domingo, 14 de junho de 2020

{clube-do-e-livro} Fwd: Lançamento: Maria Mãe de Jesus - Edilson Carneiro - Formatos: Pdf. epub e txt

MARIA

M��e de Jesus

O retrato de Mar��a

O retrato de Maria, que exibimos na capa, foi

ditado pelo Esp��rito Emmanuel ao fot��grafo

Vicente Avela, atrav��s do m��dium Francisco

C��ndido Xavier. Este trabalho foi realizado aos

poucos, em mais de 20 encontros, desde meados

de 1983, com retoques sucessivos, objetivando

homenagear o Dia das M��es de 1984.

O retrato revela o semblante de Maria tal como

ela se apresenta quando de suas visitas ��s

regi��es perturbadas do mundo espiritual, como,

por exemplo, ao vale dos suicidas.



MARIA

M��e de Jesus

Francisco C��ndido Xavier





Yvonne A. Pereira


Edison Carneiro (Organizador)

Alian��a





C o p y r i g h t O 2 0 0 7 Todos os direitos reservados �� Editora Alian��a.

1 - e d i �� �� o , 103 r e i m p r e s s �� o , N o v e m b r o / 2 0 1 6 , d o 5 6 a o 6 0 m i l h e i r o 9

s

T��TULO

M a r i a , M �� e d e Jesus





A U T O R


Francisco C �� n d i d o Xavier

Y v o n n e A. Pereira

Edison C a r n e i r o ( O r g a n i z a d o r )

R E V I S �� O

M a r i a A p a r e c i d a A m a r a l

DlAGRAMA����O

Cintia A o k i





C A P A


M a n u e l d e L u q u e s A r r u d a

( R e t r a t o d a c a p a : r e t r a t o f a l a d o d e M a r i a , M �� e d e Jesus, d i t a d o p e l o E s p �� r i t o E m m a n u e l a t r a v �� s d o m �� d i u m Francisco C �� n d i d o Xavier a o f o t �� g r a f o V i c e n t e A v e l a ) I L U S T R A �� �� O

Rosas d e s e n h a d a s p o r P i e r r e J o s e p h R e d o u t ��

I M P R E S S �� O

Assahi G r �� f i c a e Editora Ltda.

F I C H A C A T A L O G R �� F I C A

Dados Internacionais de Cataloga����o na Publica����o (CIP)

��� C��mara Brasileira do Livro / SP / Brasil ���

Xavier, Francisco C �� n d i d o , 1 9 1 0 - 2 0 0 2 .

M a r i a , m �� e de Jesus / Francisco C. Xavier

Y v o n n e A. Pereira ; Edison C a r n e i r o

( o r g a n i z a d o r ) . 2 . e d .

S��o P a u l o : E d i t o r a A l i a n �� a , 2 0 1 1 .

ISBN: 9 7 8 - 8 5 - 8 8 4 8 3 - 1 4 - 9 / 1 9 2 p �� g i n a s

I . E s p i r i t i s m o 2 . M a r i a , V i r g e m , Santa - C u l t o 3 . M a r i a , V i r g e m , Santa - I n t e r p r e t a �� �� e s e s p �� r i t a s 4. Psicografia I. P e r e i r a , Y v o n n e A.

II. C a r n e i r o , E d i s o n . III. T �� t u l o .

1 1 - 0 6 0 2 9 C D D - 1 3 3 . 9 3

�� N D I C E P A R A C A T �� L O G O S I S T E M �� T I C O :

1 . M a r i a , M �� e d e Jesus : M e n s a g e n s m e d i �� n i c a s p s i c o g r a f a d a s : E s p i r i t i s m o 1 3 3 . 9

E D I T O R A A L I A N �� A

Rua M a j o r D i o g o , 5 1 1 - Bela Vista - S��o Paulo - SP

CEP 0 1 3 2 4 - 0 0 1 I T e l . : ( l l ) 2 1 0 5 - 2 6 0 0 | Fax: (11) 2 1 0 5 - 2 6 2 6

w w w . e d i t o r a a l i a n c a . c o m . b r | e d i t o r a @ e d i t o r a a l i a n c a . c o m . b r



SUM��RIO





M��E DAS M��ES 137

��s filhas da Terra 137

Prece �� M��e Sant��ssima 138

M��e 140

Ora����o de M��e 141

M��e das M��es 142

Lembrando Maria, Nossa M��e 145

Em louvor das M��es 146

AS M��OS DE MARIA 149

M��os Celestes 149

Refugium Peccatorum 150

Prece 151

O OLHAR DE MARIA 153

Mater 153

Maria 154

Soneto V 155

Regyna Martirium 156

O MANTO DE MARIA 157

S��plica �� M��e Sant��ssima 158

Ora����o / 59

A Virgem 161

SOBRE HUMBERTO DE CAMPOS 165

RESUMO DA DOUTRINA ESP��RITA 177

BIBLIOGRAFIA 185





ste �� um livro

t ramalhete. Pre-

ces, depoimentos es-

critos por encarnados

e desencarnados, flo-

res brotando em cora-

����es, alegres alguns,

angustiados a maioria.

Mas ainda flores cheias

de perfume e f��, que a

voc��, leitor amigo, ofe-

recemos com todo o ca-

rinho. N��o pertencem a

n��s, damos do que n��o

temos, mas somos irm��os

rosa gallica regalis

e tudo a Deus pertence.

INTRODU����O

In��meros autores ao longo da hist��ria imaginaram

a vida da M��e de Jesus apoiados nos seus ideais religio-

sos, esperan��as e vis��es de mundo.

Nesta antologia procuramos silenciar a voz da ima-

gina����o, reunindo textos que consideramos fi��is �� reali-

dade, tentando montar com eles parte do mosaico que nos

permita ter uma vis��o real de Maria.

Dentro desse crit��rio, nos valemos das seguintes

fontes:

��� Os evangelhos, principalmente o de Lucas, pois os

Esp��ritos nos afirmam que, embora as in��meras tradu����es

e transcri����es, esses textos chegaram ao nosso tempo com

parcela m��nima de erros e distor����es.

���Mensagens transmitidas por Francisco C��ndido

Xavier, m��dium de extrema precis��o e muito confi��vel

por sua alta moralidade.

��� Informa����es contidas no livro Mem��rias de um Sui-

cida de Yvonne A. Pereira, por nos mostrarem a a����o dos

servidores de Maria, que, naturalmente, n��o se circuns-

crevem a pa��ses de tradi����o crist��, e nos ajudam a ter uma

vis��o das atividades de Maria, no seu cunho universal,

abstraindo caracter��sticas peculiares da nossa mentalidade

e de nosso tempo; essas informa����es tamb��m contribuem





11




para compreendermos melhor o amor maternal de Maria

que alia carinho e energia, consola����o e disciplina.

A ideia de retrato permeia esta pequena e despre-

tensiosa antologia: retrato �� a capa recebida pelo m��-

dium Francisco C��ndido Xavier; quadros verbais s��o as

descri����es da vida de Maria, feitas principalmente por

Humberto de Campos; o texto recebido mediunicamen-

te por Yvonne nos auxilia a ver Maria retratada nas suas

institui����es, nascidas de seu cora����o e conduzidas por sua

intelig��ncia; os poemas coletados fornecem "closes" de

aspectos de Maria: o olhar, as m��os, o semblante que se

assemelha a uma rosa; o manto, a postura maternal, o rei-

nado de Maria; um cap��tulo �� dado �� prece da Ave Maria.

Uma multid��o de pedidos sobe aos c��us a cada dia

buscando o cora����o de Maria. Essas solicita����es s��o de

todo tipo: angustiadas, alegres, sensatas, insensatas...

Por��m, o que a m��e de Jesus tem a nos dar?

Cremos que Maria tem coisas importantes a nos

oferecer:

��� O exemplo do acatamento da vontade de Deus, sin-

tetizada na sua afirma����o "cumpra-se em mim a vontade

do Senhor".

��� O exemplo de "ter Jesus no cora����o", significa es-

tabelecer uma forte liga����o sentimental com o governa-

dor espiritual do planeta, baseada no amor e que orienta

toda a nossa vida na dire����o do bem; esse exemplo �� mar-

cado em duas cenas opostas: Maria plena de alegria, com

12

o menino nos bra��os na estrebaria de Bel��m e aos p��s da

cruz na dolorosa cena do Calv��rio.

��� O alimento do amor espiritual e materno que nos

trar�� as for��as necess��rias para o enfrentamento das pro-

vas e lutas que aprouver a Deus nos enviar.

��� A oportunidade de trabalho junto a in��meras orga-

niza����es espirituais baseadas na compaix��o e ligadas aos

que sofrem, seja na carne ou no mundo dos Esp��ritos; ins-

titui����es essas que, por vezes, t��m postos avan��ados no

mundo material.

Maria �� um dos Esp��ritos mais puros, que foram

dados �� humanidade conhecer; fiel a Deus, Maria n��o

quer ser idolatrada, ou seja, n��o deseja que a vejamos

como um ��dolo, que o tempo logo destr��i; solicita que a

consideremos como criatura de Deus, cooperadora de Je-

sus na edifica����o do Seu Reino, que est�� sendo constru��do

no cora����o humano, e que trabalhemos com ela na tarefa

de amor que �� a nossa reden����o e a dos nossos irm��os de

humanidade; trabalho a ser feito palavra a palavra, pensa-

mento a pensamento, emo����o a emo����o, principalmente

prece a prece.

13



TESTEMUNHO DE

GRATID��O

A nossa mais profunda gratid��o aos Esp��ritos que

redigiram os textos que comp��e esta antologia, entre

os quais mencionamos com especial carinho o amigo

Humberto de Campos, brasileiro e maranhense pelo co-

ra����o, que com sua sensibilidade, tantos momentos de

delicadeza e emo����o proporcionou aos nossos cora����es

e Camilo Castelo Branco que nos ofereceu a flor das

realidades espirituais e da reconstru����o moral, retiradas

do solo dos pr��prios sofrimentos.

Beijamos tamb��m, em esp��rito e agradecidos, as

m��os dos m��diuns Francisco C��ndido Xavier e Yvonne

Amaral Pereira que, em meio a grandes ren��ncias pesso-

ais, trouxeram at�� n��s estes mesmos textos.

O nosso abra��o carinhoso ao pintor e bot��nico fran-

c��s Pierre Joseph Redout��1, de cuja obra foram retiradas

as rosas que ilustram este livro, e que, como Esp��rito, nos

auxiliou na sua apresenta����o gr��fica.

Pierre Joseph Redout�� (1759 +1840). Desprovido de fortuna e de educa����o

1

formal, come��ou a ganhar a vida aos 13 anos, como pintor itinerante pintan-

do de tudo, decora����o de paredes, retratos, temas religiosos. Um de seus

primeiros trabalhos em bot��nica foi a pintura do jardim de Maria Antonieta,

rainha da Fran��a. Anos ap��s, sua carreira floresceu retratando plantas de

todo o mundo, em especial rosas; �� mundialmente reconhecido como um

mestre do desenho.

15





DEDICATORIA

A MuOier,

��s Muflieres

rosa gallica veriscolor

Sou filho de uma mulher, Mariana, �� seu nome;

No seu ��tero de mulher fui gerado,

Nos seus seios de mulher amamentado,

Nos seus bra��os de mulher aconchegado.

Sofro, quem n��o sofre

De tempestades interiores?

Trov��es confusos,

Eu obtuso,

Correndo em v��o.

Ah! que lindo clar��o

Quando em prece clamo: mam��e!

Sou filho de muitas mulheres...

Maternalmente amado

por bab��s, professoras, tias...

Ah, que alegria,

Quando lembro,

Os banhos de Ida,

17

O colo de minha tia Lica,

O mingau de minha av�� Dalila,

Os doces de Dona Isabel.

Falam da valoriza����o da mulher

Com o gosto de sangue da revolta;

Quanto a mim, velho e desgastado,

S�� posso falar das mulheres

que me geraram e criaram,

que me educaram e protegeram,

enfim, que me amaram,

Pensando flores, dizendo mel, sonhando auroras,

Cantando f�� e esperan��a.

H�� mulheres da terra, que hoje est��o no c��u;

H�� muitas mulheres, que s��o o c��u na terra;

S��mbolos al��ados por Deus

��s celestiais esferas

Como bandeiras, n��o de pano tecidas,

Mas entretecidas

De ideais e fibras de alma.

Como s��o belas as mulheres de fibra!

Tintas de esperan��a,

Banhadas de imortalidade;

Tais s��o essas mulheres bandeiras,

Que meus olhos frequentemente

Veem desfraldadas no c��u.

Maria Sant��ssima, Senhora Nossa, M��e de Jesus,

Em l��grimas na Cruz,

Rogai por n��s

18

Para que veneremos a Mulher.

Maria Madalena, pecadora,

Depois arrependida e santificada,

Rogai por n��s

Para que tenhamos a coragem do recome��o.

Mulher pobre, a quem s�� restou a mendic��ncia,

No sustento dos filhos,

Rogai por n��s

Para que sejamos dignos.

Mulher oper��ria, que caleja as m��os na

metal��rgica,

No corte da cana, no cabo da enxada,

Rogai por n��s

Para que sejamos respons��veis.

Mulher funcion��ria, que com paci��ncia,

Em meio a intrigas e burocracia,

Organizas o relacionamento social,

Rogai por n��s

Para que organizemos nossas vidas.

Mulher mestra, que ensinas na escola rural

Ou que fazes descobertas no instituto de pesquisa,

Rogai por n��s

Para que nos esforcemos na nossa autoeduca����o.

Mulher m��dica, enfermeira,

Que cura doen��as, que alivia dores,

Rogai por n��s

19

Para que valorizemos a sa��de.

Mulher irm��, que fraterna, compreensiva,

E nossa amiga,

Rogai por n��s

Para que sejamos solid��rios.

Mulher filha, que �� alegria na inf��ncia,

Que �� arrimo na velhice,

Rogai por n��s

Para que sejamos gratos.

Mulher esposa, que rasga a monotonia da noite

Dando-nos amor e prazer,

Que floresces o deserto social

Com a b��n����o do lar,

Rogai por n��s

Para que sejamos honrados.

Mulher Crist��, que canta hinos,

No circo romano, antes do mart��rio,

Rogai por n��s

Para que sejamos fi��is.

Maria Sant��ssima, Senhora Nossa, M��e de Jesus,

Em l��grimas na cruz,

Rogai pelas mulheres

A quem Deus confiou o mist��rio da vida

Para que sejam sempre dignas

De toda honra, de toda gl��ria, de todo amor.

20



la PARTE



MARIA, M��e de Jesus

Mar��a tornase

esposa e m��e

A fam��lia de Maria

N��o h�� informa����es a respeito dos pais de Maria,

ou de como foi a sua inf��ncia e adolesc��ncia.

O que se sabe �� que era judia, provavelmente filha

de pais judeus, e que seu futuro marido, Jos��, era tam-

b��m judeu.

Quanto aos seus familiares, o Evangelho menciona

os seguintes:

Prima: Isabel, filha de Aar��o, casada com Zacarias,

teve um ��nico filho: Jo��o.

Esposo: Jos��.

Irm��: mencionada por Jo��o na cena do calv��rio:

23



Edison Carneiro

"Junto �� cruz estava sua m��e e a irm�� de sua m��e, Maria

de Cle��fas e Maria Madalena".2

Filho: Jesus.

A quest��o se Maria teve outros filhos, ou n��o, ��

examinada no correr desta obra.

O Evangelho de Lucas, logo no in��cio, apresenta o

casal Zacarias e Isabel.

Isabel

Existiu no tempo de Herodes, rei da Jud��ia um sa-

cerdote chamado Zacarias, da ordem de Abdias e cuja mu-

lher era uma das filhas de Aar��o e seu nome era Isabel;

n��o tinham filhos porque Isabel era est��ril e ambos eram

de idade avan��ada.

Exercendo Zacarias o seu sacerd��cio diante de

Deus, na ordem de sua turma, foi sorteado para entrar no

templo e oferecer o incenso.

Havia uma multid��o, do lado de fora, orando, nesta

hora; um anjo do Senhor (Esp��rito) apareceu a Zacarias,

de p��, �� direita do altar. Zacarias, vendo-o, perturbou-se e

ficou atemorizado, mas o anjo lhe disse:

��� Zacarias, n��o tema, porque a sua ora����o foi ou-

vida, e Isabel sua mulher, dar�� �� luz um filho e voc�� lhe

por�� o nome de Jo��o. Voc�� ter�� prazer e alegria e muitos

se alegrar��o no seu nascimento, porque ele ser�� grande

diante do Senhor, e n��o beber�� vinho, nem bebida forte,

Evangelho segundo Jo��o, cap. 19.

2

24



MARIA, M��e de Jesus

e ser�� cheio do Esp��rito Santo3, j�� desde o ventre de sua

m��e. Converter�� muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu

Deus; ir�� adiante dele no esp��rito e virtude de Elias4, para

converter os cora����es dos pais aos filhos, e os rebeldes ��

prud��ncia dos justos, com o fim de preparar para o Senhor

um povo com disposi����o.

Disse ent��o Zacarias ao anjo:

��� Como vou saber? J�� sou velho e minha mulher

�� de idade avan��ada.

Respondeu-lhe o anjo:

��� Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e

fui enviado a falar a voc�� e dar-lhe essas alegres not��cias.

Voc�� ficar�� mudo e n��o poder�� falar at�� o dia em que estas

coisas acontecerem, porque voc�� n��o acreditou nas mi-

nhas palavras, que a seu tempo se cumprir��o.

O povo estava esperando do lado de fora e admi-

rava-se do tanto que Zacarias estava demorando dentro

do templo.

Quando saiu, n��o podia falar, por��m, eles enten-

deram que tinha tido alguma vis��o dentro do templo, e

comunicava-se com gestos, tendo permanecido mudo.

Terminados os dias de seu minist��rio voltou para casa.

Depois daqueles dias Isabel ficou gr��vida e por cin-

co meses se ocultou, dizendo:

��� Assim me fez o Senhor, nos dias em que atentou

em mim para destruir minha vergonha5 entre os homens.

Estar cheio do Esp��rito Santo �� ser intermedi��rio (ou m��dium) dos Esp��-

3

ritos santificados.

Jo��o �� Elias reencarnado.

4

Na cultura judaica, naquela ��poca, era vergonhoso para uma mulher ser

5

est��ril; assim como Deus de forma oculta preparava o fim de sua discrimi-

na����o social, ela tamb��m resolveu ocultar a sua gravidez.

25



Edison Carneiro

O anjo Gabriel visita Maria

No sexto m��s da gravidez de Isabel, foi o anjo

Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galileia, cha-

mada Nazar��, a uma virgem, prima de Isabel, desposada

com um var��o chamado Jos��, da casa de Davi; o nome da

virgem era Maria.

Entrando o anjo onde ela estava, disse:

��� Ave Maria, cheia de gra��a, o senhor �� contigo,

bendita ��s tu entre as mulheres.

Vendo o anjo, Maria turbou-se muito com aquelas

palavras, e considerava que sauda����o seria esta.

Disse-lhe ent��o o anjo: Maria, n��o tema porque

voc�� achou-se agraciada diante de Deus; em seu ventre

conceber�� e dar�� �� luz um filho e lhe por�� o nome de Je-

sus. Ele ser�� grande, ser�� chamado Filho do Alt��ssimo e o

Senhor Deus lhe dar�� o trono de Davi, seu pai, e reinar��

eternamente na casa de Jac�� e o seu reino n��o ter�� fim.

Disse Maria ao anjo:

��� Como se far�� isto, se n��o conhe��o nenhum

var��o?6

O anjo respondeu:

��� Descer�� sobre voc�� o Esp��rito Santo, e a vir-

tude do alt��ssimo a cobrir�� com a sua sombra, pelo que

tamb��m o Santo que de voc�� h�� de nascer ser�� chamado

Filho de Deus.

Ou seja, nunca se relacionou com um homem.

6

26



MARIA, M��e de Jesus

Tamb��m Isabel, sua prima, concebeu um filho na

velhice, e este �� o sexto m��s para aquela que era chamada

est��ril, porque para Deus nada �� imposs��vel.

Disse ent��o Maria:

��� Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim

segundo a sua palavra.

E o anjo retirou-se da sua presen��a.7

Jos��

Estando Maria, sua m��e, desposada com Jos��, an-

tes de coabitarem, achou-se concebida do Esp��rito Santo.

Ent��o Jos��, seu marido, como era justo, e n��o querendo

difam��-la, teve a inten����o de deix��-la secretamente.

Tendo feito este projeto, apareceu-lhe, em sonho,

um anjo do Senhor e disse:

��� Jos��, filho de Davi, n��o temas receber Maria

como tua esposa, porque o que nela foi concebido o foi

por obra do Esp��rito Santo. Ela dar�� �� luz um filho, a

quem chamar��s "Jesus"8, porque ele salvar�� o seu povo

de seus pecados.

Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que

foi dito pelo Senhor atrav��s do profeta Isa��as: "Eis que a

virgem conceber�� e dar�� �� luz um filho, e cham��-lo-��o de

"Emanuel", que quer dizer: Deus Conosco".

Jos��, ap��s despertar do sono, fez como o anjo do Se-

nhor lhe havia ordenado e recebeu Maria como sua esposa.

Evangelho segundo Lucas, cap. 1.

7

Jesus significa Salvador.

8

27



Edison Carneiro

E n��o a teve como mulher, at�� que Maria desse ��

luz o filho primog��nito, que se chamou Jesus.9

Maria visita Isabel

Naqueles dias, levantando-se, Maria foi apressada

��s montanhas, a uma cidade de Jud��, entrou na casa de

Zacarias e saudou sua prima Isabel.

Aconteceu que, ao ouvir Isabel a sauda����o de Ma-

ria, a criancinha saltou no seu ventre e Isabel foi envol-

vida por um Esp��rito santo e exclamou com grande voz:

��� Bendita ��s tu entre as mulheres, bendito �� o fru-

to do teu ventre! Donde prov��m a mim que me venha vi-

sitar a m��e do meu Senhor?

Pois eis que ao chegar aos meus ouvidos a voz da

tua sauda����o, a criancinha saltou de alegria no meu ventre.

Bem-aventurada a que acreditou, pois h��o de cum-

prir-se as coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas.10

O c��ntico de Maria

Maria comp��s ent��o a seguinte can����o:

A minha alma engrandece ao Senhor,

Exulta meu esp��rito em Deus,

Em meu Salvador.

Evangelho segundo Mateus, cap. 1.

9

Evangelho segundo Lucas, cap. 1.

1 0

28



MARIA, M��e de Jesus

P��s os olhos na humildade de sua serva;

Doravante todas as gera����es

Me chamar��o bem-aventurada.

O Onipotente me fez grandes coisas,

Santo �� o seu nome.

Sua miseric��rdia perdura.

De gera����o em gera����o

Sobre aqueles que O obedecem.

Seu poder fez obras de valor,

Dispersou os pensamentos de orgulho

Nos cora����es.

Rebaixou os poderosos de seus tronos,

Elevou os humildes.

Cumulou de bens os famintos

Despediu vazios os saciados.

Auxiliou a Israel, seu servo,

Recordando sua miseric��rdia,

Conforme Sua Eterna Promessa

A Abra��o e seus descendentes.

Maria permaneceu com Isabel mais ou menos tr��s

meses e voltou para a sua casa.11

Evangelho segundo Lucas, cap. 1.

1 1

29



Edison Carneiro

Nascimento de Jesus

Aconteceu naqueles dias que saiu um decreto da

parte de C��sar Augusto, para que todos se alistassem. Este

primeiro recenseamento foi feito sendo Cir��nio governa-

dor da Ass��ria.

Todos deviam se alistar, cada um na sua pr��pria

cidade.

Jos�� subiu da Galileia, da cidade de Nazar��, a Be-

l��m da Jud��ia, chamada cidade de Davi, pois era da casa

e fam��lia de Davi, para tamb��m alistar-se com Maria, sua

mulher, que estava gr��vida.

Aconteceu que, estando ali, cumpriram-se os dias

em que ela havia de dar �� luz. E ela deu �� luz seu fi-

lho primog��nito, envolveu-o em alguns panos e deitou-o

numa manjedoura, porque n��o havia lugar para eles na

estalagem.12

Os pastores

Na mesma regi��o havia pastores que guardavam

seus rebanhos durante as vig��lias da noite. Eis que o anjo

do Senhor veio sobre eles e a gl��ria do Senhor os cercou

de uma grande luz, e eles tiveram medo.

O anjo lhes disse:

��� N��o tenham medo, porque eu trago a voc��s not��-

cias de grande alegria para todo o povo. Na cidade de Davi

Evangelho segundo Lucas, cap. 1.

1 2

30



MARIA, M��e de Jesus

nasceu, para voc��s, hoje, o Salvador, que �� Cristo, o Se-

nhor. Isto servir�� de sinal para encontr��-lo, voc��s achar��o

um menino envolto em panos, deitado numa manjedoura.

No mesmo instante apareceu com o anjo uma mul-

tid��o de ex��rcitos celestiais, que louvava a Deus, e dizia:

��� Gl��ria a Deus nas alturas e paz e boa vontade

para com os homens.

Quando os anjos partiram em dire����o ao c��u, os

pastores disseram:

��� Vamos j�� a Bel��m e vejamos o que aconteceu, o

que o Senhor nos deu a conhecer.

Foram ent��o ��s pressas e encontraram Maria, Jos��

e o rec��m-nascido deitado na manjedoura.

Vendo-o, divulgaram as palavras que lhes foram

ditas a respeito do menino. Todos que as ouviam se mara-

vilhavam do que os pastores diziam.

Maria guardava todas estas coisas cuidadosamente

no seu cora����o.

E os pastores voltaram aos seus rebanhos, glorifi-

cando a Deus por tudo o que viram e ouviram.13

Evangelho segundo Lucas, cap. 2.

1 3

31



Edison Carneiro

O filho de Maria

traz atearias

e L��grimas

Jesus no Templo de Jerusal��m

Quando os oito dias foram cumpridos para circun-

cidar o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que pelo

anjo lhe fora posto antes de ser concebido. Cumprindo-

se os dias da purifica����o, segundo a lei de Mois��s, o leva-

ram a Jerusal��m, para o apresentarem ao Senhor, segun-

do o que est�� escrito na lei do Senhor: "Todo o macho

primog��nito ser�� consagrado ao Senhor", e para darem

a oferta que est�� disposta na lei do Senhor: "um par de

rolas ou dois pombinhos".

32



MARIA, M��e de Jesus

Havia em Jerusal��m um homem, cujo nome era

Sime��o; esse homem era justo e temente a Deus, esperan-

do a consola����o de Israel e o Esp��rito Santo estava sobre

ele. Fora-lhe revelado, por um Esp��rito santificado, que

ele n��o morreria antes de ter visto o Cristo do Senhor. E

neste dia foi conduzido por um Esp��rito ao templo.

Quando os pais trouxeram o menino Jesus, para

com ele procederem conforme os usos da lei, Sime��o o

tomou em seus bra��os, louvou a Deus, dizendo:

��� Agora, Senhor, despede em paz o teu servo, se-

gundo a tua palavra, pois meus olhos j�� viram a salva����o,

que tu preparastes perante a face de todos os povos, luz

para iluminar as na����es e para gl��ria de teu povo Israel.

Jos�� e Maria se maravilhavam das coisas que se

diziam do menino.

Sime��o os aben��oou, e disse a Maria, sua m��e:

��� Eis que este menino �� posto para queda e eleva-

����o de muitos em Israel, e como um sinal de contradi����o.

E uma espada trespassar�� a tua alma, Maria, para que se

manifestem os pensamentos de muitos cora����es.

Estava ali a profetiza Ana, filha de Fanuel, da tribo

de Aser. Ana era idosa, fora casada por sete anos, agora

era vi��va, tinha oitenta e quatro anos e n��o se afastava

do templo, servindo a Deus, dia e noite em jejuns e ora-

����es.Como chegasse na mesma hora, agradecia a Deus e

falava do menino a todos que esperavam a reden����o de

Jerusal��m.14

Evangelho segundo Lucas, cap. 2.

1 4

33

Edison Carneiro

Os magos do Oriente

Jesus nasceu em Bel��m da Jud��ia quando reinava

o Rei Herodes.

Alguns magos vieram do Oriente a Jerusal��m, e

diziam:

��� Onde est�� o rei dos judeus que nasceu? Vimos

sua estrela no Oriente e viemos ador��-lo.

Tendo isso chegado aos ouvidos do rei Herodes,

ele e toda a Jerusal��m se perturbaram. Reunindo os pr��n-

cipes, sacerdotes e escribas, perguntou-lhes onde haveria

de nascer o Cristo. Eles responderam:

��� Em Bel��m da Jud��ia, porque assim est�� escrito

pelo profeta Miqu��ias: "Tu Bel��m, terra de Jud��, de modo

nenhum ��s a menor entre as capitais de Jud��, porque de ti

sair�� o guia que apascentar�� o meu povo de Israel".

Herodes, ent��o, chamou secretamente os magos e

inquiriu-os, exatamente, quando a estrela lhes aparecera.

A seguir enviou-os a Bel��m, dizendo-lhes:

��� V��o e perguntem diligentemente pelo menino,

e quando o acharem, participem-me para que eu v�� at��

l�� e o adore.

Ap��s ouvirem o rei, partiram.

A estrela que tinham visto no Oriente, ia na frente

deles, at�� que chegando, deteve-se sobre o lugar onde

estava o menino. Vendo a estrela, ficaram muito, imensa-

mente, alegres.

Entrando no lugar, encontraram o menino com

Maria sua m��e. Prostrando-se o adoraram, ap��s o que,

34



MARIA, M��e de Jesus

abrindo os seus tesouros lhe ofertaram as d��divas de ouro,

incenso e mirra.

Tendo sido avisados em sonhos para que n��o se

aproximassem de Herodes, partiram para sua terra por

outro caminho.15

A fuga para o Egito

Ap��s a partida dos magos, o anjo do Senhor apare-

ceu a Jos�� em sonhos e disse:

��� Levanta-te, toma o menino e sua m��e e foge

para o Egito, e fica l�� at�� que eu te diga, porque Herodes

procurar�� o menino para mat��-lo.

Jos�� levantou-se, tomou o menino e sua m��e, e ��

noite partiu para o Egito. Ficou l�� at�� a morte de Herodes.

E cumpriu-se o que foi dito pelo Senhor pela boca do pro-

feta Os��ias: "Do Egito chamei meu Filho".

Por��m, Herodes vendo que havia sido enganado

pelos magos, irritou-se muito, e mandou matar todos os

meninos de Bel��m e suas redondezas que tivessem dois

anos ou menos, tomando como base o tempo que obtivera

dos magos.

