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AMORES CLANDESTINOS
RICARDO VERONESE
Copyright, �� M C M L X X I X
C E D I B R A ��� E D I T O R A B R A S I L E I R A L T D A ,
Direitos exclusivos.
R u a F i l o m e n a N u n e s , 162
21.021 ��� R I O D E J A N E I R O ��� R J
D i s t r i b u �� d o p o r :
F E R N A N D O C H I N A G L I A D I S T R I B U I D O R A S A R u a T e o d o r o da Silva, 907 ��� R i o de Janeiro, RJ
C o m p o s t o e impresso p e l a :
Soe. G r �� f i c a V i d a D o m �� s t i c a Lida.
R u a D i a s da Silva, 14 ��� R i o de Janeiro, RJ
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a e x p r e s s a a u t o r i z a �� �� o do detentor do copyright.
capitulo 1
E l a parou �� entrada da boate e olhou
em volta. O ambiente penumbroso, cheio de
fuma��a de cigarro, era invadido pela me-
lodia suave que o conjunto moderno tocava
ao fundo.
Sentado a uma das mesas, T o m Byrnes
observou-a.
E r a bonita. T i n h a cabelos m u i t o louros,
repartidos ao meio e caindo em l i n h a reta
at�� os ombros. Os olhos eram claros, o n a r i z ,
pequenino, gracioso, e a boca, bem feita,
provocante.
E, apesar da semi-escurid��o da boate,
Tom Byrnes p��de observar-lhe o corpo es-
guio, coberto por um vestido de m a l h a co-
lante.
���5
Passou por entre as mesas, indo ocupar
u m a de canto. Em seguida, fez um sinal
discreto ao gar��om. Este acercou-se e ela
fez seu pedido.
Depois que o atendente se retirou apa-
n h o u um cigarro na bolsa, acendeu-o e sol-
tou a fuma��a para o alto. Seus olhos boni-
tos foram passear, distra��dos, pelos quatro
rapazes cabeludos e de roupas coloridas que
compunham o conjunto musical.
N��o parecia ter interesse a l g u m em ne-
n h u m deles. Pelo contr��rio. Q u e r i a apenas
observ��-los, sem motivo, sem raz��o especial.
Mas T o m Byrnes t i n h a motivo e raz��o
para ficar examinando a rec��m-chegada.
Aquela boate, no centro da cidade, era
um local p a r a solit��rios. Pessoas sozinhas,
sem n i n g u �� m com' quem pudessem conver-
sar, trocar id��ias, ou apenas sentir a pre-
sen��a de um outro ser humano, iam ali.
T i n h a m sempre a esperan��a de encontrar
o que lhes faltava na v i d a : companhia.
E era esse o caso de T o m .
Divorciado h�� quatro meses, esquecera-
se do m u n d o ao seu redor. Concentrara-se
numa enfadonha r o t i n a : casa-trabalho-ca-
sa. O que o estava deixando com os nervos
�� flor da pele.
Por esse motivo, seguira o conselho de
Jim H a r l o n , um de seus colegas no banco
onde trabalhava como chefe do departa-
mento de cobran��a:
"O Greco �� u m a simples boate para so-
lit��rios, T e m . V�� at�� l�� e, certamente, en-
contrar�� companhia."
J i m dera-lhe esse conselho, ap��s conver-
sarem sobre o modo de v i v e r do amigo. E
dera-lhe tamb��m o endere��o da boate.
A princ��pio, T o m hesitara. N u n c a gos-
tara de boates. Lugares escuros, fechados,
que parecem ser procurados somente por
aqueles que desejam esconder-se, envoltos
pela penumbra c��mplice e a m��sica dolen-
te.
Mas, no final, resolvera-se. E agora, es-
tava ali, no Greco, examinando a mulher
que acabara de chegar.
Ela parecia estar com o mesmo proble-
ma que ele. F a l t a de companhia. E recorre-
ra ao Greco para solucion��-lo.
Tom engoliu mais um pouco de seu u��s-
que com gelo e atentou para a jovem. Bem
que ela poderia olhar em sua dire����o e de-
monstrar algum interesse.
Ele, ent��o, iria a seu encontro.
E, como que adivinhando os pensamen-
tos dele, ela desviou os olhos do conjunto
que tocava e fitou-o. Tom arriscou um sor-
riso.
Ela retribuiu-lhe o sorriso, talvez pelo
fato de v��-lo sozinho tamb��m e por estar
precisando de companhia.
Devagar, Tom levantou-se. Com o copo
de u��sque na m��o, adiantou-se.
��� Posso sentar-me? ��� indagou, junto
�� mesa dela.
��� Se quiser.
Ele sentou-se e observou-lhe o rosto por
um momento. Era um rosto muito bonito.
Contudo, havia algo de triste e amadurecido
nele.
Se Tom n��o estava se precipitando nas
suas dedu����es, aquela mulher estava so-
frendo por algum motivo.
��� Meu nome �� Tom. Tom Byrnes.
��� Betty R u g e r .
��� Est�� esperando algu��m?
��� N��o, n��o.
T o m foi objetivo:
��� Ent��o, deve estar procurando compa-
nhia, como eu.
Ela deu um sorriso, concordando:
��� Sim. O Greco �� justamente p a r a isso,
n��o?
��� ��. T e m raz��o. Um amigo meu falou-
me deste l u g a r e resolvi conhec��-lo.
��� O mesmo acontece comigo. S�� que
n��o foi um amigo quem indicou, e sim uma
amiga. E l a gostou daqui.
��� E voc��? T a m b �� m est�� gotando?
��� N��o sei ainda. N u n c a me senti bem
em boates. D��o-me a impress��o de que es-
tou presa.
��� I g u a l a mim. A escurid��o, a m��sica
baixa, o murm��rio das outras pessoas con-
versando. .. N��o �� o tipo de local que me
agrade. 1
Tom fez uma pausa e tomou mais um
gole de seu u��sque. O gar��om j�� h a v i a tra-
9
zido um m a r t i n i p a r a B e t t y e ela o beberi-
cava com lentid��o.
��� Posso convid��-la para dan��ar? -
T o m interrompeu o sil��ncio entre ambos.
��� Aceito.
Levantaram-se e, j u n t o �� mesa, Bettj
pousou as m��os no peito do homem. Ele se-
gurou-lhe a c i n t u r a . P��de perceb��-la delga-
da, um tanto c��lida.
O vestido de m a l h a colante ainda dei-
x a v a que percebesse a rigidez do corpo de
Betty.
F o r �� o u u m a maior aproxima����o. Betty
n��o se op��s, e isso fez correr um arrepio de
desejo pela espinha de T o m .
Deixaram-se envolver pela m��sica mui-
to lenta, rom��ntica mesmo. Quase n��o se
moviam, T o m aspirando o perfume distante
e ao mesmo tempo delicioso dos cabelos de
Betty, do seu corpo c��lido e esbelto.
Sentiu que come��ava a excitar-se. E n��o
procurou esconder isso. P o r qu��? Se n��o es-
tava enganado, a respira����o de Betty tam-
b��m- se achava meio apressada, denotando
que ela sentia prazer em estar j u n t o a ele.
Puxou-a mais p a r a si e, pela segunda
vez, Betty n��o ofereceu resist��ncia. C o m
isso, seus corpos grudaram-se. T o m adorou
o contato do corpo dela c o n t r a o seu.
E ela deveria ter notado, claramente, a
excita����o que o dominava naquele momen-
to. Agora, n��o h a v i a como conter o seu
instinto de macho. Desejava aquela m u l h e r
de quem s�� sabia o nome, n a d a mais.
Queria t��-la nua, em outro local, para
beij��-la toda, da cabe��a aos p��s.
Vagaroso, correu as m��os pelas esp��-
duas dela. T o c o u os cabelos sedosos, acari-
ciando-lhe as costas, percebendo que o de
sejo aumentava mais e mais dentro de si.
Como que deliciada com as car��cias dele,
Betty aconchegou-se ao peito masculino.
Tom sentiu-a tr��mula e percebeu sua respi-
ra����o descompassada.
Sem se conter, f��-la levantar o rosto.
Em seguida, pousou os l��bios, mansamen-
te, sobre os dela, beijando-os com vagar.
Talvez at�� mesmo timidez.
Betty aceitou o beijo. E n t r e a b r i u com
suavidade os l��bios, dando passagem �� l �� n -
gua do homem, que lhe ultrapassou os den-
tes e buscou a sua.
O beijo tornou-se mais ardente. E isso
acendeu por completo o desejo de T o m .
��vido, sugou a boca macia e quente de
Betty. O b r i g o u a l �� n g u a �� m i d a da mulher a
duelar com a sua, n u m a troca sincera de
prazer e excita����o.
I g n o r a v a m as pessoas em volta. A l �� m da
penumbra, n i n g u �� m ali iria se incomodar
com algo t��o comum como um beijo. E
muitos dos presentes tamb��m se beijavam.,
com maior ou menor ansiedade que eles
dois.
E n f i m , suas bocas se descolaram. T a n t o
um quanto o outro estavam arfantes. O
beijo s�� servira para excit��-los mais.
��� Vamos sair daqui, Betty? ��� T o m
perguntou, espalhando pequenos beijos pe-
los cabelos dela.
��� S i m ��� ela respondeu, quase sem voz.
Afastaram-se e r e t o r n a r a m �� mesa. Ap��s
T o m pagar a conta, retiraram-se do Greco,
o homem conduzindo a m u l h e r at�� seu
carro.
1 2 ���
Acomodaram-se nele. T o m voltou-se, en-
t��o, passando o bra��o direito pelas costas
��e Betty. E l a recebeu com agrado a inves-
tida, separando os l��bios.
Beijaram-se novamente. E, desta vez, por
estarem sozinhos, T o m n��o conteve seus
impulsos.
Apertou-a, sem que B e t t y o repelisse. E l a
entregava-se ao beijo atrevido que troca-
vam.
Por isso, T o m avan��ou mais. Introme-
teu a m��o por sob o vestido e deslizou-a
pela coxa de pele cremosa, el��stica.
Betty estremeceu no banco. Reteve a
m��o de T o m e empurrou-a com delicadeza.
Explicou os motivos de sua atitude:
��� Aqui, n��o, por favor. Estamos na r u a .
��� Entendo. Que tal irmos p a r a meu
apartamento?
Ela pareceu hesitar. Mas s�� por momen-
tos:
��� Sim. �� bem melhor.
Ansioso demais, Tom. deu a partida ao
carro. Distanciou-se rapidamente do Greco.
���13
Como J i m H a r l o n dissera, ele, certamen-
te, encontraria companhia naquela boate
p a r a solit��rios.
Minutos depois, entravam no aparta-
mento de quarto-e-sala de T o m . Desde que
se separara de S h a r o n , sua esposa, com-
p r a r a aquele apartamento e passara a mo-
r a r ali, solteiro novamente.
O apartamento em> que, por sete anos,
vivera em companhia de S h a r o n , deixara
p a r a ela e p a r a T o m B y r n e s J r . , filho de
ambos, agora com cinco anos.
Ap��s fechar a porta, T o m n��o se inco-
modou em acender a luz. Ou com qualquer
o u t r a coisa, acercou-se logo de Betty e
abra��ou-a.
E l a , jogando a bolsa para u m a poltro-
n a , entregou-se aos bra��os do homem. Es-
ticou-se para ele e ofertou-lhe os l��bios.
T o m beijou-os longamente, ao mesmo
tempo que suas m��os, sequiosas, apertavam
as costas da mulher. E l a retribuiu-lhe tal
coisa, colando o corpo ao dele e crispando
as m��os em sua nuca.
O beijo manteve-se por v��rios momen-
tos, at�� que T o m afastou a boca da de B e t t y
e afundou-a nos cabelos dela, �� p r o c u r a de
seu pesco��o.
Mordiscou-o e B e t t y arfou em seus bra-
��os. Voltou a mordisc��-lo e ela contorceu-se,
ro��ando, com desejo, os quadris nos dele.
Tom recuou um pouco e come��ou a des-
pir-se. �� sua frente, B e t t y levou as m��os
�� barra do vestido e puxou-o para cima.
Anesar da penumbra em que o aparta-
mento estava mergulhado, T o m p��de admi-
rar-lhe as pernas roli��as, bem modeladas.
Depois, a d:minuta calcinha clara, colada
ao segredo maior de Betty.
O vestido abandonou o corpo de B e t t y ,
deixando-o seminu. Apenas a calcinha, t��o
pequena e justa, ainda cobria alguma coisa
dele.
E esses dom��nios secretos a t r a �� r a m a
maior parte da aten����o de T o m . I n t e i r a -
mente n u , acercou-se de B e t t y e enfiou 03
polegares no el��stico superior da pe��a �� n t i -
ma.
Ao mesmo tempo, buscou a t o c a de Bet-
ty, possuindo-a com paix��o e ��nsia.
���15
E n q u a n t o o beijo estendia-se, foi em-
purrando para baixo a calcinha clara. Bet-
ty meneou devagar os quadris, auxiliando-o
na t��o deliciosa tarefa de despi-la por com-
pleto.
T o m arrepiou-se de prazer e desejo.
Agitaram-se ali e B e t t y revolveu-se, an-
gustiada, alucinada.
Agarrou-se aos ombros do homem e sus-
pendeu o rosto. F e c h o u os olhos, ao passo
que escancarava a boca e libertava a respi-
ra����o furiosa que v i b r a v a em seu ��ntimo.
Resmungos de prazer misturaram-se a
essa respira����o. N a d a mais eram que provas
incontest��veis do inc��ndio que passara a
arder mais violentamente em suas entra-
nhas.
O mesmo se dava com T o m . O que havia
dentro de si era selvagem, fren��tico, avassa-
lador. E brindava-a com car��cias sutis.
B e t t y p r o c u r o u manter-se calma. Mas
admitiu que n��o conseguiria. T u d o dentro
dela come��ava a enlouquecer. O primeiro
cl��max logo v i r i a e a transtornaria por mo-
mentos t��o r��pidos quanto um rel��mpago.
1 6 ���
Movimentou as ancas, desejando fugir
do ass��dio do homem. F u g i r porque ele a
enlouquecia, tocando-a daquela forma.
Se n��o se afastasse, capitularia em se-
gundos.
E n��o teve chance alguma para se afas-
tar.
O ��xtase assomou-lhe ��s entranhas, ex-
plodindo dentro delas e tonteando-lhe o c��-
rebro.
Percebeu que i r i a perder o equil��brio e
por isso crispou as m��os nos ombros de
Tom. Soltou-se toda, arquejando, vibrando,
sentindo-se totalmente ausente da realida-
de.
Por instantes, ficaram abra��ados. Em
seguida, T o m distanciou-se e disse, n u m
sussurro:
��� Vamos para o q u a r t o . . .
