e
Espiritismo
CARLOS TOLEDO RIZZINI
Psicologia
e
Espiritismo
1�� edi����o
10.000 exemplares
DEZEMBRO - 1996
Composto e impresso na gr��fica
da Casa Editora O Clarim
(Propriedade do Centro Esp��rita
"Amantes da Pobreza")
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FICHA CATALOGR��FICA
( C D D ) CLASSIFICA����O DECIMAL DEWEY
133.901
PSICOLOGIA E ESPIRITISMO
Rizzini, Carlos Toledo
Casa Editora O Clarim
Mat��o ��� SP ��� Brasil
296 p��ginas ��� 13 x 18 cm
��NDICES PARA CAT��LOGO SISTEM��TICO
133.9 Espiritismo
I33.9OI Filosofia e Teoria
1 3 3 9 1 Mediunidade
13392 Fen��menos F��sicos
13393 Fen��menos Ps��quicos
AGRADECIMENTOS
Al��m da equipe de nossos funcion��rios, a
edi����o desta obra somente foi poss��vel gra��as ao
carinho e valiosa colabora����o de um grupo de
abnegados amigos desta Casa Editora:
A��cio Pereira Chagas
Alberto de Souza Rocha
Antonio Lucena
Cec��lia Rizzini
Eliseu F. Mota J��nior
Greg��rio Perche Meneses
Ivan Costa
Jorge Rizzini
Otaciro Rangel do Nascimento
Walter B. Mors
Nota da Editora: Os originais deste livro nos foram enca-
minhados pelo autor no ano de 1991, portanto, antes de
sua desencarna����o ocorrida em 03-10-92. Os direitos
autorais foram cedidos graciosamente pela vi��va do confrade
e amigo Dr. Carlos Toledo Rizzini, Sra Cec��lia Rizzini.
��NDICE
CARLOS TOLEDO RIZZINI 11
APRESENTA����O 15
NO����O DE CONSCIENTE 19
NO����O DO INCONSCIENTE 83
ALGO SOBRE ANSIEDADE 146
RAZ��O E F�� 166
RELIGI��O 181
O QUE �� E O QUE SIGNIFICA
A MAT��RIA 188
MAGNETISMO E CONCEITOS CONEXOS ... 209
O DESENVOLVIMENTO CIENT��FICO
E T��CNICO - PARA ONDE NOS
LEVAR��? EP��LOGO 265
LITERATURA PRINCIPAL 287
CARLOS TOLEDO RIZZINI
m 1960, numa entrevista para a "Folha
Esp��rita", de S��o Paulo, justificou sua
convic����o espirita, desde os 33 anos de
idade, dizendo: "��� Venho de fam��lia votada ao
Espiritismo e, posto isto, desde a primeira juventude
j�� conhecia a Doutrina codificada por Allan
Kardec. Nessa ��poca, contudo, dela n��o me
ocupava (conquanto a aceitasse pura e
simplesmente), pois ainda estava em fase de
forma����o como cientista, trabalhando e estudando
ativamente no setor profissional".
Carlos Toledo Rizzini nasceu na cidade de
Monteiro Lobato, SP, em 18 de abril de 1921,
filho de Joaquim Vicente Andrade Rizzini e D.
Cec��lia Toledo Rizzini. Seu pai era m��dium
psicof��nico e vidente, inclusive de premoni����o.
Sua av�� paterna j�� era adepta do Espiritismo,
seu irm��o, Jorge Rizzini, �� conhecido m��dium
e escritor esp��rita, residente em S��o Paulo.
Era casado com D. Cec��lia Rizzini, pintora
famosa do Rio de Janeiro. Tiveram uma prole de
11
sete filhos: Irma, Beatriz, Cec��lia, Marta, Clarice,
Irene e Lineu, todos casados. Deixou ainda,
como descendentes, doze netos.
Formou-se em Medicina em 1947, pela
Faculdade de Ci��ncias M��dicas do Rio de Janeiro,
que exerceu por curto tempo, dedicando-se
depois �� Bot��nica e ��reas correlatas, sendo
considerado not��vel cientista. Ingressou, por
concurso, em 1947, como naturalista no Jardim
Bot��nico do Rio de Janeiro, chegando a ser seu
Diretor. Foi membro da Academia Brasileira de
Ci��ncias. Sistemata ex��mio, identificava e
classificava com extremo rigor e precis��o vegetais
de g��neros e esp��cies ainda n��o descritos.
Tornou-se especialista em v��rios setores,
destacando-se na classe dos liquens, entre os
vegetais cript��gamos, e nas fam��lias das Acant��ceas,
Lorant��ceas e Cact��ceas, entre os vegetais
faner��gamos. Seus trabalhos cient��ficos somam
mais de cento e cinq��enta, al��m de v��rios livros,
adentrando tamb��m na difus��o e divulga����o
cient��fica. �� bastante conhecida sua contribui����o
na defini����o de voc��bulos da terminologia bot��nica
no "Novo Dicion��rio da L��ngua Portuguesa", da
Aur��lio Buarque de Holanda Ferreira (Editora
Nova Fronteira, RJ).
Al��m da obra cient��fica, deixou tamb��m v��rias
obras esp��ritas, sendo seu livro mais procurado
"Evolu����o para o Terceiro Mil��nio" (Edicel, 1978).
12
Deixou ainda: "Fronteiras dos Espiritismo e da
Ci��ncia" (LAKE); "O Homem e sua Felicidade"
(Correio Fraterno do ABC); "Voc�� e a Renova����o
Espiritual" (Edicel); "A Cura pelos Fluidos segundo
o Espiritismo" (Instituto Maria). Deixou no prelo:
"Espiritismo, Hipnotismo e Reencarna����o" (Petit
Editora) e o "Homem e a Provid��ncia"
(Reminisc��ncias). H�� ainda v��rios in��ditos.
Dentre os livros que Carlos Rizzini deixou na
��rea cient��fica, destacamos os seguintes: "Manual
de Dendrologia Brasileira ��� ��rvores e Madeiras
��teis do Brasil" (EDUSP e E. Bl��cher, 1971),
"Manual de Liquenologia Brasileira", em co-autoria
com Lauro Xavier Filho (Univ. Fed. de Pernambuco,
1976), 'Tratado de Fitogeografia do Brasil" (EDUSP
e Hucitec, 1976), "Latim para Biologistas" (Acad.
Bras. Ci��ncias, 1975) e "Bot��nica Econ��mica
Brasileira" (EDUSP e EPU, 1976, mbito Cultural
Edi����es, 1995), em co-autoria com o qu��mico
Walter Mors, tendo sido traduzido para o ingl��s
e para o alem��o.
Participou das atividades do Centro Esp��rita
"Alian��a do Divino Pastor", no Jardim Bot��nico,
e do Centro Esp��rita "Crist��filos", em Botafogo.
Foi festejado expositor da Doutrina Esp��rita.
Incont��veis vezes compareceu ao Instituto de
Cultura Esp��rita do Brasil, como amigo e admirador
do saudoso Deolindo Amorim, inclusive
participando de Semin��rios.
13
Sua desencarna����o ocorreu no Rio de Janeiro,
no dia 3 de outubro de 1992, v��tima de um
enfarte do mioc��rdio. Deve ser destacado que
nasceu ele em 18 de abril, data do lan��amento
de "O Livro dos Esp��ritos", e desencarnou a 3
de outubro, data do anivers��rio de Allan Kardec.
Deixou imensa saudade nos meios esp��ritas, por
sua colabora����o efetiva. Que os seus exemplos
possam servir de est��mulo aos companheiros da
retaguarda, que trabalham ainda por um Mundo
Melhor.
14
APRESENTA����O
uem ouviu explana����es cient��ficas ou leu
e certamente releu obras de Carlos Toledo
Rizzini, notadamente as sucessivas edi����es
de "Evolu����o para o Terceiro Mil��nio" ��� Edicel-
DF, j�� pode imaginar a preciosidade de um outro
trabalho que ele deixou para a posteridade, ao
partir desta vida, e cujo t��tulo �� " P S I C O L O G I A
E E S P I R I T I S M O " .
Livro para ser estudado e meditado, j�� que por
sua vez resulta de profundas reflex��es, com a
virtude de oferecer, em linguagem acess��vel ao
grande p��blico, o que tem hoje em dia a Ci��ncia
alcan��ado a reboque do que as Doutrinas
Espiritualistas apontavam como caminho do
progresso. Numa s��ntese objetiva, feita por quem
passou por volumosos e complexos comp��ndios,
para trazer-nos, numa cobertura abrangente,
descobertas espetaculares a respeito das rela����es
humanas, que outras n��o seriam sen��o aquelas
ditadas como corol��rio pelos Esp��ritos Superiores
a Allan Kardec, roteiro de todas as melhores
15
an��lises comportamentais. Nesse caso, a Psicologia
vista de cima, a Psican��lise em termos pr��ticos,
a experi��ncia de cada um em seu desdobramento
natural a partir da certeza da sobreviv��ncia da
alma em ritmo de eterno evolver.
Pudesse um p��blico bem maior, deixando as
amarras do preconceito academicista e materialista
de conveni��ncia, despertar de um certo letargo e
adentrar-se por novos conceitos, antecipando-se
�� era do Esp��rito para apreciar sob novos ��ngulos
esse horizonte de conhecimentos que a Ci��ncia,
ela mesma, em ��ltima an��lise se v�� obrigada a
sancionar, ainda que muitas respeit��veis figuras do
mundo cient��fico se aborre��am com isso.
Sempre foi assim: todas as conquistas da
ci��ncia humana, e mesmo da tecnologia, encon-
traram barreiras maiores ou menores at�� atingir
o consenso. A d��vida sempre permeou o caminho
dessas conquistas. Este �� o momento em que nos
encontramos.
A verdade do esp��rito, confiemos, est�� bem
mais pr��xima de ser aceita em termos de
universaliza����o pela Ci��ncia.
Ci��ncia Esp��rita �� tudo isso. A parte experimental
das pesquisas fenom��nicas, que tanto honram e
dignificam os pesquisadores, a�� n��o se encerra.
"O Livro dos M��diuns", pouco lido, seguido,
observado, �� pe��a fundamental daquilo que se
conceitua como Ci��ncia Experimental.
16
Mas o comportamento humano tamb��m pode
e deve ser examinado sob a lente percuciente
de uma Psicologia Espiritualista aplicada sem que
se haja de sentir nenhuma contradi����o entre as
correntes cient��ficas, filos��ficas e de outro lado
a moral que dita o comportamento do homem
na busca do homem integral.
Ultrapassados velhos e tradicionais preconceitos,
a busca da verdade onde ela esteja, �� a isso que
se chega com a obra que a Casa Editora "O
CLARIM" quer apresentar aos seus leitores neste
ensejo. Todo o esfor��o n��o �� em v��o, desde que
o homem, esse desconhecido, no dizer de Carrel,
busque descobrir-se e se conhecer.
O Editor
17
NO����O DE CONSCIENTE
sicolog��a �� a parte da Ci��ncia que trata
dos fen��menos mentais ou ps��quicos,
sendo estes produtos da atividade do
c��rebro (para os materialistas) ou do esp��rito
(para os espiritualistas). H�� numerosos tipos de
psicologia conforme o ponto de vista em que se
coloca o observador (ou onde concentra o seu
interesse), n��o poucas vezes radicalmente distintos.
Por exemplo, a psican��lise procura conhecer
os processos que se passam na profundidade da
mente, dos quais o indiv��duo geralmente n��o
tem no����o l��cida; o b e h a v i o r i s m o (ou
condutismo) s�� se interessa pelas respostas do
organismo aos est��mulos externos, desprezando
todos os fatos da vida ps��quica por consider��-
los inacess��veis �� experimenta����o. De sorte que
a palavra psicologia, sem uma especifica����o
adicional, nada significa. Na verdade, h�� muitos
n��veis complementares em psicologia, pelo que
podemos escolher um adequado ��s nossas
cogita����es (tendo estas base segura) e ficar nele
19
ou mesmo combinar dois n��veis; esta atitude,
contudo, n��o obriga a pretender lan��ar por terra
os demais, corretos dentro de suas metodologias
e conceitua����es; apenas adotaremos um ponto
de vista entre muitos �� disposi����o. A n��s importa,
aqui, t��o-somente conhecer as bases referentes
��s atividades e faculdades da mente que o
homem p��e em fun����o durante sua vida, intima
e de rela����o, de modo a ser poss��vel compreender
a c o n d u t a m o r a l do mesmo (e n��o o
comportamento fisiol��gico).
Come��aremos por considerar que o funciona-
mento da mente ou psiquismo �� dominado,
segundo todas as a p a r �� n c i a s , pelo que se denomina
c o n s c i �� n c i a . Esta constitui o foco de converg��ncia
e de irradia����o de todos os fen��menos que se
desenrolam na mente ou esp��rito. Qualquer fato,
mesmo inconsciente, s�� adquire consist��ncia e
realidade pela rela����o que guarde com a consci��ncia;
sem tal rela����o, n��o o notar��amos. Conseq��en-
temente, embora autores competentes noutros
setores psicol��gicos neguem import��ncia a ela ���
e at�� mesmo a sua simples exist��ncia ���, para os
nossos fins ela serve como elemento de
esclarecimento, dando-nos uma vis��o global do
que se passa dentro do esp��rito humano s e g u n d o
a m a n e i r a d e l e p r �� p r i o e n t e n d e r - s e a s i
m e s m o . Isto possibilita usar conceitos e defini����es
facilmente intelig��veis a qualquer pessoa que seja
20
capaz de se reconhecer, que possa identificar
elementos e fatos ps��quicos ��bvios.
Define-se a consci��ncia (psicol��gica) como
sendo a capacidade que possui o esp��rito humano
de se perceber a si mesmo; por exemplo, s e i
que penso, sofro, quero, e t c , isto ��, noto tais
coisas dentro de mim. Sua principal caracter��stica
�� a s �� n t e s e m e n t a l : a vida ps��quica �� una, o
seu funcionamento �� integrado. Todavia, para
compreender as fun����es mentais englobadas
pela consci��ncia, �� costume consider��-las em
separado. Em cada ato mental podem-se reconhecer
tr��s elementos ou componentes: intelectual, afetivo
e ativo, os quais s��o formas de manifesta����o da
vida ps��quica; quase sempre ocorre, num dado
caso, preponder��ncia de um desses elementos.
Se subdividirmos os f a t o s p s i c o l �� g i c o s
(fen��menos que se realizam durante a atividade
mental) nas tr��s categorias acima indicadas,
ent��o teremos a seguinte correspond��ncia com
as faculdades ps��quicas:
F a t o s p s i c o l �� g i c o s
F a c u l d a d e s
Intelectuais
Intelig��ncia
Afetivos
Afetividade
Ativos
Atividade
Abaixo segue um q u a d r o s i n �� p t i c o d i d �� t i c o
das fun����es da mente humana ao n��vel da
21
consci��ncia, no qual est��o inclu��das curtas
defini����es, cuja ��nica virtude �� a de nos familiarizar
com conceitos e voc��bulos usuais, muito
empregados, e aos quais seremos obrigados a
fazer men����o em numerosas inst��ncias.
1 . F u n �� �� e s g e r a i s d o p s i q u i s m o
la. A t e n �� �� o . A����o selecionadora (observa����o,
contempla����o, reflex��o e medita����o).
l b . H �� b i t o . A����o assimiladora (atos e s��ries
de atos conscientes que se tornam inconscientes
por automatiza����o).
2 . F u n �� �� e s e s p e c i a i s o u f a c u l d a d e s
2a. I n t e l i g �� n c i a . Faculdade de adquirir
conhecimentos: a q u i s i �� �� o (sensa����o, percep����o),
c o n s e r v a �� �� o (mem��ria), e l a b o r a �� �� o (associa����o
de id��ias, imagina����o, abstra����o, generaliza����o,
ju��zo e racioc��nio), e x p r e s s �� o (linguagem).
P e n s a m e n t o �� o resultado das opera����es
intelectuais; �� o produto da intelig��ncia, a sua
manifesta����o. I d �� i a �� a representa����o mental de
alguma coisa.
2b. A t i v i d a d e . Faculdade de emitir atos
(rea����es geradas pelo ambiente e a����es livres da
personalidade).
2b.a. A t o s i n d e p e n d e n t e s d a e x p e r i �� n c i a :
r e f l e x o s e i n s t i n t o s (atos cong��nitos, n��o
aprendidos).
22
2b.b. A t o s d e p e n d e n t e s d a e x p e r i �� n c i a :
h �� b i t o s (atos autom��ticos) e a t o s v o l u n t �� r i o s
(de livre escolha, elabora����o consciente). V o n t a d e
�� o pensamento dirigido com for��a a determinado
objetivo ou poder de determinar livremente a
a����o.
2c. A f e t i v i d a d e ( s e n s i b i l i d a d e ) . Faculdade
pela qual se manifestam os estados agrad��veis ou
desagrad��veis (percep����o do prazer e do desprazer)
ou somos afetados pelas solicita����es do mundo
exterior*.
2c.a. T e n d �� n c i a s . Disposi����es que orientam
o indiv��duo: a p e t i t e s (da vida org��nica; manifestam-
se pelas sensa����es) e i n c l i n a �� �� e s (da vida
ps��quica; manifestam-se pelos sentimentos).
2c.b. P r a z e r e d o r . Estados agrad��veis ou
desagrad��veis ligados aos fen��menos afetivos.
2 c . c . S e n t i m e n t o s . Processos afetivos
persistentes e pouco intensos.
2c.d. E m o �� �� e s . Processos afetivos r��pidos
e muito intensos.
2c.e. P a i x �� e s . Processos afetivos persistentes
e muito intensos.
" Nota da Editora: A emotividade, na etapa cognitiva,
gera um sentimento afetivo, como bem esclarece o autor;
este pode ser a favor (prazer), a desfavor (desprazer) ou
qui���� de indiferen��a.
23
A s��ntese de todos os fatos psicol��gicos constitui
a p e r s o n a l i d a d e , que pode ser normal ou
anormal. Conv��m distinguir personalidade de
individualidade. A primeira �� a maneira pela qual
um indiv��duo se apresenta na Terra, ou seja, o
encarnado. Vem a ser o aspecto transit��rio de
uma individualidade, um homem comum, uma
apar��ncia f��sica. Individualidade �� o aspecto
permanente do ser eterno. Assim, uma certa
individualidade (ou esp��rito) possui muitas
personalidades, cada uma correspondendo a uma
vida e, logo, a um dado homem ou mulher.
Gra��as �� reencarna����o, crescem e enriquecem-
se progressivamente as personalidades. Cada
uma destas �� um cap��tulo de uma individualidade,
que os tem numerosos. Seria in��til discutir a
validade ou mesmo a precis��o do arranjo dado
acima e defini����es anteriores: ambos denotam
um car��ter informativo geral.
Algumas observa����es e dados adicionais ser��o
��teis para ampliar a compreens��o do texto
subseq��ente.
A intelig��ncia �� a fun����o mental que permite
ao homem n��o somente aprender ou conhecer,
dando-lhe compreens��o, mas tamb��m enfrentar
situa����es novas (condi����es de vida) pela varia����o
do comportamento, o que se chama de adapta����o;
assim, desempenha ela duas atividades: a cognitiva
e a adaptativa. Segundo alguns autores, ela s��
24
estaria funcionando com plena capacidade dos 40
anos em diante, ��poca em que o c��rebro se
mostraria completamente apto. Isto porque as
fibras de associa����o, que, relacionando os centros
cerebrais uns com os outros, est��o ligadas ao
desenvolvimento da intelig��ncia, s��o as ��ltimas
a sofrerem o processo de m i e l i n i z a �� �� o (mielina
�� uma subst��ncia amorfa que forma bainha em
torno dos prolongamentos das c��lulas nervosas).
Consoante pensam aqueles investigadores, o
funcionamento das fibras nervosas depende deste
processo, pois sabe-se que as fibras sensitivas e
sensoriais se mielinizam cedo, seguidas das fibras
motoras, ao passo que as associativas s�� o fazem
na maturidade org��nica. De qualquer modo, a
grande maioria dos trabalhos importantes �� realizada
nesta fase da vida, para o que haveria uma raz��o
estrutural; e esta daria ao esp��rito tempo para
preparar-se no sentido do desempenho da miss��o.
A intelig��ncia apresenta grande variabilidade
quanto ao desenvolvimento. H�� uma intelig��ncia
concreta ou de superf��cie, que s�� permite
compreender os e f e i t o s i m e d i a t o s dos fatos
que os sentidos abrangem; esta destina-se a
atender �� vida cotidiana, material, e freq��entemente
�� a ��nica evidente. Evolui para a outra forma,
cada vez mais profunda e abstrata, a qual confere
o poder de entender as c a u s a s m a i s d i s t a n t e s
de muita coisa que nos impressiona. O crit��rio
que as separa reside na capacidade de compreender
25
as i d �� i a s g e r a i s , tais como Deus, Cristo, esp��rito,
evolu����o, subst��ncia, destino, imortalidade, livre
arb��trio, causalidade, vida, morte, reencarna����o,
moral, e t c Advirta-se que a primeira n��o ��
necessariamente curta; em n��o poucos casos, ela
se mostra extens��ssima (da�� o que se chama de
"grande cultura").
A palavra r a z �� o �� de uso vulgar��ssimo e com
numerosas a c e p �� �� e s . Pode ser tomada
simplesmente como sin��nimo de intelig��ncia,
por��m, corresponde propriamente ao s e g u n d o
t i p o ��� a faculdade intelectual por meio da qual
o homem alcan��a a concep����o das id��ias universais
ou gerais. Quando se fala de qualquer coisa
r a c i o n a l quer-se fazer refer��ncia a um produto
da intelig��ncia abstrata ou raz��o: por exemplo
a ci��ncia �� a atividade racional por excel��ncia.
Segue-se da�� que a raz��o distingue o homem dos
animais, porquanto, estes n��o deixam de possuir
sua dose de intelig��ncia concreta; o princ��pio
espiritual, em toda a s��rie zool��gica, �� um
mesmo e ��nico, variando o grau de evolu����o.
�� bom reter que a mente humana tem capacidade
limitada para adquirir e armazenar informa����es.
O processo de aprendizagem preserva somente os
fatos e habilidades que se repetem freq��entemente
(veja h��bito �� p��gina 22, acima, e ��s p��ginas 44
e seguintes, abaixo) ou s��o particularmente
importantes. O interesse �� a mola de tudo na vida
26
e �� ele que determina o esfor��o necess��rio.
Quando se quer aprender, aprende-se mesmo sob
condi����es desfavor��veis; mas ao estudante
desinteressado tudo �� in��til. Diz o psic��logo G.
A. Miller (1967): "Para a maioria dos estudantes,
o estudo �� uma e x p e r i �� n c i a d o l o r o s a e o meio
social raramente encoraja-os a sofrer a dor at�� que
aprendam a am��-la".
A afetividade ou vida afetiva �� a faculdade de
ligar qualquer sensa����o ou representa����o ��
qualidade de ser agrad��vel. O pensamento encerra
sempre um componente afetivo; qualquer um
pode dizer, por exemplo, se lhe agrada mais um
tri��ngulo ou uma esfera.
Os sentimentos s��o os processos ps��quicos per-
manentes ou de longa dura����o, difusos e mais ou
menos intelectualizados. As emo����es s��o processos
explosivos, breves ou circunscritos, que constituem
verdadeiros estados psicofisiol��gicos em vista de
acompanharem-se de manifesta����es org��nicas difusas
(palidez, rubor, frio, calor, suor, hipotens��o, arrepio,
tremor, rigidez, e t c ) .
Os sentimentos d��o forma e orientam o funciona-
mento da intelig��ncia, do mesmo modo que as
emo����es d��o colorido �� vida mental. Sendo os
sentimentos prec��rios, voltados para a satisfa����o
do pr��prio eu, a intelig��ncia revela-se pr��tica
(veja acima) e atende somente a fins determinados
pela vida comum. Se eles forem elevados e
ultrapassarem os limites do eu, ela ser�� idealista
2 7
e n��o cuidar�� tanto de finalidades imediatistas.
N��o se pode separar, como tantos pretendem,
raz��o de sentimentos, a n��o ser para reduzir
aquela ao racioc��nio dial��tico apenas. A raz��o
desenvolve-se nas escolas da vida e do estudo;
n��o sendo um atributo fixo, evolui e aprimora-
se. Ela combina, coordena, condensa, analisa e
ret��m a experi��ncia, o sentimento, a imagina����o,
o desejo e a vontade. Equilibrada, sabe integrar
tudo isso harmoniosamente.
I n s t i n t o s . Entre as atividades org��nicas inatas,
existentes desde o nascimento por independerem
de experi��ncia pr��via, temos os r e f l e x o s e os
i n s t i n t o s . Os primeiros s��o respostas de partes
musculares e glandulares a excita����o espec��fica
oriunda do meio exterior ou interior. O v��mito
exemplifica os dois casos; origem externa quando
se ingere algo impr��prio; origem interna m��ltipla,
como em v��rios estados m��rbidos. A passagem
de um c��lculo pelo ureter origina terr��veis ��nsias
ou contra����es g��stricas sem v��mito (o mesmo
sucede tocando o ureter com o dedo durante
uma opera����o cir��rgica). Quando a luz �� fraca
ou intensa, a pupila aumenta ou diminui o
di��metro de maneira a permitir a passagem de
maior ou menor cota de luz; quando se bate com
for��a na r��tula, a perna salta; quando tocamos
um objeto quente, retiramos bruscamente a m��o,
e t c ; quando sentimos o gosto de algo apetec��vel,
2 8
as gl��ndulas salivares produzem saliva abundante;
quando os l��bios da criancinha s��o tocados, ela
come��a a mamar em seco. V��-se que os reflexos
s��o atos inconscientes e autom��ticos que dizem
respeito ao organismo, embora o centro de
rea����o esteja no sistema nervoso central e eles
achem-se sujeitos aos estados emocionais (por
exemplo, o medo e a c��lera perturbam a digest��o).
Podem tamb��m ser desencadeados por a����es
ps��quicas: se lembrarmos de repente de algo
gostoso, que apreciamos particularmente, podemos
"ficar com ��gua na boca"; se recordarmos uma
coisa repulsiva, podemos sentir n��useas. Estes e
outros reflexos que englobam atos aprendidos,
oriundos de experi��ncias anteriores, dizem-se
c o n d i c i o n a d o s , abaixo descritos. Tudo isso vale
para animais e os homens.
Os instintos s��o mais complicados e dif��ceis de
aprender. Pode-se defini-los de mil maneiras e
destacar muitas de suas particularidades, das quais
supomos serem as subseq��entes as mais
esclarecedoras; como s��o incomparavelmente mais
n��tidos nos animais, come��aremos por estes.
No reflexo, o est��mulo desencadeia sempre
um r��pido movimento ou secre����o. No instinto,
o est��mulo, sobre ser menos mec��nico e mais
complexo, nem sempre determina a a����o;
geralmente, liga-se ele a certas ��pocas da vida.
Os atos instintivos mostram-se tamb��m mais
complicados e duradouros. Assim, o ��ltimo passa-
2 9
se mais na esfera mental. O est��mulo interno
define uma n e c e s s i d a d e : a sensa����o de fome
manifesta a necessidade de alimento; o que
suprime a necessidade se chama s a t i s f a �� �� o ou
gratifica����o; um copo d'��gua satisfaz a sede. O
est��mulo interno pode ser determinado por a����o
de horm��nios.
O instinto apresenta algumas caracter��sticas
que ajudam a compreend��-lo:
1. N��o �� aprendido. A aranha tece a teia sem
nunca ter visto outra realizar tal opera����o.
2. N��o inclui qualquer racioc��nio. O gato
rec��m-nascido n��o pensa em procurar a teta
materna.
3. Processa-se para atender determinada
finalidade. A teia da aranha �� a armadilha para
a captura do alimento; o gatinho morreria se n��o
mamasse desde logo.
4. Apresenta grande tenacidade na consecu����o
do seu objetivo; se alterarmos sua marcha, o
animal insistir�� denodadamente; se o tornarmos
sem finalidade, ele prossegue tenazmente.
5. �� perfeito e n��o erra dentro da marcha
estabelecida para o fim ao qual deve atender;
fora dos limites do trabalho que tem em mira,
sua efic��cia decai.
6. Possui, segundo Freud: uma f o n t e de
excita����o dentro do organismo; uma f i n a l i d a d e ,
que �� a supress��o dessa excita����o; um o b j e t o ,
30
representado pelos meios de realizar a satisfa����o.
O instinto �� tenaz e s��bio e realiza um
trabalho admir��vel. Vejam a delicadeza e
complexidade de muitas teias de aranha e a
"t��cnica" de constru����o de colmeias, termiteiros
e formigueiros, nestes ��ltimos havendo at�� plantas
cultivadas e insetos domesticados e criados.
Quanto �� tenacidade, basta ver que o marimbondo-
ca��ador n��o desiste de uma aranha �� qual
come��ou a dar combate (mesmo que n��o a possa
usar depois para p��r seus ovos ou que a postura
resulte in��til: o instinto n��o raciocina); e que a
vespa ca��adora de grilos (na ��poca da postura)
continuar�� firme por mais que lhe tomemos o
grilo anestesiado (ela d��-lhe uma inje����o com o
ferr��o): quantas vezes lhe retirarmos a v��tima,
tantas vezes ela o retomar�� para lev��-lo �� toca
ou procurar�� outro. E isto �� assim ainda quando
haja perdido a finalidade; mesmo esvaziando o
ninho de uma vespa ela proceder�� �� oclus��o do
orif��cio de entrada.
Contudo, sabe-se que os instintos n��o s��o uma
atividade ps��quica pura e exclusivamente mec��nica,
invari��vel. Se as linhas gerais mostram-se sempre
as mesmas, h�� numerosas varia����es nas min��cias
menores e dois indiv��duos podem diferir a tal
respeito, ocorrendo certa diferencia����o individual.
Por exemplo, certa esp��cie de abelha francesa,
que utiliza resina de cipreste na confec����o dos
31
ninhos, foi vista uma vez empregando graxa de
lubrifica����o recolhida numa estrada de ferro
pr��xima. Segue-se que o progresso n��o est��
interditado aos animais; se bem que muito
lentamente, podem sofrer modifica����es: de pronto,
n��o sabem enfrentar altera����es, pois isto �� a
fun����o adaptativa da intelig��ncia desenvolvida.
O entom��logo Hingston ( 1 9 3 1 ) apresenta o
seguinte paradigma indicativo da maneira pela
qual um instinto poder�� ter evolu��do em esp��cies
afins de formigas orientais. Trata-se do instinto
que conduz u m a f o r m i g a a mobilizar suas
companheiras para transportar uma presa por ela
encontrada; as s��ries de atos v��o-se tornando
cada vez mais eficientes.
Vejamos a opera����o em C a m p o n o t u s s e r i c e u s .
Uma formiga depara com uma presa. Vai ao
ninho anunci��-la e retorna com uma s��
companheira. Nesta esp��cie, a descobridora �� a
guia, caminhando �� frente da outra, que de
quando em quando toca a cauda da primeira. A
orienta����o faz-se pelo tato, raz��o porque, se a
segunda atrasa-se, a primeira p��ra e espera que
o contacto seja restabelecido.
Em C a m p o n o t u s p a r i a as coisas passam-se
como acima, mas as duas formigas em viagem n��o
se tocam, mantendo um intervalo de at�� 5-7 cm.
A orienta����o realiza-se por meio do olfato (faro).
J�� C a m p o n o t u s c o m p r e s s u s leva o instinto
32
um pouco mais longe. A descobridora do achado
traz consigo, n��o uma apenas, mas pequeno
n��mero de formigas (20 a 30). A primeira serve
de guia ��s demais, que n��o a tocam, a orienta����o
sendo obtida pelo faro.
Com P h e i d o l e i n d i c a a complexidade aumenta.
Em seguida �� volta ao ninho para anunciar a
descoberta de uma presa, a formiga inicial n��o
serve de guia. Um verdadeiro ex��rcito de formigas,
no meio do qual est�� aquela, sai do ninho e
dirige-se diretamente para o achado. A orienta����o
�� conseguida por meio do faro, capaz de perceber
o tra��o deixado no ar pela primeira formiga
quando regressou da presa ao ninho.
O comportamento dessas quatro esp��cies
permite tenhamos uma id��ia circunstancial da
progressiva complica����o por meio de graus
sucessivamente desenvolvidos. Em C. s e r i c e u s ,
o instinto �� simples: um inseto conduz outro
usando o tato, de modo que eles s��o estreitamente
dependentes. Num grau acima, como vemos em
C. p a r i a , eles mostram-se mais independentes
por se guiarem pelo olfato. Com o apuramento
deste (C. c o m p r e s s u s ) , j�� diversas formigas
seguem a primeira, aumentando consideravelmente
a efici��ncia da opera����o de remo����o da presa.
Em P . i n d i c a , o instinto atingiu a perfei����o:
grande n��mero de trabalhadores caminha rapida-
mente, sem hesita����o e sem guia, bastando-lhes
33
o tra��o ou rasto deixado no ar pela primeira.
De acordo com o antecedente, podemos definir
o instinto como "a for��a oculta que solicita os
seres org��nicos a atos espont��neos e involunt��rios,
tendo em vista a conserva����o deles" (Kardec, "A
G��nese"). Portanto, �� um conjunto de atos
alheios �� intelig��ncia destinados a perfazer
determinada finalidade e desencadeados por um
est��mulo interno (ou excita����o central). Da��
emana o papel importante dos horm��nios no
caso, ou seja, de subst��ncias qu��micas especiais
produzidas pelo organismo, que atuam sobre o
sistema nervoso e outras partes org��nicas, gerando
modifica����es nas fun����es e no comportamento.
Mas, n��o deixa de corresponder ou estar em
rela����o com o ambiente; muitas vezes parece ser
uma rea����o ��s condi����es e a����es deste ��ltimo,
isto ��, resposta a um est��mulo externo.
Quanto �� natureza do instinto, as opini��es
variam tanto que conferem ampla liberdade de
aceita����o da que mais agradar. Kardec ( " O L i v r o
d o s E s p �� r i t o s " ) declara que o instinto "�� uma
intelig��ncia rudimentar", "�� uma intelig��ncia n��o
racional", cujas manifesta����es s��o espont��neas e
n��o deliberadas, como o s��o as da ��ltima categoria.
Contudo, Kardec n��o conheceu o reflexo e o
mistura com o instinto ao dizer, por exemplo
que "o piscar das p��lpebras para moderar o
brilho da luz" �� um ato instintivo, quando �� um
34
reflexo (o est��mulo, a luz, �� externo). Todavia,
conv��m notar que para os behavioristas
(condutistas) um instinto n��o passa de uma
cadeia de reflexos, desencadeados por fatores
mesol��gicos. Mas, isto n��o melhora a compreens��o.
Para Freud, �� uma quantidade de energia que
se orienta em certa dire����o. �� o representante
mental dos est��mulos oriundos do interior do
organismo, os quais, penetrando na mente, fazem-
na gastar certa soma de energia. Assim, o est��mulo
proveniente da ��rea genital apresenta-se na mente
como excita����o sexual; a intensidade desta
excita����o indica o esfor��o exigido �� mente
(energia consumida) para alivi��-la mediante a
atividade er��tica adequada. Um i m p u l s o , ou
melhor, puls��o conforme Freud, palavra t��o
encontradi��a, vem a ser o est��mulo interno
gerado pela press��o do instinto, isto ��, o estado
de s��bita tens��o ps��quica de origem interna, que
ordena imperiosamente uma satisfa����o externa
(gesto, palavra, deslocamento, e t c ) .
McDougall considera o instinto uma disposi����o
inata associada a uma emo����o prim��ria ou funda-
mental; por exemplo, a emo����o do medo acompanha-
se do instinto de fuga, que p��e em a����o. Como
o funcionamento do psiquismo �� integrado,
inevitavelmente os diferentes processos ou categorias
relacionam-se uns com os outros, mas o problema
�� definir de que tipo s��o tais rela����es.
35
Uma s��rie de autores ilustres relaciona a
origem e a natureza dos instintos animais com
certa dose de intelig��ncia; para eles, n��o h��
diferen��a essencial entre atos instintivos e atos
inteligentes, tratando-se aqui de um rudimentar
racioc��nio objetivo, concreto. Roger julga-os "dois
aspectos ou dois est��dios diferentes dum mesmo
processo psicofisiol��gico." Diz Ubaldi (1935):
"Instinto e raz��o s��o duas fases da consci��ncia."
Veja acima as cita����es de Kardec.
O entom��logo ingl��s Hingston (citado �� p��gina
3 2 ) , que observou meticulosamente a vida dos
insetos no Oriente durante 17 anos, alcan��ou as
seguintes conclus��es: 1) "todos os esp��ritos s��o
feitos da mesma subst��ncia"; 2) "�� imposs��vel
explicar os fen��menos ps��quicos pela a����o t��o-
somente das leis f��sicas e qu��micas" (foi o que
Rhine posteriormente demonstrou atrav��s da
experimenta����o parapsicol��gica); 3) os insetos
possuem mem��ria e consci��ncia, n��o diferindo
essencialmente do homem, mas apenas por
quest��o de grau; 4) que est�� "nos atos deliberados
da intelig��ncia a fonte de cada instinto"; 5) que
"de fato, o comportamento autom��tico deriva de
um comportamento que foi inteligente de in��cio."
Cope, o famoso evolucionista norte-americano
do s��culo passado, assegurava que a consci��ncia
foi um fator primordial na evolu����o. Na sua
opini��o os movimentos atualmente inconscientes
foram, no come��o, conscientes e, posteriormente,
36
�� for��a de repeti����o, tornaram-se inconscientes,
autom��ticos. A progress��o evolutiva teria consistido
na passagem sucessiva de a����es do consciente
para o inconsciente, da intelig��ncia para os
automatismos; as atividades tornadas inconscientes
s��o substitu��das por outras conscientes e
volunt��rias, as quais, por sua vez, tender��o ��
automatiza����o.
Essa �� a doutrina explanada em A G r a n d e
S �� n t e s e . Afirma ali Ubaldi que o instinto "age
sem reflex��o porque j�� refletiu o bastante" e
que "o animal raciocina rudimentarmente no
per��odo de constru����o do seu instinto". Para
Romanes, disc��pulo de Darwin, os instintos
secund��rios resultam de adapta����es inteligentes
freq��entemente repetidas e que se fazem auto-
m��ticas, dispensando o pensamento consciente.
Delanne tinha as mesmas id��ias.
Assim como os citados, v��rios outros consideram
que os atos instintivos s��o uma f o r m a f i x a d a
de atos primitivamente conscientes, cuja repeti����o
��� como resposta a uma a����o ou condi����o
exterior persistente ��� foi suficientemente prolon-
gada. Quanto ao mecanismo desta transforma����o
de uma categoria ps��quica flutuante, ao sabor das
circunst��ncias externas, em uma outra fixa
internamente, pode-se obter p��lida id��ia dele
observando como h o j e formam-se os h �� b i t o s e
as r e l a �� �� e s destes com os instintos; ver-se-�� isto
37
adiante. Para n��s, n��o �� dif��cil admitir tal origem
dos instintos uma vez que sabemos ser o homem
oriundo do reino animal por evolu����o, da qual
�� o produto final e caracterizado por dilatada
cota de raz��o; mas, muitos homens t��m ainda
quase que somente intelig��ncia objetiva, mediante
a qual lidam com o mundo sens��vel �� sua volta
e com finalidades imediatas, n��o se apartando
muito dos animais superiores. Alguns pensadores
inverteram a f��rmula indicada, vendo a quest��o
pelo avesso: para Condillac, o instinto seria um
come��o de intelig��ncia e para Viaud, a intelig��ncia
�� um prolongamento do instinto. O ilustre
bi��logo Cu��not (1932) critica a teoria supra-
exposta observando: "H�� qualquer coisa de bizarro
nesta id��ia de degrada����o ps��quica, que faz os
animais atuais, tal como os insetos ricamente
equipados com instintos, descendentes de
ancestrais inteligentes." Ao contr��rio, tratar-se-ia
de enriquecimento do psiquismo pela aquisi����o
de processo ps��quico mais eficiente; e n��o se
envolve a intelig��ncia abstrata, mas a capacidade
de escolher, repetindo-a, a melhor solu����o diante
de situa����es vitalmente s��rias mediante expe-
ri��ncias bem e mal sucedidas. E menos ainda
pretende-se uma descend��ncia rica em instintos
a partir de ancestralidade dotada de intelig��ncia;
cuida-se da progressiva fixa����o e aperfei��oamento
desta sob a forma daqueles num mesmo psiquismo
38
animal que vive infinito n��mero de exist��ncias.
Mais tarde, no seu canto do cisne, o grande livro
" L ' E v o l u t i o n B i o l o g i q u e " (1951) , Cu��not diz
que os instintos, por todos os t��tulos paralelos
aos atos da "intelig��ncia a mais penetrante", s��o
realmente cadeias de reflexos provocados por
est��mulos sucessivos, sobre os quais o animal
tem um vago controle, podendo, contudo, em
certos casos apresentar uma compreens��o parcial
do que faz. A seguir, declara que as modifica����es
individuais s��o excepcionais, mas que "anunciam
um processo novo, a intelig��ncia."
Agora temos a considerar o homem mais de
perto. Reina a maior liberdade na identifica����o
dos instintos humanos. Roldan ( 1 9 6 6 ) , por
exemplo, prop��e, como instintos de conserva����o,
coisas como amor, ego��smo, soberba, instinto
sexual, de defesa, de ataque, de nutri����o, e t c ,
que ou n��o cabem no conceito de instinto ou
s��o excessivamente vagas.
Na realidade, por mais que se procure, no
homem, s�� tr��s grupos de atividades merecem
a classifica����o de instintivas: fome, sede e
reprodu����o. Estas possuem fonte de excita����o,
finalidade conservadora e objeto para satisfa����o.
Al��m disso, n��o exigem aprendizado nem
racioc��nio (em sua forma espont��nea), t��m
apreci��vel tenacidade e n��o erram dentro da
seq����ncia natural de atos necess��rios �� satisfa����o.
39
Ao demais, os autores mais recentes n��o fazem
refer��ncia a outra coisa.
Tais s��o os instintos presentes no homem.
Todavia, no chamado "civilizado" eles apresentam-
se mais ou menos intensamente intelectualizados,
isto ��, modificados pela influ��ncia da raz��o. E
tanto mais refinados e alterados quanto mais esta
�� desenvolvida e domina a personalidade. �� bem
de ver que o homem citadino n��o realiza o ato
sexual com a simplicidade do animal; este ��
guiado por impulso interno com objetivo certo,
sem interfer��ncia de outros elementos ps��quicos:
realizado o ato, est�� tudo acabado; j�� o homem
racionaliza inten����es e desejos para obter o
m��ximo prazer, pelo que modifica o curso
natural com pr��ticas artificiais e complica tudo.
Portanto, nenhum dos seus instintos equivale aos
dos animais.
Erich Fromm, psic��logo cuja doutrina psica-
nalista baseia-se na sociologia e antropologia,
acentua a import��ncia das diferen��as entre instintos
animais e humanos. Declara que a forma de
express��o e de satisfa����o dos instintos �� deter-
minada culturalmente e, pois, varia enormemente
pelo mundo.
O homem, como os animais, tem certas
necessidades fundamentais. Em ambos, os instintos
representam necessidades biol��gicas, mas no
homem n��o t��m m��dulos fixos, espec��ficos e
40
herdados de a����o, por meio dos quais sejam
satisfeitas. Considera o instinto uma categoria
ps��quica em d e c l �� n i o , sen��o em extin����o mesmo,
nos animais superiores ��� e especialmente na
esp��cie humana. Segue-se que a adapta����o desta
�� natureza depende essencialmente do p r o c e s s o
d e a p r e n d i z a g e m e n��o do instinto.
O animal vive em rela����o harmoniosa com o
seu ambiente (ainda que seja comido por outro);
o patrim��nio instintivo dirige eficientemente (como
mostramos acima) o seu esfor��o para sobreviver
e torna-o parte fixa e imut��vel de seu mundo
restrito. Nele, h�� uma cadeia ininterrupta de
rea����es que come��am com o est��mulo, a fome por
exemplo, e terminam por uma linha de a����o mais
ou menos rigidamente determinada, a qual p��e fim
�� tens��o gerada pelo est��mulo. Isto �� assim quanto
��s rea����es j�� fixadas desde muito tempo sob a
forma de instintos, mas n��o exclui a possibilidade
de desenvolver novas rea����es individuais (veja
R e f l e x o s C o n d i c i o n a d o s , abaixo).
Eis as fun����es que distanciam o homem do
animal: a c o n s c i �� n c i a de si pr��prio como entidade
distinta de tudo o mais; a p t i d �� o para recordar
o passado, visualizar o futuro e designar objetos
e atos por meio de conceitos; a r a z �� o para
conceber e compreender o universo; e a i m a g i -
n a �� �� o , mediante a qual ultrapassa o ��mbito dos
sentidos. Por tudo isto, o homem n��o �� parte
41
fixa e imut��vel do seu mundo amplo, ao contr��rio
dos seus irm��os inferiores; a raz��o, a consci��ncia
e a imagina����o o c u p a r a m o l u g a r dos padr��es
de a����o relativamente uniformes, mediante os
quais os animais est��o ajustados ao seu meio ���
e romperam o ajustamento harmonioso do homem
com o resto do mundo. Criou-se um antagonismo
entre aquele e este, que a pr��pria raz��o
(intelig��ncia, etc.) ter�� de resolver.
No homem, a cadeia de rea����es �� interrompida:
o est��mulo existe, mas a satisfa����o deve-se processar
por meio da escolha de uma dentre v��rias linhas
de a����o. Ao inv��s de uma a����o instintiva e
predeteminada, ele �� compelido a examinar
mentalmente as v��rias maneiras poss��veis de
proceder: come��a a pensar; de uma adapta����o
passiva, passa a outra ativa: produz. Inventa
ferramentas e assim vai superando as limita����es
que a natureza imp��e, pois ele �� o mais fr��gil
e desvalido dos seres ao nascer; quanto mais alto
sobe-se na escala do desenvolvimento animal,
tanto menos completo �� o desenvolvimento
estrutural por ocasi��o do nascimento, o que, no
homem, atinge o m��ximo.
Pensa Fromm, ao contr��rio de Freud, que
grande parte das lutas humanas n��o pode ser
explicada pela for��a dos instintos. Quando as
necessidades humanas de alimento, bebida e sexo
est��o satisfeitas �� que realmente c o m e �� a m o s
42
p r o b l e m a s m a i s u r g e n t e s : luta pelo poder e
prest��gio, amor, destrui����o, ideais religiosos e
pol��ticos, etc.. O problema fundamental da psi-
cologia humana n��o reside na satisfa����o ou frustra����o
dos impulsos e necessidades instintivas, visto que
a aprendizagem cria novos problemas e necessidades
t��o ou mais prementes do que as exig��ncias da
fome, sede e sexo; num mundo din��mico, constan-
temente mut��vel, surgem sempre crescentes
problemas e possibilidades de adapta����o. Os impul-
sos que d��o forma ��s diferen��as individuais, como
��dio e afeto, desejo de poder e de destaque,
submiss��o, prazer sensual, e t c , s��o "produtos do
processo social". Tanto as mais elevadas como as
mais baixas inclina����es humanas n��o s��o partes
de uma natureza invari��vel e "recebida biologi-
camente", mas originam-se do processo social que
forma o homem; paix��es, ansiedades, a natureza
humana enfim, s��o um p r o d u t o c u l t u r a l (cujo
desenvolvimento hist��rico a Ci��ncia fez desfilar
completamente). De fato, os homens precisam uns
dos outros para progredirem; s��o as inter-rela����es
de variado tipo, os entrechoques, as lutas inter-
humanas e rea����es rec��procas que aprimoram o
esp��rito humano (por isso, confessou Andr�� Luiz,
ao libertar-se dos n��veis inferiores, que relacionava
advers��rios como benfeitores...). Embora a sociedade
possa desempenhar papel supressor, sua fun����o
criadora �� not��vel. Em suma, no homem, o
4 3
equipamento instintivo acha-se muito atenuado e
modificado a favor de outras categorias mentais.
A n��s parece que seria razo��vel englobar as
observa����es anteriores na seguinte f��rmula, mais
precisa e esclarecedora. Desde que o indiv��duo
emergiu da coletividade, no processo hist��rico,
como entidade destacada das demais, desenvolveu-
se o s e n s o �� t i c o , conforme j�� mencionado.
Podem os nossos n��o diferirem essencialmente
dos instintos animais, por��m, divergem muit��ssimo
em suas manifesta����es e exig��ncias. Surgiu,
portanto, um novo campo para o desenvolvimento
da a����o instintiva: o m o r a l , guardando propor����o
com o progresso ps��quico de cada indiv��duo e
ausente nos dom��nios zool��gicos. Isto �� natural
em vista da necessidade de relacionamento cada
vez mais estreito com o pr��ximo, acima referida.
Cremos que a evolu����o do esp��rito humano
prossegue no sentido de substituir os instintos
animais (ego��stas, pois eles n��o disp��em de
no����o do bem e do mal) por h �� b i t o s m o r a i s
(em cuja base est�� a no����o de dever para com
o semelhante); os primeiros s��o conseq����ncia da
evolu����o org��nica, os segundos ser��o as aquisi����es
definitivas da evolu����o espiritual, que d��
continuidade ��quela.
Temos falado de h �� b i t o , com rela����o aos
instintos. Tal palavra significa a capacidade de
conservar e reproduzir, com facilidade crescente,
44
atos ou atividades exercidas com freq����ncia
anteriormente. Todo ato (ou s��rie de atos)
autom��tico e adquirido pelo exerc��cio, �� um
h��bito. Logo, �� individual e, embora lembre um
instinto, difere deste porque o ��ltimo �� cong��nito
e comum a todos os esp��cimes da mesma
esp��cie (pelo menos quanto ao plano geral). Em
s��ntese, todas as a����es repetidas numerosas
vezes automatizam-se: deixam de ser conscientes,
como eram no princ��pio, e aperfei��oam-se.
Naturalmente, a forma����o de h��bitos est�� em
conex��o com as tend��ncias individuais e com as
aptid��es oriundas das experi��ncias passadas (h��
pessoas que n��o conseguem aprender a tocar
piano, montar a cavalo, e t c , enquanto que
outras aprendem rapidamente: estas t��m aptid��o,
ou seja, experi��ncia acumulada). E a repeti����o
dos atos, que cria e aperfei��oa os h��bitos,
significa que eles s��o ��teis e vantajosos, do
contr��rio seriam abandonados ou pouco
exercitados. Segundo a natureza das pessoas e
o grau de utilidade, para a constitui����o de um
h��bito podem bastar umas poucas repeti����es; ��
grande, pois, a participa����o do psiquismo, a
aten����o e o interesse desempenhando papel
relevante na fixa����o dos atos, ��teis ou aderentes
��s inclina����es.
