Estudantes
UM LUGAR PARA O AMOR
PEREZ B A �� A N
C A P �� T U L O 1
S��lvio aumentou a velocidade, gingan-
na cidade, instrutor do "Wheels", o mais
do o corpo e, deslizando sobre os patins,
freq��entado ringue da patina����o de
foi costurando por entre os outros pa-
Londrina.
tinadores, at�� parar, com um curto giro,
S��lvio se inclinou, tocando um dos j o e -
junto da garota que tentava se erguer.
lhos no piso e olhando o rostinho abo-
��� Vamos com calma ��� disse ele, com
balhado de Marisa.
sua voz grave e camarada, muito embo-
��� Tudo bem? Nada machucado? ���
ra houvesse nela um tom impessoal que
n��o agradava Marisa.
ele quis saber.
Ela queria ser tratada de outra forma.
��� Apenas o orgulho pr��prio ��� ela
Queria ser diferente das outras aos olhos
respondeu, com um riso sem gra��a.
dele. S��lvio tinha um charme todo espe-
��� Tente outra vez. V�� devagar. �� as-
cial e, no momento, era o ��s do patim
sim mesmo ��� ele falou, segurando as
1
m��os dela e ajudando-a a p��r-se em quistar S��lvio fora uma tentativa que p��.
jamais deveria ter sido iniciada.
Depois foi deslizando pela pista, pu-
Sim, a id��ia dera-lhe alguma espe-
xando-a. Marisa apenas sabia olh��-lo e ran��a e se instalara em seu cora����o,
ador��-lo, torcendo para que ele visse em
cavando um lugarzinho todo especial, e
seus olhos aquela chama ardente que a ficando ali aquecendo-a dia e noite, per-devorava, e que se tornara forte demais manecendo assim como alguma coisa
para ser apenas um segredo dolorido e que fincou ra��zes.
perturbador em seu peito.
Agora, Marisa estava apaixonada. Isso
Algu��m o chamou. Ele se despediu com
do��a dentro dela, porque jamais aquele
um sorriso e se afastou, correndo a aten-
sentimento tivera um alento, uma pe-
der outra garota que tamb��m sofrera quena rec��proca da parte dele, sempre
uma queda.
t��o profissional, sempre t��o impessoal.
Marisa foi deslizando em dire����o ��
Restava-lhe descobrir o que fazer da-
grande prote����o, at�� agarrar-se a ela e
quele sentimento, agora mais que um
ficar im��vel, observando, por entre os h��bito dentro dela. Como conviver com patinadores que passavam, Silvio repe-a desesperan��a, como esquecer, como
tir com a outra os mesmos gestos, e tal-
simplesmente apagar toda a louca ten-
vez as mesmas palavras que dedicara a
tativa daquele ver��o?
ela.
As outras garotas retornaram. Pela
Qualquer coisa inc��moda ardeu em excita����o com que conversavam, perce-
seus olhos, como se a impossibilidade bia-se que o assunto era o mesmo: S��l-
vio. Toda as garotas o adoravam. Mui-
de uma esperan��a se dilu��sse dentro de-
tas o queriam, simplesmente porque ele
la numa l��grima denunciadora.
era o mais desejado do momento. Ou-
O s��bado �� noite perdera todo o seu tras, como Marisa, sonharam conquist��-
encanto. O ver��o se desfazia nos ��lti-
lo, desistindo aos primeiros percal��os.
mos acordes do carnaval que passara. Talvez apenas ela tivesse insistido, e
Um novo tempo se aproximava. Novas
agora lamentava-se por isso.
lutas, novos sonhos e muito estudo. A
��� Mas ele �� muito querido mesmo ���
guerra do vestibular come��aria. Cursi-
dizia Margot, toda provocante com sua
nho intensivo, provas simuladas, a ten-
minissaia marrom, que lhe deixava ��
tativa isolada de julho, nova tentativa mostra as coxas bronzeadas e bem fei-em janeiro do pr��ximo ano.
tas.
Quando come��ou a soltar as correias
��� Mas voc��s n��o sabem o que acon-
que lhe prendiam os patins aos p��s, era
teceu no meu oitavo tombo ��� cortou
como se estivesse se despedindo daque-
Cl��udia, uma nissei muito moderninha
les dias de sol, piscina, praia e divers��o. e bonita. ��� Ele me segurou assim pelos Amadurecia um pouco mais.
bra��os, e eu me arrepiei toda. Morro de
Com os patins na m��o, caminhou at�� c �� c e g a s . . . Comecei a rir. Ele riu tam-a mesa ocupada pelas outras garotas b��m, mas n��o sabia por q u e r i a . . .
que vieram com ela. Sentou-se e se ser-
��� Ria de voc��, sua boboca! ��� disse
viu de um resto de refrigerante. Voltou
Marisa, com azedume, fazendo com que
os olhos para a pista. S��lvio deslizava
as outras se entreolhassem, fazendo ca-
com mestria, provocando a admira����o retas de surpresa.
das garotas e a inveja dos rapazes. Era
��� O que foi, queridinha? Quebrou a
alto, f��sico proporcional e um rosto que
cara al��m do traseiro? ��� provocou-a
despertava ternura. Sua voz sugeria Em��lia, com a qual tinha uma rixa an-
emo����es fortes. O toque gentil de suas tiga e sempre constante, embora esti-
m��os tinha o poder de despertar senti-
vessem quase sempre juntas.
mentos, como se assim devagarinho ele
As outras se sentaram e voltaram a
os segurasse e fosse desfiando de den-
falar de S��lvio, sem parecer que isso
tro dos cora����es de quem o recebia.
martirizava o cora����o de Marisa, que
Olhando-o, Marisa tentava se conven-
at�� ent��o conseguira manter em segre-
cer de que tudo fora in��til e que con-
do sua paix��o violenta por S��lvio.
2
��� Vamos pedir mais alguma coisa? sem prestar aten����o ��s conversas e ao
��� Em��lia indagou.
barulho dos corpos mergulhando nas
��� Acho melhor irmos embora ��� cor-
��guas da piscina.
tou-a Marisa.
De alguma parte, ent��o, ouviu o nome
��� ��s nove da noite? T e m certeza de S��lvio. Girou o rosto. Duas garotas
que est�� bem? N��o bateu a cabe��a em
conversavam, estendidas sobre colch��es
algum de seus tombos? ��� zombou Em��-
de ar.
lia.
��� E n��s esperamos at�� que o "Wheels"
Marisa engoliu seco, percebendo que fechasse, s�� para ver. Pois ele saiu. T i -
deveria moderar seu despeito sob pena nha umas duas ou tr��s garotas, de car-
de acabar revelando seu segredo. Pediu
ro, esperando tamb��m, para lhe dar ca-
desculpas, dizendo-se irritada com seu rona. Buzinaram, piscaram os far��is e insucesso nos patins e concordou em f i -
tudo o m a i s . . . ��� a jovem interrompeu-
car.
se, para tragar longamente o seu ci-
Na pista, S��lvio circulava por entre os
garro.
patinadores. Inconscientemente, os olhos
��� E da��? ��� indagou a outra, em sus-
de Marisa o seguiam, derramando ter-
pense.
nura e desejo.
��� Nem queira imaginar, meu bem.
Ele foi embora a p�� mesmo, sem dar a
* * *
m��nima para as "ca��adoras", que fica-
ram l�� com caras de trouxa. Mas sabe
O sol dourava peles jovens expostas a
o que que eu acho?
ele, como uma oferta gratuita de ver��o
��� O qu��?
que ele aceitava e acariciava com seus
raios de fogo. A piscina regurgitava. Nos
��� Ele �� c a s a d o . . .
trampolins, os jovens se esmeravam nos
A afirma����o foi dita veladamente, mas
saltos mais acrob��ticos, procurando i m -
o bastante alto para que Marisa a cap-
pressionar as garotas.
tasse e se sentisse arrepiar por inteiro.
Daqueles encontros ao redor da pis-
Sentou-se como que tocada por um raio.
cina nasciam os pares, os romances de
Seus olhos grandes e azuis brilharam.
ver��o, os amores incandescentes que du-
Seus l��bios se apertaram com for��a. Ela
rariam ou se acabariam ao final das estremeceu, ergueu-se e correu a se ati-
f��rias.
rar na piscina, nadando at�� a exaust��o.
Ningu��m jamais ficava s��. Sempre ha-
Depois foi tomar um chope junto a
via algu��m para fazer companhia a al-
um grupo de rapazes que estivera obser-
gu��m, a n��o ser que isso fosse evitado, vando seu desempenho na ��gua.
como era o caso de Marisa.
* * *
Era loura, com os cabelos de um dou-
rado que invejava o sol, e esbelta, com
curvas vertiginosas que m��os ansiosas
S��lvio deixou o banheiro com os ca-
percorreriam cheias de prazer, devoran-
belos molhados escorrendo sobre o rosto.
do aquele bronzeado apetitoso. O rosto Passou pela irm��, M��rcia, que prepara-era expressivo. Olhos grandes, de lon-
va o caf�� da manh��, e foi at�� o quarto.
gos c��lios. Nariz afilado, ligeiramente Retirou um cheque do bolso da cal��a
arrebitado. L��bios bem delineados, que que usara na noite anterior, e levou-o se embelezavam a cada sorriso, mas que,
para a cozinha.
nos ��ltimos tempos, haviam ganho uma
Ambos eram ��rf��os. S��lvio tornara-se
constante express��o de tristeza e de-
instrutor de patins. M��rcia era profes-
sinteresse.
sora de educa����o f��sica, especializada em
Apenas sorriam no ringue de patina-
dan��as cl��ssicas e modernas. Trabalha-
����o, quando S��lvio a encarava e doce-
va numa academia da cidade. Aos vinte
mente a ajudava a p��r-se em p��. D e -
e dois anos, sua beleza se tornara defi-
pois, voltavam �� tristeza de um amor nitiva, num corpo escultural, modelado
n��o correpondido.
pelos exerc��cios e pela dan��a, que lhe
Sobre a toalha, ela se deixava aca-
davam uma gra��a invej��vel ao cami-
riciar pelo sol, ligeiramente sonolenta, nhar.
3
S��lvio colocou o cheque sobre a mesa,
��� Continuar tentando, irm��. Um dia
depois foi apanhar um livro de anota-
vamos conseguir. Vamos deixar de ser
����es num arm��rio. M��rcia sentou-se ao
empregados e ter nosso pr��prio neg��cio.
seu lado, enquanto ele fazia uma s��rie
A id��ia do "Plastic Place" �� genial. T e -
de contas. Quando terminou, atirou a mos tudo para realiz��-la. O barrac��o da caneta sobre o livro, com des��nimo e oficina que, junto com a casa, foram as irrita����o, depois esfregou os cabelos ��nicas coisas que conseguimos salvar das ��midos.
garras daquela ave de rapina, �� o local
��� N��o d �� . . . Nunca vai dar! ��� desa-
ideal. O espa��o �� total. O "Plastic Place"
bafou ele. ��� O que juntamos a cada ser�� o mais sofisticado ringue de pati-
m��s �� sempre menos que a alta dos na����o do Paran�� e do Brasil. Vamos es-
pre��os. Por a�� voc�� pode imaginar quan-
pelh��-lo. Voc�� poder�� us��-lo pela manh��
do vamos poder realizar nosso sonho,
com suas alunas. �� tarde dar�� aulas de
M��rcia.
dan��a sobre patins. �� noite eu serei o
��� �� preciso paci��ncia, S��lvio. T e m instrutor. Durante todo o tempo man-
que dar! Quanto ainda falta?
teremos a lanchonete funcionando. T e m
��� Cinq��enta mil, hoje, agora. A m a -
um pessoal que sabe trabalhar nisso e
nh�� poder�� ser cinq��enta e u m . . . D e -
est�� disposto a vir conosco, quando pre-
pois de amanh�� cinq��enta e cinco. Do cisarmos... Quando pudermos, �� claro.
jeito que v��o a coisas... Observe que Q u a n d o . . . ��� interrompeu-se ele, levan-sempre sobra um pouco menos a cada tando-se abruptamente e indo para a
m��s. Essa infla����o desgra��ada! ��� res-
sala.
mungou ele, servindo-se de caf��.
M��rcia ficou olhando o livro de ano-
M��rcia apanhou o livro o estudou as ta����es, fixa naquela cifra importante:
contas que S��lvio estivera fazendo. Com-
cinq��enta mil cruzeiros.
preendeu, afinal, o des��nimo e a irrita-
Como conseguir cinq��enta mil cruzei-
����o do irm��o. Nada seria conseguido, a
ros? Talvez um empr��stimo banc��rio.
menos que aumentassem os ganhos. N��o
Sim, por que n��o? A id��ia era excelen-
havia como fazer isso, por��m.
te. Correu �� procura do irm��o.
��� Uma sociedade, S��lvio. Poder��amos
��� S��lvio, e se fiz��ssemos um empr��s-
tentar uma sociedade...
timo no banco? Cinq��enta' mil n��o ��
Ele se voltou para ela com uma ex-
tanto assim...
press��o estranha no rosto, fulminando-a
��� Acha que algu��m nos daria cr��di-
com um olhar que a atemorizou.
to, M��rcia? J�� se esqueceu dos proble-
��� Para que nos aconte��a o que acon-
mas de cart��rio que tivemos ao assumir
teceu a papai? Voc�� se esqueceu, M��r-
aquelas d��vidas do papai? Cadastros de-
cia? Aquela sociedade foi sua destrui-
sabonadores, �� como diriam. Isso conta
����o. Com esperteza lhe tomaram a imo-
muito.
bili��ria. E o que nos restou? Apenas as
��� Mesmo que explic��ssemos nossa
d��vidas dele que tivemos de pagar, Deus
boa vontade?
sabe como. N��o, jamais eu faria socie-
��� Bancos trabalham com certezas,
dade com algu��m.
n��o com boa vontade!
M��rcia calou-se. Aquela trag��dia fa-
��� Ent��o n��o h�� esperan��a?
miliar ilustrava perfeitamente a avers��o
��� Aparentemente ��� disse ele, com
de S��lvio a qualquer tipo de sociedade.
uma ponta de amargura e impot��ncia
Haviam passado por maus momentos.
Estudantes ainda, perderam o pai, v��ti-
no tom de voz.
ma do pr��prio desgosto ao se ver tra��do
Ela se sentou junto dele, tirando-lhe
nos neg��cios por um s��cio desonesto que
dos dedos o cigarro que ele fumava.
se apossara de tudo, atrav��s de uma ma-
��� Os bancos poderiam ser uma so-
nobra ilegal muito bem feita e asses-
lu����o. A t �� uma hipoteca da casa n��s
sorada.
poder��amos fazer, n��o ��? ��� sugeriu ela.
��� O que vamos fazer, ent��o? ��� inda-
��� J�� pensei nisso, mas o problema
gou ela.
do cadastro complica tudo. Estive nos
4
bancos. Para come��ar, quando eu expus
��� E o outro um por cento? ��� inda-
a id��ia do "Plastic Place" s�� faltaram gou M��rcia, com uma curiosidade in-chamar a ambul��ncia e me mandarem g��nua no rosto.
para o hosp��cio. �� sempre assim. Depois
��� �� mentira mesmo ��� disse ele, em
que tudo estiver pronto, garanto como resposta.
eles vir��o atras, pedindo para que eu
abra uma conta com eles, oferecendo
Encararam-se seriamente, depois de-
tudo, pondo tudo �� disposi����o. A�� j�� n��o
sataram num riso divertido, abra��ando-
vai interessar m a i s . . .
se carinhosamente.
��� T e m um banco que faz propaganda
��� Vamos conseguir, maninha. Pode
na televis��o, voc�� viu?
estar certa disso.
��� Apenas propaganda. Aquela de dar
��� Claro que vamos ��� concordou ela,
oportunidade para os novos empreendi-
pensando nos cinq��enta mil que falta-
mentos, n��o? Pura demagogia. N��o fun-
vam.
ciona na pr��tica, mas divulga uma boa
Havia uma id��ia revoltante, mas tal-
imagem da institui����o. Se as pessoas vez eficiente, rondando sua mente. M �� r -
soubessem que noventa e nove por cen-
cia a evitava, assustada, mas se sentia
to dessas propagandas s��o ilus��es..,
atra��da tamb��m. Perigosamente atra��da.
