Com Sinopse
Livro digitalizado pela
Equipe S�� Livros Com Sinopse
tendo como grupo parceiro o grupo
Bons Amigos para atender aos deficientes VISUAIS
COLE����O OLHO M��GICO S��RIE AMARELA
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QUANDO O SEXO DOMINA
Ricardo Veronese
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Rua Filomena Nunes, 162
21.021 ��� RIO DE JANEIRO ��� RJ
A SEDU����O
DE JANIS
Ricardo Veronese
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parte, nem registrado, nem reproduzido, nem
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a expressa autoriza����o do detentor do copyright.
Capitulo 1
O Oldsmobile negro parou no estacio-
namento privativo, sob uma ��rvore. Ao
lado, o enorme pr��dio de m��rmore e vidro
brilhava intensamente sob o sol da ma-
nh��.
��� O calor j�� est�� come��ando ��� disse
o motorista, desligando o motor e come-
��ando a desdobrar lentamente as mangas
da camisa.
��� Agora n��o �� nada ��� retrucou seu
companheiro, dando uma dentada gulosa
no sandu��che que tinha nas m��os. ��� No
fim do m��s estar�� pior.
��� Acabe logo de comer essa droga
- resmungou o homem ao volante, impa-
ciente com o calor. ��� N��o vai querer en-
trar no hospital comendo, n��o ��?
��� O que tem isso? ��� perguntou o ou-
tro, rindo. ��� Por acaso estou fazendo al-
guma coisa demais, Joe?
- 5
��� N��o enche, Mark ��� esbravejou Joe,
vestindo o palet�� e maldizendo o calor.
��� Vamos logo com isso. N��o esque��a de
pegar a fotografia.
Abriu a porta do carro, arrumando a
gravata e esticando o palet�� amassado. Es-
tendeu a m��o, pegando a fotografia que
Joe lhe estendeu.
"O idiota manchou de gordura a cara
do procurado" ��� repreendeu-o, mental-
mente.
Tamb��m, n��o era grande coisa aquela
foto de dez anos atr��s, meio fora de foco
e com a express��o aparvalhada de quem
se assusta com o flash da m��quina.
Deu de "ombros, pensando que o proble-
ma n��o era dele. Acabariam pegando o
assassino, com ou sem a ajuda da foto-
grafia. O tal de John Martin estava fe-
rido e, pela quantidade de sangue que
perdera, fatalmente iria parar num dos
hospitais da cidade.
Bateu com for��a no teto do carro, ar-
rependendo-se ao sentir o calor do me-
tal.
��� Vamos logo, Mark ��� insistiu, mal-
humorado. ��� Deixe esse sandu��che para
depois.
��� J�� vou, j�� vou ��� falou o outro,
de boca cheia, saindo rapidamente do car-
ro e vestindo o palet��.
6���
Mark tentou abotoar o palet��, mas logo
desistiu, sorrindo e dando um tapinha afa-
vel em sua pr��pria barriga, pensando que
na pr��xima semana come��aria um regi-
me.
Atravessaram o caminho do estaciona-
mento at�� a entrada principal do pr��dio,
cortando dist��ncia pelo jardim. O movi-
mento constante de pessoas entrando e
saindo dava a impress��o de um shopping
center o mesmo de uma feira ao Cen-
tral Clinic. O hall amplo, com paredes
de m��rmore at�� o teto, unia a sensa����o
de amplid��o de uma sala de concertos com
o cheiro ass��ptico que sempre lembrava a
Joe momentos desagrad��veis.
��� Detesto hospitais ��� resmungou o
policial, dirigindo-se �� recep����o.
��� Desde que n��o seja eu o d o e n t e . . .
��� gracejou Mark, dando de ombros e se-
guindo o companheiro.
Pararam no balc��o, e Joe procurou
mostrar-se melhor humorado ao falar com
a recepcionista. Tirou o distintivo do bol-
so, mostrando-o rapidamente e tornando
a guard��-lo.
��� Gostaria de falar com a enfermeira-
chefe ��� disse o policial, examinando com
olho cl��nico a jovem vestida de branco.
��� Sobre que assunto?
���7
��� Assunto oficial ��� limitou-se a dizer,
esperando para ver a rea����o da garota.
Depois de breve hesita����o, a garota vi-
rou-se para o grande painel preso �� pa-
rede, onde uma sucess��o de nomes e car-
gos misturavam-se a luzinhas acesas em
v��rias cores.
Apertou um bot��o ao lado do nome
de Janis Hopkins, aguardando alguns se-
gundos, at�� que um n��mero e algumas
letras apareceram no painel, ao lado do
nome.
��� A Srta. Hopkins est�� no oitavo an-
dar ��� disse, traduzindo as informa����es do
painel. ��� N��o sei se ela poder�� receb��-los
agora, pois est�� controlando a rotina do
centro cir��rgico.
��� Ela receber�� ��� falou Joe, s��rio, fa-
zendo um pequeno aceno com a m��o e
dando as costas para a recepcionista.
Tocou no bra��o de Mark, caminhan-
do em passos r��pidos para os elevadores.
N��o sabia exatamente o que o irritava ali,
mas nunca conseguira se sentir �� von-
tade entre tanta gente de branco, macas
rolando silenciosamente e aquele cheiro.
Os chamados constantes atrav��s dos al-
to-falantes espalhados por todos os corre-
dores davam-lhe uma sensa����o de urg��n-
cia e calamidade, que n��o produzia o me-
8���
nor efeito nos rosto impass��veis dos fre-
q��entadores habituais daquele universo.
M��dicos e enfermeiros passavam con-
versando, alguns rindo animadamente, e
ao policial tudo aquilo parecia chocante
e detest��vel.
Comentou com o companheiro, enquan-
to o elevador subia ao oitavo andar, a
estranha e desagrad��vel impress��o que
sentia ao freq��entar aquele ambiente.
��� �� a idade ��� disse Mark, com um
sorriso ir��nico. ��� Quando a gente fica
velho, vive com medo da morte. E o hos-
pital �� . . .
��� N��o enche ��� cortou Joe, soltando
um palavr��o, enquanto Mark dava uma
gargalhada.
Desceram do elevador no oitavo andar,
onde, ap��s um pequeno sagu��o com pol-
tronas espalhadas, uma porta de vidro im-
pedia o acesso.
��� Vamos entrar ��� ordenou Joe, olhan-
do mal-humorado para as placas que proi-
biam a entrada.
��� �� melhor n��o faz��-lo ��� lembrou
Mark ��� N��o est�� vendo os avisos?
��� E da��? Vamos ficar aqui parados,
esperando que apare��a algu��m?
Empurrou a porta de vidro da ante- P��g 9
sala com for��a e j�� ia entrando quando
uma voz o deteve.
��� Pare a��! ��� gritou uma mulher vin-
do da sala anexa, em dire����o �� porta. ���
N��o entre aqui!
Joe, meio indeciso, recuou um passo,
sem deixar de segurar a porta. A mu-
lher estava vestida de branco, com os ca-
belos cobertos por uma touca, uma m��s-
cara de tecido cobrindo-lhe parte do ros-
to e sapatilhas de pano envolvendo os sa-
patos.
��� N��o lhe avisei para n��o entrar? ���
disse Mark, entre os dentes, ir��nico. ��� O
neg��cio a�� dentro �� esterilizado, n��o pode
entrar todo sujo e suado como voc�� est��.
Joe nada disse, olhando fixamente para
a mulher que caminhava em dire����o ��
porta de vidro, com um brilho de ��dio e
censura nos olhos.
Quando ela chegou junto �� porta, en-
carou o policial com olhar duro e disse,
sem tirar a m��scara que lhe protegia o
rosto:
��� N��o sabe ler? ��� perguntou, irritada.
��� N��o est�� vendo que isto �� um centro
cir��rgico, e n��o a cantina do hospital?
Joe, ainda mais irritado pela repreen-
s��o, tirou do bolso e distintivo e mostrou-
o �� mulher.
1 0 ���
��� Policia ��� anunciou, com voz rude.
��� Mais um motivo para o senhor obe-
decer aos regulamentos do hospital ��� dis-
se a mulher, r��spida.
��� Precisamos falar com a Srta. Hop-
kins.
��� Sou eu ��� declarou a mulher, com
um olhar interrogativo. ��� O que dese-
jam?
��� �� sobre uma pessoa procurada pela
pol��cia, que pode vir a procurar o hospital.
Temos uma foto e . . .
��� Espere um pouco ��� disse ela, re-
cuando e puxando a porta de vidro. ���
Vou tirar essa roupa, e num minuto es-
tarei de volta.
Fechou a porta, quase batendo com o
vidro no nariz de Joe, que recuou, furio-
so.
��� �� o que se ganha por n��o obedecer
aos regulamentos... ��� ironizou Mark,
rindo da express��o de f��ria do colega.
��� O r a . . . ��� resmungou Joe, olhando
irritado para a mulher que se afastava
pelo corredor, do outro lado da porta de
vidro. ��� Quem ela pensa que ��?
Alguns minutos depois, por uma porta
lateral, a enfermeira apareceu no sagu��o.
Os dois policiais viraram-se rapidamente,
���-11
surpreendendo-se ao verem a mulher sem
a m��scara, e s e m a touca branca, olhando
fixamente em sua dire����o.
��� Pronto ��� disse ela, com voz melo-
diosa, �� qual tentava dar um tom irrita-
do. ��� Agora o senhor pode dizer o que
deseja comigo.
Joe, meio sem a����o, continuou olhando
para a mulher, sem acreditar que era a
mesma que o repreendera minutos antes.
��� Srta. Hopkins?
��� Sim, Janis Hopkins ��� confirmou a
jovem, s��ria, e acrescentou: ��� Enfermeira-
chefe do centro cir��rgico.
O policial ficou ainda mais irritado ao
sentir a pr��pria hesita����o. N��o sabia exa-
tamente por qu��, mas a surpreendente be-
leza e juventude da enfermeira, haviam-
no deixado meio sem jeito. Esperava en-
contrar uma velhota ranzinza, ciente de
sua import��ncia e cheia de autoridade. E
no entanto, tinha diante de si uma mulher
bonita, com uma express��o de juventude
no rosto e um brilho intenso no olhar.
Os cabelos louros, despenteados, emol-
duravam o tom p��lido do seu rosto, onde
os olhos azuis sobressa��am como brilhantes.
Os l��bios carnudos, cheios, davam �� boca
semi-aberta um som sensual e ligeiramen-
te provocante.
12���
Joe disfar��ou um olhar mais prolonga-
do, tentando ver, atrav��s das roupas lar-
gas, as formas do corpo que adivinhava
bem feito.
��� Bem, s e n h o r i t a . . . ���. come��ou o po-
licial, pigarreando fortemente ��� o que nos
traz aqui �� um problema de r o t i n a . . .
��� Pode falar, s e n h o r . . .
��� Joe McCoy ��� disse o policial, com
um leve balan��o de cabe��a, antes de con-
tinuar: ��� Como estava dizendo, o que me
traz aqui �� um problema de rotina, Estamos
atr��s de um homem procurado como sus-
peito de roubo e assassinato.
��� Sim, e em que posso ajud��-los?
��� Esse homem est�� ferido ��� continuou
o policial, visivelmente embara��ado pelo
olhar fixo e penetrante da bela mulher
��� e temos certeza de que ele acabar�� pro-
curando um hospital nas pr��ximas ho-
ras.
��� E querem que eu os avise, caso ele
apare��a aqui, n��o? ��� perguntou Janis,
com a voz cansada de quem conhecia a
rotina.
��� Exatamente ��� concordou Joe, me-
tendo a m��o no bolso e pegando a foto-
grafia.
Reparou na mancha de gordura que ha-
via na foto e olhou com raiva para o com-
���13
panheiro, lembrando-se do sandu��che.
Mark fez um gesto gaiato, como se pedisse
desculpas, e Joe continuou a explica����o:
��� Aqui est�� a fotografia do sujeito ���
disse, estendendo a foto para a mulher.
��� �� uma fotografia velha, dez anos ou
mais. Mas, pelas descri����es que temos, o
sujeito n��o mudou muito de l�� para c��.
Mary pegou a fotografia sem olhar,
agradecendo ao policial e pensando em vol-
tar o quanto antes para o seu servi��o.
��� Est�� bem, Sr. McCoy, vou mostrar
a foto aos meus superiores e . . .
Parou de falar, olhando para o homem
que acabava de sair do elevador. Fez uma li-
geira careta de contrariedade ao reconhecer
Brian Hart, maldizendo os policiais que a
fizeram perder tempo ali.
Brian era diretor administrativo e supe-
rior de servi��os gerais naquela ��rea do
hospital. Tinha fama de ser enjoado e
chato, n��o perdendo ocasi��o em perseguir
os subordinados. E parecia ter um sexto
sentido para descobrir pequenos erros no
servi��o, procurando os culpados e punin-
do-os com um prazer asqueroso.
Janis Hopkins viu o brilho de curiosi-
dade no olhar de Brian e xingou-o men-
talmente, quando o viu aproximar-se do
grupo.
14���
��� Bom-dia, senhores ��� cumprimentou,
com seu tom de voz frio e profissional, en-
quando parava ao lado dos dois policiais.
��� O que est�� havendo aqui?
Joe olhou para o m��dico, medindo-o
de alto a baixo. N��o simpatizou com o re-
c��m-chegado, e respondeu-lhe num tom
de desd��m:
��� Estamos falando com a Srta. Hop-
kins, e n��o precisamos de ajuda.
��� Acontece que sou o diretor adminis-
trativo ��� disse Brian, sem esconder sua
irrita����o pelo corte do policial. ��� E tudo
o que acontece por aqui �� de meu intes-
se.
��� Esses senhores s��o da pol��cia ��� disse
Janis, estendendo a fotografia para o m��-
dico. ��� Vieram avisar sobre um homem
procurado que est�� ferido, e que pode vir
a dar entrada no hospital.
��� H u m . . . ��� fez Brian, examinando
detidamente a foto, com ar de entendi-
do.
��� Exatamente ��� continuou Joe, olhan-
do o m��dico. ��� O nome dele �� John Mar-
tin, e �� suspeito de assassinato e roubo.
��� Por que acham que ele vir�� pro-
curar o hospital? ��� perguntou Brian Hart,
olhando de cima para o policial.
Porque os feridos n��o costumam pro-
���15
curar os supermercados ��� disse Joe, com
express��o s��ria mas com um brilho de iro-
nia nos olhos.
O diretor administrativo encarou o po-
licial com ��dio, enquanto Mark esfor��ava-
se para conter o riso. Sem dizer nada, Brian
devolveu a foto a Mary, pisando forte no
ch��o ao sair do sagu��o pela porta lateral.
Depois que ele saiu, Joe deu um leve
sorriso e voltou-se para a enfermeira.
��� Espero que a senhorita nos comuni-
que qualquer coisa. ��� Disse, despedindo-
se.
��� Sim, claro ��� respondeu Janis, com
voz fraca.
. .
Viu os dois policiais entrarem no ele-
vador, e continuou parada. Sentia-se li-
geiramente tonta e com u m a desagrad��vel
impress��o tomando forma em seu c��re-
bro. Desde que ouvira o nome de John Mar-
tin, um terr��vel pressentimento a assalta-
ra.
Agora, estava im��vel, com a foto na
m��o, sem coragem de olhar para as fei����es
do homem procurado. N��o era poss��vel que
fosse o que estava pensando. Apesar da
coincid��ncia, John Martin era um nome
razoavelmente comum, e devia haver al-
gumas centenas de pessoas com o mesmo
nome, espalhadas pelo pa��s.
16���
��� N��o pode s e r . . . ��� disse para si
mesma, como se quisesse reunir for��as an-
tes de olhar para a foto.
De repente, percebeu que n��o fazia ab-
solutamente nenhum sentido, estar ali pa-
rada, suando frio e com uma terr��vel sen-
sa����o desagrad��vel, pensando mal de John,
sem coragem de ver a foto.
Com um gesto brusco, levantou a foto
junto do rosto, olhando fixamente para
o homem s��rio que a olhava do retrato,
onde o rosto conhecido estava ligeiramen-
te embara��ado por uma mancha de gordu-
ra.
��� J o h n . . . ��� murmurou em voz bai-
xa, recusando-se a acreditar no que estava
vendo.
N��o havia d��vida. Era realmente John
Martin. O mesmo John Martin de dez anos
atr��s. Lembrou-se de Tucson, Arizona, en-
quando sentia as pernas fraquejarem. P��g 17
Capitulo 2
A mente confusa, uma avalanche de
sentimentos contradit��rios e lembran��as h��
muito guardadas no por��o da mem��ria as-
saltando sua cabe��a de repente, um gosto
estranho na boca como se estivesse sain-
do de uma ressaca, tudo em seu corpo
indicava uma rea����o f��sica ao choque que
levara ao ver o retrato.
Abandonado rapidamente o trabalho,
ap��s dizer �� substituta que iria descansar
um pouco, Janis Hopkins refugiou-se no
pequena quarto atr��s da sala de enferma-
gem, onde havia uma cama para dormir
nos plant��es.
Deixou-se cair pesadamente, fechando os
olhos em seguida. Apalpou o bolso largo do
uniforme, pegando a fotografia que guar-
dara ali, levantando-a na altura dos olhos.
John Martin, o mesmo rosto de dez
anos atr��s, olhava-a com aquela cara sem
express��o, de quem olha para tr��s do fo-
18-
t��grafo. Embora pensasse em John sempre
que fazia um balan��o de sua vida, lembra-
va-se agora que h�� pelo menos um ano
ou dois n��o recordava John.
A ��ltima vez que o vira fora segura-
mente h�� quatro ou cinco a n o s . . . isso,
cinco anos. Estava em Chicago, ent��o, ter-
minando o curso de especializa����o.
Fechou os olhos com for��a, balan��an-
do a cabe��a para afastar aquela sensa����o
de desagrad��vel excita����o que sentia ao
lembrar-se das palavras do policial.
" ��� . . . suspeito de assassinato e roubo,
est�� ferido e certamente vai procurar um
hospital."
Dessa vez n��o era uma simples rotina,
como acontecia sempre. N��o era mais um
caso an��nimo, onde sua participa����o redu-
zia-se a cumprir os regulamentos, provi-
denciando todo o atendimento do ferido e
comunicando �� pol��cia o aparecimento do
suspeito.
Pensou no que faria, caso John che-
gasse ao hospital, ferido, precisando de
ajuda e com a pol��cia em seu encal��o. Afas-
tou rapidamente o pensamento da imagem
ensang��entada que se formara em. sua men-
te, torturando-se inutilmente.
