domingo, 6 de agosto de 2017

{clube-do-e-livro} LANÇAMENTO : EU,ELA E O AMANTE - CARLOS AQUINO- FORMATOS : PDF,TXT E EPUB

CORAL APRESENTA


EU, ELA E O AMANTE



EU, ELA E O AMANTE
CARLOS AQUINO

Cedibra


Copyright © MCMLXXVII CEDIBRA — Editora Brasileira
Ltda.
Direitos exclusivos para o Brasil. Rua Filomena Nunes,
162 — ZC 22 20.000 — Rio de Janeiro, Capital.


Distribuído por:
Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Rua Teodoro da
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pela Cia. Editora Americana Rua Visconde de
Maranguape, 15 — Rio de Janeiro


O texto deste livro não pode ser, no todo ou em parte,
nem reproduzido, nem registrado, nem retransmitido por
qualquer meio mecânico, sem a expressa autorização
do detentor do copyright.



capítulo 1


o porto seguro
Estou com trinta anos.
Ao completar esta idade senti um choque. Creio que o mesmo deve acontecer com todas as
outras pessoas.

-5



Não é fácil ter que admitir que a mocidade está passando e que o
nosso tempo de
vida está ficando cada vez mais curto.
Mas parece que foi ontem que tinha dezoito anos.

Vivia despreocupado, indo à praia ou es-A tudando. Sempre tive
boas condições financeiras. Nunca me vi às voltas cojpi problemas
de dinheiro.
Portanto, sou um privilegiado. Minha vida sempre correu mansa.
Praia, estudos, garotas.
Freqüentava Ipanema quase diariamente. As garotas deliravam
comigo.
No entanto, já faz doze anos que tudo isso aconteceu. Passava os
sábados e do¬
mingos na maior farra, bebendo chopinho ou me torrando ao sol.
Ah, a juventude dourada!
Mas os anos passam, mesmo para os mais beneficiados pela sorte.
P-6



Concluí meu curso de Direito e comecei a trabalhar num escritório de advogacia.
Afinal de contas, não se pode viver a vida inteira na praia ou bebendo chope.
Com o tempo a gente cansa disso também. As sensações já não são mais as
mesmas, unia espécie de vazio toma conta da gente.

Comova dizendo, passei a trabalhar. Nesta época conheci Lídia. Claro que foi
na praia de Ipanema, onde eu estava deitada na areia. Tinha acabado de dar um
mergulho. Sua pele tostada estava cheia de pingos d'água.

Passei por ela e fiquei olhando-a estirada na praia, com o rosto voltado para o
sol e os olhos fechados.

Ela deve ter sentido minha presença, pois logo abriu os olhos e fitou-me.
Sorri e fui correspondido. Já estava a fim de ir embora para casa, mas resolvi
permanecer mais tempo na praia.

Em poucos minutos já estávamos batendo o maior papo. O namoro começou
ali Al¬
P- 7



guns meses depois estávamos noivos. Casamos no ano seguinte.

Há cinco anos que estamos casados e, coisa rara, somos felizes. Não conto o
número de ex-colegas e amigos que já tiveram duas, três ou quatro mulheres.
Conosco o negócio foi diferente. Permanecemos juntos e ainda encontramos
muita satisfação na vida em comum.

Claro que nos esforçamos para que nossa convivência não seja monótona. Eu
tenho uma vida cheia. Além do escritório de advocacia, também passei a ensinar
à noite na Faculdade.

Não que precise de dinheiro, pois como já disse, sempre fui muito bem
situado financeiramente.

Mas é que eu gosto de ensinar. Assim, com dois empregos dos quais gosto, e
uma mulher bonita ao meu lado, que mais posso querer?

Pois justamente. De vez em quando eu P-8



começo a ficar inquieto e a querer mais. Variar um pouco não é nada mau.

Mas creio que este não é um defeito só
meu. Todos os homens são ou devem ser
assim.

Já foi afirmado muitas vezes que o homem é um animal polígamo. Não se contenta com uma
mulher só a vida inteira.

Por isso, de vez em quando, (não freqüentemente), dou meus pulinhos extraconjugais.

Mas tudo coisas sem maiores conseqüências. Como recusar uma mulher bonita dando sopa?
E são tantas que existem por aí! Por isso tenho minha «garçon- . nière», um apartamento
conjugado, onde levo minhas aventuras.

É claro que Lídia não sabe de nada. Toda mulher geralmente é ciumenta. Quer que a gente
seja só dela. Acho que está certo. Depois, eu também gosto de saber que ela tem ciúmes: de mim.

Tomo o máximo cuidado para que T dia não descubra a existência desta "gar- -9



çonnière». Não quero perder minha esposa por nada deste mundo. As garotas de ocasião são
maravilhosas para uma ou duas vezes. No máximo, três. Nada mais do que isso.

Só uma, a Celeste, é que há vários meses encontra-se comigo de vez em quando. "Na
verdade, não sei mesmo porque mantenho esta ligação.

Depois da traição, gosto de voltar para os seios de Lídia, que representam para mim uma
espécie de porto seguro. Ela me tranqüiliza, me faz sentir bem. As outras apenas me excitam. São
prazeres passageiros.

Pretendo permanecer sempre assim. Não quero abdicar das duas coisas. Se eu posso ser feliz
duplamente, por que recusar?

Não temos filhos. No começo, achamos 'que devamos deixar para mais tarde. Depois
esquecemos o assunto. Qualquer dia a gente encomenda um. Não gosto muito de criança. Acho
muito bonitinho ver um menininho rosado, engraçadinho, etc. Mas ele

-10



lá e eu cá. Quando penso no trabalho que
dá -

Detesto choro de criança. Já pensou acordar sempre no meio da noite? Claro que existem as
babás, mas neste ponto, sou um pouco à antiga. Filho deve ser criado pelos pais. Lídia tem a
mesma opinião. E também não faz muita questão de criança. Por isso estamos sempre adiando a
possível vinda do herdeiro.

Além de tudo isso, é uma responsabilidade muito grande colocar um ser humano no mundo.
Não somente do ponto de vista financeiro, mas também emocional. O melhor é esperar um certo
amadurecimento para poder educar bem os filhos.

Lídia concorda comigo em quase tudo. Nunca vi duas pessoas se darem tão bem como nós.
Temos pontos de vista mais ou menos idênticos sobre todas as coisas. Por isso discutimos muito
pouco. Alguns ami-, gos nossos dizem que somos o último casal feliz sobre a face da terra.

Minha esposa me ama muito. E tenho

-11



certeza de que é absolutamente fiel. Nun

- ca cometeu o menor deslize. Posso a mais longe e afirmar que ela não me engana nem em
pensamento.
Ela também tem uma vida muito ocupada. É sócia de uma butique de roupas
em Ipanema. Adora tudo que se relaciona com moda, bijuterias, essas coisas.
O que no início era apenas um «hobby ,passou a ser uma profissão. E rendosa.
Todo princípio de ano vamos passar as ferias, em Friburgo, onde moram os pai de Lídia. Nós
também temos em casa lá. Assim descansamos durante um mês da agitação do Rio e voltamos
sempre revigorados. Aplicamos na íntegra aquele velho lema «mente sã em corpo são».

Estamos acabando mais uma tempora

-da em Friburgo. Devamos viajar na próxima segunda-feira, mas alguns dias an—

tes recebi um telefonema de meu sócio no escritório, pedindo a minha presença com

urgência no Rio para resolver um caso extremamente importante.
-12



— Que amolação! — exclamei, assim que desliguei.
— O que foi?—perguntou Lídia.
— Preciso voltar para o Rio imediatamente.
— Quando tem que ir?
— Amanhã.
— Ainda bem que já está mesmo no fim de nossas férias.
— Mas eu não gosto de mudar meus planos. Pensava em voltar somente na segunda-feira.
Lídia chegou perto de mim e passou a mão pela minha cabeça, carinhosamente.
— Deixe de ser preguiçoso, Miguel. Hoje é quarta-feira. Por causa de quatro ou cinco dias a
menos de boa-vida, você não vai morrer.
Realmente, não havia motivo para fazer drama. Entre outras qualidades, Lídia era uma mulher
muito sensata. Mais do que eu. P-13



Abracei-a pela cintura:

— Você não precisa ir comigo. Pode ficar até segunda-feira.
— Sozinha?
— Seus pais lhe fazem companhia. Afinal eles moram a uma quadra daqui.

Tem certeza de que não quer que eu vá junto contigo?
_ Não há a menor necessidade.
— Quer ficar sozinho no Rio esses dias, hein, seu malandro?!
Começamos a rir.
— Está com ciúmes?
— Eu sempre tenho ciúmes de você. Mas sei que se tiver de me trair, tanto faz eu estar aqui
ou no Rio ao seu lado.
— Você sabe que eu te amo.
—Sei disso. Mas não tenho a mesma certeza de que me é fiel.

A frase que ela acabara de dizer com P14



naturalidade, me sobressaltou. Não 'sei por quê.
Mas fiquei preocupado.
Será que Lídia sabia de alguma coisa? E se ela tivesse conhecimento da «garçon-nière» ?
Mas não tive tempo de permanecer pensando nestas bobagens, pois Lídia começou a abrir

minha braguilha:

— O que está fazendo ?
— Não está vendo? Vamos começar a aproveitar a noite logo cedo, uma vez que tem de
viajar amanhã.
Fomos para o quarto.

— Você é uma mulher fabulosa, Lídia.
— Vou te deixar exausto esta noite. Vou sugar tudo de você. Durante os quatro dias que ficar
sozinho lá na Rio não vai ter ânimo para querer nenhuma outra mulher.
Lídia, além de sensual, era uma mulher inteligente. Sempre inventávamos novas P15



brincadeiras na cama. Não nos limitávamos ao ato tradicional. Sempre tivemos todo tipo de
relações sexuais.
Acho que se todo casal se entregasse completamente um ao outro, sem limitações, o mundo
era mais feliz.
Infelizmente, as pessoas se reprimem muito sexualmente, estabelecendo limites sobre o que é
permitido ou não é.
Nunca tivemos este tipo de problemas. Fazemos tudo, em todas as posições. Sem medos
nem remorsos. Pertencemos um ao outro, inteiramente, sem preconceitos tolos.
Aí, verdadeiramente, é que está o segredo de nossa felicidade.
Alisei a penugem dourada de suas coxas e beijei seus seios com volúpia.
Lídia agarrou-se a mim como se não já .tivéssemos feito aquilo milhares de vezes.
Penetrei em seu corpo. Por um momento nos sentimos fora da terra, viajando por outras
galáxias, num gozo infinito... P16



Não há coisa melhor do que fazer sexo com quem se ama. Todas as outras coisas são
insignificantes diante disso.

No dia seguinte viajei de ônibus, pois Lídia preferiu ficar com o carro pará voltar nele na
segunda-feira. Ela detesta viajar de ônibus e eu não me importei de fazer este sacrifício. P-17



Capítulo 2

O primeiro amante

Lídia era uma mulher belíssima. Os ca- belos castanhos tinham mechas douradas. Os olhos
cinzentos eram grandes, o nariz levemente arrebitado, a boca perfeita. Alta

18—


esbelta, parecia um manequim. Andava como se flutuasse.

Bonita, charmosa, inteligente. Também estava completando trinta anos, como Miguel.
Encarava a vida com otimismo, o que no seu caso não era muita vantagem. Sempre tivera tudo
que quisera.

Por incrível que possa parecer, por ter sido uma garota criada na Zona Sul, mesmo assim,
quando casou com Miguel, ainda era virgem.

Este fato, apesar de insignificante nos dias de hoje, foi de grande importância para o marido
naquela época.

Se Lídia se conservara intacta até o casamento aos vinte e cinco anos de idade, era uma prova
de que tinha princípio.

E nestes cinco anos de vida em comum, ele nunca tivera motivos para duvidar da fidelidade da
esposa.

Mas a verdade é que Lídia já o traíra. Apenas uma vez, ou melhor, algumas vezes, mas com o
mesmo homem. P-19



Estavam casados há dois anos, quando um ex-hamorado de Lídia, Nestor, voltou da Europa.