Admite-se que os h��bitos tenham magna
import��ncia na vida humana; William James, por
4 5
exemplo, pensava que 99% de nossa atividade
envolve h��bitos. Como meio de ajustamento ou
adapta����o valem muito, porquanto permitem
plasticidade org��nica e facilidade de movimentos
que, de outro modo, n��o haveria. D��o continuidade
��s a����es da vida, ligando umas ��s outras, facilitando
o desempenho. E s��o instrumentos de progresso,
pois t��m a fun����o de evitar recome��os cont��nuos;
simplificam todos os processos de aprendizagem:
nadar, falar, escrever, trabalhar, cavalgar, dirigir
ve��culos, e t c .
Consideremos o ciclista nos primeiros dias de
aprendizado. Presta aten����o aos pedais, ao freio,
�� dire����o e ao caminho a percorrer. Seus gestos
s��o hesitantes e dependem da a����o consciente;
se algu��m distrair a aten����o dele, retirando-a da
bicicleta, poder�� cair ou perder�� momenta-
neamente o equil��brio. Em pouco tempo, diferente
para cada pessoa, todos os gestos automatizam-
se e encadeiam-se na devida ordem, podendo ele
cavalgar e mover o ve��culo sem a menor
interven����o intelectiva. Podemos supor que as
a����es repetidas em demasia passam para o
inconsciente em forma de a p t i d �� o ; este
aperfei��oamento deixa livres os movimentos do
ciclista, que, treinado, anda por uma estrada
conversando e atentando para a paisagem, com
inteira despreocupa����o.
46
Num curso de datilografia, para evitar que o
aprendiz fixe a aten����o no teclado, este costuma
ser coberto com uma l��mina. Com ambas as
m��os, ele bate, durante certo tempo, em partes
sucessivas do teclado. Depois de automatizados
todos os gestos, correspondentes a cada tecla,
ele passar�� a escrever de verdade usando todas,
mas ainda sem v��-las. Quando a tampa �� retirada,
o novo datilografo �� capaz de escrever sem
olhar para o teclado: f��-lo automaticamente, sem
pensar na m��quina, mas pensando no que vai
escrevendo. Formou-se o h �� b i t o de datilografar
pela automatiza����o de todos os gestos necess��rios
na devida ordena����o, gra��as ao que pode usar
suas faculdades racionais noutra atividade. Ao
sentar diante da m��quina, da mesma forma que
ao cavalgar uma bicicleta, o homem treinado
comporta-se como se pusesse em fun����o um
i n s t i n t o ��� algo assim como faz um animal que
corre ��rvore acima para construir um ninho ou
que cobre a f��mea mediante uma s��rie de atos
encadeados ou que arrasta uma presa de certa
maneira. A diferen��a reside em que, no caso do
homem, ele d e l i b e r a escrever ou tomar a bicicleta,
pois o h��bito �� aprendido e depois torna-se
inconsciente; e, no caso do animal, este n��o
precisa pensar, porquanto o instinto �� inato e
inconsciente. Mas, nos seus aspectos essenciais,
as duas opera����es ps��quicas s��o semelhantes.
4 7
Pode-se, conseq��entemente, admitir que o
instinto seja um h �� b i t o m a i s a n t i g o , adquirido
outrora pela repeti����o no curso de muitas
exist��ncias, ficando a aptid��o crescente conservada
no psiquismo imortal. N��o que o animal tivesse,
tal o homem, deliberado adquirir um dado h��bito
frente a uma situa����o vital para ele ��� embora
Hingston (1931) veja "nos atos deliberados da
intelig��ncia a fonte de cada instinto"; f��-lo t��o-
somente empregando sua rudimentar intelig��ncia
objetiva ou concreta, gra��as �� qual pode, atrav��s
dos sentidos, assegurar-se do que �� melhor para
sua garantia. A repeti����o de um ato significa que
ele �� vantajoso, tendendo a conservar-se enquanto
durarem as condi����es ambientais que determinaram
sua exterioriza����o. Quando uma condi����o exterior
solicita-o, ele ressurge como instinto. Assim
como os homens de uma comunidade ou n��vel
social realizam aproximadamente os mesmos
atos fundamentais, tamb��m os animais de dada
esp��cie, que vivem num ambiente bastante
uniforme, operam de id��ntica maneira ��� mais
estreita porque n��o t��m liberdade de decis��o
al��m do imediatismo das circunst��ncias. Por isso,
os h��bitos cong��nitos ou instintos variam pouco
de um para outro indiv��duo, mas sempre h��
pequena amplitude de varia����o individual,
conforme assinalou-se atr��s.
48
N��o se pode ignorar nestas quest��es o fator
tempo. A guarni����o instintiva dos animais consumiu
muitos milh��es de anos para formar-se; a raz��o
humana, que vai modificando aquela, conta sua
hist��ria por alguns milhares de anos apenas e
s�� nos ��ltimos s��culos assumiu preponder��ncia.
Edmond Perrier ( 1 8 8 8 ) , conhecido zo��logo
franc��s, apresenta extenso cap��tulo, em seu
tratado, sobre instinto e intelig��ncia nos animais.
A tese que acabamos de expor se acha ali intacta.
Ap��s descrever o instinto ��� "faculdade bem
distinta, em apar��ncia, da intelig��ncia quando
estudada apenas em um certo n��mero de
manifesta����es e considerada somente em seu
estado atual" ��� declara "exagera����o manifesta"
a doutrina de Descartes e Buffon, que v�� nos
animais meros aut��matos: cada ato destes seria
conseq����ncia fatal do funcionamento dos ��rg��os,
o resultado da fixidez das formas org��nicas (o
que hoje �� inadmiss��vel frente �� teoria da evolu����o).
Ao contr��rio, "muitos animais, mesmo assaz
inferiores, t��m uma incontest��vel intelig��ncia",
assertiva que os modernos behavioristas e
reflex��logos n��o desejam ouvir. A seguir, mostra
que os instintos n��o s��o absolutamente imut��veis,
podendo revelar certas modifica����es de quando
em quando. Demonstra tamb��m que n��o est��o
inteiramente ligados �� forma ou �� disposi����o dos
��rg��os. Tudo isto com min��cias e exemplos.
4 9
Os casos observados de modifica����o num
instinto s��o importantes. Um p��ssaro usa fibra
vegetal para tecer o ninho; de repente, come��a
a empregar fio de l��, um produto da ind��stria
humana (veja acima, o exemplo da abelha que
usou graxa). Um outro p��ssaro troca filamentos
vegetais por crina de cavalo, na Am��rica, onde
o mam��fero foi introduzido pelos colonizadores.
Julga Perrier que tais altera����es nos costumes
inatos envolvem compara����o e racioc��nio "muito
simples"; um ato de intelig��ncia permitiu substituir
o material milenar por um novo, tornado
dispon��vel. Modificou-se, portanto, o instinto
pela intelig��ncia, realizando-se um p r o g r e s s o :
os novos materiais de constru����o s��o excelentes
e f��ceis de obter.
O poder da intelig��ncia de modificar o instinto
leva a crer que n��o sejam faculdades totalmente
distintas entre si; podendo a primeira aperfei��oar
o segundo, pergunta-se se este n��o ser�� uma
cria����o daquela: n��o ser�� o instinto o resultado
de m��ltiplos e obscuros esfor��os da intelig��ncia,
acumulados durante enorme n��mero de gera����es
por uma longa sucess��o de indiv��duos da mesma
esp��cie? De fato, diz ele, numerosos atos
inteligentes parecem-se muito com atos instintivos.
�� o que vamos notar num pianista novi��o, por
exemplo, cujos esfor��os v��o-se tornando cada
vez mais suaves e mais desligados da aten����o ��
5 0
medida que os exerc��cios se sucedem; a repeti����o
facilita sempre e acaba ele executando u m a pe��a
maquinalmente. Esta a u s �� n c i a d e c o n s c i �� n c i a
�� um dos caracteres mais n��tidos do instinto e
pudemos assistir, no pianista (veja acima o
ciclista e o datilografo), a metamorfose gradual
dum ato inteligente em um ato instintivo (ou
melhor, s��ries de atos). Tal sucede com todos
os novos atos habituais. Da mesma maneira pela
qual um cavalo percorre, numa noite escura e
sem errar, um caminho complicado mas conhecido,
um homem pode faz��-lo sem prestar aten����o se
j�� o fez muitas vezes antes.
A s e m e l h a n �� a entre o i n s t i n t o e o h �� b i t o
fizera Condillac definir o primeiro como "um
h��bito privado de reflex��o". Na mesma ordem
de id��ias, Perrier proclama: " o i n s t i n t o �� u m
h �� b i t o h e r e d i t �� r i o " . Acima dissemos que o
instinto �� um h �� b i t o a n t i g o , fixado h�� muito,
e t c . Completa o zo��logo esclarecendo que o
h��bito sup��e uma s��rie de esfor��os intelectuais,
pelo que se conclui das duas defini����es que a
forma����o dos instintos envolve "um primeiro
rudimento de intelig��ncia".
A seguir, tratando dos fen��menos inconscientes,
afirma que a aus��ncia de consci��ncia (seja das
imagens sensoriais, seja dos atos efetuados, seja
da finalidade) n��o serve de crit��rio para separar
instinto de intelig��ncia; devem ser considerados
51
"simplesmente como duas formas extremas da
atividade ps��quica relacionadas por uma multid��o
de intermedi��rios." Aceita a opini��o de Cuvier
e Flourens, segundo a qual "quanto mais a
intelig��ncia aumenta, tanto mais o instinto diminui,
havendo uma r e l a �� �� o i n v e r s a entre as duas
faculdades". �� medida que a intelig��ncia cresce,
modificam-se as condi����es de hereditariedade; a
aptid��o inconsciente para formar uma combina����o
de atos determinados �� substitu��da pela aptid��o
para agir diferentemente segundo as circunst��ncias:
�� o ponto de partida de Erich Fromm (confira).
O comportamento, por exemplo, das formigas
��� a maneira pela qual elas se auxiliam em
trabalhos superiores �� capacidade individual; o
modo de enfrentarem sucessos imprevistos,
hesitando e consultando-se entre si antes de agir
��� levou Perrier a identificar nelas "uma intelig��ncia
assaz desenvolvida". De fato, �� curioso como
distinguem ciclamato (ado��ante artificial) de a����car,
sendo ambos doces e sem cheiro, mas s�� o
segundo servindo como alimento; derramando
um l��quido a��ucarado, acorrem sem qualquer
hesita����o e entram a sabore��-lo; derramada uma
solu����o ado��ada com ciclamato, caf�� por exemplo,
uma ou outra aproxima-se, mas afasta-se logo e
nenhuma volta. Reputa ele que a intelig��ncia
tomou incremento maior nos animais de vida
social; quase todos os nossos animais dom��sticos
eram soci��veis em estado selvagem.
52
Ao concluir, escreve que "em todos os animais,
as manifesta����es mentais, desde as mais humildes
��s mais elevadas, s��o todas da m e s m a n a t u r e z a " .
Inicialmente, s��o inconscientes e limitadas ��s
a����es e rea����es mais imediatas do organismo e
do meio no qual este vive. Tais opera����es,
sempre repetidas, incrustam-se no sens��rio do
animal e chegam a fazer parte dele: temos a�� o
i n s t i n t o . A este estado rudimentar sucede "uma
no����o mais clara" das rela����es organismo/meio;
a c o n s c i �� n c i a come��a a destacar-se; os atos
instintivos podem ser agora ligeiramente
modificados e melhorados. Se as causas destas
modifica����es persistem, elas, primeiro inteligentes,
saem da consci��ncia e tornam-se instintivas; o
instinto altera-se, mas ainda prevalece. Vai a
consci��ncia aos poucos ampliando-se, as id��ias
ficando mais claras, e a intelig��ncia mistura-se
em todos os graus com o instinto. Afinal, chega
o momento em que aquela assume a hegemonia
e domina o ��ltimo, isto ��, o que o instinto tem
de f i x o desaparece mais ou menos completamente
sob o fluxo vari��vel de incessantes inova����es.
Este livro de Emond Perrier �� destinado ao
ensino em escolas adiantadas e n��o �� propaga����o
de id��ias pessoais, fato que leva a supor haver
o autor, competente investigador, ponderado
bem sobre as quest��es explanadas.
5 3
D e s s e ponto prosseguem Geley, Delanne e
Ubaldi. Vejamos algumas comprova����es. "No
animal superior, cavalo, cachorro, macaco, elefante,
e t c , a realiza����o da consci��ncia fez imenso
progresso. As faculdades l��gicas e de racioc��nio
desempenham j�� um papel importante. Ao mesmo
tempo, o p a p e l a p a r e n t e d o i n s t i n t o d i m i n u i .
Suas manifesta����es n��o s��o cont��nuas nem
dominantes: fazem-se limitadas e intermitentes."
�� o que afirma Gustave Geley ( " D o I n c o n s c i e n t e
a o C o n s c i e n t e " ) , agregando que isto ��
indispens��vel �� evolu����o e que o predom��nio do
instinto implica no "estacionamento do progresso
intelectual". V��-se, posto isto, que as id��ias de
Fromm acerca das rela����es instinto/intelig��ncia
no animal e no homem n��o s��o t��o novas quanto
nos querem fazer crer...
Algumas cita����es de Gabriel Delanne comple-
tar��o toda a exposi����o sobre instintos e h��bitos.
"No animal, t o d a a �� �� o i m p l i c a v o n t a d e ,
consci��ncia, racioc��nio, intelig��ncia" e "no animal,
toda a����o �� o resultado de um p r �� v i o j u l g a m e n t o
que implica vontade, consci��ncia, racioc��nio,
intelig��ncia". Vejam " O E s p i r i t i s m o p e r a n t e a
C i �� n c i a " . O erudito autor compara a aquisi����o
do instinto pelo pcrisp��rito �� maneira pela qual
"a crian��a aprende a ler" ��� movimentos inicial-
mente intencionais e custosos, muito repetidos,
e depois mec��nicos; atrav��s de in��meras vidas
54
o perisp��rito, "sob influencia da vontade nascente",
fixa os movimentos sob a forma de automatismos.
Diz que os h��bitos, gerados pela repeti����o
voluntaria de uma s��rie de atos, acabam, em
gera����es sucessivas, como instintos. Faz a seguinte
compara����o: "o movimento �� volunt��rio quando
se sabe c o m o e porque �� feito; habitual
quando �� feito sem se saber c o m o ; instintivo
quando feito sem se s a b e r porque; reflexo ou
autom��tico quando feito sem o saber". Em "A
Evolu����o An��mica", alonga-se muito mais sobre
as quest��es aqui ventiladas, no mesmo sentido.
Afirma, por exemplo, que "Os instintos naturais
s��o, portanto, mais ou menos modificados ou
aperfei��oados pela intelig��ncia. Se as causas que
acarretaram essas modifica����es s��o persistentes,
vimos que elas se tornam inconscientes e se
fixam no inv��lucro flu��dico. Assim, ficam sendo
verdadeiramente instintivas". A luta pela vida
�� o ��nico meio pelo qual a alma jovem pode
desenvolver suas faculdades latentes, como, mais
tarde, o sofrimento o �� para o progresso
intelectual e moral, afirma Delanne ��� pois,
"todos sa��mos do limbo da bestialidade." Adiante:
"Definimos estas a����es, hoje inconscientes, mas,
primitivamente, volunt��rias e tornadas instintivas
por efeito de repeti����es inumer��veis"; a seguir,
encara instintos e h��bitos como tendo a mesma
g��nese. Finalmente, para n��o repetir muito,
5 5
esclarece que em cada encarna����o adquirimos
h��bitos de natureza variada, fato de grande
import��ncia na vida do esp��rito: "Todos esses
movimentos foram originariamente conscientes,
desejados. Depois a repeti����o criou um h��bito...
Acabaram tornando-se inconscientes."
Acima dissemos de h �� b i t o s m o r a i s , ao referir
o novo campo de a����o e o novo rumo da
evolu����o do esp��rito humano. Conv��m acentuar
que o mesmo processo, de transmiss��o do
consciente para o inconsciente das experi��ncias
vividas e assimiladas por constante repeti����o,
continua vigorando em o n��vel ��tico. Eis porque
a "A Grande S��ntese" afirma: "A pr��tica constante
da moral confere ao homem atitudes morais", ou
seja, cria o h��bito de agir corretamente, sem
pensar e sem esfor��o ��� e j�� mencionamos o valor
educativo do h��bito. A vontade, instru��da pela
compreens��o (que procede do conhecimento),
pode determinar uma conduta moral, ainda quando
a tanto se oponham tend��ncias inatas (oriundas
do passado ignaro e culposo); isso �� dif��cil de
in��cio e durante muito tempo, pois, o "instinto"
(h��bito antigo) �� tenaz e exigir�� intensa luta. Mas
aos poucos vai-se vendo o resultado aparecer e
os automatismos contr��rios ca��rem, cedendo
lugar aos novos e bem orientados. Nada poder��
ser expulso do esp��rito, mas, sim, transformado.
�� agindo em sentido contr��rio, conduzidos por
5 6
boa orienta����o, que o conseguiremos. E onde
achar semelhante orienta����o? Estamos lutando
por mostrar que a ��nica fonte dela est�� no
Evangelho, que cumpre compreender e aplicar.
Emo����es. Aqui temos outro grupo de processos
mentais da m��xima import��ncia, considerando a
magna participa����o que t��m em tudo quanto o
homem pensa e faz.
Animais e homens primitivos seriam movidos
principalmente por instintos de conserva����o e
reprodu����o, impulsos compulsivos que ordenam
fuga, ataque ou posse. N��o s��o meros reflexos,
embora expressem-se em forma de atos auto-
m��ticos, em virtude das grandes varia����es indivi-
duais quanto ao m o d o e intensidade que
exibem na esp��cie humana. Por isto, tais rea����es
merecem o nome de e m o �� �� e s . Tr��s destas s��o
fundamentais por englobarem uma infinidade de
situa����es de fuga, agress��o e posse: medo,
c �� l e r a e afeto (amor). T��m elas praticamente
estado por detr��s de toda a atividade do homem,
at�� hoje, sobre a Terra. Todavia, a vida em
sociedade gerou outra for��a, o dever, cuja
fun����o principal �� reprimir ou orientar, conforme
o caso, as tr��s anteriores; tendo surgido muito
depois e sendo de origem externa, n��o se pode
chamar emo����o. A conduta humana est�� muito
ligada ��s imensas e variad��ssimas inter-rela����es
desses quatro elementos que est��o dentro da
57
alma humana. Um quinto elemento �� a raz��o,
que dirige a nossa vida de rela����o na aus��ncia
daqueles outros, os quais, quando emergem do
fundo do ser, a dominam mais ou menos
completamente e passam a comandar o
comportamento.
As emo����es fundamentais procedem do primeiro
dia da evolu����o na s��rie animal. Segundo Mira
y Lopes ( 1 9 4 9 ) , �� a seguinte a escala evolutiva
das rea����es emocionais: 1) a mais primitiva e
b��sica �� a rea����o emocional imobilizadora,
suspensora da atividade vital e destruidora da
individualidade, conhecida pelos nomes de p��nico,
terror ou medo, conforme a intensidade; 2)
depois vem a rea����o extensiva, dita c��lera, ira
ou raiva; 3) segue-se a mais eficiente para o
desenvolvimento da atividade intelectual, a rea����o
atrativa, afetuosa, social, integradora, ou amor,
que permite ao indiv��duo, resolvido o problema
interno de sua exist��ncia imediata, estender-se
no tempo e no espa��o, estabelecendo v��nculos
com o mundo �� sua volta. Tais s��o as e m o �� �� e s
p r i m �� r i a s , que assumem uma multid��o de formas
e podem ser identificadas no rec��m-nascido,
conforme demonstrou Watson. No adulto, muitos
outros estados afetivos podem ser classificados
como emocionais, desde que sejam intensos e
r��pidos, como a emo����o sexual, mas, no fundo,
relacionam-se com aquelas.
5 8
Por falar nisso, cumpre consignar que J. B.
Watson, psic��logo norte-americano que fundou
o citado sistema conhecido como behaviorismo,
foi o primeiro a identificar, na crian��a rec��m-
nata, tr��s tipos de respostas globais que emergem
em seguida �� aplica����o de est��mulos espec��ficos.
Watson considerou-as como rea����es expressivas
das chamadas e m o �� �� e s prim��rias e elas podem
ser associadas a tr��s tipos de conduta posterior.
1. Rea����o de c h o q u e ��� Obtida quando se
suspende o beb�� pelos bracinhos e deixa-se cair
no ar, aparando-o abaixo (ou por meio de um
forte ru��do grave). Ocorre brusca suspens��o das
atividades vitais manifestas: param a respira����o
e a musculatura, ficando a crian��a imobilizada,
os m��sculos lisos paralisam-se (intestinos,
circula����o e gl��ndulas ficam parados). Processa-
se uma inativa����o geral com parada das fun����es
ps��quicas (nas crian��as maiores). Equivale ��
inibi����o dos microorganismos quando amea��ados
por um est��mulo nocivo, que �� uma propriedade
geral da subst��ncia viva. Ao final, podem sobrevir
movimentos desordenados e intensos, convulsos,
ou estado sopor��fico; nas maiores, fuga em
dire����o oposta ao est��mulo perturbador.
2. Rea����o agressiva ��� Surge quando o nen��
sofre imobiliza����o for��ada de seus membros, n��o
mais podendo se mover livremente. Ao desagrado
crescente soma-se um aumento na intensidade
5 9
das atividades gerais do organismo: respira����o e
circula����o aceleram-se, aparece congest��o por
vasodilata����o perif��rica, sudorese, movimentos
violentos e gritos. Embora oposta �� anterior,
pode terminar como esta. Aqui temos uma
e x c i t a �� �� o geral com intensifica����o das fun����es
org��nicas, inclusive ps��quicas. Equivale igualmente
a uma propriedade fundamental da mat��ria viva,
derivada da irritabilidade (ou propriedade geral
das c��lulas reagirem aos fatores do meio ambiente).
As duas rea����es representam conflitos n��o
resolvidos com o meio exterior. Na inibi����o, a
oposi����o tende �� elimina����o do sujeito; na
excita����o, �� elimina����o do objeto. Contudo, a
rea����o agressiva �� um progresso na adapta����o,
pensa Watson, ao ambiente porque p��e o indiv��duo
em contacto com o objeto, embora com o fim
de afastar o est��mulo perturbador ou nocivo.
3. R e a �� �� o afetuosa ��� Conquanto mais
inconstante do que as anteriores, pode ser des-
pertada por meio de leves car��cias no queixo,
peito, n��degas, e t c , do rec��m-nascido. Observa-
se, ent��o, progressiva suspens��o dos movimentos
espont��neos, relaxamento muscular, express��o
tranq��ila, pulso lento, respira����o ampla e, afinal,
sono. Sup��e-se que ela seja um sinal de adapta����o
melhor ao ambiente; outros julgam que indique
o primeiro sinal de manifesta����o sexual no ser
humano.
6 0
Nota-se que na rea����o afetuosa h�� alguns
elementos das duas anteriores, mas integrados
com outros novos que lhe d��o fei����o peculiar;
assim, ocorrem fen��menos de inibi����o, cujo
car��ter �� diverso. A resposta afetuosa n��o determina
desgaste do potencial vital, pois coloca o organismo
em condi����es ideais de funcionamento. Por isso
�� encarada como a que melhor garante a
sobreviv��ncia dele no ambiente em que jaz,
favorecendo uma extens��o do ��mbito vital e
ps��quico no processo de explora����o e
descobrimento do mundo objetivo.
A cada uma destas rea����es corresponde uma
emo����o prim��ria: medo, ira e afei����o, as quais
dominam tr��s tipos de conduta: de inibi����o
(fuga), de agress��o (ataque) e de afei����o ou amor
(compreens��o).
M e d o ��� Sem d��vida, a primeira c��lula, ao
sujeitar-se a uma altera����o do meio onde estava
(por exemplo, aumento de temperatura, frio,
redu����o do teor de oxig��nio, modifica����o da
salinidade ou da acidez, e t c . ) cessou
temporariamente suas atividades vitais; por outras
palavras, imobilizou-se. Um protozo��rio ou alga,
unicelulares, sofre i n i b i �� �� o (suspens��o dos
movimentos) em resposta ao impacto de um
agente externo perturbador. A�� est�� "a primitiva
raiz biol��gica do fen��meno emocional do medo",
como exprime Mira y Lopes.
61
Com o desenvolvimento do sistema nervoso,
as rea����es passam a ser c o n d i c i o n a d a s e
desaparece a necessidade da a����o direta dos
fatores depressores. O animal, da�� por diante,
antecipa o efeito destes ��ltimos; estabelece ele,
inconscientemente, uma rela����o entre as
circunst��ncias e a a����o danosa (reflexo condi-
cionado), de modo que bastar�� um est��mulo
ligado a esta para que se desencadeie �� rea����o
inibidora (redu����o das manifesta����es vitais). Por
outras palavras, antes de sofrer algo ��� ocorre a
previs��o do poss��vel dano. E isto constitui o que
se chama medo, perfeitamente not��rio nos
vertebrados.
J�� o feto humano apresenta rea����es inibit��rias.
Um rec��m-nascido, como vimos acima, deixado
cair alguns palmos e novamente seguro, exibe
sinais muito n��tidos de pavor (susto): palidez
intensa, parada respirat��ria e card��aca, depois
acelera����o, inatividade g��strica e glandular, e t c .
A desnutri����o, o frio e o cansa��o aumentam tais
rea����es ou exigem estimula����o mais fraca.
A rea����o de fuga, nos animais, surge como
uma conduta global derivada de uma intencio-
nalidade que pressup��e certo sentido teleol��gico
de seus atos ��� pois, destina-se ao afastamento
do animal da ��rea perigosa ou da situa����o que
teme (aprendeu a temer). Assim, os dispositivos
6 2
neuromusculares s��o acionados na dire����o oposta
��quela de onde prov��m ou poder�� provir o
est��mulo fob��geno (causador de medo).
Processa-se, portanto, a substitui����o da passivi-
dade inicial (inibi����o, imobiliza����o) pela defesa
pessoal ativa ante a imin��ncia do evento nocivo,
o que deve ter consumido longo tempo no curso
da evolu����o. A fuga deixa de ser interna para
tornar-se externa.
Pensa Mira y Lopes que o animal foge, n��o
porque tenha medo, mas para escapar a este,
deixando de ser v��tima indefesa e assumindo
atitude capaz de livr��-lo sem maiores danos. Em
suma, ele fugiria por ter medo do medo.
Deduz da�� que a fuga n��o �� sinal caracter��stico
do medo, mas ind��cio seguro de sua intelec����o
por parte do animal; este processo n��o ��
obrigatoriamente consciente ("o homem foge
muitas vezes sem o saber").
Admite-se que o processo de aprendizagem
dos animais est�� baseado na fixa����o de experi��ncias
por meio do estabelecimento de uma s��rie,
constantemente modific��vel, de r e f l e x o s
c o n d i c i o n a d o s . Estes constituem um novo
processo ps��quico de relacionamento com os
fatores do ambiente, permitindo r��pido ajustamento
a situa����es inabituais. Por isso, v��m somar-se ou
completar as primitivas rea����es autom��ticas
(instintos), pelo que assumem a significa����o de
6 3
uma razo��vel maneira de ampliar o acervo instintivo
dos animais, dando-lhes oportunidade de adquirir
os resultados de novas experi��ncias vividas em
face a situa����es ainda n��o experimentadas. S��o
algo assim como uma porta aberta �� evolu����o
ps��quica, fazendo com que os animais superiores
n��o sejam simples mecanismos cujo funcionamento
fosse sempre o mesmo por serem movimentados
pelos instintos estereotipados. Portanto, os reflexos
condicionados pressup��em certa dose de
intelig��ncia nos animais que os fixam, o que ��
compreens��vel visto se formarem no c��rtex
cerebral, sede do consciente.
Os reflexos anteriormente mencionados s��o
cong��nitos e desde logo inconscientes, n��o
dependendo de nenhuma experi��ncia pr��via. Os
condicionados revelam a fixa����o desta pela
passagem do consciente para o automatismo. O
c��o novo saliva sempre que se lhe coloca na
b o c a um peda��o de carne pela primeira vez:
reflexo salivar, inato. A o c h e i r a r a carne pela
primeira vez, n��o emite saliva; mas salivar��
sempre que sentir o odor de carne ap��s haver
ingerido esta: reflexo condicionado, adquirido,
pois surgiu depois de uma experi��ncia (ao
ingerir sente o cheiro; depois basta o ��ltimo).
Se, durante um certo n��mero de vezes, tocarmos
uma campainha ou acendermos uma l��mpada
enquanto o c��o come (e salivar�� nesta ocasi��o)
6 4
��� em seguida, ele produzir�� saliva apenas ao
ouvir o som ou ver a luz, sem comer. Solu����o
acidulada provoca saliva����o em qualquer um; se
durante alguns dias pusermos tal solu����o colorida
de azul ou verde na boca do animal, mais tarde
ele salivar�� recebendo simplesmente ��gua colorida.
Tais s��o exemplos experimentais muito simples;
os seguintes s��o mais complicados. Consideremos
um adulto habituado ao uso da morfina por
inje����o. Se lhe injetarmos, com a encena����o
natural e ignor��ncia da fraude, apenas ��gua, ele
ter�� as mesmas sensa����es ��s quais est�� acostumado
e n��o protestar��. O efeito est�� ligado ao ato da
inje����o tanto quanto �� a����o do alcal��ide;
inicialmente este �� indispens��vel, depois bastar��
a inje����o de ��gua. Infelizmente, o ben��fico
reflexo n��o dura muito. Os reflexos condicionados
explicam porque o ru��do de uma torneira aberta
faz contrair dolorosamente a bexiga cheia de
urina: o ru��do de urinar condiciona-se ao ato e
basta o ru��do semelhante da torneira para evocar
a sensa����o desagrad��vel de "vontade de urinar".
Usa-se mesmo tal expediente para apressar a
mic����o de criancinhas que, postas no urinol,
protestam ou adormecem; muitas m��es sabem
que o som da ��gua jorrando freq��entemente
determina a emiss��o de urina. O fato de a crian��a
poder estar dormindo prova que o fen��meno ��
inconsciente, o que tem sua import��ncia, como
veremos a seguir.
6 5
Os reflexos condicionados est��o ligados a
certos casos de f r a u d e m e d i �� n i c a i n c o n s c i e n t e
("animismo") (*). Sucede ��s vezes um m��dium
gesticular e mesmo falar, como �� seu costume
estando sob influ��ncia de um esp��rito, sem que
realmente o esteja (um vidente daria conta da
situa����o). �� que a prece em voz alta, a concentra����o
mental e a manifesta����o real formam um
encadeamento propiciat��rio ao desenvolvimento
de tais automatismos. Da�� acontecer, de vez em
quando, entrar o m��dium em gesticula����o sem
influ��ncia estranha ao concentrar-se e ouvir as
palavras da ora����o. �� bom acentuar que n��o
ocorre m��-f�� nestes casos espor��dicos; por n��o
estar consciente do fen��meno, cumpre n��o seja
o m��dium traumatizado moralmente recebendo
observa����es injustas."
* Nota da Editora: O autor usa a express��o "animismo",
propositadamente entre aspas, no sentido vulgar que a
palavra assume no linguajar comum.
Como se sabe, Aksakoff deu-lhe sentido espec��fico, que
o autor explica satisfatoriamente em "Evolu����o para o
Terceiro Mil��nio".
" Nota da Editora: No caso em tela o autor, com muita
felicidade, distingue as situa����es, prevenindo-nos com
rela����o a conceitua����es apressadas, ainda que possa caber
cuidadosa reeduca����o do m��dium, de car��ter amoroso.
Nada feriria mais o trabalhador de boa vontade que um
estigma dessa natureza.
66
Da precedente explana����o conclu��mos que os
reflexos condicionados s��o de magna import��ncia
para os animais superiores, nos quais se reconhece
geralmente uma certa faixa de consci��ncia.
Constituem a maneira pela qual eles enfrentam
situa����es novas e assimilam as experi��ncias
decorrentes delas. N��o est��o, portanto, condenados
a uma eternidade sem progresso. Kardec ("A
G��nese"), ao admitir que o esp��rito humano "se
individualiza e elabora passando pelos diversos
graus da animalidade", sugere que "haveria assim
filia����o espiritual do animal para o homem,
como h�� filia����o corporal"; a seguir, diz que tal
concep����o se funda na lei de unidade da natureza
e concorda com a justi��a e bondade de Deus,
acrescentando: "d�� uma sa��da, uma finalidade,
um destino aos animais, que deixam ent��o de
formar uma categoria de seres deserdados, para
terem, no futuro que lhes est�� reservado, uma
compensa����o a seus sofrimentos". Delanne ("A
E v o l u �� �� o An��mica" ) desenvolve amplamente
essa tese e, ap��s, Geley e Ubaldi. Conseq��en-
temente, como se disse acima, tais reflexos s��o
compar��veis a uma porta aberta �� evolu����o dos
animais superiores. Kardec ainda sugere que "��
prov��vel que os primeiros homens aparecidos na
Terra pouco diferissem do macaco pela forma
exterior e n��o muito tamb��m pela intelig��ncia";
hoje, a paleontologia descobriu e reconstituiu
6 7
v��rios homens f��sseis, alguns bastante simiescos.
Cumpre atentar para o fato de que, no homem,
o condicionamento existe mas foi superado,
conforme explicado p��ginas atr��s, pelo uso das
faculdades conscientes na qualidade de fator
evolutivo. Tanto no animal quanto no H o m o
sapiens, as experi��ncias s��o consideradas como
aptid��es inconscientes para reagir frente a deter-
minados est��mulos. A diferen��a, contudo, �� enorme:
o ��ltimo elabora-as e as conforma pela utiliza����o
do racioc��nio, mem��ria e imagina����o, e ainda
agrega comportamentos derivados de no����es
��ticas e est��ticas.
Os reflexos condicionados, tratados anterior-
mente, t��m inger��ncia nesta quest��o. Suponhamos
que, ao abrir o port��o pela manh��, escorracemos
o cachorro com gritos, pontap��s e varadas. Em
poucas repeti����es, ele recuar�� temeroso ao ver
abrir o port��o, levantar o p��, ouvir gritos ou
notar uma vara suspensa. Todos esses atos ter-
se-��o transformado em est��mulos efetivos na
determina����o do medo e da fuga, porque estiveram
associados a uma situa����o dolorosa anterior; ter��
fixado a experi��ncia pelo condicionamento e a
usar�� posteriormente, j�� agora bastando uma
parte da mesma para desencadear a rea����o
defensiva. Se sofrer�� medo sem necessidade em
v��rias ocasi��es, por outro lado furtar-se-�� �� dor
quando houver perigo real; assim, os reflexos
6 8
condicionados demonstram possuir grande v a l o r
v i t a l para os animais. Um animal selvagem,
sabe-se, acossado por c��es ou ferido por ca��adores
aprende a escapar antes que nova situa����o
id��ntica chegue a amea����-lo seriamente; para
apanh��-lo ser�� preciso inventar outro ardil, sendo
mesmo conhecidos animais que escapam sistema-
ticamente. A import��ncia dos reflexos condicio-
nados em o n��vel animal �� ampliada pela tend��ncia
que eles possuem para a s i s t e m a t i z a �� �� o ; isto
quer dizer que eles podem formar grupos de
rea����es que entram em fun����o mediante apenas
um dos est��mulos que intervieram na forma����o
do conjunto funcional. Muitos sustos do homem,
por motivos insignificantes, prendem-se ao citado
mecanismo ps��quico. A crian��a que teve
experi��ncias punitivas com um adulto faz gestos
de defesa quando este levanta o bra��o ofensor
apenas para saudar ou co��ar. Tudo isto leva
longo tempo para o condicionamento.
Segue-se que o medo, e as conseq��entes
rea����es de fuga e defesa, desempenhou papel
importante no curso da evolu����o das esp��cies,
porquanto, em o n��vel animal e humano inferior,
a l u t a �� fator evolutivo, levando ao desenvol-
vimento da intelig��ncia concreta, mediante a
qual o ser vivo ganha novas possibilidades de
intensificar o pr��prio progresso em um n��vel
mais elevado. Luta contra o ambiente hostil, no
6 9
qual operam for��as e elementos da natureza, e
contra os seres vivos; essa luta expressa-se desde
logo na c a d e i a a l i m e n t a r , pois uns alimentam-
se de outros, desde o mais insignificante at�� o
mais evolvido. Para a crian��a tamb��m ele �� ��til,
bem como ao adulto em face de variadas situa����es.
Por��m, em rela����o ao ��ltimo, surgem compli-
ca����es adicionais, ao que parece n��o de todo
justific��veis ��� porque j�� aqui n��o se trata de
evolu����o, mas de res��duos dela, mal elaborados.
Entra em cena a i m a g i n a �� �� o , mediante a qual
imagens, datas, lembran��as diversas, pensamentos,
e t c , combinam-se e d��o origem a novas
edifica����es mentais independentes de est��mulos
procedentes do ambiente circunjacente. Sucede,
contudo, que geralmente a imagina����o guarda
estreita rela����o com as tend��ncias, boas ou m��s,
que dirigem a a����o pessoal; da�� comumente levar
o indiv��duo, n��o a constru����es agrad��veis, mas
a temores, suspeitas, d��vidas, press��gios ��� ao
m e d o , enfim. E pior: medo imagin��rio, contra
o qual n��o consegue a raz��o sossegar o esp��rito
provando sua falta de fundamento; a fantasia
cresce alimentando-se �� pr��pria custa e com ela
o sofrimento ��ntimo. Sobretudo temem os homens
o que ignoram, muitas vezes nada existindo fora
da imagina����o; para escapar destas autocria����es
fora preciso fugir de si mesmo.
7 0
Em conclus��o, as causas do medo s��o intr��n-
secas, pertencem �� estrutura pessoal mesma,
visto provirem da reuni��o de v��rios processos
surgidos no decorrer do prolongado curso da
evolu����o biol��gica e ps��quica.
Quanto aos motivos, o homem pode temer
tudo, incluindo suas fantasias mentais: morrer de
sede ou fome, de ficar no escuro, de ver
esp��ritos, de n��o ter sustento para os filhos, de
ser feio, de n��o saber algo, de fracassar, de n��o
poder se decidir, de passar sob uma escada, de
tomar inje����o, de ir ao m��dico, de pagar a conta,
de gostar de algu��m, da morte, do nada, da
loucura, da solid��o, da pr��pria vida, enfim, e de
mil circunst��ncias desta. �� evidente que tudo
isto est�� relacionado com desagrad��veis experi��n-
cias passadas, da presente ou mais comumente
de outras vidas, ainda n��o reformadas por novas
experi��ncias salutares ou modificadas racional-
mente pela assimila����o de conhecimentos esclare-
cedores (educa����o); tais estados dependem,
portanto, do caminho evolutivo percorrido e do
aproveitamento deste pelo esfor��o despendido
no auto-aperfei��oamento.
Dessa multid��o de formas conscientes da
emo����o medrosa, distingue Mira y Lopes (ibidem,
obra citada) as seguintes modalidades b��sicas.
Medo instintivo, equivalente �� forma primitiva
de manifestar-se a inibi����o sob a a����o direta de
um fator mesol��gico nocivo; surge r��pida e
71
automaticamente, sendo id��ntico em todos os
seres: quando percebido, j�� emergiu a rea����o (o
cavalo treme e sua ao ver cobra ou pressentir
on��a; o raio desperta movimentos de temor em
muitos homens, e t c . ) . M e d o r a c i o n a l ,
condicionado pela experi��ncia e baseado na
raz��o, ocorre quando se fala dele; �� a rea����o ante
o p e r i g o , enquanto o primeiro o �� perante o
d a n o , donde a tend��ncia �� fuga pr��via, profil��tica
("prud��ncia"); por ser pensado antes de ser
sentido, d�� tempo de organizar a rea����o
("precau����o"). M e d o i m a g i n �� r i o , j�� referido,
em que o objeto se encontra ligado ao est��mulo
fob��geno por meio de uma cadeia de associa����es
longa e distorcida, raz��o do absurdo e insensatez
de que se reveste; aqui temos as s u p e r s t i �� �� e s ,
de gente tanto culta quanto inculta, e as fobias.
O medo �� contagioso entre pessoas do mesmo
n��vel ps��quico (multid��es em fuga a um grito de
alarme, mesmo falso).
A intensidade da invas��o pelo medo percorre
fases sucessivas (muitas vezes simult��neas, segundo
a rapidez): 1�� - estado de prud��ncia (o sujeito
torna-se modesto, autolimita-se); 2�� - estado de
concentra����o (torna-se cauteloso, preocupado,
ansioso); 3�� - estado de alarme (torna-se alarmado,
desconfiado, inseguro); at�� aqui, o indiv��duo
mant��m-se controlado em seus movimentos; 4��
- estado de ang��stia (o sujeito est�� angustiado,
72
aflito; surgem sinais de c��lera); 5�� - estado de
p��nico (a conduta torna-se autom��tica, descon-
trolada; domina o ser inconsciente); 6�� - estado
de terror (sobrev��m in��rcia; o indiv��duo est��
"petrificado de terror" ou "morto de medo").*
A luta contra o medo �� demasiado importante.
Em nosso atual n��vel evolutivo geral, ele �� um
elemento perturbador ou mesmo destrutivo porque
pertence a um n��vel inferior, que devia estar
superado. Surgindo no plano do consciente
como fonte de inseguran��a, insufici��ncia, frustra����o
e impot��ncia, torna o homem civilizado mesquinho,
inativo, descontrolado, incapaz, inst��vel, inquieto,
neur��tico, com vontade de anular-se, desaparecer
ou reduzir-se ao nada. A luta contra ele est�� na
a����o confiante e inteligente; dito de outro
modo, mais claro: em procurar o cumprimento
de seus deveres, ainda com "medo" deles, em
esclarecer-se pelo estudo e, se puder, em
Nota da Editora: A prop��sito do medo, ali��s, do
p��nico, Laycock, citado por V. de Lima e a seguir por
Delanne, narra o seguinte epis��dio curioso: palhas servidas
em jaulas de le��es foram levadas at�� uma estrebaria e com
elas forrado o abrigo dos cavalos; ao sentirem eles o cheiro
dos le��es nas palhas impregnado, tomaram-se de p��nico.
Certo que gera����es de cavalos selvagens teriam sido
v��timas do fel��dio, que n��o aqueles domesticados. Infere-
se da�� que a mem��ria dita "org��nica" �� bem mais
psicobiof��sica, despertando o instinto de conserva����o.
7 3
espiritualizar-se, procurando o apoio do Alto; o
aux��lio de outra pessoa �� ��til quando esta ��
capaz de emitir conceitos estimulantes (psico-
terapia) e incapaz de transmitir inseguran��a e
pessimismo. Confira Andr�� Luiz em "Nosso Lar".
C��lera ou ira ��� Tem a mesma raiz biol��gica
que o medo. Come��a com a irritabilidade
celular, propriedade que leva qualquer c��lula a
reagir aos est��mulos mesol��gicos. No caso do
medo, a c��lula primeva refreiou (inibi����o); aqui,
ela acelerou suas atividades, isto ��, sofreu
excita����o. Nos animais superiores, mais pr��ximos
de n��s outros, existe uma forma de excitabilidade
intimamente motivada, ou seja, formada de
impulsos e necessidades que aparecem periodi-
camente no organismo sem depend��ncia de
causas exteriores. Nesta caso, �� a aus��ncia de
certos est��mulos (de alimentos, por exemplo)
que irrita o animal e o conduz a atacar o
ambiente onde vive. Mais um passo na senda
evolutiva e temo-lo a procurar o dom��nio e a
organiza����o do meio no seu interesse. Deste
processo deriva a agressividade, a conduta de
ataque ou invasora, conquistadora. No homem,
ela apresenta not��vel aperfei��oamento, sob o
impacto da cultura, em forma de desejo de
poder; por isso, al��m da agressividade, comum
aos animais, h�� outro elemento, ausente nestes,
que �� a a m b i �� �� o (querer sempre mais).
74
Todavia, a insaciabilidade do esp��rito humano,
fazendo-o ambicionar demais, leva-o a padecer
mais temores e a ser mais irado que todos os
outros animais reunidos; essa insatisfa����o �� um
fator evolutivo, pois, n��o permitindo ao homem
gozar suas conquistas, acaba conduzindo-o ��
procura de novos valores (espirituais). Assim, a
c��lera manifesta-se sob o disfarce da ��nsia de
dom��nio (prepot��ncia) como evolu����o da
agressividade pura e simples.
O medo antecede a ira: possu��dos dele, facil-
mente emerge esta. Quando um obst��culo se nos
antep��e, quando algo limita ou menospreza o eu,
ent��o surge a c��lera, desde o simples enfado at��
a raiva descontrolada. Unida ao amor vira ci��me;
ao dever, intoler��ncia; �� religiosidade, fanatismo.
Entre as numerosas formas de ira, ostensivas
ou inaparentes, merece destaque o �� d i o por ser
raiva concentrada, cr��nica, capaz de levar o
indiv��duo a um estado de tens��o e conflito. ��
caracter��stica do ��dio criar uma cadeia, invis��vel
mas firme, que une dois como sombra e corpo.
Surge ele quando algu��m leva outro �� frustra����o
em qualquer setor e a v��tima, n��o podendo
descarregar a c��lera, interioriza-a. �� pr��prio dele
ser tanto maior quanto m a i s s e m e l h a n t e s s��o
o odiado e o odiendo; de fato, no fundo, aquele
que odeia reconhece certo valor no seu objeto
de ��dio, mesmo imanifestamente. Por isso, dois
7 5
rivais s��o mais ou menos equivalentes em inten����es
e possibilidades; e, assim, h�� mais ��dio entre
esp��ritos do mesmo n��vel, da mesma fam��lia,
profiss��o, etc.. (vejam os ��dios entre religiosos
de credos diferentes, ainda que os princ��pios
b��sicos sejam os mesmos; �� o que se d�� com
chineses e russos). Tais rela����es explicam porque
do ��dio nasce o amor e este pode se transformar
naquele. Em suma, o mundo atual est�� cheio de
��dio porque, no curso de numerosas exist��ncias,
os homens v��m bigodeando o direito e frustrando
as esperan��as uns dos outros; de semelhante
c��rculo f��rreo de causa e efeito s�� escapar��o
quando aprenderem a respeitar-se mutuamente:
at�� l��, v��o-se punindo reciprocamente atrav��s
dos renascimentos sucessivos, que colocam sempre
desafetos em contacto bastante estreito. Al��m
disso, o ��dio (rancor, se inteiramente interiorizado
e impotente) �� um v e n e n o c o r r o s i v o para alma
e corpo: ang��stias, tremores, pesadelos, ��lceras,
hipertens��o, depress��o, e t c . s��o algumas
conseq����ncias menores.
Semelhante ao ��dio, por��m mais difuso e
menos intenso (e, como ele, mais um estado
passional do que emotivo; veja adiante), �� o
r e s s e n t i m e n t o . Trata-se do estado afetivo do
homem posto, ou que se julga posto, em situa����o
de inferioridade (minusvalia) em virtude da
oposi����o entre a vontade de poder e a hostilidade
7 6
do ambiente, do q u e promana o sentimento dos
fracos em rela����o aos fortes, dos pobres perante
os ricos, dos doentes em face dos sadios, e t c .
Ao ressentimento deve-se o surto explosivo de
id��ias que representam i n v e r s �� o d e v a l o r e s ,
t��o sofregamente absorvidas pelos fracos,
oprimidos, pobres, incultos, desvalidos sociais,
e outros, com manifesta����es ruidosas ou violentas
contra tudo o que representa dinheiro, poder,
cultura, progresso, e t c . O vigor destes movimentos
prov��m da transforma����o catat��mica por que
passam os valores (veja adiante), donde a inclina����o
para elevar o miser��vel, o fraco e o inculto a
posi����es que lhes n��o correspondem.
A f e t o . Um protozo��rio, como a ameba,
apresenta inibi����o e excita����o, long��nquas ra��zes
biol��gicas do medo e da ira. Chega o momento,
por��m, em que, alcan��adas as dimens��es plenas
da c��lula, um novo fen��meno imp��e-se: a
r e p r o d u �� �� o . Isto ��, atingida a plenitude do
desenvolvimento, a c��lula biparte-se e gera duas
c��lulas-filhas, as quais crescer��o, viver��o
independentemente e, um dia, multiplicar-se-��o
por sua vez. Assim, para uma que desaparece ���
surgem duas jovens; morre o indiv��duo, mas
permanece a esp��cie. Este processo, t��o simples
de in��cio, complica-se tremendamente no curso
da evolu����o (reprodu����o sexuada) e chega ao
homem, que tem a mesma necessidade de procriar.
7 7
O que se chama habitualmente de a m o r �� a
forma s u b l i m a d a do impulso sexual. Este,
modalidade mais evolvida do impulso reprodutivo
animal, corresponde a uma necessidade fisiol��gica
(apetite gen��sico) que, no plano mental, aparece
como emo����o (afeto). A sublima����o consiste em
transportar o impulso sexual da ��rea fisiol��gica,
onde seria plenamente satisfeito, para a ��rea
mental, onde a energia dele derivada �� consumida
em atividades do pensamento ligadas ao objeto;
este, homem ou mulher, sofre o processo de
simboliza����o por meio da fantasia oriunda da
imagina����o exaltada. Da�� procede a infinidade de
imagens liter��rias e po��ticas, que podem chegar
a obras completas. Quantos homens sizudos
fizeram versos de amor na primeira juventude
para alguma mocinha que n��o podiam tomar?
Depois acharam gra��a "de suas juvenis tolices".
N��o se d�� isso com indiv��duos positivos, que
procuram efetivar o ato pr��prio sem medir
conseq����ncias; os mais sens��veis �� que ficam
"sofrendo por amor" ("sonhando acordado").
Amor, no sentido evang��lico, �� sin��nimo de
a l t r u �� s m o , isto ��, afei����o ao pr��ximo; da�� a
prefer��ncia que daremos a tal palavra. O "amor"
vulgar, busca de uni��o, mental ou corporal,
comandada pelo impulso sexual para satisfa����o
do apetite gen��sico ��� �� completamente diverso
daquele, pois denota um manifesto c a r �� t e r
7 8
e g o c �� n t r i c o , de posse, conquista, e t c . Afinal,
que outra e s p �� c i e de amor poder��amos
legitimamente esperar de esp��ritos atrasados como
os que habitam a Terra, quais n��s mesmos? O
Amor de Jesus implica desprendimento, concess��o
para todos e n��o liga����o de dois sexos. Que
dir��s, leitor amigo, do ci��me e do exibicionismo?
Seria injusti��a proclamar que a premente
necessidade fisiol��gica de alcan��ar o orgasmo
fosse o ��nico m��vel da uni��o entre homem e
mulher. Em numeros��ssimos desses contratos, tal
�� o motivo humano, mas n��o �� a raz��o espiritual:
a Lei aproxima-os por terem d��bitos em comum
e a sexualidade os junta; satisfeita esta, come��am
os problemas do esp��rito, que v��o muito al��m
da mera descarga tensional. H��, por��m, os seres
que se unem por afeto, em maior ou menor grau.
