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SOCIEDADE
SECRETA (I)
Jos�� louzeiro
Capa: Edi Brian��ot Bousquet
Foto cedida por American International Inc.
Copyright �� MCMLXXVI. Cedibra ��� Editora
Brasileira Ltda.
Rua Filomena Nunes, 162 ��� ZC-22 ���.,20.000 ���
Rio de Janeiro ��� RJ
Composto ejmpresso pela Cia. Editora Americana
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neiro, RJ
O texto deste livro n��o pode ser, no todo ou em parte,
nem registrado, nem reproduzido, nem retransmitido,
por qualquer meio mec��nico, sem a expressa autori-
za����o do detentor do copyright.
Introdu����o
O que conduz o ser humano ao crime ��
dif��cil dizer. At�� que ponto ele �� capaz de
desenvolver a mente e o apetite f��sico, a fim
de suportar o mergulho definitivo no pan-
tanal, �� o que este livro lhes contar��.
O mundo que v��o conhecer �� subterr��-
neo. Nenhum sol o ilumina. Os persona-
gens que por ele se movimentam, s��o guia-
dos pelo pr��prio brilho que a maldade pro-
duz. E todos eles, indistintamente, est��o
entregues �� pr��pria sorte.
Trata-se de uma engenhosa cria����o lite-
r��ria? N��o. E isso �� que torna o panorama
ainda mais dram��tico e, ao mesmo tempo,
assustador.
Jos�� Louzeiro
���5
Capitulo 1
A chuva fina cai sobre as vigas de a��o,
empilhadas no meio da Avenida Jabaquara,
nos vergalh��es, nas montueiras de pedras
britadas e de areia, sobre os operarios que
se movimentam com capacetes amarelos e
azuis, capas e botas sujas de lama.
O bate-estacas de ar comprimido fun-
ciona com grande ru��do, as pessoas passam
na porta do barzinho, encolhidas sob os
guarda-chuvas, as moscas sobrevoam os
doces no balc��o.
O cara velhusco pede mais uma caipi-
rinha. Est�� metido numa capa comprida e
escura, com manchas de caf�� e fumo, res-
pingos de aguardente. As lojas por perto
t��m ��s toldos de lona abertos e n��o h��
ningu��m nelas, al��m dos negociantes.
��� O metr�� t�� dando baixa em todo
mundo por aqui. S�� n��o t�� ru��o pra seu
Diko.
O grego alto e forte responde ao comen-
t��rio, faz um sorriso. Com o pano imundo
vai esfregando o m��rmore do balc��o.
O homem da capa empurra um pouco o
chap��u para tr��s, continua a bebericar, sem
dizer coisa alguma. Apenas olha o crioulo
que fala, deposita o copo vazio no balc��o,
consulta o rel��gio, ajusta o chap��u e vai
para a chuva.
6���
Passa pela montueira de pedras e areia,
chega ao trecho onde est��o estacionados al-
guns carros.
O disparo da metralhadora �� bem mais
alto que o barulho do bate-estacas.
��� Isso �� tiro, pessoal! ��� diz o crioulo.
Diko olha na dire����o em que o homem
da capa seguiu, ainda o v�� com a arma
nas m��os. Entra no carro cinzento.
Os trabalhadores chegam �� cal��ada, jun-
to com Diko, metem-se na chuva para ver
de perto o mo��o que foi atingido.
��� Como �� que se mata um cara desse
jeito, Deus do c��u! ��� comenta o crioulo.
��� O velhote tava com aquela tremen-
da arma l�� no bar ��� acentua Diko.
Outras pessoas chegam, aparecem ope-
r��rios de capacetes amarelos e azuis, botas
de borracha. Forma-se a roda de curiosos.
Diko volta ao bar que fica abandonado,
o mo��o alourado tem os olhos abertos, da
boca e do peito escorrem fios de sangue,
uma das m��os treme.
��� Ainda n��o morreu, gente! diz a
mo��a que segura uma pasta.
��� Esse n��o tem jeito ��� responde um
dos trabalhadores.
O carro da ronda policial estaciona per-
to, o pisca-pisca vermelho do teto acenden-
do e apagando na manh�� fria e escura.
���7
A roda de curiosos �� tomada por diver-
sos, guarda-chuvas, a maioria pretos, som-
brinhas de pl��stico transparente.
O mo��o estendido no ch��o tem o rosto
coberto de gotas, a m��o que tremia parou,
o bra��o alongou-se; s�� os olhos ficaram ar-
regalados.
Um dos policiais puxa o peda��o de olea-
do da ruma de madeiras, p��e sobre o morto.
Aparecem outras viaturas, os curiosos v��o
sendo afastados.
No barzinho as moscas zumbem nos do-
ces sobre o balc��o, Diko faz considera����o
a respeito do tipo velhusco:
��� Desde que entrou, notei seu jeito es-
tranho.
��� Sinceramente como n��o dava nada
por ele. Um homem de mais de cinq��enta
anos, dando uma de bandid��o ��� afirma
um oper��rio.
��� E tu acha que tem idade pra essa
ra��a matar os outros? ��� comenta o homem
d�� capacete amarelo.
Diko olha de vez em quando para o
local Onde o desconhecido tombou. Agora,
s��o quatro ou cinco os carros da pol��cia es-
tacionados, todos com o pisca-pisca do teto
acendendo e apagando.
��� Parece que o rabec��o chegou ��� diz
o dono do barzinho.
Um dos trabalhadores levanta-se para
olhar.
8���
��� Coitado desse pobre. V��o sumir com
ele por a��.
O carro todo preto manobra, desaparece:'
numa esquina. As viaturas seguem atr��s, ���
os curiosos dispersam-se.
Na pista larga da Avenida Rubem Ber-.
ta o Dodge Dart cinzento segue sem pressa
pela faixa da direita. Tem as lanternas ace-
sas, como quase todos os carros que rodam
por ali, pois a chuva est�� mais intensa e a
manh�� �� completamente escura.
O tipo velhusco atirou o chap��u no
banco de tr��s e n��o responde ��s considera-
����es do companheiro ao volante.
��� Chegou a perguntar alguma coisa a
ele? ������ indaga o motorista, sorrindo. .
��� De que adiantaria? Tudo que viesse
a dizer n��o podia ser verdade ��� responde
o velhote, enquanto esfrega o len��o no ros-
to borrifado de chuva.
��� Tenho certeza que v��o ficar na maior
confus��o ��� diz o motorista. ��� O hcmem"
tava na lista de subversivos; de repente cai
duro. Quem �� que acha que vai aparecer
como culpado?
O cara falador tem rosto comprido e ma-
gro, olhos de peixe morto.
��� S�� queria estar na Divis��o T��c-
nica ��� diz ele ��� pra ver de perto a zoeira
que v��o aprontar.
���9
Buzina para o carro que for��a passa-
gem; o velhote afundou no banco.
��� Vou tirar um cochilo e depois me en-
tender com o manda-chuva. Tou uma se-
mana nessa brincadeira, sem dormir direi-
to. Tudo que disseram �� que o cara costu-
mava transitar pela Avenida Jabaquara.
Mas em que altura? Onde costumava pa-
rar? Nada disso sabiam. Tive que me virar.
O motorista torna a sorrir.
��� Foi um bom trabalho. Ningu��m po-
dia fazer melhor!
O carro entra na pista que contorna o
Ibirapuera.
��� Acho que tem um pneu baixo a��
atr��s.
�� homem que olha como peixe morto
salta. A chuva pipoca no teto do autom��-
vel. Curva-se um pouco como se fosse olhar
o pneu, tira o rev��lver, reaparece.
Tr��s disparos abafados, um na cabe��a,
dois no peito; o corpo do velhote amolece.
��� Sempre me dando trabalho, hem,
papai!
�� Dodge desliza por baixo dos eucalip-
tos, t o m a a parar. Abre a porta do lado
em que est�� o corpo, puxa-o com for��a, ar-
rasta-o para junto de uma ��rvore.
Ali o deixa, chap��u metido na cabe��a,
bra��os tocando a terra molhada.
P��e a metralhadora na mala, recolhe
todos os pap��is que o velhote tinha nos bol-
sos. Com os pap��is, algum dinheiro.
10���
��� Tu n��o precisa mais disso.
Torna a sorrir, limpa com o len��o algu-
mas manchas de sangue no assento. Veri-
fica detalhes, conclui estar tudo certo.
O carro segue pela pista que reflete o
verde-escuro dos eucaliptos.
Algum tempo depois sobe a rampa do
pr��dio, onde h�� uma oficina de consertos.
Salta na garagem subterr��nea, limpa ��
lama dos sapatos, caminha para o eleva-
dor.
Enquanto o elevador desce, assinalando
na l��mina de metal niquelado os andares
por onde vem passando, ainda se lembra
da cara do velhote e tem vontade de rir.
A porta se abre na sala com alguns
homens em torno de uma mesa e muita fu-
ma��a de cigarros.
Na frente do barbicha, coloca os pap��is
que tirou do velho.
��� Como foi?
��� Mais f��cil do que esperava. Depois do
trabalho ficou com sono. S�� fiz ajudar a
dormir.
��� E a metralhadora?
��� T�� no carro. N��o deixei nada pra
ajudar os tiras.
��� Quanto ao mo��o, como se saiu o ve-
lhote?
��� Cem por cento. Apertou o gatilho e
deixou pipocar. Gostei de ver como traba-
lhava.
���11
��� Ent��o, n��o vale o dinheiro que rece-
be. Ou, pior do que isso: t�� fazendo jogo
duplo ��� argumenta o chefe.
Palito intercede:
��� Vamos raciocinar.
O tipo de cara comprida olha Palito e
sabe que aquele sujeito absolutamente ma-
gro e p��lido �� sua esperan��a.
A gravata estreita e curta que Palito
usa parece uma pe��a acess��ria. N��o tem
nada a ver com o resto da indument��ria.
Quando sorri, apenas os olhos demonstram
alguma alegria, os m��sculos do rosto n��o
se mexem.
��� Vamos convocar o Natureza. Ele vem.
aqui, a gente d�� o pi��. Talvez ainda haja
tempo de contornar. Afinal, s�� se precisa
saber se aquele moleque tinha alguma coisa
que nos complique a vida.
��� Faz a liga����o, Soneca. V�� se ao me-
nos isso tu consegue ��� afirma o chefe.
O telefone chama, o homem de cabelos
bem cuidados manda que Palito atenda.
��� Tem um galho tremendo pra que-
brar. Mas n��o pode passar de hoje.. Foi. um.
cochilo do imbecil do Esmeraldino. e o So-
neca, que tava com ele, s�� agora viu o tama-
nho da mancada. Tu j�� imaginou se na pa-
pelada daquele terrorista encontrarem o
mapa da mina? Entendeu agora por que
isto t�� preocupando?
��� E o Esmeraldino? ��� indaga Natu-
reza.
���13
���'. ��� Soneca fez o que se mandou. Tudo
���.certo. S�� t�� pegando a papelada, que n��o
iraram do bolso do vagabundo ��� afirma.
.-. -.��� N��o senhor ��� diz a Palito. ��� At�� o
dinheiro que tinha nos bolsos est�� aqui.
���Palito tapa o fone, arregala os olhos, o
rosto parece mais amarelo.
��� Acho que este sacana t�� �� querendo
fugir da raia, Lucaro!
Lucaro pega o fone.
��� Olha aqui, Natureza. N��o quero sa-
ber como vai fazer conseguir a documenta-
����o do Jackson Alberto. Te vira, convoca o
Z�� da Hora e, se for o caso, at�� o Queixada
e o Harmonia. O que te digo �� que a pape-
. l��da tem de vir pra c��, at�� a noite.
O telefone �� desligado. Soneca percebe
Ique a situa����o est�� tensa. Dois homens que
jogam cartas na mesa perto n��o sabem pro-
priamente que rumo tomou a partida; es-
t��o atentos �� discuss��o de Lucaro com Pa-
lito, Soneca e Natureza.
.. ��� ���- N��o se devia ter confiado essa tarefa
aquele puto velho e muito menos com esse
merda de quebra ��� afirma Lucaro, dando
um murro na mesa.
Soneca encolhe-se num canto. Palito
.tenta uma solu����o pac��fica:
��� Acho, que n��o �� hora de perder a
cabe��a, Esbravejar n��o ajuda a encontrar
a 'documenta����o.
14���
��� Pode n��o ajudar ��� diz Lucaro, in-
dignado ��� mas esses putos v��o deixar de'
rir na minha cara.
Depois do acesso de raiva, recosta-se.-na
cadeira. Mestre Z��vi abre a garrafa t��rmi-
ca, oferece caf�� a Soneca. Ele toma, im��gi-.'
nando a enrascada em que se metera e,
pela primeira vez em dez anos, pensa dei-
xar aquele grupo, ir para bem longe de
S��o Paulo e de todos os traficantes.
Olha Lucaro se balan��ando na cadeira
e sabe que, com um r��pido movimento de
m��o, o mandaria para fazer companhia ao
velhote da metralhadora. .
Mas n��o faria isso naquela sala, de onde
n��o conseguiria fugir. Esperaria a boa opor-
tunidade, num dia quando estivesse bem
calmo, contando piadas a respeito das mu-
lheres que comia, das bichas que subju-1
gava.
E, ouvindo o que falava Mestre Z��vi a
respeito da partida com Robert��o, sentia
novamente vontade de rir. A mesma von-
tade quando disse a Esmeraldino que o.
pneu traseiro do carro estava baixo e ele
acreditou.
Todo mundo termina acreditando em
Soneca. Tem uma cara em que a maioria
confia. E um homem vale pela cara que tem..
No resto, ningu��m repara.
Palito conta alguma coisa divertida,
Mestre Z��vi acha gra��a, Lucaro desanuvia
���15
um pouco mais o rosto, Soneca n��o conse-
gue conter o riso.
Cap��tulo 2
Natureza, um mulato gordo e suarento,
cal��a repuxada entre as pernas, movimen-
ta-se na Divis��o T��cnica. E, cada vez que
uma das investidas falha, sente profundo
arrependimento do dia em que atendeu ao
chamado de Lucaro e de Palito.
Tenta entrar na sala do delegado, en-
quanto o homem desceu para um lanche,
empurra a porta. L�� est�� a funcion��ria que
conhecia de longas datas.
Fala com a mulher, os olhos na mesa,
atravancada de pastas com inqu��ritos e pa-
p��is dispersos.
A mulher n��o p��ra de falar, pergun-
ta pelas crian��as, demora-se na mais velha,
a que j�� est�� com oito anos e Natureza diz
sempre que �� a preferida.
Vozes no corredor, o delegado entra,
acompanhado de tr��s funcion��rios. Sen-
tam-se ao redor da mesa.
Do bar, em frente �� Divis��o, Natureza
liga para Queixada. N��o est��. Procura Z��
da Hora e Harmonia.
Senta-se na pequena mesa imunda, c
homem de m��os vermelhas abre a garrafa
de cerveja. Z�� da Hora chega, diz que Har-
monia vem vindo.
16���
Natureza est�� mais suado do que nor;-;
malmente. Embora o dia esteja sombria, a
temperatura relativamente baixa.
Chega Harmonia, um moreno alegre - e
de dentadura muito branca. Pede mais cer-
veja, dirige pilh��rias a Natureza.
��� Calma. Nada de brincadeira, que
aqueles putos t��o querendo nos ferrar ���
afirma Z�� da Hora, um crioulo alto, de pes-
co��o roli��o, bra��os musculosos, pulseira d��
metal no pulso esquerdo, do mesmo lado
onde tinha grossa alian��a de ouro maci��o.
��� Aquele Lucaro �� um filho da puta ���
come��a Natureza. ��� Na transa de queimar
aquele terrorista o pessoal dele terminou
fazendo besteira e agora t�� doido atr��s da.
documenta����o do cara. Pelo que diz Palito,
a papelada caiu nas m��os do pessoal' da
Ronda e vai terminar na mesa do delegad��-
geral.
��� E qual �� a dele? ��� diz Harmonia.
��� O cara, um tal de Jackson, al��m de
transar com os esquerdinha, tava metido
at�� o pesco��o com o neg��cio dele e dos,
outros.
��� E com a gente ��� afirma Z�� da Hora.
Harmonia toma um pouco de cerveja,
recosta-se na cadeira.
��� Eta, vida de-merda! Se t�� cada v��z
mais sem moral com esse cara.
Natureza como que n��o ouve a queixa.
��� Sem a papelada na m��o, Lucaro -t��
pior do que cachorro doido. Quer que se
���17
vasculhe a mesa do delegado-geral ou se d��
em cima do pessoal da Ronda, at��' localizar
os documentos do Jackson.