Ele ia passando pela Avenida Visconde de Pirajá, quando sua atenção foi despertada pela
vitrine de uma butique.

Estava olhando as roupas expostas, quando avistou-a lá dentro.

Entrou e dirigiu-se a ela, que ficou surpresa;

— Nestor, você está no Rio?
— Cheguei esta semana. Estava pensando em te procurar. O que está fazendo aqui?
— Montei esta butiquejunto com uma amiga.
— O que vai fazer hoje à noite?
—vou ficar em casa, com meu marido.

Com quem?
Ela mostrou a aliança:
— Com meu marido.
— Não me diga que está casada... P-20

— No civil e na Igreja.
— Que pena!
— Pois é. você perdeu a maior oportunidade de sua vida. Podia ter casado contigo, mas você
não quis.
— Mas isso não quer dizer que a gente não possa ser amigo. Uma vez que não pode
encontrar-se comigo hoje à noite, podeA mos almoçar juntos amanhã. O que acha da idéia?
— Combinado.
No dia seguinte, por volta de meio-dia, Nestor voltou a aparecer.
Foram a um restaurante qualquer de Ipanema. Começaram a beberam bastante:


— Você vai voltar para a Europa?
— Dentro de cinco dias.
— Já?
— Vou morar definitivamente em Paris. Vim só resolver alguns negócios.
— Meus parabéns — Lídia fez uma pau- P-21

sa e continuou:—Quer dizer que não vou te ver mais?
_Não seja tão pessimista. De vez em quando eu venho dar um passeio no Rio.

Ela sentiu uma certa tristeza. Não sabia bem por quê.
Mas, aos poucos, foi compreendendo o que se passava em seu íntimo.
Nestor tinha sido um dos poucos namorados de quem realmente gostara. Na época, tinha


dezoito anos.

Agora, aos vinte e sete, ante a perspectiva de não vê-lo talvez nunca mais, sentia como £e
perdesse mais uma parte de sua juventude.

— Você ficou triste de repente?
— Fiquei com saudades.
— De quem?
— De você.
— Quando eu estava longe, garanto que nem se lembrava de mim. Agora, que es- P22

tou ao seu lado, fica com saudades.-Não dá pra entender.

—É que tenho a impressão de que hão vou te ver mais.

O almoço prolongou-se por mais uma hora. Nestor não queria se separar

dela logo. O mesmo acontecia com Lídia. Ele terminou propondo:
—Por que não vamos para um lugar * onde a gente possa ficar a sós ?


Lídia não aceitou a proposta de imediato. Mas sabia que não ia resistir à tenta¬


ção.
Sempre tivera vontade de ir para a cama com Nestor. Ela mesma não sabia ex¬
plicar como não tinha ido, na época em que eram namorados.


Nestor iria viajar dentro de poucos dias. Era uma pessoa de confiança. Tinha
certeza de que Miguel nunca chegaria a saber de nada.
Estava tendo a oportunidade de usufruir alguns momentos de prazer sem cor-
23



rer o menor risco. Mais tarde talvez lamentasse ter desperdiçado isso.

Telefonou para a butique avisando que não voltaria naquele dia e foi com

Nestor para o apartamento dele.

Sentiu o coração pulsar com mais força, quando se viu sozinha com o rapaz.
A sensação de estar fazendo alguma coisa proibida aumentava ainda mais o
desejo.

Ela a beijou na boca como nos velhos tempos. Em vários anos, era a primeira
vez que Lídia sentia o gosto de outros lábios que não os do marido, colados aos
seus.

— Lembra-se daquele dia na praia?
— Claro.
Transportou-se para aquele longínquo dia na praia, em que quase deixara-se
possuir por Nestor.

— Por que você nunca quis se entregar a mim?
— Até hoje só pertenci a um homem: meu marido. P -24

— Você está brincando!
— É verdade. . •
— Pois você devia ganhar um prêmio. Não acredito que existam muitas
mulheres no mundo que só tenham tido um homem.
Ele colocou uma música na eletrola. Uma canção francesa que falava de amor
e erotismo.

Puxou as cortinas e deixou acesa uma luz indireta. Foi até o bar e preparou,
dois drinques.

Recostaram-se na cama, enquanto bebiam e ouviam discos. Ele começou a
acariciar a ponta do seu seio. Lídia sentia-se arder de desejo. Quem diria que
tantos anos depois fosse para a cama com Nestor? Passou a, mão pela perna do
rapaz. Pemou em parar por ali, mas a tentação era mais forte do que tudo.

Em poucos minutos estavam nus. Ele a segurava com força, como se tivesse
medo que Lídia fugisse. Mas ela nunca faria isso. O que mais queria naquele
momento era ser P25



Depois que gozaram, Lídia sentiu um certo arrependimento.
Mas Nestor olhava para o seu rosto, sorrindo, e recomeçou a acariciá-la.
A sensação da mão dele passando pela sua barriga, pelas suas coxas e


pelo seu sexo começaram a excitá-la novamente...
O fim da tarde chegou e Lídia viu que estava na hora de ir embora.

— Amanhã tenho muita coisa pra fazer durante o dia — disse Nestor. — Se
você pudesse encontra-se comigo à noite...
— Nem pensar.
— Por quê?
— E Miguel?
— Sabe que já tinha esquecido que está casada?
— Bem... talvez eu dê um jeito. Miguel ensina à noite na Faculdade.
Lídia pensou que iria ser difícil encarar Miguel quando tornasse a vê-1 o.
Mas, ao chegar em casa, olhou-se no es- P26



pelho e viu que estava com o mesmo rosto de sempre. Não havia nada nela
que pudesse fazer com que se descobrisse o que Havia feito.

Miguel chegou e tudo correu normalmente. Lídia compreendeu que seus temo


res eram absolutamente infundados. Não havia motivos para preocupações.

Encontrou-se com Nestor todos os dias em que ele ainda permaneceu no Rio.
Ao mesmo tempo que sentia o maior prazer em ir para a cama com ele,
ansiava para que chegasse a hora em que o rapaz fosse embora. Só assim
aquela louca aventura terminaria.

Agora, sozinha em Friburgo, depois que Miguel voltara antecipando o
término das férias, ela lembra-se do eposódio.

Nunca mais traíra o marido, nem tivera notícias de Nestor. Apesar de ter
dito que voltaria de vez em quando ao Rio, parecia que tinha resolvido o
contrário. Ou pelo menos, se tinha voltado, não a procurara. -27



Tinha certeza de que Miguel não lhe era fiel. Não existia homem nenhum no mundo que o
fosse (será que havia alguma mulher?).

Ela poderia até considerar-se uma exceção por ter tido apenas um amante em toda a sua
vida. Por isso não se sentia muito culpada por causa da sua traição.

Talvez pelo fato de estar sozinha, sentiu o desejo de ter um homem ao seu lado. Estava
entregue aos seus pensamentos, quando o telefone tocou. Foi atender:

— Alô!
— Lídia? Aqui é o Miguel. O que estava fazendo?
— Pensando em você.
— Verdade? • — Claro.
— Está se sentindo só?
— Demais. Devia ter ido contigo. Não agüento ficar mais três dias aqui sem você. Foi uma
bobagem não ter ido junto. P28

— Também estou sentindo falta de você.
— Seu mentiroso! Afinal de contas' você está no Rio. Pode arranjar
companhia a qualquer momento que queira.
— Mas acontece que não quero outra companhia a não ser você.
— Sabe o que resolvi? Vou voltar amanhã mesmo.
Desligaram o telefone pouco depois, ficando combinado que voltaria ao Rio
na manhã seguinte. Foi deitar e mais uma vez sentiu falta de um homem ao seu
lado. Não propriamente o marido, mas um outro.

Sentia que estava a um passo de uma nova traição. Só estava faltando oportuni¬
dade. Alguns minutos depois adormeceu. P29



Capitulo 3
Dúvidas

Por que Lídia resolveu voltar logo amanhã? Seria melhor que viesse mesmo na
gunda-feira como estava previsto. Se s besse disso, não teria marca do Ce- P30



leste para encontrá-la. Como é que vou des-marcar? Celeste vai ficar uma fera.

Eu podia ter insistido para que Lídia não viesse amanhã. Mas tive medo que
pensasse que eu desejava ficar livre estes dias. O jeito é enfrentar a Celeste.
Telefonarei para ela:

Alô, Celeste?!
Oi, Miguel!


__Não dá pra gente se encontrar hoje?
__Já lhe disse que não. Estava de saída, quando você ligou. Voltei da porta
quando ouvi o telefone tocar.

—Mas eu quero te ver hoje.
__Não já tínhamos combinado para amanhã? Por que esta pressa?
__Estou doido pra dormir contigo. Não agüento esperar mais.

Celeste deu uma gargalhada do outro lado da linsia:
Está bem, mas só lá para as onze horas. P31



— OK
Desliguei o telefone. Apesar de ter que me acordar cedo no dia seguinte, não me
importei de marcar o encontro tão tarde Afinal de contas, tinha que aproveitar a noite
livre.

As onze horas em ponto estava na porta do edifício onde tenho minha "garçon-nière".
Celeste era a única garota com quem mantinha uma relação mais ou menos estável.
Tinha sido minha aluna na Faculdade. Depois desistira do curso. De vez em quando nos
encontrávamos e fazíamos'um programa.

Já estava esperando há uns dez minutos, quando Celeste apareceu:

— Está atrasada.
— Você não tem direito de reclamar. Tive que fazer a maior força para vir.
Então ela me explicou que fora ao cinema com o namorado. Depois pretextara estar
com muita dor de cabeça e despedira-se dele, para vir ao meu encontro. P32



Tomamos o elevador e fomos para o apartamento. O porteiro do edifício me
olhou com um jeito malicioso, quando passamos. Não sei por quê, mas detesto
estes porteiros. Talvez seja pelo fato de que adoram observar a gente e sabem da
vida de todo mundo.

De repente tive um pensamento absurdo: «E se este porteiro for trabalhar no
edifício onde moro com Lídia? Ele é a única testemunha que sabe de todas as
minhas aventuras amorosas. Mas não, isso não pode acontecer. Seria o cúmulo
do azar. E depois, ele não teria coragem nem intimidade sufiriente para dar o
serviço para Lídia.»

— Você está com uma cara tão preocupada! O que houve? — perguntou
Celeste.
Procurei sorrir:

— Nada. É impressão sua.
Fomos para a cama. Eu mal podia dis-farçar a minha pressa.
— Calma, homem. Até parece que esteve meses num deserto sem ver uma
única mulher.P33

— Seu namorado sabe que você dorme com outro homem?
— Que pergunta mais idiota, Miguel! É claro que não. Ele pensa que sou a
mais: pura das mulheres.
A resposta de Celeste foi a mais natural possível.

Mas novamente me apareceu uma outra preocupação. Eu também julgava
que Lídia, a minha esposa, fosse a mais pura das mulheres.

No entanto, será que eu também não era enganado por ela?

Por que eu estou hoje com tantos pensamentos absurdos? É evidente que Lídia
me é fiel. Eu sou um sujeito inteligente, perspicaz. Saberia logo se me
enganasse. Se eu fosse o namorado de Celeste, descobiria tudo sem muito
trabalho. Está na cara que ela não presta. A diferença entre Celeste e Lídia é
como da água para o vinho.

— Você está novamente como quem es-
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tá muito longe daqui. Está pensando em sua mulher?
Sorri para Celeste e procurei me concentrar no que estava fazendo. O que
não foi muito difícil.

Afinal, estava na cama com uma garota sensacional completamente nua.

Comecei a beijá-la primeiro no pescoço e fui descendo, descendo, descendo...

—Você não presta. O que está querendo fazer?

— Ainda não adivinhou?
Por estas alturas eu estava beijando o seu umbigo.
— Tarado!
Fui descendo mais os meus lábios. Celeste soltava gemidos de prazer.
Procurei excitá-la o mais possível antes de possuí-la...
Depois que gozamos, Celeste não se mostrava disposta a ir embora logo.

