NA
FRONTEIRA
DO
ESP�RITO
Copyright
�
2015
by
Jos�
Carlos
Leal
2�
edi��o
�
2015
Conselho
Editorial
do
Grupo
de
Frei
Luiz
Wilson
Vasconcelos
Pinto
Nelson
Duarte
Junior
Humberto
F.V.
Borges
�In
memoriam�
Heloisa
Garcia
Silveira
Jacy
Bellotti
Lima
Marisa
Amaral
Suzana
Capistrano
S�lvio
Ara�jo
Felipe
Jannuzzi
CIP
-BRASIL
-CATALOGA��O-NA-FONTE
SINDICATO
NACIONAL
DOS
EDITORES
DE
LIVROS,
RJ.
Leal,
Jos�
Carlos.
Jung
na
Fronteira
do
Esp�rito.
�
2.
edi��o
�
Rio
de
Janeiro:
Educand�rio
Social
Lar
de
Frei
Luiz,
2015.
268p.
/
14x21cm
ISBN
978-85-64703-24-7
1.
Educa��o.
1.
Espiritismo.
Discurso,
Confer�ncias,
etc.
CDD
133.9
CDU
133.9
Os
direitos
autorais
desta
obra
foram
cedidos
gratuitamente
pelo
autor
ao
Educand�rio
Social
Lar
de
Frei
Luiz
�
CNPJ
33.760.398/0001-13.
Editora��o:
Contraste
Editora
e
Propaganda
Capa
e
diagrama��o:
Contraste
Editora
e
Propaganda
Revis�o
final:
Contraste
Editora
e
Propaganda
Todos
os
direitos
de
reprodu��o,
tradu��o,
c�pia,
comunica��o
ao
p�blico
ou
explora��o
econ�mica
desta
obra
est�o
reservados
ao
Educand�rio
Social
Lar
de
Frei
Luiz.
Conforme
a
Lei
9.610/98,
que
regulamenta
os
direitos
de
autor
e
conexos,
seja
qual
for
a
forma
empregada,
�
proibida
a
reprodu��o
total
ou
parcial
desta
obra
sem
pr�via
e
expressa
autoriza��o
do
Educand�rio
Social
Lar
de
Frei
Luiz.
Educand�rio
Social
Lar
de
FREI
LUIZ
Estrada
da
Boi�na,
1.367
�
Taquara
�
Jacar�pagu�
�
Rio
de
Janeiro,
RJ
CEP
22723-021
http://www.lardefreiluiz.org.br/
Telefone:
(21)
3539-9550
CNPJ
33.760.398/0001-13
Insc.
Est.
82.141.960
EDUCAND�RIOSOCIALLARDEFREILUIZ
Estrada
da
Boi�na,
1.367
�
Taquara
�
Jacarepagu�
Rio
de
Janeiro,
RJ
�
CEP
22723-021
Telefone:
(21)
3539-9550
Site:
www.lardefreiluiz.org.br
Presidente:
Wilson
Vasconcelos
Pinto
Obra
filantr�pica
fundada
em
29
de
junho
de
1964
cujo
objetivo
�
a
assist�ncia,
educa��o
e
atendimento
m�dico-ambulatorial.
Integra
a
Institui��o
um
Ambulat�rio
M�dico
com
servi�os
de
Cl�nica
M�dica,
Ginecologia
e
Obstetr�cia,
Pediatria
e
Psiquiatria.
Todos
os
servi�os
s�o
integralmente
gratuitos.
As
equipes
m�dica
e
odontol�gica
s�o
exclusivamente
constitu�das
pelos
irm�os
dedicados
ao
Frei
Luiz.
OS
LIVROS
E
O
EQUIL�BRIO
DO
SER
Todos
possu�mos
uma
grande
responsabilidade
na
harmonia
de
nosso
Planeta.
�
nossa
miss�o
ajudar
na
irradia��o
dos
pensamentos
salutares
em
dire��o
aos
nossos
semelhantes.
Pensamentos
bons,
fraternos,
de
uni�o;
jamais
calcados
no
ego!
Com
os
pensamentos,
ajudamos
na
cura
de
nossa
alma,
restabelecemos
nossa
estrutura
org�nica
e
auxiliamos
a
regenera��o
da
Terra.
E
bons
livros
s�o
not�veis,
potentes
e
aben�oados
�professores�,
auxiliando-nos
divinamente
na
educa��o
e
no
equil�brio
de
nossos
pensamentos
e
a��es.
Nosso
Grupo
de
Frei
Luiz
vem
trabalhando,
com
zelo,
dedica��o,
comprometimento
e
carinho,
no
intuito
de
levar
a
voc�,
querido
(a)
leitor(a),
boas
e
esclarecedoras
informa��es
por
meio
desses
livros
que
ora
propomos.
H�
uma
riqueza
mental
ao
nosso
dispor
e
tesouros
maravilhosos
armazenados
em
nosso
cora��o.
Aguardam
apenas
o
despertar,
para
que,
ent�o,
movimentemos
m�os
operosas
e
uma
presen�a
confortadora
em
benef�cio
de
nossos
irm�os,
de
nossos
companheiros
de
jornada.
A
boa
literatura
fortalece
e
norteia
nossos
pensamentos,
edificando
e
abrindo
novos
horizontes.
Que,
pouco
a
pouco,
tornemo-nos
livres
da
velha
sombra
que
nos
acompanha
h�
mil�nios:
a
ignor�ncia.
O
florescer
dos
bons
pensamentos
e
sentimentos
�
o
maior
dos
medicamentos
a
criar
equil�brio,
transformar
e
apurar
energias,
preservar
e
gerar
a
sa�de
f�sica,
mental
e
astral.
Grupo
de
Frei
Luiz
PUBLICA��ES
DO
EDUCAND�RIO
SOCIAL
LAR
DE
FREI
LUIZ
OS
SEGREDOS
DO
V�U
DE
�SIS
�Todos
os
Segredos
do
V�u
de
�sis
foram
revelados
com
a
Doutrina
Esp�rita
codificada
por
Allan
Kardec,
que
abriu
a
arca
dos
tesouros
imortais
ao
p�blico
do
mundo
inteiro
(...).�
Djalma
Santos
da
Silva
SEGREDOS
DA
ALMA
��
apenas
um
pequeno
esfor�o,
um
simples
voo
do
meu
pensamento
cont�nuo,
exteriorizado
pelo
meu
esp�rito,
�vido
por
conhecer
e
compartilhar,
atendendo
�
maravilhosa
assertiva
de
Jesus:
V�s
sois
o
sal
da
terra,
mas,
se
o
sal
for
insosso,
n�o
poder�
salgar.
A
nossa
inten��o
n�o
�
apresentar
inova��es,
nem
curiosidades,
mas
dissertar
sobre
assuntos
j�
conhecidos,
de
modo
simples
e
direto,
tendo
Kardec
como
l�der
doutrin�rio
indiscut�vel.�
Djalma
Santos
da
Silva
COMO
JESUS
SE
TORNOU
DEUS
Jesus
�
o
Guia
e
Modelo
do
nosso
planeta.
Aquele
que
nos
amou
e
nos
ama
a
tal
ponto
que
deixou
as
esferas
mais
altas
onde
habitava
para
viver
conosco
e
dar
a
sua
vida
em
sublime
sacrif�cio
por
todos
n�s.
Jesus,
o
Messias
de
Deus,
o
Servidor
do
Pai,
o
Nosso
irm�o
maior,
mas
que
n�o
�
Deus,
e
isto
n�o
o
diminui,
ao
contr�rio,
exalta-O
e
deixa
claro
para
n�s
que
tudo
aquilo
que
Ele
realizou
n�s
tamb�m
poderemos
realizar,
bastando
desenvolver
os
nossos
talentos
e
coloc�-los
a
servi�o
de
nosso
pr�ximo.
Com
amor
e
devo��o.
Jos�
Carlos
Leal
MEM�RIAS
DE
UM
PRESIDENTE
DE
TRABALHOS
Trabalho
voltado
para
a
pr�tica
de
sess�es
esp�ritas,
principalmente
sobre
t�cnicas
de
materializa��o
e
efeitos
f�sicos.
Verdadeiro
manual
e
roteiro
seguro
para
os
que
se
prop�em
ao
conhecimento
e
ao
exerc�cio,
l�mpido
e
correto,
do
trabalho
esp�rita.
Luiz
da
Rocha
Lima
FREI
LUIZ
�
O
OPER�RIO
DO
BRASIL
Estudo
biogr�fico
da
entidade
tutelar,
cujo
nome
�
dado
ao
Educand�rio
Social
e
�
Institui��o
Esp�rita.
Os
relatos
estendem-se
a
manifesta��es
suas
ap�s
desencarnado
�
esp�rito
atuante.
Luiz
da
Rocha
Lima
MEDICINA
DOS
ESP�RITOS
Obra
calcada
na
pr�tica
da
Medicina
(diagn�stica
e
terap�utica)
desenvolvida
pelos
Esp�ritos.
�
valioso
livro
de
consulta
e
roteiro
seguro
para
m�dicos
e
demais
interessados,
na
etiopatogenia
espiritual
das
mais
variadas
doen�as:
org�nicas,
funcionais
e
psicossom�ticas.
Luiz
da
Rocha
Lima
O
GRANDE
INVESTIDOR
Livro
revelador
dos
rendimentos
e
recompensas
tributadas
aos
que
praticam
a
caridade.
A
obra
mostra-nos
ser
a
caridade
o
maior
e
mais
eficiente
de
todos
os
investimentos
de
que
o
homem
possa
lan�ar
e
socorrer-se.
Livro
que,
certamente,
marcar�
e
modificar�
a
vida
de
muitos
de
seus
leitores,
inseguros
e
intranquilos
com
seus
dias
do
amanh�.
Luiz
da
Rocha
Lima
LUIZINHO
�
O
POETA
DE
DEUS
Colet�nea
de
poesias
e
de
mensagens
psicografadas
(mecanicamente),
compiladas
(clarividentemente)
e
verbalizadas
(clariaudientemente)
pelo
m�dium
Eduardo
Fructuoso.
Os
coment�rios
s�o
de
Luiz
da
Rocha
Lima.
Luiz
da
Rocha
Lima
MENSAGENS
DOS
ESP�RITOS
PELO
TELEFONE
Transcri��o
de
di�logos
mantidos
com
os
Esp�ritos
ao
se
utilizar
recurso
in�dito
�
o
telefone
�
como
meio
de
comunica��o.
Trabalho
vanguardista.
Essa
obra
abre,
pois,
novo
horizonte
na
era
da
comunica��o
entre
o
mundo
dos
homens
e
o
mundo
dos
esp�ritos.
Luiz
da
Rocha
Lima
FOR�AS
DO
ESP�RITO
Relato
empolgante
da
poderosa
e
ben�fica
influ�ncia
dos
Esp�ritos
de
Luz,
ao
criarem,
junto
a
grupo
de
irm�os
dedicados,
obra
beneficente
efilantr�pica.
�
um
livro
que
testemunha
o
poder
da
f�
quando
associada
�
perseveran�a,
�
caridade
e
ao
amor.
Luiz
da
Rocha
Lima
MEDIUNIDADE
COM
CRISTO
Estudo
te�rico
e
pr�tico
acerca
do
preparo
e
da
educa��o
medi�nica.
Trabalho-guia
para
o
m�dium
iniciante.
Luiz
da
Rocha
Lima
EVID�NCIAS
DE
UM
VIDENTE
Eduardo
Fructuoso
�
fiel
e
dedicado
m�dium
do
Grupo
de
Frei
Luiz
e
possui
uma
longa
trajet�ria
de
esfor�os,
perseveran�a
e
const�ncia
na
viv�ncia
da
Doutrina
Esp�rita.
Chegou
ao
Grupo
em
7
de
novembro
de
1967.
Por
meio
da
mediunidade,
da
clarivid�ncia
e
da
psicografia,
ele
se
coloca
�
inteira
disposi��o
da
Espiritualidade
Maior
para
o
trabalho
na
caridade.
O
m�dium,
ao
longo
desses
muitos
anos,
tem
recebido
v�rias
mensagens,
dentre
as
quais
est�o
as
enviadas
por
Luizinho,
em
forma
de
belas
poesias,
apresentadas
nesse
livro.
Eis
aqui
uma
obra
que
nos
proporciona
uma
leitura
edificante.
Trata-se
de
um
presente
para
fortalecer
a
nossa
vida
e
nossas
reflex�es
di�rias,
com
mensagens
de
amor,
humildade,
perd�o
e
caridade.
A
FACE
OCULTA
DA
MEDICINA
Dr.
Paulo
Cesar
Fructuoso,
m�dico
cirurgi�o
e
m�dium,
nas
�ltimas
tr�s
d�cadas
foi
testemunha
ocular
dos
fen�menos
hiperf�sicos
ocorridos
na
Casa
Esp�rita
Lar
de
Frei
Luiz.
O
leitor
ter�
a
oportunidade
de
viajar
em
uma
ci�ncia
muito
mais
vasta,
que
inclui
em
seus
postulados
conceitos
de
uma
Medicina
invis�vel,
mas
com
resultados
vis�veis,
o
que
certamente
mudar�
paradigmas
a
respeito
da
ideia
materialista
da
ci�ncia
m�dica...
Quando
isso
acontecer,
a
ci�ncia
ter�
tido
a
comprova��o
de
que
toda
enfermidade
�
heran�a
de
erros
passados
e,
a�,
mudar�
o
foco
para
a
cura
do
doente
�
o
esp�rito.
Se
observarmos
com
aten��o,
a
evolu��o
do
pensamento
humano,
verificamos,
de
tempo
em
tempo,
o
aparecimento
de
homens
brilhantes
cuja
contribui��o
�
decisiva
para
o
desenvolvimento
cient�fico
e
filos�fico.
Muitas
dessas
contribui��es
s�o
de
tal
ordem
que
representam
uma
ruptura
complexa,
umatransforma��o
radical
na
forma
de
estender,
at�
ent�o,
o
mundo,
o
homem
e
a
vida.
�
o
caso
de
S�crates,
Arist�teles,
Cop�rnico,
Galileu,
Einstein,
dentre
muitos
outros.
A
partir
de
suas
obras,
o
pensamento
cient�fico
ou
filos�fico
existente
sofreu
reformula��es
estruturais.
Thomas
Khun,
em
sua
obra
Estruturas
das
revolu��es
cient�ficas
diz
que
a
evolu��o
do
pensamento
cient�fico
n�o
se
d�
por
acumula��o
de
conhecimento,
mas
por
transforma��o
radical
dos
conceitos
vigentes,
fen�meno
denominado
quebra
de
paradigma.
Sempre
que
a
ci�ncia
parece
ter
chegado
ao
limite
da
sua
capacidade
de
pensar
as
quest�es
fundamentais
do
ser
humano,
um
novo
paradigma
acaba
por
se
estabelecer,
ampliando
n�o
s�
a
estrutura
da
Ci�ncia
pura,
do
conhecimento
pelo
conhecimento,
quanto
da
sua
vertente
aplicada
que
se
reverte
mais
diretamente
na
tentativa
de
melhorar
a
qualidade
da
vida
do
homem.
Dentro
da
Psicologia,
s�o
ineg�veis
as
contribui��es
de
Freud
e
de
todas
as
abordagens
desdobradas
da
Psican�lise,
principalmente
as
de
Jung
e
Adler.
Dissidentes
do
mestre
vienense,
esses
homens
tiveram
a
coragem
de
discordar
de
aspectos
estruturais
do
corpo
da
Psican�lise.
A
partir
da
estrutura
de
funcionamento
do
psiquismo,
principalmente
da
inst�ncia
do
inconsciente,
esses
dissidentes
puderam
ampliar
as
observa��es
cl�nicas
propiciando
uma
maior
efici�ncia
no
tratamento
de
diversas
psicopatologias.
Carl
Gustav
Jung
se
insere
no
conjunto
desses
nomes
que
ajudaram
na
constru��o
de
novos
paradigmas,
no
campo
da
Psicologia.
Todo
esse
movimento
ocorrido
dentro
da
Psicologia
permitiu
o
desdobramento
de
in�meras
pesquisas
sobre
o
psiquismo
profundo,
resultando,
particularmente,
a
partir
da
d�cada
de
50
de
nosso
s�culo,
o
estabelecimento
de
um
novo
paradigma
a
que
chamamos
de
Psicologia
Transpessoal.
Nessa
nova
abordagem
consideramos
o
componente
espiritual
de
ser
humano
como
poss�vel
de
observa��o
e
experimenta��o
cient�fica,
pois
representa
leg�timo
campo
de
estudo
e
de
aspira��es
identificada
nos
seres
humanos.
A
Psicologia
passa
a
se
preocupar
com
experi�ncias
subjetivas
normalmente
atribu�das
e
relacionada
�s
pr�ticas
m�ticas
e
religiosas,
principalmente
orientais
onde
estados
alterados
de
consci�ncia
eram
acompanhados
de
diversos
fen�menos
at�
ent�o
considerados
sobrenaturais.
Foram
esses
estudos
que
projetaram
pesquisadores
como
Grof,
Wilber,
Tart
e
Maslow
dentre
muitos.
Como
conseq��ncia
natural
desse
processo,
permitiu-se
pela
primeira
vez,
a
possibilidade
de
considerar
o
fen�meno
da
reencarna��o
ou
paling�nese
como
uma
das
hip�teses
de
trabalho
capaz
de
explicar
os
fen�menos
por
eles
observados.
Curiosamente,
esses
cientistas
consideram
Jung
como
sendo
o
Pai
da
Psicologia
Transpessoal,
em
fun��o
das
significativas
contribui��es
desse
pensador
para
uma
abordagem
hol�stica
do
ser
humano,
mesmo
sem
que
Jung
tenha
admitido
durante
sua
vida
a
realidade
do
esp�rito
ou
da
reencarna��o.
O
presente
livro
do
Prof.
Jos�
Carlos
Leal
�
uma
instigante
explora��o
pela
vida
e
obra
de
Jung,
localizando
os
relatos
pessoais
do
eminente
psiquiatra
que
tratam
dos
estanhos,
mas
significativos,
fen�menos
experimentados
por
ele
ao
logo
de
sua
exist�ncia
e
que
poderiam
ser
plenamente
caracterizados
como
de
natureza
medi�nica
ou
espiritual.
Sonhos
premunit�rios,
vis�es
e
produ��o
de
efeitos
f�sicos
s�o
alguns
dos
fen�menos
que
o
autor
considera
como
suficientes
para
terem
convencido
Jung
da
realidade
do
esp�rito
e
de
sua
mediunidade.
No
entanto,
apesar
de
todas
essas
evid�ncias,
Jung
nunca
chegou
a
admitir,
pelo
menos
publicamente,
as
suas
convic��es.
Muitos
desses
fen�menos
ao
relacionados
pelo
autor
�s
explica��es
esp�ritas
sobre
a
mediunidade
em
suas
mais
variadas
formas
de
manifesta��o,
que
foram
pesquisadas
por
Allan
Kardec,
no
final
do
s�culo
XIX,
e
apresentadas
sistematicamente
na
Doutrina
dos
Esp�ritos.
Ao
longo
do
livro,
percebemos
um
Jung
de
esp�rito
inquieto,
agoniado
entre
o
conflito
e
a
evid�ncia
das
suas
pr�prias
experi�ncias
paranormais
e
o
inevit�vel
desgaste
e
exposi��o
pessoal
que
a
defesa
dessa
tese
traria
�
sua
reputa��o
profissional.
Parece
que
prevaleceu
a
preserva��o
da
imagem
acad�mica.
A
reflex�o
sobre
os
consistentes
leva
o
leitor
a
formular
diversas
quest�es.
Ser�
que
Jung
realmente
n�o
acreditava
na
realidade
dos
fen�menos
que
experimentou?
Ser�
que
o
temor
por
um
comprometimento
de
sua
imagem
acad�mica
de
intelectual
s�rio
n�o
pesou
na
condu��o
de
suas
conclus�es
e
de
sua
teoria?
O
Prof.
Jos�
Carlos
Leal
levanta
a
hip�tese
interessante
de
Jung
n�o
ter
conseguido
levar
a
cabo
seus
projetos
de
contribuir
no
desenvolvimento
da
Doutrina
dos
Esp�ritos,
com
toda
sua
observa��o
pessoal,
bem
como
de
sua
pr�tica
cl�nica,
introduzindo,
definitivamente,
a
quest�o
do
esp�rito
no
escopo
das
ci�ncias
psicol�gicas.
Em
nossa
pr�tica
de
consult�rio
com
Terapias
de
Vidas
Passadas,
temos
identificado
um
grande
n�mero
de
casos
em
que
o
sofrimento
do
indiv�duo
est�,
exatamente,
no
conflito
que
se
estabelece
entre
uma
programa��o
para
a
atual
exist�ncia
e
um
desvio
deste
comportamento,
estabelecendo
um
significativo
quadro
de
contradi��es,
ang�stias
e
insatisfa��es
que
resultam
em
diversas
patologias
psicol�gicas
e
som�ticas.
Ser�
que
foi
isso
o
que
aconteceu
com
Jung?
Nossa
experi�ncia
cl�nica
corrobora
a
possibilidade
desta
hip�tese,
mas
�
ineg�vel
a
impossibilidade
de
afirmarmos
tal
coisa.
Milton
Menezes
Formado
em
Economia
e
Psicologia.
Autor
do
livro
Terapia
de
Vidas
Passadas
e
Espiritismo
A
Psicologia
do
s�culo
XIX,
em
raz�o
do
Racionalismo
Cartesiano
e
da
proposta
positivista,
havia
assumido
uma
postura
inteiramente
comprometida
com
o
objetivismo
e,
por
conseq��ncia,
com
o
cientificismo.
A
pesquisa
fisiol�gica
foi
a
grande
estimuladora
e
orientadora
deste
novo
modelo
de
Psicologia.
A
Fisiologia,
de
fato,
tornou-se
uma
disciplina
de
orienta��o
experimental
na
d�cada
de
1830,
notadamente,
em
virtude
da
influ�ncia
do
fisiologista
alem�o
Johannes
Muller
(1801-1858)
que
foi
o
primeiro
a
defender
a
aplica��o
do
m�todo
experimental
�
Fisiologia.
Professor
de
Anatomia
e
Fisiologia
da
Universidade
de
Berlim,
Muller
era
um
trabalhador
infatig�vel,
publicando,
em
m�dia,
um
artigo
por
semana
o
que
se
constitu�a,
por
certo,
em
not�vel
colabora��o
aos
estudiosos
de
ci�ncias
naturais
de
sua
�poca.
Logo,
os
estudiosos
de
Psicologia
passaram
a
se
interessar
pelas
contribui��es
que
a
nova
ci�ncia
poderia
trazer
para
a
explica��o
das
fun��es
do
c�rebro.
O
iniciador
dessa
pesquisa
foi
um
m�dico
escoc�s
que
trabalhava
em
Londres
e
que
se
chamava
Marshall
(1790-1857)
que
se
dedicou
ao
estudo
do
comportamento
reflexo.
Pierre
Flourens
(1794-1867),
professor
de
Hist�ria
Natural
do
College
de
France,
estudou,
sistematicamente,
v�rias
partes
do
c�rebro
e
a
medula
espinhal
e
chegou
�
conclus�o
de
que
o
c�rebro
controla
os
processos
materiais
superiores.
Descobriu
ainda
em
seus
trabalhos
que,
partes
do
mesenc�falo
controla
os
reflexos
visuais
e
auditivos,
enquanto
o
c�rebro
controlaria
a
coordena��o,
o
bulbo
raquidiano
seria
o
respons�vel
pelas
batidas
do
cora��o
e
pela
respira��o.
Na
segunda
metade
do
s�culo
XIX,
aconteceu
a
introdu��o
de
duas
abordagens
de
car�ter
experimental
no
que
dizia
respeito
ao
c�rebro:
a
primeira
foi
o
m�todo
cl�nico
e
a
segunda
o
uso
de
est�mulos
el�tricos.
O
m�todo
cl�nico
foi
desenvolvido
em
1861,
pelo
m�dico
franc�s
Paul
Broca
(18241880)
que
trabalhava
como
cirurgi�o
em
um
asilo
de
loucos
nas
cercanias
de
Paris.
Um
de
seus
trabalhos
mais
sensacionais
se
deu
do
seguinte
modo:
Broca
fez
a
necropsia
de
um
indiv�duo
que,
durante
muitos
anos,
fora
inteiramente
incapaz
de
falar
de
um
modo
intelig�vel.
Depois
de
examinar,
cuidadosamente,
o
c�rebro
desse
homem,
Pierre
Broca
percebeu
que
havia
uma
les�o
na
terceira
convuls�o
frontal
do
c�rtex
cerebral.
O
pesquisador,
depois
de
constatar
esse
fato,
concluiu
que
o
homem
n�o
falava
por
causa
da
les�o
naquela
�rea
e
a
denominou
de
�rea
da
fala.
Esse
lugar
cerebral
foi
chamado
mais
tarde,
com
toda
a
justi�a
de
�rea
de
Broca.
Esta
descoberta
era
demasiadamente
importante,
e
logo
se
imaginou
que
se
poderia
descobrir
muita
coisa
sobre
a
rela��o
entre
c�rebro
e
comportamento
se
fosse
poss�vel
extirpar
certas
�reas
do
c�rebro
de
indiv�duos
vivos
e
depois
examinar
os
resultados.
Naturalmente,
isso
era
imposs�vel
e
os
seus
estudos
das
�reas
cerebrais
passaram
a
se
desenvolver
com
indiv�duos
cadaverizados
que,
em
vida,
haviam
tido
algum
tipo
de
dist�rbio
de
comportamento.
O
uso
de
estimula��o
el�trica
para
se
estudar
o
c�rebro
foi
introduzido
por
Gustav
Fritsch
e
Eduard
Hitzig,
em
1870.
Consistia
esse
m�todo
em
se
explorar
a
atividade
do
c�rtex
cerebral
por
meio
de
est�mulos
el�tricos
de
fraca
intensidade.
Esses
pesquisadores
descobriram
que,
quando
estimulavam
certas
�reas
cerebrais
com
ondas
el�tricas,
obtinham
respostas
motoras.
Com
a
cria��o
de
instrumentos
mais
sofisticados
e
t�cnicas
mais
apuradas,
esse
m�todo
sofisticou-se
bastante
e,
por
meio
dele,
descobriram-se
muitas
particularidades
do
c�rebro.
Todas
essas
pesquisas
e
descobertas
levaram
ao
surgimento
da
Psicologia
Experimental.
Quatro
s�o
os
pioneiros
deste
tipo
de
psicologia:
Hermann
von
Helmhotz,
Ernst
Weber,
Gustav
Theodor
Fechner,
e
Wilhelm
Wundt.
Por
essa
�poca
alguns
pa�ses
da
Europa
Ocidental
como
a
Inglaterra,
Fran�a
e
Alemanha
estavam
bastante
avan�ados
nos
estudos
cient�ficos.
Nesses
pa�ses,
o
interesse
pelas
Ci�ncias
da
Natureza
era
muito
grande
e
o
entusiasmo
que
esses
estudos
despertavam
no
meio
acad�mico
e
mesmo
fora
dele,
era
consider�vel.
Assim,
na
Alemanha,
pa�s
que
reunia
as
melhores
condi��es
cient�ficas
da
�poca,
surge
o
primeiro
laborat�rio
de
Psicologia,
sobre
a
responsabilidade
de
Wundt.
Ainda
no
s�culo
XIX,
lan�ou-se
um
livro
muito
importante
para
o
pensamento
ocidental,
escrito
por
Charles
Robert
Darwin
(1809-1882)
e
cujo
t�tulo
era:
On
the
Origin
of
Specyes
by
Means
of
Natural
Selection
(Sobre
a
Origem
das
esp�cies
por
meio
da
Sele��o
Natural).
Publicado
em
1859,
como
se
pode
ver
apenas
dois
anos
depois
da
publica��o
de
O
Livro
dos
Esp�ritos
(18
de
abril
de
1857).
O
livro
de
Darwin
teria
tido
a
virtude
de
apresentar,
pela
primeira
vez,
uma
teoria
da
evolu��o
de
um
modo
bastante
coerente
e
com
farta
documenta��o.
Com
ele
se
rompiam
as
cadeias
das
supersti��es
grosseiras
e
mostrava-se
a
respeitabilidade
com
que
deveriam
ser
vistas
as
ci�ncias
da
vida.
A
teoria
da
evolu��o,
al�m
disso,
causou
um
profundo
impacto
na
Psicologia
dos
Estados
Unidos
que
deve
muito
�
obra
de
Darwin.
Uma
outra
contribui��o
not�vel
�
moderna
Psicologia
veio
da
R�ssia
com
a
obra
de
Ivan
Petrov
Pavlov
(1859-1936)
que
se
ocupou
de
estudar
os
reflexos
provando
que
era
poss�vel
condicion�-los.
Em
seu
estudo,
Pavlov
se
valeu,
principalmente
de
cachorros.
A
sua
pesquisa
sobre
a
digest�o
lhe
deu
reconhecimento
internacional
e,
em
1904,
recebeu
o
Pr�mio
Nobel
pelo
conjunto
de
sua
obra.
O
trabalho
de
Pavlov
influenciou
marcadamente
a
Psicologia
Behaviorista
ou
Comportamental
criada
por
J.B.
Watson
(1878-1958)
e
desenvolvida,
mais
tarde,
por
outros
pesquisadores
principalmente
Skinner.
Embora
tenhamos
avan�ado
mais
do
que
desej�vamos,
gostar�amos
de
voltar
um
pouco
�
segunda
metade
do
s�culo
XIX
e
lembrar
que,
naquela
�poca,
os
estudos
iniciantes
sobre
o
c�rebro
haviam
feito
as
pessoas
pensarem
que
a
fun��o
ps�quica
era
originada
naquele
�rg�o,
n�o
havendo
portanto
a
necessidade
do
esp�rito.
Ficou
muito
famosa
a
frase
de
Claud
Bernard
(ou
a
ele
atribu�da):
�O
c�rebro
secreta
pensamento
como
o
f�gado
secreta
a
bile�.
Cria-se,
ent�o,
uma
interpreta��o
materialista
do
homem
e
do
mundo.
�
nesse
contexto
que
o
Plano
Espiritual
decide
enviar
�
Terra
um
Esp�rito
Mission�rio,
chamado
Leon
Hipollite
Denizard
Rivail,
mais
conhecido
como
Allan
Kardec
cuja
tarefa
ser�
organizar
um
vasto
material
trazido
pelos
esp�ritos,
material
esse
que
dar�
origem
a
uma
nova
Psicologia
que
tem
o
nome
de
Doutrina
Esp�rita.
�
interessante
recordar
aqui
que
Allan
Kardec
possu�a
plena
consci�ncia
de
que
estava
sendo
o
canal
para
a
introdu��o
de
uma
nova
Psicologia
e,
tanto
isso
�
verdade,
que,
que
a
Revista
Esp�rita,
criada
por
ele,
tem
o
subt�tulo
de
Estudos
de
Psicologia.
Ora,
a
palavra
Psicologia
deriva
do
grego:
Psik�
=
alma
+
log
=
discurso,
estudo
+
ia
=
sufixo
formador
de
substantivos
e,
portanto,
significa:
estudo
ou
ci�ncia
da
alma,
entretanto,
a
Psicologia
Moderna
havia
decidido
negar
o
seu
pr�prio
objeto.
A
Doutrina
Esp�rita,
revelando
e
ampliando
o
conceito
de
alma
(esp�rito
encarnado)
e
da
vida
espiritual
como
um
todo,
prop�e
um
novo
paradigma
para
os
estudos
psicol�gicos.
Segundo
a
Doutrina
dos
Esp�ritos,
o
homem
�
um
ser
eterno
que
caminha
na
dire��o
dos
Mundos
Maiores.
Como
esta
proposta
implica
tempo,
o
Espiritismo
perfilha
com
clareza
e
objetividade
a
id�ia
da
reencarna��o,
mas
revitalizada
e
despida
de
todos
os
desvios
que
a
caracterizaram
no
passado
e
que
ainda
existem
em
outros
paises
em
que
�
aceita.
Com
a
id�ia
da
reencarna��o,
a
Doutrina
dos
Esp�ritos
associa-se,
francamente,
�
teoria
da
evolu��o,
imprimindo-lhe
uma
dimens�o
nova:
a
dimens�o
espiritual.
Segundo
a
teoria
dos
evolucionistas,
todas
as
formas
de
vida
existes
foram
resultado
de
uma
longa
elabora��o
no
sentido
de
novas
formas
mais
adequadas
�s
novas
propostas
da
Natureza;
entretanto,
o
Esp�rito
estava
ausente
da
evolu��o.
O
Espiritismo
corrige
essa
deforma��o
e
nos
diz
que
tamb�m
o
Esp�rito
progride
e
que
e
cada
exist�ncia
ele
avan�a
no
sentido
do
aprimoramento
moral
e
intelectual.
A
esta
altura,
pensamos
poder
colocar
a
tese
central
deste
livro:
acreditamos
que
o
Plano
Espiritual,
desejoso
de
que
o
Espiritismo
avan�asse
de
um
modo
mais
preciso
e
definitivo,
incumbiu
um
grande
n�mero
de
Esp�ritos
para
ajudarem
Allan
Kardec
em
seu
trabalho.
O
objetivo
era
dar
�
doutrina
nascente
o
respaldo
de
seu
intelecto,
autoridade
e
fama.
Todos
esses
esp�ritos
encarnaram
em
pa�ses
com
condi��es
culturais
de
influenciar
o
mundo
em
que
viviam.
Entre
eles
podemos
ressaltar:
Camillie
Flamarion,
Gabriel
Dellane,
Cesare
Lomborso,
Leon
Denis,
Ernesto
Bozzano,
William
Crooks,
Arthur
Conan
Doyle,
Paul
Gibier,
Charles
Richet,
Eugene
August
Albert
De
Rocha
e
m�diuns
como:
Eusapia
Paladino,
Madame
D�Esperance,
Daniel
Dunglas
Homme
e
as
irm�s
Fox
e
muitos
outros.
Entre
esses
esp�ritos,
apenas
como
hip�tese,
inclu�mos
Sigmund
Freud
e
C.
G.
Jung
cuja
tarefa
segundo
no
parece,
seria
fazer
uma
esp�cie
de
ponte
entre
a
Psicologia
tradicional
ou
acad�mica
e
o
Espiritismo.
Dedicamos
este
livro
�
tentativa
de
mostrar,
principalmente
no
caso
de
Jung,
como
se
deu
o
desenvolvimento
desta
tarefa.
N�o
se
trata
de
um
livro
critico
sobre
a
psicologia
de
Jung
e
muitos
menos
uma
acusa��o
a
ele
por
ter,
de
nosso
ponto
de
vista,
se
afastado
da
tarefa
a
que
se
prop�s,
apesar
dos
grande
n�mero
de
chamados
e
advert�ncias
que
teve
ao
longo
de
sua
vida.
Desejamos
evidenciar
por
meio
de
um
grande
n�mero
de
casos,
contados
pelo
pr�prio
Jung.
Chamamos
aten��o
para
a
mediunidade
desse
psic�logo,
mediunidade
esta
que,
infelizmente
jamais
reconheceu.
Este
portanto
�
um
livro
que
se
construiu
a
partir
de
uma
hip�tese,
uma
hip�tese
plaus�vel,
mas
apenas
uma
hip�tese,
nada
mais
do
que
isso.
Durante
o
nosso
trabalho,
teremos
ocasi�o
de
fazer
algumas
refer�ncias
�
Psicologia
de
Jung,
por
isso,
achamos
por
bem
explicar
os
conceitos
fundamentais
da
Psicologia
Anal�tica
para
favorecer
�queles
que
n�o
est�o
familiarizados
com
este
tipo
de
Psicologia.
N�o
se
trata,
exatamente,
de
um
gloss�rio
de
Psicologia
Anal�tica,
mas
de
uma
tentativa
de,
preliminarmente,
apresentar
alguns
conceitos
com
que
trabalharemos
no
livro
como
um
todo.
Este
cap�tulo,
entretanto,
n�o
nos
exime
de
criarmos,
no
decorrer
de
nosso
estudo,
outros
cap�tulos
onde
esses
conceitos
(pelo
menos
alguns
deles)
dever�o
ser
estudados
com
um
pouco
mais
de
detalhes.
1.
Alma
Este
termo
ser�
usado
por
Jung
no
lugar
da
palavra
mente,
aparelho
an�mico,
aparato
an�mico
e
outros
termos
an�logos.
Em
Jung
o
termo
alma
equivale
�
palavra
grega
psik�.
N�o
possui
um
sentido
religioso
ou
transcendente.
A
alma
�,
ent�o,
para
ele,
o
mesmo
que
psiquismo.
2.
Anima
Jung
considera
anima
como
um
arqu�tipo
que
personifica
a
figura
feminina
que
se
encontra
no
interior
do
inconsciente
masculino.
Assim,
se
um
homem
�
tomado
por
sua
anima,
torna-se
extremamente
motivado
e
nele
se
desenvolve
as
potencialidades
criadoras.
3.
Animus
Esta
�
uma
contrapartida
da
anima,
ou
seja
um
arqu�tipo
masculino
que
existe
no
interior
de
cada
inconsciente
feminino.
Se
uma
mulher
for
radicalmente
tomada
por
seu
animus,
torna-se
decidida,
forte,
m�scula,
capaz
de
ter
opini�es
pr�prias
e
de
ser
independente.
A
anima
e
o
animus
s�o
respons�veis
pela
inspira��o,
tanto
em
um
caso
como
em
outro.
4.
Complexo
Este
conceito
possui
para
n�s
uma
import�ncia
consider�vel
como
veremos
na
leitura
deste
livro.
Foi
um
termo
criado
por
Jung
e
que
o
pr�prio
Freud
adotou.
O
que
�,
por�m,
um
complexo?
Segundo
Jung
os
complexos
seriam
grupos
fortemente
carregados
de
energia
e,
por
conseguinte
detentores
de
grande
for�a
emotiva.
S�o
formados
por
associa��es,
isto
�,
imagens,
percep��es,
id�ias,
fantasias
que
se
encadeiam
e
se
agrupam
em
torno
de
um
n�cleo
ou
arqu�tipo.
Os
complexos,
muitas
vezes,
possuem
atividade
aut�noma,
independente,
portanto
do
Ego.
Ainda
segundo
a
maneira
de
ver
junguiana,
os
arqu�tipos
funcionam
como
uma
estrada
privilegiada
para
o
inconsciente
e,
nesse
caso,
atuam
como
construtores
dos
nossos
sonhos.
Existe,
explica
Jung,
em
cada
personalidade,
um
n�mero
consider�vel
de
complexos
que
se
relacionam
e
interagem.
As
rela��es
entre
os
complexos
e
o
Ego,
acontecem
do
seguinte
modo:
se
o
complexo
dominar
o
Ego
de
maneira
que
o
segundo
perca
o
controle
sobre
o
primeiro,
estamos
frente
a
uma
psicose;
entretanto,
caso
o
complexo
e
o
Ego
vivam
em
um
processo
de
identifica��o,
estamos
diante
de
uma
possess�o.
Consoante
a
opini�o
de
Jung,
as
comunica��es
medi�nicas
estariam
inclu�das
nesse
caso.
5.
O
arqu�tipo
Consoante
a
opini�o
de
Jung,
os
arqu�tipos
s�o
elementos
que
existem
no
inconsciente
coletivo,
do
mesmo
modo
que
os
complexos
existem
no
inconsciente
individual.
Em
verdade,
eles
s�o
temas
que
existem
e
que
se
repetem
na
literatura
e
nos
mitos
de
todos
os
povos.
Costumam,
normalmente,
se
manifestar
nos
sonhos
del�rios
e
alucina��es
de
todas
as
esp�cies.
Os
arqu�tipos,
como
veremos
em
um
dos
cap�tulos
desse
livro,
s�o
muito
complexos.
Teoricamente
n�o
se
pode
conhec�-los
inteiramente
emuito
menos,
esgot�-los.
�
necess�rio
tamb�m
que
n�o
se
confunda
arqu�tipo
com
imagem
arquet�picas.
Os
arqu�tipos
s�o
os
temas
e
as
imagens
s�o
as
formas
como
eles
s�o
expressos.
Por
exemplo,
o
arqu�tipo
paterno
pode
ser
expresso
pela
imagem
de
um
gigante,
assim
como
a
anima,
pode
aparecer
em
um
sonho
como
uma
fada
ou
como
uma
mulher
desconhecida
do
sonhador.
Os
arqu�tipos
ainda
podem
ser
expressos
nos
comportamentos
de
natureza
externa,
principalmente
aqueles
que
se
referem
a
fatos
fundamentais
de
nossa
exist�ncia
como:
o
nascimento,
o
casamento
e
a
morte,
as
separa��es
e
assim
por
diante.
Em
raz�o
de
sua
forte
carga
energ�tica,
a
que
Jung
chama
de
numem,
as
imagens
arquet�picas
causam-nos
uma
forte
impress�o,
uma
esp�cie
de
fasc�nio
que
pode,
inclusive,
envolver
o
Ego.
Uma
possibilidade
de
se
evidenciar
esse
processo
encontra-se
no
transcorrer
das
crises
psicol�gicas,
em
momentos
de
�xtase
como
acontece
com
os
m�sticos,
ou
em
contextos
marcados
por
forte
inspira��o.
6.
Dissocia��o
D�-se
uma
dissocia��o
quando
acontece
a
perda
de
um
conte�do
da
consci�ncia
que
se
desloca
para
o
inconsciente
sem
que
o
Ego
o
permita
ou
tome
conhecimento.
Indica
uma
desagrega��o
ou
desuni�o
de
uma
parte
da
pessoa
com
ela
mesma.
Trata-se
de
uma
manifesta��o
neur�tica
ou
psic�tica.
O
pr�prio
Jung
sofreu
esse
tipo
de
fen�meno
ps�quico.
7.
Ego
Esta
palavra
que,
em
latim,
significa
Eu,
�
o
centro
maior
da
atividade
consciente.
A
sua
fun��o
prec�pua
�
atender
as
solicita��es
do
mundo
exterior
e
do
si-mesmo,
intermediando-as,
sendo
deste
modo,
respons�vel
pelos
processos
adaptativos.
8.
Energia
ps�quica
Neste
caso,
Jung
e
Freud
discordaram
e
n�o
s�
discordaram,
colidiram.
Para
Freud
a
energia
ps�quica
�
sin�nimo
de
energia
sexual
ou
libidinal.
Para
Jung,
entretanto,
esta
energia
�
um
tipo
de
energia
vital
do
pensador
franc�s
Henry
B�rgson.
Trata-se,
conforme
Jung,
de
uma
forma
de
energia
neutra
que,
por
assim
dizer,
assume
a
forma
de
uma
estrutura
preexistente
ou
arquet�pica
que
flui
do
inconsciente.
9.
Extrovers�o
/
introvers�o
Chama-se
extrovers�o,
como
est�
indicando
o
prefixo
extra
(movimento
para
fora)
uma
tend�ncia
da
energia
ps�quica
no
sentido
de
fluir
do
indiv�duo
para
o
mundo
exterior.
Assim,
o
indiv�duo
extrovertido
�
algu�m
voltado
para
fora,
ou
seja,
uma
pessoa
que
se
liga,
mais
facilmente,
aos
objetos
existentes
no
mundo
exterior.
Ao
contr�rio,
na
introvers�o,
a
energia
faz
um
caminho
inverso,
isto
�,
flui
do
mundo
exterior
para
o
mundo
interior
do
sujeito.
Como
a
extrovers�o,
n�o
significa
necessariamente,
maior
adapta��o,
n�o
se
deve
confundir
introvers�o
com
timidez.
Assim,
uma
pessoa
pode
ser
introvertida
e
bastante
adaptada,
com
uma
rica
capacidade
afetiva
e
capaz
de
uma
vida
social
intensa.
10.
Fantasia
Esta
�,
conforme
o
pensamento
junguiano
a
atividade
principal
do
psiquismo
inconsciente.
Jung
considera
a
fantasia
relacionada
ao
pensamento
associativo,
um
tipo
de
pensamento
que
trabalha
com
imagens,
met�foras
e
s�miles
ou
analogias.
Haveria,
segundo
esta
doutrina,
dois
tipos
de
fantasia:
a
passiva
e
a
ativa.
A
fantasia
passiva
se
da
quando
o
Ego
parece
se
omitir
e
n�o
faz
nenhum
esfor�o
no
sentido
de
tornar
consciente
tais
associa��es.
Ela
�
ativa,
naturalmente,
em
caso
contr�rio.
11.
Identifica��o
Acontece
uma
identifica��o
quando
se
projeta,
de
modo
inconsciente,
algum
�ngulo
de
nossa
mente
sobre
uma
pessoa,
institui��o
ou
mesmo
uma
causa
que
possa
imprimir
um
novo
sentido
(ou
garantir
um
antigo)
em
nossa
vida.
Frase
como:
Eu
e
o
Pai
somos
Um,
dita
por
Jesus
ou
J�
n�o
sou
eu
mais
que
vive
�
Cristo
que
vive
em
mim,
proferida
por
Paulo
de
Tarso,
seriam
express�es
desse
processo
ps�quico.
12.
Imago
Define-se
imago
como
uma
imagem
ps�quica
de
alguma
coisa
ou
de
algu�m
que
se
cria
de
modo
subjetivo
(inconsciente),
mas
que
�
produzida
pela
percep��o
sensorial
associada
�s
emo��es,
as
impress�es
interiores
ou
fantasias
inconscientes
que
t�m
a
sua
origem
nos
arqu�tipos.
13.
Mito
O
mito
n�o
�,
como
a
maioria
das
pessoas
costumam
pensar,
uma
hist�ria
ficcional
contada
pelos
povos
antigos
ou
primitivos
e
que
os
modernos
usam
para
entreter
crian�as.
Os
mitos
s�o
hist�rias
verdadeiras,
que
aconteceram
nos
tempos
primordiais
�In
Illud
Tempus�
ou
como
dizem
os
alem�es:
no
tempo
do
inicio
Urzef.
Os
mitos,
portanto,
falam
de
um
passado
muito
antigo,
anterior
ao
tempo
hist�rico,
quando
os
deuses
viviam
no
mundo
em
conviv�ncia
fraternal
com
os
seres
humanos.
14.
Numinoso
Termo
que
Jung
retirou
da
obra
A
Id�ia
do
Sagrado,
do
alem�o
Otto.
W.
F.
No
livro
de
Otto,
pela
palavra
numinoso
se
entende
o
pr�prio
sagrado
ou
a
sua
manifesta��o,
na
realidade
objetiva.
Em
Jung,
entretanto,
designa
uma
for�a
misteriosa,
atrativa,
prof�tica
que
nos
possibilita
uma
experi�ncia
imediata
com
a
transcend�ncia.
15.
Persona
Persona
�
um
arqu�tipo
que
representa
a
face
que
mostramos
aos
outros
em
nossa
rela��es
sociais.
Equivale,
em
linhas
gerais,
ao
termo
personalidade.
16.
Sombra
Este
�
um
outro
arqu�tipo
que
representa,
por
seu
turno,
os
aspectos
negativos
e
pulsionais
que
existem
em
n�s
que
nos
esfor�amos
por
ocultar.
Corresponde
aos
nossos
desejos
inconfess�veis
e,
n�o
raro,
autodestrutivos.
Da
sombra
tamb�m
fazem
parte
aquela
qualidades
da
personalidade
que,
poralguma
raz�o,
n�o
puderam
se
desenvolver.
�
equivalente
ao
conceito
de
�homem
velho�
que
se
encontra
em
o
Novo
Testamento.
A
sombra
guarda
profunda
semelhan�a
com
o
inconsciente
freudiano.
17.
Psicologia
anal�tica
A
partir
de
1913,
quando
rompeu
com
Freud
e
com
o
movimento
psicanal�tico
em
geral,
Jung
decidiu
que
iria
chamar
a
sua
abordagem
psicol�gica
de
Psicologia
Anal�tica
para
evitar
qualquer
semelhan�a
com
a
Psican�lise
de
Sigmund
Freud.
18.
Sincronicidade
Imaginemos
que
uma
pessoa
tenha
recebido
de
presente
da
parte
de
um
amigo
querido,
um
espelho
muito
bonito
em
estilo
renascentista.
A
pessoa
que
recebeu
o
presente
coloca-o
na
parede
de
sua
sala.
Passa
o
tempo
e,
certo
dia,
sem
qu�
nem
para
qu�,
o
espelho
estala
e
se
parte
no
meio
certo.
O
dono
procura
explicar
em
v�o
o
que
acontecera.
Dias
depois
recebeu
a
not�cia
de
que
a
pessoa
que
o
presenteara
com
o
espelho,
havia
morrido
no
exato
momento
em
que
o
espelho
se
partira.
A
este
fen�meno,
Jung
chamou
de
sincronicidade.Assim,
poder-se-ia
definir
sincronicidade
a
ocorr�ncia
coincidente
no
tempo
e
no
espa�o
de
acontecimentos
(morte
do
amigo
+
rachadura
no
espelho)
que,
embora
nem
sempre
obede�am
a
lei
da
causalidade,
estabelecem
rela��es
conexas
do
ponto
de
vista
psicol�gico.Com
isso,
Jung
pretende
explicar,
como
veremos
mais
tarde,
alguns
eventos
medi�nicos
ou
paranormais.
19.
Self
ou
si
mesmo
Segundo
C.
G.
Jung,
no
processo
evolutivo
da
alma,
haveria
um
momento
em
que
ocorreria
uma
unidade
entre
o
consciente
e
o
inconsciente.
Este
momento
seria
representado
por
um
arqu�tipo
que
ele
chamou
de
Self
ou
si
mesmo.
Este
arqu�tipo
ainda
funciona
com
o
centro
regulador
da
totalidade,
express�o
mais
plena
de
todos
os
aspectos
da
personalidade,
quer
na
rela��o
com
as
outras
pessoas
quer
com
o
pr�prio
meio
ambiente.
20.
Posses�o
Deste
termo,
Jung
se
vale
para
descrever
uma
situa��o
em
que
o
Ego
foi
tomado
por
um
complexo,
identificando-se
com
ele,
e
ficando
por
isso
privado
de
sua
vontade
e
livre
arb�trio.
21.
Os
opostos
Segundo
o
pensamento
de
Jung,
a
pr�-condi��o
para
a
exist�ncia
da
vida
ps�quica
s�o
pat�s
opostos
como
Luz
/
Sombra;
Bem
/
Mal;
Feminino
/
Masculino;
Consciente
/
Inconsciente
e
assim
por
diante.
Em
seu
estado
natural
ou
inconsciente
os
opostos
existem
indiferentemente.
Quando,
entre
eles,
aumenta
a
tens�o,
d�-se
o
surgimento
da
consci�ncia
e
do
desenvolvimento.
Se,
por
outro
lado,
essa
tens�o
se
torna
insuport�vel,
h�
a
necessidade
da
cria��o
de
um
terceiro
elemento
capaz
de
solucionar
os
conflitos
e
procurar
uma
concilia��o
ou
s�ntese.
Cap�tulo
I
Da
Fam�lia
Cap�tulo
II
Um
rapaz
muito
especial
Cap�tulo
III
Buscando
caminhos
Cap�tulo
IV
O
caso
Helena
Preiswerk
Cap�tulo
V
Das
�ndias
ao
Planeta
Marte
Cap�tulo
VI
O
exerc�cio
da
medicina
e
o
casamento
Cap�tulo
VII
As
rela��es
com
Freud
Cap�tulo
VIII
Xamanismo
sonhos
e
viagens
fora
do
corpo
Cap�tulo
IX
Sonhos
e
vis�es.
Surgimento
de
Filemon
Cap�tulo
X
Uma
parada
no
inconsciente
Cap�tulo
XI
O
Inconsciente
Coletivo
e
os
Arqu�tipos
Cap�tulo
XII
AGnose
e
Os
Sete
Serm�es
aos
Mortos
Cap�tulo
XIII
Atorre
de
Bollingen
Cap�tulo
XIV
As
vis�es
de
Jung
Cap�tulo
XV
Jung
e
a
vida
depois
da
morte
Cap�tulo
XVI
O
testemunho
de
Jung
sobre
a
exist�ncia
de
esp�ritos
desencarnados
Palavras
Finais
Bibliografia
Carl
Gustav
Jung
nasceu,
em
26
de
julho
1875,
em
uma
pequena
aldeia
chamada
Kesswil,
ao
norte
da
Su��a,
nas
proximidades
das
cachoeiras
do
rio
Reno.
Seu
pai,
Paul
Aquiles
Jung,
era
um
pastor
luterano
intelectualmente
brilhante.
Havia
se
distinguido
como
estudante
de
l�nguas
orientais,
particularmente,
o
�rabe,
na
famosa
universidade
de
G�ttingen.
Tornou-se,
por�m,
deprimido
e
ainda
na
casa
dos
trinta,
foi
pastorear
o
rebanho
da
Igreja
Evang�lica
do
cant�o
de
Thurgau.
Paul
Aquiles
era
um
homem
triste,
calado,
muito
modesto
em
publico
que
havia
perdido
a
f�
em
sua
pr�pria
religi�o
e
passava
os
dias
de
mau
humor.
Sua
m�e,
Emilie
Jung,
era
uma
pessoa
estranha
que,
segundo
o
filho,
possu�a
dupla
personalidade
oupodia
manifestar
uma
segunda
personalidade,
que
Jung
chamava
de
personalidade
n�mero
2.
�s
vezes,
se
comportava
como
uma
mulher
comum
e,
outras,
como
uma
pessoa
agressiva,
que
murmurava
coisas
para
Jung
incompreens�veis.
Ainda
na
sua
juventude,
Jung
vai
perceber
que,
de
modo
semelhante
�
sua
m�e,
tamb�m
possu�a
duas
personalidades.
Seu
av�
materno,
Samuel
Preswerck
(1799-1871)
era
pastor
evang�lico.
Durante
toda
a
sua
vida
manteve
a
cren�a
de
que
a
hebraico
havia
sido
a
l�ngua
falada
no
para�so
b�blico.
Conhecia
t�o
bem
a
l�ngua
hebraica
que
era
convidado
para
fazer
palestras
sobre
este
idioma.
No
come�o
de
sua
carreira
foi
um
intelectual
errante
que
ensinava
hebraico
e
a
teologia
do
Novo
Testamento
na
cidade
de
Genebra,
na
Su��a.
Esse
trabalho
deve
ter
tido
alguma
repercuss�o
porque
ele
foi
chamado
a
Basil�ia
para
ser
pastor
da
Igreja
de
S�o
Leonardo
onde
passou
a
viver.
Samuel
Preswerk
se
casou
duas
vezes.
Magalene,
sua
primeira
esposa,
teve
apenas
um
filho.
Casou-se
de
novo
com
Augusta
Faber,
filha
de
um
cl�rigo
de
W�terburg
e
m�dium
vidente.
Com
ela,
teve
13
filhos.
O
av�
materno
de
Jung
tinha
um
profundo
interesse
no
chamado
ocultismo
e
acreditava
na
comunica��o
dos
esp�ritos
dos
mortos.
Quando
ia
fazer
uma
pr�dica,
costuma
pedir
�
esposa
que
ficasse
por
tr�s
dele
a
fim
de
espantar
os
maus
esp�ritos
que
poderiam
interferir
em
seu
trabalho.
Mantinha
em
seu
escrit�rio
uma
cadeira
para
a
mulher
desencarnada
sentar-se
em
suas
visitas
semanais
quando
mantinham
longas
conversa��es.
O
grande
inspirador
de
Jung,
por�m,
n�o
foi
Samuel
Preswerk,
mas
o
seu
av�
Carl
Gustav
nascido
em
1794.
Converteu-se
ao
Protestantismo
quando
era
ainda
um
jovem
estudante.
Embora
gostasse
muito
de
poesia,
freq�entou
a
Faculdade
de
Medicina
da
Universidade
de
Heidelberg.
Gustav
era
um
homem
combativo
e
tinha
uma
certa
prefer�ncia
pela
pol�mica
e
pelas
causas
radicais.
Por
isso,
aos
vinte
e
tr�s
anos,
esteve
preso
no
c�rcere
de
Hansvogrei,
mas
passou
um
ano
sem
ser
julgado.
Liberado
e
com
o
cora��o
cheio
de
amargura,
foi
para
a
Cidade
Luz.
Na
capital
da
Fran�a,
conheceu
o
Bar�o
Friedrich
Alexander
von
Humboldt
(1769-1859)
explorador
e
naturalista
e,
como
resultado
deste
conhecimento,
recebeu
boa
acolhida
em
Paris
e
um
emprego
no
Departamento
de
Cirurgia
em
um
dos
grandes
hospitais
da
cidade.
Logo
foi
indicado
para
a
Academia
de
Berna
e,
depois
foi
para
a
Escola
M�dica
de
Basil�ia
que
estava
fundada
h�
pouco
tempo.
Mais
�
frente,
adotou
a
nacionalidade
su��a.
Carl
Gustav
era
um
homem
exc�ntrico
que
gostava
de
ser
diferente
at�
mesmo
nas
pequenas
coisas.
Inv�s
de
um
cachorro
como
animal
de
estima��o,
ele
possu�a
um
porquinho
que
levava
a
passear
por
uma
coleira.
Gustav,
por�m,
era
antes
de
qualquer
coisa
um
homem
de
a��o.
Frank
Maclynn
em
sua
biografia
de
Jung
tra�a
dele
o
seguinte
perfil:
(...)
Car�ter
forte,
�gil,
perspicaz,
bom
orador
e
grande
organizador,
ele
transformou
a
faculdade
que,
antes
de
sua
chegada,
havia
passado
por
uma
fase
dif�cil.
Ao
longo
de
anos,
o
anatomista
e
bot�nico
Johann
Jakob
Burkhardt
fora
seu
�nico
professor
e,
entre
1806
e
1814
a
institui��o
n�o
expedira
um
�nico
diploma.
