aguiar, a esposa do Carlos Freitas, conta a
sua hist��ria:
"Tenho 44 anos, sou pernambucana, fiz parte da
primeira turma de gerente trainee da Pague Menos. Eu
estava rec��m-formada. Sou formada em Administra����o
de Empresas. Nunca tinha assumido uma posi����o de ges-
t��o. Participei de uma sele����o bastante dif��cil capitanea-
da pelo Sergio Mena Barreto, a Magna e o Carlos. Quando
os doze gerentes foram escolhidos, passamos tr��s meses
entendendo a empresa em um ambiente bastante hostil,
porque os outros gerentes n��o tinham curso superior e
se sentiam amea��ados por essa nova onda de gestores.
Fui para Recife. Peguei a primeira loja 24 horas.
A sele����o foi feita l��, em Recife, doze gerentes foram se-
lecionados e trazidos para Fortaleza por tr��s meses. De-
pois voltamos para Recife com a miss��o de abrir a regio-
nal. Gerenciei a primeira loja 24 horas. Os outros doze
ficaram esperando a abertura das outras lojas. Elas foram
abertas em doze meses. Isso em 1999. Houve um proces-
so seletivo interno. Eu passei. Trabalhei como supervi-
sora. O Carlos j�� estava indo para Salvador. A gente era
colega de trabalho. Ele havia rompido o seu casamento
recentemente e a ex-mulher viera para Fortaleza com o
filho. Eu s�� descobri que gostava do Carlos quando ele
foi embora. Como era natural, precisava consult��-lo, de
vez em quando, pois ele havia sido o antigo gestor da Re-
gional. N��o existia essa estrutura de hoje. A gente ficava
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
muito sozinha. Muito isolada na Regional. A matriz mui-
to distante e voc�� era a pessoa que tomava conta daquilo
tudo. Eram quase quinze lojas e eu n��o tinha muita expe-
ri��ncia e ele era a pessoa que podia me ajudar nos pro-
blemas pela experi��ncia que tinha. Ent��o, num belo car-
naval, em Salvador, fui rever o amigo. Esse carnaval foi
t��o bom para n��s, que j�� dura 15 anos. Hoje temos dois
filhos. O filho do Carlos, mais velho, mora conosco, est��
com 19 anos. Temos a Lara e o Pedro. A Lara tem dois
anos. J�� era namoro de pessoas maduras e n��o tinha por
que ficar enrolando. Ou a gente decidia ou acabava. Eu
sa�� da Pague Menos porque a gente tinha a mesma fun-
����o em estados diferentes. S�� existia uma pessoa como
Gerente Regional por estado. E, para n��o ficarmos sepa-
rados, sa�� da Pague Menos. Fui para Salvador. Casamos.
Passamos tr��s anos em Salvador. N��o t��nhamos filhos
ainda. Recusava-me a trabalhar em outra farm��cia que
n��o fosse a Pague Menos. Passei a trabalhar com mate-
rial de constru����o. No fim de semana a gente montava a
loja, eu visitava as lojas com ele. Continuava respirando
Pague Menos. Quando ele foi para Curitiba, sa�� do meu
emprego. Passamos um ano l��. At�� que, em 2004, fomos
para S��o Paulo...
Em S��o Paulo, em 2 0 0 5 , a Pague Menos estava lan-
��ando o Cart��o de Fidelidade e, numa festa da empresa,
me encontrei com o Dr. Deusmar. Ele tinha acabado de
chegar em S��o Paulo e sempre se interessava em saber
235
J U A R E Z L E I T �� O
como �� que a gente estava. Eu, especialmente naquele
dia, estava muito triste. Havia participado de muitos pro-
cessos seletivos e n��o estava vendo resultado. Ent��o ele
perguntou se eu estava bem. E eu disse que n��o. 'Est��
com algum problema?' - perguntou ele, e eu disse que
estava desempregada. E ele: 'Por isso, n��o. Voc�� est�� em-
pregada'. 'Mas como assim, estou empregada?' Ele disse:
'Olha, vou lan��ar o Cart��o de Fidelidade e preciso de al-
gu��m para me ajudar nisso, voc�� topa?' Eu n��o perguntei
nem onde era. Disse que sim. No dia seguinte, o Deusmar
telefonou para o Carlos para ratificar o convite. Disse que
todo mundo estava dizendo que ele havia bebido muito
e, por isso, tinha feito o convite. Mas n��o era nada disso.
O convite estava mantido.
Ficamos treze anos em S��o Paulo. Hoje �� um dia
marcante para mim. Fomos transferidos para Fortaleza.
A Conven����o j�� �� nossa casa. N��o somos mais visita. Hoje
foi o primeiro dia de aula de meus filhos. Estou muito fe-
liz. Fortaleza, para mim, �� o c��u.
Posso dizer que o Dr. Deusmar tem sido uma pes-
soa marcante em nossas vidas. Um ser humano de grande
nobreza de alma e um constante inspirador de todos n��s.
Hoje sou uma mulher de 44 anos com tr��s filhos.
Eu tenho muita gratid��o. Tudo o que conheci e vivi foi
dentro desta empresa. Foi nela que conheci meu marido,
tive meus filhos e fiz uma carreira".
Naquela tarde, sa�� daquele congresso, pensando
com os meus bot��es:
236
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Fui chamado para contar a hist��ria de um homem
e de sua principal empresa. Agora j�� vou ter que escrever
sobre uma 'na����o', como t��o bem definiu a Pague Menos
e seu fundador um de seus diretores.
237
18
O ENCONTRO DE
MULHERES PAGUE
MENOS
"Que a beleza da mulher n��o esteja nos
enfeites exteriores, mas no interior, que
se forma na sabedoria e n��o perece."
1 P e d r o 3, 3
"Mulher: n��o crie limites para si
mesma. Voc�� deve ir t��o longe quanto
sua mente permitir."
Billie Jean King, tenista n o r t e - a m e r i c a n a
239
J U A R E Z L E I T �� O
Acentua-se cada vez mais a pol��tica de responsa-
bilidade social e cultural nas empresas. Cresce a
consci��ncia de que o papel social do empreen-
dimento privado deve estender-se para al��m das atribui-
����es de dar empregos, gerenciar com descortino o seu
neg��cio e cumprir suas obriga����es fiscais com o Estado.
�� preciso que o empresariado desempenhe uma a����o
mais ativa na sociedade e colabore, tamb��m no campo
sociocultural, para seu desenvolvimento.
Ao patrocinar projetos culturais, a empresa se di-
ferencia das demais a partir do momento em que assume
diante do meio em que atua valores de grande import��n-
cia para a sociedade, como o reconhecimento da tradi-
����o, o apoio ��s conquistas da modernidade, o est��mulo
�� compet��ncia e �� criatividade, ampliando de um modo
cativante a comunica����o com seu p��blico-alvo, a quem
repassa a imagem de que, al��m de seus objetivos de lu-
cro, est�� tamb��m preocupada com outros interesses pre-
ciosos da comunidade.
240
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
A Pague Menos entendeu muito cedo os benef��-
cios da pol��tica cultural. E investiu - como temos visto
em outras passagens deste relato - em diversos progra-
mas de lazer, estudo e aprimoramento f��sico e cultural,
como o Nossa Gente Nossa Arte, o Concurso Liter��rio,
as campanhas Cidade Verde e Bichinhos do Brasil, o Cir-
cuito de Corridas e outros mais.
A partir de 1997, a empresa decidiu realizar um
evento nacional de grande vulto para homenagear as mu-
lheres, num reconhecimento l��cido das raz��es de defesa
da igualdade de g��neros e por absoluta consci��ncia e acei-
ta����o das conquistas femininas no mundo contempor��neo.
O ENCONTRO DE MULHERES PAGUE MENOS
�� o maior evento feminino do Brasil. Foi idealizado por
Sergio Mena Barreto, na ��poca Diretor de Marketing da
empresa. Hoje, ocupando a relevante posi����o de Presi-
dente-Executivo da Associa����o Brasileira de Redes de
Farm��cias e Drogarias - ABRAFARMA, relembra o ins-
tante em que gestou a ideia do famoso conclave:
"Vi que a empresa precisava, naquele momento,
de um salto qualitativo que a distinguisse das demais e
granjeasse mais apoio da sociedade, principalmente, no
p��blico feminino. Engendramos a coisa e depois �� que
vimos o quanto de trabalho e dedica����o era preciso dis-
pender para dar certo. Foi um sucesso imediato e logo
abra��ado pela sociedade cearense. �� sempre assim: du-
rante meses, n��s, os organizadores, ficamos queimando
as pestanas, pensando em todos os detalhes para fazer de
241
J U A R E Z L E I T �� O
cada momento do Encontro de Mulheres Pague Menos
algo ��nico, especial e inesquec��vel. E o resultado qual-
quer um pode ver. �� esse amor que passa de cora����o pra
cora����o e faz desse evento o maior do pa��s: passar pelos
corredores e ouvir, de v��rias daquelas 20.000 mulheres,
que o evento �� a melhor coisa que acontece nas suas vi-
das, n��o tem pre��o" - conclui o executivo.
Patriciana Rodrigues, Diretora de Compras e
Marketing das Farm��cias Pague Menos, �� outra persona-
lidade portadora do grande entusiasmo pelo congra��a-
mento, comandando sua realiza����o e motivando os par-
ceiros para, com empenho redobrado, repetir e aumentar
o sucesso do monumental encontro:
"Tenho um carinho muito especial por esse pro-
jeto. �� emocionante ver que conseguimos transformar
nosso trabalho e dedica����o em momentos especiais, que,
com certeza, fazem a diferen��a na vida de milhares de
mulheres. �� compensador ver o sorriso estampado no
rosto de cada uma das que participam. �� maravilhoso tes-
temunhar a felicidade sentida e proclamada de vinte mil
mulheres reunidas no mesmo espa��o".
Fomos testemunhas do 11�� ENCONTRO DE MU-
LHERES PAGUE MENOS, realizado nos dias 2 1 , 22, 23 e
24 de julho de 2 0 1 6 , no Centro de Eventos do Cear��.
O evento ofereceu uma diversificada programa-
����o, que inclu��a palestras, shows, oficinas, espet��culos
teatrais e um enfoque central, sob uma linha de provoca-
����o positiva: PENSAR, MUDAR e EMOCIONAR. Suscitar
242
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
a consci��ncia das mulheres de seu empoderamento e da
valoriza����o dos seus m��ltiplos pap��is na sociedade.
O encontro reuniu mais de 20 mil mulheres de
todo o pa��s, no momento em que a Pague Menos come-
morava o marco de seus 35 anos.
Dobrando o n��mero de participantes do encontro
anterior, a edi����o de 2 0 1 6 foi - pela opini��o geral - a
melhor da hist��ria da Pague Menos, atraindo a presen��a
da m��dia em propor����o soberba e obtendo repercuss��o
nacional. O encontro teve estandes de parceiros convida-
dos e uma megaloja da Pague Menos com 500 metros qua-
drados. Eram cerca de 150 estandes reunindo as maiores
marcas da ind��stria farmac��utica atuantes no pa��s, em
que os expositores distribu��am milhares de brindes e
apresentavam as ��ltimas novidades e lan��amentos em
produtos de sa��de, higiene, beleza e dermocosm��ticos.
Duas empresas participantes, no af�� de deixar
as mulheres mais bonitas, instalaram dois sal��es VIPs
de beleza: a TRESEMM��, oferecendo cortes de cabelo,
aplique de tintura e spa dos p��s. A PATENE e a WELLA,
reunidas num mesmo sal��o, ofereciam, com renomados
profissionais, maquiagem, esmalta����o e o kit de aplique
de tintura.
Foi registrada a participa����o de, pelo menos, vin-
te estados da Federa����o, com mulheres que declaravam
sua imensa alegria de estar ali, naquele mundo m��gico,
ouvindo palestras edificadoras, vendo o funcionamento
das oficinas de arte (pintura em tecido, placas de aviso,
243
J U A R E Z L E I T �� O
porcelana, biscuit, escultura, carpintaria, moda, culin��-
ria), batendo pernas nas feirinhas tem��ticas e curtindo
as atra����es musicais com o cantor F��bio Jr., o parceiro de
Vinicius de Moraes, Toquinho, e o conjunto The Fevers,
para as saudosistas dos anos 6 0 / 7 0 . Houve tamb��m um
espet��culo teatral, um mon��logo escrito, produzido e es-
trelado pela comediante Helo��sa P��riss��, "E Foram Quase
Felizes para Sempre".
Para as que queriam refletir ou assenhorar-se de
informa����es de cultura geral, filosofia, hist��ria, psicolo-
gia, recursos humanos, odontologia, nutri����o, comporta-
mento social e especialidades m��dicas, foram oferecidas
muitas op����es de palestras, ministradas por celebrida-
des nacionais.
Causaram a mais viva impress��o as confer��ncias
do psiquiatra Augusto Cury, sobre Como Otimizar a Vida.
Do professor Cl��vis de Barros Filho, livre-docente da
Universidade de S��o Paulo (USP), sobre A Vida que Vale
a Pena Ser Vivida, uma fala cheia de humor que provocou
gargalhadas na plateia. Do m��dico Dr��uzio Varella, sobre
Sa��de e Qualidade de Vida. Da jornalista e poeta Martha
Medeiros, sobre Anseios Femininos e Relacionamentos
Humanos nos Tempos Modernos. Do jovem palestrante
Rafael Baltresca, sobre Motiva����o, Felicidade e Lideran��a.
Quando abordamos algumas participantes, no in-
tuito de colher impress��es, recebemos uma montanha de
confiss��es de alegria e de expl��cita felicidade.
244
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Dona Maria do Carmo disse que vinha de Sergipe
e j�� participara de tr��s outros eventos, planejando vir ou-
tras vezes:
"Enquanto vida eu tiver, n��o perderei um En-
contro de Mulheres como este. Rapaz, isto aqui �� um
lava-almas, um amasso de ego. A gente se sente valori-
zada, querida, superestimada. E aprende coisa que at��
Deus duvida. Saio desses encontros maior, mais nobre,
mais mulher".
Maria Augusta, do Maranh��o, ria o tempo todo.
Disse que agora estava sabendo o que era felicidade. Era
o primeiro encontro, mas se arrependia de n��o ter vin-
do aos outros. Estava acompanhada de uma filha, que a
induzira a participar e ambas garantiam que nunca mais
iriam faltar.
Benedita Farias de Sena �� do Piau��. J�� �� av��, mas tem
uma jovialidade impressionante, com apar��ncia de bem
menos anos do que os sessenta e cinco que confessa ter:
"Estou vindo pela quarta vez e, a cada participa-
����o, me surpreendo pela quantidade de novos itens que
os organizadores incorporam. Sou professora e, quando
retorno, relato para os meus alunos os pormenores do
encontro. Interessante �� que, por influ��ncia de alguns
desses alunos, suas m��es passaram a vir tamb��m. Somos
tr��s da cidade de Floriano e quatro de Teresina, s�� da mi-
nha turma. Da pr��xima vez, com certeza, seremos mais
de vinte".
245
J U A R E Z L E I T �� O
L��cia de F��tima, cearense de Itapipoca, se dis-
se orgulhosa do que estava vendo. Declarou-se quase
conterr��nea de Deusmar Queir��s, pois Amontada, a
terra natal do fundador da Pague Menos, j�� pertenceu
ao seu munic��pio:
"Eu queria chamar um evento como este de ATI-
TUDE C��VICA. Se todas as m��dias e grandes empresas se
dispusessem a promover encontros de forma����o e repas-
se de conhecimentos, talvez o Brasil mudasse sua men-
talidade. Essa pol��tica do jeitinho, que termina gerando
esse mar de corrup����o, �� antiga e precisamos formar
uma nova gera����o de brasileiros dignos e conscientes.
Alguns empres��rios est��o fazendo sua parte. Mas outros,
est��o �� se associando aos pol��ticos para cometer crimes.
Parab��ns ao meu quase conterr��neo Deusmar. Ele �� um
homem de bem".
No plano de preven����es, o 11�� Encontro de Mu-
lheres Pague Menos tomou os mais previdentes cuida-
dos. Todas as participantes sabiam que o evento contava
com uma moderna frota de ambul��ncias, UTIs m��veis e
convencionais, equipadas com a tecnologia mais avan��a-
da, al��m de uma equipe m��dica especializada. A cobertu-
ra nesse setor inclu��a um ambulat��rio m��dico preparado
para urg��ncias, al��m de um plant��o de socorro capaz de
providenciar qualquer necessidade, de desfibrilador a
carro de bombeiros.
O Encontro de Mulheres Pague Menos, que ocor-
ria todos os anos, agora ocorre a cada tr��s anos, em raz��o
246
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
do volume de provid��ncias que exige uma prepara����o
complexa e minuciosa.
Sua import��ncia vai al��m daquele clima de festa e
autoestima que proporciona ��s mulheres que dele parti-
cipam. Reflete uma filosofia empresarial de participa����o
social e contribui����o efetiva para a mudan��a de concei-
tos que hoje j�� deviam estar completamente superados.
A Pague Menos, pela mentalidade esclarecida de seu
fundador, se incorpora �� constru����o desse mundo novo
que reclama uma revis��o urgente na postura patriarcal
oriunda de nossos ancestrais e respons��vel por d��cadas
de atraso social e humano. E aposta na valoriza����o das
mulheres, companheiras de todos os homens nas ondu-
lantes estradas do tempo.
247
19
A A����O SOCIAL DA
PAG��EMENOS
"N��o devemos postergar nossas
responsabilidades sociais. Assumi-las faz a
diferen��a entre o instinto e a intelig��ncia.
Entre os homens e os bichos."
Fernando Matos,
cineasta portugu��s ( 1 9 4 0 - )
uando ainda estudante do antigo Curso Ginasial,
no velho Semin��rio da Bet��nia, em Sobral, este es-
criba um dia viu um poema que come��ava assim:
"Debru��ado na janela do momento
eu enxergo dois mundos de uma vez...
249
J U A R E Z L E I T �� O
O mundo da pobreza combalida
e a aridez do deserto consumida
no cora����o dormente do burgu��s".
O poema era da autoria de nosso professor de portu-
gu��s, Padre Osvaldo Chaves, que eu considerava um s��bio.
Embora n��o houvesse sido provocado para estu-
dar o sentido daqueles versos, chamou a minha aten����o a
alus��o ao "cora����o dormente" dos abastados. Seria justa-
mente por ter cora����es que n��o sentiam nada, pois esta-
riam dormentes, que eles haviam ficado ricos?
Ali, no semin��rio cat��lico, se estudava a B��blia
com intensidade. E num dos evangelhos estava escrito
que era mais f��cil um camelo (corda de amarrar navios)
passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar
no Reino dos C��us (Mateus, cap. 19, vers. 1 6 - 3 0 ) .
Mais tarde, j�� na faculdade, estudando a Refor-
ma Protestante, vi que um de seus l��deres, Jo��o Calvino,
justificando o Capitalismo, afirmava claramente que, se
voc�� era rico, isso ocorrera porque Deus lhe queria bem,
pois a riqueza era uma demonstra����o patente da predile-
����o divina.
A vis��o crist�� sobre a riqueza dividiu os coloniza-
dores da Am��rica. Os protestantes ocuparam o norte e os
cat��licos o centro e a linha abaixo do Equador.
Os reformistas do norte atingiram um alto ��ndice
de desenvolvimento (Canad�� e Estados Unidos), adotan-
do o pragmatismo capitalista. J�� os cat��licos, vivencian-
250
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
do a prega����o jesu��tica do absoluto desapego ��s coisas
materiais, colonizaram a Am��rica Latina, regi��o eterna-
mente inserida no mapa do subdesenvolvimento.
As contradi����es da Hist��ria imitam a vida e pre-
cisam ser entendidas pela leitura das circunst��ncias, no
enquadramento dos fatores de tempo e espa��o, al��m das
especiais condi����es estruturais que envolvem o social, o
pol��tico e o econ��mico.
No chamado capitalismo selvagem, muitos dos
que conseguiram atingir o ��pice da pir��mide social jul-
gam que o seu sucesso �� fruto exclusivo do talento e da
aud��cia de que s��o portadores e pouco se preocupam
com as condi����es de mis��ria ao derredor. S��o os de "co-
ra����o dormente", de que fala o poema.
Outros, por��m, est��o cada vez mais conscientes da
responsabilidade social que devem exercer. Sabem que
n��o atingiram sozinhos a crista da montanha e precisam
repartir uma parcela do que receberam com a sociedade,
especialmente, com os mais necessitados.
�� essa mentalidade que fez com que, nos Estados
Unidos, grandes empres��rios aderissem �� filantropia.
Desde os velhos magnatas Henry Ford (ind��stria auto-
mobil��stica) e John D. Rockefeller (petr��leo) ao atual
homem mais rico do mundo, Jeff Bezos, criar funda����es
para patrocinar artes, atividades esportivas e estudos de
alta pesquisa cient��fica �� uma pr��tica de grande vigor e
patente atua����o.
251
J U A R E Z L E I T �� O
Deusmar Queir��s, oriundo de estamentos humil-
des da sociedade, sempre se comoveu com as dificulda-
des alheias, procurando ajudar quem as estiver viven-
ciando. L��der espont��neo e natural, fora um adolescente
engajado nas promo����es culturais de seu bairro, levando
sua turma de amigos para colaborar nos movimentos be-
neficentes da par��quia, promovendo arrecada����es com
fins caritativos e concitando a comunidade a ajudar as
atividades sociais.
Seu esp��rito de abnega����o, voltado para o apoio
social, intensificou-se quando melhorou sua condi����o
econ��mica. Tem a plena consci��ncia do que a solidarie-
dade pode produzir como agente transformador da vida
dos que, muitas vezes, se encontram nos ��ltimos degraus
do desespero, aturdidos pela afli����o do abandono e pela
aus��ncia absoluta de qualquer esperan��a.
Sua no����o de responsabilidade social �� detectada
facilmente em numerosas a����es de solidariedade, feitas
com uma espontaneidade que nos estarrece. Sem preten-
s��es pol��ticas e nenhum laivo vulgar de vaidade, realiza-
-as simplesmente e n��o tem a sofreguid��o de divulg��-las.
�� como se fosse uma obriga����o natural, um dever huma-
no dos que t��m mais para com os que t��m menos.
Numa certa manh�� de 2 0 1 6 , fui chamado por meu
amigo S��rgio Moura Sales para colaborar para um abrigo
de menores por meio de doa����o de roupas usadas e ou-
tros pertences de que n��o precisasse mais. Chegando ��
Associa����o Madre Paulina, no bairro Cidade dos Funcio-
252
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
n��rios, em Fortaleza, passei a conversar com a diretora,
Maria das Dores de Macedo, sobre aquela Institui����o e
o trabalho que ali desempenhava, abrigando 30 crian-
��as que, antes, viviam em situa����o de rua. Ela confessou
as dificuldades que enfrentava, sem verbas de governo,
sustentando a casa apenas com as colabora����es da popu-
la����o. �� determinada altura da conversa falou que tudo
poderia estar pior se n��o tivesse ganhado aquele im��vel
do doutor Deusmar. Sim, aquela casa enorme, com am-
plos dormit��rios, quatro banheiros, cozinha industrial e
refeit��rio fora presente de uma alma generosa. Meu faro
de pesquisador se acendeu imediatamente: "Que doutor
Deusmar �� esse? Seria o Deusmar Queir��s das Farm��cias
Pague Menos?" "�� esse mesmo" - retorquiu.
Cobrei, depois, de meu biografado ter me escon-
dido uma a����o t��o importante. Que diabo de bi��grafo
sou eu que fica sem conhecimento de t��o bom exemplo
de solidariedade humana, escamoteada por este tipo de
humildade franciscana?! Ele, ent��o, me disse que, para
Deus, a pabulagem das benfeitorias perde todo o valor
no lastro das gra��as para a eternidade. Para o conceito
divino, a m��o esquerda n��o deve tomar conhecimento do
que a m��o direita faz.
Deusmar deve ter compreendido essa hist��ria de
m��o esquerda e m��o direta quando participou da Ma��o-
naria, chegando ao grau de mestre.
A primeira iniciativa de responsabilidade social
da Pague Menos aconteceu em 1985 quando criou o
253
J U A R E Z L E I T �� O
PROGRAMA DE DOA����O DE CADEIRAS DE RODAS,
concomitante, com o PROGRAMA DE DOA����O DE
AMBULNCIAS.
Milhares de pessoas com defici��ncia motora fo-
ram beneficiadas com a distribui����o do equipamento,
que ocorre sob rigoroso crit��rio de destina����o.
Quanto �� doa����o de ambul��ncias, a a����o mobiliza
a opini��o p��blica na escolha das entidades assistenciais
que devem receb��-las. S��o abrigos de idosos, creches, ca-
sas de aux��lio a crian��as, santas casas, hospitais de c��n-
cer, manic��mios, nosoc��mios, casas de parto e outras
voltadas para a preserva����o da sa��de e defesa da vida.
A estes, seguiram-se outros programas, como a
ALFABETIZA����O SOLID��RIA, programa criado pela
ex-primeira-dama Ruth Cardoso, com o objetivo de alfa-
betizar os adultos. A Pague Menos foi a primeira empresa
nordestina a adotar um munic��pio, General Sampaio/CE,
custeando todas as despesas. Os munic��pios s��o adotados
para receber cursos de instru����o inicial e leitura, com a
doa����o de livros para a biblioteca municipal e sess��es de
narra����o de hist��rias e informa����es sobre a realidade local.
Outro programa acontece em parceria com a UNI-
CEF, nominado de INFNCIA FELIZ, tendo j�� beneficia-
do milhares de crian��as brasileiras.
O programa VIDA SAUD��VEL �� tamb��m direcio-
nado �� inf��ncia, procurando enriquecer a qualidade de
vida das crian��as, sobretudo, no primeiro ano de vida,
e promovendo cursos sobre cuidados adequados com o
2 5 4
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
beb��. Nesses cursos, desenvolvidos pela Pague Menos
em todo o pa��s, especialistas instruem sobre vacinas,
c��licas, amamenta����o, estimula����o dos sentidos e toda
uma s��rie de d��vidas que m��es e cuidadores t��m sobre
rec��m-nascidos.
No programa CAMPANHA CIDADE VERDE, a
organiza����o destina parte do lucro das vendas dos pro-
dutos com o Selo Amigo da Natureza para a distribui����o
de mudas de plantas, no intuito de arborizar e aumentar
os espa��os verdes das cidades, estimulando a popula����o
�� consci��ncia da oxigena����o do meio ambiente e �� defesa
da natureza. Essa campanha tem contemplado centenas
de cidades em todas as regi��es do pa��s, onde quer que
exista uma loja Pague Menos. E elas est��o em todos os
lugares, em todos os estados da Federa����o. O plantio de
mudas levou Fortaleza ao Livro dos Recordes quando, em
2 0 1 0 , na capital do Cear�� foram plantadas 65 mil novas
��rvores em uma hora.
O Projeto MORINGA, A SEMENTE DA VIDA, em
parceria com os Correios e a Defesa Civil do Cear��, con-
siste na distribui����o gratuita das sementes da Moringa
oleifera, que s��o empregadas para purificar a ��gua. Mi-
lhares dessas sementes chegaram, atrav��s da Pague Me-
nos, ��s regi��es de rios e po��os insalubres, tornando suas
��guas pot��veis e lhes dando condi����es para o consumo
humano. Este projeto, que virou mat��ria do Globo Rural,
Nordeste Rural e do Jornal Nacional, do Sistema Globo
de Comunica����o, �� reconhecido pela UNESCO como tec-
255
J U A R E Z L E I T �� O
nologia social. �� um programa cientificamente aprovado
e tem sido levado a alguns pa��ses da Am��rica Central,
como o Haiti e a Rep��blica Dominicana, atenuando subs-
tancialmente o estado de polui����o de suas ��guas.
A campanha DOE SEU TROCO, que funciona
desde 2 0 0 8 em parceria com o Fundo Crist��o para a
Inf��ncia, arrecada pequenas contribui����es dos clientes
para o programa ��GUA PARA A VIDA, que constr��i cis-
ternas para as fam��lias que habitam a regi��o do semi��ri-
do, sempre atingida pelas calamidades clim��ticas, como
as secas.
No plano cultural e esportivo outros programas de
grande repercuss��o e altos resultados t��m sido assumi-
dos pela Pague Menos. Concursos de literatura, o Circui-
to de Corridas e o Encontro de Mulheres (o maior even-
to feminino do Brasil), al��m da publica����o de um jornal,
Campe��o, e PAGUE MENOS SEMPRE BEM, revista e
programa de televis��o.
A maioria destes programas hoje s��o assumidos
pela FUNDA����O EDUCACIONAL DEUSMAR QUEI-
R��S, fundada em 1o de mar��o de 1999.
A Entidade, que, por princ��pios e objetivos gerais,
se assemelha ��s suas cong��neres brasileiras e norte-ame-
ricanas, foi inicialmente dirigida por Geraldo Lima J��-
nior, escolhido por Deusmar por ser portador de elevado
idealismo e marcantes preocupa����es sociais. Seu traba-
lho foi essencial no per��odo de implanta����o e nos primei-
ros passos da funda����o. Depois, adoeceu e se julgou im-
256
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
possibilitado para continuar �� frente de t��o ��rdua miss��o,
que lhe exigia muito esfor��o e disponibilidade absoluta.
�� a�� que entra em cena o Dr. Vicente de Paula Pe-
reira, administrador de empresas, conterr��neo, amigo e
parceiro de Deusmar em outras voltas do destino.
Doutor Vicente relata a trajet��ria de seu longo re-
lacionamento com o fundador da Pague Menos.
"Nascemos no mesmo lugar, em Amontada, na-
quele tempo, distrito de Itapipoca. O pai dele, Ant��nio
Lisboa de Queir��s, que era conhecido, carinhosamente,
como Ant��nio Nonato, era muito amigo do meu pai, Jor-
ge Guilherme. Mais tarde seu Ant��nio veio com a fam��lia
para Fortaleza e foi morar no Ant��nio Bezerra. L��, me-
ninos ainda, nos reencontramos. O pai dele tinha uma
mercearia e eu via o Deusmar trabalhando na feira. Feira
mesmo. Feira livre de se vender farinha, goma e rapadu-
ra. Era uma coisa muito bonita. O Deusmar sempre teve
um esp��rito muito empreendedor.
Na casa de seu Ant��nio Lisboa s�� havia o Deusmar
e uma irm�� dele. Na minha, como meu pai tinha doze
filhos, todo mundo estudava em col��gio p��blico. O Deus-
mar foi estudar no Col��gio Cearense, escola de bar��o.
N��o havia entre n��s muita oportunidade de conviv��ncia,
pois o col��gio nos separava e ele era muito ocupado. Mas
voltamos a nos encontrar em 1973, como professores
na UNIFOR. Filhos da mesma terra, o Deusmar passou
a visitar a casa de meu pai e a conversar com ele sobre
Amontada. Meu pai gostava muito de Amontada e de fa-
lar sobre a terra natal.
257
J U A R E Z L E I T �� O
Coincidiu de exercermos o Magist��rio na mesma
universidade. Deusmar Queir��s e eu trabalhamos juntos
na Universidade de Fortaleza, UNIFOR. Ele entrou na
UNIFOR em 1973 como professor da cadeira de Mercado
de Capitais. Depois, foi convidado para ser coordenador
do Curso de Economia daquela universidade.
Eu, como minha forma����o em Administra����o de
Empresas, coordenava, �� ��poca, o Curso de Administra����o.
Mantivemos uma rela����o muito pr��xima nesse pe-
r��odo. Deusmar ia �� minha resid��ncia e eu ia �� casa de
praia que ele tinha em Icara��, no munic��pio de Caucaia,
chamada, jocosamente, de Moradinha Pai d'��gua.
Mas quando a pessoa come��a a ter um crescimen-
to econ��mico muito grande, o tempo se torna escasso e a
gente fica um pouco distante por causa do pr��prio poder
econ��mico e social do outro. N��o d�� para acompanhar o
que o outro faz. Mas a amizade continua.
Na UNIFOR, o Deusmar, que ministrava a cadei-
ra de Mercado de Capitais, da qual era profundo co-
nhecedor, alcan��ou, por m��rito pr��prio, a coordena-
����o do curso.
Compus o grupo de funda����o da Universidade de
Fortaleza. Eu era da Universidade Federal na ��poca. N��o
era professor. Era contratado. Tinha trabalhado na ��rea
administrativa naquele concurso do DASP e fui para a
Universidade Federal. Em seguida, fui convidado por um
colega a montar o curso de Administra����o da UNIFOR e
em 1973 Deusmar foi para l��.
258
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Uma coisa que deve ficar bem expressa: o Deus-
mar "cria" e d�� "a����o" ao que cria. Completa a palavra
"cria����o". Ele cria e d�� a����o. Uma marca muito dele.
Certa vez, como coordenador do curso na UNI-
FOR, a gente estava conversando e ele disse o seguinte:
"Vicente, isso aqui �� pequeno para mim. Eu vou empre-
ender".
Nessa ��poca ele j�� era conhecedor profundo do
mercado de capitais e, j�� participava de alguma socieda-
de neste sentido.