O cansa��o da noite de plant��o, seguida
de uma manh�� especialmente fatigante, so-
���19
mou-se �� emo����o da not��cia inesperada,
dando-lhe uma esp��cie de moleza sem sono.
Um agrad��vel torpor invadiu-lhe o ser, fa-
zendo com que seu corpo se relaxasse pe-
sadamente sobre a cama.
Fechou os olhos, pousou o retrato sobre
o peito e sorriu levemente, enquanto seus
pensamentos voavam no espa��o e retroce-
diam dez anos, �� procura de uma jovem de
vinte anos, inexperiente e cheia de espe-
ran��a na vida e nas p e s s o a s . . .
Janis Hopkins, o vestido branco justo
moldando o corpo bem feito, estava senta-
da na ante-sala do diretor. No colo, os li-
vros e as anota����es das aulas do dia, so-
bre os quais m��os nervosas n��o paravam
de tamborilar. Estava sentada h�� uma hora
na sala de espera, e de vez em quando
trocava um olhar interrogativo com a se-
cret��ria.
��� Calma, Janis ��� disse a secret��ria,
piscando-lhe o olho, compreensiva. ��� O
Dr. Clark vai atend��-la antes do final do
expediente. Ele �� muito ocupado, voc�� sa-
be.
��� Sim, eu sei ��� conformou-se Janis,
apertando os dedos nervosamente. ��� N��o
se preocupe comigo, eu espero.
20-
Voltou a concentrar a aten����o no livro
que abrira, onde aproveitava para estudar
a mat��ria das ��ltimas provas. Mal podia
acreditar que aquelas seriam as ��ltimas
provas que faria na universidade. Dentro
de algumas semanas, aprovada nas finais,
estaria apta a receber seu diploma, e em
vez de passar os dias na faculdade, em au-
las, sairia �� procura de um emprego co-
mo enfermeira.
Um sonho longamente acalentado, esta-
va em vias de se tornar realidade. Passa-
ra sempre com ��timas notas nos exames,
gostava das mat��rias, e a profiss��o lhe pa-
recia a mais agrad��vel do mundo. Tudo
seria maravilhoso, se n��o fosse o pequeno
problema que a atormentava, exatamen-
te o problema que a trouxera; ali, ao ga-
binete do diretor da faculdade.
As cartas que vinha recebendo da se-
cretaria sempre a preocupavam. Nos ��lti-
mos meses, pensara seriamente em arran-
jar um meio de aumentar o or��amento e
conseguir acertar de uma vez por todas
aqueles atrasos nas mensalidades.
Mas n��o conseguia juntar o dinheiro
necess��rio. Nunca pensara em escrever ao
pai, pois sabia que sua situa����o n��o me-
lhorara nada desde que sa��ra da pequena
cidade, para vir fazer o curso superior
em Tucson. No come��o do ano, do seu ��l-
���21
timo ano de curso, a not��cia da morte do
pai piorara as coisas.
Agora, nem mais aquela ajuda even-
tual, que ele mandava com sacrif��cio, Ja-
nis poder�� esperar. E o magro sal��rio que
conseguia no seu emprego de meio expe-
diente definitivamente n��o lhe bastava pa-
ra o sustento, e ainda para manter as
mensalidades do curso em dia.
A ��ltima carta da secret��ria fora bas-
tante clara. T��o clara quanto dura. Se n��o
pagasse os mil d��lares em atraso at�� a
pr��xima semana, simplesmente n��o pode-
ria, fazer os exames finais. Isso significa-
va desistir do diploma, abandonar o curso
depois de anos de sacrif��cio e dedica����o.
Pior de tudo, significava perder as esperan-
��as de um aperfei��oamento dentro de al-
guns anos.
Somente o Dr. Gerald Clark poderia
ajud��-la. E era exatamente por isso que
estava ali agora, sentada na sala de es-
pera, armada de coragem e paci��ncia, pron-
ta para pedir ao diretor uma chance de
prestar exames sem pagar seu d��bito.
J�� ouvira falar de casos semelhantes,
quando o diretor ajudara alunas em di-
ficuldade, arranjando uma bolsa de emer-
g��ncia que cobria seu d��bitos. Principal-
mente quando o mau pagador estava no ��l-
timo ano do curso, faltando poucas se-
manas para a formatura, e tendo um pas-
sado escolar dos mais brilhantes.
��� Ele vai dar um jeito na sua situa-
����o, Janis ��� dissera uma colega, encora-
jando-a. ��� Al��m do mais, voc�� n��o tem
mesmo alternativas.
Sim, era verdade. N��o havia outra al-
ternativa para resolver o problema. Ou o
Dr. Gerald Clark lhe arranjava a bolsa
de estudos para cobrir seu d��bito, ou po-
dia dar um solene e definitivo adeus as
pretens��es de ser uma enfermeira forma"
da.
��� Janis! ��� chamou a secret��ria, fa-
zendo-lhe um sinal para que se aproximas-
se. ��� O Dr. Clark vai atend��-la agora.
��� Obrigada.
Levantou-se, caminhando para a porta
solene de madeira lavrada, atr��s da qual
se instalava o gabinete do diretor.
Entrou, depois de ser anunciada, pa-
rando diante da imponente mesa de ma-
deira, onde um homem de meia idade, li-
geiramente calvo, escrevia em alguns do-
cumentos, de cabe��a baixa. Minutos depois,
quando ele terminou o que estava fazendo
e levantou os olhos para a jovem, ela pode
ver a barriga pronunciada do diretor, que
���23
se projetava para a frente, como se quises-
se empurrar a mesa de trabalho.
O homem abriu ligeiramente os l��bios,
aparecendo alguns dentes meio amarele-
cidos, n u m esbo��o de sorriso. Olhou de-
tidamente para a garota de p�� �� sua fren-
te, admirando o rosto suave e delicado, onde
a apreens��o dava-lhe uma express��o tensa.
Desceu os olhos, apreciando as formas bem
delineadas do corpo, sob o uniforme bran-
co, onde os seios delicados faziam um agra-
d��vel volume contra o tecido alvo, que des-
cia em dire����o �� cintura delicada. Logo,
a mesa impedia a continua����o do exa-
me, e o diretor lamentou mentalmente o
fato de a garota estar t��o pr��xima �� me-
sa.
��� Sente-se ��� disse, tranq��ilo, ap��s
o exame inicial. ��� Esteja �� vontade.
��� Obrigada ��� murmurou Janis, ten-
sa, sentando-se, em sil��ncio, e sem cora-
gem de encarar aquele homem que parecia
querer com��-la com o olhar.
��� Ent��o, a senhorita... Hopkins ���
disse, depois de um in��til esfor��o de mem��-
ria e de um breve olhar �� ficha que tinha
�� sua frente ��� deseja falar comigo. Muito
bem. Em que posso ajud��-la?
Janis passou rapidamente a l��ngua pelos
l��bios secos, apertando as m��os com uma
24���
for��a quase do��da. Depois de breve hesita-
����o, come��ou a falar.
��� B e m . . . o problema �� que estou em
dificuldades financeiras. Recebi algumas
cartas da secretaria, sobre as mensalidades
atrasadas, e n��o vejo muitas possibilidades
de saldar o d��bito at�� a data dos exames
finais.
Armando-se pouco a pouco de coragem,
foi desfiando o ros��rio de dificuldades por
que estava passando, a falta de recursos,
a dedica����o "aos estudos. Gerald Clark ou-
via tudo em sil��ncio, passeando os olhos
do rosto da jovem para os seios atraentes,
tentando adivinhar-lhe as formas reais por
sob o uniforme.
��� Ent��o ��� continuou Janis, depois
de expor francamente a situa����o ��� dis-
seram-me que o ��nico jeito que eu podia
dar a essa situa����o era falar com o se-
nhor pedir uma bolsa de estudos. Disse-
ram-me que existe uma bolsa de emerg��n-
cia, e que o senhor poderia...
��� Realmente, isto �� verdade ��� cortou
o homem, de repente. ��� Existe essa bolsa
de emerg��ncia, para atender alunas do ��l-
timo ano, em situa����es prec��rias.
Janis sentiu-se aliviada, pensando que
suas palavras haviam conseguido tocar o
diretor.
���25
��� Mas, essa bolsa �� para situa����es ex-
tremas, e depende de um estudo apurado
de minha parte ��� continuou ele, brincan-
do distraidamente com uma caneta doura-
da sobre o tampo da mesa. ��� Embora
pare��a que a concess��o da bolsa dependa
��nica e exclusivamente da minha vontade,
n��o �� bem a s s i m . . .
��� Eu sei, claro ��� disse Janis, angus-
tiada. ��� Mas, minha situa����o �� . . .
��� Sim, voc�� est�� vivendo uma situa����o
dif��cil, n��o resta a menor d��vida. Faltan-
do poucas semanas para se formar, n��o ��
agrad��vel a possibilidade de ser exclu��da
do curso.
A simples men����o da palavra exclu��da
produziu um calafrio na jovem. Ouvia as
palavras do diretor sem saber direito qual
era a sua inten����o; se desejava fornecer
a bolsa e realmente se via em dificuldades
t��cnicas, ou se tudo aquilo era um pr��logo
para uma desculpa que terminaria com um
redondo o sonoro "n��o".
Depois de mais alguns minutos de des-
culpas e rodeios, Gerald Clark disse algo
que renovou as esperan��as da estudante:
��� Vamos fazer o seguinte, senhorita.
Deixe me ver o que posso arranjar para
voc�� ��� consultou o rel��gio, enquanto um
brilho diferente passava-lhe pelos olhos. ���
26
At�� o fim da tarde, creio que terei algo
a lhe propor. Volte ��s sete horas da noite.
��� Muito obrigada, senhor ��� disse Ja-
nis, levantando-se, com um amplo sorriso
no rosto, enquanto estendi a m��o para o
diretor.
��� �� noite conversaremos ��� disse o ho-
mem, apertando-lhe a m��o e mantendo-a
entre seus dedos, enquanto dava um pro-
longado olhar em sua dire����o.
Janis Hopkins saiu do gabinete com o
cora����o leve. Sentia uma f�� na solu����o de
seu problema, principalmente pelas pala-
vras finais do diretor. Se ele quisesse real-
mente negar o pedido, bastaria-lhe dizer
n��o, e pronto. N��o fazia sentido pedir tem-
po para arranjar uma solu����o, e logo de-
pois vir confessar-se impotente.
Foi com alegria que percorreu" o cami-
nho que separava a faculdade da pens��o
onde morava. Entrou, cumprimentando a
velha S r a . Tatcher, com um sorriso f��cil
e contagiante. Subiu direto para o seu quar-
to, pensando em aproveitar o tempo at�� o
fim da tarde para estudar as mat��rias do
exame final.
��� Finalmente a vejo alegre ��� disse
uma voz ao seu lado, quando ela chegou
ao alto da escada. ��� Tenho visto voc�� t��o
preocupada nos ��ltimos dias que cheguei
���27
a ficar preocupado. Ainda bem que voc�� n��o
se esqueceu de como se sorri.
Janis virou-se, t��o logo ouviu aquela voz.
John Martin, o vizinho do quarto ao lado,
sorria-lhe amavelmente. Ele tamb��m pa-
recia particularmente feliz naquele dia, e
olhava-a de uma maneira t��o simp��tica,
que Janis n��o conseguiu evitar uma r��pida
conversa.
Apesar dos dois anos que morava ali,
sendo que nos ��ltimos seis meses com-
partilhara v��rias vezes da mesa de refei-
����es com Martin, raramente trocavam mais
do que poucas palavras sobre o tempo ou
not��cia de jornal.
��� Realmente estou muito alegre hoje,
S r . Martin. ��� Disse Janis, sorrindo para
o rapaz. ��� Acho que ainda hoje vou solu-
cionar um problema que me preocupa muito-
Fico contente cora isso
disse ele.
��� S�� n��o gosto que me chame S r . Mar-
tin, faz-me sentir bem mais velho do que
sou.
A garota sorriu, pensando que ele real-
mente tinha raz��o no que dizia. Afinal,
John Martin podia ter no m��ximo quatro
ou cinco anos a mais do que ela pr��pria,
e um homem de vinte e cinco anos n��o era
exatamente um senhor.
��� Est�� bem, John ��� disse a garota,
sorrindo. ��� Mas, voc�� tamb��m me parece
especialmente feliz, hoje.
��� Acertou ��� disse ele. ��� E tenho mo-
tivos de sobra para isso. Terminei um ne-
g��cio hoje que me rendeu muito mais do
que podia esperar.
Bateu de leve no pr��prio peito, como
que se cumprimentado pelo sucesso. Em
seguida, com indisfar��ado orgulho, comple-
tou:
��� Ali��s, deixe-me aproveitar o momen-
to para despedir-me de voc�� ��� ap��s pe-
quena pausa de suspense, completou: ���
Parto amanh�� para Chicago.
��� Vai viajar?
��� �� mais do que uma viagem, vou de
mudan��a. Com esse neg��cio que consegui
fazer aqui, tenho o capital necess��rio pa-
ra come��ar um pequeno neg��cio em Chi-
cago. Recebi h�� muito um bom convite,
mas faltava-me condi����o financeira. Ago-
ra, creio que vou conseguir um bom co-
me��o.
Mary olhou-o longamente, admirando a
felicidade estampada no rosto do jovem.
Estendeu a m��o, que ele apertou forte-
mente, enquanto dizia:
��� Desejo-lhe sucesso, Sr. M a r . . . di-
go, John.
���29
��� O mesmo para voc��, Janis. ��� Disse
ele, sorrindo simpaticamente. ��� E que o tal
problema termine de uma vez, e voc�� n��o
deixe de sorrir como agora.
Ela abaixou os olhos sorrindo, conti-
nuando o caminho para o seu quarto. Mi-
nutos depois, com os livros abertos na sua
frente, pensou em como era estranho o re-
lacionamento entre as pessoas. Vivia ao la-
do daquele rapaz, com uma fina parede de
alvenaria como ��nica barreira f��sica entre
eles. E no entanto, todas as palavras que
haviam trocado at�� ent��o n��o seriam su-
ficiente para encher duas folhas de papel.
Agora, num encontro casual, descobria que
seu vizinho era um sujeito am��vel e simp��-
tico, -capaz de ser um verdadeiro amigo.
��� Muito tarde para descobrir isso ���
disse, sorrindo sozinha, enquanto tentava
voltar a se concentrar nos livros.
Realmente, de nada adiantava saber que
John Martin era uma boa pessoa. No dia
seguinte ele se mudaria para Chicago, e
dentro de algumas semanas ela tamb��m
abandonaria a pens��o deixando de ser uma
estudante, para trabalhar como enfermei-
ra.
Talvez os dois nunca mais se encon-
trassem em toda a vida. e este pensamento
fez com oue pensasse na casualidade das
coisas e no mist��rio do destino.
30���
Deixou as id��ias de lado, desta vez con-
seguindo concentrar-se realmente no estu-
do. Ficou por v��rias horas com o olhar fixo
nas letras mi��das e negras, n��o percebendo
como o tempo passava, e as v��rias nuan-
ces de cor que o c��u adquiria, ao perder
o brilho intenso do sol, at�� que a noite
se fechasse sobre a cidade.
��� Meus Deus, como �� tarde! ���. sur-
prendeu-se a jovem, quando por acaso olhou
o rel��gio de pulso e verificou que j�� eram
quase sete horas da noite.
Largou os livros de qualquer jeito so-
bre a escrivaninha, passou a m��o na bolsa
e saiu correndo do quarto. O Dr. Gerard
devia estar esperando a em seu gabinete.
Seria muito desagrad��vel chegar atrasada
�� hora marcada. Ele podia tomar aquilo
como falta de interesse da parte dela-.
Apertou o passo, atravessando o campus
pelo meio do gramado que circundava o
pr��dio principal, sem perder tempo em tri-
lhar os caminhos que rodeavam o j a r d i m .
O pr��dio apagado, quase apagado, todo
��s escuras, deu-lhe a terr��vel sensa����o de
que seu atraso podia ter-lhe tirado a ��nica
chance de resolver seu problema. Aquela
hora da noite, uma r��pida olhada ao rel��-
gio mostrou-lhe que passava um pouco das
sete e meia. O diretor j�� devia ter ido em-
bora para casa. P��g 31
Aflita, empurrou a porta e atravessou
o extenso corredor, quase correndo. Ba-
teu na porta da ante-sala, e como ningu��m
respondesse, abriu-a. A secret��ria j�� devia
ter ido embora, pois al��m de vazia, sua sala
estava arrumada e limpa.
Foi com al��vio que reparou na fresta
de luz que passava sob a porta do diretor.
Tocou de leve na madeira lavrada, e ao
ouvir a voz de Gerald Clark ordenar-lhe
que entrasse, sentiu-se tranq��ila.
��� Desculpe-me pelo atraso, senhor ���
disse, ela entrando e fechando a porta ��s
suas costas. ��� Eu estava estudando e n��o
v i . . .
��� N �� o se importe com isso ��� cortou
ele, sorridente, enquanto se levantava. ���
Vamos sente-se.
Janis n��o estranhou quando o homem
saiu de t r �� s de sua mesa e rodeou-a, apro-
ximando-se do amplo sof�� de couro negro
no fundo da sala. Em vez de lhe indicar
uma das cadeiras de espaldar alto diante
de sua mesa, ele insistiu:
��� Sente-se, por favor.
��� Obrigada ��� a garota murmurou,
sentando-se no sof�� e sentindo que seu cor-
po afundava no estofamento macio.
Gerald olhou-a demoradamente, com p��g 32
ele pr��prio se sentou no sof��.
��� Janis ��� come��ou ele, fazendo a jo-
vem sentir um ligeiro constrangimento por
aquela intimidade de tratamento e apro-
xima����o f��sica ��� estive pensando n�� seu
caso.
��� S i m . . . ?
��� Realmente, h�� uma possibilidade de
eu lhe conceder uma bolsa de emerg��ncia ���
continuou, num tom impessoal, ao mesmo
tempo em que se lhe notava uma certa he-
sita����o ao escolher as palavras. ��� N��o ��
que seja f��cil, uma coisa simples e auto-
m��tica. At�� pelo contr��rio, eu terei de ig-
norar certas exig��ncias burocr��ticas* para
lhe conceder a bolsa.
Janis Hopkins sentiu que mal conseguia
dominar a felicidade que sentia, dando-lhe
uma vontade de dar um grito ou um pulo
no sof��. Manteve-se firme, encarando o ho-
mem com os olhos brilhantes, num sorriso
contido.
