sábado, 11 de maio de 2019

{clube-do-e-livro} LANÇAMENTO: AQUELA MULHER - CARLOS AQUINO _ FORMATOS: PDF,MOBI,RTF, EPUB E TXT

L i v r o digitalizado p e l a Equipe Bons Amigos p a r a

a t e n d e r a o s deficientes visuais.



COLE����O CORAL S��RIE VERDE

Pr��ximo l a n �� a m e n t o :

O AMANTE DE V��NUS

Carlos Aquino

Pedidos pelo Reembolso P o s t a l :

CED��BRA ��� EDITORA BRASILEIRA LTDA.

Rua Filomena Nunes, 162

21.021 RIO DE JANEIRO ��� RJ

AQUELA MULHER

Carlos Aquino

Cedibra

BOLSILIVRO E LAZER

Copyright �� MCMLXXX

CEDIBRA ��� EDITORA BRASILEIRA LTD A.

Direitos exclusivos.

Rua Filomena Nunes, 162

21.021 ��� RIO DE JANEIRO ��� RJ

Distribu��do por:

FERNANDO CHINAGLIA DISTRIBUIDORA S.A.

Rua Teodoro da Silva, 907 ��� Rio de J a n e i r o , RJ

Composto e impresso p e l a :

Soc. Gr��fica Vida Dom��stica Ltda.

Rua Dias da Silva, 14 ��� Rio de J a n e i r o , RJ

O texto deste livro n �� o pode ser, no todo ou em

parte, n e m registrado, n e m reproduzido, n e m

retransmitido, por qualquer meio mec��nico, sem

a expressa autoriza����o do d e t e n t o r do c o p y r i g h t

Capitulo 1

o fot��grafo

Clic!

T a t i a n a ouviu m a i s u m a vez o b a r u l h i n h o

t��pico da m �� q u i n a fotogr��fica. E s c u t a r a aquele

ru��do m i l h a r e s de vezes depois que come��ara

a n a m o r a r Reginaldo.

Fot��grafo profissional, dos m a i s conceitua-

dos, ali��s, Reginaldo a d o r a v a explorar o- rosto

e o rosto de T a t i a n a em todos os ��ngulos

poss��veis e imagin��veis, com s u a s lentes.

���5

Agora estavam no Aterro do F l a m e n g o . O

vento b a t i a nos cabelos da jovem.

��� S o r r i a . . .

T a t i a n a obedeceu ao pedido do noivo.

Clic!

Mais u m a foto.

��� Voc�� n��o a c h a que por hoje chega?

��� Vamos t e r m i n a r este filme.

��� T�� legal.

��� F a �� a u m a c a r a triste, agora.

Mas n �� o estou triste.

��� Finja.

��� N��o sou atriz.

��� Lembre-se de um g r a n d e desgosto de s u a

vida.

��� N u n c a tive um g r a n d e desgosto em m i n h a

vida.

��� E n t �� o pense n u m filme que t e n h a feito

voc�� chorar.

A jovem esfor��ou-se. Conseguiu um olhar

triste e n o v a m e n t e o ru��do da m �� q u i n a .

Clic! P��GINA 6

Quando t e r m i n a r a m o filme, foram a t �� o

carro de Reginaldo.

��� E agora, p r a o n d e quer Ir?

��� Vamos l�� p r a casa.

��� Mas n �� o t i r a r m a i s fotografias.

��� Claro que n �� o .

Muito bonita, T a t i a n a resolvera, por b r i n c a -

deira, c a n d i d a t a r - s e a posar como modelo p a r a

uma r e v s t a . N��o que quisesse ser modelo p r o -

fissional. Apenas por curti����o.

Fora assim que c o n h e c e r a Reginaldo.

Ficaram amigos, come��aram a n a m o r a r .

Dai p a r a a c a m a foi a p e n a s um passo.

T a t i a n a j�� tivera outros casos com v��rios

rapazes. Mas t u d o simples passatempo, n a d a de

s��rio.

Com Reginaldo, no e n t a n t o , a coisa foi se

transformando. Gostavam da c o m p a n h i a um do

outro, s e n t i a m verdadeiro prazer em estarem

sempre j u n t o s .

Todas as h o r a s de folga p a s s a v a m ao lado

um do outro.

Chegaram a I p a n e m a , e pouco depois ao a p a r -

t a m e n t o de Reginaldo, que t a m b �� m servia de

est��dio.

���7

��� N��o me diga que agora val revelar os fil-

mes.

��� Vou.

��� E e n q u a n t o isso, o que eu fa��o?

��� Bote u n s discos, ou��a a m��sica.

Ela sorriu:

��� Seu t r a b a l h o est�� em primeiro lugar,

n �� o ��?

��� N��o, em segundo. Voc�� e s t �� em primeiro,

e sabe disso. Mas deixe-me revelar logo estes

filmes. Estou doido p r a s a b e r o resultado.

T a t i a n a colocou um disco na eletrola e R e -

ginaldo foi revelar os filmes.

��� Quer que prepare u n s s a n d u �� c h e s ? ��� p e r -

g u n t o u a mo��a.

��� �� u m a boa. Q u a n d o a c a b a r aqui a gente

faz um lanche.

Assim que Reginaldo t e r m i n o u seu trabalho,

comeram j u n t o s e ficaram m a i s a l g u m tempo

ouvindo m��sica.

Ele a abra��ou a beijou.

Foi r e t i r a n d o a r o u p a de T a t i a n a .

��� N��o a c h a melhor irmos p a r a o q u a r -

to?

8���

��� pra qu��?

Deitaram-se no sof�� mesmo.

O rapaz acariciava o colo e os selos de T a -

tiana,

J �� h a v i a possu��do t a n t a s mulheres, m a s n e J

n h u m a como T a t i a n a !

Possuia-a e m o r d e u - l h e a orelha de leve.

O cl��max velo alguns minutos depois.

* * *

��� Quero c a s a r com voc��.

��� O qu��?! ��� perguntou T a t i a n a , e s p a n -

tada.

��� Casar com voc��.

��� Como?

Ele disse r i n d o :

��� Voc�� ficou s u r d a ?

��� N��o.

��� P a r e c e . . .

��� Ser�� que ouvi m e s m o voc�� dizer que

queria casar comigo?

��� Foi isso e x a t a m e n t e o que eu disse. P��G 9

-

_Por qu��?

��� Porque gosto m u i t o de voc��.

��� Eu t a m b �� m .

��� E n t �� o , n a d a impede que a gente se case.

N��o e n t e n d i s u a surpresa.

��� �� que n �� o estava p r e p a r a d a .

��� T e n h o a certeza absoluta de que a a m o

e n��o quero perder voc��. P o r isso acho m e l h o r

a gente casar.

��� J�� que i n s i s t e . . .

E os dois ca��ram na g a r g a l h a d a .

��� Voc�� n e m conhece m i n h a fam��lia ainda

falou a jovem. Ou melhor, m i n h a m �� e . Mi-

n h a fam��lia resume-se nela. Meu pai, eu n �� o

vejo h�� muitos anos. S��o separados. Ele m o r a

em Recife. Foi p r a l�� h�� m u i t o t e m p o e n �� o

voltou mais.

- N��o vou me casar com s u a fam��lia e sim

com voc��.

O que n �� o quer dizer que n �� o deve co-

nhecer m i n h a m �� e .

��� Claro que d e v o . . .

- Afinal, ela t e m que saber que a filha

vai casar; e com quem.

��� A m a n h �� eu vou em sua casa.

10���

��� Combinado.

T a t i a n a ficou com Reginaldo a t �� t a r d e da

noite. Depois ele foi lev��-la a t �� o edif��cio onde

m o r a v a

Despediram-se e ela e n t r o u no pr��dio.

Estava feliz.

O c a s a m e n t o com Reginaldo n �� o e s t a v a em

seus planos m a i s imediatos. Nem p e n s a r a nisso

antes. Mas u m a vez que ele queria, t u d o bem.

Ficara r e a l m e n t e satisfeita.

Queria d a r a boa not��cia �� sua m �� e assim

que chegasse.

Mas abriu a p o r t a do a p a r t a m e n t o e e s t a -

va tudo escuro. Val��ria a i n d a n �� o h a v i a voltado

p a r a casa. T a t i a n a compreendeu que teria que

esperar a t �� o dia seguinte p a r a d a r a boa n o -

t��cia.

N��o esperou a c o r d a d a que s u a m �� e chegasse,

pois talvez ela s�� retornasse m u i t o t a r d e .

Assim, trocou de roupa e deitou-se.

���11

capitulo 2

A futura sogra

Q u a n d o T a t i a n a acordou n o d i a seguinte, e n -

controu a m �� e dormindo. E r a s e m p r e assim nos

fins-de-semana. Val��ria s�� s a �� a da cama depois

do meio-dia, e ficava possessa se a l g u �� m a des-

pertasse a n t e s .

Quando finalmente ela s e n t o u - s e �� mesa ��

u m a t a r d e , p a r a t o m a r o caf�� d a m a n h �� , T a -

tiana veio falar-lhe, s o r r i n d o :

��� T e n h o u m a surpresa p r a voc��.

12

��� Que tipo de s u r p r e s a ?

��� Uma surpresa.

��� Boa ou r u i m ?

��� Acho que voc�� vai a c h a r boa

��� O que ��?

��� Eu vou me casar.

Val��ria quase se engasgou com a t o r r a d a :

��� Vai o qu��!

��� Casar.

��� Assim? De r e p e n t e ?

��� Por qu��? Alguma obje����o?

��� N��o, n e n h u m a . �� que a not��cia me pegou

desprevenida. E q u e m �� o c a r a ?

��� Reginaldo.

��� E q u e m �� Reginaldo?

��� O c a r a com quem vou casar.

��� S i m . m a s o que ele faz, quem ele ��.

��� �� fot��grafo.

��� Ah, o t a l fot��grafo com quem voc�� es-

t �� . . .

��� J u s t a m e n t e . P13

��� Voc�� n �� o me disse que t i n h a planos de

casar com ele.

��� Eu n �� o t i n h a n e n h u m p l a n o . Rol R e g i n a l -

do q u e m me falou nisso o n t e m . T a m b �� m me

pegou de surpresa. Ele vem aqui hoje, no fim

da t a r d e . Quero que o conhe��a.

Val��ria terminou de fazer seu desjejum.

A not��cia n �� o lhe afetou m u i t o . Afinal, n �� o

ligava muito p a r a a filha. Cada u m a t i n h a s u a

vida e pronto.

Talvez fosse a t �� bom que T a t i a n a casasse,

logo. Assim teria mais liberdade, n �� o precisaria

ter t a n t o cuidado com s e u s casos amorosos e

poderia receber quem quisesse no a p a r t a m e n -

t o .

* * #

Eram quase seis h o r a s , q u a n d o Reginaldo

chegou. T a t i a n a abriu a p o r t a , s o r r i d e n t e .

Pouco depois, o r a p a z viu e n t r a r na s a l a u m a

m u l h e r a i n d a jovem, pouco m a i s d e q u a r e n t a

anos, bem conservada e m u i t o bonita.

R e a l m e n t e ele n��o esperava por isso.

Ent��o, aquela e r a a m �� e de T a t i a n a ? Sua fu-

t u r a sogra?

P e n s a r a e n c o n t r a r u m a s e n h o r a Idosa, a u s -

tera. Mas Val��ria n �� o t i n h a n a d a disso. Lem-

14���

brou-se de que T a t i a n a n u n c a lhe descrevera

a m��e, e seu espanto foi g r a n d e ao ver-se d i a n -

te daquela m u l h e r c h a r m o s a , alegre e comuni-

cativa.

T a t i a n a apresentou u m a o outro.

A p e r t a r a m - s e a s m �� o s .

Val��ria t a m b �� m e s t a v a e s p a n t a d a . J u l g a r a

que ia e n c o n t r a r m a i s um r a p a z insignificante.

Mas Reginaldo n �� o t i n h a n a d a d e insignificante.

Era incrivelmente a t r a e n t e .

Sua filha t i n h a tido bom-gosto.

O papo e n t r e os t r �� s foi cordial, d e s c o n t r a �� -

do.

Mais t a r d e , Reginaldo e T a t i a n a s a �� r a m p a r a

dar u m a volta.

Ele c o m e n t o u :

��� Voc�� n u n c a me t i n h a d i t o como e r a sua

m��e.

��� Voc�� n u n c a perguntou.

��� P e n s a v a que fosse b e m m a i s velha e por

que n��o dizer, bem m e n o s bonita.

T a t i a n a sorriu:

��� Pensava que e r a u m a velha r a n z i n z a e

teia? P15

���15

��� T a m b �� m n��o vamos exagerar. I m a g i n a -

va u m a m u l h e r comum, de meia idade.

* * *

Depois que a filha sa��ra com o noivo, Val��ria

n��o conseguia t i r a r o r a p a z do p e n s a m e n t o .

E logo e n t e n d e u d que estava se p a s s a n -

do.

Nunca fora m u l h e r de e n g a n a r - s e a si m e s -

mo. Estava interessada em Reginaldo, n �� o h a v i a

d��vidas.

E interessada de u m a m a n e i r a que n �� o con-

vinha a u m a f u t u r a sogra.

S e n t ra-se a t r a �� d a pelo r a p a z logo que o

vira, s�� que a princ��pio n �� o t i n h a m u i t a certeza

do tipo de a t r a �� �� o .

Mas agora, sozinha, c h e g a r a �� conclus��o de

que seu interesse pelo r a p a z e r a f��sico. Um tipo

de s e n t i m e n t o que n �� o ficava n a d a bem p a r a

com o futuro m a r i d o de sua filha.

* * *

Reginaldo convidou e Val��ria aceitou de bom

grado.

Nunca iria r e c u s a r aquele convite, e agora

estava ali no est��dio, p o s a n d o p a r a o r a p a z .

