quarta-feira, 10 de março de 2010

Livro: Cabeça de Porco (MV Bill,L.E.Soares e Celso Athayde)

 

Livro: Cabeça de Porco (MV Bill,L.E.Soares e Celso Athayde)

Obs: Apesar de o link estar com o nome de outro livro dos mesmos autores, esse link corresponde ao livro da foto.
Como diz na explicação abaixo, esse livro foi a base para o futuro documentário e livro Meninos do Tráfico.
Kisses
Véra


http://www.4shared.com/file/18695497/a873be4/Falcao_-_Meninos_do_Trafico__L.html?s=1


O livro Cabeça de Porco (Editora Objetiva, 2005), escrito por Luiz Eduardo Soares, Mv Bill e Celso Athayde, é uma miscelânea de pensamentos, reflexões, experiências, memórias, depoimentos, relatos e entrevistas a respeito de um Brasil como poucas vezes antes foi visto. Fruto de duros sete anos de pesquisa, muitas das cenas narradas fazem parte do que mais tarde originou o livro e o documentário Falcão, meninos do tráfico, que chocou o país ao ser exibido no global Fantástico, em 2006, escancarando a questão da utilização de crianças como soldados do tráfico de drogas. 

O nome do livro, na linguagem dos jovens das favelas cariocas, significa  o mesmo que situação sem saída ou confusão. É pensando nisso que temáticas extremamente relevantes – principalmente, em "dias de fúria" como os que vivemos – como o tráfico e a juventude perdida nas drogas, a violência, o preconceito, a invisibilidade social, as ações descabidas e desproporcionais da polícia em todo o território nacional e a recuperação por meio da cultura, são abordados, sempre de maneira inteligente e com olhar atento de quem conhece mais do que a teoria.

Um tapa na cara, essa é a sensação que temos ao ler o livro, afinal, a criminalidade bate todos os dias em nossa porta, mas é diferente ver o outro lado do "muro", um conceito explorado por Luiz Eduardo Soares, uma certa divisão entre morros, favelas e periferias, e a cidade como de fato é conhecida. Uma divisão repleta de preconceitos, mas principalmente de medo pelo desconhecido ou pelo diferente. Nesse sentido, os relatos dos próprios envolvidos na criminalidade são extremamente importantes. É o caso do capítulo denominado "Não filma eu chorando", onde um jovem fala sobre sua trajetória no tráfico de drogas.



Destacam-se no texto ainda três diferentes maneiras de expressão, uma vez que os autores optaram por não seguir uma única linha textual, mas sim, utilizar os relatos como realmente foram feitos. Dessa forma há certa discrepância entre os capítulos, isso porque a linguagem é muito diferente de um para outro autor. Enquanto o rapper Mv Bill faz uso da linguagem informal, da rua, mas principalmente, dos morros do Rio de Janeiro, o ex-secretário nacional de Segurança Pública e antropólogo Eduardo Soares, mesmo tentando amenizar, parte para uma linguagem mais formal e técnica. Por sua vez, o empresário e fundador da CUFA (Central Única das Favelas), Athayde, se situa no limiar entre uma e outra linguagem, não carrega nas gírias como Bill e nem apela ao formalismo como Luiz.

No entanto, pode-se entender este recurso como forma de se preservar o discurso individual e suas particularidades, sendo extremamente válido, pois acabam se complementando. Vale ressaltar ainda, que Athayde e Bill escrevem em primeira pessoa, por isso, tudo que fizeram no livro é assinado.

Se Bill e Athayde fazem a mediação entre o pseudo-intelectualismo dos livros com a linguagem popular de quem esta pouco acostumado a ler, Luiz Eduardo Soares faz o caminho inverso, leva o falar do povão das periferias à classe dos acadêmicos. Esse é um fator importante, pois não limita o público leitor, mas, pelo contrário,  faz este objeto cultural acertar de cheio os rins da sociedade. Independente de quem lê, não há como não se comover, se indignar ou ficar chocado com toda a miséria espiritual e cultural dessa parcela da juventude brasileira. Os fatos impressionam e as pessoas, personagens reais do cotidiano, mostram-se mais frágeis quando vistos despidos e pregados, entregues linha a linha, página a página dentro deste extraordinário livro.

 

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