segunda-feira, 24 de setembro de 2012

{clube-do-e-livro} N°01 ALQUIMIA DO AMOR - DEPRESSÃO, CURA E ESPIRITUALIDADE - ADENAUER NOVAES

Alquimia do Amor


Depressão, Cura e Espiritualidade



1ª Edição
Do 1º ao 10º milheiro


Criação da capa: Objectiva Comunicação e Marketing
Direção de Arte: Rafael Oliveira
Foto da Capa: Michel Rey
Revisão: Hugo Pinto Homem
Modelo da Capa: Karine Duarte
Diagramação: Joseh Caldas


Copyright .2004 by
Fundação Lar Harmonia
Rua da fazenda, 560 – Piatã
41650-020
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fone-fax: (071) 286-7796


Impresso no Brasil

ISBN: 85-86492-17-5

Todo o produto desta obra é destinado à manutenção das
obras da Fundação Lar Harmonia.


Adenáuer Novaes


Alquimia do Amor


Depressão, Cura e Espiritualidade



FUNDAÇÃO LAR HARMONIA
CNPJ/MF 00.405.171/0001-09
Rua da Fazenda, 560 – Piatã
41650-020 – Salvador – Bahia – Brasil
2004



Novaes, Adenáuer Marcos Ferraz de
Alquimia do Amor – Depressão, Cura e Espiritualidade.
Salvador: Fundação Lar Harmonia, 09/2004.

256p.

1. Espiritismo. I. Novaes, Adenáuer Marcos Ferraz
de, 1955. – II. Título.
CDD – 133.9

Índice para catálogo sistemático:

1. Espiritismo 133.9
2. Psicologia 154.6

Há uma alquimia interna no íntimo de cada ser
humano que, misteriosamente, mescla sentimentos com
impulsos para a vida.

O amor participa da alquimia da vida, como o
tempero de Deus, para que ela seja degustada.

Depressão é medo. Medo que está na alma, no
inconsciente, precisando ser transformado em energia
para a criatividade.

Depressão é ausência de luz na consciência e fuga
de si mesmo.

É um transtorno no ânimo e na capacidade de
estabelecer conexões afetivas.

Depressão é doença curável, sobretudo através de
uma psicoterapia com bases arquetípicas e espirituais.

"As pessoas, quando educadas para enxergarem
claramente o lado sombrio de sua própria natureza,
aprendem ao mesmo tempo a compreender e amar seus
semelhantes." C. G. Jung.


Dedicatória


Dedico este livro aos meus pacientes. A todos eles, que me
toleraram a impaciência de nem sempre saber ouvi-los e de não lhes
alcançar as causas mais íntimas de seus conflitos. Dedico também
àqueles que me alcançaram em meu desejo de curá-los e, junto comigo,
chegaram aos templos da sabedoria de viver em harmonia.


Índice


Alquimia do Amor ....................................................... 11
Amor e Alquimia ......................................................... 14
Primeiro contato .......................................................... 23
Frustração amorosa ................................................. 25
Depressão com regressão da personalidade ............. 27
Estado de pré-depressão ......................................... 29
Regressão compensatória ......................................... 31
Auto-afetividade ...................................................... 34
Desencontros amorosos ........................................... 38
Pessoas que amam demais ....................................... 43
Depressão no triângulo amoroso .............................. 45
Direção da vida consciente ....................................... 49
Os sentidos da vida e da Vida .................................. 51
Depressão e influência espiritual ............................... 53
Depressão e religião ................................................. 59
Depressão e influências sócio-culturais ......................... 61
Entrando em depressão ............................................... 63
Saindo da depressão ................................................... 75
Depressão e sono ........................................................ 81
A Melancolia ............................................................... 86
Depressão no idoso ..................................................... 89
Depressão na infância .................................................. 95
Depressão na adolescência .......................................... 102
Depressão no homem .................................................. 106
Depressão na mulher ................................................... 110
Depressão na separação .............................................. 112
Depressão à noite ........................................................ 115
Depressão e obesidade ................................................ 118
9



Depressão e gastos excessivos ..................................... 122
Depressão e crise financeira ......................................... 125
Depressão e perdas ..................................................... 127
Depressão e transformação .......................................... 132
Depressão e medicação ............................................... 135
Depressão e suicídio .................................................... 138
Depressão associada a outros transtornos .................... 143
Depressão e sombra ................................................... 145
Depressão e câncer ..................................................... 148
Depressão e traição conjugal ....................................... 152
Depressão endógena ................................................... 155
Depressão e Cura ........................................................ 159
Depressão e Espiritualidade ......................................... 162
Pseudo-depressão ....................................................... 165
A recaída .................................................................... 170
Um trabalho ................................................................ 174
Sentimentos típicos do depressivo ................................ 177
Depressão e energia psíquica ..................................... 181
Eventos que aumentam a probabilidade de ser gerada a
depressão .................................................................... 185
Conceitos de depressão ............................................... 188
Sintomas e critérios para diagnóstico ............................ 191
Fatores predisponentes ................................................ 194
Causas do ponto de vista psicológico e espiritual .......... 199
Tratamento .................................................................. 214
Curando a depressão ................................................... 219
Outras considerações .................................................. 227
Os complexos e a depressão....................................... 230
Experiências típicas que influenciam a depressão .......... 232
Medicações típicas ...................................................... 243
Atendendo um depressivo ............................................ 245
Conselhos úteis para não entrar em depressão .............. 249
Ao que deseja sair da depressão .................................. 251
Convite ....................................................................... 253



Alquimia do Amor

Omundo íntimo do ser humano é uma grande incógnita,
somente decifrável através de seus efeitos, pois não é dado penetrar
em sua essência real. A mente não se vê a si mesma. Na intimidade
de cada criatura ocorrem incríveis fenômenos alquímicos, cuja
compreensão só se dá através de representações e símbolos que
permeiam a cultura, as artes e o saber humanos.

Combinações químicas, impulsos nervosos e estímulos
aferentes se associam às emoções, aos pensamentos, às idéias,
aos desejos e à vontade, numa fantástica alquimia interna,
promovendo a vida humana. Quando um desses fatores não se
encontra em sincronia com os demais, ocorre a doença. Essa
combinação de elementos internos na psiquê humana é promovida
pela energia psíquica, que proporciona o movimento na direção
da atitude. Quando esse movimento é muito intenso na direção
de conteúdos internos, próprios e aversivos, é sinal que a
depressão está a caminho.

Em seu interior pulsa a energia da vida, criada num ínfimo de
tempo que o Criador dedicou à singularidade humana. Em seu mundo
íntimo, jaz algo inacessível e impenetrável ao mais arguto olhar. Ali,
Deus estabeleceu sua morada e seu ponto de apoio para a
construção da personalidade integral que se quer ser. O ser humano
é resultante do produto da união do amor de Deus com o desejo
de existir e ser feliz. Nada poderá obstaculizar a senda progressiva


Alquimia do Amor

da alma humana na direção de si mesmo e de sua própria felicidade.
O encontro com Deus, em si mesmo, selará sua vitória definitiva,
alcançando a perfeição para a qual foi destinada.

A vida é um processo alquímico constante, no qual a inércia
inexiste. A estabilidade é movimento. O propósito é a realização
do si mesmo, cujo fluxo é para o mundo íntimo, porém a forma é
atuando na vida externa. O movimento é no duplo sentido, isto é,
para dentro e para fora simultaneamente.

Alquimia é mistura profunda, densa e essencial, na tentativa
de alcançar algo puro. Ocorre na intimidade das coisas, assim
como na profundidade da mente humana. No coração, os
sentimentos se misturam na tentativa do encontro final e definitivo
com aquilo que possa trazer plenitude. A vida humana apresenta
uma série imensa de processos alquímicos, nos quais se misturam
emoções, pensamentos e sentimentos que não pertencem à própria
pessoa que a vive. Quando não se misturam os elementos
adequados e nas proporções ótimas, a vida tenta corrigir,
oferecendo avisos. Um deles é o adoecer. Na depressão, a
alquimia ocorre entre a consciência e o inconsciente, para que o
equilíbrio do sistema se recomponha adequadamente.

Depressão é desconexão do indivíduo com seu eu maduro.
É um desligamento psicológico com o mundo e com a afetividade.
Ela sempre estará mostrando o quão insatisfeito o espírito está
consigo mesmo, porém sem coragem para mudar. Nela o espírito
cria um sistema psíquico no qual pretende viver, que se mostra
impraticável e sem saída. Recuar, mudando seu sistema, parece-
lhe impossível e vergonhoso, restando-lhe, inconsequentemente,
permanecer à espera de que algo mude externamente.

A depressão é um estado psíquico estritamente psicológico,
decorrente de fatores endógenos e espirituais, no qual a consciência
sofre uma perda de energia e o eu sucumbe parcialmente ao
inconsciente.

Todo ser humano tem tendência a entrar em depressão,
pois o contato com o inconsciente, intensificado na depressão, é
fundamental ao processo de transformação da alma.


adenáuer novaes

A depressão possui um núcleo em torno do qual giram os
pensamentos do depressivo. Esse núcleo contém o cerne de seu
problema, pois, por causa dele, a energia psíquica é consumida.
Esse núcleo é o foco do problema, isto é, o motivo principal que
provoca a derrocada do depressivo. Nesse núcleo há uma questão
principal da qual o depressivo tem fugido ou se sente incapaz de
resolver. Esse núcleo é o dragão que o depressivo não quer ou
não sabe enfrentar, sentindo-se impotente diante dele. Em muitos
casos ele é imperceptível e, de tal forma sutil, que a pessoa não
consegue saber a real razão pela qual entrou em depressão.

Lidar com a depressão é o mesmo que entrar em contato
com a falta de vida. É perceber os efeitos danosos que causa a
ausência de esperança. Como psicólogo, ao mesmo tempo em
que desejo contribuir para ser útil àquela pessoa que atendo, tenho
vontade de sacudi-la, para que perceba seu grande equívoco em
fugir da vida. São mortas vivas, contrariam a lógica da existência,
que é viver, pois não existe o contrário. Não existe a não vida,
pois a morte não a cessa.

Neste livro analiso de forma mais profunda a depressão,
sobretudo em mulheres e, muito embora também ocorra nos
homens, é mais comum na mulher, talvez pela riqueza de sua vida
emocional, mais suscetível aos sentimentos. O homem naturalmente
está mais exposto ao mundo racional externo, e a mulher ao mundo
emocional interno.


Amor e alquimia

Os sentimentos dela se misturavam em seu peito. Não
sabia o que fazer. Estava perturbada com algo incompreensível à
sua idade. Chorava e se alegrava com facilidade. Não pensava
em outra coisa senão no que sentia e para quem dirigia seus
sentimentos. Pensou em conversar com sua irmã, mas será que
ela entenderia? Misturavam-se, dentro dela mesma, sentimentos,
pensamentos e sensações. Seu corpo parecia um motor de uma
usina de força a trepidar expelindo faíscas. Queria se acalmar,
mas parecia que algo internamente se mexia sem parar. Lembrou-
se de suas aulas de química, quando o professor misturava os
elementos num pequeno tubo. Será que isso estava acontecendo
dentro de seu corpo? Por que não conseguia controlar? Preferia
deitar-se para que tudo passasse. Dormia mais do que precisava.
Seu sono era inquieto. Acordava várias vezes, sobressaltada, na
expectativa de que algo diferente acontecesse. Em sua imaginação,
parecia que seus sentimentos eram pequenas bolas coloridas, que
iam por dentro de seu estômago, na direção de sua cabeça,
subindo e descendo sem parar.

Tudo aconteceu quando, numa aula na universidade, seu
colega do lado lhe tocou o braço e olhou em seus olhos,
perguntando pelos assuntos de uma prova que ocorreria na semana
seguinte. Naquele instante, sentiu uma forte emoção, como se lhe
subisse um calor pelo corpo e uma sensação simultânea de leveza


adenáuer novaes

e bem estar. Até aquele momento desconhecia tais emoções.
Nunca havia se relacionado ou namorado alguém. Sequer tinha
beijado uma pessoa. Acabara de fazer vinte e um anos e sempre
fora uma pessoa tímida e retraída. Depois daquele momento os
olhos dele não saíam de sua mente. Tinha certeza de que não
gostava dele, então por que só pensava em estar a seu lado?
Nem sabia se ele sentia alguma coisa por ela.

Achava natural que alguém se interessasse por outra pessoa.
Via casais passeando de mãos dadas e achava perfeitamente
natural, dizendo a si mesma que um dia aconteceria consigo. Suas
amigas falavam de seus relacionamentos e ela acreditava que
viveria a experiência de ter alguém ao seu lado. Então, o que
provocara tamanha perturbação e alteração em suas emoções e
pensamentos? Não tinha qualquer preconceito em relação a sexo,
pelo menos até aquele momento. Passou o resto do dia intranqüila
e pensativa. Rememorou sua infância, seus amigos e seus pais.
Sua vida foi examinada fase por fase naquela tarde, tentando se
entender. Lembrou-se de um episódio na infância, que talvez tenha
ocorrido por volta dos oito anos de idade, em que brincava, com
seus primos e primas, de jogos que tinham prendas a serem pagas,
na forma de "beijocas", sem qualquer malícia. Lembrou-se de
que enrubescia na adolescência quando via cenas com beijos na
televisão, evitando-as disfarçadamente. Questionou-se se não teria
sido por conta de sua educação religiosa que julgava as relações
entre masculino e feminino como erotizadas. Sim, realmente, ela
própria tinha esse tipo de idéia quando adolescente, mas deixou
de pensar dessa forma por causa de seu natural desejo de ter um
relacionamento amoroso. No fundo ainda achava pecado certas
atitudes em relação a sexo, mesmo algumas socialmente aceitáveis.
Em seu inconsciente ainda havia censura e medo.

Naquela noite sonhou que estava num campo bem verde.
Subia uma pequena elevação, chegando a uma casa na qual havia
duas portas de entrada. Sabia que, para entrar na casa, tinha
obrigatoriamente que escolher uma delas. Uma porta mais velha


Alquimia do Amor

desgastada pelo tempo, e outra recém pintada. Escolheu a que
estava pintada com uma tinta fresca. Ao adentrar a casa, encontrou
seu pai conversando com um homem, que identificou como sendo
seu irmão. Acordou com a impressão de que eles estavam falando
a seu respeito.

Passou o dia pensando no sonho e em seu possível
significado. Achou, inicialmente, que seu pai estava querendo falar
com ela, por isso sonhara com ele. Ele morava numa cidade do
interior, a duas horas de distância. Pensou que talvez tivesse
acontecido algo de ruim com ele e com seu irmão. Resolveu
telefonar para aliviar sua preocupação, descobrindo-a infundada.
Mesmo assim contou o sonho e pediu que eles não viajassem
naqueles dias. Seu sonho poderia ser por ela interpretado de forma
diferente. O campo verde poderia estar representando o estado
de êxtase que sentiu naquele momento, ao qual recusava dar vazão,
evitando um possível encontro amoroso, adequado à sua idade e
disponibilidade. A casa com duas portas poderia significar o
caminho da consciência, que se encontra em litígio para escolher
entre alternativas distintas, qual aquela que lhe levaria a um melhor
desfecho, sem culpa. As duas alternativas são polaridades
psíquicas, normalmente representadas pelo bem e pelo mal. São
escolhas opostas, cuja decisão deve ser tomada pela consciência,
sob pena de paralisia. Ela escolhe aquela porta que lhe parece
mais nova, portanto que aponta para um caminho feliz e venturoso.
É a escolha pela vida, pelo bem, pelo crescimento e pela
libertação. Depara-se, então, com a figura paterna e com o irmão.
Ambos representam aspectos psíquicos a serem compreendidos
como ícones de seus valores internalizados. São imagens
arquetípicas que estão apresentando a existência de complexos1

1
Os complexos são conteúdos psíquicos carregados de afetividade, agrupados pelo
tom emocional comum. São 'temas emocionais reprimidos capazes de provocar
distúrbios psicológicos permanentes', e que 'reagem mais rapidamente aos estímulos
externos'. 'São manifestações vitais da psique, feixes de forças contendo
potencialidades evolutivas que, todavia, ainda não alcançaram o limiar da
consciência e, irrealizadas, exercem pressão para vir à tona.' (Nise da Silveira,

16


adenáuer novaes

inconscientes a serem integrados na consciência. Seu pai e seu
irmão simbolizam os limites adquiridos ao longo de sua vida. São
barreiras que controlam suas ações na relação com o masculino.
Resultam de experiências, idéias e emoções que se aglutinaram
no inconsciente, estabelecendo os limites de seu desejo de
conectar-se a um homem. Sua sexualidade está aprisionada àqueles
complexos, exigindo realização na vida externa. Aquele encontro
simbólico, com seu pai e seu irmão, representa a necessidade de
pedir a autorização paterna para que seu desejo se realize.
Conscientemente isso não é compreendido, nem tampouco é real.
Ela se acha suficientemente adulta e madura para não precisar
daquela autorização, motivo pelo qual a interpretação do sonho
não alcança esse nível de profundidade. Essa barreira deve ser
quebrada a bem de seu desenvolvimento pessoal, e consequentemente,
de sua individuação. No sonho, ela subia uma elevação,
que pode simbolizar o processo necessário de ir mais acima, ou
mais além, para entender o que se passa consigo própria.

Os personagens de seu sonho (seu pai e seu irmão) não
são entes imaginários de sua mente, trazidos pelas suas lembranças
da infância durante a tarde. As imagens podem ter sido construídas
com o auxílio daquelas lembranças, porém o enredo do sonho diz
respeito ao intrincado processo existente entre o inconsciente e a
consciência. Mesmo que se queira dar uma interpretação de
acordo com o pensamento espírita, de que o espírito se desdobra
durante o sono, encontrando outros com os quais estabelece
relações, fica a pergunta sobre a sincronicidade de o evento
ocorrer, exatamente no dia em que teve uma experiência ligada

Jung Vida e Obra, p. 37.) São unidades vivas dentro da psiquê e que gozam de
relativa autonomia. Por vezes somos dirigidos pelos complexos. Eles não são
elementos patológicos, salvo quando atraem para si excessiva quantidade de energia
psíquica, manifestando-se como conflito perturbador da personalidade. Os
complexos têm a facilidade de alterar nosso estado de espírito, sem que nos
apercebamos de sua presença constelada na consciência. À semelhança de um
campo magnético, não são passíveis de serem observados diretamente, mas por
meio da aglutinação de conteúdos que os constituem.


Alquimia do Amor

ao contato com o masculino. Mesmo que tenha havido tal
encontro, não descartado por mim, associo-o aos processos
inconscientes dela, que exigem de sua parte uma mudança de
atitude, para que sua vida não se paralise.

Sua interpretação do sonho não a levou a um bom desfecho.
Prisioneira do "pai" interno (arquétipo da lei, da disciplina e do
limite), evitou ir à faculdade, no dia seguinte, mobilizada pelos
pensamentos em torno do rapaz, seu colega. Queria ter controle
sobre seus pensamentos e emoções. Precisava conciliar as idéias
e desejos, para não se trair em presença dele. A si própria, afirmou
que não deveria ir porque poderia parecer disponibilidade vulgar
e desejo evidente por ele. Preferiu a companhia de si mesma e o
isolamento de tudo e de todos. Sua disposição foi, não enfrentar
e tentar entender o que se passava, mas de fugir àquilo que
desconhecia e que não estava sob seu controle.

O desejo por alguém, ou a energia natural para o contato
com outra pessoa, estaria agora sendo dirigido para ela mesma,
na direção do inconsciente, mãe de todos os destinos obscuros.
Ela não sabia que estaria entrando numa viagem perigosa na
direção da terra misteriosa, oculta e desconhecida dela mesma.
O sentimento, que poderia ser dirigido para fora, estava sendo
canalizado para si própria. Suas preocupações, muito embora
coerentes, não continham a constatação a respeito de sua própria
maturidade para entrar por aquele caminho, adequado à sua idade
e a toda mulher.

Posteriormente foi à aula, mas evitou o mesmo lugar em
que habitualmente sentava. Colocou-se no lado oposto. Ao chegar,
mais cedo do que o habitual, notou a presença do rapaz, que não
esboçou qualquer reação diferente ante sua chegada. Evitou-o
por muitos dias. Nesse tempo, a libido que deveria ser projetada,
era absorvida pelo inconsciente. Seu complexo estava absorvendo
a energia para a vida. Poderia ter enfrentado a situação com
absoluta naturalidade, sem a preocupação de ser ou não vulgar.
Afinal, nada há demais em sentir atração por alguém.


adenáuer novaes

Esse movimento de entrada e saída da energia psíquica,
do inconsciente para a consciência e vice-versa, está sempre
ocorrendo na psiquê. Ele é permanente, move a vida e a torna
possível. Tudo se dá por conta do fluxo contínuo da energia
psíquica, seja na forma de libido sexual ou não, buscando as
experiências comuns para reverter-se em aprendizado ao espírito.

Ao direcionar, sem consciência de que o fazia, para aquele
movimento, isto é, conduzindo a energia psíquica para uma zona
inconsciente, ela conectava sua ação consciente a um complexo
latente. Seu complexo tinha raízes em sua relação paterna. O
fato de ter tido um pai bondoso, correto, justo e carinhoso, aliado
a uma forte repressão sexual auto-imposta, contribuíram para a
reação diante daquele rapaz.

O desejo de encontrar alguém, com quem trocar carinho e
afeto é arquetípico, isto é, inerente a todo ser humano. Este desejo
é uma espécie de energia amorosa. É a energia do amor em forma
embrionária. Essa energia se associa, no inconsciente, às experiências
pregressas gravadas na psiquê. Essa associação se dá como um
processo alquímico de mistura e depuração simultâneas.

O amor, que deveria movê-la para um objeto externo, era
dirigido para atender a um complexo interno. Isso lhe consumiu
muitos dias e noites, pensando em como seria um encontro com
ele. Idealizou várias situações, todas vinculadas ao seu complexo.
Frustrada em seu desejo, iniciou um processo de depressão com
sentimento de nulidade, resultante da libido dirigida a si mesma,
numa espécie de auto-erotização inconsciente.

Essa alquimia interna constante é o alicerce da vida à procura
de um sentido. À consciência, cabe canalizar essa energia a serviço
da realização pessoal. Não há possibilidade de recusa. Ou se usa
a energia psíquica atuando no mundo externo de forma consciente
ou ela é absorvida pelo inconsciente, alienando ou psicotizando o
indivíduo.

Os fatores que levam uma pessoa a fugir do mundo,
deixando de atuar nele, através da exteriorização do que vem do


Alquimia do Amor

inconsciente, são diversos e sutis. Ela não sabe o que a levou a
redirecionar sua energia psíquica para o caminho oposto à vida,
muito embora tenha encontrado uma justificativa plausível para
fazê-lo. Entre aquilo que a fez evitar o caminho da consciência e a
razão plausível corre uma conexão alquímica profunda, responsável
pela alteração na rota da energia psíquica. Essa química interna,
que mistura vetores de forças inconscientes, é inacessível à
consciência e se constitui num mistério à psicologia profunda.
Vontade consciente se mistura aos processos inconscientes,
redirecionando a vida do indivíduo. Tais processos inconscientes
decorrem de influências orgânicas instintivas, resultantes emocionais
das experiências pregressas gravadas no perispírito e das
influências espirituais.

Da mesma forma, o processo de auto-erotização, responsável
pela depressão, ocorre nesse nível profundo, à revelia da
consciência.

O amor é um sentimento de múltiplas faces, promovendo
uma gama imensa de conseqüências, que colorem a vida do ser
humano. Enquanto o sentimento é múltiplo, portanto referente a
diferentes estados emocionais, a palavra para defini-lo é única. O
sentimento de amor entre duas pessoas que vivem maritalmente
difere do existente entre, por exemplo, pai e filho. A mesma palavra
é utilizada para diferentes sentimentos. O primeiro contém
elementos eróticos e compromissos recíprocos que não estão
presentes no segundo.

O movimento de auto ou de alter erotização se alterna na
psiquê, proporcionando o fluir natural da vida. A polarização ou
radicalização demorada de qualquer das duas direções implica
em prejuízo à personalidade. Nem sempre a consciência percebe

o desequilíbrio provocado pela maior intensidade com que se utiliza
a energia psíquica na direção de um dos dois pólos.
O questionamento que ela fez a respeito de sua incapacidade
de enfrentar sua dificuldade e de entender o que se passava
consigo, não foi suficiente para reverter o processo. Somente a


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percepção racional não é suficiente para alterar os padrões
psíquicos. É preciso uma forte vontade consciente aliada à
percepção dos mecanismos sutis de defesa na mente para modificar
a alquimia automática que se processa na psiquê.

Todo seu esforço não contou com um movimento de seu
colega em sua direção. Caso tivesse acontecido, poderia ter sido
melhor para ela, salvo se recuasse mais ainda.

A depressão foi se instalando à proporção que ela se retraía
do mundo e se sentia incapaz de ter um relacionamento a dois. O
caminho para os antidepressivos ficou fácil de ser percorrido. Sem
saída consciente, pensou que um remédio poderia resolver. Não
analisou que a alquimia não mistura substâncias químicas, mas
resultantes emocionais de experiências. Não sabe que a mente não
se localiza no cérebro, muito embora nele interfira se utilizando de
neuro-transmissores. A medicação altera as influências orgânicas
sobre a mente, mas não atinge diretamente a causa do problema.
São úteis quando os limites de suporte pessoal são rompidos e
quando o comprometimento orgânico é consideravelmente grande.

Quando o prejuízo orgânico (deficiência na produção e
captação de serotonima entre neurônios cerebrais, deficiência de
dopamina ou alguma disfunção de outra natureza) é menor, o efeito
placebo (remédio ineficaz do ponto de vista material, sem efeito
real no organismo) tem grande eficácia no tratamento de certas
doenças de fundo emocional. O ser humano ainda está muito longe
do tempo em que uma substância química, de forma direta, altere
um conteúdo psíquico emocional. As alterações químicas ocorridas
no sistema nervoso central decorrem de processos orgânicos, cuja
base é o binômio estímulo/resposta, bem como de processos
psíquicos conscientes e inconscientes.

O evento externo que se deu com ela não é apenas a causa
de sua depressão, mas, principalmente, aquilo que poderá fazer
conectar novamente sua consciência com algo obscuro e
encastelado no inconsciente. Neste sentido, sua depressão é uma
tentativa bizarra e mal sucedida de cura.


Alquimia do Amor

A alquimia interna consegue misturar forças que atuam no
interior da psiquê e que têm origens distintas. Os instintos, na
forma de impulsos que devem atender a prioridades orgânicas,
são os fatores mais intensos na determinação do ato que se
pretende realizar. As pressões químicas internas (dores, excesso
e falta de certas substâncias, deficiências congênitas ou adquiridas,
etc.) promovem também impulsos inconscientes que participam
dos atos humanos. Respostas a estímulos internos ou externos
também compõem o espectro de componentes que atuam na
consecução dos atos humanos. A vontade consciente e as
influências inconscientes (espirituais ou não) são ainda outros
fatores que compõem o espectro de vetores que se misturam numa
alquimia constante e inconsciente, formando a determinação em
fazer ou não alguma coisa, bem como influenciando as idéias e
pensamentos.

O amor é a fonte da vida, razão pela qual o universo se
move. Ele é o motivo transcendente da depressão, bem como o
veículo capaz de promover sua cura. Sua ação se dá na intimidade
do ser humano, nos processos alquímicos de seu psiquismo,
levando-o para dentro de si mesmo, no contato profundo com o
Criador. Devolve ao depressivo o gosto pela vida e possibilita
que encontre, pelo menos, uma razão para viver.


Primeiro contato

Meu primeiro contato com a depressão foi na
adolescência, quando a vi acontecer num membro de minha família.
Eram os anos 60, caracterizados pela revolução sexual e pela
afirmação do feminino. Os relacionamentos amorosos estavam
passando por transformações profundas, evidenciadas na
independência da mulher. Não se aceitava mais uma relação de
submissão. O divórcio passou a ocorrer com mais freqüência e a
ser assumido pela mulher com menos culpa. As relações ficaram
mais tensas e, com isso, os medos vieram à tona. Foi nesse período
que minha irmã tinha se excedido no uso de uma medicação,
ingerindo uma excessiva dose, por causa do término de um namoro.
Acostumei-me a vê-la, em casa, prostrada, lamentando-se da vida.
Era uma situação que sempre me deixava triste e com sentimento
de impotência. Sempre fui uma criança alegre, mas quando a via
naquele estado não conseguia sorrir. Gostava dela e não queria
vê-la sofrer, porém não tinha meios de ajudá-la. Eu era uma criança
a caminho da adolescência. Vi a evolução do quadro de minha
irmã, que pouco a pouco se transformou numa pessoa tímida,
retraída e com baixa auto-estima, como um desafio pessoal a
mim, de eliminar as conseqüências de uma depressão. Ela adotou
uma postura defensiva diante da vida, ficando mais em casa, triste
e com um ar sombrio. Embora não conhecesse o significado da
palavra depressão, não gostava de suas conseqüências no


Alquimia do Amor

comportamento de minha irmã. Meu sentimento de impotência se
transformou, sem que me desse conta, num desejo inconsciente
de me dedicar à cura de pacientes depressivos. Isso veio a se
consumar concretamente quando iniciei meu trabalho clínico como
psicólogo, com formação junguiana. Passei a entender a depressão
como sintoma de um medo sutil de não viver. Percebo a pessoa
depressiva como uma chama luminosa que diminui a intensidade
de seu brilho, com o intuito consciente ou inconsciente de evitar
entrar em contato com algo aversivo. Parece o sol ao poente, que
lentamente sucumbe ao horizonte, deixando a noite acontecer.
Era evidente a atitude de minha irmã em não querer permanecer
naquela situação de perda e de rejeição de seu ex-namorado.
Questionava-me sobre o que se passava na mente dela para não
reagir decididamente contra aquela inércia. Na minha fantasia
infantil, entendia que alguma coisa estava sugando suas energias,
deixando-a extenuada e impotente. Acreditava que alguma coisa
a estava contaminando por dentro.

Percebi, mais tarde, em meu atendimento clínico psicológico,
que os relacionamentos amorosos deixam marcas na consciência
sem que os envolvidos percebam sua profundidade. O vínculo que
se estabelece entre pessoas decorre de fatores nem sempre
percebidos pelas partes. Há fatores psicológicos, sociais, emocionais
e espirituais, inconscientes. Uma pessoa pode passar a gostar de
outra por ela lhe ter preenchido um anseio social e arquetípico de
união a dois. Todos desejam formar um par, ter alguém que lhe
complete e lhe traga felicidade na união. A possibilidade de
rompimento desse processo se configura como um grande abismo
cujo confronto é desesperadamente evitado. A depressão,
paradoxalmente, surge como sintoma do vazio que não se pretende
ter, mas que surge, muitas vezes, inesperadamente e sem dar avisos.
Aparentemente o retorno da relação seria o remédio, porém a ferida,
mesmo cicatrizada, continuará existindo. Tal pessoa permanecerá
sem saber viver em contato consigo mesma e sem perceber os
padrões inconscientes que moldam sua relação com o ser amado.


adenáuer novaes

Minha irmã seguiu sua vida, saindo da depressão com a
ajuda da família, recebendo todo o carinho de que necessitava.
Teve outros relacionamentos depois daquele, inclusive, conseguiu
reatar a relação, cujo término a deprimiu, tempos depois, muito
embora não tenha se casado com ele. Após alguns anos, se
tornaram amigos. Sua cura se deveu ao entendimento dos
sentimentos da fase adolescencial da vida. São fortes e costumam
marcar por muito tempo. Ela entendeu que seu amor passaria e
não era tão maduro, pois a desequilibrou ao menor abalo.

Quando uma relação amorosa provoca transtornos
psíquicos, dentre eles, a depressão, a obsessão em continuá-la
promove mais estragos do que a aceitação do rompimento. Na
adolescência, a fantasia da primeira união, idealizada em todos os
sentidos, balizará as próximas relações da pessoa. O adolescente
não tem consciência de como é uma relação amorosa e que ela se
constrói a cada momento vivido com o outro. Ele tentará vivê-la
de acordo com algum modelo conhecido ou em oposição a outro
que não deu ou que não esteja dando certo. O relacionamento de
seus pais será o primeiro modelo a ser seguido ou negado.

Frustração amorosa

Em outra ocasião, atendi uma mulher, na mesma situação
de minha irmã. Na época ela tinha 32 anos e seu marido, 33.
Tudo começou quando conversavam normalmente em casa e,
por motivo aparentemente fútil, iniciou-se uma discussão. No início
do casamento as conversas eram carinhosas e compreensivas,
porém, ultimamente, eram monossilábicas e continham críticas
veladas. Ela mais questionadora e ele mais defensivo. Ela
reclamava de seu pouco interesse pela casa e da falta de atenção
e carinho para com ela. As agressões verbais se sucederam, pois
ele reclamava de seu descuido com o corpo e de sua mania de
contrariá-lo. Disposto a resolver aquela situação, nervoso e com


Alquimia do Amor

o pensamento longe dali, ele confessou gostar de outra pessoa e,
por isso, queria se separar. Eles tinham um filho de cinco anos e
estavam casados há sete. Depois de muitas conversas, brigas,
choros e lamentações, ela percebeu que a situação era irreversível,
muito embora tenha tentado reconciliar-se, apelando para que
ele entendesse que ela o amava. Tentou convencê-lo a ficar em
casa, sem sucesso. Depois de alguns dias ele resolveu sair de
casa e foi morar com sua nova companheira.
Ela chorou, lamentando sua infelicidade. Praguejou contra
a outra mulher, a qual não conhecia. Pensou em procurá-la; recuou
por não saber como agir adequadamente. Os primeiros dias de
separada foram terríveis, pois acreditava estar vivendo um inferno
que não desejava a ninguém, nem ao pior de seus inimigos. Sem
saída, lamentando seu destino, sem apoio e sentindo-se fracassada,
lembrou-se de pessoas que conseguiram sair desse tipo de
situação, recorrendo a amigos e familiares. Envolvida por
pensamentos de derrota e de incompetência, por não conseguir
continuar casada, além de dificuldades financeiras, resolveu voltar
a morar com a mãe. A partir daí regrediu, perdendo sua
independência e autodeterminação. Tendo que dividir espaços e
voltar a ser filha, passou a ter idéias de derrota na vida. Sentiu-se
incapaz de manter uma relação, uma família, atribuindo-se defeitos
em sua personalidade e abrigando um complexo de inferioridade.

Para não ter de reduzir o conforto doméstico e querendo
manter a qualidade na educação de seu filho, teve de enfrentar
um litígio na definição da pensão alimentícia. Tal processo levou-
a a um desgaste mental, com conseqüente redução de suas forças
físicas. A cada dia foi percebendo suas limitações e aumentando

o sofrimento. A depressão foi se instalando e se ampliando à
medida que constatava sua dependência do colo materno e da
falta que seu casamento fazia. Sentiu-se derrotada, rejeitada e
trocada por outra pessoa. Desqualificou a companheira de seu
ex-marido, atribuindo-lhe a culpa pelo fim de seu casamento. Não
conseguia compreender que a experiência que vivia não dependia

adenáuer novaes

diretamente de outrem, mas era sua a principal responsabilidade,
cuja natureza era inconsciente.

O ser humano ainda não percebe que o interno atrai o
externo, isto é, que os acontecimentos da vida são atraídos pelas
necessidades evolutivas de cada um. A experiência externa se
conecta aos processos não resolvidos que jazem no inconsciente
de cada um, portanto, cada indivíduo tem aquilo que merece,
cujo desafio precisa ultrapassar, alcançando níveis de
compreensão maiores.

Depressão como regressão da personalidade

A atitude dela não foi impensada. Analisou suas condições
financeiras, viu que precisava de apoio psicológico e que seu filho
estaria mais tranqüilo se ela estivesse bem. Avaliou suas
possibilidades de conseguir emprego, bem como a dificuldade
que teria em obter uma boa pensão alimentícia para manter seu
filho e a si mesma. Sabia que sua mãe, mesmo não se sentindo
feliz com o destino da filha, a acolheria. Seu pai não se oporia,
pois seguiria a opinião da mulher. As condições conscientes
ficaram, então, prontas para uma acomodação psicológica
regressiva. Ela volta a ser filha, mas rejeitará qualquer intromissão
da mãe em sua vida, muito embora, no início, para evitar atritos
maiores e arrependimentos tardios, tenderá à obediência. Aos
poucos, porém, com as dificuldades naturais da redução de poder
e da perda de espaço doméstico, se irritará com a situação. Sentir-
se-á inferior, muito embora este tenha sido um dos motivos pelos
quais buscou o refúgio da casa materna, evitando expor-se
publicamente. Psicologicamente poderá culpar a mãe pela própria
situação, evitando assumir sua incompetência em se manter casada,
mesmo que eventualmente se considere responsável. Em geral, a
relação do separado com seus pais, no retorno à casa na qual
viveu, traz de volta as disposições não resolvidas durante sua


Alquimia do Amor

convivência quando solteiro. Ela e seus pais evitarão, por breve
tempo, trazer à discussão antigos processos não resolvidos,
marcados pelo confronto e por tensões. A relação, portanto, estará
caracterizada pela repressão das emoções, em face da nova
configuração familiar e pelo cuidado naquilo que se queira colocar.
Melindres serão evitados até o ponto no qual a dor da separação
alcance os limites da suportabilidade. A filha desejará chorar no
colo da mãe, mas nem sempre se renderá à fragilidade de sua
condição de separada. A perda da autonomia da própria vida
estará estampada na forma como tratará a mãe. Poderá tratá-la
de igual para igual, isto é, como quem ainda está vivendo a
experiência de casada. Nesse caso, a relação entre elas abrirá
pouco espaço para confrontos ou cobranças. Por outro lado,
poderá se sentir inferior à mãe e infeliz, por não ter conseguido
viver o que ela alcançou. A mãe não será colocada como figura
externa de projeção de sua realização, mas como aquela que
continua sendo sua nutridora inconsciente e sempre presente.

A depressão, simbolicamente, é um retorno ao colo, isto é,
ao aconchego materno. O depressivo se coloca num estado no
qual o carinho e o colo de alguém é visivelmente desejado, mesmo
que ele o negue. Sua carência o transforma numa criança medrosa,
que não vê saída diante de um obstáculo intransponível. Seu mundo
psíquico se torna pequeno e o espaço mental para pensar se reduz
a poucas idéias. No fundo, o depressivo desejaria não estar
passando por aquilo, pois incomoda seu viver e sua normalidade,
alterando a disposição psíquica.

Sua vida seguia um curso que agora se encontra alterado
por forças imponderáveis e por acontecimentos inesperados.

Ela se questionava do porquê de tudo aquilo. O que havia
feito para merecer aquele destino tão ruim? Já não bastava o que
sofria? Onde estava Deus que não via seu sofrimento? Achava-
se boa filha, tinha consciência de que era uma pessoa bondosa,
sabia se relacionar com os outros, sabia fazer bons amigos, mas
não entendia por que passar por aquele sofrimento. Aonde é que


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havia errado? Via tantas pessoas sorrindo, demonstrando
felicidade, mesmo aquelas de condição social inferior à sua. Qual
a causa para sua desdita?

Tais questionamentos a levaram à infância ao lado de seus
pais. Via-se criança, tomando conta e brincando com o
irmãozinho, enquanto a mãe cuidava dos afazeres domésticos.
Achava importante cumprir o pedido de sua mãe para que tomasse
conta dele. Sentia-se uma adulta. Lembrou-se de sua puberdade
e da escola que freqüentava, com suas colegas e seus cadernos.
Lembrou-se de sua primeira saia rodada, de cor azul e de suas
longas tranças. Reviu sua adolescência feliz e seu primeiro beijo,
inocente e rápido, num colega da nova escola do bairro. Nada
lembrava de ruim, pois sua vida, ao lado dos pais sempre fora
agradável e lhe trouxera muitas felicidades.

Mesmo que a relação com a mãe tenha sido muito boa e
psicologicamente madura antes da separação, a regressão pode
ocorrer, não só em face da dependência estabelecida, como
também devido ao trauma do fim do casamento. Esse estado de
incapacidade em modificar sua própria situação favorecerá o
aparecimento de sintomas pré-depressivos, que podem se
prolongar por muito tempo.

Estado de pré-depressão

O estado regressivo favorecerá pensamentos e emoções,
bem como atitudes, que eliciam a depressão. Vivendo com a mãe,
numa relação inconscientemente neurótica, poderá acelerar seu
processo depressivo. A relação é inconscientemente neurótica
por conta das frustrações não resolvidas desde a infância e da
comparação inevitável que estará fazendo entre as duas. A tristeza
persistente é um dos primeiros sinais de pré-depressão. Ela virá
na medida que o pensamento se firmar no insucesso do casamento,
na frustração por não ter conseguido manter uma família "até o
fim de sua vida". Ela projetou seu futuro envelhecendo com filhos


Alquimia do Amor

e netos, ao lado de seu marido. Ela admite até que não seja aquele
com quem casou, porém não vê, a curto prazo, uma nova relação.
Sua tristeza se amplia na proporção que a incomoda sobrecarregar
sua mãe com os cuidados de seu(s) filho(s). Como foi morar com
a família originária, principalmente por causa de problemas
financeiros, estará preocupada com dinheiro. Tal preocupação,
de resolução improvável em breve tempo, contribuirá também
para aquele estado de pré-depressão.

Mesmo que nenhum outro fator ocorra para a depressão,
é possível observar em pessoas com tendência a tristeza mórbida,
atitudes que, se não evitadas, culminam em processos depressivos
crônicos. A tristeza mórbida ocorre, principalmente, em pessoas
que vivem sob condições ambientais degradantes ou que foram
submetidas a traumas familiares que as inferiorizaram, sobretudo
na infância. A tristeza e a sensação de que algo ruim vai acontecer
são típicos do estado que antecede a depressão. A pessoa que
não cultiva uma visão de mundo que lhe traga segurança quanto
ao próprio futuro, fica mais propensa àquele estado. A tristeza
mórbida é um estado de espírito que condiciona a pessoa ao
pessimismo, ao negativismo, ao derrotismo, bem como a uma
expectativa de insucesso constante diante dos mínimos desafios.

Da mesma forma, pessoas que necessitam constantemente
melhorar sua auto-estima também podem estar próximas do
estado pré-depressivo. Demandas excessivas de aumento da auto-
estima e de valorização externa de si mesmo são reflexos de quem
teme o contato com o inconsciente, portanto, mais propensão
tem à depressão.

O estado pré-depressivo pode ocorrer nos seguintes casos:
vida solitária, isolamento social progressivo, tristeza constante com
conseqüente irritação, falta de objetivos concretos na vida,
sentimento de rejeição e desamparo, execução de atividades
rotineiras sem motivação, convivência com doença crônica e com
doentes depressivos, frustração profissional, dificuldades
financeiras, falta de lazer, relações familiares instáveis, relações
amorosas complexas, dentre outros.


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Regressão compensatória

A regressão é uma compensação inconsciente, característica
de quem tenta evitar entrar em depressão ou ter uma crise nervosa.
O ambiente doméstico, vivido quando solteira, parecerá mais
seguro à mulher separada, não só pela companhia dos pais, como
também pelo apoio psicológico que eles lhe darão. Mesmo
regredindo e se sentindo fracassada, será recompensador pelo
acolhimento recebido. Um homem, cuja depressão tratei, todas
as vezes que brigava com a mulher resolvia dormir na casa da
mãe, e só retornava à sua por insistência dela. Tal comportamento
indicava uma forte dependência materna e uma frustração todas
as vezes que sua mulher se comportava diferente de sua mãe.

Vejo sempre um caráter simbólico na depressão, principalmente
em mulheres. Parece significar um retorno ao aconchego
do útero materno, portanto, ao inconsciente. Seus principais
sintomas sugerem tal simbolismo. A inércia típica do feto está
presente em alguns depressivos que diminuem sua resposta motora
ou apresentam catatonia; a limitação alimentar, restrita ao fluxo
sanguíneo e o pouco ou nenhum esforço para conseguir seu
alimento, presente na falta de apetite da maioria dos depressivos;
a baixa capacidade de resposta ao ambiente, à semelhança do
depressivo que perde o interesse e o prazer de fazer as coisas;
além da dependência materna, típica de alguns depressivos que
procuram o aconchego da mãe, reforçam o simbolismo fetal nela
presente.

Ocorre uma regressão infantil no depressivo por não aceitar
viver algo diferente do que esperava para alcançar sua felicidade.
Estar ao lado da pessoa amada significa, para muitos, completar-
se. Ela lhe dá carinho, atenção, sensação de bem-estar e plenitude.
Isso não se quer perder. Há quem entre em depressão, após uma
separação, mesmo sem estar recebendo nada daquilo. O que
significa que na relação não havia sentimento, mas um vínculo de
necessidade mútua ou anseio de união por motivos sociais. O


Alquimia do Amor

rompimento de uma relação, na qual havia sentimentos maduros
e explícitos, deve causar tristeza e pesar, mas não necessariamente
depressão. As separações nas relações amorosas são frutos do
processo de amadurecimento do ser humano, na sua busca
incessante pelo autoconhecimento e na realização transparente
de sua natureza essencial. Embora vistas como responsáveis pela
desestruturação da família e como prejuízo aos filhos, pode ser
entendido como um mecanismo de equilíbrio do ser humano no
contato consigo mesmo. O rompimento, então, pode ser compreendido
como resultante de uma tensão interna naquela relação,
visando o crescimento dos envolvidos.

Na maioria das separações conjugais, principalmente
quando há filhos, há uma perda financeira para todos. Aquilo que
era assumido em conjunto pelo casal, agora, será dividido.
Despesas que eram comuns passam a ser separadas e, às vezes,
seu valor torna-se dobrado. Quando há filhos, estes normalmente
ficam com a mãe, que, mesmo recebendo pensão alimentícia,
parece ficar com a menor parte dos bens e recursos antes disponíveis.
Quando o patrimônio é controlado pelo homem, a mulher
geralmente espera um longo tempo para ter sua parte, significativamente
menor, sob seu controle. Até que isso se resolva, ela
decidirá procurar ajuda, retornando à casa materna. A justificativa
para o retorno é, geralmente, de ordem financeira, mesmo com
prejuízos, dentre outros, de perda de espaço e de controle. O
retorno ao convívio materno encobrirá parcialmente a possibilidade
de depressão, a qual ficará adiada enquanto dure o tempo
de regressão ou até que outros fatores interfiram. Quando se tenta
romper a regressão, a depressão pode surgir. Fica-se entre a
cruz e a espada. Se ficar na casa materna, regride-se à condição
de filho ou filha; se procurar seu próprio espaço, enfrentando uma
nova vida, pode-se entrar em depressão. Mesmo que não se
retorne a morar com os pais e se receba sua ajuda financeira, a
situação de dependência ocorrerá. A relação com eles, em princípio
será de gratidão, depois, na tentativa de independência, será de


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querer responsabilizá-los indiretamente pela situação. Os filhos
tendem a responsabilizar os pais pelo caráter que têm, principalmente
quando suas vidas não se ajustam ao que desejaram.

A regressão não se dá exclusivamente pelo retorno à casa
materna, mas também pelas atitudes típicas que em geral o
separado toma. Querendo estar bem consigo mesmo e mostrando
que a separação não causou abalo psicológico, procura melhorar
a aparência. O separado quer de volta sua juventude e tudo o
mais que a vida de casado o impedia de realizar. Quer melhorar
seu humor, faz regime para emagrecer, busca academias de
ginástica e passa a usar roupas joviais. Em geral, evita falar sobre

o que houve e procura contato com pessoas mais jovens e
disponíveis para sair. Aquele parente separado ou disponível é
procurado para companhia e aconselhamento. Amigos que se
encontram na mesma situação são também procurados. Isso tudo
dura algum tempo, até que a pessoa caia na realidade. Quando a
pessoa encontra outra, com a qual estabelece nova relação, a
depressão não se instala ou tem seu início retardado. É comum a
pessoa querer de volta sua vida, a qual considera perdida. Quer
voltar ao que tinha e ao que era antes do que está passando. Não
percebe que a própria situação é um convite a mudança nos rumos
que deu à própria vida. Todos aqueles que passam por uma
separação devem entender que a própria vida o convida a
mudanças profundas em sua personalidade.
O enfrentamento da situação de conflito, aliado a uma melhor
compreensão da relação com o inconsciente, pode ser a saída para
evitar a regressão. O conflito surge pela percepção de que seu
destino é outro e não aquele a que deseja agarrar-se, e porque não
sabe o motivo de tê-lo perdido. Na realidade não o perdeu, era
uma fantasia, não o possuía de verdade. A pessoa estava sendo
conduzida embora pensasse ter o controle da situação. Mesmo
que não seja possível enfrentar imediatamente o conflito ou a situação
aversiva, que é geradora de sofrimento, será necessário que, mais
tarde, a questão seja colocada novamente em foco.


Alquimia do Amor

A compreensão da relação com o inconsciente é uma espécie
de cuidar de si mesmo, observando-se naquilo que não é facilmente
perceptível pela consciência. É ficar atento aos sonhos, ouvir e
valorizar "feedbacks", perceber a própria sombra2, dissolver seus
complexos, além de aprender a interpretar os eventos da própria
vida como símbolos. Entrar em contato com o inconsciente pode
ser iniciado com reflexões, meditações, orações, ou toda atividade
mental que implique em interiorização. Nesse estado, ouve-se mais
do que se fala. Nota-se mais a si mesmo do que aos outros. Ao
contrário dos estados depressivos, essa interiorização não é mórbida,
mas consciente e ricamente vivida.

Auto-afetividade

A depressão é uma doença emocional caracterizada pelo
estado de auto-afetividade mórbida e pelo direcionamento da
energia psíquica para algo do próprio mundo interno. A autoafetividade
não é auto-estima, mas um deslocamento da energia
que deveria ser dirigida para a vida externa e é desviada para um
conflito pessoal, cuja saída não é logicamente encontrada. É uma
espécie de canalização do impulso de viver para o estado de ficar

Representando o que não sabemos ou negamos a respeito de nós mesmos, a
sombra é o arquétipo que simboliza os aspectos obscuros da personalidade e
desconhecidos da consciência e que está mais acessível a ela. Normalmente temos
resistência em reconhecer e integrar a nossa sombra, o que nos leva inconscientemente
às projeções. Essa integração é geralmente feita com relativo esforço
moral. A sombra representa o que consideramos mal e não nos damos conta de que
nos pertence, fazendo parte de nós tanto quanto o bem. A sombra contém o bem
e o mal desconhecidos ou negados em nós, ou que não foram conscientizados.
Portanto, é acertado dizer-se que a sombra contém também qualidades boas. Ela
dá lugar à persona por uma necessidade de adaptação social. Sua exposição torna

o indivíduo inadequado e inviabiliza sua convivência harmônica. Temos uma
tendência a projetar as características pessoais da sombra nos outros, considerando-
os moralmente inferiores. Reconhecer a própria sombra é um grande passo no
processo de individuação. A sombra se opõe à persona e ambas se relacionam
num regime mútuo de compensação.

adenáuer novaes

remoendo pensamentos vinculados a um determinado foco. Parece
uma obsessão em torno de um ou mais temas relacionados à
determinada situação conflituosa, cuja saída não é encontrada. Ao
mesmo tempo em que se trata de uma sucumbência do eu ao
inconsciente, é também uma forma de proteger-se de alguns de
seus conteúdos. Diante da impossibilidade de lidar com algum
conflito, não sentindo energia para tal enfrentamento, o eu se protege,
destinando suas forças na autodefesa, a fim de permanecer íntegro.

É comum pessoas em estado de pré-depressão ou deprimidas
afirmarem que precisam gostar de si mesmas, se amar e
aumentar a auto-estima. Algumas pessoas entram em depressão
tentando se proteger demais contra o que não aceitam ou não
querem admitir que esteja acontecendo. Vivem dando presentes
a si mesmas para compensar a fragilidade do eu. Confundem a
necessidade de valorização pessoal pelo reconhecimento das
próprias competências com uma excessiva afetividade ao eu. Essa
afetividade difere daquela dirigida aos outros pela inconsciência
com que é feita. Paradoxalmente, a pessoa pensa que não gosta
de si mesma ou que deveria estimar-se mais, porém, seu desejo
de receber afeto, antes buscado pela doação de carinho a outrem,
agora, quando consegue, é externado apenas verbalmente e não
é concretizado.

