a t e n d e r a o s deficientes visuais.
COLE����O CORAL S��RIE VERDE
Pr��ximo lan��amento:
A PONTE DAS ILUS��ES PERDIDAS
Armindo Kramer.
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TENTA����O
DE UMA
MULHER CASADA
Carlos Aquino
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O texto deste livro n��o pode ser, no todo ou em parte, nem
reg��strado, nem reproduzido, nem r e t r a s m i t i d o , por qual-
quer meio mec��nico, sem a expressa autoriza����o do detentor
do copyright.
Cap��tulo 1
Cristiano
Ele j�� estava com mais de quarentas anos.
E o pior era o fato de aparentar exata-
mente, a idade que tinha, ou talvez mais
Se ao menos fosse bem conservado!
Cristiano encontrara, por acaso, dias antes,
um antigo colega de gin��sio, o Murilo.
Passaram um pelo outro na Avenida Copaca-
bana. Cristiano reconheceu imediatamente o a n -
tigo companheiro de escola. O rosto de Murilo P 5
pouco ou quase nada havia mudado. Os mes-
mos tra��os, mais bonito at��. E o corpo esbelto,
um ar saud��vel de quer era feliz e tinha ven-
cido na vida.
Ao avist��-lo, foi ao seu encontro, risonho.
Sabia que era Murilo, tinha certeza, apesar de
saber que ele n��o morava no Rio. Mas s�� podia
ser ele.
No entanto, Murilo ficou meio espantado
quando se aproximou.
��� N��o est�� me reconhecendo? ��� perguntou
Cristiano.
O outro disfar��ou:
��� B e m . . . eu o conhe��o de onde?
Murilo n��o tinha a menor id��ia, n��o se lem-
brava de - ter visto Cristiano alguma .vez an-
tes, em sua vida.
��� Olhe bem pra mim ��� insistiu Cristia-
no.
Por mais que olhasse, Murilo n��o recor-
dava. Mas terminou dizendo, por delicadeza:
��� Sua fisionomia n��o me �� estranha. Mas
n��o consigo me lembrar de seu nome nem de
onde o conhe��o.
��� Sou Cristiano, seu antigo colega de gi-
n��sio. Sentava ao seu l a d o . . .
��� Puxa! �� o Cristiano? P 6
O espanto de Murilo foi absolutamente sin-
cero. O homem que via na sua frente n��o tinha
nada do rapazinho talentoso, que tocava piano
muito bem, e mudara-se para o Rio de Janeiro,
com o objetivo de ser famoso.
Cristiano compreendeu a triste verdade. Ele
havia mudado mesmo.
E muito.
N��o apenas fisionomicamente: tinha os olhos
empapu��ados, riscos na testa, vincos na boca.
E uma barriguinha anti-est��tica.
Mas tamb��m interiormente. N��o era mais: o
rapaz e um tanto insolente por se saber t��o
talentoso, com um futuro brilhante pela frente,
como todos diziam.
A partir da��, Murilo procurou compensar o
fato de n��o ter conhecido o amigo.
ficaram mais de vinte minutos, em p��, con-
versando sobre os velhos tempos.
��� Lembra da Laurinha? ��� perguntou Muri-
lo.
��� Mas claro! Acha que ia esquecer? N��s
dois namor��vamos com ela ao mesmo tempo.
��� Pois ��. Mas eu tinha uma inveja louca de
voc��. Laurinha s�� vivia elogiando voc��, dizendo
que era o maior. Fazia tudo para me humilhar.
E um dia eu vi voc��s dois juntos no cinema:,
se beijando, voc�� pegando nas coxas dela. Sen- P 7
ti um ci��me terr��vel. Pensei que ia morrer de
despeito. Laurinha nunca tinha permitido estas
liberdades comigo.
��� Voc�� continua morando l�� na nossa ter-
ra? Ou est�� aqui no Rio?
��� Continuo l��. Vim ao Rio a passeio.
Cristiano pensou em convidar o amigo para
ir at�� sua casa, visit��-lo, mas teve vergonha
do lugar onde morava. N��o queria exibir sua
pobreza. Para sua alegria, ouviu Murilo di-
zer:
��� �� uma pena que a gente s�� tenha se en-
contrado hoje. Viajo logo mais, �� noite. Sen��o,
eu teria o maior prazer de visit��-lo.
Fica para outra vez. Voc�� deve voltar
ao Rio, n��o? N��o vamos perder mais o contate
um com o outro, certo?
��� Eu continuo morando na mesma rua, na
mesma casa...
N��o casou?
Casei. Mas como a casa era muito grande
e eu sou filho ��nico, meus pais acharam melhor
que eu ficasse l��.
��� Voltando ao assunto de Laurinha. O que
foi feito dela?
��� Coitada!
��� Por qu��? Morreu? P 8
��� N��o. Mas se prostituiu. Largou a fami-
lia. Est�� numa decadencia que so vendo! Bem���,
desde os tempos de escola que a gente podia
adivinhar que o fim dela seria esse.
Cristiano compreendeu que a vida n��o havia
sido cruel apenas com ele. Com Laurinha tam-
b��m. Nem todos t��m sorte. Ou n��o sabem fazer
a sua sorte.
��� �� uma pena!
��� Mas o que se pode fazer?
Mais alguns minutos, Murilo despediu-se
Juraram que n��o deixariam de se comunicar,
de escreverem um ao outro.
E cada um seguiu seu caminho.
Aquele encontro deixou Crist��ano muito aba-
lado.
Sentiu concretamente que a vida havia pas-
sado.
Nada mais navia nele do Cristiano que fora
h�� vinte e poucos anos.
Vinha pensando nisso tudo agora, no ��nibus
de volta para sua casa no M��ier.
At�� que naquele dia n��o tinha raz��o para
tanta amargura. Afinal, acontecera uma coisa
boa. Desempregado h�� algum tempo, conseguira
finalmente um trabalho. P 9
Um amigo seu (este, amigo recente, do Rio),
que tocava na boate de um hotel de luxo, h a -
via adoecido e precisava ficar um m��s afas-
tado.
E lembrara-se de indic��-lo.
Ele fora ao hotel e tudo fora acertado.
Come��aria naquela noite mesmo.
Estava voltando para casa, para dar a boa
not��cia �� mulher, apesar de saber que ela a
receberia com indiferen��a.
Mais tarde, retornaria ao hotel para come��ar
seu trabalho.
N��o se tratava propriamente de uma opor-
tunidade. Apenas um trabalho, com o qual ga-
nharia um sal��rio bastante razo��vel, at�� bom,
dentro do padr��o a que Cristiano estava acos-
tumado.
Apesar deste lance de sorte, sentia-se amar-
gurado.
E fazia a viagem de ��nibus, dando um b a -
lan��o em sua vida.
Ilus��es, n��o tinha mais h�� bastante tem-
po.
Lutara muito.
Mas era pobre. Sozinho na cidade grande.
Sem conhecimentos. E sem tato para fazer ami-
zades e entrar nos meios que lhe pudessem pro-
porcionar as oportunidades desejadas.
10���
A cidade grande fizera com que sua timidez
aumentasse. Em sua terra, ele julgava-se o
melhor. Lugar pequeno, todos o conheciam e o
elogiavam.
No Rio, era apenas um entre milhares de
jovens talentosos em busca da gl��ria.
E ele n��o tinha sido escolhido entre estes
milhares para conseguir a fama. N��o tinha
sido um dos eleitos.
Mas teimara durante muitos anos.
Gastara suas energias, numa esp��cie de com-
pensa����o para suas frustra����es, em farras in-
cr��veis.
Bebia pelos botecos.
Envolvia-se com prostitutas.
Freq��entava o baixo m u n d o , . *
Achava que aquilo lhe dava viv��ncia, com
a qual aumentaria sua sensibilidade, e por con-
seguinte, sua arte.
Esse per��odo durou dez anos.
Foi uma fase muito louca.
Ent��o, conheceu Matilde.
Apaixonou-se.
Tornaram-se amantes.
Casou.
���11
Botou na cabe��a que n��o havia vencido
porque levava uma vida desregrada.
A ��poca em que o artista tinha que ser lou-
co, pertencia ao passado.
Vivia-se a era da competi����o.
Talento s�� n��o resolvia.
Precisava dedicar-se ao estudo, ao trabalho.
E tamb��m, mais importante ainda, penetrar nos
meios mais elevados, conhecer pessoas influen-
tes.
Com o casamento iria disciplinar-se.
Mas novamente deu-se mal.
Na verdade, julgava que s�� cometera erros
em sua vida. N��o acertava nunca, apesar de seu
esfor��o em encontrar a reta certa.
Em primeiro lugar, precisava arranjar um
emprego. Um emprego qualquer. Provis��rio. En-
quanto n��o conseguia vencer em sua carreira.
O pai de Matilde lhe arranjou ent��o um em-
prego p��blico.
Mas numa fun����o baixa.
E todos os dias ia para a reparti����o.
Batia ponto de via-se envolvido em proces-
sos para informar. Uma monotonia atroz.
Mas ia suportando tudo, por amor a M a -
tilde e tamb��m porque dizia sempre para si
12���
mesmo que aquilo seria apenas por um ou dois
anos.
No ano seguinte, nasceu-lhe o primeiro fi-
lho.
E o emprego tornou-se mais necess��rio
ainda.
O segundo filho, veio um ano depois.
E Cristiano foi ficando no emprego.
N��o tinha outra sa��da.
Lembrou-se de como ainda era diferente
h�� doze anos atr��s.
Conhecera Matilde, amara-a com uma inten-
sidade de adolescente e tudo lhe parecera f��-
cil.
Ainda tinha sonhos, muitos sonhos.
Mas os dez anos que permanecera na re-
parti����o encarregaram-se de tirar todos os seus
sonhos.
Nunca se adaptara ao trabalho.
Era um funcion��rio ruim.
Sempre mal-humorado.
Para piorar a situa����o, as dificuldades ha-
viam aumentado com os dois filhos,
Doen��as das crian��as, de Matilde, e dele pr��-
prio.
E o tempo passando.
��� 13
Numa briga terr��vel que tivera com a mulher
resolvera largar o emprego.
Fora seu ��ltimo gesto de coragem e sua
��ltima tentativa de ver se ainda poderia con-
seguir um lugar ao sol.
Triste tentativa.
J�� estava com quarenta anos.
O que poderia esperar um homem que n��o
havia conseguido nada ao atingir os quarenta
anos de idade? Quando a maioria j�� se estabili-
zou, j�� alcan��ou o ��xito, ele tentava um reco-
me��o.
J�� sem for��as, desiludido.
Com o abandono do emprego, a situa����o em
casa piorou.
Viviam quase na mis��ria.
Ele conseguia de vez em quando, com um
antigo conhecido da ��poca das farras que havia
vencido, ou pelo menos que conseguira alguma
coisa, arranjar algum trabalho.
Mas eram coisas espor��dicas.
A mulher reclamava, dizendo que tinha em
sa um vagabundo.
Ele a culpava por n��o ter conseguido ven-
cer.
Brigavam o tempo todo. P��g 14
N��o se separara de Matilde, por causa dos
filhos.
Desceu do ��nibus e come��ou a andar em
dire����o a sua casa, que ficava a alguns quar-
teir��es de dist��ncia.
Agora ia tocar numa boate de luxo.
Mas somente durante um m��s.
E ele, por experi��ncia pr��pria, tinha certeza
que novamente depois estaria desempregado.
E sua vida permaneceria a mesma.
N��o havia mais como mudar.
Ali��s, j��, de certo modo, aceitara seu pr��prio
destino. P��g 15
Cap��tulo 2
Irene
Irene entrou no hotel em companhia do ma-
rido.
Estava deslumbrada com o Rio de Janei-
ro.
Ali��s, Irene era deslumbrada com tudo.