����� Isso �� loucura! ��� afirma Harmonia.
��� Me lasco todo, mas n��o entro nessa!
��� Como �� que n��o entra, cara, se a
gente j�� t�� atolado? ��� indaga Natureza,
mexendo nervosamente as m��os ao redor do
copo de cerveja.
��� E o que �� que voc�� sugere? ��� per-
gunta Z�� da Hora a Natureza.
��� Sinceramente, n��o sei. Tou arrepen-
dido de ter embarcado nessa canoa. Como
diz Harmonia, esse cara t�� nos fazendo de
cachorrinho e n��o se pode reclamar nada.
��� E o pior �� que o dinheiro dele n��o se
sabe nem pra onde vai ��� comenta Harmo-
nia.
��� Lucaro n��o tem nada a perder. Nem
ele, nem Palito. T��o jogando com a sor-
te para lucrar cada vez mais. Ainda h��
pouco entrei na sala do delegado pra dar
uma olhada nos pap��is, mas encontrei Dona
Ivonete e ficamos falando, at�� que o dele-
gado apareceu e n��o consegui nada ���
explica Natureza.
��� Quem �� que se t��m l�� na Ronda? ���
indaga Z�� da Hora.
��� O Virg��lio e o Montanha.
��� Talvez Montanha quebre o galho.
. Harmonia levanta, volta com o cat��lo-
go, procura o n��mero da reparti����o. Natu-
18���
reza anota num peda��o de papel, vai para
os fundos do bar, onde fica o telefone.
Harmonia beberica um pouco mais da
cerveja.
��� Qualquer hora dessa vou largar essa
merda toda e me mandar. N��o �� poss��vel
se viver nesse sobressalto ��� diz Harmonia.
��� T�� ficando cada dia mais dif��cil ���
concorda Z�� da Hora.
Diz isso, toma um gole da cerveja, fica
olhando o volumoso Natureza que se agita
ao telefone, sacode os bra��os, tapa um dos
ouvidos para neutralizar a barulheira do
ambiente.
Volta �� mesa, mais suado do que antes.
��� Que foi que o Montanha disse? ������
indaga Harmonia.
��� Dessa vez Lucaro nos enrascou, mes-
mo ��� diz Natureza.
Z�� da Hora chega a cabe��a para perto,
Harmonia �� todo aten����o.
��� Mandou acabar com o Esmeraldino.
Tramou o que se chama o crime perfeito.
��� Ficou doido! O velho tinha influ��n-
cia ��� argumenta Z�� da Hora.
��� E quem foi que apertou o gatilho? ���
quer saber Harmonia.
��� Montanha ainda n��o tem id��ia. O
caso t�� sendo investigado.
��� E onde encontraram Esmeraldino?
��� pergunta Z�� da Hora.
��� Nos eucaliptos do Ibirapuera.
���19
Z�� da Hora esfrega as m��os, bate os p��s
no ch��o.
��� O neg��cio �� apagar o Lucaro, antes
que nos bote completamente no rabo.
��� Foi o que pensei ��� afirma Natu-
reza.
��� Acontece que n��o �� f��cil. Se pressen-
tir algum movimento, vai mandar uma por-
����o de bandido atr��s da gente. Tu j�� ima-
ginou? ��� considera Harmonia.
��� Outra id��ia �� se passar a conversa em
Dona Ivonete. Tu podia falar com ela, Har-
monia ��� diz Natureza. ��� Quem sabe essa
n��o �� a chance?
��� Mas n��o adianta nada, enquanto n��o
se tiver certeza de que a documenta����o do
tal cara foi encaminhada pra Divis��o ���
argumenta Z�� da Hora.
��� Logo mais se fala de novo com Mon-
tanha. Ele t�� vendo isso.
��� E o pior �� que hoje t�� um dia cheio
��� considera Harmonia. ��� Logo mais v��o
nos convocar pros dois casos.
Z�� da Hora levanta, vai at�� a porta.
��� Vou ver como t�� a barra, volto j��.
O homem de m��os vermelhas, um pano
imundo passado na cintura, abre outra cer-
veja.
��� N��o posso beber, mas hoje quero ��
que o mundo acabe ��� diz Natureza.
��� N��o adianta esquentar ��� argumen-
ta Harmonia.
20���
��� Temos de encontrar uma f��rmula de
dobrar o Lucaro e cair fora dessa canoa.
N��o t�� dando p��.
Natureza olha o rel��gio, vai outra vez
ao telefone, a cal��a larga repuxando entre
as pernas. Harmonia bebe lentamente a
cerveja, mastiga peda��os de salaminho, fa-
la com o conhecido, lotado no Tribunal de
Justi��a.
Z�� da Hora reaparece, Natureza volta
ao seu lugar.
��� Montanha t�� ficando biruta ��� diz
Natureza e vira o copo na hoca. ��� Acha
que ainda t��o com os documentos, porque
uma mensagem cifrada foi encaminhada
pra T��cnica.
��� Mensagem cifrada? ��� assovia Z�� da
Hora. ��� Ent��o, esse tal Jackson era da pe-
sada?
��� N��o tem ningu��m besta neste mun-
do. S�� a gente, que come do pior e ainda
entra pelo cano ��� acentua Natureza.
��� A gente deve dizer isso ao Lucaro?
��� indaga Harmonia.
Isso o qu��?
��� Da tal mensagem!
��� Deixa pra l��, cara. Se quiser que
descubra. N��o vamos arranjar mais sarna
para nos co��ar ��� acentua Natureza.
Z�� da Hora bola um plano.
��� Logo mais a gente entra de estalo no
antro daquele calabr��s, acaba com a ra��a
dele e de quem mais tiver por l��.
���21
��� Bobagem! E depois, o que �� que se
vai dizer? O homem t�� todo legal, cara.
Quem t�� por fora da lei �� a gente ��� afirma
Harmonia, enchendo novamente os copos.
��� Acho que tenho uma id��ia. Pra um
sabido, sabido e meio ��� afirma Natureza.
��� Canta a pedra. Vamos ver se cola ���
diz secamente Z�� da Hora.
��� Se bola a papelada. Foto do Jackson,
na Pol��cia, �� o que mais tem. Se bola at��
uma mensagem, pra ele ficar ainda mais
tranq��ilo.
��� Puxa, o homem n��o tem cabe��a s��
pra piolho ��� diz Harmonia, sorrindo pra
Z�� da Hora.
��� A id��ia n��o �� m��. S�� tem um de-
talhe. Como �� que a gente vai apresentar
essa documenta����o em formul��rio todo no-
vinho em folha? ��� quer saber Z�� da Hora.
��� Bobagem, cara. Isso �� o mais f��cil.
Queima um peda��o com cigarro, esfrega
outra ficha no ch��o, rasga um canto da
carteira de identidade ��� explica Natureza.
Z�� da Hora sorri, desta vez completa-
mente descontra��do.
��� O gordo �� sabido pra cachorro!
��� Sabido? Isso d�� n�� em pingo d'��gua
��� comenta Harmonia.
Natureza agora �� todo anima����o. Bate
as m��os.
��� Gar��om! Mais cerveja!
��� Conv��m arrastar o Montanha at��
aqui pra uma conversa de perto. Nada de
22���
telefone. A gente bota o bicho por dentro e
manda pra frente.
Harmonia ri, esfrega as m��os.
��� Que tes��o �� essa, cara? ��� indaga
sarcasticamente Z�� da Hora.
��� Tou rindo da cara que o calabr��s vai
fazer. Quando descobrir que foi passado pra
tr��s.
��� O ideal �� que nunca descubra ��� argu-
menta Natureza. ��� A gente fica em paz
com ele e com todo mundo.
��� Quem de n��s vai l�� no antro, dar
o al��? ��� pergunta Z�� da Hora.
��� Vota����o, pessoal! Na democracia ���
prop��e Natureza, tirando uma moeda do
bolso.
Joga a moeda para cima, grita cara,
Harmonia grita coroa. A moeda ricocheteia
na mesa, cai no ch��o, Natureza perdeu.
Disputa com Z�� da Hora, grita coroa, a
moeda confirma, Z�� da Hora n��o se mos-
tra muito alegre.
��� N��o gosto nem de ver aquele fariseu,
quanto mais falar com ele. Mas n��o h�� de
ser nada. Vamos em frente.
Natureza explica detalhes do plano:
��� Diz que j�� se localizou a papelada,
inclusive uma mensagem cifrada. T�� tudo
sob controle, ningu��m vai botar a m��o. Mas
s�� se pode entregar depois de amanh��. Pra
amolecer o pessoal e evitar riscos, se preci-
sa de vinte mil.
���23
��� Vinte mil o cacete ��� diz irado Z�� da
Hora- ��� Cinq��enta mil. Se n��o topar ��
problema dele.
��� V�� l��. Cinq��enta mil ��� concorda Na-
tureza.
Capitulo 3
Quando chegam de volta �� se����o, dona
Ivonete entrega a Natureza um recado de
Montanha.
O policial tenta liga����o diversas vezes,
n��o consegue, Z�� da Hora bota o palet��,
desce as escadas.
Quase uma hora depois completa a cha-
mada, Montanha est�� assustado. Ouve o
que o companheiro diz, chama Harmonia de
lado.
��� A tal mensagem n��o deu pra segu-
rar. Foi pro pau. A T��cnica j�� traduziu, t��
caminhando pra chefia. Talvez nem passe
aqui pela Divis��o. Diz que �� coisa pra mui-
to barulho.
���- E o que �� que diz? ��� indaga Har-
monia.
��� �� isso que tou pedindo pra ele saber
��� responde Natureza.
Enquanto exp��e suas preocupa����es a
Harmonia, Z�� da Hora entra pelo arram-
pado, chega �� oficina de consertos, j�� fe-
chada, desce para a garagem.
A apar��ncia do pr��dio �� de que est��
abandonado: vidra��as quebradas, goteiras
24���
de muitos invernos enegrecendo completa-
mente a parede lateral, que amea��a ruir.
Atravessa a garagem, entra por um cor-
redor sem ilumina����o, chega �� porta do
elevador, marca o pavimento que Natureza
mencionou.
A porta se abre na sala onde est��o di-
versos homens, inclusive Palito e Lucaro.
��� Voc�� por aqui? ��� indaga Palito.
Z�� da Hora puxa uma cadeira; senta
em frente a Lucaro.
��� J�� se t�� com a m��o naquela pape-
lada, chefe. S�� depende de uma ordem sua
pra que esteja aqui, depois de amanh��.
��� Quem t�� ajudando voc��s?
��� Montanha e Virg��lio ��� afirma Z��
da Hora. ��� Uma mensagem cifrada j�� tinha
andado, mas eles pegaram no caminho.
��� E o que �� que se tem de fazer? ���
indaga um tanto ingenuamente Palito.
��� Muito simples ��� afirma Z�� da Hora.
��� Soltar a erva pros intermedi��rios.
��� Quanto? ��� quer saber Lucaro.
��� Cinq��enta milhas!
��� T�� maluco! ��� diz Lucaro.
��� �� o pre��o, chefe. A jogada t�� envol-
vendo cinco pessoas, al��m do Virg��lio e do
Montanha. O papel��rio tava l�� no alto,
muito dif��cil de pegar.
��� Manda ver o dinheiro, Palito!
Palito chama Soneca, fala baixo num
canto, o tipo desaparece na porta.
���25
��� E qual �� a garantia que me d��o des-
sa transa? ��� pergunta Lucaro.
��� A gente �� de confian��a! Isso n��o bas-
ta? ��� diz Z�� da Hora.
Lucaro recosta-se na cadeira, sacode-se
de um l a d o para o outro.
��� Tenho um plano ambicioso que vai
exigir o m��ximo de todos n��s.
��� Pra quando? ��� indaga Z�� da Hora.
��� Amanh�� ou depois se vai saber. De-
pendo muito dessa papelada ��� explica Lu-
caro.
��� N��o creio que na documenta����o des-
se tal Jackson tenha alguma coisa de inte-
resse ��� considera Z�� da Hora.
��� Isso �� o que se pode pensar. N��o ��
o mesmo que as partes implicadas pensam.
Querem seguran��a. Preto no branco. Nada
de suspense ��� diz Lucaro.
Lucaro sacode-se novamente na cadeira,
Soneca retorna com a maleta preta, que ��
posta sobre a mesa.
Palito movimenta a chave niquelada e
min��scula, a tampa levanta, as notas apa-
recem, empilhadas. Confere uma por uma,
at�� os cinq��enta mil, Z�� da Hora prende
o ma��o numa liga, enfia, no bolso.
Lucaro continua a movimentar-se na ca-
deira, brinca com um pequeno punhal de
cobre; Mestre Z��vi joga carta com Robert��o,
��� Um dos pap��is do mo��o deve ter bor-
dado de carimbo da Seccional. Quando ha-
26���
da, foi o que ele pr��prio me disse uma vez.
Transitou bastante por l�� ��� diz Lucaro.
��� Pode t�� tranq��ilo, chefe. O lixo todo
que aquele moleque tinha nos bolsos vai ser
arrastado pra c��. �� capaz de se trazer at��
a certid��o de nascimento e o atestado de
��bito.
Lucaro faz um gesto que significa va-
mos aguardar. O imenso Z�� da Hora er-
gue-se, abotoa o palet��. Palito vai em sua
companhia at�� o elevador. Soneca fica en-
costado a uma mesa, limpando as unhas.
��� Liga pro Rio ��� diz Lucaro a Soneca.
��� Quero falar cora Hildebrando.
Soneca faz a primeira tentativa, a se-
gunda. Na terceira, consegue. Passa o fone
ao chefe.
��� Por onde anda o pessoal? At�� hoje
n��o recebi coisa nenhuma.
��� Houve um contratempo ��� afirma
Hildebrando. ��� Um careta novato resolveu
baixar no Fl��vio. Coisa pra encher o saco.
Fl��vio deu a bronca, foi preciso chamar o
novato ��s falas. Agora, t�� tudo na mais
perfeita.
Lucaro desliga, Palito faz considera����es
a respeito de Z�� da Hora, cita diversas ve-
zes Natureza.
Soneca ouve calado aquele papo. Sabe
que Lucaro n��o dorme, tem vontade de per
g��-lo de jeito, acertar-lhe um tiro de 45
no meio da cara.
���27
��� Acho que, pra se saber de fato com
quem t�� lidando, at�� que n��o foi muito di-
nheiro ��� diz Lucaro.
��� O Natureza me parece um cara le-
gal. Quanto ao resto, tamb��m tenho mi-
nhas d��vidas ��� afirma Palito.
Soneca n��o consegue entender at�� onde
Lucaro est�� querendo chegar.
O telefone toca, Mestre Z��vi faz uma
pausa no jogo, Robert��o toma o caf�� frio
. que resta no copo.
��� Tou azarado ��� diz Robert��o, co��an-
do a cabe��a.
O telefone continua a tocar, Soneca
atende, tem vontade de rir do que ouve,
passa o fone a Lucaro.
��� �� Virg��lio. T�� anunciando uma bom-
ba ��� diz Soneca.
Lucaro n��o gosta da intromiss��o de So-
neca, que continua a rir, os olhos de peixe
morto.
��� Quando chega? ��� Papa-Defunto t��
por dentro? Fica em cima do caso e sigilo
total.- �� nossa grande chance. Vamos em
frente, depois se comemora.
Lucaro est�� alegre, o rosto desanuvia
completamente.
Soneca fica satisfeito com aquela modi-
fica����o. Palito bate a cinza do cigarro, Mes-
tre Z��vi volta-se para saber o que de t��o
importante est�� acontecendo, Robert��o p��-
ra o jogo.
28���
��� Nem tudo t�� perdido ��� come��a Lu-
caro. ��� Sabem quem vamos hospedar?
Os olhos convergem para a figura de
Lucaro, que gesticula, sacode os ombros.
��� A querida irm��zinha do Jackson Al-
berto. Me falou v��rias vezes nela. Agora a
boa menina aparece. T�� no IML, pra ver a
carca��a daquele miser��vel.
Lucaro apaga os risos do rosto.
��� Robert��o, vamos correr pro IML. Lo-
caliza a mulher. Te apresenta como sendo
agente da Divis��o Especial de Sindic��ncia.
Mete ela no carro e traz pra c��. Depois se -
v�� o que faz. Leva Soneca como motorista.
Talvez, assim, ele fa��a alguma coisa ��til!
Soneca torna a olhar o chefe com raiva,
mas n��o diz nada, nem acha gra��a.
Pega o palet��, Robert��o faz o mesmo.
Lucaro acrescenta uma nova informa����o:
��� O pessoal da DSM t�� atr��s da mu-
lher. Olho vivo. A garota �� de quem chegar
primeiro.