Atendi uma jovem de 27 anos, solteira, engenheira, cuja
dificuldade básica era manter relacionamentos afetivos por muito
tempo. Seus relacionamentos amorosos fracassavam antes de
completar três meses. Os homens acabavam por traí-la ou diziam
não querer compromisso sério. Ela era considerada pelos amigos
como sendo uma mulher bonita, que se vestia bem e que tinha
todos os atributos para atender as exigências de qualquer homem.
Antes que entrasse em depressão, fora aconselhada a melhorar
sua auto-estima. Decidiu se presentear toda semana com uma
roupa nova ou com um presente que a deixasse bem consigo
mesma. Tal hábito culminou com um desequilíbrio financeiro,
mascarando o real problema. Sua atitude pode ser salutar quando


Alquimia do Amor

realmente haja condições para tal e quando não se esteja
mascarando o enfrentamento de conflitos pessoais.

Em depressão ou pré-depressão, as pessoas sentem
dificuldade em externar concretamente a afetividade às pessoas
queridas, direcionando-a a si mesmo, muitas vezes, de forma
inconsciente. O carinho e a atenção, antes dispensados aos entes
queridos, vão gradativamente minguando num processo de autoerotização
imperceptível. Auto-erotização deve ser entendida
como direcionamento de energia psíquica a si mesmo. Os pensamentos
passam a circular em circuito fechado, num processo de
auto-piedade e culpabilidade excessiva. Em alguns casos a
afetividade é dirigida a determinada pessoa ou grupo de pessoas
(filhos, pais, sobrinhos, amigos, etc.) de forma excessiva e
compensatória. Cuidados excessivos e mimos exagerados àquelas
pessoas, são típicos. Nos casos de separação, a afetividade, antes
direcionada para a relação marital, passa a ser dirigida a complexos
inconscientes autônomos.

Inconscientemente, a pessoa passa a se colocar na posição
de "coitadinha" ou "vítima do destino", na espera da atenção e
piedade alheias. Desejam ser acolhidas, compreendidas e
fortalecidas em suas razões. Negam, mas querem a atenção alheia.
Mendigam afeto e, ao mesmo tempo, juram não ligar para as
pessoas à sua volta.

Uma vez atendi um homem de 56 anos, recém-separado,
pai de dois filhos adolescentes que optaram por ficar com a mãe.
Em função da nova moradia e por conta da atitude dos filhos, que

o responsabilizaram pela separação, ele ficou sem ter para quem
direcionar sua afetividade. Resolveu, alegando cuidar de si mesmo
e tendo o propósito de encontrar uma pretendente para uma nova
relação, mudar sua aparência. Pintou os cabelos, cuja brancura
já o incomodava há algum tempo, passou a fazer exercícios físicos
regulares, entrou numa dieta alimentar e buscou assessoria de uma
consultora de estética e de moda. Passou a se enxergar como um
jovem e a se interessar por tudo que eles gostam. Agora ia a

adenáuer novaes

cinemas, andava em shoppings, usava roupas de marca conhecida,
olhava mais para mulheres jovens, além de atitudes adolescenciais
que passou a ter. Regrediu à adolescência, provavelmente por
não tê-la vivido adequadamente. Tal regressão evitou, ao menos
temporariamente, sua entrada na depressão, porém era um sinal
de que ela poderia estar a caminho. A atitude dele faz surgir em
sua vida um personagem inconsciente que gradativamente foi
assumindo a consciência: o puer3. Trata-se de uma personalidade
inadequada à idade do homem. É um homem eternamente jovem
no corpo de um outro que gradativamente envelhece. Não tem
coragem de conviver com seu natural envelhecimento, nem quer
admitir que não seja mais o mesmo fisicamente. Ele quer estar
sempre jovem, vigoroso, conquistar mulheres jovens, exibir-se
aos homens mais velhos, mostrando seus músculos e corpo
torneado. Veste-se jovialmente e freqüenta academias de ginásticas
nas quais faz seu ritual diário de demonstração de saúde e
vigor. A depressão surgirá para ele com sinais de senilidade
precoce. Atrai elogios de que não parece ter a idade que tem.
Confunde ser jovem em idéias, isto é, compreender novos
conceitos e as transformações sociais, com conservar uma
aparência adolescencial.

O puer é produto de uma sociedade pobre, voltada para o
mundo externo, da persona4, constituído dentro de padrões estéticos
e hedonistas. Mesmo assim, ele é valorizado, pois representa o

3 Infantil, menino, criança.
4 O termo persona deriva das máscaras que os atores gregos usavam para os diversos


papéis ou personalidades que interpretavam. É o aspecto ideal do eu que se apresenta

ao mundo e que se forma pela necessidade de adaptação e convivência pessoal. É

o que se pensa que é. Muitas vezes a persona é influenciada pela psiquê coletiva
confundindo nossas ações como se fossem individuais. Ela representa um pacto
entre o indivíduo e a sociedade, sendo um conjunto de personalidades ou uma
multiplicidade de pessoas numa só. A identificação do ego com a persona provoca
o afastamento de nossa identidade pessoal, isto é, corremos o risco de não sabermos
quem realmente somos. Somos, ao mesmo tempo, seres individuais e coletivos,
pois temos uma natureza singular como também temos atitudes que nos confundem
com a coletividade.

Alquimia do Amor

esforço e a esperança contra a sucumbência ao profundo poço
sem fim da depressão. Mesmo pueril, adiando o contato do indivíduo
consigo mesmo, o salva de um possível desastre iminente. Ele,
porém, deve desconfiar de sua forte tendência aos encantos do
puer, prevenindo-se de forma a evitar os excessos.

Desencontros amorosos

Todas as pessoas desejam encontrar um amor. Amar e ser
amado é um desejo arquetípico, inconsciente, de todo ser humano.
Todos buscam alguém que lhe complemente a vida. Essa busca
se dá pela tendência inata que existe em cada ser humano de
realizar, através da união com alguém, aquilo que acha não estar
completo internamente. O masculino busca o feminino como a
ave deseja seu ninho. Há um vazio interno em cada ser humano, o
qual deveria ser ocupado por todas as características opostas à
personalidade. O preenchimento se dará quando se encontrar
alguém que possui características que se assemelham àquelas que
se deseja ter. É dessa forma que ocorre a projeção dessa parte
inconsciente e oposta da personalidade. Todos encontram na vida
pessoas que tenham características semelhantes àquelas que
serviram de projeção aos seus anseios. A busca pela formação
do par é, portanto, mais do que uma questão pessoal, uma
tendência coletiva. Não conseguir realizar esse intento promove
frustrações e sensação de incompletude.

A tendência arquetípica pelo encontro amoroso torna-se
quase uma obsessão, aumentada pela pressão social ao casamento.
Não conseguir realizar tal proeza, para certas pessoas, obriga-
as a um mecanismo justificativo extremamente desgastante. Quem
não consegue realizar seu anseio íntimo e coletivo, costuma
apresentar uma personalidade rígida e reativa, justificando sua
solidão forçada com argumentos voltados para algum idealismo.
Seu ideal passa a representar sua personalidade não alcançada
no encontro amoroso.


adenáuer novaes

Em geral as relações amorosas começam pelo mecanismo
da projeção inconsciente. O outro, a quem se destinam os
sentimentos afetivos, preenche inconscientemente o lugar da figura
idealizada de parceiro complementar. Tal figura representa o ideal
de pessoa que se deseja como companheiro de vida. Muitas
relações atravessam os anos como encontros de representações
de parte a parte. O casal vive uma vida em suspensão, pois não
conseguem realizar a passagem para um estágio acima daquele
em que se situavam antes do casamento. Nem ele nem ela, conseguem
promover ou ser o agente de transformação na personalidade
do outro. Vivem uma vida artificial, sem realizarem a metanóia
necessária em cada existência no corpo. Quando os envolvidos
se deparam com a personalidade real do outro, se decepcionam,
desejando ou conspirando para o rompimento da relação. Não é
fácil lidar com a personalidade de alguém com quem se vive, ao
descobrir, um dia, que esta é diferente da que se acostumou ou se
desejou estar junto. O desencontro amoroso será conseqüência
de se viver sem o aprofundamento em questões fundamentais a
uma relação. Não se trata de neurotizar a relação amorosa com
questões que mais denotam obsessão psicológica e insegurança
do que diálogo maduro. É preciso encontrar a medida do diálogo
numa relação. Quando o exagero ocorre é porque um está
entrando em contato com a sombra do outro. Surgem acusações,
ciúmes exagerados, cobranças, arrependimentos e ódios.

Casais que conviveram muitos anos, às vezes, já na velhice,
tornam-se inimigos convivendo no mesmo espaço, por causa da
vida artificial que levaram, na qual não houve espaço para desabafos,
escuta madura, valorização do outro e carinho desvinculado
do sexo. O segredo talvez seja construir a relação com paciência
e ter senso de oportunidade, viabilizando momentos adequados
para se atingir a conexão com a alma do outro.

Muitas depressões contêm uma história de desencontro
amoroso. As separações, as impossibilidades de relação amorosa,
os sentimentos de rejeição e o abandono, são eventos para os


Alquimia do Amor

quais ninguém se prepara antecipadamente. Preparar-se, para
algumas pessoas, seria conspirar contra. Outras, quando pensam
naquelas possibilidades, atraem a insegurança, preocupando-se
excessivamente. A maioria que passa por uma desilusão amorosa
recusa-se a acreditar inicialmente no que está acontecendo.
Questiona-se: por que eu? Não acredita ou não sabe as razões.
Alguns conseguem perceber as causas em si mesmos, porém, a
maioria projeta no outro os motivos da quebra da relação.

Isso pode decorrer do diferencial de sentimento que uma
pessoa tem por outra, existente numa relação amorosa. Dificilmente
duas pessoas se gostam com a mesma intensidade e pelas mesmas
razões. Essa diferença é cobrada, de alguma forma, quando eles
têm algum tipo de discussão. Nas brigas, a cobrança do esforço
maior ou da disposição e entrega a mais vai aparecer. Não satisfeita
a justificativa ou não sendo correspondido em seus sentimentos,
a possibilidade de depressão será maior. Quem muito dá, muito
cobra. O equilíbrio entre os sentimentos para alguém e a energia
destinada à própria vida, cuidando de si mesmo, na medida certa,
pode evitar cobranças, prevenindo contra estados depressivos.
Quem se une a alguém deve ter em mente, ao menos superficialmente,
uma idéia dos motivos pelos quais o outro está ao seu
lado, além do próprio sentimento. A diferença na intensidade dos
sentimentos entre duas pessoas que se unem não é um problema
em si, principalmente quando há consciência disso e quando não
existe cobrança para que o outro atinja o mesmo grau.

Há pessoas que parecem ter uma espécie de obsessão por
uma relação amorosa a qualquer custo. Querer ter uma vida afetiva
com alguém é perfeitamente natural e é uma tendência de todo
ser humano. Porém, tal tendência não deve se transformar numa
obsessão. Quando isso ocorre, a pessoa tem uma compulsão a
entregar-se à outra sem nenhum respeito a si mesmo. Negam-se
e se iludem numa relação na qual não expressam sua verdadeira
alma. Não alcançando o sucesso desejado numa relação, ficam
sempre na expectativa de que outra se torne sua grande chance
não conseguida. Passam de relação em relação, infelizes e


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frustradas. Saem de uma, entrando em outra, sem medidas. Não
sabem ficar sozinhas por um tempo. Há pessoas que amam
demais. Desgastam-se na direção de outras querendo se conectar
amorosamente a qualquer custo. São viciados em se apaixonar.
Destinam seus sentimentos sem norte específico, entregando-os
àquele que se configura primeiro como seu par especial.

Atendi uma jovem mulher de 27 anos, que trabalhava com
vendas, cujos relacionamentos não davam certo. Desde a adolescência
vinha colecionando namoros curtos, os quais, em sua maioria,
terminavam porque ela deixava de gostar de seu par, mesmo que
este se apaixonasse por ela. Eram homens bonitos, que a tratavam
bem, que queriam estar ao seu lado e que lhe davam carinho e
atenção. Porém, ela enjoava deles. Nenhum lhe agradava o
suficiente. No começo, gostava deles, esforçava-se por permanecer
vinculada, mas em pouco tempo, que geralmente não passava de
seis meses, estava propondo o término. Depois de cada relacionamento
frustrado, deprimia-se querendo explicações para o que
ocorria consigo. Não via nela própria a causa do problema,
analisando do ponto de vista estético e superficial de sua
personalidade. Achava-se bonita, carinhosa, compreensiva, bem
educada e pronta para fazer qualquer homem feliz. Em princípio
julgava que o problema estava em sua educação e no relacionamento
que tinha com seu pai. Estudara em excelentes colégios, cujos
princípios pedagógicos eram tradicionais e os valores morais
conservadores. Tinha uma especial admiração pelo pai e o via como
um modelo de homem. Acreditava que era exigente demais por
conta dos aspectos internalizados em sua personalidade, oriundos
desses dois fatores. Ao mesmo tempo em que pensava dessa forma,
achava que havia algo mais, pois não sabia como mudar sua situação
de instabilidade amorosa. Reproduzo abaixo o diálogo que tive com
ela após ter-me contado sua breve história.

Perguntou-me ela.

– Por que não consigo fixar-me num relacionamento?
Respondi-lhe com outra pergunta.

– O que você quer de um relacionamento?

Alquimia do Amor

Ela, com ar de obviedade, respondeu:

– Ser feliz, lógico.
Fiz-lhe, então, outra pergunta:
– Você não acha que é uma exigência grande demais para
você?
Ela, depois de alguns segundos de silêncio reflexivo, surpresa
e impactada pela minha indagação, respondeu;

– É. ...talvez.
Continuei em silêncio e olhando fixamente em seus olhos.
Percebi que ela ficou muito pensativa. Talvez venha a entender
que sua dificuldade reside exatamente na projeção inconsciente
de seu desejo imediatista, sem atentar aos obstáculos inerentes a
tudo de grandioso que se almeja. A consciência se defende de
tudo aquilo que pode suplantá-la, armando-se com mecanismos
para permanecer em seu estado de equilíbrio.

Nem sempre se ajuíza as razões que impedem o alcance
de algum desejo que se acha possível realizar. A maioria acredita
que tem o direito de obter o que deseja pelo simples motivo de
que "todo mundo" consegue. Não entende os sinais da vida, que
aparecem nos impedimentos e dificuldades para alcançar o que
deseja ou acha que tem direito.

As razões que atraem uma pessoa a outra nem sempre se
devem à busca consciente que se faz por alguém. Existem fatores
incompreensíveis que levam uma pessoa a outra. Isso pode ser
visto em casos nos quais ocorrem encontros inusitados com
alguém, que, sem qualquer intencionalidade, passa a fazer parte
da vida de outra pessoa, chegando a ponto de estabelecer, em
pouco tempo, uma relação amorosa. Em muitos casos, os
encontros amorosos são planejados na Espiritualidade, antes do
indivíduo se conectar a um novo corpo, porém isso não é garantia
de que resulte em união estável. A probabilidade será a mesma
daqueles envolvimentos em que as pessoas não planejaram antes.
Muitos fatores contribuem para o encontro amoroso entre duas
pessoas, que, mesmo que se consiga identificar qualquer deles,
não se pode desconsiderar a existência dos casos fortuitos ou


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uniões acidentais. Tais casos ocorrem por uma necessidade
psíquica interna, desconhecida, por ser inconsciente, para a pessoa.

Uma pessoa de minhas relações estava no guichê de uma
estação de trem no norte da Espanha, buscando uma informação
sobre horários e valores de um determinado trecho para a França.
Ao perguntar ao rapaz sobre o trecho que lhe interessava, notou
que um homem, na fila do guichê vizinho, a olhava insistentemente.
Olhou para o lado, em sua direção, percebeu seu sorriso e aspecto
agradável. Sem cerimônias, ele lhe falou em francês: "eu também
estou indo para lá. Chegaremos dentro de duas horas e meia".
Ela sorriu, comprou seu bilhete e saiu, sem olhar para ele, que
continuava seguindo-a com os olhos. Ela comprou um lugar na
primeira classe. Minutos depois de se instalar em seu lugar, eis
que, para sua surpresa, ele chega com o mesmo sorriso, sentando-
se na poltrona à sua frente. Conversaram durante toda a viagem.
Ela passaria dois dias na cidade onde ele morava. Após a chegada
na cidade, era noite e ele a levou ao hotel no qual ela tinha reserva.
Foi o melhor fim de semana de sua viagem, pois, junto a ele, de
quem se enamorou como se o conhecesse há muitos anos, desfrutou
de agradável companhia. Depois de seu retorno ao Brasil,
comunicou-se por telefone, email e carta, mas a relação não foi
adiante. Houve apenas um encontro fortuito. Não havia profundidade
ou possibilidade de união entre eles. Com o auxílio da
distância e das ocupações de ambos, aos poucos a paixão foi se
diluindo e nunca mais se falaram, muito embora guardem cada um
em seu próprio coração, o feliz "namoro" de dois dias, como se
tivesse acontecido por uma eternidade.

Pessoas que amam demais

Há pessoas que amam em demasia e cobram sua entrega
ao outro, controlando-lhe todos os passos. A insegurança
provoca-lhes o medo de perder ou de ser enganadas. Compulsi



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vamente buscam meios para cercar seu parceiro e evitar qualquer
possibilidade de que ele se sinta livre de sua presença ou de sua
participação na vida. Terminam por sufocar o outro, provocando-
lhe o desejo real de se libertar de tal tutela. Algumas vezes, tais
relações não costumam durar, provocando insatisfação na pessoa.
Neste caso, vivem entrando e saindo de relações amorosas. Outras
vezes, duram anos, aprisionando as pessoas numa teia inextrincável
e mórbida, gerando, por vezes, traições e infelicidade mútua.

Nos casos de pessoas compulsivas por uma relação, ou
seja, que não conseguem ficar sem alguém para namorar ou viver
junto, seria importante cuidar de si, sem a obsessão por encontrar
alguém. Alguém especial só será "atraído" quando o processo de
auto-valorização estiver em curso. Quando não se atenta a isso,
pode ocorrer a ligação com uma pessoa também compulsiva, que
esteja na mesma sintonia, que também não se valoriza. Nesses
casos, a relação será um desastre ou durará pouco tempo.

A pessoa compulsiva por uma relação tem mais suscetibilidade
para entrar em depressão, pois se desilude com muita
facilidade, frustrando-se a cada desencontro amoroso. Geralmente
aconselho às pessoas que passam a ter essa compulsão, a tentarem
fazer um "jejum", viver um tempo sem relação. Nem sempre elas
conseguem, pois adquiriram o hábito de estar sempre disponíveis
para o menor sinal de que alguma pessoa possa ser seu par
desejado. Não querem perder a oportunidade. Pensam que tal
encontro só ocorre uma vez. Têm ânsia de encontrar seu par
perfeito. Muitas vezes, não querem dar a impressão aos outros
de que não são capazes de estar ao lado de alguém. São
orgulhosas e não gostam de se sentir inferiores nesse ponto. Não
percebem que seu par surge de seu mundo interno, numa
correspondência inconsciente que se estabelece, muitas vezes, à
revelia de seu desejo.

A vida possui seus mecanismos que possibilitam as conexões
entre as pessoas. É preciso conhecê-los e aprender a lidar com
eles. Quando ocorre a demora de encontrar uma pessoa com


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quem se relacionar, é sinal de que é preciso se conhecer mais,
para não incorrer em novas frustrações com o primeiro que
aparecer. Muitas pessoas compulsivas em se relacionar acabam
por estabelecer encontros parciais, isto é, com pessoas parcialmente
impedidas. A outra pessoa já tem um relacionamento. O
famoso triângulo amoroso fatalmente acontecerá.

Depressão no triângulo amoroso

A relação a dois é convencional e é construída dentro de
padrões sociais estabelecidos com propósitos conscientemente
definidos e por demais conhecidos. Em geral, ela atende ao desejo
de constituir uma família. A relação triangular desafia esse
propósito, desequilibrando o sistema pretendido, ou, em alguns
casos, promovendo um certo 'equilíbrio' instável. A relação com
uma pessoa, quando não há pretensão semelhante à do casal
convencional, atende a objetivos outros que podem ser alcançados
quando um pacto é estabelecido. As relações entre pessoas nem
sempre se constroem para alcançar pretensões convencionais. A
sociedade de hoje tem admitido relações nas quais não há
pretensão de ter filhos, ou viver sob o mesmo teto, morar na
mesma cidade, ou dormir no mesmo quarto, dentre outras
modalidades. Quando o casal faz um pacto de relação não
convencional e tanto ele quanto ela têm bastante consciência das
implicações pertinentes, não há insatisfação entre as partes nem
são geradas situações causadoras de depressão. O pacto numa
relação triangular deve ser muito mais claro e explícito, além de
constantemente renovado, do que aquele existente em outras
relações não convencionais.

Ninguém deseja manter uma relação triangular, quando
objetiva constituir uma família. Quando acontece, a culpa se instala,
ameaçando os propósitos de manter intacto o núcleo familiar.
Tentativas de várias maneiras são feitas, a fim de compensar a


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relação triangular, com excesso em presentes e mimos àqueles
com os quais convive. Aqueles que estabelecem relações desse
tipo não conhecem ou não conseguiram uma relação melhor. É
realmente uma relação incompleta e indesejável de parte a parte.
Quem nela se situa tem, em algum momento, um sentimento de
inferioridade moral ou psicológica. Acredita não merecer o estado
de tensão provocado por aquela situação e se pergunta: porque
eu? Luta de todas as maneiras para sair da situação. Quando não
consegue, pode entrar em depressão.

O anseio de estar no lugar principal da relação, recebendo
com exclusividade os afetos desejados, torna-se um fator de
cobrança daquele que ocupa posição secundária. O triângulo
amoroso é uma situação que costuma provocar depressão na parte
mais excluída. Algumas vezes, promove nos dois que disputam
uma mesma pessoa. Na pessoa que tem relacionamentos com
outras duas, as quais não sabem uma da existência da outra, a
depressão poderá se instalar pela incapacidade de escolher uma
delas, renunciando à outra. Sentir-se-á impotente e infeliz perante
a situação.

Atendi uma professora universitária que manteve uma
relação com um homem casado por dezesseis anos. Os primeiros
anos foram de insatisfação e brigas para que ele se separasse.
Ele, entre desculpas e alegando doença na esposa, conseguiu
conviver com as duas durante todo esse tempo sem atender ao
pedido de sua amante. Ela, por amá-lo, suportou a situação,
alterando todo seu estilo de vida, adiando sua determinação em
ter uma família. Durante aqueles anos entrou e saiu de depressões,
usando medicações, terapias e racionalizações de todo tipo. Reviu
seus conceitos e adaptou-se à situação a contragosto. Permitiu-
se, acreditando ser a solução, envolver-se com outra pessoa, além
de seu amante, sem que ele soubesse, mesmo não concordando
intimamente com essa alternativa. Permaneceu por dois anos tendo,
como ele, dois relacionamentos, porém, quando seu novo amante
descobriu, não aceitou a situação. Mentiras e agressões passaram


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a fazer parte de sua vida. Conseguiu por fim, após tantos anos,
sair da situação, quando descobriu que seu primeiro amante tinha
outra amante. Sofreu, deprimiu-se, quis se matar, agrediu-o
fisicamente, escandalizou a vida dele perante sua esposa e nunca
mais quis vê-lo. Feriu e saiu ferida. Noites e mais noites sozinha
curtindo sua solidão entre lágrimas e consolações superficiais. Por
várias vezes se viu sozinha em datas especiais, soluçando por um
encontro especial. Perguntava-se porque ele não a escolhia? O
que ela tinha de ruim para ser rejeitada? Por que merecia destino
tão cruel? Não encontrava as respostas que queria. Todas elas
levavam a ele, culpando-o por tudo.

Sua experiência de vida, devido aos anos que passou como
amante, lhe alterou a capacidade de ter um relacionamento
convencional. Decidira não mais se envolver com alguém, desejando
um casamento. Dali em diante só iria ter relacionamentos não
convencionais. Tentou fugir da depressão, porém, ela passou a ser
sua amarga companheira por muitos anos. Após dois anos do
término, sem nunca mais tê-lo visto, muito embora ele a tenha
procurado, buscou fazer psicoterapia. Seu processo não era tão
somente sair da depressão, mas ter uma maior visibilidade da própria
vida e dos motivos para continuá-la. Ater-se simplesmente a curar
a depressão, significaria manter o ciclo de entrada e saída dela.

Uma análise psicológica requer uma visão ampla da vida e
dos paradigmas que interferiram no movimento da pessoa dentro
dela. É necessário não se ir apenas em busca das prováveis causas
ou dos fatores externos que se transformaram em fatos, mas,
principalmente à razão singular de viver.

A esperança é companheira da solidão da pessoa que se
torna amante. Sua paciência, muito embora tenha limites, se
estende por muito tempo, graças àquela companheira das horas
mais difíceis. Horas intermináveis a ouvir músicas, a ler cartas e
pequenos bilhetes, a escrever em diários intermináveis e a sonhar

o desejado encontro que a tornará feliz, junto ao seu amado.
Quanto mais tempo passar sem uma solução, maior será a

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depressão que se instalará ante o insucesso. Melhor seria repensar
a vida, revendo seus anseios, tentando um novo pacto de
felicidade.

Nas noites e nos dias de lazer, durante os quais a consciência
não se ocupe porventura de algo que exija atenção e exclusividade,
a falta da companhia desejada será frustrante e, consequentemente,
porta aberta à depressão. Distrações fúteis poderão ser tentadoras
com o intuito de driblar a solidão. Ocupações sérias, visando um
futuro diferente, poderá ser uma melhor saída, muito embora não
sejam garantia de sucesso. Cursos, mestrado, doutorado,
capacitações profissionais, psicoterapia, continuidade de antigos
projetos interrompidos, poderão fazer a diferença, visando não
tornar a vida vazia. Ainda assim, a possibilidade de depressão
persistirá. Será necessário um contato maior com a própria alma,
isto é, com o inconsciente, para desvendar o sentido da própria
existência.

A cultura, com sua complexidade e gama de fatores
dimensionais, contribui para que a pessoa que esteja na condição
de amante de alguém internalize uma culpa, consciente ou
inconscientemente. Enquanto dure a relação triangular, a pessoa
estará em permanente predisposição para entrar em depressão.
A atitude mais adequada é não permanecer numa relação triangular,
renunciando ao objeto desejado, quando descobrir o fato. Mesmo
que a pessoa peça um tempo para tomar sua decisão, melhor
seria evitar os encontros, afastando-se durante esse período.
Ninguém entra e sai de uma relação triangular sem ser machucado.

A situação não convencional, seja como amante ou no lugar
de possível traído, ou traída, promove a sensação de inferioridade,
portanto, fragiliza a pessoa predispondo-a à depressão. Mesmo
que não haja uma relação triangular, o simples fato de se viver
com alguém amando outra pessoa, que se encontra impedida de
corresponder, pode ser fator desencadeador de uma depressão.
A consciência da infelicidade pessoal, sem perspectiva de
mudança, angustia e deprime uma pessoa.


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Direção da vida consciente

Verifiquei, após vários anos de trabalho, que a depressão
é um estado de angústia e limitação mental, no qual a direção da
vida consciente sofre restrições em vários ângulos. Há um
decréscimo de autocontrole e uma suspensão temporária da
confiança em si mesmo. Rompe-se o equilíbrio interno aparente.
A vida parece ser dirigida por um pensamento ou idéia obsessiva,
que recebe a contribuição do sentimento de inutilidade e desvalia
pessoal. É nesse momento que ressurgem na memória as
experiências mal sucedidas e as frustrações acumuladas durante
toda a vida. A pressão exercida pelo complexo inconsciente
suplantará o desejo de superação do estado depressivo da
consciência.

Aos poucos, a vida externa vai perdendo seu colorido e
seu significado projetivo. As associações de eventos, ou atividades
que normalmente eram executadas, deixam de ocorrer como se a
mente fosse incapaz de conectar experiências que antes eram
ansiosamente aguardadas. Alguém que acorda pela manhã e segue
uma rotina normal até o momento de dormir, com uma série de
eventos durante o dia inteiro, começa a esquecer de alguns, em
cuja realização tem prazer. Pode esquecer, por exemplo, que tem
por hábito, logo após o almoço com seus colegas de trabalho,
passar em sua livraria preferida, sentar e deleitar-se com breves
leituras, antes de completar sua jornada diária na empresa. Pode
também esquecer que sente grande prazer quando, na mesma
rotina diária, tira quinze minutos para tomar um cafezinho e "jogar
conversa fora" com alguns amigos, em uma pequena lanchonete,
antes de chegar ao estacionamento aonde deixa seu carro. Essas
pequenas experiências, mesmo que não tenham significado
profundo, são esquecidas e não conectadas aos demais eventos
da vida do indivíduo, favorecendo o estado de insatisfação geral.

A pessoa vai mudando seus interesses, às vezes, de forma
imperceptível, sem atentar que a vida parece estar morrendo. A


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consciência vai obscurecendo, dando lugar ao mutismo e à
ausência de sorriso. Respostas monossilábicas demonstram a
insatisfação com assuntos corriqueiros ou com o que não diz
respeito ao seu próprio complexo inconsciente.

A evitação da vida consciente é um mecanismo de defesa,
à semelhança de um milípede que se enrola tentando evitar o perigo
que o ronda. O ego age como se estivesse sob a ameaça iminente
de ser atacado ou à beira da própria destruição. Assemelha-se
também à mania de perseguição que sofrem os delirantes, atraindo
a pena e a proteção de alguém. Uma força interna parece atrair a
pessoa para uma idéia persistente que lhe retira a motivação para
a vida consciente.

A tentativa de devolver a motivação da pessoa para atividades
comuns, festas, passeios, compras, viagens, etc., nem sempre
são frutíferas. Podem, às vezes, dar resultados imediatos, mas
costumam ser inócuas quando não se entra em contato com a
fonte geradora da depressão. Em paralelo aos convites para a
valorização da vida externa consciente, deve-se proporcionar ao
depressivo algum tipo de suporte para enfrentar aquilo que
realmente o aflige. Fundamental é buscar o tratamento para a
depressão, pois do contrário, aqueles convites serão apenas
mecanismos de fuga da dor.

A pessoa parece que vai desconectando motivações antes
agradáveis e impulsionadoras de novas experiências, como se
rompesse uma cadeia de associações de idéias positivas. A vida
consciente vai perdendo seu brilho, configurando um quadro
obscuro e aversivo ao indivíduo. Tudo parece conspirar contra a
vontade de prosseguir, de lutar e, principalmente, de viver. Uma
ameaça paira sobre a cabeça do indivíduo, fazendo-o vergar ante

o peso de sua sensação de incompetência para viver.
A melhor saída ainda é um breve contato com o motivo
principal que leva a pessoa àquele estado. Breve, inicialmente,
para permitir uma aproximação gradativa do conteúdo doloroso
e evitar uma reação aversiva do indivíduo diante de tal contato.


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Os sentidos da vida e da Vida

A vida de uma pessoa é sua existência no mundo, na qual
estão incluídas todas as dimensões e experiências possíveis. A
Vida contempla as existências, as coisas, o espaço, o tempo e as
leis que regem o universo. A primeira, com v minúsculo, é singular,
a segunda, com V maiúsculo, é plural. A primeira se insere na
segunda.

O sentido da vida é uma espécie de bússola orientadora do
destino humano, que constantemente deve ser observada, visando
uma melhor orientação. A ausência de um sentido para a própria
vida promove um vazio existencial que torna a pessoa suscetível à
desorientação psíquica. Deve-se, inclusive, ter mais de um sentido
para a vida, a fim de que não se frustre quando ele se torna difícil
ou impossível de ser alcançado.

A vida, definida como o existir, tem seu sentido de acordo
com o que se pensa dela. O sentido da vida pode ser chamado
de: amar, evoluir, educar-se, ser feliz, fazer o bem, atingir a
perfeição, etc. Os nomes podem ser muitos, porém é fundamental
a consciência de que esses são expressões de um sentido coletivo,
óbvio e necessário. Devem estar na consciência, ser seguidos e
tornarem-se determinantes do destino pessoal. Não são, porém,
práticos. Cada ser humano deve ter seu próprio sentido de vida,
em paralelo ao coletivo, e conectado a ele. Esse sentido pessoal
deve estar relacionado à vida prática e cotidiana. Encontrar o
sentido da vida pessoal é considerar que ele deve ser traduzido
em objetivos a curto, médio e longo prazo.

O sentido de viver, que chamo de existência, deve estar
sempre presente na consciência. Quanto mais presente na
consciência, mais intensamente suas conseqüências positivas
interferem no inconsciente. O sentido de viver é um conjunto de
motivos para a vida. Esse sentido não deve ser confundido com o
da Vida, pois este último é muito complexo à consciência. O
sentido da vida é aquele que se dá à própria existência da pessoa.


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É algo particular e não deverá estar atrelado exclusivamente a
uma consciência espiritual ou confissão religiosa. Não se refere a
um futuro remoto, no qual os objetivos maiores se realizarão. É
algo mais próximo, mais imediato, que motiva e impulsiona para a
existência. Não se trata de imediatismo, mas de um pragmatismo
consciente, visando alcançar aqueles objetivos maiores da vida.
Pode-se pensar em sentidos imediatos para a vida, não apenas
um. Objetivos materiais, profissionais, afetivos, religiosos, físicos,
dentre outros, devem fazer parte do leque de opções para os
sentidos buscados por cada pessoa.

O sentido da Vida é diferente do sentido da própria vida.
Costumo dizer que o sentido da Vida é simplesmente viver. É,
portanto, um sentido coletivo, igual para todos. Geralmente a
pessoa afirma que o sentido é ser feliz, é amar ou é evoluir. Tais
respostas não contribuem para uma maior compreensão da própria
vida que se leva. Por outro lado, o sentido da vida é algo pessoal,
singular, próprio de cada pessoa. É importante ampliar os objetivos
que se tem na vida. O sentido que se tem da Vida e da própria
existência deve estar sempre na consciência, para que ela não
deixe de projetar luz sobre eles.

Na depressão, o sentido da vida fica obscurecido, aparecendo,
de forma leve, o sentido da Vida, que também parece
estar se perdendo. A consciência entra no coletivo, quase esquecendo
de sua própria individualidade. A perda ou o trauma
obscurecem a consciência a ponto de motivações objetivas
sucumbirem em seu valor.

A depressão ocorre de forma sutil, sem que seu portador
perceba quando começa e qual o sintoma preponderante. Sua
sutileza se deve ao descuido em relação aos conteúdos inconscientes,
os quais assumem parcialmente a consciência. A própria
pessoa é, às vezes, alertada por terceiros quanto ao seu estado
depressivo. Esse alheamento de seu próprio estado é característico
da doença, que não surge como uma dor pontual e cujos sintomas
aparecem em tempos diferentes, de maneiras distintas a depender
de cada pessoa.


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O casamento entre o sentido da Vida e o da existência
deve acontecer, sobretudo, na idade adulta, quando já se teve as
experiências naturais da vida comum. A consciência deve estar
atenta aos objetivos imediatos da vida para que eles concorram
para o sentido da Vida. A realização pessoal decorre da consecução
positiva daquele casamento.

Depressão é também ausência, na consciência, de um
sentido para a vida. A frustração de não ter alcançado alguns
objetivos podem retirar aquele sentido anteriormente presente.
Colocar de volta o mesmo, ou acrescentar outro, é desejável e
deve ser feito de forma gradativa e pragmática. Alienar-se da
própria noção do destino pessoal é perigoso. Por isso, toda
inserção de motivos para viver deve ser feita de forma consciente,
atentando-se para suas reais possibilidades de serem alcançadas,
a fim de não se alimentar novas fantasias infantis.

A vida consciente precisa ter pelo menos um sentido, mesmo
que seja querer algo material ou hedonista, para que dele o
indivíduo encontre o significado maior de sua existência. Melhor
seria que seus objetivos de vida fossem mais espirituais que
materiais. O sentido que atribui à sua vida fortalece a consciência
da própria existência, evitando a sucumbência ao inconsciente,
sem o domínio do ego.

Quando o sentido da vida perde sua força e seu poder
atrativo ao ego, as possibilidades de depressão são maiores. É
necessário recompor o controle interno, a segurança em si mesmo,
buscando uma reconfiguração da própria vida.

Depressão e influência espiritual

Acompanhei um caso interessante de depressão com um
componente espiritual presente. Um rapaz de vinte e dois anos,
universitário, revelou a sua mãe seu descontentamento com seu
curso e sua vontade de deixá-lo. Mesmo com os conselhos


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contrários da mãe ele abandonou a faculdade. Passou a ficar muito
tempo em casa, em seu quarto e a falar de forma monossilábica.
Emagreceu, pois comia muito pouco e passou a se demorar por
muito tempo em frente à televisão. Ele morava só com a mãe. Seu
pai havia falecido quando ele tinha doze anos e isso não abalou
sua vida, pois sempre demonstrou disposição para viver e estudar.
Sempre foi bom aluno e não apresentou, desde a morte do pai,
nenhum sintoma de qualquer transtorno. Porém, de repente, já
adulto, passou a ter um comportamento não habitual e de
isolamento progressivo. Conduzido a um médico, a muito custo,
pela mãe, foi diagnosticada a depressão. Passou a tomar remédios,
porém sem alteração nos sintomas.

A alguns quilômetros de sua casa, numa das reuniões
mediúnicas do Centro Espírita Harmonia, apresentou-se um espírito
dizendo-se sem fé e sem perspectiva em sua vida. Sabia que havia
falecido há cerca de quarenta anos, vítima de falência múltipla
dos órgãos. Disse ter se dedicado à religião, tornando-se padre,
mas que não tinha muita convicção em suas pregações e em sua
fé. Fora levado à religião por influência da tradição familiar, que
reservava um dos filhos para o ministério de evangelizar o próximo.
Ele fora escolhido por ser o caçula. Mesmo aceitando o ofício,
nunca se entusiasmou com a tarefa. Cometeu muitos desatinos,
vivendo de forma moralmente condenável. Seus familiares se
afastaram dele e seus fiéis não se sentiam bem ao seu lado nem o
procuravam para conselhos. Achavam-no despreparado e evasivo
em seus sermões. Viveu seus últimos dias doente, sem visitas e
sem amigos. Faleceu com pouco mais de quarenta anos num
hospital público, sem nenhum familiar próximo e sem que ninguém
se lembrasse dele. Morreu como viveu, isolado e sem vínculos
afetivos. Como a vida continua, perambulou pelo mundo dos
espíritos em torno do ambiente religioso que viveu, desnorteado
procurando por Jesus e pelos santos da Igreja. Depois de algum
tempo, sem encontrar o que esperava e sem saber o que fazer, à
procura de algum referencial familiar, refugiou-se numa igreja


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distante daquela em que outrora pregara. Um dia, passados alguns
anos desde seu falecimento, atraído por uma senhora que passou
a ir àquela igreja, seguiu-a até sua casa. Lá encontrou um jovem
universitário cheio de vida. Automaticamente ligou-se a ele por se
sentir atraído pela sua jovialidade e disposição de viver.

Seu interesse pela senhora se deu por causa da persistente
oração que fazia em favor do filho. Ela notara que seu filho estava
vivendo algum processo difícil, que não compreendia, então resolveu
buscar auxílio nos santos de sua devoção. Seus pensamentos e a
projeção mental da imagem do rapaz atraíram o padre desencarnado.
Ele a seguiu à saída da igreja sem saber ao certo aonde ia, porém
algo o levava a ela. Seu desejo era mais forte do que sua consciência
do ato. No íntimo achava que iria encontrar uma resposta para sua
vida, que se achava paralisada. Chegando à casa dela, ao ver o
rapaz, sentiu-se atraído a ele. Estremeceu como se estivesse diante
de alguém muito importante em sua vida. Sentiu um frio dentro de si
e leve tremor no corpo. Teve ímpetos de abraçá-lo, mas se conteve,
temendo uma reação contrária por parte do rapaz. Naquele momento
constatou que o conhecia de algum lugar e que ele era alguém muito
querido seu. Por sua vez, o rapaz, ante a situação, sem saber da
presença do espírito em sua casa, sentiu uma sensação de pesar e
tristeza, aliadas a uma certa alegria íntima simultânea. Levantou-se
da cama e foi à sala, na qual sua mãe acabara de entrar. Ali estavam
os três num mesmo ambiente, porém só o espírito tinha consciência
do fato. Os outros dois acreditavam estar sozinhos. O rapaz, ao
cumprimentar sua mãe, sem perceber a presença do espírito, disse-
lhe não estar se sentindo bem naquele momento e pediu-lhe que
fizesse uma oração. Feita a oração, acompanhada pelo padre
desencarnado, que se sentiu muito bem ali, o rapaz melhorou e
voltou ao seu quarto.

A partir daquele dia, por conta da presença de seu amigo
padre desencarnado, sem disso ter consciência, foi se tornando
uma pessoa isolada e sem ânimo para fazer o que habitualmente
fazia. Depois de alguns dias sua mãe o levou a um médico.


Alquimia do Amor

Um dia, a vizinha, após a mãe lhe ter contado que seu filho
não passara bem no dia anterior, convidou-a a levá-lo a um Centro
Espírita, pois acreditava que a ocorrência poderia estar associada
a alguma influência espiritual. Provavelmente a vizinha agira sob
inspiração de espíritos, inclusive quando conseguiu levá-los ao
Centro Espírita dias depois. Após insistentes convites da mãe, o
rapaz se decidiu a ir, mesmo contrariado.

Lá chegando, acompanhado pelo espírito, que mesmo tendo
consciência do lugar para onde estava indo, não se incomodou, o
rapaz assistiu a uma palestra e tomou passes. Disse à mãe que se
sentiu bem e que retornaria lá na semana seguinte. Por sua vez,
durante o passe, o padre se sentiu desligado dele e permaneceu
na instituição, interessado no que lá ocorria. Viu que ali se falava
de religião de forma diferente da que se acostumara a pregar,
sem dogmatismo nem subserviência. A palestra da noite discorreu
sobre o Cristo-homem, que realizou sua vida de acordo com seus
firmes propósitos de educar as pessoas a também realizarem seu
próprio destino. O Cristo era mostrado como uma pessoa e não
como um Deus. Como alguém que era capaz de aceitar o outro
com suas deficiências, sem lhes exigir santidade. Isso lhe foi muito
útil e recebido como um alento, pois se sentia culpado pelo seu
passado. Era como se o próprio Cristo o absolvesse, sendo mostrado
simplesmente um ser humano como ele.

Permaneceu ali naquela Instituição por alguns dias, até ser
admitido numa de suas reuniões mediúnicas para o diálogo com
aqueles que fazem parte do mundo do qual ele ainda não havia se
desligado completamente.

Na reunião mediúnica, questionado sobre os motivos pelos
quais se ligara àquele rapaz, disse não saber, bem como não se
lembrar de nada que se referisse aos dois. Passou a acompanhálo
como se o fizesse a um grande amigo. Gostava do rapaz,
sentindo-se bem ao seu lado, porém sem perceber que estaria
prejudicando sua vida. Sua ligação psíquica com o rapaz
desencadeou os sintomas da depressão. Não entendia que seu
próprio estado mental contaminava o do outro.


adenáuer novaes

Interessante como a influência espiritual, ou proximidade
entre um espírito e outro que esteja em dimensão diferente, promove
alterações psíquicas. Neste caso, pelo estado mental do padre
falecido, a influência era negativa. Seria o que se chama de
obsessão não intencional, por não haver desejo de domínio sobre
o outro. Esse tipo de influência, que no caso específico contribuiu
para a instalação da depressão, também é comum nos casos de
síndrome de pânico. A proximidade psíquica entre espíritos
desencarnado e encarnado pode provocar uma série de reações
orgânicas concomitantemente a alterações no estado de consciência
e em sua invasão pelo inconsciente.

O estudo dos processos psicogênicos certamente conduzirá
a uma percepção das influências espirituais, além de uma melhor
compreensão a respeito do inconsciente.

Passados alguns dias, após o desligamento voluntário do
padre da companhia do rapaz, este veio a melhorar e a voltar à
sua habitual jovialidade e ao interesse pelos estudos.

Muitos casos de depressão possuem um componente
espiritual de difícil percepção. Às vezes se trata de parentes desencarnados
que se ligam, por laços afetivos, ao encarnado, mas que
lhe contaminam com seus pensamentos derrotistas. Outras vezes,

o depressivo pode perder a motivação para a vida, por saber de
antemão que enfrentará grandes desafios decorrentes de seu
passado culposo. Parece que ele quer recuar da prova ou expiação
a enfrentar. Ao se aproximar o período em que enfrentará seu
próprio passado, acercam-se dele, espíritos que, pelo estado em
que se encontram, influenciam sobremaneira seu psiquismo.
Depressivos desencarnados, quando se aproximam de pessoas
pessimistas e frágeis psicologicamente, facilmente transmitem
seus estados mentais. O processo de transferência se dá de perispírito
a perispírito, de mente a mente, como num sistema de rádio-
freqüência. Um emite e o outro capta, estando ambos na mesma
freqüência psíquica. Como em todos os casos, vale a pena selecionar
as companhias que se quer ter. Quem sintoniza com a depres



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são atrairá depressivos e desiludidos nos dois lados da vida:
material e espiritual.

A influência espiritual é fato normal, pois espíritos existem
em toda parte. Alguns, mais adiantados, se estruturam em
organizações espirituais que se assemelham às cidades, outros,
ainda presos à sociedade terrena, permanecem vinculados ao que
aqui ocorre. Estes últimos vivem e convivem com os encarnados,
como se ainda estivessem no corpo físico. Transmitem e recebem
fluidos, pensamentos e emoções. Adoecem e fazem adoecer.
Parece uma sociedade dentro da outra, numa incrível comunhão
de idéias e de sentimentos. Pode-se observar que algumas atitudes
resultam de intenções de um lado e de outro.

A depressão causada exclusivamente por influência
espiritual, via de regra, apresenta sintomas mais perturbadores ao
indivíduo, principalmente quanto à confusão mental que provoca.
Neste caso, será imprescindível o tratamento espiritual, para o
esclarecimento também do espírito que a desencadeia.

A maneira mais adequada de identificar quando a depressão
é causada por obsessão espiritual é verificar a existência de seus
sintomas típicos. Os sintomas5 típicos da obsessão espiritual são:

1. Falhas freqüentes no curso, conteúdo ou forma do
pensamento, com conseqüentes perturbações no contato com a
realidade;
2. Alterações freqüentes de comportamento à revelia da
pessoa, gerando constrangimentos e dificuldades em viver a
normalidade cotidiana;
3. Perturbações psicóticas (alucinações, delírios persecutórios,
audição de vozes, etc.), que provoquem dificuldades de
conciliação com a normalidade do ego;
4. Alterações constantes da senso-percepção, promovendo
constantes distorções na qualidade e quantidade do que é captado
pelos cinco sentidos;
Extraído do livro "Psicologia e Mediunidade", do autor.


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5. Sintomas característicos da Síndrome de Pânico (taquicardia,
sensação de asfixia, medo sem causa aparente, suor frio
nas extremidades, medo de sair sozinho, etc.), provocando
alterações na vida diária;
6. Sensações típicas da mediunidade não educada,
perturbando a vida e as relações da pessoa;
7. Alterações constantes na quantidade e qualidade do sono,
provocando insônias ou dormir em quantidade além do habitual;
8. Recorrências em distúrbios descritos pela Psiquiatria
como Transtornos Mentais, exceto aqueles cujas causas se devem
a problemas neurológicos e aos congênitos.
Depressão e Religião

Recorrer à religião é um hábito milenar da humanidade,
sobretudo para tratar de processos aparentemente insolúveis à
consciência. Recorre-se a ela para se obter algum benefício, seja
de natureza material, psicológica ou espiritual. Todos recorrem
em maior ou menor freqüência. O egovai em busca do inconsciente
para a solução do que lhe parece impossível pelas vias
convencionais. Assim é com aqueles que lidam com a depressão.
Quando não alcançam resultados precisos e rápidos pelos métodos
considerados normais, buscam a religião ou se submetem a
experiências mágicas, alternativas ou místicas.

Tais métodos variam desde a recorrência à simples oração
comum, ao uso de substâncias com poderes curativos duvidosos
e nocivas à saúde. Mesmo que a eficácia não seja comprovada,
do ponto de vista clínico, costumam ter resultados satisfatórios,
ainda que parciais, do ponto de vista psicológico.

A depressão é um transtorno psíquico que se caracteriza
também pelo direcionamento da energia psíquica para conteúdos
semi-conscientes. Uma âncora que se lança ao ego será colocada
como ponto de apoio para que o fluxo de energia não se afaste


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dele. A religião se assemelha àquela âncora. A psiquê se apóia
numa idéia salvacionista, não entrando diretamente em contato
com o núcleo central de seu sofrimento. Haverá, de certa forma,
uma substituição de interesses. O ego se voltará para algo que se
encontrava esquecido e que pode se tornar uma salvação para a
angústia gerada pelo motivo de seu sofrimento. Há uma espécie
de troca de interesses. Havia um vazio na relação com o sagrado,
esquecido ou não acessado adequadamente e devido à depressão
ou a um conflito de difícil solução, recorre-se à conexão quase
perdida com a divindade. Tal recorrência poderá trazer novo alento
ao indivíduo, porém dificilmente trará sua cura definitiva.

Só quando a depressão tiver causas ligadas a uma forte
decepção religiosa, a religião poderá trazer a cura definitiva.
Recorrer à religião não é um mal, nem tampouco uma alienação,
ao contrário, poderá ser o começo da cura. A mãe do rapaz
recorreu à religião sob influência da amiga, muito embora já a
tivesse buscado com suas orações aos santos. Ele, o depressivo,
não recorreu à religião, mas dela se beneficiou, pois passou a
entender melhor a respeito da vida e do destino humano.

Uma busca religiosa e espiritual é fundamental a todo ser
humano, pois representa seu contato psíquico com algo interno
em si próprio, muito próximo de Deus. A busca do encontro com
Deus fora do ser humano é uma atitude que o aproxima do
sentimento íntimo da divindade em si mesmo. Essa busca, quando
sincera e verdadeira, é um poderoso antídoto contra a depressão,
pois os conflitos não são adiados nem evitados, mas vividos como
lições da vida.


Depressão e influências sócio-culturais


A sociedade exerce influência no indivíduo tanto
quanto este sobre ela, por ser ele o responsável pela sua existência.
A cultura, produto da história e do desenvolvimento humano,
também dá sua contribuição para a formação psíquica de cada
pessoa. Todos têm, por conta do processo de formação da
sociedade e da cultura, uma psiquê individual e coletiva simultaneamente.
O ser humano é causa e conseqüência do meio em que
vive, acrescido de sua própria individualidade, que o constitui.

Seu meio, portanto, suas crenças, os sistemas sociais aos
quais se submete e o espírito de sua época, interferem em seu
estado psíquico. Não são causa, porém contribuem secundariamente
para a manutenção ou não de desequilíbrios diversos.
Algumas crenças, bem como certos valores sociais contribuem
para a alienação em que ainda vive a sociedade de hoje.

O ser humano viveu, e ainda vive, experiências em sociedades
tribais, feudais, capitalistas e socialistas, dentre outras, recebendo
de cada uma delas as contribuições, alienantes ou não,
para a formação da personalidade. Qualquer desses sistemas
contém idéias materialistas, tanto quanto espiritualistas implícitas,
as quais podem influir nos estados psíquicos humanos. Em todas
elas também se pode encontrar a ambição desmedida e o apego
às coisas exclusivamente materiais, que aprisionam o ser humano.
O hedonismo e o egoísmo são poderosos vetores que mantêm o


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ser humano na mediocridade e em ritmo muito lento na sua
evolução.