��� Ou seja, �� poss��vel lhe conseguir o
que voc�� precisa, mas n��o �� t��o f��cil como
parece.
Enquanto falava, o diretor aproximava
imperccptivelmente o seu corpo do local
onde a garota estava sentada. Falava sem
33
parar, e quando Janis percebeu que ele es-
tava sentado a menos de um palmo do
local onde, estava, ela pr��pria n��o soube
dizer se ele estava ali desde o in��cio ou se
fora se aproximando no meio da conver-
sa.
Janis s�� notou que algo de estranho
estava acontecendo, quando sentiu a m��o
tr��mula e ligeiramente fria pousar sobre
a sua.
��� Quer dizer, posso ajud��-la, mas n��o
sei se realmente devo passar por cima das
regras ��� continuou ele, aumentando a
press��o de seus dedos e impedindo que a
garota retirasse a m��o de sob a sua. ���
Sabe como �� . . . tudo tem um pre��o, e essa
bolsa �� muito importante para voc��.
Janis Hopkins sentiu a desagrad��vel
sensa����o que lhe invadia o corpo, sem per-
ceber exatamente o que era. A voz de Ge-
rald mudara, j�� n��o tinha o tom pro-
fessoral e distante daquela manh��, mas
um som pegajoso e tr��mulo, como se o ho-
mem n��o pudesse se controlar totalmente
enquanto falava.
Olhando-o, fixamente, enquanto em seu
pr��prio rosto a express��o de felicidade mu-
dava para um medo desconhecido, Janis
viu que rapidamente o rosto de Gerald se
aproximava. Podia ver-lhe o olhar opaco,
34���
os l��bios tr��mulos que se aproximavam pe-
rigosamente do seu, sentia a press��o em
sua m��o, o corpo p r �� x i m o . . .
��� Ent��o, o que me diz, querida? ��� per-
guntou o homem, com um sorriso insegu-
ro.
A jovem n��o ouvia direito o que ele
dizia. Percebia vagamente uma proposta
em sua voz, ao mesmo tempo em que tudo
ia ficando mais claro em sua mente, con-
cluindo que a conversa tomava um rumo
insuspeito e perigoso.
��� S r . Gerald, por f a v o r . . . ��� disse
ela, com voz fraca, tentando tirar sua m��o..
O homem apertou-a com mais for��a, en-
quanto que com a outra m��o acariciava
levemente os ombros da garota. Logo, seus
dedos desceram-lhe pelo peito, at�� que sua
m��o fechou-se com for��a e avidez sobre seus
seios.
��� N��o! ��� gritou a jovem, apavorada,
sem saber como sair daquela situa����o.
Gerald perdeu totalmente o controle, en-
costando o rosto no da garota e procuran-
do avidamente seus l��bios com a boca. Ja-
nis sentiu o contato frio daqueles l��bios
nos seus, virando o rosto com medo e nojo.
Logo, enquanto tentava empurrar o corpo
do homem para tr��s, viu que a m��o que lhe
-35
apertava os seios desceu pelos ventre, indo
parar em sua coxa.
Levantou-se de um pulo, livrando-se das
m��os nervosas e afastando-se alguns pas-
sos para tr��s.
��� Sr. Gerald! ��� gritou, com voz cho-
rosa. ��� Por favor!
Cap��tulo 3
Recuou assustada, enquanto uma con-
fus��o de pensamentos e sentimentos to-
mava conta de sua mente. Afastou-se do
sof��, assustada e em p��nico.
��� O que �� isso, menina? ��� perguntou
o homem, com voz calma e persuasiva, en-
quanto se levantava e andava em sua di-
re����o. ��� N��o precisava se assustar, esta-
mos s�� conversando.
Janis continuava encarando o diretor,
com p��nico no olhar. Sentia vontade de
fugir correndo dali, atravessar os jardins
do campus, s�� parando em seu quarto na
pens��o. Mas, os p��s pareciam-lhe pesados
como chumbo, e por mais que pensasse em
correr, continuava parada, olhando fixa-
mente para o homem.
��� Venha c��, vamos continuar nossa
conversa ��� disse ele, puxando-a pela m��o.
Janis ficou r��gida, reagindo ao convite,
mas o diretor puxou-a com for��a., obrigan-
do-�� a sentar-se.
-37
��� Ou��a, Janis, tenha calma ��� disse o
homem, com um sorriso hesitante, enquan-
to segurava-lhe a m��o. ��� N��o fique assus-
tada, n��o vou lhe fazer nada de mal. S��
q u e . . . bem, voc�� sabe. Voc�� est�� precisan-
do dessa bolsa, e se for boazinha comigo,
quem s a b e . . .
A jovem continuava r��gida, tensa, sen-
tindo os m��sculos doloridos de t��o tensos.
Sentia a m��o do homem sobre a sua como
um peso insuport��vel. Em sua cabe��a, os
pensamentos se sucediam numa velocidade
vertiginosa, alternando-se a raiva e o des-
prezo que sentia pela atitude vil do dire-
tor, com o medo de perder de uma vez
por todas as possibilidades de terminar o
curso.
��� Assim, assim est�� melhor ��� disse o
homem, sorrindo, enquanto verificava que
a jovem n��o fazia mais for��a para se le-
vantar. ��� Afinal, n��o estamos fazendo na-
da demais. Voc�� precisa de um favor e eu
q u e r o . . . bem, eu quero um favor seu.
Enquanto falava, suas m��os voltavam
a passear sofregamente pelo corpo da garo-
ta. Janis sentia o desejo incontido atrav��s
dos dedos tensos que lhe percorriam leve-
mente os ombros, at�� pararem sobre seus
seios, massageando-os. A outra m��o, parada
sobre sua coxa, movia-se disfar��adamente, P38
tentando afastar o tecido do vestido, pro-
curando o contato direto com sua pele.
��� Senhor, por f a v o r . . . ��� murmurou
ela, sentindo que mais um pouco e n��o
conseguiria se controlar, desabando em
prantos. ��� N��o fa��a i s s o . . .
��� Deixe de ser boba, menina ��� conti-
nuou o diretor, com uma voz que o desejo
transformava. ��� O que h�� demais? Esta-
mos s�� trocando car��cias e . . .
Enquanto falava, ele aproximava len-
tamente o rosto, sempre encarando a ga-
rota de maneira fixa e transtornada. Ja-
nis, com pavor no olhar, viu como aquele
rosto aproximava-se do seu. aqueles l �� b o s
tr��mulos que procuravam os seus, as nari-
nas dilatadas numa respira����o ofegante, os
olhos semicerrados expressando o desejo
animal.
Apertou os l��bios, trincando os dentes,
ao sentir o contato quente e desagrad��vel
da boca ��vida na sua. Tentou virar o rosto,
impedindo o beijo, mas o homem j�� segu-
rava-a com ambas as m��os, enquanto pro-
curava beij��-la �� for��a.
��� N��o! ��� gritou a garota, n��o conse-
guindo mais conter o pranto, enquanto
empurrava o diretor para tr��s e se levan-
tava de um salto.
��� E s p e r e . . . ��� ainda disse ele, perce-
bendo que a jovem corria para a porta.
-39
Janis n��o lhe deu ouvidos, correndo em
dire����o �� porta, abrindo-a e saindo para
o corredor.
Antes de desaparecer, correndo, com o
corpo tr��mulo e a cabe��a em confus��o ain-
da p��de ouvir a voz desagrad��vel do dire-
tor, que lhe dava um ��ltimo aviso.
��� Lembre-se de que eu ainda posso lhe
sonceder a bolsa, Janis! ��� gritou o homem,
apoiando-se na porta e olhando a jovem
me corria. ��� Espero uma resposta sua
at�� amanh�� de manh�� ��� viu que ela su-
mia, mas ainda gritou: ��� Se n��o quiser,
passe na secretaria e pague!
Deitada em seu quarto, com os olhos
fixos nas pequenas manchas de umidade
no teto de madeira, Janis recordava a
cena desagrad��vel e surpreendente de ho-
ras atr��s, sem entender ainda o que se
passara.
��� Como n��o podia imaginar q u e . . . ���
come��ou, falando sozinha, e logo desistindo
num movimento brusco de cabe��a.
Gerald Clark, o diretor. N��o era poss��-
vel que fosse capaz de uma coisa daquelas.
Ou seria ela a culpada? Sim, como n��o
pensara naquela possibilidade antes? Devia
40���
ter imaginado logo de in��cio, quando ele
transferira a conversa para o fim da tar-
de.
��� Mas, se eu for desconfiar de todo
m u n d o . . . ��� disse novamente em voz al-
ta, como que tentando se convencer de que
estava certa; que n��o podia mesmo prever
o comportamento do homem antes de ele ter
tentado lhe agarrar.
Mas, no fundo nada daquilo importava,
mais. O que contava era que o diretor lhe
fizera uma proposta clara, mais clara im-
poss��vel, e a decis��o estava agora em suas
m��os.
S�� de pensar em entregar-se ��quele ho-
mem, numa situa����o dessas, sentia um ca-
lafrio percorrer-lhe o corpo, um enj��o cres-
cer em seu est��mago, como se todos os
��rg��os juntos repelissem a id��ia absurda.
Mas, ao mesmo tempo, a simples id��ia de
ter de abandonar" o curso agora, quase no
final, era-lhe realmente insuport��vel.
��� Tantos anos perdidos... ��� disse em
voz alta, contemplando os livros enfileira-
dos na estante. ��� Tanto sacrif��cio, horas
perdidas em e s t u d o s . . .
Fez um r��pido balan��o mental dos ��lti-
mos anos, pensando que realmente n��o te-
ria o menor sentido abandonar tudo agora.
Mas, o pre��o? Sim, era um pre��o muito al- P41
to, alto demais para uma pessoa como ela.
Mas, quanto mais pensava mais verificava
que n��o tinha muitas op����es. Mais concre-
tamente n��o tinha absolutamente nenhuma
op����o, caso quisesse fazer valer todos os
anos de estudo e se formar dentro de pou-
cas semanas.
Deitada em sua cama, com os olhos
sempre fixos nas manchas do teto, Janis
sentiu que as l��grimas rolavam mansa-
mente por seu rosto. N��o se esfor��ou por
cont��-las nem levou a m��o ao rosto para
enxug��-las. Simplesmente, deixou-se ficar
ali, tentando afastar todos aqueles pensa-
mentos sombrios da cabe��a, enquanto o
cloro ia aumentando da intensidade.
Chegou a esbo��ar um triste sorriso ao
pensar que n��o tinha mesmo mais nada
a fazer, al��m de chorar. Estava sozinha, e
sozinha teria de encarar e resolver o pro-
blema. A op����o era entre se violentar, fa-
zendo o que lhe parecia detest��vel, ou sim-
plesmente abandonar o curso incompleto
e dar adeus a todos os planos para o fu-
turo.
Teria permanecido deitada por mais
tempo, n��o sabia at�� quando, se uma leve
batida na porta do quarto n��o a trouxesse
de volta �� realidade.
��� Sim? ��� indagou com voz forte, ten-
tando disfar��ar a rouquid��o do choro. P��g 42
Janis! ��� soou uma voz de homem,
voltando a bater na porta.
Rapidamente, ela passou as costas das
m��os pelo rosto, enxugando as l��grimas.
Pigarreou duas vezes e olhou-se rapidamen-
te no espelho, antes de abrir a porta.
John Martins de p�� no corredor, olha-
va-a com curiosidade. Deu um sorriso ao
deparar-se com o rosto de Janis, e disse
num tom alegre:
��� Esperei-a para o jantar ��� sorriu,
amavelmente. ��� Pensei em t��-la ao meu
lado na minha ��ltima noite aqui na pen-
s��o.
Janis esbo��ou um sorriso, disfar��ando
seu estado. Mas, por mais que se esfor-
��asse, n��o conseguiu grandes coisas. T��o
logo olhou-a com mais aten����o John Mar-
tin parou de sorrir, encarando-a seriamen-
te.
��� O que houve? ��� perguntou, surpre-
so. ��� Voc�� estava c h o r a n d o . . . houve al-
guma coisa?
Janis pensou em dizer que n��o, que
n��o havia nada. N��o queria falar nada
com ningu��m, principalmente com um ho-
mem que mal conhecia, e sobre um proble-
ma t��o pessoal.
��� N��o, n��o houve n a d a . . . ��� disse, sen-
- - 4 3
tindo que a cada momento ficava mais di-
f��cil se controlar.
��� Mas, voc�� estava c h o r a n d o . . . houve
alguma coisa?
��� N��o, n��o e s t a v a . . . Por favor, deixe-
me em paz.
As ��ltimas palavras j�� lhe sa��am meio
embargadas pelas l��grimas. Sem que pu-
desse se controlar, come��ou a chorar n u m
movimento convulsivo, enquanto cobria o
rosto com as m��os e se afastava da por-
ta.
��� Ei, o que �� isso? ��� perguntou o ra-
paz, num tom de voz agrad��vel, procuran-
do tranq��iliz��-la.
Janis deu-lhe as costas, correndo para
o interior do quarto e jogando se na cama.
Sua cabe��a era uma confus��o de pensa-
mentos, sem que ela conseguisse entender
o que se passava com ela mesma. Tinha
vontade de mandar aquele homem para
fora do quarto, ao mesmo tempo queria
contar-lhe tudo, chegando a sentir como
se as palavras lhe arranhassem a gargan-
ta. Mas, a ��nica coisa concreta que con-
seguia fazer era chorar copiosamente, agar-
rada ao travesseiro.
Com o corpo tremendo ao compasso da
respira����o acelerada, Janis sequer ouviu o
44���
ru��do da porta sendo trancada ou os pas-
sos de John aproximando-se da c a m a . S��
reparou em sua presen��a, sentada ao seu
lado, quando sentiu que m��os suaves aca-
riciavam seus cabelos.
Levantou o corpo, tentando sentar-se
rapidamente, numa atitude defensiva e in-
consciente.
��� Calma, relaxe -��� tranq��ilizou-a o
rapaz, com voz calma. ��� Continui choran-
do, se isso lhe faz b e m . . .
Janis tornou a enxugar os olhos, ago-
ra envergonhada de toda aquela cena. Afi-
nal, o que estava fazendo ali, deitada na
cama, sendo consolada por um homem que
mal conhecia, e que at�� ontem n��o sabia
nada mais do que seu pr��prio nome?
��� Desculpe, Sr. Martin ��� disse, com
voz chorosa, enquanto tentava recompor-
se. ��� Eu perdi o controle e . . .
��� N��o h�� o que se desculpar ��� re-
trucou ele, com uma tranq��ilidade que
acalmou um pouco a garota. ��� Pelo vis-
to, voc�� n��o conseguiu resolver o tal pro-
blema que a aborrecia, n��o �� mesmo?
Janis abriu a boca para falar, mas um
gesto de John a deteve. Ele levantou a m��o
levemente, colocando um dedo em seus l��-
bios, enquanto lhe sorria.
��� N��o precisa falar, se n��o quiser ���
disse ele, enquanto a encarava, com um
sorriso amigo. ��� Se quiser companhia, es-
tou aqui. Mas, n��o �� obrigada a comparti-
lhar seus problemas comigo.
Confusa com a s��bita solidariedade, ne-
cessitando de apoio como nunca precisara
at�� ent��o, Janis come��ou a falar, sem que
ela mesma soubesse por que se abria da-
quela maneira. Talvez fosse o modo sim-
p��tico e amigo de John, talvez o fato de
ter chegado num momento cr��tico para ela,
o que importava era que se sentia absolu-
tamente tranq��ila enquanto compartilha-
va seus problemas com o rapaz.
Durante muito tempo Janis falou sem
parar. Olhava de vez em quando para John,
enquanto andava de um lado para o outro
do quarto. Finalmente, sentou-se na cama,
continuando a falar sobre sua vida, os
estudos e a proposta de Gerald Clark, exa-
minando todos os seus problemas como se
falasse sozinha.
John limitava-se a ouvir, dando uma ou
outra vez algumas palavras de apoio. Per-
cebeu que o que ela precisava era de falar,
de ter algu��m que a escutasse no meio
de toda aquela solid��o.
Quase uma hora depois quando a voz
de Janis foi se tornando mais lenta e pau-
sada, o rapaz percebeu que ela estava com
46���
sono. Toda a agita����o e a indigna����o que
havia sentido naquela tarde, agora, depois
de passada a revolta inicial, vinha-lhe a
cabe��a na forma de um intenso cansa-
��o.
Janis, ainda falando sobre sua vida, mal
percebeu a hora em que a conversa com
o vizinho de quarto transformou-se em so-
nho. Adormeceu deitada na cama, sem re-
parar se John Martin ainda estava ou n��o
no quarto.
��� J o h n . . . ��� disse em voz alta, acor-
dando do sono de repente.
Olhou para os lados, sem compreender
direito o que estava se passando. A janela
aberta deixava passar toda a claridade do
sol, que inundava o quarto. Sem entender,
Janis olhou v��rias vezes para o lado, reco-
nhecendo o seu quarto, at�� que olhou para
o
o rel��gio.
��� Dez horas! ��� exclamou, em voz al-
A,
ta, ao mesmo tempo em que pulava da
cama, num reflexo. ��� Como pude dormir
tanto assim?
N��o entendia direito o que estava acon-
tecendo. Lembrava-se da conversa da v��s-
pera, mas n��o conseguia recordar o mo-
mento em que John sa��ra do quarto e ela
dormira. Ser�� que adormecera no meio da
conversa?
Confusa, esfor��ou-se ainda por se lem-
brar, at�� que um pequeno papel sobre a sua
mesa de estudos chamou-lhe a aten����o.
Pegou-o rapidamente, sem reconhecer o au-
tor das letras, at�� que viu o nome de John
Martin assinado em seguida ao pequeno
o que estava ali. John Martin se despedia,
Seu rosto franzido de curiosidade foi se
abrindo numa express��o de alegre surpre-
sa, enquanto seus olhos devoraram as li-
nhas.
��� N��o �� poss��vel... ��� murmurou, mal
contendo a felicidade que a dominava.
Releu novamente o pequeno bilhete,
compreendendo que era realmente verdade
o que estava ali. John Martin se despedia,
dizendo-lhe v��rias palavras de encoraja-
mento. Terminava falando num empr��sti-
mo de mil d��lares, para que pagasse o d��-
bito na faculdade.
Com as m��os tr��mulas, Janis abriu o
envelope ao lado do bilhete, vendo as notas
verdes amontoadas. Parecia imposs��vel, mas
era verdade. John falava que tinha condi-
����es de ajud��-la e que n��o precisava daque-
le dinheiro no momento, por isso, que ela
o usasse para resolver seus p r o b l e m a s . . .