Acha gra��a de sua pr��pria afirma����o.
Palito tamb��m ri. Mestre Z��vi bota caf�� nos
copos, oferece a Lucaro e a Palito.
Robert��o e Soneca desaparecem a cami-
nho do elevador.
��� Se for mesmo a irm�� do Jackson e a
gente conseguir botar a m��o nela, o pes-.
soal da DSM vai ficar louco ��� diz Palito.
A l��mpada vermelha na parede come��a
a acender e apagar. Lucaro manda. Mestre
Z��vi descer.
���29
O homem de estrutura s��lida e grande
cabe��a de cabelos cortados rentes, mete-se
na capa. Caminha pesadamente para o ele-
vador.
Em seguida retorna, tirando a capa.
��� Uns bestalh��es fazendo ronda. Uma
das viaturas parou aqui em frente, mas n��o
�� nada com a gente. T��o procurando um
ladr��o!
Mestre Z��vi diz isso e acha gozado. Lu-
caro olha para ele, sem qualquer sorriso,
Palito est�� fazendo considera����es a respeito
da mo��a.
��� Mesmo que teja metida numa outra
-jogada ��� afirma Lucaro ��� cabe a gente
entortar o lado dela. Vamos fazer com que
entenda uma coisa: n��o foi nenhum de n��s
quem fuzilou seu maninho.
Lucaro acha gra��a. Ri, sacode os bra��os.
Palito e Mestre Z��vi tamb��m riem.
��� Quem foi que matou Jackson? ��� in-
daga e logo responde. ��� Um ex-policial neu-
r��tico. E para quem o ex-policial trabalha-
va de verdade? Para a DSM. E quem s��o os
homens de ouro da DSM? Natureza, Z�� da
Hora, Harmonia, Queixada, Virg��lio e Mon-
tanha.
Um outro acesso de riso domina Lucaro.
Mestre Z��vi j�� n��o acha tanta gra��a, Pali-
to bate �� cinza do cigarro.
O telefone toca, Palito atende, diz ser
do Rio. passa a Lucaro.
3 0 -
Hildebrando explica que o pessoal s��
pode chegar no dia seguinte. Lucaro n��o
fica muito satisfeito, mas concorda.
��� Antes tarde do que n u n c a . . .
��� Pode t�� certo de que vai tudo em
ordem ��� assegura Hildebrando.
Lucaro pergunta por Tarquinio e por
Beto Gordo.
A porta se abre, entra Soneca. Lucaro e
Palito est��o atentos aos menores movimen-
tos que faz.
��� Tudo em ordem. Robert��o achou me-
lhor levar a gatinha pro apartamento. Cis-
mou com um carro rodando atr��s da gente.
��� Certo. �� assim que se fala ��� diz
Lucaro.
Ajeita os punhos da camisa.
��� Vamos ouvir a hist��ria que a boneca
tem pra contar ��� diz Lucaro, alegre.
Palito ajusta o n�� da gravata muito es-
treita. Mestre Z��vi ficar�� tomando conta
do escrit��rio.
��� Se algu��m tocar, diga que dentro de
duas horas tou de volta ��� explica Lucaro.
O homem de rosto maci��o senta-se em
frente ��s cartas. Continua o jogo sozinho,
naquele sal��o atravancado de mesas, rolos
de pap��is, uma poltrona largando os pe��a-
��os, um mapa encardido na parede, algu-
mas fl��mulas de times de futebol, o filtro
que pinga ��gua nos tacos pretos do ch��o.
���31
cap��tulo 4
��� Essa �� a mo��a! ��� diz Robert��o.
Lucaro fica de p�� diante dela.
A jovem n��o se mostra amedrontada.
Veste uma saia justa, blusa de malha con-
tornando os seios fartos, um casaco de te-
cido pesado. Os cabelos castanhos e lisos
caem-lhe nos ombros, os olhos azulados fi-
xam .Lucaro.
��� Quem s��o voc��s? Que desejam?
��� N��o se apresse, filha ��� responde ele.
��� V a m o s ter muito tempo pra conversar.
�� mo��a cruza as pernas, Palito fica
olhando as meias finas, da cor da pele, que
se perdem nos sapatos, fechados com z��per.
��� ��� J�� ofereceram alguma coisa �� nossa
visitante? ��� pergunta Lucaro, sorridente.
��� Soneca t�� providenciando ��� respon-
de Robert��o.
Sentam-se nas poltronas em frente a
mo��a. Palito p��e a maleta de lado.
A jovem examina a sala, v�� as reprodu-
����es, o lustre caro, pendurado por uma cor-
rente dourada, o tapete vermelho em que
pisavam, as cortinas grossas, a mesinha
com revistas, o telefone sofisticado. Do ou-
tro lado, uma imita����o de lareira, algumas
velhas armas enfeitando as paredes.
��� Os senhores s��o da Pol��cia? ��� insiste
a mo��a.
��� Sim e n��o ��� responde sorrindo Lu-
caro. .
32���
Soneca aparece com a bandeja, ela re-
cusa o caf��.
��� �� mais inteligente que aceite ��� diz
Lucaro. ��� Mais tarde precisar�� de uma
refei����o, depois outra, mais outra. Vai ser
nossa h��spede por um bom tempo. N��o d��
pra ficar sem comer. Seria horr��vel!
A jovem tenta erguer-se, Robert��o impe-
de seus movimentos. Palito abre a maleta,
passa uns pap��is, com recortes de jornais-
colados, a Lucaro.
��� Voc�� �� Ana Maria, irm�� de Jackson
A l b e r t o . . . Por que se abalou do Rio atr��s
daquele nojento? ��� indaga Lucaro.
��� Nojento �� voc��! ��� diz a mo��a, in-
dignada.
Lucaro curva-se um pouco, bate-lhe com
as costas da m��o no rosto.
A pancada �� forte, um dos brincos voa
longe, o filete de sangue aparece no canto
da boca, ela chora baixinho, tira o len��o, en-
xuga os olhos.
��� Covarde! Cachorro!
Lucaro ainda est�� ��. sua frente, as t��m-
poras latejando. Aplica-lhe outro bofet��o,
Ana Maria chora alto.
��� N��o gosto de insultos ��� diz Lucaro.
��� Por isso, mocinha (segura-a fortemente
pelo queixo), trate de responder direito o"
que pergunto.
��� N��o sei de nada. H�� muito tempo
n��o via o Jackson.
���33
��� Procure lembrar. Uma semana antes
de morreu ele foi visto no Rio. Mais preci-
samente, na Pra��a Quinze. Foi quando re-
cebeu dez milh��es pra trazer pra c��. Sumiu
da gente mas n��o conseguiu gastar o di-
nheiro. Deixou aos cuidados de algu��m.
��� Jackson nunca falou comigo a res-
peito dessas transas. Era um rapaz direito
��� afirma Ana Maria.
��� Muito direito. Sabemos bem disso.
Apenas jogava do lado dos traficantes. To-
mava dinheiro dos t��xicos pros esquerdi-
nhas. Quando a coisa engrossou, quis nos
dar de bandeja pra Pol��cia. Muito direito
��� afirma Lucaro gesticulando, afundado
na poltrona.
Palito mostra uma fotografia 18 x 24 a
Ana Maria.
��� Quem s��o os pilantras que t��o com
Jackson?
A mo��a sacode a cabe��a, afirma n��o sa-
ber.
��� Ela n��o sabe de nada, chefe ��� diz
Robert��o. ��� Parece que perdeu a mem��ria.
��� Pra mem��ria fraca se tem um jeito
��� diz Lucaro, examinando pap��is. ��� Aqui
t�� o bilhete de um amigo nosso, l�� do Rio.
T�� claro que entregou o dinheiro a Jackson.
Neste outro papel, a assinatura do teu ir-
m��ozinho dizendo que de fato recebeu.
Passa o peda��o de papel escrito a Ro-
bert��o, .que est�� mais perto de Ana Maria.
34���
Robert��o manda que ela confirme a as-
sinatura.
��� Parece a dele.
��� Quero saber se �� a assinatura dele
ou n��o ��� insiste Lucaro.
Ana Maria torna a examinar o papel,
desta vez mais demoradamente.
��� �� a letra dele.
��� Muito bem. E onde aquele nojento
meteu a erva? ��� indaga Lucaro, de forma
um tanto pat��tica.
Palito recolhe a papelada, arruma na
maleta. Soneca faz uma liga����o, Robert��o
vai ao banheiro. Lucaro volta a falar:
��� N��o gosto de coisa enrolada, moci-
nha. Comigo �� preto no branco. Segurei o
sacana do Jackson um temp��o. Livrei ele
de uma por����o de - processos. Uma vez o
pessoal da Divis��o T��cnica tava pronto pra
acabar com ele. Mexi os pauzinhos, gastei
uma nota, tiraram ele da lista negra. Como.
pagamento, o nojento nos passa pra tr��s.
��� A�� voc��s acabaram com ele! ��� acen-
tua Ana Maria, recobrando a coragem. ���
��� O pior �� que n��o foi a gente. Um
tira fez o servi��o. A gente s�� tirou a garan-
tia que vinha dando a ele.
Lucaro se alonga em outros consideran-
dos queixosos, Soneca interrompe, transmi-
te em voz baixa a informa����o que acaba de
receber.
Faz ar de riso, olha Ana Maria...
���35
��� Sabe o que t�� acontecendo, moci-
nha?
Ana Maria n��o parece surpresa, man-
t��m-se calada.
��� Tem uma por����o de lobo mau a�� por
fora, querendo te devorar. Se n��o explicar
direitinho a est��ria do dinheiro, �� o que vai
acontecer. Deu sorte de t�� aqui com a gente.
��� N��o tenho nada a temer. N��o tou
envolvida em nenhum rolo ��� afirma ela.
��� N��o tava. Daqui pra frente j�� n��o
tem escolha ��� acentua Lucaro.
Palito estende o papel escrito. �� um bi-
lhete batido a m��quina que Ana Maria te-
ria enviado ao irm��o, confirmando o rece-
bimento de uma encomenda.
Lucaro l��, acha gra��a, os dentes bran-
cos aparecem, embora esteja nervoso.
��� M o s t r e que �� boa menina e ponha
sua assinatura nisto aqui. N��o �� nada de
mais ��� afirma Palito.
Ana Maria enche-se de revolta.
��� N��o assino.
N��o me obrigue novamente a ser de-
seducado, minha querida ��� diz Lucaro.
Robert��o tira a caneta do bolso, entrega
�� jovem. Ela fica com a caneta um bom
peda��o, Lucaro grita por Soneca, que sumiu
da sala.
��� Traz mais caf�� e um copo d'��gua pra
nossa h��spede!
Ana Maria compreende que recusar se-
ria pior. Assim de qualquer jeito, Robert��o
36���
pega o papel e a caneta, Palito examina
a assinatura.
��� Devolve a caneta a ela ��� diz Luca-
ro. ��� A aula ainda n��o terminou. Agora
vai mostrar que tem de fato boa caligrafia.
Vai escrever uma cartinha. D�� papel a ela,
Palito.
O tipo magro, de rosto profundamente
amarelo, tira da pasta uma folha de of��cio.
Lucaro manda que comece.
��� Rio de Janeiro, tanto de tanto. Que-
rido irm��o Jackson. Te esperei o fim de
semana e, como acabou n��o vindo, tou. que-
rendo saber not��cias. Acha que vai mesmo
conseguir transfer��ncia pra c��? Se precisar
de alguma informa����o que ajude nisso ��
s�� dizer. �� poss��vel que antes do fim do
ano v�� a Joinville. Mam��e anda adoentada.
V�� se aparece por aqui semana que vemv
��� O que pretende com esse bilhete? ���
indaga a mo��a.
��� Lucaro n��o �� t��o idiota quanto possa
parecer, mocinha. Primeiro serve pra con-
firmar que a pessoa da carta �� a mesma
que assinou o tal bilhete. Em segundo" lu-
gar: a irm��zinha do nojento sabia" muito
bem de todos os seus passos. N��o acha. que
isso j�� �� o bastante?
Palito se anima, os olhos adquirem ale-
gria.
��� Mas nem tudo por aqui deve ser mo-
tivo de lamenta����o, mocinha. O chefe n��o
�� t��o mau quanto parece. J�� que.colaborou
���37
com a gente, �� justo que saiba das surpre-
sas que temos pra voc��.
O pr��prio Robert��o n��o consegue acom-
panhar o rumo dos acontecimentos. Soneca
folheia uma revista em quadrinhos, parece
completamente alheio ao que discutem.
���O que Palito prop��e pode te servir
muito. Te damos a chance de acabar com
os matadores do nojento. A gente andava
atr��s dele, mas n��o queria que tivesse o
fim que teve. E a prova disso �� que acaba-
mos prejudicados, sem se saber onde t��o
os dez milh��es. Entende? ��� argumenta
Lucaro.
Ana Maria est�� surpresa e confusa ao
mesmo tempo. Robert��o cada vez entende
menos o que vai na cabe��a do calabr��s.
��� O plano �� simples ��� diz ele. ��� Tu
vai recebendo os caras, como mulher. Ro-
bert��o e Soneca v��m tamb��m pra dar ga-
rantia. S�� se manda os que entraram na
trama de bolar o fim do nojento.
��� N��o tou entendendo ��� responde Ana
Maria.
Lucaro faz ar de riso, Palito mexe os
m��sculos do rosto, Soneca bota os olhos de
peixe morto na mo��a.
��� N��o d�� uma de sonsa pra cima de
mim ��� afirma Lucaro. ��� Tu leva homem
pra cama h�� muito tempo.
Ana Maria tem outra crise de indigna-
����o, quer levantar-se, �� contida por Rober-
t��o. -
38-
��� O homem que sai comigo �� meu na-
morado. N��o tenho satisfa����es a dar.
Lucaro sorri, faz um gesto de m��o.
��� N��o interessa. O que quero dizer ��
que trepa de gra��a e agora vai fazer �� mes-
ma coisa por um objetivo e ainda ganhando
uma nota firme.
��� N��o sou prostituta., canalha!
Lucaro se aproxima, segura-a no pes-.
co��o, levanta-a da poltrona, o rosto verme--
lho, as t��mperas latejando. Arranca-lhe a
blusa e a saia, deixa-a apenas de calcinhas
e suti��.
��� Pois daqui pra frente vai ser puta!
Entenda bem: puta!
Ana Maria cai de novo na poltrona, re-
colhe as roupas transformadas em franga-
lhos, trata de cobrir-se como pode, chora,
n��o tem mais preocupa����o de limpar o ros-
to no ien��o.
Compreende estar metida numa enras-
cada, n��o sabe como escapar, principalmen--
te depois do bilhete e da carta que acabou
escrevendo.
Por tr��s do v��u de l��grimas olha a cara
sinistra de Lucaro, olha Palito, n��o. sabe
como, de repente, caiu nas m��os daqueles
marginais.
Arrepende-se de ter vindo ver o corpo
do irm��o, chora por si mesma e por ele, pro-
nuncia palavras que n��o fazem sentido.'
Soneca pega-a pelo bra��o, vai levando
na dire����o de um quarto, onde ficar�� at��
que Lucaro d�� novas ordens.
Soneca n��o gosta dos maus tratos �� mo-
��a, Robert��o olha-a por tr��s, as costas nuas,
as coxas grossas, os cabelos longos caindo
nos' ombros.
Cap��tulo 5
A sala vazia parece bem maior, poltro-
nas aguardando pessoas.
Soneca olha pela janela. Tudo que v��
�� um telhado vermelho, perdendo-se por
entre a folhagem dos f��cus italianos, dos
abacateiros e das casuarinas.
Estende-se no sof��, abre novamente a
revista, fica lendo as perip��cias do Fantas-
ma contra a Dama de Negro.
Do quarto onde est�� Ana Maria n��o vem
o menor ru��do.
Em dado instante, a leitura de Soneca ��
perturbada. Por mais que procure prestar
aten����o ��s legendas dos - quadrinhos, n��o
sai do lugar.
Pensa em Ana Maria se enforcando nos
trapos, cortando os pulsos com caco de vi-
dro. E tem vontade de chamar por ela,
abrir a porta. Sabe que, se acontecer um
acidente com a mulher, Lucaro lhe cortar��
o pesco��o.
E, imaginando essa desgra��a, pensa em
outra completamente diferente: o dia em
40���
que puder botar a m��o naquele calabr��s de
uma figa. Sozinho com ele numa sala, in-
quirindo-o, como j�� vira fazer tantas e tan-
tas vezes.