Seria o sistema social adotado por uma determinada
sociedade o responsável pela depressão? Alguns culpam o
capitalismo e sua costumeira idéia, explícita ou não, de que se
deve levar vantagem em tudo. Porém, essa idéia se encontra
presente na natureza humana e não exclusivamente neste ou naquele
sistema político. Mudar o sistema, sem que as pessoas que dele
fazem parte tenham se transformado, poderá gerar insatisfações
ou inadequações. As mudanças devem ser simultâneas. Seria mais
adequado um sistema socialista, no qual seus integrantes
trabalhassem todos para o bem de todos? Sim, desde que todos
tivessem a mesma capacidade, competência e disposição de servir.
A experiência mundialmente conhecida provou que o sistema não
funciona sem que as pessoas estejam preparadas e psicologicamente
envolvidas.

O processo de transformação da sociedade deve seguir
seu curso em direções diversas. A transformação deve ocorrer
no íntimo de cada pessoa, nas instituições sociais, no sistema
utilizado para educar crianças, bem como na forma de participação
do indivíduo nos destinos coletivos. No conjunto dessas transformações
é que o indivíduo e a sociedade podem evitar uma série
de doenças, inclusive a depressão.

É fundamental que cada pessoa saiba se adaptar ao meio
em que vive, não gerando ansiedade ou frustração, enquanto tenta
modificá-lo visando sua própria felicidade. Depressão é descontentamento
com a vida, não exclusivamente com o meio, pois a
individualidade deve se impor a ele.


Entrando em depressão

Ao contrário do que se pode imaginar, a tendência
à depressão é inata no ser humano. Seu contato com o inconsciente
é permanente, sendo mediado pelo ego, que serve como
impulsionador à vida consciente. Entrar em depressão é uma
questão de se ter ou não medo de enfrentar a vida com seus
desafios.

Na base de cada afecção psíquica se encontra um complexo
inconsciente. Assim se dá com a depressão. Alguma experiência
não bem "digerida", isto é, mal internalizada, se encontra
incomodando a consciência ou o inconsciente, tornando-se um
complexo pelas associações emocionais automáticas. Todo ser
humano tem complexos e, a cada instante, pode estar formando
outros ou reforçando aqueles mais inconscientes. Entrar em
depressão é algo que pode ocorrer com qualquer pessoa e em
qualquer fase da vida.

São muitas as formas de se entrar na depressão. Há indícios
que denunciam tal possibilidade e que devem servir de alerta às
pessoas mais propensas. Tristeza contumaz, necessidade constante
de estar fazendo alguma coisa fora de casa, angústia persistente,
irritabilidade sem nexo e sem causa aparente, evasivas em lidar
com conflitos comuns, acomodação e racionalização diante de
um problema grave, falta de interesse momentânea por alguma
coisa antes prazerosa, bem como excesso de sono, podem ser


Alquimia do Amor

denunciadores de depressão à vista. Existem reforçadores ou
fatores que predispõem as pessoas à depressão. O principal deles
é a ausência de sentido para a própria vida.

A entrada na depressão é como um passeio que se faz
numa calçada sem tempo de retorno. Anda-se sem perceber que
se caminhou muito. Entra-se sem a percepção de que se está há
muito tempo no caminho. Quando se deseja voltar, o percurso de
retorno é longo.

Uma das experiências que favorece a entrada em depressão
é a vida solitária. A vida solitária é muito longa. As horas parecem
durar mais e o tamanho do dia oscila em função da motivação em
suas experiências. As noites são bem mais cruéis e parecem ser
intermináveis. Deseja-se alguém para conversar, para discutir ou
mesmo para brigar, mas o outro é a própria consciência, que não
mais censura ou se contrapõe. O solitário não tem interlocutor,
pois discute consigo mesmo, fantasiando um outro inexistente,
virtual e cada vez mais condescendente. Sem alguém para censurálo,
cai no lugar comum e na mesmice que sempre esteve presente
em sua consciência. Resta-lhe contracenar com personagens de
programas televisivos que lhe servem, de acordo com sua própria
conveniência, como alter ego frágeis. As experiências da vida
solitária têm menor intensidade emocional do que aquelas
compartilhadas com alguém.

O solitário procura preencher sua vida através do contato
com seus conteúdos internos, pertencentes ao mundo íntimo,
resultantes de suas experiências emocionais marcantes e estas vão
ancorar sua vida diária. Ele procura colorir esse contato com a
motivação de que precisa para fazer face à tendência natural de
todo ser humano ao compartilhamento com alguém.

A saída para o solitário, a fim de não se conectar a
conteúdos íntimos que podem levá-lo à depressão, é desenvolver
um profundo sentimento de amor ao que faz em sociedade,
valorizando sobremaneira sua ocupação cotidiana, assim como
ampliando seus contatos afetivos. O solitário tem a tendência de


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sobrecarregar sua afetividade em determinada pessoa, exigindo-
lhe mais do que pode oferecer e, muitas vezes, afastando-se dessa
mesma pessoa, ampliando sua própria depressão. Portanto, a vida
do solitário deve ter um sentido profundo, porém não exclusivo,
isto é, não voltado para si mesmo sem a inclusão de outrem. Incluir
é uma arte, pois exige criatividade, renúncia e entrega. O solitário
deve sair de seu casulo, ou não entrar nele sem garantias de
compartilhamento afetivo. Quando digo afetivo, estou incluindo
aqueles de natureza não erótica.

Quando a vida solitária é imposta ao indivíduo, por qualquer
mudança em sua vida que não dependeu de sua vontade, as
possibilidades de depressão são maiores e as chances de cura
são mais remotas. Nesses casos, a pessoa deve buscar, antes de
qualquer sinal de pré-depressão, uma reconfiguração de seus
objetivos de vida. Quando a mudança ocorre numa idade em que
dificuldades típicas aparecem ou se ampliam, torna-se fundamental
um rompimento com o passado e com a estrutura de vida anterior.
Isso poderá significar uma proposta de vida completamente
diferente daquele que se teve até então, e ocorre, por exemplo,
com pessoas que ficaram viúvas, cujos filhos já têm suas respectivas
famílias e moram distantes.

Deve-se propor ao indivíduo, que foi obrigado a viver
solitariamente, a experimentar esse estilo de vida buscando um
novo sentido, sem considerar que houve uma punição do destino.

Quando a pessoa vai se isolando aos poucos, afastando-
se dos amigos e perdendo contato com parentes, poderá descobrir
que está muito próximo da depressão. A presença de amigos e
de parentes preenche a necessidade do intercâmbio afetivo
inerente aos seres humanos. Inexistindo um sentido maior para
viver e submetido a um complexo inconsciente que se aproxima
da consciência, fatalmente o isolamento social será desencadeador
da depressão.

Fundamental nesses casos é a manutenção mínima de
encontros com amigos com os quais se tenha contatos, mesmo


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que se resumam a poucas horas no mês. O recurso de telefonar
não substitui o contato direto com os amigos. A comunicação por
telefone não promove a troca de energia afetiva na qualidade
existente quando o encontro é direto e ao vivo. Tais contatos não
bastam para impedir que uma depressão se instale, muito embora
minimizem os efeitos da solidão.

Outro fator desencadeante da depressão, comum em
pessoas introvertidas, é a tristeza persistente acompanhada de
constante irritação. Este estado revela um alto grau de insatisfação
consigo mesmo e incapacidade de administrar sua própria
inteligência emocional. Tal estado de espírito fortalecerá o
sentimento de incompetência em gerir sua vida afetiva, provocando
a auto-erotização, isto é, o retorno da energia psíquica ao próprio
mundo interno de forma mais intensa. A tristeza persistente é sinal
de que pode existir uma exigência para com a vida ou com alguém,
que não foi satisfeita, tornando-se uma fantasia irrealizada. A
irritação persistente pode ser fruto da intolerância e da autovaloração
das próprias opiniões. Pessoas assim, quando constantemente
contrariadas pela vida ou pelas pessoas, facilmente entram
em depressão. Merecem, porque reivindicam inconscientemente,
altas doses de afetividade ou amor. São mais carentes do que os
outros, porém não dão o "braço a torcer", muitas vezes desdenhando
aqueles que assim procedem. Pouco valorizam as
manifestações afetivas a elas direcionadas, considerando-as
pieguices e perda de tempo. São crianças emocionais e enrijecem
a psiquê com frases feitas ou com racionalizações frias e
inconclusivas a respeito de si mesmas. Precisam ser amadas,
acalentadas e acolhidas para saírem do ciclo negativista em que
se inseriram, além de esclarecimentos e maturidade emocional.
Em alguns casos, necessitam ser negadas e confrontadas por uma
força oposta muito forte, a fim de acordarem do estado alienado
em que se situam.

Outros, por nunca terem pensado profundamente no sentido
da própria existência, nem tampouco penetrarem nas razões


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últimas da vida humana, ignorando seu próprio Self, vivem sem
estar conectados ao seu íntimo ser divino. São zumbis à beira da
depressão. Vivem o mundo objetivo, pragmático e extremamente
concreto. Vivem a materialidade sem se darem conta da
espiritualidade, permanecendo por muito tempo na mediocridade
coletiva. Estes necessitam urgentemente de uma razão superior
para viver. Precisam de uma experiência mística ou numinosa
para entenderem a vida no corpo físico como uma fase de sua
evolução. Com isso quero afirmar a necessidade de uma busca
religiosa para aqueles que assim se enquadram, porém não se
trata de uma imersão alienante num credo confessional. Leituras
pertinentes, meditações transcendentes, caminhadas em trilhas de
peregrinos, inserção em grupos de ajuda mútua, bem como
freqüência a reuniões de credos religiosos sem entrega salvacionista,
são recomendáveis.

Para aqueles que se sentem rejeitados ou desamparados
por seus pares ou por quem alimentava seus sentimentos de
pertencimento, a permanência nesse estado é altamente danosa e
de fácil conexão com a depressão. São pessoas que acalentam o
desejo de serem constantemente aceitas e compreendidas pelos
outros, mendigando carinho e afeto. Tais pessoas costumam
estabelecer relações de estreita dependência, reduzindo-as a uma
ou a poucas pessoas, sem ampliação de sua rede de amigos.
Entregam seus sentimentos afetivos, consciente ou inconscientemente
a alguém, sem abertura para outros vínculos não eróticos.
Estabelecem relações que sufocam. E, sem que o saibam,
provocam tensões que exigem rompimento. Vivem por conta
desses afetos obsessivos sem se darem conta da fragilidade
psíquica em que se encontram, como numa corda bamba perigosa.
Necessitam urgentemente entrar em contato com sua natureza
individual, que, muito embora prescinda de qualquer outra pessoa
para existir, só alcança a plenitude nas experiências de contato
afetivo. Colocar o foco da vida afetiva numa relação, por mais
rica que seja, pode ser alienante, gerando o sentimento de nulidade


Alquimia do Amor

pessoal. O sentimento de rejeição deve ser combatido pela
percepção das possibilidades de inclusão pessoal em grupos
referenciais, para os quais serão dirigidas as energias afetivas
disponíveis. Esse sentimento de rejeição também decorre de
expectativas afetivas não atendidas, gerando cobranças ao
comportamento alheio em relação a si próprio. Por esse motivo,
a pessoa deve considerar que seu nível de exigência em relação à
reciprocidade do outro tem sido alto, portanto inadequado. É
óbvio que todos desejam ser atendidos no mínimo em relação ao
afeto que dão, porém isso nem sempre é atendido, principalmente
quando se doa muito. Doar em excesso significa cobrar em
demasia. Quem muito dá muito cobra. Para que o sentimento de
rejeição ou de desamparo não se torne superlativo é fundamental
que se entenda que existe, no íntimo de cada ser humano, uma
criança não suficientemente atendida em suas expectativas
maternais. Essa criança, forjada pelo arquétipo correspondente,
configurou-se como um complexo inconsciente que promove o
sentimento de desamparo e rejeição. Acolher essa criança, sem
projetar no outro o lugar de mãe ou pai compreensivo, é o antídoto
ao sentimento de rejeição e desamparo. A cobrança à retribuição
afetiva vem da transferência que normalmente se faz, de forma
inconsciente, sobre o outro, colocando-o como o pai ou a mãe
ideal. A este mecanismo automático de projetar a mãe ou o pai
idealizado, de construir uma criança interna carente, de transferir
a alguém aquele papel não correspondido e de sentir-se rejeitado
ou desamparado é que chamo de alquimia do amor. Tudo isso
se mistura no inconsciente sem o controle da pessoa, porém a
serviço do próprio desenvolvimento da personalidade. Todos
devem se perguntar o que esperar dos outros, isto é, que
personagem interno está projetando no outro, transferindo-lhe
responsabilidade em se comportar de uma forma idealizada, sem
que disso ele se dê conta. Quando a pessoa sintoniza por demais
com esse complexo infantil torna-se exigente da atenção do outro
e tende a considerar que tem direito a tudo inconseqüentemente.


adenáuer novaes

Deve compreender que sua criança deve ser acolhida pelo adulto
que também tem dentro de si, sem exigir que outrem o faça.

Em geral o depressivo se sente órfão e carente. Muitas
vezes tal sentimento aparece no formato de idéias derrotistas e na
exigência de atenção maior por parte dos amigos, demonstrada
nos ciúmes desnecessários.

A vida impõe rotinas e obrigações repetitivas. Com o
tempo, as atividades inicialmente prazerosas vão se tornando
enfadonhas, chegando a se tornar pesadas e desgastantes. Quando
se trata de atividades essenciais à vida da pessoa, a motivação de
fazê-las geralmente retorna sem prejuízo algum, de tal forma que
os momentos de desprazer são menores e cíclicos. Quando são
atividades menos importantes, a pessoa começa a fazê-las em
intervalos mais dilatados ou adiam sua execução até o limite da
necessidade. Vai desleixando até quanto pode, mesmo percebendo
seu descuido. Os pequenos detalhes vão ficando de lado, à
espera de que algo maior e melhor aconteça. Adiar compromissos
passa a fazer parte da conduta normal, tanto quanto a tentativa de
lhes reduzir a importância ou de eliminá-los. Os obstáculos, antes
superáveis e considerados desafios, tornam-se reais motivos para
não prosseguir com determinadas tarefas. Preguiça e ócio estão
sempre presentes. A energia motivadora da vida está sendo
requisitada para outro objetivo, porém imperceptível. O inconsciente
retira a energia da consciência, num movimento inverso ao
da vida, sem o controle do ego. Desestímulo, desesperança,
dúvidas quanto ao futuro, medo de que algo estranho e
incontrolável aconteça, integram o repertório de pensamentos nesse
estado. Os domingos, antes desejados para o lazer, passam a ser
tediosos e longos demais. A consciência parece estar perdendo
as forças e entregando-se a um ciclone que lhe absorve o
entusiasmo natural. Esse processo é lento, pois nem sempre se
tem consciência precisa de quando começa. No íntimo parece
existir uma preocupação com o vazio existencial, não mais
preenchido com as coisas cotidianas. Creio que sempre existiu


Alquimia do Amor

esse vazio, encoberto pela vida externa, porém agora ele é
necessariamente presente, impondo-se à consciência. Aquela
motivação para a realização das atividades rotineiras está sendo
requisitada para a compreensão do vazio existencial e seu
conseqüente preenchimento com um sentido profundo. Sem
prejuízo da execução de tais atividades, a pessoa deve, para não
entrar em depressão, entrar em contato com sua essência íntima e
encontrar uma razão maior e transcendente para viver. A vida
está pedindo um novo significado. A motivação virá com novos
focos, sem perda da preocupação com a simplicidade do existir.

Um outro fator que contribui para a entrada na depressão
é a descoberta de uma doença grave ou a permanência por longo
tempo com ela. Uma doença grave é uma ameaça de morte,
portanto altera todo o psiquismo consciente, favorecendo a
emersão de complexos inconscientes. A idéia da morte pessoal
afeta a consciência ainda não madura para a compreensão do
fechar ciclos. A perspectiva de a doença levar à morte física altera
a esperança da concretização de projetos de vida e desestabiliza
a vida emocional da pessoa. A instabilidade provocada predispõe
a pessoa à depressão. A doença não é vista pela pessoa como
um meio para alcançar a compreensão de si mesma, mas como a
possibilidade de sua destruição. Ela ocorre para ensinar algo à
pessoa, que não adquiriu aquele saber por outras vias menos
dolorosas. As doenças típicas e comuns na velhice também
promovem a depressão e merecem atenção específica, pois nem
todos se preparam para a morte. Doenças crônicas, com as quais
a pessoa convive há muito tempo e que não levem à morte, limitam
a vida e também podem ser causadoras de depressão. Nesses
casos, é fundamental que a pessoa seja levada à reflexão a respeito
de sua doença como um símbolo que representa algo desconhecido
e à compreensão do significado e sentido da vida. Toda ocorrência
externa que incomoda a consciência pessoal, por longo tempo e
de forma insistente, representa algo educativo ao espírito. Essa
reflexão tem a finalidade de conduzir o ego a um estado de
estabilidade e segurança para uma maior compreensão da vida.


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Conviver com pessoas depressivas por longo tempo
proporciona uma maior probabilidade de se ter depressão. O
contato muito prolongado promove uma espécie de contaminação
psíquica, quase imperceptível. O combate ao negativismo do
depressivo, bem como as tentativas frustradas de demovê-lo de
seu estado mórbido, vão minando, ao longo do tempo as forças
de quem com ele intensamente convive, alterando sua disposição
psíquica. O excesso de atenção ao depressivo é fator de
manutenção de sua carência, dificultando sua própria libertação
da doença. Aquele que dá muita atenção ao depressivo pode
acabar por esquecer sua própria vida, frustrando-se se não obtiver
sucesso em curá-lo. A convivência com o depressivo deve ocorrer
dentro de limites aceitáveis para não acontecer uma superexposição
excessiva. Devem ser colocados limites ao acolhimento
maternal em excesso ao depressivo, a fim de não se estimular a
dependência e manutenção do estado regressivo dele. O
depressivo "suga" as energias de quem com ele convive e isso
pode prejudicar a relação entre eles. A motivação e o desejo de
ajudar do acompanhante gradativamente se transferem para o
depressivo, que disso se nutre. Este processo de sugar energias é
favorecido quando o acompanhante acredita que sua ajuda é
fundamental para a cura e que está exercendo uma atividade
altamente meritória e salvacionista.

Um outro fato desencadeador da depressão é a frustração
profissional. O desejo de ter determinada profissão inicia-se na
infância, quando os modelos parentais vão exercer influência sobre
a criança. Na adolescência, a decisão sobre qual deva ser a
profissão a ser seguida vai ficando mais clara, sendo fortalecida
pelas influências sociais externas. Nem sempre a escolha recai
sobre a preferência da pessoa, pois fatores intervenientes
costumam impor uma profissão, muitas vezes não desejada. Pode
ocorrer que a profissão adotada, mesmo que não desejada, venha
a se tornar agradável e não mais aversiva à pessoa. Porém, pode
ser que tenha de ser tolerada pelo resto da existência. Isso


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desencadeará uma frustração consciente e, às vezes, inconsciente.
Quando a isso se alia uma baixa remuneração ou uma incapacidade
de ascensão funcional, a frustração é fator geralmente presente. A
saída é a possibilidade de mudança de profissão, com a busca do
aperfeiçoamento profissional em outros campos, através de cursos
em horas disponíveis na semana. O tempo, antes dedicado a
atividades que nada acrescentam ao espírito, agora poderá ser
dedicado à busca de uma outra profissão ou uma nova capacitação.
Acresce, ainda, o fato de que o mundo globalizado tem sido
responsável pelo desaparecimento de antigas profissões e pelo
surgimento cada vez maior de outras. Aquela mudança deverá ser
feita de forma gradativa, sem necessariamente deixar o emprego
que se tem ou ficar sem qualquer atividade profissional. Portanto,
uma outra capacitação profissional que se tenha, amenizará ou
resolverá a provável frustração existente. A competição profissional,
cada vez mais acirrada nas empresas, visando uma maior
produtividade de seus empregados, provoca também frustrações
profissionais, pois nem todos alcançam o status desejado. Essa
competição, quando obrigatória, deve ser feita de forma solidária,
sem a ambição desmedida, que provocaria frustração.

As dificuldades financeiras entram no rol daquelas que mais
contribuem para a entrada numa depressão, por conta do
descontentamento existencial que provocam. A impossibilidade
de atender compromissos financeiros, bem como a falta de
recursos para a própria manutenção pessoal, podem provocar
insatisfação geral, favorecendo a entrada em depressão. As
dificuldades financeiras não são incomuns, por conta da
insaciabilidade humana. Mesmo que se tenha muito, a idéia de
perder o que tem pode provocar instabilidade, tensão e crise. A
estabilidade financeira é desejável por todos, porém o limite dela
nem sempre é encontrado. Uma crise financeira pode ser resolvida
a partir de alguns passos. Primeiro, é necessário impor-se limites
de gastos com conseqüente eliminação de aquisição de supérfluos.
Segundo, a adequação de gastos à capacidade financeira de


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aquisição, isto é, despesas no limite do quanto se ganha. Terceiro,
renegociar suas dívidas com os credores, ampliando prazos e
reduzindo juros e multas estabelecidas. Em quarto, tentar ampliar
as fontes de renda. Mesmo assim, caso se entre em depressão, a
alternativa será a consciência da incapacidade de administrar
dinheiro e da compulsividade em tê-lo.

Trabalhar é uma necessidade para todo ser humano que
atingiu a idade adulta jovem. É fundamental ter uma ocupação
útil, pois ela, não só dignifica a pessoa, como também concorre
para sua independência e autodeterminação. Porém tanto o
trabalho normal como seu excesso exigem um lazer. A inexistência
de lazer é observada em pacientes depressivos, que, gradativamente,
foram perdendo a vontade de tê-lo. Chegam, às vezes, a
confundir lazer com gosto pela leitura, cuja característica é a
ampliação da cultura pela via cognitiva. Um lazer exige movimento,
saída da rotina, desligamento do controle da vida diária, atividade
prazerosa, bem como relaxamento e descanso. Sua falta promove
enrijecimento corporal e estresse geral. É importante se ter um
lazer, preferencialmente que seja compartilhado com pessoas com
as quais se tenha laços afetivos. Em alguns casos deve ser sugerido
ao depressivo um outro tipo de lazer, diferente daquele que
habitualmente realizava, pois pode ter acontecido que ele já esteja
saturado.

Há relações familiares que geram os mais diferentes tipos
de tensões, que interferem sobremaneira no estado de humor e
na vida psíquica em geral da pessoa. Sua ação não só incomoda
quando ocorre a tensão, como também durante as diversas atividades
rotineiras da pessoa. A influência na vida psíquica se dá a
curto, médio e longo prazo, provocando instabilidade emocional
e desgaste físico. Quando existem em família relações interpessoais
conflitantes, a tensão é imediata e se torna intensa pela
obrigatoriedade no convívio. Inimizade entre irmãos, entre parceiros
ou entre pais e filhos provocam tensões e favorecem predisposições
mórbidas. Uma delas é a depressão. Numa casa na qual se


Alquimia do Amor

tenha um inimigo, ou que haja alguém cuja relação seja de
indiferença, certamente não se tem prazer em estar ou ali viver.
Esse tipo de relação, bem como aquelas nas quais não haja
correspondência no afeto, pode gerar depressão. Não resta dúvida
de que o diálogo maduro, sem acusações nem cobranças, evitará
a possibilidade de depressão. Esse diálogo interessa principalmente
a quem não queira nem tenha tendência à depressão, independente
de se ter ou não razão.

Há também relações que, pelo grau de complexidade em
que se estruturam, principalmente quando são amorosas, podem
ser causadoras de depressão. Relações homossexuais, de amantes,
com grande diferença de idade entre ambos, com grande diferença
de nível intelectual, de etnias diferentes, ou que sofram qualquer
tipo de discriminação social, são mais propensas a tensões prédisponíveis
à depressão. O esforço em aceitar a discriminação
social desgasta e enfraquece as forças da pessoa, muito embora
possa se constituir num desafio motivador à relação. É necessário
que os dois estejam bem sintonizados para que o preconceito
seja vencido e não seja ampliado quando o casal estiver
atravessando algum tipo de crise pertinente a todo tipo de relação
amorosa.

Evidentemente a personalidade do indivíduo, isto é, seu
caráter, terá influência decisiva para que a depressão se instale ou
não. Personalidades frágeis, diante de situações exteriores difíceis,
certamente sucumbirão a caminho da depressão. Fundamental é

o amadurecimento da personalidade para enfrentar tais situações.

Saindo da depressão

Quando uma pessoa entra em depressão, é como se
seu mundo se restringisse aos pensamentos que assumem sua
mente. Não vislumbra uma saída e, quando a percebe, não
encontra meios para executá-la. Sente-se frágil, solitária e incapaz
para qualquer ação que exija gasto de energia. É uma prisão sem
grades, numa cela menor do que a própria cabeça. Vive um inferno
sem chamas, cujo demônio é a própria consciência.

Entrar em depressão não é algo muito difícil, porém sair
constituir-se numa grande empreitada, cujo esforço tem de ser
muito maior do que se imagina. O ego, nesse esforço, desempenha
papel fundamental, sendo o grande herói que fará a jornada de
resgate à motivação para a vida consciente.

O princípio básico para se sair da depressão é o retorno
ao amor, isto é, a volta ao querer viver a vida, como um grande
desafio entregue por Deus a cada uma de suas criaturas. O amor
a si mesmo, exageradamente vivido, conduzido inadequadamente
para conteúdos inconscientes, deverá ser, para se sair da
depressão, direcionado às propostas do Self.

É necessário também interferir na alquimia interna,
sugestionando-se à crença em sua própria capacidade de
superação de qualquer tipo de desafio, pois não há limites para o
querer humano. A depressão não deve se tornar maior do que a
própria existência da pessoa. Todos os fatores que interferem no


Alquimia do Amor

processo de promoção para a vida devem ser revistos por aquele
que deseja sair da depressão.

Para sair dela, o depressivo deve: conscientizar-se de que
é possível deixar de ser doente, solicitar ajuda a alguém experiente,
reduzir seu nível de exigência afetiva, aceitar ser medicado quando
necessário, descobrir o núcleo de sua depressão, voltar-se também
para a vida externa, rejeitar qualquer forma de limitação auto-
imposta, trabalhar mágoas conscientes, aumentar seu nível de
humor, enfim, querer realmente viver.

Evidentemente que o depressivo já deve ter tentado várias
formas de resolver sua situação, sem o sucesso desejado. Em
realidade, ele não vê saída possível, e prossegue sua vida abrigando
pensamentos cíclicos derrotistas. Dia a dia vai perdendo o ânimo,
sem acreditar mais na possibilidade de encontrar uma solução.
Perde a esperança e acha que a vida é assim mesmo. Parece se
acostumar a ser e a estar assim, naquela maneira mórbida de viver.
Necessita acreditar que é possível deixar de ser depressivo e que
isso requer tempo e transformação interior. Alguns passos terão
que ser dados. Ele tem que se dar uma chance, uma chance à
própria capacidade de superação de qualquer desafio na vida.
Sua depressão ocorre porque ele pensa que a vida é de uma
determinada maneira. Deve acreditar que há outra, ou muitas
outras maneiras de entender a vida e de vivê-la.

É possível curar-se sozinho da depressão. Quando se tem
consciência de suas causas, determinação, motivações externas
consistentes, boa auto-estima, força de vontade firme e um ego
suficientemente amadurecido, consegue-se sair da depressão,
mesmo que com certa dificuldade. Na grande maioria dos casos

o depressivo precisa de ajuda e, muitas vezes, especializada.
Quando não especializada, pelo menos de alguém que saiba lidar
com a doença e que tenha conhecimento de seus principais
sintomas. O papel da pessoa que ajudará o depressivo será o de
um conselheiro e, simultaneamente, de um questionador, que irá
gradativamente fazendo-o entrar em contato com as causas de

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sua depressão, contribuindo para que ele as enfrente sem medo.
Os questionamentos servirão para que o depressivo tenha maior
clareza na percepção dos fatos por ele interpretados e que, por
esse motivo, causaram sua doença. Sua equivocada ou inadequada
interpretação deve ser ressignificada, à luz de novas considerações
levantadas pela pessoa que o auxilia no processo de cura. Tais
considerações devem atingir um sentido profundo e simultaneamente
transcendente, a fim de não permanecer na superficialidade, à
semelhança do significado anteriormente dado pelo depressivo.
É equívoco dizer ao depressivo para esquecer, pois, se isso fosse
possível, ele já o teria feito. Além do mais, não se deve esquecer

o passado não resolvido, senão ele fica latente incomodando psiquicamente
a pessoa. O passado deve ser resolvido, isto é, compreendido,
ressignificado e trabalhado para que dele não fiquem
ressalvas na vida consciente. Tais ressalvas incluem: a culpa, a
mágoa, o sentimento de perda, o ódio a alguém, a dúvida insidiosa,
dentre outras. Quem ajuda um depressivo não deve deixar de
lembrá-lo que não irá viver por ele, nem se tornar seu pajem o
tempo todo. Deve ter grande dose de paciência e de persistência.
Para sair da depressão, a pessoa deve entender que entrou
num estado no qual sua exigência afetiva se torna maior. A
afetividade, antes dirigida a si e às relações com os outros, agora
passa a se voltar exclusivamente para si própria. Com isso,
bloqueia-se a porta da troca de afetividade, tão necessária a todo
ser humano. Sem essa troca, que possibilita uma maior interação
com o mundo externo, a motivação fica prejudicada. A afetividade
antes recebida, ou supostamente recebida, deixa de estar presente
na vida psíquica da pessoa. A alquimia não conta mais com aquele
elemento externo para processar a mistura motivadora da vida. É
como se faltasse um importante ingrediente para fazer um bolo e
sem ele a massa perdesse a consistência. É preciso fazer um
esforço maior, nesse momento, para recuperar a troca afetiva,
identificando aqueles elementos que fazem parte do mundo
emocional do depressivo. Evidentemente, quando a depressão é


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motivada pela ausência temporária ou definitiva de alguém com
quem se esteve afetivamente ligado, cuja perda provocou a
depressão, é necessário redirecionar seus sentimentos para outras
pessoas, com as quais também se estabelece relações afetivas.
Quando a depressão se dá após uma perda, o depressivo deve
se conscientizar que sua excessiva valorização ao sentimento que
recebia do outro, e que a ele destinava, é um dos motivos de sua
doença. Ele deve identificar quais necessidades suas estavam
sendo atendidas pela presença do outro em sua vida. Pessoas
que fazem parte do mundo afetivo do depressivo devem, com
certo cuidado, reaproximar-se dele para que volte a realizar trocas
afetivas. O cuidado é para não invadir por demais a fragilidade
do depressivo, com propostas de solução superficial aos seus
problemas, sem entender que a pessoa está atravessando uma
doença, na qual a afetividade rompida é o principal componente.

Nem sempre na depressão deve ser administrada medicação
antidepressiva. O efeito inicial, seja causado ou não por sugestão
psicológica, pode ser positivo, porém não será curativo quando a
depressão não tenha causa orgânica. São remédios que interferem
na química cerebral, promovendo alterações outras em seu
funcionamento, sem a consciência da pessoa. Em geral, tais
medicações trazem um certo alívio, porque reduzem a angústia e
melhoram seu estado geral. A eficácia das medicações antidepressivas
e a manutenção dessa pequena melhora se reduzem
significativamente a médio e longo prazo. É fundamental que o
depressivo tenha consciência de que não basta tomar remédio
sem entrar em contato, frente a frente, com seu problema. Sem
rever sua posição, diante dos conflitos responsáveis pela depressão,
não haverá equilíbrio. Remédio não dialoga nem questiona,
apenas atua quimicamente. Processos emocionais, bem como os
complexos problemas da vida, não são engendrados nem solucionados
pelas substâncias cerebrais, mas pelos atos da vontade
humana. Quando a ansiedade é muito grande, a angústia lancinante
e há tendências autodestrutivas, torna-se imprescindível o uso de


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medicação. Com ou sem medicação, o paciente deve investir na
descoberta do núcleo de sua depressão e, consequentemente,
dissolvê-lo. Tal núcleo, na grande maioria das vezes, é conhecido
pelo depressivo, pois é em torno dele que seus pensamentos
circulam. Ele anda à procura de uma idéia que resolva seu dilema
e que venha a lhe trazer paz. No fundo ele sabe que deve renunciar
ou aceitar algo de seu interesse, mas evita essa alternativa que lhe
parece desagradável.

O depressivo se recolhe ao seu mundo interno, num movimento
de entrada no casulo de sua morada mental. Ele parece
preferir o abrigo de sua mente do que estar em contato com a
realidade externa. Sua entrada é quase compulsória, pois não
percebe logo de imediato que está evitando ou fugindo de algum
conflito. As atividades externas perdem seu brilho, não lhe trazendo
qualquer tipo de satisfação. A obrigação em fazê-las torna-se
evidente e tediosa. Mesmo o que lhe trazia grande prazer, deixa
de ser algo recompensador. Seu esforço para se voltar para fora
tem de ser grande. Este movimento é uma das atitudes reforçadoras
de sua cura. Seu retorno ao mundo externo, mesmo que difícil e
sacrificial, é uma âncora que o conectará às possibilidades de
cura. Nas atividades externas ele poderá viver experiências que
lhe apontem caminhos e alternativas de cura.

Tentando não entrar em contato com o núcleo gerador de
depressão, cujos pensamentos a respeito lhe trazem angústia,
tristeza e sofrimento, o depressivo cria mecanismos psicológicos
de defesa. Evita pensar a respeito, evitar falar sobre temas
relacionados, evita pessoas que tenham relação direta ou indireta
com seus problemas, bem como reprime a expressão exata de
seus sentimentos. Esses mecanismos devem ser conscientizados
e eliminados pelo depressivo. Eles ampliam sua própria prisão e
contribuem para a dificuldade de encontrar soluções. A saída é
trabalhar cada um desses mecanismos, não procrastinando
decisões que impliquem em sua eliminação.

Quando os conflitos do depressivo envolvem mágoa, é
fundamental que o perdão esteja na ordem do dia. Perdoar


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pressupõe compreender que a atitude do outro sobre seu mundo
íntimo, provocando raiva ou ódio, poderia também ter sido
impetrada pelo próprio magoado. Compreender é utilizar a
empatia, colocando-se no lugar do outro, admitindo que, nas
mesmas circunstâncias, poderia ter cometido o mesmo ato.
Perdoar não é esquecer, mas compreender. A manutenção da
mágoa contribui para que os pensamentos permaneçam em torno
do núcleo gerador da depressão, pois os sentimentos se tornam
também prisioneiros de um foco emocional. Mesmo que o
depressivo encontre razões lógicas para a manutenção de sua
mágoa, é fundamental a compreensão da necessidade de sua
erradicação. Às vezes, mesmo reconhecendo o prejuízo em
mantê-la, ele não consegue eliminá-la, pois nem sempre o coração
obedece à razão. Serão necessários mais esforços para transformar
os sentimentos enraizados e interligados a outros, visando
perdoar. Fundamental a eliminação da mágoa, pois só se liberta
quem sabe perdoar.

Uma das características da depressão é a redução gradativa
do humor. Nada mais alegra a pessoa, alterando sua expressão
fisionômica, fazendo-a apresentar uma face grave e triste. Sua
alegria foi roubada pelos sentimentos derrotistas e negativistas.
Seu sentimento de nulidade e menor valia inibe o sorriso e a
esperança, características de todo ser humano. Parece que a vida
está morrendo, sem seu sentido habitual. A volta ao humor natural
deve ser mais um desafio a ser vencido pelo depressivo, conseguida
quando ele deixar de se colocar como vítima ou como perdedor.
Na vida, mesmo quando há perdas, sempre se está ganhando
algo, que deve ser incorporado ao patrimônio íntimo da cada um.


Depressão e sono

Um dos sintomas típicos da depressão é a alteração
do sono. Podem ocorrer insônias (hipossonia) ou excesso de sono
(hipersonia). É mais comum a insônia e o sono agitado, no qual a
pessoa acorda várias vezes à noite, o que lhe proporciona mal
estar e sensação de não ter dormido ou descansado. Acorda
pesada e com a sensação de ter trabalhado muito.

As noites parecem muito mais longas do que são. As horas
não passam e o dia seguinte a se aproximar é antevisto como
mais um sem qualquer sentido. A hora de ir para a cama é adiada,
temendo rolar indefinidamente, de um lado para o outro. O tédio
toma conta da vida, proporcionando o surgimento do vazio
existencial.

Quando o sono vem, dorme-se pouco, para logo acordar
sem que as horas passem. O sono é entrecortado por imagens
cotidianas e pensamentos em torno de temas diversos ou focados
no núcleo causador da depressão.

O sistema nervoso central deixa de secretar a substância
necessária ao sono. Isso provocará um grande desgaste ao corpo,
que não terá suas horas necessárias de descanso.

O depressivo involuntariamente evita o sono pelo excesso
de atenção em seus conflitos. Ao mesmo tempo em que deseja
esquecer, pretende inconscientemente encontrar uma solução para
aquilo que o atormenta. Ao dormir, pensa demais em seus


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problemas ou em questões que lhe parecem relevantes demais.
Usam a cama para laboratório de solução teórica de seus conflitos.

Algumas vezes sua insônia é provocada por influência
espiritual. De alguma forma, ele pressente que, ao dormir, se
deparará com espíritos que o atormentam durante seu desprendimento
natural provocado pelo sono. Tenta evitar ou adiar tal
encontro, até o limite de suas forças. Quando consegue dormir,
não sai totalmente do corpo físico, permanecendo junto a ele para
não ser molestado por aqueles espíritos.

Para combater sua insônia, efeito colateral de sua
depressão, ele passa a tomar soníferos, cujos efeitos no organismo
tornam-se piores do que a própria insônia, pois desequilibram
os ciclos hormonais naturais. Intoxica o organismo de antidepressivos
e de estimuladores do sono, quando não toma outras drogas,
cuja associação promove transtornos orgânicos, só resolvíveis
a longo prazo.

O dia seguinte torna-se sacrificial pela falta do repouso
natural do corpo. As atividades profissionais serão executadas
com muito custo, por causa do cansaço típico de quem não
conseguiu dormir.

A insônia causada pela depressão, portanto não orgânica,
deve ser tratada de outra forma, só recorrendo-se a medicações
em último caso. Existem práticas alternativas que facilitam o sono,
provocando bem estar geral, sem prejudicar o organismo. Prática
de yoga, meditação na cama, relaxamento muscular, orações,
banho quente imediatamente antes de deitar-se, música relaxante,
ir para a cama no mesmo horário, evitar levantar-se ou rolar no
leito, levantar-se no horário habitual, são técnicas salutares e
indutoras ao sono. Fundamental é, ao deitar-se, que o pensamento
viaje dentro de assuntos prazerosos e que não digam respeito ao
núcleo da depressão. O pensamento deve viajar no reino da
fantasia e do deleite.

Quando a insônia não é orgânica, o depressivo deve buscar
ajuda especializada, através de uma psicoterapia que o leve à
compreensão de seu verdadeiro problema.


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É importante compreender que existem ritmos próprios de
sono. Há pessoas que dormem pouco e outras que dormem mais.
Cada pessoa tem seu ciclo adequado de sono, não se constituindo
anormalidade dormir mais ou menos do que outra pessoa. Na
depressão ocorrem alterações naquele ritmo para mais ou para
menos, durante um período relativamente longo.

Por outro lado, o sono pode se estender por mais tempo
do que o habitual. O inconsciente domina a consciência. O ego
prefere não enfrentar a vida, pois teme o fracasso que lhe parece
óbvio. Sair da cama torna-se algo difícil, pois estar dormindo é
algo prazeroso e necessário. O organismo pede que se continue
dormindo. Mesmo quando consegue acordar, a pessoa, ainda
deitada na cama, não encontra nenhum motivo para se levantar,
preferindo permanecer em sua inércia.

Esse excesso de sono gradativamente promoverá atrofia
muscular e acomodação psíquica. Estar dormindo se assemelha a
uma anestesia ou ao retorno ao aconchego materno. Com a
consciência em suspensão, o depressivo evita entrar em contato
com seu sofrimento. Foge para o mundo do sono, porém sem
resolver seu conflito.

O depressivo passa a evitar compromissos pela manhã,
preferindo, quando inevitável, assumi-los à tarde ou noite. Quando
não os tem, prefere dormir em todos os turnos disponíveis. Sua
cama é seu ninho, do qual não deseja sair nem ver ninguém.

A ampliação do número de horas de sono vai acontecendo,
muitas vezes, sem o controle do depressivo, pois pode começar
antes da doença se instalar. Ele vai mudando de hábitos sem o
perceber, deixando de realizar certas tarefas que habitualmente
executava, em horários agora preenchidos pelo sono.

Quando o depressivo tem um trabalho regular, esse se torna
tão penoso que passa a negligenciar e chegar atrasado no local.
Seu sono é seu novo inimigo. Licenças médicas podem ser
"inventadas" para atender aos apelos do sono.

Em alguns casos, a hipersonia é provocada por obsessão
espiritual. Espíritos, interessados em prejudicar o depressivo,


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aplicam-lhe fluidos anestesiantes que o prostram, provocando sua
dificuldade em acordar, malgrado sua vontade.

Para manter-se acordado, o depressivo recorrerá a medicações
típicas ou ao aumento da dose do antidepressivo. Novamente
prejudicará seu organismo, alterando todo o sistema que regula
suas horas de sono, viciando-se para manter-se acordado.

Nos casos de hipersonia é fundamental que o depressivo
estimule sua vontade, voltando-a para objetivos que justifiquem estar
desperto. Encontrar atividades que lhe dêem prazer em horários
diurnos, solicitar ajuda para ser acordado, evitar ir para a cama
além de seu horário habitual, evitar trabalhos noturnos, não trocar o
dia pela noite, evitar estar em frente a um computador até altas
horas, programar-se mentalmente para acordar em determinado
horário, combinar com amigos para atividades diurnas, são
providências necessárias a quem tem e deseja curar-se de hipersonia.

Quando o depressivo não conseguir sozinho resolver sua
hipersonia, deve procurar auxílio numa psicoterapia e, só em último
caso, a administração de medicação para combatê-la.

Aconselho àqueles que têm problemas para conciliar o sono
a seguir os seguintes conselhos:

1. Ir para cama em horário regular, portanto, procurar ir
dormir à mesma hora;
2. Não se preocupar no início (primeira semana) em
conseguir efetivamente dormir;
3. Evitar iniciar a tentativa de dormir após a meia-noite;
4. Não esperar o sono chegar ou estar cansado para ir
para a cama;
5. Tomar um banho imediatamente antes de deitar-se para
dormir;
6. Fazer orações ao deitar-se;
7. Não pensar nas atividades realizadas durante o dia, nem
tampouco nas que deverá executar nos dias subseqüentes;
8. Em hipótese nenhuma deve pensar no foco de seu
problema, causador da depressão;

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9. Pensar numa situação hipotética extremamente relaxante,
a qual gostaria de estar vivendo, isto é, pensar numa fantasia que
deseje realizar;
10. Fazer exercícios de meditação ou imaginação criativa.
Um dos exercícios que costumo recomendar, enquanto a
pessoa está deitada esperando o sono, é:

Imagine que você está saindo de sua casa ou apartamento
e que na porta da rua encontre uma pessoa simpática, alegre e
que lhe é desconhecida. Ela o convida a ir ao outro lado da rua,
parando em frente a um portão verde. Com um simples gesto que
ela faz, o portão se abre e ela o convida a entrar. À sua frente, ela
caminha em direção a um imenso campo verde, que lhe parece
muito agradável. Depois de algum tempo de caminhar em silêncio,
ela chega com você a uma árvore frondosa e alta em frente a um
lago de águas muito límpidas e calmas. Embaixo dessa árvore há
um banco de dois lugares. Ela pede a você que se sente ao seu
lado. Em seguida começa a falar sobre sua vida e seu destino, de
forma tranqüila e saudável. Diz que você não se preocupe quanto
ao futuro, pois, mesmo sendo o envelhecer algo natural ao corpo,
você viverá bons momentos até que esse venha a acontecer. Diz
que a vida está pedindo que você enxergue o quanto há por viver
e realizar e que isso acontecerá de forma gradativa. Pede que
você não se apequene por tão pouco. Diz que estará ao seu lado,
acompanhando-o durante seu sono e, sempre que for dormir e
chamá-la, estará presente. Pede que você permaneça algum tempo
ali sentado em frente ao lago, meditando sobre a grandeza da
vida e de Deus. Diz que sairá dali naquele momento e que você
deve fazê-lo, sem pressa, quando quiser.


A melancolia

A melancolia é um sentimento de tristeza profunda,
de vazio interior e de falta de algo muito importantes, dentro de si
mesmo, que se perdeu. Costuma ocorrer na depressão, sendo
acompanhada de dores torácicas e ânsia de choro. Causa mal
estar e baixa total do humor. É mais comum nas mulheres,
principalmente quando enfrentam perdas e rejeições.

Enquanto a tristeza é um sentimento comum ao ser humano,
quer esteja em depressão ou não, a melancolia é uma ocorrência
ocasional. Ela é componente sempre presente na depressão e
provoca um mal estar por vezes insuportável.

Acompanhei um caso de uma advogada solteira de 45 anos,
que sempre viveu na casa de sua mãe, muito embora tivesse
independência financeira suficiente para ter a sua própria. Teve
poucos e mal sucedidos relacionamentos amorosos, pois se
queixava de não conseguir alguém de quem efetivamente gostasse.
Trabalhava num escritório de uma grande empresa. Seus colegas
tinham o hábito de convidá-la a sair no último dia de trabalho na
semana, a fim de "comemorarem" mais uma boa jornada.
Deixaram de fazê-lo após sucessivas negativas dela, que sempre
alegava cansaço, além de outras ocupações familiares. Porém,
todos sabiam de antemão que seu problema era a falta de
vitalidade psíquica, isto é, falta de vontade de viver. Ela era vista
como uma pessoa triste e sem motivação para viver. Não era


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inicialmente depressiva, mas melancólica, reservada e de poucos
amigos. Sua depressão só veio acontecer de fato, após a morte
da mãe.

Sua melancolia era causada por um forte sentimento de
inutilidade e de culpa, desde que sua mãe morrera há onze anos.
Quando sua mãe adoecera, dois anos antes de falecer, ela se
fechou para o mundo. Dedicara-se a ela para que não sofresse.
Amava a mãe e não aceitava, desde que adoecera, a idéia de que
ela morresse. Sua mãe padecia de um câncer, cujo desfecho fatal
ocorreu após dois anos de tratamento. Ela sofreu muito com a
morte da mãe, tornando-se depressiva e melancólica. No fundo,
culpava-se pela morte da mãe, achando que poderia ter feito mais
por ela e que deveria tê-la amado mais.

Sentia saudades e uma profunda gratidão pelo que a mãe
fez por ela, dando-lhe uma boa educação e muito amor. Sabia
ser grata à mãe, mas achava que fizera pouco por ela. Queria-a
de volta para não sentir culpa. Era mais altruísta de sua parte
pensar no retorno da mãe e no pesar de sua morte, do que aceitar
que todos um dia devem deixar esta vida. Sua melancolia
representava sua incapacidade de aceitar a morte e entender sua
providência. Rejeitava a idéia de que era importante aceitar a
morte de sua mãe, para que se libertasse de tamanha culpa. Não
entendia que já tinha retribuído o amor recebido.

A melancolia é uma saudade que permanece dentro da
pessoa, sem que seja adequadamente suprida, cuja saída é a
compreensão e aceitação dos fatos como pertinentes e adequados.
São eles resultantes do mundo interno de cada pessoa, como
respostas às necessidades educativas mais íntimas.

Superar a melancolia é um passo que deve ser dado para
que o indivíduo saia de seu mundo egóico e pequeno, no qual se
enredou por um processo mórbido de auto-piedade. Para isso
deve sair da condição inconsciente de "coitadinho" e de vítima do
destino, como se ele fosse obra do acaso, e encontrar em si as
razões para que as coisas aconteçam como são. Viver de acordo


Alquimia do Amor

com um sentido interno que coloca os fatos, simultaneamente como
conseqüentes e como antecedentes ao pensar e ao querer. Os
fatos antecedem o querer, pela própria exigência da vida, tanto
quanto correspondem ao que se deseja, como respostas à
vontade humana.


Depressão no idoso

Atendi uma mulher idosa, com mais de setenta
anos, que tinha depressão crônica. Sua depressão já durava mais
de trinta anos, e desde então tomava remédios para combatê-la,
com melhoras breves e recaídas longas. Seus filhos já não sabiam
mais o que fazer. Há muitos anos já não conseguia mais viver em
sua própria casa, morando de tempos em tempos na casa de
cada filho. Fazia questão de dizer que tomava muitos remédios
para depressão e para outras doenças típicas da idade, algumas
decorrentes da própria depressão. Vivia infeliz, queixando-se da
vida e de dores por todo o corpo. Muitas vezes, prostrava-se
numa cama, só saindo a muito custo, quando uma de suas filhas
preferidas muito insistia para que ela reagisse. Uma delas levou-a
para que eu a atendesse, muito embora ela não quisesse fazer
uma terapia. Achava que seu caso não tinha jeito. Desacreditava
de psicólogos ou médicos para resolver seus problemas, pois já
havia passado por muitos, sem sucesso. Afinal de contas, pensava
ela, há quantos anos tomava remédios e não via resultado algum?
Muitas vezes atribuía seus problemas a figuras demoníacas que a
queriam morta. Levaram-na a um Centro Espírita, do qual saíra
sem seguir as recomendações de praxe, alegando medo de
espíritos. Reclamava injustamente de seus cinco filhos, afirmando
que eles a haviam abandonado. Vivia relembrando seu passado
de forma triste, falando do sofrimento que cada filho lhe causou e


Alquimia do Amor

da falta do marido, que já havia falecido há mais de cinco anos.
Nunca mais havia sorrido e vivia descontente com tudo. Não mais
acompanhava seus filhos em visitas domiciliares que costumava
fazer antes de adoecer. Deixou de gostar de comemorar seus
aniversários, mesmo quando lhe fizeram surpresa nas festas de
cinqüenta, sessenta e setenta anos. Alguns netos, quando iam visitála,
lhe traziam alegria, que durava breves instantes, logo se
entediando com suas presenças.

Conversamos na primeira sessão sobre sua vida. Contou-
me sua história, desde sua infância, que lembrava com detalhes.
Relembrou o quanto era feliz em sua infância na fazenda de seu
pai. Gostava de brincar com os animais domésticos e de correr
entre as árvores, próximo à sua casa. Tinha boa memória, apesar
da idade e da depressão. Contou seu belo casamento e falou da
felicidade que sentiu ao partilhar sua vida com seu marido. Tinha
19 anos quando casou e seu pai lhe deu uma grande festa na
pequena cidade do interior em que moravam. Falou de cada filho
e do trabalho que cada um deu. Na segunda sessão, continuou a
contar sua história. Falou de seu casamento e do marido. Tinha
uma certa mágoa dele, pela descoberta de uma traição, antes do
nascimento de seu penúltimo filho. Falou sobre a morte dele, vítima
de infarto aos 65 anos. Vasculhei boa parte de sua vida, sem
conseguir identificar um motivo consciente para a depressão.
Parecia que seu núcleo estava muito bem escondido. Disse que
não entrara em depressão com a descoberta da traição. Perguntei
sobre o que acontecera 30 anos atrás para que entrasse em
depressão. Evitava falar e dizia não se lembrar de nada importante.
Falei que, coincidentemente, foi após o nascimento do filho caçula.
Na quinta sessão questionei, depois de perceber que ela já estava
aceitando a terapia e, segundo ela própria dizia, confiando cada
vez mais em mim, qual de seus filhos era o mais querido. Depois
de muito relutar em responder, disse que era o filho caçula. Não
me disse o motivo, mas achei que sua resposta escondia algum
segredo não revelado.


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Movido pela intuição, perguntei se ela porventura tinha algum
segredo que nunca havia revelado a alguém. Ela me olhou bem
nos olhos e titubeou em responder. Disse-lhe que confiasse em
mim e que saberia guardar seu segredo. Ela me perguntou se tinha
alguém ouvindo nossa conversa ou se estava sendo gravada.
Afirmei que ninguém estava escutando, que não gravava sessões
e que, se o estivesse fazendo, antes teria pedido sua permissão.