Cumpriu-se ent��o o que foi predito pelo profeta

Jeremias: "em Ram�� se ouviu vozes, lamentos, choro,

grande pranto. Raquel chora os seus filhos, n��o quer ser

consolada, porque j�� n��o existem".16

Evangelho segundo Lucas, cap. 2.

1 5

Evangelho segundo Lucas, cap. 2.

1 6

35



Edison Carneiro

A volta do Egito

Morto Herodes, o anjo do Senhor apareceu num

sonho a Jos�� no Egito, dizendo:

��� Levanta-te, toma o menino e sua m��e, e vai para

a terra de Israel, pois j�� est��o mortos os que procuravam

matar o menino.

Jos�� levantou-se, tomou o menino e sua m��e e foi

para a terra de Israel. Ouvindo, por��m, que Arquelau rei-

nava na Jud��ia, receou ir para l��. Avisado em sonhos por

divinas revela����es foi para a Galileia.

L�� chegando, foi habitar numa cidade chamada

Nazar��, para que se cumprisse o que foi predito pelo pro-

feta Isa��as: "Ele ser�� chamado Nazareno".17

Jesus e os doutores

Seus pais iam todos os anos a Jerusal��m para a festa

da P��scoa. Quando o menino completou 12 anos, segundo

o costume, subiram para a festa. Terminados os dias eles

voltaram, mas o menino Jesus ficou em Jerusal��m, sem

que os seus pais o notassem.

Pensando que ele estivesse na caravana, andaram

o caminho de um dia, e puseram-se a procur��-lo entre os

parentes e conhecidos. N��o o encontrando voltaram a Je-

rusal��m �� sua procura.

Evangelho segundo Lucas, cap. 2.

1 7

36



MARIA, M��e de Jesus

Tr��s dias depois o encontraram no Templo, senta-

do no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os,

e todos os que o ouviam ficavam extasiados com a sua

intelig��ncia e com as suas respostas.

Ao v��-lo, seus pais ficaram surpresos, e sua m��e

lhe disse:

��� Meu filho, por que agiste assim conosco? Olha

teu pai e eu, aflitos, te procur��vamos.

Ele respondeu:

��� Por que me procuravam? N��o sabiam que devo

estar na casa do meu Pai?

Eles, por��m, n��o compreenderam a palavra que

lhes dissera.

Desceu ent��o com eles para Nazar�� e era-lhes

submisso.

Sua m��e, por��m, conservava a lembran��a de todos

esses fatos em seu cora����o.

Jesus crescia em sabedoria, estatura e gra��a diante

de Deus e dos homens.18

Evangelho segundo Lucas, cap. 2.

1 8

37



Edison Carneiro

Isabel visita Maria

rosa gallica maheka

flore subsimplici

Ap��s a famosa apresenta����o de Jesus aos doutores-

do Templo de Jerusal��m, Maria recebeu a visita de Isabel

e de seu filho, em sua casinha pobre de Nazar��.

Depois das sauda����es habituais, do desdobramento

dos assuntos familiares, as duas primas entraram a falar

de ambas as crian��as, cujo nascimento fora antecipado

por acontecimentos singulares e cercado de estranhas cir-

cunst��ncias. Enquanto o patriarca Jos�� atendia ��s ��ltimas

necessidades di��rias de sua oficina humilde, entretinham-

se as duas em curiosa palestra, trocando carinhosamente

as mais ternas confid��ncias maternais.

��� O que me espanta - dizia Isabel com caricioso

sorriso - �� o temperamento de Jo��o, dado ��s mais fundas

medita����es, apesar da sua pouca idade. N��o raro, procu-

ro-o inutilmente em casa, para encontr��-lo, quase sem-

pre, entre as figueiras bravas, ou caminhando ao longo

das estradas adustas, como se a pequena fronte estivesse

dominada por graves pensamentos.

��� Essas crian��as, a meu ver - respondeu-lhe Ma-

ria, intensificando o brilho suave de seus olhos -, trazem

38

MARIA, M��e de Jesus

para a Humanidade a luz divina de um caminho novo.

Meu filho tamb��m �� assim, envolvendo-me o cora����o

numa atmosfera de incessantes cuidados. Por vezes, vou

encontr��lo a s��s, junto das ��guas, e, de outras, em con-

versa����o profunda com os viajantes que demandam a

Samaria ou as aldeias mais distantes, nas adjac��ncias do

lago. Quase sempre, surpreendo-lhe a palavra caridosa

que dirige ��s lavadeiras, aos transeuntes, aos mendigos

sofredores... Fala de sua comunh��o com Deus com uma

eloqu��ncia que nunca encontrei nas observa����es dos nos-

sos doutores e, constantemente, ando a cismar, em rela����o

ao seu destino.

Apesar de todos os valores da cren��a - murmurou

Isabel, convicta -, n��s, as m��es, temos sempre o Esp��rito

abalado por injustific��veis receios.

Como se deixasse empolgar por amorosos temores,

Maria continuou:

Ainda h�� alguns dias, estivemos em Jerusal��m, nas

comemora����es costumeiras, e a facilidade de argumenta-

����o com que Jesus elucidava os problemas, que lhe eram

apresentados pelos orientadores do templo, nos deixou a

todos receosos e perplexos. Sua ci��ncia n��o pode ser des-

te mundo, vem de Deus, que certamente se manifesta por

seus l��bios amigos da pureza. Notando-lhe as respostas,

Eleazar chamou Jos��, em particular, e o advertiu de que

o menino parece haver nascido para a perdi����o de muitos

poderosos em Israel.

Com a prima a lhe escutar atentamente a palavra,

Maria prosseguiu, de olhos ��midos, ap��s ligeira pausa:

Ciente desse aviso, procurei Eleazar, a fim de inter-

ceder por Jesus, junto de suas valiosas rela����es com as au-

toridades do templo. Pensei na sua inf��ncia desprotegida

39

Edison Carneiro

e receio pelo seu futuro. Eleazar prometeu interessar-se

pela sua sorte, todavia, de regresso a Nazar��, experimen-

tei singular multiplica����o dos meus temores. Conversei

com Jos��, mais detidamente, acerca do pequeno, preocu-

pada com o seu preparo conveniente para a vida!... En-

tretanto, no dia que se seguiu ��s nossas ��ntimas confa-

bula����es, Jesus se aproximou de mim, pela manh��, e me

interpelou: ��� "M��e, que queres tu de mim? Acaso n��o te-

nho testemunhado a minha comunh��o com o Pai que est��

no C��u?!". Altamente surpreendida com a sua pergunta,

respondi-lhe, hesitante: Tenho cuidado por ti, meu filho!

Reconhe��o que necessitas de um preparo melhor para a

vida... Mas, como se estivesse em pleno conhecimento do

que se passava em meu ��ntimo, ponderou ele: ��� "M��e,

toda a prepara����o ��til e generosa no mundo �� preciosa,

entretanto, eu j�� estou com Deus. Meu Pai, por��m, deseja

de n��s toda a exemplifica����o que seja boa e eu escolherei,

desse modo, a escola melhor". No mesmo dia, embora

soubesse das belas promessas que os doutores do templo

fizeram na sua presen��a a seu respeito, Jesus aproximou-

se de Jos�� e lhe pediu, com humildade, que o admitisse em

seus trabalhos. Desde ent��o, como se nos quisesse ensinar

que a melhor escola para Deus �� a do Lar e a do esfor��o

pr��prio - concluiu a palavra materna com singeleza -, ele

aperfei��oa as madeiras da oficina, empunha o martelo e a

enx��, enchendo a casa de ��nimo, com a sua doce alegria!

Isabel lhe escutava atenta �� narrativa e, depois de

outras pequenas considera����es materiais, ambas observa-

ram que as primeiras sombras da noite desciam na paisa-

gem, acinzentando o c��u sem nuvens.

A carpintaria j�� estava fechada e Jos�� buscava a

serenidade do interior dom��stico para o repouso.

40

MARIA, M��e de Jesus

As duas m��es se entreolharam, inquietas, e pergun-

tavam a si pr��prias para onde teriam ido as duas crian��as.

Nazar��, com a sua paisagem, das mais belas de toda

a Galileia, �� talvez o mais formoso recanto da Palestina.

Suas ruas humildes e pedregosas, suas casas pequeninas,

suas lojas singulares se agrupam numa ampla concavida-

de em cima das montanhas, ao norte do Esdrelon. Seus

horizontes s��o estreitos e sem interesse, contudo, os que

sobem um pouco al��m, at�� onde se localizam as casinho-

las mais elevadas, encontrar��o para o olhar assombrado

as mais formosas perspectivas. O c��u parece alongar-se,

cobrindo o conjunto maravilhoso, numa dilata����o infinita.

Maria e Isabel avistaram seus filhos, lado a lado,

sobre uma emin��ncia banhada pelos derradeiros raios

vespertinos. De longe, afigurou-se-lhes que os cabelos de

Jesus esvoa��avam ao sopro caricioso das brisas do alto.

Seu pequeno indicador mostrava a Jo��o as paisagens que

se multiplicavam a dist��ncia, como um grande general

que desse a conhecer as minud��ncias dos seus planos

a um soldado de confian��a. Ante seus olhos surgiam as

montanhas da Samaria, o cume de Magedo, as emin��ncias

de Gelbo��, a figura esbelta do Tabor, onde, mais tarde,

ficaria inesquec��vel o instante da Transfigura����o, o vale

do rio sagrado do Cristianismo, os cumes de Safed, o gol-

fo de Khalfa, o elevado cen��rio do Pereu, num soberbo

conjunto de montes e vales, ao lado das ��guas cristalinas.

Quem poderia saber qual a conversa����o solit��ria

que se travara entre ambos? Distanciados no tempo, deve-

mos presumir que fosse, na Terra, a primeira combina����o

entre o amor e a verdade, para a conquista do mundo. Sa-

bemos, por��m, que na manh�� imediata, partindo o pre-

41



Edison Carneiro

cursor na carinhosa companhia de sua m��e, perguntou

Isabel a Jesus, com gracioso interesse: ��� N��o queres

vir conosco? - ao que o pequeno carpinteiro de Naza-

r�� respondeu, profeticamente, com inflex��o de profunda

bondade: ��� "Jo��o partir�� primeiro".

Humberto de Campos19

Boa Nova - Humberto de Campos/Francisco C��ndido Xavier - Feb

1 9

42



MARIA, M��e de Jesus

18 anos

O Novo Testamento n��o nos d�� not��cias do per��odo

de 18 anos, que medeia entre os 12 anos de Jesus e o in��-

cio de sua vida p��blica aos 30 de idade.

Alguns acham que a hip��tese de, durante este pe-

r��odo, Jesus ter se dedicado ao trabalho na carpintaria em

aux��lio aos pais, seria um exemplo menor. No entanto,

reflitamos: para aquele que disse "Meu Pai trabalha at��

agora e eu trabalho tamb��m", esse exemplo n��o seria har-

monioso com o resto de sua vida de humildade e dedica-

����o absoluta ao bem?

E nesse intervalo o que teria acontecido com Maria?

Teria tido outros filhos carnais?

O Novo Testamento �� vago sobre este ponto. Mateus

menciona refer��ncias a irm��os de Jesus, quando pregava na

sua terra:

"Chegando Jesus �� sua p��tria, ensinava nas sinago-

gas, de maneira que se admiravam e diziam:

43



Edison Carneiro

��� N��o �� este o filho do carpinteiro? N��o se chama

Maria, a sua M��e? Seus irm��os n��o s��o: Tiago, Jos��, Si-

me��o e Judas? N��o est��o entre n��s suas irm��s?".

Tr��s explica����es s��o poss��veis:

1- Na l��ngua de ent��o a mesma palavra designa-

va tanto o que chamamos hoje de primos, quanto o que

chamamos de irm��os. Neste caso os "irm��os" de Jesus

seriam seus primos.

2- Jos��, o esposo de Maria, seria casado em segun-

das n��pcias, neste caso os "irm��os" de Jesus seriam ape-

nas por parte de pai.

3- Maria teria tido outros filhos depois de Jesus.

O organizador deste pequeno trabalho, escolhe, em

car��ter pessoal, a explica����o n��mero 1, embora o fato de

ter mais filhos em nada desmerecesse a M��e de Jesus; a

prole extensa s�� engrandece a mulher.

Mais importante �� que Maria, pelos la��os do cora-

����o, �� m��e de toda a humanidade.

No Novo Testamento, ap��s o in��cio da vida p��bli-

ca de Jesus, h�� uma ��nica e breve men����o a Jos��, feita

em Mateus, o que levaria a crer que ele partira para a

p��tria espiritual no intervalo que medeia entre os 12 e os

30 anos de Jesus.

No in��cio do Evangelho de Jo��o, Maria est�� junto

a Jesus, no primeiro prod��gio registrado no Novo Tes-

tamento, que �� a transforma����o da ��gua em vinho, nas

bodas de Can��.

44





MARIA, M��e de Jesus

E tr��s dias depois deu-se um banquete

De noivado em Can�� da Galileia;

E era a m��e de Jesus ali presente.

Convidado tamb��m com seus disc��pulos

As bodas foi Jesus. E como houvesse

Faltado vinho no correr da festa,

Maria, sua m��e, assim lhe disse:

��� "Eles vinho n��o t��m".

��� "Mulher", de pronto

Respondeu-lhe Jesus por esses termos:

��� "O que existe entre n��s?... Inda chegada

N��o �� a minha hora."

Aos que serviam

Disse �� m��e de Jesus:

��� "Fazei v��s outros

O que ele vos disser."

45



Edison Carneiro

Ora, de pedras

Existiam ali umas seis talhas,

Que ��s purifica����es se destinavam,

Conforme a usan��a entre os judeus, medindo

Cada uma de dois a tr��s almudes.20

Jesus aos servos disse:

��� "Enchei-as d'��gua".

E todas elas foram cheias logo

Pelos servos da casa at�� as bordas.

Ent��o disse Jesus:

��� "Tirai desta ��gua,

E levai-a ao senhor, que dela beba".

E eles a levaram. J�� provando-a

E sentindo-a mudada em puro vinho,

Mas n��o sabendo donde tal viera,

Se bem que os servos, que puseram a ��gua,

O soubessem, chamou ao esposo e disse

Assim o Arquitriclino21:

��� "Todo homem

p��e primeiro o bom vinho em sua mesa,

E quando os convidados t��m bebido

Quanto baste a fartar, ent��o lhes serve

Do pior; tu, por��m, pelo contr��rio,

O vinho bom para o final guardaste."

Foi este dos milagres o primeiro

Que Jesus praticou; e a sua gl��ria

1 Almude = 24 litros.

2 0

Arquitriclino = Mordomo.

2 1

46



MARIA, M��e de Jesus

Fez assim conhecida: e os seus disc��pulos

Creram nele.

Depois, ent��o, desceram

Jesus e sua m��e - indo com ele

Tamb��m os seus irm��os e os seus disc��pulos,

Para Cafarnaum; mas, pouco tempo

Ali se demoraram, que era pr��xima

A p��scoa dos Judeus. Logo partindo,

Para Jerusal��m foram-se todos.22

Palavras de M��e

"Sua m��e disse aos serventes: Fazei tudo quanto

ele vos disser. "(Jo��o 2,5)

O Evangelho �� roteiro iluminado do qual Jesus ��

o centro divino. Nessa Carta de Reden����o, rodeando-lhe

a figura celeste, existem palavras, lembran��as, d��divas e

indica����es muito amadas dos que lhe foram leg��timos co-

laboradores no mundo.

Recebemos a�� recorda����es amigas de Paulo, de

Jo��o, de Pedro, de companheiros outros do Senhor, e que

n��o poderemos esquecer.

Temos igualmente no Documento Sagrado, remi-

nisc��ncias de Maria. Examinemos suas preciosas palavras

em Can��, cheias de sabedoria e amor materno.

Evangelho segundo Jo��o, cap. 2IA Divina Epop��ia - Bittencourt Sampaio

2 2

- Feb.

47



Edison Carneiro

Geralmente, quando os filhos procuram a carinhosa

interven����o de m��e �� que se sentem ��rf��os de ��nimo ou

necessitados de alegria. Por isso mesmo, em todos os lu-

gares do mundo, �� comum observarmos filhos discutindo

com os pais e chorando ante cora����es maternos.

Interpretada com justi��a por anjo tutelar do Cris-

tianismo, ��s vezes �� com imensas afli����es que recorre-

mos a Maria.

Em verdade, o vers��culo do ap��stolo Jo��o n��o se

refere a paisagens dolorosas. O epis��dio ocorre numa fes-

ta de bodas, mas podemos aproveitar-lhe a sublime ex-

press��o simb��lica.

Tamb��m n��s estamos na festa de noivado do

Evangelho com a Terra. Apesar dos quase vinte s��culos

decorridos, o j��bilo ainda �� de noivado, porquanto n��o

se verificou at�� agora a perfeita uni��o... nesse grande

concerto da ideia renovadora, somos serventes humildes.

Em muitas ocasi��es, esgota-se o vinho da esperan��a.

Sentimo-nos extenuados, desiludidos... Imploramos ter-

nura maternal e eis que Maria nos responde: Fazei tudo

quanto ele vos disser.

O conselho �� s��bio e profundo e foi colocado no

princ��pio dos trabalhos de salva����o.

Escutando semelhante advert��ncia de M��e, me-

ditemos se realmente estaremos fazendo tudo quanto o

Mestre nos disse.

Emmanuel23

Caminho, Verdade e Vida - Emmanuel/Francisco C��ndido Xavier - Feb

23

48





MARIA, M��e de Jesus

A pris��o de Jesus

Quando Jo��o, o disc��pulo amado veio ter com

Maria, anunciando-lhe a deten����o do Mestre, o cora����o

materno, consternado, recolheu-se ao santu��rio da prece

e rogou ao Senhor Supremo que poupasse o filho queri-

do. N��o era Jesus o Embaixador Divino? N��o recebera a

notifica����o dos anjos, quanto �� sua condi����o celeste?...

Seu filho amado nascera para a salva����o dos oprimidos...

Ilustraria o nome de Israel, seria o rei diferente, cheio de

amoroso poder. Curava leprosos, levantava paral��ticos

sem esperan��a. A ressurrei����o de L��zaro, j�� sepultado,

n��o bastaria para elev��-lo ao cume da glorifica����o?

E Maria confiou ao Deus de Miseric��rdia suas

preocupa����es e s��plicas, esperando-lhe a provid��ncia,

entretanto, Jo��o voltou em horas breves, para dizer-lhe

que o Messias fora encarcerado.

49



Edison Carneiro

A M��e Sant��ssima regressou �� ora����o em sil��n-

cio. Em pranto, implorou o favor do Pai Celestial. Con-

fiaria Nele.

Desejava enfrentar a situa����o, desassombradamen-

te, procurando as autoridades de Jerusal��m. Mas, humilde

e pobre, que conseguiria dos poderosos da Terra? E, aca-

so, n��o contava com a prote����o do C��u? Certamente, o

Deus de Bondade Infinita, que seu filho revelara ao mun-

do, salv��-lo-ia da pris��o, restitu��-lo-ia �� liberdade.

Maria manteve-se vigilante. Afastando-se da casa

modesta a que se recolhera, ganhou a rua e intentou pe-

netrar o c��rcere, todavia, n��o conseguiu comover o cora-

����o dos guardas.

Noite alta, velava, s��plice, entre a ang��stia e a con-

fian��a. Mais tarde, Jo��o voltou, comunicando-lhe as novas

dificuldades surgidas. O Mestre fora acusado pelos sacer-

dotes. Estava sozinho. E Pilatos, o administrador romano,

hesitando entre os dispositivos da lei e as exig��ncias do

povo, enviara o Mestre �� considera����o de Herodes24.

Maria n��o p��de conter-se. Segui-lo-ia de perto.

Resoluta, abrigou-se num manto discreto e tor-

nou �� via p��blica, multiplicando as rogativas ao C��u,

em sua maternal afli����o. Naturalmente, Deus modifica-

ria os acontecimentos, tocando a alma de Antipas. N��o

duvidaria um instante. Que fizera seu filho para receber

afrontas? N��o reverenciava a lei? N��o espalhava sublimes

consola����es? Amparada pela convertida de Magdala, al-

O Herodes aqui referenciado �� o Rei Herodes Antipas, Tetrarca da

2 4

Galileia e da Pereia. Quem participou dos acontecimentos envolvendo o

nascimento de Jesus foi seu pai, Herodes o Grande.





50


MARIA, M��e de Jesus

can��ou as vizinhan��as do pal��cio do Tetrarca. Oh! infinita

amargura! Jesus fora vestido com uma t��nica de ironia e

ostentava, nas m��os, uma cana suja �� maneira de cetro

e, como se isso n��o bastasse, fora tamb��m coroado de

espinhos!... Ela quis aproximar-se a fim de libertar-lhe a

fronte sangrenta e arrebat��-lo da situa����o dolorosa, mas

o filho, sereno e resignado, endere��ou-lhe o olhar mais

significativo de toda a exist��ncia. Compreendeu que ele

a induzia �� ora����o e, em sil��ncio, lhe pedia confian��a no

Pai. Conteve-se, mas o seguiu em pranto, rogando a inter-

ven����o divina. Imposs��vel que o Pai n��o se manifestasse.

N��o era seu filho o escolhido para a salva����o? N��o era ele

a luz de Israel, o sublime revelador? Lembrou-lhe a in-

f��ncia, amparada pelos anjos... Guardava a impress��o de

que a Estrela Brilhante, que lhe anunciara o nascimento

ainda resplandecia no alto!...

A multid��o estacou, de s��bito. Interrompera-se a

marcha para que o governador romano se pronunciasse

em definitivo.

Maria confiava. Quem sabe chegara o instante da

ordem de Deus? O Supremo Senhor poderia inspirar di-

retamente o juiz da causa.

Ap��s ansiedades longas, P��ncio Pilatos, num es-

for��o extremo para salvar o acusado, convidou a turba

farisaica a escolher entre Jesus, o Divino Benfeitor, e

Barrab��s, o bandido. O cora����o materno asilou esperan-

��as mais fortes. O povo ia falar e o povo devia muitas

b��n����os ao seu filho querido. Como equiparar o Men-

sageiro do Pai ao malfeitor cruel que todos conheciam?

A multid��o, por��m, manifestou-se, pedindo a liberdade

para Barrab��s e a crucifica����o para Jesus. Oh! - pensou a

m��e atormentada - onde est�� o Eterno que n��o me ouve

51



Edison Carneiro

as ora����es? Onde permanecem os anjos que me falavam

em luminosas promessas?

Em copioso pranto, viu seu filho vergado ao peso da

cruz. Ele caminhava com dificuldade, corpo tr��mulo pelas

vergastadas recebidas e, obedecendo ao instinto natural,

Maria avan��ou para oferecer-lhe aux��lio. Contiveram-na,

todavia, os soldados que rodeavam o Condenado Divino.

Angustiada, recordou-se repentinamente de

Abra��o. O generoso patriarca, noutro tempo, movido

pela voz de Deus, conduzira o filho amado ao sacrif��cio.

Seguira Isaac inocente, dilacerado de dor, atendendo a

recomenda����o de Jeov��, mas, eis que no instante derra-

deiro, o Senhor determinou o contr��rio, e o pai de Israel

regressara ao santu��rio dom��stico em soberano triunfo.

Certamente, o Deus Compassivo escutava-lhe as s��plicas

e reservava-lhe j��bilo igual. Jesus desceria do Calv��rio,

vitorioso, para o seu amor, continuando no apostolado da

reden����o; no entanto, dolorosamente surpreendida, viu-o

i��ado no madeiro, entre ladr��es.

Oh! a terr��vel ang��stia daquela hora!... Por que n��o

a ouvira o Poderoso Pai? Que fizera para n��o lhe merecer

a b��n����o?

Humberto de Campos25

No Calv��rio

Junto da cruz, o vulto agoniado de Maria produ-

zia dolorosa e indel��vel impress��o. Com o pensamento

L��zara Redivivo - Humberto de Campos/Francisco C��ndido Xavier - Feb

2 5

52

MARIA, M��e de Jesus

ansioso e torturado, olhos fixos no madeiro das perf��-

dias humanas, a ternura materna regredia ao passado em

amarguradas recorda����es. Ali estava, na hora extrema, o

filho bem-amado.

Maria deixava-se ir na corrente infinda das lem-

bran��as. Eram as circunst��ncias maravilhosas em que o

nascimento de Jesus lhe fora anunciado, a amizade de

Isabel, as profecias do velho Sime��o, reconhecendo que a

assist��ncia de Deus se tornara incontest��vel nos menores

detalhes de sua vida. Naquele instante supremo, revia a

manjedoura, na sua beleza agreste, sentindo que a Natu-

reza parecia desejar redizer aos seus ouvidos o c��ntico de

gl��ria daquela noite inolvid��vel. Atrav��s do v��u espesso

das l��grimas, repassou, uma por uma, as cenas da inf��n-

cia do filho estremecido, observando o alarma interior das

mais doces reminisc��ncias.

Nas menores coisas, reconhecia a interven����o da

Provid��ncia celestial, entretanto, naquela hora, seu pen-

samento vagava tamb��m pelo vasto mar das mais afliti-

vas interroga����es.

Que fizera Jesus por merecer t��o amargas penas?

N��o o vira crescer de sentimentos imaculados, sob o ca-

lor de seu cora����o? Desde os mais tenros anos, quando o

conduzia �� fonte tradicional de Nazar��, observava o cari-

nho fraterno que dispensava a todas as criaturas. Frequen-

temente, ia busc��-lo nas ruas empedradas, onde a sua pa-

lavra carinhosa consolava os transeuntes desamparados e

tristes. Viandantes mis��rrimos vinham �� sua casa modesta

louvar o filhinho idolatrado, que sabia distribuir as b��n����os

do C��u. Com que enlevo recebia os h��spedes inespera-

dos que suas m��os min��sculas conduziam �� carpintaria de

53

Edison Carneiro

Jos��!... Lembrava se bem de que, um dia, a divina crian��a

guiara �� casa dois malfeitores publicamente reconhecidos

como ladr��es do vale de Mizhep. E era de ver-se a amo-

rosa solicitude com que seu vulto pequenino cuidava dos

desconhecidos, como se fossem seus irm��os. Muitas ve-

zes, comentara a excel��ncia daquela virtude santificada,

receando pelo futuro de seu ador��vel filhinho.

Depois do caricioso ambiente dom��stico, era a

miss��o celestial, dilatando-se em colheita de frutos mara-

vilhosos. Eram paral��ticos que retomavam os movimentos

da vida, cegos que se reintegravam nos sagrados dons da

vista, criaturas famintas de luz e de amor que se saciavam

na sua li����o de infinita bondade.

Que profundos des��gnios haviam conduzido seu fi-

lho adorado �� cruz do supl��cio?

Uma voz amiga lhe falava ao Esp��rito, dizendo das

determina����es insond��veis e justas de Deus, que preci-

sam ser aceitas para a reden����o divina das criaturas. Seu

cora����o rebentava em tempestades de l��grimas irreprim��-

veis, contudo, no santu��rio da consci��ncia, repetia a sua

afirma����o de sincera humildade: ��� "Fa��a-se na escrava a

vontade do Senhor!"

De alma angustiada, notou que Jesus atingira o ��l-

timo limite dos padecimentos inenarr��veis. Alguns dos

populares mais exaltados multiplicavam as pancadas,

enquanto as lan��as riscavam o ar, em amea��as audacio-

sas e sinistras. Ironias mordazes eram proferidas a esmo,

dilacerando-lhe a alma sens��vel e afetuosa.

Em meio de algumas mulheres compadecidas, que

lhe acompanhavam o angustioso transe, Maria reparou

que algu��m lhe pousara as m��os, de leve, sobre os ombros.

54

MARIA, M��e de Jesus

Deparou-se-lhe a figura de Jo��o que, vencendo a

pusilanimidade criminosa em que haviam mergulhado

os demais companheiros, lhe estendia os bra��os amoro-

sos e reconhecidos. Silenciosamente, o filho de Zebedeu

abra��ou-se ��quele triturado cora����o maternal. Maria dei-

xou-se enla��ar pelo disc��pulo querido e ambos, ao p�� do

madeiro, em gesto s��plice, buscaram ansiosamente a luz

daqueles olhos misericordiosos, no c��mulo dos tormen-

tos. Foi a�� que a fronte do divino supliciado se moveu

vagarosamente, revelando perceber a ansiedade daquelas

duas almas em extremo desalento.

��� "Meu filho! Meu amado filho!..." - exclamou a

m��rtir, em afli����o diante da serenidade daquele olhar de

melancolia intraduz��vel.

O Cristo pareceu meditar no auge de suas dores,

mas, como se quisesse demonstrar, no instante derradei-

ro, a grandeza de sua coragem e a sua perfeita comunh��o

com Deus, replicou com significativo movimento dos

olhos vigilantes:

��� "M��e, eis a�� teu filho!...". - E dirigindo-se, de

modo especial, com um leve aceno, ao ap��stolo, disse: ���

"Filho, eis a�� tua m��e!".

Maria envolveu-se no v��u de seu pranto doloroso,

mas o grande evangelista compreendeu que o Mestre, na

sua derradeira li����o, ensinava que o amor universal era o

sublime coroamento de sua obra. Entendeu que, no futu-

ro, a claridade do Reino de Deus revelaria aos homens a

necessidade da cessa����o de todo ego��smo e que, no san-

tu��rio de cada cora����o, deveria existir a mais abundante

cota de amor, n��o s�� para o c��rculo familiar, sen��o tamb��m

para todos os necessitados do mundo, e que no templo de

55

Edison Carneiro

cada habita����o permaneceria a fraternidade real, para que

a assist��ncia rec��proca se praticasse na Terra, sem serem

precisos os edif��cios exteriores, consagrados a uma soli-

dariedade claudicante.

Desalentada, ferida, Maria ouvia a voz do filho, re-

comendando-a aos cuidados de Jo��o, o companheiro fiel.

Registrou-lhe, humilhada, as palavras derradeiras. Mas,

quando a sublime cabe��a pendeu inerte, Maria recordou

a visita do anjo, antes do Natal Divino. Em retrospecto

maravilhoso, escutou-lhe a sauda����o celestial. Misteriosa

for��a assenhoreava-se-lhe do espirito.

Sim... Jesus era seu filho, todavia, antes de tudo,

era o Mensageiro de Deus. Ela possu��a desejos humanos,

mas o Supremo Senhor guardava eternos e insond��veis

des��gnios. O carinho materno poderia sofrer, contudo, a

Vontade Celeste regozijava-se. Poderia haver l��grimas

em seus olhos, mas brilhariam festas de vit��ria no Rei-

no de Deus. Suplicara aparentemente em v��o, porquanto,

certo, o Todo-Poderoso atendera-lhe os rogos, n��o segun-

do os seus anseios de m��e e sim de acordo com os seus

planos divinos!...