Naquele dia, dissertando sobre seu futuro, conti-
nuou:
"H�� tr��s ��reas que para mim s��o fundamentais: a
de tecidos, pois ningu��m anda pelado; a de alimentos,
pois todo mundo come; e a de medicamentos, pois todo
mundo um dia precisa comprar rem��dio". Deusmar, na-
turalmente, optou pela ��rea de medicamentos e foi muito
feliz nessa op����o.
Conheci at�� a primeira farm��cia dele no bairro El-
lery, se n��o me engano. Come��ou por l�� e, de l��, se lan-
��ou para o Brasil inteiro.
Deusmar �� casado com o trabalho. O trabalho ��
o seu chamego, sua prioridade. Conta Auric��lia, mulher
dele, que, um dia, muito cansado, Deusmar, que acordava
cedo para trabalhar, dormiu at�� tarde. A filha entrou no
quarto e, quando viu o pai na cama, n��o o reconheceu e
saiu de l�� gritando para a m��e que havia um homem no
quarto dela.
259
J U A R E Z L E I T �� O
Assim o Deusmar construiu a sua hist��ria. Eu fiz
um cordel para os trinta anos da Pague Menos. Mas per-
di. Mandei para o Deusmar, pelo computador, mas ele,
assim como eu, tamb��m perdeu. Agora n��o d�� mais para
recompor porque, para isso, �� preciso ter motiva����o e
estar dentro de um certo contexto que n��o existe mais.
Deusmar sempre teve voca����o para o social. Tem
consci��ncia de seu papel no mundo. Sabe que n��o che-
gou sozinho ao lugar em que se encontra hoje e tem um
compromisso de retribui����o para com a sociedade.
Em 1999, quando criou a funda����o que, por sinal,
leva o nome dele - FUNDA����O EDUCACIONAL DEUS-
MAR QUEIR��S -, eu n��o trabalhava para ele. Quem diri-
gia a funda����o, nessa ��poca, era o Geraldo Lima J��nior. O
Geraldo ficou �� frente da Funda����o por um longo per��odo.
Em 2 0 0 6 fui convidado pelo Deusmar para fazer
um trabalho de parametriza����o da PAX CORRETORA
junto ao Banco Central e a Bolsa de Valores. Em 2 0 1 2 o
Deusmar me tira da PAX e pede para que eu venha para
a Funda����o Deusmar Queir��s. Geraldo Lima J��nior ado-
ecera e n��o podia continuar.
Assumimos o trabalho e, hoje, estamos tocando a
Entidade dentro da qual est��o nascendo projetos novos,
como a F��brica-Escola, a Escola de M��sica, que leva o
nome da m��e do Deusmar Queir��s, dona Maria Madale-
na Queir��s, e outros projetos.
A Funda����o Escola Deusmar Queir��s possui, hoje,
diversos projetos, al��m do N��cleo de Ressocializa����o de
260
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Ex-Presidi��rios. Aqui n��s temos o projeto Empr��stimos
de Equipamentos Ortop��dicos, Educa����o pela Internet,
Semeando para Educar, Volunt��rios de Valor, Projeto
Moringa, a Semente da Vida e Esta����o da Leitura. Te-
mos, como j�� citei, a F��brica-Escola e uma Escola de
M��sica. Tudo funcionando aqui neste pr��dio da Avenida
Dom Manuel, em Fortaleza-CE.
Alguns projetos andam meio adormecidos. Ou-
tros, bastante adiantados. Um dos mais adiantados �� o
ESTA����O ECOL��GICA DE PACOTI, onde funciona o
Campus Avan��ado da Universidade Estadual do Cear��. A
gente tem uma supervis��o l��, mas a parte pol��tica, peda-
g��gica e institucional �� toda ela feita pela Universidade
Estadual do Cear�� - UECE.
Os EMPR��STIMOS DE EQUIPAMENTOS OR-
TOP��DICOS, por sua vez, est��o semidesativados, como
disse, ou andando muito lentamente. Quando as pessoas
devolviam as cadeiras e as muletas emprestadas, os equi-
pamentos chegavam imprest��veis. A din��mica, nesse
momento, est�� mais em cima dos projetos volunt��rios,
como a F��BRICA-ESCOLA e a ESCOLA DE M��SICA,
para familiares e filhos de apenados.
A menina dos olhos da Funda����o �� o trabalho de
recupera����o, forma����o profissional e apoio aos egressos
do sistema penitenci��rio.
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20
0 PROJETO
F��BRICA-ESCOLA E A
RESSOCIALIZA����O DE
APENAD��S
"Quando temos a verdade dentro de n��s,
conseguimos pintar a mais tenebrosa noite com as
mais resplandecentes cores da aurora."
Dra. Luciana Teixeira, titular da 2 a . Vara
de E x e c u �� �� e s Penais de Fortaleza
Ornais ousado programa da Funda����o Educacio-
nal Deusmar Queir��s certamente, �� a participa-
����o na recupera����o e ressocializa����o de egressos
do sistema penal.
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J U A R E Z L E I T �� O
O projeto F��BRICA-ESCOLA, TEORIA E PR��TI-
CA PARA A VIDA objetiva reabilitar apenados do re-
gime aberto, semiaberto e rec��m-sa��dos das pris��es. A
assist��ncia �� estendida aos dependentes e familiares dos
beneficiados e consiste na oferta de educa����o e capacita-
����o t��cnica, dando assim, a oportunidade de se integra-
rem �� sociedade e recome��arem suas vidas ap��s o cum-
primento da pena.
Em vigor na cidade de Fortaleza desde janeiro de
2 0 1 3 , a iniciativa, at�� ent��o, in��dita no Nordeste, j�� be-
neficiou centenas de pessoas. O projeto alcan��ou o alto
��ndice de 9 5 % de participantes reintegrados ao mercado
de trabalho e sem reincid��ncia em crimes. Um desempe-
nho muito acima dos n��meros mundiais.
O programa de reeduca����o inclui cursos de alfabe-
tiza����o, empreendedorismo, educa����o financeira, infor-
m��tica e diversas oficinas de forma����o espec��fica. Os par-
ticipantes do programa tamb��m t��m direito a tr��s quartos
de um sal��rio-m��nimo, al��m de vale-transporte, alimen-
ta����o, cesta b��sica, acompanhamento social, pedag��gico,
psicol��gico, assist��ncia m��dico-dent��ria e jur��dica.
Vicente Pereira, respons��vel pela Funda����o Deus-
mar Queir��s, explica que os pilares do projeto s��o o de-
senvolvimento, humanismo, disciplina e trabalho, funda-
mentados na proposta de justi��a restaurativa:
"Os apenados acolhidos no projeto passam por
quatro momentos consecutivos.
O primeiro deles �� o Momento de Reafirma����o
Pessoal, no qual s��o ajudados a ter autoconhecimento de
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
seu delito e a entender seus direitos e deveres diante da
sociedade", explica.
"Em um segundo est��gio, os alunos passam por
um Momento Relacional, em que s��o estimulados a vi-
ver coletivamente, participar de exerc��cios de ressociali-
za����o, com visitas culturais, oficinas e discuss��es abertas
e coletivas com familiares, entre outras atividades".
Vicente explica, ainda, que h�� tamb��m o Momen-
to Produtivo, com foco no desenvolvimento do empre-
endedorismo, com oficinas de ensino-aprendizagem.
A ��ltima etapa, chamada de Momento Cognitivo,
prepara-os para competir qualitativamente no mercado
formal e gerar emprego e renda na sua comunidade, me-
lhorando a qualidade de vida familiar.
O F��brica-Escola conta com a parceria entre Poder
Judici��rio Estadual, Minist��rio P��blico, Defensoria P��bli-
ca, Universidade Estadual do Cear�� (UECE), Associa����o
Cearense de Magistrados (ACM), Conselho Nacional de
Justi��a (CNJ), Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional
Cear�� (OAB/CE) e outras Institui����es p��blicas e privadas.
A ressocializa����o dos apenados do regime semia-
berto egressos do sistema penitenci��rio do estado do
Cear�� tem dado certo. Esse �� o carro-chefe atualmente.
O N��cleo de Ressocializa����o foi pensado desde o in��cio.
Nos Estatutos da Funda����o consta, j�� em 1999, que um
de seus objetivos era o de trabalhar com este p��blico.
"Quando entrei - dep��e o Dr. Vicente -, em 2 0 0 6 ,
esse projeto estava esvaziado. Praticamente n��o existia.
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J U A R E Z L E I T �� O
Mas eu dei uma conota����o mais efetiva a ele. Denomi-
nei-o de F��brica-Escola, Teoria e Pr��tica para a Vida.
Hoje recebemos esse p��blico que vem por interm��dio de
senten��a judicial. No in��cio foi muito dif��cil. Havia uma
resist��ncia do pr��prio Tribunal de Justi��a, mas fomos
aprofundando a nossa rela����o com ele e assinamos um
termo de coopera����o t��cnico-cient��fica. Reconhecido e
autorizado, os ju��zes e desembargadores acompanham
o projeto e at�� recebemos aqui a visita das autoridades,
como a da vice-governadora, v��rias vezes, do Secret��rio
de Justi��a, do Secret��rio da Casa Civil e todos eles t��m
demonstrado muito interesse no que fazemos aqui.
Na F��brica-Escola, Teoria e Pr��tica para a Vida,
trabalhamos com o ex-detento e a fam��lia dele para que
seja acolhido. Temos, hoje, cerca de duas centenas de
pessoas ressocializadas e inseridas no mercado de tra-
balho. Recentemente, houve uma queda por causa das
quest��es econ��micas que o pa��s est�� vivendo.
Para quem n��o tem essa rela����o com o c��rcere em
sua hist��ria est�� dif��cil arranjar emprego, imagina para
quem tem?
N��o est�� muito f��cil arranjar coloca����o para essas
pessoas no mercado de trabalho. Mas todos aqui s��o ca-
pacitados. H�� diversos eixos de ensino e aprendizado na
F��brica-Escola, tais como corte e costura, linha de mon-
tagem de acess��rios el��tricos, serigrafia, modelagem em
caba��a e outros. E essas pessoas, que s��o avaliadas dia-
riamente, ap��s os seis primeiros meses, s��o reavaliadas
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
mais criteriosamente para vermos se t��m realmente con-
di����es de ir para o mercado de trabalho. H�� um grupo de
empresas, inclusive, que trabalha conosco nesse sentido:
Natur��gua, Pinheiro Supermercados, Mercadinhos S��o
Luiz, Ind��strias Romazi, Super Carne, Arte & Sorriso,
Sindi��nibus, UECE e OAB. A Pague Menos, como era de
se esperar, �� quem emprega mais.
O conv��nio n��o �� feito com a Secretaria de Justi��a,
mas com o Tribunal de Justi��a.
O nosso principal contato no sistema judici��rio ��
a Dra. Luciana Teixeira de Souza, Titular da 2a Vara de
Execu����es Penais, que exerceu a Corregedoria dos Pre-
s��dios e Estabelecimentos Penitenci��rios da Comarca de
Fortaleza.
Em duas ocasi��es, na primeira, quando o projeto
foi apresentado �� sociedade, e, na segunda, quando acon-
teceu a inaugura����o da F��brica-Escola, a palavra da Dra.
Luciana, al��m de muito eloquente, foi fundamentalmen-
te esclarecedora.
Os dois pronunciamentos da Dra. Luciana Teixeira
est��o aqui reproduzidos por sua subst��ncia did��tica so-
bre os objetivos e a import��ncia do projeto.
EXPLANA����O DO PROJETO F��BRICA-ESCOLA
Autoridades e Convidados desta solenidade:
H��, na experi��ncia humana, uma palavra que define
o seu rumo: OPORTUNIDADE.
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J U A R E Z L E I T �� O
Aquilo que os gregos entendiam como DESTINO po-
deria, hoje, coadunar-se com outras express��es que expli-
cam o rumo, o sucesso, o desempenho e a realiza����o profis-
sional das pessoas na constru����o de suas vidas.
O mito hel��nico do fatalismo inexor��vel que assegu-
rava ser imposs��vel ao homem escapar de seu destino e que,
quanto mais tentasse se afastar do rumo tra��ado pelos deu-
ses mais estaria dele se aproximando, deve receber da Justi-
��a e da Sociedade uma NOVA LEITURA.
H�� toda uma cultura fatalista, implantada nos costu-
mes e sedimentada nas pr��ticas consuetudin��rias por cen-
tenas de gera����es, que precisa ser abolida pelo racionalismo
e pela lucidez contempor��nea.
�� preciso que se estabele��a a convic����o de que as pes-
soas �� que d��o rumo aos seus passos e que, mesmo quando
esses passos se enveredam para o caminho do desatino, da
escurid��o e do abismo, podem voltar a se aprumar, se ao ca-
minhante abatido for estendida a m��o samaritana e aqueci-
da em seu cora����o a chama da esperan��a.
Bendita foi a hora e sagrada a circunst��ncia em que
uma luz certamente divina iluminou a consci��ncia de alguns
altaneiros, nobres de sentimento e possu��dos de f��, que, de
privilegiada condi����o pol��tica, econ��mica ou funcional, de-
cidiram negar o absolutismo do lament��vel ad��gio popular
de que "o pau que nasce torto n��o tem jeito, morre torto!".
Excelent��ssimas autoridades,
Senhores Convidados,
Senhoras e Senhores Participantes:
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
O que vamos assistir nesta solenidade �� um fato sin-
gular e at�� estranh��vel para os ainda atrofiados e engessa-
dos padr��es da Civiliza����o Ocidental.
Uma sociedade que, apesar das conquistas sociais e
pol��ticas, nunca se libertou completamente dos velhos pre-
conceitos nem deixou de praticar com terr��vel e execr��vel
assiduidade a discrimina����o contra os que erraram.
Ser�� este, sem d��vida, um momento hist��rico, por
se constituir um passo decisivo na reestrutura����o das re-
la����es sociais e no esfor��o consciente de recupera����o da
dignidade humana.
Porque o PROJETO F��BRICA-ESCOLA inaugura
um tempo novo e prepara o campo da seara para a semea-
dura da confian��a e do otimismo, quando defende e constr��i
a possibilidade de recuperar pela capacita����o profissional
os apenados do REGIME SEMIABERTO.
Porque o PROJETO F��BRICA-ESCOLA, que se au-
todenomina de TEORIA E PR��TICA PARA A VIDA, pro-
p��e um pacto social verdadeiro e honesto com os que que-
rem corrigir seu erro e recuperar os v��nculos perdidos com
a fam��lia e com a confian��a dos amigos, dos vizinhos e dos
conhecidos.
Porque o PROJETO F��BRICA-ESCOLA, que obje-
tiva a reinser����o e a reintegra����o, h�� de recompor a auto-
estima dos que, pelo caminho dos desavisos, a perderam e,
diante da indiferen��a e do preconceito, se achavam irreme-
diavelmente anulados e socialmente mortos.
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J U A R E Z L E I T �� O
Criado pela FUNDA����O EDUCACIONAL DEUS-
MAR QUEIR��S e identificado como um PROGRAMA DE
RESPONSABILIDADE SOCIAL, este projeto recebeu o
apoio entusiasmado de Entidades p��blicas, como a Asso-
cia����o Cearense de Magistrados, a Defensoria P��blica, a
Associa����o do Minist��rio P��blico e a Universidade Estadual
do Cear��, al��m de outras empresas do setor privado, como
Super Carnes e Mercadinhos S��o Luiz, todos irmanados no
sonho sublime de ACREDITAR PARA RECUPERAR.
Esta parceria de Institui����es ligadas �� Justi��a com a
iniciativa privada vai construir um exemplo e edificar um
modelo para corrigir a placidez nacional.
O pa��s se acostumou �� omiss��o, que �� o pior pecado
social e a mais cavilosa das desculpas p��blicas.
Ensinaram-nos, primeiro, a enfrentar as CONSE-
QU��NCIAS sem combater as CAUSAS.
E, depois, sobre o ERRO COMETIDO, a lan��ar o ES-
TIGMA e a CONDENA����O ETERNA.
A incapacidade do perd��o produz a VIOL��NCIA e
a INSEGURAN��A. Os que n��o t��m mais oportunidade de
trabalhar nem de aprender um of��cio continuam tendo ne-
cessidade de comer, de se divertir e de sentir prazer.
E isso eles tentar��o conseguir a ferro efogo.
Nessa guerra sem limites o melhor caminho �� o PAC-
TO SOCIAL firmado na CAPACITA����O PARA O TRA-
BALHO, sem d��vida, a melhor receita para a recupera����o
dos que erraram, mas querem reencontrar a estrada da dig-
nidade e da cidadania.
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Sempre digo que ao juiz cabe, n��o a execu����o cega
da lei, mas a interpreta����o l��cida do texto legal, na consci-
��ncia de que �� um SER HUMANO JULGANDO SEU SE-
MELHANTE que, por mais absurdo que tenha sido o seu
ato, pode, com o apoio da sociedade, recuperar-se e voltar a
caminhar na vida como um cidad��o.
Termino com um pensamento de Teot��nio Vilela, um
grande brasileiro que, condenado por doen��a fatal, saiu pelo
Brasil pregando a esperan��a:
"Eu convoco o povo brasileiro �� concilia����o. N��o
�� concilia����o da conveni��ncia para satisfazer apetites
mesquinhos. Mas aquela em que todos se esfor��am para
obter o bem comum, se unindo pelo bom senso, pela liber-
dade, pela oportunidade de trabalho, escola e sa��de para
todos e, em suma, pela defesa da dignidade humana."
MUITO OBRIGADA.
INAUGURA����O DA CASA DO PROJETO F��BRI-
CA-ESCOLA
Autoridades,
Participantes do Projeto F��brica-Escola
Convidados:
Nos dias que antecederam esta solenidade apeguei-
-me a conjecturas sobre a arte de sonhar e a ci��ncia de rea-
lizar os sonhos pelo caminho da perseveran��a.
Embalada pelas expectativas que geralmente nos pos-
suem ��s v��speras de um grande acontecimento, procurei me
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J U A R E Z L E I T �� O
amparar no pensamento dos poetas e neles buscar o alimen-
to do otimismo e da esperan��a, nutrientes benfazejos e efi-
cazes para os que caminham em busca de horizontes sociais.
Vi em Fernando Pessoa uma afirma����o soberana:
"Tenho em mim todos os sonhos do mundo!"
E em Amy Dickinson a consci��ncia de que:
"A esperan��a tem asas e faz a alma voar".
Dizem que as verdadeiras revolu����es come��am no
cora����o dos poetas, porque eles s��o generosos e puros e, por
isso, transportam na alma os grandes sonhos da humanidade.
A experi��ncia que aqui se inicia, por seu car��ter ino-
vador e pelas transforma����es que pode provocar, tem, sim,
um car��ter de revolu����o.
A Hist��ria mostra que nem sempre s��o pelas armas
que se processam as mudan��as na sociedade. Antes delas e
muitas vezes sem elas, as ideias e as necessidades semeiam
os campos e abrem os caminhos onde brotam as ��rvores da
esperan��a e por onde passam as caravanas da liberta����o.
Esta casa e este momento foram amorosamente
constru��dos por um punhado de sonhadores que, tomados
pela cren��a na reedifica����o do ser humano, est��o apostan-
do todas as cartas num projeto de vertical e grandiosa su-
blimidade.
��ramos 12, o n��mero apost��lico, rico de simbolismo,
porque foi com aquele pequeno grupo de 12 seguidores que
um jovem Rabi, na Galileia, fundou uma religi��o e promo-
veu a grande reforma moral, m��stica e filos��fica do mundo.
Fez uma revolu����o.
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
N��o estamos fundando um novo credo, mas nos mo-
vemos igualmente pela f�� em Deus e na Justi��a, firmemente
apoiada na convic����o de que �� preciso acreditar no ser hu-
mano e lhe oferecer oportunidades para reconstruir a vida.
Senhoras e Senhores:
N��o h�� como recusar a emo����o deste momento,
quando vemos transformado em espa��o s��lido, em paredes
e teto, em objeto f��sico, um sonho que a tantos parecia abs-
trato, irreal e imposs��vel.
Olhem com cuidado esta casa e nela ver��o as m��os,
as mentes e os cora����es de um afoito grupo de idealistas
que, buscando o apoio de outras almas generosas e altru-
��stas, desafiou o medo, enfrentou a descren��a e ganhou a
confian��a da sociedade, conseguindo provar que quando se
tem a verdade dentro de n��s conseguimos pintar a mais te-
nebrosa noite com as mais resplandecentes cores da aurora.
Todos os dias aprendemos li����es com a humanidade.
Os bons s��o maioria e est��o a��, no mundo, em dispo-
nibilidade, ao alcance da nossa m��o. Quando temos um ob-
jetivo de benef��cio social, n��o devemos hesitar em convocar
os bons para formar ao nosso lado.
Clamemos em favor do bem comum e nos acudir��o
os benem��ritos, prontos para servir.
Nesta hora de intensa alegria queremos agradecer a
todos os parceiros deste empreendimento, que deve ser en-
tendido como UMA MISS��O SOCIAL e uma tarefa de soli-
dariedade humana.
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J U A R E Z L E I T �� O
Primeiramente, aos apertados, destino de nossas es-
peran��as e objetivo primordial deste projeto humanit��rio,
com quem firmamos um pacto de confian��a e credibilidade.
Agradecer aos volunt��rios, que cedem fatias precio-
sas de seu tempo e adaptam suas agendas para exercer soli-
dariedade e praticar o amor ao pr��ximo.
Agradecer ao apoio das empresas, que, aliadas ao
Poder P��blico, entenderam o prop��sito altaneiro desta
iniciativa.
No topo dessa pir��mide de altru��stas est�� a FUN-
DA����O EDUCACIONAL DEUSMAR QUEIR��S, que,
pela lucidez de seu Presidente e Fundador, vem trilhan-
do um caminho de consci��ncia que se constitui um nobre
exemplo de cidadania a ser seguido pelo empresariado de
nosso Estado.
Estamos agora, neste instante magn��nimo de Deus
para com a nossa hist��ria, iniciando um novo destino para
algumas pessoas a quem a vida est�� oferecendo a oportuni-
dade de renascer.
Que des��a sobre o Cear�� e o pa��s a consci��ncia da
necessidade de combater a viol��ncia por outros caminhos e
com novas ideias.
H�� poucos dias uma reportagem de um jornal local
mostrava que os ��ndices da viol��ncia est��o aumentando ape-
sar dos investimentos do poder p��blico no setor.
Talvez os nossos m��todos de combater o crime n��o
estejam mais respondendo ��s expectativas por algumas fa-
lhas de vis��o e de interpreta����o.
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
�� poss��vel que a seguran��a social esteja a reclamar
por novas atitudes.
Uma delas, com certeza, �� a ressocializa����o dos
presos, tema que est�� sendo discutido em todo o mundo.
A condena����o eterna para quem errou �� uma usina
criminal, a obrigatoriedade de delinquir eternamente.
Que uma nova vis��o, uma luz de intelig��ncia, des��a
sobre nossas mentes e nos encaminhe para as descobertas
da raz��o.
�� preciso andar pelo lado claro da estrada e n��o pelos
desvios sombrios da intoler��ncia.
�� preciso oferecer a m��o aos que trope��am e n��o o
esc��rnio frio da desconfian��a.
�� preciso dizer SIM aos que querem se reafirmar e
receb��-los sem ��dio e sem medo.
�� preciso aclamar a vida, estimular as promessas de
vida e jamais se aliar aos arautos da amargura, aos profetas
do pessimismo e aos tangedores da morte.
E para os que marcham na frente, que se vistam com
a coura��a da resist��ncia. Porque n��o �� f��cil convencer os
parvos nem encorajar os desconfiados.
Entretanto, se a nossa causa �� justa e nela acredita-
mos, dela n��o poderemos recuar.
Concluo com estes versos de Cora Coralina, poeta de
Goi��s, que s�� passou a ser ouvida aos 70 anos, quando pu-
blicou o seu primeiro livro:
"Nunca pensei em desistir.
Porque tem mais ch��o nos meus olhos do que can-
sa��o em minhas pernas.
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J U A R E Z L E I T �� O
Mais esperan��a em meus passos do que tristeza em
meus ombros.
Mais estrada em meu cora����o do que medo na mi-
nha cabe��a".
MUITO OBRIGADA.
Certo dia, vinha o Dr. Vicente Pereira de Choro-
zinho (pequeno munic��pio da Regi��o Metropolitana de
Fortaleza) e, ao atravessar o territ��rio dos pres��dios, ��
altura do km 17 da BR-116, brotou-lhe uma ideia: "Bem
que a Funda����o Educacional Deusmar Queir��s podia de-
senvolver um projeto social com os ex-presidi��rios! As
pessoas que cumprem penas, depois de libertadas, t��m
grande dificuldade de se reintegrar �� sociedade, porque
todos temem o seu passado e acham que v��o reincidir no
crime. A Funda����o poderia montar uma oficina de artes
e of��cios, uma f��brica-escola, e ali receber os egressos do
sistema penitenci��rio para investir em sua recupera����o.
Sob os cuidados da Funda����o aprenderiam um of��cio, se-
riam habilitados para uma profiss��o, al��m de receberem
aulas de especialistas sobre relacionamento humano, au-
toestima e consci��ncia de dignidade, contribuindo assim
para sua ressocializa����o".
A proposta j�� existia nos objetivos da Funda����o
desde o princ��pio, mas n��o fora posta em pr��tica. En-
tretanto, quando o Dr. Vicente hasteou novamente a sua
bandeira, contou com o imediato apoio de Deusmar e foi
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
posta em funcionamento, como estamos vendo no de-
correr deste relato.
Uma iniciativa desse vulto certamente n��o seria
de f��cil aplica����o. A come��ar pela fam��lia do apenado.
Vicente diz que, em v��rias ocasi��es, ao receber um de-
tento, logo lhe aparecia a m��e do rapaz, aos prantos, im-
plorando para que n��o fosse acolhido, pois ele poderia
fingir que estava recuperado e, ao voltar para casa, criar
novos problemas com os pais e os outros irm��os. Ent��o,
era preciso fazer um trabalho tamb��m com a fam��lia do
apenado para que os parentes acreditassem na efici��ncia
do projeto.
Havia outros problemas, como relembra o Presi-
dente da Funda����o:
"Uma vez eu estava no gabinete, olhando pelo
monitor, quando vi um dos ex-presidi��rios saindo da
cozinha depois de almo��ar no refeit��rio. Entrava num
local onde tem um motorzinho, sa��a de l�� e olhava para
todos os lados. Pensei comigo: 'O que ser�� que ele quer?
Chamei uma pessoa que trabalhava na recep����o e dis-
se: 'Olhe isso no monitor. O que voc�� acha?' E ela, que
era bastante ressocializada, respondeu: 'Professor (��
assim que os ex-presidi��rios me chamam), ele est�� pre-
parando alguma coisa. Vamos ficar atentos'. E ficamos.
De repente, mas numa rapidez incr��vel, o ex-presidi��rio
n��o de todo ressocializado abriu a porta que ficava vizi-
nha �� minha com umas ferramentas e corremos para l��.
Quando chegamos, ele estava metendo a m��o na bolsa
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J U A R E Z L E I T �� O
da nossa psic��loga, que havia sa��do para o almo��o. Foi
uma experi��ncia horr��vel. Chamei o homem para con-
versar. L�� para as tantas ele bateu na mesa, olhou para
mim e perguntou: 'O senhor vai me mandar de volta
para aquele inferno?' 'N��o - disse eu -, mas voc�� vai
ser desligado do projeto. Se eu deixar voc�� aqui, os ou-
tros v��o tomar conhecimento e eu n��o terei condi����es
t��cnicas nem morais para disciplinar o funcionamen-
to da Casa'. Ele disse: 'Eu n��o quero ser preso'. 'Voc��
n��o vai ser preso, retruquei, vou mandar voc�� at�� o juiz
no carro da empresa'. 'E se eu abrir a porta do carro e
sair no caminho? O que acontece?' 'O motorista volta.
O senhor n��o vai para o juiz preso, acrescentei. Conto
a hist��ria para ele e pe��o para lhe mandar para casa,
j�� que voc�� tem tornozeleira. N��o quero que lhe pren-
dam'. E ele: 'Tudo bem'. Chamei o motorista e falei o
seguinte: 'Deixa ele na subida da rampa que d�� para o
f��rum. Se ele quiser abrir a porta do carro e sair, n��o
tem problema'. Mas ele foi at�� o f��rum. Eu falei com o
Dr. C��sar Belmino, juiz da 2a Vara de Execu����o Penal,
onde corria o processo deste senhor, e pedi para n��o o
prender. Ele estava meio assombrado e eu tinha medo
de que pudesse ter ficado com alguma m��goa de mim.
Sei l��. O Dr. C��sar, ent��o, me orientou. Pediu para eu
n��o deixar o carro aqui, no pr��dio, nesse per��odo, mas
em lugar distante. E que eu refizesse meus hor��rios.
Chegasse depois e sa��sse antes de todo mundo. Foi ou-
tro choque, mas, como fora uma recomenda����o do juiz,
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
homem experiente no assunto, deixava meu carro na
PAX Corretora e o motorista ia me pegar nas imedia-
����es. Para nossa insatisfa����o, o juiz mandou esse rapaz
para casa. Em casa, foi convidado por amigos para fazer
um assalto e ali foi morto com seis tiros. Outro choque
que senti. Uma coisa muito triste".
O fato referido �� uma exce����o. A F��brica-Escola
tem sido uma experi��ncia muito exitosa. Aos poucos,
tenta reproduzir cenas da vida civil para os participantes.
Fazem oficinas aos s��bados, trabalham com artesanato,
estudam o que gostam e aprendem o of��cio de sua vo-
ca����o. No anivers��rio do projeto, que ocorre em abril, a
F��brica-Escola realiza o casamento coletivo, geralmente
com quatro a cinco casais, oficializados por um Juiz de
Paz, um Padre e um Pastor, com direito �� recep����o para
a fam��lia. Comemora o Natal, o Dia das M��es e a P��scoa,
tamb��m com a presen��a dos familiares.
Deusmar participa dos principais eventos. Com-
parece e fica muito sensibilizado. Na festa de Natal, re-
alizada na segunda semana de dezembro, no Clube dos
Magistrados, na Praia do Futuro, alguns ju��zes compare-
cem. Eles, os Magistrados, cedem o clube sem ��nus para
a Funda����o. Na ocasi��o, s��o sorteadas TVs e outros pr��-
mios para os participantes do projeto e seus familiares. ��
uma alegria que eles n��o viviam h�� muito tempo. E um
regresso ao usufruto humanizado da vida.
Vicente diz que se comove quando as m��es v��m ��
Casa para agradecer:
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J U A R E Z L E I T �� O
"Elas rezam, p��em a m��o em minha cabe��a e agra-
decem a Deus pelo projeto. Esse �� o lado bom que faz a
gente ver, a cada dia, que estamos trilhando o caminho
certo e pensar que os governos deveriam investir mais
em experi��ncias dessa natureza, pois s��o projetos como
esse que podem reduzir a popula����o carcer��ria. Nosso
��ndice de perda, ou seja, aqueles que voltam a delinquir, ��
de apenas cinco por cento. Segundo a Pastoral Carcer��ria
do Estado, dos que n��o participam de programa de res-
socializa����o, 80% retornam �� cadeia. Aqui, no primeiro
ano, s�� 5% voltaram a cair. O Ministro Joaquim Barbosa,
por sinal, nos deu o selo Come��ar de Novo, do Conselho
Nacional de Justi��a, porque considerou que a F��brica-Es-
cola demonstrou um desempenho bastante eficiente e
�� capaz, efetivamente, de contribuir para a redu����o da
massa carcer��ria do Estado."
Em entrevista de 2 0 1 6 , Vicente Pereira informava:
"Recebemos aqui um contingente de 180 pessoas.
Desses 180 temos, hoje, mais de 150 no mercado de tra-
balho, plenamente ressocializados. Mas ressocializados
mesmo. Sem retorno ao c��rcere.
Temos v��rios deles no Grupo Pague Menos, tra-
balhando, outros aqui na Funda����o. Trabalhamos com
os familiares tamb��m. O apenado n��o pode ser traba-
lhado isoladamente. Tem que ser toda a fam��lia. Aqui
temos vendedoras nas lojas, filhos deles e esposas tra-
balhando conosco na Funda����o. �� assim que a gente faz
a base. Na ind��stria da constru����o civil, t��nhamos mais
280
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
de sessenta pessoas. Hoje, com a crise, n��o temos mais.
Nas oficinas de consertos de motos, temos uns cinco
trabalhando. A gente fica aqui �� ca��a de emprego. Man-
da fazer capacita����o. O rapaz aqui, do refeit��rio, j�� re-
cebeu treinamento no SENAI e trinta dias de est��gio no
Restaurante Universit��rio da UECE (Universidade Esta-
dual do Cear��), orientado por uma professora do curso
de gastronomia.
"Aqui n��s damos, aos ex-presidi��rios, o Bolsa Fa-
m��lia, Bolsa Sal��rio e 3 / 4 (tr��s quartos) do sal��rio-m��-
nimo, cesta b��sica, vale-transporte e tr��s refei����es di��-
rias. Alguns empres��rios nos ajudam sistematicamente.