Betty nada respondeu. Apenas acom-
panhou-o na dire����o do aposento cont��guo.
Entraram, ela deitando-se de costas na ca-
ma de solteiro e esperando a v i n d a do ho-
mem.
Ele estendeu-se a seu lado. Apesar do
��� 1 7
leito estreito, puderam alojar-se com um
certo conforto nele.
V o l t a r a m a se beijar, com sofreguid��o.
Logo, j�� n��o podendo se dominar.
B e t t y recebeu-o, ent��o, sobre seu corpo,
abra��ando-se a ele e resmungando de pra-
zer.
T o m buscou-lhe os l��bios. Esmagou-os
loucamente. Sua l �� n g u a provocou a dela e
ambas ro��aram-se, ferozes, cheias de dese-
jo.
Transtornados pelo prazer, abra��aram-
se fortemente, na p r o c u r a selvagem, incan-
s��vel, do cl��max.
1 8 ���
cap��tulo 2
Enrolada n u m a toalha e com os cabelos
pingando ��gua sobre os ombros, B e t t y saiu
do banheiro. E n c o n t r o u T o m deitado, de
costas, na cama.
Fumava, completamente nu e retexado.
Ao v��-la, sorriu-lhe e i n d a g o u :
��� Aceita um cigarro?
��� Sim ��� ela concordou, sentando-se na
borda do leito e, com u m a outra toalha,
menor, passou a secar os cabelos.
Tom acendeu outro cigarro e entregou-o
a ela. B e t t y t r a g o u a fuma��a com avidez.
��� Posso saber alguma coisa a mais a
seu respeito, al��m de um simples nome
perguntou ele.
��� 1 9
B e t t y voltou o rosto em sua dire����o e
e x i b i u um meio sorriso:
��� O que deseja saber?
��� Bem. Q u e m �� voc��, na verdade?
Q u e m �� realmente B e t t y Ruger?
1
U m a r��pida sombra de receio s u r g i u no
rosto da mulher.
��� Por que deseja saber? ��� retrucou,
com uma pergunta. N��s nos encontramos
no Greco, apreciamos a companhia um- do
outro e depois fizemos amor. N��o era s�� isso
que desej��vamos encontrar quando fomos
�� boate?
��� Sim. Concordo com voc��, em parte
��� declarou T o m , sentando-se direito no
leito. ��� Mas isso t o r n a tudo t��o sup��rfluo,
t��o vazio. N��o fui ao Greco s�� em busca de
algu��m que fosse p a r a a cama comigo. Se
fosse esse o motivo, existem locais nesta
cidade onde poderia encontrar isso com
maior facilidade.
B e t t y i n c l i n o u a cabe��a, aparentando
embara��o. F a l o u , em voz b a i x a :
��� Desculpe, T o m . N��o queria ser indeli-
cada.
2 0 ���
��� N��o foi indelicada ��� afirmou ele em
tom brando. ��� Agora, se n��o quer me dizer
nada a seu respeito, tudo bem. N��o v o u
obrig��-la.
��� N��o, n��o. D i r e i algo sobre mim. M e u
nome �� Betty, como j�� falei; tenho t r i n t a
e dois anos, moro no lado Oeste da cidade
e trabalho numa boutique.
��� Isso j�� �� alguma coisa.
Ela parou de secar os cabelos e olhou
o homem. Assinalou:
��� Agora, �� a sua vez.
Tom riu e aceitou o que ela dissera:
��� Meu nome �� T o m B y r n e s , tenho t r i n -
ta e cinco anos, moro neste apartamento e
trabalho num banco.
��� S�� isso?
��� Bem. Sou divorciado h�� quatro me-
ses e tenho um filho de cinco anos, que
mora com minha ex-esposa.
Um certo brilho de espanto correu os
olhos claros de B e t t y :
��� Divorciado?
��� Sim. Eu e S h a r o n , m i n h a ex-mulher,
tivemos uma discuss��o e descobrimos que
-21
n��o adiantava mais vivermos juntos. Re-
solvemos nos divorciar amigavelmente, ca
da um passando a ter sua vida como me-
l h o r lhe aprouver.
��� Sinto muito, T o m .
��� N��o sinta. F o i o melhor mesmo. Os
sete anos que eu e S h a r o n vivemos como
marido e mulher foram praticamente uma
encena����o. No fundo, bem l�� no fundo, sa-
b��amos que n��o daria certo, mesmo antes
de nos casarmos.
��� Ent��o, por que se casaram?
��� E s t �� a�� uma coisa que n��o sei, sin-
ceramente. Mas nos casamos e, quase dez
anos depois, nos separamos. U m a bela his-
t��ria, n��o?
O tom de voz dele era ir��nico. Por isso
B e t t y preferiu ficar s��ria, evitando qual-
quer coment��rio.
Levantou-se da cama e apagou o cigar-
ro no cinzeiro da mesinha de cabeceira. Sen-
t i u a m��o do homem em sua perna, por
baixo da toalha.
Fitou-o, pedindo, quase suplicante:
��� Por favor, T o m . Vou-me embora ago-
ra.
22���
��� J��? ��� ele espantou-se. ��� Mas ainda
�� cedo.
��� Sim. Eu sei. Por��m, tenho que le-
vantar cedo amanh��, para trabalhar. E
voc�� deve ter tamb��m a mesma obriga����o.
Ele mostrou-se desanimado:
��� Sim. O maldito trabalho. Gostaria
de livrar-me dele para sempre.
��� S�� que n��o podemos. Precisamos de-
le.
E Betty deu meia-volta, rumando �� sala,
para recolher suas roupas e vesti-las. U n s
dez minutos depois, regressava, j�� pronta.
Ao ver T o m terminando de vestir-se, ex-
clamou :
��� N��o se incomode por m i n h a causa,
por favor!
��� Ora. V o u lev��-la em casa.
��� N��o �� preciso. T o m a r e i um t �� x i a��
embaixo, em frente ao edif��cio, e estarei em
casa em poucos minutos. Pique e descanse.
��� Mas, B e t t y . . .
Uma s��plica sincera e quase aflita sur-
giu nos olhos dela:
��� 2 3
��� P o r favor.
Ele n��o teve como recusar-lhe o pedido:
��� E s t �� bem. Se prefere assim. Mas pos-
so ao menos descer com voc�� e coloc��-la
n u m t��xi?
��� J�� que i n s i s t e . . .
T o m sorriu e acabou de vestir-se. Em
breve, deixavam o apartamento, parando
no corredor, �� espera do elevador.
��� Eu poderia v��-la novamente? ��� in-
terrrogou, estranhando o temor que sentia
da perspectiva de B e t t y dizer n��o.
��� T a l v e z , T o m . Gostei de sua compa-
nhia, de tudo enfim. A g o r a , quanto a ver-
nos de novo, n��o posso garantir.
��� Por qu��? H�� algo que a impe��a?
E l a apressou-se a responder:
��� N��o, n��o! N��o h�� nada que me im-
pe��a. Fa��amos uma coisa. Sei seu endere-
��o. Eu o procurarei, sim?
��� O . K . ! �� voc�� quem d�� as ordens.
E l a sorriu sem muito ��nimo, ambos ven-
do o elevador chegar ao andar. E n t r a r a m ,
rumo ao t��rreo.
Depois de colocar B e t t y n u m t �� x i e des-
pedir-se dela com um beijo r��pido nos l��-
bios, Tom retornou ao apartamento. E n -
trou na sala e acendeu a luz, fechando a
porta ��s suas costas.
Em seguida, come��ou a despir-se, dis-
posto a tomar um bano e dormir.
E foi o que fez, o c��rebro concentrado
em Betty Ruger.
Era uma mulher um tanto estranha, di-
gamos assim, Parecia temerosa, preocupa-
da. Como se estivesse escondendo algum
segredo.
Mas qual seria? N��o poderia h a v e r ne-
nhum. Ent��o, por que se esfor��ara tanto
para ir-se embora t��o cedo e interromper
tamb��m o relacionamento de ambos? N��o
estava precisando de companhia como ele?
N��o fora ao Greco com essa finalidade?
Dessa forma, o certo seria m a n t e r o
contato, incentivar um novo encontro, uma
intimidade maior do que se conhecerem
numa boate e irem depois p a r a a cama.
Curioso, continuou a pensar. Acabou
: seu banho e, sem sono, resolveu d a r uma
olhada na programa����o da T V . Sincera-
mente, n��o queria ficar se remoendo com
perguntas a respeito de uma mulher cha-
mada B e t t y Ruger.
* * *
No dia seguinte, logo que chegou ao
banco, a primeira pessoa que encontrou
foi J i m H a r l o n . O rapaz alto, de rosto sim-
p��tico e cabelos ondulados s o r r i u ao v��-lo:
��� E n t �� o , meu caro? Seguiu meu con
selho?
T o m , sem querer, abaixou a voz, como
se tivesse vergonha por revelar que fora a
um local do tipo do G r e c o :
��� Sim.
��� Excelente. E n c o n t r o u algu��m que lhe
fizesse companhia?
Hesitou, pensando duas vezes antes de
dizer algo sobre Betty. Mas n��o achou nada
de errado em comentar o assunto com o
amigo. J i m H a r l o n sempre fora um sujeito
educado, discreto. N��o i r i a sair por a��, es-
palhando aos quatro ventos o que algu��m
lhe contara quase como uma confid��ncia
26���
Ao fim da n a r r a t i v a , J i m acendeu um
cigarro e mostrou-se pensativo:
��� Bem estranha essa tal B e t t y R u g e r ,
meu caro. D�� realmente a n �� t i d a impress��o
de que est�� fugindo de alguma coisa.
��� Foi o que pensei ��� concordou T o m ,
tamb��m acendendo um cigarro. ��� A l g u m a
coisa ela esconde, pois, do contr��rio, n��o
teria tanta pressa em ir-se embora.
��� Quem sabe se o motivo n��o �� um
homem, meu caro? ���. sugeriu J i m .
��� Um homem?
��� ��. E l a pode ser casada. Quantas e
quantas mulheres existem p o r a�� que apro-
veitam a aus��ncia do marido p a r a se diver-
tirem? Essa tal B e t t y pode ter um marido
que viaja e, n u m a dessas viagens, ela foi
ao Greco, em busca de divers��o. De um o u -
tro sujeito para fazer amor.
��� Mas n��o usava alian��a.
��� Cra, T o m . N��o seja ing��nuo. A l i a n -
��as podem ser tiradas facilmente.
Tom ficou pensativo. J i m t i n h a raz��o.
Sugerira-lhe um novo ��ngulo de vis��o para
o problema. E um ��ngulo que ele ainda n��o
reparara.
���27
B e t t y sendo casada, o mist��rio estaria
esclarecido.
Sim. J i m bem que poderia ter acertado
no centro do alvo, com aquele pensamento.
��� Acho que est�� com a raz��o ��� assen-
t i u T o m . ��� S�� que n��o temos mais como
t i r a r a d��vida. A n��o ser que B e t t y me
procure e eu t e n h a chance de conhec��-!a
melhor. Do contr��rio, creio que n u n c a mais
a verei.
��� Se realmente �� esse o segredo dela,
v�� se preparando. V a i s u m i r de sua vida
n u m piscar de olhos.
��� Ou melhor: j�� sumiu ��� T o m corri-
g i u o amigo, n u m a voz meio frustrada. Fez
u m a pausa e a n u n c i o u : ��� Bem. Vamos dei-
x a r isso de lado. T e n h o que trabalhar. N��o
vou arriscar meu emprego por causa de
u m a ilustre desconhecida chamada Betty
Ruger.
J i m r i u e concordou:
��� Sim. B o m servi��o.
��� Igualmente.
E J i m afastou-se. T o m , por sua vez, es-
queceu seus pensamentos e r u m o u para os
28���
elevadores do enorme edif��cio, onde f u n -
cionava a entidade banc��ria.
Saltou no terceiro andar, onde ficava o
departamento de cobran��a.
Em minutos, entrava em sua sala, de-
parando-se com o sorriso agrad��vel e since-
ro de Rose, sua secret��ria.
��� Ol��, Rose ��� cumprimentou-a, tam-
b��m sorridente. ��� Chegou cedo.
Ela prestou aten����o ao rosto atraente
do homem:
��� ��. O tr��nsito, para variar, estava
bom hoje. Ent��o, est�� disposto a trabalhar?
Tom hesitou uns momentos, como se
pensasse. Ao mesmo tempo, observava o ros-
to meigo da jovem, decorado pelos cabelos
muito finos e castanhos.
Respondeu, dando de ombros:
��� Mais ou menos. P o r m i m , ficaria na
cama at�� o meio-dia.
��� S�� voc��? ��� Rose r i u , exibindo seus
dentes pequenos e alvos. ��� Tamb��m estou
morta de sono.
E ampliou o sorriso, os olhos fixos nos
de Tom. E um sorriso que parecia conter
���29
uma certa mal��cia; algo como uma insinua-
����o.
T o m viu-se um pouco sem jeito diante
disso.
Se n��o estava vendo fantasmas, descon-
fiava que Rose o cortejava, embora de ma-
neira sutil, com seus sorrisos e olhares es-
peciais.
Por seu entender, bastaria um simples
gesto seu e a levaria para a cama, para fa-
zerem tudo que bem desejassem.
Por��m, evitava isso. N��o queria envol-
ver-se com suas colegas de trabalho. No
final, sempre sobrava alguma encrenca em
tal tipo de relacionamento. Encrencas que
poderiam significar demiss��o tanto para ele
quanto para ela.
S�� que manter essa atitude era bem dif��-
cil.
Rose era uma garota bonita at�� demais.
Alta, de linhas elegantes, ancas um pouco
salientes e a n d a r felino, despertava aten-
����es masculinas aonde quer que fosse.
A l �� m disso, usava roupas que pouco dis-
far��avam seu corpo provocante. Como o
3 0 ���
vestido azulado que t r a j a v a naquele dia.
Justo e de fazenda macia, colava-se ��s suas
formas de manequim, e revelava que, no
m��ximo, Rose usava apenas uma calcinha
sob ele.
Meio excitado, visto que observava agora
Rose de p��, pois ela se levantara e fora at��
um dos arquivos do c��modo, engoliu em se-
co. Passou a seu escrit��rio, decidido a ven-
cer a tenta����o de aceitar a corte que aque-
la jovem lhe fazia.
Despindo o palet��, p��s-se logo a traba-
lhar. At�� que Rose apareceu �� p o r t a do ga-
binete.
��� Ei, T o m ��� ela chamou-o. ��� Esque-
ci de dar-lhe um recado.
��� Qual? ��� ele v i r o u o rosto para ela.
��� Sua Mulher telefonou assim que che-
guei...
��� Minha ex-mulher, voc�� quer dizer.
