terça-feira, 21 de janeiro de 2020

{clube-do-e-livro} LANÇAMENTO : TENTAÇÃO DE UMA MULHER CASADA - CARLOS AQUINO - FORMATO : PDF, TXT, EPUB E DOCX

L i v r o digitalizado p e l a Equipe Bons Amigos p a r a

a t e n d e r a o s deficientes visuais.



COLE����O CORAL S��RIE VERDE

Pr��ximo lan��amento:

A PONTE DAS ILUS��ES PERDIDAS

Armindo Kramer.

Pedidos pelo Reembolso Postal

Caixa Postal 20.095

21.180 - Rio de Janeiro ��� RJ

TENTA����O

DE UMA

MULHER CASADA

Carlos Aquino

Copyright �� MCMLXXX

Cedibra ��� Editora Brasileira Ltda.

Direitos exclusivos.

Rua Filomena Nunes, 162

21.180-RIO DE JANEIRO ��� RJ

Distribu��do por:

FERNANDO CHINAGLIA DISTRIBUIDORA S.A.

Rua Teodoro da Silva, 907 ��� Rio de Janeiro ��� RJ

Composto impresso pela:

SOC.GRAFICA VIDA DOM��STICA LTDA.

Rua. Dia da Silva, 14 ��� Rio de Janeiro ��� RJ

O texto deste livro n��o pode ser, no todo ou em parte, nem

reg��strado, nem reproduzido, nem r e t r a s m i t i d o , por qual-

quer meio mec��nico, sem a expressa autoriza����o do detentor

do copyright.

Cap��tulo 1

Cristiano

Ele j�� estava com mais de quarentas anos.

E o pior era o fato de aparentar exata-

mente, a idade que tinha, ou talvez mais

Se ao menos fosse bem conservado!

Cristiano encontrara, por acaso, dias antes,

um antigo colega de gin��sio, o Murilo.

Passaram um pelo outro na Avenida Copaca-

bana. Cristiano reconheceu imediatamente o a n -

tigo companheiro de escola. O rosto de Murilo P 5

pouco ou quase nada havia mudado. Os mes-

mos tra��os, mais bonito at��. E o corpo esbelto,

um ar saud��vel de quer era feliz e tinha ven-

cido na vida.

Ao avist��-lo, foi ao seu encontro, risonho.

Sabia que era Murilo, tinha certeza, apesar de

saber que ele n��o morava no Rio. Mas s�� podia

ser ele.

No entanto, Murilo ficou meio espantado

quando se aproximou.

��� N��o est�� me reconhecendo? ��� perguntou

Cristiano.

O outro disfar��ou:

��� B e m . . . eu o conhe��o de onde?

Murilo n��o tinha a menor id��ia, n��o se lem-

brava de - ter visto Cristiano alguma .vez an-

tes, em sua vida.

��� Olhe bem pra mim ��� insistiu Cristia-

no.

Por mais que olhasse, Murilo n��o recor-

dava. Mas terminou dizendo, por delicadeza:

��� Sua fisionomia n��o me �� estranha. Mas

n��o consigo me lembrar de seu nome nem de

onde o conhe��o.

��� Sou Cristiano, seu antigo colega de gi-

n��sio. Sentava ao seu l a d o . . .

��� Puxa! �� o Cristiano? P 6

O espanto de Murilo foi absolutamente sin-

cero. O homem que via na sua frente n��o tinha

nada do rapazinho talentoso, que tocava piano

muito bem, e mudara-se para o Rio de Janeiro,

com o objetivo de ser famoso.

Cristiano compreendeu a triste verdade. Ele

havia mudado mesmo.

E muito.

N��o apenas fisionomicamente: tinha os olhos

empapu��ados, riscos na testa, vincos na boca.

E uma barriguinha anti-est��tica.

Mas tamb��m interiormente. N��o era mais: o

rapaz e um tanto insolente por se saber t��o

talentoso, com um futuro brilhante pela frente,

como todos diziam.

A partir da��, Murilo procurou compensar o

fato de n��o ter conhecido o amigo.

ficaram mais de vinte minutos, em p��, con-

versando sobre os velhos tempos.

��� Lembra da Laurinha? ��� perguntou Muri-

lo.

��� Mas claro! Acha que ia esquecer? N��s

dois namor��vamos com ela ao mesmo tempo.

��� Pois ��. Mas eu tinha uma inveja louca de

voc��. Laurinha s�� vivia elogiando voc��, dizendo

que era o maior. Fazia tudo para me humilhar.

E um dia eu vi voc��s dois juntos no cinema:,

se beijando, voc�� pegando nas coxas dela. Sen- P 7

ti um ci��me terr��vel. Pensei que ia morrer de

despeito. Laurinha nunca tinha permitido estas

liberdades comigo.

��� Voc�� continua morando l�� na nossa ter-

ra? Ou est�� aqui no Rio?

��� Continuo l��. Vim ao Rio a passeio.

Cristiano pensou em convidar o amigo para

ir at�� sua casa, visit��-lo, mas teve vergonha

do lugar onde morava. N��o queria exibir sua

pobreza. Para sua alegria, ouviu Murilo di-

zer:

��� �� uma pena que a gente s�� tenha se en-

contrado hoje. Viajo logo mais, �� noite. Sen��o,

eu teria o maior prazer de visit��-lo.

Fica para outra vez. Voc�� deve voltar

ao Rio, n��o? N��o vamos perder mais o contate

um com o outro, certo?

��� Eu continuo morando na mesma rua, na

mesma casa...

N��o casou?

Casei. Mas como a casa era muito grande

e eu sou filho ��nico, meus pais acharam melhor

que eu ficasse l��.

��� Voltando ao assunto de Laurinha. O que

foi feito dela?

��� Coitada!

��� Por qu��? Morreu? P 8

��� N��o. Mas se prostituiu. Largou a fami-

lia. Est�� numa decadencia que so vendo! Bem���,

desde os tempos de escola que a gente podia

adivinhar que o fim dela seria esse.

Cristiano compreendeu que a vida n��o havia

sido cruel apenas com ele. Com Laurinha tam-

b��m. Nem todos t��m sorte. Ou n��o sabem fazer

a sua sorte.

��� �� uma pena!

��� Mas o que se pode fazer?

Mais alguns minutos, Murilo despediu-se

Juraram que n��o deixariam de se comunicar,

de escreverem um ao outro.

E cada um seguiu seu caminho.

Aquele encontro deixou Crist��ano muito aba-

lado.

Sentiu concretamente que a vida havia pas-

sado.

Nada mais navia nele do Cristiano que fora

h�� vinte e poucos anos.

Vinha pensando nisso tudo agora, no ��nibus

de volta para sua casa no M��ier.

At�� que naquele dia n��o tinha raz��o para

tanta amargura. Afinal, acontecera uma coisa

boa. Desempregado h�� algum tempo, conseguira

finalmente um trabalho. P 9

Um amigo seu (este, amigo recente, do Rio),

que tocava na boate de um hotel de luxo, h a -

via adoecido e precisava ficar um m��s afas-

tado.

E lembrara-se de indic��-lo.

Ele fora ao hotel e tudo fora acertado.

Come��aria naquela noite mesmo.

Estava voltando para casa, para dar a boa

not��cia �� mulher, apesar de saber que ela a

receberia com indiferen��a.

Mais tarde, retornaria ao hotel para come��ar

seu trabalho.

N��o se tratava propriamente de uma opor-

tunidade. Apenas um trabalho, com o qual ga-

nharia um sal��rio bastante razo��vel, at�� bom,

dentro do padr��o a que Cristiano estava acos-

tumado.

Apesar deste lance de sorte, sentia-se amar-

gurado.

E fazia a viagem de ��nibus, dando um b a -

lan��o em sua vida.

Ilus��es, n��o tinha mais h�� bastante tem-

po.

Lutara muito.

Mas era pobre. Sozinho na cidade grande.

Sem conhecimentos. E sem tato para fazer ami-

zades e entrar nos meios que lhe pudessem pro-

porcionar as oportunidades desejadas.

10���

A cidade grande fizera com que sua timidez

aumentasse. Em sua terra, ele julgava-se o

melhor. Lugar pequeno, todos o conheciam e o

elogiavam.

No Rio, era apenas um entre milhares de

jovens talentosos em busca da gl��ria.

E ele n��o tinha sido escolhido entre estes

milhares para conseguir a fama. N��o tinha

sido um dos eleitos.

Mas teimara durante muitos anos.

Gastara suas energias, numa esp��cie de com-

pensa����o para suas frustra����es, em farras in-

cr��veis.

Bebia pelos botecos.

Envolvia-se com prostitutas.

Freq��entava o baixo m u n d o , . *

Achava que aquilo lhe dava viv��ncia, com

a qual aumentaria sua sensibilidade, e por con-

seguinte, sua arte.

Esse per��odo durou dez anos.

Foi uma fase muito louca.

Ent��o, conheceu Matilde.

Apaixonou-se.

Tornaram-se amantes.

Casou.

���11

Botou na cabe��a que n��o havia vencido

porque levava uma vida desregrada.

A ��poca em que o artista tinha que ser lou-

co, pertencia ao passado.

Vivia-se a era da competi����o.

Talento s�� n��o resolvia.

Precisava dedicar-se ao estudo, ao trabalho.

E tamb��m, mais importante ainda, penetrar nos

meios mais elevados, conhecer pessoas influen-

tes.

Com o casamento iria disciplinar-se.

Mas novamente deu-se mal.

Na verdade, julgava que s�� cometera erros

em sua vida. N��o acertava nunca, apesar de seu

esfor��o em encontrar a reta certa.

Em primeiro lugar, precisava arranjar um

emprego. Um emprego qualquer. Provis��rio. En-

quanto n��o conseguia vencer em sua carreira.

O pai de Matilde lhe arranjou ent��o um em-

prego p��blico.

Mas numa fun����o baixa.

E todos os dias ia para a reparti����o.

Batia ponto de via-se envolvido em proces-

sos para informar. Uma monotonia atroz.

Mas ia suportando tudo, por amor a M a -

tilde e tamb��m porque dizia sempre para si

12���

mesmo que aquilo seria apenas por um ou dois

anos.

No ano seguinte, nasceu-lhe o primeiro fi-

lho.

E o emprego tornou-se mais necess��rio

ainda.

O segundo filho, veio um ano depois.

E Cristiano foi ficando no emprego.

N��o tinha outra sa��da.

Lembrou-se de como ainda era diferente

h�� doze anos atr��s.

Conhecera Matilde, amara-a com uma inten-

sidade de adolescente e tudo lhe parecera f��-

cil.

Ainda tinha sonhos, muitos sonhos.

Mas os dez anos que permanecera na re-

parti����o encarregaram-se de tirar todos os seus

sonhos.

Nunca se adaptara ao trabalho.

Era um funcion��rio ruim.

Sempre mal-humorado.

Para piorar a situa����o, as dificuldades ha-

viam aumentado com os dois filhos,

Doen��as das crian��as, de Matilde, e dele pr��-

prio.

E o tempo passando.

��� 13

Numa briga terr��vel que tivera com a mulher

resolvera largar o emprego.

Fora seu ��ltimo gesto de coragem e sua

��ltima tentativa de ver se ainda poderia con-

seguir um lugar ao sol.

Triste tentativa.

J�� estava com quarenta anos.

O que poderia esperar um homem que n��o

havia conseguido nada ao atingir os quarenta

anos de idade? Quando a maioria j�� se estabili-

zou, j�� alcan��ou o ��xito, ele tentava um reco-

me��o.

J�� sem for��as, desiludido.

Com o abandono do emprego, a situa����o em

casa piorou.

Viviam quase na mis��ria.

Ele conseguia de vez em quando, com um

antigo conhecido da ��poca das farras que havia

vencido, ou pelo menos que conseguira alguma

coisa, arranjar algum trabalho.

Mas eram coisas espor��dicas.

A mulher reclamava, dizendo que tinha em

sa um vagabundo.

Ele a culpava por n��o ter conseguido ven-

cer.

Brigavam o tempo todo. P��g 14

N��o se separara de Matilde, por causa dos

filhos.