Interessado
em
Psiquiatria,
tentou,
sem
sucesso,
criar
uma
cadeira
espec�fica
e
fundou
um
instituto
destinado
�
crian�as
portadoras
de
dist�rbios
psicol�gicos
e
com
retardo
mental.
Incumb�ncia
a
que
dedicou
todo
o
seu
tempo
livre
at�
a
sua
morte
em
1864.
Integrante
ardente
de
ma�onaria,
ao
assumir
a
reitoria
da
Universidade,
tornou-se,
concomitantemente,
Gr�o-Mestre
da
loja
Su��a.
Publicou
v�rios
boletins
cient�ficos
e
escreveu
pe�as.
Apresentado
por
Schleiermacher
(1766-1854)
a
Wilhelm
de
Wette
(1780-1849)
que
fora
admitido
na
c�tedra
de
Teologia
da
Universidade
de
Berlim
por
suas
simpatias
radicais.
Os
dois
homens
fizeram
amizade;
foi
gra�as
�
influ�ncia
de
Schleiermarcher
que
ele
foi
nomeado
catedr�tico,
em
1822.1
Quanto
�
sua
vida
matrimonial,
Carl
Gustaf
n�o
foi
feliz.
Sua
primeira
mulher
desencarnou
ap�s
lhe
ter
dado
tr�s
filhos.
Vi�vo,
decidiu
casar-se
com
Sophie,
a
filha
do
prefeito,
mas
o
alcaide
recusou-lhe
a
filha
sem
maiores
explica��es.
A
rea��o
dele
foi
muito
compat�vel
com
a
sua
personalidade
impulsiva:
para
ofender
o
prefeito,
resolveu
se
casar
com
a
primeira
mulher
que
lhe
agradasse.
Assim,
entrando
em
uma
taverna,
pediu
a
m�o
de
uma
das
gar�onetes.
Ela
aceitou
e
ambos
se
casaram.
A
segunda
esposa
morreu
ap�s
dois
partos.
A
filha
do
burgomestre,
contudo,
continuava
solteira
e,
mais
uma
vez,
ele
pediu
a
m�o
dela
sendo,
ent�o
bem
sucedido.
Desta
vez,
teve
oito
filhos
e
o
mais
novo
deles
recebeu
o
nome
de
Paul
Aquiles
e
seria
o
pai
de
Jung.
A
inf�ncia
de
Jung
Vamos,
em
continuidade,
examinar
os
principais
fatos
acontecidos
na
inf�ncia
de
Jung.
At�
os
seis
meses
de
idade,
ele
viveu
em
Kessil,
nas
margens
sul
do
lago
Constan�a
cujas
�guas
s�o
de
um
azul
que
lembra
a
cor
do
c�u.
Um
dia,
a
fam�lia
Jung
teve
que
deixar
aquela
doce
regi�o
porque
Aquiles
Jung
havia
sido
transferido
para
um
novo
vicariato
que
ficava
no
castelo
de
Laufen
um
pouco
acima
dascataratas
do
Reno.
�
interessante
lembrar
que
Jung
sempre
gostou
de
lago
e
desejou
viver
sempre
�s
margens
de
um.
As
primeiras
lembran�as
de
Jung
nesta
encarna��o
est�o
relacionadas
com
os
seus
primeiros
meses
de
vida.
Ele,
ent�o
se
v�
deitado
em
um
carrinho
de
beb�.
Est�
sozinho.
Essas
primitivas
sensa��es
s�o
tamb�m
as
que
lhe
vem
do
mundo
exterior
como
gostos
e
cheiros
de
coisas,
vis�es
esparsas
e
fugidias
de
aspectos
marcantes
do
ambiente.
A
figura
da
m�e
como
aquele
que
lhe
d�
prazer
e
lhe
oferece
o
seio
para
ser
sugado.
Troca-lhe
as
fraldas
e
faz
a
limpeza
de
seu
corpo.
Naturalmente,
a
influ�ncia
do
pai
neste
per�odo
�
bem
menor.
�
muito
comum
que
se
imagine
que
as
crian�as
sejam
tomadas
como
seres
extremamente
simples
que
n�o
se
d�o
conta
de
coisa
alguma
que
se
passe
em
seu
redor.
Isso
n�o
�
verdade,
pelos
menos
em
alguns
casos.
Jung,
por
exemplo,
ainda
infante
parece
ter
percebido
que
as
coisas
n�o
estavam
certas
na
rela��o
entre
seus
pais.
A
situa��o
entre
o
casal
se
complica
e,
em
1878,
ambos
decidem
dar
um
tempo
no
seu
relacionamento.
Emilie
foi
ent�o
para
uma
cl�nica
de
doentes
mentais.
Jung,
com
apenas
tr�s
anos
de
idade,
somatizou
o
problema
dos
pais
e
desenvolveu
um
eczema.
Umatia
achou
que
o
melhor
a
fazer
pelo
menino
seria
lev�-lo
para
a
sua
casa.
�
interessante
lembrar-se
que
a
partir
da�,
o
menino
passou
a
desenvolver
um
conceito
negativo
do
amor
e
das
mulheres
que
s�o
tidas
por
ele
como
criaturas
pouco
confi�veis
e
sua
m�e
era
mulher.
Quanto
�
imagem
que
passou
a
ter
do
pai
era
de
confian�a,
mas
de
car�ter
passivo.
Outras
imagens
femininas
que
influenciaram
a
personalidade
de
Jung
em
sua
inf�ncia
foi
uma
bab�,
mulher
bonita,
de
cabelos
negros
da
qual
Jung
se
lembra
com
e
dedicou
a
ela
um
sentimento
quase
filial.
A
segunda
mulher
foi
Bertha
Shenk,
uma
mulher
loura
e
bela
que
era
uma
companhia
constante
de
seu
pai.
T�o
pr�ximo
era
esse
relacionamento
que
se
chegou
a
pensar
que
ela
e
Paul
Jung
fossem
amantes,
mas
isso
jamais
foi
comprovado.
Jung
estava
com
cerca
de
quatro
anos
quando
desenvolve
um
estranho
comportamento
marcado
por
um
grande
fasc�nio
pela
morte
e
por
cad�veres.
Sobre
esta
quest�o
deixemos
falar
o
pr�prio
C.G.
Jung:
Outra
lembran�a:
gente
desconhecida,
afoba��o,
alvoro�o.
A
empregada
veio
correndo.
Os
pescadores
encontraram
um
cad�ver
logo
abaixo
das
Quedas
do
Reno.
Querem
lev�-lo
para
a
lavanderia!
Meu
pai
disse:
Sim.
Sim.
Eu
logo
quis
ver
o
cad�ver.
Minha
m�e
me
deteve
e
me
proibiu
terminantemente
que
fosse
ao
jardim.Quando
os
homens
foram
embora,
atravessei
depressa
o
jardim
para
ir
�
lavanderia.
A
porta
estava
fechada.
Fiz
ent�o
a
volta
da
casa.
Atr�s
dela,
no
alto,
havia
uma
vala
em
declive
atrav�s
da
qual
escorria
uma
�gua
sanguinolenta.
Este
fato
interessou-me
extraordinariamente.
Nessa
�poca,
eu
ainda
n�o
havia
completado
quatro
anos.2
Ele
sofre,
ent�o,
uma
s�rie
de
pequenos
acidentes
como
cair
na
escada
e
esbarrar
em
um
fog�o,
o
que
lhe
provocou
cicatrizes
que
ainda
se
poderiam
ver
na
idade
em
que
ele
chegou
ao
gin�sio.
Estes
acontecimentos
poderiam
ser
explicados,
embora
n�o
de
modo
absoluto,
como
um
desejo
de
estar
morto.
Quero
lembrar,
porem,
que
na
idade
em
que
estava
Jung
o
esp�rito
ainda
n�o
se
apossou
do
corpo
inteiramente,
ou
seja,
ainda
n�o
se
adaptou
�
sua
nova
encarna��o
e
o
desejo
de
se
libertar
e
voltar
a
vida
espiritual,
�s
vezes,
pode
ser
grande.
Estes
acontecimentos
n�o
s�o
t�o
marcantes
como
um
outro
que
passamos
a
narrar
agora.
Certo
dia,
Jung
estava
com
a
sua
bab�
na
ponte
de
Neuhausen.
O
menino
estava
distraidamente
brincando
na
ponte
quando
enfiou
a
perna
em
uma
das
balaustradas
e
esteve
a
ponto
de
cair
e
se
ca�sse,
por
certo,
morreria
nas
�guas
caudalosas
do
rio.
Nisto
a
bab�
veio
correndo
e
o
segurou
impedindo
que
se
precipitasse
no
vazio.
McLynn3
pede
que
se
note
que
foi
a
bab�
e
n�o
a
m�e
que
o
salvou
e
isto
tem
um
sentido
muito
especial
nas
rela��es
entre
Jung
e
a
sua
genitora.
As
rela��es
de
Jung
com
a
morte
v�o
um
pouco
al�m
de
uma
tend�ncia
m�rbida
para
deixar
esta
vida,
pois
costuma
a
acontecer
com
ele
fatos
ins�litos.
Ele
escuta,
quando
a
casa
est�
�s
escuras,
altas
horas
da
noite,
passos
ritmados
de
uma
pessoa
que
caminhasse.
Saindo
do
quarto
de
sua
m�e,
v�
coisas
estranhas.
Estudando
esta
fase
da
vida
de
Jung
o
doutor
Donald
Woods
Winnicot,
tradutor
das
obras
de
Sigmund
Freud
para
a
l�ngua
inglesa,
sugere
que
as
vis�es
de
Jung
decorriam
de
esp�cie
de
esquizofrenia
infantil,
que
veio
�
tona
depois
da
separa��o
entre
Paul
Jung
e
Emilie
Preiswerk.
Esta
explica��o
n�o
elimina
de
forma
alguma
a
possibilidade
de
interpretar
esses
fen�menos
estranhos
acontecidos
com
o
menino
Jung
como
fatos
medi�nicos.
N�o
�
muito
incomum
que
a
mediunidade
se
manifeste
em
crian�as
que
vem
esp�ritos
e
ficam
apavoradas.
Aqui
tamb�m
se
pode
incluir
alguns
casos
de
�amigos
invis�veis�
que
nem
sempre
podem
ser
explicados
por
meio
de
fantasias
de
crian�as
solit�rias.
Depois
de
separar-se
de
Paul,
Emilie
como
j�
vimos,
foi
internada.
Ficou
algum
tempo
e
voltou
para
sua
casa
com
alta.
Estava
feliz
ou
pelo
menos
parecia
estar,
entretanto,
ainda
estava
sujeita
a
surtos
de
depress�o.
Em
verdade,
ela
n�o
havia
mudado
muito,
pois
continuara
com
as
duas
personalidades
e,
principalmente,
com
a
segunda
que
era
misteriosa
e
terr�vel.
Assim,
ele
alternava
entre
uma
personalidade
submissa
e
t�mida,
e
uma
outra
forte
e
resoluta.
N�o
sabemos
at�
que
ponto
a
segunda
personalidade
n�o
seria
um
esp�rito
que
se
manifestava
atrav�s
dela.
Esta
mulher
de
temperamento
dif�cil
�educou�
seu
filho
de
um
modo
que
aumentava
consideravelmente
o
lado
psic�tico
de
seu
filho.
Ela
ensinou
a
Jung
uma
prece
para
ele
fazer
antes
de
dormir
e
que
dizia
o
seguinte:
Abra
as
tuas
asas
compassivas,
Senhor
Jesus,
E
protege
o
teu
pintinho,
a
tua
crian�a.
Mesmo
que
o
dem�nio
deseje
devor�-la,
Nenhum
mal
h�
de
vence-lo.
E
os
anjos
cantar�o.
Na
sua
imagina��o
infantil,
Jung
como
um
p�ssaro
bondoso
de
grandes
asas
que
tomava
os
pintinhos
(crian�as)
antes
que
Sat�
os
tomasse
e,
por
esse
motivo,
era
necess�rio
que
as
crian�as
rezassem
para
ele.
Jung
havia
visto
algumas
vezes
enterros
em
sua
aldeia
e
ficara
impressionado
com
os
homens
de
negro
que
levavam
uma
grande
caixa
onde
estava
o
morto.
No
cemit�rio,
cavava-se
uma
cova
e
ali
se
colocava
o
corpo
e
se
cobria
de
terra.
Disseram-lhe
que
aquelas
pessoas
que
foram
enterradas
haviam
sido
levadas
por
Jesus.
Esta
conclus�o
sinistra,
por
analogia
teve
conseq��ncias
fatais:
comecei
a
desconfiar
do
Senhor
Jesus
Cristo.
Ele
perdeu
o
aspecto
de
grande
p�ssaro
benevolente
e
reconfortante
e
foi
associado
aos
homens
soturnos,
cujos
sapatos
eram
pretos
e
lustrosos
e
que
se
ocupavam
de
caix�es
escuros.4
Na
casa
do
reverendo
Paul
Jung
havia
um
sentimento
fortemente
hostil
�
Igreja
Cat�lica.
A
casa
dos
Jung,
que
eram
protestantes,
estava
cercada
de
vizinhos
cat�licos
e
poderosos.
Naquela
�poca
corriam
narrativas,
algumas
verdadeiras
e
outras
m�ticas,
a
respeito
de
pr�ticas
jesu�tas
inconfess�veis.
Jung
menino
ouvia
estas
hist�rias
e,
em
sua
alma,
nascia
um
medo
terr�vel
dos
padres
da
Companhia
de
Jesus.
Certo
dia,
estando
na
porta
de
sua
casa
e
vendo
passar
um
padre,
saiu
correndo
morto
de
medo
e
foi
se
esconder
no
andar
de
cima.
O
que
mais
o
assustou
foi
ver
um
homem
de
batina
(para
ele
vestido
de
mulher)
o
que,
segundo
Mclynn,
mais
tarde,
teria
dado
origem
ao
mal
estar
que
Jung
sentia
quando
via
uma
mulher
usando
cal�as
de
homem.
Em
1879,
quando
Jung
estava
com
quatro
anos
de
idade,
Paul,
seu
pai,
foi
transferido
para
uma
par�quia
que
ficava
na
aldeia
de
Klein-H�ningen
onde
a
popula��o
basicamente
era
formada
de
camponeses
e
pescadores.
Religiosamente
a
aldeia
era
dominada
por
protestantes.
Nessa
comunidade,
o
pai
de
Jung
passa
a
ocupar
uma
posi��o
de
destaque.
Entre
as
fam�lias
reformadas
faziam-se
casamento
cuja
finalidade
era
criar
la�os
entre
elas,
fortificando
a
influ�ncia
do
Protestantismo.
Jung
sentia-se,
ent�o,
como
membro
de
uma
casta
privilegiada,
de
um
certo
essa
consci�ncia
de
classe
marcar�
a
sua
personalidade
com
um
certo
elitismo.
Em
sua
nova
aldeia,
Jung
conheceu
muitos
meninos
de
sua
idade,
mas
ele
n�o
se
dava
com
eles
porque
seu
pai
era
um
ministro
e
o
filho
de
uma
pessoa
t�o
importante
n�o
poderia
se
misturar
com
as
outras
crian�as.
Assim,
Jung
passava
a
maior
parte
de
seu
tempo
brincando
sozinho
com
cubos
de
armar
e
soldadinhos
de
chumbo
com
os
quais
imaginava
batalhas
navais.
Para
ampliarmos
os
nossos
conhecimentos
da
inf�ncia
de
Jung,
vamos
conhecer
o
que
nos
conta
seu
amigo
chamado
Alberto
Oeri
(1875-1959)
que
foi
seu
colega
de
escola
e
companheiro
na
Universidade
de
Basil�ia.
Oeri
nos
conta
que
conheceu
Jung
quando
ambos
eram
ainda
muito
pequenos.
Os
pais
de
ambos
eram
muito
amigos
desde
os
bancos
escolares
e
costumavam
visitar
um
ao
outro.
Quando
ia
�
casa
da
fam�lia
Jung,
o
pai
de
Oeri
o
levava
para
brincar
com
o
filho
do
pastor.
O
articulista
confessa
que,
em
geral,
n�o
conseguia
brincar
com
Jung,
pois
este
sentava-se
no
quarto
com
um
jogo
de
boliche
e
n�o
lhe
dava
a
menor
aten��o.
Oeri
chega
a
chamar
Jung
nesta
fase
de
pequeno
monstro
anti-social.
Explica
este
comportamento
junguiano
pelo
fato
de
ele
ter
nascido
em
uma
casa
vazia
de
crian�as
e
a
sua
irm�
ainda
n�o
ter
nascido.
Com
o
tempo
e
continuidade
das
visitas,
a
rela��o
entre
os
dois
meninos
melhorou
bastante.
Oeri
chega
a
dizer
que
Jung
manifestou
por
ele
uma
amizade
espont�nea,
principalmente,
ao
saber
que
poderia
contar
com
ele
para
suas
estripolias.
Uma
delas
era
ca�oar
de
um
primo
de
que
Jung
n�o
gostava.
Por
lhe
parecer
afetado
demais.
Uma
dessas
brincadeiras
�
a
seguinte:
havia
no
corredor
de
entrada
da
casa
de
Jung
um
banco.
Recebendo
o
primo,
Jung
fez
quest�o
de
que
ele
sentasse
naquele
banco
e
quando
o
rapaz
o
fez,
Jung
deu
estrondosas
gargalhadas.5
O
motivo
de
tanta
hilaridade
era
o
fato
de
que,
um
pouco
antes
havia
sentado
ali
um
indiv�duo
alco�latra
e
Jung
queria
que
o
seu
delicado
primo
ficasse
fedendo
a
genebra.
De
uma
outra
feita,
prossegue
Oeri,
Jung
encenou
um
solene
duelo
entre
dois
colegas
de
escola
no
jardim
do
Prebist�rio.
Durante
o
duelo
um
dos
rapazes
feriu-se
levemente
em
uma
das
m�os
e
Jung
ficou
verdadeiramente
pesaroso
com
o
incidente.
Paul
Jung,
por�m,
ficou
muito
mais
preocupado,
pois
aquele
incidente
lembrou-lhe
um
outro
acontecido
na
sua
juventude.
O
pai
do
jovem
ferido
havia
se
machucado
gravemente
em
um
exerc�cio
de
duelo
e
tinha
sido
tratado
pelo
av�
de
Jung.
Jung
e
seu
amigo
ficaram
preocupados
com
a
repercuss�o
desse
fato
na
escola
uma
vez
que
o
Diretor
poderia
puni-los
com
advert�ncia,
suspens�o
ou
mesmo
expuls�o.
Felizmente
para
ambos,
quando
Burkhardt,
o
diretor
do
col�gio
soube
do
acontecido,
limitou
se
fazer
uma
pergunta
simples
e
com
bom
humor:
Voc�s
estiveram
jogando
esgrima?
Foi
ainda
em
sua
inf�ncia
que
Jung
teve
um
sonho
que
reproduzimos
aqui.
No
sonho,
ele
se
encontrava
em
uma
campina.
De
repente,
encontra
uma
cova
retangular,
revestida
de
alvenaria.
Jamais
ele
havia
visto
uma
coisa
assim.
Aproxima-se
e,
olhando
para
o
interior
do
lugar,
v�
uma
escada
que
conduzia
ao
fundo.
Hesitante
e
amedrontado,
ele
desce
por
ela.
Embaixo
ele
encontra
uma
porta
em
arco,
fechada
por
uma
cortina
verde.
Por
tr�s
desta
cortina,
havia
um
espa�o
retangular
com
cerca
de
dez
metros
sob
uma
t�nue
luz
crepuscular.
A
ab�bada
do
teto
era
de
pedra
e
o
ch�o,
de
azulejo.
Do
meio
da
entrada
at�
um
estrado
baixo,
estendia-se
um
tapete
vermelho.
A
poltrona
era
espl�ndida,
um
verdadeiro
trono
real
como
nos
Contos
de
Fadas.
Sobre
ela
uma
forma
gigantesca
quase
alcan�ava
o
teto.
Parece
a
ele,
primeiramente,
que
se
tratava
de
um
grande
tronco
de
�rvore.
Seu
di�metro
era
de
cerca
de
50
ou
60
cent�metros.
O
objeto
era
estranhamente
constru�do,
feito
de
pele
e
carne
viva,
sua
parte
superior
terminava
em
uma
cabe�a
c�nica
arredondada,
sem
rosto
nem
cabelos.
No
topo,
um
�nico
olho,
im�vel,
fitava
o
alto.
O
aposento
em
que
Jung
se
encontrava,
em
seu
sonho
era
relativamente
claro
embora
n�o
houvesse
ali
qualquer
janela
ou
luz.
Sobre
a
cabe�a
do
estranho
objeto
brilhava
uma
certa
claridade.
O
objeto
n�o
se
movia,
entretanto,
Jung
tinha
a
impress�o
de
que,
a
qualquer
momento,
ele
poderia
se
deslocar
e
se
rastejar
em
sua
dire��o
sobre
um
verme
gigantesco.
No
sonho,
ele
fica
paralisado
de
ang�stia.
Naquele
momento
insuport�vel,
ou,
repentinamente,
a
voz
de
sua
m�e,
como
se
viesse
do
interior
e
do
alto,
gritando:
�Sim.
Olhe-o
bem.
Isto
�
o
devorador
de
homens.
Nesse
momento,
Jung
sente
um
medo
terr�vel
e
desperta
banhado
de
suor
e
muito
angustiado.�
Jung
considera
este
sonho
important�ssimo.
A
interpreta��o
dele
vai
depender
do
significado
da
imagem
central,
o
phalo.6
Nesse
caso
foram
propostas
tr�s
explica��es
poss�veis:
a
freudiana,
a
junguiana
e
o
lacaniana.
Na
hermen�utica
freudiana,
o
phalo
significa
o
p�nis
e
simboliza
o
poder;
do
ponto
de
vista
junguiano,
o
phalo
pode
significar
criatividade
em
geral
e
do
modo
de
ver
lacaniano,
phalo
�
uma
fun��o
sem�ntica
da
troca
de
significantes
entre
pai
e
m�e
e
�
s�mbolo
da
aus�ncia
de
poder
ou
falta
deste.
Sem
negar,
de
modo
algum,
a
validade
ou
acerto
de
tal
interpreta��o,
vou
prop�r
uma
quarta
que
poder�
soar
como
extravagante
ou
rid�cula,
por�m,
isso
pouco
me
importa.
N�o
que
eu
fa�a
pouco
caso
da
opini�o
alheia,
mas
porque
acredito
ter
o
direito
de
expressar
as
minhas
pr�prias
opini�es
sejam
elas
quais
forem.
Assim,
penso
que
neste
sonho
Jung
possa
estar
se
lembrando
de
uma
vida
passada
em
outras
culturas,
muito
remotas,
onde
o
culto
do
phalo
ocupava
um
lugar
de
import�ncia
consider�vel.
O
phalo
�
o
p�nis,
�rg�o
sexual
masculino,
apenas
em
nossa
vis�o
acanhada,
imersa
em
um
racionalismo
imposto
pela
Modernidade,
entretanto,
na
Antiguidade,
o
phalo
era
um
deus
(assim
como
a
vagina
era
tamb�m
sacralizada),
uma
inst�ncia
religiosa
relacionada
com
os
cultos
agr�rios
e
de
fertilidade.
O
interesse
de
Jung
por
mitos
e
pelas
religi�es
antigas,
n�o
pode
ter
apenas
uma
explica��o
convencional
nos
moldes
chamados
cient�ficos.
Desse
ponto
de
vista,
esta
tend�ncia
fort�ssima
que
domina
a
personalidade
de
Jung,
pode
ser
explicada
por
viv�ncias
de
experi�ncias
religiosas
em
vidas
passadas
nas
quais
ele
teria
sido
um
estudioso
daquelas
religi�es
ou
mesmo
um
part�cipe
daqueles
mist�rios.
Por
uma
quest�o
de
justi�a,
vamos
ver
a
interpreta��o
que
o
pr�prio
Jung
d�
de
seus
sonho
com
o
phalo.
A
significa��o
abstrata
do
phalo
�
assinalada
pelo
fato
de
que
o
membro
em
si
�
entronizado
de
maneira
ictif�lica
(tiks
=
ereto).
A
cova,
na
campina,
representava,
sem
d�vida
o
t�mulo
subterr�neo.
O
pr�prio
t�mulo
�
um
templo
sob
a
terra,
cuja
cortina
verde
lembra
a
campina
e
representa
aqui
o
mist�rio
da
terra
coberta
de
vegeta��o
verdejante.
O
tapete
era
vermelho-sangue.
De
onde
provinha
a
ab�bada?
Ter-me-iam
levado
a
Munot,
o
Torre�o
de
Aschaffhouse?
�
pouco
prov�vel,
pois
eu
tinha
apenas
tr�s
anos.
Assim,
pois,
ao
que
perece,
n�o
se
tratava
de
um
res�duo
de
lembran�as.
A
origem
da
representa��o
do
ictif�lico,
anatomicamente,
tamb�m
�
problem�tica.
A
interpreta��o
do
orificium
urethas
(orif�cio
uretal)
como
o
olho,
com
uma
aparente
fonte
de
luz
sobre
ele
indica
a
etimologia
de
phalo
(phalo
=
luminoso,
brilhante).
O
phalo
deste
sonho
parece,
em
todo
caso,
um
deus
subterr�neo
que
�
melhor
n�o
mencionar.
Como
tal,
morou
em
mim
atrav�s
de
toda
a
minha
juventude
e
reaparecia
cada
vez
que
se
falava,
com
demasiada
�nfase
no
Senhor
Jesus
Cristo.
O
Senhor
Jesus
Cristo
nunca
foi
para
mim,
completamente
real,
aceit�vel
e
digno
de
amor,
pois
eu
sempre
pensava
em
sua
equival�ncia
subterr�nea
como
uma
revela��o
que
eu
n�o
buscara
e
que
era
pavorosa.7
Gostar�amos
de
fazer
aqui
algumas
considera��es
que
me
parecem
pertinentes
ao
caso.
A
interpreta��o
de
Jung,
como
se
p�de
ver,
n�o
coincide
com
as
que
acabamos
de
ver.
Ela
faz
alus�o
as
religi�es
agr�rias
e
a
divindade
subterr�nea.
Ele
n�o
consegue
explicar
a
origem
da
ab�bada.
O
que,
entretanto,
nos
impressiona
nesta
passagem
�
a
afirma��o
de
que
o
sonho
criava
nele
uma
associa��o
pavorosa
entre
Jesus,
o
devorador
de
homens
e
o
phalo,
tamb�m
devorador
de
seres
humanos
como
dissera
sua
m�e.
Assim,
a
figura
de
Jesus
tornasse
para
ele
inaceit�vel
e
n�o
digna
de
amor.
Se,
por�m,
admitirmos
que
Jung,
em
vidas
passadas,
convivera
com,
cren�as
pag�s,
com
mitos
que
respeitava
e
deuses
que
aprender
a
honrar,
�
natural
que
tivesse
para
com
Jesus
e
o
Cristianismo
uma
forte
hostilidade,
uma
vez
que
foi
com
a
religi�o
do
Cristo
que
o
Paganismo
teve
de
recuar
at�
perder
por
inteiro
o
seu
dom�nio
e
import�ncia.
Provavelmente,
isso
explicaria
o
sentimento
com
que
Jung
pensa
a
religi�o
antiga,
principalmente
a
Gnose
religi�o
que
ainda
estava
nele
e
que
o
sonho
com
o
phalo,
deus
subterr�neo
ou
recalcado,
o
faz
recordar.
Jung,
em
sua
autobiografia,
narra
fatos
que
ele
chama
de
sonhos,
mas
que
a
sua
pr�pria
narrativa
admite
outra
explica��o.
Conta
ele
que,
em
seu
quarto,
durante
a
noite,
ele
era
envolvido
por
uma
atmosfera
abafante
de
mist�rio
e
pela
sensa��o
da
presen�a
de
seres
invis�veis.
Os
pais
dormiam
em
quartos
separados
e
ele
dormia
com
o
pai.
Do
quarto
de
sua
m�e,
vinham
influ�ncias
inquietantes.
Uma
noite,
ele
viu
sair
do
quarto
dela
uma
figura
vagamente
luminosa
cuja
cabe�a
separou-se
do
pesco�o
e
ficou
pairando
no
ar
como
se
fosse
uma
pequena
lua.
Logo
apareceu
outra
pequena
cabe�a
que
se
elevou
no
ar.
Esse
fen�meno
se
repetiu
por
seis
ou
sete
vezes.
Outro
fato
interessante
diz
respeito
�s
suas
crises
de
pseudo
crupe8
com
acesso
de
sufoca��o.
Durante
essas
crises
o
menino
ficava
de
costas
e
era
sustentado
pelo
pai.
Nesses
momentos
das
crises,
ele
via
um
c�rculo
de
cor
brilhante,
do
tamanho
da
lua
cheia
onde
se
moviam
figuras
douradas
que
ele
tomava
por
anjos.
Essas
vis�es
melhoravam
sensivelmente
as
suas
crises,
diminuindo-lhe
a
sufoca��o
e
atenuando-
lhe
a
ang�stia.
Do
que
Jung
est�
falando
nesses
casos?
Ele
est�
sofrendo
alucina��es
de
natureza
material
ou
esta
presenciando
como
m�dium,
que
acreditamos
(que
fosse)
fen�menos
de
origem
espiritual?
Ser�
que
esp�ritos
levianos
ou
brincalh�es
(poltergeist)
brincavam
com
ele,
pondo
e
retirando
suas
cabe�as
flu�dicas
para
assust�-lo?
Ser�
que
bons
esp�ritos,
seus
amigos,
vinham
assisti-lo
em
suas
crises
agudas
de
sua
respira��o?
As
duas
hip�teses
s�o
vi�veis,
contudo
prefiro
ficar
com
a
segunda
porque,
como
veremos
ao
longo
desse
trabalho,
�
mais
evidente,
constante
e
nem
sempre
pode
reduzir-se
a
simples
alucina��o.
Um
outro
relato,
n�o
menos
interessante,
feito
por
Jung
nos
parece
bastante
adequado
ao
nosso
trabalho.
Vamos
a
ele:
Lembro-me
de
que,
nessa
�poca,
(entre
meus
sete
e
nove
anos)
gostava
de
brincar
com
fogo.
Em
nosso
jardim,
havia
uma
parede
constru�da
com
grandes
blocos
de
pedra,
cujos
interst�cios
formavam
curiosos
vazios.
Com
a
ajuda
de
outras
crian�as,
eu
costumava
manter
uma
pequena
fogueira
dentro
deles.
O
fogo
deveria
arder
sempre,
portanto,
era
necess�rio
alimenta-lo
continuamente.
Dev�amos
unir
nossos
esfor�os
a
fim
de
juntar
a
madeira
necess�ria.
Ningu�m
sen�o
eu
tinha
licen�a
para
cuidar
diretamente
do
fogo.
Meus
amigos
podiam
acender
outras
fogueiras
em
outros
buracos,
mas
elas
eram
profanas
e
n�o
me
diziam
respeito.
S�
o
meu
fogo
era
vivo
e
tinham
evidente
car�ter
sagrado.
Durante
algum
tempo,
foi
esse
o
meu
brinquedo
favorito.9
Estamos
aqui
frente
a
um
fato
muito
curioso
e
significativo.
Temos
uma
crian�a
com
cerca
de
nove
anos,
praticando,
sem
disto
se
dar
conta,
de
um
forma
de
religiosidade
muito
antiga,
conhecida
pelos
estudiosos
de
velhas
culturas,
como
o
culto
do
fogo
familiar.
Tratando
deste
assunto,
escreveu
Fustel
de
Coulange:
Toda
casa
de
grego
ou
de
romano
possu�a
um
altar.
Nesse
altar
deveria
haver
sempre
restos
de
cinza
e
brasas.
Era
obriga��o
sagrada
do
dono
da
casa
(Pater
Fam�lias)
conservar
o
fogo
dia
e
noite.
Desgra�ada
seria
a
casa
em
que
o
fogo
se
extinguisse.
Ao
anoitecer
de
cada
dia,
cobriam-se
as
cinzas
e
os
carv�es
para
evitar,
deste
modo
que
ele
se
acabasse
inteiramente
durante
a
noite.
Ao
despertar,
o
primeiro
cuidado
do
dono
da
casa
era
avivar
o
fogo
e
aliment�-lo
com
alguns
ramos
secos.
O
fogo
s�
deixava
de
brilhar
sobre
o
altar
quando
toda
a
fam�lia
houvesse
morrido:
lar
extinto
e
fam�lia
acabada
eram
express�es
sin�nimas
entre
os
antigos.10
Segundo
a
narrativa
de
Jung,
ele
funcionava
como
um
sacerdote
deste
tipo
de
curso
e
considerava
o
fogo
por
ele
aceso
como
sagrado,
enquanto
que
os
outros
fogos,
acesos
em
outros
lugares,
por
outros
meninos,
ele
os
considerava
profanos
ou
seja,
despidos
de
sacralidade.
Como
se
pode
ver
com
facilidade,
para
um
caso
deste,
n�o
se
pode
descartar,
inteiramente,
a
hip�tese
das
vidas
sucessivas
cujas
lembran�as
deveriam
ainda
estar
muito
vivas
na
alma
do
pequeno
Jung.
A
vida
emocionalmente
tumultuada
do
menino
Jung
que
parecia
ser
uma
esp�cie
de
outsider
ante
�
vida
que
iniciava,
levou-o
a
um
empreendimento
que,
na
�poca,
ele
n�o
conseguiu
entender
muito
bem.
Ent�o
ele
tomou
um
estojo
amarelo
e
laqueado,
pr�prio
para
guardar
canetas
que
antigamente
era
usado
pelos
alunos
da
escola
prim�ria.
Dentro
deste
estojo,
havia
uma
r�gua
em
cuja
extremidade
Jung
esculpiu
um
homenzinho
com
cerca
de
seis
cent�metros
de
comprimento.
O
bonequinho
usava
fraque,
cartola
e
sapatos
lustrosos.
Depois
de
ter
feito
isto,
Jung
pintou
a
sua
cria��o
com
tinta
preta,
destacou-o
da
r�gua
e
o
p�s
dentro
do
estojo
onde
lhe
preparou
um
pequeno
leito.
Fez
tamb�m
para
o
homenzinho
um
casaquinho
de
l�.
Colocou,
ainda,
junto
com
o
boneco,
um
seixo
do
Rheno,
polido,
alongado
e
escuro.
Que
ele
havia
pintado
com
cores
variadas
de
maneira
que
as
partes
inferiores
e
superiores
ficassem
destacadas.
Durante
muito
tempo,
ele
guardou
o
seixo
consigo
no
bolso
da
cal�a.
O
seixo
era
a
pedra
do
homenzinho.
Tudo
aquilo
consistia
em
um
grande
segredo
que
ele
mesmo
n�o
compreendia
muito
bem.
Ent�o,
ele
escondeu
a
sua
criatura
no
s�t�o
de
sua
casa
junto
ao
madeiramento.
Era
muito
gratificante,
para
ele,
saber
que,
naquele
lugar,
o
seu
homenzinho
estava
guardado
e
o
seu
segredo,
seguro.
Passou
tamb�m
a
escrever
algumas
frases
em
rolinhos
de
papel
que
ele
ia
colocar
junto
com
seu
�dolo.
Eram
aqueles
textos
�
explica
Jung
�
uma
esp�cie
de
biblioteca
para
o
seu
bonequinho.
O
tempo
passou
e
Jung
esqueceu-se
de
seu
homenzinho.
Deixemos,
porem,
que
ele
se
explique:
Esqueci-me,
depois,
totalmente
deste
fato
at�
aos
trinta
e
cinco
anos.
Foi,
ent�o
que,
da
n�voa
da
inf�ncia,
de
novo,
com
clareza,
imediata,
os
fragmentos
de
lembran�as
surgiram.
Quando
ocupado
em
preparar
o
meu
livro
S�mbolos
e
Transforma��es
da
Libido,
a
cerca
dos
cahe11
de
pedras
da
alma,
perto
de
Arleshein
e
sobre
os
churingas.12
Descobri
tamb�m
que
eu
fizera
uma
imagem
muito
precisa
de
tais
pedras,
embora
jamais
houvesse
visto
antes
qualquer
reprodu��o
delas.
Ali
estava,
na
minha
gente,
a
imagem
de
uma
pedra
polida,
pintada
de
tal
maneira
que
a
parte
inferior
se
distinguia
da
superior.
Mas
ela
n�o
me
parecia
algo
desconhecido
e
foi
ent�o,
que
me
voltou
�
lembran�a,
o
estojo
amarelo
de
guardar
canetas
e
um
homenzinho.
Este
era
um
pequeno
deus
oculto
dos
antigos,
um
tel�sforo13
que,
em
muitas
representa��es
antigas
aparece
perto
de
Escul�pio14
para
o
qual
l�
um
rolo
que
tem
na
m�o.15
O
pr�prio
Jung
se
admira
de
ter
feito
o
homenzinho
e
pintado
a
pedra.
Diz
dele
que,
pela
primeira
vez,
passou
a
admitir
que,
na
alma,
existem
elementos
que
penetram
na
psik�
individual
a
partir
de
uma
determinada
tradi��o.
Com
este
coment�rio,
pela
primeira
vez,
Jung,
embora
muito
de
leve,
toca
na
possibilidade
da
reencarna��o,
posto
que,
mais
tarde,
infelizmente,
dever�
repudiar
a
hip�tese
reencarnat�ria,
pelo
menos
em
p�blico.
1
Lynn
Carl
GustavJung.Uma
biografia.P.16
2
Jung.
Mem�rias
Sonhos
e
Reflex�es
pag.22
3
Op.cit.pag.
19
4
Jung.Op
cit.
P�g
24
5
Dar
grandes
gargalhadas
�
um
comportamento
que
acompanhar�
Jung
por
toda
a
sua
vida
6
Nome
que
os
gregos
davam
ao
p�nis
ou
�rg�o
sexual
masculino
7
Jung.
Op.
Cit.pag.
26.
8
Doen�a
caracterizada
por
respira��o
laboriosa
com
sufoca��o
e
espasmo
da
laringe.
9
Jung.
Op.cit.pag
31-32
10
Coulange.
ACidade
Antiga.
P�g.24
11
Esp�cie
de
esconderijo
12
Pedras
dos
abor�genes
australianos
onde
ficam
gravados
seus
relatos
m�ticos.
13
Palavra
grega
que
significa
aquele
que
traza
totalidade
14
Deus
da
Medcina
no
mito
grego.
15
Jung.Op.cit.p,33
Entre
os
11
e
os
doze
anos,
em
1886,
Jung
foi
enviado
ao
Gin�sio
de
Basil�ia.
Naquele
�poca,
em
geral,
abriam-se
aos
rapazes,
oportunidades
diversas.
Nesse
momento
da
vida,
os
meninos
mais
pobres
davam-se
por
satisfeitos
e
iam
trabalhar.
Aqueles,
por�m,
que
eram
mais
afortunados
ingressavam
na
escola
secund�ria
que
estava
tamb�m
abertas
�s
meninas
que
freq�entavam
o
turno
da
tarde
em
oposi��o
aos
meninos
que
vinham
pela
manh�.
Alem�o
e
Matem�tica
eram
mat�rias
comuns
aos
meninos
e
�s
meninas,
depois
os
curr�culos
se
modificavam.
Os
meninos
aprendiam
Civismo,
Agricultura,
Geometria,
Contabilidade
e
Desenho,
al�m
de
praticarem
gin�stica.
As
menina
estudavam
economia
dom�stica,
costura
e
bordado,
jardinagem
e
puericultura16.
Deixando
esses
cursos
com
a
idade
de
quinze
anos,
os
rapazes
poderiam
aspirar
a
empregos
considerado
melhores
como
gar�ons,
lavradores
ou
guardas-
florestais
e
as
meninas
j�
estriam
prontas
para
casar.
Havia,
por
fim,
um
terceiro
grau
que
corresponderia
ao
nosso
estudo
universit�rio
onde
se
poderia
aprender
as
l�nguas
cl�ssicas
(Grego
e
Latim)
e
diversas
outras
humanidades.
Apesar
das
dificuldades
econ�micas
de
seu
pai,
Jung
conseguiu
ser
matriculado
neste
grau
mais
avan�ado.
Foi
nesse
momento
de
sua
vida
que
ele
tomou
plena
e
dolorosa
consci�ncia
da
situa��o
econ�mica
de
sua
fam�lia.
Os
seus
colegas
de
gin�sio
moravam
em
grandes
casas
e
tinham
cale�as
puxadas
por
magn�ficos
cavalos
de
ra�a.
Muitos
deles
falavam
um
alem�o
casti�o
e
um
franc�s
irrepreens�vel.
Eram
rapazes
limpos,
bem
vestidos,
perfumados
e
sempre
com
muito
dinheiro
no
bolso,
enquanto
ele
assistia
�s
aulas
com
os
sapatos
furados
e
as
meias
molhadas.
Com
secreta
inveja,
ouvia
os
colegas
falarem
de
suas
f�rias
nos
Alpes,
nas
montanhas
nevadas
e
resplandecentes
de
Zurich.
Muitos
deles
haviam
estado
na
beira
do
mar.
Aquilo,
para
Jung,
era
o
m�ximo.
A
escola
lhe
parecia
extremamente
aborrecida.
Em
verdade,
em
lugar
da
escola
ele
preferia
brincar
com
fogo,
o
seu
querido
fogo
sagrado
ou
desenhar
batalhas.
O
ensino
religioso
era
demasiadamente
enfadonho
e
a
Matem�tica,
angustiante.
A
�lgebra,
que
para
o
professor
parecia
t�o
�bvia,
para
ele,
nada
significava.
O
pior
era
que,
para
a
maioria
dos
estudantes
de
sua
escola,
a
Matem�tica
n�o
parecia
ser
um
grande
mist�rio.
O
professor
se
esfor�ava
para
ensinar
a
seus
alunos
os
segredos
dos
n�meros,
mas
a
mat�ria
n�o
interessava
a
Jung
de
forma
alguma,
entretanto,
em
raz�o
de
sua
intelig�ncia
viva
para
as
outras
mat�rias
e
a
sua
excelente
mem�ria
visual,
Jung
conseguia
boas
notas
mesmo
em
Matem�tica
e
o
seu
boletim
escolar
n�o
era
dos
piores.
No
princ�pio
do
ver�o
de
1887,
aconteceu
com
Jung
um
fato
digno
de
nota.
Era
mais
ou
menos
meio
dia
e
ele
estava
na
escola
esperando
um
colega,
quando
um
aluno,
seu
desafeto,
deu-lhe
um
soco
por
tr�s
e
ele
caiu,
batendo
com
a
cabe�a
no
ch�o.
O
golpe
o
deixara
atordoado
por
algum
tempo.
Durante
este
incidente,
um
pensamento
atravessou-lhe
a
mente:
�Agora
n�o
mais
preciso
ir
�
escola.�
Durante
algum
tempo,
ele
ficou
prostrado
no
solo
e,
depois,
foi
erguido
e
levado
para
a
casa
de
uma
de
suas
tias
que
morava
nas
proximidades.
A
partir
deste
acontecimento,
ele
passou
a
sofrer
s�ncopes
todas
as
vezes
em
que
seus
pais
o
mandavam
para
a
escola
ou
mesmo
lhe
mandavam
fazer
os
exerc�cios
propostos
pelo
professor.
Em
raz�o
disto,
ele
ficou
seis
meses
sem
ir
�
escola.
Aquilo
foi
um
achado
para
mim,
lembra
Jung.
Passava,
ent�o,
todo
o
seu
tempo
em
liberdade,
passeando
na
beira
do
lago
ou
entregue
�
arte
do
desenho
que
ele
apreciava
muito.
Sobre
este
per�odo,
comenta
Jung:
Ora
pintava
cenas
selvagens
de
guerra
ou
velhos
castelos
que
eram
atacados
e
incendiados,
ora
enchia
p�ginas
inteiras
decaricaturas
(ainda
hoje,
at�
no
momento
de
dormir,
tais
caricaturas
aparecem;
s�o
caras
grotescas
que
mudam
continuamente.
�s
vezes
apareciam
rostos
de
pessoas
conhecidas
que
logo
depois
morriam).17
Melhor
do
que
tudo,
por�m,
era
mergulhar
completamente
no
Mundo
do
Mist�rio.
A
ele
pertenciam,
as
�rvores,
a
�gua,
os
p�ntanos,
as
pedras,
os
animais,
a
biblioteca
de
meu
pai.
Era
maravilhoso.
Entretanto
eu
me
afastava
cada
vez
mais
do
mundo
com
um
leve
sentimento
de
m�
consci�ncia.
Consumia
meu
tempo
flanando,
lendo,
colecionando
e
brincando.
Mas,
nem
por
isso
era
mais
feliz,
pelo
contr�rio,
tinha
como
que
a
obscura
consci�ncia
de
que
estava
fugindo
de
mim
mesmo.
Assim
viveu
o
menino
Jung
durante
muito
tempo
despreocupado
com
as
atividades
escolares.
Aconteceu,
entretanto
que,
certo
dia,
ele
ouviu
uma
conversa
entre
seu
pai
e
um
amigo.
Em
um
certo
momento,
o
visitante
perguntou
a
Paul
Aquiles:
�
E
seu
filho,
como
vai?
�
Ah!
�
uma
hist�ria
penosa!
Os
m�dicos
ignoram
o
que
ele
tem.
Falaram
em
epilepsia:
seria
terr�vel
se
fosse
incur�vel!
Perdi
com
ele
o
pouco
que
tinha.
E
o
que
ser�
dele
se
for
incapaz
de
ganhar
a
vida?
Jung
ouvindo
estas
palavras,
ficou
literalmente
preocupado.
N�o
gostava
nem
mesmo
de
imaginar
que
pudesse
ter
o
destino
que
seu
pai
imaginava
para
ele.Cautelosamente,
saiu
do
lugar
onde
estava
escondido
ouvindo
a
conversa,
entrou
no
escrit�rio
de
seu
pai,
tomou
uma
gram�tica
latina
e
come�ou
a
estudar.
Procurou-se
aplicar-se
em
um
esfor�o
de
concentra��o.
Este
esfor�o
foi
acompanhado
pela
frase:
�N�o
vou
mais
desmaiar.�
Em
cerca
de
uma
hora,
desmaiou
ainda
por
tr�s
vezes,
mas,
por
fim,
os
desmaios
cessaram
para
sempre
e
ele
voltou
para
a
escola
sem
que
as
suas
crises
voltassem.
Em
uma
outra
oportunidade,
Jung
foi
convidado
para
passar
as
f�rias
com
a
fam�lia
de
um
seu
amigo
de
escola.
O
convite
pareceu-lhe
muito
bom
porque
a
casa
ficava
na
beira
de
um
lago
�
o
Lago
Lucerna
�
onde
havia
um
abrigo
para
canoas
e
um
barco
a
remo.
O
pai
do
amigo
de
Jung
permitiu
que
os
meninos
usassem
o
barco
desde
que
com
muita
cautela.
Jung
que
j�
possu�a
alguma
pr�tica
com
botes
a
remo,
entrou
na
fr�gil
embarca��o
com
seu
amigo
e
remou
para
o
meio
do
lago
onde
come�ou
a
fazer
um
grande
n�mero
de
imprud�ncias.
O
dono
da
casa,
que
havia
ficado
na
beira
do
lago,
vendo
as
bobagens
que
Jung
fazia
e
temendo
pela
seguran�a
dos
peraltas,
chamou-os
com
um
assobio
e
quando
os
dois
rapazes
voltaram,
o
pai
do
amigo
admoestou
Jung
com
severidade.
Enquanto
recebia
a
reprimenda,
Jung
viveu
uma
ambig�idade:
por
um
lado
admitia
que
a
repreens�o
era
plenamente
justificada,
contudo,
ao
mesmo
tempo,
sentia
uma
grande
raiva
daquele
homem
grosseiro,
gordo
e
sem
instru��o
que
ousava
chamara
sua
aten��o
com
toda
aquela
dureza.
Quem
ele
pensava
que
era
para
falar
assim
como
se
ele
fosse
um
menino
de
escola?
Jung
nos
revela
uma
estranha
sensa��o:
�Eu
n�o
me
sentia
apenas
como
um
adulto,
mas
como
uma
autoridade,
uma
pessoa
cheia
de
import�ncia
e
dignidade,
um
homem
idoso
ao
qual
se
deve
manifestar
respeito
e
admira��o.�
18
Refletindo
sobre
este
incidente,
Jung
lembra-se
de
que,
naquele
momento,
examinando
a
situa��o,
acalmara-se.
Como
era
poss�vel
que
um
colegial
com
doze
anos,
que
se
havia
comportado
mal,
e
que,
por
isso,
fora
repreendido
por
um
pai
de
fam�lia,
um
homem
rico
e
poderoso,
tivesse
aquele
tipo
de
rea��o?
Este
seu
pensamento
leva-o
a
uma
conclus�o
mais
estranha
ainda:
Perturbad�ssimo,
tomei
consci�ncia
de
que
havia
em
mim
duas
pessoas
diferentes:
uma
delas
um
menino
de
col�gio
que
n�o
compreendia
Matem�tica
e
que
se
caracterizava
pela
inseguran�a;
outro
era
um
homem
importante
de
grande
autoridade
com
que
n�o
de
deveria
brincar,
mais
poderoso
e
influente
do
que
aquele
industrial.
Era
um
velho
que
vivia
no
s�culo
XVIII,
usando
sapatos
de
fivela,
peruca
branca
e
tinha
como
meio
de
transporte
uma
cale�a
cujas
rodas
de
tr�s
eram
grandes
e
c�ncavas,
entre
as
quais
o
assento
do
cocheiro
ficava
suspensas
por
meio
de
molas
e
correias
de
couro.19
Temos
aqui
um
fen�meno
de
cis�o
da
personalidade,
muito
comum
nos
esquizofr�nicos
e
nos
m�diuns.
Em
Jung,
de
nosso
ponto
de
vista,
o
motivo
desta
divis�o,
deve-se,
por
certo,
�
interfer�ncia
de
uma
recorda��o
reencarnat�ria
que,
como
se
sabe,
�
muito
comum
nas
crian�as.
Esta
concep��o
que
estamos
defendendo
e
que
pode
parecer
demasiadamente
ousada
�
respaldada,
ou
pelo
menos
refor�ada,
em
um
outro
relato
de
C.
J.
Jung.
Conta
ele
que,
dias
antes
da
experi�ncia
que
acabamos
de
relatar,
estava
em
Klein
�
Huningen,
perto
de
Basil�ia
onde
morava,
quando
viu
um
fiacre
verde
que
passava
em
frente
de
sua
casa,
vindo
da
Floresta
Negra.
Era
uma
cale�a
antiga
que
lembrava
bastante
as
usadas
no
s�culo
XVIII.
Logo
que
a
viu
Jung
falou
excitado:
�Ah!
Ei-la!
�
do
meu
tempo!�
Jung
teve
a
impress�o
de
reconhecer
o
ve�culo
e
de
j�
ter
sido
transportado
por
um
deles.
Sente,
ent�o,
uma
forte
emo��o,
uma
esp�cie
de
nostalgia
ou
de
saudade,
saudade
de
um
tempo
que
havia
passado,
mas
que
permanecer�
nele
na
forma
de
reminisc�ncia
que,
�s
vezes,
o
assaltava
sem
que
ele
o
desejasse.
A
rela��o
de
Jung
com
o
s�culo
XVIII
aparece
de
forma
ainda
mais
n�tida
em
um
incidente
que
passo
a
narrar
aqui:
de
uma
certa
feita,
ele
viu,
na
casa
de
uma
de
suas
tias,
uma
est�tua
que
representava
em
terracota
pintada,
dois
personagens
daquele
s�culo.
Um
deles
era
um
personagem
tradicional
da
Basil�ia,
o
Dr.
Stuckelberger
e
a
outra
uma
das
clientes
dele.
A
est�tua
representava
uma
anedota
muito
conhecida
segundo
a
qual
o
velho
Escul�pio20
encontrou
junto
a
ponte
do
Rheno,
uma
mulher
hipocondr�aca
que
o
deixava
aborrecido
com
suas
queixas
constantes
de
que
estava
doente.
O
m�dico
pediu
a
ela
que
abrisse
a
boca
e
pusesse
a
l�ngua
de
fora
e
fechasse
bem
os
olhos.
A
mulher
apressou-se
em
cumprir
as
ordens
do
m�dico
e
este,
ao
v�-la
naquela
situa��o
rid�cula,
saiu
de
fininho,
deixando-a
de
p�,
no
meio
da
rua,com
os
olhos
fechados
e
a
l�ngua
de
fora,
o
que
foi
motivo
de
grande
hilaridade
por
parte
dos
passantes.
Examinando
a
est�tua
cuidadosamente,
os
olhos
de
Jung
se
fixaram
no
sapato
do
Dr.
Stukelberger.
De
repente,
ele
teve
a
clara
impress�o
de
que
j�
havia
usado
aquele
tipo
de
sapato.
Aquela
id�ia
o
perturbou
e
n�o
pouco.
Ele
podia
sentir
aqueles
sapatos
em
seus
p�s.
Era,
de
fato,
uma
experi�ncia
incr�vel.
Leiamos
mais
uma
vez
as
palavras
do
pr�prio
Jung
que
se
mostra
inquieto
com
aquele
tipo
de
comportamento:
Como
eu
poderia
permanecer
no
s�culo
XVIII?
Acontecia-me,
�s
vezes,
errando,
escrever
1786
em
lugar
de
1886
e
isso
era
seguido,
sempre
que
me
acontecia,
de
um
sentimento
inexplic�vel
de
nostalgia.21
Depois
do
um
incidente
na
beira
do
lago
Lucerna,
Jung
passou
a
se
preocupar
com
a
descoberta
de
sua
dupla
personalidade.
Em
princ�pio
eram
sensa��es
vagas
e
difusas,
mas,
depois
elas
foram
se
organizando
de
modo
a
formar
uma
gelstalt
(forma)
bastante
significativa
para
ele.
Um
fato,
por�m,
lhe
parece
�bvio:
n�o
poderia
continuar
vivendo
em
�pocas
diferentes,
por
isso,
resolveu
assumir
que
era
um
menino
em
idade
escolar
e
que
deveria
se
acomodar
nesse
status
e
deixar
para
l�
aquelas
id�ias
estapaf�rdias
de
ser
um
personagem
do
s�culo
passado.
Buscando,
entretanto,
uma
resposta
para
o
que
lhe
acontecia,
lembrou-se
das
muitas
hist�rias
que
ouvira
no
seio
de
sua
fam�lia
a
respeito
de
seu
av�
paterno,
o
Dr.
Jung.
Poderia
estar
se
identificando
com
ele?
Contudo,
ele
nascera
em
1895,
vivendo,
portanto,
quase
toda
a
sua
vida
no
s�culo
XIX.
Al�m
disto,
ele
havia
morrido
bem
antes
do
nascimento
de
Jung,
tornando-se
muito
dif�cil,
sen�o
imposs�vel,
uma
identifica��o
nessas
circunst�ncias.
As
rela��es
entre
Jung
e
seu
pai
eram
muito
dif�ceis.
Aos
dezoito
anos,
ele
costumava
travar
com
seu
pai
grandes
e
intermin�veis
discuss�es
sobre
quest�es
de
natureza
religiosa.
A
inten��o
de
Jung,
convidando
seu
pai
para
o
debate
religioso,
era
auxiliar
o
velho
pastor
em
seus
conflitos
de
consci�ncia.
Paul
Aquiles
se
refugiava
na
f�,
por�m,
em
uma
f�
pontilhada
de
d�vidas
que
ele,
quando
questionado,
negava
possuir.
Repetia
para
o
filho
que
o
importante
era
crer,
contudo,
n�o
parecia
estar
muito
certo
do
que
dizia.
Assim,
as
discuss�es
entre
pai
e
filho
sempre
acabavam
por
magoar
os
dois
e
a
nada
conduziam
exceto
aumentar
ainda
mais
o
abismo
entre
ambos.
Jung,
ent�o,
inicia
um
processo
de
aproxima��o
com
os
rapazes
de
sua
idade
e
de
sua
classe
social.
Na
escola
fizera
consider�veis
avan�os
e
chegara
mesmo
a
ser
considerado
o
melhor
aluno
de
sua
classe.
Essa
conquista,
infelizmente,
trouxe
como
conseq��ncia
o
acirramento
nos
outros
alunos
do
esp�rito
de
competi��o
e
de
inveja
contra
o
filho
do
pastor.
Na
escola
onde
ele
estudava
havia
Educa��o
F�sica
e,
nas
aulas
dessa
disciplina,
havia
jogos
esportivos.
Jung,
que
detestava
competi��es,
passou
a
detestar
tamb�m
as
aulas
de
Educa��o
F�sica,
por�m,
fez
algo
mais
objetivo:
passou
a
ser
o
segundo
aluno
na
cren�a
de
que,
assim,
a
competi��o,
em
rela��o
a
ele
diminuiria.
Ao
que
parece,
Jung
tamb�m
n�o
era
muito
bem
relacionado
com
os
seus
professores.
Ele
se
lembra
com
prazer
de
apenas
um
mestre:
o
professor
de
Latim,
um
homem
culto,
sens�vel
e
inteligente.
Era
o
�nico
mestre
que
demonstrava
confiar
no
aluno
que,
para
a
maioria,
era
problem�tico.
Muitas
vezes,
durante
as
aulas
de
Latim,
o
professor
mandava
que
ele
fosse
�
biblioteca
da
escola
para
pegar
alguns
livros.
Nessas
ocasi�es,
Jung
regressava
pelo
caminho
mais
longo
para
que,
no
trajeto,
pudesse
dar
uma
olhada
em
alguns
dos
livros.
Em
geral,
os
professores
consideravam
Jung
um
tolo,
desordeiro
e
provocador
de
dist�rbios.
Se
acontecia
algo
de
errado
na
escola
era
dele
que
logo
se
desconfiava.