Comecei a ficar impaciente:

-35



_ Não me leve a mal, mas acho que está na hora de irmos embora.

_ Por quê?

_Tenho que acordar muito cedo amanhã. Vou ter um dia cheio.

_Podemos nos encontrar amanhã à noite sem esta pressa toda e aproveitar
mais a companhia um do outro.

_Infelizmente não vou poder.

— Não?
— Não-.
_ An, então foi por isso que insistiu tanto pra me ver hoje? E eu que pensei
que era porque estava sentindo falta de mim. Posso saber o que vai fazer
amanhã á noite?

Não sei por quê, disse a verdade. Podia mentir, dizer que tinha negócios para
resolver. Mas a frase saiu sem eu querer:

— Minha mulher vai voltar e.,.. Celeste ficou furiosa:
-36

— E o doce maridinho não vai poder sair de casa. Acho vocês muito engraçados...
Quer dizer que eu banquei a idiota? Não me faça isso nunca mais, Miguel.
Já pensou se eu decido me comunicar com sua' esposa e contar tudo?
Dei uma gargalhada:

— Não adiantava nada. Eu dizia pra ela que você era uma louca que estava
querendo ir pra cama comigo de qualquer maneira, e como eu não queria, tinha
resolvido destruir meu casamento.
— Mas você esquece que posso revelar a existência desta «garçonnière»?
Claro que ela não deve saber disso. E poderia querer verificar se era verdade...
Por um instante, tive receio de que Celeste fizesse o que estava'dizendo.

Ela, de repente, se transformou numa ameaça à minha felicidade. Dizem que
não existe crime perfeito. Que um dia tudo se descobre, mais cedo ou mais
tarde. O.criminoso sempre deixa uma pista, comete um erro.

-37



Eu estava cometendo um erro, mantendo estes encontros com Celeste já há
alguns meses. O melhor era não procurá-la mais. Sim, estava resolvido a não vê¬
la outra vez. '

Ela voltou a falar:

— Não precisa ficar preocupado. Não vou fazer isso que acabei de dizer. Foi
só pra te meter um susto. E depois, não tenho tanto interesse em você assim.
Não fique convencido. Gosto de me encontrar contigo de vez em quando. Nada
mais do que isso.
Puxei-a contra mim, abraçando-a e bei-j ando-a:

— Você é uma garota maravilhosa. Levei Celeste até sua casa e depois fui
para a minha. Eram mais de luas horas da madrugada, quando me deitei.
Estava resolvido mesmo a não me encontrar nunca mais com Celeste. Tinha
tanta mulher no mundo... Se o gostoso era variar, por que manter uma amante
mais ou menos constante?

_ Demorei a adormecer. Algumas pala


-38—


vras de Celeste voltaram a me perturbar.Mas não foi a ameaça que me fizera, de
contar tudo para Lídia. Voltei a me ."lembrar do que dissera sobre o fato do
namorado julgar que era a mais pura das mulheres. •

Eu também pensava o mesmo de Lídia. Sean querer, Celeste lançara a
semente da desconfiança em mim. E esta semente estava brotando. Não podia
admitir que eu fosse traído. Tudo, menos isso. O pensamento de que algum
outro homem pudesse tocar em Lídia me era insuportável. Completamente
insuportável.

Adormeci e tive um pesadelo.

Lídia, inteiramente despida, dava gargalhadas, enqanto um homem, também
nu, a abraçava pelas costas.

Não conseguia distinguir o rosto do homem. Só sabia que não era eu. Lídia
estava sendo abraçada e possuída por. outro, por outro, por outro. . .

Acordei suando. Senti um alívio quando notei que tinha dormido e sonhado.
Nada

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daquilo era verdade. Tratava-se apenas de um sonho.

Lídia neste momento deveria estar dormindo tranqüilamente, sozinha, lá em
Fri-burgo. Mas será que estava mesmo sozinha?

Automaticamente, me levantei e peguei no telefone. Disquei para ela. Por um
instante tive a impressão de que uma voz de homem iria atender.

E foi realmente o que aconteceu:

— Alô!
A voz era grossa e irritada. Num relance compreendi que devia ter discado
errado. Desliguei e tornei a discar, desta vez com o maior cuidado para não errar

o número novamente. Lídia atendeu com voz de sono.
— Alô! Lídia?
— O que foi que houve, Miguel? Aconteceu alguma desgraça?
— Não. Por que está perguntando?
— Levei um susto. Não esperava que te-
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lefonasse de novo a esta hora da madrugada.

— É que eu acordei no aneio da noite e senti uma saudade enorme de você.
— Seu bobinho! Logo mais vou estar aí ao seu lado.
— Tchau, amor! Um beijo.
— Pra você também.
Voltei para a cama. Desta vez adormeci logo e não tive mais pesadelos.
Acordei às sete horas com muita dificuldade. O corpo me doía e lamentei ter que
trabalhar.

-41



Capítulo 4
O Desconhecido

Lídia acordou cedo. Lembrou-se do telefonema que recebera do marido no
meio da noite. Miguel era um homem estranho. Às vezes não podia acreditar
que ele continua


-42—


va a manter aquele romantismo, como se fosse um adolescente.

Assim mesmo, adolescente da década de 20. Porque os de hoje não querem
saber nada de romantismo.

Com trinta anos de idade, cinco que estavam casados, e Miguel ainda se dava
ao trabalho de telefonar de madrugada para ela, para dizer que estava com
saudades.

Será que ele estava bêbado? Como não pensara nisso antes? Era bem capaz
de ter ido fazer uma farra para aproveitar a noite livre e resolvera ligar ao voltar
para casa. Mas lembrou-se de que a voz dele não era de quem estivesse
embriagado.

Depois de tomar o café da manhã e colocar tudo em ordem dentro de casa,
Lídia verificou se tinha deixado todas as portas fechadas e tomou o automóvel.
Passou pela casa dos pais para despedir-se e seguiu para o Rio.

Ia em seu carro tranqüilamente pela estrada, quando avistou um vulto ao
longe.

Ao aproximar-se mais, viu que se tratava

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de um jovem muito alto, que fazia sinal como quem pedia carona.
Ficou em dúvida se devia parar ou não. Passou pelo rapaz, diminuindo a
marcha. Notou que ele tinca o rosto quase de uma criança.
Mais adiante parou o automóvel. O rapaz veio correndo.
Ao chegar perto, perguntou sorridente:

— Vai para o Rio? Pode me dar carona?
Lídia nunca deixara que nenhum desconhecido entrasse em seu carro. Mas
sem saber por quê, concordou em levar o rapaz. Não havia nada nele que
parecesse suspeito.

O jovem entrou no automóvel e sentou-sè ao seu lado. Virou-se para ela e
sempre sorri dente, disse:

— Eu me chamo Célio.
Célio era um garotão de mais de um metro e noventa de altura. Estava
apenas com dezoito anos de idade e não trabalhava

-44



nem estudava. Queria apenas aproveitar a vida.

Fora passar uns dias com uma mulher em Friburgo. Mas haviam brigado e
ela mandara-o embora. Como não tinha.dinheiro para voltar, o único jeito era
ver ser conseguia uma carona.

Lídia dirigia em silêncio. Nem sequer olhava o rapaz que viajava ao seu lado.
Arrependera-se depois que deixara-o entrar. Começou a lembrar de um filme
que assistira em que uma pessoa que dá carona a um desconhecido termina
assassinada.

Um frio percorreu-lhe a espinha e suas mãos tremeram.

Será que estava com um criminoso no automóvel ?

Não resistiu e olhou-o. Célio sorriu imediatamente. Ela voltou a prestar
atenção à estrada.

Não, aquele rapaz, quase um garoto, apesar de toda a sua altura, não tinha
cara de assassino.

-45



Ele tornou a falar, querendo ver se estabelecia um diálogo:

— Como é o seu nome?
Por que ele queria saber como se chamava? Antes de responder, Célio continuou:
— Não precisa dizer, se não quer. Desculpe ter perguntado. Foi só pr? puxar conversa.
Aos poucos, Lídia foi se sentindo mais à vontade. Nada no rapaz inspirava desconfiança.
Vestia-se como um jovem comum de sua idade. Estava com uma sacola, onde provavelmente
devia estar a sua roupa.

E se dentro tivesse também um revólver? Outra vez Lídia arrependeu-se de ter dado carona
ao rapaz.

Mas agora era muito tarde para qualquer arrependimento. Não podia parar o carro e mandálo
descer. Aí é que seria perigoso. Ele ficaria ofendido e mesmo que não tivesse más intenções,
poderia fazer qualquer coisa contra ela.

O negócio era seguir em frente, talvez

-46



acelerar um pouco o automóvel para chegar
ao Rio mais depressa. Não gostava de
dirigir em velocidade acima do normal, mas
achou que numa situação destas era o melhor
que podia fazer.

A viagem seguiu tranqüila e Célio não
falou mais. Uma vez que ela não queria
conversar, achou melhor não insistir. Afinal,
a mulher estava lhe fazendo um favor.
Não devia incomodá-la se não estava com
vontade de falar.

De vez em quando, Lídia olhava disfarçadamente
para o relógio. Queria que os
minutos andassem depressa para acabar logo
aquela viagem.

Sem querer, olhou para o rapaz e notou
as calças justíssimas que ele vestia. Ficou
excitada e sentiu uma grande atração por
Célio.

Procurou afastar o pensamento, mas
quanto mais tentava, mais sentia um desejo
irrefreável pelo jovem. Imaginou-se sen-1
do violentada e em vez de sentir-se mal, teve
uma sensação de prazer. Célio podia não P47



ser um assassino, mas quem sabe não estava
a fim de forçá-la a ter relações sexuais
com ele?

Cada vez mais excitada, aumentou ainda
mais a velocidade do automóvel.

Célio saiu do seu mutismo:

— Não acha que está correndo muito?
— Estou um pouco atrasada. Tenho
que chegar ao Rio o mais rápido possível.
Julgou que tinha dito uma bobagem. Se
estivesse com tanta pressa, desde o princípio
da viagem que estaria naquela velocidade.


Célio também achou estranho, más não
comentou nada. Compreendeu que, sem dúvida,
a mulher estivesse com medo dele.

A idéia divertiu-o. Olhou-a disfarçadamente.
Ela era uma mulher muito bonita.
Se ele fosse um delinqüente, podia forçá-la
a parar o carro e a possuiria à força.

«Até que seria divertido» — pensou.

Mas não levou avante a idéia. Afinal,
48—


ela tinha sido muito bacana, dando-lhe carona.


Quando estavam perto do Rio, Lídia fa-7
lou: . \

— Estamos quase chegando. Onde vai
querer ficar?
— Em qualquer lugar está bom. Mas se
vai pra Zona Sul, podia me deixar em Copacabana?
Uma vez que já tinha feito toda aquela
viagem com ele.e não havia acontecido nada
demais, Lídia achou que não tinha nenhum
inconveniente em deixá-lo onde
queiria.

Dentro da cidade, a possibilidade de ele
tentar fazer-lhe qualquer coisa era quase
nenhuma. Se tivesse que fazê-lo teria feito
na estrada. Como morava em Ipanema, poderia
perfeitamente deixá-lo em Copacabana.


— Em que altura quer que te deixe? —
perguntou Lídia depois que atravessou o
túnel. 49


— Se vai até o Posto Seis, pra mim está
perfeito.
Na altura da rua Francisco Sá, Célio pediu
que parrasse. Antes de descer, agradeceu:


— Muito obrigado pela carona. E;tá
vendo aquele bar ali?
— Qual?
Ele apontou um bar que ficava mais
adiante:

— Costumo ir sempre lá. Se algum dia
quiser me ver é só passar pelo bar no fim
da tarde ou à noite. Vou ter muito prazer
em voltar a te encontrar.
Célio desceu e Lídia arrancou.

. Sentiu-se aliviada por estar novamente
sozinha em seu automóvel. Pensou em como
fora tola em imaginar crimes, violências,
etc.

Não tinha acontecido nada. Arrependeuse
em não ter conversado com o rapaz. Afinal,
sentira-se atraída, e muito, por ele.