Rose ficou embara��ada, tentando corri-
gir logo seu engano:
��� Perd��o. Sua ex-esposa telefonou. Pe-
que voc�� a chame. Precisa falar-lhe.
��� O.K! Pode deixar.
- 3 1
O u v i n d o isso, Rose deu meia volta e
retornou a sua saleta. Sozinho, T o m acen-
deu um cigarro e pensou duas vezes antes
de ligar para Sharon.
Est�� certo que h a v i a m se separado ami-
gavelmente, como ele dissera a Betty, na
v��spera. Contudo, toda vez que se falavam,
ele t i n h a u m a sensa����o de receio. Como se
temesse que S h a r o n o influenciasse com sua
voz doce, quente, o u , quando pessoalmente,
com sua beleza sensual.
Decidiu-se. A p a n h o u o fone e discou o
n��mero de seu antigo apartamento. Foi
S h a r o n quem atendeu, T o m interrompen-
do-a antes que ela desse o n��mero do apa-
relho :
��� Sou eu, S h a r o n . T o m . Como vai? Re-
cebi seu recado.
��� O h , T o m ��� a voz dela dava a enten-
der que estava contente por ele ter ligado.
��� E s t o u bem, gra��as a Deus. E voc��?
��� V o u indo. Seu telefonema tem algu-
ma coisa a v e r com o J �� n i o r ? Ele est�� pas-
sando bem, n��o?
��� Sim. �� t i m o . Deixei-o no quarto, brin-
cando, enquanto vimi atender o telefone.
��� Fico mais tranq��ilo. O que deseja
comigo?
��� B e m . . . ��� ela deu mostras de estar
sem jeito. ��� Liguei s�� p a r a saber se est��
tudo em paz. Hoje �� quinta-feira e a �� l t i -
ma vez em que nos falamos foi no domin-
go, quando voc�� veio visitar o J �� n i o r .
��� Pode ficar sossegada. E s t o u me sen-
tindo otimamente bem. E obrigado pela
preocupa����o.
��� Qual nada. Apesar de estarmos se-
parados, voc�� continua sendo o pai de meu
filho. Tenho que me preocupar.
��� Voc�� �� uma ��tima garota, Sharon ���
brincou ele. ��� Mas fique tranq��ila. Estou
bem. Qualnuer coisa, avisarei, garanto-lhe.
��� Certo. E quando aparece? ��� parecia
haver algum interesse especial na voz deia.
��� Se n��o for atrapalh��-la, posso ir ho-
je dar uma olhada no J �� n i o r ?
��� Claro. V e n h a depois do trabalho. F a -
rei um jantar gostoso e comeremos os tr��s
juntos.
Interrompeu-se bruscamente. E T o m
percebeu o motivo dessa interrup����o, pois
- 3 3
pensara o mesmo que a ex-esposa: como
nos velhos tempos.
H u m ! Velhos tempos que n��o poderiam
voltar. N��o t i n h a m chance alguma de vol-
tar.
��� Ent��o, l�� pelas sete, oito horas, apa-
recerei por a��.
��� ��timo. Eu o espero.
Depois disso, despediram-se e desliga-
ram. T o m apanhou logo outro cigarro no
ma��o jogado sobre a mesa. Pensou em Sha-
r o n , em J �� n i o r , naqueles dez anos de ca-
samento.
No come��o, at�� que foram bons. Ele e
S h a r o n amavam-se, ou f i n g i a m amar-se, e
gostavam de ir para a cama, desfrutarem
da companhia um do outro.
Sharon gostava de sexo. E muito. Ape-
sar de casar-se virgem, n u n c a ficara cho-
cada com isso ou aquilo. E s t a v a sempre
pronta a inova����es, a novos tipos de amor,
a forma de dar e receber prazer.
S�� que um casamento jamais poderia
ser baseado em sexo apenas, pensava T o m .
E no de ambos, pouco ou nada restava
al��m de sexo.
3 4 ���
Portanto, s�� houve um caminho, que
os dois souberam encarar com maturidade
e seguran��a: o div��rcio.
Balan��ou a cabe��a e esqueceu esses pen-
samentos.
Por um momento, lembrou-se de B e t t y
e do prov��vel mist��rio que parecia existir
em torno dela. Depois, colocou tudo de lado,
em proveito de seu trabalho.
* * *
O dia transcorreu calmo, sem novidades.
Ao final do expediente, Tom. ajeitou-se o
melhor poss��vel, para causar u m a boa im-
press��o quando se avistasse com seu filho.
Pronto, passou �� saleta de Rose, avisan-
do:
��� Bem. Vou-me embora. J�� chega de
servi��o por hoje.
A secret��ria levantou-se de sua mesa,
dando uns retoques r��pidos nos cabelos
compridos.
��� O mesmo digo eu ��� declarou. ���
Vou para casa, dormir at�� amanh��.
O homem sorriu, admirando a jovem,
E l a se afastara e encaminhara-se ao ba-
nheiro privativo do conjunto de duas sa-
las. O vestido um tanto c u r t o revelava
parte de suas pernas longas, acetinadas.
Antes de entrar no banheiro, voltou-se,
indagando:
��� V a i direto p a r a casa, T o m ?
��� N��o. Jantarei' com S h a r o n e J��nior
hoje. Por qu��?
��� Nada. Esque��a. Pensei que pudesse
me d a r uma carona. Aquele maldito ��ni-
bus enche a paci��ncia de qualquer u m .
T o m consultou seu rel��gio de pulso e fez
uns r��pidos c��lculos mentais. E n t �� o disse:
��� Se a n d a r r��pido, posso lev��-la em
casa. A i n d a terei tempo de chegar ao apar-
tamento de S h a r o n .
��� N��o, n��o. De forma a l g u m a quero
atrapalhar seu programa.
��� O r a , vamos. N��o v a i me custar na-
da.
E l a aparentou indecis��o, resolvendo-se
logo:
��� Voc�� insistiu, hem? Depois, n��o me
culpe se chegar atrasado ao seu jantar.
36���
��� Pode deixar.
Com um sorriso, Rose pediu alguns mi-
nutos, s�� para se ajeitar melhor, e entrou
no banheiro. Quando voltou, T o m obser-
vou-a.
Ela havia retocado a maquilagem e es-
tava linda. O batom que passara nos l��bios
era brilhante, o que dava a impress��o de
estarem sempre ��midos.
Teve vontade de aceitar a poss��vel cor-
te que Rose lhe fazia. Ao menos, beijaria
aquela boca pequena, quase infantil, mas
que possu��a muito de er��tico, desafiador.
Controlou-se, esperando Rose apanhar a
bolsa e acompanh��-lo ao corredor do andar.
Reuniram-se a diversos outros empregados
do banco, que trabalhavam no mesmo pa-
vimento.
Cumprimentaram v��rios, rindo, b r i n -
cando.
Desceram no elevador at�� o subterr��neo
do pr��dio, alcan��ando o Volks fora de moda
de Tom.
Deixavam para tr��s mais um dia de tra-
balho.
- 3 7
cap��tulo 3
T o m freou o autom��vel em frente ao
edif��cio de apartamentos em que Rose mo-
rava e virou-se p a r a ela. Espantou-se ao
encontrar-lhe os olhos fixos nele.
��� O que houve? ��� interrogou.
��� N a d a ��� a jovem respondeu. ��� E s -
tava apenas observando voc��.
��� E por qu��? A l g u m motivo especial?
E l a s o r r i u :
��� N��o, n��o. Apenas reparando que ��
um sujeito bem atraente, T o m .
Ele sentiu uma pontada de excita����o.
Receber um elogio daqueles de uma ga-
rota deliciosa como Rose era algo franca-
mente maravilhoso.
38���
��� Obrigado ��� respondeu, meio sem
jeito. ��� �� bom saber que algu��m acha
isso da gente.
��� Pois acredito no que digo. �� um ho-
mem atraente, simp��tico. E um homem co-
mo voc�� n��o deveria viver t��o sozinho como
vive.
Tom estremeceu de forma incontrol��vel. v
Das duas uma: ou Rose fazia apenas um
coment��rio inocente, entre amigos, ou ha-
via algo mais em suas palavras.
E o motivo de seu estremecimento pren-
dia-se �� segunda op����o.
��� Por que diz isso, Rose? ��� n��o en-
controu outra coisa para dizer.
��� Tenho observado voc��. Desde que se
separou de Sharon, parece triste, cansado,
desanimado. E tudo leva a crer que ainda
n��o colocou ningu��m no lugar dela em
seu cora����o.
Ele sorriu, desconcertado, e assentiu:
��� Tem raz��o. N��o tenho muito ��nimo
para novos relacionamentos amorosos.
��� Mas �� jovem ainda, Tom. Deveria
pensar em encontrar algu��m. N��o pode vi-
ver sozinho o resto da vida.
39
Ele olhou-a dentro dos olhos e Rose n��o
desviou os seus. Fitava-o com um brilho di-
ferente no olhar, tal qual uma promessa.
Realmente desconcertado, pois a con-
versa o pegara completamente distra��do,
procurou desvencilhar-se da situa����o o mais
r��pido poss��vel:
��� Voc�� �� u m a ��tima detetive, pois de-
d u z i u certo a meu respeito. Mas �� melhor
ir logo para casa. Do contr��rio, n��o chega-
rei a tempo para o meu jantar.
Um certo ar de decep����o encheu o ros-
to da jovem. E l a abriu a porta do seu lado
e saltou, batendo-a. Antes de ir-se, enfiou
o rosto pela janela:
��� Posso ser sincera com voc��, Tom?
��� Diga.
��� Procure divertir-se. Atraente como ��,
n��o ter�� dificuldades em encontrar com-
panhias femininas.
E retirou-se, caminhando no rumo do
pr��dio em que morava.
Dentro do carro, T o m ficou aturdido.
Agora, n��o restavam mais d��vidas. Rose o
4 0 ���
estava cortejando. E, como ele mostrava-se
indiferente a isso, ela s�� tivera uma alter-
nativa: enviar-lhe uma indireta que de i n -
direta n��o t i n h a nada.
Engoliu em seco e refletiu consigo. Aque-
le seu pensamento de que empregados da
mesma firma n��o devem se envolver, al��m
do relacionamento profissional ou de ami-
gos, era uma completa idiotice.
Com uma garota maravilhosa como Ro-
se dando bola, por que era t��o tolo?
Partiu com o carro, disposto a resolver
o problema assim que tivesse oportunidade.
* * *
Com um suspiro de cansa��o, T o m sen-
tou-se no sof��, na sala de seu antigo apar-
tamento. Acendeu um cigarro, record��ndo-
se do j a n t a r em companhia de S h a r o n e
J��nior. Sharon esmerara-se. A comida es-
tava simplesmente deliciosa.
E ainda conseguira banhar e vestir J �� -
nior do jeito que Tom gostava: imaculada-
mente limpo e com roupas infantis. N��o
tolerava essa moda que transformava crian-
��as em prot��tipos de adultos.
G o s t a v a de ver seu filho sendo o que
era realmente: uma crian��a de cinco anos
de idade. Depois que crescesse, teria muito
tempo para ser adulto. E para sentir sau-
dades dos tempos de inf��ncia.
Esqueceu seus pensamentos quando viu
S h a r o n r e t o r n a r �� sala. F o r a colocar J �� n i o r
na cama.
��� Ele dormiu?
��� Sim. E s t �� acostumado a dormir ce-
do. Assim sendo, n��o demora p a r a pegar
no sono.
��� O que �� ��timo. Mas sente-se. Vamos
conversar um pouco antes de eu ir embo-
ra.
S h a r o n sentou-se no sof��, um pouco
perto de T o m . E n q u a n t o acendia um cigar-
ro, i n d a g o u :
��� P o r que n��o dorme aqui, Tom? As-
sim, n��o precisaria d i r i g i r at�� seu aparta-
mento.
Ele deu um meio sorriso, recusando o
oferecimento:
42���
��� N��o, n��o, Sharon. N��o acho direito.
Somos separados agora.
��� E da��? N��o compartilhamos da mes-
ma cama por dez anos seguidos?
��� Sim. Mas o div��rcio nos t o r n o u sol-
teiros, com vidas inteiramente diferentes.
Ela aproximou-se dele, olhando-o fixa-
mente :
��� Por favor, T o m . Gostaria muito q��e
ficasse...
Ele encarou-a, indagando:
��� Por qu��?
Sharon desviou os olhos, um certo r u -
bor invadindo-lhe as fei����es bonitas. G a -
guejou quando respondeu:
��� Sinto-me muito s�� quando a noite
chega. Fico sozinha no quarto, p e n s a n d o . . .
T o m entendia claramente o sentido das
palavras dela.
Sharon, por ser u m a m u l h e r ��ntegra,
de fortes princ��pios morais, n��o sa��ra cor-
rendo atr��s de um novo companheiro de
leito t��o logo se v i r a livre do casamento.
Embora n��o houvesse mais motivos,
mantinha-se fiel ao ex-marido, permanecen-
���43
do em casa, para cuidar de J �� n i o r e dos
seus afazeres dom��sticos.
E, com quatro meses passados, deveria
estar precisando de amor, de algu��m a seu
lado. De um homem que lhe preenchesse a
solid��o n o t u r n a , o vazio de seu leito de
casal.
Por isso, pensara na �� n i c a pessoa que
poderia preencher essa l a c u n a em sua vida,
Seu ex-marido. Ir para a cama com ele, a
despeito do div��rcio, n��o lhe chocava tan-
to o modo de ser quanto um estranho. Um
amante qualquer, que ela poderia arrumar
n u m piscar de olhos, com sua beleza e seu
corpo bem-feito.
S�� que T o m n��o queria isso. Estavam
separados, divorciados. N��o era justo fa-
zerem amor depois de tomarem aquela de-
cis��o.
Levantou-se do sof�� e deu uma volta
pela sala, fumando. T e n t a v a manter-se
longe de Sharon.
Pondo-se tudo de lado, ela era uma mu-
lher desej��vel e ele, um homem normal.
T e r i a de resistir.
44���
��� Acho melhor ir-me agora, S h a r o n -
anunciou, olhando o rel��gio. ��� T e n h o que
acordar muito cedo amanh��.
Ela ergueu-se tamb��m, indo em sua di-
re����o. Parou bem a frente dele, prendendo
o olhar ao seu:
��� Fique, T o m . S�� esta noite.
O homem fitou-a. O desejo come��ou a
latejar em suas entranhas. N��o seria m u i -
to dif��cil para Sharon dobrar-lhe as resis-
t��ncias, seduzi-lo comi seu charme de mu-
lher bonita e intensamente cobi����vel.
��� N��o me pe��a o imposs��vel, por favor,
Sharon. Sabe muito bem que isso n��o ��
justo.