C A P �� T U L O 2
Durante a semana, a Avenida H i g i e -
Da Avenida JK �� Rua Pio X I I tudo se
n��polis �� um reflexo do poderio comer-
transforma numa massa lenta de tr��fe-
cial da grande Londrina, a segunda ci-
go e paquera, com as garotas e rapazes
dade em desenvolvimento do Estado do reunidos em grupos ao longo das duas
Paran��.
pistas, iniciando romances, simplesmen-
De antiga e buc��lica avenida residen-
te trocando id��ias, alegrando a tarde e
cial, gradativamente foi sendo invadida
dando um colorido ��nico �� avenida.
pelas escolas de l��nguas, pelas butiques,
Ela se torna, ent��o, aos domingos ��
pelos centros comerciais que logo pola-
tarde, no momento e no ponto de en-
rizaram as aten����es, principalmente da contro da juventude londrinense. Lan-
ala jovem londrinense.
��amento de modas, efervesc��ncia, juven-
Suas lanchonetes e lojas coloridas s��o
tude, esnoba����o, incrementa����o, tudo
freq��entadas pela beleza jovem da ci-
acontece ali, enquanto a tarde se escoa
dade, que lhe d�� um toque todo especial.
em ritmo de festa e anima����o.
Durante a semana, portanto, a avenida
Sentada no capo do carro de um ami-
pertence ao com��rcio e ao movimento go, saboreando um copo de chope, M �� r -
apressado dos carros que se servem dela
cia n��o conseguia desviar o pensamento
pala atingir os diversos bairros da cida-
dos cinq��enta mil cruzeiros que lhes f a l -
de, tanto nas vias de acesso ao centro, tavam para que pudessem realizar o
como na ampla Avenida JK que ela acalentado sonho.
cruza.
Reconhecia o qu��o importante aquilo
Aos domingos, por��m, funciona um es-
era para S��lvio. Fora ele o principal
quema todo especial na Higien��polis. P e -
atingido pela desventura que lhe v i t i -
la manh�� o movimento �� pequeno. A mara o pai. Desde cedo tivera de traba-
tarde, por��m, pouco a pouco v��o che-
lhar duro para se livrar das d��vidas que,
gando os carros e motocicletas, estacio-
injustamente, lhe foram passadas pela
nando junto ao meio-fio ou nos cantei-
habilidade do advogado que assessorara
ros centrais que dividem as duas pistas. o antigo s��cio do pai.
5
S��lvio completara vinte e cinco anos.
��� Tudo bem ��� respondeu ela, en-
Desde os dezoito tivera de enfrentar a quanto desciam a avenida at�� a Rua
dura luta pela sobreviv��ncia. Apesar das
Goi��s, faziam o contorno e subiam len-
dificuldades, conseguira recursos para tamente, acompanhando o tr��fego."
que Marcia estudasse. Isso agora gerava
M��rcia olhou-o com aten����o. Era bo-
nela a necessidade de corresponder aos
esfor��os da irm��o.
nito realmente, muito carinhoso e que-
rido. N��o poderia jamais ter imaginado
Aquela id��ia marota e perigosa em fazer com ele a jogada suja que era t��o
sua mente viera num momento de de-
sespero, e ficara girando e girando, ten-
comum, principalmente entre as estu-
tando-a, acenando-lhe com uma solu-
dantes necessitadas e inescrupulosas.
����o definitiva para os problemas da fa-
Seria, por��m, a solu����o. Examinando
m��lia.
o painel sofisticado do carro, a apare-
Lev��-la adiante, por��m, era o proble-
lhagem de som disposta cientificamen-
ma. Ricardo n��o merecia aquilo. O que
te pelo interior, concluiu que cinq��enta
Havia entre os dois era de comum acor-
mil em nada afetariam as finan��as dele.
do. Nenhum compromisso, apenas um
Precisava, p o r �� m estudar com cuida-
desejo que correspondiam nos momen-
do todo o plano. Talvez jamais o reali-
tos mais intensos de procura.
zasse. Gostaria mesmo de jamais ter de
Afora isso, apenas uma estranha, mas realiz��-lo. Ricardo n��o merecia aquilo.
s��lida amizade. Ricardo era rec��m-for-
A lembran��a de S��lvio, por��m, tornou
mado em Medicina. Seu pai lhe monta-
tudo confuso em sua mente.
ra um consult��rio e ele vinha se saindo
muito bem, tanto financeiramente co-
* * *
mo profissionalmente, ganhando uma
merecida reputa����o como excelente pe-
S��lvio desligou o televisor. O time da
diatra.
cidade vinha sofrendo constantes reve-
zes e ele n��o se sentia disposto a en-
Solteiro ainda, pretendia recuperar os
anos que dispendera nos estudos e nos frentar mais um, nem a assistir ��s s��-
est��gios. Sua presen��a era constante ries comuns do domingo.
numa coluna semanal do jornal da ci-
O domingo era seu dia de folga. Um
dade. Onde quer que estivese, sempre se
outro instrutor estaria no ringue. Para
percebia uma ligeira e nunca disfar��a-
S��lvio, no entanto, o domingo era um
da agita����o entre as garotas, todas an-
dia triste, sem sentido. Perdia-se na-
siosas para abocanhar aquele bom par-
quelas horas vazias, sem nada de espe-
tido ou, simplesmente, usufruir de bons cial a fazer. Invejava M��rcia e sua cria-momentos que ele sabia proporcionar tividade para inventar sempre um pro-
com charme, eleg��ncia e discri����o.
grama diferente, ou ent��o para simples-
A l i , na avenida, aos domingos �� tar-
mente estender o domingo �� tarde na
de, seu Mustang vermelho era uma sen-
Avenida Higien��polis.
sa����o toda especial, despertando o inte-
Para S��lvio sempre houvera o traba-
resse das jovens, que se empinavam �� lho. Nenhum amor enternecera seu cora-
sua passagem, esperando chamar-lhe a ����o. Nenhuma amizade dava um colori-
aten����o.
do especial a suas horas de lazer. N e -
Quando ele passou, viu M��rcia e esta-
nhuma emo����o tocava seu peito, brin-
cionou o carro logo adiante. Ela desceu
dando-o com momentos felizes.
do capo onde estava sentada e foi at��
Isso criara nele uma esp��cie de bar-
l��. Ricardo abriu a porta e ela entrou. reira que mantinha os outros afastados, Ao seu redor, os coment��rios maldosos embora as aproxima����es fossem muitas.
de inveja fervilhavam.
Compreendia que havia sempre, por de-
Inclinou-se e recebeu o beijo sempre
tr��s delas, um interesse mal disfar��ado.
carinhoso que ele oferecia. Sorriram.
Havia as garotas, ansiosas para exi-
��� T u d o bem? ��� indagou ele, pondo bi-lo como a ��ltima conquista. Havia os o carro em movimento.
rapazes invejosos que, de alguma forma,
6
desejavam compensar isso simulando ver muita gente se achatando contra uma amizade, pois sabiam que a presen-os espelhos.
��a de S��lvio fatalmente atra��a compa-
L�� fora o carro voltou a passar len-
nhias femininas.
tamente, sem lhe chamar a aten����o. S��l-
Ele detestava toda essa afeta����o e, se
vio acendeu um cigarro e ficou imagi-
algum dia algu��m conseguisse chegar at��
nando o local todo transformado, reple-
ele, teria que ser por alguma coisa real-
to de clientes jovens, ansiosos para
disputar uma vaga na pista completa-
mente sincera.
mente tomada.
Mas, naquele domingo �� tarde, estava
Sorriu sonhadoramente. H�� tr��s ou
triste e desanimado. A frustra����o de quatro anos vinha juntando suas eco-
mais uma vez ter comprovado que seu
nomias ��s da irm��, na esperan��a de um
sonho era imposs��vel e que seus planos dia poder cobrir o or��amento. Conhecia todos n��o passavam de um castelo de e acompanhava com verdadeiro desespe-areia o haviam posto num estado de ro a constante alta dos materiais de
apatia e desinteresse.
constru����o, numa propor����o sempre su-
Fechou a casa e saiu �� rua. No barzi-
perior ao que lhes rendiam as economias
nho da esquina o pessoal tomava chope
aplicadas religiosamente.
e ouvia futebol. Na quadra do bairro
Um carro estacionado na rua, diante
um grupo de rapazes disputava uma ani-
da constru����o, o fez, afinal, voltar a ca-
mada partida de futebol de sal��o sob be��a. Apesar de n��o reconhecer o rosto
um sol causticante de ver��o.
feminino que o olhava com indisfar����-
Aguardou o ��nibus. Foi para o cen-
vel interesse, caminhou em dire����o ��
tro da cidade. Verificou os cartazes dos porta, que fechou imediatamente. Aque-cinemas. Depois pensou na oficina, o le era um segredo s�� seu e de M��rcia
velho barrac��o que tencionava transfor-
que n��o deveria ser partilhado com nin-
mar na coqueluche da cidade.
gu��m, a n��o ser quando, um dia, se tor-
Caminhou para l��. Ficava a algumas nasse realidade.
quadras do centro, num ponto realmen-
��� Quer uma carona? ��� indagou a
te estrat��gico. Trazia a chave consigo. garota, sorrindo com provoca����o.
Quando abriu o cadeado e soltou o fer-
Normalmente teria dito uma desculpa
rolho da tranca, um carro passou e di-
qualquer e descartado a oferta. Naquele
minuiu a marcha. S��lvio n��o se voltou
domingo �� tarde, por��m, se sentia impo-
para olhar, mas o ve��culo foi at�� a pr��-
tente diante de tudo.
xima esquina e contornou a quadra para
voltar a passar lentamente diante da
For��ou um sorriso e abriu a porta do
porta escancarada.
carro. A garota explodia de excita����o
e encantamento. Tentou reconhec��-la.
L�� dentro, S��lvio observava o piso, re-
��� Voc�� estava de verde ontem e l e -
lembrando todos os detalhes da reforma
vou nove tombos, n��o foi?
que teria de ser feita. Pedira, certa vez,
��� Como adivinhou? ��� riu ela, entre
a um estudante de engenharia que lhe
fizesse um or��amento e uma planta pa-
embara��ada e lisonjeada.
ra as modifica����es necess��rias. Tinha-a
��� Como eu poderia esquecer ��� res-
na mem��ria. O centro seria a pista. Ao
pondeu ele, sem perceber que isso cria-
redor, num plano mais elevado, fica-
va nela uma ilus��o de posse e de com-
riam as mesas, servidas pelo pessoal da
promisso, como se de alguma forma es-
lanchonete. Ao fundo, a parede seria to-
tivessem ligados.
da espelhada. O teto seria ligeiramente
��� Aonde voc�� quer ir? ��� perguntou
rebaixado e luzes seriam dispostas es-
ela.
trategicamente para criar um efeito to-
��� Aonde voc�� vai? ��� retrucou ele.
do especial, aliadas aos espelhos ao fun-
��� A Higien��polis.
do, dando uma no����o de profundidade
��� Ent��o vamos a Higien��polis ��� con-
falsa mas surpreendente. Ele e M��rcia cordou ele, acomodando-se no seu as-
haviam rido muito ante a perspectiva de
sento.
7
O toca-fita ligado espalhava o som
��� Onde?
contagiante do g��nero discoteca. A ga-
Passaram diante do Castelo, uma lan-
rota sorria envaidecida e imaginava a chonete muito procurada, sempre trans-
inveja das amigas ao circular com o bordando de gente jovem. A garota n��o
mais cobi��ado rapaz da cidade.
encontrou estacionamento. Tomou uma
No console do carro uma carteira de
rua transversal, abreviando o caminho,
motorista rec��m-obtida. Leu o nome:
chegando �� Avenida JK. Dali a instan-
Ros��ngela Mara. O sobrenome era i m -
tes estavam num barzinho muito agra-
portante.
d��vel.
��� Como v��o as coisas, Mara? ��� inda-
Pediram chope. K i k a olhava insisten-
gou, fingindo familiaridade.
temente ao seu redor, insatisfeita por
Ela riu, voltando o rosto jovem e bo-
n��o encontrar ali nenhuma conhecida
nito para olh��-lo. Passava um pouco dos
para causar inveja. S��lvio percebeu seu
dezoito anos. O corpo exibia a beleza comportamento e irritou-se.
provocante da adolesc��ncia em contor-
��� Esperando algu��m? ��� indagou ele.
nos de mulher. A saia curta mostrava
��� N��o, realmente n��o ��� respondeu
joelhos bem torneados e a pele bronzea-
ela, e a partir de ent��o passou a dar-
da das coxas. A blusa se resumia num lhe aten����o, demonstrando que podia
len��o comprido amarrado sobre os seios
ser agrad��vel se assim o quisesse.
bem conformados, deixando �� mostra o
Conversaram muito. S��lvio surpreen-
colo tentador e o vale insinuante.
deu-se em descobrir nela mais que uma
��� Meus amigos me chamam de K i k a
mentalidade apenas vazia. Ela sabia o
��� disse ela. ��� E tudo vai muito bem. que queria, o que faria. De alguma for-
E voc��? O que estava fazendo naquele ma, isso a tornava semelhante a ele, a
barrac��o?
n��o ser por um pequeno detalhe. K i k a
��� Dando uma olhada apenas ��� des-
era rica. Seu pai lhe daria o que fosse
cartou ele, virando o rosto para o cal-
preciso. S��lvio, no entanto, teria de lu-
��ada, dando a entender que o assunto tar muito para conseguir seu intento.
n��o era interessante.
Longe de aborrec��-lo, esse detalhe foi
Entravam agora na Higien��polis. O relegado a um segundo plano. Quando
tr��nsito fluia devagar, intermin��vel, ela o levou para casa, ao entardecer,
mas obedecendo a um regulamento que
prometeu encontr��-lo no ringue qual-
n��o fora estipulado por ningu��m, mas quer dia. Ele lhe prometeu uma aula
criado especialmente para o local.
especial e selaram a t��mida amizade
com um beijo de despedida.
Ningu��m buzinava. Ningu��m se impa-
cientava com as longas paradas, com a
S��lvio ficou observando o carro se
m��sica confusa que se formava do som
afastar. Em seus l��bios, um suave sa-
de dezenas de toca-fitas abertos no ��l-
bor de morango fazia despertar uma
timo volume. No meio-fio e nos cantei-
inquieta����o adormecida dentro dele.
ros centrais, todos se surpreendiam com
��� * *
a passagem de S��lvio, no carro de Kika,
que sorria embevecida.
Os far��is se acendendo anunciavam o
S��lvio compreendeu o papel que de-
fim de mais uma tarde de domingo.
sempenhava ali e se arrependeu de ter Gradativamente a rua ia se esvaziando, aceito. Depois, quase com raiva de si
perdendo seu clima de festa, para se
mesmo, se prop��s a aceitar algum tipo
transformar em apenas mais uma rua
de divertimento, acompanhando a onda
na grande cidade, guardando nas folhas
que se prontificava a carreg��-lo para das ��rvores, nos pap��is pelo ch��o, nas coisas novas.
marcas de rodas nos canteiros, os segre-
O que perderia com isso?
dos, as alegrias e as tristezas daquele
��� Vamos tomar alguma coisa? ��� con-
universo jovem que ali deixara tra��os de
vidou ela.
sua passagem.
8
Sob a l��mpada do poste ficou um car-
de excit��-la ao m��ximo com os carinhos
ro. Em seu interior, uma garota chora-
mais inesperados, com as atitudes mais
va, ouvindo uma can����o popular pelo espont��neas e gratificantes.
r��dio. A tristeza n��o vinha da m��sica,
Era algo irresist��vel estar com ele, sen-
mas esta traduzia muito do que Marisa
tir-lhe o perfume da lo����o de barba
sentia naquele momento.
m��scula e desej��-lo al��m da consci��n-
Era como se o final da festa lhe desse
cia. Tocar-lhe o corpo nu, enovelar-se
a certeza de que seu sonho fora em v��o
em seus p��los, aninhar-se em seus bra-
e que jamais se realizaria, muito embo-
��os como uma cor��a assustada se refu-
ra amenizasse em parte todo o sofri-
giando na prote����o dos galhos. Sentir-
mento que ela carregara consigo, desde
lhe o peso e os suspiros, abalando-se nos
que ouvira aquela conversa, pela ma-
movimentos de seu corpo, sentindo o ca-
nh��, na piscina.
lor que a penetrava ritmadamente, de-
vassando-a e devastando-a at�� explodir
T e r visto S��lvio no carro de Kika era
numa sensa����o sem precedentes e sem
um bom sinal, um triste e paradoxal bom
explica����o, importante demais Dara ser
sinal: pelo menos poderia nutrir a es-
desperdi��ada e, sim, apenas sentida. Uma
peran��a de que ele n��o fosse casado. O
sensa����o que a dominava assustadora-
fato de t��-lo visto com Kika, no entan-
mente, depois ia morrendo devagarinho,
to, jogava por terra o que restava da-
em pequenos espasmos aue contra��am
quele seu amor. Conhecia Kika. Sabia seu ventre, deixando uma sensibilidade
como ela era insinuante e persistente.
toda especial em sua pele. em seus seios,
Uma vez que conseguira lan��ar suas em seus l��bios, no seu sexo.
garras sobre S��lvio, era fatal que o en-
volveria em seus encantos e o arreba-
��� O que voc�� vai fazer �� noite? ���
taria inapelavelmente.
indagou ele. interrompendo aquelas re-
Levantou o rosto para olhar os olhos
corda����es que ela desejaria jamais ter
borrados. Apanhou um len��o de papel
de abandonar.
no porta-luvas do carro e enxugou-os.