Desceu do ��nibus e come��ou a andar em

dire����o a sua casa, que ficava a alguns quar-

teir��es de dist��ncia.

Agora ia tocar numa boate de luxo.

Mas somente durante um m��s.

E ele, por experi��ncia pr��pria, tinha certeza

que novamente depois estaria desempregado.

E sua vida permaneceria a mesma.

N��o havia mais como mudar.

Ali��s, j��, de certo modo, aceitara seu pr��prio

destino. P��g 15

Cap��tulo 2

Irene

Irene entrou no hotel em companhia do ma-

rido.

Estava deslumbrada com o Rio de Janei-

ro.

Ali��s, Irene era deslumbrada com tudo.

Desde alguns meses antes, quando seu ma-

rido recebera uma heran��a e os dois passaram

a viver como novos ricos, o que de fato oram.

Queriam usufruir tudo que houvesse de bom,

ou pelo menos, o que eles achavam que era

bom. P��g 16

Irene cobrira-se de j��ias, comprara dezenas

de vestidos e sapatos, entupira a casa que h a -

viam adquirido de quinquilharias espalhafato-

sas.

N��o menos deslumbrado era seu marido.

Domingos tamb��m estava a fim de usufruir

de tudo de bom. Inclusive arranjar amantes.

Afinal, com sua atual condi����o financeira, n��o

poderia renunciar a este luxo.

Casa decorada, roupas e j��ias compradas,

muito dinheiro para gastar, decidiram fazer uma

viagem ao Rio de Janeiro, que ainda n��o co-

nheciam.

Depois, em escala, iriam aos Estados Uni-

dos, �� Europa, a todos os lugares a que agora

tinham direito e dinheiro.

Escolheram um dos hot��is mais caros para

se hospedar.

Irene tinha conhecimento, atrav��s da leitura

das colunas sociais, da vida dourada que leva-

vam as senhoras da alta sociedade.

E morria de vontade de ser uma delas.

Ali��s pretendia ser, num futuro pr��ximo ;

Talvez, e era quase certo, que manteriam uma

casa na Bahia e outra no Rio.

Por enquanto iam viajar. Passar algum tem-

po no Rio e depois em outros pa��ses que dese-

javam conhecer.

���17

Passada a fase de turismo, estabeleceriam

tamb��m resid��ncia no Rio.

Desde que estava no avi��o, sobrevoando a

cidade, ela ficara boquiaberta com a paisagem.

Achou tudo Igualzinho aos cart��es postais que

conhecia.

Desceu no aeroporto com ar de grande es-

trela de cinema.

Dirigiram-se ent��o para o hotel.

Ela ficou encantada com o luxo.

Era exatamente assim que queria.

Teve a certeza de que sua temporada no

Rio de Janeiro seria maravilhosa.

Entraram na su��te que haviam reservado.

Finalmente, a s��s, dirigiram-se para a j a -

nela.

A vista era bel��ssima.

Irene sentiu-se realmente como se estives-

se vivendo num filme.

Um filme colorido, do qual ela era a es-

trela.

Uma su��te muito bem decorada, uma j a -

nela panor��mica que mostrava uma paisagem

magnifica.

Domingos abra��ou-a.

E. para completar a felicidade, tinha um ma-

rido jovem e bonito, como ela que a adora-

va.

18

N��o tinham ainda completado trinta anos.

Bonitos, jovens, ricos e saud��veis.

O que podiam pretender mais?

Ele segurou-a pelos ombros e a beijou.

Um beijo cinematogr��fico.

Desde que haviam recebido a heran��a, os

dois s�� pensavam e agiam em termos magnifi-

centes.

Tinham modificado at�� os gestos e a maneira

de falar. Inclusive a maneira de fazer amor.

Quando estavam na cama, n��o eram mais t��o

espont��neos como antes. Faziam tudo preocupa-

dos com a est��tica, para que tudo fosse muito

bonito, como se tivessem sempre espectadores.

O beijo do casal durou mais do que o tem-

po necess��rio.

N��o que eles estivessem realmente sentindo

um desejo ilimitado um pelo outro. Nada disso.

Apenas acharam que era conveniente se bei-

jarem longamente diante da janela panor��mi-

ca que mostrava a linda paisagem.

Era como se estivessem posando para uma

fotografia.

Depois, quando n��o tinha mais f��lego para

continuar com o beijo, separaram-se vagaro-

sa e languidamente come��aram a tirar a rou-

pa. Irene muito mais languidamente do que o

marido, como convinha a uma mulher "sofis-

ticada".

���19

Deixaram as roupas ca��rem no ch��o.

E foram para o banheiro.

Abriram o chuveiro e abra��aram-se, deixan-

do a ��gua escorrer pelos seus corpos.

De repente, Irene teve uma id��ia melhor.

Abandonou Domingos debaixo do chuveiro.

Ele perguntou:

O que vai fazer?

��� Tive uma id��ia maravilhosa.

��� Qual?

��� �� surpresa ��� respondeu a mulher, rin-

do.

Ela apanhou um preparado para fazer es-

pumas, encheu a banheira e o colocou.

Nu. sorridente para a esposa, Domingos

olhava-a em seus preparativos.

Quando a banheira estava completamente

cheia e as espumas transbordavam, os dois

mergulharam.

E divertiam-se como crian��as, jogando es-

pumas um no outro, as pernas entrela��ando-se,

abr����ando-se e beijando-se.

N��o havia nenhum erotismo, nenhum de-

sejo.

Eles estavam apenas preocupados em serem

milion��rios, em viver na vida real cenas que

haviam visto em filmes coloridos de Hollywood.P��g 20

E n x u g a r a m - s e m u t u a m e n t e n a b e l a t o a l h a .

D e p o i s p a s s e a r a m c o m p l e t a m e n t e nus p e l a

su��te.

��� A g e n t e se a m a t a n t o . . . ��� disse Irene

c o m u m a v o z o n d e n �� o h a v i a n e n h u m a emo-

�� �� o . E r a c o m o s e e l a t i v e s s e d i t o q u e i a com-

p r a r u m v e s t i d o n o v o .

��� �� v e r d a d e ��� r e t r u c o u D o m i n g o s s e m t e r

c o n s e g u i d o o u t r a �� r a s e p a r a f a l a r .

��� E v a m o s n o s a m a r s e m p r e .

��� S e m p r e ��� disse o m a r i d o c o m o um e c o .

��� A s pessoas f a l a m que n �� o e x i s t e f e l i -

c i d a d e . N u n c a v i m e n t i r a i g u a l .

��� Nem eu.

E l e c o n c o r d a v a c o m t u d o . M e s m o q u e n o

i n t i m o n �� o c o n c o r d a s s e , e x t e r n a v a a sua c o n -

c o r d �� n c i a , p e l o s i m p l e s a t o d e q u e n �� o q u e r i a

ter t r a b a l h o e m d i s c u t i r .

��� E u s e m p r e o a m e i , s e m p r e f o m o s f e l i z e s ,

n �� o �� m e s m o , D o m i n g o s

��� �� .

��� M a s d e p o i s q u e f i c a m o s r i c o s , n o s s o a m o r

a u m e n t o u , v o c �� n �� o a c h a ?

��� A c h o .

��� E s t a m o s c a d a v e z m a i s u n i d o s , c a d a vez

m a i s f e l i z e s . P �� g 2 1

Em vez de responder, ele deu-lhe um beijo

no rosto.

Irene continuou:

��� E depois dizem que dinheiro n��o d�� fe-

licidade. Outra mentira que a gente est�� acos-

tumado a ouvir.

��� Isso mesmo.

��� N��o quero dizer que, antes, a gente n��o

fosse feliz. Mas �� que com todo este dinheiro,

ficamos muito mais felizes. Podemos amar-nos

o tempo todo. E eu tenho certeja de que n��o

vou enjoar nunca.

Ai foi a vez dela beij��-lo. P��g 22

Capitulo 3

Matilde

Cristiano entrou em seu apartamento.

Fez urna careta ao sentir o cheiro de comida

sendo feita, aquele insuport��vel cheiro de gor-

dura.

Al��m do cheiro caracter��stico do apartamen-

to sempre sujo, sempre em desordem, os filhos

tamb��m sempre imundos, o mesmo podendo ser

dito de Matilde, sua mulher.

�� medida que os anos passavam, ela se

tornava cada vez mais relaxada. P��g 23

���23

Ele detestava mulher assim. Passara a de-

testar tudo em Matilde.

Ela o olhou com indiferen��a.

Cristiano falou:

��� Consegui.

��� Conseguiu o que?

��� Tocar numa boate.

��� Boate de verdade?

Ele procurou falar com entusiasmo:

��� Claro. Uma boate num hotel de luxo.

Vou substituir um amigo meu que adoeceu.

��� E quando ele ficar bom?

��� Volta para o lugar dele.

��� E voc�� fica sem trabalho de novo.

��� Mas, pelo menos durante um m��s, vou

ganhar bem.

��� Ele vai ficar doente somente um m��s?

Cristiano j�� estava quase perdendo a pa-

ci��ncia:

��� O m��dico aconselhou um m��s de repou-

so. Pode ser que fique mais.

��� N��o acredito. �� capaz de ficar logo

bom e voltar numa semana. E ai voc�� vai pra

rua antes.

��� De qualquer maneira vai ficar afastado

um m��s. Mesmo que fique bom logo. J�� est��

tudo acertado.

24���

��� E de que adianta voc�� trabalhar um m��s?

Est�� devendo o aluguel, o armaz��m...

Ele perdeu a paci��ncia, e gritou:

��� Chega, Matilde!

��� N��o fale alto comigo, que eu grito mais

alto ainda.

��� N��o est�� satisfeita em saber que vou ter

uma oportunidade?

��� Oportunidade de qu��? De ganhar um di-

nheirinho durante um m��s e depois mais na-

da?

��� N��o adianta querer conversar com voc��.

Voc�� n��o tem jeito mesmo.

��� Voc�� �� que n��o tem jeito.

��� Eu podia ser um pianista, famoso se n��o

tivesse casado com voc��.

��� Por que n��o olha de frente a realidade?

Por que bota a culpa em mim? A culpa �� sua.

O fato �� que voc�� n��o tem talento. Se tivesse,

tinha vencido. Devia era arranjar um emprego

fixo.

��� Na minha i d a d e . . .

Ele n��o p��de completar, Matilde interrom-

peu:

��� Nunca devia ter largado a reparti����o. Mas

voc�� �� um louco, um louco varrido. Ningu��m

��� 2 5

larga emprego quando n��o tem um centavo.

Se tivesse trabalhando, seus filhos n��o estavam

passando fome.

��� Est�� querendo mesmo brigar, n��o ��? J��

discutimos isso mais de mil vezes.

��� Eu vou brigar com voc�� a vida inteira.

A vida inteira, ouviu Mesmo que eu viva 99

anos, vou continuar brigando, brigando sem pa-

rar. Voc�� n��o presta, n��o vale nada, �� um

vagabundo.

Cristiano desistiu.

Foi para o quarto e deitou-se.

Precisava descansar um pouco.

Mais tarde teria que ir para �� boate tra-

balhar.

Nem por isso, Matilde deixou de falar. Per-

maneceu na sala reclamando.

Ele procurou n��o escutar.

O melhor mesmo era ficar calado.

Como Matilde mudara!

Estava t��o diferente de quando a conhe-

cera!

Matilde mudara muito mais do que ele!

Naqueles ��ltimos doze anos transformara-

se em outra mulher, numa mulher completa-

mente diferente da que conhecera.

26���

F��sica e interiormente.

Ela era bonita, uma mo��a muito bonita,

quando a vira pela primeira vez.

Mas envelhecera depressa demais, engordara,

tinha as pernas cheias de varizes.

Que diferen��a!

Conhecera Matilde quando ainda era virgem.

E naquela ��poca ela o amava.

Haviam come��ado a namorar h�� apenas uma

semana, quando Matilde se entregara a ele.

E Cristiano tinha sido o primeiro.

Ele a levara para o quarto onde morava.

Matilde fora docilmente, louca de desejo.