��� E por qu��? N i n g u �� m pode condenar-
nos ��� e aproximou-se mais dele, pousando
as m��os em seu peito alto, amplo.
Tom estremeceu e segurou-lhe as m��os.
Seu primeiro impulso foi o de afast��-la,
mas, ao olhar dentro dos olhos da ex-espo-
sa, sentiu-se fraco demais para tal.
E, �� parte a presen��a e abeleza dela, ha-
via o apartamento silencioso. Apenas J �� -
nior, dormia tranq��ilamente n u m dos quar-
tos.
��� 4 5
��� S h a r o n , por favor ��� implorou, sen-
tindo o seu perfume invadir-lhe as narinas
e embriagar-lhe o esp��rito.
E l a ignorou-o, subindo as m��os pelo tor-
so dele e alcan��ando-lhe os ombros. D a l i ,
atingiu-lhe o rosto e o acariciou. A seguir,
separou os l��bios com vagar, e fechou os olhos.
Acercou a boca convidativa da do ho-
mem e ele arrepiou-se de desejo.
Esqueceu tudo a sua volta e abra��ou a
ex-esposa, seus l��bios sedentos perseguindo
os dela. Esmagou-os n u m beijo que parecia
n��o ter mais fim.
A rea����o de S h a r o n confirmou as sus-
peitas dele, quanto a ela estar precisando
de amor, de um homem.
Agarrou-se a ele e ofereceu-lhe a boca
completamente, a l �� n g u a atrevida contor-
cendo-se e saboreando a dele com incr��vel
avidez.
��� T o m . . . ��� m u r m u r o u , afinal, en-
costando o rosto em seu peito. ��� N��o pode
imaginar como venho me sentindo esses
meses todos. . .
46���
Ele afagou-lhe os cabelos macios e bei-
jou-lhe a testa.
��� Sharon. .. por favor. Estamos divor-
ciados . . .
��� Eu sei. Mas, querido, �� demais para
mim... N��o quero tornar-me uma leviana...
��� suspendeu o rosto, olhando-o com firme-
: ��� Quero fazer amor com voc��, com
mais ningu��m.
��� M a s . . .
Ela rogou, num fio de voz:
��� Por favor. Somente esta n o i t e . . .
unca mais lhe pedirei isso.
Tom hesitou, mas, por fim, deu um meio
rriso, beijando de leve os l��bios da ex-
ulher:
��� O.K! Dormirei aqui hoje. Mas s�� ho-
Os olhos dela cintilaram de felicidade,
bra��ou-o com for��a e depois desvencilhou-
de seus bra��os. Encaminhou-se ao quar-
, pedindo:
��� Feche tudo e desligue as luzes, sim?
Estarei esperando no quarto.
Ele assentiu com a cabe��a e viu-a dei-
x a r a sala. T r a t o u de fechar todo o aparta-
mento e apagar as luzes.
E n q u a n t o o fazia, mais u m a vez concor-
dava consigo: seu casamento fora baseado
unicamente em sexo.
* * ���
Com o apartamento ��s escuras, T o m foi
at�� o quarto de J �� n i o r . Da porta, viu-o dor-
mindo, uma express��o de serenidade co-
brindo-lhe o rostinho macio.
F e c h o u , ent��o, com delicadeza a porta
e foi para o quarto de S h a r o n . Ao entrar,
sentiu um perfume excitante. E l a deveria
ter-se arrumado para ele.
E n t r o u e fechou a porta. Na penumbra
do aposento, o��de distinguir o leito de ca-
sal. E Sharon deitada nele, um len��ol pu-
xado at�� o queixo.
Perguntou-lhe:
��� Incomoda-se que eu tome um banho
r��pido?
��� N��o, T o m . Fique �� vontade.
48���
Ele seguiu para o banheiro, repetindo
consigo a ��ltima frase da esposa: " F i q u e ��
vontade." N u m apartamento, n u m quarto,
num banheiro, que haviam sido seus d u -
rante dez anos.
Como a vida podia ser t��o engra��ada!
Tomou um banho ligeiro e, completa-
mente despido, voltou ao quarto. Caminhou,
at�� o leito, levantando o len��ol e deitando-
se ao lado de S h a r o n .
Encontrou-lhe logo os l��bios �� sua espera
, loucos pelos seus. Beijou-os longamente,
m��o intrometendo-se por sob o len��ol e
explorando o corpo nu de Sharon.
Sharon vibrava com suas car��cias. V i -
rou-se mais p a r a ele e aoertou-lhe o peito,
arquejando.
Cada movimento dos dedos do homem
fazia-lhe o corpo agitar-se, possu��do pela
ansiedade, por aquela sensa����o indescrit��-
vel que alastrava por suas entranhas.
Com delicadeza, T o m come��ou a excit��-
la. Sharon soltou murm��rios roucos, pala-
vras sem sentido, arquejos profundos e for-
tes...
- 4 9
Estava delirando nos bra��os do homem.
Seu corpo todo clamava pela posse.
Beijaram-se, cheios de frenesi e impa-
ci��ncia. E ainda unidos pelo beijo, m o v i -
mentaram-se na cama.
A posse fez S h a r o n libertar os l��bios e
arfar, louca de t a n t a satisfa����o e tanto
desejo.
T o m voltou a procurar-lhe a boca. Ao
mesmo tempo, deixava-se devorar pelas en-
tranhas de Sharon. Desaparecia por com-
pleto na intimidade t��pida, que se ajustava
a ele e o aprisionava.
S h a r o n gemeu, contorcendo-se no leito e
crispando as m��os nos cabelos do homem.
Mordeu os l��bios e ofegou, endoidecida por
aquele invasor que a dominava.
S�� tranq��ilizou-se quando o primeiro au-
ge sacudiu-lhe o interior.
Mas teve de voltar logo ao combate, vis-
to que T o m exigia su�� volta, mantendo o
ritmo febril e ansioso da posse.
* * *
Do apartamento de S h a r o n , T o m foi d i -
reto para o seu. Desejava trocar de roupa
50���
antes de ir trabalhar. E tamb��m fazer a
barba e tomar um bom banho quente.
Estava atrasado para o servi��o no ban-
co. Tamb��m, n��o resistira ao prazer de to-
mar caf�� em companhia de seu filho. S��
depois da refei����o �� que fora p a r a casa.
Por volta de nove e meia, j�� tomara ba-
nho e se barbeara. Resolveu n��o ir t r a -
balhar n a parte d a manh��. O u melhor: era
sexta-feira e n��o adiantaria n a d a traba-
lhar apenas metade do dia.
Decidindo isso, telefonou para Rose e
deu-lhe u m a desculpa qualquer, para ex-
plicar sua aus��ncia no servi��o durante
aquele dia. Depois, acendeu um cigarro e
achou melhor aproveitar o dia para dar
uma arruma����o no apartamento e p��r em
ordem suas contas do m��s.
Ficaria o dia inteiro em casa, sozinho
ele mesmo.
���51
capitulo 4
U m a semana depois, exatamente sexta-
feira, T o m , quando voltava p a r a casa, d i r i -
gindo seu carro, decidiu fazer um balan��o
de sua vida.
Come��ou pela parte mais agrad��vel:
Rose. Agrad��vel por que era uma esp��cie
de promessa que h a v i a naquela mulher.
A promessa de momentos deliciosos a serem
vividos em sua companhia.
D u r a n t e aquela semana toda n��o tivera
oportunidade de conquist��-la. H a v i a traba-
lho demais, reuni��es aqui e ali dentro do
banco, assuntos particulares a r e s o l v e r . . .
E n f i m , praticamente, n��o p a r a r a em sua
sala.
E quando o fazia, n��o sobrava tempo
p a r a se dedicar a cortejar Rose.
Depois, pensou em Sharon. Desde aque-
la noite de quinta para sexta-feira, uma se-
mana antes, evitara voltar a v��-la. Telefo-
nava apenas para saber como J �� n i o r ia pas-
sando. Agora, ir a seu antigo apartamento,
n��o. De forma alguma desejava que se re-
petisse o que acontecera entre ambos.
Ora bolas! Estavam separados. O div��r-
cio os transformara n u m homem e n u m a
mulher solteiros, livres. Deveriam cuidar de
suas pr��prias vidas e esquecerem que um
dia tiveram um ao outro.
��� Por��m, em contrapartida, desejava
loucamente S h a r o n . E tal coisa s�� serviria
para deix��-lo fraco demais diante dela. As-
sim sendo, quanto mais evitasse t��-la, me-
lhor. S�� i r i a �� casa da ex-esposa dali a al-
guns dias, p a r a visitar o filho.
Mais nada.
Depois disso, recordou-se de B e t t y Rugger.
De fato, ele e Jim. H a r l o n estavam abso-
tamente certos: ela desaparecera de sua
vida. N u n c a mais voltaria. U m a semana
inteira era tempo bastante p a r a dar sinais de
vida.
E n��o os dera, o que significava que
n��o apareceria.
D e u de ombros, parando n u m sinal e
acendendo um cigarro. Dane-se! Se ela pos-
su��a algum segredo, que o guardasse para
si mesma. E se n��o queria mais v��-lo, era
um problema ��nico e exclusivamente dela
Nesse ponto de sua reflex��es, expulsou-a
do pensamento e come��ou a interrogar-se
sobre o que faria d u r a n t e o f i m de semana
todo.
O r a . P o r que n��o telefonava p a r a Rose!
E r a uma boa id��ia. Poderia convid��-la para
dar u m a volta, se d i v e r t i r i a m juntos e de
pois, conforme a situa����o permitisse, iriam
para a cama.
Resolveria dois problemas de uma vez
s��: o que fazer no fim de semana e conquis-
t a r a secret��ria.
S o r r i u , antevendo o telefonema que da-
r i a �� jovem. I n v e n t a r i a um pretexto qual
quer para sa��rem e t u d o seria solucionado
S�� que n��o telefonaria aquela noite. No
dia seguinte, s��bado, a chamaria. Hoje, ela
deveria estar morta de cansa��o e louca para
dormir.
5 4 ���
E, pensando em tantos assuntos, n��o
viu o tempo passar. L o g o , chegava a seu
edif��cio, guardando o carro na garagem
e subindo at�� seu a n d a r pelo elevador de
servi��o.
Abriu a p o r t a e entrou. No mesmo ins-
tante, o telefone tocou. Adiantou-se logo
ao aparelho, atendendo-o. O u v i u u m a voz
feminina indagar de onde falavam. D e u o
n��mero de seu aparelho e a voz feminina
fez uma n o v a p e r g u n t a :
��� Tom? �� voc��?
��� Eu mesmo. Quem est�� falando?
��� E u . Betty. B e t t y Ruger.
Completamente surpreso, ele deixou-se
cair numa cadeira j u n t o ao telefone. B e t t y
resolvera procur��-lo, ap��s uma semana sem
dar not��cias. N��o sumira de sua vida como
ele e J i m haviam imaginado.
��� O l �� , B e t t y ��� respondeu. ��� Q u e sur-
presa agrad��vel o u v i r sua voz.
��� N��o esperava que eu ligasse, n��o ��
mesmo, T o m ? ��� ela foi bem objetiva,
��� Sim. Para ser sincero, n��o esperava
mesmo. Mas tenha certeza que estou mais
do que contente em ouvi-la novamente.
��� Obrigada. Olhe. N��o posso falar mui-
to agora, pois estou no telefone do meu
trabalho e aqui a disciplina �� r �� g i d a demais.
��� Entendo.
��� Assim sendo ��� ela pareceu hesitan-
t e ��� posso fazer-lhe uma visita hoje ou vou
incomod��-lo?
��� De maneira alguma! ��� ele exultou.
��� Estarei �� sua espera. N��o v o u sair esta
noite.
��� ��timo. S��o umas sete horas agora.
L�� pelas oito e meia, aparecerei.
��� Perfeito. Esperarei ansioso.
��� T c h a u , T o m .
Ele repetiu a despedida dela e desliga-
ram.
Sem a����o, pousou o fone no gancho e
ficou olhando-o durante algum tempo. Bet-
ty iria aparecer, ali, naquele apartamento,
dentro de umas duas horas. E ele imagi-
nando que ela n u n c a mais o procuraria.
Que iria sumir no ar como fuma��a.
Excitado com o fato de rev��-la, levan-
tou-se rapidamente e olhou em volta. San-
to Deus! O apartamento estava uma ver-
dadeira bagun��a. Tamb��m, morando sozi-
56���
nho, pouco se incomodava em manter tudo
em ordem.
Mas teria que a r r u m a r a bagun��a. N��o
iria receber Betty em meio ��quela desor-
dem toda.
E sem pestanejar, entregou-se �� tarefa,
* * *
��s oito e quinze, olhou seu rel��gio. Sus-
pirou de al��vio. Milagrosamente, consegui-
ra a r r u m a r tudo e ainda tomar um banho,
depois de fazer a barba o melhor poss��vel.
Agora, estava limpo, perfumado e vestido
com uma cal��a e uma camisa esportes.
Acendeu, ent��o, um cigarro e sentou-se
no sof��, pondo-se a esperar pela chegada
de Betty. Espantava-se por estar t��o an-
sioso.
Quando, enfim, a campainha da porta
tocou, praticamente saltou do sof��. Adian-
tou-se rapidamente �� entrada do aparta-
mento.
A b r i u a porta e v i u B e t t y no corredor.
Um arrepio de desejo encheu-lhe as en-
tranhas.
E l a estava maravilhosa; com os cabelos
soltos, uma blusa de malha jogada sobre a
57
pele, que denunciava claramente o contor-
no rijo dos seios pontudos, e uma cal��a
jeans, elegante.
��� O l �� , T o m ��� ela s o r r i u , olhando-o
num misto de apreens��o e alegria.
��� O l �� . �� um prazer rev��-la ��� ele a b r i u
mais a porta, convidando: ��� Mas entre.
A casa �� sua.
A visitante passou p o r ele, entrando na
sala do apartamento. Sem jeito, esperou
que o homem fechasse a p o r t a e lhe apon-
tasse uma das poltronas.
��� Sente-se. Esteja �� vontade. Q u e r be-
ber alguma coisa?
!
��� N��o, obrigada, T o m .
Recusando o oferecimento, B e t t y abriu
a bolsa e dela retirou um ma��o de cigarros.
Quando p��s um deles nos l��bios, a chama
do isqueiro de T o m j�� brilhava �� sua f r e n -
te.
Acendeu o cigarro e tragou a fuma��a
com prazer. E r g u e u , ent��o, os olhos para o
homem. P r o c u r o u brincar, para aliviar a
atmosfera um tanto tensa que reinava en-
tre ambos:
58���
��� Com que ent��o, pensava que n u n c a
mais ia me ver? Que eu iria desaparecer?