Foi ent��o que Maria, compreendendo a perfei����o,

a miseric��rdia e justi��a da Vontade do Pai, ajoelhou-se

aos p��s da cruz e, contemplando o filho morto, repetiu as

inesquec��veis afirma����es: ��� "Senhor, eis aqui a tua ser-

va! Cumpra-se em mim, segundo a tua palavra!"

Por muito tempo, conservaram-se ainda ali, em

preces silenciosas, at�� que o Mestre, ex��nime, fosse ar-

56





MARIA, M��e de Jesus

ran��ado �� cruz, antes que a tempestade mergulhasse a pai-

sagem castigada de Jerusal��m num dil��vio de sombras.

Humberto de Campos26

Deus guardou-te a semente, solit��rio,

E aos vivos disse: ��� �� a ��rvore de Maria;

Deus te plantou na hora da agonia,

E aos mortos disse: ��� �� o cedro do calv��rio;

Deus teus ramos encheu de fruto v��rio,

E de folhas a copa alta e sombria;

Deus cobriu-te a raiz que estremecia

De suor e sangue, e o tronco de um sud��rio;

E deu-te b��n����os no sorrir primeiro,

E esponja e cravo e espinhos pendurou

Aos galhos no suspiro derradeiro...

Tu n��o podes morrer... ele expirou!

Teu tronco �� um fragmento do madeiro;

Filha do C��u - Jesus ressuscitou!!

Jos�� Bonif��cio (O Mo��o)27

Soa Nova - Humberto de Campos/Francisco C��ndido Xavier - Feb; L��zaro

2 6

Redivivo - Humberto de Campos/Francisco C��ndido Xavier - Feb.

Referenciado em Rosa Mystica - Sebastiana Botelho Egas.

2 7

57



Edison Carneiro

Ressurrei����o

Quando Jesus ressurgiu do t��mulo, a nega����o e a

d��vida imperavam no c��rculo dos companheiros.

Voltaria Ele? Perguntavam perplexos. Quase im-

poss��vel. Seria Senhor da Vida Eterna quem se entregara

na cruz, expirando entre malfeitores?

Maria Madalena, por��m, a renovada, vai ao sepul-

cro de manh��zinha. E, maravilhosamente surpreendida,

v�� o Mestre, ajoelhando-se-lhe aos p��s. Ouve-lhe a voz

repassada de ternura, fixa-lhe o olhar sereno e magn��ni-

mo. Entretanto, para que a vis��o se lhe fizesse mais n��tida,

foi necess��rio organizar o quadro exterior. O jardim re-

cendia perfumes para a sua sensibilidade feminina, a se-

pultura estava aberta, compelindo-a a raciocinar. Para que

a grava����o das imagens se tornasse bem clara, lavando-

lhe todas as d��vidas da imagina����o, Maria julgou a prin-

c��pio que via o jardineiro. Antes da certeza, a perquiri����o

da mente precedendo a consolida����o da f��. Embriagada

de j��bilo, a convertida de Magdala transmite a boa nova

aos disc��pulos confundidos. Os olhos sombrios de quase

todos se enchem de novo brilho.

Pedro e Jo��o acorrem, pressurosos, e ainda veem

a pedra removida, o sepulcro vazio, e apalpam os len����is

abandonados.

No col��gio dos seguidores travam-se pol��micas

discretas. Seria? N��o seria?

58





MARIA, M��e de Jesus

O Mestre lan��ou-lhes em rosto a incredulidade e a

dureza de cora����o. Exorta-os a que o vejam, o apalpem.

Tom�� chega a consultar-lhe as chagas para adquirir a cer-

teza do que observa.

Em seguida, para que os velhos amigos se certifi-

quem da ressurrei����o, materializa-se num monte, apare-

cendo a quinhentas pessoas na Galileia. No Pentecostes, a

fim de que os homens lhe recebam o Evangelho do Reino,

organiza fen��menos luminosos e lingu��sticos, valendo-se

da colabora����o dos companheiros, ante judeus e roma-

nos, partos e medas, gregos e elamitas, cretenses e ��rabes.

Maravilha-se o povo. Habitantes da Panfilia e da L��bia,

do Egito e da Capad��cia ouvem a Boa Nova no idioma

que lhes �� familiar.

Todos os companheiros, aprendizes, seguidores e

benefici��rios solicitaram a coopera����o dos sentidos f��si-

cos para sentir a presen��a do Divino Ressuscitado. Utili-

zaram-se dos olhos mortais, manejaram o tato, agu��aram

os ouvidos...

Houve, contudo, algu��m que dispensou todos os to-

ques e associa����es mentais, vozes e vis��es. Foi Maria, sua

Divina M��e. O Filho Bem-Amado vivia eternamente, no

infinito mundo de seu cora����o. Seu olhar contemplava-o,

59





Edison Carneiro

atrav��s de todas as estrelas do C��u e encontrava-lhe o h��-

lito perfumado em todas as flores da Terra. A voz dEle vi-

brava em sua alma e para compreender-lhe a sobreviv��n-

cia bastava penetrar o iluminado santu��rio de si mesma.

Seu Filho - seu amor e sua vida - poderia, acaso, morrer?

E embora a saudade angustiosa, consagrou-se �� f�� no re-

encontro espiritual, no plano divino, sem l��grimas, sem

sombras e sem morte...

Homens e mulheres do mundo, que haveis de afron-

tar, um dia, a esfinge do sepulcro, �� poss��vel que estejais

esquecidos plenamente, no dia imediato de vossa partida,

a caminho do Mais Al��m. Familiares e amigos, chamados

ao imediatismo da luta humana, passar��o a desconhecer-

vos, talvez, por completo. Mas, se tiverdes um cora����o de

m��e pulsando na Terra, regozijar-vos-eis, al��m da escura

fronteira de cinzas, porque a�� vivereis amados e felizes

para sempre!

Humberto de Campos28

L��zaro Redivivo - Humberto de Campos/Francisco C��ndido Xavier - Feb.

28

60





MARIA, M��e de Jesus

Na Batan��ia

Ap��s a separa����o dos disc��pulos, que se dispersa-

ram por lugares diferentes, para a difus��o da Boa Nova,

Maria retirou-se para a Batan��ia, onde alguns parentes

mais pr��ximos a esperavam com especial carinho.

Os anos come��aram a rolar, silenciosos e tristes,

para a angustiada saudade de seu cora����o.

Tocada por grandes dissabores, observou que, em

tempo r��pido, as lembran��as do filho amado se conver-

tiam em elementos de ��speras discuss��es, entre os seus

seguidores. Na Batan��ia, pretendia-se manter uma certa

aristocracia espiritual, por efeito dos la��os consangu��neos

que ali a prendiam, em virtude dos elos que a ligavam a

Jos��. Em Jerusal��m, digladiavam-se os crist��os e os ju-

61

Edison Carneiro

deus, com veem��ncia e acrim��nia. Na Galileia, os antigos

cen��culos simples e amor��veis da Natureza estavam tris-

tes e desertos.

Para aquela m��e amorosa, cuja alma digna obser-

vava que o vinho generoso de Can�� se transformara no

vinagre do mart��rio, o tempo assinalava sempre uma sau-

dade maior no mundo e uma esperan��a cada vez mais

elevada no c��u.

Sua vida era uma devo����o incessante ao ros��rio

imenso da saudade, as lembran��as mais queridas. Tudo

que o passado feliz edificara em seu mundo interior re-

vivia na tela de suas lembran��as, com min��cias somente

conhecidas do amor, e lhe alimentavam a seiva da vida.

Relembrava o seu Jesus pequenino, como naquela

noite de beleza prodigiosa, em que o recebera nos bra��os

maternais, iluminado pelo mais doce mist��rio. Figura-

vase-lhe escutar ainda o balido das ovelhas que vinham,

apressadas, acercar-se do ber��o que se formara de impro-

viso. E aquele primeiro beijo, feito de carinho e de luz?

As reminisc��ncias envolviam a realidade long��nqua de

singulares belezas para o seu cora����o sens��vel e generoso.

Em seguida, era o rio das recorda����es desaguando, sem

cessar, na sua alma rica de sentimentalidade e ternura.

Nazar�� lhe voltava �� imagina����o, com as suas paisagens

de felicidade e de luz. A casa singela, a fonte amiga, a

sinceridade das afei����es, o lago majestoso e, no meio de

todos os detalhes, o filho adorado, trabalhando e amando,

no erguimento da mais elevada concep����o de Deus, entre

os homens da Terra. De vez em quando, parecia v��-lo em

62



MARIA, M��e de Jesus

seus sonhos repletos de esperan��a. Jesus lhe prometia o

j��bilo encantador de sua presen��a e participava da car��cia

de suas recorda����es.

Humberto de Campos29





r


Em Efeso


A esse tempo, o filho de Zebedeu, tendo presentes

as observa����es que o Mestre lhe fizera da cruz, surgiu na

Batan��ia, oferecendo ��quele esp��rito saudoso de m��e o

ref��gio amoroso de sua prote����o. Maria aceitou o ofereci-

mento, com satisfa����o imensa.

E Jo��o lhe contou a sua nova vida. Instalara-se de-

finitivamente em Efeso30, onde as ideias crist��s ganhavam

terreno entre almas devotadas e sinceras. Nunca olvida-

ra as recomenda����es do Senhor e, no ��ntimo, guardava

aquele t��tulo de filia����o como das mais altas express��es

de amor universal para com aquela que recebera o Mestre

nos bra��os vener��veis e carinhosos.

Maria escutava-lhe as confid��ncias, num misto de

reconhecimento e de ventura.

Jo��o continuava a expor-lhe os seus planos mais

insignificantes. Lev��-la-ia consigo, andariam ambos na

mesma associa����o de interesses espirituais. Seria seu fi-

Boa Nova - Humberto de Campos/Francisco C��ndido Xavier - Feb.

29

Cidade da L��dia, na costa ocidental da ��sia Menor.

3 0

63

Edison Carneiro

lho desvelado, enquanto receberia de sua alma generosa a

ternura maternal, nos trabalhos do Evangelho. Demorara-

se a vir, explicava o filho de Zebedeu, porque lhe faltava

uma choupana, onde se pudessem abrigar, entretanto, um

dos membros da fam��lia real de Adiabene, convertido ao

amor do Cristo, lhe doara uma casinha pobre, ao sul de

Efeso, distando tr��s l��guas aproximadamente da cidade.

A habita����o simples e pobre demorava num promont��rio,

de onde se avistava o mar. No alto da pequena colina,

distante dos homens e no altar imponente da Natureza, se

reuniriam ambos para cultivar a lembran��a permanente

de Jesus. Estabeleceriam um pouso e ref��gio aos desam-

parados, ensinariam as verdades do Evangelho a todos os

Esp��ritos de boa vontade e, como m��e e filho, iniciariam

uma nova era de amor, na comunidade universal.

Maria aceitou alegremente.

Dentro de breve tempo, instalaram-se no seio ami-

go da Natureza, em frente do oceano. Efeso ficava pouco

distante, por��m, todas as adjac��ncias se povoavam de no-

vos n��cleos de habita����es alegres e modestas. A casa de

Jo��o, ao cabo de algumas semanas, se transformou num

ponto de assembleias ador��veis, onde as recorda����es do

Messias eram cultuadas por Esp��ritos humildes e sinceros.

Maria externava as suas lembran��as. Falava dele

com maternal enternecimento, enquanto o ap��stolo co-

mentava as verdades evang��licas, apreciando os ensinos

recebidos. Vezes in��meras, a reuni��o somente terminava

noite alta, quando as estrelas tinham maior brilho. E n��o

foi s��. Decorridos alguns meses, grandes fileiras de ne-

cessitados acorriam ao s��tio singelo e generoso. A not��-

64



MARIA, M��e de Jesus

cia de que Maria descansava, agora, entre eles, espalhara

um clar��o de esperan��a por todos os sofredores. Ao pas-

so que Jo��o pregava na cidade as verdades de Deus, ela

atendia, no pobre santu��rio dom��stico, aos que a procura-

vam exibindo-lhe suas ��lceras e necessidades.

Humberto de Campos31

M��e Sant��ssima

Sua choupana era, ent��o, conhecida pelo nome de

"Casa da Sant��ssima".

O fato tivera origem em certa ocasi��o, quando um

miser��vel leproso, depois de aliviado em suas chagas, lhe

osculou as m��os, reconhecidamente murmurando:

��� "Senhora, sois a m��e de nosso Mestre e nossa

M��e Sant��ssima!"

A tradi����o criou ra��zes em todos os Esp��ritos.

Quem n��o lhe devia o favor de uma palavra maternal nos

momentos mais duros? E Jo��o consolidava o conceito,

acentuando que o mundo lhe seria eternamente grato,

pois fora pela sua grandeza espiritual que o Emiss��rio de

Deus pudera penetrar a atmosfera escura e pestilenta do

mundo para balsamizar os sofrimentos da criatura. Na sua

humildade sincera, Maria se esquivava ��s homenagens

afetuosas dos disc��pulos de Jesus, mas aquela confian��a

filial com que lhe reclamavam a presen��a era para sua

alma um brando e delicioso tesouro do cora����o. O t��tulo

Boa Nova - Humberto de Campos/Francisco C��ndido Xavier - Feb.

31

65



Edison Carneiro

de maternidade fazia vibrar em seu Esp��rito os c��nticos

mais doces. Diariamente, acorriam os desamparados, su-

plicando a sua assist��ncia espiritual. Eram velhos tr��pe-

gos e desenganados do mundo, que lhe vinham ouvir as

palavras confortadoras e afetuosas, enfermos que invo-

cavam a sua prote����o, m��es infortunadas que pediam a

b��n����o de seu carinho.

��� "Minha m��e - dizia um dos mais aflitos - como

poderei vencer as minhas dificuldades? Sinto-me abando-

nado na estrada escura da vida..."

Maria lhe enviava o olhar amoroso da sua bondade,

deixando nele transparecer toda a dedica����o enternecida

de seu esp��rito maternal.

��� "Isso tamb��m passa! - dizia ela, carinhosamente

- s�� o Reino de Deus �� bastante forte para nunca passar de

nossas almas, como eterna realiza����o do amor celestial."

Seus conceitos abrandavam a dor dos mais deses-

perados, desanuviavam o pensamento obscuro dos mais

acabrunhados.

Humberto de Campos32

O Evangelho de Maria

Com delicadeza extrema, Paulo visitou a M��e de

Jesus na sua casinha singela, que dava para o mar. Impres-

sionou-se fortemente com a humildade daquela criatura

Soa Nova - Humberto de Campos/Francisco C��ndido Xavier.

3 2

66



MARIA, M��e de Jesus

simples e amorosa, que mais se assemelhava a um anjo

vestido de mulher. Paulo de Tarso interessou-se pelas suas

narrativas cariciosas, a respeito da noite do nascimento do

Mestre, gravou no ��ntimo suas divinas impress��es e pro-

meteu voltar na primeira oportunidade, a fim de recolher

os dados indispens��veis ao Evangelho que pretendia es-

crever para os crist��os do futuro. Maria colocou-se �� sua

disposi����o, com grande alegria.

O projeto deste Evangelho continuou a ser alimen-

tado, mas dificultado pelas viagens constantes do ap��stolo.

Estando preso na Cesar��ia, Paulo resolveu encarre-

gar Lucas da reda����o.

A esse tempo, o ex-doutor de Jerusal��m chamou

a aten����o de Lucas para o velho projeto de escrever

uma biografia de Jesus, valendo-se das informa����es

de Maria; lamentou n��o poder ir a Efeso, incumbindo-

-o desse trabalho, que reputava de capital import��ncia

para os adeptos do Cristianismo. O m��dico amigo sa-

tisfez-lhe integralmente o desejo, legando �� posterida-

de o precioso relato da vida do Mestre, rico de luzes e

esperan��as divinas.

Emmanuel33

Por isso o Evangelho de Lucas �� tamb��m conheci-

do como o Evangelho de Maria.

Paulo e Est��v��o - Emmanuel/Francisco C��ndido Xavier.

33





67


Edison Carneiro

Despedidas de Paulo

Paulo dirige-se a Jerusal��m, onde ser�� preso, segun-

do predi����es de vozes amigas, por��m o corajoso ap��stolo,

segue resoluto para o testemunho.

Resolve, entretanto, fazer a viagem em etapas, des-

pedindo-se das igrejas que tanto amava.

Em todas as praias eram gestos comovedores,

adeuses amargurosos. Em Efeso, por��m, a cena foi

muito mais triste, porque o Ap��stolo solicitara o com-

parecimento dos anci��os e dos amigos, para falar-lhes

particularmente ao cora����o. N��o desejava desembar-

car, no intuito de prevenir novos conflitos que lhe re-

tardassem a marcha, mas, em testemunho de amor e

reconhecimento, a comunidade em peso lhe foi ao en-

contro, sensibilizando-lhe a alma afetuosa.

A pr��pria Maria, avan��ada em anos, acorrera de

longe em companhia de Jo��o e outros disc��pulos, para le-

var uma palavra de amor ao paladino intimorato do Evan-

gelho de seu Filho. Os anci��os receberam-no com ardoro-

sas demonstra����es de amizade, as crian��as ofereciam-lhe

merendas e flores.

Extremamente comovido, Paulo de Tarso prelecio-

nou em despedida e, quando afirmou o pressentimento de

que n��o mais ali voltaria em corpo mortal, houve grandes

explos��es de amargura entre os ef��sios.

Como que tocados pela grandeza espiritual daquele

momento, quase todos se ajoelharam no tapete branco da

68



MARIA, M��e de Jesus

praia e pediram a Deus que protegesse o devotado bata-

lhador do Cristo. Recebendo t��o belas manifesta����es de

carinho, o ex-rabino abra��ou, um por um, de olhos molha-

dos. A maioria atirava-se-lhe nos bra��os amorosos, solu-

��ando, beijando-lhe as m��os calosas e rudes. Abra��ando,

por ��ltimo �� M��e Sant��ssima, Paulo tomou-lhe a destra e

nela dep��s um beijo de ternura filial.

Emmanuel34

Paulo e Est��v��o - Emmanuel/Francisco C��ndido Xavier.

34

69



Edison Carneiro

Indo ao C��u

A igreja de Efeso exigia de Jo��o a mais alta ex-

press��o de sacrif��cio pessoal, pelo que, com o decorrer do

tempo, quase sempre Maria estava s��, quando a legi��o hu-

milde dos necessitados descia o promont��rio desataviado,

rumo aos lares mais confortados e felizes. Os dias e as

semanas, os meses e os anos passaram incessantes, trazen-

do-lhe as lembran��as mais ternas. Quando sereno e azula-

do, o mar lhe fazia voltar �� mem��ria o Tiber��ades distante.

Surpreendia no ar aqueles perfumes vagos que enchiam a

alma da tarde, quando seu filho, de quem nem um instante

se esquecia, reunindo os disc��pulos amados, transmitia ao

cora����o do povo as lou��anias da Boa Nova. A velhice n��o

lhe acarretara nem cansa��os nem amarguras. A certeza da

prote����o divina lhe proporcionava ininterrupto consolo.

Como quem transp��e o dia em labores honestos e provei-

tosos, seu cora����o experimentava grato repouso, ilumina-

do pelo luar da esperan��a e pelas estrelas fulgurantes da

cren��a imorredoura. Suas medita����es eram suaves col��-

quios com as reminisc��ncias do filho muito amado.

70

MARIA, M��e de Jesus

S��bito recebeu not��cias de que um per��odo de dolo-

rosas persegui����es se havia aberto para todos os que fos-

sem fi��is �� doutrina do seu Jesus divino. Alguns crist��os

banidos de Roma traziam a Efeso as tristes informa����es.

Em obedi��ncia aos ��ditos mais injustos, escravizavam-

se os seguidores do Cristo, destru��am-se-lhes os lares,

metiam-nos a ferros nas pris��es. Falava-se de festas p��-

blicas, em que seus corpos eram dados como alimento a

feras insaci��veis, em horrendos espet��culos.

Ent��o, num crep��sculo estrelado, Maria entregou-

se ��s ora����es, como de costume, pedindo a Deus por to-

dos aqueles que se encontrassem em ang��stias do cora-

����o, por amor de seu filho.

Embora a soledade do ambiente, n��o se sentia s��:

uma for��a singular lhe banhava a alma toda. Aragens su-

aves sopravam do oceano, espalhando os aromas da noite

que se povoava de astros amigos e afetuosos e, em poucos

minutos, a lua plena participava, igualmente, desse con-

certo de harmonia e de luz.

Enlevada nas suas medita����es, Maria viu aproxi-

marse o vulto de um pedinte.

��� Minha m��e - exclamou o rec��m-chegado, como

tantos outros que recorriam ao seu carinho -, venho fazer-

te companhia e receber a tua b��n����o.

Maternalmente, ela o convidou a entrar, impressio-

nada com aquela voz que lhe inspirava profunda simpatia.

O peregrino lhe falou do c��u, confortando-a delicadamen-

te. Comentou as bem-aventuran��as divinas que aguardam

a todos os devotados e sinceros filhos de Deus, dando a

71

Edison Carneiro

entender que lhe compreendia as mais ternas saudades do

cora����o. Maria sentiu-se empolgada por tocante surpre-

sa. Que mendigo seria aquele que lhe acalmava as dores

secretas da alma saudosa, com b��lsamos t��o dul��orosos?

Nenhum lhe surgira at�� ent��o para dar, era sempre para

pedir alguma coisa. No entanto, aquele viandante desco-

nhecido lhe derramava no ��ntimo as mais santas conso-

la����es. Onde ouvira noutros tempos aquela voz meiga e

carinhosa?! Que emo����es eram aquelas que lhe faziam

pulsar o cora����o de tanta car��cia? Seus olhos se umedece-

ram de ventura, sem que conseguisse explicar a raz��o de

sua terna emotividade.

Foi quando o h��spede an��nimo lhe estendeu as

m��os generosas e lhe falou com profundo acento de amor:

��� "Minha m��e, vem aos meus bra��os!".

Nesse instante, fitou as m��os nobres que se lhe ofe-

reciam, num gesto da mais bela ternura. Tomada de co-

mo����o profunda, viu nelas duas chagas, como as que seu

filho revelava na cruz e, instintivamente, dirigindo o olhar

ansioso para os p��s do peregrino amigo, divisou tamb��m

a�� as ��lceras causadas pelos cravos do supl��cio. N��o p��de

mais. Compreendendo a visita amorosa que Deus lhe en-

viava ao cora����o, bradou com infinita alegria:

���"Meu filho! meu filho! as ��lceras que te fizeram!..."

E precipitando-se para ele, como m��e carinhosa e

desvelada, quis certificar-se, tocando a ferida que lhe fora

produzida pelo ��ltimo lan��a��o, perto do cora����o. Suas

m��o ternas e sol��citas o abra��aram na sombra visitada

72



MARIA, M��e de Jesus

pelo luar, procurando sofregamente a ��lcera que tantas

l��grimas lhe provocara ao carinho maternal. A chaga la-

teral tamb��m l�� estava, sob a car��cia de suas m��os. N��o

conseguiu dominar o seu intenso j��bilo. Num ��mpeto de

amor, fez um movimento para se ajoelhar. Queria abra-

��ar-se aos p��s do seu Jesus e oscul��-los com ternura. Ele,

por��m, levantando-a, cercado de um halo de luz celestial,

se lhe ajoelhou aos p��s e, beijando-lhe as m��os, disse em

carinhoso transporte:

��� "Sim, minha m��e, sou eu!... Venho buscar-te,

pois meu Pai quer que sejas no meu reino a Rainha dos

Anjos...".

Maria cambaleou, tomada de inexprim��vel ventura.

Queria dizer da sua felicidade, manifestar seu agradeci-

mento a Deus; mas o corpo como que se lhe paralisara,

enquanto aos seus ouvidos chegavam os ecos suaves da

sauda����o do Anjo, qual se a entoassem mil vozes caricio-

sas, por entre as harmonias do c��u.

No outro dia, dois portadores humildes desciam a

Efeso, de onde regressaram com Jo��o, para assistir aos

��ltimos instantes daquela que lhes era a devotada M��e

Sant��ssima.

Maria j�� n��o falava. Numa inolvid��vel express��o

de serenidade, por longas horas ainda esperou a ruptura

dos derradeiros la��os que a prendiam �� vida material.

Humberto de Campos35

Boa Nova - Humberto de Campos/Francisco C��ndido Xavier.

35

73

Edison Carneiro

Rainha dos Anjos

A alvorada desdobrava o seu formoso leque de luz

quando aquela alma eleita se elevou da Terra, onde tantas

vezes chorara de j��bilo, de saudade e de esperan��a. N��o

mais via seu filho bem-amado, que certamente a espe-

raria, com as boas-vindas, no seu reino de amor; mas,

extensas multid��es de entidades ang��licas a cercavam

cantando hinos de glorifica����o.

Experimentando a sensa����o de se estar afastando

do mundo, desejou rever a Galileia com os seus s��tios pre-

feridos. Bastou a manifesta����o de sua vontade para que a

conduzissem �� regi��o do lago de Genesar��, de maravilho-

sa beleza. Reviu todos os quadros do apostolado de seu

filho e, s�� agora, observando do alto a paisagem, notava

que o Tiber��ades, em seus contornos suaves, apresentava

a forma quase perfeita de um ala��de. Lembrou-se, ent��o,

de que naquele instrumento da Natureza Jesus cantara o

mais belo poema de vida e amor, em homenagem a Deus

e �� humanidade. Aquelas ��guas mansas, filhas do Jord��o

marulhoso e calmo, haviam sido as cordas sonoras do

c��ntico evang��lico.

Dulc��ssimas alegrias lhe invadiam o cora����o e j��

a caravana espiritual se dispunha a partir, quando Maria

se lembrou dos disc��pulos perseguidos pela crueldade do

mundo e desejou abra��ar os que ficariam no vale das som-

bras, �� espera das claridades definitivas do Reino de Deus.

Emitindo esse pensamento, imprimiu novo impulso ��s

multid��es espirituais que a seguiam de perto. Em poucos

instantes, seu olhar divisava uma cidade soberba e maravi-

lhosa, espalhada sobre colinas enfeitadas de carros e monu-

74

MARIA, M��e de Jesus

mentos que lhe provocavam assombro. Os m��rmores mais

ricos esplendiam nas magnificentes vias p��blicas, onde as

liteiras patr��cias passavam sem cessar, exibindo pedrarias

e peles, sustentadas por mis��rrimos escravos. Mais alguns

momentos e seu olhar descobria outra multid��o guardada

a ferros em escuros calabou��os. Penetrou os sombrios c��r-

ceres do Esquilino, onde centenas de rostos amargurados

retratavam padecimentos atrozes. Os condenados experi-

mentaram no cora����o um consolo desconhecido.

Maria se aproximou de um a um, participou de

suas ang��stias e orou com suas preces, cheias de sofri-

mento e confian��a. Sentiu-se m��e daquela assembleia de

torturados pela injusti��a do mundo. Espalhou a claridade

misericordiosa de seu Esp��rito entre aquelas fisionomias

p��lidas e tristes.

Eram anci��os que confiavam no Cristo, mulheres

que por ele haviam desprezado o conforto do lar, jovens

que depunham no Evangelho do Reino toda a sua espe-

ran��a. Maria aliviou-lhes o cora����o e, antes de partir, sin-

ceramente desejou deixar-lhes nos Esp��ritos abatidos uma

lembran��a perene. Que possu��a para lhes dar? Deveria su-

plicar a Deus para eles a liberdade?! Mas, Jesus ensinara

que com Ele todo jugo �� suave e todo fardo seria leve, pa-

recendo-lhe melhor a escravid��o com Deus do que a falsa

liberdade nos desv��es do mundo. Recordou que seu filho

deixara a for��a da ora����o como um poder incontrast��vel

entre os disc��pulos amados. Ent��o, rogou ao C��u que lhe

desse a possibilidade de deixar entre os crist��os oprimi-

dos a for��a da alegria. Foi quando, aproximando-se de

uma jovem encarcerada, de rosto descarnado e macilento,

lhe disse ao ouvido:

75





Edison Carneiro

��� "Canta, minha filha! Tenhamos bom ��nimo!...

Convertamos as nossas dores da Terra em alegrias para o

C��u!..."

A triste prisioneira nunca saberia compreender o

porqu�� da emotividade que lhe fez vibrar subitamente o

cora����o. De olhos est��ticos, contemplando o firmamento

luminoso, atrav��s das grades poderosas, ignorando a ra-

z��o de sua alegria, cantou um hino de profundo e enter-

necido amor a Jesus, em que traduzia sua gratid��o pelas

dores que lhe eram enviadas, transformando todas as suas

amarguras em consoladoras rimas de j��bilo e esperan��a.

Da�� a instantes, seu canto melodioso era acompanhado

pelas centenas de vozes dos que choravam no c��rcere,

aguardando o glorioso testemunho.

Logo, a caravana majestosa conduziu ao Reino do

Mestre a bendita entre as mulheres e, desde esse dia, nos

tormentos mais duros, os disc��pulos de Jesus t��m cantado

na Terra, exprimindo o seu bom ��nimo e a sua alegria,

guardando a suave heran��a de Nossa M��e Sant��ssima.

Por essa raz��o, irm��os meus, quando ouvirdes o

c��ntico nos templos das diversas fam��lias religiosas do

Cristianismo, n��o vos esque��ais de fazer no cora����o um

brando sil��ncio, para que a Rosa M��stica de Nazar�� espa-

lhe a�� o seu perfume!

Humberto de Campos36

Boa Nova - Humberto de Campos/Francisco C��ndido Xavier.

36

76





2a PARTE





MARIA, M �� e de Jesus

rosa lucida

Depois de muito tempo,

Sobre os quadros sombrios do calv��rio,

Judas, cego no al��m, errava solit��rio...

Era triste a paisagem,

O c��u era nevoento...

Cansado de remorso e sofrimento,

Sentara-se a chorar...

Nisso, nobre mulher de planos superiores,

Nimbada de celestes esplendores,

Que ele n��o conseguia divisar,

Chega e afaga a cabe��a do infeliz.

Em seguida, num tom de carinho profundo,

Quase que, em ora����o, ela lhe diz:

��� Meu filho, por que choras?

Acaso, n��o sabeis? - replica o interpelado,

Claramente agressivo,

79

Edison Carneiro

Sou um morto e estou vivo.

Matei-me e novamente estou de p��,

Sem consolo, sem lar, sem amor e sem f��...

N��o ouvistes falar em Judas, o traidor?

Sou eu que aniquilei a vida do Senhor...

A princ��pio, julguei

Poder faz��-lo rei,

Mas apenas lhe impus

Sacrif��cio, mart��rio, sangue e cruz.