Desde alguns meses antes, quando seu ma-
rido recebera uma heran��a e os dois passaram
a viver como novos ricos, o que de fato oram.
Queriam usufruir tudo que houvesse de bom,
ou pelo menos, o que eles achavam que era
bom. P��g 16
Irene cobrira-se de j��ias, comprara dezenas
de vestidos e sapatos, entupira a casa que h a -
viam adquirido de quinquilharias espalhafato-
sas.
N��o menos deslumbrado era seu marido.
Domingos tamb��m estava a fim de usufruir
de tudo de bom. Inclusive arranjar amantes.
Afinal, com sua atual condi����o financeira, n��o
poderia renunciar a este luxo.
Casa decorada, roupas e j��ias compradas,
muito dinheiro para gastar, decidiram fazer uma
viagem ao Rio de Janeiro, que ainda n��o co-
nheciam.
Depois, em escala, iriam aos Estados Uni-
dos, �� Europa, a todos os lugares a que agora
tinham direito e dinheiro.
Escolheram um dos hot��is mais caros para
se hospedar.
Irene tinha conhecimento, atrav��s da leitura
das colunas sociais, da vida dourada que leva-
vam as senhoras da alta sociedade.
E morria de vontade de ser uma delas.
Ali��s pretendia ser, num futuro pr��ximo ;
Talvez, e era quase certo, que manteriam uma
casa na Bahia e outra no Rio.
Por enquanto iam viajar. Passar algum tem-
po no Rio e depois em outros pa��ses que dese-
javam conhecer.
���17
Passada a fase de turismo, estabeleceriam
tamb��m resid��ncia no Rio.
Desde que estava no avi��o, sobrevoando a
cidade, ela ficara boquiaberta com a paisagem.
Achou tudo Igualzinho aos cart��es postais que
conhecia.
Desceu no aeroporto com ar de grande es-
trela de cinema.
Dirigiram-se ent��o para o hotel.
Ela ficou encantada com o luxo.
Era exatamente assim que queria.
Teve a certeza de que sua temporada no
Rio de Janeiro seria maravilhosa.
Entraram na su��te que haviam reservado.
Finalmente, a s��s, dirigiram-se para a j a -
nela.
A vista era bel��ssima.
Irene sentiu-se realmente como se estives-
se vivendo num filme.
Um filme colorido, do qual ela era a es-
trela.
Uma su��te muito bem decorada, uma j a -
nela panor��mica que mostrava uma paisagem
magnifica.
Domingos abra��ou-a.
E. para completar a felicidade, tinha um ma-
rido jovem e bonito, como ela que a adora-
va.
18
N��o tinham ainda completado trinta anos.
Bonitos, jovens, ricos e saud��veis.
O que podiam pretender mais?
Ele segurou-a pelos ombros e a beijou.
Um beijo cinematogr��fico.
Desde que haviam recebido a heran��a, os
dois s�� pensavam e agiam em termos magnifi-
centes.
Tinham modificado at�� os gestos e a maneira
de falar. Inclusive a maneira de fazer amor.
Quando estavam na cama, n��o eram mais t��o
espont��neos como antes. Faziam tudo preocupa-
dos com a est��tica, para que tudo fosse muito
bonito, como se tivessem sempre espectadores.
O beijo do casal durou mais do que o tem-
po necess��rio.
N��o que eles estivessem realmente sentindo
um desejo ilimitado um pelo outro. Nada disso.
Apenas acharam que era conveniente se bei-
jarem longamente diante da janela panor��mi-
ca que mostrava a linda paisagem.
Era como se estivessem posando para uma
fotografia.
Depois, quando n��o tinha mais f��lego para
continuar com o beijo, separaram-se vagaro-
sa e languidamente come��aram a tirar a rou-
pa. Irene muito mais languidamente do que o
marido, como convinha a uma mulher "sofis-
ticada".
���19
Deixaram as roupas ca��rem no ch��o.
E foram para o banheiro.
Abriram o chuveiro e abra��aram-se, deixan-
do a ��gua escorrer pelos seus corpos.
De repente, Irene teve uma id��ia melhor.
Abandonou Domingos debaixo do chuveiro.
Ele perguntou:
O que vai fazer?
��� Tive uma id��ia maravilhosa.
��� Qual?
��� �� surpresa ��� respondeu a mulher, rin-
do.
Ela apanhou um preparado para fazer es-
pumas, encheu a banheira e o colocou.
Nu. sorridente para a esposa, Domingos
olhava-a em seus preparativos.
Quando a banheira estava completamente
cheia e as espumas transbordavam, os dois
mergulharam.
E divertiam-se como crian��as, jogando es-
pumas um no outro, as pernas entrela��ando-se,
abr����ando-se e beijando-se.
N��o havia nenhum erotismo, nenhum de-
sejo.
Eles estavam apenas preocupados em serem
milion��rios, em viver na vida real cenas que
haviam visto em filmes coloridos de Hollywood.P��g 20
E n x u g a r a m - s e m u t u a m e n t e n a b e l a t o a l h a .
D e p o i s p a s s e a r a m c o m p l e t a m e n t e nus p e l a
su��te.
��� A g e n t e se a m a t a n t o . . . ��� disse Irene
c o m u m a v o z o n d e n �� o h a v i a n e n h u m a emo-
�� �� o . E r a c o m o s e e l a t i v e s s e d i t o q u e i a com-
p r a r u m v e s t i d o n o v o .
��� �� v e r d a d e ��� r e t r u c o u D o m i n g o s s e m t e r
c o n s e g u i d o o u t r a �� r a s e p a r a f a l a r .
��� E v a m o s n o s a m a r s e m p r e .
��� S e m p r e ��� disse o m a r i d o c o m o um e c o .
��� A s pessoas f a l a m que n �� o e x i s t e f e l i -
c i d a d e . N u n c a v i m e n t i r a i g u a l .
��� Nem eu.
E l e c o n c o r d a v a c o m t u d o . M e s m o q u e n o
i n t i m o n �� o c o n c o r d a s s e , e x t e r n a v a a sua c o n -
c o r d �� n c i a , p e l o s i m p l e s a t o d e q u e n �� o q u e r i a
ter t r a b a l h o e m d i s c u t i r .
��� E u s e m p r e o a m e i , s e m p r e f o m o s f e l i z e s ,
n �� o �� m e s m o , D o m i n g o s
��� �� .
��� M a s d e p o i s q u e f i c a m o s r i c o s , n o s s o a m o r
a u m e n t o u , v o c �� n �� o a c h a ?
��� A c h o .
��� E s t a m o s c a d a v e z m a i s u n i d o s , c a d a vez
m a i s f e l i z e s . P �� g 2 1
Em vez de responder, ele deu-lhe um beijo
no rosto.
Irene continuou:
��� E depois dizem que dinheiro n��o d�� fe-
licidade. Outra mentira que a gente est�� acos-
tumado a ouvir.
��� Isso mesmo.
��� N��o quero dizer que, antes, a gente n��o
fosse feliz. Mas �� que com todo este dinheiro,
ficamos muito mais felizes. Podemos amar-nos
o tempo todo. E eu tenho certeja de que n��o
vou enjoar nunca.
Ai foi a vez dela beij��-lo. P��g 22
Capitulo 3
Matilde
Cristiano entrou em seu apartamento.
Fez urna careta ao sentir o cheiro de comida
sendo feita, aquele insuport��vel cheiro de gor-
dura.
Al��m do cheiro caracter��stico do apartamen-
to sempre sujo, sempre em desordem, os filhos
tamb��m sempre imundos, o mesmo podendo ser
dito de Matilde, sua mulher.
�� medida que os anos passavam, ela se
tornava cada vez mais relaxada. P��g 23
���23
Ele detestava mulher assim. Passara a de-
testar tudo em Matilde.
Ela o olhou com indiferen��a.
Cristiano falou:
��� Consegui.
��� Conseguiu o que?
��� Tocar numa boate.
��� Boate de verdade?
Ele procurou falar com entusiasmo:
��� Claro. Uma boate num hotel de luxo.
Vou substituir um amigo meu que adoeceu.
��� E quando ele ficar bom?
��� Volta para o lugar dele.
��� E voc�� fica sem trabalho de novo.
��� Mas, pelo menos durante um m��s, vou
ganhar bem.
��� Ele vai ficar doente somente um m��s?
Cristiano j�� estava quase perdendo a pa-
ci��ncia:
��� O m��dico aconselhou um m��s de repou-
so. Pode ser que fique mais.
��� N��o acredito. �� capaz de ficar logo
bom e voltar numa semana. E ai voc�� vai pra
rua antes.
��� De qualquer maneira vai ficar afastado
um m��s. Mesmo que fique bom logo. J�� est��
tudo acertado.
24���
��� E de que adianta voc�� trabalhar um m��s?
Est�� devendo o aluguel, o armaz��m...
Ele perdeu a paci��ncia, e gritou:
��� Chega, Matilde!
��� N��o fale alto comigo, que eu grito mais
alto ainda.
��� N��o est�� satisfeita em saber que vou ter
uma oportunidade?
��� Oportunidade de qu��? De ganhar um di-
nheirinho durante um m��s e depois mais na-
da?
��� N��o adianta querer conversar com voc��.
Voc�� n��o tem jeito mesmo.
��� Voc�� �� que n��o tem jeito.
��� Eu podia ser um pianista, famoso se n��o
tivesse casado com voc��.
��� Por que n��o olha de frente a realidade?
Por que bota a culpa em mim? A culpa �� sua.
O fato �� que voc�� n��o tem talento. Se tivesse,
tinha vencido. Devia era arranjar um emprego
fixo.
��� Na minha i d a d e . . .
Ele n��o p��de completar, Matilde interrom-
peu:
��� Nunca devia ter largado a reparti����o. Mas
voc�� �� um louco, um louco varrido. Ningu��m
��� 2 5
larga emprego quando n��o tem um centavo.
Se tivesse trabalhando, seus filhos n��o estavam
passando fome.
��� Est�� querendo mesmo brigar, n��o ��? J��
discutimos isso mais de mil vezes.
��� Eu vou brigar com voc�� a vida inteira.
A vida inteira, ouviu Mesmo que eu viva 99
anos, vou continuar brigando, brigando sem pa-
rar. Voc�� n��o presta, n��o vale nada, �� um
vagabundo.
Cristiano desistiu.
Foi para o quarto e deitou-se.
Precisava descansar um pouco.
Mais tarde teria que ir para �� boate tra-
balhar.
Nem por isso, Matilde deixou de falar. Per-
maneceu na sala reclamando.
Ele procurou n��o escutar.
O melhor mesmo era ficar calado.
Como Matilde mudara!
Estava t��o diferente de quando a conhe-
cera!
Matilde mudara muito mais do que ele!
Naqueles ��ltimos doze anos transformara-
se em outra mulher, numa mulher completa-
mente diferente da que conhecera.
26���
F��sica e interiormente.
Ela era bonita, uma mo��a muito bonita,
quando a vira pela primeira vez.
Mas envelhecera depressa demais, engordara,
tinha as pernas cheias de varizes.
Que diferen��a!
Conhecera Matilde quando ainda era virgem.
E naquela ��poca ela o amava.
Haviam come��ado a namorar h�� apenas uma
semana, quando Matilde se entregara a ele.
E Cristiano tinha sido o primeiro.
Ele a levara para o quarto onde morava.
Matilde fora docilmente, louca de desejo.
Dissera-lhe que ainda era virgem. Ele a prin-
cipio n��o acreditava, mas depois comprovara
o fato.
Naquela noite...
Descobrira-lhe os seios, durinhos, pontudos.
Beijou-os, chupou-os.
Matilde entrou em ��xtase.
E ele lambia-lhe o ventre, descia-lhe a cal-
cinha.