Ele sentou-se n u m a poltrona em frente
e tamb��m acendeu um cigarro. E x p l i c o u :
��� Sim. O fato de ter-me dito, �� �� l t i m a
vez em que nos vimos, que me procuraria,
me soou como uma desculpa apenas.
��� Mas n��o sumi. E s t o u aqui.
��� Sim, est��.
��� F i c o u contente em ver-me?
Ele encarou-a, s o r r i n d o :
��� Sim, Betty. N��o sei porque estou sen-
do sincero, mas estou contente por n��o ter
sumido de m i n h a vida.
B e t t y r i u , sentindo-se mais �� vontade.
S�� p a r o u de faz��-lo quando encontrou os
olhos de T o m pousados nela. Sustentou-os,
n��o recuando quando o homem acercou-se
e sentou-se a seu lado.
E n t �� o , sem saberem por qu�� e sem te-
rem meios de impedir, beijaram-se, abra-
��ando-se com for��a e entregando-se total-
mente ao duelo er��tico, fren��tico, que suas
bocas e l��nguas travavam.
F i z e r a m o beijo perdurar por v��rios mo-
mentos, o que deu a ambos a certeza de
desejarem u m a s�� coisa: prazer.
��� 5 9
E isso explicou a primeira investida de
T o m . Levou a m��o at�� a barra da blusa
e intrometeu-se por baixo dela.
B e t t y n��o o repeliu em momento al-
gum. Pelo contr��rio, esfor��ou-se por t o r n a r
o beijo que trocavam em algo mais em-
polgante, que transtornava tanto os seus
pr��prios sentidos quanto os do homem.
Quando, finalmente, seus l��bios se se-
pararam dos dele, ofereceu-lhe o pesco��o.
T o m n��o recusou o convite tentador. E s -
corregou o rosto pelos cabelos perfumados
dela e procurou, por entre eles, a pele ma-
cia da garganta feminina.
Cobriu-a de beijos, B e t t y gemia rouca-
mente, ao passo que movia o rosto, para
melhor receber os l��bios em brasa do aman-
te.
E as car��cias dele prosseguiram. T o r n a -
vam-se a cada momento mais ansiosas,
mais exigentes, roubando pequenos res-
mungos de dor e prazer de Betty.
E n f i m , afastou o rosto do pesco��o dela.
Com delicadeza, f��-la recostar-se no sof�� e
suspendeu-lhe a blusa justa, Em breve, o
60���
busto gracioso exibiu-se. E em seus olhos,
uma f a g u l h a de desejo intenso surgiu.
Voltou, ent��o, a endireitar o rosto. Co-
lou a boca sequiosa �� feminina. Seus l��-
bios ro��aram-se com sofreguid��o, Betty
mordendo-lhe a l �� n g u a atrevida e sugan-
do-a com prazer.
O desejo tornou-se imperioso dentro de
ambos. H a v i a um inc��ndio ardendo em suas
entranhas.
N��o tiveram o u t r a alternativa diante
disso. Como se houvessem feito um acordo
m��tuo, separaram-se e come��aram a se
despir.
Tom' livrou-se totalmente das roupas,
seu coroo forte e v i r i l demonstrando o
quanto ansiava por amor, pelo corpo de
Betty. Esta, por��m, n��o retirou a min��s-
cula calcinha esverdeada.
Apenas com ela, acercou-se do homem
e beijou-o com impaci��ncia, m u r m u r a n d o ,
arfante e sensual:
��� Voc�� t i r a a calcinha, T o m .
Ele arrepiou-se de desejo. E n g a n c h o u
logo os dedos na pe��a �� n t i m a e arrastou-a
pelas coxas bem-feitas da amante, soltan-
do-a dos p��s dela e lan��ando-a para o lado.
���61
N u a , B e t t y distanciou-se um pouco, sen-
tando-se no sof�� e estendendo as m��os ao
amante. Ele foi a seu encontro e beijou-a,
ao passo que a obrigava a colocar os p��s
na borda do div��.
B e t t y aceitou o que ele pretendia. Re-
costada no sof��, ofereceu-se totalmente ao
homem.
Seus l��bios escaldantes, sua l �� n g u a tra-
vessa, encontraram-na e fizeram-na delirar.
A loucura instalou-se dentro dela. J o g o u 3
cabe��a para tr��s, para o espaldar do sof��,
e escancarou a boca.
Come��ou a gemer, enquanto T o m a
amava de uma forma enlouquecedora, vo-
luptuosamente experiente.
E ele estendeu os beijos fazendo-a re-
volver-se, transtornada p o r todos aqueles
atrevimentos. Encerrou-os, ent��o, levan-
tando-se e esticando as m��os para a aman-
te. E l a pousou as suas nas dele e p��s-se de
p��. Suas pernas estavam bambas. T i n h a a
n �� t i d a sensa����o de que i r i a desfalecer a
qualquer momento.
T o m abra��ou-a fortemente e esmagou
lhe os l��bios, n u m beijo feroz, pleno de ex-
6 2 ���
cita����o. Ao t��rmino do qual, n u m movi-
mento r��pido, tomou-a no colo, carregan-
do-se para o quarto.
Logo, B e t t y viu-se deitada na cama de
solteiro do homem, completamente n u a e
sentindo todo o corpo tremer de expectati-
va.
Estremeceu de prazer quando T o m acer-
cou-se, forte, valoroso, unindo-se a ela.
Por momentos, ele a excitou no mais
��ntimo de seu ser, provocando-a. Mas isso
n��o era mais necess��rio. E l a se encontrava
louca de ansiedade. Precisava esmagar,
aprisionar, acolher totalmente, aquela pro-
va m��scula, que tanto implorava por suas
entranhas.
Contorceu-se rapidamente quando teve
seu desejo realizado.
T o m desaparecera por inteiro, inician-
do agora o bailado atordoante, embriaga-
dor, da posse suprema.
Arrebatada por esse bailado, Betty
abra��ou as costas do homem e envolveu-lhe
a cintura com as pernas bem-feitas. P r e n -
deu-o a si, deixando o prazer tomar conta
de seus corpos.
capitulo 5
Quando tudo terminou, ambos ficaram
juntos, unidos, por mais algum tempo. Ofe-
gavam, o desejo em suas entranhas insis-
tindo em n��o morrer.
E n f i m , separaram-se, T o m caindo de
costas no leito e fechando os olhos. Uma
onda de torpor encheu-lhe o corpo. Deseja-
va ficar ali o restante da vida.
E r a t��o deliciosa aquela s e n s a �� �� o ! . . .
Sentiu o leito trepidar e entreabriu os
olhos. Betty deixara a cama, indo para o
banheiro. S�� regressou ns minutos depois,
sentando-se, �� borda do leito e acendendo
um cigarro, que apanhara n u m ma��o na
mesinha de cabeceira.
64���
��� T o m ��� ela chamou-o devagar.
Pregui��oso, ele moveu-se no len��ol,
olhando-a.
��� Sim? ��� indagou.
��� Q u e r um cigarro?
Negou com a cabe��a, embora tivesse es-
ticado a m��o at�� a dela, pegando o cigarro
que ela fumava. D e u uma tragada pro-
funda e voltou a fit��-la.
��� F o i maravilhoso ��� declarou.
��� P a r a m i m tamb��m. Acho q��e estava
precisando muito de tudo isso. A ��ltima
vez que fiz amor foi com voc��, h�� uma se-
mana.
Ele n��o disse nada. N��o podia fazer
suas as palavras dela. F o r a para a cama
com S h a r o n , no dia seguinte ao que encon-
trara B e t t y no Greco.
S o r r i u e prometeu:
��� D a q u i a pouco, vamos repetir tudo. E
ser�� muito mais maravilhoso que da p r i -
meira vez.
Notou claramente a express��o de triste��
za que passou pelo rosto dela. I n d a g o u
logo:
-65
��� Que houve, Betty?
��� Nada, nada. �� que n��o poderei ficar
muito tempo, T o m . T e n h o que v o l t a r para
casa.
O r a . Por qu��?
��� Desculpe. ��, �� q u e . . . m i n h a m��e
fica preocupada comigo. N��o quero inquie-
t��-la com m i n h a demora.
E ergueu-se do leito, afastando-se. T o m
teve ��mpetos de saltar da cama e alcan��ar
a amante, obrigando-a a dizer a verdade.
Verdade, porque n��o acreditava na descul-
pa dada por ela.
Contudo, dominou sua vontade e obser-
vou-a. E l a estava de costas, e ele p��de ad-
mirar-lhe as costas macias e as n��degas
rijas, um tanto empinadas.
Devagar, sentou-se �� borda da cama e
p e r g u n t o u :
��� P o r oue n��o me conta logo a verda-
de, Betty? N��o pare��o merecedor de con-
fian��a?
E l a voltou-se rapidamente, o rosto cris-
pado de espanto:
��� Verdade? O que est�� dizendo?
66���
��� Para ser franco, n��o acreditei no
que falou h�� pouco, quanto �� sua m��e. H��
alguma coisa a mais. E essa alguma coisa
a mais �� a respons��vel por sua pressa em
deixar-me. Tanto agora como na primeira
vez.
��� Engana-se, Tom. N��o existe verdade
alguma que eu tenha que lhe contar.
E, com rapidez, apanhou suas roupas e
correu ao banheiro. Trancou a porta ��s
suas costas.
No quarto, Tom ficou sozinho, pensati-
vo.
N��o era preciso mais nada para ele ti-
rar suas d��vidas. A rea����o de Betty quan-
to ��s suas palavras fora uma prova incon-
test��vel de que ela escondia algum segre-
do. De que havia realmente algum mist��rio
em torno dela.
Mas, bolas! Qual poderia ser?
Curioso, deu um sorriso consigo mesmo.
Havia uma maneira de descobrir, se fosse
r��pido o bastante e quisesse se arricar um
pouco.
Com esse pensamento, pulou do leito
e encaminhou-se com ligeireza �� sala. L��,
���67
encontrou a bolsa de Betty, jogada a um
canto do sof��.
Olhou a porta fechada do banheiro. Bet-
ty estava l��, certamente tomando banho.
Ele poderia tentar o que estava pensando.
Abriu a bolsa e vasculhou-a. Encontrou
um porta-documentos e olhou-o rapida-
mente. Em dado momento, um sorriso de
genuino triunfo iluminou-lhe os l��bios: sua
sorte estava sendo maravilhosa.
Acabara de encontrar um cart��o de vi-
sitas, feito em nome de La Belle Boutique.
Embaixo, havia o endere��o.
Perfeito! Agora, j�� sabia onde Betty
trabalhava, se �� que a La Belle Boutique
era a tal boutique onde ela dissera traba-
lhar.
Copiou o endere��o no primeiro papel
que encontrou e escondeu-o. Depois, guar-
dou o cart��o no porta-documentos, devol-
vendo-o �� bolsa.
Pronto. Sabia que o que fizera fora er-
rado, uma invas��o de intimidade. Por��m,
n��o tivera outra escolha. Estava disposto a
tudo para decifrar o enigma que envolvia
Betty Ruger.
E aquela fora a ��nica forma que en-(
contrara para resolver o problema.
* * *
Cerca de vinte minutos depois, Betty
deixou o banheiro e alcan��ou o quarto. Es-
tava completamente vestida e seus cabelos
ainda ��midos.
Parou a poucos passos da cama e, com
uma toalha pequena, tentou secar de todo
os cabelos.
Tom j�� se achava no aoosento, nu e dei-
tado no leito. Fumava calmamente, como
se nada tivesse acontecido.
E tinha que fazer crer �� mulher que
nada acontecera realmente. Se ela desco-
brisse o nue ele fizera, se aborreceria bas-
tante. E com raz��o.
Olhou-a com interesse e indagou:
��� J�� vai?
Parecendo embara��ada, ela parou de se-
car os cabelos e levantou os olhos para o
homem. Balan��ou a cabe��a afirmativamen-
te:
��� Sim, Tom. Preciso ir.
��� Fique. Hoje �� sexta-feira.
��� Sei disso. Mas tenho trabalho ama-
nh��. Preciso acordar cedo.
Calou-se, saindo do quarto para devol-
ver a toalha ao banheiro. Quando voltou,
pediu:
��� E desculpe qualquer coisa, por fa-
vor.
E fez men����o de dar meia-volta, no sen-
tido da sala. S�� que o homem foi bem mais
r��pido. Acercou-se dela e segurou-lhe o
bra��o, for��ando-a a virar-se de frente para
ele. J�� tinha meios de tentar descobrir
o mist��rio daquela mulher. Entretanto, de-
sejava dar-lhe uma ��ltima chance. Dar-lhe
a chance de revelar esse segredo naquele
momento.
��� Betty. N��o tenho nada a ver com
sua vida. Por��m, acho que n��o est�� sendo
justa comigo. Se tem alguma coisa a es-
conder, fale. Sei que se tem dado descul-
pas para ir embora com tanta pressa.
Ela levantou os olhos para ele. Havia
um brilho de esperan��a neles. Por��m de-
clarou, sem muita ��nfase:
70���
��� N��o h�� nada, Tom. Acredite-me...
Ele interrompeu-a, pousando o dedo in-
dicador em seus l��bios e avisando:
��� Dizer mentiras �� feio, sabia?
Betty deu um come��o de sorriso. Toda-
via, esse sorriso morreu logo em seguida, e
ela afundou o rosto no peito forte do aman-
te, abra��ando-se a ele.
Espantado, Tom ouviu-a solu��ar, como
uma crian��a, como uma menininha com
medo de tudo e de todos.
Afagou-lhe os cabelos com delicadeza,
pensando em dizer-lhe algo que a consolas-
se. Por��m, n��o teve oportunidade.
Betty safou-se de seus bra��os rapida-
mente e abandonou o quarto. Na sala, apa-
nhou sua bolsa e logo deixava o aparta-
mento, batendo a porta atr��s de si com
for��a.
Tom deixou-a ir-se. N��o adiantaria na-
da impedi-la. Certamente, ela continuaria
persistindo na mentira e n��o lhe explica-
ria nada quanto ��quele pranto repentino.
Mas ele descobriria tudo. Ou ao menos
tentaria. Agora, tinha meios para faz��-lo.
J�� passava de nove da m a n h �� quando
T o m acordou no dia seguinte. Ao olhar a
hora no rel��gio, saltou rapidamente da ca-
ma e foi para a sala.
Apanhando o papel onde escrevera o en-
dere��o da La Belle Boutique, telefonou pa-
ra l��. U m a voz feminina muito agrad��vel
atendeu do outro lado do fio:
��� La Belle Boutique, ��s suas ordens.
Antes de responder, analisou com cui-
dado a voz que ouvira. N��o queria arriscar-
se a ser descoberto. Sendo funcion��ria da
casa, B e t t y poderia ter atendido ao telefo-
ne. Se o tivesse feito, talvez reconhecesse
a voz dele.