E em flagelo e afli����o

Eis a que a minha vida agora se reduz...

Afastai-vos de mim,

Deixai-me padecer neste inferno sem fim...

Nada me pergunteis, retirai-vos senhora,

Nada sabeis da m��goa que me agita,

Nunca penetrareis minha dor infinita...

O assunto que lastimo �� unicamente meu...

No entanto, a dama calma respondeu:

��� Meu filho, sei que sofres, sei que lutas,

Sei a dor que te causa o remorso que escutas,

Venho apenas falar-te

Que Deus �� sempre amor em toda parte...

E acrescentou serena:

��� A Bondade do C��u jamais condena;

Venho por m��e a ti, buscando um filho amado.

Sofre com paci��ncia a dor e a prova;

Ter��s, em breve, uma exist��ncia nova...

N��o te sintas sozinho ou desprezado.

80

MARIA, M��e de Jesus

Judas interrompeu-a e bradou, rude e pasmo:

��� M��e? N��o me venhais aqui com mentira

e sarcasmo.

Depois de me enforcar num galho de figueira,

Para acordar na dor,

Sem mais poder fugir �� vida verdadeira,

Fui procurar consolo e for��a de viver

Ao p�� da pobre m��e que me forjara o ser!

Ela me viu chorando e escutou meus lamentos,

Mas teve medo de meus sofrimentos.

Expulsou-me a esconjuros,

Chamou-me monstro, por sinal,

Disse que eu era

Unicamente o Esp��rito do mal;

Intimou-me a terr��vel retrocesso,

Mandando que apressasse o meu regresso

Para a zona infernal, de onde, por certo, eu vinha...

Ah! detesto lembrar a horr��vel m��e que eu tinha...

N��o me faleis de m��es, n��o me faleis de amor,

Sou apenas um monstro sofredor...

��� Inda assim - disse a dama docemente -

Por mais que me recuses, n��o me altero;

Amo-te, filho meu, amo-te e quero

Ver-te, de novo, a vida

Maravilhosamente revestida

De paz e luz, de f�� e eleva����o...

Vir��s comigo �� Terra,

Perder��s, pouco a pouco, o ��nimo violento,

Ter��s o cora����o

Nas ��guas de bendito esquecimento.





81




Edison Carneiro

Numa nova exist��ncia de esperan��a,

Levar-te-ei comigo

A remansoso abrigo,

Dar-te-ei outra m��e! Pensa e descansa!...

E Judas, nesse instante,

Como quem olvidasse a pr��pria dor gigante

Ou como quem se desagarra de pesadelo atroz

Perguntou: ��� Quem sois v��s?

Que me falais assim, sabendo-me traidor?

Sois divina mulher, irradiando amor

Ou anjo celestial de quem pressinto a luz?!...

No entanto, ela a fit��-lo, frente a frente,

Respondeu simplesmente:

��� Meu filho, eu sou Maria, sou a m��e de Jesus.

Maria Dolores

Momentos de Ouro - Francisco C��ndido Xavier/Esp��ritos Diversos -

37

Geem.

82





MARIA, M��e de Jesus

Maria mant��m no plano espiritual in��meras orga-

niza����es; uma delas �� Legi��o dos Servos de Maria; Cami-

lo Castelo Branco destacado escritor portugu��s do s��culo

XIX tendo cometido suic��dio foi socorrido amorosamente

pela Legi��o dos Servos de Maria e posteriormente trans-

mitiu atrav��s da m��dium Yvonne A. Pereira not��cias dessa

obra benem��rita da M��e de Jesus.38

Nessas institui����es podemos reconhecer o amor

maternal da M��e de Jesus que ��, a medida que mais se ob-

serva, mais abrangente; uma imagem dessa abrang��ncia ��

a dos bra��os maternais que abra��am o beb�� de encontro

ao seio, envolvendo-o por completo.

�� um amor materno que acrescenta energia ao cari-

nho; ao zelo com a habita����o confort��vel, vestu��rio limpo,

Todos os textos citados neste cap��tulo s��o extra��dos do livro Mem��rias de

3 8

um Suicida, Yvonne A. Pereira - Feb.

83

Edison Carneiro

alimenta����o saborosa e saud��vel a M��e Sant��ssima soma

a disciplina indispens��vel; �� corrigenda educativa, t��o ne-

cess��ria a quem se habitua ao mal, Maria adiciona a espe-

ran��a e a certeza do triunfo final do bem.

N��o a encontraremos em corpo espiritual com

frequ��ncia nesses lugares, mesmo porque sua presen��a

portentosa distrairia os obreiros de suas obriga����es roti-

neiras, mas a cada passo, em cada processo, nos meno-

res detalhes, a sua influ��ncia e as suas orienta����es est��o

presentes.

Acompanhemos atrav��s do olhar de Camilo, Esp��-

rito em sofrimento na ��poca, flashes dos personagens e do

cen��rio do plano espiritual onde se desenvolvem os traba-

lhos caritativos desses trabalhadores do bem, cujo ideal

�� servirem a Maria, pois dessa forma estar��o servindo a

Jesus e servindo a Deus.

O Vale dos Suicidas

Depois do suic��dio, enfrentando atrozes sofrimen-

tos, Camilo foi conduzido ao Vale dos Suicidas, regi��o de

muitas dores do plano espiritual que abriga aqueles que

tentaram p��r fim �� pr��pria vida.

Vejamos os personagens desse vale de sofrimen-

tos: Sim! Imaginai uma assembleia numerosa de criatu-

ras disformes - homens e mulheres - caracterizada pela

alucina����o de cada uma, correspondente a casos ��ntimos,

trajando, todos, vestes como que empastadas do lodo das

sepulturas, com fei����es alteradas e doloridas estampan-

84

MARIA, M��e de Jesus

do os estigmas de sofrimentos cruciantes! Imaginai uma

localidade, uma povoa����o envolvida em densos v��us de

penumbras,g��lida e asfixiante, onde se aglomerassem

habitantes de al��m-t��mulo abatidos pelo suic��dio, osten-

tando, cada um, o ferrete infame do g��nero de morte es-

colhido no intento de ludibriar a Lei Divina - que lhes

concedera a vida corporal terrena como precioso ensejo

de progresso, inavali��vel instrumento para a remiss��o de

faltas gravosas no pret��rito.

O cen��rio:

De outras vezes, tateando nas sombras, l�� ��amos,

por entre gargantas, vielas e becos, sem lograrmos ind��cio

de sa��da... Cavernas, sempre cavernas - todas numeradas

-; ou longos espa��os pantanosos quais lagos lodosos cir-

culados de muralhas abruptas, que nos afiguravam levan-

tadas em pedra e ferro, como se f��ramos sepultados vivos

nas profundas tenebrosidades de algum vulc��o! Era um

labirinto onde nos perd��amos sem podermos jamais al-

can��ar o fim!

1 Por��m, mesmo em lugar t��o terr��vel, a miseric��rdia

de Deus se manifesta:

Periodicamente, singular caravana visitava esse

antro de sombras:

Era como a inspe����o de alguma associa����o carido-

sa, assist��ncia protetora de institui����o humanit��ria, cujos

abnegados fins n��o se poderiam p��r em d��vida.

Vinha �� procura daqueles dentre n��s cujos fluidos

vitais arrefecidos pela desintegra����o completa da mat��ria,

85

Edison Carneiro

permitissem locomo����o para as camadas do Invis��vel in-

termedi��rio, ou de transi����o.

Sup��nhamos tratar-se, a caravana, de um grupo de

homens. Mas na realidade eram Esp��ritos que estendiam

a fraternidade...

Senhoras faziam parte dessa caravana. Precedia,

por��m, a coluna, pequeno pelot��o de lanceiros, qual bate-

dor de caminhos, ao passo que v��rios outros milicianos da

mesma arma rodeavam os visitadores, como tecendo um

cord��o de isolamento, o que esclarecia serem estes muito

bem guardados contra quaisquer hostilidades que pudes-

sem surgir do exterior. Com a destra o oficial comandante

erguia alvinitente fl��mula, na qual se lia, em caracteres

tamb��m azul-celeste, esta extraordin��ria legenda, que ti-

nha o dom de infundir insopit��vel e singular temor:

Legi��o dos servos de Maria.

Entravam aqui e ali, pelo interior das cavernas habi-

tadas, examinando seus ocupantes. Curvavam-se, cheios

de piedade, junto das sarjetas, levantando aqui e acol�� al-

gum desgra��ado tombado sob o excesso de sofrimento;

retiravam os que apresentassem condi����es de poderem

ser socorridos e colocavam-nos em macas conduzidas por

var��es que se diriam servi��ais ou aprendizes.

O Hospital Maria de Nazar��

Passaram-se os anos e finalmente Camilo tem con-

di����es de ser socorrido e �� transferido para o hospital

Maria de Nazar��.

86



MARIA, M��e de Jesus

Um dia, profundo alquebramento sucedeu em meu

ser a prolongada excita����o. Fraqueza ins��lita conservou-

me aquietado, como desfalecido...

O conhecido rumor aproximava-se cada vez mais...

Sa��mos de um salto para a rua... Vielas e pra��as encheram-

se de r��probos como das passadas vezes, ao mesmo tempo

que os mesmos angustiosos brados de socorro ecoavam

pelas quebradas sombrias, no intuito de despertarem a

aten����o dos que vinham para a costumeira vistoria...

At�� que, dentro da atmosfera densa e penumbro-

sa, surgiram os carros brancos, rompendo as trevas com

poderosos holofotes.

De s��bito ressoou na atmosfera dram��tica daquele

inferno onde tanto padeci, repercutindo estrondosamen-

te pelos mais profundos rec��ncavos do meu ser, o meu

nome, chamado para a liberta����o! ...

��� Abrigo n��mero 36 da rua n��mero 48 - Aten-

����o!... Abrigo n��mero 36 - Ingressar no comboio de so-

corro - aten����o!... - Camilo C��ndido Botelho - Belarmino

de Queiroz e Souza - Jer��nimo de Ara��jo Silveira - Jo��o

d'Azevedo - Mario Sobral - Ingressarem no comboio...39

Entrei... nas portas de entrada lia-se a legenda en-

trevista antes, na fl��mula empunhada pelo comandante do

pelot��o de guardas:

Legi��o dos Servos de Maria.

Perdoar-me-�� o leitor o n��o transcrever na ��ntegra os nomes destes per-

3 9

sonagens, tal como foram revelados pelo autor destas p��ginas. (Nota da

m��dium Yvonne A. Pereira)

87

Edison Carneiro

Depois de algum tempo de marcha, durante o qual

t��nhamos a impress��o de estar vencendo grandes dist��n-

cias, vimos que foram descerradas as persianas, facul-

tando-nos possibilidade de distinguir, no horizonte ainda

afastado, severo conjunto de muralhas fortificadas, en-

quanto pesada fortaleza se elevava impondo respeitabili-

dade e temor na solid��o de que se cercava.

Muralhas amea��adoras, a fortaleza grandiosa,

padr��o das velhas fortifica����es medievais, tendo por

detalhe primordial meia d��zia de torres, cujas linhas

grandemente sugestivas despertariam a aten����o de quem

por ali transitasse.

Vista, a dist��ncia, a edifica����o apavorava, suge-

rindo rigores e disciplinas austeras...Assaltou-nos tal im-

press��o de poder, grandeza e majestade que nos sentimos

��nfimos, acovardados s�� no avist��-la.

Aproximando-se cada vez mais, o comboio final-

mente estacou fronteiro a um grande port��o, que seria a

entrada principal.

Para al��m da cornija, caprichosamente trabalhada,

e urdida em letras art��sticas e gra��das, lia-se em idio-

ma portugu��s esta inscri����o j�� nossa conhecida, a qual,

como por encanto, serenou nossa agita����o logo que a

descobrimos:

Legi��o dos Servos de Maria.

Seguindo-se esta indica����o que, emocionante,

compeliu-nos a novas apreens��es:

Col��nia Correcional.

88

MARIA, M��e de Jesus

N��o faltava �� fortaleza nem mesmo a defesa exte-

rior de um fosso. Uma ponte desceu sobre ele e o com-

boio venceu o empecilho fazendo-nos ingressar definiti-

vamente nessa Col��nia, n��o isentados, por��m, de s��rias

preocupa����es quanto ao futuro que nos aguardava. De

entrada, notamos pelas imedia����es numerosos militares,

qual se ali se aquartelasse um regimento. Entretanto, es-

tes muito se assemelhavam aos antigos soldados eg��pcios

e hindus, o que muito nos admirou. Sobre o p��rtico da

torre principal lia-se esta outra inscri����o, parecendo-nos

tudo muito interessante, como um sonho que nos cumu-

lasse de incertezas:





Torre de Vigia.


Passamos sem estacionar por essa grande pra��a mi-

litar, certo de que se trataria de uma fortifica����o guerreira

id��ntica ��s da Terra, conquanto revestida de indefin��vel

nobreza, inexistente nas cong��neres que conhec��ramos

atrav��s da Europa, pois n��o poder��amos ent��o, avaliar a

verdadeira finalidade da sua exist��ncia naquelas regi��es

desoladas do Invis��vel inferior, cercada de perigos bem

mais s��rios do que os que poder��amos presumir.

Com surpresa verificamos que entr��vamos em ci-

dade movimentad��ssima, conquanto recoberta por exten-

sos v��us de neve, ou cerra����o pesada. N��o fazia, por��m,

frio intenso, o que nos surpreendeu, e o sol, mostrando-se

a medo entre a cerra����o, deixava ocasi��o n��o s�� para nos

aquecermos, mas tamb��m para distinguirmos o que hou-

vesse em derredor.

89

Edison Carneiro

Edif��cios soberbos impunham-se �� aprecia����o,

apresentando o formoso estilo portugu��s cl��ssico, que

tanto nos falava �� alma. Indiv��duos atarefados, neles en-

travam e deles sa��am em afanosa movimenta����o, todos

uniformizados com longos aventais brancos, ostentando

ao peito a cruz azul-celeste ladeada pelas iniciais: LSM.

Dir-se-iam edif��cios, minist��rios p��blicos ou

departamentos. Casas residenciais alinhavam-se, gra-

ciosas e evocativas na sua estiliza����o nobre e superior,

tra��ando ruas art��sticas que se estendiam laqueadas de

branco, como que asfaltadas de neve. A frente de um

daqueles edif��cios parou o comboio e fomos convidados

a descer. Sobre o p��rtico definia-se sua finalidade em

letras vis��veis:

Departamento de Vigil��ncia.

Tratava-se da sede do Departamento onde ser��amos

reconhecidos e matriculados pela dire����o, como internos

da Col��nia. Daquele momento em diante estar��amos sob

a tutela direta de uma das mais importantes agremia����es

pertencentes �� Legi��o chefiada pelo grande Esp��rito Maria

de Nazar��, ser ang��lico e sublime que na Terra mereceu

a miss��o honrosa de seguir, com solicitudes maternais,

Aquele que foi o redentor dos homens!

Conduzidos a um p��tio extenso e nobre, que lem-

braria antigos claustros de Portugal, fomos em seguida

transportados em pequenos grupos de 10 individualida-

des, para determinado gabinete onde v��rios funcion��rios

colaboravam nos trabalhos de registro. Ali deixar��amos a

identidade terrena, bem assim as raz��es que nos induzi-

ram ao suic��dio, o g��nero do mesmo como o local em que

jazeram os despojos.

90

MARIA, M��e de Jesus

Dentro em pouco, entregues a novos servidores,

cujas operosidades se desenrolavam aqu��m dos muros

da institui����o, fomos compelidos ao ingresso em novos

meios de transporte, que tudo indicava serem para uso dos

per��metros internos, porquanto nos cumpria continuar a

marcha, iniciada desde o Vale.

Nossas viaturas agora eram leves e graciosas, quais

tren��s ligeiros e confort��veis, puxados pelas mesmas ad-

mir��veis parelhas de cavalos normandos, e com capacida-

de para dez passageiros cada um. Ao cabo de uma hora de

corrida moderada, durante a qual deix��vamos para tr��s o

bairro da Vigil��ncia, penetrando, por assim dizer, o cam-

po, porque avan��ando para regi��o despovoada, conquanto

as estradas se apresentassem caprichosamente projetadas,

orladas de arbustos n��veos quais flores dos Alpes, avista-

mos grandes marcos, como arcos de triunfo, assinalando

o ingresso em novo Departamento, nova prov��ncia dessa

Col��nia Correcional localizada nas fronteiras invis��veis

da Terra com a Espiritualidade propriamente dita.

Com efeito. L�� estava a indica����o necess��ria entes-

tando a arcada principal, norteando o rec��m-chegado por

auxili��-lo no esclarecimento de poss��veis d��vidas:

D e p a r t a m e n t o Hospitalar.

A um e outro lado destacavam-se outras em que

setas indicavam o in��cio de novos trajetos, enquanto no-

vas inscri����es satisfaziam a curiosidade ou necessidade

do viajante:

A direita - Manic��mio.

A esquerda - Isolamento.

91

Edison Carneiro

Nossos condutores fizeram-nos ingressar pela do

centro, onde tamb��m se lia, em sub-t��tulo:

Hospital Maria de Nazar��.

Imenso parque ajardinado surpreendeu-nos para

al��m dos marcos, enquanto amplos edif��cios se elevavam

em locais apraz��veis da situa����o. Padronizando sempre

o estilo portugu��s cl��ssico, esses edif��cios apresentavam

muita beleza e amplas sugest��es com suas arcadas, co-

lunas, torres, terra��os, onde flores trepadeiras se enros-

cavam acentuando agrad��vel est��tica. Para quem, como

n��s, angustiados e miser��veis, procedia das atrasadas

regi��es, semelhante localidade, n��o obstante insulsa,

gra��as �� inalter��vel brancura, aparecia como suprema

esperan��a de reden����o! E nem faltavam, aformoseando

o parque, tanques com repuxos art��sticos a esguicharem

��gua l��mpida e cristalina, a qual tombava em sil��ncio,

cascateando mimosas gotas como p��rolas, enquanto aves

mansas, bando de pombos graciosos esvoa��avam ligeiros

entre a��ucenas.

Ao contr��rio das demais depend��ncias hospitala-

res, como o Isolamento e o Manic��mio, o Hospital Ma-

ria de Nazar��, ou "Hospital Matriz", n��o se rodeava de

qualquer barreira. Apenas ��rvores frondosas, tabuleiros

de a��ucenas e rosas teciam-lhe graciosas muralhas. Mui-

tas vezes pensei, quando dos meus dias de convalescen��a,

como seria arrebatadora a paisagem se a policromia na-

tural rompesse o sud��rio n��veo que tudo aquilo envolvia

entristecendo o ambiente de incorrig��vel monotonia!

Fatigados, sonolentos e tristes, subimos a esca-

daria. Grupos de enfermeiros atenciosos, todos homens,

92

MARIA, M��e de Jesus

chefiados por dois jovens trajados �� indiana, assistentes

do diretor do departamento, os quais mais tarde soubemos

chamarem-se Romeu e Alceste, receberam-nos das m��os

dos funcion��rios da Vigil��ncia incumbidos, at�� ent��o, da

nossa guarda, e, amparando-nos, bondosamente, conduzi-

ram-nos ao interior.

Penetramos galerias magn��ficas, ao longo das quais

portas largas e envidra��adas, com caixilhos levemente

azuis, deixavam ver o interior das enfermarias, o que vi-

nha esclarecer que o enfermo jamais se reconheceria a s��s.

Nossos grupos separaram-se �� indica����o dos enfermeiros:

dez �� direita... dez �� esquerda... Cada dormit��rio continha

dez leitos alv��ssimos e confort��veis, amplos sal��es com

balc��es para o parque. Forneceram-nos, caridosamente,

banho, vestu��rio hospitalar, o que nos proporcionou l��gri-

mas de reconhecimento e satisfa����o. A cada um de n��s foi

servido delicioso caldo, t��pido, reconfortante, em pratos

t��o alvos quanto os len����is e cada um sentiu o sabor da-

quilo que lhe apetecia. Fato singular: enquanto faz��amos

a refei����o frugal, era o lar paterno que acudia ��s nossas

lembran��as, as reuni��es em fam��lia, a mesa da ceia, o

doce vulto de nossas m��es servindo-nos, a figura austera

do pai �� cabeceira... E l��grimas indefin��veis se mistura-

ram ao alimento reconfortador...

Num ��ngulo favor��vel aos dez leitos uma lareira

aquecia o recinto, proporcionando-nos reconforto. E aci-

ma, suspensa ao alto da parede, que se diria estruturada

em porcelana, fascinante tela em cores, luminosa e como

que animada de vida e intelig��ncia, despertou nossa aten-

����o t��o logo transpusemosos acolhedores umbrais. Era um

93

Edison Carneiro

quadro da Virgem de Nazar��, algo semelhante ao c��lebre

painel de Murilo, que eu t��o bem conhecia, mas sublima-

do por virtuosidades inexistentes entre os g��nios da Terra!

Ao terminarmos a refei����o, eis que dois var��es

hindus entraram em nosso compartimento, apresentan-

do particularidades que os deixavam reconhecer como

m��dicos. Faziam-se acompanhar de dois outros var��es,

os quais deveriam acompanhar-nos durante toda a nossa

hospitaliza����o, pois eram respons��veis pela enfermaria

que ocup��vamos. Chamavam-se estes Carlos e Roberto

de Canalejas, eram pai e filho respectivamente, e, quan-

do encarnados, haviam sido m��dicos espanh��is na Ter-

ra. Era, no entanto, imperfeitamente que a todos eles

perceb��amos, dado o estado de debilidade em que nos

encontr��vamos. Dir-se-ia que sonh��vamos, e o que vi-

mos narrando ao leitor s�� podia ser-nos entrevisto como

durante as oscila����es do sonho...

N��o obstante, os hindus aproximaram-se de cada

um dos leitos, falaram docemente a cada um de n��s, apu-

seram sobre nossas cabe��as atormentadas as m��os delica-

das e t��o n��veas que se diriam transl��cidas, acomodaram

nossas almofadas, obrigando-nos ao repouso; cobriram-

nos paternalmente, aconchegando cobertores aos nossos

corpos enregelados, enquanto murmuravam em tonali-

dades t��o carinhosas e sugestivas, que pesada sonol��ncia

nos venceu imediatamente:

"���Necessitais de repouso... Repousai sem receio,

meus amigos... Sois todos h��spedes de Maria de Nazar��,

a doce M��e de Jesus...Esta casa �� dela..."

E se conosco assim procederam, outros assistentes,

certamente, o mesmo fizeram em torno dos demais com-

ponentes da tr��gica falange recolhida pelo Amor de Deus!

94

MARIA, M��e de Jesus

No dia seguinte...

"��� Meus amigos, chamam-me Joel Steel, sou-

ou fui, como queiram - portugu��s nato, mas de origem

inglesa. Em verdade o velho Portugal foi sempre muito

querido ao meu cora����o... Jamais pude esquecer os dias

venturosos que em seu seio generoso passei... Fui feliz

em Portugal... mas depois... os fados me arrastaram para

o Pa��s de Gales, ber��o natal de minha querida m��e, D��ris

Mary Steel da Costa, e ent��o... Bem, �� como compatriota

e amigo que vos convido ao gabinete cir��rgico a fim de

serdes submetidos aos necess��rios exames, pois que se

iniciaram neste momento os trabalhos de cirurgia..."

Prontificamo-nos, esperan��ados. N��o desej��vamos

outra coisa desde muito tempo! As dores que sent��amos,

nossa indisposi����o geral, refletindo penosamente o que

ocorrera com o corpo f��sico-material, havia muito que nos

fazia ansiar pela presen��a de um facultativo.

M��rio e Jo��o, cujo estado era melindroso, foram

transportados em macas, enquanto os demais seguiam am-

parados pelos bra��os fraternos dos enfermeiros bondosos.

Pude ent��o distinguir algo dessa casa magn��ni-

ma assistida pela carinhosa prote����o da excelsa M��e do

Nazareno.

N��o somente o excelente conjunto arquitet��nico

seria digno de admira����o. Tamb��m a montagem, o gran-

dioso aparelhamento, conjunto de pe��as extraordin��rias,

apropriadas �� necessidade de cl��nica no astral, demons-

trando o elevado grau que atingira a Medicina entre nos-

sos tutelares, muito embora se n��o tratasse, o local onde

nos encontr��vamos, de zona adiantada da Espiritualidade.

95

Edison Carneiro

M��dicos dedicados e diligentes atendiam com fra-

ternas solicitudes aos m��seros necessitados dos seus servi-

��os e prote����o. Estampavam-se em suas fisionomias bon-

dosas o compassivo interesse do ser superior pelo mais

fr��gil, da intelig��ncia esclarecida pelo irm��o infeliz ain-

da mergulhado nas trevas da ignor��ncia. Entretanto, nem

todos trajavam uniformes �� indiana. Muitos envergavam

longos aventais vaporosos e alv��ssimos, quais t��nicas sin-

gulares, de tecido fosforescente...

N��o assisti ao que foi passado com meus compa-

nheiros de desdita. Mas, quanto a mim, em chegando ao

pavilh��o reservado aos labores assistenciais, fui trans-

ferido dos cuidados de Joel Steel para o jovem doutor

Roberto de Canalejas, o qual me encaminhou para de-

terminada depend��ncia, onde minha organiza����o f��sico-

espiritual - o perisp��rito - foi submetida a minuciosos

e importantes exames. Carlos de Canalejas, pai do pre-

cedente, anci��o vener��vel, antigo facultativo espanhol

que fizera da Medicina um sacerd��cio, p��gina her��ica de

abnega����o e caridade digna do benepl��cito do M��dico

Celeste, e mais um dos psiquistas hindus que nos socor-

reram �� chegada - Rosendo -, foram os meus assistentes.

Roberto passou ent��o a assistir ao importante labor qual

doutorando ��s li����es dos mestres nos santu��rios da Ci-

��ncia, o que vinha esclarecer encontrar-se ele ainda em

aprendizado na Medicina local.

A minha organiza����o astral prestaram socorros

f��sicos-astrais justamente nas regi��es correspondentes ��s

que, no envolt��rio f��sico-terreno, foram dilaceradas pelo

proj��til de arma de fogo de que utilizara para o suic��dio,

ou seja, os aparelhos far��ngico, auditivo, visual e cerebral,

96

MARIA, M��e de Jesus

pois o ferimento atingira toda essa melindrosa regi��o do

meu infeliz envolt��rio carnal.

Era como se eu, quando homem encarnado (e real-

mente assim fora, assim �� com todas as criaturas) possu��s-

se um segundo corpo, molde, modelo do que fora destru��-

do pelo ato brutal do suic��dio; como se eu fora "duplo" e o

segundo corpo, possuindo a faculdade de ser indestrut��vel,

se ressentisse, no entanto, do quanto sucedesse ao primiti-

vo, qual se estranhas propriedades ac��sticas sustentassem

repercuss��es vibrat��rias capazes de se prolongarem por

indeterminado prazo, fazendo enfermar aquele.

Sei que os tecidos semimateriais das regi��es j�� ci-

tadas do meu perisp��rito, profundamente afetadas, rece-

beram sondagens de luz, banhos de propriedades mag-

n��ticas, b��lsamos quintessenciados, interven����es de

subst��ncias luminosas extra��das dos raios solares, que

deles extra��ram fotografias e mapas movedi��os, sonoros,

para an��lise especiais, que tais fotografias e mapas mais

tarde seriam encaminhadas �� "Se����o de Planejamento

de Corpos F��sicos" do Departamento de Reencarna����o,

para estudos concernentes �� prepara����o da nova vestidu-

ra carnal que me caberia para o retorno aos testemunhos

e expia����es na terra, aos quais julgara poder furtar-me

com o tresloucado gesto que tivera. Sei que, submetido

ao estranho tratamento, envolvido em aparelhos sutis,

luminosos, transcendentes, permaneci uma hora, du-

rante a qual o velho doutor de Canalejas e o cirurgi��o

hindu desvelaram-se carinhosamente, reanimando-me

com palavras encoraj adoras, exortando-me �� confian��a

no futuro, �� esperan��a no Supremo Amor de Deus! E

sei tamb��m que causei trabalhos ��rduos, mesmo fadigas

97

Edison Carneiro

��queles abnegados servos do Bem; que exigi preocupa-

����es, obrigando-os a devotamentos profundos at�� que em

meu f��sico-astral se extinguissem as correntes magn��ticas

afins com o f��sico terreno, as quais mantinham o clamo-

roso desequil��brio que nenhuma express��o humana ser��

bastante veraz para descrever!

E que o "corpo astral", isto ��, o perisp��rito - ou

ainda o "f��sico-espiritual" - n��o �� uma abstra����o, figura

incorp��rea, et��rea, como supuseram. Ele ��, ao contr��rio

disso, organiza����o viva, real, sede das sensa����es, na qual

se imprimem e repercutem todos os acontecimentos que

impressionem a mente e afetem o sistema nervoso, do

qual �� dirigente.

E que, nesse envolt��rio admir��vel da Alma - da

Ess��ncia Divina que em cada um de n��s existe, assina-

lando a origem de que provimos ���, persiste tamb��m uma

subst��ncia material, conquanto quintessenciada, o que a

ele faculta a possibilidade de adoecer, ressentir-se, pois

que semelhante estado de mat��ria �� assaz impression��vel

e sens��vel, de natureza delicada, indestrut��vel, progress��-

vel, sublime, n��o podendo, por isso mesmo, padecer, sem

grandes dist��rbios, a viol��ncia de um ato brutal como o

suic��dio, para o seu inv��lucro terreno.

Entretanto, sob tantos cuidados m��dicos mais se

avantajavam minhas d��vidas quanto �� situa����o pr��pria.

Muitas vezes, durante a desesperadora perman��ncia no

Vale Sinistro, eu chegara a acreditar que morrera, oh,

sim! E que minh'alma condenada expiava nos infernos os

tremendos desatinos praticados em vida. Agora, por��m,

mais sereno, vendo-me internado em bom hospital, sub-

metido a interven����es cir��rgicas, conquanto muito diver-

98

MARIA, M��e de Jesus

sos fossem os m��todos locais dos que me eram habituais,

novas camadas de incertezas inquietavam-me o esp��rito:

N��o! N��o era poss��vel que eu tivesse morrido!

Isto seria morte?... Seria vida?...

Foi, portanto, que derramando aflitivo pranto que,

em dado momento, naquele primeiro dia, sob as desvela-

das aten����es de Carlos e Rosendo, bradei excitado, febril,

incapaz de por mais tempo me conter:

"��� Mas, afinal, onde me encontro eu?... Que acon-

teceu?... Estarei sonhando?... Eu morri ou n��o morri?...

Estarei vivo?... Estarei morto?..."

