Em defesa do direito de ser alfabetizado
A leitura é uma habilidade inventada pelo cérebro humano. Inventada mesmo: se a capacidade para expressar ideias em sons e gestos é inata (ainda que tenha que ser
desenvolvida), a codificação dessas ideias em rabiscos arbitrários -as letras- e a decodificação de grupos desses rabiscos em sons e ideias é algo que nossos antepassados
começaram a fazer 5.000 ou 10 mil anos atrás.
Conseguimos ler e escrever graças às conexões entre as áreas do cérebro responsáveis respectivamente pela identificação de símbolos visuais, pela identificação
de
sons, pela representação de conceitos e pela produção dos movimentos da boca associados a cada palavra.
A leitura só se torna possível quando tudo isso funciona em conjunto, permitindo que os símbolos vistos no papel encontrem no cérebro sons e significados associados
a eles. A escrita, por sua vez, requer, além disso, coordenação sensoriomotora suficiente para não apenas identificar os rabiscos associados aos sons mas produzi-los
ativamente de memória.
Quando tudo isso acontece? Em algum momento da infância -conforme as conexões na substância branca entre as áreas envolvidas, espalhadas nos lobos temporal, parietal
e frontal, amadurecem, ganhando uma capa de mielina que torna a troca de sinais entre essas áreas mais rápida e fidedigna.
Quanto mais intensa é a mielinização, melhor tende a ser a capacidade de leitura do indivíduo. Mas não é possível precisar uma idade em que o cérebro "fique pronto"
para aprender a ler: o amadurecimento da substância branca é um processo sujeito a algumas variáveis.
Se algumas crianças de fato só terão a interconectividade necessária à alfabetização madura o suficiente aos seis ou sete anos de idade, outras podem tê-la madura
o suficiente já aos cinco ou quatro anos e aprender a ler sem problemas.
Esse é o consenso na neurociência: se cada criança tem seu tempo, não há uma idade mágica para começar a alfabetização. Mas o MEC aparentemente discorda e quer
decidir,
para fins de "alinhamento entre os sistemas", que crianças abaixo de seis anos completos até 31 de março não só não devem ser alfabetizadas como não têm direito
a entrar no ensino fundamental mesmo que já alfabetizadas e maduras, sociáveis e interessadas em ir à escola. Querem colocar o cérebro em uma forma e ignorar a
diversidade
em nome da burocracia. Eu protesto!
- Suzana Herculano-Houzel , neurocientista, é professora da UFRJ e autora de "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante) e do blog www.suzanaherculanohouzel.com
Renata Coutinho
"Um livro aberto é um cérebro que fala; fechado, um amigo que espera;
esquecido, uma alma que perdoa; destruído, um coração que chora."
(Rabindranath Tagore)
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