OLHO MAGICO (4 s��ries)
Amarela ��� autor: Ricardo Veronese
Azul ��� autor: Bruno Altman
Verde ��� autor: Eduardo Rosso
Vermelha ��� autor: Marcelo Francis
KARINA (4 s��ries)
Amarela ��� autor: Ricardo Veronese
Azul ��� autor: Eliane Guerreiro
Verde ��� autor: Vic Lester
Vermelha ��� autor: Marcelo Francis
CORAL (4 s��ries)
Amarela ��� autor: C��lio Santana
Azul ��� autor: Eliane Guerreiro
Verde ��� autor: Eduardo Rosso
Vermelha ��� autor: Bruno Altman
SEXO E LOUCURA
Carlos Aquino
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CAPITULO 1
O MOTORISTA
Norma era uma mulher feia. De nada lhe adiantavam
todos os recursos modernos de embelezamento. Tratava-se
de um caso quase sem solu����o. No entanto, era milion��ria
e de bom grado daria tudo para ser t��o bonita quanto a
Elizabeth Taylor.
Por��m, agora aos quarenta anos de idade, estava bem
melhor do que na ��poca de sua mocidade. Sim, porque, na
adolesc��ncia, crescera demais, tinha muitas sardas, e n��o
se via sinal nem de seios nem de quadris. Isso numa ��poca
em que o tipo ideal de mulher era o de cintura fina, qua-
dris e bustos volumosos, coxas grossas, etc.
De fam��lia riqu��ssima, educada nos melhores col��gios,
sentia-se extremamente t��mida. Tinha vergonha at�� de sua
pr��pria sombra. E com raz��o, porque era motivo de de-
boche dos colegas, que n��o podiam conter os risinhos de
ironia quando a viam.
Tudo aquilo revoltava Norma. E ela come��ou ent��o a
lutar contra sua inibi����o e a desejar que lhe acontecesse
exatamente como na hist��ria do patinho feio que depois
se transformava num lindo cisne. Mas na vida real essas
coisas n��o acontecem, e Norma, quando muito, poderia
melhorar um pouco sua apar��ncia.
Ap��s o gin��sio, a idi��a de ficar menos feia tornou-se
uma obsess��o. E p��s m��os �� obra. Come��ou a freq��entar
aulas de gin��stica, academias de beleza, estudou postura,
modo de andar. Suas roupas eram escolhidas de modo a
lhe disfar��ar os in��meros defeitos.
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Mas o pior de tudo era que o rosto tamb��m n��o aju-
dava. O nariz enorme, encurvado, parecia mais um bico
de papagaio. Ainda n��o estava t��o difundida a pr��tica de
opera����es pl��sticas e Norma foi uma das pioneiras.
Um dos melhores cirurgi��es do g��nero fez o que p��de
com seu nariz. E, de fato, ele melhorou um pouco. Uma
viagem �� Europa e v��rios m��todos para curar a timidez
fizeram com que ficasse mais desinibida.
Contudo, dentro de si, permaneceu um certo rancor
do mundo e da humanidade em geral, reflexo das humi-
lha����es por que passara na inf��ncia e adolesc��ncia devido
ao seu f��sico.
Apesar de toda a pureza da inf��ncia, ou talvez por
isso mesmo, ningu��m mais cruel do que uma crian��a. Tudo
porque ainda n��o aprendeu a dissimular e esconder a ver-
dade.
Assim, ela tivera uma grande quantidade de apelidos,
que ora se referiam a seu nariz monstruoso, ora ao seu
corpo desajeitado ou a algum outro de seus muitos de-
feitos.
Mas aos dezenove anos de idade, Norma ficou noiva.
Era seu primeiro namorado. Sim, porque antes nunca con-
seguira nenhum. Nessa idade, j�� estava com seu novo na-
riz, vestia-se muito bem com roupas compradas em Paris,
vivia coberta de j��ias.
Mesmo assim, quando Joel come��ou a querer namo-
r��-la, n��o acreditou que estivesse apaixonado. Tinha cer-
teza absoluta de que queria casar-se com ela apenas por
causa de seu dinheiro.
E durante os vinte anos seguintes, at�� o momento
atual portanto, nunca lhe passara pela cabe��a outra coisa.
Joel n��o era propriamente um rapaz pobre. Pertencia
�� classe m��dia. Mas, ambicioso, vira em Norma, sua ascen-
s��o social. Ele, tamb��m, era bastante bonito. Todas as mo-
��as s�� faltavam enlouquecer de paix��o com a sua simples
presen��a.
Alto, forte, moreno de olhos verdes. O homem ideal
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para qualquer tipo de mulher. Mesmo a mais casta se en-
tregaria sem hesita����es, caso ele assim o quisesse.
Norma tamb��m n��o resistiu ao seu encanto. Embora
tendo certeza de que Joel n��o a amava, aceitou-o. Para
ela pouco importava que fosse ou n��o interesse da parte
do rapaz. O que importava era que seria dela. Iria usu-
fruir de uma coisa que a maioria de suas amigas n��o con-
seguiriam. Joel seria uma esp��cie de vingan��a. Por causa
do seu dinheiro ou n��o, pouco importava.
E assim, se casaram.
E podia-se dizer que fora um casamento muito, muito
feliz.
Pelo menos j�� estava durando vinte anos.
O pai de Norma deu-lhes como presente de casamento
uma mans��o em Santa Teresa, onde passaram a morar.
Tiveram uma ��nica filha, L��gia, agora com dezoito anos,
estudando na Inglaterra. Joel tornara-se um grande indus-
trial, vice-presidente de todas as empresas do pai de Norma.
Apesar de seus casos amorosos, era um bom marido.
Satisfazia plenamente a esposa na cama. Ali��s, sempre
fora conhecido entre os amigos de juventude como o cara
que topava tudo. Sa��a com qualquer mulher, por pior que
fosse o seu aspecto. Tinha um grande apetite sexual. N��o
lhe importava o inv��lucro. Contanto que ele gozasse, tudo
b e m . . .
Assim, n��o foi nenhum sacrif��cio ter-se casado com
Norma. Pelo contr��rio. Estava feliz da vida. Tinha uma
exist��ncia maravilhosa. Muito dinheiro, seguran��a, respei-
tado por todos, transava com as mulheres que queria, o
que n��o o impedia de tamb��m satisfazer a esposa. O que
podia querer mais na vida?
Tinha, evidentemente, o cuidado de que a esposa n��o
soubesse de suas aventuras fora do leito conjugal. Norma
n��o tinha do que reclamar. A qualquer hora da noite, ou
mesmo do dia, que tivesse vontade de ter Joel na cama,
ele vinha como um cachorrinho amoroso e fazia o ato per-
feito, sem nada reclamar.
7
A harmonia entre os dois era tanta, as ambi����es de
Joel haviam sido t��o bem satisfeitas, que ele apenas sentia
um certo t��dio.
Foi a�� que come��ou a se interessar pela literatura. Es-
creveu um conto er��tico. Que foi publicado numa revista.
Estimulado, passou a ler bastante e a escrever mais.
At�� que teve sua aten����o despertada por uma coisa
que at�� ent��o n��o se lembrara. Os antigos moradores
da mans��o onde residiam.
Ao atravessar certa vez o port��o que dava para o jar-
dim, ao ver a antiga fachada "art-nouveau", os grandes
sal��es, o por��o, uma esp��cie de torre que encimava o ca-
sar��o, tudo come��ou a agu��ar-lhe a curiosidade.
E iniciou suas pesquisas. Quando havia sido constru��-
da a mans��o, quem a constru��ra, os primeiros moradores,
etc. Cada vez mais fascinado, de pesquisa em pesquisa,
descobriu coisas incr��veis, muito mais interessantes do que
a princ��pio imaginara.
E come��ou o que achava que seria sua grande obra: um
romance. Os fatos mais nebulosos, ou o que n��o conseguira
descobrir, completava com a, imagina����o.
Norma n��o se interessava muito pelos escritos do ma-
rido. Mas, de certa forma, orgulhava-se deles. Afinal, tinha
em casa um escritor. E, na verdade, s�� podia mesmo orgu-
lhar-se.
Al��m de sua fortuna, de suas propriedades, de suas
j��ias, possu��a tamb��m um homem bonito e inteligente que
era seu h�� vinte anos. E que tamb��m tornara-se escritor.
Nos ��ltimos meses, Joel, mal chegava em casa, ia para
seu gabinete de trabalho e escrevia horas e horas, s�� in-
terrompendo o romance que estava elaborando quando Nor-
ma o chamava para a cama. A��, atendia o chamado e vi-
nha cumprir sua obriga����o.
A esposa num certo sentido, que n��o apenas o lite-
r��rio, estava contente com a nova ocupa����o do marido.
Escrevendo o tal livro com tanta dedica����o, era mais uma
prova de que, pelo menos, tinha menos tempo para tra��-la.
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Por��m, at�� o momento, n��o lera nada do romance que
estava sendo escrito. Certa noite, dissera a Joel, apenas
para agrad��-lo:
��� Gostaria de ler algum trecho do livro que est�� fa-
zendo.
��� Deixe ficar mais adiantado.
��� N��o quer me mostrar?
��� N��o �� isso, Norma, quero que veja quando estiver
pronto.
��� J�� se decidiu pelo t��tulo?
��� Ainda n��o.
E a conversa ficara a��, mesmo porque Norma falara
por falar. E n��o insistiu.
Naquela tarde, Norma preparou-se com todo o cuida-
do, como de costume. Estava sempre impec��vel em suas
apari����es p��blicas. Muito bem maquilada e penteada, des-
ceu os poucos degraus at�� o jardim e encaminhou-se para
o carro. Sebasti��o, o velho motorista da fam��lia (traba-
lhava para eles desde que Norma e Joel haviam se casado),
j�� estava a postos.
��� Leve-me em Ipanema ��� disse Norma.
E entrou no autom��vel.
Sa��ram pelas ruas tortuosas de Santa Teresa. Ela ia
a Ipanema fazer compras. Nada que necessitasse realmen-
te. Mas de vez em quando tinha como obriga����o visitar
algumas butiques. Comprava um len��o aqui, uma cal��a
ali, uma quinquilharia acol��.
Enquanto o carro rodava pelas ruas, em vez de obser-
var as pessoas ou o que se passava fora do autom��vel, Nor-
ma tinha os olhos fixos na nuca de Sebasti��o. E por um
momento, odiou-o...
J�� n��o suportava mais a presen��a do motorista. Es-
tava velho, cansado. Por que n��o se aposentava logo? Por
que cumpria t��o religiosamente o dever sem faltar um dia
sequer?
Quando Norma desejava liberdade, dispensava-o e di-
9
zia que estava com vontade de dirigir. Era justamente
quando tinha algum encontro com um de seus amantes.
Naqueles ��ltimos vinte anos, Sebasti��o s�� faltara ao
servi��o durante dois meses. Assim mesmo porque estivera
seriamente doente. E foram justamente naqueles sessenta
dias que Norma teve a maior aventura de sua vida.
Olhando a nuca do velho motorista, recordou que tudo
come��ara quando ela, sentada naquele mesmo autom��vel,
h�� cerca de oito anos, olhava fixamente para a nuca do
jovem motorista que substitu��ra Sebasti��o.
Hamilton devia ter seus dezoito anos. Quando saiu pela
primeira vez com ele, sentada no banco traseiro do carro,
fixou Os olhos na nuca do rapaz e de repente soltou uma
gargalhada.
Ele virou-se assustado e quase perdeu a dire����o. De-
pois, tornou a prestar aten����o no seu trabalho. Encabu-
lado, n��o perguntara o porqu�� da gargalhada.
Norma naquele momento tivera um pensamento que
n��o podia confessar ao jovem motorista. Comparara-o com
o velho Sebasti��o e imaginara ir para a cama com seu
substituto. Mas n��o podia revelar isso a Hamilton, logo
em seu primeiro dia de trabalho.
��� N��o quer saber por que eu ri?
��� Se a senhora quiser c o n t a r . . .
��� Me lembrei de uma coisa muito engra��ada.
Sil��ncio.
��� Voc�� �� amigo de Sebasti��o, n��o ��? ��� perguntou
Norma, apenas para continuar a conversa (claro que sabia
a resposta, uma vez que Hamilton fora recomendado pelo
velho motorista).
��� Ele �� amigo de meus pais.
��� J�� trabalhou como chofer antes?
��� N��o.
��� Mas dirige muito bem.
��� Desde garoto que gosto de dirigir. Meu pai tra-
balha numa oficina de carros.
��� Quantos anos voc�� tem?
10
��� Dezoito.
��� Est�� estudando?
��� N��o.
��� Por qu��?
��� Tenho que trabalhar.
��� H�� muita gente que trabalha e estuda.
��� Eu sei.
��� E por que n��o faz assim tamb��m?
��� Acho que sou um pouco burro.
Norma voltou a rir:
��� Voc�� parece n��o fazer um bom conceito a respeito
de si mesmo.
Foi assim que come��ou uma certa cumplicidade entre
os dois. Diariamente, Norma sa��a com ele, por este ou
aquele motivo. Ao fim de quinze dias, j�� estavam menos
cerimoniosos.
��� Voc�� tem alguma garota?
��� Qual o rapaz que n��o tem?
��� Gosta dela?
��� N��o sei.
��� Como n��o sabe?
��� B e m . . . acho que ela �� bacana.
��� S�� isso?
��� S��.
��� Tem certeza de que n��o est�� apaixonado?
��� Nunca vou me apaixonar por ningu��m.
��� Como sabe disso?
��� N��o sou dessas coisas. N��o me apego a nada.
��� �� bom ser assim.
��� ��.
As sa��das di��rias continuavam. Ao voltar da casa de
uma amiga, a quem tinha ido visitar, Norma, em vez de
sentar no banco traseiro do autom��vel, entrou na frente
e ficou ao lado do chofer. Fez tudo com muita naturali-
dade.
Enquanto dirigia, Hamilton de vez em quando olha-
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va-a com o canto dos olhos. Norma viu que n��o podia mais
adiar a sua inten����o de fazer sexo com o rapaz.
Andava nervosa, insatisfeita, e sabia que o motivo era
seu desejo irrealizado. Se n��o tomasse a iniciativa, nada
aconteceria entre os dois. E de repente, Sebasti��o poderia
ficar s��o e ela perderia aquela oportunidade.
Nada de ruim poderia lhe acontecer. Por que compli-
car as coisas? O rapaz n��o se negaria a satisfaze-la e n��o
teria coragem de contar a ningu��m. E se na pior das hi-
p��teses revelasse alguma coisa, ela diria que era mentira
e ele seria despedido. Simplesmente isso.
Chegou mais para perto. Come��ou a movimentar os
dedos na pr��pria coxa. Olhou-o sorridente.
��� Voc�� �� bonito.
Ele n��o disse nada.
��� N��o ouviu o que falei?
��� Ouvi, sim, senhora.
��� As garotas n��o costumam dizer que voc�� �� bonito?
��� ��s vezes.
��� Voc�� parece ser muito modesto.
Ela segurou-lhe a perna, num gesto repentino. Ele
continuou olhando firme para a frente, como se nada ti-
vesse acontecido.
��� Que horas s��o?
Hamilton olhou o rel��gio.
��� Quatro horas.
��� Ainda est�� c e d o . . .
Novamente ele ficou em sil��ncio. Claro que j�� com-
preendera tudo. Afinal, n��o era t��o burro assim. Norma
olhou para o rapaz e notou que estava excitado.
A resposta muda de Hamilton n��o podia ser mais elo-
q��ente. Se j�� estava excitado logo ap��s ela ter-lhe segurado
na perna, era porque a desejava. Podia seguir em frente.
E assim permaneceu por alguns instantes, com a maior
naturalidade, sem olh��-lo. Depois procurou abrir-lhe a bra-
guilha e colocou a m��o por dentro.
��� Acho que n��o vamos para casa.
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��� Aonde a senhora quer ir?
��� A um hotel.
* * *
Entraram no hotel. Antes, Norma dera a Hamilton o
dinheiro suficiente para fazer o pagamento.
No quarto, ele tinha o ar meio deslumbrado. Nunca
freq��entara antes um lugar daqueles. Norma adivinhou-lhe
o pensamento:
��� Voc�� nunca esteve num hotel assim, n��o ��?
��� N��o.
��� Aonde costuma levar suas garotas?
��� A lugar nenhum.
��� N��o entendi.
��� A gente arruma um canto escuro, de madrugada.
��� Ah, j�� s e i ! . . . Deve ser bem excitante.
��� Aqui �� melhor.
��� Ser��?
Ela abra��ou-o. Beijou aquele rosto quase imberbe. Ha-
milton continuava meio encabulado.
��� Fa��a de conta que sou uma de suas garotas.
��� �� dif��cil.
Norma por um momento ficou sem saber se aquilo
era uma ofensa. O que o rapaz quisera dizer? Que ela era
velha? Que as mulheres com quem costumava fazer sexo
eram mais bonitas?
Mas viu, pela atitude do rapaz, que n��o era nada disso.
Ele permanecia t��mido. O que queria dizer, sem d��vida,
era que se tornava dif��cil trat��-la como uma mulher co-
mum, quando na verdade tratava-se de sua patroa.
Tirou-lhe a roupa. Deitou-se na cama, ainda, vestida,
e ficou observando-o nu, em p��, sem saber o que fazer.
Assim, sem roupa, Hamilton ainda lhe parecia mais bo-
nito.
Norma chamou:
��� N��o vem se deitar?
O jovem obedeceu.
13
Ela tirou a pr��pria blusa e beijou-o. Em seguida, le-
vantou-se e despiu o resto da roupa.
Voltou para a cama e come��ou a masturb��-lo. Hamil-
ton, excitado, perdeu a timidez e colou os l��bios em um
de seus seios. Norma sentiu uma imensa ternura.
Em breve ele a penetrava, cheio de ardor. Aquele ar-
dor t��o pr��prio da juventude. Norma sentiu-se contagiar
pelo mesmo sentimento. Imaginou-se t��o jovem quanto
Hamilton. Era como se tivesse voltado aos dezoito anos.
Mais um movimento dele dentro de sua carne.
O c l �� m a x . . .
* * *
��� Est�� muito cansada?
��� N��o. Por qu��?
��� Se importa se a gente fizer outra vez?
��� Claro que n��o.
E repetiram t u d o . . .
* * *
De volta para a velha mans��o de Santa Teresa, n��o
tocaram no assunto. A atitude dele permaneceu a mesma
de antes de t��-la possu��do. Fora daquele quarto de hotel,
Norma tornava a ser a patroa e ele o empregado.
Repetiram v��rias vezes as idas ao hotel. At�� que che-
gou a v��spera do dia em que Sebasti��o, recuperado, reassu-
miria seu posto. E Norma teve raiva de seu antigo moto-
rista.
Mas, pensando melhor, achou que era melhor assim.
Mais algum tempo e ela estaria enjoada daqueles encon-
tros. Viraria rotina. De rotina bastava o marido.
Era como um espet��culo que, por melhor que fosse,
sempre seria conveniente que terminasse deixando os es-
pectadores querendo mais. Se fosse muito demorado, ter-
minaria cansando.
14
��� Amanh�� vou embora.
��� �� uma pena.
��� Foi muito bom trabalhar para a senhora.
��� Voc�� �� um ��timo chofer. N��o vai ter dificuldades
em arranjar outro lugar.
��� Talvez a senhora nunca mais me v e j a . . .
��� Por qu��? Vai sair do Rio?
��� N��o.
Norma resolveu mudar de assunto:
��� Como �� mesmo o nome de sua garota?
��� Ana.
��� Ela �� bonita?
��� Mais ou menos.
��� Voc��s costumam fazer sexo sempre?
��� N��s n��o fazemos t u d o . . .
��� N��o?! ��� surpreendeu-se Norma.
��� Ela �� virgem.
��� Ah, entendo!... Ou melhor, n��o entendo. Como
compreender uma jovem ter voc�� �� disposi����o e continuar
virgem?
��� Pra senhora v e r . . .
��� Diga que ela �� uma tola.
��� J�� disse.
��� E ela?
��� N��o deixa eu botar de jeito nenhum.
��� O que voc��s fazem ent��o?
Hamilton co��ou a cabe��a, novamente encabulado:
��� Posso dizer?
��� N��o estou perguntando?
��� A gente se esfrega, ela deixa botar nas coxas e
t a m b �� m . . .
��� E tamb��m o qu��?
��� �� chato falar isso.
��� N��o tem confian��a em mim?
��� �� que �� dif��cil de explicar.
��� J�� sei. Ela deixa que voc�� fa��a tudo, menos o que
n��s fizemos, n��o �� isso?
15
Norma riu.
E Hamilton foi embora no dia seguinte.
Realmente, nunca mais o viu.
* * *
Norma permanecia olhando para a nuca de Sebasti��o.
Por que ele n��o adoecia de novo? Precisava arranjar outro
motorista legal como o Hamilton.
Achou a id��ia engra��ada. E deu uma gargalhada. O
velho chofer virou-se surpreso.
Ela continuou rindo.
Sebasti��o nada entendeu.
16
CAPITULO 2
O MARIDO
Ao chegar em casa, tinha uma carta de L��gia, que
estava estudando em Londres. Norma abriu-a sem muito
interesse. A filha anunciava sua volta para o fim do m��s.
Contava algumas coisas a respeito de seus estudos, man-
dava perguntar por alguns amigos.
Joel chegou do trabalho. Sentaram-se �� mesa para
jantar. Depois Norma ligou a televis��o. O marido ficou um
pouco ao seu lado.
��� Como est�� o livro?
��� Bastante adiantado.
��� Quando vai deixar que eu leia?
��� Est�� mesmo com vontade de ler?
��� Claro.
Ele ficou satisfeito com o interesse da mulher:
��� Voc�� n��o se interessa muito por literatura...
��� N��o sou fan��tica, mas sinto interesse como uma
pessoa comum.
��� Faltam duas p��ginas para acabar a primeira par-
te. Enquanto voc�� assiste ��s novelas, vou acabar de es-
crever e lhe entregar.
Joel retirou-se para seu escrit��rio.
Antes de come��ar a escrever, acendeu um cigarro e
caminhou at�� a janela.
Fora exatamente naquela janela que Ros��lia vira Os-
valdo pela primeira vez. Ele prestou aten����o no jardim,
procurando encontrar alguma coisa entre as sombras. Mas
n��o viu nada al��m das sombras.
17
R o s �� l i a . . .
C l �� u d i o . . .
O s v a l d o . . .
Os principais personagens da primeira parte de seu
romance. Ah, e tinha Esmeralda tamb��m! A bela Esme-
ralda, com sua pele escura e quente. Lembrou-se de uma
pretinha de quinze anos, que trabalhara em sua casa. Como
era mesmo seu nome? Marta.
Por��m Marta n��o tinha a sensualidade de Esmeralda.
Marta era apenas uma adolescente fogosa, com quem tinha
transado. N��o costumava dar muita aten����o ��s criadas.
Mas Marta fizera tudo para ir para a cama com ele. Quan-
do Norma viajara a Paris para passar um m��s l��, a cria-
dinha n��o podia se conter e tentava-o de todas as ma-
neiras.
Andava rebolando pela casa, lan��ando-lhe olhares.
Uma noite estava dormindo e sentiu como se uma
m��o lhe alisasse o corpo. Julgou que estava sonhando. E
a m��o continuou a lhe alisar, apalpando-lhe todas as par-
tes do corpo.
Ele abriu os olhos.