16���

Ele mudava as luzes, fazia efeitos, ligava

um ventilador p e r t o dos seus cabelos.

Havia mais de u m a h o r a que Reginaldo a

fotografava.

��� Cansada?

��� N��o n e m um pouco.

��� Quer d e s c a n s a r u n s minutos

��� N��o precisa.

E Val��ria c o n t i n u o u posando, e Reginaldo

fotografando.

��� Voc�� �� um excelente modelo. N��o fica

cansada n u n c a .

��� R e s t a s a b e r se sou fotog��nica. Sabe que

nunca me liguei m u l t o nessa de fotografia?

��� T e n h o certeza que �� fotog��nica.

Alguns m i n u t o s depois, T a t i a n a apareceu e

ficou a p r e c i a n d o .

Comentou:

��� Agora j�� sei que vou ter algum descanso.

J�� t e m um novo modelo que pode dispor ��

vontade.

Os tr��s s o r r i r a m . P 17

���17

C a p �� t u l o 3

Quando T a t i a n a e Reginaldo lhe e n t r e g a r a m

as fotos, depois de e x a m i n �� - l a s c u i d a d o s a m e n -

t e . Val��ria exclamou, e n t u s i a s m a d a :

��� S��o sensacionais!

��� Gostou? ��� p e r g u n t o u o rapaz.

��� Adorei. Voc�� r e a l m e n t e �� um excelent

i t e

e

fot��grafo. Se for t �� o bom m a r i d o i,amb��m, Ta^

t i a n a pode se considerar u m a m o c a de sor-

te.

18���

��� A c h o que o m �� r i t o n �� o �� s�� meu. O modelo

ajudou m u i t o . . .

��� B o n d a d e sua, disse Val��ria sorrindo.

��� V a m o s m a r c a r o u t r o dia p a r a t i r a r n o -

vas fotos.

��� B e m , j�� sei que n �� o sou m a i s seu modelo

preferido ��� falou T a t i a n a em t o m de b r i n c a d e i -

r a .

De novo no est��dio, Val��ria deixava-se foto-

grafar. D e s t a vez estava com um vestido m a i s

audacioso, que permitia ver s u a s p e r n a s .

Um p e n s a m e n t o n �� o s a i a da cabe��a de R e -

ginaldo, e recriminava-se p o r isso. De r e p e n t e ,

notava que estava a t r a �� d o pela f u t u r a sogra.

Seria a t r a �� �� o m e s m o ? Ou a p e n a s for��a do

h��bito? Em geral s e n t i a - s e a t r a �� d o por seus

modelos, e q u a n d o eles queriam, sempre as le-

vava p a r a a c a m a .

F o r a m assim com T a t i a n a e m u i t a s outras.

Ele temia que t a m b �� m fosse assim com Val��-

ria.

A p e r g u n t a saiu da boca do r a p a z sem ele

querer:

��� Voc�� se i m p o r t a r i a de posar n u a ? P19

-19

- Em absoluto

Val��ria tirou a roupa sem nenhum pudor.

(Nunca fora u m a m u l h e r a c a n h a d a . A desibinfc-

����o e r a u m a de s u a s c a r a c t e r �� s t i c a s m a i s for-

tes) .

Diante das luzes, s e n t i n d o o ventilador d e -

salinhando seus cabelos. Val��ria c o n s c i e n t e m e n -

te procurava excitar o r a p a z .

Ele come��ou a c o m p r e e n d e r que dificilmente

os dois deixariam de ir p a r a a c a m a naquele

dia.

No entanto, T a t i a n a podia c h e g a r a qualquer

momento. A u t o m a t i c a m e n t e , Reginaldo olhou o

rel��gio. (O gesto n �� o passou despercebido a Va-

l��ria) . A n o v a deveria c h e g a r d e n t r o cie uns

q u a r e n t a minutos.

O rapaz aproximou-se de Val��ria p a r a ajei-

t a r sua posi����o e segurou-lhe os ombros. E s -

tavam muito pr��ximos. O c o n t a t o da pele, aque-

la pele m a c i a . . .

O l h a r a m - s e .

Aproximaram os l��bios.

E beijaram-se.

Depois, t u d o aconteceu como n u m turbilh��o.

D e i t a r a m - s e no c h �� o ali mesmo, debaixo de

todas aquelas luzes. P20

Ele beijava-lhe os selos, a p e r t a v a - l h e o corpo,

e n q u a n t o Val��ria enfiava a m �� o por d e n t r o de

sua cal��a.

Alguns m i n u t o s depois ela o s e n t i a possuin-

d o - a . . .

Uma loucura, u m a verdadeira loucura.

Estava sendo possu��da pelo futuro genro, o

mesmo h o m e m que t r a n s a v a t a m b �� m com sua

filha e que ia c a s a r - s e com ela.

Agarrava Reginaldo com for��a, como se qui-

zesse s e g u r �� - l o p a r a sempre.

F i n a l m e n t e , o cl��max.

Deixaram-se ficar u m i n s t a n t e n a m e s m a p o -

si����o, e depois ele afastou-se do corpo de Va-

l��ria.

Ela come��ou a vestir-se, e n q u a n t o o r a p a z

se recomp��s. Em seguida olhou as h o r a s .

Foi Val��ria quem primeiro falou:

��� D e n t r o de a l g u n s m i n u t o s T a t i a n a deve

chegar.

��� �� . . .

N��o disseram m a i s n a d a .

Reginaldo n �� o voltou a t i r a r fotografias, p a -

recia um t a n t o nervoso. M u r m u r o u :

��� Que loucura! P 21

Val��ria n��o e n t e n d e u direito:

��� O qu��?

��� Que loucura!

��� A vida �� u m a loucura.

A c a m p a i n h a tocou.

Era T a t i a n a .

Entrou no est��dio.

��� Oi! J�� t e r m i n a r a m as fotos?

��� J �� .

��� �� t i m o .

Reginaldo sorriu.

* * *

Depois do sucedido, Val��ria n �� o esquentou

muito a cabe��a. Era b a s t a n t e a m o r a l p a r a isso.

T i n h a sido a p e n a s m a i s u m h o m e m .

�� primeira vista era u m a loucura.

Mas p e n s a n d o melhor, n �� o viu r a z �� o p a r a

dar um valor muito g r a n d e ao fato.

Apenas mais u m homem, m a i s u m a a v e n t u r a

em sua vida. O fato de ir c a s a r - s e com s u a filha

22���

dentro de algum tempo, n �� o fazia de Reginaldo

u m a coisa especial.

Claro que gostara de t r a n s a r com ele, e h��

muito tempo que a p r e n d e r a que s��- devia a r r e -

pender-se d a s coisas que n �� o t i n h a feito.

T a t i a n a n �� o sabia de n a d a , n e m ia saber.

Talvez a t �� ela n u n c a mais t r a n s a s s e com

Reginaldo. Ou talvez, u m a vez que t i n h a m feito

a p r i m e i r a vez, acontecesse o u t r a s vezes e p r o n -

to.

N��o iria ficar a p a i x o n a d a pelo rapaz, n e m

Reginaldo por ela. E com o tempo tudo cairia

no esquecimento.

N��o via motivos p a r a p r e o c u p a r - s e . E n��o

ficou m u i t o t e m p o p e n s a n d o no a s s u n t o .

* * *

Quem n �� o e n c a r a v a as coisas com t a n t a s i m -

plicidade e r a Reginaldo.

Ficou meio desconcertado e com receio de que

T a t i a n a descobrisse.

T i n h a medo de e n c a r �� - l a , de t r a i r - s e .

Ao m e s m o t e m p o desejava t e r outros encon-

tros daquele tipo com Val��ria, a p e s a r de consi-

derar a b s o l u t a m e n t e insensato.

Q u a n d o seu viu na cama, sozinho, a n t e s de P 23

dormir, as coisas come��aram e n t �� o a assumir

propor����es assustadoras.

Aquilo n u n c a deveria t e r acontecido. P o r que

n��o se dominara?

E Val��ria?

Ela o t i n h a provocado, t i n h a certeza. Des-

de o in��cio que as inten����es da m u l h e r deviam

ser aquelas.

Que tipo de m u l h e r seria ela p a r a querer

t r a n s a r com o noivo da pr��pria filha?

Depois de m u i t o pensar, achou que de modo

algum o fato poderia repetir-se.

P a r a evitar novas tenta����es, n �� o convidaria

mais Val��ria p a r a posar. Assim, sem ficarem

a s��s, n �� o haveria perigo.

Alguns dias depois, m a n d o u as fotos de Va-

l��ria por T a t i a n a (claro que n �� o as que ela

estava sem roupa) .

Val��ria achou divertido. Compreendeu que o

rapaz estava fugindo dela.

Ligou p a r a ele dois dias depois:

��� Al��, como vai?

��� Quem est�� falando?

Val��ria. N��o conhece m i n h a voz?

- Oi, como vai?

24���

��� Recebi as fotos.

��� Gostou?

��� Muito. Mas fiquei decepcionada. Quero ver

as o u t r a s . . .

��� As o u t r a s ?

��� Sim. As que estou sem roupa..

E combinou q u e p a s s a r i a no est��dio p a r a

a p a n h �� - l a s . Reginaldo alegou e s t a r muito ocupa-

do, m a s Val��ria insistiu.

Ele a i n d a p e r g u n t o u :

��� E se T a t i a n a e n c o n t r a r as fotos?

��� G a r a n t o que n �� o vou deixar que isso

aconte��a.

No e n t a n t o , q u a n d o Val��ria foi ao est��dio na

hora m a r c a d a , n �� o e n c o n t r o u ningu��m. Ficou

c h a t e a d a e ao mesmo t e m p o divertida: R e g i n a l -

do estava m e s m o fugindo.

Mas ele n �� o a conhecia. N��o e r a m u l h e r

para desistir t �� o facilmente.

T o m o u a l h e telefonar:

��� Estive em seu est��dio. Por que n �� o e s -

tava me esperando?

��� �� que fui c h a m a d o p a r a um servi��o u r -

gente e n �� o deu p r a lhe avisar. P 25

��� Q u a n d o posso ir de novo p a r a a p a n h a r a��

tot��s?

��� Eu joguei o filme fora. N��o t e m mais

foto n e n h u m a .

��� Mentira.

��� N��o, Val��ria, �� verdade.

---- E por que fez isso?

��� P a r a e v i t a r problemas.

��� Que tipo de problemas?

��� Voc�� s a b e . . .

��� Ora, Reginaldo, que bobagem! Voc�� est��

agindo como crian��a.

��� E voc�� como u m a pessoa insensata.

��� Desculpe.

��� N��o precisa ser grosseiro.

��� Quer dizer que n �� o existe mais n e n h u m a

foto, que voc�� jogou o filme f o r a . . .

��� Isso mesmo.

��� E n t �� o eu vou a t �� a�� p a r a t i r a r outra.

��� Voc�� n �� o vai fazer isso.

��� T a t i a n a vai c h e g a r daqui a pouco.

26���

��� Vou. Agora. D e n t r o de quinze minutos

estou a��.

��� Por que t a n t a s m e n t i r a s ? T a t i a n a foi p a r a

a aula de ingl��s.

* * *

Quase vinte m i n u t o s depois, Val��ria c h e g a v a

ao est��dio de Reginaldo. Ele n �� o s a �� r a , a c h a r a

melhor conversar pessoalmente, conseguir con-

venc��-la a n �� o levar a d i a n t e aquele caso.

��� Oi!

��� Oi!

��� Por que e s t �� t �� o s��rio?

��� P o r q u e . . .

��� Voc�� precisa ser menos encucado, Regi-

naldo. S�� porque aconteceu aquilo e n t r e a gente,

naquele dia, n �� o �� preciso fazer u m a trag��dia.

Por que fugir de m i m ? Que bobagem!

��� Val��ria, a gente foi longe d e m a i s . . .

��� N��o acho.

��� Quer saber de u m a coisa?

��� Ainda �� t e m p o de recuar.

��� O qu��? P 27

���27

A g e n t e j �� avan��ou o suficiente p a r a n a o

poder r e c u a r mais, Reginaldo. Leve a coisa na

esportiva, como eu. Se a g e n t e t r a n s o u u m a vez,

pode ir p a r a a c a m a m a i s d u a s ou cinco vezes,

d �� n o m e s m o . . .

N��o sou da m e s m a opini��o.

- Deixe eu c o m p l e t a r o que estava dizendo.

Voc�� levou a coisa p a r a o lado negativa. E no

e n t a n t o pode ser e n c a r a d a como u m a coisa

positiva. N��s nos s e n t i m o s a t r a �� d o s um pelo

outro, n �� o �� verdade? Fizemos o que t e r �� a m o s

que fazer. U m a conseq����ncia n a t u r a l . Pior seria

ficarmos sempre com o desejo l a t e n t e e n u n c a

realizar. Nossas rela����es e n t �� o seriam s e m p r e

tensas, os dois sempre com m e d o e ao mesmo

tempo e s p e r a n d o que o inevit��vel acontecesse.

Assim, n �� o . J�� aconteceu. Pode ou n �� o acon-

tecer outras vezes. E depois a c a b a . . . N��o v��

pensar que vou ficar a t r �� s de voc��. N a d a disso.

Afinal n �� o t e n h o dificuldade e m a r r a n j a r a d -

miradores.

��� Tire a l g u m a s fotos m i n h a s . Assim voc�� se

distrai. N��o fique com receio que n �� o vou lhe

atacar

El�� riu n a t u r a l m e n t e .

Reginaldo t a m b �� m sorriu.

E come��ou a p r e p a r a r as luzes.

Tirou diversas fotos, m a s desta vez Val��ria

n��o quis se despir. Apenas p u x a v a um pouco

o decote, l e v a n t a v a um pouco a saia.

28

Num d e t e r m i n a d o m o m e n t o , ao cruzar as

p e r n a s com um m o v i m e n t o largo, fez com que

Reginaldo lhe visse a c a l c i n h a .