��� N �� o pensei em nada especial. E
A tristeza era uma dor intensa dentro voc��?
dela, incomodando-a.
��� Tenho um paciente no hospital,
Olhou ao seu redor, surpreendida. A um rec��m-nascido que tem me preocupa-
rua estava deserta. Todos haviam ido, do muito ��� disse ele, com seriedade.
espalhados pelos bares, lanchonetes e
A men����o �� palavra rec��m-nascido fez
casas noturnas. Imaginou que o melhor
M��rcia estremecer e desejar expulsar a
a fazer fosse imit��-los e procurar nos id��ia que lhe vinha �� mente com viol��n-amigos algum conforto. Primeiro um cia, impondo-se contra seus preconcei-
bom banho, uma cara nova e, apesar da
tos e contra a afinidade que a unia a
frustra����o, sorrir e deixar que qualquer
Ricardo.
alegria simples a ajudasse esquecer.
Procurou compensar, indagando-se o
* * *
que representava para ele. N��o era ape-
nas mais uma de suas garotas? Algu��m
O Mustang vermelho avan��ou at�� a que ele procurava nos momentos de fol-
cancela. O porteiro se aproximou e rece-
ga e com quem dividia egoisticamente
beu o dinheiro. Depois ergueu a baliza.
as horas de lazer?
O Mustang arrancou, deixando o motel.
Ou haveria alguma coisa mais. O que
Debru��ada sobre o ombro de Ricardo,
sabia sobre ele, sobre sua vida? Nada,
M��rcia ainda sentia sua pele formigar absolutamente. Teria ele alguma namo-
e sua cabe��a girar, ap��s os momentos rada? N��o estaria noivo? N��o se casa-
intensos que haviam vivido.
ria em breve? E ela, como ficava? Ja-
Ricardo tinha uma maneira pr��pria mais haviam tocado no assunto e M �� r -
de amar, de descobrir lentamente o cor-
cia desejou faz��-lo, apenas para aliviar
po dela, de avan��ar no momento certo, sua consci��ncia.
9
C A P �� T U L O 3
S��lvio tomara um banho e mudara a
��� Vamos, ande logo! N �� o temos a
roupa. Quando a irm�� chegou, foi ao noite toda ��� gritou S��lvio, batendo na
seu encontro. Havia algo novo em seu porta.
rosto e isso surpreendeu M��rcia.
��� J�� vou ��� respondeu ela, indo para
��� Vamos fazer algo louco esta noite?
o chuveiro.
��� prop��s ele, sorrindo de uma forma
contagiante.
* * *
��� O que deu em voc��? ��� retrucou
ela.
Marisa apanhou o carro e saiu. N��o
sabia ao certo onde ir. Queria um lugar
��� E ent��o, o que me diz? Vamos sair
calmo, relaxante, onde pudesse pensar.
juntos esta noite. Vamos a um desses Por outro lado, um lugar assim apenas
lugares que voc�� conhece, ouvir m��si-
faria real��ar sua tristeza. Talvez um
ca, tomar um chope, comer uma pizza pouco de companhia fosse o mais indi-
ou qualquer outra coisa. E ent��o, o que cado.
me diz?
Algum tempo depois estava num ani-
M��rcia encarou-o surpreendida. Havia
mado barzinho, com alguns amigos. B e -
um novo e estranho brilho nos olhos bia com rapidez, exagerando um pouco,
dele, real��ando aquela express��o impul-
deixando transparecer o sentimento que
siva em seu rosto.
a corro��a.
��� Est�� bem, estou de acordo. �� s�� me
N��o havia reparado nas outras pes-
dar tempo para um banho ��� concordou
soas ainda. S�� um pouco mais tarde deu
ela, passando por ele e indo at�� seu melhor aten����o a um casal sentado ao
quarto.
fundo, muito animado e feliz. O mundo
Escolheu a roupa que vestiria, depois cedeu sob seus p��s. Reconheceu S��lvio
foi para o banheiro. Quando se despia, e, o que era pior, acompanhado de uma n��o p��de deixar de notar, logo acima outra garota.
de um dos seios, a marca indel��vel de
Abobalhada, recusou-se a aceitar o que
um beijo mais ardente de Ricardo.
via. Primeiro Kika, depois aquela outra,
Olhou-se ao espelho, examinando a todas no mesmo dia. Isso jogava por ter-
pr��pria nudez. Pensou novamente na-
ra aquela tola teoria que ouvira pela
quele plano maluco, depois em Ricardo,
manh��, na piscina. Algu��m havia se en-
no seu jeito bondoso, em seus carinhos,
ganado, ou S��lvio estava fazendo por
na maneira como ele a incendiava e merecer o prest��gio de que gozava. Em
deixava prostrada ap��s o amor.
apenas um dia, nos pensamentos de M a -
No entanto, nada de mais s��rio havia
risa, ele fora um orgulhoso, um casado,
entre eles. N��o o via como um namo-
e agora um namorador de primeira.
rado, algu��m com quem poderia viver o
Pediu outro chope, tentou se entur-
resto da vida. Ricardo era uma presen��a
mar, mas o ambiente n��o estava prop��-
excitante em sua vida, mas n��o tinha cio. Seus amigos percebaram que seu
aquele sabor definitivo que pudesse ��nimo n��o era dos melhores e pouco a
prend��-la.
pouco foram se afastando, deixando-a
Talvez isso minasse sua resist��ncia ao
sozinha na mesa.
plano e permitisse que ele continuasse
Ela ficou ali, tentando n��o olhar, mas
se insinuando em sua mente, fixando-se incapaz de desviar os olhos de S��lvio, como a solu����o que resolveria todos os
adorando-o e odiando-o �� dist��ncia. En-
problemas.
t��o aconteceu algo que ela n��o com-
N��o sabia como se sentiria depois nem
preendeu. Ricardo Almeida, o Dr. Ricar-
como o encararia. Talvez n��o tivesse dinho, como era mais conhecido entre
for��as para levar aquilo adiante.
as garotas, chegou. Aproximou-se da
10
mesa ocupada por S��lvio e pela garota.
das maiores empresas no ramo, na ci-
Permaneceu ali algum tempo, depois se
dade. Seus m��todos eram diretos e, ��s
levantou e a garota foi com ele. S��lvio
vezes, escusos, sempre que um bom ne-
ficou s�� na mesa.
g��cio justificasse o abandono total do
Marisa pediu outro chope. S��lvio fez escr��pulo e da ��tica profissional.
o mesmo. Enquanto aguardava, acendeu
Um outro homem, aparentando a mes-
um cigarro e girou o corpo para obser-
ma idade e vestindo-se de um modo
var o ambiente. Estava s�� em sua mesa
mais s��brio, surgiu �� porta. Ao v��-lo no
e viu Marisa, igualmente s��. Sorriu-lhe,
balc��o, se aproximou.
reconhecendo-a.
��� Ol��, Moreira. Recebi seu recado.
Abobalhada, ela o viu se levantar e Estive fora esse fim de semana. Acabo
vir at�� ela.
de chegar.
��� Ol��, como se sente hoje? ��� inda-
��� Como vai, Miguel, velho de guerra?
gou ele, parado ao lado dela. ��� Tenho
��� respondeu o outro, exagerando na
visto pessoas n��o se levantarem por al-
efusividade.
guns dias depois de uma seq����ncia de
Alberto Moreira apontou uma das m e -
quedas como a sua.
sas, depois fez um sinal ao gar��om para
��� Sou uma profissional do tombo ���
que providenciasse mais u��sque e gelo.
respondeu ela, sem perceber que sorria
Sentaram, sendo servidos em seguida.
espontaneamente e que tudo que a en-
tristecera naquele dia simplesmente se Conversaram amenidades, embora o Dr.
dilu��a com a proximidade dele.
Miguel Pascoal, ilustre advogado da ci-
Antes que percebesse, ele j�� se sen-
dade, soubesse que o motivo do encon-
tara. Parecia muito alegre. Talvez tives-
tro n��o era puramente social.
se bebido demais, assim como ela. N��o
Comprovando sua intui����o. Alberto
soube precisar, mas gostou de t��-lo ali, Moreira tornou-se s��rio e encarou-o.
t��o acess��vel e t��o sorridente, ainda que
��� Lembra-se daquela propriedade
n��o fosse passar de mais uma de suas
que n��o conseguimos arrancar ao rapaz?
conquistas.
��� Refere-se ao filho d e . . .
��� Perdeu a garota? ��� indagou ela,
��� Sim, esse mesmo.
sem conseguir evitar a pergunta.
��� Era um velho barrac��o na Rua
Goi��s, se n��o me e n g a n o . . .
��� Que g a r o t a . . . Refere-se a M��rcia?
�� minha irm�� ��� explicou ele e o sor-
��� Isso mesmo. Na ��poca n��o tivemos
riso se tornou mais largo nos l��bios de
maiores pretens��es quanto ao im��vel em
Marisa.
fun����o de uma d��vida municipal que o
tornava invi��vel como um bom neg��cio.
Ela se sentia como que vendo o sol,
Agora ele est�� quite com os impostos e
ap��s um dia nublado e triste.
se tornou um bom neg��cio pela exce-
* * *
lente localiza����o. Recebi uma proposta
de um grupo paulista, liderado por um
Num dos clubes mais elegantes da ci-
amigo meu, interessado em iniciar a
dade, um homem se sentava junto ao montagem de uma grande rede de lojas
balc��o do sofisticado bar e pedia uma
de departamentos aqui no Paran��. L o n -
dose de u��sque. Vestia-se esportivamen-
drina seria a primeira experi��ncia. Exi-
te, embora a idade j�� se acentuasse nos
gem um terreno acess��vel, mas n��o afas-
cabelos que lhe embranqueciam as t��m-
tado do centro, com possibilidades de
poras. Suas maneiras eram algo afeta-
estacionamento. A id��ia �� a constru����o
das, como se procurasse, a cada gesto,
de um pr��dio de meia d��zia ou pouco
provar uma educa����o que na realidade
mais andares. J�� investiguei o mercado.
n��o possu��a.
Aquele me parece o melhor neg��cio,
Era por demais conhecido nos meios
considerando que estou autorizado a dis-
sociais da cidade. Bem sucedido corre-
pender at�� tr��s milh��es de cruzeiros,
tor nos meios imobili��rios, dirigia uma
aquele terreno nos oferece uma boa
11
perspectiva de lucro ��� disse Moreira, la encontrado ali, naquele local, for��a-frisando bem as palavras "nos oferece".
ra-o a mudar seus planos.
O advogado diante dele ficou pensa-
M��rcia estivera pensando nisso todo
tivo por instantes, aproveitando para o tempo, enquanto aquela id��ia perigo-
um gole de u��sque. Acendeu um cigarro
sa espica��ava-a e uma seq����ncia de per-
e reclinou-se na cadeira, jogando a fu-
guntas alinhava-se em sua mente, co-
ma��a para o alto.
mo ponto de partida para uma
��� Acho que esgotamos todos os nos-
ni����o.
sos recursos contra aquele rapaz e sua
Estivera com S��lvio. Vira o esfor��o que
irm��. J�� faz algum tempo que liquida-
ele fazia para aparentar descontra����o
mos todos os assuntos pendentes... N��o
e despreocupa����o. Sabia que, por den-
vejo c o m o . . .
tro, ele se ressentia da frustra����o de
n��o poder realizar a curto prazo seus
��� Minha oomis��o sobre os tr��s mi-
planos.
lh��es seria de apenas trezentos mil ���
cortou-o Moreira. ��� Se eu ganhar dois
Isso estava aniquilando-o. M��rcia lhe
milh��es, ao inv��s de trezentos mil, fica-
devia muito e n��o queria que nada lhe
ria muito satisfeito.
acontecesse. Desejava v��-lo feliz, da
mesma forma como ele se esfor��ara pa-
O advogado silenciou. A proposta se-
ra sempre atend��-la, no menor pedido,
ria de um milh��o por um trabalho que,
no mais simples dos caprichos da mu-
afinal, poderia n��o ser t��o dif��cil assim. lher.
Moreira n��o o procuraria se n��o esti-
vesse preparado de alguma forma para
Agora estava ali, com a chance de re-
fornecer-lhe alguma base legal para o tribuir-lhe tudo. Embora isso significas-neg��cio desonesto. Encarou-o.
se uma jogada suja, convencia-se de que,
no fundo, Ricardo a merecia. N��o havia
��� O que voc�� tem que pode ser apro-
da parte dele uma considera����o maior.
veitado? ��� indagou.
N��o importava se estivessem de comum
��� Tenho ainda uma por����o de do-
acordo quanto a sentimentos, at�� ent��o.
cumentos com a assinatura deles e do A id��ia de jamais pensar em termos de
pai deles. Basta dar uma olhada e v e -
compromisso fora desenvolvida pelos
rificar o que pode ser aproveitado. A l -
dois. O fato era que, de certa forma, ela
gumas velhas procura����es, notas pro-
podia, caso se esfor��asse, considerar-se
miss��rias pagas, mas sem recibo de qui-
um objeto para ele, mais uma de suas
ta����o. . .
namoradas. Com quantas mais n��o te-
��� Que tal levar todo esse material, ria ele o mesmo tipo de rela����o?
amanh�� de manh��, ao meu escrit��rio?
��� Trinta, ou trinta e um anos, R i -
��� ��s dez est�� bem? ��� retrucou M o -
cardo? ��� indagou ela, quando o sil��ncio
reira, fazendo um gesto para o gar��om,
do toca-fita anunciava a passagem de
enquanto sorria satisfeito para o advo-
uma para outra musica.
gado.
��� Trinta e dois, por qu��? ��� retrucou
* * *
ele.
��� N��o pensa em casar-se? ��� insis-
Apenas a suave luz do aparelho toca-
tiu ela, percebendo que sua voz ganha-
fitas iluminava seus rostos. O carro es-
va uma tonalidade assustada, que n��o
condia-se sob a copa frondosa de uma
poderia, jamais, significar sua fraqueza
das ��rvores que margeavam a pista. Em
diante de uma poss��vel decis��o.
seu interior, M��rcia e Ricardo conver-
Precisava fazer alguma coisa, sondar
savam.
o terreno, preparar o caminho, verificar
A garota indagara-lhe sobre o pacien-
suas possibilidades.
te que o aguardava. Ricardo dera uma
��� N��o ��� respondeu ele, sorrindo, vol-
desculpa qualquer, traindo-se. Na rea-
tando-se para olh��-la.
lidade, n��o pretendia se encontrar com
Seus olhos brilhavam. Sua m��o esten-
ela naquela noite. A coincid��ncia de t��-
deu-se, tocando o joelho de M��rcia e
12
iniciando uma caminhada que a fez sus-
simples casualidade os pusera juntos du-
pirar e arrepiar-se.
rante algum tempo.
��� J�� pensou na possibilidade? ��� con-
M��rcia viera avisar que Ricardo a le-
tinuou ela, misteriosa.
varia para casa. S��lvio n��o se impor-
Ele enla��ou-a, trazendo-a para junto
tou, empolgado com a descoberta de
uma agrad��vel companhia em Marisa.
de si, mordiscando-lhe o l��bulo da ore-
lha, enquanto suas m��os macias e h��-
��� Amanh�� come��am as aulas do
beis se insinuavam pela blusa, toc��ndo-
cursinho ��� disse ele, logo ap��s a sa��da
de M��rcia. ��� Isso quer dizer que me
me os seios, que se eri��aram.
ver�� com menor freq����ncia no "Wheels".
M��rcia permaneceu im��vel, rija, n��o
��� �� uma pena! ��� exclamou ele, real-
perturbada pela emo����o, mas temerosa mente sincero.
diante do que pretendia dizer em segui-
da, apesar de n��o saber ainda como fa-
��� Por que julga isso uma pena? ���
indagou ela, provocante.
z��-lo.
��� Ap��s conhec��-la melhor...
Ricardo interpretou isso como uma es-
p��cie de alerta. Endireitou-se em seu as-
��� Podia ter feito isso antes.
sento, encarando-a ligeiramente confu-
��� Sim, podia mesmo ��� respondeu ele,
so e com uma suspeita que se recusava
tornando-se s��rio e olhando-a dentro
a aceitar.
dos olhos.
