sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

{clube-do-e-livro} Lançamento: Não Leve a vida tão a sério - Hugh Prather - Formato: Epub, pdf e txt

N��o leve

vida

t��o a s��rio





H U G H P R A T H E R

N��o leve

a vida

t��o a s��rio

Pequenas mudan��as

para voc�� se livrar

de grandes problemas





4


S E X T A N T E





Copyright �� 2003 por Hugh Prather

T r a d u �� �� o

Beatriz Sidou





preparo de originais


D��bora Chaves





capa


Silvana Mattievich


projeto gr��fico e diagrama����o

Mareia Raed

revis��o

Antonio dos Prazeres

S��rgio Bellinello Soares

impress��o e acabamento

Cromosete e Editora Ltda.

C I P - B R A S I L . C A T A L O G A �� �� O - N A - F O N T E

S I N D I C A T O N A C I O N A L D O S E D I T O R E S D E L I V R O S , R J .

P92511 Prather, Hugh

N��o leve a vida t��o a s��rio

Hugh Prather; {tradu����o de Beatriz Sidou}.

Rio de Janeiro: Sextante, 2003

Tradu����o de: The little book of letting go

I S B N 85-7542-047-X

I. Paz de esp��rito. 2. Paz de esp��rito - Problemas, quest��es, exerc��cios.

I. T��tulo.

02-2213. C D D 1 5 8

C D U 159.98

Todos os direitos reservados, no Brasil, por

G M T Editores Ltda.

Rua Volunt��rios da P��tria, 45 - Gr. 1.404 - Botafogo

22270-000 - R i o de Janeiro - RJ

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E-mail: atendimento@esextante.com.br

www.sextante.com.br

Para Gayle, com amor

(Este livro foi fruto de trabalho de equi-

pe. Gayle contribuiu com o t��tulo, o tema

e idealizou a maioria dos conceitos. Eu

escrevi.)

S u m �� r i o

O rio e o le��o, 9

Um Primeiros p a s s o s rumo ao desprendimento, 11

Deixando para tr��s os problemas

Sem medo de ser feliz

D o i s Livrando-se do lixo mental, 27

Atitudes provocadoras s�� atrapalham

Para cada a����o, uma rea����o

Usando a crise como motiva����o

T r �� s Abrindo m��o d a s emo����es in��teis, 51

Diga n��o ��s preocupa����es

Deixando fluir os sentimentos

Palavras n��o substituem convic����es

As emo����es n��o s��o todas iguais

Quatro Colocando a m��goa de lado, 65

N �� o queira controlar o mundo

O medo que impede a felicidade

Para compreender os pensamentos D

C i n c o

Aceitando a vida como ela ��, 87

Abrindo m��o do eu, do meu e do para mim

Sem dar import��ncia aos resultados

Seis Aprendendo a ficar livre do conflito interior, 97

Desvendando as motiva����es inconscientes

A consci��ncia �� a maior arma

Escapando dos bloqueios que atrapalham os

relacionamentos

Dizendo n��o aos "pensamentos-chiclete"

Deixando a tristeza para tr��s

Sete Abrindo m��o da "sinceridade", 115

O uso consciente da proje����o mental

A verdade sobre a "verdade"

Oito O desprendimento do ego, 121

C o m o se forma a primeira mente

Ficando livre dos pensamentos dispersos

Liberdade para o corpo

Eliminando os pensamentos D

Nove O caminho do conhecimento espiritual, 141

Em nome da paz e da plenitude

Em busca do status quo

Momentos de decis��o

Abrindo m��o da perfei����o

Dez

Sem levar os problemas t��o a s��rio, 155

��ndice de Liberta����es, 157

O rio e o le��o

Depois de uma grande enchente, o le��o viu-se cercado por

um rio e ficou sem saber como sair dali. Nadar n��o era de

sua natureza, mas s�� lhe restavam duas op����es: atravessar o rio

ou morrer. O le��o urrou, mergulhou na ��gua, quase se afogou,

mas n��o conseguiu atravessar. Exausto, deitou para descansar.

Foi quando escutou o rio dizer:

��� Jamais lute com o que n��o est�� presente.

Cautelosamente, o animal olhou em volta e perguntou:

��� O que n��o est�� aqui?

��� O seu inimigo n��o est�� aqui ��� respondeu o rio. ��� Assim

como voc�� �� um le��o, eu sou apenas um rio.

Ao ouvir isso, o le��o, muito sereno, come��ou a estudar as ca-

racter��sticas do rio. Logo identificou um certo ponto em que a

correnteza empurrava para a margem e, entrando na ��gua, con-

seguiu boiar at�� o outro lado.





Um


P r i m e i r o s p a s s o s rumo

ao d e s p r e n d i m e n t o

N a natureza humana, todos buscamos a simplicidade e a ver-

dade. Mas as mensagens que recebemos nos impelem �� guer-

ra: "Fique ressentido com o passado", "Seja ansioso em rela����o ao

futuro", "Tenha apetite pelo que voc�� n��o v��", "Sinta insatisfa����o

com o que v��", "Sinta culpa", "Seja correto", "Esquente a cabe��a".

No mundo animal, n��o h�� necessidade de conquistar mais do

que se tem. A simplicidade da chuva, a luz de uma estrela, a leve-

za de um p��ssaro, a persist��ncia de uma formiga ��� tudo isto

simplesmente ��.

Tudo �� uma quest��o de ponto de vista. Afinal, cuecas espalha-

das no ch��o podem acabar com um casamento... mas, aos olhos

dos cachorros, elas n��o seriam motivo para briga, e sim para brin-

cadeiras. A maioria dos animais desfruta uma enorme liberdade e

pureza, caracter��sticas que, acredito, n��s tamb��m podemos expe-

rimentar. Basta relaxar a mente e, aos poucos, reaprender a des-

frutar a integridade, felicidade e simplicidade perdidas.

Muitas vezes rejeitamos as pessoas que est��o em nossas vidas,

n��o sabemos se as queremos ao nosso lado, desejamos estar com

outras pessoas, imaginamos se e at�� quando esse relacionamento

vai durar ��� e por a�� vai. O resultado dessas inquieta����es �� que,

12 N��o leve a vida t��o a s��rio

quando nos preocupamos com o que queremos ou n��o de algu��m

ou com o que aprovamos ou n��o nessa pessoa, deixamos de ver sua

bondade, sua ast��cia, sua delicadeza, sua tristeza ou seja l�� o que

for que ela tenha a oferecer. Isso complica desnecessariamente as

nossas vidas e bloqueia a alegria de viver e a paz de esp��rito.

J O H N E O C A M I N H �� O

N o s s o filho, John, tinha dois anos quando fomos morar em

Santa F��, Novo M��xico. Um dia, est��vamos na cal��ada, esperan-

do o sinal abrir, quando um caminh��o enorme come��ou a virar a

esquina bem no instante em que o sinal ficou verde. Tive que

aguardar o caminh��o passar. Nesse momento, ouvi J o h n dizer:

��� Caminh��o grande!

Olhei para baixo e vi que seus olhinhos estavam brilhando de

prazer. Olhei novamente para aquele enorme caminh��o que pas-

sava t��o perto que poderia toc��-lo se desse um passo �� frente. E,

finalmente, vi o caminh��o em toda sua majestade. Parecia a nave

de um filme do tipo Guerra nas Estrelas.

N �� o havia percebido isso antes. Talvez porque estivesse pen-

sando que aquele caminh��o n��o deveria estar ali atrapalhando

meu caminho, ou que eu tinha algo bem mais importante a fazer

do que esper��-lo passar. Esses pensamentos impediram que eu

aproveitasse o prazer daquele momento, de p��, na cal��ada, ao

lado de meu filho, segurando sua m��ozinha. S��o o que chamo de

pensamentos desnecess��rios ��� o tipo que as criancinhas t��m

pouqu��ssimos, se �� que t��m algum, e, por isso, em geral, s��o obje-

tivas e felizes.

Uma mente tranq��ila v�� o que est�� aqui. Uma mente

ocupada v�� o que n��o est�� aqui. Aquele que est�� pre-

Primeiros passos rumo ao desprendimento 13

sente �� nada mais, nada menos, do que aquele que est��

presente. Portanto, voc�� pode pensar o que quiser sobre

as pessoas, mas saiba que isso n��o vai transform��-las.

N o s s a vida �� cheia de batalhas in��teis exatamente porque

nossa mente �� cheia de pensamentos in��teis. Sofremos por his-

t��rias infelizes do passado como se elas ainda estivessem aconte-

cendo e temos o h��bito de ficar ruminando sobre o que acaba-

mos de fazer. �� preciso esvaziar a mente. Quando n��o consegui-

mos nos desvencilhar dos pensamentos negativos, eles dimi-

nuem nossas chances de ser feliz.

�� o caso da sogra que n��o consegue aceitar seu genro porque

ele �� do tipo que usa uma por����o de brincos, um piercing no

nariz e algum escondido em outra parte do corpo. Ela est�� ape-

nas atacando sua pr��pria capacidade de amar. Sua rejei����o n��o

mudar�� o genro, nem o amor que sua filha sente por ele ��� ape-

nas a afastar�� do amor da filha.

C A C H O R R O Q U N T E

H�� mais ou menos uma hora, nosso filho J o r d a n me per-

guntou se eu poderia "fazer um cachorro-quente do jeito que

a mam��e faz?" Parei de escrever e fui at�� a cozinha onde J o h n ,

que est�� com vinte anos, me perguntou se eu poderia dar uma

olhadinha numa proposta de neg��cio que ele esbo��ara para

sua aula de contabilidade. Minha mulher, Gayle, n��o estava

em casa.

��� Assim que eu fizer o cachorro-quente do Jordan ��� disse eu.

��� Ah! ��timo! N �� o quer fazer um pra mim tamb��m? ��� disse John.

��� Est�� bem ��� respondi, secamente.

Aborrecido com a minha pr��pria atitude, levemente hesitante

14 N��o leve a vida t��o a s��rio

entre parar de escrever sobre paz e bondade e pratic��-las, colo-

quei as salsichas de frango para ferver no molho, enquanto pen-

sava no tremendo paradoxo que estava vivendo.

Ali estava eu pensando em como n��o conseguia fazer o que

queria fazer, me perguntando onde Gayle e eu hav��amos errado,

j�� que os nossos filhos n��o conseguiam fazer seus pr��prios ca-

chorros-quentes. Ao mesmo tempo, eu me sentia satisfeito pela

decis��o de deixarmos os meninos decidirem se queriam ou n��o

ser vegetarianos e me questionava se uma galinha criada em con-

finamento era mais saud��vel do que uma galinha caipira...

N u m certo sentido, n��s temos duas mentes: uma, ��ntegra e

tranq��ila; a outra, fragmentada e ocupada. Eu, com certeza,

tinha acionado a mente ocupada.

Se fosse poss��vel resumir todos os ensinamentos espi-

rituais numa ��nica frase, esta chegaria bem perto: "Fa��a

com que seu estado mental seja mais importante do que

o que voc�� estiver fazendo."

Tenho praticado o suficiente para saber que o ato de esvaziar

a mente e deixar os pensamentos flu��rem �� bem melhor e mais

saud��vel do que a sensa����o oposta. Embora j�� tivesse dado

alguns passos na dire����o certa, sentia que meu estado de esp��ri-

to ainda n��o estava completamente em paz. Por que eu tinha

que passar por essa pequena prova����o? Por que n��o se pode fazer

com alegria meia d��zia de pequenas tarefas?

Meu erro foi ter deixado as circunst��ncias serem mais impor-

tantes do que o meu estado de esp��rito. Agora, para reverter isso,

era preciso desbloquear minha mente. Para isso, era necess��rio

cumprir tr��s etapas:

Primeiros passos rumo ao desprendimento 15

Primeira: Para eliminar o que impede a experi��ncia de plenitude e paz,

voc�� precisa examinar o impedimento.

Para falar a verdade, eu n��o estava exatamente irritado por ter

interrompido meu trabalho para fazer os cachorros-quentes,

apenas me sentia um tanto chateado com a sensa����o de que esta-

va deixando de fazer coisas importantes e, claro, em conflito por

estar experimentando todos esses sentimentos.

Quando me aprofundei no que estava sentindo, encontrei o

pensamento que estava bloqueando tudo: "Eu n��o deveria ter de

fazer o que n��o quero fazer." Mas, logo me dei conta de que nem

mesmo eu acreditava nessa id��ia. Fa��o coisas que n��o quero

fazer o tempo todo e, neste caso espec��fico, eu queria fazer a

comida dos meus filhos e queria ler a proposta de John.

O.k. Etapa 1 resolvida.

Antes de entrar na etapa 2, quero destacar um aspecto essen-

cial dessa din��mica. Percebi que, na tentativa de entender o que

eu realmente queria fazer, eu teria sabotado todo o processo de

desprendimento se houvesse desejado que os meus filhos ou a

situa����o mudassem.

Sempre que desejamos que as pessoas mudem ou que as cir-

cunst��ncias nos sejam favor��veis, estamos, de alguma forma, nos

eximindo da responsabilidade por nosso estado mental. �� como

se assum��ssemos o papel de v��timas e fic��ssemos torcendo para

sermos poupados. C o m certeza, existem v��timas de verdade,

mas, em geral, nos colocamos desnecessariamente neste papel. E

fazemos isso todos os dias.

Quando o objetivo �� manter o senso de integridade, indepen-

dente do que acontecer �� nossa volta, n��o nos tornamos v��timas.

N a d a fica "fora de controle" se quisermos. Somos n��s que deixa-

mos as pessoas e as situa����es serem quem s��o e o que s��o. Isto

16 N��o leve a vida t��o a s��rio

n��o quer dizer que aprovamos a maneira como se comportam e

tamb��m n��o significa que deixamos de nos proteger das pessoas

destrutivas.

N �� o sei se voc�� j�� percebeu a freq����ncia com que os motoris-

tas se colocam em risco s�� para dar uma li����ozinha a um outro

motorista. �� comum acelerarem para mostrar ao outro que n��o

�� correto mudar de pista, ou grudarem atr��s de quem est�� indo

muito devagar ou mesmo n��o deixarem espa��o para aquele carro

que for��ou a entrada bem na sua frente depois de uma ultrapas-

sagem perigosa.

Esses "justiceiros do tr��nsito" s��o exemplos cl��ssicos de v��ti-

mas. S�� ficam satisfeitos se os outros motoristas demonstrarem

que entenderam o recado. O problema �� que pressionar os ou-

tros motoristas n��o muda seus cora����es. Apenas cria um confli-

to, que divide a mente e confunde as nossas emo����es. Ningu��m

em tempo algum se tornou mais sens��vel ou mais ponderado por

ser julgado, maltratado ou atemorizado.

Segunda: Para superar o bloqueio, voc�� precisa ter muita clareza do

que quer.

Esta etapa parecia f��cil. Afinal, eu queria fazer os cachorros-

quentes, atender o pedido de meus filhos e ser capaz de alterar

minha agenda de trabalho ��� tudo isso em paz.

Para falar a verdade, eu ansiava pela paz mais do que o pensa-

mento que a estava bloqueando. Refleti sobre minha sinceridade

a respeito de tudo isso. Achei que estava bem s��lida. O.k. Etapa

2 resolvida.

Terceira: Para atingir a plenitude, voc�� deve reagir a partir da mente

��ntegra, n��o da mente em conflito.

Esta etapa j�� soava mais dif��cil. Para come��ar, era preciso

descobrir a plenitude que existe dentro de cada um de n��s. Que

Primeiros passos rumo ao desprendimento 17

todos n��s a possu��mos �� fato, mas traz��-la �� tona �� outra

hist��ria. Em geral, nos sentimos em paz quando estabelecemos

uma liga����o amorosa com as outras pessoas. Mas, se a mente

arrisca um pensamento perturbador e se as duas primeiras eta-

pas desse processo n��o forem realizadas com sinceridade, corre-

se o risco de escorregar e cair novamente no velho estado men-

tal conflitante.

Para evitar esse risco �� preciso agir com pureza de alma. Ser��

que sinceramente desejamos a paz aos que est��o �� nossa volta?

Ser�� que sinceramente desejamos uma mente que conhe��a a

serenidade e que tenha uma profunda liga����o com nosso par-

ceiro(a), com nossos filhos, pais, irm��os e amigos? Ou seria me-

lhor resguardar nosso cora����o e permanecer em posi����o de jul-

gar e de estar sempre com a raz��o?

Neste ponto, a terceira etapa pode se tornar um tanto com-

plicada, especialmente se surgir a tenta����o de controlar nossas

emo����es mais destrutivas e impulsos mais sombrios. Esses sen-

timentos de fato exigem controle, mas a verdade �� que n��o se

est�� em guerra com as circunst��ncias ou comportamentos e pen-

samentos. �� exatamente o contr��rio. Quando se est�� numa bata-

lha in��til, o melhor a fazer �� abandonar o campo de batalha.

Uma boa ilustra����o de como isto funciona est�� na maneira

como sentimos o amor. Todos n��s j�� vimos exemplos desas-

trosos de pessoas que decidem ter ou adotar um filho porque

desejam algu��m que as ame. A raz��o pela qual n��o d�� certo �� que

a crian��a tem sua individualidade e, por isso, quase sempre age

de forma diferente da idealizada ��� assim come��a a guerra.

Quem decide ter um cachorro ou um gato pela mesma raz��o

termina criando a pr��pria infelicidade. Inevitavelmente, o ani-

mal de estima����o decepcionar��. N o s relacionamentos rom��nti-

18 N��o leve a vida t��o a s��rio

cos, todo mundo deseja encontrar algu��m carinhoso, que com-

partilhe seus interesses, que satisfa��a suas necessidades, que s��

tenha olhos para voc�� e o adore at�� a velhice. Infelizmente, isso

tamb��m n��o funciona, como demonstra a crescente taxa de

div��rcios.

A raz��o pela qual um bicho traz felicidade a seu dono, um filho a

seus pais e uma mulher a seu marido, �� que sentimos amor. Quando

n��o se ama, o mais dedicado bichinho, planta, filho ou amante n��o

tocar�� o nosso cora����o. Simplesmente n��o funciona assim.

Por milhares de anos, nos disseram que o amor �� mara-

vilhoso. A maioria das pessoas acredita que ser amado

�� uma sensa����o maravilhosa. E ��. Mas, antes de voc��

conhecer "o amor", �� preciso amar. Quando se ama, voc��

recebe mais do que a sensa����o de ser amado. O ap��s-

tolo Jo��o disse: "Amai-vos uns aos outros, porque o

amor �� Deus. E todos os que amam nasceram de Deus

e conhecem Deus. Os que n��o amam nada sabem de

Deus, pois Deus �� amor."

C o m o �� fato que, quando as pessoas amam, elas ficam com-

pletamente envolvidas na sensa����o do amor, h�� pais e m��es que

se sentem felizes por ser amados por seus filhos problem��ticos,

seus bichinhos complicados e seus parceiros obesos. Encontra-

mos casais muito idosos que, obviamente, n��o s��o mais atraentes

como eram, mas conseguem enxergar e sentir a beleza do amor.

Para que isto aconte��a, basta acessar sua mente amorosa e tran-

q��ila ��� n��o a mente ocupada e fragmentada.

Saiba que ningu��m passa diretamente de uma abordagem con-

flitante para uma de pura unidade e paz. Para ser realista, fazer

Primeiros passos rumo ao desprendimento 19

o melhor poss��vel hoje j�� �� ��timo. Basta um pequeno progresso

a cada dia, afinal, �� o rumo que importa. Este ��, sem d��vida, um

objetivo mais estimulante e mais produtivo do que tentar a reali-

za����o total e plena.

A hist��ria a seguir mostra o que acontece quando usamos a

mente tranq��ila ou a mente conflituosa.

C O R R E R I A N O C O R R E D O R

Gayle e eu est��vamos saindo de um gin��sio em que hav��amos

assistido a nosso filho, Jordan, jogar basquete. Segu��amos por um

comprido corredor quando tr��s meninas de uns oito anos pas-

saram correndo, conversando e rindo animadamente. Quando

cruzaram com o homem que estava �� nossa frente, ele gritou

com aspereza:

��� N �� o corram pelo corredor!

O grito fez as meninas andarem devagar, quase parando.

Quando passamos por elas, o sujeito estava quase fora de vista.

Gayle, ent��o, falou:

��� Ele n��o disse que voc��s n��o poderiam pular!

Imediatamente, as meninas come��aram a rir e a pular pelo

corredor.

��� N �� o , ele n��o disse que a gente n��o poderia saltar e pular!

O que Gayle fez? Apenas reagiu com sua mente aberta e fran-

ca, e mirou na ess��ncia da inoc��ncia e do divertimento das meni-

nas. Se ela tivesse criticado o homem, dizendo algo do tipo "Que

rabugento! Acho que voc��s deveriam correr se quiserem!", elas

at�� teriam recome��ado a correr, mas de uma forma desafiadora

ou amedrontada, n��o com a naturalidade de antes. Suas mentes

estariam em conflito e elas se sentiriam inseguras.

Reagir criativamente mostra que os problemas que s��o impor-

20 N��o leve a vida t��o a s��rio

tantes para os outros s��o importantes para n��s. N �� o se deve subes-

timar, ou menosprezar, o medo e a perturba����o que uma pessoa

sente. Reagir com desd��m ou irrita����o �� uma demonstra����o de

ego��smo. Para reverter isso, o primeiro passo �� admitir o fato e

refletir sobre ele. Depois, descobrir quais s��o realmente nossos

sentimentos e buscar nossa individualidade e felicidade. S�� ent��o

podemos demonstrar que alcan��amos a plenitude.

D e i x a n d o p a r a t r �� s o s p r o b l e m a s

Um exame r��pido e honesto dos nossos sentimentos muitas

vezes �� o que basta para nos lembrarmos que �� poss��vel ficar com

a mente livre de conflitos e preocupa����es. Normalmente, �� pre-

ciso bem mais do que isto, mas ficamos t��o presos a nossos sen-

timentos de corre����o, de certeza, de irrita����o, cinismo e afins,

que esquecemos que podemos sentir de modo diferente.

Essa "pris��o emocional" que n��s mesmos criamos nos leva a

perder inteiramente a f�� no amor duradouro, no comprometi-

mento e na paz. No in��cio, o desprendimento parece uma tarefa

temer��ria, at�� imposs��vel. A sensa����o �� de que passamos de um

problema para outro, e assim sucessivamente. Preste aten����o no

seu dia-a-dia: �� um problema atr��s do outro, do qual obviamente

desejar��amos nos livrar, mas raramente conseguimos.

As dificuldades s��o t��o importantes para a vida das pessoas que

acabamos definindo os que nos rodeiam a partir de seus proble-

mas. Preste aten����o quando estiver conversando com os amigos

sobre algu��m do grupo que n��o est�� presente. Quer de modo po-

sitivo, quer negativo, os problemas dessa pessoa ser��o real��ados.

Isto tamb��m acontece com nossa auto-imagem. Temos a ten-

d��ncia a pensar em n��s, at�� mesmo no significado da vida, do

ponto de vista das dificuldades que encontramos.

Primeiros passos rumo ao desprendimento 21

Um bom exemplo de como isso funciona �� a hist��ria de como

fomos adotados por dois gatos de rua. Eles tinham o h��bito de

trazer um peda��o de cada passarinho, rato ou lagarto que mata-

vam como demonstra����o de sua satisfa����o e confian��a. Para

mim, n��o era um problema limpar esses "presentes", mas, quan-

do eu viajava, virava um fardo para o resto de minha fam��lia. O

mesmo princ��pio se aplica quando me ocupo em responder

e-mails. Para mim, �� o tipo de trabalho que exige enorme con-

centra����o, enquanto para Gayle n��o exige grandes esfor��os.

N �� o tem nada a ver pensar que algumas pessoas t��m uma vida

realmente dif��cil, enquanto outras passam por ela inc��lumes.

Todos n��s j�� ouvimos falar de algu��m que enfrentou uma terr��-

vel trag��dia em relativa paz. No entanto, existem pessoas que

mal conseguem lidar com a rotina e se sentem massacradas pela

vida. Acontece tanta coisa num dia normal ��� ou melhor, no

cotidiano h�� tanta mat��ria-prima para a mente se ocupar ��� que

�� dif��cil achar uma justificativa para a infelicidade.

Os problemas nos atingem na medida da nossa preo-

cupa����o. A chave para se alcan��ar a fluidez, o repouso e

a liberdade interior n��o �� a elimina����o de todas as difi-

culdades externas, mas sim o desapego ao padr��o de

rea����o a essas dificuldades.

N o s ��ltimos vinte e cinco anos de experi��ncia com terapia de

fam��lia, Gayle e eu n��o cansamos de nos surpreender com a apa-

rente felicidade de muitas crian��as pequenas que vivem em lares

violentos. Em geral, s��o necess��rios muitos anos de trauma f��sico

ou emocional para que este sentimento seja realmente destru��do.

Pesquisas mostram que, mesmo em zonas de guerra, campos

22 N��o leve a vida t��o a s��rio

de refugiados ou ��reas de fome, grande parte das crian��as man-

t��m sua capacidade de brincar e ser feliz em meio a circunst��n-

cias de horror impens��vel.

Para perceber a diferen��a entre a maneira como adultos e

crian��as abordam a vida, n��o �� preciso ir muito longe ��� basta

observar uma festa.

F E S T A D E N A T A L

No final dos anos 70, Jerry Jampolsky ��� o psiquiatra especializa-

do em crian��as que fundou o Centro de Tratamento pela Atitude ���

me convidou para a primeira festa de Natal da institui����o.

Fiquei chocado com o que vi. Diante de mim estavam crian��as

em cadeiras de rodas e muletas, crian��as com distrofia muscular

e doen��a de Hodgkin, crian��as com pernas amputadas ou parali-

sadas, crian��as sem cabelo por causa da quimioterapia.

Ao mesmo tempo que olhava para aquela sala de horrores, senti

que havia algo diferente no ar. A sala estava cheia de suas gargalhadas

e risadas, as crian��as estavam felizes, conversando umas com as ou-

tras. E era exatamente isso ��� sua atitude ��� que sa��a do padr��o.

Logo me vi num grupo, conversando com uma adolescente

chamada Lisa, cujo sonho era ser modelo. Lisa se apoiava em

muletas de alum��nio e metade de seu corpo, inclusive o rosto,

estava paralisado por causa de um acidente de autom��vel. En-

quanto convers��vamos, Lisa, de repente, perdeu o equil��brio e

caiu de costas. Quando conseguimos levant��-la, havia l��grimas

de dor em seus olhos. Lisa deu um sorriso encabulado e disse:

��� Pelo menos eu estou conseguindo ficar com o bumbum

bem durinho...

"Ficar com o bumbum bem durinho" n��o �� exatamente o que

se espera ouvir numa situa����o dessas, mas qual rea����o seria mais

Primeiros passos rumo ao desprendimento 23

adequada? Para mim, foi especialmente instrutivo observar que

suas mentes sadias eram mais reais e mais importantes para elas

do que o peso de seus corpos.

Copiar a abordagem infantil da felicidade n��o �� se comportar

como uma delas, mas sim ver o mundo como elas v��em. �� aban-

donar as percep����es estreitas e as respostas prontas. �� admitir

sem restri����es que as pessoas �� nossa volta s��o o que s��o e que

estamos ali com elas para o que der e vier.

Transformar-se numa "crian��a" �� abrir m��o da responsabilidade

de julgar e de estar certo em todos os momentos. Isso elimina os

bloqueios e permite a amplia����o de nossa capacidade de apreciar

qualquer coisa ou, pelo menos, de estarmos serenos e em paz.

Existem tr��s coisas que voc�� precisa abrir m��o: julgar,

controlar e ser o dono da verdade. Livre-se das tr��s, e

voc�� ter�� a mente ��ntegra e vibrante de uma crian��a.

A principal caracter��stica das crian��as pequenas �� sua obje-

tividade: elas mostram o que sentem e sabem o que querem.

Claramente, elas est��o ligadas �� sua ess��ncia, seu instinto. Mas

as crian��as n��o s��o perfeitas ou invulner��veis. Na verdade, elas

captam as li����es positivas e as negativas que lhes s��o ensinadas

e parecem escolher, principalmente, os medos inconscientes e as

ansiedades dos adultos que estiverem a seu redor.

Mesmo que voc��, quando crian��a, n��o gostasse de determina-

da op����o de vida escolhida por seus pais e tenha at�� decidido

que n��o cometeria esse erro quando crescesse, certamente se fla-

grou, j�� adulto, dizendo as mesmas palavras ou agindo da manei-

ra que queria evitar. Isto mostra como somos vulner��veis quan-

do crian��as.

24 N��o leve a vida t��o a s��rio

Existem crian��as que aprendem a ter suas pr��prias opini��es e

at�� a sentir ��dio, numa idade surpreendentemente precoce. Se

voc�� j�� viu isto acontecer, sabe que elas j�� perderam contato com

sua felicidade e autoconfian��a natural. Elas aprenderam a duvi-

dar dos outros e aplicam essa li����o em si mesmas. Se elas n��o s��o

confi��veis, ningu��m mais o ��.

S�� quando crescemos nos tornamos conscientes do que sig-

nifica incorporar comportamentos e depois abrir m��o deles. �� a

��nica maneira de assumirmos a responsabilidade pela paz e pelo

bem-estar de nossas mentes.

S e m m e d o d e s e r f e l i z

Libertar-se de julgar e controlar n��o tem contra-indica����es. Que

mal poderia vir da simplicidade de n��o ter que ser outra pessoa e

de n��o exigir que nossos amigos e nossa fam��lia sejam diferentes

do que s��o? Precisamos apenas seguir nossa voca����o, agir com

naturalidade e liberdade, sem nenhum status ou atitude especial.

Que necessidade temos de erguer como bandeira da nossa

verdade o dinheiro, a educa����o, a religi��o ou a ra��a? Que neces-

sidade temos de nos mantermos isolados, fixados em traumas de

inf��ncia? Os traumas acumulados s��o como poeira sobre a pele.

Aqueles que nos deram as contribui����es mais significati-

vas e duradouras para sermos quem somos foram os que

ousaram assumir seu lugar como iguais. O mundo olha,

fascinado, para o brilho ofuscante do ego, mas somente

os que caminharem ao nosso lado, com amor e igualdade,

atingir��o nossos cora����es e nos transformar��o.

Primeiros passos rumo ao desprendimento 25

L i b e r t a �� �� o 1

Tempo s u g e r i d o : 1 dia ou mais

Da pr��xima vez em que estiver numa loja, num restaurante,

num shopping center, no trabalho ou apenas caminhando numa

cal��ada cheia de gente, escolha uma pessoa e experimente se

transformar nela por alguns instantes. C o m o seria vestir suas

roupas, ter aquele tipo de cabelo (ou n��o ter cabelo), caminhar

da maneira como ela caminha (ou n��o poder caminhar)? C o m o

seria fazer aqueles gestos? �� verdade que as pessoas olham de

lado ou em v��rias dire����es, como se estivessem um pouco inse-

guras, um tanto vulner��veis? O mundo l�� fora �� muito grande,

imprevis��vel... Sem an��lise, sem inferioridade, sem condescen-

d��ncia, sem perspectivas, como seria sentir-se como essas pes-

soas e pensar como elas?

Experimente fazer isto hoje e, se gostar, fa��a essa brincadeira

nos pr��ximos dias. Talvez voc�� se surpreenda ao perceber como

tudo �� banal. Talvez perceba que todos n��s somos bastante pare-

cidos e que estamos juntos nesse barco. Poder��, por outro lado,

sentir-se um pouco triste ao avistar algu��m que luta para se man-

ter �� parte somente para encontrar a solid��o e o isolamento.





Dois


L i v r a n d o - s e do lixo mental

Eliminar as toxinas do organismo e soltar a tens��o nos m��s-

culos s��o procedimentos conhecidos na medicina hol��stica.

A necessidade de purifica����o f��sica �� t��o forte que, como con-

ceito, tornou-se a principal meta tanto nos autotratamentos

quanto na medicina convencional. Um exemplo s��o as infinitas

marcas de vitaminas e suplementos nutricionais anunciados

como agentes de limpeza e purifica����o. Entre os adeptos de

tratamentos alternativos as op����es v��o do jejum a dietas ricas

em fibras e alimentos crus, at�� banhos de imers��o com ��gua sal-

gada, exerc��cios de respira����o, megadosagens de vitamina C e

terapias �� base de litros e mais litros de ��gua.

Na abordagem corpo-mente-esp��rito, vale tudo para eliminar

as for��as negativas. No ritual cotidiano, pela manh�� tomamos

uma chuveirada e escovamos os dentes e, ao longo do dia, lava-

mos as m��os depois de cada ida ao banheiro. Em vez de ��gua da

bica, tomamos preferencialmente ��gua mineral. Os sab��es em

p�� que lavam nossas roupas cont��m desinfetantes e usamos pro-

dutos antibacterianos para limpar a cozinha. Muitas casas e at��

alguns carros possuem sistemas de filtragem do ar.

Estamos aparentemente muito preocupados em limpar nos-

sos corpos e o ambiente em que vivemos de tudo que possa pre-

judicar a nossa sa��de e energia, mas, estranhamente, n��o senti-

mos a menor necessidade de esvaziar nossas mentes de tudo o

28 N��o leve a vida tao a s��rio

que possa azedar nossas atitudes, bloquear a nossa intui����o e

arruinar nossos relacionamentos.

Que diferen��a faz se o corpo est�� sempre limpinho, desintoxi-

cado e livre de germes, se nenhum ser vivo que este corpo encon-

tra �� confortado? Na verdade, acreditamos que nossos corpos

s��o mortais e nosso esp��rito �� eterno.