Dissera-lhe que ainda era virgem. Ele a prin-

cipio n��o acreditava, mas depois comprovara

o fato.

Naquela noite...

Descobrira-lhe os seios, durinhos, pontudos.

Beijou-os, chupou-os.

Matilde entrou em ��xtase.

E ele lambia-lhe o ventre, descia-lhe a cal-

cinha.

Matilde muito t��mida, querendo deter-lhe o

desejo, ela pr��pria por��m sem conseguir deter

o pr��prio.

���27

E e l e e n c o s t a n d o o r o s t o e n t r e suas c o x a s ,

s e n t i n d o o c o r p o d a j o v e m t r e m e r . D e m e d o e

d e s e j o .

T i n h a s i d o t u d o t �� o b o n i t o !

A s i m a g e n s l h e a p a r e c i a m n �� t i d a s , c o m o s e

tudo t i v e s s e a c o n t e c i d o n a v �� s p e r a .

E l e t a m b �� m t i r o u a r o u p a .

M a t i l d e n �� o o olhava-, O p u d o r n �� o p e r m i t i a

q u e o o l h a s s e .

A q u i l o o e x c i t o u m a i s a i n d a .

D e i t o u - a d e l i c a d a m e n t e s o b r e a c a m a .

E c o l o c o u seu c o r p o p o r c i m a .

O s o l h o s d e M a t i l d e b r i l h a v a m .

E seu c o r a �� �� o b a t i a f o r t e .

O m o m e n t o s u p r e m o s e a p r o x i m a v a .

E e l a a n s i a v a p a r a q u e ; c h e g a s s e l o g o .

M a s n �� o f a z i a n e n h u m g e s t o m a i s o u s a d o .





S i m p l e s m e n t e d e i x a v a q u e C r i s t i a n o t o m a s s e


todas as i n i c i a t i v a s .

E l e t e v e u m m o m e n t o d e l u c i d e z , a p e s a r d o

d e s e j o q u e s e n t i a .

M a t i l d e d i s s e r a a v e r d a d e , c o m p r e e n d e u .

E r a r e a l m e n t e v i r g e m .

E e s t a v a p r o n t a a e n t r e g a r - s e p o r a m o r ,

28���

Aquela passividade, aquela confian��a, tudo

excitava cada vez mais Cristiano.

Teve receio de gozar antes de a possuir.

Por isso, apressou o momento supremo t��o

ansiado por Matilde.

O desejo ereto abriu caminho.,

E foi fundo.

Matilde, discreta, sufocou um grito.

Mas n��o p��de deixar de gemt r.

E Cristiano gozou, gozou como nunca gozara

antes. Matilde abra��ada a ele, completamente

entregue, gozando tamb��m.

Aquilo acontecera h�� doze anos. Parecia

ao mesmo tempo que fora h�� um s��culo atr��s

e parecia que fora ontem.

As imagens daquela noite estavam t��o vi-'

vas, que Cristiano tinha at�� a impress��o de ou-

vir a respira����o de Matilde ao seu lado, depois

de se terem amado.

E muitas e muitas outras noites acontece-,

ram com aquele mesmo amor imenso, sem que

diminu��sse a intensidade.

Ate que resolveram casar.

E as coisas foram-se deteriorando

Minando, pouco a pouco.

���29

Matilde continuava na sala reclamando, res-

mungando.

A vida transformara-se num inferno.

O tempo, que fora cruel para ele, fora muito

mais ainda para Matilde.

Ela n��o era nem a sombra do que fora.

Feia, velha, gorda, com varizes, as malditas

varizes. O que ele odiava mais? Maltide ou

suas varizes?

Uma vez ou outra ainda faziam sexo.

Quando Matilde o procurava na cama.

Ele n��o se recusava, apesar de nos ��ltimos

tempos nunca tomar a iniciativa de procur��-

la.

Mas tinha que fazer um esfor��o enorme.

Ela compreendia.

E sofria com isso.

Tamb��m tinha consci��ncia de que n��o era

mais a mesma. E que o marido mantinha rela-

����es sexuais com ela apenas como uma obriga-

����o quase insuport��vel, t��o insuport��vel como o

emprego que largara. E s�� n��o a abandonara

ainda por causa dos filhos, Matilde tamb��m

tinha consci��ncia disso.

Mais um motivo para ser mais amarga.

30���

Cap��tulo 4

dom��nios

A noite j�� tinha descido e Irene n��o che-

gara.

Domingos estava impaciente.

Ela fora a um dos melhores cabeleireiros

cariocas. E como estava demorando muito, Do-

mingos ligara para o sal��o. Irene ainda ia ficar

algum tempo l��.

Chateado de n��o fazer nada na su��te, ele

decidiu descer at�� o hall do holte.

Dirigiu-se ao bar e pediu um u��sque.

��� 3 1

Sempre era melhor ficar ali, vendo o entra-e-

sai de pessoas, do que ficar no apartamen-

to.

Uma loura estava sentada numa poltrona

mais adiante, bem na sua frente.

Olhou-a com aten����o. Era bonita.

O que estaria fazendo ali sozinha?

Certamente esperando algum homem, pen-

sou.

A loura notou que estava sendo observada

e fixou Domingos.

Apesar de n��o ser propriamente um t��mido,

ele desviou a vista.

Tomou mais um gole de u��sque.

Reanimado e encorajado, olhou-a novamen-

te.

Ela continuava encarando-o e desta vez es-

bo��ou um sorriso.

Domingos correspondeu.

A loura, que estava com uma saia aberta

dos lados, cruzou as pernas de tal maneira, que

deixou as coxas �� mostra.

O gesto fora proposital, n��o havia d��vida.

Ela o fizera sem disfar��ar, demonstrando clara-

mente a inten����o de excit��-lo.

E conseguiu seu objetivo. P��g 32

Entre um gole e outro de u��sque. Domingos

olhava para aquelas coxas grossas e bem fei-

tas.

Os dois passaram a se entender pelo olhar.

A loura n��o era nada sutil, e pouco estava

se importando com os outros. Alisou a pr��pria

coxa, vagarosamente, com sensualidade.

Domingos desejou que Irene n��o voltasse logo

do cabeleireiro, que ficasse l�� at�� meia-noite. Te-

ria tempo ent��o de ficar com a jovem desco-

nhecida.

Pediu outro u��sque, uma vez que j�� esvaziara

seu copo.

E permaneceu encarando a loura que tam-

b��m fazia o mesmo.

Ela molhou os l��bios cora a l��ngua.

Domingos n��o mais procurou disfar��ar que

estava com o sexo ereto.

Mais um gole de u��sque.

E imaginou-se levantando a saia da desconhe-

cida e possuindo-a ali mesmo, no hall do ho-

tel na presen��a das outras pessoas espanta-

das.

Mais uma vez a loura sorriu, como que len-

do o que se passava na cabe��a do homem.

Ela fez um movimento mais ousado com as

pernas, e Domingos viu nitidamente que estava

sem calcinhas.

���33

Aquilo quase o enlouqueceu.

O pior era que Irene podia chegar a qual-

quer momento.

N��o resistindo, Domingos aproximou-se da

jovem:

��� Oi!

��� Oi! Eu me chamo Dora, estou dispon��vel,

tenho vinte e tr��s anos, um metro e setenta,

profiss��o indefinida, solteira. E voc��?

Domingo riu. Tamb��m disse seu nome, idade,

peso, altura, profiss��o, mas omitiu o estado ci-

vil.

��� J�� sei que �� casado ��� falou Dora.

��� E minha mulher deve chegar daqui a

pouco.

��� Aonde ela foi?

��� Ao cabeleireiro.

�� uma boa desculpa.

��� Desculpa para qu��?

��� Para transar com algum cara por a��, en-

quanto voc�� pensa que est�� no sal��o de bele-

za.

��� Liguei pra l��. Irene realmente est�� no ca-

beleireiro.

��� Bem, isso n��o importa muito...

��� ��, realmente n��o importa.

34���

��� E voc��? Est�� a fim?

Ele apontou para a cal��a, mostrando seu es-

tado de excita����o:

��� O que voc�� acha?

��� Podemos subir para seu apartamento

��� N��o, porque Irene pode chegar daqui a

pouco.

Dora apontou:

��� Talvez ela j�� tenha chegado. Ser�� aquela

mulher que est�� ali olhando a gente?

Domin��s virou-se e viu Irene mais adian-

te.

���- �� ela, sim.

Ia se dirigindo para a esposa, quando ouviu

Dora falar:

��� Tem tanto medo assim, que nem sequer

se despede de mim?

Ele voltou-se para Dora, sorriu:

��� At�� breve. A gente se encontra em outra

ocasi��o.

Ao chegar perto de Irene, ela deu-lhe as cos-

tas, e encaminhou-se para o elevador. Domingos

a seguiu.

Enquanto esperavam, notou que a mulher es-

tava bastante aborrecida.

���35

Mas n��o trocaram uma ��nica palavra.

O elevador chegou.

Permaneceram mudos.

S�� quando entraram na su��te, Irene falou:

��� Basta eu dar as costas um minuto e voc��

come��a a me trair.

��� Eu?!

��� Claro. Quem era aquela loura?

��� Uma loura...

��� N��o deboche. Domingos. Por que estavam

conversando?

��� N��o �� proibido bater papo com outros

h��spedes do hotel. Enquanto a esperava, para

n��o me chatear muito, come��amos a conversar.

��� E por que voc�� colocou a m��o no bolso,

para que eu n��o notasse que estava excita-

do?

��� Ora, Irene, n��o v�� fazer cenas de ci��mes

no primeiro dia de nossa chegada ao R i o . . .

Mas ela fez.

Inclusive porque achava que ficava bem.

Dava um tempero especial �� sua felicida-

de.

Como s�� pensava em termos de filmes so-

fisticados de Hollywood, levou avante a sua rai-

va.

36���

Discutiu, exaltou-se, amea��ou quebrar um va-

so de cristal na cabe��a de Domingos.

Depois, deitou-se no sof��, inconsol��vel, dizen-

do que naquela noite n��o falaria mais com ele,

aconselhando-o a ir procurar consolo nos bra��os

da tal loura.

Domingos pediu por telefone para lhe man-

darem uma garrafa de champanha.

A champanha chegou e tentou fazer as pa-

zes com Irene. Mas esta mostrou-se irredut��-

vel.

Sem outra op����o, ele decidiu tomar sozinho

um pileque.

Entornou o l��quido borbulhante numa ta��a

e come��ou a beber.

���37

Cap��tulo 5

A boate

Cristiano saiu de seu miser��vel apartamen-

to. A mulher e os filhos assistiam �� televis��o

e nem notaram sua sa��da.

Cabisbaixo, dirigiu-se ao ponto do ��nibus.

Tinha uma longa viagem pela frente, at��

chegar ao hotel na Zona Sul.

Na condu����o, come��ou a ter sono e esfor��a-

va-se para manter os olhos abertos.

Se adormecesse, passaria do lugar onde teria

que saltar.

3 8 ���

Acendeu um cigarro.

Mas o sono n��o o largava.

Terminou de fumar o cigarro

E se dormisse por cima do teclado do piano

l�� na boate?

Seria imediatamente despedido, al��m de pas-

sar por um vexame incr��vel.

A id��ia assustou-o de tal maneira, que o

sono finalmente foi embora.

O ��nibus percorria monotonamente ruas e

mais ruas. At�� que chegou ao Centro da ci-

dade, passou pelo Flamengo, Botafogo, Copa-

cabana. ..

Estava perto.

E Cristiano ficou satisfeito por n��o ter ador-

mecido.

Desceu do ve��culo.

Seus passos o levaram at�� o hotel.

Cristiano tocava.

A medida que os minutos passavam, ele inte-

grava-se cada vez mais ao ambiente.

E sentiu-se feliz.

Uma felicidade meio amarga, talvez P��g 39

Todos se divertindo.

�� sua maneira, ele tamb��m se divertia.

Estava fazendo o que gostava. Por uma bre-

ve temporada, era verdade. Mas era melhor do

que nada.

Gostava de tocar.

Dora entrou na boate.