O rapaz n �� o se iludiu, e s t a v a com v o n t a d e

de t r a n s a r com Val��ria de novo e s a b i a que a

sess��o de fotografias t e r m i n a r i a na c a m a ,

N��o deu o u t r a coisa.

De repente, ele largou a m �� q u i n a fotogr��-

f i a e aproximou-se de Val��ria. P u x o u - a p o r um

bra��o e levou-a p a r a o q u a r t o .

Despiram-se.

Ela quase esbo��ava um sorriso vitorioso. R e -

ginaldo estava c o m p l e t a m e n t e submisso aos seus

encantos.

A f��ria do r a p a z agora e r a r e d o b r a d a , como

se, ao mesmo tempo que o desejo, sentisse t a m -

b��m raiva de Val��ria por a t r a �� - l o t a n t o . P 2 9

cap��tulo 4

projetos

Apesar do desejo que s e n t i a por Val��ria,

Reginaldo c o n t i n u a v a a m a n d o T a t i a n a .

P e r m a n e c i a e n c o n t r a n d o - s e com a m �� e no

est��dio, onde dava vaz��o a t o d a a sua lux��ria,

e n q u a n t o com a filha t r a �� a v a os planos do p r �� -

ximo c a s a m e n t o .

��� Eu quero u m a c e r i m �� n i a simples, s e m m u i -

ta badala����o. E voc��? ��� p e r g u n t o u T a t i a n a .

30���

��� T a m b �� m .

Combinaram que se casariam d e n t r o de seis

meses.

Ao c h e g a r em casa, T a t i a n a deu a not��cia a

Val��ria:

��� Eu e o Reginaldo m a r c a m o s nosso c a s a -

mento.

A m��e franziu a testa, quase imperceptivel-

m e n t e :

��� P a r a q u a n d o ?

��� Setembro.

��� J �� ?

Foi naquele m o m e n t o que Val��ria compreen-

deu que s u a liga����o com Reginaldo era mais

forte do que pensava.

Ali��s, j�� poderia ter chegado a e s t a conclus��o

h�� m a i s t e m p o , u m a vez que, depois que fizera

sexo com o rapaz, se desinteressara por comple-

to dos outros homens.

E s t a r i a a p a i x o n a d a ?

Achou a id��ia rid��cula, m a s rid��cula ou n��o,

esta e r a a verdade.

Pela primeira vez e n t e n d e u que estava t e n -

do u m a rela����o perigosa. O que come��ara como

uma brincadeira t i n h a assumido propor����es

mais s��rias.

���31

mas da m a n e i r a mais objetiva poss��vel, pensou

que a m e l h o r solu����o seria p r o c u r a r i n t e r e s s a r -

se por outro homem.

Mais u m a vez, Reginaldo e Val��ria estavam

na c a m a . Q u a n d o ele a possuiu, a m u l h e r r e -

solveu fazer sua .chantagem. A m e l h o r h o r a

p a r a conseguir o que se queria de um homem,

era e x a t a m e n t e q u a n d o ele e s t a v a prestes a

atingir o cl��max, pensava Val��ria.

��� T a t i a n a me falou que voc��s m a r c a r a m

a d a t a do casamento.

��� Isso n �� o �� m o m e n t o p r a falar nisso.

Por que n��o?

��� Deixe pra d e p o i s . . .

��� N��o a c h a m e l h o r desistir?

��� De qu��?

��� De c a s a r com T a t i a n a ?

Ele continuava fazendo movimentos.

��� Depois a gente discute isso, deixe p r a de

p o s , V a l �� r i a . . .

E acelerou os movimentos, a fim de a l c a n �� a r

o cl��max o mais depressa poss��vel.

32���

Ela calou-se e concentrou-se no que estava

f a z e n d o . . .

* * *

��� Ent��o, podemos discutir a g o r a ?

��� A respeito de qu��?

��� Do seu c a s a m e n t o com T a t i a n a .

��� M a r c a m o s p a r a setembro.

��� Isso eu sei.

��� E n t �� o ?

Ela olhou-o d e m o r a d a m e n t e :

��� Acho m e l h o r d e s m a n c h a r esse noivado.

��� N��o vou fazer isso.

��� Voc�� n �� o a m a T a t i a n a .

��� Amo, sim.

��� Se gostasse dela n �� o ia pra c a m a c o m i -

go.

��� Por favor, Val��ria, vamos m u d a r de a s -

sunto.

Mas ela n �� o queria m u d a r o r u m o da con-

versa. Permaneceu b a t e n d o n a m e s m a tecla, m a s

n��o houve jeito de conseguir a promessa de R e -

ginaldo de que t e r m i n a r i a o noivado com T a -

tiana.

- 3 3

��� Este c a s a m e n t o n �� o vai d a r certo.

��� Nunca se s a b e . . .

��� T e n h o certeza.

��� Eu falei que n��s n �� o dev��amos c o n t i n u a r .

Quis fugir de voc��, m a s foi voc�� q u e m insis-

t i u . . .

��� E voc�� aceitou, estava doido p r a c o n t i n u a r

indo p r a c a m a comigo. Por isso que eu digo que

n��o .gosta de T a t i a n a .

A conversa girou em t o r n o do m e s m o t e m a

at�� a h o r a de Val��ria ir embora.

Os dois e s t a v a m exaustos e n �� o t i n h a m che-

gado a lugar algum.

Reginaldo p e r m a n e c i a firme em seu prop��-

sito, e Val��ria, a p e s a r da resist��ncia do rapaz,

ou talvez mesmo por causa disso, estava mais

disposta do que n u n c a a conseguir seu obje-

tivo.

Depois que ela saiu, Reginaldo c o m p r e e n -

deu que estava a b s o l u t a m e n t e certo de que aque-

le caso iria lhe d a r m u i t a s dores de cabe��a.

Por isso t e n t a r a evitar que chegasse ��quele

ponto.

Por que se deixara envolver daquela m a n e i -

ra? Por que n �� o t i n h a sido mais forte. Por

que concordara em c o n t i n u a r com aquela lou-

cura?

34���

Na rua, indo a p�� p a r a casa, Val��ria obser-

vava os h o m e n s que p a s s a v a m .

N��o, n e n h u m lhe a t r a �� a .

N��o queria abrir m �� o de Reginaldo, e a r r a n -

j a r outro a m a n t e n �� o s e r i a u m a solu����o.

Haveria de conseguir que ele desistisse de

casar com T a t i a n a .

* * *

No e n t a n t o , Val��ria estava c o m p l e t a m e n t e

e n g a n a d a a respeito da influ��ncia que pudesse

ter sobre Reginaldo.

O m��s de setembro chegou.

O dia do c a s a m e n t o se aproximava.

Apesar de viver s e m p r e t e n s a , Val��ria n �� o

deixava que sua filha percebesse seu estado.

Na v��spera da cerim��nia, Val��ria chegou ao

a p a r t a m e n t o , que t a m b �� m servia de est��dio de

Reginaldo, de m a d r u g a d a .

Sa��ra de casa e x a t a m e n t e q u a n d o a filha

chegara. Esta n �� o se s u r p r e e n d e r a muito ao

ver a m �� e sair, pois j�� se acostumara com seus

programas t a r d e da noite.

Mesmo assim falou:

��� Vai sair a esta h o r a ?

���35

��� Q u a n t a s vezes j�� me viu saindo de m a d r u -

g a d a ?

��� Muitas.

��� E n t �� o ?

��� Vai e s t a r c a n s a d a a m a n h �� p a r a a cerim��

nia.

��� Se n �� o estou e n g a n a d a , �� ��s q u a t r o h o r a s

da t a r d e , n �� o ��?

��� ��, sim.

��� D�� m u i t o t e m p o . . . posso d o r m i r a t �� mais

de meio-dia.

A filha n��o disse mais n a d a , e Val��ria foi

ao e n c o n t r o de Reginaldo.

Ao chegar ao edificio onde ele morava, fa-

lou com o porteiro, que n �� o teve d��vidas em

deix��-la entrar, u m a vez que sabia que o r a p a z

costumava receber m u l h e r e s a qualquer hora

da noite.

Ela tocou a c a m p a i n h a u m a , duas, t r �� s ve-

zes. ;

Reginaldo veio a t e n d e r meio sonolento (j��

t i n h a ido p a r a a c a m a ) :

��� O que est�� fazendo aqui?

��� Vim ver voc�� ��� respondeu a m u l h e r ,

e n t r a n d o . P 3 6

��� Eu estou cansado, Val��ria.

��� Eu sei. T a t i a n a esteve aqui a t �� h�� pouco.

Gastou t o d a s as energias com ela e n �� o guardou

n a d a p r a m i m ?

��� Voc�� �� m u i t o c��nica.

��� T a n t o q u a n t o voc��, m e u querido. Somos

da m e s m a esp��cie.

��� T u d o bem. Mas por que esta visita ines-

perada?

��� I n e s p e r a d a ? ! N��o acredito que voc�� n �� o

soubesse que eu viria aqui hoje. N��o podia dei-

xar de vir c o m e m o r a r s u a despedida de soltei-

ro.

��� Comigo voc�� n �� o vai c o m e m o r a r coisa

n e n h u m a .

��� Por que t a n t o m a u - h u m o r ? �� por que vai

casar a m a n h �� ? Eu �� que deveria e s t a r m a l -

h u m o r a d a . . .

��� �� imposs��vel conversar com voc��.

��� N��o sei por qu��.

Val��ria pegou u m a g a r r a f a de u��sque e se

serviu:

��� N��o quer beber t a m b �� m ?

��� N��o.

��� Voc�� �� quem est�� imposs��vel hoje.

-37

Dizendo isso, a m u l h e r abra��ou Reginaldo,

que procurou esquivar-se. Mas ela n �� o deixou.

Ent��o ele ficou p a r a d o como u m a e s t �� t u a , sem

reagir ��s suas car��cias.

��� J�� que o c a s a m e n t o �� irremedi��vel, isso

n��o quer dizer que n �� o podemos c o n t i n u a r s e n -

do a m a n t e s disse Val��ria.

Ele procurou m a n t e r - s e calmo e l��cido:

��� Bote a cabe��a no lugar, Val��ria. N��o s a -

be que n��o pode ser?

��� Por que n �� o ?

��� Porque n��o pode. A m a n h �� caso com sua

filha, e por esta simples r a z �� o n �� o devo con-

t i n u a r t r a n s a n d o com voc��.

��� Foi voc�� quem quis assim.

��� Eu?!

��� Voc��, sim. Fiz t u d o p a r a que este c a s a -

m e n t o n �� o se realizasse.

E come��ou a c a r i c i a r Reginaldo, que p e r m a

necla frio, inalter��vel.

��� Q u a n t a s vezes foi p r a c a m a com T a t i a -

na?

��� Quer p a r a r com isso?

38���

��� N �� o . E n �� o vou lhe d a r sossego, e n q u a n -

t o n �� o f o r p r a c a m a comigo hoje.

��� Pela �� l t i m a vez, t�� legal?

��� N��o posso g a r a n t i r A gente n u n c a

sabe o que vai a c o n t e c e r no f u t u r o . . . . '

E se dirigiram p a r a o q u a r t o . P 39

C a p i t u l o 5





Lua de mel


Logo depois da cerim��nia do c a s a m e n t o , T a -

t i a n a e Reginaldo v i a j a r a m p a r a A r a r u a m a , em

lua-de-mel. Foram p a r a u m a casa que o r a p a z

possu��a l��.

D u r a n t e a festa, Val��ria comportou-se m a -

ravilhosamente, como de deve comportar a m �� e

da noiva.

Apesar de c h a t e a d a , n u n c a d e m o n s t r a r i a o

fato aos outros. At�� Reginaldo, o ��nico que sabia

40���

o que se passava no �� n t i m o da m u l h e r , s u r p r e -

endeu-se com a perfei����o com que Val��ria r e -

presentava sua com��dia.

Terminado tudo, e depois que o casal viajou,

Val��ria sentiu-se deprimida.

Iria ficar s o z i n h a d u r a n t e quinze d i a s .

Sem ver Reginaldo, sem t r a n s a r com ele.

O bom-senso lhe recomendava a r r u m a r ou-

tro homem, o m a i s urgente poss��vel, p a r a que

quando o genro voltasse se surpreendesse por

n��o procur��-lo m a i s .

Assim, j�� um t a n t o b��beda, pegou seu c a r r o

e saiu pelas r u a s .

Rodou por C o p a c a b a n a , I p a n e m a e Leblon d i -

versas vezes. Ia d e v a g a r com o carro, observan-

do os rapazes n a s cal��adas.

Um c h a m o u - l h e a a t e n �� �� o . Estava, de cal��a

b r a n c a bem j u s t a , s u a masculidade d e s t a c a n d o -

se quase e s c a n d a l o s a m e n t e .

O r a p a z e s t a v a j u n t o ao me��o-fio, p e r n a s

abertas, bra��os cruzados.

Ela n �� o teve d��vidas. P a r o u o c a r r o um

pouco mais a d i a n t e e esperou.

O desconhecido veio falar-lhe.

��� Oi! ��� disse, sorrindo.

���41

Val��ria respondeu-lhe t a m b �� m s o r r i n d o :

��� Oi! ��� (Ela n �� o estava a fim de p e r d e r

tempo) ��� N��o quer u m a volta?

Ele abriu a porta do autom��vel e e n t r o u :

��� Tudo bem.

Val��ria e x a m i n o u - o melhor. N��o e r a m u i t o

bonito de rosto, t i n h a a c a r a um pouco m a r c a d a

demais p a r a s u a idade. Notava-se que e r a j o -

vem, m a s j�� possu��a vincos em t o r n o da bo-

ca.

��� Meu n o m e �� Moacir.

��� T e m certeza?

��� Claro. Ou p e n s a que estou m e n t i n d o ?

Quer ver m i n h a identidade?