Atendeu-me o cirurgi��o hindu, sem se deter na me-

lindrosa atua����o. Fitando-me com brandura, talvez para

demonstrar que minha situa����o lhe causava l��stima ou

compaix��o, escolheu o tono mais persuasivo da expres-

s��o, e respondeu, sem deixar margem �� segunda interpre-

ta����o: " ��� N �� o meu amigo! N��o morreste! N��o morrer��s

jamais!... porque a morte n��o existe na Lei que rege o

Universo! O que se passou foi, simplesmente, um lamen-

t��vel desastre com teu corpo f��sico-terreno, aniquilado

antes da ocasi��o oportuna por um ato mal orientado do teu

racioc��nio... A vida, por��m, n��o residia naquele teu corpo

f��sico-terreno e sim neste que v��s e contigo sentes no mo-

mento, o qual �� o que realmente sofre, o que realmente

vive e pensa e que traz a qualidade sublime de ser imor-

tal, enquanto o outro, o de carne, que rejeitaste, aquele,

apropriado somente para o uso durante a perman��ncia nos

prosc��nios da terra, j�� desapareceu sob a sombria pedra

de um t��mulo, como vestimenta passageira que �� deste

outro que aqui est��... Acalma-te, por��m... Melhor com-

preender��s �� propor����o que te fores restabelecendo..."

99

Edison Carneiro

Trouxeram-me em maca rumo da enfermaria. Meu

estado requeria repouso. Serviram-me reconfortante cal-

do, pois eu tinha fome. Deram-me a beber ��gua cristalina

e balsamizante, pois eu tinha sede. Em redor, o sil��ncio

e a quieta����o, envolvidos em ondas de reconforto e be-

nefic��ncia, convidavam ao recolhimento. Obedecendo ��

caridosa sugest��o de Rosendo, procurei adormecer, en-

quanto o desapontamento, trazido pela inapel��vel realida-

de, fazia ecoar suas decisivas express��es em minha mente

atormentada:

"��� A vida n��o residia no corpo f��sico-terreno, que

destru��ste, mas sim neste que v��s e sentes no momento, o

qual traz a qualidade sublime de ser imortal!"

A Mans��o da Esperan��a

A Legi��o dos Servos de Maria, mant��m tamb��m no

plano espiritual, outras institui����es, em clima vibrat��rio

mais ameno.

Uma dessas institui����es �� a Mans��o da Esperan��a.

Ainda guiados pelo olhar de Camilo, vejamos

algumas das primeiras impress��es que essa cidade lhe

causa, quando ap��s alguns anos de tratamento e aprendi-

zado ele deixa o Hospital Maria de Nazar�� e se dirige ��

Mans��o da Esperan��a.

...E ao entardecer do dia seguinte deixamos o De-

partamento Hospitalar...

Ve��culo modesto, que reconhecemos do tipo usual

no interior da Col��nia, veio buscar-nos. Silenciosamente,

comovidos, tomamos lugar e, confortados pela presen��a

100

MARIA, M��e de Jesus

de Romeu e Alceste, que nos deveriam acompanhar ao

novo domic��lio, observ��vamos que, enquanto desliza-

va suavemente, as neves melanc��licas se adelga��avam,

a paisagem se coloria de formosos tons de madrep��rola,

flores surgiam em festividades policr��micas �� beira das

estradas caprichosamente cuidadas... enquanto os primei-

ros casarios de magnificente metr��pole hindu apareciam

aos nossos olhos surpreendidos, que julgavam sonhar!

Louvado seja Deus! Era, pois, verdade, que hav��a-

mos progredido!

A primeira noite foi passada em ansiosa expec-

ta����o. Nossos aposentos deitavam para o jardim e das

ogivas que os rodeavam descortin��vamos o vasto hori-

zonte da metr��pole, marchetado de pavilh��es graciosos

como constru��dos em madrep��rola, e de cujos caraman-

ch��es, que os enfeitavam pitorescamente, evolavam-se

fragr��ncias delicadas de mir��ades de arbustos e flores

vi��osas, n��o mais ins��pidas, n��veas, como no Departa-

mento Hospitalar.

Tudo indicava que gravit��ramos, segundo as nos-

sas afinidades, para uma Cidade Universit��ria, onde ci-

clos novos de estudo e aprendizagem se franqueariam

para n��s, segundo nosso desejo.

Enquanto passe��vamos, aos nossos olhos interes-

sados estendia-se paisagem amena e sedutora, onde edif��-

cios soberbos, finamente trabalhados em estilo ideal, que

lembraria o padr��o de uma civiliza����o que nunca chegaria

a se concretizar nas camadas terrestres, nos levaram a me-

ditar sobre a possibilidade de neblinas ignotas, irisadas sob

palores tamb��m desconhecidos, servirem a artistas para

aquelas c��pulas sedutoras, os rendilhados sugestivos, o

101

Edison Carneiro

pitoresco encantamento dos balc��es convidando a mente

do poeta a devaneios profusos, caminho do Ideal! Ave-

nidas imensas rasgavam-se entre arvoredos majestosos e

lagos docemente encrespados, orlados de tufos floridos

e perfumosos. E, alinhadas, como em vis��o inesquec��vel

de uma cidade de fadas, as academias onde o infeliz que

atentara contra o sacrossanto ensejo da exist��ncia terrena

deveria habilitar-se para as decisivas reformas pessoais

que lhe seriam indispens��veis para, mais tarde, depois de

nova encarna����o terrena, onde testemunhasse os valores

adquiridos durante os preparat��rios, ser admitido na ver-

dadeira Inicia����o.

N��o me permitirei a tentativa de descrever o encan-

to que se irradiava desse bairro onde as c��pulas e torres

dos edif��cios dir-se-iam filigranas lucilando discretamen-

te, como que orvalhadas, e sobre as quais os raios do As-

tro Rei, projetados em conjunto com evapora����es de ga-

ses sublimados, emprestavam tonalidades de efeitos, cuja

beleza nada sei a que possa comparar!

Em tudo, por��m, desenhava-se augusta superiori-

dade, desprendendo sugest��es grandiosas, inconceb��veis

ao homem encarnado.

E, no entanto, n��o era resid��ncia privilegiada! Ape-

nas um grau a mais acima do triste asilo hospitalar!...

Emocionados, detivemo-nos diante das Escolas

que dever��amos cursar. L�� estavam, entestando-as, os le-

treiros descritivos dos ensinamentos que receber��amos:

��� Moral, Filosofia, Ci��ncia, Psicologia, Pedago-

gia, Cosmogonia, e at�� um idioma novo, que n��o seria ape-

nas uma l��ngua a mais, a ser usada na Terra como atavio

de abastados, ornamento fr��volo de quem tivesse recursos

102

MARIA, M��e de Jesus

monet��rios suficientes para comprar o privil��gio de apren-

d��-la. N��o! O idioma cuja indica����o ali nos surpreendia

seria o idioma definitivo, que havia de futuramente estrei-

tar as rela����es entre os homens e os Esp��ritos, por lhes fa-

cilitar o entendimento, removendo igualmente as barreiras

da incompreens��o entre os humanos e contribuindo para a

confraterniza����o ideada por Jesus de Nazar��:

O benfazejo frescor matinal trazia-nos ao olfato

perfume dulc��ssimo, que afirmar��amos ser dos craveiros

sangu��neos que as damas portuguesas tanto gostam de

cultivar em seus canteiros, das glic��nias mimosas, excita-

das pelo orvalho saud��vel da alvorada. E p��ssaros, como

se cantassem ao longe, assobiavam ternas melodias, com-

pletando a do��ura do painel.

Irm��o S��stenes era o diretor da Cidade Esperan��a.

Falou-nos grave, discreto, bondoso, sem que nos anim��s-

semos a fit��-lo:

"��� Sede bem-vindos, meus caros filhos! Que Je-

sus, o ��nico Mestre que, em verdade, aqui encontrareis,

vos inspire a conduta a seguir na etapa nova que hoje se

delineia para v��s. Confiai! Aprendei! Trabalhai! - a fim de

que possais vencer! Esta mans��o vos pertence. Habitais,

portanto, um lar que �� vosso, e onde encontrareis irm��os,

como v��s, filhos do Eterno! Maria, sob o benepl��cito de

seu augusto Filho, ordenou sua cria����o para que vos fos-

se proporcionada ocasi��o de preparativos honrosos para a

reabilita����o indispens��vel. Encontrareis no seu amor de

m��e sustent��culo sublime para vencerdes o negror dos er-

ros que vos afastaram das pegadas do Grande Mestre a

103

Edison Carneiro

quem deveis antes amor e obedi��ncia! Cumpre, portanto,

apressar a marcha, recuperar o tempo perdido! Espero que

sabereis compreender com intelig��ncia as vossas pr��prias

necessidades..."

Aqui e ali, pelos parques que bordavam a cidade,

depar��vamos turmas de alunos ouvindo seus mestres sob

a poesia dulc��ssima de arvoredos frondosos, atentos e ine-

briados como outrora teriam sido, na Terra, os disc��pulos

de S��crates ou de Plat��o, sob o farfalhar dos pl��tanos de

Atenas; os iniciados do grande Pit��goras e os desgra��a-

dos da Galileia e da Jud��ia, os sofredores de Cafarnaum

ou Genesar��, embevecidos ante a intraduz��vel magia da

palavra messi��nica!

Senhoras transitavam pelas alamedas, acompanha-

das de vigilantes severas como Marie Nimiers, a quem

mais tarde conhecer��amos mui de perto; ou impenetr��veis

como Vic��ncia de Guzman, jovem religiosa da antiga

Ordem de S. Francisco, irm�� do nosso antigo benfeitor,

Conde Ramiro de Guzman, �� qual igualmente passamos a

bemquerer t��o logo soubemos dos elos imarcesc��veis que

a ligavam ��quele dedicado servidor da Se����o das Rela-

����es com a Terra.

Um servidor de Maria

Embora nas descri����es anteriores tenham sido

mostrados diversos servidores de Maria, �� apresentada a

seguir, a biografia de um, entre os milh��es de Esp��ritos

elevados, que servem a Nossa M��e Sant��ssima.

104

MARIA, M��e de Jesus

Esse benfeitor �� An��bal, um dos professores de Ca-

milo na Mans��o da Esperan��a; o relato �� de S��stenes, Di-

retor da Cidade Esperan��a:

...E An��bal, meus caros filhos! Este jovem que co-

nheceu pessoalmente Jesus de Nazar��, durante suas pre-

ga����es inesquec��veis atrav��s da sofredora Jud��ia! An��bal

de Silas, um daqueles meninos presentes no grupo que

Jesus acariciou quando exclamou, demonstrando a incon-

fund��vel ternura que mais uma vez expandia entre as ove-

lhas ainda vacilantes.

"Deixai vir a mim as criancinhas, que delas �� o

reino dos C��us..."

An��bal, que vos ministrar�� ensinamentos crist��os

exatamente como os ouviu do pr��prio Rabi, a quem ama

com arrebatamentos de idealista entusiasta e ardoroso,

desde a inf��ncia long��nqua, passada, ent��o, no Oriente!

Assevera ele que, quando o Senhor pregava sua

formosa Doutrina de Amor, quadros explicativos, de ma-

ravilhosa precis��o e encanto inexprim��vel, surgiam ines-

peradamente �� vis��o do ouvinte de boa vontade, elucidan-

doo de forma inconfund��vel, por imprimirem nos arcanos

do ser de cada um a exemplifica����o que nunca mais seria

olvidada! Que era por isso que, falando, conseguia o gran-

de Enviado conter, em serenidade inalter��vel, multid��es

famintas, por longas horas, dominar turbas rebeldes, arre-

batar ouvintes, convencer cora����es que, ou se prostravam

�� sua passagem, receosos e aturdidos, ou �� Sua Doutrina

para sempre se prendiam, encantados e fi��is. Os ��mpios,

por��m, cujas mentes viciadas permaneciam desafinadas

com as vibra����es divinas, nada percebiam, ouvindo ape-

nas relatos cuja excelsitude n��o eram capazes de alcan��ar,

105



Edison Carneiro

uma vez que traziam as almas impregnadas do v��rus letal

da m�� vontade! Um desses quadros, certamente o mais

belo de quantos o Mestre Amado criou para instruir suas

ovelhas desgarradas, porque aquele mesmo que o retrata-

va em sua gl��ria de Unig��nito do Alt��ssimo, bastou para

que Saulo de Tarso se transformasse em esteio ardente da

Doutrina Redentora com que honrara o mundo!

An��bal cresceu e fez-se homem, sentindo-se sem-

pre envolvido pelas radia����es imarcesc��veis do Divino

Pegureiro40, e que nunca mais se apagaram das suas re-

corda����es. Trabalhou pela Causa, repetiu aqui como al��m

o que ouvira do Senhor ou de seus Ap��stolos, preferin-

do, por��m, instruir crian��as e jovens, lembrando-se da

do��ura inexced��vel com que Jesus se dirigia �� inf��ncia.

Viajou e sofreu persegui����es, ultrajes, inj��rias, injusti��as,

ainda porque era de bom-gosto social criticar os adeptos

do Nazareno, ofend��-los, persegui-los, mat��-los! E, uma

vez chegado a Roma, viu-se glorificado pelo mart��rio, por

amor do Enviado Celeste: teve o fardo carnal incinerado

num daqueles postes de ilumina����o festiva, na c��lebre or-

namenta����o dos jardins de Nero, aos 37 anos de idade!

Mas, entre a tortura do fogo resinoso, porventura ainda

mais atroz, e o espanto por se ver colhido nas redes do

sublime testemunho, ele, que se considerava humilde, in-

capaz de merecer t��o elevada honra, reviu novamente ��s

margens do Tiber��ades, o lago formoso de Genesar��, as

aldeias simples e pitorescas da Galileia e Jesus pregando

docemente a Boa Nova celestial com aqueles arrebatado-

res quadros que, na hora suprema, se mostravam ainda

Pegureiro = Pastor.

4 0

106

MARIA, M��e de Jesus

mais belos e fascinantes �� sua alma de adepto humilde

e fervoroso, enquanto Sua Voz dul��orosa repetia, como

o ��sculo da extrema-un����o que lhe aben��oasse a alma,

fadando-a �� gl��ria da Imortalidade:

"Vinde a mim, benditos de Meu Pai, passai �� minha

direita..."

Enamorado sincero da Boa Nova do Cordeiro Ima-

culado, ser�� a Boa Nova o ensino que vos ministrar��,

pois, para ele, sois meninos que tudo ignorais em torno

dela...E o far�� como aprendeu do Mestre Inesquec��vel em

quadros demonstrativos que vos apresentem, o mais fiel-

mente poss��vel, o encanto que para sempre o arrebatou e

prendeu Jesus!

A fim de se especializar em t��o sublime g��nero de

confabula����o mental h��o sido necess��rias ao devotado

An��bal vidas sucessivas de ren��ncias, trabalhos, sacrif��-

cios, experimenta����es m��ltiplas e dolorosas no carreiro

do progresso, pois somente assim seria poss��vel desen-

volver nas faculdades da alma t��o precioso dom. Ele o

conseguiu, por��m, porque jamais em seu cora����o escas-

seou a vontade de vencer, jamais esqueceu os dias glorio-

sos das prega����es messi��nicas, o momento, sempiterno

em seu Esp��rito, em que sentiu a destra do Celeste Men-

sageiro pousando sobre sua fr��gil cabe��a de menino, para

o convite inesquec��vel:

"Deixai vir a mim os pequeninos..."

E que An��bal vinha sendo, para isso, preparado

desde eras afastadas!

Viveu nos tempos de Elias, respeitando o nome do

verdadeiro Deus! Foi, mais tarde, iniciado nos mist��rios

augustos das Ci��ncias, pela antiga escola dos eg��pcios.

107

Edison Carneiro

O respeito e o devotamento ao Deus Verdadeiro, e a es-

peran��a inquebrant��vel no advento libertador do Messias

Divino, iluminavam sua mente desde ent��o, por entre fa-

chos de virtudes que n��o mais se esmaeceriam!

N��o obstante, ap��s o sacrif��cio em Roma, trabalha-

dor e infatig��vel, renasceu ainda sobre a crosta do plane-

ta. Seduzia-o a vontade poderosa e insopit��vel de seguir

nas pegadas do Mestre, anuindo aos seus divinos apelos.

Sofreu, por isso, novas persegui����es ao tempo de Adria-

no, e exultou com a vit��ria de Constantino!

Desde ent��o, dedicou-se particularmente ao am-

paro e �� educa����o da inf��ncia e da juventude. Sacerdote

cat��lico na Idade M��dia, por mais de uma vez se fez anjo

tutelar de pobres crian��as abandonadas, esquecidas pela

prepot��ncia dos senhores de ent��o, convertendo-as em

homens ��teis e aproveit��veis para a sociedade, em mulhe-

res honestas, voltadas para o culto do Dever e da Fam��lia!

E tanto An��bal se preocupou com a inf��ncia e a juventude,

tanto fixou energias mentais naqueles rostinhos formosos

e meigos, que sua mente imprimiu em si pr��prio uma

eterna fei����o de adolescente gentil, pois, como vedes, dir-

seia ainda ser o menino acariciado pelo Mestre Nazareno,

na Judeia, h�� quase dois mil anos!...

...At�� que um dia, glorioso para o seu Esp��rito de

servo fiel e amoroso, ordem direta desceu das altas esfe-

ras de luz, como gra��a concedida por tantos s��culos de

abnega����o e amor:

"��� Vai, An��bal... e d�� dos teus labores �� Legi��o

de Minha M��e! Socorre com Meus ensinamentos, que

tanto prezas, os que mais destitu��dos de luzes e de for-

��as encontrares, confiados aos teus cuidados... Pensa, de

108

MARIA, M��e de Jesus

prefer��ncia, naqueles cujas mentes h��o desfalecido sob

as penalidades do suic��dio... Entreguei-os, de h�� muito, ��

dire����o de Minha M��e, porque s�� a inspira����o maternal

ser�� bastante caridosa para ergu��-los para Deus! Ensina-

lhes a Minha palavra! Desperta-os, recordando-lhes os

exemplos que deixei! Atrav��s de Minhas li����es, ensina-os

a amar, a servir, a dominar as paix��es, apondo sobre elas

as for��as do Conhecimento, a encontrar as estradas da re-

den����o no cumprimento do Dever, que para os homens

tracei, a sofrer com paci��ncia, porque o sofrimento �� pre-

n��ncio de gl��ria, alavanca poderosa do progresso... Abre-

lhes o livro das tuas recorda����es! Lembra-te de quando

me ouvias, na Jud��ia... e ilumina-os com as claridades do

Meu Evangelho, pois �� s�� isso o que lhes falta!..."

A hora da Ave-Maria

Na Terra quando o Sol se p��e, muitos elevam suas

preces �� M��e de Jesus. No plano espiritual tamb��m assim

acontece.

A suavidade do crep��sculo, as estrelas que princi-

piam a surgir, a natureza que silencia, tudo convida ao

recolhimento...

Acreditamos que isso que acontece na Terra �� re-

flexo de uma atitude muito maior e mais profunda que

ocorre no Mundo dos Esp��ritos.

Eis como a sensibilidade de Camilo registrou a

hora da Ave Maria na Cidade Esperan��a:

As solenidades do Angelus encontravam-nos, fre-

quentemente, ainda no parque. Acentuava-se a penumbra

109

Edison Carneiro

em nossa Cidade e nostalgia dominante envolvia nossos

sentimentos. Do Templo, situado na Mans��o da Harmonia,

regi��o onde se demoravam com frequ��ncia os diretores e

educadores da Col��nia, partia o convite ��s homenagens

que, naquele momento, seria de bom aviso prestarmos ��

Protetora da Legi��o a que pertenc��amos todos - Maria de

Nazar��. Pelos recantos mais sombrios da Col��nia resso-

avam ent��o doces acordes, melodias suav��ssimas, ento-

adas pelos vigilantes. Era o momento em que a dire����o

geral rendia gra��as ao Eterno pelos favores concedidos a

quantos viviam sob o abrigo generoso daquele reduto de

corrigendas, bendizendo a solicitude incans��vel do Bom

Pastor em torno das ovelhinhas rebeldes, tuteladas da Le-

gi��o de sua M��e amor��vel e piedosa. E era ainda quando

ordens desciam de Mais Alto, orientando os intensos ser-

vi��os que se movimentavam sob a responsabilidade dos

dedicados servos da mesma Legi��o. Todavia, n��o ��ramos

obrigados a orar. F��lo-��a-mos se o quis��ssemos. Em Ci-

dade Esperan��a, por��m, jamais tiv��ramos conhecimento

de que algum aprendiz ou interno recusasse agradecer ao

Nazareno Mestre ou �� sua M��e bon��ssima, por entre l��-

grimas de sincera gratid��o, ��s merc��s recebidas do seu

inapreci��vel amparo!

A bland��cia daquela ora����o, cuja simplicidade s��

igualava �� sua pr��pria excelsitude, despertava em nossas

mentes as mais ternas recorda����es da exist��ncia: rev��a-

mos, levados pelo imp��rio de gratas sugest��es, os doces,

saudosos dias da inf��ncia, os vultos carinhosos de nossas

m��es - ensinando-nos a mimosa sauda����o do Arcanjo

�� Virgem de Nazar��, e as palavras inolvid��veis de Ga-

briel, ungidas de venera����o e respeito, repercutiam nas

110

MARIA, M��e de Jesus

profundidades do nosso "eu" tocadas do saudoso sabor

do desvelo materno que, na vida planet��ria, jamais sou-

bemos devidamente considerar. Chor��vamos! E saudades

mui pungentes da Fam��lia e do ber��o natal, do lar que

hav��amos menosprezado e enlutado, dos entes queridos

e amigos que fer��ramos com a deser����o da vida, entorna-

vam-se pelo nosso ser, predispondo-nos a grandes pesares

sentimentais, como novas fases de remorsos dolorosos.

Ent��o or��vamos, ali mesmo na quietude envolvente do

parque ou recolhidos a local determinado, or��vamos sen-

tindo em cada dia o ��sculo de ben��fico reconforto vivifi-

cando nossas almas, tal se misericordiosos b��lsamos re-

frescassem nossas consci��ncias das excessivas ard��ncias

que se haviam rasgado em nosso ser pelas garras infames

do suic��dio que nos deprimira e desgra��ara �� frente de n��s

mesmos! E, de envolta com o refrig��rio, eis que se avo-

lumava a necessidade imperiosa de nos tornarmos dignos

dessa miseric��rdia que nos amparava tanto a necessidade

dos testemunhos que a Deus provassem nosso imenso pe-

sar por nos reconhecermos graves infratores de suas Mag-

n��ficas Leis!

111



Edison Carneiro

Maio

rosa gallica

purpuro-violacea magna

As comemora����es terrestres muitas vezes t��m no

espa��o o seu eco suave e doce. Os mortos frequentemente

se re��nem aos vivos, nas suas l��grimas ou nas suas glo-

rifica����es. Quando as luzes e os perfumes de Maio ba-

nham os dois hemisf��rios, onde se agita a cristandade,

com suas v��rias fam��lias evang��licas, as preces da Terra

misturamse com as vibra����es do C��u, em homenagem ��

M��e do Salvador, no trono de sua virtude e de sua gl��ria.

Se o planeta da l��grima se povoa de ora����es e de flores,

h�� roseiras estranhas florindo nas estradas prodigiosas

do Para��so, nos altares iluminados de outra natureza, e

Maria, sob o dossel de suas gra��as divinas, sorri piedo-

samente para os deserdados do mundo e para os infelizes

dos espa��os, derramando sobre os seus cora����es as flores

preciosas de sua consola����o.

Na Terra, as suas b��n����os desabotoam a palma da

esperan��a, no ��nimo dos tristes e dos abatidos; no Al��m,

as vibra����es do seu amor confortam o cora����o dos deses-

perados, entornando sobre eles o c��ntaro de mel de sua

infinita miseric��rdia.

112

MARIA, M��e de Jesus

Foi assim que a voz de Jeziel, anjo mensageiro da

sua piedade, nos acordou:

��� "Hoje - disse-nos com a sua palavra tocada de

suave magnetismo -, o Para��so abre suas portas douradas

para receber todas as s��plicas, vindas da Terra long��n-

qua... Dos altares terrestres e dos cora����es que se desfa-

zem nas ��nsias crist��s, no planeta das sombras, eleva-se

uma onda de amor, em volutas divinas e a Rosa de Naza-

r�� estende aos sofredores o seu manto divino, constelado

de todas as virtudes... Celina j�� partiu para as vastid��es

escuras do planeta das l��grimas, a fim de repartir as b��n-

����os carinhosas da M��e de Jesus com todos aqueles que

t��m pago ao C��u os mais largos tributos, em prantos e

rogativas, nos caminhos espinhosos das penas terrestres.

Mas a Senhora dos Anjos n��o vos poderia esquecer e

mandou-me anotar as solicita����es dos vossos Esp��ritos, a

fim de que as vossas esperan��as alcan��assem guarida no

seu cora����o maternal."

E cada entidade exp��s ao anjo piedoso de Maria

as suas expectativas angustiosas. Antigos afortunados

do mundo pediam para os seus descendentes na Terra o

necess��rio esclarecimento espiritual; outros imploravam

um b��lsamo que lhes aliviasse o cora����o amargurado, fe-

rido nos espinhos dos enganos terrestres. N��o foram pou-

cos os que lembraram seus antigos sonhos e suas paix��es

nefastas, sepultadas no planeta como negros res��duos de

florestas incendiadas, suplicando da Rainha dos Anjos a

esmola do conforto do seu amor. Posi����es convencionais,

erros deplor��veis e malignas ilus��es foram amargamente

recordados e, esperando a vez de enunciar o meu dese-

jo, pusme a analisar as aspira����es mais sagradas do meu

113



Edison Carneiro

Esp��rito, depois de sutilmente arrebatado, pela morte, ��s

suas atividades do mundo.

Assim como um estudioso de matem��tica pode dis-

secar todas as coisas f��sicas, compreendendo que a linha

�� uma reuni��o de pontos acumulados e que a superf��cie ��

a multiplica����o dessas mesmas linhas, o Esp��rito desen-

carnado, na sua acuidade perceptiva, pode ser o ge��metra

de suas pr��prias emo����es, operando a an��lise de si mes-

mo, autopsiando os fatos dos tempos idos, fazendo-os

ressurgir, um a um, na sua milagrosa imagina����o.

Lembrei, assim, a paisagem pobre e triste da mi-

nha aldeia natal. E vi novamente Miritiba41, com suas

ruas arenosas e semidestru��das, guardando no litoral ma-

ranhense as antigas tradi����es dos guerrilheiros balaios42,

o lar humilde e farto da minha primeira inf��ncia, o g��nio

festivo de meu pai e a figura bondosa e severa de minha

m��e... Em seguida, revi os quadros de amargura e de or-

fandade, vividos na Parna��ba43 distante. E depois... era o

meu veleiro, rudemente jogado no oceano largo, onde,

com os remos de minha coragem, procurava enfrentar,

inutilmente, a mar�� alta das l��grimas, at�� que um dia,

desesperado na ilha de meus sofrimentos, e cansado de

afrontar, como Ajax44, a c��lera dos deuses, submergi-me,

involuntariamente, na grande noite, para despertar no ou-

tro lado da vida.

Cidade do Maranh��o, estado brasileiro, hoje denominada Humberto de

4 1

Campos em sua homenagem.

A Revolta dos Balaios, rebeli��o que eclodiu no Maranh��o, prov��ncia bra-

4 2

sileira em 1838.

Cidade do Piau��, estado brasileiro, onde Humberto de Campos passou

4 3

sua adolesc��ncia.

4 4 Ajax, her�� i greg o d a guerr a d e Tr��ia , filho d e Orfeu , rei d a L��crida , qu e desafiou os deuses e naufragou ao voltar a Tr��ia.

114

MARIA, M��e de Jesus

No Esp��rito humano, existem abismos insond��veis

de sombra e luz, de mis��rias obscuras e sublimes glo-

rifica����es. Num minuto, pode o pensamento rememorar

muitos s��culos, com o seu cortejo maravilhoso de trevas

miser��veis e de luminosas purifica����es.

Chegada a minha vez, supliquei ao anjo sol��cito:

"Jeziel, sobre a superf��cie da Terra long��nqua e es-

cura, onde quase todos os cora����es se perdem nos desfila-

deiros do ate��smo, da impenit��ncia e da impiedade, tenho

os filhos bem-amados da minha carne e do meu Esp��rito;

mas esses t��m, diante do porvir, o banquete risonho da

esperan��a e da mocidade; ensinei-os a buscar no mun-

do o contentamento sadio do trabalho, em afirma����es de

estudo e de perseveran��a, dentro das leis da consci��ncia

retil��nea. Por��m, numa nesga pequenina da Terra h�� um

cora����o dilacerado, como o da M��e de todas as m��es ter-

restres, trespassado de divinas ang��stias, desde a Manje-

doura at�� o Calv��rio... E para minha m��e que pe��o todas

as tuas gra��as... A m��o nobre e forte, que me conduziu ��

li����o proveitosa da vida humana, acena-me do mundo,

enregelada de saudade, ansiosa do beijo do filho que ela

criou, com todos os sacrif��cios do seu corpo e com todos

os mart��rios do seu cora����o... E para ela, Jeziel, que de-

sejo leves a b��n����o maternal da Rainha dos C��us, numa

profus��o de l��rios de esperan��a santificadora... D�� ao seu

Esp��rito valoroso, que nunca teve as suas ��nsias de ven-

tura realizadas no orbe do ex��lio, a vibra����o da paz de

que gozam os redimidos nas dores austeras e ignoradas...

Todas as b��n����os de Maria sejam depostas na sua fron-

te, que os cabelos brancos aureolaram, numa epop��ia de

sacrif��cios desconhecidos e de hero��smos santificantes...

115



Edison Carneiro

Despetala sobre o seu cora����o fervoroso e agradecido

todas as flores que hoje desabrocham no Para��so, e que,

no obscuro recanto da Terra onde o seu Esp��rito aguarda

o alvar�� da liberdade suprema, possa minha m��e sentir,

nos seus olhos nublados de l��grimas, o orvalho das l��-

grimas do seu filho, redivivo e reconfortado na alegria e

na esperan��a."

E foi assim que a alma piedosa de minha m��e, nas

dores com que vai penetrando a antec��mara da imortali-

dade, recebeu, neste m��s de Maio, o cora����o saudoso e

amigo do seu filho.

Humberto de Campos45

Novas Mensagens - Humberto de Campos/Francisco C��ndido Xavier Feb.

45

116



3a PARTE





MARIA, M��e de Jesus

A prece da Ave Maria baseia-se em duas sauda����es

feitas a Maria:

A primeira sauda����o �� do Anjo Gabriel, quando

foi anunciar a Maria que fora escolhida para ser a m��e

de Jesus:

��� Ave Maria, cheia de gra��a; o Senhor �� contigo,

bendita ��s tu entre as mulheres.