Nossas aten����es est��o voltadas para manter o exterior impe-

c��vel. Sa��mos todos os dias com roupas limpas, cabelos lavados,

dentes escovados, mas com a mente cheia de ansiedades mesqui-

nhas, ressentimentos sombrios, perspectivas deterioradas, pre-

conceitos venenosos e uma s��rie intermin��vel de auto-imagens

ensebadas e pu��das. Sequer nos incomodamos em varrer o lixo

mental que produzimos diariamente, para n��o falarmos no entu-

lho que acumulamos pela vida afora.

Vemos filmes e lemos hist��rias fant��sticas a respeito da

vastid��o da mente. Falamos para as crian��as sobre o "poder da

imagina����o". Participamos de semin��rios que falam sobre o

imenso potencial ainda n��o utilizado de nosso c��rebro. Trata-se

de um trabalho genial de auto-engano, no qual acreditamos que

tudo o que est�� em nosso espa��oso c��rebro �� ��til, vale a pena

guardar e est�� em bom estado.

Se observarmos de perto nossa mente por uma hora que seja,

veremos que, em vez de uma caixa m��gica, repleta de sonhos e

maravilhas, �� mais prov��vel que ela se pare��a com uma geladeira

atulhada. Uma r��pida incurs��o por uma prateleira qualquer reve-

lar�� coisas t��o velhas enfiadas l�� no fundo que nem conseguimos

lembrar o dia em que as adquirimos. De t��o cheios de mofo e

bolor, os recipientes com restos enfiados nos cantos parecem ter

vida pr��pria.

Para falar a verdade, os cantos de nossa geladeira mental cria-

Livrando-se do lixo mental 29

ram seus pr��prios reinos azedos e malcheirosos. C o m o o cen��rio

�� assustador, temos o impulso de colocar todas essas coisas bolo-

rentas bem depressa de volta em seus devidos lugares, para man-

ter a ilus��o de que bem ali, na nossa querida geladeira, s�� exis-

tem sucos de laranjas ensolarados, mangas suculentas e verduras

org��nicas bem fresquinhas.

Limpar mentes sobrecarregadas n��o �� tarefa pequena. Leva

um tempo e �� preciso coragem, at�� porque, com certeza, voc��

far�� algumas descobertas desagrad��veis. Em todo caso, quando

as prateleiras estiverem limpinhas e organizadas de novo, cheias

de alimentos frescos e nutritivos que deixam aromas delicados

no ar, saberemos que fizemos um sacrif��cio muito pequeno para

tanta riqueza.

Este livro pede que voc�� nade contra a mar�� da opini��o

dos outros: decida que a felicidade �� parte essencial de

uma vida bem vivida.

�� curioso que seja necess��rio um verdadeiro trabalho de con-

vencimento pessoal para obtermos a sensa����o de plenitude, paz

e realiza����o. Na verdade, �� aceit��vel ��� e at�� esperado ��� que as

pessoas dediquem muito tempo de suas vidas �� acumula����o, ao

status profissional, �� atra����o f��sica, �� aceita����o social e at�� a

pr��tica de seu esporte favorito.

Mencione a busca do prazer e da tranq��ilidade interior ��� e a

maioria das pessoas dir�� que s��o luxos e que n��o t��m tempo para

sair atr��s "dessas coisas". Para elas, basta torcer para que algum

dia a vida pare��a bem-sucedida.

Se quer saber como �� encher a sua geladeira com as coisas que

voc�� escolhe e n��o com as coisas escolhidas para voc�� pela cul-

30 N��o leve a vida t��o a s��rio

tura e pela din��mica da fam��lia, saiba que, em m��dia, uma

crian��a ri mais de 350 vezes por dia, contra dez vezes por dia

para um adulto. Por qu��? Porque as crian��as chegam ao mundo

com geladeiras limpas!

Sugiro que comecemos j��. A primeira provid��ncia �� avaliar

quanto lixo mental somos capazes de produzir num s�� dia. Para

isso, �� preciso considerar apenas o mais in��til dos itens: a preo-

cupa����o.

Atitudes provocadoras s�� atrapalham

Poucos est��o convencidos de que a preocupa����o �� um entulho

mental in��til. De alguma forma, parece certo se preocupar.

Afinal, j�� que todo mundo se preocupa, a preocupa����o deve

servir para alguma coisa. O mesmo racioc��nio se aplica para o

fato de que, se todos fazem pequenas trai����es uns aos outros, a

trai����o deve ser ben��fica para a esp��cie humana. Mas n��o �� ver-

dade que todos os impulsos humanos t��m um aspecto positivo.

Para progredir espiritualmente, temos de admitir que co-

metemos erros, ��s vezes erros graves, e que possu��mos

algumas tend��ncias que s��o perigosas e irracionais.

A "sabedoria do corpo" �� altamente question��vel, como qual-

quer pessoa que sofra de ins��nia ou de alergia pode atestar. A

sabedoria do c��rebro �� igualmente question��vel. Na verdade, o

corpo, incluindo o c��rebro, n��o reage a nada integralmente. O

que �� bom para uma parte do corpo muitas vezes �� ruim para

outra. O corpo se divide e subdivide de incont��veis maneiras e

as tens��es que essas partes mant��m entre si, em geral, s��o a

causa fundamental de sua pr��pria destrui����o.

Livrando-se do lixo mental 31

Da mesma forma, a mente tem muitas partes, cada uma com

seus pr��prios planos. Um exemplo: muitas vezes a mente anseia

por algo e �� repelida ��� seja dinheiro, doces, sexo ou lazer. N �� o

podemos afirmar que, pelo fato de muitas mentes se preocu-

parem, elas o fazem por uma boa raz��o.

N e m toda tend��ncia humana �� racional, como demonstra o

intrigante n��mero de pessoas pelo mundo afora que precisam

ser confinadas em pris��es, penitenci��rias e manic��mios. O me-

lhor �� examinar as atitudes "provocadoras" de preocupa����o em

nossa cultura para ver se h�� algum benef��cio em utilizarmos a

mente dessa maneira.

Sete atitudes que c a u s a m p r e o c u p a �� �� o

Atitude 1 : " �� natural preocupar-se"

Todos os dias constru��mos um santu��rio de preocupa����es e

cuidadosamente veneramos cada um desses preciosos objetos.

Existe sempre algo que est�� para acontecer ou uma quest��o rela-

cionada �� nossa sa��de, sem contar alguma situa����o embara��osa

que tenha acontecido no dia anterior, ou mesmo h�� dez anos,

mas que continua ocupando um lugar de honra no santu��rio.

�� como se a nossa mente focasse em problemas, n��o em solu-

����es; como se remo��ssemos as quest��es, n��o as respostas. N o t e

como somos r��pidos em atribuir uma falha em qualquer solu����o

que nos venha �� mente, ou que algu��m nos sugira, de forma que

possamos continuar preocupados. Ser�� que isto �� "natural"?

Certamente, mas isto n��o significa que se preocupar seja

ben��fico. A preocupa����o n��o nos faz sentir mais confort��veis

nem favorece melhores decis��es. Ela fragmenta a mente, tira a

concentra����o, distorce a perspectiva e destr��i o bem-estar inte-

rior. A preocupa����o �� um esp��cie de estresse auto-aplicado. A

32 N��o leve a vida t��o a s��rio

preocupa����o �� o caos mental, n��o �� nada agrad��vel ��� ou seja. ��

puro lixo, mas lixo que n��s acumulamos e aturamos todos os dias

de nossas vidas.

L i b e r t a �� �� o 2

Tempo sugerido: 1 dia ou mais

Basta um dia para voc�� provar a si mesmo a efic��cia deste exer-

c��cio ��� uma ferramenta que poder�� ser utilizada com grandes

resultados pelo resto de sua vida e que, na verdade, ilustra muitos

dos conceitos fundamentais deste livro. Entre eles, o de que nosso

ego �� nosso desejo de estarmos s��s, que a experi��ncia de estar

conectado ou em comunh��o com algu��m ou alguma coisa neutrali-

za o nosso ego. E de que a sinceridade (o foco, o compromisso) ��

a chave para nos desapegarmos com sucesso de qualquer coisa.

��� Identifique uma linha de pensamento que esteja atormen-

tando-o.

Isso �� f��cil. Talvez as duas preocupa����es mais comuns sejam

algo que vive nos incomodando ou algu��m com quem discutimos

at�� em pensamento. A primeira diz respeito ao futuro: um medo

do que pode acontecer. A segunda diz respeito ao passado:

ang��stia em rela����o ao comportamento de algu��m ou em rela����o

�� maneira como algum acontecimento se desdobrou.

�� importante observar que as rea����es dos outros s��o o centro

de nossa preocupa����o. N o s s a mente n��o se prende a situa����es. Se

fazemos algo realmente tolo enquanto caminhamos, podemos at��

rir disso, mas n��o vira uma id��ia fixa ��� a menos, �� claro, que o

erro fique evidente quando retornamos. Nosso ego funciona de

forma repetitiva, aumentando a dist��ncia entre n��s e os outros:

��� Da pr��xima vez que voc�� notar que est�� entrando na linha

Livrando-se do lixo mental 33

de pensamento que voc�� j�� identificou, interrompa-a (sim-

plesmente n��o a complete).

��� Na seq����ncia, pense em qualquer coisa que tenha a ver com

amor ou uni��o.

Pense no seu cachorro, no jardim, no parceiro(a), nos filhos,

nos amigos, num parente carinhoso ou mesmo em Deus. Aben-

��oar, rezar ou mentalizar na pessoa que �� objeto de sua preocu-

pa����o tamb��m �� uma energia muito forte. Contudo, se os seus

pensamentos estiverem muito perturbados, voc�� n��o ter�� for��as

para isso ��� neste caso, identifique o pensamento, interrompa-o

e desvie seu foco para alguma imagem amorosa. Fa��a isto e voc��

ver�� como �� f��cil desconectar uma linha de pensamento pertur-

badora. Em geral, um pensamento qualquer de uni��o tamb��m

resolve a quest��o.

Acreditamos que n��o �� poss��vel deixar de nos preocupar ou

de emitir julgamentos, como se fosse poss��vel combater essa

intensa atividade mental nos revoltando contra n��s mesmos

ou procurando reinterpretar a situa����o. Para muitas pessoas,

esta �� uma abordagem mais delicada e racional do tema, mas,

no fundo, o resultado �� o mesmo: introduzimos uma nova in-

terpreta����o para combater a primeira e assim dividir a nossa

mente.

A verdade �� que jamais acreditamos completamente nessa

reinterpreta����o ("Ele provavelmente n��o queria ferir meus sen-

timentos; apenas gritam muito com ele no trabalho" ou "Ela tal-

vez n��o estivesse tentando me tapear, apenas tem medo de n��o

conseguir fazer o que tem de fazer..."), o que obriga nossas

mentes a intensas idas e vindas, procurando decidir de que lado

examinar a quest��o.

Enquanto isso, a linha de pensamento ansiosa ou cr��tica con-

34 N��o leve a vida t��o a s��rio

tinua. A certa altura, desistimos dela e resolvemos simplesmente

ag��entar a perturba����o, na esperan��a de que logo ela terminar��.

E assim passamos horas ou dias infelizes. Mas a coisa n��o acaba

a��. Assim que uma preocupa����o se esgota, outra assume seu

lugar. Por isso, aprender a deixar para tr��s os problemas �� t��o

fundamental para nossa felicidade e paz de esp��rito.

Uma vez que voc�� j�� sabe que qualquer pensamento pertur-

bador pode ser dissipado, o problema ent��o se desloca para o

fato de que, daqui a tr��s minutos, uma hora ou um dia, o pensa-

mento obsessivo vai voltar. De onde ele vem? Ora... ele �� produ-

to de nossa mente polu��da, que daqui para a frente chamarei de

"ego". Seu objetivo �� colocar-se �� parte, ser diferente e parti-

cular ��� o ego considera a uni��o uma inimiga mortal.

Pensamentos de preocupa����o e/ou de agressividade levam ��

sensa����o de isolamento. Quanto mais os buscamos, mais isola-

dos nos sentimos, e assim saciamos o principal objetivo de nosso

ego. Portanto, para abandonar permanentemente um pensamen-

to negativo, temos de estabelecer um objetivo de uni��o e inte-

gridade mental.

��� Planeje a resposta para a pr��xima vez que o seu ego apre-

sentar essa linha de racioc��nio.

Sua resposta precisa ser breve e direta. Interrompa o pensa-

mento e inunde de luz a pessoa sobre a qual mantinha fantasias

de vingan��a... ou pense como o novo gatinho �� engra��ado. Qual-

quer pensamento que de alguma forma seja amoroso, feliz ou

pac��fico �� suficiente j�� que seu ego n��o quer que voc�� se dedique

a esse sentimento.

��� Repita silenciosamente: "N��o importa quantas vezes o meu ego

repetir este pensamento, resistirei. Se ele trouxer este pensa-

mento mil vezes, responderei mil e uma vezes como planejei."

Livrando-se do lixo mental 35

Quando o ego perceber que voc�� mentalizar�� a pessoa na luz

sempre que algum pensamento perturbador surgir, ele mudar�� a

linha de racioc��nio. Ele ainda vai testar a sua sinceridade algumas

vezes, mas vai acabar desistindo, acredite!

Quando percebo que n��o estou aplicando com firmeza as

etapas mencionadas (identificar o pensamento, interromp��-lo,

pensar num assunto ligado ao sentimento amoroso e de uni��o,

criar um plano para quando o pensamento retornar), tento me

dedicar a um momento de reflex��o e, conscientemente, parar

de me torturar, de abalar a minha paz e de me colocar numa

posi����o de confus��o mental em que n��o fa��o o bem para aque-

les a quem amo.

Acima de tudo, �� preciso considerar as pessoas envolvidas

com delicadeza e compreens��o, sem nenhuma censura. Talvez

n��o se atinja esse distanciamento, especialmente se estivermos

furiosos com elas. A quest��o que se coloca �� a mesma: ser�� que

realmente quero caminhar em dire����o �� paz ou me afastar dela?

Atitude 2: N��o se preocupar �� a r r i s c a d o , talvez perigoso

O velho ditado diz que um dia �� da ca��a... e o outro do ca��a-

dor. Dizer que algu��m �� feliz e tem sorte �� quase o mesmo que

dizer "como o diabo gosta" ��� e todo mundo sabe o que acon-

tece com aqueles que n��o est��o nem a�� para o diabo. A palavra

feliz, ��s vezes, �� usada no lugar de "despreocupado", "louco",

"desprovido de bom senso" ou "irrespons��vel". Muitas crian��as

foram criadas ouvindo esse tema em hist��rias como a f��bula da

cigarra, que passava o ver��o cantando, e a s��bia formiga, que pas-

sava o ver��o juntando o alimento para o inverno (e, mais tarde,

teve o prazer de recusar ajuda �� faminta cigarra, s�� para mostrar

o quanto estava certa!).

36 N��o leve a vida t��o a s��rio

Al��m disso, todos n��s crescemos vendo e, o que �� mais impor-

tante, sentindo que nossos pais se preocupam com coisas t��o

diferentes quanto a obesidade, as condi����es clim��ticas, o seguro

de vida, o casamento e os extratos do banco. Por essas e outras

raz��es, a maioria das pessoas entra na idade adulta com a sen-

sa����o de que nada �� confi��vel, nem mesmo o pr��prio lar.

Essa preocupa����o, infelizmente, �� alimentada pela insensibili-

dade dos pais. Muitos ensinam de forma nada sutil que seus fi-

lhos devem se preocupar com a quantidade de comida que con-

somem e com a possibilidade de tirar notas baixas ou de ficar

doentes. Mas, acima de tudo, eles ensinam as crian��as a descon-

fiar da pr��pria intui����o ou bom senso ("N��o posso deixar voc��

fora da minha vista!" ou "Voc�� n��o se preocupa com mais nin-

gu��m a n��o ser a sua pr��pria pessoazinha!") e deixam no ar um

sentimento indefinido quando perguntam:

��� Voc�� tem certeza de que quer mesmo comprar esta pistola

d'��gua? Aquela verde parece mais resistente...

��� Voc�� tem certeza de que quer convidar o Ian para sua festa

de anivers��rio? Lembre-se de que n��o foi convidado para a

festa dele...

��� Voc�� tem certeza de que n��o precisa estudar para a prova?

Voc�� n��o vai querer acabar como frentista de posto de ga-

solina...

��� Voc�� tem certeza de que ele �� a pessoa certa, querida? Voc�� n��o

vai querer procurar namorado depois que j�� estiver mais velha...

Mesmo que a nossa tend��ncia �� preocupa����o tenha origem

em nossas viv��ncias de inf��ncia, recebemos muitas outras con-

tribui����es. A id��ia de que �� bom se preocupar �� parte de toda a

nossa cultura crist�� ocidental. Todos os dias nos reunimos diante

da televis��o para ouvir intermin��veis reportagens sobre proble-

Livrando-se do lixo mental 37

mas da vizinhan��a e do mundo sem sequer nos lembrarmos de

procurar alguma solu����o. Absorver o problema j�� �� o bastante

para nos satisfazer ��� e a m��dia sabe muito bem disto.

A religi��o, que deveria promover conforto e amparo, pode

levar �� preocupa����o e, ��s vezes, ao terror. Padres, pastores e rabi-

nos muitas vezes usam o medo para ensinar a doutrina e ��� por

que n��o? ��� para aumentar as contribui����es dos fi��is.

At�� o sistema educacional promove a ansiedade, ao fixar

metas imposs��veis e amea��ar com penalidades quem ousa se

comportar de forma "impr��pria". Do primeiro ao ��ltimo ano da

escola, os objetivos s��o conflitantes: responsabilidade, socializa-

����o, auto-estima, consci��ncia ambiental, criatividade, orgulho

racial, consci��ncia das drogas, administra����o do tempo, etc. Os

pr��prios professores variam amplamente na maneira como

influenciam os alunos, at�� porque os livros e curr��culos escolares

que lhes s��o entregues tamb��m cont��m id��ias complexas e con-

tradit��rias: �� melhor ficar de olho, V�� devagar, Use a cabe��a, Olhe onde

pisa, Cuidado com as costas, Conhe��a os seus amigos, N��o confie em

ningu��m, Cuidado com o que voc�� est�� fazendo, Olhe para a frente. E a

minha preferida: Pense duas vezes.

�� claro que h�� mil maneiras de usar todos esses conselhos,

mas, a exemplo das preocupa����es espirituais de hoje (Tome cons-

ci��ncia, Olhe o que voc�� est�� dizendo, Os medos se auto-alimentam e o

mais assustador: Lembre-se de que voc�� cria a sua pr��pria realidade), a

mensagem mais importante ��: estamos mais alertas e mais bem

armados quando estamos ansiosos. O que, ali��s, n��o �� absoluta-

mente verdade. O contr��rio da mente preocupada n��o �� a mente

tola, mas sim a mente tranq��ila.

O que se pode observar �� que quando a mente est�� preocupa-

da, ela se torna lenta e dispersa, ao passo que a mente tranq��ila

38 N��o leve a vida t��o a s��rio

�� capaz de uma consci��ncia ampla e firme, no m��nimo, porque

est�� menos distra��da. Diante dessa perspectiva, pode-se dizer

que a mente preocupada est�� desprotegida, dominada pela an-

siedade, enquanto a mente tranq��ila pode avaliar a situa����o de

modo mais r��pido e preciso. Por isso mesmo tem mais chances

de impedir um perigo iminente.

Atitude 3: As preocupa����es s��o intuitivas ou previs��veis

Neste livro, estamos examinando o que limpa a mente, facili-

ta a concentra����o e a torna ��ntegra em rela����o ao que tira sua paz

e sua tranq��ilidade. �� pura tolice a id��ia de que se deve conviver

com a mente agitada porque isso facilitaria a realiza����o de algu-

ma premoni����o.

Pode at�� ser que, em algumas ocasi��es, a intui����o apare��a mis-

turada com a preocupa����o, mas n��o h�� uma maneira confi��vel de

verificar isso. E �� interessante observar que as pessoas preferem

simplesmente ignorar as "premoni����es" que n��o se confirma-

ram. Muitos pais tomam decis��es com base em preocupa����es.

Eles endurecem a respeito de determinados comportamentos

porque receiam o que possa acontecer a seus filhos. Embora aqui

e ali algumas previs��es se mostrem verdadeiras, em geral esse

tipo de disciplina tem resultados negativos.

Se o objetivo �� descobrir que estado mental �� mais intui-

tivo, a preocupa����o deve ser eliminada logo de in��cio,

por ser inconsistente.

C o m o muita gente j�� percebeu que os medos n��o s��o intui-

tivos, at�� mesmo essa constata����o se tornou motivo de preo-

cupa����o. Voc�� j�� deve ter ouvido falar que "s��o justamente as

Livrando-se do lixo mental 39

coisas que n��o nos preocupam que acontecem"? Tomar essas

palavras ao p�� da letra significa que, quanto mais preocupado

voc�� ��, menores s��o suas chances de que as coisas se tornem

realidade. A contrapartida aparece em outro ditado: "S�� porque

voc�� tem fobia de voar n��o quer dizer que seu avi��o v�� cair!" Ou

seja: a preocupa����o �� um jogo em que n��o h�� vencedores.

L i b e r t a �� �� o 5

Tempo sugerido: 1 dia

O medo de que um coment��rio infeliz seja mal interpretado

n��o existiria se tiv��ssemos a certeza de que a pessoa n��o o

guardaria na mem��ria. Se isso fosse verdade, nossas amizades

permaneceriam inc��lumes, apesar das observa����es inoportunas.

Portanto, nosso medo nada tem a ver com o que foi dito, mas

com suas conseq����ncias futuras. Quando estiver praticando esta

terceira Liberta����o, tenha sempre em mente que, embora com

ra��zes bem fincadas no passado, todas as formas do medo apon-

tam para o futuro.

��� Anote qualquer medo que passe pela sua cabe��a desde o

momento em que voc�� acorda at�� a hora de deitar. Anote

tudo, as vagas apreens��es, as suspeitas ou mesmo as fan-

tasias catastr��ficas que surgirem.

��� Antes de adormecer, assinale os medos mais assustadores,

ou, se preferir, classifique-os numa escala de um a dez. Sepa-

re tamb��m os medos que voc�� acha que s��o intuitivos e pre-

vis��veis daqueles que voc�� acha que se auto-alimentam por

causa da intensidade e freq����ncia com que pensa neles.

��� Coloque essa lista num lugar de f��cil acesso. �� importante

ficar atento e ver se alguma coisa acontece da maneira como

40 N��o leve a vida t��o a serio

voc�� imaginou. Anote tamb��m todos os acontecimentos

que, de alguma forma, terminaram sendo o oposto daquilo

que voc�� receava que fosse acontecer.

��� Se voc�� preferir n��o fazer esta etapa do processo de Liber-

ta����o, ter�� de renunciar para sempre ao direito de se preo-

cupar em voz alta!

Atitude 4: H�� um tempo e um lugar para se preocupar

Quando o carro derrapa e perdemos o controle de sua dire-

����o, ou quando falseamos o p�� e ca��mos, nossa mente, em geral,

est�� muito calma. S�� quando acontece �� que nos perturbamos e

come��amos a suar por causa do acidente. Que vantagem ter��a-

mos se fic��ssemos nos preocupando com o que poderia ter

acontecido, com as poss��veis conseq����ncias f��sicas ou mesmo

com a li����o que "o universo" estaria nos dando enquanto nos

contorcemos no ar para reduzir os efeitos de uma queda ou

enquanto lutamos para retomar o controle do carro? Se deix��s-

semos que nossa mente se ocupasse durante a emerg��ncia,

ser��amos incapazes de reagir instantaneamente. Ser�� que isto

significa que a preocupa����o �� ��til quando n��o estamos em si-

tua����o de emerg��ncia?

P A R E C E , M A S N �� O ��

Quando est��vamos no final da adolesc��ncia, meu irm��o e eu

fomos convidados para ir a uma fazenda nas montanhas do

Colorado. Um dia fizemos uma longa caminhada e chegamos a

uma cachoeira magn��fica, de mais de cinq��enta metros

de altura. Desafiei-o a subir comigo pelas pedras e ele topou

o desafio.

Livrando-se do lixo mental 41

N o s s o plano era subir paralelamente �� queda-d'��gua. C o m o

em geral acontece com pessoas inexperientes em escaladas, o

que n��o parece ��ngreme para quem est�� embaixo se agiganta

quando a subida come��a. Quando me dei conta de que seria bem

mais dif��cil e perigoso do que havia imaginado, percebi que seria

muito pior tentar descer.

Restavam apenas uns dez metros para chegar ao topo, quando

come��ou uma chuva de granizo que se transformou em uma

fort��ssima tempestade. Est��vamos logo abaixo de uma imensa

pedra que se projetava. Eu n��o conseguia ver o caminho para o

topo e, para piorar, de repente, o degrau sobre o qual nos apoi��-

vamos come��ou a se soltar.

Quando a base come��ou a rachar sob nossos p��s, me preocu-

pei. Meu irm��o escolheu exatamente aquele momento para me

dizer que em duas ocasi��es pessoas haviam morrido tentando

escalar a cachoeira. Gelei, mas como era o mais velho e o respon-

s��vel por estarmos ali, naquele sufoco, assumi a lideran��a. Ape-

sar de paralisado pelo medo, tranq��ilizei meu irm��o, dizendo

que de onde estava eu conseguia ver um caminho para o topo do

lado em que ele estava. Era mentira, mas foi a ��nica coisa que me

ocorreu. Por sorte, havia mesmo um caminho e, quando chegou

em cima, ele estendeu a m��o e me ajudou a subir.

A primeira rea����o a essa hist��ria �� dizer que me preocupei no

momento errado. Mas, para falar a verdade, n��o d�� para saber

qual �� o momento certo de se preocupar. Dever��amos ter nos

preocupado em identificar o exato ponto em que n��o havia

retorno? Se concord��ssemos ter alcan��ado este ponto (rara-

mente as pessoas concordam a respeito do momento de parar),

dever��amos ter feito uma pausa e nos preocuparmos ali? Ah...

Durante a escalada vimos uma cobra diferente e nos aproxi-

42 N��o leve a vida t��o a s��rio

mamos para examin��-la mais de perto. Dever��amos ter nos preo-

cupado tamb��m?

�� claro que n��o existe um momento ideal para se preocupar.

Talvez fosse poss��vel dizer que "uma pequena preocupa����o" ��

bom, ou, ainda, que o importante �� a quantidade e n��o o mo-

mento. Quem sabe, se eu tivesse me preocupado pelo menos um

pouquinho n��o ter��amos corrido risco de vida. Na verdade, ��

preciso admitir que foi justamente o fato de que a escalada pare-

cia preocupante que tornava a id��ia interessante.

Quem iria querer subir uma encosta de inclina����o suave,

coberta por um espesso tapete de grama? Se n��o fosse "um pou-

quinho preocupante", a escalada n��o teria sido um desafio.

Parece que eu teria de me preocupar mais do que me preocupei,

mas... quanto mais? �� claro que me preocupei "demais" quando

estava debaixo da pedra na chuva...

A id��ia de que h�� uma quantidade exata de preocupa����o ��

apenas algo a mais para nos preocuparmos. A preocupa����o sim-

plesmente n��o funciona.

Atitude 5: Preocupa����o �� sinal de intelig��ncia

Pensamos que a preocupa����o �� uma escolha inteligente da pes-

soa, em oposi����o a uma rea����o de massa, uma atitude da coletivi-

dade. A preocupa����o ��, na verdade, a emo����o que une o mundo.

Ela pode ultrapassar as diferen��as religiosas, pol��ticas, raciais e

sexuais. Notici��rios e document��rios s��o campe��es de audi��ncia

porque est��o sempre trazendo uma lista de m��s reportagens ao

vivo para que o espectador possa se preocupar. Reportagens inves-

tigativas que revelam perigos em lugares insuspeitos estimulam

nossa ansiedade, que, por sua vez, provoca as altera����es qu��micas

no organismo ��� e, assim, o v��cio da ansiedade se alimenta.

Livrando-se do lixo mental 43

�� senso comum em nossa cultura que a pessoa sem preocu-

pa����es �� uma ing��nua. Para n��s, o cinismo �� sinal de intelig��n-

cia e pragmatismo. C o m o o desastre �� comum a todos, tende-

mos a considerar a paz de esp��rito como uma emo����o irreal ou

falsa. Os fortes atacam os fracos. Todos os seres que conhece-

mos vivem �� custa da morte de algum outro ser.

A conclus��o �� inevit��vel: voc�� e eu murcharemos e morrere-

mos como tudo o que est�� vivo, seja o planeta, uma pessoa ou

uma planta. Este �� o cen��rio de nossas vidas e s�� n��o v�� quem

n��o quer. Partimos do princ��pio de que a preocupa����o �� a

emo����o "consciente", aquela que �� induzida pelos fatos.

Podemos nos concentrar nos fatos "inevit��veis" da vida ou no

ponto onde estamos e no que estamos fazendo. Quando relaxa-

mos, come��amos a nos abrir para uma realidade que vai muito

al��m daquele cen��rio preconcebido sobre o futuro que inventa-

mos. A preocupa����o est�� sempre relacionada ao futuro, mesmo

que o futuro seja o momento seguinte.

Atitude 6: Preocupa����o �� sinal de compaix��o

Acreditamos que aqueles que se preocupam se tornam social-

mente respons��veis. Outro mito �� de que a nossa ang��stia cor-

responde ao tamanho de nossa preocupa����o pelas pessoas so-

frendo no mundo. A preocupa����o ajuda algu��m? N �� o , mas como

a ansiedade �� uma sensa����o um tanto desagrad��vel e desgas-

tante, ela simula uma falsa impress��o de dever cumprido, de ter-

mos feito a nossa parte, quando, na verdade, apenas movimen-

tamos as nossas engrenagens mentais, ou a nossa boca.

Observe o quanto voc�� se sente afastado quando se aproxima

de uma pessoa apreensiva. Em geral, ela est�� t��o absorvida em

sua pr��pria preocupa����o que se torna uma esp��cie de lobo soli-

44 N��o leve a vida t��o a s��rio

t��rio. Seu foco pode ser at�� mesmo uma determinada pessoa,

mas ela n��o consegue demonstrar sua solidariedade. "Estou

preocupado com voc��" �� a frase t��pica de quem tem um ego com

tamanho potencial autodestrutivo.

As preces que as pessoas religiosas fazem antes de refei����es

s��o outro exemplo de mau uso da preocupa����o: "Lembremos de

todos os que t��m fome." Se, a cada bocado, realmente nos lem-

br��ssemos dos famintos, nos alimentar��amos em meio a um con-

flito imenso. N �� o haveria nenhuma sensa����o de comunh��o nessa

mesa. A generosidade �� um ato de felicidade, n��o uma conse-

q����ncia do medo.

Atitude 7: Quando as coisas v��o bem, �� melhor come��ar a se preocupar

Se um livro ou um filme come��a com cenas felizes e vozes ale-

gres, sabemos que algo de ruim est�� para acontecer. �� preciso

uma dose de alegria ��� mesmo que por pouco tempo. Observe

que quando as coisas come��am a acontecer do jeito que a gente

gosta, uma leve preocupa����o surge no horizonte. Por experi��n-

cia pr��pria, sabemos que aquilo que mais desejamos �� o que

pode nos ferir mais profundamente.

Um ditado muito popular diz que �� preciso "Tomar cuidado

com o que pede... voc�� pode conseguir!". Pense no que est�� im-

pl��cito nesta afirma����o: nas vantagens especiais com as quais

voc�� poder�� come��ar a sua vida ��� boa apar��ncia, bom sistema

imunol��gico, talento natural, riqueza de fam��lia e qualquer outra

coisa ��� nada disso �� confi��vel. Se voc�� come��ar a pensar nas

vantagens adicionais com que sempre sonhou, saiba que elas s��o

ainda menos confi��veis!

N o s s o problema n��o �� que n��o olhamos de frente para o peri-

go e a ironia. Olhamos para o mundo quase em transe, fascina-

Livrando-se do lixo mental 45

dos. O que n��o questionamos �� qual o valor desse olhar, qual o

verdadeiro benef��cio de ter uma percep����o preocupada.

P a r a c a d a a �� �� o , u m a r e a �� �� o

N �� o �� dif��cil examinar estas sete atitudes geradoras de preo-

cupa����o. Em geral, terminamos admitindo que a preocupa����o

reduz a nossa capacidade de adapta����o e de rea����o, de sermos

criativos, intuitivos e sens��veis ��� e, com certeza, de conhecer-

mos o prazer puro e simples e a paz de esp��rito. No entanto,

muita gente acredita ter pouqu��ssimo controle sobre a tend��ncia

da mente de manter o foco num ��nico problema. Um adesivo

muito comum nos vidros dos carros est�� escrito: "Se n��o estiver

preocupado, �� porque voc�� n��o est�� prestando aten����o."

E m outras palavras: a consci��ncia deve levar �� preocupa����o. A

ansiedade �� uma esp��cie de religi��o e, gostemos ou n��o, deve-

mos todos nos ajoelhar no altar da preocupa����o. N �� o d�� para

elimin��-la completamente, mas est�� provado que, por meio da

concentra����o e da for��a de vontade, �� poss��vel lutar contra o

quanto nos preocupamos.

Se �� verdade que sempre nos preocuparemos, deve ser igual-

mente verdade que a tranq��ilidade interior e a paz s��o objetivos

plenamente alcan����veis.

