sábado, 11 de maio de 2019

{clube-do-e-livro} 3º LANÇAM DO DIA : SEXO E LOUCURA - CARLOS AQUINO - FORMATOS: PDF, EPUB, RTF ,TXT E MOBI

Estas s��o as cole����es "sexy" da CEDIBRA:

OLHO MAGICO (4 s��ries)

Amarela ��� autor: Ricardo Veronese

Azul ��� autor: Bruno Altman

Verde ��� autor: Eduardo Rosso

Vermelha ��� autor: Marcelo Francis

KARINA (4 s��ries)

Amarela ��� autor: Ricardo Veronese

Azul ��� autor: Eliane Guerreiro

Verde ��� autor: Vic Lester

Vermelha ��� autor: Marcelo Francis

CORAL (4 s��ries)

Amarela ��� autor: C��lio Santana

Azul ��� autor: Eliane Guerreiro

Verde ��� autor: Eduardo Rosso

Vermelha ��� autor: Bruno Altman



SEXO E LOUCURA





Carlos Aquino


Copyright �� MCMLXXIX CEDIBRA ��� Editora Brasileira Ltda.

Rua Filomena Nunes, 162 ��� CEP 21.021

Rio de Janeiro, RJ

Direitos exclusivos para o Brasil

Composto e impresso pela Cia. Gr��fica Lux

Estrada do Gabinal, 1.521 ��� Rio de Janeiro, RJ

O texto deste livro n��o pode ser, no todo ou em parte, nem regis-

trado, nem retransmitido, nem reproduzido, por qualquer melo

mec��nico, sem a expressa autoriza����o do detentor do copyright

CAPITULO 1

O MOTORISTA

Norma era uma mulher feia. De nada lhe adiantavam

todos os recursos modernos de embelezamento. Tratava-se

de um caso quase sem solu����o. No entanto, era milion��ria

e de bom grado daria tudo para ser t��o bonita quanto a

Elizabeth Taylor.

Por��m, agora aos quarenta anos de idade, estava bem

melhor do que na ��poca de sua mocidade. Sim, porque, na

adolesc��ncia, crescera demais, tinha muitas sardas, e n��o

se via sinal nem de seios nem de quadris. Isso numa ��poca

em que o tipo ideal de mulher era o de cintura fina, qua-

dris e bustos volumosos, coxas grossas, etc.

De fam��lia riqu��ssima, educada nos melhores col��gios,

sentia-se extremamente t��mida. Tinha vergonha at�� de sua

pr��pria sombra. E com raz��o, porque era motivo de de-

boche dos colegas, que n��o podiam conter os risinhos de

ironia quando a viam.

Tudo aquilo revoltava Norma. E ela come��ou ent��o a

lutar contra sua inibi����o e a desejar que lhe acontecesse

exatamente como na hist��ria do patinho feio que depois

se transformava num lindo cisne. Mas na vida real essas

coisas n��o acontecem, e Norma, quando muito, poderia

melhorar um pouco sua apar��ncia.

Ap��s o gin��sio, a idi��a de ficar menos feia tornou-se

uma obsess��o. E p��s m��os �� obra. Come��ou a freq��entar

aulas de gin��stica, academias de beleza, estudou postura,

modo de andar. Suas roupas eram escolhidas de modo a

lhe disfar��ar os in��meros defeitos.

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Mas o pior de tudo era que o rosto tamb��m n��o aju-

dava. O nariz enorme, encurvado, parecia mais um bico

de papagaio. Ainda n��o estava t��o difundida a pr��tica de

opera����es pl��sticas e Norma foi uma das pioneiras.

Um dos melhores cirurgi��es do g��nero fez o que p��de

com seu nariz. E, de fato, ele melhorou um pouco. Uma

viagem �� Europa e v��rios m��todos para curar a timidez

fizeram com que ficasse mais desinibida.

Contudo, dentro de si, permaneceu um certo rancor

do mundo e da humanidade em geral, reflexo das humi-

lha����es por que passara na inf��ncia e adolesc��ncia devido

ao seu f��sico.

Apesar de toda a pureza da inf��ncia, ou talvez por

isso mesmo, ningu��m mais cruel do que uma crian��a. Tudo

porque ainda n��o aprendeu a dissimular e esconder a ver-

dade.

Assim, ela tivera uma grande quantidade de apelidos,

que ora se referiam a seu nariz monstruoso, ora ao seu

corpo desajeitado ou a algum outro de seus muitos de-

feitos.

Mas aos dezenove anos de idade, Norma ficou noiva.

Era seu primeiro namorado. Sim, porque antes nunca con-

seguira nenhum. Nessa idade, j�� estava com seu novo na-

riz, vestia-se muito bem com roupas compradas em Paris,

vivia coberta de j��ias.

Mesmo assim, quando Joel come��ou a querer namo-

r��-la, n��o acreditou que estivesse apaixonado. Tinha cer-

teza absoluta de que queria casar-se com ela apenas por

causa de seu dinheiro.

E durante os vinte anos seguintes, at�� o momento

atual portanto, nunca lhe passara pela cabe��a outra coisa.

Joel n��o era propriamente um rapaz pobre. Pertencia

�� classe m��dia. Mas, ambicioso, vira em Norma, sua ascen-

s��o social. Ele, tamb��m, era bastante bonito. Todas as mo-

��as s�� faltavam enlouquecer de paix��o com a sua simples

presen��a.

Alto, forte, moreno de olhos verdes. O homem ideal

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para qualquer tipo de mulher. Mesmo a mais casta se en-

tregaria sem hesita����es, caso ele assim o quisesse.

Norma tamb��m n��o resistiu ao seu encanto. Embora

tendo certeza de que Joel n��o a amava, aceitou-o. Para

ela pouco importava que fosse ou n��o interesse da parte

do rapaz. O que importava era que seria dela. Iria usu-

fruir de uma coisa que a maioria de suas amigas n��o con-

seguiriam. Joel seria uma esp��cie de vingan��a. Por causa

do seu dinheiro ou n��o, pouco importava.

E assim, se casaram.

E podia-se dizer que fora um casamento muito, muito

feliz.

Pelo menos j�� estava durando vinte anos.

O pai de Norma deu-lhes como presente de casamento

uma mans��o em Santa Teresa, onde passaram a morar.

Tiveram uma ��nica filha, L��gia, agora com dezoito anos,

estudando na Inglaterra. Joel tornara-se um grande indus-

trial, vice-presidente de todas as empresas do pai de Norma.

Apesar de seus casos amorosos, era um bom marido.

Satisfazia plenamente a esposa na cama. Ali��s, sempre

fora conhecido entre os amigos de juventude como o cara

que topava tudo. Sa��a com qualquer mulher, por pior que

fosse o seu aspecto. Tinha um grande apetite sexual. N��o

lhe importava o inv��lucro. Contanto que ele gozasse, tudo

b e m . . .

Assim, n��o foi nenhum sacrif��cio ter-se casado com

Norma. Pelo contr��rio. Estava feliz da vida. Tinha uma

exist��ncia maravilhosa. Muito dinheiro, seguran��a, respei-

tado por todos, transava com as mulheres que queria, o

que n��o o impedia de tamb��m satisfazer a esposa. O que

podia querer mais na vida?

Tinha, evidentemente, o cuidado de que a esposa n��o

soubesse de suas aventuras fora do leito conjugal. Norma

n��o tinha do que reclamar. A qualquer hora da noite, ou

mesmo do dia, que tivesse vontade de ter Joel na cama,

ele vinha como um cachorrinho amoroso e fazia o ato per-

feito, sem nada reclamar.

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A harmonia entre os dois era tanta, as ambi����es de

Joel haviam sido t��o bem satisfeitas, que ele apenas sentia

um certo t��dio.

Foi a�� que come��ou a se interessar pela literatura. Es-

creveu um conto er��tico. Que foi publicado numa revista.

Estimulado, passou a ler bastante e a escrever mais.

At�� que teve sua aten����o despertada por uma coisa

que at�� ent��o n��o se lembrara. Os antigos moradores

da mans��o onde residiam.

Ao atravessar certa vez o port��o que dava para o jar-

dim, ao ver a antiga fachada "art-nouveau", os grandes

sal��es, o por��o, uma esp��cie de torre que encimava o ca-

sar��o, tudo come��ou a agu��ar-lhe a curiosidade.

E iniciou suas pesquisas. Quando havia sido constru��-

da a mans��o, quem a constru��ra, os primeiros moradores,

etc. Cada vez mais fascinado, de pesquisa em pesquisa,

descobriu coisas incr��veis, muito mais interessantes do que

a princ��pio imaginara.

E come��ou o que achava que seria sua grande obra: um

romance. Os fatos mais nebulosos, ou o que n��o conseguira

descobrir, completava com a, imagina����o.

Norma n��o se interessava muito pelos escritos do ma-

rido. Mas, de certa forma, orgulhava-se deles. Afinal, tinha

em casa um escritor. E, na verdade, s�� podia mesmo orgu-

lhar-se.

Al��m de sua fortuna, de suas propriedades, de suas

j��ias, possu��a tamb��m um homem bonito e inteligente que

era seu h�� vinte anos. E que tamb��m tornara-se escritor.

Nos ��ltimos meses, Joel, mal chegava em casa, ia para

seu gabinete de trabalho e escrevia horas e horas, s�� in-

terrompendo o romance que estava elaborando quando Nor-

ma o chamava para a cama. A��, atendia o chamado e vi-

nha cumprir sua obriga����o.

A esposa num certo sentido, que n��o apenas o lite-

r��rio, estava contente com a nova ocupa����o do marido.

Escrevendo o tal livro com tanta dedica����o, era mais uma

prova de que, pelo menos, tinha menos tempo para tra��-la.

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Por��m, at�� o momento, n��o lera nada do romance que

estava sendo escrito. Certa noite, dissera a Joel, apenas

para agrad��-lo:

��� Gostaria de ler algum trecho do livro que est�� fa-

zendo.

��� Deixe ficar mais adiantado.

��� N��o quer me mostrar?

��� N��o �� isso, Norma, quero que veja quando estiver

pronto.

��� J�� se decidiu pelo t��tulo?

��� Ainda n��o.

E a conversa ficara a��, mesmo porque Norma falara

por falar. E n��o insistiu.

Naquela tarde, Norma preparou-se com todo o cuida-

do, como de costume. Estava sempre impec��vel em suas

apari����es p��blicas. Muito bem maquilada e penteada, des-

ceu os poucos degraus at�� o jardim e encaminhou-se para

o carro. Sebasti��o, o velho motorista da fam��lia (traba-

lhava para eles desde que Norma e Joel haviam se casado),

j�� estava a postos.

��� Leve-me em Ipanema ��� disse Norma.

E entrou no autom��vel.

Sa��ram pelas ruas tortuosas de Santa Teresa. Ela ia

a Ipanema fazer compras. Nada que necessitasse realmen-

te. Mas de vez em quando tinha como obriga����o visitar

algumas butiques. Comprava um len��o aqui, uma cal��a

ali, uma quinquilharia acol��.

Enquanto o carro rodava pelas ruas, em vez de obser-

var as pessoas ou o que se passava fora do autom��vel, Nor-

ma tinha os olhos fixos na nuca de Sebasti��o. E por um

momento, odiou-o...

J�� n��o suportava mais a presen��a do motorista. Es-

tava velho, cansado. Por que n��o se aposentava logo? Por

que cumpria t��o religiosamente o dever sem faltar um dia

sequer?

Quando Norma desejava liberdade, dispensava-o e di-

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zia que estava com vontade de dirigir. Era justamente

quando tinha algum encontro com um de seus amantes.

Naqueles ��ltimos vinte anos, Sebasti��o s�� faltara ao

servi��o durante dois meses. Assim mesmo porque estivera

seriamente doente. E foram justamente naqueles sessenta

dias que Norma teve a maior aventura de sua vida.

Olhando a nuca do velho motorista, recordou que tudo

come��ara quando ela, sentada naquele mesmo autom��vel,

h�� cerca de oito anos, olhava fixamente para a nuca do

jovem motorista que substitu��ra Sebasti��o.

Hamilton devia ter seus dezoito anos. Quando saiu pela

primeira vez com ele, sentada no banco traseiro do carro,

fixou Os olhos na nuca do rapaz e de repente soltou uma

gargalhada.

Ele virou-se assustado e quase perdeu a dire����o. De-

pois, tornou a prestar aten����o no seu trabalho. Encabu-

lado, n��o perguntara o porqu�� da gargalhada.

Norma naquele momento tivera um pensamento que

n��o podia confessar ao jovem motorista. Comparara-o com

o velho Sebasti��o e imaginara ir para a cama com seu

substituto. Mas n��o podia revelar isso a Hamilton, logo

em seu primeiro dia de trabalho.

��� N��o quer saber por que eu ri?

��� Se a senhora quiser c o n t a r . . .

��� Me lembrei de uma coisa muito engra��ada.

Sil��ncio.

��� Voc�� �� amigo de Sebasti��o, n��o ��? ��� perguntou

Norma, apenas para continuar a conversa (claro que sabia

a resposta, uma vez que Hamilton fora recomendado pelo

velho motorista).

��� Ele �� amigo de meus pais.

��� J�� trabalhou como chofer antes?

��� N��o.

��� Mas dirige muito bem.

��� Desde garoto que gosto de dirigir. Meu pai tra-

balha numa oficina de carros.

��� Quantos anos voc�� tem?

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��� Dezoito.

��� Est�� estudando?

��� N��o.

��� Por qu��?

��� Tenho que trabalhar.

��� H�� muita gente que trabalha e estuda.

��� Eu sei.

��� E por que n��o faz assim tamb��m?

��� Acho que sou um pouco burro.

Norma voltou a rir:

��� Voc�� parece n��o fazer um bom conceito a respeito

de si mesmo.

Foi assim que come��ou uma certa cumplicidade entre

os dois. Diariamente, Norma sa��a com ele, por este ou

aquele motivo. Ao fim de quinze dias, j�� estavam menos

cerimoniosos.

��� Voc�� tem alguma garota?

��� Qual o rapaz que n��o tem?

��� Gosta dela?

��� N��o sei.

��� Como n��o sabe?

��� B e m . . . acho que ela �� bacana.

��� S�� isso?

��� S��.

��� Tem certeza de que n��o est�� apaixonado?

��� Nunca vou me apaixonar por ningu��m.

��� Como sabe disso?

��� N��o sou dessas coisas. N��o me apego a nada.

��� �� bom ser assim.

��� ��.

As sa��das di��rias continuavam. Ao voltar da casa de

uma amiga, a quem tinha ido visitar, Norma, em vez de

sentar no banco traseiro do autom��vel, entrou na frente

e ficou ao lado do chofer. Fez tudo com muita naturali-

dade.

Enquanto dirigia, Hamilton de vez em quando olha-

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va-a com o canto dos olhos. Norma viu que n��o podia mais

adiar a sua inten����o de fazer sexo com o rapaz.

Andava nervosa, insatisfeita, e sabia que o motivo era

seu desejo irrealizado. Se n��o tomasse a iniciativa, nada

aconteceria entre os dois. E de repente, Sebasti��o poderia

ficar s��o e ela perderia aquela oportunidade.

Nada de ruim poderia lhe acontecer. Por que compli-

car as coisas? O rapaz n��o se negaria a satisfaze-la e n��o

teria coragem de contar a ningu��m. E se na pior das hi-

p��teses revelasse alguma coisa, ela diria que era mentira

e ele seria despedido. Simplesmente isso.

Chegou mais para perto. Come��ou a movimentar os

dedos na pr��pria coxa. Olhou-o sorridente.

��� Voc�� �� bonito.

Ele n��o disse nada.

��� N��o ouviu o que falei?

��� Ouvi, sim, senhora.

��� As garotas n��o costumam dizer que voc�� �� bonito?

��� ��s vezes.

��� Voc�� parece ser muito modesto.

Ela segurou-lhe a perna, num gesto repentino. Ele

continuou olhando firme para a frente, como se nada ti-

vesse acontecido.

��� Que horas s��o?

Hamilton olhou o rel��gio.

��� Quatro horas.

��� Ainda est�� c e d o . . .

Novamente ele ficou em sil��ncio. Claro que j�� com-

preendera tudo. Afinal, n��o era t��o burro assim. Norma

olhou para o rapaz e notou que estava excitado.

A resposta muda de Hamilton n��o podia ser mais elo-

q��ente. Se j�� estava excitado logo ap��s ela ter-lhe segurado

na perna, era porque a desejava. Podia seguir em frente.

E assim permaneceu por alguns instantes, com a maior

naturalidade, sem olh��-lo. Depois procurou abrir-lhe a bra-

guilha e colocou a m��o por dentro.

��� Acho que n��o vamos para casa.

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��� Aonde a senhora quer ir?

��� A um hotel.

* * *

Entraram no hotel. Antes, Norma dera a Hamilton o

dinheiro suficiente para fazer o pagamento.

No quarto, ele tinha o ar meio deslumbrado. Nunca

freq��entara antes um lugar daqueles. Norma adivinhou-lhe

o pensamento:

��� Voc�� nunca esteve num hotel assim, n��o ��?

��� N��o.

��� Aonde costuma levar suas garotas?

��� A lugar nenhum.

��� N��o entendi.

��� A gente arruma um canto escuro, de madrugada.

��� Ah, j�� s e i ! . . . Deve ser bem excitante.

��� Aqui �� melhor.

��� Ser��?

Ela abra��ou-o. Beijou aquele rosto quase imberbe. Ha-

milton continuava meio encabulado.

��� Fa��a de conta que sou uma de suas garotas.

��� �� dif��cil.

Norma por um momento ficou sem saber se aquilo

era uma ofensa. O que o rapaz quisera dizer? Que ela era

velha? Que as mulheres com quem costumava fazer sexo

eram mais bonitas?

Mas viu, pela atitude do rapaz, que n��o era nada disso.

Ele permanecia t��mido. O que queria dizer, sem d��vida,

era que se tornava dif��cil trat��-la como uma mulher co-

mum, quando na verdade tratava-se de sua patroa.

Tirou-lhe a roupa. Deitou-se na cama, ainda, vestida,

e ficou observando-o nu, em p��, sem saber o que fazer.

Assim, sem roupa, Hamilton ainda lhe parecia mais bo-

nito.

Norma chamou:

��� N��o vem se deitar?

O jovem obedeceu.

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Ela tirou a pr��pria blusa e beijou-o. Em seguida, le-

vantou-se e despiu o resto da roupa.

Voltou para a cama e come��ou a masturb��-lo. Hamil-

ton, excitado, perdeu a timidez e colou os l��bios em um

de seus seios. Norma sentiu uma imensa ternura.

Em breve ele a penetrava, cheio de ardor. Aquele ar-

dor t��o pr��prio da juventude. Norma sentiu-se contagiar

pelo mesmo sentimento. Imaginou-se t��o jovem quanto

Hamilton. Era como se tivesse voltado aos dezoito anos.

Mais um movimento dele dentro de sua carne.

O c l �� m a x . . .

* * *

��� Est�� muito cansada?

��� N��o. Por qu��?

��� Se importa se a gente fizer outra vez?

��� Claro que n��o.

E repetiram t u d o . . .

* * *

De volta para a velha mans��o de Santa Teresa, n��o

tocaram no assunto. A atitude dele permaneceu a mesma

de antes de t��-la possu��do. Fora daquele quarto de hotel,

Norma tornava a ser a patroa e ele o empregado.

Repetiram v��rias vezes as idas ao hotel. At�� que che-

gou a v��spera do dia em que Sebasti��o, recuperado, reassu-

miria seu posto. E Norma teve raiva de seu antigo moto-

rista.

Mas, pensando melhor, achou que era melhor assim.

Mais algum tempo e ela estaria enjoada daqueles encon-

tros. Viraria rotina. De rotina bastava o marido.

Era como um espet��culo que, por melhor que fosse,

sempre seria conveniente que terminasse deixando os es-

pectadores querendo mais. Se fosse muito demorado, ter-

minaria cansando.

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��� Amanh�� vou embora.

��� �� uma pena.

��� Foi muito bom trabalhar para a senhora.

��� Voc�� �� um ��timo chofer. N��o vai ter dificuldades

em arranjar outro lugar.

��� Talvez a senhora nunca mais me v e j a . . .

��� Por qu��? Vai sair do Rio?

��� N��o.

Norma resolveu mudar de assunto:

��� Como �� mesmo o nome de sua garota?

��� Ana.

��� Ela �� bonita?

��� Mais ou menos.

��� Voc��s costumam fazer sexo sempre?

��� N��s n��o fazemos t u d o . . .

��� N��o?! ��� surpreendeu-se Norma.

��� Ela �� virgem.

��� Ah, entendo!... Ou melhor, n��o entendo. Como

compreender uma jovem ter voc�� �� disposi����o e continuar

virgem?

��� Pra senhora v e r . . .

��� Diga que ela �� uma tola.

��� J�� disse.

��� E ela?

��� N��o deixa eu botar de jeito nenhum.

��� O que voc��s fazem ent��o?

Hamilton co��ou a cabe��a, novamente encabulado:

��� Posso dizer?

��� N��o estou perguntando?

��� A gente se esfrega, ela deixa botar nas coxas e

t a m b �� m . . .

��� E tamb��m o qu��?

��� �� chato falar isso.

��� N��o tem confian��a em mim?

��� �� que �� dif��cil de explicar.

��� J�� sei. Ela deixa que voc�� fa��a tudo, menos o que

n��s fizemos, n��o �� isso?

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Norma riu.

E Hamilton foi embora no dia seguinte.

Realmente, nunca mais o viu.

* * *

Norma permanecia olhando para a nuca de Sebasti��o.

Por que ele n��o adoecia de novo? Precisava arranjar outro

motorista legal como o Hamilton.

Achou a id��ia engra��ada. E deu uma gargalhada. O

velho chofer virou-se surpreso.

Ela continuou rindo.

Sebasti��o nada entendeu.

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CAPITULO 2

O MARIDO

Ao chegar em casa, tinha uma carta de L��gia, que

estava estudando em Londres. Norma abriu-a sem muito

interesse. A filha anunciava sua volta para o fim do m��s.

Contava algumas coisas a respeito de seus estudos, man-

dava perguntar por alguns amigos.

Joel chegou do trabalho. Sentaram-se �� mesa para

jantar. Depois Norma ligou a televis��o. O marido ficou um

pouco ao seu lado.

��� Como est�� o livro?

��� Bastante adiantado.

��� Quando vai deixar que eu leia?

��� Est�� mesmo com vontade de ler?

��� Claro.

Ele ficou satisfeito com o interesse da mulher:

��� Voc�� n��o se interessa muito por literatura...

��� N��o sou fan��tica, mas sinto interesse como uma

pessoa comum.

��� Faltam duas p��ginas para acabar a primeira par-

te. Enquanto voc�� assiste ��s novelas, vou acabar de es-

crever e lhe entregar.

Joel retirou-se para seu escrit��rio.

Antes de come��ar a escrever, acendeu um cigarro e

caminhou at�� a janela.

Fora exatamente naquela janela que Ros��lia vira Os-

valdo pela primeira vez. Ele prestou aten����o no jardim,

procurando encontrar alguma coisa entre as sombras. Mas

n��o viu nada al��m das sombras.

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R o s �� l i a . . .

C l �� u d i o . . .

O s v a l d o . . .

Os principais personagens da primeira parte de seu

romance. Ah, e tinha Esmeralda tamb��m! A bela Esme-

ralda, com sua pele escura e quente. Lembrou-se de uma

pretinha de quinze anos, que trabalhara em sua casa. Como

era mesmo seu nome? Marta.

Por��m Marta n��o tinha a sensualidade de Esmeralda.

Marta era apenas uma adolescente fogosa, com quem tinha

transado. N��o costumava dar muita aten����o ��s criadas.

