sábado, 11 de maio de 2019

{clube-do-e-livro} 2º LANÇA DO DIA : UM AMANTE IDEAL - CARLOS AQUINO - FORMATOS : PDF,EPUB, MOBI , TXT

L i v r o digitalizado p e l a Equipe Bons Amigos p a r a a t e n d e r a o s deficientes visuais.

UM AMANTE

IDEAL

Carlos Aquino

Copyright �� M C M L X X V I I by C E D I B R A ��� Editora Bra-sileira Ltda.

Direitos exclusivos para o Brasil

Rua Filomena Nunes, 162 ��� ZC-22

20.000 ��� Rio de Janeiro, Capital.

Distribu��do, por:

Fernando Chinaglia Distribuidora S / A

Rua Teodoro da Silva, 907 ��� Rio de Janeiro, R J .

Composto e impresso pela C i a . Editora Americana

Rua Visconde de Maranguape, 15 ��� Rio, R J .

O texto deste livro n��o pode ser, no todo ou em

parte, nem reproduzido, nem registrado, nem retrans-

mitido, por qualquer meio mec��nico, sem a expressa

autoriza����o do detentor do copyright.

capitulo 1

Noite de ver��o

O bar transbordava de gente. Era

urna noite de sexta-feira'de um t��rrido ve-

r��o carioca. Como sempre acontece neste

��poca, as pessoas, devido ao calor intenso,

fojem de seus apartamentos e v��o para a

rua. Principalmente em Copacabana, on-

de a Avenida Atl��ntica, est�� logo ali e a

brisa que vem do mar �� de gra��a. P��g 5

��s pessoas, em sua maioria, est��o quei-

madas da p r a i a . Ostentam alegremente

sua cor bronzeada, dando uma impress��o

de sa��de e vida boa. ��s vezes �� apenas im-

press��o. Mas n��o importa. Geralmente, fi-

ca-se mais feliz somente com o fato de se

parecer feliz.

Numa mesa de canto, Virg��nia sentara-

se sozinha. Era talvez a ��nica pessoa s��

naquele bar imenso cheio de mesinhas na

cal��ada. Mas ningu��m prestava aten����o

a ela. Todos estavam muito preocupados

com sua pr��pria conversa e seus pr��prios

programas.

O gar��om aproximou-se e ela pediu

mais um chope. O tercejro daquela noite,

em menos de vinte minutos que estava ali.

N��o por estar s��, mas Pelo seu aspecto, se

algu��m se lembrasse de olh��-la, certamen-

te ficaria intrigado.

A idade era absolutamente indefin��vel.

Teria Virg��nia mais ou menos de trinta

6���

anos? Imposs��vel saber. O rosto magro e

precocemente envelhecido, mostrava em

suas rugas as mutas dores que tinha vi-

vido. A cor da pele muito p��lida, n��o via

uma praia h�� muito tempo. Os cabelos

desgrenhados, meio encaracolados tinham

alguns fios brancos. Os olhos muito pro-

fundos, com olheiras. O corpo magro.

Mas, olhando-se com mais aten����o, nota-

va-se que era uma mulher bonita. O na-

riz, perfeito, a boca bem delineada. Um

certo orgulho ou talvez uma certa raiva in-

contida da humanidade estampava-se em

seu rosto.

Olhava em torno de si, mas estava com-

pletamente alheia a tudo ao que se passava

ao bar. Como ela mesma costumava dizer,

h�� muito tempo que n��o curtia mais a be-

leza das coisas...

Aqueles rostos e corpos belos dos jovens

que transitavam n��o lhe diziam nada. A

alegria falsa ou verdadeira daquelas pes-P7

soas n��o lhe provocavam qualquer emo����o.

O gar��om voltou com o copo de chope

pedido. Ela levou o Gopo aos l��bios e to-

mou um pouco do l��quido dourado. Nem

mesmo a bebida tinha o mesmo gosto de

outrora.

Milton e Ang��lica procuraram uma mesa

vazia .Estava dif��cil, quase imposs��vel conse-

guir. Ficaram alguns instantes parados,

olhando.

��� Vamos procurar outro bar ��� disse

a mo��a.

��� N��o adianta.

��� Este est�� cheio demais.

Est��o todos assim.

Continuaram observando para verem se

vagava alguma mesa. Estavam quase de-

P8

sistindo, quando um grupo se levantou. O

casal aproveitou a oportunidade.

��� A gente n��o deve desistir nunca ���

falou Milton.

* * *

Em sua mesa de canto, Virg��nia perma-

necia alheia ao movimento. Pediu mais um

chope. Depois viria mais um quando aca-

basse aquele. Era sempre assim. Enchar-

cava-se de bebida, depois, meio zonza, vol-

taria para casa.

Um sorriso triste esbo��ou-se em seu ros-

to. Lembrou-se de quando era crian��a

Adorava picol��. Tinha uma sorveteria per-

to de sua casa. Quando o pai lhe dava di-

nheiro ia para l�� e come��ava a chupar um

picol�� atr��s do outro, at�� n��o aguentar

mais.

Agora, acontecia mais ou menos mes-

ma coisa. N��o tinha mais o pai para lhe P9

dar o dinheiro e o picol�� fora substitu��do

pelo chope. Naquela ��poca n��o tinha pro-

blemas, era alegre e n��o conhecia nada da

vida, mas j�� demonstrava ser insaci��vel.

De repente, seus olhos, vagueando de

um lado para outro, passaram pelo casal

que acabava de chegar. Fixou-os em Mil-

ton. Mesmo ��quela dist��ncia reconheceu-o

imediatamente. Reconheceria Milton em

qualquer dist��ncia, em qualquer lugar,

mesmo que fosse no inferno.

Dois anos.

H�� dois anos que o procurava feito uma

louca, obsessivamente, desvairadamente. E

nunca conseguira encontr��-lo. Agora, de

s��bito, via-o por acaso ali, no mesmo bar

onde se encontrava.

Passou a m��o pelo olhos e sacudiu a

cabe��a, como se quisesse ter certeza de que

n��o estava dormindo. N��o, estava comple-

tamente acordada. N��o estava sonhando,

10���

nem tendo pesadelos. Aquele cara na ou-

tra extremidade do bar era realmente Mil-

ton. Em carne e osso. Osso e carne.

E estava acompanhado. Procurou ver

melhor a mulher que se sentava ao lado do

rapaz. Jovem, bonita. Jovem e bonita co-

mo ela, quando conhecera Milton. Ele con-

tinuava o mesmo. Sem tirar nem p��r. O

mesmo cara boa-pinta, charmoso, irresist��-

vel.

Virg��nia teve a impress��o de que ia pas-

sar mal. Sentia-se tonta, como se fosse ter

uma vertigem. Mas n��o bebera tanto as-

sim. Estava acostumada a ingerir dez ve-

zes mais a quantidade de chope que havia

tomado.

A tontura era certamente efeito do cho-

que de ter voltado a v��-lo. Com alguma di-

ficuldade, levantou-se e foi at�� o banhei-

ro. Tinha o est��mago revolto. Tentou do-

minar-se. Olhou-se no espelho, que parecia

���11

refletir uma imagem deformada de seu ros-

to. Mas sabia que aquela imagem que via

n��o estava sendo deformada pelo espelho.

Era o seu pr��prio rosto, transfigurado pelo

sofrimento intenso, pelo ��dio terr��vel.

Uma outra mulher entrou no banhei-

ro. Disfar��ou, abrindo a torneira e lavan-

do as m��os. Voltou em seguida para sua

mesa.



* * *

. Milton continuava conversando com

Ang��lica. Feliz, despreocupado, sem des-

confiar que estava sendo observado de lon-

ge. Sorria, falava coisas sem import��ncia,

segurava a m��o da mo��a.

��� N��o gosto de Copacabana ��� disse

Ang��lica.

��� Por qu��?

��� Tem gente demais aqui.

��� Voc�� n��o gosta de gente?

��� Em geral, n��o.

12���

��� Mas eu sou gente. N��o gosta de

mim?

Ela fez um gesto de carinho:

��� Voc�� sabe que gosto. �� diferente

gostar de uma pessoa em particular �� n��o

( gostar de gente em geral. Detesto multi-

d��o, muita gente junta. E . . .

��� E . . . o qu��?

��� E em geral as pessoas terminar nos

decepcionando.

��� Voc�� acha que vou decepcion��-la ai-.

gum dia?

��� N��o. Espero que n��o.

*

Virg��nia continuava a olhar de longe,

tentando adivinhar o que os dois conversa-

vam. Talvez ele estivesse dizendo �� mo��a

as mesmas palavras que um dia lhe dis-

sera.





13


Cada gesto de carinho n��o lhe passava

despercebido, evidentemente. Ci��me, raiva,

��dio, tudo se misturava em sua mente.

Quem seria aquela mo��a? Que nome ter.a?

A m��o de Milton tocou no ombro de An-

g��lica. Virg��nia sentiu-.se estremecer. Aque-

la m��o lhe tinha feito tanto carinho an-

tes...

Teve vontade de atirar o copo de chope

no ch��o, virar a mesa, quebrar tudo, fazer

um grande esc��ndalo. Gritar, enlouque-

_cer. N��o importava o mundo, n��o impor-

tavam os outros. Importava apenas a sua

dor, sua imensa dor.

Via diante de seus pr��pros olhos,, Mil-

ton, o seu adorado Mi ton, afagando outra.

Era quase imposs��vel acreditar.

Mas, sem saber por qual raz��o, conteve

o seu ��mpeto e deixou-se ficar quieta, pa-

rada, diante daquele quadro que a fazia

sofrer tanto.

14���

Ser�� que ele ainda se lembrava dela?

Mas claro que sim. Ningu��m esquece outro

assim com tanta facilidade. Ela n��o o es-

quecera. Muito pelo contr��rio.

Tinham ficado muito tempo juntos, e a

lembran��a de Milton permanecia viva em

sua carne, dasin��meras vezes que a pos-

suir�� . Todas as recorda����es a tinham acom-

panhado sem cessar, em todos os momen-

tos durante aqueles ��ltimos dois anos.

Ele tamb��m deveria recordar tudo. N��o

podia ser t��o frio assim. Ser�� que ele a re-

conheceria se a visse agora, O pensamen-

to deprimiu-a. Sabia que n��o era mais a

mesma. Pouco ou nada restava da antiga

Virg��nia, uma mulher bonita e cheia de vi-

da.

Pegou a bolsa que tinha colocado na ca-

deira ao lado. Apalpou-a e lastimou que na

bolsa n��o estivesse aquilo que mas neces-

sitava no momento... P15

Fez sinal para o gar��om, que se aproxi-

mou sol��cito.

��� Mais um chope ��� pediu.

Ele se afastou, e enquanto esperava, Vir-

g��nia voltou a se perder em seus pensamen-

tos.

A bondade de Milton, a do��ura de Mil-

ton: a crueldade de M i l t o n . . .

Sua voz quase lhe dizendo frases de

amor, enquanto lhe beijava na nuca. Como

se enganara! Se n��o a amava, por que lhe

seduzira

O gar��om voltou. Virg��na recome��ou a

beber. As imagens de seu passado come��a-

rama voltar a lhe povoar o c��rebro e fo-

ram tomando forma pouco a pouco.

Celeste e Eur��dice, t��o pequena, t��o lin-

das., t��o inocentes...

Irineu... P 16

Tr��s pessoas que a amavam e ��s quais

tinham machucado. Ela tamb��m fora ma-

chucada. Por Milton.

Era tudo muito doloroso. Seria melhor

n��o lembrar de nada. Mas n��o podia mais

refrear as recorda����es. Elas voltavam galo-

pantes, tomando conta de seu c��rebro.

Como num filme, seu passado voltou... P17

Cap��tulo 2

olhos verdes

Virg��nia casou com Irineu quando ti-

nha dezenove anos de idade. De fam��lia ri-

ca, tivera tudo que o dinheiro podia propor-

cionar. O casamento foi um acontecimen-

to e tudo prenunciava que seriam felizes

para sempre, como nos contos de fadas.

Da uni��o, nasceu primeiro Eur��dice e

um ano mais tarde, Celeste. Duas crian- P18

��as lindas, rosadas, saud��veis. A felicidade

completa.

l

Irineu tinha verdadeira adora����o peia

mulher. Tamb��m era rico e casara-se real-

mente por amor. Um amor calmo, tranq��i-

lo, realizado.

��� Ser�� que vamos continuar sempre

assim? ��� perguntou Virg��nia, enquanto"

Irineu lia o prnal.

��� Assim como?

��� Felizes.

��� Mas claro, meu bem. Eu a amo ��

voc�� me ama.

��� N��o s e i . . . tenho medo.

��� Medo de qu��?