Se
havia
alguma
briga,
dizia-se
logo
que
fora
o
filho
do
pastor
que
a
instigara.
Em
verdade,
por�m,
Jung
apenas
uma
vez
se
envolveu
em
uma
briga
s�ria.
Isso
aconteceu
quando
um
grupo
de
sete
alunos
se
reuniu
para
lhe
dar
uma
li��o.
Jung
estava,
ent�o
com
15
anos
e
era
muito
alto
e
forte.
Vendo-se
atacado,
pegou
um
dos
agressores
e
rodou
com
ele
de
tal
modo
que
as
pernas
do
garoto
derrubaram
os
outros.
Ante
aquela
demonstra��o
de
for�a,
os
atacantes
fugiram
e,
desde
aquele
dia,
deixaram-no
em
paz.
Como
dissemos
alhures22,
a
m�e
de
Jung
era
m�dium.
Um
certo
dia,
um
incidente
banal
fez
Jung
desconfiar
de
que
sua
m�e
possu�a
tamb�m
o
mesmo
problema
de
dupla
personalidade
que
acontecia
com
ele.
Chegou
a
imaginar
que
sua
m�e
fosse
uma
pessoa
durante
o
dia
e
outra
a
noite.
Durante
a
noite,
ela
parecia
a
ele
uma
vidente
(m�dium),
um
animal
e
uma
sacerdotisa
arcaica
e
cruel.
Ele
acreditava
tamb�m
que
Emilie
tinha
o
dom
de
ver
as
pessoas
al�m
da
roupagem
f�sica
e
que
ele
participava
com
ela,
deste
mesmo
dom.
Para
justificar
a
sua
teoria,
ele
relata
o
seguinte
caso.
Certo
dia,
ele
foi
a
uma
festa
de
casamento
de
uma
amiga
de
sua
mulher,
cuja
fam�lia
ele
n�o
conhecia.
Durante
a
festa
foi
apresentado
a
um
senhor
dono
de
uma
bela
barba
que,
segundo
lhe
disseram,
era
advogado.
Jung
sentou-se
com
o
homem
e
entabularam
uma
conversa��o
sobre
psicologia
criminal.
Em
um
certo
momento,
o
homem
fez
a
Jung
uma
pergunta
e
este,
para
melhor
aclarar
o
seu
pensamento,
imaginou
um
caso
para
servir
de
ilustra��o.
�
propor��o
que
contava,
com
o
objetivo
de
tornar
a
suanarrativa
mais
interessante,
Jung
adornou
o
caso
com
detalhes
que
lhe
acorreram
�
mente.
�
propor��o
que
Jung
falava,
foi
notando
que
o
seu
interlocutor
ficava
cada
vez
mais
incomodado.
O
inc�modo
chegou
a
tal
ponto
que
o
advogado,
n�o
mais
resistindo,
interrompeu-o
dizendo
que,
contado
aquela
hist�ria,
Jung
estava
sendo
demasiadamente
indiscreto.
Jung
achou
estranha
aquela
observa��o
e
ponderou
que
havia
inventado,
naquele
momento,
a
hist�ria
que
contara.
Para
seu
espanto,
ent�o,
soube
que
havia
relatado
um
fato
acontecido
com
aquele
homem.
Por
vezes,
Jung
confessa
que
aconteceram
com
ele
fatos
semelhantes.
De
quando
em
quando,
subitamente,
inteirava-se
de
coisas
sobre
outras
pessoas
que
normalmente
n�o
poderia
conhecer.
Esse
conhecimento
se
dava
sempre
de
um
modo
inesperado
a
respeito
do
qual
n�o
tinha
o
menor
controle
e
o
mais
interessante
�
que
ele
n�o
se
esquecia
das
coisas
que
havia
falado
nessas
ocasi�es.
No
caso
do
advogado,
por�m,
ele
diz,
que
tendo
acabado
de
falar,
esqueceu-se
inteiramente
do
que
havia
dito
e
que
este
esquecimento
durou
at�
ao
momento
em
que
estava
escrevendo
as
suas
mem�rias
nas
quais
se
encontra
o
referido
relato.
Esses
fatos
s�o
muito
comuns
na
a��o
medi�nica.
Muitas
vezes,
o
esp�rito
desencarnado,
desejando
dar
um
recado
a
uma
pessoa,
se
valem
de
um
m�dium
tomando
emprestado
o
seu
aparelho
vocal,
colocam
em
sua
boca
as
palavras
que
querem
dizer;
se
houver
inconsci�ncia
por
parte
do
m�dium,
ou
se
n�o
for
do
interesse
do
esp�rito
comunicante
que
o
m�dium
saiba
das
palavras
que
pronunciou,
ele
pode
�apag�las�
da
mente
dele
e
este
as
esquece
completamente.
Lembrando
que
sua
m�e
possu�a
esse
tipo
estranho
de
comportamento,
Jung
conta
que
ela,
muitas
vezes,
falava
a
ele
com
a
sua
segunda
personalidade
e
o
que
ele
lhe
dizia
parecia
t�o
grave
e
verdadeiro
que
lhe
causava
estremecimentos.
Era,
entretanto,
um
fen�meno
raro.
Se
ela
demorasse
um
pouco
mais
nesses
di�logos,
a
sua
segunda
personalidade
poderia
ser
um
interlocutor
bastante
v�lido,
comenta
Jung.
Esses
contatos
com
a
mediunidade
de
sua
m�e
e
com
a
sua
pr�pria,
talvez
tenha
sido
um
dos
motivos
que
atraiu
Jung
para
os
dom�nios
do
espiritualismo
com
menor
dose
de
preconceito
do
que
a
maioria
dos
intelectuais
de
sua
�poca,
inclusive
Sigmund
Freud.
Por
esta
raz�o,
em
sua
primeira
viagem
aos
Estados
Unidos,
ao
se
encontra
com
Willians
James,
tenha
ficado
t�o
satisfeito.
Jung
admirava
Willians
James
embora
soubesse
que
ele
era
um
entusiasta
da
mediunidade
e
do
Espiritismo.
Foi
este
psic�logo
americano
quem
estudou
com
grande
esp�rito
de
isen��o
e
honestidade,
a
mediunidade
de
Eleanor
Piper,
a
Senhora
Piper
como
ficou
conhecida
entre
os
estudiosos
de
Metagnomia,
Parapsicologia
e
Espiritismo.
N�o
seria
inoportuno
lembrar
aqui
que
Jung
se
mostrou
t�o
aberto
e
simp�tico
ao
trabalho
de
James
que
chegou
a
citar
Imperator,
o
esp�rito
guia
da
Senhora
Piper,
para
corroborar
a
sua
tese
sobre
o
�nimus.23
Voltemos,
por�m,
a
tratar
das
rela��es
de
Jung
com
seu
pai.
A
leitura
de
Mem�rias,
Sonhos
e
Reflex�es
revela,
mesmo
a
um
leitor
pouco
atento,
que
ele
possu�a,
apesar
dos
desencontros
em
mat�ria
religiosa,
mais
afinidade
com
seu
pai
do
que
com
sua
m�e.
Tem-se
a
impress�o
de
que
esses
tr�s
esp�ritos,
(Jung
estava
com
cerca
de
16
anos)
reencarnaram
juntos,
na
mesma
fam�lia,
para
reciclarem
velhas
hostilidades,
antigos
desencontros,
mas
que
n�o
conseguiram
fazer
grandes
avan�os
neste
sentido.
Havia
momentos
em
que
Jung
pensava
em
se
aproximar
de
seu
pai
para
discutir
com
ele
suas
d�vidas
religiosas,
entretanto,
recuava
por
acreditar
que
j�
sabia
de
antem�o
o
resultado
daquele
col�quio:
respostas
prontas
e
dogm�ticas,
as
mesmas
de
que
se
utilizava
em
seu
magist�rio.
Esta
falta
de
di�logo
entre
pai
e
filho
criava
uma
situa��o
indesej�vel
do
ponto
de
vista
educacional.
Paul
Aquiles
preparava
o
filho
para
fazer
a
crisma,
mas
isso
aborrecia
seriamente
o
rapaz.
Certa
ocasi�o,
cansado
de
assistir
�s
aulas
de
religi�o
dadas
por
seu
pai,
Jung
decidiu
por
si
mesmo
fazer
uma
pesquisa
religiosa
e,
assim,
encontrando
um
velho
catecismo
come�ou
a
estud�-lo.
Durante
a
leitura,
ele
topou
com
o
dogma
da
Sant�ssima
Trindade.
A
id�ia
de
uma
trindade
que
se
reduzia
a
um
deus
�nico,
interessou,
vivamente,
o
rapaz,
contudo
ao
falar
a
seu
pai
sobre
este
assunto,
este
lhe
respondeu:
passemos
por
alto
sobre
a
quest�o
da
trindade
porque
eu
tamb�m
jamais
entendi
tal
coisa.
Por
um
lado,
Jung
achou
bonita
a
atitude
de
seu
pai
ao
declarar,
com
toda
a
sinceridade,
a
sua
ignor�ncia;
por
outro,
todavia,
n�o
podia
aceitar
que
ele
abordasse
tal
assunto
em
seus
serm�es.
Esta
segunda
parte
o
decepcionava
bastante
e
ratificava
a
id�ia
que
fazia
de
seu
pai:
um
homem
fr�gil,
confuso,
imerso
em
d�vidas
quanto
�
sua
pr�pria
f�.
Mesmo
assim,
Jung
aceita
fazer
a
crisma
sob
a
orienta��o
de
seu
pai,
por�m,
v�
naquela
cerim�nia
uma
esp�cie
de
forma
sem
conte�do.
Vamos
ler
mais
uma
vez
o
texto
de
Jung:
O
malogro
da
minha
comunh�o
teria
sido
um
fracasso
meu?
Eu
me
preparava
com
a
maior
seriedade
esperando
viver,
atrav�s
dela,
a
gra�a
e
a
ilumina��o,
mas
nada
disto
aconteceu.
Deus
permaneceu
ausente.
Por
sua
vontade,
separei-me
da
igreja
e
da
f�
de
meu
pai
e
de
todos
os
outros
�
medida
que
representavam
a
religi�o
crist�.
Ca�ra
fora
da
igreja
e
este
acontecimento
turvou,
tristemente,
os
anos
que
precederam
o
inicio
dos
meus
estudos
universit�rios.24
Desse
dia
em
diante,
Jung
est�
certo
do
seguinte:
se
desejar
ter
um
verdadeiro
encontro
com
Deus,
seu
pai,
muito
pouco
ou
quase
nada,
poder�
fazer
para
ajud�-lo.
Assim,
ele
volta
para
a
sua
pesquisa
independente
e,
para
tanto,
vale-se
da
pequena
e
acanhada
biblioteca
de
seu
pai,
�
procura
de
um
livro
que
pudesse
instru�-lo
com
respeito
�
exist�ncia
de
Deus.
A
maioria
dos
livros
que
encontrava,
por�m,
possu�am
concep��es
demasiadamente
tradicionais
da
divindade.
Enquanto
procurava,
caiu-lhe
nas
m�os
um
livro,
publicado
em
1869,
intitulado
Dogm�tica
Crist�,
escrito
por
um
certo
Bierdmann.
O
livro
impressionou
Jung
porque
lhe
pareceu
que
o
autor
expressava
algumas
id�ias
pr�prias
que
fugiam
da
�mesmice�
dos
livros
anteriores.
Ali,
o
rapaz
l�
a
seguinte
defini��o
de
religi�o:
Religi�o
�
um
ato
espiritual
de
relacionamento
do
homem
com
Deus.
Jung
se
interessa
por
aquela
defini��o
uma
vez
que,
para
ele,
as
rela��es
entre
o
homem
e
Deus
eram
imposs�veis,
j�
que
Deus
�
imensamente
mais
forte
que
o
homem,
assim,
se
era
poss�vel
aquela
rela��o,
tornava
necess�rio
que
o
homem
conhecesse
melhor
Deus
uma
vez
que
n�o
se
pode
relacionar-se
com
uma
coisa
que
n�o
se
conhece.
Interessado,
d�
inicio
�
leitura
da
B�blia
com
o
objetivo
de
melhor
conhecer
a
divindade.
�
medida
que
incrementava
a
sua
pesquisa,
mais
encontrava
dificuldades
para
a
explica��o
cartesianamente
clara
da
id�ia
de
Deus.
Lendo
o
livro
da
G�nesis,
primeiro
livro
do
Pentateuco,25
Jung
esbarrou
com
uma
afirma��o
sobre
o
criador
que,
a
cada
momento
de
sua
cria��o,
parece
estar
satisfeito
com
o
que
realizava:
�E
Deus
viu
que
era
bom.�
Como
Deus
poderia
achar
que
era
bom
um
mundo
onde
campeia
a
doen�a,
a
velhice
e
a
morte?
Pensava
Jung:
Como
Deus
poderia
ter
criado
o
para�so
e
colocado
l�
a
serpente
(ou
permitido
que
ela
entrasse)
para
p�r
fim
�quele
espa�o
de
perfei��o.
Custava-lhe
crer
que
Deus
sentisse
algum
tipo
de
satisfa��o
com
um
mundo
marcado
pela
dor,
tanto
dos
homens
como
dos
animais.
E
mais:
qual
seria
o
lugar
do
diabo
no
mundo
de
Deus?
Seria
Sat�
tamb�m
uma
criatura
de
Deus?
Tudo
aquilo
lhe
parecia
um
absurdo
ou
mesmo
uma
arrematada
tolice.
Por
esta
�poca
sua
m�e
lhe
d�
para
que
leia,
O
Fausto
de
Goethe.
O
interessante
�
que
ele
acredita
que
tenha
sido
a
personalidade
n�mero
dois
de
sua
m�e
(Um
esp�rito?
Um
guia?)
que
lhe
dera
aquele
livro.
A
sua
leitura
o
impressionou
sobremodo.
Vamos
ler
a
opini�o
de
Jung
sobre
O
Fausto:
Vi
assim,
confirmado
o
fato
de
que
havia
ou
houvera
homens
que
encaravam
o
poder
do
mal
no
mundo
e,
ainda
mais,
que
percebiam
o
papel
misterioso
desempenhado
por
ele
no
sentido
de
libertar
o
homem
das
trevas
do
sofrimento.
Assim,
Goethe
foi,
para
mim
uma
esp�cie
de
profeta.26
Esta
fren�tica
busca
de
Deus
leva
Jung
a
ler
filosofia
no
Dicion�rio
Geral
de
Filosofia
e
outros
livros.
Este
conjunto
de
leituras
deu
ao
rapaz
um
conhecimento
bem
acima
da
m�dia
dos
jovens
de
sua
idade,
o
que
lhe
causou
um
incidente
bastante
desagrad�vel.
Certo
dia,
um
professor
mandou
que
seus
alunos,
inclusive
Jung,
fizessem
uma
reda��o.
Como
o
tema
lhe
parecesse
interessante,
ele
se
esmerou
muito
e
terminado
o
seu
trabalho,
entregou-o
ao
professor
e
ficou
�
espera
do
resultado.
No
dia
em
que
o
professor
entregou
�
turma
o
a
reda��o
corrigida,
Jung
estranhou
porque
a
sua
n�o
lhe
havia
sido
entregue.
Ao
final,
o
professor
disse,
sem
o
menor
constrangimento,
que
o
melhor
texto
havia
sido
o
de
Jung,
mas
que
n�o
acreditava
que
houvesse
sido
escrito
por
ele.
Achava
que
a
reda��o
estava
muito
al�m
da
capacidade
de
um
aluno
comum
e
chegou
a
dizer
que,
de
quem
ele
havia
copiado,
o
expulsaria
da
escola.
O
mestre,
diz
de
ter
dito
essas
palavras
duras
e
injustas,
limitou-se
a
virar-lhe
as
costas,
n�o
lhe
dando
oportunidade
de
se
defender.
Jung
ficou
indignado
e,
por
um
instante,
acalenta
em
seu
�ntimo
o
desejo
de
se
vingar
do
professor
prepotente
e
arbitr�rio.
Em
seguida,
refez
esta
posi��o
e
considerou
que
n�o
havia
motivo
para
agita��o.
Muito
provavelmente
o
mestre
era
um
tolo
e
incapaz
de
compreender
a
sua
maneira
de
ser,
o
que
n�o
era
nada
de
anormal
uma
vez
que
ele
mesmo
n�o
se
compreendia
muito
bem.
Com
esse
pensamento,
resolveu
aplacar
a
sua
ira
contra
o
professor
e
voltar
para
a
atividade
normal
da
escola.
Os
colegas
da
escola
o
apelidaram
de
Pai
Abra�o
e
o
chamavam
tamb�m
de
Barril
e
Jung
n�o
se
importava
muito
com
isso.
Motivado
pelo
desejo
de
aprender
cada
vez
mais,
Jung
mergulha,
com
entusiasmo,
no
estudo
da
Filosofia.
Entra,
ent�o,
em
contato
com
fil�sofos
pr�-socr�ticos
como:
Pit�goras
de
Samos,
Her�clito
de
�fesos,
Emp�docles
de
Agriento,
Parm�nides
de
El�ia.
Essas
leituras
o
levam
por
fim
ao
divino
Plat�o.
Toma-se
de
paix�o
pelo
pensamento
grego.
Diz
que
em
Meister
Eckhart,
te�logo,
m�stico
e
filosofo
alem�o,
sente
pela
primeira
vez,
o
sopro
da
vida,
posto
que
n�o
entendesse
muito
bem
aquele
pensamento.
O
pensamento
crist�o,
contudo,
o
deixa
indiferente.
Desgosta-se
do
intelectualismo
aristot�lico
de
Tomaz
de
Aquino
que
lhe
parece,
al�m
de
superficial,
demasiadamente
�rido.
Desconfia
do
racionalismo
hegeliano.27
O
seu
grande
encontro
intelectual,
por�m,
se
d�
com
o
fil�sofo
alem�o
Arthur
Schopenhauer
(17881860).
O
que
mais
impressiona
neste
pensador
�
a
maneira
de
abordar
o
sofrimento
do
mundo,
coisa
que
n�o
havia
visto
ainda
em,
outro
fil�sofo.
Por
fim
encontrara
um
homem
que
n�o
tivera
medo
de
falar
das
imperfei��es
existentes
nos
fundamentos
do
mundo.
Schopenhauer
n�o
falava
de
uma
Provid�ncia
s�bia
e
justo
e
de
uma
harmonia
na
cria��o;
pelo
contr�rio,
ele
falava
claramente
da
perversidade
que
provinha
apenas
de
uma
coisa:
da
cegueira
da
Vontade
Criadora.
A
filosofia
de
Schopenhauer
parecia-lhe
correta
porque
perfilhava
uma
simples
vis�o
do
mundo
que
n�o
exclu�a
a
dor
e
o
sofrimento.
Existia,
julgava
Jung,
na
natureza,
uma
incr�vel
maldade.
Quando
menino,
havia
visto
minhocas
devoradas,
aos
poucos,
pelas
formigas;
insetos
que
se
despeda�avam;
raposas
sarnentas,
p�ssaros
doentes
etc.
Por
outro
lado,
o
conv�vio
com
os
homens
tamb�m
poderia
confirmar
a
inexist�ncia
da
bondade
humana
ou
de
uma
moralidade
natural.
O
jovem
Jung
continuou
estudando
e
lendo
como
um
desesperado,
como
uma
pessoa
que
tivesse
fome,
muita
fome
de
saber
e
que
acreditasse
que
o
conhecimento
lhe
trouxesse
algo
parecido
�
paz.
Este
foi
o
ideal
que
ele
prosseguiu
desde
muito
jovem,
mas
que
jamais
encontrou.
Assim,
pouco
a
pouco,
Carl
Gustav
Jung
foi
avan�ado
apesar
das
dificuldades
e,
por
fim,
terminou
o
curso
b�sico
e
estava
preparado
para
um
v�o
maior:
a
Universidade.
16
Arte
de
cuidar
de
crian�as.
Deriva
do
latim
puer,infante
17
Jung
estava,
ent�o,
com
83
anos.
18
Jung.
Op.cit.p.
17
19
Jung.Op.cit.p.
43
20
Escul�pio
era
o
deus
da
medicina
na
Gr�cia
Antiga.
No
passado
era
comum
trocar-se,
em
alguns
casos,
a
palavra
m�dico
por
Escul�pio.
21
Jung.
Op.
cit.
p.
44
22
Em
outro
lugar
23
Jung
chama
de
Animus
a
figura
masculina
arquet�pica
que
se
encontra
no
inconsciente
feminino
e
Anima,
arqu�tipo
feminino
que
est�
no
inconsciente
masculino.
24
Jung.
Op.
cit.
p.
60
25
Nome
que
se
d�
aos
cinco
primeiros
livros
da
B�blia
atribu�dos
a
Moises.
S�o
eles:
AG�nesis,
o
�xodos,
o
Lev�tico,
N�meros
e
Deutreron�mio.
26
Jung.
Op.
cit.
64
27
Refer�ncia
a
George
Wilhelme
Friedrich
Hegel
(1780-1831)
Terminado
o
curso
ginasial,
Jung
chega
�
conclus�o
de
que
deveria
ganhar
a
vida,
procurando
uma
profiss�o
que
lhe
abrisse
um
futuro
promissor
tanto
social
como
financeiramente.
De
in�cio,
ele
pensou
em
ser
naturalista,
especializado
em
Zoologia.
Se
entrasse
por
este
caminho,
por
certo
acabaria
professor
de
Ci�ncias
Naturais
ou
funcion�rio
do
Jardim
Zool�gico.
Esta,
por�m,
n�o
era
uma
perspectiva
atraente,
mesmo
para
uma
pessoa
que
n�o
desejasse
muito
da
vida.
Desse
modo,
embora
gostando
das
ci�ncias
da
natureza,
Jung
desistiu
de
estudar
Zoologia.
Ocorreu-lhe,
ent�o,
a
id�ia
de
fazer
Medicina.Jung
fica
admirado
de
n�o
ter
pensado
antes
naquela
possibilidade
uma
vez
que
seu
av�
paterno,
como
j�
vimos
em
outra
parte
deste
livro,
era
m�dico
em
Basil�ia.
Explica
esse
�esquecimento�
(e
at�
mesmo
uma
certa
resist�ncia
a
ser
m�dico)
pelo
fato
de
haver,
muito
cedo,
imaginado
para
si
mesmo
uma
divisa:
�jamais
imitar
pessoa
alguma�.
Ante
a
necessidade
de
tomar
uma
decis�o
fundamental
em
sua
vida,
resolve
rever
sua
posi��o
e
considera
favor�vel
�
Medicina
o
fato
de
que
os
estudos
m�dicos
se
relacionavam
�s
Ci�ncias
Naturais,
uma
das
disciplinas
que
Jung
mais
gostava.
Feita
a
escolha,
havia
um
outro
grave
problema:
como
fazer
um
curso
caro
como
Medicina
sendo
um
estudante
pobre?
Sem
dinheiro,
n�o
poderia,
por
exemplo,
estudar
em
uma
universidade
estrangeira.
Por
ser
pouco
simp�tico
aos
professores
e
aos
colegas,
n�o
esperava
contar
com
a
ajuda
deles.
Seu
pai,
que
poderia
bancar
com
apenas
uma
parte
das
despesa
com
os
estudos
de
seu
filho,
pleiteou
e
conseguiu
uma
bolsa
de
estudo
para
ele.
Este
fato
que
deveria
ser
visto
como
uma
vit�ria,
n�o
agradou
Jung,
muito
pelo
contr�rio,
provocou-lhe
vergonha,
pois,
com
a
aquisi��o
da
bolsa,
a
sua
pobreza
ficaria
demasiadamente
exposta.
N�o
haveria,
por�m,
escolha
porque
urgia
tocar
a
vida
para
frente
uma
vez
que
o
tempo
n�o
para.
Assim,
na
Primavera
de
1895,
ele
foi
aprovado
no
Curso
de
Ci�ncias
Naturais
e
Medicina
na
Universidade
de
Basil�ia.
Paul
Aquiles
ficou
muito
satisfeito
com
a
aprova��o,
entretanto,
a
sua
sa�de
tornava-se
cada
vez
mais
d�bil.
No
Outono
de
1896,
Jung
chegou
�
sua
casa
depois
das
aulas
e,
como
era
seu
costume,
perguntou
pelo
pai.
O
pastor
Aquiles
Jung
estava
muito
mal
e
delirava.
Sua
m�e
respondeu
a
pergunta
dizendo:
�
Ele
quer
saber
se
voc�
passou
nos
exames
finais.
�
Sim.
Foi
tudo
bem.
Respondeu
Jung.
O
doente,
que
havia
ouvido
a
resposta,
suspirou
aliviado
e
fechou
os
olhos.
Jung
aproximou-se
de
seu
pai.
Estavam
os
dois
sozinhos,
pois
Emilie
ficara
ocupado
no
quarto
ao
lado.
Paul
Jung
come�a
a
deixar
esta
vida,
estertora,
agoniza.
O
rapaz
percebe
que
o
pai
est�
morrendo.
Vai
ao
c�modo
ao
lado
chamar
sua
m�e.
Ele
estava
sentada
fazendo
tric�.
�Ele
est�
morrendo�,
disse
Jung.
Ela
deixou
o
tric�
sobre
a
cadeira
e
foi
at�
a
cama
de
seu
marido,
mas
ele
j�
estava
morto.
Ela
limitou-se
a
dizer
admirada:
�Como
tudo
acontece
depressa.�
Os
dias
seguiram
pesados
e
tristes
como
em
um
inverno
chuvoso.
Um
dia,
a
m�e
de
Jung
falou-lhe
com
a
sua
segunda
voz:28
�Ele
desapareceu
na
hora
certa
para
voc�.�
Jung
interpreta
a
frase
de
sua
m�e
como:
�Voc�s
n�o
se
entendiam
e
ele
poderia
ser
um
obst�culo
para
voc�.�
Apesar
da
crueza
aparente
daquelas
palavras,
elas
serviram
para
Jung
como
um
lembrete
de
que
uma
parte
de
seu
passado
deveria
ser
definitivamente
esquecida.
Ele
sente
ent�o
uma
forte
sensa��o
de
virilidade
e
de
liberdade.
A
seguir,
ele
se
instala
no
quarto
paterno
e
assume
a
posi��o
de
seu
pai
na
fam�lia.
Controla,
agora,
a
economia
familiar
uma
vez
que
Emilie
era
inteiramente
incapaz
de
faz�-lo.
A
esta
altura
da
vida
de
Jung,
acontece
com
ele
um
novo
fen�meno
inusitado.
Vamos
ler,
por�m,
as
pr�prias
palavras
de
Jung:
Seis
semanas
depois
de
sua
morte,
meu
pai
apareceu-me
em
sonho.
Surgiu,
bruscamente,
diante
de
mim
e
me
disse
que
havia
voltado
de
f�rias.
Tinha
descansado
e
voltado
para
casa.
Pensei
que
me
censuraria
por
me
haver
instalado
em
seu
quarto,
mas
ele
nada
disse.
No
entanto,
envergonhava-me
por
haver
imaginado
que
ele
havia
morrido.
Alguns
dias
depois,
o
sonho
se
repetiu:
meu
pai
voltava
para
casa
e
eu
me
censurava
por
t�-lo
julgado
morto.
Perguntei
a
mim
mesmo:
o
que
significava
esta
volta
de
meu
pai
em
sonhos?
Porque
tem
aspecto
t�o
real?
Este
acontecimento
t�o
inesquec�vel
obrigou-me,
pela
primeira
vez,
a
refletir
sobre
a
vida
depois
da
morte.29
Teria
Jung
sonhado
com
seu
pai?
Teria
o
velho
pastor
luterano
vindo
ver
seu
filho
depois
de
desencarnado?
Ou
ainda:
teria
Jung
sido
levado,
por
esp�ritos
amigos
ao
Plano
Espiritual
onde
estava
seu
pai
para
lhe
dar
uma
prova
da
imortalidade
da
alma?
As
tr�s
hip�teses
s�o
poss�veis
embora
perfilhemos
a
primeira
delas.
Jung
ficou
muito
impressionado
com
o
seu
sonho
uma
vez
aquele
fen�meno
on�rico
com
um
sonho
cl�ssico
em
que
as
imagens
aparecem,
muitas
vezes,
absurda
e
confusas
ou
se
condensam
em
situa��es
incompreens�veis,
apresentada
em
linguagem
rica
de
simbolismo.
N�o.
Havia
sido
um
sonho
demasiadamente
claro
e
objetivo,
t�o
claro
que
leva
o
pr�prio
sonhador
a
se
perguntar:
�por
que
tem
aspecto
t�o
real?�
Este
sonho
�
diz
o
pr�prio
Jung
�
f�-lo
refletir
sobre
a
vida
depois
da
morte.
Com
a
aus�ncia
do
pai,
a
situa��o
econ�mica
da
fam�lia
piorou
consideravelmente
e,
por
isso,
a
continuidade
dele,
na
Universidade,
tornara-se
dif�cil.
Uma
parte
da
fam�lia
achava
que
o
melhor
a
fazer
seria
Jung
abandonar
o
seu
curso
universit�rio
e
ir
trabalhar,
como
caixeiro,
em
uma
casa
de
com�rcio
para
que
a
fam�lia
pudesse
ter
uma
renda,
ainda
que
pequena,
o
mais
r�pido
poss�vel.
Um
irm�o
mais
mo�o
de
Emilie
d�
uma
colabora��o
para
que
a
situa��o
financeira
da
fam�lia
fosse
minorada
e
um
tio
do
lado
paterno
empresta
a
Jung
uma
consider�vel
soma
em
dinheiro
para
garanti-lo
na
Universidade.
Jung,
por
seu
turno,
consegue,
com
habilidade,
vender
uma
cole��o
de
pe�as
antigas
de
uma
de
suas
tias
em
por
um
bom
pre�o.
O
lucro
foi
bem
alto
e
o
rapaz
embolsou
boa
parte
dele.
Durante
os
cinco
primeiros
anos
de
estudos
universit�rios,
Jung
percebeu
que
as
Ci�ncias
Naturais,
do
modo
como
eram
ensinadas,
possu�am
uma
tend�ncia
muito
tecnicizada
e
inteiramente
materialista.
Em
seu
estudo
n�o
apareciam
no��es
sobre
a
alma,
assunto
que
lhe
era
bastante
caro.
A
filosofia
havia
chamado
a
sua
aten��o
para
a
alma
e
ele
estava
certo
de
que,
sem
o
conceito
de
alma,
n�o
poderia
haver
saber
profundo.
Esta
aus�ncia
na
Medicina
de
uma
id�ia
que
lhe
era
particularmente
importante,
deixou
Jung
bastante
decepcionado
com
o
curso.
Um
dia,
por�m,
no
final
do
segundo
semestre
Jung
fez
uma
descoberta,
no
m�nimo,
inquietante.
Esta
ale
na
biblioteca
do
pai
de
um
colega
da
Universidade
quando
encontrou
um
livrinho,
escrito
por
volta
dos
anos
setenta,
que
tratava
da
apari��o
de
esp�ritos.
O
livro
era
da
autoria
de
um
te�logo
e
enfocava
os
prim�rdios
dos
estudos
a
respeito
dos
problemas
medi�nicos.
Jung
se
dedica
�
leitura
do
texto
e
nele
encontra
as
mesmas
hist�rias
que
se
acostumara
a
ouvir
em
sua
inf�ncia
na
casa
de
seus
av�s
maternos.
O
material
pareceu-lhe
aut�ntico,
todavia,
era
dif�cil
determinar
com
clareza
a
realidade
objetiva
de
tais
fen�menos,
e
o
livro
n�o
era
muito
claro
a
este
respeito.
Ao
terminar
a
sua
leitura,
Jung
chegou
�
seguinte
conclus�o:
h�
muitos
anos,
desde
o
in�cio
das
civiliza��es
hist�ricas,
noticias
sobre
a
apari��o
de
esp�ritos
s�o
encontradas
nas
mais
diferentes
�pocas
e
nos
mais
diversos
lugares.
Por
que
tal
coisa
acontecia?
De
inicio,
Jung
procurou
n�o
tirar
daquele
fato
nenhuma
conseq��ncia
religiosa.
De
uma
coisa,
entretanto,
estava
certo:
se
tais
fen�menos,
de
fato
existissem,
deveriam
ser
entendidos
como
produ��es
objetivas
da
alma
humana.
Embora
encarasse
o
Espiritismo
com
alguma
suspeita
e
reservas,
Jung
ficou
muito
interessado
neste
assunto
e,
segundo
a
sua
pr�pria
declara��o,
teria
lido
toda
a
literatura
esp�rita
que
lhe
ca�ra
nas
m�os.30
O
fato
�
que
a
leitura
desses
textos
entusiasmou
o
jovem
Jung
a
tal
ponto
que
ele
come�a
a
falar
delas
com
seus
colegas
na
Universidade.
A
resposta
que
recebe
deles
�
a
goza��o
ou
a
nega��o
pura
e
simples.
Ele
achava
muito
estranha
aquela
atitude
preconceituosa
de
pessoas
que
negavam
a
possibilidade
da
exist�ncia
de
esp�ritos,
das
mesas
girantes,
afirmando
que
tais
coisas
eram
simples
embustes
sem
que,
contudo,
se
dedicassem
com
seriedade
ao
estudo
desses
fen�menos.
Para
Jung
o
comportamento
de
seus
colegas
parecia
mais
produto
do
medo
do
que
outra
coisa
qualquer.
Jung
n�o
conseguia
entender
qual
o
motivo
para
aquele
comportamento
de
seus
colegas
e
de
muitos
de
seus
professores.
Deveriam
desconhecer
e,
por
conseq��ncia,
temer,
o
que
n�o
compreendiam:
sonhos
premonit�rios;
apari��es
de
esp�ritos;
mem�rias
extra-cerebrais;
percep��o
extra-sensorial
e
animais;
rel�gios
que
param
misteriosamente
na
hora
em
que
o
seu
dono
ou
uma
pessoa
com
eles
relacionada,
morria.
Tudo
isso
interessava
vivamente
a
Jung,
entretanto,
tamb�m
o
preocupava
o
fato
de
se
tornar
uma
pessoa
exc�ntrica
por
acreditar
neste
tipo
de
coisa,
e
isso
n�o
era
bom.
O
mais
sensato
que
teria
a
fazer
�
acreditava
Jung
�
era
concentrar-se
no
estudo
de
Medicina,
deixando
de
lado
as
quest�es
da
paranormalidade.
Assim,
no
semestre
seguinte,
ele
se
torna
subassistente
das
aulas
de
Anatomia
e,
no
mesmo
semestre
o
professor
encarregado
das
disseca��es
confiou
a
ele
a
dire��o
do
curso.
Por
outro
lado,
desagradava-lhe
bastante
as
aulas
de
Fisiologia
por
causa
das
vivisseca��es
praticadas
com
o
animais
a
fim
de
ilustrar
aulas
demonstrativas.
Magoava-lhe
o
sofrimento
das
cobaias
que
ele
acreditava
serem
seus
irm�os
pela
natureza
e
n�o
meras
coisas
das
quais
se
pudesse
usar
e
abusar.
Por
isso,
sempre
que
podia,
costumava
�matar�
as
aulas
demonstrativas
de
Fisiologia.
O
interessante
�
que
ele
n�o
explica
esta
atitude
compassiva
para
com
os
animais,
nem
a
partir
das
leituras
de
Schopenhauer,
onde
se
notam
laivos
do
respeito
pela
natureza
que
se
encontra
no
Budismo,
nem
como
fruto
de
uma
atitude
eticamente
l�gica
com
a
que
norteia
as
chamadas
Sociedades
Protetoras
dos
Animais.
Ele
acreditava
que
o
seu
modo
de
ser,
que
o
seu
sentimento
para
com
os
animais,
repousava,
mais
concretamente
em
uma
atitude
pr�pria
do
esp�rito
primitivo
de
identifica��o
inconsciente
com
os
animais,
como
�
comum
ao
totemismo.
De
fato,
por�m,
Jung
continua
a
conhecer
muito
pouco
sobre
si
mesmo
naquele
caso
e
tamb�m
em
outros.
Apesar
de
n�o
gostar
de
Fisiologia,
Jung
conseguiu
ser
aprovado
nesta
disciplina
com
boas
notas.
O
tempo
passou
e
Jung
intensificou
os
seus
estudos
de
Filosofia.
Aos
domingos,
lia
Kant.
Leu
tamb�m
ardorosamente
a
obra
de
Eduardo
Von
Hartmann.
Gostaria
de
ler
Nietzsche,
pois
seus
pensamento
era,
ent�o,
bastante
discutido
na
Universidade
(embora
relativamente
rejeitado),
mas
n�o
se
considerou
maduro
o
suficiente
para
compreende-lo.
Por
fim,
a
curiosidade
vence
a
cautela
e
ele
l�
o
livro
de
Nietzsche,
Assim
Falava
Zaratustra
e
ficou
impressionado
considerando
esta
obra
do
mesmo
n�vel
do
Fausto
de
Goethe.
Assim,
pouco
a
pouco,
ele
vai
burilando
o
esp�rito,
aumentando
bastante
a
sua
cultura
e
se
preparando
para
o
tipo
de
tarefa
que
teria
mais
�
frente.
Durante
as
f�rias
de
ver�o
de
1896,
deu-se
um
fato
que
n�o
s�
afetou,
profundamente,
a
vida
de
Jung
como
exerceu
nele
uma
profunda
influ�ncia.
Certo
dia,
encontrava-se
em
casa
estudando
em
seu
escrit�rio
enquanto
sua
m�e,
na
sala
ao
lado,
fazia
o
seu
costumeiro
tric�.
Na
sala
onde
ela
estava,
havia
uma
mesa
redonda
e
s�lida,
feita
de
nogueira,
que
havia
pertencido
a
seu
av�,
h�
cerca
de
70
anos.
Emilie
estava
sentada
perto
da
janela,
em
uma
poltrona,
mais
ou
menos
a
um
metro
da
referida
mesa.
Jung
se
encontrava
em
casa
somente
com
sua
m�e,
uma
vez
que
a
sua
irm�
estava
na
escola
e
a
empregada,
na
igreja.
Tudo
estava
calmo
e
silencioso
quando,
de
repente,
ouviu-se
um
estalo
semelhante
a
um
tiro
de
rev�lver.
Jung
levou
um
susto
como
seria
de
esperar,
e,
deixando
o
seu
escrit�rio,
correu
para
a
sala
onde
estava
sua
m�e.
Melhor
aqui,
por�m,
seria
entregar
o
relato
ao
pr�prio
Jung:
Precipitei-me
at�
a
sala,
de
onde
viera
o
estampido.
Minha
m�e,
espantada,
mantinha-se
sentada,
o
tric�
ca�ra-lhe
da
m�o.
Olhando
a
mesa,
ela
balbuciava:
�O
que
aconteceu?
Foi
bem
perto
de
mim.�
Constatamos
o
que
acontecera:
a
t�bua
da
mesa
havia
rachado
at�
a
metade
de
seu
comprimento,
n�o
na
sua
parte
colada,
mas
na
madeira
inteiri�a.
Fiquei
perplexo.
O
que
significava
aquilo?
A
mesa
era
de
nogueira
s�lida,
cuja
madeira
secara
h�
setenta
anos
e
rachara
em
um
dia
de
ver�o,
apesar
da
umidade
relativamente
elevada
como
era
habitual
em
nossa
casa.
Se
o
fato
houvesse
ocorrido
perto
da
lareira
acesa,
em
dia
de
inverno
frio
e
seco,
seria
compreens�vel.
Mas
o
que
teria
ocasionado
uma
tal
explos�o?
H�
casos
estranhos,
pensei
finalmente.
Minha
m�e
falou
com
a
voz
de
sua
personalidade
n�mero
dois:
�Sim,
deve
significar
algo.�
Estava
impressionado
e,
ao
mesmo
tempo,
contrariado
por
n�o
compreender
de
forma
alguma
o
que
havia
acontecido.31
Passaram-se
14
dias
e,
em
uma
tarde,
Jung,
voltando
para
casa,
encontrou
sua
m�e
e
sua
irm�
bastante
agitadas.
Novamente,
havia
acontecido
um
estalo,
mas,
desta
vez,
n�o
havia
sido
na
mesa,
pois
o
barulho
viera
do
buffet,
um
m�vel
do
s�culo
XIX.
As
mulheres
haviam
examinado
o
m�vel
exaustivamente,
entretanto,
nada
encontraram
que
justificasse
o
estranho
ru�do.
Jung,
a
pedido
de
sua
m�e,
examinou
o
interior
o
m�vel
e,
ao
faz�-lo,
encontrou
uma
faca
com
a
l�mina
quase
que
inteiramente
partida.
Intrigado
com
o
acontecimento,
Jung
levou
a
faca
a
um
cuteleiro
renomado
que
vivia
em
sua
cidade
e
pediu
a
ele
que
examinasse
o
material.
O
homem
observou
cuidadosamente
os
peda�os
da
faca
e
concluiu
que
n�o
havia
defeito
no
a�o
que
justificasse
o
acontecido.
Na
opini�o
do
especialista
a
faca
havia
sa�do
partida
por
uma
pessoa
que
a
houvesse
for�ado
na
fenda
da
gaveta
ou
a
tivesse
atirado
do
alto,
sobre
umapedra.
O
homem
terminou
a
sua
avalia��o
dizendo:
��
puro
a�o.
N�o
poderia
quebrar
�
toa.
Pregaram-
lhe
uma
pe�a.�32
Todas
essas
coisas
surpreendentes,
muitas
outras
que
ainda
veremos,
parecem
�toques�
dados
pelo
Plano
Espiritual
no
sentido
de
despertar
Jung
para
os
fen�menos
medi�nicos,
o
que
�
mais
importante:
para
a
tarefa
que
deveria
executar
na
Terra
em
prol
da
causa
esp�rita
que
Allan
Kardec
havia
iniciado
com
a
publica��o
de
O
Livro
dos
Esp�ritos
em
18
de
abril
de
1857
e
que
precisava
avan�ar
cada
vez
mais,
principalmente,
no
espa�o
da
Universidade
e,
particularmente,
no
campo
da
Psicologia.
28
Termo
usado
por
Jung
para
se
referir
�
segunda
personalidade
de
sua
m�e.
29
Jung.
Op.
cit.
p.
93
30
Ao
que
parece,
aquilo
que
Jung
est�
chamando
de
literatura
esp�rita
n�o
tem
a
menor
rela��o
com
Doutrina
Esp�rita.
Trata-se,
muito
provavelmente,
de
obras
de
autores
como
Arthur
Conan
Doyle,
Emmanuel
Suedenborg
William
James,
Richet,
Bozano,
Lombroso
entre
outros.
�
muito
pouco
prov�vel
que
tenha
lido
as
obras
de
Allan
Kardec,
embora
j�
estivessem
publicadas
antes
de
seu
nascimento.
31
Jung.
op.
cit.
p.
101
32
Jung
deu
tal
import�ncia
a
esse
fato
que
guardou
a
faca
quebrado
em
quatro
peda�os
por
muito
tempo.
A
personagem
que
d�
nome
a
este
cap�tulo
�
Helena
Preiswwerk
�
era
uma
prima
de
Jung
que,
na
�poca
em
que
se
passam
esses
acontecimentos,
estava
com
quinze
anos.
Helena
possu�a
uma
mediunidade
florescente
e
a
sua
fam�lia,
que
parecia
apreciar
e
mesmo
incentivar
as
pr�ticas
medi�nicas,
passa
a
realizar
sess�es
esp�ritas,
naturalmente
sem
qualquer
m�todo
ou
crit�rio
como
�
comum
�
sess�es
medi�nicas
em
que
predomina
a
simples
curiosidade.
Estas
sess�es
aconteceram
no
Presbit�rio
de
Kelin
�
Hunningen
e
foram
organizadas
por
Emilie
Jung,
mas
sem
o
conhecimento
do
marido
que,
por
aquela
ocasi�o,
ainda
se
encontrava
encarnado.
A
primeira
sess�o
aconteceu
�
noitinha.
Em
seu
livro
sobre
Jung,
Frank
Maclynn
acusa
o
seu
biografado
de
ter
manipulado
a
informa��o
sobre
a
data
desta
sess�o.
Diz
ele
que
Jung
coloca
a
sess�o
em
1889,
quatro
anos
depois
da
data
verdadeira.
Critica
tamb�m
o
psic�logo
su��o
por
ter
dito
que
as
sess�o
foram
realizadas
sob
r�gido
controle
cient�fico
quando,
de
fato,
foram
quest�es
familiares
sem
qualquer
tipo
de
controle.
Nas
sess�es
de
1895,
Helena
Preiswerk
teria
entrado
em
contato
com
os
av�s
paternos
e
maternos
de
Jung
j�
desencarnados.
�Incorporada�,
a
mo�a
assume
o
estilo,
a
voz
e
o
tom
professoral
de
Samuel
Preiswerk,
o
que
seria
dif�cil
para
uma
quase
menina
fazer.
Aproveito
esta
oportunidade,
para
chamar
aten��o
do
leitor
para
um
fato
que
nos
parece
importante:
refiro-me
�
frase
de
George
Louis
Leclerc
Conde
de
Buffon
(1707-1778)
que
em
seu
livro
Discours
sur
le
Style
declara
que
O
estilo
�
o
pr�prio
homem.
Todas
as
vezes
que
se
fala
de
mediunidade
em
que
algu�m
assume
o
estilo
de
uma
outra
pessoa
a
ponto
de
tornar
conhecida
a
identidade
do
Esp�rito
comunicante,
�
de
nosso
ponto
de
vista,
uma
evid�ncia
consider�vel
da
autenticidade
do
fen�meno.
Na
literatura
medi�nica
o
maior
exemplo
desta
fato
�
o
livro
psicografado
por
Francisco
C�ndido
Xavier
que
se
intitula
O
Parnaso
do
Al�m
T�mulo.
Vamos,
por�m,
voltar
�
nossa
narrativa.
Nesta
mesma
sess�o,
a
mo�a
incorporada
falava
um
alem�o
erudito,
ao
inv�s
do
dialeto
su��o
da
Basil�ia.
Na
su��a
se
fala,
al�m
dos
dialetos
locais,
o
franc�s
e
o
italiano,
portanto
Helena
n�o
falava
alem�o
e,
muito
menos,
erudito.
Ao
fim
de
cada
uma
dessas
sess�es,
a
mo�a
estava
segura
de
que
esp�ritos
desencarnados
falavam
atrav�s
dela,
contudo,
n�o
sabia
dizer
o
que
eles
haviam
dito.
Em
1897,
houve
novas
sess�es
e
nela
se
manifestou,
mais
uma
vez,
o
velho
pastor
Samuel
Preiswerk.
Nesta
oportunidade,
o
av�
de
Jung
traz
um
tipo
de
mensagem
proselitista
na
qual
fala
da
necessidade
de
uma
p�tria
para
os
judeus
e
na
convers�o
de
israelitas
ao
Cristianismo.
As
pessoas
presentes
�
diz
Maclynn
�
ficaram
confusas
porque,
em
vida,
Samuel
havia
sido
um
sionista
convicto.
Ardente
defensor
do
Juda�smo,
sendo
incapaz
de
propor
algo
como
a
convers�o
de
seu
povo
�
religi�o
do
Crucificado.
As
sess�es
continuaram
e
Helena
passou
a
apresentar
um
novo
tipo
de
transe
que
Jung
chamou
de
estado
de
semi-sonamb�lico,
no
qual
ela
permanecia
inteiramente
consciente
enquanto
dava
as
suas
comunica��es.
Ent�o
se
manifestou
uma
nova
personalidade
que
apresentou
sob
o
nome
de
Ivenes.
Este
esp�rito
comportava-se
como
uma
lady,
equilibrada,
calma,
tranq�ila,
segura
de
si,
em
franca
oposi��o
�
personalidade
do
m�dium,
que
era
imatura,
dada
�
frivolidade
e
bastante
inst�vel.
Essa
entidade
costumava
dirigir-se
�s
pessoas
presentes,
fazendo
revela��es
sobre
as
suas
vidas
passadas.
Durante
uma
das
sess�es,
Jung
chamou
a
aten��o
de
sua
prima
para
um
livro,
ent�o
em
voga,
que
se
intitulava
The
Seeres
of
Prevost
(A
Vidente
de
Prevost).
Depois
disto
o
comportamento
de
Ivenes
mudou
e
ela
passou
a
se
comunicar
em
uma
l�ngua
estranha,
mistura
do
franc�s
com
o
italiano.
Conta
que
fizera
viagens
ao
planeta
Marte,
descrevendo
m�quinas
voadoras
l�
existentes
e
os
canais
do
planeta
vermelho.
Conta
que
havia
viajado
at�
as
long�nquas
estrelas
e
aprendera
a
comandar
os
esp�ritos
negros.
Samuel
Preiswerk
continuou
a
se
manifestar
funcionando
como
guia
do
m�dium
e
fazendo
serm�es
de
ordem
moral.
Com
a
continuidade
das
reuni�es,
um
grande
n�mero
de
esp�ritos
passou
a
se
comunicar
atrav�s
de
Helena,
uns
falantes
exuberantes
e
outros,
calad�es
e
macamb�zios.
Havia
tamb�m
uma
s�rie
de
mensagens
reveladores
sobre
as
vidas
de
Helena,
ou
melhor
dizendo,
de
Ivenes.
Depois
de
ter
sido
uma
jovem
seduzida
pelo
poeta
Goethe,
seguem-se
encarna��es
como
a
Vidente
de
Prevost,
o
bisav�
de
Jung,
Madame
Valours
que,
no
s�culo
XVIII
foi
acusada
de
feiti�aria
e
queimada
em
uma
fogueira
e
a
Condessa
de
Thiefelsenburg.
Finalmente,
teria
vivido
no
primeiro
s�culo
de
nossa
era
como
m�rtir
crist�
durante
a
persegui��o
de
Nero.
Em
muitas
de
suas
encarna��es,
Ivenes
havia
tido
uma
grande
quantidade
de
filhos,
o
que
criava
uma
verdadeira
teia
de
rela��es,
formando
uma
complicada
genealogia.
De
quando
em
quando,
ela
gostava
de
fazer
revela��es
inusitadas.
De
uma
certa
feita,
disse
a
Jung
que
uma
das
amigas
dele
havia
sido,
no
s�culo
XVIII,
uma
terr�vel
feiticeira
especialista
em
envenenamentos.
Ela
teria
conhecido
Jung
em
Paris,
durante
essa
vida
como
envenenadora.
Em
outros
momentos,
Ivenes
se
arvora
em
doutrinadora
e
reveladora
das
coisas
do
Mundo
Espiritual.
Ensina,
ent�o,
que
o
Mundo
dos
Esp�ritos
era
formado
por
sete
c�rculos.
Luz
e
trevas
fazem
parte
do
terceiro
circulo.
A
mat�ria
existe
apenas
no
segundo
circulo.
A
for�a
luminosa
desses
c�rculos
aumentava
ou
diminu�a
conforme
o
maior
ou
menor
afastamento
da
For�a
Prim�ria.
A
situa��o
ficou
bem
mais
grave
quando
Helena
come�ou
a
ter
manifesta��es
fora
das
sess�es.
Em
uma
certa,
ela
aparece
no
quarto
de
Jung
vestida
sumariamente.
Em
outra
oportunidade,
Jung
convidou
alguns
de
seus
colegas
da
Universidade
para
assistirem
�s
sess�es
de
materializa��o
feitas
por
sua
prima.
Naquela
ocasi�o
ela
fez
aparecer
alguns
objetos
que
teriam
sido
transportados
por
esp�ritos.
Em
uma
das
reuni�es,
por�m,
um
dos
estudantes
amigo
de
Jung
surpreendeu
Helena
em
flagrante,
tirando
de
sob
a
saia,
um
dos
objetos
supostamente
transportados
por
esp�ritos.
Logo
em
seguida,
Jung
percebeu
que
a
sua
prima
havia
se
apaixonado
por
ele
e
isso
o
aborreceu
sobremodo,
fazendo
por
fim
�s
sess�es.
O
que
se
pode
pensar
sobre
todos
esses
acontecimentos?
Para
Jung
as
sess�es
com
a
prima
foram
interessantes
porque
ela
havia
sido
a
primeira
pessoa
a
revelar
a
ele
a
exist�ncia
da
dimens�o
inconsciente
da
personalidade.
Muito
provavelmente,
teria
sido
a
partir
destas
sess�es
e
n�o
da
leitura
do
manual
de
Krafft-Ebing33
que
Jung
se
decidiu
pela
Psiquiatria.
A
atividade
inconsciente
ficou
clara
para
ele
no
momento
em
que
percebeu
a
habilidade
de
sua
prima
para
ascender
a
um
n�vel
mental
muito
superior
ao
que
lhe
era
pr�prio.
A
quest�o
das
personalidades
m�ltiplas
que
seria
o
caso
de
Helena
Preiswerk
entre
outros,
possu�a
�
�poca,
v�rias
interpreta��es.
Os
organicistas
explicavam
o
fen�meno
por
poss�veis
altera��es
no
c�rebro;
os
associacionistas,
por
seu
turno,
atribu�am
o
fato
�
perda
de
contato
entre
dois
grupos
principais
de
associa��es;
Theodore
Flournoy
sustentava
que
a
personalidade
principal
estaria
envolvida
em
jogos
de
regress�o
de
mem�ria
com
progress�o
e
desempenho
de
pap�is.
A
esses
se
poderia
acrescentar
a
tese
sociol�gica,
segundo
a
qual
o
organismo
ps�quico
se
confundia
por
ter
de
viver
em
diferentes
tempos
com
diferentes
sistemas
de
valores.
A
nossa
opini�o
n�o
coincide
com
estas
hip�teses,
pois
acreditamos
na
mediunidade
de
Helena
Preiswerk.
O
fato
de
ela
ter
mistificado
em
uma
sess�o
(ou
em
muitas)
n�o
a
desacredita
como
m�dium.
Eus�pia
Paladino,
famosa
m�dium
italiana
que
foi
estudada
exaustivamente
por
Cesare
Lombroso
e
outros
psiquistas,
fraudou
algumas
vezes.
O
problema
de
Helena
foi
a
total
aus�ncia
de
estudo
e
de
seriedade
por
parte
dela.
Faltou-lhe
orienta��o
segura
com
respeito
aos
fen�menos
que
com
ela
aconteciam.
A
mediunidade
n�o
pode,
e
nem
deve
ser
considerada
como
uma
simples
brincadeira
ou
como
um
espet�culo
circense
que
mata
a
curiosidade
dos
leigos.
Mediunidade
�
trabalho,
�
tarefa
divina
de
edifica��o,
contudo,
quando
desviada
de
seus
reais
objetivos
pode
ser
causa
de
graves
perturba��es.
Provavelmente
Helena
jamais
tivesse
compreendido
o
que
aconteceu
com
ela
e,
sem
qualquer
tipo
de
ajuda
e
de
esclarecimento
sobre
o
fato
medi�nico
se
perdeu
inteiramente.
Gostaria
de
terminar
este
cap�tulo
com
um
assunto
n�o
muito
agrad�vel.
Jung
utilizou
o
caso
de
Helene
Preiswerk
em
sua
tese
de
final
de
curso,
mas
n�o
teve
a
eleg�ncia
de
conservar
o
nome
dela
em
oculto
e
o
que
�
pior
a
rela��o
dela
para
com
ele
tamb�m
foi
desvelada.
Diz
Maclyn:
O
caso
foi
t�o
s�rio
que
a
mo�a
teve
de
deixar
a
sua
cidade
indo
costurar
em
Montpellier
e,
depois
em
Paris,
s�
voltando
anos
depois.
Ansioso
por
ser
publicado
e
conquistar
fama
n�o
se
importou
com
a
dor
que
poderia
causar
a
sua
prima
Belle
Amie.
Cr�ticos
mais
severos
v�o
mais
longe
e
dizem
que,
ao
divulgar
a
hist�ria,
ele
arruinou
a
vida
dela.34
33
Richard
von
Krafft-Ebing
(1840
1902).
Psiquiatra
alem�o.
Introduziu
em
sua
obra
os
conceitos
de
sadismo,
masoquismo
e
fetichismo
no
Estudo
do
comportamento
sexual.
34
Maclynn
Op.
cit.
p.
64
Pedimos
permiss�o
ao
nosso
paciente
leitor
para
tratar
de
um
assunto,
aparentemente
n�o
pertinente
ao
que
estamos
desenvolvendo,
entretanto,
esta
impertin�ncia
�
apenas
aparente,
como
veremos
no
decorrer
desta
exposi��o.
O
t�tulo
desta
cap�tulo
�
o
mesmo
de
um
livro
escrito
por
Theodore
Flournoy
(1854-1920),
professor
de
Psicologia
da
Universidade
de
Genebra
e
pesquisador
de
Metapsiquica.
O
assunto
do
livro
�
a
m�dium
Catherine
Elise
Muller
que
ficou
conhecida
no
espa�o
daqueles
que
se
interessam
por
Parapsicologia
como
Helene
Smith.
Catherine
nasceu
em
Marttiny,
em
Valais,
na
Su��a
no
dia
9
de
dezembro
de
1861
e
faleceu
em
Genebra
em
dez
de
julho
de
1929.
Quando
a
nossa
hist�ria
come�a,
Catherine
que,
a
partir
de
agora,
passaremos
a
chamar
de
Helena
Smith,
trabalhava
em
uma
casa
comercial
onde,
em
raz�o
de
sua
de
sua
honestidade
e
capacidade
de
trabalho,
havia
conseguido
atingir
um
cargo
de
muita
import�ncia,
alguma
coisa
que,
modernamente,
se
poderia
chamar
de
ger�ncia.
Flournoy
descreve
Helena
como
uma
mulher
alta,
bonita,
com
cerca
de
trinta
anos
de
idade,
cabelos
e
olhos
escuros,
rosto
inteligente
e
vivo.
A
sua
apar�ncia,
de
modo
algum,
lembrava
o
aspecto
ext�tico
e
macilento
de
certos
m�diuns
da
�poca
(e
at�
em
nossos
dias
eles
existem)
cujo
ar
de
antiga
sibila35
desperta
logo
a
desconfian�a
das
pessoas
sensatas
embora
impressione
os
incautos.