N��o estava sonhando.
Marta, sentada na cama, abra��ava-se a ele.
Olhou-a.
Ela sorriu.
Como era ousada!
E se ele a despedisse?
Mas Marta arriscara.
E ele n��o a despedira.
Ela abaixou o rosto, abrindo a boca que parecia que-
rer devor��-lo.
Ficou im��vel, deixando que Marta completasse seu
ato.
E g o z o u . . .
Todas as noites, durante toda a temporada de Norma
em Paris, Marta foi ao seu quarto. Transaram muitas
vezes.
18
Norma voltou.
Marta n��o apareceu mais no quarto, evidentemente.
Pouco tempo depois, deixou de trabalhar em sua casa.
Encontrou-a uma vez na rua. Ele vinha de carro,
quando a avistou com um cara. Ela o viu e, sorridente,
acenou-lhe com a m��o. Usava muita maquilagem e se ves-
tia com espalhafato.
Depois, n��o a vira mais.
Joel permanecia na janela, olhando as sombras do
jardim. Pela sua mente passaram outros casos que tivera.
Muitos. Muitos mesmo. Sempre dera sorte com as mu-
lheres.
Tamb��m n��o costumava escolher muito. Ca��a na rede,
era peixe. Desde os tempos de gin��sio, ficara famoso por
seu apetite sexual desenfreado. Mulheres horr��veis. Cada
uma que levava para a cama era, para ele, como se fosse
a pr��pria Marilyn Monroe.
��� N��o sei como voc�� c o n s e g u e . . . ��� diziam-lhe os
amigos.
��� Comigo �� s�� abrir as pernas. Quando a cara ��
muito feia, eu apago a luz. Ou boto o travesseiro em c i m a . . .
Lembrava-se particularmente de Palmira, uma soltei-
rona. Muito religiosa, tinha a pele do rosto toda esbura-
cada e com espinhas, um horror. O corpo era despropor-
cional, sem seios, os quadris enormes, as pernas grossas'
demais. Vestia-se com muito pudor, sempre de mangas
compridas e gola alta.
Morava perto de sua casa.
Um vizinho, seu companheiro de inf��ncia, desafiou-o:
��� Duvido que voc�� consiga dormir com Palmira.
��� Quanto quer apostar?
��� Meu rel��gio. Se voc�� perder, me d�� o seu.
��� Combinado.
A partir deste dia, Joel come��ou a rondar a velha sol-
teirona. Palmira devia andar pela casa dos cinq��enta anos.
Joel estava com vinte. Quando ela passava, ficava olhan-
19
do-a firmemente. A mulher baixava a vista e fazia que n��o
tinha notado. Mas por dentro estremecia dos p��s �� ca-
be��a.
Joel tinha plena consci��ncia de que era um rapaz bo-
nito. Muito bonito mesmo. E irresist��vel. E bastante macho.
Aos poucos dava a entender com atitudes variadas que
estava interessado em Palmira. Todas as vezes que ela pas-
sava, de volta de seu emprego (era funcion��ria p��blica),
ele a provocava com gestos libidinosos, a princ��pio de leve,
como se fosse sem querer. Depois come��ou a fazer acin-
tosamente.
Palmira seguia seu caminho, trocando as pernas e
suando frio.
Pensava:
Que descarado!
N��o ag��ento mais este moleque!
�� o fim do mundo!
Um garoto dessa idade e j�� t��o sem-vergonha!
Em que mundo estamos!
Est��o todos perdidos.
O que ele est�� pensando?
E o que est�� querendo?
Os pensamentos e as perguntas ��ntimas se sucediam
na mente de Palmira vertiginosamente, deixando-a cada
vez mais confusa e aflita.
��� Se ao menos eu tivesse outro caminho para voltar
para casa! N��o suporto mais ver aquele sujeitinho fazendo
aqueles gestos obscenos. Vou terminar louca! Louca!
E durante a noite, pensava que realmente ia enlou-
quecer. Suava. Sentia-se mal. Um calor percorria-lhe o
corpo. N��o, n��o podia ser. Ela n��o tinha aquele tipo de
desejo. Ela era pura. Iria manter-se pura at�� o final de
sua exist��ncia.
N��o seria com aquela idade, depois de tanto preservar
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sua dignidade (ela quase que pensava virgindade), que
ia cair, deixar-se levar pelo pecado. Sim, ela n��o podia
dizer "virgindade", pelo simples fato de que n��o era virgem. Quando lembrava-se disso, um violento arrependi-
mento tomava conta de todo o seu ser.
E agora vinha aquele jovem tentando-a, tentando-a
sem parar. Que horror!
Ca��ra uma vez, era verdade, mas n��o cairia de novo.
Naquela ��poca, quando conhecera S��lvio, era jovem. (Nem
tanto, pois j�� tinha feito trinta anos.)
Fora uma loucura. Ele abusara de sua fraqueza, de
sua confian��a, de sua fragilidade de mulher. S��lvio a en-
ganara. Haviam come��ado a namorar na reparti����o. Ele
sempre muito gentil, muito atencioso. Faziam lanche jun-
tos. Almo��avam juntos. E sa��am do trabalho juntos.
Ele a pedira em casamento.
Ficaram noivos oficialmente.
Ele passara a freq��entar-lhe o apartamento.
Ela era uma mulher sozinha. Relutara bastante que
fosse at�� sua casa. Mas S��lvio tinha tudo de um homem
honesto. Com quarenta anos, solteir��o, de ��culos, palet�� e
gravata.
Como duvidar das inten����es de um homem assim?
E ela n��o duvidara. Confiara. At�� certo ponto, �� ver-
dade, mas confiara. A ponto de t��-lo deixado entrar em
seu apartamento.
S��lvio passou a tomar ch�� com Palmira todos os dias.
N��o passava disso. Pegava-lhe na m��o. Beijava-a. Tam-
b��m nas m��os. Depois, um ligeiro beijo na face.
At�� que um d i a . . .
N��o, n��o suportava pensar naquele dia.
S��lvio beijou-a na boca.
Afinal, n��o tinha nada demais.
Eram noivos.
De alian��a e tudo.
Com o nome dele e a inscri����o da data do noivado.
21
Um simples beijo.
N��o podia fazer mal a ningu��m.
O simples beijo, da segunda vez, foi seguido de um
leve ro��ar da m��o do homem em seu seio.
Pensou que n��o fora proposital.
Na vez seguinte, ele apertara-lhe o seio.
Ela pensou que ia desmaiar.
Mas n��o desmaiou.
S��lvio continuou apertando-lhe os seios, agora com so-
freguid��o.
Ela perdeu o ju��zo. S�� podia admitir que fora um mo-
mento s��bito de loucura. N��o sabia direito como tinha
acontecido. E j�� estava em sua cama, de len����is alv��ssimos
e cheirosos. Com ele por cima.
Mas S��lvio n��o tirara a roupa.
Nem ela.
N��o havia um perigo maior.
Nem vira quando ele come��ou a tirar as cal��as.
Se tivesse visto, teria se defendido.
As m��os do homem em suas coxas, levantando-lhe a
saia.
Puxando-lhe as calcinhas.
Tudo aconteceu muito r��pido.
Contorceu-se. Quis evitar.
Mas era tarde demais.
S��lvio enfiava-se furiosamente.
Uma dor horr��vel.
Que dor!
N��o, S��lvio, n��o!
Mas ele j�� estava l�� dentro.
E ela tamb��m.
Arrumaram-se. Ela ajeitou o vestido. N��o ousava
olh��-lo.
Ele despediu-se.
No dia seguinte, no emprego, voltaram a se encontrar.
Palmira esperou ansiosamente a hora do almo��o.
Procurou falar-lhe a s��s.
22
��� Precisamos marcar o casamento.
��� Por que tanta pressa?
��� Depois do que aconteceu o n t e m . . .
��� Ora, Palmira, n��o tem confian��a em mim?
��� Se n��o tivesse, n��o teria deixado.
��� Ent��o?
��� Quando a gente vai se casar?
��� Quando voc�� menos esperar.
E S��lvio a possuiu mais uma vez.
E outra.
E outra.
Ela tinha contado.
Vinte vezes num m��s.
No m��s seguinte, foi diminuindo.
Tr��s vezes por semana.
Depois duas.
Depois uma.
E Silvio n��o mais falou em casamento.
��� Quando a gente vai se casar, S��lvio?
��� Por que voc�� s�� fala nisso?
��� H�� muito tempo que n��o falo.
Ele se fez de zangado:
��� Se est�� t��o chateada por que ainda n��o casamos,
ent��o se afaste de mim.
��� Eu n��o e s t o u . . .
��� Est�� bem, Palmira, chega de lenga-lenga. �� me-
lhor acabarmos tudo.
E assim terminou o noivado.
Ela fora enganada de maneira vil.
Perdera a honra e o futuro marido.
E agora, duas dezenas de anos depois (ela n��o esti-
vera na cama com nenhum outro homem), mais precisa-
mente vinte e dois anos depois, aquele jovem a acom-
panh��-la, a fazer aqueles gestos. Nunca mais queria ho-
mem algum. Tivera apenas o S��lvio. O que n��o queria di-
zer que fosse uma "qualquer".
Mas Joel precisava ganhar a aposta. N��o propriamen-
23
te por causa do rel��gio. O rel��gio pouco interessava. O
que importava era mostrar que ele era o "bom".
��� Como vai?
Palmira n��o respondeu.
��� Por que tanto orgulho?
Ela continuou calada.
��� Somos vizinhos h�� tanto t e m p o . . . N��o vejo ne-
nhum mal em falar comigo.
Ela finalmente respondeu:
��� O que est�� querendo?
��� Apenas lhe cumprimentar.
��� S�� isso?
��� Que mais eu poderia querer? ��� respondeu Joel, fa-
zendo gestos obscenos, que Palmira tanto odiava e que
tanto a atra��am ao mesmo tempo.
Ela virou-se e n��o lhe deu mais aten����o.
��� Ent��o, n��o conseguiu nada ainda? ��� perguntou-
lhe mais tarde, com ar de tro��a, o amigo com quem apos-
tara.
��� Preciso de um pouco de tempo.
��� Est�� dif��cil, n��o ��? Voc�� n��o vai conseguir.
��� Vou ��� disse Joel com determina����o.
Uma noite de s��bado, entrou no edif��cio onde Palmira
morava e tocou-lhe a campainha do apartamento (infor-
mara-se primeiro com o porteiro).
Ainda era cedo, Palmira abriu a porta julgando que
fosse o s��ndico que ��s vezes passava para contar alguma
novidade. N��o era. Era o jovem t��o temido.
��� Voc��?!
��� Em carne e osso.
��� O que veio fazer?
��� Bater um papo.
��� Eu tenho mais em que me ocupar.
��� Numa noite de s��bado?
(Palmira n��o tinha absolutamente nada para fazer,
a n��o ser ler um livro muito chato, intermin��vel.)
��� Por que est�� me perseguindo?
24
��� Eu?!
��� Voc��, sim.
��� N��o me convida para entrar?
Palmira bateu-lhe a porta na cara.
Ficou com o ouvido colado por tr��s da porta, a fim
de escutar os passos do jovem se afastando. Mas tal n��o
aconteceu. Tudo permanecia em sil��ncio. Ela ardia como
se tivessem riscado um f��sforo em seu vestido. O cora����o
parecia querer saltar-lhe pela boca.
Aquele rapaz era o pr��prio dem��nio. Tentando-a. De-
via ainda estar atr��s daquela porta. Apenas um peda��o,
de madeira separava os dois corpos.
Desistiu de esperar ouvir os seus passos afastando-se.
Encaminhou-se at�� a sala do apartamento. Tremia. Pegou
um copo e colocou um pouco de vinho. Ainda n��o jantara.
O vinho era para acompanhar o jantar. Mas precisava to-
mar alguma coisa para passar aquele tremor.
Bebeu o conte��do do copo. E encheu-o outra vez.
O est��mago vazio. O efeito do vinho foi r��pido. Sen-
tiu-se melhor. E com mais coragem.
Tomou outro copo de vinho.
Pensou que, se continuasse, beberia a garrafa inteira
antes do jantar.
Deviam ter passado uns cinco minutos. Certamente o
jovem tinha ido embora. Foi at�� a porta. Observou pelo
olho m��gico. N��o o viu. Abriu a porta. Com surpresa,
avistou-o mais adiante no corredor, esperando-a...
Hesitou.
O jovem tornou a aproximar-se.
��� Por que tem tanto medo de mim?
��� N��o tenho medo de ningu��m.
��� Ent��o?
��� Voc�� mora aqui perto, n��o ��?
��� Moro. J�� disse que sou quase seu vizinho.
Aquele rapaz a excitava. Palmira teve que se contro-
lar, a fim de que n��o fizesse o que realmente tinha von-
tade, ou seja, abra����-lo.
25
��� Por que voc�� se reprime tanto? Deixe-me entrar.
S�� um pouquinho...
E Joel n��o esperou que ela o convidasse. Como a porta
estava aberta, afastou-a e entrou no apartamento. Pal-
mira permanecia im��vel, sem a����o. Ele fechou a porta e
a envolveu num forte abra��o.
Tudo aconteceu com a rapidez de um rel��mpago, ou
de um del��rio. Nunca poderia explicar como foi parar na
cama, nua, com o rapaz tamb��m nu, por cima.
Palmira pensou que ia enlouquecer.
Aquele rapaz machucando-a.
A dor, o prazer, o del��rio.
Sentia como se estivesse no c��u e no inferno ao mes-
mo tempo.
Joel gozou e logo a seguir se desvencilhou da soltei-
rona extenuada. Levantou-se, vestiu-se rapidamente e saiu,
n��o se dando ao trabalho de fechar a porta do aparta-
mento.
Palmira deixou-se ficar na cama, em desespero. Quis
reanimar o corpo dolorido, mas n��o conseguiu. Teve uma
crise de choro. O choro aumentou e quase gritava. De re-
pente, tomou consci��ncia de que os vizinhos podiam ouvir.
Sufocou os solu��os quase imediatamente.
S�� ent��o raciocinou melhor. Estava nua em cima da
cama. O jovem demon��aco fora embora. A porta devia es-
tar aberta. Como se tivessem ligado nela um bot��o el��-
trico, pulou da cama e vestiu-se ��s pressas. Correu para
fechar a porta. Deu de cara, n��o com Joel, mas com dona
Alzira, a vizinha do lado.
��� Que horror, Palmira!
��� Por que esse espanto todo?
��� Voc�� foi assaltada?
��� N��o.
��� Acho que ouvi gemidos, gritos e choros.
��� Foi impress��o.
��� Parecia vir daqui do seu apartamento. Por isso
vim ver o que se passava.
26
Palmira olhou disfar��adamente para o corredor, com
receio de que o rapaz com quem acabara de ir para a cama
ainda estivesse por ali. Mas n��o estava. Suspirou aliviada.
��� Foi engano seu, Alzira.
��� Mas sua c a r a . . .
��� O que �� que tem minha cara?
��� E seu vestido?
Palmira olhou para si mesma e viu com terror que
sua roupa estava pelo avesso. A vizinha no m��nimo pen-
saria que ela ficara maluca.
��� Tive um pesadelo.
��� J�� sei. Comeu demais no jantar e foi logo se deitar.
Palmira esbo��ou um sorriso:
��� Isso mesmo.
��� N��o devia fazer isso, Palmira. Faz mal.
��� Eu sei.
��� Quando acabar de jantar, por que n��o vai at�� meu
apartamento? Pelo menos anda um pouco, conversa, faz
a digest��o.
��� Vou seguir seu conselho.
��� E por que a porta estava aberta? ��� perguntou a
vizinha novamente curiosa.
��� Eu tinha esquecido.
��� Outra coisa perigosa.
��� �� verdade.
��� Podia ter entrado um ladr��o.
��� �� . . .
��� Voc�� nunca deixou a porta aberta.
��� Nunca.
��� Voc�� est�� passando mal. Meu Deus, Palmira, voc��
est�� passando mal e n��o quer dizer.
��� N��o �� nada, Alzira. Pode ficar despreocupada. J��
estou melhor.
(A solteirona estava ansiosa que a vizinha sumisse.
Odiava sua solicitude. Mas n��o podia enxot��-la.)
��� Se precisar de alguma coisa durante a noite, �� s��
chamar.
27
��� Muito obrigada.
E a outra foi embora. Palmira fechou a porta. Suspi-
r o u . Estava livre da vizinha. Mas n��o estava livre da lem-
bran��a do que acontecera h�� poucos instantes. Encostou-se
na parede, procurando apoio.
Tinha sido terr��vel. Aquele animal, sim, porque n��o
era um homem, aquele animal a ferira mortalmente. Nun-
ca mais se recuperaria, nunca mais se recuperaria...
N��o jantou naquela noite. Tomou um comprimido para
dormir, mesmo sabendo que poderia fazer mal, misturado
com o vinho que bebera. Mas nada lhe importava. Talvez
a t �� . . . talvez at�� fosse melhor n��o acordar m a i s . . .
* * *
Joel correra at�� a esquina onde encontrara o amigo
com o qual apostara. Tinha ganho. Acabara de ir para
a cama com Palmira. O outro vira quando ele entrara no
apartamento da solteirona (fora at�� o corredor e escon-
dera-se perto da lixeira) e n��o podia duvidar. Al��m disso,
Joel trazia a calcinha da mulher como prova.
N��o havia como contestar que Joel era invenc��vel,
ningu��m, mas ningu��m mesmo, lhe resistia.
* * *
Por��m, no dia seguinte, Palmira acordou. Foi quando
deu por falta de sua calcinha. Procurou embaixo da cama,
do arm��rio, dos m��veis. Por todos os cantos e nada. Onde
estaria sua calcinha?
N��o costumava perder nada. Sem d��vida, fora aquele
bandido que a carregara.
Nas noites seguintes, no entanto, sonhava sempre com
Joel. Ele a agarrando, ele a penetrando, ele batendo-lhe.
E acordava louca de desejo.
"Ah, Joel, por que foi fazer isso comigo? E ainda por
cima me deixando com vontade de repetir tudo de novo?"
28
Esperava ansiosamente encontr��-lo outra vez. Mas Joel
sumira. Como todos os homens, ap��s conseguir o que
queria.
Deixava a porta apenas encostada, escutando atenta-
mente se vinham passos pelo corredor. Deixaria que Joel
entrasse. Mas o rapaz era mesmo ingrato.
Nunca mais apareceu.
* * *
Joel saiu da janela e sentou-se junto �� m��quina de
escrever. Sentia-se inspirado. Acabaria as duas p��ginas que
faltavam para terminar a primeira parte do romance em
pouco mais de meia hora.
Assim que terminou, chamou:
��� Norma!
A esposa apareceu alguns instantes depois.
Ele entregou-lhe os originais:
��� Est�� mesmo disposta a ler?
��� Mas claro, Joel.
E Norma pegou as p��ginas de papel datilografadas.
Voltou para a sala, recostou-se confortavelmente na pol-
trona e come��ou a ler.
29
CAP��TULO 3
O ROMANCE
"Cl��udio e Ros��lia transpuseram o port��o de ferro da
mans��o. Atravessaram o jardim at�� chegar junto aos de-
graus que levavam ao interior da casa. Ele parou de s��-
bito. Ros��lia olhou-o.
��� O que foi?
Cl��udio sorriu.
��� N��o quer entrar? ��� perguntou a jovem meio per-
turbada.
O rapaz abaixou-se e tomou-a nos bra��os. Ros��lia sor-
riu. Exatamente como nos filmes. Ela entrando na mans��o
nos bra��os do homem que ia amar pelo resto da vida.
Ele subiu os degraus, deu dois passos e teve que co-
loc��-la no ch��o outra vez. Tirou a chave do bolso e abriu
a porta. Tornou a bot��-la nos bra��os e entrou.
Beijaram-se longamente.
Ros��lia sentia-se indefesa, fr��gil. Tinha deixado para
tr��s a festa na casa dos pais, os convidados, a alegria, o
champanha estourando, as m��sicas, as vozes das pessoas
falando todas ao mesmo tempo.
Agora estava ali, sozinha com aquele que dentro de
alguns instantes seria o seu homem, seu primeiro e ��nico
homem. Tremia de curiosidade, de desejo.
��� Enfim, s��s!
Os conselhos da m��e, os risinhos maliciosos das ami-
gas, as longas tardes e noites esperando que aquele dia
chegasse logo. Os sonhos de mocinha que lia romances
��gua-com-a����car. O pr��ncipe encantado.
30
��� Enfim, s��s!
Tinha realmente encontrado um verdadeiro pr��ncipe
encantado. Cl��udio era bonito. Com seus enormes olhos
negros, pestanas compridas, e aquelas olheiras que lhe da-
vam um ar t��o misterioso.
��� Enfim, s��s!
Aquelas olheiras deviam ser resultado das noites em
claro que passava nos bord��is com mulheres. Ros��lia sen-
tiu um arrepio ao pensar. Aquelas mulheres. Estremeceu.
Como podia um homem dormir com qualquer mulher?
��� Enfim, s��s!
Os homens, ah, os homens! Sua m��e repetia: "Os ho-
mens n��o s��o como n��s mulheres, minha filha. Eles s��o
diferentes. V��o para a cama com qualquer uma. Eles n��o
t��m nojo de nada. N��s, n��o."
��� Enfim, s��s!
Ros��lia n��o poderia nem imaginar que pudesse ser
possu��da por um homem qualquer. Tinha que haver amor,
muito amor. Tudo muito suave, muito bonito. O para��so
na terra. Era isso que esperava de Cl��udio.
��� Enfim, s��s!
Sentiu a l��ngua dele procurando a sua. Nunca tinham
se beijado assim antes. Achou gostoso. A m��o de Cl��udio
procurando-lhe abrir o vestido para pegar em seus seios.
��� Cuidado, Cl��udio.
��� Cuidado por que? N��o estamos casados?
��� Os c r i a d o s . . .
��� Vamos para o quarto.
Foram para o quarto. Ele encostou a porta e deu a
volta na chave.
Ros��lia viu que tinha chegado o momento, a hora H.
Sentiu vergonha. Ficar nua na vista de Cl��udio. N��o te-
ria coragem. Mas era preciso. N��o poderia ficar com aque-
le vestido de noiva, imenso, v��u e tudo.
Ele come��ou a tirar-lhe a roupa.
Cl��udio pediu para fechar as cortinas, apesar das ja-
nelas j�� estarem fechadas.
31
Na semi-escurid��o era mais f��cil.
Cl��udio tirou a pr��pria roupa.
Ela n��o ousava olh��-lo e continuava ainda com o ves-
tido. S�� estava sem o v��u e a grinalda.
Ele aproximou-se completamente nu, com um sorriso.
Ros��lia n��o p��de evitar de olhar para ele. N��o, n��o ia
ag��entar. Sentiu p��nico.
��� Tenho medo.
��� Medo de que, minha pombinha?
E Cl��udio esfregou seu nariz no nariz da jovem es-
posa.
E come��ou a tirar-lhe o vestido, as an��guas, tudo.
Ros��lia cruzou os bra��os cobrindo os seios, ao mesmo
tempo que gostaria de ter outros dois bra��os, ou pelo me-
nos um, para esconder suas partes ��ntimas.
Cl��udio encostou-se nela. Ainda estavam em p��.
Foram para a cama.
Cl��udio alisava-lhe as coxas, acariciava-lhe os p��los.
(Que vergonha! Mas �� t��o gostoso!)