Uma voz grave e met��lica, saindo do P 48
pequeno alto-falante embutido na parede,
tirou Janis Hopkins de suas divaga����es e
lembran��as.
��� Enfermeira Hopkins, por favor com-
pare��a ao setor de emerg��ncia!
Mary levantou-se de um pulo, passando
a m��o nos cabelos, n u m gesto instintivo.
Abandonou as lembran��as de dez anos
atr��s, saindo do quarto ��s pressas para
atender ao chamado.
No elevador, enquanto pensava se teria
se demorado muito no descanso, a imagem
de John Martin de suas mem��rias confun-
dia-se com a do homem procurado pela
pol��cia e que vira num velho retrato meio
manchado.
No tr��nsito congestionado, os motoris-
tas impacientes apertavam a todo momento
as buzinas de seus carros, tentando de-
sabafar, com o estridente ru��do, a raiva
que sentiam por se verem presos no en-
garrafamento.
Na zona leste, no in��cio da tarde, a
avenida principal parecia um enorme es-
tacionamento, com centenas de carros
enfileirados, esperando inutilmente por um
espa��o para se movimentarem.
O calor excessivamente forte para o in��-
cio do ver��o, esperando inutilmente por um
de algumas semanas. De repente, aos ru��-
dos de motores e buzinas, veio juntar-se
o grito estr��dulo de uma sirene.
��� Diabo de tr��nsito ��� resmungou o
motorista, enquanto apertava o bot��o da
sirene, travando-o para que permanecesse
permanentemente ligado.
��� Ser�� que o sujeito ag��enta? P��g 50
O motorista deu de ombros, como se n��o
ligasse muito para as possibilidades de so-
breviv��ncia do ferido que transportavam.
Na verdade, estava irritado com o tr��nsito
e ansioso por encontrar uma rua livre, onde
a ambul��ncia p��llman pudesse desenvolver
maior velocidade.
O enfermeiro que fez a pergunta virou-
se para tr��s, olhando para o comparti-
mento da ambul��ncia, onde um jovem in-
terno do Central Clinic esfor��ava-se por
manter o ferido respirando.
Virou-se novamente, com uma express��o
resignada de quem n��o se choca mais com
a morte. �� sua frente, a traseira de um
enorme Chevelle continuava impedindo o
caminho da ambul��ncia, que uivava sem
parar.
��� Saiam da f r e n t e . . . ��� resmungou
o motorista entre-dentes, apertando a buzi-
na e aumentando ainda mais a desagra-
d��vel sensa����o que o dominava, no meio da
barulheira e do calor insuport��vel.
Lentamente, tomando cuidado para n��o
arranhar a carro��aria l u z i a de seu car-
ro, o motorista do Chevette conseguiu ga-
nhar alguns metros �� direita. Logo, colo-
cou duas rodas sobre a cal��ada e abriu um
espa��o estreito para dar passagem �� ambu-
l��ncia.
���51
- Pegue a cal��ada ��� aconselhou o en-
fermeiro.
Olhando para os lados, o motorista co-
locou o ve��culo na brecha aberta pelo Che-
velle, subiu a cal��ada e conseguiu chegar
at�� a esquina. Mais uma manobra e ga-
nhou a rua lateral.
��� Pronto, agora �� s�� dar a volta pelo
parque e sair deste inferno ��� resmungou
o motorista, acelerando fundo e ganhan-
do velocidade.
O enfermeiro, com uma curiosidade en-
tre-solit��ria e m��rbida,, olhou novamente
pela ianela de comunica����o. O interno ago-
ra olhava o rel��gio de pulso, enquanto se-
gurava a cabe��a do ferido.
Pela express��o de seu rosto, preocupa-
do, percebia-se que o homem n��o estava
em muito bom estado.
��� Veja se consegue acelerar esta droga
��� disse o m��dico, enquanto preparava ra-
pidamente uma inje����o. ��� Se demorar
mais dez minutos, o nosso amigo aqui n��o
ter�� mais chances.
O motorista deu de ombros, como se
n��o pudesse fazer nada al��m do que j��
estava fazendo. Por via das d��vidas, entrou
na pr��xima curva com os pneus cantan-
do, aumentando perigosamente a veloci-
dade, enquanto tomava rumo do hospital.
52���
Deitado na maca que se tingia cada vez
mais de vermelho, o ferido gemia em voz
quase inaud��vel. Dos ferimentos abertos o
sangue escorria rapidamente, apesar das
compressas colocadas pelo m��dico.
John Martin mantinha os olhos aber-
tos, mas o brilho morti��o que se espelhava
neles dava a impress��o de que ele n��o
enxergava mais nada �� sua frente. Os l��-
bios arroxeados e tr��mulos moviam-se le-
vemente, ao som dos gemidos.
Mas, John via nitidamente, com riqueza
de detalhes, v��rias cenas. N��o enxergava
o teto branco da ambul��ncia nem o- su-
porte que amparava o vidro de soro que
descia at�� seus bra��os. Com os olhos- aber-
tos, enxergava nitidamente o grande hall
do Hotel Plaza, com os tapetes que cobriam
o ch��o de m��rmore, e o rosto do recepcio-
nista atr��s do balc��o.
Mas, quando fora isto? H�� um ano, um
m��s, ou apenas alguns dias atr��s? N��o
conseguia precisar, tudo era confuso, em
sua mente. E por que aquele ru��do insu-
port��vel de ambul��ncia no meio do hotel?
N��o, o teto n��o era branco como agora,
nem t��o baixo e pr��ximo do seu rosto.
Fechou os olhos lentamente, e as ima-
gens ficaram mais claras. Agora sim., podia
reconhecer os lustres do hall do hotel, n��o
ouvia mais o ru��do de sirene, mas sim o
���53
som da m��sica ambiente que parecia sair
das colunas do hotel, sem que se visse de
onde v i n h a . . .
* * *
��� Quarto 512 ��� disse, estendendo a
m��o para pegar a chave que o rapaz pegava
no painel.
��� Aqui est��, Sr. Martin.
��� Obrigado.
Estava particularmente feliz naquela
tarde, e tudo lhe parecia motivo para sor-
rir. Tamb��m n��o era para menos, pensou.
Enquanto entrava no elevador, recordou a
conversa que acabara de ter no escrit��rio
de Sheldon, e sorriu.
��� Neg��cio fechado, S r . Martin ��� dis-
se o pr��prio Sheldon. dono do escrit��rio e
respons��vel pelo pagamento do contrato.
��� Pode passar aqui amanh�� �� tarde que
lhe entregaremos o dinheiro.
Dentro do elevador, tornou a sorrir. Ne-
g��cio fechado. Nem imaginava qual seria a
rea����o de Brooks, seu s��cio em Chicago,
quando lhe telefonasse, dizendo que j�� re-
solvera o neg��cio, e nas melhores condi-
����es.
Esperava realmente resolver o neg��cio,
mas francamente n��o imaginara que seria
54���
t��o f��cil e t��o r��pido como fora. Agora,
era passar l�� no dia seguinte para receber
o dinheiro e assinar o contrato.
��� Obrigado ��� disse, descendo no quin-
1
to andar.
O corredor atapetado dava uma impres-
s��o de conforto acolhedor, onde o sil��ncio
embalado pela suave m��sica de fundo con-
trastava com o ru��do enervante e ensur-
decedor da rua.
Parou na porta do quarto e j�� ia enfiar
a chave, quando algo lhe chamou a aten-
����o. Parado diante da porta, deteve-se al-
guns momentos, olhando a mulher que se
esfor��ava inutilmente por abrir a porta de
um quarto pouco afastado do seu. Com um
sorriso admirou as formas de seu corpo bem
feito, divertindo se com a luta da mulher
contra a fechadura.
Pensou que n��o estava fazendo realmen-
te nada de importante e adiantou-se al-
guns passos.
��� Posso ajudar?
A mulher, ligeiramente encurvada, le-
vantou-se, parecendo assustada.
��� Oh, o b r i g a d a . . . ��� murmurou, sor-
rindo, ao ver o homem parado ao seu
lado.
John Martin sorriu amavelmente, pen-
sando que se de longe ela parecia bonita,
���55
de perto era ainda mais atraente. Loura,
com os cabelos armados num penteado ele-
gante, tinha um ar entre alegre e assusta-
do, onde os olhos gandes e brilhantes se
destacavam, dando-lhe uma express��o ca-
tivante.
��� N��o sei o que houve com esta chave
��� disse ela, com uma voz que soou muito
agrad��vel aos ouvidos de John. ��� Ten-
tei abrir a porta, mas. ela parece presa...
��� Deixe-me ajud��-la.
Delicadamente, afastou a mulher, aga-
chando-se junto �� fechadura. Com um mo-
vimento de m��o, conseguiu destravar a
chave. Logo, rodou-a no fecho, abrindo a
porta.
��� Pronto! ��� disse, com um sorriso,
enquanto retirava a chave da fechadura e
empurrava levemente a porta. ��� Voc�� deve
ter feito for��a demais, e por isso prendeu
a chave.
��� Oh, muito obrigada ��� agradeceu ela,
com um tom de voz que a John, mais do
que agrad��vel, j�� pareceu cativante. ���
Acho que sem a sua ajuda ficaria aqui at��
amanh��, sem conseguir entrar no quarto.
��� N��o foi nada ��� disse John, sorrin-
do, enquanto estendia a m��o. ��� Sou John
Martin e estou no 512. Se precisar de qual-
quer coisa...P 56
��� Muito obrigada ��� retrucou a mu-
lher, apertando a m��o dele, com um sor-
riso. ��� Sheila Snell.
��� Muito prazer ��� disse John, come-
��ando a pensar que seria interessante co-
roar o sucesso de sua estada em Nova Jer-
sey com uma companhia feminina t��o agra-
d��vel como aquela.
Mas, logo teve de desistir. Quando co-
me��ava a pensar em dar prosseguimento
�� conversa, a mulher deu-lhe um sorriso
e entrou no quarto, fechando a porta.
Sozinho novamente no corredor, deu de
ombros, voltando para sua porta. Tamb��m,
nem tudo podia correr como a gente quer,
pensou, sorrindo. Devia se contentar com as
��timas not��cias que tivera �� tarde, com a
conclus��o em excelentes condi����es do ne-
g��cio que viera fechar ali. Claro que n��o
recusaria uma conversa mais prolongada
com uma mulher como Sheila Snell. Mas,
n��o tinha do que reclamar.
Depois do banho e de um bom descan-
so no quarto, onde contou ao s��cio pelo
telefone o bom encaminhamento dos ne-
g��cios, John desceu para jantar.
N��o pensara mais na atraente compa-
nheira de andar desde que a vira entrando
no quarto Agora, entrando no sal��o do
restaurante do hotel, sorriu ao v��-la sen-
tada sozinha numa mesa de canto.
���57
Antes de se aproximar, confirmou com
um r��pido olhar que estava sozinha, e com
um ��nico prato sobre sua mesa. Este de-
talhe indicava que certamente n��o esperava
ningu��m. John pensou rapidamente se va-
leria ou n��o �� pena se aproximar, e acabou
decidindo que n��o tinha mesmo nada a
perder. E se g a n h a s s e . . . Bem, se ganhas-
se, a bela e atraente Sheila seria o seu pr��-
mio . . .
��� Como vai? ��� perguntou, parando
ao lado da mulher. ��� N��o teve mais pro-
blemas com a porta?
Ela levantou a cabe��a, encarando-o com
olhar s��rio. Logo. pareceu reconhec��-lo e
um sorriso estampou-se em seu rosto.
��� Oh, meu vizinho de quarto! ��� disse,
com um tom de voz que a John pareceu
pura musica. ��� N��o, a porta n��o me deu
mais problemas.
��� �� uma pena.
��� Uma pena?!
��� Sim, porque assim n��o tive mais
motivos para ajud��-la. ���, Disse ele, en-
carando-a, com um sorriso.
N��o seja por isso ��� disse ela, enca-
rando-o com seus olhos brilhantes. ��� Se
quer me aiudar em alguma coisa, ajude-
me a escolher o prato para o jantar.
John sorriu levemente, enquanto em sua
mente um pensamento malicioso se forma-
58
va, antevendo as possibilidades de uma
aproxima����o. Sentou-se em frente de Shei-
la, contemplando o card��pio que ela lhe
passou.
��� Foi uma sorte encontr��-la ��� disse
John, com os olhos passeando pelo card��-
pio. ��� Se h�� uma coisa que n��o gosto
em viagens de neg��cios, �� ter de comer so-
zinho.
��� Eu tamb��m n��o ��� disse ela, sorrin-
do, c��mplice. ��� Se pudesse, recusaria to-
dos os convites de viagem, s�� para n��o ter
de ficar em hot��is, sozinha.
��� Voc�� viaja muito? ��� perguntou
John, sem desviar o olhar dos nomes dos
pratos, enquanto em sua mente se digla-
diava numa d��vida entre um carneiro as-
sado e um peixe que o maitre recomendava
mas n��o explicava.
��� Sim, no meu trabalho tenho constan-
temente de ir de um lugar para outro ���
respondeu a mulher, pegando um cigarro
que John apressou-se em acender.!
Ela tragou lentamente, agradeceu com
um r��pido movimento de cabe��a e conti-
nuou:
��� ��s vezes vou a um lugar para passar
um ou dois dias, ou mesmo s�� algumas
horas.
��� Voc�� trabalha com o qu��? Desculpe
perguntar..
���59
��� Sou modelo fotogr��fico ��� disse ela,
encarando-o por tr��s da t��nue nuvem de
fuma��a do seu cigarro. ��� Vim aqui para
fazer fotos de uma campanha de produ-
tos de beleza.
��� Modelo ��� repetiu John, encarando-a
com mais aten����o. ��� Eu j�� imaginava...
��� Por qu��? ��� perguntou ela, com uma
curiosidade divertida.
��� Bonita como ��, seria um desperd��cio
n��o aproveitar este rosto ��� disse ele.
A mulher sorriu, abaixando os olhos
numa express��o em que se misturava um
constrangimento de falsa mod��stia e a vai-
dade' de quem se sabe atraente e n��o se
cansa de ouvir elogios.
��� E voc��? ��� perguntou ela, encaran-
do-a ��� o que faz em Nova Jersey?
��� Vim aqui para fechar um neg��cio ���
disse John, decidindo-se pelo carneiro e
afastando o card��pio. __ Pensei em ter que
ficar uma semana ou mais, mas tudo cor-
reu t��o bem que talvez eu possa voltar
para Chicago amanh�� mesmo.
��� Que pena. .. ��� disse ela em voz
baixa.
��� Pena? ��� repetiu John, com um bri-
lho de interesse nos olhos e sentindo-se
elogiado.
60���
��� Bem. quer d i z e r . . . n��o vai poder
aproveitar a cidade ��� disse ela, rapida-
mente, como se procurasse corrigir a im-
press��o de interesse.
Mas, a flecha j�� acertara o alvo, e John
Martin agora se sentia agradavelmente fe-
liz . N��o havia d��vidas de que causara certa
impress��o naquela bela mulher, e confor-
me encaminhasse a conversa, poderia ter
uma noite mais agrad��vel do que imagi-
nara.
Pouco depois o maitre trouxe o vinho
branco que Martin escolheu corpo aperiti-
vo. Quando o jantar foi servido, "os dois
j�� conversavam como velhos amigos, tro-
cando sorrisos e abrindo caminho para um
conhecimento mais profundo.
��� Para quem pensava em comer sozi-
nha alguma coisa e voltar para o quar-
to ��� disse Sheila, com a ta��a de vinho na
m��o ��� tenho de reconhecer que sua com-
panhia foi uma agrad��vel surpresa,
John sorriu, levando a m��o um pouco
�� frente sobre a mesa e pousando a sobre
a m��o da mulher. Ela, que tinha a tara
nos l��bios, parou por um momento o mo-
vimento de virar o vinho, mas n��o retirou
a m��o.
Quando tornou a pousar a ta��a na me-
sa colocou sua m��o sobre a do homem.
John a encarou, com um sorriso silen-
���61
cioso, e no olhar da mulher brilhou um
mundo de promessas que valiam muito
mais do que qualquer palavra.
Pouco depois do jantar, no meio da pe-
numbra luxuosa do bar, John ainda man-
tinha a m��o da mulher entre as suas. N��o
precisou insistir mais que duas vezes para
que ela mudasse seus planos de se recolher
ao quarto logo ap��s o jantar, e em vez
disso, o acompanhasse ao pequeno e dicreto
bar do hotel.
Agora, sentados numa mesa pr��xima
�� pequena pista de dan��as, os dois ouviam
o som agrad��vel que o pequeno conjunto
tocava. Havia v��rias mesas ocupadas, mas
a pista de dan��a tinha somente tr��s casais
dan��ando. A m��sica calma envolvia-os deli-
ciosamente naquela a t m o s f e r a de luxo e
discri����o, onde gar��ons silenciosos desliza-
vam como sombras por entre as mesas.
��� Quer dan��ar? ��� perguntou Martin,
inebriando-se com a proximidade do rosto
de Sheila, enquanto lhe falava.
��� Mais tarde ��� disse ela
Para responder em voz baixa, ela enca-
rou o homem ao seu lado. A proximidade
de seu rosto deu a John a impress��o que,
com um leve movimento, seus l��bios ro��a-
riam a convidativa boca de Sheila. Mas,
conteve-se. perguntando-se se ag��entaria
aquela tenta����o por muito tempo.
62���
No jantar, uma garrafa de vinho tin-
to acompanhara o carneiro, depois do bran-
co que tomara como aperitivo. Agora, en-
quanto se deixava embalar pela suave m��-
sica que dominava o ambiente, John sorvia
lentamente alguns goles do u��sque que o
gar��om lhe trouxera.
Pensou em dosar a bebida, mas n��o via
motivos para se privar de mais aquele pe-
queno prazer, num dia que s�� lhe trouxera
alegrias e boas surpresas.
De repente, quando estavam sentados
h�� algum tempo, a mulher afastou-se um
pouco de John, encarando o.
��� Vamos dan��ar ��� disse, com os olhos
brilhando num convite irrecus��vel.
A m��sica agrad��vel pareceu a John ain-
da mais envolvente, quando puxou o corpo
de Sheila para junto do seu, movendo-se
ao lento compasso do blue que o conjunto
executava. O contato da m��o feminina pre-
sa �� sua era uma car��cia; a proximidade
da pele fresca e perfumada de seu rosto,
encostado ao seu, deixava-o sem saber se
aquela sensa����o de enlevamento e sonho
era fruto do ��lcool que ingerira ou se es-
tava ��brio de desejo pelo corpo perfeito que
movia-se agora colado ao seu, atrav��s da
pequena pista de dan��a.