Isto, contudo, est�� correlacionado com a no����o
de dever; de uma coisa e de outra, congregadas,
decorre a a t i v i d a d e c r i a d o r a do esp��rito. De
outro modo, o que esperar, no campo afetivo,
de quem nada tem no campo moral? Estando
bem dotado nestes campos, o homem sozinho
poder�� realizar grandes obras. Em suma, com
satisfa����o sexual ou sem ela uns far��o suas obras
e outros nada produzir��o: o que decide �� a
condi����o espiritual.
D e v e r . N��o possui ra��zes biol��gicas. Ao que
tudo indica, �� de origem recente, tendo aparecido
79
depois que a esp��cie humana se organizou em
comunidades; com ele, nascem lei, direito e
autoridade. Nada disso podia ter existido entre
os homens primitivos. Muitos mil��nios, s e m
d��vida, correram sobre a vida deste animal
tagarela enquanto a no����o de dever e direito era
imposta, a princ��pio pela for��a, e depois acatada
espontaneamente. �� f��cil ver que esta evolu����o
da for��a, viol��ncia, prepot��ncia, c��lera, etc..,
para dever, responsabilidade, moralidade, direito,
e t c . . , acha-se em p l e n o a n d a m e n t o , tanto que
estes ��ltimos n��o se constitu��ram em artigos
vulgares. Mas tornar-se-��o qualidades banais: o
que �� ensinado repetidamente e praticado, mesmo
sem convic����o inicialmente, acaba virando h �� b i t o
��� sobretudo quando �� um h��bito de vital interesse
para suavizar as rela����es humanas. O progresso
pede tempo...
Ligados aos estados emocionais s��o os estados
passionais; por exemplo, a c��lera e o medo
podem ser uma coisa e outra. S��o as seguintes
as principais caracter��sticas dos estados de paix��o:
1) crescente p a s s i v i d a d e da esfera volunt��ria do
consciente; as pessoas sentem-se impotentes
para sair deles ("n��o sou dono de mim", "n��o
posso me controlar"); 2) estado tensional de
s o f r i m e n t o e ang��stia enquanto n��o realiza os
atos (positivos ou negativos) aos quais tal estado
impele periodicamente.
8 0
Propendem para as paix��es particularmente
as pessoas nas quais a s e n s i b i l i d a d e predomina
sobre a a����o; s��o antes os t��midos, contemplativos
e introvertidos que se apaixonam e n��o os
homens ativos. A paix��o �� uma sorte de hipertrofia
da necessidade e do sentimento, que imobiliza
o potencial ps��quico e det��m a vida mental.
Abrange a totalidade do homem. *
N��o se pode aplicar a ela um crit��rio ��tico
de diferencia����o, n��o havendo boa nem m��
paix��o: qualquer uma �� delet��ria para o esp��rito.
Da mesma maneira, n��o conv��m distingui-las em
normais e m��rbidas (ou patol��gicas). Por exemplo,
uma paix��o amorosa, conforme o indiv��duo, dar��
origem a uma obra de arte, a um sacrif��cio
generoso, a um crime por ci��mes, �� degrada����o
por abusos sexuais, ao roubo, e t c . Seria normal
o estado passional que n��o leva nem ao m��dico
nem ao tribunal; patol��gica, em caso contr��rio.
Em suma, s��o os estados que produzem as mais
intensas viv��ncias e que mais fortemente
impressionam a consci��ncia individual. O fato de
obras importantes terem sido realizadas sob o
imp��rio de paix��es n��o serve de est��mulo para
que as cultivemos.
* Nota da Editora: Ver as quest��es 901 e seguintes de
"O Livro dos Esp��ritos" em que os presentes conceitos se
encaixam.
81
Acabamos de explanar, em resumo, o que se
denomina usualmente de consci��ncia e que se
pode considerar como a parte do esp��rito capaz
de conhecer a si mesmo; �� apenas uma descri����o,
feita pela pr��pria intelig��ncia, do que se passa
na mente durante o funcionamento do c��rebro.
Nestas condi����es, �� claro que n��o tem base
experimental; tal descri����o s�� se pode obter pela
a u t o - o b s e r v a �� �� o (ou introspec����o), m��todo
segundo o qual a consci��ncia do psic��logo se
volta para dentro de si pr��pria e relata, met��dica
e ordenadamente, tudo quanto a�� percebe. A
concord��ncia geral permite concluir que o esquema
acima oferecido, ��til como simplificado do que
temos no consciente, pode ser aceito como
in��cio do conhecimento deste.
8 2
NO����O DO INCONSCIENTE
da m��xima importancia destacar que a
usual atividade mental, da qual temos
plena no����o, est�� longe de expressar
tudo quanto existe no esp��rito. O contr��rio �� a
verdade. Sabe-se que h�� um a m p l o n �� v e l composto
de conte��dos e processos inconscientes,
independentes da consci��ncia pessoal, e cuja
influ��ncia sobre esta �� poderosa. Assim, o esp��rito
humano possui mais de um n��cleo de
funcionamento (veja Andr�� Luiz, " N o M u n d o
M a i o r " ) .
Na por����o final do s��culo passado falou-se
bastante e claramente sobre i n c o n s c i e n t e ou
s u b c o n s c i e n t e , palavras sin��nimas (") . A
Psican��lise �� a psicologia que se ocupa dos
materiais inconscientes. Conv��m, por raz��es
consistentes, demonstrar que o Espiritismo, a n t e s
d e l a , reconhecera a import��ncia do conhecimento
dos fatos relativos �� parte inconsciente da mente,
pondo-se tamb��m nessa quest��o, de acordo com
a Ci��ncia ��� antecipando-a at��.
83
Em 1883, Gabriel Dellane ( O E s p i r i t i s m o
p e r a n t e a C i �� n c i a ) , tratando da sugest��o de
realiza����o p��s-hipn��tica, postula a extrema
necessidade de investigar-se acuradamente a zona
mental dita inconsciente. Por essa ��poca, a
exist��ncia de conte��dos e processos ps��quicos
alheios �� consci��ncia estava bem averiguada.
Psiquiatras e psic��logos franceses e ingleses
pesquisavam ativamente, em doentes e s��os,
fen��menos ligados ao hipnotismo. Pierre Janet,
por exemplo, pensava que as i d �� i a s f i x a s , no
geral ignoradas pelos doentes, eram a causa das
perturba����es mentais: "essa id��ia fica f o r a da
consci��ncia normal e, entretanto, n��o exerce
menos, por isso, uma influ��ncia preponderante,
visto que �� a origem da enfermidade do indiv��duo."
A id��ia fixa pode-se revelar durante os "ataques,
* Nota da Editora: Aqui o autor, como muitos outros,
dentro do escopo do pr��prio trabalho, considera inconsciente
e subconsciente como termos sin��nimos, o que �� perfeitamente
v��lido. Para alguns estudiosos, o inconsciente �� a parte
do psiquismo onde se situam tend��ncias e recalques,
lembran��as e desejos reprimidos, disfar��ados, que podem
merecer tratamento. 0 subconsciente seria tudo aquilo de
que t��o-somente n��o se tem consci��ncia no momento dado,
mas que pode voltar �� consci��ncia mais facilmente. Ou,
em outra acep����o, o inconsciente seria a mem��ria das
vidas pret��ritas e o subconsciente a mem��ria rec��ndita de
conhecimentos da vida presente.
84
sonhos, sonambulismos ou pelos atos subcons-
cientes e as escritas autom��ticas". A�� est�� o
embri��o da Psican��lise. Em 1895, Delanne ( " A
E v o l u �� �� o A n �� m i c a " ) refere-se muito mais a o
inconsciente. Em uma primeira passagem, declara
que a "vida intelectual inconsciente" constitui "a
base do nosso esp��rito". Depois admite que haja
registo inconsciente de percep����es n��o assinaladas
pelo consciente, das quais "poss��vel ser�� encontrar
o vest��gio mediante uns tantos processos." Julga
que durante a aprendizagem de um idioma, as
palavras, decoradas de in��cio, passam ao
inconsciente, como quaisquer outras no����es, e
o seu uso torna-se "opera����o autom��tica". Um
dos subcap��tulos do citado livro intitula-se O
I n c o n s c i e n t e P s �� q u i c o e nele Delanne explica
que tudo o que fazemos e aprendemos fica
gravado na ��rea inconsciente d e i x a n d o l u g a r
para novas no����es e criando vasto acervo de
elementos mentais. Comenta: "�� a esse tesouro
que denominamos ��� o inconsciente. Tem, portanto,
o esp��rito o seu armaz��m de id��ias e sensa����es."
Indica a exist��ncia do pr��-consciente ao referir
o material que pode voltar ao consciente por um
certo esfor��o. Tratando da mem��ria, esclarece:
"n��s pudemos constatar a o b r i g a �� �� o i n d e c l i n �� v e l
de admitir o inconsciente, isto ��, as lembran��as
n��o mais percebidas pelo eu normal e que, no
entanto, subsistem".
8 5
Percebe-se nitidamente a antecipa����o da
Psican��lise. O conceito de carga energ��tica
(catexia) desponta em rudimento quando ele
exp��e que uma id��ia pode irradiar em v��rios
sentidos e despertar outra id��ia "que se lhe adere
por um tra��o qualquer". Materiais assimilados
numa dada ��poca v��o encontrar outros mais
antigos j�� fixados e far��o renascer "alguns estados
de consci��ncia anteriormente percebidos" e
"poder��o reviver certas impress��es". �� a reativa����o
de imagens e desejos por outros mais recentes,
que v��o somar sua energia �� daqueles. Mediante
tal processo, quanto mais velha for a alma, tanto
maior ser�� "a sua bagagem inconsciente" e
menor o esfor��o necess��rio "para ressuscitar
seus antigos conhecimentos", raz��o das aptid��es
precoces. Tamb��m o conceito de inconsciente
din��mico aparece em embri��o: "N��o ser��, pois,
de admirar que encontremos ind��cios desse trabalho
cerebral que n��o logrou atingir primordialmente
a consci��ncia". Agrega que " t o d o s o s a t o s da
nossa vida mental deixaram em n��s estereotipada
uma impress��o indel��vel", at�� mesmo "os mais
fugazes movimentos do pensamento."
Segundo Delanne, enriquece-se o esp��rito pela
transmiss��o constante de elementos ps��quicos do
consciente para o inconsciente, onde ficam
registados automaticamente no perisp��rito. O homem
primitivo tem o inconsciente formado sobretudo
8 6
de instintos, pela proximidade com o n��vel animal.
Com o passar do tempo, os instintos v �� o sendo
modificados ou aperfei��oados pela inteligencia.
"Hoje, o que importa �� desembara��armo-nos das
paix��es e instintos residuais da n o s s a p a s s a g e m
pelos reinos inferiores". O estudo do esp��rito tem
de ser levado a cabo s o b d o i s a s p e c t o s : 1) o da
parte inconsciente, o "almoxarifado espiritual"; 2)
o da parte pensante e sens��vel.
Por volta de 1895, Freud ocupava-se com a
cria����o da psicologia do inconsciente utilizando
o n o v o m �� t o d o de investiga����o que denominou
Psican��lise. Partia o s��bio justamente das p r �� t i c a s
h i p n �� t i c a s que aprendera com os mencionados
mestres franceses e que empregara durante anos
no tratamento de neur��ticos (sugest��o mental).
Vinha, posto isto, preencher g r a v e l a c u n a j��
denunciada por Gabriel Delanne. E que trazia tal
miss��o �� pouco de duvidar-se considerando o
vigor e o brilho das suas p r i m e i r a s d e s c o b e r t a s ,
formalmente propostas a partir de 1900 (no
famoso livro A I n t e r p r e t a �� �� o d o s S o n h o s ) . Se
j�� existiam no����es sobre as fun����es e materiais
inconscientes, eram, contudo, vagas e dispersas;
a ele coube a imensa tarefa de investig��-los
sistematicamente e relacion��-los com o funciona-
mento normal e patol��gico da mente humana.
Naturalmente, o entusiasmo e o apego demasiado
��s pr��prias concep����es das ci��ncias f��sicas fizeram-
87
no trilhar caminhos distantes da realidade buscada
e ir longe demais, o que �� peculiar aos pioneiros
por n��o disporem de termo de compara����o
estabelecido. Uma dificuldade para identificar o
valor e a import��ncia das contribui����es b��sicas
de Freud reside no fato de estarem elas misturadas
a doutrinas e hip��teses discut��veis e m e s m o
a b s u r d a s ; entre as mais importantes est��o: o
inconsciente din��mico, a causalidade dos processos
ps��quicos, a motiva����o inconsciente (determina����o
inconsciente de a����es e sentimentos), a natureza
emotiva das for��as que impelem o homem
(impulsos), a influ��ncia das experi��ncias infantis
sobre a vida adulta e alguns mecanismos de
defesa contra impulsos inaceit��veis. Percebem-
se, consequentemente, as rela����es de origem
entre Hipnotismo, Espiritismo e Psican��lise.
Precisamente nesta ocasi��o, Delanne publica
grosso volume intitulado " I n v e s t i g a �� �� e s s o b r e
a M e d i u n i d a d e " , no qual trata fundamente de
problemas psicol��gicos. Nessa obra, a no����o de
inconsciente ocupa lugar destacado ��� e Freud
apenas come��ava a publicar suas extensas
contribui����es. Logo de in��cio, Delanne reconhece
que a "soma dos estados de consci��ncia" �� muito
inferior ao que existe no c��rebro e que "a
personalidade consciente n��o pode ser uma
representa����o de tudo o que se passa nos
centros nervosos". Os "fen��menos ps��quicos que
8 8
se tornam inconscientes" s��o os seguintes: 1) os
que se desenrolam durante os sonhos ou durante
o desprendimento da alma, esquecidos ao
despertar; 2) estados de consci��ncia da vida
cotidiana, dos quais poucos se conservam; 3)
fra����es inteiras da vida ps��quica diaria, que
desaparecem da consci��ncia; 4) todas as
recorda����es de vidas anteriores, que constituem
o p r �� p r i o f u n d a m e n t o da individualidade.
Delanne insiste em que as atividades do
espirito durante o sono s��o muito importantes
e exigem considera����o da Psicologia. A recorda����o
da atividade noturna �� inexistente como tal, mas
surge na consci��ncia sob a forma de clar��es
iluminativos, que permitem um trabalho esclare-
cido. Em suma, a "subconsciencia �� a base da
nossa individualidade indestrut��vel", afirmativa
que Andr�� Luiz ( " O b r e i r o s d a V i d a E t e r n a " )
meio s��culo depois refor��a dizendo que a subcons-
ciencia ��, de fato, o por��o de nossas lembran��as,
emo����es e impulsos que n��o se projetaram no
consciente atual e que representa a estratifica����o
de todas as experi��ncias transcorridas em v��rias
exist��ncias.
Transcreve v��rios exemplos de atividade
produtiva, durante o sono e ao despertar, como
produ����es derivadas do uso de materiais conser-
vados em estado inconsciente. Arago, o famoso
matem��tico e astr��nomo, costumava esperar que
8 9
o inconsciente agisse subterraneamente e desse-
lhe respostas aos problemas cient��ficos que o
preocupavam (veja o exemplo recente do bot��nico
Willis, mais abaixo). A�� est�� o inconsciente
din��mico de Freud em a����o.
O famoso recalque freudiano desponta ao longe.
Diz Delanne que, na vig��ncia do automatismo
(estado em que a consci��ncia se acha mais ou
menos distra��da ou adormentada), pensamentos
"que n��s r e c h a �� a m o s habitualmente pela vontade"
podem ser expressos por estar a vontade
desfalecente. Por isso, emergem grosserias e
licenciosidades que deixam o indiv��duo estupe-
fato e que o levam a recusar energicamente sua
participa����o no caso. Adiante assevera que nada
do que entrou no esp��rito poder�� dele ser apagado;
esquecimento n��o �� sin��nimo de desapari����o da
imagem mental; as recorda����es das quais n��o
temos consci��ncia "s��o inumer��veis e sua
import��ncia na vida mental �� de o r d e m p r i m o r -
d i a l . " Outra coisa n��o afirmaria Freud mais tarde
a respeito da repress��o, discutida adiante.
O que desejamos acentuar, com a precedente
condensa����o da obra de Delanne no que concerne
ao inconsciente, �� que nenhum progresso vem
subitamente e sem conex��o com o estado anterior.
A Psican��lise surgiu como um polvo gigantesco
metendo seus longos tent��culos em quase todos
os campos da atividade do ser humano. Mas, eis
9 0
o f a t o s i g n i f i c a t i v o : ela era esperada, prevista
e solicitada pelo adiantamento da ��poca. E,
concordemente, desenvolveu-se a partir do
hipnotismo e do que j�� se sabia acerca do
inconsciente. Provam esta assertiva as seguintes
palavras da psicanalista Clara Thompson (1969):
"A Hipnose foi a precursora da Psican��lise. Freud
era disc��pulo de Charcot e Breuer ��� ambos
talentosos hipnotistas. As primeiras descobertas
da Psican��lise foram feitas em liga����o com a
hipnose". Ora, o fato �� que eram a m p l a s a s
r e l a �� �� e s entre hipnotismo, inconsciente e
Espiritismo ��� raz��o pela qual a Psican��lise, sendo
um magno progresso a despeito dos exageros
iniciais a rejeitar, n��o pode ser desprezada nos
estudos esp��ritas; veja as opini��es de Andr�� Luiz
e m " O b r e i r o s d a V i d a E t e r n a " , " N o M u n d o
M a i o r " e " E n t r e a T e r r a e o C �� u " , sobre Freud
e sua obra, bem como as corre����es que prop��e.
Posteriormente, Geley e Ubaldi prosseguem
no mesmo rumo, ampliando a no����o de
inconsciente din��mico do ponto vista espiritualista.
Geley (1947) discorre sobre a import��ncia dos
elementos inconscientes, que s��o a parte prevalente
da mente. O inconsciente inclui elementos inatos
e elementos adquiridos, estes tendo sido antes
conscientes; tamb��m as faculdades paranormais
fazem parte dele. Diz que "nenhuma recorda����o,
nenhuma experi��ncia psicol��gica ou vital perde-
91
se". "Mas, uma grande parte do inconsciente
permanece normalmente em lat��ncia." Todas as
aquisi����es conscientes s��o assimiladas pelo
inconsciente e convertidas em faculdades: "o
progresso psicol��gico n��o pode ser outra coisa
que a convers��o de conhecimentos em faculdades."
Em cada vida, as aquisi����es da consci��ncia s��o
transferidas para a subconsci��ncia, de sorte que
esta se enriquece vida ap��s vida com experi��ncias
conscientes. A inspira����o prov��m dela (veja
Willis), "quando menos se espera, especialmente
fora das horas de trabalho reflexivo, quando a
intelig��ncia est�� distra��da." Trata Geley particu-
larmente da evolu����o ps��quica.
P R O V A S D A E X I S T �� N C I A
D O I N C O N S C I E N T E
Conforme o supra exposto, Freud, mediante
o m��todo por ele criado e denominado Psican��lise,
realizou a primeira explora����o met��dica do
inconsciente. Investigou profundamente a alma
de in��meras pessoas e desenterrou algumas
verdades novas cuja import��ncia �� fundamental.
Verificou, desde logo, que estados mentais n��o
conscientes t��m efeitos conscientes e que,
inversamente, estados mentais conscientes podem
ser inexplic��veis se n��o se recorre a causas
inconscientes. Deu, como os mencionados
9 2
antecessores, por falta de algo n��o imediata e
claramente manifesto, que parece jazer abaixo
do n��vel consciente. Desse labor resultou a
chamada psicologia do inconsciente, psicologia
anal��tica ou simplesmente Psican��lise.
At�� aqui, a exist��ncia de processos mentais
inconscientes parece bastante afastada da realidade
cotidiana. D��o mais a impress��o de m e r a s
infer��ncias do que de evid��ncias palp��veis.
Ser�� mesmo que processos t��o impercept��veis e
obscuros t��m tamanha influ��ncia a ponto de,
como se afirma, produzirem efeitos sobre a
nossa l��cida mentalidade consciente e o compor-
tamento? Ser�� que, quando penso ou fa��o algo,
h�� outra for��a (motiva����o oculta) dando ordens
de maneira silenciosa?
A sugest��o de realiza����o p��s-hipn��tica,
comumente mencionada como sugest��o p��s-
hipn��tica, constitui a demonstra����o mais evidente
da exist��ncia de processos mentais localizados
fora da consci��ncia. Trata-se da sugest��o por
ordem, dada a uma pessoa hipnotizada, que se
deve realizar em ��poca determinada. Esta opera����o
ps��quica foi muito investigada na segunda metade
do s��culo passado por eminentes psic��logos,
sendo, portanto, b e m anterior �� Psican��lise, o
que prova que todo progresso �� gradativo e liga-
se ao anterior por continuidade; sabe-se que
Freud partiu do uso m��dico do hipnotismo, que
93
aprendera na Fran��a, conforme esclarecido acima.
Quando se ordena ao hipnotizado fazer algo
a certa hora, ao acordar ele n��o guardar�� qualquer
lembran��a da ordem recebida, mas cumpri-la-��
com exatid��o. Mande-se, por exemplo, que o
sujeito, ��s 5 horas da tarde, v�� dormir ou
passear, ao sol, de guarda-chuva aberto. Mesmo
sendo atos absurdos e sem saber porque, ele o
far�� e procurar�� uma justificativa, se interpelado
por algu��m, por meio da racionaliza����o. Dir��,
por exemplo, que estava com sono ou que
julgou estar chovendo, etc.. Onde ficou arquivada
a ordem e de onde partiu o impulso para
obedec��-la se n��o h�� consci��ncia do fato? No
i n c o n s c i e n t e , o qual, assim, agiu sobre o cons-
ciente e, mais ainda, sobre o comportamento.
�� altamente esclarecedor o seguinte trecho
de Delanne ("O E s p i r i t i s m o p e r a n t e a C i �� n c i a " ) :
"Entre as experi��ncias de Richet, �� preciso citar
a seguinte, que �� a mais caracter��stica. A
paciente est�� adormecida. Diz ele: "vir�� em tal
dia, a tal hora". Acordada, ela t u d o e s q u e c e
e pergunta: "quando quer que eu volte?" "Quando
puder, em pr��ximo dia da semana". "A que
horas?" "Quando quiser".
"E regularmente, com uma pontualidade
surpreendente, ela chega no dia e hora indicados.
Certa vez A. chega �� hora exata, com um tempo
horr��vel. "N��o sei, realmente, porque vim", disse
94
ela; "tinha tanta gente em casa; corri at�� c�� e
n��o tenho tempo de ficar. �� um absurdo; n �� o
compreendo porque vim. Ser�� um fen��meno de
magnetismo?"
"De outra feita, esta senhora chega tamb��m
�� hora prescrita e confessa que n �� o s a b i a , antes
de se p��r a caminho, para onde ia. Evidentemente,
ela obedece, aqui, como a uma ordem imperativa.
De nada lembra-se; ignora, absolutamente, o que
lhe ordenaram durante o sono e, entretanto,
obedece. A lembran��a inconsciente, ignorada,
persiste em estado latente e determina o ato.
Ser�� preciso, como diz Li��geois, desconfiar da
inconsci��ncia; h�� a�� um dom��nio absolutamente
ignorado, que reclama um e s t u d o a p r o f u n d a d o
e muito curioso." �� l��cito, conseq��entemente,
considerar que Freud veio preencher a referida
lacuna, pondo a claro os conte��dos e processos
do n��vel inconsciente. N��o menos l��cito �� recordar
que, em 1883, o autor esp��rita citado j�� reclamava
a falta de tais conhecimentos, hoje �� nossa
disposi����o; a ��nica dificuldade �� separar o ouro
da ganga, o que faremos conforme os interesses
em mira.
Outra evid��ncia manifesta da exist��ncia de
processos inconscientes reside na p e r c e p �� �� o
e x t r a - s e n s o r i a l ou obten����o de conhecimentos
sem o emprego dos sentidos f��sicos. Que se trata
de um processo inconsciente �� ��bvio pelo
9 5
simples fato de que a pessoa nada sabe informar
a respeito de uma imagem, cena ou pensamento
recolhidos �� dist��ncia visto os sentidos e o
c��rtex cerebral n��o tomarem parte no fen��meno;
mais ainda: certo grau de obscurecimento da
consci��ncia favorece a nitidez da percep����o. Tal
�� o caso do lojista norte-americano (Sele����es,
mar��o de 1965) que sabia antecipadamente o
que os seus fregueses iam comprar, mesmo antes
de entrarem na loja, mas nada podia esclarecer
a respeito e tampouco se preocupou com isso
��� embora tenha percebido, ao longe, o filho em
perigo de afogamento e podido salv��-lo gra��as
a tais poderes mentais (clarivid��ncia: percep����o
de objetos e acontecimentos fora do alcance dos
sentidos; telepatia: recep����o do pensamento
alheio; precogni����o: previs��o de eventos futuros).
Ele apenas sabia que era capaz de perceber
coisas extra-sensorialmente e era tudo.
Muit��ssimas experi��ncias espont��neas de
percep����o extra-sensorial revestem a forma de
s o n h o l��cido, isto ��, consistem da recorda����o
n��tida do que o esp��rito livre viu realmente
durante o sono. Vejam o sonho relatado pelo
Marechal Victor Goddard, da Real For��a A��rea
da Nova Zel��ndia (Sele����es, outubro de 1951).
O desastre de avi��o, no qual tomou parte, foi
descrito por outro oficial, com base num sonho
que tivera, com detalhes espantosamente corretos;
9 6
este oficial "assistiu" ao que aconteceria dias
depois (sonho premonit��rio, precogni����o).
Se a experi��ncia acontece e m v i g �� l i a , ��
natural crer que seja pelo mesmo mecanismo: a
percep����o pelo esp��rito, de algum modo desligado
momentaneamente dos sentidos f��sicos. Isto,
por��m, corresponde ao que se chama de mente
inconsciente no encarnado, porquanto o material
apreendido permanece em grande parte fora da
consci��ncia. Louise Rhine ( 1 9 6 6 ) admite que,
nos casos de percep����o extra-sensorial, haja
v o l u m e a m p l o de informa����es no inconsciente
e que s�� pequena parte, fragment��ria, alcance
o conhecimento consciente, pois a passagem de
um n��vel para o outro encontra apreci��veis
barreiras (incluindo a repress��o). Muitas vezes,
apenas a e m o �� �� o associada aos fatos atinge a
consci��ncia, n��o raro sob a forma de i m p u l s o
irresist��vel para fazer algo que n��o se pretendia
(descer do trem, n��o viajar no dia marcado, ir
para a casa subitamente, e t c ) .
Delanne (A R e e n c a r n a �� �� o ) transcreve os
sucessos de uma sess��o de sonambulismo, durante
a qual o magnetizador prop��e �� m��dium Luisa,
e m t r a n s e , prestar aux��lio a outra jovem, Sofia,
que desejava adormecer. Luisa, inesperadamente,
recusa, mostrando-se agitada com o pedido. Por
fim, explica que odiava a outra em virtude de
s��rios danos que lhe causara em v i d a a n t e r i o r .
9 7
Ora, em e s t a d o d e v i g �� l i a , Luisa de nada s e
lembrava nem manifestava ��dio. Logo, reminis-
c��ncias e sentimento estavam sob f o r m a
i n c o n s c i e n t e (ou recalcados, como diria Freud).
Durante o transe sonamb��lico dilatava-se a ��rea
consciente e ela entrava de posse daqueles
materiais ps��quicos normalmente inacess��veis.
Prova-se, assim, por uma e x p e r i �� n c i a e s p �� r i t a ,
que consciente e inconsciente s��o estados relativos
de conte��dos e processos mentais. Livre o
esp��rito, cresce o consciente; preso ao corpo,
restringe-se ��s necessidades da vida terrena ���
mas consciente e inconsciente interpenetram-se
e influenciam-se mutuamente: se o inconsciente
pode determinar a conduta, o consciente pode
control��-la. E isto n��o �� assunto para ser esquecido.
Sendo, pois, verdade fatual a ocorr��ncia de
elementos inconscientes, vejamos algumas no����es
fundamentais propostas por Freud a respeito deles.
D e t e r m i n i s m o p s �� q u i c o ��� Ou causalidade.
Tanto quanto no mundo f��sico, em que nos
agitamos habitualmente, nada se passa em o
nosso mundo mental por acaso. A despeito das
apar��ncias, cada acontecimento ou fen��meno
ps��quico, um simples pensamento ou id��ia, est��
relacionado com outro (ou outros) que o precedeu
(ou que o precederam). N��o h�� descontinuidades
ou lacunas na vida mental; todos os processos
nesta desenrolados est��o unidos uns aos outros
9 8
como os elos de uma corrente. Assim, quaisquer
desejos ou pensamentos, por exemplo, n��o
podem ser acidentais, isolados; ao contr��rio,
possuem sempre uma s i g n i f i c a �� �� o . O problema
reside geralmente em descobri-la diante de uma
situa����o; quase sempre n��o sabemos o que
provocou determinado desejo ou id��ia e julgamo-
los sem import��ncia, absurdos, e t c . Na verdade,
afirma a Psican��lise, foram provocados por outros
desejos, pensamentos ou inten����es, dos quais
ignoramos a exist��ncia. Andr�� Luiz ( " A �� �� o e
R e a �� �� o " ) assim enuncia o determinismo mental:
"Toda a����o ou movimento deriva de causa ou
impulso a n t e r i o r e s " . A tal fato, ou seja, ��
aus��ncia de acaso no que se passa dentro do
esp��rito, devem-se os esquecimentos e perdas de
objetos; isto ��, esquecer e perder t��m liga����o
com raz��es profundas e consistentes. O mesmo
dar-se-ia com os sonhos e os lapsos (atos falhados);
cada sonho, cada imagem on��rica e cada lapso
(falha de mem��ria) decorreriam de acontecimentos
anteriores registados na mente e revelariam
liga����o significativa com as atividades desta.
Segue-se da�� que os sonhos n��o s��o oriundos do
funcionamento incoordenado das v��rias partes
do c��rebro, conforme pensava-se antes; e que
as trocas de palavras n��o s��o ocasionais: as
"distra����es" t��m fundamento em desejos e
inten����es obscuros.
9 9
Por exemplo, uma senhora morou sempre
com a filha, com a qual se d�� muito bem. Um
dia a filha resolve morar s��, por necessidade de
encetar alguns estudos e ficar perto do local de
trabalho. A m��e demonstrou certo desconten-
tamento, que procurou superar visitando-a muito
ami��de. Uma feita, referindo-se ao apartamento
da filha, comentou: "l�� onde eu moro..." Isto,
evidentemente, expressa o desejo n��o manifesto
de continuar vivendo ao lado do rebento, do
qual ela n��o tinha consci��ncia quando disse
aquilo. Quase sempre, por��m, o sentido n��o ��
assim t��o claro e o m��todo psicanal��tico foi
criado justamente para trazer �� luz materiais
ocultos e que respondem por semelhantes lapsos,
explicando tamb��m outras fun����es ps��quicas.
H e g e m o n i a d o i n c o n s c i e n t e ��� Para Freud,
a vida mental do ser humano n��o �� governada
pelas fun����es do que denomina consci��ncia;
antes era um como dogma dar a esta a primazia
absoluta, doutrina enfraquecida no fim do s��culo
passado, como vimos. Provou ele que, de fato,
os processos inconscientes s��o de imensa impor-
t��ncia e significa����o no funcionamento normal e
anormal da mente humana; dizia mesmo que a
consci��ncia �� um atributo ou qualidade secund��ria.
Isto quer dizer que a maior parte do que transcorre
dentro do esp��rito permanece ignorado do
indiv��duo. Ora, tal considera����o liga-se intimamente
100
ao princ��pio anterior: �� precisamente o fato de
tantos acontecimentos intraps��quicos serem
inconscientes que explica as a p a r e n t e s l a c u n a s
da atividade mental. Toda vez que um esquecimento,
distra����o, troca, pensamento, sentimento, etc..,
parece ao indiv��duo n��o manter conex��o com
algum outro que ocorreu antes ��� realmente tem
sua conex��o causal com algum processo ps��quico
inconsciente. Esta causa ou motivo inconsciente
poder�� ser revelado pelo citado m��todo de
an��lise e, ent��o, notar-se-�� que ela se encadeia
com os fatos antes tidos como casuais. �� o caso
da senhora que mencionou a resid��ncia da filha
como sendo sua; se ela n��o fosse nossa conhecida,
pensar��amos ter havido uma "distra����o"; mas o
que dissera se unia perfeitamente ao seu desejo
de morar com a mo��a, tempos antes expresso em
voz alta v��rias vezes e, depois, "esquecido".
Por enquanto, n��o �� poss��vel observar
diretamente os processos inconscientes; a t��cnica
desenvolvida por Freud permite abord��-los de
m a n e i r a i n d i r e t a . Como �� bem sabido, o
essencial dessa t��cnica consiste em levar o
paciente a enunciar, em voz aud��vel, todos os
pensamentos que lhe venham ao consciente,
sem exercer sobre eles a menor censura; isto ��,
dar livre e despreocupado curso ��s a s s o c i a �� �� e s
d e i d �� i a s , mediante o que muita coisa oculta
vem �� tona e o psic��logo pode descobrir o que
101
se passa, at�� certo ponto, na profundidade da
alma. E o que o paciente pensa e diz assim
procede das id��ias, motivos, desejos e inten����es
inconscientes. De sorte que s��o os e f e i t o s destes
que se examinam ��� expressos por meio de
pensamentos, sentimentos e recorda����es do sujeito
e das a����es que ele p��e em jogo. Essa t��cnica
sofreu refinamentos nas m��os de Jung; este n��o
deixava o sujeito falar �� vontade, mas enumerava
certas palavras indutoras para que o examinando
pronunciasse, a seguir, uma palavra (dita induzida)
ou frase por ela evocada; ao demais, media o
tempo de rea����o (uma palavra que excitasse algo
penoso custa mais a provocar rea����o).
O material desenterrado por tal procedimento
�� de duas naturezas: 1) lembran��as, sentimentos,
e t c , que podem facilmente passar para a
consci��ncia mediante um esfor��o de aten����o,
constituindo os elementos p r �� - c o n s c i e n t e s ; 2)
lembran��as, pensamentos, emo����es, e t c , que s��
com grande dificuldade se tornam conscientes,
formando propriamente os elementos i n c o n s -
c i e n t e s , e que s��o mantidos fora da consci��ncia
por uma for��a repressora consider��vel; somente
ap��s esta ter sido superada �� que os processos
envolvidos v��m a ser conscientes.
Importa notar, contudo, que a qualidade de
serem inconscientes de forma alguma elimina
sua influ��ncia, que �� poderosa, sobre as fun����es
102
mentais, sendo, al��m disso, t��o complexos e
precisos quanto os processos conscientes. Fora
do conhecimento l��cido existem processos mentais
capazes de produzirem todos os efeitos dos
pensamentos comuns, incluindo mesmo efeitos
que se tornam conscientes como ideias sem q u e
os pr��prios processos assomem �� consci��ncia.
Da�� o car��ter d i n �� m i c o que se atribui ao aspecto
inconsciente das atividades ps��quicas. Segundo
Freud e seguidores, todo ato mental �� i n i c i a l m e n t e
i n c o n s c i e n t e , podendo assim permanecer para
sempre ou passar para o consciente, caso n��o
depare com r e s i s t �� n c i a s (esp��cie de "censura",
cuja a����o ser�� examinada adiante sob o t��tulo de
r e c a l q u e ) . Por isso, dizia ele: o que �� inconsciente
est�� recalcado (o que outros n��o aceitam,
conferindo ao inconsciente amplitude muito maior,
sobretudo os psic��logos jungianos).
No caso referido da sugest��o p��s-hipn��tica,
sabemos donde partiu a id��ia que antecedeu a
a����o, isto ��, conhece-se a origem do processo
ps��quico inconsciente (obedi��ncia a uma ordem)
que provocou um efeito din��mico sobre o
pensamento consciente e o comportamento.
Aceita-se que todo e qualquer pensamento e
conduta tenham a m e s m a b a s e , com a diferen��a
de que n��o identificamos, sem profunda an��lise,
as motiva����es i n c o n s c i e n t e s , visto que s��o
produtos das experi��ncias e elabora����es
103
individuais. Exemplo comum �� o da m��e extremosa
que vive atr��s do filho com mil pequenos
cuidados, n��o permitindo a ele um minuto de
folga; queixa-se ela, suspirando, do imenso
sacrif��cio que faz, tendo de andar sempre com
o rapaz "para cuidar bem dele"; ora, ao observador
�� patente o desejo inconsciente de dominar e
controlar a vida do filho, embora ela o negasse
com raiva se lhe diss��ssemos tal coisa.
Do antecedente, os psicanalistas concluem
que a consci��ncia revela import��ncia secund��ria,
porquanto a maior parte da vida mental transcorre
fora dela; e dizem que freq��entemente ela n �� o
participa da determina����o do comportamento
humano. As atividades mais complexas, precisas
e decisivas podem ser completamente incons-
cientes. Em conclus��o, det��m hegemonia o
inconsciente.
Julga-se que pensamos e formulamos incons-
c i e n t e m e n t e quest��es at�� muito complicadas
usando os materiais arquivados no fundo da
mente, o que influi no pensamento e na conduta.
O bot��nico J. C. Willis (1949) conta minu-
ciosamente que escreveu grande parte do seu
livro sobre a origem e a dispers��o dos vegetais
utilizando c o n s c i e n t e m e n t e resultados de
dedu����es e predi����es que "s��o, de fato, dedu����es
feitas pelo uso da m e n t e inconsciente". Depois
de bem enfronhado num dado assunto, Willis
104
esperava que as dedu����es emergissem espon-
taneamente, o que podia levar at�� 3-4 meses; ��
noite, em r��pida sucess��o, elas apareciam e eram
anotadas em caderno imediatamente porque s��o
fugazes e logo esquecidas. Depois, procurava, na
literatura cient��fica especializada, elementos
comprobat��rios da veracidade e precis��o delas.
E declara nunca t e r e m f a l h a d o ! Afirma haver
anotado mais de 1.000 em 10 anos de trabalho.
Muitas eram predi����es porque nada tinham a ver
com o trabalho em curso no momento e s��
foram ��teis mais tarde. Esclarece ele: "O autor
aperfei��oou continuamente a sua maneira de
usar a d e d u �� �� o i n c o n s c i e n t e , seguida de laboriosa
verifica����o subseq��ente pelo fatos".
V��-se, por esse recente exemplo not��vel e de
fonte estranha �� Psicologia, que o inconsciente
conserva materiais cognitivos em n��mero muito
superior ao depositado no consciente. A emiss��o
de dedu����es p r o n t a s p a r a o u s o , que acontece
com muita gente, indica que os conhecimentos
absorvidos, durante longos anos de estudo, pelo
bot��nico, foram realmente e l a b o r a d o s e o r d e -
n a d o s no inconsciente; as fulgura����es por ele
anotadas n��o eram simples dados dispersos, mas
dados combinados em conclus��es; parece ter
havido um trabalho de i n d u �� �� o , porquanto,
ap��s "embeber o esp��rito em algum assunto", ele
recebia um princ��pio elaborado congregando
105
todos os dados dispersos. Em outro n��vel de
conhecimentos (espiritual), podemos interpretar
o fen��meno como procedente da atividade do
e s p �� r i t o l i v r e durante as horas de sono, quando
goza de mais lucidez; por��m, em estado de
vig��lia, corresponde ao que se chama de
inconsciente. Muitos exemplos deste tipo est��o
referidos na literatura. Al��m de Arago, outro
famoso matem��tico inclu��do no caso foi K. F.
Gaus (s��culo 18), que adiantou ter recebido
certa regra relativa �� teoria dos n��meros "pela
gra��a de Deus. O enigma resolveu-se como
centelhas iluminativas", sem que ele pudesse
explicar o que se passou. Outro ainda mais
c��lebre �� Henri Poincar��, da nossa ��poca, que
descreve como, numa noite insone, apreciava
suas representa����es matem��ticas colidindo dentro
de sua mente, at�� que algumas fizeram sentido.
Esclareceu: "Sentimo-nos como se pud��ssemos
observar o nosso pr��prio inconsciente em a����o
e a atividade inconsciente tornando-se parcialmente
manifesta �� consci��ncia, sem perder seu car��ter
pr��prio". Delanne transcreve v��rios exemplos.
O supramencionado d�� raz��o a Freud e
disc��pulos quanto �� natureza ativa do inconsciente.
O problema �� saber us��-lo regularmente, como
no caso descrito. A maior parte da personalidade
�� formada por ele, j�� o dizia Delanne. Dele
promanam as nossas inclina����es e a orienta����o
106
geral na vida. O preocupar-se com o bem e
procurar o caminho da eleva����o espiritual significa
possuir um inconsciente algo iluminado; deter-
se no mal e querer a exalta����o sensual �� t��-lo
muito animalizado. Portanto, o nosso modo de
ser e de viver est�� em e s t r e i t a c o n e x �� o com
ele, fato l��gico por conter o inconsciente t u d o
q u a n t o a d q u i r i m o s n o p a s s a d o . O que fomos
est�� ali conservado e o que somos agora �� uma
express��o disso. N��o somos inteiramente
governados, como m��quinas, pelos impulsos
emanados desse n��cleo ps��quico porque temos
o c o n t r o l e c o n s c i e n t e , que aceita, modifica ou
rejeita os mesmos impulsos.
Para Jung, o inconsciente �� um reposit��rio
fabuloso de conhecimentos. Seus materiais e
atividades procederiam do passado remoto, tendo
sido herdados dos ancestrais, "de sorte que em
cada crian��a preexiste uma disposi����o ps��quica
funcional, adequada, anterior �� consci��ncia."
Para n��s, esp��ritas, basta substituir "crian��a" por
"vida", e eis a�� a reencarna����o... O consciente
�� ef��mero e relacionado ao presente, produto
de alguns dec��nios e dotado somente dos materiais
da experi��ncia individual. Ao contr��rio, o incons-
ciente �� riqu��ssimo, traz materiais acumulados do
passado coletivo, uma imensa experi��ncia, porque
reuniu as vidas do indiv��duo, da fam��lia, da tribo,
dos povos, i n �� m e r a s v e z e s (donde a designa����o
107
de "inconsciente coletivo", espec��fica de K. G.
Jung). "A consci��ncia �� um rebento tardio da
alma inconsciente", bem como a vontade. Este
ponto de vista jungiano �� o que se harmoniza
com a doutrina kardeciana, com a diferen��a de
que esse ac��mulo de conte��dos no inconsciente
procede da experiencia individual multiplicada
por n u m e r o s a s e x i s t �� n c i a s na carne, ou seja,
atrav��s da reencarna����o. Mediante esta adi����o
explicativa, o resto ��-nos adequado porque produto
de estudos aderentes �� realidade e ligados ��
tradi����o doutrin��ria.
N. B. ��� Para dirimir poss��veis d��vidas sobre
o papel desempenhado, na vida comum, pelo
inconsciente, conv��m acentuar que freq��en-
temente n��o estamos de posse da consci��ncia
plena. Esta pode ser facilmente perturbada por
irrup����es de conte��dos inconscientes, que
emergem na consci��ncia como rel��mpagos no
c��u sereno; trata-se de fantasias que se expressam,
no consciente, como impress��o, opini��o,
preconceito e ilus��o, podendo facilmente provocar
ang��stia, apreens��o e sentimento de incoer��ncia.
Muitas pessoas mostram-se parcialmente
conscientes (mesmo na Europa, anota Jung,
in��meras s��o "anormalmente inconscientes"):
"sabem o que se passa com elas, mas s��
imperfeitamente t��m a representa����o do que
fazem e dizem". N��o conseguem dar-se conta do
108
valor das suas a����es, falam e agem "sem pensar",
como sob o comando de impulsos, que s��o
for��as inconscientes que assomam ao consciente
para obter realiza����o. Tomam consci��ncia quando
surge um fato inesperado que as traz de volta
a si, quando se chocam com qualquer costume,
um h��bito solidamente estabelecido. Se essa
colis��o tiver conseq����ncias penosas, faz-se-lhes
luz no esp��rito, ficam sobressaltadas, conseguindo
ent��o notar os motivos de suas a����es ��� e s��
assim tornam-se conscientes, nesses "momentos
afetivos". Da�� a import��ncia do ego��smo, esclarece
Jung, a fim de tomar consci��ncia de si mesmo;
n e s s e n �� v e l , o ego��smo tem um papel a
desempenhar.
M o t i v a �� �� o i n c o n s c i e n t e . Temos aqui a
determina����o inconsciente de a����es e sentimentos.
H�� quem afirme que nada �� completamente
inconsciente, porquanto o sujeito sempre teria
uma no����o de qualquer fato que esteja em sua
mente; ele apenas ignoraria a import��ncia dos
efeitos do mesmo sobre a sua vida. Ora, o que
importa, diz Horney, n��o �� s�� o c o n h e c i m e n t o
v a g o de uma atitude, mas sobretudo ter n o �� �� o
c l a r a da for��a e da influ��ncia dessa atitude e
entender as conseq����ncias e as fun����es que ela
desempenha na conduta. A aus��ncia de uma
destas caracter��sticas significa que a atitude ��
i n c o n s c i e n t e ��� ainda que haja tra��os de
109
consci��ncia dela, visto que os dois n��veis mentais
interpenetram-se e realizam interc��mbios. Mas
uma tend��ncia pode ser, de fato, inteiramente
inconsciente. Por exemplo, h�� pessoas que
parecem gostar de todo mundo e que afirmam
isso categoricamente; contudo, percebe-se vez
por outra que elas desprezam algu��m sem o
notarem: h��, pois, uma tend��ncia oculta para
humilhar o pr��ximo.
A exist��ncia de motivos inconscientes apresenta
dois aspectos dignos de nota. O primeiro �� o
fato de que a n��o admiss��o de certos impulsos
na consci��ncia (repress��o) n��o impede, como
vimos acima, que eles continuem agindo ativa-
mente. Segue-se disso que podemos estar abor-
recidos, apreensivos ou deprimidos sem saber a
raz��o; que podemos tomar decis��es importantes
ignorando as raz��es que nos conduziram a elas;
que interesses, convic����es, simpatias, e t c , podem
ter origem em for��as desconhecidas do consciente.
O segundo mostra que os motivos (aquilo que
p��e o individuo em a����o) permanecem incons-
cientes porque temos interesse em mant��-los
assim, em n��o tomarmos conhecimento consciente
deles; uma tentativa para descobri-los encontraria
resist��ncia porque poria em perigo algum dos
nossos interesses, seria uma amea��a.
As for��as que constituem os motivos das
nossas atitudes e condutas (impulsos) s��o de
natureza emotiva e correspondem aos usuais
1 1 0
desejos, necessidade, ��nsia e paix��o, conforme
v��rios matizes e intensidades. Isto merece
explica����o mais alentada.
A motiva����o inconsciente manifesta-se por
meio de necessidades e impulsos. Comumente
estas duas palavras s��o tidas como sin��nimas, o
que �� pr��tico porque a distin����o �� sutil e nem
sempre defin��vel; em certos casos, no plano
mental, �� mais f��cil apreend��-la mentalmente do
que a definir verbalmente. Um motivo para agir
envolve, portanto, uma necessidade que exige
satisfa����o e um impulso que objetiva obter a
satisfa����o da necessidade.
Necessidade �� um estado f��sico ou mental que
obriga a preencher determinada finalidade sem
impelir �� a����o. A necessidade de alimentar-se
atende �� finalidade de manter a vida, mas n��o
leva a procurar comida; a necessidade de rela����es
carnais objetiva atender �� reprodu����o. O impulso
�� um estado de tens��o gerado por um est��mulo
e que p��e o organismo em movimento para
satisfazer a necessidade �� qual se liga. Assim,
uma pessoa n��o come porque tenha necessidade:
muitas sabem que a t��m e n��o querem ou n��o
podem comer; come por sentir-se impulsionada
por um estado de excita����o central que a leva
a procurar meios de satisfazer a necessidade:
cessado aquele estado, esta d��-se por atendida.
Os impulsos s��o sempre ps��quicos, mas as
111
necessidades podem ser fisiol��gicas ou
psicol��gicas. As primeiras mostram-se s e m p r e
mais f��ceis de identificar e compreender. T e m o s :
necessidade de alimentar-se (impulso de c o m e r
ou fome), necessidade de beber ��gua (impulso
de beber ou sede), necessidade de ar (impulso
de respirar), necessidade de rela����es carnais
(impulso sexual), necessidade de afeto (impulso
amoroso), necessidade de saber e compreender
(impulso explorat��rio), necessidade de satisfa����o
afetiva (impulsos est��ticos). A restri����o ou priva����o
p��e em evid��ncia a for��a do impulso e a
intensidade do dom��nio que exerce sobre a
raz��o. Impulsos n��o obviamente ligados a neces-
sidades s��o o medo, a c��lera, a excita����o (acen-
tua����o do estado de vig��lia) e a alegria, conhecidos
como e m o �� �� e s ; o medo e a c��lera, evocados
por um perigo real, parecem atender �� necessidade
de autopreserva����o, mas isto teria sido muito
mais no passado do que hoje em dia, quando
manifestam-se a toda hora sem motivo patente.
�� muito importante, num impulso, a
e x p e r i �� n c i a a f e t i v a em fun����o da qual a atividade
determinada por ele prossegue ou �� suspensa.
Assim, comemos enquanto �� agrad��vel e paramos
quando deixa de s��-lo. Um daqueles impulsos
normais torna-se anormal quando a satisfa����o
custa a ser obtida, caso em que ele pressiona
sem parar e leva a uma a t i v i d a d e e x a g e r a d a .
112
A�� temos, por exemplo, os excessos de cama e
mesa; as necessidades de coito e de degluti����o
freq��entes s��o, pois, devidas a impulsos
prolongados por condi����es mentais an��malas.
Os impulsos podem ser condicionados, ficando
associados a certos est��mulos que os despertam
na hora apropriada; determinados alimentos
estimulam o impulso de comer e um parceiro
adequado o impulso er��tico ��� as duas coisas
com amplas varia����es individuais. Quando um
impulso foi posto em fun����o repetidas vezes por
um dado est��mulo, este tende a tornar-se um
sinal para despert��-lo diretamente. Por exemplo,
se uma pessoa p��e-nos zangados muitas vezes,
a sua mera presen��a j�� nos deixa com raiva e
at�� pensar nela �� um aborrecimento; v��rios
telegramas desagrad��veis acarretam apreens��o s��
ao ver o carteiro; se um alimento fez-nos mal
algumas vezes, sentir-lhe o aroma leva a torcer
o nariz ou a "embrulhar" o est��mago. Os impulsos
podem ser modificados pela aprendizagem, estudo
e esfor��o consciente.
Al��m das necessidades e impulsos normais,
com g r a n d e f r e q �� �� n c i a a mente humana,
desviando-se do rumo da normalidade no caminho
evolutivo, cria ou desenvolve necessidades m��rbidas
e impulsos an��malos para atend��-las. Uns s��o
acentua����es e deforma����es de necessidades e
impulsos normais, segundo foi mencionado acima;
113
outros s��o inteiramente anormais, como o impulso
s��dico e o impulso suicida.
Denomina-se impulso compulsivo ao que,
em oposi����o ao espont��neo ou natural, tem de
ser obedecido automaticamente, mesmo �� custa
dos interesses e sentimentos mais leg��timos do
sujeito, o que ele far�� de qualquer maneira e sem
medir conseq����ncias (isto ��, discriminadamente).