Antes de passarmos ��s pequenas mudan��as que eliminam

preocupa����es menores, examinemos como a mente funciona em

momentos de extrema necessidade. Exemplo: seu filho acaba de

receber o diagn��stico de uma doen��a possivelmente fatal e nin-

gu��m sabe dizer como o caso evoluir��. �� claro que voc�� se afli-

gir�� com o que pode acontecer. Em momentos dram��ticos como

esse, nada serve de conforto espiritual.

H�� uma hist��ria que ilustra bem esta situa����o: um guru disse

4 6 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

a uma mulher que chorava a morte de seu filho que ela n��o deve-

ria sentir-se triste, pois a morte n��o existe para Deus. Anos de-

pois, o filho do guru morreu e, ao ver a profunda tristeza do

guru, a mulher se lembrou do que ele havia dito.

��� Aquele era o seu filho ��� disse o guru. ��� Este �� o meu filho.

Quando estamos diante da trag��dia, choramos e nos indig-

namos. O que podemos e devemos nos perguntar �� se esta ��

a ��nica rea����o de que somos capazes. Continuar ocupando a men-

te com preocupa����es n��o trar�� benef��cio algum, enquanto a mente

em paz, ao contr��rio, se estende a todos. Um casal de amigos nos-

sos e sua filha deram um exemplo inspirador, que conto a seguir.





TOM E A N N


H�� poucos anos, Diana, a filha de 21 anos de Tom e Ann, teve

uma convuls��o e eles a levaram para a emerg��ncia. Exames indi-

caram um tumor no c��rebro. Nesse momento, come��ou o pesa-

delo da busca por segundas e terceiras opini��es, de aus��ncias do

trabalho, de provid��ncias para decidir hospital e cirurgi��o e

todos os outros problemas que uma crise desse tipo envolve.

N �� o apenas porque eles eram amigos, mas tamb��m porque

eram pais amorosos e profundamente espirituais, est��vamos

seriamente interessados no que enfrentavam e na maneira como

tratavam da situa����o. Tom �� m��dico e Ann sua auxiliar no con-

sult��rio. No in��cio, os dois s�� conseguiam pensar em descobrir

um tratamento para o tumor. Contudo, depois de alguns dias,

decidiram reexaminar seu objetivo. Em parte, porque percebe-

ram que seu p��nico e terror s�� pioravam o sofrimento de Diana.

Depois, porque fizeram o que chamaram de "um exame piedoso

de seus cora����es" e resolveram amar Diana com cada fibra de

seu ser, dedicando-se inteiramente �� paz e �� felicidade da filha.

Livrando-se do lixo mental 47

Embora tenham tomado todas as provid��ncias necess��rias

para que a filha fosse diagnosticada e tratada corretamente, sua

aten����o j�� n��o era mais a recupera����o de Diana. Eles sabiam que

muitos resultados eram poss��veis, entre os quais a morte, diver-

sos graus de incapacita����o ou uma completa recupera����o. Disse-

ram-me que haviam observado que algumas pessoas s�� se voltam

para Deus quando est��o muito doentes ou quando est��o mor-

rendo. Conheceram pessoas que agradeciam por suas defici��n-

cias ��� por tudo o que haviam aprendido com a experi��ncia. Em

outras palavras, Tom e Ann perceberam que n��o estavam em

posi����o de escolher o melhor tratamento para sua filha e, acima

de tudo, que n��o poderiam controlar os fatos.

�� muito dif��cil explicar esse tipo de situa����o para algu��m que

n��o passou pela experi��ncia. Pode parecer que a pessoa n��o est��

se importando, mas a verdade �� que Tom e Ann n��o hesitavam

em enfrentar m��dicos e enfermeiras se achassem que sua filha

n��o estivesse sendo bem-cuidada ou algu��m estivesse come-

tendo um erro.

Qualquer pai ou m��e normal se preocuparia seriamente com

um tumor no c��rebro da filha. A luta pela recupera����o de Diana

simbolizava seu amor mais do que qualquer outra poss��vel a����o.

Isto n��o significava que a meta de seu cora����o e o centro de seus

pensamentos alterasse o organismo da filha. Ao contr��rio, trazia

conforto ao esp��rito dela.

Recusar-se a fazer do controle a principal meta n��o sig-

nifica cumprir as tarefas e deveres com indiferen��a

ou descuido. Se o objetivo �� a consci��ncia, todas as coi-

sas devem ser feitas com aten����o. Se o objetivo �� a inte-

gridade, tudo deve ser feito meticulosamente. Se o obje-

48 N��o leve a vida t��o a s��rio

tivo �� o amor, tudo deve ser feito com cuidado, aten����o

e beleza.

A situa����o no in��cio era t��o apavorante que Tom e Ann

decidiram se concentrar na felicidade de Diana. Gradualmente,

come��aram a sentir sua uni��o com a filha e, em pouco tempo,

uma profunda paz que os conduziu pelas semanas de exames e,

enfim, �� opera����o, que foi bem-sucedida. Diana voltou �� univer-

sidade e ��s atividades desportivas.

U s a n d o a c r i s e c o m o m o t i v a �� �� o

Se voc�� j�� teve pessoas ansiosas �� sua volta, talvez entenda por

que a mudan��a da enfoque de Tom e Ann deixou Diana mais

feliz e mais relaxada. Eles conseguiram transformar suas mentes

radicalmente ��� de latas de lixo mental para floridos canteiros.

Se um n��mero maior de pessoas pudesse sentir como �� passar

um ��nico dia com a mente n��o-fragmentada e sem conflito, co-

nheceriam a vida como ela ��. C o m o isso �� raro, passamos a

maior parte do tempo agindo como crian��as apontando e gri-

tando para uma sombra, enquanto pais e m��es permanecem na

retaguarda, oferecendo seguran��a e apoio. Que os pais fun-

cionam como uma presen��a confortadora, isso �� fato, ainda mais

quando a mente est�� unificada ��� nesse caso, n��o h�� nada que

possa bloquear a beleza tranq��ila do cora����o.

Depois que Diana voltou �� universidade, Tom me disse que a

paz que havia sentido come��ou a desaparecer. Trata-se de uma rea-

����o comum: muitas pessoas enfrentam com bravura uma tempes-

tade, mas se sentem esmagadas diante dos fatos da vida. Tom op-

tou por orar com freq����ncia maior, mas a ora����o n��o funcionou.

Por fim, ele entendeu que, agora, sua prioridade era ele mesmo.

Livrando-se d o lixo mental 4 9

Ao perceber seu equ��voco, Tom come��ou a se dedicar mais ��

sua mulher, sua equipe e seus clientes, especialmente em seus

pensamentos e em suas preces.

��� Sempre que dou ��s pessoas a mesma aten����o que dei para

Diana, simplesmente me sinto melhor, trabalho melhor, gosto

mais de meus clientes. Ann e eu nos aproximamos e a vida vale

a pena... Sermos gentis �� simplesmente muito bom.

Primeiro ame, depois fa��a o que tem de fazer. Primeiro,

escolha a paz, depois diga o que tem a dizer. Perguntar

"O que devo fazer?" e "O que devo dizer?", na verdade,

significa: "Como obtenho o resultado que desejo?" Rara-

mente nos confundimos quando a paz e a integridade

s��o a nossa meta.

Se examinarmos o processo que permitiu que Tom e Ann se

livrassem da preocupa����o, da ang��stia e do medo, observaremos

que eles desviaram sua aten����o de algo que n��o podiam controlar

(encontrar a cura para um tumor no c��rebro) para algo que po-

diam controlar (amar sua filha e procurar a paz para ela). Sempre

que nosso desejo sincero �� melhorar nosso estado mental, n��o h��

falha poss��vel. Falhamos porque dividimos nossa mente.

L i b e r t a �� �� o 4

Tempo sugerido: 1 dia ou mais

��� Assuma duas ou tr��s pequenas tarefas: vestir-se, ir a um

supermercado, fazer uma refei����o qualquer, pagar algumas

contas ou qualquer outra atividade.

��� Antes de come��ar cada atividade, organize seus pensamen-

50 N��o leve a vida t��o a s��rio

tos e tranq��ilize-se interiormente. Experimente repetir pau-

sadamente estas palavras: "Tudo est�� liberado. Tudo �� paz."

��� Quando se sentir em paz, estabele��a a meta de n��o tomar

nenhuma decis��o enquanto estiver realizando esta atividade.

Cada vez que sua mente come��ar a decidir por uma a����o

(Devo usar este sapato ou aquele? Pago em dinheiro ou cart��o de cr��di-

to? Fa��o uma sopa ou um sandu��che?), corte o pensamento e fa��a

alguma coisa, mas fa��a com o m��ximo de tranq��ilidade e paz

interior que puder.

��� Depois de fazer seja l�� o que for, fa��a um pequeno teste.

Primeiro, pergunte-se se voc�� acredita que a qualidade, efic��-

cia ou sensatez de qualquer coisa que voc�� tenha feito foi

prejudicada por ter resolvido n��o tomar nenhuma decis��o.

Se a resposta for n��o, reexamine a atividade. Desta vez, per-

gunte a si mesmo se voc�� acha que agiu com naturalidade e com

maior pondera����o do que se houvesse tomado decis��es cons-

cientes como sempre. (Sim, estas s��o quest��es complicadas!)



Tr��s

A b r i n d o m��o das

emo����es i n �� t e i s

Desde os anos 6o, as emo����es das pessoas s��o usadas pela

psicologia e at�� pela sabedoria popular, como fonte de

informa����es sobre a sa��de mental da popula����o. A m��dia, ��

claro, percebeu o potencial e passou a se interessar cada vez mais

por hist��rias altamente dram��ticas, que provoquem a express��o

de sentimentos dos entrevistados ��� nunca de seus ideais ou

convic����es. Casos como o seq��estro do publicit��rio Washington

Olivetto ou o brutal assassinato do jornalista T i m Lopes s��o

exemplos de "boas hist��rias". Na esteira dessa tend��ncia surgi-

ram incont��veis grupos de auto-ajuda, todos usando as emo����es

dos participantes como agentes de mudan��a. Na verdade, as

emo����es se tornaram as j��ias de nossa cultura ��� n��o s�� por

revelarem a ess��ncia da sa��de mental como por serem agentes

de mudan��a comportamental.

A mudan��a de enfoque pode ser notada at�� em coisas banais

como o tema dos discursos de agradecimento em cerim��nias de

entregas de pr��mios. N o s anos 50, a pessoa agradeceria ter sido

escolhida, falaria do lugar em que seria pendurada a medalha ou

placa e no quanto e como a honra conferida afetaria o seu futuro.

Hoje, os discursos est��o centrados na id��ia de que a verdadeira

52 N��o leve a vida t��o a serio

recompensa �� a maneira como nos sentimos. Assim como os

rep��rteres sempre fazem a uma v��tima de uma trag��dia pergun-

tas sobre como ela se sente, as entrevistas com os ganhadores de

um pr��mio ou concurso invariavelmente come��am com a per-

gunta: "Como voc�� se sente?"

T �� o dominante �� o novo papel atribu��do ��s emo����es que a frase

"o sentimento acabou" �� uma justificativa, freq��entemente citada

para se divorciar do parceiro ou parceira de toda uma vida. Era con-

siderado um cumprimento chamar uma mulher de "meiga", ou um

homem de "tipo reservado", mas hoje os adultos calmos e os ado-

lescentes tranq��ilos s��o considerados suspeitos. Ser "um tipo reser-

vado" �� quase o mesmo que dizer que a pessoa talvez seja psic��tica.

"O que voc�� est�� sentindo?" �� uma das perguntas mais

comuns nas terapias e nos grupos de apoio. Ela faz com

que o sentimento da pessoa a respeito do que foi dito

seja mais importante do que o que foi dito.

A emo����o �� a linguagem que revela o funcionamento mais pro-

fundo de nossa mente. Se a escutarmos (em vez de reagirmos), tere-

mos acesso a valiosas percep����es intuitivas das pessoas a quem

amamos. Mas, cuidado: as emo����es n��o s��o um solu����o em si mes-

mas. Por tr��s de cada emo����o h�� um pensamento que gera senti-

mentos. �� um processo cont��nuo, j�� que ao pensarmos que um amigo

pode morrer, por exemplo, sentimos medo; ao pensarmos que

algu��m est�� nos desprezando, sentimos raiva, e assim por diante.

As emo����es nascem e morrem no ritmo de nossos pensamen-

tos. C o m o s��o subprodutos do pensamento, conseguimos sabo-

tar a carreira, a sa��de, a felicidade e os relacionamentos apenas

com a for��a do pensamento inconsciente, n��o do sentimento

Abrindo m��o das emo����es in��teis 53

inconsciente. D a �� a necessidade de identificar o pensamento

negativo no instante em que ele aparece.

Em geral, as pessoas t��m certa consci��ncia de estarem tristes,

irritadas, ansiosas ou descontentes ��� "sintomas" ineg��veis de

pensamentos negativos ���, mas pouqu��ssimas vezes elas identifi-

cam o que est�� por tr��s de suas emo����es. �� mais ou menos como

estar consciente de que h�� algo errado no organismo, mas sem

sintonizar exatamente o qu�� e onde. O mais prov��vel �� que jogue

a culpa nos outros.

Fomos treinados para lidar com as emo����es, especialmente

com as explos��es emocionais. Algumas t��cnicas s��o eficazes, at��

melhoram o estado emocional; outras n��o, s��o destrutivas. Tudo

vai depender de fatores t��o diversos como beber e comer de-

mais, desabafar, retaliar (ou "fazer justi��a"), acusar, curtir f��rias,

praticar a libera����o sexual, integrar grupos de apoio, usar drogas

e at�� ouvir m��sica.

Se nossa mente n��o est�� ��ntegra, em se tratando de emo����es,

nada funciona por muito tempo. Observe que o mesmo comen-

t��rio ou a mesma circunst��ncia pode nos atingir de uma maneira

diferente a cada vez. Tente lembrar como voc�� se sentia na

inf��ncia em rela����o aos pais e professores. N �� o �� verdade que

eles sempre reagiam com exagero ao que diz��amos ou faz��amos?

Voc��, por outro lado, n��o sabia o que esperar, nem calcular como

eles (os adultos) desejariam que se comportasse daquela vez. O

humor deles estava fora de controle ��� no fundo, porque estava

fora do controle deles.

Diga n��o ��s preocupa����es

Aprender a ficar livre de emo����es menores como a ansiedade,

o nervosismo e a apreens��o �� f��cil. Um exemplo: viajo com certa

54 N��o leve a vida t��o a s��rio

freq����ncia para dar workshops e, quando se aproxima o momen-

to de sair da cidade, invariavelmente come��o a me preocupar se

conseguirei fazer as conex��es de v��o necess��rias, se coloquei na

mala tudo de que preciso, se dormirei o suficiente, que tipo de

grupo estar�� presente e outros fatores fora de meu controle.

Aprendi a interromper essas preocupa����es ajustando o foco

em cada aspecto da viagem. Fa��o um check list de perguntas:

C o m o quero me preparar para a viagem? Em paz. C o m o quero

me despedir da minha fam��lia? Amorosamente. C o m o quero es-

perar no aeroporto? Relaxadamente e com prazer. C o m o quero

tratar as pessoas que encontrar? Generosamente. Que esp��cie

de workshop desejo dar? O mais ��til que puder... e assim por

diante. Ao ajustar o foco nas coisas que posso controlar, consigo

unificar a mente e dissipar o receio, porque a mente fragmenta-

da produz o medo e outras emo����es desintegradoras.

As preocupa����es com o dinheiro s��o outro exemplo de como

o problema pode ser menos grave do que aparenta ser. Vamos

supor que �� voc�� quem paga as contas, faz o malabarismo com os

juros do cart��o de cr��dito, poupa e investe a sobra de dinheiro.

Ou seja: voc�� est�� acostumado a enfrentar situa����es imprevis��veis

e escapar de armadilhas. Todo m��s �� a mesma ang��stia: todas as

contas chegaram? os valores est��o corretos? ser�� que a economia

do pa��s far�� de seu investimento uma op����o sensata?

�� normal que voc�� se preocupe, mas ser�� que isso vai resolver

alguma coisa? Certamente n��o. A sa��da �� estabelecer um objeti-

vo mental e torn��-lo mais importante do que as circunst��ncias

do momento ou as conseq����ncias futuras. Isto nos tranq��iliza e

restaura a integridade da nossa mente.

Mudar o enfoque interior, deixar a preocupa����o de lado e ficar

em paz ��, sem d��vida, um exerc��cio interessante para se fazer,

Abrindo m��o das emo����es in��teis 55

por exemplo, num momento de ansiedade. Nenhuma boa deci-

s��o financeira pode ser alcan��ada com medo e preocupa����o.

Tamb��m n��o adianta se punir mentalmente por erros que tenha

cometido no passado ou tentar saber qual �� o investimento "cer-

to", ou exatamente quanto deve ser poupado. A mente sempre

se fragmenta quando fazemos uma pergunta imposs��vel de ser

respondida. O ideal �� acalmar os pensamentos e relaxar os pro-

cessos mentais. Se pagar as contas deixa-o assim, feche os olhos,

acalme-se e mentalize a frase: "Lerei todos esses documentos e

assinarei os cheques em paz." Repita at�� sentir que alcan��ou seu

objetivo.

Seja qual for a quest��o com dinheiro, podemos sempre

ver qual op����o acreditamos ser a mais agrad��vel, a

menos prov��vel de dar errado e qual delas nos d�� a

perspectiva de menor risco e mais paz. Ningu��m pode

prever o que acontecer��, mas as perguntas dirigidas ��

nossa ��ndole pac��fica n��o ficar��o sem respostas - se nos

sentirmos serenos e examinarmos cuidadosamente o

desejo de nosso cora����o.

D e i x a n d o f l u i r o s s e n t i m e n t o s

Depois que o medo se instala, a mente corre para escolher um

tema unificador. Isto �� verdade para qualquer tipo de emo����o

desintegradora. N �� o �� nada saud��vel opor-se a sentimentos com

os quais voc�� acaba de tomar consci��ncia - ci��me, inveja, des��ni-

mo, vergonha, preocupa����o ou aborrecimento. Neste momento,

uma mente livre �� um objetivo irreal e imposs��vel de ser alcan��a-

do. Observe como �� dif��cil afastar as preocupa����es, os medos, o

desespero ou qualquer outra sensa����o do tipo. N �� o d�� para com-

56 N��o leve a vida t��o a s��rio

bat��-las depois de tomar consci��ncia delas. Quando negamos

uma emo����o destrutiva, corremos o risco de nos esconder, em

vez de ficarmos livres. Mesmo que invis��vel, o pensamento por

tr��s do sentimento continua existindo com for��a maior do que

antes.

Se a emo����o destrutiva fosse apenas um conjunto de sensa-

����es, talvez pud��ssemos ignor��-la ��� como, ��s vezes, fazemos

com uma dor de cabe��a ou uma gripe. Tentar bloque��-la �� igno-

rar o pensamento que est�� causando o sentimento. N �� o d�� para

negar os sintomas de um c��ncer ou uma perna quebrada, n��o

�� mesmo? �� preciso tratar a causa sob o risco de que o mal

se expanda.

Identificar o verdadeiro mal causado por sentimentos como

medo, f��ria, ��dio ou desprezo �� um passo fundamental rumo ��

liberdade. Mas �� igualmente importante desnudar o pensamen-

to que est�� produzindo a emo����o e explicitar o que est�� sendo

feito para refor��ar e reter esse mesmo pensamento.

Se quisermos encerrar o c��rculo vicioso de usar nossas mentes

para nos torturarmos, �� fundamental desvendarmos o pensa-

mento que est�� por tr��s de nossa primeira onda de emo����o.

E substitu��-lo por uma atividade mental mais natural, relaxante

e prazerosa.

A F �� R I A D O C A R R I N H O D E C O M P R A S

H�� poucas semanas, quando sa�� da fila do caixa num super-

mercado, vi dois carrinhos de compras, ambos cheios de sacolas.

Imaginando que o mais pr��ximo fosse o meu, empurrei-o at�� o

carro. Quando peguei as sacolas para colocar no porta-malas,

percebi que n��o continham minhas compras. Imediatamente

fechei o carro e comecei a empurrar o carrinho de volta para o

Abrindo m��o das emo����es in��teis 57

supermercado. No meio do caminho, encontrei uma senhora

enfurecida acompanhada pelo subgerente. Ao tentar dizer que

estava indo trocar o carrinho, ouvi um berro:

��� Esse �� o meu carrinho! ��� gritou a mulher.

��� Eu sei, eu devo ter...

��� �� o meu carrinho! ��� ela berrou de novo.

Cada vez que eu come��ava uma frase, ela interrompia com as

mesmas palavras. Acabei ficando enfurecido tamb��m.

��� A senhora poderia repetir isso mais uma vez? ��� perguntei.

��� �� o meu carrinho! ��� respondeu ela.

��� Obrigado ��� eu disse. ��� Isso �� muito bom.

Surpresa com a minha rea����o, a mulher arrancou o carrinho

da minha m��o, virou as costas e foi embora sem se despedir. S��

ent��o notei que o subgerente estava com as minhas compras. Ele

me pediu desculpas, eu agradeci e o incidente terminou ali.

Depois, ao pensar no que havia acontecido, eu me dei conta

de que n��o tivera nenhuma rea����o especial quando ela falou pela

primeira vez "�� o meu carrinho". S�� fiquei irritado uns vinte

segundos depois, quando o pensamento " N �� o tenho de escutar

isto!" entrou na minha mente. Examinando mais de perto a sen-

sa����o, tive outros pensamentos: "N��o sou obrigado a ser tratado

desta maneira" e " N �� o quero ser desrespeitado".

Era como se s�� agora eu enxergasse a mulher sob as lentes de

uma falsa dignidade, que veio em socorro do meu ego. Esse pen-

samento me transformou em v��tima ��� enfim, meu orgulho esta-

va vulner��vel �� f��ria dela. Comecei a imaginar a infinidade de

pensamentos que eu poderia ter tido enquanto ela gritava, como,

por exemplo, "Que mulher maluca!", ou "O que o subgerente de-

ve estar achando de tudo isso?", ou ainda "O que deve ter acon-

tecido na vida dessa mulher para algo t��o pequeno ser t��o im-

5 8 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

portante para ela?". Cada um desses pensamentos teria gerado

uma emo����o diferente no calor do momento.

Liberta����o 5

Tempo sugerido: 1 dia ou mais

Este exerc��cio nos leva a um insight ao qual voltaremos muitas

vezes. N o s s a mente est�� t��o cheia de vozes do passado que os

pensamentos entram em conflito. Sempre que sentimos uma

emo����o perturbadora, podemos estar certos de que cometemos

este erro. Os pensamentos destrutivos s�� nos afetam quando os

levamos a s��rio.

��� Identifique tantos pensamentos perturbadores quanto

puder. Anote-os e guarde a lista em seu bolso. Quando um

deles vier �� cabe��a, pegue a lista e a mentalize com fervor e

repita silenciosamente: "O pensamento em si n��o �� o proble-

ma. O problema �� concentrar minha mente em torno desse

pensamento." Em seguida, relaxe a mente.

P a l a v r a s n �� o s u b s t i t u e m c o n v i c �� �� e s

Mesma cena + pensamento diferente = emo����o diferente. ��

aqui que muita gente sai dos trilhos: elas acreditam que podem

apagar seu primeiro pensamento dizendo palavras que represen-

tam outro pensamento. Isto desconsidera um fato importante:

pensamentos s��o um reflexo do que acreditamos, ou, pelo me-

nos, do que pensamos acreditar naquele momento. Palavras sim-

plesmente n��o substituem convic����es. Para que os pensamentos

mudem, nossas convic����es devem mudar primeiro. Ficar repe-

tindo palavras ao vento n��o muda nada, s�� estabelece uma dis-

cuss��o em nossa mente, que fica dividida entre o que acredita-

A b r i n d o m �� o d a s e m o �� �� e s i n �� t e i s 5 9

mos e o que estamos dizendo para n��s mesmos que devemos

acreditar.

Uma amiga me contou a respeito de uma mulher que

vivia dizendo: "Amo meu corpo, amo meu corpo, amo

meu corpo." Um dia, minha amiga lhe perguntou: "Bom,

voc�� ama seu corpo... e da��?" E a mulher come��ou a

chorar. "N��o", disse ela, "n��o gosto de meu corpo." ��

claro que n��o! Palavras n��o s��o pensamentos. Palavras

s��o apenas as embalagens dos pensamentos.

No momento em que temos um pensamento, ele se transforma

na lente por meio da qual vemos o mundo. �� este pensamento que

determina o que selecionamos e o que deixamos de lado. Em certo

sentido, um pensamento �� uma op����o ��� peneiramos os dados que

temos diante de n��s e escolhemos os que refor��am nossa decis��o.

Gayle e eu conhecemos um sujeito que acha que "Hollywood

n��o tem nada de bom". Ele �� capaz de passar horas citando

exemplos para sustentar esta convic����o. At�� quando vamos jun-

tos ao cinema, ele v�� um filme radicalmente diferente do filme

que n��s vemos. Outro exemplo da maneira como os pensamen-

tos determinam a nossa experi��ncia dos acontecimentos �� quan-

do, mesmo gostando do trabalho de um determinado ator, ao

lermos uma cr��tica negativa sobre ele passamos a ter uma per-

cep����o diferente de sua atua����o. Se h�� uma centena de pessoas

no cinema, cada uma poder�� ver uma atua����o diferente porque

suas certezas na vida s��o diferentes.

No nosso trabalho de aconselhamento familiar, Gayle e eu

deparamos com muitas m��es e pais que realmente n��o enxergam o

filho, s�� os pensamentos que t��m sobre o car��ter dele. Essa pos-

6o N��o leve a vida t��o a s��rio

tura contamina tudo o que a crian��a faz e todas as suas palavras e

atos se tornam parte dessa convic����o sombria dos pais. As inter-

preta����es que escolhemos constituem indiscutivelmente uma

proje����o. Contudo, a paz que avistamos no cora����o de nosso

filho, a alegria que temos quando pensamos na pessoa amada s��o

eternas e n��o podem ser corrompidas pela parte de nossa mente

que formula as palavras, interpreta, julga e reage. Essa parte da

mente n��o pode chegar �� verdade porque n��o a conhece.

Temos uma profunda tend��ncia a confundir o que ve-

mos com o que estamos olhando. Os que permanecem

inconscientes de como seus pensamentos revelam a si

mesmos e ��s pessoas a quem amam simplesmente dei-

xam a vida passar totalmente em branco.

O maior risco �� deixar que as emo����es se baseiem em his-

t��rias idealizadas que as pessoas tecem sobre si mesmas e seus

relacionamentos. C o m certeza, j�� vimos isto acontecer a muitas

celebridades. N u m per��odo surpreendentemente curto, elas dei-

xam de existir. Tornam-se meros personagens de hist��rias feitas

sob medida para agradar. Em escala menor, isto tamb��m pode

acontecer com pessoas iguais a n��s. A dica �� n��o deixar que sua

vida pegue um atalho em dire����o ao irreal, nem que sua velhice

fique parecida com um museu de cera, em que as mesmas hist��-

rias s��o narradas sem cessar, repetidamente.

Abrir os olhos pela manh�� �� como abrir um velh��ssimo livro de

colorir em que as p��ginas est��o desbotadas e os contornos dos

personagens imprecisos. Os pensamentos s��o a tabela de cores

que aplicamos a cada cena, p��gina ap��s p��gina. Assim que perce-

bermos que as cores que usamos, e n��o os imprecisos contornos

Abrindo m��o das emo����es in��teis 61

das figuras, s��o os respons��veis pelos sentimentos e emo����es,

podemos nos concentrar na for��a de nossos pensamentos.

A s e m o �� �� e s n �� o s �� o t o d a s i g u a i s

Ao contr��rio de muitos livros de auto-ajuda, este n��o tenta

desvendar os pensamentos por tr��s de todas as emo����es ��� nossa

meta se limita aos pensamentos que destro��am nossas vidas. Se

n��o forem liberados, a raiva, a amargura, a arrog��ncia ou o dese-

jo de vingan��a ��� para dar nome a algumas dessas emo����es mais

venenosas ��� podem cavar um buraco t��o fundo na nossa mente

que ser�� preciso o tempo de toda uma vida para escalar e sair

dele. Sentimentos moment��neos de inoc��ncia, aborrecimento

ou tranq��ilidade pouco mal far��o aos outros.

M e s m o quando os efeitos das emo����es mais perturbadoras

n��o alteram a vida, eles sempre ferem algu��m ��� a voc�� ou ��s

pessoas a quem voc�� ama. As exce����es ficam para as opini��es

e as f��rias passageiras ati��adas pela leitura de uma carta, pelo

notici��rio da televis��o ou pelo modo como foi tratado o amigo

de um conhecido no escrit��rio. As m��goas que levamos a s��rio

e as decis��es sombrias que tomamos separam nossas fam��lias,

ferem a sa��de e prejudicam nossa capacidade de apreciar o que

�� simples.

Os que procuram um caminho "superior" e os que se esfor��am

por obter um grau incomum de autodisciplina, em geral, tentam

pensar, sentir e agir com perfei����o. �� muito comum tentarem

colocar-se �� parte da "multid��o", o que acaba levando ao afasta-

mento e �� nega����o da felicidade.

62 N��o leve a vida t��o a s��rio

L i b e r t a �� �� o 6

Tempo sugerido: 2 dias ou mais

��� Identifique o sentimento perturbador dominante que voc��

teve nas ��ltimas horas, dias ou semanas. Da pr��xima vez que

sentir esta emo����o ��� medo, ��dio, desd��m, cinismo, desespero

ou qualquer outro sentimento destrutivo ���, instale-se calma-

mente dentro dela e anote todos os pensamentos que surgirem,

n��o importa se aparentemente n��o estiverem relacionados.

��� Mantenha a emo����o em alta rota����o, sempre anotando

todos os pensamentos que passarem pela sua mente, at�� que

ela comece a mudar. Depois, deixe a lista de lado e prossiga

em seu dia, como sempre.

Quando voc�� d�� um tempo e come��a a vasculhar sua mente

em busca de pensamentos, �� comum deparar, de repente, com a

mente vazia e os instintos mais b��sicos em baixa rota����o. Se isso

acontecer, comece a anotar mesmo as impress��es mais vagas de

pensamentos, disposi����es, humor ou atitudes. ("Sinto uma leve

ansiedade. Parece que eu estou na berlinda, possivelmente por

estar fazendo esta Liberta����o. N �� o , ela parece mais ampla...

Parece ter algo a ver com as coisas que est��o acontecendo em

minha vida neste exato momento...")

Se n��o conseguir estabelecer este di��logo mental, comece a

descrever o vazio mental em si. C o m o �� este vazio? ("Minha

mente parece uniforme e cinza, tenho consci��ncia dos sons e das

sensa����es em volta. O vazio parece conter uma esp��cie de tris-

teza, quase como se estivesse chorando. N o t o essa vibra����o de

choro tamb��m nas minhas m��os. Acabo de ter um pensamento:

'Sinto uma rejei����o maior do que deveria estar sentindo', 'Sinto

uma rejei����o maior do que as circunst��ncias da minha vida

Abrindo m��o das emo����es in��teis 63

merecem', ou ainda: 'Estou sentindo uma autopiedade grande

demais' ��� �� mais ou menos isso.")

Prosseguindo com o exerc��cio, em muito pouco tempo os pen-

samentos come��ar��o a aparecer. Tenha paci��ncia, descreva o que

puder e, em pouco tempo, o seu problema ser�� como anotar tudo.

Nas pr��ximas vezes em que fizer este exerc��cio, voc�� ter�� mais

rapidez e tranq��ilidade. Observe que a maioria dos conte��dos

mentais sequer �� sua. Eles n��o emanam de suas convic����es mais

profundas, da sua intui����o ou da sua experi��ncia. Se tentar separar

peda��os de mem��rias, fantasias, imagens e refer��ncias, vai encon-

trar um ou dois pensamentos que geram essa ou aquela emo����o.

�� mais ou menos como abrir a geladeira para procurar o que

est�� causando o cheiro. ��s vezes pensamos: "Ih, nossa, vou lim-

par tudo e come��ar de novo!" �� uma boa id��ia, mas est�� um

pouco al��m da capacidade de quem est�� ensaiando os primeiros

passos. Em geral, as pessoas tentam fazer uma limpeza geral

cedo demais e terminam reprimindo muitos pensamentos que

n��o deveriam ser reprimidos. Se voc�� reage exageradamente ou

se surpreende com o que acaba de dizer ou fazer, �� porque ainda

precisa fazer alguns esfor��os para alcan��ar a liberta����o. Esta

Libera����o mostrar�� o quanto nossa mente �� lotada.

��� �� claro que as nossas mentes s��o capazes de ter muitos pen-

samentos ao acaso, sem objetividade. Fa��a pelo menos duas

sess��es antes de examinar suas anota����es. Marque os pensa-

mentos em que n��o acredita ("Talvez meu cinismo tenha

sido causado por uma nova alergia alimentar", "Me sinto na

defensiva porque n��o tenho nenhuma queixa real sobre a

minha inf��ncia", "Acho que vou interromper este exerc��cio e

chamar algu��m para resolver aquele barulho da geladeira") e,

por enquanto, deixe-os de lado.

64 N��o leve a vida t��o a s��rio

��� D o s pensamentos aprovados, pelo menos um ou dois devem

se destacar claramente por serem agressivos, defensivos, auto-

cr��ticos ou preconceituosos. Veja alguns exemplos t��picos:

"Isso n��o acaba nunca...", "Os homens s�� pensam em sexo",

'As mulheres s��o loucas", "Nada do que fa��o �� bom", "Mais

cedo ou mais tarde, eles sempre v��o embora". Escolha os que

voc�� acredita serem respons��veis pelas emo����es que voc�� est��

estudando nesta Liberta����o e anote-os com o m��ximo deta-

lhamento que conseguir. Chamaremos esses pensamentos de

"pensamentos D " ��� pensamentos desencadeadores. Eles ser��o

discutidos mais profundamente em outros cap��tulos.