Sua m��o sentia a curvatura perfeita da
cintura da mulher, apoiando-se levemente
���63
em seus quadris largos, enquanto sentia em
seu corpo o contato enlouquecedor daquele
ventre liso e rijo.
��� Tenho de agradecer ��quela fechadu-
ra ��� disse John, colando os l��bios na
orelha de Sheila. ��� Se n��o fosse por ela,
n��o teria conhecido voc��.
A mulher afastou o rosto para poder
encar��-lo. Sorriu, e a John aquele sorriso
pareceu uma tenta����o mais forte do que
podia ou queria resistir. Rapidamente, ven-
ceu os poucos cent��metros que separavam
seu rosto do dela, deixando que sua boca
seguisse o caminho natural que o instinto
indicava e que seu corpo exigia.
Ela permaneceu impass��vel, enquanto os
l��bios do homem colavam-se aos seus. Logo,
quando John apertou mais o seu corpo e
beijou-a com for��a, as m��os de Sheila cris-
param-se em seu pesco��o, acariciando-o e
respondendo ao beijo com sofreguid��o.
��� Sheila... ��� murmurou John, quan-
do seus l��bios se separaram por segundos.
Mas, n��o pode dizer nada, pois logo
a l��ngua ardente da mulher molhava-lhe
os l��bios numa car��cia alucinante, que fez
com que todo o seu corpo se crispasse num
desejo violento e arrebatador.
64���
��� J o h n . . . ��� murmurou ela, desvian-
do o rosto ao final de um beijo, e fazendo
com que ele afundasse o rosto em seu pes-
co��o.
��� S i m . . . ? ��� perguntou, num murm��-
rio, sem saber direito o que estava falan-
do, j�� que todo o seu pensamento estava
concentrado naquele corpo junto ao seu.
��� John, aqui n��o ��� disse ela.
Foi como um jato de ��guia fria em sua
cabe��a. John afastou imediatamente o cor-
po, percebendo de repente o rid��culo da si-
tua����o. Portava-se como um colegial. Afi-
nal, era um homem de trinta e cinco anos,
experiente. N��o sabia como se deixara levar
��quele ponto pela paix��o e o desejo. De um
ou outro modo, estava na pista de dan-
��a.
��� Vamos sentar ��� disse ele, embara-
��ado.
Viu o sorriso am��vel e compreens��vel
da mulher, e ele mesmo sorriu, mais des-
contra��do. Gostou ainda mais de Sheila
pela sua tranq��ila naturalidade.
��� Sei que estamos no bar, dan��ando...
��� disse ele, sentando-se, depois que ela
se sentou. ��� Mas, n��o sei o que h��. ��
voc��, sim �� voc�� que me deixa completa-
mente louco.
���65
��� Obrigada ��� disse ela, com um sorri-
so am��vel, enquanto passava os dedos em
seu rosto, numa car��cia que reacendeu o
desejo, brevemente apagado pela surpresa,
em John.
��� N��o sei o que h�� comigo ��� disse
John, com o rosto muito pr��ximo ao dela,
encarando aqueles olhos brilhantes e con-
vidativos, que o atra��am como o olhar de
um hipnotizador, ��� Estou me comportan-
do como uma c r i a n �� a . . .
��� Gosto de crian��as ��� disse ela, sor-
rindo e fazendo-o calar-se com um beijo
na boca.
Agora. John tinha a definitiva certeza
de que n��o era a bebida que o deixara na-
quele estado de semi-embriaguez. N��o, fo-
ra Sheila, seu corpo maravilhoso, seus bei-
jos que eram um convite irresist��vel, o con-
tato de seu corpo quente e voluptuoso en-
quanto dan��avam; tudo aquilo o embriaga-
va, e agora ele tinha certeza de que iria at��
o fim, de qualquer maneira.
��� Vamos sair daqui? ��� perguntou ele,
sem deixar de encar��-la.
Ela sorriu levemente, concordando com
a cabe��a. Depois de chamar o gar��om e
deixar uma nota sobre a mesa, John saiu
de m��os dadas coro Sheila. A luz do hall
6 6 -
do hotel contrastava com a penumbra do
bar, e eles demoraram um pouco a se acos-
tumarem.
Sem trocar uma palavra, os dois cami-
nharam at�� os elevadores. Havia uma acor-
do t��cito, sem necessidade de palavras ou
convites. Cada um sabia qual seria o f m
natural daquele encontro, sem que pre-
cisassem entrar em detalhes. Assim, quan-
do desceram no quinto andar e Sheila di-
rigiu-se diretamente �� porta de seu quarto,
John a acompanhou.
��� Deixe-me abrir a porta ��� disse John,
se adiantando e pegando a chave que a mu-
lher tinha na m��o. ��� Voc�� pode precisar
de ajuda.
Sorrindo levemente, Sheila recuou um
pouco. Assim que abriu a porta foi a vez
de John se afastar para deix��-la entrar.
Permaneceu parado, sob o umbral, enquan-
to a mulher entrava. Sheila caminhou al-
guns passos no interior do quarto, deixou
a bolsa sobre a pequena mesa de cabeceira
e se virou.
John Martin continuava parado, olhan-
do fixo em sua dire����o. Em seus olhos o
desejo aparecia como um cartaz luminoso,
brilhando firme e intensamente.
Lentamente, sem dizer nada, ela deu
���67
dois passos na dire����o dele e abriu os bra-
��os. John, rapidamente, entrou e abra��ou-
a com for��a. Seus l��bios se colaram num
longo e apaixonado beijo, enquanto seus
corpos aproximaram-se, procurando o con-
tato que ambos desejavam.
��� A p o r t a . . . ��� murmurou a mulher,
sem separar inteiramente os l��bios.
Com um movimento com o p��, John
chutou com. for��a a porta, que foi bater
contra o batente, se fechando. Toda a sua
aten����o- estava concentrada naquele cor-
po junto ao seu, nos l��bios que sentia
em sua boca, nas descobertas que o ma-
ravilhavam a cada instante em que sua
l��ngua se movia; na receptividade que o
encorajava.
Suas m��os, que apertavam �� cintura
sinuosa da mulher, come��aram lentamen-
te a descer, tateando as formas arredon-
dadas das n��degas salientes e fortes, onde
a press��o de seus dedos provocavam uma
sensa����o de prazer.
Suas m��os continuaram a descer, ex-
plorando as coxas torneadas com perfei-
����o, adivinhando-lhe a quentura da carne
por baixo do tecido do vestido de malha,
logo, a f��mbria do vestido apareceu em seus
dedos, que fizeram o caminho de volta len-
tamente, levantando-o enquanto acaricia-
va com sofreguid��o a pele lisa e macia das
pernas de Sheila.
��� J o h n . . . ��� murmurou ela, mordendo
os l��bios e fechando os olhos, enquanto ele
beijava-lhe o pesco��o e passeava a l��ngua
pr��ximo �� sua nuca, provocando-lhe um
arrepio sensual, que a fazia se crispar.
Mas, John n��o ouvia absolutamente na-
da al��m do pulsar acelerado de sua pr��pria
respira����o. O bater ritmado de seu cora����o
aumentava rapidamente de intensidade, en-
quanto o desejo espalhava-se do centro de
seu corpo, tomando conta de todos os seus
membros, de sua vontade e de seu pensa-
mento.
Suas m��os haviam atingido novamente
as n��degas da mulher, agora por sob a
malha de vestido. A diminuta calcinha de
n��ilon n��o ofereceu resist��ncia aos dedos
experientes que exploravam o caminho do
prazer.
��� E s p e r e . . . ��� disse Sheila, com a res-
pira����o ofegante, enquanto segurava os pu-
nhos de John, tentando afastar a m��o que
encontrara o centro de seu corpo.
John largou-a, voltando em seguida a
abra��ar-lhe a cintura. Com as m��os livres,
Sheila desabotoou o fecho do vestido, des-
O movimento de levar as m��os ��s costas
fazia com que seus seios se projetassem
mais para a frente, aumentando a press��o
agrad��vel contra o peito de John, e fazen-
do-o levar as duas m��os a eles, num gesto
instintivo.
Sorrindo da angustia que o dominava,
Sheila fez. com que as al��as do vestido des-
lizassem pelos ombros, deixando os nus.
John afastou se levemente, deixando que o
vestido deslizasse pelo corpo feminino, e
ajudando-a a livrar-se da roupa.
Afastou-se ligeiramente, inebriado pelo
espet��culo que aquele corpo oferecia a seus
olhos. A pele branca e lisa de seus seios
continuava num desenho maravilhoso, es-
treitando-se em dire����o �� cintura nua, on-
de a pequena pe��a de n��ilon, negra se
apoiava, formando um tri��ngulo que era
o ��nico obst��culo a separar aquele corpo
da nudez total.
Tonto de desejo, com os olhos injeta-
dos e sentindo como que uma n��voa a
encobri los, John tentou livr��-la da calci-
nha, num movimento brusco.
��� Calma, John ��� pediu ela, enquanto
se livrava das m��os deles, com um sorriso,
e afastava o corpo em dire����o �� cama.
Meio confuso pela s��bita perda do pra-
zer em suas m��os, John demorou a enten-
70���
der o que acontecia. Sorrindo, Sheila atra-
vessou o quarto em dire����o ao banheiro,
deixando-o ali parado sobre o tapete, com o
olhar transtornado e as m��os vazias ainda
apalpando os seios imagin��rios no ar.
��� Eu volto j�� disse ela, antes de fechar
a porta do banheiro. ��� Fique �� vontade.
O ru��do da porta se fechando pareceu
tirar John de seu devaneio. Mas, nada era
bastante para tirar aquele desejo desen-
freado de seu corpo, agora.
��� S h e i l a . . . ��� murmurou sozinho, en-
quanto livrava-se do palet�� e da camisa,
com gestos bruscos, jogando as roupas ho
ch��o de qualquer maneira, e olhando para
a porta fechada como se enxergasse atrav��s
da madeira.
Tirou os sapatos sem se sentar, chutan-
do um p�� para cada lado. Em poucos se-
gundos, estava inteiramente nu, no meio do
quarto. O desejo martelava lhe as t��mpo-
ras num bater compassado e forte. Ouviu
o ru��do do chuveiro do outro lado da porta
e um sorriso amplo apareceu em seu ros-
to.
Cruzou rapidamente o quarto, empu-
nhando a ma��aneta.. Virou-a devagar, sor-
rindo ao ver que n��o estava trancada. Em-
purrou a porta, sentindo aumentar o ru��do
do chuveiro. Por tr��s da porta envidra��ada
do box, via o corpo maravilhoso e desejado
sob um forte jato de ��gua. Os bra��os da
mulher se movimentavam, fazendo com que
a sombra de seus seios se movesse de forma
irresist��vel.
Tudo se passou r��pido sem que John
pensasse em mais nada, al��m do corpo de-
sejado e que estava ao seu alcance.
John! ��� exclamou Sheila, entre sur-
presa e divertida. ��� Espere um p o u c o . . .
Assustou-se com a repentina entrada de
John no box, levando os bra��os diante dos
seios, num gesto instintivo de defesa e pu-
dor. Logo, abriu os bra��os num sorriso di-
vertido, apreciando o desejo incontrolado
do homem.
Sentiu como o corpo nu se colava ao
seu, como as m��os de John percorriam
seu corpo, seus l��bios se uniam aos seus,
por sob a ��gua que continuava a correr,
dando um gosto ainda mais excitante ��s
car��cias.
John sentia o contato das coxas nuas
em seus corpo, a dor f��sica que o prazer
lhe proporcionava, a total embriaguez a
que se entregava. Lentamente, os corpos
unidos foram descendo at�� o ch��o molhado.
No meio da ��gua, com o ru��do constante
7 2 -
do chuveiro batendo em seus corpos, John
mergulhou num mundo de prazer aluci-
nante, quando finalmente seus corpos uni-
ram-se at�� viraram um s��.
N u m determinado momento, a respira-
����o ofegante e os gemidos de prazer chega-
ram a abafar o ru��do da ��gua, diminuin-
do de intensidade at�� que somente a ��gua
quebrasse o sil��ncio sobre os corpos cansa-
dos e satisfeitos.
Capitulo 5
O sil��ncio tenso s�� era quebrado de vez
em quando pelo ru��do de ferros caindo
sobre o bandeja de instrumentos usados,
quando o cirurgi��o os trocava.
N��o se ouvia nenhuma voz, mas as
respira����es entrecortadas pelo nervosismo
pareciam abafar o ritmado resfolegar do
respirador artificial.
Sobre a mesa de cirurgia, o ferido man-
tinha se im��vel, enquanto dois m��dicos tra-
balhavam rapidamente em seu corpo. As
m��scaras brancas, as luzes fortes, o am-
biente ass��ptico e repleto de aparei os e
instrumentos davam �� sala a estranha, im-
press��o de uma nave planet��ria.
A um canto da sala, coberta com ma
m��scara e um gorro que lhe protegia os
cabelos, Janis Hopkins apertava nervosa-
mente as m��os. Olhava para o rosto semi-
coberto pelo local do respirador, tentando
74���
enxergar a express��o do paciente e imagi-
nando-o em outra situa����o, s��o e salvo, fora
daquele ambiente.
Janis sentira um estranho pressenti-
mento ao ouvir seu nome no alto-falante de
emerg��ncia. Sa��ra do quarto correndo pen-
sando que a lembran��a de John n��o ter-
minaria naquele quarto e que logo torna-
ria a v��-lo.
Realmente, isto acontecera. T��o logo vi-
ra a maca que era empurrada p��ra a sala
de emerg��ncia, percebeu que o ferido era
John. Sentiu isto antes mesmo de v��-lo,
e agora que comprovara o fato, n��o sabia
explicar como isto acontecera.
O que importava, e o que a atemorizava,
era que John estava sobre a mesa de cirur-
gia, enquanto os m��dicos faziam esfor��os
desesperados para salvar-lhe a vida.
Por mais que se esfor��asse. Janis Hop-
kins n��o conseguia pensar direito nem aju-
dar em nada. Sentia uma vontade louca
de fazer alguma coisa qualquer coisa que
pudesse ajud��-lo, mas tudo o que conseguia
era ficar enrolada a um canto da sala,
torcendo as m��os e olhando fixamente pa-
ra o homem entre a vida e morte.
Quando a cirurgia terminou, olhou es-
peran��osa para o rosto do m��dico que ti-
75
rava a m��scara. O olhar de d��vida que viu
em seu rosto indicou que nem mesmo o
cirurgi��o sabia se a opera����o fora ou n��o
um sucesso.
Quando John foi transferido para a ca-
ma, ela fez quest��o de acompanh��-lo em
sil��ncio atrav��s dos corredores. Ajudou a
coloc��-lo na cama e permaneceu no quarto
ap��s a sa��da da maca. .
��� Pode deixar, enfermeira ��� disse ela,
ao perceber a interroga����o no rosto da au-
xiliar. ��� Eu ainda vou permanecer um
pouco aqui no quarto com a paciente. Qual-
quer coisa que for preciso, eu mesmo fa-
��O.
��� Sim, Janis ��� concordou a outra, sem
entender o s��bito interesse. ��� Se voc�� qui-
ser descansar, eu estarei na sala do plan-
t��o.
��� Pode deixar ��� disse ela, esfor��ando-
se por falar em tom normal e disfar��ando
a ang��stia que dominava.
Quando a outra saiu, Janis fechou len-
tamente a porta. Sentou-se ao lado da ca-
beceira do homem, contemplando demora-
damente seu rosto.
Era estranho, realmente inusitado e sem
explica����es, o modo como as coisas aconte-
ciam. Dava realmente o que pensar. Depois
de v��rios anos sem ver John, embora pen-
sasse nele de vez em quando, principalmen-
te quando tinha algum problema, ou quan-
do se sentia s�� e vazia, depois de tanto
tempo, encontr��-lo ali, em seu local de tra-
balho, e naquele estado, era-lhe por demais
ingrato.
Lembrou-se do policial que a procura-
ra naquela manh��, e seu medo transfor-
mou-se em pavor. E se a pol��cia descobris-
se que John estava ali? N��o poderiam re-
mov��-lo naquele estado, claro que n��o. Mas,
de qualquer maneira, Janis queria poder
falar com John, ouvir de sua boca uma ex-
plica����o para tudo aquilo, antes que a pol��-
cia o pegasse.
Ele poderia precisar de ainda. devia ha-
ver alguma coisa que ela pudesse fazer. Mas,
s�� quando ele se recuperasse o suficiente
para falar, ela poderia saber. Isso se ele
se recuperasse.
E pensando naquele "se", Janis sentiu
um calafrio percorrer-lhe o corpo. S�� ago-
ra, naquele exato momento, vendo o corpo
im��vel de John, onde a vida amea��ava fugir
de um momento para outro, ela compre-
endeu o sentimento que a dominava desde
aquela manh��..
���77
U m
Uma estranha e inexplicada ang��stia
a dominara desde o momento em que ou-
vira o nome de John Martin na boca daque-
le policial.
Agora sentia como se tudo aquilo que
acontecera a John, e ela n��o sabia o que
fora, fosse um pouco de culpa sua. Sim,
por mais absurdo que parecesse, n��o dei-
xava de ser culpada sobre qualquer coisa er-
rada que acontecesse com ele.
Afinal, pela vontade dele, hoje estaria
ao lado dela, vivendo como seu marido h��
pelo menos cinco anos. Pelo menos fora isso
o que ele lhe propusera claramente, em
Chicago, da ��ltima vez que se encontra-
ram.
Pensando em tudo isso, Janis sentia um
aperto no peito, um n�� na garganta que
tornava ainda mais dif��cil suportar a vis��o
de John moribundo ao seu lado.
E ela poderia ter aceitado a proposta.
Sabia que j�� naquela ��poca o amava, isto
n��o havia d��vida. Ent��o por que n��o acei-
tara? Por que fugira daquela maneira, dei-
xando um simples bilhete?
Agora, n��o sabia explicar. Ou melhor,
sabia perfeitamente, conhecia os motivos
que a levaram a agir daquela maneira. S��
que o que parecia muito importante h��
78���
cinco anos, hoje a pr��pria realidade j�� se
encarregara de provar n��o s��-lo.