Matilde muito t��mida, querendo deter-lhe o
desejo, ela pr��pria por��m sem conseguir deter
o pr��prio.
���27
E e l e e n c o s t a n d o o r o s t o e n t r e suas c o x a s ,
s e n t i n d o o c o r p o d a j o v e m t r e m e r . D e m e d o e
d e s e j o .
T i n h a s i d o t u d o t �� o b o n i t o !
A s i m a g e n s l h e a p a r e c i a m n �� t i d a s , c o m o s e
tudo t i v e s s e a c o n t e c i d o n a v �� s p e r a .
E l e t a m b �� m t i r o u a r o u p a .
M a t i l d e n �� o o olhava-, O p u d o r n �� o p e r m i t i a
q u e o o l h a s s e .
A q u i l o o e x c i t o u m a i s a i n d a .
D e i t o u - a d e l i c a d a m e n t e s o b r e a c a m a .
E c o l o c o u seu c o r p o p o r c i m a .
O s o l h o s d e M a t i l d e b r i l h a v a m .
E seu c o r a �� �� o b a t i a f o r t e .
O m o m e n t o s u p r e m o s e a p r o x i m a v a .
E e l a a n s i a v a p a r a q u e ; c h e g a s s e l o g o .
M a s n �� o f a z i a n e n h u m g e s t o m a i s o u s a d o .
S i m p l e s m e n t e d e i x a v a q u e C r i s t i a n o t o m a s s e
todas as i n i c i a t i v a s .
E l e t e v e u m m o m e n t o d e l u c i d e z , a p e s a r d o
d e s e j o q u e s e n t i a .
M a t i l d e d i s s e r a a v e r d a d e , c o m p r e e n d e u .
E r a r e a l m e n t e v i r g e m .
E e s t a v a p r o n t a a e n t r e g a r - s e p o r a m o r ,
28���
Aquela passividade, aquela confian��a, tudo
excitava cada vez mais Cristiano.
Teve receio de gozar antes de a possuir.
Por isso, apressou o momento supremo t��o
ansiado por Matilde.
O desejo ereto abriu caminho.,
E foi fundo.
Matilde, discreta, sufocou um grito.
Mas n��o p��de deixar de gemt r.
E Cristiano gozou, gozou como nunca gozara
antes. Matilde abra��ada a ele, completamente
entregue, gozando tamb��m.
Aquilo acontecera h�� doze anos. Parecia
ao mesmo tempo que fora h�� um s��culo atr��s
e parecia que fora ontem.
As imagens daquela noite estavam t��o vi-'
vas, que Cristiano tinha at�� a impress��o de ou-
vir a respira����o de Matilde ao seu lado, depois
de se terem amado.
E muitas e muitas outras noites acontece-,
ram com aquele mesmo amor imenso, sem que
diminu��sse a intensidade.
Ate que resolveram casar.
E as coisas foram-se deteriorando
Minando, pouco a pouco.
���29
Matilde continuava na sala reclamando, res-
mungando.
A vida transformara-se num inferno.
O tempo, que fora cruel para ele, fora muito
mais ainda para Matilde.
Ela n��o era nem a sombra do que fora.
Feia, velha, gorda, com varizes, as malditas
varizes. O que ele odiava mais? Maltide ou
suas varizes?
Uma vez ou outra ainda faziam sexo.
Quando Matilde o procurava na cama.
Ele n��o se recusava, apesar de nos ��ltimos
tempos nunca tomar a iniciativa de procur��-
la.
Mas tinha que fazer um esfor��o enorme.
Ela compreendia.
E sofria com isso.
Tamb��m tinha consci��ncia de que n��o era
mais a mesma. E que o marido mantinha rela-
����es sexuais com ela apenas como uma obriga-
����o quase insuport��vel, t��o insuport��vel como o
emprego que largara. E s�� n��o a abandonara
ainda por causa dos filhos, Matilde tamb��m
tinha consci��ncia disso.
Mais um motivo para ser mais amarga.
30���
Cap��tulo 4
dom��nios
A noite j�� tinha descido e Irene n��o che-
gara.
Domingos estava impaciente.
Ela fora a um dos melhores cabeleireiros
cariocas. E como estava demorando muito, Do-
mingos ligara para o sal��o. Irene ainda ia ficar
algum tempo l��.
Chateado de n��o fazer nada na su��te, ele
decidiu descer at�� o hall do holte.
Dirigiu-se ao bar e pediu um u��sque.
��� 3 1
Sempre era melhor ficar ali, vendo o entra-e-
sai de pessoas, do que ficar no apartamen-
to.
Uma loura estava sentada numa poltrona
mais adiante, bem na sua frente.
Olhou-a com aten����o. Era bonita.
O que estaria fazendo ali sozinha?
Certamente esperando algum homem, pen-
sou.
A loura notou que estava sendo observada
e fixou Domingos.
Apesar de n��o ser propriamente um t��mido,
ele desviou a vista.
Tomou mais um gole de u��sque.
Reanimado e encorajado, olhou-a novamen-
te.
Ela continuava encarando-o e desta vez es-
bo��ou um sorriso.
Domingos correspondeu.
A loura, que estava com uma saia aberta
dos lados, cruzou as pernas de tal maneira, que
deixou as coxas �� mostra.
O gesto fora proposital, n��o havia d��vida.
Ela o fizera sem disfar��ar, demonstrando clara-
mente a inten����o de excit��-lo.
E conseguiu seu objetivo. P��g 32
Entre um gole e outro de u��sque. Domingos
olhava para aquelas coxas grossas e bem fei-
tas.
Os dois passaram a se entender pelo olhar.
A loura n��o era nada sutil, e pouco estava
se importando com os outros. Alisou a pr��pria
coxa, vagarosamente, com sensualidade.
Domingos desejou que Irene n��o voltasse logo
do cabeleireiro, que ficasse l�� at�� meia-noite. Te-
ria tempo ent��o de ficar com a jovem desco-
nhecida.
Pediu outro u��sque, uma vez que j�� esvaziara
seu copo.
E permaneceu encarando a loura que tam-
b��m fazia o mesmo.
Ela molhou os l��bios cora a l��ngua.
Domingos n��o mais procurou disfar��ar que
estava com o sexo ereto.
Mais um gole de u��sque.
E imaginou-se levantando a saia da desconhe-
cida e possuindo-a ali mesmo, no hall do ho-
tel na presen��a das outras pessoas espanta-
das.
Mais uma vez a loura sorriu, como que len-
do o que se passava na cabe��a do homem.
Ela fez um movimento mais ousado com as
pernas, e Domingos viu nitidamente que estava
sem calcinhas.
���33
Aquilo quase o enlouqueceu.
O pior era que Irene podia chegar a qual-
quer momento.
N��o resistindo, Domingos aproximou-se da
jovem:
��� Oi!
��� Oi! Eu me chamo Dora, estou dispon��vel,
tenho vinte e tr��s anos, um metro e setenta,
profiss��o indefinida, solteira. E voc��?
Domingo riu. Tamb��m disse seu nome, idade,
peso, altura, profiss��o, mas omitiu o estado ci-
vil.
��� J�� sei que �� casado ��� falou Dora.
��� E minha mulher deve chegar daqui a
pouco.
��� Aonde ela foi?
��� Ao cabeleireiro.
�� uma boa desculpa.
��� Desculpa para qu��?
��� Para transar com algum cara por a��, en-
quanto voc�� pensa que est�� no sal��o de bele-
za.
��� Liguei pra l��. Irene realmente est�� no ca-
beleireiro.
��� Bem, isso n��o importa muito...
��� ��, realmente n��o importa.
34���
��� E voc��? Est�� a fim?
Ele apontou para a cal��a, mostrando seu es-
tado de excita����o:
��� O que voc�� acha?
��� Podemos subir para seu apartamento
��� N��o, porque Irene pode chegar daqui a
pouco.
Dora apontou:
��� Talvez ela j�� tenha chegado. Ser�� aquela
mulher que est�� ali olhando a gente?
Domin��s virou-se e viu Irene mais adian-
te.
���- �� ela, sim.
Ia se dirigindo para a esposa, quando ouviu
Dora falar:
��� Tem tanto medo assim, que nem sequer
se despede de mim?
Ele voltou-se para Dora, sorriu:
��� At�� breve. A gente se encontra em outra
ocasi��o.
Ao chegar perto de Irene, ela deu-lhe as cos-
tas, e encaminhou-se para o elevador. Domingos
a seguiu.
Enquanto esperavam, notou que a mulher es-
tava bastante aborrecida.
���35
Mas n��o trocaram uma ��nica palavra.
O elevador chegou.
Permaneceram mudos.
S�� quando entraram na su��te, Irene falou:
��� Basta eu dar as costas um minuto e voc��
come��a a me trair.
��� Eu?!
��� Claro. Quem era aquela loura?
��� Uma loura...
��� N��o deboche. Domingos. Por que estavam
conversando?
��� N��o �� proibido bater papo com outros
h��spedes do hotel. Enquanto a esperava, para
n��o me chatear muito, come��amos a conversar.
��� E por que voc�� colocou a m��o no bolso,
para que eu n��o notasse que estava excita-
do?
��� Ora, Irene, n��o v�� fazer cenas de ci��mes
no primeiro dia de nossa chegada ao R i o . . .
Mas ela fez.
Inclusive porque achava que ficava bem.
Dava um tempero especial �� sua felicida-
de.
Como s�� pensava em termos de filmes so-
fisticados de Hollywood, levou avante a sua rai-
va.
36���
Discutiu, exaltou-se, amea��ou quebrar um va-
so de cristal na cabe��a de Domingos.
Depois, deitou-se no sof��, inconsol��vel, dizen-
do que naquela noite n��o falaria mais com ele,
aconselhando-o a ir procurar consolo nos bra��os
da tal loura.
Domingos pediu por telefone para lhe man-
darem uma garrafa de champanha.
A champanha chegou e tentou fazer as pa-
zes com Irene. Mas esta mostrou-se irredut��-
vel.
Sem outra op����o, ele decidiu tomar sozinho
um pileque.
Entornou o l��quido borbulhante numa ta��a
e come��ou a beber.
���37
Cap��tulo 5
A boate
Cristiano saiu de seu miser��vel apartamen-
to. A mulher e os filhos assistiam �� televis��o
e nem notaram sua sa��da.
Cabisbaixo, dirigiu-se ao ponto do ��nibus.
Tinha uma longa viagem pela frente, at��
chegar ao hotel na Zona Sul.
Na condu����o, come��ou a ter sono e esfor��a-
va-se para manter os olhos abertos.
Se adormecesse, passaria do lugar onde teria
que saltar.
3 8 ���
Acendeu um cigarro.
Mas o sono n��o o largava.
Terminou de fumar o cigarro
E se dormisse por cima do teclado do piano
l�� na boate?
Seria imediatamente despedido, al��m de pas-
sar por um vexame incr��vel.
A id��ia assustou-o de tal maneira, que o
sono finalmente foi embora.
O ��nibus percorria monotonamente ruas e
mais ruas. At�� que chegou ao Centro da ci-
dade, passou pelo Flamengo, Botafogo, Copa-
cabana. ..
Estava perto.
E Cristiano ficou satisfeito por n��o ter ador-
mecido.
Desceu do ve��culo.
Seus passos o levaram at�� o hotel.
Cristiano tocava.
A medida que os minutos passavam, ele inte-
grava-se cada vez mais ao ambiente.
E sentiu-se feliz.
Uma felicidade meio amarga, talvez P��g 39
Todos se divertindo.
�� sua maneira, ele tamb��m se divertia.
Estava fazendo o que gostava. Por uma bre-
ve temporada, era verdade. Mas era melhor do
que nada.
Gostava de tocar.
Dora entrou na boate.
Sozinha.
Come��ou a dan��ar.
Num relance, viu o pianista.