��� N��o, n �� o �� preciso.

��� E o seu?

��� Meu nome?

��� Sim.

Val��ria.

Ele come��ou a r i r :

��� Nome de guerra.

��� N��o, �� o meu mesmo.

��� T a m b �� m n �� o precisa m o s t r a r sua i d e n t i -

dade. Eu acredito. P 42

O que voc�� faz?

- T r a n s o . . .

��� S�� Isso?

��� Acha pouco?

��� N��o.

��� E n t �� o ?

��� E o que estava fazendo na beira da cal-

��ada a esta h o r a da noite?

��� Aquilo m e s m o que voc�� pensou.

��� Voc�� fica esperando que passe um carro...

algu��m que o c h a m e . . .

��� Isso m e s m o .

��� Faz isso t o d a s as noites?

��� N��o descanso u m a

��� Por qu��?

��� Preciso g a n h a r dinheiro.

Ela n �� o ficou m u i t o surpresa, j��. esperava

por isso:

��� Q u a n t o voc�� cobra?

��� D e p e n d e . . . N��o sou muito exigente.

Q u i n h e n t a s p r a t a s t �� legal.

E riu.

_ 4 3

O sorriso e r a meigo, quase infantil, em c o n -

traste com seu f��sico musculoso, os vincos em

torno da boca, o o l h a r d u r o , quase cruel. O s o r r i -

so lhe amenizava a express��o do rosto.

Val��ria s e n t i u - s e m a i s segura de si:

��� Quer ir pro m e u a p a r t a m e n t o ?

��� Voc�� �� quem m a n d a .

Foram.

Era a primeira vez que p a g a v a a um h o m e m

p a r a ir p a r a a c a m a com ela. Mas isso n��o a

deprimia. Pelo contr��rio, d e i x a v a - a excitada.

Um a m a n t e comum n �� o lhe serviria naquela

noite. Precisava fazer a l g u m a coisa diferente,

que n �� o tivesse feito a i n d a . S�� assim poderia

deixar de p e n s a r em Reginaldo.

No a p a r t a m e n t o , n o v a m e n t e m u i t o s��rio, fa-

zendo cara de mau, sem esbo��ar seu sorriSQ

cativante, Moacir deixou-a um pouco a m e d r o n -

tada.

�� se se t r a t a s s e de um l a d r �� o ? Se Moacir

se t o r n a - s e de r e p e n t e violento e t e n t a s s e r o u -

b��-la? Ou mesmo m a t �� - l a ?

A sensa����o de perigo excitou-a m a i s a i n d a .

R a p i d a m e n t e , Moacir tirou a roupa. Parecia

querer m o s t r a r logo o " m a t e r i a l " pelo qual Va-

l��ria estava p a g a n d o .

44���

Ela olhou p a r a as coxas musculosas, o r a p a z

come��ando a excitar-se.

��� Voc�� n��o vai se a r r e p e n d e r . Sou b o m de

cama.

E r e a l m e n t e , Val��ria n �� o teve do que se quei-

xar.

Levou Moaclr p a r a o quarto, t a m b �� m se' d e s -

piu e ele foi logo c u m p r i n d o sua obriga����o;. Afi-

nal estava sendo pago.

Passou a l��ngua ��vida pelo corpo da mulher.

Parecia r e a l m e n t e e s t a r s e n t i n d o prazer.

Era um profissional muito competente, c o n -

cluiu Val��ria.

E fez com que ele lhe a possu��sse.

Poucos I n s t a n t e s depois a t i n g i a m o cl��max.

* * *

Ele pegou os q u i n h e n t o s cruzeiros-e guardou

no bolso, com n a t u r a l i d a d e :

��� Quer me e n c o n t r a r de novo?

��� Quero.

��� Vamos m a r c a r ? Ou prefere me e n c o n t r a r

por acaso qualquer noites destas?

��� �� m e l h o r d e i x a r ao acaso.

���45

��� Eu sempre fa��o p o n t o ali, n a q u e l e lugar

onde me viu. N��o �� dif��cil me a c h a r .

Moacir acabou de vestir-se e foi embora.

Foram o s q u i n h e n t o s cruzeiros m a i s b e m e m -

pregados de m i n h a vida, pensou Val��ria.

Estava saciada, c o n t e n t e .

Sorriu, ao lembrar-se de Reginaldo.

Talvez a t �� nem quisesse m a i s ir p a r a a

cama com e l e . . .

* * *

T a t i a n a e Reginaldo gozavam as del��cias da

casa em A r a r u a m a .

Passavam os dias na p r a i a , c o m e n d o a fa-

zendo sexo.

U m a l u a - d e - m e l t r a n q �� i l a e maravilhosa, era

o que pensava T a t i a n a .

Q u a n t o a Reginaldo, n �� o e s t a v a t �� o t r a n -

q��ilo. Sabia que aqueles quinze dias iam t e r -

m i n a r e que Val��ria o esperava no R J.

E q u a n t o m a i s p e n s a v a n o r o m a n c e que m a n -

t i n h a com a sogra, m a i s se r e c r i m i n a v a em

t��-lo come��ado.

Procurava a r r a n j a r u m meio d e v e r - s e livre

dela, m a s n �� o e n c o n t r a v a s a �� d a . Val��ria e r a

46���

caprichosa e insistente. Uma pessoa dif��cil e

perigosa.

��� Em que e s t �� p e n s a n d o ? ��� p e r g u n t o u T a -

tiana, de r e p e n t e .

Ele disfar��ou: -

��� Estou o l h a n d o o m a r e i m a g i n a n d o o que

existe al��m dele.

Os dois e s t a v a m d e i t a d o s na p r a i a . As o n d a s

quase c h e g a v a m a seus p��s.

N��o h a v i a n i n g u �� m n a s imedia����es.

Reginaldo cobriu o corpo de T a t i a n a com a

seu e come��ou a beij��-la. Depois puxou-lhe a

min��scula t a n g a .

��� Por que aqui na p r a i a ? ��� perguntou

a jovem.

��� E por que n �� o ?

��� Se aparecer algu��m?

��� N��o t e m i m p o r t �� n c i a n e n h u m a . Afinal,

somos m a r i d o e m u l h e r . Legalmente. N��o e s t a -

mos fazendo n a d a de mais. Pelo contr��rio. E s -

tamos fazendo j u s t a m e n t e o que um casal deve

fazer.

N��o apareceu n i n g u �� m .

E eles p u d e r a m a m a r t r a n q �� i l a m e n t e , sem

serem interrompidos. P 47

E m seguida, d e i t a r a m - s e d e costas n a areia

e ficaram o l h a n d o o c��u claro e luminoso.

��� Nunca vou esquecer nossa l u a - d e - m e l ���

comentou T a t i a n a .

��� N��o pensei que fosse t �� o r o m �� n t i c a !

��� Voc�� n��o ��?

��� N��o.

��� Pensei que fosse.

Ele r i u :

��� E n g a n o u - s e .

Ela o beijou.

* * *

Val��ria estava d e t e r m i n a d a a t e r t a m b �� m a

sua lua-de-mel.

Com Moacir, o r a p a z que e n c o n t r a r a n a s

cal��adas de C o p a c a b a n a .

Uma l u a - d e - m e l paga, m a s n e m por isso m e -

nos v��lida, pensou.

Arrependeu-se de t e r deixado o r a p a z ir e m -

bora sem combinar outro encontro, deixando a

coisa meio vaga, ao acaso.

Era verdade que sabia onde ele fazia p o n -

to.

48���

Mas se desse a z a r e n �� o o achasse mais?

Se q u a n d o passasse pelo local, Moacir esti-

vesse ocupado com o u t r a cliente ?

Naquela mesma noite iria procur��-lo.

E assim fez.

N��o t i n h a p e r g u n t a d o a Moacir a que h o r a s

ele ia p a r a o seu local de " t r a b a l h o " .

Assim, decidiu sair maia ou m e n o s cedo, ��s

dez da noite.

Se ele a i n d a n �� o estivesse, passaria v��rias

vezes pelo local, a t �� encontr��-lo.

Passou pelo l u g a r onde vira Moacir na v��s-

pera. Ele n �� o estava l��.

Decepcionada, deu u m a volta no q u a r t e i -

r��o, r e t o r n o u ao m e s m o p o n t o e n o v a m e n t e n �� o

o viu.

Talvez fosse um pouco cedo demais, dedu-

ziu.

E resolveu dar u m a volta maior.

E n t r o u na Avenida Atl��ntica e seguiu a t �� o

Leme. Depois fez o mesmo percurso de volta.

O u t r a vez na Avenida C o p a c a b a n a , a i n d a

desta vez n �� o avistou Moacir.

Estaria m e s m o m u i t o cedo ou ele j�� estava

���49

com o u t r a freguesa? Talvez t a m b �� m lhe tivesse

mentido e n��o " t r a b a l h a s s e " t o d a s as noites.

Seguiu e n t �� o p a r a I p a n e m a , p a r a v a r i a r u m

pouco de cen��rio. Pegou a Avenida Vieira Sou-

to, atravessou o J a r d i m de Alan e continuou

pela Avenida Delfim Moreira. Fez o contorno,

desceu o Leblon e I p a n e m a e estava de novo

em Copacabana.

Onde estava Moacir?

O r a p a z parecia r e a l m e n t e t e r sumido.

E de repente, Val��ria s e n t i u - s e deprimida. Se

n��o o visse mais?

J �� p a s s a v a m d a s onze h o r a s , n �� o era t �� o

cedo assim. Outros rapazes, c o m p a n h e i r o s de

"profiss��o" de Moacir, p a s s e a v a m pelas cal��adas,

paravam, e s p e r a v a m s u a s poss��veis "clientes".

Val��ria, olhou a t e n t a m e n t e c a d a um deles,

mas n e n h u m a interessou.

Esta u m a das causas porque ficara t �� o a p e -

gada a Reginaldo.

Isso e r a m u l t o caracter��sticos de sua perso-

nalidade. Q u a n d o desejava u m a coisa, s�� aquela

coisa servia; n �� o gostava de paliativos n e m de

substitutos.

Esta u m a d a s causas porque ficara t �� o a p e -

g a d a a Reginaldo.

50���

S u b i t a m e n t e , Val��ria sorriu.

Pareceu-lhe ver ao longe a figura de Moacir.

Acelerou o carro, e �� m e d i d a que se aproximava,

certificava-se de que se t r a t a v a m e s m o do j o -

vem a quem procurava.

Encostou o autom��vel no meio-fio, b e m p r �� -

ximo do rapaz, colocou a cabe��a p a r a fora da

Janelinha e sorriu.

Ele a viu e veio ao seu e n c o n t r o .

��� Oi, tudo b e m ?

��� Tudo bem.

��� N��o quer e n t r a r no carro?

��� Claro.

M o a c i r deu a volta, e n t r o u no autom��vel e

sentou ao lado de Val��ria. E s t a p��s o c a r r o

em movimento.

��� N��o esperava ver voc�� hoje de novo

__ N��o est�� satisfeito com isso?

��� �� l e g a l . . .

��� D e u - m e v o n t a d e de v��-lo o u t r a vez.

A coroa gostou de mim, pensou o rapaz)

��� Vamos n o v a m e n t e p r a s u a casa?

��� Voc�� �� quem m a n d a .

-51

��� Eu, n��o, voc��. Afinal �� voc�� q u e m e s -

t�� p a g a n d o . E quem p a g a t e m direito a escolher.

��� Antes, vamos s e n t a r n u m destes bares

da Avenida A t l �� n t i c a e beber a l g u m a coisa?

Claro que pod��amos beber l�� em casa, m a s estou

com vontade de ver g e n t e .

��� Tudo.

Val��ria sorriu. P a r a Moacir estava sempre

tudo bem. Pelo menos a p a r e n t e m e n t e .

S e n t a r a m - s e �� m e s a de um b a r qualquer.

Come��aram a beber, e Val��ria distra��a-se,

ora olhando p a r a a s o u t r a s pessoas que s e e n -

contravam no bar, ora o l h a n d o p a r a o rosto s��-

rio do rapaz.

��� Voc�� n��o faz o u t r a coisa, al��m deste seu

"trabalho"?

��� Acha pouco? ��s vezes a g e n t e passa a

noite i n t e i r i n h a a n d a n d o d e u m l a d o p r a outro,

esperando que algu��m c h a m e a gente, e n �� o

acontece n a d a . . .

��� E d u r a n t e o dia?

��� D u r m o . E, q u a n d o d��, vou �� p r a i a .

Ela quis fazer o u t r a s p e r g u n t a s , o que Moa-

cir esperava da vida, e t c . etc. m a s achou melhor

calar-se. P 52

O jovem podia n �� o gostar daquele t i p o de

conversa, podia n �� o querer se abrir, al��m do

fato dela a c h a r que n �� o devia d e m o n s t r a r i n -

teresse excessivo.

Quase u m a h o r a m a i s t a r d e , r u m a r a m p a r a

o a p a r t a m e n t o de Val��ria.

Repetiu-se o m e s m o da vez anterior.

D e s p i r a m - s e e foram p a r a a c a m a .

Moacir, como s e m p r e , d e s e m p e n h a n d o seu p a -

pel com perfei����o.

Beijou-a em t o d a s as p a r t e s de seu corpo,

e possuindo-a com c e r t a viol��ncia. .

Um a n i m a l selvagem, pensou Val��ria. Um a n i -

mal selvagem c r i a d o no asfalto, que faz sexo

com qualquer pessoa, desde que l h e paguem,

que se excita com q u e m quer que seja, que n �� o

deve conhecer n e n h u m outro s e n t i m e n t o al��m

da vontade de q u e r e r g a n h a r o seu dinheiro.

Talvez m a i s sincero do que m u i t o s h o m e n s

que conhecera. Que fingiam a m o r e que no fundo

eram m a i s ou m e n o s iguais a Moacir. S�� que

n �� o r e c e b a m o p a g a m e n t o em esp��cie, na hora.