Mas Marta fizera tudo para ir para a cama com ele. Quan-

do Norma viajara a Paris para passar um m��s l��, a cria-

dinha n��o podia se conter e tentava-o de todas as ma-

neiras.

Andava rebolando pela casa, lan��ando-lhe olhares.

Uma noite estava dormindo e sentiu como se uma

m��o lhe alisasse o corpo. Julgou que estava sonhando. E

a m��o continuou a lhe alisar, apalpando-lhe todas as par-

tes do corpo.

Ele abriu os olhos.

N��o estava sonhando.

Marta, sentada na cama, abra��ava-se a ele.

Olhou-a.

Ela sorriu.

Como era ousada!

E se ele a despedisse?

Mas Marta arriscara.

E ele n��o a despedira.

Ela abaixou o rosto, abrindo a boca que parecia que-

rer devor��-lo.

Ficou im��vel, deixando que Marta completasse seu

ato.

E g o z o u . . .

Todas as noites, durante toda a temporada de Norma

em Paris, Marta foi ao seu quarto. Transaram muitas

vezes.

18

Norma voltou.

Marta n��o apareceu mais no quarto, evidentemente.

Pouco tempo depois, deixou de trabalhar em sua casa.

Encontrou-a uma vez na rua. Ele vinha de carro,

quando a avistou com um cara. Ela o viu e, sorridente,

acenou-lhe com a m��o. Usava muita maquilagem e se ves-

tia com espalhafato.

Depois, n��o a vira mais.

Joel permanecia na janela, olhando as sombras do

jardim. Pela sua mente passaram outros casos que tivera.

Muitos. Muitos mesmo. Sempre dera sorte com as mu-

lheres.

Tamb��m n��o costumava escolher muito. Ca��a na rede,

era peixe. Desde os tempos de gin��sio, ficara famoso por

seu apetite sexual desenfreado. Mulheres horr��veis. Cada

uma que levava para a cama era, para ele, como se fosse

a pr��pria Marilyn Monroe.

��� N��o sei como voc�� c o n s e g u e . . . ��� diziam-lhe os

amigos.

��� Comigo �� s�� abrir as pernas. Quando a cara ��

muito feia, eu apago a luz. Ou boto o travesseiro em c i m a . . .

Lembrava-se particularmente de Palmira, uma soltei-

rona. Muito religiosa, tinha a pele do rosto toda esbura-

cada e com espinhas, um horror. O corpo era despropor-

cional, sem seios, os quadris enormes, as pernas grossas'

demais. Vestia-se com muito pudor, sempre de mangas

compridas e gola alta.

Morava perto de sua casa.

Um vizinho, seu companheiro de inf��ncia, desafiou-o:

��� Duvido que voc�� consiga dormir com Palmira.

��� Quanto quer apostar?

��� Meu rel��gio. Se voc�� perder, me d�� o seu.

��� Combinado.

A partir deste dia, Joel come��ou a rondar a velha sol-

teirona. Palmira devia andar pela casa dos cinq��enta anos.

Joel estava com vinte. Quando ela passava, ficava olhan-





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do-a firmemente. A mulher baixava a vista e fazia que n��o

tinha notado. Mas por dentro estremecia dos p��s �� ca-

be��a.

Joel tinha plena consci��ncia de que era um rapaz bo-

nito. Muito bonito mesmo. E irresist��vel. E bastante macho.

Aos poucos dava a entender com atitudes variadas que

estava interessado em Palmira. Todas as vezes que ela pas-

sava, de volta de seu emprego (era funcion��ria p��blica),

ele a provocava com gestos libidinosos, a princ��pio de leve,

como se fosse sem querer. Depois come��ou a fazer acin-

tosamente.

Palmira seguia seu caminho, trocando as pernas e

suando frio.

Pensava:

Que descarado!

N��o ag��ento mais este moleque!

�� o fim do mundo!

Um garoto dessa idade e j�� t��o sem-vergonha!

Em que mundo estamos!

Est��o todos perdidos.

O que ele est�� pensando?

E o que est�� querendo?

Os pensamentos e as perguntas ��ntimas se sucediam

na mente de Palmira vertiginosamente, deixando-a cada

vez mais confusa e aflita.

��� Se ao menos eu tivesse outro caminho para voltar

para casa! N��o suporto mais ver aquele sujeitinho fazendo

aqueles gestos obscenos. Vou terminar louca! Louca!

E durante a noite, pensava que realmente ia enlou-

quecer. Suava. Sentia-se mal. Um calor percorria-lhe o

corpo. N��o, n��o podia ser. Ela n��o tinha aquele tipo de

desejo. Ela era pura. Iria manter-se pura at�� o final de

sua exist��ncia.

N��o seria com aquela idade, depois de tanto preservar

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sua dignidade (ela quase que pensava virgindade), que

ia cair, deixar-se levar pelo pecado. Sim, ela n��o podia

dizer "virgindade", pelo simples fato de que n��o era virgem. Quando lembrava-se disso, um violento arrependi-

mento tomava conta de todo o seu ser.

E agora vinha aquele jovem tentando-a, tentando-a

sem parar. Que horror!

Ca��ra uma vez, era verdade, mas n��o cairia de novo.

Naquela ��poca, quando conhecera S��lvio, era jovem. (Nem

tanto, pois j�� tinha feito trinta anos.)

Fora uma loucura. Ele abusara de sua fraqueza, de

sua confian��a, de sua fragilidade de mulher. S��lvio a en-

ganara. Haviam come��ado a namorar na reparti����o. Ele

sempre muito gentil, muito atencioso. Faziam lanche jun-

tos. Almo��avam juntos. E sa��am do trabalho juntos.

Ele a pedira em casamento.

Ficaram noivos oficialmente.

Ele passara a freq��entar-lhe o apartamento.

Ela era uma mulher sozinha. Relutara bastante que

fosse at�� sua casa. Mas S��lvio tinha tudo de um homem

honesto. Com quarenta anos, solteir��o, de ��culos, palet�� e

gravata.

Como duvidar das inten����es de um homem assim?

E ela n��o duvidara. Confiara. At�� certo ponto, �� ver-

dade, mas confiara. A ponto de t��-lo deixado entrar em

seu apartamento.

S��lvio passou a tomar ch�� com Palmira todos os dias.

N��o passava disso. Pegava-lhe na m��o. Beijava-a. Tam-

b��m nas m��os. Depois, um ligeiro beijo na face.

At�� que um d i a . . .

N��o, n��o suportava pensar naquele dia.

S��lvio beijou-a na boca.

Afinal, n��o tinha nada demais.

Eram noivos.

De alian��a e tudo.

Com o nome dele e a inscri����o da data do noivado.

21

Um simples beijo.

N��o podia fazer mal a ningu��m.

O simples beijo, da segunda vez, foi seguido de um

leve ro��ar da m��o do homem em seu seio.

Pensou que n��o fora proposital.

Na vez seguinte, ele apertara-lhe o seio.

Ela pensou que ia desmaiar.

Mas n��o desmaiou.

S��lvio continuou apertando-lhe os seios, agora com so-

freguid��o.

Ela perdeu o ju��zo. S�� podia admitir que fora um mo-

mento s��bito de loucura. N��o sabia direito como tinha

acontecido. E j�� estava em sua cama, de len����is alv��ssimos

e cheirosos. Com ele por cima.

Mas S��lvio n��o tirara a roupa.

Nem ela.

N��o havia um perigo maior.

Nem vira quando ele come��ou a tirar as cal��as.

Se tivesse visto, teria se defendido.

As m��os do homem em suas coxas, levantando-lhe a

saia.

Puxando-lhe as calcinhas.

Tudo aconteceu muito r��pido.

Contorceu-se. Quis evitar.

Mas era tarde demais.

S��lvio enfiava-se furiosamente.

Uma dor horr��vel.

Que dor!

N��o, S��lvio, n��o!

Mas ele j�� estava l�� dentro.

E ela tamb��m.

Arrumaram-se. Ela ajeitou o vestido. N��o ousava

olh��-lo.

Ele despediu-se.

No dia seguinte, no emprego, voltaram a se encontrar.

Palmira esperou ansiosamente a hora do almo��o.

Procurou falar-lhe a s��s.

22

��� Precisamos marcar o casamento.

��� Por que tanta pressa?

��� Depois do que aconteceu o n t e m . . .

��� Ora, Palmira, n��o tem confian��a em mim?

��� Se n��o tivesse, n��o teria deixado.

��� Ent��o?

��� Quando a gente vai se casar?

��� Quando voc�� menos esperar.

E S��lvio a possuiu mais uma vez.

E outra.

E outra.

Ela tinha contado.

Vinte vezes num m��s.

No m��s seguinte, foi diminuindo.

Tr��s vezes por semana.

Depois duas.

Depois uma.

E Silvio n��o mais falou em casamento.

��� Quando a gente vai se casar, S��lvio?

��� Por que voc�� s�� fala nisso?

��� H�� muito tempo que n��o falo.

Ele se fez de zangado:

��� Se est�� t��o chateada por que ainda n��o casamos,

ent��o se afaste de mim.

��� Eu n��o e s t o u . . .

��� Est�� bem, Palmira, chega de lenga-lenga. �� me-

lhor acabarmos tudo.

E assim terminou o noivado.

Ela fora enganada de maneira vil.

Perdera a honra e o futuro marido.

E agora, duas dezenas de anos depois (ela n��o esti-

vera na cama com nenhum outro homem), mais precisa-

mente vinte e dois anos depois, aquele jovem a acom-

panh��-la, a fazer aqueles gestos. Nunca mais queria ho-

mem algum. Tivera apenas o S��lvio. O que n��o queria di-

zer que fosse uma "qualquer".

Mas Joel precisava ganhar a aposta. N��o propriamen-

23

te por causa do rel��gio. O rel��gio pouco interessava. O

que importava era mostrar que ele era o "bom".

��� Como vai?

Palmira n��o respondeu.

��� Por que tanto orgulho?

Ela continuou calada.

��� Somos vizinhos h�� tanto t e m p o . . . N��o vejo ne-

nhum mal em falar comigo.

Ela finalmente respondeu:

��� O que est�� querendo?

��� Apenas lhe cumprimentar.

��� S�� isso?

��� Que mais eu poderia querer? ��� respondeu Joel, fa-

zendo gestos obscenos, que Palmira tanto odiava e que

tanto a atra��am ao mesmo tempo.

Ela virou-se e n��o lhe deu mais aten����o.

��� Ent��o, n��o conseguiu nada ainda? ��� perguntou-

lhe mais tarde, com ar de tro��a, o amigo com quem apos-

tara.

��� Preciso de um pouco de tempo.

��� Est�� dif��cil, n��o ��? Voc�� n��o vai conseguir.

��� Vou ��� disse Joel com determina����o.

Uma noite de s��bado, entrou no edif��cio onde Palmira

morava e tocou-lhe a campainha do apartamento (infor-

mara-se primeiro com o porteiro).

Ainda era cedo, Palmira abriu a porta julgando que

fosse o s��ndico que ��s vezes passava para contar alguma

novidade. N��o era. Era o jovem t��o temido.

��� Voc��?!

��� Em carne e osso.

��� O que veio fazer?

��� Bater um papo.

��� Eu tenho mais em que me ocupar.

��� Numa noite de s��bado?

(Palmira n��o tinha absolutamente nada para fazer,

a n��o ser ler um livro muito chato, intermin��vel.)

��� Por que est�� me perseguindo?

24

��� Eu?!

��� Voc��, sim.

��� N��o me convida para entrar?

Palmira bateu-lhe a porta na cara.

Ficou com o ouvido colado por tr��s da porta, a fim

de escutar os passos do jovem se afastando. Mas tal n��o

aconteceu. Tudo permanecia em sil��ncio. Ela ardia como

se tivessem riscado um f��sforo em seu vestido. O cora����o

parecia querer saltar-lhe pela boca.

Aquele rapaz era o pr��prio dem��nio. Tentando-a. De-

via ainda estar atr��s daquela porta. Apenas um peda��o,

de madeira separava os dois corpos.

Desistiu de esperar ouvir os seus passos afastando-se.

Encaminhou-se at�� a sala do apartamento. Tremia. Pegou

um copo e colocou um pouco de vinho. Ainda n��o jantara.

O vinho era para acompanhar o jantar. Mas precisava to-

mar alguma coisa para passar aquele tremor.

Bebeu o conte��do do copo. E encheu-o outra vez.

O est��mago vazio. O efeito do vinho foi r��pido. Sen-

tiu-se melhor. E com mais coragem.

Tomou outro copo de vinho.

Pensou que, se continuasse, beberia a garrafa inteira

antes do jantar.

Deviam ter passado uns cinco minutos. Certamente o

jovem tinha ido embora. Foi at�� a porta. Observou pelo

olho m��gico. N��o o viu. Abriu a porta. Com surpresa,

avistou-o mais adiante no corredor, esperando-a...

Hesitou.

O jovem tornou a aproximar-se.

��� Por que tem tanto medo de mim?

��� N��o tenho medo de ningu��m.

��� Ent��o?

��� Voc�� mora aqui perto, n��o ��?

��� Moro. J�� disse que sou quase seu vizinho.

Aquele rapaz a excitava. Palmira teve que se contro-

lar, a fim de que n��o fizesse o que realmente tinha von-

tade, ou seja, abra����-lo.

25

��� Por que voc�� se reprime tanto? Deixe-me entrar.

S�� um pouquinho...

E Joel n��o esperou que ela o convidasse. Como a porta

estava aberta, afastou-a e entrou no apartamento. Pal-

mira permanecia im��vel, sem a����o. Ele fechou a porta e

a envolveu num forte abra��o.

Tudo aconteceu com a rapidez de um rel��mpago, ou

de um del��rio. Nunca poderia explicar como foi parar na

cama, nua, com o rapaz tamb��m nu, por cima.

Palmira pensou que ia enlouquecer.

Aquele rapaz machucando-a.

A dor, o prazer, o del��rio.

Sentia como se estivesse no c��u e no inferno ao mes-

mo tempo.

Joel gozou e logo a seguir se desvencilhou da soltei-

rona extenuada. Levantou-se, vestiu-se rapidamente e saiu,

n��o se dando ao trabalho de fechar a porta do aparta-

mento.

Palmira deixou-se ficar na cama, em desespero. Quis

reanimar o corpo dolorido, mas n��o conseguiu. Teve uma

crise de choro. O choro aumentou e quase gritava. De re-

pente, tomou consci��ncia de que os vizinhos podiam ouvir.

Sufocou os solu��os quase imediatamente.

S�� ent��o raciocinou melhor. Estava nua em cima da

cama. O jovem demon��aco fora embora. A porta devia es-

tar aberta. Como se tivessem ligado nela um bot��o el��-

trico, pulou da cama e vestiu-se ��s pressas. Correu para

fechar a porta. Deu de cara, n��o com Joel, mas com dona

Alzira, a vizinha do lado.

��� Que horror, Palmira!

��� Por que esse espanto todo?

��� Voc�� foi assaltada?

��� N��o.

��� Acho que ouvi gemidos, gritos e choros.

��� Foi impress��o.

��� Parecia vir daqui do seu apartamento. Por isso

vim ver o que se passava.

26

Palmira olhou disfar��adamente para o corredor, com

receio de que o rapaz com quem acabara de ir para a cama

ainda estivesse por ali. Mas n��o estava. Suspirou aliviada.

��� Foi engano seu, Alzira.

��� Mas sua c a r a . . .

��� O que �� que tem minha cara?

��� E seu vestido?

Palmira olhou para si mesma e viu com terror que

sua roupa estava pelo avesso. A vizinha no m��nimo pen-

saria que ela ficara maluca.

��� Tive um pesadelo.

��� J�� sei. Comeu demais no jantar e foi logo se deitar.

Palmira esbo��ou um sorriso:

��� Isso mesmo.

��� N��o devia fazer isso, Palmira. Faz mal.

��� Eu sei.

��� Quando acabar de jantar, por que n��o vai at�� meu

apartamento? Pelo menos anda um pouco, conversa, faz

a digest��o.

��� Vou seguir seu conselho.

��� E por que a porta estava aberta? ��� perguntou a

vizinha novamente curiosa.

��� Eu tinha esquecido.

��� Outra coisa perigosa.

��� �� verdade.

��� Podia ter entrado um ladr��o.

��� �� . . .

��� Voc�� nunca deixou a porta aberta.

��� Nunca.

��� Voc�� est�� passando mal. Meu Deus, Palmira, voc��

est�� passando mal e n��o quer dizer.

��� N��o �� nada, Alzira. Pode ficar despreocupada. J��

estou melhor.

(A solteirona estava ansiosa que a vizinha sumisse.

Odiava sua solicitude. Mas n��o podia enxot��-la.)

��� Se precisar de alguma coisa durante a noite, �� s��

chamar.

27

��� Muito obrigada.

E a outra foi embora. Palmira fechou a porta. Suspi-

r o u . Estava livre da vizinha. Mas n��o estava livre da lem-

bran��a do que acontecera h�� poucos instantes. Encostou-se

na parede, procurando apoio.

Tinha sido terr��vel. Aquele animal, sim, porque n��o

era um homem, aquele animal a ferira mortalmente. Nun-

ca mais se recuperaria, nunca mais se recuperaria...

N��o jantou naquela noite. Tomou um comprimido para

dormir, mesmo sabendo que poderia fazer mal, misturado

com o vinho que bebera. Mas nada lhe importava. Talvez

a t �� . . . talvez at�� fosse melhor n��o acordar m a i s . . .

* * *

Joel correra at�� a esquina onde encontrara o amigo

com o qual apostara. Tinha ganho. Acabara de ir para

a cama com Palmira. O outro vira quando ele entrara no

apartamento da solteirona (fora at�� o corredor e escon-

dera-se perto da lixeira) e n��o podia duvidar. Al��m disso,

Joel trazia a calcinha da mulher como prova.

N��o havia como contestar que Joel era invenc��vel,

ningu��m, mas ningu��m mesmo, lhe resistia.

* * *

Por��m, no dia seguinte, Palmira acordou. Foi quando

deu por falta de sua calcinha. Procurou embaixo da cama,

do arm��rio, dos m��veis. Por todos os cantos e nada. Onde

estaria sua calcinha?

N��o costumava perder nada. Sem d��vida, fora aquele

bandido que a carregara.

Nas noites seguintes, no entanto, sonhava sempre com

Joel. Ele a agarrando, ele a penetrando, ele batendo-lhe.

E acordava louca de desejo.

"Ah, Joel, por que foi fazer isso comigo? E ainda por

cima me deixando com vontade de repetir tudo de novo?"

28

Esperava ansiosamente encontr��-lo outra vez. Mas Joel

sumira. Como todos os homens, ap��s conseguir o que

queria.

Deixava a porta apenas encostada, escutando atenta-

mente se vinham passos pelo corredor. Deixaria que Joel

entrasse. Mas o rapaz era mesmo ingrato.

Nunca mais apareceu.

* * *

Joel saiu da janela e sentou-se junto �� m��quina de

escrever. Sentia-se inspirado. Acabaria as duas p��ginas que

faltavam para terminar a primeira parte do romance em

pouco mais de meia hora.

Assim que terminou, chamou:

��� Norma!

A esposa apareceu alguns instantes depois.

Ele entregou-lhe os originais:

��� Est�� mesmo disposta a ler?

��� Mas claro, Joel.

E Norma pegou as p��ginas de papel datilografadas.

Voltou para a sala, recostou-se confortavelmente na pol-

trona e come��ou a ler.

29

CAP��TULO 3

O ROMANCE

"Cl��udio e Ros��lia transpuseram o port��o de ferro da

mans��o. Atravessaram o jardim at�� chegar junto aos de-

graus que levavam ao interior da casa. Ele parou de s��-

bito. Ros��lia olhou-o.

��� O que foi?

Cl��udio sorriu.

��� N��o quer entrar? ��� perguntou a jovem meio per-

turbada.

O rapaz abaixou-se e tomou-a nos bra��os. Ros��lia sor-

riu. Exatamente como nos filmes. Ela entrando na mans��o

nos bra��os do homem que ia amar pelo resto da vida.

Ele subiu os degraus, deu dois passos e teve que co-

loc��-la no ch��o outra vez. Tirou a chave do bolso e abriu

a porta. Tornou a bot��-la nos bra��os e entrou.

Beijaram-se longamente.

Ros��lia sentia-se indefesa, fr��gil. Tinha deixado para

tr��s a festa na casa dos pais, os convidados, a alegria, o

champanha estourando, as m��sicas, as vozes das pessoas

falando todas ao mesmo tempo.

Agora estava ali, sozinha com aquele que dentro de

alguns instantes seria o seu homem, seu primeiro e ��nico

homem. Tremia de curiosidade, de desejo.

��� Enfim, s��s!

Os conselhos da m��e, os risinhos maliciosos das ami-

gas, as longas tardes e noites esperando que aquele dia

chegasse logo. Os sonhos de mocinha que lia romances

��gua-com-a����car. O pr��ncipe encantado.

30

��� Enfim, s��s!

Tinha realmente encontrado um verdadeiro pr��ncipe

encantado. Cl��udio era bonito. Com seus enormes olhos

negros, pestanas compridas, e aquelas olheiras que lhe da-

vam um ar t��o misterioso.

��� Enfim, s��s!

Aquelas olheiras deviam ser resultado das noites em

claro que passava nos bord��is com mulheres. Ros��lia sen-

tiu um arrepio ao pensar. Aquelas mulheres. Estremeceu.

Como podia um homem dormir com qualquer mulher?

��� Enfim, s��s!

Os homens, ah, os homens! Sua m��e repetia: "Os ho-

mens n��o s��o como n��s mulheres, minha filha. Eles s��o

diferentes. V��o para a cama com qualquer uma. Eles n��o

t��m nojo de nada. N��s, n��o."

��� Enfim, s��s!

Ros��lia n��o poderia nem imaginar que pudesse ser

possu��da por um homem qualquer. Tinha que haver amor,

muito amor. Tudo muito suave, muito bonito. O para��so

na terra. Era isso que esperava de Cl��udio.

��� Enfim, s��s!

Sentiu a l��ngua dele procurando a sua. Nunca tinham

se beijado assim antes. Achou gostoso. A m��o de Cl��udio

procurando-lhe abrir o vestido para pegar em seus seios.

��� Cuidado, Cl��udio.

��� Cuidado por que? N��o estamos casados?

��� Os c r i a d o s . . .

��� Vamos para o quarto.

Foram para o quarto. Ele encostou a porta e deu a

volta na chave.

Ros��lia viu que tinha chegado o momento, a hora H.

Sentiu vergonha. Ficar nua na vista de Cl��udio. N��o te-

ria coragem. Mas era preciso. N��o poderia ficar com aque-

le vestido de noiva, imenso, v��u e tudo.

Ele come��ou a tirar-lhe a roupa.

Cl��udio pediu para fechar as cortinas, apesar das ja-

nelas j�� estarem fechadas.

31

Na semi-escurid��o era mais f��cil.

Cl��udio tirou a pr��pria roupa.

Ela n��o ousava olh��-lo e continuava ainda com o ves-

tido. S�� estava sem o v��u e a grinalda.

Ele aproximou-se completamente nu, com um sorriso.

Ros��lia n��o p��de evitar de olhar para ele. N��o, n��o ia

ag��entar. Sentiu p��nico.

��� Tenho medo.

��� Medo de que, minha pombinha?

E Cl��udio esfregou seu nariz no nariz da jovem es-

posa.

E come��ou a tirar-lhe o vestido, as an��guas, tudo.

Ros��lia cruzou os bra��os cobrindo os seios, ao mesmo

tempo que gostaria de ter outros dois bra��os, ou pelo me-

nos um, para esconder suas partes ��ntimas.