E talvez uma vontade s��bita de olh��-lo mais
de perto.
Aproximou-se e debru��ou-se no piano.
Ele a olhou.
Achou-a muito bonita.
Dora sorriu. Ela sorria sempre, principalmen-
te para os homens.
E permaneceu debru��ada, olhando Cristiano,
vendo seus dedos passando velozes pe'o tecla-
do.
��� Gostaria de saber tocar piano -- disse.
Desta vez, foi Cristiano quem sorriu.
Ela comentou:
��� Voc�� fica mais bonito quando ri.
40���
Ele voltou a ficar s��rio.
A jovem disse:
��� Est�� triste?
��� N��o.
��� Parece estar.
��� Eu sou triste.
��� Que bobagem! Sem essa!
Ele n��o falou mais. Dora permaneceu onde
estava, observando os dedos ��geis.
Dora era imposs��vel:
��� Seus dedos me excitam.
��� Como assim
��� Gostaria de v��-los passearem assim, r��pi-
dos, pelo meu corpo. Claro que n��o sairia ne-
nhum som, mas seria agrad��vel. Para mim e
para voc��...
��� Isso �� imposs��vel.
��� Por qu��?
��� Voc�� n��o �� mulher para mim.
��� Sou. Para qualquer um.
��� N��o pra mim.
E Cristiano voltou a integrar-se em sua m��-
sica, fazendo de conta que desconhecia a pre-
sen��a de Dora.
���41
Ela saiu da posi����o onde estava o encostou-
se nele, ro��ou-lhe de leve o corpo.
Por mais que quisesse, Cristiano n��o poderia
ignorar a presen��a de Dora.
Mas aquele contato durou muito pouco.
Logo Dora avistou um conhecido antigo, que
entrava na boate.
Correu para ele, esquecendo o pianista quase
imediatamente.
Oscar sorriu ao ver Dora. Era um homem cor-
pulento de meia-idade.,
E rico. Muito rico.
Como todos os homens por quem Dora se in-
teresava, uma vez que era uma prostituta de
luxo.
Cristiano tinha raz��o ao dizer que ela n��o era
mulher para ele.
N��o era mesmo.
��� Oi, Oscar, est�� sozinho?
��� Estou.
��� N��o vai me convidar para ficar com vo-
c��?
��� Claro, se voc�� est�� livre.
��� Estou sempre livre para voc��.
42���
Sentaram-se numa mesa.
Dora colocou os bra��os no pesco��o de Oscar
e o beijou com entusiasmo.
Tinha ganho a noite.
��� Quando voc�� ehegou?
Fora uma sorte encontr��-lo.
��� Hoje �� noite ��� respondeu Oscar.
��� E veio t��o logo �� boate? N��o est�� cansa-
do?
��� Um pouco. O que n��o impede que me di-
virta.
Dora morava num edif��cio perto do hotel.
Muito bonita, vestia-se bem e tinha tr��nsito li-
vre nos melhores ambientes.
Costumava escolher os seus homens a dedo
e s�� fazia sexo com quem tinha muito dinhei-
ro.
Por isso tinha seu apartamento muito bem
montado, levava uma vida despreocupada finan-
ceiramente.
Conhecera Oscar h�� tempos. Ele era um fa-
zendeiro paulista, muito rico. Sempre que vi-
nha ao Rio, procurava Dora. Desta vez n��o foi
preciso procur��-la, uma vez que a encontrava
logo na boate, por acaso.
���43
��� Hoje me deu vontade de vir at�� aqui.
Parecia que estava adivinhando que ia encontr��-
lo.
De seu piano, de vez em quando Cristiano
olhava os dois. Como invejava aquele homem
gordo que podia ter as mulheres que quisesse,
enquanto ele n��o tinha nada.
E continuou tocando, tocando sem parar. Afi-
nal, este era seu trabalho.
�� medida que bebia, Dora tornava-se mais
expansiva ainda. Atirava-se sobre Oscar, beijava-
o, segurava-lhe o sexo por baixo da mesa.
��� Voc�� �� fogo!
��� Todo mundo me diz isso ��� retrucou a
jovem.
��� Quer ficar mais tempo na boate, ou quer
subir logo?
��� Como queira.
Ficaram na boate mais tempo, encharcando-
se de u��sque.
Somente uma hora depois se retiraram.
Dora havia esquecido completamente do pia-
nista e saiu da boate sem sequer lan��ar-lhe um
olhar.
Enquanto tocava, Cristiano imaginou Dora e
Oscar subindo para o apartamento deste.
44���
Os dois no elevador.
Entrando no apartamento do hotel.
Tirando a roupa.
A barriga imensa de Oscar, caida, quase lhe
encobrindo o sexo.
E Dora abaixando-se para beij��-lo.
Cristiano tocou nas teclas com mais for��a,
para descaregar sua raiva.
Mas porque estava t��o aborrecido? Afinal,
nem conhecia a jovem.
Os dois na cama.
Quem estaria por baixo? Dora ou o gordo
milion��rio?
Certamente ele. Dora n��o suportaria tanto
peso.
E parecia ver o homem nu deitado, Dora por
cima, abrindo as pernas, deixando que ele a pe-
netrasse.
E Dora se esfor��ando, se mexendo, fazendo
com que o milion��rio gozasse, enquanto ela pr��-
pria certamente n��o sentia o menor prazer,
mas fingia...
Olhou para as outras mulheres na boate.
Quantas outras Doras havia ali?
Era dif��cil saber. P��g 45
Afinal, Dora n��o parecia ser o que era. Tinha
um tipo fino, muito bem vestida, boas manei-
ras. Apenas uma sensualidade animal, uma sen-
sualidade maior do que as outras.
A noite parecia intermin��vel.
E Cristiano teve a impress��o de que durava
um s��culo, de que h�� um s��culo estava tocan-
do sem parar.
Setiu-se cansado.
Mas n��o tinha outro jeito a n��o ser conti-
nuar tocando.
Para desviar o pensamento de Dora, lembrou-
se de Matilde.
E sentiu-se mais infeliz ainda. P��g 46
46���
Cap��tulo 6
o casal
Domingos estava completamente b��bado.
Olhou para Irene, que finalmente adorme-
cera no sof��.
Ficou em d��vida se descia para procurar
uma aventura qualquer, ou se acordava a espo-
sa.
Mas achou-se excessivamente, b��beda para
sair da suite.
Al��m disso, j�� estava muito tarde.
���47
O melhor que tinha a fazer era acordar Ire-
ne.
Quando bebia, ficava sempre com mais von-
tade de ter rela����es sexuais.
A bebida o excitava.
N��o dormiria sem fazer sexo primeiro.
E como a mulher era quem estava mais ��
m��o, teria que satlsfazer-se com ela.
Sorriu ao lembrar-se de um amigo que cos-
tumava dizer:
��� Quando n��o se encontra outra pessoa com
quem dormir, a gente dorme com a pr��pria es-
posa.
Sabia que Irene fora dormir zangada com
ele. Se a despertasse, faria uma nova cena de
ci��mes. Mas n��o tinha import��ncia, seria mais
excitante ainda.
Chegou perto da mulher e come��ou a beijar-
lhe a orelha de leve, depois a lamb��-la.
Irene acordou e o empurrou:
��� N��o quero nada com voc��.
��� Mas eu quero.
��� Voc�� est�� b��bado.
��� Melhor ainda.
Agarrou a esposa. Tentou levant��-la. Ela de-
batia-se. Domingos desequilibrou-se e os dois
ca��ram no ch��o.
48���
Rolaram, pelo tapete.
Irene tamb��m estava excitada. Mas fingia
que n��o queria nada com o marido.
Continuaram sua luta amorosa- corporal.
Domingos tentando possu��-la, Irene reagindo
com veem��ncia.
Ele achou excitante, terrivelmente excitante
violentar, subjugar a pr��pria esposa.
Irene estava achando mais excitante ainda.
Era como se tivesse mudado o g��nero de filme.
Quando haviam chegado ao Rio e entrado
na su��te, vivera um filme sofisticado, uma alta
com��dia.
Agora estava na base do filme de viol��ncia.
Achou incr��vel.
Domingos rasgou-lhe a roupa.
Ela arranhou-o com as unhas.
Atracaram-se.
Ele finalmente a subjugou e a possuiu.
E depois se deixaram ficar no tapete mesmo,
adormecendo.
* * *
Eram quatro horas da madrugada, quando
Cristiano parou de tocar.
���49
Pouco depois, andava pela rua em dire����o
ao ponto de ��nibus.
Esperou pacientemente.
Um grupo de jovens passou, rindo, contente,
certamente vindo de alguma farra.
Cristiano sentiu Inveja.
Inveja por n��o ser mais jovem, inveja por
nunca ter tido na realidade uma mocidade.
Pelo menos assim, uma mocidade despreocupa-
da, divertlndo-se por divertir-se.
Fizera muitas farras, sim, mas sempre ator-
mentado por seus problemas de solid��o e finan-
ceiros.
Sem contar seus sonhos de grandeza, que sa-
bia serem quase Imposs��veis de realizar.
O tempo tirara-lhe qualquer esp��cie de d��vi-
da. Os sonhos n��o eram quase imposs��veis, mas
absolutamente imposs��veis de serem transforma-
dos em realidade.
E ali estava ele, quarent��o, esperando um
��nibus que o levasse para sua casa no sub��r-
bio, para encontrar uma mulher que odiava.
Odiou tamb��m aqueles jovens a petul��ncia
de sua felicidade, de sua alegria de viver.
Ele nunca tivera alegria de viver
Quando muito mo��o ainda, vivia no futuro,
quando estivesse muito rico e famoso.
50���
Depois, foi perdendo as ilus��es, uma a uma.
Agora n��o tinha nenhum futuro em que pen-
sar e a realidade do presente era insuport��-
vel.
O ��nibus chegou.
Ele seguiu seu caminho de volta para casa.
Passavam quarenta minutos das cinco horas
quando botou os p��s em seu apartamento.
O dia j�� estava claro, mas o apartamento
escuro. N��o acendeu nenhuma luz para n��o
acordar a mulher nem os dois filhos.
Entrou no quarto sorrateiramente, como se
fosse um ladr��o.
Tirou a camisa, a cal��a, jogou-as numa ve-
lha cadeira.
E deitou-se na cama cuidadosamente, ao la-
do da mulher, com o maior receio de que ela
acordasse.
Apesar de roncar muito, Matilde s�� era su-
port��vel, enquanto dormia.
Mas ela acordou.
Abriu os olhos e perguntou:
��� �� verdade mesmo?
- O qu��?
��� Que voc�� est�� tocando na tal boate?
- 5 1
��� E.
��� Sabe o que pensei depois que voc�� saiu?
��� O qu��?
��� Que podia ser mentira.
��� Por que ia mentir?
��� Pode ter passado a a noite na farra, com
seus amigos vagabundos.
��� Acha que vou passar um m��s inteiro na
farra, todos os dias?
��� Voc�� �� capaz de- tudo.
��� No fim do m��s voc�� v�� o dinheiro que
eu receber. N��o �� poss��vel que v�� pensar que
foi roubado.
��� Posso at�� pensar isso.
��� Eu n��o quero brigar agora.
��� Nem eu.
Dizendo isso, Matilde encostou seu corpo no
de Cristiano. Ele teve vontade de sumir da face
da terra. Seria poss��vel que Matilde estivesse
querendo ter rela����es?
Ela estava querendo, sim. Deixou isso D e m
claro, ao segurar-lhe o sexo e coloc��-lo para fora
da roupa.
52���
��� Eu estou cansado, Matilde.
��� Eu n��o disse? Passou a noite com alguma
vagabunda por ai. Por isso n��o quer nada co-
migo, n��o ag��enta mais.
��� Passei a noite inteira tocando piano sem
p a r a r . . .