Ele procurou ser delicado. Foi fazendo tudo aos poucos,
devagarzinho.
Ros��lia sentiu-se transportada para um outro mundo
que ainda n��o conhecia. Um mundo em que o prazer se
misturava com a dor, em que os dois corpos eram como
um s �� . . .
(Muito melhor do que eu imaginava. Ai, como �� bom...)
E Cl��udio l�� dentro, fazendo movimentos ritmados.
(Ai, n��o aguento mais! O que �� isso?! Ai, ai...)
Gemia. Gemia. Gemia.
Tinha vergonha de seus gemidos. Mas n��o podia con-
t��-los.
��� Ai, Cl��udio, C l �� u d i o . . .
E gozou.
Ele tamb��m.
* * *
32
Corria o ano de 1925. Os dias passavam r��pidos: A
lua-de-mel parecia que duraria indefinidamente. E Ros��lia
sentia-se feliz. Nem por um instante pensaria que aquela
felicidade pudesse terminar algum dia.
As semanas, os meses passaram. A vida escorria tran-
q��ila. Eram ricos. Cl��udio sa��a para trabalhar. Os criados
cuidavam de tudo. Ros��lia gastava suas longas manh��s e
tardes vazias lendo romances.
Quase nada mudara em sua vida. Residia em outro
lugar. As noites eram diferentes. S�� isso. O resto, conti-
nuava como antes.
Visitava os pais. Estes a visitavam. Os pais de Cl��udio
tamb��m eram visitados e tamb��m os visitavam. As amigas
apareciam de vez em quando. E nos fins de semana ela ia
com Cl��udio ao cinema ou ao teatro ou fazia algum pas-
seio.
Durante dez meses nada se modificara. A m��e, a so-
gra, as amigas perguntavam:
��� Alguma novidade?
��� N��o.
N��o, ela ainda n��o estava gr��vida. Tamb��m n��o que-
ria logo um filho. Para qu��? Eram muito jovens. Os filhos
deviam vir mais tarde. Estava muito contente em n��o ter
concebido ainda. Era muito melhor assim.
* * *
Uma das empregadas foi embora. E foi "admitida outra
em seu lugar. Esmeralda. Uma mulata muito bonita, de
formas exuberantes. Ros��lia teve receio, muito receio mes-
mo e lembrava-se das palavras da m��e. "Os homens n��o
s��o como n��s mulheres, minha filha. Eles s��o diferentes.
(E como eram!) V��o para a cama com qualquer uma. Eles
n��o t��m nojo de nada. N��s, n��o."
Ela nunca dormiria com outro homem. Mas Cl��udio
tinha aquelas olheiras que denunciavam as farras. (�� bem
verdade que depois de casado, as olheiras haviam ficado
33
menos intensas. Uma prova de sua fidelidade. N��o mais
se entregava aos prazeres da carne com qualquer uma,
como antes.)
Mas Esmeralda era uma amea��a. Agora Ros��lia sen-
tia que fora um erro t��-la admitido. No entanto, n��o tinha
o que dizer da empregada. Cumpria suas obriga����es, n��o
havia o que reclamar.
Os temores de Ros��lia eram infundados. Cl��udio nota-
ra a beleza da mulata, era ��bvio, mas nem de longe pen-
sara em trair a esposa dentro de sua pr��pria casa.
(Quando queria variar, ia a uma das casas de mu-
lheres que freq��entava quando solteiro. Inventava um tra-
balho at�� mais tarde no escrit��rio. Ia l��, satisfazia-se. Vol-
tava para casa leve. E se Ros��lia tamb��m queria, ele es-
tava firme, pronto a gozar de novo. Afinal, era bastante
jovem. For��as n��o lhe faltavam.)
Esmeralda, por seu lado, tamb��m n��o dava a m��nima
para o patr��o. Sabia que os dois tinham se casado recen-
temente. Depois, n��o estava a fim de perder o emprego,
de se meter em complica����es.
E em ��ltima an��lise, e a�� vinha o argumento mais
forte, n��o sentia atra����o por aquele branco desenxabido,
uma vez que era muito bem servida por seu amante, Os-
valdo, um estivador, negro como um escravo, alto como
uma est��tua, forte como um touro.
O ��nico problema que enfrentava era n��o poder se
encontrar com Osvaldo todas as noites. Ele era casado. S��
podia v��-lo tr��s vezes por semana. Mas este problema era
antigo. De antes mesmo de se empregar ali. Tinha que se
conformar.
Como a mans��o era enorme, os quartos dos emprega-
dos ficavam em outra ala. Havia mais quartos do que o
necess��rio para a quantidade de criados, uma vez que Ro-
s��lia e Cl��udio, vivendo sozinhos, sem filhos, n��o preci-
savam de muitos empregados.
Assim, Esmeralda, logo que come��ara a trabalhar, pre-
feriu ficar no ��ltimo dos quartos, desocupado. N��o havia
34
ningu��m dormindo no aposento ao lado. Pelo jardim, Os-
valdo poderia entrar sorrateiramente ��s altas horas, ir para
sua cama, sem que ningu��m descobrisse. Claro que n��o
fez isso logo. Deixou passar uns dois meses.
E quando viu que n��o tinha mais perigo, que havia
adquirido a confian��a dos patr��es e dos outros empre-
gados, Esmeralda fez com que Osvaldo viesse v��-la nos dias
pares (como sempre acontecera: segunda, quarta e sexta).
Era bem melhor e bem mais c��modo do que ter que
sair para encontr��-lo e voltar de madrugada para Santa
Teresa, perdendo o ��ltimo bonde e tendo que subir v��rias
ladeiras a p�� e chegar morta de cansa��o.
Osvaldo passou ent��o a freq��entar o quartinho dia
sim, dia n��o. Nunca aos domingos (por causa da mulher
com quem era casado).
Ningu��m desconfiou de nada. Tudo tamb��m transcor-
ria muito tranq��ilamente para Esmeralda.
* * *
Ros��lia virou-se na cama mais uma vez. Olhou para
o lado e viu o marido dormindo como um anjo. No entan-
to, ela estava com ins��nia. N��o conseguia adormecer de
jeito nenhum. Talvez tivesse dificuldade de conciliar o sono
por causa de sua vida muito sedent��ria.
Precisava fazer exerc��cios, movimentar-se mais duran-
te o dia, arrumar alguma coisa, despender esfor��o f��sico.
Assim, �� noite, com o corpo cansado, n��o teria tanta di-
ficuldade em dormir.
Levantou-se para tomar um copo de ��gua. Foi at�� a
sala. Tomou a ��gua. Voltou para o quarto. Dirigiu-se ��
janela. Abriu-a. Uma leve brisa soprava, fazendo com que
a cortina ondulasse.
Sentiu-se bem. Respirou o ar puro. Ouviu os ru��dos dos
insetos, que faziam o sil��ncio parecer mais silencioso. Uma
calma absoluta. E Ros��lia tornou a pensar em como era
feliz (apesar da ins��nia). E bocejou. Estaria j�� com sono?
35
Foi a�� que viu. Ou pensou ver. N��o, n��o poderia ter
visto. Era impress��o. Esfregou os olhos. Abriu-os de novo.
E tornou a ver.
Um vulto.
Um vulto na escurid��o do jardim.
Deviam ser apenas as sombras das ��rvores, das plantas.
Mas n��o eram sombras.
Podia-se perceber que tinha a forma de um homem.
Um homem enorme. Mas um homem.
Ele passou correndo, com passos largos e silenciosos.
Dirigiu-se ao port��o.
Escalou as grades de ferro.
E pulou para o lado de fora.
O grito que Ros��lia pensara em dar ficou preso na
garganta.
Um ladr��o?
Talvez.
Acordaria o marido e lhe contaria o que vira?
Ficou em d��vida.
O vulto h�� muito desaparecera na escurid��o da rua
mais adiante.
Ros��lia fechou a janela.
Deitou-se.
Chegou a fazer um gesto para acordar o marido.
Mas ele dormia como um anjo.
Desistiu.
Tentou dormir.
* * *
Comentou com Cl��udio no outro dia:
��� Tenho a impress��o de que vi um ladr��o no nosso
jardim ontem �� noite.
��� Ladr��o?
��� Sim. S�� podia ser.
E Ros��lia contou-lhe sobre a ins��nia, que abrira a ja-
nela e o vulto que avistara.
36
��� Foi impress��o.
��� Espero que sim.
��� Dev��amos ter um cachorro aqui.
��� Tenho muito medo de cachorros. Voc�� sabe que
quando era menina, um avan��ou para mim e me mordeu
no rosto. Quase ficava desfigurada.
E Ros��lia mostrou uma pequena marca na face es-
querda. Lembran��a da antiga mordida. Agora, quase im-
percept��vel.
��� Desde ent��o fiquei com pavor de cachorro.
��� De qualquer jeito n��o tem perigo. Todas as nossas
portas e janelas t��m ferrolhos de seguran��a. Al��m disso,
n��o acredito que voc�� tenha visto nada. Foi apenas uma
sombra.
(Uma sombra que se movia? ��� pensou Ros��lia).
Cl��udio adivinhou-lhe o pensamento:
��� O vento. N��o estava ventando?
��� Estava.
��� Ent��o? O vento nas ��rvores, as folhas balan��ando.
Voc�� com ins��nia. Cansada. Com um temperamento im-
pression��vel. Pensou que viu um vulto, mas n��o viu.
E Cl��udio a beijou.
E foi trabalhar.
* * *
Na noite seguinte, com o cora����o batendo forte, Ro-
s��lia aproximou-se da janela. Hesitou. Abriu-a um pouco,
apenas o suficiente para que pudesse ver o jardim. A luz
do quarto apagada. Esperou. Esperou bastante. E n��o viu
nada.
Fora mesmo impress��o. Cl��udio estava certo.
Mas na outra noite, novamente foi olhar. Na mesma
hora em que duas noites antes pensara ter visto o vulto.
E o viu de novo.
O cora����o aos pulos. O vulto fez o mesmo itiner��rio.
37
Passou entre ��rvores e plantas. Depressa. Alcan��ou o por-
t��o, pulou para o lado de fora e desapareceu na rua.
O mesmo tamanho. Enorme. Um homem alto, muito
alto.
Mas o que faria aquele ladr��o ali, se n��o roubava
nada? Ent��o n��o era um ladr��o.
N��o contou nada a Cl��udio, desta vez.
E decidiu observar, continuar observando.
Um dia, o vulto aparecia. No outro, n��o. Mas sempre
�� mesma hora.
Foi ent��o que uma luz acendeu em seu c��rebro.
Esmeralda.
Sim, era isso. S�� podia ser isso.
Durante o dia observava tamb��m a copeira, para ver
se descobria alguma atitude suspeita. Mas a mulata per-
manecia a mesma. Deduziu que prestar aten����o ��s atitudes
de Esmeralda n��o lhe levaria a nada. Tinha era que obser-
var o misterioso vulto.
Foi quando resolveu colocar-se em seu posto de obser-
va����o mais cedo. Alguma coisa lhe agu��ava a curiosidade
de maneira anormal. Tinha que descobrir tudo.
Assim que Cl��udio adormeceu, foi para junto da ja-
nela. Ficaria ali o tempo que fosse necess��rio. E viu ent��o
o homem entrando e dirigindo-se para o lado de onde sem-
pre aparecia de volta, pela madrugada. E aquele lado do
jardim era o que dava acesso aos quartos dos empregados.
N��o tinha d��vidas. Aquele homem era o amante de
Esmeralda.
Devia revelar a descoberta a Cl��udio?
Preferiu calar-se.
Duas semanas depois, fez outra descoberta. Que o ho-
mem aparecia sistematicamente ��s segundas, quartas e
sextas-feiras.
* * *
38
Ros��lia viu o homem entrar no jardim. Deu um tem-
po. Estava decidida. N��o era um ladr��o. Nada podia temer.
Saiu do quarto sorrateiramente. Atravessou a sala sem
fazer o menor ru��do. Desceu pela porta dos fundos e diri-
giu-se �� ala onde ficavam os quartos dos criados. Foi di-
reto para o de Esmeralda.
Notou pelas frestas da porta que a luz estava acesa
l�� dentro. Tr��mula, olhou pelo buraco da fechadura. Ficou
im��vel. E o que viu surgiu como um espet��culo magn��fico
a seus olhos.
Esmeralda, com seu corpo maravilhoso, deitada na
cama, de pernas abertas e nua. O homem ainda em p��,
estava nu tamb��m. Era bem negro, fort��ssimo, um ver-
dadeiro touro.
Ele sorriu e mostrou os dentes muito alvos.
E deitou-se por cima.
Ros��lia n��o podia descrever o que sentia naquele mo-
mento.
Mas o fato foi que n��o despregou os olhos do que es-
tava vendo.
O possante negro entrando em Esmeralda. Os dois for-
mando como que um s�� bloco, apenas com uma ligeira di-
feren��a de cor. Ele mais escuro, ela mais clara.
Dois belos animais fogosos, interpenetrando-se.
E sorrindo, fazendo amor com uma alegria como ela
nunca vira.
Inveja?
Ci��me?
Desejo?
Prazer?
Podia ser qualquer uma destas coisas, ou todas elas
Juntas. Mas o fato era que Ros��lia n��o sentia nojo. N��o,
isso n��o. Muito pelo contr��rio.
Viu o ato inteirinho. Os dois gozando, procurando n��o
fazer barulho.
E alegres e sorridentes.
Quando eles terminaram, Ros��lia retirou-se imediata-
39
mente, com receio de ser surpreendida. Correu at�� o inte-
rior da casa. Trancou a porta por dentro. Correu de novo
at�� seu quarto, foi para tr��s da janela e a entreabriu.
E em poucos instantes, viu o vulto saindo, correndo
entre as ��rvores, chegando ao port��o, pulando para fora.
* * *
Ros��lia passou o dia seguinte nervosa. Estranhamente
nervosa. E o outro dia tamb��m. Esperava ansiosamente
que chegasse a hora do homem aparecer.
E novamente foi observ��-lo fazendo sexo com Esme-
ralda.
Aquilo virou uma obsess��o. Ela n��o sabia bem por qu��.
Mas tinha uma necessidade vital de ir ver os dois na cama.
E assim fez, dia sim, dia n��o.
N��o revelou nada a Cl��udio.
Um m��s depois, este lhe disse:
��� Vou ter que ir �� fazenda que meus pais possuem
em Mato Grosso.
��� Detesto vida de fazenda.
��� Eu sei disso. Voc�� n��o precisa ir.
��� Vai me deixar sozinha?
��� O que posso fazer? As coisas n��o est��o indo bem
por l��. O homem que cuidava da fazenda est�� muito doen-
te. Meus pais receberam a not��cia esta semana. Eles j��
est��o velhos. Meu irm��o n��o �� de nada. Eu tenho que ir
para botar as coisas em ordem.
��� Quanto tempo vai demorar?
��� N��o sei. D e p e n d e . . .
��� Que chato!
��� Garanto que n��o vou passar mais de um m��s.
��� Se n��o tem outro j e i t o . . .
Cl��udio viajou.
* * *
40
Atrav��s do buraco da fechadura, Ros��lia mais uma
vez via Esmeralda e seu amante. Correu para dentro de
casa, como sempre fazia e foi observar a sa��da do homem
por tr��s da janela entreaberta.
Alguma coisa estava tomando forma dentro de sua
mente. Ela n��o sabia precisar o que era. Ou sabia. Mas n��o
queria admitir.
Viu o homem ganhar a rua e voltou para o seu leito,
sozinha.
Mais nervosa e ansiosa do que nunca, esperou que
passasse o dia seguinte e o outro, quando o amante de
Esmeralda voltaria. Como de costume os viu atrav��s da
fechadura. Voltou para seu quarto. Mas mudou um pouco
seu ritual.
Em vez de deixar o quarto ��s escuras, Ros��lia acendeu
a luz e abriu a janela. E foi para l�� onde ficou esperando.
Atra��do pela luz da janela, o negro olhou para o ret��n-
gulo iluminado, quando ia atravessar o jardim. E viu a mu-
lher. Olhou-a de relance. Parou atr��s de uma ��rvore e ficou
escondido. N��o sabia se esperava ou n��o que ela se reti-
rasse da janela para poder fugir.
Alguns instantes depois, tornou a mulher. E a mulher
continuava l��. S�� que teve a impress��o de que agora estava
nua. (Com efeito, Ros��lia despira a camisola de dormir
e deixara-se ficar na janela com os seios de fora.)
Osvaldo sentiu o desejo domin��-lo. "S�� podia ser de
prop��sito" ��� pensou. N��o era homem de ter medo. Saiu
de seu esconderijo e come��ou a andar em dire����o �� janela,
devagar.
Ros��lia permanecia im��vel, como uma est��tua, em seu
pedestal. Ele olhou a carne alva como o m��rmore das es-
t��tuas. E quase hipnotizado postou-se diante da janela.
Ela n��o baixou a vista. Parecia nem sequer pestanejar.
O negro encarou-a.
Mas ela tamb��m n��o teve medo. O olhar dele n��o
transmitia outra coisa a n��o ser desejo.
41
E Ros��lia movimentou-se, adquirindo uma atitude hu-
mana. Sua express��o tamb��m n��o escondia o desejo.
Osvaldo galgou a janela e pulou para dentro do quar-
to. Ros��lia fechou a janela e o negro a abra��ou. Era aque-
le o momento que ela h�� muito vinha desejando.
Apesar de ter acabado de possuir Esmeralda, todo o
corpo do homem latejava. Ele tamb��m despiu-se.
Ros��lia queria que ele a penetrasse, lhe rasgasse as
entranhas, a queimasse por dentro.
Deitou-se no leito imaculado, no qual s�� se entregara
at�� ent��o ao marido. Abriu as pernas despudoradamente,
tal e qual Esmeralda. E o negro penetrou-lhe com viol��ncia.
N��o podia deixar de reconhecer. Era melhor do que
Cl��udio, muito melhor do que Cl��udio. Onde estava o nojo
de que lhe falara a m��e?
N��o trocaram uma ��nica palavra.
Quando acabaram, Osvaldo sorriu. E mostrou os den-
tes alv��ssimos. "�� um homem muito bonito" ��� pensou Ro-
s��lia.
O negro vestiu-se e dirigiu-se para a janela. Antes de
ir embora, virou-se e perguntou quase sussurrando, com
sua voz muito grossa e rouca:
��� Quer que venha de novo?
��� Quero.
* * *
N��o podia deixar de ver em Esmeralda uma rival. Ro-
s��lia passou mesmo a odi��-la. Tinha ci��mes da outra.
Quando o negro viesse para sua cama (ainda n��o sabia
o nome dele), j�� vinha da cama de Esmeralda.
Isso a atormentava e a fazia ficar possessa. Exigiria
que s�� viesse encontr��-la, que deixasse a empregada...
Mas pensou que seria perigoso. Esmeralda poderia des-
cobrir. E Cl��udio, quando voltasse? Desejou que n��o vol-
tasse nunca, que ficasse na sua fazenda, no meio de seu
gado.
42
Passou o dia e o outro, irritada, nervosa, brigando
com tudo e com todos, por causa de qualquer coisa.
At�� que chegou a noite e Osvaldo apareceu, como sem-
pre, de volta do quarto da empregada. Ros��lia de novo en-
tregou-se a ele com ardor. Tinha certeza agora de que n��o
mais podia viver sem aquele homem.
Mas ao mesmo tempo sabia que isso era imposs��vel.
Cl��udio regressaria e ela teria que acabar com aqueles en-
contros. N��o havia outra solu����o. A ��nica coisa a fazer
seria aproveitar o m��ximo enquanto o marido estivesse
longe.
Procurou acalmar o ci��me que sentia de Esmeralda e
julgava-se infeliz por estar presa a Cl��udio.
Gostaria de ser livre.
As noites se sucederam, com Osvaldo visitando sua
cama em dias alternados. Usufruiu o mais que p��de aque-
las noites, que acabariam muito breve.
Cl��udio voltou. Ros��lia n��o mais p��de abrir sua ja-
nela para o negro pular. Um t��dio mortal tomou conta de
todo o seu ser. Ardia de desejo de voltar a ser possu��da por
Osvaldo.
Ficava as noites em claro, vendo as horas passarem,
enquanto sabia que seu amante estava no quarto de Esme-
ralda.
N��o mais foi espi��-los pelo buraco da fechadura, pois
temia n��o suportar o sofrimento.
Cada vez mais nervosa, Ros��lia teve um momento
de alegria quando o marido lhe avisou que naquela noite
voltaria para casa bastante tarde. Jantaria com um dos
s��cios da firma. Tinham muitos neg��cios a resolver.
(O que n��o correspondia �� verdade. Ele iria a uma
das casas de mulheres que costumava freq��entar de vez
em quando.)
Era uma quarta-feira.
Dia em que Osvaldo viria encontrar Esmeralda. Ros��-
lia ficou contente. Aproveitaria aquela oportunidade. Sa-
43
bia que era arriscado. E se Cl��udio chegasse a tempo de
surpreend��-la com o homem?
Mas nada podia impedi-la. N��o suportava mais a
aus��ncia t��o prolongada de Osvaldo.
Assim, colocou-se na janela desde cedo, mais ou me-
nos na hora em que ele ia para o quarto da empregada.
Quando Osvaldo pulou o port��o do jardim, viu a janela
aberta e iluminada. Ros��lia fez um sinal com a m��o, cha-
mando-o. O homem obedeceu. Tamb��m sentia falta do cor-
po de Ros��lia.
Pulou a janela. Perguntou:
��� E seu marido?
��� Vai chegar mais tarde.
��� N��o tem perigo?
��� N��o.
��� Tem certeza?
Ela n��o respondeu mais. N��o queria perder um mi-
nuto sequer. Levou-o para a cama. Mais excitado do que
nunca, Osvaldo apertava o corpo da mulher.
Todo aquele tempo sem terem rela����es tinha aumen-
tado o desejo de Ros��lia. N��o lhe importava mais nada a
n��o ser que ele a penetrasse com viol��ncia, a fizesse gozar.
O marido que se danasse. Esmeralda tamb��m.
Foi nesse instante que Cl��udio abriu a porta, sem que
nenhum dos dois, absorvidos em seu ato de amor, escutasse
o barulho.
Ao ver o quadro, sua mulher com outro na cama, Cl��u-
dio teve a impress��o de que ia vomitar.
Os dois n��o se deram conta de sua presen��a, e ele
ent��o dirigiu-se vagarosamente at�� uma gaveta e pegou
o rev��lver. Come��ou a atirar furiosamente na dire����o dos
dois amantes.
Os estampidos, os gritos, o len��ol sujando-se de sangue.
Os empregados da casa acordaram.
Esmeralda que ainda esperava por Osvaldo tamb��m
saiu do seu quarto.
44
Todos se dirigiram para o local de onde tinham vindo
os gritos e os tiros.
Encontraram Cl��udio cabisbaixo, com o rev��lver ain-
da na m��o, Ros��lia e Osvaldo mortos, na cama.
Esmeralda deu um grito.
45
CAP��TULO 4
O CASTELO DE AREIA
Norma acabou de ler o primeiro cap��tulo do romance
do marido. Joel, que se sentara numa outra poltrona, fo-
lheando uma revista, olhou-a:
��� O que est�� achando?
��� Bem, eu n��o sou especialista em literatura. Sou
uma leitora comum. Para mim est�� muito bom. Apesar
de odiar trag��dias.
��� Verdade?