Muito
pelo
contr�rio,
ela
parecia
uma
pessoa
extremamente
saud�vel,
acuando
uma
robustez
f�sica
e
mental
que
levava
aqueles
que
com
ela
entrassem
em
contato,
a
simpatizar-se
com
ela
�
primeira
vista.
Tendo-se
aproximado
de
grupos
esp�ritas,
ficaram
evidentes
as
suas
faculdades
medi�nicas.
Era
m�dium
vidente,
clariaudiente
e
de
incorpora��o.
Durantes
as
sess�es,
Helena
recebia
mensagens
medi�nicas
que
se
referiam
a
acontecimentos
passados,
normalmente
desconhecidos
das
pessoas
presentes,
mas
cuja
veracidade
se
comprovava
recorrendo-se
a
dicion�rios
hist�ricos,
enciclop�dias
ou
mesmo
�
tradi��o
das
fam�lias
a
que
tais
mensagens
se
referiam.
N�o
era
apenas
isso.
Frequentemente
havia
mensagens
de
esp�ritos
desencarnados
com
prescri��es
m�dicas
quase
sempre
muito
eficientes,
discursos
morais
edificantes,
recados
de
pessoas
desencarnadas
h�
pouco
tempo
e,
finalmente,
informa��es
sobre
as
vidas
passadas
das
pessoas
presentes,
mas
que,
infelizmente,
n�o
podiam
ser
comprovadas
facilmente.
Assim,
ela
identificava
uma
pessoa
como
tendo
sido
o
Almirante
Coligny,
nascido
em
Ch�tillon
�
sur-
Loing,
em
1519
e
morto
em
Paris,
em
1572,
na
tristemente
famosa
noite
de
S�o
Bartolomeu.
Outra
pessoa
era
identificada
com
a
princesa
Lamballe
(1749-1792)
amiga
�ntima
de
Maria
Antonieta,
a
rainha
da
Fran�a
guilhotinada
em
1793,
meses
depois
do
rei
Luiz
XVI,
seu
esposo.
Helena
possu�a
um
esp�rito-guia
que
orientava
as
sess�es
e
se
identificava
como
Leopoldo,
que,
em
vidas
passadas
havia
sido
o
famoso
personagem
Jos�
B�lsamo,
conhecido
pelos
amantes
da
literatura
francesa,
principalmente
dos
romances
de
Alexandre
Dumas
e
os
conhecedores
do
Ocultismo.
Este
fato
�
muito
comum
no
Espiritismo.
Basta
lembrar
a
rela��o
m�dium-guia
existe
entre
Francisco
C�ndido
Xavier
e
Emmanuel
e
Divaldo
Pereira
Franco
e
Joana
de
Angelis.
Nas
primeiras
sess�es,
conta-nos
Flournoy,
Helena
era
consciente
dos
fen�menos
que
aconteciam
com
ela.
Apresentava
apenas
ligeiro
transe,
conservando-se,
aparentemente,
senhora
de
si
mesma.
Nesse
estado,
conversava
com
as
pessoas,
descrevia
as
suas
vis�es
e
repetia
as
palavras
que,
segundo
ela,
os
esp�ritos
lhe
ditavam.
Com
o
passar
do
tempo
e
a
continuidade
das
sess�es,
Helena
foi
ficando
cada
vez
mais
inconsciente
e
sua
mem�ria,
anteriormente
preservada,
passou
a
apresentar
falhas
de
modo
que
n�o
mais
se
lembrava
do
que
havia
dito
em
estado
de
transe.
Em
algumas
oportunidades,
incorporava
esp�ritos
e,
ent�o,
sua
personalidade
alterava-se
sensivelmente.
A
essa
altura
dos
acontecimentos
a
mo�a
come�ou
a
apresentar
fen�menos
estranhos
em
sess�es
diferentes
ou
mesmo
no
decorrer
de
uma
mesma
sess�o.
Esses
fen�menos
que
Flournoy
dividiu
em
ciclos
possu�am
tr�s
momentos
ou
fases
distintas:
O
Ciclo
Hindu,
o
Ciclo
Real
e
o
Ciclo
Marciano.
Vamos
em
seguida
examinar
esses
ciclos,
guiados
pelo
texto
de
Flournoy.
No
Ciclo
Hindu,
a
m�dium
vivia
uma
suposta
encarna��o
na
�ndia
como
filha
de
um
xeque
�rabe
e
seu
nome
era
Simandini.
Seu
pai
a
dera
como
esposa
a
um
pr�ncipe
chamado
Sivrouka
Nayaca,
que
havia
reinado
em
Kanara
e,
em
1401,
havia
constru�do
a
fortaleza
de
Tchandraguiri.
Quando
Helena
vivia
estaencarna��o,
expressava-se
em
S�nscrito,
l�ngua
muito
antiga
falada
na
�ndia.
Era
um
problema
de
dif�cil
solu��o
para
Flournoy:
como
explicar
que
aquela
mo�a
simples
pudesse
falar
em
S�nscrito,
uma
l�ngua
antiqu�ssima
conhecida
no
Ocidente
apenas
por
um
n�mero
bastante
reduzido
de
eruditos
orientalista?
Flournoy
que
n�o
admitia
nem
como
hip�tese
a
reencarna��o,
imaginava
que
o
conhecimento
para-normal
de
Helena,
no
que
dizia
respeito
ao
S�nscrito,
teria
origem
em
uma
gram�tica
daquela
l�ngua
que
ela
houvesse
folheado
ao
acaso,
ou
em
um
texto
escrito
naquele
idioma
com
o
qual
houvesse
entrado
em
contato.
�
dif�cil
acreditar
que
um
homem
inteligente
e
culto
como
Flournoy,
pudesse
aceitar
a
possibilidade
de
uma
pessoa
dominar
as
estruturas
fon�ticas,
fonol�gicas,
morfol�gicas,
sint�ticas
e
sem�nticas
de
uma
l�ngua
como
simples
vista
em
uma
gram�tica
ou
por
meio
de
um
conato
circunstancial
com
um
texto
de
uma
l�ngua
desconhecida
para
ela.
Do
nosso
ponto
de
vista,
seria
mais
f�cil
acreditar
na
reencarna��o
em
uma
argumenta��o
deste
tipo.
Acresce-se
isso,
o
fato
de
que
Helena
sempre
afirmou
que
jamais
havia
tido,
ante
seus
olhos,
um
texto
em
S�nscrito
de
nenhuma
natureza.
No
caso
de
Helena
Smith,
h�
uma
quest�o
muito
mais
surpreendente:
n�o
h�
a
letra
�F�
no
S�nscritorealizado
pela
m�dium,
o
que
acontece
tamb�m
com
o
S�nscrito
da
�ndia;
ora
seria
necess�rio
uma
forma��o
muito
mais
do
que
superficial
na
cultura
indiana
para
saber
que
aquela
l�ngua
n�o
possui
esta
letra.
Em
S�nscrito
tamb�m
n�o
existia
a
voga
�U�.
Helena
pronunciava
esta
vogal,
embora
ao
escrever
grafasse
�OU�.
Flounoy
nos
conta,
profundamente
impressionado,
a
performance
dram�tica
de
Helena
no
papel
de
Simandini:
A
maneira
pela
qual
Simandine
sentava-se,
languidamente,
apoiando
um
bra�o
ou
a
cabe�a
sobre
os
ombros
de
um
Sivoukra
imagin�rio,
ora
real
(quando
ela
me
tomava
como
sendo
esse
pr�ncipe),
ora
imagin�rio
(em
que
ela
se
mant�m
apoiada
no
ar
em
atitude
de
equil�brio
inveross�mel
que
implica
em
contratura
de
equilibrista);
a
gravidade
de
suas
prosterna��es
quando,
ap�s
haver
durante
muito
tempo
feito
oscilar
a
ca�oila36,
ela
cruza
sobre
o
peito
as
m�os
distendidas;
ajoelha-se
e
inclina-se
tr�s
vezes
com
a
testa
quase
ro�ando
no
ch�o;
a
suavidade
melanc�lica
de
seus
cantos
em
surdina,
que
se
desenvolvem
por
entre
n�s
como
que
de
flautas,
prolongando
em
longo
decrescendo
e
s�
se
extinguindo
ao
cabo
de
14
segundos;
a
desenvoltura
de
seus
movimentos
ondulantes
e
flexuosos
quando
ela
brinca
com
um
macaco
imagin�rio;
acaricia-o,
beija-o,
excita-o
ou
ralha
com
ele,
rindo
ou
fazendo
repetir
os
seus
meneios;
todas
essas
m�micas
s�o
diversas,
todo
esse
modo
de
falar
ex�tico
tem
tal
cunho
de
originalidade
que
nos
perguntamos
estupefatos:
como
pode
esta
mo�a
do
lago
L�man,
sem
educa��o
art�stica
e
sem
conhecimento
especial
do
Oriente,
arranjar
tamanha
perfei��o
que
mesmo
a
melhor
atriz
s�
conseguiria
por
certo,
mediante
a
estudos
prolongados
ou
por
longos
est�gios
nas
margens
do
Gandhi.37
Vejamos,
em
continuidade,
o
Ciclo
Real.
Neste
caso,
Helena
Smith,
em
uma
exist�ncia
passada
na
Fran�a,
no
final
do
s�culo
XVIII,
havia
sido
a
Infeliz
Maria
Antonieta,
esposa
de
Luiz
XVI.
Esta
encarna��o
marcou-a
de
tal
modo
que
sentia
verdadeiro
pavor
quando
se
aproximava
de
homens
de
meias
brancas,
usando
brincos,
sapatos
reluzentes,
portando
fuzis.
Esta
seria
a
indument�ria
dos
homens
que
levaram
a
rainha
escoltada
para
ser
decapitada
na
guilhotina,
durante
a
Revolu��o
Francesa.
Inicialmente,
a
m�dium
apenas
relatou
oralmente
a
sua
vida
passada
como
rainha
da
Fran�a,
depois
ela
passou
para
uma
fase
de
dramatiza��o
do
papel
de
soberana
e,
por
fim,
passou
a
escrever
e
assinar
como
se
fosse
Maria
Antonieta.
Quanto
ao
seu
papel
dram�tico,
poder-se-ia
considerar
dois
aspectos:
a
representa��o
de
uma
rainha
ou
de
uma
mulher
da
nobreza
em
geral
e
a
representa��o
espec�fica
da
esposa
de
Luiz
XVI.
No
primeiro
caso
nada
deixa
a
desejar,
por�m,
pode-se
dizer
que
�
muito
bem
vivido.
Sobre
esta
quest�o
nos
escreve
Flournoy:
�
preciso
ver
quando
o
transe
real
�
franco
e
completo,
a
gra�a,
a
eleg�ncia,
a
distin��o,
a
majestade
mesma
que
irrompem
das
atitudes
e
gestos
de
Helena.
As
mais
delicadas
nuan�as
de
express�o,
a
amabilidade
encantadora,
condescend�ncia
ativa,
piedade,
indiferen�a,
desd�m,
manifestam-se
uma
ap�s
outra
em
sua
fisionomia
e
em
seu
comportamento
ante
o
desfilar
dos
cortes�es
que
povoam
seus
sonhos.
Seus
jogos
de
m�o
com
o
len�o
verdadeiro
e
com
acess�rios
fict�cios:
o
leque,
o
bin�culo,
o
frasco
de
perfume
tampado
que
ela
traz
na
escarcela38
pendurada
na
cintura.
E
as
suas
rever�ncias,
os
seus
movimentos
cheios
de
desenvoltura
que
fazem
atirar
para
tr�s
a
suposta
cabeleira.
Tudo
isso
�,
ao
mesmo
tempo,
indescrit�vel
e
perfeito
como
a
naturalidade
espont�nea.39
Outro
tra�o
interessante
de
Helena
Smith
no
papel
da
rainha
francesa,
era
a
finesse
com
que
se
comportava.
Quando
dialogava
com
as
pessoas
presentes
e
essas
faziam
a
ela
considera��es
inc�modas,
a
m�dium
replicava
de
um
modo
assaz
espirituoso
que
desarmava
o
seu
interlocutor
e
esta
maneira
de
ser
estava
perfeitamente
de
acordo
com
os
h�bitos
das
cortes
europ�ias,
notadamente
a
francesa.
Quanto
ao
papel
espec�fico
de
Maria
Antonieta,
ela,
na
opini�o
de
Flournoy,
ficava
a
dever.
Assim,
a
assinatura
de
Helena
em
nada
se
assemelha
a
da
rainha
guilhotinada.
Havia,
por
certo,
algumas
analogias
ortogr�fica
entre
as
duas
assinaturas,
tais
semelhan�as
era
caracter�sticas
do
sistema
ortogr�fico
franc�s
do
s�culo
XVIII,
n�o
podendo,
desse
modo,
funcionar
como
um
elemento
identificador
da
personalidade
de
Maria
Antonieta.
No
momento
em
que
Helena
Smith
falava
como
Maria
Antonieta,
ouvia-se
um
franc�s
falado
por
um
estrangeiro,
contudo
esse
sotaque
se
parecia
mais
com
o
ingl�s
do
que
com
oaustr�aco,
quando
deveria
ser
o
contr�rio
uma
vez
que
a
p�tria
de
Maria
Antonieta
era
a
�ustria
e
n�o
a
Inglaterra.
Por
fim,
conta
Flournoy
que
Helena,
revivendo
a
sua
morte
como
Maria
Antonieta,
faz
uma
exorta��o
a
uma
dama
presente
que
ela
dizia
ser
a
princesa
Lambale,
entretanto,
a
princesa
havia
morrido
tr�s
anos
antes.40
Tudo
parece
p�r
em
d�vida
a
autenticidade
de
Ciclo
Real
e
a
reencarna��o
de
Helena
Smith
como
Maria
Antonieta.
Existe,
por�m,
um
detalhe
pouco
conhecido
dos
estudiosos
do
assunto
que
�
bastante
favor�vel
�
tese
da
reencarna��o.
Trata-se
do
seguinte:
durante
uma
sess�o
em
Genebra,
na
casa
de
Flournoy,
assistida
por
diversas
pessoas
importantes,
entre
elas
o
doutor
M.
W.,
relacionado
com
diversas
fam�lias
aristocr�ticas
da
cidade.
Ent�o,
Helena
tem
a
vis�o
de
uma
rua
estreita,
perto
da
Catedral
de
S.
Pedro,
a
rua
dos
c�negos.
Seus
olhos
se
fixaram
no
n�mero
12
onde
havia
uma
resid�ncia.
Ela
consegue
ver
no
interior
da
casa
uma
escrivaninha
entre
outros
m�veis.
Perto
da
escrivaninha
h�
um
senhor,
vestido
�
moda
do
s�culo
XVIII.
Ele
estava
com
uma
carta
na
m�o
e
chorava
enquanto
lia.
Nesse
momento,
Helena
gritou
emocionado
�Pobre
M...
ser�
que
a
mensagem
chegar�
sem
demora?�
O
caso
interessou
bastante
ao
doutor
M.
W.
a
ponto
de
merecer
de
sua
parte
uma
investiga��o
para
saber
se,
na
�poca
de
Luiz
XVI,
algu�m
chamado
M.
havia
residido
na
rua
dos
C�negos
numero
12.
A
investiga��o
foi
muito
bem
sucedida,
a
pessoa
de
fato
existia
e
o
que
era
melhor:
os
m�veis
deixados
pelo
senhor
M.
haviam
sido
herdados
por
duas
ou
tr�s
gera��es.
Muit�ssimo
interessado
no
caso,
o
investigador
prosseguiu
o
seu
trabalho
e
descobriu
uma
escrivaninha
igual
a
que
fora
descrita
pela
m�dium.
A
escrivaninha
em
quest�o
era,
naquela
oportunidade,
propriedade
de
um
lacaio
de
quarto
que
a
guardara
em
um
celeiro
porque
ela
se
encontrava
muito
deteriorada.
O
doutor
M.
W.
desejou
saber
o
que
continha
a
velha
escrivaninha.
Encontrado
o
m�vel
ele
o
examinou
gaveta
por
gaveta,
por�m,
nada
encontrou.
O
homem
n�o
desanimou
e,
prosseguindo
em
sua
busca,
descobriu
um
escaninho
secreto
e,
dentro
dele,
uma
carta.
M.
W.
emocionado,
tomou
em
suas
m�os
o
velho
documento:
era
uma
carta
de
Maria
Antonieta
dirigida
a
Monsieur
M.
que
morava
na
rua
dos
C�negos
n�mero
12.
No
papel
envelhecido
poderiam
ser
lido
trechos
enrugados
e
esbranqui�ados
por
algo
l�quido,
provavelmente,
as
l�grimas
do
velho
e
querido
amigo
da
rainha.
O
Ciclo
marciano
n�o
resulta
de
encarna��es
de
Helena
Smith
naquele
planeta,
mas
do
fato
de
a
m�dium
acreditar
que
entrava
em
contato
com
os
habitantes
de
Marte.
Foi
no
decorrer
destas
visitas
espirituais
ao
planeta
vermelho
que
ela
criou
a
l�ngua
marciana
que
foi
estudada
exaustivamente
por
Flournoy
e
V.
Henry.
Este
idioma
se
modificou
ao
longo
do
tempo.
Inicialmente
era
um
idioma
rudimentar
e
mal
feito,
um
tanto
semelhante
ao
franc�s
do
qual
conserva,
em
cada
palavra,
o
n�mero
de
s�labas
e
certas
letras
muito
caracter�sticas
da
l�ngua
gaulesa.
�
medida
que
o
tempo
passava
e
as
sess�es
prosseguiam,
a
l�ngua
marciana
era
aperfei�oada,
assumindo
aspectos
muito
especiais.
Surgem,
ent�o,
fonemas
consonantais
particulares,
uma
pros�dia
t�pica
e
algumas
formas
recorrentes.
Com
rela��o
ao
franc�s,
a
l�ngua
de
marte
possu�a
abund�ncia
de
�E�
aberto
e
fechado
e
de
�I�,
todavia
as
vogais
nasais
e
os
ditongos
deste
tipo
eram
raros.
Tem-se
neste
caso,
uma
l�ngua
natural
que
foi
criada
sem
a
participa��o
consciente
de
Helena.
Do
ponto
de
vista
sem�ntico,
as
palavras
dessa
l�ngua
expressam
id�ias
e
a
rela��o
entre
as
palavras
e
id�ias
�
constante.
N�o
se
pode
imaginar,
a
n�o
ser
com
uma
certa
dose
de
m�
vontade,
que
a
l�ngua
criada
por
Helena,
seja
uma
esp�cie
de
algaravia
com
na
a
qual
as
crian�as
brincam,
dizendo
que
est�o
falando
uma
l�ngua
qualquer.
De
fato,
trata-se
de
uma
l�ngua
muito
bem
articulada,
contudo
n�o
pode
ser
considerada
uma
l�ngua
nova
j�
que
o
seu
estudo
nos
leva
a
notar,
naquele
sistema
ling��stico,
muitas
caracter�sticas
do
franc�s.
Certa
vez,
Theodore
Flournoy
chamou
a
aten��o
da
m�dium
para
as
semelhan�as
entre
o
franc�s
e
o
idioma
de
Marte.
A
mo�a
n�o
recebeu
coment�rio
pacificamente
e
estabeleceu
com
o
pesquisador
uma
ligeira
discuss�o.
O
que
aconteceu
a
seguir?
Vamos
ver
o
que
nos
diz
Flournoy:
Eu
me
restringia
a
acusar
o
sonho
marciano
de
n�o
ser
sen�o
uma
imita��o
do
meio
civilizado
que
nos
rodeia,
acentuara
a
riqueza
do
�idioma
marciano�
em
I
e
E,
incriminara
o
seu
a
sua
sintaxe
e
o
seu
CH
emprestado
do
franc�s.
Eis
que
ela
me
joga
uma
l�ngua
absolutamente
nova,
com
um
ritmo
muito
particular,
extremamente
rica
em
A
com
o
H
que
at�
aqui
fora
inexistente
e
cuja
constru��o
�
t�o
diferente
da
nossa
que
n�o
h�
meios
de
encontrar
analogias.41
Gostaria
de
fazer
aqui
um
breve
coment�rio
sobre
a
l�ngua
marciana.
Segundo
Flournoy,
a
l�ngua
de
Marte
�
o
ponto
mais
fraco
dos
fen�menos
medi�nicos
onde
a
fraude
inconsciente
ficou
provada.
Podemos
refutar
esta
afirma��o
do
seguinte
modo:
nada
impede
que
a
cria��o
da
l�ngua
marciana
n�o
seja
produto
consciente
ou
inconsciente
de
Helena
Preiswark,
mas
resultado
da
interven��o
de
um
esp�rito
leviano
que
resolvera
pregar
uma
pe�a
ao
experimentador.42
Se
ele
admite
que
seria
muito
dif�cil
para
Helena
Smith
falar
ou
escrever
em
S�nscrito,
tanto
ou
mais
dif�cil
seria
criar
uma
l�ngua
articulada
o
que
o
pr�prio
Flournoy
confere
o
status
de
uma
l�ngua
real
e
cria-la
em
um
espa�o
de
tempo
recorde.
Fica
a
observa��o
por
enquanto.
Vamos,
em
prosseguimento,
tratar
do
esp�rito-guia
de
Helena.
Ele,
como
j�
o
dissemos
em
outra
ocasi�o,
apresentava-se
com
o
nome
de
Leopoldo
e,
segundo
ele
pr�prio,
havia
vivido,
na
Fran�a,
como
Jos�
B�lsamo
tamb�m
conhecido
como
Conde
Gagliostro.
Quando
Leopoldo
se
manifestava,
o
claro
e
bonito
timbre
feminino,
caracter�stico
da
voz
de
Helena,
era
substitu�do
pelo
vozeir�o
masculino
com
sotaque
italiano
n�tido.
Esse
esp�rito
possu�a
uma
personalidade
muito
forte
e,
n�o
raramente,
discordava
de
seu
m�dium.
O
interessante
era
que
a
assinatura
de
Leopoldo
era
diferente
da
caligrafia
de
Helena.
Quando
ele
pega
o
l�pis
para
escrever,
ele
o
faz
de
um
modo
todo
pr�prio.
Durante
as
sess�es,
Leopoldo
sempre
se
manifestava
de
um
modo
bastante
simp�tico,
sempre
disposto
a
responder
perguntas
ou
explicar
coisas
que
n�o
fossem
bastante
claras.
Acontecidas
durante
as
sess�es,
assim,
�s
vezes,
ele
parecia
um
velho
e
paciente
professor.
Em
certos
momentos
a
sua
fala
tomava
um
tom
acentuadamente
moralista,
acentuando
os
presentes
a
viverem
corretamente
ou
mesmo
os
advertia
sobre
comportamentos
negativos.
M�dico,
que
era,
costumava
receitar
rem�dios
aos
que
lhe
consultavam
sobre
problemas
de
sa�de.
Em
tudo
isso
se
mostrava
muito
diferente
de
uma
mulher,
notadamente,
de
Helena.
Quando
Leopoldo
se
manifestava
por
incorpora��o,
havia
um
realismo
inacredit�vel.
Ao
incorporar,
Helena
transformava-se,
pouco
a
pouco,
at�
tomar
uma
apar�ncia
muito
pr�xima
de
Gagliostro,
inclusive
com
a
papada
que
ele
possu�a
sob
o
queixo.
Incorporado,
ele
se
comunicava
com
gestos
largos,
gestos
ma��nicos,
graves
e
imponentes
que
se
poderia
chamar
de
sacerdotais.
Vamos
mais
uma
vez
nos
valer
do
texto
de
Flournoy:
Primeiro,
Helena
sentia
o
bra�o
tolhido
ou
como
se
estivesse
ausente;
depois
se
queixa
de
sensa��es
desagrad�veis
no
pesco�o,
nuca
e
cabe�a.
Suas
p�lpebras
se
fechavam,
a
express�o
fision�mica
se
intumescia
em
uma
esp�cie
de
queixo
duplo
ou
papada
que
lhe
dava
ares
parecidos
com
o
aspecto
bem
conhecido
de
Gagliostro.
Repentinamente,
a
m�dium
se
erguia
e
caminhava
vagarosa
na
dire��o
de
uma
pessoa
da
assist�ncia
com
a
qual
Leopoldo
desejasse
falar.
Assumia
uma
atitude
hirta
ou
levemente
arqueada
para
tr�s,
ora
com
os
bra�os
cruzados
majestosamente
sobre
o
peito,
ora
com
um
deles
erguido
para
o
c�u
solenemente,
formando
algo
assim
como
um
s�mbolo
ma��nico,
sempre
o
mesmo.
Pouco
a
pouco,
ap�s
um
ataque
de
solu�os,
suspiros
ru�dos
diversos,
acentuando
a
dificuldade
que
Leopoldo
tinha
para
servir-se
do
aparelho
vocal
da
m�dium;
a
palavra
vinha,
ent�o,
grave,
lenta,
forte
uma
voz
de
homem
com
timbre
poderoso
de
baixo
profundo,
com
pronuncia
e
forte
sotaque
estrangeiro,
por
certo
mais
parecido
com
o
italiano
do
que
com
qualquer
outra
l�ngua.
Nem
sempre
era
f�cil
compreender
Leopoldo,
principalmente,
se
ele
engrossava
a
voz
qual
um
trov�o,
como
fazia
quando
lhe
era
dirigida
uma
pergunta
indiscreta
ou
se
algum
membro
da
assist�ncia
arriscava
uma
observa��o
pouco
respeitosa.
Ent�o
ele
tinha
uma
pron�ncia
bem
mais
gutural,
usava
termos
obsoletos
e
arcaicos
e
isso
de
um
modo
pomposo,
grandiloquente,
untuoso,
�
vezes
severo
e
terr�vel,
outras
vezes
at�
mesmo
sentimental.
Tratava
todo
mundo
pela
segunda
pessoa
do
singular
e
a
assist�ncia
tinha
a
impress�o
de
estar
diante
de
um
gr�o-mestre
de
uma
sociedade
secreta,
s�
pela
maneira
enf�tica
e
cavernosa
como
ele
dizia,
por
exemplo,
�irm�o�
e
�tu
minha
irm��,
ao
interpelar
uma
pessoa
do
p�blico.43
Como
acabou
tudo
isso?
Bem!
Theodore
Flounoy
aproveitando-se
de
todo
o
material
conseguido
nas
sess�es
com
Helena,
escreveu
um
livro
intitulado
Das
�ndias
ao
Planeta
Marte.
A
partir
desse
momento,
come�aram
os
problemas.
Em
primeiro
lugar
entre
Helena
e
Flournoy
porque
ela
acusou
o
pesquisador
de
ter
desfigurado
a
interpreta��o
dos
fatos
ocorridos
com
ela
em
favor
da
tese
materialista.
Tais
interpreta��es
causaram
um
grande
abalo
emocional
na
m�dium.
Logo
depois
destes
acontecimentos,
houve
uma
s�ria
mudan�a
na
vida
de
Helena.
Ela,
que
sempre
fora
uma
pessoa
trabalhadora
e
ativa,
passou
a
viver
sem
maiores
cuidados
materiais
porque
uma
admiradora
dos
Estados
Unidos,
mulher
muito
rica,
depositou
em
um
banco,
na
conta
da
m�dium,
uma
generosa
quantia
que
possibilitaria
a
ela
viver
at�
ao
fim
de
seus
dias,
sem
maiores
problemas
financeiros.
Ela,
ent�o,
abandona
o
antigo
emprego
na
loja,
e
passa
a
se
dedicar
�s
suas
faculdades
medi�nicas,
procurando
expandir
mais
os
seus
dotes
espirituais.
Helena
desenvolve,
assim,
uma
nova
forma
de
mediunidade:
a
pictogr�fica
na
qual
ela
d�
�
luz
um
grupo
de
quadro
com
motiva��o
religiosa.
Inicialmente,
pintou
apenas
cabe�as
como
a
de
Cristo
e
a
de
Maria.
Mais
tarde,
a
sua
pintura
se
desenvolveu
e,
de
cabe�as,
passou
a
pintar
figuras
de
corpo
inteiro
como
um
quadro
de
Jesus
Cristo
no
Monte
das
Oliveiras
e
o
de
Jesus
supliciado
no
G�lgota.
Helena
prossegue
o
seu
trabalho,
pintando
bustos
de
personagens
aleg�ricos
como
Jesus
a
caminho
de
Ema�s
e,
por
fim,
pinturas
de
grupos
como
a
Sagrada
Fam�lia
e
a
Transfigura��o
que
foram
os
seus
�ltimos
quadros.
Todo
esse
trabalho
a
m�dium
fazia
em
estado
de
transe
ou
estado
sonamb�lico
na
express�o
de
Robert
Tocquet
e,
quando
acordava
n�o
tinha
a
menor
id�ia
das
pinturas
que
havia
feito
e
nem
mesmo
se
havia
usado
pinc�is
ou
n�o.
Tudo
leva
a
crer
que
n�o
usasse
pinc�is
uma
vez
que,
ao
acordar
seus
dedos
estavam
muito
sujos
de
tinta.
Os
quadros
de
Helena
possu�am
detalhes
interessantes.
As
paisagens
eram
ricas
em
min�cias,
mas
n�o
obedeciam
ao
fotografismo
realista
porque
se
notava
nesses
quadros
a
presen�a
do
ficcional
imagin�rio.
Nas
figuras
humanas,
destacavam-se
os
olhos,
muito
grandes
e
abertos
que
lembravam
um
pouco
os
olhos
dos
alucinados.
A
cr�tica
especializada
recebeu
bem
esses
trabalhos
de
Helena
Smith,
principalmente
em
virtude
de
seu
detalhismo.
As
m�os
do
Cristo
no
Horto
das
Oliveiras
eram
grandes
e
calosas,
m�os
de
laborioso
oper�rio,
m�os
de
carpinteiro
que
denunciavam
a
atividade
profissional
que
ele
exercera
em
Nazar�
antes
de
entrar
na
vida
p�blica,
o
que
mostra
o
talento
especial
do
pintor.
Terminado
este
longo
par�ntesis
voltemos
a
Jung
que
de
modo
algum
ficou
esquecido.
Em
1900,
ele
come�a
a
preparar
a
sua
tese
de
final
de
curso,
tese
que
ele
terminar�
em
1902
e
cujo
t�tulo
era:
Zur
Psychologie
und
Pathologie
Sogenannter
Oculter
(Sobre
a
Psicologia
e
Patologia
dos
assim
chamados
Fen�menos
Ocultos.
Na
sua
tese
de
final
de
curso,
Jung
decidiu
tratar
de
Ocultismo
(leia-se
mediunidade)
aproveitando-se
do
material
das
experi�ncias
que
tivera
com
a
mediunidade
de
sua
prima
nas
sess�es
que
tratamos
no
cap�tulo
anterior.
Estava
Jung
se
preparando
para
o
seu
trabalho
acad�mico,
quando
chegou
�s
suas
m�os
o
livro
de
Flournoy:
Das
�ndias
ao
Planeta
Marte
que
j�
era,
ent�o,
um
best-seller.
Jung
�devorou
o
livro�
e
t�o
entusiasmado
ficou
com
a
obra
que
escreveu
ao
professor
Flournoy,
prontificando-se
a
verter
o
livro
para
o
alem�o,
o
que
n�o
aconteceu
em
raz�o
do
contrato
entre
o
autor
e
o
editor
n�o
ter
tido
bom
�xito.
Na
sua
tese
Jung
parece
n�o
estar
em
d�vida
sobre
a
origem
dos
fen�menos
ps�quicos
e
questiona
se
esse
tipo
de
fato
deve
ser
atribu�do
�
natureza
da
pr�pria
alma
ou
se
tais
fen�menos
acontecem
por
causa
da
presen�a
de
alguma
intelig�ncia
exterior
ao
m�dium
que
nele
atua.
Jung
apesar
de
tudo
o
que
viu
ao
longo
de
sua
vida
at�
aquele
momento,
esposa
a
primeira
tese.
Toma
ent�o
os
fatos
acontecidos
com
Helena
Preswerk
e
os
generaliza
explicando
os
fen�meno
medi�nicos
pela
a
a��o
do
Inconsciente.
Para
ele,
o
livro
de
Flournoy
confirma
a
tese
segundo
a
qual
partes
dissociadas
do
inconsciente
poderiam
manifestarem-se
independentemente,
projetando-se
por
meio
de
alucina��es
ou
assumindo
temporariamente,
o
controle
de
uma
pessoa
e
se
apresentado
nas
sess�es
medi�nicas
como
esp�ritos
desencarnados.
Com
isso,
Jung
faz
a
sua
primeira
defec��o.
Ele
poderia
escolher
entre
duas
possibilidades:
a
espiritualista
e
a
materialista
e
ele
prefere
a
segunda
ao
perfilhar
a
tese
de
criptestesia,44
usada
por
Flournoy
para
explicar
o
caso
Helene
Smith.
Daqui
para
frente,
Jung
continuar�,
como
veremos,
nos
cap�tulos
seguintes,
a
receber
�toques�
do
plano
espiritual,
entretanto,
teimosamente
ele
se
aferrar�
�
tese
dos
complexos
e
dissocia��es
de
natureza
inconsciente.
35
Mulher
que
previa
o
futuro
entre
os
antigos
romanos.
�
sin�nimo
de
bruxa
ou
feiticeira.
36
Ou
ca�oula.
Vaso
em
que
se
queima
perfume
37
FlournoyDes
Inides
�laPlanetMars.InRobertTocqueinPoderes
Secretos
doHomem.P�g.156
38
Bolsa
de
couro
que
as
mulheres
usavam
penduradas
na
cintutra
39
Flournoy.
In
Robert
Tocquet.
Op.
cit.
p.
156-157
40
Gostaria
de
discordar
de
Flournoy.
Neste
caso,
pois,
seria
perfeitamente
normal
que
a
princesa
Lambale
houvesse
vindo
receber
a
sua
amiga
que,
provavelmente
traumatizada
pelo
tipo
de
morte
que
sofrera,
volta
a
ao
Plano
Espiritual,
precisando
de
ajuda.
41
In
Tocque.
Op.
cit.
P.
158
42
Vale
lembrar
que
Arthur
Conan
Doyle
(1859-1930)
escritor
brit�nico,criador
do
detetive
Sherlock
Holmes,
um
dos
mais
famosos
personagens
da
fic��o
mundial,
quando
come�ou
a
pesquisar
o
fen�meno
medi�nico
quase
desistiu,
como
relata
em
seu
livro
A
Nova
Revela��o,
editado
pela
FEB.
Devido
ele
a
sua
quase
desist�ncia
se
deu
por
causa
da
diversidade
e
quantidade
de
comunica��es
desprovidas
de
um
sentido
racional.
Logo
depois,
foi
alertado
por
um
amigo
de
que
isso
se
dava
pela
diferente
ordens
evolutivas
dos
esp�ritos
comunicantes.
Nota
do
1�
Editor
43
In
Tocquet
op.
cit.
p.
154
44
Apalavra
criptestesia
�
formada
de
dois
termos
gregos
kryptos
(oculto)
e
aesthesis
(sensibilidade)
e
significa
faculdade
de
conhecer
coisas
e
fatos
ocultos
ou
distante
no
espa�o
e
no
tempo.
Alguns
atribuem
a
cria��o
desta
palavra
a
Charles
Richet
Estamos
no
dia
dez
de
dezembro
de
1900.
Jung,
formado
em
Medicina,
vai
ocupar
um
lugar
no
hospital
psiqui�trico
de
Burgholzli
que
ficava
em
Zurich.
Jung
estava
satisfeito
com
aquela
possibilidade
de
mudar
de
ares,
uma
vez
que
Zurich
era
uma
cidade
maior
e
mais
interessante
do
que
Basil�ia
onde
ele
vivia.
O
trabalho
em
Burholzli,
inicialmente,
lhe
pareceu
um
desafio.
Ele
fora
para
l�
desejoso
de
responder
uma
pergunta:
o
que
se
passa
na
alma
de
um
doente
mental?
Os
seus
colegas,
contudo,
n�o
tinham
essa
mesma
preocupa��o.
Os
psiquiatras
de
Zurich
pareciam
muito
um
tanto
desinteressados
na
personalidade
psic�tica
e
limitavam-se
a
descrever
os
casos,
fazer
diagn�sticos
e,
por
fim,
colocar
no
doente
um
r�tulo
de
acordo
com
as
classifica��es
existentes
nos
manuais
cl�ssicos
de
Psiquiatria
que
haviam
se
tornado
uma
esp�cie
de
catecismo
para
a
maioria
deles.
Jung
achava
que
era
muito
importante
inovar,
de
algum
modo,
no
tratamento
da
doen�a
mental
e
ele
acreditava
que
esta
inova��o
teria
sido
feira
por
Sigmund
Freud.
Conta-nos
o
criador
da
Psicologia
Anal�tica:
Nesta
situa��o,
Freud
foi
essencial
para
mim,
principalmente
em
virtude
de
suas
pesquisas
fundamentais
sobre
a
psicologia
da
histeria
e
do
sonho.
Suas
concep��es
mostraram-me
um
caminho
a
seguir
para
as
pesquisas
posteriores
e
para
a
compreens�o
dos
casos
individuais.
Freud
introduziu
a
quest�o
psicol�gica
na
Psiquiatria,
embora
n�o
fosse
psiquiatra,
mas
neurologista.
Essa
observa��o
de
Jung
sobre
a
obra
de
Freud
nos
parece
muito
interessante.
Lamento
apenas
que,
ao
dizer:
�Freud
levou
a
Psicologia
para
a
Psiquiatria,�
n�o
tenha
podido
dizer:
�Eu
levarei
a
interpreta��o
esp�rita
para
o
tratamento
da
loucura.�
Certa
vez
o
doutor
Juliano
Moreira
(1873-1933)
famoso
m�dico
e
cientista
baiano,
teria
dito:
O
Espiritismo
�
uma
f�brica
de
loucos45
o
que
n�o
estaria
muito
longe
da
verdade
se
troc�ssemos
a
palavra
espiritismo
por
mediunidade
sem
estudo
e
vinculada
a
interesses
menores.
O
m�dium
que
se
envolve
e
se
perde
nas
tias
da
vaidade,
do
orgulho
e
do
ego�smo,
pode
sofrer
um
processo
obsessivo
cujos
sintomas,
n�o
raro,
s�o
muito
parecidos
com
algumas
patologias
mentais,
notadamente,
a
esquizofrenia.
�
pena
que
uma
intelig�ncia
brilhante
como
a
de
Jung
n�o
tenha
se
decidido
pela
interpreta��o
espiritualista
dos
fen�menos
patol�gicos,
fincando
p�
na
explica��o
materialista,
presa
dos
pr�prios
preconceitos.
Vamos,
todavia,
continuar
o
nosso
estudo
sobre
a
vida
de
C.
G.
Jung,
enfatizando
a
tese
que
deu
t�tulo
a
esse
livro.
No
come�o
de
seu
trabalho
em
Burgholzli,
aconteceu
um
fato
muito
interessante
com
ele.
Foi
internado
naquele
hospital
uma
mulher,
ainda
jovem,
que
sofria
de
depress�o
profunda
e
que,
depois
dos
testes
de
anamneses
convencionais,
foi
classificado
como
um
caso
de
esquizofrenia
ou
dem�ncia
precoce
como
esta
doen�a
se
chamava
ent�o.
Jung
n�o
aceitou
esse
diagn�stico,
entretanto,
n�o
o
contestou
uma
vez
que
era
um
rec�m-chegado
ao
hospital
e
n�o
poderia,
por
quest�es
de
�tica
m�dica,
contestar
um
diagn�stico
feito
por
outros
colegas
mais
experientes
que
ele.
Jung,
contudo,
via
o
caso
daquela
mulher
como
uma
depress�o
comum.
Inicia,
ent�o,
com
a
paciente,
um
tratamento
com
base
na
associa��o
de
palavras.
Examina
e
discute
os
sonhos
dela.
Por
meio
desse
processo,
ele
descobre
alguns
fatos
fundamentais
da
vida
daquela
mulher
que
a
anamnese
comum,
realizada
por
outros
m�dicos,
n�o
havia
revelado.
A
t�cnica
usada
por
Jung
trouxe
�
tona
a
seguinte
hist�ria:
quando
solteira,
a
mulher
havia
conhecido
um
rapaz
muito
rico,
filho
de
um
industrial
e
por
ele
se
apaixonou.
O
jovem,
todavia,
n�o
pareceu
n�o
corresponder,
de
modo
algum,
aos
sentimentos
que
ela
lhe
dedicava.
Frustrada
e
ferida
em
seu
amor
pr�prio,
pois
se
julgava
(e
de
fato
era)
uma
mulher
muito
bonita,
decidiu-se
casar-se
com
um
outro
homem,
seguindo
a
f�rmula
err�nea
segundo
a
qual
�
poss�vel
consertar
um
cora��o
partido
com
peda�os
de
outro
cora��o.
Cinco
anos
depois,
conversando
com
um
velho
amigo
este
revelou
a
ela
que
o
seu
casamento
havia
sido
chocante
para
o
filho
do
industrial.
Ela
ficou
l�vida
e,
em
pouco
tempo,
instalou-se
a
depress�o.
As
coisas,
entretanto,
n�o
pararam
por
a�.
Certo
dia,
ele
estava
dando
banho
em
seus
filhos,
uma
menina
de
quatro
anos
e
um
garotinho
de
dois.
No
pa�s
onde
ela
vivia
havia
problemas
com
o
fornecimento
de
�gua
de
modo
que
apenas
�gua
para
beber
era
tratada
e
saud�vel.
A
�gua
para
o
banho
vinda
de
um
rio
pr�ximo,
estava
contaminada
e,
portanto,
prejudicial
�
sa�de.
Enquanto
ela
dava
um
banho
no
menino,
viu
a
filha
chupando
uma
esponja
molhada,
entretanto,
inexplicavelmente,
n�o
deu
ao
caso
maior
import�ncia.
Quanto
ao
menino,
f�-lo
tomar
um
copo
da
�gua
polu�da.
Naturalmente,
lembra
Jung,
ela
fez
isso
em
estado
de
inconsci�ncia
ou
de
semi-consci�ncia.
Pouco
tempo
depois,
a
menina
morreu
de
tifo,
embora
o
menino
escapasse
ileso.
A
depress�o
da
mulher
aumentou
consideravelmente
e
ela
foi
internada
para
tratamento.
Jung
havia
encontrado
a
origem
da
depress�o:
o
sentimento
de
culpa
pela
morte
da
filha,
Surgiu,
entretanto,
um
problema:
deveria
ou
n�o
contar
�
mulher,
francamente,
a
causa
de
seu
problema?
Imaginou
que,
se
contasse
a
seus
colegas
o
seu
dilema,
eles
acharam
que
a
revela��o
s�
iria
piorar
a
situa��o
mental
da
mulher.
Havia,
por�m,
julgava
Jung,
uma
chance
de
o
resultado
ser
inverso.
Decide,
ent�o,
enfrentar
um
grande
risco,
prossegue
o
tratamento
e
revela
�
doente
o
que
havia
descoberto.
Foi
duro
para
a
mulher
aceitar
o
que
havia
feito.
Ela
sofreu
muito,
contudo,
depois
de
quinze
dias,
deixou
o
hospital
e
nunca
mais
voltou.
Jung
silenciou
sobre
este
caso
uma
vez
que,
se
o
tornasse
p�blico,
a
mulher
poderia
ser
processada
pelo
marido
ou
pelos
parentes
dele.
Ele
considerou
que
seria
um
fardo
demasiadamente
pesado
para
ela
a
consci�ncia
da
morte
de
sua
filhinha.
O
estranho,
por�m,
�
que
n�o
fica
claro
para
Jung
o
motivo
da
hostilidade
contra
a
crian�a.
Ela
estaria
apenas
derramando
sobre
os
filhos
a
sua
dor
e
frustra��o
por
ter
perdido
o
homem
por
quem
se
apaixonara?
Ela
estaria
tentando
com
a
morte
dos
filhos
destruir
os
v�nculos
que
possu�a
com
o
homem
a
quem
n�o
amava?
Se,
entretanto,
chamarmos
a
nosso
socorro
a
teoria
da
reencarna��o,
novas
luzes
poder�o
ser
lan�adas
sobre
o
caso.
Que
la�os
de
vidas
passadas
uniram
os
personagens
deste
drama
cruel?
O
filho
t�mido
do
rico
industrial;
a
mulher
apaixonada
que
deixou
morrer
a
pr�pria
filha
e
tentou
matar
o
filho;
os
filhos
agredidos
pela
pr�pria
m�e.
Que
rela��es
reencarnat�rias
mantinham
pr�ximos
esses
esp�ritos?
Ser�
que
ela
matou
uma
crian�a
inocente
ou
se
vingou
de
um
inimigo
de
outras
vidas.
Teria
ela,
no
momento
de
agress�o
�s
crian�as,
sido
v�tima
de
um
esp�rito
obsessor?
N�o
descartamos,
de
modo
algum,
essas
hip�teses,
mas
Jung
sim,
uma
vez
que
ele
trabalha
com
categorias
provenientes
do
Materialismo,
excluindo,
por
conseq��ncia,
toda
e
qualquer
explica��o
metaf�sica.
Vamos
mais
uma
vez,
ler
um
testemunho
de
Jung:
Em
muitos
casos
psiqui�tricos,
o
doente
tem
uma
hist�ria
que
n�o
�
contada
e
que,
em
geral,
ningu�m
conhece.
Para
mim,
a
verdadeira
terapia
s�
pode
ter
inicio
depois
de
examinada
a
hist�ria
pessoal.
Esta
representa
o
segredo
do
paciente,
segredo
que
odesesperou.
E,
ao
mesmo
tempo,
encerra
a
chave
do
tratamento.
�,
pois
indispens�vel
que
o
m�dico
saiba
descobri-la.
Ele
deve
propor
algumas
perguntas
que
digam
respeito
ao
homem
em
sua
totalidade
e
n�o
se
limitar
apenas
aos
sintomas.
Na
maioria
dos
casos,
n�o
�
suficiente
explicar
apenas
o
material
consciente.
Conforme
o
caso,
a
experi�ncia
de
associa��o
pode
abrir
caminho
�
interpreta��o
dos
sonhos
ou
ent�o
ao
longo
do
contato
com
o
doente.46
A
observa��o
de
C.
G.
Jung
nos
parece
correta
e
pertinente,
contudo,
faltou-lhe
um
detalhe
altamenterelevante.
�
fato
que
se
necessita
conhecer
a
vida
do
paciente
para
que
se
inicie
a
terapia
profunda,
todavia,
nem
sempre
o
exame
da
vida
atual
resolve
o
problema
uma
vez
que
a
origem
do
trauma
pode
estar
situado
em
uma
outra
vida.
Diz
ainda
Jung
que
�
necess�rio
ver
o
doente
de
um
ponto
de
vista
hol�stico.
Muito
bem,
contudo,
uma
atitude
que
pretenda
ver
o
homem
na
sua
totalidade
n�o
pode
se
recusar
ao
exame
de
dimens�o
espiritual.
O
homem
�
corpo
e
alma
e
todas
as
vezes
que
se
tem
reduzido
a
criatura
humana
apenas
ao
corpo,
os
resultados
n�o
t�m
sido
os
melhores.
Continuemos,
por�m,
aprendendo
com
Jung:
Em
1905,
tornei-me
professor
de
Psiquiatria,
ocupando,
no
mesmo
ano,
o
cargo
de
m�dico-chefe
da
Cl�nica
Psiqui�trica
da
Universidade
de
Zurich.
Permaneci
quatro
anos
nesta
fun��o.
Depois,
em
1909,
fui
obrigado
abandon�-la
simplesmente
porque
o
meu
trabalho
havia
se
tornado
excessivo.
No
curso
dos
anos,
a
minha
clientela
particular
aumentara
de
tal
modo
que
n�o
podia
mais
dar
conta
daquele
trabalho.
Continuei,
por�m,
a
minha
atividade
docente
at�
1913.
Dei
cursos
de
Psicopatologia
e
naturalmente,
cursos
sobre
os
fundamentos
da
Psicologia
Freudiana,
assim
como
sobre
a
Psicologia
dos
Primitivos.
Esses
eram
os
temas
principais.
Durante
o
primeiro
semestre,
os
cursos
mais
importantes
versaram
sobre
hipnotismo,
os
trabalhos
de
Pierre
Janet
e
Flournoy.
Mais
tarde,
o
problema
da
Psican�lise
Freudiana
passou
ao
primeiro
plano.47
Entre
1901
e
1902
a
vida
de
Jung
era
demasiadamente
apertada
do
ponto
de
vista
econ�mico,
pois
deveria
sustentar
sua
m�e
e
sua
irm�.
Conta
ele
que,
certa
vez,
sua
m�e
estivera
no
hospital
onde
ele
trabalhava
e,
entrando
na
sala,
viu,
nas
paredes,
representa��es
gr�ficas
do
tempo
de
rea��o
de
seus
pacientes.
Emilie
teria
comentado
com
azedume:
�Isso
realmente
possui
algum
significado?�
Jung
ficou
arrasado,
pois
aquele
coment�rio
de
sua
m�e
soou,
para
ele,
como
uma
cr�tica
no
sentido
de
chamar
a
sua
aten��o
para
a
inutilidade
da
carreia
que
havia
escolhido.
Em
1902,
entretanto,
as
coisas
mudaram.
Vamos,
em
seguida,
dar
uma
olhada
no
texto
de
Maclynn
que
trata
da
origem
desta
mudan�a:
Em
1896,
quando
cursava
ainda
a
Escola
de
Medicina,
encontrou
Emma
Rauschenbach.
Ela
estava
ent�o
com
14
anos.
Tendo
contemplado
a
menina
no
alto
de
uma
escada,
confidenciou
a
um
amigo
a
sua
profunda
intui��o
de
que
se
casaria
com
ela.48
Novamente,
nota-se
aqui
a
intui��o
de
Jung
que
parece
reconhecer
a
pessoa
que
seria
sua
esposa.
Simples
palpite?
Encontro
casual?
Reencontro
de
esp�ritos
que
se
conheciam
de
vidas
passadas?
Deixo
aresposta
para
o
leitor.
Pois
bem.
�
com
essa
mo�a
muito
bonita
e
dona
de
um
heran�a
consider�vel
que
Jung
decide
se
casar.
Faz-lhe
ent�o
uma
proposta
de
casamento,
mas
a
proposta
foi
recusada.
Qual
foi
a
causa
da
recusa
de
Emma?
Segundo
alguns
bi�grafos
de
Jung,
ela
teria
recusado
porque,
muito
ing�nua,
teria
trocado
beijos
com
um
rapaz
e
por
isso
se
julgava
comprometida
com
ele
e,
portanto,
seria
necess�rio
que
seu
pai
desfizesse
o
�noivado
dela�.
Outros
dizem
que
ela
teria
recusado
por
saber
que
o
homem
que
pedia
a
sua
m�o
era
um
apaixonado
por
Psiquiatria
e
n�o
gostaria
de
se
casar
com
um
homem
escravo
de
uma
ideologia.
Permita-me,
meu
caro
leitor,
que
me
intrometa
de
novo
aqui
com
uma
outra
tentativa
de
explicar
a
recusa
da
jovem.
Jung
de
fato,
se
casou
com
Emma,
mas
ela
n�o
foi
feliz.
E
por
qu�?
A
resposta
�
muito
simples:
Jung
jamais
conseguiu
dominar
a
sua
sexualidade
e
se
tornou
o
que
se
poderia
chamar
de
�mulherengo�.
Muitas
foram
as
mulheres
que
gravitaram
em
torno
dele
como
mariposas
em
volta
da
luz.
Das
muitas
mulheres
que
gravitaram
em
torno
de
Jung
duas
se
tornaram
famosas
pela
profundidade
do
relacionamento:
Sabina
Spilhein
e
Toni
Wolf.
Esses
dois
casos
foram
escandalosos
e
Emma
os
conheceu
e
teve
e
que
�engoli-los�
para
salvar
seu
casamento.
Jung
chegou
a
propor
a
sua
esposa
que
Toni
Wolf,
la
femme
inspiratrice49,
como
ele
a
chamava
e
fosse
sua
concubina
especial
em
uma
esp�cie
de
m�nage
�
trois50
e
Ema
teve
que
aceitar
a
contragosto
naturalmente.
Esta
rela��o
entre
Jung
e
Emma
pode
ter
origem
em
outras
vidas.
Esta
hip�tese
tem
a
virtude
de
explicar
a
origem
da
recusa
inicial.
Assim,
�
bem
prov�vel
que,
em
outras
vidas,
Jung
houvesse
se
comportado
do
mesmo
modo
para
com
Emma,
causando-lhe
profundos
dissabores.
Nesta
vida,
decidiram
tentar
um
ajuste,
mas
quando
ela
o
v�,
tem
algum
tipo
de
reminisc�ncia
e
recua.
Continuemos,
orem.
Afastadas
as
resist�ncias
de
Emma,
Jung
se
casa
com
ela
no
dia
14
de
fevereiro
de
1903.
Depois
da
lua-de-mel
e
de
uma
viagem
pelos
A�ores
e
Ilha
da
Madeira
(isso
gra�as
�
fortuna
da
esposa)
o
casal
voltou
a
Zurich,
indo
morar
nas
depend�ncias
do
hospital
de
Burgholzli.
No
final
daquele
mesmo
ano,
Emma
engravidou
e
no
ano
seguinte,
no
dia
26
de
dezembro,
nasceu
Agatha,
a
primeira
filha
de
Jung.
Al�m
de
Agatha,
Jung
ter�
ainda
mais
quatro
filhos:
tr�s
menina
e
um
menino.
No
ano
seguinte,
Jung
amplia
o
seu
c�rculo
de
amizade
e
se
tornou
amigo
de
Albert
Einstein,
que
j�
havia
publicado
a
sua
Teoria
da
Relatividade.
Em
muitas
ocasi�es,
Jung
convidou
o
f�sico
para
almo�ar
em
sua
casa
e
nessas
oportunidades,
travaram-se
longas
conversas.
Infelizmente,
as
dificuldades
de
Jung
com
Matem�tica,
impossibilitaram
psic�logo
de
melhor
entender,
de
um
ponto
de
vista
t�cnico,
o
pensamento
de
Einstein.
Mesmo
depois
da
gravidez
de
Emma,
Jung
prosseguiu
com
a
sua
fixa��o
sexual:
alto,
elegante,
sedutor,
inteligente,
culto
e
bom
conversador,
ele
conseguia
ser
objeto
constante
do
interesse
feminino.
Muitas
mulheres
como
Aniela
Jaff�
e
Marie
Louisie
e
von
Franz
se
tornaram
suas
disc�pulas.
Jung
parecia
n�o
se
importar
muito
com
isso
e,
de
um
certo
modo,
chegava
a
estimular
essa
corte
de
admiradoras.
Emma,
corajosamente,
sempre
esteve
ao
lado
do
marido
(mesmo
com
a
presen�a
inc�moda
de
Toni
Wolf)
criando
e
educando
seus
filhos.
Em
1955
ela
come�a
a
desenvolver
um
c�ncer
que
a
leva
a
fazer
uma
s�ria
opera��o.
Logo
depois
da
cirurgia,
ela
pareceu
melhorar,
entretanto,
a
seguir
entrou
em
coma,
vindo
a
desencarnar
cinco
dias
depois.
Jung
sentiu
muito
a
morte
da
esposa.
Dias
depois
do
infausto
acontecimento,
ele
pegou
uma
pedra
e
nela
gravou:
�Ela
foi
o
alicerce
da
minha
vida.�
E
foi
mesmo.
45
De
uma
certa
feita,
em
um
programa
de
televis�o,
o
padre
Quevedo
afirmou,
segundo
ele
baseado
em
uma
pesquisa
que
30%
dos
loucos
encarcerados
em
um
manic�mio,
seriam
esp�ritas.
Na
ocasi�o,
o
espirituoso
Luciano
dos
Anjos
redarguiu:
�Mas
isso
�
uma
boa
not�cia!
Se
30%
s�o
esp�ritas
sobram
70%
para
dividir
entre
cat�licos
e
protestantes.�
O
padre
calou-se.
Nota
do
1�
Editor.
46
Jung.
op.
cit.
p.
110
47
Jung.
Op.
cit.
p.
110
48
Maclynn.
Jung
uma
Biografia
p.
89
49
AMulher
inspiradora
50
Express�o
francesa
que
se
refere
ao
amor
a
tr�s.
No
caso
citado
seriam:
Jung,
Emma
e
Toni
Como
vimos,
Jung
trabalhava
em
Zurich
tratando
de
doentes
mentais,
estudando
as
obras
de
Pierre
Janet
e
ainda
impressionado
com
a
obra
de
Theodore
Flournoy.
Em
1910,
Jung
adquiriu
um
livro
intitulado
A
Interpreta��o
dos
Sonhos,
escrito
por
um
m�dico
judeu
bastante
controvertido,
chamado
Sigmund
Freud.
Jung
come�ou
a
ler
o
livro,
mas
n�o
chegou
a
termina-lo
por
n�o
t�-lo
compreendido
bem.
Mais
tarde,
entretanto,
ele
retoma
a
sua
leitura
e,
desta
vez,
compreende
a
import�ncia
que
aquela
obra
possu�a
para
o
trabalho
que
realizava
e
os
pontos
comuns
que
existiam
entre
o
pensamento
de
Freud
e
o
seu.
O
que
mais
impressionou
Jung,
em
rela��o
ao
livro,
foi
a
associa��o
nele
estabelecida
entre
a
teoria
dos
sonhos
e
o
mecanismo
dos
recalques
tomado
de
empr�stimo
da
psicologia
das
neuroses.
Na
sua
pr�tica
com
doentes
mentais,
Jung
havia
encontrado
fen�menos
que
estariam
relacionados
com
os
recalcamentos.