Por exemplo, impulsionado intimamente a disputar
determinada posi����o, movido pela ambi����o
compulsiva, ele usar�� o suborno, a mentira, a
cal��nia, inclusive a respeito de si m e s m o ,
amigos e parentes. Os impulsos compulsivos,
segundo K. Horney, s��o as for��as enfermi��as que
iniciam e sustentam as neuroses, originando-se
de sentimentos de incapacidade, inseguran��a,
medo e hostilidade formados na primeira inf��ncia.
Horney aplica a eles a designa����o de tend��ncias
neur��ticas ��� impulsos destinados a atender a
necessidades doentias do esp��rito; acha ela que
eles permitem uma esp��cie de ajustamento
p r e c �� r i o ��s condi����es do mundo e da vida
quando se est�� dominado por medos, inseguran��a
e isolamento; as condi����es mentais an��malas,
ent��o, n��o permitem lan��ar m��o dos recursos
normais de adapta����o: cordialidade, coopera����o,
solidariedade, e t c . Al��m disso, v��rios desses
impulsos s��o contradit��rios ou antag��nicos, pelo
que arrastam a pessoa em dire����es opostas com
114
igual for��a estabelecendo os conflitos mentais,
pr��prios do estado neur��tico da mente.
Mecanismos de defesa c o n t r a impulsos
Segundo a teoria psicanal��tica, a personalidade
emprega uma s��rie de recursos para impedir que
impulsos perigosos ou inadmiss��veis venham a
emergir e criar situa����es de desajustamento com
o ambiente. Muitas vezes, isto pode ser conseguido
por meio de medidas simples: um esfor��o no
sentido de desviar a aten����o para algo interessante;
orientar a percep����o noutra dire����o; estimular
o aparecimento de outro impulso menos delet��rio;
usar cria����es mentais fantasiosas, e t c . Por��m,
sob o nome de m e c a n i s m o s de defesa, Anna
Freud, filha do criador da Psican��lise, englobou,
em 1936, v��rios processos inconscientes mais
complexos que favorecem o relacionamento do
indiv��duo com o seu ambiente mediante o controle
ou redu����o dos impulsos. S��o esp��cies de defesas
que o sujeito desenvolve contra a p e r c e p �� �� o
i n t e r i o r de suas pr��prias dificuldades, inferio-
ridades ou lacunas ps��quicas: ele age como se
quisesse preservar a estrutura do car��ter em suas
rela����es com os outros.
1. Recalque ou repress��o. Foi o primeiro
identificado por Freud e o mais importante.
Consiste em impedir a penetra����o, na consci��ncia,
115
do impulso indesej��vel e de qualquer elemento
desfavor��vel (recorda����es, imagens, cenas,
inten����es, fantasias de realiza����o de desejos, as
emo����es associadas, etc.) relacionado com e l e .
H�� uma resist��ncia autom��tica �� passagem desses
conte��dos mentais para o n��vel consciente, dos
quais a pessoa n��o guarda n e n h u m a n o �� �� o : ��
como se n��o existissem simplesmente, pois o
fen��meno �� de todo inconsciente. Uma lembran��a
ou experi��ncia recalcada est�� completamente
esquecida, visto que a fun����o da repress��o ��
e v i t a r o s o f r i m e n t o afastando do conhecimento
l��cido materiais cuja presen��a seria dolorosa ou
desagrad��vel para o indiv��duo. Ela ocorre ap��s
uma l u t a �� n t i m a , subterr��nea, um conflito entre
desejos e inten����es (sexuais e agressivos) e
valores morais e aspira����es pessoais. No
esquecimento tempor��rio, o esquecido desloca-
se para o pr��-consciente mas volta ao consciente
por novo esfor��o de mem��ria. N��o se deve
confundir repress��o com s u p r e s s �� o . Esta �� uma
atividade consciente, de certo modo an��loga
��quela, mediante a qual se expulsa deliberadamente
da consci��ncia algum fato reputado desagrad��vel;
o sujeito declara para seus bot��es: "n��o vou
pensar mais nisso", "n��o vou me irritar �� toa",
e t c . Em " E a V i d a C o n t i n u a . . . " , de Andr�� Luiz,
encontramos os dois conceitos expressos assim:
o homem tinha as cenas do crime, cometido
116
anos atr��s, "profundamente b l o q u e a d a s n o s
escaninhos da mente" (repress��o); a mulher n �� o
permitia que "a imagem de Desid��rio se lhe
imiscu��sse na lembran��a" (supress��o). Para F r e u d
e seguidores ortodoxos, o recalque s�� ocorreria
na primeira inf��ncia; sendo a crian��a mais
vulner��vel do que o adulto, as experi��ncias
traumatizantes ocorridas na inf��ncia produziriam
defici��ncias na personalidade e estas tornariam
o indiv��duo mais sens��vel a novos conflitos.
Atualmente, muitos pensam que n��o h�� limite
de idade para a repress��o de derivados das
experi��ncias; o que de prefer��ncia sofre tal
processo de exclus��o s��o os aspectos do car��ter
capazes de suscitarem g r a v e s p r o b l e m a s no
meio social onde o sujeito vive e atua.
O recalque acarreta conseq����ncias s��rias, pois
gera-se um estado de t e n s �� o i n t r a p s �� q u i c a
entre algo que luta por emergir e algo que luta
por impedir a emers��o, o que provavelmente
influi de modo permanente na personalidade. O
processo �� cont��nuo, visto haver sempre p r e s s �� o
c o n s t a n t e para conseguir descarregar-se (impulso)
ou alcan��ar a percep����o consciente e uma
barreira a isso. O equil��brio que se estabelece
entre as duas for��as opostas �� i n s t �� v e l e pode
mudar a qualquer momento; se a energia
empregada contra o recalcado diminuir, ele
poder�� surgir claramente na consci��ncia e
117
c o m a n d a r a a �� �� o correspondente �� realiza����o
do impulso: falhou a repress��o, o q u e tamb��m
ocorrer�� se a energia do impulso aumentar. Em
q u e situa����es costuma acontecer isso?
Sempre que a v i t a l i d a d e sofra redu����o. Nos
estados febris e t��xicos e nos estados anormais
da personalidade (del��rios), quando o paciente
move-se e fala de modo fora do comum. �� bem
not��ria a atua����o das pessoas alcoolizadas que
mudam fortemente de comportamento, revelando
tend��ncias er��ticas ou agressivas que elas pr��prias
desconhecem em estado s��brio. Julgam os psica-
nalistas que o sono tamb��m origine freq��entemente
diminui����o da energia repressora, permitindo a
invas��o do consciente por desejos e lembran��as
recalcados sob a forma de s o n h o s ; da�� as a����es
tidas, como absurdas quando acordado. E ainda
o sonhar com a����es que nos repugnam em
estado de vig��lia, quando reprimimos os impulsos
menos dignos. J�� o grande S. Agostinho faz
refer��ncia a esse tipo de sonho, nas " C o n f i s s �� e s " ,
admirando-se profundamente de sonhar com
desejos que n��o possui quando acordado!
As tenta����es favorecem os impulsos ampliando
as energias deles e, por isso, m o s t r a m o q u e
s o m o s , ou seja, aquilo que est�� gritando no por��o
da mente. Quando as restri����es �� emerg��ncia de
qualquer impulso indesej��vel s��o severamente
118
mantidas, a rea����o defensiva surge como a n s i e d a d e .
Cada recalque reduz a i n t e g r i d a d e d o e u ,
uma v e z que certa parte dele sai de circula����o,
deixa de atuar em beneficio pr��prio, e perde
uma quota de energia, enfraquecendo-se. Logo,
repress��o em excesso �� m u i t o p r e j u d i c i a l (al��m
da tens��o que gera) �� personalidade, a qual tem
de lidar com o mundo exterior e com o pr��ximo;
por isso, comumente leva �� enfermidade mental!
A conten����o de impulsos encontra apoio nas
n o �� �� e s �� t i c a s e nos fatores ambientais; o destino
deles depende do jogo dessas influ��ncias
contrastantes: alcan��ar a gratifica����o, as v��rias
maneiras desta processar-se, sofrer a repress��o,
fracassar a repress��o, formarem-se conflitos
produtores de neuroses, e t c .
Os elementos ps��quicos inconscientes, que
foram eliminados do consciente pelo recalque,
c o n t i n u a m e m a t i v i d a d e . Est��o apenas impedidos
de entrar em a����o abertamente como pensamentos
e atos pela constante oposi����o das energias
postas contra eles. A comum sensa����o de culpa
ou de remorso, sentida como penoso estado de
tens��o mental, seria uma conseq����ncia consciente
da desaprova����o pelo senso moral de uma atitude
assumida sob comando de um impulso; a aprova����o
resultaria em sensa����o de paz e satisfa����o ��ntimas.
O recalque acontece ser parcial; por exemplo,
119
a recorda����o de um acontecimento pode perma-
necer na consci��ncia sem qualquer tra��o da
emo����o associada. H�� diversos graus de remo����o
da consci��ncia e a influ��ncia do que �� inconsciente
sobre o consciente �� relativa e vari��vel.
2. F o r m a �� �� o reativa. Este mecanismo de
defesa consiste em tornar inconsciente uma
atitude e fazer prevalecer, na ��rea consciente,
a atitude oposta. Por esse expediente, o sujeito
objetiva abandonar alguma forma de compor-
tamento inaceit��vel pela sociedade ou deter
impulsos considerados perigosos, trocando-os
por outros aceit��veis ou capazes de controlar os
primeiros. Em casos de tal ordem, ocorre uma
superacentua����o do procedimento tido como
ben��fico. Dizem-nos que uma pessoa pode
desenvolver grande ternura por animais ou pessoas
com o objetivo (inconsciente) de controlar ou
anular impulsos cru��is. O ��dio poder�� jazer sob
apar��ncia afetuosa, a submiss��o ocultar a revolta,
e assim por diante. Julga-se que a natureza de
uma forma����o reativa seria determinada por
aquilo que o eu teme como perigo, levando-o
a reagir com ansiedade; se teme o impulso de
odiar, fortalece a atitude amorosa, e t c . Assim,
um pacifista exaltado pode possuir fantasias
mentais de maldade e defender-se pela acentua����o
da atitude contr��ria, ben��fica. O fingimento ou
hipocrisia �� an��logo, por��m, posto em fun����o
120
pela consci��ncia para ajustar-se transitoriamente
a circunst��ncias que julga venham favorec��-la.
Segue-se que a forma����o reativa se distingue
pelo exagero e compulsividade. O amor reativo,
por exemplo, protesta muito, �� espalhafatoso,
extravagante, afetado. O sujeito n��o pode deixar
de expressar o oposto do que sente realmente;
o seu "amor" n��o �� flex��vel e n��o se adapta ��s
mudan��as de circunst��ncias; tem de estar sempre
em exibi����o, como se houvesse perigo do
sentimento oposto subir �� superf��cie. Tamb��m
o medo de mostrar sentimentos ternos,
considerados como sinal de fraqueza, leva a
constituir um manto de dureza e excesso de
masculinidade, gerando caricaturas de homens.
S��o, pois, condutas exageradas, o que n��o se
pode ter como ��ndice de normalidade.
Exemplo not��vel �� o do sujeito sempre af��vel
e estimado pela pondera����o e prestabilidade. Um
dia, uma situa����o especial p��s a claro que tal
apar��ncia era uma forma����o reativa contra
impulsos agressivos absolutamente insuspeitados.
Certa feita, chamado para ajudar a conter um
sujeito dominado por impulso homicida, que era
seu conhecido, surpreendeu-nos exibindo forte
r e a �� �� o agressiva, inesperada nele, que parecia
uma rocha de calma. Ao chegar, mostrou-se
exaltado e queria agredir o candidato a criminoso;
quase foi preciso agarrar o que viera agarrar
outro... Em seguida ao epis��dio, voltou �� tranq��i-
121
lidade habitual. V��-se que uma atitude e c o n d u t a
podem muito bem ser defesas exteriores c o n t r a
disposi����es interiores contr��rias; o que e s c l a r e c e
a situa����o �� o e s t �� m u l o adequado, que, f e r i n d o
o p o n t o f r a c o , muda o comportamento e revela
a realidade interna. Diz a sabedoria popular que
"as apar��ncias enganam".
3. P r o j e �� �� o . �� o mecanismo que leva a pessoa
a atribuir a outra ou a qualquer objeto externo
um desejo, inten����o, sentimento, e t c . , seu; por
ser ele inaceit��vel, procura a pessoa, incons-
cientemente, livrar-se passando-o para outras ou
para coisas. Dizem que os crimes e v��cios que
identificamos nos demais, os nossos preconceitos
contra estranhos e muitas supersti����es n��o passam
de decorr��ncias da proje����o inconsciente de
nossos pr��prios desejos, impulsos. ��, portanto,
uma inclina����o para atribuir a outros id��ias,
inten����es, motivos, defeitos, sentimentos, e t c . ,
que, na realidade, procedem d e q u e m f a l a e
que n��o se podem reconhecer e m s i m e s m o ;
h�� pessoas que criticam nos outros exatamente
os pontos fracos do seu car��ter. Trata-se de
lan��ar fora as reprova����es feitas pela pr��pria
consci��ncia moral, quando esta existe, ou apenas
de opinar com os materiais de que se disp��e.
Pareceria que, em muitos casos, ver-se-ia o
indiv��duo livre da responsabilidade de seus atos
e pensamentos e do conflito entre desejo e dever
122
ou entre a tendencia natural e a tend��ncia ��tica.
Gra��as a tal expediente, muitos ataques assumem
a apar��ncia de defesa e numerosas a����es ego��sticas
tomam a fei����o de altru��smo. Est�� neste caso a
esposa que presenteia o marido com algo que
ela pr��pria desejava possuir (atribui o desejo de
possuir o objeto ao marido). Temos o indiv��duo
conhecido pela "m��o leve" que, sem motivo
plaus��vel, est�� sempre acusando outros de ladr��o;
pol��ticos e administradores constituem excelente
material para tal opera����o mental: s��o usuais
bodes expiat��rios. A pessoa n��o o "faz por mal";
apenas evacua suas produ����es mentais indesej��veis
sem perceber que realiza um auto-retrato. Pr��tica
antiga esta, j�� recomendada no Velho Testamento.
S�� que a�� se usava um bode de verdade de carne
e osso, cuja fun����o era carregar o peso da
consci��ncia em conflito. Segundo diz-se, isto
teria utilidade porque, atribuindo a outros id��ias
de culpa ou de car��ncia moral, a pessoa aliviaria
a consci��ncia da perturba����o induzida por elas.
Esta explica����o �� l��gica e corresponde ao que
se observa na vida comum, mas n��o elimina a
responsabilidade dos danos causados a outrem,
a qual exige cada um enfrentar as conseq����ncias
do que pratica. Logo, chegada a compreens��o
��� �� tratar da auto-reforma para que as nossas
proje����es sejam favor��veis e n��o gerem rea����es
negativas. No curso da psicose, a proje����o faz
123
parte das id��ias delirantes e de alucina����es; o
doente atribui a outrem o que ele sente dentro
de si: notam seus defeitos, riem e zombam dele,
fazem-lhe acusa����es (a�� entra tamb��m a obsess��o).
Para n��s, termina no dist��rbio mental o contumaz
desrespeito ao pr��ximo. A proje����o em excesso
deforma a percep����o da realidade, isto ��, a
capacidade de analisar o mundo exterior fica
prejudicada: o sujeito est�� sempre v e n d o nos
outros o que s e n t e dentro de si; por exemplo,
se �� grosseiro e col��rico, julga-se constantemente
maltratado e ofendido pelos que o cercam.
Eis, portanto, a maledic��ncia com b a s e p s i c o -
l �� g i c a . Important��ssima l e i m o r a l salta �� vista:
todo julgamento �� um auto julgamento. Toda vez
que uma pessoa define eticamente outra, est��
pura e simplesmente definindo-se a si mesma,
isto ��, trazendo para fora o seu mundo ��ntimo
e aplicando-o sobre o semelhante. A melhor
maneira de conhecer algu��m consiste em ouvir
s u a s o p i n i �� e s a respeito de outras pessoas. ��
a mulher amasiada que chama outras de prostitutas.
�� o homem b��gamo que adverte outro contra...
a bigamia. �� o estudante relapso ou in��bil que
se declara perseguido pelo professor ou que este
n��o sabe ensinar. O esp��rito equilibrado n��o v��
inferioridades em ningu��m, antes projeta bondade
e condescend��ncia; de dentro dele s�� pode sair
o que l�� est��... seja o que for. Q inseguro, tendo
124
a sensa����o de suas defici��ncias, �� desconfiado
e projeta continuamente o que reveste o f u n d o
do seu esp��rito. Em suma, o que cada um d i z
dos outros est�� dizendo de si mesmo, b o m ou
mau, conforme sua ��ndole. �� bem de notar-se
que, sem conhecer os motivos do indiv��duo e
os fatos da situa����o, �� imposs��vel opinar a
respeito de conduta humana; e que praticamente
nunca se conhecem as duas coisas juntas. Portanto,
o c e r t o �� i s t o : "Mas seja o vosso falar: sim, sim;
n��o, n��o; porque tudo o que daqui passa procede
do mal" (Mateus 5 : 3 7 ) , preceito alicer��ado n o
conhecimento da alma humana.
4. R a c i o n a l i z a �� �� o . �� a fun����o autodefensiva
que torna capaz a mente de gerar, para seu uso,
uma falsa motiva����o que permita justificar perante
a consci��ncia a satisfa����o de um impulso �� qual
esta se op��e. �� uma esp��cie de anestesia moral
que o indiv��duo aplica, inconscientemente, �� sua
consci��ncia. Por semelhante meio, �� f��cil arranjar
raz��es que tranq��ilizem aquela ao mesmo tempo
que se obedece aos impulsos. Muitas vezes, o
sujeito n��o percebe o m��vel da a����o e formula
raz��es que acredita a tenham determinado; mas,
estas s��o posteriores ao fato, embora possam
conter parte maior ou menor de verdade. Consegue
o ser humano, por este processo, substituir os
motivos mais ego��stas por motivos de maior
valor ��tico, pondo assim a consci��ncia a salvo
125
da autocr��tica e do julgamento alheio (autoprote����o
ps��quica, que, todavia, n��o abole a responsa-
bilidade). A racionaliza����o permite ao lado inferior
da personalidade utilizar todas as sutilezas de um
intelecto apurado, pois �� mais ativa e fecunda
nos indiv��duos inteligentes e cultos; j�� a proje����o
e a catatimia" s��o peculiares aos fracos, t��midos
e/ou pouco talentosos, raz��o porque �� mais
encontradi��a.
O caso mais simples �� o da raposa da f��bula;
n��o podendo alcan��ar as uvas maduras, que
tanto apreciava, afastou-se proclamando: "est��o
verdes". Depois o do lobo que queria comer o
cordeiro �� margem do regato em que ambos
bebiam; estando a favor da corrente, declarou
o lobo que o cordeiro sujava a ��gua; este
demonstrou a impossibilidade do fato por achar-
se abaixo dele; mas o lobo n��o se deu por
vencido: "se n��o foi voc��, foi seu pai ou seu
av��". E, assim, as raz��es v��o aparecendo ��
medida que se fazem necess��rias, sem conex��o
l��gica com a realidade, por comando inconsciente
e elabora����o consciente. Temos o sujeito que
verberava outro por n��o ir ao dentista tratar de
um dente cariado e, lembrando que possu��a um
na mesma condi����o, declarou: "meu caso ��
Nota da Editora: Catatimia ��� incapacidade de
produzir bons julgamentos.
1 2 6
diferente, pois n��o tive tempo". H�� aquele
homem s��rio que explicou suas rela����es
extraconjugais dizendo inocentemente: "voc��
sabe, eu n��o sou santo". Entram aqui os que,
com medo de outro que quis brigar, passado o
perigo jactam-se: "se n��o me segurassem..." ou
"se ele n��o fosse logo embora..." A pr��pria
Psican��lise, muito divulgada, fornece bom exemplo;
pessoas com algumas leituras indigeridas declaram
desejar "evitar inibi����es", "evitar complexos",
querendo, realmente, dizer que pretendem afastar
os padr��es morais para se entregarem a a����es
menos dignas (adult��rio, e t c ) . Outros criam os
filhos sem cuidados, escapando a pesados trabalhos,
com o fito de n��o gerar futuros "complexos".
��, afinal, a arte de desculpar-se perante si
mesmo e os semelhantes.
Eis como exprime-se Fromm (1967) a respeito:
"Por mais irracional e imoral que seja uma a����o,
o homem sente um impulso irresist��vel de
racionaliz��-la, isto ��, de demonstrar a si mesmo
e aos demais que sua a����o foi determinada pela
raz��o, pelo consenso comum, ou, pelo menos,
pela moralidade convencional. N��o tem dificuldade
em agir irracionalmente, mas �� quase imposs��vel
a ele n��o dar �� sua a����o a apar��ncia de uma
motiva����o razo��vel".
A intensidade da racionaliza����o cresce em
127
havendo orgulho e desejo de poder, n��o sendo
raro tornar-se perigosa em virtude dos sofismas
que faz emitir com visos de verdade. Alcan��ando
o dom��nio psiqui��trico, ela vem a constituir o
n��cleo central da paran��ia, limitando-se ao tema
que absorve a aten����o do doente, de acordo com
os recursos intelectuais de que disp��e ele; logo,
est�� continuamente a justificar-se com raz��es
��ticas e est��ticas. N��o �� �� toa que muitas pessoas
orgulhosas e inteligentes exibem rea����es para-
n��ides por meio de suas constantes autojus-
tificativas racionalidades.
5. Catatimia. H. W. Maier aplicou tal designa����o
�� transforma����o que os conte��dos ps��quicos
sofrem sob influ��ncia dos fatores afetivos. Consiste
na a����o que as tend��ncias afetivas exercem
sobre a percep����o da realidade. Tem ela o efeito
de deformar as percep����es e as viv��ncias na
dire����o assinalada pela atitude de rea����o
predominante na pessoa; adquire-se, portanto,
uma v i s �� o f a l s a das coisas que nos s��o
importantes. A atua����o da catatimia �� tanto mais
evidente quanto mais intensa seja a tend��ncia
afetiva que a p��e em fun����o; a ansiedade, o ��dio,
o temor, e t c , transfiguram o objeto, a imagem
e as rela����es entre os fen��menos, deformando
a realidade exterior; da�� podem surgir novas
raz��es para angustiar-se, odiar, temer, suspeitar,
1 2 8
etc.. Logo, �� muito manifesta quando a pessoa
est�� sob a a����o das emo����es prim��rias. Segue-
se disso que o sujeito emocionado �� a p i o r
t e s t e m u n h a de qualquer situa����o emocionante:
v�� tudo com tintas e dimens��es diferentes das
reais. O medo distorce a realidade externa e
aumenta os perigos, bem como torna maiores os
sintomas em muitos doentes: "era um cachorro
deste tamanho" e o descritor abre os bra��os; "a
arraia n��o tinha mais tamanho"; "vomitei a noite
inteira", "pus o est��mago pela boca"; "quase
morri de dor", etc.. A c��lera faz exagerar as
qualidades negativas ou prejudiciais: "aquele sujeito
n��o vale nada"; "a comida estava envenenada",
etc.. O afeto �� mais deformador ainda: quem n��o
conhece a est��ria da coruja que proclamou a
suprema beleza dos filhotes, levando a ��guia a
com��-los?
Infere-se que a catatimia favorece o ajustamento
da realidade �� mente individual (qualquer crian��a
feia �� a mais bela para a m��e... "coruja"). Se
concilia a pessoa consigo mesma, adaptando o
mundo externo ��s suas conveni��ncias, por outro
lado afasta-a da realidade objetiva, dando origem
a conflitos com as opini��es alheias, cujo processo
catat��mico tem outras dimens��es no caso concreto;
foi o que se deu com a coruja: a ��guia,
informada sobre a grande beleza das corujinhas,
comeu os primeiros monstrengos que encontrou,
129
sem poder imaginar que eram justamente as
crias da coruja. Por aqui compreende-se que a
catatimia pode-se encaminhar para situa����es
patol��gicas. Nota-se ainda que os mecanismos
anteriores dependem dela, pois cont��m elementos
de uma percep����o distorcida.
�� razo��vel considerar que certo grau de catatimia
esteja sempre por tr��s do pensamento criador,
porquanto n��o h�� como livr��-lo da influ��ncia
afetiva do seu autor; antes �� comum que se
apresente impregnado de r a z �� e s p e s s o a i s que
conduzem a pontos de vista unilaterais e mesmo
absurdos. N��o �� por outro motivo que os escritores
que tratam da imortalidade da alma n��o se interessam
pelas d e m o n s t r a �� �� e s e x p e r i m e n t a i s existentes;
preferem discorrer com base nas velhas e
anacr��nicas e s p e c u l a �� �� e s m e d i e v a i s , tornadas
muito queridas pelo h��bito. Se pudessem escapar
ao sentimento e usar de prefer��ncia a raz��o ���
adotariam certamente atitude... r a c i o n a l . D��-se
que a afetividade interfere com o emprego do
intelecto no campo em que ela domina e determina
o modo de encarar as coisas.
Outros mecanismos de defesa denotam escassa
import��ncia. Todos esses mecanismos de
c o m p e n s a �� �� o i n c o n s c i e n t e d a s f r a q u e z a s
�� n t i m a s , que garantem um certo grau de
ajustamento ou equil��brio prec��rio ao esp��rito,
s��o admiss��veis at�� o ponto em que este n��o
1 3 0
dispuser de esclarecimento, compreens��o, dados
pela vida e pelo estudo. Como �� ��bvio, deste
comportamento n��o deriva paz para ningu��m em
virtude dos constantes "choques de mecanismos
autodefensivos" que as pessoas p��em em fun����o,
umas contra as outras. Ultrapassado tal n��vel,
cumpre dar-lhes combate para que o equil��brio
seja real, isto ��, alicer��ado na retifica����o dos
pensamentos, sentimentos, pureza de inten����es
e corre����o das motiva����es; mas para alcan��ar
isto �� preciso saber e praticar. N��o os confundir
com dissimula����o consciente, produto da ast��cia,
que s��o o erro e o mal intencionais, propositais.
Por exemplo, "jogar o verde para colher o
maduro", usar "segundas inten����es"; o comprador
que deseja um objeto e procura apontar defeitos
para desvaloriz��-lo e adquiri-lo mais barato (basta
dizer ao vendedor que n��o pode pagar o pre��o
pedido e solicitar um abatimento); o vendedor
que valoriza o seu produto enganosamente. E
coisas de quejando tipo.
C o m p l e m e n t o ��� Falamos anteriormente da
"natureza ativa do inconsciente" e da sua
preponder��ncia na determina����o do pensamento
e da conduta. Vimos, a mais, que os dois n��veis
mentais se interpenetram e realizam interc��mbios.
E, ainda, referimo-nos ao controle consciente
sobre as for��as inconscientes, que at�� Freud
131
terminou por aceitar relutantemente.
Agora veremos outro lado da quest��o: o papel
do consciente sugerindo a����es futuras ao
inconsciente em favor do pr��prio indiv��duo. Diz-
se que o inconsciente, devidamente saturado de
indica����es provindas do consciente, por vontade
do agente, pode conseguir tudo o que a pessoa
deseja obter. Basta ter a capacidade de repeti-
lo diversas vezes por dia. Vejamos como fazer
tal opera����o intraps��quica.
Desenvolveram-se, neste s��culo, grandemente,
sobretudo entre os pastores protestantes norte-
americanos, t��cnicas de sugest��o consciente ao
inconsciente. Veja a explana����o dada em
"Evolu����o para o Terceiro Mil��nio", do presente
autor, da qual extra��mos o subseq��ente.
�� bem conhecida a relev��ncia m��xima do
pensamento (aliado �� vontade, ou fun����o
coordenadora dos fatores mentais e emocionais
que d�� dire����o nos processos de cura). O
pensamento �� um fluxo flu��dico gerado pela
mat��ria sutil do corpo espiritual, logo concreto
e ��s vezes vis��vel, podendo perdurar longamente
em dadas circunst��ncias. A vontade �� for��a
abstrata, imaterial, do Esp��rito, que �� o senhor
do corpo.
Ernesto Bozzano, um genial e erudito pensador
esp��rita, discorre proficientemente sobre o assunto
no seu livro intitulado "Pensamento e Vontade"
132
(Feb, 1 9 3 8 ) . Refere-se, repetidas vezes, �� "for��a
pl��stica e organizadora, inerente ao pensamento".
Afirma: "o pensamento e a vontade s �� o for��as
prodigiosas" que disp��em de "pot��ncia criadora"
e "constituem for��as plasticizantes e
organizadoras". Ambos s��o capazes de "plasmar
a mat��ria, criando tecidos". Curas r��pidas e
completas decorrem desse poder organizador
mobilizado pela s u g e s t �� o (externa e interna),
podendo a "for��a ideopl��stica" (pensamento capaz
de modelar a mat��ria) ser s u b c o n s c i e n t e
(inconsciente, prefere-se agora). Por conseq����ncia,
encerra o "pensamento subconsciente do m��dium
uma energia pl��stica e organizadora", comum a
todos. Essa subst��ncia "absorve as id��ias
nitidamente definidas", verbais ou mentais, sendo,
pois, mui sens��vel ��s sugest��es.
Declara o s��bio metapsiquista, em s��ntese final
"evidente e indiscut��vel": "o pensamento e a
vontade s��o for��as pl��sticas e organizadoras."
Por exemplo, o casal Worrall, s�� pensando em
fazer o centeio crescer mais, a 9 0 0 km de
dist��ncia conseguiu um incremento de 8 4 % .
Pode, portanto, assegurar-se o leitor de que o
poder do pensamento �� capaz de muito mais do
que t��o-s�� curar o pr��prio organismo ou faz��-
lo adoecer. A f�� e a ora����o ampliam o poder
construtivo e, ��s vezes, at�� a a����o negativa (ou
impeditiva).
Acerca da influ��ncia patog��nica do pensamento,
133
bastam breves cita����es de Andr�� Luiz e Emmanuel,
de ditados medi��nicos. Exp��e o primeiro, por
exemplo, em L i b e r t a �� �� o : "Dirija um homem a
sua vontade para a id��ia de doen��a e a mol��stia
lhe responder�� ao apelo, com todas as
caracter��sticas dos moldes estruturados pelo
p e n s a m e n t o e n f e r m i �� o , porque a sugest��o
mental positiva determina a sintonia e a
receptividade da regi��o org��nica, em conex��o
com o impulso havido, e as entidades microbianas,
que vivem e se reproduzem no campo mental
dos milh��es de pessoas que as entret��m, acorrer��o
em massa, absorvidas pelas c��lulas que as atraem,
em obedi��ncia ��s o r d e n s i n t e r i o r e s , reitera-
damente recebidas, formando no corpo a
e n f e r m i d a d e i d e a l i z a d a (ou seja, plasmada
pelo pensamento, no caso doentio ou negativo)".
Afian��a o mesmo autor, em " N o s D o m �� n i o s d a
M e d i u n i d a d e " , com respeito �� subsist��ncia de
doen��a perispiritual "alimentada pelos pensamentos
que a geraram, quando esses pensamentos
persistem depois da morte do corpo f��sico". Da��,
o trazermos os sinais dos nossos pensamentos,
atitudes, sentimentos, emo����es e obras, j�� que
o esp��rito �� obrigado a conviver com as suas
produ����es, pelo geral mal��ficas. Ao demais, em
" A �� �� o e R e a �� �� o " , revela o ilustre instrutor sobre
alguns esp��ritos dementados: "O problema �� de
natureza mental. Modifiquem as pr��prias id��ias
134
e modificar-se-��o". E segue nesse rumo...
Emmanuel, a seu turno, assevera, por exemplo,
( " P e n s a m e n t o e V i d a " , Feb, 1958), q u e "os
sintomas patol��gicos na experi��ncia comum, em
maioria esmagadora, decorrem dos reflexos
infelizes da mente sobre o ve��culo de nossas
manifesta����es, operando desajustes nos
implementos que o comp��em". E que: "O
pensamento sombrio adoece o corpo s��o e
agrava os males do corpo enfermo". Mais: "Toda
tens��o mental acarreta dist��rbios de import��ncia
no corpo f��sico... cultivar melindres e desgostos,
irrita����o e m��goa... �� intoxicar, por conta pr��pria,
a tessitura da vestimenta corp��rea... arrasando,
conseq��entemente, sangue e nervos, gl��ndulas e
v��sceras do corpo..."
Em suma, enfermidade e cura dependem da
n a t u r e z a e dire���� o do pensamento, o produto
peculiar �� mente ou esp��rito. Pensamentos
elevados, limpos e voltados para o bem: sa��de;
pensamentos inferiores, maldosos, pessimistas e
dirigidos ao mal: mol��stia. A eles, acompanham
sentimentos e emo����es proporcionados, equiva-
lentes ��� consideradas as condi����es ou causas
c��rmicas not��rias de um modo geral.
A mente pragm��tica dos norte-americanos
descobriu esse papel ambivalente do pensamento
��� mal��fico ou ben��fico para o pr��prio autor dele
��� e concebeu uma t��cnica de a u t o - a j u d a , isto
135
��, um sistema de auxiliar a si mesmo em casos
de doen��a ou em situa����es de car��ncia material
e afetiva. Baseiam-se ditos procedimentos nos
poderes das for��as inconscientes. Sugestionadas
pelo pensamento positivo associado �� f�� e, quase
sempre, �� ora����o, atuam favoravelmente sobre
a sa��de e o desempenho org��nico, o estado
mental e emocional, o relacionamento interpessoal
��� e at�� mesmo (dizem) na obten����o de bens
materiais e de c��njuges!
Tais pr��ticas derivam do imediatismo humano,
pois t��m por escopo alcan��ar resultados a c u r t o
p r a z o . Contudo, ap��iam-se no conhecimento
das propriedades do inconsciente, da sua vasta
sugestibilidade (donde a for��a do pensamento
intencionalmente dirigido para a aquisi����o de
vantagens imediatas), da sua atua����o manifesta
sobre o organismo ��� tudo ampliado pela absoluta
f�� no resultado positivo, em Deus, na sobreviv��ncia
da alma, no respeito aos princ��pios superiores,
no Evangelho e na pr��tica do bem. Quem quiser
alcan��ar o que pretende, h�� de crer no sucesso,
pensar sempre positivamente e de modo caritativo,
sugestionando o inconsciente (subconsciente,
preferiam muitos outrora) para entrar em a����o
e conseguir quanto o agente deseja. Afirmam os
escritores em tela que nunca falha tal t��cnica.
Pelo menos, como estilo de vida, norma de
comportamento, sem d��vida �� muito ��til ao
136
esp��rita pensar sempre bem e ter confian��a.
Vimos, acima, que o pensamento de doen��a atrai
enfermidade e que a vontade de sa��de atrai o
bem-estar f��sico e ps��quico. Cogitar benevolamente
dos outros e ajud��-los nada mais �� do que auxiliar
a si mesmo, conforme a lei de causa e efeito
("�� dando que se recebe").
H�� ainda que se considerar a c o n d i �� �� o p e s s o a l :
quem n��o fez o curso ginasial n��o poder��
pretender ser m��dico, pois �� imposs��vel; quem
sofre de mal cr��nico, degenerativo, n��o chegar��
a ser atleta ol��mpico. Urge solicitar socorro ao
inconsciente e �� f�� no ��mbito das possibilidades
individuais! A pretens��o ou desejo tem de ser
compat��vel com as capacidades do sujeito.
Posto isto, n��o esquecendo as naturais limita����es
impostas pelo determinismo relativo ao passado
culposo e pelo sofrimento redentor (terap��utico),
em vista da necessidade de aperfei��oar-se, o
m��todo de auto-ajuda envolve uma genu��na
transforma����o interior ou reforma moral. ��, em
s��ntese, uma pr��tica direta, subsidi��ria, de tratar
a si mesmo e de completar o tratamento esp��rita
��� que difere fundamentalmente por ocupar-se
com o progresso do esp��rito eterno, levando a
aquisi����es definitivas. O sistema do pensamento
positivo atende melhor ao materialista, que aspira
obter vantagens r��pidas e transit��rias, mas serve
tamb��m ao esp��rita, j�� que est�� temporariamente
1 3 7
encarnado. Mas, h�� que possuir vontade mui
concreta, f�� segur��ssima.
A literatura a respeito abarca muitas dezenas
de livros. Os oito seguintes, consoante a ordem
de precis��o e clareza, s��o os mais aconselh��veis:
1. J o s e p h Murphy ��� " O P o d e r d o
S u b c o n s c i e n t e " . Distrib. Record, RJ, 243 p.
Muito simples e conciso. Do mesmo escritor, ��
O P o d e r C �� s m i c o d a M e n t e , adiante citado.
2. Cou��, ��. s/d ��� " O D o m �� n i o d e S i M e s m o
p e l a A u t o - s u g e s t �� o C o n s c i e n t e " . Ediouro; RJ,
133 p.
3. Norman Vincent Peale ��� " O P o d e r d o
P e n s a m e n t o P o s i t i v o " . Ed. Cultrix, SP, 263 p .
4. Harold Sherman - " S u p e r T N T - L i b e r t e
s u a s F o r �� a s I n t e r i o r e s " . Ed. Ibrasa, SP, 279 p.
5. Claude M. Bristol ��� " A F o r �� a M �� g i c a d a
V o n t a d e " . Distrib. Record, RJ, 212 p.
6. Eudas de Figueiredo Baptista ��� " A c o n q u i s t a
d a P a x e d a S a �� d e " . Ed. do autor, RJ, 142 p.
Ele usa p a x com x!
7. Louren��o Prado ��� " A l e g r i a e T r i u n f o " . Ed.
Pensamento, SP, 157 p.
8. Lauro Trevisan ��� " O P o d e r I n f i n i t o d a s u a
M e n t e " . Liv. Ed. e Distrib. da Mente, Santa
Maria, RS, 142�� ed., 80 p.
Note o leitor que tais autores possuem de
v��rios a muitos livros e que todos t��m numerosas
edi����es (exceto o Eudas). O primeiro acima
138
mencionado, em maio de 1986 alcan��ara, no
Brasil, tanto ��xito quanto 27 edi����es; confira L.
Trevisan! Ademais, importa notar que, usando
sempre os mesmos princ��pios, supra-assinalados,
exibem peculiaridades vari��veis nos detalhes, no
modo de redigir e na sele����o do material. Por
exemplo, Peale a todo momento recomenda a
leitura da B��blia, pois �� pastor proeminente;
Bristol, ao contr��rio, �� praticamente materialista;
Sherman, Murphy e Prado mostram-se equilibrados
a respeito, enquanto Trevisan �� padre cat��lico.
Murphy parece o mais aconselh��vel.
Dos tr��s brasileiros estudados, Eudas �� um
pequeno volume escrito por um m��dico esp��rita
competente, resumido e ��til; evita assuntos
religiosos, mas menciona o essencial para uma
exist��ncia sadia e suave ��� e at�� Kardec e sua
doutrina. Prado �� esoterista, mas os princ��pios
que difunde s��o os supracitados, com pequenas
diferen��as de enfoque. Acentua haver pessoas
que "pretendem ser auxiliadas sem se colocarem
em condi����es de receber, por meio do seu
pr��prio pedido e aperfei��oamento de suas
qualidades".
Cumpre deixar claro que os autores em foco
n��o citam os seus antecessores, dando a impress��o
de que s��o originais pioneiros. No s��culo XX,
em 1933, Claude Bristol deu ��nfase, segundo
parece, aos sistemas de ajuda a si mesmo ��� que
139
designou como Ess��ncia Mental ou Ci��ncia da
Cren��a, depois ampliados por Harold Sherman,
seu seguidor.
Murphy refere-se a ocasionais experi��ncias
espirituais espont��neas; v��rias vezes conversou
com esp��ritos desencarnados, durante o sono,
recebendo informa����es para resolver problemas
s��rios neste mundo, seus e de outros. Por
exemplo, certa jovem perdera o pai e ficara sem
tost��o, mas sabendo que ele escondera ampla
soma em casa. Desesperada, telefonou para Murphy
pedindo ajuda para encontrar o dinheiro.
Na mesma noite ele sonhou com um homem
que lhe dizia: "Levante-se e escreva isto: voc��
vai ver minha filha Anne amanh��". Murphy
tomou de uma folha de papel e escreveu o
ditado do esp��rito, revelando minuciosamente o
esconderijo do dinheiro e dando outras
informa����es a respeito.
Comenta o citado autor e pastor: "Estou
absolutamente convencido de que foi a
personalidade do pai dela que, sobrevivendo ��
chamada morte, me deu as instru����es que
explicavam detalhadamente em que lugar da casa
estava escondida grande soma." Agrega o mesmo
que a mo��a tinha, no inconsciente, conhecimento
do fato, mas que n��o sabia comunicar-se com
ele e alcan��ar os dados necess��rios. Confira "O
Poder C��smico da Mente", Record, 1965.
140
Foi dito, antes, que os m��todos de auto-ajuda
se baseiam no conhecimento das propriedades
do inconsciente, da sua enorme sugestibilidade,
da sua evidente a����o sobre as fun����es org��nicas,
tudo ampliado pela f�� nos poderes supremos e
no sucesso do empreendimento. Mediante a
repeti����o continuada de uma ordem consciente
ao inconsciente, alcan��a-se (crendo-se na efici��ncia
do processo) o que se pretende conseguir, pois
ele cuidar�� de operar no sentido proposto.
Agora devemos recorrer a ��mile Cou��, que
parece ter sido o primeiro a tratar de quejanda
quest��o, por volta de 1912. Sua t��cnica consiste
em mandar ordens conscientes ao inconsciente,
as quais funcionam como auto-sugest��o. A frase-
padr��o desse autor ��: "Cada dia, em todos os
sentidos, vou cada vez melhor". Isto repetido,
pela manh�� e �� noite, umas 20 vezes �� o
suficiente para instruir o inconsciente de como
agir; mas que seja feito em voz aud��vel e com
a mente desprevenida, sem for��ar a vontade.
Afirma Cou�� que os resultados s��o completos!
�� importante observar que dito autor declara
vigorosamente que o esp��rito humano �� dominado
n��o pela vontade, como todo mundo pensa, mas
pela i m a g i n a �� �� o . Quando ocorre antagonismo
entre ambas, sempre vence esta ��ltima. E ele
exemplifica bem a situa����o conflitiva. Chega ao
ponto de asseverar taxativamente que imagina����o
141
�� sin��nimo de inconsciente! Diz ele: "o poder
enorme da imagina����o, ou por outra, do
inconsciente, na sua luta contra a vontade". Por
isso, a vontade n��o deve interferir no curso da
auto-sugest��o; esta deve ser uma recita����o
maquinal, sem esfor��o algum.
O b s . ��� Afinal, o leitor deve estar a par da
necessidade de empenhar-se no pr��prio tratamento.
Consoante obtemperava Andr�� Luiz
( " M i s s i o n �� r i o s d a L u z " ) : "apenas o doente
convertido voluntariamente em m �� d i c o d e s i
m e s m o atinge a cura positiva".
A p �� n d i c e ��� O que se adianta n��o poderia
ser ignorado neste contexto.
Em conex��o com o supradito, Ney Prieto
Peres, um engenheiro paulista t��o ilustrado quanto
bondoso, que �� autor esp��rita de renome, publicou
um ��til "guia para a realiza����o do auto-
aprimoramento com base na doutrina dos esp��ritos"
( " M a n u a l Pr��tico d o Esp��rita", Ed. Pensamento,
1984). �� importante ressaltar que ele prop��e a
a u t o - s u g e s t �� o como t��cnica para fortalecer a
vontade quando se trata de lutar contra v��cios
e defeitos. Manda, por exemplo, repetir, ao
longo do dia, frases como estas: "tenho uma
vontade firme e realizadora" e "abandonarei o
cigarro decididamente". Explica que somos
facilmente sugestion��veis pelos outros e que
podemos igualmente nos sugestionar a n��s mesmos
142
por meio da repeti����o, a qual, ao cabo, "provoca
a realiza����o da a����o que lhe corresponde (ao
pensamento emitido)". E, ainda, indica a ora����o
como recurso complementar, capaz de atrair o
aux��lio superior para a "sustenta����o dos nossos
prop��sitos". Eis a�� um excelente emprego das
construtivas for��as ��ntimas sob a dire����o do
pensamento consciente (sugest��o repetida) e
ampliadas pela sintonia com o Alto, ou seja, com
o poder espiritual.
Nota c o n c l u s i v a ��� George Meek, um
pesquisador conhecido das curas medi��nicas, diz
("As Curas Paranormais, Ed. Pensamento, 1977):
o paciente precisa compreender que ele m e s m o
produziu a doen��a em si, que os seus pensamentos
e emo����es abriram caminho para a doen��a, a
disfun����o celular. Depois, desejar ardentemente
curar-se, isto ��, manter tal id��ias no c o n s c i e n t e
e, a seguir, no inconsciente (mediante a sugest��o
pela repeti����o). Urge extrair do i n c o n s c i e n t e a
id��ia da enfermidade e atulh��-lo de pensamentos
de sa��de. Agora, nutrir f�� na cura e no Poder
Superior. Pensamentos e emo����es inferiores ou
negativos (ambi����o, avareza, inveja, maledic��ncia,
ci��me, ��dio, medo, frustra����o, ansiedade alta)
conduzem a uma sa��de prec��ria. E preciso
substitu��-los por outros de fraternidade, solidarie-
dade, compaix��o, bondade, generosidade, altru��s-
mo, para afastar as mol��stias som��ticas e ps��quicas.
143
Como Andr�� Luiz, proclama: "Basicamente,
toda cura �� uma autocura". Cada indiv��duo tem
de ser o seu pr��prio m��dico!
Ir ao m��dico �� necess��rio, mas h�� que remover
a c a u s a e corrigi-la por retorno ao modo de
pensar correto ��� para uma cura definitiva.
Mesmo em casos de c��ncer adiantado, as
emo����es e pensamentos da pessoa podem ser
utilizados de maneira positiva (construtiva) para
restaurar a sa��de, que os mesmos, postos em
fun����o negativamente (destrutivamente), lesaram
anteriormente.
N o t a ��� Eis uma quest��o em que o Espiritismo
entra em franca oposi����o �� Psican��lise. Muito ao
contr��rio das cogita����es freudianas, que
enfatizavam fortemente a influ��ncia perniciosa
das dificuldades experimentadas na inf��ncia, que
teriam um efeito terrivelmente traum��tico sobre
a alma infantil, diz-nos coisa bem diferente a
doutrina esp��rita; mais tarde, no adulto,
responderiam semelhantes les��es mentais pelos
dist��rbios neur��ticos (e at�� psic��ticos), t��o
comuns na humanidade atual. Andr�� Luiz, em
v��rios livros, op��e-se a tal concep����o, afirmando
que os problemas derivados de condi����es ��speras
de vida s��o rem��dios que curar��o os esp��ritos
faltosos e viciosos. Medicamentos amargos, mas
providenciais. Por exemplo, em " O b r e i r o s d a
144
V i d a E t e r n a " , afirma: "O que quase sempre
parece sofrimento e tenta����o constitui b e m -
aventuran��a transformando situa����es para o b e m
e para a felicidade eterna". Em " A �� �� o e R e a �� �� o " ,
afian��a: "A reencarna����o retificadora, isto ��, a
interna����o na carne em condi����es penosas,
surge por alternativa inevit��vel. Ser�� preciso
renascer, suportando os obst��culos tremendos
oriundos da desarmonia perispir��tica criada por
n��s mesmos". J�� em " N o s D o m �� n i o s d a
M e d i u n i d a d e " , informa: "A experi��ncia no corpo
de carne, em posi����o dif��cil, �� semelhante a um
choque de longa dura����o, em que a alma ��
convidada a restabelecer-se".
Os esp��ritos quase sempre t��m de encarar "face
a face o imperativo do renascimento dif��cil no
mundo, passando a trabalhar aqui laboriosamente,
vencendo ��bices terr��veis e superando tempestades
de toda sorte", para implantarem em suas almas
os v a l o r e s m o r a i s de que n��o prescindem. Da��
procede o imenso n��mero de miser��veis, famintos
e doentes: s��o esp��ritos falidos em tratamento pela
reencarna����o sob condi����es duras de vida ��� o
contr��rio da conceitua����o freudiana a respeito dos
traumas infantis.
145
ALGO SOBRE ANSIEDADE
A nsiedade corresponde ao que se designa
comumente como a n g �� s t i a ou a f l i �� �� o .
�� sentida como o p r e s s �� o p r �� - c o r d i a l ,
isto ��, uma esp��cie de aperto mais ou menos
intenso sobre a ��rea do cora����o. Mas, atinge o
organismo globalmente, determinando sinais como,
por exemplo, diarr��ia, mic����o, falta de apetite,
fadiga e palidez. �� particularmente importante a
a����o sobre a atividade mental, produzindo forte
sentimento de desamparo e impot��ncia e tornando
o paciente desinteressado de sua vida, possu��do
de grau vari��vel de depress��o.
Essa modalidade surge em certa fase da vida
de muitas pessoas e mant��m estreita liga����o com
as neuroses. Todavia, o que nos interessa �� o
tipo mais comum, cuja dura����o �� curta e
intensidade menor, que assume a forma de
aborrecimento, preocupa����o, sempre que um
i m p u l s o nos leva a agir de maneira reprov��vel
perante nossa pr��pria consci��ncia; a auto-
reprova����o, a sensa����o de culpa, mesmo mal
1 4 6
definida, acompanha-se de certo grau de ansiedade
em seguida ao impulso, o que tamb��m acontece
quando um destes faz press��o demorada para
obter gratifica����o (levar �� atividade). Tal �� o caso
do desejo sexual voltado para pessoa inadequada,
o desejo de poder, de obter certa posi����o, e t c .
Nem sempre tem-se no����o da exist��ncia da
ansiedade, pois, poder�� ocultar-se de v��rias
maneiras (por exemplo: proje����o e recalque);
talvez exteriorize-se como ira, suspei����o, depress��o,
impot��ncia sexual, v��rias formas de fobias, e t c .
A fim de compreend��-la melhor, deve-se comparar
a ansiedade ao m e d o (temor), com o qual exibe
patente afinidade ��� tendo ambos a mesma
significa����o de r e a �� �� o a o p e r i g o . O medo ��
uma rea����o a um perigo externo, objetivo; a.
ansiedade o �� a um perigo interno, subjetivo e.
portanto, desconhecido.. �� algo como um aviso,
um s i n a l d e a l a r m e , solicitando defesa.
Inicialmente, Freud sup��s que a ansiedade
fosse simplesmente uma rea����o fisiol��gica ��
frustra����o ou satisfa����o incompleta do orgasmo.
Em 1926, formulou teoria radicalmente diversa,
a qual se tornou o n��cleo dos trabalhos posteriores.
For��as existentes no ��ntimo da pessoa amea��am
suas rela����es com o mundo exterior; for��as
procedentes do id (instintos) e do superego
(no����es morais) p��em em perigo o ego
pretendendo obrig��-lo a cometer atos inaceit��veis
147
perante os padr��es sociais de comportamento.