��� Bota a m��o aqui, filho da puta ���
diria Soneca a Lucaro, naquele dia em que
ser�� todo coragem. Lucaro tremendo de
medo, a m��o estendida na mesa, ele, Sone-
ca, cravando o punhal, batendo com o cin-
zeiro de vidro no cabo, para que a l��mina
entrasse bastante na madeira.
��� A outra m��o, seu puto!
Lucaro choraria e diria coisas que So-
neca jamais ouvira ele dizer. Sorri e, assim,
sorrindo, entende que seu ��dio contra o
chefe aumentara a partir do momento em
que espancara a mo��a, cujo ��nico crime era
ser irm�� de Jackson Alberto, o nojento. \
��� S e n��o se acabar com esse cara ���
ouvia Lucaro dizer ��� ele vai nos meter
numa boa. E tu a��, seu filho de uma vaca,.
�� quem vai ser o mais lascado!
Fecha os olhos, v�� o rosto indignado, a
boca insultando-o por ter deixado Jackson
Alberto fugir do hotelzinho na Lapa.
��� Como foi isso, seu merda? Tudo cer-
to, o homem no terceiro sono e tu estraga
a coisa? Tou cheio de trabalhar com retar-
dado mental!
Os pensamentos est��o longe, a cara en-
fezada de Lucaro aparecendo nos quadri-
nhos da revista.
41
Batem na porta, ergue-se de um salto,
o rev��lver na m��o.
��� Sou eu, Soneca!
Puxa o ferrolho de seguran��a. Robert��o
aparece, todo sorrisos.
��� O chefe prefere que eu tome conta
da Cinderela ��� diz ele.
��� N��o foi isso que disse ��� argumenta
Soneca.
Robert��o atira o palet�� na poltrona,
acende um cigarro.
��� Liga pra ele, pergunta!
Soneca disca, aguarda um pouco.
��� Palito, o chefe t�� a��? Foi ele quem
mandou Robert��o pro meu lugar?
Rep��e o fone no gancho, meio decep-
cionado.
��� J�� que �� assim, me mando!
��� J�� devia ter puxado o carro' ��� acen-
tua Robert��o.
Soneca encara bem de perto o tipo de-
bochado, que se prestava a todas as von-
tades de Lucaro.
��� Um dia tu vai entrar bem ��� �� tudo
que diz, de forma um tanto infantil.
�� porta se fecha, mete a chave no bolso,
p��e um disco na eletrola, abre o barzinho,
coloca u��sque nos copos de cristal, abre a
porta do quarto onde est�� Ana Maria na
cama, embrulhada nos cobertores.
��� Vim beber �� sua sa��de, princesa!
N��o responde. Ele senta na beira da ca-
ma, as costas peludas, o peito escuro de ca-
belos.
��� Vamos beber pra esquecer. Deixe de
ser boba! N��o tente segurar o mundo pelo
rabo.
A mulher fica olhando aquele tipo ousa-
do, forte e de rosto sem qualquer expres-
s��o.
Estende o bra��o, pega o copo. Robert��o
faz um riso largo, n��o percebe exatamente
quando lhe atira o u��sque nos olhos e salta
da cama, tenta correr para a sala.
Robert��o se lan��a em sua persegui����o,
Ana n��o consegue fechar a porta, como era
seu plano.
O homem enxuga os olhos, sorri.
��� �� assim que te quero. Cheia de as-
t��cia.
Dizendo isso, arranca-lhe os cobertores
das m��os, atira-se sobre ela, rolam no ch��o.
Robert��o rasga-lhe as calcinhas, Ana
Maria geme ao peso daquele animal peludo,
a boca sedenta procurando-lhe o pesco��o,
os seios duros e brancos. Sente1 penetrar-lhe
desajeitadamente, depois com mais profun-
didade e, finalmente, com ��nsia de bicho.
O telefone toca, a tarde desapareceu da
janela e dos olhos de Ana Maria, que con-
tinua deitada no tapete, esperando pela
vontade de Robert��o.
43
Toma um gole de u��sque, ouve ele falar
de coisas que n��o lhe dizem respeito, sen-
te-lhe os dedos nos seios e nas n��degas.
N��o diz nada. Acha apenas que, se pu-
der acompanh��-lo na bebida, terminar�� fa-
zendo com que se embriague e, s�� assim,
poder�� escapar.
Na terceira dose percebe que o bicho pa-
rece n��o sentir os efeitos da bebida, en-
quanto ela sente certa euforia e um pro-
fundo desgosto.
N��o sabe mais se est�� acordada ou so-
nhando, se aquilo que lhe acontece �� de
fato verdade ou apenas um dos muitos pe-
sadelos que costumava ter desde crian��a,
quando despertava gritando pela m��e e pela
av��, um urso de olhos de fogo atravessado
no seu caminho, amea��ando-a com os den-
tes e com as garras.
Tocou pela primeira vez naquele homem
que nunca vira antes e estava certa de que
era a pura realidade. N��o conseguiria esca-
par-lhe, enquanto ele acariciava-lhe as co-
xas e ajeitava-se novamente para penetrar-
lhe, ela tomando outros goles de u��sque, a
fim de que a realidade se tornasse um so-
nho Robert��o mordendo-lhe os seios e os
bra��os, Ana gemendo de gozo e de ��dio,
apertando os dentes nos nervos do pesco��o
dele, at�� sentir gosto de sangue, o animal
impedindo-a de prosseguir, batendo-lhe for-
te no rosto, os dedos grossos apertando-lhe
brutalmente as bochechas, ela quase per-
.44��� *
dendo o f��lego, temendo que aquilo fosse,
sua morte, resfolegando com dificuldade e
remexendo-se, Robert��o aproveitando-se
para tocar-lhe o mais fundo que podia.
A boca do animal peludo desce at�� ��s
seios, Ana d�� um urro, esperneia, chora e
grita, do seio branco escorre um filete de
sangue e, mais uma vez ele se estira na
sensa����o do gozo.
Ergue-se de cima da mulher, faz um
sorriso, Ana est�� encolhida no tapete.
��� N��o foi nada. Tamos empate! Vou
buscar rem��dio.
Anda nu pela sala de poltronas e bibe-
los,' abre um arm��rio, outro, volta com o
vidro de iodo e um pouco de algod��o.
��� Amanh�� j�� t�� pronta pra outra.
Ana Maria n��o diz nada, aceita o re-
m��dio, coloca no ferimento.
��� Logo mais vou mandar providenciar
tua roupa. Se ficar assim na minha frente
o dia todo n��o sei o que vai ser de. n��s ���
diz Robert��o, rindo.
Toma um pouco mais de u��sque, Ro-
bert��o acompanha. Ficam sentados um
temp��o no tapete.
��� Como foi que mataram Jacksoh?
��� Mataram, n��o. Um careta d�� Pol��cia
matou-���acentua Robert��o.
��� Como era ele?
��� Um velhote. Nada mais que um ve-
lhote.
��� Que tinha Jackson com ele?
���45
46���
��� N��o �� t��o f��cil assim. Lucaro tem
cuca ��� diz Robert��o.
��� Por que apareceu no IML dizendo
que era da Divis��o T��cnica?
��� T�� querendo chegar longe demais,,
gatinha. Se eu fosse voc�� n��o cansava a ca-
be��a com essas tolices.
Robert��o deita o rosto nos seios de Ana
Maria. Sua presen��a n��o lhe �� agrad��vel,
mas pode ser a ��nica maneira de livrar-se.
daquele lugar.
��� Se t�� numa boa. Tem hora que o che-
fe aporrinha, mas a grana compensa. Ga-
nho uma nota firme. Quando saio por a��
e ou��o a lenga-lenga dos ot��rios correndo
atr��s de cem mangos fico at�� com vontade
de rir.
��� Quanto acha que ganha?
��� Uns cem mil por m��s. D�� pra fazer
uma por����o de farra. Uma criatura boa do
teu tipo pode entrar nessa. �� s�� d�� o ser-
vi��o que o chefe quer. Acho que teve at��
muita sorte de cair na m��o dele. Se o pes-
soal da DSM te apanha n��o ia ter boa vida.
��� E por que iam me apanhar?
��� Olha, gatinha, teu maninho n��o era
flor que se cheirasse. Desculpe t�� falando
isso, mas �� verdade. N��o tinha nada contra
ele, entende, mas avan��ou o sinal demais.
Queria levar o mundo no peito. Se fosse
meu amigo, tinha dado um al�� pra ele Se
meter com esquerdistas e traficantes ao
mesmo tempo �� uma barra pra le��o.
���47
Por que acha que o chefe quer me
manter aqui?
��� Ora, vai tentar desanuviar umas coi-
sas a�� por fora.
��� Tu acha que o Jackson ficou com os
tais dez milh��es?
Robert��o mexe a cabe��a, ela sente o
seio ferido.
��� Se n��o.ficou, passou pra algu��m.
��� E pra que me pediu aqueles pap��is
assinados?
��� Quer tapar os olhos de algum gra��-
d��o que transa com ele. N��o �� bobo.
��� Tu acha ent��o que posso ser ��til no
neg��cio de Lucaro?
Faz a indaga����o, toma outro gole de
u��sque puro. Robert��o ergue a cabe��a, co-
me��a a n��o entender a mulher.
��� Meter-se de corpo e alma com Luca-
ro? ��� faz a indaga����o e sorri, vira-se no
tapete, bota uma perna por cima das coxas
grossas e brancas da mulher.
��� Que tem isso? A partir do que es-
crevi, estou envolvida at�� os cabelos.
Robert��o torna a ficar s��rio, concorda.
L�� isso �� verdade. Vai ter muita gen-
te querendo te botar a m��o.
Anima-se outra vez, bebe mais um pou-
co, aproxima-se do rosto de Ana, beija-a
nos olhos e na boca, tornam a estirar-se
no tapete.
��� S�� que n��o vou mais deixar ningu��m
te botar a m��o ��� diz isso e tenta colocar
.48���
todo o corpo nu da mulher entre os bra��os
peludos.
Ana Maria aceita as car��cias, volta a
provoc��-lo.
��� S�� me interessa ficar com ��ma con-
d i �� �� o . . .
��� Qual ��?
��� Na primeira oportunidade tu passa
a chefe. N��o desejo me entender muito tem-
po com aquele bandido.
��� Depois que conhecer melhor Lucaro
vai gostar dele ��� afirma Robert��o, que n��o
se mostra tentado pelo poder.
Agora, a sala est�� completamente es-
cura. Robert��o come��a a vestir-se, acende
a luz da mesinha de centro.
Ana Maria caminha at�� o banheiro, ele
fica extasiado com a mulher vista por in-
teiro as n��degas bem feitas, o corpo for-
nido, as pernas grossas.
Entra tamb��m no banheiro, ela est�� de-
baixo do chuveiro, joga a toalha sobre a
divis��o de acr��lico, penteia-se na frente do
espelho meio emba��ado.
��� J�� telefonei, mandando vir umas rou-
pas bacanas pra ti. N��o sabia o tamanho,
pedi que mandassem pela altura. Um me-
tro e setenta. �� isso?
��� Um e sessenta e oito ������ responde a
mulher.
��� Tamb��m falei c��m o chefe ��� pros-
segue Robert��o. Mandou que fique aqui
hoje �� noite, te fazendo companhia.
���49
Ri, Ana n��o faz qualquer coment��rio.
��� N��o acha bom? ��� indaga ele.
Mesmo assim a mulher n��o responde.
Abre de repente uma d��s portas de acr��-
lico, ela est�� toda ensaboada. Encaram-se,
o que Robert��o v�� �� completamente o in-
verso do que pensa Ana Maria.
Olhando-o, o seio doendo ao contato
com a ��gua morna, ela se distanciara num
tempo que jamais alcan��aria. Um tempo
com Jackson indo para a escola, os livros
na pasta de couro, os sonhos de menino.
Jackson mostra o desenho que fez, ela se
���impressiona.
��� Ora gatinha, teu maninho n��o era
flor que se cheirasse.
As palavras de Robert��o interferindo
nas recorda����es, o animal peludo ao alcan-
ce dos seus olhos, o gosto do seu corpo na
boca.
��� Logo mais se faz uma farra e dorme
at�� tarde. Topa ou n��o?
��� Qual a escolha que tenho? ��� diz ela.
Esfr��ga-se na toalha, ele apresenta uma
outra" em que se embrulha, vai para o sof��.
Enquanto seca os cabelos, Robert��o re-
mexe na cozinha, fala alto.
. ��� Vou te mostrar o caf�� que sei fazer.
capitulo 6
Ana aparece para olhar Robert��o, que
est�� s�� de cal��a. Aprecia-lhe os movimen-
tos. Um tipo extraordinariamente forte e.
alto, a cabe��a de garot��o debochado,; que
n��o parece temer o perigo.
��� Quanto tempo j�� trabalha com Lu-'
caro?
��� Que me lembre, uns quatro anos.
��� Ent��o �� o que se ..chama um homem
de confian��a do chefe.
��� N��o �� bem assim. Palito �� o,homem
de confian��a. Depois dele vem Mestre Z��vi,'
�� uma hierarquia. ; .
��� E o cara que chamam Soneca? ' ��� -
��� Tamb��m �� de confian��a. S�� q��eL��-
caro n��o acredita muito. nele. Faz tudo er-
rado. �� meio gira. Se salva pela honesti-
dade.
��� Um bandido honesto! ��� diz Ana Ma-
ria, fazendo um sorriso de deboche.
��� Isso mesmo ��� responde Robert��o,
botando o caf�� nas x��caras.
��� Pois acho que Lucaro manipula com,
voc��s at�� o dia que interessar. Depois.vai
jogando um por um fora.
��� Quando isso acontecer se toma as
provid��ncias ��� responde Robert��o, sopran-
do o caf��.
��� Acho que pra um sabido, sabido e
meio ��� afirma a mulher.
��� N��o t�� pensando em passar Lucaro
pra tr��s, t��?
��� Pessoalmente,-n��o. Mas vai aparecer
quem fa��a isso. Tu pode ser o principal
candidato. ."
Ana Maria toma o primeiro gole de ca-
f��; acha bom, Robert��o ri, sente-se vaidoso.
Tamb��m, em mat��ria de cozinha, ��
�� ��nica coisa que sei fazer.
Ana Maria senta-se na poltrona, ainda
com a x��cara nas m��os. Robert��o contem-
pla-lhe 0 perfil, O nariz arrebitado, a boca
bem feita.
��� Vamos falar agora de voc�� ��� diz
ele. ��� Onde morava l�� no Rio?
��� Num pensionato na Tij��ca.
��� E aquele neg��cio do namorado que
te levava pro hotel, �� verdade?
����� Que tem isso de mais?
Robert��o n��o acha muita gra��a na res-
posta.
��� N��o vai dizer que �� ciumento.
Ele ri, sacode os bra��os. Ana sente fi��
nalmente o ponto fraco daquele animal que
a subjugara, que a teria liq��idado se con-
tinuasse se recusando. Ouve o que ele con-
t i n u a a dizer, tem certeza de que agora
sabe bem como agir.
O telefone toca, Robert��o atende.
- T��o avisando que a mulher das rou-
pas t�� vindo. �� uma velhota conhecida de
Lucaro.
Ana Maria n��o faz coment��rio. Tocam
na porta, s�� Robert��o percebe a senha,
puxa o pesado ferrolho. Aparece a senhora
alta, de rosto severo, cabelos grisalhos. Traz
uma esp��cie de pequena mala. Abre, come-
��a a tirar roupas, e at�� sapatos.
-��� Se alguma coisa ficar apertada,
amanh�� se troca.
Ana Maria volta ao seu estado de mu-
tismo. N��o gosta da velhota, n��o gosta, de
nada do que ela diz.
Experimenta o primeiro vestido, fica
frouxo na cintura, a mulher garante que,
com o cinto, d�� para disfar��ar.
Veste a cal��a, fica comprida demais, a
velhota calcula a dobra da bainha, manda
que experimente o sapato, est�� bom, mas as
sand��lias n��o servem.
��� O chefe quer te ver como uma prin-
cesa ��� diz a velhota e faz uma careta de
riso.
Ana olha-se ao espelho, Robert��o acom-
panha-lhe os movimentos.
Quando bota o vestido vermelho, ele
n��o ag��enta a exclama����o:
��� Puxa! T�� parecendo artista de cine-
ma!
��� �� assim que o chefe quer que esteja
��� repete a mulher, para desagrado de Ro-
bert��o.
Remoendo as palavras da velhota, pensa
tamb��m nas provoca����es anteriores de Ana:
"Por que tu n��o �� o chefe?"
Robert��o v�� a cara de Lucaro, sempre
sorridente, sempre dando a melhor opini��o,
resolvendo o problema mais dif��cil, propon-
do aos inimigos charadas indecifr��veis, co-
mo aquela que estavam vivendo e que ele
pr��prio n��o sabia onde ia desaguar, nem
se esfor��ava para isso.