50—


Mas o jovem havia deixado uma pista
Se por acaso quisesse encontrá-lo sabia como
fazer. Não tinha dúvidas de que iria
procurá-lo. Lembrou-se de Nestor, o único
amante que tivera. Já fazia alguns anos...

Compreendeu que estava tendo uma necessidade
cada vez (maior de arranjar outro
amante.

Apesar de o marido satisfazê-la sexualmente,
havia momentos em que tinha vontade
de ir para a cama com outros homens.

Isso só acontecia de tempos em tempos
e geralmente reprimia seus impulsosi.

No entanto, agora, depois que conhecera
aquela jovem na estrada, sentia que não
ia poder vencer o desejo desta vez. Nunca
tinha tido um amante mais jovem do que
ela. Estava com trinta anos e Célio provavelmente
não tinha mais do que dezoito.
Quase um garoto.

Ficou mais excitada ainda. Teve ímpetos
de voltar. Será que ele fora diretamente
para o bar antes mesmo de ir para casa?


—51


Já estava quase chegando em seu apartamento,
quando resolveu voltar a Copacabana.
Sentia uma vontade inadiável de tornar
a' ver Célio. Passou pelo bar que ele
apontara. Diminuiu a marcha do automóvel
e olhou. Mas não o viu. Sem dúvida tinha
ido direto para casa...

Decepcionada, tomou novamente a direção
de seu apartamento. Sentia-se cansada.
Afinal, tinha tido uma experiência muito
excitante, que lhe abalara os nervos.

Tomou um banho momo e resolveu dormir
um pouco. Antes, ligou para o escritório
de Miguel avisando que tinha chegado.

— Fez boa viagem ? — perguntou o marido.
— Maravilhosa!
Ele não notou que: ela falara com um
entusiasmo fora do comum.

Realmente, Lídia sentia agora que tinha
feito uma viagem maravilhosa ao lado
de um desconhecido que com toda certeza
viria a ser seu amante. A não ser que
não o encontrasse mais. -52


E se realmente nunca mais voltasse a
vê-lo? Não, ela teria que vê-lo outra vez,
custasse o que custasse.

Teve um pouco de remorso por estar pensando
em trair o marido. Mas consolou-se
ao lembrar que ele, também não devia ser
fiel. Nunca tivera conhecimento de nenhuma
aventura de Miguel. Mas também nunca
se dera ao trabalho de procurar seguir
seus passos. Se fizesse isso, teria descoberto
qualquer coisa, era evidente.

Na época de hoje. em que existem tantas
facilidades, é praticamente impossível
uma pessoa resistir às tentações da carne.

De qualquer maneira, mesmo sabendo
que o marido a traía, não deixou de continuar
sentindo uma ponta de remorso. Devia
ser a falta de costume, deduziu. Só tivera
um único amante. Se tivesse tido muitos
outros, com mais freqüência, já estaria
acostumada e não teria aqueles problemas
de consciência.

—53


Capítulo 5
As dúvidas, ainda

Quando cheguei em casa à noite, en
contrei Lídia dormindo. Acordei-a com
um beijo. Ela me abraçou e murmurou
qualquer coisa ininteligível. Tive a im


54



pressão de que dissera o nome de um homem.
Não não foi Miguel o nome que ela
pronunciou...

Novamente a semente do ciúme teimava
em se desenvolver. Quis que ela repetisse o
que havia dito pouco antes, mas Lídia já
estava completamente desperta.

— O que foi que você falou quando eu
te acordei?
— Não me lembro.
Não quis insistir. Afinal, podia ter sido
apenas impressão minha. Tinha ficado com
desconfianças tolas desde a noite anterior,
depois do que Celeste havia me dito.

As aulas ainda não tinham recomeçado
e portanto estava com a noite inteira livre.
Só na semana seguinte voltaria a ensinar
no curso noturno da Faculdade.

— Quer sair hoje à noite? — perguntei.
— Pra mim, não faz diferença.
Na hora do jantar, inesperadamente, Lídia
me fez uma pergunta que me assustou:

—55


— O que você fez ontem à noite?
Por que Lídia queria saber o que eu tinha
feito na noite anterior? Será que desconfiava
de alguma coisa? De repente tive
medo de que já soubesse da existência da
«garçonnière» que eu mantinha. E se Celeste
tivesse cumprido o que prometera? Se
ela tivesse ligado durante o dia e contado
tudo para Lídia?

— Você não me respondeu o que fez ontem
à noite.
Tive a impressão de sentir uma leve ironia
em seu tom de voz. Mas não seria apenas
impressão? Eu devia estar sonhando
com fantasmas que não existiam.

— Fui a um cinema.
— Sozinho?
— Claro.
— Não acredito.
Resolvi brincar:

— Não. Eu fui acompanhado por duas
louras sensacionais.
56—


Lídia deu uma gargalhada:

— Sabe que ontem eu levei o maior susto
quando me ligou de madrugada?
— Não sei a razão, mas senti uma saudade
enorme de você quando acordei no
meio da noite.
— Às vezes fico pensando se nosso casamento
vai durar a vida inteira assim. Em
cinco anos continuamos como nos primeiros
tempos. O mais engraçado é que todas
as minhas amigas, todas elas, sem exceção,
já mudaram de marido mais de uma vez.
Só eu continuo casada com o mesmo homem.
— E durante toda a sua vida só pertenceu
a mim.
— Parece incrível, não é? Contando ninguém
acredita.
— Devem existir outros casais felizes
por aí. A promiscuidade não deve ser tão
grande como se pensa. As pessoas têm o
costume de exagerar tudo.
— E também têm inveja quando, vêem
57


duas pessoas que dão certo. A felicidade doa
outros é muito difícil de aceitar.

— Você disse tudo.
— Realmente é preciso ter uma estrutura
muito sólida para resistir as tentações
do mundo em que vivemos.
Olhei bem para Lídia. Seus olhos transmitiam
confiança. Era uma mulher sincera,
honesta, pura. Não havia motivos para
ter dúvidas. Mas novamente me lembrei de
Celeste e do seu namorado que a julgava a
«mais pura das mulheres».

Mas será que uma pessoa podia fingir
ocm tanta perfeição? Nada em Lídia denotava
que ela alguma vez me tivesse traído.

Naquela noite não saímos. Preferimos
aproveitar a companhia um do outro. Ouvimos
música, conversamos sobre uma infinidade
de coisas. Depois fomos para a cama.


Tenho' sorte em ter uma mulher assim.
Bonita, inteligente... e fiel.

58—


capítulo 6
a aventura

No dia seguinte, lá pelas quatro horas
da tarde, Lídia tomou o automóvel e foi até

o bar que Célio dissera freqüentar. Avistou-
o sentado numa mesa com um colega,
bebendo chope.
—59


Quando ele a viu, fez uma expressão alegre
e acenou com a mão.

Lídia parou o carro e o jovem foi ao seu
encontro.

— Olá!
— Tudo bem?
— Mais ou menos.
— Ia passando por acaso e te avistei...
— Eu estou sempre por aqui. Não quer
descer um pouco?
Ela concordou:

— Vou procurar um lugar para estacionar
o carro.
Lídia seguiu em seu automóvel a fim de
procurar uma vaga, enquanto Célio voltou
para a mesa onde estava o amigo.

— Parece que já tenho programa pra
hoje.
—..Quem é ela?

— A mulher que me deu carona ontem.
— Ela é muito boa.
60



— Pode me emprestar a chave do apartamento?
— Por quê? Não podemos ir os três juntos.
— Não, Alexandre. Não está vendo que
é uma mulher fina, de classe ? Se você também
for, ela vai ficar assustada. Daqui' a^algum
tempo, quando eu tiver mais intimidade,
garanto que vai chegar a pua vez.
— Está bem. Mas não se esqueça. Promessa
é dívida. Não vou deixar de ir pra
cama com ela.
Alexandre deu a chave do apartamento
ao amigo. Os dois se calaram, quando viram
que a mulher estava voltando. Célio
apresentou-a ao amigo, que foi logo se denpindo:


— Está na hora de ir embora. Tchau!
Lídia sentou-se e Célio pediu mais um
chopinho.

— Antes de tudo, pode me dizer seu no-'
me? Até agora não sei como se chama.'Como
acho que vamos ficar amigos, pen?o
que tenho o direito de saber.
—61


— Lídia.
Mal acabou de falar, arrependeu-se. Poa
que fora dar o nome verdadeiro? Devia teí
dito qualquer um outro. Realmente não eraj
uma pessoa experiente. Seria muito mais
prático e seguro ter dito que se chamava!
Marta, Isaura, Marlene ou Joana. Mas agora
era tarde.

— Bonito nome.
— Acha?
— Claro que acho. Por que você ontem
quase não falou durante a viagem?
— Por nada.
— Estava com medo de mim?
— Não... apenas não estava com vontade
de falar. Realmente eu tinha pressa de
chegar ao Rio e estava muito preocupada
com uma série de coisas.
' — O quê, por exemplo?

— São coisas muito pessoais, que não
vêm ao caso agora.
Continuaram conversando enquanto be62—



biam. Lídia observava o rapaz. Èra sem dúvida
um garotão saudável como outro qualquer
da Zona Sul. Não havia nada nele que
indicasse ser um marginal ou um rapaz
sem escrúpulos.

Durante todo o dia ficara num dilema:
deveria ou não procurá-lo? Pensara em ir
para a butique, mas depois decidira que era
melhor deixar para a segunda-feira, conforme
estava previsto.

Como o sol estava bonito, resolvera ir à
praia. O calor, o banho de mar, os homens
de sungas com a pele dourada, tudo isso a
excitara. A necessidade de tornar a ver Célio
aumentara e pouco antes das quatro horas
vestira-se e saíra.

— Quer dar um pulo até meu apartamento
?
A pergunta surgiu de súbito. Já haviam
conversado durante mais de meia hora sobre
os mais diversos assuntos.

De repente, Célio fez o convite à queima-
roupa.
Para ele era tudo ou nada. Que mal ha


—63


via em perguntar? Se ela quisesse ir, ótimo.
Se não, o máximo que podia fazer era
recusar.

Mas Lídia concordou. Afinal, era justamente
o que desejava. Passara o dia inteiro
querendo isso. Depois, já passavam quarenta
e cinco minutos das quatro horas.
Tinha que estar em casa pelo menos às
seis e meia. Se ficasse em dúvida durante
muito tempo, não seria mais possível ter
a aventura que tanto ansiava.

Célio pagou a conta:

— Podemos ir a pé mesmo. É logo ali.
O' apartamento é de pobre. Mas você não
vai se incomodar, não é?
— Claro que não.
Podia ser onde fosse, que Lídia iria. Estava
louca de vontade de se ver a sós com
Célio, ser abraçada por ele, sentir seu corpo.


" Entraram num enorme edifício de apartamentos
conjugados. Lídia sentiu um certo
receio de ser vista por algum conhecido.
Mas achou que seria o cúmulo da coinci-64


dência que alguém a visse entrando ali
acompanhada.

Célio abriu a porta. Entraram no apartamento.
Lídia não pôde deixar de reparar
a extrema desordem.

— Eu não,faço muita questão deste negócio
de apartamento bonito e bem arrumado.
Além disso, o dinheiro é curto...
— Não se preocupe.
O rapaz ajeitou a cama da melhor maneira
possível. Botou um disco qualquer
numa pequena eletrola portátil. Depois
aproxiimou-se de Lídia e a abraçou. Com
seu metro e noventa de altura, seu porte
atlético, fazia com que a moça se sentisse
muito frágil.

Os braços fortes de Célio a apertaram e
seus! lábios se uniram aos dela. Lídia teve
uma maravilhosa sensação de êxtase. .Ele
tirou a própria roupa rapidamente enquanto
a mulher olhava com curiosidade o seu
corpo.

Há três anos que não via um homem nu.

—65


a não ser Miguel. Célio era mala bonito,
além de ser muito anais viril.