Gera-se, pois, um combate intra-ps��quico entre
o senso moral e os impulsos primitivos, e isto
sobretudo na infancia, quando fixa-se o modelo
de futuras rea����es ansiosas.
Quando, mais tarde, uma situa����o semelhante
surge, a ansiedade emerge como advert��ncia
para que as defesas do ego entrem em a����o. Tal
concep����o foi elaborada ulteriormente at�� as
id��ias atuais.
�� bem verdade que impulsos p��em em risco,
com exagerada freq����ncia, as rela����es inter-
humanas; o sujeito estar�� amea��ado de perder
amizades, posi����es, etc., e at�� mesmo a liberdade.
Julga-se que a ansiedade desponta sempre que
um impulso acarretar o perigo de subverter a
rela����o com pessoas significantes, ou seja, amea��ar
a seguran��a do paciente. Para Freud, o perigo
produtor de ang��stia residiria na perda do controle
dos instintos de vida e de morte, caso em que
n��o seria poss��vel manter posi����o segura na
sociedade. Agora pensa-se que a grande maioria
das press��es internas perigosas promanam da
h o s t i l i d a d e , que �� uma rea����o �� f r u s t r a �� �� o . ��
certo que, no curso da exist��ncia humana,
potencialidades pessoais s��o frustradas pela
oposi����o do meio social; em resposta, surgem
ressentimento e hostilidade, r e c a l c a d o s tamb��m
por imposi����o da sociedade, que n��o aceita
1 4 8
manifesta����es ostensivas desse tipo. Semelhante
for��a interior �� reputada ser poderosa e estar
fazendo press��o no sentido de manifestar-se
externamente; ora, em sucedendo isto, haveria
s��rios preju��zos, em mat��ria de afei����o e aprova����o,
para a personalidade ��� donde a ansiedade ante
o perigo de que realmente suceda. Em suma, a
amea��a seria produzida por p r e s s �� e s c u l t u r a i s ,
a come��ar na fase infantil em vista das atitudes
inibit��rias dos pais e educadores.
Assim, quando um forte impulso persegue-
nos, intensa ou tenazmente, amea��ando nossa
tranq��ilidade (mesmo sem percep����o n��tida),
poder�� gerar ansiedade. H�� concord��ncia geral
quanto ao papel da h o s t i l i d a d e r e p r i m i d a ,
desencadeada pela oposi����o ou frustra����o derivada
da atua����o de outras pessoas, visto que a c��lera
aberta n��o �� geralmente tolerada.
Sabemos que certa dose de impedimento, de
oposi����o aos nossos desejos e intuitos, e x i s t e
s e m p r e em qualquer situa����o que, na vida,
envolva interesses alheios. Tal �� inevit��vel e nem
sempre, �� claro, origina conflitos ��ntimos, que
dependem do grau de equil��brio ps��quico.
A n��s parece de todo evidente que a ansiedade
�� produto da luta ��ntima (conflito) entre tend��ncias
e desejos inferiores que, ao assomarem �� consci��ncia
para entrar em atividade, se chocam com as no����es
que comp��em o senso moral; n��o havendo este,
1 4 9
a pessoa �� insens��vel, "fria", indiferente, etc.. Por
outras palavras, o que est�� em foco s��o impulsos
inaceit��veis, cujo efeito seria d o l o r o s o ,
desagrad��vel, para o esp��rito. N��o �� tanto o perigo
de estragar rela����es com pessoas significativas,
mas �� o a s p e c t o propriamente m o r a l que est�� em
pauta. Quando se sofre em face da perspectiva de
ofender outro, havendo luta ��ntima contra tens��es
impulsivas ansiosas, geradas sobretudo por pessoas
que funcionam como e s t �� m u l o s constantes, o que
cria o problema mental �� o s e n s o m o r a l . S��o os
sentimentos de altru��smo e dever, s��o as aspira����es
de eleva����o espiritual, etc.., que d��o origem ao
sofrimento interior. Pensa-se mais na derrota moral
do que na seguran��a; preocupa sobretudo o que
parece uma injusti��a contra o pr��ximo, embora
seja este a causa imediata do fen��meno.
Quanto �� origem da hostilidade, para n��s esta
n��o prov��m pura e simplesmente dos obst��culos
colocados no caminho de algu��m. Para n��o
poucos, tais ��bices n��o constituem problemas e
podem mesmo nem sequer ser objeto de aten����o
especial; para aquele que fixa sua aten����o num
i d e a l s u p e r i o r , eles s��o irrelevantes e n��o
conduzem a qualquer dose de frustra����o ��� pois
h�� mais de uma maneira de conduzir-se perante
os mundos f��sicos e social. A frustra����o e
conseq��ente ressentimento ocorrem naqueles
que s��o c o m p e t i d o r e s , que aspiram conseguir
1 5 0
vantagens a qualquer pre��o, que pensam primeiro
em si mesmos. Em esp��ritos deste tipo, rea����es
col��ricas mostram-se f��ceis pelo fato de neles
existir previamente certa dose de hostilidade. E
isto porque s��o seres pouco evolu��dos, demasiado
apegados ao brilho da mat��ria; a�� a frustra����o
nutre a hostilidade. Informa Emmanuel ( " R o t e i r o " )
que milh��es de homens conservam ainda
"avan��ados patrim��nios de animalidade", em
vista de abrigarem "impulsos de crueldade".
Conforme o mecanismo dos impulsos, exposto
antecedentemente, uma situa����o interpessoal de
vida anterior pode ser reativada por nova situa����o
hom��loga. Uma palavra ou uma cena trazem ao
consciente uma chispa impulsiva, uma emo����o
violenta capaz de desencadear uma atividade
aliviadora qualquer. Nesses casos freq��entes,
verdadeiras provas para o esp��rito, sem d��vida
a hostilidade estar�� presente, segundo a natureza
da experi��ncia pr��via. Como h�� uma multid��o
destas, adquiridas em v��rias exist��ncias, a
conclus��o dos psicanalistas modernos acerca do
papel do ressentimento (c��lera interiorizada) ��
correta; mas, num sentido diferente: a hostilidade
n��o poderia se originar numa curta e muitas
vezes insignificante exist��ncia humana, havendo
necessidade de introduzir o conhecimento da
reencarna����o (ali��s, como sempre).
151
Compreende-se tamb��m que a ansiedade, com
sensa����o de fracasso e de culpa, tome conta do
esp��rito sem ter nada que ver com o precedente.
J�� se fez refer��ncia a isso sob o t��tulo de
impulsos. A amea��a de invas��o do consciente
pelos compromissos e deveres n��o cumpridos,
cuja no����o estava recalcada, acarreta angustioso
sofrimento, tanto maior quanto mais sens��vel seja
o esp��rito.
Como e v i t a r a a n s i e d a d e ? Sabido que a
ansiedade gera isolamento emocional, levando a
pessoa, que tanto precisa de confian��a e apoio,
a n��o poder confiar em ningu��m, dando-se que
procura prote����o e afei����o e n��o os consegue
aceitar, v��rios expedientes desenvolvem-se para
evit��-la e para fugir dela. Karen Horney indica
os seguintes procedimentos postos em pr��tica
pelos amea��ados de ang��stia com o fito de
afastar o estado ansioso. Mediante a racionaliza����o
a ansiedade �� transformada num medo racional
como, por exemplo, uma fobia (medo de ficar
s��, de quarto fechado, do escuro, de que os
filhos corram perigo, e t c ) . Pela nega����o
inconsciente ela permanece fora da percep����o
consciente, s�� aparecendo alguns sintomas, como
tremores, suores, v��mito, diarr��ia, intranq��ilidade,
e t c . A nega����o consciente pode determinar uma
decis��o tendente a super��-la; �� o caso da pessoa
cuja ansiedade se acentuaria no escuro e que
152
resolve dormir com a l��mpada apagada; s��
desaparece o temor da escurid��o. Narcotizar a
ansiedade poder�� consistir em usar ��lcool ou
drogas estupefacientes, ou em comer demais; em
desenvolver intensa atividade de car��ter
cumpulsivo, seja social, seja no trabalho; e em
promiscuidade sexual. Uma quarta maneira reside
em evitar pensamentos, sentimentos e situa����es
capazes de evocarem o seu aparecimento; est��
em foco aqui a inibi����o ��� incapacidade para
fazer, sentir ou pensar determinadas coisas, cuja
fun����o �� impedir que ela apare��a, caso tais coisas
fossem tentadas; uma jovem sente-se ansiosa por
julgar-se feia e acaba convicta de que n��o gosta
de festas: evitando a situa����o temerosa afasta a
ang��stia de sentir-se menosprezada (por ela
mesmo); muitos recusam-se a falar em p��blico
pela mesma raz��o.
Instalada a ansiedade e sendo uma sensa����o
dificilmente suport��vel, o indiv��duo procurar��
escapar dela. Os seguintes recursos s��o
mencionados por Horney, os quais inter-relacionam-
se, refor��am-se e entram em choque criando
conflitos. Tais recursos j�� s��o tidos como
penetrando na faixa da anormalidade e merecem
da autora citada a denomina����o de tend��ncias
neur��ticas. Seguem-se os principais, considerados
como tra��os permanentes do car��ter.
153
B u s c a d e a f e i �� �� o . Como o indiv��duo teme
desagradar e receber desaprova����o, fazendo o
que pode para evit��-lo, e sente grande necessidade
de afei����o ou pelo menos companhia, n��o suporta
estar s��, procurando contacto constante com
outros e garantia de amizade. Por isso, em geral
�� pouco exigente na escolha dos companheiros,
visto que est�� na depend��ncia emocional de
algu��m (o que explica muitos casos de sexualidade
mal conduzida). A despeito disso, �� comum que
ele n��o consiga manter nenhuma amizade s��lida,
em face das pr��prias defici��ncias afetivas. Na
neurose franca, a exig��ncia de amor ��
incondicional, pois o doente �� insaci��vel ��� muito
embora seja incapaz de amar algu��m. Contudo,
impulsos agressivos est��o presentes em estado
de repress��o.
B u s c a d o p o d e r . Andam juntos os desejos de
adquirir poder, prest��gio e riqueza (posses) sem
que sejam encarados como anomalia ps��quica.
No caso em exame, contudo, o desejo de
dom��nio brota da ansiedade, da hostilidade e da
sensa����o de inferioridade, pelo que poder�� ser
fren��tico; julga-se que, possuindo poder, ningu��m
molestar��. �� a ��nsia de poder, que leva a inflar
a personalidade. H�� v��rias modalidades: querer
ter sempre raz��o, n��o ceder nunca nas opini��es
expressas; humilhar outros; despojar o pr��ximo
de suas posses; cobi��a, inveja e avareza; esp��rito
154
de competi����o, mesmo contra quem n��o compete;
querer ser o primeiro em tudo, e t c . O resultado
�� a frustra����o inevit��vel: "�� a presa entregue nas
garras do atormentador conflito interno."
S u b m i s s �� o . Nesta solu����o, a pessoa, mediante
uma atitude sempre d��cil, submete-se a u m a
autoridade qualquer ou recalca suas exig��ncias
e afasta a possibilidade de ressentimento,
acreditando n��o poder ser molestada. N��o
desaparecem os impulsos agressivos, reprimidos,
que vez por outra podem eclodir subitamente,
surpreendendo os amigos e colegas habituados
�� atitude mansa do indiv��duo.
R e n �� n c i a . Renunciando ao contacto com o
pr��ximo, atrav��s da conquista de uma situa����o
independente com respeito ��s pr��prias
necessidades, a pessoa pode-se divorciar emocio-
nalmente dos semelhantes e crer-se imune a
qualquer aborrecimento.
Lan��ando m��o desses recursos, todos desviados
da normalidade (na qual o ajustamento �� flex��vel
e indolor), �� poss��vel fugir �� ansiedade ��� se o
ambiente n��o oferecer novos conflitos. Estima
Horney que eles fornecem "uma satisfa����o
secund��ria"; por exemplo, um indiv��duo submisso
ao seu chefe encontra certa compensa����o no
trato mais ameno que lhe �� dispensado (embora
sem a considera����o merecida por outro mais
independente e dotado de iniciativa). �� bom
155
observar que atividades defensivas como as citadas
geram empobrecimento da personalidade, entra-
vada que est�� no seu desenvolvimento. E que s��o
basicamente inconscientes: o sujeito n��o percebe
como �� nem como se comporta; se lhe chamarmos
a aten����o, ficar�� admirado ou aborrecido.
Medidas do tipo mencionado recebem outras
interpreta����es nas m��os de E. Fromm, por exemplo.
Tal deve-se ao ponto de vista em que se coloca
o autor. Para n��s, tudo n��o passa de defici��ncias
espirituais geradas pela atua����o volunt��ria, em
vidas anteriores, no curso das quais outras pessoas
foram seriamente prejudicadas. N��o se trata de
evolu����o incompleta, inexperi��ncia vital, mas de
desvios do bem no rumo do mal ��� acompanhados
de acumula����o de d��vidas perante a Lei. Pela
pr��tica do mal, certos centros ps��quicos sofrem
desorganiza����o ou vicia����o e entram a funcionar
desarmonicamente; mais ainda, esp��ritos mal��volos
e/ou vingativos descarregam a�� sua hostilidade
sob a forma de vibra����es de ��dio. Renascendo,
j�� sem as antigas disposi����es malfazejas, at�� certo
ponto reformado e desejoso de reequilibrar-se, o
esp��rito traz essas anomalias funcionais e o ser
encarnado apresenta comportamento estranho
em um ou alguns setores; s�� o tempo e a pr��tica
do bem poder��o operar a cura.
A busca ansiosa de afeto e a submiss��o parecem
significar forte desejo de relacionamento
156
interpessoal, o qual, contudo, durante muito
tempo transcorre anormalmente ��� mesmo em
grau leve e desapercebido de todos. A pessoa n��o
consegue rela����es humanas equilibradas e procura
afanosamente o contacto com outros; isto poder��.
ser uma causa de promiscuidade sexual: facilitar
a satisfa����o de uma pessoa cuja intimidade ��
desejada (muitos casos de "sem-vergonhice" n��o
passam da busca de companhia e aten����o, movida
pela ansiedade). A busca de poder e a ren��ncia
sugerem forte ego��smo, pelo que se d�� o afastamento
do pr��ximo; portanto, estas duas condi����es s��o
piores do que as duas primeiras.
Em todos os casos, a ansiedade, produto de
conduta err��nea, �� uma rea����o salutar que,
como toda forma de sofrimento, leva a perseguir
solu����o para o mal espiritual; a Lei encarrega-
se de reunir as pessoas certas para isso. Em
conclus��o, mais de uma condi����o profunda acha-
se envolvida nessa quest��o e a defesa contra
a ansiedade n��o pode explicar t��o bem condutas
t��o diversas quanto a orienta����o mal��fica em
vida anterior. V��-se com nitidez isto em se
tratando de crian��as muito pequenas (como, por
exemplo, 1 ano) e que s��o fundamente ansiosas
por afei����o, procurando cont��nua e desespera-
damente a companhia de pessoas ��� quaisquer
pessoas; elas, �� ��bvio, n��o puderam acumular
hostilidade, para n��o falar daquelas que, desde
157
o dia do nascimento, s�� receberam amor e, no
entanto, n��o suportam ficar sozinhas alguns
minutos (gritam sem parar); ainda mesmo gozando
de companhia emitem gritos freq��entes, sem
choro, cujo objetivo �� chamar a aten����o, ��
solicitar carinho, nunca estando saciadas.
Afinal de contas, tanto o Espiritismo quanto
a Psican��lise situam a origem das perturba����es
mentais no passado, com a diferen��a de que o
primeiro leva-as mais longe mostrando que n��mero
muito maior de experi��ncias e materiais est��o
envolvidos; que valem alguns anos de inf��ncia
em face de uma longa vida de sofrimentos? Isto
faria do homem simples v��tima inocente dos seus
maldosos instintos e pais; Horney, por��m, destaca
bem a responsabilidade do doente na g��nese de
suas pr��prias dificuldades neur��ticas, com o que
concorda plenamente a doutrina esp��rita.
Conflitos b��sicos. As tend��ncias neur��ticas,
dadas como mecanismos defensivos contra a
ansiedade, podem-se combinar com refor��o m��tuo
e orientar a atitude b��sica do indiv��duo perante
a vida. Tr��s atitudes s��o reconhecidas por Horney:
1) movimento na dire����o das pessoas; 2)
movimento para longe das pessoas; 3) movimento
contra as pessoas. Em se tratando de atitudes
incompat��veis, conquanto haja uma dominante,
sua presen��a numa pessoa gera o chamado
conflito b��sico. Cada um daqueles movimentos
1 5 8
predominantes, ou modos de enfrentar o ambiente,
permite circunscrever um tipo de personalidade.
O primeiro �� o tipo c o m p l a c e n t e , sempre
em busca de aten����o, considera����o, aplauso e
aprova����o; precisa de pessoas sobre as quais
possa apoiar-se para compensar suas fraquezas
��ntimas; subordina-se facilmente e avalia-se pelas
atitudes dos demais. Os impulsos agressivos
est��o recalcados como defesa contra a hostilidade
alheia. Tal sujei����o e docilidade n��o significam,
de forma alguma, amor ou bondade, mas uma
solu����o provis��ria para limita����es interiores.
O segundo �� o tipo agressivo, bem conhecido
de todos, que considera o mundo hostil e a vida
amargura cont��nua; da�� solucionar seus problemas
internos pela ��nsia de controlar os circunstantes.
A maneira de conseguir seus objetivos varia
segundo seu modo de ser e suas tend��ncias em
choque, mas procurar�� sempre estar acima dos
outros, rebaixando a estes. A�� entram a esperteza,
a ast��cia, e t c . , que podem realmente, n��o
havendo excessos, levar �� efici��ncia na "luta pela
vida" (luta para escapar �� ansiedade dolorosa).
Tende a recalcar afei����o, simpatia, etc., como
"fraquezas" ou coisas rid��culas.
O terceiro �� o tipo indiferente, que se
caracteriza pela necessidade de afastar-se de seus
irm��os. xN��o quer contacto pr��ximo com ningu��m,
suportando mal o envolvimento em situa����es
1 5 9
interpessoais. A intimidade �� fonte de ansiedade
insuport��vel. Segue-se da�� que pessoas desse tipo
procuram a auto-sufici��ncia, inclusive restringindo
suas necessidades, de modo a pouco recorrerem
ao aux��lio externo. Para suportar o isolamento
que se imp��em, �� preciso que se sintam superiores.
Muitos s��o talentosos e alcan��am importantes
realiza����es nos planos intelectual e art��stico,
visto n��o entrarem em competi����o com outros.
Todavia, sua condi����o �� anormal e os torna
fr��geis, desamparados, quando surge uma situa����o
dif��cil, da qual s�� h�� fugir, esconder-se. \S��o
comuns per��odos de agressividade e a ��nsia de
afeto cont��nua, bem como o desejo de dom��nio
umas em estado de repress��o, inaparente.
Vejamos as s o l u �� �� e s encontradas. As
personalidades deficientes supra consideradas
tentam, inconscientemente como costuma suceder
em casos semelhantes, iludir suas angustiantes
condi����es ��ntimas de v��rias maneiras, das quais
duas merecem destaque; elas permitem n e g a r
a e x i s t �� n c i a de conflitos.
A primeira �� a idealiza����o do eu. A constitui����o
de uma i m a g e m idealizada de si mesmo consiste
em crer-se dono de uma personalidade diferente
da real, em parte fict��cia. Conforme certas
caracter��sticas daquela, o indiv��duo edifica, para
seu uso, uma i m a g e m ilus��ria, que cont��m
elementos verdadeiros arranjados e misturados
1 6 0
com outros irreais de maneira artificial. Um formar��
de sua pessoa a imagem de um s��bio ou mestre,
pontificando tolices com absoluta seguran��a e
nada produzindo; outro, a de um santo, pregando
eleva����o e procurando poder e prest��gio; outro,
a de um sujeito muito esperto, a quem ningu��m
engana conquanto n��o passe de um med��ocre;
outro, a de um galante conquistador de bel��ssimas
damas; e assim por diante.
O mau aspecto do neg��cio �� que o pr��prio
n��o percebe o que diz e faz; mais ainda: n��o
nota a rea����o dos que o conhecem e avaliam
bem suas "mentiras e farolagens". Ostenta
qualidades que n��o possui ou s�� tem em rudimento,
mas nada consegue exibir em mat��ria de
realiza����es. Da�� s�� enganar ��queles que t��m
escasso conhecimento dele e em certos casos
n��o poucos males decorrem disso. Tudo isso
torna o sujeito, para quem a imagem idealizada
�� a realidade, vulner��vel, afastado que est�� do
verdadeiro eu; precisa de afirma����o e
reconhecimento, pelo que uma observa����o ou
a����o desfavor��vel desencadeia grande sofrimento;
disso deriva ficar a realidade cada vez mais dif��cil
de suportar, pelo que ele se torna perfeccionista,
vol��vel, irrespons��vel ou derrotista.
Pela exterioriza����o o sujeito atribui ao mundo
externo suas dificuldades de car��ter. Ele foge de
si mesmo projetando-as; os fatores ambientais
161
passam a ser responsabilizados por suas faltas e
sentimentos inadequados. Tudo �� motivo de
perturba����o: o ministro, o diretor, as grandes
na����es, os colegas, fulano, o servi��o p��blico, a
pol��cia, etc.. Todavia, os problemas est��o d e n t r o
d e l e m e s m o ; por exemplo, quando declara que
"fulano est�� com raiva dele", �� ele que est�� mal
satisfeito consigo mesmo e projeta o sentimento,
sobre o pr��ximo.
Para outros, entre os quais se incluem muitos
de alto valor intelectual, s�� resta o a f a s t a m e n t o .
�� viver num determinado ambiente emocional-
mente desligado dos companheiros: nada quer
deles e nada pretende dar-lhes; apenas n��o quer
aproxima����o. Uma resposta t��pica �� esta: "isso
�� problema seu; n��o tenho nada com isso."
�� de toda conveni��ncia e justi��a acentuar
fortemente que, afora os casos extremos, menos
comuns, as pessoas inclu��das nas formula����es
justa-explanadas n��o s��o nem mal��ficas nem
in��teis. Ao_contr��rio, quase sempre h�� nelas um
l a d o b o m em destaque, ao lado de um setor
an��malo, o qual responde pelo comportamento
fora do habitual. Muitas s��o bondosas, chegando
a serem "cacetes", tal a ��nsia de fazer amizade
e servir mil coisas para agradar. H�� os que, por
exemplo, tendo necessidade de afeto e vivendo
solit��rios, adotam crian��as, etc., etc.. A necessidade
de nova orienta����o na vida presente leva-os a
162
procurar o bem poss��vel, dentro de suas limita����es.
Mas, �� certo que, vez por outra, topamos com
um extremo desagrad��vel, que pede paci��ncia.
Formam freq��entemente grupos com seres
semelhantes, grupos que, dentro de uma comu-
nidade, destacam-se como foco de complica����es
e aborrecimentos.
Coment��rio final. Horney e Fromm, dois
eminentes expoentes da escola cultural de
psicanalistas, p��em em destaque que o fator
m o r a l se acha na origem e desenvolvimento dos
dist��rbios ps��quicos que tratam sob o nome
gen��rico de neuroses. (Tudo quanto foi exposto
acima, com refer��ncia �� ansiedade, est�� eviden-
temente na ��rea ��tica e diz respeito, especi-
ficamente, �� atua����o pessoal no cap��tulo das
r e l a �� �� e s humanas; por isso, o conceito de
��tica n��o pode fugir ao aspecto inter-humano.
Quando o esp��rito acumula desobedi��ncia �� Lei
Divina, exposta no Evangelho, no que tange ao
respeito a seus irm��os ��� condena-se a, mais
tarde, encontrar s��rias dificuldades quanto ao
r e l a c i o n a m e n t o . Desejando reformar-se, torna-
se ansioso por amizade e apoio, mas n��o consegue
receb��-los em vista das perturba����es que gerou
em si mesmo; procura afanosamente e sofre por
n��o poder aceitar o de que tanto precisa. Nao
estando ainda nesse ponto, n��o sendo capaz de
identificar a causa de seus problemas mentais,
163
procurar�� outras solu����es para obter relacio-
namento ou buscar�� o afastamento completo; no
primeiro caso, mant��m liga����es emocionais com
os outros, desviadas da normalidade; no segundo,
desliga o circuito afetivo e fecha-se dentro de
si pr��prio. De qualquer sorte, o que temos nas
tend��ncias neur��ticas e na ansiedade, �� o e s p i r i t o
f a l t o s o , que seguiu rumo mal��fico no passado
e que agora sofre a terr��vel sensa����o de isolamento;
estando no meio de uma multid��o, acha-se
completamente solit��rio porque n��o pode p��r
em pr��tica a �� n i c a m a n e i r a produtiva d e
relacionar-se: a solidariedade e a coopera����o. O
relacionamento de solidariedade e coopera����o ��
o caminho certo para uma vida tranq��ila e
frut��fera. O Evangelho �� o c��digo divino que o
ensina com aquela simplicidade que traz o selo
da veracidade. Mas, como descobrir e praticar
essa terap��utica ��nica? Eis o magno problema
que s�� a Lei sabe encaminhar criando situa����es
e provas adequadas. A n��s, compete ajudar
oportunamente.
N��o deixa de ser enormemente significativa
a circunst��ncia de a Psican��lise moderna considerar
t o d o s os tipos descritos ��� em geral encarados
como normais pela sociedade, que at�� estimula
algumas de suas tend��ncias ��� como envolvidos
em n e u r o s e s , ou seja, e n f e r m o s . Significativo
�� o fato porque os mentores espirituais n��o
164
ensinam no����o divergente: para eles, todo aquele
que voluntariamente se entrega ao mau proceder,
atingindo o pr��ximo, �� deveras um d o e n t e e
enfermi��o permanecer�� por muito tempo.
Compreende-se agora a raz��o pela qual o estimado
Emmanuel declara, repetidamente, que a massa
dos homens civilizados �� composta de e s p �� r i t o s
f a l i d o s , que agora lutam angustiosamente com
as conseq����ncias do passado culposo; informa
ele ( " O C o n s o l a d o r " ) que a maioria dos homens
se encontra em l u t a s e x p i a t �� r i a s , lembrando
algu��m que se esforce por alijar de si o pr��prio
cad��ver, representado pelo passado repleto de
culpas. Todo o trabalho da Espiritualidade �� no
sentido de propiciar esclarecimentos acerca das
mazelas humanas, cuja c a u s a e s s e n c i a l �� n i c a
�� o afastamento da Lei, que prescreve seja a
conduta humana baseada no "n��o fa��a aos outros
o que n��o quer que lhe fa��am" ��� isto �� "num
dos mais fundamentais princ��pios da ��tica" (E.
Fromm).
���
165
RAZ��O E F��
Tem-se falado da prolongada luta entre
raz��o e f�� (Ci��ncia e Religi��o). Hoje, h��
os que negam qualquer significa����o �� f��
e os que negam o valor da raz��o, isto ��,
propugnam ainda a f�� cega na "palavra de Deus".
Os primeiros s�� confiam nas pr��prias opini��es,
no julgamento da Ci��ncia, etc.; os segundos, por
exemplo, vivem lendo e recitando o Velho
Testamento. Compreenda-se que n��o estamos
criticando os que se conduzem assim em se
tratando de uma c o n v i c �� �� o p e s s o a l ��� que lhes
�� l��cito manter sem qualquer constrangimento ���
e muito especialmente se acompanhada de obras
de aux��lio ao pr��ximo. O mundo precisa de
solidariedade humana, venha donde vier, e �� por
meio dela que o esp��rito se eleva. A coisa,
por��m, muda de figura quando o sujeito procura
submeter outros ��� t��o livres e filhos de Deus
quanto ele ��� ��s suas id��ias.
Essas p o s i �� �� e s extremadas, conquanto
admiss��veis no ��mbito privado, n��o se mostraram
166
nunca ��teis ao discernimento espiritual. Assim
como o dever �� fundamental para a m o r a l ,
tamb��m a f�� o �� para a religi��o esclarecida; e
ambos caminham lado a lado. Contudo, o t e m p o
da f�� cega passou h�� muito. N��o basta ao homem
moderno a f �� i s o l a d a , a menos que mantenha
a mente fixada no passado; todo fan��tico est��
repleto de f��, todo supersticioso est�� cheio de
f�� naquilo que teme. Ela h�� de ser aprovada pela
raz��o e basear-se em m o t i v o s i n t e l i g e n t e s . O
conhecimento cria condi����es para o desenvol-
vimento da f��: esta, sem conte��do intelectual,
�� pura abstra����o, uma forma vazia. Assim formulou
o pensador Boutroux (1924) a quest��o, q u e
Kardec coloca nos seguintes termos: �� f��, uma
base se faz necess��ria e essa base �� a i n t e l i g �� n c i a
p e r f e i t a daquilo em que se tem de crer. Para
crer, n��o basta ver, �� preciso, sobretudo,
c o m p r e e n d e r . A f�� cega j�� n��o �� para este
s��culo (XIX)" ( " O E v a n g e l h o s e g u n d o o
E s p i r i t i s m o " ) . E estamos no s��culo XX! Neste,
o homem acata e entende o que lhe �� apresentado
conforme a ��ndole da Ci��ncia, mesmo pouco
sabendo dela, porque ela representa a dire����o
do pensamento moderno na busca da verdade.
Ao inv��s de ignorar a Ci��ncia e a Raz��o, o que
conv��m �� assimilar a primeira o melhor poss��vel
e assegurar �� segunda todo o desenvolvimento
que possa comportar; assim, a f�� ser�� ampliada
167
e sustentada. E isto porque "longe de perder, as
id��ias religiosas engrandecem-se com a C i �� n c i a .
A Religi��o ser�� sempre forte quando marchar de
acordo com a Ci��ncia, porque estar�� ligada ��
parte esclarecida da popula����o" (Kardec, R e v i s t a
E s p �� r i t a , 3, 1860).
Toda a atividade investigadora atual gira em
torno do m �� t o d o e x p e r i m e n t a l , o ��nico v��lido
na pesquisa cient��fica. Isto n��o quer dizer que
n��o haja outras maneiras de obter conhecimento;
significa que �� a ��nica maneira de conseguir
r e p r o d u t i b i l i d a d e , isto ��, ter a seguran��a de
poder reverificar sempre o que for oportuno ou
necess��rio: um dado (ou verdade) experimental
pode ser confirmado em qualquer lugar do
mundo quantas vezes se queira; n��o sendo uma
afirmativa gratuita, pode ser repetido �� vontade
at�� que todos os detalhes sejam bem conhecidos.
Uma "verdade filos��fica" �� simplesmente u m a
assertiva pessoal, sem fundamento na realidade.
A investiga����o ps��quica, o estudo experimental
dos fen��menos ditos p a r a n o r m a i s , provou que
o m��todo cient��fico se ajusta perfeitamente a
objetivos religiosos. Desse labor saiu o conhe-
cimento do esp��rito como e n t i d a d e d i s t i n t a do
corpo e que pode atuar por conta pr��pria.
Temos a�� um n o v o n �� v e l de conhecimento que,
por ser superior, n��o se casa com os anacronismos
religiosos medievais; ele exigiria a desist��ncia
1 6 8
das posi����es de mando e de privil��gios arcaicos:
todo ser humano tem um esp��rito essencialmente
igual, cuja origem e destino s��o um s��; o que
varia �� o grau de adiantamento alcan��ado na
evolu����o ao longo do tempo.
N��o nos venham, pois, os "pensadores" apontar
falhas e impropriedades no m��todo experimental.
Isto em nada ir�� alterar o que a�� est�� �� nossa
vista: os resultados te��ricos e pr��ticos, que
usamos em todos os minutos da vida di��ria.
Al��m disso, j�� o observava Comte, o m��todo s��
pode ser avaliado e examinado em conex��o com
a pesquisa �� qual se destina; abstratamente
considerado, n��o ultrapassa vagas generalidades.
Empregando somente a imagina����o, sem o contacto
freq��ente com os problemas do m��todo direta-
mente aplicado a qualquer quest��o positiva, n��o
�� poss��vel mais do que divagar em torno dos
processos empregados pelos cientistas. �� que a
experimenta����o apresenta mil faces e nuances
conforme o objetivo e o material em investiga����o.
Portanto, deixemos de lado os que teimam na
obsoleta mania de analisar intelectualmente o
que n��o conhecem pragmaticamente.
At�� o s��culo passado, as duplas intelig��ncia-
ci��ncia e sentimento-religi��o pareciam atributos
incompat��veis e irreconcili��veis perante a raz��o
humana. Cientistas e religiosos afiguravam-se
empenhados em cavar um abismo cada vez mais
169
fundo entre elas. De 1857 em diante, para quem
estiverem condi����es de reconhec��-lo, o Espiritismo,
realizando verdadeira s �� n t e s e d o c o n h e c i m e n t o ,
funde-as num corpo unit��rio de doutrina por meio
da pesquisa espiritual. Tal opera����o conceptual
tem sido confirmada at�� nossos dias, inclusive fora
do Espiritismo, como, por exemplo, em A G r a n d e
S �� n t e s e , de P. Ubaldi.
Kardec ( R . Esp��rita, 7, 1864, p. 202, e 11,
1868, p. 351-360) declara que as leis da Natureza
fazem parte da Lei de Deus e que, por isso, h��
duas classes de Ci��ncia: Ci��ncia da mat��ria e do
esp��rito, afirmando (idem 10, 1867, p. 102) que
"as leis morais e as leis da Ci��ncia s��o leis
divinas." Mais tarde, Geley ( 1 9 5 8 ) e Ubaldi
(1950) reconhecem expressamente o fato, como
antes fizera Delanne em suas obras cient��ficas.
Tal foi a raz��o de Kardec afirmar: "O Espiritismo
e a Ci��ncia completam-se reciprocamente; a
Ci��ncia, sem o Espiritismo, acha-se na impos-
sibilidade de explicar certos fen��menos s�� pelas
leis da mat��ria; ao Espiritismo, sem a Ci��ncia,
faltariam apoio e comprova����o. O estudo das leis
da mat��ria tinha que preceder o da espiritualidade,
porque a mat��ria �� que primeiro fere os sentidos.
Se o Espiritismo tivesse vindo antes das descobertas
cient��ficas, teria abortado, como tudo quanto
surge antes do tempo."
170
Muitas vezes ele aborda as rela����es e n t r e
Espiritismo e Ci��ncia. Queria deixar b e m c l a r o
o seu pensamento a respeito. Chegou a afirmar
taxativamente ( R . E s p �� r i t a , 12, 1869, p , 193):
"a filosofia esp��rita admite todas as c o n c l u s �� e s
r a c i o n a i s da Ci��ncia" e depois (ibidem 7, 1864,
p. 202): "Repudiar a Ci��ncia ��, pois, repudiar
as leis da Natureza e, por isto mesmo, r e n e g a r
a o b r a d e D e u s . Se fosse imposs��vel o acordo
entre a Ci��ncia e a Religi��o, n �� o h a v e r i a
r e l i g i �� o p o s s �� v e l . Proclamamos altamente a
possibilidade desse acordo porque, e m n o s s a
o p i n i �� o , a Ci��ncia e a Religi��o s��o irm��s para
maior gl��ria de Deus..." E, contudo, a maioria
dos religiosos, esp��ritas inclusive, resolveu, por
conta pr��pria, que o homem pode fazer algo
contra a Divina Vontade... Se a Ci��ncia existe e
tanto incrementa-se, �� porque Deus o permite
e ela, c o m o t u d o o m a i s n a C r i a �� �� o , tem u m
papel a desempenhar. Ter��o, vejamos um exemplo
grosseiro, os bord��is e outros antros um papel
a desempenhar? �� claro: l�� esp��ritos viciados
encontram satisfa����o para suas necessidades
doentias e deixam em paz ambientes melhores,
onde, ent��o, esp��ritos mais qualificados podem
atuar sem a perturbadora presen��a daqueles...
Eles s��o produtos de um baixo n��vel evolutivo,
que a Terra ainda admite.
171
Allan Kardec vai al��m e no " O E v a n g e l h o
s e g u n d o o E s p i r i t i s m o " afirma: "A Ci��ncia e
a Religi��o s��o as duas alavancas da intelig��ncia
humana: uma revela as leis do mundo material
e a outra as do mundo moral, tendo, no entanto,
umas e outras (as leis) o m e s m o p r i n c �� p i o :
Deus, raz��o porque n��o se podem contradizer."
Nas " O b r a s P �� s t u m a s " , declara que o Espiritismo
"n��o repudia nenhuma descoberta cient��fica,
dado que a Ci��ncia �� a colet��nea das leis da
Natureza e que, sendo de Deus essas leis,
r e p u d i a r a C i �� n c i a fora r e p u d i a r a o b r a d e
D e u s " . Agrega a�� mesmo: "Nenhuma cren��a
religiosa, por lhes ser contr��ria, pode infirmar
os fatos que a Ci��ncia comprova de modo
perempt��rio". Emmanuel ( " R o t e i r o " ) , recen-
temente, assim se manifesta: "Uma e outra se
completam no processo de evolu����o de t o d a s
a s a l m a s para o Criador e para a perfei����o de
Sua obra". E acrescenta, mais tarde: "Os laborat��rios
s��o templos em que a intelig��ncia �� concitada
ao servi��o de Deus..."
Eis o resultado dessa luta injustific��vel entre
Ci��ncia e Religi��o, nas palavras de Andr�� Luiz
( " N o M u n d o M a i o r " ) . A Ci��ncia, diz ele, �� uma
"��rvore gigantesca"; a religi��o, uma "erva raqu��tica
a definhar no solo". Enquanto a primeira �� um
o r g a n i s m o , a segunda acha-se subdividida em
numerosos ��rg��os isolados, a maioria dos quais
172
d�� combate uns aos outros, todos empenhados
em conquistar hegemonia mundana; ��rg��os
doentios, portanto. Bem, isto n��o faz mal porque
religi��o, para n��s, s�� pode ser uma e x p e r i �� n c i a
i n t e r i o r e p e s s o a l , sem atos exteriores obriga-
t��rios e sem influ��ncias impositivas.
Atualmente n��o �� poss��vel, muito mais do que
na ��poca de Kardec, ignorar a Ci��ncia em
nenhuma cogita����o intelectual, em vista de impor-
se ela como uma "evid��ncia irresist��vel" (Boutroux)
e de haver conquistado magna parte da consci��ncia
humana. Isto �� compreens��vel em vista dos seus
sucessos em explicar a Natureza e em favorecer
a vida do homem. T��o grande e fecunda tem sido
a sua participa����o em modelar as interpreta����es
que damos �� circunst��ncia, na qual vivemos
mergulhados, que apagou as contribui����es de
outras fontes, mais antigas. Devemos observar
que h�� pelo menos tr��s pontes de liga����o ou
pontos de contacto entre a Ci��ncia e a Religi��o
(conforme entendemo-la agora).
A primeira s��o as muitas vezes citadas Meta-
ps��quica e Parapsicologia. Estas ci��ncias, demons-
trando a exist��ncia do esp��rito como entidade
distinta do corpo e dotada de atributos pr��prios,
nem por isso embara��am o cientista e o religioso:
eles colocam-nas num compartimento cerebral
estanque, sem comunica����o com os outros setores
mentais, de modo que o racioc��nio n��o se deixa
173
influenciar por elas e continua impregnado apenas
do conhecimento material. Mas, por via de regra,
limitam-se a ignor��-las ou a combat��-las com
unhas e dentes (��s vezes, interpretam-nas
soezmente).
A segunda ponte �� a t e o r i a d a e v o l u �� �� o ,
enormemente desenvolvida pela Ci��ncia e parte
integrante do Espiritismo. J�� em 1908, Denis ( " O
P r o b l e m a d o S e r , d o D e s t i n o e d a D o r " )
reconhecia que "a evolu����o gradual e progressiva
�� a lei fundamental da natureza e da vida. �� a
raz��o de ser do homem, a norma do Universo".
Delanne fez amplo uso desse conceito, declarando
que o transformismo segundo Darwin se prestava
muito bem aos fins que tinha em vista. Informa-
nos claramente aquela teoria que seres e coisas
mudam ou podem mudar em algumas de suas
manifesta����es ou mesmo no conjunto de suas
maneiras de ser. Nada �� imut��vel, fixo ou
perfeito neste mundo, antes tudo caminha para
crescente aperfei��oamento, logo para Deus, que
�� a perfei����o. Assim como, para a Ci��ncia, a
esp��cie biol��gica �� uma f a s e no curso da
evolu����o o r g �� n i c a , para o Espiritismo o homem
�� uma f a s e do curso da evolu����o e s p i r i t u a l .
Quando o meio modifica-se, diz a Ci��ncia, os
seres vivos ou evoluem ou desaparecem: a vida
s�� pode se manter com aux��lio do meio onde
transcorre; portanto, o ajustamento �� indispens��vel
174
e isto significa mudar. Como �� evidente que o
mundo onde o homem vive tem mudado
muit��ssimo, a mente humana n��o poderia escapar
�� lei universal e, pois, modifica-se constantemente.
Pretender permanecer escravizado a velhas
f��rmulas ou posi����es superadas pode ser compreen-
s��vel como h��bito espiritual, mas inevitavelmente
acarreta estagna����o: o esp��rito atrasa-se e apequena-
se, fica murcho ou endurecido. Isso, contudo,
�� admiss��vel quando a pessoa o faz por sua
pr��pria vontade, usando a liberdade de escolha
pessoal, e sem procurar i n f l u e n c i a r o s s e u s
s e m e l h a n t e s para que se retardem com ela.
A terceira liga����o entre Ci��ncia e Espiritismo
�� a teoria da unidade da mat��ria e da energia,
a qual leva a considerar corpo e esp��rito
(perisp��rito) como formas distintas de um mesmo
princ��pio ou subst��ncia(*).
Em suma, o homem moderno n��o pode escapar
da maneira cient��fica de conhecer a cota de
(*) Nota da Editora: Felic��ssimo o autor, sen��o vejamos:
Kardec se refere aos elementos gerais do Universo
considerando o esp��rito como sendo o "princ��pio inteligente
do Universo" em contraposi����o ao outro elemento, o
material. �� alguma cousa, dizem os companheiros, pois
cousa nenhuma �� o nada e o nada n��o existe.
Sob novo enfoque, considera-o a individualiza����o do
princ��pio inteligente que habita o Universo. Cada esp��rito
assim o ��. Seria mais exato dizer deles que s��o incorp��reos
175
verdade que lhe foi reservada; pode, como se
v�� comumente, ignor��-la e situar-se mentalmente
numa posi����o retr��grada, numa ��poca de espessa
ignor��ncia ��� se isso lhe apraz e se limita a faz��-
lo a si mesmo.
Por outro lado, o esp��rito humano n��o ��
constitu��do somente de intelig��ncia, que a Ci��ncia
instrui. Tamb��m inclui o sentimento, ao qual se
liga a f��, a r e l i g i �� o i n t e r i o r . Por isso, n��o t e m
cabimento separar radicalmente raz��o de
afetividade. Um dos mais eminentes cientistas,
Pr��mio Nobel de Fisiologia, Charles Richet
reconhecia, em 1937, que "a Ci��ncia �� c o n d i �� �� o
n e c e s s �� r i a para a felicidade humana, mas n��o
�� c o n d i �� �� o s u f i c i e n t e " . E acrescentava: "a
felicidade do homem depende dos progressos
cient��ficos", como �� not��rio, mas "n��o consiste
unicamente no conhecimento das coisas, nem
t��o pouco no seu emprego utilit��rio. �� preciso
mais do que isso: uma esp��cie de o r d e m m o r a l ,
a no����o de solidariedade e de fraternidade
(sendo uma cria����o h��o de ser alguma cousa) ��� "0 Livro
dos Esp��ritos".
Desde que o espirito �� alguma coisa, tamb��m o
perisptrito o ��, por mais forte raz��o: mat��ria quintessenciada,
campo energ��tico estruturado...
A Ci��ncia avan��a e encontra o Espiritismo apenas
aguardando a formula����o da linguagem que esclare��a as
suas afirma����es.
1 7 6
humanas". �� bem de ver, conseq��entemente,
que o cientista n��o �� t��o frio e indiferente
quanto muitos julgam; n��o s��o poucos os que
se manifestaram sobre quest��es desse tipo.
Como vimos, a f�� precisa da aprova����o da
raz��o para ser consciente e l��cida. Por sua vez,
a moral, desde a sua funda����o nas m��os de
S��crates, conforme se nota, foi uma atividade
mental racional. A distin����o entre o bem e o mal
cabe �� intelig��ncia; escolhendo um desses dois
caminhos, o sujeito deve procurar saber o que
est�� fazendo. Ora, sabemos que o progresso
espiritual �� duplo: intelectual e moral. Sucede,
por��m, que o segundo decorre do primeiro, mas
n �� o o segue imediatamente. Da�� haver homens
de elevada intelectualidade e de moralidade
med��ocre; por n��o serem simult��neos, numas
vidas avan��a-se em cultura e noutras em
moralidade. Afinal, intelecto e moral acabar��o
por entrar em equil��brio, visto o progresso
intelectual ampliar a compreens��o do bem e do
mal e conduzir ao progresso moral.
Compreende-se, em conclus��o, porque os
mentores de Allan Kardec responderam: "Sem
d��vida... nenhum conhecimento �� in��til" ��
pergunta dele referente �� utilidade dos
conhecimentos cient��ficos materiais ( O L i v r o
d o s Esp��ritos). E porque o pr��prio Codificador
1 7 7
exclamou: "F�� inabal��vel �� somente aquela que
pode encarar a raz��o face a face, em todas as
etapas da Humanidade".
R a z �� o e n �� v e l m o r a l . Do antecedente,
sugerimos ao leitor tirar a conclus��o de que
Submiss��o t o t a l cabe somente a Deus, no
��ntimo, pois a Sua Lei destina o ser humano ��
perfei����o e felicidade. Aos homens �� conveniente
obedecer, sem d��vida, visto precisar o mundo
de ordem e disciplina para funcionar harmonio-
samente. Mas, n �� o cegamente, com abandono
da livre decis��o racional e, por isso, sem respon-
sabilidade; o inferior deve reconhecer a superio-
ridade dos que se lhe situam acima na escala
evolutiva e cumprir as ordena����es da sociedade
onde nasceu, cresceu e vive. Tal atitude �� a
��nica ben��fica ao progresso do esp��rito.
O livreto-j��ia "Pequenos e Grandes Proble-
mas", de autoria de Angel Aguarod, que examina
essa quest��o em sentido esp��rita, pergunta se "n��o
�� uma indignidade abdicar o homem de sua raz��o
e entregar-se cegamente �� dire����o de outro" ��� a
quem muitas vezes n��o conhece nem por fora; e
"para que deu o Criador ao Esp��rito a raz��o, se este
devesse abdicar dela para deixar que outros homens,
t a n t o o u m a i s fal��veis d o que e l e , por ele
pensassem e por ele raciocinassem?"
Ora, a obedi��ncia desse tipo n��o passa de um
atentado �� raz��o, de uma infra����o �� Lei de Deus.
178
Esta ordena que cada um desenvolva a pr��pria
capacidade racional, sem o que n��o haver��
progresso espiritual por falta de discernimento
e de compreens��o. Afirma o livrinho: n �� o quer
a Lei que "os Esp��ritos andem cegos pelo mundo,
tapando os olhos da raz��o para se deixarem guiar
por terceiros". Funestos s��o os resultados da
sujei����o indiscriminada a outrem, tanto para o
submetido quanto para o dominador ��� porquanto,
afiguram-se d o i s c e g o s , um conduzindo o outro,
e ambos cometer��o desatinos, caindo no p o �� o
da expia����o e da repara����o.
Foi sempre um sonho acalentado, que continua
bem vivo, o de governar a vida do pr��ximo,
tirando-lhe a iniciativa, o direito de aprender
errando e obrigando-o a uma obedi��ncia absoluta.
A velha moral religiosa est�� impregnada de
a u t o r i d a d e i r r a c i o n a l , que exige submiss��o
completa. Isto funcionou enquanto a mente
humana era incapaz de compreender o mundo,
a vida e o esp��rito por falta de conhecimentos;
e funciona hoje ainda nos que criaram necessidades
enfermi��as e t��m a mente obstru��da por elas. O
esp��rito cr��tico, que avultou com a Ci��ncia,
acabou derrubando, na torrente negativista, t o d o s
o s v a l o r e s h u m a n o s , porque contrap��s a eles
valores contradit��rios.
Esta exagerada revis��o de valores teve pelo
menos a vantagem de p��r em destaque o fato
1 7 9
b��sico de que o N��VEL MORAL �� peculiar ao
i n d i v �� d u o quando consegue usar a PR��PRIA
RAZ��O para analisar c o i s a s e s i t u a �� �� e s ��� e,
fazendo-o, declara-se, perante si mesmo, i n s a t i s -
f e i t o : ent��o, procura no����es e princ��pios
s u p e r i o r e s aos do meio social no qual se
movimenta. Aprende a respeitar as pessoas e
institui����es do seu ambiente, mas passa a conduzir-
se, n a �� r e a p e s s o a l , pelo que descobriu ser
V��LIDO acima das leis, conven����es, tradi����es e
costumes da sociedade.
Eis, portanto, que a raz��o, faculdade de
compreender, serve para elevar o indiv��duo a um
n��vel superior ao das cogita����es puramente
materiais, circunstanciais, conduzindo-o ��
autodetermina����o.
1 8 0
RELIGI��O
altou dizer ao leitor o q u e s e d e v e
entender por f �� e r e l i g i �� o i n t e r i o r (ou
sentimento religioso), acima mencionadas.
Pode-se reconhecer dois aspectos nas religi��es:
1) o e x t e r i o r , composto de ritos, credos e
institui����es; 2) o i n t e r i o r , constitu��do de uma
experi��ncia exclusivamente pessoal. Para muita
gente, religi��o �� apenas imita����o ou ato social
ou convencional; elas refletem o meio em que
vivem e as influ��ncias que sofrem. Noutras
condi����es, teriam as mesmas maneiras de sentir
e crer, mas com o r i e n t a �� �� o d i f e r e n t e , inclusive
sem car��ter religioso; durante a Idade M��dia, por
exemplo, os homens estavam sempre rezando
nas igrejas nos intervalos das habituais pelejas
em que viviam metidos: o of��cio religioso era um
h��bito secularmente imposto �� for��a. Nas almas
onde realmente existe, a religi��o denota um
valor singular, peculiar, atribu��do pela consci��ncia
e n��o pela imagina����o; por outras palavras: ��
i n t e r i o r . Conforme o grau de evolu����o dessas
181
almas, poder�� haver necessidade de pr��ticas
externas ou estas serem dispensadas.
Nas manifesta����es religiosas rudimentares, este
elemento interior, subjetivo, �� pouco significativo.
Por��m, vai-se tornando cada vez mais
preponderante �� medida que o esp��rito vive e
assimila experi��ncias de car��ter moral. O Evangelho
destaca o valor da disposi����o ��ntima, cuja falta
significa aus��ncia de religiosidade em sentido
mais elevado. Diz-nos mesmo que "a letra mata
e o esp��rito vivifica", querendo expressar que
n��o �� na forma, mas na c o m p r e e n s �� o , que
reside o valor da experi��ncia religiosa interna.