Sentada na cadeira ao lado da cama,
com o olhar fixo no rosto exang��e, Janis
fechou lentamente os olhos, deixando que
aquele rosto p��lido se transformasse no
belo e amado rosto de John Martin de
cinco anos a t r �� s . . .
* * *
O encontro dos dois fora casual. Na
ocasi��o, falaram em destino e divertiram-
se com isso. Depois de cinco anos sem se
encontrarem, desde aquela noite na pens��o
em Tucson, esbarravam-se por acaso no cen-
tro de Chicago.
Para ela foi uma alegria reencontrar
o homem que a ajudara desinteressadamen-
te num momento dif��cil. E ficou contente
ao ver que o encontro dava prazer a
John.
Jantaram juntos e conversaram muito,
divertindo se ao saber que os dois moravam
na mesma cidade h�� dois anos e nunca ha-
viam se cruzado at�� ent��o.
��� Vim para c�� h�� dois anos __ disse
Janis. constrangida pelo olhar fixo que
John lhe dirigia, mas ao mesmo tempo,
- 7 9
o interesse que tinha por ela.
��� Trabalho num grande hospital e fiz um
curso de p��s-gradua����o na universidade.
��� Fico contendo em ver que voc�� con-
seguiu passar por cima de todos os seus
problemas e vencer.
��� Gra��as �� sua ajuda ��� disse ela.
N��o, gra��as a voc��, ao seu esfor��o.
��quele encontro seguiram-se v��rios ou-
tros, e a cada nova conversa os dois mais
se conheciam e mais se gostavam. John
estava claramente apaixonado e n��o fazia
quest��o de esconder isso. Janis, por outro
lado, esfor��ava-se por esconder de si mesmo
os sentimentos que a dominavam mais e
mais a cada novo encontro.
Tinha todo um futuro organizado, v��-
rios planos que tra��ara para sua vida, e
um casamento n��o estava nesses projetos.
Terminara o curso em Chicago e j�� tinha
um excelente convite para um hospital de
Nova Jersey. Com seus diplomas e a ex-
peri��ncia que adquirira, dentro de poucos
anos seria enfermeira-chefe do hospital,
com um sal��rio que representaria sua in-
depend��ncia e sua realiza����o profissional.
Casar-se com John significaria recusar
o convite j�� aceito para o Hospital de Nova
80���
Jersey, continuar em Chicago e dar adeus
para ps seus planos de v��os mais altos den-
tro da profiss��o.
Por outro lado, havia John. N��o havia
d��vidas de que o amava, por mais que qui-
sesse relegar isto como um detalhe, sabia
que o amava e que seria dif��cil viver longe
dele. Mas, a necessidade compulsiva que
sentia de realizar a pr��pria independ��ncia,
de afirmar-se profissional e financeiramen-
te, lutava em seu ��ntimo com esse senti-
mento.
* * *
Um ru��do na porta fez com que Janis
abrisse os olhos, assustada, abandonando
as amargas lembran��as do passado e vol-
tando rapidamente para a realidade do
quarto frio do hospital, onde John con-
tinuava entre a vida e a morte.
Levantou-se, olhando sem prestar aten-
����o para os indicadores presos na cabeceira
da cama e disfar��ando seu estado emocio-
nal.
��� Ah, voc�� est�� a q u i . . . !
Assim que ouviu a voz, Janis virou-se,
sentindo uma desagrad��vel sensa����o de pe-
rigo.Brian Hart era mestre em chegar nos
lugares onde n��o era desejado, e sempre
nos piores momentos.
Fechou a porta ��s suas costas, cami-
nhado para a beira da cama. Consultou a
papeleta que tinha nas m��os, olhando em
seguida longamente para o rosto do pacien-
te.
��� Este �� o tal sujeito que chegou na
ambul��ncia h�� pouco? ��� perguntou, olhan-
do para o rosto de Martin.
��� Sim ��� disse ela, apertando os de-
dos com for��a e sentindo a ang��stia au-
mentar.
��� N��o h�� nenhum nome aqui ��� obser-
vou o m��dico, voltando a consultar a pape-
leta. ��� Ele n��o trouxe qualquer identifica-
����o?
��� N��o ��� ela respondeu rapidamente.
��� Pelo que os enfermeiros da ambul��ncia
informaram, recolheram-no na rua, ap��s
um chamado.
��� Mas, n��o h�� nada que o identifique?
Nenhum documento, nenhum parente?
��� N��o ��� disse Janis, nervosa ��� Es-
tamos esperando que ele melhore e possa
nos dizer qualquer coisa.
��� se ele m e l h o r a r . . . ��� comentou, dan-
do alguns riscos no papel �� sua frente.
82���
��� Ele vai melhorar ��� disse ela com
convic����o, sem pensar no que dizia. ��� Ele
vai ficar bom.
Lentamente, o homem levantou o olhar
da papeleta, encarando a com curiosidade.
Depois de alguns segundos, perguntou, com
ar intrigado:
��� Ainda que mal p e r g u n t e . . . ��� disse,
com voz sutil. ��� Como voc�� pode ter tanta
certeza disso?
��� Bem, quer d i z e r . . . ��� come��ou Ja-
nis, confusa por ser pega de surpresa ���
eu quero dizer que espero que ele melho-
re.
��� Voc�� o conhece? ��� perguntou o m��-
dico, de repente.
��� N �� o . . . n �� o . ��� Disse Janis, tentan-
do dar o maior tom de convic����o �� voz,
mas insegura quanto ao sucesso de sua in-
ten����o.
��� Por que o interesse?
��� Ora, eu me interesso por todos os
pacientes ��� disse, j�� irritada com a insis-
t��ncia. ��� Ou voc�� queria que eu desejasse
o pior para ele.
Brian n��o respondeu. Limitou-se a olhar
detidamente para a enfermeira, at�� que es-
���83
ta, nervosa, abaixou o olhar e procurou
disfar��ar. Logo, ele olhou para o paciente
e terminou por dar de ombros, como se de
repente descobrisse que nada daquilo lhe
interessava, e que estava perdendo tempo
�� toa.
Rabiscou mais algumas informa����es na
papeleta e finalmente a colocou na pran-
cheta, aos p��s da cama. Em seguida, depois
de pousar longamente os olhos em Janis,
virou-se para a porta.
��� Bem, tenho de continuar meu servi��o
��� disse, abrindo a porta. ��� At�� logo, Ja-
nis.
Janis murmurou uma despedida, sen-
tindo-se aliviada pela sa��da de Brian Hart.
O diretor-administrativo era o tipo do sujei-
to capaz de se lembrar do retrato que vira
por alguns segundos, e identificar John
Martin, apesar do seu rosto bastante dife-
rente no momento.
Ja ia novamente se sentar �� cabeceira
do ferido, quando a porta foi aberta.
Brian Hart, ainda no corredor, enfiou
o rosto para dentro do quarto e pergun-
tou;
��� Este sujeito n��o pode ser o tal ferido
�� bala que a pol��cia est�� procurando?
84���
Janis ficou muda, com o terror estam-
pado nos olhos, e sentindo-se paralisada.
��� O que voc�� acha? ��� perguntou o
m��dico, encarando a enfermeira.
��� B e m . . . n��o sei ��� disse Janis, an-
gustiada. ��� Eu n��o prestei aten����o na
foto.
Mas, voc�� a guardou, n��o?
��� Claro, est�� em meu quarto ��� disse,
rapidamente, enquanto tateava a foto den-
tro do pr��prio bolso. ��� Logo mais eu vou
peg��-la para conferir.
��� Isso mesmo ��� disse Brian, parecen-
do j�� desinteressado pelo assunto. ��� Se
for o tal sujeito, avise-me, para que eu
possa chamar a pol��cia.
��� Claro, c l a r o . . . ��� disse ela, sentindo
que mais um pouco e sua voz se recusaria
a sair.
A porta tornou a se fechar e Janis des-
pencou na cadeira, sentindo as pernas fra-
cas e incapazes de ag��ent��-la.
Era s�� o que faltava. Ser obrigada a
denunciar John Martin por causa do idiota
do Brian. Como detestava aquele sujeito.
Tinha-lhe um ��dio mal disfar��ado, �� ele
parecia sentir prazer em ati��ar este senti-
mento.
De uma maneira geral, Brian Hart era
detestado" por quase todos no hospital. Em
particular pelas mulheres, que ele nunca
deixava de perseguir com propostas entre-
meadas de amea��as.
Com Janis seu relacionamento tornara-
se tenso desde o dia em que, aproveitan-
do-se de um plant��o noturno,, tentara agar-
r��-la �� for��a. A rea����o en��rgica n��o s��
o desencorajara para novas investidas, co-
mo deixara-lhe uma marca bastante vis��vel
no rosto.
A partir deste dia, Brian n��o mais a im-
portunara. Mas, Janis sabia que assim que
ele tivesse uma oportunidade, n��o hesitaria
em prejudic��-la.
��� E agora esta oportunidade pode se
concretizar... ��� disse em voz alta, pen-
sando em John, que continuava im��vel ao
seu lado.
Tornou-se a sentar-se, sentindo que os
olhos estavam ��midos, enquanto o contem-
plava. Esqueceu-se rapidamente de Brian
Hart e da amea��a que ele representava
para John Martin. Voltou a recordar sua
estada em Chicago, cinco anos antes.
Seus dedos percorreram leve e suave-
mente os cabelos desalinhados de John. to-
mando cuidado para n��o incomod��-lo. Uma
8 6 -
imagem semelhante voltou �� sua mente e
Janis entregou-se por completo ��s lembran-
��as
Em Chicago, sua d��vida era cada vez
maior. Amava John Martin e j�� n��o podia
esconder isso de si pr��pria. Mas, a decis��o
de continuar seu caminho era firme e ina-
bal��vel. Por mais que desejasse viver ao
lado do homem que amava, sentia que n��o
conseguiria abrir m��o de seus planos.
E essa divis��o a torturava. Cada mo-
mento junto de John era uma altern��ncia
de prazer e ang��stia. Um momento feliz
era uma dor a mais, ao pensar na separa-
����o inevit��vel. E como n��o tinha coragem
de contar-lhe o que pensava, como n��o
conseguia imaginar a possibilidade de em-
ba��ar a felicidade que via todos os dias
estampada no rosto de John simplesmen-
te guardava para si o problema.
��� John, preciso conversar seriamente
com voc�� ��� disse, finalmente, quando n��o
foi mais poss��vel prolongar o problema.
��� ��timo ��� falou ele, alegre, ao telefo-
ne. ��� Vamos nos encontrar �� noite.
��� Eu passo em sua casa ��� disse Ja-
nis. ��� ��s nove horas da noite est�� bom?
���87
��� Est�� ��timo ��� respondeu John, ra-
diante. ��� Eu tamb��m preciso conversar
com voc�� longamente.
Quando desligou o telefone, Janis sabia
que ia ser um momento dif��cil. Amava
John e n��o queria mago��-lo. Mas, adiara
at�� onde fora poss��vel o momento de dis-
cutir aquele assunto, e agora n��o podia
mais engan��-lo quanto a seus planos. Na
manh�� seguinte devia voar para Nova Jer-
sey, onde assumiria o posto no novo em-
prego.
Seria um choque para ele, que por mais
de uma vez j�� falara em casamento, e cer-
tamente esperava que ela aceitasse.
A falta de coragem de Janis p a r a contar
a John todos os seus planos n��o vinha s��
do medo de mago��-lo ou faz��-lo infeliz.
Ela sabia que tamb��m n��o seria f��cil aban-
don��-lo, e caso ele insistisse, era prov��vel
que ela pr��pria acabasse por perder a cora-
gem e a determina����o que reunira com
tanto sacrif��cio, e terminasse cedendo a
seus argumentos e aos seus pr��prios sen-
timentos.
Mas o que tinha de ser feito, tinha de
ser feito, e ��s nove horas da noite uma
Janis Hopkins tensa e abatida bateu na
porta de John Martin.
Pensou que a melhor maneira era falar-
88
lhe de um vez, dizer tudo junto, num atro-
pelo, evitando o medo e a angustia de sen-
tir-se dona de um segredo que tinha de ser
compartilhado.
Mas, n��o houve nada disso. Foi s�� ver
a express��o de alegria no rosto dele, a eu-
foria com que John a abra��ou, levantan-
do-a no ar antes de beij��-la longamente,
para que toda a determina����o que ela reu-
nira com dificuldade se esva��sse e se dissi-
passe como uma nuvem de fuma��a ao ven-
to.
��� Janis ��� disse ele, sorrindo, enquan-
to a abra��ava. ��� Voc�� n��o sabe como
estou contente em v��-la!
��� Eu tamb��m, J o h n . . .
��� Mas estou muito, muito feliz ��� con-
tinuou ele, sempre expansivo.
Pouco depois, sentados no sof�� da sala,
John explicou o motivo de sua alegria.
Os neg��cios haviam dado um grande salto
em sua firma, sua situa����o financeira se
solidificara, o futuro parecia cada vez ser
mais promissor. E o resumo de tudo isso,
e o principal motivo de sua alegria, era
que ele pretendia que se casassem o quan-
to antes.
Quando ouviu falar em casamento, Ja-
nis arrependeu-se de n��o ter falado tudo
���89
o que tinha para dizer, t��o logo entrara.
Se j�� seria normalmente dif��cil, agora,
depois daquela declara����o, ficava simples-
mente imposs��vel.
��� M a s . . . o que h�� com voc��? ��� per-
guntou John, saindo de repente da euforia
em que estava, com uma ruga de preocupa-
����o na testa.
��� Nada, n��o �� n a d a . . . ��� disse Janis,
confusa.
��� Mas, voc�� parece preocupada. Houve
algum problema?
��� N��o, estou emocionada, s�� isso...
��� disse, tentando disfar��ar a ang��stia que
a afligia e dominava.
John continuava preocupado, olhando-
a com apreens��o.
��� Beije-me ��� disse ela, de repente.
��� Mas, v o c �� . . .
��� N��o diga mais nada ��� cortou Janis,
aproximando-se dele. no sof�� e enla��ando-
o com for��a. ��� Beije-me, John.
Meio surpreso com a rea����o dela, John
aproximou o rosto. Ainda estava indeciso
ao colar, os l��bios na boca ��mida de Janis.
Mas. ao sentir a press��o de seus l��bios,
ao perceber o movimento da l��ngua em sua
90���
boca, esqueceu-se cie tudo o mais, entre-
gando-se �� car��cia com paix��o.
Janis devia estar emocionada como dis-
sera, era s�� isso e nada mais. E o beijo
o excitava, o transformava. Amava Janis,
e t��-la daquele jeito era o que mais gostava.
O beijo prolongou-se por muito tempo,
enquanto l��grimas rolavam pelos olhos da
mulher.
��� Eu a amo, J a n i s . . . ��� murmurou
ele.
N��o p��de dizer mais nada, pois a jovem
voltou a beij��-lo com f��ria, quase violen-
tamente, enquanto acariciava seu corpo
com as m��os nervosas, fazendo com que
John se calasse.
O desejo de estarem unidos por um bei-
jo aumentou a excita����o, e logo as car��cias
cresceram de intensidade. As m��os de John
que passeavam pelas pernas femininas, leve
e suavemente, aumentaram o ritmo da ca-
r��cia. Janis beijava-o com uma f��ria como
nunca fizera antes, surpreendendo-o e ex-
citando-o ao m��ximo.
John ficou ainda mais surpreso ao ver
que. sem que falasse ou fizesse nada a
mais. Janis se levantava, sem dizer uma
palavra, pegava lhe a m��o e puxava-o sua-
vemente para o quarto. P 91
N��o refeito da surpresa, John perma-
neceu boquiaberto ao ver o comportamen-
to da jovem. Assim que chegou no quar-
to, ela parou ao lado da cama e encarou-
o longamente. Em seus olhos duas l��grimas
equilibravam-se, brilhando sob o reflexo da
luz.
��� Janis, o u �� a . . . ��� come��ou ele, sem
entender direito se o comportamento da
jovem era por causa da emo����o ou se ha-
via outro motivo.
Mas, n��o pode dizer mais nada. Em si-
l��ncio, Janis come��ou a desabotoar a blusa
que vestia, sempre com os olhos fixos no
rosto dele. Quando abriu inteiramente a
blusa, tirou-a rapidamente, jogando-a ao
p�� da cama.
A vis��o da jovem �� sua frente, com os
seios �� mostra, firmes e redondos, convi-
dando-o em sil��ncio, fez com que a mente
de John se confudisse ainda mais. Queria
conversar saber dos motivos reais daquela
atitude, mas ao mesmo tempo o desejo la-
tente que come��ava a ficar mais intenso
o levava a se entregar ao prazer que Janis-
oferecia, e seu pr��prio corpo come��ava a
exigir.
Quando, sempre sem dizer nada, ela
tirou a saia e deixou que ca��sse lentamen-
te aos seus p��s, John n��o ag��entou mais.
9 2 -
Abra��ou-a com for��a, sentindo a press��o
dos seios eretos contra seu pr��prio peito e
beijou-a com ardor e paix��o.
A s��bita mudan��a no comportamento
da jovem dera-lhe um mau pressentimen-
to. Mas, as car��cias ardentes, o contato
quente da boca contra a sua, o calor do
corpo nu colado ao seu, tudo isso foi mais
forte do que a preocupa����o.
Sem pensar mais em nada, tirou rapi-
damente suas roupas, deitando ao lado da
mulher que o esperava na cama. P 93
Cap��tulo 6
��� N��o! N��o fa��a isso!
Janis Hopkins levantou-se assustada,
olhando atentamente para o rosto tenso
do paciente, que acabara de gritar. Com
gestos r��pidos e treinados, mediu sua pres-
s��o arterial e verificou se a febre tinha
subido.
O quadro estava normal e nada indica-
va perigo. Respirou aliviada, perguntando-
se se o fato de John ter conseguido falar
pela primeira vez, desde que entrara ali,
teria um significado positivo ou negativo.
Talvez come��asse a reagir, e de qualquer
maneira o fato de gritar no meio da cons-
ci��ncia mostrava que havia condi����es de re-
cupera����o.
Aplicou-lhe rapidamente uma inje����o de
calmante e permaneceu de p�� ao lado do
doente, observando como sua express��o ten-
94���
sa ia se relaxando pouco a pouco, at�� que
o tranq��ilizante fizesse o efeito total, dando
ao rosto p��lido de John uma apar��ncia de
paz infantil.
��� Descanse, q u e r i d o . . . ��� murmurou
em voz baixa, enquanto acariciava-lhe o
rosto levemente, sentindo nos dedos a aspe-
reza da pele onde a barba come��ava a
crescer.