A Natur��gua, que d�� toda a ��gua que usamos. O Super-
mercado Pinheiro, que nos d�� quarenta cestas b��sicas. O
Mercadinho S��o Luiz, que tamb��m d�� cestas b��sicas. A
Romazi, que mant��m uma linha de montagem e de equi-
pamentos aqui dentro. A loja que fornecia a carne foi
assaltada tr��s vezes. Eu retruquei: 'Homem, �� por isso
que existe este projeto. Se esses assaltos n��o ocorressem,
se n��o colocassem a sociedade em risco, n��o existissem
criminosos nem abandono dos menos favorecidos pela
sociedade, n��o precisava de projetos como esse. Diante
do que aconteceu com o senhor, a gente tem �� que fazer
mais ainda por essas pessoas'".
Queremos concluir esses relatos sobre o trabalho
social da F��brica-Escola com os depoimentos de Francis-
co Gilberto e Carlos Alberto, dois ex-presidi��rios.
281
J U A R E Z L E I T �� O
Nome: Francisco Gilberto dos Santos
Profiss��o: Atendente da Recep����o
Forma����o: estudou at�� a quarta s��rie
"Antes de entrar aqui, na F��brica-Escola, Teoria
e Pr��tica para a Vida, catava lixo no meio da rua. N��o
tinha como sobreviver de forma digna nem de me man-
ter como pessoa bem-sucedida. Invejava aquelas pessoas
que progrediam de forma errada, facilitada. H�� oito anos
n��o fa��o mais nada de errado. Estou com trinta e tr��s
anos hoje.
Fui preso umas cinco vezes por assalto �� m��o ar-
mada em farm��cia, lot��rica e posto de combust��vel. Mas
n��o adiantava nada. Entrava no pres��dio e sa��a de l�� do
mesmo jeito. Pres��dio n��o recupera ningu��m. A pessoa
sai mais astuta ainda para fazer o mal. Por ��ltimo, passei
sete anos e seis meses na pris��o. Achava at�� que n��o ia
mais sair de l��. Quando tomei conhecimento de que ia
sair de tornozeleira eletr��nica e ter a oportunidade de
comparecer ao Projeto F��brica-Escola para ter uma pro-
fiss��o definida, me admirei. Ningu��m d�� a m��o ou inves-
te em quem �� sentenciado pela justi��a. Mas vim para c��
por determina����o judicial. Aqui me perguntaram o que
eu tinha feito no passado e qual minha experi��ncia pro-
fissional. Eu disse que catava lixo e pedia esmola, mas
tamb��m sabia fazer limpeza. Hoje, depois de come��ar
como zelador, fui crescendo e recebo as pessoas na Fun-
da����o. Estou aqui h�� um ano e sete meses".
282
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Nome: Carlos Alberto dos Santos Freire
Profiss��o: Supervisor
Forma����o: estudou at�� a s��tima s��rie
"Comecei a minha vida na marginalidade. Tinha
catorze anos. Fiquei nesta vida at�� os dezoito. Passei
muito tempo na cadeia. Assaltava �� m��o armada em pos-
tos de gasolina, combust��vel, farm��cia. Fui preso quatro
vezes. No total, passei quase treze anos preso. Fui usu��-
rio de droga. Todo tipo de droga. A mais cruel foi o crack.
Passei dez anos consumindo droga. Hoje em dia estou
livre disso tudo. H�� cinco anos que n��o uso nenhum tipo
de droga. Aquela vida n��o tinha futuro. Nela, voc�� s�� tem
duas portas: a da cadeia ou a do cemit��rio.
Da ��ltima vez em que sa�� da pris��o, em 2 0 1 3 , a
mo��a me perguntou, no f��rum, se eu queria um empre-
go. Eu disse que sim. Ela me enviou aqui para o projeto
da Funda����o Deusmar Queir��s. Este foi um projeto que,
realmente, mudou minha vida. Hoje em dia posso dizer
que sou um cidad��o, pai de fam��lia e trabalhador. E foi o
trabalho e o apoio que tive aqui que me regenerou. Aqui
aprendi a dar valor �� liberdade. Aprendi a dar valor �� mi-
nha fam��lia e meus filhos. Devo tudo isso �� F��brica-Es-
cola e ao professor Vicente. Hoje valorizo as coisas que
antes n��o valorizava.
Da fam��lia toda, sou o ��nico que seguiu o caminho
da marginalidade. Minha fam��lia toda �� bem estrutura-
da. Meu irm��o �� mec��nico. Meus outros irm��os todos
trabalham na Loja Padre C��cero. Na ��poca da margina-
283
J U A R E Z L E I T �� O
lidade, eles n��o gostavam nem um pouco de mim. Eram
meio assim para o meu lado. S�� minha m��e nunca me
largou. Esteve sempre ao meu lado. Mas quando perce-
beram minha mudan��a todo mundo come��ou a falar co-
migo. Primeiro, foi preciso provar a eles que eu n��o era
mais o mesmo, porque s�� por falar n��o tinha mais quem
acreditasse.
Hoje em dia sou supervisor da Romazi. A Romazi
�� uma empresa que tem conv��nio com a F��brica-Escola.
Sou supervisor dela. Tomo conta de tudo e meu maior
prazer �� ajudar aquele cara que mal saiu da pris��o. Eu
sei o que ele passou por l�� porque eu passei pelo que ele
passou. Sei qual o ponto fraco dele. A minha maior ale-
gria �� quando vejo que aquele cara ali quer mudar e ver
a mudan��a do cara. Mostrar para ele os dois lados. 'Meu
irm��o, digo para eles, tamb��m vivi isso e foi assim, assim
e assim e n��o d�� certo. Hoje estou vivendo desta outra
maneira e neste caminho aqui est�� dando tudo certo.
Pode dar certo com voc�� tamb��m'. Tento explicar. Resga-
tar aquele cara. A minha maior satisfa����o �� essa, apesar
de a gente ter uma meta a cumprir na Romazi, porque a
empresa quer saber do trabalho, da m��o de obra.
A minha maior satisfa����o �� esta: ajudar aquela
pessoa que passou pelo que passei, sofreu o que eu sofri,
porque n��o �� brincadeira n��o, macho, o cara passar dez
anos da vida dele em uma pris��o. Nem contando d�� para
acreditar. S�� sabe quem passou por l��.
284
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Escuto muito as pessoas dizerem que ex-presidi��-
rio n��o tem jeito. Presidi��rio bom �� presidi��rio morto. Eu
estou aqui para provar que n��o ��. Todo homem deve ter
I
uma chance. Errar �� humano. Estou aqui para calar a boca
de quem acha que n��o tem jeito. Pois eu digo que tem.
Para mim, o Deusmar Queir��s e o professor Vi-
cente s��o duas pessoas aben��oadas por Deus. Se n��o
fossem eles eu n��o sei onde estaria agora. Eu mudei
muito por causa de minha for��a de vontade. Eu queria
sair daquela vida e encontrei apoio aqui dentro para tor-
nar isso realidade.
Tem gente que me v�� e diz assim: 'Voc�� �� Irm��o?'
Tem gente que muda porque se tornou crente. Eu n��o mu-
dei por causa de igreja. Sempre tive f�� em Deus. Assisto
missa todos os domingos, mas foi por causa do trabalho
que mudei. E pela oportunidade que me deram. A gente
n��o resgata todo mundo. Mas resgata setenta por cento.
Tem muita gente que quer mudar e n��o tem oportunida-
de. Mas por que n��o d��o uma chance? A pessoa, quando
sai da cadeia, todo mundo d�� as costas. Acha que o ex-
-presidi��rio n��o tem o direito de trabalhar. S�� de roubar.
N��o pode ser assim. Tem muita gente que quer mudar e
precisa de uma oportunidade apenas. Nada mais".
285
21
A TRAVESSIA PARA O
FUTURO
"Cada sonho que voc�� deixa para tr��s ��
um peda��o do futuro que deixa de existir"
Steve Jobs ( 1 9 5 5 - 2 0 1 1 ) ,
n o r t e - a m e r i c a n o , f u n d a d o r da Apple
No dia em que a Pague Menos chegava ao seu
3 6 a anivers��rio, 19 de maio de 2017, ainda de
madrugada, Deusmar Queir��s mandava pela
Internet uma mensagem para todos os colaboradores, di-
retores, fornecedores e familiares, tecida, como sempre,
com os fios de ouro do otimismo e o mesmo pulsante
entusiasmo que o tem movido a vida inteira.
287
J U A R E Z L E I T �� O
Quem l�� suas palavras naquele e noutros pronun-
ciamentos pode achar que ele deve estar se achando ar-
rogantemente, inc��lume �� crise severa que abala a eco-
nomia do pa��s ou, quem sabe, tem uma f��rmula secreta
para n��o ser por ela atingido.
Indagado sobre essa quest��o e sobre a adotada
postura de somenos import��ncia para momento t��o dra-
m��tico da vida nacional, tem resposta pronta na ponta
da l��ngua:
"As crises v��m e v��o embora. E a receita para ven-
c��-las �� trabalhar e investir. S�� dessa forma as vencere-
mos. Em alguns momentos �� preciso ter ilumina����o es-
pecial para atravessar os t��neis escuros, desprendimento
e capacidade de adapta����o.
Eu, por exemplo, acabo de vender 17% da Pague
Menos para o fundo americano de Private Equity General
Atlantic.
Nosso intuito �� manter o crescimento m��dio da
Rede, com a abertura de 2 0 0 lojas por ano. Manter nos-
sa expans��o nacional, mas sem causar endividamento.
Com este procedimento, aconteceu o aporte de R$ 600
milh��es em nossa empresa. A inje����o desse capital vai
garantir a continuidade de nosso crescimento.
Muitos fundos me procuraram, mas fui at�� Nova
York e conheci melhor o General Atlantic. Eles j�� t��m
experi��ncia em v��rias empresas varejistas da ��rea de
sa��de. No Brasil, o fundo tem investimentos em compa-
nhias como Ourofino, Smiles, Gol e XP Investimentos.
288
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
De repente, estou precisando de ajuda com um problema
e eles estar��o l��, pois eu n��o sei que problemas a gente
pode ter no futuro.
O acordo foi uma solu����o para obter capital ime-
diato. Nossa Rede de farm��cias n��o descarta por com-
pleto abrir capital - mas, como j�� fizemos outras vezes,
vamos postergar esse momento. N��o h�� possibilidade
de IPO em 2 0 1 7 nem no ano vindouro. A coisa pode
ou n��o mudar, mas tudo ainda est�� muito dif��cil. N��o
descarto, por��m, a abertura de capital da Pague Menos
em 2 0 1 9 . Pelo contr��rio. Toda empresa grande no mun-
do, como IBM, Google, Bradesco e Ita��, s��o companhias
abertas. No nosso caso, faremos isso quando o mercado
estiver favor��vel".
Com mais de 1.000 lojas e a presen��a em todos
os estados da Federa����o, a Pague Menos d�� cerca de 24
mil empregos, num momento de crise, quando o pr��prio
governo admite que 14 milh��es de brasileiros est��o sem
trabalho.
Ao ultrapassar as mil lojas, a Pague Menos cum-
pria a previs��o feita h�� mais de cinco anos de que, em
2017, fincaria sua bandeira na marca do milhar. "E o que
voc�� faz quando atinge a meta pretendida?" - pergunta o
fundador -, e ele mesmo responde: "Dobra a meta!".
Agora, a nova meta �� atingir 2.000 lojas em 2 0 2 2 .
Quanto aos concorrentes, que est��o vindo aos bor-
bot��es para o Nordeste, Deusmar diz que a presen��a de-
les serve para estimular seu esfor��o de crescimento:
289
J U A R E Z L E I T �� O
"Deus aben��oe os concorrentes, porque eles me
d��o for��as para venc��-los! �� uma briga boa".
E, quanto �� crise vivida pela economia brasileira,
diz que est�� abrindo o seu pr��prio caminho:
"Crescia 20% ao ano. Agora estamos crescendo
15%. �� esta a nossa crise".
A TRANSMISS��O DA PRESID��NCIA
DA PAGUE MENOS
Deusmar Queir��s n��o �� mais o presidente da em-
presa que criou. Para quem olha de fora, a not��cia es-
tampada em todos os jornais causou estupefa����o. Para
a fam��lia Pague Menos, entretanto, n��o passou de um
fato normal e esperado. M��rio Queir��s �� o novo Dire-
tor-Presidente.
O filho mais novo de Deusmar �� formado em Ad-
ministra����o de Empresas e, na Pague Menos, fez uma
carreira escalonada, como Gerente Trainee, Ger��nciaxle
Montagem de Loja, Manuten����o de Loja, Delivery e Ge-
rente de Marketing.
Quando da negocia����o para a venda dos 17% para
o fundo norte-americano, M��rio, que se especializara
tamb��m em Bolsa de Valores, teve participa����o ativa e
competente, orgulhosamente reconhecida por seu pai,
que, como vimos em outras passagens desta hist��ria, ��
um expert no assunto.
A sucess��o, que j�� vinha sendo preparada, foi feita
para atender as normas do "novo mercado", da Bolsa de
290
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Valores de S��o Paulo (BM&F), que exige que todas a����es
tenham direito a voto, e n��o permite que o Presidente da
empresa acumule os cargos de Presidente Executivo com
o de Presidente do Conselho de Administra����o.
M��rio Queir��s afirma que a mudan��a significa a
prepara����o para o IPO (primeira oferta p��blica de a����es),
que, segundo ele, pode acontecer em 2 0 1 9 .
A ren��ncia de Deusmar foi anunciada no Di��rio
Oficial do Estado (DOE), em dezembro de 2 0 1 5 .
O novo Presidente afirma que a sucess��o n��o
representar�� mudan��as na companhia, porque seu pai
continuar�� a deliberar. "Se houver alguma mudan-
��a ser�� sutil. N��o se esperam grandes mudan��as. Mas
substituir Deusmar ser�� dif��cil, �� uma miss��o de alta
responsabilidade", diz. J�� Deusmar v�� a ren��ncia como
um processo natural.
Segundo M��rio, a posterga����o do IPO, que vem
sendo adiada desde 2012, �� explicada pela atual conjuntu-
ra do mercado. "De 60% a 70% das a����es s��o compradas
por estrangeiros e o Brasil n��o est�� em um bom momen-
to. Passamos por um per��odo conturbado em que n��o h��
credibilidade nem previsibilidade do mercado brasileiro".
A hist��ria das empresas cearenses �� marcada pela
descontinuidade. Poucas foram as que ultrapassaram
com sucesso a segunda gera����o. Apenas duas atingiram a
marca dos 100 anos.
Houve um descuido lastim��vel dos patriarcas na
forma����o de seus sucessores. A maioria educou os des-
291
J U A R E Z L E I T �� O
cendentes como "filhos de rico", permitindo compor-
tamentos extravagantes e atitudes perdul��rias. Poucos
foram os que os puseram para trabalhar em fun����es hu-
mildes dentro da empresa, come��ando por baixo para
aprender como �� dif��cil ganhar e, sobretudo, preservar
dinheiro. Os filhos j�� queriam come��ar como donos, exi-
bindo poder e prest��gio na sociedade, consumando casa-
mentos ef��meros, adquirindo objetos de luxo, esbaldan-
do-se em bebedeiras e jogatinas.
Quando se faz um apanhado dos milion��rios cea-
renses do come��o do s��culo XX e se levanta a condi����o
econ��mica atual de suas fam��lias, a constata����o do empo-
brecimento �� clara e irrefut��vel.
E, quando as empresas que se tornaram importan-
tes para o desenvolvimento fracassam, muitas delas por
m�� gest��o, �� a pr��pria economia do estado que baqueia.
Escaldada por esses exemplos lament��veis, est��
se firmando, desde meados do s��culo passado, no Cear��,
uma nova gera����o empresarial preocupada em garantir
a perpetua����o dos sonhos e esfor��os que tiveram.' Algu-
mas j�� mostram uma boa safra da afortunada e prevenida
semeadura.
Deusmar Queir��s �� figura expressiva dessa coe-
rente e l��cida mentalidade.
292
22
O OLHAR DOS FILHOS
U�� semelhante a um homem que, ao
edificar a sua casa, lan��ou o alicerce
sobre a rocha. E vindo a enchente,
arrojou-se o rio em f��ria contra aquela
casa mas n��o a p��de abalar, pois fora
firme a sua constru����o."
Lucas 6, 48
Na P��scoa de 2017 reuni-me com Rosil��ndia,
M��rio, Kak�� e Patriciana, os filhos de Deusmar,
na Ch��cara Vila da Prosperidade, ��s margens
da Lagoa do Urua��, no munic��pio de Beberibe, a 79 qui-
l��metros da Capital. Quer��amos que eles falassem do
pai e sobre o pai. Como o viam, como o sentiam. O olhar
de dentro.
295
J U A R E Z L E I T �� O
Era uma fresca manh�� de abril. Os Queir��s pra-
ticavam a felicidade, divertindo-se com os amigos e a
parentela na bem instalada casa de campo da fam��lia
num lugar apraz��vel e po��tico, regi��o praieira e tur��sti-
ca do Cear��.
O lugar transpirava beleza por todos os lados e ge-
rava um estado de descontra����o, prop��cio para o exer-
c��cio da alegria e a paz de esp��rito. Redes armadas no
alpendre vasto. Mesas enormes cheias de petiscos, bal-
des de gelo, bebidas. As crian��as enchiam o ar com sua
garrulice, tr��fegas e ��lacres, disputando corridas, jogan-
do bola, pulando na piscina. Da churrasqueira emanava o
cheiro gostoso das mantas de carne, costeletas bovinas e
su��nas, picanhas e lingui��as chiando no braseiro.
Deusmar me explicava:
"Est�� todo mundo a��. A ra��a toda e alguns amigos.
Entre n��s a regra �� esta: trabalhamos juntos e nos di-
vertimos juntos. Desta forma, n��o temos folga pra fazer
besteira. Os netos crescem juntos, brincam juntos, v��o
desde cedo aprendendo. S��o 14, por enquanto. Eu disse
para os filhos que queria a casa cheia e a maior parte da
heran��a caberia a quem mais produzisse netos para mim
e a Auric��lia".
Pelas dez horas come��amos a entrevista. Reco-
lhemo-nos numa sala fechada, quando expliquei a in-
ten����o da conversa. Queria que cada filho relatasse o
seu hist��rico de participa����o na empresa e, tamb��m,
296
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
abrisse o cora����o para falar, com a maior espontanei-
dade, o que achava daquele pai, um homem p��blico re-
conhecido nacionalmente, mas que eles, somente eles,
conheciam na intimidade.
Antes, uma homenagem de P��scoa.
Pedi que o chamassem e a Auric��lia tamb��m. Lem-
bramos de uma can����o que desejasse felicidade, venturas
e vida longa para o nosso personagem. O tempo de P��scoa
se prestava muito bem para esse tipo de manifesta����o.
Explanei sobre a P��scoa. Suas origens judaicas e
crist��s. Seu sentido de renascimento, quando o "homem
velho" d�� lugar ao "homem novo", livre do peso dos pe-
cados, das fadigas da vida, novamente leve, disposto, fa-
gueiro, pronto para recome��ar.
Concordamos que a can����o devia ser aquela da
Fl��via Wenceslau, compositora paraibana, muito bem-
-sucedida na letra e na melodia de "Te Desejo Vida":
Eu te desejo vida, longa vida...
Te desejo a sorte de tudo que �� bom;
De toda alegria, ter a companhia,
colorindo a estrada em seu mais belo tom.
Eu te desejo a chuva na varanda
molhando a roseira pra desabrochar;
E dias de sol pra fazer os teus planos
nas coisas mais simples que se imaginar.
297
J U A R E Z L E I T �� O
Eu te desejo a paz de uma andorinha
no voo perfeito contemplando o mar;
E que a f�� movedora de qualquer montanha
te renove sempre e te fa��a sonhar.
Mas se vier as horas de melancolia
que a lua t��o meiga venha te afagar;
E que a mais doce estrela seja tua guia
como m��e singela a te orientar.
Eu te desejo mais que mil amigos
a poesia que todo poeta esperou
cora����o de menino cheio de esperan��a
voz de pai amigo e olhar de av��.
Encerrada a homenagem, Deusmar e Auric��lia re-
tiram-se para deixar os filhos �� vontade na express��o de
seus depoimentos.
Primeiro, uma apresenta����o individual.
CARLOS HENRIQUE, o Kak�� - Sou Carlos Henri-
que, tenho 42 anos e sou casado com Katarine Marinho.
Tenho quatro filhos. O Carlos Henrique Marinho
de Queir��s, 15 anos, a Maria Clara Marinho de Queir��s,
que est�� com 13 anos, a Maria Helena Marinho de Quei-
r��s, com 8 anos, e a Maria Laura Marinho de Queir��s,
com 7 anos.
298
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
PATRICIANA - Eu sou Patriciana Maria de Quei-
r��s Rodrigues. Tenho 41 anos. Sou casada com Davi Ro-
drigues, de 40 anos. Temos quatro filhos: o Davi Rodri-
gues Filho, o primog��nito, hoje, com 13 anos; a Vidda de
Queir��s Rodrigues, que tem 11 anos; o Patrick de Quei-
r��s Rodrigues, que tem 9 anos; e a Pietra de Queir��s Ro-
drigues, que tem sete anos.
ROSILNDIA - Eu sou Rosil��ndia Maria Alves de
Queir��s Lima. Tenho 45 anos. Sou casada com Francisco
Humberto Lima e Silva. Sou m��e do neto primog��nito,
Bruno Henrique Alves de Queir��s Lima. Ele tem 20 anos.
Tenho a Vit��ria Alves de Queir��s Lima, com 12 anos, e
tamb��m tenho a neta mais nova, Let��cia Alves de Queir��s
Lima, que tem 6 aninhos.
M��RIO - Eu sou M��rio Henrique Alves de Quei-
r��s. Tenho 39 anos. Sou o filho mais novo. Sou casado
com Vanessa Ferrer Almada de Queir��s, que vai fazer 40
anos, pai do Pedro Henrique Almada de Queir��s, de 13
anos, de Nath��lia Almada de Queir��s, de 10 anos, e de
Francisco Deusmar de Queir��s Neto, de 8 anos.
ENTREVISTADOR - Gostaria que todos relatas-
sem seu ingresso na empresa e como evolu��ram profis-
sionalmente.
KAK�� - Comecei com onze anos, precocemente,
assim, porque comecei a bambear nos estudos, sendo re-
299
J U A R E Z L E I T �� O
provado uma vez e convidado a sair de um col��gio por
traquinagem. Meu pai ent��o me falou firmemente que se
eu n��o quisesse estudar deveria come��ar a trabalhar. Sa��
do Col��gio Christus para o Col��gio Capital, que era mais
leve. Nas f��rias, meu pai me botava para trabalhar meio
per��odo. Come��ou com meio per��odo, mas, depois, se
tornou tempo integral. Primeiro, limpando o ambiente e
separando mercadorias. O que �� isso? O que a farm��cia
vendia no dia anterior, no dia seguinte algu��m tinha que
separar os produtos para reposi����o, mandando-os para
as lojas. Mas fui evoluindo.
Cursei o High School, em Bournemouth - Inglater-
ra, na King School, de janeiro de 1992 a janeiro de 1993.
Retornei aos dezoito anos, tirei carteira de moto-
rista profissional e comecei a dirigir caminh��o. Em 2 0 0 1 ,
j�� casado, morei em Salvador por um ano e meio. Em
Salvador eu era subordinado ao gerente regional. Ficava
fazendo link entre o supervisor e o gerente regional. N��o
tinha uma fun����o espec��fica. Era uma esp��cie de "faz-tu-
do". Morei um ano e meio em Salvador. Depois fui para
S��o Paulo no segundo semestre de 2 0 0 2 . Fiquei em s��o
Paulo de 2002 a 2008.
Em 2 0 0 8 , fui para os Estados Unidos. Estudei e
passei para um curso em Betlin, na Calif��rnia. Morei um
ano e dois meses na Calif��rnia. Em S��o Paulo, de volta,
me tornei Gerente de Opera����es. J�� numa fun����o de alta
responsabilidade, fazia a expans��o da empresa para o Sul
e Sudeste: S��o Paulo, Paran��, Rio Grande do Sul, Santa
300
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Catarina e para o Rio de Janeiro. Hoje moro em Fortaleza
e ocupo a Diretoria de Expans��o da empresa.
PATRICIANA - Na ��poca das f��rias, com doze,
treze anos, a gente brincava de trabalhar na empresa. O
Deusmar sempre tinha essa vis��o de que era importante
que a gente vivenciasse o ambiente de trabalho para que
fosse tomando gosto. Tenho recorda����es claras de minha
inf��ncia carimbando documentos, levando pastas de ar-
quivo de um setor para outro, contando documentos de
cem em cem para arquivar. Algumas coisas nesse senti-
do. Atividades menos relevantes, j�� que ��ramos crian��as.
Almo����vamos l��, na empresa, e, quando terminavam as
tarefas, ��amos assistir a filmes no centro da cidade. Era
sempre na ��poca das f��rias.
Cursei o High School, na cidade de Bidwell - Ohio,
USA, na North Gallia High School, entre agosto de 1993
e fevereiro de 1994.
Quando fiz o vestibular tinha dezoito anos. Esti-
ve uma temporada nos Estados Unidos e, quando voltei,
prestei vestibular e passei em Engenharia Civil. Uma vez
na faculdade, assumi um emprego de verdade. J�� havia
passado pela loja como caixa e como balconista. Sempre
um per��odo. Quando comecei mesmo, com carteira assi-
nada na Pague Menos, foi numa ��rea que a gente chama
de Novos Neg��cios. Ali eu tive o privil��gio de iniciar al-
guns servi��os realmente inovadores que pude pegar des-
de o in��cio, como a implanta����o de revela����o de filmes
301
J U A R E Z L E I T �� O
da Kodak, na Era Pr��-Digital. Uma presta����o de servi��o
que a Pague Menos oferecia para seus clientes. Monta-
mos doze minilaborat��rios em lojas diferentes. Tinha os
poios nos laborat��rios, mas colet��vamos esses rolinhos
de filmes em todas as lojas para efetuar o servi��o de re-
vela����o, nominado de Kodak Expresso. Chegamos a ter
esse servi��o n��o s�� em Fortaleza, mas tamb��m em Reci-
fe. Com o tempo, a cultura de revela����o de fotografias foi
diminuindo e hoje, �� claro, n��o existe mais.
Dentro desse setor ainda de Novos Servi��os, a
gente lan��ou um cart��o que, na ��poca, era o Cart��o da
Pague Menos, um precursor do Cart��o de Fidelidade. O
cliente portador de nosso cart��o tinha acesso a um grupo
de descontos em determinados produtos. Faz��amos par-
ceria com os planos de sa��de para direcionar seus clien-
tes para a Pague Menos. Depois, esse cart��o teve seu des-
dobramento. Transformou-se em cart��o de cr��dito numa
parceria com a Fininvest, possibilitando, com o nosso
aval, a concess��o de cr��dito a pessoas que n��o tinham
cr��dito. Pessoas de baixa renda. Bastava ter um emprego
e um endere��o fixo para ter cr��dito na farm��cia. Inicial-
mente, esse cart��o de cr��dito era de utiliza����o exclusiva
em nossa Rede
Esse foi um momento muito interessante e de
aprendizado, porque tivemos de administrar o risco de
conceder o cr��dito ��s pessoas que n��o o tinham.
Tive possibilidade de lidar com o p��blico externo,
convenc��-lo a fazer o cart��o e, depois, entender como se
302
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
d�� a fatura. Tinha toda uma campanha para motivar as
pessoas a fazer esse cart��o. Depois a Fininvest foi com-
prada pelo Unibanco e o cart��o se transformou em um
cart��o de cr��dito nacional com parceria com o Master-
Card. At�� hoje temos esse cart��o de cr��dito, hoje com
o BradesCard. Temos ainda o j�� mencionado Cart��o de
Fidelidade, que n��o �� mais o Cart��o Pague Menos, mas o
CART��O SEMPRE Pague Menos, a base para nosso Pro-
grama de Fidelidade. Depois dessa experi��ncia em Novos
Servi��os fui convidada, em 2 0 0 0 , para assumir a Ger��ncia
de Marketing. A gente teve que come��ar do nada. Fazer
todo o plano de neg��cio, desenvolver qual seria o p��bli-
co-alvo, fazer uma campanha de marketing para impactar
as pessoas, convencendo-as a aderir a esses servi��os. Fui
convidada para ser Gerente de Marketing. Na ��poca, o
diretor de Marketing era o Sergio Mena Barreto, que foi
convidado para ser Presidente-Executivo da Abrafarma,
a Associa����o Brasileira de Redes de Farm��cias e Droga-
rias. E ele, mesmo a dist��ncia, ficou sendo o meu tutor,
me orientando de S��o Paulo.
Como Gerente de Marketing fui desenvolvendo
campanhas, ganhando corpo e, cinco anos depois, assu-
mi a Diretoria de Marketing da Pague Menos. Depois de
um tempo fiquei em duas fun����es: a Diretoria de Marke-
ting e a de Compras, que tinha uma equipe de compra-
dores. Dois gerentes de compras e eu, que ficava respon-
s��vel, junto com essa equipe, para comprar os produtos
que eram comercializados nas lojas. Tanto a parte de me-
303
J U A R E Z L E I T �� O
dicamentos quanto a de perfumaria. Essa foi uma ��poca
de grande aprendizado (a de lidar com a ind��stria far-
mac��utica e a de consumo, grandes laborat��rios, como
Unilever, Sanofi, La Roche Foi uma boa e salutar expe-
ri��ncia). Lembro-me de ter passado por cenas muito en-
gra��adas porque era mulher e jovem. Chegava um diretor
para perguntar se era comigo mesmo que teria que falar
quando via, desconfiado, que eu era muito jovem para
ser respons��vel por aquele setor. Hoje sou respons��vel
ainda por estas duas ��reas: a de Marketing e a de Com-
pras, mas, agora, com outras diretoras na ��rea.
Assimilamos tamb��m a parte de pre��o, an��lise de
estoque e gerenciamento de categoria, sendo que cada
uma dessas ��reas tem a sua respectiva diretora. Eu fico
junto com elas coordenando a ��rea.
Posso dizer que vivi uma experi��ncia muito boa.
Acho que tive muita sorte no meu itiner��rio na Pague
Menos, porque cada fun����o foi me dando uma bagagem
interessante, uma acumula����o de conhecimentos para
me possibilitar executar, hoje, o que fa��o com proprie-
dade, sabendo o que acontece em cada uma dessas ��reas.
ROSILNDIA - Eu tamb��m comecei muito nova
na Pague Menos. Com 12, 13 anos a gente j�� passava as
f��rias por l��. Comecei tamb��m na parte de separa����o de
mercadoria. Na ��poca, a farm��cia ficava ali no pr��prio
pr��dio da Rua Senador Pompeu. O dep��sito de medica-
mentos ficava atr��s e a perfumaria no primeiro andar.
304
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Toda a Pague Menos era s�� no terceiro. O primeiro e se-
gundo andares eram vazios. Eram v��os livres. Fui para a
loja. Era caixa e balconista. Tive experi��ncia na tesoura-
ria com a contabilidade.
Cursei o High School, em Bidwell, Ohio, USA, na
North Gallia High School, entre agosto de 1989 e maio
de 1990.
Ao retornar, fui uma das pessoas que fizeram toda
a implanta����o de recebimento de ��gua, luz e telefone.
Participei de todo esse processo com meu pai. Participei,
tamb��m, de todo o come��o da venda de vale-transpor-
te. Foi tudo junto com ele. Os tr��s ��ltimos dias do m��s
e os cinco primeiros do m��s seguinte eram uma loucu-
ra. Todas aquelas empresas comprando vale-transporte.
Acho que a gente chegou a ser os maiores vendedores
de vale-transporte de Fortaleza. Fic��vamos noite adentro
fazendo isso. Quando come��amos a receber ��gua, luz e
telefone, t��nhamos que mandar os boletos rapidamente
para as concession��rias. Assim a gente ficava at�� nove,
dez horas da noite trabalhando, porque chegavam aque-
les picos de vencimento e era preciso providenciar a en-
trega dos documentos. Minha m��e participou muito. Mas
ela estava mais diretamente ligada ��s coisas do meu pai,
ali, com ele.
Implantei a parte do caixa. Na ��poca, eram m��qui-
nas registradoras que tinham uns n��meros que exigiam
digitar os decimais na m��quina. Foi algo que a gente teve
305
J U A R E Z L E I T �� O
que aprender para repassar para os funcion��rios. Tive
tamb��m experi��ncia na parte de compras. Fui compra-
dora, analista de estoque na empresa, passei pela ��rea do
cart��o (�� ��poca do Cart��o Sempre tamb��m fiquei res-
pons��vel pelo conv��nio).
Em 2 0 0 2 sa�� da empresa. Passei tr��s anos em S��o
Paulo em uma empresa, do grupo Pague Menos, chama-
da e Pharma, respons��vel pelo Programa de Benef��cios de
Medicamentos, e, quando voltei para Fortaleza, fui para
a controladoria. Fazia todo o fechamento gerencial. Sem-
pre fui muito ligada �� empresa da fam��lia.