Marisa se sentiu arrepiar. Aquele si-
��� O que est�� querendo me dizer, M��r-
l��ncio entre os dois foi denunciador.
cia? ��� perguntou.
Ela manteve seus olhos nos dele, torcen-
��� Nada, queria saber a p e n a s . . .
do para que S��lvio fosse inteligente o
Ele estendeu a m��o, segurandc-lhe o bastante para perceber tudo aquilo que
queixo e obrigando-a a olh��-lo.
ela gostaria de dizer, mas n��o conse-
��� N��o �� o que eu estou pensando, guia.
��? ��� insistiu ele e sua voz denotava um
��� Posso lhe contar um segredo? ���
medo que ela compreendeu perfeita-
indagou ele.
mente.
��� Sim, claro.
��� E o que voc�� est�� pensando?
Ele ficou em sil��ncio por alguns ins-
��� N��o, com voc��, n��o ��� descartou tantes. Uma express��o de des��nimo es-
ele, com um riso for��ado. ��� Se fosse tampou-se em seu rosto.
alguma outra, mas voc��... Vamos fale
��� O que foi? ��� quis saber ela.
logo, o que est�� querendo me dizer, afi-
��� Eu preferia mostrar-lhe... �� algo
nal? ��� voltou a indagar e agora sua voz
que jamais contei ou mostrei a algu��m...
tra��a uma irrita����o pr��pria do emba-
��� E onde est��?
ra��o e da inconveni��ncia.
��� N��o �� longe daqui.
��� Esque��a, n��o �� nada, estava ape-
��� Estou de carro ��� ofereceu ela.
nas perturbando-o...
Os olhos dele brilharam. Seus l��bios
No sil��ncio que se seguiu ela perce-
abriram-se num sorriso.
beu que o momento era prop��cio.
Momentos mais tarde estavam no car-
��� Vou procurar um m��dico amanh��! ro dela. Antes que o ligasse, Marisa lem-
��� disse, tr��mula.
brou-se de Kika. O fato de estar com
��� Oh, n��o, s�� me faltava isso! ��� de-
S��lvio, afinal, era o bastante para dei-
sabafou ele, irritado, esmurrando o vo-
x��-la feliz. O ego��smo dos que amam,
lante do carro.
por��m, manifestou-se e ela desejou n��o
ter nada a amea��ar sua felicidade.
* * *
��� O que voc�� fazia no carro de Kika
hoje �� tarde? Eu os vi na Higien��polis
Estavam ambos "altos". Diante deles, ��� disse ela, num esfor��o.
diversos copos vazios. O riso era f��cil
��� Kika? Uma boa amiga, apenas uma
em seus l��bios. O brilho de seus olhos, boa amiga, pode estar certa... Mas por por��m, revelava que algo mais que uma
que perguntou isso? ��� indagou ele, per-
13
cebendo que havia qualquer coisa no vindo da parte dele e se atiraria na tom de voz dela que n��o conseguia iden-mais louca aventura se ele assim o de-
tificar.
sejasse. Ligou o carro e pediu o ende-
Ela olhou-o nos olhos, percebendo sua
re��o do local.
sinceridade. Sorriu e desejou que ele a
��� Des��a a JK e suba pela Goi��s. Eu
abra��asse e beijasse, e suplicasse por lhe digo quando parar ��� falou ele.
ela. Seguramente n��o resistiria a nada
Feliz, ela obedeceu.
C A P �� T U L O 4
A l��mpada amarelada, ao fundo, ilu-
��� "Plastic Place" ��� murmurou ela.
minava um cen��rio de sombras e inu-
��� Vai ser uma loucura, tenho certeza
tilidade. Parada �� porta, Marisa se v o l -
��� acrescentou e seu h��lito acariciou os
tou para encarar S��lvio, n��o conseguin-
l��bios de S��lvio.
do entender o que o pusera t��o excita-
��� Pena q u e . . . ��� sussurrou ele, f e -
do ao chegar ��quele local.
chando os olhos e baixando a cabe��a,
Ele segurou uma das m��os dela e l e -
escapando inconscientemente da magia
vou-a para o centro do antigo barrac��o.
do momento.
��� E ent��o, j�� conseguiu adivinhar?
Soltou-a e caminhou at�� uma das pa-
��� indagou ele e Marisa sorriu aboba-
redes, deixando-a frustrada atr��s de si.
lhada.
Marisa fitou-o, percebendo a transfor-
��� Eu n��o tenho a m��nima i d �� i a . . .
ma����o. Toda a vibra����o o abandonara.
��� Imagine um espelho grande ao S��lvio se esvaziara daquele entusiasmo.
f u n d o . . . Aquela parede, toda ela de es-
Ela se aproximou dele. Estendeu sua
pelho. O teto rebaixado, com l��mpadas
m��o, tocando-lhe o ombro.
de efeitos especiais. Aqui ��� mostrou
��� O que foi? ��� indagou.
ele, caminhando para um dos lados. ���
Aqui ser�� erguido, ao longo de toda a
��� Nada ��� ele disse, for��ando um sor-
pista, um estrado, l�� no fundo, um bar...
riso.
Feche os olhos e imagine. �� o "Plastic
��� A id��ia me parece muito boa ��� ela
Place", uma mistura de ringue de pa-
animou-o.
tina����o com escola de dan��as ��� fina-
��� Sim, mas �� i n v i �� v e l . . . Preciso~de
lizou ele, segurando-a pelos ombros e um capital que jamais conseguirei...
olhando-a nos olhos.
��� T a n t o assim? ��� quis saber ela,
Ela sorriu, compreendendo a id��ia, sentando-se e apoiando as costas con-
mas o sorriso lentamente foi se desfa-
tra a parede.
zendo nos cantos de seus l��bios e uma
S��lvio imitou-a, encolhendo as pernas
express��o apaixonada dominou sua f a -
e abra��ando os joelhos para pousar o
ce, acelerando-lhe a respira����o, semi-
queixo entre eles.
cerrando-lhe os olhos. Com a ponta da
l��ngua, num movimento inconsciente,
��� Cinq��enta mil ��� ele disse.
ela umedeceu os l��bios. A press��o das
��� Cinq��enta mil? ��� repetiu ela, ape-
m��os de S��lvio em seus ombros atraiu-a
nas para confirmar, j�� que, pelo que p o -
naturalmente para junto dele. Marisa dia imaginar, toda a reforma do local
aproximou-se devagarinho, de mansi-
ficaria em muito mais que isso.
nho, empurrada por sua pr��pria emo-
Al��m do mais, cinq��enta mil, para ela,
����o, tr��mula no bater descompassado n��o significava uma import��ncia t��o de-
de seu cora����o.
sanimadora assim. Tinha um carro, p o -
14
deria ter uma moto a qualquer momen-
pois encarou Marisa. Ia dizer qualquer
to que quisesse, dinheiro jamais lhe fora coisa, mas calou-se. Caminhou at�� a pa-um problema.
rede do fundo, retornando em seguida.
Examinou o barrac��o, depois olhou Parou diante dela.
S��lvio, com olhos cr��ticos. Suas roupas
��� E se eu n��o puder lhe pagar?
eram comuns. Cal��a desbotada, cami-
��� O barrac��o me parece uma boa ga-
seta de malha, um t��nis bonito, apesar rantia ��� sugeriu ela.
de n��o ser novo. N��o era preciso ir
��� Sim, claro, mais do que uma sim-
al��m para deduzir que ele n��o era rico ples garantia... Quando?
e que os cinq��enta mil deveriam re-
��� Amanh��, est�� bem? Eu lhe dou o
presentar uma barreira quase que in-
dinheiro na sa��da do col��gio. Estudo no
transpon��vel, dentro de suas possibili-
Col��gio Vestibular. Voc�� me espera l��?
dades financeiras.
��� Claro que sim ��� sorriu ele. ��� Le-
Voltou a examinar o barrac��o. A id��ia
varei um documento que garanta o seu
era comercialmente aproveit��vel. A on-
investimento...
da dos patins invadira a cidade com
��� N��o, n��o quero...
for��a total. Os locais de patina����o an-
��� Pa��o quest��o ��� disse ele, decidido.
davam repletos. Eram muitas as op����es:
aluguel de patins, ingressos, lanchone-
Ela sorriu. Naturalmente caminharam
te, at�� pequenas lojas de artigos ligados um ao encontro do outro. S��lvio esten-ao esporte, tudo poderia ser enquadrado deu-lhe a m��o, como que desejando se-naquela atividade.
lar o acordo. No momento seguinte ela
o abra��ava, e o "Plastic Place" brilhou
��� N��o conseguiria isso emprestado? em todas as suas l��mpadas de sonho e
��� arriscou perguntar.
esperan��a, quando os dois, inesperada-
��� A hist��ria �� longa, mas os bancos mente, se beijaram.
n��o fariam isso.
Quando voltou para casa, mais tarde,
��� Um s��cio? A sociedade �� uma boa S��lvio estava maravilhado e ansioso.
id��ia se voc��...
Maravilhado pela incr��vel descoberta
��� Jamais eu aceitaria um s��cio! ��� que fizera. Marisa era uma garota como
cortou-a ele, t��o bruscamente que a ate-
n��o havia outra igual. Qualquer coisa
morizou.
nela a tornava diferente, embora n��o
Embora se sentisse curiosa, julgou soubesse definir se era o olhar especial, prudente n��o indagar o motivo.
o modo de ficar perto dele, a maneira
��� E um empr��stimo, voc�� aceitaria? como fizera acontecer aquele beijo e os
��� insistiu ela, sem olh��-lo.
outros que se seguiram, numa intimida-
��� Ningu��m teria a coragem de m e . . .
de t��o espont��nea que o fazia crer que
j�� a conhecia h�� muito tempo.
��� Eu teria ��� cortou ela, encaran-
do-o.
Ansioso, queria contar a M��rcia tudo
Por momentos seus olhares se cruza-
o que acontecera, principalmente quan-
to ao empr��stimo que tornaria a vida
ram. O de S��lvio analisando, tentando dos dois diferente, dando-lhes novos
captar a sinceridade do de Marisa, e o motivos e tornando. reais todos os sodela ansioso e terno, oferecendo essa nhos que vinham acalentando.
sinceridade.
Encontrou-a j�� deitada e n��o quis
��� N��o me v�� dizer que �� t��o machis-
acord��-la. A vontade foi grande, mas
ta que n��o possa aceitar um empr��s-
S��lvio imaginou que a surpresa seria
timo meu, ��� disse ela.
melhor ainda se n��o lhe contasse nada
��� Cinq��enta mil? Voc�� est�� disposta por enquanto.
a me emprestar cinq��enta mil? ��� inda-
Primeiro garantiria todo o necess��rio.
gou ele, entre confuso e esperan��oso.
Iniciaria a reforma do barrac��o. Cuida-
��� Voc�� aceitaria?
ria de todos os detalhes para a cria����o
Ele se ergueu. Caminhou at�� o centro de sua firma, sua pr��pria firma. Ape-
do barrac��o, olhando ao seu redor. De-
nas quando fosse necess��rio a partici-
15
pa����o de M��rcia, sua ��nica s��cia no ne-
Num dos bairros mais elegantes da ci-
g��cio, ele ent��o lhe contaria.
dade, Marisa estava �� janela de sua ca-
Sim, seria uma grande surpresa para
sa, fitando a noite, tentando pensar na
ela, pensava, enquanto ia para o seu melhor maneira de resolver seu pro-
quarto. Despiu-se para dormir. Deitou-
blema.
se e apagou a luz. Sua mente fervilha-
Talvez n��o fosse t��o f��cil conseguir
va, como se os acontecimentos daquela os cinq��enta mil que prometera a Sil-
noite houvessem acionado um carros-
vio. Se o pedisse a seu pai, simplesmen-
te, teria de lhe dar uma boa desculpa.
sel em seus pensamentos.
Contar-lhe a verdade poderia ser arris-
Gradativamente, por��m, tudo foi se cado. Se ele visse nisso um p��ssimo ne-
acalmando, assentando-se, at�� que res-
g��cio, fatalmente o recusaria. Mentir-
tou, pairando sobre tudo, como um so-
lhe n��o era do feitio de Marisa, n��o em
nho novo, uma descoberta nova, a figu-
se tratando de algo t��o importante.
ra terna e bela de Marisa.
A id��ia de recorrer a ele, por��m, mes-
Acendeu a luz. Retirou um papel do
mo que conseguisse o dinheiro, n��o a
bolso de sua camisa e se sentou na cama
gratificaria em nada. O que pretendia
para ler em voz alta:
fazer era especial e merecia uma solu-
����o especial, apenas dela, onde pudesse
��� Marisa Carvalhal, vinte anos, bra-
jogar toda a for��a do sentimento que
sileira, solteira, residente e domicilia-
dedicava a S��lvio.
da. . . ��� riu.
Caminhou pelo quarto, saboreando a
A lembran��a de seus cabelos, de seu
brisa fresca que penetrava pela janela
olhar, de seus l��bios t��o macios e quen-
e vinha acariciar seu corpo, arrepian-
tes, de suas m��os t��o femininas e en-
do-o deliciosamente, refor��ando a sua
volventes, tudo isso fez agigantar uma
recorda����o do rapaz.
emo����o que S��lvio jamais experimenta-
Parou diante de um amplo arm��rio
ra com tanta intensidade.
embutido. Abriu-o. Apanhou uma pe-
A recorda����o dos beijos ardia em seus
quena caixa e levou-a para a cama. R e -
l��bios. A maciez e o perfume daquele tirou dali suas j��ias mais caras e ficou examinando cada uma delas. Valiam, se-corpo e r a m uma bebida forte, entorpe-
guramente, mais do que os cinq��enta
cendo seu corpo, fazendo girar sua mil que S��lvio precisava.
mente.
Uma id��ia lhe veio �� mente, ent��o,
��� Marisa ��� murmurou, desligando a
como a melhor das solu����es: empenha-
luz.
ria as j��ias, o bastante para conseguir
os cinq��enta mil. Resgat��-las, depois,
* * *
seria um problema que se solucionaria
com a exist��ncia do "Pl��stic Place".
C A P I T U L O 5
Pouco depois das dez da manh��, do
Cumprimentaram-se efusivamente. M o -
dia seguinte, Moreira era recebido pelo reira depositou a pasta sobre a escriva-Dr. Miguel, no escrit��rio deste. Levava
ninha e abriu-a.
uma pasta com uma por����o de antigos
��� Isso �� tudo que encontrei que tem
documentos, todos da ��poca em que en-
alguma coisa a ver com os dois jovens
volvera, em seus neg��cios escusos, S��l-
��� disse.
vio e M��rcia, desorientados ap��s a mor-
��� Muito bem, vamos ver o que se
te do pai.
pode aproveitar daqui ��� falou o advo-
16
gado, come��ando a examinar cada um se sentira angustiada e, ao mesmo tem-dos pap��is.
po, assustada com o que pretendia fa-
Moreira acendeu um cigarro e aguar-
zer.
dou com impaci��ncia. Pensou no exce-
Quando atenderam do outro lado da
lente neg��cio que poderia fazer, caso linha, pediu para falar com uma ami-
conseguisse se apossar daquele im��vel. ga, que trabalhava numa das materni-
A localiza����o era uma das melhores pa-
dades da cidade.
ra os planos do grupo empresarial
��� Ingrid, sou eu, M��rcia! Voc�� con-
paulista.
seguiu?
O advogado examinava, agora, com
��� Sim, est�� aqui comigo. Voc�� vem
particular interesse, um documento. Er-
apanhar?
gueu os olhos para Moreira, indagan-
��� Voc�� pode me trazer hoje �� tarde,
do-lhe:
quando vier para a aula?
��� Esta procura����o aqui foi revogada?
��� Sim, claro. Pensei apenas que voc��
��� Deixe-me ver ��� pediu.
tivesse pressa... Vai contar ao pai da
��� Parece-me perfeita para o que tem crian��a? ��� indagou a outra, com ma-
em mente. Verifique se a�� consta o im��-
l��cia no tem de voz.
vel que voc�� deseja.
��� Pretendo.
��� Sim, est�� aqui...
��� V�� com cuidado, n��o me cause pro-
��� �� uma procura����o outorgada pelos blemas, est�� bem?
jovens, dando-lhe poderes para a ven-
��� Ora, querida! Eu jamais faria isso
da de alguns im��veis, resultantes do in-
��� disse M��rcia, despedindo-se e desli-
vent��rio dos b e n s . . .
gando.