Parecia n��o ser a voz da mulher. Mas,
mesmo assim, disfar��ou a sua, dizendo:
��� Bom-dia. Gostaria de saber at�� que
horas voc��s ficam abertos hoje.
��� At�� o meio-dia, cavalheiro.
��� A h , perfeito. Preciso comprar um
presente de anivers��rio para m i n h a espo-
sa.
��� Teremos muito prazer em ajud��-lo a
escolher.
72���
Ele agradeceu e desligou, antes que a
mo��a come��asse a dar-lhe sugest��es quanto
a presentes femininos.
Estava satisfeito. O expediente aos s��-
bados da La Belle Boutique encerrava ao
meio-dia. Pois bem. Ele ainda tinha tempo
para se vestir e comer alguma coisa.
Depois, iria at�� l�� e esperaria Betty
sair. N��o sabia ao certo o que faria ao
v��-la. Certamente, ela o repreenderia por
estar seguindo-a. Por��m, valeria a pena.
Descobriria onde ela trabalhava e, talvez
com um pouco mais de sorte, o seu segre-
do.
Satisfeito com seus "talentos detetives-
cos", afastou-se do telefone e foi para o
banheiro. Tomou um banho e fez a barba.
Em seguida, preparou uma refei����o r��pida
para si e, l�� pelas onze horas, saiu do apar-
tamento.
Seguiu para La Belle Bouttique, dispos-
to a desvendar o mist��rio de Betty.
* * *
Do outro lado da rua, em frente �� loja
de roupas femininas, Tom estacionou seu
- 7 3
carro. Olhou a boutique, tentando desco-
brir Betty no interior dela, atrav��s da enor-
me vitrina colorida, �� direita da porta prin-
cipal.
N��o conseguiu nada. Ent��o, acendeu um
cigarro e consultou o rel��gio: 11:35. Falta-
vam apenas vinte e cinco minutos para o
expediente encerrar.
P��s-se a esperar, afundando-se no ban-
co do carro e n��o despregando os olhos da
loja. N��o iria aguardar tanto tempo as-
sim. Afinal de contas, vinte e cinco minutos
passam depressa.
E passaram. Logo, seu rel��gio marcava
meio-dia em ponto. Da loja, saiu um rapa-
zinho, oue come��ou a colocar as chapas
de metal ondulado na vitrina, para prote-
g��-la. Antes de concluir o servi��o, duas jo-
vens sa��ram.
Nenhuma delas era Betty.
Surgiu mais uma, outra e, finalmente,
Betty apareceu.
Tom estremeceu no banco. Sua estrat��-
gia dera certo! Ela trabalhava realmente
naquela loja!
74���
Admirou-a, pensando no que faria em
seguida. Como sempre, ela estava atraen-
te, embora as roupas fossem simples: ape-
nas cal��as jeans e uma camisa de malha
colorida.
No entanto, os cabelos soltos, o rosto
sem muita maquilagem e o corpo esguio,
que a roupa modelava um pouco, torna-
vam-na desej��vel demais.
Parou de olh��-la e esfor��ou-se por re-
solver logo o seu problema: o que fazer
agora?
Decidiu-se, enfim, vendo Betty afastar-
se das colegas de trabalho e dobrar uma es-
quina. Iria abord��-la. Era o ��nico procedi-
mento correto. Permanecer naquela situa-
����o de segui-la, investigar-lhe a vida, n��o
lhe parecia nada compat��vel com um ho-
mem de trinta e cinco anos, divorciado de
um casamento de dez e pai de um garoto
de cinco.
Afinal de contas, n��o era mais um jo-
venzinho para ficar vigiando ou seguindo
a namoradinha, muito embora estivesse ali
gra��as a esse tipo de comportamento, quan-
do examinara a bolsa de Betty , ��s escondi-
das.
Deu a partida no carro, alcan��ando a
esquina na qual a mulher virara. Envere-
dou por ela e, alguns metros adiante, viu-a
andando devagar.
Diminuiu a marcha, quase parando ao
meio-f io:
��� Ol��. Quer uma carona?
Betty pareceu despertar de um sonho
e voltou o rosto rapidamente. Ao reconhe-
cer o homem, seus olhos arregalaram-se de
espanto:
��� Tom?!
��� Eu mesmo. Se quiser uma carona,
estou �� sua inteira disposi����o.
Ela olhou-o e ficou parada na cal��ada,
sem qualquer outra rea����o. Parecia parali-
sada pela surpresa de ver Tom' novamente.
Diante disso, ele freou o carro e saltou.
Acercou-se dela.
��� O que houve, Betty? ��� perguntou,
intrigado. ��� Parece que viu um fantasma.
��� O . . . o que est�� fazendo aqui? ���
ela ignorou a pergunta dele. ��� N��o enten-
d o . . .
7 6 ���
��� �� uma longa hist��ria. Olhe. Por que
n��o entra no carro, vamos a qualquer lu-
gar, tomar um sorvete ou um drinque, e
conversarmos, hem? Acho que o melhor ��
um sorvete. O dia est�� quente d e m a i s . . .
��� N��o quero nada, Tom. Muito obri-
gada. ..
E fez men����o de passar por ele. Tom
segurou-a pelo bra��o, delicadamente. Betty
voltou o rosto, olhando-o nos olhos. Havia
como que um pedido mudo em seu olhar.
Uma s��plica para que o homem' a deixasse
ir.
Diante disso, Tom soltou-a. Disse:
��� Por favor, Betty. Pode explicar-me o
porqu�� de todo esse mistt��rio?
��� Voc�� n��o entenderia ��� ela abaixou
o rosto.
��� Por que eu n��o entenderia? Pare��o
algum ignorante, algum bo��al?
A jovem ergueu os olhos de imediato:
��� De forma alguma! �� um sujeito gen-
til, bom ��� um brilho de carinho e ternura
nasceu nos olhos dela. ��� Mas esque��a, por
favor. �� melhor assim.
Tom sentiu-se irritar com as negativas
da mo��a. Resolveu dizer o que pensava:
��� Voc�� tem algu��m, n��o? Um marido.
O brilho de carinho e ternura desapa-
receu do olhar dela, sendo substitu��do por
um de espanto:
��� N��o, Tom. N��o sou casada.
��� Ora, vamos, Betty. N��o sou mais
uma crian��a. Pode confiar em mim.
��� Adeus, Tom ��� ela atalhou-o.
E afastou-se rapidamente, quase cor-
rendo. Tom teve o impulso de segui-la e
abord��-la novamente. Por��m desistiu.
Estava se portando como um tolo, um
curioso idiota e imbecil. N��o tinha nada a
ver com Betty Ruger. N��o possu��a o direi-
to de pedir-lhe satisfa����es do que fazia ou
deixava de fazer.
Nem mesmo de tentar descobrir-lhe os
motivos para todo aquele receio.
Soltou um palavr��o e retornou ao seu
carro. Antes de dar a partida, acendeu um
cigarro.
Com toda a franqueza, Betty que fosse
para o inferno!
78���
capitulo 6
Chegou em casa pouco depois, tirando
a roupa e ficando apenas de sunga. Estava
disposto a tirar Betty Ruger do pensamen-
to a qualquer pre��o.
Para que ficar se preocupando com ela?
Betty n��o queria essa preocupa����o. Ent��o,
estava apenas perdendo tempo.
Decidiu-se a ver um pouco de televis��o.
Seria uma boa maneira de encher sua tar-
de de s��bado e distra��-lo das reflex��es re-
ferentes a Betty.
Ligou o aparelho e girou v��rias vezes o
seletor. Enfim, deixou a TV num filme de
bangue-bangue. ��. Em vista de n��o haver
nada melhor para assistir, ficaria com a
fita sobre o Velho Oeste.
��� 7 9
Sentou-se no sof�� e acendeu um cigarro.
Dali a momentos, levantou-se e foi at�� o
barzinho da sala, preparando uma dose de
u��sque com bastante gelo.
Retornou ao sof��. Prendeu os olhos dis-
tra��dos ao filme que passava na TV e es-
for��ou-se por prestar aten����o, ao mesmo
tempo que fumava e bebericava o u��sque.
Mas seus pensamentos mostravam-se re-
beldes.
Lembrou-se de Rose. Planejara, na v��s-
pera, quando voltava d�� trabalho para ca-
sa, que ligaria para Rose, inventando um
pretexto qualquer, e a convidaria para sair.
S�� que isso fora no dia anterior. Agora,
depois do ocorrido com Betty, perdera a
vontade.
Sugeriu a si mesmo fazer uma visita a
J��nior. Estava a�� alguma coisa de interes-
sante para fazer na noite daquele s��bado.
Iria brincar com seu filho, v��-lo, desfrutar
da sua companhia, at�� o momento em que
teria de retornar ��quele apartamento va-
zio, sem vida.
Voltou a levantar-se e alcan��ou o tele-
80���
fone. Ligou para Sharon, reconhecendo-lhe
a voz assim que ela atendeu.
��� Ol��, Sharon ��� saudou-a. ��� �� Tom.
��� Ol��! N��o morre t��o cedo.
��� Por qu��?
��� J��nior acabou de perguntar se voc��
apareceria hoje. Est�� com saudades.
��� Pois diga-lhe que irei v��-lo. Tam-
b��m estou morto de saudades. Bem. Se
voc�� permitir, �� claro.
��� Mas �� claro que sim, Tom. A hora
que bem desejar.
��� Oito, est�� bom? N��o vou atrapalhar
voc��?
Ela pareceu rir do outro lado da linha:
��� Ora, Tom. Que bobagem!. N��o sei em
que ir�� atrapalhar-me.
��� O.K., Sharon. ��s oito estarei por a��.
Tchau.
Ouviu a resposta dela �� sua despedida
e devolveu o fone ao gancho. Voltou a olhar
a televis��o. Aquele filme j�� estava enchen-
do a paci��ncia. Ser�� que n��o existe outra
coisa em filmes de bangue-bangue al��m de
��ndios barulhentos e cavalarias velozes,
raios?!
���81
Desligou o aparelho no justo momento
que um ��ndio era alvejado e ca��a de seu
cavalo. Soltou um palavr��o para ambos,
tanto ao cavaleiro como �� montaria, ��� e
foi para a cozinha.
Fez um sandu��che de queijo, presunto e
maionese, e apanhou uma lata de cerveja
no refrigerador. Devolveu-a logo ao local
de onde a pegara.
Lembrara-se que havia tomado u��sque
e que a cerveja s�� serviria para misturar
tudo no est��mago. Est�� certo que era bem
resistente a bebidas alco��licas. Por��m, ��
bem melhor n��o arricar-se a ficar meio
tonto.
Optou por um refrigerante, para acom-
p a n h a r o sandu��che. Devorou-o n u m pis-
car de olhos e, em seguida, ficou vagando
pelo apartamento, �� procura de alguma coi-
sa que lhe preenchesse o tempo, at�� a hora
de ir ao apartamento de Sharon.
S�� que deconfiava que n��o encontraria
nada de interessante.
* * *
82���
�� noite, visitou Sharon e J��nior, ficou
com eles at�� umas onze horas e voltou pa-
ra casa. Cansado, por n��o ter feito pratica-
mente nada durante o dia, caiu na cama e
adormeceu direto. Foi acordar na manh��
seguinte, por volta de dez horas. E porque
a campainha da porta estava tocando.
Virou-se no leito, abrindo os olhos e res-
mungando qualquer coisa. Aos poucos, foi
deixando o mundo dos sonhos e regressan-
do ao da realidade.
Foi quando a campainha soou novamen-
te.
Com uma impreca����o obscena, deixou o
leito e pegou, indolente, um roup��o no es-
paldar de uma cadeira. Encaminhou-se ��
sala e, de l��, �� porta.
Abriu-a e . . .
��� Betty?! ��� completamente at��nito,
foi a ��nica palavra que conseguiu pronun-
ciar.
Diante dele, sem jeito, ela murmurou:
��� Ol��, Tom. Gostaria de lhe falar um
instante.
Ele conseguiu cair em si, esquecendo-se
da sonol��ncia que sentia. Respondeu:
���83
��� Claro. Entre.
Ela penetrou no apartamento. N��o es-
perou que o homem a mandasse sentar-se.
Acomodou-se no sof�� e acendeu um cigar-
ro.
Soltava a primeira baforada quando
Tom instalou-se numa poltrona em frente,
ap��s trancar a porta de entrada.
��� Quer falar comigo? ��� indagou ele.
��� Sobre?
Betty al��ou os olhos para ele, s e m i jei-
to:
��� Quero lhe pedir desculpas. Afinal de
contas, acho que fui bastante indelicada
ontem.
As sobrancelhas dele se contra��ram.
Realmente, n��o estava conseguindo enten-
der nada. Betty fora ali apenas para lhe
pedir desculpas? Ora. Por qu��? Pratica-
mente, n��o o mandara "rodar" na v��spe-
ra, com aquele adeus definitivo?
Confessou sua confus��o:
��� N��o estou entendendo, Betty.
Ela arriscou um sorriso, concordando:
��� Tem raz��o. Tom. No seu lugar, eu
tamb��m n��o entenderia.
84���
��� Ent��o, por que n��o me explica tudo,
hem? Ficar�� mais f��cil assim.
��� Est�� certo. Eu, eu tenho um namo-
rado. . .Ele �� muito violento e de vez em
quando vai buscar-me no trabalho. Al��m
disso, �� ciumento. Se nos visse conversan-
do, seria capaz de fazer uma cena horr��vel
e voc�� poderia sair machucado.
��� S�� por que ele �� muito violento?
��� N��o conhece meu namorado, Tom.
Tem quase dois metros de altura e �� muito
forte. Talvez voc�� tivesse sorte. Por��m, ��
quase certo que se daria mal.
Tom enrugou o rosto todo. Com sinceri-
ide, n��o estava acreditando em nenhuma
as palavras da jovem. Indagou:
��� Se ele �� t��o violento e ciumento,
r que voc�� foi ao Greco naquela noite?
por que me procurou anteontem e . . .
gora est�� aqui?
Ela pareceu estremecer, hesitando ao
esponder:
��� Bem. Joe. meu namorado, viaja mui-
e quando ele viaja, sinto-me livre. Sa��
aquela noite para passear, e no final fui
- 8 5
at�� o Greco. Estava me sentindo sozinha e
uma amiga falou-me que ali, certamente,
eu encontraria companhia. Anteontem, Joe
tamb��m viajou e resolvi procurar voc��. E
agora, s�� vim lhe pedir desculpas.
A descreen��a de Tom persistia. N��o en-
contrava muita l��gica no que Betty dizia.
��� Est�� dizendo a verdade, Betty?
��� Claro! ��� ela apressou-se a replicar,
com muita ��nfase. ��� Por que eu mentiria?