Hoje, quem coordena a Renda Participa����es, que
�� outra empresa de nosso grupo, sou eu. Todos os paga-
mentos de meu pai e de minha m��e: despesas dos apar-
tamentos, dos carros, dos funcion��rios, da casa de praia,
casa da lagoa, da fazenda Tem Tem etc, sou eu que admi-
nistro. No ano passado, assumi uma diretoria que se cha-
ma Gerenciamento de Categorias, que �� uma ��rea muito
pr��pria do varejo. ��rea que quase ningu��m conhece. S��
quem est�� l�� dentro. Como arranjar uma prateleira, como
arranjar um produto e como expor um produto. Hoje a
gente est�� l��, batalhando, trabalhando muito.
Agora que meu pai est�� saindo um pouco, chegou
a hora de a gente mergulhar de cabe��a e tocar a hist��ria
para frente. Temos consci��ncia da responsabilidade da
sucess��o. Muitas empresas de fam��lia n��o prepararam os
continuadores e desapareceram.
306
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
M��RIO - Bom, sou M��rio. E confirmo que, assim
como Kak��, Patriciana e Rosil��ndia, cresci aprendendo
sobre a nossa empresa. Quando a gente era pequeno,
passava metade das f��rias na Pague Menos. Meu pai acha-
va que era importante, para a gente valorizar o trabalho,
saber de onde vem o dinheiro que ganhava na mesada e
ter esse senso cr��tico de responsabilidade.
Todos falaram deste per��odo. Mas vou pular. Vou
tratar de quando completamos os dezoito anos. Era regra
geral passar uma temporada nos Estados Unidos, para to-
mar um banho de civiliza����o.
Cursei o High School em Albuquerque, New M��-
xico, USA, na Albuquerque High School, entre agosto de
1995 e julho de 1996.
Todos fomos para o exterior e, quando voltamos,
com dezoito anos, come��amos a trabalhar s��rio. Diferen-
te de meus irm��os fui trabalhar na PAX. N��o fui trabalhar
na Pague Menos. Fui para a PAX Corretora, primeira em-
presa de meu pai. Eu gostava do mercado de capitais. Co-
mecei meu trabalho l��. Muito jovem, arisco, inexperiente.
Direi at�� irrespons��vel. A Bolsa de Valores j�� �� um neg��-
cio de risco. Entrei no Mercado de Op����es, que �� bastan-
te arriscado. Fiz uma primeira opera����o, na qual ganhei
um dinheiro, significativo, e me empolguei. Depois, fiz
uma outra opera����o com um valor muito maior e perdi.
Perdi trinta vezes o valor de meu sal��rio, na ��poca, e n��o
tinha como pagar. Fui falar para meu pai e ele me de-
mitiu. Disse que eu n��o tinha maturidade para trabalhar
307
J U A R E Z L E I T �� O
naquele neg��cio e me mandou para o dep��sito, o Centro
de Distribui����o, para, literalmente, carregar caixa.
Fui para o CD, departamento de entrada de merca-
dorias, carregando caixa, verificando os produtos, confe-
rindo para ver se tudo tinha chegado. Tinha algumas pe-
culiaridades na entrada. Quando chegava um caminh��o
da Nestl��, por exemplo, dava um des��nimo muito grande
porque tinha que abrir caixa por caixa, olhar lata por lata
para ver se n��o tinha nenhuma amassada. Chegava sex-
ta-feira e a gente j�� sabia que ia entrar noite adentro con-
ferindo essas mercadorias. Mas foi um bom aprendizado
e eu realmente entendi o recado. Vi que eu tinha que ter
mais maturidade, n��o ia ficar rico da noite para o dia,
assim, e tinha que trilhar passo a passo a minha ascens��o.
Assim que cheguei dos Estados Unidos passei no
vestibular para Administra����o, na UNIFOR. S�� que fa-
culdade para mim era um neg��cio muito dif��cil. Tanto
que levei treze anos para me formar. Eu n��o tinha essa
aptid��o toda para o estudo e o que eu via nas primeiras
cadeiras de Administra����o, principalmente, Sociologia e
Filosofia, era muito longe da pr��tica. E, como eu j�� traba-
lhava, eu dizia: "Meu Deus, quando �� que vou aplicar isso
aqui?" A maioria dos professores tinha a vis��o do empre-
gado. Quando falavam da mais-valia era como se fosse
uma coisa horr��vel, que explorava o trabalhador, e n��o
que buscasse aumentar a produtividade. Eu ficava assim.
Rapaz, eu n��o vou aplicar isso aqui. Eu estou vendo o tra-
308
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
balho l�� e n��o condiz com isso aqui, pura teoria abstrata.
Eu fazia a faculdade e trabalhava na Pague Menos.
Demorei, mas me formei como administrador de
empresas pela UNIFOR.
Em outro momento, na Pague Menos, acho que em
1999, fiz o curso de Gerente Trainee, com tr��s meses de teoria e um m��s de pr��tica administrando uma loja. Depois de Gerente Trainee, assumi a Ger��ncia de Montagem
de Loja. Quando se abria uma loja nova, tinha que provi-
denciar todos os equipamentos: os m��veis, os balc��es e
os vidros. Em seguida, assumi a parte de Manuten����o de
Loja. Ent��o, ficava com a montagem de loja e a manu-
ten����o de loja. Mais tarde, fui para a parte de Delivery. E
passei, logo mais, para a Ger��ncia de Marketing.
Em 2003, era Gerente de Marketing da Pague Me-
nos. E, em 2006, aconteceu a comemora����o dos 25 anos
da empresa, ocasi��o em que lan��amos a nossa primeira
campanha de n��vel nacional. Seria o sorteio de 25 auto-
m��veis Gol, zero quil��metro, para festejar os 25 anos da
Pague Menos. Embora n��o estiv��ssemos ainda em todos
os estados da Federa����o, o que somente ocorreria em
2 0 0 9 , j�� poder��amos dar essa conota����o nacional pela
abrang��ncia que nossa empresa atingia naquele tempo,
de quase totalidade.
Em 2007, com a desmutualiza����o (prepara����o para
abertura do capital) da Bolsa de Valores de S��o Paulo,
meu pai viu a oportunidade de refor��ar a PAX Corretora
e perguntou se eu n��o gostaria de voltar para l��, a fim de
309
J U A R E Z L E I T �� O
estrutur��-la, transformando-a numa corretora do mesmo
n��vel das que existiam no Rio e S��o Paulo.
Com essa desmutualiza����o, a PAX, que era do Cea-
r��, teve o direito de comprar um t��tulo da Bovespa e pas-
sar a operar diretamente com a Bolsa de Valores. Coisa
que a gente n��o fazia. A gente fazia por conta. Tinha sem-
pre um atravessador. Eu topei e, em 2007, voltei para a
PAX Corretora.
Existia toda uma promessa de que o n��mero de
investidores no Brasil ia sair de perto de um milh��o de
investidores para cinco milh��es. Em 2007 acontecia o
boom de IPO ou de lan��amentos de a����es. Muitas empre-
sas indo para a Bolsa. A economia brasileira estava pu-
jante. O mundo acreditava que o Brasil era a bola da vez.
O mercado de capitais estava aquecido e a gente montou
uma corretora para captar todo esse volume. Isso durou
um ano ou um ano e meio. Em 2 0 0 8 houve a queda dos
Lehman Brothers.
ENTREVISTADOR - O que s��o os Lehman Bro-
thers?
M��RIO - Os Lehman Brothers eram uma corre-
tora dos Estados Unidos que operava com o Mercado de
Subprime (imobili��rio). Eles faziam resseguros de casas.
Os americanos tomavam dinheiro emprestado com o las-
tro na casa deles, na hipoteca. O mercado imobili��rio ame-
ricano estava crescendo tanto, que perguntavam: "Olha,
310
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
voc�� quer pegar cem mil d��lares emprestados? A sua casa
hoje vale cem mil." E ele pegava. Depois de seis meses a
casa dele estava valendo duzentos mil. E eles diziam: "Olha,
voc�� pode pegar mais cem mil d��lares", e o cara pegava. E
foi crescendo. Quando a bolha imobili��ria estourou, aquela
casa s�� valia realmente cem mil d��lares e estava garantindo
os quinhentos mil que ele tinha pedido emprestado, com a
garantia da casa. Ent��o, se descobriu que a sua garantia n��o
era verdadeira, e o mercado desabou.
ENTREVISTADOR - E que repercuss��o teve no
Brasil?
M��RIO - Teve repercuss��o no mundo todo, por-
que o mercado financeiro �� todo entranhado em seus en-
tes. No Brasil, infelizmente, repercutiu demais, porque,
com a globaliza����o, que vem desde antes do ano 2000,
as pessoas est��o distribuindo seus investimentos em v��-
rios cantos do mundo. E, quando ocorreu esse problema
em que os fundos tiveram que repor esse buraco, eles
foram para onde estava o lucro. E o Brasil era um dos fo-
cos, pois vinha crescendo muito. Assim, os investidores
tiveram que realizar o lucro aqui no Brasil para cobrir os
buracos nos Estados Unidos.
ENTREVISTADOR - Foi a�� que nasceu a frase da
"marolinha"?
M��RIO - Exatamente. O governo brasileiro quis
minimizar a crise e produziu essa ironia. Mas em 2 0 0 8
311
J U A R E Z L E I T �� O
teve esse problema. A gente estruturou a empresa. Au-
mentou o custo fixo dela porque, realmente, hav��amos
nos preparado. Sa��mos de seis funcion��rios para trinta.
Tivemos que mudar de pr��dio, os custos se mantiveram
e a receita n��o. A gente conseguiu se manter at�� 2 0 1 1 .
A partir de 2 0 1 1 a PAX come��ou a andar de lado, como
a gente diz. Ela n��o perdia dinheiro, mas tamb��m n��o
ganhava. Estava s�� se pagando. Ent��o, come��amos a
recorrer a um velho sonho de meu pai, que era fazer o
IPO (Initial Public Offering) da Pague Menos, a Oferta
P��blica Inicial de A����es. Isso em 2 0 1 1 . Como eu era a
pessoa que trabalhava em Mercado de Capitais, meu pai
me chamou e disse: "Volte para a Pague Menos para ser
Diretor de Rela����es com Investidores e cuidar dessa par-
te". Para isso, como a gente sabe que em torno de 60 a 70
por cento dos investidores nas empresas brasileiras s��o
americanos ou estrangeiros de outra origem, �� muito im-
portante estar com o ingl��s bem afiado, bem fluente, por
ser a l��ngua oficial dos neg��cios no Capitalismo. Fui para
Boston - USA, fazer um curso de ingl��s avan��ado, de tr��s
meses, e voltei para a Pague Menos para ser o Diretor de
Rela����es com Investidores.
Infelizmente o mercado se fechou. Em 2 0 0 8 teve
um problema e em 2012 outro problema. Esse foi mais
espec��fico do Brasil. O mundo j�� n��o enxergava o Brasil
como uma grande oportunidade, como ocorreu em 2007.
A�� a gente teve que abortar esse lan��amento de a����es na
Bolsa. Isso em 2012. Mesmo assim continuei como Dire-
312
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
tor de Rela����es com Investidores e incorporamos tamb��m
a ��rea de planejamento. Virei Diretor Financeiro tamb��m.
Fiquei assim at�� o final de 2 0 1 5 .
Em junho de 2 0 1 5 , os bancos que nos assessora-
vam, desde a ��poca de 2 0 1 2 , disseram que haveria uma
oportunidade de tentar novamente fazer o lan��amento
de a����es da Pague Menos. Disseram que agora havia um
mecanismo chamado "ancoragem". O que �� "ancora-
gem"? Alguma empresa, algum grande investidor seria o
��ncora e se comprometeria em comprar uma participa-
����o que garantisse que o lan��amento sa��sse. Ou seja, n��o
havia risco de o lan��amento n��o sair. Como no shopping.
Eles sempre colocam uma loja ��ncora, porque a�� indu-
zem as pequenas. Por exemplo: "Ah, se vai ter uma Lojas
Americanas, ent��o eu vou para l��, porque vai ter movi-
mento naquele shopping". �� mais ou menos essa a analo-
gia. Fomos conversar com alguns fundos com o objetivo
de que um desses fundos se comprometesse a ancorar o
lan��amento das a����es da Pague Menos.
Nessas conversas identificamos o General Atlan-
tic, um fundo americano. A conversa se aprofundou. Ele
realmente demonstrou interesse. S�� que eu disse: "Olha,
o momento n��o �� prop��cio. N��o adianta a gente ir a mer-
cado e fazer um IPO, um lan��amento de a����es, neste
instante. Gostaria de me aprofundar nas an��lises e fazer
uma proposta, depois, com mais conhecimento de cau-
sa. Podemos juntos preparar a empresa para daqui a tr��s
anos". Come��amos as negocia����es (isso foi em 2 0 1 5 ) .
313
J U A R E Z L E I T �� O
Estabelecemos os valores. At�� que percentual gostar��a-
mos de vender. Poder��amos abrir m��o da Pague Menos e
por qual valor.
Em 28 de dezembro de 2 0 1 5 assinamos o contrato
vendendo dezessete por cento da Pague Menos por 600
milh��es de reais. Nessa transa����o, j�� pensando em fazer
um IPO no prazo de tr��s anos, tivemos que fazer algumas
mudan��as.
Na Bolsa de Valores, quando voc�� entra no novo
mercado, que �� uma modalidade da Bolsa, as empresas
que fazem parte deste mercado t��m algumas regras a se-
guir e uma delas �� a seguinte: o cargo de presidente do
Conselho de Administra����o e Presidente-Executivo n��o
podem ser ocupados pela mesma pessoa. Durante a ne-
gocia����o colocou-se isso na mesa e se disse: "Deusmar,
voc�� deve participar do Conselho e colocar um Presi-
dente-Executivo". Colocou-se o meu nome porque era
eu quem estava l�� negociando junto com meu pai. Houve
assim um consenso entre os irm��os e Ubiranilson, que ��
meu tio e nosso s��cio (Ubiranilson, nessa transa����o, saiu
de dez para 8,3%. Ele vendeu, justamente, dezessete por
cento).
ENTREVISTADOR - Voc��s lucraram com a ven-
da? Voc��s, pessoalmente?
M��RIO - N��s, os filhos e a minha m��e, fomos di-
lu��dos. Houve uma venda prim��ria, como a gente chama
314
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
quando o dinheiro vai para a empresa, porque, na hora
em que ele entrou com quatrocentos e quarenta milh��es,
eles v��o direto para a empresa. Todos os s��cios foram
dilu��dos na participa����o. E tem a secund��ria, que vai para
o bolso do acionista
�� assim: eu tinha quatro por cento de uma empre-
sa que valia cem, passei a ter tr��s e meio de uma empresa
que vale duzentos. Eu tenho menos de um neg��cio que
vale mais. S�� que a venda secund��ria, que vai para o bol-
so do acionista, s�� foi para o Deusmar e o Ubiranilson.
N��s n��o vendemos. E esse dinheiro voltou para a em-
presa de outra forma. A�� houve minha escolha como Di-
retor-Presidente. Houve um consenso entre os irm��os e
Ubiranilson, pelo fato de eu ter essa proximidade com os
mercados de capitais, ter mais esse relacionamento com
os bancos e os entes do mercado financeiro. Pelo fato de
ser Diretor Financeiro e Diretor de Rela����es com Inves-
tidores eu tinha mais os n��meros globais da empresa na
m��o Hoje estou como Diretor-Presidente da Pague Me-
nos desde 1a de janeiro de 2 0 1 6 .
ENTREVISTADOR - Com uma responsabilidade
do tamanho do mundo em tuas costas. Como voc�� rece-
beu isso?
M��RIO - Foi um neg��cio gradativo. A ficha foi
caindo aos poucos. Gra��as a Deus deu para ver que �� exe-
qu��vel. D�� para estar onde estou. Aceitei essa situa����o h��
315
J U A R E Z L E I T �� O
quase um ano e meio. Eu sabia que meu pai estaria l�� e
que, em qualquer d��vida que eu tivesse, poderia recorrer
a ele ainda hoje e com o apoio dos tr��s irm��os, meu tio,
que s��o os s��cios que est��o l��, e mais a minha m��e, em-
bora ela n��o esteja l�� na empresa. Sei do peso, sim, mas
tranquilo.
ENTREVISTADOR - Essa harmonia �� extrema-
mente benfazeja para a empresa. Sem falar nessa coisa
da fam��lia de voc��s. Existe respeito e reciprocidade abso-
luta. Se n��o sentisse isso j�� teria notado.
PATRICIANA - Normalmente, o processo de su-
cess��o ocorre por acidente. O propriet��rio falece ou
acontece uma diverg��ncia que obriga a fazer a sucess��o.
Mas na Pague Menos foi uma coisa meio que planejada.
O Deusmar ainda est�� l�� com todas as suas capacidades
de executar. Ent��o, ele pode dar todo o suporte para o
M��rio e os irm��os est��o juntos. E isso ajuda muito o pro-
cesso de sucess��o.
ENTREVISTADOR - Eu me lembro que quando
fui apresentar o projeto da biografia para o Deusmar fiz
o hist��rico das empresas de fam��lia no Cear��. Como pro-
fessor de Hist��ria conhe��o a economia da cidade. Ent��o
levantei J. Tom�� de Sab��ia, Pedro Philomeno Gomes,
Jos�� Gentil de Carvalho, Jos�� Guimar��es Porto. Todas as
fam��lias. S�� uma empresa de fam��lia chegou a cem anos
316
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
no Cear��: a Ypi��ca. Todas duraram vinte anos, trinta
anos e quarenta anos. Quando eu estava dizendo isso, o
Deusmar chamou alguns de voc��s e pediu para que eu
come��asse de novo para que todos ouvissem a trajet��ria
dos percal��os alheios e n��o repetissem a hist��ria. Eu vejo
isso na empresa Pague Menos. Esse cuidado que o chefe,
o patriarca, tem com a sucess��o.
Mas vamos mudar de tom. A partir de agora vai
ser a festividade. Eu, por exemplo, posso dizer pessoal-
mente que tamb��m me apaixonei pela miss��o que me en-
tregaram, estou muito feliz pela oportunidade de contar
a hist��ria de um homem como o Deusmar. Escrevi mui-
tos livros, muitas biografias. Mas nunca me entusiasmei
tanto por um personagem como pelo pai de voc��s. Uma
das coisas que mais me impressionaram foi que um con-
tempor��neo dele, colega de adolesc��ncia, me disse que,
um dia quando Deusmar tinha uns quinze anos e todos
estavam merendando na casa da m��e do Dr. Irapuan Bra-
ga Ven��ncio, um dos amigos, por volta das quatro e meia
da tarde, de repente, Deusmar ficou s��rio, pediu sil��n-
cio e, assim, do nada, falou solene: "Pessoal, me deixa
dizer uma coisa: eu vou ser rico". E eles responderam:
"De onde vem essa hist��ria? Que bicho foi que te mor-
deu? Est�� ficando doido?" Mas ele insistiu: "Olha, eu que-
ria avisar a voc��s. Eu vou ser rico e voc��s podem contar
sempre comigo, pois eu n��o vou mudar". Eles acharam
aquilo uma grande piada. Interessante essa hist��ria. O
Brasil �� um dos poucos lugares do mundo onde uma
317
J U A R E Z L E I T �� O
pessoa um dia decide ser rica e pode vir a ser rica. Em
quantos pa��ses do velho planeta isso pode acontecer? No
Brasil acontece. Aconteceu. Era verdade. Um cara com
quinze anos foi tomado de uma inspira����o, que ningu��m
sabe de onde veio, mas, cheio de convic����o, professou
o seu sonho. Disse o que poderia ser apenas mais uma
besteira de adolescente, uma v�� tolice. E, no entanto, deu
certo. Era verdade.
�� esse sujeito que eu quero que voc��s analisem
agora.
Que homem �� esse que voc��s veem? Por que voc��s
admiram e amam este cara?
PATRICIANA - Olha, tem algumas caracter��sticas
muito fortes na personalidade do Deusmar e uma delas
�� essa que voc�� colocou a��. Ele tem a capacidade de so-
nhar e sonhar sonhos grandes, al��m de mobilizar as pes-
soas para sonhar com ele. Ele tem uma habilidade muito
grande. Algumas pessoas t��m alguns sonhos e preferem
deixar s�� para si. ��s vezes, por receio de aquilo virar cha-
cota ou por medo da inveja. Ele n��o. Ele sonha. Sonha
grande. E verbaliza todos os sonhos dele. Como essa his-
t��ria a��, tem v��rios outros epis��dios que ele verbalizou.
Lembro-me que teve um curso aqui de consultoria de alto
desenvolvimento em que o cara que estava palestrando
mandou algu��m levantar a m��o e dizer o seu sonho e o
Deusmar disse: "O meu sonho �� o de ter a maior Rede de
farm��cias do Brasil". Isso numa ��poca em que ele s�� esta-
318
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
va em seis ou sete estados. Ele j�� dizia que seria a maior
Rede de farm��cias do Brasil. Ele sonha e consegue mobi-
lizar as pessoas para realizar o sonho dele. Acho que isso
�� uma habilidade muito forte dele. E tem uma outra coisa
da qual eu tenho certeza: ele �� um homem aben��oado.
Ele atira no que v�� e acerta no que n��o v��.
ENTREVISTADOR - Eu queria que voc��s todos
pensassem tamb��m no t��tulo do livro. Pensei, inicial-
mente, em DEUSMAR, O REI DAS FARM��CIAS, man-
chete de uma mat��ria de um jornal de S��o Paulo, falando
de sua trajet��ria. Ele recusou, achou arrogante. Agora,
estou pensando neste: O TECEDOR DE OUSADIAS, e,
como subt��tulo: "A hist��ria de Deusmar Queir��s".
PATRICIANA - Mas ele realmente �� muito ousa-
do, mesmo. Enquanto crian��a voc�� tem os pais como su-
per-her��is. Como ��dolos. O Deusmar e a Auric��lia eram,
para a gente, superpoderosos. Mas, com o passar do tem-
po, voc�� percebe as falhas. A gente vai amadurecendo.
Pelo menos eu. Fui amadurecendo. Percebo, naturalmen-
te, algumas falhas dele. Mas olho para ele e percebo o
qu��o aben��oado ele �� e o qu��o vision��rio ele ��. E isso
�� muito forte. Enquanto filha, um pouco mais madura,
percebo v��rios dons que ele tem: o otimismo, o fervor
em tudo o que faz e o temor a Deus. O cora����o dele ��
que �� gigante. A gente diz: "Mas pai, pelo amor de Deus,
o senhor n��o est�� vendo que vai ser enganado por essa
319
J U A R E Z L E I T �� O
pessoa?" E ele responde: "Calma. N��o importa o que ela
vai fazer comigo. O importante �� que estou fazendo o
bem para ela. E essa �� a minha habilidade, fazer o bem".
ROSILNDIA - Eu vou tentar abordar um pouco
esse grande homem, o empres��rio ocupado, que traba-
lhou e trabalha muito, mas que sempre teve tempo para
n��s. Lembro que meu pai sempre viajou muito. No tem-
po do mercado de capitais, ele vivia dizendo que era o
��nico que n��o perdia um leil��o do FINOR. Mas uma coisa
era certa. Nunca passamos um final de semana sem ele.
Ele dava um jeito de vir para casa nos fins de semana. Ele
era professor tamb��m. Ficava corrigindo as provas dos
alunos em casa. Ele sempre foi deixar a gente no col��-
gio. Estud��vamos de manh��. Quando passamos a estudar
�� tarde e ele n��o podia deixar, ia nos buscar ��s sete da
noite. Ele chegava com aquele landauz��o no col��gio e a
gente ficava morrendo de vergonha. E tem muita coisa
legal na vida da gente que sempre foi feita por ele. "Va-
mos fazer um caf�� da manh�� nas dunas?", perguntava ele.
E a gente saia ��s quatro horas da manh�� de casa. Subia as
dunas, tomava caf�� e ficava l��.
Ent��o, ele sempre fez coisas muito diferentes na
vida da gente e que nos marcava muito. Sempre foi muito
presente. Sempre foi original, alegre e feliz. Sempre gos-
tou muito de festa. Ele sempre passa muita alegria onde
est��. N��o gosta de amargura. Detesta falar de doen��a. �� a
pr��pria imagem da felicidade e do otimismo.
320
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
M��RIO - "Ele �� muito otimista. Sempre foi muito
preocupado com a forma����o dos filhos. Muito preocupado
para que a gente n��o perdesse oportunidade de adquirir
conhecimentos. Ent��o, sempre nos for��ou a ler. Trans-
crever algum artigo. Ler as enciclop��dias que tinha l�� em
casa. Houve uma ��poca em que botou a gente para ter uma
tutoria do professor Cleber Aquino, um cearense profes-
sor de economia na Universidade de S��o Paulo. Era para
que receb��ssemos as primeiras li����es para a sucess��o.
Ele se dedicou tanto ao trabalho, que n��o tem mui-
tos amigos. �� trabalho e fam��lia. S��bado e domingo era
com a gente e a fam��lia de minha m��e. Ele quer almo-
��ar com a gente. Ele n��o tem amigos para sair e almo��ar,
como acontece com muita gente".
KAK�� - Seguindo essa linha que o M��rio falou a��.
Lembro-me bem quando ele pegava a mim e ao M��rio
no s��bado. Eram poucas farm��cias ainda. Ele sa��a para
coletar o dinheiro porque, na ��poca, eram poucas far-
m��cias.... Lembro bem que uma das primeiras coisas que
fazia era ir ao Ant��nio Bezerra, o bairro onde cresceu,
antes de come��ar a trabalhar. O M��rio era pequeno. Eu
tamb��m. Ele ia ao Ant��nio Bezerra e pegava a b��n����o do
pai, mesmo o pai sendo separado da V�� Madalena. ��s ve-
zes, puxava a orelha do pai porque tinha um filho fora do
casamento, o Raimundinho. Ele chegava ��s oito horas da
manh�� na casa do pai, pedia a b��n����o e, depois, pegava a
b��n����o da m��e.
321
J U A R E Z L E I T �� O
Eu me lembro que ele me fazia tomar a b��n����o dos
dois: vov�� Lisboa. Apesar de eu sentir que ele n��o tinha
muita reciprocidade. Era meio dur��o.
Pois bem, nosso pai, como disse a Patriciana, �� um
fazedor do bem e confia demais nos outros. Essa �� uma
caracter��stica natural do cidad��o Deusmar, �� coisa dele.
ROSILNDIA - Quando a gente estava gr��vida,
tanto eu quanto a Patriciana, Vanessa e a Katarine, to-
das as vezes que cumprimentava a gente, beijava a nossa
barriga tamb��m. �� assim. Ele j�� cumprimentava os netos,
aben��oando-os desde a barriga das m��es.
Ca��a a tarde quando encerrei a bateria de depoi-
mentos com os filhos de meu biografado e deixei a Vila
da Prosperidade. No caminho de volta pensava em como
ainda �� poss��vel se construir uma fam��lia, mesmo nesses
��speros tempos de M��e Joana. Uma fam��lia no sentido
altaneiro da palavra.
E, se recorro �� ideia da constru����o, repito uma
das mais antigas met��foras da literatura universal. Est��
na B��blia, no Ramaiana e no Livro dos Vedas. Edificar ��
uma benfazeja atividade humana. Uma das mais subli-
mes. Requer lugar prop��cio, alicerce firme, tijolos de boa
qualidade, paredes alinhadas, teto bem firmado, enfim,
uma constru����o de valor verdadeiro contra a qual n��o
prevalecer��o as chuvas mais intensas e os ventos furio-
sos, tempestades terr��veis e terremotos de grande poder.
Nada abalar�� suas estruturas s��lidas, erguidas com amor,
objetivos claros e zelosa obstina����o.
322
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Deusmar Queir��s conseguiu tamb��m ser um vi-
torioso nessa miss��o. A miss��o de formar descenden-
tes de quem pudesse, depois, se orgulhar. Entros��-los
na empresa, fazendo-os come��ar de baixo, nas fun����es
mais singelas, para que aprendessem a primeira grande
li����o, a da humildade, fora, certamente, uma atitude de
sabedoria.
Instru��-los, pela forma����o acad��mica, pelo exem-
plo e pela experi��ncia da "m��o na massa", era a repeti����o
proveitosa de sua pr��pria vida refletida no espelho de
suas almas. Ele crescera assim. E, por isso, apostara que
com os filhos poderia dar certo tamb��m. Acertou.
323
23
AS EP��STOLAS
EP��STOLA, palavra de origem grega,
�� uma esp��cie de carta-mensagem que
expressa opini��es, aconselha, comenta
fatos e manifesta apelos objetivos ou
subjetivos, �� pessoa, grupo social ou
comunidade a que �� destinada.
Esta modalidade de comunica����o foi
muito utilizada pelos primeiros l��deres
crist��os, especialmente, pelo ap��stolo
S��o Paulo, para manter o entusiasmo
das comunidades que havia convertido.
Osetor de comunica����o da Pague Menos utiliza
v��rias ferramentas de divulga����o de sua filoso-
fia, de seu desempenho e das perspectivas que
animam a empresa. Tem uma revista e um programa de
325
J U A R E Z L E I T �� O
televis��o, SEMPRE BEM, e um jornal. No Jornal, CAM-
PE��O, editado mensalmente, o Fundador, no artigo de
fundo, expressa o seu pensamento e conta as suas his-
t��rias. A publica����o �� dirigida, especialmente, aos que
comp��em o universo da empresa, mas tamb��m chega ��s
m��os dos laborat��rios, fornecedores e Entidades ligadas
ao setor farmac��utico.
Em estilo leve e franco, Deusmar recorda passa-
gens de sua vida, d�� conselhos, comemora vit��rias e re-
vela suas ousadias empresariais. Como fazia quando dava
aulas, est�� sempre levantando o ��nimo dos colaborado-
res, preconizando conquistas, espargindo otimismo para
todos os lados, do tipo: "O pr��ximo ano, contrariando os
arautos do Apocalipse, vai ser o melhor ano de nossa hist��-
ria. At�� porque o sucesso s�� depende de n��s e n��s queremos
e podemos!".
Vejamos como ele exercita a prega����o otimista e a
arte de contar hist��rias.
No n��mero 21 do CAMPE��O, em fevereiro de
2007, comemora um grande feito da empresa:
"MAIS UMA PARA CONTAR PARA OS NETOS
Ter��a-feira, 7h43min. Aterrissamos em Teresina.
Em seguida, fomos a Timon e Caxias, no Maranh��o. Na vol-
ta, almo��amos um risoto de carne de bode, capote no cuscuz
e na sobremesa, sorvete de tapioca com cobertura de goia-
bada caseira. Que maravilha!
326
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Reuni��o com gerentes e farmac��uticos ��s 14 horas.
As mesmas solicita����es das reuni��es anteriores: mais mi-
cros no balc��o, mais PDV no check-out, aumentar o esto-
que... Tudo como sempre.
O dia vinha transcorrendo normalmente. Chegamos
ao aeroporto. Nosso pr��ximo destino seria Imperatriz, no
Maranh��o, quando j�� na pista o celular toca...
- Oi, Sergio (Presidente da Abrafarma), tudo bem?
- Tudo. Saiu o relat��rio da IMS HEALTH, que audita
as vendas da ind��stria e do com��rcio farmac��utico.
- E a��, passamos da Pacheco?
- Sim.
-Eda Drogaria S��o Paulo?
- Tamb��m. Primeiro lugar em tudo, d��lares e unidades.
S��o I5h58min. Fico parado, sorvendo a informa����o.
O comandante Buosi chega perto e diz:
- Doutor, vamos, que a torre autorizou a decolagem
para as 16 horas.
Eu digo:
- Calma, comandante. Esta not��cia �� muito importante.
O Jucely se aproxima e pergunta:
- Doutor, o senhor est�� bem?
- Claro, estou ��timo. Mesmo com este calor de qua-
renta graus, estou at�� com frio!
Sei que Nelson Piquet, Ayrton Senna e Guga foram os
primeiros. Sei que o Carrefour, P��o de A����car ou o Bompre-
��o (Walmart) podem montar ou comprar Redes de farm��-
cias e nos superarem. Mas eu j�� tenho mais uma para contar
aos meus netos: um dia n��s fomos maiores do que eles.
327
J U A R E Z L E I T �� O
H�� quem diga que "tamanho n��o �� documento". Pos-
so at�� admitir que nos menores frascos estejam os melhores
perfumes; que nos grandes pr��mios, os cavalos montados
por j��queis de pequena estatura conseguem os melhores re-
sultados. Mas, convenhamos, ser o maior tem um gosto todo
especial. Faz bem ao ego do l��der e da equipe.
Tenho certeza que voc��, meu amigo colaborador da
Pague Menos, vai ficar assim meio sem jeito, quando disser
para os amigos e familiares que trabalha na maior empresa
do varejo farmac��utico do Brasil.
- Eu, Doutor? Sem jeito? Que nada! Fiquei foi muito
orgulhoso. Vou gritar para todo mundo ouvir que a Pague
Menos �� a maior do Brasil. E sabe por qu��? Porque eu fa��o
parte deste time, visto a camisa, acredito que estou ajudan-
do a construir uma empresa vencedora, que n��o vende psi-
cotr��pico sem receita e nada entra sem nota fiscal nem sai
sem o registro no caixa. Doutor, l�� em casa a mulher �� cat��-
lica e eu sou evang��lico. Ela vai �� missa e eu coloco o joelho
no ch��o e oro. Sabe o que eu pe��o, Doutor? Que a nossa em-
presa continue distribuindo ambul��ncias, cadeiras de rodas,
ajudando ex-presidi��rios, alfabetizando adultos e muitas
outras coisas, uma verdadeira e aut��ntica Empresa Cidad��.