Mas ele viu que se n��o fizesse, sexo com a
mulher, ela jamais acreditaria que passara a
noite trabalhando.
Tinha que ter rela����es com Matilde, mesmo
contra a vontade.
Precisava utilizar algum artificio a fim de
conseguir ficar excitado.
O jeito foi concentrar o pensamentos em
Dora. O velho gordo milion��rio ainda estaria
deitado com ela? Achou de certo modo engra-
��ado: ele na cama com uma mulher gorda e
feia; Dora na cama com um homem gordo e
feio. Mas havia uma diferen��a fundamental: ele
n��o estava ganhando nada com Isso, enquanto
Dora ia faturar uma nota.
Desejou ter nascido mulher.
E pensou que se isso tivesse acontecido, ele
seria como Dora.
Esqueceu o detalhe que poderia ser uma mu-
lher feia e n��o bonita como a jovem loura da
boate.
��� 5 3
Continuando deu devaneio imaginou-se uma
mulher bonita como Dora vigarista explorando
os homens e conseguindo tudo o que queria.
Como n��o conseguisse a ere����o, e vendo que
o mau humor de Matilde estava prestes a explo-
dir, Cristiano mudou o rumo de seus pensa-
mentos.
Ele era, n��o Dora, mas um homem rico que
tinha ido para a cama com ela. Imaginou como
seria Dora nua, suas coxas, seus seios, ele apal-
pando-os, mordendo-os...
Conseguiu a ere����o.
Imediatamente, penetrou na esposa.
E permaneceu esfor��ando-se em pensar que
estava possuindo Dora. Era dif��cil. Mas Unha
que conseguir, tinha que conseguir gozar, para
que Matilde n��o enlouquecesse de raiva.
Seus esfor��os foram bem sucedidos.
Saud��ssimo com o esfor��o, finalmente go-
zou.
E Matilde se deu por satisfeita, virando-se
depois para o outro lado, adormecendo e reco-
me��ando a roncar.
Apesar de exausto, Cristiano n��o dormiu lo-
go. Estava Infeliz demais para isso. Ali��s, h��
muito tempo n��o dormia com facilidade. A in-
s��nia fazia parte de suas mazelas.
5 4 ���
Matilde roncava sem parar.
Ele teve repentinamente uma vontade louca:
matar Matilde.
Sim, mat��-la enquanto dormia.
Pelo menos, ver-se-ia livre de um dos seus
males.
Mas ficou s�� na vontade. Cristiano n��o era
capaz de cometer um crime. Nunca faria isso.
E os filhos? E os muitos anos na cadeia? P��g 55
��� 5 5
Capitulo 7
Dora
O dia j�� tinha clareado quando Oscar acor-
dou com muita vontade de urinar. Mas a su��te
que ocupava no hotel permanecia escura, com
as cortinas fechadas.
Ele acendeu a luz e foi at�� o banheiro.
Ao voltar, Hcou olhando durante algum tem-
po o bonito corpo de Dora adormecida.
Deitou-se novamente na cama e come��ou a
passar a m��o pelo corpo de Dora, de leve.
5 6 -
Depois come��ou a brincar com os dedos sobre
o ventre da jovem, as coxas...
Ela acordou e por um instante teve a im-
press��o de que era o pianista que estava de-
dilhando sobre suas pernas, como se estas fos-
sem um piano.
Mas logo viu que se tratava de Oscar.
Agora pensava em como tinha esquecido o
o pianista t��o depressa. Logo que vira Oscar
e fora ao seu encontro, n��o mais lembrara do
homem triste sentado ao piano, tocando sem
parar, para que os outros se divertissem.
S�� agora, ao acordar, voltara a pensar ne-
le.
Oscar sorriu e aumentou a- intensidade de
suas car��cias. Apalpava Dora pelo corpo todo.
��� Est�� acordado?
��� Claro! Como posso dormir com voc�� ao
meu lado?
Ela riu.
Em seguida, colocou a m��o entre as coxas de
Dora. Ela perguntou:
��� Est�� querendo outra vez
��� N��o est�� vendo?
��� Vamos deixar para outro dia. N��o est��
cansado?
���57
��� At�� parece que voc�� n��o me conhece.
Posso gozar duas, tr��s vezes na mesma noite.
Voc�� sabe disso.
Na verdade, ela n��o sabia. No m��ximo Oscar
gozava duas vezes. Mesmo assim, quando n��o
havia bebido tanto.
��� Mas �� que voc�� chegou de viagem ontem
e n��o teve tempo de descansar.
Ele falou desconfiado:
��� Acho que �� voc�� quem n��o est�� querendo
outra vez.
Dora sorriu e afirmou:
��� Eu sou sua tantas vezes quantas voc��
quiser, Oscar.
Tinha que ser gentil. E para ela tanto fazia.
Um esfor��o a mais ou a menos, n��o tinha
import��ncia nenhuma. Mas temia por Oscar. Ele
era t��o gordo! E n��o estava mais na idade de
fazer extravag��ncias. Mas n��o relutou mais err
concordar. Afinal, fazia parte de sua "profis-
s��o" satisfazer os "clientes" completamente.
Al��m da fato de Oscar ser extremamente genero-
so. Talvez fosse por isso que se preocupava com
sua sa��de.
E ent��o redobrou tamb��m suas car��cias.
Beijou o milion��rio nos seus pontos er��ti-
cos mais sens��veis. Com certa dificuldade, fez
com que conseguisse ficar excitado.
5 8 ���
No entanto, Oscar estava fazendo esfor��o de-
mais...
Penetrou em Dora.
E �� medida que fazia os movimentos, ela
notou que o homem respirava com dificulda-
de.
Picou apreensiva.
Mas n��o quis dizer nada, para n��o o ofender.
Ele poderia pensar que ela estava com m�� von-
tade.
De repente, notou que Oscar suava e muito
e logo em seguida compreendeu que estava pas-
sando mal.
Dora conseguiu separar seu corpo do corpo
do milion��rio. Ele ficou estendido na cama. N��o
havia d��vidas de que estava passando mal.
A jovem ficou sem saber o que fazer.
Pela primeira vez na vida, apesar de ser
muito experiente, passava por uma situa����o des-
tas.
"O que fazer?'", perguntava repetidamente a
si mesma.
N��o era amiga de nenhum m��dico.
O jeito era chamar o Pronto-Cor.
E andava de um lado para o outro pelo
���59
quarto, enquanto olhava para o corpo nu de
Oscar estendido na cama.
S�� ent��o se lembrou de que ela tamb��m es-
tava completamente despida.
Vestiu-se ��s pressas.
E pegou no telefone.
Para onde ligaria?
Ligou para a portaria do hotel mesmo.
Atenderam.
Ela falou com voz aflita:
��� Oscar est�� passando mal. Chamem com
urg��ncia o Pronto-Cor e mandem logo um m��-
dico para a su��te 401.
Desligou o telefone.
Acendeu um cigarro.
Ficou com medo que a fuma��a pudesse fa-
zer mal a Oscar.
Foi at�� a janela e descerrou as cortinas.
Teve ent��o consci��ncia de que j�� era dia
claro e n��o madrugada como julgava.
E viu a feia nudez de Oscar sobre a cama.
Teve a id��ia de vesti-lo.
60���
Come��ou a tentar, mas era um tarefa dif��cil
de executar. Os cento e tantos quilos de Oscar
atrapalhavam.
Dora terminou desistindo.
Que situa����o mais desagrad��vel.
Ela bem que pressentira que Oscar n��o
aguentaria. Chegara a adverti-lo. Mas o mi-
lion��rio n��o a escutara.
E agora estava ali, naquela situa����o t��o de-
sagrad��vel.
Arrepiou-se ao pensar: E se ele morresse
antes de chegar o m��dico?
Seria o fim!
Ficaria traumatizada pelo resto da vida.
Maldisse a si mesmo por ter sido t��o gen-
til e deixado Oscar tentar uma segunda vez.
Mas o velho milion��rio era teimoso.
E o odiou.
Nunca tinha experimentado esse sentimen-
to para com Oscar.
At�� gostava dele.
Mas aquilo era sujeira. Passar mal na cama
com ela.
��� 6 1
E todo aquele vexame! Ligar para a portaria
do hotel, pedir que chamassem um m��dico. E
quando este chegasse, ter que contar como tudo
acontecera.
Estava realmente muito aborrecida com
aquilo tudo.
E aquele medo que Oscar morresse antes do
socorro m��dico.
A�� ent��o ela se veria envolvida com a poli-
cia.
��� N��o, isso n��o! ��� exclamou em voz al-
ta.
N��o seria t��o azarada assim.
Levou um susto quando ouviu a campainha
tocar.
Foi abrir a porta.
Era o m��dico.
Dora contou que o homem passara mal, mas
n��o disse que os dois estavam tendo rela����o
quando o fato ocorrera.
Mas o m��dico mais ou menos compreen-
deu.
Oscar foi levado para o Pronto-Cor.
Felizmente para Dora n��o havia muitos h��s-
pedes no hall do hotel.
62���
Pelo contr��rio, quase n��o havia nenhum
��quela hora da manh��.
Mas os empregados estavam l��. E todos vi-
ram. Dora sentiu-se envergonhada.
N��o foi at�� o Pronto-Cor.
Preferiu ir para seu apartamento, dando o
endere��o ao m��dico e dizendo que mais tarde
se comunicaria, perguntando pela sa��de de Os-
car.
Entrou em casa e atirou-se de sapato e tu-
do na cama.
Sentia-se p��ssima.
Era o c��mulo acontecer aquilo com ela.
Teve at�� vontade de abandonar aquela "pro-
fiss��o" .
J�� tinha um apartamento, algum dinheiro.
Poderia arranjar um trabalho como modelo, ou
qualquer coisa no g��nero.
Ou arrumar um homem com quem viver. Um
s��. Nada mais de andar com v��rios.
A cabe��a pesava.
Seria o u��sque que tomara ou o aborreci-
mento que tivera? Optou ��ela segunda hip��te-
se.
Adormeceu assim mesmo vestida.
���63
Eram quatro horas da tarde, quando Dora
acordou. Olhou para o rel��gio espantada. Esta-
va certa de que dormira apenas um pouco, e
no entanto havia dormido mais de oito horas.
Lembrou-se confusamente do que havia acon-
tecido.
Teria sido um pesadelo
N��o, n��o havia sido um pesadelo.
Precisava ligar para o Pronto-Cor.
Pegou o telefone. Suas m��os tremiam.
E se Oscar tivesse morrido?
N��o, n��o devia ter acontecido isso. Teriam
telefonado para ela.
O telefone estava ocupado.
A cabe��a de Dora pesava, doia.
Sentiu a boca amarga.
Ligou de novo. Desta vez conseguiu falar. E
ficou sabendo que Oscar estava passando bem.
Ela desligou aliviada.
Tirou a roupa e foi tomar banho.
Depois bebeu uma x��cara de caf�� quente com
torradas.
��s seis horas da tarde foi visit��-lo.
Oscar sorriu ao v��-la.
Uns dez minutos depois Dora voltava para
casa.
64���
C o m e u q u a l q u e r coisa, d e s c a n s o u u m p o u c o ,
assistiu t e l e v i s �� o .
E quase n �� o s e l e m b r a v a m a i s d o e m b a r a �� o -
s o e c h a t o e p i s �� d i o . E l a t i n h a u m a m e m �� r i a
m u i t o fraca, o u m e l h o r , c o n s e g u i a e s q u e c e r a s
coisas d e s a g r a d �� v e i s c o m f a c i l i d a d e .
V e s t i u - s e e m a q u i l o u - s e r a p i d a m e n t e .
N �� o , n �� o i a f i c a r e m casa c u r t i n d o s o l i -
d �� o .
Isso n �� o f a z i a o seu g �� n e r o .