Durante
a
pr�tica
do
m�todo
de
associa��o
de
palavras,
Jung
dizia
para
os
seus
pacientes
uma
s�rie
de
voc�bulos,
pedindo
�
l�s
que
respondessem
a
cada
palavra
com
o
primeiro
termo
que
lhe
viesse
�
mente.
Percebeu,
ent�o,
que
certas
palavras
indutoras
faziam
com
que,
ao
ouvi-las,
as
pessoas
n�o
tivessem
uma
resposta
pronta
e
demorassem
muito
para
responde-las.
Jung
considerava
que
a
resist�ncia
observada
teria
a
sua
origem
no
fato
de
a
palavra
ter
tocado
em
algo
muito
doloroso
que
se
encontrava
recalcado
no
mundo
interior
do
paciente.
Jung
tamb�m
notou
que
as
pessoas
n�o
tinham
uma
consci�ncia
clara
do
motivo
de
sua
perturba��o
e,
se
interrogadas
sobre
isso,
respondiam
com
evasivas.
O
que
provocava
tal
recalcamento?
A
resposta
freudiana
a
esta
quest�o
era
muito
clara:
O
que
origina
o
recalque
�
um
trauma
de
natureza
sexual.
Entretanto,
Jung
n�o
concordava
com
ele.
Na
sua
experi�ncia
profissional,
o
psic�logo
su��o
revela
que
havia
encontrado
v�rios
casos
em
que
a
sexualidade
exercera
uma
a��o
secund�ria,
sendo
superada
por
outros
elementos.
Conta
Jung
que,
certo
dia,
conversara
com
Freud
e
apresentara
�
ele
esta
conclus�o,
mas
o
fundador
da
Psican�lise
ficara
irredut�vel
e
n�o
se
mostrou
disposto
a
abrir
m�o
de
sua
posi��o
te�rica.
A
quest�o
do
relacionamento
entre
neurose
e
sexualidade
parecia
ser
uma
quest�o
fechada,
uma
esp�cie
de
dogma.
As
primeiras
rela��es
entre
Jung
e
Freud
foram
dif�ceis
para
o
primeiro
que
estava
iniciando
uma
carreira
universit�ria
a
qual
se
mostrava
bastante
promissora;
por
seu
turno,
Freud
era,
no
in�cio
de
seu
trabalho
uma
persona
non
grata51
uma
esp�cie
de
out-sider52
ou
escritor
maldito
com
id�ias
muito
estranhas
para
o
seu
tempo.
O
problema
possu�a
tal
dimens�o
que
seria
muito
complicado
para
um
intelectual
se
aproximar
de
Freud
sem
queimar-se
na
fogueira
que
ele
acendera.
Assim,
o
pensamento
de
Freud
n�o
era
objeto
de
discuss�es
abertas
e
francas,
mas
abordadas
nos
corredores
das
universidades,
meio
em
surdina
com
quem
fala
de
algo
subversivo
e
conspirat�rio.
Jung,
ent�o,
passou
a
viver
um
problema
de
consci�ncia
com
respeito
a
Freud,
uma
vez
que
estava
usando
as
id�ias
freudianas
porque
elas
coincidiam
bastante
com
as
suas.
Havia,
contudo,
que
tomar
uma
posi��o.
Voltemos
ao
texto
junguiano:
Um
dia,
encontrava-me
no
laborat�rio
preocupado
com
o
problema
quando
o
diabo
murmurou-me
em
meu
ouvido
(o
destaque
�
nosso)
que
eu
tinha
o
direito
de
publicar
o
resultado
de
minhas
experi�ncias
e
conclus�es
sem
mencionar
Freud.
N�o
me
dedicara
atais
experi�ncias
muito
antes
de
compreender
o
que
quer
que
fosse
de
sua
obra?
Ouvi,
ent�o,
a
voz
de
minhasegunda
personalidade:
�
fraudulento
agir
como
se
n�o
conhecesse
Freud.
N�o
se
pode
edificar
a
pr�pria
vida
sobre
uma
mentira.
O
caso
ficou,
ent�o,
resolvido.
A
partir
deste
momento,
tomei
abertamente
o
partido
de
Freud
e
lutei
em
seu
favor.53
O
texto
indica,
claramente,
um
conflito
de
interior
que
pode
acontecer
com
qualquer
pessoa
que
sofra
um
drama
de
consci�ncia,
mas
Jung
se
refere
a
uma
consci�ncia
externa
negativa
que
ele
identifica
com
o
a
do
diabo
e
outra
positiva
que
ele
diz
ser
a
voz
e
sua
personalidade
n�mero
dois
que
n�s
j�
conhecemos.
�
curioso
que
Jung,
constantemente,
fale
como
se
tivesse
consci�ncia
da
presen�a
de
for�as
externas
a
ele
agindo
sobre
o
seu
comportamento,
mesmo
em
um
contexto
como
esse,
onde
tal
interpreta��o
n�o
seria
necess�ria
e
nem
mesmo
pertinente.
Como
Jung
havia
dito
anteriormente,
come�ou
a
quebrar
lan�as
em
favor
de
Freud.
Em
um
congresso
acontecido
na
cidade
de
Munich,
na
Alemanha,
o
nome
de
Freud
foi
omitido
de
prop�sito
das
neuroses
obsessivas.
Em
1906,
Jung
escreve
um
artigo
para
a
revista
Munchnner
Medizinische
Wochenschift.
Nesse
artigo,
ele
chama
a
aten��o
do
leitor
para
a
contribui��o
significativa
de
Freud
no
caso
das
neuroses
obsessivas
como
se
desse
um
pux�o
de
orelhas
naqueles
que
haviam
esquecido
no
nome
de
Freud.
Depois
desse
artigo,
dois
professores
alem�es
escreveram
cartas
a
Jung,
advertindo-o
de
que,
se
continuasse
a
defender
Freud
estaria
colocando
em
risco
a
sua
carreira
universit�ria
em
risco.
Jung
responde
que,
entre
a
sua
carreira
e
a
verdade,
preferia
a
segunda.
Assim,
Jung
continua
apoiando
Freud
embora
prosseguisse
discordando
dele,
notadamente
no
que
dizia
respeito
�
sexualidade.
Tal
hip�tese,
Jung
reconhecia
v�lida
em
alguns
casos,
mas
n�o
em
outros.
De
todo
o
jeito,
por�m,
ele
n�o
podia
negar
que
Freud
havia
aberto
um
caminho
significativo
para
a
compreens�o
da
alma
humana.
Freud
reconhecia
atitude
favor�vel
de
Jung
a
seu
respeito
e,
por
isso,
ele
o
convida
a
visit�-lo
na
cidade
de
Viena
onde
morava.
H�,
ent�o,
um
encontro
not�vel
entre
os
dois
grandes
esp�ritos.
Eles
conversaram
durante
treze
horas
ininterruptas.
Jung
afirma
em
sua
autobiografia
que
aquele
havia
sido
a
pessoa
mais
interessante
que
ele
j�
conhecera
em
toda
a
sua
vida.
Freud
pareceu
a
Jung
um
interlocutor
de
peso,
uma
pessoa
especial
destas
que
a
gente
n�o
encontra
facilmente
em
nosso
dia-a-dia.
Extraordinariamente
inteligente,
penetrante,
not�vel
sob
todos
os
aspectos,
s�o
adjetivos
com
que
Jung
qualifica
Freud.
No
entanto,
apesar
desta
forte
impress�o,
Freud
n�o
conseguiu
convencer
Jung
sobre
a
teoria
da
sexualidade
e
a
sua
rela��o
com
as
neuroses.
Durante
esta
conversa
Jung
op�s
v�rias
d�vidas
e
obje��es
e
Freud
n�o
conseguiu
responder
essas
coloca��es
a
contento.
Freud
argumentou
dizendo
que,
muito
provavelmente,
as
resist�ncias
de
Jung
deviam-se
a
sua
pouca
experi�ncia
e
que,
com
o
tempo,
acabaria
por
lhe
dar
raz�o.
Jung,
por
seu
lado,
compreendia
que
a
teoria
de
Freud
era
important�ssima,
tanto
do
ponto
de
vista
pessoal
como
filos�fico,
entretanto,
continuava
ainda
com
reservas
em
rela��o
�
totalidade
dos
conceitos
freudianos.
Havia,
por�m,
um
outro
complicador,
uma
quest�o
t�o
s�ria
quanto
�
primeira
e
que
tamb�m
separava
os
dois
homens:
a
Espiritualidade.
Jung
se
lembra
de
que,
todas
as
vezes
em
que
a
quest�o
vinha
�
baila,
Freud
desconversava
como
se
aquele
assunto
o
incomodasse
e
n�o
pouco.
Em
verdade,
o
tema
da
sexualidade
era
a
menina
dos
olhos
e
ele
n�o
parecia
ver
outra
possibilidade
de
explica��o
das
neuroses
a
n�o
ser
aquela.
Para
se
ter
uma
id�ia
do
pensamento
de
Freud,
vamos
mais
uma
vez
nos
valer
do
texto
de
Jung:
Tenho
uma
viva
lembran�a
de
Freud
me
dizendo:
�Meu
caro
Jung,
prometa
que
jamais
abandonar�
a
teoria
sexual.
�
o
que
importa
essencialmente!
Olhe,
devemos
fazer
dela
um
dogma,
um
baluarte
inabal�vel.�
Ele
dizia
isso
com
ardor
como
o
pai
que
diz
ao
filho:
Prometa-me,
meu
filho,
uma
coisa:
n�o
deixe
de
ir
�
igreja
aos
domingos.
Um
tanto
espantado,
perguntei-lhe:
�Um
baluarte
contra
o
qu�?�
Ele
me
respondeu:
�contra
o
lado
negro
do...�
Aqui
hesitou
um
momento
e
acrescentou:
�do
ocultismo�.
O
que
me
alarmou
em
primeiro
lugar
foi
�baluarte
contra
o
ocultismo�
e
o
�dogma�.
O
dogma,
isto
�,
uma
profiss�o
de
f�
indiscut�vel,
surge
apenas
quando
se
quer
esmagar
uma
d�vida
de
uma
vez
por
todas.
N�o
se
trata
mais
de
um
julgamento
cient�fico,
mas
se
revela
somente
como
vontade
pessoal.54
A
for�a
da
express�o
�lado
negro
do
ocultismo�
desgostou
bastante
a
Jung
porque,
sob
a
rubrica
ocultismo,
Freud
colocava
tudo
aquilo
que
a
filosofia,
a
religi�o,
a
metagnomia
diziam,
ent�o,
sobre
a
alma
e
as
suas
faculdades.
Para
Jung,
a
teoria
da
sexualidade
era
t�o
oculta
quanto
o
pr�prio
ocultismo
uma
vez
que,
nem
um
nem
outro,
estavam
suficientemente
provados
de
um
ponto
de
vista
estritamente
cient�fico.
Talvez
Jung
n�o
tenha
gostado
da
palavra
dogma
porque
ela
o
fazia
lembrar-se
de
seu
pai
que
usava
o
dogma
como
um
ref�gio
para
as
suas
incerteza
religiosas;
ou
porque
ouvisse
na
intimidade
de
seu
ser,
ecos
distante
da
espiritualidade
lembrando-lhe
os
compromisso
que
teria
na
terra
e
Freud,
ali,
assumindo
uma
posi��o
dogm�tica
estaria
fechando
uma
porta
que
ele
deveria
abrir.
A
atitude
de
Freud
perturbava
Jung.
Um
esp�rito
profundamente
religioso
e
apaixonado
pela
mitologia
n�o
conseguia
entender
como
Freud
podia
dar
mais
import�ncia
�
sexualidade
do
que
�
religi�o.
Em
verdade,
comenta
Jung,
a
teoria
da
sexualidade
em
Freud
tinha
um
valor
muito
pr�ximo
daquele
que
se
atribui
�
divindade.
Certa
ocasi�o,
em
1909,
durante
uma
conversa
com
Freud,
Jung
o
questionou
sobre
os
fen�menos
para-normais
e
a
precogni��o.
Freud,
cheio
de
preconceitos
materialistas,
responde
a
Jung
que
n�o
perdesse
tempo
com
aquele
tipo
de
coisa,
pois
se
tratava
de
mera
tolice.
O
esp�rito
positivista
de
Freud,
naquele
momento,
atingiu
tal
propor��o
que
Jung
teve
de
se
conter
para
n�o
lhe
dar
uma
resposta
mais
�cida.
Enquanto
a
conversa
se
desenvolvia,
com
Freud
argumentando
com
veem�ncia
contra
os
fen�menos
parapsicol�gicos,
Jung
sentiu
um
grande
mal
estar.
Pareceu-lhe
que
o
seu
diafragma
estava
pegando
fogo.
De
repente,
ouvi-se
um
grande
estalo
em
uma
estante
que
estava
pr�xima
a
eles.
O
ru�do
fora
bastante
forte
a
ponto
de
assustar
os
dois
homens.
Ambos
tiveram
a
impress�o
de
que
o
m�vel
iria
cair
sobre
eles.
Ent�o,
Jung
disse
a
Freud:
�
Viu?
�
isso
que
eu
chamo
de
fen�meno
catal�tico
de
exterioriza��o.
�
Isso
�
puro
disparate.
Respondeu
Freud.
�
N�o
�
tolice,
professor.
Eu
o
aviso
previamente
de
que
haver�
novo
estalo.
Mal
Jung
havia
dito
estas
palavras,
houve,
mais
uma
vez,
um
novo
estalo
no
mesmo
m�vel.
De
algum
modo,
Jung
sabia
que
o
barulho
iria
se
repetir
como
verdadeiramente
aconteceu.
Freud
olhou
para
o
seu
amigo
literalmente
abalado.
Jung
entendeu
aquele
olhar
n�o
s�
como
uma
forma
de
manifestar
o
seu
desagrado
mas,
principalmente
como
se,
com
aquele
olhar,
ele
quisesse
demonstrar
uma
forte
desconfian�a
com
respeito
a
ele.
Nunca
mais
os
dois
homens
voltaram
a
tocar
naquele
assunto.
Ainda
em
1909,
Jung
foi
convidado
pela
Clark
University,
situada
em
Worcester,
no
Estado
de
Massachusets
para
fazer
palestras
sobre
a
t�cnica
da
associa��o
de
palavras.
Na
mesma
ocasi�o,
mas
independentemente,
Freud
recebeu
id�ntico
convite
e,
assim,
os
dois
decidiram
viajar
juntos.
Participou
tamb�m
desta
viagem
S�ndor
Frenczi,55
um
amigo
e
colaborador
de
Freud.
Nessa
viagem
houve
um
fato
estranh�ssimo.
Na
cidade
de
Bremem,
Jung
conversando
com
Freud
fez
refer�ncia
aos
cad�veres
do
p�ntano.
Por
este
nome,
designava-se
a
descoberta
arqueol�gica
de
corpos
humanos
muito
antigos
acontecida
ao
norte
da
Alemanha.
Esses
corpos,
possivelmente
pr�-hist�ricos
eram
de
pessoas
que
se
havia
afogado
no
p�ntano
onde
sofreram
um
processo
de
mumifica��o
em
virtude
de
condi��es
ambientais
prop�cias.
Jung,
que
sempre
estava
interessado
em
Arqueologia
e
em
assuntos
ligados
�
morte,
como
j�
vimos
em
outra
parte
deste
livro,
falava
dos
cad�veres
como
se
fosse
o
melhor
assunto
deste
mundo.
De
repente,
Freud,
irritado,
perguntou
a
Jung
por
que
estaria
t�o
interessado
em
cad�veres.
Jung
procurou
responder,
mas
Freud,
repentinamente,
sofreu
um
desmaio.
Mais
tarde,
Freud
teria
dito
ao
pr�prio
Jung
que
considerava
a
conversa
sobre
cad�veres
como
um
sentimento
de
hostilidade
contra
a
sua
pessoa
e
achava
que
Jung
desejava,
inconscientemente
a
sua
morte.
Jung
ficou
muito
admirado
com
aquela
interpreta��o
de
Freud
sobre
ele.
Em
um
outro
momento,
durante
uma
conversa
entre
eles
sobre
a
reforma
religiosa
do
Egito
no
tempo
do
fara�
Amen�phis
IV,
Freud
que
discordava
de
Jung
mais
uma
vez,
teve
outro
desmaio.
Esses
�desmaios
t�ticos�
de
Freud
n�o
deveriam
ser
visto
por
Jung
com
tanta
admira��o,
uma
vez
que
ele
pr�prio
aprendera
a
desmaiar
para
n�o
ir
�
escola.
Pouco
a
pouco,
�
medida
que
a
import�ncia
de
Freud
crescia
e
o
seu
trabalho
ia
sendo
reconhecido,
formou-se,
em
torno
dele,
um
grupo
de
estudiosos
de
psican�lise
que
daria
origem,
mais
�
frente,
�
Sociedade
Psicanal�tica.
Freud,
naturalmente,
era
o
centro
mesmo
desta
constela��o
ou
melhor
dizendo,
a
estrela
mais
brilhante.
Jung
fazia
parte
deste
grupo
e
era
considerado
por
Freud
como
seu
sucessor
�
frente
do
movimento.
Jung,
por
seu
turno,
n�o
se
acomodava
facilmente
aos
moldes
propostos
por
Freud
e,
um
dia,
chegou
�
conclus�o
de
que
deveria
deixar
aquele
grupo.
E
por
que
tomara
tal
decis�o?
Vamos
ler
a
explica��o
do
pr�prio
Jung:
Compreendi
ent�o
por
que
a
psicologia
de
Freud
me
interessava
tanto.
Minha
necessidade
era
saber,
de
qualquer
maneira,
em
que
consistia
a
sua
�solu��o
razo�vel.�
Para
mim,
esta
era
uma
quest�o
vital
e
me
sentia
pronto
a
grandes
sacrif�cios
a
fim
de
obter
a
resposta.
Comecei
a
ver
claro.
Ele
mesmo
sofria
de
uma
neurose,
uma
neurose
f�cil
de
se
diagnosticar,
com
sintomas
muito
inc�modos
como
pude
descobrir
durante
a
nossa
viagem
�
Am�rica.
Nessa
�poca
ele
me
ensinara
que
todos
s�o
algo
neur�ticos
e
que,
portanto,
�
preciso
que
seja
tolerante.
Entretanto,
esta
afirma��o
n�o
me
contentava:
queria
saber
de
que
maneira
poderia
evitar
uma
neurose.
Vira
que
nem
Freud
nem
seus
disc�pulos
podiam
compreender
a
import�ncia
que
tinha,
para
a
teoria
da
Psican�lise,
o
fato
de
que
o
pr�prio
mestre
n�o
conseguia
sair
de
sua
pr�pria
neurose.
Quando
ele
manifestou
a
inten��o
de
identificar
a
teoria
e
o
m�todo
para
fazer
disto
uma
s�rie
de
dogmas,
senti
que
n�o
poderia
continuar
a
colaborar
com
ele.
Nada
pude
fazer
sen�o
me
afastar.56
Jung,
em
seguida,
decide
publicar
um
livro
intitulado
Metamorfoses
e
s�mbolos
da
Libido,
obra
que
marcar�
a
ruptura
definitiva
entre
os
dois
psic�logos.
Sobre
isso,
esclarece:
Eu
sabia
de
antem�o
que
o
capitulo
�O
Sacrif�cio�
me
custaria
a
amizade
de
Freud.57
Neste
cap�tulo
Jung
exp�s
a
sua
pr�pria
concep��o
de
incesto
e
a
metamorfose
decisiva
do
conceito
de
libido
ora,
esse
conceito
era
demasiadamente
caro
a
Freud
para
que
ele
perdoasse
Jung
por
aquela
transgress�o.
Encontrava-se
ali,
ainda,
outras
id�ias
que
Freud
n�o
aprovaria;
da�
a
certeza
de
Jung
de
que
aquele
livro
e,
principalmente,
o
capitulo
aludido,
marcaria
o
fim
de
seu
relacionamento
com
o
mestre
de
Viena.
Em
verdade,
houve
outros
fatores
que
contribu�ram
para
a
cis�o
entre
Jung
e
Freud,
motivos
esses
que
n�o
cabem
no
espa�o
deste
livro
a
n�o
ser
que
nos
afastemos
muito
de
nosso
proposta
inicial.
Por
fim,
gostaria
de
lembrar
uma
coisa:
em
um
certo
momento
de
seu
livro
autobiogr�fico,
Jung
fala
da
atitude
c�tica
e
de
seu
ceticismo
e
secura
perante
a
vida.
Esta
refer�ncia
�
personalidade
de
Freud
nos
faz
lembrar
uma
passagem
do
esp�rito
Andr�
Luiz58
atrav�s
da
pena
de
Francisco
C�ndido
Xavier
em
seu
livro
Entre
a
Terra
e
o
C�u.
Nessa
obra,
o
esp�rito
instrutor
fala
a
Andr�
Luis
sobre
os
trabalhos
de
Freud,
criticamente,
mas
de
um
modo
muito
mais
sutil
e
amoroso
do
que
o
fazem
os
cr�ticos
encarnados.
Citaremos
este
trecho
�
guisa
de
conclus�o:
Freud
vislumbrou
a
verdade,
mas
toda
verdade
sem
amor
�
como
luz
est�ril
e
fria.
N�o
bastar�
conhecer
e
interpretar.
�
indispens�vel
sublimar
e
servir.
O
grande
cientista
observou
aspectos
de
nossa
luta
espiritual
na
senda
evolutiva
e
catalogou
os
problemas
da
alma,
ainda
encarcerada
nas
teias
da
vida
interior.
Assinalou
a
presen�a
das
chagas
dolorosas
do
ser
humano,
mas
n�o
lhe
estendeu
o
eficiente
b�lsamo
curativo.
Fez
muito,
mas
n�o
o
bastante.
O
m�dico
do
porvir,
para
sanar
as
desarmonias
do
esp�rito,
precisar�
mobilizar
o
rem�dio
salutar
da
compreens�o
e
do
amor,
retirando-o
do
pr�prio
cora��o.
Sem
m�o
que
a
ajude,
a
palavra
erudita
morre
no
ar.59
51
Pessoa
indesej�vel
52
O
que
n�o
tem
lugar
ou
que
est�
a
margem
53
Jung.
Op.
cit.
pag
134
54
Jung
op.
cit.
p.
136
55
S�ndor
Frenczi
(1873-1973).
Psicanalista
h�ngaro,
colaborador
�ntimo
de
Freud,
famoso
pelas
experi�ncias
que,
mais
tarde
dar�o
origem
ao
psicodrama
e
�
an�lise
de
grupo.
Nota
do
1�
Editor
56
Jung.
Op.
cit.
149
57
Jung.
Op.
cit.
149
58
Andr�Luiz�um
dos
mentores
espirituais
deChicoXavier,autordeum
granden�merodeobras
porelepsicografadas.
59
Luiz
Andr�,
Entre
a
Terra
e
o
C�u.
p.
93.
Nota
do
1�
Editor
Nesse
capitulo,
visamos
preparar
o
nosso
leitor
para
o
capitulo
seguinte.
Aqui,
vamos
nos
apoiar
em
um
capitulo
do
livro
de
Marie-Louisie
von
Franz,
disc�pula
de
Jung
intitulado
Jung,
seu
Mito
em
Nossa
�poca.
O
capitulo
a
que
nos
referimos
chama-se
A
Jornada
para
o
Al�m.
A
autora
nos
lembra
que
as
origens
mais
remotas
da
moderna
psicoterapia
que
a
hist�ria
consegue
registrar
est�o
nos
xamanismo
arcaico
e
nas
praticas
dos
curandeiros
entre
povos
primitivos
tanto
nas
primeiras
civiliza��es
como
entre
as
comunidades
primitivas
de
nosso
tempo.
Lembra
Marie-Louisie
que
h�
uma
diferen�a
entre
o
sacerdote
e
o
xam�.
Nas
sociedades
ditas
civilizadas,
o
sacerdote
�
o
guardi�o
do
ritual
e
da
tradi��o
religiosa
coletiva.
O
xam�
entre
os
povos
primitivos
�
detentor
de
t�cnicas
conseguidas
por
meio
de
suas
experi�ncias
individuais
com
o
mundo
dos
esp�ritos.
Sendo
a
sua
fun��o
prim�ria
o
tratamento
de
mol�stias
e
de
dist�rbios
na
vida
da
comunidade.
O
interessante
que
destaco
aqui
�
o
fato
de
que
a
autora,
sempre
fiel
ao
pensamento
junguiano,
prefere
chamar
o
mundo
dos
esp�ritos
de
inconsciente.
Como
o
xam�
cura
a
pessoa
que
sofre
(o
paciente
em
linguagem
moderna)?
A
cura
�
feita
por
meio
dos
transes
do
pr�prio
xam�
que,
viajando
ao
mundo
dos
esp�ritos,
descobre
o
rem�dio
adequado
�quele
caso.
Ele
ainda
exerce
a
fun��o
de
psicopompo,
ou
seja,
de
condutor
de
almas
no
mundo
espiritual,
e
ainda
exerce
a
fun��o
de
m�dium
entre
os
dois
planos,
o
material
e
o
espiritual.
Em
seu
not�vel
livro
O
Xamanismo,
Mircea
Eliade
nos
diz
que
o
xam�
�
um
especialista
da
alma
uma
vez
que
conhece
a
sua
forma
e
o
seu
destino.
Como
algu�m
se
torna
xam�?
Muitas
vezes
isto
se
d�
por
hereditariedade
no
caso
de
fam�lias
de
xam�s,
mas
existem
tamb�m
aqueles
que
s�o
chamado
para
exercer
este
trabalho.
S�o
os
chamados
por
voca��o.
Neste
segundo
caso,
o
chamado
�
anunciado
atrav�s
de
uma
esp�cie
de
desorienta��o
ps�quica.
O
apelo
tamb�m
pode
vir
por
meio
de
um
sonho.
Como
acontece
com
a
mediunidade,
muitos
convoca��es
ao
Xaminismo,
vem
acompanhados
de
doen�as
f�sicas,
mal-estar,
dores
de
cabe�a,
estranhos
zumbidos
que
acabam
assim
que
o
xam�
aceita
a
sua
tarefa
e
come�a
a
se
desenvolver.
Ainda
como
no
caso
dos
m�diuns,
os
xam�s
costumam
ser
pessoas
muito
sens�veis
e
mais
suscet�veis
do
que
as
outras
pessoas.
Na
pr�tica
do
Xamanismo
e
nas
experi�ncias
inici�ticas
dos
curandeiros
de
povos
primitivos
acontece
um
fen�meno
religioso
muito
antigo
que
se
encontra
relatada
em
velhas
hist�rias
sobre
os
xam�s.
Este
tema
recorrente
costuma
ser
chamado
de
ascens�o
da
alma
ou
viagem
fora
do
corpo
ou
ainda
viagem
celestial.
Na
cultura
judaica,
no
Primeiro
livro
de
Enoque
uma
dessas
viagens
teria
sido
feita
por
este
profeta
que,
j�
perto
do
final
da
vida,
teria
sido
levado
ao
c�u
pelo
esp�rito
do
pr�prio
Deus
onde
toma
conhecimento
de
certas
revela��es.
Tais
viagens
incomuns
s�o
narradas
tamb�m
no
Segundo
Livro
de
Enoque;
no
chamado
Apocalipse
de
Baruch;
no
Apocalipse
de
Sofonias,
obra
citada
por
Clemente
de
Alexandria.
Nesta
obra,
Sofonias
�
tamb�m
conduzido
ao
c�u
pelo
pneuma
(Esp�rito)
e
l�
contempla
ao
obra
de
Deus.
O
ap�stolo
Paulo
de
Tarso
na
sua
segunda
carta
aos
Cor�ntios
parece
se
orgulhar
de
ter
sido
levado
ao
que
ele
chama
de
terceiro
c�u
e
ao
para�so.
Diz
o
ap�stolo
dos
gentios
que
ela
n�o
sabe,
nesta
viagem,
estava
no
corpo
ou
fora
do
corpo.
No
terceiro
c�u,
ouviu
palavras
impronunci�veis.
No
Talumud
Babylonicus,
(Traktat
Chagiga
14b)
citado
por
Bousset
h�
uma
hist�ria
muito
interessante.
Conta-se
nesse
livro
que
quatro
homens
tentaram
entrar
no
c�u
e
ir
ao
para�so.
Foram
eles:
Bem
Asai,
Bem
Soma,
Acher
e
o
rabino
Akiba.
Bem
Asai
foi,
viu
e
morreu;
Bem
Soma
ao
contemplar
aquelas
maravilhas,
enlouqueceu;
Acher
derrubou
�rvores.
Somente
o
Rabi
Akiba
foi
e
voltou
em
paz.
O
historiador
romeno
Mircea
Eliade
nos
diz
que,
na
Gr�cia
Antiga,
as
viagens
fora
do
corpo
dos
xam�s,
tamb�m
existiram.
Os
m�dicos-sacerdotes
Abaris
e
Aristeu
de
Proconeso
curavam
e
profetizavam
(entravam
em
estado
medi�nico)
em
�xtase.
Herm�tino
de
Claz�mena
teria
deixado
seu
corpo
por
um
tempo
consider�vel
(muitos
anos)
e
seguiu
para
regi�es
distantes.
Nesses
lugares
n�o
revelados
recebeu
o
dom
m�ntico
e
a
faculdade
de
conhecer
o
futuro.
Epimenides
de
Creta,
certo
dia
adormeceu
em
uma
caverna
do
monte
Ida
e
ali
aprendeu
a
entrar
em
transe
e
conhecer
todas
as
coisas.
Entre
os
tr�cios
era
usada
a
fuma�a
do
c�nhamo
para
produzir
estados
de
�xtase
e
o
mesmo
acontecia
com
a
pitonisa
de
Delphos
que
entrava
em
transe
mascando
folhas
de
louro
e
aspirando
um
g�s
subterr�neo.
Conta
Plat�o
em
seu
livro
Rep�blica
a
hist�ria
de
Her,
o
arm�nio
que,
ferido
em
uma
guerra
foi
dado
como
morto.
Nesse
estado
foi
levado
a
uma
regi�o
onde
os
esp�ritos
se
preparavam
para
reencarnar
e,
inclusive
podiam
escolher
as
suas
provas
na
Terra.
A
lenda
de
Timarco
possui
material
parecido
com
este.
Na
antigo
Ir�
existem
tamb�m
relatos
de
pessoas
que
em
estaco
de
�xtase,
visitam
o
mundo
sombrio
ao
qual
s�
se
vai
depois
da
morte.
Em
uma
obra
intitulada
Livro
de
Artay
Viraf
conta-se
o
sofrimento
de
um
personagem
chamado
Viraf
que
padeceu
durante
sete
dias
em
virtude
de
um
t�tano.
Nesse
per�odo,
a
alma
de
Viraf
viaja,
vagueia
pelos
p�ramos
celestiais
e
cruza
a
ponte
Cinvat,
que
deve
ser
atravessada
pelo
esp�rito
depois
da
morte.
Do
outro
lado
da
ponte,
ele
v�
os
lugares
da
dana��o
e
da
bemaventuran�a
dos
desencarnados.
O
romano
Cipi�o,
conta-nos
o
historiador
grego
Macr�bio
�
instru�do
nos
segredos
do
al�m
pelo
esp�rito
de
um
seu
ancestral.
Todos
esse
exemplos
de
viagens
extra-corp�rea
servem
para
que
o
leitor
leia
o
pr�ximo
cap�tulo
bem
mais
informado.
A
ruptura
com
Freud
fora
demasiadamente
dura
para
Jung
e
muito
mais
do
que
ele
pr�prio
imaginara.
Ele
passou
por
um
per�odo
de
incerteza
interior
e
mesmo
de
desorienta��o.
Parecia
que
a
falta
de
Freud
lhe
abrira
um
abismo
dif�cil
de
contornar
ou
uma
regi�o
sombria
onde
ele
n�o
conseguia
se
encontrar.
Tornou-se
tamb�m,
para
ele,
muito
dif�cil
relacionar-se
com
seus
clientes
do
mesmo
modo
como
se
havia
relacionado
anteriormente.
Decidiu,
ent�o,
que
o
melhor
a
fazer
naquele
momento
era
escutar
atentamente
os
seus
clientes,
utilizar
a
mat�ria
oferecida
pelos
sonhos
deles,
tomando-os
como
ponto
de
partida
para
penetrar
o
mais
profundamente
poss�vel
daquelas
pessoas
para
alivia-las
de
suas
dores.
Acontecem,
ent�o,
com
Jung
alguns
sonhos
muito
interessantes.
No
dia
24
de
dezembro
de
1912,
Jung
teve
um
sonho.
No
sonho
ele
se
encontrava
em
uma
bel�ssima
loggia
italiana60
com
colunas,
pisos
e
balaustrada
de
m�rmore.
Via-se
sentado
em
uma
cadeira
dourada
de
estilo
renascentista.
Diante
dele,
havia
uma
mesa
de
rara
beleza,
talhada
em,
pedra
verde,
muito
semelhante
�
esmeralda.
Sentado,
ele
podia
olhar
a
paisagem
a
dist�ncia
porque
o
lugar
onde
ele
estava
ficava
no
alto.
Ele
observava
seus
filhos
que
estavam
sentados
�
mesa.
Esta
primeira
parte
do
sonho
que
se
chama
apresenta��o,
nos
d�
a
cena
de
abertura,
o
local
onde
se
passa
o
sonho
e
as
pessoas
envolvidas.
Na
segunda
parte
ou
desenvolvimento
do
enredo
que
se
chama
trama
on�rica,
Jung
v�
um
p�ssaro
baixar
do
c�u.
Tanto
poderia
ser
uma
pequena
gaivota
ou
uma
pomba.
O
p�ssaro
pousa
graciosamente
sobre
a
mesa.
Jung
faz
um
sinal
para
que
seus
filhos
n�o
se
movessem,
pois
poderiam
espantar
o
belo
p�ssaro
que
havia
pousado
ali.
De
repente,
a
bela
ave
se
transforma
em
uma
menina
pequena
com
uma
linda
cabeleira
loura.
A
menina
sai
correndo
com
os
filhos
de
Jung
e
v�o
brincar
entre
as
colunatas
do
templo.
Jung,
por�m,
continuava
sentado
onde
estava,
refletindo
sobre
o
que
estava
vendo.
A
menina
volta-se
para
onde
ele
estava
e,
carinhosamente,
cinge-lhe
o
pesco�o
com
um
dos
bra�os.
De
repente,
a
menina
desapareceu
e,
em
lugar
dela,
voltou
a
pomba
e
falando
com
voz
harmoniosa
e
linda,
diz
ela:
�S�
nas
primeiras
horas
da
noite,
posso
me
transformar
em
um
ser
humano
enquanto
o
pombo
cuida
dos
doze
mortos.�
Dito
isto,
a
ave
al�a
v�o
para
o
infinito
e
Jung
acorda.
Jung
nada
entendeu
deste
sonho.
Sabia
apenas
que
era
uma
atividade
habitual
do
inconsciente
e
mais
nada.
N�o
sabia
o
que
significava
aquela
ave
e
muito
menos
o
sentido
da
express�o
�doze
mortos�.
E
a
mesa
esmeralda?
Passou
em
revista
algumas
possibilidades
de
interpreta��o
para
aqueles
signos
on�ricos,
mas
nenhuma
delas
pareceu-lhe
adequada
ou
satisfat�ria.
Nada
tinha
a
fazer
naquele
caso
se
n�o
esperar
pelo
rumo
dos
acontecimentos.
Por
aquela
�poca,
o
esp�rito
perturbado
de
Jung
vivia
prov�veis
lembran�as
de
outras
vidas,
al�m
da
interfer�ncia
de
esp�ritos
imperfeitos
que
provocavam
vis�es
de
mortos,
cad�veres
colocados
em
fornos
cremat�rios
e
coisas
assim.
Jung
considera
esse
tipo
de
acontecimento
como
fantasias
do
inconsciente.
Aconteceu,
ent�o,
um
outro
sonho.
Neste,
ele
se
encontrava
em
uma
regi�o
perto
de
Alyscamp
nas
proximidades
da
cidade
de
Arles
onde
existia
uma
alameda
de
sarc�fagos
da
�poca
merov�ngia.61
No
sonho
Jung
vem
da
cidade
e
v�
uma
alameda
ornada
de
t�mulos.
Havia
pedestais
com
lajes
por
cima
onde
os
mortos
repousavam.
Cada
um
dos
mortos
usava
roupas
antigas
e
tinham
as
m�os
postas
no
peito,
como
se
v�
nas
representa��es
dos
mortos
existentes
nas
antigas
capelas
funer�rias.
No
sonho,
entretanto,
os
mortos
n�o
s�o
de
pedra
como
acontece
nas
capelas,
mas
se
assemelham
a
m�mias.
Ele,
ent�o
vai
vendo,
morto
por
morto,
e
descobre
que
eles
pertencem
a
�pocas
diferentes.
Ao
reparar
melhor
em
um
deles,
percebe
que
morto
parece
acordar
de
seu
sono.
Ele
percorre
toda
a
s�rie
de
mortos
at�
chegar
a
um
cavaleiro
do
s�culo
XII.
Embora
n�o
esteja
vivo,
ele
mexe
com
os
dedos
da
m�o
esquerda.
Novamente
Jung
n�o
conseguiu
explicar
o
seu
sonho.
Freud
havia
argumentado
com
ele
que,
em
alguns
casos,
o
inconsciente
pode
rever
experi�ncias
antigas.
Mas
de
que
tipo?
Como
isso
�
poss�vel?
Pergunta
Jung.
Esse
sonho
se
repete
e
a
perturba��o
de
Jung
aumenta
e
ele
teme
estar
sendo
v�tima
de
uma
patologia
mental.
Sem
poder
interpretar
as
imagens
on�ricas
e
sem
mesmo
explicar
o
que
acontece
com
o
seu
psiquismo,
ele
decide
deixar
a
racionalidade
para
um
canto
e
se
entregar,
por
completo,
ao
destino
que
seu
inconsciente
havia
programado
para
ele.
Nesse
momento,
surge
em
sua
mente,
em
uma
fase
de
sua
inf�ncia
quando
se
dedicava
�
constru��o
de
pequenas
coisas
como
casinhas
e
castelo
feitos
com
pedrinhas
e
argamassa.
Sim.
Poderia
ser
isso,
pensa
Jung.
Talvez
estivesse
faltando
�
sua
vida
um
pouco
de
criatividade
e
a
sua
crian�a
interior
estava
exigindo
isso.
Ficou,
entretanto,
confuso
e
envergonhado.
Como
poderia
ele,
um
psiquiatra
renomado
sair,
por
a�,
brincando
como
crian�a?
Bem,
em
tudo
isso,
algo
lhe
pareceu
concreto:
ele
havia
apelado
para
o
seu
inconsciente,
viera
uma
resposta
e
o
que
deveria
fazer
era
seguir
a
proposta
que
lhe
fora
enviado.
Passa,
ent�o,
o
seu
tempo
livre
a
catar
pedrinhas
que
ele
encontrava
na
beira
do
lago
e
mesmo
dentro
d��gua.
Come�a,
assim,
a
retomar
a
sua
inf�ncia,
construindo
casinhas,
castelos
e
mesmo
uma
pequena
cidade.
Uma
cidade
necessita
de
um
templo
e
ele
o
faz,
embora
tivesse
dificuldade
na
constru��o
do
altar.
Ocupa
todo
o
seu
tempo
exercitando
a
sua
criatividade,
brincando
com
as
pedras
e
confeccionando
coisas.
Com
isso,
sente-se
um
pouco
melhor.
Em
1913,
a
sua
mediunidade
volta
a
aflorar
e
ele
tem
uma
vis�o.
Vamos
ver
a
narrativa
do
pr�prio
Jung
sobre
este
acontecimento.
Por
volta
de
1913,
a
press�o
interior
que,
at�
ent�o,
eu
havia
sentido,
pareceu
deslocar-se
para
o
exterior
como
se
algo
pairasse
no
ar.
Efetivamente,
atmosfera
me
parecia
mais
sombria
do
que
antes.
N�o
parecia
se
tratar
de
ma
situa��o
ps�quica,
mas
de
uma
realidade
concreta.
Essa
impress�o
tornava-se
cada
vez
mais
intensa.
No
m�s
de
outubro,
viajando
sozinho,
fui
subitamente
assaltado
por
uma
vis�o.
Vi
uma
onda
colossal
cobrir
todos
os
pa�ses
da
plan�cie
setentrional
entre
o
Mar
do
Norte
e
os
Alpes.
Quando
atingiu
a
Su��a,
vi
as
montanhas
se
elevarem
cada
vez
mais,
como
para
proteger
o
nosso
pa�s.
Acabara
de
ocorrer
uma
enorme
cat�strofe.
Eu
via
as
vagas
impetuosas
e
amarelas,
destro�os
flutuantes
das
obras
da
civiliza��o
e
a
morte
de
in�meros
seres
humanos.
O
mar
se
transformou
em
torrentes
de
sangue.
Esta
vis�o
durou
cerca
de
uma
hora.
Perturbado,
nauseado,
tive
vergonha
de
minha
fraqueza.62
Esta
passagem
�
verdadeiramente
impressionante.
Ela
lembra
bastante
alguns
trechos
do
Velho
Testamento
nos
quais
os
profetas
(m�diuns)
sentiam
uma
forte
e
dolorosa
press�o
interior
que
eles
interpretavam
como
a
m�o
de
Deus,
que
os
oprimia
e
os
mandava
profetizar.
Nesse
caso
o
profeta
Jeremias
�
um
bom
exemplo.
Jung
sente
a
mesma
sensa��o
que
se
poderia
chamar
de
pr�-prof�tica.
Trata-
se,
muito
provavelmente,
de
um
desdobramento63
em
que
ele
�
levado
ao
Plano
Espiritual
onde
contempla
em
uma
esp�cie
de
tela
flu�dica
os
acontecimentos
traum�ticos
que
dever�o
acontecer
na
Europa.
Esta
vis�o
se
repete
mais
terr�vel
ainda
e,
em
uma
delas,
ouve
uma
voz
que
lhe
diz:
�Olha
bem,
isto
�
real
e
ser�
assim.�
A
vis�o
prossegue
at�
que,
no
dia
1�
de
agosto
de
1914,
eclodiu
a
primeira
guerra
mundial.
Jung
prossegue
no
que
ele
considera
como
uma
luta
com
seu
inconsciente.
Sente-se
mergulhado
em
um
mundo
estranho,
misterioso,
sufocante.
Tinha
medo
de
que
acontecesse
com
ele
o
que
aconteceu
Nietzsche64
e
H�lderlin65.
Angustiava-se
em
imaginar-se
louco
em
lugares
como
Burgholzil.
�s
vezes,
ouvia
barulhos
semelhantes
a
trovoadas.
Tem
a
impress�o
de
que
for�as
poderosas
desejam
subjug�-lo.
Recorre
a
exerc�cios
de
Yoga
e
isso
o
acalma
um
pouco,
mas
n�o
�
o
suficiente.
Em
1913,
voltava
ter
uma
estranha
experi�ncia.
O
reato
de
Jung
sobre
esta
vis�o
�
interessante
porque
se
tem
a
impress�o
de
que
ele
provocou,
conscientemente
o
fen�meno
que
acreditamos
ser
de
desdobramento.
Vamos
ao
texto:
Foi
no
ano
de
1913
que
decidi
dar
um
passo
definitivo,
no
dia
12
de
dezembro.
Sentado
em
meu
escrit�rio,
considerei
mais
uma
vez
os
temores
e
me
abandonei
�
queda.
O
solo
pareceu
ceder
aos
meus
p�s
e
fui
como
que
precipitado
em
uma
profundidade
obscura.
N�o
pude
evitar
um
sentimento
de
p�nico,
mas,
de
repente
sem
que
eu
houvesse
ainda
atingido
uma
grande
profundidade,
encontrei-me
com
grande
al�vio,
de
p�,
sobre
uma
estranha
massa
viscosa.
A
escurid�o
era
quase
total;
pouco
a
pouco,
meus
olhos
se
habituaram
com
ela
que
parecia
um
crep�sculo
sombrio.
Diante
de
mim
estava
uma
caverna
obscura;
um
an�o
ali
permanecia
de
p�.
Parecia
feito
de
couro
como
se
estivesse
mumificado.
Tive
de
esgueirar-me,
quase
ro�ando
nele
a
fim
de
entrar
pela
passagem
estreita
e
fui
patinando,
�gua
gelada
alcan�ando-me
os
joelhos,
at�
o
outro
lado
da
caverna.
Percebi,
ent�o,
que,
numa
sali�ncia
da
rocha
cintilava
um
cristal
vermelho.
Ergui
a
pedra
e,
embaixo
dela,
havia
um
espa�o
vazio.
A
princ�pio,
nada
distingui
nele;
depois,
percebi,
no
fundo,
um
curso
de
�gua.
Passou
um
cad�ver
flutuando
na
correnteza:
era
um
adolescente
de
cabelos
louro,
ferido
na
cabe�a.
Segui-o
um
enorme
escaravelho
negro
e,
ent�o,
surgiu,
do
fundo
das
�guas,
um
rubro
sol
nascente.
Ofuscado
pela
luz
tentei
p�r
a
pedra
no
orif�cio,
mas
nesse
momento,
um
l�quido
fez
press�o
e
escoou
atrav�s
da
brecha.
Era
sangue!
Um
jato
espesso
jorrou.
Senti
n�useas.
Tive
a
impress�o
de
que
isso
se
prolongou
intoleravelmente.
Afinal
o
jato
estancou,
terminou
a
vis�o.66
Esta
experi�ncia
foi
bastante
forte
a
ponto
de
deixar
Jung
prostrado.
Ele
interpreta
o
fato
como
uma
interven��o
fort�ssima
de
seu
inconsciente
que
lhe
�fala�
por
meio
da
mitologia
do
her�i
solar
do
tipo
eg�pcio
(mito
de
Os�ris
onde
o
deus
nasce
e
renasce
a
cada
dia)
reproduzido
na
figura
do
escaravelho,
uma
representa��o
solar
na
mitologia
do
vale
do
Nilo.
Ele,
por�m,
mais
uma
vez,
n�o
entende
a
mensagem
de
seu
inconsciente
no
que
diz
respeito
�
presen�a
do
sangue.
Jung
est�
cansado
deste
jogo
de
gato
e
rato
entre
ele
e
as
for�as
que
lhe
s�o
desconhecidas.
Resolve,
ent�o,
desistir
de
qualquer
tentativa
de
interpretar
seus
sonhos
e
vis�es.
No
dia
18
de
dezembro,
aconteceu
um
novo
sonho.
Desta
vez,
ele
se
encontra
em
uma
montanha
solit�ria
e
rochosa
com
um
adolescente
desconhecido,
um
selvagem
de
pele
escura.
O
dia
est�
surgindo
e
as
estrelas
do
c�u
come�am
a
se
apagar.
Ao
longe,
sobre
as
altas
montanhas,
ouve-se
a
trompa
de
Siegrifried67
e
ele
compreende
que
deve
matar
o
her�i.
Os
dois
�
Jung
e
o
selvagem
�
est�o
armados
com
fuzis.
Esperam,
ent�o,
emboscados,
que
Siegrifried
passe.
O
her�i
desce
a
montanha
a
toda
velocidade,
conduzindo
um
carro
feito
de
ossos.
Jung
e
seu
companheiro
atiram,
e
Siegrifried
cai
mortalmente
ferido.
Jung
teve
remorso
pelo
que
havia
feito.
Decide
fugir,
com
medo
de
ser
descoberto
pelo
crime
que
havia
praticado.
Cai
uma
chuva
torrencial
que
�
imagina
Jung
�
dever�
apagar
as
marcas
de
seu
crime.
Ele
sabe
que
ningu�m
o
descobrir�,
mas
continuar�
com
um
forte
sentimento
de
culpa.
Mais
uma
vez,
o
sonho
lhe
parece
enigm�tico
e
insond�vel.
Tenta
dormir
de
novo,
mas
escuta
uma
voz
que
lhe
diz:
��
preciso
que
compreendas
este
sonho
imediatamente.�
Um
�frisson�
corre
por
todo
o
corpo
de
Jung.
A
voz
sentencia
implac�vel:
�Se
n�o
compreenderes
este
sonho,
melhor
seria
dares
um
tiro
na
cabe�a.�
Ele
se
lembra
de
que
seu
rev�lver
estava
na
gaveta
e
sente
de
que
pudesse
obedecer
a
voz.
De
repente,
passa
por
sua
cabe�a,
uma
solu��o.
Mas
este
�
o
problema
que
agita
atualmente
o
mundo.
Siegrifried
representa
o
que
os
alem�es
queriam
realizar,
isto
�,
a
imposi��o
her�ica
da
pr�pria
vontade.
Onde
h�
vontade
h�
um
caminho.
Era
precisamente
isso
que
eu
tamb�m
quisera,
mas
tal
coisa
n�o
era
mais
poss�vel.
O
sonho
representava
uma
atitude
encarnada
por
Siegrifried,
o
her�i,
n�o
correspondia
mais
a
mim
mesmo.
Por
esse
motivo
foi
necess�rio
que
ele
sucumbisse.68
Esta
interpreta��o
satisfaz
plenamente
a
Jung
e
ele
consegue
retomar
o
seu
sono.
Dias
depois,
ele
tem
uma
nova
experi�ncia
de
desdobramento.
Desta
vez,
�ele
viaja�
at�
uma
regi�o
muito
parecida
como
o
Hades,
o
mundo
dos
mortos
dos
antigos
gregos.
Ali
existe
um
muro
rochoso
onde
ele
encontra
um
homem
idoso,
acompanhado
de
uma
jovem
muito
bonita.
Reunindo
todas
as
suas
for�as,
ele
aborda
a
dupla
como
se
os
dois
fossem
pessoas
reais.
Escutou,
ent�o,
o
que
lhe
diziam.
O
homem
idoso
disse
que
se
chamava
Elias
e
esta
revela��o
abalou
Jung.
A
mo�a
se
chamava
Salom�
e
era
cega.
Elias
disse
ao
psic�logo
que
ele
e
a
mo�a
estavam
ligados
desde
toda
a
eternidade
e
isso
aumentou
ainda
mais
a
confus�o
de
Jung.
Estava
tamb�m
com
eles
uma
serpente
negra
que
demonstrou
uma
estranha
inclina��o
pelo
sonhador.
Jung
resolve
conversar
com
Elias
porque
Salom�
n�o
lhe
inspirava
confian�a.
Tem,
a
seguir,
uma
longa
conversa
com
o
velho
cujo
sentido
n�o
consegue
entender.
Sem
poder
compreender
o
sonho,
Jung
faz
uma
leitura
do
casal
Elias
e
Salom�
como
dois
arqu�tipos.
O
primeiro
o
do
Velho
S�bio
e
a
segunda,
da
anima
e
ainda
poderiam
encarnar
o
Logos
e
o
Eros.
Gostar�amos
de
fazer
aqui
uma
especula��o
inteiramente
livre.
Os
estudiosos
da
Doutrina
Esp�rita,
interpretando
uma
passagem
do
Evangelho
segundo
Mateus
(Mat.
XI:
12-15)
na
qual
o
mestre
identifica
Jo�o
Batista
e
o
profeta
Elias
como
sendo
o
mesmo
esp�rito,
defendendo
a
tese
de
que
Elias
havia
encarnado
com
a
personalidade
de
Jo�o
Batista.
Os
esp�ritas
justificam
a
sua
tese
utilizando-se
de
um
princ�pio
identificado
como
a
Lei
de
Causa
e
Efeito.
Assim
como
Elias,
em
sua
�poca
havia
por
degola��o,
muitos
profetas
de
Baal,
na
encarna��o
como
Jo�o
Batista,
ele
sofrer�
o
mesmo
tipo
de
morte
que
outrora
impusera
a
seus
advers�rios.
Relendo-se
a
biografia
de
Elias,
o
Tesbita,
encontramos
uma
personagem
chamada
Jesabel,
rainha,
esposa
do
rei
Acab.
Jesabel
era
seguidora
do
deus
Baal
e
muito
estimava
os
profetas
deste
deus.
Assim,
o
ato
de
Elias
foi
para
a
rainha
uma
a��o
execr�vel
e
ela
diz
que
mataria
Elias
do
mesmo
modo
que
ele
matara
os
seus
profetas.
Elias,
por�m,
n�o
morreu
degolado,
uma
vez
que
foi,
em
vida,
arrebatado
ao
c�u
por
um
carro
de
fogo.
Teria
Jesabel
esperado
tanto
tempo
para
reencarnar
como
Salom�,
filha
(ou
sobrinha)
de
Herod�ades,
mulher
de
Herodes,
para
dar
o
troco
a
seu
antigo
desafeto?
Fica
a
pergunta.69
Voltemos,
por�m,
ao
nosso
estudo
principal.
As
coisas
continuam
muito
dif�ceis
para
Jung
quando
lhe
acontece
um
fato
novo:
a
presen�a
de
um
personagem
chamado
Filemon.
Esta
personalidade
apareceu-lhe
a
primeira
vez
em
um
sonho.
Nesse
sonho,
Jung
se
encontra
em
um
lugar
muito
estranho.
De
repente,
surge
a
seu
lado
um
ser
alado.
Era
um
velho
com
chifres
semelhantes
aos
de
um
touro.
Trazia
na
m�o
um
feixe
de
quatro
chaves
e
parecia
que
ia
abrir
uma
porta.
As
suas
asas
eram
quase
iguais
�s
de
um
p�ssaro,
chamado
martim-pescador,
inclusive
com
as
cores
pr�prias
daquela
ave.
Jung
ficou
t�o
impressionado
com
este
sonho
que
para
n�o
esquece-lo,
fez
um
desenho
das
imagens
principais.
Poucos
dias
depois
do
sonho,
passeando
em
seu
jardim,
nas
margens
do
lago,
encontrou
um
martim-pescador
morto.
Aquilo
era
inteiramente
ins�lito
porque
aquele
tipo
de
p�ssaro
n�o
era
comum
em
Zurich.
O
corpo
da
ave
ainda
estava
fresco.
Deveria
ter
morrido
h�
pouco
tempo,
uns
dois
ou
tr�s,
talvez.
N�o
havia
sinais
de
ferimento
em
seu
corpo.
Em
um
segundo
momento,
Filemon
passou
a
se
intrometer
nos
pensamentos
de
Jung.
O
psic�logo
su��o
afirma
que
Filemon
representava
uma
for�a
que
n�o
era
de
seu
interior,
parecendo
uma
for�a
externa,
vinda
de
fora.
Em
imagina��o
(mentalmente)
Jung
conversa
com
este
personagem
e
diz
ter
percebido
com
clareza
que
era
ele
(Filemon)
quem
falava.
Pouco
a
pouco,
nessas
conversas,
Filemon
informa
a
Jung
a
respeito
da
objetividade
ps�quica
e
da
realidade
da
alma.
A
experi�ncia
com
esta
personalidade
�
interessante.
Sobre
ela,
nos
informa
Jung:
Psicologicamente,
Filemon
representa
uma
intelig�ncia
superior.
Era,
para
mim,
um
personagem
misterioso.
De
vez
em
quando,
eu
tinha
a
impress�o
de
que
ele
era
quase
que
fisicamente
real.
Passeava
com
ele
pelo
jardim
e
o
considerava
uma
esp�cie
de
guru70
no
sentido
dado
pelos
hindus
a
esta
palavra.71
Estas
palavras
nos
parece
meio
descabidas
na
boca
(ou
na
pena)
de
um
psic�logo
de
forma��o
materialista.
Ele,
ao
mesmo
tempo
que
considera
Filemon
um
produto
de
seu
inconsciente.
Tem
com
ele
uma
rela��o
muito
pr�xima
daquela
que
Francisco
C�ndido
Xavier
tinha
para
com
Emmanuel
ou
Divaldo
Pereira
Franco,
tem
com
Joana
de
Angelis.
Tempos
mais
tarde,
cerca
de
quinze
anos
depois
destes
acontecimentos,
Jung
recebeu
a
visita
de
um
hindu
muito
culto
e
teve
com
ele
uma
conversa
entre
o
guru
e
o
seu
chelah.72
Em
sua
autobiografia,
Jung
narra
a
conversa
que
teve
com
esse
homem.
Reproduzimos
aqui
este
texto
pela
import�ncia
que
ele
possui
para
o
nosso
trabalho.
No
inicio
de
sua
conversa,
Jung
pergunta
ao
hindu
sobre
a
natureza
de
suas
rela��es
com
o
seu
guru
e
qual
era
o
nome
dele.
O
Indiano
respondeu:
�
Oh!
Sim.
Era
Chankaracharya.
�
O
Senhor
n�o
est�
se
referindo
ao
comentador
dos
Vedas?73
Ele
n�o
morreu
h�
s�culos?
�
Sim.
�
dele
que
estamos
falando.
Respondeu
o
homem.
�
O
Senhor
est�
falando
de
um
esp�rito?
Questionou
Jung.
�
Naturalmente.
Concluiu
o
indiano.
Nesse
momento,
Jung
diz
ter
se
lembrado
de
Filemon.
O
indiano
prosseguiu:
�H�
tamb�m
gurus
espirituais.
A
maioria
das
pessoas
tem
gurus
que
s�o
homens
vivos,
mas
h�
tamb�m
as
que
tem
esp�ritos
por
mestres.�
Consideramos
estranho
que
Jung
tenha
colocado
em
seu
livro
de
mem�rias
esta
passagem.
O
que
pretendia
com
isso?
Por
que
fez
refer�ncia
a
uma
passagem
que
diz
respeito
�
mera
opini�o
de
um
homem
sobre
uma
quest�o
espiritual?
Talvez,
Jung
tenha
desejado
colocar,
na
boca
desse
personagem
uma
opini�o
sua
sobre
as
suas
rela��es
com
Filemon,
opini�o
que
ele
possu�a,
mas
que
n�o
podia
assumi-la
abertamente.
Talvez.
Apenas
talvez...
Gostar�amos
terminado
este
cap�tulo
de
fazer
algumas
considera��es
sobre
o
que
vimos
at�
aqui.