Pois ��, meus amigos. Neste ano, em maio, completo
sessenta anos, e este, por enquanto, depois da minha fam��-
lia, �� o meu melhor presente.
Muito obrigado. Muito obrigado a quem?
A voc��, meu amigo colaborador, que n��o s�� veste a
camisa como ama a nossa empresa. A voc�� esposa, espo-
328
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
so, m��e, pai, filho e filha dos nossos funcion��rios, que por
muitas vezes foram privados da companhia dos seus, porque
eles estavam trabalhando para que nossa Empresa chegasse
ao p��dio, fosse a primeira em vendas, em n��mero de lojas e
em abrang��ncia geogr��fica.
Obrigado, Dona Mirian, por deixar seu filho sair de
Taperuaba - CE para comandar nossas opera����es no Sul do
Brasil. Obrigado a todos que fazem a ind��stria farmac��uti-
ca, a voc�� distribuidor, a voc�� que transporta nossos produ-
tos, seja quando vem, seja quando vai. Obrigado �� Varilog,
uma empresa que nos mostrou que n��o existem dist��ncias
instranspon��veis. Obrigado �� nossa ag��ncia de publicidade
e �� imprensa de modo geral. Obrigado ao meu s��cio-irm��o-
-amigo Ubiranilson e a toda a Diretoria da Pague Menos.
Obrigado �� minha querida familia, com destaque
para a Auric��lia, minha insuper��vel companheira nestes ��l-
timos trinta e seis anos. Obrigado a voc�� meu cliente amigo,
oculto ou declarado, do Amazonas ao Rio Grande do Sul,
porque sem voc�� n��s n��o existir��amos. E, finalmente, obri-
gado ao nosso Grande Arquiteto do Universo, pelas suas
b��n����os e luz.
Rumo ao primeiro bilh��o de d��lares.
Deusmar Queir��s
Presidente (orgulhoso)".
A hist��ria de sua inf��ncia �� um tema recorrente.
Costuma cont��-la em suas palestras, assim como em todas
as oportunidades que se lhe aparecem. Faz da autobiogra-
329
J U A R E Z L E I T �� O
fia um apetrecho did��tico e, repetindo-a aos que traba-
lham com ele ou se prestem a escut��-lo nas confer��ncias
pelo Brasil afora, pratica uma esp��cie de catarse, apontan-
do o que deu certo e o que poderia ter sido melhor.
Como aconteceu nesta cr��nica de dezembro de
2007 no CAMPE��O:
"AMANH�� PODER�� SER TARDE...
Era 1953, ou seja, h�� cinquenta e quatro anos. Eu,
um menino de seis anos. Mor��vamos numa cidade muito
pequena. S��o Bento de Amontada, menos de dois mil habi-
tantes. Meu pai tinha um com��rcio de secos e molhados. Eu
diria mesmo que vendia de tudo que o fregu��s precisasse,
pois, se n��o tivesse, trazia da Capital.
Arroz, feij��o, sab��o, sabonete, borracha, carne do
sul, querosene, bombom, fumo-de-rolo, cigarro, canivete,
tamanco, Melhorai, farinha e farinha-d'��gua, chap��u de pa-
lha, pirulito, goma, lamparina e, para encurtar a conversa,
at�� pano para fazer roupa, pra homem e pra mulher.
Tinha um produto que vendia demais: rapadura.
Muitas rapaduras que chegavam nos lombos dos burros.
Sacas e mais sacas, ou melhor, surr��es feitos da palha de
carnaubeira.
Sei que a maioria dos que v��o ler esta mensagem
nunca pegou ou viu nem mesmo ver�� um surr��o. Pois n��o ��
que, nas minhas traquinagens, subi numa pilha de sacos de
rapadura. Eles ca��ram em cima de mim e a�� eu quebrei uma
perna. Dizem que acima do joelho, na altura da coxa.
330
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Na ��poca, eu era como filho ��nico, pois minha irm��
estudava interna num col��gio da Capital.
Foi aquele alvoro��o, corre pra c��, corre pra l��. Meu
pai improvisou uma cama com a banda de uma porta de ma-
deira, em cima de uns caixotes. Como l�� n��o tinha m��dico
nem gesso, meu pai imobilizou a minha perna com peda��os
de talos de carnaubeira, aqueles que serviam para fazermos
cavalo de pau, com os quais sa��amos correndo pelo meio da
rua como se estiv��ssemos montados.
Eu passei a ser o centro das aten����es. Meu pai, que
sempre viajava a Fortaleza para fazer compras para o co-
m��rcio, cancelou tudo s�� para ficar comigo.
Por muitos dias fiquei em cima daquela dura cama
de madeira, mas meu pai fez de tudo para me agradar. At��
contratou um sanfoneiro para me divertir. E, pra me ani-
mar, criou uma m��sica, mais ou menos assim: 'O calango
quebrou a perna/Eu tamb��m quebrei a minha/N��o sei onde
d��i mais/Se na dele ou na minha... L�� r�� l��...'
Foi t��o bom ter recebido todas as aten����es do meu
pai, que, depois que fiquei bom, tive at�� vontade de quebrar
a outra perna.
Outros momentos alegres aconteceram entre eu e
meu pai. Mas a�� fui crescendo, estudando e trabalhando,
trabalhando e estudando, me casei, constitu�� fam��lia e o
tempo passando. Meu pai adoeceu e eu trabalhando e via-
jando, isolado no meu mundo, sem dar muita aten����o ao
meu tesouro. At�� que, no dia onze de janeiro de 1987, com
setenta e oito anos, ele morreu sem que eu nunca tivesse tido
331
J U A R E Z L E I T �� O
a sabedoria de dizer-lhe o quanto o amava e era grato por
aqueles dias da perna quebrada, por todo o amor e ensina-
mentos que ele tinha me transmitido ao longo dos quarenta
anos de nossa conviv��ncia.
Por isso, meu caro amigo, n��o deixe que aconte��a
com voc�� o que aconteceu comigo. Declare o seu amor, a sua
gratid��o por todos aqueles que de uma forma ou de outra es-
t��o ao seu lado, fazendo parte da sua vida. Amanh�� poder��
ser tarde...
Feliz Natal e um aben��oado 2008".
Em dezembro de 2 0 0 8 , comemorava, euf��rico, os
ganhos daquele ano. E declarava seus objetivos de bus-
ca perene da felicidade, condi����o espiritual e material
que, segundo afirma, s�� poder�� ser obtida com a mais
ampla parceria humana. Assim, repetia a assertiva b��sica
da prega����o crist�� de que s�� podemos ser felizes quando
fazemos felizes os que cruzam o nosso caminho, quan-
do amamos os outros, o desconhecido, o pr��ximo, dando
apoio e conforto a quem precisa. Dessa forma, incentiva
toda a fam��lia Pague Menos a praticar a "maravilhosa lou-
cura" de transformar o trabalho num palco de encanto,
num territ��rio de felicidade.
"MARAVILHOSA LOUCURA
Para voc�� nascer, foi preciso vencer a sua primeira
grande disputa. E veja que foi com milh��es de competidores.
Pesquisas revelam que, dos nascidos, muitos morrem antes
332
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
do primeiro ano de vida. Outros chegam aos 10, aos 15 anos.
Se voc�� est�� lendo esta mensagem j�� passou dos 18 anos e
j�� venceu e est�� vencendo diariamente v��rias etapas: nos es-
tudos, o primeiro e segundo grau, muitos o terceiro, alguns,
com p��s-gradua����o. No campo afetivo, o relacionamento
com os familiares: av��s, pais, irm��os, tios, primos, amigos
etc. Uma vit��ria muito importante foi conseguir emprego.
Nossa, como foi dif��cil! Mas voc�� n��o desistiu e chegou at��
aqui. Afinal, existe a famosa frase que diz: "sou brasileiro e n��o desisto nunca".
A�� vem a loucura do dia a dia: acordar cedo, pegar o
transporte lotado, no trabalho tem sempre algu��m cobran-
do alguma coisa: conferir a mercadoria, limpar as g��ndolas,
atender os clientes, a m��quina demora e o cliente reclama,
caiu o sinal, o cart��o de cr��dito n��o passa, o cliente vai em-
bora 'p' da vida, precisa bater meta, mas a mercadoria n��o
chega e o pessoal do escrit��rio fica cobrando documento,
o pessoal das lojas n��o entende e ainda tem que implan-
tar um tal de SNGPC, Nota Fiscal Eletr��nica... E voc�� vol-
ta para casa e, no dia seguinte, come��a tudo de novo. Eita
trem b��o, s��!
��, meu, realmente �� uma loucura.
-E a��? O ano de 2008, como foi para a Pague Menos?
- Riqu��ssimo em tudo. Vit��rias e problemas. Cumpri-
mos a agenda prevista. Abrimos lojas em novas unidades da
federa����o: Bras��lia-DF, Palmas-TO, Porto Velho-RO e Rio
Branco-AC.
333
J U A R E Z L E I T �� O
Tamb��m abrimos lojas novas em estados onde atu��-
vamos: Juiz de Fora-MG (duas), Uberl��ndia-MG, Ubera-
ba-MG, Taguatinga-MG, Cariacica-ES, Jaragu�� do Sul-SC,
Itabuna-BA, Itabaiana-SE, Macei��-AL, Recife-PE, Fortale-
za-CE, Manaus-AM, Suzano-SP, Londrina-PR.
Inauguramos o maior Centro de Distribui����o de
Medicamentos do Hemisf��rio Sul (a turma de sistema e
log��stica quase enlouquece, t��m uns que ainda est��o meio
assim...), colocamos no ar, em Rede Nacional, o Programa
Pague Menos Sempre Bem, fizemos os sorteios das casas no
Programa do Gugu, realizamos a nossa Conven����o Nacio-
nal com os L��deres da empresa, implantamos uma Central
de Delivery em v��rias cidades, o AME est�� bombando e vem
mais por a��. A Farm��cia de Manipula����o superou a mar-
ca de 12.000 f��rmulas preparadas por m��s, os produtos da
nossa marca pr��pria, Amor��vel, est��o se firmando e dispu-
tando com os campe��es de vendas. Realizamos os encontros
com fornecedores em S��o Paulo e em Fortaleza, obtivemos o
1o lugar na Pesquisa de Recall, na Para��ba, mesmo sem ter
o nosso nome na fachada. O Dr. Ubiranilson j�� comprou e
est�� apenas aguardando receber modern��ssimas impresso-
ras fiscais para substituir as carro��as (olha as coisas melho-
rando...), o nosso faturamento cresceu mais de 20%, temos
muitas lojas em constru����o para serem abertas no come��o
de 2009.
Por estas e outras realiza����es, eu afirmo que o ano de
2008 foi bom. Est�� tudo bem. Muito bem mesmo.
- E os problemas?
334
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
- Problemas? Que problemas?... Sai pra l��, rapaz...
Aqui n��o tem problemas... �� a��, pai, ��... Parece que bebe!
- Ent��o, diga a��, "meu rei", pra que tanta agita����o?
Pra que tudo isso?
- Existem v��rias respostas. Eu escolhi a minha prefe-
rida: ser feliz.
Alguns podem dizer: �� porque quer ser rico, �� porque
�� doido (nasceu de sete meses), ou ent��o �� porque �� empre-
endedor, ou, ainda, �� porque est�� preocupado com o social,
por isso cria empregos...
Meus amigos, n��o estou preocupado com a resposta
certa. Eu s�� tenho uma certeza: tudo que fa��o �� em busca da
felicidade. E o mais interessante �� que n��o conseguimos ser
felizes sozinhos. Ent��o, arrastamos todos que fazem a maior
e melhor empresa do varejo farmac��utico do Brasil para
participarem da maravilhosa loucura que �� a nossa vida.
Com as b��n����os de Deus e muito trabalho, vencere-
mos qualquer tsunami, quanto mais apenas uma marolinha.
Feliz Natal. Feliz Ano Novo. Felizes sejam todos os
dias da nossa vida."
Naquele fim de ano de 2 0 0 9 , quando tudo parecia
cinza e as perspectivas para a economia nacional eram
extremamente desanimadoras, o fundador da Pague Me-
nos anunciava novas vit��rias e um crescimento de mais
de 20%. O ano havia sido duro para todo mundo. A crise
era do hemisf��rio, anunciada a partir dos Estados Uni-
dos, que sofrera um grande rev��s em sua economia, com
335
J U A R E Z L E I T �� O
repercuss��o internacional. O texto com que Deusmar
sa��da os seus funcion��rios passa longe do pessimismo
que se disseminava por todo o pa��s.
"OTIMISMO �� BOM. ENTUSIASMO �� MELHOR
2009 �� um ano que ficar�� para sempre na nossa lem-
bran��a. No final do ano passado e in��cio deste, existia no
mundo uma generalizada onda de pessimismo. Bancos que-
brando, ind��strias demitindo, s�� se falava em crise e que o
mundo ia atravessar um per��odo de recess��o como nunca
t��nhamos visto, pior do que em 1929, quando a economia
americana caiu tanto, que se registraram, inclusive, alguns
suic��dios. O Brasil seria arrastado, como os outros pa��ses,
para o inevit��vel abismo. Nestas circunst��ncias o recomen-
d��vel era que as pessoas e as empresas evitassem qualquer
tipo de despesa ou investimento, juntando todas as reservas
para atravessar o tempo das vacas magras. (...)
Ora, meus amigos, n��s da Pague Menos, que somos
mais otimistas, pois somos constantemente entusiasmados,
resolvemos riscar a palavra 'crise' do nosso dicion��rio. Estra-
tegicamente, sem perda de tempo, colocamos em execu����o o
mais arrojado plano de expans��o de todos os nossos vinte e
oito anos de exist��ncia. A Pague Menos tem um hist��rico de
crescimento acima de 20% ao ano, nos ��ltimos dez anos. Por
que agora seria diferente? A palavra entusiasmo, origin��ria
do grego, significa estar com Deus. Quem est�� com Deus n��o
teme nada. Quem planta entusiasmo colhe realiza����es. E a
empresa que tem um time de colaboradores entusiasmados
336
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
como os da Pague Menos n��o pode esperar outra coisa que
n��o seja o sucesso. Foi exatamente isso que aconteceu. Em
2009 inauguramos a maior quantidade de lojas, em um s��
ano da nossa hist��ria. Tornamo-nos a ��nica Rede de varejo
presente em todos os vinte e seis estados brasileiros mais o
Distrito Federal. A nossa bandeira est�� presente em mais de
100 munic��pios. Criamos mais de mil empregos diretos e mui-
tos indiretos: nas transportadoras, nas empresas de delivery
etc. Como estava escrito nas estrelas, o nosso faturamento
cresceu mais de 20%, chegando a aproximadamente dois bi-
lh��es de reais, o que nos coloca entre os maiores varejistas do
Brasil. A cada dia confirmamos que sempre estivemos certos
em sermos otimistas e, melhor ainda, em cultivarmos o entu-
siasmo como doutrina fundamental na constru����o dos nos-
sos sonhos. O meu conselho �� que, se algu��m for falar com
voc�� sobre aquilo... Aquela palavra, sabe?... diga que voc�� ��
uma pessoa entusiasmada, pois quem est�� com Deus...
Boas Festas
Deus aben��oe todos hoje e sempre."
Em dezembro de 2010, mais uma vez, dirigia-se
aos seus colaboradores para comemorar vit��rias, festejar
premia����es e com eles repartir o fruto das conquistas.
Como se estivesse mirando no olho de cada um, excla-
mava cheio de emo����o: "Foi voc�� que tornou poss��vel o
nosso sucesso! Foi com voc�� que conseguimos avan��ar na
constru����o da maior e melhor empresa do varejo farmac��u-
tico do Brasil!".
337
J U A R E Z L E I T �� O
"EITA, QUE COISA BOA!
Mesmo com a nossa vida maluca, cheia de tarefas
para executar, quando paramos um pouquinho para pensar,
vemos quanta coisa acontece com a gente. Carinho dos pais,
dos filhos, do c��njuge (acho que voc�� s�� tem um), do(a) na-
morado(a), dos amigos, o reconhecimento do chefe, a meta
batida, o sal��rio em dia, o nosso time quando ganha, bai��o
de dois com carne de sol, atolado de capote, churrasco s��
no sal como ga��cho sabe fazer, bife do olh��o, rapadura com
coco, assistir a um filme sem ter um cabe����o na cadeira da
frente, chuvinha fina quando vamos dormir, domingo de
sol, praia, cerveja, um copo longo com muito gelo e muito
whisky, acordar e ter para onde ir sabendo que l�� vou fazer
parte de uma equipe, vou produzir, vou gerar riqueza, saber
que o meu trabalho ajuda a salvar vidas, contribui para me-
lhorar a sa��de de milh��es de pessoas. Sei que cada um vai
acrescentar, nesta lista, v��rios outros itens de sua prefer��n-
cia. Eu, por exemplo, acrescento almo��o no restaurante do
Marina com meus netos ap��s a missa do Padre Ferreira.
��, minha gente, o ano acabou. Ufa! Que ano! Abri-
mos 67 lojas, recorde absoluto em inaugura����es, repetimos
o crescimento de mais de 20% nas vendas, fincamos nossa
bandeira em v��rias novas cidades pelo Brasil afora, geramos
mais de dois mil empregos diretos. O Dr. Ubiranilson abriu
o bolso e autorizou a constru����o do Gr��mio com quadra de
esportes, piscina, sal��o de jogos e tudo mais. Fizemos avan-
��os important��ssimos nas ��reas de tecnologia, log��stica,
opera����es, financeira, cont��bil etc.
338
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Ganhamos v��rios pr��mios: locais, como o Pr��mio
Contribuintes, atrav��s do qual a Secretaria da Fazenda ho-
menageia os maiores pagadores de ICMS. Estaduais, como
os "Top of Mind" e "Recall". E nacionais, como os da Revista Exame e Valor Econ��mico.
Quando paramos para fazer uma retrospectiva do
ano, a principal conclus��o a que chegamos �� que todas as
conquistas s�� foram poss��veis porque voc��, voc�� que est��
lendo, faz parte do nosso time. Foi com voc�� que n��s conse-
guimos avan��ar na constru����o desta que �� a maior e melhor
empresa do varejo farmac��utico do Brasil.
Obrigado, muito obrigado... Mas antes de terminar
deixa eu te contar um segredo. Aconteceu uma dessas coi-
sas... Dessas coisas, sabe? A Associa����o Comercial de S��o
Paulo, veja bem, de S��o Paulo (campo dos advers��rios), ho-
menageou onze, somente onze empresas de todo o Brasil com
o Pr��mio 'Melhores dos Maiores do Com��rcio', e sabe quem
ganhou? A nossa querida Pague Menos. Eita, que coisa boa!
Feliz Natal, um aben��oado Ano-Novo e aqueeeeeeele
abra��o."
Em dezembro de 2 0 1 1 , estava mais m��stico do que
de costume. Na mensagem natalina atribui a Deus o cres-
cente sucesso da empresa e conclama todos a, como ele
faz, apostar todas as fichas na f��. Passa para os seus leito-
res uma palavra de esperan��a na prote����o da Divindade,
convicto de que essa f�� poder�� remover as dificuldades
do pa��s e do povo brasileiro. Como acontece sempre com
a Pague Menos.
339
J U A R E Z L E I T �� O
"F�� EM DEUS E P�� NA T��BUA
Meu Deus! Parece que foi ontem, est��vamos Auri-
c��lia e eu comentando sobre o que comprar��amos para os
nossos filhos, netos, parentes e amigos no Natal. Pois n��o
�� que o Natal j�� chegou de novo. Como o tempo passa r��pi-
do! Voc��s notaram que quando a festa �� animada n��s nem
notamos o tempo passar? Pois este ano foi assim tamb��m.
A festa chamada 2011 foi muito legal. Com a sua ajuda a
Pague Menos cresceu muito, 28% nas vendas, entramos em
mais de 40 novas cidades, inauguramos mais de 80 lojas e, o
mais importante, geramos mais de 2.000 empregos diretos.
Olha as coisas melhorando... Demos uma grande contribui-
����o para diminuir o desemprego no nosso pa��s e levamos
sa��de para milh��es de brasileiros.
Eu fico muito feliz de fazer parte desta grande fam��lia
de mais de treze mil membros que �� a Pague Menos. Juntos,
estamos construindo a maior e melhor empresa do varejo
farmac��utico do maior pa��s do Hemisf��rio Sul.
Neste ano o mundo passou por muitas atribula����es:
os Estados Unidos continuaram em crise, v��rios pa��ses da
Europa n��o conseguem pagar suas contas, no Oriente M��-
dio ditadores foram depostos e at�� na Am��rica do Sul algu-
mas economias est��o com problemas. No entanto, o nosso
querido Brasil conseguiu tirar de letra, crescendo pouco,
mas crescendo. Tenho plena convic����o de que 2012 ser�� um
grande ano para o Brasil e para nossa empresa. O mundo
vai criar ju��zo e n��s vamos lan��ar nossas a����es na Bolsa de
Valores. Vamos continuar crescendo a todo vapor, abrindo
340
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
lojas, criando empregos, pagando impostos, gerando rique-
zas e levando sa��de, higiene e beleza para milh��es de clien-
tes, ou melhor, de amigos. Voc�� sabe por que eu tenho con-
vic����o de que vamos ter dias cada vez melhores? �� porque
eu consegui desenvolver uma estrat��gia de liberar a minha
mente de pensamentos negativos e acreditar firmemente
que o Homem l�� de cima tem um projeto muito bonito para
todos que fazem parte da Fam��lia Pague Menos. Afinal,
s��o trinta anos de crescimento cont��nuo e de pleno sucesso.
Como ter��amos conseguido se n��o f��ssemos uma empresa
aben��oada? O segredo �� simples, DEUS ajuda a quem quer
fazer a coisa certa e acredita Nele. E �� exatamente isso que
n��s fazemos. Acreditamos na prote����o divina e trabalha-
mos muito. Nunca se esque��a de que n��s somos o resultado
dos nossos pensamentos e de nossas a����es.
Boas Festas. Deus aben��oe a todos.
Aquele abra��o".
Em dezembro de 2012, ele volta ��s mem��rias, re-
cordando como iniciou sua empresa, em 1 9 8 1 . E recor-
re novamente ao tema da felicidade, que n��o pode ser
um usufruto vertical, mas uma emo����o compartilhada,
abrangente, horizontalizada, de modo a atingir todo o
universo dos que se envolvem com o mesmo sonho.
"�� IMPOSS��VEL SER FELIZ SOZINHO...
O sonho come��a em 14 de mar��o de 1981, era um
s��bado, quando um parente, sabendo do meu interesse em
341
J U A R E Z L E I T �� O
montar uma empresa varejista, me disse: conhe��o um rapaz
que entende tudo de farm��cia, voc�� n��o quer conhec��-lo? Na
hora pegamos um carro e fui conhecer o rapaz que seria o
meu primeiro s��cio na constru����o de um grande sonho. 66
dias depois, no dia 19 de maio de 1981, numa ter��a-feira,
nascia na periferia de Fortaleza, com apenas 6 funcion��-
rios, a Pague Menos. Este rapaz, meu primeiro s��cio, n��o
entendeu e no ano seguinte eu tive a felicidade de convencer
o Dr. Ubiranilson Alves para vir substitu��-lo. Este, sim, en-
tendeu qual era o meu sonho e passamos a sonhar juntos.
Parceiros de objetivos at�� hoje e, com as b��n����os de Deus,
continuaremos sonhando juntos por muito tempo.
Ao longo dos ��ltimos 31 anos, muita gente boa pas-
sou pela nossa empresa, com especial destaque para 'dona
Ozana', que veio trabalhar conosco antes de concluirmos o
nosso primeiro ano de exist��ncia.
Fazendo um balan��o, afirmo que tivemos muitas di-
ficuldades e alegrias, mas quando paro para analisar con-
cluo que as alegrias foram muito maiores. Crescemos con-
tinuamente e desde 2006 somos, individualmente, a maior
e melhor Rede de farm��cias do Brasil, com mais de 580
lojas espalhadas por 217 cidades e aproximadamente 16
mil colaboradores.
O sonho continua, mas ser grande n��o basta.
O nosso sonho atual �� de que possamos contribuir
para a realiza����o do principal sonho de todo ser humano,
que �� a BUSCA DA FELICIDADE. Est�� na B��blia: 'Ganha-
r��s o teu p��o com o suor do teu rosto'. Mas, longe de ser um
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
castigo, o trabalho deve ser visto como um caminho para a
busca da felicidade.
A Pague Menos �� uma empresa muito bem-sucedida.
Por��m, acredito que n��o �� o sucesso da nossa empresa que
faz a felicidade dos nossos colaboradores, mas proporcionar
felicidade nos nossos colaboradores �� que faz o sucesso da
Pague Menos. 'Sonho que se sonha s�� �� s��, �� apenas um
sonho. Sonho que se sonha junto vira realidade'... A Pague
Menos �� uma prova dessa realidade.
Quero agradecer a VOC��, querido(a) colaborador(a),
por nos ajudar a construir o sonho da busca da Felicidade.
E como diz o poeta: '�� imposs��vel ser feliz sozinho...'
Pe��o que voc�� estenda essa felicidade para al��m da sua loja
ou setor. Que ela se espalhe pela sua fam��lia, seus amigos,
sua rua, seu bairro...
Rogo a Deus que aben��oe a todos e continue nos ilu-
minando para juntos construirmos uma empresa de suces-
so, mas acima de tudo FELIZ.
Boas-Festas. Feliz 2013. Um beijo no cora����o".
A cr��nica com que festeja o encerramento de 2013
�� uma cesta de triunfos. A empresa dera mais de 2.000
novos empregos, instalara dois Centros de Distribui����o,
promovera exitosos eventos culturais e esportivos, dis-
tribu��ra pr��mios, fizera um congresso com a participa����o
de milhares de mulheres, reunira seus diretores e geren-
tes para uma grande e profunda avalia����o de desempe-
nho... Enfim, tinha tudo para comemorar.
343
J U A R E Z L E I T �� O
O fundador estava cheio de alegria e queria que
todos se sentissem tamb��m abra��ados pelas vit��rias con-
seguidas. Aproveitava a oportunidade para anunciar os
eventos retumbantes do ano seguinte, como a Copa do
Mundo no Brasil e as elei����es para Presidente, Gover-
nadores, Senadores e Deputados. Estava cheio de espe-
ran��a e queria repassar aquele estado de esp��rito para o
ativo humano da Pague Menos, enquanto incentivava a
continuidade do sonho e o amor ao trabalho.
"PARA CONSTRUIR �� PRECISO SONHAR
E P��R A M��O NA MASSA
2013 foi bom, 2014 vai ser melhor ainda.
Inauguramos mais de 70 lojas e reformamos muitas.
Passamos a fazer parte da vida de v��rias cidades e mais de
2.000 novos colaboradores vieram compor a nossa Fam��lia
Pague Menos. O CD de Pernambuco entrou em funciona-
mento e o CD de Goi��nia est�� pronto para iniciar sua mis-
s��o de abastecer as lojas do Centro-Oeste, Sudeste e Sul.
Realizamos o maior evento feminino do Brasil, com
mais de 12 mil mulheres, e tamb��m, com grande sucesso,
o 4o Circuito de Corridas. A nossa festa, "Pr��mio Novas Conguistas", com mais de 800 participantes, trouxe para Fortaleza centenas de diretores parceiros da ind��stria farmac��utica e de higiene e beleza, banqueiros, construtores
e nossos principais fornecedores de servi��o. UFA! Foi tra-
balhoso e gostoso, e ainda serviu para treinarmos bastan-
te para enfrentar a pauleira gue vai ser 2014. Olhem s��:
344
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
in��cio da opera����o do CD de Goi��nia, Carnaval em mar-
��o, Copa do Mundo em junho e julho, elei����es em outu-
bro, realiza����o do 5o Circuito de Corridas em 5 cidades
e, com as b��n����os de Deus, vamos inaugurar 100 lojas
e criar 2 mil empregos. Vai ser muito divertido, estamos
prontos, e voc��, querido colaborador, �� quem vai realizar
esta festa. Em janeiro vamos colocar no ar um comercial
que nos convida a termos um AMOR DO TAMANHO DO
BRASIL. Solicito que voc�� aprenda a letra, baixe o v��deo e
divulgue aos seus amigos pelas redes sociais, mais do que
isso, que voc�� pratique esse amor com toda pessoa que se
aproximar de voc��. O sucesso da Pague Menos depende de
colocarmos em nossas a����es um AMOR DO TAMANHO
DO BRASIL, experimente e voc�� vai ver o que acontece.
Como disse Geraldo Vandr��: 'Quem sabe faz a hora, n��o
espera acontecer', fa��a. Quero registrar a minha gratid��o
e amor a todos que constroem a melhor entre as maiores
Redes de farm��cia do Brasil: nossos Diretores, Gerentes
de Opera����es, Gerentes Regionais, Supervisores, nossos
17 mil campe��es que diuturnamente fazem a coisa acon-
tecer nas nossas mais de 650 lojas em todo o Brasil, o time
da retaguarda, cora����o da empresa, o time dos CDs, pul-
m��o indispens��vel para a exist��ncia das lojas, e a todos
que direta ou indiretamente est��o conosco... Juntos e Mis-
turados. Sonho com um Brasil justo, onde todos possam
viver com dignidade, e que as fam��lias sejam um porto se-
guro onde o amor a Deus e ��s pessoas esteja sempre em
primeiro lugar.
345
J U A R E Z L E I T �� O
Amo tudo que fa��o, mas principalmente, amo cada
um de voc��s.
Desejo a todos um Feliz Natal e um aben��oado Ano-
-Novo.
Um Beijo no cora����o de todos".
Em dezembro de 2014, come��a a cr��nica com uma
conceitua����o filos��fica sobre a for��a positiva da palavra.
Quem gosta de andar nos vales sombrios da amargura
atrai para si as a����es negativas do destino. Os maldizen-
tes, os lamuriantes e os que s�� profetizam desventuras
s��o uns derrotados aprior��sticos. Gente que entra na
guerra j�� achando que vai perder.
Por isso, concita os colaboradores a seguir o seu
exemplo. Sempre foi um otimista de carteirinha, um en-
tusiasmado pelo seu trabalho, um destemido pelejador.
Essa atitude de vida o faz vencedor.
E, ent��o, mostra a performance da empresa naque-
le ano que estava terminando. S��o n��meros de ascens��o,
conquistas frequentes, pr��mios consagradores.
E alerta contra a influ��ncia negativa daqueles que ele
denomina de "arautos do Apocalipse", apostando em novos
��xitos e venturosos momentos no ano que se aproxima.
"DIZE-ME O QUE FALAS E EU TE DIREI QUEM ��S
O que tu falas �� o espelho da tua exist��ncia. O que
falas externa o que pensas e o que pensas reflete o teu estado
de esp��rito e de uma forma muito clara e tua felicidade, ou
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D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
n��o. Procure sempre falar coisas boas, elogiar a tua fam��lia,
teus amigos, a empresa na qual trabalhas, o teu pa��s.
Ainda n��o me acostumei com o tempo que as pesso-
as gastam criticando situa����es e coisas, sem o menor senti-
do l��gico, apenas pelo prazer de externar o seu pessimismo
destrutivo, que n��o leva a lugar nenhum.
Muitos falaram que os est��dios n��o ficariam prontos,
que os aeroportos n��o suportariam o tr��fego, que n��o teria
Copa do Mundo etc. Como todos sabemos, a Copa foi um
grande espet��culo. O brasileiro deu um show de hospitalidade
e o mundo viu um pa��s bonito, unido e em desenvolvimento.
Agora est��o falando que 2015 vai ser um desastre,
que vai ter desemprego, que a infla����o vai subir, que n��o vai
chover, enfim, um pessimismo generalizado, que n��o cons-
tr��i absolutamente nada.
N��s, da Pague Menos, que sempre alimentamos o
h��bito do pensamento positivo, como n��o podia ser diferen-
te, agora estamos colhendo os bons frutos. 2014 foi ��timo.
Crescemos 18%, chegando ao faturamento deR$ 4,4 bilh��es
de reais, acrescentamos 88 novas lojas e reinauguramos al-
gumas, abrimos o maior Centro de Distribui����o do segmen-
to farmac��utico da Am��rica Latina, geramos mais de 2.000
empregos diretos, batemos recorde no valor em pagamento
de impostos, fizemos mais de 100 milh��es de atendimentos
'de cora����o', levando sa��de e beleza aos nossos clientes nos
quatro cantos deste querido Brasil.
