quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Uma História de Carnaval. Agora conte a sua!

Uma História de Carnaval

Luís Campos (Blind Joker)


Nos bons tempos do carnaval baiano, quando se brincava nas ruas atrás de
blocos ou dos trios, mascarado, fantasiado, usando "mortalha" ou de
cara limpa e roupas comuns, o corredor da folia compreendia o trecho
entre o Campo Grande e a Praça da Sé. Além das praças mencionadas,
o trajeto compreendia a Praça Castro Alves, a Rua Chile, a Praça
Municipal (onde está o Elevador Lacerda) e a Rua da Misericórdia,
que ligava esta última à Praça da Sé.

Este era o circuito oficial para os cinco dias do carnaval, isto é,
sábado à noite nos clubes, de domingo à terça-feira nas ruas, durante
o dia e nos bailes noturnos dos clubes. O quinto dia refere-se à noite
da quinta-feira, quando acontecia a entrega da "Chave da Cidade" ao Rei
Momo e havia o desfile de blocos no roteiro acima descrito.
Na madrugada da "Quarta-Feira de Cinzas", como ainda hoje, havia,
na Praça Castro Alves, o encontro dos trios.

Como já falei, na quinta-feira "gorda", à noite, no Campo Grande, o
prefeito entregava a "Chave da Cidade" ao Rei Momo, que, ao lado da
Rainha do Carnaval e das Princesas, fazia a abertura do tríduo momesco
e a festa só recomeçava no sábado à noite com os bailes carnavalescos
promovidos pelos clubes.

Dos anos quarenta à década de sessenta, talvez início da seguinte,
durante o carnaval, nas calçadas, de ambos os lados da Avenida Sete
e Rua Chile, as famílias colocavam cadeiras, tamboretes e bancos
para assistirem o desfile das Escolas de Samba e, quando estas deixaram
de desfilar, nos fins dos anos sessenta, para verem os blocos e trios
passarem. Também as janelas dos prédios e marquises ficavam apinhadas
de gente apreciando o carnaval e jogando confetes e serpentinas sobre
os foliões que brincavam na rua. O uso da lança-perfume ainda não era
proibido, então era comum ver-se os rapazes lançando seus jatos
perfumados nos pescoços das meninas. Que cheiravam para "fazer a
cabeça", eu só soube depois, mas até que gostava do cheirinho da bicha.

Nesta época, tanto nos clubes quanto nas ruas, se a gente gostasse duma
garota, bastava colocar a mão em seu ombro. Se ela não tirava nossa
mão, a paquera ia adiante e , muitas vezes, era início de um namoro.

Num destes carnavais, eu vinha "descendo" a Rua Chile. Ainda no começo
desta, vi uma "careta" com uns lindos olhos verdes. Eu também estava
mascarado - e com os óculos por baixo da máscara, pois era míope desde
os oito anos.
Abracei a menina e, como ela "gostou", continuamos nossa caminhada rumo
à Praça Castro Alves e, consequentemente, seguiríamos pela Avenida
Sete, trajeto dos blocos e trios que vinham do Campo Grande.

Em dado momento, ela levantou a máscara...

Tomei um susto com a feiúra da menina, mas continuei abraçado com ela.
Como dois olhos lindos, sob uma máscara, enganam!

O interessante foi que: quando ela baixava a máscara, eu levantava a
minha, para ser visto pelas demais garotas. Quando ela levantava a dela,
eu baixava a minha. Não creio que ela tenha percebido minha estratégia.
Nesse "jogo", chegamos ao final da Rua Chile, exatamente no momento em
que dois blocos rivais, Os Corujas e Os Internacionais, se cruzavam. Um
descia aladeira e o outro subia, com os "cordeiros" disputando o espaço
da rua. Estes blocos, compostos apenas por homens, eram blocos de
fantasia e a cada ano um tentava superar o outro em originalidade e
criatividade. Nessa época a "mortalha" (precursora do abadá) era coisa
de bloco "pobre" ou de folião "pipoca". Foi nesta década que apareceram
os primeiros blocos de "índios", como Os Apaches e os Comanches.

Voltando à história...

Entre os blocos havia um "corredor" que mal cabia duas pessoas e o
empurra-empurra dos cordeiros destes dificultava ainda mais a passagem,
mesmo assim, alguns "valentes" ousavam enfrentar a disputa pelo exíguo
espaço entre as cordas... e eu, corajosamente, fiz isto!

Tomando a dianteira e "puxando" a menina pela mão, me meti ali no meio.

As orquestras dos blocos não paravam, cada uma procurando tocar mais
alto do que a outra. Eram formadas por instrumentos de percussão e de
sopro, devendo ter cerca de quarenta ritmistas. Como já disse, eram
os dois blocos mais famosos de Salvador - e mais caros. Deveriam ter,
cada um, cerca de trezentos componentes... e a gente entre eles!

Fui avançando, empurrado, ora de um lado, ora de outro, e trazendo a
garota pela mão. Num dado momento, larguei a mão dela e "me mandei",
descendo, "numa velocidade", a ladeira e subindo a Avenida Sete em
direção ao Campo Grande, sumindo na multidão.

Nos meus dezessete anos, embora com remorso, senti-me aliviado por
livrar-me do "canhão"!

FIM


_ * _

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Luís Campos (Blind Joker)

Brincar, sorrir e sonhar são coisas sérias!

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