��� Voc�� consegue prender a aten����o. A gente fica que-
rendo saber o aue vai acontecer a seguir. Al��m disso, seu
estilo �� muito fluente.
��� Fico lisonjeado com sua opini��o. Onde voc�� parou?
��� Quando Cl��udio assassina a esposa e o amante. S��
que hoje em dia as coisas n��o se passariam assim. Quase
ningu��m mais se surpreende em encontrar a mulher nos
bra��os de outro.
��� Mas na d��cada de 20 n��o poderia ser outra a rea-
����o de um homem tra��do. Mesmo atualmente, ainda acon-
tece muito esse tipo de trag��dia. Basta dar uma olhada
nos jornais.
��� N��o costumo ler jornais.
��� Por isso que est�� por fora da realidade.
��� E o que acontece depois no romance?
��� N��o vai continuar lendo?
��� Mas gostaria que voc�� me dissesse logo.
��� Bem, eu conto o que aconteceu ap��s a morte de
Ros��lia e Osvaldo, a rea����o de Esmeralda, o que sucedeu
46
a Cl��udio. Seus remorsos, o processo, a venda da mans��o.
Ent��o relato os fatos acontecidos com os novos moradores.
N��o �� a hist��ria de um personagem ou um grupo de per-
sonagens. �� a hist��ria da mans��o, dos moradores que atra-
v��s das d��cadas vieram residir aqui, at�� chegar aos nossos
dias.
��� N��o v�� me dizer que eu e voc�� tamb��m vamos ser
personagens. Afinal, somos os atuais moradores da casa.
��� Talvez. Ainda n��o tenho nada definido.
��� Gostaria de ver como voc�� me retrataria.
Joel riu:
��� Por qu��?
��� Talvez o que voc�� escrever a meu respeito n��o seja
muito lisonjeiro.
��� Voc�� se importaria com isso?
��� Em absoluto.
��� �� por isso que admiro voc��.
��� N��o se importe se colocar em letra de forma os
meus defeitos, a futilidade, o c i n i s m o . . .
��� N��o sei at�� que ponto isso pode ser considerado
defeito. A futilidade �� necess��ria. Quem n��o �� f��til sofre
muito. Quanto ao cinismo �� quase indispens��vel no mun-
do em que a gente vive.
��� Ent��o voc�� v�� meus defeitos como se fossem vir-
tudes?
��� Simplesmente n��o acho defeito aquilo que voc��
diz que ��.
��� Mas, voltando ao romance. Acho a id��ia muito in-
teressante. E o melhor �� que voc�� est�� conseguindo comu-
nicar exatamente o que pretende. Amanh�� eu termino de
ler o que j�� est�� escrito.
* * *
A partir da��, Norma passou a ter um interesse real
pela carreira liter��ria do marido. Acabou de ler toda a
primeira parte, discutiu tudo em detalhes, estimulou Joel
47
E era realmente sincera. Estava mesmo gostando do ro-
mance.
E quando sa��a pelas ruas de Santa Teresa e via os
casar��es, divertia-se em imaginar as vidas de todas as pes-
soas que tinham em alguma ��poca habitado aquelas ve-
lhas casas. A maioria delas muito mais antigas do que a
sua.
Quantas trag��dias, com��dias e experi��ncias aquelas
pessoas tinham passado! E ficava a pensar sobre a transi-
toriedade dos seres humanos. As pessoas desapareciam, en-
quanto as casas permaneciam, como testemunhas mudas
de vidas esquecidas. E via como as coisas eram mais du-
radouras do que os seres vivos.
Enquanto isso, continuava a levar sua exist��ncia tran-
q��ila e sem problemas, numa rotina agrad��vel, mas que
n��o deixava de ser rotina.
At�� que Sebasti��o, o velho motorista, adoeceu.
Norma lembrou-se do que tinha desejado algumas se-
manas antes, quando olhando a nuca do fiel Sebasti��o re-
cordara sua aventura com o outro jovem motorista alguns
anos passados.
Teve um leve sentimento de culpa. Ser�� que o velho
chofer ficara doente porque ela havia desejado isso? Mas
logo percebeu que estava pensando uma bobagem.
Sem Sebasti��o, precisavam procurar um novo moto-
rista para ficar em seu lugar durante o per��odo em que
estivesse afastado.
Colocaram um an��ncio no jornal. Dos que aparece-
ram, Norma escolheu o mais bonito, claro. Joel estava tra-
balhando e deixara que ela resolvesse o assunto.
Pela manh�� se apresentaram tr��s candidatos, e ela,
sem titubear, admitiu Alberto. Afinal, era apenas por pouco
tempo. N��o lhe importava pedir refer��ncias, nem mesmo
que fosse um excelente chofer.
Precisava de algu��m que pudesse lhe proporcionar
48
uma aventura semelhante �� que tivera com Hamilton. Al-
berto possu��a f��sico ideal para o papel.
Assim, Alberto come��ou a trabalhar naquele mesmo
dia. Tinha porte atl��tico, muito musculoso, moreno escuro,
quase mulato.
Teria sido influ��ncia do romance que Joel estava es-
crevendo? E achara Alberto uma esp��cie de vers��o mais
clara de Osvaldo, o amante negro de Ros��lia, uma das
hero��nas do livro do marido?
De qualquer maneira, achou excitante que talvez isso
tivesse influenciado na escolha. N��o tinha do que ter me-
do, pois sabia que se a hist��ria se repetisse, ou seja, 'se
Joel a surpreendesse fazendo amor com Alberto, o des-
fecho logicamente n��o seria o mesmo. N��o haveria uma
trag��dia.
O marido jamais seria capaz de um gesto t��o desati-
nado. Por v��rios motivos: primeiro porque era um homem
excessivamente racional, segundo porque devia saber que
ela o tra��a, terceiro porque n��o dava muita import��ncia ao
fato, quarto porque n��o iria prejudicar a situa����o exce-
lente que desfrutava por causa de uma tolice.
E depois, n��o estavam mais na d��cada de 20, nem
eram rec��m-casados. J�� viviam juntos h�� vinte anos. A
��poca das grandes paix��es j�� havia passado, e no caso de-
les, n��o havia nem existido.
Tinha plena consci��ncia de que o casamento para Joel
fora de conveni��ncia. Como tamb��m para ela, que tinha
o marido como se fosse um trof��u que gostava de exibir
para as amigas (e inimigas tamb��m, principalmente).
No primeiro dia de trabalho, Alberto teve que lev��-la
a um ch�� em Copacabana com as "patronesses" de uma
festa de caridade. Durante todo o percurso, Norma pro-
curou puxar conversa com o rapaz, mas para sua decep����o
ele n��o era do tipo que gostava de falar.
��� O dia est�� lindo, n��o acha?
��� Est��, sim, senhora.
Mais adiante, ela perguntou:
49
��� Ser�� que o tr��nsito est�� ruim em Copacabana?
��� N��o sei.
"��", "Sim", "N��o", "N��o sei". E Alberto dava por en-cerrado o assunto. "Ele �� do tipo calad��o" ��� pensou Nor-ma. ��� "Vai ser dif��cil uma aproxima����o maior."
Esta dificuldade, em vez de aborrec��-la, deixou-a mais
interessada. Se tudo corresse muito f��cil, perderia a gra��a.
A gra��a estava justamente nisso. No fato de ter que con-
quist��-lo sem saber como.
O ch�� foi terrivelmente tedioso. Um verdadeiro su-
pl��cio. "Como castigo n��o poderia haver pior" ��� pensava Norma, enquanto sorria para as amigas organizadoras,
como ela, da festa de caridade.
��� Como voc�� est�� linda! ��� admirou-se Jurema assim
que ela chegou.
E Norma pensou: "No m��nimo est�� dizendo para si
mesma que eu pare��o uma macaca. Como posso suportar
tanta falsidade?"
Mas respondeu na mesma moeda:
��� E voc�� cada vez mais jovem, Jurema. Talvez seja
a inicial de seu nome, J, de jovem. Por isso voc�� conserva
esta mocidade radiante. N��o �� este o seu segredo?
E olhou nos olhos da amiga, que parecia um perga-
minho de tanta ruga, apesar de todas as cirurgias pl��sti-
cas a que se submetera. A maquilagem do rosto de Jurema,
muito carregada, fazia com que ela parecesse uma carica-
tura.
Norma tinha autocr��tica suficiente para saber que tam-
b��m ela n��o era uma figura muito agrad��vel �� vista.
Como as outras. Um bando de mulheres de idade inde-
finida, por causa dos cosm��ticos e outros artif��cios, feias,
cobertas de j��ias e vestidos car��ssimos.
O pior de tudo eram as conversas, sempre as mesmas.
N��o acontecia nada, mas absolutamente nada de novo.
Saiu do ch�� totalmente exausta, como se tivesse partici-
pado de uma luta livre.
(O que n��o estava muito longe da verdade, tinha sido
50
mesmo uma luta livre de vaidades tolas e conversas idio-
tas.)
Saiu do ch�� e procurou pelo motorista. Encontrou o
seu carro estacionado na Avenida Atl��ntica, mas Alberto
n��o estava em seu posto.
��� Ter�� fugido? ��� perguntou Norma para si mesma,
entre apreensiva e divertida.
Olhou em torno. Descobriu-o bem mais adiante, aco-
corado, brincando com uma crian��a. Ela sorriu. Achou po��-
tico o quadro.
Aquele homem imenso, abrutalhado, junto �� crian��a,
naquele fim de tarde, tendo como pano de fundo o mar
de COPACABANA.
Andou calmamente em dire����o a Alberto. Ele n��o se
deu conta quando ela chegou perto. Continuou brincando
com o menino, completamente alheio a tudo.
��� O ch�� j�� terminou.
Alberto n��o ouviu.
Norma ficou olhando-o. O motorista e o menino cons-
tru��am um castelo na areia. Ela achou melhor n��o inter-
romper o trabalho dos dois.
Sentou-se num banco da calcada e ficou observando.
Era bem mais divertido do que o ch�� de que tinha partici-
pado.
Quando o castelo estava quase pronto, ele, levantan-
do a vista, a viu. Levantou-se imediatamente e veio ao seu
encontro:
��� D e s c u l p e . . .
��� Pode voltar a fazer o castelo.
��� N �� o . . .
��� Eu quero que voc�� volte. Quero ver o castelo pronto.
Alberto sorriu e voltou para o lado do menino. Perma-
neceram trabalhando em sua constru����o.
Era um bonito castelo.
Com suas torres e alamedas.
Norma come��ou a dar asas �� imagina����o. Quem te-
riam sido os habitantes anteriores daquele castelo de areia?
Mas como poderiam ter existido habitantes anteriores se
51
o castelo estava acabando de ser constru��do? Mas, quem
sabe? Poderia haver habitantes de um castelo que ainda
estava na cabe��a do construtor. Por que n��o?
Finalmente, o menino e o motorista deram por encer-
rado o trabalho. Despediram-se. O chofer veio para junto
de Norma, que permaneceu sentada no banco, olhando o
castelo que agora parecia abandonado. Quando o mar se
aproximasse, viria uma onda, outra onda, e o castelo seria
destru��do. Seus habitantes morreriam afogados?
��� A senhora n��o quer ir embora agora?
Desta vez foi Norma quem n��o escutou o que Alberto
falou.
S�� alguns instantes depois acordou de seu devaneio.
��� Estava pensando nos moradores do castelo.
��� A senhora conhece eles?
��� Penso que sim.
��� Quem s��o?
��� Um homem muito grande e um menino bem pe-
queno.
O motorista riu. Norma riu:
��� Est�� na hora. Vamos voltar.
A viagem de volta transcorreu da mesma maneira que
a outra. Norma puxando conversa e o motorista novamen-
te em seu mutismo, respondendo por monoss��labos.
Ela o desejava. E como o desejava!
Lembrou-se dos olhos de crian��a de Alberto, seu ar
52
de quem parecia n��o pertencer a este mundo. Talvez ele
fosse mesmo um dos habitantes do castelo de areia que
constru��ra.
Chegaram em Santa Teresa.
J�� escurecera.
Norma desceu do carro.
Entrou em casa.
Pouco depois, Joel tamb��m chegou.
Jantaram, como de costume.
53
CAP��TULO 5
A DOR DE CABE��A
Norma acordou mal-humorada. E com dor de cabe��a.
Uma coisa era conseq����ncia da outra, ou vice-versa. E
justamente no dia em que sua filha chegaria de Londres.
Pensava em ir receb��-la no aeroporto, mas j�� tinha resol-
vido que n��o iria mais.
Gozando de ��tima sa��de, qualquer indisposi����o f��sica,
mal-estar ou qualquer dorzinha, deixava-lhe angustiada,
chateada, imprest��vel para cumprir qualquer obriga����o.
Seria um sacrif��cio terr��vel ter que sair com aquela
maldita dor de cabe��a. J�� tomara um comprimido, mas
pouco adiantara. N��o, o melhor seria mandar o chofer
apanhar L��gia.
Alberto n��o conhecia sua filha, por isso mandou cha-
m��-lo. O rapaz apresentou-se. Norma disse-lhe:
��� Quero que v�� buscar minha filha no aeroporto. Ela
chega hoje da Europa.
��� A que horas?
��� ��s dez.
��� A senhora n��o vai?
��� N��o, estou meio indisposta.
Norma pegou uma foto de L��gia e mostrou a Alberto,
a fim de que este a reconhecesse. O jovem motorista quan-
do viu o retrato, teve um leve tremor.
Aquele r o s t o . . . aquele r o s t o . . . n��o lhe era estra-n h o . . . parecia emergir de um tempo que nunca existira.
Mas ele conhecia aquele rosto. Ou n��o? Conhecia, sim.
Era-lhe muito familiar. Quando? Onde? Em algum tempo
54
e em algum lugar. N��o era o mesmo rosto, mas parecia
demais. N��o podia ser. Claro que n��o era. Havia uma di-
feren��a, uma pequena diferen��a. O nariz? A boca? Os olhos?
Alguma coisa era diferente. N��o era o mesmo. M a s . . .
Enquanto Alberto estava parado com a fotografia nas
m��os, Norma observava-o. Por que ele demorava tanto tem-
po olhando a foto? "Talvez para grav��-la melhor na me-
m��ria" ��� pensou.
Mas o motorista parecia alheio a tudo. Norma pediu-
lhe o retrato de volta:
��� Voc�� �� capaz de reconhec��-la pessoalmente?
��� Claro.
��� Quando encontr��-la, diga que �� nosso novo chofer
e que eu n��o fui esper��-la porque estou com uma dor de
cabe��a horr��vel.
��� Sim, senhora.
Alberto retirou-se da sala. Norma olhou-o andando em
dire����o �� porta. Como era estranho aquele homem! Sem-
pre muito calado, parecendo que n��o pertencia a este
mundo.
Achava-o misterioso e por isso mesmo fasciante no
seu quase mutismo absoluto, no seu ar a��reo, como se flu-
tuasse. N��o seu corpo, evidentemente, que era bastante s��-
lido (e como!). Mas sua express��o fazia denotar que seu
c��rebro era f l u t u a n t e . . .
Riu de si mesma. Nos ��ltimos tempos estava sempre
pensando al��m do que via. Estaria influenciada pelo livro
do marido? Talvez. Depois que come��ara a ler o romance
de Joel, ficara com aquela impress��o de ver coisas onde
nada existia, adivinhar nas entrelinhas, interpretar atitu-
des muito al��m das apar��ncias.
Voltou para o quarto e deitou-se.
Ah, aquela dor de cabe��a infernal!
Lembrou-se do que lera uma vez. Teria sido Oscar
Wilde? Achava que sim. Ele escrevera que Deus devia li-
vr��-lo das dores f��sicas, porque das morais ele mesmo
55
cuidaria. Sim, uma grande verdade, tivesse sido ou n��o
Wilde quem dissera.
O fato era que as dores morais (ou emocionais ou
qualquer coisa ligada com o sentimento), ela tirava de le-
tra. Talvez porque n��o fosse uma pessoa que se ligasse
muito em coisas do esp��rito. N��o tinha remorsos, culpas,
nem qualquer outro tipo de grilo.
Mas as dores f��sicas, estas lhe eram insuport��veis. Ver-
dadeiramente insuport��veis. Tinha a sorte de ter uma sa��-
de excelente. N��o se lembrava de ter tido nenhuma doen��a
grave.
As ��nicas opera����es a que se submetera, tinham sido
as pl��sticas. Mas fora uma op����o. No caso, a vaidade fa-
lara mais forte. O fato de querer se livrar de seu mons-
truoso nariz dera-lhe coragem suficiente para suportar
qualquer dor. A vontade de melhorar de aspecto fora maior
do que tudo.
E depois tamb��m fizera uma outra para tirar as ru-
gas. Somente por causa da beleza suportaria qualquer sa-
crif��cio, apesar de saber que n��o conseguiria se tornar uma
mulher propriamente bela. Mas que melhorara bastante,
n��o tinha d��vidas.
* * *
Alberto dirigia tranq��ilamente o carro em dire����o ao
Gale��o.
HELENA.
O nome da mulher parecia escrito em letras de fogo,
como se queimasse sua cabe��a.
HELENA.
Por que n��o conseguia deixar de pensar nesse nome?
Como era mesmo que a filha de sua patroa se chamava?
L��gia.
L��GIA, HELENA, HELENA, L��GIA.
Os dois nomes se misturavam. T��o diferentes, mas era
como se fossem um s��.
56
Tinha tempo de sobra para chegar ao aeroporto. N��o
precisava correr. Mesmo assim, teve vontade de aumentar
a velocidade do autom��vel. E foi aumentando cada vez
mais, fazendo verdadeiros malabarismos no tr��nsito, aque-,
la hora j�� engarrafado em certos trechos da cidade.
Na Avenida Brasil, o neg��cio piorou. A contragosto,
teve que ir devagar, quase parando. Andava um pouqui-
nho, parava. Mais um pouquinho e parava novamente.
Alguma coisa devia ter acontecido. S�� podia ter a c o n -
tecido. Afinal, passavam poucos minutos das nove da ma-
nh��. Na dire����o cidade-aeroporto n��o havia motivo para
aquele congestionamento.
Devia ter acontecido algum desastre. S�� podia.
Os minutos passavam. Ele nervoso. N��o por causa da
hora. N��o. Estava nervoso porque queria correr, correr,
como vinha fazendo antes. Correr para n��o pensar. N��o
pensar em HELENA, L��GIA, L��GIA, HELENA. Agora, qua-
se parado, os nomes e as imagens se confundiam em sua
cabe��a.
O retrato.
Quando Norma lhe mostrara o retrato dizendo que
era sua filha. E certamente s�� podia ser. Era como se ti-
vesse visto Helena em sua frente.
(As pessoas gritando. Como gritavam. E ele amarra-
do. Dois homens o tinham segurado. Teve vontade de ma-
t��-los. Por que o seguravam com tanta for��a? Dera vio-
lentos pontap��s. Mas de nada adiantara. Tinham-no do-
minado. E ele preso, depois jogado num quarto. Gritou.
Gritou. A d o r m e c e u . . . )
As buzinas dos carros. As pessoas irritadas. Aquele
tr��nsito infernal.
Passou finalmente pelo local do desastre. Um carro
quase completamente destro��ado. Uma carreta o havia
atingido em cheio. Sangue no asfalto.
Ele olhou. N��o gostou do que viu. Mas olhou. Mesmo
assim olhou. Era como se algu��m lhe virasse o rosto em
dire����o ao local do acidente. Os carros andando vagarosa-
57
mente. E ele viu. Viu o c��rebro de uma pessoa totalmente
esmagado.
Levou as m��os �� cabe��a, largando por um instante o
volante, num gesto de desespero. Ouviu uma buzina mais
forte atr��s de si. Retomou o volante. Continuou dirigindo,
sem se virar de novo para o lugar onde estavam as v��timas.
Dali em diante o tr��nsito estava normal. Pisou no ace-
lerador. Recome��ou a correr. O tormento diminuiu. Gos-
tava de velocidade. N��o dava tempo para pensar.
Em poucos minutos estava no aeroporto.
O avi��o ainda n��o tinha chegado.
Olhou o rel��gio. Faltavam quinze minutos para as dez.
Se o avi��o chegasse no hor��rio, ainda assim teria tempo
suficiente para tomar um cafezinho.
Dirigiu-se para tomar seu caf��. Depois encaminhou-se
vagarosamente para uma banca de revistas e acendeu um
cigarro.
Gostava de ficar olhando aquela imensidade de revis-
tas coloridas, livros de bolso, mulheres lindas, nuas, semi-
nuas. Tudo muito colorido. Mais colorido do que se cos-
tuma ver ao vivo.
Fixou os olhos numa revista estrangeira. Tentou ler
o nome da revista. N��o conseguiu. Que diabo de l��ngua era
aquela? Alem��o? Ingl��s? Franc��s?
Desistiu de ler e ficou admirando os belos seios pon-
tudos da mulher da capa. Nem notou seu rosto, bonito,
sorrindo como em an��ncio de pasta de dentes.
O que lhe importava eram os seios. Aqueles seios lin-
dos. Precisava de uma mulher. Com urg��ncia. Uma mu-
lher bonita. Como aquela da capa da revista.
Foi at�� o jornaleiro:
��� Quanto custa aquela revista?
Diante da resposta achou muito caro. N��o podia com-
prar. Teve vontade de roubar a revista e sair correndo.
Era como se raptasse a linda garota de seios de fora e a
levasse para seu quarto. E transaria com e l a . . .
58
Mas o jornaleiro estava de olho. N��o podia fazer isso.
Seria preso.
(Os homens agarrando-lhe. Os pontap��s. Os gritos. A
confus��o.)
Afastou-se da banca de revistas e sentou-se num banco
qualquer. J�� tinham se passado dez minutos, e mais cinco,
L��gia-Helena chegaria.
Os cinco minutos tamb��m se foram. Ele se dirigiu para
o local onde deveria esperar por Helena-L��gia.
Conhecia bem o aeroporto. J�� estivera ali v��rias ve-
zes. Fora motorista de pra��a e tamb��m trabalhara na casa
d e . . . como era mesmo o nome de seu ��ltimo patr��o? N��o
recordava. Fez um esfor��o de mem��ria. Mas n��o conseguiu
se lembrar.
Desistiu. N��o podia esquentar muito a cabe��a. Ficava
confuso.
O avi��o esperado chegou.
Os passageiros desembarcaram.
Olhou-os com curiosidade cada vez maior. Viu uma
mo��a entre eles que s�� podia ser L��gia-Helena, Helena-
L��gia.
Quando ela passou perto, chamou:
��� Helena.
A jovem n��o se virou.
Repetiu:
��� Helena.
A mo��a seguiu seu caminho, sem dar a m��nima
aten����o.
Quase gritou:
��� Helena!
Mas n��o houve a menor rea����o por parte dela, que
sem d��vida o ouvira, mas fingiu como se n��o fosse com
ela.
Seguiu-a. Alcan��ou-a.
Lado a lado, falou:
��� Helena.
L��gia virou-se e olhou com ar surpreso.
59
��� Eu sou o novo motorista.
��� O senhor est�� falando comigo?
��� E s t o u . . . sou o novo motorista de seus pais. Dona
Norma mandou que viesse lhe apanhar.
L��gia achou tudo muito estranho. O nome de sua m��e
era Norma, mas ela nunca se chamara Helena.
��� O senhor est�� enganado.
��� N��o estou n��o. Vi seu retrato.
��� Meu retrato?
��� Sim, sua m��e me mostrou.