Recordemos
que,
ao
iniciar
este
cap�tulo
lembramos
que
a
separa��o
entre
Freud
e
Jung
fora
bastante
traum�tica
para
o
segundo.
Naquele
momento
instaurou-se,
em
seu
mundo
interior,
uma
crise
fort�ssima,
marcada
por
uma
sucess�o
de
sonhos
e
desdobramentos
no
qual
ele
visita
o
plano
espiritual
e
tem
contacto
com
esp�ritos
desencarnados
que
ele
toma
por
imagens
arquet�picas.
Por
meio
dessas
manifesta��es,
ele
foi
advertido
com
energia,
mas
n�o
consegue
perceber
com
clareza
a
natureza
real
e
o
conte�do
desses
avisos.
Jung,
em
lugar
de
interpretar
corretamente
o
que
lhe
acontecia
e
de
estudar,
deum
ponto
de
vista
espiritual,
aqueles
fen�menos,
prefere
interpret�-los
pela
�tica
do
Materialismo.
�
neste
momento
que
aparece
Filemon
para
ajuda-lo
a
p�r
alguma
ordem
no
caos
instaurado
em
seu
psiquismo.
�
realmente
impressionante
como
Jung
mesmo
�esmagado�
por
um
grande
n�mero
de
fen�menos
de
natureza
claramente
espiritual
n�o
se
rende
�s
evid�ncias
e
sempre
procura
escapar
pela
porta
larga
do
Materalismo.
Vamos
a
um
exemplo
em
que
Jung
deixa
isto
muito
claro:
Redigindo
as
anota��es
a
respeito
de
minhas
fantasias,
certo
dia,
perguntei
a
mim
mesmo:
Mas,
a
final,
o
que
estou
fazendo?
Certamente
tudo
isso
nada
tem
a
ver
com
Ci�ncia.
Ent�o,
do
que
se
trata?
Uma
voz
me
disse:
�o
que
fazes
�
arte.�
Fiquei
profundamente
impressionado
pois
nunca
me
teria
vindo
ao
esp�rito
a
id�ia
de
que
as
minhas
fantasias
se
relacionassem
com
arte.
Mas
pensei:
Talvez
o
meu
inconsciente
haja
elaborado
uma
personalidade
que
n�o
�
a
minha
e
que
deseja
expressar
a
sua
pr�pria
opini�o.
Eu
sabia
que
a
voz
vinha
de
uma
mulher
e
a
reconheci
como
sendo
a
de
uma
paciente,
uma
psicopata
muito
dotada
que
estabelecera
uma
forte
transfer�ncia
com
rela��o
a
mim.
Ela
se
tornara
uma
personagem
viva
de
meu
mundo
interior.74
Jung
procura
reagir
com
respeito
�
coloca��o
feita
pela
voz.
Procura,
energicamente,
explicar
�quela
voz
misteriosa
que
ela
estava
errada
e
que
o
seu
trabalho
n�o
tinha
a
menor
rela��o
com
arte,
contudo,
a
voz
insistia:
�O
que
fazes
�
arte.�
Ele
esperou
que
a
voz
continuasse
o
di�logo,
mas
ela
silenciou.
Ele
ent�o
imaginou
que
a
mulher
que
havia
dentro
dele
(�nima)
n�o
havia
respondido
porque
lhe
faltava
um
centro
de
palavra
e,
ent�o,
prop�s
a
ela
que
usasse
o
seu
mecanismo
verbal
para
expor
os
seus
pontos
de
vista.
Ela
aceita
a
proposta
e
faz
uma
longa
disserta��o,
apresentando
o
seu
modo
de
ver
o
problema.
Este
fato
leva
Jung
�
seguinte
conclus�o:
Sentia-me
extremamente
interessado
pelo
fato
de
que
uma
mulher
que
provinha
de
meu
�ntimo
se
imiscu�sse
em
meus
pensamentos.
Refleti
que,
provavelmente,
se
tratasse
da
alma
no
sentido
primitivo
do
termo.
Perguntei
a
mim
mesmo
o
motivo
pelo
qual
a
alma
fora
designada
com
o
nome
de
anima.
Porque
�
representada
como
sendo
feminina?
Compreendi,
mais
tarde,
que
esta
figura��o
feminina
em
mim
correspondia
uma
personifica��o
t�pica
ou
arquet�pica
do
inconsciente
do
homem,
designei-a
pelo
termo
anima.
A
figura
correspondente,
no
inconsciente
da
mulher,
chamei
de
animus.75
Assim,
a
partir
de
um
fato
acontecido
com
ele,
Jung
generaliza
e
estende
a
presen�a
da
anima
e
do
animus
a
todos
os
psiquismos
existentes.
Mais
uma
vez,
Jung
racionaliza
aquilo
que
n�o
entende
e
que
n�o
est�
disposto
a
ver
de
outro
modo.
Volto
a
registrar
a
minha
admira��o
e
a
perguntar:
como
�
poss�vel
que
uma
pessoa
t�o
envolvidos
com
conceitos
b�sicos
do
Espiritismo,
como
a
mediunidade,
a
reencarna��o
e
suas
conseq��ncias,
mostre-se
t�o
resistente
a
mudar
essa
leitura.
Sem
desejar
fazer
qualquer
tipo
de
cr�tica
a
Jung,
ou
aos
homens
de
ci�ncia
em
geral,
gostaria
de
lembrar
como
homens
dedicados
ao
estudo
dito
cient�fico,
de
um
fen�meno
qualquer
podem
se
comportar
de
um
modo
t�o
cego
e
fanatizado
quanto
o
comportamento
de
alguns
religiosos
que
esses
mesmos
homens
criticam.
Uns
s�o
fan�ticos
por
nada
aceitarem
fora
do
discurso
oficial
das
ci�ncias
e
outros,
por
aceitarem
qualquer
coisa
imposta
por
livros
sagrados
ou
por
l�deres
de
sua
religi�o
sem
a
menor
cr�tica.
Terminado
este
cap�tulo
gostaria
de
lembrar
que
o
bom
senso;
a
humildade;
a
capacidade
de
estar
sempre
revendo
nossos
pontos
de
vista;
a
coragem
para
fazer
mudan�as;
o
respeito
pela
opini�o
alheia
e,
principalmente,
o
amor
pela
verdade;
estejam
onde
estiverem,
s�o
qualidades
indispens�veis
a
todas
as
pessoas
que
deseje
realmente,
estudar
um
assunto
com
verdadeira
honestidade.
60
Logia.
P�rtico,
arcada,
varanda,
loja
ma��nica.
O
sentido
aqui
seria
o
de
varanda
ou
p�rtico.
61
O
nome
merov�ngio
se
refere
�
primeira
dinastia
dos
reis
franceses.
Tira
seu
nome
de
Meroveu,
personagem
mal
conhecido
tido
como
filho
de
Cl�dio,
o
Cabeludo
que
�
considerado
com
o
fundador
desta
dinastia.
62
Jung
Op.
cit.
p.
156
63
Fato
medi�nico
em
que
o
m�dium
deixa
seu
corpo
e
fazviagens
astrais.
64
Nietzshe
Friedrich
(1844-1900).
Famoso
fil�sofo
alem�o
autor
do
famoso
livro
Assim
falava
Zaratustra,
entre
muitos
outros.
Tendo
sofrido
um
colapso
nas
ruas
da
cidade
italiana
de
Turim,
perdeu
definitivamente
a
raz�o.
Ao
ser
internado
em
Basil�ia,
diagnosticou-se
uma
paralisia
progressiva,
provavelmente
motivada
por
uma
infec��o
sifil�tica
contra�da
em
sua
juventude.
65
H�olderlin
Friedrich
(1770-1843).
Esquecido
por
quase
100
anos,
hoje
�
visto
como
um
dos
maiores
poetas
l�ricos
da
Alemanha.
Adescoberta
de
seus
poemas
vision�rios
estabeleceu
uma
discuss�o
sobre
os
limites
entre
a
genialidade
e
a
loucura.
66
Jung.
op.
cit.
p.
159
67
Her�i
de
uma
epop�ia
alem�.
ACan��o
dos
Nibelungos
68
Jung.
Op.
cit.
p.
160
69
Recomendamos
a
leitura
de
duas
obras:
AQueda
dos
V�us
de
Am�rico
Domingos
N.
Filho
e
AHist�ria
das
Id�ias
e
dos
Fen�menos
Esp�ritas.
Vol.
I
Jos�
Carlos
Leal.
Nota
do
1�
Editor
70
Em
S�nscrito,
guru
significa
instrutor
espiritual,
mestre,
preceptor
nas
doutrinas
�ticas
e
metaf�sicas.
Essa
palavra
tamb�m
se
aplica
ao
mestre
de
uma
doutrina
qualquer.
71
Jung.
op.
cit.
P.
163
72
Chela
significa
menino,
mas
neste
caso
foi
empregado
como
disc�pulo
de
um
guru.
73
Livros
sagrados
da
�ndia,
escritos
em
s�nscrito
e
em
n�mero
de
quatro
livros
ou
sec��es.
Seriam
estes
livros
revela��es
de
Bhrama.
74
Jung.
Op.
cit.
p.
164
75
Jung.
Op.
cit.
p.
164
At�
aqui
se
usou
a
palavra
inconsciente
como
se
ela
fosse
de
inteiro
dom�nio
do
leitor,
entretanto,
julgamos
necess�rio
abrir
um
cap�tulo
para
estuda-la
com
um
pouco
mais
de
calma
para
que
se
possa
entender
melhor
o
que
se
quer
dizer
com
este
conceito.
Em
primeiro
lugar,
gostar�amos
de
lembrar
que
o
inconsciente
n�o
foi
uma
descoberta
de
Sigmund
Freud
e
muito
menos
uma
cria��o
deste
genial
psic�logo.
As
pesquisas
de
Henry
Ellemberg76
e
Lancelote
Whyte77
mostram
que,
h�
muito
tempo,
j�
se
sabia
de
uma
dimens�o
do
psiquismo
humano
do
qual
o
consciente
n�o
teria
o
menor
conhecimento.
Quando
se
estudam
as
culturas
antigas
como
a
do
Egito,
a
Mesopot�mia,
Gr�cia
e
Roma,
principalmente
em
seus
textos
m�tico-religiosos,
encontram-se
v�rias
refer�ncias
a
um
tipo
de
experi�ncia
que
escapa,
por
completo,
�
consci�ncia.
A
ap�stolo
Paulo
demonstra
uma
luta
interior
e
confessa
que
n�o
�
inteiramente
dono
de
suas
a��es,
ao
dizer:
�Eu
ainda
fa�o
o
mal
que
n�o
quero
e
n�o
pratico
o
bem
que
desejo.�
Santo
Agostinho
(354430)
uma
das
figuras
mais
expressivas
da
Igreja
Cat�lica
na
Idade-M�dia
e
um
dos
maiores
fil�sofos
do
Mundo
Ocidental,
confessou:
�N�o
consigo
apreender
tudo
quanto
sou.�
Agostinho
parece
muito
interessado
nos
comportamentos
que
escapam
ao
seu
controle
consciente.
Em
uma
outra
passagem
de
sua
obra,
ele
pergunta
sobre
at�
que
ponto
seria
moralmente
respons�vel
por
seus
sonhos.
Colocadas
essas
primeiras
quest�es,
avancemos
um
pouco
mais.
Sem
maiores
d�vidas,
o
primeiro
fil�sofo
da
Modernidade
a
quem
se
deve
uma
formula��o
mais
clara
da
no��o
de
inconsciente
foi
o
pensador
alem�o
Gottfried
von
Leibniz
(1646-1716).78
Leibniz
trata
deste
assunto
ao
desenvolver
a
sua
teoria
das
m�nadas
que
ele
considerava
fundamento
da
mat�ria
e
n�o
os
�tomos.
As
m�nadas
de
Leibniz
eram
elementos
muito
complexos,
sendo,
inclusive,
inteiramente
materiais.
Para
ele,
cada
m�nada
seria
uma
unidade
ps�quica
inestensa
que,
embora
de
natureza
mental,
possu�a
algumas
propriedades
da
mat�ria
f�sica.
Quando
algumas
delas
se
agregava,
criava
a
extens�o.79
Em
termos
muito
gerais,
as
m�nadas
poderiam
ser
associadas
�
percep��o.
Leibniz
acreditava
que
a
atividade
mental
(ou
das
m�nadas)
possu�am
graus
diversos
de
clareza
ou
de
consci�ncia.
Ele
considerava
dois
momentos
ou
etapas
de
percep��o.
A
primeira
se
chamava
pequenas
percep��es
que,
quando
atualizadas,
transformam
em
apercep��o.
O
som
das
cascatas,
por
exemplo,
�
formado
da
queda
das
gotas
individuais
(pequenas
percep��es)
que
n�o
s�o
percebidas
individualmente
mas
que,
quando
reunidas
em
n�mero
suficiente,
ganham
extens�o
e
formam
a
cascata,
isto
�,
se
transformam
em
uma
apercep��o.
Haveria,
portanto,
segundo
Leibniz
uma
dimens�o
do
ato
de
perceber
que
nos
�
inteiramente
inconsciente.
Passou-se
mais
um
tempo,
para
ser
mais
exato,
cem
anos,
e
entra
em
cena
o
fil�sofo
Johann
Friedrich
Herbart
(1776-1841)80
que,
retomando
as
id�ias
de
Leibniz,
cria
o
conceito
de
limite
ou
de
limiar
em
rela��o
�
consci�ncia.
Para
ele,
as
id�ias
que
ficassem
antes
do
limiar
seriam
inconscientes
uma
vez
que
n�o
passariam
pela
consci�ncia.
Segundo
Leibniz,
quando
uma
id�ia
se
torna
consciente,
ela
se
torna
uma
apercep��o,
isto
�,
algo
percebido
antes,
enquanto
pequena
percep��o,
seria
inteiramente
inconsciente.
Herbart
avan�a
um
pouco
mais
em
rela��o
a
esta
posi��o.
Para
ele
seria
imposs�vel
existir
na
consci�ncia
id�ias
conscientes
ou
racionais
com
id�ias
irracionais.
As
id�ias
incoerentes,
portanto,
seriam
expulsas
da
consci�ncia
tornando-se
inibidas
(recalcadas
em
termos
freudianos).
As
id�ias
que
foram
reprimidas
continuam
a
existir,
mas
em
n�vel
aqu�m
do
limiar
e
se
transformam
em
pequenas
percep��es
segundo
o
modo
dever
de
Leibniz.Essas
id�ias
recalcadas,
entretanto,
n�o
se
conformam
com
a
sua
situa��o
e
lutam
para
chegar
�
consci�ncia.
Gustavo
Fechner
(1801-1887)81
foi
um
outro
psic�logo
que
tamb�m
se
interessou
pela
quest�o
do
inconsciente
e
contribuiu,
relativamente,
para
a
compreens�o
desse
fen�meno
e
para
o
desenvolvimento
de
uma
teoria
sobre
ele.
Fechner
se
valeu
da
teoria
do
limiar
de
Herbart
e
criou
a
met�fora
do
�Iceberg�
que,
mais
tarde,
Freud
iria
perfilhar.
Consoante
esta
alegoria,
a
mente
seria
uma
esp�cie
de
iceberg
cuja
parte
debaixo,
sob
a
�gua,
fica
inteiramente
oculta.
Seria
interessante
chamar
a
aten��o
para
o
fato
de
um
psic�logo
objetivista
como
Fechner,
ligado
inclusive
�
formula��es
matem�ticas
na
Psicologia,
ter
contribu�do
para
um
tipo
de
pesquisa
subjetivo
como
a
quest�o
do
inconsciente.
Uma
outra
dimens�o
para
o
estudo
da
dimens�o
inconsciente
do
psiquismo
veio
da
parte
de
um
estudioso
alem�o
chamado
Karl
Robert
Eduard
von
Hartmann
(1842-1906)
que,
em
1868
publicou
uma
obra
intitulada
Filosofia
do
Inconsciente.
Disc�pulo
mais
profundo
e
independente
de
Arthur
Schopenhauer
(1788-1860)
defende
a
tese
de
que
o
fundamento
universal
e
�nico
de
todas
as
coisas
�
o
inconsciente
que,
ao
evoluir
segundo
as
leis
do
pessimismo,
cria
o
Universo
e
todos
os
seres
que
o
comp�em;
o
termo
ideal
dessa
evolu��o
�
o
nihilismo
absoluto.
A
obra,
escrita
originariamente
em
alem�o,
foi
logo
traduzida
para
o
ingl�s
e
para
o
franc�s.
Este
livro
fez
com
que
o
conceito
de
inconsciente
fosse
bastante
discutido
pela
intelectualidade
europ�ia.82
Esta
primeira
parte,
pode-se
dizer,
trata
da
contribui��o
de
fil�sofos
e
psic�logos
�
quest�o
do
inconsciente.
H�,
por�m,
uma
nova
contribui��o,
esta
originada
nas
pr�ticas
da
hipnose,
denominado
na
�poca
de
magnetismo.
O
primeiro
representante
deste
grupo
foi
um
m�dico
de
Viena
chamado
Franz
Anton
Mesmer
(1734-1815).
Mesmer
tornou-se
famoso
por
causa
do
grande
sucesso
por
ele
alcan�ado
no
tratamento
das
doen�as
de
fundo
nervoso
por
meio
do
magnetismo.
Mesmer
chamava
o
hipnotismo
de
magnetismo
animal.
Ainda
no
s�culo
XIX,
surge
em
Paris,
no
Hospital
Salp�triere,
um
esp�rito
not�vel
que,
naquela
encarna��o,
chamou-se
Jean-Martin
Charcot
(1825-1893)
que
se
ocupou
em
estudar
a
histeria
valendo-se
da
hipnose.
Charcot
conseguiu
demonstrar
com
fartura
de
exemplos,
que
a
paralisia
hist�rica
possu�a
causas
psicol�gicas.
Ele
costumava
dar,
no
Salp�triere,
verdadeiros
espet�culos
por
meio
da
indu��o
hipn�tica,
conseguindo
provocar
paralisias
em
pessoas
normais.
Nessas
experi�ncias,
mostrava
a
seus
alunos
e
colegas
que,
por
meio
da
hipnose
sugestiva
ele
conseguiu
provocar
em
pessoas
comuns:
cegueira,
surdez,
paralisias,
catalepsias
e
cis�o
da
personalidade.
Com
isso,
Charcot
mostrava
a
exist�ncia
de
uma
�rea
do
psiquismo
humano
sobre
a
qual
a
pr�pria
pessoa
n�o
tinha
a
menor
consci�ncia
nem
qualquer
controle.
Seria
muito
oportuno
lembrar
que,
entre
os
alunos
de
Charcot,
encontrava-se
um
jovem
m�dico
judeu
chamado
Sigmund
Freud.
Assim,
segundo
Anthony
Stevens83
no
final
do
s�culo
XIX,
os
psic�logos
j�
haviam
chegado
a
algumas
conclus�es
sobre
o
inconsciente.
S�o
elas:
1.
A
atividade
inconsciente
existe,
mas
acontece
debaixo
do
limiar
da
consci�ncia.
2.
Existem
guardadas
no
inconsciente
lembran�as
e
percep��es
das
quais
n�o
temos
consci�ncia,
mas
que,
por
meio
da
hipnose,
podem
ser
recuperadas,
dando
origem
a
fen�menos
curios�ssimos
como
a
hipermn�sia,
a
criptomn�sia,
etc.
3.
Muitas
habilidades
que
adquirimos
conscientemente,
automatizam-se
e
se
tornam
inconscientes.
4.
O
inconsciente
possui
uma
fun��o
mitopoi�tica
que
�
capaz
de
produzir
sonhos,
criar
mitos,
hist�rias,
imagens
e
s�mbolos.
Em
estado
psicopatol�gico
podem
dar
origem
�
alucina��es
e
v�rias
ocorr�ncias
de
histerismo.
5.
O
inconsciente
funciona
como
uma
atividade
din�mica
e
substitui
o
conceito
mesm�rico
de
fluido
pelo
de
energia
mental.
Esta
energia
pode
ser
inibida,
sublimada
ou
mesmo
transferido
para
outros
indiv�duos.
6.
O
inconsciente
ainda
�
o
respons�vel
pelo
fen�meno
das
personalidades
duplas
e
m�ltiplas
que
podem
aflorar
em
determinadas
circunst�ncias.
Vamos,
em
seguida,
examinar
a
contribui��o
de
Sigmund
Freud
a
este
tema.
Bem
no
come�o
de
seu
trabalho,
Freud
acreditou
que
a
vida
ps�quica
se
manifestava
em
duas
dimens�es:
a
consciente
e
a
inconsciente.
A
parte
consciente
seria
pequena,
quase
insignificante,
representando
a
parte
m�nima
da
totalidade
ps�quica.
Vamos
retomar
a
met�fora
proposta
por
Fechner.
Imagine
o
leitor
um
iceberg,
uma
enorme
montanha
de
gelo
flutuando
sobre
a
�gua
do
mar.
A
parte
de
cima,
�
a
vis�vel
e
a
menor
das
duas.
A
base
desta
montanha,
encontra-se
no
fundo
da
�gua
e
�
naturalmente,
a
sua
maior
parte.
Na
met�fora
de
que
estamos
falando,
a
parte
de
cima,
a
menor
e
vis�vel,
seria
o
consciente
e
a
parte
debaixo,
a
maior
e
invis�vel
representaria
o
inconsciente.
Na
parte
debaixo,
segundo
Freud,
se
encontram
as
puls�es,
isto
�,
as
for�as
que
impelem
todo
o
comportamento
humano.
Al�m
dessas
duas
�reas,
Freud
reconheceu
uma
outra
que
ele
chama
de
pr�-consciente,
ou
seja,
�rea
anterior
ao
consciente.
No
inconsciente,
encontra-se
o
material
recalcado
e
no
pr�-consciente
existe
um
material
que
foi
suprimido,
mas
n�o
de
um
modo
t�o
radical
e,
por
isso,
pode
ser
trazido
�
consci�ncia
mais
facilmente.
Coloque-se
o
leitor
na
seguinte
situa��o:
Voc�
est�
assistindo
a
uma
confer�ncia
e,
de
repente,
voc�
se
distrai
pensando
em
uma
discuss�o
que
teve
com
uma
pessoa
no
dia
anterior.
A
discuss�o
retorna
de
modo
a
tirar
a
sua
aten��o
�
confer�ncia.
Este
material
que
retornou
a
sua
mente
estava
no
pr�consciente.
O
material
recalcado
no
inconsciente,
entretanto,
n�o
retorna
com
tanta
facilidade.
Tempos
depois,
Freud
refez
a
sua
teoria
e,
abandonando
a
simplicidade
bipolar
consciente
x
inconsciente,
criou
novos
conceitos
como:
Ego,
Id
e
Super-Ego.
Em
sua
revis�o,
o
Id
ocuparia
o
lugar
do
inconsciente,
sendo,
deste
modo,
a
parte
mais
interior
e
menos
acess�vel
da
personalidade.
Nele,
ocultos,
est�o
os
instintos
sexuais
agressivos,
for�a
rec�nditas
poderos�ssimas.
O
Id,
conforme
Freud,
encontra-se
isento
de
qualquer
moralidade
e,
por
isso,
n�o
conhece
os
ju�zos
�ticos;
visa
apenas
a
uma
coisa:
a
satisfa��o
dos
prazeres.
No
sistema
freudiano,
existe
um
postulado
b�sico:
todo
organismo
tende
a
buscar
o
prazer
e
fugir
�
dor.
A
esta
tend�ncia
do
Id,
Freud
deu
o
nome
de
Princ�pio
do
Prazer.
Quando
Freud
desenvolveu
a
sua
teoria
sobre
o
Id,
para
design�-lo
deu-lhe
o
nome
de
ES
que
equivale
ao
pronome
demonstrativo
neutro
da
l�ngua
portuguesa:
Isso.
Esse
termo
tamb�m
n�o
foi
criado
por
Freud,
mas
pelo
psic�logo
Georg
Groddek.84
Em
1921,
Groddeck
enviou
a
Freud
o
manuscrito
de
um
livro
que
estava
escrevendo
e
que
se
intitulava:
The
Book
of
It
que
se
traduz
por
O
Livro
do
Isso.
Vamos
ler
um
texto
sobre
este
assunto
que
se
encontra
no
livro
de
Schultz
&
Schultz
Hist�ria
da
Psicologia
Moderna:
A
nossa
energia
b�sica
ou
libido
est�
contida
no
Id
e
�
expressa
por
meio
da
redu��o
da
tens�o.
O
aumento
da
energia
libidinal
provoca
o
aumento
da
tens�o
que
tentamos
reduzir
a
um
n�vel
mais
toler�vel.
Para
satisfazer
as
nossas
necessidades,
e
manter
um
n�vel
de
tens�o
confort�vel,
temos
de
interagir
com
o
mundo
real.
Quem
tem
fome,
por
exemplo,
deve
procurar
comida
para
descarregar
a
tens�o
produzida
pela
fome.
Uma
liga��o
apropriada
entre
o
Id
e
as
circunst�ncias
da
realidade
tem,
portanto
de
ser
estabelecida.
O
Ego
designa
aquilo
que
chamamos
de
raz�o
ou
racionalidade,
em
contraste
com
as
paix�es
cegas
do
Id.
Freud
chamou
o
Ego
de
Ich
que,
em
alem�o
significa
Eu.
Enquanto
o
Id
�
o
respons�vel
pelo
princ�pio
do
prazer,
o
Ego
est�
relacionado
com
o
princ�pio
da
realidade.
Assim,
o
Ego
se
torna
respons�vel
pelo
equil�brio
de
todo
o
sistema
ps�quico,
mantendo
em
suspens�o
as
exig�ncias
do
Id
cuja
gratifica��o
seria
danosa.
O
Ego
n�o
existe
independente
do
Id,
estando,
constantemente
empenhado
em
proporcionar-
lhe
satisfa��es.
Freud
comparou
as
rela��es
entre
o
Id
e
o
Ego
com
o
relacionamento
entre
o
cavaleiro
e
o
seu
cavalo.
O
cavalo
fornece
a
energia
que
�
dirigida
para
o
caminho
que
o
cavaleiro
deseja
percorrer.
Contudo,
a
for�a
do
cavalo
tem
que
ser
constantemente
guiada
ou
controlada
para
que
n�o
derrube
ao
cavaleiro
no
solo.
Do
mesmo
modo
h�
que
se
controlar
o
Id
para
que
n�o
derrube
o
Ego
no
ch�o.85
Vamos
ao
terceiro
elemento,
o
Super-Ego.
Esta
dimens�o
do
aparato
an�mico
desenvolve-se
na
primeira
inf�ncia
quando
se
inicia
o
processo
educativo.
Os
pais,
ent�o,
refor�am
os
comportamentos
adequados
e
punem
os
inadequados.
Os
comportamentos
errados
se
tornam
partes
da
consci�ncia
da
crian�a,
os
comportamentos
adequados
ou
desej�veis
v�o
fazer
parte
do
Ego-ideal,
a
outra
parte
do
Super-Ego.
Assim,
atrav�s
da
educa��o,
as
figuras
parentais
v�o
se
imprimindo
no
psiquismo
infantil
os
padr�es
sociais
vigentes
naquela
cultura.
Com
a
continuidade
do
processo,
por�m,
o
Super-Ego
assimila
tudo
aquilo
que
foi
proposto
e,
a
partir
de
ent�o,
exerce
sobre
a
conduta
uma
esp�cie
de
controle.
O
termo
Super-Ego
foi
cunhado
em
alem�o
Uber-Ich
que
se
pode
traduzir,
ao
p�
da
letra,
como
Sobre-Eu.
Assim
competiria
ao
Super-Ego
a
atividade
de
controlar
as
puls�es
do
Id,
consideradas
como
elementos
perturbadores
do
aperfei�oamento
humano.
Ele
�,
segundo
o
pr�prio
Freud,
um
defensor
do
impulso
rumo
�
perfei��o.
Desta
maneira,
diferentemente
do
Ego,
o
Super-Ego
n�o
pretende
apenas
adiar
a
gratifica��o,
mas
elimin�-la.
Voltemos
ao
texto
de
Scuhltz
&
Schultz:
Em
conseq��ncia,
h�
um
conflito
intermin�vel
no
interior
da
personalidade
humana.
O
Ego
se
encontra
em
posi��o
muito
dif�cil,
pressionado
por
todos
os
lados
por
for�as
insistentes
e
opostas.
Ele
tem
que
adiar
os
anseios
incessantes
do
Id;
perceber
e
manipular
a
realidade
para
aliviar
a
exig�ncias
constantes
do
Id
e,
ao
mesmo
tempo
lidar
com
o
anseio
do
Super-Ego.86
Como
C.
G.
Jung
pensava
a
quest�o
do
inconsciente?
De
in�cio,
podemos
dizer
que,
embora
partindo
das
teorias
de
Freud,
delas
se
afastou
consideravelmente.
Jung,
que
jamais
recusou
o
termo
psik�
(alma),
dividia
este
conceito
em
tr�s
aspectos,
partes
ou
departamentos:
o
consciente,
o
inconsciente
individual
e
o
inconsciente
coletivo.
No
centro
mesmo
do
consciente
se
encontra
o
Ego
cujo
conceito
n�o
�
muito
diverso
daquele
que
foi
apresentado
por
Freud.
O
segundo
termo,
o
inconsciente,
foi
o
conceito
que
mais
o
impressionou
e
aquele
ao
qual
dedicou
todo
o
seu
esfor�o
intelectual.
Era
esta
parte
insond�vel
do
psiquismo
da
personalidade
que
ele
desejava
desvendar.
Queria
conhecer
o
inconsciente
mais
e
melhor,
pois
ali,
muito,
provavelmente,
se
achava
a
chave
para
a
compreens�o
da
alma.
Vamos,
por�m,
caminhar
um
pouco
mais
pelo
sistema
de
Psicologia
criado
por
Jung,
tamb�m
conhecido
como
Psicologia
Anal�tica.
O
consciente
individual
proposto
por
Jung
n�o
se
op�e
ao
modelo
apresentado
por
Freud.
Conforme
L.
P.
Grinberg,
em
seu
livro
Jung
o
Homem
Criativo,
por
inconsciente
pessoal,
devemos
entender:
Tudo
aquilo
que
eu
conhe�o,
mas
que,
no
momento,
n�o
estou
pensando;
tudo
aquilo
que
eu
tinha
na
consci�ncia
e
me
esqueci;
tudo
o
que
os
meus
sentidos
percebem,
mas
que
n�o
�
percebido
por
minha
mente;
situa��es
menosprezados
durante
o
dia;
conclus�es
que
eu
falhei
em
formular,
cr�ticas
e
coment�rios
pejorativos
que
n�o
fiz;
tudo
o
que
involuntariamente
sinto,
percebo,
penso,
lembro
desejo
e
fa�o;
id�ias
dolorosas
recalcadas,
afetos
n�o
permitidos
e
conte�dos
que
ainda
n�o
est�o
prontos,
maduros.87
As
experi�ncias
contidas
no
inconsciente
individual,
se
encontram
agrupadas,
na
forma
de
complexos.
Entende-se
por
complexo
um
n�cleo
carregado
de
afetividade
ou
mais
detalhadamente,
grupo
de
id�ias
emotivamente
impregnadas
que
desenvolvem
atividades
inconscientes
que
se
encontram
reprimidas
em
todo
ou
em
parte.
Mais
abaixo
(n�o
se
deve
tomar
a
express�o
mais
abaixo
em
sentido
t�pico
ou
local)
encontra-se
o
inconsciente
coletivo.
Entende-se
por
coletivo
o
inconsciente
n�o
individual
onde
se
encontram
os
padr�es
universais,
instintos
e
arqu�tipos.
Continuaremos
este
assunto
no
cap�tulo
seguinte.
76
Ellemberg.H.F.InTheDiscoveryoftheUnconscious
(ADescobertadoInconsciente)NewYork1970
77
Whyte
L.
L.
Unconscious
before
Freud
(Inconsciente
antes
de
Freud)
78
Leibiniz,
Gottfried
Wilhelm.
Fil�sofo
e
matem�tico
alem�o.
Seu
racionalismo,
muito
difundido
na
Alemanha
do
s�culo
XVII,
tornou-se
a
filosofia
acad�micamais
influenteda�poca.Com
onomederacionalismodeLeibniz
�Wolfffirmou-sesobretudodepois
deKant.OsistemadeLeibnizadmitia,
por�m,
elementos
do
irracional
e
o
conceito
de
subconsciente.
Descobriu
o
conceito
de
c�lculo
diferencial
ao
mesmo
tempo
que
Newton
(Nota
do
Editor)
79
Schultz&Schhultzin
Hist�ria
da
Psicologia
Moderna
p.32
80
Educador
e
fil�sofo
alem�o.
Criou
o
sistema
de
instru��o
cient�fica,
fundamentado
na
Psicologia
e
Filosofia.
Nota
do
Editor
81
Gustav
Theodor
Fechner
formulou
a
teoria
segundo
a
qual
o
dualismo
entre
corpo
e
alma,
pr�prio
do
homem,
acontece
em
todas
as
esferas
do
universo.
Nota
do
Editor.
82
Seria
interessante
lembrar
aqui
que
o
livro
Animismo
e
Espiritismo
escrito
por
Alexandre
Aksakof
foi
uma
resposta
a
uma
obre
de
Hartmann
intitulada
o
Espiritismo.
83
Stevens
Anthony.
Jung,
Vida
e
Pensamento.
pag.
31
84
Groddek
(1866-1934).
M�dico
e
escritor
alem�o.
Preconizava
o
tratamento
com
dietas
e
massagens
para
problemas
ps�quicos.
Manteve
grande
correspond�ncia
com
Freud.
85
Schultz
&
Schultz.
P�.
cit.
p.
345
86
Op.
cit.
345
87
Grinberg
L.
P.
Jung
o
Homem
Criativo
P�g.
81
A
descoberta
e
an�ncio
da
exist�ncia
de
um
inconsciente
coletivo,
uma
esp�cie
de
mem�ria
da
ra�a
ou
mesmo
da
esp�cie
foi
uma
das
mais
not�veis
hip�teses
entre
muitas
que
apareceram
na
Psicologia
dos
�ltimos
tempos.
Houve,
entretanto,
(e
ainda
h�)
uma
forte
resist�ncia
no
sentido
de
aceitar
este
modo
de
ser
da
realidade
ps�quica.
Que
motivos
produziram
esta
resist�ncia?
A
primeira
dificuldade
originava-se
na
posi��o
empirista,
segundo
a
qual
a
mente
humana,
no
momento
do
nascimento
seria
uma
tabula
rasa
in
quo
nihil
est
scriptum88
t�bua
esta
que,
pouco
a
pouco,
vai
sendo
preenchida
pelas
experi�ncia
e
pelo
aprendizado.
Jung
corajosamente,
afirmou
o
contr�rio.
Do
ponto
de
vista
junguiano,
toda
a
personalidade
em
pot�ncia
j�
se
encontra
na
crian�a
no
momento
do
nascimento.
O
meio-ambiente
n�o
�,
portanto,
um
formador
da
personalidade,
mas
apenas
em
deflagrador
do
que
j�
existe
no
indiv�duo.89
Neste
ponto
de
vista
junguiano,
temos
uma
postura
que
se
poderia
dizer
bastante
afinado
com
a
Doutrina
Esp�rita.
Esp�rito,
ao
reencarnar,
vem
com
a
sua
personalidade,
inteiramente
definida
e,
para
manifest�-la,
plenamente,
depender�
apenas
da
matura��o
dos
�rg�os
do
corpo
f�sico
e
das
condi��es
oferecidas
pelo
meio-ambiente.
Todo
esp�rito,
ao
renascer,
traz
consigo
um
projeto
de
vida
que
ele
pretende
desenvolver
ao
longo
daquela
encarna��o.
Poder�
ou
n�o
ter
sucesso
pleno
em
seu
empreendimento,
mas
dever�
seguir,
dentro
de
suas
limita��es,
aquilo
para
que
nasceu.
Ora,
um
ponto
de
vista
deste
que
defende
o
inatismo90
da
personalidade
de
um
modo
t�o
franco,
n�o
poderia
ser
recebido
pelas
elites
intelectuais
do
s�culo
XIX
sem
hostilidade
e
incompreens�o.
A
segunda
tem
a
sua
raz�o
de
ser
no
fato
de
Jung
ter
chamado
os
arqu�tipos
de
imagens
primordiais
que
derivariam
do
passado
hist�rico
da
humanidade.
Por
isso
Jung
foi
acusado
de,
igualmente
a
Freud,
ter
buscado
apoio
nas
teorias
evolucionistas
de
Jean
Baptiste
Lamarck
(1744-1829).
Lamarck
tinha
como
certa
a
possibilidade
de
que
as
caracter�sticas
individuais
pudessem
ser
transmitidas
aos
membros
de
uma
esp�cie.
Esta
maneira
de
ver
a
Evolu��o,
que
tomou
o
nome
de
Lamarckismo,
havia
sido
posta
por
terra
h�
muito
tempo,
n�o
s�
pelas
teorias
revolucion�rias
de
Charles
Darwuin
(1809-1882)
e
pelas
descobertas
no
campo
Gen�tica,
feitas
por
Gregor
Ihojann
Mendel
(1822-1824)
Havia
ainda
uma
outra
quest�o
que
funcionava
como
agravante:
ao
apresentar
a
sua
hip�tese
de
um
inconsciente
coletivo,
repleto
de
arqu�tipos,
muitas
pessoas
imaginaram
que
Jung
estivesse
trabalhando
com
conceito
demasiadamente
metaf�sico
ou
mesmo
m�stico
como
a
Alma
Universal
descrita
pelo
fil�sofo
alem�o
Friedrich
Wilhelm
Joseph
von
Schillin
(1775-1854).
Essa
id�ia
de
um
psiquismo
grupal
(alma
de
grupo)
�
bastante
sedutora
pois,
at�
bem
pouco
tempo,
havia
pessoas
que
defendiam
esse
ponto
de
vista,
acreditando-se
respaldado
pelo
pensamento
de
Jung.
A
id�ia
do
inconsciente
coletivo,
entretanto,
para
evitar
uma
aproxima��o
indesej�vel
com
o
Lamarckismo
foi
buscar
apoio
aux�lio
junto
aos
et�logos,91
bi�logos
e
psic�logos
especialistas
em
comportamento
animal.
Segundo
esses
especialistas,
cada
animal
nasce
equipado
com
um
repert�rio
comportamental
que,
em
contato
com
o
meio-ambiente
surgem
e
se
desenvolvem
sem
que
tivessem
sido
aprendido
anteriormente.
Esse
repert�rio
depende
de
mecanismos
liberadores
inatos
que
os
animais
herdam
em
seu
sistema
nervoso
central
e
que
s�o
condicionados
a
entrar
em
a��o
quando
os
est�mulos,
chamados
sinais-est�mulos
se
encontram
no
meio
ambiente.
Quando
estes
est�mulos
s�o
encontrados,
o
mecanismo
inato
�
liberado
e
o
animal
responde
com
um
padr�o
de
comportamento,
adaptado
�
situa��o.
Ao
se
fazer
a
concess�o
para
uma
flexibilidade
maior
de
adapta��o
de
nossa
esp�cie,
a
posi��o
etol�gica
se
aproxima
da
vis�o
de
Jung
em
rela��o
�
natureza
dos
arqu�tipos
e
o
seu
modo
de
atividade.92
Para
aclarar
este
texto
de
Stevens,
julgamos
interessante
dar
um
exemplo
de
comportamento
instintivo
complexo
e,
para
tanto,
usaremos
o
comportamento
das
vespas
cavadoras
(Amophilas),
extra�do
do
livro
de
Gemelli
e
Zunini
Introdu��o
�
Psicologia,
publicado
pela
Editora
Ibero
Americana
em
1972.
Segundo
esses
autores,
essa
vespa,
durante
semanas
busca
um
lugar
adequado
para
que
possa
cavar
o
seu
ninho.
Achado
o
lugar,
cava
um
pequeno
buraco
vertical
que
se
abre
para
uma
c�mara
lateral
e,
finalmente,
fecha
provisoriamente
o
acesso
ao
po�o
com
um
torr�o
de
saibro
que
se
adapta,
perfeitamente,
ao
di�metro
do
buraco.
Tendo
terminado
esta
parte
do
trabalho,
a
vespa
sai
para
ca�ar
uma
larva
que
dever�
variar
segundo
a
esp�cie
da
Amophila.
Rapidamente,
ela
encontra
o
objeto
de
sua
ca�ada,
entra
em
luta
com
ele
e,
picando-o
o
imobiliza.
A
t�cnica
da
imobiliza��o
se
faz
em
tr�s
fases
ou
momentos
distintos:
1�
Fase.
A
vespa
ataca
a
larva
com
as
mand�bulas
e
o
ferr�o
da
parte
central,
colocando-a
de
costas.
2�
Fase.
A
vespa
come�a
a
bailar
em
torno
de
sua
v�tima
e,
de
espa�o
em
espa�o,
vai
aguilhoando-a.
3�
Fase.
A
vespa
agarra
a
larva
pela
nuca
e
a
massageia
com
energia.
Acabando
a
massagem,
a
vespa
deve
levar
a
larva
para
o
local
onde
havia
feito
o
buraco,
tarefa
que
ela
realizou
sem
dificuldades.
Algumas
esp�cies
de
vespas
levam
a
sua
presa
voando,
a
maior
parte,
entretanto,
o
faz
montando
nela,
fixando-a
pela
extremidade
anterior
e
avan�ando
com
a
larva
presa
entre
as
patas.
Em
seu
trabalho
de
transportar
a
larva,
a
vespa,
muitas
vezes,
parece
ter
problema
de
orienta��o
pois,
n�o
raro,
ela
deixa
a
larva
para
se
orientar.
Chegando
ao
ninho,
a
vespa
inspeciona
o
local,
retira
o
peda�o
de
saibro
que
servira
para
vedar
a
entrada;
limpa
o
local,
ali
introduz
a
larva
e
a
empurra
at�
a
c�mara
lateral,
em
seguida,
p�e
um
ovo
sobre
a
larva
e
fecha
o
ninho
definitivamente
com
areia
que
ela
soca
com
as
mand�bulas.
Depois
de
alguns
dias,
nasce
a
larva
da
vespa
que
se
alimentar�
da
larva
que
havia
sido
apresada.
Algum
tempo
depois,
a
larva
da
Amophila
torna-se
cris�lida
e
o
ciclo
recome�a.
Com
quem
a
vespa
aprendeu
este
comportamento
assaz
complexo?
N�o
aprendeu.
Nasceu
com
ele.
Assim
que
as
situa��es
estimuladoras
se
apresentaram,
o
comportamento,
que
descrevemos,
se
explicitou.
Assim,
o
comportamento
instintivo
dos
animais
serviria
de
analogia
para
a
teoria
dos
arqu�tipos
do
C.
G.
Jung.Teorizando
deste
modo,
ele
escapar,
como
j�
vimos,
da
teoria
de
Lamarck,
defendendo
a
tese
de
que
o
termo
arqu�tipo
n�o
se
destina
a
indicar
uma
id�ia
inata,
mas
um
padr�o
de
comportamento
ou
um
modo
de
funcionamento
que
corresponde
ao
modo
inato
(n�o
aprendido)
do
comportamento
da
vespa
apresentada
como
exemplo.
Este
aspecto,
vale
apenas
lembrar
aqui,
�
puramente
biol�gico,
relacionado,
por
conseq��ncia,
com
a
Psicologia
chamada
cient�fica.
A
esta
altura,
penso
que
seria
�til
fazer
uma
pergunta:
o
que
�
um
arqu�tipo?
Deixemos
o
pr�prio
Jung
nos
responder
esta
quest�o:
(...)
H�
bons
motivos
para
se
supor
que
os
arqu�tipos
s�o
imagens
inconscientes
dos
pr�prios
instintos,
em
outras
palavras,
s�o
padr�es
de
comportamento
instintivo...
A
hip�tese
do
inconsciente
coletivo
n�o
�,
portanto,
mais
ousada
de
assumir
a
exist�ncia
dos
instintos...
A
quest�o
�
apenas
essa:
existem
ou
n�o
formas
universais
desse
tipo?
Se
existem,
ent�o,
existe
uma
regi�o
da
psique
que
se
pode
chamara
de
inconsciente
coletivo.93
Assim,
como
se
pode
ver,
Jung
considera
que
a
possibilidade
de
existir
o
inconsciente
coletivo
encontra-se
relacionada
com
a
possibilidade
da
exist�ncia
dos
arqu�tipos.
Como,
por�m
ele
chegou
a
conclus�o
de
que
existiriam
essas
imagens
que
ele
denominou
arqu�tipos?
Em
primeiro
lugar,
gostar�amos
de
esclarecer
que
o
nome
arqu�tipo
n�o
foi
uma
cria��o
de
Jung,
pois
j�
se
encontra
em
Philon
de
Alexandria
(13
a.C
�
54
d.C)
um
fil�sofo
judeu
neoplat�nico.
A
palavra
ainda
pode
ser
encontrada
em
Corpus
Herm�tico,
De
Dion�sio,
o
Aeropagita,
membro
do
Are�pago
de
Atenas
que
teria
sido
convertido
pelo
ap�stolo
Paulo
de
Tarso;
em
Irineu,
Bispo
de
Lyon
(208-230)
em
Santo
Agostinho
(354-430).
Do
ponto
de
vista
do
seu
significado,
o
termo
arqu�tipo
se
an�loga
com
outros
conceitos
como:
as
formas
imateriais
de
Plat�o
(os
eidos)
existentes
no
Mundo
das
Id�ias;
os
31
motivos
dos
Contos
Populares
que
foram
levantados
pelo
folclorista
russo
Wladimir
Propp;
as
representa��es
coletivas
da
escola
francesa;
as
id�ias
a
priori
do
Kantismo;
os
modelos
de
comportamento
dos
behavioristas
e
os
invariantes
cognitivos.
A
primeira
vez
que
Jung
usou
esta
palavra
foi
em
um
pequeno
artigo
intitulado
Instinto
e
Inconsciente,
escrito
para
um
simp�sio
de
mesmo
nome
promovido
na
Aeristotelian
Socyete
pela
Mind
Association
e
a
Britsh
Psychological
Society
em
Londres
no
ano
de
1919.
Vamos,
por�m
ao
texto:
(...)
mas
afora
esses,
no
inconsciente,
encontramos
tamb�m
as
qualidades
que
n�o
foram
adquiridas
individualmente,
por�m,
herdadas,
isto
�,
os
instintos
enquanto
impulsos
destinado
a
produzir
a��es
que
resultam
de
uma
necessidade
interior,
sem
motiva��o
consciente.
Devemos
tamb�m
incluir
as
formas
a
priori,
inatas
da
intui��o,
quais
sejam
os
arqu�tipos
da
percep��o
e
da
apreens�o
que
s�o
determinantes
necess�rios
e
a
priori
de
todos
os
poderes
ps�quicos.94
Vamos,
agora,
com
a
permiss�o
de
nosso
benevolente
leitor
responder
a
pergunta
que
fizemos
h�
pouco:
como
Jung
chegou
�
id�ia
dos
arqu�tipos?
Conta
ele
pr�prio
que,
em
1906,
quando
trabalhava
no
hospital
psiqui�trico
de
Burgholzli,
em
Zurique,
encontrou,
em
uma
das
alas,
um
paciente
esquizofr�nico
que
olhava
para
o
Sol
com
grande
insist�ncia.
O
doente,
enquanto
olhava
para
o
Sol,
piscava
as
p�lpebras
e
movia
a
cabe�a
de
um
lado
para
o
outro.
Jung,
ent�o,
perguntou
a
ele
o
porque
se
comportava
daquele
modo
e
o
homem
respondeu
que,
ao
movera
cabe�a,
o
p�nis
do
Sol
tamb�m
se
movia
e
que
o
p�nis
solar
era
a
origem
dos
ventos.
O
tempo
passou,
exatamente,
quatro
anos,
sem
que
Jung
compreendesse
a
imagem
criada
pelo
doente,
atribuindo-a
a
um
del�rio
alucinat�rio.
Em
1910,
por�m,
Jung
encontrou
um
texto
mitraico
que
havia
sido
traduzido
de
papiros
gregos
naquele
mesmo
ano.95
O
texto
fazia
refer�ncia
um
tubo
que
partia
do
disco
solar
e
que
seria
a
origem
dos
ventos.
Jung
se
lembrou,
de
imediato,
do
louco
de
Zurich
e
ficou
muito
impressionado.
Como
aquela
id�ia
pertencente
a
uma
religi�o
muito
antiga
como
o
Mitra�smo,
havia
chegado
�quele
homem,
uma
pessoa
comum
e
sem
qualquer
conhecimento
de
religi�es
antigas,
mitologias
ou
algo
semelhante.
Este
acontecimento
fez
com
que
Jung
pensasse
na
possibilidade
de
existirem
elementos
arcaicos
e
mitopoi�ticos
na
psique
humana.
Uma
outra
quest�o
se
imp�e
em
seguida:
que
imagens
s�o
essas?
S�o
arqu�tipos.
Vamos
conhecer
algumas
delas.
A
Sombra
Arqu�tipo
que
representa
o
lado
escuro,
inferior
e
primitivo
do
ser
humano
que
ainda
n�o
se
encontra
desenvolvido.
A
sombra
�,
portanto,
o
aspecto
negativo
da
personalidade
que,
por
motivos
�bvios,
deseja-se
esconder
e
conservar
oculto.
A
sombra
�
representada
por
imagens
arquet�picas
como:
as
bruxas
e
a
madrasta
dos
Contos
de
Fada;
os
bandidos
dos
Contos
Policiais;
os
seres
noturnos
e
pavorosos
como
os
vampiros,
os
lobisomens,
os
�ncubos,96
os
s�cubos;97
os
extraterrestres
invasores
de
nosso
planeta;
seres
mitol�gicos
horrendos
como
a
medusa,
as
Gr�ias,
Equidna,
a
esfinge
e
assim
por
diante.
Anima
e
animus
O
anima
�
o
arqu�tipo
feminino
que
existe
no
inconsciente
masculino
e
animus
�
o
arqu�tipo
masculino
que
est�
no
inconsciente
feminino.
A
anima
pode
ser
representada
por
uma
princesa
nos
Contos
Populares;
por
uma
sereia;
por
uma
sacerdotisa;
pela
mulher
fatal
de
certos
romances;
pela
grandes-M�es
da
Mitologia
antiga
ou
pela
mulher
misteriosa
que
aparece
em
nossos
sonhos
e
n�o
conseguimos
identificar.
O
animus
aparece
nos
sonhos
femininos
como
o
pr�ncipe
encantado,
o
belo
cavaleiro
que
vem
de
longe,
o
toureiro;
o
ca�ador
da
Branca
de
Neve
entre
outras
imagens.
O
Self
Este
�
o
arqu�tipo
de
totalidade
que
pode
aparecer
como
o
Velho
S�bio
ou
a
Velha
S�bia
e
por
uma
variedade
consider�vel
de
formas
humanas
e
animais.
Penso
que
seria
oportuno
a
esta
altura
de
nosso
trabalho,
discutir
a
no��o
do
inconsciente
do
ponto
de
vista
esp�rita.
Para
melhor
entendermos
esta
quest�o,
seria
interessante
fazer
uma
distin��o
entre
personalidade
e
individualidade.
Consideramos
a
alma
ou
esp�rito
encarnado
como
a
personalidade
e
o
esp�rito
como
individualidade.
Assim,
em
cada
encarna��o,
o
esp�rito
(individualidade)
vive
v�rias
personalidades
do
mesmo
modo
que
o
ator,
no
teatro,
ou
no
cinema,
ao
longo
de
sua
vida
profissional,
representa
v�rios
personagens.
Esta
no��o
inicial
nos
leva
responder
uma
cr�tica
costumeira
que
se
faz
�
reencarna��o
na
B�blia.
A
passagem
�
a
seguinte:
os
fariseus,
com
medo
de
que
Jo�o
Batista
fosse
Elias,
profeta
do
antigo
Testamento,
que
seria
o
arauto
do
Messias,
v�o
at�
Betabara
do
Jord�o
onde
Jo�o
batizava
(mergulhava
as
pessoas).
Ali
chegando,
os
fariseus
perguntam
a
Jo�o
se
ele
era
ou
n�o
o
Elias
e
ele
diz
que
n�o
era.
Ora,
como
se
sabe,
Jo�o
havia,
em
uma
de
suas
vidas
passadas
havia
sido
o
profeta
Elias.
Como
os
defensores
da
reencarna��o
explicariam
isso?
Naquele
momento
da
hist�ria
daquele
esp�rito
ele
vivia
a
personalidade
de
Jo�o,
filho
de
Zacarias
e
Isabel,
embora,
no
passado
houvesse
animando
a
personalidade
de
Elias,
o
Tesbita
e
outras
que
n�s
desconhecemos.
A
pergunta
�
feita
a
Jo�o
e
�
claro
que
ele
n�o
poderia
dizer
que
era
o
Elias.
Ele
havia
sido,
mas
naquele
momento
n�o
era.
A
Frase
tamb�m
muito
citada:
s�
se
morre
uma
vez
�
verdadeira
para
a
personalidade,
mas
n�o
para
a
individualidade.
Em
fun��o
das
limita��es
da
mat�ria
(corpo)
e
da
necessidade
de
esquecimento
que
o
esp�rito
tem
em
cada
encarna��o,
a
individualidade
n�o
consegue
se
expandir
completamente,
restando
ainda
aspectos
da
de
sua
intimidade
espiritual
a
qual,
enquanto
encarnado
ele
pr�prio
n�o
tem
acesso.
O
not�vel
pesquisador
Herm�nio
C.
de
Miranda
chama
esse
aspecto,
por
analogia
com
o
computador
de
�arquivo
morto�.
Esta
dimens�o
do
esp�rito,
ao
ser
notado
pelos
psic�logos
e
outros
estudiosos
da
mente
humana
foi
chamado
de
inconsciente.
Por
este
motivo,
o
esp�rito
encarnado
(alma
ou
personalidade)
parece
conviver
com
um
outro
(vamos
lembrar
a
personalidades
n�mero
dois
de
Jung
e
sua
m�e)
dentro
dele
mesmo
com
o
qual
n�o
possui
uma
rela��o
consciente.
Como
estamos
vendo
n�o
se
trata
de
dois
esp�ritos,
mas
de
dois
modos
de
ser
de
um
�nico
esp�rito.
Herm�nio
C.
de
Miranda
desenvolve
em
seus
belos
livros
A
Mem�ria
e
o
Tempo
e
Alquimia
da
Mente,
a
hip�tese
segundo
a
qual
a
alma
ou
personalidade
atuaria
no
hemisf�rio
esquerdo
do
c�rebro,
respons�vel
pela
vida
consciente
enquanto,
no
hemisf�rio
direito
estaria
o
chamado
arquivo
morto
ou
vida
inconsciente.
Em
resumo,
para
Herm�nio
a
rela��o
c�rebro
/
mente
seria
feita
do
seguinte
modo:
no
hemisf�rio
esquerdo
onde
governa
a
alma,
estaria
a
personalidade
consciente,
os
mecanismo
da
conduta
racional,
a
linguagem
verbal.
O
hemisf�rio
esquerdo
�,
portanto,
caracterizado
pela
transitoriedade,
identificado
pelo
verbo
ESTAR.
No
lado
direito
estaria
a
dimens�o
inconsciente,
a
intui��o
e
a
linguagem
n�o-verbal
e
de
natureza
simb�lica.
Esta
�rea
caracterizada
pela
estabilidade
e
perman�ncia
�
identificada
com
o
verbo
SER.
�
importante
tamb�m
que
n�o
se
esque�a
a
fun��o
do
perisp�rito
nesse
sistema.
Tratando
deste
tema,
escreveu
Erm�nio
C.
de
Miranda:
A
op��o
�bvia
�
a
que
favorece
o
perisp�rito
como
deposit�rio
dos
arquivos
da
alma.
Em
dispositivos,
cuja
estrutura
e
funcionamento
ainda
desconhecemos,
s�o
transcritos
os
eventos
que
constituem
a
mem�ria
de
cada
exist�ncia
na
carne.
Formulamos,
alhures,
neste
livro,
a
hip�tese
de
que
essas
transcri��es
ocorriam
na
vizinhan�a
da
morte
do
corpo
f�sico,
do
que,
resulta,
�s
vezes,
o
fen�meno
da
recapitula��o
a
que
aludimos.
Propusemos,
igualmente,
que
a
mem�ria
da
�ltima
encarna��o
vivida
na
carne
continua
no
subconsciente
e,
portanto,
com
acesso
f�cil
ao
que
chamamos
de
cabe�ote
de
grava��o
/
leitura
do
consciente,
pois
o
ser
sobrevivente
continua,
n�o
somente
a
pensar
e
a
viver
novas
experi�ncias
no
mundo
p�stumo,
como
tamb�m
a
recordar-se
dos
esp�ritos;
das
pessoas
que
conheceu;
das
emo��es
que
experimentou;
do
aprendizado
que
acumulou;
das
experi�ncias
que
colheu.
Logo
o
sistema
consciente-subconsciente-inconsciente
segue
operando
tal
como
no
tempo
em
que
o
ser
esteve
na
carne.
Os
esp�ritos
mais
avan�ados
e
de
maior
experi�ncia
poder�o
at�
mesmo
ter
acesso
�
mem�rias
anteriores
depositadas
no
arquivo
morto
do
inconsciente;
o
comum,
n�o
obstante
�
apenas
lembrar-se
da
�ltima
exist�ncia
que
se
prolonga
no
mundo
p�stumo.