A segunda sauda����o ocorreu quando Maria foi vi-

sitar sua prima Isabel que foi envolvida por um Esp��rito

do Senhor e respondeu assim ao cumprimento de Maria:

��� Bendita ��s tu entre as mulheres, bendito �� o fru-

to do teu ventre.

A tradi����o preservou uma forma reduzida, conten-

do as duas sauda����es:

"Ave Maria, cheia de gra��a, o Senhor �� contigo,

bendita ��s tu entre as mulheres, bendito �� o fruto do teu

ventre, Jesus".

Esta prece, embora curt��ssima, sintetiza, todo um

sentimento de f��, voltado a semear alegria e salva����o nos

caminhos da dor.

119

Edison Carneiro

Sua extrema popularidade, em nada desmerece seu

valor, ao contr��rio, demonstra que muitas vezes a mente

popular pressente as fontes da verdadeira vida.

Ave Maria

Ave Maria! Senhora

Do amor que ampara e redime,

Ai do mundo se n��o fora

A vossa miss��o sublime!

Cheia de gra��a e bondade,

E por v��s que conhecemos

A eterna revela����o

Da vida em seus dons supremos.

O Senhor sempre �� convosco,

Mensageira da ternura,

Provid��ncia dos que choram

Nas sombras da desventura.

Bendita sois v��s, Rainha!

Estrela da humanidade,

Rosa m��stica da f��,

L��rio puro da humildade!

Entre as mulheres sois v��s

A m��e das m��es desvalidas,

Nossa porta de esperan��a,

E anjo de nossas vidas!

120



MARIA, M��e de Jesus

Bendito o fruto imortal

De vossa miss��o de luz,

Desde a paz da manjedoura,

As dores, al��m da cruz.

Assim seja para sempre,

Oh! Divina Soberana,

Ref��gio dos que padecem

Nas dores da luta humana.

Ave Maria! Senhora

Do amor que ampara e redime,

Ai do mundo se n��o fora

A vossa miss��o sublime!

Amaral Ornellas46

A Ave Maria

Ave-Maria! Enquanto nas campinas

As "boas-noites" abrem, misteriosas

Bocas exalam no ar frases divinas,

Como suave emana����o das rosas...

O noivas do infort��nio lacrimosas,

Crian��as loiras, m��rbidas meninas,

��rf��s de lar e beijos, que, piedosas,

Ergueis ao c��u as magras m��os franzinas!

Parnaso de Al��m-T��mulo - Francisco C��ndido Xavier/Esp��ritos diversos

46

- F e b .

121



Edison Carneiro

Quando rezais, as horas do sol posto,

A Ave-Maria assim, no azul parece

Sorrir-se a Virgem-Mae dos desvalidos;

Nossa Senhora inclina um pouco o rosto

Para Escutar melhor t��o meiga prece,

Hino t��o doce e grato aos seus ouvidos.

Raymundo Correa47

Maria

Toda a express��o de ternura

Do mundo de prova����o,

Nos c��us ditosos procura

A sua excelsa afei����o.

Consolo das m��es piedosas,

Cheias de m��goa e de pranto,

Sobre quem atira as rosas

Do seu Amor sacrossanto.

Ningu��m diz, ningu��m traduz

Essa vis��o de Harmonia,

Vis��o de paz e de luz,

Paz dos C��us! Ave-Maria!

Auta de Souza48

Poesias - Raymundo Correa.

47

Parnaso de Al��m-T��mulo - Francisco C��ndido Xavier/Espiritos diversos

48

- F e b .

122





MARIA, M��e de Jesus

rosa malmundarienses

O nome "Maria" vem do hebraico Myrian, que tem

duas significa����es mais aceitas:

"Sublime";

"Escolhida por Deus".

Em portugu��s "Maria" tem um som suave e melo-

dioso. Este fato somado �� devo����o que as m��es t��m a Ma-

ria, M��e das M��es, explica o porqu�� de muitas mulheres

terem o nome de "Maria".

Jesus! Maria!

A Clotilde Santiago

Meu cora����o guarda escritos

E canta em doce harmonia

123



Edison Carneiro

Estes dois nomes benditos:

Jesus! Maria!

Se o dia nasce e, na altura,

O Sol formoso irradia,

MimValma acorda e murmura:

Jesus! Maria!

Se a noite desce e, t��o brando,

O Sonho azul me inebria,

Sempre adorme��o cantando:

Jesus! Maria!

Da Ilus��o se o sopro lindo

Todo o meu ser extasia,

Alegre digo, sorrindo:

Jesus! Maria!

Meu cora����o, quando pulsa,

Louco de dor e agonia,

Ainda grito convulsa:

Jesus! Maria!

Jesus! Maria! Invocando

Em v��s o sol que alumia,

Quero morrer solu��ando:

Jesus! Maria!

Auta de Souza - 27/7/189849

Horto - Auta de Souza - Funda����o Jos�� Augusto.

4 9

124



MARIA, M��e de Jesus

Revela����o

Quem �� maior do que os Anjos

Mais radiante que a luz?

Quem amar a Deus nos ensina

Na doutrina mais divina?

Jesus!

Tecem coroas de gl��rias

As alvoradas do dia,

Enaltecem-na os Arcanjos

Em divina melodia?

Maria!

Quem soube honrar o trabalho,

A paci��ncia, a humildade,

Ensinando �� humanidade,

Em Deus depositar f��?

Jos��!

Seja pois esta Trindade,

Vosso guia e vosso norte.

N��o receeis os horrores,

Que se vos pintam da morte,

Se invocardes com f��

Jesus, Maria, Jos��!

Gon��alves Dias50

Referenciado em Rosa Mystica - Sebastiana Botelho Egas.

5 0

125





Edison Carneiro

Dos v��rios conte��dos simb��licos que a rosa tem

tido ao longo dos mil��nios, nas diversas civiliza����es,

destacamos tr��s:

"A Perfei����o";

"O Amor";

"A Regenera����o".

A flor delicada, bela, perfumada, florindo entre os

espinhos, �� bem o emblema desse Sorriso do C��u, que ��

Maria, desabrochando no meio das dores humanas.

A Virgem

Do teu trono de r��seas alvoradas,

Estende, m��e bendita, as m��os radiosas

Sobre a ang��stia das sendas escabrosas

Onde choram as m��es atormentadas.

126



MARIA, M��e de Jesus

M��e de todas as m��es infortunadas,

Com tua alma de l��rios e de rosas,

Mitiga a dor das almas desditosas

Entre as sombras de m��seras estradas.

Anjo consolador dos desterrados,

Conforta os cora����es encarcerados

Nas algemas do mundo amargo e aflito.

Ao teu olhar, as l��grimas da guerra

E os quadros de amargor, que andam na Terra,

S��o caminhos de luz para o Infinito.

Bittencourt Sampaio51

A Maria

Eis-nos Senhora, a pobre caravana

Em fervorosas s��plicas, reunida,

Implorando a piedade, a paz e a vida,

De vossa caridade soberana.

Fortalecei-nos a alma dolorida

Na reden����o da iniquidade humana,

Com o b��lsamo da cren��a que promana

Das luzes da bondade esclarecida.

Parnaso de Al��m-T��mulo - Francisco C��ndido Xavier/Esp��ritos diversos

51

- Feb.

127



Edison Carneiro

Provid��ncia de todos os aflitos,

Ouvi dos c��us, ditosos e infinitos,

Nossa sinceras preces ao Senhor...

Que a nossa caravana da Verdade

Colabore no Bem da Humanidade,

Neste banquete m��stico do amor.

Bittencourt Sampaio52

Rosa Branca

Doce consola����o dos infelizes

Primeiro e ��ltimo amparo de quem chora,

Oh! d��-me al��vio, d��-me cicatrizes

Para estas chagas que te mostro agora.

D��-me dias de luz, horas felizes,

Toda inoc��ncia das manh��s de outrora:

As colunas de nuvens em que pises

Transformam-se em clar��es de fim de aurora.

Tu que ��s a Rosa Branca entre os espinhos

Estrela do alto-mar e torre forte,

Vem mostrar-me, Senhora, os bons caminhos.

Parnaso de Al��m-T��mulo - Francisco C��ndido Xavier/Esp��ritos diversos

52

- Feb.

128



MARIA, M��e de Jesus

Que ao meditar as tuas Sete Dores,

Eu sinta na minha alma a dor de morte

Dos meus pecados e dos meus terrores...

Alphonsus de Guimaraens53

A Maria

Rosa Mystica54

Stella Matutina

Casto l��rio do c��u, imaculado e santo,

Estrela senhoril das manh��s radiosas,

Alma feita de luz, alma feita de rosas,

Que perfumas a dor, que iluminas o pranto.

Que fazes de uma prece - o excelso aroma - enquanto

Brilha a l��grima - a gema entre as mais preciosas;

Alma feita de luz, alma feita de rosas,

Doce emblema do amor aclarando o futuro...

Mil gera����es te v��m aben��oando o vulto,

Num carinhoso ardor, num fervoroso culto

A sacrossanta M��e, que conforta amarguras.

Referenciado em Rosa Mystica - Sebastiana Botelho Egas.

5 3

Rosa M��stica, Estrela Matutina.

5 4

129



Edison Carneiro

Os s��culos vir��o, na asa do tempo ignoto

E teu nome ser�� - formosa flor de loto,

A mais formosa flor das gera����es futuras!

Godofredo Vianna55

Referenciado em Rosa Mystica - Sebastiana Botelho Egas.

5 5

130





MARIA, M��e de Jesus

rosa rubrifolia

Raramente os poderes da Terra socorrem o des-

gra��ado.

Rejeitados pelo aux��lio humano, os pobrezinhos

voltam-se para os poderes do C��u, e buscam Maria, Rai-

nha dos Anjos, esp��rito sublimado e poderoso por sua pu-

reza e fidelidade a Deus.

Do "Fa��a-se em mim a vontade do Senhor", surge

a vontade firme refletindo a vontade de Deus.

Rainha do C��u

Excelsa e seren��ssima Senhora,

Que sois toda Bondade e Complac��ncia,

Que espalhais os efl��vios da Clem��ncia

Em caminhos liriais feitos de aurora!...

Amparai o que anseia, luta e chora,

No labirinto amargo da exist��ncia.

131



Edison Carneiro

Sede a nossa divina provid��ncia

E a nossa prote����o de cada hora.

Oh! Anjo Tutelar da Humanidade;

Que espargis alegria e claridade

Sobre o mundo de trevas e gemidos;

Vosso amor, que enche os c��us ilimitados,

E a luz dos tristes e dos desterrados,

Esperan��a dos pobres desvalidos!...

Antero de Quental56

Sancta Virgo Virginum

Oh Santa estremecida,

Formosa e imaculada!

Estrela aben��oada

Do C��u de minha vida!

Rainha casta e santa

Das virgens do Senhor,

Eterno resplendor

Que o mundo inteiro encanta.

Tu ��s minha alegria,

Meu ��nico sorriso,

Parnaso de Al��m-T��mulo - Francisco C��ndido Xavier/Espiritos diversos

56

- Feb.

Santa Virgem das Virgens.

5 7

132



MARIA, M��e de Jesus

Oh flor do Para��so,

Ang��lica Maria!

Ai! quantas vezes, quantas!

A minha fronte inclina

Orando a ti, divina,

Oh Santa entre as mais santas!

Oh Virgem t��o serena!

Tu ��s meu sonho doce,

Perfume que evolou-se

De um seio de a��ucena!

Amada criatura,

Lan��a-me estremecido

O teu olhar ungido

De im��cula do��ura!

Oh Arco da Alian��a,

Celeste e branco l��rio,

Salva-me do mart��rio,

Senhora da bonan��a!

Envolve no teu v��u

A minha triste sorte,

E mostra-me na morte

A porta do teu C��u!

Auta de Souza

Nova Cruz, novembro de 189758

Horto - Auta de Souza - Funda����o Jos�� Augusto.

5 8

133



Edison Carneiro

Invocando o amparo da

Virgem Sant��ssima

Tu, por Deus entre todas escolhida,

Virgem das virgens, tu, que do assanhado,

Tart��reo59 monstro com teu p�� sagrado

Esmagaste a cabe��a entumecida;

Doce abrigo, sant��ssima guarida

De quem te busca em l��grimas banhado,

Corrente com que as n��doas do pecado

Lava uma alma, que geme arrependida;

Virgem, de estrelas n��tidas coroada,

Do Esp��rito, do Pai, do Filho eterno

M��e, filha, esposa e mais que tudo amada,

Valha-me o teu poder e amor materno;

Guia este cego, arranca-me da estrada,

Que vai parar ao tenebroso Inferno!

Bocage60 (no leito de morte)

Senhora Santa Maria

M��e de nosso salvador

T��rtareo = infernal.

5 9

Sonetos - Bocage - Livraria Bertrand.

60

134



MARIA, M��e de Jesus

Existe tanta alegria

Por causa do teu amor

Senhora Santa Maria

Senhora, diz, por favor

Diz que eu tamb��m sou teu filho

Sou filho do teu amor

Senhora Santa Maria

Senhora, m��e do Senhor

A tua luz me alumia

Na via que ele ensinou

Senhora Santa Maria

Senhora feita de luz

Es uma estrela-guia

Pra nos levar a Jesus

Alberto J. C. Carvalho61

Sanda Virgo Virginum

Sobe da Terra, em ondas luminosas,

Um turbilh��o de vozes e de l��rios,

Buscando-vos nas Luzes Harmoniosas,

Oh! Virgem da Pureza e dos Mart��rios!

Poema composto especialmente para esta antologia.

6 1

135



Edison Carneiro

Imagens de tur��bulos62 e rosas

Aromatizam todos os emp��reos...63

H�� na Terra can����es maravilhosas

Entre as luzes e as l��grimas dos cirios.64

Senhora, o mundo inteiro vos festeja,

Em magnific��ncia ampla e radiosa,

Nos altares simb��licos da Igreja!

Eis, por��m, que vos vejo nos caminhos,

Onde a vossa virtude carinhosa

Consola e ampara os fracos pobrezinhos...

Alphonsus de Guimaraens65

Tur��bulo = vaso para queimar incenso.

6 2

Emp��reos = c��us.

6 3

C��rio = vela grande conduzida em prociss��es.

6 4

Parnaso de Al��m-T��mulo - Francisco C��ndido Xavier/Esp��ritos diversos

65

- F e b .

136



MARIA, M��e de Jesus

M��e das M��es

A todos Maria atende, mas seu carinho se debru��a

com mais do��ura sobre as m��es aflitas.

O amor materno ��, por ora, a coluna mestra da sus-

tenta����o do sentimento na Terra.

Mulheres da Terra, quando o peso for demasiado

para seus ombros, recorram �� M��e das M��es, que ela ali-

viar�� seus fardos.

Mulheres da Terra, quando a amargura transbor-

dardo seu cora����o, procurem Maria, que ela far�� com que

o mal se decante, e poder��o continuar a sustentar o mundo

com seus doces sentimentos.

��s filhas da Terra

Do Seu trono de luzes e de rosas,

A Rainha dos Anjos, meiga e pura,

Estende os bra��os para a desventura,

Que campeia nas sendas espinhosas.

137



Edison Carneiro

Ela conhece as l��grimas penosas

E recebe a ora����o da alma insegura,

Inundando de amor e de ternura

As feridas cru��is e dolorosas.

Filhas da Terra, m��es, irm��s, esposas,

No turbilh��o dos homens e das coisas,

Imitai-A na dor do vosso trilho!...

N��o conserveis do mundo o brilho e as palmas,

E encontrareis, em vossas pr��prias almas,

A alegria do reino do Seu Filho!

Bittencourt Sampaio66

Prece �� M��e Sant��ssima

M��e Sant��ssima!...

Enquanto as m��es do mundo s��o reverenciadas,

deixa te recordemos a pureza incompar��vel e o exemplo

sublime...

Soberana, que recebeste na palha singela o Reden-

tor da Humanidade, sem te rebelares contra as m��es feli-

zes, que afagavam Esp��ritos criminosos em pal��cios de

ouro, ensina-nos a entesourar as b��n����os da humildade.

L��mpada de ternura, que apagaste o pr��prio bri-

lho para que a luz do Cristo fulgurasse entre os homens,

Parnaso de Al��m-T��mulo - Francisco C��ndido Xavier/Esp��ritos diversos

66

- Feb.

138



MARIA, M��e de Jesus

ajuda-nos a buscar, na constru����o do bem para os outros,

o apoio de nossa pr��pria felicidade.

Benfeitora, que te desvelaste incessantemente, pelo

Mensageiro da Eterna Sabedoria, sofrendo-lhe as dores e

compartilhando-lhe as dificuldades, sem qualquer preten-

s��o de furt��-lo aos prop��sitos de Deus, auxilia-nos a ex-

tirpar do sentimento as ra��zes do ego��smo e da crueldade

com que tantas vezes tentamos reter na inconforma����o e

no desespero os cora����es que mais amamos.

Senhora, que viste na Cruz da morte o Filho Divi-

no, acompanhando-lhe a agonia com as l��grimas silencio-

sas de tua dor, sem qualquer sinal de reclama����o contra

as criaturas da Terra, conduze-nos para a f�� que redime e

para a ren��ncia que eleva.

Mission��ria, salva-nos do erro.

Anjo, estende sobre n��s as n��veas asas!...

Estrela, clareia-nos a estrada com teu lume...

M��e querida, agasalha-nos a exist��ncia em teu

manto constelado de amor!...

E que todas n��s, mulheres desencarnadas e encar-

nadas em servi��o na Terra, possamos repetir, diante de

Deus, cada dia, a tua ora����o de suprema fidelidade:

��� "Senhor, eis aqui tua serva, cumpra-se em mim

segundo a tua palavra".

An��lia Franco67

Referenciado em M��e - Chico Xavier/Esp��ritos Diversos - Geem.

6 7

139

Edison Carneiro

M��e

O minha santa m��e! era bem certo

Que entre as preces maternas estendias

As tuas m��os sobre os meus tristes dias,

Quando na Terra - que era o meu deserto.

Nos instantes de dor, bem que eu sentia

As tuas asas de Anjo da Ternura,

Pairando sobre a minha desventura

Feita de prantos e melancolia.

Flor ressequida eu era, e tu o orvalho

Que me nutria, pobre e empalecida;

Era a tua alma a luz da minha vida,

Meu tesouro, meu d��lcido agasalho!...

Ai de mim sem a tua alma bondosa,

Que me dava a promessa da esperan��a,

Raio de luz, de amor e de bonan��a,

Na escurid��o da vida dolorosa.

E que felicidade doce e pura,

A que senti ap��s a treva de morte,

Findo o terror da minha negra sorte,

Quando vi teu sorriso de ventura!

Ent��o, senti que as M��es s��o mensageiras

De Maria, M��e de anjos e de flores,

140



MARIA, M��e de Jesus

E M��e das nossas M��es cheias de amores,

Nossas meigas e eternas companheiras!...

Auta de Souza68

Ora����o de M��e

Deus de Infinita Bondade!

Puseste astros no c��u e colocaste flores na haste

agressiva... A mim deste os filhos e, com os filhos, me

deste o amor diferente, que me rasga as entranhas, como

se eu fosse roseira espinhosa, que mandasses carregar

uma estrela...

Aceitaste minha fragilidade a teu servi��o, determi-

nando que eu sustente com a maternidade o mandato da

vida; entretanto n��o me deixes transportar, sozinha, um

tesouro assim t��o grande! D��-me for��as para que te com-

preenda os des��gnios; guia-me o entendimento para que

a minha dedica����o n��o se fa��a ego��smo; guarda-me em

teus bra��os eternos, para que o meu sentimento n��o se

transforme em cegueira.

Ensina-me a abra��ar os filhos das outras m��es com

o carinho que me insuflas no trato daqueles de que enri-

queceste minha alma!

Faze-me reconhecer que os rebentos de minha ter-

nura s��o dep��sitos de tua bondade, consci��ncias livres

que devo encaminhar para a tua vontade e n��o para os

Parnaso de Al��m-T��mulo - Francisco C��ndido Xavier/Esp��ritos diversos

68

- F e b .

141



Edison Carneiro

meus caprichos. Inspira-me humildade para que n��o se

tresmalhem-no orgulho por minha causa. Concede-me a

honra do trabalho constante, a fim de que eu n��o venha a

precipit��-los na indol��ncia. Auxilia-me a quer��-los sem

paix��o e a servi-los sem apego.

Esclarece-me para que eu ame a todos eles com de-

votamente igual.

No entanto, Senhor, permite-me inclinar o cora����o,

em teu nome, por sentinela de tua b��n����o, junto daqueles

que se mostrarem menos felizes!... Que eu me veja con-

tente e grata se me puderem oferecer m��nima parcela de

ventura e que me sinta igualmente reconhecida se, para

afag��-los, for impelida a seguir nos caminhos do tempo,

sobre longos calv��rios de afli����o!...

E, no dia em que me caiba entreg��-los aos compro-

missos que lhes reservastes, ou a restitu��-los ��s tuas m��os,

d�� que, ainda mesmo por entre l��grimas, possa eu dizerte,

em ora����o, com a obedi��ncia da excelsa M��e de Jesus:

"Senhor, eis aqui a tua serva! Cumpra-se em mim,

segundo a tua palavra..."

Meimei69

M��e das M��es

Maria

E a m��e piedosa

De todas as m��es resignadas e sofredoras.

Referenciado em M��e - Chico Xavier/Esp��ritos Diversos - Geem.

6 9

142

MARIA, M��e de Jesus

E a consola����o

Que se derrama pur��ssima

Sobre os prantos maternos,

Vertidos na corola imensa das dores;

�� o manto resplandecente

Que agasalha os cora����es das m��es piedosas,

Amarguradas e infelizes,

Que orvalham com l��grimas benditas

As flores de seu amor desvelado,

Espezinhadas pelo sofrimento,

Fustigadas pelo furac��o da desgra��a,

Atropeladas pelo mal,

Perseguidas pelo infort��nio

No sombrio orbe das l��grimas e das prova����es.

Todas as preces maternas

Ascendem aos Espa��os

Como um doloroso brado de ang��stia a Maria;

E a rosa sublime de Nazar��

Escuta-as piedosamente,

Estendendo os seus bra��os tutelares

As m��es carinhosas e desprotegidas;

E bastam os efl��vios do seu amor sacrossanto

Para que as consola����es se derramem

Cicatrizando as feridas,

Balsamizando os pesares,

Lenindo os padeceres

Das m��es desoladas, que encontram nela

143



Edison Carneiro

O s��mbolo maravilhoso de todas as virtudes!...

Ao seu olhar compassivo,

Pulverizam-se os rochedos do mal

Do oceano da vida de desterro e de ex��lio,

Para que o Brigue70 da Esperan��a,

Com suas velas alvas e pandas,71

Veleje tranquilamente,

Buscando o porto esperado com ��nsia,

Da salva����o das almas que sofreram

Nos torvelinhos do mundo,

Como n��ufragos de uma tormenta gigantesca,

Que n��o se perderam no abismo das ��guas

tenebrosas

Do mar da iniquidade,

Porque se apegaram

A ��ncora da F��.

Maria �� o anjo, pois,

Que nos ampara e guia em nossa cruz;

Levando-nos ao C��u, cheia de piedade e

comisera����o

Pelas nossas fraquezas.

Ela �� a personifica����o do amor divino

No vale das sombras e das amarguras,

E sendo o arrimo de todas as criaturas,

E, sobretudo,

Brigue = veleiro.

7 0

Pandas = enfunadas, cheias de vento.

7 1

144



MARIA, M��e de Jesus

A Virgem da Pureza

��� M��e das m��es.

Marta72

Lembrando Maria, Nossa M��e

Minha filha:

Deus nos guie para diante.

Atendamos aos Des��gnios do Senhor que nos redi-

me pelo sofrimento, como o oleiro consegue purificar a

argila do vaso pela b��n����o do fogo.

N��o tenhamos em mente sen��o a soberana e com-

passiva determina����o do Alto para que possamos real-

mente triunfar.

N��o sabemos a hora da grande renova����o, mas n��o

ignoramos que a renova����o vir��, fatalmente, em favor de

cada um de n��s.

Assim sendo, n��o nos preocupemos quanto �� estra-

da que nos cabe palmilhar, mas, sim, busquemos, em n��s

e fora de n��s, a precisa for��a para venc��-la dignamente.

Sigo-te ou, ali��s, seguimos-te o calv��rio silencioso.

N��o te desanimes, nem te inquietes. Caminha

simplesmente.

Existe para n��s o divino modelo daquela Mulher

vener��vel e sublime que, depois de escalar o monte, tudo

perdeu na Terra, sabendo, por��m, conservar-se ligada ao

Parnaso de Al��m-T��mulo - Francisco C��ndido Xavier/Esp��ritos diversos 72

- F e b .

145



Edison Carneiro

Pai de Infinita Miseric��rdia, convertendo em trabalho e

conforma����o, em prece e esperan��a, as chagas da pr��-

pria dor.

Maria, nossa M��e Sant��ssima, n��o �� m��e ausente

do cora����o que a Ela recorre.

Inspiremo-nos em seu martirol��gio de ang��stia e

saibamos fazer de nossos padecimentos, um celeiro de

gra��as. A afli����o que se submete a Deus, procurando-lhe

as diretrizes, �� uma ��ncora de sustenta����o, mas aquela

que se perde em desespero infrut��fero �� um espinheiro

de fel. Soframos com calma, com resigna����o invari��vel,

de m��os no arado de nossos deveres e de olhos voltados

para o C��u.

E preciso coragem para n��o esmorecer, porquanto,

para as m��es, a ren��ncia como que se converte em ali-

mento de cada dia. Recordemos, por��m, nossa M��e do

C��u e sigamos com destemor.

N��o te faltar�� o arrimo das amizades celestiais que

te cercam e, pedindo-te confiar em minha velha dedica-

����o, sou a amiga de sempre, que se considera a tua m��e

espiritual.

Zizinha73

Em louvor das M��es

O lar �� a c��lula ativa do organismo social e a mulher,

dentro dele, �� a for��a essencial que rege a pr��pria vida.

Referenciado em M��e - Francisco C��ndido Xavier/Esp��ritos Diversos - O

7 3

Clarim.

146

MARIA, M��e de Jesus

Se a crian��a �� o futuro, no cora����o das m��es repousa

a sementeira de todos os bens e de todos os males do porvir.

O homem �� o pensamento.

A mulher �� o ideal.

O homem �� a oficina.

A mulher �� o santu��rio.

O homem realiza.

A mulher inspira.

Compreender a gloriosa miss��o da alma feminina,

no soerguimento da Terra, �� apostolado fundamental do

Cristianismo renascente em nossa Doutrina Consoladora.

Auxiliar, assim, o esp��rito materno, no desempe-

nho de sua tarefa sublime, constitui obriga����o prim��ria

de todos n��s que abra��amos nos Centros Esp��ritas novos

lares de idealismo superior e que buscamos na Boa Nova

do Divino Mestre a orienta����o maternal para a renova����o

de nossos destinos.

Nesse sentido, se nos cabe reconhecer no homem

o condutor da civiliza����o e o mordomo dos patrim��nios

materiais na gleba planet��ria, n��o podemos esquecer que

na mulher devemos identificar o anjo da esperan��a, ter-

nura e amor, a descer para ajudar, erguer e salvar nos

despenhadeiros da sombra, oferecendo-nos, no campo

aben��oado da luta regenerativa, novos tabern��culos de

servi��o e purifica����o.

Glorifiquemos, desse modo, o minist��rio santifi-

cante da maternidade na Terra, recordando que o Todo-

-Misericordioso, quando se dignou enviar ao mundo o

seu mais sublime legado para o aperfei��oamento e a ele-

va����o dos homens, chamou um cora����o de mulher, em

147



Edison Carneiro

Maria Sant��ssima, e, atrav��s das suas m��os devotadas ��

humildade e ao bem, �� renuncia����o e ao sacrif��cio, mate-

rializou para n��s o cora����o divino de Nosso Senhor Jesus

Cristo, a luz de todos os s��culos e o alvo de reden����o da

Humanidade inteira.

Emmanuel74

Referenciado em M��e - Francisco C��ndido Xavier/Esp��ritos Diversos -

7 4

Geem.

148





MARIA, M��e de Jesus

Quantas vezes, pelos caminhos da vida, suspira-

mos por algu��m que nos d�� a m��o, seja no aux��lio a n��s

mesmos, seja no aux��lio que procuramos prestar aos ir-

m��os do caminho.

M��o que auxilie, m��o que levante, m��o que indi-

que, m��o que sustente, m��o que aperte a nossa m��o, ali-

mentando-nos com as energias da amizade.

Nessas horas, lembremo-nos das M��os do C��u, que

estar��o sempre estendidas a quem as busque com sinceri-

dade no bem: as m��os de Maria.

M��os Celestes

M��os postas para a prece eternamente

Escudo contra o mal, do bem tutela;

M��os, a um tempo, de m��e e de donzela;

Meigas, e armadas de poder ingente;

149



Edison Carneiro

M��os, de afagos e b��n����os ninho ardente,

M��os, de clem��ncia milagrosa umbela,75

Capazes de aplacar qualquer procela,76

E de salvar a mais perdida gente;

M��os que Jesus beijou, e, pois, divinas;

M��os delicadas, brandas, femininas,

M��os de Maria, dai-me prote����o!

N��o recuseis curar-me esta ferida;

Tomai-me, erguei-me, consertai-me a vida:

Eu deponho entre v��s meu cora����o.

Afonso Celso77

Refugium Peccatorum78

O cora����o que chora resignado,

Tendo perdido as ilus��es da vida,

Como p��ssaro em busca de guarida

Acolhe-se ao teu seio imaculado.

��s como um rio azul, rio sagrado,

Em cuja transpar��ncia adormecida,

Umbela = guarda-chuva, figurado "prote����o".

7 5

Procela = tempestade.

7 6

Referenciado em Rosa Mystica - Sebastiana Botelho Egas.

7 7

Ref��gio dos pecadores.

7 8

150



MARIA, M��e de Jesus

Transforma-se a vida pervertida

E se lavam as manchas do pecado.

Bendita sejas tu, cuja bondade

Tem sorrisos de paz e reden����o

Para os tristes, que choram na orfandade,

Para a dor que n��o tem consola����o,

Bendita sejas tu, que ��s a Piedade

Conduzindo a mis��ria pela m��o.

Diogo Antonio Feij��79

Prece

Estendei vossa m��o bondosa e pura,

M��e querida dos fracos pecadores,

Aos cora����es dos pobres sofredores

Mergulhados nos prantos da amargura.

Derramai vossa luz, toda esplendores,

Da imensidade, da radiosa altura,

Da regi��o ditosa da ventura,

Sobre a sombra dos c��rceres das dores!