Se h a v i a a c o n t e c i d o u m a coisa t��o desagra-
d��vel, e ela j�� e s t a v a q u a s e e s q u e c e n d o (afinal
Oscar e s t a v a b e m ) , o m e l h o r e r a divertir-se.
A p e s a r d e n �� o q u e r e r v o l t a r a o h o t e l na-
quela n o i t e , i n s t i n t i v a m e n t e s�� d i r i g i u para l��.
E a p r i m e i r a pessoa q u e e n c o n t r o u no hall
foi D o m i n g o s . P �� g 6 5
��� 6 5
Cap��tulo 8
Encontro perigoso
Ele ficou em d��vida se devia ou n��o falar
cem Domingos. J�� passara por um vexame ho-
ras antes e podia passar por outro, pois com-
preendera que a esposa dele era muito ciumen-
ta.
Mas nem bem acabava de pensar nisso, avis-
tou Domingos aproximando-se.
��� Oi, tudo bem?
��� Tudo bem.
��� Contaram-me...
6 6 ���
- O qu��?
- Que um hospede do hotel passou mal,
quando estava na cama com uma mulher... lou-
r a . . . bonita... Era voc��?
��� N��o.
��� N��o minta.
��� Era eu, sim. Mas por que me ordenou
que n��o mentisse? Est�� se julgando com direitos
sobre mim?
Domingos sorriu:
��� N��o notou que eu estava brincando''
��� Eu tamb��m respondi brincando.
��� Esse epis��dio me deixou mais interessado
em voc��.
��� Tamb��m est�� querendo ter um ataque
de cora����o na cama comigo?
��� N��o exatamente por isso. Al��m de tu-
do, sou muito jovem e forte ainda.
��� N��o �� motivo para se sentir t��o seguro.
��� Na verdade, esse fato me deixou com a
imagina����o fervilhando. Voc�� deve ser uma pa-
rada na cama. Qual o seu signo?
��� O que tem a ver meu signo com isso?
��� Muita coisa.
��� Quer mesmo saber?
���67
��� Se n��o quisesse, n��o perguntava.
Sou Escorpi��o.
- N��o!
��� Por que esse espanto todo?
��� Eu s�� podia imaginar que fosse Escor-
pi��o. Toda mulher desse signo �� uma brasa, na
cama.
��� Obrigada pela informa����o ��� falou Dora,
rindo.
��� N��o sabia?
��� �� a primeira vez que algu��m me diz is-
��� �� a pura verdade. S��o as melhores mu-
lheres. Todas as vezes -que fiz amor com algu-
ma desse signo, s�� faltei enlouquecer.
��� E est�� querendo enlouquecer de vez?
��� Estou.
��� E sua mulher?
��� Ela foi ao cabeleireiro.
��� Outra vez?
��� Outra vez.
��� N��o vai voltar logo?
��� Creio que n��o.
��� O que voc�� sugere?
6 8 ���
��� Voc�� mora perto?
��� Moro.
��� Posso ir at�� l��?
��� Por que n��o vamos para seu apartamen-
to aqui no hotel?
��� Porque Irene pode chegar e encontrar a
gente na cama. Quer passar por outro vexame
de novo?
��� Claro que n��o.
��� Ent��o?!
��� Est�� bem. Vamos para o meu aparta-
meneo. Mas fique sabendo que eu custo ca-
ro.
��� Dinheiro �� o que n��o me falta.
Dora sorriu realmente satisfeita.
Quando sa��am do hotel, um t��xi foi parando
logo a seguir. Irene pagou ao motorista e sal-
tou.
Os dois n��o a viram, mas Irene teve tempo
de avistar o marido afastando-se junto com a
loura com quem o vira na v��spera.
Podia ter corrido atr��s dos dois e impedir
a trai����o. Mas preferiu n��o o fazer. Achou que
seria rid��culo de sua parte.
Assim, entrou no hotel e foi para sua su��
te. P��g 69
Havia de se vingar de Domingos. N��o sabia
ainda como, n��o escolhera o tipo de vingan��a.
Mas n��o deixaria de faz��-lo.
* * *
��� E se sua mulher souber ou desconfiar?
��� perguntou Dora assim que entrou em seu
apartamento acompanhada de Domingos.
��� N��o vai saber.
��� Mas se souber?
��� E da��?
��� Notei que �� um bocado ciumenta.
��� A gente briga e faz as pazes depois. N��o
pode acontecer mais do que isso.
��� E se ela o trair tamb��m?
��� Problema dela.
��� E seu tamb��m.
��� Vamos deixar de falar de Irene e nos
ocupar com a gente?
��� �� uma boa ��� Concordou Dora, sorrindo.
* * *
Realmente Dora era um furac��o na cama.
Mesmo porque Domingos era seu tipo, exata-
mente seu tipo de homem.
7 0 ���
Mordiam-se, feriam-se, pareciam querer 3S-
tra��alhar-se na cama.
��� Vai me deixar cheio de marcas.
��� A prova do adult��rio! ��� exclamou Do-
ra com tom de deboche.
E gozaram mais uma vez...
��� N��o quero que v�� embora agora ��� disse
Dora minutos depois, acrescentando:
��� Quero deixar voc�� exausto. Hoje voc�� n��o
vai fazer sexo com sua mulher.
Eu lhe disse, Escorpi��o �� fogo. Tenho
experi��ncia pr��pria.
Domingos pouco estava ligando para as ho-
ras que passavam. Se houvesse outra briga com
Irene, n��o tinha import��ncia.
O que importava era aproveitar Dora ao
m��ximo.
O momento presente, curtir o momento pre-
sente, isso era o que interessava.
* * *
Enquanto isso, Irene bebia em seu aparta-
mento no hotel.
Sozinha.
Agora se sentia a protagonista de um filme
dram��tico.
���71
A m u l h e r s��, n o q u a r t o , a b a n d o n a d a p e l o
m a r i d o , a n g u s t i a d a , e n q u a n t o e s t e a t r a i a c o m
o u t r a .
F i c a v a b e m s e c h o r a s s e , p e n s o u .
S e r i a p r �� p r i o d a c e n a .
M a s n �� o d e i x o u que a s l �� g r i m a s s a l t a s s e m
dos o l h o s , p a r a n �� o b o r r a r a m a q u i l a g e m .
S e r i a m u i t o t r a b a l h o s o t e r d e r e f a z �� - l a .
E m e s m o p o r q u e n �� o q u e r i a d a r e s t e g o s -
to a D o m i n g o s .
E l e n �� o a v e r i a f e i a , d e s p e n t e a d a , d e s e s p e -
r a d a .
I r i a a p e n a s o e s p e r a r v o l t a r .
M a s a s h o r a s p a s s a v a m .
D o m i n g o s e s t a v a d e m o r a n d o d e m a i s .
I r e n e e s t a v a i m p a c i e n t e .
E t o r n a v a a e n c h e r seu c o p o de u �� s q u e . P��g 72
7 2 ���
Cap��tulo
A tenta����o
Matilde e Cristiano, para n��o perderem o
h��bito, discutiram antes dele sair para tra-
balhar na boate.
��� Por que n��o pede um adiantamento na
tal boate?
��� Acha que vou pedir um adiantamento logo
no segundo dia, Matilde?
��� Por que n��o?
��� Porque n��o vou fazer isso. E estamos con-
versados.
���73
��� N��o tem nada para se comer amanh��.
��� Voc�� que se vire.
��� Como? Quer que v�� para rua arranjar
dinheiro com os homens?
��� Nem para isso voc�� serve. Qual o homem
que vai querer? Se voc�� tivesse de viver disso,
morria de fome.
Aquilo foi demais para Matilde. Pegou um
cinzeiro que estava em cima de uma mesa e ati-
rou no marido.
Cristiano desviou, mas o cinzeiro ainda con-
seguiu atingindo de rasp��o na testa, ferindo-o.
Ele teve vontade de avan��ar para Matilde
e ench��-la de pancada.
Os dois filhos continuavam brincando com
um jogo qualquer, completamente indiferentes
�� briga dos pais. J�� estavam acostumados, para
estranharem. Estranhariam se n��o os vissem
vagando.
Mas Cristiano conteve-se.
O melhor era sair o mais depressa poss��-
vel de casa.
Passou a m��o na testa e notou que estava
suja de sangue.
Foi at�� o banheiro e lavou o rosto.
O corte era pequeno.
Colocou um pouco de merc��rio-cromo. Quan-
do chegasse �� boate, lavaria de novo a testa. P��g 74
para n��o notarem muito o pequeno ferimento
nem a mancha de merc��rio.
E saiu de casa sem olhar para Matilde.
Esta agiu da mesma forma.
Cristiano cumpriu o mesmo roteiro da noite
anterior.
Esperou o ��nibus, tomou-o e seguiu para a
boate.
Chegou l�� uns quinze minutos antes da ho-
ra come��ar a tocar.
Teve tempo suficiente de novamente lavar a
testa. Verificou que o ferimento era superficial,
e sem a menor gravidade. Mas lembrou-se de que,
por pouco, o cinzeiro o atingia em cheio.
Finalmente chegou a hora de come��ar a tra>
balhar. :
Deixou-se envolver por aquele ambiente bri-
lhante, de luxo.
Por que lembrar sua pr��pria mis��ria? Qual
o lucro que tirava com isso?
Devia limitar-se a tocar. E n��o pensar em
nada.
* * * ������
Domingos entrou na su��te pouco depois das
duas da madrugada.
Irene bebericava, estendida no sof��, numa
pose cinematogr��fica.
��� 7 5 .
Ele n��o falou nada.
Irene continuou bebendo.
Finalmente falou:
��� S�� por curiosidade, onde voc�� estava?
���- Dando uma volta por ai.
��� At�� essa hora?
��� Est�� chateada?
Irene deu uma gargalhada:
��� Eu?! N��o. Em absoluto.
��� E por que perguntou?
��� J�� disse: simples curiosidade.
A mulher levantou-se, fingindo-se muito cal-
ma, depositou o copo de u��sque numa mesa
e dirigiu-se para a porta da su��te.
Domingos quis saber:
��� O que vai fazer?
��� Vou dar uma volta por a��.
��� Sozinha?
��� Sim, sozinha.
��� Quer que v�� com voc��.
��� N��o, meu querido.
E saiu.
Domingos n��o ligou muito. Afinal estava
plenamente satisfeito com a noite que tivera.
Dificilmente Irene poderia ter uma noite t��o sen-
sacional.
76���
Ela desceu o elevador e encaminhou-se p a r a -
a boate. Era muito chato ��icar sozinha. Mas
lembrou-se da jovem loura com quem seu ma-
rido tinha sa��do.
Se a outra arranjava companhia com facili-
dade, por que com ela n��o aconteceria o mes-
mo?
Olhou as pessoas nas mesas e as outras
na pista de dan��a.
Optou por esta ��ltima, para descontrair um
pouco. E como Dora fizera na v��spera, Irene
come��ou a dan��ar sozinha.
Ao chegar perto da orquestra, notou o pianis-
ta. N��o pela sua figura, mas por um outro motivo
bem diferente.
Quando crian��a, ela queria ser pianista. Che-
gara a estudar. Mas, al��m de n��o ter talento
nenhum, a disciplina tamb��m n��o era o seu for-
te.
Nem a persist��ncia.
E desistiu.
Enquanto dan��ava, olhava o pianista da boa-
te e via-se pequena, tocando, tocando aqueles
intermin��veis exerc��cios repetindo-os at�� a
exaust��o.
Aproximou-se do piano e debru��ou-se.
Cristiano viu que n��o se tratava de Dora.
O que estava acontecendo? Por que cada dia
-77
uma mulher vinha olh��-la de perto tocando?
Seria um costume da boate Uma nova moda
da qual ele estava por fora?