Ela, movida de bastante coragem, espigou-se na cadeira à
minha frente e falou. Disse que teve uma grande paixão na idade
adulta jovem. Quando completou dezoito anos, sua mãe a levou
a um médico ginecologista pela primeira vez. Ele devia ter mais
de trinta anos. Ela ficou muito impressionada com a calma e a
segurança dele. Sentiu algo diferente quando ele a tocava.
Descobriu-se, dias depois, apaixonada pelo médico. Suas idas a
exames médicos eram ansiosamente esperadas, como quem vai
se encontrar com um grande amor. Isso, porém, se resumiu a
apenas três consultas, pois o médico mudara de cidade. A vida
dá muitas voltas, ela acabou se esquecendo dele. Veio a se casar
e teve cinco filhos. Quando descobriu a traição por parte do
marido, acendeu-lhe internamente um desejo de vingança. Pensou
então em seu "grande amor" adolescencial. Tanto pensou que,
após um ano, resolveu procurar saber seu paradeiro. Ele havia se
instalado em cidade próxima e era muito conceituado, pois tinha
boa reputação e grande clientela. Ela decidiu marcar uma consulta
com ele. Ele também era casado e tinha três filhos. Ela, depois de
algumas consultas com ele, resolveu declarar seu amor. Culminaram
numa relação sexual, na qual ela engravidou, mas não disse a
ele. Afastou-se dele, sem que ele soubesse que engravidara. Sabia
que era dele o filho que esperava. Deixou que todos pensassem
que o filho era fruto de seu casamento. Felizmente, para ela, havia
muita semelhança física entre os dois homens. Isso aconteceu
quando ela tinha quarenta anos e hoje seu filho tem trinta anos de
idade. E ninguém, segundo ela, nem seu padre confessor, soube
disso. Notei seu alívio em conversar a respeito. Parecia que havia
tirado um grande peso de sua consciência. Propus que ela contasse


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seu segredo à filha que sempre a acompanhava para ir à terapia.
Ela relutou, mas ficou de pensar. Dois dias depois dessa sessão.
Sua filha me ligou contando que sua mãe estava muito bem e que
lhe havia revelado o segredo.

Esse era, portanto, o núcleo de sua depressão: uma traição,
seguida de uma gestação e conseqüente maternidade, cuja
paternidade fora camuflada. Sua culpa, bem como o fato de seu
filho não saber que o pai não era seu marido, provocara sua
depressão. Revelar foi aliviar-se da culpa, bem como aceitar as
sanções e discriminações naturais da sociedade. Falei que, àquela
idade, não cabia mais temer críticas e recriminações sociais e que
deveria aceitar quem ela realmente era. Coloquei que o que fizera
já estava feito e que não cabia viver em função do ocorrido.

Observo que a maioria dos núcleos de depressão no idoso
está relacionada a casamentos frustrados ou que acabaram com
mágoas recíprocas, à ingratidão dos filhos, ao acúmulo de insatisfações
ao longo da vida e ao sentimento de inutilidade. Queixa-se
de seu(sua) companheiro(a) que não o entende, reclama das
contrariedades por ele(a) provocadas. Não se sente valorizado nem
acha que as pessoas querem ouvi-lo. Acredita que as pessoas não
têm paciência com ele, nem se interessa com o que lhes diz respeito.

O idoso tem muita coisa acumulada, muitas histórias cujos
desfechos nem sempre foram o que esperava. Tem muito que
falar e precisa ser ouvido. Nem sempre ele próprio tem disposição
em dizer, pois acredita que nada se pode fazer ou que não será
compreendido. Desejaria que o tempo voltasse e as coisas tivessem
seguido um rumo diferente. Pensa no passado como algo muito
presente, principalmente em suas experiências negativas, que fica
revendo como se fosse um filme repetitivo.

Tem verdades inamovíveis e argumentos prontos para
qualquer assunto de seu conhecimento. Não muda facilmente.
Construiu sistemas e crenças sobre os quais alicerçara sua vida.
Entrar em seu mundo, só com sua autorização, que só é dada a
quem tenha muito tato e jeito para lidar com sua rabugice, poucas
vezes reconhecida.


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Os filhos, muitas vezes, alvo de suas críticas, tentam a todo
custo demovê-lo de seu pessimismo, sem muito sucesso, pois ele
não reconhece autoridade neles para lhe ensinar algo. Algumas
vezes, recai sobre eles a responsabilidade da desdita por ele vivida.
É muito comum que o idoso responsabilize os filhos sobre seu
fracasso ou insucesso na vida.

Muitos não aceitam conviver com o corpo em degeneração,
principalmente quando adoecem muito cedo. Quando alguma
doença surge após os sessenta anos, antes de se declarar idoso,
e que limite sobremaneira seus passos e ações, a depressão poderá
se instalar. Inicialmente haverá uma revolta por se sentir dependente
de alguém e, posteriormente uma recusa a viver daquela
forma. Não ter se preparado para isso, bem como colocar o
orgulho à frente de uma boa convivência com suas limitações, são
causas daquela revolta.

A possibilidade da morte iminente é outra causa de depressão
no idoso. Não se preparou, na meia-idade, para a morte na
segunda metade da vida. Quase ninguém se prepara para o fechamento
do ciclo da vida no corpo físico. Muitos vivem negando
essa fatalidade, extremamente necessária a todo ser humano. Sem
a morte do corpo, a vida nele não teria sentido. Em dado momento
da vida, provavelmente quando se atinge a maioridade ou logo
após a adolescência, os pais, naturalmente e sem que sejam disso
culpados, deixam de se preocupar com a educação de seus filhos.
Isso também ocorre quando o indivíduo parte para o casamento
com alguém. Tudo parece querer dizer que não é mais necessária
a educação para o adulto. A pessoa é "largada" na vida para
vivê-la sem a continuidade de estudos e orientações de como
proceder diante dos desafios. Deveria haver uma preocupação
constante da sociedade com a educação do adulto, até quando
compreendesse o significado da vida e do morrer.

É lógico que não se deve falar ao idoso sobre a morte sem
que ele o requisite. Porém, é importante que ele ressignifique sua
vida, valorizando tê-la vivido, dentro de seus limites e


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possibilidades. Essa valorização poderá acontecer com o diálogo
cuidadoso com ele, ouvindo-lhe as experiências sem lhes criticar
a postura ou suas opiniões a respeito.

Tudo deve ser facilitado ao idoso e os filhos devem devolver-
lhe a atenção dada durante a vida. Devem, mesmo que julguem
não merecer, proporcionar-lhe o mínimo de felicidade na fase em
que se encontra. Ser idoso é o amanhã natural de todo ser humano.

Quando se queixa de seu cônjuge, deve-se evitar dar razão
a ele ou ao outro, mesmo que ela seja explícita. O remédio ainda
é ouvir e levá-lo à compreensão da importância de ter vivido ao
lado daquela pessoa.

Quando coloca sua inutilidade ou quando não vê sentido
em viver aquela vida cheia de limitações, deve-se argumentar
delicadamente a favor da compreensão do sentido de viver as
limitações do corpo. Vivê-las, sem queixas e pacientemente,
contribui para alicerçar a humildade e a gratidão àqueles que se
colocam ao lado para o auxílio necessário. Nenhum ser humano é
uma ilha deserta, pois todos precisam uns dos outros. O orgulho
em não querer ser ajudado por alguém isola e enrijece a alma,
limitando as conexões afetivas e contribuindo para o embrutecimento
emocional.

Participar da vida do idoso, incluindo-o na própria vida,
ratificando sua importância é um dever de todos que compartilham
com sua existência naquela fase. Sempre que possível, deve-se
atribuir-lhe algum grau de responsabilidade doméstica ou externa,
para que sinta que a vida pode ser vivida mesmo com limitações
e que sua participação no grupo familiar é importante.

É importante não se referir ao idoso como alguém que não
sabe fazer as coisas ou que já não é mais capaz de realizar
atividades responsáveis. Evitar a crítica e a desvalorização de sua
capacidade, mesmo que isso porventura seja real.

Medicações anti-depressivas podem ser úteis, principalmente
por causa do efeito placebo, porém seria de bom alvitre
levá-lo a uma terapia e incentivá-lo a freqüentar um culto religioso.


Depressão na infância

Não é comum a depressão na infância. Geralmente,
quando ocorre, está associada a outros fatores nem sempre
observáveis com precisão pelos pais. Em muitos casos, a
depressão é componente secundário de algum transtorno psíquico
ainda não suficientemente identificado. Quando não se trata de
componente secundário de transtorno psíquico, o núcleo da
depressão é facilmente identificável na infância.

São fatores típicos que causam depressão na infância: medos
comuns (de escuro, de perder os pais, de presenças espirituais,
de pequenos animais, de pessoas estranhas, de ruídos estridentes,
de figuras monstruosas, de locais desconhecidos, de morrer, de
agressão física, etc.), separação dos pais, mudança de casa,
fracassos escolares, dificuldade de convivência com outras
crianças, dificuldade de inserção num grupo social, complexo
ligado ao corpo ou ao intelecto, maus tratos domésticos, abuso
sexual, isolamento afetivo e obsessão espiritual.

Na fase infantil a criança está se descobrindo e estruturando
seu ego, muito à semelhança da imagem que faz dos pais. Esse
processo dura desde o nascimento até a adolescência, quando se
inicia a fase de diferenciação das projeções parentais. É na
adolescência que o espírito completa sua entrada definitiva no
corpo, assenhoreando-se de sua nova identidade. A partir de então
unirá suas experiências inconscientes ao que vai viver e
experimentar na nova existência.


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Tudo que está gravado em seu perispírito, oriundo das
experiências vividas no passado, agora se encontra no inconsciente,
sendo, de forma sutil, acessível à consciência. À medida que
estímulos externos, bem como suas próprias reflexões, alcancem
aquelas experiências, elas retornarão à consciência na forma de
impressões e intuições que contribuirão para a formação de sua
personalidade.

As fobias infantis, quando não originárias de traumas durante
a gestação no útero ou de ocorrências experimentadas após o
nascimento, são causadas pelo afloramento daquelas experiências
inconscientes. Esse afloramento do inconsciente na consciência
decorre da intensidade com que ocorreram no passado. Quanto
maior tenha impressionado o espírito, mais fortemente retorna à
consciência, muitas vezes de forma incompreensível à criança.

Dessa forma, a depressão iniciada na infância, quando não
decorrente de trauma atual, é a sintonia com processos vividos
no passado, ainda não cicatrizados. São ciclos que foram abertos
e ainda não fechados. Por ocorrer na infância, têm efeito mais
prejudicial do que na vida adulta. A depressão infantil é mais grave
do que no adulto, exatamente pela dificuldade da criança em
expressar o que sente e em elaborar o que se passa em seu mundo
íntimo. Os pais devem buscar ajuda especializada em face dessas
dificuldades, cuja complexidade transcende, muitas vezes, a própria
experiência do profissional que atenderá a criança.

É fundamental que os pais não tratem com desdém as
alterações no comportamento da criança, principalmente sua
repentina tristeza, sua birra em não querer ir à escola ou seu
isolamento. Esses são sintomas, dentre outros, que devem merecer

o diálogo tranqüilo com a criança, visando a descoberta dos
motivos que os causaram.
Os medos infantis, ainda na fase de adaptação do espírito
à nova encarnação, decorrem, muitas vezes, da sintonia provocada
entre o estímulo externo aversivo e alguma experiência semelhante
do passado reencarnatório que se encontra no inconsciente. Na


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infância, a relação com o inconsciente é mais intensa, pela pouca
quantidade de experiências emocionais na consciência, favorecendo
uma maior conexão.

Quando os pais não conseguirem, por vários métodos que
utilizem, erradicar os sintomas revelados pela criança, é
fundamental procurar ajuda especializada o mais breve possível.
É importante que não se demorem em fazê-lo, pois poderá se
adiada mais ainda a cura dos processos que porventura seu filho
esteja passando.

O medo de escuro e de figuras monstruosas denota que a
ligação com o inconsciente, projetada na consciência sem um
significado adequado ao símbolo, pode ser traduzido como uma
ameaça à integridade do ego, ainda imaturo. Crianças que ficam
por muito tempo sozinhas, têm tendência a esse medo. Palavras
de estímulo e confiança diante do evento, além de alguém que se
coloque ao lado da criança, acompanhando-a naquele contato,
deverão reduzir ou eliminar o medo.

Quando o medo é de perder os pais, e o tema é verbalizado
pela criança, um simples diálogo, infundindo confiança, deve
resolver o problema, principalmente quando há efetiva participação
paterna. A fala do masculino paterno estabelece maior responsabilidade
e autonomia à criança do que a feminina materna. Seria
importante os pais verificarem se não estariam excessivamente
disponíveis à criança, não lhe permitindo adquirir certa autonomia
na vida, isto é, se não estão contribuindo para a manutenção de
um alto grau de dependência.

O medo provocado por presenças não é incomum na infância.
Quando tais presenças são aversivas, o medo pode evoluir para
um pavor e resultar num dano grave à personalidade da criança.
Em alguns casos, quando as companhias espirituais são amistosas,
a criança não apresenta qualquer traço de medo ou sintoma,
classificando seu contato mediúnico como algo de sua normalidade.

Uma vez uma criança, após uma palestra que fiz na Casa de
Oração Bezerra de Menezes, em Salvador, por volta de 1995,


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procurou-me, para minha surpresa, para conversar a respeito. Era
uma menina de oito anos. Disse-me que ficava em seu quarto
conversando com duas crianças que sua mãe não via (um menino e
uma menina, ambos de sua idade) e ficava preocupada com ela,
pois certamente não entenderia. Disse-lhe que não se preocupasse
com isso, pois sua mãe entenderia se ela lhe falasse a respeito. A
criança retrucou-me e disse que sua mãe não tinha maturidade para
entender "dessas coisas". Em outro dia, sua mãe chamou-me ao
telefone e me pediu ajuda para entender a respeito "daquelas
coisas". Recomendei leituras a respeito e que não se preocupasse
com a filha.

Quando as companhias espirituais são inamistosas, a criança
apresenta um quadro instável e de difícil compreensão pelos pais.
Geralmente têm dificuldade de conciliar o sono, choram muito,
não conseguem dormir sozinhas e no escuro, gritam enquanto
dormem, acordam chorando, reclamam de presenças de seres
invisíveis, que, algumas vezes, se parecem com monstros ou homens
agressivos, sentem dores localizadas, dentre outros sintomas.
Em casos mais graves, o desconforto evolui para convulsões
tipicamente epiléticas, sem que se encontrem sinais neurológicos
característicos. Nesses casos, além de se procurar auxílio médico
e psicológico, deve-se buscar auxílio espiritual especializado, isto
é, instituições ou pessoas que lidam com desobsessão em crianças.
Na maioria dos casos, preliminarmente, sem prejuízo da busca
dos auxílios recomendados, oriento aos pais que levem a criança
para tomar passes e que, quando ela estiver dormindo, falem com
ela bem baixinho, enquanto impõem a mão sobre sua cabeça ou
peito. A fala deve girar em torno da confiança, do amor que
recebem e da segurança de que nada irá lhe acontecer de mal.

O medo de pequenos animais, quando não se caracterizar
como fobia, isto é, medo intenso e que cause prejuízo ao equilíbrio
da criança, não deve ser objeto de preocupação. Porém, quando
se torna uma fobia, cuja proximidade ou a lembrança do nome do
animal cause transtornos à criança, deve-se procurar ajuda
psicológica.


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O medo de pessoas estranhas pode ocorrer na primeira
infância, o que é considerado normal, porém quando a criança
passa dos três anos e esse medo provoca retraimento social,
devem ser identificadas as causas e os meios de resolver a fobia
social. Esse problema pode evoluir para uma depressão de longo
curso. O diálogo com a criança a respeito, a redução da
dependência dos pais e o auxílio psicológico são importantes.

A separação dos pais, sobretudo até a adolescência, pode
se tornar um fator causador de depressão, dependendo do grau
de independência da criança e da forma como os pais lidem com
a questão. Pais que pretendem se separar ou que briguem muito,
devem, em separado, conversar com seus filhos sobre o que se
passa na relação entre eles. Não há necessidade de colocarem
seus filhos a par de tudo, nem tampouco acusar um ao outro, mas
evitar que eles se choquem com ocorrências extemporâneas ou
que fantasiem o que não ocorre. Conversar com os filhos também
inclui não usá-los na briga do casal, para recados ou para aliados
contra o outro. O diálogo, portanto, desde que as desavenças se
iniciem, é salutar como preventivo à depressão. Nem sempre a
criança tem maturidade para entender que a separação dos pais
não significa perda de afeto. Geralmente os filhos lutam para que
seus pais permaneçam juntos, pois a união a dois é o ideal,
consciente e inconsciente, de todo ser humano. A conversa com
os filhos será extremamente salutar, não só como preventivo à
depressão, como também como fator de aprendizado, para que
saibam conduzir suas relações amorosas. Os pais geralmente
pensam que devem poupar seus filhos de saberem a respeito de
suas vidas afetivas, porém esquecem que eles fazem parte dela e
estão estruturando suas capacidades de se relacionar com alguém
a partir do modelo que vêem.

Outro fator desencadeador da depressão na infância e
adolescência é o fracasso escolar. Crianças e adolescentes que
tenham dificuldade de acompanhar seus colegas no estudo,
apresentando notas abaixo do esperado, tendem a se sentir


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inferiores. Buscam compensações diversas. Alguns adolescentes
chegam a experimentar drogas por esse motivo, associando-se a
outros colegas em idêntica situação. Dependendo da personalidade
da criança ou do adolescente, a resposta ao fracasso escolar
irá variar, mas geralmente o isolamento social e o dormir muito
são características marcantes. Muitos pais não acompanham o
desempenho escolar de seus filhos, às vezes, por desleixo, por
falta de tempo e por confiarem no que dizem. Seria importante,
pelo menos uma vez por mês, os pais se comunicarem com a
escola de seus filhos para se informar a respeito deles, quanto ao
comportamento e quanto ao desempenho acadêmico. Quando
notarem que existe o fracasso escolar, devem conversar com eles,
questionando o que podem fazer, enquanto pais, para ajudá-los
naquele momento. Nem sempre a imposição ao estudo é
suficiente, pois outros fatores podem estar contribuindo. Crianças
portadoras de transtornos de déficit de atenção com hiperatividade
(TDAH), também podem ter fracasso escolar e não ter
depressão. Os pais devem procurar a escola para orientação
adequada de como se conduzir perante a situação. Geralmente a
escola orienta para que os pais acompanhem mais os estudos do
filho, disciplinando horários, ampliando as horas de estudos,
reduzindo o tempo à frente de televisão, de computador e de
jogos. Em alguns casos, recomenda reforço escolar. Qualquer
que seja a providência adotada pelos pais, é importante que não
deixem de dialogar com os filhos e evitem atitudes punitivas.

Em muitos casos de depressão adolescencial, percebo a
existência de complexos relacionados ao corpo e à dificuldade
de inserção em grupos sociais adequados à idade. A timidez típica
da idade, associada à crença de que seu corpo é feio ou disforme
em algum ponto, promove o retraimento social, ampliando a
possibilidade da depressão se instalar. O jovem se sente diferente
de seus próprios amigos, sendo uma verdadeira guerra a luta que
trava para aceitar-se. A fase de transição que atravessa, de
intensas modificações hormonais e corporais, irá fazer com que
se sinta instável e receoso de não ser aceito pelos outros.


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O diálogo maduro com os pais, principalmente desde a
puberdade, fará a diferença, evitando a timidez e o retraimento
social, fomentadores da depressão. Quando a criança ou o
adolescente se sentir complexado, por qualquer que seja o motivo,
devem os pais encaminhá-lo a tratamento psicológico especializado.


Observados os sintomas da depressão em crianças e
adolescentes, os pais devem buscar imediatamente ajuda
especializada, até para se orientarem como agir diante do quadro
que vêem. Não devem protelar o encaminhamento, por acreditar
que seu filho é normal, porém, antes de conduzi-lo a atendimento
profissional, devem eles próprios se consultar para melhor avaliar
se o seu filho necessita ou não de tratamento.


Depressão na adolescência

Aadolescência é a fase mais instável de uma pessoa.
As mudanças são muitas e intensas. O ego, representante do
espírito na consciência, já estruturado, busca uma identidade
própria, não mais à semelhança dos pais. A fase é de desbravar o
mundo, afirmando-se nele. O adolescente, qual "Chapeuzinho
Vermelho", deverá entrar na floresta e enfrentar o lobo mau, que
é o próprio mundo no qual se encontra inserido. Terá de se mostrar
capaz de tomar suas próprias decisões e de perder a inocência
infantil. Os desafios são muitos e as possibilidades maiores ainda.
A todo o momento estará enfrentando sucessos e insucessos. Suas
fantasias infantis vão dando lugar ao pragmatismo da realidade
concreta. Muita coisa não acontece como pensava e sentia.
Qualquer doença ou conflito, que venha a ocorrer nessa fase,
repercutirá em sua vida, pela imaturidade e por conta de sua própria
instabilidade psicológica.

Uma depressão nessa fase é sinal de imaturidade psicológica
e fragilidade do espírito. Ele já demonstra que terá de vencer
também sua tendência precoce a fugir ou desistir da vida. Seu
medo, expressado pela depressão, revela um traço na personalidade,
formado em vidas passadas e reforçado pela educação
que teve até então. Merecerá cuidados daí em diante, pois já
demonstra uma inaceitação à reencarnação atual.

O adolescente depressivo se encontra prisioneiro de um
ou mais complexos, que o impedem de enxergar a vida como um


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campo de livre manifestação de sua alma. Seu temor decorre de
sua ansiedade antecipatória do futuro, o qual lhe parece sombrio.
Suas interrogações o conduzem a pensamentos derrotistas e
conclusões pessimistas quanto ao seu futuro.

Ele vive em dois mundos simultâneos. Um, no qual estão
seus pais e demais familiares, com todas as exigências típicas da
vida em grupo. Outro, no qual vai se conhecendo, se descobrindo
e afirmando-se com sua própria identidade, e onde não há certezas
nem garantias de nada. Sente-se perto e distante de tudo, cheio
de dúvidas e afirmando verdades que são logo abandonadas.
Chora e ri, por não entender a existência e por não saber aonde
chegará.

A depressão poderá ocorrer se suas respostas não lhe
satisfizerem, nem atenderem aos requisitos mínimos de segurança
interior. Quando perde muito tempo em contato com o
inconsciente, sem projetá-lo nas experiências do mundo, pela
tendência natural de ir ao externo, pois precisa vencê-lo, poderá
se transformar num adulto teórico e depressivo. Quando algo o
convida ao interno, isto é, quando prefere a companhia de suas
próprias reflexões, se tiver um ego frágil, tenderá à depressão.

Essa preferência advém de algum núcleo afetivo gravado
em seu perispírito, oriundo de experiências pregressas, ainda não
digerido adequadamente. Essa conexão interna geralmente
contribui para uma personalidade tímida e precocemente auto-
suficiente.

A saída será o diálogo franco e adulto, sem a cobrança
impositiva de que ele precisa ir para fora, pois não está suficientemente
seguro dessa atitude. Suas companhias podem ou não se
assemelhar a ele. Em alguns casos, por ser bom aluno, sem
fracasso escolar, acaba por não contar com a ajuda dos pais
para arrancá-lo do estado introspectivo em que se coloca. Seu
sucesso intelectual mascara seu medo de viver, constituindo para
ele, sua tábua de salvação. Quando não tem compensação alguma,
sofre pela depressão insistentemente instalada em seu psiquismo.


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Necessita de diálogo, sem repreensões ou conselhos
ultrapassados, nem imposições de conduta. Quer ser ouvido e
compreendido, a fim de obter respostas coerentes para seus
conflitos. Está à espera de alguém que o entenda e que lhe mostre
a necessidade de prosseguir vencendo o mundo.

Deve ser incentivado e estimulado a resolver seu mundo
íntimo, ao mesmo tempo em que rompe a barreira da timidez em
que se envolveu. Quer ser considerado adulto, mas precisa
desligar-se do inconsciente infantil no qual está ancorado.

Atendi uma adolescente depressiva, cujo núcleo principal
era sua inaceitação do próprio corpo. Sentia-se feia e insatisfeita
com algumas partes dele, que considerava exagerada. Achava-
se anormal e queria entender melhor o que acontecia consigo.
Queixava-se de suas orelhas, por serem grandes e de suas gorduras
localizadas. Muito embora seus cabelos escondessem adequadamente
suas orelhas, queria fazer plástica corretiva. Queria
também fazer cirurgia para retirar parte da gordura em sua barriga.
Fazia dietas que não adiantavam. Mesmo sendo jovem, não
acreditava que pudesse haver mudanças em seu corpo, salvo se
fizesse cirurgias corretivas. Não adiantavam conselhos dos pais
para que aceitasse seu corpo como ele era e de médicos que
desaconselhavam cirurgia na sua idade. Ela queria resolver o
problema a qualquer custo.

Depois de muita briga, aceitou que sua mãe a levasse ao
psicólogo para uma "conversa". Na primeira sessão dei-lhe razão
quanto ao direito à realização de seu desejo, pois se assim queria,
por que impedi-la? Reforcei seu desejo, conquistando sua
confiança. Coloquei que a vaidade feminina era uma condição
típica do psiquismo de uma mulher e que ela deveria estar satisfeita,
mesmo que não totalmente, com seu corpo.

Nas sessões subseqüentes tratei de sua relação com seus
pais e com sua irmã mais nova. Percebi claramente, ela também,
sua inveja e o quanto gostaria de agradar a eles. Queria ser
admirada e querida pelas pessoas. Fugia do mundo porque tinha


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uma exigência muito grande em si mesma para vencê-lo. O mundo
que queria vencer era muito especial, cheio de pessoas poderosas,
bonitas, ricas e bem relacionadas. Via-se no centro de conversas
e de reuniões importantes.

Questionei sua capacidade de pertencer a esse mundo, sem
a exigência estética. Concluiu que não possuía outros requisitos
necessários, que estava tentando compensar sua falta através do
corpo e que poderia se aceitar tranquilamente como era. Vivia
uma fantasia infantil pela incapacidade de aceitar sua ignorância,
incompetência típica da idade e pela impossibilidade de ser o que
desejava para si mesma.

Conduzi algumas sessões dentro da possibilidade de ela
construir uma personalidade alcançável, independente da
realização, em tempo oportuno, de seu desejo estético.

Sua saída da depressão começou a acontecer quando
descobriu habilidades escondidas pelo complexo de superioridade
que nucleava sua vida consciente.


Depressão no homem

A depressão é pouco comum no homem. Sua
resistência em lidar com seu mundo interno o "protege" da entrada
na depressão. Por ter vivido muito para fora de si mesmo e estar
sempre criando mecanismos de defesa para não entrar em contato
com suas emoções, sua conexão com o inconsciente é evitada,
sendo ele pouco explorado. A cultura exige um homem sempre
disposto e decidido a resolver problemas, além de vitorioso nos
desafios que a vida lhe obriga. Estar triste ou deprimido poderia
parecer fraqueza e inferioridade, diante de um mundo
extremamente competitivo e masculino.

Atendi um homem depressivo de cinqüenta anos. casado,
pai de dois filhos, profissionalmente bem sucedido e financeiramente
estável. Sua depressão já durava cerca de doze anos,
com altos e baixos, sendo usuário de drogas anti-depressivas por
igual tempo. Seu racionalismo característico da idade e sua forte
exposição ao pragmatismo típico da vida consciente afastaram-
no da expressão emocional necessária a todo ser humano. Suas
preocupações básicas se situavam em torno do medo de não
poder mais dar conta dos recursos necessários à manutenção de
sua família. Chorava com medo de morrer e de que sua família
perdesse o padrão de vida que deixaria para eles. Mesmo
possuindo reservas financeiras e emprego fixo, acreditava que
poderia não mais conseguir trabalhar, caso adoecesse. Gostava


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de estar em família e vivia bem com sua mulher e filhos. Não tinha
religião nem se interessava por temas subjetivos. Dedicara sua
vida ao seu trabalho, sendo bem recompensado ao longo da vida.
Graças ao trabalho, tinha casa própria, pôde colocar os filhos em
bons colégios, e um deles alcançou a universidade.

Já tinha experimentado vários tratamentos com psicólogos,
psiquiatras e terapias alternativas. Buscava agora se tratar com
alguém que tivesse uma visão psicológica e espiritual simultaneamente.


Nas primeiras sessões, contou-me toda sua vida, com alegrias
e tristezas, vitórias e derrotas. Nada que me chamasse a
atenção e que apontasse para o núcleo de sua depressão.

Depois de algumas sessões, tendo investigado sua vida nas
várias dimensões, questionei por que me procurou. Afirmou que
queria alguém que tivesse formação técnica em psicologia e que
fosse espírita, pois lhe haviam afirmado que havia algo de espiritual
em seu processo. Falou que não acreditava em espíritos e nem
era adepto de qualquer crença religiosa, mas que, talvez, eu
pudesse convencê-lo do contrário.

Recomendei, para que alcançasse seu objetivo, que fizesse
leituras a respeito e passasse a freqüentar alguma instituição
dedicada à divulgação de teses imortalistas, pois no consultório
trataria de questões psicológicas. Assim ele fez, sem aceitar
totalmente minha recusa em tratar daqueles temas nas sessões de
terapia.

Numa delas, depois de estar freqüentando um Centro
Espírita de sua escolha, questionou-me sobre minha crença em
Deus. Devolvi sua pergunta, querendo saber por que isso era
relevante para ele. Disse que não entendia um Deus que punisse
as pessoas pela ignorância que Ele próprio havia estabelecido.
Concordei com ele e questionei sobre seu conceito de Deus, pois
me parecia que ele, mesmo em nada acreditando, tinha conceitos
sobre aquilo no qual não depositava qualquer valor de realidade.
Ele concordou, pois era contraditório não crer e ao mesmo tempo


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ter conceitos sobre o objeto não conhecido. Resolveu, com todo
seu racionalismo, pensar a respeito e formular suas próprias
opiniões sobre cada objeto de crença e de não crença.

Dentro de seu racionalismo, levei-o a falar sobre seu mundo
emocional. Embora amasse sua esposa, seus filhos e fosse um
homem provedor, tinha dificuldade em expressar o que sentia
através de palavras. Disse que se emocionava quando as pessoas,
em filmes, diziam mutuamente que se amavam. Nunca tinha dito à
mulher ou a um dos filhos, que os amava. Havia um bloqueio que

o impedia. Seu excesso de racionalismo, aliado à sua descrença
em Deus e a falta de um sentido espiritual na vida, foram fatores
determinantes para sua depressão. Por que isso não fora visto e
trabalhado em suas psicoterapias anteriores? Provavelmente
porque ele mesmo não permitia, nem dava "autorização" aos seus
psicoterapeutas.
Ele resolveu alterar sua visão de mundo, não se considerando
o único provedor de sua família, nem acreditando que sem
ele, ela desapareceria. Havia, inconscientemente, uma substituição
em seu psiquismo. O lugar que deveria estar sendo inconscientemente
ocupado por Deus e pelo sentido superior da vida, foi
tomado por uma compreensão equivocada dele mesmo.

O homem depressivo é extremamente pessimista e com
maior propensão à auto-destruição do que a mulher. Sua vergonha,
fruto da cultura racional em que se insere, o prejudica e impede
que encontre alternativas emocionais para a saída de seu conflito.
Não tem o hábito salutar de conectar-se emocionalmente ao
inconsciente, liberando seus conteúdos pela afetividade e verbalização
dos sentimentos, características básicas do feminino.

O homem depressivo é frágil e resistente a terapias, preferindo
a companhia de amigos, quando não adere facilmente ao álcool
como mórbida solução. Seu racionalismo o leva a buscar a maneira
mais fácil para sair da crise. Confunde depressão com tristeza,
buscando a alegria e o prazer de forma imediata. Quer resolver
um problema criando outro. Em muitos casos, se torna alcoolista,


adenáuer novaes

viciado em jogo ou tenta se "distrair" com mulheres mais jovens,
em relacionamentos ocasionais.

Os motivos mais comuns para a depressão nos homens
estão relacionados com suas vitórias no mundo. Motivos amorosos
são menos comuns. Dizem respeito, dentre outros, a profissão, a
finanças, ao patrimônio material, ao complexo de superioridade
consciente, a problemas sexuais e a alguma derrota na qual sua
honra esteja em jogo.

Relutam muito em entrar em contato com sua natureza íntima,
adiando o encontro com o sentido da própria existência no plano
físico. Não descobrem muito facilmente que a vida é educação
dos sentimentos para a compreensão das leis de Deus e
conseqüente encontro com a própria felicidade.

A saída é encontrar uma razão para viver que não seja
exclusivamente vencer o mundo externo, mas conhecer seu mundo
interno, educando e enriquecendo seus sentimentos, para que a
felicidade se torne possível.


Depressão na mulher

Mais do que o homem, a mulher tem motivos para
entrar em depressão. Afinal de contas, é ela que sente mais e se
conecta de forma mais verdadeira ao seu mundo inconsciente e
às suas emoções. É ela quem mais procura uma psicoterapia e se
interessa pelos temas subjetivos e espirituais. Essa característica
pertencente à mulher se deve ao psiquismo feminino, assumido na
encarnação. Todo espírito tem essa capacidade, pois já viveu em
corpos femininos e masculinos, podendo utilizar-se de habilidades
típicas quando lhe aprouver.

A sensibilidade feminina não pertence ao corpo feminino,
mas ao psiquismo que se molda e se predispõe às habilidades
típicas. Quando aquela sensibilidade não encontra meios de
exteriorizar suas emoções e sua afetividade, volta-se contra si
mesma, numa alquimia interna inconsciente e prejudicial.

Na mulher a depressão é muito forte, exatamente pela
sensibilidade que possui. Muito embora ela tenha maior tolerância
à dor, é mais sensível ao sofrimento. Sofre mais do que o homem
pela hiper-sensibilidade emocional que lhe caracteriza o psiquismo.

Sua saída terá que ser pela via emocional, tanto quanto a
do homem. Uma pequena dose de racionalidade será necessária
para que não venha a submergir no próprio universo afetivo que
constrói. Mesmo tendo essa facilidade de transitar no mundo
emocional, indo e vindo naturalmente ao inconsciente afetivo, ela


adenáuer novaes

não pode esquecer que lida com algo extremamente poderoso e
não totalmente conhecido. É um terreno movediço, no qual não
deve permanecer por muito tempo. A relação entre emoções e
instintos é muito intensa, podendo facilmente ter impulsos intercambiáveis.
A vida também pede pragmatismo e ação conseqüente,
para que o ser humano não se demore no mundo obscuro dos
instintos e da emotividade pueril.

A saída da depressão exigirá maior dose de maturidade
por parte da mulher, sendo um desafio energético de grande porte.
Parecerá, a ela, que suas energias estarão esgotadas na depressão,
porém sempre lhe restarão forças inesgotáveis para a superação
dos desafios não atendidos.

Mesmo que deseje a morte como recurso providencial para
barrar seu sofrimento, terá menos tendência do que o homem
para atentar contra a própria vida. Suas tentativas são mais
frustradas do que as dos homens.

As mulheres procuram mais ajuda para a cura da depressão
do que os homens. Nem sempre procuram camuflar o que se
passa em seu mundo íntimo. A mulher, quando quer fugir de sua
depressão, nem sempre racionaliza, buscando, em muitos casos,
atravessar aquela fase, aumentado sua auto-estima. É comum
procurar melhorar sua aparência física.

Os motivos mais comuns para a depressão em mulheres
estão relacionados a desilusões amorosas, sentimento de não ser
amada, perda de entes queridos, doenças crônicas, complexo
de inferioridade consciente, traição conjugal, solidão, mágoas,
rejeições, menopausa precoce e casamento frustrado.

Enquanto a depressão no homem o torna irritadiço, com
tendência à racionalização e à fuga para atividades externas, na
mulher, a torna mórbida, com tendência para a auto-piedade e a
permanecer num maior contato com seu próprio inconsciente. Em
ambos, a depressão submete a mente a um regime de contenção
de energia para a vida.


Depressão na separação

As relações maritais impõem obrigações aos
cônjuges, nem sempre bem aceitas por eles. Os sentimentos que
um tem pelo outro, muito raramente têm a mesma intensidade e,
às vezes, não são da mesma natureza. Quem gosta mais, se
submete mais e, portanto, cobra mais do outro. Tanto um quanto
o outro, criam expectativas quanto ao comportamento de seu
cônjuge. Na maioria dos casos, essas expectativas são frustradas,
trazendo cobranças de ambos os lados.

Quando as separações se dão por traição conjugal, a
depressão está mais presente. A traição atinge emoções que se
encontravam adormecidas em quem lhe sofre as conseqüências.
Quando inesperada, provoca sentimentos de ódio e vingança
contra o outro e, muitas vezes, contra a terceira pessoa que surgiu
na relação. A raiva aumentará a dor que se sente e contribuirá
decisivamente para a instalação da depressão.

A depressão poderá acontecer tanto no homem quanto na
mulher, e terá maior predisposição a ela aquele que tiver maior
sentimento de amor pelo outro.

A maior lição que o separado deve tirar da ocorrência é
que ninguém está obrigado a amar alguém a vida toda, nem ter de
viver obrigatoriamente ao lado de alguém que não ama. Deve
também aprender a viver sem depender emocionalmente de
alguém.


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A depressão que porventura venha a ocorrer depois de
uma separação deve ser combatida com a compreensão do
significado da desunião e com a eliminação da culpa pelo ocorrido,
porém assumindo cada um a responsabilidade que lhe cabe no
processo.

Nada, nem ninguém, vale o sofrimento e o sacrifício da
manutenção da dor pela separação. Sofrer pelo que passou, sem
aprender com o ocorrido, se assemelha a chorar pela falta do que
não se pode ter. Tudo na vida passa e nenhum minuto deve ser
eternizado.

Separações ocorrem por vários motivos. Não se pode ter a
certeza de que a relação marital durará para sempre. Enquanto o
número de casamentos oficiais decresce, o de separações aumenta
em maior proporção. As separações têm promovido uma mudança
nas expectativas de quem se casa. As mulheres, principalmente,
estão tomando consciência que o casamento é "para sempre,
enquanto dure", isto é, duram até quando seja possível, pois as
pessoas estão tendo mais coragem de se mostrar durante a relação.
Já não é mais um estigma ter se separado de alguém.

A própria sociedade está encontrando alternativas para que
os separados não se sintam deprimidos, criando espaços próprios
para eles. Eventos festivos, grupos terapêuticos específicos, lazer,
clubes, dentre outros espaços, estão surgindo para aqueles que
estão separados.

A vida não termina com uma separação, ela apenas muda
de cenário, no qual outros personagens aparecem e o final não
está mais pré-determinado. Nesse novo cenário, felizmente, não
há mais certeza quanto ao final, mas apenas a expectativa de como
será. No cenário anterior tudo estava aparentemente em seu lugar,
não havia graça, pois o final feliz era sempre esperado, sem que
houvesse tranqüilidade, caso mudasse.

Com a separação as pessoas passam a saber que ninguém
pertence a ninguém e que o outro entra em sua vida para que com
ele realize seu mundo interno. A ninguém cabe exclusivamente


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esse papel, pois qualquer outra pessoa, com a qual se tenha
afinidade, poderá ocupar aquele lugar especial.

A depressão é um sinal de que aquela união era imatura e
representava uma existência artificial. Sua ocorrência serve como
forma de percepção do vazio existencial anteriormente não
percebido, cujo preenchimento será a cura da depressão.

Quando o ser humano reencarna, planeja algumas experiências
pelas quais deseja passar, outras, ocorrem à sua revelia,
surgindo como compromissos cármicos. Muitas vezes, combinam-
se previamente reencontros, em face de afinidades existentes,
visando a união a dois para a realização pessoal e coletiva. Quando
se faz esse planejamento, grava-se inconscientemente a união
desejada, que foi idealizada como duradoura para aquela
encarnação. Sua não realização, ou interrupção, gerará o sentimento
de culpa ou de frustração. A depressão poderá ocorrer por
causa de um desses motivos. Nem todas as uniões conjugais são
planejadas, pois existem, no plano material, primeiros encontros
para muitos casais. Muitas separações não geram carma negativo,
nem trazem conseqüências ruins. A felicidade de uma pessoa não
está atrelada a ter de permanecer casado ou a se separar.

Apequenar-se após uma separação, fugindo para a
depressão, é não querer encontrar sua verdadeira natureza,
independente e madura, para viver a própria vida.


Depressão à noite

A depressão é uma doença noturna. Leva o
indivíduo ao contato com a escuridão do inconsciente e a voltar-
se para o invisível e o obscuro à consciência.

Em geral, a depressão se acentua no período noturno e aos
domingos. A noite é o período em que normalmente as pessoas
estão em casa, onde não se está vivendo o mundo externo ou da
persona. Em casa se vive a vida como ela é e não é possível
esconder-se por detrás da máscara social. No grupo familiar todos
se conhecem e não conseguem camuflar seu estado de espírito. A
rotina e a falta de motivação para ficar em casa contribuem para
que surja um sentimento de vazio e de tédio.

Quando a pessoa vive sozinha, a noite é sua terrível companheira,
se aliada à depressão, pois o nada e o vazio que ela sugere
se parecem com o obscuro terreno do inconsciente. Procurará
preencher o período noturno com rituais domésticos, dentre eles,
assistir filmes televisivos. Terá seus canais preferidos e seus horários
muito bem definidos. Será intima de personagens com os quais se
identifica perfeitamente, reduzindo seu senso crítico, em função
deles. Não permite que sua rotina seja alterada, a fim de que o
vazio não volte a aparecer. Assim procede por se sentir segura,
sem atentar ao fato de que sua atitude poderá lhe custar um preço:
a prisão inflexível em seu próprio mundo. A vida solitária, na grande
maioria dos casos, é uma expiação, cuja causa poderá estar, tanto


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na vida atual, por opção, ou em vidas passadas. Neste último
caso, por hábito ou conseqüência de escolhas inadequadas.

Os domingos parecerão intermináveis. A liberdade de
escolher o que fazer, antes um bem precioso, torna-se um
problema, pela falta de prazer em estar vivendo a rotina ou mesmo
em realizar coisas novas. Nada lhe traz alegria, nem prazer. Seu
trabalho, quando o tem, por ser uma obrigação, nem sempre lhe
traz prazer, mas, pelo menos, diminui a quantidade de horas vazias.

A noite convidará o depressivo para a reflexão, porém
faltar-lhe-á a saída que deseja. Não encontrando a fórmula mágica
que o desligue daquele estado tedioso, a noite será sempre negativa
e parecerá maior do que é de fato.

Programas noturnos serão criados, saídas para noitadas
serão experimentadas, porém tudo em vão. A noite continuará
sendo sua companheira de depressão, a avisar que o inconsciente
convida à reflexão. Não adianta fugir do inconsciente, pois aonde
se for, ele estará junto.

Uma depressiva, cujo processo acompanhei por longo
período, adquiriu o hábito de ocupar parte de sua noite, entre as
vinte e as vinte e três horas, com uma atividade remunerada. Ela se
ocupava em fazer pequenas embalagens (caixas) de papelão para
presentes. Aprendeu a confeccioná-las e a pintá-las por fora. Essa
atividade, que lhe rendeu algum dinheiro, mascarou a depressão
por poucos meses, pois não lhe curou a doença, nem lhe mostrou o
seu núcleo. Com o tempo, suas horas de sono ficaram reduzidas,
aumentando ainda mais sua insônia e cansaço diurno.

A noite foi feita para dormir, isto é, não só para o descanso
corporal, como também para o contato com o mundo espiritual,
do qual se vem e para o qual se retorna. Sem esse contato, que
corresponde à conexão direta com o inconsciente, a consciência
não suporta o excesso de atividade. A tensão gerada pela vida
consciente necessita ser aliviada no inconsciente, e vice-versa.

O receio da companhia da noite, e de passá-la em claro,
leva o depressivo a acostumar-se com medicação para dormir.


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Seu sono não será normal, mas induzido. Seu corpo sentirá os
reflexos dessa indução, apresentando um cansaço maior ao acordar
e seu envelhecimento enviará sinais mais cedo.

A saída será sempre a busca de contato com o núcleo
causador de sua depressão. Enquanto não o consiga, deverá
preencher suas noites com as atividades que normalmente
desempenhava antes de adoecer e com o sono natural.


Depressão e obesidade

A obesidade incomoda qualquer pessoa. Seja
homem ou mulher, as restrições são significativas e, quanto mais
cedo ela ocorra, mais complexos e limitações produz. Nem
sempre decorre do descontrole alimentar ou da ansiedade,
podendo ser produto de desorganização hormonal. Qualquer que
seja a causa orgânica, é visível que se trata simbolicamente de um
processo de retenção e poder. O aumento corporal corresponde
ao desejo inconsciente de reter e controlar.

O desconforto físico e psíquico promoverá novos hábitos
e uma forma de viver mais retraída. Os olhares dos outros passam
a incomodar e o obeso se vê sempre recriminado, como se ele
assim fosse por desleixo ou gulodice. Em seu pensamento, ele
acha que ninguém é capaz de avaliar adequadamente sua luta mal
sucedida para emagrecer.

Os dias passam sem que o obeso consiga excluir sua
imagem da consciência, que o persegue exigindo ação. Sua
impotência e incapacidade para rapidamente resolver seu conflito
geram ansiedade, cobrança e angústias, as quais resultam em
sofrimento e conseqüente depressão.

Vive atormentado e preocupado com seu destino. Se jovem,
adquire logo um complexo de inferioridade consciente, quando
se compara aos seus amigos e colegas. Se adulto, acredita que
envelhecerá daquela forma, tornando-se amargo e, às vezes, vulgar.


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Nenhuma alegria é capaz de resolver seu problema, salvo quando
alguém lhe diz ou quando constata pela balança, que emagreceu
um pouco. Todo o seu mundo gira em torno de comida e peso.

A aceitação da imagem corporal, confundida equivocadamente
com sua identidade psíquica, torna-se difícil, em face da
idealização já feita, de uma outra, padronizada e socialmente mais
vantajosa.

Sua saída é a continuidade, por fatores ligados à saúde, de
seus esforços em alcançar um corpo mais sadio, ao mesmo tempo
em que o aceita como ele é, independente das desvantagens sociais
que existam. Isso não significa acomodar-se psicologicamente às
circunstâncias físicas, mas uma redução de sua importância.
Entendendo que sua personalidade não é seu corpo, nem se estrutura
nele, mas sim na forma como o concebe e lhe atribui importância.
Entrar em depressão por causa dele, mesmo tendo feito tudo para
tentar adequá-lo a uma auto-imagem idealizada, sem sucesso,
poderá ampliá-la. Na depressão, pela tendência ao excesso
alimentar e em virtude da própria compleição física, haverá aumento
do apetite, reforçando os estados mórbidos existentes.

Remédios para emagrecer, que comprometem a cura da
obesidade de forma milagreira, geralmente frustram seus
consumidores, pois além de exigirem dietas que nunca foram
seguidas, impõem exercícios e limitações de difícil alcance. Trazem
riscos pelos conhecidos efeitos colaterais que causam ao
organismo. Acabam por favorecer a dependência e a sensação
artificial de emagrecimento. Só devem ser administrados por
prescrição médica e quando necessários ao equilíbrio do
funcionamento do organismo.

Algumas pessoas, recém saídas da obesidade, principalmente
de forma brusca, após uma intervenção cirúrgica reparadora,
estando ou não em depressão, podem iniciar esse processo ou
acentuá-lo. Após longo período de obesidade, será necessária
uma adaptação ao novo corpo. O indivíduo não está acostumado
à nova imagem corporal e necessitará de algum tempo para


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adaptar-se. Além disso, poderá frustrar-se pela ausência de
mudanças significativas em seu modo de pensar. As expectativas
que tinha de mudanças em sua vida, após o emagrecimento, não
ocorrem de imediato. Intervenções cirúrgicas em obesos exigem
pós-operatórios demorados, quando não requerem novas cirurgias
corretivas. O processo demora alguns meses ou mais.

O tempo de obesidade levou a pessoa a hábitos típicos e
ao retraimento social e afetivo. Novos hábitos terão que ser
adquiridos, razão pela qual o obeso deve ter paciência e entender
que uma nova vida começa. Seria de bom alvitre que fizesse uma
psicoterapia, para ter um acompanhamento no seu processo de
adaptação.

A pessoa obesa tem mais tendência à depressão, principalmente
por conta de sua insatisfação consigo mesma. Quando
tentam, por muitas vezes, através de intermináveis regimes,
emagrecer sem sucesso, acabam por se deprimir. As limitações
impostas pela condição física, reduzindo sua vida a poucos
afazeres, tornam-na incompleta e sem horizontes.

Acompanhei uma jovem de vinte e cinco anos que era obesa
desde os quinze. O início de sua obesidade ocorreu logo após a
separação de seus pais. Aquele evento alterou seu humor e sua
disposição, tornando-a uma adolescente ansiosa e medrosa quanto
ao seu futuro sem seu pai em casa. Tinha receio de que ele não
continuasse a ser provedor da família e ela regredisse em sua
condição sócio-econômica. A partir de então passou a comer
mais e engordar muito. Retraiu-se, complexada por estar fora
dos padrões estéticos que adotava e admirava. Tornou-se uma
adolescente tímida, insegura e de poucos amigos. Deprimia-se e
sofria todas as vezes que se deparava com simples problemas,
antes de fácil solução.

Durante a psicoterapia procurei fazê-la entender que
possuía um alto nível de exigência quanto à própria vida. Queria-
a de uma determinada forma, não admitindo que fosse diferente.
Deveria se preparar para viver a vida como ela se apresentasse,


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não se frustrando se fosse diferente do que desejava. Deveria sair
do paraíso infantil em que se colocou, no qual a vida não tem
derrotas, revezes ou tristezas, entendendo que as coisas não
acontecem como se imagina, mas também, e principalmente, como
as enxergamos.

Seu processo de emagrecimento começou a ocorrer, depois
de muitas dietas mal sucedidas, quando se decidiu a sair da infância
psicológica em que vivia. Saiu da depressão antes mesmo de
emagrecer.

Existem causas espirituais para a obesidade que escapam
à análise simples. Em alguns casos, trata-se de espíritos que
abusaram da alimentação no passado e continuam sua obesidade
no presente. As matrizes perispirituais permanecem forjando o
mesmo formato do corpo. Em outros casos, são antigos viciados
em substâncias químicas que provocaram alterações perispirituais.
Em todos os casos, devem acostumar-se a dietas rígidas e a uma
educação alimentar adequada, a fim de quebrar a cadeia mórbida
que provoca a obesidade.

Caso a cura da obesidade não seja possível, o indivíduo
deve entender que seu corpo oferece múltiplas oportunidades de
aprendizado, independente de sua compleição física. Deve
adequar-se ao que é possível ser vivido, independentemente de
continuar perseguindo uma melhor forma física. O corpo não é o
limite do espírito, pois tem sua mente para múltiplas formas de se
expressar no mundo e de aprender.


Depressão e gastos excessivos

Aansiedade nem sempre está associada à depressão.
O ansioso antecipa o futuro, desejando inconscientemente
que as coisas se realizem antes de seu tempo. Ele encurta o tempo
necessário para que as coisas aconteçam. Situa-se além de seu
tempo e de sua época. O ansioso tem, em geral, o hábito de não
concluir o que começa, pois seus pensamentos e percepções o
levam adiante, para novas experiências. Sente dificuldade em
fechar ciclos na vida, deixando em aberto muitos processos mal
resolvidos. Ao contrário, o depressivo deseja que o tempo não
passe tão devagar, pois não está vivendo experiências importantes
nele. Não antecipa o futuro, pois vive no passado, que não lhe sai
da cabeça. O ansioso, principalmente se é eufórico, poderá ter o
hábito compulsivo de gastar.