��� De que nem sempre as coisas sejam

assim.

Irineu largou o jornal e veio para perto

da esposa. Abra��ou-a suavemente:

��� Por que esta apreens��o?

��� Ser�� que mere��o esta felicidade? P19

��� P o r que n��o? Todo mundo merece

ser.feliz.

��� Mas quase ningu��m ��.

��� Muitas vezes porque n��o quer.

��� Nem sempre.

Ele a beijou:

��� Em geral s��o as pr��prias pessoas

que complicam tudo.

Eur��dice e Celeste j�� dormiam. Pouco

depois, eles tamb��m foram para a cama.

* * *

.A tarde estava bonita. Virg��nia saiu de

casa "para fazer umas compras. Foi a uma

loja-de artigos infantis e comprou algu-

mas roupas para as filhas.

Andou mais um pouco pela Avenida Co-

pacabana. Entrou numa outra loja, de rou-

pas masculinas. Resolvera comprar uma

camisa para Irineu. Queria dar-lhe um

2 0

presente, fazer-lhe uma surpresa. N��o se

tratava do anivers��rio dele, nem nenhuma

data especial. Apenas, desejava dar-lhe um

presente. E para isso n��o precisava haver

um motivo.

Aproximou-se do vendedor e sem prestar

aten����o a ele, pediu para ver uma Cami-

sa que estava na vitrina. O rapaz foi bus-

car e trouxe algumas outras, para que es-

colhesse. S�� ent��o, observou-o melhor. Es-

tremeceu. Nunca vira em toda a sua vida

um homem t��o bonito. Moreno, cabelos

castanhos, os olhos muito verdes. Quase

um garoto. Devia ter uns vinte anos, se

tanto...

Teve medo que notasse sua perturba-

����o. Disfar��ou examinando as camisas.

Quando levantou novamente a vista, ele a

olhava fixamente. Perturbou-se mais ain-

da. O vendedor sorriu:

��� Vai ficar com qual? Por que n��o le-

va as duas? P 21

Mandou embrulhar as duas, pagou e

saiu quase correndo da loja, como se es-

tivesse fugindo de um perigo iminente. Na

rua, .respirou aliviada. Ficara quase sem

f��lego diante daquele rapaz. Irritou-se com

a pr��pria perturba����o e dirigiu-se para ca-

Mas o fato de se ter afastado da loja

em nada melhorou seu estado. Os dois

dois olhos verdes permaneciam perseguin-

do-a. N��o conseguia esquec��-los por mais

esfor��o que fizesse.

O que estava acontecendo com ela? En-

t��o n��o era uma pessoa feliz, n��o amava

Irineu, n��o tinha uma vida completamente

realizada?

Ansiou para que os minutos e as horas

passassem depressa. Sem d��vida que aque-

les bel��ssimos olhos iriam deixar de perse-

gui-la. Finalmente, o dia passou e Irineu

chegou em casa. Ao seu lado, sentiu-se maisP 22

tranq��ila, como se a presen��a do marido a

protegesse.

Mas, mesmo os bra��os de Irineu n��o a

fizeram esquecer o desconhecido. �� noite,

na cama, o marido possuiu-a como o mesmo

ardor de sempre, mas Virg��nia sentia que

alguma coisa mudara. N��o externamente.

Mas dentro dela...

��� Voc�� hoje est�� diferente

��� Diferente como? ��� perguntou Virg��-

nia assustada.

��� N��o sei explicar. Parece, distante.

Est�� cansada?

��� Um pouco.

Ele a beijou carinhosamente e depois vi-

rou-se para o outro lado, adormecendo qua-

se instantaneamente.

Enquanto Irineu dormia o sono dos jus-

tos, Virg��nia continuou acordada. Os dois P23

grandes olhos verdes que vira naquela tar-

de tomavam propor����es assustadoras.

Por que ficara t��o impressionada com

o rapaz? N��o podia admitir a si mesma que

pudesse ter atra����o sexual por qualquer

outro homem que n��o o marido. Na ver-

dade, at�� aquela data, n��o sentira nada

por ningu��m a n��o ser por Irineu.

De repente, entrara numa loja casual-

mente e ficara obcecada pelo rapaz que a

atendera. Maldisse mil vezes a hora em que

enteara ali. Por que n��o fora a outra lo-

ja?

* * *

Nos dias subsequentes, a situa����o n��o

melhorou muito. Virg��nia sentia um dese-

jo irresist��vel de voltar �� loja, ver nova-

mente o vendedor que tanto a impressiona-

ra. P 24

Sua for��a de vontade, no entanto, ven-

ceu. Pelo menos durante algum tempo.

Procurou evitar passar por perto do local e.

esquecer aquela s��bita e fulminante atra-

����o que a estava fazendo sofrer tanto.

Outra tarde, por��m, notou que algu��m

a olhava na rua. O rapaz passou por ela e

falou:

��� Oi!

Virg��nia viu que se tratava do vende-

dor de olhos verdes.

��� Oi! ��� respondeu naturalmente.

��� N��o est�� lembrando de mim?

Ela ficou calada. O rapaz sorriu e con-

tinuou:

��� Eu lhe vendi duas camisas a sema-

na passada.

Virg��nia tamb��m sorriu:

���Claro que me lembro.

���25

O rapaz perguntou para que lado ela ia

acompanhou-a. Na porta da loja onde

trabalhava, despediu-se:

- Quando quiser comprar outra cami-

sa, pode procurar-me aqui.

Virg��nia seguiu, enquanto o vendedor

ainda ficou observando-a durante algum

tempo na porta da casa comercial.

A obsess��o de Virg��nia pelo rapaz au-

mentava �� medida que os dias passavam.

Quanto mais resistia �� tenta����o, mais ela

se tornava irresist��vel. Esfor��ava-se para

que Irineu n��o notasse sua perturba����o e

ealmente o marido quase n��o percebia a

mudan��a que se operava no ��ntimo da mu-

lher.

Evitou completamente passar perto da

loja. N��o somente pela frente, mas tam-

b��m pelas imedia����es. Tinha medo de vol-

tar a encontrar com o vendedor por acaso,

como j�� acontecera. P 26

Por��m, um fato veio ajud��-la em sua

ta ��ntima. Uma noite, Irineu anunciou:.

��� Vou entrar de f��rias dentro de uma.

semana. O que acha da gente passar um

m��s em Paquet��?

Aquilo era como um presente dos c��us.

O rosto de Virg��nia se iluminou de uma ale-

gria aut��ntica. Na sua ang��stia esquecera

que estava perto das f��rias do marido,

quando costumavam escolher uma praia .

qualquer todos os anos.

Come��aram os preparativos para a via-

gem. Alugaram uma casa num local para-

dis��aco e Virg��nia recobrou, pelo menos tem-

porariamente, uma certa tranq��ilidade.

As f��rias transcorreram da melhor ma-

neira poss��vel. C��u, sol e mar. Nada mais.

Com Celeste e Eur��dice, ficava horas e ho-

ras brincando na areia. Virg��nia n��o podia

desejar maior paz. O vendedor de olhos P27

verdes come��ou a lhe parecer um pesadelo

distante do qual estava livre.

��s vezes, durante a noite, voltava a lem-

brar-se dele e um leve desejo percorria-lhe

o corpo. Mas era um desejo perfeitamente

control��vel. Sentia que ficaria curada, que

tudo n��o passara de uma atra����o momen-

t��nea .

Come��ou tamb��m a n��o se recriminar

tanto, a achar que aquilo n��o era uma

aberra����o, que todo mundo pode casual-

mente sentir desejo pela pessoa n��o ama-

da e conseguir superar.

Estava mais segura de si e com a quase

certeza de que, quando voltasse, n��o lem-

braria mais do rapaz desconhecido que tan-

to a impressionara.

O m��s passou r��pido. Como sempre

acontece, os dias felizes parecem andar

mais depressa do que os outros. Assustou-se

2 8 -

quando viu que estava chegando a hora de

voltar para o Rio.

��� Se pudesse, ficava o resto da vida

aqui.

��� Voc�� sabe que �� imposs��vel ��� res-

pondeu Irineu sorrindo. ��� Mas n��o se

preocupe. No ano que vem a gente volta.

Ser�� que voltariam? E se ela n��o esti-

vesse totalmente curada Se tornasse a se

encontrar com o rapaz de olhos verdes?

Nos ��ltimas dias em Paquet�� sentiu-se no-

vamente- apreensiva.

Na v��spera de viajar para o Rio, ficou

na praia quase o dia inteiro. No fim da

tarde, enquanto olhava as duas filhinhas

brincando na areia, deixou escapar uma

l��grima. Irineu percebeu:

��� O que est�� havendo?

��� Nada.

��� Voc�� est�� chorando? P 29

Abra��ou-se ao marido e n��o conteve os

solu��os. Ele n��o podia compreender o que

estava se passando:

��� Por que est�� assim, Virg��nia?

��� Porque estes foram os dias mais fe-

lizes de minha vida. Tenho a impress��o de

que n��o v��o se repetir.

Ele acariciou seus cabelos:

��� Deixe de ser beba. N��s vamos sem-

pre estar juntos e felizes, P 30

Capitulo 3

A paix��o

A apreens��o de Virg��nia na volta das

f��rias tinha suas raz��es. O caso iria fazer

com que tornasse a encontrar com o rapaz

que lhe causava tanta confus��o de senti-

mentos .

Estava voltando da casa de uma ami-

ga que morava no Leblon. Sem carro, uma

vez que o seu fora para a oficina, tinha que P 31

tomar um t��xi ou um ��nibus. Como n��o

tinha nenhuma pressa e todas as condu����es

poderiam deix��-la em Copacabana, prefe-

riu a segunda op����o. De repente, viu o ven-

dedor diante de si no ponto do ��nibus.

O que estaria fazendo ali ��quela hora,

quando deveria estar na loja trabalhando?

Era a ��ltima pessoa que pensava encon-

trar naquele lugar. O rapaz dirigiu-se a

ela:

��� Como vai?

Virg��nia deu um leve sorriso como res-

posta, enquanto por dentro sua agita����o

crescia assustadoramente.

Ele continuou:

��� Por que n��o apareceu na loja ou-

tra vez? Agora n��o fa��o mais quest��o que

v��, pois deixei o emprego.

Ent��o estava explicado o fato de se en-

contrar ��quela hora da tarde naquele lo- P32

cal. O que pareceu inexplic��vel para Virg��-

nia foi o fato de come��ar a conversar com

o rapaz como se realmente fossem amigos.

Tomaram o mesmo ��nibus e ele fez ques-

t��o de pagar sua passagem, sentando-se a

seguir a seu lado. Encostou a perna na da

mulher com displic��ncia e Virg��nia afas-

tou-se automaticamente:

��� Por que fez isso?

��� Isso o qu��?

O rapaz era ousado:

��� Afastou sua perna da minha.

Virg��nia resolveu tomar uma atitude:.

��� Se est�� a fim de aventuras, acho me-

lhor procurar outra. N��o sou do tipo que

voc�� pensa.

Ele abriu um largo sorriso:

��� O que foi que houve? Por que ficou

t��o ofendida?

���33

A mulher n��o resistiu ao charme do

desconhecido:

__Desculpe...

��� Por que est��o t��o nervosa? O que ��

que n��o est�� andando bem com voc��?

Como Virg��nia n��o respondesse, ele con-

tinuou falando sobre si mesmo com anima-

����o. Disse que se chamava Milton e que

morava tamb��m em Copacabana. Na ho-

ra em que Virg��nia ia saltar, fez men����o

de fazer o mesmo.

��� Por favor...

��� N��o.

��� N��o quer que a acompanhe?

Quer encontrar comigo amanh��?

��� N��o posso.

��� Estou esperando voc�� na esquina de

Djalma Ulrich com Avenida Atl��ntica ��s

tr��s da tarde.

Virg��nia saltou do ��nibus. De dentro,

Milton acenava-lhe com a m��o. Timida-

34���

mente, respondeu ao gesto e seguiu seu

caminho. Estava mais perturbada do que

nunca. Tinha certeza de que naqueia noi-

te n��o dormiria.

Milton parecia-lhe o pr��prio dem��nio

em forma de gente. Por que dissera que

iria esper��-la no dia seguinte? Alguma coi-

sa lhe dizia que n��o teria mais sossego na

vida.

Sentada diante do rel��gio, Virg��nia ou-

via o tique-taque mon��tono. Duas e meia

da tarde. Nunca estivera t��o ansiosa em

toda a sua exist��ncia. N��o queria ir ao

encontro, mas sentia-se como se estivesse

sendo puxada por um ��m��.