��� O senhor deve estar me confundindo com outra
pessoa.
��� N��o.
��� Eu n��o me chamo Helena.
��� Eu sei.
��� Mas o senhor se dirigiu a mim dizendo este nome.
Ele n��o se lembrava de que a tinha chamado de He-
lena.
��� Eu?!
��� Sim.
��� N��o, chamei L��gia.
Ela compreendeu que era ela mesma que o rapaz es-
tava procurando. Era coincid��ncia demais. Ele sabia que
seu nome era L��gia e o de sua m��e Norma. Mas por que
se dirigira antes chamando-a de Helena?
��� Tenho certeza de que o senhor falou Helena.
��� Foi engano. Eu queria dizer L��gia.
��� Nosso motorista �� um velho senhor, cujo nome ��
Sebasti��o.
��� Isso mesmo. Eu estou no lugar dele.
��� Sebasti��o morreu? ��� perguntou L��gia assustada.
��� E por que mam��e n��o me mandou dizer?
��� N��o, ele n��o morreu. Est�� doente.
L��gia suspirou com al��vio.
��� E voc�� o est�� substituindo.
��� I s s o . . . estou substituindo, enquanto ele n��o fica
bom.
60
��� E minha m��e lhe mandou buscar-me?
��� Foi.
��� Por que ela n��o veio?
��� Mandou dizer que est�� doente.
��� Ela tamb��m est�� doente?
��� Mas n��o �� nada grave.
��� Desde quando?
��� Desde hoje. Amanheceu com dor de cabe��a.
N��o. Era inacredit��vel. L��gia n��o podia conceber. En-
t��o sua m��e n��o tinha vindo esper��-la porque estava com
uma simples dor de cabe��a. Era demais. Depois de todos
aqueles meses longe de casa.
O pai, no escrit��rio, como se realmente trabalhasse tan-
to e n��o dispusesse de tempo para ir esper��-la no aero-
porto. Quando, na verdade, podia muito bem sair �� hora
que quisesse e ir busc��-la.
A m��e, sem nada, absolutamente nada para fazer, e
tamb��m n��o viera. Tudo por causa de uma dor de cabe��a.
N��o conseguiu esconder seu aborrecimento:
��� Ela devia ter vindo assim mesmo.
O motorista n��o comentou nada.
��� Passei quase um ano em Londres e ningu��m tem
pressa em me v e r . . .
Os dois se dirigiram para a Alf��ndega, a fim de libe-
rar a bagagem. L��gia, chateada, por causa da aus��ncia
dos pais. Alberto, sem querer olh��-la direito, desviando a
vista.
Enquanto esperava a libera����o da bagagem, L��gia co-
me��ou a observ��-lo. Aproveitou o fato dele n��o olh��-la,
para reparar bem o seu aspecto. Era um homem bonito.
Quase mulato, os cabelos ruins. Os olhos meio esver-
deados. Um tipo estranho, muito estranho. Principalmente
para ela que acabava de passar muito tempo vendo quase
que somente pessoas brancas, muito brancas, de peles ro-
sadas.
Perguntou o nome do rapaz:
��� Como voc�� se chama?
61
��� Alberto.
��� H�� quanto tempo est�� trabalhando com meus pais?
��� Quase uma semana.
O chofer respondia as perguntas sem encar��-la. L��gia
achou engra��ado, aquele homem t��o m��sculo, t��o firme
na terra, t��o forte, e t��o t��mido. T��o bonito.
A bagagem foi liberada.
Encaminharam-se para o carro.
Se L��gia ainda tinha d��vidas se o motorista estava
mesmo trabalhando em sua casa, ao ver o autom��vel, toda
e qualquer d��vida desapareceu. Era o mesmo carro de sua
m��e.
��� Que milagre!
��� O qu��? ��� perguntou Alberto.
��� O carro.
��� O que tem o carro?
��� Ainda �� o mesmo.
��� N��o entendi.
��� �� que mam��e, uma vez que n��o tem nada para
fazer, vive trocando de autom��vel. N��o sei como ainda
permanece com o mesmo de quando eu viajei.
E entraram no autom��vel.
��� Ela devia ter vindo me esperar.
Alberto ficou em sil��ncio.
L��gia passou a pensar em voz alta:
��� �� realmente uma prova de considera����o que tanto
minha m��e como meu pai me d��o. Ningu��m apareceu. Eles
est��o muito preocupados consigo mesmos. Os outros que
se danem. N��o sentem a m��nima falta de mim. Ou melhor,
�� como se eu nem mesmo existisse.
Alberto ouvia aquela voz que vinha do banco de tr��s,
como que repetindo indefinidamente a mesma coisa.
L��gia estava ferida em seu amor-pr��prio. Em sua ca-
r��ncia de afeto. N��o significava nada para ningu��m. Con-
tinuava falando, em c��rculos:
��� Por causa de uma dorzinha �� toa. Simplesmente
porque est�� com dor de cabe��a. Ela n��o pode ter uma, dor
62
de cabe��a. �� uma trag��dia. Ah, como eu detesto pessoas
ego��stas! E comodistas.
Calou-se. Mergulhou em seus pr��prios pensamentos.
Enfrentaram o caminho de volta pela Avenida Brasil
que, naquela dire����o, n��o estava t��o congestionada. O de-
sastre havia sido na outra pista. Passaram pelo local do
acidente, com muita gente em volta.
��� O que foi aquilo?
Alberto respondeu:
��� Um desastre.
��� O Rio de Janeiro continua o mesmo.
L��gia n��o olhou. N��o teve coragem. Mesmo um pouco
distante, poderia ver as v��timas. N��o queria ver sangue,
nem gente morta, logo no dia de sua chegada. Subita-
mente, teve medo.
Ser�� que aquilo representava alguma coisa? Ser�� que
algum mal iria lhe acontecer? N��o, claro que n��o. O ��nico
mal j�� tinha sucedido. Os pais n��o terem dado a menor
import��ncia ao seu regresso.
��� Teve v��timas?
��� Quando ia para o aeroporto, vi um corpo com a
cabe��a esmagada.
L��gia fez uma careta. N��o sabia mesmo por que per-
guntou :
��� Homem ou mulher?
��� Mulher.
Ela novamente pensou num mau press��gio. Logo no
dia de sua chegada. Alberto ainda disse:
��� Estava vestida de vermelho.
Automaticamente, L��gia olhou para a pr��pria roupa,
como para se certificar de que estava vestida de azul.
A voz de Alberto continuava:
��� Vestida de vermelho, da mesma cor do sangue.
E a cabe��a e s m a g a d a . . .
��� N��o fale mais ��� ordenou L��gia com voz autori-
t��ria.
63
Ele calou-se. Mas sentiu raiva. N��o gostou do tom com
que ela falara. Mesmo assim, calou-se.
Passaram pela esta����o da Leopoldina. Alcan��aram a
Rodovi��ria. Seguiram em dire����o �� Pra��a Mau��.
L��gia procurava dispersar seus pensamentos, olhando
as ruas. Gostava do Rio. Daquele calor. Daquele colorido.
T��o diferente da cinzenta Londres. Estava cansada de cin-
zentos e meios-tons.
O sol.
O sol magn��fico, de doer na vista.
E aquela gente toda, respirando vida.
A Pra��a Mau�� ficou para tr��s. Foi quando L��gia disse:
��� N��o vou para Santa Teresa.
��� N��o?!
��� N��o. Se nem minha m��e nem meu pai t��m pressa
de me ver, eu tamb��m n��o tenho a menor inten����o de
v��-los agora.
��� Para onde quer ir?
��� Niter��i.
��� Niter��i?!
��� Sim.
Alberto desviou e seguiu em dire����o �� Ponte Rio���Ni-
ter��i.
��� O que vai fazer l��? ��� s�� depois que perguntou ��
que compreendeu que n��o tinha direito de faz��-lo.
��� Passear.
Atravessaram a ponte. Chegaram em Niter��i. O auto-
m��vel corria as ruas sem destino. Rodaram durante algum
tempo.
��� Por que me chamou de Helena?
��� N��o s e i . . .
��� Confundiu?
��� Foi.
��� Mas Helena �� muito diferente de L��gia.
��� �� . . .
Novamente ficaram calados.
Ent��o, desta vez foi ele quem quebrou o sil��ncio.
64
��� Conheci uma vez uma mo��a que se parecia muito
com a senhora.
L��gia decifrou a charada:
��� E ela se chamava Helena.
��� Como adivinhou?
��� Muito s i m p l e s . . .
65
CAPITULO 6
UMA HIST��RIA DE AMOR
Sete anos antes, Alberto era um rapaz mais ou me-
nos ing��nuo. Criado no sub��rbio, tivera uma educa����o r��-
gida, extremamente religiosa. Estudava, depois passou a
trabalhar para ajudar a fam��lia.
Tivera sua inicia����o sexual com uma empregada do-
m��stica, que praticamente o seduziu. Ela deu em cima dele
e levou-o para um terreno baldio, uma vez que n��o tinham
para onde ir. Assim, Alberto, cheio de medo pelo pecado,
provou do que lhe diziam ser um fruto proibido.
Relutou bastante, antes de ir. At�� o momento em que
ela dissera:
��� Estou at�� duvidando que voc�� seja homem.
"Antes pecar do que passar por bicha", pensou Alber-
to. E assim, acompanhou-a. Marlene fizera de prop��sito.
Tinha certeza de que o rapaz n��o tinha nada de afemina-
do, muito pelo contr��rio. Mas vira que s�� assim o levaria
a fazer o que queria.
Deitada no ch��o, ela levantou a saia e baixou as cal-
cinhas. Alberto quase enlouqueceu ao ver pela primeira
vez um ��rg��o sexual feminino ao vivo. J�� estava sem sa-
ber como se controlar, quando Marlene o chamou:
��� Vem.
66
E ele foi.
Alberto n��o levava muito jeito para o ato. Desajei-
tado, Marlene ajudou que encontrasse o caminho. Ele ex-
perimentou uma sensa����o de prazer enorme. Marlene en-
la��ou-o com as pernas e logo gozaram.
Em casa, n��o tinha coragem de olhar os pais cara a
cara, certo de que cometera um ato abomin��vel. Mas o
repetiu in��meras vezes, at�� que Marlene deixou de tra-
balhar naquele bairro e sumiu.
Teve outras experi��ncias sexuais, com v��rias mulhe-
res, como qualquer rapaz normal. No entanto, se fisica-
mente n��o apresentava nenhuma defici��ncia, o mesmo n��o
se podia dizer mentalmente. No col��gio, ��s vezes, esquecia
completamente o que estudara e ficava atoleimado, quase
sem ter consci��ncia de onde se encontrava.
Por isso era um pouco atrasado nos estudos. Atribu��a
isso ao fato de n��o ser inteligente. Considerava-se mesmo
muito burro. Apesar de tudo, havia coisas que aprendia
com facilidade.
Dirigir autom��vel, por exemplo. O vizinho comprara
um carro de terceira ou quinta m��o. Caindo aos peda��os.
Foi assim que aprendeu a dirigir. Ent��o, seu objetivo pas-
sou a ser: tornar-se chofer de pra��a. Trabalhar num t��xi
era sua ambi����o m��xima.
Mesmo assim, continuou os estudos. E trabalhava
numa padaria. Bom rapaz, por��m muito calado. Mas nin-
gu��m ligava para isso. Apenas tinha um g��nio esquisito,
diziam os conhecidos, amigos e parentes.
Foi quando conheceu Helena.
Ele estava com dezoito anos.
Ela tinha a mesma idade.
67
Foi um caso de amor �� primeira vista (pelo menos
da parte dele).
Helena era uma mo��a muito bonita. A mais bonita
que j�� vira em toda a sua vida. Parecia uma artista de ci-
nema. Tamb��m de fam��lia humilde.
Come��aram a namorar. E Alberto tinha medo at�� de
abra����-la, tal o respeito com que a tratava. Enla��ava-a
ternamente. Beijava-a de leve. Isso, mesmo ap��s v��rios me-
ses de namoro.
Decidiu noivar oficialmente. Comprou com sacrif��cio
as alian��as e pediu-a em casamento. Tudo �� maneira an-
tiga, como lhe haviam ensinado os pais.
E sonhava melhorar de vida. Trabalhar cada vez mais.
Para poder casar. E largar de vez as mulheres da rua,
aquelas que procurava para satisfazer o instinto, como cos-
tumava dizer.
Seria a felicidade plena. Ter sua pr��pria mulher. Fa-
zer amor com ela sem remorsos nem culpas. Terem filhos.
Uma vida s��.
Helena partilhava da mesma opini��o.
O noivado durou quase dois anos.
Alberto trabalhava na padaria. Abandonara os estudos
e conseguira um emprego como chofer numa empresa de
t��xi para rodar durante a noite.
��� �� perigoso ��� disse Helena.
��� �� s�� a gente ter cuidado.
��� Tem muito assaltante por a��.
��� Voc�� pensa que sou bobo? N��o vou deixar qual-
quer um entrar no meu carro de madrugada. Al��m disso,
sou muito forte. �� dif��cil algu��m ter coragem de me en-
frentar.
68
E exibia, orgulhoso e brincalh��o, os seus m��sculos.
Helena ria:
��� Mas voc�� quase n��o vai ter tempo para me ver.
��� Isso �� que �� ruim. Mas s�� assim a gente pode ca-
sar. Depois que juntar algum dinheiro, eu largo a padaria
e fico s�� como chofer durante o dia. A�� a gente se casa.
E faziam planos.
Realmente, quase n��o tinha tempo de encontrar He-
lena. Via-a rapidamente no intervalo entre os dois traba-
lhos, trocavam meia d��zia de palavras. At�� nos fins de se-
mana trabalhava, uma vez que padaria n��o fecha nem aos
s��bados, nem domingos, nem feriados. Mas no t��xi, folgava
aos s��bados �� noite.
E ia com Helena ao cinema.
Justamente querendo construir honestamente sua fe-
licidade, Alberto, em vez disso, a perdeu.
Helena tinha muito tempo livre.
E era muito bonita.
E muito paquerada.
Apareceu um sujeito chamado M��rio.
Bonit��o, atl��tico, bem mais velho do que ela, mas com
apar��ncia jovem.
Queimado de praia, paquerador, mau-car��ter.
Um boa-vida.
Come��ou a querer conquistar Helena.
Quando a abordou pela primeira vez, ela disse:
��� Sou noiva.
��� E o que tem isso?
��� N��o est�� vendo minha alian��a?
��� E da��?
��� Eu sou uma mo��a direita.
69
��� Se fosse torta eu n��o estaria atr��s de voc��.
��� Nunca vou trair meu noivo.
��� Ele n��o precisa saber.
E M��rio continuou firme. N��o deixava Helena em paz.
��� Nunca vi voc�� com seu noivo.
��� Ele trabalha em dois lugares. �� muito ocupado.
��� E por que a gente n��o aproveita isso? Caiu a sopa
no mel. Assim n��o tem perigo dele descobrir nada entre
n��s dois.
��� N��o existe nada entre n��s dois.
��� Mas vai existir.
��� �� o que voc�� pensa.
Mas M��rio n��o desistia.
A fidelidade e for��a de vontade de Helena come��aram
a balan��ar.
O pior de tudo era que cada vez mais se sentia atra��da
por M��rio.
��� Eu quero casar.
��� N��o vou empatar seu casamento.
��� C��nico!
��� Voc�� fica linda quando se zanga.
��� Nunca mais me dirija a palavra.
��� O que foi que eu fiz?
��� Nada. Mas est�� querendo f a z e r . . .
��� Voc�� disse tudo. E vai ver como �� gostoso.
E Helena passou a achar muito chato passar a semana
toda quase sem ver Alberto. S�� aos s��bados. Sentia-se mui-
to sozinha. E aos s��bados, quando ia ao cinema com o noi-
vo, n��o tinha o mesmo prazer de antes. Chateava-se.
Um domingo aceitou o convite de M��rio para irem ��
praia juntos. Alberto n��o ia saber. Estava na padaria tra-
70
balhando. Tomaram o ��nibus cheio para Copacabana. Em
casa disse que ia �� praia com umas amigas.
N��o via nenhum perigo. Na praia cheia de gente, M��-
rio n��o lhe podia fazer nenhum mal.
Desceram no Posto Seis.
A praia estava lotada.
Deslumbrou-se. Nunca tinha estado ali. N��o conhe-
cia Copacabana ainda. Sentiu uma sensa����o de liberdade.
Como se o seu mundinho t��o pequeno tivesse deixado su-
bitamente de existir.
As garotas de biqu��ni (ficou envergonhada do seu mai��
antiquado, fora de moda), os rapazes com sungas peque-
n��ssimas.
Quando tirou o vestido e ficou de mai��, M��rio asso-
biou e exclamou:
��� Que coxas!
Ela teve vergonha e sentou-se na areia.
Ele tirou a bermuda e ficou com uma sunga bastante
pequena.
Helena desviou a vista. O rapaz sentou-se ao seu lado.
Come��ou a alisar-lhe o bra��o. Ela sentiu um arrepio.
Logo em seguida, ele alisou-lhe a coxa. Helena tirou-
lhe a m��o. O rapaz tornou a botar.
��� Est��o vendo.
��� Ningu��m est�� prestando aten����o.
E continuou com a m��o na coxa da garota.
��� Estou com vergonha.
��� Quer ir para um lugar mais deserto?
��� N��o.
��� Ent��o?
Helena estava distra��da, quando ele lhe beijou na boca,
71
�� queima-roupa. Um beijo com l��ngua. Coisa in��dita para
Helena, que correspondeu, apesar de sua luta ��ntima.
��� Sabe que nunca passei tanto tempo cantando uma
garota?
��� Voc�� �� muito apressado.
��� At�� que n��o. Com as outras, chamo logo para o meu
quarto.
��� C��nico!
��� Como voc�� gosta desta palavra!
Foram tomar banho de mar. M��rio deu um mergu-
lho e por baixo da ��gua segurou nas coxas de Helena. Ela
gritou. Todo mundo pensou que fosse por causa de uma
onda mais forte.
Sa��ram da ��gua. Ela, com cara aborrecida:
��� Voc�� n��o devia ter feito aquilo.
��� Mas voc�� gostou, n��o gostou?
��� C��nico!
No domingo seguinte foi de novo para a praia com
M��rio.
S�� que, na volta, ele se desviou do caminho de casa.
Fez sinal para o ��nibus parar na cidade.
Helena surpreendeu-se:
��� Vai descer aqui?
��� Vou.
��� N��o vai comigo at�� Olaria?
��� Depois.
��� Depois, como?
��� Voc�� vai descer comigo.
_ Eu?!
��� Tenho um neg��cio para resolver com um amigo
��� Ent��o, eu sigo sozinha.
72
��� Por qu��? N��o vai demorar.
Ela desceu com M��rio.
Encaminharam-se para o lado da Cinel��ndia. Segui-
ram pela rua do Passeio. Fazia um calor enorme. Alcan-
��aram a Lapa. Ele entrou numa casa velha, um sobrado.
��� Seu amigo mora em pens��o?
��� ��.
Tinha um homem na portaria. Helena, t��mida, ficou
um pouco afastada.
M��rio veio com uma chave na m��o:
��� Vamos?
��� Pra onde?
��� Meu amigo est�� l�� dentro.
Ela o acompanhou.
M��rio abriu a porta do quarto.
��� Voc�� est�� me enganando, M��rio.
Mas ele j�� a puxava para o interior do quarto, fechan-
do a porta a seguir. Beijou-a na boca, fazendo a sua m��o
"trabalhar por baixo da saia de Helena.
��� Deixe-me ir embora.
��� Isso nunca.
��� O que voc�� quer fazer comigo?
��� Ora, Helena, n��o se fa��a de boba.
��� Eu n��o quero, M��rio.
��� Quer, sim. Desde o come��o que voc�� est�� querendo.
E vai ser para j��.
Ele atirou-a na cama, caindo por cima. Ela relutou
um pouco. Enquanto tirava a pr��pria roupa, M��rio falou:
��� N��o v�� me dizer que voc�� �� caba��o ainda.
Ela escondeu o rosto no travesseiro, depois de ter afir-
mado com a cabe��a.
73
��� Ent��o seu noivo �� um boboca.
Ele arrancou-lhe o vestido:
��� J�� que ele n��o fez, eu vou fazer a voc�� este favor.
Helena nua.
M��rio tamb��m.
Por cima dela.
A jovem n��o tinha mentido.
Era mesmo virgem.
��� Voc�� n��o �� a primeira que eu pego assim. Sabe
que gosto de fazer isso? �� minha especialidade.
M��rio mordia-lhe os seios, enquanto se movimentava
por cima da mo��a que, com as pernas abertas, se contorcia
de p r a z e r . . .
Helena gozou.
* * *
Sa��ram do quarto.
Foram para suas respectivas casas.
As idas com M��rio para a hospedaria se sucederam.
Depois passou a freq��entar o quarto que ele dividia com
um colega. M��rio n��o estava a fim de continuar gastando
dinheiro.
74
Helena ficou gr��vida.
Alberto come��ou a notar que a noiva estava engor-
dando. Depois percebeu que engordava apenas na cintura.
A barriga n��o podia mais ser disfar��ada.
A mo��a resolveu acabar o noivado, antes que a bar-
riga assumisse propor����es maiores.
��� Tome sua alian��a.
��� Helena, voc�� tem outro?
��� Procure outra mo��a para casar, Alberto.
��� Mas eu gosto �� de voc��.
��� Eu n��o sirvo para casar com voc��.
��� Helena, quer dizer q u e . . . ?
Mas Alberto n��o conseguiu terminar a pergunta. Mes-
mo porque n��o queria ouvir a resposta. Passou a noite toda
no botequim, bebendo. N��o foi trabalhar no t��xi.
Completamente embriagado, de madrugada, foi para
a porta da casa de Helena e come��ou a gritar palavr��es
e atirar pedras. O pai da mo��a veio �� janela. Uma pedra
atingiu-o no rosto. O sangue espirrou.
O esc��ndalo foi grande. Os vizinhos acordaram. A po-
l��cia foi chamada. Alberto passou a noite no xadrez.
Nunca mais viu Helena.
75
Esta saiu da casa dos pais, depois do esc��ndalo.
Alberto, durante muito tempo, teve uma id��ia fixa.
Encontrar Helena. Mas n��o para am��-la. Arrependia-se de
n��o ter tido coragem de fazer o que pensara, quando des-
cobrira que ela o tra��ra. Sua primeira vontade fora ma-
t��-la . . .
Se encontrasse Helena um dia, a mataria.
76
CAP��TULO 7
O DESAPARECIDO
��� Por que n��o me conta quem era Helena? ��� per-
guntou L��gia.
��� A senhora n��o vai ter interesse por meus proble-
mas.
��� Se n��o tivesse, n��o estaria perguntando.
��� Foi minha noiva.
��� E n��o �� mais?
��� N��o. Isso foi h�� muito tempo.
��� Quando?
��� Seis, sete anos.
��� E ainda gosta dela?
��� N��o.
��� Pelo jeito voc�� ainda gosta.
��� Tenho raiva dela.
��� Sinal de que ainda gosta. Sen��o, tinha esquecido.
��� N��o posso esquecer.
��� E o que ela lhe fez? Foi t��o grave assim?
Por um momento, Alberto virou-se para L��gia e olhou-a.,
Como era parecida com H e l e n a . . .
��� �� melhor a gente parar com esta conversa.
��� Desculpe. N��o quis lhe chatear.