No depressivo, a compulsão por gastar irá ocorrer para
compensar sua baixa auto-estima, aumentando sua sensação de
controle e poder em sua vida. Uma boa auto-imagem é trabalhada
para superar o pensamento de que se está depauperado. O hábito
natural de comprar roupas ou se embelezar, tendo condições para
tal, sem excessos, não é sintoma de fuga ou camuflagem da
depressão. A compulsão desmedida e irresponsável por causa
do endividamento crescente e descontrolado, não sendo
decorrente de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), de
alguma falha de caráter ou outro transtorno, pode ser atribuída à


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fuga da depressão. Em alguns casos, o depressivo encontra
amparo em outras pessoas que lhe cubram os gastos, não sendo
por isso tão visível seu descontrole, principalmente quando se
trata de alguém com boas condições econômicas, mesmo que
seja dependente financeiramente.

Algumas pessoas, quando se encontram no estado prédepressivo,
apresentam como sinal o aumento de gastos em cartões
de crédito. Perdem o controle sobre sua vida financeira, muitas
vezes adquirindo objetos que nem sempre usam ou de que não
necessitam. Assim agem para compensar o tédio da própria vida
ou para agradar a si mesmas. Andam muito em shoppings,
desfilando em roupas que ainda não terminaram de pagar, fazendo
questão de mostrar etiquetas famosas ou entrar em lojas caras.
Tentam compensar seu complexo de inferioridade, evitando ao
máximo, de forma inadequada, entrar em depressão. Não chegam
ao descontrole total, porém gastam boa parte de suas economias
produzindo-se esteticamente.

Pessoas que se excedem em seus gastos, feitos para
compensar a depressão, costumam se endividar com seus amigos,
dos quais se afastam por vergonha, aumentando ainda mais sua
carência afetiva. Costumam aparecer apenas em momentos
festivos, nos quais a cobrança se torna difícil.

Atendi uma jovem de vinte e dois anos, de boas condições
financeiras, que entrara em depressão após o término de um
relacionamento amoroso. Seu primeiro e único namorado, com
quem já se relacionava havia cinco anos, resolveu terminar por
estar gostando de outra pessoa. Ela entrou em depressão desde

o primeiro dia do término. Amava-o e se sentia amada, não
esperando tão grave desfecho. Sentiu-se traída, com raiva e com
vontade de morrer. Influenciada por amigas, resolveu "dar o
troco". Começou a se relacionar com vários rapazes e ir a festas
quase todos os dias. Comprava roupas e mais roupas para se
sentir mais bonita, tentando camuflar seu estado íntimo. Queria
esquecer o passado. Ela recebia uma considerável mesada de

Alquimia do Amor

seu pai, que não tinha conhecimento de como a filha gastava. Seu
exagero na compra de roupas, bolsas, sapatos e adereços era
tanto que chegou ao ponto de penhorar jóias para comprar mais.
Seu pai veio a descobrir, por acaso, quando viu as contas de seus
cartões de crédito. Após brigas e discussões, tomou-lhe os cartões,
talões de cheques, o carro, ligou para várias lojas nas quais ela
tinha crédito e ele era seu avalista, alertando para o risco do não
pagamento. Após isso, entristecida e envergonhada perante
terceiros, tomou vários comprimidos para dormir, querendo
morrer. Esteve internada e saiu mais depressiva ainda, para
tratamento psiquiátrico e psicológico especializados. A medida
paterna não avaliou os riscos da repressão brusca e o perigo do
retorno intenso à depressão.

A saída para o depressivo, que tenha compulsão por gastos,
será a restrição ao seu próprio crédito, por sua própria consciência,
além da reflexão sobre o valor do dinheiro e da importância da
energia para adquiri-lo. Tal saída se dará com a ajuda terapêutica
profissional. Aquela restrição certamente o fará entrar em contato
com o núcleo de sua depressão, obrigando-o ao encontro de sua
cura. Necessitará de um longo período de abstinência de crédito,
auto-imposto, para curar-se da compulsão, resultante da tentativa
de mascarar sua depressão.

Refletir sobre a forma como tentou mascará-la poderá levar

o depressivo ao núcleo de sua doença. Como tentou querendo
melhorar sua auto-imagem externa, talvez ele esteja relacionado
a uma exigência muito grande em relação à inferioridade que
internamente sente. Deve reduzir seus critérios de beleza e de
percepção idealizada de si mesmo.

Depressão e crise financeira

A depressão provocada por crises financeiras é
mais comum nos homens, por conta de sua maior propensão ao
risco nos investimentos. Envolvem-se em negócios arriscados,
tendo maior probabilidade de fracasso. Alguns, por contingências
do mundo globalizado, sofrem prejuízos financeiros de grande
monta, perdendo bens e valores vultosos, que lhe ameaçam o
patrimônio acumulado durante anos. Apegam-se de tal forma ao
que amealharam que não conseguem vislumbrar a vida sem seus
bens. São prisioneiros da matéria e do dinheiro.

Não construíram a vida dentro de uma perspectiva espiritual,
nem aprenderam a não ter. Acreditam que o fazem para dar melhor
conforto à família, evitando perceber que também o fazem por
orgulho, vaidade e competição.

Acompanhei o caso de um homem casado, pai de quatro
filhos, dono de um negócio de médio porte, ligado ao ramo de
exportação, cujo sócio lhe deu um grande prejuízo, levando-o a
falência. O pouco patrimônio que tinha conseguido fora passado
para o nome da empresa, e dado como garantia de empréstimos
vultosos. Perdera tudo de material que tinha. Entrou em depressão
e em crise de vida. Tentou vários tratamentos, sem sucesso. Por
cerca de oito meses sofrera muito, isolando-se, engordando em
casa e maldizendo a vida. Advieram outras doenças, pela falta de
atividades físicas e excesso de preocupação. Sua casa, onde antes


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gozava de paz, agora era um campo de batalha, no qual todos
brigavam com todos. Estava à beira de uma separação. Evidentemente
culpava seu ex-sócio, que se mudara para outro país,
deixando-o com as dívidas.

Quando me procurou, no Centro espírita, disse-lhe, após
ter contado o que ocorrera, para sua surpresa, que fora a melhor
coisa que lhe acontecera. Falei que ele entenderia a importância
do ocorrido quando saísse da depressão. Pedi que procurasse
ajuda psicológica, indicando um colega para atendê-lo. Aconselhei
também que procurasse conhecer o Espiritismo, já que ali estava,
pois seus princípios lhes seriam úteis na vida.

Toda semana o via no Centro, assistindo as palestras que
fazia nas quintas-feiras. Conversávamos ao final, quando ele me
colocava a par de sua terapia e de seus estudos espíritas. O
acompanhamento psicológico, contribuía para que desenvolvesse
seu senso crítico, encontrando meios adequados para a solução
dos problemas que herdara da empresa falida e entendesse a si
mesmo. O conhecimento do Espiritismo o levava a compreender
a vida e seus intrincados mecanismos educativos. Percebia que
seu tombo financeiro era o começo de seu crescimento espiritual.
Sua depressão representava o vazio existente entre sua vida e sua
individualidade. Estava por demais distanciado de sua verdadeira
natureza.

A cada dia via seu progresso e a saída gradativa da depressão,
com a adoção de outro modo de vida, inclusive arrastando a
família para uma nova etapa do crescimento espiritual do grupo.
Sua queda foi boa para todos, pois souberam aproveitar a crise
para efetuar mudanças, contando com o auxílio psicológico e
espiritual.


Depressão e perdas

A vida não é um paraíso, nem se constitui só de
vitórias. Há naturais perdas e derrotas, que fazem com que o
espírito venha a crescer, tanto quanto com suas vitórias e seus
sucessos. Perdas e derrotas não são necessariamente expiações,
decorrentes de equívocos passados. São também provas que
todos atravessam numa ou noutra encarnação. Em suas experiências
reencarnatórias, o espírito aprende a ter e a não ter, tanto
quanto a ser e a não ser. Ser e não ser são experiências, nas quais

o espírito enverga posições de destaque e de inexpressividade
social.
Constituem perdas necessárias aquelas que todos passam
numa encarnação, que não deveriam ser motivo de sofrimento
nem causar transtornos. A principal delas é a morte de uma pessoa
querida. A morte é um evento compreensível e inevitável por muito
tempo. Todos deveriam estar preparados para sua ocorrência
com antecipação.

Algumas perdas são: término de um relacionamento amoroso,
rompimento de uma relação com um amigo, do emprego,
de dinheiro por qualquer motivo, da saúde física, do equilíbrio
psicológico, de bens materiais, do apoio emocional de alguém,
de oportunidades melhores na vida, de cargos de comando ou
chefia, do convívio com alguém, de um rival importante, de uma
vaga profissional, dentre outras.


Alquimia do Amor

Deprimir-se por causa de perdas não digeridas reflete a
imaturidade do espírito, que não aprendeu a desapegar-se das
coisas e das pessoas, nem a ressignificar os eventos da vida como
oportunidades de aprendizado.

Ninguém deve se obrigar a sofrer por causa de algo cuja
causa não teve sua colaboração pessoal direta. Tais eventos, cujas
causas não dependeram da intenção direta de quem lhes sofre as
conseqüências, devem ser tomados como lições que a vida manda
para o aprendizado do espírito.

Perder, tanto quanto ganhar, são experiências das quais
se devem tirar lições para o enriquecimento do espírito. Não
fazer isso é perder tempo na caminhada, exigindo nova e imprevisível
lição.

Cada uma das perdas, necessárias ou não, pode ser aproveitada
para o crescimento do espírito. Quem, por exemplo, se
encontra na triste experiência da perda por morte de alguém muito
querido, não deve deixar de aprender algo. Primeiro, a perda não
é devida à não existência da pessoa cuja morte afetou o corpo
físico, mas à separação por algum período de tempo, geralmente
longo. Portanto, deve entender que se trata de uma separação,
diferente daquela entre cônjuges que se divorciam, pois, neste
último caso, geralmente surge uma inimizade. A separação pela
morte deve ser compreendida como uma necessária perda, para

o prosseguimento da vida de ambos, isto é, de quem foi e de
quem ficou. O desencontro temporário, provocado pela morte,
tem razões superiores, desconhecidas principalmente por quem
ficou. Entristecer-se, chorar e lamentar a morte de alguém, em
face da íntima ligação e do sentimento de amor que se tem, são
reações naturais. Porém, a excessiva lamentação e o sofrimento
interminável, seguidos de depressão, por aquele motivo,
representam uma dependência psicológica prejudicial. O que
parecia ser amor se tornou, por um mecanismo alquímico interno,
capaz de enclausurar o ego num complexo auto-afetivo.
Provavelmente a pessoa se conectou àquilo que o morto

adenáuer novaes

representava e que, com sua ausência pressente a ameaça de
perder, ou que perdeu. Precisa enterrar seu morto, consoante a
afirmação de Jesus, em Mateus 8:22 e Lucas 9:60, quando
afirmou: "Segue-me, e deixa aos mortos o sepultar os seus
próprios mortos.". Quem desencarnou saiu do mundo material,
não tendo mais cidadania nele. Tudo que lhe pertencera, inclusive
obrigações, passa para seus descendentes que ficaram. Quem
lhe chora a morte deverá, um dia, começar a fechar o ciclo de sua
vida em seu meio carnal. Tudo isso sem perda do sentimento de
amor que porventura exista.

O término de um relacionamento amoroso com alguém
também pode provocar estragos no ânimo da pessoa, porém, da
mesma forma, o sofrimento pela perda tem limites. O limite é um
certo tempo de "luto", no qual se aproveitará para a percepção
de si mesmo, agora sem a presença do outro. Sem aquele "luto",
corre-se o risco de passar de um relacionamento a outro,
inconsequentemente, tentando driblar o sentimento de perda e de
inferioridade latentes, sem viver a perda necessária. É um tempo
para ficar só, sem se relacionar amorosamente com alguém, para
avaliar as circunstâncias que motivaram o término, bem como para
se conhecer melhor sem aquele vínculo.

O corte da relação com um amigo devido a algum tipo de
desavença ou divergência de opinião, deve, sempre que possível,
ser reatado, mesmo que se tenha razão na questão que culminou
com o rompimento. Depois de se fazer a tentativa de reatamento
sem sucesso, deprimir-se seria valorizar demais a relação, tanto
quanto a pessoa, portanto com prejuízo de si mesmo. O rompimento
deverá levar a pessoa a uma reflexão sobre a supervalorização
inadequada. Caso entre em depressão por aquele motivo,
deve trabalhar seu amor-próprio.

A perda de um emprego que garantia sua subsistência
realmente é um evento preocupante, principalmente para quem
passou da meia-idade. De repente, aquilo que lhe garantia a família,
poderá não mais ocorrer. Isso desestabiliza a vida de uma pessoa.


Alquimia do Amor

Ao jovem, nem tanto, pois a perspectiva de conseguir novo
emprego é mais visível. No entanto, ao adulto com família para
manter, a perspectiva é mais reduzida, sobretudo, certamente,
por conta da existência de obrigações já assumidas. Mesmo sendo
um evento grave, não levaria alguém à depressão se não existissem
fatores outros intervenientes, reforçadores para a instalação do
processo. Quando há insegurança anterior à perda do emprego,
além de um despreparo ou má qualificação profissional, talvez
haja mais probabilidade para a entrada em depressão. A saída
será, em primeiro lugar, estando ou não desempregado, qualificar-
se melhor para o desempenho de uma ou mais profissões. Em
segundo lugar, não desistir e, desde o primeiro dia de desemprego,
procurar outro trabalho. Caso haja demora em conseguir algo do
mesmo nível que o anterior, isto é, mesmo que seja para ganhar
menos, deve-se aceitar provisoriamente. Aceitar um emprego de
qualificação inferior visaria manter a pessoa em atividade. Caso,
ainda assim, a pessoa entre em depressão, provavelmente devem
existir outros fatores interferentes que precisam ser descobertos
e melhor avaliados.

As perdas financeiras, principalmente as de pequena monta,
fazem parte da vida de todos que aprenderam a ganhar dinheiro.
Perde-se aqui, ganha-se ali. Quem sabe ganhar e gastar não se
preocupa em perder, principalmente quando não houve incompetência
em usar o dinheiro. Entrar em depressão porque se perdeu
ou deixou de ganhar algum dinheiro é atraso de vida, pois ela
segue seu ritmo independente do valor que não se ganhou. Dinheiro
com o qual não se contava não existia.

Conheci uma família cujos componentes juntavam dinheiro
para comprar uma casa, pois moravam de aluguel havia muitos
anos. Já tinham juntado dinheiro suficiente para a compra e isso
seria um bem para a família, que se veria livre do aluguel. A poucos
dias de fechar a compra do imóvel, uma das filhas do casal adoeceu
gravemente, necessitando de recursos vultosos para o tratamento.
Lá se foi todo o dinheiro da aquisição do imóvel. Frustrou toda a


adenáuer novaes

família que tinha a expectativa da compra. Mesmo tristes, todos
compreenderam que não era o momento para a compra referida
e que a vida mandara um sinal para tal. Cuidar da saúde da filha
era mais importante naquele momento. Há casos em que a perda
financeira não se dá por um motivo tão compreensível como a
saúde de alguém. Mesmo assim, aquela perda, por um motivo
imponderável e não causado pelo próprio dono, provocando
prejuízos, é também um sinal da vida. A vida certamente estará
querendo mostrar outro caminho para que algum aprendizado
ocorra.

Perdas são sempre lições de desapego. Ocorrem também
para que se tenha a consciência de que ninguém está seguro de
nada, salvo daquilo que integrou em seu próprio ser, portanto, as
próprias lições da vida.


Depressão e transformação

A depressão, embora seja uma doença de
responsabilidade de seu portador, acaba por se tornar, por sua
própria incúria, uma exigência da vida para que o espírito realize
sua transformação ou metanóia. Durante sua ocorrência o inconsciente
está mais acessível à consciência, possibilitando seu acesso
com menor esforço do que no estado de normalidade psíquica.

Ela é um mórbido, porém oportuno, convite ao contato
com o que jazia adormecido e que precisa vir à luz da consciência.
Quando o motivo da depressão não é consciente, isto é, quando
não se percebe o seu núcleo, certamente este se encontra em
processos não resolvidos de vidas passadas. Acompanhei o
depoimento de um espírito desencarnado que se vinculara a uma
jovem mulher encarnada, portadora de depressão crônica. Falou
que a vira nascer e a ela estava ligado por laços de afetividade.
Fora sua companheira e juntos viveram uma vida muito feliz, até
quando ele se envolveu com bebida. Seu alcoolismo desestabilizou

o ninho familiar, tornando a convivência impraticável. Impôs sua
agressividade a todos, chegando a agredir fisicamente sua mulher
e aos filhos. Perdeu suas economias, seus amigos e, principalmente,
sua dignidade. Veio a desencarnar em circunstâncias lamentáveis,
imerso em doença grave e envolto em obsessões espirituais.
Afirmou que seu alcoolismo na vida passada teve início após uma
disputa por herança. Seus irmãos não lhe deram a parte que seu

adenáuer novaes

pai lhe havia prometido. Seu pai lhe prometera um pedaço de
terra, além daquele que naturalmente lhe caberia. Após a morte
do pai, seus irmãos fizeram uma divisão eqüitativa. Sem condições
para alterar a divisão, desiludido, tornou-se inimigo dos irmãos.
Isolado da própria família, passou a beber, dando início ao alcoolismo.
Desencarnado, permaneceu vinculado à casa, assistindo o
triste destino da família. Em pouco tempo, por falta de recursos,
seus filhos foram distribuídos pelas casas de parentes, pois sua
mulher adoecera, ficando sem condições de cuidar deles. Ela veio
a desencarnar dois anos após, não tendo com ele qualquer contato.
A morte os separou por breve período. Poucos anos depois ela
reencarnou, trazendo marcas psíquicas da encarnação anterior.
Sua tristeza, pelo casamento infeliz, pela perda dos filhos e pela
morte precoce, formava o núcleo de sua depressão. Seu estado
melancólico, desde a puberdade, o atraiu para uma nova
convivência, porém cada um numa dimensão. Ele, também por
ser depressivo, embora não mais bebendo, sintonizou com o
estado psíquico dela. Ele tinha consciência da situação; ela não.
Enquanto perdurar a ligação psíquica entre eles, a depressão será
mutuamente reforçada.

Ambos terão que fazer a necessária transformação profunda,
para sair do estado em que se encontram. Não será tão fácil.
Provavelmente o esforço maior deverá ser dele, que necessita de
ajuda para entender o problema. Preliminarmente, e de forma
consciente, deverá se afastar dela para evitar o agravamento do
seu estado psíquico. Depois, tratar de seu alcoolismo e do núcleo
de seu transtorno. Provavelmente seu problema está relacionado
à ambição e ao pensamento de que tem direito a bens que não lhe
custaram esforço na obtenção. O auxílio que foi buscar no Centro
Espírita em que se comunicou, certamente terá efeito. Ali funciona,
na dimensão espiritual, um grupo de atendimento a portadores de
transtornos perispirituais com reflexos psíquicos. Ela, por sua vez,
para livrar-se de sua depressão deverá fazer maiores progressos.
Seu núcleo está no fracasso experimentado na encarnação


Alquimia do Amor

imediatamente anterior. Dificilmente terá acesso consciente a ele.
Felizmente o esquecimento do passado, promovido pela nova
encarnação, atenua seu sofrimento. O novo córtex cerebral do
corpo não tem gravado as experiências do passado, recebendo
apenas, na consciência, as impressões emocionais e simbólicas
das mesmas. Terá de se transformar em várias dimensões de sua
vida. O fato de ter deixado involuntariamente os filhos ficará
marcado em seu mundo íntimo, promovendo uma profunda
carência afetiva. Na atual encarnação, provavelmente, se desdobrará
no carinho materno e no cuidado com os filhos que venha a
ter. No campo afetivo deverá se precaver, evitando submissão
ao companheiro. Procurará ter uma profissão e um emprego que
lhe garanta a subsistência a fim de evitar a derrocada que sofreu
no passado. Por esses motivos, sua depressão só será curada
com um esforço muito grande para sair do derrotismo, da saudade
e da frustração do passado.

A transformação que a depressão exige é mais profunda
do que se imagina. Uma nova pessoa deve surgir, qual fênix das
cinzas. A metanóia promoverá o nascimento da personalidade
adulta, sadia e feliz, que jaz dentro de cada ser humano.


Depressão e medicação

O recurso de que se tem utilizado a Medicina para a
cura da depressão é a prescrição de remédios. Esse limite é
imposto pela absurda crença de que o problema é exclusivamente
químico cerebral. Em geral, são medicações caras e de eficácia
duvidosa. São remédios antidepressivos, prescritos para uso por
tempo prolongado e associados a outros, que acabam por
mascarar os reais problemas da pessoa.

A crença citada vem da restrição àquilo que é experimentado
e observado matematicamente no comportamento humano. A
mente, dentro deste modelo, é produto do cérebro, portanto, o
remédio ao atingir este, altera aquela. Porém, fora da crença
mecanicista, os paradigmas são outros. Primeiro, a mente não é
produto do cérebro, muito embora interfira nele, sofrendo igual
interferência. São equipamentos que se justapõem e estão
intimamente interligados. Segundo, os processos mentais, dentre
os quais estão os transtornos, obedecem ao comando de uma
inteligência que não se localiza nem em um nem no outro. O espírito
é o senhor de todos os processos físicos, psicológicos,
perispirituais e espirituais propriamente ditos. É nele que está o
problema e, consequentemente, a solução. Toda cura da alma
deve se basear na experiência do conhecimento emocionalmente
vivido. As intervenções através de remédios ou de qualquer outro
meio físico atingem parte da questão. Curar o corpo, sem o


Alquimia do Amor

aprendizado do espírito, é tomar a parte pelo todo. Embora, em
muitos casos, a medicação seja necessária e fundamental para a
manutenção do equilíbrio do indivíduo, não é condição imprescindível,
nem erradica as causa espirituais.

É comum que o depressivo possuidor de problemas de
insônia tome remédios para dormir, postergando mais ainda as
possibilidades de cura de sua depressão. Tais medicações ampliam
a permanência do contato com o inconsciente, sem o devido
controle do ego. Eles aliviam parte do sofrimento da pessoa, que
não consegue dormir e relaxar, porém isso irá ocorrer de forma
artificial, viciando e prejudicando o organismo.

As medicações antidepressivas têm limites quanto à
possibilidade de cura e só devem ser administradas por recomendação
médica. Tomar medicação anti-depressiva, infelizmente,
tem sido o hábito de muitas pessoas que, por apresentarem alguns
sintomas, inadvertidamente, se auto-medicam. É também comum
encontrar pessoas que, por apenas afirmar ao seu médico que
estão em depressão, sem que sintomas básicos sejam observados,
saiam de suas consultas com uma receita de antidepressivo. Isso
caracteriza o pouco cuidado com a questão. Há uma espécie de
epidemia de diagnóstico de depressão, caracterizada pela freqüência
com que se tomam remédios típicos e pela facilidade em
adquiri-los. A pessoa vai ao seu médico com um diagnóstico pronto
e de lá sai acreditando que tinha razão, pois seu médico lhe
prescreveu o remédio próprio. Enganam-se e se intoxicam, pois
uma substância química não adiciona a experiência que falta ao
espírito que naquele estado se coloca. Só a experiência viva de
enfrentamento do conflito, com a integração do que falta ser
aprendido pelo espírito, poderá libertá-lo.

Quando atendi a senhora idosa que tivera um filho de seu
médico, observei que entrou em minha sala com uma sacola, da
qual não se separava. Ficava com ela no colo, segurando com
muito cuidado. Perguntei-lhe por que carregava aquela sacola.
Disse-me que eram seus inseparáveis remédios. Perguntei para


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que serviam e quantos eram. Tomava dezessete comprimidos
diários para vários problemas de saúde, sendo que nove deles
eram para depressão. Muitos anos de intoxicação, sem solução
de seu problema. Tinham o efeito psicológico de fazer com que
ela acreditasse que ficaria boa de sua depressão.

Remédios antidepressivos, utilizados para aumentar a
captação de serotonina, ampliando as sinapses cerebrais, promovem
os resultados químicos esperados, porém não alcançam a
transformação da mente como se deseja. Reduzem o sofrimento
do doente e, mesmo com alguns efeitos colaterais nocivos,
contribuem para seu equilíbrio orgânico. Nos casos de muita
ansiedade associada à depressão e de tendências suicidas, são
extremamente úteis e devem ser administrados por conselho
médico. Sua retirada só deve ser feita também por recomendação
médica.


Depressão e suicídio

Adepressão é a doença que mais influência exerce
na tentativa de morte e de suicídio. A falta de perspectiva na vida
e a ignorância quanto à sua continuidade, contribuem decisivamente
para que o suicídio ocorra. Quanto mais crônica a doença, mais
suscetível está a pessoa de cometer o suicídio. Quanto mais medo
tenha de viver, deseja a morte como uma tentativa de solução
para seus conflitos. Paradoxalmente, o suicida deseja uma alternativa
que solucione seu problema, portanto não deseja internamente
a destruição de sua vida. Sua coragem para destino tão atroz
deveria ser dirigida para a vida presente e para o enfrentamento
do que provoca seu sofrimento. Realmente lhe falta a consciência
da continuidade da vida e da impossibilidade de aniquilá-la com a
morte do corpo. Aconteça o que acontecer, a mente e o Espírito
sobrevivem à morte do corpo e, portanto, a depressão também
continua. Quando, infelizmente, comete o suicídio, após algum
tempo de sofrimento por causa do ato contra si mesmo, o
depressivo acordará na dimensão espiritual extremamente
arrependido, desejando desesperadamente voltar, pela
reencarnação, para resolver seu drama, porém ainda com medo
de nova recaída.

A pessoa começa com a vontade persistente de morrer e,
em seguida, com idéias de como isso poderia ser alcançado.
Inicialmente o pensamento é construído sem que nele haja a ação


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da pessoa, mas contando com a possibilidade de que algo
imprevisível ocorra, a exemplo de um acidente, que vitime o
depressivo. Posteriormente, com o aprofundamento da depressão,
a própria pessoa se coloca como agente do ato fatal. Daí em
diante, fica à espera da oportunidade da execução do infeliz ato.

Acompanhei o caso de uma médica, formada com doutorado
e especialização na França, relatado por seus pais. Eles me
procuraram no Centro Espírita para serem consolados pela morte
da filha, então com quarenta e quatro anos. Durante a conversa
que durou mais de uma hora, choraram a morte da querida filha,
cuja vida profissional fora brilhante. Disseram-me que era
portadora de depressão crônica desde a infância. O diagnóstico
era Depressão Endógena, isto é, provocada por fatores internos
desconhecidos. Mostraram-me um caderno de poesias escritas
por volta dos onze anos de idade, cujo conteúdo demonstrava
sua tristeza e desesperança com o mundo. Eram poesias melancólicas,
que falavam de um lugar distante no qual alguém gostaria
de viver. Seus pais falaram o quanto se sentiam orgulhosos da
filha, porém não entendiam porque ela fizera aquilo. Tinha tudo
que queria, era querida por eles e tinha um relacionamento afetivo
estável com seu namorado. Tinha boas condições financeiras, um
bom patrimônio material, era querida por seus pacientes e colegas
de profissão. Muito embora saiba que o suicídio é sempre um ato
grave, cujos fatores que levam alguém a cometê-lo são de natureza
muito forte, fiquei muito tocado pelo caso que os pais me
apresentavam. Cheguei mesmo a ficar zangado com ela, pois tinha
tudo que qualquer ser humano gostaria de ter, e mesmo assim
fugira da vida. Senti tanto, que não consegui conter as lágrimas
enquanto conversava com os pais dela. Consolei-os falando da
vida após a morte e do possível arrependimento de sua filha, pois
certamente constatara, em circunstâncias lamentáveis, que a vida
continuava. Após a saída deles, tranquei-me na sala e, chamando
mentalmente pelo nome dela, interroguei-a a respeito do motivo
que a levara a cometer tamanha loucura. Disse-lhe, sentindo sua


Alquimia do Amor

presença na sala do Centro, que fizera um absurdo e que não
deveria tê-lo cometido. Lamentei com ela o ocorrido. Fiz uma
prece em seu favor, finalizando aquele inusitado encontro. Poucos
meses depois, atendendo uma paciente, recomendei-lhe que lesse

o livro "Resposta a Jó" de C. G. Jung, pois lhe seria muito salutar.
Para minha surpresa, ela tirou o livro de sua bolsa e me contou a
seguinte história. Fora convidada por uma amiga a desocupar a
estante de livros da filha, pois a universidade em que lecionava
havia solicitado a doação dos livros que lhe pertenceram. A filha
da amiga havia falecido e deixara muitos artigos e livros que seriam
úteis à universidade, que a homenagearia colocando seu nome
em uma de suas salas. Atendeu o convite da amiga e fora ajudála
na desocupação da estante de livros. Quando fazia esse
trabalho, um dos livros caiu de suas mãos. Sua amiga virou-se
para ela e disse: – Por este livro ter caído de suas mãos eu vou
lhe dar de presente. Quando ela foi pegar o livro do chão pensou:
"Vou dar este livro a Adenáuer". Então, aguardou o dia de nossa
sessão para me presentear com o livro. Recebi-o de suas mãos,
inicialmente sem entender o que de fato estava acontecendo.
Agradeci pelo livro e recomendei que comprasse um para ela.
Embora tivesse um exemplar do livro, preferi ficar com o presente.
Logo na primeira página vi o nome da antiga proprietária: a mesma
filha daquele casal que atendi no Centro. Entendi, então, que ela
estava me dando uma resposta. Após aquele presente, começaram
a chegar até mim antigos pacientes que foram dela. Isso se deu
por volta de 1998 e cheguei a atender seus pacientes por quase
dois anos.
A saída para quem tem tendências suicidas na depressão é
a consciência de sua própria imortalidade, considerando que sua
existência não poderia ser por si destruída, pois não foi um ato de
sua vontade. Seus problemas apenas sofrem momentânea parada,
para logo mais surgirem associados a alguns outros: o remorso, o
arrependimento tardio e a consciência de que terá de enfrentar
uma nova encarnação com algumas limitações.


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Os pensamentos suicidas podem receber a perniciosa
influência espiritual de quem deseje a derrocada de sua vítima. A
idéia suicida, mesmo nascendo de mentes perturbadas do outro
lado da vida, encontra guarida em personalidades frágeis e que não
encontraram respostas transcendentes adequadas e coerentes às
suas perquirições existenciais. Em geral são pessoas sem fé e sem
confiança na existência de um princípio maior que rege a vida.

Um mínimo de conhecimento do espiritismo poderia ser
útil nos momentos de fraqueza e de obsessão destrutiva. Talvez
uma palavra de um amigo, um consolo de alguém, uma oração
em seu favor, uma terapia psicológica, uma medicação estabilizante,
um sentido maior pelo que vivesse ou uma fé robusta que
vencesse todo tipo de ataque psíquico. A certeza de que a vida
continua após a morte do corpo tem sido útil àqueles que pensam
em suicídio. É preciso inserir uma visão imortalista na clínica
psicológica, de forma consciente, sem querer transformá-la em
campo de convencimento religioso.

O apoio psicológico é importante e necessário em todos
os casos de depressão, mais ainda quando acompanhados de
tendências autodestrutivas.

Em todos os casos de tendências suicidas é também fundamental
um apoio espiritual, para a compreensão do morrer e não
apenas do viver. O sentido da morte do corpo é levar o espírito à
compreensão de sua existência e da finalidade para a qual Deus

o criou.
Em qualquer circunstância, estar no corpo, com todo o
sofrimento que porventura se esteja passando, vale a pena. A
vida tem seus mistérios e a precipitação em desvendá-los poderá
nos levar a perder o que ela tem de mais precioso: o momento
presente.

O suicídio na depressão pode não acontecer, ficando apenas
na tentativa, e isso pode ser uma providência tomada por espíritos
desencarnados que cuidam daquela pessoa. São familiares, amigos
ou protetores que tenham outros vínculos com a pessoa, que,


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com suas ações, conseguem evitar aquele mal. Eles são atraídos
por orações intercessoras oriundas do doente e daqueles que
buscam ajuda em seu favor. Razão pela qual se torna importante
a oração como recurso psicológico em todos os casos de
depressão.


Depressão associada a outros transtornos


Não é raro que a depressão seja componente secundário
de outros transtornos psíquicos, principalmente nos
decorrentes de dependência química, nas psicoses, nas esquizofrenias
e no TOC. Nesses casos a cura se torna mais difícil por
conta da co-morbidade, que associa uma série de sintomas,
exigindo diferentes tratamentos.

A doença mental é um estigma para qualquer ser humano,
pois qualquer pessoa sabe a discriminação social por que passa
seu portador. Ser doente mental é atestado de inferioridade em
vários níveis. Seu portador é tido, pelos mais ignorantes, como
louco, razão pela qual aqueles que passam por qualquer transtorno
psíquico, principalmente os que promovem alterações no comportamento,
isolam-se e tentam escamotear sintomas perceptíveis.

Quando não se consegue camuflar sintomas visíveis de
certos transtornos psíquicos, o indivíduo passará pela crítica social,

o que contribuirá para o provável surgimento de uma depressão.
Outros transtornos psíquicos apresentam sintomas
semelhantes aos da depressão, tornando-a presente como efeito
secundário. Nestes casos ambos devem ser tratados simultaneamente,
muito embora as causas da depressão sejam outras não
classificadas especificamente. O tratamento deverá ser feito,
portanto, visando o transtorno principal.

Vivendo os quadros gravados no inconsciente, oriundos
de experiências vividas em encarnações passadas, o espírito


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naturalmente se deprime por sua dificuldade em enfrentar duas
realidades simultaneamente: a que brota de seu inconsciente de
forma simbólica e aquela que enfrenta na vida atual, uma se
superpondo à outra, provocando o transtorno psíquico. Esse
estado de constante tensão dificultará sua vivência no mundo,
principalmente pela perturbação que provoca. Alie-se a essa
situação, pela evocação do passado, as influências espirituais que
costumam ocorrer.

Quem vive graves transtornos psíquicos geralmente passa
por graves obsessões, cujos personagens de ontem e de hoje se
interpenetram, dificultando a identificação de quem é a vítima e o
algoz. Muito raramente a depressão não estará presente. A
vergonha, o sofrimento, a dificuldade em equilibrar-se psicologicamente
e o processo inconsciente não resolvido levarão o indivíduo
à depressão.

Em todos os casos nos quais a depressão está presente,
mesmo como componente secundário, será importante a psicoterapia
e o tratamento espiritual.


Depressão e sombra

Asombra é o lado negado ou oculto da personalidade,
o qual contém os seus aspectos desconhecidos ou
aversivos. Nela estão contidas experiências negativas que foram
reprimidas, características psicológicas não assumidas, qualidades
não percebidas, bem como tudo aquilo que faz parte do
inconsciente.

A falta de percepção da própria sombra é componente
comum da depressão. Isso ocorre pelo acúmulo gradativo de
experiências aversivas ou negadas, que não são trabalhadas e
devidamente internalizadas pelo espírito. Vive-se a experiência, mas
não se dá atenção suficiente ao seu significado profundo.
Principalmente às experiências nas quais as emoções são vividas,
dever-se-ia lhes dar a devida atenção, para a compreensão e relação
que tenham com as leis de Deus. De cada uma delas deve-se extrair
os paradigmas das leis de Deus que estejam sendo percebidos.

Por exemplo, quando se vive uma situação na qual uma
perda financeira esteja ocorrendo, acompanhada de um sentimento
de inferioridade, de abandono, de derrota ou algo que se
assemelhe, deve-se, além de buscar soluções para sair daquela
crise, perguntar a si mesmo: "O que a Vida quer me ensinar com
esse episódio?". A pergunta se assemelha a "para que estou
passando por isso?", ou ainda "o que internamente em mim se
encontra precisando ser resolvido e que provocou a vivência dessa


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experiência negativa?". No exemplo citado as respostas poderiam
ser: a) preciso aprender a administrar perdas; b) preciso aprender

o valor da energia do dinheiro; c) certamente devo entender que
essa experiência se conecta a outra que pertence ao meu passado
e que não fora resolvida; d) preciso aprender a ganhar e a gastar
o fruto de meu trabalho; e) bens materiais servem para o acúmulo
de valores espirituais.
Quando não se extrai tais respostas, ou outras mais
profundas, vive-se as experiências de forma superficial, sujeitando-
se a ter de repeti-las sucessivas vezes.

Quando as experiências ocorrem sem que a pessoa se
detenha em avaliar seu alcance, visando aprender com elas, as
impressões subjetivas não verbalizadas ou não compreendidas
vão para a sombra. Elas irão interferir sutilmente na vida da pessoa
como se fossem tendências impulsivas descontroladas.

Todas elas formam um conjunto, pois se conectam no
inconsciente, quer tenham ocorrido no passado de encarnações
anteriores ou não, e interferem na personalidade como se fosse
um ser autônomo. Esse conjunto faz parte do inimigo oculto dentro
de cada ser humano.

Sua influência na depressão decorre da não aceitação e da
recusa em integrar conscientemente os traços dessa espécie de
subpersonalidade latente em cada pessoa.

Estando em depressão, seria importante que todo o conteúdo
que forma aquele conjunto, ou pelo menos parte dele,
pudesse ser expresso e devidamente compreendido. Principalmente
aceito como componente da própria personalidade, sem
ser rejeitado. Caso não seja possível verbalizá-lo durante a
depressão, deve-se aproveitar a saída da mesma para fazê-lo,
preferencialmente com acompanhamento profissional.

Sair da depressão, sem dela extrair lições profundas para
quem a vivenciou e lhe sofreu as conseqüências danosas, gera o
risco de seu retorno. São comuns as recaídas em depressão,
mesmo depois de decorridos anos sem o problema, pois outro


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motivo desafiador poderá encontrar de novo a personalidade mal
resolvida. O retorno à depressão simboliza a não integração
adequada da sombra, que permanecerá latente, ampliando sua
interferência no comportamento a cada etapa da vida.

É importante não se temer a própria sombra, pois ela é
parte integrante da personalidade e não pode ser de todo excluída.
Fundamental é não se culpar pela sua existência nem se sentir o
"pecador". O passado que contém equívocos não deve ser objeto
e motivo de culpa. Deve ser visto como pertencente ao período
de ignorância. Deve-se dizer: fiz, está feito. Não me culpo e não
farei mais, pois não me é mais adequado fazê-lo. Importante é
não esperar qualquer punição por isso, pois é a própria consciência
que atrai as circunstâncias aversivas do futuro.


Depressão e câncer

É muito comum, numa das fases do processo que vai
do diagnóstico à cura do câncer, ou de um desfecho fatal por sua
causa, seu portador ter depressão. Não só o câncer, mas toda
doença que ameaça gravemente a vida da pessoa, pode ser
causadora da depressão. A possibilidade de morrer, sem que
isso seja bem aceito e compreendido, será um dos motivos da
depressão.

O portador de câncer se acha injustiçado pela vida. Não
entende por que aquilo aconteceu logo consigo. Analisa sua
própria vida e não encontra as razões para tão grave problema.
Geralmente sua análise é pelos erros cometidos ou pelas
qualidades negativas que possui. Ele relaciona a doença com
punição pelo "mal" que fez. Esse raciocínio é automático e não
deixa de ter sentido, porém ele é retro-alimentador de novas
doenças e sofrimentos. Ele estaciona a mente num círculo vicioso
e paralisante. A doença também é fruto de contingências materiais
e fruto de um corpo perecível, frágil e não suficientemente
adequado a certas atividades do espírito.

Dificilmente se encontram razões numa vida para justificar
um câncer. Suas causas estão em tempos remotos, fruto de
processos não resolvidos no passado. Como justificar, por exemplo,
numa criança? Até mesmo no adulto, pois a desorganização
celular provocada pela doença pode ser encontrada em pessoas


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cujo equilíbrio interno é exemplar. Suas causas estão no passado,
pois o câncer tem suas raízes no perispírito. Se as razões estivessem
na atual encarnação dever-se-ia encontrá-las com maior incidência
entre aqueles que fossem criminosos ou que praticassem delitos
muito graves. Existem fatores psicológicos que favorecem ou
retardam a cura. O pensamento otimista e a mente voltada para
objetivos ligados ao viver contribuem para que o sistema
imunológico da pessoa tenha seu processo degenerativo reduzido
ou estagnado.

A depressão poderá ocorrer se não houver uma relação
com a doença que venha a acrescentar lições de vida ao seu
portador. Quando ela é encarada como uma punição divina ou
como uma resultante de atitudes na atual encarnação, deixa de
ser percebida a sua função educativa.

Acompanhei o caso de uma mulher que tinha um câncer de
útero. Seus exames deram positivo e a indicação era cirúrgica.
Passaria por uma quimioterapia posterior. Havia risco de morte,
pois tudo dependeria de como o organismo respondesse ao
tratamento. Ela tinha recebido a notícia fazia dois meses. Fizera a
cirurgia e iria começar a quimioterapia. Inicialmente não acreditou.
Pensava que poderia ter havido algum engano. Conversou com
seu médico que, por uma questão ética, a aconselhou a procurar
um outro, mas não havia engano em seu diagnóstico. Fez novos
exames que resultaram em idêntico diagnóstico. Chorou muito
desde o primeiro dia. Seus pensamentos ficaram confusos pela
profusão de idéias. Sabia de pessoas que passaram pelo mesmo
problema e via os resultados. Algumas morreram, outras perderam

o cabelo, outras se isolaram e não mais foram vistas. Tinha receio
não só de morrer, mas também, caso sobrevivesse, de ficar sem
cabelos ou deformada. Questionou a Deus o porquê de sua desdita.
Logo ela que sempre obedecera aos preceitos cristãos. Não
desejava mal a ninguém, ao contrário, se considerava uma pessoa
caridosa. Então porque aquele triste destino? A resposta que vinha
à sua mente, era um vazio e uma solidão muito grande. Não

Alquimia do Amor

aceitava e não entendia os motivos lógicos da doença. Então viver
não era trabalhar, ser uma boa filha, ser uma pessoa responsável,
acreditar em Deus, fazer o bem e amar as pessoas? O que então
queria Deus? Seu descontentamento com o sentido da vida era
notório. Passou a achar que tudo que a religião ensinava não tinha
sentido e que tudo era uma enganação infantil. Não quis que seus
amigos soubessem. Evitou alguns contatos sociais e decidiu terminar
um relacionamento que já durava cinco anos, para o qual não via
futuro. Pensou que ele só continuaria com ela por pena. Pediu licença
médica em seu emprego público para iniciar seu tratamento. A
depressão estava começando a se instalar. Tudo indicava que estava
fugindo de si mesma. Compreendi seu sofrimento e solicitei que se
colocasse em meu lugar e que me dissesse o diria a alguém que
estivesse nessa situação. Pedi que invertesse os papéis. Queria que
ela passasse a fazer consigo mesma como se ela própria se retroalimentasse
continuamente em suas questões. Ensinei-a a lidar com
a imponderável resposta do significado da doença, como se fosse
algo que devesse conquistar. Isso aconteceria se conversasse muito
consigo mesma, aconselhando-se e procurando entender-se. Pedi
que, no início de cada dia, após levantar-se, afirmasse a si própria
que seu dia não teria expectativa e que o que nele acontecesse não
estaria relacionado com a doença. Solicitei que, ao final de cada
dia, pensasse que suas respostas estavam surgindo gradativamente.
Por fim, que vivesse cada dia o seu momento com a mente voltada
para objetivos muito definidos, independente do tempo de tratamento.
Sua depressão foi dando lugar a uma nova forma de viver e
de sentir a vida. Passou a notar mais pessoas com a mesma doença.
Desenvolveu maior paciência para com os outros. Entendeu que
Deus não era aquilo que pensava e estava formando um novo
conceito de Deus, a partir de sua própria experiência de vida. Passou
a se enxergar mais, a conhecer suas próprias limitações, a entender
diferenças e a gostar das coisas simples da vida.

Compreendia, a cada dia que passava, que a vida é um
fluir constante e que não há limites para ela. Estava vivendo e isso


adenáuer novaes

era o que importava. Morrer hoje ou amanhã, ou mesmo após
longos anos tinha o mesmo valor, pois cada momento seria vivido
com intensidade. Terminaria sua vida dizendo a si mesma: tudo
que experimentei no tempo que vivi trouxe-me imensa alegria e
felicidade. Desta forma viveria até quando seu corpo agüentasse.

Ela fez quimioterapia, perdeu o cabelo, teve as seqüelas
típicas de quem atravessa um câncer e sobreviveu. Está curada,
pois descobriu o motivo pelo qual o teve e, mais ainda, um sentido
para a vida.

Caso não saísse da depressão, não encontraria a resposta,
nem tampouco o mais importante: a si mesma.


Depressão e traição conjugal

Muitas pessoas entram em depressão depois que
descobrem uma traição conjugal. Não suportam a idéia de que
seu parceiro se envolveu com outra pessoa, mesmo que não tenha
havido relação sexual. Vivem muito bem, conscientes da fidelidade
do outro, considerando que seu amor é correspondido
integralmente e exclusivamente. Quando acontece no casamento,
essa certeza significa uma confirmação de suas crenças a respeito
do mesmo, como uma âncora de um navio, que o segura para
não ser arrastado. Quando a traição ocorre, perdem a estabilidade
que acreditavam ter. O motivo disso é o acordo implícito e explícito
na união a dois: fidelidade e reciprocidade.

Esses dois princípios também são influenciados ou fortalecidos
pelo sentimento de amor que um sente pelo outro. Porém,
eles não são confirmados esporadicamente, isto é, geralmente os
votos estabelecidos na união a dois não são discutidos, nem
atualizados, a cada período da vida. Presume-se que aqueles
princípios permaneceriam inalterados ou seriam ampliados a cada
ano que passam juntos. Nem sempre isso ocorre. O mistério que
existia no início da relação dissolveu-se com o tempo, sem que
ambos percebessem. Quando a relação apresenta sinais de que
está claudicando, um ou outro procura, à sua maneira, melhorá-la
para que não venha a ser destruída. Muito raramente isso se dá
através do diálogo maduro e transparente.


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As causas do término de uma relação ou de sua degradação
são incomensuráveis. É sua degradação que possibilita a disponibilidade
para que outra pessoa nela entre. Às vezes, a relação já
começa com sinais de que isso ocorrerá, pois, além de os sentimentos
não serem da mesma intensidade ou qualidade, os motivos
da união são diferentes. As pessoas não se unem com perfeita
sintonia de propósitos ou com o mesmo sentimento um pelo outro.
Com o tempo e o desgaste da convivência, pode ocorrer que um
deles se apaixone por outra pessoa ou mesmo que tenha uma
relação fortuita, imprevista ou não planejada.

Quando a traição descoberta é apenas decorrente de uma
relação fortuita, não causa tanta depressão, mas quando efetivamente
existe outra pessoa por quem o outro nutre algum
sentimento, sua probabilidade é bem maior.

Quanto mais madura a pessoa que passe pela traição
conjugal, menos propensa será a entrar em depressão. Principalmente
se a pessoa entender que o fato deve servir de catalisador
para mudanças radicais em sua vida e em sua personalidade.

Muitas pessoas que passam pela traição conjugal sentem
seu mundo desabar, isto é, perdem as estruturas que sustentavam
sua vida. Entram em depressão por falta de um chão. Devem
entender que isso decorre de uma exclusiva crença de que a própria
felicidade se encerra naquela relação. Quando tem filhos,
muitas vezes, a entrada na depressão é mais rápida, pois a preocupação
com o futuro deles surge como fator adicional de culpa.

Quem passa pela traição sempre se pergunta qual a causa
em si para que aquilo tenha ocorrido. Reflete sobre todas as fases
de sua relação procurando onde houve erro e de quem foi. Um
culpado vai ser encontrado. Essa reflexão deve ser útil, não que
se puna alguém ou para que a mágoa permaneça, mas para que
ambos passem a ter maior ciência do que pode ocorrer numa
relação a dois. Ambos precisam disso, pois talvez não tenham
aprendido essa lição da vida. Entrar em depressão por essa causa,
é dar lugar a outro problema, ampliando o próprio sofrimento.


Alquimia do Amor

O espírito que atravessa o problema da traição conjugal,
com ou sem separação, pode estar vivendo uma experiência
resultante de seu próprio passado. Neste caso, entrar em
depressão é sucumbir ao próprio passado sem aprender
novamente. Fundamental é aproveitar a dura lição para crescer.
Isso não significa que não sinta ou não lamente o ocorrido.
Ninguém quer passar por isso e ficar sorrindo como se fosse bom
ou como se nada estivesse acontecendo. É ruim, traumático e
desgastante. É uma experiência dolorosa para qualquer pessoa.
Aprender e crescer são extremamente importantes.

A depressão por causa de uma traição conjugal pode estar
associada à mágoa, ao sentimento de inferioridade, à culpa, à
sensação de derrota, à vergonha, à certeza de que seu amor não
era correspondido, bem como tudo que se aproxime da decepção
com o outro. Tais emoções e idéias devem ser trabalhadas de tal
maneira que não levem a pessoa à fuga pela depressão. Devem
levar à certeza de que aquilo será superado e de que sua própria
vida pode ser vivida de forma diferente; de que existem várias
formas de se viver.

Nenhum problema pode dominar os pensamentos, idéias e
sentimentos de uma pessoa, sob pena de enviesar sua vida,
reduzindo as capacidades de apreensão da realidade e,
consequentemente, de crescimento.

Entrar em depressão por conta de um conflito, principalmente
de uma traição conjugal é dar mais valor ao ato do outro
do que a si mesmo.


Depressão endógena

Chama-se endógena a depressão profunda, cujas causas
sejam desconhecidas, e na qual não se encontre qualquer dos
fatores típicos para que seja deflagrada. Geralmente se inicia em
idade precoce, algumas vezes na puberdade. A tristeza profunda
e o descontentamento com a vida começam em tenra idade, sem
que se descubram as razões para sua existência. Parece que a
pessoa tem saudade de algo distante e inacessível, que ela própria
nem sempre sabe o que é.

Aparenta continuar presa a uma outra época ou lugar, além
de achar que aquele momento ou espaço em que se encontra não
é o seu. As coisas não parecem ter sentido nem as experiências
que vive apresentam o sabor esperado. Não há satisfação geral
na vida. Convive com a depressão todo o tempo, sem que ninguém
consiga removê-la. O depressivo, nesse caso, consegue viver em
sociedade, desenvolvendo atividades normais, porém se sente
infeliz.

Esse tipo de depressão quando, infelizmente, não leva a
pessoa ao suicídio, provoca uma vida sem qualquer motivação.
Parece que sua mente vive sempre em conexão com outra dimensão,
da qual sente dificuldade em se desligar.

As pessoas portadoras de depressão endógena não deixam
de ter amigos, de trabalhar, de se divertir e de ascender socialmente,
porém trazem em seu íntimo, de forma bem consciente, a


Alquimia do Amor

certeza de que aquilo não lhe traz a felicidade e não tem sentido.
No fundo, aquele que tem depressão endógena vive descontente
com a vida, mas pouco verbaliza isso. Seus amigos não sabem de
seu sofrimento íntimo. Percebe bem sua doença e não acredita
em cura. Suas crises são fortes e, de tempos em tempos, entram
numa fase aguda, assemelhando-se às do depressivo comum. As
fases agudas, isto é, suas crises, são mais breves.

O depressivo desse tipo é um espírito que reencarnou
descontente com sua vida, pois não encontrara, em sua íntima
natureza, Deus. Ele se sente desconectado de Deus, cuja concepção
é pobre e frágil. Ele precisa de Deus, cuja busca deve ser
feita de forma consciente e determinada. Ele sente saudade
de Deus.

Portanto, sua saída é uma busca espiritual profunda, realizando
uma caminhada ao encontro misterioso e doce com o divino
em si mesmo. Sua cura não pode mais ser adiada, pois sua doença
vem ocorrendo, no mínimo, desde a encarnação anterior. Seu
tratamento será psicológico e espiritual (não necessariamente
desobsessivo).