Estava com o pensamento longe, admi-
rando as fei����es de John, e imaginando
o momento em que ele acordaria e a encon-
traria ao seu lado. Teriam muitas coisas
a dizer, muito tempo a recuperar.
Um pigarro forte, quase nos seus om-
bros, assustou-a. Virou-se rapidamente, com
o olhar em p��nico.
��� O q u e . . . ? ��� come��ou, logo emude-
cendo ao ver a express��o ir��nica do homem
de branco que a encarava.
Brian Hart olhava, sorrindo, para a en-
fermeira, balan��ando levemente a cabe��a
como se brincasse com a situa����o.
��� Querido? ��� repetiu o homem, dan-
do um tom ir��nico e curioso �� voz. ��� Que
est��ria �� essa de chamar os pacientes de
querido?
��� Bem, e u . . . ��� come��ou Janis, logo
parando, ao verificar que n��o sabia o que
dizer. P��g 95
Ent��o, quer dizer que n��o conhece
esse sujeito, n��o �� mesmo? ��� insistiu o
m��dico. ��� N��o sabe quem �� ele, n��o sabe
que ele se chama John Martin e que �� o
sujeito procurado pela pol��cia... No mo-
mento o trata por querido.
Janis abaixou a cabe��a, amparando a
testa com a m��o e sem coragem de encarar
o m��dico.
Rapidamente, Brian caminhou at�� junto
da cama, contemplou o rosto de John e
logo o retrato que tinha nas m��os. Com
um ar de triunfo, tornou a encarar a jo-
vem.
��� Fiz bem em pedir outra foto �� pol��-
cia ��� disse ele, mostrando uma c��pia do
retrato. ��� Disse que t��nhamos perdido a
outra e eles mandaram-me prontamente
uma nova fotografia do assassino procura-
do.
Caminhou at�� a porta, fechando-a com
a chave. Quando voltou para junto de Ja-
nis, j�� n��o havia ironia em seu olhar.
��� Janis ��� disse, parando �� sua fren-
te ��� eu sei que voc�� conhece o sujeito,
e por isso o est�� protegendo. N �� o sei se
voc�� sabe o que isso representa em termos
de responsabilidade... Quero lhe avisar
que �� motivo bastante para ter problemas
com a pol��cia, al��m �� claro de ser despedida
do hospital. P��g 96
A jovem continuava im��vel, com o rosto
coberto e sem dizer uma palavra. Depois
de algum tempo em sil��ncio, o homem con-
tinuou, agora com voz mais am��vel:
��� Voc�� deve ter um motivo muito forte
para fazer isso. Mas, seja o que for, vai lhe
trazer muitas complica����es. Este homem
�� um assassino procurado, matou uma pes-
soa e fugiu.
��� N��o �� verdade! ��� afirmou a enfer-
meira, com voz firme.
��� Como voc�� pode saber?
��� Eu o conhe��o ��� disse, afastando
as m��os do rosto e encarando o m��dico.
��� Eu o conhe��o melhor do que qualquer
outra pessoa. Por isso, queria poder falar
com ele, ouvir de seus l��bios as explica-
����es para tudo isso. N��o acredito que ele
seja culpado de crime algum.
��� A pol��cia existe para isso ��� disse
o m��dico, aproximando-se mais. ��� N��o ca-
be a voc�� descobrir se ele realmente �� ou
n��o um assassino. E esconder este tipo de
informa����o da pol��cia �� crime, tamb��m.
��� M a s . . . ��� come��ou a jovem, con-
fusa. N��o sabia onde o diretor-administra-
tivo queria chegar. Normalmente ele j�� te-
ria-acabado a conversa, chamando a pol��-
cia e entregando-a �� dire����o. ��� Ningu��m
precisa saber disso. Ningu��m sabe que eu
-97
conhe��o John Martin. Se houver qualquer
problema, basta dizer que n��o o reconheci
como o homem do retrato e pronto.
��� Mas, agora eu tamb��m conhe-
��o esse segredo ��� disse ele, medindo
cartada.
��� B e m . . . ��� sentia-se constrangida a
pedir um favor ao homem que detestava.
No entanto, agora s�� Brian Hart podia aju-
dar John Martin. ��� Voc�� n��o precisa dizer
isso a ningu��m. Pe��o que espere somente
alguns dias, at�� que ele se recupere e possa
falar.
Brian olhou-a demoradamente. Deu de
ombros, fez alguns movimentos com a bo-
ca, e quando finalmente falou, foi com um
tom d��bio:
��� E . . . o que eu ganho com isso?
��� B e m . . .
��� N��o ��� cortou ele, s��rio, enquanto
pousava as m��os na cintura de Janis. ���
Pergunto o que ganho com isso, o que eu
vou receber para me arriscar por uma pes-
soa que eu n��o conhe��o.
��� N��o sei ��� disse Janis, angustiada.
��� Eu lhe ficaria muito agradecida. Voc��
poderia...
��� Agradecimento n��o me basta ��� cor-
tou Brian, com voz velada e puxando len-
tamente o corpo de Janis para junto do
seu.
98���
Ela sentiu que todos os seus m��sculos
se retesaram, que seu corpo de repente
ficava r��gido e frio como um l��mina de a��o.
��� E o que eu quero em t r o c a . . . bem
voc�� sabe perfeitamente ��� disse ele, aca-
riciando as costas de Janis com as m��os,
enquanto um sorriso c��nico aparecia em
seu rosto.
Mil pensamentos e imagens antigas
cruzaram o c��rebro de Janis numa fra����o
de segundos. Veio-lhe �� mente uma cena
antiga, de dez anos atr��s, onde havia uma
situ����o muito parecida.
Para conseguir algo muito importante
para sua vida e seu futuro, pediam-lhe
que desse favores de seu corpo em troca
do que almejava. Na ��poca, John Martin
aparecera de repente em sua vida como a
salva����o para o seu problema, e tudo se
resolvera da melhor forma.
Agora, dez anos depois, uma situa����o
parecida tornava a lhe acontecer, s�� que
desta vez John Martin n��o poderia lhe aju-
dar. Pelo contr��rio, o que lhe pediam era
justamente em troca de um favor a John.
Sentiu ��dio, asco e nojo de Brian Hart
e seu sorriso c��nico. Percebeu as car��cias
sensuais que o homem lhe fazia, subindo
e descendo as m��os por suas costas, ten-
tanto ro��ar com os dedos em seus seios, e P 99
teve vontade de agredi-lo, de unh��-lo com
f��ria no rosto, de cuspir-lhe na cara e gri-
tar-lhe tudo o que pensava de sua atitu-
de.
Mas, n��o fez nada do que pensou. Logo,
a imagem de John. Deitado e ferido, sen-
do levado pelos policiais para o hospital
penitenci��rio, ocupou o lugar de todos os
pensamentos em sua mente.
Com voz fraca, num tom que n��o ex-
pressava a firme decis��o que tomou em
segundo, disse:
��� Est�� bem, Brian ��� engoliu em seco.
��� Seja o que voc�� quiser.
��� ��timo! ��� exclamou o m��dico, sor-
ridente, enquanto a puxava contra seu pei-
to. ��� Assim �� que se fala. Parece que fi-
nalmente consegui dobrar este seu orgu-
lho, n��o?
Janis permaneceu em sil��ncio, tensa e
fria como uma est��tua de m��rmore. Sen-
tiu o contato desagrad��vel dos l��bios mor-
nos e pegajosos em sua testa, e esfor��ou-se
por conter o enj��o que aquilo lhe produzia.
Sentia como se fosse lambida por uma co-
bra, mas conteve sua repulsa.
��� Ou��a ��� disse o homem, afastando-
se um pouco, mas continuando a segurar
seus bra��os ��� esta �� minha noite de plan-
100���
t��o. Estarei no meu quarto ��s dez horas
da noite. N��o deixe de aparecer.
Fez uma pausa, afastando-se com um
sorriso em dire����o �� porta.
��� Voc�� n��o vai se arrepender ��� com-
pletou com um sorriso, antes de desapa-
recer em dire����o ao corredor.
Novamente a s��s com o paciente, no
quarto, Janis procurou a cadeira para se
apoiar. Deixou-se cair pesadamente, sen-
tindo como se o teto houvesse ca��do sobre
seus ombros, fazendo com que seu corpo
pesasse como chumbo e sentindo cada ba-
tida do cora����o ecoando em sua cabe��a.
Olhou longamente para John Martin,
que agora tinha um olhar calmo e tran-
q��ilo no rosto, e logo deu de ombros, como
se n��o houvesse nada mais a fazer.
* * *
No meio da treva do sono artificial, pro-
vocado pelo tranq��ilizante que lhe haviam
injetado, John Martin tentava adivinhar
as imagens que se formavam lenta e di-
fusamente.
Ap��s um momento agitado, quando ti-
vera a impress��o de passar para uma Ou-
tra dimens��o que n��o compreendia exa-
tamente, voltara a sentir-se mole e descan-
sado. P��g 101
A imagem de um quarto voltou �� sua
mente. Primeiro enevoado e irreconhec��vel.
Logo, aos poucos, foi descobrindo os contor-
nos do quarto do hotel, a cama larga, os
m��veis. At�� que a lembran��a do corpo
atraente de Sheila ao seu lado f��-lo voltar
a alguns dias atr��s.
Acordara na cama da mulher, quando
esta ainda dormia. Um r��pido olhar no re-
l��gio mostrou-lhe que dormira demasiado.
Levantou-se apressado, entrando no ba-
nheiro para uma ducha enquanto sorria
ao lembrar da noite anterior. Sheila era
um colosso de mulher, e ele pr��prio tentava
se sentir agora, perguntando-se se n��o se
excedera de noite, com as seguintes explo-
s��es de amor e prazer.
��� Querido, j�� levantou?
A voz de Sheila, meio rouca pela sono,
soou lhe agradavelmente aos ouvidos. Des-
ligou a ��gua, saindo do banheiro enrolado
na toalha.
��� Ol��! ��� disse, sorrindo, ao ver o belo
rosto da mulher com a pele meio amassada
pelo travesseiro, que o encarava. ��� Dormiu
bem?
��� Como um anjo ��� disse a mulher,
com voz l��nguida.
Levantou:se, enrolou o len��ol no corpo
e passou ao" seu lado rumo ao banheiro. P 102
Ouvindo o som do chuveiro, John acendeu
um cigarro. Pensou que j�� estava um pouco
atrasado para o encontro com Sheldon
mas logo iria ao seu quarto mudar de rou-
pa e poderia seguir para o centro.
��� Est�� atrasado? ��� perguntou Sheila
saindo do banho com uma toalha enrola-
da no corpo.
��� Um pouco, mas n��o h�� problema ���
garantiu John, amassando o cigarro no cin-
zeiro e levantando-se. ��� Tenho de pegar
roupas limpas em meu quarto, e depois
vou ao centro resolver um neg��cio.
��� Espere um pouco ��� pediu Sheila
levando um cigarro aos l��bios e aproxi-
mando-se dele, para que o acendesse. ���
Tamb��m tenho de sair para trabalhar. J��
pedi caf�� para n��s dois aqui no quarto
Telefonei para a copa enquanto voc�� estava
no banho.
��� Ent��o vou esperar ��� disse John, pen-
sando que seria mais agrad��vel tomar caf��
ali, mas com o olho preso nos seios re-
dondos e brilhantes de ��gua, que aparece-
ram diante dos seus olhos, quando Sheila
se abaixou.
O empregado chegou nesse instante, e
deixou as bandejas com o caf�� sobre a
pequena mesa, e os dois comeram entre
risos e conversas. John gostar�� da noite
anterior e gostou mais ainda at�� ver que
- 1 0 3
Sheila tamb��m guardara uma ��tima re-
corda����o do amor.
��� Voc�� vai embora de Nova Jersey
hoje? ��� perguntou Sheila, levantando-se
depois do caf�� para ir se vestir. "
��� Sim ��� respondeu John, come��ando
a pensar que n��o seria m�� id��ia ficar
mais um dia ao lado dela. ��� Vou ao
centro terminar um neg��cio e em seguida
pretendo partir. J�� n��o tenho mais nada
a fazer aqui.
��� �� uma pena ��� disse ela, virando-se
para ele e sorrindo.
Lentamente, John se levantou, cami-
nhando at�� a penteadeira, onde Sheila se
arrumava. Abra��ou-a pelas costas e o con-
tato da pele fresca contra seu corpo fez
com que se reacendesse a chama do de-
sejo.
��� Se bem que eu ainda poderia ficar
mais um dia aqui, antes de voltar para
Chicago ��� disse, com uma voz onde havia
um convite impl��cito.
A mulher recostou as costas em seu pei-
to, deixando-se acariciar. Logo, antes que
eles mesmos percebessem que acontecia,
estavam de p��, os corpos unidos num abra-
��o, as bocas se procurando num desejo cres-
cente.
104���
Um leve movimento e as toalhas ca��ram.
Sem se separar, caminharam at�� a cama
desarrumada, onde o abra��o aumentou de
intensidade e o beijo reacendeu a chama
do prazer que dormia escondida na foguei-
ra ��ntima de seus corpos.
��� Agora, estamos ainda mais atrasados
��� disse Sheila sorrindo, com a cabe��a no
peito de John, que subia e descia num mo-
vimento compassado.
Ap��s o prazer, a vontade era permanecer
deitado na cama. sem se importar com tra-
balho ou hor��rio. Sem pensar em mais
nada que n��o fosse o corpo ao lado, que
lhe havia proporcionado aquele instante
de prazer supremo.
��� Temos de ir ��� lembrou John, levan-
tando-se de repente, contrariando tudo o
que seu corpo desejava e sua sensualidade
pedia.
Quando, momentos depois, se encontra-
ram no corredor, John Martin j�� havia pas-
sado em seu quarto e trocado a roupa. Le-
vava na m��o a sua pasta de trabalho e
arrependia-se levemente de ter de chegar
ao encontro com Sheldon depois da hora
marcada.
��� Vou fazer algumas fotos ��� disse
Sheila enquanto desciam no elevador ���
mas ��s doze j�� terei terminado.
���105
Olhou longamente para o homem ao seu
lado, e continuou num tom mais baixo:
��� Poder��amos nos encontrar para almo-
��ar juntos.
��� Claro ��� concordou John, sorrindo.
��� As doze horas eu tamb��m j�� estarei livre,
e n��o tenho outro compromisso hoje.
Despediram-se na porta do hotel, depois
de combinarem que Sheila passaria na fren-
te do escrit��rio de Sheldon, ��s doze em
ponto. -
* * *
Na cama do hospital, John Martin mo-
veu-se inquieto. Continuava em seus sonhos
e lembran��as, mas agora j�� n��o se mostrava
tranq��ilo. A partir daquele ponto, as cenas
se confundiam e o prazer terminava, trans-
formando-se em medo e pavor, em viol��ncia
e desespero.
De olhos fechados, n��o viu como Janis
Hopkins levantava-se da cadeira e vinha
medir-se a press��o e p��r a m��o na sua
testa, com olhar preocupado.
No seu mundo de sonhos e inconsci��ncia,
John agora via uma cena n��tida. Ele e
Sheila atravessavam a cidade num carro
esporte que a jovem dirigia. P��g 106
��� Emprestaram-me o carro ���- disse
ela, assim que o pegou no local combina-
do.
��� E onde vamos?
��� A um lugar que conhe��o e que quero
lhe mostrar.
Em sil��ncio, John pensava que seria me-
lhor passar primeiro no banco para poder
remeter o dinheiro a Chicago. N��o se sen-
tia seguro carregando aquela quantia na
pasta. Deu de ombros, pensando que n��o
haveria mal em primeiro almo��ar e s��
ent��o passar no banco.
��� Que lugar �� esse? ��� perguntou ele,
vendo que Sheila entrava com o carro num
pr��dio meio destru��do, franqueado por um
velho port��o de ferro aberto.
��� Espere ��� disse ela, com seu sorriso
cativante. ��� �� uma surpresa.
Um mau press��gio atravessou a mente
de John, mas o carro j�� parar�� dentro do
pr��dio, que parecia um armaz��m abando-
nado ou um velho dep��sito. Quando perce-
beu que realmente n��o estava gostando
daquilo, verificou que era tarde demais.
��� Por favor, S r . Martin ��� disse a
voz de homem ao seu lado. ��� Saia do
carro devagar, e nada de movimentos re-
pentinos.
107
Olhou pela janela aberta, vendo um ho-
mem, cuja fisionomia lhe pareceu vagamen-
te familiar, empunhando uma arma pesada
e mantendo a apontada para sua cabe��a.
Virou-se para o lado, vendo que Sheila
sa��a, rapidamente do carro, atravessava o
dep��sito e entrava numa pequena porta do
outro lado do pr��dio.
��� Vamos com calma ��� disse o homem,
abrindo a porta para John e afastando-
se, sempre com a arma engatilhada.
��� O que significa isso? ��� perguntou
John, achando que sua pergunta n��o eluci-
daria nada, mas tamb��m sem saber o que
falar no lugar.
��� Logo voc�� comprender�� tudo ��� dis-
se o homem, com um sorriso. ��� Agora,
ande para l��.
Com o cano negro da arma ele indicava
o caminho para a porta por onde Sheila
sumira. Caminharam at�� l��. sempre com
o desconhecido mantendo uma dist��ncia
segura das costas de John.
Parado no meio da pequena sala, John
Martin encarava Sheila que lhe sorria tran-
q��ilamente. Pensava rapidamente, tentan-
do recordar-se de onde conhecia aquele ho-
mem, cujo rosto lhe parecia familiar.
Quando ele entrou, colocando-se a um
canto da sala. John o encarou mais uma
vez e pensou encontrar a resposta.
108��� ___
��� V o c �� . . . ��� disse John, apontando
para o homem armado e encarando o. ���
Voc�� trabalha no escrit��rio de Sheldon!
��� Adivinhou ��� zombou o homem, sor-
rindo, sarc��stico. ��� Tem boa mem��ria, Sr.
Martin. Vimo-nos de relance, durante al-
guns segundos, hoje de manh��.
��� Mas, e n t �� o . . .
��� N��o pense que Sheldon tem algo a
ver com o que est�� acontecendo aqui ���
disse o sujeito, tranq��ilo. ��� Ele faz os
seus neg��cios l�� no escrit��rio, onde eu sou
seu empregado. Mas, aqui na rua sou eu
quem dirijo os meus neg��cios.
��� N��o entendo... ��� disse John, que
continuava olhando de vez em quando para
Sheila, enquanto se perguntava qual seria
o papel de mulher em tudo aquilo.