��� N��o tem import��ncia.
77
De volta, quando atravessavam a Ponte Rio���Niter��i,
L��gia tirou uma m��quina fotogr��fica de dentro de uma
maleta. Notou que tinha tocado numa ferida ainda n��o
cicatrizada e teve pena de Alberto. Resolveu distra��-lo e
tamb��m distrair-se um pouco.
��� Vamos dar uma parada no meio da ponte?
��� N��o �� proibido?
��� E o que tem isso?
��� Para qu��?
��� Quero que voc�� tire uma fotografia minha na amu-
rada. �� f��cil. Em um minuto eu subo, voc�� tira a foto e
entramos no carro de volta ��� e L��gia mostrou-lhe a m��-
quina. ��� �� s�� apertar este bot��o.
Alberto parou o carro. Desceram. L��gia encostou-se na
amurada. Ele apertou o bot��o indicado. L��gia sorriu.
Sorrindo, ficava mais parecida com Helena.
Alberto aproximou-se de L��gia.
(E pela sua cabe��a passou um pensamento. Um pen-
samento terr��vel! Coisa de segundos. E se a atirasse no
mar?)
Mas L��gia voltou correndo para o carro. Ele tamb��m
retornou ao volante. Seguiram em frente.
��� E agora, para onde vamos?
��� Zona Sul.
��� Ainda n��o quer ir para casa?
��� N��o.
* * *
Norma, recostada na cama, achou que L��gia estava
demorando muito. Mas n��o se preocupou. Atribuiu o atra-
78
so ao avi��o. Finalmente, depois de mais um comprimido,
a dor de cabe��a estava passando. Pegou um jornal para
ler, a fim de passar o tempo.
Foi direto para a p��gina de televis��o. Leu sobre as
novelas, depois viu os filmes que estavam passando, as co-
lunas sociais. Uma reportagem sobre um artista de cinema.
Em seguida pegou o outro caderno. Lembrou-se do
que Joel lhe dissera. Que ela estava desatualizada quanto
�� realidade da vida. Assim, foi direta �� p��gina sobre os
crimes, desastres e coisas do g��nero.
N��o era uma leitura muito indicada para quem es-
tava com dor de cabe��a. Mas Norma n��o se preocupou
com isso, porque n��o ficava impressionada com essas coi-
sas, principalmente quando n��o lhe diziam respeito, quan-
do n��o a atingiam diretamente.
Numa das p��ginas viu uma fotografia, tipo tr��s por
quatro, de uma pessoa que conhecia. Quem era mesmo
aquele homem? Ora, como n��o lembrara logo? Era Alber-
to, seu novo motorista. Mas surpreendeu-se porque a foto
vinha logo abaixo de um t��tulo que dizia em letras grandes:
DESAPARECIDO
Tratava-se de um an��ncio. E �� medida que lia, sua
surpresa aumentava. Nunca imaginara uma coisa daque-
las. O an��ncio simplesmente dizia que a fam��lia de Alber-
to estava �� sua procura. Ele havia fugido de uma casa
de sa��de para doentes mentais. Aparentemente dava a im-
press��o de ser uma pessoa normal. Pediam para quem sou-
besse de seu paradeiro, dar not��cias para os telefones...
Norma deixou cair o jornal de lado. Bem que ela o
79
achara estranho. Tinha admitido como seu empregado um
louco. Mas sempre sentira atra����o pelas pessoas meio ma-
lucas. Achava-as deliciosas.
Mas logo se deu conta de que n��o se tratava de uma
pessoa meio maluca, mas sim de um louco real, com todas
as implica����es que da�� decorriam.
E lembrou-se de que Alberto tinha ido apanhar L��gia
h�� v��rias horas e n��o voltara ainda.
Teria acontecido alguma c o i s a . . . ?
N��o, n��o acontecera nada. Afinal, Alberto estava ali
h�� quase uma semana. Era meio esquisito, mas sem d��-
vida tratava-se de um louco manso. N��o havia o que te-
mer. E depois L��gia j�� estava bem crescidinha. N��o tinha
motivo para maiores preocupa����es.
Precisava apenas tomar provid��ncias no sentido de
avisar a fam��lia de Alberto e o hospital onde ele estivera
internado. Era uma p e n a . . . Desta vez n��o tivera sorte.
N��o chegara a ir para a cama com Alberto.
Mas como a esperan��a �� a ��ltima que morre, Sebas-
ti��o ainda encontrava-se doente e talvez escolhesse me-
lhor outro motorista que ficaria a seu servi��o at�� a recupe-
ra����o do velho.
Levantou-se e dirigiu-se ao telefone. Hesitou se devia
primeiro ligar para o hospital e a fam��lia de Alberto ou
para o aeroporto, a fim de saber se o avi��o procedente de
Londres havia chegado no hor��rio normal.
Afinal, L��gia j�� devia estar em casa h�� mais de duas
horas.
Ligou primeiro para o aeroporto. Foi informada de
que o avi��o n��o atrasara. Come��ou ent��o a ficar realmen-
te preocupada. Telefonou em seguida para o h o s p i t a l . . .
80
Teve vontade de ligar tamb��m para o marido e para
a pol��cia. Mas depois decidiu que era melhor n��o faz��-lo.
Joel no m��nimo diria que louca era ela.
Ser�� que ele tamb��m lera o jornal? Mas lembrou que
o marido s�� costumava fazer isso depois que voltava para
casa, �� noite.
Talvez tudo n��o passasse de um pequeno susto. Den-
tro em pouco, L��gia entraria em seu quarto, s�� e salva.
Voltou para a cama. Trocou o jornal por uma revista
de moda. Depois pegou uma de fotonovelas. O que estava
precisando era apenas de uma boa higiene mental. Aquela
aborrecida dor de cabe��a estava fazendo com que tivesse
pensamentos m��rbidos.
Concentrou-se na leitura de uma a��ucarada fotonove-
la, em que o mocinho e a mocinha, depois de alguns em-
pecilhos, terminam no melhor dos mundos.
Duas horas da tarde e L��gia n��o aparecera.
* * *
O autom��vel atravessou o t��nel e entrou em Copa-
cabana.
��� V�� pela Avenida Atl��ntica.
Alberto obedeceu.
L��gia perguntou:
��� N��o est�� com fome?
��� Um pouco.
��� Vamos comer alguma coisa?
L��gia n��o tinha moeda brasileira. Mas havia um res-
taurante, ali��s um ��timo restaurante, cujo propriet��rio a
81
conhecia, uma vez que costumava freq��ent��-lo quando es-
tava no Rio. O gerente e o propriet��rio, inclusive, eram
amigos pessoais de seu pai.
A jovem indicou o caminho do restaurante a Alberto.
Ao chegarem, ele estacionou o carro e ela convidou:
��� Vamos almo��ar?
Entraram. Sentaram numa mesa. O gar��om veio aten-
d��-los. L��gia mandou chamar o gerente da casa, que veio
prontamente com um sorriso. Ela explicou que acabara de
chegar de Londres. Estava vindo diretamente do aeropor-
to. O gerente, claro, disse que n��o havia nenhum proble-
ma, poderia pagar com moeda estrangeira, ou deixar a
conta para ser paga depois.
L��gia entregou o card��pio a Alberto. Este sentia-se
meio sem jeito.
��� O que vai querer?
��� Qualquer coisa.
A mo��a ent��o fez o mesmo pedido para os dois.
O almo��o foi acompanhado de um vinho que Alberto
achou uma maravilha. Nunca tinha estado num lugar como
aquele, nem tomara um vinho igual.
Ela estava alegre, descontra��da.
* * *
Tr��s horas da tarde e nem sinal de L��gia. Norma sen-
tiu que sua dor de cabe��a estava amea��ando piorar de
novo. Ent��o, reagiu. N��o, n��o ia ficar ali, naquele quarto,
enchendo a cabe��a com pensamentos negativos. O que fa-
zer ent��o?
82
Tomou mais um comprimido com suco de p��ssego.
Trocou de roupa e fez a maquilagem.
Para onde iria?
Ainda n��o sabia.
Telefonou para Sandra:
��� Sandra, minha querida, o que vai fazer hoje ��
tarde?
��� Nada.
��� Estou com um problema e gostaria de ir at�� sua
casa.
��� Ent��o venha. Podemos dar uma volta, tomar um
drinque na Barra ou olhar os garot��es na praia.
��� ��timo!
Norma desligou. Novamente animada, estava quase es-
quecida de seu problema. Mesmo porque j�� estava pensan-
do num outro. Conseguir um t��xi. Em Santa Teresa eles
eram muito raros. Mandou um dos empregados para a
porta esperar que passasse algum.
Conseguido o t��xi, rumou para o Leblon.
Sandra era uma mulher alegre, cheia de vida. Morava
na rua Delfim Moreira, numa cobertura.
��� Foi maravilhoso voc�� ter vindo. Por que demorou
tanto?
Norma ent��o lembrou-se de seus problemas. E contou
rapidamente �� outra a hist��ria do chofer maluco que con-
tratara, que fora buscar L��gia no aeroporto e que at�� aque-
la hora n��o havia aparecido com a filha.
��� Ora, Norma, mas voc�� se preocupar com uma coisa
dessas? V��-se logo que n��o est�� num de seus bons dias.
Talvez seja mesmo resultado de ter acordado com dor de
83
cabe��a. Eu tamb��m fico deprimida com qualquer tipo de
dor. Por que n��o faz an��lise?
E a outra come��ou a contar as vantagens da an��lise.
��� Voc�� tem algum problema de inf��ncia. N��o resta
d��vida. Por isso qualquer dorzinha a deixa angustiada
e pensando em trag��dias. L��gia deve estar curtindo uma
boa a esta hora. Aproveitou que voc�� n��o foi apanh��-la no
aeroporto e foi rever algum namorado do qual estava mor-
rendo de saudades.
��� �� m e s m o . . . Como n��o me lembrei disso antes?
��� Ora, Norma, estou estranhando voc��. Como, com
sua experi��ncia de vida, p��de ficar preocupada com uma
bobagem? Al��m disso, L��gia n��o �� mais um beb�� de colo.
Estuda na Europa, passa meses em pa��ses estranhos, sozi-
nha, e voc�� n��o se preocupa. Agora se perturba por causa
de uma coisa �� toa.
��� Mas acho que ela acabou com o tal namorado da-
qui.
��� Foi fazer as pazes pessoalmente.
Norma riu.
Sandra continuou:
��� A melhor maneira de fazer as pazes �� pessoalmen-
te, como voc�� sabe. E quanto ao seu motorista louco, estou
morrendo de vontade de conhec��-lo. Voc�� n��o devia ter
avisado aos parentes dele nem ao hospital. Eu o admitiria
aqui em casa com muito gosto. N��o tenho medo dos loucos
que est��o ou estiveram no hosp��cio. Tenho, sim, dos outros
que vivem soltos por a�� e a gente pensa que s��o bons da
cuca. Esses s��o os mais perigosos.
* * *
84
Terminado o almo��o, Alberto e L��gia sa��ram do res-
taurante. O vinho subira um pouco �� cabe��a do motorista.
A jovem estava alegre. E lembrou-se de Ant��nio, Tony,
como ela o chamava.
Estavam perto do apartamento de Tony, seu ex-namo-
rado, com quem terminara o romance por carta h�� cerca
de dois meses. Talvez fosse uma boa rev��-lo. Pediu a Al-
berto para lev��-la �� rua Francisco Otaviano. Desceu na
porta do edif��cio de Tony.
��� Talvez eu demore um pouco.
��� Sim, senhora ��� respondeu Alberto.
Ela entrou no pr��dio. Tomou o elevador. Tocou a cam-
painha. Pouco depois Tony abriu a porta.
��� L��gia! ��� exclamou alegre.
��� Tony!
E os dois se abra��aram como se ainda estivessem n a -
morando.
��� Chegou hoje?
��� Pela manh��.
��� E lembrou-se de vir me v e r . . .
��� Tive saudades.
Ele a beijou na boca.
��� Lembre-se de que n��o temos mais nada um com o
outro ��� advertiu L��gia. ��� Somos apenas bons amigos.
��� Uma situa����o muito legal. Como simples amigos,
podemos fazer o que quisermos, sem compromissos.
Ela observou a cor bronzeada do rapaz, em contraste
com sua pele muito branca, devido aos meses passados em
Londres, onde o sol n��o era verdadeiro, apenas uma imi-
ta����o.
85
��� O que voc�� fez por l��? ��� quis saber o rapaz.
��� Estudei.
��� S��?
��� Bem, conheci algumas pessoas interessantes.
��� E me t r a i u . . .
��� Trai����o �� dist��ncia n��o �� trai����o. Aposto que voc��
tamb��m n��o deixou de ter suas gatinhas.
��� Mas eu sou homem.
��� N��o me venha com seu machismo.
��� Vamos, conta. Como �� o nome dele?
��� Michael.
��� E voc�� o chamava carinhosamente de Mike.
��� Claro.
��� Um ingl��s branco, sem sal e sem a����car.
��� �� o que voc�� pensa. Uma das pessoas mais fasci-
nantes que conheci.
��� A ponto de fazer com que terminasse comigo.
��� Ele n��o foi propriamente o motivo.
��� Mas contribuiu para isso.
��� De uma certa forma. Foi quando compreendi que
n��o amava voc��.
��� E amava Mike.
��� Tamb��m n��o. Era apenas uma companhia agrad��-
vel, exatamente como voc��.
��� S�� transou com ele durante todos estes meses em
que esteve l��?
��� Por que tanta curiosidade em torno de minha vida
amorosa?
��� Os amigos s��o sempre muito curiosos.
��� Tive algumas aventuras. Mas que n��o significaram
86
nada. At�� encontrar Mike. Voc�� precisava conhec��-lo. Ali��s,
ele est�� louco para vir ao Brasil.
* * *
Recostado no autom��vel, Alberto sentia ci��mes de L��-
gia. Era como se ela o estivesse traindo. O que teria ido
fazer naquele apartamento?
Sem d��vida encontrar com algum homem. E deviam
estar transando, enquanto ele estava ali, esperando-a, feito
um bobo.
O edif��cio ficava no final da rua, perto da esquina que
dava para a praia. Alberto achou melhor andar um pouco.
Alcan��ou a Avenida Vieira Souto e ficou olhando o mar.
Recordou-se do castelo de areia que constru��ra dias
atr��s na praia de Copacabana, junto com um menino des-
conhecido. O castelo n��o existia mais. Tinha sido destru��-
do pelo mar, ou por alguma pessoa.
* * *
Sandra e Norma decidiram sair. Tomaram o autom��-
vel da primeira e seguiram para a Barra.
��� Voc�� devia aprender a dirigir ��� disse Sandra.
��� Tentei uma vez e n��o consegui.
��� Todo mundo sabe dirigir.
��� Menos eu. E n��o pretendo tentar novamente. Sou
uma nega����o ao volante. Morro de medo de tudo. De atro-
pelar algu��m, de levar uma batida. N��o dou pra isso.
��� Voc�� desiste muito depressa das coisas. N��o �� �� toa
que acho que deve fazer an��lise.
��� N��o preciso de psicanalista.
87
��� Mas claro que precisa, Norma. Todas as pessoas
precisam.
Ao chegarem �� Barra, escolheram um barzinho a fim
de tomarem chope:
��� Estamos fazendo um programa t��o suburbano! ���
disse Sandra. ��� Mas sabe que estou cansada das coisas
sofisticadas? Principalmente das pseudo-sofisticadas. De-
vemos descobrir os sub��rbios, as pessoas simples, aut��n-
ticas. A falsidade de nosso meio j�� me deixou absolutamente
saturada.
��� Voc�� tem r a z �� o . . .
��� Mas claro que tenho. Estou farta do brilho artifi-
cial, dos sentimentos falsificados. Depois que comecei a fa-
zer an��lise, estou me descobrindo.
"Ela n��o perde nunca a oportunidade de falar na tal
an��lise" ��� pensou Norma. Mas, apesar de Sandra n��o
deixar os outros falarem e querer sempre impor seus pon-
tos de vista, era uma criatura agrad��vel, das mais agra-
d��veis que Norma conhecia. Contestou a amiga:
��� Mas voc�� n��o trocaria seu apartamento no Leblon
por uma casa no sub��rbio.
��� Talvez trocasse... Na verdade, s�� continuo naque-
le apartamento por causa de Frederico. Ele morreria se ti-
vesse que ir para a Zona Norte. E como n��o tenho a menor
inten����o de me separar do meu marido, o jeito �� perma-
necer no Leblon.
Entre os poucos fregueses que estavam no bar, ��quela
hora, havia um homem, de cal����o de banho, sentado mais
adiante, em frente a elas.
Era um tipo meio cafajeste, muito queimado de praia,
88
rugas pronunciadas devido ao sol intenso sob o qual devia
ficar diariamente, um bigode caindo nos cantos da boca.
N��o restava d��vida de que fora um homem bonito.
E ainda era. Devia mesmo ser mais ou menos jovem, n��o
tendo atingido os quarenta anos. Apenas tinha precoce-
mente envelhecido. Seu corpo, entretanto, era esbelto,
musculoso, jovem.
Parecia um misto de pescador com marinheiro. Tanto
Sandra como Norma j�� o tinham examinado nos m��nimos
detalhes, inclusive as tatuagens que tinha num dos bra��os
e na coxa direita.
Ele, por sua vez, tamb��m olhava para as duas mulhe-
res. Notava-se flagrantemente que estava mais interessado
em Sandra, por ser mais bonita. Via nelas tamb��m a opor-
tunidade de ganhar algum dinheiro.
As duas terminaram n��o suportando mais aquela pre-
sen��a, sem comentarem. Sandra, como sempre, foi quem
se referiu primeiro ao desconhecido:
��� J�� notou aquele cara?
��� Claro, n��o ��, Sandra? Ou voc�� pensa que sou cega?
��� Daria um bom programa.
��� Ele est�� olhando pra voc��.
��� Deixe de mod��stia.
��� Ora, est�� na cara.
��� Vamos ser honestas. N��s duas estamos interessa-
das nele. Mas acho que voc�� hoje est�� necessitando mais
de uma aventura do que eu. Nada melhor do que uma dis-
tra����ozinha deste tipo para fazer com que esque��a qual-
quer problema.
��� N��o precisa ter pena de mim.
��� Desde quando eu tenho pena das pessoas, Norma?
89 -
Voc�� j�� me conhece h�� tantos a n o s . . . E depois, voc�� ��
uma pessoa que n��o provoca piedade e sim inveja. Voc��
tem tudo. Muito mais dinheiro do que eu, al��m de ser ca-
sada com um homem lindo.
Norma sabia que a amiga j�� transara com Joel, mas
fingia n��o saber. Ela n��o ligava para o fato. Afinal, Joel
andava com tantas, que mais uma menos uma, n��o fazia
diferen��a.
��� Ele n��o tira os olhos da gente.
��� O campo est�� livre. Pode aproveitar. �� como lhe
disse, n��o existe melhor rem��dio para depress��o. Apesar
de dar muito valor ao meu analista, uma aventura com um
homem destes vale mais do que v��rias sess��es de an��lise.
* * *
��� N��o, Tony ��� recusou L��gia.
��� Porque n��o?
��� J�� repeti muitas vezes que agora somos apenas
bons amigos.
��� O que n��o impede que a gente transe de vez em
quando.
��� N��o estou a fim.
��� Mas eu estou. Puxa, L��gia, parece at�� que nunca
gostou de mim. Este tempo todo afastada e agora fazendo
tanto d o c e . . .
��� Acabei de almo��ar h�� pouco.
��� Garanto que n��o vai fazer nenhum mal.
Ela lembrou-se do motorista que a esperava na porta:
��� Deixei o chofer me esperando.
��� E o que tem isso? �� a obriga����o dele.
90
��� J�� que insiste t a n t o . . .
��� Eu sabia que voc�� terminaria concordando.
��� Mas tem que ser r��pido. N��o quero demorar.
��� Voc�� sabe que n��o sou de perder tempo.
Ali mesmo, no sof�� da sala, ele puxou-lhe a calcinha
e deitou-se por cima. L��gia deixou que a penetrasse, segu-
rando-lhe os cabelos e beijando-o carinhosamente. Fechou
os olhos e lembrou-se de Alberto, o motorista, ao mesmo
tempo que pensava em Mike.
Por que pensara no chofer? Lembrar de Mike, era
��bvio, mas quanto a Alberto, n��o tinha o menor sentido.
* * *
Rodrigo, o homem que era objeto do desejo de Sandra
e Norma, continuava sentado no mesmo lugar, s�� que assu-
mira uma posi����o mais acintosa, com as pernas abertas,
e encarando-as.
Pela maneira como elas o olhavam, compreendeu que
estava sendo o motivo da conversa entre as duas mulhe-
res. Pegou seu copo e chope e aproximou-se:
��� Oi!
��� Oi! ��� responderam as duas a um s�� tempo, como
se tivessem ensaiado.
��� Posso sentar aqui?
��� Claro ��� respondeu Sandra.
��� Nada mais chato do que beber sozinho.
��� Tamb��m acho ��� confirmou Norma.
Ele sentou-se ao lado das duas mulheres. De perto,
suas rugas eram mais pronunciadas, mas s�� ent��o podia-se
91
perceber que seus olhos, apesar de pequenos, eram muito
azuis.
��� "Que homem fascinante!" ��� pensou Norma.
��� "Um barato!" ��� disse Sandra para si mesma.
��� "Na cama, deve ser o m��ximo".
��� "Ele faz exatamente o meu g��nero, apesar do meu
g��nero ser um tanto ou quanto variado".
Enquanto as duas o observavam, Rodrigo compreen-
deu que estava sendo analisado em todos os detalhes e deu
um sorriso c��nico. Sabia que aquele tipo de mulher n��o
lhe resistia.
A conversa foi se encaminhando para o ponto que os
tr��s queriam. Quinze minutos depois, estimulados pelos
chopes que bebiam em abund��ncia, j�� pareciam se conhe-
cer h�� muito tempo.
Elas n��o descobriram se ele era marinheiro ou pes-
cador. Tamb��m pouco se importavam com isso. Talvez
fosse melhor n��o saberem nada a seu respeito. Era melhor
n��o decifrar o mist��rio.
Seria uma decep����o se n��o fosse nem uma coisa nem
outra, e sim um simples funcion��rio p��blico de f��rias que
estava indo �� praia todos os dias.
��� Voc��s est��o de carro?
��� Estamos.
��� N��o seria uma boa sairmos por a��?
��� Este seu "por a��" �� muito vago ��� disse Sandra,
com seu esp��rito objetivo.
��� Bem, a gente podia ir para algum lugar em espe-
cial ��� falou Rodrigo de novo com seu sorriso c��nico.
��� Um lugar mais ��ntimo, onde pud��ssemos ficar mais
�� vontade?
92
��� Acertou. Tem um hotelzinho, mais adiante, do qual
sou fregu��s. Vou sempre l��. Todo mundo me conhece.
��� Isso �� uma proposta? ��� perguntou Sandra rindo.
��� �� ��� respondeu o homem.
��� N��o vou deixar minha amiga sozinha ��� afirmou
Sandra, uma vez que Rodrigo dirigia-se quase que somen-
te a ela.
��� Mas quem foi que disse que ela vai ficar? Estou
falando com voc��, porque ela �� muito calada. Vamos os
tr��s.
��� Que legal! ��� exclamou Sandra no auge do entu-
siasmo.