Os minutos passavam lentamente e ela

permanecia im��vel Duas e quarenta. Fal-

tavam apenas vinte minutos. Se quisesse

encontr��-lo j�� estava quase na hora de sair P 35

de casa. Mas continuou parada, com os

olhos fixos nos ponteiros, quase sem pesta-

nejar.

Duas horas e cinq��enta minutos. Le-

vantou-se, acendeu um cigarro e come-

��ou a andar de um lado para o outro do

quarto. Passaram-se mais dez minutos.

Tr��s horas em ponto...

Milton deveria ter chegado no local do

encontro. O cora����o de Virg��nia bateu des-

compassado De repente, cal��ou os sapatos

rapidamente, olhou-se no espelho, retocou

a maquilagem e avisou �� empregada que ia

sair.

J�� passavam quinze minutos das tr��s

quando chegou �� rua. Morava perto do lu-

gar onde Milton marcara. Em cinco minu-

tos estaria l��. Apressou mais ainda o pas-

so. Agora tinha medo de chegar atrasada,

de que o rapaz n��o a tivesse esperado.

Compreendeu que desde o in��cio estava

louca de vontade de ir ao encontro. Atra-

36

sara-se de prop��sito, para dar uma oportu-

nidade a si mesma de chegar tarde e n��o

v��-lo mais. Assim evitaria muito proble-

mas futuros...

Mas agora temia que ele tivesse ido em-

bora. Alcan��ou a rua Djalma Ulrich e s e -

guiu em dire����o �� Avenida Atl��ntica. Eram

tr��s e vinte. Provavelmente, Milton n��o es-

tava mais l �� . . .

No entanto, ele ainda a esperava. Avis-

tou sua figura bonita em p�� na esquina,

fumando. Aproximou-se. Milton falou

bem-humorado:

��� Estava pensando que n��o vinha. Se

demorasse mais, eu me atiraria no mar.

��� Eu julguei que n��o estivesse mais

aqui.

Ele riu e seus olhos pareciam lan��ar

chispas de fogo que queimavam Virg��nia.

O rapaz continuou: P 37

��� N��o dev��amos ter marcado na rua.

Podia ter dado meu endere��o a voc�� iria

diretamente ao meu apartamento.

��� Voc�� �� muito apressado.

- N��o quer ir at�� l��?

N��o.

��� E por que veio me encontrar?

��� Eu sou casada e tenho duas filhas,

Milton...

Ele passou o bra��o pelos seus ombros:

��� Vamos...

A mulher seguiu docilmente. Em pou-

cos minutos estava a s��s com Milton em

���seu quarto.

��� N��o devia ter vindo.

��� Deixe de bobagem.

Ele a beijou na boca e n��o deixou que

falasse mais. Colocou a m��o por dentro

de sua blusa e acariciou-lhe os seios. Vir-

g��nia arfava. De medo, de prazer, de re-

morso, n��o sabia ao certo. P38

Parecia hipnotizada por aqueles. olhos.

verdes que a olhavam com um desejo i n - . .

contido. Alguns instantes depois estava ao

seu lado na cama, os dois completamente

despidos. Ele botou a m��o entre suas co-

xas. Depois, deitou-se por cima dela....

��� N��o ��� murmurou Virg��nia numa ��l-

tima tentativa de resist��ncia.

��� Deixe. O que �� que tem? N��o vai

ficar marca nenhuma...

Em seu del��rio, Virg��nia n��o notou o ci-

nismo da frase. Estava desesperada de de-

sejo. Deixou que Milton penetrasse em sua

carne com um gemido.

O gozo, o prazer. S�� isso importava na-

quele momento. Agarrou Milton com os .

bra��os, apertando-o mais contra s i . . .

��� Eu vou me apaixonar por voc��. Mil-

ton,

���39

��� N��o fa��a isso.

��� Agora n��o tem mais jeito.

��� Pense em seu marido, suas filhas..

Ela riu com uma ironia amarga:

��� Devia ter pensado neles antes.

��� Podemos encontrar-nos de vez em

quando, sem que seja necess��rio que voc��

se apaixone.

��� Acha que as coisas podem ser as-

sim t��o simples?

��� Acho.

V i r g �� n i a compreendeu toda a verdade.

Tudo n��o passava de uma aventura. Mas

n��o era uma aventura o que ela queria.

N��o era mulher de ter encontros inconse-

q��entes. Ou amava ou n��o amava. N��o

poderia mais encarar Irineu e fingir que

tudo estava bem, depois do que fizera. Sua

consci��ncia n��o lhe permitia isso.

40���

Os dois j�� tinham se vestido. Milton

lembrou-lhe a hora:

��� Vai terminar chegando em casa de-

pois de seu marido.

��� N��o tem import��ncia. Irineu confia

cegamente em mim. Posso chegar a hora

que quiser.

��� Mais um motivo para voc�� n��o criar

problemas.

��� Bem, de qualquer maneira, �� bom

mesmo ir embora.

Ele a beijou:

��� Voc�� volta depois de amanh��, est��

certo?

��� Combinado.

���A que horas?

��� Como achar melhor.

Beijaram-se de novo e Virg��nia saiu do

apartamento. Na rua, enquanto andava,

41

pensou na gravidade do passo que dera.

Sentia-se absolutamente incapaz de trair

Irineu e continuar ao seu lado. O relacio-

namento deles se baseara sempre na cin-

ceridade.

N��o podia conceber como certas amigas

suas tinham casos com outros homens e

faziam-se de honestas. Ela nunca poderia

agir assim.

Ao mesmo tempo, n��o estava arrependi-

da do que fizera. De uma certa forma, sen-

tia-se aliviada. N��o havia mais condi����es

de suportar o deseo que sentia por aquele

rapaz sem saci��-lo. O passo j�� tinha sido

dado e era irrevers��vel.

Entrou em casa pouco antes do marido

chegar. Trocou de roupa e ficou esperan-

do-o. Estava decidida a lhe contar tudo e

deix��-lo. Era a atitude mais honesta que

podia tomar. N��o queria continuar viven- P42

do ao lado de um homem a quem engana-

va.

Sabia que Irineu lhe era fiel. Isso a

martirizava mais ainda. Seu marido n��o

merecia ser tra��do e a base do casamento

dos dois sempre fora a verdade. P 43



Cap��tulo 4

A decis��o

Durante o jantar, Virg��nia pouco falou

com o marido. Ele estava bem-humorado e

n��o prestou aten����o ao ar preocupado da

mulher. Ela estava disposta a lhe dizer tu-

do um pouco mais tarde. Precisava prepa-

rar o esp��rito de Irineu e n��o sabia como

come��ar.P 44

A noite seguiu a rotina de sempre. De-

pois de comerem, Irineu ligou a televis��o.

Sentaram-se diante do aparelho, enquanto

ele folheava uma revista qualquer, sem '

prestar muita aten����o ao programa.

��� Preciso falar-lhe uma coisa, Iri-

neu. . .

��� O que ��?

Virg��nia n��o teve coragem de continuar.

Era mais dif��cil do que esperava. Como po-

dia de repente chegar para o marido e di-

zer: Eu n��o o amo mais. Estou gostando

de outro. Na verdade j�� estive at�� na cama

com ele. E n��o estou arrependida."

N��o, nunca poderia ferir o marido da-

quele jeito. Ele n��o merecia isso, da.mes-

ma maneira como n��o merecia ser enga-

nado.

��� O que �� que tem para me dizer? ���

tornou a perguntar Irineu.

��� N a d a . . . era uma coisa sem impor-

t��ncia. P 45

Ele n��o insistiu. Mais tarde, quando se

deitaram, Irineu abra��ou-a e come��ou a

acarici��-la. Virg��nia procurou afast��-lo.

��� N��o est�� se sentindo bem?

��� N��o ��� respondeu Virg��nia.

��� O que est�� havendo?

��� N��o �� nada n��o. Estou apenas um

pouco indisposta.

Irineu beijou-a no rosto e desistiu de

fazer amor:

��� Podemos deixar para amanh��. Afi-

nal de contas, temos a vida inteira pela

frente.

Virg��nia teve vontade de gritar a ver-

dade. N��o teriam a vida toda pela frente.

Ela iria deix��-lo dentro depouco tempo, as-

sim que encontrasse a melhor maneira de

lhe explicar tudo.



* * *

Dois dias depois voltou ao apartamen-

to de Milton. Ele se mostrou mais ardente

4 6

do que da vez anterior. Encontraram-se

ainda outras vezes sem que Virg��nia tives-

se coragem de se separar do marido, apesar

de continuar com a mesma resolu����o.

Embora, a princ��pio, Milton tivesse pen-

sado em Virg��nia como apenas mais uma

aventura, tamb��m estava louco por ela. A

beleza da mulher era bem acima do nor-

mal e ele se extasiava diante de seu cor-

po perfeito, suas coxas roli��as, sua pele

macia. Uma mulher maravilhosa, que, ain-

da por cima estava apaixonada por e l e . .

Milton resolveu aproveitar a situa����o.

Desde que deixara a loja, n��o consegui-

ra outro emprego que lhe conviesse. Os

dias estavam passando e o dinheiro da in-

deniza����o n��o era eterno.

Pensou que poderia muito bem reunir

o ��til ao agrad��vel. Virg��nia era rica. Ela

n��o queria manter uma liga����o e conti-

nuar morando com o m a r i d o . . .

���47

__Sabe, Virg��nia Estive pensando que

seria muito bom se n��s pud��ssemos viver

juntos.

A mulher mal podia crer no que ouvia.

Sentiu-se mais feliz do que nunca:

- Voc�� gostaria de morar comigo?

- Claro. Por que ficou t��o espanta-

da?

��� Porque pensei que n��o passasse de

uma coisa passageira em sua vida. No pri-

meiro dia em que vim ao seu apartamen-

to, voc�� demonstrou claramente isso.

- �� que eu n��o queria assumir ne-

nhum compromisso. Voc�� sabe, eu n��o te-

nho dinheiro., e voc�� tem uma fam��lia. Por

isso lutei comigo mesmo para n��o levar

muito a s��rio nosso caso.

Virg��nia beijou-o na boca. Depois se-

gurou o rosto do rapaz entre as m��os e

falou, enquanto o olhava nos olhos: P 48

��� Eu nunca poderia continuar me en-

contrando com voc�� e vivendo com Iri-

neu.

��� Eu s e i . . .

��� Sempre fui muito honesta em todos

os meus atos. Nunca fui infiel antes, vo-

c�� j�� deve ter compreendido isso...

Milton n��o disse nada. Ficou, silencio-

samente, acariciando-lhe a pele macia. Vir-

g��nia voltou a falar:

��� O ��nico problema �� que n��o sei co-

mo dizer a Irineu...

��� Tem tamb��m o fato de que estou

desempregado e n��o posso sustent��-la.

��� Dinheiro n��o �� problema. Sempre

fui rica, mesmo antes de casar,

O rapaz fez um esfor��o para n��o de--

monstrar a verdadeira causa de sua satis-

fa����o. Virg��nia n��o devia desconfiar de

���4 9

que estava fazendo aquilo por interesse. ��

verdade que tamb��m gostava dela...

��� E suas filhas?

��� Vou sentir falta delas. Sei que Iri-

neu n��o vai permitir que fiquem comigo.

Mas sempre se tem que pagar um pre��o

para tudo na vida.

Milton deitou-a na cama e come��ou a

beij��-la, procurando despertar-lhe o dese-

jo antes que desistisse da id��ia de abando-

nar o marido por causa das filhas. Preci-

sava n��o lhe deixar tempo para pensar. E

para isso nada melhor do que o sexo.

A mulher correspondeu com ardor ��s

car��cias do amante. Nunca mais poderia

viver sem ele, tinha certeza.

* * *

Virg��nia decidiu n��o adiar mais e en-

frentar o marido naquela mesma noite.

Logo ap��s o jantar, disse-lhe �� queima-rou-

pa: P��G 50

��� Irineu, n��o vou mais continuar vi-

vendo com voc��.

Ele levou um choque. Depois, riu incr��-

dulo:

��� Qual o motivo da brincadeira?

��� N��o �� brincadeira. �� verdade.

��� Voc�� n��o vai mais viver comigo?

Francamente, n��o estou entendendo nada.

��� Isso mesmo. Vou deix��-lo.

��� Mas por que, Virg��nia? O que foi que

eu fiz?

��� Voc�� n��o fez nada.

��� Ent��o?

��� N��o me obrigue a dar maiores expli-

ca����es, Irineu.

��� Como n��o? Acha que vou deixar que

v�� embora assim, de uma hora para outra,

sem saber o motivo

��� Por favor P��G 51

��� Mas n��s somos felizes, Virg��nia? Vo-

c�� n��o tem tudo que quer?

Ela o olhou de frente .Tinha diante de

si o rosto honesto do marido que a olhava

muito perturbado.