Cl��udio encostou-se nela. Ainda estavam em p��.

Foram para a cama.

Cl��udio alisava-lhe as coxas, acariciava-lhe os p��los.

(Que vergonha! Mas �� t��o gostoso!)

Ele procurou ser delicado. Foi fazendo tudo aos poucos,

devagarzinho.

Ros��lia sentiu-se transportada para um outro mundo

que ainda n��o conhecia. Um mundo em que o prazer se

misturava com a dor, em que os dois corpos eram como

um s �� . . .

(Muito melhor do que eu imaginava. Ai, como �� bom...)

E Cl��udio l�� dentro, fazendo movimentos ritmados.

(Ai, n��o aguento mais! O que �� isso?! Ai, ai...)

Gemia. Gemia. Gemia.

Tinha vergonha de seus gemidos. Mas n��o podia con-

t��-los.

��� Ai, Cl��udio, C l �� u d i o . . .

E gozou.

Ele tamb��m.

* * *

32

Corria o ano de 1925. Os dias passavam r��pidos: A

lua-de-mel parecia que duraria indefinidamente. E Ros��lia

sentia-se feliz. Nem por um instante pensaria que aquela

felicidade pudesse terminar algum dia.

As semanas, os meses passaram. A vida escorria tran-

q��ila. Eram ricos. Cl��udio sa��a para trabalhar. Os criados

cuidavam de tudo. Ros��lia gastava suas longas manh��s e

tardes vazias lendo romances.

Quase nada mudara em sua vida. Residia em outro

lugar. As noites eram diferentes. S�� isso. O resto, conti-

nuava como antes.

Visitava os pais. Estes a visitavam. Os pais de Cl��udio

tamb��m eram visitados e tamb��m os visitavam. As amigas

apareciam de vez em quando. E nos fins de semana ela ia

com Cl��udio ao cinema ou ao teatro ou fazia algum pas-

seio.

Durante dez meses nada se modificara. A m��e, a so-

gra, as amigas perguntavam:

��� Alguma novidade?

��� N��o.

N��o, ela ainda n��o estava gr��vida. Tamb��m n��o que-

ria logo um filho. Para qu��? Eram muito jovens. Os filhos

deviam vir mais tarde. Estava muito contente em n��o ter

concebido ainda. Era muito melhor assim.

* * *

Uma das empregadas foi embora. E foi "admitida outra

em seu lugar. Esmeralda. Uma mulata muito bonita, de

formas exuberantes. Ros��lia teve receio, muito receio mes-

mo e lembrava-se das palavras da m��e. "Os homens n��o

s��o como n��s mulheres, minha filha. Eles s��o diferentes.

(E como eram!) V��o para a cama com qualquer uma. Eles

n��o t��m nojo de nada. N��s, n��o."

Ela nunca dormiria com outro homem. Mas Cl��udio

tinha aquelas olheiras que denunciavam as farras. (�� bem

verdade que depois de casado, as olheiras haviam ficado

33

menos intensas. Uma prova de sua fidelidade. N��o mais

se entregava aos prazeres da carne com qualquer uma,

como antes.)

Mas Esmeralda era uma amea��a. Agora Ros��lia sen-

tia que fora um erro t��-la admitido. No entanto, n��o tinha

o que dizer da empregada. Cumpria suas obriga����es, n��o

havia o que reclamar.

Os temores de Ros��lia eram infundados. Cl��udio nota-

ra a beleza da mulata, era ��bvio, mas nem de longe pen-

sara em trair a esposa dentro de sua pr��pria casa.

(Quando queria variar, ia a uma das casas de mu-

lheres que freq��entava quando solteiro. Inventava um tra-

balho at�� mais tarde no escrit��rio. Ia l��, satisfazia-se. Vol-

tava para casa leve. E se Ros��lia tamb��m queria, ele es-

tava firme, pronto a gozar de novo. Afinal, era bastante

jovem. For��as n��o lhe faltavam.)

Esmeralda, por seu lado, tamb��m n��o dava a m��nima

para o patr��o. Sabia que os dois tinham se casado recen-

temente. Depois, n��o estava a fim de perder o emprego,

de se meter em complica����es.

E em ��ltima an��lise, e a�� vinha o argumento mais

forte, n��o sentia atra����o por aquele branco desenxabido,

uma vez que era muito bem servida por seu amante, Os-

valdo, um estivador, negro como um escravo, alto como

uma est��tua, forte como um touro.

O ��nico problema que enfrentava era n��o poder se

encontrar com Osvaldo todas as noites. Ele era casado. S��

podia v��-lo tr��s vezes por semana. Mas este problema era

antigo. De antes mesmo de se empregar ali. Tinha que se

conformar.

Como a mans��o era enorme, os quartos dos emprega-

dos ficavam em outra ala. Havia mais quartos do que o

necess��rio para a quantidade de criados, uma vez que Ro-

s��lia e Cl��udio, vivendo sozinhos, sem filhos, n��o preci-

savam de muitos empregados.

Assim, Esmeralda, logo que come��ara a trabalhar, pre-

feriu ficar no ��ltimo dos quartos, desocupado. N��o havia

34

ningu��m dormindo no aposento ao lado. Pelo jardim, Os-

valdo poderia entrar sorrateiramente ��s altas horas, ir para

sua cama, sem que ningu��m descobrisse. Claro que n��o

fez isso logo. Deixou passar uns dois meses.

E quando viu que n��o tinha mais perigo, que havia

adquirido a confian��a dos patr��es e dos outros empre-

gados, Esmeralda fez com que Osvaldo viesse v��-la nos dias

pares (como sempre acontecera: segunda, quarta e sexta).

Era bem melhor e bem mais c��modo do que ter que

sair para encontr��-lo e voltar de madrugada para Santa

Teresa, perdendo o ��ltimo bonde e tendo que subir v��rias

ladeiras a p�� e chegar morta de cansa��o.

Osvaldo passou ent��o a freq��entar o quartinho dia

sim, dia n��o. Nunca aos domingos (por causa da mulher

com quem era casado).

Ningu��m desconfiou de nada. Tudo tamb��m transcor-

ria muito tranq��ilamente para Esmeralda.

* * *

Ros��lia virou-se na cama mais uma vez. Olhou para

o lado e viu o marido dormindo como um anjo. No entan-

to, ela estava com ins��nia. N��o conseguia adormecer de

jeito nenhum. Talvez tivesse dificuldade de conciliar o sono

por causa de sua vida muito sedent��ria.

Precisava fazer exerc��cios, movimentar-se mais duran-

te o dia, arrumar alguma coisa, despender esfor��o f��sico.

Assim, �� noite, com o corpo cansado, n��o teria tanta di-

ficuldade em dormir.

Levantou-se para tomar um copo de ��gua. Foi at�� a

sala. Tomou a ��gua. Voltou para o quarto. Dirigiu-se ��

janela. Abriu-a. Uma leve brisa soprava, fazendo com que

a cortina ondulasse.

Sentiu-se bem. Respirou o ar puro. Ouviu os ru��dos dos

insetos, que faziam o sil��ncio parecer mais silencioso. Uma

calma absoluta. E Ros��lia tornou a pensar em como era

feliz (apesar da ins��nia). E bocejou. Estaria j�� com sono?

35

Foi a�� que viu. Ou pensou ver. N��o, n��o poderia ter

visto. Era impress��o. Esfregou os olhos. Abriu-os de novo.

E tornou a ver.

Um vulto.

Um vulto na escurid��o do jardim.

Deviam ser apenas as sombras das ��rvores, das plantas.

Mas n��o eram sombras.

Podia-se perceber que tinha a forma de um homem.

Um homem enorme. Mas um homem.

Ele passou correndo, com passos largos e silenciosos.

Dirigiu-se ao port��o.

Escalou as grades de ferro.

E pulou para o lado de fora.

O grito que Ros��lia pensara em dar ficou preso na

garganta.

Um ladr��o?

Talvez.

Acordaria o marido e lhe contaria o que vira?

Ficou em d��vida.

O vulto h�� muito desaparecera na escurid��o da rua

mais adiante.

Ros��lia fechou a janela.

Deitou-se.

Chegou a fazer um gesto para acordar o marido.

Mas ele dormia como um anjo.

Desistiu.

Tentou dormir.

* * *

Comentou com Cl��udio no outro dia:

��� Tenho a impress��o de que vi um ladr��o no nosso

jardim ontem �� noite.

��� Ladr��o?

��� Sim. S�� podia ser.

E Ros��lia contou-lhe sobre a ins��nia, que abrira a ja-

nela e o vulto que avistara.

36

��� Foi impress��o.

��� Espero que sim.

��� Dev��amos ter um cachorro aqui.

��� Tenho muito medo de cachorros. Voc�� sabe que

quando era menina, um avan��ou para mim e me mordeu

no rosto. Quase ficava desfigurada.

E Ros��lia mostrou uma pequena marca na face es-

querda. Lembran��a da antiga mordida. Agora, quase im-

percept��vel.

��� Desde ent��o fiquei com pavor de cachorro.

��� De qualquer jeito n��o tem perigo. Todas as nossas

portas e janelas t��m ferrolhos de seguran��a. Al��m disso,

n��o acredito que voc�� tenha visto nada. Foi apenas uma

sombra.

(Uma sombra que se movia? ��� pensou Ros��lia).

Cl��udio adivinhou-lhe o pensamento:

��� O vento. N��o estava ventando?

��� Estava.

��� Ent��o? O vento nas ��rvores, as folhas balan��ando.

Voc�� com ins��nia. Cansada. Com um temperamento im-

pression��vel. Pensou que viu um vulto, mas n��o viu.

E Cl��udio a beijou.

E foi trabalhar.

* * *

Na noite seguinte, com o cora����o batendo forte, Ro-

s��lia aproximou-se da janela. Hesitou. Abriu-a um pouco,

apenas o suficiente para que pudesse ver o jardim. A luz

do quarto apagada. Esperou. Esperou bastante. E n��o viu

nada.

Fora mesmo impress��o. Cl��udio estava certo.

Mas na outra noite, novamente foi olhar. Na mesma

hora em que duas noites antes pensara ter visto o vulto.

E o viu de novo.

O cora����o aos pulos. O vulto fez o mesmo itiner��rio.

37

Passou entre ��rvores e plantas. Depressa. Alcan��ou o por-

t��o, pulou para o lado de fora e desapareceu na rua.

O mesmo tamanho. Enorme. Um homem alto, muito

alto.

Mas o que faria aquele ladr��o ali, se n��o roubava

nada? Ent��o n��o era um ladr��o.

N��o contou nada a Cl��udio, desta vez.

E decidiu observar, continuar observando.

Um dia, o vulto aparecia. No outro, n��o. Mas sempre

�� mesma hora.

Foi ent��o que uma luz acendeu em seu c��rebro.

Esmeralda.

Sim, era isso. S�� podia ser isso.

Durante o dia observava tamb��m a copeira, para ver

se descobria alguma atitude suspeita. Mas a mulata per-

manecia a mesma. Deduziu que prestar aten����o ��s atitudes

de Esmeralda n��o lhe levaria a nada. Tinha era que obser-

var o misterioso vulto.

Foi quando resolveu colocar-se em seu posto de obser-

va����o mais cedo. Alguma coisa lhe agu��ava a curiosidade

de maneira anormal. Tinha que descobrir tudo.

Assim que Cl��udio adormeceu, foi para junto da ja-

nela. Ficaria ali o tempo que fosse necess��rio. E viu ent��o

o homem entrando e dirigindo-se para o lado de onde sem-

pre aparecia de volta, pela madrugada. E aquele lado do

jardim era o que dava acesso aos quartos dos empregados.

N��o tinha d��vidas. Aquele homem era o amante de

Esmeralda.

Devia revelar a descoberta a Cl��udio?

Preferiu calar-se.

Duas semanas depois, fez outra descoberta. Que o ho-

mem aparecia sistematicamente ��s segundas, quartas e

sextas-feiras.

* * *

38

Ros��lia viu o homem entrar no jardim. Deu um tem-

po. Estava decidida. N��o era um ladr��o. Nada podia temer.

Saiu do quarto sorrateiramente. Atravessou a sala sem

fazer o menor ru��do. Desceu pela porta dos fundos e diri-

giu-se �� ala onde ficavam os quartos dos criados. Foi di-

reto para o de Esmeralda.

Notou pelas frestas da porta que a luz estava acesa

l�� dentro. Tr��mula, olhou pelo buraco da fechadura. Ficou

im��vel. E o que viu surgiu como um espet��culo magn��fico

a seus olhos.

Esmeralda, com seu corpo maravilhoso, deitada na

cama, de pernas abertas e nua. O homem ainda em p��,

estava nu tamb��m. Era bem negro, fort��ssimo, um ver-

dadeiro touro.

Ele sorriu e mostrou os dentes muito alvos.

E deitou-se por cima.

Ros��lia n��o podia descrever o que sentia naquele mo-

mento.

Mas o fato foi que n��o despregou os olhos do que es-

tava vendo.

O possante negro entrando em Esmeralda. Os dois for-

mando como que um s�� bloco, apenas com uma ligeira di-

feren��a de cor. Ele mais escuro, ela mais clara.

Dois belos animais fogosos, interpenetrando-se.

E sorrindo, fazendo amor com uma alegria como ela

nunca vira.

Inveja?

Ci��me?

Desejo?

Prazer?

Podia ser qualquer uma destas coisas, ou todas elas

Juntas. Mas o fato era que Ros��lia n��o sentia nojo. N��o,

isso n��o. Muito pelo contr��rio.

Viu o ato inteirinho. Os dois gozando, procurando n��o

fazer barulho.

E alegres e sorridentes.

Quando eles terminaram, Ros��lia retirou-se imediata-

39

mente, com receio de ser surpreendida. Correu at�� o inte-

rior da casa. Trancou a porta por dentro. Correu de novo

at�� seu quarto, foi para tr��s da janela e a entreabriu.

E em poucos instantes, viu o vulto saindo, correndo

entre as ��rvores, chegando ao port��o, pulando para fora.

* * *

Ros��lia passou o dia seguinte nervosa. Estranhamente

nervosa. E o outro dia tamb��m. Esperava ansiosamente

que chegasse a hora do homem aparecer.

E novamente foi observ��-lo fazendo sexo com Esme-

ralda.

Aquilo virou uma obsess��o. Ela n��o sabia bem por qu��.

Mas tinha uma necessidade vital de ir ver os dois na cama.

E assim fez, dia sim, dia n��o.

N��o revelou nada a Cl��udio.

Um m��s depois, este lhe disse:

��� Vou ter que ir �� fazenda que meus pais possuem

em Mato Grosso.

��� Detesto vida de fazenda.

��� Eu sei disso. Voc�� n��o precisa ir.

��� Vai me deixar sozinha?

��� O que posso fazer? As coisas n��o est��o indo bem

por l��. O homem que cuidava da fazenda est�� muito doen-

te. Meus pais receberam a not��cia esta semana. Eles j��

est��o velhos. Meu irm��o n��o �� de nada. Eu tenho que ir

para botar as coisas em ordem.

��� Quanto tempo vai demorar?

��� N��o sei. D e p e n d e . . .

��� Que chato!

��� Garanto que n��o vou passar mais de um m��s.

��� Se n��o tem outro j e i t o . . .

Cl��udio viajou.

* * *

40

Atrav��s do buraco da fechadura, Ros��lia mais uma

vez via Esmeralda e seu amante. Correu para dentro de

casa, como sempre fazia e foi observar a sa��da do homem

por tr��s da janela entreaberta.

Alguma coisa estava tomando forma dentro de sua

mente. Ela n��o sabia precisar o que era. Ou sabia. Mas n��o

queria admitir.

Viu o homem ganhar a rua e voltou para o seu leito,

sozinha.

Mais nervosa e ansiosa do que nunca, esperou que

passasse o dia seguinte e o outro, quando o amante de

Esmeralda voltaria. Como de costume os viu atrav��s da

fechadura. Voltou para seu quarto. Mas mudou um pouco

seu ritual.

Em vez de deixar o quarto ��s escuras, Ros��lia acendeu

a luz e abriu a janela. E foi para l�� onde ficou esperando.

Atra��do pela luz da janela, o negro olhou para o ret��n-

gulo iluminado, quando ia atravessar o jardim. E viu a mu-

lher. Olhou-a de relance. Parou atr��s de uma ��rvore e ficou

escondido. N��o sabia se esperava ou n��o que ela se reti-

rasse da janela para poder fugir.

Alguns instantes depois, tornou a mulher. E a mulher

continuava l��. S�� que teve a impress��o de que agora estava

nua. (Com efeito, Ros��lia despira a camisola de dormir

e deixara-se ficar na janela com os seios de fora.)

Osvaldo sentiu o desejo domin��-lo. "S�� podia ser de

prop��sito" ��� pensou. N��o era homem de ter medo. Saiu

de seu esconderijo e come��ou a andar em dire����o �� janela,

devagar.

Ros��lia permanecia im��vel, como uma est��tua, em seu

pedestal. Ele olhou a carne alva como o m��rmore das es-

t��tuas. E quase hipnotizado postou-se diante da janela.

Ela n��o baixou a vista. Parecia nem sequer pestanejar.

O negro encarou-a.

Mas ela tamb��m n��o teve medo. O olhar dele n��o

transmitia outra coisa a n��o ser desejo.

41

E Ros��lia movimentou-se, adquirindo uma atitude hu-

mana. Sua express��o tamb��m n��o escondia o desejo.

Osvaldo galgou a janela e pulou para dentro do quar-

to. Ros��lia fechou a janela e o negro a abra��ou. Era aque-

le o momento que ela h�� muito vinha desejando.

Apesar de ter acabado de possuir Esmeralda, todo o

corpo do homem latejava. Ele tamb��m despiu-se.

Ros��lia queria que ele a penetrasse, lhe rasgasse as

entranhas, a queimasse por dentro.

Deitou-se no leito imaculado, no qual s�� se entregara

at�� ent��o ao marido. Abriu as pernas despudoradamente,

tal e qual Esmeralda. E o negro penetrou-lhe com viol��ncia.

N��o podia deixar de reconhecer. Era melhor do que

Cl��udio, muito melhor do que Cl��udio. Onde estava o nojo

de que lhe falara a m��e?

N��o trocaram uma ��nica palavra.

Quando acabaram, Osvaldo sorriu. E mostrou os den-

tes alv��ssimos. "�� um homem muito bonito" ��� pensou Ro-

s��lia.

O negro vestiu-se e dirigiu-se para a janela. Antes de

ir embora, virou-se e perguntou quase sussurrando, com

sua voz muito grossa e rouca:

��� Quer que venha de novo?

��� Quero.

* * *

N��o podia deixar de ver em Esmeralda uma rival. Ro-

s��lia passou mesmo a odi��-la. Tinha ci��mes da outra.

Quando o negro viesse para sua cama (ainda n��o sabia

o nome dele), j�� vinha da cama de Esmeralda.

Isso a atormentava e a fazia ficar possessa. Exigiria

que s�� viesse encontr��-la, que deixasse a empregada...

Mas pensou que seria perigoso. Esmeralda poderia des-

cobrir. E Cl��udio, quando voltasse? Desejou que n��o vol-

tasse nunca, que ficasse na sua fazenda, no meio de seu

gado.

42

Passou o dia e o outro, irritada, nervosa, brigando

com tudo e com todos, por causa de qualquer coisa.

At�� que chegou a noite e Osvaldo apareceu, como sem-

pre, de volta do quarto da empregada. Ros��lia de novo en-

tregou-se a ele com ardor. Tinha certeza agora de que n��o

mais podia viver sem aquele homem.

Mas ao mesmo tempo sabia que isso era imposs��vel.

Cl��udio regressaria e ela teria que acabar com aqueles en-

contros. N��o havia outra solu����o. A ��nica coisa a fazer

seria aproveitar o m��ximo enquanto o marido estivesse

longe.

Procurou acalmar o ci��me que sentia de Esmeralda e

julgava-se infeliz por estar presa a Cl��udio.

Gostaria de ser livre.

As noites se sucederam, com Osvaldo visitando sua

cama em dias alternados. Usufruiu o mais que p��de aque-

las noites, que acabariam muito breve.

Cl��udio voltou. Ros��lia n��o mais p��de abrir sua ja-

nela para o negro pular. Um t��dio mortal tomou conta de

todo o seu ser. Ardia de desejo de voltar a ser possu��da por

Osvaldo.

Ficava as noites em claro, vendo as horas passarem,

enquanto sabia que seu amante estava no quarto de Esme-

ralda.

N��o mais foi espi��-los pelo buraco da fechadura, pois

temia n��o suportar o sofrimento.

Cada vez mais nervosa, Ros��lia teve um momento

de alegria quando o marido lhe avisou que naquela noite

voltaria para casa bastante tarde. Jantaria com um dos

s��cios da firma. Tinham muitos neg��cios a resolver.

(O que n��o correspondia �� verdade. Ele iria a uma

das casas de mulheres que costumava freq��entar de vez

em quando.)

Era uma quarta-feira.

Dia em que Osvaldo viria encontrar Esmeralda. Ros��-

lia ficou contente. Aproveitaria aquela oportunidade. Sa-

43

bia que era arriscado. E se Cl��udio chegasse a tempo de

surpreend��-la com o homem?

Mas nada podia impedi-la. N��o suportava mais a

aus��ncia t��o prolongada de Osvaldo.

Assim, colocou-se na janela desde cedo, mais ou me-

nos na hora em que ele ia para o quarto da empregada.

Quando Osvaldo pulou o port��o do jardim, viu a janela

aberta e iluminada. Ros��lia fez um sinal com a m��o, cha-

mando-o. O homem obedeceu. Tamb��m sentia falta do cor-

po de Ros��lia.

Pulou a janela. Perguntou:

��� E seu marido?

��� Vai chegar mais tarde.

��� N��o tem perigo?

��� N��o.

��� Tem certeza?

Ela n��o respondeu mais. N��o queria perder um mi-

nuto sequer. Levou-o para a cama. Mais excitado do que

nunca, Osvaldo apertava o corpo da mulher.

Todo aquele tempo sem terem rela����es tinha aumen-

tado o desejo de Ros��lia. N��o lhe importava mais nada a

n��o ser que ele a penetrasse com viol��ncia, a fizesse gozar.

O marido que se danasse. Esmeralda tamb��m.

Foi nesse instante que Cl��udio abriu a porta, sem que

nenhum dos dois, absorvidos em seu ato de amor, escutasse

o barulho.

Ao ver o quadro, sua mulher com outro na cama, Cl��u-

dio teve a impress��o de que ia vomitar.

Os dois n��o se deram conta de sua presen��a, e ele

ent��o dirigiu-se vagarosamente at�� uma gaveta e pegou

o rev��lver. Come��ou a atirar furiosamente na dire����o dos

dois amantes.

Os estampidos, os gritos, o len��ol sujando-se de sangue.

Os empregados da casa acordaram.

Esmeralda que ainda esperava por Osvaldo tamb��m

saiu do seu quarto.

44

Todos se dirigiram para o local de onde tinham vindo

os gritos e os tiros.

Encontraram Cl��udio cabisbaixo, com o rev��lver ain-

da na m��o, Ros��lia e Osvaldo mortos, na cama.

Esmeralda deu um grito.

45

CAP��TULO 4

O CASTELO DE AREIA

Norma acabou de ler o primeiro cap��tulo do romance

do marido. Joel, que se sentara numa outra poltrona, fo-

lheando uma revista, olhou-a:

��� O que est�� achando?

��� Bem, eu n��o sou especialista em literatura. Sou

uma leitora comum. Para mim est�� muito bom. Apesar

de odiar trag��dias.

��� Verdade?