Chamaram o gar��om. Sandra fez quest��o de pagar a
conta. Tomaram o carro e foram para o hotel.
��� Como est��o vendo, estou s�� de cal����o, n��o trouxe
nem carteira.
��� N��o se preocupe com dinheiro.
Rodrigo sorriu mais uma vez.
Entraram no quarto do hotel. Ele agarrou as duas
sem a menor cerim��nia:
��� A gente vai se divertir um bocado.
��� N��o duvido.
��� Nem eu.
Norma j�� esquecera todos os seus problemas. At�� a
dor de cabe��a sumira definitivamente. Rodrigo tirou logo
a sunga, para mostrar ��s duas os seus, predicados.
��� Voc��s v��o gostar.
��� N��o estamos duvidando.
��� Vai ser uma ��tima brincadeira...
Deitaram-se na cama, Norma e Sandra j�� despidas
93
tamb��m. Ele acariciava as duas, dividindo exatamente em
partes iguais as aten����es entre uma e outra.
Um verdadeiro profissional.
Enquanto chupava os seios de Sandra, pegava nos de
Norma, e vice-versa. E assim continuou, ora com uma, ora
com outra.
Gozou primeiro em Norma.
Algum tempo depois, procurou se excitar de novo, para
transar com Sandra.
Pelo visto, a brincadeira levaria todo o resto da tarde,
pois sa��de era o que n��o faltava a Rodrigo, que estava
tamb��m estimulado com a quantia que receberia depois
pelo trabalho. Certamente um pagamento em d o b r o . . .
* * *
Alberto estava impaciente. Era sempre o enganado.
Com Helena fora a mesma coisa. Ele trabalhando, cons-
truindo honestamente sua felicidade, enquanto ela se di-
vertia com outro. E tudo fora destru��do de repente. Exata-
mente como o castelo de areia.
Agora, enquanto esperava, L��gia transava com outro.
Mas L��gia era L��gia, n��o era Helena. N��o tinha nada a ver
uma coisa com a outra.
L��gia era filha de seus patr��es, nada mais do que isso.
N��o podia sentir ci��mes de algu��m que n��o tinha nada
com ele. No entanto, sentia-se tra��do.
Via as ondas que quebravam na praia. Olhou para
mais longe, onde o mar se confundia com o c��u. Apenas
uma linha os dividia, Sentia-se cada vez mais triste e re-
94
solveu voltar para junto do autom��vel, em frente ao edi-
f��cio onde L��gia estava.
No apartamento, a jovem despedia-se de Tony:
��� Foi estimulante.
��� Eu n��o disse?
Ela ajeitou o vestido, foi para diante de um espelho
e retocou a maquilagem.
��� Est�� na hora de ir embora.
��� Telefonar�� para mim?
��� Claro.
Beijaram-Se e L��gia saiu.
Ele ficou na porta do apartamento, at�� a jovem tomar
o elevador. Este chegou:
��� Tchau!
��� Tchau!
Embaixo, L��gia encontrou Alberto recostado no carro.
Falou sorridente:
��� Demorei muito?
��� Um pouco.
��� Desculpe-me.
Entraram no autom��vel.
��� Para onde quer ir agora?
��� Para casa �� que n��o vou. Quero chegar bem tarde.
S�� assim meus pais v��o se lembrar de mim.
Num certo sentido, ela estava achando um pouco in-
fantil sua atitude, mas agora levaria seu capricho at�� o
fim.
Ele seguiu pela Avenida Vieira Souto. O carro corria
a uma velocidade que ia aumentando cada vez mais. L��gia
sentia o vento em seus cabelos.
As casas passando rapidamente diante de seus olhos.
95
Assim como as pessoas. Mike, Tony, e todos os outros na-
morados. Quantos homens s��o necess��rios para preencher
a vida de uma mulher?
Talvez um ��nico fosse o suficiente. No entanto, no
mundo atual, era quase imposs��vel, uma verdadeira uto-
pia, uma mulher ter apenas um homem durante toda a
sua exist��ncia.
Atravessaram o Leblon e tomaram o caminho da Bar-
ra. Alberto n��o perguntara para onde ela queria ir. L��gia
n��o ligou. Desejava ir para qualquer lugar menos para
casa.
-Perto do mesmo barzinho onde sua m��e momentos
antes estivera, L��gia pediu a Alberto para parar.
��� Vamos tomar um chope?
Desceram do autom��vel. Sentaram-se numa mesa
qualquer.
��� Sinto-me bem ao seu lado.
Alberto levou o copo aos l��bios, em sil��ncio, olhando
o vazio.
* * *
Rodrigo, que havia bebido bastante, depois de pos-
suir Sandra e Norma, come��ou a se tornar inconveniente.
Mandou buscar umas garrafas de cerveja e come��ou a can-
tar e fazer a maior baderna no quarto do hotel onde se en-
contravam.
Neste sentido, Rodrigo as decepcionou. N��o era um
verdadeiro profissional, como haviam julgado. Bebia de-
mais em servi��o.
Quanto �� profiss��o dele, n��o ficaram sabendo e ago-
96
ra n��o tinham mais curiosidade a respeito. Afinal, j�� ha-
viam feito o principal.
As duas amigas compreenderam que estava na hora
de sa��rem. Se permanecessem ali e o homem continuasse
bebendo, terminariam ��s voltas com a pol��cia, o que seria
muito desagrad��vel.
Ent��o, como se tivessem feito um mudo acordo, co-
me��aram a se vestir ao mesmo tempo.
��� Voc��s j�� v��o? ��� perguntou o homem.
��� J�� ��� respondeu Sandra.
��� Mas agora �� que a festa vai come��ar.
��� Pelo contr��rio, a festa terminou.
��� A gente pode se divertir muito ainda.
��� S��o cinco horas da tarde. Est�� na hora de voltar-
mos. Voc�� pode ficar aqui, se quiser.
��� Sozinho?
��� Problema seu.
��� V�� l�� como fala, sua vagabunda ��� falou Rodrigo,
subitamente agressivo.
Sandra n��o gostou de ser chamada de vagabunda, cla-
ro. Ia responder �� altura, mas Norma a impediu de come-
ter a imprud��ncia, tomando-lhe a palavra e procurando
contornar a situa����o:
��� N��o fique aborrecido, Rodrigo. N��s n��o podemos
voltar tarde para casa.
��� Os maridinhos est��o esperando voc��s daqui a
p o u c o . . .
��� Eu sabia que voc�� era um rapaz inteligente.
��� E bom de cama ��� acrescentou Rodrigo.
��� Isso n��o precisa mais dizer, est�� mais do que pro-
vado.
97
Ele melhorou .o humor. Norma, quase pronta (havia
se vestido o mais rapidamente poss��vel), pegou a bolsa e
tirou mil cruzeiros que entregou a Rodrigo.
O homem reclamou:
��� S�� isso?
��� Lembre-se de que pagamos o hotel e sua conta no
bar ��� argumentou Sandra, que ainda estava aborrecida
por ter sido chamada de vagabunda.
Norma, por��m, n��o queria barulho. Apenas livrar-se de
Rodrigo e sair daquele quarto o quanto antes. Pegou mais
duas notas de quinhentos cruzeiros e entregou-lhe:
��� Acho que agora est�� satisfeito.
��� T�� legal ��� concordou Rodrigo. ��� Quando quise-
rem me ver de novo podem dar um pulo naquele bar. Es-
tou sempre por l��.
���O que voc�� faz na vida? ��� perguntou Sandra, inso-
lente.
��� Para que quer saber?
��� Vamos embora, Sandra ��� chamou Norma.
��� Espere um pouquinho que j�� vou d i z e r . . .
��� N��o precisa ��� disse Norma puxando a amiga.
As mulheres sa��ram e deixaram-no no quarto. O ho-
mem beijou as c��dulas que ganhara por pouco mais de
Uma hora de "trabalho". N��o tinha sido t��o mau pago as-
sim. Se desse esta sorte todos os d i a s . . .
E continuou bebendo sua cerveja.
J�� no autom��vel, fazendo o percurso de volta ao Le-
blon, Sandra e Norma comentavam a aventura.
��� Voc�� n��o devia ter provocado o cara ��� falou
Norma.
98
��� Ora, ele estava se metendo a besta. Al��m disso, n��o
vale dois mil cruzeiros.
��� Este dinheiro n��o vai me fazer falta. De qualquer
modo nos divertimos.
99
CAPITULO 8
SEM SA��DA
Num quarto miser��vel da Lapa, Helena fez dois san-
du��ches de p��o com um resto de mortadela. Um para si
e outro para o filho de cinco anos.
Era o almo��o dos dois. Sentou-se na cama e ficou mas-
tigando o sandu��che, enquanto olhava para Carlinhos.
Seus olhos eram tristes e ficaram mais ainda ao olhar
o corpo franzino do menino, que mastigava tamb��m o p��o
duro.
Ela acordara tarde, uma vez que passara a noite "tra-
balhando" pelas ruas da Lapa. Tinha o rosto envelhecido
para a idade e parecia ter trinta e cinco anos, quando na
realidade tinha dez menos.
Olheiras profundas, dentes cariados, pele macilenta.
O corpo magro, rugas em volta dos olhos e da boca. Quem
a tivesse conhecido seis anos antes e a visse agora, n��o a
reconheceria. Nada restava da beleza saud��vel daquela
��poca.
Se arrependimento matasse, certamente Helena j�� te-
ria morrido. Maldizia sua sorte continuamente e ainda n��o
se" conformara com o grande erro de sua vida, ao se deixar
seduzir por um cafajeste, perdendo Alberto para sempre.
Tudo teria sido completamente diferente, se n��o tives-
100
se aparecido aquele "desgra��ado" (ela nunca se referia ao nome de M��rio, seu sedutor, nem em pensamento).
Mas n��o o culpava por tudo. N��o se cansava de se
martirizar, apesar de tanto tempo j�� ter decorrido. Tinha
sido tamb��m culpada pelo que lhe acontecera.
Nunca poderia ter tra��do Alberto, um rapaz s��rio, tra-
balhador, que a adorava. Ainda tinha pesadelos referentes
�� noite em que ele, b��bado, fora para a porta de sua casa
e come��ara a fazer esc��ndalo, atirando pedras e atingindo
seu pai.
Fugira da casa da fam��lia, envergonhada. E nunca
mais procurara ningu��m. Nem mesmo seu sedutor. Traba-
lhara numa lanchonete at�� quase o filho nascer.
Depois, suas dificuldades, que n��o eram poucas, au-
mentaram. Tinha que cuidar do menino rec��m-nascido.
Uma colega de trabalho, com quem fizera amizade, a aju-
dara.
N��o sabia mesmo como sobrevivera (e achava que te-
ria sido muito melhor se tal n��o tivesse acontecido).
Vivia na maior mis��ria e, no momento, estava desem-
pregada. Nesses per��odos em que ficava sem trabalho, con-
seguia algum dinheiro praticando a prostitui����o.
No in��cio, custou a adaptar-se a essa situa����o, mas
depois n��o ligava muito para o fato. Nada lhe importava
mais. Precisava dar comida ao filho, cri��-lo, de um jeito
ou de outro.
Acabou de engolir seu sandu��che, levantou-se e saiu
para comprar alguma coisa para comer �� noite e no dia
seguinte, com o dinheiro que arrumara na noite anterior.
Andou pelas ruas vagarosamente. N��o tinha pressa.
101
Entrou num supermercado, comprou uma lata de leite em
p�� para Carlinhos e alguns outros mantimentos.
Ao sair do supermercado, viu um jornal jogado no
ch��o. Apanhou e levou junto com as compras.
Assim que chegou ao seu quarto, colocou o que com-
prara no pequeno arm��rio. Carlinhos brincava num canto.
Helena deitou-se e come��ou a ler o jornal.
Pouco depois encontrou o an��ncio que falava no desa-
parecimento de Alberto. Antes de ler, ficou alguns momen-
tos olhando a fotografia do rapaz.
E sentiu uma saudade muito profunda, uma tristeza
muito grande. Tudo teria sido t��o diferente se tivesse ca-
sado com e l e . . .
Desaparecido. Por que ele desaparecera? Leu o que
dizia o an��ncio e sua tristeza aumentou. Nunca mais ti-
vera not��cias de Alberto, nem da fam��lia, nem de ningu��m,
desde que fora embora de casa.
A not��cia do jornal dizia que ele fugira de um hos-
p��cio. Alberto enlouquecera. Mais uma culpa em suas cos-
tas. Sua dor aumentou e teve vontade de morrer naquele
instante.
Lembrou-se de uma s��rie de pequenos fatos.
Ela e Alberto andando pela rua sem cal��amento onde
ele morava, logo no in��cio do namoro. De repente, o rapaz
apanhou uma pequena pedra, que ao sol brilhava, e en-
tregou-lhe.
��� O que �� isso?
��� Um presente.
���O que vou fazer com esta pedrinha?
��� Um anel. Faz de conta que �� um brilhante.
102
E ela guardou a pequena pedra, que esqueceu na sua
fuga.
(Ser�� que desde aquela ��poca Alberto n��o j�� era pro-
penso �� loucura? Na sua imagina����o aquela pedrinha tal-
vez fosse um brilhante de verdade.)
Voltavam do cinema uma noite de s��bado.
O c��u escuro n��o mostrava nenhuma estrela. O tempo
estava carregado e dentro em pouco deveria cair um tem-
poral.
Alberto olhou para cima. Por entre os galhos e folhas
de uma ��rvore muito alta, via-se a luz de um poste.
��� Olhe a lua! ��� exclamou Alberto.
��� Aquilo n��o �� a lua. �� a luz de um poste.
(Realmente ele n��o era muito bom da cabe��a. Agora
relembrando esses pequenos epis��dios, via como a amava.
Ao seu lado transformava qualquer coisa em alguma coisa
valiosa.)
A chuva come��ou a cair. Um pingo grosso aqui, outro
ali.
��� Temos que andar depressa ��� disse Helena.
��� Para qu��?
��� Para n��o pegar chuva.
A tempestade caiu antes que chegassem na casa de
Helena, para grande alegria de Alberto, que come��ou a
rir, a correr e a cantar como um garoto.
��� Eu vi um filme em que o cara cantava e dan��ava
na chuva. Vamos dan��ar juntos?
��� Se algu��m passar, vai pensar que somos malucos.
��� E da��?
Ela n��o dan��ara com ele naquela noite na chuva,
(Agora arrependia-se de n��o t��-lo feito.) Mesmo porque n��o
103
havia m��sica tocando. Mas Alberto parecia escutar um
ritmo tocado, sem d��vida, pelos anjos, ao qual somente
seus ouvidos eram sens��veis.
Ela andando depressa, ele correndo, pulando e dan-
��ando ao seu redor.
Alcan��aram a casa completamente encharcados. Al-
berto despediu-se, dando-lhe um beijo molhado na face.
(Helena alisou a face direita, como se ainda sentisse
o beijo. Ele a respeitava tanto! Como se ela fosse de vidro,
de um vidro muito fr��gil, que ao menor toque pudesse
quebrar.)
O mais curioso �� que Alberto s�� fazia estas coisas
quando estavam juntos, sem a presen��a de estranhos.
Quando ele estava sozinho ou em companhia de outras
pessoas, quase n��o falava, trancado dentro de si mesmo.
Ao lado de Helena mudava completamente, expandia-se,
dava vaz��o a todas as suas fantasias.
Tudo aquilo passara. Teria mesmo existido? Seria que
ela tamb��m ficara louca e estava imaginando aquelas
coisas?
Olhou as paredes manchadas do quarto em que vivia
atualmente, testemunhas de sua mis��ria.
H�� mesmo pessoas para as quais a vida n��o apresenta
nenhuma sa��da.
Era o caso de Helena agora.
Carlinhos continuava brincando.
Helena come��ou a chorar.
O filho perguntou:
��� Por que est�� chorando?
��� Por nada.
��� Est�� sentindo dor?
104
Teve vontade de correr e abra��ar-se com o filho, mas
conteve o gesto. Se o fizesse, choraria mais ainda.
O menino permaneceu brincando.
Helena enxugou as l��grimas e assoou o nariz na barra
do vestido.
105
CAP��TULO 9
A FURIA
Nesse mesmo instante, Alberto disse para L��gia:
��� N��o quer ir embora?
��� Vamos tomar mais um chopinho.
A tarde estava acabando. Come��ava a escurecer. Ha-
via Uma certa tristeza no ar. Ele viu uma pedrinha no
ch��o, mas a pedra n��o brilhava. (S�� ao lado de Helena
as coisas pareciam se transformar. Dera-lhe uma vez uma
pedrinha que brilhava ao sol para que ela fizesse um
anel.)
Acabaram de beber o outro chope pedido. L��gia pagou
a conta. Sa��ram do bar em dire����o ao carro.
* * *
Norma despediu-se de Sandra e esperou um t��xi. Como
demorasse a passar, decidiu ir at�� a Avenida Ataulfo
de Paiva. L�� encontraria um com mais facilidade.
Fez sinal para um t��xi vazio. Entrou e seguiu para
Santa Teresa. Voltou a pensar na filha. Com certeza, j��
devia ter chegado em casa. Rememorou os acontecimentos
do dia.
Fora realmente um dia muito movimentado, cheio de
lances emocionantes. Estava ansiosa para chegar em San-
106
ta Teresa, tomar um banho, trocar de roupa, jantar e des-
cansar. Conversaria com a filha, que lhe falaria sobre sua
vida em Londres.
Mas uma nova surpresa aguardava Norma. L��gia ain-
da n��o aparecera. "E agora?" ��� pensou. Telefonou para
o escrit��rio do marido, preocupada.
��� Al��, Joel?
��� Oi, Norma, tudo bem?
��� N��o.
��� O que aconteceu?
��� Como estava com muita dor de cabe��a mandei Al-
berto, o novo motorista, apanhar L��gia no aeroporto pela
manh�� e at�� agora eles n��o chegaram. Estou numa afli����o
terr��vel, principalmente por causa de um an��ncio que vi
no jornal.
��� O que tem a ver o an��ncio com isso?
��� Ainda n��o leu os jornais de hoje?
��� Voc�� sabe muito bem que s�� leio quando volto para
casa, �� noite.
E Norma revelou ao marido o que lera sobre o chofer
que estava substituindo Sebasti��o h�� poucos dias.
��� E por que n��o ligou logo para mim?
��� Para n��o lhe perturbar.
��� N��o tomou nenhuma provid��ncia?
��� Claro que tomei. Telefonei para a fam��lia dele e
tamb��m para o hospital. Disseram-me para ligar assim
que Alberto retornar, a fim de que eles venham apanh��-lo.
N��o vieram logo porque, vendo uma assist��ncia na porta
de nossa casa, Alberto poderia fugir. Como tive que sair
107
�� tarde, deixei uma das empregadas a Jandira, encarre-
gada de avisar.
��� E n��o ligaram do hospital, uma vez que voc�� n��o
tornou a telefonar?
��� N��o sei. Vou perguntar �� Jandira.
Joel perdeu a paci��ncia:
��� N��o perguntou nada a ela quando chegou?
��� Voc�� sabe como eu sou, Joel. Nestas situa����es, nun-
ca sei como agir. Fico confusa e fa��o tudo ao contr��rio.
Assim que cheguei e n��o vi L��gia, corri e liguei para voc��.
Foi a primeira coisa em que pensei. Espere um pouco que vou falar com Jandira.
Chamou a empregada.
��� Ligaram do hospital, enquanto estive fora?
��� V��rias vezes.
��� E por que n��o me disse?
��� A senhora trancou-se logo no quarto. N��o deu
tempo.
��� E o que voc�� falou para eles?
��� Que o chofer ainda n��o tinha voltado.
Norma tornou a falar com o marido:
��� J�� telefonaram do hospital v��rias vezes.
��� Voc�� devia ter ligado para mim de manh��, Norma.
Temos �� que botar a pol��cia atr��s desse cara. Pela marca
e o n��mero do autom��vel, n��o vai ser dif��cil localiz��-lo.
Vou tomar as provid��ncias. Um abra��o. Tchau!
��� Tchau!
Joel desligou. Ele tamb��m n��o teria tomado nenhuma
provid��ncia, se tivesse sabido do fato pela manh��. Como
Norma, tamb��m pensaria que Alberto voltaria logo junto
com L��gia, sem maiores conseq����ncias.
108
Norma sentia-se arrasada.
N��o tomou banho, n��o trocou de roupa, nem descan-
sou, conforme seu prop��sito. Em vez disso, foi preparar
um drinque. Encheu o copo de u��sque, colocou algumas
pedras de gelo.
Ficou olhando um quadro na parede, deitada no sof��,
com o copo na m��o. Era um quadro abstrato, que ela n��o
tinha a menor id��ia do que representava. Sabia que tinha
custado uma fortuna. N��o entendia nada de pintura.
Odiou o quadro. Sem nenhuma raz��o.
N��o suportava ter que enfrentar um problema por
menor que fosse. Depois de alguns goles da bebida, sen-
tiu-se mais segura.
N��o, n��o acontecera nada a L��gia. Ela estava curtin-
do uma boa com Tony, como Sandra havia dito. Alberto
n��o fizera nenhum mal �� sua filha, que afinal de contas
n��o era nenhuma menina inexperiente. "Estas coisas s��
acontecem com os outros" ��� pensou.
Mas L��gia n��o escrevera dizendo que terminara com
Tony? Teriam feito as pazes, tamb��m por correspond��n-
cia? Ou, como lembrara Sandra, fora fazer as pazes pes-
soalmente, assim que chegara de Londres?
Tony.
Ora, por que n��o ligava para ele? Em vez de ficar en-
redada em tantas d��vidas, era s�� telefonar. Como n��o se
lembrara disso?
Levantou-se entusiasmada. Procurou o telefone do ra-
paz no caderno de endere��os.
Discou.
��� Al��! Tony est��?
��� Um momento ��� respondeu uma voz de mulher.
109
N��o tinha sido L��gia. Norma conhecia bem a voz da
filha. Pelo menos isso. Devia ter sido a empregada, uma
vez que Tony morava sozinho. Ou alguma outra namo-
rada.
Tony atendeu:
��� Al��!
��� Aqui �� Norma, m��e de L��gia.
��� Oi, como vai?
��� A L��gia est�� a�� com voc��?
��� J�� saiu.
��� Mas ela esteve em seu apartamento hoje?
��� Esteve, sim. Deve ter sa��do daqui pouco depois das
quatro. N��o me lembro da hora exata. Por qu��? N��o che-
gou em casa ainda?
��� N��o. Por isso me lembrei de ligar para voc��, ape-
sar de saber que voc��s tinham brigado.
��� Fizemos as pazes.
("Exatamente como Sandra dissera", pensou Norma.)
��� Estava muito preocupada, porque o avi��o chegou
��s d��z da manh�� e at�� agora nem sinal de L��gia. J�� estava
pensando em alguma desgra��a. Mas se ela saiu da�� depois
das quatro, ent��o est�� tudo bem. Sem d��vida deu uma
passada na casa de alguma amiga.
��� Deve ter sido. Daqui a pouco ela pinta por a��.
��� Um abra��o, Tony.
Norma largou o telefone aliviada. N��o havia motivo
para dramas. Arrependeu-se de ter ligado antes para Joel,
que j�� devia ter avisado �� pol��cia.
* * *
110
Alberto rodou com o carro pela Barra em. todas as di-
re����es, voltando pelas mesmas ruas, indo de um lado para
outro.
L��gia resolveu dar um fim ��quele passeio sem sentido.