Cada dia viria uma mulher diferente e fica-
ria ali? Ou tudo n��o passara de mera coinci-
d��ncia, e nos outros dias que faltavam para
ele deixar de tocar na boate, n��o mais se apro-
ximaria mulher alguma?
Tinha certeza de que elas n��o vinham atra��-
das por seu f��sico.
N��o era um homem bonito.
Nem vinham porque tocasse muito bem. Is-
to tamb��m n��o era verdade.
Levantou os olhos, que se cruzaram com os
de Irene. Era tamb��m uma mulher bonita.
Ela sorriu.
E disse:
��� Quando eu era pequena, queria me tornar
pianista.
��� Verdade?
��� Mas desisti. N��o tinha talento.
Quem sabe aquilo n��o s�� empregava tam-
b��m a ele?, perguntou Cristiano a si mesmo.
Ele n��o deveria ter desistido quando ainda
crian��a Talvez assim n��o tivesse desperdi��ado
sua vida com sonhos imposs��veis.
Compreendeu que Irene n��o era do mesmo
tipo de Dora, e pensou que ela n��o estivesse
7 8 ���
a fim de aventura nenhuma, Devia ser uma
mulher fina. E atra����o que sentira para che-
gar, fora apenas uma recorda����o de inf��ncia.
Mas estava enganada.
Irene estava a fim de uma aventura.
Uma aventura qualquer, com qualquer ho-
mem.
E, na boate, todos os homens estavam acom-
panhados. O ��nico que parecia sozinho era o
pianista. Sua figura denunciava sua solid��o.
Irene ficou bastante tempo, calada, olhando-
o tocar.
Finalmente, tomou coragem. E falou sem'
subterf��gios:
��� A que horas voc�� p��ra de tocar?
��� ��s quatro.
��� Ainda falta uma h o r a . . .
��� �� . . .
��� Aonde vai depois que sai daqui?
��� Para mim casa.
��� Voc�� mora longe?
Cristiano mal podia acreditar naquele di��logo.
Esperava tudo, menos isso. Pelo menos assim,
de maneira t��o direta. Realmente n��o sabia
julgar as pessoas.
��� Muito longe.
���79
��� N��o faz mal. A gente pode ir para o
meu apartamento.
Ele voltou os olhos para o teclado.
Parecia incr��vel que aquela mulher o estives-
se convidando.
Irene continuou.
��� O ambiente aqui da boate est�� me sufo-
cando. Vou sair para tomar um pouco de ar.
Espero-o na porta do hotel, ��s quatro horas.
Cristiano concordou com a cabe��a.
�� Irene acenou com a m��o, afastando-se e
saindo da boate.
O pianista n��o acreditou que ela o fosse es-
perar mais tarde. Talvez, como a loura da noi-
te anterior, logo se esquecesse dele, e sa��sse com
o primeiro homem que aparecesse.
"S��o todas iguais", disse para si mesmo.
"Qual o interesse que uma mulher destas pode
ter por mim? N��o sou bonito, n��o tenho di-
nheiro, nem sou um pianista extraordin��rio
* * V
Irene passou pela rua.
Andou umas quatro quadras.
Respirou o ar da madrugada.
E sentiu-se bem.
Observava os carros que passavam.
80���
Viu que d e u m d e l e s , u m h o m e m a t i n h a o l h a -
l o .
M a i s a d i a n t e , o a u t o m �� v e l subiu na cal��ada
parou.
Q u a n d o I r e n e passou, o r a p a z d i s s e :
��� O i !
O i !
Ela o l h o u - o :
���- Q u e r q u e a l e v e em c a s a ?
��� Eu m o r o a q u i p e r t o .
��� F a �� o q u e s t �� o de l e v �� - l a .
��� N �� o p r e c i s a .
D e r e p e n t e , I r e n e s e n t i u medo.
O r a p a z do c a r r o , n �� o havia d��vida, era bo-
n i t o . L��bios um t a n t o grossos, c a b e l o s desalinha-
dos, e um o l h a r penetrante.
O m a i s b o n i t o e r a o olhar.
M a s j u s t a m e n t e o o l h a r foi o q u e atemo-
rizou I r e n e . E r a u m o l h a r d u r o , cortante.
P e n s o u q u e n �� o t e r i a c o r a g e m de entrar no
c a r r o . E se o r a p a z a l e v a s s e p a r a a l g u m lugar,
ou a r a p t a s s e , e n f i m , e l h e fizesse, em vez de
a m o r , a l g u m a m a l d a d e ?
M e s m o assim, ou t a l v e z por isso mesmo, de-
bru��ou-se n a j a n e l i n h a d o carro.
��� E n t r e . . .
- 8 1
Irene procurou uma desculpa:
��� J�� est�� muito tarde. A gente pode se en-
contrar outro dia.
��� Voc�� entra hoje e depois a gente marca
outro dia.
Ela ficou em d��vida.
O rapaz abriu o cinto e a braguilha, e disse:
��� Pegue aqui.
A mulher viu o volume.
E n��o resistiu �� tenta����o.
Entrou no carro.
O desconhecido a olhava com o mesmo olhar
duro. Tinha tamb��m uma pequena cicatriz no
rosto. Mas Irene achou-o terrivelmente bonito.
O homem mais bonito, ou pelo menos mais
atraente que j�� vira em toda sua vida.
Ele repetiu:
��� Pegue.
E Irene pegou, segurou o sexo dele, e timi-
damente come��ou a movimentar a m��o.
O rapaz tornou a falar:
��� N��o quer beijar?
A mulher ainda hesitou, mas n��o queria ou-
tra coisa. Abaixou a cabe��a e come��ou a bei-
jar-lhe o sexo.
82���
Ouviu a voz do desconhecido.
��� �� gostoso?
Instantes depois, ela levantou a cabe��a:
��� Pode vir algu��m.
��� Eu estou observando. Se vier algu��m,
eu aviso. Beije mais.
Foi quando Irene vislumbrou uma certa ter-
nura no olhar cortante. Aquele olhar duro era
apenas uma m��scara.
O rapaz era bastante jovem. Sem d��vida
assumia aquele olhar, para demonstrar sua mas-
culinidade. Mas na verdade, n��o devia ter nada
de mau. Pelo contr��rio. Observando-o melhor,
viu que devia se tratar de um filhinho de papai,
que sa��ra pela noite, em busca de aventuras.
Sentira tamb��m o seu h��lito com cheiro de
bebida.
Ele perguntou:
��� Onde voc�� estava at�� esta hora?
��� Na casa de minha namorada.
E fez sinal para que Irene beijasse no seu
lugar preferido.
Ela novamente abaixou a cabe��a.
De repente, ouviu-o dizer, meio assustado:
��� Vem gente a��. P��g 83
E l a t o r n o u a l e v a n t a r a c a b e �� a , a j e i t o u - s e ,
assumiu u m a r n a t u r a l .
U m o u t r o c a r r o a c a b a r a d e s u b i r a c a l �� a d a ,
a o l a d o . I r e n e e s t a v a assustada. A b r i u a p o r t a
do a u t o m �� v e l o n d e se e n c o n t r a v a e s a i u :
��� T c h a u !
E seguiu a n d a n d o s e m o l h a r p a r a t r �� s .
M a i s a d i a n t e , a r r e p e n d e u - s e .
m �� o - d e v i a t e r s a �� d o t �� o r e p e n t i n a m e n t e .
P o r q u e a q u e l e m e d o t o d o ?
S e n t i a - s e a b s o l u t a m e n t e f a s c i n a d a p e l o r a -
paz. E o d e i x a r a p o r u m a b o b a g e m . Q u e i m -
p o r t a v a q u e a l g u �� m viesse
T i n h a a n d a n d o u m q u a r t e i r �� o , q u a n d o r e -
s o l v e u s e v i r a r n �� o v i u m a i s o a u t o m �� v e l
d o d e s c o n h e c i d o
T a l v e z t a m b �� m e l e t i v e s s e s e a s s u s t a d o .
Era u m g a r o t �� o , que d e m a l , s �� t i n h a a
o l h a r .
P e n s o u e m c o m o u m j o v e m t �� o b o n i t o , e c e r -
t a m e n t e c o m d i n h e i r o , p o d i a e s t a r �� q u e l a h o r a
d a m a d r u g a d a , s o z i n h o , �� p r o c u r a d e c o m p a -
n h i a . Era I n a c r e d i t �� v e l .
P o r q u e a s pessoas e s t a v a m c a d a v e z m a i s
s��s?
Ela t a m b �� m s e s e n t i a s o z i n h a , a p e s a r d o m a -
rido, apesar d a f o r t u n a q u e p o s s u �� a m .
84���
Nunca mais tornaria a ver aquele rapaz.
E desejou-o como nunca.
Como gostaria de am��-lo e ser amada por
ele!
N��o sabia seu nome, nem onde morava.
Nunca mais o veria, tinha certeza.
Picou triste, muito triste.
Foi ent��o que se lembrou do pianista.
Mas o pianista n��o poderia substituir aquele
desconhecido. A felicidade que se perde, antes
de a adquirir, �� a mais cruel de todas, pen-
sou.
Sentia-se terrivelmente infeliz por n��o ter ;
levado avante aquele encontro com o jovem do
carro.
E tudo por uma bobagem. S�� porque outro
autom��vel aparecera e estacionado ao lado
deles.
Poderiam muito bem ter seguido para outro
lugar.
Como fora tola! Desperdi��ara uma oportu-
nidade maravilhosa de ter uma aventura ines-
quec��vel.
Faltavam dez minutos para as quatro ho-
ras.
Foi para a porta do hotel. Dentro em pouco
o pianista apareceria.
* * *
���85
Cristiano acabou de tocar a ��ltima m��si-
ca da noite.
Durante toda aquela ��ltima hora, s�� pen-
sara em Irene e no encontro marcado.
Ser�� que ela realmente o esperaria na por-
ta do hotel?
Ou teria sumido com outro?
Achou essa possibilidade bem mais prov��-
vel.
Ao chegar �� porta do hotel, no entanto, viu
com surpresa que Irene o esperava.
Sentiu-se extraordinariamente feliz.
Como h�� muito tempo n��o se sentira.
N��o tinha-a menor id��ia de que por pouco
Irene n��o estaria ali, e sim com o outro. Que na
verdade, ela s�� o estava esperando, porque havia
perdido uma aventura mais interessante.
Ela sorriu quando Cristiano se aproximou.
��� Pensei que n��o ia me esperar.
__ N��o deixo nunca de cumprir a minha pala-
vra ���- mentiu Irene.
Depoiss o convidou a subir at�� seu aparta-
ento no hotel.
Cristiano mal podia acreditar no que lhe
estava acontecendo.
Parecia um sonho. P��g 86
Observou-a melhor, diante da luz iria do ele-
vador, e n��o mais na penumbra da boate.
Era uma mulher realmente muito bonita.
Estava mesmo com sorte. Ousou at�� pen-
sar que daquele momento em diante as coisas
iam mudar para ele.
Desde a v��spera que s�� lhe aconteciam coisas
boas e surpreendentes, excetuando os problemas
com a esposa.
Tinha arranjado aquele trabalho num ex-
celente local, duas mulheres o tinham procura-
do. Com a primeira n��o tinha acontecido na-
da, mas com aquela tudo caminhava bem.
Sa��ram do elevador e se encaminharam para
a suite de Irene. Esta pouco estava ligando
que o marido tamb��m estivesse na su��te. Azar
o dele, pensara.
Estava disposta a ir at�� o fim.
Seria uma vingan��a completa.
Faria sexo com outro homem na presen��a
do marido.
Entraram no apartamento.
Ela acendeu a luz:
Quer beber alguma coisa
��� Aceito.
Irene serviu-lhe u��sque. P��g 87
A bebida desinibiu e animou Cristiano.
Quanto a Irene, n��o precisava mais do es-
t��mulo do ��lcool. J�� bebera bastante antes.