Deitou-se na cama também nua e o rapaz
jogou-se por cima dela com sofreguidão.
Esqueceu Miguel, Nestor e toda a sua
vida anterior. Naquele momento só existia
aquele jovem que a possuía com uma paixão
avassaladora—

* * *

Eram quinze para as seis e os dois continuavam
deitados na cama. Lídia sabia
que estava na hora de se arrumar e ir embora.
Mas não estava com nenhuma vontade
de fazer isso.

— Sua pele é maravilhosa... Foi à
praia hoje?
— Fui — respondeu Lídia.
Ele acariciava as coxas da mulher;
— Você não me contou nada de sua vida.
— Nem você da sua.
— Não tenho muito o que contar.
— Nem eu.
66—


— Minha biografia ainda é muito resumida.
Dezoito anos, não estudo nem trabalho.
Vivo com meus pais e.. .
— Você não mora neste apartamento?
Ele riu com ar de garoto que pegaram
em flagrante:

— Não. Quer que lhe diga a verdade?
Este apartamento é daquele amigo que estava
comigo no bar.
— Quer dizer que me enganou?
— Tem alguma importância isso?
Na verdade, não tinha nenhuma importância.
O que interessava que aquele apartamento
fosse dele ou não?

Mas sentiu um certo receio:

— E se seu amigo aparecer de repente?
— Ele não vai fazer isso.
De qualquer modo, Lídia lembrou-se de
um outro perigo. O amigo de Célio provavelmente
sabia de tudo. Não era apenas,
uma pessoa que tinha conhecimento de sua
traição, mas duas.

—67


— Seu amigo é de confiança ?
— Claro. Ele costuma me emprestar o
apartamento quando quero trazer alguma
garota. Até hoje nunca houve nenhum grilo.
Célio estava novamente excitadíssimo.
Deitou-se por cima de Lídia, querendo possuíla
outra vez. Ela tentou impedir.

— Não quer?
— Não. Não posso demorar maisi. Tenho
que voltar.
— Só dez minutinhos...
Lídia concordou. Ela também queria
sentir de novo aquele corpo jovem dentro
do seu. Por que não aproveitar ao máximo
aquele encontro?

Saíram juntos do edifício e Célio acompanhou-
a até onde estava estacionado
automóvel.

— Quando a gente se encontra outra
vez?
68—


— Segunda-feira.
— Vai demorar tanto tempo assim?
— No fim de semana eu não poeso.
— Por quê? Você é casada?
Lídia assustou-se de novo. Por que Célio
perguntara isso? Será que sabia quem
ela era, o que fazia?

— Por que perguntou se sou casada?
— Por nada. Uma vez que não pode ¡re
encontrar comigo nem no sábado nem no
domingo, tirei esta conclusão.
— Não, Célio. Eu sou solteira.
— Está bem. Se não quer que eu saiba
de sua vida, não faz mal. Não tenho nada
com isso. Segunda-feira a gente se encontra,
não é ?
Ela entrou no carro e foi embora, Célio
ainda ficou no mesmo lugar, olhando o automóvel
dobrar na primeira esquina.

Realmente, Lídia fora uma das melhores
mulheres que já possuíra até aquela
data.

—69


Mais tarde contaria tudo nos (mínimos
detalhes para Alexandre, que ia ficar morrendo
de inveja.

Enquanto fazia o percurso até sua casa,
Lídia sentia-se extraordinariamente leve.
Estava saciada. Célio era exatamente aquilo
que desejava. Todos os seus sonhos eróticos
podiam ser realizados com aquele rapaz
mal saído da adolescência...

* * *

Depois deste primeiro encontro, outros
se sucederam. À medida que os dias passavam,
Lídia sentia cada vez; mais prazer
com Célio e vice-versa.

Alexandre vivia cobrando do amigo:

— Só quero ver quando vai chegar a
minha vez.
— Tenha paciência. Ela é uma mulher
fina. Não está acostumada com estas coisas.
Se eu der um passo em falso, posso perdê-
la.
70—


Assim, ele ia adiando. Na verdade, nao
estava muito a fim de deixar que Alexandre
também possuísse Lídia. E se ela depois
ficasse preferindo o amigo? Não podia correr
este risco.

—71


capítulo 7
A certeza


Não sei porque, mas tenho achado Lídia
um pouco estranha de algum tempo para
cá. Não posso definir o que é, mas sinto
que ela está diferente.

72—


Desde aquele dia em que Celeste me falou
que o namorado a julgava a mais pura

das mulheres, que passei a desconfiar de
Lídia.

Pode ter sido impressão, mas algumas
vezes quando a procurei na cama, achei que
estava um pouco fria. Fez amor comigo de
uma maneira mecânica, como se estivesse
cumprindo apenas uma obrigação.

Até que um dia, minhas suspeitas, que
eram absolutamente abstratas, tomaram
uma forma concreta.

Voltava para casa pela Avenida'Atlântica,
um pouco mais cedo que o costume. De
repente, vi Lídia dirigindo-se ao seu carro,
acompanhada por um jovem alto e louro.

Diminuí a marcha e parei um pouco adiante.
Fiquei observando os dois. Ele despediu-
se e Lídia entrou no automóvel. Não se
beijaram nem havia nenhuma atitude suspeit
por parte dos dois.

Deixei que Lídia fosse embora e depois
segui o rapaz que entrou em um bar, onde
sentou-se a uma mesa com um colega. 73


Pude observar perfeitamente o jovem.
Tratava-se de um tipo inconfundível.

Tomei o rumo de casa depois, e pensei
que não havia nenhuma explicação possí-l
vel para que Lídia estivesse com ele, a não;
ser o fato de ser siua amante.

Quase seis horas da tarde, em plena Avenida
Atlântica. Àquela hora ela deveria estar
na butique. Era mais do que evidente]
que eu estava sendo traído.

Não podia conceber uma coisa de'tas.
Então estava acontecendo comigo a me
ma coisa que costumava acontecer com
outros? Eu e Lídia formaanos um casal como
tantos que existem por aí, em que o marido
e a mulher têm suas aventuras extrasconjugais?


Tive vontade de voltar ao bar e tomar
satisfações com o rapaz. Mas logo vi que
aquela era uma idéia ridícula. Em primeiro
lugar, porque não ia resolver nada. O
mal já estava feito. Em segundo lugar, porque
logicamente levaria uma grande desvantagem.
O jovem era muito mais alto e

74—


forte e poderia facilmente me dar uma tremenda
surra.

Quem sabe não seria melhor encostar
Lídia na parede? Mas também compreendi
que não estava sendo objetivo. Ela certamente
negaria até o fim. Além disso, eu
não tinha uma prova concreta da traição.

E se ela tivesse ido encontrar o rapaz
para resolver algum negócio relacionado
com a butique? Era improvável, mas perfeitamente
pos.ível.

Então, comecei a elaborar um plano.

O melhor que tinha a fazer era começar
a fiscalizar Lídia, sem que ela desconfiasse
de nada.

Fingiria que estava tudo muito bem. Sairia
sempre um pouco mais cedo do escritório
e passaria por aquele lugar onde os vira.


Se tornasse a surpreendê-los, então as
suspeitas estariam confirmadas. Procuraria
chegar mais cedo e talvez descobrisse
de onde eles tinham vindo. P75


Cheguei em casa e encontrei Lídia trocando
de roupa.

— Já está aí há muito tempo? — perguntei
com naturalidade.
— Não, acabei de chegar.
Bem, pelo menos nisso ela não estava
mentindo. Procurei conversar normalmente
e não demonstrar absolutamente nada.
Quando saí para ir à Faculdade dar aula,
senti um estremecimento quando ela me
beijou.

Fazia isso todos os dias, mas agora o
gesto me pareceu inteiramente diferente. O
beijo tinha qualquer coisa de asqueroso.

Como podia ser tão fingida, quando poucas
horas antes devia estar na cama nua,
beijando um outro homem?

Mas compreendi que precisava me dominar
se queria levar avante o meu plano.
Correspondi ao beijo de Lídia e saí de

casa.

- * . * * *

Comecei a segui-la dia após dia. P76


Todas as minhas suspeitas se confirmaram
realmente.

Vi várias vezes quando saía de um edifício
junto com o mesmo rapaz e tomava o
automóvel.

Logo após o jovem ia para o bar,*onde
às vezes encontrava-se com o amigo, e fi cavam
conversando. Quando o colega não
estava esperando-o, sentava-se a uma mesa
sozinho e começava a beber qualquer coisa.

Não era preciso ser muito inteligente para
entender tudo. Eles tinham os encontroa
amorosos naquele edifício e o rapaz era
freqüentador assíduo do bar.

O meu plano tinha tudo para se realizar
conforme eu queria.

Deixei passar uns quinze dias, para ter
certeza de que minhas deduções eram verdadeiras.
Em seguida, começaria a agir.

O mais difícil de tudo foi ter que suportar
a presença de Lídia. Só por nialcKde,
costumava procurá-la na cama justamente
nos dias em que sabia que tinha se encontrado
com o outro e estava saciada.

—77


Mas, isrto de qualquer maneira, talvez
estivesse sendo mais difícil para mim do
que para ela.

Mas iria me vingar. E minha vingança
seria completamente diferente de tudo que
Lídia pudesse imaginar. A decepção que ela
me causara fora enorme. É muito duro acreditar
na sinceridade de uma pessoa durante
vários anos e depois descobrir que tudo
não passava de hipocrisia.

Se não confiava mais em Lídia, não podia
confiar em mais ninguém no mundo.


capítulo 8
a farra

Miguel entrou no bar acompanhado por
Celeste e uma sua amiga, Suzana.

Contara o seu drama à amante e esta,
muito satisfeita por saber que a mulher de
Miguel o traía, resolvera colaborar.

—79


Sentaram numa mesa e começaram a
beber. Mais adiante, Célio estava com o
colega. Miguel murmurou para as duas
moças que o acompanhavam:

— O rapaz é aquele.
— Qual? — perguntou Celeste.
. — Não posso apontar. Ele pode notar. É
aquele louro muito alto.

— Nossa! É o homem mais bonito que
já vi em toda a minha vida. Sua esposa
tem bom gosto.
Miguel não ficou nada satisfeito com o
comentário de Celeste, mas não quis discutir.
Esses detalhes não deviam perturbálo.


Havia dito a Lídia que tinha muito trabalho
naquela noite e só voltaria para casa
muito tarde. Avisara isso na hora do
jantar, a fim de que não desse tempo de
ela marcar qualquer coisa com o amante.

Conforme tinham combinado, enquanto
Celeste conversava com Miguel, Suzana começou
a olhar para Célio.

80—


Este logo notou e comentou com Alexandre
:

— E.tá vendo aquela garota ali? Esta
me olhando o tempo todo.
— Você se acha o homem mais gostoso
que existe, não é?
— O que posso fazer? Tudo quanto é
mulher dá em cima de mim!
Célio sorriu para Suzana. Algum tempo
depois, ela levantou-se e passou por sua mesa.


Ele falou:

— Por que não vem sentar aqui?
— Não acha melhor você ir pra mesa
onde eu estou?
— E aquele cara que está com sua amiga?
— Ele não vai se importar.
O rapaz foi para a mera onde estava Miguel.
Em pouco tempo, devido à, bebida que
tomavam, os quatro pareciam ser amigos
de longa data.


MaLs tarde, Miguel convidou:

— O que vocês acham de irmcs todos
para o meu apartamento?
Claro que o convite provocou o maior
entusiasmo. Miguel pagou a conta e todos
foram para a sua «garçonnière».

Quem não estava muito satisfeita com

o programa era Celeste. Ela preferia mil vezes
estar no lugar de Suzana.
No apartamento, a farra durou até altas
horas. Para alegria de Celeste, terminaram
trocando de pares...

* * *

Ao chegar em casa às três da madrugada,
Miguel encontrou Lídia dormindo.

Procurou fazer tudo no maior silêncio, a
fim de que ela não acorda: se e não descobrisse
que estava embriagado. Com efeito,
«ua preocupação teve bons resultados.

Miguel estava satisfeito consigo mesmo.
Seu plano tinha tomado o rumo certo. A

82—


noite fora perfeita e tudo parecia que ia
ocorrer conforme e perava.