��� Voc�� consegue prender a aten����o. A gente fica que-

rendo saber o aue vai acontecer a seguir. Al��m disso, seu

estilo �� muito fluente.

��� Fico lisonjeado com sua opini��o. Onde voc�� parou?

��� Quando Cl��udio assassina a esposa e o amante. S��

que hoje em dia as coisas n��o se passariam assim. Quase

ningu��m mais se surpreende em encontrar a mulher nos

bra��os de outro.

��� Mas na d��cada de 20 n��o poderia ser outra a rea-

����o de um homem tra��do. Mesmo atualmente, ainda acon-

tece muito esse tipo de trag��dia. Basta dar uma olhada

nos jornais.

��� N��o costumo ler jornais.

��� Por isso que est�� por fora da realidade.

��� E o que acontece depois no romance?

��� N��o vai continuar lendo?

��� Mas gostaria que voc�� me dissesse logo.

��� Bem, eu conto o que aconteceu ap��s a morte de

Ros��lia e Osvaldo, a rea����o de Esmeralda, o que sucedeu

46

a Cl��udio. Seus remorsos, o processo, a venda da mans��o.

Ent��o relato os fatos acontecidos com os novos moradores.

N��o �� a hist��ria de um personagem ou um grupo de per-

sonagens. �� a hist��ria da mans��o, dos moradores que atra-

v��s das d��cadas vieram residir aqui, at�� chegar aos nossos

dias.

��� N��o v�� me dizer que eu e voc�� tamb��m vamos ser

personagens. Afinal, somos os atuais moradores da casa.

��� Talvez. Ainda n��o tenho nada definido.

��� Gostaria de ver como voc�� me retrataria.

Joel riu:

��� Por qu��?

��� Talvez o que voc�� escrever a meu respeito n��o seja

muito lisonjeiro.

��� Voc�� se importaria com isso?

��� Em absoluto.

��� �� por isso que admiro voc��.

��� N��o se importe se colocar em letra de forma os

meus defeitos, a futilidade, o c i n i s m o . . .

��� N��o sei at�� que ponto isso pode ser considerado

defeito. A futilidade �� necess��ria. Quem n��o �� f��til sofre

muito. Quanto ao cinismo �� quase indispens��vel no mun-

do em que a gente vive.

��� Ent��o voc�� v�� meus defeitos como se fossem vir-

tudes?

��� Simplesmente n��o acho defeito aquilo que voc��

diz que ��.

��� Mas, voltando ao romance. Acho a id��ia muito in-

teressante. E o melhor �� que voc�� est�� conseguindo comu-

nicar exatamente o que pretende. Amanh�� eu termino de

ler o que j�� est�� escrito.

* * *

A partir da��, Norma passou a ter um interesse real

pela carreira liter��ria do marido. Acabou de ler toda a

primeira parte, discutiu tudo em detalhes, estimulou Joel

47

E era realmente sincera. Estava mesmo gostando do ro-

mance.

E quando sa��a pelas ruas de Santa Teresa e via os

casar��es, divertia-se em imaginar as vidas de todas as pes-

soas que tinham em alguma ��poca habitado aquelas ve-

lhas casas. A maioria delas muito mais antigas do que a

sua.

Quantas trag��dias, com��dias e experi��ncias aquelas

pessoas tinham passado! E ficava a pensar sobre a transi-

toriedade dos seres humanos. As pessoas desapareciam, en-

quanto as casas permaneciam, como testemunhas mudas

de vidas esquecidas. E via como as coisas eram mais du-

radouras do que os seres vivos.

Enquanto isso, continuava a levar sua exist��ncia tran-

q��ila e sem problemas, numa rotina agrad��vel, mas que

n��o deixava de ser rotina.

At�� que Sebasti��o, o velho motorista, adoeceu.

Norma lembrou-se do que tinha desejado algumas se-

manas antes, quando olhando a nuca do fiel Sebasti��o re-

cordara sua aventura com o outro jovem motorista alguns

anos passados.

Teve um leve sentimento de culpa. Ser�� que o velho

chofer ficara doente porque ela havia desejado isso? Mas

logo percebeu que estava pensando uma bobagem.

Sem Sebasti��o, precisavam procurar um novo moto-

rista para ficar em seu lugar durante o per��odo em que

estivesse afastado.

Colocaram um an��ncio no jornal. Dos que aparece-

ram, Norma escolheu o mais bonito, claro. Joel estava tra-

balhando e deixara que ela resolvesse o assunto.

Pela manh�� se apresentaram tr��s candidatos, e ela,

sem titubear, admitiu Alberto. Afinal, era apenas por pouco

tempo. N��o lhe importava pedir refer��ncias, nem mesmo

que fosse um excelente chofer.

Precisava de algu��m que pudesse lhe proporcionar

48

uma aventura semelhante �� que tivera com Hamilton. Al-

berto possu��a f��sico ideal para o papel.

Assim, Alberto come��ou a trabalhar naquele mesmo

dia. Tinha porte atl��tico, muito musculoso, moreno escuro,

quase mulato.

Teria sido influ��ncia do romance que Joel estava es-

crevendo? E achara Alberto uma esp��cie de vers��o mais

clara de Osvaldo, o amante negro de Ros��lia, uma das

hero��nas do livro do marido?

De qualquer maneira, achou excitante que talvez isso

tivesse influenciado na escolha. N��o tinha do que ter me-

do, pois sabia que se a hist��ria se repetisse, ou seja, 'se

Joel a surpreendesse fazendo amor com Alberto, o des-

fecho logicamente n��o seria o mesmo. N��o haveria uma

trag��dia.

O marido jamais seria capaz de um gesto t��o desati-

nado. Por v��rios motivos: primeiro porque era um homem

excessivamente racional, segundo porque devia saber que

ela o tra��a, terceiro porque n��o dava muita import��ncia ao

fato, quarto porque n��o iria prejudicar a situa����o exce-

lente que desfrutava por causa de uma tolice.

E depois, n��o estavam mais na d��cada de 20, nem

eram rec��m-casados. J�� viviam juntos h�� vinte anos. A

��poca das grandes paix��es j�� havia passado, e no caso de-

les, n��o havia nem existido.

Tinha plena consci��ncia de que o casamento para Joel

fora de conveni��ncia. Como tamb��m para ela, que tinha

o marido como se fosse um trof��u que gostava de exibir

para as amigas (e inimigas tamb��m, principalmente).

No primeiro dia de trabalho, Alberto teve que lev��-la

a um ch�� em Copacabana com as "patronesses" de uma

festa de caridade. Durante todo o percurso, Norma pro-

curou puxar conversa com o rapaz, mas para sua decep����o

ele n��o era do tipo que gostava de falar.

��� O dia est�� lindo, n��o acha?

��� Est��, sim, senhora.

Mais adiante, ela perguntou:

49

��� Ser�� que o tr��nsito est�� ruim em Copacabana?

��� N��o sei.

"��", "Sim", "N��o", "N��o sei". E Alberto dava por en-cerrado o assunto. "Ele �� do tipo calad��o" ��� pensou Nor-ma. ��� "Vai ser dif��cil uma aproxima����o maior."

Esta dificuldade, em vez de aborrec��-la, deixou-a mais

interessada. Se tudo corresse muito f��cil, perderia a gra��a.

A gra��a estava justamente nisso. No fato de ter que con-

quist��-lo sem saber como.

O ch�� foi terrivelmente tedioso. Um verdadeiro su-

pl��cio. "Como castigo n��o poderia haver pior" ��� pensava Norma, enquanto sorria para as amigas organizadoras,

como ela, da festa de caridade.

��� Como voc�� est�� linda! ��� admirou-se Jurema assim

que ela chegou.

E Norma pensou: "No m��nimo est�� dizendo para si

mesma que eu pare��o uma macaca. Como posso suportar

tanta falsidade?"

Mas respondeu na mesma moeda:

��� E voc�� cada vez mais jovem, Jurema. Talvez seja

a inicial de seu nome, J, de jovem. Por isso voc�� conserva

esta mocidade radiante. N��o �� este o seu segredo?

E olhou nos olhos da amiga, que parecia um perga-

minho de tanta ruga, apesar de todas as cirurgias pl��sti-

cas a que se submetera. A maquilagem do rosto de Jurema,

muito carregada, fazia com que ela parecesse uma carica-

tura.

Norma tinha autocr��tica suficiente para saber que tam-

b��m ela n��o era uma figura muito agrad��vel �� vista.

Como as outras. Um bando de mulheres de idade inde-

finida, por causa dos cosm��ticos e outros artif��cios, feias,

cobertas de j��ias e vestidos car��ssimos.

O pior de tudo eram as conversas, sempre as mesmas.

N��o acontecia nada, mas absolutamente nada de novo.

Saiu do ch�� totalmente exausta, como se tivesse partici-

pado de uma luta livre.

(O que n��o estava muito longe da verdade, tinha sido

50

mesmo uma luta livre de vaidades tolas e conversas idio-

tas.)

Saiu do ch�� e procurou pelo motorista. Encontrou o

seu carro estacionado na Avenida Atl��ntica, mas Alberto

n��o estava em seu posto.

��� Ter�� fugido? ��� perguntou Norma para si mesma,

entre apreensiva e divertida.

Olhou em torno. Descobriu-o bem mais adiante, aco-

corado, brincando com uma crian��a. Ela sorriu. Achou po��-

tico o quadro.

Aquele homem imenso, abrutalhado, junto �� crian��a,

naquele fim de tarde, tendo como pano de fundo o mar

de COPACABANA.

Andou calmamente em dire����o a Alberto. Ele n��o se

deu conta quando ela chegou perto. Continuou brincando

com o menino, completamente alheio a tudo.

��� O ch�� j�� terminou.

Alberto n��o ouviu.

Norma ficou olhando-o. O motorista e o menino cons-

tru��am um castelo na areia. Ela achou melhor n��o inter-

romper o trabalho dos dois.

Sentou-se num banco da calcada e ficou observando.

Era bem mais divertido do que o ch�� de que tinha partici-

pado.

Quando o castelo estava quase pronto, ele, levantan-

do a vista, a viu. Levantou-se imediatamente e veio ao seu

encontro:

��� D e s c u l p e . . .

��� Pode voltar a fazer o castelo.

��� N �� o . . .

��� Eu quero que voc�� volte. Quero ver o castelo pronto.

Alberto sorriu e voltou para o lado do menino. Perma-

neceram trabalhando em sua constru����o.

Era um bonito castelo.

Com suas torres e alamedas.

Norma come��ou a dar asas �� imagina����o. Quem te-

riam sido os habitantes anteriores daquele castelo de areia?

Mas como poderiam ter existido habitantes anteriores se

51

o castelo estava acabando de ser constru��do? Mas, quem

sabe? Poderia haver habitantes de um castelo que ainda

estava na cabe��a do construtor. Por que n��o?

Finalmente, o menino e o motorista deram por encer-

rado o trabalho. Despediram-se. O chofer veio para junto

de Norma, que permaneceu sentada no banco, olhando o

castelo que agora parecia abandonado. Quando o mar se

aproximasse, viria uma onda, outra onda, e o castelo seria

destru��do. Seus habitantes morreriam afogados?

��� A senhora n��o quer ir embora agora?

Desta vez foi Norma quem n��o escutou o que Alberto

falou.

S�� alguns instantes depois acordou de seu devaneio.

��� Estava pensando nos moradores do castelo.

��� A senhora conhece eles?

��� Penso que sim.

��� Quem s��o?

��� Um homem muito grande e um menino bem pe-

queno.

O motorista riu. Norma riu:

��� Est�� na hora. Vamos voltar.

A viagem de volta transcorreu da mesma maneira que

a outra. Norma puxando conversa e o motorista novamen-

te em seu mutismo, respondendo por monoss��labos.

Ela o desejava. E como o desejava!

Lembrou-se dos olhos de crian��a de Alberto, seu ar

52

de quem parecia n��o pertencer a este mundo. Talvez ele

fosse mesmo um dos habitantes do castelo de areia que

constru��ra.

Chegaram em Santa Teresa.

J�� escurecera.

Norma desceu do carro.

Entrou em casa.

Pouco depois, Joel tamb��m chegou.

Jantaram, como de costume.





53


CAP��TULO 5

A DOR DE CABE��A

Norma acordou mal-humorada. E com dor de cabe��a.

Uma coisa era conseq����ncia da outra, ou vice-versa. E

justamente no dia em que sua filha chegaria de Londres.

Pensava em ir receb��-la no aeroporto, mas j�� tinha resol-

vido que n��o iria mais.

Gozando de ��tima sa��de, qualquer indisposi����o f��sica,

mal-estar ou qualquer dorzinha, deixava-lhe angustiada,

chateada, imprest��vel para cumprir qualquer obriga����o.

Seria um sacrif��cio terr��vel ter que sair com aquela

maldita dor de cabe��a. J�� tomara um comprimido, mas

pouco adiantara. N��o, o melhor seria mandar o chofer

apanhar L��gia.

Alberto n��o conhecia sua filha, por isso mandou cha-

m��-lo. O rapaz apresentou-se. Norma disse-lhe:

��� Quero que v�� buscar minha filha no aeroporto. Ela

chega hoje da Europa.

��� A que horas?

��� ��s dez.

��� A senhora n��o vai?

��� N��o, estou meio indisposta.

Norma pegou uma foto de L��gia e mostrou a Alberto,

a fim de que este a reconhecesse. O jovem motorista quan-

do viu o retrato, teve um leve tremor.

Aquele r o s t o . . . aquele r o s t o . . . n��o lhe era estra-n h o . . . parecia emergir de um tempo que nunca existira.

Mas ele conhecia aquele rosto. Ou n��o? Conhecia, sim.

Era-lhe muito familiar. Quando? Onde? Em algum tempo

54

e em algum lugar. N��o era o mesmo rosto, mas parecia

demais. N��o podia ser. Claro que n��o era. Havia uma di-

feren��a, uma pequena diferen��a. O nariz? A boca? Os olhos?

Alguma coisa era diferente. N��o era o mesmo. M a s . . .

Enquanto Alberto estava parado com a fotografia nas

m��os, Norma observava-o. Por que ele demorava tanto tem-

po olhando a foto? "Talvez para grav��-la melhor na me-

m��ria" ��� pensou.

Mas o motorista parecia alheio a tudo. Norma pediu-

lhe o retrato de volta:

��� Voc�� �� capaz de reconhec��-la pessoalmente?

��� Claro.

��� Quando encontr��-la, diga que �� nosso novo chofer

e que eu n��o fui esper��-la porque estou com uma dor de

cabe��a horr��vel.

��� Sim, senhora.

Alberto retirou-se da sala. Norma olhou-o andando em

dire����o �� porta. Como era estranho aquele homem! Sem-

pre muito calado, parecendo que n��o pertencia a este

mundo.

Achava-o misterioso e por isso mesmo fasciante no

seu quase mutismo absoluto, no seu ar a��reo, como se flu-

tuasse. N��o seu corpo, evidentemente, que era bastante s��-

lido (e como!). Mas sua express��o fazia denotar que seu

c��rebro era f l u t u a n t e . . .

Riu de si mesma. Nos ��ltimos tempos estava sempre

pensando al��m do que via. Estaria influenciada pelo livro

do marido? Talvez. Depois que come��ara a ler o romance

de Joel, ficara com aquela impress��o de ver coisas onde

nada existia, adivinhar nas entrelinhas, interpretar atitu-

des muito al��m das apar��ncias.

Voltou para o quarto e deitou-se.

Ah, aquela dor de cabe��a infernal!

Lembrou-se do que lera uma vez. Teria sido Oscar

Wilde? Achava que sim. Ele escrevera que Deus devia li-

vr��-lo das dores f��sicas, porque das morais ele mesmo

55

cuidaria. Sim, uma grande verdade, tivesse sido ou n��o

Wilde quem dissera.

O fato era que as dores morais (ou emocionais ou

qualquer coisa ligada com o sentimento), ela tirava de le-

tra. Talvez porque n��o fosse uma pessoa que se ligasse

muito em coisas do esp��rito. N��o tinha remorsos, culpas,

nem qualquer outro tipo de grilo.

Mas as dores f��sicas, estas lhe eram insuport��veis. Ver-

dadeiramente insuport��veis. Tinha a sorte de ter uma sa��-

de excelente. N��o se lembrava de ter tido nenhuma doen��a

grave.

As ��nicas opera����es a que se submetera, tinham sido

as pl��sticas. Mas fora uma op����o. No caso, a vaidade fa-

lara mais forte. O fato de querer se livrar de seu mons-

truoso nariz dera-lhe coragem suficiente para suportar

qualquer dor. A vontade de melhorar de aspecto fora maior

do que tudo.

E depois tamb��m fizera uma outra para tirar as ru-

gas. Somente por causa da beleza suportaria qualquer sa-

crif��cio, apesar de saber que n��o conseguiria se tornar uma

mulher propriamente bela. Mas que melhorara bastante,

n��o tinha d��vidas.

* * *

Alberto dirigia tranq��ilamente o carro em dire����o ao

Gale��o.

HELENA.

O nome da mulher parecia escrito em letras de fogo,

como se queimasse sua cabe��a.

HELENA.

Por que n��o conseguia deixar de pensar nesse nome?

Como era mesmo que a filha de sua patroa se chamava?

L��gia.

L��GIA, HELENA, HELENA, L��GIA.

Os dois nomes se misturavam. T��o diferentes, mas era

como se fossem um s��.

56

Tinha tempo de sobra para chegar ao aeroporto. N��o

precisava correr. Mesmo assim, teve vontade de aumentar

a velocidade do autom��vel. E foi aumentando cada vez

mais, fazendo verdadeiros malabarismos no tr��nsito, aque-,

la hora j�� engarrafado em certos trechos da cidade.

Na Avenida Brasil, o neg��cio piorou. A contragosto,

teve que ir devagar, quase parando. Andava um pouqui-

nho, parava. Mais um pouquinho e parava novamente.

Alguma coisa devia ter acontecido. S�� podia ter a c o n -

tecido. Afinal, passavam poucos minutos das nove da ma-

nh��. Na dire����o cidade-aeroporto n��o havia motivo para

aquele congestionamento.

Devia ter acontecido algum desastre. S�� podia.

Os minutos passavam. Ele nervoso. N��o por causa da

hora. N��o. Estava nervoso porque queria correr, correr,

como vinha fazendo antes. Correr para n��o pensar. N��o

pensar em HELENA, L��GIA, L��GIA, HELENA. Agora, qua-

se parado, os nomes e as imagens se confundiam em sua

cabe��a.

O retrato.

Quando Norma lhe mostrara o retrato dizendo que

era sua filha. E certamente s�� podia ser. Era como se ti-

vesse visto Helena em sua frente.

(As pessoas gritando. Como gritavam. E ele amarra-

do. Dois homens o tinham segurado. Teve vontade de ma-

t��-los. Por que o seguravam com tanta for��a? Dera vio-

lentos pontap��s. Mas de nada adiantara. Tinham-no do-

minado. E ele preso, depois jogado num quarto. Gritou.

Gritou. A d o r m e c e u . . . )

As buzinas dos carros. As pessoas irritadas. Aquele

tr��nsito infernal.

Passou finalmente pelo local do desastre. Um carro

quase completamente destro��ado. Uma carreta o havia

atingido em cheio. Sangue no asfalto.

Ele olhou. N��o gostou do que viu. Mas olhou. Mesmo

assim olhou. Era como se algu��m lhe virasse o rosto em

dire����o ao local do acidente. Os carros andando vagarosa-

57

mente. E ele viu. Viu o c��rebro de uma pessoa totalmente

esmagado.

Levou as m��os �� cabe��a, largando por um instante o

volante, num gesto de desespero. Ouviu uma buzina mais

forte atr��s de si. Retomou o volante. Continuou dirigindo,

sem se virar de novo para o lugar onde estavam as v��timas.

Dali em diante o tr��nsito estava normal. Pisou no ace-

lerador. Recome��ou a correr. O tormento diminuiu. Gos-

tava de velocidade. N��o dava tempo para pensar.

Em poucos minutos estava no aeroporto.

O avi��o ainda n��o tinha chegado.

Olhou o rel��gio. Faltavam quinze minutos para as dez.

Se o avi��o chegasse no hor��rio, ainda assim teria tempo

suficiente para tomar um cafezinho.

Dirigiu-se para tomar seu caf��. Depois encaminhou-se

vagarosamente para uma banca de revistas e acendeu um

cigarro.

Gostava de ficar olhando aquela imensidade de revis-

tas coloridas, livros de bolso, mulheres lindas, nuas, semi-

nuas. Tudo muito colorido. Mais colorido do que se cos-

tuma ver ao vivo.

Fixou os olhos numa revista estrangeira. Tentou ler

o nome da revista. N��o conseguiu. Que diabo de l��ngua era

aquela? Alem��o? Ingl��s? Franc��s?

Desistiu de ler e ficou admirando os belos seios pon-

tudos da mulher da capa. Nem notou seu rosto, bonito,

sorrindo como em an��ncio de pasta de dentes.

O que lhe importava eram os seios. Aqueles seios lin-

dos. Precisava de uma mulher. Com urg��ncia. Uma mu-

lher bonita. Como aquela da capa da revista.

Foi at�� o jornaleiro:

��� Quanto custa aquela revista?

Diante da resposta achou muito caro. N��o podia com-

prar. Teve vontade de roubar a revista e sair correndo.

Era como se raptasse a linda garota de seios de fora e a

levasse para seu quarto. E transaria com e l a . . .

58

Mas o jornaleiro estava de olho. N��o podia fazer isso.

Seria preso.

(Os homens agarrando-lhe. Os pontap��s. Os gritos. A

confus��o.)

Afastou-se da banca de revistas e sentou-se num banco

qualquer. J�� tinham se passado dez minutos, e mais cinco,

L��gia-Helena chegaria.

Os cinco minutos tamb��m se foram. Ele se dirigiu para

o local onde deveria esperar por Helena-L��gia.

Conhecia bem o aeroporto. J�� estivera ali v��rias ve-

zes. Fora motorista de pra��a e tamb��m trabalhara na casa

d e . . . como era mesmo o nome de seu ��ltimo patr��o? N��o

recordava. Fez um esfor��o de mem��ria. Mas n��o conseguiu

se lembrar.

Desistiu. N��o podia esquentar muito a cabe��a. Ficava

confuso.

O avi��o esperado chegou.

Os passageiros desembarcaram.

Olhou-os com curiosidade cada vez maior. Viu uma

mo��a entre eles que s�� podia ser L��gia-Helena, Helena-

L��gia.

Quando ela passou perto, chamou:

��� Helena.

A jovem n��o se virou.

Repetiu:

��� Helena.

A mo��a seguiu seu caminho, sem dar a m��nima

aten����o.

Quase gritou:

��� Helena!

Mas n��o houve a menor rea����o por parte dela, que

sem d��vida o ouvira, mas fingiu como se n��o fosse com

ela.

Seguiu-a. Alcan��ou-a.

Lado a lado, falou:

��� Helena.

L��gia virou-se e olhou com ar surpreso.

59

��� Eu sou o novo motorista.

��� O senhor est�� falando comigo?

��� E s t o u . . . sou o novo motorista de seus pais. Dona

Norma mandou que viesse lhe apanhar.

L��gia achou tudo muito estranho. O nome de sua m��e

era Norma, mas ela nunca se chamara Helena.

��� O senhor est�� enganado.

��� N��o estou n��o. Vi seu retrato.

��� Meu retrato?

��� Sim, sua m��e me mostrou.

��� O senhor deve estar me confundindo com outra

pessoa.

��� N��o.

��� Eu n��o me chamo Helena.

��� Eu sei.

��� Mas o senhor se dirigiu a mim dizendo este nome.

Ele n��o se lembrava de que a tinha chamado de He-

lena.

��� Eu?!