��� N��o me obrigue a dizer o motivo.

��� Eu quero saber o que houve. Tenho

o direito de saber.

��� Est�� bem, Vou dizer-lhe. Eu

n��o queria isso... eu me apaixonei por

outro homem.

Foi como se tivessem dado uma violen-

ta pancada na cabe��a de Irineu. De repen-

te, o mundo desabara a seus p��s. Nunca

pensara que Virg��nia pudesse gostar de ou-

tro:

��� Mas como p��de acontecer?

Virg��nia colocou o rosto entre as m��os.

Seu sofrimento era sincero. N��o podia su-

52���

portar a dor que estava causando no ma-

rido. Mas n��o tinha outro jeito.

��� Eu sei que estou errada, que n��o po-

dia fazer isso com voc��. Pe��o que me per-

doe, se puder. Eu podia tra��-lo e continuar

ao seu lado, sem que voc�� soubesse de na-

da. Mas nunca faria isso. Voc�� sabe qoe

n��o seria capaz.

Ele se aproximou e segurou-lhe os bra-

��os, com for��a:

��� Voc�� enlouqueceu, Virg��nia? E nos-

sas filhas?

��� Solte-me, Irineu, voc�� est�� me ma-

chucando.

Irineu largou-a e dirigiu-se para a ja-

nela. Ficou algum tempo em sil��ncio, de

costas para a mulher. O pior de tudo ��

que continuava amando-a cada vez mais.

A honestidade dela em querer deix��-lo pa-

ra n��o o enganar, fazia com que a amasse

mais ainda. Virou-se e perguntou:

���5 3

��� Em que foi que eu errei, Virg��nia?

��� N��o foi voc��. Fui eu quem errou,

Irineu.

Ele deixou que as l��grimas escoressem

em seu rasto, livremente. Agora, recordan-

do os ��ltimos dias, lembrava-se de que a

esposa como que vivia fugindo dele na ca-

ma . Estava sempre indisposta, d o e n t e . . .

Como n��o desconfiara que havia outro ho-

mem entre eles dois?

Virg��nia n��o ag��entou mais ficar na

sala diante do marido. Correu para o quar-

to e foi arrumar suas coisas. Iria embora

naquela mesma noite. N��o poderia ficar

nem mais um minuto ali.

Depois foi at�� o quarto das filhas e bei-

jou-as. Sentiu um aperto no cora����o.

Aquela fase de sua vida tinha acabado de-

finitivamente .

Ao passar pela sala, antes de sair do

apartamento, ainda disse:

��� Desculpe-me, Irineu.





54


Ficou parada um instante, olhando-o

sentado no sof�� de cabe��a baixa. Ele n��o

levantou a vista, nem lhe respondeu...

Quando andava pela cal��ada, fez esfor-

��o para n��o chorar. Sabia que o que esta-

va fazendo era uma loucura.

Mas n��o podia ser de outra forma. Foi

direto para o apartamento de Milton.

Quando ele abriu a porta, atirou-se em

seus bra��os, chorando:

��� Foi uma cena horr��vel! Voc�� n��o po-

de calcular.

O rapaz afagou-lhe os cabelos com ter-

nura. Depois, beijou-lhe o rosto molhado

de l��grimas:

��� Pare de chorar. A vida �� assim mes-

mo. N��o h�� raz��o para esse drama todo.

Eu a a m o . . .

��� N��o gosto de fazer ningu��m sofrer.

��� Ele vai esquec��-la. N��o se preocupe

que tudo vai p a s s a r . . .

���55

Virg��nia foi-se acalmando aos poucos.

Milton tinha raz��o. Tudo era apenas uma

quest��o de tempo. Irineu sofreria alguns

dias, depois a esqueceria e arranjaria ou-

tra. Tentou consolar-se com este pensa-

mento, enquanto o amante lhe tirava o ves-

t i d o . . . P �� g i n a 5 6

Cap��tulo 5

A fuga

Nos primeiros tempos, Virg��nia n��o te-

ve nenhuma decep����o com Milton. Ele era

o amante ideal. Bonito, carinhoso, muito

bem dotado sexualmente e demonstrava em

todos os sentidos que a amava.

Ficavam na cama horas e horas esque-

cidos de tudo. Ele come��ava a lhe beijar

nos joelhos e ia aos poucos subindo. Sentia

sua boca ��vida de encontro a sua pele.

���57

Quando alcan��ava suas partes ��ntimas, es-

tremecia de prazer.

��� Voc�� vai me levar �� loucura.

Ele ria e pedia-lhe que tamb��m o bei-

jasse pelo corpo todo. Depois a possu��a.

O del��rio de Virg��nia n��o tinha limites. Os

dois se tornavam um s��, a carne dentro da

carne, unidos naquele momento e para

sempre...

N��o se arrependera do que fizera. De

resto, era a ��nica solu����o, uma vez que n��o

tinha mesmo temperamento para enganar

o marido e continuar vivendo com ele. A

atitude posterior de Irineu �� que a cho-

cou um pouco. Pediu desquite e n��o quis

mais v��-la. Quanto ��s duas filhas pas-

saram a ser criadas pela av�� paterna. Ele

passara a odi��-la, depois do que fizera. No

fundo, dava-lhe raz��o.

Assim, nada mais lhe restava mesmo a

n��o ser Milton. Passou a se dedicar a ele

de maneira absoluta. E a cada dia o amava

5 8���

mais. O que n��o lhe passou pela cabe��a

foi o fato de que o seu amor obsessivo ia

terminar fazendo com que o amante se

afastasse.

Com efeito, no princ��pio Milton sentiu-

se plenamente satisfeito. N��o precisava

trabalhar e tinha uma mulher bonita para

lhe dar prazer. O que mais podia desejar ?

Mas o amor de Virg��nia era terrivelmente

exclusivista. Na praia, n��o podia olhar pa-

ra nenhum lugar sem que ela julgasse que

estava paquerando alguma mulher. Seu

ci��me doentio come��ou a sufoc��-lo. Com-

preendeu que aquela situa����o n��o podia

continuar por muito tempo.

Al��m disso, Virg��nia estava sempre a

lhe recordar que largara a fam��lia por cau-

sa dele. Por isso e pelo fato de sustent��-

lo, achava-se com o direito de domin��-lo .

completamente.

Depois de alguns meses de vida em co-

mum, come��ou a pensar em deix��-la. N��o

���59

gostava de cenas e sabia que Virg��nia faria

o imposs��vel para ret��-lo. Tinha certeza

tamb��m que iria procur��-lo onde estives-

se.

N��o sabia direito ainda o que fazer

quando, uma tarde, num dos poucos mo-

mentos em que conseguia ficar longe da

vista da amante, tomava um suco numa

lanchonete, quando algu��m lhe bateu nas

costas. Virou-se. Era um antigo colega que

n��o via h�� bastante tempo:

��� Arlindo! O que est�� fazendo por es-

tes lados?

��� Ia passando de carro, quando o avis-

tei. Por sorte, tinha uma vaga logo ali. O

que me conta de novo?

��� Meti-me numa encrenca, cara.

��� �� coisa grave?

��� �� e n��o ��. Conheci uma mulher ca-

sada e rica.

��� O que voc�� quer mais?P��G 60

��� �� primeira vista a gente pensa que

n��o pode ter nada melhor. Mas acontece

que o neg��cio n��o �� t��o .simples assim. Ela

largou o marido para viver comigo e ago-

ra n��o me d�� um minuto de sossego. Vive

me vigiando noite e dia e tem ci��me at��

de minha sombra. N��o sei como fazer para

��� Vou embora do Rio.

��� Para onde?

��� S��o Paulo. Vou trabalhar l��.

Um clar��o iluminou o c��rebro de Mil-

ton:

Quando viaja?

��� Hoje mesmo. Vou passar em casa,

pegar a mala e seguir em frente.

��� De carro?

��� Sim.

��� Tive uma id��ia. Como n��o pensei

nisso antes? Posso ir com voc��?

��� Se quiser. At�� �� bom. �� muito cha-

to viajar sozinho. P��G 61

Milton viu que tinha de agir rapida-

mente. Pediu ao amigo que esperasse al-

guns minutos, enquanto ia em casa. En

irou no apartamento e foi at�� o quarto.

Virg��nia estava na cozinha preparando

qualquer coisa. Ele pegou todo o dinheiro

que tinham no apartamento e, quando ia

saindo novamente, ouviu a voz da mulher:

��� Vai sair outra vez?

��� Esqueci de comprar cigarros. Volto

j��.

Desceu o elevador e correu ao encon-

tro do amigo:

��� Vamos.

Entraram no autom��vel. Milton sentiu

uma gostosa sensa����o de liberdade. Nunca

mais. Virg��nia iria v��-lo.

��� Voc�� vai s�� com a roupa do corpo?

��� perguntou Arlindo.

��� O que �� que voc�� queria? Que sa��s-

se de casa com a mala na m��o Voc�� n��o

62���

conhece Virg��nia. Mas n��o tem import��n-

cia. Trouxe comigo dinheiro suficiente p��--,

ra viver algum tempo despreocupado.

Os dois riram. Milton abriu o Vidro do

carro e deixou que o vento batesse em seu

rosto...

* * * ,

Virg��nia come��ou a ficar preocupada

quando notou que Milton estava demoran-

do muito. J�� tinha mais de vinte minutos

que descera para comprar cigarros. Resol-

veu esperar mais um pouco. Como o aman-

te n��o voltasse, desceu e foi procur��-lo no

botequim mais pr��ximo. N��o o viu. Per-

correu todos os botequins da imedia����es e

n��o o encontrou. Lembrou-se que talvez

nesse intervalo, ele tivesse voltado para ca-

sa. Assim, retomou ao apartamento, mas

encontrou-o vazio.

O que teria acontecido? Por que Mil-

ton estava demorando tanto? Come��ou a PAG 63

fumar um cigarro atr��s do outro. As ho-

ras passavam lentamente e nem sinal do

Virg��nia, cada vez mais nervosa, come-

��ou a desconfiar de que talvez ele n��o vol-

tasse mais. E se Milton tivesse ido,embo-

ra para sempre? Mas por que faria isso

com ela?

Eram dez horas da noite, quando saiu

de casa. Deixou um bilhete para Milton

em cima da mesa, num lugar bem vis��vel.

Foi a todos os locais que costumavam fre-

q��entar. N��o o viu em lugar nenhum.

Desanimada, voltou para casa. Agar-

rava-se a uma ��ltima esperan��a: que Mil-

ton tivesse retornado durante sua aus��n-

cia. Abriu a porta, acendeu a luz e viu o

bilhete que deixara, no mesmo lugar. Foi

at�� o quarto. Quem sabe ele fora direto

para a cama? Mas logo verificou que esta-

va vazia.

64

Come��ou a chorar, completamente de-

sesperada. O que seria de sua vida se Mil-

ton n��o voltasse nunca mais?



* * *

O autom��vel avan��ava pelas estradas.

O Rio estava cada vez mais longe. e S��o

Paulo cada vez mais perto.

��� Queria ver a cara dela quando des-

cobrir que voc�� n��o vai voltar mais ��� dis-

se Arlindo virando-se sorridente para o

amigo, enquanto dirigia.

��� Vai ter um ataque hist��rico e que-

brar o apartamento todo.

Milton respirou profundamente. �� me-

dida que o carro devorava os quil��metros,

sentia-se mais seguro. Estava finalmente

livre das garras de Virgina. N��o nascera

para amar uma s�� mulher e muito menos

para ser mandado. Antes trabahar e n��o

ter dinheiro, do que viver como um prisio-

neiro .

65

Possu��a temperamento aventureiro, uma

mulher aqui, outra ali. Tinha certeza de

que n��o ia se amarrar nunca a ningu��m.

Virg��nia fora um descuido de sua parte.

Vira a possibilidade de ter dinheiro f��cil

e n��o resistira �� tenta����o. Mesmo porque,

no in��cio, realmente sentira uma atra����o

maior por Virg��nia do que pelas outras mu-

lheres que tivera. Al��m disso, n��o podia

adivinhar que fosse t��o possessiva e ciu-

menta. Pensava em viver com ela, mas ao

mesmo tempo poder dar suas voltinhas

com outras sem problemas...

O melhor mesmo era esquecer Virg��nia

e n��o esquentar muito a cabe��a. De nada

adiantava ficar analisando fatos passados.

O que importava �� que agora estava livre.

-A brisa batia em seu rosto, aumentando-

lhe a sensa����o de liberdade.

��� Por que n��o corre mais?

��� Est�� com pressa de chegar em S��o

Paulo?

66���

��� �� que a velocidade me d�� a impres-

s��o de que estou voando. E estou me sen-

tindo como um p��ssaro que de repente con-.

seguiu fugir da gaiola e ganhar os c��us.