Sozinha.

Come��ou a dan��ar.

Num relance, viu o pianista.

E talvez uma vontade s��bita de olh��-lo mais

de perto.

Aproximou-se e debru��ou-se no piano.

Ele a olhou.

Achou-a muito bonita.

Dora sorriu. Ela sorria sempre, principalmen-

te para os homens.

E permaneceu debru��ada, olhando Cristiano,

vendo seus dedos passando velozes pe'o tecla-

do.

��� Gostaria de saber tocar piano -- disse.

Desta vez, foi Cristiano quem sorriu.

Ela comentou:

��� Voc�� fica mais bonito quando ri.

40���

Ele voltou a ficar s��rio.

A jovem disse:

��� Est�� triste?

��� N��o.

��� Parece estar.

��� Eu sou triste.

��� Que bobagem! Sem essa!

Ele n��o falou mais. Dora permaneceu onde

estava, observando os dedos ��geis.

Dora era imposs��vel:

��� Seus dedos me excitam.

��� Como assim

��� Gostaria de v��-los passearem assim, r��pi-

dos, pelo meu corpo. Claro que n��o sairia ne-

nhum som, mas seria agrad��vel. Para mim e

para voc��...

��� Isso �� imposs��vel.

��� Por qu��?

��� Voc�� n��o �� mulher para mim.

��� Sou. Para qualquer um.

��� N��o pra mim.

E Cristiano voltou a integrar-se em sua m��-

sica, fazendo de conta que desconhecia a pre-

sen��a de Dora.

���41

Ela saiu da posi����o onde estava o encostou-

se nele, ro��ou-lhe de leve o corpo.

Por mais que quisesse, Cristiano n��o poderia

ignorar a presen��a de Dora.

Mas aquele contato durou muito pouco.

Logo Dora avistou um conhecido antigo, que

entrava na boate.

Correu para ele, esquecendo o pianista quase

imediatamente.

Oscar sorriu ao ver Dora. Era um homem cor-

pulento de meia-idade.,

E rico. Muito rico.

Como todos os homens por quem Dora se in-

teresava, uma vez que era uma prostituta de

luxo.

Cristiano tinha raz��o ao dizer que ela n��o era

mulher para ele.

N��o era mesmo.

��� Oi, Oscar, est�� sozinho?

��� Estou.

��� N��o vai me convidar para ficar com vo-

c��?

��� Claro, se voc�� est�� livre.

��� Estou sempre livre para voc��.

42���

Sentaram-se numa mesa.

Dora colocou os bra��os no pesco��o de Oscar

e o beijou com entusiasmo.

Tinha ganho a noite.

��� Quando voc�� ehegou?

Fora uma sorte encontr��-lo.

��� Hoje �� noite ��� respondeu Oscar.

��� E veio t��o logo �� boate? N��o est�� cansa-

do?

��� Um pouco. O que n��o impede que me di-

virta.

Dora morava num edif��cio perto do hotel.

Muito bonita, vestia-se bem e tinha tr��nsito li-

vre nos melhores ambientes.

Costumava escolher os seus homens a dedo

e s�� fazia sexo com quem tinha muito dinhei-

ro.

Por isso tinha seu apartamento muito bem

montado, levava uma vida despreocupada finan-

ceiramente.

Conhecera Oscar h�� tempos. Ele era um fa-

zendeiro paulista, muito rico. Sempre que vi-

nha ao Rio, procurava Dora. Desta vez n��o foi

preciso procur��-la, uma vez que a encontrava

logo na boate, por acaso.

���43

��� Hoje me deu vontade de vir at�� aqui.

Parecia que estava adivinhando que ia encontr��-

lo.

De seu piano, de vez em quando Cristiano

olhava os dois. Como invejava aquele homem

gordo que podia ter as mulheres que quisesse,

enquanto ele n��o tinha nada.

E continuou tocando, tocando sem parar. Afi-

nal, este era seu trabalho.

�� medida que bebia, Dora tornava-se mais

expansiva ainda. Atirava-se sobre Oscar, beijava-

o, segurava-lhe o sexo por baixo da mesa.

��� Voc�� �� fogo!

��� Todo mundo me diz isso ��� retrucou a

jovem.

��� Quer ficar mais tempo na boate, ou quer

subir logo?

��� Como queira.

Ficaram na boate mais tempo, encharcando-

se de u��sque.

Somente uma hora depois se retiraram.

Dora havia esquecido completamente do pia-

nista e saiu da boate sem sequer lan��ar-lhe um

olhar.

Enquanto tocava, Cristiano imaginou Dora e

Oscar subindo para o apartamento deste.

44���

Os dois no elevador.

Entrando no apartamento do hotel.

Tirando a roupa.

A barriga imensa de Oscar, caida, quase lhe

encobrindo o sexo.

E Dora abaixando-se para beij��-lo.

Cristiano tocou nas teclas com mais for��a,

para descaregar sua raiva.

Mas porque estava t��o aborrecido? Afinal,

nem conhecia a jovem.

Os dois na cama.

Quem estaria por baixo? Dora ou o gordo

milion��rio?

Certamente ele. Dora n��o suportaria tanto

peso.

E parecia ver o homem nu deitado, Dora por

cima, abrindo as pernas, deixando que ele a pe-

netrasse.

E Dora se esfor��ando, se mexendo, fazendo

com que o milion��rio gozasse, enquanto ela pr��-

pria certamente n��o sentia o menor prazer,

mas fingia...

Olhou para as outras mulheres na boate.

Quantas outras Doras havia ali?

Era dif��cil saber. P��g 45

Afinal, Dora n��o parecia ser o que era. Tinha

um tipo fino, muito bem vestida, boas manei-

ras. Apenas uma sensualidade animal, uma sen-

sualidade maior do que as outras.

A noite parecia intermin��vel.

E Cristiano teve a impress��o de que durava

um s��culo, de que h�� um s��culo estava tocan-

do sem parar.

Setiu-se cansado.

Mas n��o tinha outro jeito a n��o ser conti-

nuar tocando.

Para desviar o pensamento de Dora, lembrou-

se de Matilde.

E sentiu-se mais infeliz ainda. P��g 46

46���

Cap��tulo 6

o casal

Domingos estava completamente b��bado.

Olhou para Irene, que finalmente adorme-

cera no sof��.

Ficou em d��vida se descia para procurar

uma aventura qualquer, ou se acordava a espo-

sa.

Mas achou-se excessivamente, b��beda para

sair da suite.

Al��m disso, j�� estava muito tarde.

���47

O melhor que tinha a fazer era acordar Ire-

ne.

Quando bebia, ficava sempre com mais von-

tade de ter rela����es sexuais.

A bebida o excitava.

N��o dormiria sem fazer sexo primeiro.

E como a mulher era quem estava mais ��

m��o, teria que satlsfazer-se com ela.

Sorriu ao lembrar-se de um amigo que cos-

tumava dizer:

��� Quando n��o se encontra outra pessoa com

quem dormir, a gente dorme com a pr��pria es-

posa.

Sabia que Irene fora dormir zangada com

ele. Se a despertasse, faria uma nova cena de

ci��mes. Mas n��o tinha import��ncia, seria mais

excitante ainda.

Chegou perto da mulher e come��ou a beijar-

lhe a orelha de leve, depois a lamb��-la.

Irene acordou e o empurrou:

��� N��o quero nada com voc��.

��� Mas eu quero.

��� Voc�� est�� b��bado.

��� Melhor ainda.

Agarrou a esposa. Tentou levant��-la. Ela de-

batia-se. Domingos desequilibrou-se e os dois

ca��ram no ch��o.

48���

Rolaram, pelo tapete.

Irene tamb��m estava excitada. Mas fingia

que n��o queria nada com o marido.

Continuaram sua luta amorosa- corporal.

Domingos tentando possu��-la, Irene reagindo

com veem��ncia.

Ele achou excitante, terrivelmente excitante

violentar, subjugar a pr��pria esposa.

Irene estava achando mais excitante ainda.

Era como se tivesse mudado o g��nero de filme.

Quando haviam chegado ao Rio e entrado

na su��te, vivera um filme sofisticado, uma alta

com��dia.

Agora estava na base do filme de viol��ncia.

Achou incr��vel.

Domingos rasgou-lhe a roupa.

Ela arranhou-o com as unhas.

Atracaram-se.

Ele finalmente a subjugou e a possuiu.

E depois se deixaram ficar no tapete mesmo,

adormecendo.

* * *

Eram quatro horas da madrugada, quando

Cristiano parou de tocar.

���49

Pouco depois, andava pela rua em dire����o

ao ponto de ��nibus.

Esperou pacientemente.

Um grupo de jovens passou, rindo, contente,

certamente vindo de alguma farra.

Cristiano sentiu Inveja.

Inveja por n��o ser mais jovem, inveja por

nunca ter tido na realidade uma mocidade.

Pelo menos assim, uma mocidade despreocupa-

da, divertlndo-se por divertir-se.

Fizera muitas farras, sim, mas sempre ator-

mentado por seus problemas de solid��o e finan-

ceiros.

Sem contar seus sonhos de grandeza, que sa-

bia serem quase Imposs��veis de realizar.

O tempo tirara-lhe qualquer esp��cie de d��vi-

da. Os sonhos n��o eram quase imposs��veis, mas

absolutamente imposs��veis de serem transforma-

dos em realidade.

E ali estava ele, quarent��o, esperando um

��nibus que o levasse para sua casa no sub��r-

bio, para encontrar uma mulher que odiava.

Odiou tamb��m aqueles jovens a petul��ncia

de sua felicidade, de sua alegria de viver.

Ele nunca tivera alegria de viver

Quando muito mo��o ainda, vivia no futuro,

quando estivesse muito rico e famoso.

50���

Depois, foi perdendo as ilus��es, uma a uma.

Agora n��o tinha nenhum futuro em que pen-

sar e a realidade do presente era insuport��-

vel.

O ��nibus chegou.

Ele seguiu seu caminho de volta para casa.

Passavam quarenta minutos das cinco horas

quando botou os p��s em seu apartamento.

O dia j�� estava claro, mas o apartamento

escuro. N��o acendeu nenhuma luz para n��o

acordar a mulher nem os dois filhos.

Entrou no quarto sorrateiramente, como se

fosse um ladr��o.

Tirou a camisa, a cal��a, jogou-as numa ve-

lha cadeira.

E deitou-se na cama cuidadosamente, ao la-

do da mulher, com o maior receio de que ela

acordasse.

Apesar de roncar muito, Matilde s�� era su-

port��vel, enquanto dormia.

Mas ela acordou.

Abriu os olhos e perguntou:

��� �� verdade mesmo?

- O qu��?

��� Que voc�� est�� tocando na tal boate?

- 5 1

��� E.

��� Sabe o que pensei depois que voc�� saiu?

��� O qu��?

��� Que podia ser mentira.

��� Por que ia mentir?

��� Pode ter passado a a noite na farra, com

seus amigos vagabundos.

��� Acha que vou passar um m��s inteiro na

farra, todos os dias?

��� Voc�� �� capaz de- tudo.

��� No fim do m��s voc�� v�� o dinheiro que

eu receber. N��o �� poss��vel que v�� pensar que

foi roubado.

��� Posso at�� pensar isso.

��� Eu n��o quero brigar agora.

��� Nem eu.

Dizendo isso, Matilde encostou seu corpo no

de Cristiano. Ele teve vontade de sumir da face

da terra. Seria poss��vel que Matilde estivesse

querendo ter rela����es?

Ela estava querendo, sim. Deixou isso D e m

claro, ao segurar-lhe o sexo e coloc��-lo para fora

da roupa.

52���

��� Eu estou cansado, Matilde.

��� Eu n��o disse? Passou a noite com alguma

vagabunda por ai. Por isso n��o quer nada co-

migo, n��o ag��enta mais.

��� Passei a noite inteira tocando piano sem

p a r a r . . .

Mas ele viu que se n��o fizesse, sexo com a

mulher, ela jamais acreditaria que passara a

noite trabalhando.

Tinha que ter rela����es com Matilde, mesmo

contra a vontade.