Atendi uma mulher portadora de depressão endógena, cuja
característica principal de sua personalidade era gostar de ficar
sozinha. Tinha com a solidão uma relação ambígua. Detestava-a,
mas era seu principal refúgio. Era de poucos amigos e deles se
servia para conversas superficiais. Pouco saía e teve poucos
relacionamentos amorosos. Trabalhava como advogada numa
empresa pública, em cujo concurso passara com louvor. Mesmo
sendo convidada, posteriormente, a ocupar a função de chefia,
declinava alegando não se sentir motivada e preparada para tal.
Gostava de fazer retiros e de intermináveis caminhadas para
incomensuráveis purificações nunca alcançadas. Era extremamente
reservada, tendo contato sazonal com seus pais, que moravam
em cidade do interior. Sua vida era pobre de emoções e poderia
ser resumida em poucas palavras, com absorção diminuta de
aprendizado verdadeiro. Parecia que estava no corpo apenas


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esperando que seu tempo acabasse. Fizera terapia por mais de
doze anos, sem que sua depressão endógena fosse curada. É
verdade que a ajudara a se entender, mas não fora suficiente para
curar-se. Suas crises depressivas a faziam se afastar do trabalho
por licença médica, para tratar de sua saúde, cujo tempo alternava
entre ficar em casa e viajar para seus retiros. Sua vida era pobre
e seu destino pouco promissor.

Numa de suas caminhadas, um peregrino aconselhou-a a
retornar a uma terapia, indicando-me como alguém que poderia
ajudá-la em face de minha formação junguiana e espírita. Ela
arriscou um tratamento comigo.

Nas primeiras sessões entendi sua depressão e fiquei tocado
pela sua sinceridade em afirmar-se como "alguém que a vida não
dá valor". Tinha um conceito sobre si mesma como se fosse alguém
desprezível e inútil. Falou de seu processo com absoluto
conhecimento, sem auto-sugestão e de forma bem pragmática.

Confesso que fiquei interessado em desvendar o mistério
daquele ser. O que estava por detrás de sua depressão endógena?
A toda pessoa que atendo, desde o primeiro momento em que a
escuto, pergunto-me: O que quer esta alma? Nem sempre alcanço
a resposta, mas sei que há algo particular para que ela esteja à
minha frente e descobrir isso será meu desafio. Ela era mais uma
pessoa que desafiava a minha vontade de desvendar os segredos
da mente humana.

Questionei-lhe exatamente sobre isso e lhe falei do fascínio
que me causava, pois o que ocultava deveria ser muito precioso.
Respondeu-me que não achava que ocultava alguma coisa e que,
ao contrário, nada tinha de interessante. Falei que a concha esquecida
no fundo do mar guardava a mais preciosa pérola para adornar um
lindo colar. Pedi que, a partir de agora, após trinta e cinco anos mal
vividos, desse uma chance para viver cada ano como um novo
contato consigo mesma para a descoberta da pérola.

E assim prosseguiu comigo nessa descoberta fantástica de
si mesma, sem tédio e sem cobranças. Estou atendendo-a há cerca


Alquimia do Amor

de três anos, nos quais ela tem feito progressos que considero
alvissareiros. Descobriu que desejaria ser mãe, ao contrário do
que acreditava até então. Prossegue num relacionamento novo
com um colega de profissão. Não tem feito viagens de fuga,
permanecendo mais tempo em sua própria cidade. Tem conseguido
perceber alguns sentidos para sua vida, que já não é mais
tediosa. Não tem pensado em morrer ou em que sua vida termine
bruscamente como desejava. Vive namorando a si mesma e ao
apartamento novo, que comprou depois de viver em um alugado,
do qual pensava que não iria sair. Está dando sinais de que deseja
viver e de não querer morrer sem ter sentido o gosto de ter feito
coisas consideradas impossíveis ou proibidas.

A saída para ela foi ter sido desafiada a não fugir nem a se
esconder de viver. O espírito precisa ser desafiado a cada momento.
Deus o criou para um alvo e ele deve alcançá-lo. Enquanto
pensar que o alvo está fora de si, irá vaguear qual perdido numa
noite escura sem consciência de onde se encontra. Quando se
deparar com sua soberana condição de "Senhor do seu próprio
destino", encontrará Deus em si mesmo.


Depressão e Cura

Épossível obter-se a cura da depressão sem ajuda
especializada? Caso possível, em quanto tempo? Pode-se estipular
um tempo e um fator específico de cura? Estas são perguntas de
difícil resposta. A depressão é uma doença de fundo psicológico,
portanto sua manifestação varia de pessoa a pessoa. Cada
indivíduo que a possui convive de forma pessoal com a doença.
Ela não é causada por um vírus, nem tampouco está localizada
numa área específica do corpo. Ocorre na mente, inacessível ao
melhor dos microscópios e, muitas vezes, ao próprio doente. Mente
que não está no cérebro, porém nele interfere e ocupa um espaço
virtual suficientemente poderoso para comandar os processos que
envolvem o comportamento humano.

Não se percebe seu início e não há um determinado momento
no qual se possa dizer que a cura está iniciando. Impossível
estipular um prazo para a cura ou afirmar que seus sintomas nunca
irão retornar. São fatores imponderáveis, que variam de pessoa a
pessoa. Talvez uma ou outra pessoa consiga sair sozinha da
depressão, por conta de suas específicas causas e da estrutura
psicológica mais madura que porventura tenha. Depressões
causadas por fatores conhecidos e maduramente resolvidos pelo
depressivo poderão ter sua cura favorecida sem ajuda especializada,
principalmente nos casos em que intervenções imponderáveis
e positivas ocorram.


Alquimia do Amor

Em todos os casos de depressão é fundamental que se entre
em contato com suas causas, internalizando o que falta à
personalidade para seu equilíbrio psíquico. Existem experiências
a serem vividas pela pessoa que evitarão a entrada em nova
depressão, cuja descoberta e vivência de quais são, tornar-se-ão

o grande desafio a ser preliminarmente alcançado.
A experiência transformadora exige energia psíquica,
coragem e determinação daquele que deseja crescer e ser feliz. A
fuga adia o encontro com o sentido e a finalidade da vida.

Engano pensar que uma terapia, um remédio, uma outra
pessoa, uma única atitude, curará a depressão sem o desejo sincero
e autodeterminado em fazê-lo. O depressivo tem seu problema e
certamente tem sua solução. Ele precisará e receberá ajuda, mas
é ele quem decidirá seu destino. Não sairá ileso, nem o fará
inconscientemente.

Após a cura da depressão, quando conscientemente realizada,
deverá aparecer o espírito imortal, senhor de sua própria
existência, não mais submetido ao vento enganoso da desesperança
nem vergado ao impulso do medo. Aparecerá altivo, comandando
a vida e decidindo seu destino com a consciência de sua
imortalidade. Não temerá as tempestades que advirão, sabendo
que seu maior escudo é sua vontade de ser feliz e de proporcionar
idêntico destino ao seu próximo. Sairá da letargia, não temerá a
morte e viverá cada momento como se efetivamente lhe
pertencesse.

A vida é um convite que o Criador fez ao Espírito. Um
convite para que se percebesse como tal, isto é, para ser aquilo
que é, descobrindo-se a cada instante.

Todo depressivo deve, não só procurar sua cura, como
também tem o dever de se tornar outra pessoa após a mesma.
Ninguém deverá ser o mesmo depois de uma doença, qualquer
que seja ela, principalmente aquelas mais graves. Toda doença
carrega em si, para seu portador, uma mensagem-convite à
transformação para seu portador.


adenáuer novaes

Embora não seja fácil curar-se, muito menos transformar-
se, pois por onde começar e o que fazer são interrogações sempre
presentes ao depressivo, ele deve ter em mente que nada fazer é
pior. Sua energia deve ser colocada em movimento e a saída da
concha em que se colocou é uma das melhores alternativas, ao
menos de início.

No caminhar do depressivo, aparecerão ajudas de vários
tipos que devem ser selecionadas a fim de que ele não continue
fugindo de si mesmo e entrando em caminhos enganosos. São
caminhos superficiais e sem transformação efetiva. Deve entender
que terá de fazer sacrifícios para superar sua depressão. Não
será fácil, mas também não será impossível. Ele deve sempre
lembrar que depressão é medo de enfrentar a vida e que ela pode
ser modificada. Essa modificação nem sempre será na direção
que se quer. Seria importante buscar ajuda para enxergar novos
caminhos.

É necessário confiar e acreditar em sua própria capacidade
de superação, mesmo que ela não seja percebida. Ninguém recebe
fardos pesados que não possa suportar. A vida não brinca com o
ser humano nem lhe exige aquilo que não possa cumprir. O desafio
que se enxerga como algo intransponível é decorrente da própria
visão de quem deve superá-lo.

Quando a vida coloca a pessoa, seja pela sua própria incúria
ou não, em situações difíceis ou aversivas, também oferece
alternativas para delas sair. Não há conflitos eternos nem problemas
insolúveis.

Há um potencial de cura em todo ser humano. É preciso
estar conectado ao Self para mobilizar todas as energias em favor
do próprio crescimento espiritual. A cura real se dá quando
alteramos antigos padrões psíquicos que não proporcionam
crescimento ao espírito.


Depressão e Espiritualidade

Uma vida vazia, sem busca espiritual, tampouco sem

o sentimento de que se está envolvido por uma atmosfera psíquica
favorável, pode levar o indivíduo à depressão. É preciso viver
considerando o lado subjetivo e espiritual da vida. A maioria das
pessoas não vive sua espiritualidade, pois só recorre ao espiritual
nos momentos de aflição, para pedir algo que lhe venha trazer
algum benefício imediato. Tais pessoas não entendem ou não
aceitam que existe uma instância norteadora da vida, sintetizada
na idéia da palavra Deus. Vivem na dúvida, ansiando por
demonstrações fortes, muito embora estejam sempre pedindo ao
Deus que acreditam. Paradoxalmente pedem favores, mas duvidam
quando precisam passar por sacrifícios.
Não se sentem conectados ou imersos num campo estrutural
de natureza transcendente nem se percebem espíritos.
Viver a própria espiritualidade significa:

1. Sentir-se conectado a Deus em tudo que faça;
2. Respeitar cada ser humano com quem mantenha contato,
sem dele esperar qualquer tipo de recompensa ou reciprocidade;
3. Viver cada momento da vida buscando o máximo de
satisfação íntima sem prejudicar a ninguém;
4. Buscar um estado de espírito num nível emocional acima
daquele que vive;
5. Estabelecer uma cumplicidade ótima com as forças
espirituais que regem o destino humano;

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6. Seguir os ensinamentos de uma religião sem perder o
próprio senso crítico em sua prática;
7. Consciência da existência do outro como elemento
participante de sua espiritualidade;
Pessoas espiritualmente ricas são mais alegres, mais
espontâneas, mais flexíveis e vivem centradas no destino pessoal
e coletivo. Não se deprimem quando estão tristes, nem são insensíveis
ao futuro do outro. São comprometidas com um senso superior
de felicidade, o qual inclui o outro. Vivem não somente para

o próximo, mas também para si mesmas.
Adicionar espiritualidade à vida é transformar o próprio
olhar sobre ela, considerando-a um patrimônio inalienável, bem
como um processo material e espiritual simultaneamente.

Participar de uma religião não torna necessariamente
espiritualizada uma pessoa. O que a torna é sua internalização,
bem como a integração dos conteúdos resultantes das experiências
vividas sob a égide de seus ensinamentos.

Ser uma pessoa espiritualizada não quer dizer ser ou parecer
mística ou ligada a práticas esotéricas, pois muitas vezes isso pode
distanciar a pessoa da conexão consigo mesma e com seu
semelhante. Essa conexão deve ser amorosa e compreensiva em
relação a si mesmo e ao outro. O trato com amorosidade para
com o outro e o respeito a ele como a si mesmo é a base da
espiritualização.

No mundo íntimo do depressivo há espaço para essa
espiritualização, pois ele está bem próximo do inconsciente,
mergulhado em seus complexos. Basta-lhe recorrer ao sagrado
sem se colocar na posição de vítima. Nos pensamentos do
depressivo ele recorre a Deus, pois tenta estabelecer um diálogo
interno para a solução de seu conflito. Muitas vezes, o faz
reclamando de sua desdita. Reclama, maldiz, exige, nega Sua
existência, negocia a cura através de algum ritual ou renúncia,
questiona a razão de ter acontecido consigo e não com outra


Alquimia do Amor

pessoa, desculpa-se por algum mal feito, por fim, promete a
verdadeira entrega de sua alma.

Uma pessoa espiritualizada dificilmente entra em depressão,
pois encontra sempre uma razão maior para sua existência,
compreendendo seus conflitos como desafios a serem vencidos.
Sabe que a vida é constituída de diferentes experiências que
enriquecem seu mundo interno. Sua consciência da imortalidade
pessoal e íntima conexão com as forças superiores do universo
tranqüilizam-lhe a alma quando em contato com as adversidades
de seu caminho.

A espiritualização do ser humano é a proposta das religiões,
que tentam levar seus adeptos ao estágio de vibração superior e
ligação íntima com Deus. De fato, suas propostas podem levar o
ser humano à espiritualização, porém quando a elas se recorre
para pedir favores divinos ou para agradecer pelos mesmos
favores, quando recebidos, desperdiça-se seu imenso poder
espiritualizante.

As religiões são guias e balizadores, oferecendo elementos
de análise para uma melhor percepção do funcionamento do
universo. Não têm a verdade, pois esta é um arquétipo, porém
dão um suporte teórico para uma melhor compreensão da vida
material e espiritual.

Espiritualizar-se é encontrar sua religião íntima, que apazigua
a relação da pessoa, na sua face individual, com sua natureza
coletiva.

Para não entrar em depressão é importante estar consciente
das duas naturezas. Uma convida para o encontro de si mesmo,
cuja exacerbação leva ao egoísmo; a outra, ao encontro do outro,
cujo extremo é a alienação de si mesmo. Viver em paz, consciente
da eternidade da vida, leva a pessoa à conciliação entre sua
natureza individual, criada por Deus, e sua contraparte coletiva,
forjada em suas múltiplas experiências no contato com o outro.


Pseudo-depressão

A depressão é uma doença ou estado psíquico
perfeitamente curável. Quanto menos crônica maior a chance de
obter a cura. Fundamental, em todos os casos de depressão,
independente de outras estratégias necessárias no tratamento, que
seu portador faça uma psicoterapia individual.

Costumo iniciar a psicoterapia com pacientes que se dizem
depressivos, avaliando se a pessoa realmente tem depressão.
Após ouvir seu relato a respeito de sua vida, bem como os
sintomas percebidos, passo a questionar o grau de intensidade e
duração de cada um deles. Em alguns casos, a cura se inicia com
a constatação de que a pessoa não tem nem nunca teve depressão.
Estar triste ou sentir-se angustiado por algum motivo não significa
depressão, tampouco ter passado alguns dias com sintomas
depressivos torna a pessoa portadora da doença.

A ansiedade no diagnóstico da depressão é um resultado
da conjunção perfeita entre a pressa do médico mal remunerado
que quer logo atender o "próximo" e o paciente mal informado
que quer se sentir seguro com um nome para sua doença, nesse
caso dado de forma rápida e imprecisa. Baseando-se em
suposições de terceiros, auxiliado pela crença de que tristeza é o
mesmo que depressão, o paciente vai induzido à consulta na
expectativa de ver confirmado seu diagnóstico precoce. O
resultado é ser medicado sem a análise psicológica de seu real


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problema. Por outro lado, o médico, com pouco ou nenhum
conhecimento sobre psicologia e sobre o inconsciente, não
encontrando problemas orgânicos, desejoso de minorar o
sofrimento de seu paciente, necessitando atender maior número
de pessoas, apressa-se em prescrever a medicação típica para
depressão, cuja presença foi "detectada". Lógico que esse
comportamento não se aplica a todos os casos, muito menos a
todos os médicos.

Nesse caso, o efeito placebo poderá estar presente, pois,
a "cura" se dará pela ausência da doença e pela "certeza" da
eficácia da medicação por parte do "doente". A "doença" se chama
pseudo-depressão.

Algumas pessoas portadoras de tristeza crônica e melancolia
profunda se acreditam em depressão. Adotam um estado psíquico
que se assemelha ao da depressão, sem apresentar, no entanto,
outros sintomas. Vivem descrentes de si mesmas e desanimadas
quanto a perspectivas positivas de sucesso em várias dimensões
da própria vida. Desiludidas com alguma coisa ou fracassadas
em alguma experiência, acreditam-se em depressão. São
medicadas ou se automedicam desnecessariamente.

Auto-sugestionam-se, acreditando que os mínimos sintomas
que sentem podem ser considerados como os da depressão. Antes
de irem a um médico ou psicólogo, lêem muito sobre o tema,
direcionando seu raciocínio para enxergarem a doença.
Aproximam sintomas breves aos da depressão. Quando vão a
um profissional, já levam um diagnóstico pronto.

Não aceitam que lhe digam que não têm alguma anomalia.
Andam tristes e desiludidos com a própria vida por causa de sua
auto-sugestão.

Algumas vezes essa mórbida crença poderá levar o indivíduo
efetivamente à depressão, pois a cada dia será fortalecida com
novos sintomas que tenderá a enxergar.

Atendi um homem de quarenta e dois anos com um pseudodiagnóstico
de depressão. Seu processo se iniciou quando foi


adenáuer novaes

demitido de um emprego de dez anos. Ele tinha na época trinta e
cinco anos. Após essa demissão, ficou sem trabalhar por quase
um ano, vivendo de pequenos biscates. Apareceu-lhe uma gastrite
que o levou ao tratamento médico, deixando-o debilitado. Acreditou
que estava em depressão pela falta de vontade de sair e de
procurar emprego. Leu um artigo superficial numa revista semanal
e, poucas semanas depois, assistiu a um programa televisivo sobre

o assunto. Tomou conhecimento dos principais sintomas, sem
atentar para observações que alertavam para procurar um médico
antes de se achar depressivo. Sua mente só ouvia o que queria,
fechando, então, seu próprio diagnóstico. Quando procurou o
médico, levou-lhe sintomas os que acreditava ter. Feita a prescrição,
passou a tomar remédio antidepressivo desnecessariamente.
Sua auto-obsessão estava instalada. O remédio não
curaria o que não existia, mas, certamente teria um efeito curativo
em sua ansiedade e na sua imaginação.
Na segunda sessão, baseando-me em meus próprios critérios,
que se encontram em outro capítulo deste livro, afirmei-lhe
que ele não era portador de depressão. Ele não aceitou, contra-
argumentou como se fosse um especialista no assunto. Falou de
critérios internacionais e de justificativas químicas afirmadas pelos
médicos com os quais se tratou. Disse-me que eu estaria indo de
encontro a figuras de renome, querendo diminuir-lhes a capacidade
ou talvez querendo desacreditá-los. Defendia seu ponto de vista
com veemência e com seriedade. Como era de se esperar, não
demonstrava alegria por encontrar alguém que negasse sua doença,
pois estava muito bem seguro dela. Tê-la era melhor do que não
saber o que tinha.

Disse-lhe que não estava indo de encontro ao diagnóstico
médico, pois este se baseava em seu depoimento e em observações
externas, mas que estava me opondo à existência de alguns
dos sintomas que afirmava. Coloquei sua crença e seu equívoco
em se enquadrar numa doença para se sentir confortável em
denominar e classificar o que sentia. Falei de sua carência afetiva


Alquimia do Amor

materna e do sentimento de rejeição não expresso. Lembrei-lhe
que sua criança interior, carente e não atendida em suas antigas
reivindicações, precisava ser acolhida. Falei para cuidar de sua
relação afetiva com as pessoas, pois a falta de afeto corrói o
coração, aumentando a carência. Os sinais se assemelhavam aos
da depressão, mas não eram a mesma coisa.

Aconselhei que entendesse que a vida pede olhar para frente
e não acomodação, como se algo externo fosse resolver seus
problemas. Reafirmei seu propósito de encontrar uma saída para
seu conflito, mas lhe disse que ele era o causador de seu próprio
problema, portanto a solução estava nele mesmo.

Ele, mesmo ainda afirmando sua depressão, prometeu
pensar a respeito. Recebi-o na sessão seguinte mais tranqüilo e
sorridente. Disse que eu tinha razão, mas que continuaria tomando
os remédios. Falou que pensou bastante e que mudaria sua forma
de pensar. Recomendei, com auxílio médico, que desmamasse
de seus remédios. Falei que o grande interessado pelo destino
dele deveria ser ele mesmo e que não deveria entregá-lo a um
remédio. Falei que seu desmame de remédios seria financeiramente
salutar e que deveria entender que o trabalho seria seu
medicamento mais eficaz.

Assim como ele, milhares de pessoas passam pela pseudodepressão
antes de entrar em depressão. Alimentam a doença
antes de ela existir de fato. São reféns de sua própria ignorância e
da esperança de uma quimera salvacionista, porém não curadora
do mal em si.

Para não entrar na pseudo-depressão nem na depressão é
fundamental que se adote um estilo de vida com perspectivas reais
de vitória sobre suas próprias dificuldades. A vida pede discernimento
e coragem para vivê-la. A timidez diante dela é paga com
o sacrifício muito maior de energias do que quando se ousa ante o
que se apresenta. Deprimir-se, ou pseudo-deprimir-se, é fugir do
próprio destino, como os acomodados fazem quando a vida os
convida ao exercício natural de crescer.


adenáuer novaes

A depressão não deve ser curada pela dor, mas pelo amor.
Pelo amor que transforma a vida e a coloca no lugar destinado
por Deus. A dor vem quando não se busca enfrentar face a face

o conflito causador da depressão. Adia-se a compreensão de
que viver é lutar, sacrificar-se, perder, ganhar, ser rejeitado, acolher,
ter prazer, relacionar-se, espiritualizar-se e amar.

A recaída

Oretorno a uma depressão não é fato incomum. Muitas
pessoas, para seu próprio espanto, voltam a ter depressão. Na
maioria dos casos não houve a cura anterior, mas sim um período
no qual a doença esteve suspensa. Há pessoas que têm períodos
de depressão alternados com outros nos quais ela está ausente.
Quando os períodos de ausência são muito curtos, não houve a
cura, mas a continuidade dos sintomas, mascarados por fatores
diversos. Parecia cura, mas, em verdade, houve uma trégua.

Não é incomum a intercorrência da depressão quando a
pessoa não mais esperava tê-la. Ela de vez em quando poderá
aparecer, principalmente se a pessoa não se preparou adequadamente
para os embates da vida. As brechas de acesso ao inconsciente
de forma dolorosa, por conta dos complexos não dissolvidos,
ainda existem e precisam ser transformadas.

Essas brechas são decorrentes da fragilidade que acomete

o doente logo após a saída da depressão, ficando com medo de
seu retorno. Deveria pensar que será sempre capaz de sair de
nova depressão, caso ela teime em voltar, pois saberá tratar face
a face seu conflito. O medo de nova depressão favorece a sua
reincidência.
Quando uma pessoa sai de uma depressão, não deve
esperar muito tempo para se fortalecer. Deve reconsiderar a
sensação de fragilidade e concluir que é capaz de vencer qualquer


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uma que venha, como também não temer uma recaída. Muito
embora seja difícil sair ileso de uma depressão, o sentimento de
que não suportaria outra é prejudicial ao fortalecimento da
personalidade. Tal sentimento poderá ser catalisador de uma
recaída, se não houver um preparo interior. Quem conhece a Vida
sabe que o destino nos reserva experiências de acordo com as
necessidades de aprendizado interior. O interno atrai o externo.

Evitar recaídas é não ficar na periferia da cura externa, sem
entrar em contato com o conflito que a gerou. Esse contato deverá
seguir o seguinte esquema:

1. Descobrir a real causa da depressão;
2. Saber que lição precisou ou precisa aprender para evitar
nova queda;
3. Não mais se colocar como vítima do destino;
4. Entender que a vida não brinca conosco e que não
privilegia ninguém;
5. Perceber que os acomodados na vida são por ela instigados
a viver e os arrogantes são, por outro lado, atingidos pelas
quedas estimuladoras;
6. Entender que tudo tem mais de uma saída e que nada
ocorre por acaso nem para a destruição do indivíduo;
7. Compreender que o processo que o levou à depressão
deve ser verbalizado para alguém, a fim de reduzir o peso e a
exclusiva explicação a seu respeito;
8. Conscientizar-se de que toda pessoa deve estar preparada
para os embates da vida, pois ninguém sabe seu passado,
tampouco seu futuro, porém poderá modificar este último;
9. Valorizar sua própria capacidade de superação de
desafios, pois tudo na vida passa, exceto o momento presente,
que é sempre renovado a cada instante;
10. Buscar, ao menor sinal, ajuda imediata para a superação
conjunta daquilo que lhe pareça ameaçador.
Atendi uma ex-paciente que viera em busca, inicialmente,
da solução de um problema doméstico. Seu ex-marido não queria


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sair de casa sob o argumento de que não tinha para onde ir. Ela
não era proprietária da casa onde moravam, pois fora herança de
seu pai antes do casamento. Em menos de dois meses de terapia
a situação fora por ela resolvida, tendo ele saído de casa e ido
morar com uma das filhas do primeiro casamento. Após alguns
anos, ela retornou à terapia comigo por estar em depressão pela
segunda vez. Na primeira vez, cuja causa principal estava relacionada
à morte do pai, fora atendida por um colega, que a conduziu
adequadamente à cura. Agora tivera uma recaída e me procurou.
Sua depressão agora se deu por causa de sua relação com a
mãe. Queria morar sozinha, pois sua filha se casara recentemente,
mas sua mãe, mesmo tendo seu apartamento, continuava com
ela. Ela viera morar em sua companhia após a morte de seu pai,
havia cinco anos. Seu apartamento ficou fechado desde então.
Ela agora queria seu espaço, mas não tinha coragem de falar com
a mãe para que fosse morar em seu apartamento. Frustrada por
isso, sem querer desgastar sua relação com a mãe, começou a
distanciar-se de todos, entrando num processo de isolamento e
de culpa por desejar separar-se de quem mais amava.

Notava nela uma certa dificuldade em administrar perdas
afetivas. Seus problemas giravam em torno de separações. A
separação do marido, por falta de amor e desgaste natural da
relação, foi a primeira perda a ser trabalhada. A separação do
pai, pela sua morte, foi a segunda. A terceira, ainda não concretizada,
era a separação da mãe, pela necessidade de ter seu próprio
espaço, portanto, o domínio de sua própria vida. Sua depressão,
ou depressões, continuava tendo o mesmo núcleo: o desejo de
ter sua individualidade percebida e conscientemente vivida. Sua
luta era por alcançar esse estágio e sua depressão era por não
consegui-lo. Seria fundamental alcançá-lo, sob pena de nunca
conseguir ser ela mesma, experiência que era necessário vivenciar.
Casara-se cedo, saindo da casa dos pais direto para o casamento,
cuja maternidade também fora precoce. Sua individualidade esteve
sob o domínio dos pais, depois do marido, depois da filha e agora
da mãe. Queria conquistar o que achava que não tinha.


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Na terapia, reafirmei seu direito de conquistar o que queria.
Trabalhei sua culpa em relação ao "abandono" materno,
considerando que sua libertação também seria a dela. Ela percebeu
que, inconscientemente, apresentava-se à mãe como uma filha
frágil e dependente, reforçando a presença dela ao seu lado.
Deveria sair da posição frágil de filha e de vítima, antes de liberar-
se da mãe.

Sua recaída se deveu ao núcleo não trabalhado suficientemente,
pois a não existência de um espaço para o estabelecimento
de sua individualidade era impedida pela forma como se colocava
perante o outro.

Pessoas que têm depressões em várias fases da vida são
vítimas de seu próprio inconsciente, pois anseiam por atenção e
cuidados, mesmo quando dizem que não precisam de ninguém.
Culpam os outros, mesmo quando se sentem intimamente culpadas
por algo. Caem nas armadilhas que sua carência afetiva engendra.


Um trabalho

Um dos principais fatores de cura da depressão é o
trabalho ou a existência de uma ocupação útil. Estar trabalhando,
mesmo que em depressão, mantém a pessoa com a mente voltada
a uma atividade, promovendo sua socialização. Estar trabalhando
permite à pessoa reduzir a interferência de outros fatores que
contribuem para seu estado, como por exemplo, a ociosidade,
possibilitando a vivência de experiências passíveis de vitalização
psíquica.

Trabalho é toda ocupação útil, portanto, uma atividade
voluntária poderia ser exercida, mesmo que provisoriamente, para

o equilíbrio do doente. É evidente que haverá dificuldade de
encontrar uma atividade, como também de que ele tenha vontade
de realizá-la. Sua apatia exercerá reação contrária, assim como
será difícil encontrar quem o acompanhe e ensine uma nova
atividade. Ele poderia atuar um dia por semana numa creche, numa
escola, numa instituição beneficente, num hospital público, dentre
outros locais.
Estar trabalhando ou ocupado trará um sentido de utilidade
e de integração do depressivo ao convívio social. Nele, poderá
viver experiências libertadoras de sua angústia e de sua solidão.
Poderá estar projetando conteúdos inconscientes que necessitam
ser liberados em favor de sua cura. A projeção desses conteúdos
ocorrerá através das relações inter-pessoais que estabelecer, sejam
hierarquizadas ou não.


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Acompanhei o caso de uma mulher de cinqüenta anos que
entrou em depressão após a morte de sua filha, vitimada por um
câncer de mama. Sua filha, embora não mais morasse com ela,
fazia parte de sua vida, quase que diariamente, pois a visitava
com freqüência, mesmo estando já casada. Sofrera mais do que
a própria filha, cujo câncer a vitimou em menos de seis meses
depois de descoberto. Fora uma grande perda em sua vida. Ela
não exercia atividade remunerada, muito embora o tenha feito
por alguns anos. Ela e o marido tinham uma pequena empresa,
onde exercera papel gerencial. Após algumas brigas com ele
decidiu por abandonar a atividade, para que seu casamento não
fosse prejudicado. Depois dessa decisão não mais exerceu
atividade remunerada, cuidando da casa, dos filhos e se dedicando
a atividades de aprimoramento de seus dotes culinários, de
jardinagem e de costura. A depressão atingiu-a logo após a menopausa
e sem estar trabalhando. Vivia em casa e só saía com o
marido, um dos filhos e netos. Enquanto se tratava clinicamente
da depressão, foi conduzida por uma amiga a um Centro Espírita
para assistir algumas palestras. A pessoa que dirigia a instituição,
sabendo de suas qualidades artísticas, pois ela lhe segredou que
tocara piano por alguns anos, convidou-a a fazê-lo antes das
reuniões públicas, para entretenimento dos freqüentadores.

Essa simples atividade encheu-a de vida e lhe trouxe o
prazer de se sentir útil. Seu teclado, que se assemelhava ao antigo
piano, encheu de vida o ambiente do Centro, como também
preencheu seu coração de satisfação. Essa atividade contribuiu
para que sua depressão se dissipasse com maior rapidez.

Trabalhar não é apenas uma exigência social, para que o
indivíduo tenha meios de subsistência. Mesmo que alguém
porventura não precise fazê-lo, por possuir riqueza material
suficiente para se manter para o resto da vida, ainda assim precisará
trabalhar. Essa é uma exigência psíquica. A ociosidade tem limites
estabelecidos pela própria necessidade de se individuar. O
arquétipo do herói, como tendência a realizar o Self, provocará a


Alquimia do Amor

necessidade do trabalho. O trabalho é o sacrifício necessário de
todo espírito. Sacrifício entendido como sacro ofício, isto é, o
ofício sagrado de trabalhar.

Mesmo que alguém não precise materialmente do trabalho,
será importante tê-lo, pois ele é uma das principais atividades
realizadoras do Espírito na sua caminhada para o aprendizado
das leis de Deus.


Sentimentos típicos do depressivo

Depressão, do ponto de vista energético, como o nome
sugere, é um estado resultante de uma pressão que é exercida
sobre algo, provocando seu rebaixamento a um nível inferior.

Do ponto de vista psíquico, ocorre uma diminuição ou
redução do tônus vital da consciência, que tem sua energia roubada
ao inconsciente. Nela se observa um declínio acentuado em
relação a um nível anteriormente admitido.

Ocorre uma perda de energia, com redução da capacidade
funcional, promovendo, via de regra, a prostração física e falta de
forças com redução da atividade geral do indivíduo.

O estado de depressão se caracteriza pelo desânimo e
sensação de cansaço, com falta de vontade de realizar atividades
comuns. Atinge a vontade, motor das ações humanas. A vontade
representa a presença do sentimento de estar vivo na consciência,
portanto é a própria vida que nela se apresenta. Sem a vontade
não há vida nem existência. A depressão atinge a sensação de
estar vivo.

O depressivo sente solidão mórbida, tristeza persistente,
angústia lancinante, vazio existencial, dor no peito, desesperança,
desânimo, culpa, inutilidade pessoal, desestímulo, medo e incompetência
para viver. São sentimentos que se misturam numa
alquimia destrutiva e confusa. Requer o tônus do amor à vida
para resolver tamanha perturbação. O amor voltado exclusiva



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mente para si promove tal confusão na dimensão afetiva do ser
humano, que a saída é voltá-lo à vida, ao próximo e a Deus como
Criador de tudo.

Observo em alguns pacientes uma certa predisposição
mórbida ao diagnóstico de depressão, ratificadora de pequenos
sintomas característicos da carência afetiva e de tristeza por qualquer
motivo. Sentem, num grau mínimo e num tempo muito curto, alguns
sintomas, mas preferem afirmar que têm depressão. São pessoas
que superlativizam os sentimentos, colocando-os acima da própria
razão. Têm a sensibilidade à flor da pele e não conseguem
racionalizar adequadamente a respeito de suas emoções. Vivem
um mundo completamente entregue ao desejo inconseqüente de
serem amadas a qualquer custo. São, por esse motivo, melindrosas
e extremamente julgadoras dos atos alheios. São tomadas pela
função sentimento, como uma exclusiva lente pela qual enxergam
a realidade. Precisam se conectar ao mundo racional. Não o fazem
porque também se excedem quando a utilizam. Facilmente entram
em depressão por questões amorosas e afetivas.

Essa tendência mórbida observada em algumas pessoas
parece estar relacionada ao complexo materno negativo, no
qual a filha não deseja ser como a mãe ou, ao contrário, torna-se
excessivamente materna. Em ambos os casos, o núcleo de seus
complexos é o materno atrofiado ou em excesso. Levam muito a
sério, inconscientemente, a questão materna. Geralmente não vêem
a própria personalidade, dedicando-se excessivamente ao outro,
de quem cobrarão no futuro tudo que lhe foi dirigido. Quando
não cobram da pessoa, consideram-se credoras de atenção por
parte de todos e de Deus.

Os sentimentos de uma pessoa depressiva se misturam à
sua própria dor. Não são fidedignos, pois seu estado de espírito
está contaminado pela falta de energia para uma melhor expressão
de suas emoções. Há uma espécie de contaminação provocada
pelo complexo, cuja carga afetiva se imiscui aos sentimentos da
consciência.


adenáuer novaes

No estado de depressão se misturam sentimentos contraditórios.
Amor e ódio se alternam num mesmo momento e, às
vezes, por uma mesma pessoa. Essa possibilidade pode ser
responsável pela irritação constante, por causa da contradição
de se querer odiar a quem se ama.

Atendi um homem depressivo após ter passado por uma
traição conjugal. Separou-se de sua primeira mulher por causa
de uma forte paixão por outra, a quem devotou todos os melhores
sentimentos e deu "tudo que uma mulher gostaria de receber".
Deu-lhe carinho, atenção, companheirismo, conforto, filhos, dentre
outras coisas. Deixou sua primeira família por ela, sem pestanejar.
Após quinze anos de relacionamento, já aos cinqüenta anos de
idade, ela lhe confessou que se apaixonara por outro homem. Foi
um duro golpe para ele, que, aos sessenta anos, planejara sua
velhice ao lado dela.

Numa das sessões, ele confessou que alternava
sentimentos de amor e ódio por ela, predominando o primeiro.
Disse que, mesmo com tudo que ela lhe fez, não conseguia
odiá-la de verdade. Às vezes forçava-se a odiá-la para, com isso,
adotar uma postura diferente e não ficar se achando injustiçado,
mas seu amor era muito maior do que sua vontade. Seus
sentimentos se misturavam dentro de sua mente, deixando-o
confuso e perturbado. Queria esquecer, mas não conseguia.
Vivia um dilema muito grande. Como odiar alguém, cujo
comportamento ele também teve? Deixou seu primeiro
relacionamento exatamente por ter se apaixonado por ela.
Compreendia, mas queria odiá-la de verdade. Confuso, perdido
em seus sentimentos, movido pelo complexo de rejeição,
deprimiu-se.

Conversamos por várias sessões sobre o assunto. Aconselhava-
o a não querer esquecer o amor, nem a tentar substituir um
sentimento positivo por um outro negativo. Solicitei que entendesse
que seu amor valeu a pena e que sua vida foi motivada por ele.
Recomendei que tentasse ressignificar sua vida sem sua mulher e


Alquimia do Amor

que não a achasse má, exatamente por ter como exemplo seu
próprio comportamento.

Ele a procurou, pois ela saiu de casa, e conversou com ela,
liberando-a da culpa pelo ato. Aliviou-se, e a ela também.
Tornaram-se amigos, seguem seus destinos sem mágoas e sem
depressão de parte a parte.


Depressão e energia psíquica

Energia psíquica é a fonte da vida. Graças a ela, o ser
humano executa sua vontade de viver. Sua baixa utilização atrofia
a vida e deprime o indivíduo. Quando a vontade é acionada pelo
Espírito, é ela que entra em ação para a execução dos atos mais
comuns da vida, desde a primeira emoção, passando pelos
pensamentos, pelas idéias e, finalmente, chegando ao mundo
concreto. A depressão é uma baixa de utilização da energia
psíquica para a extroversão, isto é, para fora do próprio indivíduo.
A inércia, a preguiça e a apatia são estados que denotam pouca
utilização da energia psíquica.

A depressão é um mal que assola o ser humano de forma
persistente e que tem levado muitas pessoas à inércia e ao
desespero. Ela é fruto da mente que se vicia em pensar em circuito
fechado, não conseguindo enxergar, além das fronteiras do ego,
as possibilidades de sair do conflito. Geralmente a doença consegue
afastar seu portador das pessoas que mais ama, às vezes,
culpando-as pelo próprio abandono em que se situou. Ela se inicia
muitas vezes com a baixa de auto-estima e com a sensação de
rejeição ou de abandono. A solidão é outro fator que colabora
para que a depressão possa se instalar. Todo ser humano necessita
de outro em seu convívio. Quando isso não ocorre ou se demora
a ocorrer, pode-se abrigar a depressão. Ela permite que a energia
psíquica, destinada à Vida, seja dirigida para o mundo interior


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do deprimido, que se encontra em circuito fechado. É, na verdade,
um suicídio lento e indireto da própria pessoa, que não vê outra
alternativa senão isolar-se em si mesmo.

Para sair da depressão é preciso ressignificar seu próprio
conflito, pois ninguém há que possa enxergar um problema sob
todos os ângulos possíveis. É preciso reverter o fluxo da energia
psíquica para o mundo das realizações e do concreto.

A saída da depressão, na maioria das vezes, requer auxílio
especializado, psicológico e, às vezes, espiritual. A energia psíquica
que, por alguma razão, regrediu ao inconsciente e ali ficou
retida, necessita encontrar escoadouro adequado para voltar à
consciência. Para o deprimido, nada ou pouca coisa há no mundo
que lhe desperte o interesse. Toda a sua motivação, sua disposição
para viver e alterar o ambiente em sua volta parece ter desaparecido
e a pessoa se vê prisioneira num enorme vazio, onde nada
tem sentido. Esse vazio dá lugar a processos obsessivos de difícil
solução. Tratar da depressão passa pela revisão do que causou a
regressão psíquica e pela descoberta de novos valores que possam
ressignificar tais acontecimentos. É um processo de se abrir para
conhecer o próprio inconsciente, sem preconceitos, identificando
as dores nele represadas e favorecendo uma adequada liberação,
para posteriormente reencontrar-se com a motivação perdida. O
deprimido é aquele que se dissociou do sentido que fundamenta
sua vida.

A psiquê possui um quantum de energia psíquica incalculável.
Ela não entra nem sai do ser humano. Ela é transformada
em aquisições íntimas que alcançam o Espírito, durante as
experiências da vida. Sua transformação ocorre num processo
alquímico constante no qual interferem sensações, emoções,
pensamentos, idéias, sentimentos, julgamentos, atos e intuições.
Viver é utilizar essa energia psíquica. A depressão diminui sua
disponibilidade na consciência.

Diante da depressão é importante considerar que sua causa
poderá estar bem próxima da consciência do indivíduo e que


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ninguém mais do que o próprio terá condições de resolver seu
conflito. Quando enfrentá-lo decididamente não haverá perdas
nem derrotas, mas aquisição de experiência para que se possa
encarar outros revezes que venham a acontecer.

Reverter o fluxo é fundamental, porém deve ser feito de
forma adequada para não se pensar que basta sair e tornar-se
extrovertido para resolver o problema. Não se deve esquecer de
que o núcleo da depressão tem de ser descoberto e dissolvido,
enquanto se realiza a extroversão. A vida exige simultaneamente
introversão e extroversão.

É comum à pessoa em depressão, ou após uma decepção
amorosa, passar a sair mais, ir a festas, boates, barzinhos, noitadas,
etc. Influenciada ou não por amigos e amigas, passa a querer
"descontar", ou "gastar", a energia que economizou durante o
período em que esteve se relacionando. Vai, consciente ou
inconscientemente, à procura de um outro parceiro. Parece que
deseja ser notada para se sentir valorizada por alguém. Não quere
viver o "luto" da perda para não cair em depressão. Não analisa
que a falta da introspecção madura, sem depressão, é a saída
para seu próprio crescimento.

Atendi uma mulher de 45 anos que se deprimiu em seguida
à sua separação. Fora mãe solteira aos trinta anos, pois o pai da
criança, após saber de sua gravidez, foi morar em outro país e
nunca assumiu a filha, nem sequer a conhece. Após seis anos ela
se casou com outro homem. Viveram bem nos primeiros anos,
mas a relação foi se desgastando, culminando com a separação.
Isso a deprimiu muito, pois vivera para o casamento. Uma semana
após a separação, já deprimida, uma amiga a convidou para sair,
sob o argumento de que deveria buscar outros ambientes e respirar
outros ares. Afinal de contas, dizia-lhe ser uma mulher jovem,
bonita e facilmente encontraria alguém que gostasse dela. De fato,
a amiga tinha razão. Na primeira noite em que saiu conheceu um
homem de sua idade. Começaram a namorar e, em menos de três
meses, eles estavam morando juntos. O resultado foi desastroso.


Alquimia do Amor

Ela não o conhecia bem. Ele era um homem rude com aparência
de delicado. Ela só veio descobrir que ele era dominador e grosseiro
após algumas semanas juntos. Arrependeu-se amargamente
e foi um sacrifício romper essa nova relação, pois queria sempre
dar uma nova chance. Quis sair da depressão sem perceber que
estava entrando em outro conflito maior.

Todo luto deve ser vivido, mesmo que seja por tempo curto.
Esse será o tempo da reflexão e do amadurecimento. A energia
psíquica que todo ser humano tem deve ser bem utilizada para
que o indivíduo não se atrase na evolução nem permaneça na
mediocridade.


Eventos que aumentam a probabilidade
de ser gerada a depressão

A vida é um conjunto de experiências significativas
ao indivíduo, nas quais ele se estrutura, passa a se conhecer, se
desenvolve e encontra a razão de sua existência. Sua personalidade
é constituída de um conjunto de vetores intervenientes que, num
momento, apresentam uma resultante possível. Ela é o resumo
apresentável ao momento naquele ambiente. Por essa complexidade
e inacessibilidade à substância psíquica, conhecer uma pessoa
é fenômeno improvável, visto que ninguém tem acesso ao mundo
íntimo do outro.

O que afeta uma pessoa poderá não incomodar outra, bem
como a forma de pensar e sentir a vida diverge de pessoa a pessoa.
Muitos são os fatores que contribuem para que uma pessoa se
encontre neste ou naquele estado psíquico. Entrar em depressão,
portanto, pode receber a contribuição de diversos fatores que
atuam em particular ou em conjunto com outros.

Para que se possa compreender quais os fatores que
costumam interferir nas depressões, elaborei um pequeno resumo
a seguir, que pode também servir de orientação para quem lida
com o psiquismo humano.

São os seguintes eventos que contribuem para que uma
pessoa entre em depressão:


Alquimia do Amor

1. Morte de uma pessoa próxima, com a qual se mantinha
vínculo afetivo, profissional ou social, sem a devida percepção da
imortalidade da alma;
2. Separação conjugal, principalmente litigiosa, ou grave
desilusão amorosa, com sentimento de inferioridade;
3. Separação de um ente muito querido por motivo de
viagem longa, casamento (de um filho) ou saída de casa;
4. Morar sozinho, ter hábitos solitários, bem como ser
excessivamente introvertido sem internalização do significado da
solidão;
5. Desemprego, como também ter dificuldade em se
estabelecer profissionalmente;
6. Descontrole financeiro, com excessos de dívidas, sem
perspectivas de solução;
7. Abandono materno ou paterno, ou o caso de ser
adotado sem receber carinho e cuidados como um filho;
8. Abuso sexual, carência sexual, bem como excesso de
atividades sexuais;
9. Trauma de infância, provocando fobias, manias ou
ansiedades;
10. Deficiência física e auto-imagem corporal negativa, não
resolvida psicologicamente;
11. Dificuldade em lidar com doença grave ou crônica, não
necessariamente limitante da vida funcional da pessoa;
12. Baixa auto-estima, motivada por expectativas frustradas
ou pela educação inadequada;
13. Sentimento de rejeição geral ou de não se sentir querido,
desejado ou útil;
14. Pavor da morte, seja por ter presenciado a morte de
alguém ou por ter passado por um risco de sua ocorrência;
15. Ateísmo ou falta de conexão psíquica com alguma
crença sagrada;
16. Ocorrência de fenômenos mediúnicos, isto é, vivenciar
fenômenos mediúnicos sem compreendê-los adequadamente ou
sofrendo-lhes perturbações típicas.

adenáuer novaes

Esses são alguns dos eventos passíveis de levar à depressão.
Evidentemente que nem todas as pessoas que atravessaram
experiências desse tipo entram em depressão. Fatores outros,
relacionados à personalidade do indivíduo, interferirão, levando-

o a outras formas de equilíbrio.
Todos esses eventos, quando ocorrem na vida de alguém,
têm alguma finalidade específica, cuja resposta será o grande ganho
ao indivíduo que por eles passar. Sua descoberta traz grande
felicidade e crescimento espiritual.


Conceitos de depressão

Muitos são os conceitos de depressão, variando
do popular ao científico. Por conta das perspectivas sócioambientais
desfavoráveis, pode-se dizer que o ser humano no
mundo globalizado sofre mais influência para se dizer deprimido.
Guerras, miséria, pobreza, violência, desemprego, comércio de
drogas, competição desenfreada e selvagem, corrupção, impunidade,
desamor, são circunstâncias exploradas no dia-a-dia da
mídia internacional, levando as pessoas a um estado consciente e
inconsciente de desesperança. A esperança na vida se resume
aos poucos momentos, quando a glória dos heróis nacionais traz
algum tipo de alento, desviando o olhar para alguma luz. À medida
que o tempo vai passando, volta-se à rotina com o bombardeio
maciço de notícias que formam uma consciência coletiva pessimista,
embora realista, mas com pouca ênfase na esperança que
a própria vida contém. Com base nisso, dizer-se deprimido é quase
um automatismo, cujo impulso vem dessa consciência coletiva.

É preciso também ter uma visão otimista, porém não
fantasiosa, da vida e do destino humano. Sem isso, o esforço
para viver se torna maior, dadas as perspectivas futuras profetizadas
como aterrorizadoras. Nem toda tristeza é depressão e nem
todo estado de desânimo leva a ela. É preciso ter discernimento e
maturidade para enfrentar os desafios da vida sem achar que não
há saída.


adenáuer novaes

A depressão é doença, e como tal, exige sintomas específicos
e intensidade de ocorrência. Não deve ser considerado como
suficiente para o diagnóstico apenas um estado momentâneo da
consciência, tampouco uma irritação passageira ou uma necessidade
de ficar só. É algo mais profundo que convida o indivíduo
ao amadurecimento da personalidade.

O DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais) conceitua a depressão como um transtorno do humor
irritável ou triste. O CID-10 (Classificação Internacional de
Doenças e de Problemas Relacionados à Saúde) apresenta uma
definição descritiva, colocando a depressão como rebaixamento
do humor, com redução da energia e da atividade geral.

Em ambos os sistemas de classificação observa-se a ênfase
na alteração do humor, portanto do grau de afetividade do
indivíduo. Afetividade entendida como "aquilo que afeta
emocionalmente o indivíduo".

Sobre afetividade Jung, no Volume III, parágrafo 78 de
suas Obras Completas, diz "A base essencial de nossa
personalidade é a afetividade. Pensar e agir são, por assim
dizer, meros sintomas da afetividade." Para ele, portanto, tudo
que ocorre na consciência ou toda a manifestação da personalidade
de um indivíduo revela sua afetividade, ou, no mínimo, sofre sua
interferência indireta. A depressão atinge a personalidade, alterando
sua manifestação por estar relacionada à afetividade.
Quando se pensa em depressão, deve-se ter em mente que é um
transtorno da afetividade.

Eis alguns conceitos utilizados para dar um significado ao
estado depressivo de alguém:

1. Descontentamento com a vida, com insatisfação geral
pela própria condição existencial.
2. Crise existencial com perda da razão para viver.
3. Isolamento psíquico levado pela restrição de contatos
sociais e perda do gosto pela vida emocional.
4. Estado de conexão com um complexo inconsciente que
subtrai a energia de viver.

Alquimia do Amor

5. Estado de abatimento vital e de perda do interesse pela
vida funcional.
6. Síndrome de sintomas geradores de angústia e de tristeza
profundas.
7. Medo de enfrentar desafios e de transpor limites.
8. Medo de sentir dor ou de passar pelo sofrimento que a
vida impõe.
9. Medo de enfrentar ou reagir a situações aversivas por
não querer crescer e desenvolver-se.
10. Estado infantil de viver com recusa ao amadurecimento
da personalidade.
11. Estado de desligamento afetivo que desconecta a pessoa
da vida relacional.
12. Estado de excessiva auto-afetividade que prejudica a
vida de relações.
13. Medo de enfrentar situações ou processos que implicam
em esforço pessoal e que podem trazer riscos ou sofrimento ao
ego.
14. Fuga da realidade com conseqüente retorno a um estado
regressivo.
15. Estado em que a energia psíquica se volta para o
mundo interno inconsciente.
São conceitos úteis para auxiliar na compreensão mais
precisa do que é a depressão. Não esgotam uma análise individual
mais profunda, pois a doença se manifesta de distintas formas em
cada pessoa.


Sintomas e critérios para diagnóstico

Ocritério mais comum, quanto ao tempo de instalação,
utilizado para identificar a depressão é a ocorrência de alguns
sintomas por, no mínimo, duas semanas. Os sintomas utilizados
para esse critério são diversos, dependendo de cada pessoa. Uma
doença é um conjunto constituído da personalidade e dos sintomas.
Por esse motivo, vários são os critérios diagnósticos.

É comum considerar-se em depressão quem possua pelo
menos cinco dos primeiros dez sintomas a seguir, não excluindo
do diagnóstico os outros sintomas.