* * *

Realmente Milton n��o voltou. Virg��-

nia ficou num estado de quase inani����o.

Comia muito pouco e n��o sa��a de casa,

olhando fixamente para a porta, na espe-

ran��a de que ela de repente se abrisse e

Milton aparecesse.

Perdeu a no����o das horas e dos dias.

Seu des��nimo e tristeza no entanto, foram

cedendo lugar ao ��dio. Como o amante ti-

nha tido coragem de fazer aquilo? Por que

a abandonara sem uma explica����o, depois

de tudo o que fizera por ele?

N��o havia mais nenhuma possibilidade

de refazer sua vida. Mesmo que quisesse,

e n��o era esse o caso, Irineu jamais a re-

���67

ceberia de volta. Destru��ra tudo por cau-

sa de Milton. E agora, via-se sozinha, sem

saber onde ele andava, o que estava fazen-

do.. .

N��o podia nem conceber vir a gostar

de outra pessoa. Tinha amado Milton e

ainda o amava de maneira absoluta. Dei-

xara-se consumir pelo fogo da paix��o at��

as ��ltimas conseq����ncias.

Fora uma entrega total, sem reservas,

e agora estava s��, absolutamente s��. Na-

da mais lhe restava. Tudo havia terminado

e n��o tinha ningu��m a quem recorrer. Nem

mesmo sua m��e, que fora completamente

contra, quando abandonara Irineu.

Sabia que n��o tinha for��as para supor-

tar o peto da solid��o. Sua felicidade ao la-

do de Milton fora muito intensa, mas du-

rara muito pouco.

Uma id��ia aos poucos foi-se desenvol-

vendo em sua cabe��a. Ela n��o sabia ver-

68

dadeiramente como ou quando come��ara.

O neg��cio foi tomando forma e, quando

menos esperou, virara id��ia-fixa.

Sim, tinha que tomar uma atitude.

Milton tinha sido um amante ideal. Nunca

mais teria outro como ele. Haveria de en-

contr��-lo fosse como fosse. Iria at�� o f m

da vida, mas se vingaria de Milton custas-

se o que custasse.

���69

Capitulo 6

os marginais

Na sala, sentada diante da mesa, Vir-

g��nia olhava fascinada para o rev��lver.

Depois, pegou a arma e come��ou a acari-

ci��-la.

Faziam j�� quinze dias que Milton fora

embora sem deixar vest��gios. Inconforma-

da com o desaparecimento do amante, Vir-

g��nia s�� pensava em se vingar. A ��nica

70���

coisa que se pode fazer quando se perde -

um amante ideal, �� mat��-lo, pensava. Se

ele n��o era mais dela, n��o podia ser de

mais ningu��m.

A princ��pio, pensara em se mudar da-

quele apartamento que tanto lhe recorda-

va Milton. Ali vivera os dias mais felizes

de sua vida. Mas, em vez de querer esque-

c��-lo, o que desejava era justamente que a

presen��a dele continuasse viva, a fim de

n��o desistir de sua vingan��a.

Comprara um rev��lver e todos os dias

procurava Milton pelas ruas, sem descan-

so, levando a arma na bolsa. Algum d i a , .

em algum lugar, haveria de encontr��-lo.

N��o desistiria nunca.

Naquelas duas. semanas j�� tinha anda-

do por todas as ruas de Copacabana e Ipa-

nema. Iria estender o seu raio de a����o,

andando por outros bairros. Se o Rio de

Janeiro era grande, em compensa����o, co-

mo todos sabiam, "o mundo �� muito peque- P��G 71

n o . Mais dia menos dia haveria de se de-

frontar com ele. A�� ajustariam contas.

Com a mesma intensidade com que o

amara, agora o odiava. N��o se conforma-

ria nunca com a perda do objeto amado.

A princ��pio, ainda procurou se iludir jul-

gando que ele tivesse sofrido um aciden-

te. Mas dera uma busca em todos os hos-

pitais e necrot��rios, sem nenhum resulta-

do. A ��nica conclus��o l��gica era que ele

havia mesmo fugido.

Pensou na possibilidade de Milton ter

ido embora para outro lugar com o dinhei-

ro que levara. Mas como conhecia bem o

ex-amante, sabia que ele n��o gostava de

trabalhar e t��o logo o dinheiro acabasse,

voltaria para o Rio. Ou ent��o, quando pen-

sasse que ela o havia esquecido, depois de

algum tempo retornaria �� cidade. Trata-

va-se .somente de uma quest��o de tempo.

O principal era ter paci��ncia e n��o de-

sistir. Mesmo porque n��o via outra op����o.

72���

N��o queria saber de mais ningu��m, nada

mais importava a n��o ser reencontrar Mil-

ton. N��o tinha nenhum outro objetivo na

vida a n��o ser esse. Como podia viver ape-

nas da renda de seus bens, tinha tempo

suficiente para continuar sua busca.

Sendo uma mulher jovem, algum tem-

po depois come��ou a sentir necessidade de

sexo. Mas n��o queria se entregar a outro

homem. Pensava em nunca mais dar seu

corpo para algu��m sentir prazer.

De vez em quando, visitava as filhas na

casa da sogra. Mas at�� mesmo a alegria de ,

reencontr��-la, tinha um pre��o muito alto.

A m��e de Irineu a tratava com hostilidade

e estas visitas, passaram a ser um verda-

deiro supl��cio.

Os meses foram passando, sem que Vir-

g��nia tivesse a menor pista do paradeiro

de Milton. Voltava mais uma vez de suas

andan��as pelas ruas e bares, altas horas P��G 73

da noite, quando notou que estava sendo

acompanhada por dois sujeitos.

N��o deu a menor aten����o ao fato, nem

sentiu medo. H�� muito que deixara de ter

medo das coisas. O pior j�� tinha lhe acon-

tecido. N��o tinha mais nada aperder. E

quando isso ocorre, as pessoas tornam-se

corajosas.

Os dois homens se aproximaram dela,

ficando um de cada lado. A rua estava

escura e absolutamente deserta. Virg��nia

olhou-os com indiferen��a: eram dois rapa-

zes bem jovens, um deles mulato, com as-

pecto de delinq��entes.

��� Para onde vai sozinha a esta hora

da madrugada? ��� perguntou o mulato.

��� N��o interessa a voc��s.

��� N��s estamos a fim de "transar" ���

falou o outro.

Virg��nia n��o respondeu nada e conti-

nuou andando. Um dos rapazes tirou um

74���

pequeno cavinete do bolso e encostou na

cintura da mulher.

��� N��o adianta querer reagir. N��o tem

ningu��m na rua. Agora voc�� vai fazer tudo

que a gente mandar.

Obrigaram Virg��nia a seguir por uma

outra rua mais deserta ainda e subir Uma

ladeira, onde havia um terreno baldio. Ela

n��o reagiu, ao mesmo tempo que n��o sen-

tia medo. Lembrou-se do rev��lver que tra-

zia na bolsa e esperava um momento de

descuido por parte de algum deles para

puxar a arma e faz��-los correr.

Fizeram-na ficar atr��s de uma ��rvore.

Enquanto um dos delinq��entes permane-

cia com a faca encostada nela, o outro ti-

rou as cal��as. Virg��nia viu que estava ex-

citado. Ele se aproximou, levantou-lhe a

saia e obrigou-a a se deitar no ch��o. Abriu-

lhe as pernas com viol��ncia e possu��u-a.

A bolsa tinha ca��do no ch��o e Virg��nia

n��o tinha como se defender. Ao mesmo

���75

tempo, a aventura n��o lhe estava sendo

completamente desagrad��vel Tinha ne-

cessidade de sexo. H�� muito tempo que

n��o tinha rela����es com homem nenhum.

Resolveu aproveitar a situa����o e satisfa-

zer seus instintos.

Depois foi a vez do mulato. Como viam

que ela estava se submetendo aos capri-

chos deles docilmente, acharam desneces-

s��rio voltar a amea����-la.

��� Est�� gostando da "transa", hem?!

��� Mulher �� assim mesmo ��� disse o

outro.

��� Assim como?

��� Fica doida quando encontra um ma-

cho pela frente.

O mulato penetrou na carne de Virg��-

nia. Ela se deixou possuir pela segunda

vez, Ele lhe mordia a pele macia com vio-

l��ncia. Em breve atingiram o climax.

O rapaz, assim que gozou, levantou-se

imediatamente. A mulher tamb��m fez o

76���

mesmo. Sacudiu o vestido sujo de terra e

pegou a bolsa. Os dois, mais adiante, con-

fabulavam. Depois, voltaram a se aproxi-

mar:

��� Agora passa para c�� esta bolsa.

��� N��o ��� disse Virg��nia.

��� O que �� que h��? Depois que gozou

n��o quer a recompensa �� gente?

O que aconteceu em seguida, deixou-os

completamente aturdidos. Virg��nia abriu a

bolsa rapidamente e tirou o rev��lver, apon-

tando para eles:

��� Sumam da minha frente.

Perplexo, um deles fez um movimento

como se fosse tirar novamente o canivete

do bolso.

��� Se tentar qualquer coisa, eu atiro ���

tornou a amea��ar Virg��nia.

Vendo que talvez a mulher cumprisse

mesmo a amea��a, os dois n��o tiveram ou-

tro jeito a n��o ser fugir. Esperavam tudo,

menos que ela estivesse armada. O mula- P��G 77

to ainda tentou contemporizar:

��� Voc�� n��o vai matar a gente, depois

da "transa" que tivemos.

��� Ent��o, tente aproximar-se de mim.

Amedrontados com o ar decidido de

Virg��nia, come��aram a correr. Ela teve

vontade de rir quando os viu desaparece-

rem mais adiante. Voltou a guardar a ar-

ma na bolsa e saiu do terreno baldio onde

se encontrava.

N��o os avistou mais e seguiu tranq��i-

lamente para casa.

78���

Cap��tulo 7

Um rapaz diferente

O epis��dio com os dois marginais fez

com que reavivassem em Virg��nia o desejo

de sexo. N��o queria mais amar ningu��m

na vida, continuaria pelo resto de seus

dias em sua busca incessante at�� encon-

trar Milton, mas isso n��o queria dizer que

deveria se abster de ter rela����es sexuais

de vez em quando. P��g 79

poderia usar os homens do mesmo jei-

to.como fora usada por Milton, como se

fossem simples objetos de prazer, sem ne-

nhum outro v��nculo, a n��o ser o da car-

ne.

Outros meses se passaram e suas bus-

cas se mostraram totalmente infrut��feras.

Milton parecia ter desaparecido da face da

terra. Sem cuidar da apar��ncia e viven-

do unicamente para sua obsess��o doenta,

Virg��nia envelheceu precocemente.

Mesmo estando perto dos trinta anos,

antes parecia ter menos idade e era mui-

to bonita. Mas com o sofrimento, algum

fios brancos lhe apareceram nos cabelos.

As rugas em volta dos olhos se acentua-

ram e um vinco de amargura lhe contorna-

va a boca.

Uma vez ou outra levava um homem

qualquer ao apartamento para lhe satis-

fazer os desejos. Depois, mandava-o em-

80���

Nunca se encontrava corri nenhum

mais de uma vez.

Um deles, por��m, inspirou-lhe confian-

��a e, se o tivesse conhecido em outra ��po-

ca, talvez o amasse. Chamava-se Leopol-

do e tinha um ar meio intelectualizado.

Vira-o pela primeira vez num bar. Estava

sentada soz:nha como de costume, quando

o viu numa mesa pr��xima, tamb��m soli-

t��rio, bebendo chope.

Ficaram se olhando mutuamente, at��.

que Leopoldo se levantou e dirigiu-se a ela:

��� Est�� esperando algu��m?

��� N��o.

��� Posso sentar em sua mesa?

��� Se quiser.

Beberam e conversaram durante muito

tempo. Leopoldo era um rapaz culto, de

seus vinte e seis anos de idade. Dominava

qualquer assunto e Virg��nia pela primeira

vez em muito tempo saiu de sua apatia.

���81

Na hora de irem embora, levou-o para

casa.

��� Quer tomar caf��? ��� perguntou Vir-

g��nia quando entrou no apartamento.

��� Aceito. �� bom para melhorar o pi-

leque.

Enquanto Virg��nia foi �� cozinha, Leo-

poldo sentou-se no sof��. Pouco depois, ela

entrou com as duas x��caras. Tomaram o

caf�� em sil��ncio, enquanto ela o examina-

va.

Se o rapaz tivesse aparecido antes em

sua vida, as coisas poderiam ser bem dife-

rentes: Leopoldo parecia um cara legal.

Lembrou-se que n��o devia romancear seus

encontros. Certamente, como acontecera

com todos os outros, n��o iria ver Leopol-

do uma segunda vez.