O M��e! excelsa M��e de anjos celestes,

Mais amor, desse amor que j�� nos destes,

Queremos n��s em cada novo dia;

Referenciado em Rosa Mystica - Sebastiana Botelho Egas.

7 9

151



Edison Carneiro

V��s que mudais em flores os espinhos,

Transformai toda a treva dos caminhos

Em clar��es refulgentes da alegria.

Auta de Souza80

Parnaso de Al��m-T��mulo - Francisco C��ndido Xavier/Esp��ritos diversos

80

- F e b .

152





MARIA, M��e de Jesus

rosa clinophylla

O olhar de Maria Sant��ssima �� toda uma fonte ge-

nerosa de luz e consola����o.

Seu olhar �� semelhante �� luz da aurora; traz ener-

gias renovadoras, traz alegria, traz esperan��a, traz con-

fian��a no futuro, trazendo todas estas b��n����os envoltas

em muita pureza e do��ura.

Nos caminhos da vida, quando des��nimo e amar-

gura envolverem nosso cora����o, mentalizemos o olhar de

Maria, e ao nos alimentarmos com seu olhar, veremos que

novo alento percorre nosso esp��rito e conseguiremos, por

nossa vez, olhar com f�� as vicissitudes da vida.

Mater81

Tu, grande M��e!...do amor de teus filhos escrava,

Para teus filhos ��s, no caminho da vida,

M��e.

8 1

153



Edison Carneiro

Como a faixa de luz que o povo hebreu guiava

A longe Terra Prometida.

Jorra de teu olhar um rio luminoso.

Pois, para batizar essas almas em flor,

Deixas cascatear desse olhar carinhoso

Todo o Jord��o do teu amor.

E espalham tanto brilho as asas infinitas

Que expandes sobre os teus, carinhosas e belas,

Que o seu grande clar��o sobe, quando as agitas,

E vai perder-se entre as estrelas.

E eles, pelos degraus da luz ampla e sagrada,

Fogem da humana dor, fogem do humano p��,

E, �� procura de Deus, v��o subindo essa escada,

Que �� como a escada de Jac��.82

Olavo Billac83

Maria

Ref��gio dos pecadores,

Consola����o dos aflitos.

Quantas m��goas, quantas dores

Tendes v��s aliviado,

Escada de Jac��, Jac��, patriarca hebreu, estando de viagem teve um

8 2

sonho e viu uma escada por onde os anjos subiam e desciam.

Referenciado em Rosa Mystica - Sebastiana Botelho Egas.

8 3

154



MARIA, M��e de Jesus

Oh M��e do Crucificado,

Ref��gio dos pecadores!

Quem ouve os nossos clamores,

Quem acode a nossos gritos,

Se n��o v��s, olhos benditos,

Senhora da piedade!

V��s chamada com verdade

Consola����o dos aflitos!

Jo��o de Deus84

Soneto V

Doce M��e, Seren��ssima Senhora,

Dos teus olhos velados de Do��ura

Nasce fresca a alvorada, que fulgura

Na infortunada sombra de quem chora!

Quando o meu ser vagava em noite escura,

Nas ang��stias do abismo que apavora,

Estendeste-me os bra��os, vendo, embora,

Minhas chagas de treva e de loucura...

Ante o Rega��o F��lgido consente

Que minha f�� se exalte embevecida,

Prosternada, ditosa, reverente.

Campo de Flores - Jo��o de Deus - Livraria Bertrand.

84

155



Edison Carneiro

Recebe no dossel85 de Gra��a e Vida

O louvor de teu filho penitente,

No clar��o de minh'alma convertida.

Bocage86

Regyna Martirium87

L��rio do C��u, sagrada criatura,

M��e das crian��as e dos pecadores,

Alma divina como a luz e as flores

Das virgens castas a mais casta e pura;

Do Azul imenso, dessa imensa altura

Para onde voam nossas grandes dores,

Desce os teus olhos cheios de fulgores

Sobre os meus olhos cheios de amargura!

Na dor sem termo pela negra estrada

Vou caminhando, a s��s, desatinada,

��� Ai! pobre cega sem amparo ou guia! -

S�� tu a m��o que me conduza ao porto.

Oh doce m��e da luz e do conforto,

Ilumina o terror desta agonia!

Auta de Souza88

Dossel = cobertura de tecido ou flores que se punham sobre o trono.

8 5

Volta Bocage - Francisco C��ndido Xavier/Bocage - Feb.

86

Rainha dos M��rtires.

8 7

Horto - Auta de Souza - Funda����o Jos�� Augusto.

8 8

156





MARIA, M��e de Jesus

Basta consultar a hist��ria da humanidade para veri-

ficar qu��o grandes crimes t��m sido cometidos, individual

e coletivamente pelos homens contra si mesmos.

A hist��ria da humanidade �� a nossa pr��pria hist��-

ria; temos, portanto, ao longo das encarna����es sucessivas,

n��s, os esp��ritos em sofrimento que habitamos a Terra,

acumulado atrav��s de nossas faltas, tempestades de dores

sobre as pr��prias cabe��as e cora����es.

Essa tempestade de dores pode ser chamada de Car-

ma, ou Rea����o das Leis, ou Justi��a Divina, ou D��vidas.

Se Deus fosse apenas justi��a, e essas d��vidas fos-

sem cobradas de imediato, nos aniquilariam. Mas Deus ��

tamb��m miseric��rdia, atendendo ��s criaturas imperfeitas,

atrav��s de suas criaturas aperfei��oadas.

Tal �� a fun����o misericordiosa de Maria: suavizar

o pagamento de nossas d��vidas, dando-nos a b��n����o do

tempo, e carinho maternal, para que atrav��s do perd��o aos

157

Edison Carneiro

nossos devedores, do trabalho no bem e principalmente

do amor, possamos ter condi����es de resolver os nossos

problemas conscienciais, pagando at�� o ��ltimo ceitil, con-

quistando dignamente a felicidade. Este trabalho Maria o

faz, coletivamente, envolvendo a Terra com os Efl��vios

de Sua Alma, como se expressam alguns, Seu Manto de

Virtudes, ou Sua Aura Luminosa, como se expressam ou-

tros, protegendo-nos de n��s mesmos.

Nestes dias de transi����o, isto �� particularmente

importante, pois chegada �� a hora de separar o joio do

trigo, as boas ��rvores das m��s ��rvores e de restabelecer

a verdade.

A alma em ora����o, ligada ao Manto de Maria que

cobre a Terra, �� como um espelho voltado ao C��u, refle-

tindo um raio de luz no abismo.

Aquele que ora, por alguns momentos que seja, se-

gundo f��rmulas preestabelecidas, ou colhendo as palavras

na espontaneidade do cora����o, traz grande benef��cio a si

mesmo e aos que o cercam, atravessando com mais segu-

ran��a esta ��poca dif��cil.

Que mais e mais esp��ritos se abriguem no Manto

Constelado de Maria, suavizando dores, �� a nossa prece.

S��plica �� M��e Sant��ssima

Anjo dos bons e M��e dos pecadores,

Enquanto ruge o mal, Senhora, enquanto

Reina a sombra da ang��stia, abre o teu manto,

Que agasalha e consola as nossas dores.

158



MARIA, M��e de Jesus

Nos caminhos do mundo, h�� treva e pranto.

No infort��nio dos homens sofredores,

Volve �� Terra ferida de amargores

O teu olhar imaculado e santo!

Oh Rainha dos Anjos, meiga e pura,

Estende tuas m��os �� desventura

E ajuda-nos, ainda, M��e piedosa!

Conduze-nos ��s b��n����os de teu porto

E salva o mundo em guerra e desconforto,

Clareando-lhe a noite tormentosa...

Bittencourt Sampaio89

Ora����o

V��s que sois a M��e bondosa

De todos os desvalidos

Deste vale de gemidos.

M��e piedosa!...

Sublime estrela que brilha

No c��u da paz, da bonan��a,

Do c��u de toda a esperan��a -

Maravilha!

��� Referenciado em M��e - Francisco C��ndido Xavier/Esp��ritos Diversos - O

Clarim.

159



Edison Carneiro

Maria! - consola����o

Dos pobres, dos desgra��ados,

Dos cora����es desolados

Na afli����o,

Compadecei-vos, Senhora,

De t��o grandes sofrimentos,

Deste mundo de tormentos,

Que apavora.

Livrai-nos do abismo tredo90

Dos males, dos amargores,

Protegei os pecadores

No degredo.

Estendei o vosso manto

De bondade e de ternura,

Sobre tanta desventura,

Tanto pranto! Concedei-nos vosso amor,

A vossa miseric��rdia,

Dai paz a toda disc��rdia,

Tr��gua �� dor!...

V��s que sois M��e carinhosa

Dos fracos, dos oprimidos

Deste vale de gemidos,

M��e bondosa!

Jo��o de Deus91

Tredo = trai��oeiro

9 0

Parnaso de Al��m-T��mulo - Francisco C��ndido Xavier/Esp��ritos diversos

91

- F e b .

160



MARIA, M��e de Jesus

A Virgem

V��s sois do mundo a estrela da esperan��a,

A salva����o dos n��ufragos da vida;

A cust��dia das almas sofredoras,

Consola����o e paz dos desterrados

Do venturoso aprisco das ovelhas

De Jesus Cristo, o Filho muito amado!

Fanal92 radioso aos pobres degredados,

Anjo guiador dos homens desgarrados

Do Evangelho de luz do filho vosso.

Virgem formosa e pura da bondade,

Provid��ncia dos fracos pecadores,

Astro de amor na noite dos abismos,

Clar��o que sobre as trevas da cegueira

Expulsa a escurid��o das consci��ncias!

Virgem da piedade e da pureza,

Estendei vossos bra��os tutelares

�� Humanidade inteira, que padece,

Esp��ritos na treva das ang��stias,

No tenebroso b��ratro93 das dores,

Mergulhados nas tredas94 tempestades

Do mal, que lhes ensombra a mente e a vista;

Cegos desventurados, caminhando

Em busca de outras noites mais escuras.

Fanal = farol, grande l��mpada que os barcos levavam para sinaliza����o.

9 2

B��ratro = caos, confus��o.

9 3

Tredas = trai��oeiras.

9 4

161



Edison Carneiro

Legi��o de penitentes volunt��rios,

Afastados do amor e da verdade,

Fugitivos da luz que os esclarece!

Anjo da caridade e da virtude,

Estendei vossas asas luminosas

Sobre tanta mis��ria e tantos prantos.

Dai fortaleza ��queles que fraquejam,

Apiedai-vos dos fr��geis caminhantes,

Iluminai os c��rebros descrentes,

Fortalecei a f�� dos vacilantes,

Clareai as sendas obscurecidas

Dos que se v��o nos p��ntanos dos v��cios

Existem almas m��seras que choram

Amarradas ao potro das torturas,

E cora����es farpeados de amarguras...

Enxugai-lhes as l��grimas penosas!

Virgem imaculada de ternura,

Aben��oai os mansos e os humildes

Que acima de ourop��is95 enganadores

P��e o amor de Jesus, eterno e puro!

Dulcificai as m��goas que laceram

Pobres almas aflitas na voragem

Das prova����es mais rudes e amargosas.

Estendei, Virgem pura, o vosso manto

Constelado de todas as virtudes,

Sobre a nudez de tantos sofrimentos

Ourop��is = l��minas de lat��o imitando ouro; ouro falso.

9 5

162



MARIA, M��e de Jesus

Que despeda��am almas exiladas

No orbe da expia����o que regenera...

Ele ser�� a luz resplandecente

Sobre a mis��ria dos padecimentos,

Afastando amarguras, concedendo

Claridades a estradas pedregosas...

Conforto ��s almas tristes deste mundo,

Porto de seguran��a aos viajantes,

Clar��o de sol nas trevas mais espessas,

Farol brilhante iluminando os trilhos

De todos os viajores que caminham

Pela m��o de Jesus, doce e bondosa;

O p��o miraculoso, repartido

Entre os esfomeados e os sedentos

De paz, que os acalente e os conforte!

Virgem, m��e de Jesus, anjo de amor,

Vinde a n��s que na luta fraquejamos,

Ajudai-nos a fim de que a ven��amos...

Vinde, piedosa virgem de bondade,

Cremos em v��s, na vossa alma divina!

Vinde! ... dai-nos mais for��a e mais coragem,

Derramai sobre n��s o efl��vio santo

Do vosso amor, que ampara e que redime...

Vinde a n��s! nossas almas vos esperam,

Almas de filhos m��seros que sofrem,

Atendei nossas s��plicas, Senhora,

Provid��ncia da pobre Humanidade.

Bittencourt Sampaio96

* Parnaso de Al��m-T��mulo - Francisco C��ndido Xavier/Esp��ritos diversos

- Feb.

163

SOBRE HUMBERTO DE CAMPOS

A biografia de Maria aqui apresentada, que conside-

ramos real, pois apoiada na mediunidade de Chico Xavier,

deve-se em noventa por cento ao Esp��rito Humberto de

Campos. Cabe, portanto, alguns tra��os biogr��ficos sobre

o bi��grafo.

Estas p��ginas n��o fogem ao foco da obra porque

Humberto �� um Servidor de Maria. Mais que r��tulos, que

de nada valem, e que ele dispensa, serviu Nossa Senhora,

espalhando a compaix��o traduzida em p��ginas de consolo

e esperan��a, que espalhou em meio ��s suas expia����es e

provas aqui na Terra e no Plano Espiritual. H�� servidores

de Maria que s��o esp��ritos superiores e tamb��m h�� os pe-

queninos, lutando contra suas m��s tend��ncias, trope��ando

e caindo como crian��as espirituais. Maria ama a todos e

d�� oportunidades a todos de trabalho como m��e extremo-

sa e imparcial.

Sempre dei prefer��ncia ��s autobiografias face a

biografias, pois ningu��m conhece melhor a sua vida do

que aquele que a viveu. Para que me atrever a dizer que

Humberto foi isso ou aquilo se ele pr��prio se conta e

define em centenas de p��ginas, nas suas mem��rias, di��-

rios, cr��nicas, cartas, etc, tanto no plano f��sico quanto no

espiritual?

Dada a fei����o de "��lbum de fotografias" neste li-

vro, listo a seguir flashes da vida do Humberto, registra-

dos pelo pr��prio Humberto nos seus textos.

165

Origem

"Sou, f��sica e moral e intelectualmente, o produto

de quatro ou cinco fam��lias portuguesas que o tempo e o

meio vem debilitando, e que aclimatou, sem se integrar,

no ambiente americano... Isso explica, talvez, as tend��n-

cias disciplinadas e disciplinadoras do meu esp��rito, a

minha paix��o pela ordem cl��ssica, e a fei����o puramente

europeia do meu gosto. Tenho horror a insubmiss��o, e a

desordem... Vibram automaticamente, no meu sangue e

nos meus nervos, oito s��culos de civiliza����o."





O pai


"Era um homem de estatura acima de mediana,

��gil, airoso e elegante. Claro e corado, olhos azuis, cabe-

leira farta e ondulada, de ouro queimado, quase vermelha;

bigode da mesma cor; e uma su����as baixas que lhe chega-

vam at�� o meio da face... Guapo, alegre, sempre disposto

e em movimento, era o que se chama hoje, um tipo espor-

tivo... Vejo-o pulando o balc��o de (sua) loja, num salto

r��pido e firme."

A m��e

"Morena, longos cabelos negros, olhos castanho

escuros, havia tido var��ola, quando menina, possuindo por

isso a pele marcada, mas muito fina... Minha m��e enfren-

tou a vida com hero��smo sereno e silencioso, e com tran-

quilo esp��rito de decis��o... Mentalmente era, talvez, entre

as irm��s, o esp��rito culminante da fam��lia.

O dia das m��es... Este ��... o meu dia de gl��ria. Du-

rante todo o ano, os outros homens me causam inveja. Eles

t��m o seu pal��cio, o seu lar, os seus autom��veis, as suas

roupas, as suas mulheres, a sua robustez, o seu prest��gio

166

mundano ou pol��tico, a luz do seu esp��rito ou a luz dos

seus olhos. Mas eu tenho tanto como eles, e mais do que

muitos deles, porque ainda tenho na terra, pensando em

mim, velando por mim, rezando por mim, a minha m��e."





Nascimento


"Nasci a 25 de outubro de 1886... N��o tenho certe-

za da hora; parece-me, todavia, ter ouvido dizer �� minha

m��e que foi a tr��s ou quatro da manh��. Eu sempre fui,

ali��s, excelente madrugador... Sempre fui proclamado,

embora sem irrita����o consciente de minha parte, o meni-

no mais feio da fam��lia. Nasci feio, e tenho sido, na vida,

nesse ponto, de uma coer��ncia acima de todo elogio...

Faltam-me elementos hist��ricos e geogr��ficos para

escrever sobre a pequena vila (Miritiba) em que nasci...

Situada �� algumas l��guas da foz do Piri��, repousa por tr��s

de uma s��rie de dunas... Dependendo do oceano a mar��

leva-lhe todos os dias, a ��gua do mar e seus peixes... A

vila possui, correndo paralelamente a rua da frente, mais

duas ou tr��s, em que os p��s dos transeuntes se afundam

na areia solta..."

A irm��

"Minha irm�� pequenina possu��a, entretanto, ��ndole

precisamente diversa... A maior parte das minhas traves-

suras tinham-na como v��tima... Ao ver-me, por��m, sub-

metido a castigo violento, precipitava-se em meu aux��lio,

abra��ava-se comigo, e, n��o raro, apanh��vamos juntos,

quando me puniam por sua causa... Era uma crian��a linda

e boa... Foi uma filha carinhosa e meiga, e esposa pura e

modelar. Por isso, morreu. E eu fiquei."

167



A inf��ncia

"Eu tenho a impress��o que n��o fui, jamais, um me-

nino alegre e querido, por mais que recue no tempo em

busca de mim mesmo, s�� me encontro impulsivo e rebelde,

mas dominado, intimamente por uma profunda tristeza,

com imprevistas explos��es de esquisita sensibilidade...

Nasci, pois, com todos os atributos para ser um triste, um

r��stico, um insubmisso, um revoltado. E obedeci na in-

f��ncia e na adolesc��ncia essa predestina����o... A Vida ��

que, com suas esporas de a��o, rasgando-me as carnes,

subjugando-me os ��mpetos, domesticou, pouco a pouco,

este potro selvagem."

��rf��o

"(Meu pai) havia sa��do a passeio em um cavalo ��r-

dego97 que exigia espora de fidalgo e pulso de cavaleiro...

Minha irm��, que tinha apenas dois anos, sai na carreira e

cai, na rua, sob as patas do animal... O quadr��pede res-

folega impaciente, mordendo o freio... Um movimento

qualquer, e, sentando-lhe uma das patas na espinha fr��gil,

pode matar a menina... Vem a meu pai uma ideia s��bita

e desesperada: crava de repente, e com viol��ncia, as es-

poras no ventre do animal, que d�� um arranco, saltando

longe. A filha estava salva, mas ele estava morto... A da-

tar, por��m, desse dia, n��o teve mais sa��de... Ano e meio

depois estava morto... Quando meu pai morreu, eu tinha

seis anos e vinte e dois dias.

Minha m��e, de p�� agita seu len��o, que bate como

uma asa de p��ssaro branco estonteado na noite. Outros

len��os se agitam na praia, na m��o das sombras. Abra��a-

dos a minha m��e que chora, eu e minha irm�� pequena..."

Fogoso.

9 7

168



A pobreza

"A nossa mudan��a de Miritiba, onde meu pai era

tudo e n��o nos faltava nada, para Parana��ba, onde ��ramos

nada e nos faltava tudo, come��ou a influir muito cedo no

meu car��ter... Eu fui um menino que n��o possuiu, parece,

jamais um brinquedo delicado... No meu anivers��rio, ou de

minha irm��, seu brinde consistia em servir o nosso almo-

��o fora da mesa, improvisando um "banquete" sobre um

caix��o de querosene, coberto com uma toalha de rosto..."

O trabalho - Lavador de garrafas

"Em��lia, filha de uma simp��tica mulata de Barreiri-

nhas com um primo de meu pai, nascera tamb��m mulata,

mas de cabelo liso. Viera para S��o Luiz, onde, depois do

nascimento de uma filha, se ligou ao comerciante portu-

gu��s Jos�� Dias Matos, propriet��rio da casa Transmontana.

Meu pai n��o ia ao Maranh��o sem ir visit��-la. Tio Em��dio

n��o desdenhava o mesmo prazer. Pequena e elegante, os

seus dotes maiores eram da alma e cora����o. Era boa. Era

caridosa. Era alegre. E era, sobretudo, dedicad��ssima ao

homem que lhe dera o p��o...

A excelente criatura foi me despertar no s��t��o com

a not��cia que esperava h�� muito tempo: o sr. Jos�� Dias de

Matos, o portugu��s com quem vivia e que foi mais tar-

de, seu marido, havia resolvido a minha admiss��o como

caixeiro98...

��� Hoje voc�� vai para o tanque lavar garrafas.

Amanh�� �� dia de engarrafar vinho.

N��o esperei nova ordem. Vesti uma cal��a velha,

arregacei as mangas da camisa, substitu�� os sapatos por

* 98 Equivalente a balconista e ajudante geral de loja.

169

uns tamancos e sentei-me num caixote vazio, ao lado

do tanque cheio d��gua, e em que as garrafas jaziam

mergulhadas... Se algu��m bebeu vinho da casa Trans-

montana de setembro de 1900 a agosto de 1901 pode

ficar seguro de que as garrafas estavam limpas. Quem

as lavava era eu...

A noite a mercearia fechava as portas. Corria a to-

mar o meu banho. Vestia-me. Atravessava a rua. Entrava

na Biblioteca P��blica.

E ia viajar com Julio Verne."

O trabalho - Escritor

"Ao tomar posse, a 8 de maio de 1920, da cadeira

que ocupo na Academia Brasileira de Letras, eu pronun-

ciei estas palavras... nada me patenteia tanto a fragilidade

humana como a presen��a dolorosa de um cego"...

A cr��tica n��o me conhece. Os homens de letras n��o

me l��em. As classes ilustradas ignoram a minha passa-

gem pela Terra... mas como me sinto pago de todos os

tormentos da vida quando recebo essas cartas que dia-

riamente me chegam... mas me d��o a certeza de que eu

penetrei em uma casa pobre, na intimidade de um cora-

����o dolorido, e alegrei um triste e confortei um deses-

perado... As palavras de gratid��o desses m��rtires s��o as

moedas do meu cofre...

�� esse, igualmente, o dever de um escritor pobre,

em um pa��s pobre: manter-se no seu posto at�� a morte,

sem ser pesado a ningu��m, e comer, se preciso, o seu bra-

��o esquerdo, para que a m��o direita permane��a livre e tra-

balhe infatig��vel,condenando o erro, espalhando o bem,

semeando a Verdade."

170





O trabalho - Pol��tico

"Domingo, 21 de outubro (de 1928) - (Em Salva-

dor na Bahia) o tenente-coronel Faria, ajudante de ordens

do governador Vital Soares, o qual vem para me comuni-

car que este me espera para jantar, e p��e a minha disposi-

����o um autom��vel, para visitar a cidade...

S��bado, 27 de outubro (de 1928) - (No navio Pedro

I) As duas horas avista-se o farol de S��o Marcos. As tr��s a

cidade. Como �� bizarra a minha S��o Luiz... Do navio v��-

-se a rampa embandeirada, e o povo aglomerado ao sol...

os correligion��rios adiantam-se abra��ando o filho pr��di-

go... O dr. Clarindo Santiago sobe a uma tribuna arma-

da no cais, e l�� um discurso de sauda����o... Respondo-lhe

com emo����o... conduzindo-me ao pal��cio, que �� franque-

ado ao povo e onde me espera o Presidente Magalh��es

de Almeida... A noite jantar pol��tico...com a presen��a ofi-

cial... A mesa est��o Alfredo de Assis, meu companheiro

de bo��mia e fome no Par��...

(Novembro de 1928) O coronel Jo��o Castelo Bran-

co (de Caxias no Maranh��o) quer saber a que horas che-

garei ali (de trem). Explico que s�� estarei a uma hora da

madrugada.

��� N��o faz mal; n��s esperamos...

Pe��o-lhe desculpas...passarei sem parar... regressa-

rei na tarde seguinte para visitar Caxias...

��� N��o... o senhor passa amanh�� e passa hoje

tamb��m...

Uma hora da manh��. A noite est�� escura... O trem

apita. Uma banda de m��sica responde com toda a for��a

dos metais. A esta����o est�� cheia. Pol��ticos. Oper��rios...

Na ��poca o governador tinha o t��tulo de presidente do estado.

9 9

171



Abra��o-os a todos. E o trem se p��e em marcha, de novo,

debaixo da musica e das ova����es daquela gente boa e

amiga, entre a qual vou deixando, de passagem, em for-

mas ��ntimas de reconhecimento, peda��os do meu cora����o.

S��bado, 26 de maio de 1929 - como n��o houves-

se sess��o na C��mara (Federal), sentamo-nos a um canto,

Manuel Vilaboin, Afr��nio Peixoto, El��i de Souza, e eu, a

conversar sobre os homens e os fatos da pol��tica nacional...

Era pensamento meu, h�� muito tempo, falar em ar-

tigo, desse homem (Magalh��es de Almeida)... Eu me en-

contrava por��m em estado de suspei����o. Deputado eleito

pelo partido que lhe obedece �� orienta����o, o meu gesto

poderia ser tomado como um ato de lisonja... O Governo

Provis��rio, na sua sabedoria e na sua prud��ncia, tirou-me,

por��m esse constrangimento, cassando-me os direitos

pol��ticos. Durante cinco anos, n��o poderei no, meu pa��s,

votar nem ser votado... O Sr. Magalh��es de Almeida se

acha armado, em suma, para a solu����o de todos os pro-

blemas brasileiros. N��o tem ideologias. N��o tem teorias.

N��o vive de abstra����es. Mas conhece sua terra, conhece a

alma e as necessidade do seu povo, e disp��es de um senso

pr��tico e de um esp��rito de modera����o..."

E d u c a �� �� o

(Registrando a visita que recebeu de Armando Sa-

les de Oliveira100 ) "A Universidade de S��o Paulo �� a

primeira semente do Brasil Novo... a Universidade cria

as elites. E a crise brasileira n��o �� popular, mas das clas-

ses superiores; n��o �� das massas, mas dos que devem

Interventor do Estado de S��o Paulo na d��cada de 1930, cargo equiva-

1 0 0

lente ao governador de hoje.

172

dirigi-las... S��o Paulo compreendeu isso e vai iniciar a

grande marcha. A Universidade que estamos fundando...

vai formar e disciplinar para a vida p��blica, para as ne-

cessidades de sua pol��tica e da sua ci��ncia, a primeira

gera����o homog��nea...

O gram��tico n��o deve tentar, como atualmente

acontece, elevar a crian��a a uma condi����o de adulto, para

ensinar-lhe o idioma; o seu dever �� descer �� condi����o da

crian��a, para entender-se com ela e subirem juntos, gra-

dualmente, a escada do conhecimento... Eu jamais me

meti, na minha vida em uma conspira����o. No dia, por��m,

em que as crian��as do Brasil se reunirem secretamente

para linchar um gram��tico ou um professor de portugu��s,

podem contar comigo... A primeira paulada �� minha."

A Doen��a

"Vivi as horas mais terr��veis que pode viver um

homem, quando em janeiro de 1928, recebi a senten��a

condenat��ria da ci��ncia, com o diagn��stico da hipertrofia

da hip��fise, que se caracterizava de modo alarmante. Em

meados de 1930 os efeitos dessa enfermidade se alastra-

vam... o olho esquerdo ficou perdido, sem nenhuma les��o

aparente. As m��os se tornaram volumosas, acompanhadas

de dorm��ncia, que aumentava durante o trabalho e duran-

te o sono. A parte inferior do bra��o tomada de dores, pela

falta de circula����o, fazia-me levantar de hora em hora...

hipertrofia prost��tica... intoxica����o... sonhos maus... pe-

sadelos... sentia a cabe��a enorme e a l��ngua pesada... sur-

dez... suores frios... respira����o curta e dif��cil...

A enfermidade implac��vel que me assaltou conti-

nua no seu curso... Deixei de ler... As dores nas minhas

pernas s��o mais fortes... mas trabalho contente...

173

N��o obstante trabalhei sempre, e n��o deixei de

prover, com os recursos da minha pena, as necessidades

da minha casa... retirei meu filhos do col��gio... atirando-

os ao trabalho... Sinto que a minha alma se purifica no

sofrimento, e que o meu cora����o, trabalhado pelas dores

pr��prias, se preparou melhor para compreender as dores

alheias...

Perdi, com minha casa hipotecada, tudo o que pos-

su��a como fortuna terrena... mas o trabalho n��o me falta,

e, com o produto do meu trabalho, tenho tudo o que dese-

jo, porque hoje desejo pouco..."





Inimigos


"Nasci no Maranh��o, em uma vila que, arrepen-

dida de me haver dado ao mundo, se est�� suicidando aos

poucos, e ao mesmo tempo se sepultando sobre monta-

nhas de areia. E eu quero bem a minha terra... Quando

em 1928, eleito seu representante na C��mara, fui visit��-la,

um dos jornais da capital dedicou-me um grande artigo

na primeira p��gina onde terminava com esta frase textual:

"Em suma, �� esta p��stula que vem a��"...

Mais tarde correndo por l�� a not��cia da enfermida-

de que ainda hoje me atormenta, o mesmo di��rio afixou

a sua porta um cartaz, e publicou um editorial de para-

b��ns ao Brasil com essa passagem que �� um primor pelos

sentimentos que revela: "O castigo chegou: Humberto

de Campos vai ficar cego!"... mesmo assim continuo a

estimar, fraternalmente a todos os meus coestaduanos...

E eu, aben��oando o solo em que nasci como erva m��,

perdoo os que me injuriam, e n��o pe��o a Deus sen��o luz

para os olhos daqueles que festejaram a morte prematura

dos meus.

174



A m o r t e 1 0 1

"A morte n��o veio buscar a minha alma, quando

esta se comprazia nas redes douradas da ilus��o. A sua te-

soura n��o me cortou fios de mocidade e de sonho, porque

eu n��o possu��a sen��o neves brancas e r��gidas �� espera do

sol para se desfazerem...

A minha excessiva vigil��ncia trouxe-me a ins��nia,

que arruinou a tranquilidade dos meus ��ltimos dias. Per-

seguido pela surdez, j�� os meus olhos se apagavam como

as derradeiras luzes de um navio so��obrando em mar en-

capelado no sil��ncio da noite...