1. Humor triste ou irritável;
2. Perda de interesse ou desprazer nas atividades diárias
normais. Indiferença às ocorrências cotidianas;
3. Alteração de sono. Insônia, hipersonia, sono agitado ou
sono excessivo;
4. Sentimentos de culpa inadequada ou de inutilidade;
5. Afastamentos ou indiferença com afetos;
6. Tristeza e angústia profundas com choro ou vontade de
chorar recorrente;
7. Sentimentos de desesperança;
8. Redução na capacidade de raciocínio;
9. Redução na capacidade de se concentrar;
10. Pensamento de morte persistente;

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11. Retraimento social progressivo;
12. Dificuldade de sair da cama ao acordar;
13. Irritação e mutismo;
14. Alteração de apetite. Aumento ou redução da vontade
de comer com conseqüente perda ou aumento de peso sem dieta;
15. Agitação ou retardamento psicomotor;
16. Diminuição ou perda do apetite sexual;
17. Cansaço excessivo, demonstrando fadiga ou perda de
energia;
18. Tentativa ou vontade de se suicidar;
Enquadro como portador da depressão aquele que possua
no mínimo cinqüenta por cento desses sintomas por pelo menos
sessenta dias. Dilato o tempo determinado pelo DSM-IV, pois
observo que alguns sintomas iniciais da depressão não persistem
por serem facilmente eliminados pela pessoa. Nestes casos, os
sintomas não se configuravam como sendo da depressão. Quando

o tempo é inferior a sessenta dias e superior a uma semana, chamo
de episódio depressivo, mesmo que o núcleo da depressão não
tenha sido conscientizado e dissolvido.
Quando se tenta enquadrar alguém como depressivo,
baseando-se nos critérios acima especificados, não se pode esquecer
de que os sintomas apresentados podem ser secundários em
relação a outro transtorno psíquico. A depressão pode estar presente
como conseqüência de um transtorno maior, como também
há sintomas de transtornos que se assemelham aos da depressão,
sem que a pessoa esteja nela enquadrada.

A relação acima não deve servir para que alguém se inclua,
sem uma confirmação psiquiátrica. Menos ainda, para alguém
querer se medicar por achar que está com depressão. Após o
diagnóstico médico, constatando-se a depressão e independente
da prescrição de medicação, a pessoa deve procurar tratamento
psicológico profissional. A depressão, por ser uma doença
relacionada à afetividade e ao humor, necessita de tratamento
psicológico especializado, independente do uso de medicamentos.


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O tratamento espiritual se fará necessário após avaliação
realizada em Centro Espírita de orientação kardecista, em cuja
equipe haja pessoas com conhecimento do espiritismo e de
transtornos psíquicos.


Fatores predisponentes

Adepressão não é uma doença que se instala de
forma instantânea, pois existem fatores que predispõem uma pessoa
a passar por ela. Os pilares que sustentam a personalidade vão,
de forma insidiosa, sendo minados, favorecendo a derrocada do
ego, que sucumbe ao complexo inconsciente. Por esse motivo,
ela pode vir a desabrochar, se suas causas não forem removidas,
tempos depois dos primeiros sintomas se instalarem. Os pilares
de sustentação do equilíbrio da personalidade são: a coesão interna
do eu, a autoconfiança, um sentido bem objetivo de vida e a autoafetividade
harmonizada.

A coesão interna do eu é decorrente de uma maturidade
psicológica alcançada pela segurança e consciência da própria
responsabilidade no viver. Ela se estrutura nas várias experiências
bem sucedidas do espírito. Percebe-se essa coesão do eu quando
a pessoa não costuma se inquietar diante dos eventos aversivos
que experimenta, como também pela forma simples e determinada
de viver.

A autoconfiança surge de uma íntima ligação consciente com
uma força superior (Deus), sempre sentida em todos os momentos
felizes ou adversos. Ela se consolida na medida que o livre-arbítrio
é experimentado e suas conseqüências são assumidas.

O sentido bem objetivo de vida representa o viver com
senso de propósito, consciente do que deseja para si. Senso de


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propósito é agir baseado nos projetos que possui, sabendo adiar
recompensas imediatas que não estejam de acordo com os
grandes objetivos que se tem. Derrotas são absorvidas sem sentimento
de fracasso pessoal, mas consideradas como deficiência
estratégica.

A auto-afetividade harmonizada é o amor a si mesmo
resolvido, com uma boa auto-imagem, mesmo consciente dos
aspectos negativos da própria personalidade. Este pilar representa
a inexistência de carência afetiva, capaz de roubar a energia
normalmente utilizada na consciência.

São muitos os fatores que predispõem alguém à depressão.
Eles atingem as pessoas de diferentes formas, tendo influência em
algumas, mas não em outras. São variáveis subjetivas e nem
sempre conscientes.

O primeiro deles vem da cultura negativista, que anula a
pessoa e a subjetividade, valorizando excessivamente o ter, em
lugar do ser. O pessimismo coletivo é estampado na mídia diariamente,
contaminando as pessoas para uma expectativa de um
futuro não muito promissor. De um lado, isso contribui para que o
ser humano aumente suas forças para superação de algo que
considera pior do que parece, do outro, porém, exige-lhe um
desgaste psíquico maior do que o necessário. São comuns as
críticas ao sistema político, ao Estado, aos governantes, aos pais,
bem como a todo tipo de autoridade, exceto a consciência da
responsabilidade pessoal sobre o próprio destino. O negativismo
quanto ao próprio destino contribui para a instalação de uma base
psicológica que se acredita derrotada. Tal cultura nega indiretamente
que o destino humano é a felicidade.

Nessa mesma linha de raciocínio, há também uma cultura
do viver para fora, distanciada da interiorização necessária ao
processo de autoconhecimento. A vida social exige participação,
realização externa, desenvolvimento da coletividade, capacidade
empreendedora, conexões inter-pessoais, etc. Porém, isso não
deve anular o mergulho que se deve dar para dentro de si mesmo,


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compensando o estar sempre para fora. A evolução do ser humano
se dá nos movimentos que o ego deve fazer para dentro do
inconsciente e para fora da consciência. O movimento nas duas
direções deve ser feito simultaneamente. Há um certo condicionamento
para se fazer em maior intensidade e quantidade o
movimento para fora, o que torna o ser humano inábil quando
tem de entrar em contato com sua natureza íntima. Nesse contato,
sem o devido preparo, ele entra em depressão. A oração, a
meditação, as práticas de interiorização reflexiva, são contribuições
importantes para que o ser humano entre em contato com sua
natureza íntima sem necessariamente ficar depressivo.

Uma personalidade frágil, pouco resistente a perdas,
favorece a entrada na depressão. São pessoas que vivem com
medo de viver, de arriscar e de se perderem na vida. Não se
sentem seguras em nada do que fazem. Sentem-se crianças
vivendo num mundo hostil. Ainda não se conscientizaram que
jamais perderão sua individualidade e que a vida lhes reserva a
felicidade, conquistada com o esforço pessoal e com o sacrifício
pelo trabalho. Vivem inconscientemente sintonizadas com a derrota
e o fracasso experimentados em alguma época inacessível à
consciência. Precisam perder o medo, mas não sabem como fazêlo.
Não ousam nas mínimas coisas, mesmo naquelas onde existe
ampla possibilidade de sucesso, pois colocam o fracasso antecipadamente.
São essas pessoas que enfrentam tragédias, pois as
constroem na intimidade de seu ser, por medo de que elas
aconteçam. São candidatas à depressão ou a uma vida sem
aventuras, portanto sem sentido. O herói resolveu não existir.

Um outro fator que contribui para a depressão é o sistema
de ensino, que adota modelos educacionais não estimuladores. O
ensino, em geral, estimula o raciocínio e a criatividade dirigidos para

o mundo racional e ao pragmatismo. Embora considerando isso útil
à sociedade e ao próprio indivíduo, ainda é pouco diante das
potencialidades da criatura humana. O ensino deveria também ser
voltado para as dimensões subjetivas do ser, preparando-o para

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tornar-se aquilo que ele próprio é: um ser espiritual e material
simultaneamente, que existe para conhecer as leis de Deus e ser
feliz. Nas escolas, a educação prepara o indivíduo para competir e
ser o melhor, dando-lhes informações e treinando-o para o mundo
que enfrentará. Testa-o exclusivamente pelo pensamento lógico-
matemático e pela competência lingüístico-verbal. Outras habilidades
são desprezadas. Suas capacidades artísticas, cinestésicas, emocionais
e intuitivas não são valorizadas. O espírito, pleno de potencialidades,
fica tolhido dentro de um sistema restrito de valorização
lógico-cognitivo. Essa restrição e a impossibilidade de expressar
suas competências contribuem para sua entrada na depressão.

Outro fator, talvez o mais importante, que contribui para
que uma depressão se instale numa pessoa é seu padrão psíquico
alicerçado em várias encarnações. O indivíduo, ao reencarnar,
vai construindo desde a infância, sua nova personalidade, a qual,
dentre outros fatores interferentes, está relacionada com o meio
ambiente. Sua nova apresentação, embora seja diferente da anterior,
conterá um núcleo comum, que é a interseção das várias
personalidades já vividas. Em cada encarnação ele constrói uma
personalidade, entendida como a totalidade do que é mostrado
pelo espírito, como sendo sua individualidade naquela época e
naquele meio, recebendo a contribuição das interseções construí-
das no passado. Tudo isso gravado em sua mente, no perispírito.
Sucessivas experiências mal sucedidas, com desilusões e decepções
diversas se encontram gravadas, influenciando sutilmente a
consciência. Aquelas experiências, consideradas aversivas pelo
espírito, nem sempre são dissolvidas e ressignificadas no final da
vida no corpo físico ou no período entre uma e outra encarnação.
Isso se constitui num padrão psíquico, observado desde a infância
ou a partir da adolescência, que predispõe o indivíduo à
depressão.

Todos esses fatores que podem levar alguém à depressão
podem ser superados se, desde a infância, o indivíduo for
estimulado a um sentido para a própria existência. Algo que o


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motive e que o faça entender que desafios virão, devendo ser
superados para que alcance o que deseje. Inicialmente isso é
estimulado pelos pais, depois pela educação escolar e, em seguida,
pelo próprio espírito que assume psicologicamente sua encarnação
na adolescência. A falta de sentido à própria vida é determinante
para a instalação, não só da depressão, como de todas as afecções
psíquicas.


Causas do ponto de vista
psicológico e espiritual

As causas relacionadas aqui se referem ao ponto
de vista psicológico e espiritual, presentes na própria personalidade
do indivíduo, portanto não são consideradas aquelas externas,
relacionadas anteriormente como eventos que podem gerar depressão.
Não são relacionados os fatores químicos cerebrais que
podem contribuir para a depressão. São componentes da personalidade
que contribuem para a instalação da depressão de forma
significativa. São poderosos componentes que atuam na personalidade,
ao longo da vida da pessoa, fragilizando sua integridade.
Minam seus alicerces, sem que o ego se dê conta, por falta de
amadurecimento.

1. Egocentrismo
A primeira causa, sem ordem de importância, é a personalidade
excessivamente egocêntrica, que geralmente se coloca como
centro de todo o interesse. Tem tendências egoístas e dificuldade
de se desapegar das coisas que tem ou conquistou. É controladora
e dominadora do que ocorre em sua órbita. A personalidade
egocêntrica possui antecedentes que favorecem sua formação e
são facilmente detectáveis. Um deles é a ausência de limites na


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infância, o que favorece a irresponsabilidade no adulto. Crianças
que são educadas sem limites se tornam adultos despreparados
para os desafios típicos da vida social moderna. Continuam
crianças indefesas e incapazes de assumirem suas responsabilidades
adultas. Tornam-se dependentes, desejando tudo controlar por
causa da dificuldade em liberar. São voluntariosos e, às vezes,
impulsivos. A falta de limites pode se dar por ausência paterna ou
super-proteção materna. Em alguns casos de aparecimento de
adultos irresponsáveis, podem ser encontrados pais (principalmente
o pai) com grande diferença de idade de seus filhos (geralmente
acima de cinqüenta anos). Cobrem seus filhos de mimos como se
fossem avós, dando-lhes excessiva atenção, além de camuflarem
suas fragilidades mais do que o necessário. Ajudam a construir
personalidades egoístas e egocêntricas. Semelhante a esse tipo
de pais pode-se encontrar pais muito permissivos, que não sabem
dizer não aos seus filhos. Dão-lhes autonomia muito cedo e
liberdade que não sabem administrar.

Outro fator que contribui para o aparecimento da
personalidade egocêntrica é quando o indivíduo é tomado por
um complexo inconsciente de inferioridade. A constelação desse
complexo na consciência provoca o surgimento de características
não muito agradáveis na personalidade. A pessoa é tida como
antipática, arrogante, prepotente ou que abusa de sua autoridade,
isto é, um ditador. O complexo, então no inconsciente, para ser
compensado na consciência, promove seu oposto. O egocentrismo
aparecerá também pela ausência de pares ou de pessoas com
quem dialogar.

O egocêntrico, mesmo que não venha a ter depressão, tem
medo de mudar e enfrentar o novo, por se sentir seguro em seu
mundo, protegido pelas suas convicções, raramente compartilhadas
com alguém. Mudanças são uma ameaça à sua pretensa
estabilidade, que, muitas vezes, não se sustenta com o menor abalo.

Pode-se observar, entre os egocêntricos, espíritos que
trazem essa mesma marca do passado. Eram egocêntricos e


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continuam sendo os mesmos depois de nova encarnação.
Caracterizam-se por não gostarem de dividir espaços e atenções.

Para evitar que o egocentrismo venha a ser fator causal de
uma depressão, é preciso que o indivíduo desenvolva seu senso
crítico e sua capacidade de receber feedback. Uma psicoterapia
seria útil, bem como o exercício do desapego. Este último pode
ser fazendo, por alguém, algo de forma desinteressada, isto é,
alguma caridade.

2. Personalidade auto-piedosa
Esse tipo de personalidade possui várias características,
sendo as principais o excesso de carência afetiva e a constelação
de um complexo materno negativo. A personalidade auto-piedosa
se coloca como "coitadinha" no mundo. Sente-se esquecida por
todos e por Deus. Coloca-se como vítima e como perdedora.
Vive envolta em pensamentos de que nada vale, mas que merece
uma compensação divina pelo que passa. Como se ilude muito,
na expectativa de receber o que acha merecer, desilude-se na
mesma proporção. Sua desilusão se demora a sair de seu campo
mental, até que outra ilusão tome o lugar. Não gosta que sintam
pena dela, mas a todo tempo atrai tal sentimento. Tem uma
carência afetiva inesgotável. Mesmo quando suprida em sua troca
afetiva, é sensível ao mínimo sinal de redução do quantum recebido,
exigindo retorno tempestivamente.

São pessoas que costumam cobrar reciprocidade em suas
manifestações afetivas, na forma de carinho, atenção ou obediência.
Em alguns casos, se excedem em suas relações amorosas,
doando muito e provocando no outro, de forma indireta, a
necessidade de distanciamento.

Nesse tipo de personalidade, o complexo materno assume
um caráter negativo, pois leva o indivíduo a envolver-se num
binômio afetivo de necessidade de proteção e, ao mesmo tempo,


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de proteger as pessoas. A negatividade se encontra presente no
excesso dessas características e na atuação contrária ao desenvolvimento
da personalidade. O complexo é materno porque vem
da mãe, que representa a capacidade de nutrir, proteger e acolher.
Leva a pessoa a um casulo, como se voltasse a ser criança, necessitando
de proteção constante. Não se desvincula para crescer,
nem se emancipa de forma madura. Faltando-lhe a mãe, ou alguém
correspondente, sente-se desprotegida e desamparada, contribuindo
para que o complexo atue, pela auto-piedade.

Quando se torna "mãe" dos outros tende a desenvolver um
excessivo controle sobre suas vidas, exigindo cumprimento de
regras. Desta forma, age controlando a vida dos outros pela
insegurança que sente em sua própria. Essa atitude dificulta a
formação de âncoras seguras na personalidade, que mantêm o
ego estável e maduro para a tomada de decisões nas crises. Essas
âncoras são referenciais positivos, aos quais o ego se conecta,
dispensando mecanismos instáveis, ou artificiais, para sua
segurança.

Tem medo de ficar só, de não encontrar um par em sua
vida, pois coloca isso como condição fundamental para ser feliz.
Vive à procura de alguém com quem realizará tudo que deseja
para si e para o mundo. Parece que é, ou se sente, a metade de
algo que só se completa quando se conecta à sua outra parte
perdida. Vive antenada para encontrar aquela pessoa, iludindo-
se muito. Idealiza seu par, projetando nas pessoas atributos que
não possuem, transferindo-lhes responsabilidades que, em geral,
não cumprem, até por não saberem. Seus relacionamentos são
frágeis e de pouca duração. Quando se liga a alguém e não dá
certo, não entende a razão pela qual não foi merecedora da
felicidade. Quando fica sem sua "metade perdida", na meia-idade,
facilmente entra em depressão, apegando-se ao parente mais
próximo que se tornará o substituto possível.

É típico da personalidade auto-piedosa uma referência
negativa sobre si mesma. Não vê em si as potencialidades e


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qualidades a serem desabrochadas e utilizadas para a conquista
de sua felicidade, projetando-as nos outros. Aponta seu olhar
para as pessoas, que são classificadas pela possibilidade de serem
seus anjos tutelares e salvadores de sua "infinita" desdita.

Geralmente pessoas que desenvolvem essas características
na personalidade têm poucos momentos de felicidade e se tornam
amargas na velhice. Deprimem-se com facilidade e arrastam seus
pares no mesmo curso. Muitas vezes, superlativam seus sofrimentos,
tornando-os maiores do que efetivamente são.

Necessitam, pela via amorosa, de um choque de pragmatismo
para acordarem, pois vivem um sonho infantil de um paraíso
que não existe. Não assumiram totalmente sua própria vida,
vivendo na expectativa de um salvador encarnado. São vítimas
de suas próprias crenças, alimentadas pelo pensamento de que
são merecedoras, sem qualquer empecilho, do que desejam. A
percepção de que, em certa fase da própria evolução, devem
assumir maduramente o comando de sua vida, as ajudará a não
permitir a entrada na depressão.

3. Personalidade referenciada no outro
A personalidade referenciada no outro é aquela que vive
na órbita psicológica de alguém. Vive modelando sua vida pela
de outra pessoa, além de almejare o mesmo futuro. Constroe seu
destino, consciente ou inconscientemente, seguindo as pegadas
de outra pessoa. Mesmo que se trate de um modelo positivo de
vida, num determinado momento, deve buscar seu próprio
caminho, assumindo e desenvolvendo a personalidade que deve
e precisa ser.

Essa ocorrência é uma característica daquele que se
distanciou de sua própria individualidade, isto é, cujo ego não se
conectou adequadamente ao Self divino. Chamo aqui de Self
divino a singularidade de cada ser humano, à semelhança de um


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selo, gravado por Deus em sua psiquê. Parece que esse distanciamento
fragiliza as estruturas que ancoram o ego, permitindo que
enxergue, pela projeção, um outro que contenha qualidades que
admira. Há uma transferência de atributos, que deveriam ser
percebidos em si, para uma outra pessoa. Essa identificação de
uma pessoa com a personalidade de outra, quando se trata de um
ícone positivo, admirado na cultura, no mundo empresarial, nas
artes, nas religiões, bem como em outros nichos sociais
importantes, parece ser algo salutar, porém, tem seus limites quando
interfere no amadurecimento pessoal. Desidentificar-se do outro
será algo extremamente difícil, quando o comportamento adotado
é socialmente aceito e altamente recomendado. Esse distanciamento
do próprio Self custará caro ao indivíduo quando ele se
deparar com suas limitações nas provas naturais da vida. Por ter
evitado observar a própria sombra, poderá sucumbir a ela. A
depressão poderá ocorrer quando lhe falte a presença de seu
ídolo, ou quando acredite que foi por ele abandonado.

Outro fator que contribui para a personalidade referenciada
no outro é a ignorância de si mesmo, pois, quanto mais a pessoa se
desconhece, mais se aliena. Essa alienação favorecerá a transferência
de atributos que deseje ter, admirando-os em alguém. Quem
não se conhece, terá maior possibilidade de estar projetando
atributos próprios nos outros. De tanto fazer isso, esquecendo de
construir em si mesmo, acabará por deprimir-se quando descobrir
que não consegue perceber em si aqueles atributos. Estará também
projetando os aspectos negativos da própria personalidade em
outras pessoas com as quais não guarde simpatia. Então, poderá
descobrir que os outros eram espelhos ao seu olhar, e que os
atributos negativos, que via nos outros, existem potencialmente em
si mesmo. A constatação poderá ser recebida de forma assustadora
e provocar uma descompensação interna. Mesmo difícil de ser
alcançada totalmente, deixar de projetar nos outros é a saída.

Quem tem baixa auto-estima, isto é, valoriza muito pouco
os reais atributos da própria personalidade, julgando-se por um


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estereótipo social idealizado, terá maior tendência para se
referenciar em alguém. Na maioria das vezes, esse julgamento se
baseia em critérios relacionados a algum complexo da pessoa,
cujo núcleo é algo que pensa não possuir. A pessoa se vê como
alguém num espelho, porém com uma figura ao lado que possui
todos os atributos que desejaria ter, comparando-se e, obviamente,
frustrando-se. Essa comparação é automática e inconsciente,
não permitindo a percepção de outros atributos e potenciais
existentes na personalidade. O desejo inconsciente de ser como
aquela pessoa domina o ego, reduzindo-lhe a capacidade de
conectar-se ao Self. Quando o indivíduo se percebe espírito, cuja
fase que atravessa é apenas um momento em sua evolução, não
se prende a detalhes externos ou exclusivamente ao que considera
negativo. Sabe que deverá viver diferentes experiências na vida e
que nem sempre estará submetido às contingências e aos atributos
do momento. Deixar de se julgar, como vem fazendo, é o desafio
mais imediato a vencer.

A personalidade referenciada no outro desloca o sentido
de sua vida, pois se conecta aos ideais de alguém. Mesmo que
acredite que são os mesmos seus, não o faz de acordo com suas
próprias capacidades e competências. Toma para si, na consciência,
o que pertence aos outros, mas que, por enquanto, está no
inconsciente, necessitando de experiências para serem integrados.
O sentido da vida deve conter objetivos exeqüíveis a curto, a
médio e longo prazos. Portanto deve conter muitos objetivos.

4. Trauma
Um trauma é um evento emocional capaz de provocar
descompensação psíquica, com conseqüentes perturbações ao
indivíduo. É uma incapacidade de lidar instantaneamente com um
evento aversivo considerado ameaçador à integridade do ego.
Os traumas possuem intensidades variáveis, de acordo com o


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tipo de evento e com a maturidade do ego que lhe sofre a ação.
Quanto mais maduro o ego e quanto menor for o tempo de
exposição, menor a intensidade e as conseqüências danosas do
trauma.

Uma das conseqüências do trauma é a possibilidade de
enfraquecer mais ainda o ego já frágil, colocando a pessoa sensível
a outros eventos aversivos e permitindo um estado mental
pessimista. Os horizontes são encurtados e as possibilidades de
sucesso não são bem vislumbradas. Daí para a entrada na
depressão é um pequeno passo.

A forte exposição a uma situação aversiva e inesperada,
para a qual não se está preparada, é fato possível de acontecer a
qualquer pessoa, em várias fases da vida. Na infância ocorrem
um sem número de situações aversivas e de difícil elaboração à
criança, que são transferidas ao inconsciente, formando um núcleo
traumático que influenciará a vida. Essas experiências levam medo
à mente infantil e vão pressionar suas atitudes na vida adulta. Podem
contribuir de forma determinante para a instalação de fobias e
manias, resultando em compulsões. Na adolescência, fase de
intensas mudanças psicológicas, os traumas podem surgir, porém
encontram o ego vivendo o desafio de se auto-afirmar, sendo,
portanto, mais difícil a sua instalação. Na fase adulta eles poderão
aparecer em maior quantidade, em vista da impossibilidade de
controlar todas as ocorrências da vida. Todos passam por perdas
e danos que podem ser encarados como traumas. Fundamental é
não cristalizá-los nem permitir que fiquem no esquecimento. Todo
trauma deve ser ressignificado, dissolvendo sua força aversiva,
compreendendo-o à luz de um processo maior de educação. Todo
evento, aversivo ou não, contém uma ou mais lições a serem
aprendidas, razão pela qual deve ser tomado como apenas uma
experiência vivida. Quando a pessoa não consegue dissolver o
próprio trauma, mesmo conhecendo suas causas, deve buscar
um acompanhamento profissional. A pessoa deve se dessensibilizar
em relação ao evento, aproximando-o o máximo possível da


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consciência, entendendo seu significado, desmistificando sua força
negativa. Permanecer com o trauma sem dissolvê-lo contribuirá
para que o ego se fragilize diante de outros desafios.

Por outro lado, existem experiências acumuladas no
inconsciente pessoal, oriundas de vidas passadas. Acreditando
ou não, o inconsciente humano contém um arquivo com as
experiências pregressas. Elas são armazenadas de acordo com o
tônus emocional comum, isto é, se conectam por semelhança
emocional, independentemente da época em que foram vividas.
Quando são experiências negativas, ficam como traumas inconscientes,
prejudicando a consciência de forma sutil. Enfraquecem
a vida, direcionando a energia psíquica para aquelas experiências
não resolvidas. Essa conexão, com um evento interno negativo,
perturbará a consciência e o ego, deprimindo-o. Ora, são
experiências das quais não se tem lembranças, portanto não se
pode resolvê-las, senão trazendo-as à consciência, cujo processo
é de sucesso duvidoso. Como então fazer para eliminar ou reduzir
seu poder depressor? O processo analítico de acesso ao inconsciente,
através de uma psicoterapia que trabalhe com os sonhos,
com os conteúdos das fantasias e com os símbolos trazidos à
consciência, poderá ser a chave para responder essa questão.
Da mesma forma, uma melhor compreensão a respeito das vidas
sucessivas, isto é, da reencarnação como um processo educativo
e da imortalidade pessoal, servirá como base para se acessar
conscientemente o que jaz adormecido, incomodando o ego.
Todo evento passado deve ser analisado à luz da ignorância. As
reações que se teve diante dos eventos do passado se deram da
forma possível àquele momento. Ninguém deve se culpar pelo
que fez, mas assumir as responsabilidades pertinentes. Deve-se
entender que o evento traumático tem a dimensão da ignorância
que se tem a respeito de si mesmo e do funcionamento da vida.

Perpetuar o trauma é conservar o sofrimento causado,
reduzindo a possibilidade de sua dissolução. Para que esta venha
a ocorrer, a pessoa deve primeiramente aceitar seus próprios


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limites, entendendo que ninguém é perfeito nem tem a capacidade
de tudo absorver tranquilamente. Aceitar os próprios limites é
também não querer mais do que é possível alcançar. Em segundo
lugar, entender que o erro é parte do aprendizado humano, não
devendo lamentar-se por ele, nem se martirizar ou envergonhar-
se por qualquer insucesso. Muitas vezes, precisa-se perder para
aprender a ganhar, portanto, uma derrota não deve ser tomada
como prejuízo à personalidade. Nunca mais empreender algo,
porque passou por uma perda, é equívoco grave. Traumatizar-se
pelo prejuízo de uma ação pode levar a pessoa ao fundo do poço.
O medo é uma emoção instintiva humana. Todos têm medo diante
de certos obstáculos. Esse automatismo vem desde o período
animal, no qual os instintos permitiam o preparo do organismo
para uma reação: fugir ou atacar. O medo gera uma energia que
deve ser utilizada para uma ação. Temer e fugir é não aprender.
Todo evento aversivo gerador de medo deve ser tomado como
catalisador de uma atitude progressiva. Não se intimidar nem se
acomodar com as crises e derrotas permitirá o fortalecimento do
ego, evitando a consolidação de um trauma.

5. Criação de expectativas
O ser humano vive também de seus sonhos e de suas
fantasias. Constrói sua vida em cima de esperanças e expectativas
futuras. Algumas, fundadas em fatos que trazem conseqüências
positivas, observados na vida de outras pessoas, outras, sem
qualquer base sólida. Algumas são realizadas, outras não,
geralmente ficando um saldo positivo. Assim ele vai vivendo e
construindo seu próprio progresso. Sua fantasia move mais o
destino do que ele pensa. Tais fantasias e idealizações são
construídas desde a infância, também recebendo as contribuições
das expectativas criadas antes de renascer, bem como aquelas
pertinentes à época e ao meio em que vive.


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O resultado desse conjunto de fatores é a construção de
um sistema de valores que serve de base para as idéias e pensamentos
referentes ao futuro da pessoa. Esse sistema de valores,
quando calcado em ideações sem respaldo na capacidade e
competência do indivíduo, pode gerar frustração e conseqüente
depressão. Em muitos casos, esse sistema de valores contém
exigências muito elevadas e parâmetros que inviabilizam a
realização dos desejos futuros da pessoa. As fantasias construídas
com tais bases estarão acima das possibilidades de alcance para
qualquer pessoa. Muitas dessas fantasias são infantis, alicerçadas
numa infância triste e difícil. Assemelha-se a alguém que quer
colocar a mão onde o braço não pode alcançar. Viverá em cima
de expectativas, alimentando esperanças que não se concretizam.
Ao atravessar as crises da vida, penderá para a depressão.
Administrar a vida com base em projetos exeqüíveis, sem querer
mais do que pode, talvez possa evitar a derrocada. Quando a
derrota vier, deve aproveitar e rever seu sistema de valores, que
lhe exige demais, tanto quanto redimensionar suas metas. Esse é
um dos motivos da ambição, isto é, um sistema de valores
inadequado àquele indivíduo, que lhe sofre as conseqüências. Toda
derrota, quando percebida como experiência útil para o
conhecimento dos limites e para a descoberta de como ultrapassálos
quando necessário, torna-se uma vitória.

Pessoas que costumam fazer julgamentos estereotipados a
respeito dos outros ou de situações, tendem a se frustrar com maior
intensidade. Fazer julgamento estereotipado significa estabelecer
padrões de comportamento para os outros, não entendendo que a
vida social pede mudanças constantes. Por outro lado, padronizar
situações é entender os eventos da vida sob um prisma ortodoxo
convencional, o que pode engessar a própria vida, retirando-lhe a
criatividade e a espontaneidade. Esses julgamentos e percepções
da realidade se devem a uma forte ligação com as tradições e com

o passado, que impedem a aceitação do novo. A vida pede sempre
mudanças, principalmente quando a depressão surge.

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Essa forma de ser pode provocar o surgimento de uma
personalidade inflexível ou rígida, dificultando a aceitação dos
embates da vida. A pessoa se torna controladora, dando mais
atenção ao externo do que ao interno. Aliena-se de si, voltando-se
para aquilo que externamente, na sua visão, estaria fora de controle.
Estabelece critérios rígidos para a sua vida e para a dos outros.
Cria, dessa forma, expectativas para os acontecimentos, acreditando
que eles devem ocorrer de uma forma padronizada. Não aceita
mudanças. Quando algo escapa ao seu controle, explode ou se
retrai, isolando-se. Tem, por esse motivo, mais tendência à depressão.
A saída é educar sua própria maneira de ser, adotando uma
personalidade mais flexível. A vida pede flexibilidade em tudo.

Não é raro a ansiedade estar próxima da depressão.
Pessoas muitos ansiosas, quando não se vêem satisfeitas em suas
expectativas, podem muito facilmente entrar em crise que venha a
culminar numa depressão. Desejam ansiosamente que as coisas
aconteçam num tempo muito curto e não esperam, dentro de si
mesmas, que os eventos se sucedam uns aos outros. Mantêm-se
ligadas nos objetivos futuros, esquecidas de fatores intervenientes
para que sejam alcançados. Não têm o hábito de adiar
recompensas, querendo antecipar o futuro, geralmente de forma
promissora. Querem que o melhor aconteça e logo. Facilmente
resvalam para a depressão quando as recompensas desejadas
não são alcançadas. Saber adiar recompensas é sinal de inteligência
emocional desenvolvida e personalidade madura. Pessoas que
não têm essa habilidade devem aprender a esperar e a confiar,
pois podem perder o significado profundo de cada experiência
que se vive, querendo antecipar psicologicamente o futuro.

6. Retorno ao passado
Os atos humanos são conseqüências de idéias, originadas
a partir de pensamentos e emoções e que se misturam ao impulso


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da vontade emanada do Espírito. No percurso que a vontade
realiza entre o Espírito e a ação, ela recebe a interferência de
múltiplos fatores, que vão desde os reflexos condicionados até a
influência mental exógena. Essa é uma outra alquimia que faz a
vida acontecer. Na psiquê humana, que é um órgão funcional do
Espírito, encontra-se a resultante das experiências, que também
interfere nos atos. A todo instante, as emoções oriundas de
experiências pregressas, arquivadas no inconsciente, interferem
no modo como a pessoa vive e como enxerga a vida. Essas
experiências arquivadas na psiquê inconsciente são poderosos
núcleos de energia que direcionam a vida consciente e modificam
a personalidade externamente.

No inconsciente as experiências das várias encarnações se
acumulam, interligando-se por emoções semelhantes. Tais
experiências resultam, muitas vezes, na formação de complexos,
que irão trazer certas características à personalidade. Quando
um desses complexos, cujo conteúdo é aversivo, for ativado na
consciência, poderá provocar a depressão. Tal complexo precisará
ser dissolvido, pois será sempre um fator descompensatório
da vida. Sua dissolução se dá pelo próprio desenvolvimento e
amadurecimento da personalidade, que não deseja mais
permanecer no mundo das fantasias infantis.

No inconsciente estão gravadas as experiências de vidas
passadas com as emoções características. Algumas dolorosas,
outras agradáveis. Entre elas estão aquelas frustradas, que
continuam em aberto, à espera de uma ressignificação por parte
do indivíduo. Aquelas que trouxeram frustrações e que não foram
compensadas influenciarão sutilmente a vida presente. Poderão
gerar depressões e seus sofrimentos ou compensações, que
tenderão a trazer alívio ao indivíduo, porém sem a solução dos
padrões que as originaram.

Quando a pessoa, numa encarnação, atravessa certas
experiências que se assemelham a outras que teve no passado,
quer tenham sido positivas, ou negativas, haverá a tendência de


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fixar-se nelas, principalmente se nada aprendeu. Esse retorno ao
passado, de forma inconsciente, poderá ser prejudicial à pessoa,
que assim estará repetindo a experiência, sem que haja crescimento
efetivo. Mesmo considerando que o espírito sempre evolui, o
processo de repetição reduzirá a velocidade de seu crescimento.
A depressão pode ocorrer por uma fixação, no passado, de perdas
que o espírito vivenciou. De qualquer forma, não vale a pena
permanecer no derrotismo e no pensamento de vítima.

Pessoas que guardam mágoas se fixam no passado que as
gerou, tendendo à depressão. Toda mágoa promove o atraso na
evolução da pessoa, pois permite que se perpetue o que passou e
que não foi ainda ressignificado. Só cresce quem sabe perdoar.
Quem não perdoa e quem não compreende que poderia cometer

o mesmo equívoco do outro, permanece vinculado ao passado.
A mágoa reduz a quantidade de energia de se viver, disponível na
consciência, contribuindo para a depressão.
7. Obsessão Espiritual
A obsessão espiritual é a ação física ou mental de um espírito
sobre outro, na tentativa de impor sua vontade, visando um prejuízo
qualquer. Geralmente é imposta a pessoas que se sentem culpadas
por algum ato inadequado, quer tenha sido cometido em alguma
vida passada ou na presente. Essa culpa pode ser consciente ou
inconsciente. Sendo inconsciente será mais difícil a cura da
obsessão. Ela ocorre por vingança ou pelo simples desejo de
prejudicar alguém, mesmo não tendo tido qualquer tipo de
relacionamento no passado com aquela pessoa. Em alguns casos,
sem que haja a intencionalidade em prejudicar e apenas pela
proximidade de um espírito do campo mental de uma pessoa,
poderá haver prejuízo psíquico. Um espírito desencarnado, que
esteja passando por problemas psíquicos, ao se aproximar de
alguém encarnado poderá transmitir-lhe idéias e pensamentos


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desconexos, a ponto de provocar-lhe alguma confusão mental.
Da mesma forma, parentes desencarnados, deprimidos ou
descompensados psiquicamente, poderão, permanecendo vinculados
às pessoas e ao ambiente em que viveram, provocar as
mesmas perturbações.

Os inimigos desencarnados podem provocar a depressão
numa pessoa de várias maneiras. Poderão investir psiquicamente,
ampliando a culpa consciente ou inconsciente das pessoas; insuflar

o sentimento, porventura existente, de inutilidade pessoal; sugar
fluidos vitais, debilitando o organismo, provocando cansaço físico;
provocar ataques psíquicos, dificultando o sono, resultando em
insônia; atingir a pessoa com fluidos que provoquem prostração
física, com conseqüente aumento do período de sono. Tais ações
também provocam certas perturbações psicológicas além da
própria depressão.
A perturbação espiritual, resultante da obsessão, está
também associada à conduta da pessoa, tanto quanto aos seus
processos psíquicos não resolvidos, cuja saída se dá pela reforma
íntima. Tal reforma deve ser acompanhada de profundas reflexões
sobre a própria personalidade que sofre a ação obsessora, a fim
de que a transformação desejada não fique apenas na superfície
da conduta.


Tratamento

Otratamento da depressão é, de certa forma, difícil,
pois, via de regra, não conta com o auxílio do doente. É característica
da própria doença a apatia quanto a motivar-se para algum
objetivo. Muito embora, intimamente, ele queira sair daquele
processo, falta-lhe energia para dar os primeiros passos. Como
não via nem vê saída para a solução de seus dramas, não costuma
acreditar que haja um tratamento eficaz. Seu isolamento e mutismo,
além da irritação, dificultam a aproximação para um convencimento
ao tratamento. Em alguns casos, principalmente quando haja
tendência suicida, medidas coercitivas devem ser tomadas para
se evitar uma tragédia.

Muitas vezes, quando se consegue levar o depressivo a
tratamento, a doença já se encontra numa fase avançada ou o
desgaste emocional e psicológico já é muito grande. Em outros
casos, a descrença do doente é grande, pelas várias tentativas
frustradas de soluções alternativas, dificultando o tratamento.

A família, ou o responsável pelo doente, costuma seguir
um certo caminho, por desconhecimento, que pode adiar a cura
da depressão. Geralmente esse caminho começa na tentativa
caseira de incentivar o doente a sair de casa para buscar alegrias
e prazeres comuns. Pensam que o problema está apenas relacionado
à consciência e à falta de estimulação externa. Em alguns
casos, a família passa a acreditar que a própria pessoa contribui


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para seu estado, minimizando a força da doença. Às vezes,
abandona o doente por achar que ele faz isso só para chamar a
atenção ou mesmo por preguiça, o que o irrita ainda mais. Outros,
mais exaltados e por ignorarem a doença, chegam a acreditar que
a pessoa é indolente ou mau caráter. Não entendem o drama que

o depressivo vive em seu mundo mental.
Em todos os casos de depressão o tratamento deve ser
feito de forma multidisciplinar. As ações devem envolver quatro
diferentes campos: familiar, psicológico, médico e espiritual.
Portanto, o tratamento da depressão deve ocorrer de forma
simultânea nestas diferentes dimensões.

No campo familiar é necessário que as pessoas que
convivem com o doente tenham consciência das características
da doença, inclusive avaliando sua co-responsabilidade para sua
instalação. Mesmo que não haja qualquer tipo de contribuição
direta dos membros da família para que aquela doença tenha se
instalado, é importante que todos se impliquem no processo de
cura. A união familiar, bem como a não indiferença ao que se
passa no mundo íntimo de alguém com quem se convive, promove

o aumento da confiança do doente. Ele se sentirá seguro e
fortalecido quando perceber que todos estão interessados em seu
progresso. O respeito à dor alheia é, no mínimo, algo que se pode
fazer em favor do doente, quando não se sabe como agir. O
depressivo quer de fato atenção e ser escutado. Esse seria o
comportamento inicial de quem com ele convive. Escutá-lo e dar-
lhe atenção significa preparar a base para que ele aceite um
tratamento mais especializado. Deve-se evitar criticar ou
repreender o depressivo, ou mesmo tentar procurar um culpado.
A doença se instala por conta de múltiplos fatores. É também
salutar que, em família, sejam proporcionados diálogos visando a
remoção de antigas mágoas e desavenças porventura existentes,
que tenham contribuído para o estado atual do doente. A família
deve proporcionar programações especiais para o depressivo,
sobretudo comemorar datas importantes de sua vida, mesmo que

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ele afirme não querer. Mesmo que o depressivo não queira
participar de programas familiares, deve-se insistir para que seja
incluído e, em certos casos, ele não deverá ser deixado de lado,
sozinho. A paciência é fundamental no trato com o depressivo,
pois sua sensibilidade exclui qualquer tipo de admoestação sobre
seu estado ou conduta. Em alguns casos é recomendável que o
depressivo faça uma viagem de lazer, a fim de sair do ambiente
que não lhe permite melhor arejamento de suas reflexões. Claro
que uma viagem não será a solução, mas poderá permitir um melhor
estado ao depressivo para que inicie sua efetiva cura. Quando
existe possibilidade e disposição, recomenda-se a prática da
dança e, a depender da idade, de esportes. Permitem melhoria
no estado geral do indivíduo, contribuindo para que se disponha
ao tratamento adequado. Nesse campo também podem ser
incluídas massagens terapêuticas que permitem um melhor
relaxamento do indivíduo.

Um dos fatores que mais contribuem para a cura da
depressão é uma atividade profissional, isto é, um trabalho, como
foi dito anteriormente. Quanto mais ocupado e se relacionando
socialmente, mais possibilidades de sair do estado de depressão.
O depressivo deve evitar deixar de trabalhar por causa de sua
doença. Mesmo que tenha tido necessidade de sair de licença de
seu trabalho, deve retornar a ele o mais rápido possível, não
medindo nenhum esforço para tal. Ele deve se esforçar ao máximo
para não deixar de trabalhar.

O campo psicológico é o que mais diz respeito à
problemática do depressivo. Sua doença se situa na dimensão
afetiva, cujo conhecimento está afeito à psicologia. Muito embora
não despreze as outras formas de auxílio, é o tratamento psicológico
o que mais efeito terá sobre a cura da depressão. O tratamento
psicológico levará o doente a entrar, de forma segura, em contato
com as causas de sua depressão, contribuindo para sua remoção.
Sabendo que tudo se processa na mente do indivíduo e conhecendo
os mecanismos que podem concorrer para que um comple



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xo assuma a consciência, o tratamento será conduzido para sua
dissolução. Será uma psicoterapia profunda, baseada na
concepção de que os sintomas da depressão são representações
simbólicas de algo oculto à consciência. O que está oculto podem
ser velhas feridas não cicatrizadas que refletem mágoas, frustrações,
remorsos, culpas, ódios, bem como experiências não bem
digeridas, que precisam ser trabalhadas. O desenvolvimento da
personalidade se dá com a compreensão desses processos e com
a integração da sombra gerada por eles.

O tratamento médico é recomendável, principalmente, em
caso de tendências suicidas. É muito comum recorrer-se ao médico
para a cura da depressão. A formação médica não inclui o estudo
da mente humana nem dos processos psíquicos. O alcance da
medicina se restringe ao funcionamento do cérebro, portanto tem
seus limites na organização física, pois não alcança a esfera
psíquica. Quando se vai ao médico, em geral, o doente sai com
uma receita para um antidepressivo. Quando alguns sintomas
sobressaem, como a insônia, a receita inclui uma medicação indutora
do sono. Na maioria dos casos são medicações que reduzem a
ansiedade e o medo do doente. Como já disse, não resolvem,
muito embora aliviem. Não devem ser desprezadas, mas devem
estar associadas aos outros campos de tratamento. À medida
que o depressivo possa suportar os sintomas da depressão, mesmo
sem a cura, a conselho médico, a medicação deve ser retirada.

O campo espiritual, muito embora mais amplo, não exclui
as outras formas de tratamento. Nele, o depressivo poderá, não
só encontrar auxílio para a cura, como também para redirecionamento
de sua vida, alcançando um sentido superior. Qualquer
que seja o estado ou nível da depressão, uma busca religiosa e
espiritual é desejável. Tal busca implica numa melhor percepção
do significado da Vida e do viver no corpo físico. Nesse sentido,
a fé terá papel importante, pois contribuirá para que o indivíduo
se sinta mais seguro e confiante. Poderá freqüentar uma igreja,
um templo ou um grupo de meditação, visando entrar em contato


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com o sagrado em si mesmo. A meditação, a yoga ou outra prática
que aproxime o indivíduo de um estado no qual não fique com o
pensamento voltado exclusivamente para um foco aversivo, será
salutar. O pensamento confuso e direcionado para algo considerado
insolúvel poderá ser harmonizado através dessas práticas.
Também é salutar a inserção do depressivo em grupos de ajuda
mútua, nos quais ele possa se sentir acolhido e compreendido em
seu processo.

Por último, dentro do campo espiritual, recomendo o tratamento
espírita. Não como um método alternativo ou exclusivo,
mas como uma proposta efetiva de cura, não só da depressão,
mas da alma e de muitos de seus males. Tal tratamento inclui:

– O passe, que é uma forma de transferência de fluidos ou
energia com propriedades curativas;
– A leitura de páginas edificantes, que elevem a auto-estima
da pessoa e a conduzam a perceber o significado da vida;
– A oração, como um momento de conexão com as forças
superiores da vida;
– O Evangelho no lar, como proposta de união familiar em
torno de idéias, sentimentos e pensamentos superiores;
– O diálogo edificante com espíritos, que porventura estejam
perturbando o depressivo, realizado por pessoas habilitadas,
em reuniões de desobsessão;
– A prática do perdão e da reforma íntima, visando o
equilíbrio psíquico e espiritual.

Curando a depressão

Algumas pessoas vivem como se estivessem em
depressão, apresentando parcialmente sintomas típicos ou em
constante estado de tristeza e angústia. São desesperançosas na
vida, sem rumo e sem norte. Os conselhos que devem ser seguidos
pelos depressivos lhes seriam muito úteis, pois poderiam mudar
realmente suas vidas, caso adotassem um padrão mental positivo
e atitudes pró-ativas em seu viver.

Os itens a seguir, que servem àquelas pessoas, bem como
aos depressivos, são atitudes psicológicas para a prevenção e a
cura da depressão:

1. Autodeterminação. Procurar viver de forma autodeterminada
ou caminhar na direção da autonomia e independência
da própria vontade. Isso significa adquirir a maturidade para a
tomada de decisões seguras, mesmo quando equivocadas,
entendendo que ninguém é perfeito e que tudo pode ser refeito
adiante. Quando uma decisão foi tomada de forma consciente,
visando o melhor, e apesar disso gerou prejuízos, para si ou a
terceiros, a vida certamente permitirá que o destino resultante
possa ser alterado e também traga conseqüências positivas. Autodeterminação
significa, também, viver sempre o presente com o
olhar no futuro, sem prejudicar a ninguém, empreendendo forças
em favor do bem pessoal e coletivo.

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2. Compensações subjetivas. Deve-se viver procurando
compensações subjetivas, isto é, encontrando razões não materiais
para a vida, pois ela se processa na aquisição de valores espirituais.
Desenvolver habilidades intelectuais e emocionais nas relações
interpessoais, sem esquecer o constante autoconhecimento. As
compensações subjetivas são motivações internas que sustentam
a pessoa, principalmente nos momentos de crises, ampliando seus
horizontes materiais. Dentre essas compensações se enquadram:
a construção interna de uma personalidade sadia, a ampliação da
capacidade de estabelecer afetos não eróticos, as alegrias
imponderáveis da caridade ao próximo, a construção de uma maior
percepção da vida e seus mecanismos de funcionamento, a
educação dos próprios instintos, o diálogo maduro com o próprio
Self, dentre outras.
3. Ressignificação do passado. Todo passado é parte
integrante da personalidade e influi no presente. Todos os acontecimentos
da vida podem ser analisados sob diferentes óticas,
sem que se possa determinar a existência de uma única verdade.
Todo evento é um recorte do presente, que contém o passado e
o futuro, portanto pode ser visto e analisado sob diferentes paradigmas.
Toda atitude negativa do passado e que gerou arrependimento
deve ser entendida como pertencente à ignorância de
seu autor. Ocorreu daquela forma por causa da ausência de lucidez
para realizá-la de outra maneira melhor. Mesmo que tenha sido
feita consciente de que causaria prejuízo a si próprio e a terceiros,
ainda assim é parte da ignorância humana. Deve-se, por esse
motivo, exercitar o auto-perdão enquanto se evita a persistência
no equívoco. Todo evento passado deve ser ressignificado a fim
de que não gere qualquer culpa e a necessidade consciente ou
inconsciente de obter redenção pelo sofrimento.
4. Coragem para enfrentar o mundo. Viver é um ato
involuntário, pois a vida é dada e não mais retirada. Ninguém

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pediu para existir nem pode destruir a vida. Ela é única e eterna.
Não é possível não viver. A vida deve ser enfrentada com todas
as forças possíveis. Nesse aspecto, os problemas que surgem
nas provas e expiações da vida, mesmo que possam ser adiados,
deverão, um dia, ser enfrentados, para o crescimento efetivo da
pessoa. A coragem de viver é uma imposição, da própria vida,
que desafia os tímidos. A crença a respeito da impotência diante
da vida é ilusória, pois os obstáculos possuem o tamanho que
lhes atribuímos. É preciso coragem para viver a própria vida e
enfrentar os desafios, considerando a própria condição de criatura
de Deus.

5. Solidariedade amorosa. A vida também nos impõe
competir, em várias situações, principalmente para a aquisição
dos meios de subsistência. A evolução das espécies confirma essa
condição para todos os indivíduos, porém isso ainda é feito, por
muitos, de forma agressiva, tomados pelo instinto de conservação.
Embora conscientes de que competir é atividade natural, faz-se
necessário ultrapassar a condição coletiva e realizar a própria
individuação, inserindo nas ações a noção de solidariedade.
Competir com solidariedade, valorizando a necessidade do outro,
é fator significativo de crescimento pessoal. Nessa solidariedade,
o sentimento de amorosidade dará o toque de sensibilidade
emocional, característico das ações espiritualmente elevadas.
6. Espírito de equipe e consciência da vida em grupo.
Ninguém evolui sozinho, pois a relação do eu com o outro é aquela
que é capaz de proporcionar o mais intenso sentimento de amor.
Em todos os sentidos, a vida em grupo é fundamental para a
realização da personalidade emocionalmente madura e auto-
determinada. Envolver e incluir, quando se trata de viver e ser
feliz, são verbos a serem sempre conjugados. Dessa maneira, não
perder a oportunidade de estar em grupo e de fortalecer as relações
entre seus membros, proporciona um estado de segurança quanto

Alquimia do Amor

ao pertencimento e filiação social. A família é um grupo referencial
importante, onde esses princípios podem e devem ser continuamente
vividos.

7. Fechar ciclos. Na vida, abrem-se e se fecham ciclos a
todo o momento. Nascer implica em abrir um ciclo, só fechado
com a morte do corpo físico. Ao iniciar uma atividade profissional
numa empresa também se abre um ciclo, concluído na aposentadoria.
Qualquer projeto tem algumas fases que são sintetizadas
em planejar, executar e concluir. É importante se ter a visão de
quais ciclos estão abertos ou fechados. Fechar ciclos implica em
se liberar para prosseguir sem vínculos que possam aprisionar o
indivíduo ou postergar responsabilidades para o futuro. Certos
ciclos que ficam abertos numa encarnação surgem em outras, como
desafios que dificultam o prosseguimento em busca da felicidade.
São feridas que ficaram abertas sem a devida assepsia. Relações
mal sucedidas, quando não muito bem resolvidas, sem mágoas,
rancores ou ódios, são ciclos abertos que exigem energia além da
necessária para se viver a normalidade do cotidiano. É preciso
aprender a fechar ciclos para que a vida continue com a vivência
de cada momento presente.
8. Perdão. Perdoar é doar mais compreensão ao outro. É
sentir com empatia o que o outro sente, entendendo que talvez
agisse da mesma forma caso estivesse em seu lugar. Perdoar é
desenvolver a capacidade de entender a natureza humana em suas
limitações, construindo uma personalidade compreensiva. Só
cresce quem sabe perdoar, pois a ausência do perdão paralisa a
vida. Antigas mágoas funcionam internamente na psiquê como
núcleos sugadores da energia da vida. A habilidade em perdoar,
sem reprimir suas emoções, sabendo como e em que momento
liberá-las, representa uma aquisição superior do espírito. Quem
sabe perdoar não mais se ofende com as agressões do outro,
pois entende que, quem ofende, a si mesmo atinge. A agressão

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representa inferioridade e revidar nivela neste aspecto quem assim
age. Perdoar não é contribuir para a manutenção do comportamento
equivocado do outro, na medida em que a indignação
surge como representação do que se sente. É a indignação pelo
ato que deve catalisar uma atitude amorosamente eficaz. Quem
sabe perdoar não se deprime pela mágoa.