Levou-o para a cama e deitou-se ao seu

lado. Leopoldo come��ou a passar timida-

mente a m��o em sua perna. Depois, bei-

jou-lhe o bico dos seios. Ela se sentiu to-

82

mar por uma onda de ternura. Ofereceu-

se ao rapaz quase com amor. Ele tinha

uma certa dificuldade para fazer amor.

Compreendeu o problema e procurou aju-

d��-lo sem que percebesse, deixando-o com-

pletamente �� vontade.

Em pouco tempo, Leopoldo estava ex-

citado e possu��u-a. Por um instante, Vir-

g��nia sentiu que talvez ainda houvesse al-

guma possibilidade de voltar a ser f e l i z . . .

Mas depois de gozar, reagiu. N��o podia

permitir a si mesma ter qualquer senti-

mento por ningu��m. Fora muito ferida por

Milton e n��o queria que acontecesse o mes-

mo outra vez.

��� Eu gostei de voc�� ��� falou Leopol-

do enquanto acendia um cigarro.

��� N��o me venha com esse papo para

cima de mim.

��� Por qu��?

��� No mundo de hoje n��o h�� lugar pa-

ra qualquer sentimento mais profundo.

���83

Quer dizer que voc�� s�� acredita em

sexo, pura e simplesmente?

��� Nem em sexo eu acredito mais. Fa-

��o apenas como uma necessidade como ou-

tra qualquer. Assim como a gente preci-

sa comer e dormir.

��� Desde o in��cio que notei qualquer

coisa estranha em seu rosto. Voc�� deve

ter sido muito machucada antes. Acerte:?

���Foi tudo t��o bem at�� aqui, Leopol-

doi Por que est�� querendo estragar?

��� N��o quer me falar de seu passado?

��� N��o. Nem do futuro.

��� N��o quer se encontrar comigo de

novo?

��� Tamb��m n��o.

Ele a olhou meio triste:

��� �� por que eu n��o sou homem sufi-

ciente para voc��?

Virg��nia lembrou-se da dificuldade que

ele tinha e compreendeu o que o rapaz

queria dizer. P��G 84

��� N��o se trata disso.

��� Ent��o, por que n��o quer se encon-

trar?

Sentiu pena de Leopoldo:

��� Eu n��o sou a pessoa ideal para vo-

c��. Tenho meus pr��prios problemas, que

s��o muito piores do que pensa.

��� Eu n��o posso ajudar?

��� Ningu��m pode me ajudar.

��� Mas a gente vai se encontrar anda,

n��o vai?

Ela resolveu deixar uma promessa no-

ar.

��� Talvez.

Leopoldo sorriu. Beijou-a outra vez, an-

tes de se levantar para se vestir. Virg��nia observava-o enquanto se arrumava. Pouco depois, j�� pronto, o rapaz despediu-se:

��� At�� outro dia! Como posso fazer pa-

ra v��-la de novo?

��� Eu vou sempre naquele bar. N��s nos

encontramos qualquer noite destas.

���85

Na verdade, n��o pretendia mais v��-lo.

Mas mentira por piedade. O mais prov��vel

era que n��o pudesse mais os p��s no bar

onde o encontrara.

Leopoldo foi embora. Mesmo contra

seus prop��sitos, Virg��nia ficou pensando

nele com uma esp��cie de ternura. Mas,

aos poucos, conseguiu superar o sentimen-

to.

N��o podia fraquejar. Al��m disso, quem

lhe garantia que n��o estivesse se enganan-

do pela segunda vez Ela tamb��m julgara

que Milton a amava e no entanto...

86-

Cap��tulo 8

auto-destrui����o

Como n��o queria voltar a se encontrar

com Leopoldo, Virg��nia evitou ir ao bar on-

de o conhecera. Uma semana depois, no

entanto, ouviu a campainha tocar. Foi

abrir a porta. Era ele.

��� Voc�� n��o apareceu no bar na sema-

na passada.

Deixou que o rapaz entrasse no apar-

tamento.

���87

��� N��o assumi nenhum compromisso

com voc��.

Fui l�� v��rias vezes na esperan��a de

v��-la.

��� Desista de mim, Leopoldo. J�� lhe

disse que n��o quero compromisso com nin-

gu��m.

��� Mas n��o pode me encontrar uma

vez ou outra?

��� Est�� bem. Mas, por favor, n��o espe-

re mais do que isso.

A partir da��, Leopoldo come��ou a ir

Periodicamente �� casa de Virg��nia. Apega-

va-se cada vez mais a ela, que n��o sabia

como acabar com aquilo.

Achava-o agrad��vel, ele preenchia sua

necessidade de sexo e de afeto, mas n��o

queria de modo algum se envolver. Como

n��o tinha motivos para recus��-lo, deixou

que a situt����o continuasse durante algum

tempo.

88���

Leopoldo revelou-lhe sua dificuldade de

se relacionar com as mulheres em geral.

��� Durante algum tempo pensei que

fosse anormal. Julguei mesmo que tivesse

tend��ncias homossexuais.

��� Por qu��?

��� Com v��rias mulheres n��o consegui

consumar o ato. Sentia-me inibido Arran-

java v��rias justificativas para meu proble-

ma. Uma destas, justificativas era o fato

das mulheres hoje em dia serem muito

agressivas. Sua luta pela igualdade de di-

reitos, sua extrema liberdade, tudo isso me

deixa com medo de enfrent��-las. Depois

pensei que estas coisas todas eram descul-

pas que eu arranjava para mim mesmo, a

fim de n��o assumir um, problema talvez

mais grave. Foi a que comecei a descon-

fiar de minha virilidade...

Virg��nia sentiu-se na obriga����o de aju-

d��-lo:P��G 89

- Voc�� �� um homem como os outros,

N��o h�� motivo para preocupa����es.

��� S�� consegui me realizar plenamente

com voc��.

��� A�� �� que est�� o perigo.

��� Voc�� n��o pode gostar de mim?

��� Lembre-se do nosso trato, Leopoldo.

N��o posso me envolver com ningu��m. J��

sofri muito. Se o tivesse conhecido antes...

��� Se eu disser que a amo?

��� Mando voc�� embora imediatamente.

Eu estou na sua vida de passagem. Voc��

vai encontrar ainda uma mulher que o

ame.

Vendo que o rapaz ficara triste de novo,

Virg��nia come��ou a acarici��-lo. Passou a

m��o pelo seu t��rax e foi descendo pelo seu

corpo. Demorou-se um pouco no carinho,

at�� que ele ficasse bastante excitado. De-

pois, puxou-o contra s i . . . P��G 90

Leopoldo era uma pessoa que podia do-

minar completamente. Por que n��o desis-

tia de voltar a encontrar Milton e n��o se

contentava com o novo amante?

Afastou o pensamento, pois sabia que.

era imposs��vef| Nunca iria esquecer o que

Milton lhe fizera. Al��m disso, n��o amava

Leopoldo. Apenas o aceitava e fazia com

que se submetesse aos seus caprichos. O

amor �� uma coisa intransfer��vel.

* * *

J�� estava se habituando com Leopoldo,

quando aconteceu um incidente. Ele pega-

ra em sua bolsa, por acaso, para tirar o

ma��o de cigarros e encontrara o rev��lver.

Perguntou:

��� O que �� isso

��� Um rev��lver ��� respondeu Virg��nia

irritada.

���91

��� P o r que voc�� anda com esta arma

na bolsa?

��� Isso �� uma coisa que s�� interessa a

mim-...

��� N��o posso permitir...

��� Quer fazer o favor de se calar? Voc��

n��o em nada com a minha vida.

��� Claro que tenho, Virg��nia. Queira ou

n��o, eu gosto de voc��. Preocupo-me com

voc��. N��o posso deixar que ande por a��

com um rev��lver na bolsa. Voc�� tem que

me explicar isso direito.

Virg��nia ficou furiosa:

��� N��o vou explicar nada, Leopoldo.

Por que n��o vai embora e n��o me deixa

em paz?

Ele nunca a vira assim antes. Ficou

assustado:

��� N��o precisa se zangar.

Mas a raiva de Virg��nia tinha se torna-

do incontrol��vel:

92���

��� N��o quero mais nada com voc��, en-

tendeu? V�� embora, saia da minha casa.

Leopoldo viu que n��o adiantava discu-

tir e come��ou a se vestir lentamente. Ain-

da esperava que Virg��nia se arrependesse

e pedisse para ficar. Mas ela n��o fez isso.

Quando acabou de se arrumar, o rapaz fa-

lou:

��� Adeus.

Ele se virou, abriu a porta e saiu:

Voltando para casa, procurava desco-

brir o motivo porque Virg��nia vivia cem

aquela arma. Quem seria a pessoa que pre-

tendia matar?

Ou, pior ainda, ser�� que queria suicidar-

se e ainda n��o tivera coragem?

Fosse qual fosse o motivo, tudo aquilo

o deprimia multo. Arrependeu-se amarga-

mente de ter se referido ao rev��lver. Pedia

muito bem n��o ter dito nada e ter dado

fim �� arma, ��s escondidas.

���93

Mas voltaria a procur��-la. Sabia que

Virg��nia estava precisando mais de ajuda

do que ele pr��prio.

* * *

Quase dois anos depois, Milton desapa-

recera, Virg��nia desistira de procur��-lo.

Esqueceu o rev��lver dentro de uma gaveta

qualquer e passava as noites bebendo, de

bar em bar.

Agora n��o tinha mais nenhum motivo

para continuar vivendo. Nem mesmo a vin-

gan��a, uma vez que esta se tornara impos-

s��vel .

Entrou num processo de auto-destrui-

����o incontrol��vel. Sua decad��ncia f��sica

era assustadora. Pouco lembrava a mulher

bonita que havia sido.

Sua m��e tentou uma reaproxima����o,

mas ela n��o aceitou. Agora era tarde de-

mais. N��o queria liga����o com ningu��m do P��g 94

seu passado. Havia chegado a um ponto

onde n��o havia mais qualquer possibilida-

de de recupera����o poss��vel.

Andava pelos bares, pegava um ou ou-

tro homem ao acaso e levava para o apar-

tamento, fosse quem fosse. Sabia que cor-

ria muito perigo, mas talvez inconsciente-

mente fazia isso de prop��sito.

De vez em quando lia nos jornais, nas

p��ginas policiais, hist��rias terr��veis de mu-

lheres assassinadas. Sem d��vida, levava

tantos desconhecidos para casa, esperando

que terminasse encontrando um criminoso

que fizesse com ela aquilo que n��o tinha

coragem para fazer.

Leopoldo procurou-a ainda algumas ve-

zes. Mas recusou-o sempre categoricamen-

te. Depois n��o o viu mais. Preferiu que fosse

mesmo assim. Era muito melhor para ele.

O que poderia fazer por Leopoldo, a n��o ser

complicar sua vida? Que futuro ele podia

ter ao seu lado?

-~95

Se j�� estava destru��da, pelo menos ain-

da lhe restava algum bem senso, no senti-

do de n��o querer prejudicar ningu��m que

n��o tinha nada a ver com sua infelicida-

de.

Apesar de n��o andar mais com o re-

v��lver na bolsa e t��-lo colocado no fundo

de uma gaveta, ainda tinha uma leve espe-

ran��a de que mais cedo ou mas tarde se

defrontaria com Milton.

Sabia que o mundo dava muitas vol-

tas. J�� n��o o procurava mais com aquela

obsess��o dos primeiros tempos. Deixava

que o acaso os colocasse um dia frente a

frente...





96


Cap��tulo 9

Encontro melanc��lico

Virg��nia, uma tarde, andava pela Ave-

nida Princesa Isabel, quando avistou Iri-

neu saindo de um Banco. Quis evitar que

a visse, unas j�� era tarde. O ex-marido a

tinha reconhecido e parara na cal��ada, es-

perando que passasse por ele.

H�� muito tempo que n��o o via. Desde

que tinham assinado os pap��is do desquite.

Naquela ��poca ele ainda n��o a havia per-

���97

doado. Passou de cabe��a baixa, sem olh��-

lo, e teve uma surpresa quando ouviu sua

voz:

��� Virg��nia!

Ela o olhou:

��� Ol��, Irineu, tudo bem?

O homem n��o deixou de perceber sua

voz tr��mula:

��� Tudo bem. Meu carro est�� logo ali.

Para onde voc�� vai? Quer que a leve?

��� N��o precisa se incomodar.

Irineu n��o demonstrou ter ficado cho-

cado com a sua apar��ncia. Insistiu em que

tomasse o carro com ele. N��o sabendo co-

mo recusar, Virg��nia terminou concordan-

do.

Enquanto dirigia, perguntou:

��� Por que voc�� nunca mais foi. ver nos-

sas filhas?