Sem esmorecimento atirei-me ao combate, n��o

para repelir mouros na costa, mas para erguer muito

alto o cora����o, retalhado nas pedras do caminho como

um livro de experi��ncias para os que vinham depois dos

meu passos...

Quando me encontrava nessa faina de semear a re-

signa����o, a primeira e a ��ltima flor dos que atravessam

o deserto das incertezas da vida, a morte abeirou-se do

meu leito... Adormeci nos seus bra��os como um ��brio nas

m��os de uma deusa...

��� Humberto!... Humberto!... - exclamou uma voz

long��nqua - recebe o que te enviam da Terra!

Arregalei os olhos com horror e com enfado:

��� N��o! N��o quero saber de paneg��ricos e agora

n��o me interessam as se����es necrol��gicas dos jornais.

��� Enganas-te - repetiu - as homenagens da con-

ven����o n��o se equilibram at�� aqui. A hipocrisia �� como

certos micr��bios de vida muito ef��mera. Toma as preces

que se elevaram por ti a Deus, dos peitos sufocados, onde

Palavras do Infinito - Francisco C. Xavier - LAKE.

1 0 1

175

penetraste com tuas exorta����es e conselhos. O sofrimento

entornou sobre o teu cora����o um c��ntaro de mel.

Vi descer, de um ponto indeterminado do espa��o,

bra��adas de flores inebriantes como se fossem feitas de

neblina resplandescente, e escutei, envolvendo meu nome

pobre, ora����es tecidas com suavidade e do��ura...

Nossa Senhora deveria ouvi-las no seu trono de

jasmins bordados de ouro, contornado pelos anjos que

eternizam a sua gl��ria...

Encontrei alguns amigos a quem apertei frater-

nalmente as m��os... E voltei c��. Voltei para falar com os

humildes e os infortunados, confundidos na poeira da

estrada das suas exist��ncias, como frangalhos de papel,

rodopiando ao vento...

E posso acrescentar como o neto de Marco Aur��lio,

no tocante a morte que me arrebatou da pris��o nevoenta

da Terra:

��� �� minha carta de alforria... Agora posso ir

onde quero.

Os amargores do mundo eram pesados demais para

o meu cora����o..."

176



RESUMO DA

DOUTRINA ESP��RITA102

Os seres que se manifestam designaram-se a si

mesmos, como dissemos, pelo nome de Esp��ritos ou G��-

nios, e dizem ter pertencido, alguns pelo menos, a ho-

mens que viveram na Terra. Constituem eles o mundo

espiritual, como n��s constitu��mos, durante a nossa vida,

o mundo corporal.

Resumimos aqui, em poucas palavras, os pontos

principais da Doutrina que nos transmitiram, a fim de

mais facilmente respondermos a certas obje����es.

Deus �� eterno, imut��vel, imaterial, ��nico, todo-

poderoso, soberanamente justo e bom.

Criou o Universo, que compreende todos os seres

animados e inanimados, materiais e imateriais.

Os seres materiais constituem o mundo vis��vel ou

corporal, e os seres imateriais o mundo invis��vel ou esp��-

rita, ou seja, dos Esp��ritos.

O mundo esp��rita �� o mundo normal, primitivo,

eterno, preexistente e sobrevivente a tudo.

O mundo corporal n��o �� mais do que secund��rio,

poderia deixar de existir, ou nunca ter existido, sem alte-

rar a ess��ncia do mundo esp��rita.

Os Esp��ritos revestem, temporariamente, um inv��-

lucro material perec��vel, cuja destrui����o, pela morte, os

devolve �� liberdade.

'�� Resumo feito por Allan Kardec, codificador da Doutrina Esp��rita, em O

2

Livro dos Esp��ritos, item VI da Introdu����o.

177

Entre as diferentes esp��cies de seres corporais,

Deus escolheu a esp��cie humana para encarna����o dos Es-

p��ritos que chegaram a um certo grau de desenvolvimen-

to, sendo isso que lhe d�� superioridade moral e intelectual

perante as demais.

A alma �� um Esp��rito encarnado, do qual o corpo

n��o �� mais que um inv��lucro.

H�� no homem tr��s coisas:

1) 0 corpo ou ser material, semelhante aos animais

e animado pelo mesmo princ��pio vital.

2) A alma ou ser imaterial, Esp��rito encarnado no

corpo.

3) O la��o que une a alma ao corpo, princ��pio inter-

medi��rio entre a mat��ria e o Esp��rito.

O homem tem assim duas naturezas: pelo seu corpo,

participa da natureza dos animais, dos quais possui os ins-

tintos; pela sua alma, participa da natureza dos Esp��ritos.

O la��o ou perisp��rito, que une o corpo e o Esp��rito,

�� uma esp��cie de inv��lucro semi-material. A morte �� a

destrui����o do inv��lucro mais grosseiro, a carne. O Esp��-

rito conserva o segundo, que constitui para ele um corpo

et��reo, invis��vel para n��s no seu estado normal, mas que

ele pode tornar com permiss��o, vis��vel e mesmo tang��vel,

como se verifica nos fen��menos de apari����o.

O Esp��rito n��o ��, portanto, um ser abstrato, indefi-

nido, que s�� o pensamento pode conceber. �� um ser real,

circunscrito, que, em certos casos, pode ser apreciado pe-

los nossos sentidos da vista, da audi����o e do tato.

Os Esp��ritos pertencem a diferentes classes, n��o

sendo iguais nem em poder, nem em intelig��ncia, nem em

saber, nem em moralidade. Os da primeira ordem s��o os

Esp��ritos superiores, que se distinguem dos demais pela

178

perfei����o, pelos conhecimentos e pela proximidade de

Deus, a pureza dos sentimentos e o amor genu��no: s��o

esses os anjos ou Esp��ritos puros. As demais classes se

distanciam mais e mais desta perfei����o. Os das classes in-

feriores s��o inclinados ��s nossas paix��es: o ��dio, a inveja,

o ci��me, o orgulho, e t c , e se comprazem no mal. No seu

n��mero, h�� os que n��o s��o nem muito bons, nem muito

maus; antes, perturbadores e intrigantes j�� que a mal��cia e

a inconsequ��ncia parecem ser as suas caracter��sticas; s��o

eles os Esp��ritos estouvados ou levianos.

Os Esp��ritos n��o pertencem eternamente �� mesma

ordem. Todos se melhoram, passando pelos diferentes

graus da hierarquia esp��rita. Esse melhoramento se verifi-

ca pela encarna����o, que a uns �� imposta como uma expia-

����o e a outros como miss��o. A vida material �� uma prova

a que devem submeter-se repetidas vezes, at�� atingirem a

perfei����o; �� uma esp��cie de peneira ou depurador, de que

eles saem mais ou menos purificados.

Deixando o corpo, a alma volta ao mundo dos

Esp��ritos, de onde havia sa��do para reiniciar uma nova

exist��ncia material, ap��s um lapso de tempo mais ou

menos longo, durante o qual permanece no estado de

Esp��rito errante.

Devendo o Esp��rito passar por muitas encarna����es,

conclui-se que todos n��s tivemos muitas exist��ncias, e

que teremos ainda outras, mais ou menos aperfei��oadas,

seja na Terra, seja em outros mundos.

A encarna����o dos Esp��ritos verifica-se sempre na

esp��cie humana. Seria um erro acreditar-se que a alma ou

Esp��rito pudesse encarnar no corpo de um animal.

As diferentes exist��ncias corporais do Esp��rito

s��o sempre progressivas, jamais retroagem, e a rapidez

179

do progresso depende dos esfor��os que fazemos para

chegar �� perfei����o.

As qualidades da alma s��o as do Esp��rito que encar-

namos. Assim o homem de bem �� a encarna����o de um bom

Esp��rito, e o homem perverso, a de um Espirito impuro.

A alma tinha a sua individualidade antes da encar-

na����o, e a conserva ap��s a separa����o do corpo.

No seu regresso ao mundo dos Esp��ritos, a alma

reencontra todos os que conheceu na Terra, e todas as suas

exist��ncias anteriores se delineiam na sua memoria, com

a recorda����o de todo o bem e todo o mal que tenha feito.

O Esp��rito encarnado est�� sob a influ��ncia da mat��-

ria. O homem que supera essa influ��ncia, pela eleva����o e

purifica����o de sua alma, aproxima-se dos bons Esp��ritos,

com os quais estar�� um dia. Aquele que se deixa dominar

pelas m��s paix��es, como a inveja, o orgulho, a avareza,

etc., e p��e todas as suas alegrias na satisfa����o dos apeti-

tes grosseiros, aproxima-se dos Esp��ritos impuros, dando

preponder��ncia �� natureza animal.

Os Esp��ritos encarnados habitam os diferentes glo-

bos do Universo.

Os Esp��ritos n��o encarnados, ou errantes, n��o ocu-

pam nenhuma regi��o determinada ou circunscrita; est��o

por toda parte, no espa��o e ao nosso lado, vendo-nos e

acotovelando-nos sem cessar. �� toda uma popula����o invi-

s��vel que se agita ao nosso redor.

Os Esp��ritos exercem sobre o mundo moral e mes-

mo sobre o mundo f��sico uma a����o incessante. Eles agem

sobre a mat��ria e sobre o pensamento, e constituem uma

das for��as da natureza, causa de uma multid��o de fen��me-

nos at�� agora inexplicados ou mal explicados, e que n��o

encontram uma solu����o racional.

180

As rela����es dos Esp��ritos com os homens s��o cons-

tantes. Os bons Esp��ritos nos convidam ao bem, nos sus-

tentam nas provas da vida e nos ajudam a suport��-las com

coragem e resigna����o; os maus nos convidam �� queda: ��

para eles um prazer ver-nos sucumbir e nos assemelhar-

mos ao seu estado.

As comunica����es ocultas, verificam-se pela influ-

��ncia boa ou m�� que eles exercem sobre n��s, sem o sa-

bermos, cabendo ao nosso julgamento discernir as m��s e

boas inspira����es. As comunica����es ostensivas realizam-

se por meio da escrita, da palavra ou outras manifesta����es

materiais, na maioria das vezes, atrav��s de m��diuns que

lhes servem de instrumento.

Os Esp��ritos se manifestam espontaneamente ou

pela evoca����o. Podemos evocar todos os Esp��ritos: os que

animaram homens obscuros e os dos personagens mais

ilustres, qualquer que seja a ��poca em que tenham vivido;

os de nossos parentes, de nossos amigos ou inimigos, e

deles obter, por comunica����es escritas ou verbais, con-

selhos, informa����es sobre a situa����o que se acham no es-

pa��o, seus pensamentos a nosso respeito, assim como as

revela����es que lhes seja permitido fazer-nos.

Os Esp��ritos s��o atra��dos na raz��o de sua simpatia

pela natureza moral do meio que os evoca. Os Esp��ritos

superiores gostam das reuni��es s��rias, em que predo-

minam o amor ao bem e o desejo sincero de instru����o e

melhoria. Sua presen��a afasta os Esp��ritos inferiores, que

encontram, ao contr��rio, um livre acesso, e podem agir

com inteira liberdade, entre as pessoas fr��volas ou guiadas

apenas pela curiosidade, e por toda parte onde encontram

maus instintos. Longe de obtermos deles bons conselhos

e informa����es ��teis, nada mais devemos esperar do que

181

futilidades, mentiras, brincadeiras de mau gosto ou misti-

fica����es, pois frequentemente se servem de nomes vene-

r��veis para melhor nos induzirem ao erro.

Distinguir os bons e os maus Esp��ritos �� extrema-

mente f��cil. A linguagem dos Esp��ritos superiores �� cons-

tantemente digna, nobre, cheia da mais alta moralidade,

livre de qualquer paix��o inferior; suas comunica����es re-

velam a mais pura sabedoria, e t��m sempre por alvo o

nosso progresso e o bem da humanidade. A dos Esp��ri-

tos inferiores, ao contr��rio, �� inconsequente, quase sem-

pre banal e mesmo grosseira; se dizem ��s vezes coisas

boas e verdadeiras, dizem com mais frequ��ncia falsidades

e absurdos, por mal��cia ou por ignor��ncia; zombam da

credulidade e divertem-se �� custa dos que os interrogam,

lisonjeando-lhes a vaidade e embalando-lhes os desejos

com falsas esperan��as. Em resumo, as comunica����es s��-

rias, na perfeita acep����o do termo, n��o se verificam sen��o

nos centros s��rios, cujos membros est��o unidos por uma

��ntima comunh��o de pensamentos dirigidos ao bem.

A moral dos Esp��ritos superiores se resume, como

a do Cristo, na m��xima evang��lica: "Fazer aos outros o

que querer��amos que os outros nos fizessem", ou seja, fa-

zer o bem e n��o fazer o mal. O homem encontra nesse

princ��pio a regra universal de boa conduta, mesmo para

as menores a����es.

Eles nos ensinam que o ego��smo, o orgulho, a

sensualidade s��o paix��es que nos aproximam da nature-

za animal, prendendo-nos �� mat��ria; que o homem que,

neste mundo, se liberta da mat��ria, pelo desprezo das fu-

tilidades mundanas e o cultivo do amor ao pr��ximo, se

aproxima da natureza espiritual; que cada um de n��s deve

tornar-se ��til, segundo as faculdades e os meios que Deus

182

nos colocou nas m��os para nos provar; que o forte e o po-

deroso devem apoio ao fraco, porque aquele que abusa da

sua for��a e de seu poder, para oprimir o seu semelhante,

viola a lei de Deus. Eles ensinam, enfim, que, no mundo

dos Esp��ritos, nada pode permanecer escondido, o hip��cri-

ta ser�� desmascarado e todas as suas torpezas reveladas;

que a presen��a inevit��vel e em todos os instantes daqueles

que prejudicamos �� um dos castigos que nos est��o reser-

vados; que aos estados de inferioridade e de superioridade

dos Esp��ritos correspondem penas e alegrias que s��o des-

conhecidas na Terra.

Mas eles ensinam tamb��m, que n��o h�� faltas irre-

miss��veis que n��o possam ser resgatadas pela expia����o. O

homem encontra o meio necess��rio, nas diferentes exis-

t��ncias que lhe permitem vivenciar e avan��ar, segundo o

seu desejo e os seus esfor��os, na via do progresso, rumo ��

perfei����o, que �� o seu objetivo final.

183

BIBLIOGRAFIA

A maioria dos textos que constitui esta pequena antologia vieram

de publica����es da Federa����o Esp��rita Brasileira (www.febnet.org.br),

as quais recomendamos ao leitor:

��� Boa Nova - Francisco C��ndido Xavier/Humberto de





Campos.


No dizer dos pr��prios editores:

Esta obra, t��o apreciada pelos esp��ritas, focaliza passagens

evang��licas de expressiva beleza, onde Jesus com seus disc��pulos

e outros conhecidos personagens do cristianismo nascente, como

Maria Madalena, Joana de Cusa, Nicodemos, trazem li����es de sa-

bedoria ao homem atuai.

Re��ne 30 epis��dios, onde o leitor ser�� envolvido pela ter-

nura e encanto de personagens e situa����es relacionados com a

presen��a do Cristo de Deus, entre n��s, que falam sobretudo ao

cora����o dos que trabalham pela implanta����o do Reino de Deus

no mundo.

Neste livro, o Esp��rito de Humberto de Campos nos lembra

que "todas as express��es evang��licas t��m, entre n��s, a sua hist��ria

viva. Nenhuma delas �� s��mbolo superficial. Inumer��veis observa-

����es sobre o Mestre e seus continuadores palpitam nos cora����es

estudiosos e sinceros".

��� Mem��rias de um Suicida - Yvonne A. Pereira.

Nesta obra redigida pelo escritor portugu��s Camilo Castelo

Branco, revisada por Leon Denis e recebida mediunicamente por

Yvonne s��o apresentados os sofrimentos advindos do suic��dio e

seu processo de recupera����o; sobre seu conte��do comenta Leon

Denis no pref��cio:

Que medites sobre estas p��ginas, leitor, ainda que duro se

torne para o teu orgulho pessoal o aceit��-las! E se as l��grimas al-

guma vez rociarem tuas p��lpebras, a passagem de um lance mais

185

dram��tico, n��o recalcitres contra o impulso generoso de exaltar teu cora����o em prece piedosa, por aqueles que se estorcem nas tr��-

gicas convuls��es da inconsequ��ncia de infra����es ��s leis de Deus!

��� Parnaso de Alem-T��mulo - Francisco C��ndido Xavier/

Esp��ritos Diversos.

Cont��m 259 poesias ditadas por 56 poetas brasileiros e por-

tugueses, testemunhando que a vida continua ap��s a morte. Nele

encontraremos a mesma pureza diamantina de Guerra Junqueiro,

a vibra����o forte e candente de Castro Alves, a vis��o crua das vai-

dades humanas de Augusto dos Anjos, e tantos outros vultos que

enriqueceram a l��ngua portuguesa, mas tudo isso acrescido da am-

plid��o que a vis��o ap��s a morte proporciona.

��� Paulo e Estev��o - Francisco C��ndido Xavier/Emmanuel.

No dizer dos pr��prios editores:

Emmanuel neste romance resgata a imagem de Paulo de

Tarso, visto por alguns como um fariseu fan��tico, perseguidor de

crist��os, e da ent��o nascente doutrina crist��, apresentando-o como

um ser corajoso e sincero que se arrependeu de sua postura radi-

cal, empreendeu acelerada revis��o de conceitos e atendeu ao cha-

mado de Jesus na estrada de Damasco, transformando sua vida

num exemplo de trabalho, por dezenas de anos dedicados a abrir

igrejas crist��s e dar-lhes assist��ncia.

Paulo e Estev��o far�� voc�� compreender como o amor apa-

ga a multid��o de faltas cometidas.

��� A Divina Epop��ia - Bittencourt Sampaio.

Vers��o em versos brancos do Evangelho segundo Jo��o por

esse destacado poeta brasileiro do s��culo XIX.

��� Volta Bocage - Francisco C��ndido Xavier/Bocage.

Neste pequeno livro, o grande poeta portugu��s volta do

al��m para transmitir-nos doze belos poemas.

��� Lazaro Redivivo - Francisco C��ndido Xavier/Irm��o X.

Este livro cont��m 50 mensagens de Humberto de Campos

que se vale do pseud��nimo de Irm��o X, trazendo-nos novos ��ngu-

los do Evangelho de Jesus com sua refinada sensibilidade. Contos,

186

cr��nicas, cartas abordando os mais variados temas, mas sempre

sob as luzes da espiritualidade crist��.

��� Novas mensagens - Francisco C��ndido Xavier/Humberto





de Campos.


Doze interessant��ssimos textos de Humberto de Campos

nos primeiros tempos de sua vida no plano espiritual onde sua fina

sensibilidade nos descerra novos ��ngulos da vida.

��� Caminho, Verdade e Vida - Francisco C��ndido Xavier/





Emmanuel.


Livro que faz parte da cole����o: "Vinha de Luz", "Pai Nos-

so", "Fonte Viva", onde o esp��rito Emmanuel nos apresenta um

estudo sobre o novo testamento, onde s��o examinados em cada

mensagem apenas um vers��culo (ou parte dele) nos revelando o

sentido profundo dos ensinamentos de Jesus. Nas palavras do

mesmo Emmanuel:

Muitos amigos estranhar-nos-��o talvez a atitude, isolando

vers��culos e conferindo-lhes cor independentementedo cap��tulo

evang��lico a que pertencem. Em certas passagens, extra��mos da��

somente frases pequeninas, proporcionando-lhes fisionomia espe-

cial e, em determinadas circunst��ncias, as nossas considera����es

desvaliosas parecem contrariar as disposi����es do cap��tulo em que

se inspiram.

Assim procedemos, por��m, ponderando que, num colar de

p��rolas, cada qual tem valor espec��fico e que, no imenso conjunto

de ensinamentos da Boa Nova, cada conceito do Cristo ou de seus

colaboradores diretos adapta-se �� determinada situa����o do Esp��ri-

to, nas estradas da vida.

Obras citadas de outras Editoras:

��� Horto - Auta de Souza - Funda����o Jos�� Augusto, Natal

(RN).

A destacada poetisa do Rio Grande do Norte produziu ape-

nas este livro na sua curta e atormentada vida. Por��m, �� sem d��-

vida uma das mais belas cole����es de poemas que um cora����o de

mulher j�� produziu; mulher que alia nos seus escritos a dor bal-

samizada pela f��, erros solucionados pelo perd��o, e todos esses

aspectos solucionados no amor puro.

187



��� Momentos de Ouro - Francisco C��ndido Xavier/Esp��ri-

tos Diversos - Geem, S��o Bernardo do Campo.

Vejamos um trecho do pref��cio formulado por Bezerra de

Menezes:

�� por isso, leitor amigo, que te entregamos este volume sem

mais pre��mbulos.

Ele foi feito nos momentos dourados de amigos queridos

que nos proporcionam os mais altos instantes de medita����o e

aprendizado, emotividade e alegria, porquanto, nestes registros da

Espiritualidade Superior, transfigurados em letras do mundo, senti-

mo-nos envoltos em vibra����es de paz - a paz indescrit��vel que nos

guia o sentimento para o encontro ��ntimo com Deus.

��� M��e - Francisco C��ndido Xavier/Esp��ritos Diversos -

Casa Editora O Clarim, Mat��o.

Ou��amos os coment��rios a respeito dessa antologia atra-

v��s da palavra de Wallace Leal Rodrigues, seu coordenador:

Agora este livro esp��rita est�� pronto. Ele se move no ful-

cro mesmo dos anseios, ang��stias, esperan��as e reinvidica����es de

Anna Jarvis.103

Eu creio que ele encheu o seu cora����o vazio!

Entre cravos-brancos de preces, louvor, ternura e devo����o,

aqui se encontra algo que n��o pode ser comprado, nem vendido,

que n��o se exp��e em vitrines e nem se embrulha em papel doirado,

com la��os coloridos: LUZ ESPIRITUAL.

��� Rosa Mystica - Sebastiana Botelho Egas - Edi����o da





Autora.


Livro raro e esgotado, onde a autora colecionou 72 poemas

escritos por grandes vultos da literatura brasileira e portuguesa.

Anna Jarvis foi a criadora do "Dia das M��es". Natural de Filad��lfia, Esta-1 0 3

dos Unidos, com a morte da m��e iniciou uma campanha em 1905, pelo "Dia

das M��es". Gra��as �� sua eloqu��ncia e perseveran��a, em 1914 o congresso

americano aprovava e Woodrow Wilson, presidente, sancionava uma pro-

clama����o na qual recomendava que o segundo domingo de maio (aniver-

s��rio da morte da m��e de Anna), fosse observado no pa��s inteiro como o

Dia das M��es.

188





HIST��RIA DA EVOLU����O ESPIRITUAL

DA HUMANIDADE - TRILOGIA





Os Exilados da Capela


Edgard Armond


16x23 cm I 192 P��g.

A forma����o e evolu����o das

ra��as no planeta Terra. Obra ex-

traordin��ria que cuida das gran-

des indaga����es dos homens

acerca do in��cio da humanidade.

Na Cortina do Tempo Almas Afins

Edgard Armond Edgard Armond

14x21 c m | 128 P �� g . 14x21 c m | 160 P �� g .

S o b r e v i v e n t e s s a l v o s d a A t r a j e t �� r i a d e E s p �� r i t o s A t l �� n t i d a p r e s e r v a m s e u s c o - a f i n s d e s d e a s u b m e r s a L e m �� -

n h e c i m e n t o s d e s t i n a d o s �� ria a t �� o s d i a s a t u a i s , p o s t e r i d a d e .





R O M A N C E S DE SAARA NOUSIAINEN





Mundo Espiritual


N��s e o Mundo

Um Forr�� no Umbral

Perguntas & Respostas

Espiritual





E Outros Contos


Saara Nousiainen


Saara Nousiainen

Saara Nousiainen

14x21 cm I 256 P��g.

12x15 cm I 208 P��g.

14x21 cm I 160 P��g.

C o m estilo leve e agrad��vel,

O b r a s i m p l e s , d i r e t a e

T u d o s o b r e o m u n d o espiritual

por v e z e s divertido, a autora

e l u c i d a t i v a , a b o r d a n d o

e s e u i n t e r r e l a c i o n a m e n t o

p �� e n a t r a m a d e s s e s

d i v e r s o s t e m a s r e l a c i o n a -

c o n o s c o , n o s m i l e n a r e s

enredos v e r d a d e s profundas

d o s �� D o u t r i n a E s p �� r i t a ,

p r o c e s s o s e v o l u t i v o s d o ser

q u e n e m s e m p r e s �� o

u t i l i z a n d o o m �� t o d o d e

h u m a n o e d a v i d a . O s

p e r c e b i d a s n o c o t i d i a n o .

p e r g u n t a s e r e s p o s t a s .

e n s i n a m e n t o s d e J e s u s s o b

nova ��tica e m u i t a s o u t r a s

C o m 2 4 contos e m q u e s e

q u e s t �� e s .

c o m b i n a m li����es de vida e

e m o �� �� e s .

R O M A N C E S DE NELSON MORAES

Um Roqueiro no Al��m





Para Onde Iremos


Perd��o

Nelson Moraes/Z��lio

Ap��s a Morte?

O Caminho da Felicidade!

14x21 cm | 128 P��g.

Nelson Moraes

Nelson Moraes/Aulus

14x21 cm | 128 P��g.

14x21 cm | 128 P��g.





IR IMOS


R o q u e i r o f a m o s o , s u r p r e e n d i -

P a r a o n d e v �� o a s c r i a n �� a s ? D e

O p e r d �� o �� o v e r d a d e i r o

d o p e l a m o r t e p r e m a t u r a

q u e f o r m a s o m o s p r o t e g i d o s

c a m i n h o d a f e l i c i d a d e . A

c a u s a d a p e l o u s o a b u s i v o d e

d a s " b a l a s p e r d i d a s " , d o s

o b r a n a r r a e p i s �� d i o s o n d e

�� l c o o l e d e d r o g a s , s e v ��

a c i d e n t e s , d a s e n f e r m i d a d e s . . . ?

i n c o m p r e e n s �� o e m �� g o a

d i a n t e d e u m a r e a l i d a d e q u e

O E s p �� r i t o A u l u s a t r a v �� s d o

f u n c i o n a m c o m o c �� r c e r e s

j a m a i s i m a g i n a r a .

m �� d i u m N e l s o n M o r a e s ,

m e n t a i s , a t r a v a n c a n d o o

r e s p o n d e �� i n t e r e s s a n t e s

p r o g r e s s o m o r a l d o





R O M A N C E S MEDI��NICOS

Amor ao Cair da Tarde

Chagas de Luz





Uma Janela Aberta


Cl��udia Marum / Rodolpho

Edison Carneiro e

Nadir Paes Viana/

14x21 cm I 224 P��g.

Manuel dos Santos Soares

Jair Amorim

16x23 cm | 320 P��g.

14x21 cm | 288 P��g.

O d r a m a de L a u r a e n c o n t r a

A p r e n d a o l a d o e s p i r i t u a l d a

O a m o r sincero e n t r e J u d i t h , a

e x p l i c a �� �� o e m e x p e r i �� n c i a s

I n f �� n c i a , a d o l e s c �� n c i a e

j o v e m filha d e u m f a z e n d e i r o ,

v i v e n c i a d a s e m s u a e n c a r n a �� �� o

m o c i d a d e , a c o m p a n h a n d o

e B e n z i n h o , h u m i l d e s e r v i d o r

anterior, m o s t r a n d o q u e , g r a �� a s

M a n u e l q u e v i v e e s s a s

de s e u p a i , m o s t r a q u e a

�� lei da r e e n c a r n a �� �� o , t o d o s

i d a d e s n u m l e p r o s �� r i o . S �� o

d i s c r i m i n a �� �� o s o c i a l n �� o

s o m o s h e r d e i r o s d e n o s s a s

d u r a s f a s e s d e p r o v a s e

c o n s e g u e i m p e d i r o c u r s o d o s

pr��prias a �� �� e s .

e x p i a �� �� e s , p l a n e j a d a s a n t e s

n o b r e s s e n t i m e n t o s .

d o n a s c i m e n t o .

Esperan��as Renovadas

Amor e Cativeiro

Labirintos da Culpa

Roberto de Carvalho/

Paulo Sergio Texeira Diniz

Roberto de Carvalho/

Casimiro

e Simone Pinto Diniz

Bas��lio

16x23 cm | 224 P �� g .

16x23 cm I 2 8 8 P �� g .

16x23 cm I 2 2 4 P �� g .

RENOVADAS

�� r f �� o a o s o i t o a n o s e

U m g r u p o d e E s p �� r i t o s p l a n e j a a

R o s �� l i a a c o r d a n o p l a n o

a b a n d o n a d o p e l o p a i ,

p a c i f i c a �� �� o d e d u a s t r i b o s e s p i r i t u a l q u a n d o s e u C a s i m i r o s e t o r n a u m a

c a n i b a i s e r i v a i s , n a �� f r i c a .

e s q u e l e t o �� e n c o n t r a d o �� s

p e s s o a c �� t i c a e m a t e r i a l i s -

m a r g e n s d e u m a r o d o v i a .

t a . E m i d a d e m a d u r a , a d o r

S o c o r r i d a n u m a C a s a

d e n o v a p e r d a a f e t i v a o l e v a

F r a t e r n a , r e c o r d a - s e d e s e u

a e s t r e i t a r s u a r e l a �� �� o c o m

p a s s a d o e p r e c i s a s u p e r a r o







De: Reginaldo Mendes 






Olá, pessoal:
                   Este é mais um livro de nossa campanha de doação de livros espíritas e não espíritas para atender aos deficientes visuais.
                   Agradecemos ao Irmão Bartolomeu Filho pela doação e ao irmão Fernando pela digitalização.
                    Pedimos não divulgar em canais públicos ou Facebook. Esta nossa distribuição é para atender aos deficientes visuais em canais específicos
"A  MAIOR CARIDADE QUE SE PODE FAZER É A DIVULGAÇÃO DA DOUTRINA ESPÍRITA. EMMANUEL"

O Grupo Allan Kardec lança hoje mais um livro digital !
Desejamos a todos uma boa   leitura !

 Maria Mãe de Jesus - Edilson Carneiro 

Livro doado pelo irmão Bartolomeu  Filho e digitalizado por Fernando José
Sinopse:
Contém preces e depoimentos escritos por encarnados e desencarnados. Nesta antologia, estão reunidos textos considerados fiéis à realidade, que permitem uma visão fidedigna de Maria, cujas fontes são: os Evangelhos, principalmente o de Lucas, mensagens transmitidas por Chico Xavier e informações do livro Memórias de um suicida, que apresenta a ação dos servidores de Maria.



Nesta época da Pandemia do Coronavírus fique em casa e aproveite para ler livros de  preferência livros espíritas !


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Abraços !





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