Os pensamentos s��o interrompidos pela
figura de Ana que, de bra��os abertos, d��
um giro no corpo, enquanto a velhota toma
algumas medidas.
Uma bailarina de cabelos sedosos e lon-
gos naquela sala mal iluminada, entre pol-
tronas vazias e as id��ias desencontradas que
come��am a povoar a cabe��a do animal pe-
ludo.
��� Este, vale a pena levar pra estreitar
um pouco mais dos lados. Custa uma nota.
Qualquer mulher ficaria orgulhosa com ele.
Ana tira o vestido, mete-se na cal��a Lee,
faz duas dobras nas pernas, continua com
o mesmo sapato baixo que comprou no Rio.
A velhota se prepara para sair, manda
que Ana guarde a roupa. Mas ela n��o se
mexe do lugar. Fica olhando os vestidos,
calcinhas, meias e suti��s enchendo as ca-
deiras.
Robert��o torna a trancar a porta, o si-
l��ncio �� profundo, somente uns vagos acor-
des da m��sica triste vindo da casa mais
pr��xima.
��� Puxa, com aquele vestido vermelho
fica um barato!
��� �� como o chefe quer, n��o ouviu a
dona dizer?
Olha Robert��o, sabe que suas provoca-
����es come��am a surtir efeito, mas o animal
peludo n��o se d�� por vencido.
54���
Abre novamente o barzinho, tira a gar-
rafa de u��sque e os copos, come��am a be-
bericar.
Por volta das 23 horas, Robert��o torna
a atender o telefone. Palito manda que leve
a mo��a ao escrit��rio central.
��� T��o nos convidando pra um passeio,
beleza ��� diz ele, um tanto contrariado.
��� Pra onde vamos?
��� Levar um papo no escrit��rio. �� l��
que Lucaro gosta de conversar. Nos outros
lugares fica meio sem jeito.
Chegam �� garagem, Robert��o tira um
par de algemas do porta-luvas, coloca um
dos elos no bra��o de Ana, fecha o outro
lado no cintur��o.
��� Acha que ainda tenho condi����o de
fugir? ��� indaga Ana sarcasticamente.
��� Nunca se sabe, gatinha. Me man-
tenho no emprego por que dizem que n��o
sou inteligente. Nem acredito em nada ���
responde ele.
��� Por que tem a mania de se achar in-
ferior aos outros? ��� indaga Ana.
��� N��o sou eu que tenho mania. �� o
que os outros d��zem.
O carro arranca entra pela rua sem
qualquer movimento, passa numa pra��a
plantada de grandes ��rvores, alcan��a a
alameda iluminada, sobe e desce ruas de
ladeira. Por mais que preste aten����o ao per-
curso, n��o tem menor id��ia de onde est��,
nem para onde �� levada.
Chegam finalmente �� ruazinha estrei-
ta, ao arrampado. O elevador tem porta
pantogr��fica antiga, fecha com ru��do, co-
me��a a subir, vagarosamente.
A porta abre na sala de ar viciado. O
primeiro homem que ela v�� �� Soneca, de-
pois Lucaro e Palito. O de rosto maci��o e
cabelos cortados rente acha que deva ser
Mestre Z��vi.
Soneca traz uma cadeira, Ana Maria
senta perto de Palito. Lucaro tem os p��s
descansados na ponta da mesa, brinca com
o punhal de cobre.
��� Mandei te chamar por que houve
uma altera����o nos nossos planos. E essa al-
tera����o te inclui.
Deixa que a jovem se manifeste, por��m
ela continua calada.
��� N��o quer saber como se deu isso? ���
pergunta ele.
_ Seria bom explicar ��� afirma ela.
��� �� assim que se fala. Tou gostando
de ver seu moral. N��o se deixa abater.
P��ra de repente a conversa, manda que
Soneca sirva u��sque a todos.
���r A ocasi��o �� prop��cia, Mestre Z��vi.
Vamos admitir esta jovem elegante na nos-
sa sociedade. Ela d�� sorte.
��� E como sabe que vou aceitar? ��� per-
gunta Ana Maria, de forma atrevida.
Lucaro p��e-se a rir, Palito est�� s��rio,
Robert��o tamb��m ri, Mestre Z��vi apenas
se descontrai um pouco.
56���
��� Quando Lucaro prop��e um neg��cio,
minha cara, �� porque �� bom. N��o se faz
nada fora da realidade. �� t��o real que aqui.
est��o as provas. Desde hoje a senhorita Ana
Maria Serrano tem a import��ncia de 600
mil em dep��sitos banc��rios. Aqui est��o os
tal��es de tr��s ag��ncias. E sabe por que
isso aconteceu?
Ana Maria est�� realmente confusa dian-
te daquele homem de cabelos bem pentea-
dos, barbicha negra contrastando com a
pele muito branca.
��� Isso evita qualquer desejo de. fuga
que venha ter. E pra que n��o caia em ar-
madilha, vamos lhe abrir o livro da verda-
de. Preste muita aten����o. Amanh��, os lobos
da Divis��o T��cnica e da DSM j�� sabem' a
soma que tem nos bancos. N��o �� a gente
quem vai informar. Nunca se faz jogo baixo
com ningu��m. S��o os outros, que t��o atr��s
dos dez milh��es que teu irm��ozinho fez de-
saparecer. E se os lobos sabem que uma
mo��a sem emprego definido tem Cr$ 600
mil nos bancos, exatamente quando Jack-
son foi morto, �� claro que n��o v��o ter mui-
to o que duvidar quanto aos restantes 9
milh��es e quatrocentos mil. Reconhe��o que.
a�� tamos for��ando um pouco a barra, mas
pode contar com a gente. Vai ser doidice,,
portanto, sair daqui pra enfrentar as feras
l�� fora.
��� E com quem t�� afinal o dinheiro?.
��� indaga Ana Maria. .
���57
��� Vamos com calma, menina. Aqui, eu
fa��o as perguntas. Compete que saiba das
provid��ncias tomadas. Pode ficar com os
tal��es e at�� come��ar a gastar, mas n��o bote
essa carinha bonita na rua.
��� Mas seria bom, j�� que t�� metida na
sociedade, saber a jogada do dinheiro ���
afirma Robert��o de forma atrevida.
��� Tou te desconhecendo, rapaz ��� res-
ponde Lucaro. ��� Que �� que t�� te passando
pela cabe��a?
Palito completa o pensamento de Lu-
caro, que a esta altura est�� bastante con-
trariado.
��� O que se quer e o que tem de acon-
tecer, �� que uma por����o de intermedi��rio
safado, principalmente da DSM, deve de-
saparecer. A bolada que Jackson pegou t��
num determinado local que a gente mais
ou menos j�� localizou, mas o pessoal do
Rio acha que ficou com o cara que liqui-
dou Esmeraldino. Deu pra entender?
Nenhum dos homens faz qualquer co-
ment��rio. O sil��ncio torna-se t��o carregado
que o ��nico ru��do aud��vel na sala �� o girar
do ventilador.
��� A mocinha tamb��m vai ter tarefas
a cumprir -��� volta Lucaro a falar. ��� N��o
pense que as coisas por aqui acontecem
como nos milagres. Tem de se cavar fundo,
botar sangue das unhas.
Ana Maria imagina perguntar que tipo
de coisa dever�� fazer, mas n��o se encoraja.
'58���
O pr��prio Robert��o, sempre t��o alegre,
emudeceu num canto, bra��os cruzados no
espaldar da cadeira. Soneca est�� agarrado
numa revista em quadrinhos, Palito esfre-
ga as m��os magras, Mestre Z��vi olha as car-
tas dispersas sobre a mesa.
��� Amanh�� ou depois ��� prossegue Lu-,
caro ��� j�� posso dizer como ela deve pro-
ceder. Palito informar��. N��o quero o im-
poss��vel, mas desejo corre����o no que se faz.
Servi��o limpo nunca envergonhou nin-
gu��m. Os pr��prios prejudicados v��o chiar
na corda, mas n��o podem deixar de tirar
o chap��u pra gente. Um grupo pequeno
que sabe onde tem o nariz. N��o quero
aquelas palha��adas do Muril��o e do Erva
Doce. Uns merdas, que pensam nos. pas-
sar pra tr��s. Por isso v��o se arrepender.
Se querem fazer jogo duplo com o pessoal
do Zanete e do Ram��n P��rez, se enganam.
Conhe��o a esp��cie por baixo.
��� Zanete, que malandr��o ��� considera
de forma vaga Mestre Z��vi. ��� Quem o viu,
quem o v��.
��� O que tinha Jackson com Zanete e
Ram��n P��rez? ��� diz Lucaro, respondendo
�� pergunta de Ana Maria. ��� Transava com
a gente e com eles. Por isso, acharam que
era homem bastante pra nos trazer o di-
nheiro. E foi a�� que o menino perdeu "o
ju��zo. Em vez de nos dar a verba pra aqui-
si����o de mercadoria, deu no p��, como se
costuma dizer. Depois soube que tava por
59
tr��s de uma por����o de jornal da imprensa
nanica, armando chafurda����o pol��tica.
��� Como pode provar que foi Jackson
quem ficou com o dinheiro? ��� diz ela.
Lucaro acha gra��a, mexe-se na cadeira.
��� Menina teimosa, n��o, Palito?
��� J�� t�� provado ��� afirma Palito. ���
Zanete e Ram��n P��rez botaram l�� no Rio
um policial da velha guarda na cola dele.
Uma por����o de coisa foi descoberta. S�� num
jornalzinho semanal que a Pol��cia empas-
telou, ele investiu 300 mil. Onde ia achar
tanto dinheiro?
��� E o que agravou ainda mais a situa-
����o ��� comenta Mestre Z��vi ��� foi a morte
daquele policial. O pessoal de esquerda per-
deu mesmo a cabe��a. Apagar um veterano,
assim, de uma hora pra outra, da mais pro-
blema do que se possa imaginar.
��� Agora ��� prossegue Palito ��� fica-
mos na d��vida. O policial teria tomado o
dinheiro de Jackson e sumiu com ele?
Morreu antes de botar a m��o na erva? A
bolada t�� com algu��m da curriola do Na-
tureza e do Z�� da Hora ou teu maninho
entregou tudo de m��o beijada aos esquer-
dinh��? .
Quando termina de falar Lucaro faz
uma careta, co��a o cavanhaque com a pon-
ta do punhal, Ana Maria n��o sabe o que
dizer.
��� Note bem uma coisa ��� acentua Lu-
paro, djrigindo-se a ela ��� ningu��m vai es-
. 6 0 - .
quecer dez milh��es do dia pra noite. O
pessoal prejudicado t�� no ataque. Por isso
a gente t�� te oferecendo sociedade. Acho
que o Jackson nos meteu numa embru-
lhada; em compensa����o n��o se pode negar
que colaborou muito. �� uma forma de re-
conhecer o que fez de correto. Que acham
voc��s?
Mestre Z��vi confirma as palavras de Lu-
caro; fala t��o seriamente que Robert��o tem
vontade de rir. Sabe que tudo aquilo que
terminou de dizer �� pura encena����o. Mais
uma diabolice para tirar proveito.
Palito recorda Jackson Alberto como. se
fosse seu filho:
��� N��o fosse aqueles rompantes de levar
tudo no peito, poucos de n��s conseguiriam
se igualar a ele.
Soneca l�� sua revista em quadrinhos,
n��o �� chamado a opinar. De vez em quan-,
do olha Ana Maria, a mulher est�� sem sa-
ber que rumo tomar naquela fala����o toda. -
Lucaro vai mais longe: recorda o pri-
meiro dia em que manteve contato com
Jackson.
��� Era um talento que se perdeu por
n��o acreditar na prud��ncia!
Ana Maria sente os olhos cheios d'��g��a;
ao ouvir aquelas refer��ncias ao irm��o.
��� E o que tenho de fazer?. indaga
ela.
��� 6 1
��� O que tentei dizer de modo amig��vel
e que tu me obrigou a contrariar minhas
regras e ser grosseiro.
��� S e r uma prostituta ��� comenta ela.
��� S�� na opini��o dos que v��o lhe pro-
curar. Pra n��s, passa a ter aqui dentro o
mesmo direito e as mesmas regalias dos
outros.
��� Que tipo de cara �� que vai me pro-
curar?
��� ��� Os que tramaram a morte de Jack-
son. Um deles sabe onde est�� o dinheiro.
��� E por que ontem Jackson era um
nojento e hoje t�� quase virando santo? ���
pergunta Ana Maria, de forma bastante
atrevida.
��� N��o se t�� agindo s�� por bondade. H��
dez milh��es envolvidos na hist��ria. N��o
acha que �� bastante dinheiro?
N��o faz coment��rios do que diz Lucaro,
quer- saber apenas qual o tipo de neg��cio
ao qual se dedica. Mestre Z��vi lan��a um
olhar a Palito, este mostra-se impass��vel,
Lucaro silencia. Robert��o alarma-se com a
curiosidade da jovem, Soneca fecha a re-
vista.
��� Na verdade, somos vendedores de so-
nhos. Uma atividade que tem muito de
poesia. Por isso n��o se entende a perse-
g��i����o da Pol��cia.
Faz outro riso, alisa o cavanhaque.
��� O que n��o �� nada po��tico �� nosso
c��digo de honra: traficante que trapaceia
62���
e mente, �� traficante morto. Pode demorar
muito tempo, mas sempre se descobre. O
traidor deixa rasto fedorento por onde pas-
sa. No dia do ajuste de contas (atira o
punhal de ponta na mesa) ele deixa de
existir.
O telefone toca, a l��mpada vermelha
acende e apaga. Robert��o caminha r��pido,
para o elevador, retorna, diz que �� uma
velha vendendo carnes.
Lucaro bota o palet��.
��� Agora, m��os �� obra.
E, dirigindo-se a Ana Maria:
��� Robert��o fica lhe fazendo compa-
nhia, mesmo quando algu��m aparecer por
l��. N��o queremos que corra nenhum perigo.
Palito abre e fecha a maleta preta, Mes-
tre Z��vi recolhe as cartas, somente Soneca
permanece quieto, a revista em quadrinho
nas m��os.
Cap��tulo 7
Z�� da Hora, Harmonia e Queixada est��o
sentados ao redor da mesa, copos espuman-
do de cerveja. O lugar vago �� de Natureza,
que deixou o palet�� na cadeira e fala ao
telefone.
De onde est��o n��o ouvem o que diz, O.
bar �� barulhento, um r��dio transmite fu-
tebol, os carros passam na rua, acelerando
motores.
��� Montanha saiu a servi��o, mas o Vir-
g��lio t�� vindo pra c�� ��� afirma Natureza,
bra��os grossos na mesa, camisa de man-
gas arrega��adas, o la��o mal feito da gra-
vata, aberto.
-��� J�� se devia ter tomado provid��ncia
contra aquele rato h�� muito tempo ��� afir-
ma Z�� da Hora.
��� A princ��pio foi ��til. N��o se pode dei-
xar de reconhecer ��� pondera Natureza. ���
Depois se tornou exigente e agora, quando
se bota a faca nos peitos do fariseu e se
exige 50 mil pela papelada, ele s�� d�� 30 e
diz tamos conversados! Foi ou n��o foi, da
Hora?
��� N��o gosto nem de falar mais nisso.
Por mim j�� tinha queimado aquele veado.
��� Tem de se agir com a cabe��a, usan-
do a mesma t��tica dele ��� diz Queixada,
rosto largo, molares salientes, uns fios de
barba na ponta do queixo. ��� O neg��cio ��
saber a hora certa de atacar.
��� Vamos ver o que Virg��lio acha ���
argumenta Natureza. ��� O que a maioria
decidir isso �� que ��.
���- De qualquer forma se tem de levar
a papelada pro cara. Qualquer provid��n-
cia deve ser depois disso ��� pondera Z�� da
Hora. ��� N��o pode desconfiar que tamos
querendo lhe armar o bote;
��� Isso �� verdade. Ou pegamos aquele
bicho de surpresa ou ele r��i a corda ��� afir-
64���
ma Harmonia, depositando o copo na mesa
j�� toda molhada.
Chega o homem baixo e forte, verme-
lho e bastante calvo, camisa branca de
mangas curtas.
��� E o Montanha? ��� indaga Harmo-
nia.
��� Foi desde cedo com uma turma em
dilig��ncia. S�� vai voltar l�� pela noite. A
gente conversa e depois digo a ele ��� afir-
ma Virg��lio, puxando a cadeira de outra
mesa.
��� Gar��om, mais cerveja ��� pede Natu-
reza, um tanto nervoso.