Mas depois sabiam explorar. E como s a b i a m . . . !

Depois de t e r e m vivido o ��xtase final, ele

perguntou:

��� Quer que passe a noite aqui?

���53

-��� Se voc�� q u i s e r . . .

��� Tudo bem.

��� Isso vai me c u s t a r m a i s caro?

Ele sorriu, e n t r e c��nico e meigo:

��� P r a ,voc��, n �� o .

��� P o r que -pra m i m n �� o ? Sou u m a pessoa

especial p r a voc��?

��� �� . . .

��� Em que sentido?

��� Tudo indica que vai se t o r n a r u m a fregue-

sa constante. Isso �� bom p a r a m i m . . .

Val��ria riu. E prop��s:

��� Gostaria que e s t a s e m a n a e a pr��xima,

a gente se encontrasse todos os dias.

��� T�� legal.

��� N��o tem n e n h u m o u t r o compromisso que

possa i m p e d i r . . . ?

��� N��o.

��� At�� o final da s e m a n a que, vem. D e p o i s . . .

depois a g e n t e v�� como ficam as coisas.

Ele pensou que talvez o m a r i d o de Val��ria

estivesse viajando d u r a n t e aqueles dias. Por isso

ela lhe fizera a proposta. Q u a n d o o m a r i d o vol-

54���

tasse, e n t �� o n �� o poderia c o n t i n u a r vendo-o s e m -

pre, n e m levando-o ao a p a r t a m e n t o . .

De qualquer jeito estava c o n t e n t e . Poda fa-

t u r a r um dinheiro certo. E depois, sempre h a -

via a possibilidade de e n c o n t r a r Val��ria de vez

em quando, q u a n d o o m a r i d o desse u m a fol-

ga.

O que t i n h a que fazer, por e n q u a n t o , e r a

procurar a g r a d �� - l a .

* * *

De fato, Val��ria n �� o passou u m a s�� noite

sem Moacir, a t �� a volta de T a t i a n a e R e g i n a l -

do. Podia g a r a n t i r que tivera t a m b �� m u m a l u a - .

de-mel t �� o ou m a i s i n t e r e s a n t e do qu�� a dos

dois.

E d u r a n t e aqueles quase quinze dias, Val��ria

come��ou a gostar de seu a m a n t e de beira de cal-

��ada.

Afinal, pensava ela, o que e r a gostar? O que

fazia com que u m a m u l h e r passasse a gostar

de um h o m e m ?

Sentia prazer com Moacir na c a m a , a d o r a v a m .

fazer p r o g r a m a s , ficar j u n t o s , conversar. Havia

apenas o detalhe de que Moacir estava s e n d o

pago.

Mas se ele recebia aquele dinheiro, era pelo

simples fato de que vivia disso. Se n��o, o dis-

���55

pensaria de bom grado. Tamb��m, passara a gos-

t a r de Val��ria, a p e s a r de s u a idade b e m m a i s

a v a n �� a d a do que a dele.

Assim, o que come��ou a p e n a s como um co-

m��rcio, transformou-se n u m s e n t i m e n t o r e a l e

a t �� honesto, de a m b a s as p a r t e s .

No final da s e m a n a seguinte, Moacir j�� s a b i a

porque Val��ria o p r o c u r a r a , tomou c o n h e c i m e n -

to de sua dor-de-cotovelo e t a m b �� m do fato de

que n��o vivia com o m a r i d o , Q que o s u r p r e e n -

deu muito. Ficou t a m b �� m d i v e r t i d a m e n t e s u r -

preso com o f a t o de seu a m a n t e ser o pr��prio

genro. Val��ria n �� o l h e escondeu n a d a .

Moacir viu-se, por seu lado, c��mo que na

obriga����o de t a m b �� m n �� o esconder a verdade a

Val��ria, no que lhe dizia respeito.

N��o e r a p r o p r i a m e n t e u m m a r g i n a l . Pertencia

a u m a fam��lia de classe m��dia que m o r a v a no

sub��rbio. Como n �� o gostava de estudar, a b a n -

d o n a r a o curso no primeiro ano do segundo

g r a u .

Come��ara a t r a b a l h a r e n u n c a d e r a certo

em n e n h u m emprego. N��o t i n h a voca����o defini-

da, e p a r a ser a b s o l u t a m e n t e sincero, n �� o gos-

tava mesmo de t r a b a l h a r .

Foi quando descobriu aquele m��todo onside-

rado n �� o m u i t o honesto, de g a n h a r a vida. Uma

m a n e i r a de j u n t a r o ��til ao agrad��vel.

56���

Estava com vinte e nove anos, p o r t a n t o n �� o

t��o jovem assim p a r a c o n t i n u a r com aquela

vida. N��o e r a m a i s p r o p r i a m e n t e um garot��o. (O

que explicava aqueles vincos em t o r n o da b o -

ca) .

Mas as coisa que Moacir m a i s gostava m e s -

mo na vida e r a de dormir, comer e- dormir,

um verdadeiro a n i m a l selvagem, como p e n s a r a

Val��ria logo no in��cio.

N��o t i n h a ambi����es, n �� o esquentava a cabe��a

com o futuro, n e m mesmo com o dia seguin-

te.

As coisas i a m acontecendo, ele g a n h a n d o o

minimo necess��rio, p a r a se m a n t e r , e tudo bem.

Foi a�� que Val��ria compreendeu que, com

Moacir, poderia t e r u m a uni��o ideal. Por que

n��o convid��-lo p a r a m o r a r com ela? Podia viver

t r a n q �� i l a m e n t e s u s t e n t �� - l o , u m a vez que dinheiro

n��o era problema m a i o r p a r a ela. Po. s u �� a o a p a r -

t a m e n t o em que morava, m a i s dois im��veis a l u -

gados, u m a boa q u a n t i a e m p r e g a d a em Cader-

n e t a de P o u p a n �� a e L e t r a s de C��mbio, al��m de

um s��tio no E s t a d o do Rio e u m a casa de v e r a -

neio que alugava p o r t e m p o r a d a .

Moacir n �� o era dispendioso, n e m ambicioso..

Satisfazia-a s e x u a l m e n t e de modo b a s t a n t e efi-

caz. Al��m do fato de s e r fiel. Sim, a p e s a r de

ser um "profissional", d u r a n t e t o d o . aqueles dias

n �� o t r a n s o u com n e n h u m a o u t r a m u l h e r , u m a

vez que n �� o precisava a r r u m a r m a i s dinheiro.

���57

Passando a viver com Val��ria, a t �� o p a g a m e n -

to ele dispensaria, pois t e n d o casa, comida, roupa

e algum dinheiro no bolso, n �� o l h e interessava

mais n a d a .

Foi por tudo isso, que ela prop��s:

��� Estive p e n s a n d o n u m a coisa. Moacir.

��� Em qu��?

��� N��o quer viver comigo?

Ele e s p a n t o u - s e :

��� Hein?!

��� Viver comigo.

��� E o outro?

��� Que outro?

��� O seu genro?

��� �� evidente. que n �� o posso m a i s ter n a d a

com ele. Afinal, agora e s t �� casado mesmo com

m i n h a filha. E, al��m de n �� o poder, n �� o quero

m a i s . . .

��� N��o quer?!

��� N��o. Prefiro voc��.

��� Est�� zombando de m i m ?

��� N��o, verdade. �� v e r d a d e t u d o que estou

dizendo.

58���

��� Ent��o, t�� legal.

��� Quer viver comigo?

��� Quero. E n �� o vai m a i s t e r que me p a g a r

a s q u i n h e n t a s p r a t a s todos o s d i a s . . . B a s t a m e

d a r comida, e r o u p a de vez em q u a n d o .

Eles r i r a m .

Estava t u d o combinado, d a m a n e i r a m a i s s i m -

ples poss��vel.

59

cap��tulo 6





A Surpresa


Reginaldo e T a t i a n a v o l t a r a m finalmente de

sua id��lica l u a - d e - m e l .

Ele chegou temeroso, e deu um jeito de n �� o

visitar a sogra logo que r e t o r n o u .

T a t i a n a foi ver a m �� e e depois d e u - l h e a

not��cia:

��� Mam��e e s t �� m o r a n d o com um c a r a .

O susto de Reginaldo foi g r a n d e . E n t �� o Va-

l��ria t i n h a a r r u m a d o o u t r o ? Ele estava livre?

60-

N��o havia m a i s motivo p a r a preocupa����es, a

sogra n �� o iria m a i s insistir no r o m a n c e e n t r e

os dois? Ficou curioso e quis saber q u e m e r a

o novo a m a n t e de Val��ria, p r o c u r a n d o no e n t a n -

to n �� o d e m o n s t r a r um interesse excessivo,

��� Quem �� ele?

��� Um c a r a que ela conheceu d u r a n t e a nossa.

aus��ncia.

��� Assim, de r e p e n t e ?

��� E . . . Diz ela que, e n q u a n t o n��s e s t �� v a -

mos em l u a - d e - m e l , ela t a m b �� m teve a sua.

��� E . . . como �� o t a l cara?

��� Um tipo c o m u m . Jovem, tem v i n t e e nove

anos, e a t �� certo p o n t o bonito. N��o digo que seja

uma g r a n d e beleza, m a s possui m u i t o c h a r m e .

��� Val��ria c o n t o u como o conheceu?

��� N��o. E n e m me lembrei de p e r g u n t a r . O

i m p o r t a n t e �� que ela est�� feliz. Espero que d u -

re. Pelo jeito p a r e c e que vai d u r a r .

Reginaldo n �� o estendeu o assunto. Afinal n �� o

podia l e v a n t a r suspeitas em T a t i a n a .

Mas s e n t i a - s e v e r d a d e i r a m e n t e surpreso.

E aliviado.

O al��vio, por��m, durou menos t e m p o do que

esperava. P��G 61

Alguns dias depois, conheceu Moacir.

Tendo i d o com T a t i a n a a t �� a casa da sogra,

foi-lhe apresentado.

E teve um leve s e n t i m e n t o de despeito. S e n -

timento que foi a u m e n t a n d o progressivamente.

Val��ria mostrou-se despreocupada e feliz. Aqui-

lo o deixou irritado. E n t �� o , o g r a n d e a m o r que

dizia sentir por ele, h�� a l g u m a s s e m a n a s , t i n h a

desaparecido? O t a l r a p a z e r a t �� o m e l h o r do

que ele, que a fizera esquec��-lo t �� o depressa?

A m e d i d a que os dias p a s s a v a m , Reginaldo

come��ou a compreender u m a coisa que o irritou

b a s t a n t e . Val��ria parecia r e a l m e n t e t �� - l o esque-

cido e o deixara em paz.

No e n t a n t o , o m e s m o n �� o acontecia com ele.

Estava m a i s ligado a e x - a m a n t e do que i m a g i -

nava.

Raciocinou que tudo n �� o passava de despei-

to por t e r sido preterido por outro. Mas mesmo

assim, n �� o conseguia t i r a r Val��ria do p e n s a -

mento.

A c a d a novo dia, via o desejo a u m e n t a r .

Por esta ele r e a l m e n t e n �� o esperava. Em

vez de ser Val��ria quem o estava procurando,

era ele quem t i n h a v o n t a d e de a b o r d �� - l a , con-

vid��-la p a r a irem de novo p a r a a c a m a .

Neste meio tempo, veio morar no Rio do Ja-

P62

neiro um a n t i g o colega de Reginaldo, que ele

conhecera q u a n d o vivera algum tempo n a Bahia.

Otac��lio v i n h a t e n t a r a sorte no Rio.

Procurou logo o amigo e ficou c o n h e c e n d o

T a t i a n a .

��� Quer dizer que voc�� casou h�� pouco' m a i s

de um m��s, hein, c a r a ?

��� E voc�� c o n t i n u a s o l t e i r o . . .

��� Solteir��ssimo. E a c h o que n u n c a vou ��me

a m a r r a r .

��� Antes de conhecer T a t i a n a eu dizia o m e s -

mo.

No f i m - d e - s e m a n a , Reginaldo e T a t i a n a g a s -

t a r a m todo o s �� b a d o e o domingo m o s t r a n d o ao

rec��m-chegado o Rio de J a n e i r o .

F o r a m ao P��o de A����car, ao Corcovado, ��

Quinta da Boa Vista, �� B a r r a da Tijuca.

Otac��lio m o s t r a v a - s e d e s l u m b r a d o .

��� Sei que vou me d a r bem no Rio. �� o lugar

mais lindo do m u n d o .

Como t i n h a trazido recomenda����es da B a h i a

p a r a pessoas influentes, logo na s e m a n a seguin-

te j�� t i n h a a r r a n j a d o um emprego. As visitas

ao amigo t o r n a r a m - s e menos freq��entes. Afinal,

Otac��lio estava c r i a n d o s u a nova vida, p r o -

���63

c u r a n d o a p a r t a m e n t o , estabilizando-se, e o t e m -

po e r a curto,

* * *

A chegada do amigo de Salvador colocou

u m h i a t o n a s preocupa����es d e Reginaldo. D u r a n -

te alguns dias teve com que se distrair e a f a s t a r

seu desejo de voltar a t e r rela����es com Val��ria.

Agora, no e n t a n t o , o desejo voltava a a u m e n -

tar. E Reginaldo t i n h a certeza de que n �� o iria

resistir por m u i t o tempo.

Quase n �� o a via. Val��ria, multo empolgada

com o. .novo a m a n t e , n �� o os procurava n u n c a .

S�� T a t i a n a visitava a m �� e de vez em quando e

ligava p a r a ela.

Quanto a Reginaldo, s�� a t i n h a visto u m a

vez, desde que v o l t a r a da l u a - d e - m e l .

Quando o desejo de t e r Val��ria na c a m a ou-

tra vez tornou-se insuport��vel, Reginaldo come-

��ou a e n g e n d r a r um modo de t o r n a r a aproxi-

m a r - s e .