��� N o s dias posteriores ao exerc��cio, fique alerta para identi-

ficar se surgir alguma emo����o inicial ou um dos pensamen-

tos D. Imediatamente, questione o grau de envolvimento ou

distanciamento que voc�� sente em rela����o a si e ��s pessoas ��

sua volta. Se n��o houver ningu��m presente, questione o

quanto voc�� est�� distante ou perto de qualquer pessoa que

passar pela sua mente. As respostas a essas perguntas devem

servir de alerta sobre os efeitos de se permitir que esse tipo

de lixo mental surja em sua mente.

��� Agarre-se a todas as listas de pensamentos e anota����es.





Quatro


Colocando a m��goa

d e l a d o

Afelicidade e a frustra����o s��o sentimentos que acompanham o

homem desde o in��cio da vida. �� surpreendente a freq����ncia

com que os beb��s choram e criancinhas de um, dois ou tr��s anos de

idade se frustram ou se irritam. N e m a objetividade de uma crian��a

altera a natureza do mundo, que, convenhamos, n��o funciona l��

muito bem. As crian��as s��o as primeiras a perceber esses "erros de

projeto", mas conseguem desfrutar novamente um per��odo tran-

q��ilo assim que recuperam a sensa����o felicidade ��� ao passo que os

adultos, em geral, permanecem frustrados.

Por que isto acontece? Pode-se alegar que a inexperi��ncia das

crian��as cria problemas imagin��rios e que, por isso, a frustra����o

�� uma conseq����ncia previs��vel. Poder-se-ia esperar que os adul-

tos tivessem mais facilidade para se movimentar pela vida, mas a

verdade �� que poucos resistem �� tenta����o de inventar crises sem

o menor fundamento.

N��o queira controlar o mundo

Costumamos dizer que as crian��as n��o t��m obriga����es a

cumprir, mas, se examinarmos mais atentamente o cotidiano de

qualquer uma, �� f��cil constatar que elas t��m objetivos t��o impor-

6 6 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

tantes quanto qualquer adulto. A diferen��a �� que os adultos n��o

levam a s��rio seus objetivos. Se uma crian��a se irrita com o c��u

porque est�� chovendo justamente no dia da sua festa de aniver-

s��rio no jardim, rimos, condescendentes, porque sabemos que

n��o se pode controlar as nuvens. Se o irm��ozinho de um ou dois

anos tenta fazer o beb�� entender os diferentes poderes de cada

super-her��i de brinquedo, nos divertimos com o fato de ele n��o

entender por que o beb�� de seis meses n��o pode ser o compa-

nheiro de brincadeiras.

O natural seria que, quando adultas, as pessoas aceitassem

melhor a vida como ela ��. A realidade, no entanto, �� quase opos-

ta. N �� o nos revoltamos com o c��u, que se recusa a fazer tempo

bom para nosso churrasco ao ar livre, mas, em compensa����o, nos

irritamos com oper��rios barulhentos, com os atrasos, com as re-

servas equivocadas no avi��o, com os maus motoristas que atra-

vancam o tr��nsito na via expressa, com as lojas que fecham dez

minutos mais cedo e at�� com os colegas que usam perfumes t��o

fortes que nos sufocam.

Embora comecemos a vida com integridade e bom humor,

quanto mais envelhecemos, mais nos tornamos inflex��veis, ame-

drontados e irritadi��os. C o m o a curiosidade natural e alegria ini-

cial diminuem, tudo fica mais dif��cil, inclusive fazer amizades.

Tamb��m ficamos menos generosos e mais infelizes. Fato �� que,

de modo geral, poucas pessoas "suavizam" com a idade.

Essa tend��ncia �� infelicidade n��o pode ser proporcional ��

capacidade de entender a natureza do mundo. A verdade �� que,

quanto mais se faz gols, mais se entende como a bola rola, quan-

to mais se usa um programa de computador, melhor se conhece

as suas limita����es, e assim por diante. No m��nimo, a idade traz

experi��ncia. Pena que o pacote inclua algumas imperfei����es co-

C o l o c a n d o a m �� g o a d e l a d o 6 7

laterais (teimosia, mau humor, impaci��ncia e infelicidade, entre

outras).

A raz��o desse descompasso �� que, com o passar dos anos, nos

descuidamos totalmente de nossas mentes. O curioso �� que em

todas as outras ��reas da vida (finan��as, sa��de, casa e carro) temos

a no����o exata de como o abandono �� nocivo e tratamos de evit��-

lo. No restante, n��o. N o s relacionamentos amorosos, por exem-

plo, todos nos arrependemos de algo que foi dito ou feito. Na

maior parte das vezes tentamos pedir desculpas ("Foi mal",

"Essas coisas acontecem", "Talvez eu consiga evitar a situa����o na

pr��xima vez, mas, se n��o conseguir, o melhor �� esquecer!", dize-

mos), mas o problema �� que nem n��s nem as outras pessoas

esquecem.

Se voc�� teve oportunidade de conversar com algu��m �� beira

da morte, �� prov��vel que tenha ficado impressionado com a

quantidade de m��goas que uma pessoa acumula ao longo da vida.

As maiores queixas est��o relacionadas �� maneira como magoa-

mos certas pessoas, raramente se referem a objetivos n��o alcan-

��ados, experi��ncias ou viagens n��o realizadas. �� comum passar a

vida carregando um caminh��o de m��goas e, mesmo no final,

achar que �� tarde demais para curar e ser curado.

Resumo da ��pera: deixar que sentimentos pesados contami-

nem o seu estado de esp��rito pode ser a diferen��a entre arruinar

ou n��o sua vida. E por que as pessoas deixam que isso aconte��a?

Simplesmente porque n��o acreditam que o estado de esp��rito

seja algo importante. Para o ego, a apar��ncia �� tudo o que impor-

ta. N �� o precisa ser bom, basta parecer bom.

�� verdade que os efeitos dos pensamentos das pessoas, ��s

vezes, podem se revelar na express��o de seu rosto ou no tom de

sua voz, mas, em geral, conseguimos disfar��ar. Perguntas como

68 N��o leve a vida t��o a s��rio

"Voc�� gosta dos meus sapatos novos?", ou "Voc�� acha que eu

emagreci?", ou, ainda, "Tem certeza de que voc�� n��o est�� mor-

rendo de inveja porque meu tio deixou para mim todo esse di-

nheiro?", merecem, em geral, respostas educadas, mas n��o ne-

cessariamente verdadeiras.

Dizer coisas como "Desembuche!", "Despeje!," 'Alivie o peito!"

ou "Lave a alma!", n��o purifica a mente de ningu��m, apenas fere

os sentimentos das pessoas. H�� quem use a sinceridade como

uma forma de aliviar sua pr��pria dor. Contar ��s pessoas como

voc�� as traiu e fazer duras autocr��ticas funciona de fato como

al��vio moment��neo ��� especialmente para quem est�� ouvindo o

desabafo. �� primeira vista, parece que quem errou est�� "assumin-

do a responsabilidade", mas, na pr��tica, �� o contr��rio. Ao con-

cordar com a pessoa que voc�� ama que ela est�� envelhecida, ou ao

inform��-la de que teve um caso extraconjugal, voc�� est�� falhando

como amigo e como pessoa, abrindo as portas para se autodes-

truir e, certamente, deixando de purificar a sua mente.

Quando desabafa em cima dos outros, observe que o proble-

ma ganha vida pr��pria e parece escapar de suas m��os. Se o seu

ego est�� em ebuli����o e voc�� percebe que est�� novamente a ponto

de menosprezar, criticar, trair, censurar ou reprimir algu��m,

mude o rumo da conversa. Deixar de prejudicar algu��m �� sem-

pre um ��timo primeiro passo.

L i b e r t a �� �� o 7

Tempo sugerido: 1 dia ou mais

��� Quando acordar, concentre-se num ��nico objetivo: "Passarei

o dia sem prejudicar ningu��m. N �� o magoarei ningu��m em

meus pensamentos ou em minhas a����es, nem a mim mesmo."

Colocando a m��goa de lado 69

Repetir esse "mantra" com pureza de alma, diversas vezes

durante o dia, funciona como uma afirma����o de sua inten����o, da

meta que decidiu alcan��ar. "N��o prejudicarei ningu��m em meus

pensamentos ou a����es" �� um objetivo que imediatamente unifi-

ca a mente e faz com que nos sintamos mais leves, mais livres e

mais felizes.

O pr��ximo passo �� saber se vale a pena entregar-se a pensa-

mentos de culpa, remorso ou arrependimento relacionados aos

erros que voc�� cometeu. Esses pensamentos s��o uma forma de

autopiedade ��� eles n��o ajudam, n��o curam e n��o confortam a

pessoa que voc�� pensa ter magoado. Examine-os com aten����o e

perceber�� que est��o relacionados a voc�� e n��o �� pessoa que voc��

pensa que maltratou. Na verdade, �� uma repeti����o do mesmo

equ��voco: voc�� atacou aquela pessoa, agora ataca a si mesmo. O

ataque �� o problema a ser resolvido, j�� que n��o passa de um pro-

cesso de autoflagela����o sem sinceridade, uma esp��cie de peni-

t��ncia sem amor, e, por isso mesmo, sem a menor utilidade. A

resposta est�� em fazer algo para ajudar aqueles a quem voc��

magoou ou feriu.

L i b e r t a �� �� o 8

Tempo sugerido: 2 dias ou mais

O sucesso desta etapa est�� fortemente ligado �� sua inten����o.

Portanto, sinceridade e foco no seu objetivo �� tudo o que se pre-

cisa. Seja simples e direto: isole um ponto mental magoado de cada

vez e trabalhe at�� que ele esteja curado. Exemplo: o arrependimen-

to de algo que voc�� fez ou deixou de fazer a outra pessoa.

A. Examine tudo o que aconteceu, detalhadamente. N �� o per-

ca tempo criticando a si mesmo ou divagando sobre poss��veis

70 N��o leve a vida t��o a s��rio

remorsos ou vergonhas. Se, por acaso, voc�� n��o compareceu a

um compromisso que era muito importante para a outra pessoa

e sempre lamentou isto, examine o que impediu voc�� de estar

presente e as conseq����ncias disso. Na verdade, voc�� simples-

mente n��o estava a fim de sair de casa naquele dia, deu uma des-

culpa e ela foi aceita. Examine o pre��o emocional que voc��

pagou por agir assim.

B. Pergunte a si mesmo se h�� algo que voc�� pode fazer para se

desculpar. Confessar que voc�� simplesmente n��o estava interes-

sado, n��o funciona. Se voc�� acha que esta pessoa o conhece

muito bem, talvez fosse bom enviar-lhe uma desculpa cuida-

dosamente elaborada.

N �� o caia na armadilha de uma desculpa esfarrapada qualquer:

"Eu estava muito preocupado naquele momento", "Eu estava en-

rolado com meu trabalho". Apenas pe��a desculpas, d�� meia-

volta e n��o diga mais nada. Se voc�� quer realmente consertar a

situa����o, d�� um presente muito especial ou desculpe-se pessoal-

mente ��� ou as duas coisas. Peque pelo exagero, mande buqu��s

de flores (anonimamente, para parecer sincero) e, de prefer��n-

cia, fa��a de suas desculpas um ato p��blico (gestos exteriores t��m

mais for��a). Lembre-se que voc�� est�� tratando da sua mente e,

por isso, nenhum esfor��o �� exagerado.

Se voc�� optou por esse caminho, prepare-se para uma rea����o

igualmente exagerada, j�� que a pessoa aproveitar�� a oportuni-

dade para dar vaz��o ao ressentimento acumulado. Resumindo:

ela pode ficar mais furiosa do que estava antes do pedido de des-

culpas. �� como se dissesse, "Voc�� n��o quis escutar antes, por-

tanto, escute agora". N �� o se defenda ��� reagir com gentileza faz

parte do verdadeiro pedido de desculpas. O pior �� que nada dis-

so significa que as suas desculpas ser��o aceitas, mas esta f�� �� uma

Colocando a m��goa de lado 71

outra historia. Fazer as pazes com o seu cora����o e sua mente ��

seu objetivo primordial.

C. Se a p e s s o a n��o quer saber de qualquer contato com

voc��, tome a decis��o permanente de aben��o��-la sempre que

pensar nela, at�� mesmo depois de sua morte. N �� o esque��a:

estamos falando da cura da sua mente, nada do que voc�� fizer

ser�� em v��o.

D. Se voc�� pensa que o seu erro foi t��o grande que nada disso

�� suficiente para acabar com a m��goa que voc�� carrega, pergunte

a si mesmo o que mais poderia fazer. Quando minha m��e mor-

reu, percebi que n��o me senti feliz desde que me mudei da

cidade em que ela vivia. Era como se eu n��o tivesse me esfor��a-

do para explicar a ela por que a mudan��a era necess��ria. Rezar e

aben��oar minha m��e n��o estava me apaziguando. Descobri que

eu tamb��m precisava cumprir alguma penit��ncia. Quando a

cumpri, me senti curado.

0 poder da penit��ncia �� subestimado - n��o tanto a pe-

nit��ncia atribu��da por outro, mas a penit��ncia que vem

de nosso pr��prio cora����o. Esta penit��ncia do cora����o

deve dizer: "Depois que eu fizer tudo para reparar o mal

que fiz a voc��, farei mais isto... Darei ��s pessoas a quem

amo, �� minha comunidade ou ao mundo um presente

em seu nome." Este presente abranger�� o que for neces-

s��rio ��� seja tempo, dinheiro ou servi��o: "Eu gosto de

voc��, eu aben��oo voc��, para mim voc�� �� ��ntegro." Com

isso, eu tamb��m me torno ��ntegro.

E. O ��ltimo passo �� manter-se alerta e reagir rapidamente sem-

pre que qualquer pensamento de culpa passar pela sua cabe��a.

7 2 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

F. Depois de "curar" um arrependimento, localize outro e use

o mesmo procedimento e assim por diante. Naturalmente, o

tempo de dura����o varia para cada pessoa, mas a m��dia tem sido

de, no m��nimo, dois dias de trabalho de cura. O importante ��

n��o deixar nenhum arrependimento sem tratamento. Este �� um

dos maiores presentes que voc�� pode dar a si mesmo.

O m e d o q u e i m p e d e a f e l i c i d a d e

O arrependimento �� um dos melhores exemplos de como o

descuido com a nossa mente permite que a infelicidade entre em

nossa vida. Naturalmente, isto pode acontecer de diversas ma-

neiras, mas, antes de as explorarmos, �� preciso ir fundo nas resis-

t��ncias que criamos e examinar as raz��es por tr��s dos atos. Apa-

rentemente, os adultos t��m um medo profundo da felicidade.

Ter consci��ncia desse terror �� meio caminho andado para a con-

quista da mente ��ntegra e livre. Observe algumas raz��es mais

conscientes e acess��veis e voc�� perceber�� que, em geral, optamos

pela complexidade no lugar da simplicidade, pela rigidez em vez

da flexibilidade e, claro, pela infelicidade �� felicidade ��� numa

prova de como nossa mente joga contra ela mesma.

Oito justificativas para a infelicidade

1. N��o merecemos a felicidade

N �� o �� de admirar que acreditemos que n��o temos o direito de

ser felizes. As imagens que brotam da televis��o, as narrativas de jor-

nais e revistas, as conversas no escrit��rio, enfim, as cenas que

povoam a mem��ria e enchem os sonhos est��o constantemente nos

lembrando de que a infelicidade e a adversidade s��o componentes

normais da vida. No fundo de nossas mentes est�� a sombria

reflex��o de que se isto acontece conosco ��� e tamb��m com grandes

C o l o c a n d o a m �� g o a d e l a d o 7 3

l��deres espirituais, como Cristo e Gandhi ��� �� apenas porque mere-

cemos. Enxergamos as circunstancias como ve��culo da felicidade,

n��o da paz e da tranq��ilidade de nossas mentes. No fundo, quais-

quer circunstancias que nos favorecem s��o consideradas injustas.

2. O presente �� perigoso

C o m o o futuro guarda m��s noticias para todos, o presente de-

veria ser o nosso maior interesse. Concordamos que todos temos

o "direito inalien��vel" de buscar a felicidade, mas n��o damos a

ningu��m o direito de realmente encontr��-la. �� como se n��o con-

fi��ssemos nas pessoas alegres. Suspeitamos que atr��s de todo

bom humor h�� um motivo sinistro. �� aceit��vel que as pessoas

falem sobre um passado em que foram felizes ou que expressem

a esperan��a de que um dia ser��o felizes, n��o que estejam ou

sejam felizes no presente.

Chamamos de "querida" ou "gracinha" as pessoas que t��m

alegria de viver, e as desconsideramos nas quest��es intelec-

tuais realmente importantes. Reagimos da mesma forma em

rela����o a livros e filmes com finais felizes, assim como para

filosofias que despertam a auto-estima. A raz��o �� ��bvia: a boa

experi��ncia no passado n��o justifica o otimismo no presente.

O que o presente pode oferecer para algu��m, de qualquer

forma? At�� m e s m o um pr��mio n��o teria nenhum significado

se no dia seguinte lev��ssemos a mesma vidinha de sempre. A

expectativa do que poder�� resultar �� que dar�� o verdadeiro

significado ao pr��mio. A felicidade em geral �� sentida como

antecipa����o, ao p a s s o que o sofrimento nos leva ao presente.

Normalmente, nossas mentes s��o t��o barulhentas que poucos

escutam o sil��ncio da serenidade e da paz, ��nica possibilidade

de viver o presente e nada mais.

7 4 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

3. As mesmas circunst��ncias que garantem a sua felicidade

aumentam o peso que voc�� carrega

Durante a vida, muitas pessoas recebem algumas recompen-

sas, mas acabam percebendo que esses pr��mios inesperados

acabam complicando suas vidas. Quanto mais elevado o pr��mio

em dinheiro, por exemplo, maior o caos, a limita����o e a infelici-

dade que ele normalmente causa. Seria de imaginar que algu��m

que enriquece de repente diria: "Finalmente, meus problemas de

dinheiro acabaram. N �� o preciso me preocupar mais."

Mas o que acontece na verdade? A pessoa tende a ser menos

generosa e se irrita mais do que a maioria das pessoas com os

aborrecimentos do dia-a-dia, tipo atrasos, problemas mec��nicos,

mau atendimento, manchas e cheiros. Em geral, s��o tamb��m

mais paran��icas e desconfiadas em rela����o ��s motiva����es dos ou-

tros e, como se sentem superiores, acabam convivendo com pou-

qu��ssimos amigos e atividades.

A beleza f��sica �� outro exemplo de algo muito desejado e que

acaba se voltando contra quem a deseja. N e m quando a pessoa

sai de uma cirurgia pl��stica, de um longo regime ou de meses

num spa, e est�� inegavelmente linda, vai falar coisas do tipo:

"Agora estou muito bem e n��o preciso mais me preocupar com a

minha apar��ncia."

Que tipo de pessoa entra num restaurante olhando em volta

para verificar se est�� sendo observada ��� a linda ou a normal?

Quem �� que atrai o relacionamento mais superficial, se preocu-

pa obsessivamente com a roupa que veste, luta incessantemente

com o processo do envelhecimento e tende a julgar os outros

pela apar��ncia? A pessoa linda, �� claro.

Outra fantasia universal �� exibir objetos do consumo que

todos gostariam de ter. Quem tem posses, em geral, enche sua

Colocando a m��goa de lado 75

casa e sua vida de coisas que n��o deseja e n��o pode usar. Um

carro luxuoso, por exemplo, tem manuten����o mais cara, maior

probabilidade de ser roubado e exige cuidados na hora de esta-

cionar... ou seja, �� um carro que provoca inveja e faz com que os

comerciantes cobrem mais por qualquer coisa.

4. Um parceiro superbonito n��o �� recomend��vel

Embora dure mais tempo e provoque menos problemas, o

relacionamento amoroso com uma pessoa de alma pura e sim-

ples n��o �� t��o procurado quanto o relacionamento com algu��m

complicado. As expectativas se reduzem imediatamente quando

um namorado em potencial �� descrito como "legal". As pessoas

ambiciosas n��o hesitam em trocar quem as compreende e ama

por um "companheiro-trof��u", ou seja, algu��m que chame a

aten����o pela beleza ou por sua posi����o na sociedade. N �� o

esque��a que o efeito colateral de ter um "companheiro-trof��u" ��

a eterna vigil��ncia.

Ao contr��rio da id��ia que muita gente imagina, o sexo com

um parceiro deslumbrante n��o aumenta o prazer f��sico. Na ver-

dade, aumenta a tens��o e o nervosismo. Casais normais, que se

sentem confort��veis um com o outro, tendem a ter uma vida se-

xual muito mais satisfat��ria. Al��m disso, conforme sua apar��ncia

e import��ncia social come��am a diminuir, �� preciso redobrar os

esfor��os para continuar valendo alguma coisa, para n��o ser aban-

donado mais cedo do que imagina por alguma beldade ou algum

s��mbolo sexual.

5. Meio-termo na felicidade n��o funciona

A felicidade n��o �� muito confi��vel, nem mesmo dentro dos

alardeados "pequenos prazeres da vida". Quanto mais tentadora

76 N��o leve a vida t��o a s��rio

a comida, quanto mais er��tico o prazer, quanto mais longas as

f��rias, quanto mais fascinante a trai����o, quanto mais intensa a

paix��o... maior a queda. Segundo uma pesquisa, os ganhadores

de loterias se tornam pessoas obesas e 85% dos homens que

morreram durante uma rela����o sexual n��o estavam ao lado de

suas mulheres. Moral da hist��ria: a maioria dos bons momentos

tem sempre uma contrapartida t��o dram��tica que n��s acabamos

por come��ar a evit��-los.

Revelar uma confid��ncia interessante, criticar o parceiro pelas

costas, xingar um motorista, comer tudo o que nos d�� vontade,

dormir o tempo que desejamos, flertar inocentemente ��� tudo

isso pode ser engra��ado e prazeroso por um tempo, mas o arre-

pendimento ou o medo que essas op����es produzem, assim como

o caos que eventualmente possam promover, acabam por torn��-

las question��veis como op����o de vida.

6. Felicidade �� "fugir �� responsabilidade"

Acreditamos que a felicidade n��o �� um estado mental s��rio ou

importante e por isto a mantemos sob suspeita. Pressupomos

que ser feliz �� deixar de lado o que sentimos. Isso leva as pessoas

a se sentirem culpadas depois de um momento de felicidade.

Acreditamos que aproveitar a vida �� uma forma nada sutil de evi-

tar a responsabilidade. C o m o h�� muita coisa no mundo a ser fei-

ta e muitos erros a corrigir, arranjar tempo para ser feliz parece

que �� o mesmo que virarmos as costas ao mundo. Afinal, um

quarto da popula����o mundial est�� passando fome, um ter��o das

na����es est�� em guerra, como, ali��s, sempre esteve, ou seja, a s��rie

de problemas graves que o mundo enfrenta �� t��o avassaladora

quanto infind��vel. Podemos destacar mais alguns: a prolifera����o

das armas nucleares, invas��o de privacidade, crise econ��mica, a

Colocando a m��goa de lado 77

gravidez das adolescentes, os v��rus e bact��rias mutantes, a cor-

rup����o na pol��tica, o terrorismo, as drogas, a falta de moradias,

a tortura, as discrimina����es por sexo, ra��a e idade ��� tudo isso e

nem come��amos a falar da devasta����o do planeta.

Ao admitir a densidade do campo minado que atravessamos

todos os dias, em vez de felizes, dever��amos nos sentir... o qu��?

ultrajados? tristes? chocados? aterrorizados? c��nicos? desespera-

dos...? Raramente questionamos as atitudes que dever��amos

adotar no lugar da felicidade. Poucos perguntam o que coisas

como conforto e seguran��a, mudan��a para melhor, aturdimento,

irrita����o ou coisa parecida, traz de bom para algu��m. H�� quem

diga que estas s��o as grandes emo����es que nos levam para a

frente na vida. Se �� assim, a pergunta deveria ser: o que mais nos

motiva a sermos verdadeiramente ��teis ��� uma atitude pac��fica

ou irritada? H�� controv��rsias, mas sem d��vida eu preferiria estar

nas m��os delicadas de Gandhi, Buda, Jesus ou Madre Teresa.

Eles conseguiram fazer muita coisa sem nenhuma raiva.

7. Abrir m��o da infelicidade �� deixar de respeitar a si mesmo

A perturba����o interior que chamamos de infelicidade �� uma

emo����o, ou, mais precisamente, um conjunto de emo����es. ��

uma dor interior (sensa����o de ang��stia, medo, depress��o, tris-

teza, etc.) t��o desagrad��vel quanto a mudan��a que poderia nos

proporcionar al��vio. Questionar a raiva, a paix��o, a tristeza e

muitas outras emo����es �� questionar o que temos de mais

sagrado. N u m certo sentido, abrir m��o da infelicidade n��o ��

apenas desonesto... soa quase como uma trai����o a quem real-

mente somos. Hoje, quando dizemos a algu��m: "Preciso ser

fiel a mim mesmo", o significado ��: "Preciso trair voc��, segun-

do as minhas emo����es."

78 N��o leve a vida t��o a s��rio

As emo����es assumiram o lugar outrora ocupado pela alma,

pelo esp��rito ou pela consci��ncia. Por isso, o dilema ao perceber

que nossas emo����es s��o o verdadeiro ser. C o m o podemos ser

n��s mesmos, se o nosso ser muda a cada minuto, como invaria-

velmente acontece com as emo����es? C o m o boa parte das emo-

����es duram apenas dois a tr��s minutos, n��o d�� para defender

uma velha emo����o que j�� n��o existe e deixar de lado uma s��rie

de novas emo����es que passamos a sentir.

Existe um lugar dentro de n��s onde entramos em con-

tato com o eterno e o belo, um lugar em que realmente

sentimos nosso ser interior em paz. Este ser n��o precisa

ser periodicamente arejado, desfragmentado ou mesmo

definido. Com tranq��ilidade e generosidade, ele �� visto

claramente, e tudo em rela����o a ele �� conhecido e fami-

liar - porque este ser �� ��ntegro.

8. Pessoas felizes s��o suspeitas

A felicidade ocupa um papel incrivelmente pequeno na vida da

maioria dos adultos. Mais uma vez, a felicidade �� algo suspeito.

H�� pouco tempo, Gayle e eu est��vamos num shopping center e

vimos uma garotinha de uns tr��s anos andando em companhia

dos pais. Ela estava no auge da felicidade e cantava a plenos pul-

m��es. A m��e, no entanto, se inclinava e dizia entre dentes:

��� Voc�� n��o est�� se comportando direito!

A m��e estava certa. A felicidade pura e simples n��o �� nada

adequada em muitas circunst��ncias. Na verdade, pessoas felizes

demais muitas vezes s��o consideradas meio esquisitas, at��

perigosas. �� previsto que nos sintamos muito satisfeitos quando

nosso time ganha, e podemos at�� nos sentir realizados quando

Colocando a m��goa de lado 79

"devolvemos" uma desfeita que algu��m nos fez ��� mas, se voc��

sair cantando a plenos pulm��es por um shopping center sem

nenhuma raz��o aparente, �� bem prov��vel que seja interpelado

pela seguran��a.

Liberta����o 9

cr��dito extra, liberta����o extra

(Este exerc��cio �� inteiramente opcional, foi criado para

refor��ar e aprofundar o que j�� discutimos. Se voc�� acha que j�� sa-

be identificar corretamente os pensamentos que geram momen-

tos de perturba����o ou conflito, passe para a se����o seguinte: "Pa-

ra compreender os pensamentos D".)

A. N o s pr��ximos dois dias, escolha pelo menos dois momen-

tos em que sentir que est�� tendo, ou acaba de ter, uma sensa����o

de conflito, perturba����o ou irrita����o. Imediatamente, congele o

conte��do de sua mente e, cuidadosamente, examine os pensa-

mentos envolvidos. Leve sempre um caderninho ou um pequeno

gravador para anotar pelo menos o tema de cada pensamento.

B. �� noite, acrescente os detalhes que n��o teve tempo de ano-

tar durante o dia. Para desvendar os pensamentos vagos ou par-

cialmente escondidos, fa��a a si mesma as seguintes perguntas:

��� Que pessoa ou situa����o parece estar causando a emo����o ou

est�� no centro dela?

��� O que esta pessoa ou situa����o simboliza? O que me faz lembrar?

Digamos, por exemplo, que voc�� notou que boa parte das

ang��stias que sente giram em torno de sons desagrad��veis ��� al-

gu��m que mastiga ruidosamente �� mesa, um telefone ou uma

campainha que toca "na hora errada", c��es latindo ou crian��as

gritando. Talvez voc�� pense que esses ru��dos s��o inc��modos e

8o N��o leve a vida t��o a s��rio

ponto final. Insistindo, talvez lembre que na inf��ncia sempre lhe

diziam para se acalmar, n��o interromper as pessoas e falar baixo.

Essa lembran��a pode explicitar que, para voc��, esses ru��dos sim-

bolizam a falta de reconhecimento e de considera����o das pes-

soas ou, quem sabe, o desejo delas de controlar voc��.

Outro exemplo poderia ser que voc�� sente ang��stia e pertur-

ba����o quando algu��m perde ou quebra suas coisas. Ao tentar

descobrir o que isso simboliza, voc�� relembra a falta de conside-

ra����o de um antigo colega, que passava adiante fofocas das quais

tomava conhecimento em conversas, endere��ava erradamente as

cartas e os e-mails ou perdia as chaves... Refletindo mais fundo,

talvez voc�� lembre que as coisas que juntava em seu quarto

quando crian��a muitas vezes eram jogadas no lixo e seus brin-

quedos preferidos eram dados a outras crian��as. Ou seja: quan-

do algu��m perde ou danifica alguma coisa que lhe pertence, sig-

nifica que voc�� n��o est�� sendo visto com clareza ou compreen-

dido em profundidade.

��� O que eu imagino que torna estas circunst��ncias impor-

tantes o bastante para me perturbarem?

Usando o primeiro exemplo, talvez voc�� escreva algo assim:

"Ter meu tempo, minha concentra����o e minhas atividades res-

peitadas �� t��o importante que qualquer som me perturba."

Para o segundo exemplo, voc�� poderia escrever: "Minhas

coisas s��o importantes, algumas cont��m muitas lembran��as,

outras s��o parte de meus relacionamentos. Assim, quando al-

gu��m perde ou danifica alguma delas, sinto que me atacam."

��� Se imaginar esta situa����o se deteriorando ou o comporta-

mento dessa pessoa piorando, o que vejo acontecer comigo?

Esta pergunta implica imaginar que seja l�� o que tenha ocor-

rido, se repita com maior freq����ncia (cada vez mais coisas s��o

Colocando a m��goa de lado 81

perdidas ou danificadas, aumentam os epis��dios de barulho).

Enquanto imagina isto, o que acontece emocional, f��sica e men-

talmente com voc��? Est�� se vendo desaparecer? Entra em

depress��o, adoece ou pensa em se suicidar?

C. Fa��a as etapas A e B durante, no m��nimo, dois dias. No

final do segundo dia, leia todos os seus pensamentos e anota����es

sobre essas perturba����es. Leia essas listas com a maior impar-

cialidade poss��vel ��� ou seja, sem julgar a si ou aos outros.

Tente descobrir se h�� algum padr��o em seus pensamentos,

alguma id��ia principal ou apenas pensamentos associados. H��

um medo generalizado, "real" ou importante de perder a autori-

dade? Talvez muitos de seus pensamentos estejam ligados a di-

nheiro... Se �� assim, qual a sua atitude em rela����o ao dinheiro?

Responda com a maior honestidade poss��vel.

P a r a c o m p r e e n d e r o s p e n s a m e n t o s D

No processo de Liberta����o 9, voc�� procurou descobrir o pen-

samento que est�� por tr��s de seus momentos de ang��stia. Quer

tenha encontrado ou n��o algum padr��o, o objetivo do exerc��cio

era buscar associa����es entre seus pensamentos e emo����es. O

pr��ximo exerc��cio se concentra no que chamo de pensamentos

D ��� pensamentos desencadeadores ���, que liberam alguma emo-

����o. A id��ia ��, aos poucos, identificar a origem mais profunda de

sua ang��stia interior e a diferenciar dos pensamentos plenos e

desprovidos de conflitos, que s��o a fonte de nossa energia, inspi-

ra����o e capacidade de amar.

Os pensamentos verdadeiros permitem que vejamos a n��s, aos

outros e ��s situa����es como s��o, sem disfarces. J�� um pensamen-

to D �� a convic����o mais pura que desenvolvemos em algum

ponto de nossas vidas (geralmente, durante os anos de nossa for-

82 N��o leve a vida t��o a s��rio

ma����o) e que agora impede a conquista da unidade e da paz. Sem

saber como um pensamento D funciona, o conjunto de emo����es

que ele desencadeia acaba controlando as nossas decis��es e nos-

so modo de ver o mundo.

Como os pensamentos D diferem de pessoa para pessoa, as

mesmas circunst��ncias que chateiam uma pessoa n��o atingem

outras. Outra caracter��stica �� a necessidade de t��-los todos os dias.

Funciona da seguinte forma: preparamos nossa mente no in��cio do

dia, logo depois de acordarmos. Este �� o momento em que faze-

mos o download ��� ou melhor, trazemos �� consci��ncia um ou dois

pensamentos D, que desencadeiam praticamente todas as pertur-

ba����es mentais que sentimos durante o resto do dia.