Tanto mais interna quanto mais exige r e n o v a �� �� o
m o r a l do sujeito; sem essa, a pr��tica religiosa
n��o ultrapassa o n��vel material, em nada
conseguindo modificar o indiv��duo para melhor.
Religi��o interior ou sentimento religioso �� o
reconhecimento de, e a consequente submiss��o
a, um Poder Supremo extraterreno. Este poder,
naturalmente, �� Deus e Seus delegados (conforme
a capacidade de identifica����o do homem): Jesus
e as v��rias categorias de esp��ritos superiores
("anjos", e t c ) . A consci��ncia religiosa objetiva
alcan��ar a conformidade com a Vontade Divina,
expressa na Lei, atrav��s da vontade pessoal instru��da
pelo conhecimento e posta em a����o. Assim define
Emmanuel ("Roteiro"): "A religi��o �� o sentimento
divino que prende o homem ao Criador".
182
A f�� �� a confian��a nesse poder. A prece �� uma
declara����o de confian��a e de submiss��o consciente,
pelo que estabelece contacto entre criatura e
Criador, entre disc��pulo e Mestre. Al��m disso, o
estado de confian��a gera "certa aten����o favor��vel"
(A. Luiz) que permite receptividade aos aux��lios
dos Poderes do Alto. Sem tal estado, s��o dif��ceis
recolhimento e respeito e sem estes n��o h��
receptividade, caso em que fica prejudicado
qualquer aux��lio prestado pelo Alto. N��o
esque��amos, contudo, que, em virtude da evolu����o,
os homens s��o essencialmente diversificados,
raz��o da capacidade de compreender variar
muito, nenhuma explica����o ou concep����o jamais
sendo v��lida para todos eles e seu comportamento
mostrar-se divergente.
Sobre que base assenta uma f�� leg��tima?
Segundo Boutroux ( 1 9 2 4 ) , conhecido pensador
franc��s, toda f�� c o n s c i e n t e repousa, saiba-se ou
n��o, no sentimento do dever. Crer �� afirmar algo
resolutamente (sem necessidade de enunciados
p��blicos) e a raz��o, como vimos, exige um
motivo para isso, encontrado no senso do dever.
Assim, a mola oculta da f�� seria o dever, o que
significa que n��o pode haver genu��na religi��o
sem moralidade desenvolvida: as duas formas de
consci��ncia, a moral e a religiosa, caminham
lado a lado ao longo do tempo; da�� ser a doutrina
de Jesus ��tico-religiosa. O pr��prio dever �� uma
183
forma de f��; desaparece quando imposto ou
aceito por raz��es pr��ticas; �� uma for��a viva e
fecunda, que leva a intelig��ncia a conceber e a
gerar. �� interessante notar que semelhante
concep����o j�� se encontra, desde 1874, exposta
em " R o m a e o E v a n g e l h o " , de Jos�� Amigo Y
Pellicer, num ditado medi��nico. Explica o autor
espiritual: "A religi��o ��, por conseq����ncia, progres-
siva; e a melhor das religi��es �� a que melhor
promove o cumprimento do dever. O dever ��,
pois, a religi��o".
Como o esp��rito, que tanto se apega aos bens
terrenos e tanto aprecia os prazeres mundanos,
chega a guiar-se por no����es imponder��veis como
f�� e dever?
�� que pela longa viv��ncia de experi��ncias, em
m��ltiplas exist��ncias na carne, cujos resultados
s��o assimilados e conservados em forma de
aptid��o, e pela acumula����o de conhecimentos,
desenvolve-se um estado especial, dito de
m a t u r a �� �� o i n t e r i o r (ou maturidade do senso
moral, como prefere Kardec). Este caracteriza-
se por uma receptividade cada vez maior ��s
no����es superiores. Do grau de amadurecimento
interno procedem moralidade e religiosidade,
vari��veis segundo o tempo e a intensidade
vivencial com a consci��ncia desperta. Disto
deriva que o sentimento religioso �� de exclusivo
i n t e r e s s e p e s s o a l e ser�� diferente em cada
184
homem conforme o grau de compreens��o
alcan��ado. Esta matura����o surge como um novo
centro ps��quico ��� o superconsciente, no qual vai
crescendo o ideal superior. Compreende-se que
pessoas de grande conhecimento e intelig��ncia
freq��entemente n��o sejam religiosas e at�� detestem
a religi��o; o seu consciente �� muito amplo, mas
o superconsciente acha-se imaturo, isto ��,
desprovido de suficiente n��mero de experi��ncias
bem assimiladas. Mediante tais considera����es ��
compreens��vel que a convic����o n��o possa s e r
imposta; �� in��til ou mesmo contraproducente
aborrecer o pr��ximo com longos serm��es sobre
assuntos que n��o est�� nele entender; chegado
o momento, ele mesmo procurar�� e "quem
procura, acha": esse ser�� o momento de intervir
a favor dele, esclarecendo-o.
Por que ser�� que um n��mero imenso de
homens prefere o materialismo, mesmo sem
conhec��-lo racionalmente (isto ��, s��o materialistas
pr��ticos), ou t��m, no m��ximo, uma vaga cren��a
numa imortalidade imprecisa, incolor, indefinida
e at�� fantasiosa?
Em se tratando de pessoas inteligentes e
cultivadas, como nota Kardec ("Revista Esp��rita",
12, 1869), o principal motivo �� o pavor da
responsabilidade fora da lei humana. D��-se ampla
prefer��ncia �� cren��a de que o homem �� um
mecanismo sem responsabilidade por seus atos:
185
pode fazer o que melhor lhe pare��a ou mais
agrade. Provar positivamente, com fatos vis��veis,
a imortalidade �� mostrar a responsabilidade e
restringir a liberdade desordenada ��� logo, ��
perturbar o tranq��ilo gozo dos prazeres irrestritos.
"A perspectiva da responsabilidade fora da lei
humana �� o mais poderoso elemento moralizador",
diz o mesmo autor. Encontramos pessoas que:
1) concordam apressadamente com tudo para
encerrar logo o assunto; 2) negam tudo
peremptoriamente; 3) n��o tendo coragem de
negar, declaram que precisam "viver em paz" ou
"gozar a vida enquanto podem".
�� que ainda n��o chegou a hora da g r a n d e o p �� �� o
para eles. Quando suas experi��ncias (muitas vezes
dolorosas) forem suficientes, entrar��o na trilha que
Deus riscou para todos os seus filhos. At�� l��,
deixemo-los em paz, nas m��os do Pai.
Bibliografia
Andr�� Luiz, Denis, Emmanuel, Kardec e Ubaldi
��� citados no texto.
Boutroux, E. 1924 ��� Sciencia e Religi��o na
Philosophia Contempor��nea. Livraria Garnier, RJ,
371 p.
Comte, A. 1907 ��� Cours de Philosophie Positive,
vol. 1. Schleicher Fr��res ed. Paris, 410 p.
Geley, G. 1958 ��� Resumo da Doutrina Esp��rita.
Ed. Lake, SP, 2�� ed., 194 p.
1 8 6
Richet, C. 1937 - O Homem de Ci��ncia. Trad.
Portuguesa, A. Amado, Coimbra, 188 p.
Delanne, G. 1952 ��� A Evolu����o An��mica, Feb, RJ,
285 p.
187
O QUE �� E O QUE
SIGNIFICA A MAT��RIA
empre houve pensadores que consideraram
a mat��ria ��� aquilo que podemos tocar,
sentir e manejar, e que ocupa lugar no
espa��o ��� como eterna e indestrut��vel, capaz de
explicar todos os fen��menos existentes, inclusive
os mentais, mediante as m��ltiplas transforma����es
por que passa. Outros pensadores, tamb��m desde
a Antig��idade, julgam que, al��m dela, h�� um
princ��pio mais importante, de natureza imponde-
r��vel, ao qual chamam e s p �� r i t o , cuja natureza
seria totalmente diversa. �� o que o Espiritismo
nos indica, mas acrescenta um processo b��sico
de transforma����o, a evolu����o, referente a ambos
(e n��o s�� �� mat��ria, como o faz a Ci��ncia).
Estudemos a constitui����o da mat��ria com o
fito de apreender o seu verdadeiro significado
e valor. Interessa-nos particularmente a teoria de
Rutherford & Bohr sobre a estrutura do ��tomo,
a qual oferece um modelo relativamente mec��nico
(embora em grande extens��o din��mico) e por
isso mais f��cil de compreender; �� conveniente,
188
por��m, indicar as modifica����es mais recentes
nas concep����es f��sicas relativas ao ��tomo. Antes
dessa empresa, devemos ficar sabendo o que ��
o materialismo, de que tanto se fala e que tanto
se combate.
O m a t e r i a l i s m o
Consideremos o materialismo do s��culo 19 e
do primeiro quartel do s��culo 20, que �� o
materialismo cient��fico cl��ssico. Teremos que
ouvir as opini��es de s��bios pensadores como L.
B��chner, E. Littr��, E. Ilaeckel, J. Huxley, que se
incluem entre os mais eminentes, e Lenine, o
chefe da revolu����o russa de 1917, introdutora
do comunismo na R��ssia; este acabou
completamente na terra de origem em 1991.
O materialismo �� uma doutrina filos��fica q u e
explica todos os fatos do universo em termos
de mat��ria e movimento e que, em particular,
considera os processos ps��quicos oriundos de
modifica����es f��sicas e qu��micas do sistema nervoso.
O seu oposto �� o i d e a l i s m o , que declara a
mente superior e nega �� mat��ria poder para
explic��-la; e o espiritualismo, em sentido mais
espec��fico, que se baseia no princ��pio acima
apontado sob o t��tulo de esp��rito. Para o
materialismo, a vida depende do corpo, o
pensamento �� uma fun����o do c��rebro e a alma
189
apenas a soma dos processos mentais dependentes
de altera����es f��sico-qu��micas. Logo, a decomposi����o
do corpo acarreta a cessa����o da consci��ncia. O
chamado m e c a n i c i s m o �� quase a mesma coisa,
apenas diferindo por acentuar a determina����o
essencial dos fen��menos naturais pelas leis da
materia e do movimento, ou seja, leis mec��nicas;
em geral, serviu para combater outros sistemas
de id��ias, sobretudo o Vitalismo e a Teologia,
que lan��am m��o de entidades metaf��sicas,
extramateriais.
Para o materialismo cient��fico, o postulado
fundamental �� a e t e r n i d a d e d a m a t �� r i a , isto ��,
que ela n��o teve origem e n��o ter�� fim. Todas
as observa����es s�� demonstram, afirma,
transforma����es na natureza: nada se cria, tudo
nasce de algo preexistente. Ap��s dissolu����o,
tudo volta a tomar parte em outras combina����es.
A mat��ria �� a realidade objetiva, existindo
independentemente do nosso conhecimento; o
que importa s��o as suas propriedades f��sicas,
como impenetrabilidade e in��rcia, j�� que ferem
os sentidos e provocam a percep����o. Atributo
essencial da mat��ria �� o m o v i m e n t o : qualquer
mudan��a de forma e de qualidade, �� propriedade
eterna. N��o h�� for��a sem mat��ria, nem mat��ria
sem for��a ��� n��o h�� luz, h�� corpos luminosos.
B��chner acrescenta que os ��tomos s��o imortais
e imut��veis; contudo, confessa nada conhecer
1 9 0
sobre ��tomos e que "nada se sabe da ess��ncia
da mat��ria".
Em suma, a mat��ria existe e move-se desde
a eternidade, evoluindo ascendentemente e criando
formas e qualidades novas, esclarece Lenine. A
vida e a consci��ncia apareceram logo que a
mat��ria, no curso da evolu����o, atingiu grau
adequado de organiza����o. Portanto, primeiramente
surgiu o organismo e depois o esp��rito como seu
produto. S��bios poderosos como Huxley e B.
Russel pensam assim ainda no s��culo atual, al��m
de B��chner, Haeckel e muitos outros no s��culo
anterior. F��sico e ps��quico s��o dois aspectos da
mesma realidade concreta. Por isso, afian��a
B��chner que o pensamento �� um movimento
"das subst��ncias dispostas no c��rebro de forma
determinada", podendo-se mesmo dizer "que a
mat��ria pensa", tal como acha Huxley neste
s��culo. Ao demais, as leis naturais, por imut��veis,
independem de quaisquer influ��ncias exteriores.
Tudo o que acontece no universo se rege por
leis invari��veis e externas. Nada de deuses e
esp��ritos. O destino humano �� o destino da
natureza, resultante de causas e rela����es materiais.
Afirma B��chner: "A imortalidade ou conserva����o
da mat��ria �� hoje em dia um fato adquirido para
a Ci��ncia e que j�� n��o se pode negar." Conforme
veremos, a Ci��ncia destruiu a base f��sica do
materialismo cient��fico, depois de 1925, demons-
191
trando que a realidade da mat��ria �� mais aparente
do que genu��na, por ser devida ao movimento
das part��culas infra-at��micas; suspenso esse
movimento, ela desfazer-se-ia imediatamente. E
provou que ela �� essencialmente vazia, em vista
da imensa dist��ncia existente entre o n��cleo e
as ��rbitas eletr��nicas. E mais, que a mat��ria ��
mortal, transit��ria e destrut��vel, mediante a
desintegra����o espont��nea (morte natural) e
provocada do ��tomo. Da�� dizer o materialista B.
Russel que a mat��ria perdeu a solidez e "transfor-
mou-se num mero fantasma assombrando o cen��rio
de seu antigo esplendor", depois das descobertas
cient��ficas deste s��culo.
Perdendo, posto isto, a estrutura fundamental
sobre a qual se assentava ��� por que persiste o
materialismo?
A raz��o repousa no fato de considerar-se o
materialismo como postulado metodol��gico
indispens��vel �� pesquisa cient��fica. O cientista
precisa explicar os fen��menos da natureza por
meio de causas f��sicas, que s��o razoavelmente
conhecidas, e excluir causas espirituais, que n��o
combinam com as suas t��cnicas de investiga����o.
Cientistas ilustres s��o religiosos e n��o o ocultam;
por reconhecerem poderes espirituais superiores,
n��o ficam impedidos de realizar excelentes
trabalhos de pesquisa ��� mas, durante a execu����o
destes, comportam-se c o m o s e f o s s e m
192
materialistas: quer dizer, usam os mesmos
processos e falam a mesma linguagem que todos
os outros pesquisadores. Os maiores s��bios do
passado eram homens votados ao amor de Deus,
como: Galileu, Newton, Pascal, Faraday e Lineu,
e modernos como Millikan e Einstein, por exemplo.
Essa �� tamb��m a raz��o da resist��ncia ��
Parapsicologia. A grande maioria dos cientistas
ignora-a simplesmente porque as suas
demonstra����es parecem contrariar o postulado
essencial do m��todo experimental, a hegemonia
das for��as f��sicas; da�� o ��rduo esfor��o de quase
todos os parapsic��logos no sentido de construir
uma t e o r i a m a t e r i a l i s t a para explicar os
fen��menos paraps��quicos ��� sem o conseguir
absolutamente porque as for��as mentais latentes
independem, de fato, das rela����es materiais
conhecidas. Isto �� que seria realmente "explicar
o absurdo pelo mais absurdo".
De sorte que, para in��meros cientistas, o
materialismo �� apenas uma atitude necess��ria ��
sua atividade, mas que nem sempre traduz suas
convic����es. Todavia, para aqueles que o t��m
como convic����o t��o profunda quanto uma religi��o,
ele conduz a uma vis��o sombria da vida e do
universo. Eis o desabafo de J. Monod, bioqu��mico
do Instituto Pasteur de Paris e Pr��mio Nobel em
1965: "Enfim, o homem sabe que e s t �� s o z i n h o
na imensid��o indiferente do universo, de onde
193
emergiu p o r a c a s o . N��o mais do que o seu
destino, o seu dever n��o est�� escrito em lugar
algum". Tal �� a desola����o da alma inteligente,
culta e vazia ��� pois, para Monod, o conhecimento
exclui os valores e a ��tica, sendo ele pr��prio o
valor supremo...
Quanto ao materialismo ing��nuo do homem
comum e inculto e ao materialismo pr��tico dos
religiosos (n��o negam Deus, mas suas atitudes
discrepam de suas convic����es), devem-se ��
incapacidade para observar, compreender e apreciar
a import��ncia dos fatos mentais e espirituais, pelo
que n��o revelam qualquer interesse.
A c o n s t i t u i �� �� o d a m a t �� r i a
Desde alguns s��culos antes de Jesus, estabeleceu-
se especulativamente que pequen��ssimos
corp��sculos indivis��veis, ditos �� t o m o s , formam
toda sorte de corpos existentes sobre a Terra.
Contudo, no in��cio do s��culo passado ( 1 8 0 8 ) , o
qu��mico ingl��s J. Dalton enuncia a primeira
teoria at��mica cient��fica, declarando que "o
limite da divisibilidade da mat��ria �� o �� t o m o ,
part��cula real e infinitivamente pequena" e que
"elementos diferentes s��o formados de ��tomos
diferentes". Logo a seguir, o f��sico italiano A.
Avogadro (1811) estabeleceu que entre os ��tomos
e as menores part��culas dos gases (que denominou
194
m o l �� c u l a s , isto ��, "pequenas massas") h �� n��tida
diferen��a; para ele, as mol��culas eram as unidades
da mat��ria, podendo ser compostas de dois ou
mais ��tomos iguais ou diferentes. Isto prevalece
at�� hoje. Mas, a teoria elaborada no s��culo
passado, com base nas transforma����es qu��micas
da mat��ria, vigorou at�� perto de 1925. A descoberta
dos raios X, por Roentgen ( 1 8 9 5 ) , e da
radioatividade, por Becquerel ( 1 8 9 6 ) , permitiu
aos cientistas uma vis��o completamente diversa
do ��tomo est��tico de Dalton e o desenvolvimento,
aos poucos, da moderna teoria at��mica. Em
ess��ncia, eis o que ela afirma:
1. O ��tomo �� algo compar��vel a um sistema
solar em miniatura, sendo formado de certo
n��mero de part��culas elementares, por��m,
contendo cerca de 95% de e s p a �� o v a z i o . Tais
part��culas ou corp��sculos est��o dispostos �� maneira
dos planetas em torno do Sol.
2. Esse conjunto de part��culas acha-se dividido
em duas zonas distintas. Uma central, o n �� c l e o ,
muito compacta, contendo dois tipos de corp��-
sculos: p r �� t o n s e n �� u t r o n s . Outra perif��rica,
muito lacunosa, na qual giram, em c��rculos ou
elipses conc��ntricas (ditas o r b i t a i s ) , part��culas
m��nimas chamadas e l �� t r o n s .
3. O estado din��mico �� caracter��stica essencial
da mat��ria. Al��m do movimento das part��culas,
estas levam cargas el��tricas, sendo os pr��tons
195
animados de eletricidade positiva e os el��trons
de eletricidade negativa (mais provavelmente, os
el��trons n��o passam de cargas el��tricas em
movimento perp��tuo); os n��utrons, conforme o
nome indica, n��o t��m energia.
4. Tais cargas el��tricas est��o em equil��brio; o
��tomo em repouso mostra-se neutro porque a
eletricidade positiva do n��cleo �� equivalente ��
negativa dos el��trons.
5. O ��tomo tem dimens��es inimaginavelmente
insignificantes. O seu raio �� de IO-8 cm (isto ��,
0,000.000.001 cm ou a cent��sima milion��sima
parte do cm) e o do n��cleo de 10-13 cm.
6. A massa do el��tron �� aproximadamente
1.840 vezes menor do que a do ��tomo, pelo que
quase n��o pesa. O n��mero de el��trons de cada
��tomo �� fixo e igual ao n��mero de pr��tons;
chama-se n��mero at��mico. Eles giram ao redor
do n��cleo e de si pr��prios (rota����o), tal como
a Terra em rela����o ao Sol e a si mesma. Como
todo campo el��trico que se desloca cria um
campo magn��tico proporcional e perpendicular,
o el��tron pode ser considerado um m��nimo
eletro-��m��. Quando excitado (recebendo energia
do exterior), pode saltar para uma ��rbita mais
externa e, em seguida, regressar �� posi����o anterior;
ao voltar ao estado habitual, emite o excesso de
energia sob a forma de radia����o ou onda
eletromagn��tica. Os el��trons podem ser libertados
196
e existir livremente: os raios cat��dicos s��o feixes
de el��trons e a corrente el��trica �� um feixe de
el��trons deslocando-se ao longo de um condutor
met��lico. Bombardeando-se uma placa de metal
com el��trons (no caso, raios cat��dicos), surgem
as radia����es eletromagn��ticas conhecidas como
raios X.
7. O n��cleo �� 100.000 vezes menor do que
o ��tomo inteiro. Que significa isso? Que a
mat��ria �� peculiarmente vazia. Diz Pinto Coelho
( 1 9 6 6 ) , f��sico patr��cio, falando do ��tomo: "Sua
caracter��stica principal �� a aus��ncia de mat��ria".
Al��m disso, o n��cleo encerra 99,95% (quase a
totalidade) da massa do ��tomo, pois, como
observamos, os el��trons praticamente n��o t��m
peso. Um f��sico bem humorado declarou que se
toda a mat��ria do corpo humano fosse comprimida,
caberia simplesmente numa cabe��a de alfinete...
o resto s��o cavidades.
8. Outro fato relevante. O n��cleo at��mico
exibe densidade gigantesca, inimagin��vel:
cm3 (n��mero formado de 10 seguido de 14
zeros!) ��� compare-se com as densidades da ��gua:
1,00 e do ferro: 7,5 g/cm3, por exemplo. Um
pequeno dado composto de n��cleos pesaria o
fabuloso n��mero de 1 trilh��o de quilos, ou seja,
1 bilh��o de toneladas! Novamente, v��-se o quanto
o ��tomo (e a mat��ria) �� vazio, lacunoso, j�� que
a mat��ria comum pesa t��o pouco em compara����o.
197
9. O n��cleo �� constitu��do de duas part��culas
id��nticas, segundo se assinalou acima, pr��tons
e n��utrons, distintas pela carga el��trica positiva
dos primeiros. Dois ou mais pr��tons, consoante
os conceitos tradicionais, tendo as mesmas cargas
el��tricas, deveriam repelir-se provocando instabi-
lidade nuclear, ao inv��s de estarem unidos.
Por��m, fatos experimentais demonstraram que
no interior do n��cleo operam for��as comple-
tamente distintas das anteriormente conhecidas
dos f��sicos. As for��as atrativas de um corp��sculo
intra-at��mico t��m curto alcance, exercendo sua
a����o t��o-somente sobre as part��culas pr��ximas;
e, ao demais, s��o independentes das cargas
el��tricas do mesmo. O n��utron comp��e-se de um
pr��ton e de uma part��cula denominada beta ( 8 ) ,
raz��o porque pesa ligeiramente mais do que
aquele e mostra-se inst��vel. As part��culas beta s��o
el��trons (ou p��sitrons) emitidos pelo n��cleo,
embora a�� n��o existam em estado livre; formam-
se em condi����es especiais. Pr��tons e n��utrons
revelam-se convers��veis. Quando h�� excesso de
n��utrons em rela����o ao n��mero de pr��tons,
escapa uma part��cula beta dando origem a um
pr��ton e o n��cleo ficar�� mais est��vel. Se houver,
ao contr��rio, um excesso de pr��tons, um ou
alguns deles se transformam em n��utrons mediante
a "captura" (isto ��, absor����o) de um ou mais
el��trons vizinhos do n��cleo, anulando-se as cargas
1 9 8
el��tricas de ambos. A entrada de energia
correspondente ao el��tron gera emiss��o de raios
gama. Um ou alguns el��trons mais externos v��m
ocupar o lugar deixado vago, movimento esse
que origina a sa��da de raios X (semelhantes aos
raios gama).
10. Outras part��culas, como o m��son e o
p��sitron, inexistentes em condi����es normais na
mat��ria, n��o precisam ser aqui consideradas.
O ��tomo constitui uma extraordin��ria fonte de
energia condensada na mat��ria aparentemente
inerte. S��o os seguintes os principais fen��menos
energ��ticos relacionados a ele:
1. A emiss��o de luz e calor (incandesc��ncia e
combust��o, por exemplo). ��� Um ou mais el��trons
passam da ��rbita externa para outra mais interna,
do que resulta perda da energia a�� retida. D��-se
o movimento inverso quando o ��tomo absorve
energia: um el��tron salta para uma ��rbita mais
afastada do n��cleo a fim de acomodar a energia
absorvida.
2. Raios X ��� Processa-se o mesmo fen��meno,
por��m em ��rbitas mais profundas, donde ser
maior a quantidade de energia libertada.
3. Radioatividade ��� �� a liberta����o energ��tica
espont��nea que ocorre em alguns corpos (r��dio,
ur��nio e t��rio, por exemplo). Ainda o processo
�� id��ntico, por��m localizado no n��cleo. Quando
o homem consegue atingir este ��ltimo com uma
1 9 9
part��cula (como o neutr��n) d��-se a desintegra����o
artificial, base da bomba at��mica. Neste caso, a
energia posta em liberdade ultrapassa o conceb��vel:
1 quilo de uranio desintegrado fornece energia
equivalente �� queima de 2 . 0 0 0 . 0 0 0 de quilos de
carv��o! O futuro pr��ximo da humanidade reside
na energia at��mica, quando puder ser utilizada
com facilidade e para fins pac��ficos, o que j��
come��a a ser feito mediante as usinas nucleares,
que mover��o geradores el��tricos com imensa
produ����o de energia el��trica.
Navios e submarinos at��micos j�� singram os
mares, por enquanto na ��rea militar, dado o
elevad��ssimo custo e os perigos envolvidos.
Falamos de v��rias modalidades de energia:
calor, luz, eletricidade e raios X. Conv��m explicar
porque todas elas saem do ��tomo. Se as diferentes
formas de energia n��o fossem da mesma natureza
��ntima (embora nos pare��am t��o discrepantes),
isso n��o poderia acontecer. Por outro lado, a
facilidade com que uma se transforma em outra
est�� a indicar tamb��m a identidade gen��tica
existente entre elas.
Podemos conceber a mat��ria como sendo um
modo de ser oriundo da energia por condensa����o
ou concentra����o e que volta �� forma energ��tica
por desagrega����o ou desintegra����o. Do que
vimos se depreende que os el��trons constitutivos
do ��tomo (mat��ria) podem ser tidos como energia
2 0 0
"materializada"; em certas condi����es facilmente
exeq����veis eles se libertam e, reunidos em feixe,
formam os conhecidos e j�� mencionados raios
cat��dicos: temos aqui energia diretamente
procedente da mat��ria e constitu��da, como v��rias
outras categorias, por part��culas desta. Tais raios
t��m grande poder calor��fico, luminoso, el��trico
e penetrante; d��o nascimento aos raios X quando
se chocam com qualquer mat��ria: seus el��trons,
muito velozes, penetram nas ��rbitas interiores
dos ��tomos atingidos e ocasionam a liberta����o
de energia, que dissemos serem os raios X, ou
de Roentgen. Os raios cat��dicos constituem
como que uma transi����o entre mat��ria e energia,
pois s��o uma forma de energia composta de
part��culas "materiais". Por isso, Crookes chamava-
os de "mat��ria irradiante".
Podemos asseverar, em suma, que a mat��ria
observada em sua ess��ncia �� energia, corroborando
uma afirma����o da F��sica com mais de 50 anos
��� ci��ncia esta que afirma: "a energia �� a entidade
fundamental do universo". Kardec, em 1868 ("A
G��nese), fazia sugest��o deste tipo acerca da
mat��ria: "Ela talvez somente seja compacta em
rela����o aos nossos sentidos". �� poss��vel "desagre-
gando-se, voltar ao estado de eteriza����o... Na
realidade, a solidifica����o da mat��ria n��o �� mais
do que um estado transit��rio do fluido universal,
que pode volver ao seu estado primitivo, quando
2 0 1
deixam de existir as condi����es de coes��o." Fato
cem anos depois comprovado experimentalmente.
Apreciamos que o ��tomo consta de um n��cleo
em torno do qual giram el��trons em diversas
��rbitas (de uma no hidrog��nio at�� muitas nos
demais corpos ditos simples: ouro, ferro, iodo,
e t c ) . A mat��ria acha-se, assim, animada de perp��tuo
movimento, sendo o giro eletr��nico extremamente
r��pido (cerca de 30 Km por segundo). A imobilidade
de uma montanha ou da nossa mesa ��, portanto,
aparente: a mat��ria pesada e inerte, na realidade,
�� sede de atividade intensa. A energia, ao contr��rio,
logo nos d�� exata id��ia do que ��: movimento. Essas
revela����es da Ci��ncia demonstram-nos que tudo
no universo �� atividade. N��o se justifica, pois, a
in��rcia de muitos esp��ritos, filha que �� da ignor��ncia;
temos, quer queiramos, quer n��o, de tomar parte
no concerto universal, buscando o lugar que os
nossos dons indicam atrav��s do esfor��o pessoal
na constru����o do bem.
Voltemos ainda �� constitui����o da mat��ria para
lembrar que, se o ��tomo, ou unidade material,
�� muit��ssimo pequeno, as part��culas (el��trons,
pr��tons e n��utrons) s��o ainda 100.000 vezes
menores do que ele. O que significa isso? Que
a mat��ria ��, por ��ndole, tipicamente vazia. Uma
vez que os componentes s��o tantas vezes menores
do que o conjunto ��� h�� de haver neste ampl��ssimos
espa��os! Pode a mat��ria, por mais pesada e
2 0 2
compacta que nos pare��a, ser comparada a uma
rede ou tela de arame... O que mant��m, ent��o,
as part��culas at��micas em seus lugares se est��o
separadas por vastas lacunas? �� a carga el��trica
que as mesmas conduzem; a elas cabe exercer
0 importante papel de equilibrar o sistema
at��mico. Os el��trons, tendo todos a mesma carga
(negativa), repelem-se entre si; o n��cleo, sendo
positivo, exerce certa atra����o (proporcional ��
dist��ncia) sobre os el��trons negativos. Al��m
desse fator, h��, ainda, o citado movimento
eletr��nico, veloc��ssimo. Ambas as condi����es
conhecem-se h�� v��rios dec��nios. Sem tal
movimento n��o ter��amos nem montanhas nem
mesas e, muito menos, os nossos corpos. Inerte,
a totalidade da mat��ria seria um pouco de p��.
A sensa����o de solidez que os sentidos org��nicos,
bastante limitados, deixam entrever radica na
atividade eletr��nica.
Aprofundemos mais um pouco. Dissemos que
os el��trons quase n��o t��m peso (massa, realmente)
e que talvez n��o passem de energia condensada;
que os pr��tons do n��cleo �� que pesam, isto ��,
s��o "mat��ria". Se ambos s��o 100.000 vezes
menores do que os ��tomos ��� qual o tamanho
real da mesa da cozinha? M��nimo, porque cem
mil vezes menor do que parece... (se ela medir
1 metro e meio, de fato ter�� 0,015 mm!).
2 0 3
Insistamos um pouco mais, porquanto o
entendimento de tais fatos cient��ficos �� fundamental
para a compreens��o da vida, que, a seu turno,
dar-nos-�� uma religi��o clara, meridianamente
luminosa. Vale dizer: a mesma estabelecida por
Kardec, com as luzes ampliadas por um s��culo
de progresso e pela bondade de nossos instrutores
espirituais sob a doce inspira����o de Jesus.
At�� pouco tempo atr��s, os tratados de F��sica
davam a impenetrabilidade como car��ter primordial
da mat��ria; n��o mais hoje, como se infere do
explanado linhas acima. A mat��ria �� energia, o
��tomo, um edif��cio de for��as; �� a velocidade que
forma a massa, confere estabilidade, gera a
coes��o da mesma; ela por si s��, nada ��. Vimos
que o espa��o existente entre o n��cleo e os
el��trons �� enorme em rela����o ao m��nimo volume
do conjunto e de cada part��cula isoladamente
considerada. Da�� concluirmos que a mat��ria s��
�� impenetr��vel �� mat��ria do mesmo tipo, isto ��,
cuja velocidade eletr��nica mostre-se equivalente;
um prego, ao ser cravado na madeira, n��o
perfura os ��tomos, mas cava um canal afastando
as fibras para nele alojar-se. As part��culas carregadas
de eletricidade, por��m, penetram de fato no
��tomo, embora com certa dificuldade em virtude
da repuls��o eletromagn��tica; os n��utrons, sem
carga, atravessam-nos facilmente.
O mesmo se passa com os esp��ritos. A mat��ria
mais ou menos sutil do perisp��rito vara o mais
2 0 4
denso corpo terrestre. De id��ntica maneira,
podem enxergar com quaisquer barreiras
interpostas entre eles e o objeto visado. Vemos
o ectoplasma fazer coisa semelhante; ele ��
mat��ria no sentido de que �� formado de ��tomos,
por��m elaborados por meio de modifica����es na
forma das ��rbitas (ao inv��s de circulares, s��o
turbilhonares; �� interessante que Delanne tenha
ligado o movimento vorticoso dos rolos de
fuma��a ��s propriedades da mat��ria que nos
ocupa). Esta inapreci��vel, por��m profunda
mudan��a no movimento e, tamb��m, no elemento
fundamental (f��sforo, n��o carbono como mat��ria
viva comum) confere-lhe propriedades n��o
conhecidas na mat��ria constitutiva dos seres
animados (veja Ubaldi, "A Grande S��ntese"). Em
c o n e x �� o com isto, o ectoplasma pouco
impressiona o tato e �� vis��o; parece algo muito
sutil mesmo; por outro lado, tem peso. Vemo-
lo escapar do corpo dos m��diuns atrav��s das
cavidades naturais, mas, para a�� chegar, transpassa
diversos tecidos org��nicos.
Vemos, igualmente, o pouco valor do dinheiro;
uma quantidade invis��vel de "mat��ria" iludindo
os nossos sentidos gra��as ao aumento aparente
de volume conferido pelo movimento das part��culas
constituintes. Compreende-se que todos os bens
ou haveres materiais s��o ainda menos valiosos
porque, na realidade, possuem a mesma
205
composi����o. Eles nos s��o entregues durante
certo tempo como meio para progredir espiri-
tualmente e n��o como fim; grave erro �� transformar
o dinheiro, de meio para conseguir coisas, em
finalidade de uma exist��ncia, imobilizando-o
quando ele pr��prio �� movimento em seus
fundamentos.
N. B. ��� Os dados e fen��menos acima exarados
s��o suficientes para uma compreens��o acerca da
constitui����o da mat��ria em primeira aproxima����o,
com vistas ��s necessidades na orienta����o da vida
frente ��s coisas materiais. Conv��m esclarecer,
todavia, que recentemente as ��rbitas fixas de
Bohr foram substitu��das pela no����o menos definida
fisicamente de orbital. Vejamos como, porque
isto ter�� import��ncia na quest��o do livre arb��trio.
Segundo a mec��nica cl��ssica, que trata do
movimento dos corpos vis��veis, enunciada por
Newton h�� mais de dois s��culos, para calcular
o movimento de um corpo �� necess��rio determinar
simultaneamente a posi����o e a velocidade. Veri-
ficou-se que as part��culas at��micas n��o se sujeitam
a semelhante princ��pio. W. Heisenberg (1927)
demonstrou-o matematicamente; a determina����o
exata da posi����o de um corp��sculo impede haja
precis��o na da velocidade e vice-versa. Da��
derivou o chamado princ��pio de incerteza, assim
enunciado por Heisenberg: duas vari��veis que
descrevem uma a����o n��o podem ser conhecidas
com precis��o ao mesmo tempo. Segue-se que
2 0 6
n��o �� poss��vel determinar com exatid��o a posi����o
de um el��tron. Outro f��sico germ��nico, E.
Schrodinger, na mesma ocasi��o e independen-
temente (1926), estabeleceu f��rmulas que permi-
tem calcular as posi����es mais prov��veis do
el��tron, as quais coincidem em geral com as
��rbitas de Bohr (que come��aram a tornar-se
menos significativas como entidades f��sicas).
Ainda nessa ��poca ( 1 9 2 5 ) , L. de Broglie sugeriu
que as part��culas em movimento podem apresentar
propriedades ondulat��rias (como se fossem
acompanhadas por uma onda associada) e calculou
o comprimento de onda ligado ao movimento
de um corp��sculo intra-at��mico. Em seguida,
isto recebeu confirma����o experimental por outros
f��sicos.
Ent��o, o el��tron passou a ser encarado como
um conjunto de ondas que vibram ao redor do
n��cleo. As equa����es de Schrodinger indicam que
os el��trons se disp��em de acordo com n��veis
energ��ticos, n��o cont��nuos, defin��veis como a
regi��o do ��tomo onde ocorre a maior probabilidade
de existir uma carga el��trica negativa. Orbital
vem a ser a regi��o em torno do n��cleo na qual
existe a m��xima probabilidade de encontrar o
el��tron. Posto isto, este n��o estar�� numa ��rbita
delimitada, mas, dentro de uma ��rea relativamente
ampla, num ponto apenas prov��vel. Um orbital
s�� poder�� ter um ou dois el��trons. Podemos
2 0 7
compar��-lo a uma rota de navios, ou seja, um
lugar no oceano onde navios podem ser
encontrados; se n��o h�� navios na rota, s��
veremos o espa��o vazio que n��o se distingue do
resto. Apesar destas novas concep����es, a teoria
de Rutherford & Bohr continua sendo a
fundamental e as elabora����es acima explanadas
dela derivaram como aspectos subsidi��rios; estas
vieram apenas complet��-la em certos pontos
onde ela era insuficiente.
Conclu��mos, do supra exposto, que a solidez
se evaporou e que "a mat��ria se tornou t��o
fant��stica como qualquer coisa que se manifeste
numa s e s s �� o esp��rita". Assim se expressa, muito
a nosso gosto, Bertrand Russel, matem��tico e
f��sico, al��m de "fil��sofo" (embora querendo fazer
gra��a).
208
MAGNETISMO E
CONCEITOS CONEXOS
Os voc��bulos magnetismo e fluido s��o de
ampl��ssimo emprego na linguagem esp��rita.
A todo momento deparamos com eles.
Todavia, parece haver certa imprecis��o em tal
uso, embora estabelecido e dignificado pela
tradi����o. Vejamos alguns paradigmas para suscitar
e equacionar a quest��o, tomando trechos de
autores terrenos e espirituais ao acaso na literatura
pertinente.
"O fluido vital ou, como queirais, o magnetismo
humano, �� forma de energia derivada da energia
universal". Pode curar se for dirigido pela mente
aos pontos desejados. Se a "provis��o de fluidos"
diminuir, o indiv��duo enfraquece-se. Nesta cita����o,
o autor espiritual identifica tr��s entidades: fluido
vital, magnetismo humano e energia universal,
isto ��, considera fluido, magnetismo e energia
como um �� n i c o e m e s m o elemento.
"O passe magn��tico �� dado pelo pr��prio
magnetizador, enquanto o passe esp��rita �� dado
pelo Esp��rito atrav��s do m��dium, embora haja
2 0 9
combina����o de fluidos do m��dium e do Esp��rito".
Aqui, magnetismo e fluido s��o igualmente
identificados. Tamb��m neste lan��o, de outro
esp��rito escrevente: "... existe um fluido invis��vel
para os nossos olhos, que se denomina de for��a
magn��tica". Ainda nos seguintes excertos ocorre
a mesma sinon��mia: "Dr. Mesmer descobriu um
fluido... L�� se estuda e pratica o magnetismo, que
�� o n o m e d o fluido..." E: "Atraiu para si um
tipo de fluido em completa obedi��ncia �� sua
vontade; esse magnetismo dan��a em sua aura e
mistura-se com certa massa leitosa que se
desprendia de seu corpo, circundando novamente
a atmosfera espiritual do Prof. Pantale��o". Em
suma, fluido e magnetismo, no pensamento dos
esp��ritas em geral, s��o tidos como sin��nimos,
sendo usados indiferentemente um pelo outro.
Andr�� Luiz n��o se afasta do rumo acima
consignado. Usa express��es como: "irradia����es
magn��ticas", "passes magn��ticos", "fluido
magn��tico", "recursos flu��dicos", "energia
magn��tica" e "magnetizador espiritual". Mas existe
quem declare que o fluido t e m a �� �� o m a g n �� t i c a ,
distinguindo causa e efeito.
Consultemos, em definitivo, a conceitua����o
de um conhecido especialista kardeciano, W. de
Toledo ( " P a s s e s e C u r a s E s p i r i t u a i s " , Ed.
Pensamento, SP, 1953), cuja obra �� prefaciada
por Emmanuel e S. Valle. Toledo faz notar que
210
todos os corpos naturais, incluindo minerais e
vegetais, possuem em torno de si um halo
flu��dico (ou aura), luminoso e diversamente
colorido �� vis��o de certos videntes, que �� uma
emana����o da mat��ria rarefeita peculiar do
perisp��rito dos seres vivos; de in��cio, mencionamos
este fato ao tratar do efeito Kirlian. Assim, por
exemplo, o ��m�� tamb��m emite aura flu��dica.
Vimos que a m��quina de Kirlian permite obter
fotos coloridas da irradia����o ��urica de plantas e
animais. Divide, com Kardec, os passes em: 1)
magn��ticos, dados "pelo m��dium, fornecendo
somente os seus pr��prios fluidos"; 2) espirituais,
dados "pelos esp��ritos passistas com elementos
do m��dium, dos seus pr��prios fluidos ou de seus
auxiliares e tamb��m de plantas medicinais"; 3)
medi��nicos dados "por incorpora����o do m��dium".
Toledo, portanto, consagra a identifica����o de
magnetismo e fluido.
Conv��m acentuar que semelhante identifica����o
vem de longe e sustenta-se em raz��es hist��ricas.
Franz A. Mesmer descobriu e desenvolveu, no
curso do s��culo 18, a for��a operante nas curas
promovidas pela imposi����o das m��os,
denominando-a " m a g n e t i s m o a n i m a l " e
declarando que se desprende das m��os um
fluido dotado do poder de curar. Sob o nome
de m a g n e t i s m o (ou magnetismo curativo), essa
pr��tica terap��utica progrediu enormemente depois
211
de Mesmer, antecipando-se ao Espiritismo, q u e
a englobou como um dos aspectos da a����o do
espirito humano e a ultrapassou de muito. O
mesmerismo ��, de fato, um dos v��rios grupos
de fen��menos que a doutrina esp��rita explica e
ensina a empregar de maneira mais produtiva em
benef��cio do atarantado ser humano. Kardec e
Delanne parecem distinguir as duas coisas. O
primeiro chama a a����o magn��tica produzida
"pelo pr��prio fluido do magnetizador" de
"magnetismo propriamente dito ou magnetismo
humano" ( " A G �� n e s e " ) ; o segundo diz: "os fatos
do sonambulismo provocado pelas pr��ticas
magn��ticas s��o devidos �� a����o do fluido nervoso
do magnetizador, dirigido por sua vontade..."
M a g n e t i s m o
O magnetismo n��o �� uma forma de energia, na
acep����o usual desta palavra. �� uma condi����o
especial gerada no espa��o que circunda o ��m�� ou
a corrente el��trica, traduzindo-se por diversos
efeitos caracter��sticos, entre os quais o de atrair
certos metais, como o ferro, o cobalto e o n��quel,
e a magnetita (um mineral composto de oxig��nio
e ferro). As subst��ncias atra��das s��o chamadas
c o r p o s m a g n �� t i c o s ou ferromagn��ticos. Ele n��o
pode ser conduzido, como a eletricidade e o calor,
por exemplo, mas �� poss��vel transmitir a
212
propriedade de um corpo magn��tico para outro:
�� a imanta����o ou magnetiza����o; assim, se um
peda��o de ferro ou a��o for friccionado v��rias vezes
com um ��m��, tornar-se-�� um ��m�� tamb��m (ou seja,
adquirir�� propriedades magn��ticas).
Im�� ou magneto �� um corpo que goza da
propriedade de atrair as subst��ncias magn��ticas.
A magnetita �� um ��m�� natural, pois se trata de
rocha, ou melhor, min��rio de ferro; os demais
s��o artificiais. Quebrado em mil peda��os que seja
um ��m��, cada um deles funcionar�� sempre como
um magneto completo, o que demonstra que o
magnetismo n��o depende de nenhuma parte
especial. D��-se o nome de c a m p o m a g n �� t i c o
ao espa��o situado em torno do ��m��, no qual se
verifica a a����o atrativa.
Esse magnetismo, pr��prio dc corpos inorg��nicos,
denomina-se m i n e r a l ou ferromagnetismo. O
globo terrestre atua como um grande ��m�� e da��
deriva o geomagnetismo. Sabemos que a agulha
da b��ssola, que �� um magneto, orienta-se segundo
os p��los geogr��ficos, norte e sul, da Terra.
Um fio percorrido por uma corrente el��trica
produz, em torno, um t��pico campo magn��tico,
cujas propriedades s��o as mesmas do anterior.
�� o eletromagnetismo. O solen��ide �� um
aparelho simples que consiste de um fio enrolado
em h��lice, cujas voltas ficam separadas umas das
outras, e cuja extremidade final regressa ao
213
ponto de partida pelo centro do cilindro. Quando
se liga a corrente, o espa��o confinado em cada
espira passa a ser um campo magn��tico, mas este
�� anulado, sucessivamente, pela espira
subseq��ente, de modo que s�� h�� a����o magn��tica
na ��ltima volta de cada extremidade. Assim,
como nos ��m��s, temos dois p��los, norte e sul.
O solen��ide ��� simples fio el��trico enrolado de
certa maneira ��� atua como um verdadeiro magneto
quando atravessado pela eletricidade; atrai e
repele os ��m��s conforme o p��lo aproximado;
uma barra de ferro colocada no seu interior
passa logo a funcionar como ��m�� enquanto a
corrente circula, e t c .
A magnetita �� o ��m�� natural; ela imanta o
ferro, a��o, n��quel, etc., e gera outros ��m��s; a
corrente el��trica, nos solen��ides, origina os
eletro-��m��s. Tudo �� a mesma coisa, diferindo
somente o processo de obten����o.
O que j�� h�� bastante tempo a F��sica demonstrou
�� que o magnetismo �� uma propriedade ou condi����o
do espa��o existente em torno dos ��m��s, naturais
(magnetita) ou artificiais (ferro, a��o, etc.), como
vimos acima, e da c o r r e n t e el��trica, tal se acha
dito pouco atr��s. Nesse espa��o, os chamados
corpos magn��ticos t��m um comportamento que
os demais n��o exibem com evid��ncia: s��o atra��dos.
Verificou-se recentemente, no entanto, que todas
as subst��ncias possuem propriedades magn��ticas,
apenas pouco ou nada aparentes.
2 1 4
Sabemos que a corrente el��trica �� constitu��da
de cargas el��tricas em movimento. J�� em 1 8 2 0 ,
o c��lebre f��sico Amp��re sugerira que os fen��menos
magn��ticos se devem a a����es entre correntes
el��tricas. As pesquisas modernas confirmaram tal
ponto de vista. Tem-se como certo que o
magnetismo se origina da a����o de for��as entre
cargas em movimento, isto ��, as cargas el��tricas
que se deslocam exercem, umas sobre as outras,
for��as magn��ticas. Uma carga el��trica em
movimento (solen��ide) gera, no espa��o circundante
um campo magn��tico; por sua vez, o deslocamento
de um ��m�� pode produzir eletricidade. Ficam,
assim, patentes as estreitas r e l a �� �� e s d e o r i g e m
entre a eletricidade (energia) e o magnetismo
(modifica����o da natureza do espa��o em torno
dos corpos).
Os corpos ferromagn��ticos e os eletrizados
apresentam campos magn��ticos potentes, de
a����o vis��vel ��� mas qualquer esp��cie de mat��ria
revela a mesma propriedade ainda que
inaparentemente. E a teoria, que acentua a
constitui����o el��trica da mat��ria, permite
compreender logo por qu��.
Todos os corpos existentes na Terra comp��em-
se de ��tomos, os quais encerram sempre pr��tons,
n��utrons e el��trons, os dois primeiros formando
os n��cleos. Sabemos que os el��trons, al��m do
movimento de rota����o sobre o pr��prio eixo,
215
giram velocissimamente ao redor dos n��cleos,
dispondo-se em camadas conc��ntricas; e s t a m o s
ainda certos de que se acham carregados de
eletricidade negativa. Os el��trons, por
conseq����ncia, s��o cargas el��tricas em movimento,
conforme e x p o s i �� �� o feita anteriormente.
Aprendemos, ao demais, que toda carga el��trica
em movimento gera um campo magn��tico em
torno. Conseq��entemente, c a d a �� t o m o ��� com
seus e l �� t r o n s eletrizados e m��veis ��� representa
pequenino eletro-��m�� com um campo m a g n �� t i c o
min��sculo. A mat��ria, constitu��da de mir��ades de
��tomos, ��, portanto, uma reuni��o de minut��ssimos
campos magn��ticos. Em estado normal, as
correntes eletr��nicas da mat��ria anulam
mutuamente os efeitos magn��ticos e ela parece
inerte perante um ��m�� ou um solen��ide. A prova
de que o magnetismo �� uma propriedade da
m a t �� r i a e m g e r a l encontramos nas ligas de
Heusler e outras. Estas s��o misturas de diversos
elementos met��licos n��o-magn��ticos ��� mas que,
reunidos em um corpo em p r o p o r �� �� e s
determinadas, adquirem aquela caracter��stica e
passam a ser movidos pelos magnetos, podendo
ser imantados e tornar-se genu��nos ��m��s.
Se insistimos ��� e com isso enfeiamos a
exposi����o, dando mais valor �� ess��ncia do que
�� forma, ao esp��rito do que �� letra ��� �� que se
faz absolutamente necess��rio acentuar que a
216
Ci��ncia atual dominou perfeitamente estes dois
conhecimentos fundamentais �� compreens��o dos
aspectos espirituais do magnetismo:
1. Que o magnetismo �� uma condi����o espacial
oriunda da proximidade da energia em movimento.
2. Que toda e qualquer classe de mat��ria
possui propriedades magn��ticas, pois estas residem
no pr��prio ��tomo.
De semelhantes conclus��es deriva uma terceira,
verdadeiro corol��rio:
3. O corpo humano, composto de ��tomos e
encerrando energia, e o perisp��rito, irradiando
os fluidos, constituem c a m p o s m a g n �� t i c o s ,
evidentemente. Significativamente, dizia Kardec,
guiado pelo seu profundo discernimento, que o
perisp��rito participa, ao mesmo tempo, da
eletricidade e da mat��ria.