9. Retorno ao sagrado. As representações externas
daquilo que é sagrado, para o ser humano, sofreram significativas
modificações com o pensamento racional. O excesso de racionalidade
implica em repressão inconsciente da energia que seria
canalizada para as experiências numinosas, isto é, que provocariam
alterações significativas na consciência na sua dimensão
religiosa. O ser humano carece de contato com o sagrado para
sua percepção do Deus em si mesmo. O sagrado é a dimensão
que circunda a percepção do divino em si mesmo. Quando alguém
adora uma imagem, creditando a ela um poder mágico ou
numinoso, está representando seu desejo pelo encontro com Deus
em si mesmo. Do culto externo ao Deus transcendente, é
necessário ir ao encontro do Deus imanente.
10. Espiritualidade. Espiritualidade é conexão com o
sentido superior da vida, percebendo-a como algo iniciado por
Deus, e que tem sua continuidade realizada pelo próprio espírito.
É também um estado de espírito que coloca a pessoa em sintonia
com a subjetividade da vida e com os aspectos transcendentes.
Agir com espiritualidade é estar atento aos fins últimos das coisas,
como pertencentes a um plano divino maior. É ter a consciência
de que a vida não é apenas estar no corpo, ou ainda, que as
ações humanas não visam simplesmente uma melhor situação no
além. Ter espiritualidade na consciência é sentir, pensar e agir
com a razão e, simultaneamente, com o coração. Inserir o olhar
espiritual nas mais diversas experiências da vida é sair da
mediocridade cotidiana que, muitas vezes, coloca a materialidade
e todas as suas conseqüências degradantes em primeiro plano.

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11. Deus amigo. Pensar em Deus, questionar Sua existência,
pedir, agradecer, louvar, bem como agir consciente de Sua
presença íntima, são experiências comuns às pessoas. Aqueles
que não acreditam em Deus colocam algo em seu lugar, como um
argumento lógico, e com o qual estabelecem uma relação que se
assemelha à que teriam mentalmente com Ele. De qualquer forma,
é importante ressignificar a imagem de Deus com a qual a pessoa
se relaciona em suas "conversas" íntimas. Deus tem todos os
atributos cabíveis à expressão "Inteligência Suprema, Causa
Primária de todas as coisas", e, portanto cabe a imagem do
Deus amigo. Considere Deus seu melhor amigo e estabeleça uma
relação psíquica com Ele considerando apenas este atributo. Pense
no conceito de amigo e lhe dê todas as melhores qualidades
possíveis. Depois disso se relacione com Deus com essas melhores
qualidades. Faça de Deus seu amigo e não se relacione com Ele
através de Seus outros atributos.
12. Dignidade. Dignidade pressupõe respeitabilidade, isto
é, consideração pela individualidade de alguém. Ter dignidade não
é o mesmo que ser orgulhoso, pois este último se coloca acima dos
outros. Evocar sua dignidade é não aceitar a inferiorização que
porventura alguém lhe imponha, sem reagir com agressividade ou
tentando inferiorizar o outro. Ter dignidade é estar consciente de
sua missão pessoal na vida e de sua designação para a felicidade,
não aceitando hierarquia em suas relações, nem tampouco mendigar
afetos dos outros. É viver sua individualidade, considerando-se um
ser comum, igual àqueles com quem contracena na vida. Todo ser
humano deve evocar sua dignidade quando pense em agir contra
alguém, com o desejo de lhe trazer algum prejuízo, pois assim desce
à condição sub-humana. Vida digna é vida coerente com o propósito
de viver e deixar os outros viverem, proporcionando-se, e a todos,
o melhor que a vida oferece.
13. Flexibilidade. A Vida pede flexibilidade em todos os
sentidos. Cultivar a flexibilidade é não obedecer à rigidez

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característica dos prepotentes e orgulhosos. A inflexibilidade
contribui para a fixação do orgulho e a dificuldade em perdoar. A
Vida flui em ritmos diversos, permitindo que todos possam dela
participar. Quando se quer viver num ritmo diferente e inadequado
ao próprio processo de desenvolvimento da personalidade, a Vida
responde com outra melodia. Ser flexível é estar disponível ao
convite da Vida para a espontaneidade quando a obrigação não
é imprescindível. A flexibilidade faz com que não se descarregue
a irritação nos outros, nem se bloqueie o raciocínio na procura de
alternativas para a solução de problemas. Flexibilidade é confiança
em si mesmo, na Vida e em Deus.

14. Expressar emoções e desabafar conflitos. As emoções
surgem sem que se tenha consciência de seu início, pois são
válvulas de escape para as tensões inconscientes. São energias
que explodem e que, na maioria das vezes, são reprimidas a bem
da vida social, mas que devem, por outro lado, merecer adequada
expressão e educação. Os conflitos se acumulam ao longo da
vida, arquivados na consciência e no inconsciente, provocando
tensões que necessitam ser liberadas. Essa liberação pode ocorrer
de várias maneiras, principalmente pela verbalização, no desabafo
daquilo que sufoca a alma e que a atormenta. Confessar-se, e a
alguém, naquilo que é gerador de culpa, que contribui para a
ampliação e geração de complexos, é fundamental para uma vida
sadia. A expressão adequada daqueles conflitos alivia e liberta a
psiquê para novas ações, bem como estimula a criatividade
pessoal, favorecendo a disposição de viver.
15. Administrar perdas. Na vida, quer vinculado ao corpo
físico ou não, o espírito acumula posses e cria vínculos de dependência
que necessitam ser transformados. Apega-se às posses
da mesma forma que cria ilusões sobre os comportamentos
daqueles com quem convive. Quando, pelas circunstâncias naturais
da vida, deve se desvincular de bens materiais ou afastar-se de

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pessoas queridas, sente muito a falta, apegando-se intensamente.
Não consegue administrar adequadamente as perdas, nem adquire
a compreensão de que só se tem o que se pode dar. Aquilo que
não se pode dispensar tem o domínio sobre seu pretenso possuidor.
Toda posse retém um quantum de energia psíquica, que
poderá, em determinado momento, ser liberada para a própria
vida. Há perdas necessárias que, quando ocorrem, predispõem a
pessoa à transformação da alma e à transcendência, alcançando
estágios psíquicos mais elevados.

16. Conectar-se ao Self. O Self é a instância psíquica
central que impulsiona a pessoa à sua individuação, o ego é aquela
que executa. São instrumentos que servem ao Espírito em seu
contato com a matéria. Estão interligados em perfeita relação,
como um feixe luminoso localizado nas estruturas íntimas do
perispírito. Essa conexão é importante para que o ego não se
desvie de seus objetivos divinos, gravados no Self. Estar conectado
conscientemente ao Self significa sentir a vida como um
propósito de Deus, não se distanciando das finalidades superiores
que trazem a felicidade. Esta conexão previne as afecções psíquicas,
bem como torna a pessoa centrada em si mesma. Estar
consciente do que faz, tendo senso de propósito e de oportunidade,
agindo de acordo como pensa e sente, fortalece tal conexão.

Outras considerações

A epidemia de diagnósticos a que me referi em
capítulos anteriores recebe a contribuição da própria pessoa que,
ingenuamente ou não, prefere ter uma doença conhecida a
descobrir o que se passa em seu mundo íntimo. O diagnóstico
apressado, tanto pelo paciente quanto pelo médico, atrasa o
processo de descoberta do que realmente ocorre na intimidade
da pessoa. Em seu mundo íntimo, diante de pressões inconscientes,
algo quer se expressar, a bem da própria vida psíquica. O diagnóstico
equivocado de depressão posterga a necessária auto-investigação.
Diagnosticar reduz a ansiedade e é cômodo, porém adia

o necessário encontro do indivíduo consigo mesmo.
Tudo o que ocorre na mente necessita ser expresso na consciência
de forma simbólica. A vida está preenchida de simbolismos,
cuja decodificação aproxima oego da natureza essencial do Espírito.
Dessa forma, deve o ser humano investigar melhor suas confusões
mentais, enquanto busca seu próprio equilíbrio. A depressão, ou
qualquer afecção psíquica, traz em sua intimidade um recado da
vida para que o ego reencontre o endereço de Deus.

Há uma "natural vida dura", que precisa ser compreendida
e encarada sem receio, como uma dimensão da existência de todo
ser humano. Muito embora se apresente diferentemente para cada
pessoa, se constitui de experiências que visam quebrar a rigidez
do ego, colocando-o a serviço do Self. São as circunstâncias


Alquimia do Amor

daquela "natural vida dura" que transformam o "eu" frágil num
"eu" maduro, à medida que se está atento à importância de cada
experiência que a Vida oferece. A vida normal implica também
em perdas, desafios, doenças e sofrimentos que, embora devam
ser vencidos e evitados, contribuem para o desenvolvimento da
personalidade ótima e sadia. Ninguém está imune ao sofrimento
decorrente das escolhas, nem ao sacrifício para alcançar o eu
sadio, pois a Vida não brinca; promove complexos eventos para

o cumprimento de suas finalidades. Há riscos em se viver. Riscos
que não implicam em destruição total do ser, mas que podem
provocar sofrimento e atraso espiritual. A Vida exige entrega,
apaixonamento e determinação. Ela deve ser vivida de forma
arrebatada para que se evite tibieza e inércia.
Muitas pessoas, desavisadamente ou por ignorância, pensam
e vivem como se a felicidade, a personalidade sadia, o eu
maduro, o alcance de objetivos, ou qualquer que seja o desejo
quanto ao próprio futuro possa ser alcançado de modo mágico.
Isso pode ser percebido na cultura ou na crença de que um
remédio poderá proporcionar algum desses objetivos. Em
realidade, o depressivo, como qualquer outro doente, deseja
livrar-se de sua doença a qualquer preço. Outros desfrutam de
toda a sorte de experiências prazerosas para não entrar em
depressão. Praticam um hedonismo de fuga, podendo resvalar
para a dependência química. Postergam seu próprio amadurecimento.


Vêem-se proliferar filosofias e crenças superficiais que
solapam o ego, minando-lhe as bases, favorecendo a descrença
na vida. Derrotam a esperança, insuflando a crença na salvação
através de mecanismos artificiais e utópicos. Por outro lado, nesse
campo, vê-se a ciência a serviço do lucro e do recrudescimento
da incredulidade e do materialismo paralisante. Surgem pesquisas,
sob o manto da descoberta de remédios que aliviem ou curem o
sofrimento humano, mas que contribuem para o agravamento da
ignorância de si mesmo.


adenáuer novaes

Enquanto a depressão, como todas as doenças, não for
vista como resultante de processos psíquicos não resolvidos, o
espírito sofrerá e muito lentamente avançará em sua evolução.


Os complexos e a depressão

Um complexo é uma estrutura psíquica constituída
de emoções e sentimentos que se assemelham por uma vibração
específica. É um conjunto resultante de experiências que se
conectaram no inconsciente e que interferem na consciência como
se fosse uma motivação. Direciona a personalidade para tendências
e comportamentos à revelia do ego. Não é patológico em si, mas
contamina a atividade do eu como se fosse uma outra personalidade.
As emoções componentes do complexo expressam vibrações que
podem ser percebidas por outras mentes e que, por sua vez, também
as emitem de acordo com estímulos característicos. Os pensamentos,
idéias e emoções, que se associam no inconsciente, mas que não
seriam definidos comocomplexos, também emitem vibrações típicas
que podem ser alcançadas.

Experiências de uma pessoa, que resultaram em fracassos,
decepções, malogros ou prejuízos de qualquer natureza, podem
abalar a confiança em si mesmo, podem resultar em sentimentos
que se conectam no inconsciente gerando um complexo. Tais
experiências podem ter acontecido em distintas épocas de uma
ou de várias encarnações. No inconsciente, o processo de
arquivamento do resultante dessas experiências não é cronológico,
mas se dá por semelhança emocional.

Uma personalidade frágil, insegura ou sintonizada com um
complexo, poderá sucumbir e manifestar uma depressão ao viver


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certas experiências difíceis da vida. Pode-se dizer que se trata do
complexo de "insucesso", que provoca o medo de enfrentar a
vida. C. G. Jung, ao definir complexo, diz que se trata da "imagem
de uma determinada situação psíquica de forte carga emocional
e, além disso, incompatível com as disposições ou atitude
habitual da consciência." 6 Portanto, não há compatibilidade
com a consciência, que não suporta viver de novo o resultante
esperado para aquela experiência. O medo de sofrer de novo
estará presente, influenciando na fuga para a depressão. A
inconsciência do ego em relação ao complexo confere a este
uma certa autonomia, o que prejudica sua dissolução. A
personalidade se modifica pela assimilação do ego que se identifica
com um complexo.

A influência que certos espíritos obtêm sobre as pessoas deve-
se aos complexos que assimilam o ego, alterando-lhes o
comportamento, à sua revelia. Pessoas que são tomadas pelos seus
próprios complexos se assemelham àquelas que são influenciadas
por entidades espirituais, perturbadas ou não. A distinção entre
esses dois fenômenos não é muito simples, inclusive porque, muitas
vezes, eles ocorrem simultaneamente. Em ambos os casos, as idéias
na consciência, contaminadas pela vibração emocional, sejam
oriundas de um complexo inconsciente ou provenientes de uma
entidade espiritual, parecem coerentes e lógicas.

Os complexos precisam ser conscientizados e melhor
compreendidos para que não se tornem patológicos. Nesse
sentido, a pessoa deve se conhecer mais, descobrir seus conteúdos
inconscientes e transformar-se.

Obras Completas, Vol VIII par. 201 – 1934.


Experiências típicas
que influenciam a depressão

Existem experiências comuns da vida, que não chegam
a ser traumas, nem são causas suficientes para que se instale a
depressão, mas que podem contribuir para sua ocorrência. Quando
elas são vividas por um ego imaturo ou por uma personalidade
frágil e emocionalmente instável, o desfecho pode ser a depressão.

1. Viver num mundo extremamente competitivo,
sentindo-se frágil e impotente. Tal situação é típica da civilização
moderna, principalmente nas grandes cidades. A globalização
enfatizou mais ainda o aspecto competitivo da vida, com as guerras
comerciais e o multiculturalismo. Vive-se, queira ou não, dentro
de uma sociedade competitiva, cuja visibilidade é cada vez maior.
Para evitar sucumbir diante desse quadro, a pessoa deve aprender
a adaptar-se às mudanças paradigmáticas que estão sempre
ocorrendo, compreender as próprias limitações e tentar superálas,
tornando-se uma pessoa auto-determinada;
2. Viver sob pressão profissional sem recompensas
satisfatórias. O clima competitivo nas empresas e a briga pelo
próprio emprego fazem parte da aldeia global. O lucro pelo lucro
ainda faz parte da cultura humana, promovendo baixos salários e
ausência de recompensas satisfatórias. Estresses, produtividade

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a todo custo e cobranças de melhor desempenho acabam por
minar as resistências psicológicas das pessoas. Para fazer face a
isso, evitando a depressão, deve-se buscar uma renda complementar,
quando se tratar de remuneração, não se inebriar por
cargos efêmeros, desenvolver a criatividade profissional, bem
como encontrar compensações subjetivas que não venham do
próprio trabalho;

3. Acostumar-se à rotina sem as compensações
desejadas. O dia-a-dia impõe obrigações que acabam por saturar
a mente quando não trazem recompensas ou não há o reconhecimento
dos outros. O desgaste passa a estressar a pessoa, que vai
alimentando o forte desejo de que aquela tarefa se finde. Esse
tipo de situação exige criatividade e a percepção do valor das
pequenas coisas. A pessoa deve ressignificar seu olhar sobre o
que faz, executando-o por si mesmo e não apenas para alguém.
Buscar uma satisfação íntima e reivindicar a distribuição de tarefas;
4. Viver em contato com pessoas agressivas sem coragem
para enfrentá-las com equilíbrio. Algumas pessoas
convivem com a agressividade de alguém. Muitas vezes é o marido,
ou um filho, ou uma filha, ou companheira, ou um irmão ou irmã,
com quem a convivência se torna extremamente tensa. Quem sofre
a ação agressiva do outro tende a guardar raiva e mágoa, quando
não consegue forças e equilíbrio suficientes para romper o ciclo
de sofrimento e de subjugação. É preciso conservar a paz interior
para poder reagir sem ferir ou vingar-se, tampouco no mesmo
nível de agressividade. Falar com a pessoa sempre olhando em
seus olhos, demonstrando tranqüilidade e força interior;
5. Viver sem ser amado ou amada. Há pessoas que não
encontram um par ótimo para viver uma existência feliz. Outras
vêem seus casamentos se romperem, intuindo que não vão
encontrar alguém àquela altura da vida. Vivem desesperançosos

Alquimia do Amor

quanto à união a dois e acabam por se tornarem amargas e tristes.
Sentem-se desprezadas ou rejeitadas e se perguntam por que
elas não mereceram melhor "sorte". Argumentam para si mesmas
que muita gente pobre ou má tem esse direito, mas elas não. Não
entendem os mecanismos da vida e acabam por elaborar raciocínios
pueris. Esquecem que a existência no corpo permite o aprendizado
de várias maneiras, inclusive na situação de não se ter com
quem viver maritalmente. Precisam aprender a doar, sem exigir
reciprocidade, a disponibilizar o coração para a vida e não necessariamente
para alguém. Poderiam, para evitar cair na armadilha
da solidão infeliz, destinar sua capacidade afetiva para aqueles
que não têm um amor;

6. Não ter um sentido para a vida nem saber por onde
começar. Há pessoas que nascem e vivem descompromissadas
a respeito de sua própria existência. Não se preocuparam em
questionar o "para quê" de suas vidas. Vivem com objetivos
imediatos que, quando alcançados, deixam um vazio existencial
pela falta de um outro maior. Geralmente, na meia-idade,
desencantam-se com a vida por não lhes ter colocado objetivos
superiores. Vivem o momento e no imediatismo da mediocridade
de alguns. Carecem de contato com o divino, pois não estão
acostumados a práticas transcendentes. Quando se aproximam
da velhice, deprimem-se ou se tornam fúteis com relativa facilidade.
Devem, para evitar esse triste fim, conectar-se ao coração e a
tudo aquilo que lhe diz respeito, fazendo um caminho ao encontro
do sagrado. Neste percurso, devem retomar alguns ideais juvenis
esquecidos, bem como retomar antigos projetos de transformação
interior. O encontro com o sentido da vida deve passar pela
consciência da morte como uma passagem a outra dimensão;
7. Não ter uma religião que lhe responda suas
questões mais íntimas. O ateísmo, pelo desligamento ou falta
de interesse por uma religião pessoal, demonstra descuido com

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sua própria essência espiritual. Pessoas assim vivem uma vida
completamente voltada para a realidade material, esquecidas de
que há algo além que transcende os cinco sentidos. Muitos são
hedonistas, desligados do significado profundo em estar no corpo.
Quando necessitam de conforto íntimo nos momentos de aflição,
fogem da realidade através de artifícios que entorpecem a alma,
aprisionando-se nos labirintos da vida instintiva. Não aceitam o
Deus pintado pelas cores do mundo. Necessitam de um Deus
amoroso e amigo. Precisam conhecer a espiritualidade de uma
forma suave, sem os argumentos de castigos, dívidas ou obsessões.
Devem merecer o esclarecimento, principalmente a respeito da
caridade para consigo mesmo e para com o próximo;

8. Viver sendo inferiorizado por alguém e sem auto-
estima para mudar a situação. Relações nas quais vigora uma
hierarquia de comando, isto é, onde há submissão, não geram
crescimento para os envolvidos. Quando alguém tem poder sobre
outrem o sentimento fica em segundo plano, tendendo ao
desaparecimento. Com o tempo de convivência e o hábito de
entregar a condução da vida a dois ao outro, a pessoa vai
perdendo a auto-estima, submetendo seu gosto e sua vontade.
Inferioriza-se, tendendo a tornar-se facilmente irritável, além de
predispor-se à depressão. Quando se vive muitos anos ao lado
do outro, a quem se submete, corre-se o risco de se terminar
como inimigos, ou indiferentes um ao outro. Em alguns casos de
relação com submissão, mesmo que não haja mais sentimento e
que se chegue à velhice juntos, porém indiferentes um ao outro,
pode-se chegar a sentir falta daquele em quem projetava sua
sombra, quando o afastamento se dá por algum motivo transitório
ou com o advento da morte. É preciso ter coragem para mudar,
autodeterminação para não se submeter, dignidade para enfrentar
as conseqüências advindas da não aceitação daquele estado,
colocando o foco da vida em si mesmo. Quem se referencia em
alguém corre o risco de se alienar de si mesmo e da vida;

Alquimia do Amor

9. Lidar com doenças persistentes sem diagnóstico
específico, com doenças graves ou crônicas. A doença é algo
que desestabiliza qualquer pessoa. O corpo é um grande
referencial de identidade do ser humano, portanto suas condições
abalam seu estado de espírito. Mesmo que se conheça seu
significado simbólico, a doença pode mudar o rumo da vida de
uma pessoa. A idéia de que algo de ruim está acontecendo consigo,
em seu organismo, permanece na consciência durante todo o
tempo de duração da doença. Não é algo que se esqueça com
facilidade. Lidar com doenças graves, cuja vida esteja em risco
potencial, não é experiência que possa ser vivida sem alterações
psicológicas intensas. Ter uma doença grave é como conviver
com a própria morte anunciada. A pessoa sabe que, a qualquer
momento, entrará numa dimensão desconhecida e obscura à
consciência. Sem o preparo adequado e sem uma forte estrutura
de personalidade que mantenha o ego estável, a depressão é quase
inevitável. Doenças crônicas ou sem diagnóstico podem provocar
na personalidade os mesmos efeitos de uma doença grave. Não é
por acaso que uma doença grave se instala no organismo, pois o
significado daquilo que acontece a uma pessoa e que não seja
oriundo de sua intenção pode ser um recado da Vida para que a
vida seja melhor percebida. Mesmo que se trate de doença
incurável, ninguém pode assegurar que não poderá haver cura,
seja pela medicina e seus avanços científicos ou por qualquer outro
tipo de intervenção. A pessoa deve se perguntar para que aquela
doença se instalou em seu corpo, cuja resposta poderá lhe trazer
significativos conhecimentos sobre si mesmo. Deve aproveitar,
durante o curso da doença, para flexibilizar sua vida, vivendo-a
sem rigidez, procurando tornar-se uma pessoa mais espiritualizada.
Não deve perder o entusiasmo, desenvolvendo melhor sua
afetividade para com as pessoas;
10. Viver em condições financeiras escassas ou limitadas.
Quando a condição econômica de uma pessoa se mantém a

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mesma ao longo de sua vida, desfavorável ou não, ela acaba por se
acostumar a tal situação. Mas, quando essa condição se altera,
provocando a queda do padrão social da pessoa, o estado
psicológico geralmente é outro. Ninguém costuma se preparar para
derrotas financeiras com antecedência, pois todos vislumbram
sucessos, mesmo quando os riscos são calculados. A perda
financeira atinge o entusiasmo, a autoconfiança da pessoa e sua
capacidade de viver no mundo. Quando a pessoa tem família e
coloca-se nela como o seu principal provedor, o peso psicológico
da derrota é maior. Quanto mais avançada a idade e maior o
patrimônio, as conseqüências de uma derrocada financeira podem
levar o indivíduo à depressão profunda, com riscos de auto-
destruição. A vida material exige que o ser humano se preocupe
com sua subsistência e a daqueles que contribuiu para trazer ao
mundo, e isso tem tanta importância quanto suas buscas espirituais.
O primeiro passo para atravessar a crise financeira é expor sua
situação para a família, quando a tem, visando a união de esforços,
ou para alguém com quem possa dividir seus problemas.
Evidentemente será necessária uma reprogramação financeira e uma
adaptação à nova condição sócio-econômica. A pessoa deve
recuperar o entusiasmo e voltar a acreditar na própria capacidade
de se levantar de novo, sendo criativo e humilde. Deve rever suas
ambições, procurando perceber-se também sem aquilo que perdeu;

11. Não resolver seus problemas e necessidades
sexuais. A sexualidade é uma dimensão importante para o ser
humano, pois interfere diretamente em seu psiquismo. Uma vida
sexual saudável implica num equilíbrio adequado da afetividade,
pois uma e outra estão intimamente ligadas. A sexualidade contribui
para a construção da dimensão afetiva, pela tendência natural em
se estabelecer conexões amorosas em sua prática. Por outro lado,
a sexualidade de uma pessoa é uma questão íntima e deve ser
resguardada como reveladora de sua individualidade. Expô-la,
pode significar perder parte das garantias psicológicas relacionadas

Alquimia do Amor

à integridade pessoal. A maioria das pessoas reluta em revelar
sua intimidade sexual, só o fazendo sob determinadas garantias.
Quando há problemas nessa área a pessoa demora a procurar
ajuda, pela vergonha em revelar seu conflito sexual íntimo. Quando

o problema é considerado grave pela pessoa, a depressão pode
surgir. Quando há o uso excessivo da prática sexual, sem o
correspondente crescimento da afetividade, a pessoa se predispõe
ao distanciamento de sua finalidade essencial. Esse é um dos
motivos pelos quais não se deve valorizar excessivamente a prática
sexual, nem tampouco desprezá-la ou reprimi-la. A pessoa que
tenha conflitos na área sexual deve desabafar com alguém, a fim
de iniciar sua busca por soluções. É necessário rever os valores,
para não resvalar para o prazer a qualquer custo;
12. Lidar com a morte pessoal e de terceiros. A morte
é o evento mais importante, depois da própria vida. A compreensão
de seu significado e da necessidade de sua ocorrência é
fundamental para uma vida feliz. De qualquer forma, a possibilidade
de sua ocorrência, mesmo que sem prazo definido, pode angustiar
uma pessoa. Quando se trata de pessoas por quem se tem
afetividade sincera e com quem se dividiu a vida, a morte pode
representar a instalação de um grande vazio na vida de quem
ficou. Não é fácil ter de mudar seu sistema de vida de uma hora
para outra, pois, geralmente ninguém se prepara para a morte de
alguém. A esperança de que o outro tenha uma vida longa
prevalece sobre a necessidade de se preparar para sua morte.
Quando a pessoa tem consciência da imortalidade do espírito,
tudo pode ser mais fácil, sem os sofrimentos característicos
daqueles que em nada crêem. Uma das mortes mais difíceis de se
aceitar é a de uma criança. Parece que a morte ceifa a própria
esperança. É muito comum alguém se deprimir pela morte de
outrem quando existe algum vínculo com aquela pessoa. Para
minimizar ou evitar a depressão pela morte de alguém, deve-se
entender que ela vem para fechar alguns ciclos que estavam em

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aberto ou que chegou o momento de fechá-los. A imediata reflexão
e o conhecimento a respeito da imortalidade do espírito são
fundamentais. Entender que a morte, por todos os motivos,
materiais e espirituais, é uma libertação para o espírito. Lembrar-
se do ente querido que se foi, em seus momentos de saúde e
felicidade, mesmo que tenha morrido doente e triste;

13. Administrar perdas e rejeições naturais na vida.
A vida não contempla só vitórias e ganhos. A vida, compreendida
como um grande campo de experiências ao espírito, deve conter
tudo que pode lhe servir de motivo para apreensão das leis de
Deus. Perdas, rejeições, bem como adversidades, são experiências
que cabem no espaço de uma existência para que o espírito, com
elas, na medida de sua evolução, cresça a fim de alcançar sua
máxima finalidade. Em muitos casos de perdas, cujas conseqüências
são mais sérias ao espírito, a finalidade é quebrar a vaidade e
o orgulho que se apossaram do ego. Noutros casos, a personalidade,
que atravessa sucessivas rejeições e perdas, estaria vivendo
um processo de adequação do ego à realidade, o qual lhe trará
maior chance de crescimento pessoal. Será importante para a
pessoa o reconhecimento dos próprios limites, não querendo
privilégios da Vida. Deve também não permitir a redução de sua
auto-estima ou a perda do amor próprio, auto-valorizando-se e
encontrando na personalidade seus potenciais criativos;

14. Lidar com as ingratidões e incompreensões típicas
do ambiente familiar. O ambiente familiar é o campo no qual os
sentimentos mais diversos costumam aparecer. Ali ocorrem
amores, ódios, competições, invejas, amizades, fraternidades,
dentre outros. A ingratidão não é incomum no ambiente familiar,
pois expectativas são criadas para o comportamento dos outros.
É também ali onde o espírito recebe boa parte da ajuda que precisa
para iniciar uma nova jornada em sua evolução. Essa ajuda, mesmo
de forma inconsciente, é cobrada de alguma maneira. Essa

Alquimia do Amor

cobrança gera frustração quando a resposta não corresponde ao
que é esperado, que, quando se trata de filhos, na maioria dos
casos é a simples independência emocional e psicológica. Como
no ambiente familiar se aproximam espíritos que se encontram
vinculados por vários motivos e experiências do passado, as
incompreensões dos filhos para com os pais reaparecem,
provocando o sentimento de ingratidão nestes últimos. Fundamental,
para que não se entre em depressão por esse motivo é o
cultivo do perdão, acostumando-se a nada esperar do outro. Deve-
se doar de forma desinteressada, sem esperar obter qualquer tipo
de retribuição, mesmo que subjetiva, por parte do receptor. Deve-
se também aceitar os limites do outro em entender a extensão
daquilo que lhe foi dado;

15. Experimentar as agruras da solidão. Essa é uma
experiência potencialmente geradora de depressão. O encontro
com alguém com quem se viva as experiências da vida é uma
tendência arquetípica, portanto coletiva. É um anseio inato cuja
impossibilidade, por qualquer que seja o motivo, provoca instabilidade
psicológica na pessoa. Ficar só por opção difere de não
ter podido escolher. Muito embora possa se aprender muito sem
a companhia marital de alguém, a maioria das pessoas prefere
viver ao lado de outra que lhe sirva de projeção para suas imagens
arquetípicas inconscientes. No mundo externo o espírito projeta
seu mundo interior para conhecê-lo e apreender as leis de Deus.
Um outro representa a figura na qual se projetam as características
da personalidade que se deseja possuir ou excluir. É difícil viver
sem realizar isso. Quando se é obrigado a viver só, pode-se
aproveitar para ir à busca do divino em si mesmo, no silêncio da
vida solitária. Pode-se também aproveitar para se tornar útil a
alguém ou à sociedade, na realização do próprio destino;
16. Aceitar as transformações e alterações físicas
decorrentes da idade. O corpo é um veículo plástico que se

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altera com o tempo, pelo desgaste natural de seus órgãos. A
aparência, principalmente, sofre alterações significativas com o
tempo, modificando sua expressão externa. Cada fase do organismo,
no seu processo de crescimento, maturação e declínio até
a morte, oferece diferentes tipos de experiências ao espírito, com
oportunidades para seu desenvolvimento. Entender isso, sem
descurar dos cuidados com o corpo, inclusive mantendo-o jovem,
é parte do aprendizado de todos. Saber envelhecer é uma arte,
cujo exercício promove a maturidade psicológica ao ego. O ciclo
que envolve o início, o apogeu e o declínio das energias corporais
enseja diferentes reações psíquicas que serão incorporadas à
personalidade. A fase de início, pela descoberta das potencialidades,
propicia a formação do ego. Até o apogeu, na aquisição
da plena potência, enseja as construções externas. O declínio
proporciona a descoberta daquilo que esteve oculto o tempo todo,

o Self, que representa Deus dentro de si mesmo. Aceitar e
compreender os ciclos da vida evita a instalação da depressão,
pois se perceberá que o corpo, com suas mudanças, é um instrumento
de evolução. Nessa percepção, inclui-se a visão de que o
eu é diferente do corpo quando se faz o mergulho para o mundo
interior na fase de declínio da vida orgânica;
17. Entrar em contato com suas próprias limitações.
Entrar em contato consigo mesmo é perceber as qualidades e os
potenciais latentes, assim como integrar a própria sombra negativa.
Integrar essa sombra é um processo difícil e complexo, pois
geralmente não se é educado para enxergar o lado sombrio da
personalidade. Geralmente, quando se entra em contato com essa
sombra, as coisas não dão certo, culminando com o abandono
de tal tentativa. Quando a pessoa, não intencionalmente, entra em
contato com suas limitações, rejeita essa face de sua personalidade,
buscando aquela que melhor lhe representa. Porém, quando a
vida obriga ao permanente contato com as limitações, a depressão
pode surgir como forma de se proteger daquilo que é considerado


Alquimia do Amor

aversivo. É exatamente nessa fase da vida que os verdadeiros
valores pessoais podem ser melhor explorados e a ignorância
pessoal deve ser admitida. As qualidades subjetivas do indivíduo
deverão ser consolidadas para que o crescimento espiritual venha
a ser percebido;

18. Lidar com os fenômenos mediúnicos que lhe
cercam a vida. Essa ocorrência é a mais complexa dessa relação
e a que mais pode provocar, não só depressão, mas muitos
transtornos psíquicos. Os fenômenos mediúnicos estão presentes
na vida de todas as pessoas, alterando seu psiquismo e
promovendo uma série de atitudes inconscientes. Não sabendo
lidar, por desconhecimento, com a influência dos espíritos na
própria vida, o ser humano sofre e angustia-se, pois não ajuíza o
que está acontecendo. Tais influências podem lhe desorganizar a
vida, provocando problemas e desequilíbrios diversos. É como
se a vida da pessoa não fosse adiante, tendo seus processos
emperrados e não lhe permitindo alcançar as coisas mais simples
que deseja. Passa por obsessões sem entender o porquê. O ser
humano deve entender que sua relação com os espíritos
desencarnados é parte integrante da vida, pois todos têm suas
companhias espirituais. A mediunidade é uma faculdade inerente
a todos, portanto, de alguma forma, estamos em constante contato
com a realidade espiritual que nos cerca. Deve-se superar o medo
e aceitar os convites para investir na busca do conhecimento a
respeito da vida espiritual e da própria espiritualidade.

Medicações típicas

As medicações antidepressivas, combinadas ou
não com outras drogas, visam a melhora na captação de serotonina
e são inibidores seletivos de sua recaptação. Proporcionam uma
maior possibilidade das sinapses cerebrais ocorrerem, promovendo
o bem-estar da pessoa. Atendem a requisitos químicos, sem
entrar no mérito das causas. Nessa visão, não importa se a pessoa
se deprimiu porque tem uma doença grave e não sabe lidar com
ela e com a morte ou se está diante da possibilidade de uma
separação conjugal, por exemplo.

O objetivo do remédio é promover alterações químicas no
cérebro, sob controle rigoroso da ciência. O paradigma é materialista,
pois considera que o problema está naquela deficiência.
Tenta-se sanar os prováveis efeitos para eliminar o sofrimento da
pessoa. Para todos os doentes a medicação é a mesma, sem que
sejam feitos quaisquer exames laboratoriais para detectar se há
realmente deficiência da substância indicada. É um pressuposto a
priori, respaldado em casos anteriores e em pesquisas internacionais,
numa amostra estatisticamente válida. Dessa forma, todos
entram na vala comum da hipótese pré-estabelecida. As doenças
são conseqüências da existência de doentes. Os sintomas podem
se assemelhar, mas os processos diferem. As doenças não são
apenas os sintomas, pois a personalidade é parte do problema.

No que diz respeito à realização de uma psicoterapia, a
pessoa medicada poderá facilitar o atendimento desde que as


Alquimia do Amor

substâncias ingeridas não mascarem os sintomas nem promovam
a falsa impressão de que a cura virá exclusivamente do seu uso.
O medicamento deve ser entendido como um redutor da ansiedade
e da angústia provocadas pela doença.

Os antidepressivos, geralmente associados a indutores do
sono, costumam provocar efeitos semelhantes aos sintomas que
se pretende combater. Em alguns casos há riscos, não só do
agravamento dos sintomas, como também da possibilidade do
surgimento da acomodação, baseada na crença da obtenção da
cura apenas com o remédio.

As medicações homeopáticas e alternativas, muito embora
não tenham o mesmo princípio de ação das alopáticas, se baseiam
também na idéia de que o problema é físico. Portanto, a eficácia
é a mesma.

Cada vez mais surgem drogas que reúnem poderes de "cura"
de transtornos psíquicos associados. Há drogas que se propõem,
por exemplo, a curar depressão, TOC e Síndrome de Pânico,
simultaneamente, desprezando totalmente suas causas psicológicas,
resumindo a doença aos sintomas observados.

Os depressivos, ou doentes em geral, devem entender os
limites das medicações que, mesmo que curem os sintomas, não
estão penetrando as causas psíquicas. A doença é um sistema
mórbido que mantém um certo equilíbrio, porém serve para
sinalizar que algo não está bem com a alma. Seus sintomas
observados são conseqüências do que se encontra por detrás. A
doença é um grito que vem do inconsciente, da alma, que deseja
se libertar de algo que a incomoda.


Atendendo um depressivo

Quando um novo paciente me procura para tratar de
sua depressão, costumo perguntar-me, enquanto o escuto na
cadeira à minha frente, se ele suportará ou não aquele contato
com o inconsciente. Até quando ele evitará entrar em contato
consciente e maduro com o complexo que se encontra próximo
à consciência e que lhe causa depressão? O fato de estar em
frente a um psicólogo representa um passo para esse acesso,
muitas vezes dado com muito esforço. Essa atitude é um convite
e uma permissão para que eu facilite tal acesso. Considero um
trabalho de extremo valor, cujo cuidado em fazê-lo redobra-se
pela condição de fragilidade do outro.

A partir de sua história de vida e dos sintomas que apresenta,
procuro avaliar se ele tem ou não depressão. Muitas vezes,
trata-se apenas de um episódio depressivo, de curta duração,
cuja solução pode-se obter com terapia breve. Outras vezes, se
trata da dificuldade em admitir sua incompetência para administrar
pequenos conflitos cotidianos, que levam o indivíduo à passividade
e à tristeza.

Já na primeira sessão tento mostrar-lhe o quanto foge de si
mesmo e que a depressão é conseqüência dessa fuga inconsciente.
Chamo-o à consciência de sua ignorância. No fundo, gostaria de
lhe dizer que ele é um espírito imortal e que sua depressão o faz
perder tempo em seu crescimento espiritual, porém, limitações


Alquimia do Amor

éticas e profissionais me impedem de colocar tais aspectos, que
podem lhe parecer doutrinação religiosa.

Pergunto-me, também, se ele suportará a camisa de força
da depressão ou se conseguirá abrir os braços para a vida que o
espera, sem medos ou angústias, enfrentando-a com determinação
e coragem. Torço para que se liberte de suas algemas psíquicas,
que o impedem de enfrentar os naturais desafios da vida. Logo
reconheço suas dificuldades e o quanto tem tentado sair daquele
ciclo vicioso de pensamentos e idéias que não o levam ao prazer
de viver e de enfrentar os desafios da vida.

Na maioria, vejo pessoas que não entendem os mecanismos
da vida, nem reconhecem suas próprias capacidades de
superação, preferindo isolar-se ou fugir do mundo.

Procuro encontrar, em sua história de vida, algum estigma
que o tenha acompanhado desde o nascimento, ou adquirido
posteriormente, a fim de lembrar-lhe o quanto é importante superálo.
Estigmas são condições pré-impostas ao espírito, decorrentes
de seu passado reencarnatório. São exemplos de estigmas:

– ter uma doença congênita não perceptível externamente;
– ter deficiência física;
– apresentar marca de nascença corporal externa visível;
– ter doença grave adquirida ao longo da vida, principalmente
quando criança ou jovem;
– ser órfão de nascença;
– ter se tornado órfão de um dos pais na infância;
– ter condição sócio-econômica inferior;
– ter tido pelo menos um internamento em hospital
psiquiátrico;
– apresentar conflito pelo desejo sexual por pessoa do
mesmo sexo;
– ter complexo materno ou paterno;
– ter complexo de culpa;
– ter nascido em grupo de risco ou pertencer a uma minoria
social;

adenáuer novaes

– herdar o primeiro nome materno ou paterno;
– ter passado por experiência traumática na infância;
– ter sido assaltado ou seqüestrado;
– ter sido vítima de tentativa de homicídio;
– ter passado por risco grave de morte;
– ser filho de mãe solteira, sendo criado sem pai;
– ter pais separados;
– viver com padrasto ou madrasta inamistoso(a);
– ter tido insucesso escolar, atrasando seu curso;
– ter tido pelo menos um casamento mal sucedido;
– ser portador de um vício de difícil cura;
– estar sendo obsidiado espiritualmente;
– viver longe de seus entes queridos;
– ter um transtorno psíquico que lhe prejudica a adaptação
social.
Tento fazê-lo compreender o significado simbólico de seu
estigma, avaliando sua influência na instalação da depressão. Sua
compreensão mais profunda do estigma e sua interferência na
própria vida são fundamentais. A maioria das pessoas lida com
seus estigmas de forma superficial, aprendendo a superá-los,
tentando esquecê-los, como se devessem aceitá-los passivamente,
sem encontrar seus significados simbólicos subjacentes.

Com sua ajuda, tento fazê-lo encontrar o significado
simbólico existente, visando reduzir ou eliminar sua influência na
depressão. Procuro fazer com que tire lições profundas de sua
própria condição, reconhecendo no estigma uma oportunidade
de se tornar uma nova pessoa.

Pergunto-lhe se está em acompanhamento psiquiátrico e
qual o profissional, para futuro contato, quando necessário.
Procuro saber quais as medicações que toma, quais as que já
tomou, suas dosagens e por quanto tempo. Com isso verifico
como lida com remédios e o que espera deles. A maioria não
sabe que seus efeitos se situam na esfera física, sem alcance


Alquimia do Amor

psicológico correspondente. Querem se livrar a qualquer custo
de sua doença sem procurar entender o para quê ela se instalou.

Investigo se há tendências suicidas e se existem casos na
família. Vale salientar que o desejo de morrer, característico na
maioria dos depressivos, difere do desejo de se matar. O desejo
de se matar inclui o pensamento em torno da forma de fazê-lo.
Quando existe a tendência e o desejo de se matar, recomendo
que a pessoa também procure um atendimento psiquiátrico. Caso
já esteja em atendimento psiquiátrico, recomendo que não deixe
de tomar sua medicação sem o devido aconselhamento médico.

A todos os pacientes recomendo que façam uma busca
espiritual religiosa em seu credo preferencial. Àqueles que se
encontram, de acordo com minha avaliação, sob influência
espiritual perturbadora e que se declarem espíritas, além de continuarem
em seus tratamentos psicológico e psiquiátrico, recomendo
que façam tratamento espiritual. Tal tratamento consiste em
tomar passes num Centro Espírita, assistir reuniões públicas de
caráter educativo e informativo, além de recorrer às orações. Não
transformo a psicoterapia em aconselhamento espiritual, nem me
valho de qualquer instrumento de trabalho que não advenha do
meu conhecimento profissional.

O tratamento psicoterápico, dentro da abordagem que
adoto, leva o indivíduo a perceber o simbolismo de seu conflito, a
enxergar sua sombra e integrá-la, a reconhecer seu complexo
causador da depressão, além de encontrar os meios de viver sem
considerar seus conflitos maiores do que a própria vida que tem.

Estarei sempre considerando que ele, como eu, possuímos
a capacidade de superar conflitos, na medida que estabelecemos
prioridades, ressignificando os próprios valores. Entendo que cada
ser humano é um mundo em si e não aplico a mesma técnica para
pessoas diferentes. Vejo em cada ser uma alma que deseja tornar-
se aquilo que é.


Conselhos úteis
para não entrar em depressão

1. Desenvolva e utilize sua intuição;
2. Apóie-se na certeza de que existe saída para todo e
qualquer problema;
3. Lembre-se de que há algo a fazer para resolver seu
problema sem necessariamente entrar em depressão;
4. Nunca esqueça de que a depressão está relacionada
com o sentido de sua vida;
5. Faça uma busca espiritual profunda;
6. Não entregue exclusivamente à religião a solução de seu
problema, pois sua determinação é fundamental neste sentido;
7. Duvide de soluções fáceis;
8. Utilize sempre a oração e a meditação simultaneamente;
9. Não use a tristeza, a melancolia ou o isolamento afetivo
como pretextos, desculpas ou motivo para nada;
10. Utilize medicação somente quando prescrita e como
último recurso;
11. Leia pelo menos um livro que melhore seu humor, que
eleve sua auto-estima e traga ensinamentos edificantes;
12. Verbalize suas emoções para alguém;
13. Tenha certeza de que você não é vítima;
14. Não alimente idéias em torno da auto-piedade;

Alquimia do Amor

15. Pense na depressão como um desafio a ser vencido e
que não está acontecendo para puni-lo;
16. Sinta-se acompanhado por forças espirituais positivas,
mesmo que pareça o contrário;
17. Recupere seu senso de humor, em que pese a falta de
ânimo, pois os outros não têm culpa de seu estado;
18. Lute como gigante contra o dragão interno da
desmotivação;
19. Não coloque um problema como sendo maior do que
sua própria vida;
20. Sintonize com os bons espíritos que querem seu sucesso;
21. Viva cada dia o seu momento, consciente de que as
coisas são resolvidas com paciência e entusiasmo;
22. Faça uma caridade anônima, sentindo que fazer o bem
faz bem;
23. Não acolha pensamentos derrotistas nem suicidas, a
vida presente vale mais do que a futura;
24. Escolha pelo menos uma pessoa para ser sua âncora e
seu conselheiro;
25. Determine um prazo para fazer alguma mudança em
sua vida;
26. Confie que Deus quer o melhor para você.

Ao que deseja sair da depressão

Prezado amigo ou amiga.

Lamento sinceramente que você esteja passando por isso.
Compreendo que é algo muito ruim e que lhe traz sofrimento.
Imagino como têm sido suas horas, sem que você encontre um
limite para o que sente e para que seu estado de espírito mude.
Como você gostaria de estar bem e feliz... Você não imagina
como eu lhe desejo o mesmo.

Talvez o que você esteja lendo agora pouco adiante, no
seu caso, mas sinto que devo escrever visando seu alívio. Faço-o
de coração, porque tudo que nele acontece transforma a vida.
Por falar nisso, como seu coração se encontra agora? Será que
ainda há espaço para você se abrir e conversar sem críticas ou
cobranças? Queria saber se você ainda se lembra como era antes
de estar assim? Por acaso, não é possível lembrar do tempo em
que você era autoconfiante e intimamente alegre?

Sei que a causa de sua depressão é porque você não aceita
ou não quer lidar com algo em sua vida, e isso o deixou nesse
estado. Você deve admitir, e gostaria que entendesse isso, que
seu medo é seu maior inimigo. Sua cura depende de sua coragem
para enfrentar a si mesmo. Não se esqueça que tudo se passa
dentro de você e que é preciso enfrentar seu desafio. A depressão
tem adiado esse confronto.

Não tome seu problema como um castigo divino nem o
atribua a alguma pessoa. Não pense que só você passa por isso


Alquimia do Amor

ou que não merece tanta dor. Não há injustiça na Vida. Tudo
decorre de um plano maior do que você acredita existir e tem
propósitos que nem sempre você compreenderá. Mesmo assim,
lute para mudar, não se conformando com consolos de que você
deve aceitar as coisas como elas são. Lute para mudar, principalmente
o que existe dentro de você.

Veja que você não gostaria que as pessoas sentissem pena
de você, porém é o que você mais tem despertado. Enquanto a
vida flui e leva todos para frente, você se encontra em compasso
de espera. É claro que você gostaria de se livrar desse problema
e tocar sua vida em frente. Tenha certeza de que você conseguirá
isso, pois não há possibilidade de ir para trás. Você pode parar,
mas dará marcha a ré. Se os fatos indicam que isso estaria
acontecendo é por que você está chegando ao ponto de onde
deveria ter partido. Em breve, quando você se sentir mais forte,
estará de novo trilhando seu caminho.

Sua depressão é um sinal de que existem coisas dentro de
você não muito bem resolvidas, cujo contato deve ser feito. Elas
fazem parte de um segredo em você que precisa ser descoberto,

o que fará com que sua vida realmente passe a lhe pertencer. O
segredo está relacionado ao amor. Quando você descobrir o
significado que se encontra por detrás dessa simples palavra,
apropriando-se da energia gerada toda vez que você resolve sentilo,
encontrará Deus em você mesmo. Seu mundo se abrirá e seu
coração sentirá o quanto há por viver.
Não se esqueça de que você é seu problema e é a sua
solução. Viva. Viva com todas as suas forças e por tudo que lhe
é sagrado. Seu problema não é maior do que sua vida. Ela é o
presente de Deus que você deve desfrutar.

Não se esqueça de que é impossível não viver, portanto
viva sem querer fugir daquilo que a própria vida lhe reserva.

Convido-o para que você dê uma chance a você mesmo e
à vida que é possível ser vivida. Não se entregue mais e comece
gradativamente a se dirigir ao alvo da vida, realizando uma nova
alquimia. A alquimia do amor a Deus, ao próximo e a você mesmo.


Convite

Alma amiga, não se deprima. Veja a vida como um
grande campo de trabalho e de construção de si mesma.

Venha comigo passear nos caminhos que o Senhor reservou
a você.

Não fuja de mim nem se entregue à embriaguez das
facilidades que aparecerem à sua frente.

Seja firme em seus propósitos de descobrir a si mesma,
sem titubear quanto à impossibilidade de não viver.

Tente me perceber nas coisas mais simples da vida e nos
momentos em que seu coração deseja ser feliz.

Venha se banhar nas águas quentes de meu ser para que a
racionalidade não lhe enrijeça com a frieza e o distanciamento
das emoções.

Deite-se em meu colo materno enquanto as tempestades
passem e venham a quebrar sua determinação em ser feliz.

Durma ao meu lado o tempo de refazimento, para que o
amanhã possa aparecer como uma estrela guia em sua vida.

Acolha-me todas as vezes que sentir meu perfume exalando
no sorriso e na alegria das pessoas.

Não titubeie em confiar em mim, sou com você, por onde
for e pelo tempo que o tempo durar.

Ande comigo pelas veredas de seu destino, nas noites de
sua agonia, para que suas dores não lhe sejam acerbas.


Alquimia do Amor

Apaixone-se por mim e pelo que lhe ofereço, pois a Vida
me deu a incumbência de temperar a sua vida com a paixão do
coração.

Coloque-me no lugar mais alto de seu ser para que sempre
esteja a mirar-me como a uma chama luminosa que clareia seu
caminhar.

Considere-me seu mais íntimo amigo e coloque-me junto
ao seu coração, para que possa sempre tocar-me quando quiser.

Seja eu, e serei você, quando resolver distribuir por onde
passar o sentimento que significa meu nome: o amor. Sou o amor
que deseja pulsar vivamente em sua alma, por todo sempre.

Ame. Ame sempre e cada vez mais.




          

         Olá,  Lygia, pessoal:
                        Hoje estou iniciando uma nova fase em minhas mensagens espíritas.  A partir de então vou exibir as capas dos livros acompanhada da sinopse  e também os anexos serão em dois formatos pdf e  texto.  Fazendo assim ,estarei facilitando a acessibilidade aos deficientes visuais, nossa meta. Pedimos as pessoas que não são deficientes visuais que tenham acesso a obra que compre a original e dêem a uma biblioteca pública. Fazendo assim estamos incentivando o surgimento de novas obras espíritas 




 



Neste livro o autor faz um estudo profundo a respeito da depressão, apresentando seus principais sintomas, suas causas e formas de tratamento. O autor procura desmistificar a depressão, estabelecendo as diferenças em relação a outros estados de consciência visando um diagnóstico mais preciso. Coloca a depressão como um processo de auto-erotização e de alquimia de energias internas. O enfoque é psicológico e espírita.


Muita paz !

 Bezerra

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'TUDO QUE É BOM E ENGRADECE O HOMEM DEVE SER DIVULGADO!

PENSE NISSO! ASSIM CONSTRUIREMOS UM MUNDO IDEAL."

JOSÉ IDEAL

' A MAIOR CARIDADE QUE SE PODE FAZER É A DIVULGAÇÃO DA DOUTRINA ESPÍRITA" EMMANUEL

 





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