Mesmo porque estava muito cansada.
��� Vamos voltar para casa ��� ordenou.
Mas desta vez, Alberto n��o obedeceu.
J�� escurecera.
Ele procurou o lugar mais deserto poss��vel.
��� Pra onde est�� indo?
O chofer n��o respondeu.
��� Quer me dizer para onde est�� me levando? N��o
me ouviu dizer para ir para casa? ��� perguntou L��gia irri-
tada.
Ele acelerou o carro e parou muito mais adiante, num
local onde n��o havia casas nem ningu��m.
��� Por que me trouxe aqui? ��� perguntou L��gia, ago-
ra com um certo receio.
Alberto saltou e abriu a porta de tr��s, puxando-a para
fora.
��� Voc�� enlouqueceu?
Alberto n��o deu a menor aten����o �� pergunta e, segu-
rando firme o pulso da jovem, a conduziu para. o mato.
��� Me largue.
��� N��o.
��� Est�� me machucando.
��� O que estava fazendo naquele apartamento?
��� Que apartamento?
��� Aquele da rua Francisco Otaviano onde ficou uma
por����o de tempo.
��� N��o �� de sua conta.
111
��� Quem era o cara?
��� Est�� bem, vou responder, mas s�� se me soltar.
Ele apertou com mais for��a o pulso da mo��a. Ela
resolveu falar:
��� �� um namorado meu e voc�� n��o tem nada com
isso.
��� O que fizeram no apartamento?
��� Ora, Alberto, chega de brincadeira. Vamos embora.
Num gesto mais violento, ele atirou-a no ch��o, caindo
por cima:
��� Voc�� vai fazer comigo tamb��m a mesma coisa.
L��gia resolveu mudar sua atitude. Procurou fazer um
acordo:
��� Por que isso, Alberto? Eu fui t��o legal com v o c �� . . .
Mas o motorista n��o queria acordo nenhum. Cara a
cara com L��gia, era como se visse Helena depois de ter
sido possu��da pelo outro.
Beijou-a furiosamente.
L��gia debatia-se.
��� N��o adianta for��ar. Eu n��o quero.
��� Voc�� vai fazer tudo que eu quiser.
L��gia deu-lhe um pontap��. Furioso, Alberto come��ou
a bater-lhe no rosto. O sangue espirrou e escorreu pela
boca.
(A pedrada. A pedra atingira o rosto do pai de Hele-
na, que tamb��m sangrara.)
A jovem viu que de nada adiantava resistir. Lem-
brou-se de uma frase que tinha lido ou ouvido em algum
lugar: "Se o estupro �� inevit��vel, relaxe e goze."
E assim fez.
112
Deixou que Alberto fizesse tudo que desejava, mesmo
porque n��o tinha como impedir. Ele rasgou-lhe a roupa.
Arrancou-lhe a calcinha. Abra��ou-se ao corpo e por um
instante pareceu acalmar-se.
O que diria Mike, seu namorado ingl��s, se a visse na-
quela situa����o? Ele, t��o brit��nico, t��o certinho? Sem d��-
vida acharia que os brasileiros, por causa do clima tropi-
cal, eram muito violentos. Selvagens.
Mas existem ingleses violentos, assim como suecos,
italianos, dinamarqueses, noruegueses, franceses, escandi-
navos, norte-americanos, mexicanos, espanh��is, russos, ja-
poneses, chineses, portugueses, belgas, tchecos, etc., etc.,
e t c . . .
A viol��ncia n��o era exclusividade de ningu��m, de ne-
nhum povo. Pertencia a todos. No mundo atual, a n��o-vio-
l��ncia �� que seria a exce����o.
Milhares e milhares de mulheres s��o estupradas, vio-
lentadas, se viciadas. Por que ela seria uma privilegiada?
Sairia daquela situa����o, com uma experi��ncia a mais.
Depois da pausa, em que parecia ter-se acalmado, Al-
berto recome��ou sua f��ria.
Ao mesmo tempo em que penetrava em L��gia, espan-
cava-a sem parar. Os gritos da mo��a n��o eram ouvidos a
n��o ser pelos insetos e pequenos bichos das redondezas,
que provavelmente j�� tinham presenciado alguma cena se-
melhante, sem entenderem bem por que os seres humanos
eram t��o irracionais.
L��gia terminou perdendo os sentidos, enquanto Alber-
to gozava.
Ele saiu de cima da jovem e ficou olhando o corpo-
113
Inerte e ensang��entado. Colocou-a nos bra��os e deitou-a
no banco de tras do autom��vel. Entrou tamb��m no carro
e saiu daquele lugar.
A escurid��o era quase completa.
Dirigiu-se para a praia.
Procurou um local onde n��o pudesse ser visto por
ningu��m.
N��o queria que interrompessem sua miss��o.
L��GIA, HELENA
HELENA-LIGIA.
Parou o autom��vel.
Olhou em torno.
Ningu��m.
Desceu e retirou o corpo de L��gia, que ainda respirava.
N��o, ela n��o morrera.
Seguiu com sua estranha carga nos bra��os.
Uma mulher nua, com manchas de sangue pelo corpo.
Encaminhou-se para o mar.
Agora n��o dava para ver a linha que dividia l�� longe
o mar do c �� u . .
O castelo de areia.
Sentiu a ��gua fria, molhando-lhe os p��s.
Uma sensa����o agrad��vel.
Parou.
Olhou o rosto da mo��a desacordada.
HELENA-L��GIA.
L��GIA-HELENA.
Quanto tempo ficou ali, im��vel, olhando o rosto, n��o
sabia.
Depois, recome��ou a andar.
114
Devagar.
Sempre em dire����o ��s ��guas.
Foi entrando, e n t r a n d o . . .
At�� desaparecer.
115
EPILOGO
Joel chegou em casa por volta das seis e meia da tar-
de. Perguntou �� esposa:
��� L��gia j�� chegou?
��� N��o.
��� E voc�� est�� assim t��o tranq��ila?
��� Me lembrei de telefonar para o Tony, um dos na-
morados de L��gia, aquele que mora na Francisco Otavia-
no. Ele disse que ela esteve l�� �� tarde. Acho que n��o acon-
teceu nada demais e estamos nos preocupando sem ne-
cessidade
��� A que horas ela saiu da casa do namorado?
��� Depois das quatro.
��� J�� era tempo de ter chegado aqui.
��� Foi �� casa de alguma amiga.
��� Mas podia pelo menos ter telefonado pra voc�� ou
pra mim.
��� Voc�� est�� levando a coisa muito a s��rio, Joel. Den-
tro de mais alguns minutos, L��gia estar�� de volta.
Ele n��o disse mais nada. Tamb��m se sentia um pouco
calmo com aquela ��ltima not��cia. Al��m disso, o que po-
deria fazer j�� fizera, avisando a pol��cia. Mas continuava
inquieto.
Surpreendeu-se consigo mesmo. N��o era pessoa de an-
116
g��stias nem grilos gratuitos. No entanto, n��o conseguia
se tranq��ilizar.
Na hora do jantar, L��gia n��o dera ainda o menor
sinal de vida. Ele sentou-se �� mesa, agitado, e n��o comeu
direito. Norma observou:
��� Voc�� tem andado muito nervoso ultimamente.
(Ela tamb��m voltara a ficar preocupada, mas pro-
curava reanimar o marido.)
��� �� muito estranho L��gia estar demorando tanto,
mesmo tendo ido �� casa de Tony e de alguma amiga.
��� Creio que este livro que est�� escrevendo �� que lhe
deixa assim tenso. Antes, voc�� era muito mais descon-
tra��do.
��� Talvez.
��� Tem trabalhado demais.
Terminado o jantar, Joel sugeriu que n��o podiam ficar
parados, sem fazer alguma coisa objetiva no sentido de lo-
calizar L��gia.
��� Mas voc�� n��o j�� avisou a pol��cia? Que mais se pode
fazer? ��� perguntou Norma.
��� Pegar o caderno de endere��os e come��ar a telefo-
nar para todas as amigas de nossa filha.
��� N��o tenho os telefones de todas elas.
��� Ligue para as que constam do seu caderno.
��� �� . . . n��o deixa de ser uma boa id��ia.
Norma ligou primeiro para Ana.
��� Oi, Aninha, aqui �� Norma, m��e de L��gia.
��� Como vai, tudo bem?
��� Mais ou menos. L��gia esteve em sua casa hoje?
��� Ela n��o est�� na Inglaterra?
117
Chegou no avi��o das dez da manh�� e at�� agora
n��o apareceu em casa. Pensei que pudesse estar a��.
��� N��o. Por que n��o telefona para o Tony?
��� J�� me comuniquei com ele. L��gia esteve em seu
apartamento, mas saiu �� tarde. De qualquer maneira, mui-
to obrigada.
Norma desligou e continuou sua maratona de telefo-
nemas. Falou com mais de uma d��zia de amigas da filha,
da letra A at�� Z, e n��o teve nenhuma not��cia. L��gia n��o
aparecera em lugar algum e n��o havia mais para quem
telefonar.
��� E agora? ��� perguntou ao marido.
��� Bem, n��o nos resta mais nada a n��o ser esperar.
Joel foi para o quarto e tentou escrever. Mas por mais
que se concentrasse, n��o conseguiu. Sol��cita, Norma foi
para o seu lado. Nunca estivera numa situa����o t��o dra-
m��tica.
A mulher acendeu um cigarro e acompanhou Joel at��
a janela, para onde ele se dirigira. Soprava um vento mais
ou menos forte, que fazia com que as cortinas esvoa��assem.
Ela sentiu um medo estranho.
��� Era daqui desta janela que Ros��lia via o homem
que ia para o quarto da empregada e depois tornou-se seu
amante?
��� Deve ter sido ��� respondeu Joel.
Ela olhou as sombras do jardim e teve receio de avis-
tar um vulto correndo. Estremeceu:
��� Seu romance �� muito m��rbido.
��� Voc�� disse que tinha gostado.
��� Claro que gostei. Tanto, que fiquei impressionada.
118
Lado a lado, em sil��ncio, continuaram olhando as
sombras. Angustiados. Com estranhos pressentimentos.
��� Alguma coisa aconteceu a L��gia, tenho certeza.
��� N��o fale assim, Joel.
��� N��o h�� outra explica����o. Sabe que horas s��o?
Norma mentiu:
��� N��o.
��� J�� passam das d e z . . .
��� E se L��gia n��o chegar?
Os dois procuraram adquirir for��as para passarem a
noite em claro. O telefone tocou. Correram para atender.
Joel pegou no telefone primeiro.
��� Ser�� da pol��cia? ��� gritou Norma.
Era do hospital.
Joel informou que n��o havia not��cias da filha e do
motorista, e que a pol��cia j�� estava �� procura dos dois.
* * *
Helena colocava batom diante do espelho quebrado.
Carlinhos j�� dormia. Ela passara o dia inteiro pensando
em Alberto e em seu passado. Agora, aprontava-se para
dar uma volta pelas ruas da Lapa e da Cinel��ndia.
Acabou de se arrumar o melhor que p��de. Olhou mais
uma vez para o filho antes de sair. Apagou a luz e fechou
a porta do quarto. Atravessou o l��gubre corredor da casa
de c��modos. Alcan��ou a porta de sa��da.
A casa ficava no fim de uma ladeira, numa das ruas
da Lapa. Portanto n��o muito longe de Santa Teresa, onde
Alberto arranjara o emprego de motorista ao fugir do hos-
p��cio. N��o sabia que tinha estado t��o pr��ximo do noivo
que perdera h�� alguns anos.
119
Desceu a ladeira com seu sapato de saltos tortos. Tor-
ceu o p�� num buraco da cal��ada e soltou um palavr��o. O
tornozelo ficou doendo.
Chegou �� rua Riachuelo.
Seguiu pela Evaristo da Veiga em dire����o �� Cinel��n-
dia. Os bares estavam cheios. Perambulou por entre as me-
sas, passeou pela cal��ada, olhou os cartazes dos cinemas.
Diante de um, ficou olhando as fotos expostas do fil-
me que estava passando. Aqueles artistas t��o bonitos, que
nem pareciam gente de verdade. Por que uns tinham uma
vida t��o boa e outros viviam como ela?
O destino.
S�� podia ser o destino. Desta vez, na rua, em vez de
se culpar do que lhe acontecera, como o fizera durante o
dia, culpava o destino.
Quem, sen��o o destino, teria colocado em seu cami-
nho aquele "desgra��ado" que a seduzira?
Se seu sedutor n��o a tivesse conhecido, sua vida n��o
teria sofrido aquela reviravolta.
Na rua, sempre ficava um pouco menos triste. As lu-
zes, as pessoas que passavam. Distra��a-se, olhando um e
outro.
O destino fora o grande culpado.
As pessoas nascem com seu caminho tra��ado.
N��o se pode fugir disso.
Pelo menos, com toda sua ignor��ncia, na cabe��a de
Helena, como na de muita gente, o destino servia de bode
expiat��rio. Era mais simples, mais c��modo. Tirava todo um
peso de seus ombros cansados.
(Mas sabia que, ao voltar para o quarto, seu ponto
de vista mudava totalmente. Destino coisa nenhuma. Fal-
120
ta de vergonha. Isso sim. Se ela tivesse tido vergonha na
cara, n��o se entregaria ao primeiro que passasse. Poderia
ser cantada por dezenas de homens e resistir.)
Deu mais alguns passos.
Parou na porta de outro cinema.
(Os filmes que via aos s��bados �� noite, junto com Al-
berto. Agora mal tinha dinheiro para comer uma vez por
dia, quanto mais comprar o ingresso de um cinema.)
Atravessou a pra��a e foi para perto de um ponto de
��nibus. N��o que quisesse tomar alguma condu����o. Apenas
ningu��m a tinha olhado nas imedia����es dos bares e dos
cinemas e ela ia tentar a sorte no ponto de ��nibus, onde
havia v��rias pessoas.
Parou, como se tamb��m esperasse condu����o.
Um homem come��ou a olh��-la de cima a baixo.
Aproximou-se e pediu um cigarro. Ele tirou o ma��o do
bolso e deu-lhe um. Puxou conversa. Finalmente encon-
trar�� um "fregu��s". Poderia ganhar alguns trocados.
Mas o desconhecido a olhara por acaso, n��o estava a
fim de fazer nenhum programa. Um ��nibus parou e ele
despediu-se, tomando-o e seguindo seu caminho.
Helena voltou a andar sem destino. Subiu a Avenida
Rio Branco, parou em outros pontos de ��nibus. Tinha sem-
pre dificuldade de arranjar "fregueses". -
Talvez por causa de seu aspecto, que n��o era dos me-
lhores. Juntava-se a isso, o resto de timidez que ainda
mantinha, e tamb��m sua pouca sorte.
Tornou a pensar no destino e na sorte. Uns tinham
sorte. Ou n��o tinham? Por que tinha gente que s�� com
um cart��o da Loteria Esportiva fazia os treze pontos e fi-
121
cava milion��ria, enquanto outros jogaram a vida inteira
e n��o ganhavam nada?
A sorte existia.
O destino existia.
Ali estava ela, como um exemplo vivo.
E se de repente encontrasse Alberto? Se ele a visse
pelas ruas, procurando homem? Teve medo de que isso
fosse mesmo poss��vel. Afinal, Alberto fugira de um hos-
p��cio e andava �� solta por a��. Poderia dar de cara com ele
a qualquer momento.
Viu um homem de costas.
Estava a v��rios passos dela.
Achou parecid��ssimo com Alberto.
Voltou sobre seus pr��prios passos.
Tudo, menos encontrar Alberto de novo.
Ele seria capaz de mat��-la.
Parou um pouco adiante. Alguma coisa a puxava para
tr��s.
Virou-se e olhou.
O homem, ainda de costas, permanecia no mesmo
lugar.
E se fosse mesmo Alberto?
Uma for��a superior a fez voltar e seguir em dire����o
a ele;
Passaria e olharia para se certificar.
Alberto, se a visse, n��o a reconheceria.
Ela mudara muito.
Pelo menos, o veria outra vez.
Mas por que queria v��-lo?
Estava apenas a dois passos do homem.
O cora����o disparou.
122
Alcan��ou-o, passou e olhou com o canto dos olhos,
disfar��adamente.
Teve uma decep����o.
N��o era Alberto.
Ao mesmo tempo, sentiu-se aliviada.
Encaminhou-se para o Largo da Carioca, pegou a rua
Senador Dantas, novamente a Evaristo da Veiga e estava
na Lapa outra vez. Passou por baixo dos Arcos e em frente
a uma boate de travestis.
Viu alguns na cal��ada, figuras grotescas, caras muito
pintadas. A vida era realmente uma coisa muito depri-
mente.
Sentiu uma certa identifica����o com eles. Eram cole-
gas de infort��nio, tamb��m tinham uma vida sem sa��da.
Como ela.
No entanto, os "alegres" rapazes n��o pareciam ser
infelizes. Riam, davam gritinhos, corriam, gesticulavam.
Ela decidiu ir at�� uma boate na Avenida Mem de S��,
onde poderia achar finalmente algu��m com quem fazer
um programa e ganhar algum dinheiro.
Encontrou outras mulheres da mesma profiss��o. To-
das velhas conhecidas. Mara estava na porta da boate.
��� Hoje �� noite est�� fraca.
��� J�� esteve l�� dentro?
��� Tem meia d��zia de gatos pingados.
��� Ainda �� cedo.
��� Dia de semana �� assim mesmo.
Entrou na boate. Mara a acompanhou. Dois homens,
parecendo oper��rios, estavam sentados a uma mesa.
��� Vamos para junto deles ��� disse Mara.
123
��� Aproximaram-se com o sorriso profissional. Senta-
ram-se depois de uma troca de palavras.
Os dois pediram mais uma cerveja para elas.
* * *
Pela primeira vez em sua vida, Norma passou uma
noite em claro, sem ser numa festa ou divertindo-se.
Ela e Joel j�� haviam consumido muitas doses de u��s-
que e alguns ma��os de cigarros.
��� N��o tem como deixar de reconhecer. Aconteceu al-
guma coisa muito grave com L��gia.
��� E por que a pol��cia ainda n��o os encontrou?
Voltaram a ficar em sil��ncio.
Apenas o rel��gio repetia:
Tic-tac-tic-tac-tic-tac...
O ru��do do rel��gio enervava mais ainda Norma. Aque-
le tic-tac assumia propor����es enormes. Ela colocou as m��os
nos ouvidos num gesto de desespero.
��� N��o ag��ento mais.
��� Calma, Norma, temos que ter calma ��� falou Joel
tamborilando os dedos na pr��pria perna.
O dia amanheceu.
A pol��cia encontrou o autom��vel procurado, num pon-
to qualquer da Barra, perto da praia.
N��o havia ningu��m no carro.
As buscas continuaram.
Joel e Norma pensavam em duas hip��teses.
��� Ser�� que L��gia ainda est�� viva?
��� Talvez ele a tenha apenas raptado.
��� Mas por qu��?
124
��� Como se pode saber o que se passa na cabe��a de
um louco?
��� E se ele a matou?
��� N��o vamos pensar no pior.
Tony telefonou:
��� L��gia est��?
��� Quem est�� falando? ��� perguntou Joel.
��� �� o Tony.
��� Oi, Tony, como vai? L��gia desapareceu.
��� Desapareceu?
E Joel contou todo o drama.
Mais dois dias sem not��cias de L��gia. Nem do moto-
rista.
Norma olhou-se no espelho e viu que estava uma fi-
gura execr��vel. Dois dias quase sem dormir. Precisava rea-
gir. Terminaria enlouquecendo tamb��m, se continuasse da-
quele jeito.
Tomou tranq��ilizantes. Passou o resto do dia dormin-
do. Comeu qualquer coisa �� noite. Tomou mais tranq��ili-
zantes e adormeceu novamente.
Na manh�� seguinte, a situa����o continuava a mesma.
Ela tinha a impress��o de que tudo n��o passara de um
sonho. Ou melhor, de um pesadelo.
Se permanecesse trancada em casa, ao lado do tele-
fone, �� espera de alguma not��cia, iria direto para o Pinel.
O marido, pelo menos, distra��a-se no escrit��rio.
Tomou um banho demorado. Almo��ou. Foi at�� o ar-
m��rio e escolheu o vestido de que mais gostava. Vestiu-o.
Maquilou-se cuidadosamente. Seu aspecto melhorou bas-
tante.
125
N��o poderia entregar-se �� autodestrui����o. Mesmo por-
que isso! de nada adiantaria. Necessitava urgentemente de
uma v��lvula de escape.
Como estava sem motorista, saiu de casa e tomou um
t��xi. Disse ao chofer:
��� Leve-me na Barra.
Desta vez ia sozinha. N��o queria testemunhas. Todos
certamente a condenariam. At�� mesmo Sandra, que acon-
selharia logo uma consulta ao analista.
Mandou o t��xi parar no mesmo bar onde estivera com
a amiga no dia do desaparecimento de L��gia.
Olhou e n��o viu quem procurava.
Um pouco decepcionada, sentou-se em uma das mesas.
Se ao menos visse algum outro homem interessante
por a l i . . .
Mas havia apenas alguns garot��es, acompanhados com
suas respectivas gatinhas. Um senhor idoso com uma mu-
lher mais velha ainda.
O gar��om que a atendeu era um tipo interessante. Jo-
vem, com um ar honesto, simples, saud��vel. Mas estava
trabalhando, n��o poderia largar o servi��o e ir para um
hotel com ela.
Levou um susto, quando, minutos depois, ouviu uma
voz falando quase ao seu ouvido, por tr��s:
��� Est�� sozinha hoje?
Virou-se. Era justamente quem procurava. Rodrigo.
��� Oi!
Ele sentou-se sem cerim��nia. Vestia a mesma sunga.
��� Beber sozinho �� muito chato.
��� Eu sei.
126
��� Veio �� minha procura?
��� Vim.
��� Quem experimenta uma vez, n��o esquece mais.
Todas adoram repetir. Eu sabia que voc�� ia voltar. S u a
amiga n��o quis aparecer?
��� Sandra n��o sabe que eu vim.
��� E por que dividir com ela, o que pode ser s�� seu,
n��o ��?
Foram para o mesmo hotel. Por incr��vel que possa pa-
recer, Norma n��o se sentia desprez��vel.
��� Quanto vai me dar?
��� O que voc�� quiser.
Rodrigo viu que podia explorar �� vontade. Arriscou:
��� Cinco mil.
Como ela n��o concordasse imediatamente, ele acres-
centou:
��� Vou fazer voc�� gozar como nunca, de todas as mar
neiras que quiser.
��� Dinheiro n��o �� problema.
Rodrigo sorriu.
Norma j�� estava nua em cima da cama. O homem
come��ou a beijar-lhe os seios.
Passaram muitas horas no quarto. Rodrigo era quase
um rob�� er��tico. Penetrava em Norma disposto a gozar
quantas vezes ela desejasse...
* * *
Ao chegar em casa, Joel deu-lhe a not��cia com voz so-
turna:
��� Encontraram os corpos.
127
��� L��gia- est�� morta?
��� Est��. E o motorista tamb��m. Morreram afogados.
Ela apresentava sinais de viol��ncia. Foram encontrados
numa praia distante.
FIM
128
De: Bons Amigos lançamentos <
a)https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/solivroscomsinopses
b)http://groups.google.com.br/group/bons_amigos?hl=pt-br
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Lembre-se de valorizar e reconhecer o trabalho do autor adquirindo suas obras .
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