��� Sim.

��� N��o, chamei L��gia.

Ela compreendeu que era ela mesma que o rapaz es-

tava procurando. Era coincid��ncia demais. Ele sabia que

seu nome era L��gia e o de sua m��e Norma. Mas por que

se dirigira antes chamando-a de Helena?

��� Tenho certeza de que o senhor falou Helena.

��� Foi engano. Eu queria dizer L��gia.

��� Nosso motorista �� um velho senhor, cujo nome ��

Sebasti��o.

��� Isso mesmo. Eu estou no lugar dele.

��� Sebasti��o morreu? ��� perguntou L��gia assustada.

��� E por que mam��e n��o me mandou dizer?

��� N��o, ele n��o morreu. Est�� doente.

L��gia suspirou com al��vio.

��� E voc�� o est�� substituindo.

��� I s s o . . . estou substituindo, enquanto ele n��o fica

bom.

60

��� E minha m��e lhe mandou buscar-me?

��� Foi.

��� Por que ela n��o veio?

��� Mandou dizer que est�� doente.

��� Ela tamb��m est�� doente?

��� Mas n��o �� nada grave.

��� Desde quando?

��� Desde hoje. Amanheceu com dor de cabe��a.

N��o. Era inacredit��vel. L��gia n��o podia conceber. En-

t��o sua m��e n��o tinha vindo esper��-la porque estava com

uma simples dor de cabe��a. Era demais. Depois de todos

aqueles meses longe de casa.

O pai, no escrit��rio, como se realmente trabalhasse tan-

to e n��o dispusesse de tempo para ir esper��-la no aero-

porto. Quando, na verdade, podia muito bem sair �� hora

que quisesse e ir busc��-la.

A m��e, sem nada, absolutamente nada para fazer, e

tamb��m n��o viera. Tudo por causa de uma dor de cabe��a.

N��o conseguiu esconder seu aborrecimento:

��� Ela devia ter vindo assim mesmo.

O motorista n��o comentou nada.

��� Passei quase um ano em Londres e ningu��m tem

pressa em me v e r . . .

Os dois se dirigiram para a Alf��ndega, a fim de libe-

rar a bagagem. L��gia, chateada, por causa da aus��ncia

dos pais. Alberto, sem querer olh��-la direito, desviando a

vista.

Enquanto esperava a libera����o da bagagem, L��gia co-

me��ou a observ��-lo. Aproveitou o fato dele n��o olh��-la,

para reparar bem o seu aspecto. Era um homem bonito.

Quase mulato, os cabelos ruins. Os olhos meio esver-

deados. Um tipo estranho, muito estranho. Principalmente

para ela que acabava de passar muito tempo vendo quase

que somente pessoas brancas, muito brancas, de peles ro-

sadas.

Perguntou o nome do rapaz:

��� Como voc�� se chama?

61

��� Alberto.

��� H�� quanto tempo est�� trabalhando com meus pais?

��� Quase uma semana.

O chofer respondia as perguntas sem encar��-la. L��gia

achou engra��ado, aquele homem t��o m��sculo, t��o firme

na terra, t��o forte, e t��o t��mido. T��o bonito.

A bagagem foi liberada.

Encaminharam-se para o carro.

Se L��gia ainda tinha d��vidas se o motorista estava

mesmo trabalhando em sua casa, ao ver o autom��vel, toda

e qualquer d��vida desapareceu. Era o mesmo carro de sua

m��e.

��� Que milagre!

��� O qu��? ��� perguntou Alberto.

��� O carro.

��� O que tem o carro?

��� Ainda �� o mesmo.

��� N��o entendi.

��� �� que mam��e, uma vez que n��o tem nada para

fazer, vive trocando de autom��vel. N��o sei como ainda

permanece com o mesmo de quando eu viajei.

E entraram no autom��vel.

��� Ela devia ter vindo me esperar.

Alberto ficou em sil��ncio.

L��gia passou a pensar em voz alta:

��� �� realmente uma prova de considera����o que tanto

minha m��e como meu pai me d��o. Ningu��m apareceu. Eles

est��o muito preocupados consigo mesmos. Os outros que

se danem. N��o sentem a m��nima falta de mim. Ou melhor,

�� como se eu nem mesmo existisse.

Alberto ouvia aquela voz que vinha do banco de tr��s,

como que repetindo indefinidamente a mesma coisa.

L��gia estava ferida em seu amor-pr��prio. Em sua ca-

r��ncia de afeto. N��o significava nada para ningu��m. Con-

tinuava falando, em c��rculos:

��� Por causa de uma dorzinha �� toa. Simplesmente

porque est�� com dor de cabe��a. Ela n��o pode ter uma, dor

62

de cabe��a. �� uma trag��dia. Ah, como eu detesto pessoas

ego��stas! E comodistas.

Calou-se. Mergulhou em seus pr��prios pensamentos.

Enfrentaram o caminho de volta pela Avenida Brasil

que, naquela dire����o, n��o estava t��o congestionada. O de-

sastre havia sido na outra pista. Passaram pelo local do

acidente, com muita gente em volta.

��� O que foi aquilo?

Alberto respondeu:

��� Um desastre.

��� O Rio de Janeiro continua o mesmo.

L��gia n��o olhou. N��o teve coragem. Mesmo um pouco

distante, poderia ver as v��timas. N��o queria ver sangue,

nem gente morta, logo no dia de sua chegada. Subita-

mente, teve medo.

Ser�� que aquilo representava alguma coisa? Ser�� que

algum mal iria lhe acontecer? N��o, claro que n��o. O ��nico

mal j�� tinha sucedido. Os pais n��o terem dado a menor

import��ncia ao seu regresso.

��� Teve v��timas?

��� Quando ia para o aeroporto, vi um corpo com a

cabe��a esmagada.

L��gia fez uma careta. N��o sabia mesmo por que per-

guntou :

��� Homem ou mulher?

��� Mulher.

Ela novamente pensou num mau press��gio. Logo no

dia de sua chegada. Alberto ainda disse:

��� Estava vestida de vermelho.

Automaticamente, L��gia olhou para a pr��pria roupa,

como para se certificar de que estava vestida de azul.

A voz de Alberto continuava:

��� Vestida de vermelho, da mesma cor do sangue.

E a cabe��a e s m a g a d a . . .

��� N��o fale mais ��� ordenou L��gia com voz autori-

t��ria.

63

Ele calou-se. Mas sentiu raiva. N��o gostou do tom com

que ela falara. Mesmo assim, calou-se.

Passaram pela esta����o da Leopoldina. Alcan��aram a

Rodovi��ria. Seguiram em dire����o �� Pra��a Mau��.

L��gia procurava dispersar seus pensamentos, olhando

as ruas. Gostava do Rio. Daquele calor. Daquele colorido.

T��o diferente da cinzenta Londres. Estava cansada de cin-

zentos e meios-tons.

O sol.

O sol magn��fico, de doer na vista.

E aquela gente toda, respirando vida.

A Pra��a Mau�� ficou para tr��s. Foi quando L��gia disse:

��� N��o vou para Santa Teresa.

��� N��o?!

��� N��o. Se nem minha m��e nem meu pai t��m pressa

de me ver, eu tamb��m n��o tenho a menor inten����o de

v��-los agora.

��� Para onde quer ir?

��� Niter��i.

��� Niter��i?!

��� Sim.

Alberto desviou e seguiu em dire����o �� Ponte Rio���Ni-

ter��i.

��� O que vai fazer l��? ��� s�� depois que perguntou ��

que compreendeu que n��o tinha direito de faz��-lo.

��� Passear.

Atravessaram a ponte. Chegaram em Niter��i. O auto-

m��vel corria as ruas sem destino. Rodaram durante algum

tempo.

��� Por que me chamou de Helena?

��� N��o s e i . . .

��� Confundiu?

��� Foi.

��� Mas Helena �� muito diferente de L��gia.

��� �� . . .

Novamente ficaram calados.

Ent��o, desta vez foi ele quem quebrou o sil��ncio.

64

��� Conheci uma vez uma mo��a que se parecia muito

com a senhora.

L��gia decifrou a charada:

��� E ela se chamava Helena.

��� Como adivinhou?

��� Muito s i m p l e s . . .

65

CAPITULO 6

UMA HIST��RIA DE AMOR

Sete anos antes, Alberto era um rapaz mais ou me-

nos ing��nuo. Criado no sub��rbio, tivera uma educa����o r��-

gida, extremamente religiosa. Estudava, depois passou a

trabalhar para ajudar a fam��lia.

Tivera sua inicia����o sexual com uma empregada do-

m��stica, que praticamente o seduziu. Ela deu em cima dele

e levou-o para um terreno baldio, uma vez que n��o tinham

para onde ir. Assim, Alberto, cheio de medo pelo pecado,

provou do que lhe diziam ser um fruto proibido.

Relutou bastante, antes de ir. At�� o momento em que

ela dissera:

��� Estou at�� duvidando que voc�� seja homem.

"Antes pecar do que passar por bicha", pensou Alber-

to. E assim, acompanhou-a. Marlene fizera de prop��sito.

Tinha certeza de que o rapaz n��o tinha nada de afemina-

do, muito pelo contr��rio. Mas vira que s�� assim o levaria

a fazer o que queria.

Deitada no ch��o, ela levantou a saia e baixou as cal-

cinhas. Alberto quase enlouqueceu ao ver pela primeira

vez um ��rg��o sexual feminino ao vivo. J�� estava sem sa-

ber como se controlar, quando Marlene o chamou:

��� Vem.

66

E ele foi.

Alberto n��o levava muito jeito para o ato. Desajei-

tado, Marlene ajudou que encontrasse o caminho. Ele ex-

perimentou uma sensa����o de prazer enorme. Marlene en-

la��ou-o com as pernas e logo gozaram.

Em casa, n��o tinha coragem de olhar os pais cara a

cara, certo de que cometera um ato abomin��vel. Mas o

repetiu in��meras vezes, at�� que Marlene deixou de tra-

balhar naquele bairro e sumiu.

Teve outras experi��ncias sexuais, com v��rias mulhe-

res, como qualquer rapaz normal. No entanto, se fisica-

mente n��o apresentava nenhuma defici��ncia, o mesmo n��o

se podia dizer mentalmente. No col��gio, ��s vezes, esquecia

completamente o que estudara e ficava atoleimado, quase

sem ter consci��ncia de onde se encontrava.

Por isso era um pouco atrasado nos estudos. Atribu��a

isso ao fato de n��o ser inteligente. Considerava-se mesmo

muito burro. Apesar de tudo, havia coisas que aprendia

com facilidade.

Dirigir autom��vel, por exemplo. O vizinho comprara

um carro de terceira ou quinta m��o. Caindo aos peda��os.

Foi assim que aprendeu a dirigir. Ent��o, seu objetivo pas-

sou a ser: tornar-se chofer de pra��a. Trabalhar num t��xi

era sua ambi����o m��xima.

Mesmo assim, continuou os estudos. E trabalhava

numa padaria. Bom rapaz, por��m muito calado. Mas nin-

gu��m ligava para isso. Apenas tinha um g��nio esquisito,

diziam os conhecidos, amigos e parentes.

Foi quando conheceu Helena.

Ele estava com dezoito anos.

Ela tinha a mesma idade.

67

Foi um caso de amor �� primeira vista (pelo menos

da parte dele).

Helena era uma mo��a muito bonita. A mais bonita

que j�� vira em toda a sua vida. Parecia uma artista de ci-

nema. Tamb��m de fam��lia humilde.

Come��aram a namorar. E Alberto tinha medo at�� de

abra����-la, tal o respeito com que a tratava. Enla��ava-a

ternamente. Beijava-a de leve. Isso, mesmo ap��s v��rios me-

ses de namoro.

Decidiu noivar oficialmente. Comprou com sacrif��cio

as alian��as e pediu-a em casamento. Tudo �� maneira an-

tiga, como lhe haviam ensinado os pais.

E sonhava melhorar de vida. Trabalhar cada vez mais.

Para poder casar. E largar de vez as mulheres da rua,

aquelas que procurava para satisfazer o instinto, como cos-

tumava dizer.

Seria a felicidade plena. Ter sua pr��pria mulher. Fa-

zer amor com ela sem remorsos nem culpas. Terem filhos.

Uma vida s��.

Helena partilhava da mesma opini��o.

O noivado durou quase dois anos.

Alberto trabalhava na padaria. Abandonara os estudos

e conseguira um emprego como chofer numa empresa de

t��xi para rodar durante a noite.

��� �� perigoso ��� disse Helena.

��� �� s�� a gente ter cuidado.

��� Tem muito assaltante por a��.

��� Voc�� pensa que sou bobo? N��o vou deixar qual-

quer um entrar no meu carro de madrugada. Al��m disso,

sou muito forte. �� dif��cil algu��m ter coragem de me en-

frentar.

68

E exibia, orgulhoso e brincalh��o, os seus m��sculos.

Helena ria:

��� Mas voc�� quase n��o vai ter tempo para me ver.

��� Isso �� que �� ruim. Mas s�� assim a gente pode ca-

sar. Depois que juntar algum dinheiro, eu largo a padaria

e fico s�� como chofer durante o dia. A�� a gente se casa.

E faziam planos.

Realmente, quase n��o tinha tempo de encontrar He-

lena. Via-a rapidamente no intervalo entre os dois traba-

lhos, trocavam meia d��zia de palavras. At�� nos fins de se-

mana trabalhava, uma vez que padaria n��o fecha nem aos

s��bados, nem domingos, nem feriados. Mas no t��xi, folgava

aos s��bados �� noite.

E ia com Helena ao cinema.

Justamente querendo construir honestamente sua fe-

licidade, Alberto, em vez disso, a perdeu.

Helena tinha muito tempo livre.

E era muito bonita.

E muito paquerada.

Apareceu um sujeito chamado M��rio.

Bonit��o, atl��tico, bem mais velho do que ela, mas com

apar��ncia jovem.

Queimado de praia, paquerador, mau-car��ter.

Um boa-vida.

Come��ou a querer conquistar Helena.

Quando a abordou pela primeira vez, ela disse:

��� Sou noiva.

��� E o que tem isso?

��� N��o est�� vendo minha alian��a?

��� E da��?

��� Eu sou uma mo��a direita.

69

��� Se fosse torta eu n��o estaria atr��s de voc��.

��� Nunca vou trair meu noivo.

��� Ele n��o precisa saber.

E M��rio continuou firme. N��o deixava Helena em paz.

��� Nunca vi voc�� com seu noivo.

��� Ele trabalha em dois lugares. �� muito ocupado.

��� E por que a gente n��o aproveita isso? Caiu a sopa

no mel. Assim n��o tem perigo dele descobrir nada entre

n��s dois.

��� N��o existe nada entre n��s dois.

��� Mas vai existir.

��� �� o que voc�� pensa.

Mas M��rio n��o desistia.

A fidelidade e for��a de vontade de Helena come��aram

a balan��ar.

O pior de tudo era que cada vez mais se sentia atra��da

por M��rio.

��� Eu quero casar.

��� N��o vou empatar seu casamento.

��� C��nico!

��� Voc�� fica linda quando se zanga.

��� Nunca mais me dirija a palavra.

��� O que foi que eu fiz?

��� Nada. Mas est�� querendo f a z e r . . .

��� Voc�� disse tudo. E vai ver como �� gostoso.

E Helena passou a achar muito chato passar a semana

toda quase sem ver Alberto. S�� aos s��bados. Sentia-se mui-

to sozinha. E aos s��bados, quando ia ao cinema com o noi-

vo, n��o tinha o mesmo prazer de antes. Chateava-se.

Um domingo aceitou o convite de M��rio para irem ��

praia juntos. Alberto n��o ia saber. Estava na padaria tra-





70


balhando. Tomaram o ��nibus cheio para Copacabana. Em

casa disse que ia �� praia com umas amigas.

N��o via nenhum perigo. Na praia cheia de gente, M��-

rio n��o lhe podia fazer nenhum mal.

Desceram no Posto Seis.

A praia estava lotada.

Deslumbrou-se. Nunca tinha estado ali. N��o conhe-

cia Copacabana ainda. Sentiu uma sensa����o de liberdade.

Como se o seu mundinho t��o pequeno tivesse deixado su-

bitamente de existir.

As garotas de biqu��ni (ficou envergonhada do seu mai��

antiquado, fora de moda), os rapazes com sungas peque-

n��ssimas.

Quando tirou o vestido e ficou de mai��, M��rio asso-

biou e exclamou:

��� Que coxas!

Ela teve vergonha e sentou-se na areia.

Ele tirou a bermuda e ficou com uma sunga bastante

pequena.

Helena desviou a vista. O rapaz sentou-se ao seu lado.

Come��ou a alisar-lhe o bra��o. Ela sentiu um arrepio.

Logo em seguida, ele alisou-lhe a coxa. Helena tirou-

lhe a m��o. O rapaz tornou a botar.

��� Est��o vendo.

��� Ningu��m est�� prestando aten����o.

E continuou com a m��o na coxa da garota.

��� Estou com vergonha.

��� Quer ir para um lugar mais deserto?

��� N��o.

��� Ent��o?

Helena estava distra��da, quando ele lhe beijou na boca,

71

�� queima-roupa. Um beijo com l��ngua. Coisa in��dita para

Helena, que correspondeu, apesar de sua luta ��ntima.

��� Sabe que nunca passei tanto tempo cantando uma

garota?

��� Voc�� �� muito apressado.

��� At�� que n��o. Com as outras, chamo logo para o meu

quarto.

��� C��nico!

��� Como voc�� gosta desta palavra!

Foram tomar banho de mar. M��rio deu um mergu-

lho e por baixo da ��gua segurou nas coxas de Helena. Ela

gritou. Todo mundo pensou que fosse por causa de uma

onda mais forte.

Sa��ram da ��gua. Ela, com cara aborrecida:

��� Voc�� n��o devia ter feito aquilo.

��� Mas voc�� gostou, n��o gostou?

��� C��nico!

No domingo seguinte foi de novo para a praia com

M��rio.

S�� que, na volta, ele se desviou do caminho de casa.

Fez sinal para o ��nibus parar na cidade.

Helena surpreendeu-se:

��� Vai descer aqui?

��� Vou.

��� N��o vai comigo at�� Olaria?

��� Depois.

��� Depois, como?

��� Voc�� vai descer comigo.

_ Eu?!

��� Tenho um neg��cio para resolver com um amigo

��� Ent��o, eu sigo sozinha.

72

��� Por qu��? N��o vai demorar.

Ela desceu com M��rio.

Encaminharam-se para o lado da Cinel��ndia. Segui-

ram pela rua do Passeio. Fazia um calor enorme. Alcan-

��aram a Lapa. Ele entrou numa casa velha, um sobrado.

��� Seu amigo mora em pens��o?

��� ��.

Tinha um homem na portaria. Helena, t��mida, ficou

um pouco afastada.

M��rio veio com uma chave na m��o:

��� Vamos?

��� Pra onde?

��� Meu amigo est�� l�� dentro.

Ela o acompanhou.

M��rio abriu a porta do quarto.

��� Voc�� est�� me enganando, M��rio.

Mas ele j�� a puxava para o interior do quarto, fechan-

do a porta a seguir. Beijou-a na boca, fazendo a sua m��o

"trabalhar por baixo da saia de Helena.

��� Deixe-me ir embora.

��� Isso nunca.

��� O que voc�� quer fazer comigo?

��� Ora, Helena, n��o se fa��a de boba.

��� Eu n��o quero, M��rio.

��� Quer, sim. Desde o come��o que voc�� est�� querendo.

E vai ser para j��.

Ele atirou-a na cama, caindo por cima. Ela relutou

um pouco. Enquanto tirava a pr��pria roupa, M��rio falou:

��� N��o v�� me dizer que voc�� �� caba��o ainda.

Ela escondeu o rosto no travesseiro, depois de ter afir-

mado com a cabe��a.

73

��� Ent��o seu noivo �� um boboca.

Ele arrancou-lhe o vestido:

��� J�� que ele n��o fez, eu vou fazer a voc�� este favor.

Helena nua.

M��rio tamb��m.

Por cima dela.

A jovem n��o tinha mentido.

Era mesmo virgem.

��� Voc�� n��o �� a primeira que eu pego assim. Sabe

que gosto de fazer isso? �� minha especialidade.

M��rio mordia-lhe os seios, enquanto se movimentava

por cima da mo��a que, com as pernas abertas, se contorcia

de p r a z e r . . .

Helena gozou.

* * *

Sa��ram do quarto.

Foram para suas respectivas casas.

As idas com M��rio para a hospedaria se sucederam.

Depois passou a freq��entar o quarto que ele dividia com

um colega. M��rio n��o estava a fim de continuar gastando

dinheiro.





74


Helena ficou gr��vida.

Alberto come��ou a notar que a noiva estava engor-

dando. Depois percebeu que engordava apenas na cintura.

A barriga n��o podia mais ser disfar��ada.

A mo��a resolveu acabar o noivado, antes que a bar-

riga assumisse propor����es maiores.

��� Tome sua alian��a.

��� Helena, voc�� tem outro?

��� Procure outra mo��a para casar, Alberto.

��� Mas eu gosto �� de voc��.

��� Eu n��o sirvo para casar com voc��.

��� Helena, quer dizer q u e . . . ?

Mas Alberto n��o conseguiu terminar a pergunta. Mes-

mo porque n��o queria ouvir a resposta. Passou a noite toda

no botequim, bebendo. N��o foi trabalhar no t��xi.

Completamente embriagado, de madrugada, foi para

a porta da casa de Helena e come��ou a gritar palavr��es

e atirar pedras. O pai da mo��a veio �� janela. Uma pedra

atingiu-o no rosto. O sangue espirrou.

O esc��ndalo foi grande. Os vizinhos acordaram. A po-

l��cia foi chamada. Alberto passou a noite no xadrez.

Nunca mais viu Helena.

75

Esta saiu da casa dos pais, depois do esc��ndalo.

Alberto, durante muito tempo, teve uma id��ia fixa.

Encontrar Helena. Mas n��o para am��-la. Arrependia-se de

n��o ter tido coragem de fazer o que pensara, quando des-

cobrira que ela o tra��ra. Sua primeira vontade fora ma-

t��-la . . .

Se encontrasse Helena um dia, a mataria.





76


CAP��TULO 7

O DESAPARECIDO

��� Por que n��o me conta quem era Helena? ��� per-

guntou L��gia.

��� A senhora n��o vai ter interesse por meus proble-

mas.

��� Se n��o tivesse, n��o estaria perguntando.

��� Foi minha noiva.

��� E n��o �� mais?

��� N��o. Isso foi h�� muito tempo.

��� Quando?

��� Seis, sete anos.

��� E ainda gosta dela?

��� N��o.

��� Pelo jeito voc�� ainda gosta.

��� Tenho raiva dela.

��� Sinal de que ainda gosta. Sen��o, tinha esquecido.

��� N��o posso esquecer.

��� E o que ela lhe fez? Foi t��o grave assim?

Por um momento, Alberto virou-se para L��gia e olhou-a.,

Como era parecida com H e l e n a . . .

��� �� melhor a gente parar com esta conversa.

��� Desculpe. N��o quis lhe chatear.

��� N��o tem import��ncia.

77

De volta, quando atravessavam a Ponte Rio���Niter��i,

L��gia tirou uma m��quina fotogr��fica de dentro de uma

maleta. Notou que tinha tocado numa ferida ainda n��o

cicatrizada e teve pena de Alberto. Resolveu distra��-lo e

tamb��m distrair-se um pouco.

��� Vamos dar uma parada no meio da ponte?

��� N��o �� proibido?

��� E o que tem isso?

��� Para qu��?