Ter consci��ncia desse download autom��tico matinal e duvidar de

sua natureza nos permite enfraquec��-los. Lembre-se de que s��

aceitamos um pensamento D se acreditamos nele. Se consegu��s-

semos bloquear esses pensamentos no momento em que surgem,

ser��amos totalmente livres. Por que ent��o decidimos aceitar os pen-

samentos D? Lembre-se de que o ego �� o seu desejo de se distinguir

e se separar das outras pessoas (pelo menos at�� certo ponto).

Uma das melhores oportunidades para chegar ao ponto que

realmente est�� bloqueando a nossa integridade, a nossa unidade,

o nosso amor, �� identificar o exato momento em que tomamos a

decis��o di��ria de nos entregarmos aos pensamentos D. Este �� o

objetivo, mas muita gente ainda n��o chegou l��.

L i b e r t a �� �� o 1 0

uma liberta����o fundamental | Tempo sugerido: 4 dias ou mais

��� No instante em que voc�� desperta, veja se a sua mente se

mant��m relativamente vazia pelo menos por alguns segundos.

Colocando a m��goa de lado 83

Observe e anote os pensamentos que voc�� tem nos primei-

ros cinco minutos. Se estiver com pressa, anote apenas o

tema central de cada um e, mais tarde, preencha os detalhes.

��� Descreva tamb��m a disposi����o ou o humor que esses pensa-

mentos projetam no seu dia.

Os pensamentos D, �� primeira vista, podem n��o estar rela-

cionados ao dia que come��a, mas d��o o tom a tudo o que acon-

tece. Se voc�� sentir uma raiva em rela����o a determinado grupo

de pessoas, ou lembrar uma velha opini��o a respeito de certo

conhecido, ou mesmo alguma tristeza relacionada a eventos h��

muito ocorridos, pode ter certeza de que h�� um pensamento

central por tr��s dessas emo����es ��� e este pensamento penetrou

em sua mente logo no in��cio daquele dia.

A seguir alguns pensamentos D que surgiram em nossas pales-

tras de aconselhamento. Veja se eles "dizem" alguma coisa a voc��:

Eu sempre tenho de fazer todo o trabalho.

Jamais me compreender��o.

Meu companheiro (irm��o, m��e, pai, etc.) est�� na raiz de

minhas dificuldades.

Nada funciona comigo.

Tenho uma miss��o especial neste mundo. (Sou mais

amado(a) por Deus, Conhe��o uma verdade que os ou-

tros n��o conhecem, tenho um papel a cumprir...)

Sempre serei uma pessoa solit��ria.

Tenho uma vida fascinante. (O destino est�� a meu lado,

tenho sorte, tenho um bom carma, as coisas fun-

cionam para mim.)

Se ao menos eu tivesse liberdade... (Sempre cortam a

liberdade da gente.)

8 4 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

Eu atrapalho a felicidade de todo mundo. (Fa��o todos

sofrerem.)

Nunca tenho tempo suficiente. (Tenho de fazer isto j��.)

Como sou uma pessoa superior, meus pensamentos

s��o sempre adequados.

Alguns pensamentos s��o positivos, o que leva �� falsa sensa����o

de que n��o h�� necessidade de tir��-los de sua mente ��� afinal, es-

sas pessoas se sentem especiais, com uma imensa auto-estima.

A�� �� que est�� a dificuldade. As pessoas com um pensamento D

do tipo "Sou otimista, sou alegre, sempre vejo as coisas de

maneira otimista", aos poucos se distanciam dos que est��o �� sua

volta. A insist��ncia em revidar a conversa negativa com uma

conversa positiva exige uma permanente gin��stica mental

enquanto lutamos para ver tudo de maneira otimista.

Qualquer pensamento "positivo" ou "espiritual" que nos

separe dos outros nos separa tamb��m da igualdade e

do companheirismo e invariavelmente nos torna cr��ticos

em rela����o ��queles que pensamos ser diferentes.

O ant��doto para o pensamento c��nico n��o �� o pensamento

otimista, porque isso significa que estamos reagindo, nos colo-

cando como v��tima do que os outros dizem, v��tima de nossa

pr��pria mente e al��m disso impondo uma interpreta����o pessoal

dos acontecimentos. C o m a mente calma e plena, somos capa-

zes de responder com empatia e de ver com clareza, de forma

intuitiva e livre. Reconhecemos o que �� destrutivo e o que n��o

��, mas n��o sentimos nenhuma necessidade de impor nossa vis��o

aos outros.

Colocando a m��goa de lado 85

No caso de um pensamento D do tipo "Nada funciona", a pes-

soa interpretar�� assim os eventos do dia e muitas vezes far�� o

necess��rio para garantir que as coisas n��o funcionem mesmo. Por

isso �� bom come��ar a vasculhar a mente no momento em que

voc�� acorda para ver a diferen��a entre a mente clara e aquela

dominada por uma determinada defini����o da realidade. A atitude

que se toma ao acordar a cada manh��, em geral, �� bastante sutil

porque �� autom��tica. Um jeito de identificar o momento em que

um pensamento D aparece na mente �� tentar perceber alguma

altera����o no n��vel de energia ou de humor logo no in��cio do dia.

��� �� importante monitorar a sua mente ao longo do dia para

ver se um ou dois dos pensamentos da manh�� continuam a

aparecer. Voc�� talvez tenha de trabalhar de tr��s para a frente

para detect��-los. Primeiro, observe uma disposi����o conheci-

da, depois busque em sua mente a linha de pensamento que

h�� por tr��s dela. N �� o �� necess��rio anotar essa parte, apenas

observe-as por alguns segundos, depois libere a sua mente e

deixe-a pensar da maneira habitual.

A Liberta����o 10 �� um exerc��cio importante e seria melhor

realiz��-lo na ��ntegra por um m��nimo de quatro dias. Lembre-se

de que descobrir seus momentos ego��stas, vingativos, mesqui-

nhos, arrogantes, fracos, ansiosos e afins, n��o ajudar�� a atingir o

objetivo de conquistar mente plena e desintoxicada. H�� uma

grande diferen��a entre desvendar pensamentos que voc�� j�� tem

e organizar esses pensamentos. O impacto de qualquer pensa-

mento fragmentado ser�� sempre negativo no que se refere ao

bem-estar e prazer na vida. Portanto, observe os efeitos de seus

pensamentos sobre voc�� e sobre os outros, mas n��o tire conclu-

s��es. Preocupar-se bastante �� diferente de se definir como pes-

soa ansiosa ou pessoa sem fibra.

86 N��o leve a vida t��o a s��rio

�� natural que, ao fazer o trabalho sugerido neste livro, voc��

talvez n��o goste do retrato em preto-e-branco de seu ego. N �� o

se trata de autoflagela����o ou uma vis��o endurecida do que voc��

�� realmente, mas sim a aceita����o clara e firme de que voc�� tem

pensamentos e impulsos que considera negativos. Esta autocr��ti-

ca leva-o exatamente ao processo de desprendimento, que �� o

objetivo deste livro.





Cinco


A c e i t a n d o a v i d a

como ela ��

Odia come��ou bem. At�� agora n��o xinguei nenhum

motorista, n��o comi doces nem coisas gordurosas, ne-

nhum membro da fam��lia discordou de mim e n��o aconteceu

nada desagrad��vel no trabalho. E s t �� tudo indo muito bem, a

n��o ser por pequeno detalhe: ainda n��o me levantei, o que sig-

nifica que ainda n��o enfrentei a avalanche de interfer��ncias

que surgem a todo momento sobre como "assumir o controle

de sua vida".

N �� s somos o primeiro fator com que teremos de lidar nessa

primeira decis��o do dia. Ser�� que voc�� decide o momento exato

em que levanta, a posi����o exata de suas pernas, as sensa����es nas

juntas e nos m��sculos, o p�� que pisar�� no ch��o primeiro, sua dis-

posi����o geral quando finalmente consegue levantar? Ser�� que

voc�� controla o que estar�� pensando?

Considere a hip��tese de seu parceiro ou parceira ter um pen-

samento de lux��ria e agarr��-lo para uma sess��ozinha matinal, ou

ainda de voc�� ser abatido por uma s��bita c��ibra ou por um filho

pulando em cima. Sejamos honestos: ser�� que algu��m controla o

mais b��sico de todos os atos: come��ar o dia? N �� o , �� claro que

n��o. Na verdade, n��o controlamos nada. �� por isso que ser solteiro

8 8 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

n��o nos d�� independ��ncia, ter sa��de n��o nos d�� prote����o e assim

por diante.

Fomos criados para acreditar que a ess��ncia do controle ��

confiarmos em n��s mesmos, antes de mais nada. No entanto,

quando pensamos em n��s mesmos em primeiro lugar, em que

estamos pensando?

A b r i n d o m �� o d o e u , d o m e u e d o p a r a m i m

Se fechamos os nossos olhos e procuramos aquele cantinho

dentro de nosso cora����o em que sentimos a serenidade e a paz,

sabemos que ela est�� ali, sempre �� espera. O que n��o controla-

mos �� ativado por outra parte de nossa consci��ncia: o ego, a

mente em conflito, aquele pedacinho da mente que identifi-

camos como o eu, o meu ou o para mim.

Quando nos perguntamos o que queremos, estamos consul-

tando apenas esta parte de n��s mesmos. Trabalhamos incan-

savelmente por ela, protegemos seus limites e verificamos minu-

ciosamente o respeito e reconhecimento que ela conquista.

Observamos, vigilantes, cada um de seus desejos para verificar

se "n��s" estamos precisando de algo. Ironicamente, ningu��m

controla a forma����o desse "eu" controlador. Trabalhamos para

um tirano que n��o elegemos.

Embora o conjunto das necessidades do ego seja diferente

para cada indiv��duo, cegamente estabelecemos a nossa pr��pria

prioridade sobre qualquer outra coisa. Este ego��smo nos leva a

uma vis��o de mundo t��o estreita, mesquinha e desprez��vel, que,

no limite, se torna uma morte emocional. No entanto, fazemos

isso sem questionar as raz��es que nos levam a querer controlar

o mundo.

D o s milhares de fatores que se combinaram para dar forma ao

A c e i t a n d o a v i d a c o m o e l a �� 8 9

nosso ego, uma coisa �� certa: n��s n��o tivemos nenhuma partici-

pa����o ou controle. Do estado emocional de nossos pais quando

nos conceberam �� maneira como nossos genes se combinaram, o

que nossas m��es comeram, beberam ou fizeram durante a ges-

ta����o, o momento em que sua placenta rompeu, o tempo que

levou para chegar ao hospital, os solavancos do carro no cami-

nho, quem estava no plant��o, o tempo que durou o parto, se,

quando e por quanto tempo fomos amamentados no peito... Ufa!

E ainda nem chegamos perto de nossos "anos de forma����o"!

Conforme-se: nem um s�� desses fatores foi escolha sua. Mas,

ainda assim, voc�� se dedicar�� de cora����o, alma e mente a realizar

todas as vontades desse "eu" tir��nico, mesmo que n��o queira.

L O V E S T O R Y

Pouco antes de meu terceiro encontro com Gayle, dois colegas da

universidade perguntaram se eu estava levando a s��rio o namoro

com ela. Fiquei estarrecido com a pergunta. Imaginem... expliquei

que mal nos conhec��amos ��� que hav��amos passado apenas oito

horas juntos! Falei que ela tinha posi����es com as quais eu n��o con-

cordava quando o assunto era pol��tica e religi��o e que, al��m disso, ela

fumava, bebia e comia porcarias. Resumindo, perguntei: "Ser�� que

se pode levar a s��rio uma pessoa que ouve m��sica country...?"

Algumas horas depois, Gayle e eu est��vamos estacionados na

frente de uma cafeteria tentando decidir se quer��amos entrar. A

conversa foi mais ou menos assim:

��� Voc�� quer fazer alguma outra coisa? (eu)

��� ��, acho que sim... (Gayle)

��� Voc�� quer se casar comigo? (eu)

��� ��, acho que sim... (Gayle)

N �� s mor��vamos em Dallas, no estado do Texas, onde era pre-

9 0 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

ciso esperar tr��s dias para se casar. Uma hora depois est��vamos

na estrada, indo para a fronteira do estado do Oklahoma, onde

se pode casar na hora.

Mais ou menos no meio do caminho, Gayle me perguntou:

��� Voc�� acha que isso vai funcionar?

��� N �� o ��� eu disse. ��� E voc��, acha que isso vai funcionar?

��� N �� o ��� disse ela.

Duas horas depois, est��vamos casados. No caminho de volta

para casa, Gayle disse:

��� Espero que voc�� entenda que nenhum peda��o de papel d��

a qualquer homem direito sobre o meu corpo...

E, com isso, ela entrou em seu apartamento e desapareceu.

Durante quinze dias, n��o a vi.

N o s tornamos escritores numa hist��ria semelhante.

Tivemos nosso primeiro filho com uma hist��ria semelhante.

N o s tornamos ministros de nossa igreja numa hist��ria seme-

lhante. J�� deu pra entender, n��o ��?

Trinta e cinco anos depois, temos tr��s filhos maravilhosos (um

de um casamento anterior) e cinco animais de estima����o. Este ��

o nosso d��cimo quinto livro. Vivemos numa cidade onde a tem-

peratura pode chegar a 46 graus cent��grados no ver��o e, nas ��lti-

mas quatro noites, matamos noventa e tr��s escorpi��es adultos

nos jardins ao redor de nossa casa.

N o s s a vida �� como a das outras pessoas: umas coisas boas,

umas ruins. Ou seja: sem nenhum controle, como a vida de todo

mundo.

Algumas coisas s��o simples - e aqui est�� uma: voc��

pode relaxar e viver a sua vida e, com isso, ter�� paz. Se

tentar controlar a sua vida, optar�� por viver em guerra...

A c e i t a n d o a v i d a c o m o e l a �� 9 1

L i b e r t a �� �� o 1 1

Tempo sugerido: 2 dias ou mais

A. Assim que voc�� tomar consci��ncia de que est�� despertan-

do, observe a diferen��a entre o momento em que decide sair da

cama e o momento em que realmente se levanta.

B. Nesse mesmo dia, pense no que voc�� estar�� fazendo dentro

de cinco minutos. Fa��a perguntas bem espec��ficas:

Em que esp��cie de atividade me envolverei?

Que esp��cie de pensamento terei?

Como estar�� o meu humor e a minha disposi����o geral?

Quando os cinco minutos passarem, compare o que voc�� pen-

sou que estaria fazendo com o que est�� fazendo.

C. Recomendo que voc�� fa��a esse exerc��cio por dois dias

consecutivos.

L i b e r t a �� �� o 1 2

Tempo sugerido: 2 dias ou mais

��� N o s pr��ximos dois dias, observe a freq����ncia com que situa-

����es rotineiras n��o funcionam conforme o esperado. Este

exerc��cio exige um enfoque diferente. Estamos t��o habitua-

dos ao caos que em geral nem reparamos que, ao prestar

aten����o nas pequenas coisas, podemos controlar situa����es e

outros egos.

Nesses dois dias, observe cuidadosamente como o seu corpo

realiza coisas que voc�� fez a vida inteira, como cal��ar um sapa-

to, acender uma l��mpada, pentear o cabelo, servir-se de um

copo de leite. Questione se tudo o que est�� acontecendo �� l��gi-

co e esperado.

9 2 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

L i b e r t a �� �� o 1 5

Tempo sugerido: 2 dias ou mais

Antes de dormir, anote as seguintes palavras e coloque-as num

lugar em que possa v��-las quando acordar: Nada dar�� certo hoje. Por

isso, relaxarei e me divertirei.

Admito que se trata de um objetivo um tanto estranho, mas

ele p��e em pr��tica o que acabamos de discutir ��� ou seja: o

essencial para a liberdade mental �� ver o mundo exatamente

como ele �� e delicadamente recusar qualquer apelo interior ou

exterior para mudar nossa natureza b��sica. Isto n��o significa que

jamais implementaremos mudan��as que poderiam beneficiar as

pessoas a quem queremos bem e a n��s mesmos. A id��ia �� que as

mudan��as sejam feitas pacificamente.

N �� o se trata de uma declara����o pol��tica, um apelo ao pacifis-

mo ou ao ideal imposs��vel ��� �� uma simples observa����o de que

podemos optar entre caminhar calmamente para casa ou nos

arrastar com dificuldade at�� l��, chutando e gritando a cada

pequena dist��ncia que temos de atravessar.

Ultima recomenda����o: n��o fa��a mais do que um exerc��cio de

Liberta����o por dia. Cada etapa exige uma aten����o diferente e

mistur��-las reduz a percep����o do resultado de cada uma.

S e m d a r i m p o r t �� n c i a a o s r e s u l t a d o s

Como n��o podemos controlar nada, podemos pelo menos contro-

lar a decis��o de querer controlar. �� uma decis��o simples: podemos

nos desapegar e ser livres, ou lutar batalhas in��teis. N �� o podemos

fazer as duas coisas. Ou nossa aten����o est�� na forma ou est�� no con-

te��do. Abrir m��o do desejo de dominar o futuro, n��o sacrifica nada

real, mas liberta o cora����o e a mente para a sensa����o de plenitude.

A c e i t a n d o a v i d a c o m o e l a �� 9 3

Um exemplo de como o controle �� parecido com o amor, mas

acaba provocando a separa����o, �� a pol��tica que muitos pais e

m��es aplicam em casa, que �� o tal "jantar em fam��lia". Se todos

os envolvidos aceitam e desejam participar, ��timo, n��o s��o

exemplos de controle. Mas se o "jantar de fam��lia" se tornar um

acontecimento for��ado, podem aparentemente criar um quadro

de uni��o ��� todos agora est��o juntos �� mesa de jantar ���, mas,

no fundo, s��o realizados �� custa do verdadeiro amor e da ver-

dadeira uni��o.

Da mesma forma, quando um parceiro pressiona o outro para

terem rela����es sexuais com maior freq����ncia, ou para conversar

sobre "como foi o seu dia?", em vez de assistir a um programa na

televis��o, o resultado pode ser uma apar��ncia de maior afei����o,

mas no fundo est�� aumentando a dist��ncia e sentimento de se-

para����o. O controle cont��m elementos da guerra e, por isso, n��o

leva �� expans��o do amor.

P R O B L E M A D E C A S A L

H�� poucos anos, Gayle e eu aconselhamos Becka e Larry, um

casal que tinha um problema que cerca de 9 0 % dos casais costu-

mam ter: interesses sexuais diferentes. Larry queria ter rela����es

duas ou tr��s vezes por semana, Becka preferia uma ou duas vezes

por m��s. O casal havia chegado a um meio-termo: teriam rela-

����es sexuais todos os s��bados �� noite.

Larry achava que o fato de Becka n��o querer ter rela����es se-

xuais com a mesma freq����ncia que ele significava que ela n��o o

amava. E Becka acreditava que a necessidade que Larry tinha de

se masturbar era uma forma de infidelidade.

Primeiro, pedimos que cada um lembrasse de algo que aprecia-

va no outro, at�� completarem dez coisas. Este exerc��cio simples,

9 4 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

em geral, leva as pessoas a sa��rem de suas mentes conflitantes

para suas mentes pac��ficas, de sua separa����o para sua liga����o.

Em seguida, pedimos a Larry e Becka que fechassem seus

olhos e perguntassem a si mesmos qual era o objetivo do sexo no

casamento, que motivo teriam para manter rela����es sexuais e

qual seu papel no relacionamento.

Os dois essencialmente nos contaram a mesma coisa: queriam

que o sexo fosse um ato de amor e queriam que fosse algo que os

unisse mais.

Gayle, ent��o, se dirigiu a Larry:

��� Algum dia voc�� j�� fez uma refei����o t��o maravilhosa e comeu

tanto que simplesmente n��o podia dar mais uma ��nica garfada?

��� Muitas vezes... ��� disse Larry

��� Pense em como se sentiria se, toda vez que terminasse uma

refei����o como essa, Becka lhe dissesse: "Larry quero que voc��

coma outra refei����o do mesmo tamanho... e, se voc�� realmente

me ama, voc�� far�� isto agora mesmo." C o m o mulher, posso

garantir que essa �� a sensa����o que d�� ao pensar em ter rela����es

sexuais quando n��o se tem vontade.

De minha parte, tentei explicar para Becka a diferen��a entre

o desejo sexual da maioria dos homens e o das mulheres. Eu

disse a Becka que exigir que Larry tivesse apenas duas rela����es

sexuais por m��s sem direito nem mesmo ao seu prazer solit��rio

era como pedir que ele comesse apenas uma vez a cada dois ou

tr��s dias sem fazer um lanche...

O resultado da sess��o: Becka resolveu ser mais compreensiva e

deu uma semana de "passe livre", em que Larry poderia ter as

rela����es que desejasse com ela. Larry, por sua vez, concedeu a

Becka "cinco desejos" para que eles pudessem melhorar suas

rela����es sexuais. Os dois tamb��m decidiram pesquisar outras

Aceitando a vida como ela �� 95

experi��ncias er��ticas. Mais importante ainda, eles tentariam ou-

tras abordagens at�� encontrarem uma que funcionasse. Em outras

palavras: concordaram em resolver o problema de algum modo.

Meses depois, eles nos contaram que, ap��s uma s��rie de erros

e tentativas, chegaram a uma abordagem "bastante agrad��vel" e

que o sexo j�� n��o era mais problema. Eu bem gostaria de poder

dizer que eles tiveram uma fabulosa vida sexual para sempre ���

mas uma vida sexual agrad��vel, com apenas uma e outra dificul-

dade, j�� �� um sucesso...

Evidentemente, nem todos os casais resolver��o este tipo de

problema t��o rapidamente quanto Becka e Larry, mas �� instruti-

vo entender o que levou os dois a se acertarem:

1. Eles pararam de tentar controlar um ao outro.

2. Os dois mudaram o foco de suas necessidades individuais

para as de um casal.

3. Olhando-se com afeto, viram que cada um queria tornar

mais f��cil a vida do outro e decidiram escutar as necessi-

dades do outro.

4. Os dois fizeram um plano e experimentaram, compreendendo

que se partes desse plano n��o funcionassem, eles continuariam

tentando at�� encontrarem uma solu����o que agradasse aos dois.

Resumo: desistiram de tentar controlar e admitiram que s�� ��

poss��vel controlar a pr��pria aten����o. Se nos concentrarmos no

que une, conforta e tranq��iliza a nossa mente, e n��o deixarmos

nenhum pensamento bloquear essa concentra����o, saberemos

quando encontrarmos aquilo em que acreditamos mais profun-

damente porque nos sentiremos felizes. Este sentimento

mostrar�� a sua liga����o e a sua uni��o com as pessoas �� sua volta.





Seis


A p r e n d e n d o a f i c a r l i v r e

do c o n f l i t o i n t e r i o r

Sei muito bem que identificar e limpar a mente de pensa-

mentos perturbadores �� algo que vai contra os valores do

momento atual. Nossa cultura valoriza muito tudo o que �� per-

turbador, como algo pleno de significado e profundidade. Ban-

das de rock pauleira, apresentadores de programas tipo "mundo

c��o" e celebridades espalhafatosas n��o poupam esfor��os para

"sacudir a apatia da plat��ia". C o m ret��ricas cheias de antagonis-

mos, eles polarizam as opini��es e s��o muito bem recompensados

n��o s�� financeiramente, mas acima de tudo com os spots mais

brilhantes da m��dia.

Quando estamos perturbados, temos a ilus��o de estar fazen-

do algo importante, cheio de significado. �� como se a pertur-

ba����o fosse, por si, uma realiza����o. Um b o m exemplo s��o as

pessoas que l��em regularmente as se����es de editorial e opini��o

dos jornais ��� em geral, consideradas "mais profundas" do que

as que n��o l��em. C o m o raros s��o os jornais que oferecem uma

se����o de igual tamanho com os caminhos que o leitor pode to-

mar para ajudar a resolver os problemas suscitados nos artigos,

resta o jogo de cena. Id��ntico, ali��s, ao que acontece com aque-

les que saem do cinema, depois de assistirem a um filme insti-

gante, decididos a fazer alguma coisa em rela����o �� quest��o

9 8 N �� o leve a vida t �� o a s �� r i o

apresentada. Elas ficam animadas para falar sobre a tal quest��o,

mas n��o passa disso.

Estamos, de certa forma, viciados numa boa briga. Mas ficar

indignado, escolher um culpado e assumir uma posi����o forte j�� ��

mais do que satisfat��rio. Lembre-se que s�� a tranq��ilidade, e n��o a

perturba����o, alcan��a as profundezas de nossa mente. Para chegar a

nossas convic����es mais profundas, escutar nossas intui����es e lem-

brar nosso amor pelas pessoas, s�� mesmo apostando na paz interior

��� n��o em palavras suaves, atitudes t��midas e lealdades inst��veis.

A perturba����o mental impede que voc�� escute e sinta seus

verdadeiros pensamentos e sentimentos. C o m a mente livre, a

tranq��ilidade assume seu lugar ��� e voc�� conseguir��, enfim, per-

ceber o sol que delicadamente se ergue, enquanto folhas se

abrem e p��ssaros cantam.

Desvendando as motiva����es inconscientes

Talvez em nenhum outro setor da vida a convic����o de que

pensamentos perturbadores s��o nocivos fique mais evidente do

que nas rela����es amorosas. O tempo e a energia que despen-

demos tentando convencer nossos parceiros de que estamos cer-

tos �� impressionante. Poucas pessoas fazem algum tipo de esfor-

��o para superar um problema no relacionamento ��� a maioria

absoluta prefere defender seu ponto de vista.

Os problemas que afetam a maior parte dos casais que Gayle

e eu aconselhamos todos os anos s��o bem mais significativos do

que a amizade que os une. A maior queixa se resume a quanto

eles se sentem insatisfeitos e desrespeitados pelo parceiro (ou

parceira). O conflito, em geral, leva �� separa����o, que at�� �� bas-

tante eficiente no que se refere a filhos e finan��as, mas um fra-

casso no que se refere ao lado emocional.

Aprendendo a ficar livre do conflito interior 99

A maioria monta uma hist��ria detalhada sobre o relaciona-

mento frustrado e sai contando para todo mundo, como se ali-

mentar opini��es alheias, m��goas e rabugices fosse um caminho

para a liberdade e a sa��de mental. O resultado �� um mergulho

profundo em pensamentos negativos. Este v��cio emocional faz

com que as pessoas levem para seu pr��ximo relacionamento,

pensamentos muito intensos do que passaram na rela����o anterior.

Elas agem como um "viciado", que �� v��tima de seu passado, n��o

do presente.

Assim como os drogados v��em a realidade se alterar diante de

seus olhos, quando um novo relacionamento �� visto sob as lentes

de um relacionamento antigo, a causa da distor����o n��o �� evi-

dente nem termina em minutos ou horas, como acontece quan-

do a droga desaparece e seu usu��rio v�� novamente a cena origi-

nal. Cada falha em um novo relacionamento refor��a essa dis-

tor����o e um belo dia o amor se esgota. N �� o importa que racio-

nalmente voc�� perceba que esses sentimentos s��o irracionais ���

sua impress��o imediata corre sempre o risco de ser distorcida

pelas influ��ncias recebidas no passado.

N �� o �� poss��vel experimentar o potencial do novo relaciona-

mento se voc�� ainda est�� vivendo o antigo de corpo e alma. A

boa not��cia �� que as pessoas que conseguem se livrar dessa "ba-

gagem" emocional, conquistam a liberdade. N �� o importa o

quanto tenham sido magoadas, se elas se conscientizarem desses

pensamentos, podem escolher como querem se sentir ou agir.

A c o n s c i �� n c i a �� a m a i o r a r m a

Sempre que sua mente achar que a hist��ria est�� se repetindo,

reagir�� destruindo o novo relacionamento. Por isso, identifique

logo se voc�� ainda est�� apegado a algum relacionamento frus-

1 0 0 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

trado e mude o seu modo de pensar: voc�� por acaso diz que n��o

"ag��enta" aquela pessoa, que ela deixa voc�� "doente", que "d��

arrepio s�� de pensar" nela, que tem "sorte" de ter sobrevivido ao

relacionamento, que ela "precisa de ajuda", que �� "realmente"

muito neur��tica, que aprendeu "a li����o", que �� uma "sorte" estar

"fora daquilo", que "nunca mais" cometer�� "aquele erro de

novo"?

O que podemos fazer com estes pensamentos destrutivos?

Examine-os friamente e solte-os. Isto funciona com qualquer

tipo de relacionamento que tenha dado errado.

Se voc�� n��o aprender mais nada com este livro, por favor

guarde isto: voc�� age com base no que acredita. Se con-

tinuar acreditando, agir�� da mesma forma repetidamente.

L i b e r t a �� �� o 1 4

Tempo sugerido: 1 dia ou mais

��� Este exerc��cio exige total honestidade e aten����o. Portanto,

arranje vinte minutos ou mais de seu tempo e v�� para um

lugar onde n��o haver�� nenhuma interrup����o. Leve papel e

l��pis para escrever e acomode-se confortavelmente.

��� Nesse per��odo de recolhimento, concentre-se apenas no

primeiro relacionamento que tenha dado errado na sua vida.

Comece por aquele que acredita ter sido o mais influente.

Sei que n��o �� muito agrad��vel pensar nas poss��veis falhas de

relacionamento com pessoas que voc�� ama. Na verdade, apren-

demos mais depressa e mais profundamente se examinarmos

com honestidade nossos pr��prios erros e os erros dos outros.

Encare essas experi��ncias como li����es.

Aprendendo a ficar livre do conflito interior 101

��� Comece com a sua mem��ria mais antiga desse relacionamen-

to e prossiga em ordem cronol��gica at�� o presente. Se, a certa

altura, o relacionamento deu uma reviravolta e se tornou po-

sitivo, continue apenas at�� o final do per��odo negativo.

Examine cuidadosamente qualquer evento que ainda lhe seja

perturbador. Memorize as emo����es que sentiu e, se puder, os

pensamentos que teve durante a perturba����o. Passe ent��o ao

evento seguinte.

��� Seria melhor n��o ter mais de duas sess��es desse tipo por dia,

embora seja recomend��vel repeti-las quantas vezes forem

necess��rias para cobrir o per��odo deste ��nico relacionamento.

��� Quando chegar ao fim, resuma a atitude ou o pensamento cen-

tral que surgir em sua mente ao rever essa lista. Este ser�� um de

seus pensamentos D (desencadeadores de alguma emo����o).

L i b e r t a �� �� o 1 5

Tempo sugerido: 1 dia ou mais

��� Pense no relacionamento amoroso mais recente que deu

errado. Siga o mesmo procedimento usado na Liberta����o 14 .

��� Depois de ler e resumir sua lista de pensamentos sobre este

relacionamento, compare com o resumo que escreveu para a

Liberta����o 14. Selecione um pensamento que seja comum a

ambas. Exemplo: se o pensamento que resume a Liberta����o

14 foi "Sempre sou eu quem causa o problema" e o pensa-

mento que resume a Liberta����o 15 foi "N��o importa o que

eu fa��a, nunca �� o bastante", um pensamento que cobriria os

dois poderia ser: "Estou sempre causando problemas para

todo mundo, porque nunca vou at�� o fim das coisas." Natu-

ralmente, este seria o seu pensamento D mais detalhado.

1 0 2 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

As Liberta����es 14 e 15 s��o bons exerc��cios de intui����o. Tente

sentir qual foi a heran��a do antigo relacionamento que ressurgiu

no atual. Lembre-se: a consci��ncia �� o fator essencial para a

limpeza da mente e para sua integra����o.

A I M A G E M D E " P E R D E D O R A "

Gayle recebeu um e-mail de uma certa Maggie, contando que

h�� mais ou menos seis meses havia come��ado a notar que se sen-

tia triste depois de sua conversa semanal por telefone com a

m��e. Gayle perguntou se isso j�� acontecera antes. Maggie disse

que n��o, sua m��e era muito saud��vel e nada de incomum lhe

acontecera nos ��ltimos tempos.

Gayle disse a Maggie que, ap��s os telefonemas das pr��ximas duas

semanas, se concentrasse na tristeza que sentia e anotasse todos os

pensamentos que passassem pela sua cabe��a naquele instante.

Duas semanas depois, Maggie enviou um e-mail contando que

as palavras perdedora e voc�� �� uma perdedora n��o sa��am de sua

cabe��a, e dizia: "...mas minha m��e n��o �� uma perdedora. Ela ��

uma professora muito popular entre os alunos e at�� ganhou um

pr��mio. E eu tenho uma carreira maravilhosa como terapeuta

f��sica e tamb��m n��o me considero perdedora."

Gayle sugeriu que Maggie procurasse em sua mem��ria tudo o

que houvesse em torno da palavra perdedora e que anotasse os

pensamentos que lhe ocorressem depois de mais um telefonema

�� m��e. Na semana seguinte, Maggie enviou outro e-mail, desta

vez excitad��ssima com o que havia descoberto.

Seis meses antes, seu pai, que se divorciara quando Maggie

tinha dez anos, viera �� cidade e os dois haviam almo��ado juntos.

Naquele momento, o pai contara para Maggie que se divorciara

de sua m��e porque "ela era uma perdedora", que n��o tinha ne-

A p r e n d e n d o a f i c a r l i v r e d o c o n f l i t o i n t e r i o r 1 0 3

nhum objetivo maior do que ser professora de escola prim��ria. O

pai de Maggie era m��dico e tinha ido embora com uma m��dica.

Gayle perguntou a Maggie se havia algum aspecto em sua vida

que n��o dera certo. Maggie respondeu que estava com trinta e sete

anos e jamais conseguira manter um relacionamento permanente.