Precisava utilizar algum artificio a fim de

conseguir ficar excitado.

O jeito foi concentrar o pensamentos em

Dora. O velho gordo milion��rio ainda estaria

deitado com ela? Achou de certo modo engra-

��ado: ele na cama com uma mulher gorda e

feia; Dora na cama com um homem gordo e

feio. Mas havia uma diferen��a fundamental: ele

n��o estava ganhando nada com Isso, enquanto

Dora ia faturar uma nota.

Desejou ter nascido mulher.

E pensou que se isso tivesse acontecido, ele

seria como Dora.

Esqueceu o detalhe que poderia ser uma mu-

lher feia e n��o bonita como a jovem loura da

boate.

��� 5 3

Continuando deu devaneio imaginou-se uma

mulher bonita como Dora vigarista explorando

os homens e conseguindo tudo o que queria.

Como n��o conseguisse a ere����o, e vendo que

o mau humor de Matilde estava prestes a explo-

dir, Cristiano mudou o rumo de seus pensa-

mentos.

Ele era, n��o Dora, mas um homem rico que

tinha ido para a cama com ela. Imaginou como

seria Dora nua, suas coxas, seus seios, ele apal-

pando-os, mordendo-os...

Conseguiu a ere����o.

Imediatamente, penetrou na esposa.

E permaneceu esfor��ando-se em pensar que

estava possuindo Dora. Era dif��cil. Mas Unha

que conseguir, tinha que conseguir gozar, para

que Matilde n��o enlouquecesse de raiva.

Seus esfor��os foram bem sucedidos.

Saud��ssimo com o esfor��o, finalmente go-

zou.

E Matilde se deu por satisfeita, virando-se

depois para o outro lado, adormecendo e reco-

me��ando a roncar.

Apesar de exausto, Cristiano n��o dormiu lo-

go. Estava Infeliz demais para isso. Ali��s, h��

muito tempo n��o dormia com facilidade. A in-

s��nia fazia parte de suas mazelas.

5 4 ���

Matilde roncava sem parar.

Ele teve repentinamente uma vontade louca:

matar Matilde.

Sim, mat��-la enquanto dormia.

Pelo menos, ver-se-ia livre de um dos seus

males.

Mas ficou s�� na vontade. Cristiano n��o era

capaz de cometer um crime. Nunca faria isso.

E os filhos? E os muitos anos na cadeia? P��g 55

��� 5 5

Capitulo 7

Dora

O dia j�� tinha clareado quando Oscar acor-

dou com muita vontade de urinar. Mas a su��te

que ocupava no hotel permanecia escura, com

as cortinas fechadas.

Ele acendeu a luz e foi at�� o banheiro.

Ao voltar, Hcou olhando durante algum tem-

po o bonito corpo de Dora adormecida.

Deitou-se novamente na cama e come��ou a

passar a m��o pelo corpo de Dora, de leve.

5 6 -

Depois come��ou a brincar com os dedos sobre

o ventre da jovem, as coxas...

Ela acordou e por um instante teve a im-

press��o de que era o pianista que estava de-

dilhando sobre suas pernas, como se estas fos-

sem um piano.

Mas logo viu que se tratava de Oscar.

Agora pensava em como tinha esquecido o

o pianista t��o depressa. Logo que vira Oscar

e fora ao seu encontro, n��o mais lembrara do

homem triste sentado ao piano, tocando sem

parar, para que os outros se divertissem.

S�� agora, ao acordar, voltara a pensar ne-

le.

Oscar sorriu e aumentou a- intensidade de

suas car��cias. Apalpava Dora pelo corpo todo.

��� Est�� acordado?

��� Claro! Como posso dormir com voc�� ao

meu lado?

Ela riu.

Em seguida, colocou a m��o entre as coxas de

Dora. Ela perguntou:

��� Est�� querendo outra vez

��� N��o est�� vendo?

��� Vamos deixar para outro dia. N��o est��

cansado?

���57

��� At�� parece que voc�� n��o me conhece.

Posso gozar duas, tr��s vezes na mesma noite.

Voc�� sabe disso.

Na verdade, ela n��o sabia. No m��ximo Oscar

gozava duas vezes. Mesmo assim, quando n��o

havia bebido tanto.

��� Mas �� que voc�� chegou de viagem ontem

e n��o teve tempo de descansar.

Ele falou desconfiado:

��� Acho que �� voc�� quem n��o est�� querendo

outra vez.

Dora sorriu e afirmou:

��� Eu sou sua tantas vezes quantas voc��

quiser, Oscar.

Tinha que ser gentil. E para ela tanto fazia.

Um esfor��o a mais ou a menos, n��o tinha

import��ncia nenhuma. Mas temia por Oscar. Ele

era t��o gordo! E n��o estava mais na idade de

fazer extravag��ncias. Mas n��o relutou mais err

concordar. Afinal, fazia parte de sua "profis-

s��o" satisfazer os "clientes" completamente.

Al��m da fato de Oscar ser extremamente genero-

so. Talvez fosse por isso que se preocupava com

sua sa��de.

E ent��o redobrou tamb��m suas car��cias.

Beijou o milion��rio nos seus pontos er��ti-

cos mais sens��veis. Com certa dificuldade, fez

com que conseguisse ficar excitado.

5 8 ���

No entanto, Oscar estava fazendo esfor��o de-

mais...

Penetrou em Dora.

E �� medida que fazia os movimentos, ela

notou que o homem respirava com dificulda-

de.

Picou apreensiva.

Mas n��o quis dizer nada, para n��o o ofender.

Ele poderia pensar que ela estava com m�� von-

tade.

De repente, notou que Oscar suava e muito

e logo em seguida compreendeu que estava pas-

sando mal.

Dora conseguiu separar seu corpo do corpo

do milion��rio. Ele ficou estendido na cama. N��o

havia d��vidas de que estava passando mal.

A jovem ficou sem saber o que fazer.

Pela primeira vez na vida, apesar de ser

muito experiente, passava por uma situa����o des-

tas.

"O que fazer?'", perguntava repetidamente a

si mesma.

N��o era amiga de nenhum m��dico.

O jeito era chamar o Pronto-Cor.

E andava de um lado para o outro pelo

���59

quarto, enquanto olhava para o corpo nu de

Oscar estendido na cama.

S�� ent��o se lembrou de que ela tamb��m es-

tava completamente despida.

Vestiu-se ��s pressas.

E pegou no telefone.

Para onde ligaria?

Ligou para a portaria do hotel mesmo.

Atenderam.

Ela falou com voz aflita:

��� Oscar est�� passando mal. Chamem com

urg��ncia o Pronto-Cor e mandem logo um m��-

dico para a su��te 401.

Desligou o telefone.

Acendeu um cigarro.

Ficou com medo que a fuma��a pudesse fa-

zer mal a Oscar.

Foi at�� a janela e descerrou as cortinas.

Teve ent��o consci��ncia de que j�� era dia

claro e n��o madrugada como julgava.

E viu a feia nudez de Oscar sobre a cama.

Teve a id��ia de vesti-lo.

60���

Come��ou a tentar, mas era um tarefa dif��cil

de executar. Os cento e tantos quilos de Oscar

atrapalhavam.

Dora terminou desistindo.

Que situa����o mais desagrad��vel.

Ela bem que pressentira que Oscar n��o

aguentaria. Chegara a adverti-lo. Mas o mi-

lion��rio n��o a escutara.

E agora estava ali, naquela situa����o t��o de-

sagrad��vel.

Arrepiou-se ao pensar: E se ele morresse

antes de chegar o m��dico?

Seria o fim!

Ficaria traumatizada pelo resto da vida.

Maldisse a si mesmo por ter sido t��o gen-

til e deixado Oscar tentar uma segunda vez.

Mas o velho milion��rio era teimoso.

E o odiou.

Nunca tinha experimentado esse sentimen-

to para com Oscar.

At�� gostava dele.

Mas aquilo era sujeira. Passar mal na cama

com ela.

��� 6 1

E todo aquele vexame! Ligar para a portaria

do hotel, pedir que chamassem um m��dico. E

quando este chegasse, ter que contar como tudo

acontecera.

Estava realmente muito aborrecida com

aquilo tudo.

E aquele medo que Oscar morresse antes do

socorro m��dico.

A�� ent��o ela se veria envolvida com a poli-

cia.

��� N��o, isso n��o! ��� exclamou em voz al-

ta.

N��o seria t��o azarada assim.

Levou um susto quando ouviu a campainha

tocar.

Foi abrir a porta.

Era o m��dico.

Dora contou que o homem passara mal, mas

n��o disse que os dois estavam tendo rela����o

quando o fato ocorrera.

Mas o m��dico mais ou menos compreen-

deu.

Oscar foi levado para o Pronto-Cor.

Felizmente para Dora n��o havia muitos h��s-

pedes no hall do hotel.

62���

Pelo contr��rio, quase n��o havia nenhum

��quela hora da manh��.

Mas os empregados estavam l��. E todos vi-

ram. Dora sentiu-se envergonhada.

N��o foi at�� o Pronto-Cor.

Preferiu ir para seu apartamento, dando o

endere��o ao m��dico e dizendo que mais tarde

se comunicaria, perguntando pela sa��de de Os-

car.

Entrou em casa e atirou-se de sapato e tu-

do na cama.

Sentia-se p��ssima.

Era o c��mulo acontecer aquilo com ela.

Teve at�� vontade de abandonar aquela "pro-

fiss��o" .

J�� tinha um apartamento, algum dinheiro.

Poderia arranjar um trabalho como modelo, ou

qualquer coisa no g��nero.

Ou arrumar um homem com quem viver. Um

s��. Nada mais de andar com v��rios.

A cabe��a pesava.

Seria o u��sque que tomara ou o aborreci-

mento que tivera? Optou ��ela segunda hip��te-

se.

Adormeceu assim mesmo vestida.

���63

Eram quatro horas da tarde, quando Dora

acordou. Olhou para o rel��gio espantada. Esta-

va certa de que dormira apenas um pouco, e

no entanto havia dormido mais de oito horas.

Lembrou-se confusamente do que havia acon-

tecido.

Teria sido um pesadelo

N��o, n��o havia sido um pesadelo.

Precisava ligar para o Pronto-Cor.

Pegou o telefone. Suas m��os tremiam.

E se Oscar tivesse morrido?

N��o, n��o devia ter acontecido isso. Teriam

telefonado para ela.

O telefone estava ocupado.

A cabe��a de Dora pesava, doia.

Sentiu a boca amarga.

Ligou de novo. Desta vez conseguiu falar. E

ficou sabendo que Oscar estava passando bem.

Ela desligou aliviada.

Tirou a roupa e foi tomar banho.

Depois bebeu uma x��cara de caf�� quente com

torradas.

��s seis horas da tarde foi visit��-lo.

Oscar sorriu ao v��-la.

Uns dez minutos depois Dora voltava para

casa.

64���

C o m e u q u a l q u e r coisa, d e s c a n s o u u m p o u c o ,

assistiu t e l e v i s �� o .

E quase n �� o s e l e m b r a v a m a i s d o e m b a r a �� o -

s o e c h a t o e p i s �� d i o . E l a t i n h a u m a m e m �� r i a

m u i t o fraca, o u m e l h o r , c o n s e g u i a e s q u e c e r a s

coisas d e s a g r a d �� v e i s c o m f a c i l i d a d e .

V e s t i u - s e e m a q u i l o u - s e r a p i d a m e n t e .

N �� o , n �� o i a f i c a r e m casa c u r t i n d o s o l i -

d �� o .

Isso n �� o f a z i a o seu g �� n e r o .

Se h a v i a a c o n t e c i d o u m a coisa t��o desagra-

d��vel, e ela j�� e s t a v a q u a s e e s q u e c e n d o (afinal

Oscar e s t a v a b e m ) , o m e l h o r e r a divertir-se.

A p e s a r d e n �� o q u e r e r v o l t a r a o h o t e l na-

quela n o i t e , i n s t i n t i v a m e n t e s�� d i r i g i u para l��.