��� Quero que voc�� tire uma fotografia minha na amu-

rada. �� f��cil. Em um minuto eu subo, voc�� tira a foto e

entramos no carro de volta ��� e L��gia mostrou-lhe a m��-

quina. ��� �� s�� apertar este bot��o.

Alberto parou o carro. Desceram. L��gia encostou-se na

amurada. Ele apertou o bot��o indicado. L��gia sorriu.

Sorrindo, ficava mais parecida com Helena.

Alberto aproximou-se de L��gia.

(E pela sua cabe��a passou um pensamento. Um pen-

samento terr��vel! Coisa de segundos. E se a atirasse no

mar?)

Mas L��gia voltou correndo para o carro. Ele tamb��m

retornou ao volante. Seguiram em frente.

��� E agora, para onde vamos?

��� Zona Sul.

��� Ainda n��o quer ir para casa?

��� N��o.

* * *

Norma, recostada na cama, achou que L��gia estava

demorando muito. Mas n��o se preocupou. Atribuiu o atra-

78

so ao avi��o. Finalmente, depois de mais um comprimido,

a dor de cabe��a estava passando. Pegou um jornal para

ler, a fim de passar o tempo.

Foi direto para a p��gina de televis��o. Leu sobre as

novelas, depois viu os filmes que estavam passando, as co-

lunas sociais. Uma reportagem sobre um artista de cinema.

Em seguida pegou o outro caderno. Lembrou-se do

que Joel lhe dissera. Que ela estava desatualizada quanto

�� realidade da vida. Assim, foi direta �� p��gina sobre os

crimes, desastres e coisas do g��nero.

N��o era uma leitura muito indicada para quem es-

tava com dor de cabe��a. Mas Norma n��o se preocupou

com isso, porque n��o ficava impressionada com essas coi-

sas, principalmente quando n��o lhe diziam respeito, quan-

do n��o a atingiam diretamente.

Numa das p��ginas viu uma fotografia, tipo tr��s por

quatro, de uma pessoa que conhecia. Quem era mesmo

aquele homem? Ora, como n��o lembrara logo? Era Alber-

to, seu novo motorista. Mas surpreendeu-se porque a foto

vinha logo abaixo de um t��tulo que dizia em letras grandes:





DESAPARECIDO


Tratava-se de um an��ncio. E �� medida que lia, sua

surpresa aumentava. Nunca imaginara uma coisa daque-

las. O an��ncio simplesmente dizia que a fam��lia de Alber-

to estava �� sua procura. Ele havia fugido de uma casa

de sa��de para doentes mentais. Aparentemente dava a im-

press��o de ser uma pessoa normal. Pediam para quem sou-

besse de seu paradeiro, dar not��cias para os telefones...

Norma deixou cair o jornal de lado. Bem que ela o

79

achara estranho. Tinha admitido como seu empregado um

louco. Mas sempre sentira atra����o pelas pessoas meio ma-

lucas. Achava-as deliciosas.

Mas logo se deu conta de que n��o se tratava de uma

pessoa meio maluca, mas sim de um louco real, com todas

as implica����es que da�� decorriam.

E lembrou-se de que Alberto tinha ido apanhar L��gia

h�� v��rias horas e n��o voltara ainda.

Teria acontecido alguma c o i s a . . . ?

N��o, n��o acontecera nada. Afinal, Alberto estava ali

h�� quase uma semana. Era meio esquisito, mas sem d��-

vida tratava-se de um louco manso. N��o havia o que te-

mer. E depois L��gia j�� estava bem crescidinha. N��o tinha

motivo para maiores preocupa����es.

Precisava apenas tomar provid��ncias no sentido de

avisar a fam��lia de Alberto e o hospital onde ele estivera

internado. Era uma p e n a . . . Desta vez n��o tivera sorte.

N��o chegara a ir para a cama com Alberto.

Mas como a esperan��a �� a ��ltima que morre, Sebas-

ti��o ainda encontrava-se doente e talvez escolhesse me-

lhor outro motorista que ficaria a seu servi��o at�� a recupe-

ra����o do velho.

Levantou-se e dirigiu-se ao telefone. Hesitou se devia

primeiro ligar para o hospital e a fam��lia de Alberto ou

para o aeroporto, a fim de saber se o avi��o procedente de

Londres havia chegado no hor��rio normal.

Afinal, L��gia j�� devia estar em casa h�� mais de duas

horas.

Ligou primeiro para o aeroporto. Foi informada de

que o avi��o n��o atrasara. Come��ou ent��o a ficar realmen-

te preocupada. Telefonou em seguida para o h o s p i t a l . . .

80

Teve vontade de ligar tamb��m para o marido e para

a pol��cia. Mas depois decidiu que era melhor n��o faz��-lo.

Joel no m��nimo diria que louca era ela.

Ser�� que ele tamb��m lera o jornal? Mas lembrou que

o marido s�� costumava fazer isso depois que voltava para

casa, �� noite.

Talvez tudo n��o passasse de um pequeno susto. Den-

tro em pouco, L��gia entraria em seu quarto, s�� e salva.

Voltou para a cama. Trocou o jornal por uma revista

de moda. Depois pegou uma de fotonovelas. O que estava

precisando era apenas de uma boa higiene mental. Aquela

aborrecida dor de cabe��a estava fazendo com que tivesse

pensamentos m��rbidos.

Concentrou-se na leitura de uma a��ucarada fotonove-

la, em que o mocinho e a mocinha, depois de alguns em-

pecilhos, terminam no melhor dos mundos.

Duas horas da tarde e L��gia n��o aparecera.

* * *

O autom��vel atravessou o t��nel e entrou em Copa-

cabana.

��� V�� pela Avenida Atl��ntica.

Alberto obedeceu.

L��gia perguntou:

��� N��o est�� com fome?

��� Um pouco.

��� Vamos comer alguma coisa?

L��gia n��o tinha moeda brasileira. Mas havia um res-

taurante, ali��s um ��timo restaurante, cujo propriet��rio a

81

conhecia, uma vez que costumava freq��ent��-lo quando es-

tava no Rio. O gerente e o propriet��rio, inclusive, eram

amigos pessoais de seu pai.

A jovem indicou o caminho do restaurante a Alberto.

Ao chegarem, ele estacionou o carro e ela convidou:

��� Vamos almo��ar?

Entraram. Sentaram numa mesa. O gar��om veio aten-

d��-los. L��gia mandou chamar o gerente da casa, que veio

prontamente com um sorriso. Ela explicou que acabara de

chegar de Londres. Estava vindo diretamente do aeropor-

to. O gerente, claro, disse que n��o havia nenhum proble-

ma, poderia pagar com moeda estrangeira, ou deixar a

conta para ser paga depois.

L��gia entregou o card��pio a Alberto. Este sentia-se

meio sem jeito.

��� O que vai querer?

��� Qualquer coisa.

A mo��a ent��o fez o mesmo pedido para os dois.

O almo��o foi acompanhado de um vinho que Alberto

achou uma maravilha. Nunca tinha estado num lugar como

aquele, nem tomara um vinho igual.

Ela estava alegre, descontra��da.



* * *

Tr��s horas da tarde e nem sinal de L��gia. Norma sen-

tiu que sua dor de cabe��a estava amea��ando piorar de

novo. Ent��o, reagiu. N��o, n��o ia ficar ali, naquele quarto,

enchendo a cabe��a com pensamentos negativos. O que fa-

zer ent��o?

82

Tomou mais um comprimido com suco de p��ssego.

Trocou de roupa e fez a maquilagem.

Para onde iria?

Ainda n��o sabia.

Telefonou para Sandra:

��� Sandra, minha querida, o que vai fazer hoje ��

tarde?

��� Nada.

��� Estou com um problema e gostaria de ir at�� sua

casa.

��� Ent��o venha. Podemos dar uma volta, tomar um

drinque na Barra ou olhar os garot��es na praia.

��� ��timo!

Norma desligou. Novamente animada, estava quase es-

quecida de seu problema. Mesmo porque j�� estava pensan-

do num outro. Conseguir um t��xi. Em Santa Teresa eles

eram muito raros. Mandou um dos empregados para a

porta esperar que passasse algum.

Conseguido o t��xi, rumou para o Leblon.

Sandra era uma mulher alegre, cheia de vida. Morava

na rua Delfim Moreira, numa cobertura.

��� Foi maravilhoso voc�� ter vindo. Por que demorou

tanto?

Norma ent��o lembrou-se de seus problemas. E contou

rapidamente �� outra a hist��ria do chofer maluco que con-

tratara, que fora buscar L��gia no aeroporto e que at�� aque-

la hora n��o havia aparecido com a filha.

��� Ora, Norma, mas voc�� se preocupar com uma coisa

dessas? V��-se logo que n��o est�� num de seus bons dias.

Talvez seja mesmo resultado de ter acordado com dor de

83

cabe��a. Eu tamb��m fico deprimida com qualquer tipo de

dor. Por que n��o faz an��lise?

E a outra come��ou a contar as vantagens da an��lise.

��� Voc�� tem algum problema de inf��ncia. N��o resta

d��vida. Por isso qualquer dorzinha a deixa angustiada

e pensando em trag��dias. L��gia deve estar curtindo uma

boa a esta hora. Aproveitou que voc�� n��o foi apanh��-la no

aeroporto e foi rever algum namorado do qual estava mor-

rendo de saudades.

��� �� m e s m o . . . Como n��o me lembrei disso antes?

��� Ora, Norma, estou estranhando voc��. Como, com

sua experi��ncia de vida, p��de ficar preocupada com uma

bobagem? Al��m disso, L��gia n��o �� mais um beb�� de colo.

Estuda na Europa, passa meses em pa��ses estranhos, sozi-

nha, e voc�� n��o se preocupa. Agora se perturba por causa

de uma coisa �� toa.

��� Mas acho que ela acabou com o tal namorado da-

qui.

��� Foi fazer as pazes pessoalmente.

Norma riu.

Sandra continuou:

��� A melhor maneira de fazer as pazes �� pessoalmen-

te, como voc�� sabe. E quanto ao seu motorista louco, estou

morrendo de vontade de conhec��-lo. Voc�� n��o devia ter

avisado aos parentes dele nem ao hospital. Eu o admitiria

aqui em casa com muito gosto. N��o tenho medo dos loucos

que est��o ou estiveram no hosp��cio. Tenho, sim, dos outros

que vivem soltos por a�� e a gente pensa que s��o bons da

cuca. Esses s��o os mais perigosos.

* * *

84

Terminado o almo��o, Alberto e L��gia sa��ram do res-

taurante. O vinho subira um pouco �� cabe��a do motorista.

A jovem estava alegre. E lembrou-se de Ant��nio, Tony,

como ela o chamava.

Estavam perto do apartamento de Tony, seu ex-namo-

rado, com quem terminara o romance por carta h�� cerca

de dois meses. Talvez fosse uma boa rev��-lo. Pediu a Al-

berto para lev��-la �� rua Francisco Otaviano. Desceu na

porta do edif��cio de Tony.

��� Talvez eu demore um pouco.

��� Sim, senhora ��� respondeu Alberto.

Ela entrou no pr��dio. Tomou o elevador. Tocou a cam-

painha. Pouco depois Tony abriu a porta.

��� L��gia! ��� exclamou alegre.

��� Tony!

E os dois se abra��aram como se ainda estivessem n a -

morando.

��� Chegou hoje?

��� Pela manh��.

��� E lembrou-se de vir me v e r . . .

��� Tive saudades.

Ele a beijou na boca.

��� Lembre-se de que n��o temos mais nada um com o

outro ��� advertiu L��gia. ��� Somos apenas bons amigos.

��� Uma situa����o muito legal. Como simples amigos,

podemos fazer o que quisermos, sem compromissos.

Ela observou a cor bronzeada do rapaz, em contraste

com sua pele muito branca, devido aos meses passados em

Londres, onde o sol n��o era verdadeiro, apenas uma imi-

ta����o.

85

��� O que voc�� fez por l��? ��� quis saber o rapaz.

��� Estudei.

��� S��?

��� Bem, conheci algumas pessoas interessantes.

��� E me t r a i u . . .

��� Trai����o �� dist��ncia n��o �� trai����o. Aposto que voc��

tamb��m n��o deixou de ter suas gatinhas.

��� Mas eu sou homem.

��� N��o me venha com seu machismo.

��� Vamos, conta. Como �� o nome dele?

��� Michael.

��� E voc�� o chamava carinhosamente de Mike.

��� Claro.

��� Um ingl��s branco, sem sal e sem a����car.

��� �� o que voc�� pensa. Uma das pessoas mais fasci-

nantes que conheci.

��� A ponto de fazer com que terminasse comigo.

��� Ele n��o foi propriamente o motivo.

��� Mas contribuiu para isso.

��� De uma certa forma. Foi quando compreendi que

n��o amava voc��.

��� E amava Mike.

��� Tamb��m n��o. Era apenas uma companhia agrad��-

vel, exatamente como voc��.

��� S�� transou com ele durante todos estes meses em

que esteve l��?

��� Por que tanta curiosidade em torno de minha vida

amorosa?

��� Os amigos s��o sempre muito curiosos.

��� Tive algumas aventuras. Mas que n��o significaram





86


nada. At�� encontrar Mike. Voc�� precisava conhec��-lo. Ali��s,

ele est�� louco para vir ao Brasil.

* * *

Recostado no autom��vel, Alberto sentia ci��mes de L��-

gia. Era como se ela o estivesse traindo. O que teria ido

fazer naquele apartamento?

Sem d��vida encontrar com algum homem. E deviam

estar transando, enquanto ele estava ali, esperando-a, feito

um bobo.

O edif��cio ficava no final da rua, perto da esquina que

dava para a praia. Alberto achou melhor andar um pouco.

Alcan��ou a Avenida Vieira Souto e ficou olhando o mar.

Recordou-se do castelo de areia que constru��ra dias

atr��s na praia de Copacabana, junto com um menino des-

conhecido. O castelo n��o existia mais. Tinha sido destru��-

do pelo mar, ou por alguma pessoa.



* * *

Sandra e Norma decidiram sair. Tomaram o autom��-

vel da primeira e seguiram para a Barra.

��� Voc�� devia aprender a dirigir ��� disse Sandra.

��� Tentei uma vez e n��o consegui.

��� Todo mundo sabe dirigir.

��� Menos eu. E n��o pretendo tentar novamente. Sou

uma nega����o ao volante. Morro de medo de tudo. De atro-

pelar algu��m, de levar uma batida. N��o dou pra isso.

��� Voc�� desiste muito depressa das coisas. N��o �� �� toa

que acho que deve fazer an��lise.

��� N��o preciso de psicanalista.

87

��� Mas claro que precisa, Norma. Todas as pessoas

precisam.

Ao chegarem �� Barra, escolheram um barzinho a fim

de tomarem chope:

��� Estamos fazendo um programa t��o suburbano! ���

disse Sandra. ��� Mas sabe que estou cansada das coisas

sofisticadas? Principalmente das pseudo-sofisticadas. De-

vemos descobrir os sub��rbios, as pessoas simples, aut��n-

ticas. A falsidade de nosso meio j�� me deixou absolutamente

saturada.

��� Voc�� tem r a z �� o . . .

��� Mas claro que tenho. Estou farta do brilho artifi-

cial, dos sentimentos falsificados. Depois que comecei a fa-

zer an��lise, estou me descobrindo.

"Ela n��o perde nunca a oportunidade de falar na tal

an��lise" ��� pensou Norma. Mas, apesar de Sandra n��o

deixar os outros falarem e querer sempre impor seus pon-

tos de vista, era uma criatura agrad��vel, das mais agra-

d��veis que Norma conhecia. Contestou a amiga:

��� Mas voc�� n��o trocaria seu apartamento no Leblon

por uma casa no sub��rbio.

��� Talvez trocasse... Na verdade, s�� continuo naque-

le apartamento por causa de Frederico. Ele morreria se ti-

vesse que ir para a Zona Norte. E como n��o tenho a menor

inten����o de me separar do meu marido, o jeito �� perma-

necer no Leblon.

Entre os poucos fregueses que estavam no bar, ��quela

hora, havia um homem, de cal����o de banho, sentado mais

adiante, em frente a elas.

Era um tipo meio cafajeste, muito queimado de praia,





88


rugas pronunciadas devido ao sol intenso sob o qual devia

ficar diariamente, um bigode caindo nos cantos da boca.

N��o restava d��vida de que fora um homem bonito.

E ainda era. Devia mesmo ser mais ou menos jovem, n��o

tendo atingido os quarenta anos. Apenas tinha precoce-

mente envelhecido. Seu corpo, entretanto, era esbelto,

musculoso, jovem.

Parecia um misto de pescador com marinheiro. Tanto

Sandra como Norma j�� o tinham examinado nos m��nimos

detalhes, inclusive as tatuagens que tinha num dos bra��os

e na coxa direita.

Ele, por sua vez, tamb��m olhava para as duas mulhe-

res. Notava-se flagrantemente que estava mais interessado

em Sandra, por ser mais bonita. Via nelas tamb��m a opor-

tunidade de ganhar algum dinheiro.

As duas terminaram n��o suportando mais aquela pre-

sen��a, sem comentarem. Sandra, como sempre, foi quem

se referiu primeiro ao desconhecido:

��� J�� notou aquele cara?

��� Claro, n��o ��, Sandra? Ou voc�� pensa que sou cega?

��� Daria um bom programa.

��� Ele est�� olhando pra voc��.

��� Deixe de mod��stia.

��� Ora, est�� na cara.

��� Vamos ser honestas. N��s duas estamos interessa-

das nele. Mas acho que voc�� hoje est�� necessitando mais

de uma aventura do que eu. Nada melhor do que uma dis-

tra����ozinha deste tipo para fazer com que esque��a qual-

quer problema.

��� N��o precisa ter pena de mim.

��� Desde quando eu tenho pena das pessoas, Norma?

89 -

Voc�� j�� me conhece h�� tantos a n o s . . . E depois, voc�� ��

uma pessoa que n��o provoca piedade e sim inveja. Voc��

tem tudo. Muito mais dinheiro do que eu, al��m de ser ca-

sada com um homem lindo.

Norma sabia que a amiga j�� transara com Joel, mas

fingia n��o saber. Ela n��o ligava para o fato. Afinal, Joel

andava com tantas, que mais uma menos uma, n��o fazia

diferen��a.

��� Ele n��o tira os olhos da gente.

��� O campo est�� livre. Pode aproveitar. �� como lhe

disse, n��o existe melhor rem��dio para depress��o. Apesar

de dar muito valor ao meu analista, uma aventura com um

homem destes vale mais do que v��rias sess��es de an��lise.

* * *

��� N��o, Tony ��� recusou L��gia.

��� Porque n��o?

��� J�� repeti muitas vezes que agora somos apenas

bons amigos.

��� O que n��o impede que a gente transe de vez em

quando.

��� N��o estou a fim.

��� Mas eu estou. Puxa, L��gia, parece at�� que nunca

gostou de mim. Este tempo todo afastada e agora fazendo

tanto d o c e . . .

��� Acabei de almo��ar h�� pouco.

��� Garanto que n��o vai fazer nenhum mal.

Ela lembrou-se do motorista que a esperava na porta:

��� Deixei o chofer me esperando.

��� E o que tem isso? �� a obriga����o dele.

90

��� J�� que insiste t a n t o . . .

��� Eu sabia que voc�� terminaria concordando.

��� Mas tem que ser r��pido. N��o quero demorar.

��� Voc�� sabe que n��o sou de perder tempo.

Ali mesmo, no sof�� da sala, ele puxou-lhe a calcinha

e deitou-se por cima. L��gia deixou que a penetrasse, segu-

rando-lhe os cabelos e beijando-o carinhosamente. Fechou

os olhos e lembrou-se de Alberto, o motorista, ao mesmo

tempo que pensava em Mike.

Por que pensara no chofer? Lembrar de Mike, era

��bvio, mas quanto a Alberto, n��o tinha o menor sentido.

* * *

Rodrigo, o homem que era objeto do desejo de Sandra

e Norma, continuava sentado no mesmo lugar, s�� que assu-

mira uma posi����o mais acintosa, com as pernas abertas,

e encarando-as.

Pela maneira como elas o olhavam, compreendeu que

estava sendo o motivo da conversa entre as duas mulhe-

res. Pegou seu copo e chope e aproximou-se:

��� Oi!

��� Oi! ��� responderam as duas a um s�� tempo, como

se tivessem ensaiado.

��� Posso sentar aqui?

��� Claro ��� respondeu Sandra.

��� Nada mais chato do que beber sozinho.

��� Tamb��m acho ��� confirmou Norma.

Ele sentou-se ao lado das duas mulheres. De perto,

suas rugas eram mais pronunciadas, mas s�� ent��o podia-se

91

perceber que seus olhos, apesar de pequenos, eram muito

azuis.

��� "Que homem fascinante!" ��� pensou Norma.

��� "Um barato!" ��� disse Sandra para si mesma.

��� "Na cama, deve ser o m��ximo".

��� "Ele faz exatamente o meu g��nero, apesar do meu

g��nero ser um tanto ou quanto variado".

Enquanto as duas o observavam, Rodrigo compreen-

deu que estava sendo analisado em todos os detalhes e deu

um sorriso c��nico. Sabia que aquele tipo de mulher n��o

lhe resistia.

A conversa foi se encaminhando para o ponto que os

tr��s queriam. Quinze minutos depois, estimulados pelos

chopes que bebiam em abund��ncia, j�� pareciam se conhe-

cer h�� muito tempo.

Elas n��o descobriram se ele era marinheiro ou pes-

cador. Tamb��m pouco se importavam com isso. Talvez

fosse melhor n��o saberem nada a seu respeito. Era melhor

n��o decifrar o mist��rio.

Seria uma decep����o se n��o fosse nem uma coisa nem

outra, e sim um simples funcion��rio p��blico de f��rias que

estava indo �� praia todos os dias.

��� Voc��s est��o de carro?

��� Estamos.

��� N��o seria uma boa sairmos por a��?

��� Este seu "por a��" �� muito vago ��� disse Sandra,

com seu esp��rito objetivo.

��� Bem, a gente podia ir para algum lugar em espe-

cial ��� falou Rodrigo de novo com seu sorriso c��nico.

��� Um lugar mais ��ntimo, onde pud��ssemos ficar mais

�� vontade?

92

��� Acertou. Tem um hotelzinho, mais adiante, do qual

sou fregu��s. Vou sempre l��. Todo mundo me conhece.

��� Isso �� uma proposta? ��� perguntou Sandra rindo.

��� �� ��� respondeu o homem.

��� N��o vou deixar minha amiga sozinha ��� afirmou

Sandra, uma vez que Rodrigo dirigia-se quase que somen-

te a ela.

��� Mas quem foi que disse que ela vai ficar? Estou

falando com voc��, porque ela �� muito calada. Vamos os

tr��s.

��� Que legal! ��� exclamou Sandra no auge do entu-

siasmo.

Chamaram o gar��om. Sandra fez quest��o de pagar a

conta. Tomaram o carro e foram para o hotel.

��� Como est��o vendo, estou s�� de cal����o, n��o trouxe

nem carteira.

��� N��o se preocupe com dinheiro.

Rodrigo sorriu mais uma vez.

Entraram no quarto do hotel. Ele agarrou as duas

sem a menor cerim��nia:

��� A gente vai se divertir um bocado.

��� N��o duvido.

��� Nem eu.

Norma j�� esquecera todos os seus problemas. At�� a

dor de cabe��a sumira definitivamente. Rodrigo tirou logo

a sunga, para mostrar ��s duas os seus, predicados.

��� Voc��s v��o gostar.

��� N��o estamos duvidando.

��� Vai ser uma ��tima brincadeira...

Deitaram-se na cama, Norma e Sandra j�� despidas

93

tamb��m. Ele acariciava as duas, dividindo exatamente em

partes iguais as aten����es entre uma e outra.