Essa
camada
de
mem�ria
ou
esse
�cassete�
somente
mergulha
nos
espa�os
mais
resguardados
do
inconsciente
quando
se
inicia
uma
nova
experi�ncia
na
carne.98
Segundo
essas
considera��es,
o
perisp�rito
seria
o
ve�culo
de
toda
a
programa��o
do
esp�rito
encarnado.Estudando-se
a
Doutrina
Esp�rita,
fica-nos
uma
sensa��o
de
perda
porque
percebemos,
muito
facilmente,
o
quanto
a
psicologia
acad�mica
teria
evolu�do
se
levasse
em
considera��o
as
infrma��es
que
os
esp�ritos
trouxeram
para
n�s
e
que
Allan
Kardec
codificou
em
uma
doutrina
coerente
e
racional,
e,
antes
de
tudo,
�tica.
O
desconhecimento
por
arte
da
Psicologia
oficial,
das
verdades
do
esp�rito,
tem
feito
os
psic�logos
(e
psiquiatras)
andarem
em
c�rculo
como
os
antigos
navegadores
que
orientavam
suas
caravelas
em
navega��es
costeiras
sem
se
arriscarem
no
mar
alto,
entretanto,
apenas
na
busca
do
mar
ato
�
que
se
encontram
novas
terras.
88
Lousa
vazia
na
qual
na
est�
escrito.
89
Este
tipo
de
id�ia
foi
desenvolvido
em
um
livro
muito
interessante
escrito
pelo
psic�logo
junguiano,
James
Hilman.
O
C�digo
do
Ser,
publicado
em
1997
pela
editora
Objetiva
90
Doutrina
que
admite
a
exist�ncia
de
id�ias
ou
princ�pios
independente
da
experi�ncia.
Nota
do
Editor.
91
Especialistas
em
Etologia
ou
parte
de
Ecologia
que
trata
dos
h�bitos
dos
animais
e
da
acomoda��o
dos
seres
vivos
�s
condi��es
do
ambiente.
92
Stevens
Anthony.
Jung,
Vida
Obra
e
Pensamento.
p.
60
93
Jung.
Collected
Works.
Vol.
IX.
Os
Arqyu�tipos
e
o
Inconscuiente
coletivo.
1959
pp
91-92
94
In
Leal,
Jos�
Carlos,
O
Universo
do
Mito.
P.
120
95
ApalavramitraicoderivadeMitra,grandedivindadesolardeorigem
persa,g�niodos
elementos
danaturezaejuizdos
mortos.Tornnou-secentrode
uma
religi�o
de
mist�rios
que
se
expandiu
pela
Gr�cia
helen�stica
e
Imp�rio
Romano.
96
Dem�nio
em
forma
masculina
que
copula
com
as
feiticeiras
97
Dem�nio
em
forma
feminina
que
copula
com
homens.
98
Miranda,
Herm�nio
Correia
de.
In
AMem�ria
e
o
Tempo.
4�
edi��o
p�g
47.
Antes
de
entramos
nos
Sete
Serm�es
aos
mortos,
seria
necess�ria
uma
nota,
ainda
que
muito
breve,
sobre
o
conceito
de
Gnose.
O
que
�
a
Gnose?
Esta
�
uma
quest�o
nada
f�cil
de
ser
respondida.
A
rigor,
o
Gnosticismos
n�o
�
uma
escola
de
Filosofia
e
nem
uma
seita
religiosa,
mas
um
movimento
difuso
com
algumas
caracter�sticas
semelhantes,
embora
com
modalidades
bastante
distintas
de
manifesta��o.
Ao
contr�rio
do
Cristianismo
Primitivo
que
foi
um
movimento
de
massa,
nascido
nas
comunidades
pobres
do
Oriente
e
com
uma
proposta
espec�fica
para
os
deserdados
da
Terra;
o
Gnosticismo
nasceu
e
se
desenvolveu
no
seio
das
elites
onde
procurou
associar-se
�
Filosofia
Grega
e
ao
Neoplatonismo
tendo
como
base
um
sentimento
mais
ou
menos
complexo
de
aspira��es
religiosas
alimentadas
por
uma
rica
fantasia.
A
essas
elites
preocupava,
principalmente
o
problema
do
mal
e
da
dor
que
assolam
o
homem
em
sua
caminhada
neste
planeta.
Em
linhas
gerais,
o
Gnosticismo
possui
as
seguintes
caracter�sticas:
�
Existe
um
Deus
transcendente,
absolutamente
separado
do
mundo
material.
Esta
divindade
�
infinita,
perfeit�ssima,
inacess�vel,
vivendo
em
uma
tranq�ilidade
total
e
quase
em
completa
inatividade.
Infinitamente
bom
e
justo
�
o
pr�prio
Amor
no
dizer
de
Jo�o
Evangelista
�
este
Deus
n�o
pode
ter
criado
o
mal
nas
suas
m�ltiplas
manifesta��es.
Tamb�m
n�o
criou
o
mundo
e
nem
mesmo
a
mat�ria.
N�o
possui
com
a
realidade
objetiva
a
menor
rela��o,
pois,
se
tal
fosse
poss�vel,
por
certo
degradaria
a
sua
natureza
elevad�ssima.
�
Esta
concep��o
de
divindade
transcendente
gera,
por
conseq��ncia,
um
espa�o
vazio
entre
Deus
e
o
Mundo
Sens�vel.
Para
preencher
este
v�cuo,
os
gn�sticos
criaram
um
conjunto
de
seres
intermedi�rio
entre
o
mundo
e
a
Divindade.
Esses
seres
s�o
produtos
da
emana��o
divina,
formando
uma
s�rie
escalar
que
vai
descendo
at�
chegar
ao
Demiurgo,
que
�
o
criador
do
Cosmo
Sens�vel,
como
acontece
no
Platonismo
Cl�ssico.
�
Estes
elementos
produzidos
pela
emana��o
da
Divindade
s�o
chamados
Eons,
cujo
conjunto
corresponde,
mais
ou
menos,
ao
Mundo
das
Id�ias
do
Platonismo.
A
diferen�a
entre
o
Gonosticismo
e
o
Platonismo
�
que
o
primeiro
coloca
Deus
acima
das
id�ias
e
o
segundo
privilegia
as
id�ias
sobre
a
Divindade.
Acresce-se,
ainda,
que,
de
fato,
nos
sistema
gn�stico,
inclui-se
o
conceito
filoniano
de
Logos
relacionado
com
o
conceito
crist�o
de
reden��o.
�
O
Mundo
Sens�vel
ou
Mundo
Material
ocupa
o
�ltimo
lugar
na
escala
dos
seres
existentes.
Todos
os
gn�stico,
ligados
ao
Platonismo,
viam
o
Mundo
Material
com
extremo
pessimismo.
Al�m
dos
seres
materiais
serem
simples
c�pias
dos
seres
espirituais,
apar�ncias
vazias
e
sem
subst�ncia,
este
Mundo
Sens�vel
�
considerado
como
a
origem
do
mal.
�
A
mat�ria,
por
ser
essencialmente
m�,
n�o
pode
ter
a
sua
origem
na
Divindade
porque
Deus
�
essencialmente
bom.
Na
maioria
das
seitas
gn�sticas,
o
ordenador
do
mundo
material,
isto
�,
o
ser
que
exerce
a
fun��o
de
Demiurgo
�
o
mesmo
Jeov�
do
Velho
testamento.
�
O
homem
�
composto
de
dois
elementos
opostos:
mat�ria
e
esp�rito.
Como
no
Platonismo
Cl�ssico,
a
alma
procede
do
Mundo
Superior
e
se
encontra
aprisionada
na
mat�ria.
Esta
pris�o,
todavia,
n�o
�
eterna
pois
a
alma
�
capaz
de
salvar-se
e
voltar
ao
seu
mundo
de
origem
desde
que
purificada
dos
res�duos
trevosos
da
mat�ria.
Nesta
cren�a
tem
base
o
ascetismo
moral
cuja
finalidade
�
eliminar
as
for�as
negativas
que
aprisionam
a
alma
ao
corpo
material.
Nem
todos
os
gn�sticos,
contudo,
estavam
de
acordo
com
respeito
�
necessidade
do
ascetismo
como
meio
de
purifica��o
da
alma.
Assim,
enquanto
algumas
correntes
gn�sticas
exageravam
nas
pr�ticas
asc�ticas,
outras
como
os
Carpocraceanos,
entregavam-se
a
todos
os
prazeres
da
mat�ria,
defendendo
a
tese
de
que
o
esp�rito
�
muito
fraco
para
se
subtrair
aos
apelos
da
mat�ria.
Como
o
homem
poderia
salvar-se
no
sistema
gn�stico?
Em
regra
geral,
n�o
pode
contar
com
o
Deus
Transcendente,
mas
com
seu
pr�prio
esfor�o
e
com
a��o
de
alguns
Eons
mission�rios
como
O
Logos
Jesus
ou
o
S�ter
(Salvador).
Os
Sete
Serm�es
aos
Mortos
Este
�
epis�dio
fundamental
para
a
nossa
tese.
Trata-se
de
um
fato
estranh�ssimo,
precedido
de
eventos
ins�litos
e
que
culmina
com
a
produ��o
de
um
texto
escrito
de
maneira
pouco
convencional
e
inexplic�vel
pelas
teorias
psicol�gicas
tradicionais.
O
texto
dos
Sete
Serm�es
aos
Mortos
foi
escrito
em
um
breve
espa�o
de
tempo
entre
o
dia
15
de
dezembro
de
1916
e
16
de
fevereiro
de
1917.
Vamos,
ent�o,
conhecer
este
acontecimento
desde
o
in�cio.
Tudo
come�ou
com
uma
esp�cie
de
inquieta��o,
diz
o
pr�prio
Jung.
Era
uma
sensa��o
estranha
que
ele
n�o
podia
explicar.
Em
sua
casa,
a
atmosfera
estava
pesada
como
se
estivesse
povoada
de
seres
sobrenaturais.
A
filha
mais
velha
de
Jung
contou
ao
pai
que
havia
visto
uma
forma
branca
atravessar
a
sala.
Uma
outra
filha,
sem
saber
o
que
acontecera
�
primeira
disse
que,
naquela
noite,
as
cobertas
foram
arrancadas
de
seu
corpo
por
m�os
invis�veis.
O
filho
de
Jung,
ent�o
com
nove
anos,
teve
um
pesadelo.
Pela
manh�,
ao
acordar,
o
menino
pegou
um
l�pis-de-cor
e
desenhou
o
sonho
que
havia
tido.
Na
figura
desenhada
pelo
garoto,
aparece
um
pescador
com
seu
cani�o
que
acaba
de
pescar
um
peixe.
Na
cabe�a
do
pescador
existe
uma
esp�cie
de
chamin�
onde
crepitam
chamas
e
evola
fuma�a.
O
diabo,
vindo
da
outra
margem,
chega
e
protesta
dizendo
que
os
seus
peixes
est�o
sendo
pescados.
Sobre
a
cabe�a
do
pescador
paira
um
anjo
que
fala:
�N�o
lhe
deves
fazer
mal
algum
porque
ele
s�
pesca
peixes
maus.�
Este
sonho
se
deu
da
noite
de
sexta
para
s�bado.
Os
dias
se
passaram
sem
que
a
sensa��o
de
ang�stia
diminu�sse.
Deixemos,
por�m,
a
narrativa
ao
pr�prio
Jung:
No
domingo,
�s
cinco
horas
da
tarde,
a
campanhia
da
porta
de
entrada
soou
insistentemente.
Era
um
dia
claro
de
ver�o
e
as
duas
empregadas
estavam
na
cozinha
de
onde
se
podia
ver
o
que
se
passava
no
espa�o
livre
diante
da
porta.
Eu
estava
relativamente
pr�ximo
�
campanhia,
ouvi
quando
ela
tocou
e
tamb�m
pude
ver
o
badalo
em
movimento.
Imediatamente,
corremos
�
porta
para
ver
quem
era,
entretanto,
ningu�m
havia.
N�s
nos
entreolhamos
estupefatos.
A
atmosfera
estava
terrivelmente
opressiva.
Percebi
que
algo
ia
acontecer.
A
casa
parecia
repleta
de
uma
multid�o,
como
se
estivesse
cheia
de
esp�ritos.
Estavam
por
todas
as
partes,
at�
mesmo
debaixo
da
porta.
Mal
se
podia
respirar.
Naturalmente
uma
pergunta
ardia
em
mim:
em
nome
do
c�u,
o
que
quer
dizer
isso?
Houve,
ent�o
uma
resposta
un�ssona
e
vibrante:
n�s
voltamos
de
Jerusal�m
onde
n�o
encontramos
o
que
busc�vamos.
Essas
palavras
correspondem
�
primeira
linha
dos
Sete
Serm�es
aos
Mortos.99
A
partir
destes
acontecimentos,
Jung
elevado
a
escrever
um
texto,
pode-se
dizer,
compulsivamente,
texto
esse
que,
como
j�
vimos
leva
o
texto
em
latim
de
Septem
Sermones
ad
Mortuos.
O
que,
por�m,
mais
espanta
nessa
obra
�
o
complemento
ou
subt�tulo
onde
se
l�
o
seguinte:
�Sete
exorta��es
aos
Mortos,
escrita
por
Basilides
de
Alexandria,
a
cidade
onde
o
Oriente
e
o
Ocidentes
se
encontram.�
Vamos
abrir
aqui
um
espa�o
para
dizer
ao
leitor
quem
foi
Basilides.
Este
personagem
nasceu
em
Alexandria,
mas
foi
influenciado
pela
gnose
sir�aca,
atrav�s
do
gn�stico
Menandro.
Ensinou
no
tempo
do
Imperador
Adriano
(127-138)
e
Ant�nio
Pio
(138-161).
Conhecemos
a
sua
doutrina
atrav�s
de
Irineu
de
Lion
e
Hip�lito;
entretanto
essas
duas
vers�es
s�o
t�o
diferentes
(quase
antit�ticas)
que
se
deve
evitar
v�las
em
conjunto.
A
principal
preocupa��o
de
Basilides
era
a
exist�ncia
do
mal,
j�
que
n�o
se
pode
atribuir
a
exist�ncia
do
mal
ao
bom
Deus.
Em
segundo
lugar
estava
a
preocupa��o
com
a
Soterologia,
ou
seja,
a
doutrina
da
salva��o.
Desta
dupla
preocupa��o
nasceu
uma
cosmologia
que
pretende
explicar
a
origem
do
Universo.
Votemos,
por�m,
�
Jung.
A
primeira
pergunta
que
nos
ocorre
aqui
�
a
seguinte:
Em
que
consiste
esse
texto
de
C.
G.
Jung?
Uma
leitura
n�o
muito
profunda
de
Os
Sete
Serm�es
nos
revela
um
aspecto
not�vel:
trata-se
de
um
texto
com
as
caracter�sticas
da
Gnose
do
s�culo
II
depois
de
Cristo
e
com
a
linguagem
do
Gnosticiosmo
daquela
�poca.
Naquele
tempo,
Jung
ainda
n�o
possu�a
um
conhecimento
detalhado
daquele
movimento
para
escrever
um
texto
que,
pelo
menos
lembrasse
o
estilo
gn�stico
de
ent�o
e,
muito
menos
ainda,
o
de
Basilides.
Como
explicar
um
fen�meno
desta
natureza?
Por
certo,
nada
podemos
fazer
em
um
caso
como
este
al�m
de
formular
hip�teses
e
formularemos
duas.
Em
primeiro
lugar,
podemos
tomar
os
Sete
Serm�es
como
uma
obra
psicografada
pelo
pr�prio
Basilides
tendo
Jung
como
m�dium
psic�grafo.
Como
vimos
at�
aqui,
Jung
possu�a
v�rias
faculdades
paranormais
ou
medi�nicas
e
n�o
seria
de
todo
improv�vel
que
ele
tivesse
tamb�m
a
da
psicografia.
Em
segundo
lugar,
podemos
admitir
tamb�m
a
possibilidade
de
um
fen�meno
an�mico
e,
assim,
o
texto
seria
resultado
das
lembran�as
de
vidas
passadas
quando
Jung
viveu
em
Alexandria
como
Basilides
ou
como
um
de
seus
disc�pulos.
Em
favor
dessa
hip�teses,
temos
fatos
da
pr�pria
vida
de
Jung
que
parecem
ecos
de
exist�ncias
em
tempos
recuados.
Como
dissemos
h�
pouco,
Basilides
estava
muito
preocupado
com
a
id�ia
do
mal.
Repugnava-lhe
que
em
um
Universo
criado
por
um
Deus
bom,
s�bio
e
justo
pudesse
ter
criado
um
mundo
onde
impera
a
maldade
e
a
injusti�a.
Esta,
vale
a
pena
lembrar,
foi
tamb�m
uma
das
preocupa��es
constantes
da
juventude
de
Jung.
Ele
tamb�m
tinha
dificuldade
em
conciliar
a
no��o
de
Deus
que
lhe
vinha
da
teologia
cat�lico-reformada
e
a
presen�a
do
mal
no
mundo,
inclusive
na
pr�pria
natureza
onde
nem
mesmo
os
animais
eram
poupados
da
injusti�a
e
da
viol�ncia.
�
ainda
poss�vel
argumentar
que
Jung,
em
uma
ou
mais
de
suas
vidas
passadas,
houvesse
encarnado
em
comunidades
her�ticas
como
os
c�taros
onde
o
Gnosticismo
prosseguiu
e
se
desenvolveu
de
outro
modo.
Ora,
a
Igreja
Cat�lica
destruiu,
impiedosamente,
a
ferro
e
fogo,
essas
heresias,
principalmente,
o
Catarismo.
Isso
poderia
justificar
a
atitude
de
desconfian�a
que
Jung
demonstrou
na
inf�ncia,
contra
os
jesu�tas,
os
padres
em
geral
e
o
pr�prio
Jesus
Cristo.
Al�m
disto,
algumas
id�ias
de
Jung
s�o
t�o
estranhas
ao
nosso
tempo
que
alguns
de
seus
admiradores
(e
tamb�m
os
opositores)
chamam
a
sua
psicologia
de
neognosticismo.
Em
seu
livro,
A
Gnose
de
Jung
e
os
Sete
Serm�es
aos
Mortos,
Stephan
A.
Hoeller
apresenta,
uma
descri��o
interessant�ssima
de
Jung
que
vale
�
pena
registrar
aqui:
(...)
O
Dr.
Jung
�
um
vidente
e
um
m�stico
no
estilo
dos
magos
do
Renascimento.
Sei,
j�
h�
algum
tempo,
que
existe
nele
algo
mais
do
que
percebem
os
olhos
acad�micos.Entre
seus
amigos
e
colaboradores
existem
pessoas
com
interesses
peculiares
e
n�o
convencionais.
Fui
informado
de
que
um
de
seus
disc�pulos
italiano
�
teosofista
enquanto
um
seguidor
ingl�s,
tamb�m
m�dico,
tornou-se
seguidor
de
um
feiticeiro
russo.
Deve
haver
tamb�m
algum
v�nculo
entre
ele
e
o
grupo
fundado
pelo
m�stico
austr�aco
Rudolf
Steiner100
com
sede
na
Su��a.
Quase
todos
n�s
sabemos
que
o
Dr.
Jung
era
fascinado
pelo
espiritualismo
e
que
obteve
o
seu
doutoramento
escrevendo
uma
tese
sobre
os
fen�menos
ocultos.
Alguns
acreditam
que
ele
seja
um
pag�o
espiritualista,
enquanto
outros
o
acusam
de
tender
para
o
Cristianismo.101
Como
Jung
via
esta
obra?
Tempos
mais
tarde,
quando
interrogado
sobre
este
texto
estranho,
ele
se
limitou
a
dizer
entre
dentes
que
havia
sido
uma
�indiscri��o
juvenil�.
A
afirma��o
�,
no
m�nimo,
inusitada
se
lembrarmos
que,
em
1916,
quando
os
Sete
Serm�es
foram
escritos,
Jung
nascido
em
1875,
estava
com
41
anos,
o
que,
convenhamos,
n�o
�
uma
idade
que
se
possa
chamar
de
juvenil.
Aniela
Jaf�,
uma
de
suas
disc�pulas
mais
fi�is
e
conservadoras,
a
mesma
que
copilou
os
textos
de
Jung
para
a
publica��o
do
livro
autobiogr�fico
Mem�rias,
Sonhos
e
Reflex�es
gostava
de
perpetuar
o
mito
da
�indiscri��o
juvenil�.
Por
seu
turno,
Marie
-Louisie
von
Franz,
outra
disc�pula
de
Jung
(e
da
maior
import�ncia)
n�o
via
naquela
obra
do
mesmo
modo
e
evitava
considera-la
uma
tolice
juvenil.
Lembra
Hoeller
que
uma
comiss�o
de
junguianos,
reunida
em
Los
Angeles,
Calif�rnia,
em
1975,
comemorando
o
centen�rio
de
Jung,
considerou
os
Sete
Serm�es
aos
Mortos
como
a
base
da
Psicologia
Anal�tica.
H�
aqui
uma
quest�o
a
se
levantar:
por
que
Jung
n�o
se
desfez
de
sua
�indiscri��o
juvenil�?
Por
que
n�o
a
guardou
consigo,
a
sete
chaves,
exigindo
que
s�
fosse
publicado
depois
de
sua
morte,
como
o
fizeram
alguns
escritores
cujos
textos
eles
consideraram
comprometedores?
N�o.
Ele
n�o
fez
isso,
muito
pelo
contr�rio,
ele
fez
uma
edi��o
particular
para
um
grupo
de
seus
amigos
�ntimos
que
logo
foi
traduzida
para
a
l�ngua
inglesa.
Em
verdade,
Jung
sempre
esteve
muito
interessado
no
Gnosticismo.
Ainda
em
1912,
em
uma
carta
escrita
a
Freud,
datada
de
12
de
agosto,
ele
faz
uma
franca
e
aberta
apologia
ao
pensamento
gn�stico.
Nessa
carta
ele
chama
a
Gnose
de
sofia
(sabedoria)
e
fala
da
contribui��o
que
ela
poderia
dar
�Psican�lise.
�
muito
prov�vel
que
Freud
n�o
tenha
dado
ao
assunto
a
mesma
import�ncia
dada
por
Jung.
At�
aquela
�poca,
a
literatura
gn�stica
com
que
Jung
tivera
contato
provinha
de
fontes
indiretas
como
alguns
textos
de
eruditos
alem�es
do
naipe
Leisemberg,
Carl
Smith
e
de
estudiosos
franc�ses
como
Jacques
Matter
e
Anatole
France.
Este
tipo
de
leitura,
posto
que
de
segunda
m�o,
levou
Jung
a
ter
muitomais
do
que
um
mero
interesse
pela
Gnose.
�s
vezes,
ele
parece
ter,
para
com
aqueles
s�bios
antigos,
uma
profunda
afinidade.
B�rbara
Hanah
narra
que,
certo
dia,
Jung
teria
dito
com
respeito
aos
gn�sticos:
senti
como
se,
finalmente,
houvesse
encontrado
um
c�rculo
de
amigos
que
me
entendiam.
Isso
mesmo,
um
c�rculo
de
amigos
de
vidas
passadas
que
o
entendessem
e
que
ele
encontrava
de
novo
atrav�s
de
textos
que
chegaram
ao
s�culo
XIX.
Havia,
contudo,
um
problema:
os
textos
sobre
Gnose
tinha
a
sua
origem
em
uma
literatura
de
segunda
m�o,
origin�ria
dos
padres
da
Igreja
Cat�lica,
Irineu
e
Hip�lito,
textos
fragmentados
e
demasiadamente
ideol�gicos
que
distorciam
a
verdade
sobre
a
Gnose
para
servir
a
interesses
do
Clero.
Esta
situa��o
melhorou,
sensivelmente,
com
a
descoberta
da
Biblioteca
de
Nag-Hammadi
que
se
deu
em
1945.
Vamos
tratar
um
pouco
desta
descoberta.
Em
dezembro
de
1945,
um
rapaz
�rabe
fez
uma
not�vel
descoberta
arqueol�gica
na
regi�o
do
Alto
Egito,
perto
da
cidade
de
Nag-Hammadi,
em
uma
regi�o
montanhosa
onde
havia
cerca
de
150
cavernas
incrustradas.
O
descobridor,
um
campon�s
chamado
Muhammed-Al-Salmmam,
foi
o
respons�vel
por
ter
vindo
�
luz
uma
verdadeira
biblioteca
gn�stica
pertencente,
segundo
se
soube,
mais
tarde
a
uma
comunidade
gn�stica
que
existiu
ali
nos
prim�rdios
da
Igreja
Primitiva.
Na
cole��o
de
textos,
havia,
entre
outros:
O
Evangelho
de
Tom�,
ap�stolo;
o
Evangelho
de
Filipe;
O
Evangelho
da
Verdade;
O
Evangelho
dos
Eg�pcios;
O
Livro
Secreto
de
Tiago;
O
Apocalipse
de
Paulo;
A
Ep�stola
de
Pedro
a
Filipe
e
O
Apocalipse
de
Pedro.
Carl
Gustav
Jung
interessou-se,
vivamente
por
essa
descoberta
como
era
de
se
esperar.
Foi
um
amigo
de
Jung,
o
professor
Gilles
Quispel
que
traduziu
os
livros
de
Nag-Hammadi.
Quispel
afirmou
que,
de
uma
certa
feita,
a
participa��o
de
Jung
foi
fundamental
para
a
publica��o
e
divulga��o
da
biblioteca
gn�stica.
Fa�amos,
agora,
um
esfor�o
de
imagina��o
e
veremos
Jung
caminhando
pelas
ruas
apinhadas
de
gente
indo
na
dire��o
da
grande
biblioteca
de
algum
templo.Provavelmente
vestia
uma
fin�ssima
t�nica
de
linho
eg�pcio;
talvez
estivesse
indo
fazer
uma
confer�ncia
sobre
o
Deus
potent�ssimo
e
as
suas
rela��es
com
o
Demiurgo,
talvez
desenvolver�
perante
aos
seus
disc�pulos
uma
teoria
com
respeito
aos
Eons
que
foram
emanados
da
Intelig�ncia
divina;
tudo
isso,
naturalmente,
�
um
esfor�o
de
imagina��o
e
nada
mais,
com
ele,
desejamos
explicar,
n�o
s�
a
origem
dos
Sete
Serm�es,
como
o
amor
que
Jung
manteve
durante
toda
a
sua
vida
pelo
pensamento
gn�stico.
Verdade:
fantasia?
Uma
tese
puramente
imagin�ria,
um
romance
subliminar
como
dizia
Theodore
Flounoy?
Todas
essas
perguntas
ficam
neste
texto
como
um
desafio,
n�o
�s
nossas
cren�as
individuais,
mas
�
nossa
capacidade
de
procurar
a
verdade
onde
quer
que
ela
possaestar.
�
guisa
de
curiosidade,
vamos
reproduzir,
fechando
este
capitulo,
o
segundo
desses
serm�es.
Os
mortos
se
ergueram
durante
a
noite
junto
�s
paredes
e
gritavam:
�Queremos
saber
sobre
Deus.
Onde
est�
Deus?
Deus
est�
morto?�
Deus
n�o
est�
morto;
ele
est�
t�o
vivo
quanto
sempre
esteve.
Deus
�
o
mundo
criado
�
medida,
algo
definido,
�,
portanto,
diferenciado
do
Pleroma.102
Deus
�
uma
qualidade
do
Pleroma
e
tudo
o
que
afirmei
sobre
o
mundo
criado
�,
igualmente,
verdadeiro
no
que
a
Ele
se
refere.
Entretanto,
Deus
se
distingue
do
mundo
criado,
pois
�
menos
definido
e
defin�vel
do
que
o
mundo
criado
em
geral.
Ele
�
menos
diferenciado
do
que
o
mundo
criado,
porque
a
ess�ncia
de
seu
ser
�
efetiva
plenitude
e
�
s�
na
medida
de
sua
indefini��o
e
diferencia��o
que
Ele
�
id�ntico
ao
mundo
criado;
portanto,
Ele
representa
a
manifesta��o
efetiva
do
Pleroma.
Tudo
o
que
n�o
diferenciamos
se
precipita
no
Pleroma
e
anula-se
com
seu
oposto.
Portanto,
se
n�o
discernirmos
Deus,
a
plenitude
efetiva
elimina-se
para
n�s.
Deus
�
tamb�m
o
pr�prio
Pleroma
da
mesma
forma
que
cada
um
dos
pontos
mais
min�sculos
dentro
do
mundo
criado
constitui
o
pr�prio
Pleroma.
O
vazio
efetivo
�
o
ser
do
dem�nio.
Deus
e
o
dem�nio
s�o
manifesta��es
do
nada
a
que
chamamos
Pleroma.
N�o
importa
se
o
Pleroma
existe
ou
n�o,
porque
se
anula
em
todas
as
coisas.
O
mundo
criado,
entretanto,
�
diferente.
Na
medida
em
que
Deus
e
o
dem�nio
s�o
seres
criados,
ele
se
suprimem
mutuamente,
mas
resistem
um
ao
outro
como
opostos
ativos.
N�o
necessitamos
de
provas
da
sua
exist�ncia;
basta
que
sejamos
obrigados
a
falar
sempre
deles.
Mesmo
que
eles
n�o
existissem,
o
ser
criado
devido
a
sua
pr�pria
natureza,
os
conduziria,
continuamente
ao
Pleroma.
Tudo
se
origina
no
Pleroma
pela
diferencia��o
que
constitui
pares
opostos;
portanto
Deus
sempre
tem
consigo
o
dem�nio.
Como
aprendeste,
esse
inter-relacionamento
�
t�o
intimo,
t�o
indissol�vel
em
nossas
vidas
que
se
apresenta
como
o
pr�prio
Pleroma
no
qual
todos
os
opostos
se
anulam
e
se
unificam.
Deus
e
o
dem�nio
distinguem-se
pela
plenitude
e
pelo
vazio,
pela
gera��o
e
pela
destrui��o.
A
atividade
�
comum
a
ambos.
A
atividade
unifica-os.
Eis
por
que
acima
de
ambos,
sendo
Deus
acima
de
Deus
por
unificar
a
plenitude
e
o
vazio
em
seu
trabalho.
H�
um
Deus
sobre
o
qual
nada
sabeis
porque
os
homens
se
esqueceram
dele.
Nos
o
chamamos
por
seu
nome,
Abraxas.
Ele
�
menos
definido
do
que
Deus
e
o
dem�nio.
Para
distinguir
Deus
dele,
chamaremos
a
Deus
H�lio
ou
Sol.
Abraxas
�
a
atividade;
nada
pode
resistir-lhe,
exceto
o
irreal,
e,
assim,
o
seu
ser
ativo
se
desenvolve
livremente.
O
irreal
n�o
existe,
portanto
n�o
pode,
de
fato
existir.
Abraxas
permanece
acima
do
Sol
e
acima
do
dem�nio.
Ele
�
o
improv�vel
prov�vel
que
�
poderoso
no
plano
da
irrealidade.
Se
o
Pleroma
pudesse
ter
uma
exist�ncia,
Abraxas
seria
a
sua
manifesta��o.
Embora
ele
seja
a
pr�pria
atividade,
n�o
constitui
um
resultado
espec�fico,
mas
um
resultado
geral.
Ele
representa
a
n�o-realidade
ativa
porque
n�o
possui
um
resultado
definido.
Ele
�
ainda
um
ser
criado
�
medida
que
se
diferencia
do
Pleroma.
O
sol
exerce
um
efeito
definido,
assim
como
o
dem�nio;
portanto
eles
se
apresentam
muito
mais
efetivos
do
que
o
indefin�vel
Abraxas.
Pois
ele
�
poder,
persist�ncia
e
muta��o.
Nesse
momento,
os
mortos
provocam
uma
grande
rebeli�o
porque
eram
crist�os.103
99
Jung
Mem�rias,
Sonhos
e
Reflex�es
p�g.
169
100
Steiner
Rudolf
(1861-1925).
Fil�sofo
austr�aco.
Criador
da
Antroposofia,
defendia
a
tese
da
exist�ncia
de
um
mundo
espiritual
compreensivo
ao
pensamento
puro.
Nota
do
Editor
101
Hoeler.
Op.
cit.
p.
24
102
No
sistema
gn�stico
de
Valentim,
Pleroma
�
o
mundo
supraceleste.
Imerso
nele
vivem
o
Pneuma
e
a
Luz.
Est�
integrado
ainda
por
um
conjunto
de
30
Eons,
distribu�do
em
tr�s
se��es
distintas:
Ogd�ada,
D�cada
e
Dod�cada
103
Hoeller.
In.
Gnose
de
Jung.
pg
91
Em
1922,
em
um
local
encantador
(e
encantado?)
perto
da
margem
superior
do
lago
Zurich,
em
Bollingen,
no
Distrito
de
Saint
Meinrad
que,
no
passado,
havia
pertencido
�
antiga
Igreja,
propriedade
da
velha
abadia
de
Saint
Gall,
Jung
comprou
um
peda�o
de
terra.
De
in�cio,
ele
imaginou
chegar
ali
um
tipo
de
morada
r�stica,
quase
como
as
primitivas
cabanas
africanas,
que
lhe
servisse
de
abrigo
para
o
corpo
e
para
a
alma.
Depois,
abandonou
esta
id�ia
e
resolveu
fazer
uma
casa
como
outra
qualquer,
embora
grande
e
confort�vel.
Deste
modo,
no
ano
seguinte,
naquele
lugar,
se
ergueu
a
casa
de
Jung
e,
s�
depois
de
constru�da
foi
que
ele
percebeu
que
a
resid�ncia
havia
tomado
a
forma
de
uma
torre.
A
torre
lhe
pareceu
uma
�tima
descoberta.
Ela
lhe
transmitia
uma
sensa��o
de
paz
e
de
conforto,
como
n�o
havia
imaginado
antes,
entretanto,
ele
imaginava
que
faltava
ainda
alguma
coisa
na
casa,
por
isso,
quatro
anos
mais
tarde,
em
1927,
Jung
mandou
construir
um
anexo,
uma
constru��o
central,
tamb�m
em
forma
de
torre.
Jung
estava
feliz
com
a
sua
torre,
contudo,
consideravam
que
ela
ainda
n�o
estava
completa.
Estava
boa,
mas
poderia
ficar
melhor.
Passaram-se
mais
quatro
anos
e,
em
1931,
ele
fez
mais
uma
reforma
e
a
casa
ficou
como
ele
achava
que
deveria
ser.
Nessa
reforma
reservou
um
espa�o
especial
que
seria
para
ele.
Lembrou-se
de
que,
nascasas
da
�ndia,
havia
sempre
um
pequeno
c�modo,
ou
mesmo
uma
divis�o
em
dois
c�modos,
onde
se
podia
meditar
e
fazer
exerc�cios
de
Yoga.
Nesse
lugar
de
sua
casa,
Jung
constr�i
uma
esp�cie
de
abrigo
solit�rio,
lugar
s�
dele,
do
qual
s�
ele
tem
a
chave
e
onde
ningu�m
mais
poderia
entrar.
Ele
dizia
que
aquele
c�modo
era
o
lugar
de
sua
concentra��o
espiritual.
Cada
vez
mais
entusiasmado
com
a
sua
nova
casa,
Jung
vai
aumentando
o
seu
espa�o
exterior.
Acrescenta
�
casa
uma
�loggia�
do
lado
do
lago.
Em
Bollingen,
Jung
se
encontra
consigo
mesmo
e
com
a
natureza.
Bollingen
parece
ter
alma.
Com
emo��o,
ele
escreve
sobre
a
sua
casa
junto
ao
lago:
Aqui
sou
mais
autenticamente
eu
mesmo
naquilo
que
me
concerne.
Aqui
sou,
por
assim
dizer,
um
filho
�arquivelho
de
sua
m�e.�
Assim
falava
a
sabedoria
dos
alquimistas
pois,
�o
velho,�
�arquivelho�
que
se
sentira
em
mim
quando
crian�a,
�
a
personalidade
numero
dois
que
sempre
viveu
e
sempre
viver�
fora
do
tempo,
filho
dos
inconsciente
materno.
Em
minhas
fantasias,
o
�arquivelho�
toma
a
forma
de
Filemon
e
este
era
vivo
em
Bollingen.104
Bollingen,
todavia,
tamb�m
possu�a
seus
mist�rios,
a
sua
aura
de
sobrenaturalidade
que,
talvez,
em
verdade,
n�o
estivesse
no
lugar,
mas
no
pr�prio
Jung.
Uma
tarde,
Jung
estava
sentado
junto
ao
fogo
sobre
o
qual
ele
havia
colocado
uma
vasilha
com
�gua
para
lavar
a
lou�a.
Pouco
a
pouco,
a
�gua
foi
esquentando...esquentando...
at�
que
come�ou
a
ferver,
a
borbulhar
com
a
panela
chiando
como
um
ser
vivo
que
respirasse
abafado.
Nesse
momento,
ele
tem
a
impress�o
n�tida
de
ouvir
um
coro
de
vozes,
acompanhado
de
instrumentos
de
corda
ou
algo
que
se
assemelha
a
a
uma
orquestra.
Era
uma
polifonia,
tipo
de
m�sica
que
Jung
detestava;
entretanto,
aquele
polifonia
pareceu-lhe
diferente.
Era
como
se
houvesse
duas
orquestras:
uma
tocando
dentro
da
torre
e
a
outra
l�
fora,
confundindo-se
com
o
som
do
vento
entre
os
galhos
das
�rvores.
Teve
a
sensa��o
de
que
as
duas
orquestras
dialogavam,
ora
predominando
o
som
de
uma
ora
o
de
outra.
Jung
sentou-se
fascinado
e
p�s-se
a
ouvir
por
mais
de
uma
hora
aquele
concerto
fant�stico
que
ele
chamava
de
�m�gica
melodia
da
natureza�.
Era-lhe
muito
estranha
aquela
m�sica,
a
um
tempo
suave
e
selvagem,
em
outro
harmoniosa,
ca�tica
e
cheia
de
contrastes.
T�o
inusitada
era
aquela
melodia
que
Jung
confessa
a
sua
impossibilidade
de
descrev�-la.
De
onde
viria
aquela
m�sica?
Teria
sido
criada
pela
imagina��o
de
Jung
em
contato
com
a
natureza
de
Bollingen?
N�o
�
esta
uma
hip�tese
descart�vel
uma
vez
que
Bollingen
possu�a
os
seus
mist�rios.
No
in�cio
da
primavera
de
1924,
Jung
estava
sozinho
em
Bollingen.
Tinha,
como
na
ocasi�o
anterior
esquentado
o
fogo
para
aquecer
a
�gua.
A
noite
chega
vagarosa,
mansa,
lenta
e
pontuada
de
mist�rios.
Mais
tarde,
Jung
foi
deitar-se.
Tentou
dormir.
No
meio
da
noite,
ouviu
passos
de
pessoas
do
lado
de
fora.
Teve
a
impress�o
de
que
algu�m
caminhava
em
torno
da
torre,
tocando
misteriosa
melodia.
Com
a
m�sica
vinham
vozes
e
risos
de
pessoas.
O
que
significava
aquilo?
S�
havia
um
atalho
ao
longo
do
lago
e
era
raro
que
algu�m
passasse
por
ele.
Pensou
Jung.
Cresce
nele
uma
certa
agita��o,
levanta-se
e
abre
a
janela,
l�
fora
nada
havia,
al�m
do
sil�ncio
quebrado
apenas
pelos
barulhos
da
noite.
Fecha
a
janela.
Tinha
sido
pura
impress�o,
impress�o
forte,
mas
apenas
impress�o.
Jung
relata
esta
experi�ncia
do
seguinte
modo:
Que
coisa
estranha.
Estava
certo
de
que
os
ru�dos
e
passos,
os
risos
e
as
conversas
haviam
sido
reais.
Mas,
ao
que
parecia,
fora
apenas
um
sonho.
Voltei
�
cama
e
fiquei
refletindo
sobre
o
nosso
poder
de
criar
ilus�es.
Como
havia
sido
poss�vel
que
eu
tivesse
um
tal
sonho?
Adormeci
e
de
novo
o
sonho
recome�ou.
Ouvi,
novamente,
os
passos,
a
conversa,
o
riso
e
a
m�sica.
E,
ao
mesmo
tempo,
a
representa��o
visual
de
centenas
de
pessoas
vestidas
de
preto,
talvez
jovens
camponeses
com
suas
roupas
domingueiras,
vinda
da
montanha
em
multid�o
que
passava
pelos
dois
lados
da
torre,
batendo
os
p�s,
rindo,
cantando
e
tocando
sanfona.
Irritado,
pensei:
��
de
se
mandar
ao
diabo!�
Imaginei
que
se
tratasse
de
um
sonho
e
eis
que,
agora,
�
verdade!
Acordei
emocionado.
Levantei-me
depressa,
abri
as
janelas
e
as
venezianas,
mas
tudo
estava
como
antes:
noite
enluarada
e
sil�ncio
de
morte.
Disse,
ent�o,
para
mim:
�S�o
simples
fantasmas�.105
Jung
se
debate
em
d�vidas.
Por
certo
havia
sonhado,
mas
tinha
sido
t�o
real!
J�
n�o
poderia
dizer
com
seguran�a
total
se
estava
dormindo
ou
acordado
e,
portanto,
n�o
poderia
afirmar
se
aquilo
havia
sido
sonho
ou
realidade.
Se
fosse
um
sonho
arquet�pico
deveria
ser
uma
nova
mensagem
de
seu
inconsciente,
mas
o
que
significavam
aquelas
pessoas
rindo
e
dan�ando?
Jung
n�o
tinha
resposta
para
esta
pergunta.
Mais
tarde,
contudo,
voltou
a
pensar
sobre
o
caso
e
lhe
deu
uma
nova
interpreta��o.
O
fato
que
o
levou
a
retomar
a
quest�o
que
o
atormentara
naquela
noite
em
Bollingen,
foi
o
seguinte:
Certo
dia,
chegou
�s
m�os
de
Jung
um
texto
chamado
A
Cr�nica
Lucernense,
escrita
no
s�culo
XVIII
por
Rennward
Cysat.
Nesta
cr�nica,
encontra-se
a
hist�ria
que
passo
a
contar:
em
um
pasto
do
monte
Pilatos,
qu�s
encontra
sempre
deserto
porque
se
acredita
que,
por
l�,
vaguem
esp�rito
dos
mortos.
Votan106
continua
na
terra
at�
aos
nossos
dias.
O
autor
da
cr�nica
conta
que,
certa
vez,
havia
sido
perturbado
por
uma
prociss�o
que,
no
meio
da
noite,
cantava
e
dan�ava,
passando
por
ambos
os
lados
da
cabana
em
que
ele
se
encontrava.
Como
se
pode
ver
h�
uma
grande
analogia
entre
o
relato
do
cronista
e
o
que
aconteceu
a
Jung.
No
dia
seguinte,
ao
acordar,
preocupado
com
o
que
havia
acontecido
durante
a
noite,
Cysat
perguntou
ao
seu
anfitri�o
que
deveria
ter
sido
aquilo
que
ouvira
na
noite
passada.
O
homem
respondeu
que
deveria
ser
os
bem-aventurados
ou
as
almas
dos
mortos
conduzidas
por
Votan.
Apesar
desta
informa��o,
Jung
prefere
interpretar
o
que
havia
ouvido
e
visto,
como
uma
esp�cie
de
alucina��o,
produzida
pela
emo��o
e
pelo
sil�ncio.
Afinal
era
comum,
nos
desertos,
os
heremitas107
passarem
por
experi�ncias
alucinantes
deste
tipo.
Ser�,
por�m,
que
haveria
uma
prociss�o
de
defuntos
vagando
por
ali
�
noite
e
Jung
a
houvesse
captado?
Vamos
mais
uma
vez
trazer
para
este
texto
o
depoimento
do
pr�prio
Jung
sobre
a
sua
paranormalidade:
Poderia
tamb�m
explic�-lo
como
um
fen�meno
de
sincronicidade.
Esses
fen�menos
mostram
como
os
acontecimentos
que
acreditamos
conhecer
(pois
os
percebemos,
ou
supomos
perceber,
por
meio
de
um
sentido
interior),
tem
muitas
vezes
correspond�ncia
na
realidade
exterior.
Ora,
h�
de
fato
uma
correspond�ncia
concreta
relativa
a
essas
experi�ncias,
pois,
na
Idade-M�dia,
houve
tais
prociss�es
de
jovens.
Eram
filas
de
mercen�rios
que,
principalmente,
na
primavera,
iam
do
centro
da
Su��a
para
Locarno,
onde
se
reuniam
na
casa
de
Ferro,
em
Min�sio
e
de
l�
continuavam
at�
Mil�o.
Na
It�lia
se
tornavam
soldados
e
combatiam
a
soldo
estrangeiro.
Eu
poderia,
portanto,
ter
captado
a
imagem
de
um
desses
bandos
que
se
organizavam
todos
os
anos
na
primavera
e
que
com
cantos
e
festividade,
despediam-se
de
sua
p�tria.108
Bolling,
entretanto,
�
um
espa�o
que
guarda
consider�veis
surpresas
no
campo
da
espiritualidade.
Quando
em
1923,
Jung
come�ou
a
construir
a
sua
casa,
a
sua
filha
mais
velha
veio
visita-lo
e,
durante
a
visita,
teve
com
o
pai
a
seguinte
conversa:
Pai,
voc�
est�
construindo
aqui?
Sim,
estou.
Qual
�
o
problema?
Mas
aqui
h�
cad�veres.
Jung
n�o
levou
esta
conversa
�
frente
e
considerou
aquilo
uma
frase
solta,
uma
dessas
coisas
que
a
gente
diz
sem
pensar
e
nem
mesmo
sabe
o
que
disse.
O
tempo
passou.
Quatro
anos
mais
tarde,
durante
a
constru��o,
foi
encontrado
um
esqueleto
no
terreno.
O
esqueleto
estava
a
uns
dois
metros
de
profundidade
e,
em
seu
cotovelo
direito,
havia
uma
velha
bala
de
fuzil.
O
corpo,
muito
provavelmente,
pertenceria
a
um
soldado
franc�s
e
havia
atirado
ali
em
estado
de
decomposi��o.
Ao
descobrir
o
corpo,
Jung
tomou
a
decis�o
de
dar
ao
soldado
morto
uma
sepultura.
Organizei,
ent�o,
em
minha
propriedade,
um
enterro
em
boa
e
devida
forma
para
um
soldado
e
tr�s
tiros
de
salva
em
sua
sepultura.Depois,
pus
sobre
ela
uma
pedra
tumular
com
uma
inscri��o.
Minha
filha
pressentira
a
presen�a
do
cad�ver.
Sua
faculdade
de
ter
pressentimentos
�
uma
heran�a
da
av�
materna.109
Deixemos,
por�m,
Bollingen
com
a
sua
prociss�o
de
almas
penadas,
cantando
e
dan�ando
nas
noites
de
lua
cheia
junto
a
torre
da
casa
que
Jung
constru�ra
e
vamos
dar
continuidade
a
esse
estudo
pois
ainda
h�
muitas
coisas
que
Jung
nos
revelar�
ao
longo
desses
cap�tulos
finais.
104
Jung.
Op.
cit.
P.
98
105
Jung.
Op.
cit.
p.
205
106
Deus
da
mitologia
germ�nica
que
se
relaciona
com
o
mundo
dos
mortos.
107
Solit�rio,
ermit�o,
pessoa
que
vive
no
deserto
108
Jung.
Op.
cit.
p.
206
109
Jung.
Op.
Cit.
p.
207
Estamos
em
1944,
Jung
est�
com
69
anos.
Havia,
ent�o,
fraturado
um
p�
e
sofrido
um
enfarte.
Durante
a
sua
fase
de
inconsci�ncia,
Jung
teve
muitas
vis�es.
Mais
tarde,
quando
j�
convalescia,
a
sua
enfermeira
disse
ter
visto,
em
torno
dele,
um
halo
de
luz
fosca.
Ela,
por
certo
m�dium
vidente
explicou-
lhe
que
j�
havia
visto,
em
outras
ocasi�es,
junto
a
pessoas
moribundas
aquele
mesmo
fen�meno.
As
imagens
que
Jung
teve
nesse
per�odo
de
sua
vida,
deixaram-no
muito
preocupado
porque
lhe
pareceram
demasiadamente
estranhas.
Vamos,
ent�o,
como
j�
o
fizemos
muitas
vezes
nos
valer
do
pr�prio
Jung
porque,
neste
trabalho,
deixar
que
ele
se
manifeste
ao
m�ximo,
�
fundamental:
Eu
parecia
estar
muito
alto
no
espa�o
c�smico.
Muito
longe,
abaixo
de
mim.
Eu
via
o
globo
terrestre
mergulhado
em
uma
luz
maravilhosamente
azul.
Via
tamb�m
o
mar
de
um
azul
intenso
e
os
continentes.
Justamente,
aos
meus
p�
estavam
o
Ceil�o
e
a
um
p�
mais
�
frente,
o
subcontinente
indiano.
Meu
campo
visual
n�o
abarcava
toda
a
Terra,
por�m,
a
sua
forma
esf�rica
era
nitidamente
percept�vel
e
seus
contornos
brilhavam
como
prata
atrav�s
da
maravilhosa
cor
azul.
Em
certas
regi�es
a
esfera
terrestre
parecia
colorida
ou
marchetada
de
um
verde
escuro
como
prata
oxidada.
Bem
longe,
�
esquerda,
uma
larga
extens�o
do
deserto
vermelho-alaranjado
da
Ar�bia.
Era
como
se
ali
a
prata
houvesse
tomado
uma
tonalidade
cor
de
laranja.
Adiante
o
Mar
Vermelho,
e
mais
al�m
como
no
�ngulo
superior
de
um
mapa,
pude
ainda
surpreender
uma
nesga
do
Mediterr�neo.
Meu
olhar
voltara-se
sobretudo
para
essa
dire��o,
ficando
o
restante
impreciso.
Evidentemente
via
tamb�m
os
cumes
elevados
do
Himalaia,
mas
cercado
de
rumas
e
nuvens.
N�o
olhava
�
direita.
Sabia
que
estava
prestes
a
deixar
a
Terra.110
Este
�
um
caso
t�pico
de
desdobramento
em
que
Jung,
deixando
o
corpo,
ascende
at�
a
uma
grande
altura,
mais
ou
menos,
segundo
avalia��o
do
pr�prio
Jung,
cerca
de
1500
quil�metros.
H�
um
detalhe
nesse
curios�ssimo
relato:
o
desdobramento
se
d�
em
1944
e
Jung
afirma
com
insist�ncia
e
maravilhado
que
a
Terra
�
azul.
At�,
ent�o,
ningu�m
havia
dito
isto
pois
jamais
pessoa
alguma
estivera
em
situa��o
t�o
privilegiada
para
fazer
uma
afirma��o
assim.
Nos
anos,
sessenta,
contudo,
o
astronauta
russo
Yuri
Gagarin,
o
primeiro
homem
a
viajar
no
espa�o,
faz
uma
afirma��o
que
se
tornou
manchete
na
maioria
dos
grandes
jornais
do
mundo:
�A
Terra
�
azul.�
Nas
palavras
do
astronauta,
encontra-se
a
mesma
sensa��o
de
euforia
e
de
entusiasmo
que
Jung
tamb�m
registra.
Jung
continua
falando
de
sua
vis�o.
Diz,
ent�o,
que,
naquele
momento,
possu�a
um
total
controle
sobre
a
sua
vontade
e
uma
esp�cie
de
consci�ncia
integral
da
experi�ncia
vivida.
Conta
ele
que,
depois
dealguns
momentos
de
contempla��o,
d�
as
acosta
para
o
Oceano
�ndico,
com
o
rosto
voltado
para
o
Norte.
De
repente,
ele
v�
a
uma
curta
dist�ncia
um
meteorito
mais
ou
menos
do
tamanho
de
uma
casa.
Observa
que
a
pedra
flutuava
no
espa�o
como
ele.
Para
seu
espanto,
Jung
percebe
que
poderia
entrar
na
pedra
(de
fato
em
outra
dimens�o,
n�o
�
imposs�vel).
E
o
que
ele
v�?
Deixemos,
por�m,
que
ele
nos
revele
isso.
Uma
entrada
dava
acesso
a
um
pequeno
vest�bulo.
�
direita,
sobre
um
banco
de
pedra,
estava
sentado,
na
posi��o
de
l�tus,
inteiramente
distendido
e
repousado,
um
hindu
de
pele
bronzeada,
vestido
de
branco
que
me
esperava
sem
dizer
uma
palavra.
Dois
degraus
levavam
�quele
vest�bulo.
No
interior
�
esquerda,
abria-se
a
porta
do
templo.
V�rios
nichos,
cheios
de
�leo
de
coco
em
que
ardiam
mechas,
cercavam
a
porta
de
uma
coroa
de
pequenas
chamas
clara.
Isso
eu
realmente
vira
em
Kandy
na
ilha
do
Ceil�o,
quando
visitara
o
templo
do
Dente
Sagrado;
in�meras
fileiras
de
l�mpadas
a
�leo
cercavam
a
entrada
dele.111
Quando
ele
se
aproxima
dos
degraus
pelos
quais
se
chegava
ao
rochedo,
ocorreu-lhe
algo
inesperado:
tudo
que
ent�o
havia
sido,
afasta-se
dele.
Era
como
se
lhe
houvessem
retirado
uma
esp�cie
de
casca
que
lhe
havia
servido
de
cobertura.
Tudo
em
que
ele
acreditava,
desejava
ou
pensava,
toda
a
fantasmagoria
da
vida
terrestre
se
desligava
dele
ou
lhe
era
retirado
por
um
processo
que
qualifica
de
doloroso.
Alguma
coisa,
todavia,
continuava
nele
porque
ele
tinha
a
impress�o
de
que
estava
a
seu
lado
tudo
o
que
vivera
e
fizera,
tudo
o
que
havia
se
desenrolado
em
sua
volta.
Voltemos
a
nos
contatar
com
o
texto
de
C.
G.
Jung:
Poderia
da
mesma
maneira
dizer:
estava
perto
de
mim
e
eu
estava
l�;
tudo
isso,
de
certa
forma
me
compunha.
Eu
era
feito
de
minha
hist�ria
e
tinha
certeza
de
que
era
bem
eu.
Eu
sou
o
feixe
daquilo
que
me
cumpriu
e
daquilo
que
foi.
Essa
experi�ncia
me
deu
a
impress�o
de
uma
extrema
pobreza,
mas,
ao
mesmo
tempo,
de
uma
enorme
satisfa��o.
N�o
tinha
mais
nada
a
querer
nem
a
desejar;
poder-se-ia
dizer
que
eu
era
objetivo;
era
aquilo
que
havia
vivido.
No
princ�pio
dominava
o
sentimento
de
aniquilamento,
de
ser
roubado
ou
despojado;
depois
disto,
tamb�m
desapareceu.
Tudo
isso
parecia
ter
passado;
o
que
restava
era
um
fato
consumado
sem
nenhuma
refer�ncia
ao
que
havia
sido
antes.
Nenhum
pesar
de
que
alguma
se
perdesse
ou
fosse
arrebatada.
Ao
contr�rio,
eu
tinha
tudo
o
que
era
e
tinha
apenas
isso.112
Jung
passa
por
uma
experi�ncia
muito
semelhante
�quela
contada
por
pessoas
que
passaram
por
experi�ncia
de
quase
morte,
experi�ncias
contadas
por
pelos
doutor
Raymond
Moody
Jr.
em
seu
livro
Vida
Depois
da
Morte.
Em
muitos
desses
relatos,
as
pessoas
tem
a
impress�o
de
verem
suas
vidas,
passarem
a
sua
frente,
ante
seus
olhos
como
em
um
filme
seq�enciado.
No
caso
de
Jung
a
experi�ncia
�
interior,
mas
nem
por
isso
muito
diferente.
Ele
se
encontra
consigo
mesmo,
com
a
sua
pr�pria
realidade
e
parece
desnudado,
fr�gil
ante
si
mesmo,
sem
saber
com
clareza
o
que
lhe
estava
acontecendo.
Sua
vida
parecia
cortada
por
gigantesca
tesoura.
Muitas
perguntas
n�o
lhe
s�o
respondidas.
Porque
aconteceria
isso?
Por
que
trouxera
para
a
vida
aquelas
condi��es
pr�vias?
O
que
fizera
de
sua
vida?
O
que
dela
resultaria?
Ele
tinha
certeza
de
que
teria
respostas
para
as
suas
perguntas
se
entrasse
no
templo
de
pedra.
Enfim,
compreenderia
por
que
havia
sido
daquele
modo
e
n�o
de
outro.
L�
dentro,
no
templo,
haveria
algu�m
que
lhe
diria
toda
a
verdade.
De
repente,
todas
as
imagens
desapareceram
e
aparece
seu
m�dico
nimbado
por
uma
aur�ola
de
luz
e
ele
se
v�
de
novo
no
corpo.
Tudo
havia
sido
em
v�o.
N�o
conseguira
entrar
no
templo
para
receber
as
respostas
que
tanto
desejava,
Jung
fica
decepcionado.
H�,
neste
caso,
um
fato
que,
na
falta
de
um
melhor
adjetivo,
chamarei
de
fant�stico.
Nessa
viagem
espiritual,
antes
de
voltar
ao
corpo,
v�
que
seu
m�dico
havia
ido
at�
onde
ele
estava
e
lhe
dissera
que
ele
precisava
retornar
�
Terra
porque
a
sua
hora
n�o
era
chegada.
Jung
sente
com
respeito
a
seu
m�dico
uma
forte
ambig�idade.
Em
primeiro
lugar,
sentiu,
em
rela��o
a
ele,
uma
grande
hostilidade
porque
viera
traze-lo
de
volta
�
vida,
impedindo
que
ele
conseguisse
as
respostas
t�o
desejadas.
Em
segundo
lugar,
inquietava-se
porque
sentia
que
o
m�dico
estava
amea�ado.
Essa
id�ia
lhe
veio
�
mente
porque,
na
experi�ncia
fora
do
corpo,
o
m�dico
lhe
aparecera
em
forma
estranha,
forma
que
Jung
interpretou
como
a
de
um
Basileus
de
C�s.113
De
repente,
ele
teve
a
certeza
de
que
aquele
homem
ia
morrer.