E a p r i m e i r a pessoa q u e e n c o n t r o u no hall

foi D o m i n g o s . P �� g 6 5

��� 6 5

Cap��tulo 8

Encontro perigoso

Ele ficou em d��vida se devia ou n��o falar

cem Domingos. J�� passara por um vexame ho-

ras antes e podia passar por outro, pois com-

preendera que a esposa dele era muito ciumen-

ta.

Mas nem bem acabava de pensar nisso, avis-

tou Domingos aproximando-se.

��� Oi, tudo bem?

��� Tudo bem.

��� Contaram-me...

6 6 ���

- O qu��?

- Que um hospede do hotel passou mal,

quando estava na cama com uma mulher... lou-

r a . . . bonita... Era voc��?

��� N��o.

��� N��o minta.

��� Era eu, sim. Mas por que me ordenou

que n��o mentisse? Est�� se julgando com direitos

sobre mim?

Domingos sorriu:

��� N��o notou que eu estava brincando''

��� Eu tamb��m respondi brincando.

��� Esse epis��dio me deixou mais interessado

em voc��.

��� Tamb��m est�� querendo ter um ataque

de cora����o na cama comigo?

��� N��o exatamente por isso. Al��m de tu-

do, sou muito jovem e forte ainda.

��� N��o �� motivo para se sentir t��o seguro.

��� Na verdade, esse fato me deixou com a

imagina����o fervilhando. Voc�� deve ser uma pa-

rada na cama. Qual o seu signo?

��� O que tem a ver meu signo com isso?

��� Muita coisa.

��� Quer mesmo saber?

���67

��� Se n��o quisesse, n��o perguntava.

Sou Escorpi��o.

- N��o!

��� Por que esse espanto todo?

��� Eu s�� podia imaginar que fosse Escor-

pi��o. Toda mulher desse signo �� uma brasa, na

cama.

��� Obrigada pela informa����o ��� falou Dora,

rindo.

��� N��o sabia?

��� �� a primeira vez que algu��m me diz is-

��� �� a pura verdade. S��o as melhores mu-

lheres. Todas as vezes -que fiz amor com algu-

ma desse signo, s�� faltei enlouquecer.

��� E est�� querendo enlouquecer de vez?

��� Estou.

��� E sua mulher?

��� Ela foi ao cabeleireiro.

��� Outra vez?

��� Outra vez.

��� N��o vai voltar logo?

��� Creio que n��o.

��� O que voc�� sugere?

6 8 ���

��� Voc�� mora perto?

��� Moro.

��� Posso ir at�� l��?

��� Por que n��o vamos para seu apartamen-

to aqui no hotel?

��� Porque Irene pode chegar e encontrar a

gente na cama. Quer passar por outro vexame

de novo?

��� Claro que n��o.

��� Ent��o?!

��� Est�� bem. Vamos para o meu aparta-

meneo. Mas fique sabendo que eu custo ca-

ro.

��� Dinheiro �� o que n��o me falta.

Dora sorriu realmente satisfeita.

Quando sa��am do hotel, um t��xi foi parando

logo a seguir. Irene pagou ao motorista e sal-

tou.

Os dois n��o a viram, mas Irene teve tempo

de avistar o marido afastando-se junto com a

loura com quem o vira na v��spera.

Podia ter corrido atr��s dos dois e impedir

a trai����o. Mas preferiu n��o o fazer. Achou que

seria rid��culo de sua parte.

Assim, entrou no hotel e foi para sua su��

te. P��g 69

Havia de se vingar de Domingos. N��o sabia

ainda como, n��o escolhera o tipo de vingan��a.

Mas n��o deixaria de faz��-lo.

* * *

��� E se sua mulher souber ou desconfiar?

��� perguntou Dora assim que entrou em seu

apartamento acompanhada de Domingos.

��� N��o vai saber.

��� Mas se souber?

��� E da��?

��� Notei que �� um bocado ciumenta.

��� A gente briga e faz as pazes depois. N��o

pode acontecer mais do que isso.

��� E se ela o trair tamb��m?

��� Problema dela.

��� E seu tamb��m.

��� Vamos deixar de falar de Irene e nos

ocupar com a gente?

��� �� uma boa ��� Concordou Dora, sorrindo.

* * *

Realmente Dora era um furac��o na cama.

Mesmo porque Domingos era seu tipo, exata-

mente seu tipo de homem.

7 0 ���

Mordiam-se, feriam-se, pareciam querer 3S-

tra��alhar-se na cama.

��� Vai me deixar cheio de marcas.

��� A prova do adult��rio! ��� exclamou Do-

ra com tom de deboche.

E gozaram mais uma vez...

��� N��o quero que v�� embora agora ��� disse

Dora minutos depois, acrescentando:

��� Quero deixar voc�� exausto. Hoje voc�� n��o

vai fazer sexo com sua mulher.

Eu lhe disse, Escorpi��o �� fogo. Tenho

experi��ncia pr��pria.

Domingos pouco estava ligando para as ho-

ras que passavam. Se houvesse outra briga com

Irene, n��o tinha import��ncia.

O que importava era aproveitar Dora ao

m��ximo.

O momento presente, curtir o momento pre-

sente, isso era o que interessava.

* * *

Enquanto isso, Irene bebia em seu aparta-

mento no hotel.

Sozinha.

Agora se sentia a protagonista de um filme

dram��tico.

���71

A m u l h e r s��, n o q u a r t o , a b a n d o n a d a p e l o

m a r i d o , a n g u s t i a d a , e n q u a n t o e s t e a t r a i a c o m

o u t r a .

F i c a v a b e m s e c h o r a s s e , p e n s o u .

S e r i a p r �� p r i o d a c e n a .

M a s n �� o d e i x o u que a s l �� g r i m a s s a l t a s s e m

dos o l h o s , p a r a n �� o b o r r a r a m a q u i l a g e m .

S e r i a m u i t o t r a b a l h o s o t e r d e r e f a z �� - l a .

E m e s m o p o r q u e n �� o q u e r i a d a r e s t e g o s -

to a D o m i n g o s .

E l e n �� o a v e r i a f e i a , d e s p e n t e a d a , d e s e s p e -

r a d a .

I r i a a p e n a s o e s p e r a r v o l t a r .

M a s a s h o r a s p a s s a v a m .

D o m i n g o s e s t a v a d e m o r a n d o d e m a i s .

I r e n e e s t a v a i m p a c i e n t e .

E t o r n a v a a e n c h e r seu c o p o de u �� s q u e . P��g 72

7 2 ���

Cap��tulo

A tenta����o

Matilde e Cristiano, para n��o perderem o

h��bito, discutiram antes dele sair para tra-

balhar na boate.

��� Por que n��o pede um adiantamento na

tal boate?

��� Acha que vou pedir um adiantamento logo

no segundo dia, Matilde?

��� Por que n��o?

��� Porque n��o vou fazer isso. E estamos con-

versados.

���73

��� N��o tem nada para se comer amanh��.

��� Voc�� que se vire.

��� Como? Quer que v�� para rua arranjar

dinheiro com os homens?

��� Nem para isso voc�� serve. Qual o homem

que vai querer? Se voc�� tivesse de viver disso,

morria de fome.

Aquilo foi demais para Matilde. Pegou um

cinzeiro que estava em cima de uma mesa e ati-

rou no marido.

Cristiano desviou, mas o cinzeiro ainda con-

seguiu atingindo de rasp��o na testa, ferindo-o.

Ele teve vontade de avan��ar para Matilde

e ench��-la de pancada.

Os dois filhos continuavam brincando com

um jogo qualquer, completamente indiferentes

�� briga dos pais. J�� estavam acostumados, para

estranharem. Estranhariam se n��o os vissem

vagando.

Mas Cristiano conteve-se.

O melhor era sair o mais depressa poss��-

vel de casa.

Passou a m��o na testa e notou que estava

suja de sangue.

Foi at�� o banheiro e lavou o rosto.

O corte era pequeno.

Colocou um pouco de merc��rio-cromo. Quan-

do chegasse �� boate, lavaria de novo a testa. P��g 74

para n��o notarem muito o pequeno ferimento

nem a mancha de merc��rio.

E saiu de casa sem olhar para Matilde.

Esta agiu da mesma forma.

Cristiano cumpriu o mesmo roteiro da noite

anterior.

Esperou o ��nibus, tomou-o e seguiu para a

boate.

Chegou l�� uns quinze minutos antes da ho-

ra come��ar a tocar.

Teve tempo suficiente de novamente lavar a

testa. Verificou que o ferimento era superficial,

e sem a menor gravidade. Mas lembrou-se de que,

por pouco, o cinzeiro o atingia em cheio.

Finalmente chegou a hora de come��ar a tra>

balhar. :

Deixou-se envolver por aquele ambiente bri-

lhante, de luxo.

Por que lembrar sua pr��pria mis��ria? Qual

o lucro que tirava com isso?

Devia limitar-se a tocar. E n��o pensar em

nada.



* * * ������

Domingos entrou na su��te pouco depois das

duas da madrugada.

Irene bebericava, estendida no sof��, numa

pose cinematogr��fica.

��� 7 5 .

Ele n��o falou nada.

Irene continuou bebendo.

Finalmente falou:

��� S�� por curiosidade, onde voc�� estava?

���- Dando uma volta por ai.

��� At�� essa hora?

��� Est�� chateada?

Irene deu uma gargalhada:

��� Eu?! N��o. Em absoluto.

��� E por que perguntou?

��� J�� disse: simples curiosidade.

A mulher levantou-se, fingindo-se muito cal-

ma, depositou o copo de u��sque numa mesa

e dirigiu-se para a porta da su��te.

Domingos quis saber:

��� O que vai fazer?

��� Vou dar uma volta por a��.

��� Sozinha?

��� Sim, sozinha.

��� Quer que v�� com voc��.

��� N��o, meu querido.

E saiu.

Domingos n��o ligou muito. Afinal estava

plenamente satisfeito com a noite que tivera.

Dificilmente Irene poderia ter uma noite t��o sen-

sacional.

76���

Ela desceu o elevador e encaminhou-se p a r a -

a boate. Era muito chato ��icar sozinha. Mas

lembrou-se da jovem loura com quem seu ma-

rido tinha sa��do.

Se a outra arranjava companhia com facili-

dade, por que com ela n��o aconteceria o mes-

mo?

Olhou as pessoas nas mesas e as outras

na pista de dan��a.

Optou por esta ��ltima, para descontrair um

pouco. E como Dora fizera na v��spera, Irene

come��ou a dan��ar sozinha.

Ao chegar perto da orquestra, notou o pianis-

ta. N��o pela sua figura, mas por um outro motivo

bem diferente.

Quando crian��a, ela queria ser pianista. Che-

gara a estudar. Mas, al��m de n��o ter talento

nenhum, a disciplina tamb��m n��o era o seu for-

te.

Nem a persist��ncia.

E desistiu.

Enquanto dan��ava, olhava o pianista da boa-

te e via-se pequena, tocando, tocando aqueles

intermin��veis exerc��cios repetindo-os at�� a

exaust��o.

Aproximou-se do piano e debru��ou-se.

Cristiano viu que n��o se tratava de Dora.

O que estava acontecendo? Por que cada dia

-77

uma mulher vinha olh��-la de perto tocando?

Seria um costume da boate Uma nova moda

da qual ele estava por fora?

Cada dia viria uma mulher diferente e fica-

ria ali? Ou tudo n��o passara de mera coinci-

d��ncia, e nos outros dias que faltavam para

ele deixar de tocar na boate, n��o mais se apro-

ximaria mulher alguma?

Tinha certeza de que elas n��o vinham atra��-

das por seu f��sico.

N��o era um homem bonito.

Nem vinham porque tocasse muito bem. Is-

to tamb��m n��o era verdade.

Levantou os olhos, que se cruzaram com os

de Irene. Era tamb��m uma mulher bonita.

Ela sorriu.

E disse:

��� Quando eu era pequena, queria me tornar

pianista.

��� Verdade?

��� Mas desisti. N��o tinha talento.

Quem sabe aquilo n��o s�� empregava tam-

b��m a ele?, perguntou Cristiano a si mesmo.