F i n a l m e n t e , u m a t a r d e e m que T a t i a n a n �� o

estava em casa ( t i n h a ido �� a u l a de ingl��s), p e -

gou o telefone, decidido:

��� Al��! Val��ria?

��� S:m?

��� Aqui �� o Reginaldo.

��� Oi, como vai? Tudo bem?

64���

��� T u d o bem.

��� Voc�� a n d a s u m i d a ?

��� Eu?! N��o, em absoluto.

��� Depois que voltei de A r a r u a m a , n �� o a p a -

receu aqui.

��� Voc�� t a m b �� m quase n �� o vem em m i n h a

casa. -

��� �� v e r d a d e . . .

Ela subitamente' compreendeu o motivo por

que Reginaldo estava lhe telefonando. N��o t i -

n h a n e n h u m neg��cio. Falava com retic��ncias. S��

podia ser por u m a �� n i c a raz��o. E sorriu, vito-

riosa, a p e s a r de n �� o e s t a r m a i s esperando voltar

a ter rela����es sexual com ele.

Resolveu p e r g u n t a r :

��� Por que me telefonou?

Reginaldo n �� o soube responder p r o n t a m e n t e . .

Finalmente disse:

��� �� proibido um genro ligar p a r a s u a s o -

gra?

��� Claro que n �� o .

N��o a d i a n t a v a querer esconder, e r a preciso

ir direito ao a s s u n t o :

��� Quero falar com voc��.

Val��ria fez-se de desentendida, a fim de se

divertir ��s custas do r a p a z :

��� Voc�� n �� o est�� falando? P 65

��� N��o por telefone. Quero m a r c a r um e n -

contro.

��� P r a qu��, Reginaldo?

Ele perdeu a paci��ncia:

��� Voc�� sabe p r a qu��. N��o fique a�� me gozan-

do. Vai ou n �� o m a r c a r um e n c o n t r o comigo?

��� N��o h�� necessidade de t a n t o m a u - h u m o r .

Nem t a n t o desespera. Est�� bem. Q u a n d o quer

me e n c o n t r a r ?

��� A m a n h �� �� tarde.

��� Onde?

E c o m b i n a r a m e n t �� o o local onde Reginaldo

a p a n h a r i a Val��ria n a t a r d e seguinte.

Ela desligou o telefone, t r i u n f a n t e .

Havia vencido u m a b a t a l h a da qual j�� se

retirara. Q u a n d o se tornara amante de Moacir,

fora apenas p a r a esquecer Reginaldo, e n �� o p a r a

t��-la de volta.

No e n t a n t o , com um s�� tiro, m a t a r a dois coe-

lhos. N��o estava m a i s a p a i x o n a d a pelo genro, e

agora ele pedia p a r a v o l t a r . . .

* �� * ���

No local e h o r a combinados, Reginaldo p a s -

sou de autom��vel e pegou Val��ria.

Esta tomou o carro sorridente. Reginaldo

achou-a mais bonita do que n u n c a . E disse:

66

��� Voc�� est�� m u i t o bem disposta.

��� Dizem que o a m o r faz milagres, n �� o ��?

��� respondeu a m u l h e r com ironia.

��� N��o me diga que e s t �� a m a n d o este p i l a n -

t r a que vive com voc��?

��� Por que n �� o ?

Ele olhou-a, p r o c u r a n d o impression��-la:

��� Porque h�� pouco m a i s de um m��s era por

mim que voc�� e s t a v a p e r d i d a m e n t e a p a i x o n a -

da.

��� N��o me diga que �� t �� o ing��nuo p r a n �� o

saber que o a m o r a c a b a .

��� N��o t �� o r e p e n t i n a m e n t e .

��� Por que n �� o ? N u n c a fui de gostar de um

mesmo h o m e m d u r a n t e m u i t o tempo.

��� Voc�� est�� q u e r e n d o me ferir, s�� isso.

��� Por que iria lhe ferir? Apenas usei o

bom-senso, conforme voc�� me repetiu i n �� m e r a s

vezes. Como n �� o podia d a r certo ser a m a n t e ,

do marido de m i n h a filha, voltei m i n h a s aten����es

para outro homem.

Ele seguia a toda velocidade pela Avenida

Vieira Souto.

Val��ria p e r g u n t o u :

��� Por que t a n t a pressa?

Reginaldo n �� o respondeu. Parecia aborreci-

do consigo mesmo, com Val��ria, com o m u n d o ,

���67

com o fato de n �� o t e r resistido �� t e n t a �� �� o de ir

com aquela m u l h e r p a r a a c a m a o u t r a vez.

Agora e s t a v a m na Avenida Delfim Moreira,

e logo a seguir t o m a v a m o c a m i n h o da B a r -

ra.

��� P r a onde e s t �� me levando?

��� Voc�� s a b e . . .

Ela sorriu com ar malicioso e ao m e s m o t e m -

po fingindo i n g e n u i d a d e :

��� J u r o que n �� o .

��� Ora, Val��ria, voc�� e s t �� sabendo desde o

in��cio. Porque lhe telefonei, porque m a r q u e i o

encontro. Sabe m u i t o bem que estamos Indo p a r a

um motel.

A m u l h e r estava excitada.

Apesar de satisfeita com Moacir, e r a muito

bom p a r a seu a m o r - p r �� p r i o saber que Reginaldo

a desejava t a n t o .

Desceram em frente a um motel.

E n t r a r a m .

F i n a l m e n t e , a s��s, no quarto, ele come��ou a

se despir, e n q u a n t o Val��ria fazia o mesmo..

Nus, a b r a �� a r a m - s e .

Reginaldo estava m u i t o excitado.

C a �� r a m n a c a m a , a g a r r a d o s .

Ele a possuiu i m e d i a t a m e n t e , como se n �� o p u -

desse m a i s esperar um s e g u n d o sequer.

68���

��� Ele �� m e l h o r do que eu?

��� Ele, quem? ��� respondeu Val��ria, com ou-

t r a p e r g u n t a .

��� Voc�� sabe p e r f e i t a m e n t e a q u e m . estou

me referindo.

��� O Moacir?

��� Sim, ele mesmo.

��� Quer mesmo que responda?

��� Claro. Se estou p e r g u n t a n d o . .

��� N��o vou responder.

��� Por qu��?

��� Porque voc�� vai se ofender.

��� E n t �� o quer dizer q u e . . .

��� Sim, Reginaldo, Moacir �� melhor do que

voc�� na cama.

Foi demais p a r a o rapaz. Furioso, deu u m a

bofetada no rosto de Val��ria, e n q u a n t o quase

gritava:

��� S u a v a g a b u n d a !

Ela simplesmente riu, a p e s a r de n �� o ter e s -

perado por aquele gesto. Mas n �� o era m u l h e r

de se a m e d r o n t a r por qualquer coisa:

��� Calma, querido. N��o v�� fazer esc��ndalo

aqui no motel.

Reginaldo come��ou a se vestir:

��� Desculpe. P 69

��� N��o t e m i m p o r t �� n c i a .

��� N��o devia t e r - m e dito aquilo.

��� Voc�� n �� o p e r g u n t o u ?

��� V a l �� r i a . . .

��� O que ��?

��� Quero c o n t i n u a r me e n c o n t r a n d o com vo-

c��.

Ela t a m b �� m q u e r i a :

��� �� s�� me telefonar.

Come��ou t a m b �� m a se vestir.

Apesar de ter Moacir, desejava m a n t e r ca

e n c o n t r o s com o genro. Talvez porque sempre se

s e n t i r a bem metendo-se em situa����es complica-

das.

S a �� r a m do motel e ele deixou-a em Copaca-

bana, mais ou menos no local onde a a p a n h a r a

algumas horas a n t e s . P 70

cap��tulo 7

A Cantada

V a l �� r i a e R e g i n a l d o p a s s a r a m a ter u m a v i -

d a d u p l a . A p e s a r d e satisfeitos c o m .os respec-

tivos p a r c e i r o s com os quais m o r a v a m , c o n t i -

n u a v a m a m a n t e r s u a liga����o.

T a l v e z pelo f a t o d e ser p r o i b i d o , d e f a z e r e m

as coisas escondido, de e s t a r e m t r a i n d o .

N a v e r d a d e , V a l �� r i a , n �� o t r a �� a M o a c i r , p o r q u e

este pouco e s t a v a i i g a n d o p a r a q u a l q u e r rela����o

que ela tivesse c o m q u a l q u e r o u t r o h o m e m . O

���71

que l h e interessava, a c i m a de tudo, e r a per-

manecer levando a vida na base da s o m b r a

e ��gua fresca. Talvez ficasse a p e n a s um pou-

co temeroso de que a m u l h e r o largasse, e fosse

obrigado a voltar a a p a n h a r freguesas na beira

da cal��ada, em Copacabana. S�� isso.

Mas Val��ria s e n t i a - s e fascinada pelo fato de

estar t r a i n d o a pr��pria filha. Isso e r a o que

mais a excitava. Desde o in��cio de seu relacio-

namento com Reginaldo.

Otac��lio, o amigo de Reginaldo que viera m o -

rar r e c e n t e m e n t e no Rio, era freq��entador ass��-

duo da casa dele. C a d a vez m a i s elogiava a ci-

dade, e c a d a vez mais se sentia a t r a �� d o por

T a t i a n a .

Como a b o r d �� - l a a i n d a n �� o sabia.

Mas a l i m e n t a v a esperan��as.

Apesar de ter conhecimento de que os dois

estavam casados h�� pouco tempo, n �� o via nisso

um empecilho. P a r t i a do princ��pio de que todo

m u n d o t r a �� a e T a t i a n a n �� o devia ser u m a ex-

ce����o.

Apenas t i n h a que agir com ato, sem pressa.

E n q u a n t o isso, j�� se h a b i t u a r a com a vida do

Rio de J a n e i r o . Estava bem colocado ( inclusive

era de fam��lia rica) e usufru��a t u d o que a ci-

dade podia oferecer.

Desinibido, com facilidade de fazer amiza-

des, freq��entava os lugares da moda. B o a - p i n t a ,

72���

n �� o lhe e r a dif��cil t a m b �� m a r r u m a r g a r o t a s

Mas sempre �� espera de u m a o p o r t u n i d a d e de

ir p a r a a c a m a com T a t i a n a , que sabia que acon-

teceria mais cedo ou m a i s t a r d e . O neg��cio e r a

n �� o se precipitar.

E j u s t a m e n t e por ser mais dif��cil, - T a t i a n a o

a t r a �� a m u i t o mais d o que a s o u t r a s mulheres

c o m quem t r a n s a v a .

Por sua vez, T a t i a n a , j�� desconfiara d a s ver-

dadeiras inten����es de Otac��lio. Mas fazia de con-

ta que n �� o e n t e n d i a , e p r o c u r a v a m a n t �� - l o a f a s -

tado. Com o t e m p o c e r t a m e n t e ele desistiria.

Q u a n t o a ela, n �� o s e n t i a a m e n o r a t r a �� �� o

pelo amigo de Reginaldo, al��m do fato de c o n -

t i n u a r g o s t a n d o r e a l m e n t e do marido.

Em solteira tivera m u i t a s experi��ncias. Ca-

sara, s a b e n d o o que e s t a v a fazendo. Amava real-

mente Reginaldo e n �� o via n e n h u m a raz��o p a r a

tra��-lo. E j u l g a r a f i r m e m e n t e que este t a m b �� m

lhe e r a fiel.

Otac��lio dirigia seu c a r r o t r a n q �� i l a m e n t e . Ao

seu lado, Marilda retocava a m a q u i l a g e m .

J�� havia t r a n s a d o com a g a r o t a a l g u m a s ve-

zes, e de t o d a s as s u a s conquistas no Rio, ela

era a preferida.

R u m a r a m p a r a a B a r r a . P 73

E r a u m f i m d e t a r d e e O t a c i l i o a e n c o n t r a m

logo que s a �� r a do t r a b a l h o .

Q u a n d o se a p r o x i m a v a m do m o t e l , ao q u a l se

d i r i g i a m , O t a c i l i o a v i s t o u u m casal s a i n d o ( d o

mesmo!

Ele p e n s o u r e c o n h e c e r R e g i n a l d o .

P a r o u -o c a r r o .

M a r i l d a p e r g u n t o u :

��� P o r que p a r o u ?

��� �� que eu a c h o que aquele �� R e g i n a l d o .

��� Q u e m �� esse t a l R e g i n a l d o ?

��� U m a m i g o m e u .

��� E da��?

��� N �� o q u e r o q u e me v e j a .

��� P o r qu��?





t


��� Ele casou r e c e n t e m e n t e c o m T a t i a n a . V a i

ficar a m o l a d o se s o u b e r que o vi s a i n d o de um

motel c o m o u t r a m u l h e r .

S a t i s f e i t a c o m a explica����o, M a r i l d a n �� o p e r -

g u n t o u m a i s n a d a , e n q u a n t o O t a c i l i o p r o c u r a v a

se c e r t i f i c a r se o r a p a z e r a r e a l m e n t e o seu

amigo.

V i u R e g i n a l d o a p r o x i m a r - s e d e u m c a r r o e

e n t r a r , a c o m p a n h a d o d a t a l m u l h e r . A �� n �� o teve

m a i s d �� v i d a . E r a r e a l m e n t e o a m i g o .

S o r r i u .

74���

P��s n o v a m e n t e seu pr��prio autom��vel em

movimento, pasrou pela frente do motel sem se

deter e certificou-se m a i s u m a vez que se t r a t a -

va mesmo de Reginaldo. Q u a n t o �� m u l h e r que o

a c o m p a n h a v a n �� o era um hip��tese n e n h u m a a

T a t i a n a .

��� S e m - v e r g o n h a ! ��� m u r m u r o u .