Ganhamos diversos pr��mios em muitas cidades e em
v��rios segmentos. Mas, como presidente e principal l��der
347
J U A R E Z L E I T �� O
desta fam��lia, n��o poderia deixar de registrar o meu mais
profundo orgulho por termos recebido o "Great Place To
Work", tanto local como nacional, numa demonstra����o de
que o nosso sucesso n��o �� refletido somente atrav��s de n��-
meros, mas sim, e principalmente, pela satisfa����o que pro-
movemos no nosso ambiente de trabalho. O sucesso s�� ��
completo quando �� acompanhado de felicidade, e receber o
GPTW, como uma das 50 melhores empresas para traba-
lhar no 2o maior pa��s democr��tico do mundo, mostra que,
com as b��n����os de DEUS, estamos no caminho certo. Mui-
to obrigado a todos e a todas que constroem esta maravi-
lhosa empresa.
E 2015? Ah!... Contrariando os arautos do Apocalip-
se, 2015 vai ser o melhor ano da nossa hist��ria, at�� porque
s�� depende de n��s e n��s queremos e podemos.
Feliz Natal e um aben��oado Ano-Novo (com muito
dinheiro no bolso, sa��de pra dar e vender).
Presidente orgulhoso e feliz".
Em 19 de maio de 2017, o fundador dirigiu uma
carinhosa mensagem a toda a Fam��lia Pague Menos. Era
o anivers��rio da empresa, o 36�� de funda����o.
Madrugara para emitir os cumprimentos, mani-
festar regozijo e aplicar nos parceiros sua tradicional in-
je����o de otimismo. A cr��nica foi postada pelo WhatsApp
��s 6 h l 4 .
348
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
PAGUE MENOS, 36
Hoje �� um dia muito importante, o nosso sonho Pa-
gue Menos est�� completando 36 anos. E venho aqui declarar
o meu agradecimento a todos que est��o diariamente con-
tribuindo para a constru����o desta empresa e, ao mesmo
tempo, reconhecer que nada disso teria acontecido se n��o
fosse o empenho de todos, desde o pessoal da base: caixas,
vendedores, auxiliares de escrit��rio, recepcionistas, separa-
dores, conferentes, nos CDs, nos escrit��rios regionais, at�� a
matriz. 99% dos nossos l��deres come��aram a sua vida pro-
fissional, ou seja, o 1o emprego, na nossa empresa. Sinto-
-me muito feliz de ter dado in��cio a essa grande escola da
vida, onde nossos l��deres treinam os iniciantes n��o s�� para
suas tarefas di��rias, mas a serem disciplinados, corteses,
ensinam o valor do trabalho em equipe, o respeito ��s pes-
soas, sejam colegas, sejam clientes ou quem quer que seja.
Mostram a import��ncia de levar bem-estar aos milh��es de
brasileiros que nos brindam com sua prefer��ncia. Minha
gratid��o ao meu s��cio amigo Ubiranilson, que abriu m��o de
uma bela carreira para vir fazer parte do nosso sonho. Aos
meus queridos filhos, que, desde a inf��ncia e adolesc��ncia,
fizeram da nossa empresa o seu lar profissional. Aos nossos
abnegados diretores. Temos l��deres que est��o conosco desde
o come��o, como o Fl��vio, a Rosinha e a Zenilda, que se de-
claram felizes com a escolha que fizeram. Concluo afirman-
do que somente com as b��n����os divinas e o esfor��o de todos
foi poss��vel superar os in��meros desafios que enfrentamos.
Muito obrigado.
349
J U A R E Z L E I T �� O
Que venham os pr��ximos 36 anos!
Deus aben��oe a todos.
O fundador feliz,
DEUSMAR QUEIR��S".
N��o bastava ao ap��stolo Paulo disseminar o Evan-
gelho pela ��sia Menor e por toda a Costa do Mediterr��-
neo. Com as comunidades crist��s que instalava, continu-
ava a manter contato por meio de constantes mensagens
doutrin��rias e de incentivo. Eram as famosas EP��STOLAS
de S��o Paulo, hoje inclu��das no Novo Testamento.
Espelhado no exemplo de Paulo, Deusmar Queir��s
mant��m, pelos mais diversos meios, um elo constante
de comunica����o com seus colaboradores. Por isso, estes
textos de algumas de suas cr��nicas de fim de ano est��o
sendo inclu��dos em sua hist��ria, como mais uma exposi-
����o de seu otimismo vertical e do modo sublime como
olha a vida.
350
24
O HOMEM VISTO DE
PERTO
"Meu tempo tornou-se escasso para
discutir as apar��ncias. Quero conhecer
a ess��ncia das pessoas, a face de suas
almas, os sonhos que as municiam."
R u b e m Alves ( 1 9 3 3 - 2 0 1 4 ) ,
e d u c a d o r brasileiro
Omatuto nordestino e sua sabedoria. H�� uma ve-
lha senten��a no sert��o que diz que: "Ningu��m
conhece ningu��m antes de comer pelo menos
uns cinco quilos de sal juntos".
A conviv��ncia n��o s�� aprimora as rela����es como
revela as personalidades. As pessoas, assim como as
353
J U A R E Z L E I T �� O
montanhas, de longe s��o sempre azuis, coroadas de nu-
vens, iluminadas pelos raios fulgurantes das manh��s ou
pelos rom��nticos tons vermelhos do crep��sculo. Uma vi-
s��o de beleza espl��ndida, a pr��pria poesia da natureza a
c��u aberto.
De perto, por��m, as montanhas s��o ��speras, com
precip��cios abissais, animais bravios, insetos e r��pteis pe-
��onhentos e variadas formas de perigo. Ou servidas pelas
��guas cristalinas das cachoeiras, habitadas por aves ca-
noras, resineiros frondosos, zimbros de baga e palmeiras
farfalhantes.
Desse jeito tamb��m s��o as pessoas. Conhecendo-
-as na intimidade, privando com elas, testemunhando
situa����es cr��ticas ou venturosas, na euforia das vit��rias
ou nos corredores sombrios da amargura, �� que as temos
inteiras, reveladas e transparentes, e descobrimos de fato
como s��o, de modo pleno e absoluto.
Os que conhecem, de perto, Deusmar Queir��s
sentem por ele uma simpatia que at�� o encabula. Sabem-
-no humano e, como tal, sujeito ��s vicissitudes da esp��-
cie. Mas o acham superior, valente, ousado, encorajador.
Muitos o conheceram repartindo com ele o ambiente de
trabalho e, assim, testemunhando o seu modus operandi,
a maneira audaciosa de enfrentar as miss��es e os giros
do destino.
Selecionamos alguns depoimentos de amigos, pa-
rentes, antigos colegas de trabalho e companheiros de
diversas etapas de sua vida.
354
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
O professor Ubirajara Alves, primeiro irm��o de
Auric��lia, sempre foi uma voz muito ouvida e respeitada
na fam��lia. Pessoa de renome nacional, ocupou impor-
tantes fun����es no Distrito Federal, entre outras, a de Di-
retor do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), mani-
festa suas impress��es sobre o cunhado:
"Desde que entrou em nossa fam��lia, Deusmar fez
quest��o de manifestar, em v��rias ocasi��es e de maneiras
mais distintas, que n��o se considerava apenas um cunha-
do, mas um verdadeiro irm��o. Suas reais raz��es para ado-
tar t��o simp��tica atitude, que certamente nos tocou a to-
dos, somente ele as poderia oferecer. No entanto, uma bem
fundamentada explica����o eu poderia adiantar. Expansivo e
extrovertido como sempre foi, ele sentia necessidade de es-
tar, na medida do poss��vel, cercado de muitas pessoas, em
qualquer que fosse a ocasi��o. Por��m, oriundo de uma fam��-
lia diminuta, ele deve ter encontrado na nossa, ampla como
��, o habitat natural para o preenchimento dessa car��ncia
original. Pelo que pude observar, acredito que tal car��ncia
n��o chegou a se repetir em nenhum dos outros parentes
afins. Nesse aspecto, trata-se de uma caracter��stica exclu-
sivamente sua.
N��o menos importante, e guardando coer��ncia com
sua atitude anterior, tem sido a permanente e efetiva preo-
cupa����o com a educa����o dos membros da segunda e at�� da
terceira gera����o da nossa fam��lia. Obviamente, com a cola-
bora����o sempre presente da Auric��lia, sobretudo, na iden-
355
J U A R E Z L E I T �� O
tifica����o das car��ncias e necessidades. Nesse sentido, ele
ocupa um lugar de relevo na continua����o da obra do papai.
Ainda mais, juntamente com a Auric��lia, ele nos propicia as
melhores condi����es materiais e emocionais para continuar-
mos a manter periodicamente um conv��vio grupai de toda a
fam��lia. Sem d��vida, algo de inestim��vel valor para a pre-
serva����o do nosso elogiado gregarismo, por sinal, sempre
estimulado pelos nossos pr��prios pais. Ali��s, fato que o pr��-
prio Deusmar n��o se cansa de elogiar. Para mim, que vivo
distante, essa �� uma oportunidade que costumo antecipar
com alegria e satisfa����o. Sou, portanto, um eterno devedor
dessa verdadeira d��diva que amavelmente me �� concedida
de tempos em tempos. Certamente muito mais do que eu
jamais mereci.
Por todas essas raz��es e, possivelmente por outras
tantas que me escapam, eu decidi eleg��-lo como l��dimo re-
presentante dos demais parentes afins. Creio que todos con-
cordam com o acerto da minha decis��o. Ele, que sempre se
considerou irm��o por escolha pr��pria.
Dentre todas essas qualidades e virtudes, aquela que
merece mais destaque ��, sem d��vida alguma, a sua incr��vel
determina����o, nas suas mais variadas acep����es. Na capaci-
dade de escolher e estabelecer os objetivos apropriados, na
persist��ncia e firmeza para alcan����-los, na habilidade de
tomar as decis��es corretas, de motivar a equipe e de preci-
sar as a����es necess��rias para fazer acontecer, entre outras.
Seguindo de perto, vem a sua extraordin��ria ousadia. Es-
sas s��o as respons��veis diretas pelo seu vertiginoso suces-
356
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
so como empreendedor. Em seguida, aparece o coroamento
do trio de virtudes que escolhi. Trata-se de sua reconhecida
magnanimidade que, a exemplo da ousadia, �� exercitada
com bastante arrojo, ali��s, tra��o distintivo de sua personali-
dade. Felizmente, ele logrou desenvolver a habilidade de tra-
fegar em regi��es lim��trofes, sem jamais cruzar as perigosas
linhas que as separam".
Raimundo Padilha aparece em v��rios momentos
da hist��ria de Deusmar, mas sempre �� bem-vindo, com
novas informa����es, ricas de pormenores:
"Deusmar �� um amigo. Pessoa que estimo muito. Sou
padrinho de casamento do filho dele, o M��rio, que hoje �� o
Presidente do Grupo Pague Menos.
A Pague Menos, hoje, �� uma companhia aberta regis-
trada na CVM. O Deusmar, no entanto, n��o fez o IPO (sigla
em ingl��s para Oferta P��blica Inicial, ou OPI, em portu-
gu��s). Mas vendeu uma participa����o (dezessete por cento,
talvez) a um fundo. Esses fundos andam atr��s de empre-
sas em crescimento, que t��m perfil estrat��gico, e fazem isso
praticamente com companhia aberta. Para ter companhia
aberta a pessoa tem que seguir alguns par��metros, como
boa governan��a e Conselho de Administra����o. Por isso o
Deusmar passou para Conselho de Administra����o e o M��-
rio, seu filho, �� o presidente-executivo. O que predominou
por muito tempo no Brasil foram os Conselhos de Adminis-
tra����o que coincidiam com a fam��lia. Mas a Pague Menos
tem um Conselho de Administra����o com conselheiros ex-
357
J U A R E Z L E I T �� O
temos �� fam��lia. E isso �� uma grande abertura. T�� certo. O
Deusmar, embora tenha uma fam��lia grande (quatro filhos
e muitos netos), abriu o conselho para trazer colabora����o,
cr��tica, expertise de fora tamb��m para o projeto dele.
Ele sempre foi muito expansivo e natural. Numa oca-
si��o, apresentava as empresas dele em um audit��rio da CDL
e l�� pelas tantas colocou um DVD da Ivete Sangalo e ficou
pinotando no palco, dan��ando feito um danado. Coisas as-
sim. Excentricidade. Ele �� festeiro demais. Ele gosta de uma
exposi����o e eu at�� acho que ele devia ser mais contido. Uma
exposi����o excessiva pode chamar a aten����o e trazer perigo,
como j�� aconteceu. Lembro-me do quanto o Deusmar sofreu
com o sequestro do filho. E essa exposi����o toda �� uma coi-
sa que, realmente, me preocupa e sempre que estou com ele
aconselho para que seja um pouco mais contido. Mas isso faz
parte do estilo dele, do comportamento dele. Ele �� assim. Um
homem extraordin��rio pensando que �� um homem comum.
Conheci algumas pessoas not��veis nessa minha ca-
minhada ao lado de grandes empres��rios... Uma delas foi
o Edson Queiroz. Era de uma simplicidade imensa, uma
pessoa de um di��logo aberto e franco que estava acima de
sua ��poca. Deixava a gente muito �� vontade. Jos�� Macedo
tamb��m �� assim. At�� quanto p��de esteve em reuni��es da
FIEC. Esp��rito democrata. H�� empres��rios muito reclusos.
Outros se exp��em mais, como o Edson e o Z�� Macedo. O
mais alegre, expansivo e natural �� o Deusmar. Um cearense
t��pico, brincalh��o, engra��ado... Um menino grande que n��o
d�� muita import��ncia para a import��ncia que tem".
358
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Jos�� Maria Couto Bezerra, advogado, ex-verea-
dor e Presidente da C��mara Municipal de Fortaleza, her-
deiro pol��tico de Ger��ncio Bezerra como representante
do bairro de Ant��nio Bezerra, conviveu na adolesc��ncia
com Deusmar Queir��s e sobre esse tempo se pronuncia.
"Deusmar foi meu companheiro de movimento Jo-
vem no Centro da Mocidade Cat��lica (CMC) e tamb��m nas
"peladas" que pratic��vamos no campinho ao lado do Patronato. Nunca foi um primor de jogador, mas era muito entu-
siasmado e puxava sua equipe aos gritos de anima����o.
Seu Lisboa, o pai dele, tinha a maior mercearia do
bairro, na Avenida Mister Hull. Sua m��e, a dona Madalena,
era uma pessoa muito querida, serena, calada, mas conhe-
cida pelas caridades que fazia, n��o deixando de m��os vazias
os pobres que a procuravam.
O interessante �� que todos que viam o jeito espont��-
neo e otimista de Deusmar, sempre muito vibrador, sempre
falando de seus planos que a gente achava, ��s vezes, muito
exagerados, sabia que ele iria vencer na vida. Depois, n��s fo-
mos acompanhando o sucesso do rapaz, cada vez crescendo
mais, botando empresas, ficando rico.
Agora, uma coisa eu posso dizer: foi um cara que
nunca mudou. N��o ficou bo��al, mesmo quando atingiu a
posi����o de um dos homens mais ricos do Cear��. �� o mes-
mo amig��o daquele tempo, sempre euf��rico, sempre pronto
para o abra��o.
Nossa gera����o tem orgulho do Deusmar. Venceu
mesmo, ficou famoso.
359
J U A R E Z L E I T �� O
A bem da verdade, todos n��s nos colocamos bem
na vida. Quase toda aquela turma se formou e seguiu seu
caminho, cada qual na profiss��o que escolheu. Eu, como
era natural, filho de pol��tico, me tornei pol��tico e cheguei a
atingir posi����es relevantes, como a Presid��ncia da C��mara
Municipal, tendo oportunidade de assumir algumas vezes a
Prefeitura de Fortaleza.
Mas, certamente, daqueles jovens que viveram sua
juventude em Ant��nio Bezerra nos anos 60 e 70 do s��culo
passado, foi o Deusmar o que chegou mais longe. E est�� a��,
crescendo sempre para atingir novas conquistas".
Jo��o Soares Neto, empres��rio e escritor, relembra
os tempos da CR��DIMUS, quando o viu come��ando seu
ascendendo e vitorioso itiner��rio:
"Conheci Deusmar Queir��s no in��cio dos anos seten-
ta. Raimundo Padilha, seu professor na Faculdade de Ci��n-
cias Econ��micas da Universidade Federal do Cear��, o trou-
xe, como disc��pulo diferenciado, para a 'Galeria Cr��dimus',
esp��cie de supermercado financeiro que trabalhava com a
Caderneta de Poupan��a, Letras Imobili��rias, A����es e ou-
tros. Paralelo a isso, Bernardo Bichucher, s��cio colateral da
Cr��dimus, tinha uma corretora de valores mobili��rios, prati-
camente inativa. Deusmar a gerenciou e dinamizou. Passou
a ser, rapidamente, um dos maiores negociadores no Brasil
das a����es de empresas beneficiadas pelos artigos 34/18,
base de apoio da Superintend��ncia do Desenvolvimento do
Nordeste, Sudene, ��s empresas regionais. Em seguida, as-
360
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
sumiu o controle da Corretora Pax. Era o jovem guerreiro
demonstrando que a sua luta pessoal come��ara, mas era
uma cruzada de paz. Em toda a sua vida, teve o apoio incon-
dicional de Auric��lia, sua mulher. Em 1981, j�� detentor de
bens e, principalmente, a����es, at�� hoje um de seus maiores
ativos, resolve fundar as Farm��cias Pague Menos. Agora,
36 anos passados, a Pague Menos est�� operando em todos
os estados brasileiros e�� o maior grupo de farm��cias nacio-
nal. Tem mais de 1.000 lojas, inovou, desde o princ��pio, no
'mix' de bens e servi��os prestados. D�� empregos a milhares
de farmac��uticos e colaboradores. Paralelo a isso, Deusmar
tem ainda um 'pool' de outras empresas din��micas e efica-
zes. Tudo lhe �� merecido por conta de seu esp��rito empreen-
dedor, capacidade de lideran��a, simplicidade e destemor".
Jorge Alberto Vieira Studart Gomes (Beto Stu-
dart), administrador e empres��rio, Presidente da FIEC
( 2 0 1 7 ) , pronuncia-se sobre Deusmar Queir��s:
"Nos conhecemos, eu e o Deusmar, ainda muito jo-
vens. Na ��poca, me lembro de uma viagem que fiz para os
Estados Unidos, talvez a minha primeira viagem para aque-
le pa��s, e nos encontramos no balc��o do Aeroporto de Mia-
mi. Eu j�� admirava aquela forma el��trica que ele tinha de
conduzir o seu momento. Eu nem sabia se o Deusmar ia
ficar bilion��rio como ele ficou. Mas o homem �� animado
pela for��a de vontade, pelo entusiasmo, pelo otimismo, efoi
construindo sua vida calcado nessa convic����o de que o tra-
balho faz a grande diferen��a. Ele �� uma pessoa exemplar,
3 6 1
J U A R E Z L E I T �� O
sob v��rios prismas. Eu fui acompanhando, a dist��ncia, o
trabalho dele e vi como ele foi crescendo. Ele trabalhava, na
��poca, na compra e venda de a����es, principalmente, para as
empresas do Sistema FINOR. Num determinado momento,
da minha ��poca na AGRIPEC, eu tinha um projeto de Su-
dene e as a����es da empresa foram para o mercado a fim de
serem ofertadas nos leil��es da Bolsa de Valores. Num certo
dia, o meu amigo Deusmar me ligou perguntando se eu g��e-
��a recomprar as a����es da AGRIPEC gue estavam na cartei-
ra do FINOR/BNB. Eu disse gue n��o tinha dinheiro naguele
momento, mas, se ele guisesse, comprasse. E ele perguntou:
'T�� tudo bem?! A organiza����o t�� boa? Voc�� est�� aperrea-
do por dinheiro?' E eu disse: 'T�� tudo bem. T�� bem demais,
tudo j��ia, show de bola!', mas por tr��s eu estava num per-
rengue, e estava tudo lascado. Isso foi em 1988, 1989 ou
1990. Ent��o, o Deusmar foi l�� no mercado/leil��o e comprou
todas as a����es preferenciais da AGRIPEC gue estavam no
FINOR. Passou a ter uma relev��ncia acion��ria, mas como
era preferencial ele n��o aparecia no neg��cio, porgue prefe-
rencial sempre tem a prefer��ncia na distribui����o de lucros,
bem como, nos casos de liquida����o na empresa, mas n��o
tem direito a voto. Quando chegou em 1997, eu j�� estava
desejoso de ter 100% do capital da AGRIPEC, e s�� tinha um
jeito: comprar as a����es do Deusmar. Eu e meu filho, Carlos
Alberto Studart, gue a gente chama de Deda Studart, fomos
conversar com ele. Nessa ��poca, o Deusmar j�� estava mi-
lion��rio, com o neg��cio bem consolidado, uma rede de far-
m��cias muito grande e sempre muito alegre. Essa alegria
362
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
sempre me chamou muito a aten����o. Ou n��o tem momento
ruim para ele ou ele tira de letra os momentos ruins. Das
duas, uma. A�� eu cheguei e disse: 'Olha, Deusmar, eu estou
pensando em comprar as a����es das quais voc�� �� detentor,
que estavam na carteira do FINOR, pois me interessa ter
o controle acion��rio da AGRIPEC 100%. Ele, de imediato,
aquiesceu. Foi de uma nobreza muito grande, porque, quan-
do eu expliquei para ele esse meu problema, tive uma res-
posta extremamente cordial: 'Beto, lhe vendo, sim'. E ent��o,
dois ou tr��s dias depois, nos encontramos e ele disse: 'Beto,
o neg��cio est�� feito! Vou vender para voc��. Fa��a o cheque!'
Chegamos num acordo dos valores, mas havia um detalhe.
Ele disse: 'Qual �� o pre��o que voc�� vai pagar?' A�� eu disse:
'Pegue o valor que voc�� investiu na ��poca, corrija pela in-
fla����o e me venda. Fa��a isso por mim.' Ent��o, ele disse que
estava fechado e que eu fizesse o cheque. Respondi: 'Cheque
eu n��o tenho. Eu vou pagar a prazo.' Ent��o, num gesto de
muita generosidade, ele concordou que eu pagasse em 10
vezes, sem fiador e sem qualquer tipo de aval. Eu disse que
queria colocar como guardi��o, dessa transa����o, o Fonteles -
amigo comum, advogado - que ia anotando, �� medida que
eu liquidasse, e tomando as provid��ncias para fazer a trans-
fer��ncia das a����es. Assim foi feito. Nunca atrasei um dia.
Ele n��o podia nem se lembrar de mim, porque um cara s��
lembra do outro quando o outro est�� inadimplente, e, como
eu nunca ficava inadimplente, ele n��o lembrou.
Esse foi um momento auspicioso da minha rela����o
com o Deusmar, porque mostra a sua cabe��a pelo lado em-
363
J U A R E Z L E I T �� O
pres��rio. Ou seja, o entendimento que ele tem das dificulda-
des de qualquer empres��rio. N��o �� aquele cara que est�� ali
somente para poder, gananciosamente, ganhar oportunida-
des. Esse foi o Deusmar que eu conheci na intimidade.
O resto, meu irm��o, o que eu vejo �� que ele �� um ho-
mem brilhante, que continua colocando em pr��tica o mesmo
entusiasmo do passado. Os seus sonhos vivem em ebuli����o o
tempo todo, construindo um ambiente em que a gente nota
a presen��a de Deus e da fam��lia na hist��ria do seu suces-
so. Sempre ligado ��s pessoas. �� um homem da institui����o,
do CDL, que faz parte das institui����es de classe. Que d�� o
seu depoimento de vida para todos aqueles que necessitam
ser estimulados para empreender. O Deusmar para mim ��
um homem que merece todo o respeito. �� um construtor do
bem. O fato de ele vir do sert��o foi uma das melhores coisas
que pode agregar ao seu hist��rico. �� muito bonita esta as-
cens��o de vida das pessoas que n��o tiveram oportunidade,
experi��ncias que muitos fortalezenses tamb��m viveram. Ele
�� um homem que soube construir o seu sucesso com discer-
nimento e garra.
N��s precisamos render homenagens constantemente
a Deusmar, e que ele sirva de exemplo para n��s, para os va-
rejistas, empreendedores jovens, que saibam que tudo �� pos-
s��vel, desde que tenham boas ideias, muito trabalho, muita
for��a de vontade e que n��o desistam nunca. Se voc�� tem con-
vic����o de que est�� no caminho certo, n��o desista, n��o deixe
de ter for��a, n��o deixe de ser ousado. E isso o Deusmar nos
mostrou muito bem"!
364
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Pio Rodrigues, empres��rio, l��der classista, poeta,
�� outro grande amigo de Deusmar Queir��s e faz sobre ele
uma an��lise acurada e profunda:
"Uma vez escutei do Beni Veras (empres��rio e ex-
governador do Cear��, falecido) que todo ex��rcito, desde a
Idade M��dia, tinha sempre que ter um rompedor. Um arti-
lheiro na frente. Um destemido. Um cara que fosse abrindo
os caminhos. E nos neg��cios n��o �� diferente. Acho que o
Deusmar �� um desses homens. Eu penso que ele �� um ban-
deirante moderno, porque saiu abrindo neg��cios no Brasil
todo. N��o s�� neg��cios, mas prestando grandes servi��os ��s
comunidades mal assistidas tamb��m. Deusmar cobriu o
Brasil inteiro. E eu penso (tenho absoluta certeza disso, ali-
��s) que ele ��, hoje, o maior varejista da hist��ria do com��rcio
de Fortaleza. Foi o cearense que foi mais longe tamb��m em
n��mero de farm��cias.
E isso ele o faz com entusiasmo (o que vai muito al��m
da quest��o financeira ou empresarial. �� uma quest��o prati-
camente de sangue e vida). Deusmar �� um grande empreen-
dedor que se tornou um grande empres��rio. A grande dife-
ren��a entre o empreendedor e o empres��rio �� que o primeiro
n��o sabe se estabilizar como o segundo. O primeiro arranca,
descobre, vai em frente, mas, bem ali, ele se perde, porque
n��o sabe ser empres��rio. Mas acho que o Deusmar soube
ser as duas coisas: um grande empreendedor que se trans-
formou em um grande empres��rio sem perder seu esp��rito
empreendedor, que �� muito pr��prio dos cearenses.
365
J U A R E Z L E I T �� O
Todos sabemos que o Deusmar �� um otimista inve-
terado. Ele est�� sempre para cima. Tem uma frase do seu
Cl��vis, meu pai, que eu acho que cabe muito bem no esp��rito
do Deusmar. Seu Cl��vis dizia o seguinte: 'Meu filho, se, com
otimismo, as coisas j�� s��o dif��ceis, com pessimismo, elas
se tornam imposs��veis'. O Deusmar tem essa quest��o, essa
determina����o e, aliado a isso, ele �� um homem destemido
e movido a desafios. O Deusmar, seja qual for a situa����o
econ��mica ou pol��tica, est�� sempre avan��ando. Est�� sem-
pre encontrando uma forma de agregar valor aos neg��cios.
Prestar novos servi��os. Ele remodelou praticamente o que
era a farm��cia de antigamente. Est�� sempre pesquisando e
prospectando. �� por isso que credito o sucesso que ele tem a
esse esp��rito dele movido a desafio e o fato de ser um homem
extremamente empreendedor.
Duas considera����es. Hoje em dia, para voc�� perma-
necer no jogo dos neg��cios, tem que ser muito competente.
Mas ser s�� competente n��o ganha o jogo. Al��m de compe-
tente voc�� tem que ser diferente. E o Deusmar sabe fazer a
diferen��a para ganhar o jogo. Tem uma coisa minha, que eu
escrevi, que cabe muito bem nessa hist��ria do Deusmar. Diz
assim: '�� importante chegar l��. �� fundamental permanecer
l��, mas o essencial �� ir al��m'. O Deusmar n��o s�� chegou como
permaneceu. E ele est�� sempre buscando alguma coisa al��m
do que j�� est�� feito ou que ele mesmo fez. Isso �� uma caracte-
r��stica muito pr��pria da maneira como ele foca os neg��cios.
Enfim, quero dizer que o considero um amigo extre-
mamente leal e irrestritamente solid��rio. Acho (para usar
366
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
uma imagem po��tica) que 'ele tem a for��a de um trem e o
cora����o de um vem-vem'.
Todos os anos, no fim do ano, quando ele comemora
o Natal das pessoas que servem �� fam��lia dele, �� a fam��lia
do Deusmar que vai servir ��s pessoas que serviram a ela
durante o ano todo.
Ele �� um exemplo para mim. Um exemplo para o co-
m��rcio de Fortaleza. Uma lideran��a superautorizada e res-
peitada por onde passa e aonde chega".
O Dr. Freitas Cordeiro, Presidente da FCDL - Fe-
dera����o das C��maras de Dirigentes Lojistas do Cear�� e
fundador da imobili��ria FZ Im��veis, fala sobre a partici-
pa����o de Deusmar Queir��s na Entidade:
"�� um prazer prestarmos aqui este depoimento em
rela����o ao Deusmar e a sua participa����o no sistema cedelis-
ta do estado do Cear��, a partir da CDL de Fortaleza.
O Deusmar �� essa figura fant��stica muito f��cil de
a gente gostar dele. E quem tem uma proximidade com o
Deusmar sabe o quanto ele �� din��mico, ativo, uma carga de
otimismo e de euforia. Ele tem o esp��rito para cima e n��o ��
diferente no dia a dia nem dentro da Entidade. Traz essa
energia positiva. O momento da dificuldade, ele enfrenta,
mas n��o cria problema: resolve encontrando solu����es. Isso,
para o sistema, sempre foi muito salutar. A presen��a do
Deusmar no nosso sistema cedelista, no estado do Cear��,
�� motivo de orgulho para todos n��s, e nesse segmento, eu
digo sempre, com o tempo de vivencia que eu tenho nele,
367
J U A R E Z L E I T �� O
mais ou menos 20 anos, o Deusmar tem contribu��do como
exemplo de empres��rio de sucesso. 95% dos associados de
nosso segmento s��o pequenos e m��dios empres��rios, e os
outros 5%, s��o empresas de m��dio e grande porte. O Deus-
mar, para orgulho de todos n��s, �� o maior varejista do Brasil
no ramo farmac��utico. Ele est�� nos 5% e vivendo conosco
nessa CDL. �� sol��cito, pois consegue na agenda dele atender
��s nossas demandas. Nunca buscamos o Deusmar para ele
dizer um n��o. E onde ele pode contribuir conosco? Passan-
do nos audit��rios a sua experi��ncia. Ele faz isso com muito
prazer. Sei o quanto �� dif��cil sacrificar a sua agenda aperta-
da, mas ele sempre diz: 'Freitas, eu n��o posso faltar ao seg-
mento. 'A cada momento em que ele aparece e fala para esse
p��blico, �� uma dose maci��a de euforia. Carga de esperan��a
que todos n��s precisamos para enfrentar os nossos neg��-
cios. O Deusmar �� tudo isso e ainda encontra tempo para
compor a Diretoria da CDL de Fortaleza, na qualidade de
Vice-Presidente. Mesmo n��o querendo mais participar da
Diretoria, o convenci a ficar comigo por 6 anos. O Severino
Neto assumiu a Presid��ncia e ele ainda continuou por mais
dois mandatos de 3 anos.
Ent��o, esse homem �� fabuloso, e uma refer��ncia de
dedica����o para esse sistema e para todo o Cear��. Eu sin-
to prazer de poder registrar esse depoimento. �� muito bom
voc�� poder falar de peito aberto, com um sentimento de pra-
zer, de dizer, referendar um nome desses. O Cear�� ainda n��o
deu ao Deusmar o destaque que ele merece. Essa obra que
est�� sendo escrita, a biografia do Deusmar, vai servir de es-
368
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
pelho para muitos jovens que v��o vir por a�� e v��o se abeberar
por seu exemplo de vida, verificando que a sua trajet��ria hu-
mana �� fascinante: um homem que nasceu na pequena cida-
de de Amontada, enfrentou adversidades, mas, gra��as �� sua
intelig��ncia, trabalho e aplica����o, superou todos os desafios.
Francisco Ant��nio de Alc��ntara Macedo, eco-
nomista, consultor empresarial, professor universit��rio,
conheceu Deusmar Queir��s na faculdade e, depois, foi
seu companheiro de Magist��rio na Universidade de For-
taleza, UNIFOR. Hoje faz parte do Conselho Diretor da
Pague Menos.
"O Deusmar �� mais velho do que eu dois anos e, como
diz a minha filha, quem �� sex n��o �� sex, �� sexagen��rio. J��
estamos dobrando a curva. Na terceira idade, estamos al��m
do que j�� foi caminhado. Essa �� que �� a realidade. Tudo isso
daqui �� uma passagem. �� um filme curt��ssimo.
Meu pai, seis meses antes de morrer, com 87 anos, es-
tava em uma cadeira de rodas e, certa vez, me falou o seguin-
te: 'Macedinho, a vida �� muito curta, mesmo quando �� longa'.
Conheci o Deusmar quando entrei no curso de Eco-
nomia da Universidade Federal do Cear��, em 1971. Somos
quase da mesma idade. Deusmar entrou na UFC em 1969.
Eu entrei em 1971. E logo houve uma identifica����o muito
forte entre n��s. Peg��vamos o Benfica no centro da cidade
para chegar �� Av. da Universidade.