Disse que o homem que estava namorando queria casar, mas algo a

impedia de aceitar. Ele era maravilhoso, mas ela se sentia relutante.

Mais uma vez Gayle sugeriu a Maggie que refletisse calmamente

sobre aquela emo����o e anotasse todos os seus pensamentos. Desta

vez, ela devia anotar tudo o que sentisse sobre essa relut��ncia.

No pen��ltimo e-mail, Maggie contou a Gayle que desvendara

um pensamento muito louco. "Era o seguinte: se eu me casar, me

tornarei uma perdedora. C o m o posso ter pensado uma coisa

dessas?" Gayle respondeu: "Porque voc�� viveu durante muitos

anos em uma casa onde seu pai tinha a profunda convic����o de

que a sua m��e era uma perdedora. Voc�� �� metade seu pai e me-

tade sua m��e, de modo que naturalmente internaliza esse pen-

samento da perdedora ��� que se mostrou forte o bastante para

romper o seu lar."

No ��ltimo e-mail, Maggie contou a Gayle que havia discutido

o assunto com o namorado e que ele a apoiara. Embora ainda

n��o houvesse decidido se casar, ela o convidara para se mudar

para sua casa. Os dois veriam como a coisa funcionaria...

C o m o na hist��ria de Maggie, a maioria das pessoas com quem

Gayle e eu trabalhamos identificam como origem de seu pensa-

mento D uma experi��ncia da inf��ncia. N �� o �� coincid��ncia que

esses pensamentos D ��� os pensamentos desencadeadores ��� se-

jam irracionais. Apenas uma compreens��o mais profunda de

suas origens pode tirar sua for��a. �� dif��cil acreditar que uma

id��ia t��o rid��cula como "Meu pai achava que a minha m��e era

I 0 4 N��o leve a vida t��o a s��rio

uma perdedora, portanto, eu me tornarei uma perdedora se me

casar" poderia ser respons��vel por quinze anos de incapacidade

de aceitar um compromisso. �� claro que n��o deveria ter aconte-

cido... mas aconteceu!

N��o perca seu tempo julgando seus pais. Eles tamb��m

tiveram pais...

As pessoas discutem o que seus pais fizeram em tom indigna-

do. Todos n��s cometemos este equ��voco, mas em algum mo-

mento temos de admitir que as ��nicas perguntas significativas a

fazer sobre o passado s��o as seguintes: "Quando aceitarei o fato

de que o que aconteceu, aconteceu?" e "Quando aceitarei a

responsabilidade pelo ego que tenho?".

L i b e r t a �� �� o 16

uma liberta����o de necessidades especiais

Este exerc��cio �� espec��fico para os que tiveram uma s��rie de

relacionamentos amorosos que n��o deram certo. Se voc�� repeti-

das vezes chegou a pensar que estava envolvida e esse relaciona-

mento terminou, �� bastante prov��vel que esteja ocorrendo algo

mais do que puro azar. Um ind��cio importante �� ver se existe

alguma semelhan��a na maneira como a maioria deles termina.

Por exemplo: se �� voc�� quem vai embora ou se �� a outra pessoa,

se a outra pessoa �� casada ou est�� envolvida em outro relaciona-

mento, se o rompimento �� por causa do dinheiro ou se �� porque

a outra pessoa n��o quer se comprometer.

Sua rea����o emocional pode ser o fator comum ��� alguma ca-

racter��stica da apar��ncia da outra pessoa (maneira de andar, falar,

Aprendendo a ficar livre do conflito interior 1 0 5

comer, se vestir) que se torna um inc��modo a ponto de voc�� usar

aquilo como desculpa para o rompimento; algo que surge nas

conversas (a maneira como analisa ou deixa de analisar um as-

sunto, sua cultura, suas id��ias pol��ticas) se torna uma obsess��o

negativa, ou ent��o alguma emo����o bem conhecida (necessidade

de ir embora e sentir-se livre, crescente inquietude, nervosismo

ou perturba����o generalizada, inseguran��a ou paran��ia) faz voc��

enxergar cada vez mais "cart��es vermelhos".

Sempre haver�� um ou dois encerramentos que foram exce-

����es, mas, se a maioria tiver semelhan��as na a����o ou no senti-

mento, �� ind��cio da atua����o de um pensamento D.

O exerc��cio seguinte �� especialmente eficaz para desvendar

os pensamentos que tomam conta dos sentimentos e percep-

����es, assegurando o fim de cada relacionamento novo. Para que

esta Liberta����o funcione, �� essencial a sua disposi����o de realiz��-

lo por inteiro.

��� Come��ando pelo seu mais recente relacionamento amoroso

(a n��o ser que o tenha usado na Liberta����o 15), inicie com o

primeiro sentimento ou evento perturbador que tenha ocor-

rido e reexamine-o t��o detalhadamente quanto poss��vel.

Anote tudo o que lembrar sobre esse primeiro pequeno pro-

blema ou grande abalo, inclusive os pensamentos que pas-

saram pela sua cabe��a naquele momento.

��� Depois de reexaminar inteiramente essa primeira pertur-

ba����o, volte ��s origens de cada pensamento anotado. O que

aconteceu pouco antes da perturba����o que este pensamento

faz recordar? O que aconteceu antes disso? E assim por

diante, v�� ao passado mais distante que conseguir lembrar.

�� importante n��o analisar o significado de cada pensamento.

Preste aten����o apenas no que pode ver. Quando n��o estiver ven-

1 0 6 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

do mais nada, passe para o pr��ximo pensamento e continue at��

ter seguido a pista de todos.

��� Escolha agora o sentimento ou evento perturbador seguinte

ao primeiro relacionamento que deu errado e elabore da

mesma maneira. Depois, fa��a o mesmo exame em seu pen��l-

timo relacionamento falho. Continue com cada relaciona-

mento, at�� chegar ao primeiro que n��o deu certo.

��� Leia tudo o que escreveu, se poss��vel numa ��nica sess��o. Os

pensamentos inconscientes que assumiram o controle da sua

vontade estar��o claros como o dia.

E s c a p a n d o d o s b l o q u e i o s q u e a t r a p a l h a m o s

r e l a c i o n a m e n t o s

Para p��r em pr��tica as conquistas obtidas com a Liberta����o

16, escolha um parceiro adequado. N �� o �� l�� muito espiritual ou

"emocionalmente correto" utilizar-se de classificados, caixas

postais da Internet, freq��entar bares de solteiros ou lugares e

eventos onde �� prov��vel que esteja o tipo de pessoa por quem

voc�� procura. Mas n��o h�� mal algum em testar sua disposi����o

mental para um relacionamento permanente e feliz.

�� tolice afirmar que seja mais natural esperar que as coisas

importantes venham at�� n��s. Existem hist��rias de encontros

maravilhosas. H�� pessoas que pesquisam bastante quando est��o

procurando uma crian��a para adotar. Quando se trata de encon-

trar um bom parceiro, parece que ��� n��o se sabe l�� o motivo ���

se espera que de alguma forma o universo, ou Deus em pessoa,

providencie o servi��o. Se existem algumas batalhas in��teis das

quais podemos nos libertar, essa, com certeza, �� uma delas!

Aprendendo a ficar livre do conflito interior 1 0 7

Dizendo n��o aos pensamentos chiclete'

Se voc�� observou direitinho seus pensamentos, deve ter nota-

do que um desfile de imagens e id��ias passa sem parar pela sua

mente. De vez em quando h�� um pensamento que prende a nos-

sa aten����o, e come��amos a rumin��-lo. �� o "pensamento-chi-

clete". Entender como esse tipo de pensamento funciona pode

ser muito ��til no processo de desprendimento de emo����es

menores. Veja por qu��:

��� Qualquer pensamento em que n��o acreditamos ou que n��o

consideramos importante n��o perturbar�� nossa integridade

e paz.

��� Qualquer pensamento que nos preocupa causa emo����es per-

turbadoras (medo, raiva, preocupa����o, ��dio, des��nimo, an-

siedade, inveja, ci��me e afins).

��� Pensamentos que produzem emo����es perturbadoras nos

fazem tomar decis��es conflitantes.

��� Todos os pensamentos que produzem emo����es perturbado-

ras cont��m amplos aspectos inconscientes ��� ou seja, vemos

apenas uma parte do pensamento.

��� O aspecto inconsciente do pensamento provoca fasc��nio e

muitas vezes nos vicia.

��� N �� o adianta acrescentar pensamentos positivos a uma

emo����o perturbadora. Isso apenas divide a mente ainda mais.

��� A parte inconsciente ��� e n��o a consciente ��� do pensamen-

to dita as emo����es que sentimos.

��� Fixar um pensamento �� uma escolha. Somos livres para in-

verter ou alterar essa escolha no momento desejado.

��� Uma forma de libertar um pensamento preocupante �� torn��-

lo consciente. Ao enxerg��-lo em sua plenitude, n��o acredita-

mos nele, n��o o desejamos e de b o m grado o libertamos.

1 0 8 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

L i b e r t a �� �� o 1 7

Tempo sugerido: 1 dia ou mais

Enquanto observamos calmamente o desfile de pensamentos

passar �� nossa frente, n��o causamos nenhum problema. Se sa��mos

atr��s de algum pensamento que acidentalmente atravessa nossa

cabe��a, imediatamente damos in��cio a tumultos mentais in��teis.

��� Pratique hoje, e amanh�� se puder, o que poder�� ser o in��cio

de um h��bito de toda a sua vida. Sempre que tiver um mo-

mento de calma, observe cada pensamento que surgir em sua

mente e a emo����o que vier atr��s dele. Seu ��nico objetivo ��

examinar com clareza cada pensamento e reagir com sere-

nidade. N �� o ataque, n��o julgue, n��o venere, apenas reconhe-

��a a sua presen��a e observe.

��� Enquanto estiver na posi����o de espectador, voc�� talvez note

um lugar na sua consci��ncia em que j�� sente calma e felici-

dade. Neste lugar, voc�� pode ignorar o desfile de pensamen-

tos com seguran��a.

D e i x a n d o a t r i s t e z a p a r a t r �� s

Um excelente maneira de se desapegar dos conflitos �� mer-

gulhar a mente na serenidade. N �� o importa se retiramos o lixo

mental por meio da consci��ncia ou inundando a mente com

pureza, pois o resultado ser�� o mesmo: a mente sem conflitos. ��

bom ter as duas op����es, limpeza e imers��o na consci��ncia. C o m

certeza haver�� momentos em que algum pensamento pertur-

bador v�� se agarrar com tal for��a em nossa mente que teremos

de solt��-lo antes que a imers��o seja poss��vel.

O problema n��o �� a incapacidade de limpar nossas mentes. Na

verdade, n��s as inundamos com muitas mem��rias e linhas de pen-

A p r e n d e n d o a f i c a r l i v r e d o c o n f l i t o i n t e r i o r 1 0 9

samento. Podemos escolher o caminho do divertimento para limpar

a mente em vez do caminho que a polui. O riso, a gargalhada que

aproxima as pessoas, tem a capacidade de nos libertar instantanea-

mente da ansiedade, do des��nimo e de todos os estados fragmenta-

dos. Muita gente pensa que s�� pode come��ar a rir se for surpreen-

dida, mas o riso ��, na verdade, uma forma de desprendimento.

C o m o j�� mencionei, as crian��as pequenas chegam ao mundo

exercendo naturalmente a capacidade do desapego por meio do

divertimento e do deleite. Elas sorriem trinta e cinco vezes mais do

que os adultos. Elas se divertem por antecipa����o e, por isso, con-

seguem evitar que pensamentos perturbadores se instalem em

suas mentes. Instintivamente, elas passam de um tema pertur-

bador para um tema prazeroso.

O C A �� A D O R D E P E S A D E L O S

H�� alguns meses recebemos a visita de um amigo. Ele com-

prou um "ca��ador de sonhos" numa loja que vende artefatos dos

��ndios norte-americanos. O objeto tem a forma de uma redezi-

nha redonda, feita com uma trama de couro cru e contas e penas

especiais para "limpeza". Colocada acima da cama, ele "ca��a" os

sonhos ruins antes que estes possam entrar no seu sono, mas

deixa os sonhos bons passarem.

N o s s o amigo nos disse que era um presente para a filha dele,

Sarah, de quatro anos, que nas ��ltimas semanas estava tendo

uma s��rie incomum de pesadelos. Ela adorou o presente e deu

um enorme abra��o no pai. Naquela mesma noite, Sarah saiu da

cama e foi at�� o quarto dos pais:

��� Papai, preciso do meu ca��ador de sonhos agora!

Nosso amigo foi at�� o quarto de Sarah e olhou em volta,

procurando um lugar para pendur��-lo. O ca��ador de sonhos n��o

1 1 0 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

apenas deve ser pendurado acima da pessoa que sonha, mas tam-

b��m num ponto em que os raios do sol caiam sobre ele. Os so-

nhos ruins se dissolvem como o nevoeiro que desaparece com a

luz e o calor do sol matinal. N �� o havia um lugar ideal, mas como

o tom da voz de Sarah era de emerg��ncia, ele decidiu prender o

artefato no ventilador do teto. Quando conversei com ele

muitos meses depois, soube que Sarah nunca mais tivera ne-

nhum pesadelo. O presente a deixara t��o feliz que ela rapida-

mente trocou a infelicidade pela felicidade.

Muita gente questiona essa abordagem, alegando que ela n��o

chegaria ao que estava causando os pesadelos. Em mentes cheias

de conflito como as dos adultos, talvez seja verdade, mas crian-

��as da idade de Sarah n��o possuem muita coisa oculta, como

demonstrou o fato de que os pesadelos nunca mais voltaram.

U M P A I J U S T O

Um indiv��duo ligou para minha casa e perguntou:

��� Quem est�� falando?

��� Hugh Prather ��� respondi.

��� O meu telefone registra uma liga����o feita da sua casa.

��� Que liga����o? ��� perguntei.

��� Um menino ligou para minha casa e pediu para falar com a

minha filha. Eu lhe disse que ela n��o estava e perguntei quem

estava falando. Ele disse: "N��o se preocupe, eu a encontrarei

daqui a uma hora no jogo" e desligou.

Pedi ao pai que aguardasse e perguntei a meu filho de quinze

anos e seu amigo se eles sabiam que hist��ria era aquela. Tinha

sido o amigo de meu filho. Quando voltei ao telefone e confirmei

que a chamada fora feita de minha casa, ele disse que havia grava-

do a liga����o e que eu poderia ir at�� l�� para escut��-la e ouvir com

Aprendendo a ficar livre do conflito interior 111

meus pr��prios ouvidos que o menino n��o tinha dado seu nome.

Falou ainda que nada sabia sobre a minha casa, mas que na dele

esse tipo de comportamento n��o era tolerado. Perguntei-lhe se j��

recebera alguma outra liga����o do meu telefone. Ele me disse que

este n��o era o caso. A quest��o �� que dev��amos ensinar aos nossos

filhos um "comportamento moral" ��� e bateu o telefone.

Mais tarde, naquele mesmo dia, meu filho e o amigo voltaram

contando que o pai da garota fora ao jogo e se enfurecera com a

filha por ter "esse tipo de amigos". Disseram ainda que, assim

que o pai se afastou, contaram a ela o que havia acontecido.

��� Ela ficou furiosa porque o pai dela ligou pra c��! ��� infor-

maram os dois, exultantes.

Os adolescentes costumam n��o deixar seus nomes. Se esta

pequena caracter��stica do comportamento humano pode causar

esse tipo de enfrentamento, que chance tem esse indiv��duo de

algum dia experimentar um ��nico dia de paz e felicidade?

Dentro de suas mentes, os que se acham superiores

est��o em guerra com os outros.

N �� o foi a liga����o o que deixou esse pai t��o perturbado, mas

sim a imagem fragmentada que ele tem de si mesmo. Na sua

cabe��a, ele era um indiv��duo cheio de corre����o e virtudes... por-

tanto, algu��m com quem n��o se brinca. A aus��ncia de humor

desse pai bloqueou sua intui����o e experi��ncia. Fez com que

entendesse de maneira equivocada a motiva����o e presumisse que

a inten����o do menino que telefonou fosse desrespeit��-lo. Entre

se divertir e se sentir ofendido, ele s�� conseguiu se isolar e se

incomodar, principalmente consigo mesmo.

1 1 2 N �� o leve a vida t �� o a s �� r i o

U M C A S A L F L E X �� V E L

Duas semanas antes do incidente relatado, um casal me con-

tou que seu filho de nove anos fora brincar com algumas crian��as

do outro lado da rua e uma meninazinha de cinco anos, de

repente, lhe deu um pontap��. Numa rea����o, por reflexo, o meni-

no atingiu a boca da menina, fazendo cair um dente de leite que

j�� estava solto. Quando o pai e a m��e da menina viram a filha

chorando, com a boca sangrando e segurando o dente na m��o, o

menino j�� havia atravessado a rua. Furioso, o pai foi atr��s do

menino, levantou-o no ar pela gola e sacudiu-o. Depois arrastou-o

para seu lado da rua e gritou com ele durante muitos minutos.

O casal me contou que, ao descobrir o que havia acontecido,

primeiro examinou cuidadosamente o filho para ver se ele esta-

va bem f��sica e emocionalmente. Depois, o impulso dos dois foi

atravessar a rua e devolver o ataque ou, como eles disseram, ten-

tar sentirem-se melhor fazendo o outro sentir-se pior.

�� interessante que, em situa����es que envolvem nossos filhos,

quando o desejo de devolver um ataque �� examinado em min��-

cias, vemos que o que nos faz reagir �� principalmente indigna����o

pela maneira como a crian��a foi tratada. E n��o necessariamente

um desejo de melhorar o bem-estar dela. De alguma forma, os

pais do menino conseguiram parar e refletir sobre como pode-

riam realmente ajudar seu filho. Em primeiro lugar, fizeram-no

saber que, embora ele houvesse cometido um erro, o pai da me-

nina cometera outro. Resumindo, disseram que estavam a seu

lado. Foi preciso mais de uma hora para os tr��s decidirem tran-

q��ilamente o que desejavam fazer. Depois de algum tempo,

chegaram a um plano com que todos concordaram.

A fam��lia atravessou a rua e tocou a campainha. A m��e abriu

a porta pronta para uma briga. Eles apenas disseram o quanto

Aprendendo a ficar livre do conflito interior 1 1 3

gostavam da menina, o quanto apreciavam aqueles vizinhos e o

quanto lamentavam o incidente. Conforme haviam planejado,

n��o disseram uma palavra sobre o que seu marido fizera. De

repente, a m��e da menina come��ou a chorar e a pedir desculpas

pela maneira como seu marido tratara o menino. Evidentemen-

te, a rea����o da m��e depois de abrir a porta poderia ter sido com-

pletamente diferente. Ela poderia ter recusado as desculpas,

poderia ter batido a porta na cara dos vizinhos, poderia tentar

process��-los ou chamar a pol��cia.

Os pais do menino uniram suas mentes em torno do amor pelo

filho para fazerem o melhor. Conseguiram acalmar o que poderia

evoluir e se transformar numa situa����o extremamente problem��tica.

L i b e r t a �� �� o 1 8

Tempo sugerido: 2 dias ou mais

A. Uma ou duas vezes por dia, fa��a o seguinte exerc��cio: deter-

mine dois pontos e enquanto caminha de um para o outro, repi-

ta silenciosamente:

��� Enquanto caminho de para (desta cadeira at�� a

porta, do quarto para a cozinha), olharei com bom humor

para tudo o que estiver na minha frente.

B. No mesmo dia em que fizer o exerc��cio A, separe tamb��m

uma ou duas tarefas que exigem pouco tempo e, antes de

come��ar, repita:

��� Enquanto eu estiver (largando isto na loja, dando

comida para o gato, lavando esses pratos), olharei com bom

humor para tudo o que acontecer.

At�� mesmo se voc�� fizer A e B com certo des��nimo, come��ar��

a lembrar como era olhar o mundo com olhos cintilantes.

1 1 4 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

Para praticar o bom humor por antecipa����o:

��� Observe que a mente em conflito �� temporariamente deixada

de lado em favor de uma disposi����o mais simples e tranq��ila.

��� Observe como esta sua nova disposi����o permite que voc��

veja mais detalhes e nuances das situa����es nas quais voc�� se

envolve.

��� Observe como esta sua nova disposi����o lhe permite relaxar

mais e aceitar as pessoas e as situa����es como elas s��o.

��� Observe que sempre que opta por se divertir, voc�� �� mais

��til para si e tamb��m para os outros ��� e sem sequer ter de

pensar nisso...





Sete


A b r i n d o m��o

da " s i n c e r i d a d e "

Em nome da simplicidade, vou chamar nossa capacidade de

ver e sentir o que acreditamos ser real, mesmo quando n��o

�� o caso, de "proje����o". C o m o a maioria das pessoas projeta

inconscientemente, �� dif��cil reconhecer as oportunidades em

que essa habilidade mental se torna uma vantagem. Uma, no

entanto, �� inequ��voca ��� tem a ver com as pessoas com quem

temos dificuldade de lidar.

Pessoas "dif��ceis" de ag��entar, que "for��am a barra", que "n��o conseguimos suportar" despertam fortes emo����es na vida de

cada um de n��s. Elas, sem d��vida, representam alguma coisa

sobre n��s mesmos de que n��o temos plena consci��ncia. Sei que

�� dif��cil acreditar, mas n��o deixa de ser ��til t��-las por perto, para

nos lembrar de que ainda h�� muito trabalho a fazer.

Ningu��m �� obrigado a correr riscos, nem a conviver com

algu��m perturbador. Al��m disso, �� bom ficar claro que descarto

a verdade de nossa percep����o intuitiva, que nos permite ver a

desonestidade nos desonestos, o preconceito nos preconceituo-

sos e a crueldade nas pessoas cru��is. �� bom deixar claro que nem

todo indiv��duo arrogante ou perverso �� uma proje����o ��� eles

existem, infelizmente.

Me refiro principalmente ��quele tipo de pessoa que nos irrita,

116 N��o leve a vida t��o a s��rio

que nos deixa desconcertado, que nos coloca contra a parede. A

proje����o, nesse caso, est�� na nossa rea����o, acrescida ao que in-

tu��mos. Podemos sentir que determinado indiv��duo tem "um to-

que" de mesquinharia, sem acrescentar nenhum ju��zo de valor.

No momento em que pensamos, sentimos e julgamos, estamos

fazendo uma proje����o. A condena����o pode parecer muito ho-

nesta, mas este �� o tipo de honestidade que �� melhor dispensar.

Desfazer uma proje����o exige que tenhamos a exata percep����o

do que representam para n��s as pessoas em rela����o ��s quais rea-

gimos. Qual �� a import��ncia e o simbolismo de seu comporta-

mento? De que anseios, pensamentos ou motivos nos fazem

lembrar? O desafio �� desvendar a parte de nosso ego que n��o es-

tamos conseguindo enxergar, ainda que, "sinceramente", acredi-

temos estar vendo em outras pessoas.

Um exemplo de como funciona esse tipo de proje����o incons-

ciente �� a hist��ria do menininho que espanca seus bichinhos de

pel��cia numa reprodu����o do que acontece com ele. O menino

faz serm��es ao elefante, diz que ele foi mau, diz que o que ter��

de fazer ir�� machucar mais a si mesmo do que ao elefante. A��,

bate no elefante, dizendo: "N��o! N �� o ! N �� o ! N��o!" Naquele mo-

mento, o menininho n��o tem a menor d��vida de que o elefante

�� mau. Na realidade, ele, inconscientemente, acredita ser um

garoto mau.

O u s o consciente da p r o j e �� �� o mental

Uma vez que descobrimos a parte em n��s que essas pessoas

representam, n��o devemos rejeit��-la. Ao contr��rio, temos que

aceit��-la como um aspecto ineg��vel de nosso ego. Neste contex-

to, aceitar significa admitir ser como somos. A partir da��, fica-

mos em posi����o de escolher n��o ampliar essa parte de nossa per-

A b r i n d o m �� o d a " s i n c e r i d a d e "





1 1 7


sonalidade ��� mas sim uma outra parte, mais profunda, livre e

cheia de amor.

Um forte sentimento cr��tico sobre algu��m, especialmente

uma pessoa que faz parte da sua vida, indica que voc�� est�� com

dificuldade em assumir responsabilidades sobre um aspecto do

seu ego. Se o seu discurso sobre a raz��o pela qual a pessoa a inco-

moda tem alguma semelhan��a com as frases a seguir, tome

cuidado: "Ela �� pretensiosa e jamais gostei disso", "Ele me lem-

bra meu pai, que n��o passava de uma grande canalha de fala

mansa", "Ela �� realmente perigosa para os neg��cios, porque se

faz de boazinha".

Em geral, as proje����es negativas s��o vers��es de n��s mesmos

nos outros, com forte sentido de rejei����o ao que vemos. Mesmo

quando desconhecemos nossa capacidade de proje����o mental,

ela entra em a����o, produzindo efeitos que atribu��mos ��s circuns-

t��ncias, aos outros ou a anseios internos. Jamais devemos duvi-

dar do poder que a nossa mente tem de sentir o que n��o est��

acontecendo. Para mudar isso, s�� quando conseguir ficar imune

��s pessoas que o irritavam ��� ainda que estejam se comportando

como sempre. Isto significa que voc�� passou a aceitar em si as

imperfei����es que via nelas.

A v e r d a d e s o b r e a " v e r d a d e "

O caminho para a verdade �� "estreito" - no sentido de que

�� puro, n��o no sentido de que suas op����es s��o limitadas.

De vez em quando, nos deparamos com situa����es potencial-

mente desagrad��veis ou mesmo perigosas. O exemplo cl��ssico ��

convidar um alco��latra em recupera����o a se juntar com pessoas

118 N��o leve a vida t��o a s��rio

que bebem muito. Naturalmente, ��s vezes somos obrigados a

freq��entar reuni��es de colegas de trabalho, mas uma boa des-

culpa pode nos tirar de praticamente qualquer situa����o. Mesmo

assim, muita gente n��o se permite utilizar essa op����o porque

tem uma defini����o radical de honestidade.

Qual seria a resposta "honesta" a um convite desse tipo: "N��o,

n��o irei porque voc�� e seus amigos se embebedam e se tornam

t��o chatos que eu poderia voltar a beber de novo. Caso voc��s

n��o saibam, sou um alco��latra em recupera����o." Ser�� que esse

tipo de sinceridade aumenta a consci��ncia de algu��m? A fran-

queza total pode ser considerada uma qualidade nos dias de hoje,

mas, na verdade, quando as pessoas dizem "Preciso ser honesto

com voc��", em geral prosseguem com um discurso de ataque,

abandono ou trai����o.

Os defensores da "honestidade" n��o deixam nada intocado.

Muitos relacionamentos naufragam antes mesmo de come��ar

porque os dois parceiros pensam que devem confessar todos os

atos sexuais que tiveram ou pensaram ter na vida. Observe que

essas confiss��es levam a um desentendimento maior. Elas ilu-

dem, n��o esclarecem.

A honestidade que vale a pena cultivar diz respeito ao que

dizemos, n��o ao que comunicamos ��� e, como tal, �� mais uma

vers��o da id��ia de que a apar��ncia �� tudo o que importa. �� me-

lhor sermos verdadeiros em rela����o ao nosso cora����o do que ho-

nestos em rela����o �� nossa disposi����o. N �� o passa pela cabe��a dos

pais serem "honestos" quando o filhinho de tr��s anos traz uma

folha de papel e diz:

��� Olha o que eu desenhei!!!

Eles consultam seu cora����o, seus sentimentos mais profun-

dos, e dizem:

A b r i n d o m �� o d a " s i n c e r i d a d e " 1 1 9

��� Ah! Que lindo! Que desenho maravilhoso! Vamos pendurar

na parede!

Esta �� a verdade. Os pais est��o sendo verdadeiros em rela����o ao

que a crian��a est�� realmente pedindo. N �� o devemos nos prender

a um uso muito estreito das palavras. A l��ngua pode espalhar o

desentendimento e n��o a compreens��o. Ela fornece o calor, mas

n��o d�� a luz.

Tenho o h��bito de fazer uma caminhada ao anoitecer que me

leva at�� a beira de um riacho onde vive h�� muitos anos um sem-

teto. Se ele estiver por ali, costuma caminhar ao meu lado. N o s -

sas conversas n��o fazem muito sentido, mas h�� uma troca de

calor humano, interesse e preocupa����o que faz com que sejam

t��o satisfat��rias quanto qualquer conversa "inteligente":

��� Est�� vendo aquele coelho? Ele est�� perto de n��s porque h��

um coiote por a��... Terei de me mudar daqui a pouco... Os pro-

fessores descobriram onde moro, o que significa que a m��fia

tamb��m descobriu...!

Os pais que se concentram no conte��do literal da comunica����o

que t��m nos dois ou tr��s primeiros anos da vida de seus filhos acabam

tendo "conversas" maravilhosas, cheias de guinchos, gemidos, gar-

garejos, tartamudeios, respira����es ofegantes e bolhas de cuspe. Idem

para dois jovens apaixonados que se abra��am e olham para as estre-

las: o tema de sua conversa pode girar ao redor de qualquer coisa, mas

eles sabem que toda a comunica����o se resume em: "Eu te amo! Eu te

adoro! Estou muito feliz porque voc�� faz parte da minha vida!"

Quando conversamos com algu��m, h�� o tema das palavras que

s��o ditas ��� mas raramente este consiste na verdadeira impor-

t��ncia da conversa para quaisquer das partes.

120 N��o leve a vida t��o a s��rio

L i b e r t a �� �� o 1 9

Tempo sugerido: 1 dia ou mais

Escute a conversa entre o seu cora����o e suas necessidades e o

cora����o e as necessidades de seu interlocutor. Se olhar direta-

mente nos olhos dessa pessoa, voc�� "escutar��" claramente o que

ela est�� realmente dizendo para voc��. Repita bem devagar:

��� Esta conversa �� sobre algo mais do que o tema principal...

O que esta pessoa est�� realmente me perguntando ou me pedin-

do e o que realmente estou dando em troca?

Em vez de ser "honesto" em rela����o ao tema da conversa,

experimente us��-lo apenas como meio para obter uma ver-

dadeira troca. C o m o queremos sentir a nossa unidade com as

pessoas �� nossa volta, seja cauteloso e n��o fa��a nada que as deixe

na defensiva ou que as intimide.





Oito


O d e s p r e n d i m e n t o do ego

Temos duas mentes, n��o apenas uma. �� mais ou menos

como ter dois est��magos ��� ningu��m fala disso na escola.

Dizem que s�� as vacas t��m dois est��magos (na verdade, s��o qua-

tro!) e fazem recomenda����es do tipo: "Quando seu est��mago

estiver cheio, pare de comer!" No entanto, voc�� acaba desco-

brindo que, mesmo de barriga cheia, sempre haver�� lugar para a

sobremesa (especialmente de chocolate), e come��ar�� a suspeitar

desse alerta. Depois de se empanturrar de doces centenas de

vezes, mesmo estando com a barriga cheia, voc�� se d�� conta:

todos n��s temos dois est��magos, um deles s�� para os doces!

Da mesma forma, para acreditar na exist��ncia de duas mentes

�� preciso sentir os seus efeitos na pr��pria pele. Aprender a dei-

xar fluir o lado conturbado da mente �� a chave para ampliar o

conhecimento da parte tranq��ila da mente. Assim que conhece-

mos a segunda mente, percebemos que a primeira, que eu chamo

de mente do ego, �� uma esp��cie de fantasia.

A id��ia de "deixar fluir" pressup��e assumir o que somos, sem

desejos de mudan��a. Para muitas crian��as, o primeiro amigo ��

imagin��rio, enquanto o segundo �� real. Elas precisam constatar

as limita����es de se relacionar com algu��m que s�� existe em sua

pr��pria imagina����o, para conseguir ter amizades de carne e osso.

Digamos que voc�� �� uma crian��a pequena e que tem como vizi-

nho um menino chamado Burt, de quem voc�� gosta muito. Burt

1 2 2 N��o leve a vida t��o a s��rio

tem uma amiguinha imagin��ria chamada Lubertha. Um dia voc��

diz para Burt:

��� Voc�� acha que a sua verdadeira amiga �� a Lubertha, mas um

dia voc�� ver�� que a Lubertha n��o existe. Voc�� inventou a Lu-

bertha... mas eu sou real e estou pronto para ser seu verdadeiro

amigo. Se n��s pudermos brincar junto s�� um pouquinho, voc��

come��ar�� a ver o que eu significo.

E assim, Burt come��a a brincar com voc�� ��� no in��cio �� um

tanto assustador, mas logo Burt percebe que n��o h�� nada a te-

mer, voc�� n��o ir�� machuc��-lo. At�� que finalmente chega um dia

em que Burt diz:

��� Sabe de uma coisa? Acho melhor o amigo de verdade!

Parece muito simples? Conquistar uma mente clara e desfrag-

mentada �� simples porque a segunda mente ��� a mente real, pro-

funda ��� j�� est�� no seu lugar e pronta para funcionar. Se voc�� ��

como a maioria, tem usado a mente ocupada, infeliz e fragmen-

tada por tanto tempo que esqueceu que existe a outra mente.

Voc�� pode tentar a vida inteira melhorar uma mente fraca,

hiperativa e conflituosa. Mas at�� perceber que sua verdadeira

mente �� a ��nica de que voc�� precisa ser�� dif��cil atingir uma sen-

sa����o permanente de paz, relaxamento e integridade.