��� Quem? ��� perguntou M a r i l d a , . que quase

nem se l e m b r a v a mais da explica����o do Otac��-

l i a

��� Este meu amigo.

Otac��lio seguiu em frente, p a r a deixar que

Reginaldo fosse embora, e s�� e n t �� o r e t o r n a r i a

ao motel, u m a vez que n �� o queria que o amigo

o visse.

��� Ora, Otac��lio, me desculpe, m a s voc�� est��

b a n c a n d o o m a t u t o . Desde q u a n d o h o m e m casado

n��o vai a motel com o u t r a m u l h e r ?

* * *

Otac��lio tocou a c a m p a i n h a do a p a r t a m e n t o .

T a t i a n a veio a t e n d e r . Convidou-o a e n t r a r .

��� R e g n a l d o n �� o est��?

��� N��o. Mas n �� o deve demorar.

O r a p a z n �� o quis perder aquela o p o r t u n i d a -

de. Afinal, t i n h a alguns m i n u t o s a s��s com T a -

tiana. Por que esperar m a i s tempo? P75

Quer t o m a r alguma coisa? ��� perguntou

a jovem..

��� Aceito.

Ela preparou um drinque e ofereceu-lhe.

��� Voc�� n �� o vai beber n a d a ?

��� N��o ��� respondeu T a t i a n a .

O rapaz tomou um gole da bebida.

Olhou T a t i a n a f i x a m e n t e :

��� Eu a a c h o m u i t o b o n i t a .

Ela riu com n a t u r a l i d a d e , e n q u a n t o p e n s a v a

que t i n h a chegado o m o m e n t o de Otac��lio p a s s a r -

lhe a c a n t a d a , como p r e v i r a :

��� Muita gente me a c h a bonita.

��� Por isso voc�� j�� se acostumou com os elo-

gios.

��� Acertou.

��� E foi por isso t a m b �� m que Reginaldo c a -

sou com voc��.

��� N��o foi s�� por isso. A g e n t e casou porque

se ama.

Ele riu com certo cinismo:

��� E se eu disser que a c h o voc�� m u i t o mais

bonita do que os outros a c h a m ?

��� Eu lhe respondo que voc�� talvez n �� o t e n h a

muita no����o de est��tica.

��� Est�� m e n t i n d o .

76���

��� Por que iria m e n t i r ?

��� Sei l �� . . . talvez p r a ver se me afasta.

-J�� deve ter n o t a d o . . .

��� N u n c a notei n a d a . . .

��� Notou, sim. T e n h o certeza. E p r o c u r a fingir

indiferen��a. E q u a n t o mais indiferente fica, m a i s

eu me e n t u s i a s m o . Talvez seja a t �� um jogo seu.

Sabe que isso excita m a i s a i n d a a g e n t e .

��� N��o a d i a n t a querer me c a n t a r , o t a c �� l l o .

N��o pense que vou b a n c a r a ofendida, n e m que

vou c o n t a r p r o Reginaldo. Nada disso. N��o sou

n e n h u m a g a r o t a i n g �� n u a . At�� compreendo o seu

entusiasmo. C o m p r e e n d o a t �� que esteja t e n t a n -

do i s s o . . . Mas n �� o d��, t�� legal?

��� Por que n �� o d��?

��� Porque n �� o . Sou casada com Reginaldo,

gosto dele e ele de mim.

��� O que n �� o i m p e d e . . .

��� Impede, sim.

��� N��o me diga que voc�� �� incondicionalmente'

a favor da fidelidade.

��� Sou.

��� Isso �� u m a coisa antiga.

��� Neste p o n t o sou antiga. Talvez n e m s e m p r e

t e n h a sido. Mas depois que conheci Reginaldo

passei a ter este p o n t o de vista. No dia que

n��o gostar m a i s dele ou que sentir desejo por

-77

o u t r o h o m e m , �� s i m p l e s . A gente se s e p a r a . E da

p a r t e dele acontece a m e s m a c o i s a . . .

��� T e m certeza?

_ A b s o l u t a .

_ C o n f i a e m R e g i n a l d o . . .

_ C o m p l e t a m e n t e .

_ Q u e ele n �� o a n d a c o m o u t r a s .

_ T e n h o certeza que n �� o .

_ E u n �� o t e r i a t a n t a c e r t e z a assim .

��� E u o c o n h e �� o m e l h o r d o que v o c �� . M e u

r e l a c i o n a m e n t o c o m R e g i n a l d o t e m c o m o p o n t o

b �� s i c o a s i n c e r i d a d e . N �� o que a gente t e n h a f e i -

to um p a c t o . M a s �� isso a��. S e i q u e se ele s e n t i r

atra����o p o r o u t r a , o u n �� o m e a m a r m a i s , m e

diz t u d o f r a n c a m e n t e .

��� T a l v e z voc�� esteja e n g a n a d a .

��� N �� o v a i m e c o n v e n c e r . . .

O t a c �� l i o t o m o u o resto da b e b i d a :

��� Pois b e m , R e g i n a l d o t e m o u t r a .

��� Este golpe �� que �� a n t i g o .

��� N �� o �� golpe, �� a v e r d a d e .

��� Q u e voc�� t e n h a s e n t i d o a t r a �� �� o p o r m i m ,

tudo b e m . Q u e t e n h a c h e g a d o a m e c a n t a r ,

t a m b �� m t u d o b e m . M a s , p o r f a v o r , n �� o m e

v e n h a c o m golpes baixos, n e m m e n t i r a s . D e -

testo desonestidade.

78-

��� Eu vi Reginaldo com o u t r a m u l h e r , saindo

de um motel. N��o vai ser dif��cil e n c o n t r �� - l o ou-

t r a s vezes. Se quiser, eu a levo a t �� l �� . . .

��� N��o p r e c i s a . . . Est�� n o v a m e n t e t e n t a n d o

um golpe velho. L e v a - m e a t �� �� p o r t a do motel,

Ele deve ir l�� s e m p r e de t a r d e , q u a n d o voc�� n �� o

est�� em casa. Eu o encontrei s a i n d o com a

outra por volta d a s cinco e meia ou seis h o r a s .

Vou lhe d a r o n o m e do motel. Voc�� verifica p o r

conta p r �� p r i a . . .

Neste m o m e n t o , ouviram algu��m colocando

a chave na porta. Logo depois, Reginaldo e n -

trou.

Obviamente, Otac��lio e T a t i a n a m u d a r a m de

assunto, e os t r �� s p a s s a r a m a conversar alegre

m e n t e sobre o u t r a s coisas.

���79

Capitulo 8





hora da verdade


N �� o foi n a q u e l e m e s m o d i a que T a t i a n a r e s o l -

veu f a l a r com R e g i n a l d o a respeito de s u a poss��-

v e l a m a n t e .

P r e c i s a v a p e n s a r m e l h o r e m t u d o que l h e

dissera O t a c i l i o . S a b i a que o r a p a z e s t a v a m o -

v i d o pelo desejo de p o s s u �� - l a , e isso f a z i a c o m

que usasse q u a l q u e r e x p e d i e n t e p a r a c o n q u i s -

t �� - l a .

M a s l o g i c a m e n t e ele a d e i x a r a na d �� v i d a .

A f i n a l , t i n h a - l h e d a d a o n o m e e o e n d e r e �� o do

80���

tal motel. N��o seria c a p a z d e i n v e n t a r u m a m e n -

t i r a t �� o completa,

T a t i a n a pensou m u i t o sobre o caso. A m a -

dureceu a id��ia, e na n o i t e seguinte a c h o u que o

melhor seria u m a conversa f r a n c a com ele.

Utilizou u m a linguagem de impacto, a fim de

perceber n a s e n t r e l i n h a s e n a s rea����es de Regi-

naldo a verdade.

Perguntou �� q u e i m a - r o u p a e n q u a n t o j a n t a -

vam:

��� Voc�� t e m o u t r a , Reginaldo?

Ele engasgou (o que fez com que T a t i a n a

logo come��asse a p e n s a r que Otacilio t i n h a , r a -

z��o) :

��� O u t r a ? O que quer dizer? N��o estou e n t e n -

dendo.

��� O u t r a m u l h e r .

O r a p a z t i n h a recobrado p a r t e do s a n g u e -

frio:

��� Que coisa m a i s est��pida, T a t i a n a ! Como

isso foi e n t r a r em s u a cabe��a?

��� B e m . . . de r e p e n t e tive v o n t a d e de p e r g u n -

tar.

��� Voc�� sabe que eu a amo.

��� Sei, sim.

��� Ent��o?

��� A gente s e m p r e foi m u i t o sincero um com

outro, n �� o ?

��� Sempre. P 81

��� A verdade acima de tudo.

��� E x a t a m e n t e .

��� Q u a n d o n �� o der mais, um diz p a r a o o u t r o

que acabou. Tudo bem, afinal somos suficiente-

m e n t e civilizados e l��cidos p r a sabermos que o

final de um relacionamento n �� o �� n e c e s s a r i a m e n -

te u m a trag��dia.

��� Concordo com t u d o que e s t �� dizendo.

��� Mas eu soube de fonte limpa que voc�� t e m

outra m u l h e r . . .

��� Posso saber quem lhe disse?

��� N��o. �� melhor, n �� o .

Reginaldo, a p e s a r de p r o c u r a r a p a r e n t a r cal-

ma, estava p r o f u n d a m e n t e p e r t u r b a d o . E os olhos

de T a t i a n a descobriram isso com facilidade.

E n t �� o , era v e r d a d e o que Otac��lio lhe infor-

m a r a . Reginaldo, t r a n s a v a com o u t r a . Quem se-

ria?

��� Gostaria de saber quem �� a t a l m u l h e r . . .

Ao ouvir dizer isso, R e g i n a l d o ficou um pouco

perturbado. Pelo menos, a esposa n �� o sabia que

se t r a t a v a de Val��ria. Pela m e n o s isso.

N��o f a l a r a m mais no a s s u n t o .

De ambas as p a r t e s , fizeram de c o n t a que n �� o

t i n h a m conversado n a d a daquilo.

Reginaldo compreendeu m a i s u m a vez que

precisava colocar um ponto final no seu caso com

V a l �� r i a . O pior de t u d o e r a que fora ele m e s m o

quem a p r o c u r a r a . E na t a r d e seguinte, d i a de

aula de ingl��s de T a t i a n a , i r i a m se e n c o n t r a r no

motel. P 82

D e s m a r c a r i a o encontro? Telefonaria p a r a Va-

l��ria, dizendo que T a t i a n a estava desconfiada e

que e r a m e l h o r n �� o voltarem a se ver?

Achou que era u m a boa solu����o �� t r a n q �� i l i -

zou-se.

Q u a n d o a T a t i a n a estava resolvida, no dia

seguinte, ir a t �� o motel e e s p e r a r a s a �� d a dos dois.

N��o gostava m u i t o do papel que ia fazer: espionar

o marido. Mas n �� o t i n h a o u t r o jeito, u m a vez que

ele m e n t a .

T i n h a certeza agora que Otac��lio c o n t a r a a

verdade. Mas necessitava ver com os pr��prios

olhos. E m e s m o gostaria de saber quem era

aquela m u l h e r . . . aquela m u l h e r que estava t e n -

do rela����es com seu m a r i d o . . .

E r a m oito h o r a s da m a n h �� , q u a n d o Val��ria

come��ou a sacudir Moacir, t e n t a n d o acord��-lo.

��� Ei, pregui��oso, l e v a n t e . . .

Ele espregui��ou-se, olhou-a, tornou a fechar

os olhos, virou p a r a o outro lado e tornou a

dormir. Na verdade, n �� o t i n h a n e m acordado.

B e m - h u m o r a d a , Val��ria riu:

��� Voc�� tem que sair da c a m a por bem ou

por mal.

Deitou-se por cima do rapaz e come��ou a

beij��-lo:

��� Vamos, acorde, meu amor. P 83

Ele m u r m u r o u , sonolento:

��� Por qu��?

��� P r a irmos �� p r a i a .

��� Que h o r a s s��o?

��� Oito.

��� Est�� muito cedo.

��� N��o gosto de p r a i a t a r d e .

��� Quer mesmo ir?

��� Quero.

��� Por que n��o vai s o z i n h a ?

��� Porque quero ir com voc��.

��� Faz quest��o mesmo?

��� Fa��o.

Ela o beijou de novo.

Moacir sorriu.

E levantou-se.

Vestiu o cal����o e os dois f o r a m p a r a a praia.

��� Hoje vamos ficar a t �� as duas da t a r d e .

Estou muito b r a n c a .

Val��ria t i n h a m a r c a d o e n c o n t r o com Regi-

naldo n a p o r t a d o motel �� s tr��s. F i c a r i a n a

p r a i a a t �� a s duas, voltaria p a r a casa, t o m a r i a

b a n h o r a p i d a m e n t e e comeria qualquer coisa na

rua mesmo, u m a vez que e s t a v a m sem e m p r e g a -

da e n �� o estava disposta a fazer almo��o. Moacir

comeria um s a n d u �� c h e em casa mesmo e voltaria

a dormir d u r a n t e o resto da t a r d e .

* * *

84���

C o m o T a t i a n a e s t a v a e m casa, Reginaldo n �� o

p o d i a t e l e f o n a r do a p a r t a m e n t o . A s s i m , antes de

come��ar a revelar a l g u m a s fotos q u e t i r a r a na

v��spera, desceu, dizendo que ia comprar cigar-

ros.

A p r o v e i t o u p a r a t e l e f o n a r d e u m o r e l h �� o .

E r a m quase n o v e h o r a s d a m a n h �� .

N o a p a r t a m e n t o d e V a l �� r i a n i n g u �� m a t e n d e u

o telefone. Ele g u a r d o u a l g u n s m i n u t o s e t o r n o u

a ligar.

N a d a !

A m o l a d o , foi at�� o b o t e q u i m c o m p r a r os c i -

garras.