Um verdadeiro profissional.

Enquanto chupava os seios de Sandra, pegava nos de

Norma, e vice-versa. E assim continuou, ora com uma, ora

com outra.

Gozou primeiro em Norma.

Algum tempo depois, procurou se excitar de novo, para

transar com Sandra.

Pelo visto, a brincadeira levaria todo o resto da tarde,

pois sa��de era o que n��o faltava a Rodrigo, que estava

tamb��m estimulado com a quantia que receberia depois

pelo trabalho. Certamente um pagamento em d o b r o . . .

* * *

Alberto estava impaciente. Era sempre o enganado.

Com Helena fora a mesma coisa. Ele trabalhando, cons-

truindo honestamente sua felicidade, enquanto ela se di-

vertia com outro. E tudo fora destru��do de repente. Exata-

mente como o castelo de areia.

Agora, enquanto esperava, L��gia transava com outro.

Mas L��gia era L��gia, n��o era Helena. N��o tinha nada a ver

uma coisa com a outra.

L��gia era filha de seus patr��es, nada mais do que isso.

N��o podia sentir ci��mes de algu��m que n��o tinha nada

com ele. No entanto, sentia-se tra��do.

Via as ondas que quebravam na praia. Olhou para

mais longe, onde o mar se confundia com o c��u. Apenas

uma linha os dividia, Sentia-se cada vez mais triste e re-

94

solveu voltar para junto do autom��vel, em frente ao edi-

f��cio onde L��gia estava.

No apartamento, a jovem despedia-se de Tony:

��� Foi estimulante.

��� Eu n��o disse?

Ela ajeitou o vestido, foi para diante de um espelho

e retocou a maquilagem.

��� Est�� na hora de ir embora.

��� Telefonar�� para mim?

��� Claro.

Beijaram-Se e L��gia saiu.

Ele ficou na porta do apartamento, at�� a jovem tomar

o elevador. Este chegou:

��� Tchau!

��� Tchau!

Embaixo, L��gia encontrou Alberto recostado no carro.

Falou sorridente:

��� Demorei muito?

��� Um pouco.

��� Desculpe-me.

Entraram no autom��vel.

��� Para onde quer ir agora?

��� Para casa �� que n��o vou. Quero chegar bem tarde.

S�� assim meus pais v��o se lembrar de mim.

Num certo sentido, ela estava achando um pouco in-

fantil sua atitude, mas agora levaria seu capricho at�� o

fim.

Ele seguiu pela Avenida Vieira Souto. O carro corria

a uma velocidade que ia aumentando cada vez mais. L��gia

sentia o vento em seus cabelos.

As casas passando rapidamente diante de seus olhos.

95

Assim como as pessoas. Mike, Tony, e todos os outros na-

morados. Quantos homens s��o necess��rios para preencher

a vida de uma mulher?

Talvez um ��nico fosse o suficiente. No entanto, no

mundo atual, era quase imposs��vel, uma verdadeira uto-

pia, uma mulher ter apenas um homem durante toda a

sua exist��ncia.

Atravessaram o Leblon e tomaram o caminho da Bar-

ra. Alberto n��o perguntara para onde ela queria ir. L��gia

n��o ligou. Desejava ir para qualquer lugar menos para

casa.

-Perto do mesmo barzinho onde sua m��e momentos

antes estivera, L��gia pediu a Alberto para parar.

��� Vamos tomar um chope?

Desceram do autom��vel. Sentaram-se numa mesa

qualquer.

��� Sinto-me bem ao seu lado.

Alberto levou o copo aos l��bios, em sil��ncio, olhando

o vazio.

* * *

Rodrigo, que havia bebido bastante, depois de pos-

suir Sandra e Norma, come��ou a se tornar inconveniente.

Mandou buscar umas garrafas de cerveja e come��ou a can-

tar e fazer a maior baderna no quarto do hotel onde se en-

contravam.

Neste sentido, Rodrigo as decepcionou. N��o era um

verdadeiro profissional, como haviam julgado. Bebia de-

mais em servi��o.

Quanto �� profiss��o dele, n��o ficaram sabendo e ago-

96

ra n��o tinham mais curiosidade a respeito. Afinal, j�� ha-

viam feito o principal.

As duas amigas compreenderam que estava na hora

de sa��rem. Se permanecessem ali e o homem continuasse

bebendo, terminariam ��s voltas com a pol��cia, o que seria

muito desagrad��vel.

Ent��o, como se tivessem feito um mudo acordo, co-

me��aram a se vestir ao mesmo tempo.

��� Voc��s j�� v��o? ��� perguntou o homem.

��� J�� ��� respondeu Sandra.

��� Mas agora �� que a festa vai come��ar.

��� Pelo contr��rio, a festa terminou.

��� A gente pode se divertir muito ainda.

��� S��o cinco horas da tarde. Est�� na hora de voltar-

mos. Voc�� pode ficar aqui, se quiser.

��� Sozinho?

��� Problema seu.

��� V�� l�� como fala, sua vagabunda ��� falou Rodrigo,

subitamente agressivo.

Sandra n��o gostou de ser chamada de vagabunda, cla-

ro. Ia responder �� altura, mas Norma a impediu de come-

ter a imprud��ncia, tomando-lhe a palavra e procurando

contornar a situa����o:

��� N��o fique aborrecido, Rodrigo. N��s n��o podemos

voltar tarde para casa.

��� Os maridinhos est��o esperando voc��s daqui a

p o u c o . . .

��� Eu sabia que voc�� era um rapaz inteligente.

��� E bom de cama ��� acrescentou Rodrigo.

��� Isso n��o precisa mais dizer, est�� mais do que pro-

vado.





97


Ele melhorou .o humor. Norma, quase pronta (havia

se vestido o mais rapidamente poss��vel), pegou a bolsa e

tirou mil cruzeiros que entregou a Rodrigo.

O homem reclamou:

��� S�� isso?

��� Lembre-se de que pagamos o hotel e sua conta no

bar ��� argumentou Sandra, que ainda estava aborrecida

por ter sido chamada de vagabunda.

Norma, por��m, n��o queria barulho. Apenas livrar-se de

Rodrigo e sair daquele quarto o quanto antes. Pegou mais

duas notas de quinhentos cruzeiros e entregou-lhe:

��� Acho que agora est�� satisfeito.

��� T�� legal ��� concordou Rodrigo. ��� Quando quise-

rem me ver de novo podem dar um pulo naquele bar. Es-

tou sempre por l��.

���O que voc�� faz na vida? ��� perguntou Sandra, inso-

lente.

��� Para que quer saber?

��� Vamos embora, Sandra ��� chamou Norma.

��� Espere um pouquinho que j�� vou d i z e r . . .

��� N��o precisa ��� disse Norma puxando a amiga.

As mulheres sa��ram e deixaram-no no quarto. O ho-

mem beijou as c��dulas que ganhara por pouco mais de

Uma hora de "trabalho". N��o tinha sido t��o mau pago as-

sim. Se desse esta sorte todos os d i a s . . .

E continuou bebendo sua cerveja.

J�� no autom��vel, fazendo o percurso de volta ao Le-

blon, Sandra e Norma comentavam a aventura.

��� Voc�� n��o devia ter provocado o cara ��� falou

Norma.

98

��� Ora, ele estava se metendo a besta. Al��m disso, n��o

vale dois mil cruzeiros.

��� Este dinheiro n��o vai me fazer falta. De qualquer

modo nos divertimos.

99

CAPITULO 8

SEM SA��DA

Num quarto miser��vel da Lapa, Helena fez dois san-

du��ches de p��o com um resto de mortadela. Um para si

e outro para o filho de cinco anos.

Era o almo��o dos dois. Sentou-se na cama e ficou mas-

tigando o sandu��che, enquanto olhava para Carlinhos.

Seus olhos eram tristes e ficaram mais ainda ao olhar

o corpo franzino do menino, que mastigava tamb��m o p��o

duro.

Ela acordara tarde, uma vez que passara a noite "tra-

balhando" pelas ruas da Lapa. Tinha o rosto envelhecido

para a idade e parecia ter trinta e cinco anos, quando na

realidade tinha dez menos.

Olheiras profundas, dentes cariados, pele macilenta.

O corpo magro, rugas em volta dos olhos e da boca. Quem

a tivesse conhecido seis anos antes e a visse agora, n��o a

reconheceria. Nada restava da beleza saud��vel daquela

��poca.

Se arrependimento matasse, certamente Helena j�� te-

ria morrido. Maldizia sua sorte continuamente e ainda n��o

se" conformara com o grande erro de sua vida, ao se deixar

seduzir por um cafajeste, perdendo Alberto para sempre.

Tudo teria sido completamente diferente, se n��o tives-

100

se aparecido aquele "desgra��ado" (ela nunca se referia ao nome de M��rio, seu sedutor, nem em pensamento).

Mas n��o o culpava por tudo. N��o se cansava de se

martirizar, apesar de tanto tempo j�� ter decorrido. Tinha

sido tamb��m culpada pelo que lhe acontecera.

Nunca poderia ter tra��do Alberto, um rapaz s��rio, tra-

balhador, que a adorava. Ainda tinha pesadelos referentes

�� noite em que ele, b��bado, fora para a porta de sua casa

e come��ara a fazer esc��ndalo, atirando pedras e atingindo

seu pai.

Fugira da casa da fam��lia, envergonhada. E nunca

mais procurara ningu��m. Nem mesmo seu sedutor. Traba-

lhara numa lanchonete at�� quase o filho nascer.

Depois, suas dificuldades, que n��o eram poucas, au-

mentaram. Tinha que cuidar do menino rec��m-nascido.

Uma colega de trabalho, com quem fizera amizade, a aju-

dara.

N��o sabia mesmo como sobrevivera (e achava que te-

ria sido muito melhor se tal n��o tivesse acontecido).

Vivia na maior mis��ria e, no momento, estava desem-

pregada. Nesses per��odos em que ficava sem trabalho, con-

seguia algum dinheiro praticando a prostitui����o.

No in��cio, custou a adaptar-se a essa situa����o, mas

depois n��o ligava muito para o fato. Nada lhe importava

mais. Precisava dar comida ao filho, cri��-lo, de um jeito

ou de outro.

Acabou de engolir seu sandu��che, levantou-se e saiu

para comprar alguma coisa para comer �� noite e no dia

seguinte, com o dinheiro que arrumara na noite anterior.

Andou pelas ruas vagarosamente. N��o tinha pressa.

101

Entrou num supermercado, comprou uma lata de leite em

p�� para Carlinhos e alguns outros mantimentos.

Ao sair do supermercado, viu um jornal jogado no

ch��o. Apanhou e levou junto com as compras.

Assim que chegou ao seu quarto, colocou o que com-

prara no pequeno arm��rio. Carlinhos brincava num canto.

Helena deitou-se e come��ou a ler o jornal.

Pouco depois encontrou o an��ncio que falava no desa-

parecimento de Alberto. Antes de ler, ficou alguns momen-

tos olhando a fotografia do rapaz.

E sentiu uma saudade muito profunda, uma tristeza

muito grande. Tudo teria sido t��o diferente se tivesse ca-

sado com e l e . . .

Desaparecido. Por que ele desaparecera? Leu o que

dizia o an��ncio e sua tristeza aumentou. Nunca mais ti-

vera not��cias de Alberto, nem da fam��lia, nem de ningu��m,

desde que fora embora de casa.

A not��cia do jornal dizia que ele fugira de um hos-

p��cio. Alberto enlouquecera. Mais uma culpa em suas cos-

tas. Sua dor aumentou e teve vontade de morrer naquele

instante.

Lembrou-se de uma s��rie de pequenos fatos.

Ela e Alberto andando pela rua sem cal��amento onde

ele morava, logo no in��cio do namoro. De repente, o rapaz

apanhou uma pequena pedra, que ao sol brilhava, e en-

tregou-lhe.

��� O que �� isso?

��� Um presente.

���O que vou fazer com esta pedrinha?

��� Um anel. Faz de conta que �� um brilhante.

102

E ela guardou a pequena pedra, que esqueceu na sua

fuga.

(Ser�� que desde aquela ��poca Alberto n��o j�� era pro-

penso �� loucura? Na sua imagina����o aquela pedrinha tal-

vez fosse um brilhante de verdade.)

Voltavam do cinema uma noite de s��bado.

O c��u escuro n��o mostrava nenhuma estrela. O tempo

estava carregado e dentro em pouco deveria cair um tem-

poral.

Alberto olhou para cima. Por entre os galhos e folhas

de uma ��rvore muito alta, via-se a luz de um poste.

��� Olhe a lua! ��� exclamou Alberto.

��� Aquilo n��o �� a lua. �� a luz de um poste.

(Realmente ele n��o era muito bom da cabe��a. Agora

relembrando esses pequenos epis��dios, via como a amava.

Ao seu lado transformava qualquer coisa em alguma coisa

valiosa.)

A chuva come��ou a cair. Um pingo grosso aqui, outro

ali.

��� Temos que andar depressa ��� disse Helena.

��� Para qu��?

��� Para n��o pegar chuva.

A tempestade caiu antes que chegassem na casa de

Helena, para grande alegria de Alberto, que come��ou a

rir, a correr e a cantar como um garoto.

��� Eu vi um filme em que o cara cantava e dan��ava

na chuva. Vamos dan��ar juntos?

��� Se algu��m passar, vai pensar que somos malucos.

��� E da��?

Ela n��o dan��ara com ele naquela noite na chuva,

(Agora arrependia-se de n��o t��-lo feito.) Mesmo porque n��o

103

havia m��sica tocando. Mas Alberto parecia escutar um

ritmo tocado, sem d��vida, pelos anjos, ao qual somente

seus ouvidos eram sens��veis.

Ela andando depressa, ele correndo, pulando e dan-

��ando ao seu redor.

Alcan��aram a casa completamente encharcados. Al-

berto despediu-se, dando-lhe um beijo molhado na face.

(Helena alisou a face direita, como se ainda sentisse

o beijo. Ele a respeitava tanto! Como se ela fosse de vidro,

de um vidro muito fr��gil, que ao menor toque pudesse

quebrar.)

O mais curioso �� que Alberto s�� fazia estas coisas

quando estavam juntos, sem a presen��a de estranhos.

Quando ele estava sozinho ou em companhia de outras

pessoas, quase n��o falava, trancado dentro de si mesmo.

Ao lado de Helena mudava completamente, expandia-se,

dava vaz��o a todas as suas fantasias.

Tudo aquilo passara. Teria mesmo existido? Seria que

ela tamb��m ficara louca e estava imaginando aquelas

coisas?

Olhou as paredes manchadas do quarto em que vivia

atualmente, testemunhas de sua mis��ria.

H�� mesmo pessoas para as quais a vida n��o apresenta

nenhuma sa��da.

Era o caso de Helena agora.

Carlinhos continuava brincando.

Helena come��ou a chorar.

O filho perguntou:

��� Por que est�� chorando?

��� Por nada.

��� Est�� sentindo dor?

104

Teve vontade de correr e abra��ar-se com o filho, mas

conteve o gesto. Se o fizesse, choraria mais ainda.

O menino permaneceu brincando.

Helena enxugou as l��grimas e assoou o nariz na barra

do vestido.

105

CAP��TULO 9

A FURIA

Nesse mesmo instante, Alberto disse para L��gia:

��� N��o quer ir embora?

��� Vamos tomar mais um chopinho.

A tarde estava acabando. Come��ava a escurecer. Ha-

via Uma certa tristeza no ar. Ele viu uma pedrinha no

ch��o, mas a pedra n��o brilhava. (S�� ao lado de Helena

as coisas pareciam se transformar. Dera-lhe uma vez uma

pedrinha que brilhava ao sol para que ela fizesse um

anel.)

Acabaram de beber o outro chope pedido. L��gia pagou

a conta. Sa��ram do bar em dire����o ao carro.

* * *

Norma despediu-se de Sandra e esperou um t��xi. Como

demorasse a passar, decidiu ir at�� a Avenida Ataulfo

de Paiva. L�� encontraria um com mais facilidade.

Fez sinal para um t��xi vazio. Entrou e seguiu para

Santa Teresa. Voltou a pensar na filha. Com certeza, j��

devia ter chegado em casa. Rememorou os acontecimentos

do dia.

Fora realmente um dia muito movimentado, cheio de

lances emocionantes. Estava ansiosa para chegar em San-

106

ta Teresa, tomar um banho, trocar de roupa, jantar e des-

cansar. Conversaria com a filha, que lhe falaria sobre sua

vida em Londres.

Mas uma nova surpresa aguardava Norma. L��gia ain-

da n��o aparecera. "E agora?" ��� pensou. Telefonou para

o escrit��rio do marido, preocupada.

��� Al��, Joel?

��� Oi, Norma, tudo bem?

��� N��o.

��� O que aconteceu?

��� Como estava com muita dor de cabe��a mandei Al-

berto, o novo motorista, apanhar L��gia no aeroporto pela

manh�� e at�� agora eles n��o chegaram. Estou numa afli����o

terr��vel, principalmente por causa de um an��ncio que vi

no jornal.

��� O que tem a ver o an��ncio com isso?

��� Ainda n��o leu os jornais de hoje?

��� Voc�� sabe muito bem que s�� leio quando volto para

casa, �� noite.

E Norma revelou ao marido o que lera sobre o chofer

que estava substituindo Sebasti��o h�� poucos dias.

��� E por que n��o ligou logo para mim?

��� Para n��o lhe perturbar.

��� N��o tomou nenhuma provid��ncia?

��� Claro que tomei. Telefonei para a fam��lia dele e

tamb��m para o hospital. Disseram-me para ligar assim

que Alberto retornar, a fim de que eles venham apanh��-lo.

N��o vieram logo porque, vendo uma assist��ncia na porta

de nossa casa, Alberto poderia fugir. Como tive que sair

107

�� tarde, deixei uma das empregadas a Jandira, encarre-

gada de avisar.

��� E n��o ligaram do hospital, uma vez que voc�� n��o

tornou a telefonar?

��� N��o sei. Vou perguntar �� Jandira.

Joel perdeu a paci��ncia:

��� N��o perguntou nada a ela quando chegou?

��� Voc�� sabe como eu sou, Joel. Nestas situa����es, nun-

ca sei como agir. Fico confusa e fa��o tudo ao contr��rio.

Assim que cheguei e n��o vi L��gia, corri e liguei para voc��.

Foi a primeira coisa em que pensei. Espere um pouco que vou falar com Jandira.

Chamou a empregada.

��� Ligaram do hospital, enquanto estive fora?

��� V��rias vezes.

��� E por que n��o me disse?

��� A senhora trancou-se logo no quarto. N��o deu

tempo.

��� E o que voc�� falou para eles?

��� Que o chofer ainda n��o tinha voltado.

Norma tornou a falar com o marido:

��� J�� telefonaram do hospital v��rias vezes.

��� Voc�� devia ter ligado para mim de manh��, Norma.

Temos �� que botar a pol��cia atr��s desse cara. Pela marca

e o n��mero do autom��vel, n��o vai ser dif��cil localiz��-lo.

Vou tomar as provid��ncias. Um abra��o. Tchau!

��� Tchau!

Joel desligou. Ele tamb��m n��o teria tomado nenhuma

provid��ncia, se tivesse sabido do fato pela manh��. Como

Norma, tamb��m pensaria que Alberto voltaria logo junto

com L��gia, sem maiores conseq����ncias.

108

Norma sentia-se arrasada.

N��o tomou banho, n��o trocou de roupa, nem descan-

sou, conforme seu prop��sito. Em vez disso, foi preparar

um drinque. Encheu o copo de u��sque, colocou algumas

pedras de gelo.

Ficou olhando um quadro na parede, deitada no sof��,

com o copo na m��o. Era um quadro abstrato, que ela n��o

tinha a menor id��ia do que representava. Sabia que tinha

custado uma fortuna. N��o entendia nada de pintura.

Odiou o quadro. Sem nenhuma raz��o.

N��o suportava ter que enfrentar um problema por

menor que fosse. Depois de alguns goles da bebida, sen-

tiu-se mais segura.

N��o, n��o acontecera nada a L��gia. Ela estava curtin-

do uma boa com Tony, como Sandra havia dito. Alberto

n��o fizera nenhum mal �� sua filha, que afinal de contas

n��o era nenhuma menina inexperiente. "Estas coisas s��

acontecem com os outros" ��� pensou.

Mas L��gia n��o escrevera dizendo que terminara com

Tony? Teriam feito as pazes, tamb��m por correspond��n-

cia? Ou, como lembrara Sandra, fora fazer as pazes pes-

soalmente, assim que chegara de Londres?

Tony.

Ora, por que n��o ligava para ele? Em vez de ficar en-

redada em tantas d��vidas, era s�� telefonar. Como n��o se

lembrara disso?

Levantou-se entusiasmada. Procurou o telefone do ra-

paz no caderno de endere��os.

Discou.

��� Al��! Tony est��?

��� Um momento ��� respondeu uma voz de mulher.

109

N��o tinha sido L��gia. Norma conhecia bem a voz da

filha. Pelo menos isso. Devia ter sido a empregada, uma

vez que Tony morava sozinho. Ou alguma outra namo-

rada.

Tony atendeu:

��� Al��!

��� Aqui �� Norma, m��e de L��gia.

��� Oi, como vai?

��� A L��gia est�� a�� com voc��?

��� J�� saiu.

��� Mas ela esteve em seu apartamento hoje?

��� Esteve, sim. Deve ter sa��do daqui pouco depois das

quatro. N��o me lembro da hora exata. Por qu��? N��o che-

gou em casa ainda?

��� N��o. Por isso me lembrei de ligar para voc��, ape-

sar de saber que voc��s tinham brigado.

��� Fizemos as pazes.

("Exatamente como Sandra dissera", pensou Norma.)

��� Estava muito preocupada, porque o avi��o chegou

��s d��z da manh�� e at�� agora nem sinal de L��gia. J�� estava

pensando em alguma desgra��a. Mas se ela saiu da�� depois

das quatro, ent��o est�� tudo bem. Sem d��vida deu uma

passada na casa de alguma amiga.

��� Deve ter sido. Daqui a pouco ela pinta por a��.

��� Um abra��o, Tony.

Norma largou o telefone aliviada. N��o havia motivo

para dramas. Arrependeu-se de ter ligado antes para Joel,

que j�� devia ter avisado �� pol��cia.

* * *

110

Alberto rodou com o carro pela Barra em. todas as di-

re����es, voltando pelas mesmas ruas, indo de um lado para

outro.

L��gia resolveu dar um fim ��quele passeio sem sentido.

Mesmo porque estava muito cansada.

��� Vamos voltar para casa ��� ordenou.

Mas desta vez, Alberto n��o obedeceu.

J�� escurecera.

Ele procurou o lugar mais deserto poss��vel.

��� Pra onde est�� indo?

O chofer n��o respondeu.

��� Quer me dizer para onde est�� me levando? N��o

me ouviu dizer para ir para casa? ��� perguntou L��gia irri-

tada.

Ele acelerou o carro e parou muito mais adiante, num

local onde n��o havia casas nem ningu��m.

��� Por que me trouxe aqui? ��� perguntou L��gia, ago-

ra com um certo receio.

Alberto saltou e abriu a porta de tr��s, puxando-a para

fora.

��� Voc�� enlouqueceu?

Alberto n��o deu a menor aten����o �� pergunta e, segu-

rando firme o pulso da jovem, a conduziu para. o mato.

��� Me largue.

��� N��o.

��� Est�� me machucando.

��� O que estava fazendo naquele apartamento?

��� Que apartamento?

��� Aquele da rua Francisco Otaviano onde ficou uma

por����o de tempo.

��� N��o �� de sua conta.

111

��� Quem era o cara?

