----- Original Message -----
From: "Marcela Menucci" <
marcela.menucci@gmail.com>
To: <
cantinhodaleitura@googlegroups.com>
Sent: Wednesday, April 07, 2010 2:38 PM
Subject: Re: <CantinhoDaLeitura> Revolução sexual sobre rodas. Conquistando
o afeto e a autonomia, Fabiano Puhlman
Olá Renata
Agradeço imensamente o envio deste livro, eu havia feito um pedido em outra
lista da qual faço parte, mas creio que lá ninguém tinha nenhum dos livros
que solicitei.
A razão do meu pedido é que meu marido sofreu um acidente que resultou em
uma lesão medular e eu preciso me familiarizar com o assunto e como não
conheço ninguém que tenha passado por isso só me resta recorrer aos livros
que tratam do assunto.
Assim peço aos amigos que tenham algum dos livros que seguem que me enviem
por favor:
*Superar o Impossível* - Christopher Reeve .
*Minha profissão é and*ar e * Velejando a Vida* - João Carlos Pecci .
*Sexo: Caminho para a reabilitação*: *um estudo sobre a manifestação da
sexualidade em homens paraplégicos* - Arlete Camargo de Mello Salimene.
*Andanças * Hélio Araujo*.*
Em 4 de abril de 2010 09:59, Renata Coutinho
<
srenata.listas@gmail.com>escreveu:
> Olá, amigos!
> Segue em anexo o livro referido no assunto.
> Recebi de uma amiga que faz parte da Livraria Virtual.
>
>
> A revolução sexual sobre rodas. Conquistando o afeto e a autonomia.
> Fabiano Puhlman.
>
> Introdução
>
>
> Ainda estava fazendo minha especialização - a residência em um
> hospital público -, quando sonhei em escrever um livro sobre a
> sexualidade do deficiente físico. Nesta época, há 10 anos, era novidade
> um deficiente físico ser psicólogo da Área de Reabilitação e, mais
> estranho ainda, tratar da sexualidade. Os colegas profissionais me
> olhavam com estranheza, tinham receio de que os outros deficientes
> físicos se negassem a ser atendidos por um igual, pois o modelo do
> atendimento era todo caracterizado pela devida neutralidade e correta
> distância dos problemas dos pacientes. Claro, uma distância
> bem-intencionada baseada em sólidos conceitos psicológicos, mas apenas
> em conceitos teóricos.
> Minha presença passou a ser a antítese de qualquer teoria: com
> meu andador dourado, de avental branco, coxeando pelos corredores com
> meus 1.86m de altura, eu era, no mínimo, uma figura curiosa. Todos
> queriam conversar comigo, tentar entender o conflito que emergia
> simplesmente por estarem na minha frente: "Afinal de contas, quem é esse
> cara? Um paciente, um profissional, um louco?".
> Apesar de me sentir bem diantc dos olhares, das perguntas e do
> constante assédio no campo profissional, morria de medo de me envolver
> intimamente com alguém. O medo da rejeição e da incompetência afetiva me
> torturavam, eu temia sofrer desilusões. E tudo obsessivamente girava em
> torno do fato de eu ser deficiente físico.
> Com o tempo, o trabalho, a amizade e o amor que foi nascendo
> dentro de meu peito me deram a coragem de enfrentar aquilo que eu mais
> temia: me apaixonar por alguém. Minha mulher, minha alma feminina,
> encontrei em meio às paredes frias daquele hospital, onde ambos éramos
> profissionais. Tenho hoje a sensação de ter estado no lugar e no momento
> certo, aceitando todos os desafios. Sem saber, eu estava participando
> como ator principal de minha missão pessoal, e, ao arriscar lutar por
> meus sonhos, entrava em uma nova dimensão da vida, onde as coisas
> realmente acontecem.
>
> 9
>
> Fui aprendendo, desde então, a viver com a deficiência física e
> descobri que esse aprendizado é similar a uma iniciação mística, ou a
> uma tentativa de aprender uma língua estrangeira, onde tudo é novo e
> impinge seus próprios caminhos. Ninguém consegue resolver os inúmeros
> dilemas da vida estando no jardim da infância. Existem sempre estágios
> de compreensão e amadurecimento: fases mais básicas, intermediárias e
> finalmente as avançadas. O resgate da vida, da identidade pessoal, de um
> trabalho produtivo, da capacidade de voltar a fazer amor, de se adaptar
> às novas condições, leva tempo. E não resulta se não entrarmos nos
> portais que levam ao encontro de nossa alma.
> A iniciação de uma nova vida é para poucos, e não acontece em
> grutas perdidas no deserto. O deficiente físico não terá de se isolar do
> mundo como um eremita, sua única tarefa será viver no meio do mundo,
> rodeado de gente, envolvido e apaixonado.
> A idéia deste livro é resgatar para o deficiente físico a vida e
> o erotismo esquecido. O amor é alegria, prazer e realização; o sexo é
> complemento de um relacionamento; o erotismo, por sua vez, é tesão,
> prazer de estar vivo, sentimento de poder seduzir e ser seduzido. É o
> gostoso olhar, o beijo úmido, o desejo forte de envolvimento.
> Ser erótico é possuir a vida, a liberdade, o movimento, o calor
> compartilhado. O deficiente físico precisa voltar a ser essencialmente
> um homem em busca de prazer, com responsabilidade e equilíbrio, ou uma
> mulher segura de sua capacidade de envolver o ser amado, de se apaixonar
> e de cuidar de seu ninho.
> Conheço de perto as dores dos deficientes físicos e me
> solidarizo com todos. Por isso, o principal objetivo deste livro é
> diminuir o medo, a vergonha e o isolamento sexual a que muitos
> deficientes físicos se condenam, esclarecendo as principais dúvidas
> sobre tratamentos, recursos e atitudes a serem mantidas para uma
> sexualidade livre e prazerosa depois da deficiência física.
> Acredito também que as reflexões sobre a qualidade de vida
> possam contribuir com os cuidadores dos deficientes físicos a
>
> 10
>
> fim de que eles ajudem neste processo de inclusão dos deficientes na
> vida afetiva e sexual.
> Antes de começarmos, no entanto, quero dedicar este livro à
> minha querida esposa e a todos os meus amigos de luta.
> Renata Coutinho
>
> "Um livro aberto é um cérebro que fala; fechado, um amigo que espera;
> esquecido, uma alma que perdoa; destruído, um coração que chora."
> (Rabindranath Tagore)
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