Olhou para a esposa que dormia. Seu
ódio por tê-lo traído aumentou mais ainda.
Por que Lídia fora fazer aquilo com ele ? Por
que resolvera destruir uma união que poderia
ter sido eterna?

Talvez porque havia bebido muito, a satisfação
de ver seu plano encaminhado, cedeu
lugar a uma depressão que foi aumentando
pouco a pouco. Mas ele ia vingar-:©
de Lídia por sua traição. Ela havia de sofrer
por aquilo que fizera. ..

-83


capitulo 9
eu, ela e o amante


Depois da noite da farra, foi fácil para
mim fazer amizade com Célio. Nos encontramos
outras vezes e levamos Celeite e Suzana
para o «garçonnière». Fizemos camaradagem
em pouquíssimo tempo.
84-



— Você é casado, Miguel ?
— Sou. E tenho uma mulher muito bonita.
Somos muito felizes. Qualquer dia quero
que vá até minha casa.
Convidei Célio para ir jantar conosco
num sábado.
Avisei a Lídia:

— Chamei um amigo pra jantar com a
gente.
— Quando?
— Sábado.
— Não devia ter feito isso. Não sabe que
estamos sem empregada? Não vou conseguir
uma até lá.
— Não tem importância. Você manda
buscar a comida num restaurante.
— Não disse o nome de meu amigo, nem
Lídia perguntou.
Afinal, não tinha o menor interesse em
saber. Pensava tratar-se sem dúvida de algum
senhor idoso, alguém a quem éu_ tivesse
interesse em agradar por motivos
profissionais.

—85


No sábado amanheci muito agitado.
Aquele seria o Dia D. Ia colocar Célio e Lídia
frente a frente. Os dois ficariam completamente
aturdidos, sem saberem o que
fazer. Eu poderia me divertir à vontade com

o embaraço deles.
Eram mais ou menos oito horas da noite,
quando a campainha tocou .Fui atender.

Célio tinha te vestido com apuro. Certamente
havia colocado a única roupa apre*
sentável que possuía.

Enquanto introduzia o rapaz no «living»,
chamei minha mulher:

— Lídia, nosso convidado já chegou.
Célio reagiu ao ouvir o nome. Mas sem
dúvida pensou que fosse mera coincidência.
O melhor ainda estava para acontecer.

Nunca tive tanta satisfação na minha
vida, quando vi a expressão de Lídia ao entrar
e. deparar com Célio.

Mesmo por baixo da espessa maquilagem,
notava-se flagrantemente que ela ficara
lívida,

86



O rapaz também, coitado, ficou completamente
atordoado.

Mas os dois não podiam demonstrar nada.
Tinham que fingir a maior naturalidade,
custasse o que custasse.

Finalmente, estávamos os três reunidos
ali: eu, ela e o amante.

Apresentei um ao outro:

— Lídia, este é o amigo de quem falei.
A mão dela estava trêmula, mas não teve
outro jeito a não ser apertar a de Célio,
que não estava menos nervo: o. Por um instante,
cheguei a temer que ele passasse
mal.

— Muito prazer.
— O pra.. .prazer é to.. .todo meu.
Quase que ele não conseguia pronunciar
as palavras. Eu os observava completamente
embevecido com o meu maquiavelismo.

Havia arranjado um método inédito de
me vingar. Sentei numa poltrona e procurei
ser o mais agradável possível. Lídia

—87


não recobrara ainda o sangue frio. Nem Célio.


Finalmente fomos para a sala de jantar.
Lídia conseguira que a empregada de uma
amiga viesse ajudar.

O jantar transcorreu com diversos incidentes.
Lídia derrubou o copo de vinho na
toalha. Célio mastigteva a comida quase
sem poder engolir.

A empregada ia e vinha muito solícita.
Limpou a toalha que Lídia sujara e tornou
a encher seu copo.

— O que está acontecendo contigo, Lídia?
Está nervosa? — perguntei.
— Não é nada...
Como minha mulher colocara pouca comida
em seu prato, reclamei:

— Só quer isso? Está fazendo regime?
Ela' pareceu por um momento recobrar

o sangue frio:
— Acertou, Miguel. Não tinha lhe dito
nada. Queria fazer uma surpresa. Comecei
88—


a fazer regime esta semana. Pretendo per
der alguns quilos. Acho que estou engordando
um pouco.

— Você está perfeita, com as medidas
ideais. Você não acha, Célio?
O jovem engasgou. Tossiu e terminou
conseguindo falar a muito custo:

— É... acho que ela está bem assim.
— Viu? Célio concorda comigo. Essas
mulheres! São tão vaidosas! Vivem eternamente
preocupadas com a balança. Você
não sabe que os homens preferem as que
têm um pouco mais de carne?
O jantar continuou cada vez mais divertido
para mim e mais doloroso para os dois.

Quando acabamos, sugeri irmos á uma
boate. Lídia quis recusar, mas não dei tempo
para que arranjasse alguma desculpa.

Assim, partimos todos para uma casa noturna
da moda.

Nunca me diverti tanto quanto naquela
noite, observando o drama de Lídia e Célio.
P 89


Quem foi que disse que a gente sofre
quando se vinga de alguém? Em matéria
de crueldade mental, julgo que bati vários
recordes.

Sem dúvida, Lídia não vai esquecer nunca
aquela noite.

Agi o tempo todo como se não soubesse
de nada, é óbvio. Mas eles tinham certeza
de que eu sabia. Ou será que pensariam
que tudo era mera coincidência?

Lídia ia ficar louca de tanto pensar como
eu tinha conhecido Célio. Mas eu não os
deixei sozinhos nem um minuto e ela tó
poderia conversar com rapaz na segundafeira,
quando o encontrasse às escondidas.

O pior para ela é que não pôde ane dizer
nada. Qualquer palavra a mais poderia traíla.


Mas minha vingança não iria se restringir
a isso apenas. Ainda aconteceriam muitas
outras coisas...

90—


Capítulo 10
A troca

Aquela noite de sábado fora realmente
um pesadelo para Lídia. No momento,em
que entrara no «living» do apartamento e
vira Célio, ficara gelada. Como o marido
havia conhecido o seu amante? Um turbi


91


lhão de pensamentos desconexos e alucinantes
lhe invadiram o cérebro.

O que-estava acontecendo? Por que Miguel
fizera aquilo? Será que ele sabia de
tudo?

Era evidente que sim. Mas como descobrira?
Ela tomara o maior cuidado. Sempre
se encontrava com o amante em horas em
que Miguel estava trabalhando. Não costumava
passear com Célio. A única aparição
em público que faziam juntos era quando
o rapaz descia do edifício e a levava até

o carro.
Este deveria ter sido o seu grande erro.
não se lembrara de ter esse cuidado, pela
simples razão de que Miguel era uma pessoa
muito metódica e nunca saía do escritório
para ir para casa antes da hora.

Quando teria visto os dois pela primeira
vez? E como se explicava o fato de ser conhecido
de Célio? Então os dois eram amigos?
Como não pensara nesta possibilidade ?
Era o cumulo da coincidência.

Um outro pensamento lhe surgira. E se
92—


Célio tivesse contado tudo a Miguel e os
dois tinham resolvido se divertir à custa dela?
. ^

Mas não. Isso era impossível. Célio também
ficara em estado de choque quando a
vira. Lia-se em seu rosto que tivera uma
grande surpresa quando ela entrara no «living
». Sentira também a sua, anão gelada,
quando apertara a sua, no momento'em
que Miguel os «apresentara».

E se tudo fosse uma grande, fabulosa
série de coincidências? Se Miguel fosse amigo
de Célio e o convidara para jantar em
casa, mas não sabia de nada? Então, não
havia motivos para aqueles temores.

Não podia acreditar em tanta coincidência.
Seria otimismo demais de sua parte.
Por mais que pensasse não conseguia chegar
a uma conclusão definitiva. O pior era
que não pudera dominar os nervos. Primeiro
derramara o vinho sobre a toalha. Depois,
por mais que disfarças'e, não tinha
conseguido esconder convincentemente sua
aflição.

—93


A tortura durara horas que lhe pareceram
séculos. Aquele jantar parecia não ter
fim. Depois, a esticada na boate. Tivera
que eitar divertindo-se. Desejara ardentemente
poder falar a sós com Célio, mas ciar
ro que isso fora impossível.

Depois que Célio fora embora, voltara
para casa com o marido. Esperara descobrir
alguma coisa. Já estava menos nervosa,
talvez por que tivesse bebido, e procurara
demonstrar uma certa segurança quando
perguntara a Miguel:

— Você conhece Célio há muito tempo?
— Não. Por quê?
— Por nada. É que eu conheço todos os
seus amigos e você nunca tinha me falado
nele.
Miguel não dissera maisi nada. Parecia
não estar disposto a alimentar a conversa.
Lídia não sabia como prosseguir com o assunto.
Achara melhor também se calar.

Na cama, Miguel começara a acariciála.
Lídia tivera vontade de empurrá-lo, mas
não poderia fazer isso de modo algum. Sub


94—


metera-se aos seus carinhos e fizera sexo
com ele, mesmo contra a vontade. Eira a úlma
coisa que desejaria fazer naquela5 noite,
mas como recusar?

Depois não conseguira adormecer. O ronco
de Miguel demonstrava que ele dormia
profundamente, enquanto ela continuava
com os olhos abertos. Passara uma noite
terrível e no dia seguinte estava cansadíssima.


Miguel notara seu abatimento na manhã
seguinte e não deixara de comentar:

— Você está com umas olheiras imensas.
Não conseguiu dormir direito?
— Creio que a bebida me fez mal.
— Mas isso nunca aconteceu antes. Você
sempre foi resistente à bebida.
Passara também um domingo péssimo.
Miguel não tocara mais no nome de Célio.
Lídia ansiava para que o dia terminasse
depressa e chegasse logo a segunda-feira.
Precisava encontrar com Célio e chegar a
uma conclusão.

95


No dia seguinte, logo pela manhã, pouco
depois de Miguel ter ido para o escritório,
Lídia saiu de casa. Tinha a impre:são
de estar sendo seguida e olhava para todos
os lados. Antes, telefonara para a butique
avisando que chegaria anais tarde e se alguém
(no caso, o marido), telefonasse, dissessem
que ela tinha ido resolver negócios
relacionados com a loja.

Estacionou o automóvel na Avenida
Atlântica, próximo ao apartamento onde
mantinha os encontros, e desceu. Verificou
se não estava sendo observada por ninguém
e depois dirigiu-se para o apartamento.

Sabia que Célio não estaria lá, mas sem
dúvida o amigo poderia lhe dizer onde encontrá-
lo. Até aquela data o amante não
lhe dissera onde morava com a família e
ela taimbém não procurara saber, pelo simples
fato de achar desnecessário.

Afinal, eles sempre se encontravam no
apartamento de Alexande e ela nunca esperara
ter que procurá-lo de repente. Sabia
apenas que Célio tinha telefone.

96—


Tocou a campainha e esperou um pouco.
Alexandre abriu a porta.

— Bom dia.
— Olá, como vai?
— Eu preciso falar com Célio com urgência.
Você sabe onde posso vê-lo agora?
— A esta hora deve estar em casa dormindo.
— Você pode me fazer um favor ?
— É só pedir.
— Trata-se de um assunto muito grave.
Você pode me dar o endereço dele ou ir avisá-
lo pra vir até aqui ?
Alexandre sorriu com malícia:

— Pra você eu faço qualquer Tioisa. Eu
vou até a casa dele.
Ela notou o tom de voz e compreendeu
que Alexandre também a desejava.

Pela primeira vez observou como o rapaz
estava vestido; apenas com uma sunga
mínima, que o deixava quase nu.

—97


Ele convidou:

— Não quer entrar enquanto me visto?
Lídia entrou no apartamento e sentouse.
Alexandre, sem a menor cerimônia, tirou
a sunga, ficando inteiramente nu.

Lídia fez que não notou. Ele foi até o armário
procurar outra para vestir.

A mulher disfarçou seu embaraço. Viu
uma velha revista no chão e apanhou-a,
começando a folheá-la.