Podemos, desde logo, adiantar que o chamado
"magnetismo animal" (ou mesmerismo) �� um
conceito inadequado, embora razo��vel outrora;
aquela denomina����o aplica-se a uma transfus��o de
energia de um homem para outro e, notou-o o
arguto Crookes, nada tem a ver com o magnetismo,
compreende-se agora. Mas, acabamos de afirmar
que o corpo humano �� um campo magn��tico e,
conseq��entemente, urge distinguir as duas
propriedades. O magnetismo animal, no sentido
usual, consiste na transfer��ncia de fluidos humanos
��� tanto que os son��mbulos clarividentes v��em as
2 1 7
radia����es escapando das m��os do "magnetizador";
tal express��o deve ser substitu��da por transfus��o
ou infus��o energ��tica, flu��dica, passe, ou melhor,
m e s m e r i s m o . O verdadeiro magnetismo animal,
que chamaremos de b i o m a g n e t i s m o , �� uma
condi����o da aura (irradia����o perispir��tica para
fora dos limites do corpo), gerada pela proximidade
de um corpo carregado de energia e de fluidos,
an��logo ao magnetismo mineral. O outro �� forma
de energia, �� fluido oriundo do perisp��rito.
Se o magnetizador despende energia e se o
magnetismo �� uma modifica����o do espa��o
compreendido nas imedia����es de um circuito
el��trico ��� ent��o n��o h�� analogia entre o magnetismo
animal (forma de energia) e o magnetismo mineral
ou comum. Simples quest��o de palavras que
conv��m repor nos seus devidos lugares.
F l u i d o s
�� mister fixar o que deve entender-se por
semelhante voc��bulo no sentido esp��rita, a fim de
clarear o importante assunto; lembremos que, na
linguagem usual, fluido �� a designa����o gen��rica de
qualquer l��quido ou g��s. Para tanto, vamos buscar
novamente apoio na F��sica, verificando os efeitos
da descarga el��trica no interior dos gases rarefeitos.
Quando aproximamos as pontas de dois fios,
vemos saltar entre elas a centelha ou fa��sca
2 1 8
el��trica. �� acidente vulgar nos lares. Se fizermos
isso mesmo dentro de um frasco de vidro
hermeticamente fechado e no qual o ar �� cada
vez mais rarefeito, observaremos variados
fen��menos luminosos. Tais frascos recebem dois
fios el��tricos, negativo e positivo, um de cada
lado. �� medida que o ar for extra��do, com aux��lio
da m��quina pneum��tica, a centelha muda de
aspecto e torna-se mais brilhante; se levarmos o
v��cuo at�� o extremo poss��vel, desaparece toda
luminosidade, pois a descarga el��trica n��o se
processa em tal condi����o, mas surgem os raios
cat��dicos (feixes de el��trons livres, que apenas
geram uma luz esverdeada na parede de vidro
sobre a qual incidem). O frasco utilizado na
experi��ncia chamou-se de a m p o l a d e C r o o k e s ,
seu descobridor, e hoje constitui o tubo de
imagem da televis��o e a ampola dos aparelhos
de raios X. O que desejamos ressaltar �� a
mudan��a das propriedades da mat��ria (ar) segundo
o grau de rarefa����o ou sutiliza����o e em contacto
com uma forma dc energia.
Damos o nome de f l u i d o aos "estados da
mat��ria em que ela �� mais rarefeita do que no
estado conhecido sob o nome de g��s" (Delanne).
Segue-se da�� que a mat��ria que promana do
perisp��rito, submetida �� vontade, �� um fluido.
Nota-se haver grande analogia com a mat��ria
rarefeita, permitindo mentalizar a a����o flu��dica.
219
Os fluidos s��o mat��ria de constitui����o diferente
da nossa, participando, em elevado grau, da
natureza energ��tica; assim, s��o como radia����es,
orientadas pela vontade. A mat��ria, passando do
estado s��lido ao l��quido e deste ao gasoso, perde
grande n��mero de suas propriedades sens��veis, a
ponto de tornar-se amorfa, invis��vel, e t c . Do
estado gasoso ao rarefeito, muda o comportamento
frente �� eletricidade, fato indicativo de que o grau
de agrega����o �� importante. Os fluidos s��o uma
condi����o mais avan��ada, correspondendo
verdadeiramente ao quarto estado da mat��ria ou
estado radiante (verificado nos citados tubos de
Crookes), formado pelo fluido universal ou mat��ria
c��smica primitiva, origem de todos os corpos.
Tal analogia n��o �� aparente, for��ada. O princ��pio
de unidade constitucional da mat��ria e da energia,
de que j�� tratamos antes, revela que existe uma
primitiva mat��ria dando origem ��s demais por
evolu����o, isto ��, progressiva complica����o das
��rbitas eletr��nicas; e que mat��ria e energia
guardam rec��procas rela����es de origem (veja
"Evolu����o F��sica e Qu��mica"). Isto �� fundamental.
Com efeito, todos os ��tomos (92 esp��cies naturais)
t��m a mesma composi����o ��ntima, formados que
s��o sempre das mesmas part��culas elementares;
a mat��ria gera a energia e vice-versa.
Os fluidos, portanto, no fundo, t��m a m e s m a
constitui����o que a mat��ria e a energia, variando
220
a disposi����o, forma e quantidade da subst��ncia
fundamental e vibrando noutra freq����ncia, donde,
no futuro, virem a ser individualizados pelo s e u
comprimento de onda, sem d��vida. �� substancia
de Haeckel, ao elemento primitivo dos cientistas,
ao prot��lio de Crookes, etc., os esp��ritos chamaram
d e f l u i d o u n i v e r s a l , m a t �� r i a c �� s m i c a
p r i m i t i v a , etc..
De I96O em diante, a existencia dos fluidos
tornou-se materialmente manifesta, sobretudo
ap��s o intenso labor experimental levado a cabo
na R��ssia e na Tchecoslov��quia ��� embora desde
h�� muito eles tivessem sido apontados e descritos
por alguns pesquisadores e numerosos videntes.
Agora, prova-se sua existencia cientificamente,
seja mediante a citada fotografia kirliana, seja
atrav��s dos efeitos que determinam. Confirmam-
se as antigas descobertas de Mesmer sobre o
magnetismo animal e de Reichenbach sobre a
for��a ��dica ��� numa palavra: acerca dos fluidos
ou emana����es energ��ticas do corpo espiritual.
Em 1920, o engenheiro G. Lakhovsky afirmava
que "todos os seres vivos emitem radia����es" e que
as c��lulas s��o algo c o m o "radiadores
eletromagn��ticos", capazes de emitir e receber
ondas de alta freq����ncia vibrat��ria. O Prof. Otto
Rhan, bactereologista da Universidade de Cornell,
publicou um livro intitulado "A R a d i a �� �� o I n v i s �� v e l
d o s O r g a n i s m o s " . Por volta de 1930, o Prof. A.
2 2 1
G. Gurvitch, fisi��logo russo, tornou-se conhecido
pelo que chamou de " r a d i a �� �� o m i t o g e n �� t i c a " .
Dizia: "todas as c��lulas vivas produzem uma
radia����o invis��vel". A experi��ncia fundamental de
Gurvitch consistiu em tomar uma raiz nova de
cebola, coloc��-la dentro de um tubo de vidro e
apont��-la para um ponto de outra raiz, tamb��m
situada no interior de um tubo de vidro. Tr��s horas
depois, ao microsc��pio, contou o n��mero de
c��lulas da ��rea exposta �� ponta de raiz e verificou
haver a�� 25% a mais de c��lulas do que no restante:
logo, alguma coisa deslocou-se de uma raiz para
a outra e estimulou a divis��o celular ��� donde a
express��o "raios mitogen��ticos". A levedura, assim
tratada, revelou uma brota����o 30% ampliada em
suas c��lulas. A raiz irradia alguma sorte de energia
que influencia os tecidos vivos, o que se observou
suceder igualmente com tecidos animais (sangue,
m��sculos, olhos, e t c ) .
"Os seres humanos e todos os seres vivos
est��o cheios de uma esp��cie de energia at��
recentemente desconhecida da ci��ncia ocidental",
esclarecem Ostrander & Schroeder (1974). A
semelhante bioenergia os cientistas tchecos
denominam " e n e r g i a p s i c o t r �� n i c a " , que, afinal,
vem corresponder ao velho p r a n a dos hindus,
f o r �� a �� d i c a de Reichenbach, m a g n e t i s m o
a n i m a l de Mcsmcr e, naturalmente, ao modesto
fluido dos esp��ritas. Os cientistas sovi��ticos, que
2 2 2
em n��mero apreci��vel atacam experimentalmente
o seu conhecimento, designam-na mediante a
express��o " e n e r g i a b i o p l a s m �� t i c a " , tendo-a
como emana����o do que classificam de corpo
bioplasm��tico (ou perisp��rito, para n��s). A
express��o "energia vital" �� inadequada para ela.
Dizem Tompkins & Bird (1974): "Posto que
os trabalhos de Gurvitch, Rhan, Crile e os
proponentes da eletrocultura sustentavam
unanimemente as convic����es anteriores de Galvani
e Mesmer, de que todas as coisas vivas possuem
propriedades el��tricas ou magn��ticas, era estranho
ningu��m tivesse ainda sugerido que tamb��m ��
v o l t a d e l e s houvesse os mesmos campos
eletromagn��ticos j�� aceitos pelo mundo da F��sica.
Pois tal foi, exatamente, a audaciosa teoria
proposta por dois professores da Universidade
de Yale, um deles fil��sofo, F. S. C. Northrop,
e o outro, como Galvani, m��dico e anatomista,
H. Saxton Burr". De fato, as concep����es de
Mesmer e do supracitado Lakhovsky, a respeito
do biomagnetismo, revitalizam-se por meio dessa
doutrina, que considera a exist��ncia de um
campo magn��tico em torno dos seres vivos.
Avancemos um pouco mais, j�� agora no campo
espiritual. Referindo-se a fin��ssimas fibras do
perisp��rito, intensamente luminosas, as quais
funcionam como modelos da forma f��sica, Y.
Pereira ( " R e c o r d a �� �� e s d a M e d i u n i d a d e " )
2 2 3
compara-as a "baterias, acumuladores de vida
intensa". Declara-as sede de "energias vibrat��rias
incalculavelmente ricas", esclarecendo que essa
vida "�� constitu��da pelas v��rias modifica����es do
magnetismo ultra-sens��vel e da eletricidade..." e
que "cada uma de tais baterias, ou ��rg��os, armazena
uma f o r �� a e l e t r o m a g n �� t i c a de grau ou
sensibilidade diferente, ativando as fun����es do
corpo humano" e acionando os diversos ��rg��os
do corpo carnal. Vemos, nesse lan��o que
descobrimos j�� pronto o precedente, que a energia
eletromagn��tica se situa no ��mago do organismo
espiritual, na sua pr��pria ess��ncia, e que responde
pelo funcionamento da r��plica f��sica. Segundo as
esclarecedoras observa����es dessa competente
m��dium e instrutora, a emana����o flu��dica (que
gera um campo magn��tico correspondente) promana
do ��ntimo do perisp��rito, da sua natureza mesmo.
O supra-exposto explica porque o pensamento
humano revela possuir influ��ncia sobre o cresci-
mento vegetal, fato que se tem demonstrado por
diversas experi��ncias convincentes. G. de la
Warr e esposa provaram que as plantas em
crescimento se mostram sens��veis ao estado de
esp��rito dos seus cultivadores; dizem que para
estimular o crescimento delas, basta aben��o��-las,
projetando energia mental sobre elas. O Reverendo
F. Loeher, em trabalhos bem conhecidos, no seu
livro "O Poder da Prece s o b r e as Plantas",
2 2 4
demonstra que h�� 20% de acelera����o do
crescimento pela aplica����o de for��as mentais;
fez 150 pessoas orarem sobre 27.000 sementes
obtendo not��vel incremento, o que v��rios outros
investigadores confirmaram. A influencia����o da
divis��o e do crescimento celulares pela mente
humana decorre das respostas do corpo flu��dico
dos vegetais �� nossa energia ps��quica ou fluidos.
Que se trata de fluidos e n��o da vontade,
sentimentos e emo����es (que a seu turno agem
sobre aqueles), prova-se pelas experi��ncias de
Bernard Grad, psiquiatra da Universidade Mcgill,
de Montreal (Canad��). Mediante ��gua fluidificada,
obtida pelo contacto de certas pessoas com
garrafas cheias, Grad verificou acentua����o da
germina����o e do crescimento; bastava aplicar tal
��gua ��s sementes para que elas crescessem
melhor do que as que recebiam ��gua comum,
sem influ��ncia humana. Mais importante ainda:
se doentes mentais segurassem as garrafas, a
��gua gerava efeito retardador sobre o crescimento
vegetal. A prop��sito, a decantada influ��ncia
tranq��ilizante de S��o Francisco de Assis sobre as
aves e o famoso lobo de G��bio, sempre encarada
como lenda, assume, diante dos fatos assinalados,
nova fei����o no que respeita �� veracidade. ��
poss��vel que um esp��rito t��o elevado emitisse
fluidos que, conformados pelo seu sublime amor,
fossem capazes de acalmar e atrair seres inferiores;
225
se as plantas respondem conforme vimos acima,
por que os animais seriam insens��veis se tamb��m
levam um corpo flu��dico e denotam as mesmas
caracter��sticas vitais b��sicas? E o que pensar da
figueira que Jesus fez secar por for��a do seu
pensamento? Ao ordenar-lhe tal, Ele lan��ou sobre
ela poderoso jato de fluidos desfavor��veis*;
consoante apreciamos anteriormente, nada mais
l��gico tenha a ��rvore obedecido ��� pois, a ��gua
tratada por fluidos de um psic��tico n��o entrava
o crescimento vegetal? �� medida que o intelecto
avan��a em conhecimentos, cada vez mais tudo
parece encadear-se na Obra Divina...
E refor��ados assim por meio das recentes
informa����es cient��ficas, acima exaradas, podemos
prosseguir em a nossa exposi����o sobre magne-
tismo, fluidos e energia eletromagn��tica, sob um
ponto de vista te��rico unit��rio.
O que se considera classicamente como magne-
tismo animal ou mesmerismo �� a transmiss��o
flu��dica de um homem (magnetizador) para outro,
com a finalidade de restabelecer o equil��brio
* Nota da Editora: ��� V��lida em si mesma a exemplifica����o,
dentro dos prop��sitos do assunto desenvolvido. Fluidos
desfavor��veis dariam esse efeito. �� prudente acrescentar,
todavia, sem preju��zo da cita����o acima, que em "0
Evangelho segundo o Espiritismo", referindo-se
especificamente ao poder da f��, Kardec, inspirado pelos
seus mentores, coloca o assunto como par��bola ��� "par��bola
da figueira que secou".
2 2 6
org��nico ou produzir sono magn��tico (sonam-
bulismo provocado). Visto ser apenas uma categoria
de fisioterapia, como a radioterapia, diatermia,
etc., por serem os fluidos mera forma mat��rio-
energ��tica ��� vamos p��r de lado a palavra
magnetismo em tais casos. Transmiss��o ou
transfus��o flu��dica ser�� prefer��vel, mas usaremos
m e s m e r i s m o , curto e bem conhecido, e o
honesto p a s s e cl��ssico no Espiritismo.
O biomagnetismo, ou genu��no magnetismo
animal, corresponde ao conceito f��sico anterior-
mente exposto e mostra-se muito mais importante
teoricamente do que a transfus��o de fluidos, de
grande valor pr��tico. Percebemos a�� mais uma
confirma����o do encadeamento das coisas na
Cria����o Divina: as emana����es dos seres vivos e
a condi����o do espa��o que os circunda s��o
exatamente iguais ��s dos corpos inanimados.
Foi amplamente demonstrado desde s��culos
que o esp��rito ��� encarnado ou desencarnado ���
irradia, em torno de si, uma atmosfera flu��dica;
�� a a u r a " , j�� citada; sendo constitu��da de
mat��ria radiante, determina propriedades seme-
lhantes ��s do magnetismo. Diremos, �� vista disso,
que o esp��rito, em quaisquer condi����es, representa
um campo magn��tico. O apontado princ��pio de
unidade completa-se assim: o i m �� (mat��ria), a
e l e t r i c i d a d e (energia) e os f l u i d o s (mat��ria-
energia ou mat��ria radiante) geram modifica����o
2 2 7
especial no espa��o existente �� sua volta ��� cujas
manifesta����es denominam-se "fen��menos
magn��ticos". Naturalmente, n��o se vai pensar
que o biomagnetismo desvia a agulha imantada,
como o faz o ferromagnetismo e o eletro-
magnetismo; ele se exerce sobre os elementos
de natureza espiritual, do mesmo modo que as
duas outras modalidades dizem respeito a objetos
de ��ndole material e energ��tica.
Transpondo essas no����es para o terreno con-
creto, diremos, primeiro, que a atra����o espiritual
depende do magnetismo; os esp��ritos aproximam-
se em raz��o das caracter��sticas magn��ticas da
aura. �� freq��ente que um esp��rito inconsciente
do seu estado, e por isso com a vontade
desorientada, adira �� aura de uma pessoa ���
principalmente se esta for m��dium pouco
"Nota da Editora: O autor denomina aqui como sendo
"AURA" uma atmosfera flu��dica que o esp��rito encarnado
ou desencarnado irradia; e a isso se refere j�� no cap. 4��
de "Evolu����o para o Terceiro Mil��nio" ��� item 4).
Jo��o Teixeira de Paula ("Dicion��rio de Parapsicologia,
Metaps��quica e Espiritismo") entende de forma diferente,
declara que aura �� emana����o flu��dica do corpo humano
e dos demais corpos org��nicos e inorg��nicos, ainda que
anote para o perisp��rito o termo "aura n��urica". De alguma
forma, deve o autor ter-se referido ��queles que conservam
caracter��sticas muito terreais, salvo melhor ju��zo. Para
diversos estudiosos, trata-se de aspecto bio-energ��tico,
quase se diria algo fisiol��gico. Fica o registro.
228
desenvolvido; �� fen��meno pura e mecanicamente
magn��tico, porquanto a atra����o, de ambas as
partes, independe das vontades. Tudo se passa
tal qual um im�� atraindo um peda��o de ferro,
grosseiramente comparando. �� bem sabido que
a mat��ria perispir��tica �� sens��vel ao estado moral
do ser e, da��, em ��ltima an��lise, o biomagnetismo
depender da eleva����o moral, no que concerne
�� apura����o; como sucede com os magnetos, que
n��o atuam sobre qualquer corpo, a atra����o da
aura n��o se exerce cegamente sobre qualquer
esp��rito ��� sen��o que, nos imperfeitos, acha-se
na depend��ncia da condi����o ��tica e, nos
superiormente evolvidos, da vontade. Isto ficar��
mais claro na continua����o.
A encarna����o depende fundamentalmente do
biomagnetismo. Para come��ar, se o esp��rito
recusar a recorporifica����o, poder�� ser compelido
a tanto sem que lhe toquem: bastar�� o potencial
magn��tico de um superior, posto em a����o pela
vontade, caso em que ele ser�� levado sem saber
como e sem nada ver do processo em si. O
embri��o, desde cedo, atrai o esp��rito em causa
e ambos se ligam por um cord��o flu��dico, que
�� uma extens��o do perisp��rito; a for��a atrativa
cresce progressivamente com o aumento do feto
��� n��o se levando em conta o magnetismo
materno, tamb��m atuante. Compreende-se que
cada vez mais se aproxime e fique perturbado
o espirito encarnante.
229
Na morte, enfraquecendo-se e degenerando os
��rg��os, diminui a energia vital e, conseq��en-
temente, perde pot��ncia o campo magn��tico,
pelo que o esp��rito progressivamente se liberta
do corpo ��� que o deixa, aos poucos, de atrair.
Isto explica dois fatos da maior import��ncia para
o ser humano:
1. Que o corpo f��sico n��o morre em virtude
da sa��da do esp��rito, mas este �� que escapa com
o falecimento daquele (Kardec), dependendo
este do esgotamento da energia vital ��� o
sustent��culo da mat��ria.
2. Que a morte lenta, com agonia, desagrad��vel
para os assistentes, �� favor��vel ao esp��rito, que
n��o sofre (A. J. Davis), a n��o ser moralmente em
propor����o ��s suas culpas e ao apego �� carne,
e livra-se sem grandes abalos*. Tal no����o �� f��cil
de deduzir das informa����es preciosas de Andr��
Luiz. O trespasse s��bito �� em extremo penoso
porque o ser se perturba, sofre (Emmanuel) e
n��o se liberta sen��o depois de conseguir superar
a atra����o magn��tica ainda ativa ��� o que toma
tempo bastante vari��vel, segundo o grau de
* Nota da Editora: ��� 0 autor se refere ao fato belamente
descrito em min��cias por Andrew Jackson Davis e pode
ser encontrado mais facilmente na obra "Magnetismo
Espiritual", de Michaelus, edi����o FEB, a p��ginas 281 e
seguintes.
230
apego �� mat��ria: quanto mais elevado o esp��rito,
tanto menos sujeito ao magnetismo org��nico.
Delanne compara a a����o do corpo espiritual
�� de um campo magn��tico ou el��trico e assevera
que o perisp��rito representa o papel de um
el��tro-��m�� dotado de p��los m��ltiplos, ao inv��s
de dois, conforme se d�� com os ��m��s materiais
que estudamos anteriormente. Por a�� fica patente
que a exposi����o precedente �� mero desenvol-
vimento, permitido pelo gigantesco progresso
cient��fico moderno, de uma id��ia que vem
evoluindo aos poucos e que podemos agora
considerar como definitivamente integrada na
evid��ncia experimental.
M o d o d e a �� �� o d o s r e m �� d i o s
Se abrirmos um tratado de Terap��utica ou de
Farmacologia, com o fito de nos cientificarmos
sobre o modo de a����o dos medicamentos, em
rela����o ��s mol��stias, veremos que a maioria ignora
a quest��o e que alguns declaram n��o haver explica����o
do mecanismo ��ntimo. �� que os cientistas acham-
se muito ocupados na pesca de fatos, na an��lise
dos fen��menos. Uma importante aplica����o do
princ��pio de unidade e da estrutura el��trica da
mat��ria, essas fertil��ssimas revela����es f��sicas, temos
a��. Vamos examinar, primeiro, se uma s��rie de
efeitos id��nticos admitem causas semelhantes e,
2 3 1
depois, se �� poss��vel reduzir estas ��ltimas a um
princ��pio geral, assentado solidamente sobre aqueles
dois conhecimentos modernos da F��sica.
Estamos cientes de que os raios X se originam
da colis��o de um feixe de el��trons (ou raios
cat��dicos) com qualquer esp��cie de mat��ria (em
geral, uma placa met��lica). Desse choque resultam
vibra����es eletromagn��ticas oriundas da mat��ria
e destitu��das de todo suporte f��sico: s��o as
radia����es de Roentgen. Tais vibra����es existem,
pelo menos em potencial, na mat��ria e libertam-
se mediante a a����o de el��trons (no caso dos raios
X) ou durante a desintegra����o at��mica (raios
gama), de modo espont��neo. Repisemos: raios
X (provocados) e raios gama (espont��neos) s��o
vibra����es (ou ondas) eletromagn��ticas, da mesma
natureza, apenas diferentes quanto ao comprimento
de onda (mais curto nos segundos) e freq����ncia
vibrat��ria (menor nos primeiros).
Agora, estudemos a a����o, sobre a pele humana,
de algumas radia����es e de certos produtos
qu��micos (entre os quais se incluem os rem��dios).
R a d i a �� �� e s ��� Os raios X, quando aplicados em
excesso na c��tis, determinam a chamada
r a d i o d e r m i t e ; c o m e �� a com eritema
(avermelhamento), em seguida bolhas (ves��culas
e flictenas), finalmente mortifica����o dos tecidos
(necrose); produzem tamb��m pigmenta����o. Os
raios gama, que escapam continuamente do
2 3 2
metal r��dio, em nada se apartam desse esquema.
Por isso, ambos s��o empregados na destrui����o
de tecidos tumorais, benignos e malignos. A luz
solar (cujos efeitos s��o devidos aos raios
ultravioletas, de natureza id��ntica aos raios X ) ,
nas mesmas condi����es, d�� origem �� a c t i n o d e r m i t e
ou queimadura solar, com fen��menos iguais aos
anteriores. As queimaduras, tanto originadas pelo
calor quanto por radia����es calor��ficas, filiam-se
igualmente a tal grupo de les��es. De um modo
geral, temos, num primeiro grau, vermelhid��o;
depois, bolhas; por fim, ulcera����es com perda
de tecidos; conseq����ncias comuns s��o o excesso
de pigmenta����o e a descama����o epid��rmica.
Isto posto, �� evidente que diversas radia����es
eletromagn��ticas deixam os mesmos sinais na
pele humana.
P r o d u t o s q u �� m i c o s ��� Numerosas drogas
exercem semelhante a����o. S��o os chamados
r e v u l s i v o s ou v e s i c a t �� r i o s . Se aplicarmos, por
exemplo, ess��ncia de mostarda sobre qualquer
parte do corpo, veremos surgir tremenda irrita����o,
extremamente dolorosa (n��o o s��o menos as
precedentes), acompanhada de eritema, bolhas
e chegando �� necrose; e n��o falta a pigmenta����o,
mais tarde. Plantas como a favela e a urtiga
conduzem p��los glandulosos, cujo l��quido,
fortemente urente, determina a forma����o de
eritema papuloso; o l��tex de n��o poucas esp��cies
vegetais �� c��ustico e acarreta destrui����o tissular.
2 3 3
Essa identidade funcional entre a energia e a
mat��ria �� demonstrativa. No exemplo escolhido,
compostos qu��micos agem da mesma maneira
que as vibra����es eletromagn��ticas, pelo que
podemos supor tenham a l g o e m c o m u m
respons��vel por t��o parecidos efeitos. Visto que
a mat��ria encerra energia eletromagn��tica ���
espontaneamente libertada sob a forma de raios
gama ��� esta dever�� ser a for��a atuante em ambos
os casos.
Atingimos, posto isto, a conclus��o de que a
F��sica moderna, esse monumento da intelig��ncia
encarnada, d�� raz��o ao conhecido qu��mico A.
Gautier, do s��culo passado, e mais precisamente
a Andr�� Luiz, quando este afirma categoricamente:
"Todo rem��dio est�� saturado de energias
eletromagn��ticas em seu raio de a����o".
Pelo princ��pio de unidade, sabemos que todos
os medicamentos apresentam a mesma composi����o
��ntima (part��culas subat��micas); a a����o sobre o
organismo n��o pode, pois, depender da mat��ria
em si, restando a energia conservada nos ��tomos
sob forma el��trica e o magnetismo dela decorrente.
O potencial eletromagn��tico, naturalmente, varia
de droga para droga, consoante o n��mero das
v��rias part��culas, o arranjo das mesmas, o estado
de agrega����o, as diferentes combina����es poss��veis,
a concentra����o, e t c . Para ilustrar isso claramente,
basta tomarmos o oxig��nio e a ��gua; aquele ��
2 3 4
um g��s vital que respiramos, mas se levar mais
um ��tomo por mol��cula passa a ser o oz��nio,
g��s impr��prio �� vida; a ��gua ��-nos essencial,
por��m, se incluir outro ��tomo de oxig��nio
transforma-se em ��gua oxigenada, l��quido corrosivo.
Vejam isto para refor��ar: o g��s carb��nico
�� inofensivo produto da respira����o de todos os
seres vivos; se, contudo, lhe retirarmos um
��tomo de oxig��nio, passa a ser mon��xido de
carbono (CO), g��s extremamente venenoso que
se desprende dos motores a explos��o e causador
de acidentes letais por ser incolor e inodoro. As
subst��ncias s��o sempre as mesmas; contudo
variam enormemente as propriedades com
pequenas altera����es quantitativas. Al��m disso, a
a����o sobre o organismo �� vari��vel consoante
uma multid��o de fatores, a come��ar pela natureza
individual, donde dizer-se que n��o h�� propriamente
doen��as, mas doentes.
Compreende-se, pois, que certas drogas sejam
venenosas, outras calmantes, algumas excitantes,
e assim por diante, segundo o potencial
eletromagn��tico e a suscetibilidade pessoal. A
import��ncia desse conhecimento n��o p��ra a��,
veremos adiante.
A analogia poderia ser levada mais longe; por
exemplo, os raios X, aplicados ao sistema
simp��tico, atuam como analg��sico; em dose
235
fraca, excitam a atividade celular, tal qual
numerosos medicamentos. �� prefer��vel passar a
outro setor do mesmo campo de considera����es.
Vejamos a quase absoluta identidade funcional
existente entre fluidos e anest��sicos, t��o bem
evidenciada por Delanne.
�� perfeitamente conhecida, e h�� muito tempo,
a a����o dos fluidos sobre o corpo humano. O
mesmerizador, transfundindo sua energia, gera o
chamado "sono magn��tico", ou melhor, s o n o
flu��dico ��� igual ao sonambulismo. Em estado
sonamb��lico, o sujeito apresenta tr��s categorias
de fen��menos, muito pr��prias do estado em que
se encontra:
1. Insensibilidade ��� Completa, a ponto de
ser poss��vel cortar-lhe qualquer parte do corpo
ou dar-lhe amon��aco para respirar sem dano
algum.
2. Clarivid��ncia ��� O son��mbulo adquire esta
faculdade em virtude da liberta����o do esp��rito
durante o processo.
3- A u s �� n c i a de r e c o r d a �� �� o ��� Ao ser
despertado, de nada se lembra de quanto foi
feito, a ele ou em torno dele.
As pessoas submetidas �� narcose ou anestesia
geral (��ter, clorof��rmio e, modernamente, gases
anest��sicos), sempre permanecem insens��veis e
n��o se recordam de coisa alguma; quanto �� dupla
vista, tem sido verificada nesse estado igualmente
2 3 6
em alguns casos. Pelo que a�� fica, �� poss��vel
afirmar que o c o r r e , num e noutro, o
desprendimento do esp��rito mediante a����o sobre
o sistema nervoso central. Os centros nervosos
ficam inibidos e a alma livre, donde a clarivid��ncia.
Podemos construir o mesmo racioc��nio que ��,
em parte, an��logo ao antecedente. Se produtos
qu��micos e fluidos agem semelhantemente, �� que
possuem algo em comum. N��o �� a mat��ria,
muito diversa em ambos, sen��o a energia que
libertam, filiada �� que estudamos h�� pouco.
Vimos que radia����es f��sicas, radia����es espirituais
e subst��ncias qu��micas exercem a����es id��nticas
sobre a mat��ria organizada e que tais a����es
repousam em cima de uma s�� base: a energia
ou vibra����o eletromagn��tica, presente em toda
a mat��ria.
Cada forma de aplica����o tem a sua indica����o
peculiar e cumpre cortar cerce todo e qualquer
exagero ou exclusivismo. Os m��dicos s�� querem
saber dos rem��dios, dos raios e do bisturi; os
"magnetizadores" afirmam que os seus passes
curam tudo, o que �� material e espiritualmente
imposs��vel. Para as mol��stias cir��rgicas, bisturi;
para os tumores, radia����es; para as doen��as
cur��veis ou de todo incur��veis, medicamentos.
Para que o tratamento flu��dico, humano ou
espiritual, n��o seja desacreditado, urge utiliz��-lo
judiciosamente; mol��stias ps��quicas encontram
2 3 7
nele um e x c e l e n t e recurso; indiv��duos
espiritualizados aproveitam-no; homens grosseiros,
materializados, campe��es na mesa e atletas no
leito, mostram-se insens��veis ou pouco sens��veis
aos fluidos e precisam de rem��dios, cuja a����o
�� mais possante nesse n��vel. Tamb��m, note-se,
os passes revelam-se in��teis se o receptor n��o
se colocou numa condi����o ��ntima adequada
mediante anu��ncia e prece.
Os esp��ritos tratam doen��as do corpo e da
alma e, se devemos louvar a boa inten����o, n��o
�� l��cito esquecer que o entusiasmo impede sejam
examinados os fracassos. Esta quest��o merece
muita pondera����o, tanto por parte do agente,
quanto por parte do sujeito. As anota����es
subseq��entes objetivam alcan��ar um
esclarecimento a respeito.
A maior parte dos preparados farmac��uticos ��
ineficaz ou denota efic��cia vari��vel, infiel, sabem-
no perfeitamente os m��dicos; existem porque,
tendo realmente a����o sobre certos estados m��rbidos,
ela �� apenas sintom��tica, restrita e/ou inconstante,
sujeita a fatores dif��ceis de precisar e avaliar. Por
isso, de tr��s doentes com a mesma afec����o, um
cura-se, outro melhora e o terceiro pode at�� piorar.
A julgar pelos an��ncios e bulas, n��o h�� nenhuma
dificuldade no tratamento das enfermidades que
afligem t��o severamente a humanidade; a realidade,
no entretanto, �� bem outra. Os rem��dios a g e m
238
s o b r e o o r g a n i s m o , e n q u a n t o q u e a s m o l �� s t i a s ,
s e e s t �� o l o c a l i z a d a s n e l e , t �� m s u a c a u s a n o
e s p �� r i t o ��� como regra geral. As doen��as somente
do corpo s��o facilmente cur��veis, porquanto se
devem ��s imperfei����es da mat��ria e ��s conting��ncias
da circunst��ncia. Por exemplo, arranca-se um
dente e sobrev��m um abcesso alveolar ��� nada tem
o esp��rito a ver com isso; �� um acidente. Isto
explica em parte os sucessos e os fracassos,
igualmente comuns, da medicina.
As doen��as de certa gravidade, que surgem
sem causa bem definida, devem ser consideradas
como reflexos de desequil��brios perispirituais e
levam como finalidade o restabelecimento da
normalidade do esp��rito ��� quando suportadas
com ��nimo adequado. Enfim, a distin����o absoluta
ainda n��o �� para. n��s, mas podemos, por via de
regra, faz��-la; resta recorrer aos mentores
espirituais, cujo conselho n��o falha se h��
sinceridade de prop��sito e boa inten����o. Eles n��o
poder��o carregar a nossa cruz e s�� interv��m se
o aux��lio for ��til espiritualmente; se o paciente
n��o estiver em condi����es de aproveit��-lo, pouco
ser-lhe-�� permitido informar ou tratar.
Devemos procurar as prescri����es m��dicas
para os males cur��veis por semelhante processo.
O tratamento pronto e eficaz para am��dalas
cronicamente inflamadas �� a extirpa����o. Quem
tem de tratar a ��lcera p��ptica �� o gastrenterologista,
239
a hipertens��o �� o cardiologista, etc.. �� in��til
procurar os centros em tais casos e os esp��ritos
devem encaminhar esses doentes ao m��dico.
Teriam esp��ritos elevados como Pasteur, Jenner,
Oswaldo Cruz, e outros, vindo �� Terra por sua
pr��pria conta ou para legar-nos meios de caminhar
com os nossos pr��prios p��s? Amigos queridos
do Espa��o, espontaneamente, num caso conhecido
do autor, indicaram uma opera����o para bem
desenvolvida ��lcera duodenal; em 15 dias a
pessoa estava completamente curada, o que ��
fora do comum. Seria l��gico gastasse ela meses,
ou talvez anos, com pozinhos e c��psulas receitadas
por esp��ritos desconhecidos? Quando indispens��vel
ao progresso espiritual, eles sabem abrir caminho
at�� nossa limitada capacidade para ajudar-nos.
Confessemos que o receitu��rio medi��nico n��o
ultrapassa, salvo casos contados, o humano e,
freq��entemente, fica aqu��m deste. O tratamento
espiritual destina-se ��s enfermidades da esfera
mental ou ps��quica e j�� �� muito, pois a�� a
medicina falha em larga escala. Isso n��o quer
dizer que os fluidos espirituais n��o atuem fisica-
mente; vimos um passe dado por elevado esp��rito,
especialista em terap��utica flu��dica, atrav��s de
excelente m��dium, abrir um abcesso dent��rio
duas horas depois e, noutra ocasi��o, fazer cessar
as fortes dores da espondilose em vinte minutos.
Perguntamos aos estimados confrades: nos
2 4 0
centros quantos esp��ritos superiores, de identidade
conhecida, especialistas em terap��utica flu��dica,
e quantos m��diuns competentes prestam servi��os?
Meia d��zia?
O que temos s��o irm��os iguais a n��s, no Espa��o
e na Terra, dando de si com toda a boa vontade
poss��vel. Mas, n��o basta, temos observado, para
os dist��rbios da mat��ria ��� que pertencem ao
campo m��dico, como regra geral. Al��m disso, n��o
�� raro o contra-senso de m��diuns que, durante as
sess��es, receitam rem��dios ao p��blico pedinte e
depois v��o eles pr��prios ao m��dico encarnado
tratarem de suas doen��as pessoais. �� o caso de
perguntar-se: por que n��o cuidam de si mesmos?
Ser��o suas doen��as diferentes das demais?
A medicina propriamente esp��rita possui terreno
peculiar: as mol��stias ps��quicas ou mentais,
principalmente quando envolvem persegui����es
espirituais, o que �� vulgar��ssimo. A�� aqueles
esp��ritos iguais a n��s, mas repletos de boa
vontade (assistidos por entidades superiores),
podem fazer o que n��o �� poss��vel aos escul��pios
terrenos, que desejam manter-se em volunt��ria
ignor��ncia a respeito. Da�� esclarecer In��cio Ferreira,
o conhecido psiquiatra esp��rita: "O Espiritismo
s�� deve ser aplicado em casos especiais de
psiconeuroses", afora, naturalmente, os casos de
obsess��o. Realmente, a "perturba����o" ou neurose,
forma de desequil��brio em que o senso de
241
realidade est�� intacto e a intelig��ncia normal,
constitui excelente campo de aplica����o para as
pr��ticas esp��ritas porque a�� o tratamento b��sico
consiste na reeduca����o espiritual do paciente.
Os dist��rbios org��nicos pertencem �� medicina,
como regra geral ��� dissemos. "Regra geral",
porque, evidentemente, os mentores espirituais
sabem decidir judiciosamente quando intervir no
plano material.
�� comum que os esp��ritos receitem preparados
farmac��uticos e �� igualmente freq��ente que o
fa��am com menos maestria do que seria de
esperar e de desejar. Explica-se por serem esp��ritos
de homens do tipo m��dio, fossem, embora,
m��dicos na Terra. Por outro lado, temos tido
oportunidade de ver que esp��ritos superiores n��o
o fazem, mas tratam com passes e ch��s, ambos
veiculando fluidos curativos. A Sra. D'Esp��rance,
famosa m��dium francesa, conta que o seu elevado
guia agia do mesmo modo, sendo contra os
rem��dios. I. Ferreira quase n��o os empregava no
Sanat��rio de Uberaba-MG.
Teoricamente, torna-se f��cil compreender o
motivo de tal diferen��a. Notamos anteriormente
que a respons��vel pelo efeito medicamentoso
das drogas e fluidos �� a energia eletromagn��tica;
essencialmente, os fluidos do esp��rito agem do
mesmo modo que os rem��dios. Os menos
adiantados desconhecem tal quest��o, resolvida
modernamente, e transvazam a sua boa vontade
2 4 2
como sabem: propinando drogas. Os seres
superiores, tendo adquirido o Bem e a Sabedoria,
o Amor e a Ciencia, conhecem como manejar,
por meio da vontade, os seus fluidos perispirituais
(e os do m��dium) a fim de obter o desejado
potencial eletromagn��tico, id��ntico ao do
medicamento indicado no caso em que estiver
atuando. Compreende-se que seja conhecimento
cient��fico acima das nossas possibilidades atuais,
mas j�� em in��cio de entendimento por interm��dio
da F��sica e da Biologia. N��o esquecer que Jesus,
Pedro e Paulo jamais usaram algo al��m dos
fluidos emanados de suas m��os e poderosa
cerebra����o, em suas curas instant��neas e completas.
Para usar rem��dio �� prefer��vel buscar o m��dico
terr��cola, que disp��e de amplos recursos t��cnicos
e medicamentosos, embora seja f��cil apontar
lacunas na sua atividade. O receitu��rio envolve
responsabilidade gra��as ��s complica����es sempre
poss��veis e ser�� indispens��vel haver um
r e s p o n s �� v e l , que possa extemporaneamente
socorrer o doente de s��bito presa de novos
males. Quem o far��, sen��o o m��dico? O esp��rito,
o m��dium e outros n��o poder��o e nem ter��o
capacidade para tanto. Ficaria o paciente entregue
a si pr��prio e um profissional chamado ��s
pressas viria trazer fatal descr��dito a uma doutrina
cient��fico-religiosa realmente capaz de muitas
curas magn��ficas ��� quando devidamente indicada
243
e sensatamente aplicada.
Cremos que nossas palavras ser��o tomadas ao
p�� da letra, mas, por medida precaut��ria,
afian��amos que tudo quanto julgamos deva ser
dito a�� fica claramente exarado, n��o havendo
nenhum sentido oculto ou c o n c e i t o s
subentendidos. Tomem-se as letras e voc��bulos
na sua acep����o vulgar.
NOTA FINAL ��� �� f��cil comprovar que esp��ritos
e confrades se orientam pela tese supra defendida.
Emmanuel (F. C. Xavier, " E n t r e v i s t a s " , Araras,
SP, 1972) declara "muito natural" recorrer ��
assist��ncia m��dica e que "o nosso corpo precisa
de assist��ncia m��dica em t o d o s o s d i s t �� r b i o s
que apresente". Agrega que n��o se pode desprezar
"a coopera����o da Ci��ncia atrav��s do socorro
medicamentoso. Se h�� tal socorro, �� porque Deus
permite". Porque, esclareceu, "uma casa de sa��de,
um sanat��rio, um hosp��cio, �� uma casa de Deus".
Por outro lado, Emmanuel (sess��o de 5-VI-50,
Pedro Leopoldo) aconselha, a quem desejar o
aux��lio dos mentores espirituais na "solu����o de
tuas necessidades fisiol��gicas ou nos problemas
de sa��de" ��� colocar um frasco contendo ��gua a
sua frente enquanto ora. Assevera: "o orvalho do
plano divino magnetizar�� o l��quido, com raios de
amor..." Andr�� Luiz ( " O b r e i r o s d a V i d a E t e r n a " )
conta-nos que o Assistente Jer��nimo, querendo
prolongar a vida da velha Sra. Albina, prestes a
244
desencarnar, por ordem superior opera mediante
os seus pr��prios fluidos sobre as coron��rias,
sustando o processo patol��gico durante v��rios
meses. E relata tamb��m como o feto de uma m��e
desnutrida recebe um suprimento de fluidos
nutritivos das m��os de um m��dico espiritual.
T. Rossini ( " A N o v a E r a " , Franca, SP, 31-111-
7 5 ) defende a doutrina de que as mol��stias do
corpo f��sico devem ser tratadas pelos disc��pulos
de Hip��crates, salvo situa����es especiais. Explana:
"O Espiritismo Crist��o Kardecista n��o tem como
uma de suas finalidades a preocupa����o de curar
enfermidades, por serem estas da c o m p e t �� n c i a
d a m e d i c i n a t e r r e n a . " Acentua que o objetivo
dele "�� contribuir para a transforma����o dos
povos". Alega que Jesus prometeu enviar um
Consolador e n��o um "curador", que prometeu
al��vio e n��o "cura" (Mt. 11:28). A Kardec, os
esp��ritos, v��rias vezes, advertem que cuide da
sua sa��de ou n��o concluiria a miss��o em curso.
E o nosso querido Chico Xavier mesmo tem sido
aconselhado pelos instrutores espirituais a tratar
os seus v��rios males f��sicos com m��dicos de
carne e osso; uma vez, teve de internar
pessoalmente uma parenta chegada num sanat��rio
psiqui��trico... Consultado por parente meu, sobre
uma dolorosa espondilose, o Chico respondeu
que apenas poderia orar por ele. Reconhece
Rossini haver curas por via medi��nica nos casos
245
em que a mol��stia resiste �� terap��utica humana
ou o doente possui m��ritos.
Andr�� Luiz ( " O b r e i r o s " ) conta que, diante de
um m��dium que psicografava mensagens em
resposta a consulentes encarnados (opera����o
usual nos centros), o mentor declarou que se
tratava simplesmente de "respostas reconfortantes",
derivadas "do impositivo da coopera����o". E
acentua que n��o "traduzem e q u a �� �� o d e f i n i t i v a
para os problemas que exp��em". �� exatamente
o que se percebe nas respostas dadas a pedidos
de orienta����o e receitas. A cada um compete o
esfor��o, comumente estr��nuo, de auto-regenera����o,
caso em que a doen��a �� fator importante de
reajustamento. E como promana de passados
deslizes e culpas, nem sempre pode ser eliminada
prontamente ��� fazendo-se mister primeiramente
a modifica����o das condi����es ��ntimas que originaram
a perturba����o.
A falibilidade do receitu��rio �� bem conhecida
dos estudiosos do assunto. Confrontem-se as opini��es
de Osty e de Emboaba, em dois campos algo
diversos. Esses, e os demais autores, por outro
lado, reconhecem que, pelo geral, ele seria digno
de confian��a n��o fora extremamente sujeito ��
mistifica����o, comumente humana e, ��s vezes,
espiritual. Isto devemos levar em conta. �� mais
pr��tico e seguro recorrer ao m��dico quando este
se acha qualificado para o caso, o que muitas vezes
246
recomendam os esp��ritos superiores quando instados
a opinar sobre doentes. A mediunidade curadora
�� bem conhecida quanto aos resultados poss��veis,
por��m, mal no concernente �� oportunidade; enfim,
�� meio para o futuro, quando pudermos contar
com melhor material de ambos os lados ��� a n��o
ser nos dist��rbios ps��quicos.
Outro aspecto da quest��o, pouco comum,
reside nas opera����es transcendentais, para as
quais �� preciso um m��dium de efeitos f��sicos.
S��o indiscut��veis, por��m, raras. Isto demonstra
que os mentores do Espa��o n��o desejam que
ponhamos de lado a medicina; evidentemente,
tais seres elevados n��o pretendem sejam abolidos
os meios de progresso an��mico, representados
pelo sofrimento redentor, donde concluirmos
que os inconvenientes da medicina medi��nica
desaparecer��o com a eleva����o geral do n��vel
moral. Da�� tomarmos como base o caso geral e
n��o as exce����es, isto ��, as curas prodigiosas.
O Artigo 284 do C��digo Penal (314 em o novo
c��digo, ainda a vigorar) ao mesmo tempo que
pro��be a prescri����o de rem��dios, vai ao exagero
de proscrever passes e preces e at�� simples gestos
e palavras que denotem a inten����o de curar!
Puseram, assim, de lado a recomenda����o do Mestre
aos disc��pulos: "... curai os enfermos...", opera����o
que realizavam com a imposi����o das m��os; pouco
mais fazem os m��diuns com os passes.
247
O passe, nos centros, �� dado, via de regra, sem
qualquer inten����o de curar, mas sim de descarregar
cargas flu��dicas inferiores ��� capazes de alterar a
sa��de. De resto, �� pr��tica ben��fica e in��cua, pura
express��o do intenso desejo de fazer o Bem e
cumprir, portanto, os des��gnios divinos.
Podemos, criteriosamente, estabelecer os
seguintes princ��pios concernentes �� atitude atual
do Espiritismo em face da doen��a e do tratamento:
1. Os medicamentos e os fluidos agem em
virtude da energia eletromagn��tica que veiculam.
2. Os primeiros s��o adequados ��s mol��stias de
fundo material e aos indiv��duos excessivamente
materializados. A maior parte dos rem��dios ��
ineficiente e, por isso, devemos us��-los parcamente
e s�� quando bem indicados. Ponhamos de lado,
terminantemente, todos os rem��dios "que me
fizeram muito bem uma vez quando..." ou "que
deram ��timo resultado para fulano e a av�� de
beltrano..." N��o h��, propriamente, doen��as; o
que h�� s��o doentes e cada caso difere de outro,
por mais parecido seja. As apar��ncias enganam.
3. Os fluidos (passes) constituem excelente
terap��utica para as mol��stias mentais, aliados ��
doutrina����o tanto do encarnado quanto dos
desencarnados, se os houver. Tamb��m para males
f��sicos de origem espiritual imediata.
4. Conv��m, sempre que poss��vel, ouvir os guias,
lembrando que nem todos os esp��ritos s��o guias.
2 4 8
5. Se tivermos a felicidade de reunir o dif��cil
conjunto de condi����es que permita a presen��a
ativa de um esp��rito reconhecidamente superior,
ent��o n��o h�� restri����es a fazer, porquanto grande
�� o seu poder. �� uma exce����o e n��o se pode
tom��-la como base de racioc��nio.
6. O ideal para os centros esp��ritas, cujo senso
caritativo �� not��rio, �� a colabora����o de um
m��dico ��� que julgar�� das receitas e assumir�� a
responsabilidade, j�� que os seus conhecimentos
especializados permitir��o o socorro, r��pido e
eficiente, quando houver complica����es ulteriores.
7. Os passes habitualmente dados nos centros
s��o sempre ��teis para aliviar as cargas flu��dicas
delet��rias. Nada curam, sen��o pequenos males
delas decorrentes (dor de cabe��a, mal estar,
ang��stia, e t c ) . Os passes curativos s��o especiais
e est��o na depend��ncia da eleva����o da fonte de
origem, do m��dium e do ambiente; quantas
vezes teremos realizado tal associa����o de condi����es
favor��veis? N��o, certamente, nas sess��es p��blicas
vulgares, onde n��o h�� ��� nem poder haver, que
a isso n��o se destinam ��� sele����o moral.
8. Em ��ltima an��lise: discernimento nas
atividades beneficentes, aten����o nos conselhos
dos esp��ritos, prud��ncia nas promessas. �� essencial
formar-se em grupo moralmente homog��neo de
pessoas estudiosas e boas.
249
9. Estes princ��pios s��o pl��sticos e devem
adaptar-se ��s condi����es particulares de cada
assembl��ia.
10. N o t a a d i c i o n a l . As mol��stias que acossam
a humanidade desempenham papel relevante na
reden����o do esp��rito imortal, na qualidade de
fatores de reajustamento em face das quedas e
desvios. In��meras resistem a quaisquer tipos de
terapia, melhorando e piorando sucessivamente.
Segue-se que, em muitos casos, teremos de
conviver com elas, buscando um inteligente
regime de adapta����o. Logo, urge n��o voar atr��s
do primeiro aceno ilus��rio de liberta����o total e
imediata. Lembremos: n��o poucos estados
m��rbidos s��o solicitados pelo pr��prio reencarnante
com o fito de impedir excessos e desvios de
fun����es, os abusos t��o comuns das sensa����es
f��sicas ( i n i b i �� �� e s p e d i d a s , de A. Luiz).
M u t a �� �� e s
Verificamos anteriormente que radia����es e
produtos qu��micos, em muitas inst��ncias com a
maior evid��ncia, atuam de modo semelhante
sobre a mat��ria organizada. Em seguida, notamos
que os fluidos espirituais e as drogas anest��sicas
demonstram completa identidade funcional. Por
fim, conclu��mos que as a����es das radia����es,
fluidos e compostos qu��micos repousam sobre
2 5 0
u m a �� n i c a b a s e : a energia ou vibra����o
eletromag��tica, universalmente difundida.
Sabemos que as muta����es s��o varia����es
descont��nuas, que aparecem bruscamente num
descendente de pais normais; assim ��, por exemplo,
quando nasce uma crian��a com seis dedos em
cada m��o, apresentando cinco os seus progenitores.