��� Eu me lembro dela. Eles a outor-
Ficou ali, parada ao lado do telefone,
garam em meu nome para que eu ven-
pensando no que decidira fazer. Seria
desse os im��veis e, com o dinheiro, pa-
apenas uma jogada suja contra algu��m
gasse parte das d��vidas do pai, que ha-
que, talvez, n��o a merecesse.
viam ficado fora do invent��rio...
For��ava-a, por��m, o desejo de ajudar
. ��� Agora eu tamb��m me lembro disso o irm��o. N��o poderia suportar por mais
��� sorriu matreiramente o advogado. ��� tempo aquela frustra����o que visivelmen-
Precisamos verificar se a procura����o te magoava S��lvio.
n��o foi revogada. Se isso n��o aconte-
A id��ia era por demais s��rdida, mas
ceu, voc�� tem poderes para vender o sempre surtira efeito, pelo menos fora
im��vel, sem entrar em maiores deta-
o que ouvira. Muitas garotas a vinham
lhes.
utilizando sistematicamente. Nada po-
��� Como faremos para verificar a va-
deria assustar mais a um jovem des-
lidade da procura����o? ��� quis saber Mo-
preocupado que a perspectiva de se tor-
reira.
nar, inesperadamente, pai.
��� Eu irei at�� o cart��rio e cuidarei
Fora isso que sugerira na noite an-
disso. Quanto aos outros detalhes to-
terior a Ricardo. Conhecera sua rea����o.
dos, voc�� sabe a que me refiro, pode Seguramente ele n��o desejaria esse fi-
deixar que eu me encarrego ��� assegu-
lho inexistente. Para n��o ter aborreci-
rou o Dr. Miguel.
mentos, pagaria.
��� Claro, confio plenamente em voc��
Apenas o fato de saber que tudo n��o
��� concordou Moreira, estendendo-lhe a passava de uma mentira poderia per-
m��o.
mitir que ela continuasse naquele pla-
* * *
no. A simples id��ia de que, caso algo
como aquilo acontecesse realmente, Ri-
Durante o intervalo entre uma e ou-
cardo pudesse pagar para se ver livre
tra aula, M��rcia foi at�� o telefone e do problema a fazia odi��-lo.
discou um n��mero. Estava tr��mula, vi-
Caminhou de volta �� sala de aula,
sivelmente nervosa. Toda aquela manh��
onde um grupo de alunas a aguardava,
17
prontas para se iniciarem nas dan��as se concretizando; s��o as primeiras pre-modernas. Pensava que nada mais se-
ocupa����es quanto ao futuro surgindo,
ria o mesmo entre os dois. Com aquilo
gerando conflitos, merecendo aten����o.
estaria encerrando um relacionamento
As crian��as se tornam adultas, na
que, se n��o fora promissor, pelo menos preocupa����o com o vestibular, na esco-fora gratificante em muitos momentos. lha da carreira, no confronto com os
De alguma forma, isso era doloroso.
problemas financeiros que barram suas
pretens��es.
* * *
Sentado no muro, do outro lado da
Durante o ver��o, no per��odo de f �� -
rua, sob uma ��rvore, S��lvio observava
rias, nada h�� de mais triste que a fa-
toda aquela agita����o, enquanto, com
chada de uma escola, vazia, silenciosa, olhos inquietos, procurava por Marisa, quase morta. Sabe-se, no entanto, que experimentando uma emo����o toda es-uma vida pr��pria pulsa em seu inte-
pecial ao julgar reconhec��-la numa ca-
rior, impregnada a suas paredes, ��s beleira dourada que surgia �� porta da
marcas vis��veis e invis��veis de milhares
escola.
de seres humanos que ali passaram.
O hor��rio de aula chegava ao fim. As
Pequenos tra��os, carteiras riscadas, primeiras classes j�� haviam sa��do. Ele
um detalhe do piso, um defeito no for-
a aguardava.
ro, um problema qualquer num dos lus-
��� Mas isso �� uma surpresa muito
tres, tudo isso, de alguma forma, um grande! ��� exclamou uma voz femini-
dia representou, para algu��m, uma coi-
na, junto dele.
sa importante.
Voltou-se para encarar o rosto real-
�� medida que os anos passam, esses mente surpreso de Kika. Talvez, por ins-
detalhes desaparecem materialmente, tantes, ela tivesse julgado que a pre-
mas permanecem para sempre na r e -
sen��a dele tivesse algo a ver com ela.
corda����o. Mas, com ou sem eles, uma
��� Ol��, K i k a ! Tudo bem? ��� respon-
escola vazia �� uma coisa triste.
deu, inclinando-se para receber os bei-
�� propor����o que se aproxima o rei-
jinhos que ela lhe oferecia.
n��cio das aulas, por��m, uma efervesc��n-
Olharam-se. No olhar de S��lvio havia
cia vai se desenvolvendo em seu inte-
uma camaradagem muito grande, uma
rior e a movimenta����o a faz retornar
admira����o especial pela garota; no de-
�� vida. As classes vazias se alegram la, por��m, havia algo acima disso, com
com a chegada do colorido alegre dos a for��a de uma esperan��a, com a cer-
alunos. Os p��tios derramam uma alga-
teza de uma vit��ria.
zarra pr��pria. Um universo cria-se ao
��� Esperando por mim? ��� arriscou
seu redor.
ela.
Diante de seus port��es, os paquerado-
��� N��o, espero Marisa ��� explicou ele,
res passeiam, exibindo seus carros no-
saltando do muro ao v��-la sair do co-
vos e suas motocicletas ��s excitadas ga-
l��gio naquele instante.
rotas que os observam. Inicia-se um no-
A express��o do rosto de K i k a se al-
vo processo de sele����o. Antigos namora-
terou. Ela estremeceu, percebendo o sor-
dos s��o esquecidos. Novos namorados riso diferente, meloso, que se desenha-
surgem. A garotinha que era um pati-
ra nos l��bios dele.
nho feio no ano passado, de repente,
��� O que voc�� quer com ela? ��� inda-
durante as f��rias, se transformou numa gou, com uma rispidez que ele ignorou.
bela mo��a, cheia de encantos e gra��a,
��� Temos neg��cios ��� sorriu ele. ��� At��
atraindo as aten����es daqueles que a mais tarde ��� finalizou, atravessando a
ignoravam.
rua para se encontrar com Marisa.
Os esp��ritos se tornam inquietos em
K i k a ficou observando a maneira co-
todos os sentidos. �� a adolesc��ncia ex-
mo os dois se aproximaram um do ou-
plodindo em seus problemas; �� a curio-
tro, percebendo a exist��ncia de qual-
sidade sendo satisfeita; �� o aprendizado quer coisa entre eles.
18
��� Neg��cios! ��� exclamou.
��� Ela n��o sabe de nada ainda. Que-
Algumas garotas se aproximaram dela.
ro lhe fazer uma surpresa. N��o se pre-
��� Kika, d�� uma carona para n��s! ��� ocupe quanto �� legalidade do documen-
to assinado apenas por mim, pois te-
pediu uma delas.
nho uma procura����o de M��rcia para
��� Sim, c l a r o . . . Neg��cios! Que diabo
isso. O documento est�� registrado e ��
�� isso?
perfeitamente v��lido.
As outras se entreolharam, sem com-
��� Eu n��o me preocupava com isso ���
preender. Olhando na mesma dire����o
que ela, no entanto, viram Marisa e Sil-
ela disse, devolvendo-lhe o documento.
vio conversando. Aquilo foi uma surpre-
��� N��o precisa isso.
sa geral e, seguramente, seria ainda
��� Eu fa��o quest��o. �� a ��nica manei-
muito comentado naquele dia. Afinal, ra de aceitar seu empr��stimo ��� ele dis-
S��lvio era o mais desejado garot��o da se, com orgulho.
cidade, embora sempre se mostrasse dis-
Ela sorriu. Dobrou o papel e guar-
tanciado de qualquer conquista. Seu en-
dou-o na bolsa, retirando dali os cin-
contro com Marisa, portanto, agu��aria q��enta mil cruzeiros. S��lvio os recebeu a imagina����o de todas quantas o dese-com uma express��o at��nita no rosto.
javam.
Segurou as notas nas m��os, exami-
nando-as, calculando quanto tempo
* * *
aquilo lhe poupava, dimensionando a
realiza����o de seus sonhos.
Sentados, agora, no interior do carro
��� E agora que fechamos nosso ne-
de Marisa, os dois jovens se olhavam. g��cio, que tal me convidar para almo-
Silvio retirara um documento de um de
��ar ��� sugeriu ela.
seus bolsos e o entregara �� garota.
��� Sim, por que n��o? ��� concordou
��� Voc�� n��o precisava fazer isso ��� ele, sorridente. ��� Com isto aqui e o res-
ela disse, com ternura, muito calma, em-
tante que temos, posso come��ar imedia-
bora sua manh�� tivesse sido muito mo-
tamente as reformas do barrac��o e pre-
vimentada.
parar o "Pl��stic Place" para ser inaugu-
No intervalo entre as aulas, havia cor-
rado em dois meses, no m �� x i m o . . .
rido at�� o centro da cidade e empenha-
Na alegria que via no rosto dele, M a -
do algumas j��ias, o bastante para con-
risa encontrava sua melhor recom-
seguir os cinq��enta mil cruzeiros que pensa.
ele precisava. Tinha-os, agora, em sua
* * *
bolsa, e em momento algum se arrepen-
dia do que fizera. Teria muito tempo
Enquanto o carro se afastava, K i k a e
para pensar nisso depois. O importante as amigas acompanhamam-no pensati-
era poder ajud��-lo.
vamente. Estiveram o tempo todo obser-
��� N��o �� um documento especial, mas
vando os dois, no carro de Marisa. A g o -
lhe dar�� a garantia para o empr��stimo
ra se entreolhavam. K i k a era a mais
��� disse ele. ��� Trata-se de uma op����o
preocupada de todas. Afinal, na tarde
de venda com recibo de sinal. Tradu-
anterior, tivera motivos para acreditar
zindo em mi��dos, voc�� tem a op����o de
que S��lvio lhe seria uma presa f��cil.
compra do meu terreno, j�� tendo e f e -
��� Bem que a S��nia havia dito, mas
tuado um pagamento inicial de cinq��en-
eu n��o podia mesmo acreditar ��� co-
ta mil. Se, por um problema qualquer,
mentou uma das garotas.
eu n��o puder pagar, voc�� tem direito
��� O que a S��nia disse? ��� quis saber
de vender a outra pessoa o im��vel e Kika.
recuperar o que me emprestou.
��� Que os viu juntos ontem �� noite,
��� N��o precisava fazer isso, S �� l v i o . . .
num barzinho, e que depois haviam sa��-
E sua irm��, o que diz disso? ��� indagou,
d o . . .
ao ver, pelo documento, que o im��vel
��� N��o entendo mais nada ��� desa-
era de S��lvio e da irm��.
bafou Kika. ��� Primeiro todo mundo sa-
19
be que S��lvio sempre evitou qualquer
��� Ora, isso �� evidente ��� riu uma de-
abordagem. Havia at�� uma ligeira las, embora Kika n��o visse gra��a algu-
suspeita sobre ele, mas eu jamais acre-
ma naquilo.
ditei. Agora ele se encontra abertamen-
��� Vamos descobrir o que est�� haven-
te com a Marisa e ningu��m sabe por do, turma. N��o vou entregar os pontos
q u e . . .
assim t��o f��cil ��� prometeu.
CAP��TULO 6
Naquela tarde, Moreira aguardava
��� N��o se eu souber conduzi-lo. Para
com impaci��ncia a defini����o a ser dada todos os efeitos, j�� realizei o neg��cio.
pelo Dr. Miguel, para dar in��cio �� tran-
Podemos deixar todos os pap��is prontos
sa����o com o grupo paulista. O neg��cio e, caso o im��vel esteja desimpedido, as-seria extremamente interessante, pois o sinaremos amanh�� cedo e j�� faremos
lucro a ser obtido seria l��quido. Dois o registro, antes que ele possa tomar milh��es de cruzeiros pela assinatura de
alguns pap��is.
qualquer outra provid��ncia.
��� �� uma sa��da, mas por que n��o es-
De maneira alguma o preocupava
qualquer poss��vel reclama����o dos jo-
pera at�� amanh��?
vens a quem lesaria. Como das outras
��� Quando h�� dois milh��es em jogo,
vezes, Miguel saberia como contornar meu caro, detesto deixar qualquer coisa legalmente a situa����o. Afinal, deveria para amanh�� ��� riu Moreira. ��� Vou fa-fazer por merecer sua gorda comiss��o. lar com o rapaz.
Pouco antes das quatro da tarde, re-
��� Est�� bem, como quiser. E n��o se
cebeu o telefonema que vinha aguar-
preocupe com qualquer outro detalhe
dando.
em rela����o a eles. Entre aqueles pap��is
��� Moreira, a situa����o �� a seguinte que voc�� me trouxe h�� alguns recibos
��� come��ou o Dr. Miguel. ��� A procura-
que podem ser alterados, provando que
����o �� v��lida ainda. N��o foi revogada. voc�� lhes prestou contas da venda do
Resta saber se o im��vel ainda �� deles im��vel. Fique tranq��ilo quanto a isso.
e se n��o se encontra onerado ou su-
jeito a qualquer problema. Estive no
��� Excelente, Miguel. Voc�� vale cada
cart��rio, mas n��o foi poss��vel verificar centavo que cobra ��� gargalhou Morei-de imediato. Deveremos aguardar at�� ra, satisfeito da vida.
amanh��, quando conseguirei uma certi-
O corretor deixou seu escrit��rio e foi
d��o. Ali��s, ela ser�� mesmo necess��ria at�� a casa de S��lvio e M��rcia, mas n��o para sua transa����o...
encontrou nenhum deles. M��rcia ape-
��� N��o se pode adiantar nada hoje, nas retornaria ao anoitecer. S��lvio es-
ent��o? ��� quis saber Moreira, decepcio-
tava com Marisa, tratando das compras
nado.
para iniciar a prepara����o do "Plastic
��� Ser�� prudente aguardar at�� ama-
Place". Moreira n��o se importou. Sa-
nh��. N��o h�� meios de saber como se bia que poderia encontrar S��lvio no
encontra o im��vel antes da certid��o.
"Wheels", �� noite, por isso retornou ao
��� H�� um meio ��� lembrou ele.
escrit��rio e tratou de preparar os pa-
p��is para o dia seguinte.
��� Qual?
��� Perguntar ao propriet��rio.
* * *
��� Fora de cogita����es, Moreira. Lem-
bra-se que basta ele revogar aquela pro-
M��rcia estava terrivelmente nervosa
cura����o para que voc�� fique na m��o.
naquele anoitecer. Sua amiga lhe trou-
20
xera os falsos resultados do "exame"
Veladamente ele indagou sobre o as-
que fizera. Durante o dia, Ricardo havia
sunto que o aborrecera e perturbara du-
ligado algumas vezes, indagando-lhe a rante todo o dia. M��rcia saiu-se com
respeito do assunto. Em nenhum mo-
uma desculpa qualquer. Ele prometeu
mento ela tivera coragem de confirmar v��-la no dia seguinte e desligou. A irri-sua mentira.
ta����o e o nervosismo eram claros em
Sabia, no entanto, que teria de faz��-
sua voz.
lo. S��lvio precisava daquele dinheiro e
M��rcia, ao desligar, sentiu-se alivia-
Ricardo poderia ser o benfeitor, ainda da. N��o precisaria iniciar de imediato que �� custa de uma s��rdida farsa.
a sua farsa, embora soubesse que n��o
A garota reconhecia que n��o seria f��-
poderia, tamb��m, adi��-la indefinida-
cil fazer aquilo. O que houvera entre mente.
ela e Ricardo sempre fora de comum
acordo, sem qualquer promessa, como
se, nos momentos certos, estivessem dis-
postos a fazer de suas vidas um encon-
Estavam no carro de Marisa, diante
tro gratificante, sem qualquer conse-
da casa de S��lvio. Anoitecera e se sen-
q����ncia.
tiam cansados pela longa maratona en-
frentada durante a tarde. A felicidade,
Um detalhe, por��m, perturbava-a ain-
por��m, era maior que o cansa��o e se
da mais que todos os outros. O que fa-
espelhava no sorriso permanente em
ria se Ricardo assumisse as conseq����n-
seus l��bios e no brilho incans��vel de
cias desse relacionamento sem compro-
seus olhares.
missos, dispondo-se a se responsabili-
zar, a casar-se com ela, por exemplo?
��� Voc�� vai ao "Wheels" ainda hoje?
��� quis saber ela.
N��o estava preparada para aquilo.