F e z u m a n o v a t e n t a t i v a d e t e l e f o n a r p a r a a

a m a n t e , m a s n i n g u �� m a t e n d i a .

R e s m u n g a n d o , v o l t o u p a r a casa.

E r a o c �� m u l o d o a z a r . O n d e e s t a r i a V a l �� r i a

��quela h o r a d a m a n h �� ? E o c a r a que m o r a v a

com ela?

V o l t o u p r a casa e come��ou a t r a b a l h a r . R e v e -

lou os f i l m e s .

B e m m a i s t a r d e , l �� pelas o n z e h o r a s , avisou

a T a t i a n a que t i n h a que s a i r , p a r a r e s o l v e r u m

neg��cio.

E s t a v a disposto a f i c a r de p l a n t �� o j u n t o de

u m o r e l h �� o , t e n t a n d o f a l a r c o m V a l �� r i a p a r a

d e s m a r c a r o e n c o n t r o .

D a s onze at�� u m a d a t a r d e , R e g i n a l d o discou

seguidamente p a r a a a m a n t e e n �� o conseguiu

f a l a r c o m ela. P 8 5

I r r i t a d o , nervoso, n �� o viu o u t r a sa��da, a n �� o

ser ir e n c o n t r �� - l a no motel.

-N��o podia ficar o dia inteiro na r u a ligando,

ligando, sem conseguir n a d a . O n d e Val��ria t e r i a

se metido? Que diabo e s t a r i a fazendo na r u a o

tempo todo?

O pior era que m a r c a r a o e n c o n t r o na p o r t a

do motel. Haviam feito isso por precau����o, u m a

vez que a c h a v a m q u e h a v i a m a i s possibilidade

de serem vistos se a m u l h e r tomasse o c a r r o

dele em Copacabana.

Mas se tivessem m a r c a d o em Copacabana, t e -

ria sido melhor. Talvez T a t i a n a soubesse o motel

que costumavam ir. E r a perigoso.

Mas a g o r a n �� o t i n h a jeito p a r a dar.

O melhor e r a a c a l m a r - s e , e n c o n t r a r Val��ria,

explicar a situa����o, e n u n c a m a i s e n c o n t r �� - l a .

Com este racioc��nio, acalmou-se um pouco e

retornou ao seu a p a r t a m e n t o .

T a t i a n a j�� p r e p a r a r a o almo��o.

Ele chegou, tomou um b a n h o e s e n t o u - s e p a r a

comer.

Mais t a r d e , ela saiu p a r a a a u l a de ingl��s,

j�� um pouco a t r a s a d a .

Passavam d a s duas e meia.

Reginaldo a i n d a t e n t o u se c o m u n i c a r com V a -

l��ria. Discou seu n �� m e r o .

Uma voz de h o m e m a t e n d e u . E r a Moacir.

��� Val��ria e s t �� ?

86���

N �� o , s a i u

respondeu o rapaz

O b r i g a d o .

D e n a d a .

M o a c i r v o l t o u p a r a a c a m a , a f i m de d o r m i r ,

e R e g i n a l d o s a i u d e casa, a o e n c o n t r o d e V a l �� -

ria.

C o m o n �� o s a b i a a h o r a e x a t a e m que o m a r i -

d o c o s t u m a v a e n c o n t r a r - s e c o m a a m a n t e , T a -

t i a n a d e c i d i u i r at�� o m o t e l p o r v o l t a das cinco

e m e i a , a h o r a em q u e s a �� a m , c o n f o r m e a i n f o r -

ma����o d e O t a c �� l i o .

N �� o t : n h a c e r t e z a a b s o l u t a d e que ele i r i a

n a q u e l a t a r d e , m a s d e d u z i u que o s e n c o n t r o s

c e r t a m e n t e se r e a l i z a v a m n o s dias em que ela

t i n h a a u l a d e ingl��s.

A n �� o s e r que R e g i n a l d o tivesse d e s m a r c a d o ,

u m a vez que s a b i a que e l a d e s c o n f i a v a d e a l g u m a

coisa. A r r e p e n d e u - s e de t e r i n t e r r o g a d o o m a r i d o

na v �� s p e r a . Se n �� o o tivesse feito, seria m a i s

f��cil p e g �� - l o e m f l a g r a n t e .

Q u a n d o R e g i n a l d o c h e g o u a o m o t e l , V a l �� r i a

j�� o e s p e r a v a . E l e e s t a c i o n o u o a u t o m �� v e l e a

m u l h e r veio a o seu e n c o n t r o , c o m u m s o r r i s o :

��� O i , t u d o b e m ?

���87

N �� o . T u d o m a l .

��� O que h o u v e ?

��� T a t i a n a . . .

��� T a t i a n a ? O que a c o n t e c e u c o m ela?

��� D e s c o n f i a que eu t e n h o o u t r a .

��� P o r isso voc�� e s t �� c o m esta c a r a .

��� E n �� o e r a p a r a estar? T e n t e i f a l a r c o m

voc�� h o j e v �� r i a s v e i e s , m a s n i n g u �� m a t e n d i a

o telefone.

��� Passei a m a n h �� i n t e i r a n a p r a i a .

��� Q u e r i a d e s m a r c a r o e n c o n t r o . C o m o n �� o

consegui, o jeito f o i v i r at�� a q u i . A c h o q u e n �� s

n��o devemos c o n t i n u a r c o m i s s o . . ,

��� F o i voc�� q u e m q u i s .

��� C e r t o , c e r t o . . . E n f i m , s �� v i m p r a dizer

que est�� t u d o t e r m i n a d o .

��� E n �� o v a m o s e n t r a r no m o t e l ?

��� N �� o .

��� U m a vez que estamos n a p o r t a , n �� o v e j o

p o r que n �� o e n t r a r . . .

V a l �� r i a detestava p r o g r a m a r a l g u m a coisa e

de r e p e n t e t e r que desistir.

��� B e m . . .

E l a s e g u r o u - l h e o b r a �� o :

��� V a m o s , h o m e m , a n i m e - s e . A f i n a l a c h o que

merecemos n o s d e s p e d i r e m g r a n d e estilo. P 8 8

Haviam pedido u m a g a r r a f a de c h a m p a n h a ,

que j�� estava quase no fim.

Nus, no q u a r t o do motel, p r a t i c a r a m todos ,

os tipos de jogos er��ticos.

Aquele seria o ��ltimo encontro, por isso p r e -

cisavam aproveitar ao m �� x i m o .

Val��ria aproveitou a o p o r t u n i d a d e p a r a dizer:

��� Hoje voc�� vai s a i r d a q u i c a m b a l e a n d o . . .

Reginaldo riu.

J �� t i n h a feito sexo d u a s vezes, desde que c h e -

garam, e pela t e r c e i r a vez, Reginaldo a possuiu.

Desta vez, custou um pouco a a t i n g i r o climax,

e n q u a n t o a m u l h e r gemia e desejava que ele d e -

morasse o b a s t a n t e , a fim de prolongar o p r a

* * *

E r a m cinco e v i n t e da t a r d e , q u a n d o resol-

veram a p r o n t a r - s e p a r a sair.

��� Valeu esta �� l t i m a vez. Ou n �� o ? ��� pergun-

tou Val��ria.

��� Se v a l e u . . . N��o sei n e m se vou conseguir

dirigir a t �� Copacabana. Voc�� esgotou t o d a s as

m i n h a s for��as.

T e r m i n a r a m de se a r r u m a r .

Val��ria disse:

��� Pela p r i m e i r a vez vejo um caso de a m o r

t e r m i n a r sem choros n e m d r a m a s . Foi bom. Va- P 89

leu mesmo. E foi b o m que tiv��sssemos t i d o um

caso. N��o ficamos com p desejo irrealizado na

cabe��a. Agora, eu c o n t i n u o com o Moacir, com

quem ali��s me dou m u i t o bem, e voc�� com T a -

tiana, com q u e m t a m b �� m se d�� m u i t o bem.

B e i j a r a m - s e pela �� l t i m a vez.

E s a �� r a m do q u a r t o .

* * *

Impaciente, d e n t r o do seu carro, em frente

ao motel, T a t i a n a esperava. E se estivesse fazen-

do papel de boba? Se Otac��lio tivesse simples-

mente m e n t i n d o ?

P a s s a v a m dez m i n u t o s das cinco e meia, q u a n -

do de r e p e n t e um casal que s a �� a do motel lhe

chamou a a t e n �� �� o .

E r a Reginaldo e a m u l h e r . . .

T a t i a n a n �� o podia a c r e d i t a r n o que estava

vendo, m a s ��quela dist��ncia, a m u l h e r que o

a c o m p a n h a v a parecia s u a m �� e .

L e n t a m e n t e , como que hipnotizada, a jovem

desceu de seu autom��vel e come��ou a a n d a r

em dire����o aos dois. Estes n �� o a v i r a m logo.

E n t �� o aquela m u l h e r e r a Val��ria, s u a m �� e .

Era ela a a m a n t e de Reginaldo, p e n s a v a T a t i a -

na, a p r o x i m a n d o - s �� c a d a vez m a i s do casal.

Foi quando Val��ria a viu.

E logo em seguida, Reginaldo t a m b �� m avis-

tou a esposa.

90���

Ele e x c l a m o u :

��� T a t i a n a . . .

E l a a p r o x i m o u - s e m a i s , e n c a r o u - o s e d i r i g l n - ,

do-se a R e g i n a l d o , disse:

��� E n t �� o e r a v e r d a d e . . .

��� D e i x e e x p l i c a r , T a t i a n a . . .

��� E x p l i c a r o qu��? N �� o s e j a r i d �� c u l o .

V a l �� r i a n �� o t e v e c o r a g e m d e f a l a r . A f a s t o u - s e

e foi t o m a r seu a u t o m �� v e l .

R e g i n a l d o e T a t i a n a f i c a r a m a l g u m t e m p o . '

e n c a r a n d o - s e , e m sil��ncio.

S e m o l h a r p a r a o s dois, V a l �� r i a d e u p a r t i d a

n o c a r r o e f o i e m b o r a . Q u e r i a f u g i r d a l i o m a i s

depressa p o s s �� v e l . N �� o , a q u e l e caso q u e t i v e r a

c o m R e g i n a l d o n �� o t e r m i n a r a s e m d r a m a s , c o n -

f o r m e g a r a n t i r a poucos m i n u t o s a n t e s . . . P r o -

v a v e l m e n t e o c a s a m e n t o d a f i l h a t i n h a s i d o d e s -

t r u �� d o . E t u d o p o r s u a c u l p a . P e n s a n d o m e l h o r ,

c o m p r e e n d e u que R e g i n a l d o t a m b �� m e r a c u l p a -

do. E o m e l h o r q u e t i n h a a f a z e r e r a ir p a r a

casa, p a r a o l a d o de M o a c i r e esquecer aquele

desagrad��vel i n c i d e n t e . . .

S e m d i z e r n a d a , T a t i a n a a f a s t o u - s e d e R e -

ginaldo e t a m b �� m t o m o u seu c a r r o . T a m b �� m q u e -

r i a f u g i r , i r e m b o r a d a l i . S �� . q u e n �� o s a b i a que

dire����o t o m a r . C e r t a m e n t e n �� o . v o l t a r i a p a r a

casa. E come��ou a p e n s a r o n d e p a s s a r i a a q u e i a

noite. E r a o p r o b l e m a m a i s u r g e n t e a s e r re--'

solvido. - 9 1

Reginaldo n �� o t e n t o u deter a esposa. Naquela

m o m e n t o qualquer explica����o s e r i a rid��cula, como

dissera T a t i a n a , e a b s o l u t a m e n t e In��til.

T a m b �� m tompu seu autom��vel.

Na e s t r a d a , ligou o r��dio.

Tocava u m a can����o d e amor.

E Reginaldo s e n t i u - s e e s t r a n h a m e n t e depri-

mido. S u a vida t i n h a m u d a d o , n a q u e l a t a r d e .

Provavelmente T a t i a n a n �� o voltaria a viver com

ele.

Procurou esquecer os pr��prios problemas e

prestou mais a t e n �� �� o �� m �� s i c a que falava de

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lan��amento

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De bonsamigos.lançamentos



O Grupo Bons Amigos em parceria  com o grupo  Solivros com sinopses  tem a satisfação de lançar hoje mais um livro digital para atender aos deficientes visuais.  

Aquela Mulher - Carlos Aquino

Livro doado e digitalizado por Leandro Medeiros
Sinopse:

Tatiana é filha de pais separados. Ela vive com a mãe, uma mulher ainda jovem. Moça liberada, Tatiana conhece o fotografo profissional Reginaldo.

Sobre o autor:

 Escritor, jornalista e ator, Carlos Aquino nasceu em Sergipe, mas foi para o Rio de Janeiro ainda adolescente.Trabalhou em filmes e peças de teatro, mas finalmente descobriu que sua verdadeira vocação era escrever, passando a dedicar-se à literatura. Sua estréia foi com o romance: Verão no Rio em 1973. Com seu.estilo vigoroso e moderno, colocando sempre uma dose de verdade em seus personagens, ele  foi no século passado na década de 70 e 80  um dos escritores de mais prestigio junto ao público.  Detalhes sobre sua morte leia em : https://www.terra.com.br/istoegente/79/tributo/index.htm

 Lançamento  :

a)https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/solivroscomsinopses

b)http://groups.google.com.br/group/bons_amigos?hl=pt-br

Este e-book representa uma contribuição do grupo Bons Amigos  para aqueles que necessitam de obras digitais como é o caso dos deficientes visuais e como forma de acesso e divulgação para todos. 

É vedado o uso deste arquivo para auferir direta ou indiretamente benefícios financeiros. 
 Lembre-se de valorizar e reconhecer o trabalho do autor adquirindo suas obras .



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Livros:

http://bezerralivroseoutros.blogspot.com/

                                       

Áudios diversos:

http://bezerravideoseaudios.blogspot.com/

 

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