E crian��as albinas de pais normais, fato que se
passa tamb��m com animais e plantas. As muta����es
espont��neas s��o relativamente raras, embora
possam surgir em quaisquer animais ou vegetais;
insetos sem asa, descorados, carneiros negros,
flores e folhas dotadas de formas e cores diferentes
das usuais, etc.. O importante �� que elas se
mostram desde logo transmiss��veis �� descend��ncia,
conquanto aconte��a permanecerem durante v��rias
gera����es ocultas, sem manifestar-se no organismo.
As c��lulas sexuais (gametas), femininas e
masculinas, fundem-se para formar o ovo, no qual
existem potencialmente as caracter��sticas maternas
(trazidas pelo ��vulo) e paternas (levadas pelo
espermatozoide), veiculadas pelos genes ou
part��culas da hereditariedade, os quais se encontram
no interior dos cromossomos. Se os genes ou os
cromossomos sofrerem qualquer altera����o ��� seja
quanto �� posi����o, �� integridade ou ao arranjo
interno das mol��culas ��� ela refletir-se-�� no corpo
futuro do descendente e aparecer�� a muta����o,
imediata ou posteriormente. N��o h�� determina����o
251
no aparecimento da mesma, parecendo dar-se ao
acaso e, posto isto, sendo imprevis��vel (conforme
se explicar�� no cap��tulo subseq��ente).
Descobriu-se que certas radia����es s��o capazes
de produzir muta����es em animais e plantas.
Raios X, gama e ultravioleta s��o os principais.
Tamb��m algumas subst��ncias qu��micas, como o
g��s-mostarda. Exemplo famoso e recente de
droga mutag��nica, embora malfadado, �� o
tranq��ilizante talidomida; n��mero apreci��vel de
futuras m��es, ��s quais o f��rmaco foi propinado
no curso da gravidez, deu �� luz filhos com um
dos membros deformado: ora sem m��o, ora sem
antebra��o, ��s vezes com uma perna atrofiada, e
assim por diante. Mais ainda, nenhuma das
muitas muta����es induzidas pelos raios ou pelas
drogas �� espec��fica; todas elas foram tamb��m
encontradas na natureza.
Este conhecimento casa-se perfeitamente com
os acima explanados. De fato, continuamos
defrontando-nos com um fator ��nico, respons��vel
pela atua����o mutag��nica das radia����es, dos
compostos qu��micos e da natureza.
Em o n��vel evolutivo animal e humano inferior,
reina o determinismo aparente e, a��, cremos que
as muta����es (isto ��, na esfera submicrosc��pica)
est��o sujeitas �� indetermina����o essencial dos
genes e, aos nossos olhos, eclodem como
manifesta����es do acaso. Seria totalmente il��gico
e inadequado considerar o mesmo mecanismo
2 5 2
em o n��vel humano habitual, mais adiantado
intelectual e moralmente. Aqui, as muta����es,
rar��ssimas, mostram-se i n t e n c i o n a i s .
Visto que as radia����es e as subst��ncias qu��micas
podem originar muta����es e sabido que agem do
mesmo modo que os fluidos espirituais (os tr��s
tendo como elemento comum ondas eletro-
magn��ticas) ��� logo, os fluidos tamb��m poder��o
induzi-las. �� o que permite se conclua a teoria e
certas informa����es de Andr�� Luiz, o muito estimado
instrutor. Entidades elevadas t��m capacidade para
alterar a estrutura cromoss��mica ou a ordena����o
dos genes, dirigindo a energia flu��dica por meio
da sua poderosa vontade, sobre as c��lulas da
reprodu����o; e isto com a nobre finalidade de obter
corpos adequados a esp��ritos que necessitam
resgatar faltas pret��ritas. N��o �� por acaso que
nasce um ser humano defeituoso, a partir de pais
normais; tal muta����o �� intencional, gerada por
meio da energia eletromagn��tica veiculada nos
fluidos, sob a����o da vontade de seres superiores.
No caso da talidomida, a a����o mutag��nica foi
aproveitada para a corrigenda de esp��ritos
necessitados de mutila����o em decorr��ncia de
graves d��bitos a acertar perante a lei de causalidade.
N��o h�� outra explica����o para a grande evolu����o
do passado remoto, quando imensas altera����es
org��nicas eram freq��entes. Tais muta����es foram
concebidas pelo eminente geneticista Goldschmidt,
253
que as denominou s i s t �� m i c a s , sem agregar
qualquer explica����o. Admitimos terem sido obra
da vontade de Entidades Ang��licas, sob a orienta����o
do Cristo; do contr��rio, n��o �� admiss��vel tivesse
a Terra sido povoada pelos fr��geis seres atuais,
cujo desenvolvimento ps��quico �� incomparavel-
mente maior do que no passado, quando os
corpos eram muit��ssimo volumosos. Por incr��vel
que possa parecer, esta �� a opini��o explanada
pelo famoso paleont��logo Robert Broom na
reuni��o anual da Associa����o de Cientistas da
��frica do Sul (3-VIII-33), trabalho depois publicado
sob o t��tulo de " E v o l u �� �� o ��� h �� i n t e l i g �� n c i a
p o r t r �� s d e l a ? "
Consoante se sabe, Broom teve importante
participa����o na descoberta de antigo ancestral
simiesco do homem atual, o australopiteco, em
estado f��ssil. A opini��o em tela j�� era a de Alfred
R. Wallace, descobridor, com Darwin, da evolu����o
por sele����o natural e profundo estudioso dos
fen��menos medi��nicos e an��micos. Afirmam ambos
os s��bios: "Uma intelig��ncia superior dirigiu o
desenvolvimento do homem numa dire����o definida
e para um objetivo especial". N��o estamos,
portanto, desamparados da Ci��ncia, conforme
muitos lamentam na seara esp��rita.
O supra exposto n��o �� obscuro misticismo,
mas uma explica����o l��gica e que prov�� um fim
�� evolu����o ��� porquanto, ao mesmo tempo em
254
que a intelig��ncia e o seu ��rg��o, o c��rebro,
cresciam, o corpo diminu��a.
Tais quest��es pertencem ao futuro. A Gen��tica,
ci��ncia nova, acha-se ainda na fase anal��tica, de
arquivamento de min��cias, e n��o pode cogitar
de uma s��ntese satisfat��ria e clara. Atualmente,
os seus cultores descem ao n��vel molecular e
acabar��o na referida s��ntese, mais tarde; procuram
entender o comportamento dos agregados de
part��culas materiais. Quanto a n��s, se esse
comportamento �� absolutamente governado por
leis f��rreas ou se admite certa liberdade de a����o
�� o que examinaremos no pr��ximo cap��tulo,
ap��s a no����o de onda.
N o �� �� o d e o n d a e l e t r o m a g n �� t i c a
Falamos bastante de energia, radia����o, onda
e vibra����o; n��o poucas vezes mencionamos a
palavra e l e t r o m a g n �� t i c o . �� hora de adquirirmos
uma id��ia do que tais vozes significam, mesmo
porque s��o altamente relevantes no campo
doutrin��rio esp��rita, sendo empregadas a todo
momento, inclusive pelos escritores espirituais.
Onda �� a forma pela qual a energia se propaga
no espa��o. O movimento do mar d��-nos uma
representa����o do que �� onda, bem como os
c��rculos conc��ntricos formados na superf��cie de
um lago quando pedras caem sobre a ��gua. A
2 5 5
parte saliente (ou c r i s t a da onda) que sobe e
corre indica o movimento gerado pela aplica����o
de energia (o impacto das pedras). O que vemos
�� uma sucess��o de abalos ou oscila����es, isto ��,
sucessivas cristas propagando-se na ��gua a partir
do ponto onde a pedra caiu, tal como no mar
(por outras raz��es). Se houver um tonel ou rolha
em cima da superf��cie, veremos ambos oscilarem
(subir e descer alternadamente) �� medida que as
ondas passam. A dist��ncia entre duas c r i s t a s
vizinhas chama-se c o m p r i m e n t o d e o n d a . E o
n��mero de oscila����es observadas na unidade de
tempo (usa-se o segundo) denomina-se f r e q �� �� n c i a .
Quanto maior aquele, tanto menor esta e vice-
versa. Por exemplo, quanto mais espa��adamente
caem as pedras na ��gua, tanto maiores e menos
numerosas ser��o as ondas; se ca��rem muito
depressa, as ondas ser��o numerosas, muito
pr��ximas e, portanto, dotadas de alta freq����ncia
e curto comprimento de onda.
Suponhamos, agora, que n��o existam as ��guas
do mar e do lago ou po��a d'��gua. Ver��amos o
barril e a rolha flutuando no ar e n��o numa
superf��cie vis��vel; se houvesse propaga����o de
alguma onda, eles passariam a oscilar. �� o que
sucede com as formas de energia que percorrem
o espa��o sob a forma de ondas invis��veis. Tanto
as cargas el��tricas quanto os campos magn��ticos
produzem ondas desse tipo; e, mais, um campo
256
el��trico �� sempre acompanhado de um campo
magn��tico. Em virtude desse relacionamento
manifesto, as diversas formas de energia que se
propagam ondulatoriamente no espa��o receberam
a designa����o de o n d a s ou r a d i a �� �� e s
eletromagn��ticas (tamb��m podem ser chamadas
de vibra����es). Podemos defini-las assim: as
ondas eletromagn��ticas s��o formas de energia
constitu��das de campos el��tricos e campos
magn��ticos (situados cm planos perpendiculares
entre si) que se deslocam velozmente no espa��o.
No v��cuo, sua velocidade �� a da luz (300.000
km por segundo). O comprimento de onda ��
uma caracter��stica que permite classificar
comodamente tais vibra����es; dos mais curtos aos
mais longos, temos as seguintes modalidades:
1. Raios c �� s m i c o s - At�� 0,000.000.000.1
mm. S��o os mais curtos e penetrantes. Cont��m
part��culas at��micas e radia����o eletromagn��tica,
��s quais estamos fazendo refer��ncia. Cruzam o
espa��o universal em todas as dire����es.
2. Raios gama - De 0,000.000.000.1 a
0.000.000.001 mm. Originam-se do n��cleo at��mico
quando este sofre altera����es.
3. Raios X - De 0,000.000.001 a 0.000.01
mm. Formam-se quando os el��trons chocam-se
com chapas met��licas.
4. Ultravioleta - De 0,000.01 a 0,000.4 mm.
Libertam-se quando os el��trons saltam de um
n��vel externo para outro mais interno. A luz solar
2 5 7
�� rica em raios ultravioletas, que queimam a pele.
5. Luz vis��vel ��� De 0,000.4 a 0,000.7 mm.
Escapa do ��tomo pela mesma raz��o precedente.
6. Infra-vermelho ��� De 0,000.7 a 0,1 mm.
Ainda como o anterior e como calor de irradia����o
dos corpos aquecidos.
7. Ondas de radar e micro-ondas ��� De 0,1
a 100 cm. Prov��m dos impulsos sofridos pelos
el��trons num condutor.
8. Ondas hertzianas ��� De lm a 1 km. S��o
semelhantes ��s antecedentes, por��m, usadas nos
transmissores de r��dio e de televis��o (nesta, as
mais curtas).
OBS. ��� As ondas eletromagn��ticas supra
relacionadas s��o lan��adas no espa��o de maneira
descont��nua (n��o como a corrente d'��gua caindo
duma torneira); em forma de "pacotes" de energia
ou unidades denominadas f��tons. A energia de
um f��ton chama-se quantum (plural: quanta).
Vibra����o e sintonia
As no����es precedentes levar-nos-��o ao
discernimento destas quest��es de tamanha
import��ncia no Espiritismo. A presente exposi����o
completa a anterior e acrescenta-lhe aspectos
ligados aos problemas do esp��rito.
Vimos antes que mat��ria e energia, por mais
diferentes possam parecer aos nossos sentidos,
2 5 8
no que respeita ��s suas manifesta����es, s��o muito
afins na intimidade. Da�� as transforma����es
rec��procas. E notamos que vivemos num universo
de ondas; at�� as part��culas elementares da mat��ria
acompanham-se de ondas ao deslocarem-se no
espa��o. Uma multid��o incalcul��vel de raios
atravessam a atmosfera em todas as dire����es,
sem parar. Neste contexto f��sico, o c��rebro
aparece como um aparelho receptor e emissor
de ondas mentais e o pensamento como fluxo
energ��tico; este ainda �� considerado mat��ria,
mas, segundo os padr��es terrenos, mat��ria rarefeita
que se comporta antes como energia.
A palavra v i b r a �� �� o e seus derivados t �� m
ampl��ssimo emprego no linguajar esp��rita, tanto
quanto s i n t o n i a . Para alcan��ar-lhes a significa����o
conv��m buscar primeiro os aspectos f��sicos desses
conceitos.
Observemos o p��ndulo de um rel��gio em
movimento. Vemo-lo executar uma s��rie de
vaiv��ns at�� terminar a corda (que corresponde
�� energia aplicada ao mecanismo). Trata-se de
um movimento ritmado, peri��dico, cuja intensidade
n��o diminuiria se a energia n��o acabasse (a corda
dura alguns dias). D��-se o nome de v i b r a �� �� o (ou
oscila����o) a um movimento desse tipo ��� no qual
um objeto executa numerosos vaiv��ns antes de
parar na posi����o anterior �� excita����o ��� quando
anima as m��nimas part��culas da mat��ria e da
259
energia. Pode ser comparado tamb��m ��s pulsa����es
do cora����o; os seus dois movimentos (s��stole e
di��stole) equivaleriam �� ida e �� volta do p��ndulo,
o que constitui uma vibra����o completa.
Agora atentemos para o som. Golpeando a
mesa ou soltando subitamente a l��mina de uma
faca flex��vel (fazendo-a vibrar), ouviremos, em
ambos os casos, um ru��do. O que ter�� acontecido
na intimidade da mat��ria? As mol��culas (agregados
de ��tomos), embora dotadas de movimento
perp��tuo, ocupam certa posi����o de equil��brio
quando a mesa e a faca est��o em repouso. Com
a batida, as mol��culas agitam-se e antes de
regressarem ao estado de repouso realizam uma
s��rie de movimentos parecidos com os do p��ndulo
h�� pouco mencionado. Dizemos que elas est��o
vibrando ou animadas de um movimento vibrat��rio.
Este propaga-se atrav��s de todas as mol��culas da
mesa e da faca sob a forma de ondas, alcan��a
as mol��culas do ar e, sempre como ondas, chega-
nos aos ouvidos. As ondas, quando se deslocam
no espa��o, executam movimento semelhante. A
luz, por exemplo, n��o caminha como fluxo
cont��nuo, dissemos acima, compar��vel �� ��gua
jorrando de uma torneira, mas propaga-se
executando movimentos internos de vaiv��m.
O movimento vibrat��rio costuma ser
caracterizado por meio de duas medidas, que
vamos redefinir: 1) c o m p r i m e n t o de onda, que
�� o espa��o percorrido durante uma vibra����o (um
2 6 0
vaiv��m); 2) f r e q �� �� n c i a , que �� o n��mero d e
vibra����es por segundo. Assim, uma radia����o ou
onda pode ser curta ou longa, r��pida ou lenta,
e t c . O que se denomina p a d r �� o v i b r a t �� r i o ��
o tipo de vibra����o de uma pessoa ou esp��rito:
baixo, inferior, elevado, e t c . E s i n t o n i a designa,
na F��sica, a condi����o de um circuito cuja freq����ncia
de vibra����o �� igual �� de outro. Posto isto,
sintonia significa identidade ou harmonia vibrat��ria
��� ou seja, no campo espiritual, o grau de
semelhan��a das emiss��es ou radia����es mentais
de dois ou mais esp��ritos, encarnados ou
desencarnados. Est��o em sintonia pessoas e
esp��ritos que t��m pensamentos, sentimentos e
ideais id��nticos. Por outras palavras, a sintonia
vibrat��ria �� uma express��o f��sica de uma realidade
mais profunda, que �� a a f i n i d a d e m o r a l . Se o
perisp��rito emite certo tipo de onda e esta
caracteriza-se por uma vibra����o espec��fica, ele ��
sens��vel ao estado moral do esp��rito e �� tanto
mais apurado quanto mais este �� elevado. Portanto,
o padr��o vibrat��rio �� uma maneira de definir o
padr��o moral do esp��rito. Em suma, a posi����o
do esp��rito e suas rela����es com os outros decorrem
de suas caracter��sticas morais: maneira de encarar
a vida, o mundo, o pr��ximo, Deus, modo de agir,
o a que aspira, impulsos, sentimentos, e t c .
Neste sentido, mediunidade �� a capacidade de
sintonia, caso em que todos s��o m��diuns ou
261
sensitivos. Todos entram em rela����o com
determinados esp��ritos, que se afinam com suas
inclina����es, e recebem deles influ��ncia. Mas, ��
um sentido muito geral; �� como dizer que "todo
mundo �� m��dico". Isto �� verdade at�� certo
ponto, visto ser excessivamente generalizada a
mania de indicar rem��dios para doen��as que se
conhecem apenas de nome "porque o irm��o de
minha av�� teve uma amiga cujo pai se curou com
isso..." Ora, m��dico �� o indiv��duo que se preparou
numa faculdade para o exerc��cio da medicina.
E m��dium, propriamente dito, �� o sujeito que
se preparou para o exerc��cio da mediunidade e,
assim, recebe c o m u n i c a �� �� e s ostensivas e de
interesse geral ��� ou seja, que tem a mediunidade
como tarefa espec��fica, como dever a cumprir.
Das no����es expostas decorre uma conseq����ncia
fundamental. Atra��mos as mentes que possuem
o mesmo padr��o vibrat��rio, que est��o em id��ntico
n��vel moral. A comunica����o inter-espiritual ��
controlada pelo grau de sintonia, a qual, a seu
turno, promana da afinidade moral. Temos, por
isso, a companhia espiritual que desejamos
mediante o nosso comportamento, sentimentos,
aspira����es e pensamentos. N��o que tenhamos
escolhido intencionalmente pessoas e esp��ritos
do nosso s��quito habitual. Mas fazemos tal
escolha automaticamente de acordo com o nosso
modo de ser: est��o ao nosso redor aqueles que
2 6 2
sintonizam conosco (ou que t��m contas a ajustar).,
�� o caso de perguntar: como podemos elevar
cada vez mais as nossas vibra����es e, assim,
aprimorar a capacidade de sintonia?
S�� h�� um meio: enriquecendo o pensamento
por meio do desenvolvimento da intelig��ncia
(estudo, conhecimento, compreens��o) e do
sentimento (pr��tica do bem, servi��o prestado,
moralidade). Tais s��o as duas vias do progresso
espiritual; em suma, auto-aperfei��oamento pelo
esfor��o pr��prio no caminho do Bem. Isto ��
uma norma geral, com particular aplica����o ��
mediunidade, que n��o progride sem o
aprimoramento do m��dium.
Em virtude do princ��pio de sintonia, estabelece-
se uma depend��ncia entre encarnados e
desencarnados quando ambos est��o perturbados
e emitindo vibra����es viciadas. Estas ret��m os
menos vigorosos ou mais transtornados. A
identidade vibrat��ria inferior, no caso de ��dio,
m��goa, ressentimento, tristeza, des��nimo, e t c ,
prende os desencarnados mais ou menos
inconscientes do seu estado na aura magn��tica
dos encarnados. Ocorre, assim, influ��ncia
rec��proca, troca de pensamentos e sentimentos,
e, portanto, obsess��o bidirecional. Comumente,
por esse mecanismo, parentes e amigos mortos
h�� anos continuam a conviver com os antigos
companheiros, como se ainda fossem vivos:
263
sentam-se �� mesa, choram com os amigos,
lamentam-se com os parentes, deitam-se com
eles �� cama... E haja desequil��brio no ambiente
dom��stico.
N. B. ��� "Nossos apontamentos sint��ticos
objetivam apenas destacar a analogia do que se
passa no mundo ��ntimo das for��as corpusculares
que entretecem a mat��ria f��sica e daquelas que
estruturam a m a t �� r i a m e n t a l " . Subscrevendo
estas linhas de Andr�� Luiz ( " M e c a n i s m o s d a
M e d i u n i d a d e " ) , acreditamos p��r um fecho
adequado ao presente cap��tulo.
264
O DESENVOLVIMENTO
CIENT��FICO E T��CNICO
Para onde nos levar��?
Ep��logo
oje, pessoas inteligentes questionam a
relev��ncia da Ci��ncia e p��em em d��vida
o valor do progresso material. Perguntam
se tem havido real progresso em face de v��rios
inconvenientes apont��veis.
Quando se fala da relev��ncia ou validade da
Ci��ncia, as respostas trazem sempre um car��ter
tecnol��gico, referindo-se a benef��cios materiais:
boas coisas e mais comodidades para o ser
humano. Cumpre distinguir entre Ci��ncia e
T��cnica. Ci��ncia �� o conhecimento met��dico e
organizado do nosso mundo, da natureza e do
homem, e a busca deste conhecimento; o que
se exige dele �� que se sujeite a investiga����es
ulteriores e �� cr��tica por outros pesquisadores,
pois sua aquisi����o �� gradual e sua natureza
progressiva, devendo aprimorar-se mediante
contribui����es sucessivas e parciais. T��cnica �� a
parte do m��todo experimental aplicada ��
265
investiga����o de um problema espec��fico; em
sentido amplo, �� o conjunto de processos e
recursos de execu����o de que se serve uma
ci��ncia particular, raz��o de express��es como
"t��cnica histol��gica", "t��cnica bacteriol��gica",
"t��cnica usada foi a microtomia de congela����o",
e t c . T e c n o l o g i a , palavra de cunhagem recente,
exprime o conjunto dos processos (ou t��cnicas)
que o homem emprega para transformar seres
e corpos da natureza em objetos ��teis; diz
respeito, portanto, a instrumentos e t��cnicas
industriais, donde unir Ci��ncia e engenho. A
tecnologia �� a T��cnica aplicada �� ind��stria
humana para tornar a vida mais f��cil e c��moda.
O principal fator do seu enorme desenvolvimento
foram os modernos recursos energ��ticos, antes
inexistentes. A diferen��a esclarece-se quando se
pergunta p o r q u e um homem realiza uma
investiga����o. O cientista estuda um problema
t��o-somente para ampliar o nosso conhecimento
b��sico da natureza. Ele sabe que isso ajuda a
fazer objetos ��teis, mas o t��cnico �� quem aplica
o conhecimento a finalidades pr��ticas. Poucos
s��o, ao mesmo tempo, cientistas e tecn��logos,
porquanto as duas atividades envolvem
mentalidades diferentes. Matem��ticos e f��sicos
investigam os fen��menos relativos ao
comportamento e constitui����o dos corpos, e os
qu��micos as transforma����es da mat��ria ��� mas ��
2 6 6
o engenheiro quem concebe m��quinas, monta
f��bricas, planeja pr��dios e pontes. Os fisi��logos
estudam as fun����es do corpo e a a����o das
drogas, mas �� o m��dico quem usa isso no
tratamento dos doentes. Uns querem saber o
q u e as coisas s��o, outros p a r a q u e servem.
Voltando ao problema acima enunciado, muitos
duvidam da validade do progresso tecnol��gico,
antes aceito sem reservas, com entusiasmo. Em
face do ru��do ensurdecedor dos grandes avi��es,
declaram que o transporte a��reo n��o �� t��o
importante. Considerando os efeitos colaterais
nocivos das drogas medicamentosas, acham que
a natureza �� mais s��bia. E os efeitos prejudiciais
dos inseticidas, que n��o vale a pena interferir
no meio ambiente. At�� as viagens �� Lua s��o
contestadas mediante o argumento de que, havendo
tanta mis��ria na Terra, n��o se admite fortunas
t��o vastas sejam gastas sem benef��cio imediato.
O que eles pretenderiam seria reduzir o ritmo
das aplica����es t��cnicas ou mesmo paralis��-las.
�� verdade palmar que o desenvolvimento
tecnol��gico trouxe uma s��rie de inconvenientes
��� e dos mais graves, que foram minuciosamente
analisados, em computadores, por um grupo
formado de t��cnicos, cientistas e economistas,
conforme exposi����o feita por Meadows et al
( 1 9 7 3 ) . Aproveitaremos os seus dados precisos
e concisos.
267
Podemos verificar que a "problem��tica mundial"
(os problemas que afligem povos e pa��ses)
consta de: pobreza em meio �� abund��ncia, perda
de confian��a nas institui����es, expans��o urbana
descontrolada, inseguran��a nos empregos,
aliena����o da juventude, rejei����o de valores
tradicionais (por exemplo, autoridade, moralidade,
religi��o, disciplina, respeito humano), infla����o e
outros transtornos econ��micos, aos quais cumpre
acrescentar: ruptura da integridade moral, delin-
q����ncia, toxicomania, sexolatria e agressividade.
�� claro que tais problemas s��o inter-relacionados
e ser�� in��til examin��-los como elementos isolados
do todo.
Cinco fatores b��sicos foram destacados para
a an��lise, como respons��veis pelos citados
problemas: 1) aumento da popula����o; 2) produ����o
agr��cola; 3) produ����o industrial; 4) utiliza����o de
recursos naturais; 5) contamina����o do meio
ambiente ou polui����o. A par do r��pido crescimento
demogr��fico e do acelerado ritmo de industria-
liza����o, temos: desnutri����o generalizada por
escassez de alimentos, esgotamento dos recursos
naturais n��o-renov��veis (minerais, metais, hulha
e petr��leo), destrui����o em massa dos recursos
florestais e deteriora����o ambiental. Ao que conv��m
adicionar: desagrega����o moral, tamb��m veloz. A
an��lise cobre o per��odo de um s��culo e intende
demonstrar as conseq����ncias do atual modo de
268
viver e de explorar a natureza, e ainda o que
poder�� acontecer se n��o houver medidas corretivas
e controladoras a curto prazo. Continuando
conforme vamos, dentro de cem anos alcan��aremos
os limites do crescimento e iniciar-se-�� o decl��nio
da popula����o e da produ����o agr��cola e industrial;
haver��, ent��o, um retrocesso na civiliza����o. Isto,
s�� levando em conta os f a t o r e s f �� s i c o s ; se
consider��ssemos os f a t o r e s s o c i a i s , dotados de
grande for��a de express��o, as coisas complicar-
se-iam ainda mais: greves, depreda����es, sequestros,
revolu����es, guerras, desemprego... Donde se
conclui que a operosa atividade humana,
conducente ao progresso, acabar��, por fim,
levando ao caos, �� ru��na. Por qu��?
�� que semelhante atividade, sempre crescente,
por um lado esgota o solo ar��vel e as fontes de
mat��ria prima ��� terminando por conduzir a
agricultura e a ind��stria �� fal��ncia ��� e, por outro
lado, acumula montanhas de detritos na superf��cie
terrestre e envenena a atmosfera, os rios e o
oceano ��� tornando o ambiente impr��prio �� vida,
inclusive humana. ��, conseq��entemente, um
s u i c �� d i o l e n t o , que poucas pessoas compreendem,
j�� pela vastid��o do problema, j�� pelos complexos
aspectos t��cnico-cient��ficos. A imensa maioria,
movida pela id��ia do lucro, monta f��bricas ��
vontade, derruba matas e explora minas sem
restri����o ��� e n��o avalia as conseq����ncias para
269
o f u t u r o p r �� x i m o . Exemplifiquemos com uns
poucos dados espec��ficos para instru����o do
leitor impulsionado pelo desejo de saber o que
deve esperar.
1. Popula����o. A popula����o mundial cresce
vertiginosamente. Em 1650, havia cerca de 500
milh��es de habitantes e a propor����o de aumento
era de aproximadamente 0,3% ao ano; a popula����o
dobraria em 250 anos. Em 1970, existiam 3.600
milh��es de pessoas aumentando �� taxa de 2,1%
ao ano; a duplica����o seria alcan��ada em 33 anos.
Segue-se da�� que, por volta de 2000, teremos
perto de 7 bilh��es de terr��queos. Qual a raz��o
desse incremento? Antes da bem estudada
Revolu����o Industrial (princ��pio do s��culo 19), a
fertilidade e a mortalidade humanas eram
relativamente altas e irregulares, de modo que
a taxa de natalidade (n��mero de pessoas nascidas,
por ano, em cada mil) superava de pouco a taxa
de mortalidade (n��mero de pessoas falecidas,
por ano, em mil). Al��m disso, em 1650, a
dura����o m��dia da vida era somente de 30 anos.
Ao entrar o progresso tecnol��gico, as condi����es
de vida melhoraram, com o avan��o da medicina
e da agricultura, havendo melhores alimentos,
rem��dios, moradias, transportes, condi����es de
trabalho, e t c . Nascem mais crian��as e os seres
humanos vivem mais (cerca de 60 anos e at�� 70
anos em certos pa��ses).
270
O famoso explorador dos oceanos, Jacques
Cousteau ( P a r i s Match, maio de 1991) d�� como
garantida que a explos��o demogr��fica �� o fator
que, pouco depois de 2000, acabar�� com a vida
na Terra; n��o haver�� ��gua pot��vel, nem alimento
e nem moradia para tanta gente, afian��a.
2. I n d �� s t r i a . Mais depressa do que a popula����o,
vem crescendo a produ����o industrial. No per��odo
entre 1963 e 1968, a taxa de crescimento da
produ����o chegou a 7% ��� al��m do triplo em
rela����o �� popula����o. A produ����o crescente gera
mais capital e este, ampliado, conduz a maiores
investimentos, que, a seu turno, aumentam a
produ����o e, portanto, o capital. Como o desgaste
ou deprecia����o �� reduzido, o capital industrial
cresce vertiginosamente. A situa����o p a r e c e
f a v o r �� v e l : a produ����o industrial aumenta de 7%
ao ano e a popula����o de 2,1%; logo, deveria
haver mais bens para maior n��mero de pessoas.
Mas, n��o �� o que acontece! A distribui����o ��
desigual entre os cidad��os do mundo. D��-se que
o crescimento industrial �� notavelmente maior
nos pa��ses j�� industrializados, nos quais a taxa
de crescimento do povo �� relativamente baixa.
Ao contr��rio, nos pa��ses mais atrasados nasce
bem mais gente. Resultado: mais indiv��duos,
menos produ����o. Os quatro pa��ses mais
industrializados (R��ssia, Estados Unidos, Jap��o e
Alemanha) t��m muito mais dinheiro por pessoa
271
e a propor����o do aumento desse capital ��
manifestamente maior do que o aumento da
popula����o. Nos pa��ses menos desenvolvidos, o
dinheiro �� mais escasso e o povo aumenta mais
depressa do que os recursos. Da�� dizer-se: "o rico
torna-se mais rico e o pobre ganha filhos" e "o
dinheiro chama dinheiro". Quanto ao Brasil,
nota-se, nos ��ltimos tempos, acentuada melhoria
na situa����o econ��mica e suas perspectivas s��o
excelentes em face do futuro pr��ximo com as
recentes e variadas descobertas de len����is
petrol��feros e a acelera����o da ind��stria pesada.
O que �� de perguntar-se �� o que acontecer�� ��
b a s e f �� s i c a desse progresso econ��mico e
populacional: haver�� recursos para que ele prossiga
na forma atual?
3 A l i m e n t o s . Provavelmente 50-60% da
popula����o terrena recebe alimenta����o inade-
quada. A produ����o agr��cola tamb��m sobe,
por��m, somente nos pa��ses mais adiantados. Nos
demais, �� estacion��ria e n��o superior ao
crescimento da popula����o. Disso decorrem fatos
como este: em Z��mbia (��frica) 26%, no
Paquist��o (��sia) 14% e na Bol��via (Am��rica do
Sul) 8,2% das crian��as morrem antes de
completar 1 ano e muito mais antes da idade
escolar. �� bem de ver que a produ����o de
alimentos exige, antes de qualquer medida, s o l o
c u l t i v �� v e l . E parece haver, no m��ximo, uns 3,2
2 7 2
bilh��es de hectares dispon��veis na Terra ��� e a
melhor metade est�� sob cultivo. A outra metade
acarretar�� despesas enormes se tiver de ser
aproveitada. �� de supor-se haja car��ncia dentro
de 30 anos, continuando a incrementar-se a
popula����o como agora. Chegar��, portanto, o dia
em que os alimentos come��ar��o a subir de pre��o
a ponto de muitos morrerem de fome e outros
comerem mal. Ora, isto j�� est�� acontecendo, de
fato, em v��rias partes do mundo: ocorrem 10
a 20 milh��es de mortes anuais atribu��veis direta
ou indiretamente �� desnutri����o. Em seguida ao
solo, vem a �� g u a doce como fator importante
na produ����o alimentar, a qual, em diversas
por����es do planeta, falta ou �� dif��cil de obter.
4. Recursos naturais. Os grandes processos
industriais demandam numerosas mat��rias primas
que a natureza tem de fornecer, cujo consumo
igualmente ascende velozmente. Por exemplo,
minerais, petr��leo, hulha, metais e g��s natural,
incapazes de renova����o. Mesmo a madeira, pass��vel
de reposi����o pelo esfor��o humano, sobe
continuamente de pre��o porque as madeiras de
lei n��o s��o plantadas e, quando o s��o, crescem
com apreci��vel lentid��o. Avalia-se que daqui a
cem anos ser�� extremamente custosa a obten����o
de v��rios metais ��teis �� ind��stria; basta ver que,
nos ��ltimos trinta anos, os pre��os do chumbo
e do merc��rio subiram 300% e 50096! A tais
273
dificuldades soma-se o constante aumento do
consumo de energia. Pode duvidar-se de que os
7 bilh��es de indiv��duos do ano 2000 venham a
dispor de suficientes mat��rias primas para o
desenvolvimento econ��mico e um razo��vel padr��o
de vida, caso prossiga o atual ritmo de produ����o.
Mas, as produ����es agr��cola e industrial, e o estilo
de vida associado a elas, d��o origem ao terr��vel
problema subseq��ente, do qual toda gente se
queixa hoje em dia; a pesada amea��a que ele
representa vai-se tornando cada vez mais palp��vel,
servindo de exemplo S��o Paulo.
5. P o l u i �� �� o . Os refugos do engenho e da
exist��ncia dos seres humanos v��o-se acumulando
crescentemente na superf��cie planet��ria e invadindo
os ares e as ��guas, tornando-se vis��veis, inc��modos,
irritantes e, por ��ltimo, nocivos �� sa��de e �� vida
das plantas e animais. ��leo e excremento nas
praias de banho, merc��rio nos peixes do mar,
chumbo e gases t��xicos no ar das cidades,
montes de lixo, latas vazias em toda parte, valas
com ��gua suja, e t c , s��o produtos usuais do
trabalho industrial e da simples presen��a do
homem em grandes concentra����es. Com isso, o
meio ambiente torna-se perturbado e, aos poucos,
inadequado �� vida. Em conclus��o, avoluma-se a
polui����o.
Muitas s��o as fontes de polui����o: ind��stria
qu��mica, usinas el��tricas, usinas at��micas, chamin��s
2 7 4
de f��bricas, ve��culos motorizados e o lixo est��o
entre as maiores. Vejam o que se joga fora nos
Estados Unidos anualmente: 48 bilh��es de latas,
26 bilh��es de garrafas, 65 bilh��es de tampinhas
e 7 milh��es de autom��veis como sucata, n��o
contando m��veis, utens��lios, etc.., imprest��veis
(uma fam��lia produz, em m��dia, 3 Kg di��rios de
detritos). At�� o calor, derivado do uso intensivo
de energia, e o g��s carb��nico, oriundo dos
carros, inofensivos em si mesmos, pioram o
meio; o calor, por exemplo, afeta o clima local
e perturba a vida aqu��tica (polui����o t��rmica). O
ru��do demasiado perturba o sono e o equil��brio
mental de muitas pessoas (polui����o sonora).
Quanto ��s subst��ncias qu��micas, in��meras mostram-
se patentemente venenosas. E o oxig��nio, o g��s
vital? Sabe-se que 3/4 do oxig��nio s��o devolvidos
�� atmosfera pelas plantas e 1/4 pelo fitopl��ncton
que flutua nos oceanos (formado de plantas
verdes unicelulares). Derrubando as ��rvores e
lan��ando res��duos t��xicos nos mares, reduz-se
aquele g��s pouco a pouco.
Embora muitos cientistas tenham dado brados
de alarme e escrito obras esclarecedoras, poucos
avaliam a magnitude e a significa����o do problema
da destrui����o do ambiente em que vivemos. Os
poluentes podem espalhar-se muito longe e perdurar
longamente. N��o poucos afetam a sa��de humana,
originando enfisema, asma, bronquite, c��ncer
2 7 5
pulmonar e conjutivite, por exemplo. Interroga-
se: a crosta e a atmosfera terrestres poder��o
suportar e manejar tamanha c��pia de materiais
perniciosos �� vida? Quanto mais industrioso �� o
homem, tanto mais se degrada o meio no qual tem
de viver. O combate �� polui����o exigir�� quantias
gigantescas de dinheiro e vast��ssimos recursos
t��cnicos, ainda n��o elaborados.
C��rculos viciosos. Prev��-se que antes de
2100 as referidas atividades ter��o chegado ao
limite do seu crescimento. Sem medidas corretivas,
ficar-se-�� envolvido nos seguintes c��rculos viciosos,
promanados das informa����es resumidas acima:
1. O aumento da popula����o determina maior
quota de alimentos.
2. A produ����o de alimentos cresce com o
acr��scimo de capital.
3. Mais capital leva a consumir maior c��pia
de recursos naturais.
4. O uso deles na ind��stria e na agricultura
gera polui����o.
5. E, finalmente, a diminui����o das reservas de
mat��ria prima e a polui����o conduzem �� redu����o
tanto da popula����o quanto dos alimentos!
�� um ciclo fechado dif��cil de romper. Espera-
se que, entre 2000 c 2050, haja somente amplia����o
da popula����o e da polui����o. E que, at�� 2100,
tudo esteja em decr��scimo, vindo o colapso logo
a seguir: ter��o sido ultrapassados os limites
2 7 6
naturais do crescimento por falta de mat��ria
prima, ru��na da agricultura e hipertrofia da
polui����o. Tal �� a perspectiva da humanidade se
o ritmo de atividade continuar como �� agora ���
n��o se levando em conta fatores a g r a v a n t e s ,
como guerras e epidemias, que apressariam a
decad��ncia do nosso mundo: o progresso sozinho
acabar�� com a civiliza����o...
E s p e r a n �� a s . Talvez se dobr��ssemos a
quantidade de recursos naturais (supondo novas
descobertas de minerais, petr��leo, e t c ) , a coisa
se equilibrasse. N��o ��� cresceria tanto a
industrializa����o que a polui����o, o eterno fantasma,
se tornaria mort��fera e, afinal, os recursos acabariam
com mais alguns anos. E um aumento das ��reas
verdes? A grande esperan��a seria a pr��pria
tecnologia, mediante a descoberta de novos
materiais e novas t��cnicas. Por exemplo, a
inesgot��vel energia at��mica traria magnas
facilidades na minera����o e na ind��stria; mas, far-
se-ia acompanhar de vasto incremento da polui����o
(e da pior esp��cie), al��m do alt��ssimo pre��o.
Parece que o X do problema �� a polui����o. O
caso �� que o seu controle �� tecnicamente muito
dif��cil e economicamente pouco vi��vel em face
do custo excessivo. Ainda que se conseguisse
controlar a polui����o e reduzir o consumo de
mat��ria prima natural, cresceriam a produ����o
industrial e a popula����o, acarretando defici��ncia
277
de alimentos. Se a agricultura progredisse muito,
por meio de novas t��cnicas, decorreria grande
aumento de alimentos a par da industrializa����o;
seria ��timo para a popula����o, que poderia
reproduzir-se �� vontade ��� mas, a polui����o tornar-
se-ia letal... N��o h�� sa��da, conforme as coisas
passam-se agora!
O que se pode dizer �� que a aplica����o de
solu����es tecnol��gicas poderia prolongar o per��odo
de crescimento, mas n��o eliminar as condi����es
desfavor��veis; adiar, mas n��o impedir o desastre.
Isto s�� quanto aos aspectos materiais, volte a
reafirmar-se.
�� bom acentuar que a tecnologia, junto com
os ampl��ssimos benef��cios que introduziu na vida
humana, permitindo criar utilidades e prolongar
a vida humana, trouxe tamb��m uma s��rie n��o
pequena de problemas ou efeitos delet��rios.
Acabamos de examinar a explos��o populacional,
a deple����o dos recursos naturais (sobretudo
minerais) e a contamina����o do meio (polui����o
e res��duos s��lidos). Favorece ainda a migra����o
de gente do campo para as cidades, atra��das
pelas aparentes facilidades; a forma����o de imp��rios
industriais e comerciais, concentrando a riqueza
nas m��os de poucos; a viol��ncia e a guerra. Mas,
de fato, s�� o esgotamento das reservas naturais
de mat��ria prima e a polui����o s��o obra exclusiva
da tecnologia.
278
Agora, cumpre atentar para o outro lado da
est��ria: n��o podemos, se somos racionais e
l��gicos, considerar a tecnologia como perniciosa
ou in��til ��� a despeito dos seus reconhecidos
inconvenientes. Todo o nosso estilo de vida
depende das suas realiza����es. Que dizer dos
ve��culos motorizados, das geladeiras, do cinema,
dos aparelhos m��dicos, dos medicamentos
essenciais, das m��quinas impressoras, dos
computadores?... Muitos dos desenvolvimentos
t��cnicos s��o indispens��veis ao futuro da esp��cie
humana. Afirma o fotoqu��mico ingl��s G. Porter
(1973): "O nosso progresso tecnol��gico �� parte
da evolu����o do homem". Poucos h��o de querer
voltar �� ��spera luta pela exist��ncia e �� escravid��o
do ��rduo trabalho bra��al. Muitos desejam a
redu����o das aplica����es t��cnicas ou mesmo
suspend��-las ��� mas a popula����o continuaria a
crescer... Vimos antes que a comunica����o de
Vaucanson prova que o caminho da evolu����o
terrena tinha de ser tal ��.*
* Nota da Editora: A comunica����o em refer��ncia est��
publicada na Revista Esp��rita de mar��o de 1864 (ano VII). Ali��s,
inicialmente, pelo m��dium Leymarie, Jacquard se manifesta
referindo-se ao desejo de que fora possu��do de melhorar as
condi����es penosas de trabalho do velho tear de Vaucanson,
fazendo c��lebre advert��ncia: "��� Pobre humanidade! ��s est��pida
quando estacas, cruel quando avan��as..." Isto porque os
melhoramentos foram eficientes, aumentando a automatiza����o
2 7 9
Solu����es n��o-t��cnicas. N��o podemos, assim,
eliminar a tecnologia e se ela continuar, seremos
n��s os eliminados. Urge, portanto, introduzir um
novo fator na quest��o ��� controles deliberados
do crescimento da popula����o e da produ����o
industrial, os dois fatores que aumentam
desordenada e verticalmente, sugerem Meadows
e Cols. Como a Terra �� limitada em suas dimens��es
e capacidade, restri����es ser��o necess��rias ao seu
povoamento e utiliza����o, dizem-nos. �� preciso
romper os c��rculos viciosos apontados para evitar
o colapso material no pr��ximo s��culo.
Que medidas levariam a tal resultado?
A imposi����o de controles da natalidade e da
produtividade, desviando o capital da fabrica����o
de utilidades materiais, �� praticamente imposs��vel,
pois o homem de neg��cios n��o est�� preparado
para renunciar a suas ambi����es e inclina����es.
Mas, essas medidas corretivas e estabilizadoras
ter��o de ser tomadas j��; n��o �� poss��vel esperar
at�� o ano 2000: seria tarde demais, prev��-se. Ora,
o que o ser humano indisciplinado da era
presente mais detesta �� controle, restri����o,
limita����o. Contudo, o fato irrecus��vel �� que
e diminu��ram a m��o de obra, determinando o desemprego, cujas
queixas tanto o abalaram. D�� ainda nova mensagem, vindo a
seguir a de Vaucanson, reconhecendo que ningu��m pode
insurgir-se contra o progresso. Prev�� que o homem substituir��
sucessivamente as opera����es manuais pela for��a da intelig��ncia.
2 8 0
mudan��as fundamentais se revelam indispens��veis,
antes que a natureza imponha uma limita����o
definitiva por esgotamento.
O estado de equil��brio (em que a popula����o
e o capital se encontrem estabilizados e
proporcionais), n��o tendo em conta os desajustes
sociais, exigir�� for��osamente restri����es a certas
liberdades humanas e ao ego��smo individual. J��
agora se invoca o lado moral da quest��o ��� "uma
mudan��a b��sica de valores e objetivos em n��veis
individuais, nacionais e mundiais". Acentuam
Dubos & Ward: "a situa����o �� grave se permanecer
como est�� e no ritmo em que as coisas se
processam, sem nenhuma interven����o do homem
para conter este estado de coisas". Por outras
palavras: "caminhos inteiramente novos s��o
necess��rios... a inicia����o de novas maneiras de
pensar... liberar for��as morais, intelectuais e
criativas necess��rias para iniciar-se tal
empreendimento..."
Todavia, pergunta-se, por que ele faria isso,
de s��bito, sem mais nem menos, se ama comer,
beber, divertir-se, ganhar o m��ximo sem considerar
os meios e estar bem acima dos seus semelhantes?
Que tipo de educa����o recebe desde a inf��ncia,
sen��o a que objetiva ensin��-lo a competir e a
"vencer na vida" a qualquer pre��o?
O que lhe falta �� respeito e amor ao pr��ximo,
�� solidariedade e coopera����o, �� sentimento de
2 8 1
fraternidade, tudo isso aliado �� ignor��ncia dos
valores do esp��rito. O que realmente se faz mister,
acima de tudo, �� uma revolu����o moral, uma
transforma����o interior, conforme dizem A. Toynbee
e o Espiritismo, trocando os valores de compra
e venda por valores humanos (Wiesner) ou, ainda,
os valores da Revolu����o Industrial pelos valores
de S��o Francisco de Assis (Toynbee). Semelhante
auto-reforma teria de acompanhar-se de objetivos
espirituais em lugar de aspira����es materiais vulgares
e exclusivas, isto ��, competir no interesse pr��prio,
lutar pelo poder, e t c . Mudar a sociedade nesse
sentido, buscando o equil��brio social, econ��mico
e ecol��gico, �� t��o dif��cil "a ponto de exigir uma
revolu����o copernicana da mente", esclarecem
Meadows e Cols. �� a supra dita revolu����o moral:
o que tem de mudar, primeiro, �� o homem
interior, o pensamento e o sentimento, as maneiras
de avaliar, julgar e sentir; depois, a orienta����o e
a conduta.
E p �� l o g o : a i n t e r v e n �� �� o d o A l t o
Ficamos cientes de que o tempo �� escasso
para que sobreviva a esp��cie humana em estado
��til de exist��ncia. O esfor��o ter�� de ser
empreendido nesta gera����o, j��, sem demora.
Uma nova orienta����o da atividade humana no
planeta dever�� ser estabelecida at�� o final do
2 8 2
s��culo XX. Isto coincide com informa����es que
muitos espiritualistas possuem a respeito do
chamado Terceiro Mil��nio, no qual se esperam
fundas modifica����es no panorama moral do ser
humano e, conseq��entemente, na crosta terrena.
Prev��-se, desde a ��poca de Allan Kardec, e t��m-
se recebido variadas informa����es pertinentes,
um expurgo espiritual em torno do ano 2000,
mediante o qual a Terra se livraria de seus
habitantes mais persistentes na pr��tica do mal.
Tal opera����o (de que j�� falamos anteriormente)
seria efetuada aproveitando situa����es calamitosas
desencadeadas pelo pr��prio homem. Deus, que
�� amor, n��o condena ningu��m; utiliza sua Lei os
desmandos em favor da recupera����o dos que
entraram num fundo de saco evolutivo, levando-
os a mudar de rumo atrav��s do sofrimento
gerado pela pr��pria culpa. In��meros esp��ritos
fixados no ego��smo feroz e no orgulho, que os
conduzem constantemente ao abuso contra o
pr��ximo e torna-os antifraternos e endurecidos
nas a����es mal��ficas, seriam atra��dos para outro
planeta, no qual vigoram ��rduas condi����es de
exist��ncia. Para esse mundo primitivo seriam
automaticamente encaminhados em virtude da
sintonia magn��tica; suas vibra����es inferiores
estariam harmonizadas com o baixo padr��o
vibrat��rio do novo ambiente, onde poder��o
exercer suas atividades costumeiras na satisfa����o
283
de ambi����es e impulsos menos dignos. A�� ficar��o
at�� que, exaustos pela dor proveniente de suas
a����es culposas em face da lei de amor, justi��a
e fraternidade, mudem interiormente e mostrem-
se aptos a regressar ao ambiente ent��o
espiritualizado da Terra. Ser�� uma reedi����o da
est��ria da Capela, que relatamos anteriormente;
agora �� a vez da Terra exportar seus filhos
rebelados contra o bem geral e adeptos do bem
pessoal apenas.
Haver��, portanto, magna redu����o da popula����o
terr��quea, que, al��m disso, ter�� uma natureza
moral bastante superior �� atual. Decorre dessa
circunst��ncia que os recursos naturais passar��o
a ser utilizados com a devida parcim��nia e as
produ����es industrial e agr��cola permanecer��o
dentro de limites justos ��� pois s��o de prever-
se, nessa ��poca que se avizinha, equitativa
distribui����o de bens (sem acumula����o em certas
m��os) e acentuada simplicidade (j�� que as pessoas
estar��o empenhadas em valorizar as coisas
referentes ao aspecto espiritual da vida).
Em conclus��o, se o ser humano, por si s��, ��
incapaz de controlar a ambi����o e o ego��smo, n��o
podendo coibir o excesso de produ����o, a
distribui����o egoc��ntrica dos bens, a devasta����o
da natureza e a degrada����o do ambiente ��� e os
decorrentes desajustes sociais ��� Deus, pelas
misericordiosas m��os de Jesus, secundado por
2 8 4
esp��ritos superiores, tem a solu����o ideal que
conduzir�� o planeta e seus habitantes ao porto
de salva����o. Que o homem comum por si mesmo
n��o consegue governar seus impulsos destrutivos
�� mais do que manifesto. N��o �� s�� porque tal
afirmem livros e mais livros de Psicologia. Todos
sabem dos perigos generalizados da radioatividade
e in��meras s��o as advert��ncias a respeito. E, no
entanto, as bombas at��micas foram utilizadas,
t��m sido aperfei��oadas e est��o sendo fabricadas
e armazenadas. Logo, poder��o ser usadas um dia
destes novamente.
Abandonemos as cogita����es puramente materiais
(sem desprezar a mat��ria). O homem �� um
esp��rito imortal revestido de um corpo material
como instrumento de progresso. A vida n��o ��
para se perder tempo e sa��de com prazeres
embrutecedores (sem repudiar o prazer). Como
a revis��o dos valores �� inevit��vel ��� mostra-o a
ci��ncia terrena e afirma-o o Mundo Espiritual ���
cuidemos agora da transforma����o moral com
vistas ao progresso do Esp��rito imortal de que
n��o podemos escapar.
Tal �� o ep��logo deste livro e adeus...
2 8 5
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Willis, J. C. 1949 - The Birth and Spread of
Plants. Boissiera, Genebra, vol. 8, 561 p.
2 9 1
292
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piritismo no
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