N��o sabia se o amava. Ele era agrad��-
��� Vou acertar minhas contas. Acho
vel, simp��tico, amoroso, um amante vi-
que vou precisar de todo o meu tempo
ril e h��bil, mas jamais o olhara como dispon��vel, agora, para tornar o "Plas-um poss��vel marido. Aquele toque de tic Place" uma realidade ��� disse ele.
cumplicidade, aquele acento de mal��cia
��� Voc�� est�� muito feliz, n��o est��? ���
que havia em seus encontros tornava-o indagou ela, embora fosse uma tolice
mais fascinante que qualquer outro. perguntar.
Talvez isso fosse o que tornava aquele
��� Sim, e devo tudo a voc�� ��� agra-
relacionamento t��o interessante. Que-
deceu ele, aproximando-se dela e to-
rer modific��-lo seria estrag��-lo.
mando-lhe as m��os.
Por outro lado, nada poderia restar
Levou-as aos l��bios. Eram macias,
dele, ap��s o que se dispunha a fazer. E
com um perfume feminino e suave. Bei-
teria de faz��-lo naquele mesmo anoite-
jou-as alternadamente. Marisa estava
cer, quando ele viesse busc��-la para le- tr��mula, sentindo-se impotente para
v��-la para casa, conforme prometera conter a for��a daquele sentimento que
em seu ��ltimo telefonema.
a incendiava.
Teria de encar��-lo e mentir-lhe. Te-
Segurou o rosto dele entre suas m��os
ria de cobrar-lhe pela farsa e, na ale-
e atraiu-o para si, beijando-o, mordis-
gria de S��lvio, encontrar sua compen-
cando-lhe os l��bios, acariciando-os com
sa����o.
sua l��ngua.
De repente, algo em que n��o havia
Chamas arderam no interior de S��l-
pensado veio abalar-lhe a sua j�� vaci-
vio, entontecendo-o. O sabor de desejo
lante decis��o: como explicar a S��lvio a e de oferenda daquele beijo despertou-origem do dinheiro.
lhe violentamente os instintos de ma-
Algu��m veio avisar-lhe que havia um cho. Ele quis sentir as formas daquele
telefonema para ela. Deveria ser Ricar-
corpo, a maciez daquelas carnes, a las-
do. Correu a atender. Ele se desculpava
civa anatomia do amor.
por n��o poder ir busc��-la, pois surgira
Seus corpos se remexeram inquietos
uma emerg��ncia que deveria atender.
dentro do espa��o ex��guo, extravasando
21
desejos e emo����es nos beijos mais alu-
��� Apaixonado? Ora, at�� que enfim!
cinantes e nas car��cias mais fortes.
E quem �� a feliz garota que conquistou
Separaram-se ofegantes, quando o fa-
seu cora����o?
rol de um carro iluminou-os. Ficaram se
��� Seu nome �� Marisa ��� come��ou ele,
olhando emocionados, assustados com a contando-lhe a respeito dos dois, mas
for��a daquele momento, compreendendo
omitindo tudo aquilo que se relaciona-
que n��o mais poderiam interromper va ao "Plastic Place".
aquela busca desenfreada, aquele dese-
Quando terminou, sua alegria havia
jo louco de se encontrarem e se com-
contagiado a irm��, que o abra��ou com
pletarem.
carinho.
��� Onde voc�� vai, depois do "Wheels"?
��� Espero que ela seja uma boa ga-
��� Indagou ela, a voz tr��mula e emo-
rota mesmo, S �� l v i o . . .
cionada.
��� �� uma boa garota, M��rcia. Ela ��
��� Sair com voc�� ��� afirmou ele, surpreendente, �� incr��vel. Voc�� a conhe-
olhando-a seriamente.
c e r �� . . . Sim, esta noite mesmo voc�� a
��� Onde o encontro?
conhecer�� ��� prometeu ele, indo para
o banho.
��� No "Wheels" mesmo, depois das no-
Aquela noite prometia ser especial.
ve, est�� bem?
Primeiro teria de acertar suas contas
��� Depois das nove ��� aceitou ela, se-
no atual emprego. Sentia de ter de fa-
micerrando os olhos e estendendo os z��-lo, mas era necess��rio. O pessoal era bra��os.
muito bom e n��o criaria obst��culos. T i -
Seus l��bios se entreabriram, ��midos e nham um acordo entre eles. Desde que
tentadores. Os de S��lvio pousaram so-
come��ara a trabalhar l��, S��lvio sempre
bre eles, sugando-os e mordiscando-os, deixara claro que um dia os deixaria, enquanto suas m��os iniciavam um ca-talvez abruptamente. A id��ia do "Plas-
minho novo de descobertas sobre o cor-
tic Place" vivia em sua mente e, quan-
po dela, tocando-lhe os joelhos, empur-
do conseguisse o suficiente para reali-
rando a saia para cima, penetrando no z��-la, passaria a dedicar-lhe toda a sua morno e palpitante caminho da lux��ria. aten����o.
Ela se separou dele com um estremeci-
Por outro lado, havia agora Marisa,
mento. A indecis��o e o desejo moldavam
entrando em sua vida, prometendo mu-
uma curiosa m��scara de frustra����o em dar seus h��bitos, seguramente mudan-
seu rosto.
do-lhe todo o futuro.
��� Depois das n o v e . . . ��� ela sussur-
Ela chegara com algo novo, com emo-
rou, beijando-o apressadamente.
����es novas, com promessas capazes de
��� Depois das nove! ��� prometeu ele,
derreter todo o gelo que cultivara em
deixando o carro.
seu cora����o.
A lembran��a de seu corpo, de seu per-
S��lvio foi para casa, ansioso para con-
fume, de sua voz mansa e cativante, de
tar pelo menos alguma coisa daquelas sua pele macia e morna, de seus beijos
novidades todas �� irm��. M��rcia prepa-
alucinantes, tudo fazia girar sua cabe��a
rava o jantar e parecia estranha. Em como a mais louca das sensa����es.
sua euforia, S��lvio n��o podia observar
nada disso.
Jantou apressadamente e deixou M �� r -
cia, prometendo-lhe trazer Marisa na-
Abra��ou-a e girou-a ao redor de si, quela mesma noite, para que se conhe-
surpreendendo-a.
cessem. Rumou para o "Wheels". Quan-
��� Ei! O que foi? ��� indagou ela.
do se aproximava do local, um carro pa-
Ele a olhou de frente. Tinha tantas rou a seu lado e algu��m desceu, cha-
coisas a lhe contar, mas a tenta����o de
mando por ele.
deixar a maior surpresa para depois o
Voltou-se para encarar, com profun-
venceu.
do desprezo e muito ��dio, a face do ho-
��� Estou apaixonado! ��� declarou.
mem que os havia enganado.
22
��� O que quer? ��� indagou, rispida-
vou permitir ��� respondeu ele, ofegan-
mente.
te, encontrando o que procurava.
O outro se aproximou com um sorriso
Era uma pequena caixa, com man-
c��nico nos l��bios. Encarou-o. S��lvio es-
chas de ��leo. Abriu-a e retirou dali um
tremeceu, desejando esmurrar-lhe a ca-
velho rev��lver, com algumas c��psulas.
ra at�� tirar dela aquele sorriso que o Municiou a arma, enquanto M��rcia o
enraivecia.
fitava aterrorizada.
��� Vamos ser r��pidos e objetivos, meu
��� S��lvio, o que pretende fazer? ���
caro ��� disse Moreira. ��� Estou venden-
indagou, num fio de voz.
do aquele im��vel seu na Rua Goi��s...
��� Ele n��o vai nos tomar aquele im��-
S��lvio estremeceu, incapaz de aceitar vel ��� prometeu ele, saindo apressado.
o que o outro lhe dizia.
Ela o chamou, insistiu para que vol-
��� Voc�� deve estar louco se pensa que
tasse, mas ele n��o lhe deu ouvidos. M��r-
vou concordar com isso...
cia ficou ali, tr��mula, olhando-o subir
��� N��o h�� o que concordar, S��lvio. a rua decididamente. Levava um rev��l-
Tenho tudo nas m��os e vou faz��-lo. N��o
ver e muito ��dio. Poderia desgra��ar pa-
h�� nada que voc�� possa fazer.
ra sempre o seu futuro e ela sofreu ter-
rivelmente a impot��ncia diante do fato.
��� N��o, dessa vez n��o ser�� como das Sabia o que o im��vel poderia significar
outras, Moreira. Aquele im��vel �� meu, para ele, mas o rev��lver n��o seria a so-tenho planos para ele e . . .
lu����o.
��� Que planos?
Saiu desesperada em sua persegui����o,
��� N��o lhe interessa...
embora n��o soubesse ao certo para onde
��� Voc�� o vendeu, hipotecou ou est�� ele ia.
com algum problema com os impostos?
��� perguntou o corretor, percebendo que
* * *
seria f��cil confirmar a situa����o do im��-
vel.
Marisa estava no "Wheels", procuran-
do por S��lvio. Indagou a algumas ami-
��� Ele est�� limpo e �� meu. Voc�� n��o gas que se encontravam �� beira da pis-
vai tom��-lo, Moreira, isso eu prometo.
ta. Nenhuma delas o vira. Procurou-o,
��� Voc�� j�� o perdeu, S��lvio. Tenho tu-
ent��o, no escrit��rio. Ali informaram que
do legalizado. Adeus! ��� disse Moreira, ele n��o havia aparecido ainda, embora voltando para o carro.
j�� estivesse atrasado.
S��lvio ficou im��vel na cal��ada, tre-
Tomou o carro, ent��o, e foi procur��-lo
mendo dos p��s �� cabe��a, angustiado e em casa. Estranhou encontr��-la aberta,
assustado. Moreira n��o o procuraria da-
com as luzes acesas, mas, apesar de ha-
quela forma se, como das outras vezes, ver insistido na campainha, ningu��m a n��o tivesse tudo preparado.
atendeu.
N��o sabia que artimanhas ele pode-
Entrou, ent��o, chamando por ele. N��o
ria estar usando. O certo era que per-
havia ningu��m na casa e isso a deixou
deria o im��vel e, com ele, todas as suas
assustada. Algo de grave deveria ter
esperan��as.
acontecido para que deixassem a casa
Pensou em M��rcia e em Marisa, nos daquela forma.
planos todos, e um ��dio irracional to-
Quando sa��a, ouviu um choro deses-
mou conta dele. Correu de volta para perado, e M��rcia vinha entrando. As
casa. M��rcia o viu chegar alterado e as-
duas se encararam com surpresa.
sustou-se.
��� Quem �� voc��? ��� indagou M��rcia.
��� S��lvio, o que foi? ��� indagou ela,
��� Meu nome �� Marisa... Procuro
enquanto ele remexia uma velha mala por S��lvio...
que fora de seu pai.
��� Aquele carro ali fora �� seu?
��� Moreira me procurou agora. Disse
��� S i m . . . mas o que houve? Parece-
que vai tomar o nosso terreno. Eu n��o me q u e . . .
23
��� Ent��o n��o temos tempo a perder. sado pelo medo. Se fizesse qualquer mo-Temos de ir �� pol��cia, atr��s de S��lvio, vimento, S��lvio poderia disparar.
fazer alguma coisa ��� disse M��rcia, vi-
��� Est�� bem, baixe essa arma e va-
sivelmente perturbada com os aconte-
mos conversar com calma ��� pediu Mo-
cimentos.
reira.
��� Espere um pouco, por favor! ��� pe-
��� Eu o conhe��o, voc�� �� um trapacei-
diu-lhe Marisa. ��� O que est�� havendo?
ro, um miser��vel, e n��o vai nos roubar
Onde est�� S��lvio?
como das outras vezes. Quero os do-
Em r��pidas palavras M��rcia a p��s a cumentos que disse t e r . . .
par do que houvera.
��� Se esperar um instante, vou l��
��� Mas esse Moreira pode fazer isso dentro apanhar e . . .
mesmo? ��� indagou, quando M��rcia ter-
��� N��o! ��� gritou S��lvio. ��� Abra o
minou.
port��o e irei com voc��. Vamos ande logo!
��� Tenho certeza que sim. Agora pre-
Moreira se aproximou. A m��o de S��l-
cisamos impedir S��lvio de fazer uma vio estava al��m das grades do port��o,
loucura.
empunhando a arma. Num movimento
��� Sabe onde mora esse Moreira?
que teve muito de desespero. Moreira
��� Sim. vamos atr��s de S��lvio...
segurou-lhe o pulso, torcendo-o contra
��� Primeiro �� preciso fechar a casa a grade e tirando-lhe o rev��lver.
- recomendou Marisa, e as duas tra-
S��lvio ficou im��vel, at��nito enquanto
taram de fazer isso o mais depressa pos-
o outro lhe apontava a arma.
s��vel.
��� Voe vai me paear nor isso, rapaz!
* * *
��� disse Moreira, indignado.
S��lvio, ent��o, foi recuando para a rua,
Parado diante do port��o, S��lvio reco-
sentindo-se derrotado e humilhado.
nheceu o carro de Moreira, o que signi-
��� Voc�� j�� perdeu aquele maldito ter-
ficava que ele j�� se encontrava em ca-
reno ��� gritou Moreira, enquanto S��l-
sa. Apertou a campainha, depois sacou vio, na rua. caminhava tropegamente
o rev��lver, que tremia em sua m��o.
sem destino algum.
Uma empregada surgiu no jardim.
M��rcia e Marisa chegaram algum
��� Preciso falar com o Moreira, �� ur-
tempo depois, ouvindo do Irritado Mo-
gente ��� disse-lhe o rapaz.
reira toda a vers��o dos fatos. De algu-
A mulher entrou e, minutos depois, ma forma, as duas se sentiram alivia-
Moreira sa��a pela porta. Ao reconhecer das, j�� que o pior havia sido evitado.
S��lvio, fez um ar de enfado e irrita����o.
��� Onde acha que o encontraremos?
��� indagou Marisa.
��� O que quer aqui, rapaz? J�� lhe dis-
se, est�� tudo feito. �� bom que d�� o fora
��� N��o tenho a menor id��ia, Marisa.
antes que eu chame a pol��cia ��� foi di-
Talvez, passada a raiva, ele volte para
zendo.
casa. S��lvio sempre foi t��o ajuizado.
S��lvio apontou-lhe a arma e Moreira
��� Est�� bem, vamos voltar para l��,
silenciou, empalidecendo.
ent��o, e esper��-lo. Vou passar em casa
��� Espere a��, rapaz, n��o v�� fazer ne-
e apanhar algumas roupas. Se ele vol-
nhuma loucura ��� disse, com a voz tar muito tarde eu dormirei l��.
tr��mula.
��� Certo ��� concordou M��rcia, simpa-
��� Aquele terreno �� meu e n��o vou tizando muito com a garota de seu ir-
deixar que voc�� o tome de mim ��� ju-
m��o.
rou S��lvio, transtornado, l��grimas es-
* * *
correndo-lhe pelo rosto.
Moreira percebeu o estado em que ele
Kika ergueu o rosto e encarou S��lvio.
se encontrava e o perigo que isso re-
N��o conseguia entender nada do que
presentava. Estava, no entanto, parali-
ele dizia, mas o fato de encontr��-lo ali,
24
naquele barzinho, solit��rio e ligeiramen-
to acr��lico. Uma enorme cama redonda,
te alterado, a fizera se agarrar �� chan-
com um console �� cabeceira, onde havia
ce de envolv��-lo.
uma s��rie de bot��es, postava-se no cen-
S��lvio falava de um terreno, de um
tro do aposento.
lugar maravilhoso, de luzes e espelhos
Ao fundo, junto ao arm��rio, um ba-
e por momentos, ela julgou que ele esti-
nheiro enfeitado com flores e plantas
vesse drogado. No entanto, apenas al-
naturais, harmonizando-se com o verde
guns copos de chope haviam sido inge-
predominante dos azulejos e lou��as.
ridos pelo rapaz. De alguma forma ele
K i k a moveu-se com uma naturalida-
estava nervoso demais e ela desejou po-
de que o surpreendeu. Primeiro ela se
der acalm��-lo.
despiu, exibindo seu belo corpo, de seios
Conseguiu lev��-lo para o carro. Ele fa-
pequenos e rijos, cintura afunilada, co-
lava de um terreno que perderia. Kika, xas torneadas com perfei����o. Caminhou ent��o, lhe disse:
at�� o banheiro e tomou uma ducha de-
��� Eu lhe compro outro, querido. Bas-
morada. Depois voltou e se estendeu na
ta voc�� escolher.
cama, refletindo-se nos espelhos.