��� N��o sei. Pode ter seus m o t i v o s . . .
��� N��o tenho nenhum, Tom! ���. ela o
interrompeu. ��� Estou dizendo a verdade.
��� Est�� certo. Acredito ��� mentiu Tom,
erguendo-se e perguntando: ��� Quer to-
mar alguma coisa? Uma cerveja, um refri-
gerante?
��� Prefiro um refrigerante, por favor.
Tom foi at�� a cozinha e apanhou uma
coca na geladeira. Para si, pegou uma lata
de cerveja. Entregou a coca a Betty e vol-
tou a sentar-se na poltrona que ocupara
antes.
Ela olhou-o, indecisa, e perguntou:
��� Est�� me achando uma leviana, n��o.
Por eu trair t��o facilmente meu namorado
86
��� Para ser sincero, acho que n��o. Po-
r��m, se ele s�� lhe arruma problemas com
seus ci��mes, por que n��o se separa dele?
��� N��o, n �� o . . . Joe me perseguiria o
resto da vida. �� melhor deixar as coisas
como est��o. .. ��� fez uma pausa, pedindo:
��� Vamos parar de falar nesse assunto,
Tom?
Ele deu de ombros:
��� O.K.! Se n��o quer falar, n��o falare-
mos.
��� Obrigada ��� Betty sorriu, embora
houvesse um certo pren��ncio de l��grimas
em seus olhos.
Diante disso, Tom levantou-se e tomou-
lhe as m��os nas suas. Beijou-as com sua-
vidade :
��� Por que n��o me d;z a verdade, hem?
��� Mas estou dizendo a verdade!
��� N��o acredito, Betty. Essa hist��ria de
Joe, ci��mes e encrencas est�� me cheirando
a mentira.
Ela f��-lo calar-se, pousando os dedos
sobre seus l��bios. Praticamente implorou,
os olhos brilhando demais:
��� Por favor, Tom. Acredite. �� o me-
lhor para mim e para voc��.
��� N��o entendi. O que est�� querendo di-
zer com isso?
��� Nada, nada. ��� Betty ficou calada
por v��rios momentos, fitando os olhos do
homem. De repente, indagou: ��� Quer ir
para a cama comigo?
Tom surpreendeu-se com o pedido. Po-
r��m, n��o perguntou os motivos para Betty
faz��-lo: desejava aquela mulher e queria
am��-la.
P��s-se de p�� e soltou-lhe as m��os. F��-la
erguer-se tamb��m, segurando-lhe a cintura
e puxando-a para si.
Percebeu-lhe a respira����o acelerar-se. E
tamb��m os olhos se fecharem, os l��bios ten-
tadores se abrindo como um bot��o de rosa.
Beijou-a sofregamente. Os l��bios de am-
bos devoraram-se com loucura. As l��nguas
ro��aram-se, audaciosas, cheias de desejo.
Angustiada, Betty colou todo o corpo ao
do homem. Suas m��os subiram para a nu-
ca dele, apertando-a. Ao mesmo tempo,
meneava os quadris, percebendo a excita-
����o do amante.
8 8 ���
Com um pouco de esfor��o, Tom obri-
gou-a a afastar-se, para se despirem. Bet-
ty parecia alucinada, ansiosa demais.
Ela recuou alguns passos e livrou-se das
roupas. Nu, olhou o homem, que abrira o
robe, a ��nica vestimenta que usava sobre
o corpo.
Adiantou-se at�� ele. Antes mesmo de
render-se aos bra��os t��o fortes e s��lidos,
afagou-o com car��cias sutis, notando que
Tom perdia o controle sobre a respira����o
e a abra��ava, ��vido, impaciente.
Permitiu que os l��bios dele esmagassem
os seus. Ofereceu-lhe a l��ngua arisca. Dei-
xou que ele lhe sugasse a boca, cobrindo-a
com um beijo pleno de paix��o.
E nem por um momento o libertou. Con-
tinuou mantendo-o cativo pelos seus de-
dos, que o acariciavam, que o estimula-
vam, movendo-se numa cad��ncia vagaro-
sa.
��� B e t t y . . . ��� ele murmurou, escorre-
gando os l��bios t��o quentes pelo pesco��o
dela.
E foi agachando-se, o que fez Betty sol-
t��-lo, indo colocar as m��os em seus om-
���89
bros. Agora, estava de joelhos diante dela,
afundando a ponta da l��ngua atrevida no
umbigo gracioso.
Betty segurou-lhe o rosto, respirando
com pressa e adorando os arrepios que cor-
riam por seu corpo.
Entregou-se ao homem, os l��bios dele
indo �� sua procura, eletrizando-a, enlou-
quecendo-a de prazer.
N��o p��de manter-se de p�� por muito
tempo. Aflita, afastou-se um pouco e ajoe-
lhou-se, agarrando-se a Tom. Ele n��o se
espantou por ela ter-se esquivado da car��-
cia insolente que ele realizava. Abra��ou-a
e beijou-a ansiosamente.
Depois, deitou-a de costas no tapete e
foi de encontro a ela. O desejo que sentiam
exigia pressa.
Tom relaxou-se todo, j�� no leito, e deu
uma tragada no cigarro. P��s-se a pensar
no que Betty lhe havia dito.
Continuava achando tudo uma menti-
ra. Ela, por algum motivo, o estava enga-
9 0 ���
nando. Mas por qu��? O que a impedia de
dizer-lhe a verdade, fosse essa a verdade o
que fosse?
Sufocou suas reflex��es, vendo a mulher
sair do banheiro. Moveu-se no leito, per-
guntando :
��� Ent��o? Vai seguir meu conselho?
Ela olhou-o, o rosto bonito e ��mido pelo
banho denotando curiosidade:
��� Que conselho?
��� O de separar-se de Joe. �� o melhor
a fazer, j�� que ele s�� lhe arranja preocupa-
����es.
��� N��o falemos disso, sim?
��� Est�� bem.
Observou a amante acercar-se da cama
e sentar-se na beirada. Sentiu a car��cia que
ela lhe fez no rosto.
��� Voc�� �� uma boa pessoa, Tom ��� Bet-
ty declarou.
��� Ora. Por qu��?
Havia carinho e afeto nos olhos dela:
��� Por que ��. Um sujeito bom, simp��-
tico, agrad��vel.
��� 9 1
��� Obrigado pelos elogios.
Vagarosa, ela deu-lhe um beijo nos l��-
bios. Apanhou um cigarro do ma��o em ci-
ma da mesinha de cabeceira e, depois de
acend��-lo, indagou:
��� Diga-me uma coisa. O que estava
fazendo naquela rua, ontem?
Tom riu e explicou-lhe tudo o que fize-
ra. Betty ouviu-o com o semblante con-
tra��do, certamente reprovando a atitude
dele. No final, ele pediu:
��� Pode desculpar-me? Eu estava curio-
so demais.
��� N��o se preocupe. Posso compreend��-
lo porque tamb��m sou curiosa demais.
Tom sorriu e afagou-lhe o rosto t��o
macio:
��� Vai embora agora?
��� S i m . . . Tenho medo que Joe volte e
n��o me encontre.
��� Est�� certo. N��o vou ret��-la, embora
quisesse muito que ficasse aqui.
Os olhos dela encheram-se de expectati-
va:
9 2 ���
��� Por qu��?
��� N��o sei. Sinceramente, n��o sei. Mas
gosto de voc��, Betty acredite ou n��o.
Ela n��o respondeu, deixando o leito e
come��ando a se vestir. Tom ficou obser-
vando-a, pensativo.
Engra��ado. Apesar de quase certo da
mentira dela, estava come��ando a sentir
alguma coisa por aquela mulher misteriosa.
Aquela mulher que trazia sofrimento no
olhar, conforme ele notara naquela noite,
no Greco.
Sentiu vontade de dizer-lhe isso, mas
conteve-se. Betty talvez n��o compreendes-
se. Talvez fosse apenas uma mulher que
sofria realmente por causa do namorado
violento e sempre cheio de ci��mes, e se
divertia na aus��ncia dele.
Era at�� melhor que ela se fosse.
Pronta, ela sorriu-lhe:
��� Eu j �� vou, Tom.
Ele de xou o leito e aproximou-se. Aca-
riciou-lhe os cabelos e indagou:
��� Quando a verei novamente?
Betty abaixou o rosto:
��� Nunca mais, Tom.
��� Por qu��?
��� �� melhor assim. N��o vou procur��-lo
mais e voc�� me far�� o grande favor de n��o
me procurar tamb��m. Pode fazer isso por
mim?
Surpreso, ele sentiu um aperto no cora-
����o quando respondeu:
��� Se quer a s s i m . . . N��o posso obrig��-
la a nada.
Percebeu claramente um brilho de de-
cep����o no olhar dela. Como se estivesse de-
sapontada por ele ter aceito t��o facilmente
a sua decis��o.
��� Ent��o, Tom, deixe-me ir ��� esticou-
se para ele e beijou-o nos l��bios com suavi-
dade. ��� Adeus, Tom.
Girou nos calcanhares, retirando-se do
quarto. Tom ficou parado onde estava.
Como dissera, n��o iria impedi-la.
94-
Cap��tulo 7
Tom passou o resto do domingo enfiado
em casa. O que acontecera entre ele e Bet-
ty e o mist��rio que envolvia aquela mulher
que tanto o fascinava, lhe havia tirado to-
do e qualquer ��nimo.
E, para tir��-la do pensamento, procurou
distrair-se. Ligou a TV, mas n��o encontrou
nada que lhe atra��sse a aten����o. Diante
disso, tentou achar um livro para ler na
estante de seu quarto. Fracasso de novo.
Nem televis��o nem livros. Restava, en-
t��o, dar u m a arruma����o no apartamento.
O trabalho f��sico teria a propriedade de
concentrar suas energias em uma s�� dire-
����o, embora seu c��rebro continuasse tra-
balhando.
���95
Realizou as tarefas e, l�� pelas seis da
tarde, tomou um longo banho frio. Em se-
guida, preparou um lanche r��pido e devo-
rou-o acompanhado de uma lata de cerveja
gelada.
Depois, fumando, estendeu-se no sof��
e deixou que seus pensamentos tivessem to-
tal liberdade.
N��o adiantava mais ficar segurando-os.
Eles queriam viver, queriam ser livres.
E eles partiram, rumo a uma ��nica coi-
sa: Betty Ruger.
Bolas! Ela n��o era casada, pelo menos
dissera que n��o, n��o era mais nenhuma
adolescente que precisa dar satisfa����es de
seus atos aos pais intransigentes. Era uma
mulher de trinta e dois anos, com seu tra-
balho, sua independ��ncia. Ent��o, por que
estava fugindo?
Por que tinha que correr logo para ca-
sa, esquivando-se de ficar ali, no aparta-
mento, para se amarem e se conhecerem
o melhor poss��vel?
Tinha que haver uma resposta para to-
do esse enigma. E uma resposta que nem
96���
de longe referia-se a um namorado ciu-
mento chamado Joe.
A resposta era outra. E ele, Tom, que-
ria descobri-la. Talvez por simples curiosi-
dade ou apenas por desejar rever Betty, fa-
lar-lhe, ir para a cama com ela novamen-
te.
Tinha de saber qual era a raz��o. De
qualquer maneira.
Com esse pensamento, saltou do sof��.
Prometera a Betty que nunca mais a pro-
curaria. No entanto, iria quebrar sua pa-
lavra. O dia seguinte seria segunda-feira,
ou seja: ela iria trabalhar na boutique.
Pois muito bem. Iria esper��-la ao t��r-
mino do expediente e a segu ria. Sim. Fa-
ria isso mesmo. Seria incorreto, desleal,
n��o estaria respeitando a promessa que lhe
fizera, mas n��o importava.
Descobriria onde Betty morava e inves-
tigaria com cuidado quem ela era realmen-
te. Se de fato existia um namorado de no-
me Joe, se arriscara a levar um soco no
queixo. Agora, se n��o existia, Betty men-
tira deliberadamente, com o intuito de ter-
97
minar de uma vez por todas com o relacio-
namento de ambos.
Essa decis��o deixou-o ansioso. Ansioso
para o tempo passar r��pido e ele poder es-
perar Betty diante da La Belle Boutique.
* * *
��� Ora. Vai sair m a : s cedo, Tom? ��� da
porta do escrit��rio, Rose observava o ho-
mem arrumar uns documentos numa ma-
leta.
Ele ergueu os olhos para ela e sorriu:
��� Sim. Tenho de resolver um assunto.
Rose retribuiu-lhe o sorriso, mas de for-
ma um tanto maliciosa:
��� Um assunto, ��? E �� um assunto bo-
nito?
Tom entendeu claramente o sentido das
palavras dela. E tamb��m teve a n��tida im-
press��o de soar nelas um timbr? especial,
algo que muito lembrava ci��mes.
Ora. Rose estar.a com ci��mes dele? Se-
r��?
Talvez estivesse mesmo. Agora, estava
mais do que provado que ela o cortejava,
que ela se oferecia para consolar-lhe o re-
torno �� vida de solteiro. Portanto, se ele
queria sair mais cedo para resolver um
"assunto", ela certamente teria de sentir
ci��mes.
Ele a estava ignorando e procurando
consolo com outra.
Pensando assim, resolveu tirar-lhe aque-
la id��ia da cabe��a. Explicou:
��� N��o �� nenhum "assunto" bonito, Ro-
se. �� um problema com um amigo meu.
Est�� atravessando umas certas dificuldades
e pediu-me que fosse visit��-lo. Quer con-
versar comigo.
��� Espero que possa ajud��-lo.
��� Eu tamb��m. Somos amigos h�� mui-
tos anos e lhe devo v��rios favores. Ir con-
versar com ele �� o m��nimo que posso fa-
zer.
E, dizendo isso, recolheu sua maleta e
tomou o rumo da porta. Parou diante de
Rose, mergulhando os olhos nos dela.
��� Se houver algum problema depois
que eu sair, avise-me amanh��, sim? ��� pe-
diu.
���99
Ela aceitou-lhe o olhar, seus l��bios bem-
feitos, deliciosamente jovens, entreabrindo-
se de leve. Concordou:
��� Pode deixar, Tom. Tomarei conta de
tudo,
Ele sorriu e passou por ela. Sentia-se
excitado, o cora����o batendo forte dentro
do peito. Se uma jovem t��o bonita e dese-
j��vel como Rose estava com ci��mes dele,
isso s�� poderia ser encarado como a maior
das lisonjas.
Procurou conter-se, lutando contra o
suave perfume dela que lhe invadia as na-
rinas e come��ava a dominar-lhe o esp��rito.
Prometeu a si mesmo que aceitaria a
corte de Rose, conforme j�� decidira alguns
dias antes. Por��m, agora, o principal era
descobrir o segredo de Betty. Depois que
conseguisse isso, trataria de conquistar Ro-
se e lev��-la para a cama.