Vendo que se tratava de um t��mido, Irene
come��ou a tomar as iniciativas.
Abra��ou-o e acariciou-lhe o pesco��o.
Cristiano continuava n��o acreditando em tu-
do aquilo que estava lhe acontecendo.
Agora, sentia-se um homem feliz.
Beijou Irene na boca.
Logo em seguida, ela come��ou a despir-se.
Ele fez o mesmo.
Apesar de toda sua aud��cia, Irene n��o o
levou at�� o quarto onde Domingos dormia. Em
vez disso, puxou Cristiano at�� o sof��.
Peitaram-se.
Irene n��o sabia o que aconteceria se Domin-
gos acordasse e viesse at�� a sala.
Mas n��o se importou muito com isso.
Precisava tra��-lo, ali, quase ao seu lado, com
apenas uma parede separando os dois.
No auge do desejo, Cristiano beijava-a pelo
corpo.
Irene pensou que teria sido muito melhor com
o rapaz desconhecido do autom��vel. Mas, uma
88���
v e z q u e n �� o o t i n h a , o j e i t o e r a c o n t e n t a r - s e
c o m C r i s t i a n o .
D o m i n g o s a c o r d o u a o o u v i r o s g e m i d o s d a
m u l h e r , n o e x a t o m o m e n t o e m que C r i s t i a n o a
p e n e t r a v a .
C u r i o s o , D o m i n g o s l e v a n t o u - s e e foi a t �� a sa-
la.
E v i u a esposa c o m a q u e l e h o m e m q u e e l e
n �� o c o n h e c i a .
N �� o t i n h a m a i s c o m o i m p e d i r o a t o u m a u m a
vez que j �� e s t a v a s e c o n s u m a n d o .
O l h o u a t �� c o m u m c e r t o p r a z e r o s d o i s g o -
z a n d o .
E p e r m a n e c e u em p �� , d i a n t e da p o r t a do
q u a r t o .
Q u a n d o I r e n e o viu, n �� o s e i n c o m o d o u n e m
u m p o u c o .
E s t a v a v i n g a d o . -
M a s C r i s t i a n o , a o v e r a q u e l e h o m e m n a por-
t a d o d o q u a r t o , o l h a n d o - o s , f i c o u e m p �� n i c o .
D o m i n g o s r e t i r o u - s e e v o l t o u p a r a a c a m a .
C r i s t i a n o b a l b u c i o u :
��� V o c �� n �� o m e disse que h a v i a o u t r a
soa n o a p a r t a m e n t o .
��� F e z a l g u m a d i f e r e n �� a ?
��� M a s q u e m �� e l e ? Pag 89
Irene respondeu com a voz mais natural do
mundo:
��� Meu marido.
Cristiano deu um pulo do sof�� e come��ou a
vestir-se rapidamente. Imaginou que o marido
de Irene devia estar carregando o rev��lver para
descarregar dentro de poucos minutos em seu
corpo.
Apavorado, n��o conseguia vestir as cal��as,
atrapalhando-se todo.
��� N��o se preocupe. Ele n��o vai fazer na-
da.
Mas aquilo n��o o tranq��ilizou.
Quando finalmente conseguiu se vestir, disse
baixinho, enquanto sa��a do apartamento:
��� Tchau!
- Tchau! ��� respondeu Irene com alegria.
Domingos entrou na sala:
��� Precisava fazer Isso?
��� Voc�� �� que n��o tinha nada que sair do
quarto para vir olhar. Deixou o pobre homem
apavorado.
��� A p �� s uma pausa, Domingos falou:
��� Foi uma vingan��a...
___Foi.
��� Estamos quites, ent��o. P��g 90
��� Estamos.
Cristiano andava depressa pela rua.
Parecia estar sendo perseguido.
Tinha a impress��o de que o marido de Ire-
ne o acompanhava apontando-lhe uma ar-
ma.
N��o ousava se virar.
Preferia n��o ver.
E esperava que a qualquer momento rece-
beria o tiro pelas costas.
E cairia ensang��entado.
Na beira da cal��ada.
No dia seguinte, apareceria nas manchetes
das p��ginas policiais dos jornais:
PIANISTA DE BOATE ASSASSINADO.
E a fotografia de seu corpo coberto de san-
gue, ilustrando ��s reportagens.
S�� assim seria citado nos jornais.
Passara a vida inteira tentando ser famoso.
E s�� seria noticia depois de morto, assim mesmo
porque tinha sido assassinado.
E Matilde lendo o jornal.
E dizendo que sabia que ele n��o estava tra-
balhando coisa nenhuma, estava apenas train-
do-a. P��g 91
Matilde finalmente estava satisfeito, por v��-
lo morto.
Cristiano chegou ao ponto do ��nibus, ainda
esperando o tiro que n��o vinha.
Quem veio foi o ��nibus.
Ele o tomou, ainda sem olhar para tr��s.
Pensou ainda que uma rajada de balas atra-
vessaria os vidros das janelas do ��nibus, atin-
gindo-o.
Mas nada disso aconteceu.
Ele pagou a passagem, e passou na role-
ta,
��quela hora o ��nibus estava quase vazio.
S�� teve coragem de olhar para as ruas, quan-
do o ve��culo j�� estava bastante distante do
hotel.
Respirou aliviado.
Nada lhe acontecera.
Continuava t��o vivo quanto antes.
Mas seu al��vio durou pouco.
Lembrou-se que �� noite estaria de volta ao
hotel, para tocar na boate.
Talvez o marido de Irene o matasse quan-
do estivesse tocando.
E viu seu rosto ensang��entado ca��do nas te-
clas do piano, o vermelho do sangue manchan-
do o branco do teclado.
92���
E n o v a m e n t e a s m a n c h e t e s :
P I A N I S T A D E B O A T E A S S A S S I N A D O E N -
Q U A N T O T O C A V A .
N �� o I r i a m a i s t e r s o s s e g o n a q u e l e s v i n t e e
o i t o dias que a i n d a t o c a r i a n a b o a t e .
Estaria s e m p r e e s p e r a n d o q u e u m a b a l a o
atingisse.
O �� n i b u s c o r r i a b e m .
A q u e l a h o r a o t r �� n s i t o e s t a v a b o m .
E m p o u c o t e m p o c h e g a r i a e m casa.
S e r �� q u e M a t i l d e o p r o c u r a r i a d e n o v o p a r a
f a z e r e m s e x o ?
E se e l e n �� o c o n s e g u i s s e , uma v e z q u e j��
h a v i a g o z a d o c o m I r e n e ? T e r q u e e n f r e n t a r o
c o r p o d e M a t i l d e , d e p o i s d e possuir I r e n e , s e -
r i a t e r r �� v e l .
D u r a n t e a l g u m t e m p o ficou p e n s a n d o �� i s s o ,
e s q u e c e n d o - s e d o m a r i d o d e I r e n e .
M a s a o s a l t a r d o ��nibus, p r �� x i m o �� sua c a -
sa, t o r n o u a l e m b r a r - s e do p e r i g o que i m a g i n a -
v a e s t a r c o r r e n d o .
E n t r o u e m casa d e s e s p e r a d o .
C o m e l e a s coisas s e m p r e a n d a v a m e r r a -
das.
P o r que n �� o t i n h a s o r t e c o m n a d a ?
O s f i l h o s d o r m i a m n a sala. P �� g 9 3
Matilde roncava no quarto.
Ele fez tudo sorrateiramente e enfiou-se na
cama com todo cuidado, para que a esposa n��o
despertasse.
Realmente, desta vez ela n��o acordou.
Mas Cristiano n��o conseguia adormecer.
Estava agitado demais.
N��o, n��o conseguiria mais tocar na boa-
t e .
Apesar de achar sua vida p��ssima, n��o que-
ria morrer.
Foi ent��o que resolveu que nunca mais poria
os p��s naquela boate.
Simplesmente n��o iria mais tocar l��.
N��o chegara a assinar um contrato.
Fora apenas um compromisso informal.
Receberia o sal��rio ao fim de um m��s e o
recibo.
Fora- um contrato verbal.
N��o iria cumpri-lo.
Que se danassem todos.
Ele n��o queria arriscar sua vida.
Afinal, n��o tinha recebido dinheiro nenhum.
Ninguem poderia fazer nada contra ele. Claro
que perderia um um amigo, o que o indicara para
substitui-lo.
94-
M a s a n t e s p e r d e r u m a m i g o , p e r d e r o s a l �� r i o ,
do que p e r d e r a p r �� p r i a v i d a .
M a t i l d e v i r o u - s e n a c a m a , s e m d e s p e r t a r .
A �� e l e s e l e m b r o u d a b r i g a q u e ela a r m a r i a
e o que l h e d i r i a , a f i r m a n d o q u e sempre a c h a -
r a que a q u e l e t a l e m p r e g o n a b o a t e n �� o t i n h a
p a s s a d o d e u m a g r a n d e m e n t i r a .
M a s a i n d a p r e f e r i a e n f r e n t a r M a t i l d e a u m
m a r i d o c i u m e n t o , c a p a z d e t u d o .
C o m a s b r i g a s d e M a t i l d e . J �� s e a c o s t u -
m a r a .
C o n s e g u i u f i n a l m e n t e d o r m i r , e q u a n d o a c o r -
dou, p o u c o m a i s d e m e i o - d i a s e n t i u - s e d e p r �� -
m i d i s s i m a
O a p a r t a m e n t o f e d o r e n t o , o cheiro de gordu-
r a das c o m i d a s p r e p a r a d a s p e l a esposa.
C o m o s e m p r e , o u v i u - a r e c l a m a n d o .
E l e d e i x o u - s e f i c a r n a c a m a , sem coragem
d e l e v a n t a r .
L e v a n t a r p a r a q u e ?
F o i q u a n d o p e n s o u que t a l v e z o marido de
I r e n e p o u c o estivesse s e i m p o r t a n d o c o m a t r a i -
�� �� o d a m u l h e r . Q u e t a l v e z ela e s t i v e s s e a c o s -
tumada a levar homens para o apartamento
e ele achasse tudo muito natural.
E se fosse assim n��o haveria bala nenhu-
ma ningu��m lhe daria tiro nenhum. P��g 95
Devia ou n��o continuar tocando na boate?
Apesar desta hip��tese, Cristiano n��o se sen-
tiu com coragem de continuar tocando no ho-
tel.
N��o teria coragem de se arriscar.
E quanto mais pensava em sua situa����o, mais
deprimido ficava..
Por que com ele tudo andava errado?
Num momento de lucidez, chegou �� conclu-
s��o de que a culpa era somente dele.
Era um covarde.
Temia tudo e todos. E fugia das situa����es
complicadas em que se metia, Fugia de proble-
mas que talvez s�� existissem em sua imagina-
����o,
Talvez por isso que n��o tinha vencido, que
levava aquela vida miser��vel e estava condenado
a continuar vivendo assim.
N��o tinha for��a para chegar a lugar al-
gum.
N��o sabia enfrentar os problemas;
Matilde entrou no quarto e berrou:
��� Vai ficar deitado o dia inteiro ai na
cama, seu vagabundo? A comida est�� pronta.
Ou n��o vai querer almo��ar hoje? P��g 96 FINAL
ESTE LIVRO FOI DIGITALIZADO EM 2019 POR
LEANDRO MEDEIROS PARA ATENDER AOS
DEFICIENTES VISUAIS.
De: Bons Amigos lançamentos
Cristiano é um homem de quarenta anos. Pediu as contas recentemente na repartição pública onde trabalhava. Desempregado ele arranja um emprego de pianista numa boate(ele já foi músico)
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Lançamento Grupo Bons Amigos:
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Blog:
Este e-book representa uma contribuição do grupo Bons Amigos para aqueles que necessitam de obras digitais como é o caso dos deficientes visuais
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