Ele a olhou, sem entender, depois r e -
S��lvio a olhava surpreso ainda, mas o
laxou-se no assento, suspirando profun-
apelo daquele corpo nu, onde se acumu-
damente.
lavam gotas mal-enxugadas foi mais
��� Quer que eu o leve a algum lugar?
forte que qualquer outra coisa.
��� Tanto faz ��� respondeu ele, pen-
Ele se despiu e foi para o banheiro,
sando em Marisa.
de onde retornou gotejante, para se es-
Fracassara em seus planos, n��o por tender ao lado dela e fit��-la com de-
culpa sua, mas por haver se envolvido sejo. A emo����o fazia brilhar os olhos
com algu��m t��o trapaceiro como M o -
de Kika. Seus l��bios ��midos se entrea-
reira. N��o sabia o que fazer. O "Plastic
briram. Suas m��os se estenderam para
Place" era o sonho de sua vida, era seu
tocar-lhe o corpo jovem e m��sculo.
presente a M��rcia, era seu pr��prio fu-
��� Relaxe, meu querido ��� pediu ela,
turo.
os seios ofegando agora, as m��os subin-
Sem ele n��o havia raz��o para mais do pelo peito dele, acariciando-lhe o ros-
nada, muito menos para alimentar es-
to e firmando-se entre seus cabelos para
peran��as de voltar a encarar Marisa. atra��-lo para um contato mais ��ntimo
Isso era extremamente doloroso.
entre seus corpos.
O carro se moveu. Ao volante, K i k a
Um abra��o fogoso e inquieto os uniu,
sorria com satisfa����o, enquanto dirigia. enquanto se acariciavam numa paix��o S��lvio n��o prestou aten����o para onde avassaladora. Seus l��bios se esfregavam ela o levava, mergulhado em seus pen-com provoca����o e suas peles se aque-
samentos, confuso pela frustra����o e pe-
ciam no jogo excitante do amor.
la impot��ncia.
Completamente envolvido pelos en-
Era um motel luxuoso, afastado da ci-
cantos daquela garota arrojada. S��lvio
dade. Ela manobrou o carro para a ga-
atirou-se ao inquietante trabalho de
ragem, depois desceu para arriar a co-
reconhecer todos aqueles contornos,
bertura. S��lvio saiu em seguida, olhan-
massageando-os, pressionando-os, c o -
do-a sem compreender.
brindo-os com beijos.
��� Onde estamos? ��� indagou.
Suspiros emocionados escapavam dos
��� Julguei que voc�� precisaria de um
l��bios da garota, que retribu��a as car��-
local adequado para pensar e descansar cias, enla��ando-o, enroscando-se a ele, um pouco. Parece-me muito confuso ���
esfregando suas peles num ritmo de alu-
ela disse, abrindo a porta e entrando.
cina����o.
Ele a seguiu. Havia uma ante-sala
O del��rio tomou conta de seus corpos,
confort��vel, antes do quarto decorado e abandonaram-se totalmente aos ca-
em estilo moderno, com espelhos e mui-
prichos do prazer.
25
C A P �� T U L O 7
Amanhecera. Pardais chilreavam nas
��� O que sabe sobre o "Plastic Place"?
��rvores que margeavam a rua. Um sol
��� indagou M��rcia, com surpresa.
vigoroso surgia no horizonte, banhando
Marisa lembrou-se de que tudo deve-
a cidade, provocando reflexos nos v i -
ria ter sido uma surpresa para ela. A g o -
dros dos pr��dios. A cidade acordava.
ra, no entanto, j�� n��o havia mais por
No interior da casa, um cheiro de ca-
que esperar. Contou-lhe tudo que hou-
f�� coado espalhava-se agradavelmente. vera entre ela e S��lvio, o dinheiro que M��rcia fora at�� a panificadora ali per-lhe emprestara, as provid��ncias que j��
to e trouxera p��es quentes. A mesa sim-
haviam tomado.
ples estava posta. Marisa se sentou com
��� Compreendo melhor agora o de-
des��nimo e encarou M��rcia.
sespero dele ��� solu��ou M��rcia. ��� Deve
��� Eu sinto muito, Marisa! Eu n��o haver um modo de n��o deixar que tudo
sei o que o levou a fazer isso. Como eu
isso v�� por ��gua abaixo.
disse antes, S��lvio sempre foi muito ajui-
��� Se ao menos soub��ssemos o que
zado. . .
esse Moreira tem para fazer, o que
��� Eu conhe��o a Kika, ela n��o perde
prometeu fazer... Deve estar bem escuda-
tempo. Quando deseja alguma coisa, faz
do legalmente. N��o se arriscaria a... Es-
tudo para consegui-lo. S�� n��o consigo pere! H�� um modo de descobrirmos
entender por que ele n��o me procurou. isso.
Pensei que estre n �� s . . .
��� Como?
��� Mas ele est�� apaixonado por voc��
��� Deixe comigo! ��� falou Marisa,
��� assegurou M��rcia, lembrando-se do apanhando sua bolsa e as chaves do
que S��lvio lhe dissera na noite anterior. carro. ��� Deixe comigo! ��� repetiu, ��
��� No e n t a n t o . . . ��� tentou dizer M a -
porta, j�� saindo.
risa, mas calou-se.
Marisa passou em sua casa, tomou
Na noite anterior, ap��s passarem em um banho r��pido, depois foi para a Uni-
sua casa para apanhar roupas, foram versidade. N��o a perturbava perder suas
para a casa de M��rcia. Como a pre-
aulas naquele dia. O importante era so-
ocupa����o fosse muita, sa��ram novamen-
lucionar o problema que afligia os dois
te para procurar por S��lvio. Chegaram irm��os.
ao barzinho no momento em que ele su-
Uma vez l��, procurou alguns amigos
bia no carro de Kika. Marisa ficara at��-
do curso de Direito, contando-lhes o
nita, chocada. Depois, quando o outro que havia. Para apresentar qualquer su-ve��culo se afastara, M��rcia insistira pa-
gest��o, era preciso que tivessem mais
ra que o seguissem. Marisa acabou con-
detalhes. Tornava-se importante saber
cordando, muito embora tivesse lamen-
que tipo de documentos Moreira dispu-
tado isso mais tarde, quando o viram nha para se atrever a levar adiante
entrar no motel.
aquele neg��cio escuso.
Apesar da surpresa e da frustra����o,
��� Como podemos fazer isso? ��� inda-
mantivera a promessa de ficar com gou Marisa.
M��rcia naquela noite. Sabia que ela es-
Um dos rapazes, do ��ltimo ano, cha-
tava nervosa e que precisaria de com-
mou-lhe a aten����o e disse:
panhia.
��� A ��nica maneira �� irmos at�� l��.
��� O que vai fazer agora? Marisa? ���
Podemos nos apresentar como advoga-
indagou-lhe M��rcia.
dos de S��lvio e verificar o que ele tem
Marisa terminou o caf��, depois acen-
de positivo que o habilite a efetuar o
deu um cigarro. Fitou a amiga pensati-
neg��cio.
vamente.
��� Podem fazer isso?
��� Talvez devesse lutar por S��lvio,
��� Sim, eu vou ��� prontificou-se ele.
mas n��o sei se ele merece isso, depois
��� ��timo, vamos para l��, ent��o!
do que f e z . . . Ainda assim, sei o que o
"Plastic Place" representa para e l e . . .
* * *
26
M��rcia estava se preparando para
Ao volante, olhou-a. N��o parecia um
sair, quando um carro estacionou �� por-
homem triste ou decepcionado. O sor-
ta. Pensou que fosse S��lvio e correu at�� riso em seus l��bios era de puro al��vio.
l��. Era Ricardo, no entanto. Ela o rece-
Assim que o carro se afastou, M��rcia
beu com frieza, sem se importar com o voltou para dentro da casa e apanhou
nervosismo que via nele.
o envelope em sua bolsa. Rasgou-o em
��� Precisamos esclarecer tudo isso, pedacinhos, depois atirou-o na lata de
M��rcia. Voc�� fez o exame? Qual o re-
lixo. N��o havia nada dentro dela, ne-
sultado?
nhum sofrimento, nenhum ressentimen-
A noite maldormida, as preocupa����es to. Apenas um ligeiro vazio que ela se-
com S��lvio, a inutilidade de qualquer guramente aprenderia a preencher com
farsa agora a fizeram decidir-se. Dese-
as coisas certas.
jou, por��m, saber que papel desempe-
* * *
nhava na vida de Ricardo. Para ela era
importante saber isso.
Os jovens haviam aguardado at�� as
��� Por que a sua preocupa����o, Ricar-
dez da manh��, quando, ent��o, Moreira
do? ��� indagou-lhe.
chegou ao seu local de trabalho. Ap��s
��� Ora, que pergunta, M��rcia. Voc�� co-
a entrevista com ele, sa��ram desolados.
nhece minha posi����o, sabe que algo as-
Marisa os esperava do lado de fora
sim pode me prejudicar...
do pr��dio, ansiosa por qualquer espe-
��� E se eu estiver gr��vida, Ricardo? ran��a. Ao v��-los chegar, no entanto,
Como vai ser?
percebeu que a situa����o estava defini-
Ele ficou encabulado e ainda mais da a favor de Moreira.
nervoso. Olhou-a fixamente, tentando
��� N��s sentimos muito, Marisa. O que
encontrar a verdade nos olhos dela.
ele tem �� bastante legal. Al��m disso, to-
��� Bem, a verdade �� que tenho um mou certas precau����es que, praticamen-
amigo... Ele �� m��dico e . . . Bem, voc�� te, tornam in��til qualquer coisa contra sabe o que eu quero dizer. Pastarei to-ele. A trama foi muito bem feita sob o
das as despesas, voc�� n��o precisa se aspecto legal. Ele tem uma antiga pro-
preocupar...
cura����o dos dois irm��os, para venda de
alguns im��veis. Parece-me que alguns
��� E se eu n��o quiser isso?
deles foram vendidos j��, restando esse
��� O que pretende fazer. M��rcia? Es-
��ltimo. A procura����o �� espec��fica e n��o
tragar minha carreira? Estou pleitean-
foi revogada. Seguramente um descuido
do uma bolsa de especializac��o nos Es-
da parte de S��lvio que vai lhe custar o
tados Unidos, tenho tudo para conse-
im��vel.
gui-la. Um esc��ndalo poria tudo a per-
��� Mas essa procura����o n��o pode ser
der e . . .
revogada agora, antes que ele fa��a al-
��� Chega, Ricardo! Tranq��ilize-se! guma coisa definitiva?
Sua carreira n��o ser�� estragada... Foi
��� Como eu disse, ele tomou certas
tudo um engano... Um engano apenas! precau����es. Demoramos justamente por-
Ele sorriu aliviado, depois segurou-lhe que ele demorou para chegar. J�� foi a as m��os, levando-as aos l��bios.
um cart��rio e registrou um compromis-
��� Vamos tomar mais cuidado da pr��-
so para venda do im��vel. N��s o vimos,
xima vez, n��o? ��� disse, insinuante.
�� legal. Significa que o im��vel est�� pra-
��� N��o haver�� pr��xima vez, Ricardo. ticamente vendido e, para ser desfeito,
agora, esse compromisso, S��lvio teria de
��� O que est�� dizendo? Voc�� sabe que pagar uma indeniza����o de um milh��o
eu e voc��...
de cruzeiros ao grupo paulista, interes-
��� J�� n��o temos mais nada em co-
sado na compra. O que resta a fazer ��
mum ��� sentenciou ela.
esperar que a venda seja feita. S��lvio
��� Fala s��rio mesmo?
poder��, ent��o, pedir uma presta����o de
��� Sim, falo s��rio mesmo.
contas, mas, como tudo at�� agora me
��� Est�� bem... Seja como quiser ��� parece muito bem feito, Moreira deve
ele disse, caminhando de volta para o estar preparado para isso. �� uma pena
carro.
mesmo. S��lvio perdeu o im��vel.
27
Marisa ficou perplexa, tentando acei-
Naquela tarde, S��lvio voltou a pro-
tar o fato, mas era imposs��vel. O sonho
cur��-la em sua casa, dessa vez a pre-
de S��lvio seria destru��do, atrav��s de texto de devolver-lhe o dinheiro do em-uma manobra revoltante.
pr��stimo. Ela o recebeu com rispidez,
Levou os rapazes de volta �� universi-
apanhou o dinheiro e tratou de despe-
dade, agradecendo-os pela boa vontade. di-lo rapidamente.
Depois foi at�� a casa de S��lvio. Preten-
Do��a-lhe fazer aquilo, mas estava in-
dia dar a p��ssima not��cia a M��rcia. timamente magoada pela atitude dele.
Quando chegou, encontrou S��lvio em lu-
Derrotado, S��lvio a deixou e, vendo-o
gar dela.
se afastar pela rua, ela sentiu pena dele.
O rapaz havia chegado pouco antes
O que estava lhe acontecendo n��o era
de M��rcia sair. Esta lhe havia contado f��cil de suportar. O desejo de correr tudo que ocorrera na noite anterior. Ele atr��s dele, de anim��-lo, de tentar, com se sentia envergonhado, principalmente ele, encontrar uma forma de evitar
ap��s tudo que ela fizera por ele.
aquela transa����o desonesta foi quase
Marisa fez um esfor��o enorme para irresist��vel.
manter a calma. Olhando-o, n��o podia
Talvez tudo fosse, afinal, uma boa li-
deixar de reconhecer que ainda o ama-
����o para ele. Depois, questionando-se,
va. Seu orgulho pr��prio, por��m, fora fe-
Marisa percebeu que n��o poderia ficar
rido e ela se sentia magoada com a ati-
longe dele indefinidamente, que n��o po-
tude dele.
deria tir��-lo de seus pensamentos e es-
��� Eu queria explicar q u e . . . ��� co-
quec��-lo.
me��ou ele, confuso e emoara��ado.
Qualquer coisa forte a unia a ele. Era
��� Esque��a! Quero lhe dizer apenas um sentimento que acalentara por mui-
que tentei salvar seu im��vel, mas Mo-
to tempo, que criara ra��zes profundas
reira foi mais esperto. Ele tem tudo nas em seu esp��rito.
m��os, n��o h�� como evitar.
Conviver com a desesperan��a total em
��� Marisa... Eu sinto muito. Esque��a rela����o a ele, imaginar que jamais vol-taria a ser abra��ada e desejada por ele,
o que houve e . . .
tudo isso era doloroso demais.
Ela lhe voltou as costas e caminhou
Sentiu-se abater por um grande de-
para o carro. Ele a seguiu, tentando p��r s��nimo, embora pretendesse reagir a em ordem seus pensamentos, procuran-isso. Voltaria a falar com M��rcia. Ve-
do descobrir uma forma de faz��-la com-
ria at�� que ponto S��lvio sentia realmen-
preender o que se passara, o que sen-
te o que houvera e se teria for��as para
tira, como se desorientara e se deixara se libertar das garras de Kika.
envolver por Kika.
Perd��-lo totalmente era algo que n��o
��� O im��vel n��o �� t��o importante poderia admitir. A necessidade de pen-
agora como voc��, Marisa ��� disse ele, sar no assunto, com calma, a fez ir at�� com sinceridade.
a piscina do clube, onde se exercitou
durante algum tempo.
��� Deveria ter pensado nisso antes,
S��lvio... ��� respondeu ela, num esfor��o
Quando saiu, gotejante e bela, foi pa-
supremo.
ra junto do bar e pediu um chope. Es-
tava pensando em tudo que acontecera,
��� Talvez o que tenha acontecido on-
quando algu��m chegou. Era o rapaz que
tem me fizesse ver realmente o que era
a ajudara de manh��, passando-se por
mais importante para m i m . . .
advogado de S��lvio.
��� C��modo para voc��, mas muito do-
��� Ol��, Pedrinho! ��� cumprimentou-o.
loroso para mim, S��lvio.
Ele se sentou e encarou-a. Era vis��vel
��� Alguma esperan��a para n��s? ��� no rosto dela a tristeza.
indagou ele, angustiado.
��� Como o rapaz recebeu a not��cia?
��� N��o sei, S��lvio. N��o s e i . . . ��� res-
��� indagou ele.
pondeu ela, acelerando o carro e se
��� Ele tinha planos para aquele im��-
afastando.
v e l . . . Planos imediatos e realmente lu-
crativos. Pode imaginar o que deve es-
* * *
tar sentindo, n��o?
28
��� ��, isso acontece. Pena que tudo te-
��� N��s lhe devemos muito, Marisa.
nha sido t��o bem feito. Aquela antiga Por que n��o conta isso ao S��lvio pes-
procura����o complicou tudo.
soalmente?
��� N��o haveria um meio de anul��-la?