��� O que �� que t��o comemorando? ���
indaga Virg��lio.
��� O sacana do calabr��s t�� querendo
nos passar pra tr��s, irm��o ��� explica Na-
tureza. ��� Quer a papelada completa do .
Jackson Alberto.
��� Que cara �� esse? ��� indaga Quei-
xada.
��� Aquele merda que foi metralhado na
Avenida Jabaquara ��� diz Harmonia.
��� Acontece que os caras do calabr��s
se mandaram antes do tempo e os pap��is
foram recolhidos pelo pessoal da Ronda,
Agora, quer que a gente d�� conta deles.
��� T�� maluco. Se a papelada caiu nas
m��os dos patrulheiros j�� seguiu pro DSM
h�� muito tempo ��� considera Virg��lio, bo-
tando cerveja no copo.
��� 6 5 , '
��� Acontece que seu Lucaro n��o quer
saber disso ��� afirma Natureza.
��� E da��? ��� indaga Virg��lio.
��� Da�� que a gente tem de rebolar. Afi-
nal, tamos na transa dele ��� esclarece Na-
tureza, cada vez mais nervoso e suarento.
��� E qual �� a bola����o?
��� Natureza tem um plano que pode
funcionar ��� explica Z�� da Hora.
��� Pensei arranjar a papelada do vaga-
bundo toda de novo ��� diz Natureza. ��� At��
a mensagem cifrada que Lucaro procura, a
gente consegue.
���Virg��lio acha gra��a, Queixada tamb��m.
��� Quando o calabr��s descobrir que foi
enganado, vai ficar muito doido ��� diz Har-
monia.
��� A essa altura j�� �� outro dia ��� argu-
menta Natureza, passando o len��o no rosto.
��� E cad�� a papelada? ��� quer saber
Virg��lio.
Natureza remexe com as m��os gordas e
desajeitadas nos bolsos do palet�� que est��
pendurado na cadeira. Tira um envelope
branco, chama o gar��om para secar a mesa.
O homem de m��os vermelhas esfrega o
pano imundo, Natureza volta a descansar
os bra��os volumosos, abre o envelope j�� todo
amassado.
��� Aqui t��! Carteira de identidade com
a cara do. nojento, uma de estudante, dois
bilhetes de camaradinhas dele, um cart��o
de cr��dito, outro do CPF.
66���
��� T�� ficando doido, cara? ��� argumen-
ta Z�� da H o r a . ��� Onde j�� se viu subver-
sivo ter CPF?
Todos que est��o ao redor da mesa acham
engra��ado o disparate de Natureza, mas o
que mais se delicia �� Queixada.
��� O dia que comunista precisar ter
CPF a subvers��o termina, cara ��� diz ele.
Natureza mostra-se bastante atrapalha-
do, esfrega de novo o len��o no rosto.
��� Deixa o CPF de l a d o .
Pega o cart��o, torna a meter no bolso
do palet��. Virg��lio queima um peda��o da
carteira de identidade com cigarro. Harmo-
nia acha que est�� perfeita. Queixada tira
a carteira do bolso, p��e os documentos num
pl��stico, oferece a Natureza.
��� Ta��. Enfia a bagulhada dentro dela.
J�� tava mesmo na hora de comprar outra.
��� Com os bilhetes que s��o de verdade,
duvido que aquele miser��vel desconfie de
alguma coisa ��� considera Natureza, re-
cuperando a calma.
��� S�� fica faltando a tal mensagem ci-
frada��� argumenta Z�� da Hora.
��� Como �� que se produz uma mensa-
gem cifrada? ��� quer saber Natureza.
��� Deixa de ser ot��rio, cara. Mensagem
cifrada �� qualquer papel escrito. Tu inven-
ta uma por����o de coisa sem sentido e isso
pode ser uma mensagem cifrada ��� explica
Queixada.
���67
��� Ent��o da Hora bate �� m��quina ���
decide Natureza.
��� J�� que a papelada t�� reunida �� bom
que saibam do melhor ��� explica Z�� da
Hora. ��� O tutu que o calabr��s j�� soltou.
�� uma mis��ria, mas antes pouco do que
nada.
��� Deu seis milhas pra cada um ��� diz
Natureza. ��� Mandei da Hora depositar tu-
do no nome dele. Se faz a retirada em che-
que. Vamos deixar uns 50 mangos pra Papa
Defunto, que quebrou um galh��o. Foi ele
quem correu atr��s da papelada, desde
ontem.
Z�� da Hora preenche os cheques sobre
a mesa salpicada de pingos de cerveja, Quei-
xada fala na atua����o de Lucaro, Virg��lio
recorda a confus��o que um homem dele
arranjou no Aeroporto Santos Dumont.
��� Um tal de Fl��vio. Porra louca igual
a Jackson. Deu uma de engra��adinho com
o fiscal, o homem virou pelo avesso a male-
ta que trazia, foi aquele desacerto. Se o
Tarquinio e o Beto Gordo n��o se movimen-
tam l�� no Rio, a coisa ia parar nas m��os
dos federais.
��� E tu acha que o calabr��s t�� mais
preocupado com isso? ��� indaga sarcasti-
camente Harmonia.
��� Pode t�� bem cal��ado, mas que corre
risco, corre ��� considera Virg��lio.
��� Risco porra nenhuma. Se o fiscal
queima o Fl��vio na hora ele �� que se estre-
68���
pa, como aconteceu ao Marcos Paulo, ao
Klein e ao nojento.
Z�� da Hora destaca o primeiro cheque,
entrega a Natureza. O segundo a receber ��
Queixada, o gar��om chega com outra cer-
veja, Harmonia sorri, Virg��lio acha que o
dinheiro veio bem na hora.
��� N��o fosse essa merda, nem sei como
ia enfrentar o aluguel desta vez.
��� N��o fala em aluguel, cara ��� diz Z��-
da Hora, um tanto dram��tico. ��� O meu
venceu o terceiro m��s e a administradora,
t�� querendo mandar pro pau. Com estes
caraminguados vou molhar a m��o do pes-
soal e pagar pelo menos dois meses.
Harmonia torna a encher os copos, o
r��dio berra alto, os carros fazem barulho
na rua, Natureza guarda a documenta����o
no envelope machucado.
��� S�� falta uma coisa ��� diz ele. ���
Quem v�� entregar a papelada ao calabr��s.
O da Hora j�� foi l�� receber o dinheiro.
��� Pode deixar que volto l�� ��� afirma
da Hora um tanto preocupado, embora Na-
tureza n��o perceba sua afli����o.
Virg��lio pega o envelope, enfia no bolso
da cal��a.
��� Tou numa averigua����o pro lado de
l��. N��o custa nada disfar��ar e dar um��
olhada no focinho daquele c��o.
Z�� da Hora rnexe nervosamente as m��os, .
engole metade da cerveja que est�� no copo.
Natureza volta a passar o len��o no rosto.
���69.
Virg��lio olha o rel��gio, prop��e dividir a
conta, da Hora n��o deixa, sai junto com
Queixada e Harmonia. O gar��om passa de
novo o pano imundo na mesa, as moscas
voam, o r��dio transmite barulho, as veias
no pesco��o do policial est��o inchadas, Na-
tureza esfrega repetidas vezes o len��o na
cara gorda e suarenta.
��� Que merda �� que te deu na cuca, ��
me��! Ent��o tu vai entregar ouro pra ban-
dido? E agora? Se o Virg��lio sabe que se
comeu 50 e n��o 30, com que cara vamos
ficar?
Natureza n��o tem como explicar seu
esquecimento, vira o copo na boca, tambo-
rila os dedos gordos na mesa.
��� A gente diz que �� sacanagem de Lu-
caro, T�� querendo jogar uns contra os
outros.
��� E se o bandid��o resolve fazer uma
acarea����o com os homens da lei? Tu j��
imaginou que merda que vai dar? Te ga-
ranto que n��o tenho coragem de mentir
na frente do Virg��lio e do Queixada. N��o,
depois do que eles t��m feito pela gente.
Virg��lio j�� se arriscou demais e quase n��o
ganhou nada. Tu viu bem o que o homem
disse a��. Nem o aluguel da merda da casa
conseguiu pagar.
Natureza passa a m��o no queixo, olha
os carros se atravancando no peda��o de rua,
em frente ao bar.
70���
��� Foi uma tremenda mancada. Retro-
ceder �� pior.
��� Agora n��o tem jeito. �� deixar como
t�� pra ver como fica. O pior �� se Lucaro
tocar no assunto. Virg��lio n��o vai dar o.
servi��o. Tu sabe muito bem disso.
Natureza abre alguns bot��es da camisa,
o peito gordo aparece, o suor aumenta.
��� A n��o ser que se diga pr�� ele logo
m a i s . . .
��� Diga o qu��? ��� indaga Z�� da Hora,
irritado.
��� Que Lucaro deu mais dinheiro ���
afirma Natureza, sem convic����o.
��� Tu acha que Virg��lio �� bobo? Vai
engolir uma hist��ria dessa? O melhor ��
deixar como t��.
Natureza pega o palet��, da Hora acende
o cigarro, joga a gorjeta sobre a mesa, sai
resmungando.
Atravessam a rua, caminham no rumo
da reparti����o.
Lucaro e Palito est��o sentados em fren-
te a uma mesa ampla, com toalha branca,-
no restaurante Savoia. �� gar��om deposi-
tou a garrafa de vinho no balde de gelo,
trouxe duas caipirinhas.
Lucaro gesticula e ri.
��� Quero s�� ver at�� onde ela pode che-
gar ��� diz ele.
- Que �� teimosa, ��. Parece o nojento
do irm��o ��� assegura Palito.
��� Com o tempo muda de id��ia. Rober-
t��o acaba se transformando em namora-
dinho dela e entre namorados n��o h�� se-
gredos��� afirma Lucaro.
��� Ser�� que n��o? ��� considera Palito.
Os m��sculos do rosto mexem, a boca chu-
pada se abre num sorriso que �� mais uma
careta.
��� Que t�� querendo insinuar? ��� inda-
ga Lucaro de modo ��spero.
��� Tenho minhas d��vidas quanto a Ro-
bert��o. N��o acho que possa botar muita
moral com aquela mulher.
Lucaro mant��m o copo de caipirinha na
m��o, toma um pequeno gole, o pensamento
longe, os olhos no magricela, incapaz de
confiar em quem quer que fosse.
��� Tu exagera, Palito!
��� Tomara que sim ��� responde ele,
ajeitando o guardanapo nas pernas.
��� Vamos admitir que d�� tudo certo.
Afinal, s.e precisa um pouco de otimismo.
�� ou nao ��?
��� Sou mais a favor do realismo. Os
realistas n��o sentem fome.
Mexe novamente os m��sculos-, do rosto
seco,- os. olhos ficam inundados de vaga
alegria.
��� Admitindo-se que a coisa d�� certo ���
repete Lucaro ��� quem acha que seria o
primeiro amante da nossa gatinha?
7 2 -
Enquanto espera a resposta, Lucaro to-
ma o resto da caipirinha, d�� um estalo na ,
l��ngua. O gar��om se aproxima com os pra-
tos e a comida.
Palito se serve, o gar��om vai embora;
��� Um daqueles caras do Rio. Talvez
o Tarquinio ou o Hildebrando.
��� Por que um de l�� e n��o um daqui?-
��� Seria uma satisfa����o pro Zanete ��
Ram��n P��rez. De quem foi o dinheiro que
que sumiu? Deles. Ao mesmo tempo, quem
seria responsabilizado pela morte de um
desses policiais? Os dois.
Lucaro passa o guardanapo na boca, to-
ma um pouco de vinho, faz uma careta.
��� Puxa! Tu me assusta, cara. �� uma
bola����o infernal!
Lucaro mastiga e fala ao mesmo tem-
po, olha Palito com admira����o.
��� T�� certo no caso do Robert��o. Se
acha que devemos botar olho nele, vamos
botar.
Palito continua a comer, Lucaro pros-
segue:
��� Outra mancada que aquele merda t��
dando �� de trepar com a garota. N��o faz
parte do servi��o.
Palito arregala os olhos, solta o garfo
na beira do prato.
��� Trepando?
��� Isso mesmo. Soneca deu a dica. ��
por isso que t�� com aquele esparadrapo no
pesco��o. Agarrou a mulher na -marra.
���73
��� Tamb��m, resistir ��quele material
n��o �� f��cil ��� considera Palito, os olhos
brilhando de alegria.
��� Fiquei t��o puto com ela naquela
hora, que n��o tive nem tempo de reparar
��� comenta Lucaro, tomando mais vinho.
��� �� um peda����o ��� afirma Palito.
��� Mas seu Robert��o n��o t�� aqui pra
bancar o touro de ra��a. Ou se controla ou
se estrepa.
Lucaro amassa o guardanapo nas m��os,
o gar��om traz o telefone at�� a mesa. Palito
atende.
��� �� Soneca!
Entrega o fone a Lucaro, a conversa se
alonga, o calabr��s arregala muito os olhos,
as veias nas frontes come��am a pulsar.
��� Que houve? ��� indaga Palito.
��� A irm�� do nojento fugiu. Terminou
de trepar com nosso touro de ra��a, saiu pra
ir ao banheiro e se picou ��� afirma Lucaro,
empurrando o prato de lado.
Cap��tulo 8
Lucaro e Palito chegam �� porta do res-
taurante, o manobreiro aparece com o car-
ro. Lucaro toma posi����o ao volante.
A Avenida da Consola����o est�� movimen-
tada, bandeiras coloridas num posto de ga-
solina, a mulher com o pano amarrado na
cabe��a e uma por����o de crian��as famintas,
ao redor.
74���
Palito torna a falar no policial que seria
o primeiro amante de Ana.
��� N��o se preocupe, que ela vai apare-
cer.
O carro sobe o arrampado da oficina de
consertos, Lucaro entra na sala tirando, o
palet��, Mestre Z��vi fala do telefonema que
recebera, informando que o pessoal do Rio
j�� estava no hotel.
��� Foi o Fl��vio quem telefonou. Disse
estar tudo OK ��� afirma Mestre Z��vi.
A luz vermelha pisca duas vezes, toques
suaves na porta. Mestre Z��vi abre, aparece:
Virg��lio.
��� Puxa, a que devemos tanta honra?
��� indaga Palito, levantando-se.
O policial est�� um tanto deslocado; rara-
mente aparecia no esconderijo de Lucaro,
Senta-se na cadeira que Mestre Z��vi lhe
oferece, aperta a m��o do calabr��s.
��� Quais s��o as novidades? ��� pergunta
Lucaro.
��� As de sempre. Muita galinha e pouco
ovo!
��� Mas a tend��ncia do mercado �� melho-
rar ��� afirma Lucaro. ��� Se a gente se
mantiver unida, dentro de pouco tempo
ningu��m mais nos faz sombra. Nem o Za-
nete, nem o Ramon Perez.
Ouve o que diz o calabr��s, Palito p��e
caf�� nos copinhos pl��sticos, v��o tomando
em pequenos goles, Mestre Z��vi atento a
���75
um .ponto imagin��rio na sala de paredes
encardidas.
��� Pra se chegar l�� ��� acentua Lucaro
��� a guerra �� grande. E s�� se pode contar
com quem for de fato nosso amigo.
O calabr��s recosta-se na cadeira, faz
um riso enigm��tico, alisa o cavanhaque.
Virg��lio est�� sem entender at�� onde
quer chegar. Coloca na mesa o envelope
com os pap��is que Natureza e Z�� da Hora
lhe deram.
��� Isso. aqui, por exemplo ��� continua
Lucaro ��� �� a maior prova de que o pes-
soal que trabalha com a gente ainda n��o
confia no que se faz, nem estima o que
ganha.
��� Mas a�� tem tudo que �� papel do no-
jento ��� diz Virg��lio.
Lucaro ri alto, Palito est�� surpreso,
Mestre Z��vi acompanha o nervosismo do
policial.
��� Pode t�� certo de que n��o �� verdade.
Nem preciso ver pra saber disso.
' - . Que t�� querendo dizer? ��� indaga
'Virg��lio, um tanto confuso.
- ��� Aquilo que j�� disse: precisamos se-
lecionar melhor nosso pessoal ��� afirma
Lucaro.
E, chegando o rosto bem perto do poli-
cial:
��� Tu �� -dos bons, mas a curriola que
inventou a papelada n��o presta!
���' Como pode dizer que foi inventada?
��� Muito simples. A verdadeira, a que
era do nojento, t�� comigo. Quem trouxe foi
Mestre Z��vi. T�� a�� pra confirmar.
��� E pra que ent��o mandou o Natureza
cair em campo?
��� Apenas um teste. Como v��, n��o foi
aprovado ��� afirma Lucaro.