Vamos
mais
uma
vez
ler
Jung:
Repentinamente,
tive
o
terr�vel
pensamento
de
que
ele
deveria
morrer
em
meu
lugar!
Procure
faze-lo
compreender
isso,
mas
ele
n�o
me
entendeu.
Por
que
ele
finge
ignorar
que
�
um
Basileus
de
C�s
e
que
j�
reencontrou
a
sua
forma
primeira?
Quer
me
fazer
acreditar
que
n�o
sabe?
Isso
me
irritava.
Minha
mulher
reprovou
a
falta
de
amabilidade
que
eu
tinha
para
com
ele.
Ela
estava
com
raz�o,
mas
ele
me
contrariava,
recusado-se
a
falar
de
tudo
o
que
viv�ramos
em
minhavis�o.
Deus
meu!
�
preciso
que
ele
preste
aten��o.
N�o
pode
ficar
t�o
despreocupado
assim.
Gostaria
de
lhe
falar
a
fim
de
que
tomasse
cuidado
consigo!
Era
a
minha
firme
convic��o
de
que
ele
corria
perigo
porque
eu
o
havia
visto
em
sua
forma
original.114
De
fato,
Jung
foi
o
�ltimo
paciente
daquele
m�dico
que
desencarnou
em
um
hospital
vitima
de
septcemia.115
Durante
toda
a
semana
ap�s
a
vis�o,
Jung
ficou
deprimido.
Era
como
se
lamentasse
a
sua
volta
ao
corpo
depois
de
ter
experimentado
a
vida
fora
da
mat�ria.
Costumava,
ent�o,
deitar-se
�
tarde
e
s�
se
levantar
�
noite.
Ao
acordar
sentia-se
como
em
estado
de
�xtase.
Em
outras
ocasi�es
imaginava-se
levitando
em
um
espa�o
inteiramente
vazio.
Era
uma
sensa��o
bastante
agrad�vel.
As
vis�es
prosseguiram
com
grande
regularidade.
Quando
olha
para
a
enfermeira
que
lhe
vem
trazer
o
alimento
n�o
a
v�
tal
como
�,
mas
como
uma
mulher
judia
muito
velha.
Em
outras
ocasi�es
imaginava
ver
um
halo
de
luz
em
torno
da
cabe�a
dela.Aparecem
em
sua
mente
cenas
m�ticas
cujo
material
�
proveniente
da
Mitologia
Cl�ssica.
Jung
considera
essas
vis�es
como
maravilhosas,
entretanto
�
medida
que
ele
vai
se
recuperando,
as
vis�es
foram
diminuindo
de
intensidade
at�
que
se
acabaram.
110
Jung.
Op.
cit.
p.
253
111
Jung.
Op.
cit.
p
254
112
Jung
op.
cit.
p.
254
113
Basileus
em
grego,
significa
rei.
Cos
�
um
lugar
famoso
na
Antiguidade
por
causa
de
um
templo
que
havia
naquela
cidade
dedicado
a
Escul�pio,
o
deus
da
Medicina.
Em
C�s
nasceu
Hip�crates
o
m�dico
mais
famoso
da
Gr�cia
antiga
114
Jung.
op.
cit.
p.
256
115
Grave
infec��o
no
organismo,
caracterizada
por
invas�es
repetidas
de
germens
patog�nicos
no
sangue,
acompanhada
de
febre
alta,
calafrios,
mal
estar.
Nota
do
Editor.
Estranhamente,
este
�
um
assunto
que
n�o
deixa
Jung
muito
�
vontade.
Nesta
mat�ria
ele
se
sente,
mais
ou
menos,
como
um
elefante
em
loja
de
lou�as.
Sobre
este
assunto,
diz
ele
que
s�
pode
narrar
hist�rias
ou
contar
f�bulas,
�mitologisar�
segundo
a
sua
pr�pria
express�o.
Lembra
ele
que,
talvez,
a
proximidade
de
morte
possa
lhe
dar
alguma
liberdade
para
tratar
desta
quest�o.
�
poss�vel
que
ele
(mesmo
sem
saber)
esteja
dizendo
a
verdade,
pois
a
imin�ncia
da
morte,
de
fato,
nos
torna
mais
corajosos
e
independentes.
S�crates,
no
ano
399
aC,
aos
69
anos,
colocou-se
diante
do
Tribunal
dos
Quinhentos
com
um
destemor
e
uma
dignidade
que
s�
aqueles
que
acreditam,
vivamente,
que
a
vida
continua
e
a
morte
n�o
�
o
fim,
podem
ter.
Jung
come�a
a
discutir
este
assunto
do
seguinte
modo:
N�o
desejo
nem
deixo
de
desejar
que
tenhamos
uma
vida
depois
da
morte
e,
absolutamente,
n�o
cultivo
pensamento
dessa
ordem,
mas,
para
escamotear
a
realidade,
preciso
constatar
que,
sem
que
o
deseje
ou
procure,
id�ias
desse
g�nero
palpitam
em
mim.
S�o
verdadeiras
ou
falsas?
Eu
n�o
sei,
mas
constato
a
sua
presen�a
e
sei
que
podem
ser
expressas
desde
que
n�o
as
reprima
por
um
preconceito
qualquer.116
Esta
coloca��o
�
muito
interessante.
Nela
se
v�
um
homem
lutando
contra
os
pr�prios
preconceitos
embora
reconhe�a
que
ele
mesmo
reconhece
como
um
entrave
para
a
busca
da
verdade
neste
campo.
Ao
contr�rio
de
Sigmund
Freud
que
havia
fechado
as
portas
de
seu
esp�rito
para
o
transcendente
com
a
frase
que
se
tornou
famosa:
�Deixemos
o
c�u
para
os
anjos
e
os
pardais.�
Jung
se
debate
corro�do
pela
d�vida.
Talvez
quisesse
participar
do
Agnosticismo
de
Freud,
mas,
para
ele,
era
muito
dif�cil
j�
que
os
fen�menos
medi�nicos
o
atraiam
como
o
�m�
atrai
o
ferro.
Ele
reconhece
que
as
id�ias
preconcebidas
s�o
um
grande
obst�culo
para
uma
compreens�o
mais
ampla
da
vida
ps�quica.
Em
seu
tempo,
acreditava-se
que
o
Racionalismo,
por
um
lado,
o
e
Positivismo
por
outro,
haviam
eliminado
por
completo
a
possibilidade
de
se
acreditar,
seriamente,
na
vida
depois
da
morte,
e
ele,
inquestionavelmente,
participa
desta
posi��o.
Ao
mesmo
tempo,
ele
parece
reconhecer
que
nem
a
Ci�ncia,
nem
a
Filosofia
daquela
�poca,
deram
uma
resposta
definitiva
a
essa
quest�o.
Principalmente
a
Psicologia,
etimologicamente,
ci�ncia
da
alma
que
deveria
ter
uma
resposta,
no
m�nimo,
diferente,
para
o
problema;
pois
imersa
no
Materialismo,
perdera
a
sua
identidade.
Novamente
h�
que
se
lamentar
que
Jung
n�o
tenha
conhecido
a
Doutrina
Esp�rita,
codificada
por
Allan
Kardec
que,
indubitavelmente,
�
uma
psicologia
que
conseguiu,
racional
e
metodologicamente,
propor
uma
alian�a
entre
a
ci�ncia
e
a
f�.
Era
esta,
principalmente,
a
queixa
de
Jung.
Para
ele,
faltava
cientificidade
no
tratamento
das
coisas
espirituais.
O
problema,
por�m,
n�o
estava
em
reduzir
um
ao
outro,
mas
em
harmonizar
os
opostos
em
uma
esp�cie
de
s�ntese
hegeliana.
Foi
exatamente
isto
que
os
esp�ritos
trouxeram
para
a
Terra
na
chamada
Terceira
Revela��o
e
o
fizeram
com
alta
intelig�ncia
esensibilidade.
�
pena,
afirmamos
mais
uma
vez,
que
Jung
n�o
tenha
entrado
em
contato
com
a
psicologia
esp�rita,
a
�nica
que,
sem
abrir
m�o
da
linguagem
cientifica
e
do
m�todo
indutivo
das
ci�ncias
naturais,
afirmar
a
exist�ncia
do
esp�rito,
sua
preexist�ncia
e
continuidade
depois
da
morte
do
corpo
f�sico.
Jung,
contudo
preferiu
ocultar-se
no
por�o
do
inconsciente
onde
permaneceu
at�
seu
desencarne.
Em
um
certo
trecho
de
suas
mem�rias,
ele
escreveu:
A
Parapsicologia
aceita
como
prova
cientificamente
v�lida
da
continuidade
da
vida
depois
da
morte,
o
fato
de
que
um
morto
possa
se
manifestar,
seja
por
meio
de
apari��es,
seja
atrav�s
de
um
m�dium
que
comunique
fatos
que
s�
o
falecido
poderia
saber.
Mesmo
que
haja
casos
bem
confirmados,
as
quest�es
ficam
em
aberto,
isto
�,
se
a
apari��o
ou
voz
s�o
exatamente
iguais
ao
do
morto,
ou
seja,
s�o
proje��es
ps�quicas,
ou
ainda,
se
as
comunica��es
s�o
verdadeiramente
do
morto,
ou
se
tem
a
sua
origem
em
um
saber
presente
no
inconsciente.117
Em
continuidade,
Jung
defende
a
tese
bastante
batida
de
que
a
imortalidade
corresponderia
apenas
ao
desejo
que
as
pessoas
t�m
de
viver
para
sempre.
Outros
�
argumenta
Jung
�
acham
a
vida
t�o
ins�pida
ou
t�o
sofrida
que
n�o
suportariam
a
imortalidade.
Para
esses,
o
nada
seria
uma
esp�cie
de
pr�mio
e
a
imortalidade,
puni��o.
Entretanto,
ele
acredita
que
a
maioria
das
pessoas
acredita
que
continuar�
vivendo
de
algum
modo
em
algum
lugar.
De
onde
viria
esse
tipo
de
cren�a?
Ele
se
apressa
em
responder:
�do
inconsciente�.
Narra,
ent�o,
um
fato
que
acredita
ser
definitivo
para
apoiar
a
sua
tese.
Conta
ele
que,
Durante
a
Segunda
Guerra
Mundial,
voltava
de
Bollingen
para
casa.
Fazia
a
vigem
de
trem
e,
trouxera
com
ele,
um
livro
para
ler.
A
leitura,
contudo,
n�o
fora
poss�vel
porque,
ao
abrir
o
livro,
aflorou-lhe
�
mente,
a
imagem
de
um
homem
que
se
afogava.
Era
um
incidente
que
acontecera
com
ele
no
tempo
em
que
prestara
servi�o
militar.
O
problema
maior,
por�m,
foi
o
fato
de
que
aquela
imagem
o
incomodara
bastante
e,
por
mais
que
tentasse,
n�o
conseguia
se
livrar
dela.
O
que
se
passou?
Perguntou
Jung
a
si
mesmo.
Teria
sucedido
algumas
desgra�a?
Ao
chegar
a
seu
destino
em
Erlenbach,
sempre
atormentado
pela
imagem
do
homem
se
afogando,
correu
para
a
casa
de
sua
filha
e,
ao
chegar,
ainda
no
jardim,
um
de
seus
netos
ca�ra
no
lago
e,
como
n�o
soubesse
nadar,
quase
havia
perecido
afogado.
Felizmente,
havia
sido
tirado
das
�guas
a
tempo.
O
fato
acontecera
com
a
crian�a,
ao
mesmo
tempo,
em
que,
no
trem,
ele
tivera
a
imagem
do
homem
morrendo
afogado.
Ele
se
interroga:
�Se
o
inconsciente
pode
dar
um
sinal
como
esse,
por
que
n�o
poderia
dar
outros?�
Jung
acredita
em
seus
sonhos
e
se
vale
deles
para
mostrar
alguns
exemplos
da
a��o
do
inconsciente
com
respeito
a
acontecimentos
ins�litos
que
poderiam
apontar
para
uma
vida
depois
da
morte.
Vamos
voltar
ao
pensamento
do
psic�logo:
Vivi
um
epis�dio
semelhante,
antes
da
morte
de
um
membro
da
fam�lia
de
minha
mulher.
Sonhei,
ent�o,
que
o
leito
de
minha
esposa
era
um
fosso
profundo
com
paredes
mal
cimentadas.
Era
um
t�mulo
que
despertava
lembran�as
da
Antiguidade.
Ouvi,
nesse
momento,
um
profundo
suspiro
como
o
de
um
agonizante.
Uma
forma
que
se
assemelhava
a
minha
mulher,
ergueu-se
da
tumba
e
se
elevou
nos
ares.
Trazia
uma
veste
branca
teciada
com
curiosos
sinais
negros.
Despertei.
Acordei
tamb�m
a
minha
esposa
e
olhei
o
rel�gio.
Eram
tr�s
horas
da
manh�.
O
sonho
era
t�o
interessante
quepensei,
imediatamente
que
poderia
anunciar
um
falecimento.
�s
sete
hora
chegou
a
noticia
de
que
uma
prima
de
minha
mulher
havia
morridos
�s
tr�s
horas
da
manh�.
118
Examinemos
um
outro
caso.
Certa
vez,
Jung
sonhou
que
participava
de
uma
festa.
Nessa
festa,
encontrou-se
com
uma
sua
irm�
j�
falecida,
o
que
o
deixou
espantado.
Sua
admira��o
cresce
mais
ainda
porque,
na
mesma
festa,
havia
um
amigo
seu
tamb�m
desencarnado.
Os
outros
convidados
eram
pessoas
que
ainda
se
encontravam
na
carne.
A
irm�
de
Jung
no
sonho
conversa
com
uma
amiga
dele
que
se
encontrava
encarnada,
contudo,
pareceu
a
ele
que
ela
estava
prestes
a
morrer.
Ao
ver
a
mulher,
ele
dizia
consigo
mesmo:
ela
vai
morrer
porque
est�
marcada
pela
morte.
No
sonho,
ele
sabia
perfeitamente
quem
era
aquela
senhora,
por�m,
ao
acordar,
por
mais
que
se
esfor�asse,
n�o
conseguia
lembrar-se
de
quem
era
ela.
Sabia
apenas
que
era
uma
mulher
que
morava
em
Basil�ia.
Jung
fez
o
poss�vel
para
descobrir
quem
era
a
mulher
do
sonho,
mas
n�o
teve
bom
�xito.
Passadas
algumas
semanas,
Jung
recebeu
a
not�cia
de
que
uma
senhora
de
suas
rela��es
havia
sofrido
um
acidente
fatal.
Imediatamente
lembrou-se
de
que
a
pessoa
falecida
era
a
mesma
que
lhe
aparecera,
naquela
noite,
quando
em
desdobramento
on�rico,
visitara
o
Plano
Espiritual.
De
uma
outra
feita,
em
1911,
Jung
viajava,
de
bicicleta,
pelo
Norte
da
It�lia
na
companhia
de
um
amigo.
Na
volta
pararam
perto
do
lago
Maior
onde
passaram
a
noite.
A
inten��o
dos
dois
amigos
era
continuar
a
viagem,
passando
por
Tesin,
at�
chegarem
a
Faido
onde
deveriam
pegar
um
trem
para
Zurich.
Naquela
noite,
contudo,
Jung
teve
um
sonho.
Desta
vez
ele
n�o
estava
em
uma
festa,
mas
em
uma
reuni�o
na
qual
se
encontravam
esp�ritos
de
grande
envergadura,
todos
do
s�culo
passado.
Um
senhor
de
longos
cabelos
brancos
se
aproxima
dele
e
lhe
faz
uma
quest�o
em
latim.
Quando
acordou
se
lembrou
do
sonho,
ficou
chateado
porque
n�o
se
lembrava
da
quest�o
proposta
pelo
homem,
mas
se
lembrava
perfeitamente
de
que
n�o
pudera
dar
uma
resposta
ao
problema
colocado
porque
o
seu
latim,
havia
sido
insuficiente
para
entender
o
conte�do
que
lhe
fora
proposto.
A
sua
dificuldade
para
entender
a
frase
do
homem
foi
motivo
para
que
acordasse.
Pela
manh�,
ao
pensar
no
sonho,
recordou-se
de
que
estava
escrevendo
o
livro
S�mbolos
e
Transforma��o
da
Libido
que,
como
j�
vimos
antes
foi
o
pomo
da
disc�rdia
entre
ele
e
Freud.
Decide
que
deveria
voltar
para
casa,
o
quanto
antes,
para
continuar
o
seu
trabalho.
Algum
tempo
depois,
ele
entende
(ou
julga
ter
entendido)
o
sonho
que
tivera
naquela
noite.
(...)
O
senhor
de
longa
cabeleira
era
uma
esp�cie
de
�esp�rito
dos
mortos�.119
Ele
me
colocara
quest�es
que
eu
n�o
pudera
responder.
Eu
estava,
ainda,
muito
atrasado.
N�o
tinha
avan�ado
bastante,
mas
tinha
como
que
um
obscuro
pressentimento
de
que,
pelo
trabalho
a
que
me
dedicava
responderia
a
quest�o
que
me
havia
sido
proposta.
De
qualquer
maneira,
eram
meus
ancestrais
espirituais
que
me
interrogavam,
na
esperan�a
e
na
expectativa
de
aprenderem
aquilo
que
n�o
puderam
aprender
em
seu
tempo,
conhecimento
que
s�
os
s�culos
anteriores
poderiam
trazer-lhe.
Se
a
quest�o
e
a
resposta
houvessem
existido
desde
sempre,
meus
esfor�os
teriam
sido
in�teis,
porque
pois
tudo
teria
sido
descoberto,
n�o
importa
em
que
s�culo.
Parece,
com
efeito,
que
um
saber
sem
limites
est�
presente
em
natureza,
mas
que
tal
saber
n�o
pode
ser
apreendido
pela
consci�ncia
a
n�o
ser
que
as
condi��es
temporais
lhe
sejam
prop�cias.
O
mesmo
ocorre,
provavelmente,
na
alma
dos
indiv�duos
que
traz
consigo,
durante
anos,
pressentimentos,
mas
que
s�
os
conscientiza
tempos
depois.120
Falando
dos
Sete
Serm�es
aos
Mortos,
Jung
diz
que
foram
os
mortos
que
vieram
para
lhe
propor
quest�es
cruciais
que
eles
diziam
n�o
conhecer
e
que,
em
Jerusal�m,
onde
foram
buscar
respostas
n�o
as
encontraram.
A�,
Jung
para
a
fim
de
chamar
aten��o
para
o
fato
de
que,
na
cren�a
popular,
os
mortos
possuem
um
grande
saber,
saber
este
que
se
encontra
vedado
aos
vivos;
talvez,
por
isso,
na
Antiga
Gr�cia,
os
mortos
eram
considerados
sagrados
hieros,
ou
seja,
sagrados.
Jung
acredita
que
a
verdade
�,
exatamente
oposta
a
esta.
Os
mortos
sabem
al�m
daquilo
que
sabiam
quando
estavam
vivos.
Por
isso,
fazem
tanto
esfor�o
para
entrarem
na
vida
dos
vivos
para
que
obtenham
as
respostas
que
n�o
possuem.
Jung
nos
diz
que
acredita,
n�o
s�
os
mortos
dependem
do
saber
humano
como
andam
em
busca
deste
saber,
gravitando
em
torno
dos
vivos.
De
fato,
a
conclus�o
a
que
ele
quer
chegar
�
que
os
mortos
sabem
muito
menos
do
que
os
vivos.
Continuando
esta
linha
de
pensamento,
ele
se
justifica
atrav�s
de
um
sonho
que
teve
com
um
amigo
falecido.
No
sonho,
ele
chega
ao
lugar
onde
vivia
o
amigo
desencarnado
o
qual,
em
vida,
fora
uma
pessoa
inteiramente
despreocupado
com
o
saber
e
incapaz
de
maiores
reflex�es.
Em
sua
casa,
no
Plano
Espiritual,
o
amigo
se
encontra
conversando
com
a
filha
psic�loga
formada
em
Zurich.
Ele
tem
certeza
de
que
a
mo�a
est�
ensinando
ao
pai
uma
coisa
muito
importante
e
ele
est�
de
tal
modo
interessado
no
assunto
que
se
limita
a
fazer
para
Jung
um
simples
sinal
do
tipo:
�Por
favor
n�o
me
interrompa
agora,
estou
muito
ocupado.�
Esta
passagem
de
Jung
denota
apenas
a
sua
total
ignor�ncia
com
respeito
�
vida
espiritual.
Em
verdade,
a
morte
n�o
tira
nem
acrescenta
coisa
alguma
ao
patrim�nio
moral
e
intelectual
de
uma
pessoa
que
desencarna.
Quando
uma
pessoa
deixa
esta
vida,
passa
para
o
Plano
Espiritual
com
todo
o
conhecimento
moral
e
intelectual
que
possu�a
quando
encarnado.
Portanto
�
perfeitamente
normal
que
um
esp�rito
desencarnado
busque
aprender
com
um
encarnado
aquilo
que
ele
n�o
sabe.
Por
outro
lado,
n�o
�
menos
verdade
que
existem
esp�ritos
desencarnados
que
sabem
infinitamente
mais
do
que
muitos
s�bios
encarnados;
por
isso,
muitos
deles,
servem
de
guia
inclusive
a
grandes
esp�ritos
que
vem
�
Terra
para
cumprir
uma
determinada
miss�o.
O
pr�prio
Jung
aprendeu
muito
de
Psicologia
com
Filemon.
O
que
se
deve
lembrar,
nesse
caso,
�
que
estamos,
o
tempo
todo
falando
de
esp�ritos
(encarnados
ou
desencarnados)
mesmo
quando
falamos
de
n�s
mesmos.
Assim,
uma
simples
vista
d�olhos
em
nosso
redor
mostra-nos
com
incr�vel
abund�ncia
de
exemplos,
que
h�
pessoas
com
grande
saber
(claro,
dentro
da
relatividade
do
conhecimento
humano)
ao
lado
de
muitas
outras
ignorantes
e
desinteressadas
em
aprender
alguma
coisa;
ora,
se
essas
pessoas
deixam
a
vida
material
no
estado
evolutivo
em
que
se
encontram,
tanto
poder�o
nos
ensinar
como
conosco
aprender,
quando
entram
em
contato
com
o
plano
encarnado.
O
que,
de
fato,
Jung
pretende
com
esta
argumenta��o?
Do
nosso
ponto
de
vista,
ele
n�o
est�
discutindo
quem
tem
mais
saber
os
mortos
ou
os
vivos.
O
que
ele
est�
dizendo
nas
entrelinhas
�
que
a
manifesta��o
de
esp�ritos
desencarnados,
assim
como
os
sonhos
que
temos
com
eles,
nos
levam
a
uma
�nica
conclus�o:
n�o
h�
vida
depois
da
morte.
Todos
esses
fatos
s�o
apenas
proje��es
do
inconsciente
e
nada
al�m
disto.
Uma
coisa
que
nos
chama
a
aten��o
e
nos
deixa
verdadeiramente
surpresos,
�
a
quantidade
de
casos
medi�nicos
que
aconteceram
na
obra
de
Jung
e
de
modo
particular,
em
sua
autobiografia.
Como
uma
pessoa
que
passou
por
experi�ncias
realmente
desafiadoras
e
inexplic�veis
pelo
conhecimento
psicol�gico
tradicional,
pode
continuar
descrente
da
vida
espiritual
e
de
suas
conseq��ncias.
Em
realidade,
alguns
desses
casos
abalaram
as
convic��es
materialistas
de
Jung,
mas
apenas
abalaram.
Vamos
a
um
caso
destes.
Jung
havia
perdido
um
amigo
e,
na
noite
seguinte
ao
sepultamento,
sentido
com
o
epis�dio
doloroso,
estava
deitado
em
sua
cama,
mas
n�o
conseguia
dormir.
Em
um
certo
momento,
Jung
diz
ter
tido
a
clara
impress�o
de
que
o
seu
amigo
desencarnado
estava
em
seu
quarto,
aos
p�s
de
sua
cama,
e
pedia
que
fosse
com
ele
a
algum
lugar.
Jung
toma
o
fen�meno,
n�o
como
uma
realidade
objetiva,
mas
como
uma
fantasia
criada,
naturalmente,
por
seu
inconsciente.
Entretanto,
por
honestidade
para
consigo
mesmo,
foi
obrigado
a
se
perguntar:
que
provas
tenho
para
afirmar
que
isso
�
uma
fantasia?
E
se
n�o
for?
Contudo,
n�o
podia
deixar
de
pensar
que
n�o
seria
uma
fantasia.
Resolve,
assim,
aceitar
o
fato
como
uma
apari��o
real
para
ver
onde
iria
dar
tudo
aquilo.
Enquanto
pensava,
imerso
em
suas
d�vidas,
o
esp�rito
se
encaminhou
para
a
porta,
fazendo
um
sinal
para
que
ele
o
seguisse.
Jung
confessa
que
o
seguiu
em
imagina��o.
Os
dois
saem
do
quarto
e
da
casa,
passando
pelo
jardim,
chegam
�
rua
caminhando
na
dire��o
da
casa
do
amigo
desencarnado.
O
psic�logo
entra
na
casa,
acompanhado
pelo
esp�rito.
No
interior
da
habita��o,
o
amigo
o
leva
para
seu
escrit�rio
onde,
subindo
em
um
tamborete,
indicou
a
Jung
um
livro
encadernado
de
vermelho,
segundo
livro
de
uma
s�rie
de
cinco.
Os
livros
n�o
estavam
muito
alto,
mas
na
segunda
prateleira.
Assim
que
Jung
localizou
o
livro,
o
esp�rito
desapareceu.
Jung
explica
que
jamais
havia
entrado
na
casa
de
seu
amigo
e
desconhecia
por
completo
os
livros
que
ele
possu�a,
muito
menos
o
que
ele
havia
indicado.
De
onde
estava,
n�o
havia
conseguido
ler
o
t�tulo
do
segundo
livro
da
cole��o
encadernada
de
vermelho.
Vamos
lembrar
que
Jung
se
refere
ao
fato
de
que
havia
seguido
o
seu
amigo
em
imagina��o,
isto
equivale
dizer,
fora
de
eu
corpo
material,
mas
projetado
em
seu
corpo
espiritual.
Assim,
esse
evento
teve
para
ele
o
valor
de
um
sonho.
Quando
ele
acordou
pela
manh�,
preocupado
com
o
que
acontecera
�
noite,
foi
�
casa
de
seu
amigo
e
pediu
�
vi�va
dele
para
entra
na
biblioteca
do
finado
a
fim
de
fazer
uma
verifica��o.
A
mulher
permitiu
sem
maiores
dificuldades.
Ao
entrar
na
Biblioteca,
notou
que
ali
estava
o
tamborete
no
lugar
exato
em
que
ele
o
havia
visto
no
sonho.
E,
ainda
da
porta,
viu
os
cinco
livros
encadernados
de
vermelho.
Examinou
os
volumes
e
percebeu
que
se
tratava
de
tradu��es
de
romances
franceses
do
escrito
naturalista
Emilio
Zola
e
o
t�tulo
do
segundo
livro
(o
livro
que
havia
sido
indicado
pelo
amigo
desencarnado)
era
O
Legado
de
Uma
Morta.
Jung
achou
o
t�tulo
do
livro
muito
sugestivo,
mais
do
que
isso,
dir�amos
n�s,
revelador.
N�o
h�
como
evitar
a
conclus�o
de
que
o
amigo
morto
veio
at�
Jung
para
lhe
dizer,
com
toda
a
clareza,
que
a
vida
continua
e
que
ele
estava
t�o
vivo
quanto
o
pr�prio
Jung.
S�
um
esp�rito
demasiadamente
sectarista
n�o
chegaria
a
esta
mesma
conclus�o,
pelo
menos
como
hip�tese
bastante
convincente
e
dificilmente
refut�vel.
Seria
pertinente
lembrar
que,
ao
contar
este
caso,
n�o
faz
nenhum
tipo
de
coment�rio
explicativo.
Age
como
se
n�o
tivesse
o
que
dizer
para
n�o
dizer
o
que
n�o
queria:
a
vida
n�o
acaba
com
a
morte
do
corpo
f�sico
e
eu
tenho
provas
muito
concretas
do
que
estou
dizendo.
As
coisas,
contudo,
n�o
ficam
por
aqui.
Houve
um
outro
fato
que
ele
conta
em
suas
mem�rias
e
n�s
temos
o
dever
de
registrar
aqui.
Esse
fato
se
deu
algum
tempo
antes
do
desencarne
de
sua
m�e,
Emilie
Jung.
Em
1922,
Jung
teve
um
sonho
com
seu
pai.
No
sonho,
o
antigo
pastor
parecia
mais
jovem
e
estava
ao
lado
do
filho
na
biblioteca.
Estava
tranq�ilo
e
n�o
se
comportava
com
a
antiga
autoridade
paterna.
Jung
sentia-se
muito
feliz
ao
lado
dele.
Desejava
mostrar
que
ele
havia
se
tornado
um
homem
feito,
casado
e
tido
filhos.
Teve
vontade
de
falar
a
Aquiles
Jung
a
respeito
do
livro
que
havia
publicado
sob
o
t�tulo
Tipos
Psicol�gicos,
entretanto,
desistiu
de
falar
porque
a
express�o
de
seu
pai
era
a
de
uma
pessoa
muito
preocupada,
como
se
estivesse
na
expectativa
de
alguma
coisa
de
grande
import�ncia.
Jung
se
mant�m
reservado.
O
pai
ent�o,
lhe
pergunta
sobre
o
que
pensava
a
respeito
da
psicologia
do
casamento.
Ele
se
prepara
para
fazer
uma
longa
explana��o
sobre
o
matrim�nio,
por�m,
nesse
momento,
acordou.
Ele
n�o
compreendeu
o
significado
daquele
sonho,
mas,
quando
sua
m�e
desencarnou
cinco
meses
depois,
em
janeiro
de
1923,
compreendeu
o
sentido
do
sonho.
Imaginou
que
seu
pai
viera
at�
ele
para
prepar�-lo
em
raz�o
do
desencarne
de
sua
m�e.
Talvez
fosse
interessante
aproveitar
este
espa�o
para
verificar
o
que
Jung
pensava
da
reencarna��o.
Em
seu
livro
Mem�rias
Sonhos
e
Reflex�es
Jung
faz
sobre
este
tema
as
seguintes
considera��es:
O
problema
do
karma,
assim
como
o
da
reencarna��o
e
da
metempsicose,
ficaram
obscuros
para
mim.
Assinalo,
com
respeito,
a
profiss�o
de
f�
indiana
em
favor
da
reencarna��o.
Olhando
em
torno,
no
campo
da
minha
experi�ncia,
pergunto
a
mim
mesmo
se
em
algum
lugar
ter�
ocorrido
algum
fato
que
possa
legitimar
a
reencarna��o.
�
evidente
que
deixo
de
lado
os
testemunhos
numerosos
daquele
que
acreditam
na
reencarna��o.
Uma
cren�a
prova
apenas
a
exist�ncia
do
fen�meno
em
que
seacredita,
mas
de
nenhuma
forma
a
realidade
de
seu
conte�do.
�
necess�rio
que
esse
se
revele
empiricamente,
em
si
mesmo,
para
que
eu
o
aceite.
At�
esses
�ltimos
anos,
embora
tivesse
tido
toda
a
aten��o
n�o
cheguei
a
descobrir
absolutamente
nada
de
convincente
neste
campo.
Mais
recentemente,
observei
em
mim
mesmo
uma
s�rie
de
sonhos
que,
com
toda
a
probabilidade,
descrevem
o
processo
da
reencarna��o
de
um
morto
de
minhas
rela��es.
Era
mesmo
poss�vel
seguir,
como
uma
possibilidade,
n�o
totalmente
negligenci�vel,
certos
aspectos
dessa
encarna��o
at�
a
realidade
emp�rica.
Por�m,
como
nunca
mais
tive
a
oportunidade
de
encontrar
ou
tomar
conhecimento
de
algo
semelhante,
fiquei
sem
a
menor
chance
de
estabelecer
uma
compara��o.
Minha
posi��o
�,
pois
subjetiva
e
isolada.
Quero
somente
mencionar
a
sua
exist�ncia,
mas
n�o
o
seu
conte�do.
Devo
confessar,
no
entanto,
que,
a
partir
desta
experi�ncia
observo
com
a
maior
boa
vontade
o
problema
da
reencarna��o
sem,
contudo,
defender
com
seguran�a
uma
opini�o
precisa.121
Uma
leitura
mais
atenta
desse
trecho
nos
mostra,claramente,
a
sua
ambig�idade
e
imprecis�o.
Tem-se
a
impress�o
de
que
seu
autor
n�o
parece
disposto
a
falar
com
objetividade
e
franqueza
do
assunto
que
est�
abordando
e
escolhe
um
tom
reticencioso
e
mesmo
obscuro
como
se
n�o
desejasse
se
comprometer.
Assim,
gostaria
de
fazer
um
coment�rio
paralelo
a
essas
considera��es
de
Jung.
Este
coment�rio
diz
respeito
a
um
livro
intitulado
The
Search
For
Omm
Sety
ou
seja,
a
Busca
de
Omm
Sety.
Este
livro,
publicado
em
1987
foi
escrito
por
Jonathan
Coot.
O
tema
deste
livro
�
a
hist�ria
fant�stica
de
uma
mulher
ingl�s
chamada
Dorothy
Eady
que,
em
1953,
deixou
a
Inglaterra,
mudando-se
para
o
Egito.
O
que
moveu
o
comportamento
desta
mulher?
Uma
longa
hist�ria
de
lembran�as
de
outras
vidas.
Dorothy,
desde
bem
menina,
demonstrou
um
forte
sentimento
de
amor
pelo
Egito
e
pelas
coisas
da
cultura
do
Vale
do
Nilo.
Assim,
aos
49
anos,
n�o
suportando
mais
a
saudade
do
pa�s
em
que
vivera
mais
de
uma
de
suas
vidas
passadas,
ela
se
muda
para
o
Egito
com
armas
e
bagagens
e
resolve
assumir
a
personalidade
de
Omm
Sety,
nome
que
tivera
no
Egito
do
tempo
de
Rams�s
II.
No
�ltimo
cap�tulo
desse
livro,
intitulado
Reflex�es
e
Conversa��es,
o
autor
coloca
um
personagem
real
chamado
Erlo
van
Weaveren122
que
havia
sido
analisado
por
Jung
e
participado
do
c�rculo
fechado
onde
o
fundador
da
Psicologia
Anal�tica
costumava
fazer
confer�ncias
e
palestras.
Segundo
Erlo,
Jung
acreditava
sem
muitas
reservas
na
reencarna��o
e,
certo
dia,
em
conversa
com
ele,
isso
teria
ficado
muito
claro;
entretanto
Emma,
a
esposa
de
Jung,
pediu
a
Erlo
que
guardasse
segredo
sobre
aquela
informa��o,
pois
n�o
era
ainda
tempo
de
revela-la
ao
grande
p�blico.
Esse
tipo
de
informa��o
nos
leva
a
crer
que
Jung
mantinha
uma
vida
dupla
do
ponto
de
vista
intelectual.
Eu
seus
livros,
palestras,
semin�rios
e
confer�ncias,
parece-nos
cauteloso
e
acad�mico,
evitando
assumir
posi��es
mais
definidas
a
respeito
de
mat�rias
como
mediunidade
e
reencarna��o;
entretanto,
na
intimidade,
agia
e
pensava
de
outro
modo.
Apenas
isso
justifica
a
atitude
de
Emma
Jung
impedindo
que
Erlo
tornasse
p�blico
o
que
havia
ouvido
de
seu
marido.
116
Jung.
Op.
cit.
p.
261
117
Jung.
Op.
cit.
p.
261
118
Jugo
p.
cit.
p.
263
119
Note-se
que
Jung
colocou
entre
aspas
a
express�o
esp�rito
dos
mortos.
120
Jung.
Op.
cit.
p.
267.
121
Jung.
Op.
cit.
p.
276
122
Recomendamos
a
leitura
da
obra
As
Sete
Vidas
de
F�nelon
de
Herm�nio
Correia
de
Miranda,
Editora
Lachatre
onde
o
autor
analisa
de
forma
brilhante
as
regress�es
espont�neas
a
outras
exist�ncias
de
Erlo
Van
Weaveren,
psicanalista
holand�s
residente
em
Nova
Iorque,
disc�pulo
e
amigo
pessoal
de
Jung.
Nota
do
Editor
O
leitor,
que
nos
vem
acompanhando
ao
longo
deste
livro,
poderia
nos
perguntar
se
Jung
acreditava
ou
n�o
na
exist�ncia
de
esp�ritos
fora
do
corpo
e,
por
conseq��ncia
na
vida
espiritual
no
sentido
esp�ritadesta
express�o.
�
tamb�m
prov�vel
que
o
nosso
leitor,
principalmente
o
que
possui
forma��o
esp�rita,
esteja
se
perguntado:
ser�
poss�vel
que
um
homem
que
passou
por
tantas
e
t�o
not�veis
experi�ncias,
ditas
paranormais
ou
medi�nica,
tenha
chegado
ao
fim
de
sua
vida
inteiramente
c�tico
com
respeito
a
exist�ncia
de
esp�ritos?
Essa
quest�o
j�
foi
respondida
no
cap�tulo
anterior
quando
tratamos
da
vida
depois
da
morte.
Este
cap�tulo,
portanto,
�
apenas
um
refor�o
do
cap�tulo
passado
e,
para
escrev�-lo,
nos
valemos
de
um
trabalho
de
Jung
cujo
t�tulo
sugestivo
Fundamentos
Psicol�gico
da
Cren�a
em
Esp�ritos.
Este
texto
foi
escrito
para
uma
confer�ncia
pronunciada
na
Britsch
Society
for
Psychical
Reserach
(Sociedade
Brit�nica
para
Estudos
Ps�quicos)
em
Londres
no
ano
de
1919.
Jung
inicia
o
seu
trabalho
lembrando
que
a
cren�a
em
seres
incorp�reos,
que
vivem
nos
sonhos
dos
homens,
influenciando-o
de
algum
modo
�
muito
antiga.
Todos
os
povos,
em
todos
os
tempos
e
lugares,
tiveram
este
tipo
de
cren�a
e
muitos
admitiram
que
esses
esp�ritos
eram
almas
de
pessoas
mortas.
O
Racionalismo
iluminista,
entretanto,
vinha,
h�
muito
tempo,
combatendo
essa
id�ia,
embora
n�o
conseguisse
erradica-la
por
completo
da
mente
dos
homens.
Jung
chama
a
aten��o
para
o
fato
de
que
a
cren�a
dos
esp�ritos
n�o
se
restringe
aos
camponeses
e
�s
pessoas
incultas.
Tamb�m
em
cidades
importantes
como
Londres,
Paris,
Nova
Iorque,
h�
pessoas
que
acreditam
nesse
tipo
de
fen�meno.
E
o
que
mais
o
intrigava
era
saber
que
homens
de
ci�ncia
como
William
James,
William
Crooks,
Zolner,
Lombroso
entre
muitos
outros,
tem
se
dedicado
a
estudar
determinados
m�diuns
e
parecem
acreditar
que
existe
vida
depois
da
morte.
Jung
ressalta
que
essas
pessoas,
mesmo
sofrendo
cr�ticas
de
seus
pares
e
se
discordam
dele
em
raz�o
do
objeto
de
seu
interesse
intelectual,
tais
qualidades
n�o
atingem
as
qualidades
morais
e
intelectuais
desses
homens,
muito
pelo
contr�rio,
�a
teimosia
deles�
denota
um
car�ter
forte
que
n�o
abre
m�o
de
suas
convic��es.
Jung
admira-
se
ainda,
que
tais
homens
pudessem
ter
tido
a
coragem
de
o
seu
nome
e
suas
carreiras,
defendendo,
destemerosamente,
pontos
de
vista
condenados
pelos
meios
acad�micos.
Depois
de
fazer
algumas
considera��es
sobre
a
psicologia
dos
primitivos
e
a
sua
facilidade
de
crer
nos
esp�ritos,
Jung
come�a
a
discutir
os
fundamentos
deste
tipo
de
cren�a.
Usa
ent�o
um
argumento
muito
batido:
os
sonhos.
Ele
defende
a
tese
bastante
difundida.
De
que
os
primitivos
confundem
sonho
com
realidade.
D�
como
exemplo,
o
fato
de
que
pessoas
sonham
com
amigos
e
parentes
falecidos
e,
por
ingenuidade,
tomam
esses
sonhos
por
verdade.
Leiamos
o
texto
de
C.
G.
Jung:
Uma
das
principais
fontes
da
cren�a
em
esp�ritos
�
o
sonho.
Nos
sonhos
aparecem
pessoas,
muito
frequentemente,
comoprotagonistas
e
a
consci�ncia
primitiva
acredita
facilmente
que
se
trata
realmente
de
esp�ritos.
�
sabido
que
certos
sonhos
t�m
um
valor
infinitamente
maior
para
um
primitivo
do
que
para
um
civilizado.
Ele,
n�o
somente,
fala
muitas
vezes,
de
seus
sonhos
como
tamb�m
lhes
atribui
grande
import�ncia,
de
sorte
que,
frequentemente,
o
primitivo
�
incapaz
de
distingui-lo
da
realidade.
Os
sonhos,
em
geral,
n�o
possuem
valor
para
o
civilizado,
contudo,
entre
esses,
indiv�duos
que
d�o
grande
import�ncia
a
determinados
sonhos,
justamente
em
virtude
de
seu
car�ter
estranho
e
impressionante.
Esta
particularidade
confere
certa
plausibilidade
�
opini�o
de
que
esses
sonhos
s�o
inspira��es.
Mas
a
inspira��o
implica
um
inspirador,
um
esp�rito,
embora
pouco
se
fale
dessa
consequ�ncia
l�gica.
Um
exemplo
bastante
ilustrativo,
neste
sentido
�
o
fato
de
que
muitas
vezes,
nos
sonhos,
aparecem
figuras
de
pessoas
falecidas.
As
mentes
ing�nuas
acreditam,
facilmente,
que
s�o
as
almas
dos
mortos
que
voltam
a
se
manifestar.123
A
segunda
cren�a
nos
esp�ritos
dos
mortos
s�o
as
doen�as
psic�genas
ou
dist�rbios
nervosos
de
fundo
hist�rico,
muito
comum
entre
os
povos
primitivos.
Grande
n�mero
de
selvagens
acredita
que
muitas
doen�as
f�sicas
e
psicol�gicas
s�o
motivadas
por
esp�ritos
de
pessoas
desencarnadas.
Estes
primitivos
parecem
crer,
firmemente,
que
os
seus
mortos
continuam
a
viver,
espiritualmente,
em
algum
lugar
de
onde
podem
vir
interferir
na
vida
dos
vivos,
provocando-lhes
certos
tipos
de
enfermidades,
da�
a
necessidade
de
se
criar
um
culto
dos
mortos
a
fim
de
mant�-los
no
lugar
que
lhe
�
pr�prio.
Naturalmente,
continua
Jung,
as
doen�as
mentais
propriamente
ditas
s�o
tamb�m
causas
para
que
se
acredite
em
esp�ritos
e
para
sustentar
a
id�ia
de
que
eles
podem
aparecer
aos
vivos.
As
esquizofrenias
provocam
alucina��es
auditivas
e
visuais
que
as
pessoas
tomam
como
atua��o
de
esp�rito
sem
imaginarem
que
as
suas
doen�as
s�o,
em
verdade,
produtos
de
sua
pr�pria
atividade
ps�quica.
N�o
existem,
portanto,
segundo
Jung,
esp�ritos
de
mortos
que
se
manifestem
aos
vivos
em
determinadas
circunst�ncias
ou
por
meio
da
atividade
medi�nica.
Se
n�o
existem
esp�ritos,
podemos
perguntar:
por
que
as
pessoas,
inclusive
o
pr�prio
Jung,
dizem
ter
visto
esp�ritos
de
pessoas
desencarnadas
em
sonhos
ou
mesmo
em
vig�lia.
Ele
responde
sem
titubear:
O
que
as
pessoas
vem
e
julgam
ser
esp�ritos
�
apenas
a
exterioriza��o
de
complexos.
Os
complexos
ou
centros
da
alma
carregados
de
afetividade
podem
ganhar
certa
autonomia
e
se
manifestarem
como
esp�ritos.
Para
explicar
melhor
a
sua
teoria
dos
complexos,
como
verdadeira
causa
das
manifesta��es
medi�nicas,
Jung
usa
o
caso
de
Saulo
de
Tarso.
Como
se
sabe,
Saulo
de
Tarso,
um
fariseu
emperdenido,
perseguido
de
crist�os,teria
se
encontrado
com
Jesus
na
estrada
para
Damasco
a
fim
de
reprimir
um
n�cleo
crist�o
l�
existente.
Segundo
o
Livro
dos
Atos
(At.
IX-1-19)
foi
esta
vis�o
que
converteu
Saulo
ao
Cristianismo
e
a
sua
transforma��o,
com
o
nome
de
Paulo,
em
o
ap�stolo
dos
gentios.
Jung
explicou
este
epis�dio
do
modo
seguinte:
Saulo
j�
era
inconscientemente
crist�o
desde
muito
tempo,
isto
explica
o
seu
�dio
fan�tico
contra
os
seguidores
do
Cristo
porque
o
fanatismo
se
encontra
sempre
naqueles
indiv�duos
que
procuram
reprimir
uma
d�vida
secreta.
A
apari��o
do
Cristo
na
estrada
de
Damasco
assinala
apenas
o
momento
em
que
o
complexo
inconsciente
de
Cristo
associa-se
ao
eu
de
Saulo.
O
fato
de
o
Cristo
ter
aparecido,
ent�o,
de
modo
quase
objetivo
como
uma
vis�o
se
explica
pela
circunst�ncia
de
que
o
Cristianismo
de
Saulo
era
um
complexo
inconsciente.
Por
isso
�
que
esse
complexo
lhe
aparecia
na
forma
de
uma
proje��o
como
se
n�o
pertencesse
a
ele
pr�prio.
Ele
n�o
podia
ver
a
si
mesmo
como
crist�o.
Por
isso,
ficou
cego
como
uma
conseq��ncia
de
sua
resist�ncia
a
Cristo
e
s�
poderia
ser
curado
de
novo
por
um
crist�o.
Sabe-se,
por
experi�ncia
que
a
cegueira
psic�gena
em
uma
quest�o
�
sempre
uma
recusa
(inconsciente)
de
ver.
No
caso
de
Saulo,
esta
atitude
corresponde
a
uma
resist�ncia
fan�tica
ao
Cristianismo.
Esta
tend�ncia,
como
nos
mostram
as
Escrituras,
nunca
desaparecem,
inteiramente,
em
Saulo;
ela
irrompia,
ocasionalmente,
sob
a
forma
de
acessos
err�nea,
antes
explicado
como
epilepsia.
Estes
acessos
corresponde
a
um
retorno
subit�neo
do
complexo
de
Saulo,
complexo
que
se
dissociou
com
a
convers�o,
como
acontecera
com
o
complexo
crist�o.124
�,
de
fato,
muito
estranha
essa
teoria
sobre
a
extroje��o
de
complexos.
O
mais
interessante,
de
nosso
ponto
de
vista,
�
o
fato
de
que
ela
n�o
resiste
aos
pr�prios
fatos.
O
pr�prio
Jung
por
meio
dessa
teoria
n�o
explicaria
metade
dos
fatos
ocorridos
com
ele
mesmo.
O
que
mais
nos
impressiona
quando
se
l�
certos
textos
que
procuram
reduzir
os
fen�menos
medi�nicos,
reduzindo
o
espiritual
ao
material
�
que
a
explica��o
nos
parece
mais
imposs�vel
do
que
aquilo
que
ela
pretende
aclarar.
Admitir
que
a
vida
continua,
que
o
esp�rito
�
imortal
e
que
pode
manifestar
aos
encarnados,
que,
em
verdade,
s�o
esp�ritos
como
ele,
�
mais
simples
do
que
aceitar
que
as
nossas
emo��es
possam
tomar
forma,
materializarem-se,
conversar,
fazer
revela��es,
escrever
poemas
e
romances,
consolar
parentes
e
amigos
que
tem
provas
irrefut�veis
de
que
se
trata
de
um
ente
querido
que
retorna,
e
realiza
um
grande
n�mero
de
ventos
no
Mundo
Material.
Para
Jung,
entretanto,
fica
inteiramente
explicada
a
cren�a
nos
esp�ritos
por
meio
da
proje��o
dos
complexos
inconscientes.
Seguindo
este
mesmo
tipo
de
racioc�nio,
Jung
chega
a
uma
defini��o
de
esp�rito
de
um
ponto
de
vista
psicol�gico.
Assim,
pare
ele,
os
esp�ritos
nada
mais
s�o
do
que
complexos
inconscientes
e
aut�nomos
que
aparecem
na
forma
de
proje��o
porque,
em
geral,
n�o
possuem
a
menor
rela��o
com
o
Eu
ou
consci�ncia.
A
bem
da
verdade,
�
bom
que
se
lembre
que
Jung
tem
o
cuidado
de
deixar
claro
que
n�o
descarta
a
exist�ncia
dos
esp�ritos
(ele
continua
acendendo
uma
vela
para
Deus
e
outra
para
o
diabo);
o
que
ele
quer
dizer
�
que
n�o
conhece
um
�nico
modo
de
provar
de
maneira
cabal
e
insofism�vel
a
exist�ncia
real
dos
esp�ritos.
Assim,
enquanto
esta
prova
n�o
se
faz,
deve-se,
insiste
Jung,
ficar
com
a
explica��o
psicol�gica
e,
nesse
caso,
a
dele
(a
dos
complexos
extrojetados)
que
�
melhor
do
que
outras
do
mesmo
tipo.
Seria
interessante,
�
nosso
ponto
de
vista,
concluir
este
cap�tulo
com
um
texto
de
Jung
sobre
a
sua
cren�a
nos
esp�ritos:
Quanto
aos
fen�menos
parapsicol�gicos,
parece-me
que,
via
de
regra,
encontram-se
ligados
�
presen�a
de
um
m�dium.
Eles
s�o,
pelo
menos
at�
onde
a
minha
experi�ncia
alcan�a,
efeitos
exteriorizados
de
complexos
inconscientes.
Estou
realmente
convencido
de
que
se
trata
de
exterioriza��o.
Observei,
repetidamente,
os
efeitos
telep�ticos
de
complexos
inconscientes,
e
tamb�m
uma
s�rie
de
fen�menos
parapsicol�gicos.
Mas
n�o
posso
ver
em
tudo
isso
uma
prova
da
exist�ncia
dos
esp�ritos
reais;
e
at�
que
surja
uma
prova
irrefut�vel,
devemos
considerar
o
dom�nio
desses
fen�menos
como
um
cap�tulo
�
parte
da
Psicologia.
Creio
que
a
ci�ncia
deve
impor
esta
restri��o
a
si
mesma.125
123
Jung,
ANatureza
da
Psique.
P.
243.
124
Jung.
Op.
cit.
p.
247
125
Jung.
Op.
cit.
p�g
258
Jung
deixou
esta
vida
no
dia
16
de
junho
de
1961.
Estava
com
oitenta
e
seis
anos.
Fora
uma
longa
vida
dedicada
ao
conhecimento
da
alma
humana.
Segundo
o
seu
projeto,
procurou
mergulhar
ao
m�ximo
que
lhe
foi
poss�vel
no
mundo
interior
dos
seres
humanos.
Viu
muitas
coisas
espantosas
que
ele
n�o
soube
ou
n�o
quis
significar
corretamente.
Aparentemente
deu
a
impress�o
de
que
era
uma
pessoa
excessivamente
escrupulosa
e
honesta
que
procurou
n�o
defender
pontos
de
vistas
sobre
os
quais
n�o
tinha
certeza;
entretanto,
de
nosso
modo
de
ver,
faltou-lhe
coragem,
a
coragem
de
William
James,
Crookes,
Lombroso,
Delanne,
Conan
Doyle,
Friedrich
Myers,
O
Paul
Gibier
e
tantos
outros,
para
defender
posi��es
contr�rias
ao
pensamento
acad�mico
rigorosamente
materialista.
Em
verdade,
Jung
foi
um
homem
demasiadamente
mundano
para
abrir
m�o
dos
ourop�is,
dos
rapap�s
e
das
gl�rias
que
esse
tipo
de
espa�o
costuma
oferecer.
Nascido,
acreditamos
com
a
miss�o
de
apontar
novos
caminhos
para
a
Psicologia,
ele
contribuiu
infelizmente
para
novos
descaminhos.
Depois
de
ser
t�o
advertido
pelo
Plano
Espiritual,
t�o
auxiliado
pelos
esp�ritos
interessados
em
que
ele
levasse
a
sua
tarefa
a
bom
termo,
ele
preferiu
ignorar
tudo
isso
em
favor
da
interpreta��o
materialista.
Ele
que,
no
passado,
havia
considerado
os
homens
de
ci�ncia
como
incapazes
de
ver
os
fen�menos
ocultos
de
um
ponto
de
vista
desassombrado,
caiu
no
mesmo
erro
daquele
a
quem
criticou.
De
todo
o
jeito,
por�m,
a
sua
passagem
pelo
mundo
n�o
foi
inteiramente
em
v�o,
uma
vez
que
ele
deixou
um
espa�o
aberto
para
os
estudiosos
da
alma
humana
decididos
a
conhecer
mais
e
melhor
a
nossa
dimens�o
espiritual.
Nosso
livro
n�o
�,
de
modo
algum,
uma
cr�tica
ao
trabalho
de
Jung,
pois
reconhecemos
que,
se
ele
n�o
fez
o
que
devia,
fez
o
que
podia.
Apesar
de
sua
timidez
e
de
seus
equ�vocos,
ele
deixou
uma
obra
de
consider�vel
import�ncia
para
aqueles
que
pretendem
saber
um
pouco
mais
sobre
a
mediunidade
e
a
reencarna��o;
nesse
sentido,
poucos
psic�logos,
inclusive
o
pr�prio
Freud
foram
mais
longe
que
ele.
Em
verdade,
a
Psicologia
Anal�tica
tem
atra�do
muitas
pessoas
para
o
estudo
da
espiritualidade
e
para
a
utiliza��o
de
certas
t�cnicas
como
a
da
Terapia
de
vidas
Passadas
(TVP)126
que
imprimiram
�s
pr�ticas
terap�uticas
um
novo
sentido.
Assim,
nos
parece
que
a
obra
de
Jung,
embora
desviada
de
seus
reais
objetivos,
n�o
deixou
de
colaborar
e
n�o
pouco
para
a
descoberta
do
homem
integral,
formado
por
um
corpo
de
carne,
um
esp�rito,
um
perisp�rito
e
um
esp�rito
imortal
que
caminha
na
dire��o
da
Grande
Luz
que
Jesus
Cristo,
em
seu
evangelho
chamou
de
O
Reino
de
Deus.
Por
isso,
n�o
podemos
deixar
de
ser
gratos
a
esse
esp�rito
que
na
Terra
recebeu
o
nome
de
Carl
Gustav
Jung.
126
Para
um
maior
conhecimento
do
assunto,
recomendamos
a
excelente
obra
de
Terapias
de
Vidas
Passadas
e
Espiritismo
�
Dist�ncias
e
aproxima��es,
escrito
por
Milton
Menezes,
Leymarie
Editora.Notado
Editor
1.
Andrew
Samuel.
Jung
e
os
Junguianos.
Rio
de
Janeiro.
Imago
1989.
2.
Campbel,
Joseph.
O
Her�i
de
mil
Faces.
S�o
Paulo.
Ed.
Cultrix
1987
3.
Edinger,
Edward
F.
Ego
e
Arqu�tipos.
S�o
Paulo
Cultrix
1986.
4.
Jaff�,
Aniela,
O
Mito
do
Significado
na
Obra
de
Jung.
S�o
Paulo
Cultrix,
1987.
5.
Hoeller
Stephen.
A
Gnose
de
Jung
e
Os
Sete
Serm�es
aos
Mortos.
S�o
Paulo
Cultrix
1990.
6.
Leal,
Jos�
Carlos.
O
Universo
do
Mito.
Rio
de
Janeiro.
Ed.
Mil
Folhas.
1995.
7.
Robertson,
Robin.
Guia
Pr�tico
da
Psicologia
Junguiana.
S�o
Paulo
Cultrix
1992.
8.
Stor,
Anthony
As
Id�ias
de
Jung.
S�o
Paulo
Cultrix
1991.
9.
Sharp
Daril
Tipos
de
Personalidade.S�o
Paulo
Cultrix
1987.
10.
Grinberg,
Luiz
Paulo.
Jung,
o
Homem
Criativo.
S�o
Paulo
RTD
1997.
11.
Schulrz
&
Schultz
Hist�ria
da
Psicologia
Moderna.
S�o
Paulo.Cultrix
1998.
12.
Jung
C.
G.
Mem�rias,
Sonhos
e
Reflex�es.
Rio
de
Janeiro,
Nova
Fronteira
1963.
13.
________
Os
Tipos
Psicol�gicos.
Rio
de
Janeiro.
Ed
Guanabara
1961.
14.
________
Psicologia
e
Alquimia.
Rio
de
Janeiro,
Vozes
199�.
15.
________
A
Natureza
da
Psique.
Rio
de
Janeiro.
Ed.
Vozes
1990.
16.
Franz,
Marie
Louisie
von
Jung
seus
Mitos
em
Nossa
�poca.
S�o
Paulo,
Cultrix
1992.
17.
__________
A
Sombra
e
o
Mal
nos
Contos
de
Fada.
S�o
Paulo
Ed,
Cultrix
1992.
18.
MacGuirre
&
Hull
Jung
Entrevistas
e
Encontros.
S�o
Paulo.
Cultrix
1990.
19.
Woolger
Roger
J.
Other
Lives,
Other
Selves.
London
Bantam
books,
1987.
20.
Maclynn
Frank.
Carl
Gustav
Jung:
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Rio
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