Sem querer, no entanto, levantou a vista.
Alexandre ainda não se vestira e estava
muito excitado, fingindo que procurava
alguma coisa mais no armário:

— Este apartamento é a maior bagunça.
Nunca encontro a roupa que quero vestir.
Virou-se para ela e riu descaradamente.
Lídia sentiu o desejo tomar conta de seu
corpo.

Uma vez que o marido descobrira tudo
98—


a respeito de Célio, não seria melhor trocar
de amante?

Alexandre, apesar de ser beim diferente
do outro, também era um rapaz muito atraente.
Moreno, forte, incrivelmente másculo.
Mas procurou dominar a tentação.

— Você sabe que simpatizo muito contigo?
— perguntou Alexandre.
— Por favor, não tome as coisas mais
difíceis. Estou numa situação muito complicada.
Vá chamar Célio.
Alexandre, afinal de contas, não era um
cafajesite.

Vestiu-se e saiu, dizendo antes:

— Espero que no futuro saiba agradecer
a minha gentileza.
Lídia ficou sozinha no apartamento. Enquanto
esperava que Alexandre voltasse
com Célio, foi até a janela. Puxou a velha
cortina e olhou a rua. As pessoas lá embaixo
andavam depressa. Mais adiante o mar.
Muita gente na praia apesar de ser dia de
semana.

—99


Invejou as pessoas despreocupadas, que
não tinham problemas. Mas logo se lembrou
que aquilo era uma utopia. Todos têm
problemas. De um tipo ou de outro. Viver
era realmente uma coisa difícil.

Saiu da janela e tornou a sentar-es no
sofá. Folheou novamente a revista sem o
menor interesse. Quarenta minutos depois
Célio chegou.

— Alexandre não voltou contigo?
— Não. Eu pedi que nos deixasse algumi
tempo sozinhos no apartamento.
Lídia abraçou-se com Célio e começou a
chorar. Sentiu-se ridícula. Ela, uma mulher*
de trinta anos, chorando no ombro do
jovem amante de dezoito. Célio afagou-lhe
os) cabelos.

— Pensei em te procurar, mas você Sabe
que era impossível. Como podia me comunicar
contigo sem que seu marido descobrisse?
Depois do que aconteceu sábado,
todo cuidado.é pouco.
.— Como foi que você o conheceu? Já
são amigos há muito tempo?

100—


— Não. Conheci no bar um dia destes.
Célio contou a maneira como fizera amizade
com Miguel.

— Quer dizer que ele usou,a tal garota
como isca?
— Só pode ter sido. Agora tenho certeza
de que foi tudo premeditado.
De repente, ela ficou enciumada:

— E vocês foram com as garotas pra
onde?
— Para um apartamento que Miguel
tem aqui em Copacabana.
— Ele tem apartamento em Copacabana?
Lídia sentiu-se duplamente traída. Enquanto
ela estava inocentemente dormindo,
o marido e o amante a traíam com duas
garota?!. Compreendeu que Miguel fizera tudo
calculadamente e lamentou o seu azar.

Achou que a melhor coisa a fazer era terminar
aquele caso com Célio, que. estava
lhe dando tantos aborrecimentos.

—101


— O melhor é a gente acabar tudo.
— Você acha?
— Acho.
— Está bem. Não vou insistir. Não quero
complicar mais sua vida. De qualquer jeito
foi muito bom enquanto durou.
Saíram juntos do apartamento. Na portaria
encontraram com Alexandre, Célio
devolveu-lhe a chave. Lídia seguiu até onde
estava seu automóvel, enquanto o rapaz seguiu
para sua casa.

Quando ia entrando no carro, ouviu alguém
gritando seu nome. Olhou e viu Alexandre
que vinha em sua direção. Ficou
em dúvida se devia ir embora sem dar atenção
ou esperar pelo rapaz.

Escolheu a segunda opção

— Já vai embora?
— Tenho o que fazer. Você não trabalha?
— Estou de férias. O que aconteceu entre
você e Célio?
102—


— Acabamos tudo.
— Então que dizer que o campo está livre?
Ela o encarou com um misto de raiva e
iesejo. Lembrou-se de tê-lo visto nu poucos
momentos antes. Alexandre perguntou:

— Não quer voltar lá para o apartamento?
Que mal heveria em aceitar o convite?
Talvez fosse a melhor coisa que pudesse fazer
nas circunstâncias em que se encontrava.
Não sabia qual seria a atitude de Miguel
dali em diante. Podia ser que seu casamento
já estivesse mesmo definitivamente
encerrado.

Se era assim, por que então recusar a
proposta? Se, ao contrário, Miguel não fosse
se separar dela, não tinha importância
tornar-se amante de Alexandre, uma vez
que o marido não o conhecia. Era muito
melhor negócio do que continuar com Célio.
Desta vez teria mais cuidado e não deixaria
que os vissem juntos.

—103


— Está bem. Mas é melhor você ir na
frente. Eu vou daqui a pouco. Não é conveniente
qúe nos vejam juntosi
Alexandre sorriu e voltou para o apartamento.
Pouco depois, Lídia desceu do carro
e foi encontra-se com ele.

Deitada na cama, Lídia sentia o corpo
de Alexandre por cima do seu. De uma certa
maneira tivera sorte Com aquela complicação
toda, fora obrigada a trocar de
amante e fora muito beneficiada com isso.
Alexandre era muito melhor do que Miguel
e Célio reunidos...

O rapaz beijava-lhe os fieios com ardor
incontrolável, enquanto com as mãos alisava-
lhe as partes íntimas. O desejo fazialhe
esquecer todos os problemas. Sentiu o
sexo de Alexandre penetrando em suas carnes.
Quase deixou escapar um grito de prazer...


104—



capítulo 11

o desenlace
Eu nunca vou perdoar Lídia por ter me
traído. Hoje à noite, vou abrir o jogo e obrigá-
la a confessar. Cheguei em casa à hora
de sempre, depois das aulas da Faculdade.

—105


Eram dez da noite. Lídia acabara de desligar
a televisão e começar a ler um romance.


— Você continua com o rosto muito abatido.
O que anda acontecendo, Lídia?
— Tenho estado meio adoentada.
— Preciso falar um assunto muito sério
contigo.
— Comigo?
Ela fingia maravilhosamente bem. Parecia
bastante segura de si. Não estava mais
nervosa como na noite de sábado. Fez a pergunta
com o ar mais inoecnte do mundo.
Aquilo me irritou demais. Não podia aceitar
tanta hipocrisia.

— Com você, sim. Eu quero que me conte
tudo.
— Mas contar o que, Miguel?
— Tudo.
— Não sei a que está se referindo.
— Ah, não sabe?!
106—


Lídia voltou a ler. Tirei da minha pasta
um revólver e apontei para ela. Como estava
lendo, não percebeu. Aproximei-me e arranquei
o livro de sua anãos.

Ao ver a arma, Lídia perdeu o seu ar impassível
e ficou apavorada.

— O que é isso, Miguel?
— Um revólver.
— Você está louco?
— Quem sabe?
— Não sabia que tinha armas em casa.
— A vida é uma sucessão de surpresas.
Você também tem me proporcionado muitas.
— O que está pretendendo fazer, Miguel?
— Não sei. Talvez te matar, se não confessar
tudo.
—107


— O quê quer que eu confesse?
— Que é amante de Célio, que me traiu
com aquele idiota.
Lídia começou a chorar:

— Pois bem, é verdade "im. Eu traí você
com Célio.
— Mas por que, Lídia? A gente não era
feliz? Você precisava fazer isso?
Ela chorava convulsivamente:

— Por favor, Miguel, me perdoe.
— Você já me traiu outras vezes? Ou
Célio foi o primeiro?
— Por favor, não me pergunte mais nada.
Não me martirize tanto.
— Vamos, Lídia, confesse o resto. Diga
se já teve outros amantes.
— Pra que quer saber? O que vai adiantar
?
108—


— Fale. Eu quero saber tudo.
Ela disse com voz entrecortada:
— Já tive outro antes. Apenas um.
— Quem foi?
— Nestor.
— Aquele seu antigo namorado?
— Ele mesmo.
— Não teve nenhum outro mais?
— Alexandre.
— Quém é Alexondre?
— Um amigo de Célio.
— Pelo visto você andou se divertindo
muito.
Joguei o revólver no sofá onde Lídia estava
sentada:

— A única coisa que podemos fazer agora
é cada um seguir sua vida separados.
—109


Ela olhou o revólver ao seu lado e eu revelei:


— Esta arma é de brinquedo. É uma
imitação perfeita de um revólver de verdade.
Eu nunca seria capaz de matar ninguém,
Lídia. Muito menos você.
os soluços dela aumentaram. Pegou a
arma e abraçou-se com ela. Confessara toda
a verdade, com medo de um revólver de
brinquedo. Toda aquela cena não tinha passado
de uma farsa. Exatamente como o nosso
casamento. Não passara de uma farsa
de cinco anos.

Não éramosi o casal perfeito que julgávamos
ser. Eu enganava Lídia, tinha aquela
«garçonnière» onde levava diversas garotas.
Enquanto isso, ela também tinha seus
amantes. Por que a vida tinha que ser assim?
Por que as pessoas não podem viver
sem cometer traições?

— Quer dizer que o revólver não é mes110—

mo de verdade? — perguntou Lídia ainda
sem querer acreditar.

— Não.
— E eu disse tudo? Poderia ter ficado
calada e nada ia me acontecer?
— Foi melhor assim, Lídia. Além disso,
eu sabia de tudo, pelo menos no que dit respeito
a Célio. Queria acenas ouvir de sua
própria boca. Qual a razão de continuarmos
a mentir um ao outro?
No dia seguinte, Lídia foi embora. Depoia,
cuidamos do desquite. Não sei onde
ela foi morar. Não quis me dar o enderço.
Penso que foi para algum outro bairro. Não
queríamos mais nos ver, nem por acaso.

Talvez a gente tenha se amado muito,
quem sabe? Apenas, como éramos fracos,
não soubemos) preservar nosso amor. Como
a maioria das pessoas, aliás.

Não nos vimos mais.

—111


capítulo 12
O Destino de Cada um


Com o casamento desfeito, Lídia procurou
reconstruir sua vida. Vendeu a butique
de Ipanema e montou outra na Tijuca,
onde passou a morar.

112—


Resolveu modificar totalmente seu estilo
de vida. Além disso, queria evitar qualquer
possível encontro com Miguel ou com
Célio. Também não voltou a ver Alexandre.
Desejava esquecer definitivamente todos
os fantasmas do seu passado.

Miguel vendeu o apartamento de Ipanema
e passou a viver na «garçonnière. Desquitado,
sozinho, não via razão para manter
um apartamento grande. Também não
quis mais se casar. Para ele, uma experiência
tinha sido o suficiente.

Célio continuou sua vida irresponsável
ainda por uns dois anos. Depois, começou a
trabalhar. Conheceu uma moça por quem
se apaixonou e terminou casando-Se com
ela.

Alexandre nunca conseguiu entender
por que Lídia não voltou mais ao apartamento
e começou a duvidar do seu poder
de sedução para com as mulheres.

—113


Aparentemente, ela tinha gostado muito
dele na cama, mas a verdade é que não
voltara. Quem pode entender as mulheres?
Ainda tentou ver se a encontrava, mas nunca
mais a viu. Sabia apenas que acabara
com Célio e também nunca mais se encontrara
com ele.

Nestor, depois de muitos anos de Europa,
retornou ao Rio para pa:sar um mês.
Tentou localizar Lídia, mas não conseguiu.
Também não fez muita força.

Afinal, já tinha outros interesses e Lídia
havia sido apenas uma mulher como
tantas outras em sua vida.

Cada um tomou o seu rumo e perdeu-se
no tempo e no espaço...

* * *

QUINZE ANOS DEPOIS

Um senhor de seus quarenta e cinco
anos, com os cabelos grisalhos, passou pe


114—


lo bar. O sinal fechou e ele parou o automóvel


Olhou para o bar e lembrou-se dos acontecimentos
de que tinha sido um dos protagonistas
quinze anos antesi.