Como se forma a primeira mente

Para os casais, os beb��s s��o uma imensa fonte de preocupa-

����es. Tudo pode come��ar com uma assadura no bumbum, uma

crosta de leite na cabe��a ou um ciclo de sono curto. �� como se

m��es e pais desconstru��ssem a integridade da crian��a. Depois de

um tempo, o processo de fragmenta����o faz com que os pais n��o

vejam mais um beb��, mas sim um atirador de comida, um g��nio

musical, um molhador de cama ou um p��ssimo aluno. Eles se

O d e s p r e n d i m e n t o d o e g o 123

preocupam com um aspecto espec��fico da crian��a e acabam des-

cuidando de sua felicidade e bem-estar geral.

Do ponto de vista das crian��as, a menos que tenha ocorrido

algum trauma incomum durante a gesta����o ou o parto, elas che-

gam ao mundo zeradas no que se refere a expectativas e ansie-

dades. Suas mentes s��o simples, unificadas e sintonizadas. Elas

se sentem ligadas aos pais e querem pouco mais do que estar per-

to deles e se divertir com eles. O dif��cil �� permanecerem imunes

�� maneira fragmentada como os pais as v��em.

P A R A L I S I A " E M O C I O N A L " O U D A N O N E U R O L �� G I C O ?

H�� muitos anos, a m��e de um menininho de quatro anos veio

nos perguntar como poder��amos ajud��-lo a mudar de atitude em

rela����o a seu corpo. Aos dois anos, Sammy teve uma doen��a que

o deixou com uma leve paralisia na metade do corpo. A m��e de

Sammy acreditava que era preciso usar meios espirituais para

tratar o filho. Disse que sabia que sua paralisia desapareceria se

ele pensasse em si mesmo como uma pessoa normal. O pai de

Sammy concordava com sua teoria.

Acompanhamos o caso durante tr��s anos, tempo que preci-

samos para convencer os pais do menino a lev��-lo a um neurolo-

gista e, talvez o mais importante, a se relacionarem com ele com

certo grau de prazer, valorizando a crian��a. Sammy sempre havia

sido tratado como um projeto que dera errado, n��o como um

filho amado. Era obrigado a andar sem muletas, a experimentar

todos os esportes e a afetar uma pose de "tudo bem" junto aos

colegas. Os pais acreditavam sinceramente que, com o tempo,

essa abordagem seria ben��fica...

N o s tr��s anos em que estivemos em contato, vimos Sammy se

tornar cada vez mais t��mido, frustrado e furioso. Em outras pala-

1 2 4 N��o l e v e a v i d a t��o a s��rio

vras, sua atitude em rela����o a si mesmo e aos outros come��ou a

se fragmentar.

N �� s compartilhamos a certeza de seus pais no potencial da

cura espiritual ��� mas essa abordagem em crian��as pequenas, que

n��o compreendem conceitos metaf��sicos, nem sempre funciona.

A leve paralisia de Sammy criou uma divis��o entre ele e seus pais,

que lhe disseram que a cura era um problema dele. Sammy era

muito pequeno para ver a falha nesta abordagem e se defender.

Quando, enfim, Sammy foi examinado por uma equipe de es-

pecialistas, estes convenceram os pais de que o problema era

conseq����ncia de um dano neurol��gico e nada tinha a ver com

sua atitude. De uma hora para outra, seus pais deixaram de fazer

press��o e come��aram a procurar meios de trazer conforto e feli-

cidade para Sammy em cada pequena tarefa que ele tinha de

enfrentar.

A seus olhos, o filho agora n��o tinha nenhuma culpa e eles

estavam livres para am��-lo por inteiro. No nosso ��ltimo conta-

to, Sammy tinha nove anos. Seus pais come��avam a se preocupar

um tanto exageradamente com a possibilidade de o menino cor-

responder ou n��o a seu potencial acad��mico...

Qualquer coisa, at�� mesmo um conceito espiritual, deve

ser posto de lado quando esconder o amor.

Embora a gente aprenda desde o in��cio a triste li����o de que so-

mos partes espalhadas e n��o um todo unido, resta sempre um

lugar que permanece intocado em nosso cora����o ��� algo seme-

lhante �� fase do sono em que estamos sonhando. Assim que

adormecemos, nossa mente se divide em muitos personagens,

cada qual com seus pr��prios planos. A parte que n��o �� afetada

O desprendimento do ego 125

pelos sonhos nos mant��m respirando, nos impede de cair da ca-

ma, puxa as cobertas quando sentimos frio ��� e assim por diante.

De manh��, quando acordamos e nos percebemos unos, a mente

liberta sua preocupa����o com os personagens conflitantes dos

sonhos e sente sua plenitude.

Apesar de cada sonho ter suas pr��prias leis, no momento em

que acordamos n��s acreditamos na realidade do sonho. Nas fan-

tasias que temos durante o dia ocorre algo parecido. De vez em

quando ouvimos uma pessoa dizendo a outra: "Ei! Onde voc��

est��? Voc�� escutou o que acabo de dizer?" C o m isto, na verdade,

estamos dizendo: "Onde estava a sua mente consciente quando

eu estava falando com voc�� agora mesmo?" Provavelmente esta-

va mergulhada em fantasias.

Se criamos companheiros imagin��rios e nos divertimos em so-

nhos e fantasias, tamb��m podemos criar uma identidade imagi-

n��ria e acreditar que �� isso que somos. Essa identidade ima-

gin��ria que chamamos de ego �� uma realidade t��o diferente do

nosso verdadeiro "ser" que n��o pode ser comparada com ele nem

mesmo definida claramente.

Uma crian��a pode ser surpreendida e at�� sentir-se chocada

pelo que dizem seus amigos imagin��rios ��� embora ela mesma

esteja criando e pronunciando cada palavra. Da mesma forma, os

personagens dos sonhos nos surpreendem, embora sejamos n��s

que os fazemos se comportarem como tal. Esses personagens do

ego imagin��rio t��m um forte sentimento de autodefesa. Um

sonho, por exemplo, se defender�� criando outro sonho em que

I -ramos despertando e nos levantando, quando na verdade ainda

estamos adormecidos.

O sonho pode inclusive incorporar o som de um alarme ou

qualquer perturba����o externa. Quando nosso filho John tinha

1 2 6 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

quatro anos, foi atirado fora da cama por um terremoto de 5,7

pontos, n��s o colocamos de volta sem que ele acordasse. As

crian��as que molham a cama muitas vezes alegam que n��o s��o

culpadas (�� claro que n��o s��o) porque sonharam que haviam

sa��do da cama e foram ao banheiro. Todos os sonhos s��o prepa-

rados pela mente para parecerem reais e usam uma esp��cie de

prestidigita����o mental para sustentar a ilus��o.

N o s s o ego tamb��m se defende. Ele cria uma s��rie de "resis-

t��ncias" a qualquer experi��ncia de unidade, amor ou comunh��o

(a ess��ncia de nosso "ser" real, ou segunda mente). Cada vez que

conhecemos a plenitude, a primeira mente, ou ego, perde a

for��a. Mas como foi programado para defender o seu senso de

realidade, o ego sempre contra-ataca.

Observe que sempre que voc�� e seu parceiro t��m um dia de

uni��o e paz, o dia seguinte �� desastroso. S��o os egos tentando

retomar o terreno que perderam. Se voc�� e seu parceiro perce-

berem a tentativa, ficar��o imunes. Afinal, o ego n��o �� uma

for��a exterior. Voc�� o cria e o mant��m. Se n��o quiser, n��o pre-

cisa t��-lo.

Sua experi��ncia de comunh��o com outra pessoa �� a

��nica inimiga do seu ego.

O ego, ou "identidade aut��noma", s�� pode ser sustentado na

mente por meio da compara����o constante. �� por isso que a sorte

do outro nos afeta. N �� s nos sentimos literalmente atacados

quando, por exemplo, algu��m que conhecemos ganha na loteria

ou recebe um grande elogio. Da mesma forma, nos sentimos ani-

mados com qualquer sinal de fraqueza e perda dos que nos cir-

cundam. De que outra maneira poderia reagir o nosso ego? Na

O desprendimento do ego 127

experi��ncia do amor e da unidade, n��o temos nenhuma necessi-

dade de nos comparar com outras pessoas. N �� o precisamos estar

a toda hora perguntando quem somos, porque agora podemos

sentir quem somos.

A mente coleta muito lixo mental durante nossos anos de for-

ma����o, mas seu n��cleo continua puro. Embora corramos o risco

de us��-la de maneira conflitante, nenhuma realidade tem mais

unidade b��sica do que a mente. Buscar nossa natureza essencial

�� uma tarefa que pode ser realizada com simplicidade e tranq��i-

lidade se damos alguns passos a cada dia. A hist��ria seguinte ilus-

tra um desses passos.

Q U E S T �� O D E F �� O U R E A L I D A D E ?

D o s seis anos at�� a adolesc��ncia, eu adorava visitar minha av��,

a quem chamava de Meemo. Quando pequeno, jog��vamos pa-

ci��ncia e convers��vamos sobre Deus e, quando eu baixava a

guarda, ela ainda me dava algumas aulas de costura e tric��.

C o m o passar dos anos, eu via Meemo atravessar crises que

teriam sido devastadoras para a maioria das pessoas. Quando seu

marido morreu num acidente de avi��o, quando seus filhos, um

por um, beberam at�� morrer, ou quando ela ficava doente, sem-

pre tratava de tudo da mesma maneira. J�� aconteceu de encon-

tr��-la arrasada e, quando eu voltava, uma semana depois, perce-

bia que ela estava muit��ssimo melhor. Eu sempre dizia:

��� Meemo, voc�� est�� indo muito bem!

E ela sempre respondia:

��� Entreguei a Deus...

Minha av�� nunca explicou o que ela queria dizer com isso,

nem me aconselhou a usar essa abordagem em rela����o a qual-

quer problema que tivesse, mas eu a vi fazer isso tantas vezes e

128 N��o leve a vida t��o a s��rio

durante tantos anos que comecei a perceber como aquele m��to-

do era simples e forte.

Talvez essa particular capacidade mental n��o seja mais ampla-

mente usada porque muitas pessoas acham que �� uma quest��o de

f�� religiosa. C o m o n��o t��m f�� ou talvez nem queiram essa f��, acre-

ditam que "entregar a Deus" �� algo que n��o est�� �� sua disposi����o.

A certeza de que existe algo ��� uma for��a, um poder, uma rea-

lidade, uma intelig��ncia, uma presen��a ��� que entende as nossas

quest��es, o nosso turbilh��o interior, e sabe como nos conduzir

para fora dele, faz com que o ato de relaxar e esvaziar a preocu-

pa����o de nossas mentes seja bem mais simples do que enfrentar

todo o problema sozinhos. N �� o �� uma quest��o de f��, e sim uma

realidade.

A hist��ria seguinte �� sobre um homem que n��o tinha nenhuma

f�� religiosa, mas usou sua pr��pria consci��ncia para salvar sua vida.

E X E R C �� C I O D E V I D A

Um dia um indiv��duo me ligou e disse que seu amigo Lloyd ia

tirar a pr��pria vida. Ele explicou que n��o se tratava de um impul-

so ��� Lloyd havia levado muitas semanas para chegar a essa de-

cis��o. O amigo conseguira obter uma concess��o: eu poderia ir ��

casa de Lloyd para uma conversa.

Embora fosse meio-dia, entrei numa casa t��o escura que n��o

conseguia ver onde pisava. As cortinas estavam cerradas e s��

uma luz bem fraquinha estava acesa. Lloyd aparentava uns qua-

renta anos ��� e n��o levantou quando entrei. Estava sentado num

sof�� na sala.

Lloyd me agradeceu por ter vindo e logo come��ou a explicar

por que decidira cometer suic��dio. Contou como havia perdido

o emprego e h�� mais ou menos um ano sua esposa o deixara.

O desprendimento do ego 1 2 9

levando a filha de dez anos. Havia envenenado tanto a menina

contra ele que ela j�� n��o queria falar com o pai.

Os suicidas s��o muito retra��dos; descobrir a maneira de ajud��-

los �� um jogo de adivinha����o em que as probabilidades de dar

certo ou errado s��o meio a meio. Tive sorte porque Lloyd falava

espontaneamente. Enquanto Lloyd explicava por que iria se ma-

tar: sua fam��lia era tudo o que importava, e agora estava destru��-

da, notei que ele sempre voltava ��s mesmas hist��rias e lem-

bran��as dolorosas.

Uma avalia����o recorrente que tinha de si mesmo era que

nunca tinha sido uma pessoa "muito gost��vel". Enquanto escuta-

va, eu ia anotando uma lista desses pensamentos. Por fim, ele fez

uma pausa e eu disse:

��� N �� o tentarei convenc��-lo a n��o fazer isso, mas n��o h�� ne-

nhuma necessidade de sofrer tanto. Voc�� n��o gostaria de se sen-

tir mais confort��vel e em paz agora mesmo?

Ele disse que sim. Fui at�� a cozinha e voltei com um saco pl��s-

tico de lixo. Rasguei a lista que havia feito e coloquei os peda��os

no saco.

��� Lloyd, eu quero que voc�� pense que tudo o que est�� neste

saco �� lixo. Para se livrar da dor, voc�� s�� tem de seguir uma regra.

Voc�� pode pensar sobre qualquer assunto que estiver no saco de

lixo, mas, para fazer isto, ter�� de pegar a tira com esse assunto e

segur��-la em sua m��o enquanto estiver pensando. Quando achar

que pensou o suficiente sobre o que estava escrito naquela tira,

coloque-a de novo no saco.

A hist��ria teve um final feliz. O ato de apanhar consciente-

mente um pensamento e recoloc��-lo no saco permitiu a Lloyd

sentir momentos de reflex��o. Ele percebeu que os sentimentos

de desola����o desapareciam e se deu conta de que ele era o ��nico

1 3 0 N��o leve a vida t��o a s��rio

respons��vel por suas dores. Foi o empenho em fazer consciente-

mente o exerc��cio que o salvou.

N��o se preocupe com a maneira certa de procurar orien-

ta����o ou pedir ajuda. Quando um pedido de paz vem do

fundo do cora����o, a paz sempre ser�� providenciada.

Para se livrar do impulso suicida, Lloyd tinha de estar cons-

ciente de seus sentimentos autodestrutivos. C o m o falava aberta-

mente de sua inten����o suicida e aceitou que algu��m o ajudasse,

Lloyd tinha perfeita consci��ncia de seus sentimentos. Ele con-

seguiu identificar os pensamentos por tr��s de suas emo����es e,

com isso, conquistou a op����o de liberar ao mesmo tempo pensa-

mento e sentimento. Lloyd aprendeu a "mudar de canal," passan-

do da camada superficial dos pensamentos para a camada mais

profunda e serena, da primeira mente para a segunda mente.

Nessa viagem em dire����o �� integridade, o perigo �� subesti-

marmos a capacidade de destrui����o de nossa mente. Muitas coi-

sas que acreditamos ser ben��ficas ou n��o fazerem nenhum mal

real mais tarde se mostram p��ssimas decis��es, como os julga-

mentos sobre nossos parceiros ou filhos. Da mesma forma,

jamais devemos combater o nosso ego. Fazer isso �� provocar

ainda mais confus��o e caos em nossas mentes. Confrontar nosso

ego s�� o torna mais real, quando, na verdade, ele s�� existe por-

que permitimos. Repito e torno e repetir: devemos esclarecer o

que queremos at�� eliminarmos totalmente os conflitos.

F i c a n d o l i v r e d o s p e n s a m e n t o s d i s p e r s o s

Despertar n��o �� morrer, muito menos atingir um estado espi-

ritual exaltado. Trata-se de um processo gradual, no qual aos

O desprendimento do ego 1 3 1

poucos passamos a pensar e agir por meio da parte da mente

tranq��ila, suave e profundamente conectada a tudo e a todos.

Nossos pensamentos se tornam mais naturais, a percep����o mais

reconfortante, as a����es menos impactantes ��� enfim, nos senti-

mos e nos tornamos cada vez mais reais.

Conforme este processo continua, at�� mesmo o quadro de

fragmenta����o que nos circunda come��a a refletir a unidade.

Agora, ele cont��m prazer, n��o mais um castigo. Voc�� estar�� cada

vez mais consciente, saber�� se os seus pensamentos est��o dis-

persos ou inteiros, ou se est��o na primeira ou na segunda mente.

Este �� um objetivo bastante modesto, que permite claras

op����es: conhecer a inoc��ncia ou a culpa, a felicidade ou o medo,

a unidade ou a solid��o, a flexibilidade ou a rigidez, a paz ou o

caos do ego? Se a resposta for a integridade, restar�� apenas uma

quest��o: "Estarei preparado para escolher a integridade neste

instante ��� nesta situa����o, durante esta atividade, diante deste

problema, tarefa, trag��dia ou distra����o menor?"

J O G O S M E N T A I S

A mais poderosa de todas as for��as do ser humano ��� a mente

de uma crian��a de dois anos ��� prova o que pode realizar um

enfoque ��nico, exercido no presente. As crian��as de dois anos

vencem as batalhas de vontade com os pais porque est��o con-

centradas, enquanto os pais n��o se prendem a um determinado

objetivo por mais de alguns momentos.

Muitos adultos se surpreendem que as crian��as pequenas

sejam persistentes e consigam o que querem. A diferen��a b��sica

�� que os adultos est��o sempre em conflito, as crian��as pequenas

n��o. At�� mesmo id��ias que podem unir a mente das pessoas em

torno de alguma quest��o da vizinhan��a, da escola ou mesmo

1 3 2 N��o leve a vida t��o a s��rio

id��ias que podem levar uma na����o �� guerra nunca duram muito.

Assim que aparece um aliado melhor, uma quest��o mais

"quente" ou um inimigo mais formid��vel, os sentimentos de

uni��o se evaporam rapidamente. Somente uma id��ia espiritual

une a mente de modo permanente, porque s�� ela est�� baseada

numa verdade duradoura.

O D E S A F I O O U O P R �� M I O ?

N o s s o filho Jordan resolveu jogar t��nis quando estava com

doze anos. Teve bons professores, se esfor��ava duramente e pro-

grediu muito depressa. Um dia Mark, o professor, teve de can-

celar uma aula. Consegui um profissional chamado Benny para

substitu��-lo. Benny queria que Jordan desse trinta saques con-

secutivos sem que nenhum batesse na rede. A meta era dif��cil

para um menino que estava jogando havia apenas dois meses.

Enquanto fazia a primeira s��rie de trinta saques, Benny

comentava e mostrava os erros a cada vez que a bola batia na re-

de. Jordan n��o conseguia dar trinta saques sem que cinco bates-

sem na rede. Por fim, Benny parou o treino, puxou uma nota de

dinheiro, colocou-a na linha de saque com uma caixa de bolas

em cima, e disse:

��� Se voc�� acertar as pr��ximas trinta bolas entre a linha de

saque e a linha de fundo ��� sem deixar uma ��nica bater na rede,

a nota que est�� debaixo da lata �� sua.

Jordan acertou os trinta saques sem um ��nico erro. Benny

apanhou a nota e foi at�� Jordan:

��� C o m o voc�� pode ver, est�� �� uma nota de um d��lar. �� sua,

mas n��o pense que voc�� acertou s�� porque pensou que ia ganhar

uma boa grana. Voc�� acertou porque tinha um objetivo em

mente.

O desprendimento do ego 133

Nossa tend��ncia �� pensar que o cerne de um problema �� uma

situa����o espec��fica ou nossa rela����o com uma pessoa, mas a ver-

dadeira dificuldade s��o as nossas convic����es. N �� o importa a forma

que venha a assumir, esta certeza bloqueia a nossa liberdade.

Liberdade para o corpo

Vivemos em batalha constante com nosso cabelo, nossos

dentes, pele, unhas, c��lulas de gordura, tamanho do nariz, altura,

forma e idade. Quanto mais nos aprofundamos no corpo, mais

reclama����es surgem: seios horr��veis, intestinos que se compor-

tam mal, costas doloridas, joelhos trai��oeiros e juntas mal-ajam-

bradas. Sem contar as lutas de vida e morte com nossos ��rg��os

vitais, sistemas imunol��gicos e qu��mica do sangue. Eu poderia ir

em frente, mas �� uma hist��ria que come��a a ficar assustadora.

As pessoas t��m medo e desconfiam de seu corpo, sentem-se

tra��das por ele e ��s vezes at�� o odeiam. Abrir m��o desses pensa-

mentos perturbadores �� o ��nico caminho para uma mente pac��-

fica. Muitas pessoas s�� ficam em paz com seus corpos no mo-

mento em que est��o morrendo ��� mas por que esperar at�� l��?

L i b e r t a �� �� o 2 0

Tempo sugerido: 1 dia

A. Tire as suas roupas e fique de p�� na frente de um espelho,

se poss��vel um espelho de corpo inteiro.

Observe como �� dif��cil fazer isto. Quais s��o as suas emo����es?

Voc�� tem medo do que v��? Culpa? Vergonha? A sua mente est��

agitada, tentando pensar por que esta sugest��o �� equivocada,

ruim ou perigosa? Uma crian��a pequena seguiria esta sugest��o

sem hesitar.

1 3 4 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

B. Come��ando pelo alto de sua cabe��a, passe para a testa, as

sobrancelhas, olhos ��� e assim por diante at�� os dedos dos p��s.

Olhe bem para o seu cabelo (ou sua careca) at�� sua mente se acal-

mar. Se ajudar, diga algo como: "Isto �� s�� cabelo. �� o meu cabelo

de hoje. N �� o tenho o mesmo cabelo de dez anos atr��s. As pessoas

em geral t��m cabelo, por acaso este �� o meu." Enquanto isso,

preste aten����o ��s ansiedades, associa����es ou quaisquer outras

id��ias e convic����es negativas que voc�� tenha sobre o seu cabelo.

Fale em voz alta, se isto ajudar a identificar os pensamentos.

C. Diga ent��o para si mesmo: "Estes s��o os meus pensamen-

tos. Ser�� que desejo andar por a�� com todos esses pensamentos

sobre o meu cabelo."

D. Repita B e C com as outras partes de seu corpo.

E. Agora que os pensamentos fragmentadores sobre o seu

corpo foram desvendados, comece novamente do alto da cabe��a

e v�� at�� os p��s e, como antes, resgate pensamentos de gratid��o e

aprecia����o para cada parte que olha. "Obrigado, cabelo, por me

aquecer, por ag��entar pacientemente todos os produtos qu��mi-

cos que sem pensar despejo em voc��...", "Obrigado, testa, por

proteger o meu c��rebro, por mostrar surpresa ou preocupa����o

quando necess��rio...", "Obrigado, sobrancelhas, por evitar que a

��gua escorra nos meus olhos, ou por me dar um olhar s��rio...".

Voc�� quer ver sinceramente o quanto seu corpo sofreu por voc��:

como ele tem sido um bom amigo, o quanto ele n��o tem culpa

dos genes que herdou, dos acidentes que ag��entou, assim como

de todas as outras for��as externas, da gravidade aos raios do sol,

que suportou. Voc�� tem todos os motivos para sentir afeto pelo

seu corpo e trat��-lo com delicadeza. Por que, ent��o, dizer que n��o

�� "espiritual" pensar no corpo? Ter uma rela����o saud��vel com seu

corpo n��o prejudicar�� em nada a sua espiritualidade.

O d e s p r e n d i m e n t o d o e g o 135

F. Decida que daqui para a frente voc�� tratar�� muito bem o

seu corpo e, acima de tudo, pensar�� nele com alegria.

E l i m i n a n d o o s p e n s a m e n t o s D

No contexto deste cap��tulo, mostramos como eliminar os

pensamentos D e permitir que nossas mentes se tornem ��nte-

gras. J�� aprendemos a trocar da primeira para a segunda mente,

eliminando a resist��ncia �� unifica����o da mente. C o m o sabemos

que a origem de nossa resist��ncia s��o os pensamentos D, os

chamados pensamentos desencadeadores, agora �� partir para a

etapa final de liberta����o.

Todos os pensamentos D podem ser comparados a plantas

com profundas ra��zes e brotos verdes promissores. Imagine que

as ra��zes se estendem pelo passado e os brotos verdes remetem aos

benef��cios que imaginamos receber, se acreditarmos nisso, ��

claro. ��s vezes �� particularmente desagrad��vel reconhecer ou

admitir esses pensamentos pelo que eles revelam sobre n��s.

Digamos que voc�� �� uma dona-de-casa e est�� ouvindo seu mari-

do falar sobre como seria bom estar em seu pr��prio barco. Subi-

tamente, voc�� �� inundada com pensamentos irritados sobre co-

mo seu marido �� irrespons��vel. C o m o ele poderia estar pensan-

do em gastar tanto dinheiro, quando voc��s dois acabaram de dis-

cutir a d��vida do cart��o de cr��dito? Voc�� tem algumas op����es:

��� Pode gritar com ele e logo se meter numa longa discuss��o.

��� Pode pedir explica����es sobre como poderia estar pensando

em comprar um barco num momento como esse, o que per-

mitiria que ele dissesse que n��o estava pensando em com-

prar nenhum barco.

��� Pode repetir um mantra de prote����o: "Deus me proteger�� de

meu marido. Deus me proteger�� de meu marido..." ��� ou

1 3 6 N��o leve a vida t��o a s��rio

"No fundo, o meu marido �� uma boa pessoa. No fundo, meu

marido �� uma boa pessoa..."

��� Ou... voc�� pode examinar minuciosamente o pensamento

em si.

Comece perguntando a si mesma: "De onde tirei a id��ia de

que meu marido �� irrespons��vel?" Pense no que ele j�� fez no pas-

sado, no que a levou a acreditar que ele compraria um barco sem

sua concord��ncia. Voc�� na verdade n��o acredita realmente que

ele fa��a algo assim. O que pode ter acontecido �� que voc�� n��o

levou em considera����o a tend��ncia a devaneios de seu marido.

Ele est�� sempre construindo castelos no ar e esperando que a

varinha m��gica os transforme em realidade. �� dif��cil admitir

mas, na verdade, os devaneios s��o parte do que adora nele.

O que voc�� n��o suporta �� a distra����o que esses sonhos provo-

cam. Muitas vezes essa distra����o impede que ele escute o que

voc�� diz ou perceba as suas necessidades. Alas como voc�� mesma

j�� se flagrou fazendo a mesma coisa, talvez esteja vendo em seu

marido uma vers��o da sua pr��pria distra����o.

Ao ir mais fundo na quest��o, voc�� lembra de uma hist��ria que

escutou na inf��ncia, de que a fam��lia perdeu tudo com a fal��ncia

da empresa de seu pai. A id��ia de que voc�� poderia estar com

raiva por ter perdido um estilo de vida que jamais experimentou

parece muito improv��vel, mas algo faz voc�� reagir exagerada-

mente a quest��es de dinheiro.

Pergunte a si mesma que influ��ncia a desconfian��a em seu mari-

do tem fisicamente sobre voc��. Voc�� observa que se sente mais

ansiosa, que sente uma certa dorzinha de barriga e que seus ombros

est��o bastante tensos? V�� al��m e investigue como isso influenciou

seu casamento e o relacionamento com seus filhos. Volte agora sua

aten����o para os brotos verdes promissores e questione que recom-

O desprendimento do ego 137

pensas, benef��cios e resultados obt��m continuando a desconfiar de

seu marido. De cara voc�� percebe que suas demonstra����es de

desconfian��a deixaram seu marido t��o enfurecido que ele chegou a

tomar decis��es erradas, algumas relativas a finan��as.

Examinando mais detalhadamente suas emo����es, voc�� obser-

va que uma parte de voc�� na verdade gosta quando ele faz algo

irrespons��vel. Ser�� que voc�� se sente superior porque ele agora

lhe "deve uma", ou porque isto lhe proporcione carta-branca

para sair do casamento?

No final desse processo (que poder�� levar horas ou at�� sema-

nas), talvez voc�� chegue �� conclus��o de que sua desconfian��a

indica um profundo empenho em perdoar seu pai e tamb��m um

boicote a uma pessoa que significa tudo para voc��. Agora que o

pensamento veio �� tona, resta-lhe assumir uma posi����o firme e

consistente em rela����o ao seu amor e aprecia����o por seu marido.

Veja como funciona:

��� O pensamento D vir�� �� tona repetidas vezes, porque �� um

alicerce do seu ego particular. Contudo, se voc�� realmente fez

o seu trabalho de conscientiza����o, ele n��o mais assustar��,

confundir�� ou perturbar�� voc��. Ao contr��rio, voc�� achar�� o

pensamento D bastante engra��ado.

N��o existem os egos perfeitos. Nem h�� uma raz��o para

isso. Por que voc�� desejaria aperfei��oar um compa-

nheiro imagin��rio? Gostaria de livrar-se dele? Certamen-

te n��o. Da mesma forma, n��o h�� necessidade de fazer

um projeto de seu ego e tentar aperfei��oar uma identi-

dade imagin��ria. Bastar�� enxerg��-lo claramente, para

ver que voc�� n��o o quer, n��o precisa dele, mas tamb��m

n��o precisa tem��-lo.

138 N��o leve a vida t��o a s��rio

��� Sempre que o pensamento D vier �� tona, examine-o at�� iden-

tific��-lo. Depois se pergunte: "Quero ferir (seja l�� quem esti-

ver em seu pensamento) agindo segundo este pensamento?"

Ao fazer essa pergunta, voc�� estar�� se ligando aos seus ver-

dadeiros sentimentos, sua verdadeira mente. Sentir�� compaix��o

pela pessoa e saber�� que n��o deseja nenhum mal. Ou seja, o pen-

samento foi descartado.

��� Se em algumas ocasi��es voc�� sente tanta raiva da pessoa que

a ��nica resposta sincera �� que realmente quer feri-la, ent��o

pergunte a si mesmo se esse pensamento D �� a parte que

voc�� deseja ampliar, alimentar, desenvolver. N �� o hesite: repi-

ta mentalmente que n��o deseja que essa parte se desenvolva

e que n��o agir�� segundo o que ela diz.

C o m o todo mundo sabe, a teoria, na pr��tica, �� bem outra.

Encarar um pensamento D sem sentir algum medo ou confus��o

�� tarefa para poucos. Essa confus��o pode durar muitas semanas

ou meses, dependendo do quanto o pensamento estiver enraiza-

do. No entanto, a cada vez que voc�� se recusar a obedecer a um

pensamento D, reduzir�� o seu medo. Este processo gradual �� a

maneira mais comum de se livrar deles.

Contudo, se voc�� identificar o mal que o pensamento D cau-

sou, mas decidir conscientemente encen��-lo repetidas vezes, ele

ganhar�� imenso poder. N �� o caia na tenta����o de prejudicar os

outros ou voc�� mesmo "s�� um pouquinho". O pre��o a ser pago

�� um imenso retrocesso. A esta altura, depois de ter se dedicado

a v��rias liberta����es, voc�� j�� tem uma boa id��ia dos seus pensa-

mentos D. Tamb��m j�� deve ter percebido que, no fundo, eles

est��o relacionados ao medo e �� dificuldade de perdoar. A medi-

ta����o guiada �� mais uma maneira de liberar esses medos, m��goas

e amarguras que se acumulam em nossas mentes.

O desprendimento do ego 1 3 9

L i b e r t a �� �� o 2 1

Tempo sugerido: 1 dia ou mais

��� Escolha uma pessoa sobre a qual voc�� freq��entemente pensa

com sofrimento ou raiva. Imagine essa pessoa de p�� na sua

frente. Fa��a-a parecer o mais "real" que puder, imaginando a

maneira como ela habitualmente se veste, caminha, seus

gestos, etc. Enquanto examina essa pessoa, lembre-se das

coisas negativas que ela fez e de seus pontos fracos e caracte-

r��sticas destrutivas. Certifique-se de incluir qualquer peque-

na trai����o ou qualquer outro aspecto negativo que ela tenha

feito diretamente a voc��.

��� Em vez de brigar, julgar ou rebaixar seus pensamentos nega-

tivos, primeiro d��-lhes toda a r��dea para conseguir enxerg��-

los claramente. Pergunte ao seu ego o que ele gostaria de

fazer ou o que aconteceu a esta pessoa. Procure quais s��o

suas fantasias de "justi��a" ou compensa����o. Diga a essa pes-

soa: "Voc�� merece..." ou "Se estivesse nas minhas m��os,

voc��..." Pense em todos os detalhes que puder sobre todos

os castigos que puder imaginar. Se conseguir expandir a sua

fantasia de vingan��a at�� se tornarem divertidas, melhor. Se

n��o for poss��vel, continue elaborando os detalhes at�� ter a

sensa����o de que explorou por inteiro tudo o que sente.

��� Continue examinando esta pessoa at�� entrar num estado de calma.

Imagine uma pessoa que represente o amor, a paz e a coloque de

p�� diante desta pessoa. Inunde-a com uma luz brilhante.

��� Termine o exerc��cio estabelecendo um objetivo ��nico: pensar

sobre esta pessoa em paz. Isto n��o significa gostar ou compreender

a pessoa, nem fazer com que ela goste de voc��. �� apenas per-

manecer em paz sempre que esta pessoa vier a sua mente.

1 4 0 N��o leve a vida t��o a s��rio

L i b e r t a �� �� o 2 2

Tempo sugerido: 1 dia ou mais

Todos n��s exercitamos e alimentamos a nossa infelicidade por

meio de incont��veis pensamentos ao longo do dia. Basta ter cons-

ci��ncia de como e quando fazemos isto para que a porta da liber-

dade se abra. O texto a seguir ajuda a fixar as id��ias principais:

Eu, somente eu, escolherei o que corr��i minha atitude e

complica a minha vida. Vivo com as decis��es que tomo

a respeito de tudo e de todos �� minha volta. Eles signifi-

cam muito para mim. Um dia nublado n��o �� mais do

que um dia nublado at�� que eu resolva o que ele

esconde e decida que humor terei. Um pouco de di-

nheiro a mais �� apenas um pouco de dinheiro a mais at��

eu decidir que devo mostrar sinais de t��-lo. O adoles-

cente que tenho dentro de mim �� apenas uma crian��a

at�� que eu o interprete como "manipulador". Agora meu

lar mental est�� decorado com os mesmos tons infelizes.