O Deusmar sempre foi uma pessoa que transmitiu
muita alegria, espontaneidade e otimismo, mesmo debaixo
369
J U A R E Z L E I T �� O
de porrada, no vendaval das crises, ele sempre est�� dispos-
to para a luta. Ent��o, houve uma identifica����o muito forte
entre n��s. Acho que fomos colegas em duas cadeiras: em
Econometria e Estat��stica. Mas eu terminei o curso em dois
anos e meio, enquanto ele terminou em cinco. Eu era estu-
dante profissional. O Deusmar trabalhava. Tempos depois,
eu lecionava na Universidade Federal do Cear�� e o Deusmar
na UNIFOR. Quando fui para a UNIFOR, ele lecionava a
cadeira de Mercado de Capitais, na qual �� um especialista,
at�� porque foi funcion��rio e, depois, dono da PAX Corretora.
Convivemos muito na UNIFOR. Eu era professor
de Economia Industrial de Pol��tica e Programa����o Econ��-
mica. Ent��o Deusmar se tornou coordenador do Curso de
Economia e eu me tornei assistente dele. Ent��o, convers��-
vamos muito.
O Deusmar come��ou a ganhar dinheiro no Finor
e acho que n��o sabia o que fazer com o dinheiro. Mas fez
um grande neg��cio quando o Geisel saiu da Presid��ncia da
Rep��blica e assumiu a presid��ncia do Conselho de Admi-
nistra����o da Copene. O ex-presidente do Brasil chamou o
Deusmar para comprar as, a����es preferenciais da Copene.
A�� ele ganhou um pr��mio da loteria... Acho que seu primeiro
milh��o de d��lares.
Ficou perplexo, mas, depois, decidiu investir no neg��-
cio de venda de rem��dios. Um dia, ele me disse: 'Compadre,
eu vou botar uma Rede de farm��cias!' E, se n��o me engano,
acrescentou: 'Vou fazer mil farm��cias'.
370
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Em se tratando de car��ter, Deusmar �� uma pessoa de
primeira linha. Ele �� altamente comprometido com a fam��-
lia dele. �� um cara que tem uma personalidade muito bem
ajustada. Compromisso com os amigos. Religioso. Homem
de f��. O Deusmar �� um daqueles que, se eu precisar dele ��s
tr��s horas da manh��, ele me atende.
Mas, na vida, toda pessoa que vai para a vitrine en-
frenta, normalmente, os invejosos e os concorrentes. Os que
n��o conseguem atingi-lo competindo e os que querem que
ele n��o progrida. Mas veja: vinte e tr��s mil empregados dire-
tos. Que bela folha de pagamento ele faz todo m��s. E outra
coisa: isso feito na labuta s��ria, de disputa de mercado, por-
que as disputas c��lebres nordestinas ou cearenses brotaram
do setor p��blico, onde, inclusive, nasceram algumas grandes
fortunas. Com o Deusmar n��o houve nada disso. Ele fez for-
tuna na pedra, no ch��o rude do empreendedorismo privado.
A disputa dele foi no mercado.
Somos uma terra de destemidos. O velho Cear�� de
guerra. Conheci outros empreendedores do porte dele. Tr��s
grandes empres��rios cearenses: Jos�� Macedo, Edson Quei-
roz e Ivens Dias Branco.
Na universidade, eu j�� via o Deusmar como um oti-
mista, audaz e, ao mesmo tempo, uma pessoa espont��nea,
simples, franca. Sabia que ele ia triunfar. O vencedor tem
um DNA que a gente percebe logo. Ele �� desses sujeitos que
est�� sempre contente e alegre, mesmo usando uma cal��a
rasgada ou um sapato gasto, o que nunca foi o caso.
371
J U A R E Z L E I T �� O
Eu via no Deusmar uma pessoa de sucesso, que seria
bem-sucedida. Como economista e como empres��rio. Como
economista, se dedicou �� ��rea de Mercado de Capitais. Ele
tanto estudou a teoria como praticou e ganhou dinheiro
nessa ��rea. E tamb��m como professor. Lembro que surgiu a
vaga da Coordena����o do Curso de Economia e o Deusmar
foi o escolhido.
Acho que o Deusmar, em muitas ocasi��es, �� um poe-
ta. Mas um poeta que pratica os seus sonhos".
Luiz Carlos Monteiro, titular em cirurgia pedi��tri-
ca pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Pedi��trica e pela
Associa����o M��dica Brasileira, foi diretor superintenden-
te da Federa����o das UNIMEDs do Estado de S��o Paulo
e diretor-secret��rio, diretor tesoureiro, vice-presidente e
presidente da Sociedade Paulista de Cirurgia Pedi��trica.
�� fundador e presidente da ePharma�� PBM do
Brasil S/A e considera Deusmar "um vision��rio, um ami-
go e um exemplo de vida".
"Conheci Deusmar em Rio das Pedras-RJ, nos idos
de 1998, convidado que fui para dar uma palestra, em even-
to patrocinado por uma ind��stria farmac��utica, para falar
de PBM - Pharmacy Benefit Management, modelo ameri-
cano que havia acabado de visitar, cuja experi��ncia poderia
ser utilizada em nosso mercado.
O evento era direcionado ao canal de varejo farma-
c��utico e estavam presentes as maiores empresas do setor
- Redes de farm��cia e grandes distribuidores. Ao dissertar
372
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
sobre o modelo, que trazia em seu bojo a pretensa entrada
de um pagador privado de medicamentos, os planos de sa��-
de e consequente previs��o de press��o sobre pre��os, percebi
que o assunto era de aceita����o sens��vel no setor.
Ao ser aberta a palavra para a plateia, surgiu uma
figura carism��tica, imposs��vel de passar despercebida em
qualquer ambiente onde esteja, que soltou o seguinte co-
ment��rio jocoso, outra de suas caracter��sticas:'- Olhe, dou-
tor, esse tal de PBM, j�� que �� uma coisa ruim, se tiver que
vir, cuide para que venha de jegue, n��o deixe que venha de
avi��o n��o....', arrancando costumeiros risos da plateia. Era
meu primeiro contato com Deusmar Queir��s, que, mais tar-
de, num coquetel, batendo um papo amig��vel, me disse que,
apesar dos perigos intr��nsecos, se um dia empreendesse em
iniciativa como essa, n��o deixasse de procur��-lo.
Na ��poca, estava sendo gestada a Ag��ncia Nacional
de Sa��de Suplementar - ANS e a Lei 9.656, que nortea-
ria as normativas do setor. Entre as coberturas que seriam
obrigat��rias, muito se falava da cobertura do custeio dos
medicamentos ambulatoriais prescritos por m��dicos, �� se-
melhan��a do mercado americano.
Passei a ser muito procurado para viabilizar um mo-
delo brasileiro de PBM e entendi como uma oportunidade
real investir em empresa que buscasse abra��ar tal mercado.
Minha pr��tica m��dica no interior de S��o Paulo, no
entanto, tornava improv��vel a viabiliza����o de um empreen-
dimento desse porte. A ideia trazia, como consequ��ncia, um
373
J U A R E Z L E I T �� O
afastamento maior da fam��lia e tamb��m da pr��tica m��dica,
que ainda exercia com paix��o.
Mas tantos foram os incentivos e ofertas, que resolvi
enfrentar os desafios e abra��ar a oportunidade, incentivado
que fui por minha esposa e filhos.
Montei um plano de neg��cios e resolvi procurar inves-
tidores. Lembrei-me de Deusmar e de nossa breve conversa
e entendi que seria o investidor estrat��gico de que precisava.
Marcamos um caf�� da manh�� num hotel em S��o Pau-
lo e lhe mostrei o projeto. A partir da��, passei a conhecer
melhor algumas de suas caracter��sticas: a rapidez e tino em-
preendedor. Ap��s me ouvir, perguntou se n��o poderia jantar
na mesma noite com um assessor seu, Sergio Mena Barreto,
que gostaria que ouvisse o projeto. Sergio, muito bem ante-
nado e atualizado, avalizou o tema e Deusmar, muito r��pido,
me disse: 'Luiz, est�� montada a empresa, mas ofertaremos
��s dez maiores Redes do Pa��s a possibilidade de participa-
����o, n��o quero s�� para a Pague Menos a oportunidade'.
Passei a�� a conhecer outra de suas grandes virtudes -
a da partilha e altru��smo.
'Mas fique tranquilo - completou -, a empresa est��
montada! Se nenhuma outra quiser, fico com o todo e ainda
ofertarei a todos a op����o de recompra a qualquer momento'.
Ou seja: em menos de 24 horas e com poucas chances de
retrocesso, a empresa que viria ser a ePharma foi definida.
A partir da��, iniciamos a constru����o de um projeto ou-
sado e ambicioso: a viabiliza����o do primeiro autorizador ele-
tr��nico de regras e limites do mercado farmac��utico nacional.
374
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Os pr��ximos anos n��o foram nada f��ceis, a cria����o
de um autorizador no balc��o das farm��cias, em 1999, era
tarefa herc��lea. A maioria das Redes n��o tinha micros no
balc��o, era necess��rio comprar centenas de computadores,
mas n��o s�� isso, quebrar a loja, passar fios e ainda integrar
o autorizador aos diferentes sistemas de gest��o de lojas de
cada Rede. Claro que a previs��o de gastos do or��amento ini-
cial foi rapidamente superada, necessitando a empresa de
aportes financeiros adicionais.
Mas o pior estava por vir - a Lei 9.656 foi promul-
gada e os medicamentos ambulatoriais n��o foram inclusos
nas coberturas obrigat��rias, conforme esperado. Se esva��a o
maior atrativo para a cria����o do modelo.
Nessa fase Deusmar foi a pedra angular. N��o s�� con-
vencia os demais s��cios a continuar investindo, como ja-
mais deixou de acreditar e ainda cuidava para que eu tivesse
paci��ncia e continuasse motivado. Passei a ter admira����o
crescente pelo Deusmar, que a todo momento dava exem-
plos de honradez, perseveran��a, f��, transpar��ncia de inten-
����es e retid��o de car��ter. Como havia prometido, recomprou
as a����es de todos que quiseram deixar o investimento, sem
nunca titubear, apesar das dificuldades aparentes.
Passadas as dificuldades iniciais, a empresa flores-
ceu e, mesmo sem o marco legal, teve for��a para se conso-
lidar como a PBM pioneira do mercado de sa��de nacional.
Passamos a colecionar uma s��rie de vit��rias e conquistas.
Grandes corpora����es nacionais passaram a contra-
tar a ePharma para gerir a crescente demanda de custeio
das despesas com medicamentos.
375
J U A R E Z L E I T �� O
O modelo foi a base para a cria����o do programa Aqui
Tem Farm��cia Popular, do Minist��rio da Sa��de, iniciati-
va pioneira que propiciou, pela primeira vez, ��s farm��cias
privadas dispensarem rem��dios para o Governo Federal. O
Programa, at�� hoje vitorioso, teve a Rede da ePharma como
concentrador eletr��nico inicial.
Seus valores, ativos, n��meros e faturamentos cres-
centes, aliados a princ��pios de governan��a corporativa e boa
gest��o, passaram a ser observados pelo mercado internacio-
nal e, em 2013, dois fundos de investimentos americanos, o
Valiant Capital e Aberdare, passaram a deter participa����o
acion��ria na empresa. A supera����o das exig��ncias normais
desse tipo de opera����o, em termos de controles, auditoria,
pol��ticas de governan��a corporativa, praticamente nos 'cer-
tificou' de que t��nhamos uma empresa aos moldes das cor-
pora����es listadas em Bolsa, em termos de exig��ncias, embo-
ra n��o f��ssemos.
Hoje, aos dezoito anos, a ePharma �� um case de su-
cesso.
Conectada a mais de 27.000 farm��cias, em mais de
2.500 munic��pios, em todos os estados da federa����o. S��o
330 colaboradores, mais de 300 clientes. Diariamente os
sistemas da ePharma autorizam cerca de 100.000 unidades
de medicamentos, prescritos aos seus mais de 25 milh��es de
usu��rios cadastrados. Mensalmente 40.000 pacientes s��o
monitorados pelos programas de gest��o da ePharma.
N��o tenho d��vidas de que a perseveran��a dos acio-
nistas, liderados por Deusmar, foi mandat��ria na hist��ria
de sucesso da empresa.
376
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Todo esse hist��rico me aproximou muito de Deusmar
Queir��s.
Uma amizade fraterna entre n��s se consolidou, como
de sorte acontece com todos que tenham o privil��gio de par-
tilhar do conv��vio mais pr��ximo dessa figura humana in-
descrit��vel. Nossas fam��lias se aproximaram e, com muito
orgulho, somos, Rita e eu, padrinhos de casamento de seu
filho M��rio Henrique.
Ningu��m se relaciona com Deusmar sem se conta-
giar com sua f��, energia e for��a. �� um exemplo de empreen-
dedor vision��rio, amigo e parceiro.
Homem de fam��lia, esposo, pai e av�� presente. Deus-
mar �� tudo isso, aliado a uma simplicidade contagiante.
- Que Deus d�� vida longa ao meu amigo Francisco
Deusmar Queir��s"!
O Dr. Jos�� Hyder Dantas Carneiro fala sobre a
milit��ncia de Deusmar no Lions Clube:
"O Companheiro Le��o (CL) Francisco Deusmar de
Queir��s ingressou na Associa����o Internacional de Lions
Clubes (Lions Clubs International Association), a maior
organiza����o de servi��os sem fins lucrativos do mundo, no
ano de 1986, sob n��mero de inscri����o 358133. Filiou-se
no Lions Clube de Fortaleza Iracema (LCFI), do qual foi
presidente no ano leon��stico (AL) 1991/1992. Din��mico,
indicou o ingresso de v��rios companheiros que at�� esta data
pertencem ao movimento leon��stico.
Tem participado, sempre que o tempo lhe permite, de
muitas atividades do Clube, com lideran��a e desempenho.
377
J U A R E Z L E I T �� O
Marcou presen��a nas reuni��es de Conven����es Distri-
tais e Nacionais, fazendo parte da delega����o do nosso clube
(LCFI), inclusive, como palestrante.
�� um dos Companheiros Melvin Jones (Melvin Jones
Fellow), como assim s��o nominadas as pessoas que cola-
boram com valores acima de mil d��lares para a Funda����o
Internacional de Lions Clubes (Lions Clubs International
Foundation), que atua nas ��reas mais necessitadas do mun-
do com projetos de preven����o e revers��o de cegueira, assis-
t��ncia ��s v��timas de cat��strofes, a crian��as e adolescentes.
Portanto, o CL Deusmar tem uma larga folha de servi-
��os prestados ao leonismo, sendo um dos mais ativos filiados
do LCFI, estando presente, sempre que poss��vel, nas ativida-
des do Clube, para honra e g��udio de nossa organiza����o".
Geraldo Gadelha, advogado e administrador, hoje
exerce a fun����o de Superintendente de Rela����es Institu-
cionais na Pague Menos. Aqui, relata mais algumas pas-
sagens de sua conviv��ncia humana e profissional com
Deusmar Queir��s:
"Eu era do Banco do Nordeste e sou amigo irm��o do
Armando Caminha. E o Armando sempre foi muito amigo
do Deusmar. Certo dia o Armando disse: 'Geraldo, tem um
rapaz a�� do Mercado de Capitais que �� 'um danado', e est��
fazendo muito sucesso. Quero te apresentar.'
E fomos. Eu e o Armando. A partir desse dia nasceu
um respeito profissional muito interessante do Deusmar
por n��s.
378
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Quando ele fez um depoimento para o livro do Cleber
Aquino, Hist��ria Empresarial Vivida, cita o Lima Matos, o
Armando e eu, os tr��s t��cnicos oriundos do Banco do Nor-
deste, como pessoas que respeitaram o traquejo profissio-
nal dele logo nos primeiros contatos. Foi a partir da�� que
nos tornamos amigos. Ele telefonava e dizia: 'Geraldo, va-
mos tomar cerveja hoje, rapaz, pra comemorar'. Ele bebe
whisky. Mas ele sabe tanto que eu tomo cerveja e ��s vezes,
adere. Vou no avi��o com ele em viagens de neg��cios pelos
estados. Ele n��o bebe nada na ida. Na volta, quando fecha os
neg��cios, compra isso, aluga aquilo.... A��, sim, comemora.
A cabe��a dele vive a mil. Est�� sempre trabalhando no
futuro. Laborando no amanh��.
Na hist��ria do Mercado de Capitais, h�� dois momen-
tos marcantes: o momento em que ele �� reconhecido pela
Institui����o Banco do Nordeste (operador dos leil��es do Fi-
nor) como um corretor que esteve presente nos cem primei-
ros leil��es. Isso �� um marco em qualquer atividade empresa-
rial. Em qualquer circunst��ncia, um mesmo corretor estar
presente nos cem primeiros leil��es de uma atividade nova
era uma coisa absolutamente impressionante. E ficou mar-
cado, registrado e destacado, n��o por uma iniciativa parti-
cular, mas pelo Banco do Nordeste do Brasil, que conferiu a
este senhor - este vencedor, este senhor corretor Deusmar
Queir��s e �� PAX Corretora - o grande laurel de Campe��o,
consubstanciado em uma placa.
A outra coisa significativa �� que foi justamente nes-
sa atividade - como ele mesmo declarou na Hist��ria Em-
379
J U A R E Z L E I T �� O
presarial Vivida - que ganhou o PRIMEIRO MILH��O DE
D��LARES. Quando aconteceu, ele pensou: 'Mas eu sou, de
origem, um comerciante e vou me transformar de novo em
comerciante, porque agora tenho um capital e vou pensar no
que vou fazer. Para onde vou? Sapato, roupa ou rem��dio...?'
Foi inteligente tamb��m nesse momento. Soube a hora
de recuar um pouco e diversificar.
Voc�� sabe como ele criou os receb��veis? ��gua, luz e
telefone? O Padilha sempre teve uma vis��o muito bacana.
O Padilha �� um vision��rio. �� agradabil��ssimo para se con-
versar. Raimundo Francisco Padilha Sampaio. �� o guru de
umas quatro gera����es, pelo menos. Eu fui consultor de Mer-
cado de Capitais tamb��m da UNIFOR e da Associa����o Bra-
sileira de Bancos Comerciais Estaduais. Ministrei a cadeira
de Mercado de Capitais em quase todos os estados brasilei-
ros. O Deusmar era da PAX Corretora e eu fui membro do
Conselho de Administra����o da Bolsa de Valores represen-
tando o Banco do Nordeste. O Padilha disse: As corretoras
t��m que diversificar, t��m que receber contas'. O Deusmar
disse: As corretoras, n��o. Mas as farm��cias podem fazer
isso. Por que eu n��o posso receber contas?'
Se voc�� pegar os mais antigos da Pague Menos e falar
em 'receb��veis' eles n��o sabem nem o que ��. Mas sabem o
que �� ALT. E o que �� ALT? ��gua, luz e telefone. Ent��o, aqui,
na Pague Menos, recebemos ��gua, luz e telefone. Isso gerou
uma empresa, que �� a Pague Menos Gerenciadora... Tem
at�� uma piada infeliz por a�� que diz que a Pague Menos ven-
de at�� rem��dio. �� uma piada infeliz porque 70% da Pague
380
O E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Menos �� rem��dio. E o sonho do Deusmar �� que seja meio a
meio. Por qu��? Porque rem��dio �� tabelado. Ent��o, n��o tem
como mexer. Ele mexeu para baixo. Da�� o nome Pague Me-
nos. Todo rem��dio na Pague Menos �� menor que no pre��o
da tabela...
S�� quem conhece a grandeza e a capacidade de Deus-
mar �� quem convive com ele. Ele tem, mesmo, um parafuso
a mais do que a gente, uma energia e uma capacidade es-
trat��gica que n��o s��o comuns. Est�� muito �� frente de seu
tempo e da maioria dos empreendedores deste pa��s. Pode
ficar certo disso".
Ielton Barreto, economista e s��cio de Deusmar
Queir��s na Construtora Boa Terra, faz o relato da longa
conviv��ncia e a leitura da personalidade afoita e otimista
do parceiro:
"Meu nome �� Ielton Barreto. Sou formado em econo-
mia pela UFC. Estou com o Deusmar h�� 31 anos. Comecei
com ele na PAX Corretora, inicialmente, montando clubes
para investidores na Bolsa de Valores.
Depois dessa primeira fase passei a acompanh��-lo
nos leil��es do FINOR, quando a gente viajava todo m��s para
esses eventos que se realizavam, cada vez em uma Capital di-
ferente. Um mercado fant��stico que abriu as portas e a men-
te da gente para esta ��rea da ind��stria na regi��o nordeste.
Aquela foi uma fase muito boa. E a minha conviv��n-
cia com ele se acentuou, tornando-se pr��diga, muito pr��spe-
381
J U A R E Z L E I T �� O
ra e muito pr��xima. Passamos um bom tempo trabalhando
juntos nesse mercado.
Todo m��s havia leil��o numa cidade. Uma Bolsa de
Valores diferente. E era uma festa o encontro com aquela
turma que batalhava no mesmo ramo e que, embora con-
correntes, pois cada um representava uma corretora, termi-
navam se dando bem, ficando amigos. E a PAX Corretora
sempre se sobressaindo e fazendo maior volume de neg��cios
nesses leil��es.
Depois dos leil��es tivemos uma fase interna na PAX
e, em 2008, fundamos a Construtora Boa Terra. Fizemos
investimentos na ��rea imobili��ria, a princ��pio como investi-
dor. Experimentamos o mercado.
Em 2008, repito, resolvemos constituir a Boa Terra e
estamos no mercado desde essa data com nossos parceiros
e s��cios na ��rea de engenharia. Constru��mos ali, na Lagoa
Redonda e Eus��bio. Atualmente, estamos com novo lan��a-
mento de apartamentos tamb��m na Lagoa Redonda. Vai
ser um investimento de quatro condom��nios, totalizando
950 unidades.
Estamos com um banco de terras naquela regi��o para
aumentar, realmente, nossa participa����o nesse mercado e
nos consolidar como uma construtora grande no Cear��.
Depois de todos esses anos de conviv��ncia, posso di-
zer que conhe��o relativamente bem, Deusmar Queir��s. ��
uma pessoa que est�� sempre topando novos desafios. Sem-
pre atr��s de parceiros que comprem as ideias dele e que re-
solvam sonhar junto com ele. Sempre muito ousado.
382
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Para ele, cada dia de trabalho �� como se fosse o pri-
meiro dia. Com ele a gente aprende isto: n��o h�� trabalho
sem entusiasmo. E nem caminho sem desafio. Por isso, con-
viver com ele �� um aprendizado constante e, como est�� sem-
pre bem-humorado, a conviv��ncia �� maravilhosa.
Quando viajo e digo que sou parceiro do Deusmar em
outros neg��cios fora da Pague Menos, as pessoas t��m curio-
sidade. Perguntam como ��? Como foi essa hist��ria? Como
foi todo esse crescimento vertiginoso?
Ent��o explico que n��o houve milagre nenhum, mas
ousadia e compet��ncia. E que esta hist��ria j�� tem 36 anos.
�� que seu nome desperta curiosidade. Todos querem
saber como ele ��, que tipo de empreendedor ele �� e como se
tornou um dos grandes empres��rios no ramo dele no pa��s.
E a gente termina contando um pouco da hist��ria dessa ca-
minhada.
Agora, achar que ele est�� sempre sorrindo sem ter de
qu��, �� um engano. Ele briga, fala firme e exige resultados.
Como trabalha por mais de dez, quer de todos, um esfor��o
semelhante. E, mesmo n��o tendo o seu pique, todos n��s sa-
bemos que podemos ser abordados a qualquer hora do dia
ou da noite.
Est�� sempre antenado. Liga para a gente a qualquer
hora. Liga ��s dez da noite, onze da noite. Liga s��bado e do-
mingo. Quem trabalha com ele tem que estar sempre com as
informa����es fresquinhas na mente.
E n��o gosta de relatos amargos, abatimento, moleza.
Ningu��m senta com ele para falar de doen��a, de amargura
383
J U A R E Z L E I T �� O
ou que fulano quebrou... Esse tipo de assunto n��o cabe na
agenda do Deusmar. A agenda dele �� sempre a da positivi-
dade. Agenda proativa: o que �� que a gente vai fazer, porque
o que est�� feito est�� feito.
Com Deusmar, tudo tem que dar certo. E se n��o der,
vamos partir pra outra".
N��o h��, em toda a hist��ria da Pague Menos, quem
tenha convivido por mais tempo com Deusmar Queir��s
que sua eterna e permanente secret��ria, Zenilda.
"Meu nome �� Maria Zenilda Cunha Barroso. Sou a
Secret��ria Executiva do Dr. Deusmar. Estou neste posto
desde 1977. Entrei antes da Pague Menos, ainda na PAX
Corretora. Era secret��ria dele e tesoureira da PAX Correto-
ra, que foi a nossa primeira empresa, instalada em quatro
salas do Edif��cio Lobr��s, no centro da cidade.
Desde sempre Deusmar almo��ou na empresa. Desde
a PAX at�� hoje almo��a na empresa. �� uma grande energia.
Ele sempre foi muito eficiente, cheio de g��s. Nunca esperou
por nada. Se tiver que colocar uma mesa no canto ele coloca,
se tiver que p��r uma caixa na cabe��a ele p��e. Hoje ele con-
tinua da mesma maneira que era no come��o de tudo. N��s
fic��vamos n�� 11a andar do Edif��cio Lobr��s e muitos funcio-
n��rios mais jovens do que ele, ��s vezes, quando faltava ener-
gia, ficavam l�� embaixo esperando, e, quando ele chegava,
subia, deixando os funcion��rios todos l�� embaixo. Quando
viam o exemplo do chefe, a�� todos subiam tamb��m pelas es-
384
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
cadas. Ele sempre foi assim. Nunca esperou por ningu��m
para fazer as coisas dele.
Quanto �� comida, os pratos prediletos dele s��o o bife
a cavalo (batata frita, ovo, arroz branco e bife) e o picadi-
nho da vov�� (caminha cortada com banana e ovo cozido).
Eu comprava no Hotel Savannah ou ent��o no Kury Restau-
rante, na Senador Pompeu. E, de sobremesa, a velha coca-
da, que a gente comprava no meio da rua, l�� na cal��ada do
Banco Mercantil do Brasil, que ficava na Pra��a do Ferreira,
al��m do quebra-queixo. Ele tamb��m ama comer rapadura,
que �� a melhor sobremesa para ele. Podem servir o melhor
manjar, mas tem que ter a rapadura dele, seja em casa, seja
aqui na empresa ou no avi��o. Tem que ter rapadura, bife
bem passado, farofa de ovos. Ele n��o gosta de ovo cru, �� tudo
bem passado.
Minha rotina aqui �� assim: acordo 6h30. Como tenho
um filho especial com S��ndrome de Down, ajeito-o para o
col��gio, tomo o meu banho, troco de roupa e venho pra c��.
Eu vivo mais aqui na empresa do que na minha casa. Por-
que eu chego aqui 7h30/8h e s�� saio 18h/19h. Aqui eu fa��o
tudo. Fa��o o card��pio do almo��o deles, tomo conta dos pa-
gamentos, resolvo quaisquer vazamentos que venham a ter,
ou de algum elevador que venha a quebrar. Sou uma s��ndica
geral, uma esp��cie de prefeita. O que ele precisar, eu vou
estar sempre ��s ordens aqui.
Eu admiro muito o Dr. Deusmar. Esse homem a�� ��
uma pessoa especial. N��o existe igual a ele. Eu aprendi a
respeit��-lo, a am��-lo, a ter carinho por ele. �� como um filho
385
J U A R E Z L E I T �� O
ou irm��o para mim. N��s temos uma qu��mica muito grande.
Muitas vezes eu adivinho os pensamentos dele. Ele come��a a
dizer o que quer, mas eu j�� sei. Estamos trabalhando juntos
h�� mais de 40 anos.
Quando ele teve aquele problema de sa��de eu quase
fico louca. Chorava dia e noite. Quase ia morrendo. Quando
ele saiu para S��o Paulo e ia pegar o avi��o eu sofri demais.
Eu trouxe um S��o Francisco das Chagas, uma imagem que
eu tenho na minha casa e coloquei aqui dentro do banhei-
ro, onde era o banheiro dele. Ent��o, eu rezava dia e noite, e
chorava. Al��m disso, eu n��o acreditava em ningu��m, porque
eu queria falar era com ele! Todos os dias um dizia 'tenha
calma, ele est�� bem', mas eu n��o ficava feliz. At�� que um
dia, quando ele p��de, me ligou, e foi quando eu tive a me-
lhor not��cia do mundo. Voc�� n��o sabe o quanto eu amo este
homem. �� uma paix��o enorme. Eu morro de ci��mes dele.
Eu cuido dele. Eu adoro quando ele precisa de mim. Eu n��o
sei nem explicar o carinho que eu tenho por esse homem na
minha vida. Ele me ensinou muitas coisas. Se hoje eu sou o
que eu sou, eu devo a ele.
O bicho �� bravo, quer tudo certo, correto, perfeito.
Levei muito car��o, muita repreens��o, mas hoje eu entendo.
Ele cobra muito. �� generoso, mas exigente. ��s vezes eu fica-
va chateada com ele porque ele dizia as coisas comigo, mas
hoje eu entendo o que ele queria. Ele queria fazer o melhor
por mim, queria que eu criasse uma intelig��ncia funcional.
Eu sou de Uruburetama. Vim muito nova para c��.
Quando comecei a trabalhar com ele, eu tinha 18 anos de
386
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
idade, bem jovem. Foi meu primeiro emprego. Eu cheguei
em Fortaleza com 13/14 anos. Vim morar com mais duas
irm��s. Meu pai era fazendeiro, tinha terras, comprava al-
god��o e revendia. Meus av��s viviam bem financeiramente.
Sou conterr��nea da Florinda Bolkan. O pai da Florinda era
irm��o da minha m��e de cria����o. N��s ainda somos parentas.
Eu cuidei muito dos filhos de Deusmar. Quando eram
pequenos eu ia para l��. Eu descia para comprar chocolate,
sorvete. Todos gostam de mim e eu deles".
Os depoimentos falam por si mesmo. Senti-os
emitidos pela voz da verdade. Alguns dos depoentes, no
fervor de suas declara����es, n��o sustentavam a emo����o e
embargavam a voz. N��o era, entretanto, uma coisa fan��-
tica, de escala m��stica. Era a admira����o pura, cristalina,
constru��da pelo conhecimento ��ntimo, pela conviv��ncia
no trabalho ou no c��rculo social.
387
25
PERSONAGEM DA
MITOLOGIA POPULAR
"Os personagens costumeiros dos
romances de cordel s��o os her��is
populares, admirados por sua valentia,
santidade ou pelo sucesso que
conquistaram, sobretudo, se vieram das
camadas humildes da sociedade e se
projetaram ao ponto de orgulhar seus
conterr��neos nordestinos."
Francisco Linhares,
p e s q u i s a d o r da cultura p o p u l a r
No Nordeste conservam-se algumas tradi����es
populares que, em outras regi��es, est��o desapa-
recendo mais rapidamente.
389
J U A R E Z L E I T �� O
Naturalmente, n��o se pode negar o estrago que
a influ��ncia dos meios de comunica����o, a partir da te-
levis��o, tem provocado nos costumes interioranos, im-
pingindo modismos e comportamentos modernosos em
nossa gente, j�� que seu bra��o sedutor chega aos mais re-
motos rinc��es.
Mas, a partir do est��mulo das universidades, movi-
mentos culturais organizados e algumas personalidades
influentes e esclarecidas, a resist��ncia tem funcionado de
maneira mais ou menos satisfat��ria.
Nesse esfor��o de preserva����o da cultura popular
nordestina destacaram-se Leonardo Mota, Lu��s da C��ma-
ra Cascudo e Ariano Suassuna, para citar os tr��s de traba-
lho mais expressivo e contundente.
Deusmar Queir��s �� um nordestino t��pico, aman-
te da cultura regional e estimulador de sua preserva����o.
Defende e pratica as coisas nordestinas, as festas, os ar-
tistas, as manifesta����es folcl��ricas.
Gosta de violeiros, de sanfoneiros e de dan��ar for-
r��, convocando para as festas de fam��lia esses artistas
e nelas envolvendo seus parentes e convidados, numa
grande alegria coletiva.
Essa prefer��ncia vem de longe. Como narramos,
em epis��dio de sua inf��ncia, quando quebrou a perna e
ficou imobilizado em casa, o pai mandou trazer um toca-
dor de sanfona para entret��-lo, amenizando a dor e, de
certo modo, atenuando aquela interrup����o de sua peral-
tice infantil.
390
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
O gosto pela arte popular continuou e ele vem ten-
tando repass��-lo aos descendentes.
Certos aspectos do modo nordestino de ver a vida
s��o especialmente, fascinantes.
Quando conclu��a o Curso de Hist��ria, este escri-
ba escolheu como tema da monografia a cultura popular.
O ensaio, sob o t��tulo de As M��ltiplas Express��es da In-
ventividade Nordestina nos Costumes e nas Vozes de Seu
Povo, envolveu-me numa impag��vel viagem de aprendi-
zado sobre o Nordeste, principalmente, sobre o Cear��,
quando tivemos a oportunidade de auscultar nas fontes,
em contato direto, alguns de seus mais interessantes e
curiosos agentes.