Nunca mais vira Lídia. O que acontecera
com ela? Teria encontrado um novo
amor, verdadeiro? Ele não se apaixonara
por nenhuma outra...

Ouviu uma buzina. O sinal voltara a
abrir e ele continuava ali parado, atrapalhando
o trânsito. Seguiu com o carro e
procurou uma vaga mais adiante onde pudesse
estacionar.

Miguel sentiu uma vontade enorme de
voltar a sentar naquele bar e, como não tinha
mesmo mais nada a fazer naquele dia,
resolveu atender ao seu desejo. Sentou-se
numa mesa e pediu um chope. Olhou em
volta e não descobriu nenhum rosto conhecido,


—115



Outras gerações Ja&viam surgido. A sua
vez tinha passado. "Sentiu saudades de Lídia.
Ela tinha sido na verdade o seu grande
amor. E> quem sabe, ele não tinha representado
o mesma para ela? Se não tivessem
cometido tantos erros...

De repente, viu uma senhora que passava
a pé pela calçada. Bonita, com os cabelos
presos, muito bem vestida. Não era
possível! Seria uma miragem?

Gritou:

— Lídia!
A mulher virou-se. Reconheceu Miguel,
que se levantara-se e fazia sinal para ela.
Aproximou-se.

— Miguel!
Os olhos de Lídia estavam marejados.
A emoção era muito forte. Afinal, voltava a
encontrar o ex-marido, quinze anos depois.

— Sente um pouoo aqui comigo.
116—


— O que está fazendo neste bar?
— Ia passando e não resisti ao impulso
de entrar. Parecia que alguma coisa me
chamava. Meia hora depois te vi na calça-
Lídia sentou-se:

— Quanto tempo, hein?!
— Quinze anos.
— Eu nunca me imaginei velha. Pensava
que o tempo ia passar para todo mundo,
menos para mim.
— Mas você está quase a mesma coisa.
— Deixe de ser mentiroso!
— Não estou mentindo.
— Eu envelheci. Miguel. Não se pode negar
a evidência. E não é nada de mais que
isso tenha acontecido comigo. Acontece
com todo mundo.
O garçom trouxe mais um chope. Lídia

—117


olhou a bebida que não tomava há muito
tempo. Miguel observava o rosto da ex-esposa.
Ela tinha envelhecido, sem dúvida.
Afinal, estava com quarenta e cinco anos
e não procurava disfarçar.

Algumas rugas em volta dos olhos e na
testa. A boca possuía dois vincos contornando-
a. Mas os olhos continuavam límpidos
e belíssimos como outrora. Os cabelos
puxados para trás davam-lhe um ar digno.

Não engordara. O corpo continuava quase
tão esbelto e bonito quanto antes. Apenas
o vestido era de linhas sóbrias, como
convinha a uma senhora de sua idade.

— Você continua linda como sempre.
Ela riu, lisonjeada:

— Você também está um coroa muito
legal.
— A vida passa depressa demais, não
é?
118—

— Talvez seja bom assim.
— Não acho.
— Se tudo ficasse estagnado, nós não
agüentaríamos. É bom que as coisas mudem,
que a gente envelheça.
— Gostaria de ter a mesma atitude sua
diante da vida.
Calaram-se durante alguns minutos. Finalmente,
ele perguntou:

— Você casou outra vez?
— Não. E você?
— Também não. Não consegui encontrar
outra Lídia.
— Você não acha que, com a idade, a
gente vai compreendendo as coisas e se torna
mais paciente com os outros? O que se
perde em mocidade, ganha-se em sabedoria.
— Mas o que adianta isso, se não temos
-«119

muito tempo para usar ,esta sabedoria que
está falando? O ideal seria sermos sábios,
ou como diz o pessoal agora, estarmos por
dentro das coisas, quando jovens.

— Mas isso é impossível .Experiência só
se adquire com o tempo. E, às vezes ainda
restam muito anos para poder aproveitar o
que se aprendeu.
Novamente ficaram em silêncio. Ao mesmo
tempo pensaram na mesma coisa, mas
não tinham coragem de tocar no assunto.
Miguel finalmente disse:

— Neste bar aconteceu tanta cotea...
— Ele foi a minha perdição. Como pude
ter sido tão estúpida?
— Não se recrimine pelos erros que cometeu.
Todo mundo os comete. Eu tamém
nunca fui um santo. Ninguém pode atirar
a primeira pedra. Todos têm seus pecados,
maiores ou menores.
120—


Miguel estava profundamente envolvido
pela presença de Lídia. Sentia uma imensa
ternura por ela. Nunca deixara de amá-la.
Agora, lamentava ter passado todos aqueles
anos longe da ex-esposa.

Lídia também estava emocionada com o
encontro. Nunca conhecera outro homem
como Miguel. Por que a vida havia separado
os dois?

— Agora, pensando no que aconteceu
com a gente, acho tudo tão insignificante!
Nada daquilo tem mais a mesma importância.
— Existem coisas que perdem grande
parte de sua importância com o tempo.
Amores, ódios, traições. Tudo no fim parece
não significar nada, depois que os anos
passam...
Neste momento, um homem gordo, de
mais de trinta anos, entrou no bar e sentou-
se numa mesa, sozinho, sem prestar
atenção ao casal.

—121


O garçom trouxe o chope e ele começou
a beber, enquanto abria o jornal para ler.

A tarde estava no fim. Uma certa nostalgia
pairava no ar. Mais um dia que terminava.
Miguel olhou para o homem que
chegara há pouco. Era bastante gordo, muito
alto, de cabelos louros. O rosto, no entanto,
tinha qualquer coisa de criança.

Lídia também começou a observar o recém-
chegado. Ele não lhe era estranho. De
repente, o reconheceu. Aquele homem volumoso,
mas com cara de garoto, não era
outro senão Célio.

— Será que aquele é.. .
— Penso que é ele sim.
Miguel chamou:

— Célio.
O homem olhou para o casal, com ar
surpreso. Miguel continuou:
122


— Por que não vem sentar com a gente?
Não está nos reconhecendo?

Célio permaneceu olhando espantado,
por alguns instantes. Subitamente, sorriu:

— Lídia! Miguel!
Pegou seu copo e foi para a mesa do casal:


— O que estão fazendo aqui ?
«Novamente estamos reunidos. Eu, ela e

o amante» — pensou Miguel. «Mas em circustâncias
absolutamente diferentes. Quinze
anos depois...»
Os três conversaram longas horas. Célio
ficou sabendo que os dois haviam se separado
por sua causa e não tinham se visto
mais até aquele dia. Quanto a ele, contou
que se casara e tinha três filhos. Morava
ali perto. Dos: hábitos de antigamente, apenas
conservara o de vir nos fins de tarde
tomar chope naquele bar.

—123


— Não sei como vocês me reconheceram.
Eu engordei muito.Estou parecendo
um velho.
— Todos nós envelhecemos:— disse Miguel.
"
Pareciam grandes amigos. Não tinham
ressentimentos, Tudo ficara perdido e enterrado
no passado distante..

Célio olhou as horas:

— Já passam das oito. Minha mulher
deve estar aflita. No mínimo está pen ando
que sofri um acidente .Ela não é ciumenta.
Mas é muito trágica. Toda vez que
não chego na hora de costume, nunca pensa
que estou com outra, está sempre julgando
que sofri um acidente.
Todos riram. Célio levantou seu enorme
corpo para ir embora:

— Como ela pode ter ciúmes de mim?
Qual a mulher que vai me querer atualmente?.
124—


Riu como uma criança e despediu-se.

Lídia e Miguel- olharam-se nos olhos, assim
que ficaram sós.

— Como vê, tudo passou realmente...
— Também tenho que ir.
— Quer que te leve? Ou você está dê
carro?
— Há muitos anos que não dirijo. Com
a idade comecei a sentir pavor do trânsito
do Rio. Naquele tempo não era esta loucura
que é agora.
— Então vou te levar.
Miguel pagou a conta e saíram.

Ao chegarem na porta do edifício de
Lídia, na Tijuca, onde continuava morando,
ela convidou:

— Não quer subir para conhecer meu
apartamento?
Ele concordou imediatamente. Não dese


—125


java outra coisa. A casa de Lídia era muito
bem arrumada, tudo nos seus devidos
lugares, e de extremo bom-gosto. lugares, e de extremo bom-gosto.

Ela preparou o jantar. Comeram juntos
como nos velhos tempos.

— Desisti de ter empregada — disse Lídia.
— Não consigo arranjar nenhuma que
preste. Como vivo sozinha, não me custa
preparar a comida. Quando estou com muita
preguiça, faço as refeições na rua mesmo.
'
Depois do jantar, Miguel despediu-se e
foi embora, prometendo a Lídia que voltaria
a procurá-la naquela mesma semana.

Aquele dia tinha sido surpreeendente.
O seu passado parecia ter voltado. No caminho
de volta para casa, tomou uma resolução:


Por que não voltar a viver com Lídia?

Uma dúvida no entanto apareceu:

Será. que ela haveria de querer? P126


— Lídia, estive pensando muito numa
coisa.
— Eu também.
Conversavam na sala do apartamento
dela, alguns dias depois do reencontro.

— O que é que você pensou?
— Talvez o mesmo que você.
Eles queriam falar, mas não sabiam como.
Miguel finalmente disse, não sem uma
certa dificuldade:

— Você estava pensando que nós poderíamos
voltar a viver juntos?
— Exatamente.
Aplacados os desejos e loucuras da mocidade,
eles estavam dispostos a recomeçar
a vida juntos. Maduros e conscientes, sentiam,
necessidade da companhia um do outro,
depois dos longos anos de separação.

Lídia tinha uma expressão tranqüila:

— Sempre pensei que a gente ia termi-127

nar junto algum dia. Não sei por que, não
havia nenhuma lógica nisso mas eu sabia
que você ia voltar.

— Eu te amo muito.
Beijaram-se com ternura.Um amor calmo,
sem os excessos da mocidade. Os olhos
de Lídia brilhavam com intensidade. Nunca
tinha sido tão feliz em toda a sua vida...128

FIM
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3

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EU, ELA E O AMANTE - CARLOS AQUINO


Digitalização  : Leandro Medeiros 
Revisão : Equipe Cia do Livro.
Lançamento: Grupo Bons Amigos e Cia do Livro.

Sinopse:

Miguel é um homem de família rica. Formado em advocacia e com trinta anos de idade e cinco de casamento com Lídia.

             Miguel é destes homens que tem aventura e é muito discreto. De uns tempos para cá ele vem desconfiando da esposa. Desde o dia em que viu sua esposa que é dona de uma boutique conversando com um rapaz nas proximidades de um bar.


Sobre o autor:


Escritor, jornalista e ator, Carlos Aquino

nasceu em Sergipe, mas veio

para o Rio de Janeiro ainda adolescente.

Trabalhou em filmes e peças

de teatro, mas finalmente descobriu

que sua verdadeira vocação era

escrever, passando a dedicar-se à literatura.

Sua estréia foi com o romance

«É Verão no Rio em 1973. Com seu.estilo

vigoroso e moderno, colocando sempre

uma dose de verdade em seus personagens,

ele  foi no século passado na década de 70 e 80  um dos escritores

de mais prestigio junto ao público



Grupo Bons Amigos:

Este e-book representa uma contribuição do grupo Bons Amigos  para aqueles que necessitam de obras digitais como é o caso dos Deficientes Visuais 
e como forma de acesso e divulgação para todos. 
É vedado o uso deste arquivo para auferir direta ou indiretamente benefícios financeiros. 
 Lembre-se de valorizar e reconhecer o trabalho do autor adquirindo suas obras .









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'TUDO QUE É BOM E ENGRANDECE O HOMEM DEVE SER DIVULGADO!

PENSE NISSO! ASSIM CONSTRUIREMOS UM MUNDO MELHOR."

JOSÉ IDEAL

' A MAIOR CARIDADE QUE SE PODE FAZER É A DIVULGAÇÃO DA DOUTRINA ESPÍRITA" EMMANUEL

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