A mulher n��o viu nenhuma raz��o para

n��o responder com sinceridade:

98���

��� Eu cansei de ser agredida por sua

m��e.

��� Elas n��o est��o mais em sua compa-

nhia. As meninas est��o agora comigo.

Seguiu-se um breve sil��ncio. Irineu

compreendeu que Virg��nia n��o devia saber

o que lhe acontecera naquele intervalo de

tempo e esclareceu:

��� Depois que me desquitei de voc��, co-

nheci uma mulher que passou a viver co-

migo. Estamos juntos h�� mais de um ano.

Resolvemos trazer as meninas- para viver

com a gente. Quando quiser, pode apare-

cer l�� em casa. Creusa n��o vai se incomo-

dar. Ela n��o tem nada de agressiva, muito

pelo contr��rio.

Virg��nia compreendeu em toda a sua ex-

tens��o o grande erro que havia cometido.

Por causa de uma paix��o alucinada, dei-

xara um homem como Irineu para viver

com Milton, um irrespons��vel.

���99

Mas, melhor do que ningu��m, tinha

consci��ncia de que agora era muito tarde

parar qualquer esp��cie de arrependimento.

O ex-marido quase n��o mudara fisicamen-

te. Continuava o mesmo de sempre. Muito

bem vestido, calmo, seguro. Ele merecia a

felicidade que havia conquistado ao lado

da outra.

Enquanto isso, Irineu pensava no que

teria acontecido cem a ex-esposa. Pela apa-

r��ncia via-se claramente que devia ter so-

frido muito. Nunca imaginara que Virg��-

nia pudesse ter envelhecido tanto em t��o

pouco tempo.

Sentiu realmente pena dela. Tinha von-

tade de ajud��-la, mas n��o sabia como. O

��dio e a m��goa que sentira quando o aban-

donara n��o existiam mais. Havia refeito

sua vida e Creusa fizera com que a esque-

cesse mais depressa do que supunha a prin-

c��pio.

100

Fizeram o resto da viagem calados. Per-

to do local onde morava, Virg��nia falou:

��� Pode deixar_-me naquela esquina.

Antes que descesse do carro, ele voltou

a lhe dizer:

��� Quando quiser ver Celeste e Eur��dice,

pode aparecer. Eu continuo morando no

mesmo endere��o.

Virg��nia despediu-se e foi embora. Ele

ainda ficou com o carro parado, olhando-a

at�� desaparecer na esquina seguinte. Sen-

tia-se meio angustiado por ter voltado a

ver naquele estado, a mulher que tinha sido

o grande amor de sua vida.

Durante v��rios dias ainda iria se lem-

brar daquele encontro melanc��lico...





101


Capitulo 10


um perfil inconfund��vel

Depois de recordar toda a sua vida, Vir-

g��nia continuava no bar, tornando um cho-

-pe atr��s do outro. No extremo oposto, Mil-

ton conversava com Ang��lica. Virg��nia per-

manecia observando o casal. O ex-amante

jamais poderia desconfiar que ela estivesse

ali t��o perto...

O que acontecera com Milton durante

todo aquele tempo? Quem seria aquela ga-

102���

rota que o acompanhava? Repetia a si mes-

ma mil vezes aquelas perguntas, indefini-

damente.

Virg��nia chamou o gar��om e pagou a

conta. Havia tomado uma resolu����o. Seu

��dio renascera com mais for��a ao tornar a

ver Milton com aquela mo��a, Se tivesse

sorte, talvez ainda conseguisse fazer, o que

pensava.

O gar��om trouxe o troco e Virg��nia

guardou-o na bolsa, antes de se levantar.

Era uma pena que n��o estivesse com o re-

v��lver a l i . . .

Ao passar por entre as mesas para sair

do bar, Milton viu-a. Virg��nia notou que

ele a olhara e depois desviara a vista, como

se n��o a tivesse reconhecido.

* * *

Apesar de ter disfar��ado muito bem pa-

ra n��o demonstrar sua perturba����o, Milton

reconhecera Virg��nia. Quando vira aquela

103

mulher saindo do bar, alguma coisa lhe

chamara a aten����o. Ela estava bem dife-

rente, era verdade, mas quando se virara

de perfil, n��o teve d��vidas. Seu nariz gre-

go era inconfund��vel.

O que estaria Virg��nia fazendo naquele

bar sozinha? Por que envelhecera tanto?

Ficou verdadeiramente impressionado cem

mudan��a que se operara na ex-amante.

Julgou que ela n��o deveria t��-lo visto.

Mas n��o p��de deixar de ficar preocupado.

Come��ou a se lembrar de tudo que aconte-

cera desde que a abandonara���

Fora para S��o Paulo com Arlindo, que

conseguia um emprego na mesma firma

cride trabalhava, e estava disposto a n��o

voltar ao Rio durante muito tempo.

Acostumou-se com S��o Paulo. Bonito e

simp��tico, conseguiu fazer boas amizades

e penetrar em ambientes sofisticados. J��

estava vacinado contra o tipo de mulheres

104

obsesivas, depois da sua experi��ncia com

Virginia, e pensava apenas em gozar a vi-

da.

Apesar de todas as suas precau����es, co-

nheceu uma velha milion��ria, Dina, com

quem passou a ter rela����es sexuais.

Dina estava com quase sessenta anos

de idade e era uma senhora adoravelmente

louca. Colecionava j��ias e amantes, sendo

que preferia as primeiras, uma vez que as

j��ias estavam sempre bem guardadas, en-

quanto os amantes jogava-os fora quando

se cansava deles. N��o era, em absoluto,

uma mulher ciumenta. Entre sua meia d��-

zia ds amantes Milton ocupava um dos pri-

meiros postos. N��o o aborrecia com ci��mes

tolos, apesar de n��o esconder sua prefer��n-

cia por ele. O rapaz aproveitou-se o melhor

que p��de da situa����o, pois sabia ser trans-

sit��ria. i

Consciente da pr��pria beleza e de sua

efici��ncia na cama, Milton fez outras con-

quistas f��ceis. Largou o trabalho e seguiu

sua verdadeira voca����o de gigol��.

--105

At�� que conheceu Ang��lica, uma garo-

ta do Rio que fora passear em S��o Paulo.

Filha de milion��rios e com apenas dezessete

anos, Ang��lica, por incr��vel que pudesse

parecer ainda era virgem.

��� Voc�� tem uns olhos lindos. Nunca

vi um verde t��o verde.

O coment��rio de Ang��lica apesar de li-

sonje��-lo, era-lhe desagrad��vel, pois lhe

lembrava o que Virg��nia costumava lhe di-

zer:

__ Eu sei que sou bonito, n��o precisa

ficar repetindo.

��� Convencido!

Terminou levando-a para a cama!

��� Voc�� nunca teve mesmo nenhum ho-

mem em sua vida?

��� Juro.

��� N �� o acredito.

��� Por que n��o tira a prova?

Ang��lica estava disposta a se entregar

a ele de qualquer maneira. Tirou a roupa

106���

e Milton aproximou-se de seu corpo fr��-

g i l . Alisou-lhe os pelos ��midos entre suas

pernas:

��� Voc�� quer mesmo ser minha?

��� N��o quero outra coisa.

Millton procurou ser o mais gentil pos-

s��vel. Excitou Ang��lica de todas as manei-

ras poss��veis, mas n��o se resolvia a consu-

mar o ato. Na verdade, tudo fora maquia-

velicamente planejado. Pretendia deixar a

mo��a louca de desejo.

��� Eu quero que voc�� seja meu homem

��� disse Ang��lica num murm��rio.

O rapaz atendeu ao pedido. Ang��lica

delirava de prazer. H�� muito que ansiava

ser possu��da por um homem. Finalmente

chegara a hora. E estava duplamente feliz:

o homem que a estava possuindo pela pri-

meira vez tinha sido escolhido por ela e

amava-a.

Pouco depois, Ang��lica voltou para o

Rio e exigiu que tamb��m viesse: P��g 107

��� Mas eu trabalho aqui em S��o Pau-

lo.

��� E da��?

��� Vou perder o emprego?

(Na verdade ele n��o estava trabalhando

em lugar algum.)

A garota deu uma gargalhada:

��� Meu pai tem v��rias firmas. Pode ar-

ranjar-lhe um emprego numa delas, para

n��o fazer nada. E depois, voc�� quer ou n��o

quer casar comigo?

��� Claro que quero.

Milton viu que n��o podia desprezar

aquela oportunidade. Afinal, s�� estava em

S��o Paulo temporariamente. Tinha quase

dois anos que largara Virg��nia e agora ela

n��o devia mais se lembrar dele. Ou pelo

menos j�� devia ter se conformado. N��o ha-

via nenhum motivo para n��o aceitar a pro-

posta de Ang��lica.

Voltara para o Rio h�� cerca de um m��s.

J�� estava trabalhando numa das firmas do

108

ex-sogro e noivara oficialmente com An-

g��lica. O casamento deveria ser realizado

dentro de tr��s meses.

Tudo corria muito bem e n��o via nada

que pudesse atrapalhar seus planos. At��

que, de repente, vislumbrara aquela, mu-

lher que lhe parecera ser Virg��nia.

Mas agora come��ava a duvidar de seus

pr��prios olhos. E se n��o tivesse sido ela?

Al��m disso, tudo indicava que a mulher n��o

o tinha visto. Racionalizando as coisas, n��o

havia nenhum motivo para qualquer tipo

de apreens��o.

Virg��nia pertencia ao passado. Mesmo

que tivesse sido ela e que o tivesse visto,

que import��ncia tinha? Absolutamente ne-

nhuma. Afinal de contas, ele n��o fora o

primeiro nem seria o ��ltimo homem no

mundo que larga uma amante.

Ang��lica notou que o noivo ficara cala-

do de repente e estava com um ar estra-

nho:





109


��� Voc�� ficou com a fisionomia sombria

e n��o falou mais. O que foi que aconte-

ceu?

��� Nada.

��� Por que n��o diz o que houve?

Ele lhe segurou na m��o:

��� N��o j�� disse que n��o foi nada? ��

impress��o sua.

Pediu ao gar��om mais dois chopes e

procurou descontrair-se. N��o havia mes-

mo nenhum motivo para preocupa����es...

Diante da atitude do noivo, apesar do

seu esfor��o para continuar conversando

normalmente, Ang��lica sentia que aquilo

tudo era for��ado.

A ��nica explica����o poss��vel seria algu��m

que estivesse naquele bar. Pensou que qua-

se nada sabia a respeito do passado de Mil-

ton. Sem d��vida, vira ali alguma ex-aman-

te e ficara perturbado. Ela disse gracejan-

do:

��� J�� descobri o mist��rio,

110

���

��� Que mist��rio

��� O motivo porque voc�� ficou t��o per-

turbado h�� pouco.

Milton teve medo de que a noiva real-

mente tivesse descoberto tudo. Mas como?

Isso era uma coisa totalmente improv��vel.

Falou tamb��m em tom de brincadeira:

��� Ent��o diga o que foi.

��� Uma das mulheres que est�� no bar

j�� foi sua amante. E voc�� est�� com medo

que ela fa��a uma cena* de ci��mes.

��� Para provar a voc�� que isso n��o ��

verdade, vou beijar-lhe aqui, na frente de

todos.

Aproximou-se da noiva e beijou-a na bo-

ca. Ela o afastou sorrindo:

��� Pare com isso, Milton. Est�� cha-

mando a aten����o de todo mundo. N��o pre-

cisava provar mais nada.

111

Cap��tulo

Um vulto nas sombras

A dist��ncia entre o bar e sua casa, que

era pequena, pareceu enorme para Virg��nia.

Sentia as gotas de suor escorrendo pelo

corpo. Quase corria, na ��nsia de chegar

logo apartamento.

Ao se aproximar do edif��cio, o porteiro

olhou-a cem curiosidade. Nunca a tinha

visto voltar para casa t��o cedo:

112

��� O que foi que houve, D. Virg��nia, a

senhora est�� doente?

��� Por que pergunta isso?

��� Por nada. �� que a senhora est��o t��o

p��lida e al��m disso...

��� J�� sei ��� falou V��rg��nia aparentando

bom humor ��� Eu chego sempre ��s quatro

da madrugada e ainda n��o �� meia-noite.

�� que esqueci o dinheiro em casa e vim

buscar. Dei o maior vexame na hora de

pagar a conta no bar. Como o pessoal j��

me conhece, disse que vinha em casa apa-

nhar o dinheiro e n��o houve maiores pro-

blemas .

Sorriu de novo para o porteiro e enca-

minhou-se para o elevador.