��� �� simples, muito simples ���- disse
o sujeito, enquanto pegava a pasta de John
e a levava para o canto da sala. ��� Tra-
balhando no escrit��rio, fiquei sabendo do
neg��cio que Sheldon ia fechar com a sua
firma. Conhe��o o h��bito do velho de fazer
pagamentos em dinheiro, e pensei aqui co-
migo que duzentos mil d��lares n��o �� uma
quantia para se jogar fora.
John olhava-o, com o rosto crispado. Ao
mesmo tempo em que o ouvia, entendendo
todo o plano, perguntava-se qual eram as
���109
suas pr��prias chances de escapar com vida
daquela armadilha.
��� Sheila �� muito competente e sabe
levar um homem para onde ela quer ���
continuou o sujeito, sorrindo ao contem-
plar os ma��os de d��lares que se en��ileira-
vam na pasta. Fechou a novamente, sorrin-
do para John. ��� Voc�� caiu como um pato,
e voc�� mesmo trouxe-nos o dinheiro at��
aqui.
��� E agora? ��� perguntou John, te-
mendo pelo que ia ouvir.
O homem sorriu, balan��ando a arma
na m��o. Trocou um olhar com Sheila, que
tamb��m sorriu.
��� E n t �� o . . . ��� continuou John, olhando
para a mulher ��� quer dizer que era tudo
uma farsa, desde o in��cio?
��� Sim ��� disse ela, tranq��ila ��� mas
n��o pense que eu fingi enquanto estava
na cama. Adorei que fosse voc�� a v��tima.
��� Obrigado pelo elogio ��� disse John,
tentando manter o sangue-frio. ��� Mas, n��o
creio que isso vai bastar para salvar mi-
nha pele, n��o?
��� Para uns ganharem, alguns t��m de
perder, querido ��� disse a mulher, tranq��i-
la.
��� Mas, como voc��s pensam em escapar?
��� argumentou John, tentando ganhar tem-
110���
po para ter alguma id��ia, para pensar em
qualquer coisa que pudesse tir��-lo dali. ���
Voc��s acham que a pol��cia n��o vai investi-
gar? Que n��o v��o se informar no hotel?
Que os gar��ons n��o nos viram juntos na
boate, no seu quarto hoje de manh��?
Sheila olhou para o companheiro, es-
perando que ele explicasse.
��� �� simples ��� disse o homem, sorrin-
do. ��� Enquanto voc��s se amavam e se
divertiam �� noite, uma pequena c��mara
fotogr��fica tirava fotos bastante compro-
metedoras dos dois.
John, curioso por saber onde o outro
ia chegar, olhou rapidamente para as fo-
tografias que o sujeito tinha na m��o e que
colocou sobre a mesa.
A m��quina devia estar instalada em al-
gum lugar alto, pois a c��mara pegava toda
a cama dentro do foco, mostrando e ele e
Sheila nas mais variadas posi����es durante
a noite enquanto se amavam:
��� M a s . . . e da��? ��� perguntou John,
querendo que o outro continuasse a falar.
��� Quando acharem seu corpo, sem o
dinheiro que recebeu, e com as fotos ao la-
do, a pol��cia vai logo pensar em chanta-
gem.
��� Mas, como v��o escapar?
���111
��� N i n g u �� m tem motivos para descon-
fiar de mim ��� continuou o homem, tran-
q��ilo. ��� Ficarei com o dinheiro e n��o h��
nada que possa me l i g a r a voc�� ou ��
chantagem hipot��tica que estariam lhe fa-
zendo.
John contemplou o homem, perguntan-
do-se como era poss��vel que ele falasse tudo
aquilo com a tranq��ilidade de quem conta
uma hist��ria impessoal.
��� Mas, e Sheila? ��� perguntou John,
olhando do homem para a mulher, ��� V��o
reconhec��-la no hotel, nas f o t o s . . .
Sheila Snell mostrou-se preocupada pela
primeira vez desde que chegara ali. Olhou
interrogativamente para o companheiro, e
como esse continuasse calado e sorrindo,
ela perguntou:
��� N �� o foi isso o que combinamos, Mor-
ris ��� disse a mulher, confusa pela mudan��a
de planos. ��� Como eu vou escapar dessa,
se v��o ver os meus retratos?
��� Voc�� n��o vai escapar, querida ���
disse Morris, sorrindo.
��� N �� o estou entendendo ��� falou a mu-
lher levantando-se e tentando caminhar
na dire����o do homem.
Um s��bito e violento empurr��o jogou-
a novamente na cadeira, ao mesmo tempo
112
em que uma express��o de ang��stia apare-
cia em seu rosto.
��� Voc�� realmente n��o vai escapar, que-
rida ��� repetiu o homem ��� mas eu lhe
garanto que tamb��m n��o ser�� presa.
John olhou para um e logo para outro,
angustiado em tentar encontrar uma sa��da
para a situa����o.
��� Realmente, pensei em outro fim para
este problema querida Sheila ��� disse Mor-
ris, mantendo-a sob a mira da arma. ���
Mas, tinha muitos riscos. Voc�� foi vista
com ele no hotel, poderiam apert��-la e voc��
deixaria escapar alguma pista.
Sorriu, colocando a pasta com o dinhei-
ro ao seu lado, enquanto espalhava as fo-
tos no ch��o.
��� Agora, n��o haver�� problema ��� con-
tinuou, sorrindo. ��� A pol��cia pensar�� que
voc�� tentou chantagear o pobre Sr. Mar-
tin, e que este a matou.
��� M a s . . .
��� Sim ��� continuou ��� John Martin
a matou e logo se suicidou, arrependido.
Sheila, com o pavor estampado nos
olhos encarava c companheiro que lhe sor-
ria tranq��ilamente.
��� Enquanto isso ��� disse Morris ��� eu
Morris Clint estarei no escrit��rio de Shel- P113
don, continuando com o meu insignifican-
te trabalho, �� espera do melhor momento
para come��ar a gastar esta bolada.
A mulher, que permanecera sentada,
desde que fora violentamente empurrada,
levantou-se de repente, movida pelo medo
e o desespero. Atirou-se sobre Morris, na
esperan��a de derrub��-lo e impedi-lo de pros-
seguir em seus planos homicidas.
Um estrondo detonou na pequena sala
e Sheila voltou para junto da cadeira, des-
ta vez empurrada por uma viol��ncia ainda
maior. O impacto da bala em seu peito
fez com que fosse cair contra a parede, a
mais de dois metros de Morris.
��� Meu Deus... ��� balbuciou John, sur-
preso ante a viol��ncia e o inesperado da
cena.
Mas, antes que pudesse fazer qualquer
coisa, percebeu que Morris, com a arma ain-
da fumegante, apontou-a na dire����o do seu
peito. Logo, nova explos��o e tudo se fez
negro e silencioso. P��g 114
Cap��tulo 7
Janis Hopkins continuava de p��, parada
na cabeceira da cama de Martin. O pa-
ciente ainda n��o despertara, e dormia pro-
fundamente desde que sa��ra da cirurgia.
Com o rosto triste, tenso, Janis con-
templava John, enquanto mil pensamentos
cruzavam sua mente. Depois de algum tem-
po, consultou o rel��gio e a posi����o dos pon-
teiros fez com que seu cora����o batesse
mais r��pido.
Dez horas da noite. Marcara com Brian
de ir v��-lo em seu quarto, mas permanecera
ali, parada ao lado da cama, sem coragem
de abandonar o quarto de Martin, para ir
ceder �� chantagem suja de Brian Hart.
Por mais que pensasse que n��o tinha
alternativa, n��o conseguia reunir as for��as
necess��rias para sair do quarto e ir at�� o ou-
tro andar. Sabia que terminaria por ceder
�� vontade do m��dico, mas adiava ao m��xi-
mo aquele momento. Cada vez que contem-
-115
plava o rosto p��lido do ferido, sentia ��dio
do que estava a ponto de fazer. Mas por
outro lado, percebia que faria aquilo por
John, era por ele que cederia �� chantagem
de Brian.
Um ru��do na porta chamou sua aten����o,
e ela virou-se assustada, pensando se o m��-
dico chegara ao ponto de vir at�� ali busc��-
la. Pensou na imagem de um condenado
buscado para a execu����o e encarou sur-
presa o homem desconhecido que abriu a
porta.
O sujeito pareceu igualmente surpreso e
ficou alguns segundos em sil��ncio, con-
templando-a indeciso.
��� S o u . . . sou m��dico ��� disse Morris,
pensando que encontrar uma enfermeira
no quarto n��o estava em seus planos.
��� Mas, n��o est�� na hora da visita de
rotina ��� disse Janis, intrigada. ��� O D r .
Spencer j�� examinou o paciente h�� pouco
mais de uma hora.
��� B e m . . . mandaram-me aqui para fi-
car com o doente e e u . . .
Uma id��ia passou pela cabe��a de Janis,
e ela se perguntou s�� Brian Hart teria
tido coragem de chegar ��quele ponto. En-
carando o homem, perguntou de s��bito:
��� Foi Brian quem o mandou aqui me
substituir? P��g 116
��� S i m . . . ��� disse Morris, temendo que
a mulher fizesse novas perguntas. ��� Brian
pediu-me que ficasse com o paciente. Disse
que voc�� pode ir embora.
Janis sentiu um calor subir-lhe pelo cor-
po, esquentando suas orelhas numa onda
de indigna����o. Ent��o, o descarado tinha
coragem de mandar outro m��dico para
ficar com John, insistindo para que ela fos-
se ao seu quarto.
Pensou que quem era capaz daquilo, era
bem capaz de denunciar John M a r t i n ��
pol��cia. Resolveu ir ao encontro do m��dico,
mas deteve-se por um m o m e n t o na cabe-
ceia do John, como se lhe explicasse mem-
talmente o porqu�� de tudo aquilo, que era
por ele que fazia a q u i l o . . .
Quando se dirigiu para a porta, o m��-
dico desconhecido pareceu mais tranq��ilo,
aliviado. Janis pousou a m �� o na ma��aneta
e j�� ia abri-la, quando algu��m empurrou
a porta do outro lado.
A figura de Brian Hart. c o m o olhar
duro e s��rio, apareceu diante da enfermei-
ra. Janis encarou-o com ��dio. sentindo
vontade de lhe perguntar se j�� n��o bastava
mandar um substituto, se ainda era preci-
so vir at�� ali busc��-la.
O m��dico encaro a enfermeira e disse
em tom r��spido e amea��ador:
���117
��� Pelo visto, voc�� n��o quer mesmo sal-
var seu amigo, n��o ��? ��� disse, encarando-
a. ��� Prefere qualquer coisa a concorda
e m . . .
Percebeu a presen��a de outra pessoa no
quarto e calou-se imediatamente, constran-
gido. Viu que n��o o conhecia o perguntou-
lhe irritado:
��� Quem �� voc��? O que faz aqui?
Morris, voltando a se preocupar com
o sucesso de seu plano, apressou-se em dar
a mesma explica����o que dera �� enfermei-
ra:
��� Vim aqui por ordem do D r . Brian
��� disse ele, pensando que fora mesmo uma
sorte a enfermeira ter dito o nome do m��-
dico, antes que ele tivesse de inventar um
nome qualquer. ��� Foi ele quem me man-
dou aqui.
Brian, surpreso, encarou Janis que tam-
b��m n��o entendia nada do que se passa-
va.
Vendo a indecis��o dos dois, Morris achou
melhor dar um tom mais veross��mil a suas
palavras, para ver-se livre daqueles intru-
sos de uma vez e poder realizar o trabalho
que o trouxera ali.
��� Se quiserem saber de mais alguma
coisa ��� disse em tom s��rio ��� podem per-
guntar ao D r . Brian. P��g 118
��� Ao D r . Brian Hart? ��� perguntou o
pr��prio, ainda sem entender se aquilo era
uma brincadeira de mau gosto ou se o su-
jeito era mesmo maluco.
��� Sim, ao pr��prio.
Janis, desconfiada, aproximou-se do pa-
ciente, na cama, num gesto instintivo de
defesa ao homem que amava. Ao mesmo
tempo, Brian Hart continuava encarando
o desconhecido.
Depois de algum tempo, o m��dico dis-
se:
��� Acho bom o senhor se explicar de
forma convincente, meu amigo ��� disse, s��-
rio. ��� Pois o ��nico D r . Brian Hart que
existe neste hospital sou eu!
Morris sentiu que cometera ume erro
imperdo��vel. Olhou para Martin na cama,
inconsciente, e logo para os dois que o
encaravam como se esperassem uma expli-
ca����o.
��� Cuidado! ��� gritou Janis, percebendo
a inten����o do homem e jogando-se com for-
��a contra seu corpo.
Brian, vendo que o sujeito ca��a com a
arma na m��o, jogou-se contra ele, tentan-
do imobiliz��-lo e entrando em luta corporal
no meio do quarto.
Quando Janis, ainda sem entender na-
da, tocou a campainha do alarma, a con-
���119
fus��o se instalou por completo no oitavo
andar do hospital.
* * *
��� Quando eu consegui abrir os olhos,
vi que estava com a arma na m��o, ferido
gravemente e sem a pasta ��� continuou
John Martin, falando com dificuldade. ���
Consegui sair do velho dep��sito abandona-
do, e q u a n d o . . .
Parou de falar, com uma careta de dor.
��� Chega ��� disse Janis, aproximando-
se da cama, preocupada. ��� Voc�� n��o est��
em condi����es de falar.
John fechou os olhos por um momento,
tentando recuperar for��as para continuar
o depoimento. No quarto, pr��ximo �� cama,
dois policiais ouviam-no atentamente, ao
lado de Brian Hart e de outro m��dico.
��� Mas, por que o senhor fugiu do lo-
cal, Sr. Martin? ��� perguntou o policial
gordo que tomava notas num bloco de pa-
pel.
Com vis��vel esfor��o, John entreabriu os
l��bios e continuou a falar com voa fraca:
��� N �� o pretendia fugir ��� disse, ofegan-
te. ��� Simplesmente, n��o podia continuar
parado ali, �� espera de ajuda. Tentei ca-
minhar para algum lugar, encontrar socor- P 120
ro. Temia morrer ali, com todas as provas
me incriminando, sem conseguir acusar e
tal Morris.
Preocupada, Janis olhava aflita a ex-
press��o de dor no rosto do ferido, que-
rendo que toda aquela agita����o terminas-
se logo, para que John pudesse descansar.
Estavam h�� mais. de uma hora no quarto,
ouvindo a longa hist��ria de John Martin.
Morris Clint fora preso pela seguran��a do
hospital e a pol��cia n��o tivera muita difi-
culdade para obter sua confiss��o.
��� Consegui andar alguns quarteir��es,
mas acabei caindo na rua ��� disse John.
��� N��o me lembro direito, mas acho que
algu��m me colocou numa ambul��ncia e me
trouxe para c �� . . .
��� Foi isso mesmo que aconteceu ��� con-
firmou o policial, guardando seu bloco de
anota����es e virando-se para Janis: ��� N��o
sei como a senhorita n��o o reconheceu, pelo
retrato que lhe entregamos...
Janis abaixou o olhar, dando de ombros.
N��o tinha vontade de explicar a longa his-
t��ria. De qualquer modo, o policial n��o a
compreenderia.
Pouco depois, um a um os homens fo-
ram saindo do quarto. O ��ltimo a sair,
Brian Hart, olhou rapidamente o ferido e
-121
saiu sem encarar Janis Hopkins, visivelmen-
te embara��ado.
Janis fechou a porta lentamente e vol-
tou para o lado de John. Segurou sua m��o
e ficou contemplando-o longamente, en-
quanto acariciava seu rosto p��lido.
��� J a n i s . . . ��� come��ou ele.
��� N��o diga nada ��� pediu ela, com
voz suave. ��� Voc�� falou demais. Agora,
precisa descansar para ficar bom o quan-
to antes.
John, em sil��ncio, contemplou-a, en-
quanto um sorriso d��bil aparecia em seu
rosto.
��� N��o sei se quero ficar bom logo ���
dise ele, encarando-a.
��� N��o diga isso ��� cortou Janis. ���
O quanto antes voc�� se recuperar, melhor
para voc��.
��� N��o a c h o . . . ��� disse, esfor��ando se
por dar um tom aud��vel �� voz fraca. ���
Se ficar bom, tenho de sair daqui, e se
sair do hospital, n��o poderei ficar ao seu
l a d o . . .
��� Quem lhe disse isso? ��� perguntou
Janis, fingindo aborrecimento, mas com
uma express��o alegre nos olhos. ��� Desta
vez, n��o pretendo deixar que voc�� me es-
cape . . .
122���
��� Eu escapar? ��� perguntou John, con-
fuso.
��� Sim, John. ��� Continuou ela, parada
ao seu lado e acariciando-lhe os cabelos.
��� Por muito tempo eu pensei que a coisa
mais importante em minha vida era a mi-
nha profiss��o, o sucesso profissional... Pa-
ra conseguir isso, abandonei tudo. Agora,
depois de passar esses dois dias ao seu
lado, temendo que voc�� n��o sobrevivesse,
percebi que nada disso �� significativo, com-
parado com o que sinto por voc��.
��� Janis. ..
��� N��o diga nada ��� cortou ela. ��� Voc��
precisa descantar, para se recuperar logo.
Quanto antes estiver em condi����es de sair
deste quarto para voltar a Chicago, me-
lhor.
Fez uma pausa, depositando um leve
beijo na testa dele, e completou:
��� Porque eu pretendo seguir com voc��,
John.
Um brilho de intensa alegria apareceu-
lhe nos olhos. Lentamente, John Martin
levantou a m��o, acariciando o rosto de
Janis e puxando-o para mais perto.
��� Porque eu pretendo seguir com vo-
c��, John.
Um brilho de intensa alegria apareceu-
lhe nos olhos. Lentamente, John Martin P 123
levantou a m��o, acariciando o rosto de Ja-
nis e puxando-a para mais perto.
Seus l��bios se encostaram num beijo r��-
pido, e a express��o de fadiga do paciente
transformou-se numa intensa felicidade.
Quando fechou os olhos, sentindo que a
fraqueza trazia o sono, pensou que n��o pre-
cisaria mais sonhar. O sonho viria quando
acordasse novamente, encontrando Janis ao
seu lado, para sempre.
124-
ESTE LIVRO FOI D I G I T A L I Z A D O E M J U N H O DE 2020 POR
L E A N D R O M E D E I R O S PARA A T E N D E R A O S DEFICIENTES
V I S U A I S . �� P O C A D A P A N D E M I A D O C O R O N A V �� R U S .
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