Anote qualquer conclus��o pessoal que passar pela sua cabe��a.

Agarre-se a uma ��nica id��ia:

Eu vejo o que decido e reajo como prefiro.





Nove


O c a m i n h o do

c o n h e c i m e n t o e s p i r i t u a l

Todos os dias aceitamos as sensa����es e os pensamentos do

ego como se fossem nossos ��nicos pensamentos e sensa-

����es. Embora nosso ego seja a representa����o das li����es que acu-

mulamos durante os anos de forma����o, reagimos a elas com a

for��a de nossa ess��ncia e individualidade ��� da maneira como

nos "sentimos" em rela����o ��s coisas. Se usamos de sinceridade,

admitiremos que esta parte de n��s �� nossa professora e guia.

N �� o se trata de um caminho espiritual, mas sim de uma trilha

exclusiva para o ego. Evidentemente, n��o somos exatamente o

que nosso ego representa ��� nossos dem��nios interiores, o "ser"

mortal, a mente sonhadora e a mente ocupada ���, mas a cada dia

fica mais claro que vivemos por e para nossa identidade.

As pessoas, ��s vezes, optam por um caminho espiritual e con-

seguem isolar os sentimentos que chamam de "ego". Uma situa-

����o t��pica �� a de quando somos promovidos no trabalho. N o s

sentimos euf��ricos por um ou dois dias e nem por um instante

nos preocupamos se a euforia �� ou n��o uma rea����o do ego.

Quando, por��m, sentimos inveja ou ci��me de algu��m que foi

promovido e entramos em depress��o por um ou dois dias, rapi-

damente dizemos que "estas s��o emo����es do meu ego". Quando

as pessoas alegam que "isso �� coisa do ego", "isso �� coisa do

1 4 2 N �� o leve a vida t �� o a s �� r i o

dem��nio" ou "isso �� conversa de b��bado", na verdade, o que elas

est��o dizendo realmente ��: isso n��o sou eu.

N o s s a tend��ncia �� ficar orgulhosos quando temos padr��es que

nos diferenciam dos outros: "Sou uma pessoal matinal", "Sou

osso duro de roer", "Acredito em ouvir a minha intui����o", " N �� o

ag��ento idiotas", "Sou muito espont��neo", "Pago o pre��o, mas

fa��o quest��o de um bom servi��o". Convic����es deste tipo s��o t��o

poderosas que colorem o mundo em que vivemos. Literalmente,

n��s vemos aquilo em que acreditamos.

N �� o h�� nada de errado em usarmos a palavra ego ou expres-

s��es como impulsos sombrios, fantasmas interiores. O risco �� jogar a

culpa nos outros pelo que sentimos, ou atribuir nossos senti-

mentos ao ego ou ao dem��nio. �� bem melhor pensar "tenho

impulsos sexuais destrutivos" ou "meus receios em rela����o a di-

nheiro n��o ajudam a ningu��m" do que pedir a Deus para acabar

com esses impulsos ou medos, como se n��o houv��ssemos n��s

mesmos escolhido esses impulsos e medos.

Quando convocamos as nossas convic����es espirituais,

ou a nossa for��a de vontade, para combater nossos

impulsos mais sombrios, n��s lhes damos vida nova.

Atribuir as nossas tend��ncias destrutivas a algo que n��o somos

nos leva a interromper as provid��ncias necess��rias para torn��-las

inofensivas. Lembre-se de que qualquer pensamento destrutivo

levado �� plena consci��ncia n��o tem mais o poder de nos assustar

ou controlar. Repetir frases negativas como "Detesto as mulhe-

res", "Desprezo os homens", "Me sinto superior ao meu melhor

amigo", "N��o ag��ento essas pestes nos veloc��pedes", em vez

de "Meu ego est�� cheio de ��dio (desprezo, superioridade, res-

O caminho do conhecimento espiritual 1 4 3

sentimento e afins)", n��o ajuda no trabalho de conscientiza����o.

Se f��ssemos espiritualmente mais avan��ados, apenas dar��amos

de ombros ��s situa����es perturbadoras que surgem diariamente:

um motorista buzina, um amigo faz uma cr��tica, descobrimos

cupim no por��o, algu��m se esquece de nos agradecer, etc. Mas ��

preciso admitir que nossa mente oscila entre tirar proveito da si-

tua����o e, quem sabe, ter algumas fantasias de vingan��a e admitir

que estamos envergonhados, ressentidos, ansiosos e ofendidos.

Descobrir o que provoca esses sentimentos ��� e depois pro-

curar eliminar os sentimentos com id��ias puras em cima de

id��ias impuras ��� �� a ��nica sa��da quando se tem certeza de que

n��o dever��amos nos sentir assim.

Nosso desejo de desviar o olhar de nossos impulsos

mesquinhos n��o �� um desejo de maior unifica����o,

igualdade ou amor. A realidade que nos perturba nos

deixa apreensivos. O fato de que isto acontece a muitos

nos leva a negar que isto aconte��a conosco. Em suma,

n��o desejamos ser comuns, estamos sempre entre os

poucos escolhidos que n��o se sentem perturbados. On-

de estar�� a integridade e a igualdade nisso?

Complicamos ainda mais a nossa tarefa acreditando que, se

consegu��ssemos chegar �� interpreta����o correta, n��o nos sentir��a-

mos assim. Quando um gar��om �� grosseiro, por exemplo, nos irri-

tamos. Mas, se descobrimos que sua mulher e seus oito filhos

morreram num inc��ndio, o fato serve como atenuante de seu

comportamento. O que ningu��m considera �� que talvez o gar��om

seja grosseiro porque �� uma pessoa rude. O fato �� que as formigas

picam, os touros s��o bravos ��� e n��s perdoamos umas e outros.

1 4 4 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

Se consegu��ssemos perceber que todos n��s cometemos

praticamente os mesmos erros, talvez ajud��ssemos uns





aos outros. Mas duvido...


As abordagens mencionadas n��o funcionariam se algu��m

percebesse o valor do perd��o e realmente se dispusesse a ser

generoso. Mas l�� no fundo as pessoas gostam de deixar as outras

pessoas com sentimento de culpa e, para isso, reviram a mente ��

procura do pensamento m��gico que far�� com que esse impulso

se torne inconsciente. Se pergunt��ssemos a n��s mesmos: "Como

poderei reagir ao que acaba de acontecer?", nossa mente teria a

oportunidade de identificar a fonte de nossa perturba����o e

chegar �� camada mais profunda de pensamentos por interm��dio

dela. Mas se dizemos: "N��o quero esses pensamentos" ��� o que

na verdade significa "Quero ser espiritualmente especial" ���,

nossa mente se afasta de nosso ego como a m��o se afasta de uma

superf��cie quente. E jamais temos a oportunidade de chegar a

nosso ��mago.

O melhor �� enfeitar a nossa m�� vontade, sondar as profun-

dezas de nossa arbitrariedade ��� fazer isso at�� nos darmos conta

de que n��o somos melhores do que ningu��m. Seria a situa����o

ideal, sem medo de se sentir normal e igual a todo mundo. Nor-

mal, neste caso, n��o significa ser um "pecador culpado". N �� o ��

verdade que, uma vez que tenhamos admitido nossas falhas,

come��amos a mudar para melhor. N �� o funciona assim. A culpa

�� apenas mais uma forma de nos sentirmos especiais. Em vez de

pensarmos que somos melhores do que outros, pensamos que

somos piores ��� mas ainda assim diferentes.

Dizer que fomos prejudicados na inf��ncia ou que temos uma

natureza corrupta e que, por isso, jamais alcan��aremos aquele

O caminho do conhecimento espiritual 145

ponto de liberta����o, �� apenas uma maneira de atribuir carac-

ter��sticas m��gicas a palavras e negar a for��a de nossas pr��prias

escolhas.

E m n o m e d a p a z e d a p l e n i t u d e

Acredite, at�� Gayle e eu duvidamos do valor de uma via espiri-

tual da maneira como em geral �� praticada. E m nossa opini��o, se o

seu objetivo �� sentir a integra����o com Deus, ser verdadeira-

mente ��til para as pessoas a seu redor e ter uma crescente sen-

sa����o de paz e unidade, uma abordagem religiosa, metaf��sica ou

espiritual para a vida muitas vezes funciona contra esses obje-

tivos. N �� o deveria ser assim, mas em geral ��...

�� ir��nico pensar que pessoas com fortes convic����es espiri-

tuais muitas vezes t��m egos maiores, s��o mais rigorosas e n��o se

sentem t��o bem quanto as pessoas que n��o se interessam por

ensinamentos m��sticos. Aqueles que vestem o manto da integri-

dade muitas vezes n��o t��m a menor vontade de sentir a integri-

dade com qualquer pessoa. O nosso ego n��o atua independente

dos nossos desejos, porque o ego de cada um �� aquela pessoa. ��

interessante observar quantas vezes alardeamos o que deixamos

de fazer e criticamos em outros o que fazemos normalmente.

Voc�� j�� notou que, em geral, as pessoas que costumam

dizer "...finalmente aprendi a dizer n��o" jamais tiveram

grandes problemas em dizer um n��o logo de cara?

Quando pessoas de boa ��ndole se dedicam a ensinamentos

positivos, o resultado s�� pode ser ��timo. Isso acontece porque

mesmo as pessoas cheias de boas inten����es t��m egos e o objeti-

vo do ego sempre �� alguma forma de engrandecimento pessoal.

1 4 6 N��o leve a vida t��o a s��rio

Embora entrem na via espiritual pelo desejo de se tornarem

boas, �� comum que essas pessoas comecem paulatinamente a

movimentar-se na dire����o oposta. A raz��o �� que, inconsciente-

mente, elas t��m a superioridade como projeto pessoal e invaria-

velmente terminam se convencendo de que a atingiram.

Quanto mais tempo dedicam a conversar, estudar e discutir seu

caminho espiritual, mais autocentradas se tornam. Na verdade,

elas ficam at�� menos flex��veis e generosas do que eram antes de

come��ar a busca pela "verdade". Em vez de experimentar a pleni-

tude, elas aprendem como ocultar sua mente doentia, a represen-

tar o papel de espiritualizadas. Em lugar de atingir a verdadeira ilu-

mina����o, elas se tornam pessoas "espiritualmente corretas".

Os que se consideram normais e iguais, conscientes de suas

in��meras limita����es, simplesmente n��o se permitem acreditar

que um dia descobrir��o verdades espirituais que ningu��m mais

conhece. O ego prevalece em rela����o aos esfor��os espirituais

como num c��rculo vicioso: no mesmo dia em que voc�� busca um

caminho espiritual, o seu ego tamb��m se engaja, e para cada

motivo espiritual que voc�� tem, tamb��m existe um motivo do

ego. N �� o �� raz��o para ter medo, mas para estar muito alerta.

Pessoas com egos j�� pacificados n��o parecem ter qualquer

interesse em se comparar com outras pessoas. De modo geral,

t��m vidas simples, comuns, sentem-se bem em qualquer lugar e,

no cotidiano, emanam bem-estar e paz. Seu tempo normalmente

�� dedicado a coisas sem import��ncia e seus cora����es a pessoas

"sem import��ncia". N �� o t��m nenhum conceito inflex��vel ou h��-

bitos r��gidos, nem h�� nada de extraordin��rio nos assuntos de

suas conversas. �� f��cil agrad��-las e, em geral, est��o felizes por

nenhuma raz��o aparente. Na verdade, elas acham divertidos e

cativantes os egos dos outros.

O caminho do conhecimento espiritual 1 4 7

E m b u s c a d o s t a t u s q u o

At�� os anos 60 as pessoas n��o acreditavam tanto em leis

metaf��sicas ou "princ��pios universais", mas sim no fluxo natural da

vida. Se voc�� fez o que �� certo; se n��o questionou a autoridade, o

seu lugar na sociedade ou a situa����o vigente; se n��o mentiu, n��o

disse palavr��es, n��o trapaceou, nem bebeu demais; se trabalhou

muitas horas e poupou o seu dinheiro para poder transmiti-lo a

seus filhos; se foi leal a seu pa��s, �� companhia para a qual trabalha,

ao partido pol��tico, �� universidade em que estudou; se cumpriu

seus deveres conjugais... Ent��o, tudo dar�� certo e em determinado

momento voc�� caminhar�� em dire����o ao p��r-do-sol.

Esta abordagem estendia-se ��s escolhas pessoais, como a

marca do autom��vel, o estilo de roupa e at�� o gosto em quest��es

de m��sica e estrelas de cinema. O essencial era manter-se afina-

do com o status quo, que todos mais ou menos compreendiam e

com o qual mais ou menos concordavam. Culturalmente, ��ramos

bastante coerentes. Cont��vamos uns aos outros hist��rias das

recompensas recebidas pelas pessoas que "trabalharam duro" e

viviam "segundo as regras" e gost��vamos dos exemplos do que

acontecia a quem n��o vivia assim.

N o s s a sociedade acreditava que as pessoas sabiam como se

comportar de modo que a vida funcionasse muito bem. Agora,

neste in��cio do s��culo X X I , acreditamos que renegar "a maneira

como se faz as coisas" proporciona uma oportunidade melhor

para a felicidade. �� preciso sentir-se livre para experimentar

diferentes "estilos de vida" e formas "ex��ticas" de divertimento,

al��m de estar aberto para mudar de amigos e familiares assim

como se troca de trabalho, resid��ncia ou penteado.

N �� o apenas questionamos os valores como passamos a der-

rub��-los obsessivamente. J�� n��o sabemos olhar para qualquer

1 4 8 N��o leve a vida t��o a s��rio

coisa sem ansiedade, incerteza e cinismo. Todos querem saber

quais s��o as for��as e os fatos essenciais. Ansiamos por conhecer

as regras e queremos que elas nos sejam explicadas e numeradas.

Felizmente, isto jamais acontecer��. O mundo simplesmente n��o

�� regido por uma filosofia, doutrina ou conjunto de regras.

Admitir essa verdade tira um peso enorme e totalmente

desnecess��rio de nossos ombros.

O essencial para a liberdade �� admitir que mundo n��o fun-

ciona, em vez de continuar em busca da f��rmula m��gica.

H�� quem tenha descoberto as leis da felicidade e do sucesso

��� mas por que, afinal, desejar��amos essas leis? A ��nica regra da

vida mais ou menos estabelecida �� que, estando relaxados e

flex��veis, somos felizes ��� sendo r��gidos e controladores, somos

infelizes. Portanto, �� importante nos desapegarmos de nosso

anseio em fazer as pessoas se comportarem �� nossa imagem e

semelhan��a.

Observe que o momento em que voc�� se torna infeliz

normalmente �� o momento em que voc�� tenta controlar

a outra pessoa.

Em geral as pessoas t��m a ilus��o de que conhecem as pe��as

que constituem o quebra-cabe��a de sua vida. Elas acreditam que

algumas est��o tranq��ilamente no lugar, mas at�� mesmo as que

pareciam estar mudam de forma e j�� n��o cabem mais. Outras

flutuam fora do alcance e, al��m disso, est��o sempre surgindo

novas pe��as. Uma das muitas raz��es pelas quais jamais alcan-

��amos o lugar onde tudo est�� exatamente como desejamos �� que

O caminho do conhecimento espiritual 1 4 9

todas as realiza����es existem por compara����o. Cada n��vel de rea-

liza����o se apaga diante do desfile ininterrupto de novas com-

para����es.

Voc�� poupa o seu dinheiro e consegue um carro melhor - mas

por quanto tempo este ser�� o "melhor" carro? Voc�� troca o seu

marido ou mulher por um(a) melhor ��� mas por quanto tempo

ser�� o(a) "melhor"? Voc�� se esfor��a loucamente no spa e entra em

melhor forma, mas n��o permanece na "melhor" forma na sua

mente nem na mente de ningu��m...

M o m e n t o s d e d e c i s �� o

Se a nossa mente n��o fosse flex��vel, estar��amos limitados aos

velhos medos e anseios. Se j�� decidimos quem merece ser amado

e quem n��o merece o nosso amor, �� porque bloqueamos a expe-

ri��ncia de uma paz abrangente. A mente �� a porta para o cora-

����o. Ela pode fazer com que a entrada seja complicada ou sim-

ples. Depende de como a usamos.

Somos livres para mudar a nossa Unha de pensamento, a nossa

orienta����o mental, a nossa percep����o da realidade ��� basta que-

rer. �� t��o simples quanto agarrar com firmeza o volante do carro

e olhar para a estrada, ou pousar a m��o no volante e olhar para a

estrada. A estrada continua sendo a mesma, mas podemos diri-

gir com esfor��o ou sem esfor��o.

Os pensamentos que criticam cada caracter��stica superficial

de nossa personalidade, ou da personalidade dos outros, se mo-

vimentam lentamente, como se estivessem pouco �� vontade. Por

outro lado, os pensamentos que assimilam cada pessoa em sua

integridade e as compreendem rapidamente s��o ��geis e leves. A

mente aberta promove a paz, seu objetivo �� pensar qualquer

assunto com desembara��o.

1 5 0 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

Podemos escolher o que dizemos e fazemos. Voc�� talvez tenha

chegado a um ponto em sua vida em que pode achar engra��ado

observar esses momentos de decis��o: levantar agora ou desligar o

despertador, o que vestir, o que comer no caf�� da manh��, como

reagir ao motorista que n��o viu o sinal mudar de cor... mas voc��

j�� conhece o caos do mundo e sabe que aguardar em paz e obser-

var com interesse o que vir�� a seguir �� a decis��o mais s��bia.

As escolhas s��o determinadas mais por nossos desejos pro-

fundos e menos pela decis��o consciente. Quando o cora����o tem

como prop��sito a integridade e a uni��o, as escolhas exigem

menos esfor��o, s��o mais autom��ticas. Isto se torna especial-

mente vis��vel quando come��amos a sentir uma integra����o espiri-

tual mais profunda com as pessoas que nos rodeiam. Os pais, por

exemplo, talvez se perguntem por que continuam a fazer sacrif��-

cios intermin��veis pelos filhos. Talvez at�� se censurem por se-

rem t��o condescendentes, mas continuam se sacrificando. A

simples hesita����o lan��a-os imediatamente no conflito e no sofri-

mento emocional.

Naturalmente, a psicologia despreza esse tipo de sacrif��cio ���

que �� classificado como doen��a. Diante desta perspectiva, Jesus,

Gandhi, Martin Luther King Jr., hoje, seriam tachados de psi-

c��ticos. No entanto, esses homens n��o eram ing��nuos e, com

certeza, n��o eram loucos. Eles seguiam uma via espiritual, n��o

uma trilha mundana.

Nosso progresso espiritual �� indicado por nossa von-

tade de parar de perder tempo com as futilidades de

nossa vida pessoal. Isto nos permite enxergar o rela-

cionamento que, ali��s, sempre esteve ali ��� n��s �� que

n��o percebemos.

O caminho do conhecimento espiritual 1 5 1

Quest��es como as seguintes podem ajudar a nos concentrar-

mos no item "Mudar n��o �� menos espiritual do que n��o mudar":

O que complicar�� menos a minha vida?

Qual �� a minha id��ia de tranq��ilidade?

Isto me ajudar�� a apreciar mais as pessoas a quem amo?

Sinto algum conflito em rela����o ao que fazer? Ent��o... ��

melhor esperar.

Que decis��o provocar�� menos questionamentos no futuro?

S E M P R E C O N C E I T O S

Quando o encontrei, Poppie tinha quatro anos e ainda n��o

falava. Um ano antes, ele fizera uma opera����o para soltar a l��n-

gua presa e, embora seus olhos brilhassem com intelig��ncia, ele

ainda estava na fase pr��-verbal de uma crian��a de um ano.

Tagarelava sem parar, mas numa algaravia sem sentido.

Seus pais, ambos preocupados com as carreiras profissionais,

o mantinham em quartos cheios de brinquedo, mas sem a pre-

sen��a de outros seres humanos. C o m o Poppie se aproximava da

idade de entrar na escola, de repente passaram a se preocupar

com a id��ia de que o filho n��o fosse uma crian��a normal.

O pai era um "ca��ador de petr��leo" ��� ele fazia sondagens de

po��os de petr��leo, o que ��s vezes exigia passar dias sem dormir.

Quando voltava para casa, em geral dormia dois ou tr��s dias

seguidos. Ao acordar, agredia verbalmente a mulher e logo volta-

va para os campos de petr��leo.

Eles me perguntaram se Poppie era normal e respondi de um

ponto de vista espiritual. Mostrei que o menino brincava nor-

malmente e ria com freq����ncia. Destaquei especialmente a liga-

����o dele com o cachorro. Os pais lhe deram de presente um fi-

152 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

lhote de pastor alem��o e logo descobriram que Poppie ficava

muito calmo quando o cachorro estava no quarto com ele. A

empregada s�� tinha de limpar a sujeira do cachorro.

Embora vivesse trancado com o cachorro, Poppie escutava o

pai gritando com a m��e e, mais tarde, quando conseguiu falar,

me contou que h�� muito tinha o h��bito de sair do quarto "bem

quietinho" para "ver as brigas". Ele me disse que a m��e "pro-

vavelmente merecia aqueles berros". Sabendo que as poucas

vezes em que ela se dirigia ao menino era para gritar com ele, eu

podia compreender o senso de justi��a infantil...

Poppie entrara na fam��lia de maneira fora do comum. O pai o

encontrara abandonado numa cabana, dentro de um cercado im-

provisado. Descobriu que era o filho de uma prostituta, que

todos os dias trazia comida e ��gua para o beb�� e sa��a. Con-

trataram um advogado, deram algum dinheiro para a m��e e

Poppie foi adotado legalmente. Do ponto de vista do garoto, ele

apenas mudou de uma forma de isolamento para outra.

Um dia resolvi pegar Poppie para um dia de brincadeiras. A

esta altura ele j�� estava com cinco anos e falava muito bem.

Primeiro fomos a um parque com escorregas, balan��os e outros

brinquedos. Poppie viu uma enorme caixa de areia e correu para

ela. Quando me aproximei, percebi que o que �� dist��ncia eu pen-

sara serem crian��as brincando era um grupo de jovens adultos

com a s��ndrome de Down.

Eles apresentavam o rosto caracter��stico, a fala indistinta,

alguns at�� babavam ou estavam com nariz escorrendo. Quase

todos sabem que os portadores da s��ndrome de Down n��o repre-

sentam nenhum risco para as outras pessoas. Na verdade, eles

tendem a ser menos violentos e notavelmente mais alegres do

que outros grupos. No entanto, percebi que nenhum dos pais ou

O c a m i n h o d o c o n h e c i m e n t o e s p i r i t u a l 153

bab��s deixavam outras crian��as se aproximarem da caixa de

areia, embora algumas crian��as menores mostrassem o desejo de

ir at�� eles.

Poppie brincou com esse grupo de gente barulhenta e exu-

berante at�� que eles tiveram de ir para casa. Embora tenhamos

ido a muitos outros lugares considerados at�� mais interessantes

��� fomos �� praia e a um parque marinho ���, no final do dia,

Poppie me perguntou quando poderia voltar para "brincar com

aqueles caras engra��ados".

A b r i n d o m �� o d a p e r f e i �� �� o

Atravessar um ��nico dia �� como estar numa espa��onave pas-

sando entre corpos celestes. Cada massa, pequena ou grande, tem

sua for��a de atra����o gravitacional, e os viajantes mudam de dire����o

continuamente. Observe como �� preciso muito pouco para nos

desviarmos do rumo. No entanto, h�� uma enorme diferen��a entre

desviar-se ocasionalmente do rumo interior que estabelecemos

para n��s mesmos e escolher o caminho apontado pelos outros.

Se fiz��ssemos tudo de maneira diferente, mais ou menos as

mesmas pessoas concordariam que tamb��m estar��amos errados.

Fazer o qu��? Nada? N �� o , isto tamb��m seria um erro ��� porque

seria uma rea����o, n��o um objetivo. Continuar��amos sendo v��ti-

ma das vozes dissonantes. Se agirmos sem nenhum senso de

dire����o interior, o resultado n��o ter�� nenhum valor duradouro.

N �� o poder�� ajudar uma pessoa querida nem alimentar nossa

alma. Jamais podemos "consertar" ou "fazer alguma coisa acon-

tecer". Quando este �� o nosso objetivo, estamos valorizando o

resultado errado. A perfei����o n��o est�� na maneira como as

coisas acontecem. Mas podemos atuar a partir da paz, fazendo

da paz o nosso objetivo.

154 N��o leve a vida t��o a s��rio

E se f��ssemos coerentes sobre o que somos, mas cheios de

d��vida em rela����o ao que vemos? E se olh��ssemos para tudo com

interesse de marinheiro de primeira viagem? Dir��amos para n��s

mesmos: "Hoje terei olhos flex��veis. Estou decidido a olhar para

tudo com suavidade. N �� o farei nenhum julgamento antes do

tempo. A cada momento me lembrarei do fato de que jamais vivi

este dia antes, que jamais tive esta conversa por telefone antes,

jamais estive no meio desta multid��o, jamais olhei para este c��u,

jamais tive esta sensa����o. Todas as circunst��ncias s��o um pou-

quinho diferentes hoje do que jamais foram antes. Cada dife-

ren��a ser�� um pr��mio que juntarei ��� e no final do dia serei rico

em novidades."

L i b e r t a �� �� o 2 5

Tempo sugerido: 1 dia ou mais

Durante todo o dia, repita:

Debaixo das minhas rea����es habituais est�� a tranq��ili-

dade do meu cora����o. Debaixo do caos do mundo est��

a plenitude da paz.





Dez


Sem levar os


p r o b l e m a s t��o a s �� r i o

Para a maioria das pessoas, a palavra unidade �� apenas

um conceito bonito, mas n��o se refere a nada real. O afeto

que sentimos uns pelos outros nos remete �� id��ia de comunh��o,

mas quem, entre aqueles que voc�� conhece, conseguiu chegar

l��? Lutamos por uma sensa����o, um ind��cio qualquer que dimi-

nua o prec��rio equil��brio dos relacionamentos. Para experimen-

tarmos uma pequena medida de amor e da emo����o de fazer

parte, de ser bem recebido e aceito, �� preciso ponderar cuida-

dosamente a pequena margem de terreno comum que temos

com cada pessoa.

Tentamos enfeitar essa realidade dizendo que a diversidade ��

o tempero da vida, mas a verdade �� que a solid��o continua sendo

a emo����o que domina o mundo. Chegamos a este mundo sozi-

nhos, deixaremos o mundo sozinhos e, enquanto estamos por

aqui, �� por nossa conta e risco.

Muitas pessoas come��aram a se sentir arrasadas e sufocadas

com os efeitos da globaliza����o, que trazem para dentro de nossa

casa, por meio da televis��o e outros meios de comunica����o de

massa, a imensid��o da infelicidade e da pobreza do mundo.

Essas sensa����es negativas agora povoam nossas noites, fins de

semanas e f��rias. Por esta raz��o, come��amos a ressaltar, e at�� a

156 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

apreciar, as nossas diferen��as ��� �� o meio que encontramos de

reafirmar nossas individualidades.

Aparentemente, podemos escolher entre ser mais ou menos

diferentes ��� o amor n��o �� uma op����o. N �� o , porque duvidamos

dele. Ao contr��rio. O amor �� vivido nos encontros ao acaso, nas

perambula����es e nas tarefas que preenchem cada um de nossos

dias. Quando amamos, despertamos para o amor. Quando esten-

demos a paz, despertamos para a Paz. Existe, na verdade, uma

crescente nostalgia no cora����o de muita gente. O caminho ��

abrir m��o de seus medos, suas esperan��as e suas vidas al��m dos

limites do ego. C o m o se faz isto? C o m os pequenos milagres da

compreens��o, do apoio, da paci��ncia e da felicidade.

Nesta viagem em busca do autoconhecimento, voc�� avaliou

muitas coisas ��� agora est�� na hora do seu cora����o e de sua

mente se tornarem um s��. N �� o duvide: a sinceridade �� a for��a

que est�� por tr��s da busca da felicidade e da paz. Convido meus

leitores a darem um salto de f��.

�� n d i c e d e L i b e r t a �� �� e s

Trinta dias de exerc��cio para voc�� aprender a n��o levar a vida t��o

a s��rio. N o s s a sugest��o �� que voc�� fa��a os exerc��cios um por um

e na ordem em que aparecem.

Liberta����o 1

1 dia

P �� g - 2 5

Liberta����o 2

1 dia

p �� g - 3 2

Liberta����o 3

1 dia

P �� g - 3 9

Liberta����o 4

1 dia

P �� g - 4 9

Liberta����o 5

1 dia

P �� g - 5 8

Liberta����o 6

2 dias

P �� g - 6 2

Liberta����o 7

1 dia

P �� g - 6 8

Liberta����o 8

2 dias

P �� g - 6 9

Liberta����o 9

Cr��dito extra, liberta����o extra

p��g. 79

158 N �� o l e v e a v i d a t �� o a s �� r i o

L i b e r t a �� �� o 1 0

(liberta����o fundamental) 4 dias

p��g. 82

L i b e r t a �� �� o 1 1

2 dias

p��g. 91

L i b e r t a �� �� o 1 2

2 dias

p��g. 91

L i b e r t a �� �� o 1 3

2 dias

p��g. 92

L i b e r t a �� �� o 1 4

1 dia

p��g. 100

L i b e r t a �� �� o 1 5

1 dia

p��g. 101

L i b e r t a �� �� o 1 6

(liberta����o para necessidades especiais)

p��g. 104

L i b e r t a �� �� o 1 7

1 dia

p��g. 108

L i b e r t a �� �� o 1 8

2 dias

p��g. 113

L i b e r t a �� �� o 1 9

1 dia

p��g. 120

L i b e r t a �� �� o 2 0

1 dia

p��g. 133

L i b e r t a �� �� o 2 1

1 dia

p��g. 139

L i b e r t a �� �� o 2 2

1 dia

p��g. 140

L i b e r t a �� �� o 2 5

1 dia

p��g. 154

C O N H E �� A O U T R O S T �� T U L O S D A E D I T O R A S E X T A N T E

1.000 lugares para conhecer antes de morrer, de Patr��cia Schultz

A Hist��ria - A B��blia contada como uma s�� hist��ria do come��o ao

fim, de The Zondervan Corporation

A ��ltima grande li����o, de Mitch Albom

Conversando com os esp��ritos e Esp��ritos entre n��s, de James Van

Praagh

Desvendando os segredos da linguagem corporal e Por que os homens

fazem sexo e as mulheres fazem amor?, de Allan e Barbara Pease

Enquanto o amor n��o vem, de lyanla Vanzant

Fa��a o que tem de ser feito, de Bob Nelson

Fora de s��rie - Outliers, de Malcolm Gladwell

Jesus, o maior psic��logo que j�� existiu, de Mark W. Baker

Mantenha o seu c��rebro vivo, de Laurence Katz e Manning Rubin

Mil dias em Veneza, de Marlena de Blasi

Muitas vidas, muitos mestres, de Brian Weiss

N��o tenha medo de ser chefe, de Bruce Tulgan

Nunca desista de seus sonhos e Pais brilhantes, professores fasci-

nantes, de Augusto Cury

0 monge e o executivo, de James C. Hunter

0 poder do Agora, de Eckhart Tolle

O que toda mulher inteligente deve saber, de Steven C��rter e Julia

Sokol

Os segredos da mente milion��ria, de T. Harv Ecker

Por que os homens amam as mulheres poderosas?, de Sherry Argov

Salom��o, o homem mais rico que j�� existiu, de Steven K. Scott

Transformando suor em ouro, de Bernardinho

I N F O R M A �� �� E S SOBRE OS

PR��XIMOS L A N �� A M E N T O S

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De: Reginaldo Mendes 


Olá, pessoal:

                   Este é mais um livro de nossa campanha de doação de livros espíritas e não espíritas para atender aos deficientes visuais.

                   Agradecemos ao irmão Fernando pela  doação e  digitalização.

Pedimos não divulgar em canais públicos ou Facebook. Esta nossa distribuição é para atender aos deficientes visuais em canais específicos

"A  MAIOR CARIDADE QUE SE PODE FAZER É A DIVULGAÇÃO DA DOUTRINA ESPÍRITA. EMMANUEL"


O Grupo de Livros Mente Aberta lança hoje mais um livro digital !
Desejamos a todos uma boa leitura !

Não Leve a vida tão a sério -Hugh Prather

Sinopse:
A vida não precisa ser tão complicada quanto insistimos em torná-la. A simples decisão de não se agarrar aos problemas pode melhorar - e muito - nossas vidas. É isso o que Hugh Prather nos mostra, com humor e clareza, neste livro. Ele escreve sobre as dificuldades do dia-a-dia e nos dá ferramentas para contorná-las, mudando o que há de mais importante na vida: nossa atitude mental e a forma de reagir aos inevitáveis contratempos. Seus ensinamentos são baseados em histórias reais que nos deixam com a sensação de já ter passado por aquela situação ou testemunhado algo parecido. Você aprenderá soluções práticas para dar um basta às preocupações e ao medo, e se libertar de tudo aquilo que impede sua felicidade.

Mais uma vez pedimos não divulgar esta obra  em canais públicos ou Facebook. Esta distribuição exclusiva para canais específicos de deficientes visuais. 

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