Ele n��o deveria ter desistido quando ainda

crian��a Talvez assim n��o tivesse desperdi��ado

sua vida com sonhos imposs��veis.

Compreendeu que Irene n��o era do mesmo

tipo de Dora, e pensou que ela n��o estivesse

7 8 ���

a fim de aventura nenhuma, Devia ser uma

mulher fina. E atra����o que sentira para che-

gar, fora apenas uma recorda����o de inf��ncia.

Mas estava enganada.

Irene estava a fim de uma aventura.

Uma aventura qualquer, com qualquer ho-

mem.

E, na boate, todos os homens estavam acom-

panhados. O ��nico que parecia sozinho era o

pianista. Sua figura denunciava sua solid��o.

Irene ficou bastante tempo, calada, olhando-

o tocar.

Finalmente, tomou coragem. E falou sem'

subterf��gios:

��� A que horas voc�� p��ra de tocar?

��� ��s quatro.

��� Ainda falta uma h o r a . . .

��� �� . . .

��� Aonde vai depois que sai daqui?

��� Para mim casa.

��� Voc�� mora longe?

Cristiano mal podia acreditar naquele di��logo.

Esperava tudo, menos isso. Pelo menos assim,

de maneira t��o direta. Realmente n��o sabia

julgar as pessoas.

��� Muito longe.

���79

��� N��o faz mal. A gente pode ir para o

meu apartamento.

Ele voltou os olhos para o teclado.

Parecia incr��vel que aquela mulher o estives-

se convidando.

Irene continuou.

��� O ambiente aqui da boate est�� me sufo-

cando. Vou sair para tomar um pouco de ar.

Espero-o na porta do hotel, ��s quatro horas.

Cristiano concordou com a cabe��a.

�� Irene acenou com a m��o, afastando-se e

saindo da boate.

O pianista n��o acreditou que ela o fosse es-

perar mais tarde. Talvez, como a loura da noi-

te anterior, logo se esquecesse dele, e sa��sse com

o primeiro homem que aparecesse.

"S��o todas iguais", disse para si mesmo.

"Qual o interesse que uma mulher destas pode

ter por mim? N��o sou bonito, n��o tenho di-

nheiro, nem sou um pianista extraordin��rio

* * V

Irene passou pela rua.

Andou umas quatro quadras.

Respirou o ar da madrugada.

E sentiu-se bem.

Observava os carros que passavam.

80���

Viu que d e u m d e l e s , u m h o m e m a t i n h a o l h a -

l o .

M a i s a d i a n t e , o a u t o m �� v e l subiu na cal��ada

parou.

Q u a n d o I r e n e passou, o r a p a z d i s s e :

��� O i !

O i !

Ela o l h o u - o :

���- Q u e r q u e a l e v e em c a s a ?

��� Eu m o r o a q u i p e r t o .

��� F a �� o q u e s t �� o de l e v �� - l a .

��� N �� o p r e c i s a .

D e r e p e n t e , I r e n e s e n t i u medo.

O r a p a z do c a r r o , n �� o havia d��vida, era bo-

n i t o . L��bios um t a n t o grossos, c a b e l o s desalinha-

dos, e um o l h a r penetrante.

O m a i s b o n i t o e r a o olhar.

M a s j u s t a m e n t e o o l h a r foi o q u e atemo-

rizou I r e n e . E r a u m o l h a r d u r o , cortante.

P e n s o u q u e n �� o t e r i a c o r a g e m de entrar no

c a r r o . E se o r a p a z a l e v a s s e p a r a a l g u m lugar,

ou a r a p t a s s e , e n f i m , e l h e fizesse, em vez de

a m o r , a l g u m a m a l d a d e ?

M e s m o assim, ou t a l v e z por isso mesmo, de-

bru��ou-se n a j a n e l i n h a d o carro.

��� E n t r e . . .

- 8 1

Irene procurou uma desculpa:

��� J�� est�� muito tarde. A gente pode se en-

contrar outro dia.

��� Voc�� entra hoje e depois a gente marca

outro dia.

Ela ficou em d��vida.

O rapaz abriu o cinto e a braguilha, e disse:

��� Pegue aqui.

A mulher viu o volume.

E n��o resistiu �� tenta����o.

Entrou no carro.

O desconhecido a olhava com o mesmo olhar

duro. Tinha tamb��m uma pequena cicatriz no

rosto. Mas Irene achou-o terrivelmente bonito.

O homem mais bonito, ou pelo menos mais

atraente que j�� vira em toda sua vida.

Ele repetiu:

��� Pegue.

E Irene pegou, segurou o sexo dele, e timi-

damente come��ou a movimentar a m��o.

O rapaz tornou a falar:

��� N��o quer beijar?

A mulher ainda hesitou, mas n��o queria ou-

tra coisa. Abaixou a cabe��a e come��ou a bei-

jar-lhe o sexo.

82���

Ouviu a voz do desconhecido.

��� �� gostoso?

Instantes depois, ela levantou a cabe��a:

��� Pode vir algu��m.

��� Eu estou observando. Se vier algu��m,

eu aviso. Beije mais.

Foi quando Irene vislumbrou uma certa ter-

nura no olhar cortante. Aquele olhar duro era

apenas uma m��scara.

O rapaz era bastante jovem. Sem d��vida

assumia aquele olhar, para demonstrar sua mas-

culinidade. Mas na verdade, n��o devia ter nada

de mau. Pelo contr��rio. Observando-o melhor,

viu que devia se tratar de um filhinho de papai,

que sa��ra pela noite, em busca de aventuras.

Sentira tamb��m o seu h��lito com cheiro de

bebida.

Ele perguntou:

��� Onde voc�� estava at�� esta hora?

��� Na casa de minha namorada.

E fez sinal para que Irene beijasse no seu

lugar preferido.

Ela novamente abaixou a cabe��a.

De repente, ouviu-o dizer, meio assustado:

��� Vem gente a��. P��g 83

E l a t o r n o u a l e v a n t a r a c a b e �� a , a j e i t o u - s e ,

assumiu u m a r n a t u r a l .

U m o u t r o c a r r o a c a b a r a d e s u b i r a c a l �� a d a ,

a o l a d o . I r e n e e s t a v a assustada. A b r i u a p o r t a

do a u t o m �� v e l o n d e se e n c o n t r a v a e s a i u :

��� T c h a u !

E seguiu a n d a n d o s e m o l h a r p a r a t r �� s .

M a i s a d i a n t e , a r r e p e n d e u - s e .

m �� o - d e v i a t e r s a �� d o t �� o r e p e n t i n a m e n t e .

P o r q u e a q u e l e m e d o t o d o ?

S e n t i a - s e a b s o l u t a m e n t e f a s c i n a d a p e l o r a -

paz. E o d e i x a r a p o r u m a b o b a g e m . Q u e i m -

p o r t a v a q u e a l g u �� m viesse

T i n h a a n d a n d o u m q u a r t e i r �� o , q u a n d o r e -

s o l v e u s e v i r a r n �� o v i u m a i s o a u t o m �� v e l





d o d e s c o n h e c i d o


T a l v e z t a m b �� m e l e t i v e s s e s e a s s u s t a d o .

Era u m g a r o t �� o , que d e m a l , s �� t i n h a a

o l h a r .

P e n s o u e m c o m o u m j o v e m t �� o b o n i t o , e c e r -

t a m e n t e c o m d i n h e i r o , p o d i a e s t a r �� q u e l a h o r a

d a m a d r u g a d a , s o z i n h o , �� p r o c u r a d e c o m p a -

n h i a . Era I n a c r e d i t �� v e l .

P o r q u e a s pessoas e s t a v a m c a d a v e z m a i s

s��s?

Ela t a m b �� m s e s e n t i a s o z i n h a , a p e s a r d o m a -

rido, apesar d a f o r t u n a q u e p o s s u �� a m .

84���

Nunca mais tornaria a ver aquele rapaz.

E desejou-o como nunca.

Como gostaria de am��-lo e ser amada por

ele!

N��o sabia seu nome, nem onde morava.

Nunca mais o veria, tinha certeza.

Picou triste, muito triste.

Foi ent��o que se lembrou do pianista.

Mas o pianista n��o poderia substituir aquele

desconhecido. A felicidade que se perde, antes

de a adquirir, �� a mais cruel de todas, pen-

sou.

Sentia-se terrivelmente infeliz por n��o ter ;

levado avante aquele encontro com o jovem do

carro.

E tudo por uma bobagem. S�� porque outro

autom��vel aparecera e estacionado ao lado

deles.

Poderiam muito bem ter seguido para outro

lugar.

Como fora tola! Desperdi��ara uma oportu-

nidade maravilhosa de ter uma aventura ines-

quec��vel.

Faltavam dez minutos para as quatro ho-

ras.

Foi para a porta do hotel. Dentro em pouco

o pianista apareceria.

* * *

���85

Cristiano acabou de tocar a ��ltima m��si-

ca da noite.

Durante toda aquela ��ltima hora, s�� pen-

sara em Irene e no encontro marcado.

Ser�� que ela realmente o esperaria na por-

ta do hotel?

Ou teria sumido com outro?

Achou essa possibilidade bem mais prov��-

vel.

Ao chegar �� porta do hotel, no entanto, viu

com surpresa que Irene o esperava.

Sentiu-se extraordinariamente feliz.

Como h�� muito tempo n��o se sentira.

N��o tinha-a menor id��ia de que por pouco

Irene n��o estaria ali, e sim com o outro. Que na

verdade, ela s�� o estava esperando, porque havia

perdido uma aventura mais interessante.

Ela sorriu quando Cristiano se aproximou.

��� Pensei que n��o ia me esperar.

__ N��o deixo nunca de cumprir a minha pala-

vra ���- mentiu Irene.

Depoiss o convidou a subir at�� seu aparta-

ento no hotel.

Cristiano mal podia acreditar no que lhe

estava acontecendo.

Parecia um sonho. P��g 86

Observou-a melhor, diante da luz iria do ele-

vador, e n��o mais na penumbra da boate.

Era uma mulher realmente muito bonita.

Estava mesmo com sorte. Ousou at�� pen-

sar que daquele momento em diante as coisas

iam mudar para ele.

Desde a v��spera que s�� lhe aconteciam coisas

boas e surpreendentes, excetuando os problemas

com a esposa.

Tinha arranjado aquele trabalho num ex-

celente local, duas mulheres o tinham procura-

do. Com a primeira n��o tinha acontecido na-

da, mas com aquela tudo caminhava bem.

Sa��ram do elevador e se encaminharam para

a suite de Irene. Esta pouco estava ligando

que o marido tamb��m estivesse na su��te. Azar

o dele, pensara.

Estava disposta a ir at�� o fim.

Seria uma vingan��a completa.

Faria sexo com outro homem na presen��a

do marido.

Entraram no apartamento.

Ela acendeu a luz:

Quer beber alguma coisa

��� Aceito.

Irene serviu-lhe u��sque. P��g 87

A bebida desinibiu e animou Cristiano.

Quanto a Irene, n��o precisava mais do es-

t��mulo do ��lcool. J�� bebera bastante antes.

Vendo que se tratava de um t��mido, Irene

come��ou a tomar as iniciativas.

Abra��ou-o e acariciou-lhe o pesco��o.

Cristiano continuava n��o acreditando em tu-

do aquilo que estava lhe acontecendo.

Agora, sentia-se um homem feliz.

Beijou Irene na boca.

Logo em seguida, ela come��ou a despir-se.

Ele fez o mesmo.

Apesar de toda sua aud��cia, Irene n��o o

levou at�� o quarto onde Domingos dormia. Em

vez disso, puxou Cristiano at�� o sof��.

Peitaram-se.

Irene n��o sabia o que aconteceria se Domin-

gos acordasse e viesse at�� a sala.

Mas n��o se importou muito com isso.

Precisava tra��-lo, ali, quase ao seu lado, com

apenas uma parede separando os dois.

No auge do desejo, Cristiano beijava-a pelo

corpo.

Irene pensou que teria sido muito melhor com

o rapaz desconhecido do autom��vel. Mas, uma

88���

v e z q u e n �� o o t i n h a , o j e i t o e r a c o n t e n t a r - s e

c o m C r i s t i a n o .