��� Est�� bem, vou responder, mas s�� se me soltar.

Ele apertou com mais for��a o pulso da mo��a. Ela

resolveu falar:

��� �� um namorado meu e voc�� n��o tem nada com

isso.

��� O que fizeram no apartamento?

��� Ora, Alberto, chega de brincadeira. Vamos embora.

Num gesto mais violento, ele atirou-a no ch��o, caindo

por cima:

��� Voc�� vai fazer comigo tamb��m a mesma coisa.

L��gia resolveu mudar sua atitude. Procurou fazer um

acordo:

��� Por que isso, Alberto? Eu fui t��o legal com v o c �� . . .

Mas o motorista n��o queria acordo nenhum. Cara a

cara com L��gia, era como se visse Helena depois de ter

sido possu��da pelo outro.

Beijou-a furiosamente.

L��gia debatia-se.

��� N��o adianta for��ar. Eu n��o quero.

��� Voc�� vai fazer tudo que eu quiser.

L��gia deu-lhe um pontap��. Furioso, Alberto come��ou

a bater-lhe no rosto. O sangue espirrou e escorreu pela

boca.

(A pedrada. A pedra atingira o rosto do pai de Hele-

na, que tamb��m sangrara.)

A jovem viu que de nada adiantava resistir. Lem-

brou-se de uma frase que tinha lido ou ouvido em algum

lugar: "Se o estupro �� inevit��vel, relaxe e goze."

E assim fez.

112

Deixou que Alberto fizesse tudo que desejava, mesmo

porque n��o tinha como impedir. Ele rasgou-lhe a roupa.

Arrancou-lhe a calcinha. Abra��ou-se ao corpo e por um

instante pareceu acalmar-se.

O que diria Mike, seu namorado ingl��s, se a visse na-

quela situa����o? Ele, t��o brit��nico, t��o certinho? Sem d��-

vida acharia que os brasileiros, por causa do clima tropi-

cal, eram muito violentos. Selvagens.

Mas existem ingleses violentos, assim como suecos,

italianos, dinamarqueses, noruegueses, franceses, escandi-

navos, norte-americanos, mexicanos, espanh��is, russos, ja-

poneses, chineses, portugueses, belgas, tchecos, etc., etc.,

e t c . . .

A viol��ncia n��o era exclusividade de ningu��m, de ne-

nhum povo. Pertencia a todos. No mundo atual, a n��o-vio-

l��ncia �� que seria a exce����o.

Milhares e milhares de mulheres s��o estupradas, vio-

lentadas, se viciadas. Por que ela seria uma privilegiada?

Sairia daquela situa����o, com uma experi��ncia a mais.

Depois da pausa, em que parecia ter-se acalmado, Al-

berto recome��ou sua f��ria.

Ao mesmo tempo em que penetrava em L��gia, espan-

cava-a sem parar. Os gritos da mo��a n��o eram ouvidos a

n��o ser pelos insetos e pequenos bichos das redondezas,

que provavelmente j�� tinham presenciado alguma cena se-

melhante, sem entenderem bem por que os seres humanos

eram t��o irracionais.

L��gia terminou perdendo os sentidos, enquanto Alber-

to gozava.

Ele saiu de cima da jovem e ficou olhando o corpo-

113

Inerte e ensang��entado. Colocou-a nos bra��os e deitou-a

no banco de tras do autom��vel. Entrou tamb��m no carro

e saiu daquele lugar.

A escurid��o era quase completa.

Dirigiu-se para a praia.

Procurou um local onde n��o pudesse ser visto por

ningu��m.

N��o queria que interrompessem sua miss��o.

L��GIA, HELENA

HELENA-LIGIA.

Parou o autom��vel.

Olhou em torno.

Ningu��m.

Desceu e retirou o corpo de L��gia, que ainda respirava.

N��o, ela n��o morrera.

Seguiu com sua estranha carga nos bra��os.

Uma mulher nua, com manchas de sangue pelo corpo.

Encaminhou-se para o mar.

Agora n��o dava para ver a linha que dividia l�� longe

o mar do c �� u . .

O castelo de areia.

Sentiu a ��gua fria, molhando-lhe os p��s.

Uma sensa����o agrad��vel.

Parou.

Olhou o rosto da mo��a desacordada.

HELENA-L��GIA.

L��GIA-HELENA.

Quanto tempo ficou ali, im��vel, olhando o rosto, n��o

sabia.

Depois, recome��ou a andar.

114

Devagar.

Sempre em dire����o ��s ��guas.

Foi entrando, e n t r a n d o . . .

At�� desaparecer.

115

EPILOGO

Joel chegou em casa por volta das seis e meia da tar-

de. Perguntou �� esposa:

��� L��gia j�� chegou?

��� N��o.

��� E voc�� est�� assim t��o tranq��ila?

��� Me lembrei de telefonar para o Tony, um dos na-

morados de L��gia, aquele que mora na Francisco Otavia-

no. Ele disse que ela esteve l�� �� tarde. Acho que n��o acon-

teceu nada demais e estamos nos preocupando sem ne-

cessidade

��� A que horas ela saiu da casa do namorado?

��� Depois das quatro.

��� J�� era tempo de ter chegado aqui.

��� Foi �� casa de alguma amiga.

��� Mas podia pelo menos ter telefonado pra voc�� ou

pra mim.

��� Voc�� est�� levando a coisa muito a s��rio, Joel. Den-

tro de mais alguns minutos, L��gia estar�� de volta.

Ele n��o disse mais nada. Tamb��m se sentia um pouco

calmo com aquela ��ltima not��cia. Al��m disso, o que po-

deria fazer j�� fizera, avisando a pol��cia. Mas continuava

inquieto.

Surpreendeu-se consigo mesmo. N��o era pessoa de an-

116

g��stias nem grilos gratuitos. No entanto, n��o conseguia

se tranq��ilizar.

Na hora do jantar, L��gia n��o dera ainda o menor

sinal de vida. Ele sentou-se �� mesa, agitado, e n��o comeu

direito. Norma observou:

��� Voc�� tem andado muito nervoso ultimamente.

(Ela tamb��m voltara a ficar preocupada, mas pro-

curava reanimar o marido.)

��� �� muito estranho L��gia estar demorando tanto,

mesmo tendo ido �� casa de Tony e de alguma amiga.

��� Creio que este livro que est�� escrevendo �� que lhe

deixa assim tenso. Antes, voc�� era muito mais descon-

tra��do.

��� Talvez.

��� Tem trabalhado demais.

Terminado o jantar, Joel sugeriu que n��o podiam ficar

parados, sem fazer alguma coisa objetiva no sentido de lo-

calizar L��gia.

��� Mas voc�� n��o j�� avisou a pol��cia? Que mais se pode

fazer? ��� perguntou Norma.

��� Pegar o caderno de endere��os e come��ar a telefo-

nar para todas as amigas de nossa filha.

��� N��o tenho os telefones de todas elas.

��� Ligue para as que constam do seu caderno.

��� �� . . . n��o deixa de ser uma boa id��ia.

Norma ligou primeiro para Ana.

��� Oi, Aninha, aqui �� Norma, m��e de L��gia.

��� Como vai, tudo bem?

��� Mais ou menos. L��gia esteve em sua casa hoje?

��� Ela n��o est�� na Inglaterra?

117

Chegou no avi��o das dez da manh�� e at�� agora

n��o apareceu em casa. Pensei que pudesse estar a��.

��� N��o. Por que n��o telefona para o Tony?

��� J�� me comuniquei com ele. L��gia esteve em seu

apartamento, mas saiu �� tarde. De qualquer maneira, mui-

to obrigada.

Norma desligou e continuou sua maratona de telefo-

nemas. Falou com mais de uma d��zia de amigas da filha,

da letra A at�� Z, e n��o teve nenhuma not��cia. L��gia n��o

aparecera em lugar algum e n��o havia mais para quem

telefonar.

��� E agora? ��� perguntou ao marido.

��� Bem, n��o nos resta mais nada a n��o ser esperar.

Joel foi para o quarto e tentou escrever. Mas por mais

que se concentrasse, n��o conseguiu. Sol��cita, Norma foi

para o seu lado. Nunca estivera numa situa����o t��o dra-

m��tica.

A mulher acendeu um cigarro e acompanhou Joel at��

a janela, para onde ele se dirigira. Soprava um vento mais

ou menos forte, que fazia com que as cortinas esvoa��assem.

Ela sentiu um medo estranho.

��� Era daqui desta janela que Ros��lia via o homem

que ia para o quarto da empregada e depois tornou-se seu

amante?

��� Deve ter sido ��� respondeu Joel.

Ela olhou as sombras do jardim e teve receio de avis-

tar um vulto correndo. Estremeceu:

��� Seu romance �� muito m��rbido.

��� Voc�� disse que tinha gostado.

��� Claro que gostei. Tanto, que fiquei impressionada.

118

Lado a lado, em sil��ncio, continuaram olhando as

sombras. Angustiados. Com estranhos pressentimentos.

��� Alguma coisa aconteceu a L��gia, tenho certeza.

��� N��o fale assim, Joel.

��� N��o h�� outra explica����o. Sabe que horas s��o?

Norma mentiu:

��� N��o.

��� J�� passam das d e z . . .

��� E se L��gia n��o chegar?

Os dois procuraram adquirir for��as para passarem a

noite em claro. O telefone tocou. Correram para atender.

Joel pegou no telefone primeiro.

��� Ser�� da pol��cia? ��� gritou Norma.

Era do hospital.

Joel informou que n��o havia not��cias da filha e do

motorista, e que a pol��cia j�� estava �� procura dos dois.

* * *

Helena colocava batom diante do espelho quebrado.

Carlinhos j�� dormia. Ela passara o dia inteiro pensando

em Alberto e em seu passado. Agora, aprontava-se para

dar uma volta pelas ruas da Lapa e da Cinel��ndia.

Acabou de se arrumar o melhor que p��de. Olhou mais

uma vez para o filho antes de sair. Apagou a luz e fechou

a porta do quarto. Atravessou o l��gubre corredor da casa

de c��modos. Alcan��ou a porta de sa��da.

A casa ficava no fim de uma ladeira, numa das ruas

da Lapa. Portanto n��o muito longe de Santa Teresa, onde

Alberto arranjara o emprego de motorista ao fugir do hos-

p��cio. N��o sabia que tinha estado t��o pr��ximo do noivo

que perdera h�� alguns anos.

119

Desceu a ladeira com seu sapato de saltos tortos. Tor-

ceu o p�� num buraco da cal��ada e soltou um palavr��o. O

tornozelo ficou doendo.

Chegou �� rua Riachuelo.

Seguiu pela Evaristo da Veiga em dire����o �� Cinel��n-

dia. Os bares estavam cheios. Perambulou por entre as me-

sas, passeou pela cal��ada, olhou os cartazes dos cinemas.

Diante de um, ficou olhando as fotos expostas do fil-

me que estava passando. Aqueles artistas t��o bonitos, que

nem pareciam gente de verdade. Por que uns tinham uma

vida t��o boa e outros viviam como ela?

O destino.

S�� podia ser o destino. Desta vez, na rua, em vez de

se culpar do que lhe acontecera, como o fizera durante o

dia, culpava o destino.

Quem, sen��o o destino, teria colocado em seu cami-

nho aquele "desgra��ado" que a seduzira?

Se seu sedutor n��o a tivesse conhecido, sua vida n��o

teria sofrido aquela reviravolta.

Na rua, sempre ficava um pouco menos triste. As lu-

zes, as pessoas que passavam. Distra��a-se, olhando um e

outro.

O destino fora o grande culpado.

As pessoas nascem com seu caminho tra��ado.

N��o se pode fugir disso.

Pelo menos, com toda sua ignor��ncia, na cabe��a de

Helena, como na de muita gente, o destino servia de bode

expiat��rio. Era mais simples, mais c��modo. Tirava todo um

peso de seus ombros cansados.

(Mas sabia que, ao voltar para o quarto, seu ponto

de vista mudava totalmente. Destino coisa nenhuma. Fal-

120

ta de vergonha. Isso sim. Se ela tivesse tido vergonha na

cara, n��o se entregaria ao primeiro que passasse. Poderia

ser cantada por dezenas de homens e resistir.)

Deu mais alguns passos.

Parou na porta de outro cinema.

(Os filmes que via aos s��bados �� noite, junto com Al-

berto. Agora mal tinha dinheiro para comer uma vez por

dia, quanto mais comprar o ingresso de um cinema.)

Atravessou a pra��a e foi para perto de um ponto de

��nibus. N��o que quisesse tomar alguma condu����o. Apenas

ningu��m a tinha olhado nas imedia����es dos bares e dos

cinemas e ela ia tentar a sorte no ponto de ��nibus, onde

havia v��rias pessoas.

Parou, como se tamb��m esperasse condu����o.

Um homem come��ou a olh��-la de cima a baixo.

Aproximou-se e pediu um cigarro. Ele tirou o ma��o do

bolso e deu-lhe um. Puxou conversa. Finalmente encon-

trar�� um "fregu��s". Poderia ganhar alguns trocados.

Mas o desconhecido a olhara por acaso, n��o estava a

fim de fazer nenhum programa. Um ��nibus parou e ele

despediu-se, tomando-o e seguindo seu caminho.

Helena voltou a andar sem destino. Subiu a Avenida

Rio Branco, parou em outros pontos de ��nibus. Tinha sem-

pre dificuldade de arranjar "fregueses". -

Talvez por causa de seu aspecto, que n��o era dos me-

lhores. Juntava-se a isso, o resto de timidez que ainda

mantinha, e tamb��m sua pouca sorte.

Tornou a pensar no destino e na sorte. Uns tinham

sorte. Ou n��o tinham? Por que tinha gente que s�� com

um cart��o da Loteria Esportiva fazia os treze pontos e fi-

121

cava milion��ria, enquanto outros jogaram a vida inteira

e n��o ganhavam nada?

A sorte existia.

O destino existia.

Ali estava ela, como um exemplo vivo.

E se de repente encontrasse Alberto? Se ele a visse

pelas ruas, procurando homem? Teve medo de que isso

fosse mesmo poss��vel. Afinal, Alberto fugira de um hos-

p��cio e andava �� solta por a��. Poderia dar de cara com ele

a qualquer momento.

Viu um homem de costas.

Estava a v��rios passos dela.

Achou parecid��ssimo com Alberto.

Voltou sobre seus pr��prios passos.

Tudo, menos encontrar Alberto de novo.

Ele seria capaz de mat��-la.

Parou um pouco adiante. Alguma coisa a puxava para

tr��s.

Virou-se e olhou.

O homem, ainda de costas, permanecia no mesmo

lugar.

E se fosse mesmo Alberto?

Uma for��a superior a fez voltar e seguir em dire����o

a ele;

Passaria e olharia para se certificar.

Alberto, se a visse, n��o a reconheceria.

Ela mudara muito.

Pelo menos, o veria outra vez.

Mas por que queria v��-lo?

Estava apenas a dois passos do homem.

O cora����o disparou.

122

Alcan��ou-o, passou e olhou com o canto dos olhos,

disfar��adamente.

Teve uma decep����o.

N��o era Alberto.

Ao mesmo tempo, sentiu-se aliviada.

Encaminhou-se para o Largo da Carioca, pegou a rua

Senador Dantas, novamente a Evaristo da Veiga e estava

na Lapa outra vez. Passou por baixo dos Arcos e em frente

a uma boate de travestis.

Viu alguns na cal��ada, figuras grotescas, caras muito

pintadas. A vida era realmente uma coisa muito depri-

mente.

Sentiu uma certa identifica����o com eles. Eram cole-

gas de infort��nio, tamb��m tinham uma vida sem sa��da.

Como ela.

No entanto, os "alegres" rapazes n��o pareciam ser

infelizes. Riam, davam gritinhos, corriam, gesticulavam.

Ela decidiu ir at�� uma boate na Avenida Mem de S��,

onde poderia achar finalmente algu��m com quem fazer

um programa e ganhar algum dinheiro.

Encontrou outras mulheres da mesma profiss��o. To-

das velhas conhecidas. Mara estava na porta da boate.

��� Hoje �� noite est�� fraca.

��� J�� esteve l�� dentro?

��� Tem meia d��zia de gatos pingados.

��� Ainda �� cedo.

��� Dia de semana �� assim mesmo.

Entrou na boate. Mara a acompanhou. Dois homens,

parecendo oper��rios, estavam sentados a uma mesa.

��� Vamos para junto deles ��� disse Mara.

123

��� Aproximaram-se com o sorriso profissional. Senta-

ram-se depois de uma troca de palavras.

Os dois pediram mais uma cerveja para elas.

* * *

Pela primeira vez em sua vida, Norma passou uma

noite em claro, sem ser numa festa ou divertindo-se.

Ela e Joel j�� haviam consumido muitas doses de u��s-

que e alguns ma��os de cigarros.

��� N��o tem como deixar de reconhecer. Aconteceu al-

guma coisa muito grave com L��gia.

��� E por que a pol��cia ainda n��o os encontrou?

Voltaram a ficar em sil��ncio.

Apenas o rel��gio repetia:

Tic-tac-tic-tac-tic-tac...

O ru��do do rel��gio enervava mais ainda Norma. Aque-

le tic-tac assumia propor����es enormes. Ela colocou as m��os

nos ouvidos num gesto de desespero.

��� N��o ag��ento mais.

��� Calma, Norma, temos que ter calma ��� falou Joel

tamborilando os dedos na pr��pria perna.

O dia amanheceu.

A pol��cia encontrou o autom��vel procurado, num pon-

to qualquer da Barra, perto da praia.

N��o havia ningu��m no carro.

As buscas continuaram.

Joel e Norma pensavam em duas hip��teses.

��� Ser�� que L��gia ainda est�� viva?

��� Talvez ele a tenha apenas raptado.

��� Mas por qu��?

124

��� Como se pode saber o que se passa na cabe��a de

um louco?

��� E se ele a matou?

��� N��o vamos pensar no pior.

Tony telefonou:

��� L��gia est��?

��� Quem est�� falando? ��� perguntou Joel.

��� �� o Tony.

��� Oi, Tony, como vai? L��gia desapareceu.

��� Desapareceu?

E Joel contou todo o drama.

Mais dois dias sem not��cias de L��gia. Nem do moto-

rista.

Norma olhou-se no espelho e viu que estava uma fi-

gura execr��vel. Dois dias quase sem dormir. Precisava rea-

gir. Terminaria enlouquecendo tamb��m, se continuasse da-

quele jeito.

Tomou tranq��ilizantes. Passou o resto do dia dormin-

do. Comeu qualquer coisa �� noite. Tomou mais tranq��ili-

zantes e adormeceu novamente.

Na manh�� seguinte, a situa����o continuava a mesma.

Ela tinha a impress��o de que tudo n��o passara de um

sonho. Ou melhor, de um pesadelo.

Se permanecesse trancada em casa, ao lado do tele-

fone, �� espera de alguma not��cia, iria direto para o Pinel.

O marido, pelo menos, distra��a-se no escrit��rio.

Tomou um banho demorado. Almo��ou. Foi at�� o ar-

m��rio e escolheu o vestido de que mais gostava. Vestiu-o.

Maquilou-se cuidadosamente. Seu aspecto melhorou bas-

tante.

125

N��o poderia entregar-se �� autodestrui����o. Mesmo por-

que isso! de nada adiantaria. Necessitava urgentemente de

uma v��lvula de escape.

Como estava sem motorista, saiu de casa e tomou um

t��xi. Disse ao chofer:

��� Leve-me na Barra.

Desta vez ia sozinha. N��o queria testemunhas. Todos

certamente a condenariam. At�� mesmo Sandra, que acon-

selharia logo uma consulta ao analista.

Mandou o t��xi parar no mesmo bar onde estivera com

a amiga no dia do desaparecimento de L��gia.

Olhou e n��o viu quem procurava.

Um pouco decepcionada, sentou-se em uma das mesas.

Se ao menos visse algum outro homem interessante

por a l i . . .

Mas havia apenas alguns garot��es, acompanhados com

suas respectivas gatinhas. Um senhor idoso com uma mu-

lher mais velha ainda.

O gar��om que a atendeu era um tipo interessante. Jo-

vem, com um ar honesto, simples, saud��vel. Mas estava

trabalhando, n��o poderia largar o servi��o e ir para um

hotel com ela.

Levou um susto, quando, minutos depois, ouviu uma

voz falando quase ao seu ouvido, por tr��s:

��� Est�� sozinha hoje?

Virou-se. Era justamente quem procurava. Rodrigo.

��� Oi!

Ele sentou-se sem cerim��nia. Vestia a mesma sunga.

��� Beber sozinho �� muito chato.

��� Eu sei.

126

��� Veio �� minha procura?

��� Vim.

��� Quem experimenta uma vez, n��o esquece mais.

Todas adoram repetir. Eu sabia que voc�� ia voltar. S u a

amiga n��o quis aparecer?

��� Sandra n��o sabe que eu vim.

��� E por que dividir com ela, o que pode ser s�� seu,

n��o ��?

Foram para o mesmo hotel. Por incr��vel que possa pa-

recer, Norma n��o se sentia desprez��vel.

��� Quanto vai me dar?

��� O que voc�� quiser.

Rodrigo viu que podia explorar �� vontade. Arriscou:

��� Cinco mil.

Como ela n��o concordasse imediatamente, ele acres-

centou:

��� Vou fazer voc�� gozar como nunca, de todas as mar

neiras que quiser.

��� Dinheiro n��o �� problema.

Rodrigo sorriu.

Norma j�� estava nua em cima da cama. O homem

come��ou a beijar-lhe os seios.

Passaram muitas horas no quarto. Rodrigo era quase

um rob�� er��tico. Penetrava em Norma disposto a gozar

quantas vezes ela desejasse...

* * *

Ao chegar em casa, Joel deu-lhe a not��cia com voz so-

turna:

��� Encontraram os corpos.

127

��� L��gia- est�� morta?

��� Est��. E o motorista tamb��m. Morreram afogados.

Ela apresentava sinais de viol��ncia. Foram encontrados

numa praia distante.

FIM

128







---------- Forwarded message ---------
De: Bons Amigos lançamentos <





O Grupo Bons Amigos em parceria  com o grupo  Solivros com sinopses  tem a satisfação de lançar hoje mais um livro digital para atender aos deficientes visuais.

Sexo e Loucura - Carlos Aquino


Livro doado por Leandro e digitalizado por Fernando José
Sinopse:
Sexo e Loucura. Até que ponto as duas coisas se entrelaçam e se confundem ?Carlos Aquino com sua imaginação prodigiosa, penetra  nos labirintos da mente humana.

Sobre o autor:   

 Escritor, jornalista e ator, Carlos Aquino nasceu em Sergipe, mas foi para o Rio de Janeiro ainda adolescente.Trabalhou em filmes e peças de teatro, mas finalmente descobriu que sua verdadeira vocação era escrever, passando a dedicar-se à literatura. Sua estréia foi com o romance: Verão no Rio em 1973. Com seu.estilo vigoroso e moderno, colocando sempre uma dose de verdade em seus personagens, ele  foi no século passado na década de 70 e 80  um dos escritores de mais prestigio junto ao público.  Detalhes sobre sua morte leia em : https://www.terra.com.br/istoegente/79/tributo/index.htm

 Lançamento  :

a)https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/solivroscomsinopses

b)http://groups.google.com.br/group/bons_amigos?hl=pt-br

Este e-book representa uma contribuição do grupo Bons Amigos  para aqueles que necessitam de obras digitais como é o caso dos deficientes visuais e como forma de acesso e divulgação para todos. 

É vedado o uso deste arquivo para auferir direta ou indiretamente benefícios financeiros. 
 Lembre-se de valorizar e reconhecer o trabalho do autor adquirindo suas obras .

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