Ao entrar no apartamento foi at�� o ar-

m��rio onde guardara o rev��lver. H�� tanto

tempo que n��o o via, que teve medo de n��o

encontr��-lo. Mas logo viu a arma numa P113

gaveta. Olhou-a durante algum tempo.

Depois, colocou-a na bolsa e saiu novamen-

te.

Sentia-se muito agitada. Tinha medo de

que Milton j�� tivesse sa��do do bar. Se isso

tivesse acontecido, talvez nunca mais apa-

recesse uma oportunidade de v��-lo de no-

vo.

Ia andando apressada, quando viu um

vulto sair das sombras. Era Leopoldo. Ele

a agarrou por um bra��o, assustando-a:

��� Al��, Virg��nia, como vai?

A mulher n��o conseguiu disfar��ar seu

aborrecimento. Era s�� o que faltava, en-

contrar-se com Leopoldo naquela hora. H��

muito que ele sumira do mapa e agora

surgia de repente, atrapalhando seus pas-

sos . Parecia que tudo colaborava para que

n��o conseguisse se vingar de Milton. Per-

guntou irritada:

114���

��� O que est�� fazendo por aqui?

��� Eu queria v��-la;

��� Para qu��?

��� Estava com saudades.

O romantismo de Leopoldo lhe atacou

mais ainda os nervos:

��� Voc�� n��o se emenda, n��o ��, cara?

Ainda n��o arrumou outra mulher?-

��� N��o. Eu n��o posso esquec��-la, Virg��-

nia.

Ela procurou desprender seu bra��o, mas

ele continuou segurando-a:

��� Estou com pressa.

��� N��o d�� para gente ir at�� o aparta-

mento?

��� N��o, Leolopdo, n��o d��.

��� Vamos.

��� N��o insista.

��� Eu preciso de voc��, Virg��nia.

��� J�� disse que hoje n��o posso.

���115

��� N��o lhe custava nada. A n��o ser

que tenha algum encontro cem outro.

��� �� isso mesmo.

O rapaz tinha a express��o t��o triste, que

qualquer uma outra pessoa se comoveria.

Mas n��o V��rg��nia, cuja paci��nca se esgo-

tara. Leopoldo estava lhe atrasando de-

mais . Talvez, por causa de dois ou tr��s mi-

nutos, n��o encontrasse mais com Milton

no bar. Finalmente, encontrou uma manei-

ra de se livrar de Leopoldo:

��� Olha, vamos fazer um acordo.

��� Qual ��?

��� Hoje n��o d�� para lev��-lo l��. Mas- pos-

so marcar para amanh��, est�� bom?

��� O rapaz alegrou-se:

��� Quer mesmo encontrar-se comigo

amanh��?

��� Claro. V�� l�� em casa nove da noi-

te.

��� ��timo.

116���

Afastou-se de Leopoldo e foi embora. No

dia seguinte, ele n��o i r a eneontr;��-la, pen-

sou Virg��nia. A n��o ser que n��o conseguis-

se chegar a tempo no b a r . . .

Leopoldo ficou alguns minutos no mes-

mo lugar onde se encontrava. Pensou em

seguir Virg��nia, mas teve medo que ela se

aborrecesse. H�� muito que desejava reen-

contr��-la. Alegrara-se ao v��-la sair do edi-

f��cio e julgara que talvez conseguisse co-

mov��-la.

Num certo sentido, tivera sorte. V��r-

g��nia marcara para o dia seguinte. Talvez

os dois pudessem reatar o antigo romance.

Animou-se com a id��ia.

Em vez de voltar para casa, decidiu ir

a algum bar beber qualquer coisa. N��o

precisava acordar cedo no dia seguinte e

era apenas meia-noite.

-117

Teve receio de ir na mesma dire����o de

Virg��nia. Ela poderia pensar que a estava

seguindo e aborrecer-se. ssim, tomou o ca-

minho contr��rio. Duas quadras adiante

sentou-se num bar e pediu um chope.

118

Cap��tulo 12

Crime no bar

��� Vamos embora daqui?

��� Por qu�� Est�� t��o b o m . . .

Milton realmente n��o podia apresentar

um motivo suficiente forte para sair do bar.

N��o sabia bem porque, mas continuava

apreensivo. Tinha receio de que Virg��nia

(ser�� que aquela mulher era mesmo ela?)

voltasse de repente.

119

Enquanto conversava com a noiva olha-

va disfar��adamente para os lados. N��o viu

ningu��m que se parecesse com Virg��nia.

Mesmo que tivesse sido ela, por que raz��o

haveria de voltar?

Passavam cinco minutos da meia-noite,

quando Virg��nia retomou ao bar. Estava

completamente lotado, exatamente como o

deixara. Procurou cem os olhos na dire����o

da mesa de Milton. L�� estava ele. Sorriu

satisfeita, mas n��o se aproximou logo.

Uma mesa vagou e aproveitou para se sen-

tar. Estava tr��mula e precisava beber mais

um pouco, a fim de criar coragem.

O gar��om, que j�� a conhecia, aproximou-

se:

��� Resolveu voltar?

��� Voc�� sabe que n��o saio nunca antes

das quatro.

��� Eu estranhei quando a senhora saiu

t��o cedo. P��g 120

__Mas j�� estou de volta. Traga

dose dupla de u��sque. Puro.

Enquanto esperava a bebida, procurou

acalmar-se. Estava muito perto da mesa de

Milton do que da outra vez. Agora pedia

observ��-lo melhor. Ele sorria e falava com

a mo��a que estava ao seu lado.

De repente, viu-a. Os olhos dos dois se

encontraram. Milton desviou o rosto ra-

pidamente. Por que Virg��nia voltara? Seu

temor come��ou a aumentar assustadora-

mento. Ang��lica perguntou:

��� Por que ficou t��o p��lido?

��� N��o s e i . . . talvez n��o esteja me sen-

tindo bem.

��� Assim, de repente

��� Vamos embora daqui.

��� Est�� bem. J�� vi que voc�� n��o est��

"curtindo" mesmo este bar.

���121

Virg��nia levou o copo de u��sque aos l��-

bios e come��ou a beber rapidamente. O l��-

quido queimava-lhe a garganta. Viu quan-

do Milton chamou o gar��om e pediu a con-

ta. Tinha que agir sem demora. Levantou-

se e dirigiu-se at�� sua mesa.

��� Oi, Milton, como vai?

O rapaz ficou branco. Ang��lica olhava

para um e para o outro, sem entender na-

da.

��� N��o est�� lembrado de mim ��� in-

sistiu V��rg��nia

A voz de. Milton saiu muito t��mida:

__Claro que estou.

��� Voc�� acha que eu mudei muito?

��� N��o. Est�� quase a mesma coisa.

��� Por que mentir? Eu envelheci, estou

feia, esta �� a verdade. Estou quase irreco-

nhec��vel.

Ang��lica puxou disfar��adamente o bra-

��o do noivo:

122���

��� Quem �� ela?

��� Por que n��o diz �� mo��a quem sou?

O gar��om voltou com a conta. Milton

pagou e disse:

��� Pode ficar com o troco.

Ia levantar-se para sair do bar, quando

Virg��nia o segurou:

��� J�� vai embora? Pensei que fosse fi-

car mais satisfeito em me ver de n o v o . . .

Por que a gente n��o aproveita para comemo-

rar? Voc�� nem me apresentou �� sua amigui-

nha. �� outra que voc�� est�� enganando

Varias pessoas que estavam nas mesas

pr��ximas olhavam a cena com curiosidade.

Virg��nia come��ara a falar alto. N��o podia

mais se controlar.

Milton desvencilhou-se dela, segurou a

m��o de Ang��lica e deu alguns passos, acom-

panhado da noiva. Numa fra����o de minu-

to, Virg��nia abriu a bolsa, tirou o rev��lver

e atirou nele, pelas costas.

���123

Ningu��m, esperava aquilo e n��o houve

como impedir o gesto. O rapaz cambaleou,

enquanto outros tiros o alvejavam.

Logo seguraram Virg��nia, que deixou

cair a arma no ch��o e olhava fixamente

para o corpo ensang��entado um pouco

mais adiante. Ali estava morto o homem

que um dia considerara como o amante

ideal.

Ang��lica abaixou-se para socorrer o

oivo, enquanto gritava:

��� Por favor, chamem uma ambul��ncia,

depressa.

Mas era tarde demais, Milton j�� havia

morrido. Um dos tiros atingira o pulm��o e

fora fatal. Ang��lica teve. uma crise de ner-

vos e come��ou a chorar alto. Algumas pes-

soas procuraram afastada do corpo de Mil-

ton, mas ela se agarrava cada vez mais, em

convuls��es.

Devia ter concordado com Milton logo da

primeira vez em que pedira para sair do P��G 124

bar. Quem seria aquela mulher? O que Mil-

ton lhe fizera para que ela o matasse?

Virg��nia olhava tudo absorta, paralisa-

da. N��o se notava nela o menor movimen-

to. Diria-se que n��o piscava nem os olhos...

*

Leopoldo estava tomando seu quinto

chope, quando viu um rapaz chegando ao

bar onde se encontrava. O jovem sentou-se

numa mesa ao lado da sua, onde estava um

casal. Podia ouvir perfeitamente o que con-

versavam.

��� Voc��s souberam do crime?

��� Que crime?

��� Ali, num bar da Avenida Atl��ntica.

Eu estava l�� e vi tudo. Uma mulher apro-

ximou-se de um casal, puxou o rev��lver e

matou o homem.

��� Voc�� sabe por que foi?

��� Acho que ela �� meia maluca. �� co-

nhecida do pessoal do bar. Dizem que vai





125


t�� quase, toda noite. Estavam dizendo tam-

b��m que deve ter sido por ci��mes.

Leopoldo, ao ouvir a conversa, teve um

estranho pressentimento. Teria sido Virg��-

nia? Lembrou-se que guardava um rev��lver

em casa e estava muito apressada quando

a encontrara.

O rapaz continuava a contar os detalhes

do assassinato e Leopoldo resolveu ir at�� o

bar onde ocorrera o crime para ver se con-

seguia descobrir mais alguma,coisa.

Ao chegar l��, s�� restavam os fregueses

habituais e parecia que- n��o ocorrera na-

da de extraordin��rio pouco tempo antes.

Procurou informar-se sobre o que tinha ha-

vido, mas descobriu pouca coisa al��m do que

j�� sabia. .

Voltou para casa mais perturbado do

que nunca. Cada pessoa com quem falara,

tinha descrito a assassina de maneira dife-

rente. Procurou pensar que n��o se tratava P��G 126

de Virg��nia e terminou adormecendo venci-

do pelo cansa��o.

Assim que acordou, logo cedo, comprou

os jornais. N��o havia nada sobre o crime.

Imaginou que sem d��vida n��o dera tempo

de ter sa��do nos jornais, ainda.

N��o teve paci��ncia de esperar at�� �� ho-

ra que combinara com Virg��nia e foi at�� o

apartamento dela. Tocou a campainha e

ningu��m atendeu, Olhou o rel��gio e viu

que eram apenas dez horas da manh��. Ela

acordava sempre tarde e ��quela hora deve-

ria estar dormindo. Insistiu, tocando ��

campainha v��rias vezes, mas novamente

ningu��m atendeu.

Desceu o elevador e procurou o porteiro.

Talvez ele lhe esclarecesse alguma coisa.

��� Sabe dizer se a moradora do 704

saiu

��� Quem? D. Virg��nia?

__Ela mesmo

��� N��o soube o que aconteceu?

��� N��o. P��G 127

__ Ela matou um homem ontem de ma-

drugada num bar e foi presa.

Leopoldo deu as costas ao porteiro e

saiu apressado. N��o queria que ele visse as

l��grimas que saltavam de seus olhos. Mais

adiante passou a m��o pelo rosto. Tinha

perdido Virg��nia definitivamente.

No dia seguinte, saiu nos jornais a his-

toria do crime, q u e foi amplamente divul-

gado, principalmente pela posi����o social da

noiva de Milton. Irineu tamb��m ficou pro-

fundamente perturbado: As declara����es de

Virg��nia eram terrivelmente pat��ticas. Ela

confessara que tinha determinado matar o

rapaz desde que a abandonara, porque ele

tinha sido um amante ideal. Uma vez que

n��o era mais dela, n��o queria que -fosse de mais ningu��m. FIM

P��g 128

/DIG P LEANDRO 2019







De bons amigos lançamentos

O Grupo Bons Amigos em parceria  com o grupo  Solivros com sinopses  tem a satisfação de lançar hoje mais um livro digital para atender aos deficientes visuais.      

Um Amante  Ideal - Carlos Aquino
Livro doado por Leandro e digitalizado por Fernando Santos

Sinopse:
Virginia é uma mulher separada. Ela era bem casada com Irineu.

             

            



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