D o m i n g o s a c o r d o u a o o u v i r o s g e m i d o s d a


m u l h e r , n o e x a t o m o m e n t o e m que C r i s t i a n o a

p e n e t r a v a .

C u r i o s o , D o m i n g o s l e v a n t o u - s e e foi a t �� a sa-

la.

E v i u a esposa c o m a q u e l e h o m e m q u e e l e

n �� o c o n h e c i a .

N �� o t i n h a m a i s c o m o i m p e d i r o a t o u m a u m a

vez que j �� e s t a v a s e c o n s u m a n d o .

O l h o u a t �� c o m u m c e r t o p r a z e r o s d o i s g o -

z a n d o .

E p e r m a n e c e u em p �� , d i a n t e da p o r t a do

q u a r t o .

Q u a n d o I r e n e o viu, n �� o s e i n c o m o d o u n e m

u m p o u c o .

E s t a v a v i n g a d o . -

M a s C r i s t i a n o , a o v e r a q u e l e h o m e m n a por-

t a d o d o q u a r t o , o l h a n d o - o s , f i c o u e m p �� n i c o .

D o m i n g o s r e t i r o u - s e e v o l t o u p a r a a c a m a .

C r i s t i a n o b a l b u c i o u :

��� V o c �� n �� o m e disse que h a v i a o u t r a

soa n o a p a r t a m e n t o .

��� F e z a l g u m a d i f e r e n �� a ?

��� M a s q u e m �� e l e ? Pag 89

Irene respondeu com a voz mais natural do

mundo:

��� Meu marido.

Cristiano deu um pulo do sof�� e come��ou a

vestir-se rapidamente. Imaginou que o marido

de Irene devia estar carregando o rev��lver para

descarregar dentro de poucos minutos em seu

corpo.

Apavorado, n��o conseguia vestir as cal��as,

atrapalhando-se todo.

��� N��o se preocupe. Ele n��o vai fazer na-

da.

Mas aquilo n��o o tranq��ilizou.

Quando finalmente conseguiu se vestir, disse

baixinho, enquanto sa��a do apartamento:

��� Tchau!

- Tchau! ��� respondeu Irene com alegria.

Domingos entrou na sala:

��� Precisava fazer Isso?

��� Voc�� �� que n��o tinha nada que sair do

quarto para vir olhar. Deixou o pobre homem

apavorado.

��� A p �� s uma pausa, Domingos falou:

��� Foi uma vingan��a...

___Foi.

��� Estamos quites, ent��o. P��g 90

��� Estamos.

Cristiano andava depressa pela rua.

Parecia estar sendo perseguido.

Tinha a impress��o de que o marido de Ire-

ne o acompanhava apontando-lhe uma ar-

ma.

N��o ousava se virar.

Preferia n��o ver.

E esperava que a qualquer momento rece-

beria o tiro pelas costas.

E cairia ensang��entado.

Na beira da cal��ada.

No dia seguinte, apareceria nas manchetes

das p��ginas policiais dos jornais:

PIANISTA DE BOATE ASSASSINADO.

E a fotografia de seu corpo coberto de san-

gue, ilustrando ��s reportagens.

S�� assim seria citado nos jornais.

Passara a vida inteira tentando ser famoso.

E s�� seria noticia depois de morto, assim mesmo

porque tinha sido assassinado.

E Matilde lendo o jornal.

E dizendo que sabia que ele n��o estava tra-

balhando coisa nenhuma, estava apenas train-

do-a. P��g 91

Matilde finalmente estava satisfeito, por v��-

lo morto.

Cristiano chegou ao ponto do ��nibus, ainda

esperando o tiro que n��o vinha.

Quem veio foi o ��nibus.

Ele o tomou, ainda sem olhar para tr��s.

Pensou ainda que uma rajada de balas atra-

vessaria os vidros das janelas do ��nibus, atin-

gindo-o.

Mas nada disso aconteceu.

Ele pagou a passagem, e passou na role-

ta,

��quela hora o ��nibus estava quase vazio.

S�� teve coragem de olhar para as ruas, quan-

do o ve��culo j�� estava bastante distante do

hotel.

Respirou aliviado.

Nada lhe acontecera.

Continuava t��o vivo quanto antes.

Mas seu al��vio durou pouco.

Lembrou-se que �� noite estaria de volta ao

hotel, para tocar na boate.

Talvez o marido de Irene o matasse quan-

do estivesse tocando.

E viu seu rosto ensang��entado ca��do nas te-

clas do piano, o vermelho do sangue manchan-

do o branco do teclado.

92���

E n o v a m e n t e a s m a n c h e t e s :





P I A N I S T A D E B O A T E A S S A S S I N A D O E N -


Q U A N T O T O C A V A .

N �� o I r i a m a i s t e r s o s s e g o n a q u e l e s v i n t e e

o i t o dias que a i n d a t o c a r i a n a b o a t e .

Estaria s e m p r e e s p e r a n d o q u e u m a b a l a o

atingisse.

O �� n i b u s c o r r i a b e m .

A q u e l a h o r a o t r �� n s i t o e s t a v a b o m .

E m p o u c o t e m p o c h e g a r i a e m casa.

S e r �� q u e M a t i l d e o p r o c u r a r i a d e n o v o p a r a

f a z e r e m s e x o ?

E se e l e n �� o c o n s e g u i s s e , uma v e z q u e j��

h a v i a g o z a d o c o m I r e n e ? T e r q u e e n f r e n t a r o

c o r p o d e M a t i l d e , d e p o i s d e possuir I r e n e , s e -

r i a t e r r �� v e l .

D u r a n t e a l g u m t e m p o ficou p e n s a n d o �� i s s o ,

e s q u e c e n d o - s e d o m a r i d o d e I r e n e .

M a s a o s a l t a r d o ��nibus, p r �� x i m o �� sua c a -

sa, t o r n o u a l e m b r a r - s e do p e r i g o que i m a g i n a -

v a e s t a r c o r r e n d o .

E n t r o u e m casa d e s e s p e r a d o .

C o m e l e a s coisas s e m p r e a n d a v a m e r r a -

das.

P o r que n �� o t i n h a s o r t e c o m n a d a ?

O s f i l h o s d o r m i a m n a sala. P �� g 9 3

Matilde roncava no quarto.

Ele fez tudo sorrateiramente e enfiou-se na

cama com todo cuidado, para que a esposa n��o

despertasse.

Realmente, desta vez ela n��o acordou.

Mas Cristiano n��o conseguia adormecer.

Estava agitado demais.

N��o, n��o conseguiria mais tocar na boa-

t e .

Apesar de achar sua vida p��ssima, n��o que-

ria morrer.

Foi ent��o que resolveu que nunca mais poria

os p��s naquela boate.

Simplesmente n��o iria mais tocar l��.

N��o chegara a assinar um contrato.

Fora apenas um compromisso informal.

Receberia o sal��rio ao fim de um m��s e o

recibo.

Fora- um contrato verbal.

N��o iria cumpri-lo.

Que se danassem todos.

Ele n��o queria arriscar sua vida.

Afinal, n��o tinha recebido dinheiro nenhum.

Ninguem poderia fazer nada contra ele. Claro

que perderia um um amigo, o que o indicara para

substitui-lo.

94-

M a s a n t e s p e r d e r u m a m i g o , p e r d e r o s a l �� r i o ,

do que p e r d e r a p r �� p r i a v i d a .

M a t i l d e v i r o u - s e n a c a m a , s e m d e s p e r t a r .

A �� e l e s e l e m b r o u d a b r i g a q u e ela a r m a r i a

e o que l h e d i r i a , a f i r m a n d o q u e sempre a c h a -

r a que a q u e l e t a l e m p r e g o n a b o a t e n �� o t i n h a

p a s s a d o d e u m a g r a n d e m e n t i r a .





M a s a i n d a p r e f e r i a e n f r e n t a r M a t i l d e a u m


m a r i d o c i u m e n t o , c a p a z d e t u d o .

C o m a s b r i g a s d e M a t i l d e . J �� s e a c o s t u -

m a r a .

C o n s e g u i u f i n a l m e n t e d o r m i r , e q u a n d o a c o r -

dou, p o u c o m a i s d e m e i o - d i a s e n t i u - s e d e p r �� -





m i d i s s i m a


O a p a r t a m e n t o f e d o r e n t o , o cheiro de gordu-

r a das c o m i d a s p r e p a r a d a s p e l a esposa.

C o m o s e m p r e , o u v i u - a r e c l a m a n d o .

E l e d e i x o u - s e f i c a r n a c a m a , sem coragem

d e l e v a n t a r .

L e v a n t a r p a r a q u e ?

F o i q u a n d o p e n s o u que t a l v e z o marido de

I r e n e p o u c o estivesse s e i m p o r t a n d o c o m a t r a i -

�� �� o d a m u l h e r . Q u e t a l v e z ela e s t i v e s s e a c o s -

tumada a levar homens para o apartamento

e ele achasse tudo muito natural.

E se fosse assim n��o haveria bala nenhu-

ma ningu��m lhe daria tiro nenhum. P��g 95

Devia ou n��o continuar tocando na boate?

Apesar desta hip��tese, Cristiano n��o se sen-

tiu com coragem de continuar tocando no ho-

tel.

N��o teria coragem de se arriscar.

E quanto mais pensava em sua situa����o, mais

deprimido ficava..

Por que com ele tudo andava errado?

Num momento de lucidez, chegou �� conclu-

s��o de que a culpa era somente dele.

Era um covarde.

Temia tudo e todos. E fugia das situa����es

complicadas em que se metia, Fugia de proble-

mas que talvez s�� existissem em sua imagina-

����o,

Talvez por isso que n��o tinha vencido, que

levava aquela vida miser��vel e estava condenado

a continuar vivendo assim.

N��o tinha for��a para chegar a lugar al-

gum.

N��o sabia enfrentar os problemas;

Matilde entrou no quarto e berrou:

��� Vai ficar deitado o dia inteiro ai na

cama, seu vagabundo? A comida est�� pronta.

Ou n��o vai querer almo��ar hoje? P��g 96 FINAL

ESTE LIVRO FOI DIGITALIZADO EM 2019 POR

LEANDRO MEDEIROS PARA ATENDER AOS

DEFICIENTES VISUAIS.







---------- Forwarded message ---------
De: Bons Amigos lançamentos




O Grupo Bons Amigos  tem a satisfação de lançar hoje mais um livro digital para atender aos deficientes visuais.     

Tentação de Uma Mulher Casada -  Carlos Aquino

 Livro doado e digitalizado por Leandro Medeiros

Sinopse:

Cristiano é um homem de quarenta anos. Pediu as contas recentemente na repartição pública onde trabalhava. Desempregado ele arranja um emprego de pianista numa boate(ele já foi músico)

Sobre o autor:  

Escritor, jornalista e ator, Carlos Aquino nasceu em Sergipe, mas foi para o Rio de Janeiro ainda adolescente.Trabalhou em filmes e peças de teatro, mas finalmente descobriu que sua verdadeira vocação era escrever, passando a dedicar-se à literatura. Sua estréia foi com o romance: Verão no Rio em 1973. Com seu.estilo vigoroso e moderno, colocando sempre uma dose de verdade em seus personagens, ele  foi no século passado na década de 70 e 80  um dos escritores de mais prestigio junto ao público.  Detalhes sobre sua morte leia em : https://www.terra.com.br/istoegente/79/tributo/index.htm

Grupo Parceiro:

https://groups.google.com/forum/#!forum/solivroscomsinopses  



Lançamento  Grupo Bons Amigos:

https://groups.google.com/forum/#!forum/bons_amigos  



Blog:




Este e-book representa uma contribuição do grupo Bons Amigos  para aqueles que necessitam de obras digitais como é o caso dos deficientes visuais 

e como forma de acesso e divulgação para todos. 
É vedado o uso deste arquivo para auferir direta ou indiretamente benefícios financeiros. 
 Lembre-se de valorizar e reconhecer o trabalho do autor adquirindo suas obras .


 


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