Observando com amorosa dedica����o aspectos t��o
leg��timos de nossa cultura regional, seus costumes, seus
gostos e sua arte, descobri um universo de verdades e
onisci��ncias que, embora, por minha pr��pria origem, te-
nha convivido t��o de perto durante toda a vida com ele
e suas pr��ticas culturais, nunca vira pelo crivo anal��tico.
Durante dois anos conheci de perto tiradores de
reis, emboladores, batedores de ganz��, comandantes de
grupos de caretas, rezadeiras/benzedeiras, tocadores de
p��fanos em bandas caba��ais, lan��adores de adivinhas,
aboiadores e contadores de hist��rias, personagens que,
hoje, s��o reconhecidos oficialmente como Mestres da
Cultura e t��m recebido homenagens e destaque do Go-
verno do Cear��.
391
J U A R E Z L E I T �� O
Um aspecto dessas manifesta����es culturais me
atra��a, especialmente. Eram os cantadores repentistas e
os poetas do cordel.
O que justificava essa prefer��ncia talvez fossem,
tamb��m, os ecos da inf��ncia, quando vi, no alpendre de
nossa casa de fazenda, no Oeste do Cear��, tantas vezes,
os violeiros em a����o, convocados por meu pai para noites
de cantoria.
A destreza dos cantadores na execu����o de estro-
fes, magn��ficas algumas, feitas de improviso, no fervor da
peleja, enchia-me de admira����o.
Meu pai costumava comprar nas feiras os ro-
mances de cordel. �� noitinha, na cal��ada alta de nossa
casa, depois da rodada do cheiroso caf�� torrado e feito
na hora, minha m��e lia os versos do O Pav��o Misterio-
so (de Jos�� Camelo Resende), Juvenal e o Drag��o e O
Cavalo que Defecava Dinheiro (de Leandro Gomes de
Barros), As Proezas de Jo��o Grilo (de Jo��o Martins de
Athayde), al��m da Peleja do Cego Aderaldo com Z�� Preti-
nho, O Soldado Jogador, As Aventuras de Can����o de Fogo
e outros mais.
Menino ainda, por volta dos nove anos, comecei
tamb��m a fazer versos. N��o de improviso, mas no pa-
pel, penosamente, tentando cumprir as regras da rima e
da m��trica. Aprendi a escandir versos, de ouvido, sem
precisar contar as s��labas po��ticas (que nem sempre s��o
iguais ��s s��labas da fon��tica normativa), sobretudo, o me-
392
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
tro mais usual na literatura popular: a redondilha maior
ou verso de sete s��labas, que exige rigor m��trico em sua
elabora����o e cujo defeito (o chamado p�� quebrado) n��o
�� perdoado de jeito nenhum pelos praticantes e entendi-
dos do assunto.
Na elabora����o daquela monografia acad��mica
passei dois anos frequentando cantorias e conversando
com poetas do n��vel dos Irm��os Batista (Lourival, Dimas
e Otac��lio), Ant��nio Ferreira, Z�� Mota, Louro Branco e,
por muita sorte, com o maior dos repentistas, o velho
Severino Pinto (Pinto do Monteiro), na ��poca quase no-
nagenario, que tive o privil��gio de entrevistar.
Os poetas populares, especialmente, os produtores
de folhetos de cordel, preservam uma tradi����o que vem
do s��culo XVI, quando o Renascimento popularizou a
impress��o de relatos orais. O nome tem origem na forma
como tradicionalmente os folhetos eram expostos para
venda, pendurados em barbantes ou cord��is nas feiras.
Na segunda metade do s��culo X I X os folhetos co-
me��aram a ser impressos no Brasil. Eram vendidos pelos
pr��prios autores em mercados e feiras ou at�� de porta em
porta, como meio de sobreviv��ncia.
Quando se buscam os pioneiros da produ����o cor-
delista, o nome que aparece �� o de Leandro Gomes de
Barros, poeta paraibano, nascido em Pombal, que viveu
entre 1865 e 1918. Seus folhetos, ainda hoje reproduzi-
dos, s��o considerados os melhores do g��nero. �� autor de
3 9 3
J U A R E Z L E I T �� O
cl��ssicos como O Cavalo que Defecava Dinheiro, Juvenal e
o Drag��o, A Donzela Teodora e O Soldado Jogador.
O enredo do cordel �� extremamente variado e
pode abranger cinco ou seis prefer��ncias tem��ticas b��-
sicas: as ocorr��ncias contempor��neas (uma esp��cie de
jornal do sert��o); as hist��rias ��picas (Carlos Magno e os
Doze Pares de Fran��a, por exemplo); a exalta����o dos he-
r��is (um amplo arco de homenagens, que inclui diferen-
tes personagens a quem consideram dignos de louvor),
como os cangaceiros: Cabeleira, Ant��nio Silvino e Lam-
pi��o; os messi��nicos: Padre C��cero, Ant��nio Conselheiro,
Beato Z�� Louren��o e Frei Dami��o; os astutos: Jo��o Grilo,
Can����o de Fogo e Pedro Malasartes; e os pol��ticos: Juarez
T��vora, Get��lio Vargas e Jos�� Am��rico.
Um tema que atrai muito os poetas populares �� a
saga dos que venceram na vida. Os que, verdadeiros fi-
lhos do sert��o, conseguiram triunfar na cidade grande,
fazendo fortuna e se transformando em figuras not��veis
da sociedade.
Dentre os ricos de origem humilde que receberam
a homenagem da poesia cabocla, destacam-se Delmiro
Gouveia, Jos�� Erm��rio de Moraes e Edson Queiroz.
Nessa lista, de alta import��ncia para a poesia po-
pular, figura tamb��m Deusmar Queir��s. Como pode
ser visto nos versos que achamos justo figurarem em
sua biografia.
394
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
O REI DAS FARM��CIAS
Um cordel de Juca Bacurim
Eu vou contar a hist��ria
de um cidad��o caprichoso
que na vida sempre foi
otimista e corajoso;
por suas firmes condutas
deu a todas as suas lutas
um rumo vitorioso.
Parece um homem comum
com seus problemas terrenos
mas possui grandes virtudes
e outros valores plenos:
Eu falo elevando a voz
do doutor DEUSMAR QUEIR��S
das Farm��cias Pague Menos.
Nasceu e criou-se numa
humilde localidade
teve uma inf��ncia feliz
no sert��o livre e sem grade;
Embora pouco ilustrada
tem orgulho de Amontada
sua pequena cidade.
�� filho de seu Ant��nio
e de Dona Madalena:
O pai, um inspirador,
a m��e, bondosa e serena.
Crescendo sem regalia
no pa��s depois seria
um nome da grande cena.
395
J U A R E Z L E I T �� O
Deusmar, menino traquinas,
adorava uma baderna
e um dia subiu nuns sacos
na mercearia paterna:
De um surr��o de rapaduras
caiu daquelas alturas
arrebentando uma perna.
Correram para acudi-lo
com a maior rapidez
n��o havia socorro m��dico
tudo ali era escassez.
Nessas horas Deus governa...
o encanamento da perna
seu Ant��nio mesmo fez.
O pai queria pro filho
um futuro promissor
e que se tornasse um homem
de abalizado valor:
"Pra isso vou me esfor��ar
e se Deus do c��u me ajudar
meu filho vai ser doutor!"
Mas para o sonho dar certo
n��o podia mais ficar
na pequenina Amontada
dali tinha que arribar;
Assim, de plano firmado
para a Capital do Estado
logo resolveu mudar.
396
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
E em sua terra natal
vendeu a mercearia
alugou um caminh��o
e pegou a rodovia;
com dez horas de viagem
arriou sua bagagem
em sua nova moradia.
Por sondagens que fizera
e at�� seguindo um conselho
ficou na periferia
num bairro que era o espelho
de seu sert��o e sua saga:
A Rua era An��rio Braga
no antigo Barro Vermelho.
Deus ajuda a quem madruga
e o trabalho n��o solapa.
Com uma nova bodega
nova vida e novo mapa,
e muito amor e vig��lia,
aquela humilde fam��lia
come��ava nova etapa.
Estudando de manh��
num bom col��gio, o Deusmar
de tarde, depois do almo��o,
vinha com o pai trabalhar:
Enquanto a turma brincava
ele, menino, ajudava
sua casa sustentar.
397
J U A R E Z L E I T �� O
E sem desculpa amarela
corpo mole ou maldizer
punha um cesto na cabe��a
com coisas para vender.
Na rua de porta em porta
toda a labuta suporta
pois seu sonho era vencer.
�� medida que crescia
em idade e consci��ncia
revelava lideran��a
e destacada influ��ncia;
Todos lhe tinham amizade
em sua comunidade
nos tempos de adolesc��ncia.
Na par��quia promovia
as festas do padroeiro
movimentava os leil��es
arrecadava dinheiro;
Era eficaz e fecundo
para ajudar todo o mundo
sempre chegava primeiro.
Verdadeiro boa-pra��a
prestativo e sem maldade
comandava os outros jovens
em atos de boa vontade;
Fazendo a����es sociais
era operoso demais
em sua generosidade.
398
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
E s�� havia bons mo��os
em seu seletivo escrete
ningu��m praticava v��cios
nem usava canivete.
Uma turma muito unida
no bairro bem conhecida
por GRUPO DO BOLA SETE.
Eram rapazes que tinham
voca����o para estudar
e estudavam com afinco
porque queriam triunfar:
E t��o bem se conduziram
que, no final, conseguiram
passar no vestibular.
Quem quer vencer nesta vida
o pr��prio ju��zo espreme
e na busca do horizonte
mira o rumo e toma o leme.
Deusmar ainda um pirralho
teve o primeiro trabalho
numa ag��ncia da IBM.
Operando aquela m��quina
instrumento inovador
tornou-se em bem pouco tempo
um ex��mio digitador.
No bairro virou cacique...
Diziam o Deusmar �� chie
trabalha em computador.
399
J U A R E Z L E I T �� O
Mil novecentos e setenta
assinalou um momento
muito importante em sua vida
e talvez em seu sentimento:
Passou numa prova rara
e foi contratado para
fazer recenseamento.
Era mais uma tarefa
fora da mercearia
de seu pai. E ele pensava
que dessa forma cumpria
um desejo verdadeiro:
Ganhar seu pr��prio dinheiro
na luta de cada dia.
Em tudo o que se metia
ficava entre os principais
nos of��cios e nos deveres
se revelava eficaz;
E, dentre outras fun����es,
foi corretor de a����es
no mercado de capitais.
Quando o governo criou
um Fundo de Investimento
para ajudar o Nordeste
em seu desenvolvimento,
viu a oportunidade
de mostrar sua habilidade
com for��a, garra e talento.
400
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
As manhas de aplica����o
ele sabia de cor
Ia a todos os leil��es
e arrematava melhor;
sagaz que nem Lampi��o
Deusmar foi o campe��o
desses leil��es do FINOR.
E ganhou muito dinheiro
at�� mais do que sonhara
j�� era um milh��o de d��lares
a quantia que ajuntara;
E, aos 34 anos
a semente de outros planos
brotava em sua seara.
Com recursos, mas humilde
nunca se julgou um rei
indagava a S��o Francisco:
- Meu padrinho, o que farei?
Sou jovem, mas n��o sou besta:
n��o ponho na mesma cesta
os ovos que acumulei.
Estava nessa procura
com cuidado e pertin��cia
buscando um setor diverso
onde investir sua aud��cia,
foi quando um dia, ent��o,
algu��m deu-lhe a sugest��o
de comprar uma farm��cia.
401
J U A R E Z L E I T �� O
Comprou sem medo a botica
ali num bairro vizinho
e com prop��sitos ousados
murmurava bem baixinho:
"N��o penso em coisas pequenas...
Vou crescer, isto ��, apenas,
o in��cio do caminho".
Mas precisava de um nome
que fosse bem chamativo
pra sua rede de farm��cias
com apelo positivo;
pensando nesses acenos
considerou PAGUE MENOS
adequado e sugestivo.
Nunca se viu neste mundo
nome t��o bem colocado
que por si s�� se define
e j�� se faz propagado:
Desde os nossos ancestrais
cobrar menos e vender mais
�� a regra do mercado.
Deusmar, um vision��rio,
tinha um sonho e um desejo
levar rem��dio e sa��de
da cidade ao lugarejo
ver todo o mundo feliz
conquistar todo o pa��s
tornar-se o Rei do Varejo.
402
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
N��o lhe faltavam traquejo,
talento e disposi����o:
Conquistou o Cear��
e foi ganhando mais ch��o...
Avan��ou pelo Nordeste
Centro-Sul, Norte e Sudeste
cobrindo toda a na����o.
N��o h�� cadeia nenhuma
de lojas neste Brasil
que nesse espa��o de tempo
tenha ganho este perfil:
Est��o em todo lugar...
As farm��cias do Deusmar
j�� passam de mais de mil.
Chegando vitorioso
a t��o alto patamar
entendeu que era preciso
repartir e ajudar
ouvir dos outros os gemidos
e na vida dos desvalidos
o sofrimento abrandar.
E por pura lucidez
e compromisso moral
criou uma Funda����o
para de modo real
e objetivos prementes
ajudar os mais carentes
em ampla a����o social.
403
J U A R E Z L E I T �� O
Funda����o Deusmar Queir��s
�� o nome da Entidade
criada com um intuito
de solidariedade
para dar o ombro a quem
quer voltar a ser algu��m
e crescer na sociedade.
�� frente da Funda����o
est�� o Dr. Vicente
que �� um grande gestor
sereno, justo e prudente,
que, al��m da filantropia,
na arte da poesia
�� cordelista fluente.
O mundo d�� muitas voltas
em seu grande itiner��rio...
Quem diria que um menino
humilde e sem invent��rio
filho do sol nordestino
fosse dobrar o destino
e tornar-se um bilion��rio.
Talvez seu temperamento
produza uma explica����o:
Deusmar sempre foi bom filho,
bom pai, marido e irm��o;
E quem planta calmaria
n��o colher�� ventania
nos campos do cora����o.
4 0 4
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Nos desafios da vida
se segure quem puder
porque a gl��ria altaneira
n��o cabe a um homem qualquer;
Mas no caminho trilhado
junto ao Deusmar, lado a lado
tinha uma grande mulher.
Nos tempos da adolesc��ncia
alvoro��ada e festiva
outras mulheres passaram
pela sua lista afetiva;
at�� que um dia encontrou
Auric��lia, a quem amou
com paix��o definitiva.
Esta �� a hist��ria de um homem
que do sert��o oriundo
acreditou no trabalho
e nele mergulhou fundo;
cresceu amando a verdade
respeitando a humanidade
e o sentimento do mundo.
Viva Deus, viva o sert��o
em tempo de aguaceiro!
Viva a terra cearense
florida feito um canteiro
de mu��amb��s e ac��cias....
E viva o Rei das Farm��cias,
este grande brasileiro!!!
405
26
E O SONHO CONTINUA
"A perseveran��a do sonhar n��o �� uma
grande corrida. S��o muitas corridas
curtas, uma depois da outra.
Walter Elliott ( 1 9 0 3 - 1 9 8 4 ) ,
m �� s i c o n o r t e - a m e r i c a n o
Aos 70 anos, Deusmar Queir��s contempla o ho-
rizonte. Acha que a linha do infinito ainda o
convida para caminhar. Os sonhos continuam a
borbulhar em seu cora����o de guerreiro e ele os afaga com
carinho porque precisa deles para viver. "S�� envelhece
de verdade quem deixa de sonhar", diz perempt��rio.
Presidente do Conselho Diretivo da ABRAFARMA,
Membro do Conselho de Desenvolvimento Econ��mico
e Social da Rep��blica, um dos maiores l��deres do varejo
407
J U A R E Z L E I T �� O
no pa��s, comandante de uma cadeia de lojas com mais de
mil unidades, laureado pelas mais cobi��adas comendas
no Brasil e no exterior. Patriarca de uma fam��lia moral-
mente bem resolvida, constitu��da de sua primeira e ��nica
mulher Auric��lia, de quatro filhos e quatorze netos (por
enquanto). Reconhecido socialmente como um grande
benem��rito. Amado pelos habitantes de seu tempo.
Com todo esse arsenal em seu paiol, o Rei das Far-
m��cias pode n��o estar saciado.
N��o tem a fome vulgar do ter pelo ter. Sua fome
tem outras subst��ncias. Quer dar ao dinheiro que ganhou
com o seu trabalho um sentido sublime, did��tico. Sua
empresa �� uma candidata ao futuro: "N��o iremos repetir
o erro dos que sonharam pequeno. Temos um compro-
misso com a hist��ria e com o desenvolvimento do Cear��
e do pa��s".
Todos gostam de escut��-lo. Suas mensagens ani-
mam as consci��ncias. Corre o pa��s fazendo palestras, a
dizer coisas assim:
"Quero repetir que o mundo �� constru��do pelos
otimistas. S��o eles os que se vestem de esperan��a e n��o
se limitam em seus sonhos quando miram os horizontes
e se p��em a devassar os caminhos da vida. S��o eles os
edificadores da civiliza����o.
Nada prospera na terra dos amargos, porque o
triunfo gosta �� da galhardia dos intr��pidos e do entusias-
mo dos bons pelejadores.
Aos que trabalham comigo repasso todos os dias a
perspectiva das vit��rias, convencendo-os de que o sim-
408
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
pies fato de terem chegado �� vida adulta ��, por si s��, um
privil��gio triunfal, pois muitos outros ficaram na estrada
vencidos pela mortalidade infantil, pelas fatalidades na
adolesc��ncia, pelas barreiras do imponder��vel.
Estar aqui, usufruindo do fascinante tempo atual e
das conquistas da intelig��ncia humana, �� uma d��diva de
Deus e do destino.
Viemos �� vida com uma miss��o. Cada um de n��s ��
um artes��o do presente e um preparador do futuro. An-
tes de n��s aqui estiveram as outras gera����es preparando
o nosso bem-estar, elaborando com paci��ncia e criativi-
dade as facilidades do progresso que desfrutamos.
Disso resulta a constata����o irrecus��vel: Somos to-
dos s��cios de Deus na constru����o do mundo.
E Ele ama os que se antecipam, como acertada-
mente proclama a filosofia popular:
"Deus ajuda a quem madruga!"
O desenvolvimento �� feito pelos que tem a cora-
gem de ousar, porque quem patina na acomoda����o est��
condenado �� in��rcia e a ser esmagado pelos passos din��-
micos da Hist��ria.
Dizia um poeta, cujo nome me foge agora, que "os
que marcham na frente correm os riscos das cobras,
mas �� aos p��s dos que formam a vanguarda que as bor-
boletas se levantam".
Quando vejo, reunidos no mesmo espa��o, pessoas
querendo escutar hist��rias de vida, me conven��o que te-
mos muito ainda o que aprender e ensinar.
409
J U A R E Z L E I T �� O
Eu acredito no Brasil.
Acredito na coragem de seus empreendedores, na
fibra dessa gente mesti��a, na capacidade de trabalho do
povo brasileiro, na intelig��ncia e criatividade dos que
t��m vencido as adversidades e desdenhado das profecias
negativas e dos vatic��nios desanimadores.
N��s n��o temos medo das crises. As crises v��m e
v��o embora e a elas costumamos responder, n��o com
a tibieza dos humilhados, mas com mais trabalho, com
mais dedica����o, mais ousadia e mais investimento.
Nossa hist��ria foi escrita a golpes de aud��cia, de
destemor e de intelig��ncia.
Hist��ria escrita a ferro e fogo pelos que acredita-
ram na for��a do trabalho.
Hoje se nos apresentam novas formas de vencer
para ajudar o desenvolvimento do pa��s.
E a receita mais eficaz �� a pertin��cia no trabalho,
amparada pela dedica����o e pela autoconfian��a.
Nossa hist��ria recente nos d�� exemplos de quem
acreditou nas potencialidades de nossa terra e investiu,
penhorado, no TRABALHO como caminho de realiza����o
empresarial e humana, realizou e se edificou na economia.
N��o escutem os fracos e os invejosos. Eles n��o
constroem, mas querem destruir.
Os que vencem, independente do bem que pos-
sam semear, da contribui����o para o desenvolvimento, do
amparo social que possam oferecer, s��o frutas maduras
na beira da estrada, expostas ��s pedradas dos que culti-
vam o prazer de derrubar.
410
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
"N��s recebemos de Deus e do destino tantos bene-
f��cios, distribu��mos e proporcionamos tantos momentos
de felicidade que, quando encontramos em nosso cami-
nho a m��o perversa da injusti��a n��o podemos deixar que
ela nos desvie do destino de semeadores de sonhos e es-
peran��as. Por isso, marchem com a esperan��a, que �� boa
conselheira e nos fornece a eterna juventude."
E quando perguntei onde estava o Menino de
Amontada, respondeu-me que aquele menino continua-
va ali, acordando cedo e trabalhando todos os dias. Ago-
ra, �� um menino-pai e av��, preocupado em repassar para
os descendentes o mesmo esp��rito de luta que o move e
d�� sentido a sua vida.
Diz que quer ser um exemplo para os seus netos e
estimul��-los a escolher prioridades na exist��ncia.
Em qualquer atividade que escolham, procurar ser
e fazer o melhor.
Mas tem que saber crescer sem destruir os outros
ou esmagar os sonhos alheios.
O ideal �� que saibamos evoluir com a nossa ��po-
ca, aproveitando as conquistas da ci��ncia, sem esquecer
nossa capacidade humana de praticar o bem e construir
amores e amizades.
Este �� DEUSMAR QUEIR��S, afilhado de S��o Fran-
cisco, O Menino de Amontada, O Rei das Farm��cias, O
tecedor de Ousadias.
411
CRONOLOGIA
1947 - Nasce, em Amontada, Distrito de Itapipoca,
CE, aos 27 de maio, FRANCISCO DEUSMAR DE QUEI-
R��S, filho de Ant��nio Lisboa de Queir��s e Maria Mada-
lena de Queir��s.
1952 - Brincando na mercearia do pai, em Amon-
tada, o menino Deusmar sofre um acidente, quando uma
pilha de surr��es de rapadura cai sobre ele, quebrando-lhe
a perna. Por n��o haver socorro especializado na localida-
de, o pr��prio Sr. Ant��nio Lisboa (Ant��nio Nonato) faz a
imobiliza����o da perna da crian��a, com talos de carna��ba
e obt��m pleno ��xito.
1956 - A fam��lia Queir��s transfere-se para Forta-
leza, passando a residir no Barro Vermelho (hoje Ant��-
nio Bezerra), na Rua An��rio Braga. Ant��nio Nonato ins-
tala no bairro a Mercearia Santo Ant��nio.
Deusmar passa a receber aulas da professora
Lourdes, preparando-se para ingressar no Gin��sio 7 de
Setembro, o que acontece no ano seguinte. Simultanea-
mente, frequenta o catecismo de Dona Maria Nazar�� de
Lima Rocha.
Para ajudar nas despesas, participa do com��rcio
do pai, saindo todas as tardes com uma cesta de merca-
dorias para vender de porta em porta pelo bairro.
413
J U A R E Z L E I T �� O
1960 - Deusmar ficou no Gin��sio 7 de Setembro
at�� o quinto ano prim��rio, quando se transferiu para o
Col��gio Cearense, dos Irm��os Maristas. Participa do gru-
po de escoteiros do col��gio.
1963 - Tem ativa participa����o nas promo����es da
par��quia, como membro do Centro da Mocidade Cat��lica,
CMC, sob a orienta����o do Padre Jo��o Pessoa de Carvalho.
Nasce, em Ant��nio Bezerra, a Turma do Bola 7,
grupo de adolescentes liderado por Deusmar.
1964 - Conhece Auric��lia Alves, a futura esposa,
16 anos. Deusmar tinha 17. O in��cio do namoro �� t��mido
e n��o tem o apoio da fam��lia dela.
1965 - Como Sub-Monitor da Patrulha da Rajada,
�� inclu��do na excurs��o para o Io Jamboree Sul-Ameri-
cano, acampamento mundial de escotismo, realizado no
Rio de Janeiro entre 18 e 26 de julho.
1967 - Deusmar consegue o primeiro emprego
com carteira assinada, como operador da IBM, digitando
documentos, classificando cart��es de emiss��o de contas
de luz e telefone e atualizando dados de faturas. Chegou
a Operador S��nior.
1968 - Frequenta o cursinho do DCE da Faculda-
de de Economia preparando-se para o vestibular daquela
escola superior.
1969 - Deixa a IBM e volta para o balc��o da Mer-
cearia Santo Ant��nio. Transfere-se para o Col��gio Aga-
414
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
pito dos Santos e, depois, para o Col��gio S��o Jos��, onde
conclui o Ensino M��dio. Participa de outra excurs��o de
escotismo ao Rio de Janeiro.
Recebendo a aceita����o dos pais de Auric��lia, passa
�� condi����o de namorado oficial.
Aprovado no vestibular para a Faculdade de Eco-
nomia da Universidade Federal do Cear��, aos 21 anos,
passa a frequentar aquela escola, graduando-se em 1 9 7 3 .
1970 - Alguns jovens do Bola 7 fazem o concurso
do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estat��stica,
para trabalhar no recenciamento daquele ano. Deusmar
foi aprovado em primeiro lugar e ganhou a fun����o de Co-
ordenador.
1 9 7 1 - Casa-se com Auric��lia, em 21 de outubro,
uma quinta-feira. Lua de mel na Col��nia de F��rias dos
Comerci��rios, em Iparana (Caucaia, CE).
Ingressa na CR��DIMUS, Distribuidora de Valores.
1974 - Torna-se professor e �� eleito coordenador
do Curso de Economia da Universidade de Fortaleza,
UNIFOR ( 1 9 7 4 - 1 9 8 3 ) .
1 9 7 6 - T��cnico respons��vel pela implanta����o
da ��rea Operacional da Bolsa de Valores Regional de
Fortaleza.
1977 - A partir desse ano faz cursos de extens��o
universit��ria em:
Mercado de Capitais - Grad��ate School of Busi-
ness Administration, New York (USA);
4 1 5
J U A R E Z L E I T �� O
Terceiriza����o e Moderniza����o de Neg��cios - Uni-
versity of Central Florida - USA.
Cria a Pax Corretora de Valores, em parceria com
o empres��rio Bernardo Bichucher, do qual adquire o
controle acion��rio em 1979.
1978 - Intensifica sua participa����o no Mercado de
Capitais. Torna-se ass��duo operador dos Leil��es do FINOR.
1981 - Consagra-se como o "Campe��o Nacional
dos Leil��es do FINOR". Acumula seu primeiro milh��o de
d��lares e quer investir em novos neg��cios.
Em maio daquele ano compra uma farm��cia, no
bairro Ellery, e d�� in��cio ao seu grande empreendimento:
A Rede de Farm��cias PAGUE MENOS.
1985 - A Pague Menos adota o conceito de drugs-
tore, oferecendo ao cliente uma variedade de produtos em suas lojas. E come��a a investir em responsabilidade
social, com o programa de doa����o de cadeiras de rodas e
ambul��ncias.
1989 - A Pague Menos passa a vender Vales-
-Transporte e a receber contas de luz, ��gua e telefone,
criando o embri��o do que seria o Sistema de Correspon-
dente Banc��rio.
1993 - Deusmar Queir��s recebe a Comenda de
Lojista do Ano, a maior homenagem do com��rcio vare-
jista do Cear��.
1994 - Recebe o t��tulo de Colaborador Em��rito do
416
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
Ex��rcito Brasileiro, outorgado pelo Comando Militar do
Nordeste.
1995 - Recebe o t��tulo honor��rio de Cidad��o de
Fortaleza.
1997 - Cria o Encontro de Mulheres Pague Menos,
que se tornaria o maior evento feminino do Brasil, atual-
mente reunindo mais de 20.000 mulheres em cada edi����o.
1998 - A Pague Menos participa do Programa So-
cial de Alfabetiza����o Solid��ria, sendo a primeira empresa
nordestina a adotar um munic��pio para alfabetiza����o de
adultos.
�� lan��ado o Cart��o Pague Menos MasterCard.
1999 - Deusmar passa por um s��rio problema de
sa��de, com risco de vida. Operado em S��o Paulo, resta-
belece-se e continua sua vibrante trajet��ria.
Surge a Funda����o Educacional Deusmar Queir��s,
respons��vel pela implanta����o de diversos programas so-
cioculturais, esportivos e de solidariedade humana.
Recebe o t��tulo de Benfeitor da Crian��a da Cidade
de Fortaleza.
2 0 0 1 - Recebe do CORECON a Comenda por Re-
levante Servi��o Prestado �� Categoria dos Economistas.
2002 - A Pague Menos conquista o Pr��mio Top of
Mind, por ser a rede de farm��cias mais lembrada pelos consumidores. Essa premia����o vem sendo conquistada,
seguidamente, todos os anos.
2 0 0 3 - Recebe a Gr��-Cruz do M��rito Visconde de
4 1 7
J U A R E Z L E I T �� O
Mau�� da Sociedade Brasileira de Her��ldica e Medalh��sti-
ca com o t��tulo Comendador.
Recebe a Medalha de M��rito Reitor Ant��nio Mar-
tins Filho, categoria Institucional, pela Universidade Es-
tadual do Cear�� - UECE.
Recebe o Trof��u Cl��vis Rolim, outorgado pela Fe-
dera����o das C��maras de Dirigentes Lojistas do Estado do
Cear�� - FCDL.
2 0 0 4 - Recebe o Pr��mio Responsabilidade Social,
outorgado pela Federa����o das Ind��strias do Estado do
Cear�� - FIEC.
Recebe o Trof��u Carna��ba, outorgado pela Asso-
cia����o Comercial do Cear��.
2 0 0 5 - O Cart��o de Fidelidade Sempre Pague Me-
nos atingiu a marca de 3,6 milh��es de usu��rios.
A partir desse ano, a Pague Menos passou a figurar
na lista das 500 Melhores e Maiores Empresas do Brasil,
da revista Exame.
Recebe a Medalha de Ouro "O PACIFICADOR", ou-
torgado pelo Parlamento Mundial para Seguran��a e Paz.
2 0 0 6 - M��rio Henrique Queir��s, filho de Deus-
mar, �� sequestrado. O rapaz ficou 12 dias em poder dos
sequestradores e foi libertado pela Pol��cia Militar de Per-
nambuco.
A Pague Menos, em parceria com o Governo Fede-
ral, implanta a Farm��cia Popular.
2007 - Recebe o Trof��u Sereia de Ouro, outorgado
418
D E U S M A R Q U E I R �� S - O T E C E D O R DE O U S A D I A S
pelo Sistema Verdes Mares.
Recebe o T��tulo de Economista e Empreendedor
pela Assembleia Legislativa do Estado do Cear��.
2 0 0 8 - Recebe a Medalha Cl��vis Arrais Maia, ou-
torgada pelo Sistema FECOM��RCIO.
2 0 0 9 - Conquista do Pr��mio M��rito Lojista, conce-
dido pela Confedera����o Nacional de Dirigentes Lojistas,
em Bras��lia, na categoria Destaque Excel��ncia Comercial.
2 0 1 1 - Recebe o Pr��mio O Equilibrista, concedido
pelo IBEF.
Recebe o Pr��mio TOP Socioambiental, outorgado
pela ADVB.
2 0 1 2 - Recebe o Pr��mio World Entrepreneur Of
The Year, em Monte Carlo, M��naco.
2 0 1 3 - A Lista da Forbes Brasil inclui Deusmar
Queir��s no restrito elenco de bilion��rios nacionais. In-
forma a revista que Francisco Deusmar Queir��s �� a se-
gunda pessoa mais rica do Cear�� e a 4 6 a do Brasil.
Recebe o Colar C��ndido Fontoura do M��rito Indus-
trial Farmac��utico, outorgada pelo SINDUSFARMA - SP.
Recebe a Medalha Marechal Castelo Branco do 23��
Batalh��o de Ca��adores do Ex��rcito Brasileiro.
2 0 1 5 - A Pague Menos vende 17% das suas a����es
para o Fundo Americano General Atlantic, por R$ 600
milh��es. Deusmar declara que a inje����o de capital �� para
419
J U A R E Z L E I T �� O
garantir a expans��o da varejista farmac��utica no pa��s.
2 0 1 6 - M��rio Queir��s substitui o pai, assumindo a
Presid��ncia da Pague Menos. Deusmar fica na Presid��n-
cia do Conselho de Administra����o da empresa.
2 0 1 7 - Deusmar conquista uma importante etapa
de seu sonho: instala a mil��sima farm��cia no pa��s.
Ao completar 70 anos, considera-se um patriarca
(4 filhos e 14 netos) com o cora����o de menino. E diz que
o horizonte ainda reclama os seus passos. Por isso, todos
os dias acorda para perseguir novas conquistas.
420
BIBLIOGRAFIA
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se. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2 0 0 1 .
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otecedordeousadiastdgmail.com
Ia edi����o Novembro de 2017
papel do miolo P��len 8 0 g / m 2
papel da capa Supremo 300g/m2
tipografia Gandhi Serif/ Din Pro
gr��fica Premius Editora
De: Bons Amigos lançamentos
Deusmar Queirós o Tecedor de Ousadias - Juarez Leitão
1 )https://groups.google.com/forum/#!forum/solivroscomsinopses
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