Virg��lio encara o calabr��s com repug-
n��ncia.
��� Voc�� n��o presta!
O ambiente est�� carregado. Palito tira
a papelada do envelope que Virg��lio trouxe,
vai botando sobre a mesa, Lucaro puxa a
carteira de identidade com a ponta do pu-
nhal.
��� Veja s�� isto. �� o c��mulo do absurdo.
Como acreditar em tipos que fazem tal-
coisa?
Virg��lio pronuncia algumas palavras,
sem qualquer fundamento, o calabr��s ba-
lan��a-se na cadeira, parece interessado na
lenga-lenga do policial.
��� Mestre Z��vi ��� diz ele ��� mostre a -
carteira de identidade do nojento. S�� -pra .
nosso amigo n��o sair daqui pensando que
se t�� inventando.
Virg��lio se serve de mais um cafezinho,
Lucaro permanece em sil��ncio, Palito agita
as m��os magras.
��� Veja s�� isto ��� diz, mostrando a car-
teira. ��� N��o h�� qualquer semelhan��a. Al��m
de safados s��o grosseiros. Ali��s, �� a gros-
seria de seu Z�� da Hora e de seu Natureza
que me revoltam. N��o sei afinal por que
fazem isto com a sociedade. Tudo que pro-
metemos a eles foi cumprido. E, se fosse
aqui relembrar cada uma dessas coisas, fa-
r��amos uma rela����o imensa.
��� A que atribui esse comportamento?
��� indaga Virg��lio, um pouco mais calmo.
��� Talvez por causa de vantagens ofe-
recidas por Ram��n P��rez. Unicamente por
ele. Zanete n��o age dessa maneira. Quando
n��o gosta de determinada concorr��ncia,
manifesta-se de forma legal. Age como Lu-
caro.
Enquanto o calabr��s vai falando, Palito
percebe os movimentos sutis de Mestre Z��vi.
Primeiro ele retira os copos vazios de cima
da mesa, depois coloca outros, afasta-se e
volta, arruma uns pap��is que n��o estavam
precisando de arruma����o, Virg��lio atento ao
que Lucaro continua a dizer, o velho de
m��os grandes e rosto s��lido se aproximan-
do outra vez, o fio de nylon esticado.
Coloca-se bem por tr��s do policial, faz
um movimento r��pido.
Virg��lio tenta o salto da cadeira, mas ��
tarde. Bate violentamente com os p��s na
mesa, um cinzeiro cai com barulho no ch��o,
o policial ergue os bra��os para agarrar-se
ao homem que o estrangulava, n��o alcan��a,
os dedos tremem no ar como garras endu-
recidas, procuram desesperadamente afrou-
xar o la��o que se comprime mais e mais,
os m��sculos do rosto contraindo-se numa
78���
careta, baba escorrendo de vim canto da bo-
ca, olhos saltados e fixos em Lucaro.
Palito tratou de puxar a cadeira para
um ponto em que os p��s de Virg��lio n��o o
poderiam atingir, o policial contorce-se,
Mestre Z��vi est�� colado a ele e tamb��m
avermelha o rosto, rilha os dentes, as veias
dos bra��os endurecidas, os dedos continuam,
puxando as pontas do fio.
Lucaro sorri, sabe que o ex-colabor��dor
n��o resistir�� muito tempo.
Mestre Z��vi n��o se altera, j�� puxou o
la��o o que p��de, agora �� s�� esperar e ter
for��a de ag��entar os estreme����es que a v��-
tima continuar�� a dar, principalmente ��
propor����o em que for perdendo a possibili-
dade de respirar.
Lucaro sabe que aquele homem de com-
plei����o maci��a �� calmo, n��o dar�� uma man-
cada, soltando Virg��lio antes da hora. E,
talvez, por isso, torna a sorrir.
Se Virg��lio ainda tinha condi����o de. pen-
sar em alguma coisa, estava tendo opor--
tunidade de ver que n��o se brinca com Lu-
caro. Ningu��m, at�� ali, conseguiu enga-
n��-lo. Portanto, como �� que foi cair naque-
la da documenta����o? E o calabr��s q��e che-
gou a pensar fosse o mais vivo da' curriola
de Natureza!
Realmente enganou-se. N��o se podia
confiar nos caras sem antes saber muito
bem das suas condi����es. Era o que faria
dali para frente. Nada de metesse com tipos
--79
que s��o capazes de tremendas mancadas.
E se o neg��cio n��o fosse a simples organi-
za����o da papelada? Se envolvesse os gra��-
d��es, que recolhem a nota com luvas de pe-
lica para n��o deixar impress��es digitais?
Como um imbecil como aquele iria fazer?
Loucura, at�� ali, ter confiado alguns
dos segredos da organiza����o a caras como
ele. Mas foi a ��ltima mancada. E poderia
morrer o mais despreocupado que pudesse,
pois a mesma coisa iria acontecer com Quei-
xada, Natureza, Z�� da Hora.
Mais do que nunca, agora estava certo
da necessidade de reformular, J�� evidente
que, durante algum tempo, provavelmente
na fase de implanta����o da sociedade, foram
uteis.
Natureza, por exemplo, desdobrava-se. A
fase dos passaportes, das a����es falsificadas
e at�� dos ingressos de futebol. A que ponto
Lucaro chegara: ter de falsificar ingres-
sos de futebol e depois de tanto trabalho
recolher uma ninharia.
Unia fase dif��cil, da qual n��o gostava
sequer de lembrar. Quem mais lucrou foi
o pr��prio Natureza. E a prova disso �� que
comprou casa, carro, botou a filharada em
bons col��gios, passou a usar ternos caros,
embora tenha sido sempre um desleixado.
Lucaro pega o punhal, Mestre Z��vi tem
o rosto colado ao de Virg��lio, cujos bra��os
se alongaram, as pernas come��am a do-
brar-se.
Palito sabe que est�� nas ��ltimas. Uns
poucos segundos e estar�� definitivamente
de partida.
O velho solta o la��o, o corpo cai pesa-
damente. Estrebucha um pouco, uma per-
na se alonga mais do que a outra.
��� Bicho duro, esse! ��� diz Mestre Z��vi
e caminha na dire����o do banheiro, desen-
rolando o fio de nylon das m��os.
��� �� o que todos da curriola de Natu-
reza merecem. Foi o que pediram. �� o ,que.
v��o ter. Ningu��m vai nos fazer de besta.- '
Soneca aparece, olha o homem esten-
dido no ch��o, ouve a ordem do chefe.
��� Puxa isso l�� pra fora. Quando escure-
cer, se pensa no que fazer.
Palito ainda n��o reencontrou as pala-
vras, Mestre Z��vi retorna enxugando as
m��os, Lucaro alisa o cavanhaque, arrega��a
os punhos. -
O telefone toca, Palito marca um encon-
tro com o pessoal do Rio na parte da noite.
��� Fl��vio t�� dizendo que trouxeram a
mercadoria toda. Sem qualquer problema.
Lucaro sorri, Palito tamb��m acha gra-
��a, Mestre Z��vi p��e o baralho sobre a mesa,
manda que Soneca corte.
��� O neg��cio �� a gente agir antes que
consigam pensar ��� argumenta Palito.
��� Creio que sim. Convoca Papa-Defun-
to. Manda ele ir no hotel ver como t�� a
barra por l��. Depois disso se entra em a����o.
���81
��� Soneca! ��� chama Palito. ��� Locali-
za Papa-Defunto. Manda ele ir no Arc��dia,,
ver como anda o pessoal do Rio. Pede pra
telefonar pra c�� logo que saiba de algo.
Soneca deixa as cartas espalhadas sobre
a mesa, Mestre Z��vi trata de recolh��-las.
��� Basta pegar a mercadoria. A�� se exige
o encontro e mandamos que nos entreguem
b que j�� estar�� com a g e n t e . . .
Lucaro acha gra��a da sua ast��cia, Pali-
to faz apenas um sorriso, Mestre Z��vi pa-
rece alheio ao que tramam.
��� ��� Depois do que o Virg��lio fez, se deve
acreditar em Papa-Def unto? ��� indaga.
Lucaro acha gra��a, mexe-se na cadeira,
sacode as m��os.
��� Claro que n��o. Mas estou em d��vida
se a sindic��ncia no hotel deve ser sua ��lti-
ma atua����o. Creio que ainda pode ser ��til
para outras coisas. Pra saber do paradeiro
exato da irm��zinha do nojento, por exem-
plo.
Palito torna a rir, os m��sculos do rosto
se contraem. Lucaro levanta-se, abre um
arm��rio de ferro, onde havia roupas pendu-
radas, torce a chave na fechadura de uma
gaveta camuflada por baixo de tantos bre-
' gue��os, tira um rev��lver novo, faz o tam-
bor rodar diversas vezes. Adapta ao cano
da arma uma outra pe��a, retorna �� mesa
onde ficou Palito.
��� Logo mais vamos l�� pro Arc��dia. Va-
mos levando esta m��quina com silencioso
82���
e tudo. Quem sabe se voc�� n��o tem raz��o
e Papa-Defunto deva mesmo partir do pla-
neta?
O barulho que ouvem, na dire����o do- ba-
nheiro, interrompe a conversa. Soneca Ie-
vanta-se apressado, vai ver o que ��. Volta
assustado.
��� �� o Virg��lio. T�� querendo ficar em
p��.
��� Em p��? ��� �� tudo que diz Lucaro.
Mestre Z��vi ergue-se com grande agili-
dade, numa mesa pega o peso de papel, em-
purra com dificuldade a porta. Lucaro e
Palito est��o atr��s. Ouvem-se pancadas sur- "
das.
Depois a porta se abre. Mestre Z��vi rea-
parece.
��� Que bicho duro na queda! Nunca vi'
coisa igual.
Solta o peso, Soneca trata de puxar o
corpo para um canto, o sangue descendo da
testa.
��� Agora quero ver ele se mexer de no-
vo ��� �� tudo que diz Mestre Z��vi, retor-
nando �� mesa onde jogava cartas.
��� Ser�� que Natureza vai dar o mesmo
trabalho? ��� indaga Palito.
��� Tenho medo de Z�� da Hora. Aquele
tipo nunca me enganou ��� argumenta Lu-
caro. ��� Mas n��o h�� de ser nada. Coisas
mais dif��ceis j�� se enfrentou. Pra cada um
se arma um esquema e deixa acontecer.
���83
Nada de pressa. Quando se voltar do Arc��-
dia j�� se pode pensar nisso.
O telefone toca, Soneca atende, passa o
fone a Palito. Lucaro ajeita a camisa, est��
atento ao que o outro diz. Palito desliga.
��� �� o amiguinho de Papa-Defunto, di-
zendo que n��o sabe por onde ele anda. Des-
de ontem tomou um porre e sumiu.
��� Ser�� que aquela peste adivinha? ���
diz Lucaro, um tanto contrariado.
��� N��o deve t�� por longe. Logo que bote
o p�� no IML vai telefonar. J�� n��o deve ter
dinheiro. N��o tem pra onde escapar.
Lucaro brinca com o punhal, Mestre
Z��vi reclama da roubalheira de Soneca, Pa-
lito disca um n��mero, insiste, ningu��m
atende.
Em determinado momento, o sil��ncio ��
t��o grande na sala, que se ouve os pingos
d'��gua na torneira que est�� necessitando
de conserto.
��� .O telefone toca, Palito se apressa em
atender. �� o amigo de Papa-Defunto.
��� J�� t�� na base. Ainda n��o telefonou
porque se enrolou todo com a fam��lia, que
teve dois parentes atropelados ��� afirma
Palito.
��� Manda o Soneca dar o recado. Pra
ele n��o perder tempo com ninharia. Cinco
mil agora, s�� pra dar uma espiada na tur-
ma do Rio ��� diz Lucaro.
84���
��� E servir de ponto de refer��ncia ��
acrescenta Palito, o rosto se encolhendo
todo num sorriso.
��� Vai l�� e ag��enta a m��o at�� falar
com Papa-Defunto ��� explica Lucaro.; ���
O neg��cio �� ele se enfiar no Arc��dia e espe-
cular, botar a m��o na mercadoria. Quero
saber tudo sobre a turma do Rio. Em quan-
tos quartos est��o, quantos s��o ao certo.
Acredito na amizade do meu amigo Zanete,
mas n��o gosto de ter surpresas.
Soneca ajeita o palet��, Palito acha gra-
��a. Mestre Z��vi embaralha novamente as
cartas, agora jogar�� sozinho.
��� Acho que j�� �� tempo de ligar pro
Natureza ��� diz Lucaro, dirigindo-se a Pa-
lito. ��� Pergunta se precisa de ajuda pra lo-
calizar a irm��zinha do nojento. Se falar da
papelada diz que t�� tudo OK. Virg��lio saiu
daqui levando uma gratifica����o pelo tra-
balho. Joga minhoca na cabe��a dele. Quero
que pense que a gente �� muito mais imbe-
cil do que julga.
Palito faz diversas liga����es, informam
que Natureza n��o est��. Saiu a servi��o. Vai
demorar.
��� Ent��o chama Z�� da Hora ��� reco-
menda Lucaro.
Palito localiza o policial, conversam al-
gum tempo.
��� Disse que Natureza t�� no rastro da
princesa ��� explica Palito. ��� Viram ela em
Santos.
���85
Lucaro n��o faz coment��rio.
��� Por que t��o perto? ��� diz de repente
Mestre Z��vi.
��� Por que t��o perto? ��� repete Lucaro,
como se buscasse a explica����o.
��� N��o vejo nada de mais ��� afirma Pa-
lito. ��� Em Santos ou em Bauru, tudo de-
pende da forma como se v�� agir. �� l��gico
que se ela caiu nas garras da turma da
DSM, vai servir de isca.
��� E se tiver com os capangas de Ra-
m��n P��rez? ��� argumenta Lucaro.
N��o acredito. N��o seria t��o esperto.
E ainda que fosse, n��o teria condi����o para
isso ��� esclarece Palito.
��� Mas Zanete tem meios pra estender
a m��o muitos quil��metros al��m do Rio ���
responde Lucaro, cada vez mais descon-
fiado.
��� Zanete �� nosso cliente. N��o tem in-
teresse em armar um golpe desse contra a
gente ��� diz Palito.
��� Em que se baseia pra dizer isso? Na
amizade que ele tem por n��s? ��� diz Luca-
ro, fazendo um sorriso amarelo. ��� S�� se
tem amigo quando se t�� por cima. Quem
demonstra fraqueza n��o merece compaix��o.
��� Acho que exagera. Nem sempre se
pode ver as coisas assim ��� acentua Pa-
lito.
O telefone toca. �� Papa-Defunto. Luca-
ro se apressa em atender.
86���
��� Em algum lugar eles devem ter um
vidro ou uma bolsa contendo o que rios
interessa. S��o dr��geas vermelhas e verdes.
Ao todo umas 250.
��� Como suposit��rios? ������ indaga. Papa-
Defunto, fazendo brincadeira.
��� Exatamente ��� diz Lucaro, sem
achar gra��a. ��� Como suposit��rios!
O telefone �� desligado, Palito enche as
x��caras de caf��, oferece a Mestre Z��vi.
Cap��tulo 9
Soneca est�� sentado em frente a Lucaro,
do lado de Palito. Mestre Z��vi desceu o ele-
vador com o corpo de Virg��lio. Nas ruas
perto da oficina de consertos as luzes acen-
deram. Um carro roda silenciosamente e
desaparece.
Palito tira a pistola do cofre, Soneca
continua a falar sobre a atua����o de Papa-
Defunto.
��� O cara deu bandeira ��s pampas ���
afirma ele. ��� Foi na portaria e perguntou
onde era o quarto de Fl��vio.
��� Algu��m te viu? ��� pergunta Lucaro
a Soneca.
��� N��o creio. Fiquei de longe, na para-
da do ��nibus. De l�� olhava o cara se infor-
mando com o porteiro. Vai ser reconhecido
f��cil ��� afirma Soneca.
��� �� isso que se quer. Talvez nem pre-
cise usar o documento com o nome dele,
Palito. Em todo caso, �� bom levar.
���87
Palito entrega a carteira de motorista
onde est�� o nome verdadeiro de Papa-De-
funto Carlos Eduardo Marchetti.
��� O que �� que devo fazer com ela? ���
indaga Soneca, de forma ing��nua.
��� Se for preciso, joga por perto do apar-
tamento do Fl��vio. Mas s�� em ��ltimo caso.
Se d�� o al�� ��� explica Lucaro.
A luz da sala se apaga, descem at�� a
garagem, onde est�� o carro cinzento. Luca-
ro e Palito sentam no banco de tr��s.