��� N��o, ainda n��o. Quero Ver como
��� N��o, pois se trata de uma procura-
ele se comporta em rela����o a Kika. N��o
����o espec��fica para venda de determi-
sei o que vai permanecer dessa aven-
nados im��veis. Apenas a venda comple-
tura deles. De qualquer forma, quando
ta de todos eles a tornaria nula ou sua eu resolver como ser�� entre n��s, n��o revoga����o, por vontade de S��lvio.
quero nada nos amea��ando. Acho que
��� Quer dizer que, em fun����o daque-
compreende, n��o? Pegue este envelope.
la procura����o, o pr��prio S��lvio n��o po-
A�� est��o os cinq��enta mil que empres-
deria vender o im��vel?
tei a S��lvio. O neg��cio continua de p��.
Quero ver o "Plastic Place" inaugurado
��� N��o, ele poderia. Se o fizesse, tor-
naria nula a procura����o. Mas ele n��o tamb��m ��� sorriu ela.
fez isso, n��o ��?
* * *
��� N��o, n��o o fez... Mas me deu um
documento... ��� lembrou-se ela, de re-
Quando S��lvio ouviu da irm�� a boa
pente. ��� Uma op����o de venda com re-
not��cia, desejou ir imediatamente �� pro-
cibo de sinal, foi como ele disse.
cura de Marisa para agradecer-lhe e, ao
��� Est�� registrado? ��� apressou-se em mesmo tempo, tentar reconquist��-la.
perguntar o rapaz.
��� N��o acho que deva fazer isso, S��l-
��� Sim, ele disse ter feito isso.
vio. Ela ainda est�� magoada com voc��,
��� Onde est�� esse documento?
mas garanto-lhe que n��o �� definitivo ���
��� Est�� comigo... Acho que o tenho disse ela, cumplicemente.
ainda em minha bolsa. �� importante?
��� Ainda assim, M��rcia. Devo muito a
��� �� a salva����o, Marisa. Vamos v��-lo ela, nossos sentimentos s��o os mesmos,
agora mesmo. Se for como voc�� disse, a por que evitar? Por que adiar algo que procura����o perde o valor e voc�� passa fatalmente vir�� a acontecer?
a ter mais direitos sobre o im��vel que
��� Antes de mais nada, h�� esse seu
o Moreira ��� disse Pedro e os dois se casinho com a Kika que precisa ser re-
apressaram em ir at�� o carro de Marisa solvido. Depois disso, temos um longo para se certificarem disso.
trabalho at�� inaugurar o "Plastic Pla-
Ao anoitecer, quando M��rcia deixava ce". Enquanto isso, o tempo se encar-a escola de dan��as, Marisa a esperava. regar�� de aparar as arestas que exis-
As duas se cumprimentaram carinhosa-
tem entre voc�� e ela. Depois disso, �� pre-
mente.
ciso um pouco de charme, de dificulda-
��� Entre, eu lhe dou uma carona. Pre-
de at�� para consolidar esse sentimento.
ciso mesmo falar com voc�� ��� disse Ma-
Voc�� a conhece h�� t��o pouco tempo...
risa e seu sorriso e sua incontida satis-
��� Sim, mas parece-me que j�� foi h��
fa����o agu��aram a curiosidade de M��r-
um s��culo ��� disse ele, saindo para a va-
cia.
randa da casa.
��� Voc�� est�� t��o feliz, o que houve?
Olhou a noite, os pr��dios iluminados
Voc�� e S��lvio...
ao longe, as estrelas que pareciam re-
��� N��o, nada disso, por enquanto. O fletir as luzes da cidade. Pensou que
im��vel est�� salvo, continuar�� sendo de em algum ponto daquela cidade havia
voc��s. Precisam, antes de mais nada, algu��m que o amava e que lutara por
revogar em cart��rio aquela maldita pro-
ele, sentindo-se invadir por uma impa-
cura����o. Depois disso, estar��o tranq��i-
ci��ncia sem limite.
los quanto a futuras manobras de Mo-
Era deliciosa a dor do amor, entran-
reira.
do sorrateira, machucando com insis-
��� Mas o que houve, afinal?
t��ncia, pondo na mente um desejo louco
Marisa contou-lhe, ent��o, tudo que de se agitar, de enfrentar perigos, de
houvera. Com uma satisfa����o indisfar-
arrasar obst��culos e ter a pessoa ama-
����vel, M��rcia a ouviu agradecida.
da junto de si.
29
Depois pensou no que M��rcia lhe dis-
��� O que houve ontem �� n o i t e . . .
sera. Havia um longo caminho a per-
��� Por que isso o preocuparia, S��lvio?
correr. As provid��ncias iniciais haviam
��� Voc�� se aproveitou de mim, n��o
sido tomadas. Tudo teria de ser feito
planejadamente, adequadamente.
foi?
��� Sim, e isso foi terrivelmente deli-
Ap��s o jantar, foi at�� o "Wheels" e
acertou suas contas. O pessoal sentiu cioso ��� riu ela, realmente divertida.
muito a sua partida, j�� que S��lvio era
��� �� dessa forma que encara a situa-
o principal respons��vel pela maci��a pre-
����o?
sen��a no local.
��� E de que outra forma eu deveria
�� sa��da, encontrou Kika, junto ao seu
encar��-la? Foi bom, foi divertido e n��o
carro, esperando por ele. Olhou-a demo-
precisa ser definitivo para que eu con-
radamente, depois se aproximou dela, serve de tudo uma boa recorda����o. Eu
procurando as palavras exatas para n��o sou assim, S��lvio. Talvez um pouco ego��s-feri-la.
ta, n��o sei. Alguns me acusam de usar
��� E ent��o? ��� indagou ela.
as pessoas, mas o que eu tirei de voc��,
��� Tudo bem ��� ele respondeu, apoian-
afinal? De alguma forma, voc�� tamb��m
do-se ao ve��culo, junto dela.
me usou. �� uma esp��cie de lei de com-
��� Algo o preocupa?
pensa����o, entende?
CAP��TULO 8
Aquela seria a noite decisiva nas vi-
cias de Marisa, no entanto, deixou-o em
das de S��lvio e Marisa. Os convites ha-
suspense, terrivelmente assustado ante
viam sido distribu��dos. Uma discreta a perspectiva de t��-la perdido para sem-campanha publicit��ria fora efetuada, j�� pre.
que o boato da inaugura����o de um novo
��� Nervoso, S��lvio? ��� indagou-lhe
e fant��stico local de patina����o espalha-
M��rcia, anos ter ido at�� a porta e obser-
ra-se logo pela cidade, suscitando co-
vado o movimento crescente de carros
ment��rios e curiosidade.
que chegavam.
O nome de S��lvio �� frente do empre-
��� Sim, bastante.
endimento fora o bastante para conven-
��� Fique tranq��ilo. J�� h�� uma peque-
cer as patinadoras da cidade de que o na multid��o l�� fora. Este local vai ser local seria extremamente interessante.
um sucesso.
Com a presen��a maci��a delas, os ra-
pazes viriam tamb��m, j�� que apenas
��� Sim, eu sei, mas n��o �� isso que me
dessa forma poderiam paquerar suas pa-
preocupa. Voc��, por acaso, viu se ela
tinadoras prediletas.
veio?
Um convite especial fora encaminha-
��� N��o, sinto muito. N��o a vi l�� fora.
do a Marisa, que n��o confirmara sua
��� Tudo bem ��� disse ele, consultan-
vinda �� inaugurac��o. Isso, nos ��ltimos do o rel��gio.
dias, provocara verdadeira agita����o no
Marcaram a inaugura����o para as dez
��ntimo do rapaz, que esperava, naquela da noite. O pessoal ajudante j�� estava noite de sonhos, realizar aquele que se a postos. O barzinho aguardava apenas tornara, agora, o maior de todos.
a presen��a dos clientes. A pista estava
Era como se o "Plastic Place" mar-
limpa. Os espelhos ao fundo davam uma
casse o rein��cio de um romance. Seria impress��o de intermin��vel. As luzes ace-um s��mbolo, um lugar para o amor que
sas criavam sobre a pista um clima de
os unia. Todo aquele tempo sem not��-
fantasia alucinante.
30
Ele foi at�� a porta e espiou, procuran-
��� Marisa! ��� exclamou, indo em seu
do nos rostos que se agrupavam diante
encal��o.
do local aquele que lhe daria toda a
A multid��o que patinava era um em-
emo����o e satisfa����o que buscava.
pecilho a seus movimentos. Ele ia de
Marisa, por��m, n��o havia compare-
um ponto a outro, parava e examinava
cido.
os rostos que passavam. Sabia que n��o
��� Muito bem, pessoal! Liguem a m��-
poderia estar enganado. Vira Marisa.
sica! Porteiros a postos! Vamos fazer
M��rcia estava �� beira da pista. Ele foi
isto aqui render cada centavo! ��� gri-
at�� ela.
tou ele e, logo em seguida, a m��sica alu-
cinante sufocou o som de sua vez e as
��� Voc�� a viu? Ela est�� aqui, n��o es-
portas foram abertas.
t��? ��� indagou ele, ansioso.
Filas se organizaram ��s pressas. Os
��� Sim, ela est�� aqui, s�� que n��o vai
primeiros a entrar logo manifestaram ser f��cil encontr��-la agora.
sua aprova����o ao local. Gradativamen-
��� Eu a encontrarei, nem que tenha
te a pista foi se enchendo. O som das de mandar parar tudo ��� prometeu ele,
rodas girando sobre o piso, aliado �� m��-
saindo pela pista.
sica e ao som das conversas e gritos de
Por mais que girasse, no entanto, n��o
espanto e surpresa a cada tombo, de-
conseguia encontr��-la. Era como se ela
ram ao local a exata atmosfera.
o vigiasse e deliberadamente fugisse
S��lvio foi at�� a porta e permaneceu dele.
l�� durante algum tempo, sobressaltan-
Resolveu, ent��o, mudar de t��tica.
do-se a cada ve��culo que passava ou es-
Abaixou-se e deslizou rapidamente por
tacionava.
entre a multid��o, escolhendo um ponto
Rostos conhecidos, muitos amigos, to-
onde alguns patinadores descansavam.
dos o cumprimentavam pelo sucesso,
Picou entre eles, observando, ansioso.
mas nada disso lhe trazia alguma emo-
Ent��o ele a viu, um macac��o colante
����o. Voltou-se para olhar aquele que real��ando as formas preciosas de seu
fora seu sonho. Estava realizado, mas corpo, os cabelos soltos dan��ando aos
n��o havia prazer naquilo. Um vazio tre-
movimentos de patina����o, os olhos azuis
mendo instalara-se em seu cora����o, re-
girando de um lado para outro, como
voltando-o. Desejou gritar para que ces-
que �� procura de algu��m.
sasse a m��sica e se interrompesse tudo
S��lvio sorriu e esperou que ela pas-
aquilo. Derrotado, foi para o bar e pe-
sasse. Depois saiu em sua persegui����o,
diu um chope.
divertindo-se em v��-la confusa �� sua
O empreendimento fora mesmo um procura.
sucesso. O bar estava apinhado. A pis-
Uma emo����o indescrit��vel tomou conta
ta era uma profus��o de cores e movi-
dele e, mesmo no meio de tanta gente,
mentos. M��rcia se aproximou dele.
parecia-lhe sentir o perfume pr��prio da-
��� O que h��, S��lvio. N��o me parece quele corpo e o calor especial de sua
satisfeito ��� observou.
pele.
��� E como poderia?
De repente, num movimento de cor-
��� �� Marisa, n��o? Ela vir��, n��o se po, ela o viu e, ao tentar fugir dele,
preocupe. Por que n��o vai para a pista?
perdeu o equil��brio e se estatelou na
Todos esperam que fa��a isso.
pista. S��lvio apressou-se, aumentando a
��� Sim, acho que tem raz��o ��� con-
velocidade e correndo em seu socorro.
cordou ele, indo at�� a pista e cal��ando
os patins.
Ela havia se sentado, e agora olha-
va-o se aproximar, com um misto de
Deslizou, em seguida, por entre os pa-
tinadores, que manifestaram sua satis-
alegria e indigna����o no rosto bonito e
fa����o pela presen��a dele. Alheio a isso, expressivo.
S��lvio for��ava um sorriso e retribu��a
Ele parou, afinal, junto dela, olhan-
com gestos vagos e sem express��o.
do-a demoradamente. Todo a barulho,
De repente, fazendo bater mais forte as luzes e a m��sica se distanciaram e
seu cora����o, ele viu um vulto de cabe-
era como se o "Plastic Place" fosse um
los dourados passar logo adiante.
lugar s�� deles.
31
��� Vamos com calma, est�� bem? ���
Ao fechar a porta, encerrou todo o
disse ele, estendendo as m��os para ela.
ru��do e a agita����o l�� fora e deixou um
Por momentos, antes de segurar as sil��ncio gostoso entre eles.
m��os dele, Marisa se lembrou da ��ltima
��� T e m i que n��o viesse ��� murmurou
vez em que aquilo acontecera. Fora no
ele, firmando as m��os dela entre as
"Wheels" e havia nele um tom impes-
suas e atraindo-a lentamente para si.
soal, frio. Daquela vez, desejara ser tra-
tada de outra forma por ele, merecendo
��� Voc�� sabia que eu viria ��� ela res-
uma aten����o toda especial, algo que pondeu, deixando-se atrair sem relut��n-
correspondesse ao sentimento que ela cia, indo aninhar-se nos bra��os dele.
nutria por ele.
��� Voc�� foi muito m�� comigo. Todo
Agora tudo mudara. O tom de voz esse tempo sem v��-la, sem me dar no-
dele era todo carinhoso e ansioso, como
t��cias. . .
se ele temesse espant��-la com um tim-
��� Queria que voc�� estivesse seguro a
bre mais frio ou com uma palavra mais
nosso respeito. Isso seria imposs��vel en-
impessoal.
quanto estivesse preocupado com a inau-
Segurou-lhe as m��os. Os dedos dele gura����o do "Plastic Place".
se firmaram sobre os dela, como se ele
��� O que achou dele?
desejasse dizer com isso que a mante-
ria para sempre junto de si.
��� Maravilhoso!
Ela se ergueu, sorrindo. Ele foi desli-
��� �� como o amor que eu sinto por
zando, levando-a para a extremidade voc�� ��� declarou ele, estreitando-a em
da pista, onde tiraram os patins. Sem-
seus bra��os e beijando-a ardentemen-
pre segurando-lhe as m��os, S��lvio a l e -
te, dando-lhe a prova definitiva de que
vou para o escrit��rio.
nada mais os separaria.
F I M
AS E S T U D A N T E S �� u m a publica����o mensal da Cedibra ��� Editora Brasileira Ltda. R u a Filo-mena Nunes, 162 ��� CEP 21.021 ��� Rio de Janeiro, RJ. Distribui����o para todo o Brasil: Fernando Chinaglia Distribuidora S . A . R u a Teodoro da Silva, 907 ��� Rio de Janeiro, RJ.
Copyright (��) M C M L X X X I by Cedibra ��� Editora Brasileira Ltda., que se reserva todos os direitos da presente edi����o, ficando proibida a sua reprodu����o total ou parcial. Composto e Impresso na Gr��fica L u x Ltda. ��� Estrada do Gabinal, 1521 ��� Freguesia ��� Jacarepagu�� ���
Rio de Janeiro, RJ.
32
1)https://groups.google.com/forum/#!forum/solivroscomsinopses
Grupo Parceiro
--
Seja bem vindo ao Clube do e-livro
Não esqueça de mandar seus links para lista .
Boas Leituras e obrigado por participar do nosso grupo.
==========================================================
Conheça nosso grupo Cotidiano:
http://groups.google.com.br/group/cotidiano
Muitos arquivos e filmes.
==========================================================
Você recebeu esta mensagem porque está inscrito no Grupo "clube do e-livro" em Grupos do Google.
Para postar neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro@googlegroups.com
Para cancelar a sua inscrição neste grupo, envie um e-mail para clube-do-e-livro-unsubscribe@googlegroups.com
Para ver mais opções, visite este grupo em http://groups.google.com.br/group/clube-do-e-
---
Você recebeu essa mensagem porque está inscrito no grupo "clube do e-livro" dos Grupos do Google.
Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um e-mail para clube-do-e-livro+unsubscribe@googlegroups.com.
Para ver essa discussão na Web, acesse https://groups.google.com/d/msgid/clube-do-e-livro/CAB5YKhm%2B67DCrrprAAU%2BUz6wLxY6Dg1b%2BK1vYsXBfgF5WJY8TA%40mail.gmail.com.
Nenhum comentário:
Postar um comentário