��� Tem certeza de que Papa-Defunto t��
com a encomenda? ��� indaga Lucaro, diri-
gindo-se a Soneca.
��� Ele entrou sem nada nas m��os e vi
quando saiu com um embrulho. S�� deve
ser a mercadoria.
O carro avan��a por ruas de ladeira, ave-
nidas largas e muito iluminadas, contorna
a pra��a de arbustos podados em forma de
animais, garotos deslizam nos patins.
Lucaro olha aquilo tudo com indiferen-
��a, Palito reclama da lonjura que �� a casa
de Papa-Defunto, Soneca acentua que ain-
da teriam de rodar muito at�� chegar l��.
A rua �� de terra, buracos cheios de lama,
a ilumina����o prec��ria. Soneca deixa o vo-
lante, dirige-se ao port��o onde h�� um car-
ro estacionado.
Quando aperta o bot��o da campainha
um c��o come��a a ladrar, depois outro, mais
88���
outro. Uma mulher abre a janela, Soneca
pergunta por Marchetti.
Teve luta de lembrar do nome verda-
deiro de Papa-Defunto, porque jamais o
chamara assim.
Marchetti aparece enxugando o rosto,
depois botando o blus��o. �� um rapaz de uns
25 anos, tem um sorriso franco e faz mui-
tos gestos enquanto fala. Soneca n��o. entra,
est�� atento ao cachorro que agora cheira
seus sapatos, sua roupa.
Papa-Defunto vai para o interior da
casa, depois reaparece com a caixa de pa-
pel��o amarrada com fios de nylon.
��� Prefiro que mostre logo pro chefe ���
afirma Soneca. ��� Ele t�� bem aqui no carro,
com Palito.
Papa-Defunto sai com Soneca, fecha o.
port��o para que o cachorro n��o escape para
a rua. Caminham at�� o carro. Soneca abre
a porta, Papa-Defunto entra.
��� Tamos precisando da mercadoria ���
vai dizendo Lucaro. ��� N��o se p��de nem
esperar at�� amanh��.
Papa-Defunto faz um sorriso.
��� Como foi? ��� indaga Palito.
��� Mais f��cil do que pensava. Pelo que
me disseram no hotel, estavam todos na
sauna,
��� L�� mesmo no Arc��dia? ��� indaga
Lucaro, como se o detalhe o preocupasse.
��� N��o. Duas quadras adiante ��� res-
ponde Papa-Defunto.
���89
Enquanto Lucaro trata de abrir a caixa,
Palito entrega os 5 mil ao jovem. Agora,
Lucaro examina as c��psulas acondiciona-
das em estojos pl��sticos.
��� Nunca tinha visto LSD assim ��� afir-
ma Papa-Defunto.
Soneca n��o faz coment��rio. Sabe que
Lucaro n��o gosta. Palito tira um pequeno
canivete do chaveiro, abre uma das c��p-
sulas. Lucaro est�� satisfeito.
��� �� isso mesmo. N��o tavam blefando!
Palito �� mais cauteloso:
��� Vamos abrir outra. Pode ser que nes-
sa eles tenham dado sorte.
Torna a usar a ponta do canivete, a
c��psula est�� cheia.
��� Perfeito. Creio que todas as outras
est��o assim ��� comenta Palito.
Papa-Defunto salta, acena com a m��o,
o carro prossegue pela rua esburacada, Lu-
caro conferindo as c��psulas em todos os
estojos pl��sticos.
��� Perto do hotel a gente salta e voc��
vai em frente ��� diz Lucaro. ��� Volta pro
escrit��rio, fica esperando.
��� N��o acha que a gente terminou se
excedendo? ��� indaga de repente Palito.
��� Por qu��? N��o �� de hoje que Zanete
desconfia de Fl��vio. O sumi��o da mercado-
ria s�� vai acabar de fazer com que reforce
sua suspeita. E eu tamb��m n��o consigo
acreditar naquele tipo. �� muito pern��stico.
90���
S�� ele sabe das coisas. N��o sei como Zanete
foi se meter com esse cara.
Palito sorri, o carro desce uma alameda
de pedras escorregadias, p��ra no cruzamen-
to onde come��a a avenida que passa em
frente ao hotel.
Lucaro tem uma id��ia:
��� Vamos saltar por aqui mesmo. Se-
guro morreu de velho. A gente toma ura
t��xi at�� o hotel.
Cap��tulo 10
O carro avan��a. O movimento nas ruas
agora �� menor, por causa do frio que faz.
O motorista opina na conversa, lembra
que na madrugada anterior os term��metros
baixaram a quatro graus. Palito admite que
esteja havendo uma mudan��a de clima, ape-
nas para manter a conversa����o.
Lucaro parece n��o ouvir o que dizem.
Est�� distante, olhando os pr��dios ilumina-
dos que passam, os viadutos, os cinemas,
teatros, casas de jogos. Era incr��vel como
aquela cidade n��o lhe dizia nada. Vivia ali
h�� tantos anos, conhecia bem cada rua,
e no entanto nada Lhe tinha significado.
�� prov��vel que isso acontecesse porque
estava sempre absorvido com os neg��cios,
com os planos, as sutilezas que lhe ocupa-
vam completamente os racioc��nios.
Mas, n��o sabe por que, gostaria de en-
trar novamente no Cine Ipiranga, despreo-
cupadamente, como tantas vezes fizera.
���91
Sentar numa cadeira qualquer, ficar co-
mendo amendoim enquanto o mocinho da-
va conta de todos os bandidos que haviam
sumido com o ouro. E teria ido muito mais
longe nas suas divaga����es se n��o ouvisse
Palito agradecendo a aten����o do motorista.
Saltaram, entraram pelo corredor com
l��mpadas embutidas nas paredes, chegaram
ao balc��o onde havia uma pequena m��qui-
na de calcular, guias tur��sticos e tal��es pa-
ra recados telef��nicos.
O homem fardado de azul e dourado
pergunta o que desejam, �� ainda Palito
quem toma as iniciativas.
Depois, por mais que procure se encon-
trar, a ��nica coisa que Lucaro escuta �� o
homem dizendo o n��mero 508.
Palito se encaminha para o elevador,
o porteiro vai lev��-los.
Ser�� que fizeram a mesma coisa com
Papa-Defunto? Se a gentileza foi igual, n��o
h�� d��vida de que nem precisava deixar a
carteira falsificada. A porta se abre, andam
pelo corredor estreito e escuro, Palito aper-
ta na campainha.
Aparece o homem de peito e costas pe-
ludos, aparece Fl��vio.
��� Vamos entrando, pessoal ��� diz ele.
Palito aperta m��os, Lucaro d�� apenas
um al��, senta-se numa poltrona do lado da
mesinha com o jarro de vidro sem flores.
��� T��o bem instalados? ��� indaga, para
ser gentil.
92���
O grandalh��o que n��o conhecia faz um
riso idiota.
��� Qualquer lugar t�� sempre bom pra
gente.
��� A vantagem deste hotel �� que o pes-
soal procura colaborar. T�� sempre de boa
vontade ��� comenta Palito.
��� Quem veio com voc��? ��� indaga Lu-
caro, dirigindo-se a Fl��vio.
��� O Kid, Lescolesco e Beto Gordo. Os
dois desceram pra tomar um aperitivo, mas
t��o j�� de volta ��� diz Fl��vio.
��� Como t��o as coisas? ��� pergunta Kid.
enxugando-se e mostrando uma intimidade
que Lucaro n��o aprovava, principalmente
por ser a primeira vez que o via.
��� Como Deus manda��� responde.
��� A mercadoria, que se trouxe �� de pri-
meira. Coisa que n��o aparece todos os dias.
��� De que tipo? ��� indaga Palito, que
o tempo todo ficou soprando a fuma��a do
cigarro, enquanto os estudava melhor.
��� LSD e mescalina ��� diz Fl��vio, abrin-
do a mala de couro.
Lucaro pisca para Palito, Fl��vio remexe
nas pe��as de roupa, nos pap��is, nas meias
e nos len��os. Palito faz que n��o repara na
atrapalha����o, puxa uma conversa meio mo-
le, Fl��vio interroga Kid, h�� um certo ner-
vosismo em ambos, Kid abre uma outra
mala. Est��o preocupados, mas. nenhum dos
dois quer demonstrar isso.
Lucaro vai respondendo ao que Palito
���93
d i z , chegam Beto Gordo e Lescolesco. Lu-
caro e Palito demonstram alegria ao ver
Beto, apertam a m��o de Lescolesco, mas
na verdade est��o acompanhando Fl��vio e
Kid, cada vez mais nervosos.
Agora, �� imposs��vel Fl��vio continuar
mantendo as apar��ncias. Fl��vio vai falan-
do, at�� que decide interrogar Lescolesco.
��� Algu��m entrou aqui, abriu a mala
com chave falsa e se serviu. Levou a caixa
com a mercadoria.
��� N��o diga isso, n��o! ��� diz Lucaro,
erguendo-se da poltrona. ��� Depois de tudo
qu�� se enfrentou, n��o �� poss��vel sair daqui
de m��os abanando.
Fl��vio est�� voltado para as malas, Beto
Gordo meio tonto com a not��cia.
- Porra, Lescolesco! Como foi isso? ���
quer saber Fl��vio. ��� Quando a gente foi
l�� embaixo, tu ficou ou n��o ficou vigiando?
��� Aqui n��o entrou ningu��m ��� respon-
de Lescolesco, sem querer admitir que se
distraiu.um pouco, t��o logo a arrumadeira
apareceu, rebolando pelo corredor. Chegou
por tr��s dela, segurou-a na cintura, a mu-
lher gemia e se amolecia toda. Mas n��o era
besta de dizer isso. Ag��entaria firme, nin-
gu��m saberia dos seus momentos de esque-
cimento e de prazer.
��� Como foi isso, Lescolesco? ��� insiste
Beto Gordo.
Kid p��ra de remexer inutilmente, nas
roupas, encara Lescolesco.
94���
��� Garanto que fiquei de olho na baga-
gem. N��o entrou ningu��m aqui.
��� Jura que n��o tirou o p�� do aparta-
mento? ��� indaga Fl��vio, exaltado.
A��, Lescolesco sente que era imposs��vel
manter-se firme.
��� Bem, tive falando um pouco com a
arrumadeira, n o 5 1 8 .
Fl��vio n��o deixa que termine:
��� F a l a n d o . . . Dando uma de gavi��o
e ela morrendo de rir da nossa cara!
��� S�� quero ver o que tu vai dizer a
Zanete ��� afirma Kid.
Beto Gordo �� o que menos fala. Palito
acompanha os menores gestos que fazem.
Lucaro decide dar rumo certo ao caso.
��� Se entrou algu��m aqui, passou jpela
portaria. Por que n��o perguntam se veio um
cara qualquer procurar um de voc��s?-
��� �� o que vou fazer ��� diz Fl��vio, dis-
CANDO para a portaria.
Quando desliga est�� preocupado.
��� Veio um cara branco, aparentando
uns 26 anos, de cabelo alourado. Disse que
era do Rio.
��� E agora, quem vai encontrar um ho-
mem branco, de cabelo alourado, nesta ci-
dade de loucos? desabafa Beto Gordo.
��� �� assunto de Lescolesco ��� afirma
Kid.
��� �� assunto nosso ��� argumenta Lu-
caro. ��� E nossos compromissos, como v��o
ficar?
���95
��� Quem foi a mulher que tu andou
comendo, Lescolesco? Aposto que ela sabe
da hist��ria toda ��� considera Fl��vio.
��� Bem, n��o quero interferir nos assun-
tos de voc��s. Acho apenas que t�� ficando
cada vez mais dif��cil negociar com Zanete
��� diz Lucaro e, voltando-se para Palito:
��� Vamos em frente. Deixe que esclare��am
o mist��rio. N��o �� o estilo de coisa a que se
est�� acostumado,
Quando a porta se fecha, Lucaro e Pa-
lito ainda escutam os palavr��es de Fl��vio.
Caminham o mais rapidamente que po-
dem at�� o elevador. Passam pela portaria.
��� Vamos caminhar um pouco pra to-
mar ar. Tou que n��o me ag��ento ��� diz
Lucaro e come��a a rir.
O calabr��s ri sem parar. Nunca Palito
o vira assim, tamb��m termina rindo.
E, rindo, desaparecem na dire����o do. lar-
go do Arouche.
Ana Maria, conseguir�� livrar-se da quadri-
lha de Lucaro?
Como Natureza �� seus comparsas desco-
brem que Virg��lio foi morto?
Com quem estariam os tais dez milh��es?
Que plano Lucaro utilizar�� para liquidar os
companheiros de, Virg��lio?
N��O PERCA O EMPOLGANTE DESFECHO
DESTA HIST��RIA, LENDO "MORTE POR
ENCOMENDA", NO PR��XIMO N��MERO
DESTA COLE����O.
96���
De: Bons Amigos lançamentos
O que conduz o ser humano ao crime é
difícil dizer. Até que ponto ele é capaz de
desenvolver a mente e o apetite físico, a fim
de suportar o mergulho definitivo no pantanal,
é o que este livro lhes contará.
O mundo que vão conhecer é subterrâneo.
Nenhum sol o ilumina. Os personagens
que por ele se movimentam, são guiados
pelo próprio brilho que a maldade produz.
E todos eles, indistintamente, estão
entregues à própria sorte.
Trata-se de uma engenhosa criação literária?
Não. E isso é que torna o panorama
ainda mais dramático e, ao mesmo tempo,
assustador.
José Louzeiro
Sobre o autor:
José de Jesus Louzeiro (São Luís do Maranhão, 19 de setembro de 1932 - Rio de Janeiro, 29 de dezembro de 2017) foi um escritor, roteirista e autor de telenovela brasileira
Iniciou sua carreira como estagiário em revisão gráfica no jornal O Imparcial em 1948 aos dezesseis anos de idade. Em 1953, aos 21 anos, se transfere para o Rio de Janeiro onde foi trabalhar no semanário: A Revista da Semana e no grupo dos Diários Associados de Assis Chateaubriand, mais especificamente como "Foca" em O Jornal e daí foi deixando suas marcas através de suas redações nos jornais Diário Carioca, Última Hora, Correio da Manhã, Folha e Diário do Grande ABC e nas revistas Manchete e Diário Carioca.
Por mais de vinte anos atuou também como repórter policial. Na literatura, estreou com o conto Depois da Luta, em 1958, no cinema escreveu os diálogos do filme: Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia, baseado no romance de sua autoria lançado em 1976 pela editora Civilização Brasileira. Escreveu outros livros sobre casos policiais famosos como o Caso Araceli e o assassinato de Cláudia Lessin Rodrigues. O romance reportagem Aracelli, meu amor, foi censurado durante a ditadura militar a pedido dos advogados dos acusados.[1] Em Carne Viva (1988) traz personagens e situações que lembram as mortes de Zuzu Angel e seu filho, Stuart.[2] Seus livros são, na maioria, contos biográficos, narrados como romance-reportagem, chegando perto de quarenta publicações. A ele se atribui a introdução no Brasil do gênero literário romance-reportagem, que no exterior tivera como representante Truman Capote, que escreveu A Sangue Frio.
Assinou também o roteiro de dez filmes, sendo quatro deles já populares como Pixote, a Lei do Mais Fraco, Os Amores da Pantera de Jece Valadão, O Homem da Capa Preta e Amor Bandido, com Paulo Gracindo.
Escreveu telenovelas como Corpo Santo e Guerra sem Fim. Mas sua telenovela O Marajá, uma comédia baseada no governo de Fernando Collor de Melo, foi proibida de ir ao ar, numa época em que não havia mais censura no Brasil. Depois desse episódio, o autor conta que começou a enfrentar dificuldades para realizar novos projetos na televisão.
Louzeiro faleceu aos 85 anos de causas não reveladas, mas consequentes de doenças que se agravaram em função de diabetes[3].
Obras:
Depois da Luta (1958)
Lúcio Flávio, o passageiro da agonia (1975)
Aracelli, Meu Amor (1976)
Infância dos Mortos (1977)
Em Carne Viva (1988)
E vários títulos de bolso pela Cedibra
Fonte:
Lançamento: Grupo Bons Amigos :
http://groups.google.com.br/group/bons_amigos?hl=pt-br
Este e-book representa uma contribuição do grupo Bons Amigos para aqueles que necessitam de obras digitais como é o caso dos deficientes visuais e como forma de acesso e divulgação para todos.
Lembre-se de valorizar e reconhecer o trabalho do autor adquirindo suas obras .
Livros:
http://bezerralivroseoutros.blogspot.com/
Áudios diversos:
http://bezerravideoseaudios.blogspot.com/
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