* * *
��s seis e dez da tarde, mais ou menos,
estacionou seu carro a uns dez metros da
100���
La Belle Boutique. Desligou o motor, acen-
deu um cigarro e relaxou-se no banco. Para
ajud��-lo a passar o tempo durante a es-
pera, ligou o r��d.o, deixando-o numa es-
ta����o com m��sicas populares.
Deu uma tragada profunda no cigarro.
Por seus c��lculos, uma boutique fecha nor-
malmente seis e meia, sete horas. Se esses
c��lculos estavam corretos, dentro em pou-
co Betty apareceria e ele poderia segui-la
tranq��ilamente, descobrindo seu endere��o.
Pensando assim, concentrou sua aten-
����o na entrada da boutique. E deixou o
tempo passar.
L�� pelas vinte para as sete, um rapaz
deixou a loja. Tom reconheceu-o. Era o
mesmo do outro s��bado. Vinha colocar as
chapas protetoras das vitrinas.
��timo. A apari����o do rapaz com as cha-
pas protetoras s�� podia significar que o ex-
pediente da boutique estava terminado. Em
outras palavras: Betty sairia dentro em
pouco.
Tom sentiu-se ansioso demais. N��o s��
pela perspectiva de descobrir qual o gran-
���101
de segredo da jovem como tamb��m de reve-
la.
Ali��s, n��o iria descobrir segredo algum.
No m��ximo, saberia o endere��o dela. Quan-
to ao mist��rio que parecia envolv��-la, a so-
lu����o dele viria depois.
Sufocou seus pensamentos: uma jovem
acabara de sair da boutique. Parecia ser
uma das atendentes. Depois dela, aparece-
ram outras duas e mais duas. Enfim, Bet-
ty surgiu.
O cora����o de Tom disparou. Ela estava
deliciosamente linda como sempre. Cal��as
compridas, uma camisa azulada, de corte
masculino, e os cabelos soltos. Um amor.
Admirado, ficou observando-a. Ela pa-
rara diante da -vitrina da boutique e olha-
ra para os lados. Parecia esperar algu��m.
Seria o tal Joe? Se fosse o tal Joe, o gigan-
te de quase dois metros e violento como o
diabo, tudo que ela dissera fora verdade.
Tom percebeu o cora����o bater ainda
mais r��pido. N��o conseguia despregar os
olhos de Betty, e tamb��m se livrar da n��-
tida sensa����o de medo que havia dentro
de si.
1 0 2 ���
Sim. Medo. Por mais estranho que fos-
se, estava sentindo medo de que o tal Joe
existisse. N��o que temesse uma luta com
ele. O motivo era outro. Se Betty dissera
a verdade, o que acontecera entre ambos
nada mais fora que divers��o. Para ela, na-
da mais fora que brincadeira, passatempo.
Simplesmente, aproveitara-se das duas
aus��ncias de Joe para ir divertir-se com
outro sujeito em cima de uma cama.
Sentiu raiva dela, mas procurou conter-
se. Talvez suas dedu����es estivessem erra-
das. Na certa, ela esperava uma amiga,
uma conhecida qualquer. N��o podia acus��-
la assim, sem mais nem m e n o s . . .
De repente, sentiu um arrepio pelo cor-
po. Um carro esporte, com a capota arria-
da, acabara de estacionar diante de bouti-
que.
Betty exibiu um sorriso sincero e afas-
tou-se da loja, caminhando at�� o carro.
Um carro dirigido por um homem!
Quase sem a����o, Tom viu o sujeito sal-
tar do autom��vel, rode��-lo pela frente e ir
abrir a porta para ela. Betty sorriu-lhe,
���103
deu-lhe um beijo no rosto e entrou no
carro.
O homem retornou ao volante, disse
qualquer coisa a Betty e deu a partida, mis-
turando-se logo aos outros ve��culos.
Tom ficou para tr��s, dentro de seu car-
ro, os olhos presos ao convers��vel que se
afastava cada vez mais.
"Cadela!" vociferou para si mesmo ao
cabo de instantes. Aquele sujeito tinha um
metro e oitenta, no m��ximo. Se Joe tinha
quase dois metros, ent��o aquele n��o era
Joe. Claro que n��o! Aquele era outro dos
namorados de Betty!
Era isso mesmo. O tal Joe na certa de-
veria existir mesmo, e Betty sa��a com ou-
tros homens nas costas dele. Ele, Tom, era
apenas mais um desses homens, mais um
desses amantes dela.
Rameira miser��vel, cadela, prostituta
dos infernos! Viera com aquela hist��ria de
lhe pedir desculpas, de mostrar-se arrepen-
dida Dor colocar chifres no namorado ciu-
mentos, e agora estava saindo com outro
homem. Estava saindo com um desses
amantes.
104���
Quantos seriam ao todo? Dois apenas,
ele e o sujeito do convers��vel? Ou seriam
tr��s, quatro, cinco? Quantos, bolas?! Quan-
tos amantes aquela rameira sem-vergonha
teria na verdade? Quantos ela enganaria
com suas hist��rias idiotas e cheias de ar-
rependimento?
Furioso, esmurrou o volante do carro e
teve vontade de seguir o convers��vel. Iria
obrig��-lo a parar e diria toda a verdade ao
sujeito que o dirigia. Abriria os olhos dele
quanto ��quela mulher trai��oeira, vil, bai-
x a . . .
Mas n��o adiantava mais nada agora. O
carro j�� deveria estar longe a essa hora.
O melhor era ir para casa e bolar alguma
maneira de esquecer Betty.
Sim! Esquec��-la. De nada valia procur��-
la e ofend��-la, dizer-lhe que a vira com ou-
tro homem quando ela dera toda a impres-
s��o de s�� ter tra��do o tal Joe uma vez: com
ele. Tom.
O certo era esquec��-la mesmo. O mais
r��pido poss��vel.
R o s e . . .
-105
O nome de sua secret��ria atravessou-
lhe a mente com incr��vel rapidez. Exata-
mente. Rose. Poderia procur��-la e aceitar,
naquela mesma noite, a corte que ela lhe
fazia.
Certo. Sabia seu endere��o. Iria at�� l��,
inventaria uma desculpa qualquer para ex-
plicar sua repentina visita e, com jeito, su-
tileza, acabaria fazendo amor com ela.
No dia seguinte, depois de uma noite
inteira com uma jovem t��o desej��vel quan-
to Rose, Betty desapareceria de seu pensa-
mento num piscar de olhos.
* * *
��� Bolas! ��� resmungou para si mesmo,
momentos depois, ap��s tocar v��rias vezes
a campainha do apartamento de Rose. ���
Ser�� que n��o est�� em casa?
Apertou a campainha de novo, com in-
sist��ncia. Ouviu-a claramente, atrav��s da
porta fechada, soar dentro do apartamen-
to.
Rose deveria ter sa��do. Tivera bastante
tempo para vir do escrit��rio, pois j�� passa-
1 0 6 ���
va das sete e quinze e o expediente no
banco encerrava ��s seis e meia.
Aonde teria ido? Na certa, fora encon-
trar-se com algum namorado. Claro que
sim. N��o teria motivo algum para ficar
em casa esperando por Tom.
Aborrecido, desistiu, dando meia-volta e
acendendo um cigarro. Saiu do edif��cio da
jovem e encaminhou-se para seu carro, sen-
tando-se ao volante com um longo suspi-
ro.
Rose n��o estava em casa. Isso lan��ava
por ��gua abaixo os seus planos de passar
uma noite com ela, de us��-la para esque-
cer-se de Betty.
Bolas! Teria sido uma noite t��o maravi-
lhosa! Rose era provocante, jovem e acess��-
vel. Seria fac��limo conquist��-la e lev��-la
para a cama.
S�� que ela sa��ra. Dessa forma, a ��nica
coisa que ele poderia fazer era ir para
casa. Agora, perdera completamente o ��ni-
mo de fazer o que fosse. O certo mesmo
era voltar para o seu pequeno apartamen-
to e ficar l��, longe de tudo e todos.
���107
Respirou fundo e jogou -fora o cigarro.
Depois, deu a partida ao carro, rumando
para casa.
Chegou l�� uma meia hora ap��s. Entrou,
fechou a porta e jogou a maleta sobre uma
poltrona. Em seguida, dirigiu-se ao barzi-
nho no aposento, para preparar uma boa
dose de u��sque puro.
Naquele momento, nada melhor que
uma bebida. Uma bebida quente, que lhe
arranhasse a garganta por dentro e en-
trasse em choque com seu est��mago vazio.
Est��mago vazio. Engra��ado como at��
agora nem se preocupara em sentir fome.
A tens��o da espera por Betty, a decep����o
que sofrera ao v��-la entrando no carro da-
quele sujeito, a raiva que sent ra e a nova
decep����o por n��o encontrar Rose em casa
o tinham distra��do de tudo o mais.
Mas agora, estava sentindo fome. E mui-
ta.
Tomou o seu u��sque todo e foi para o
quarto. Despiu-se completamente, vestindo
em seguida um robe e dirigindo-se �� co-
zinha.
1 0 8 -
Come��ou a preparar seu jantar. Em
pouco tempo, tinha diante de si, na mesa
da sala, uma pequena refei����o, trivial, co-
mum, mas completamente do seu agrado.
Para completar, duas latas de cerveja.
Era realmente uma fuga. Comer era
uma fuga de seus problemas, da raiva que
sentia por Betty.
Sabia disso e entregou-se a essa fuga
de corpo e alma.
Devorou a comida e as duas latas de
cerveja. No final, sentindo-se plenamente
satisfeito, estendeu-se no sof��, acendeu um
cigarro e relaxou.
Uma sonol��ncia gostosa, quase emba-
lante, tomou conta de seu corpo. De est��-
mago cheio, dormiria como uma pedra.
E foi o que aconteceu. Momentos depois,
estava bem distante da realidade, num
mundo feito apenas de sonhos e tranq��ili-
dade.
���109
Cap��tulo 8
A campainha do telefone parecia vir de
muito longe. Parecia vir de um outro mun-
do at�� esfor��ando-se por penetrar o c��re-
bro adormecido de Tom e libert��-lo do so-
no.
Aos poucos, o som estridente foi ven-
cendo as resist��ncias de T o m e ele abriu os
olhos. Assustou-se, como se n��o conheces-
se o pr��prio apartamento. Por��m, no mo-
mento seguinte, punha-se logo de p��.
Olhou o telefone que continuava to-
cando. Soltou uma impreca����o para o apa-
relho e olhou o rel��gio de pulso: dez e meia
da noite.
Santo Deus! Deitara-se no sof�� para
relaxar um pouco, descansar da refei����o
110
que fizera, e adormecera? Ou melhor: dor-
mira aquele tempo todo?
A campainha do aparelho voltou a to-
car. Era melhor atender e livrar-se de quem
quer que o procurasse ��quela hora da noi-
te. Poderia at�� mesmo dizer uma meia d��-
zia de palavr��es para a pessoa que ligava.
Alcan��ou o aparelho e suspendeu o fo-
ne do gancho. Com a voz pastosa dos que
acabam de acordar, falou:
��� Al��! v
��� Tom? Gra��as a Deus que atendeu!
��� Gra��as a Deus? ��� despertou com-
pletamente, surpreso diante daquela excla-
ma����o.
De imediato, um arrepio de medo pas-
sou-lhe pelo corpo. A voz ao telefone era
feminina e bem poderia ser a de Sharon,
avisando que acontecera alguma coisa com
J��nior. Ou com ela pr��pria.
��� Sharon? ��� interrogou logo. ��� �� vo-
c��?
��� N��o, Tom. �� Betty. Betty Ruger.
Ainda bem que n��o era Sharon com al-
guma m�� not��cia. No entanto, os problemas
���111
n��o terminavam a��. Era Betty ao telefone,
agora? Continuar a engan��-lo?
Teria fracassado seu encontro com o tal
sujeito do convers��vel e, sem programa pa-
ra uma noite de segunda-feira, vinha pro-
curar companhia junto a ele?
Enfurecido por esse pensamento, res-
pondeu :
��� O que deseja, Betty?
Ela deu mostras de haver notado o tim-
bre da voz dele:
��� Est�� zangado comigo, Tom?
��� Nao, n a o . . . ��� ele conseguiu con-
trolar-se a nao mand��-la para o inferno.
���N��o estou zangado com voc��. S�� que es-
tava dormindo quando o telefone tocou.
��� Perdoe-me t��-lo incomodado...
��� Esque��a.
��� Mesmo assim, desculpe. �� que pre-
ciso muito falar com voc�� e n��o queria es-
perar at�� amanh��.
Tom intrigou-se. Betty queria falar-lhe?
E com uma urg��ncia que n��o poderia espe-
rar at�� o dia seguinte? Ora, bolas! O que
seria, c��us?!
��� Pode falar. Estou ouvindo.
112���
��� Por telefone, n��o, T o m . . . �� algo
um pouco comprido. Seria poss��vel que eu
fosse at�� sua casa? Sei que j�� �� tarde, mas...
Ela n��o prosseguiu, interrompendo-se
como �� espera que o homem a convidasse
a ir visit��-lo, mesmo ��quela hora da noite.
E foi o que Tom fez, por curiosidade,
por vontade de rever aquela mulher a
quem tanto desejava, ou por impulso de
dizer-lhe algumas verdades. Fosse qual fos-
se a raz��o, declarou:
��� Pode vir, Betty. N��o vai me incomo-
dar.
��� Puxa, Tom! Muito obrigada. Etarei
a�� dentro de alguns minutos.
��� Est�� c e r t o . . .
Ela desligou antes que ele completasse
a frase. Com o fone mudo na m��o, Tom
nada fez durante alguns instantes. Depois,
desligou o aparelho e levantou-se.
Estava curioso demais por causa do te-
lefonema de Betty. Que assunto importante
ele teria a tratar com ele que a fizesse
mostrar-se t��o impaciente, t��o nervosa?
O que seria, bolas?!
Preferiu acalmar-se e esperar pela vin-
113
da dela. Para passar o tempo mais r��pido,
ajeitou a sala, esfor��ando-se por melhorar
a apar��ncia do apartamento.
Uns dez minutos ap��s, conseguira arru-
mar tudo, inclusive a lou��a que usara du-
rante o jantar. Com as tarefas feitas, pre-
parou uma dose de u��sque, acendeu um
cigarro e sentou-se no sof��.
P��s-se a esperar.
* * *
��� Ol��, Tom ��� Betty falou quando o
homem abriu a porta do apartamento.
��� Ol��, Betty ��� respondeu ele, olhan-
do-a dentro dos olhos.
Sem jeito, convidou-a a entrar. A mu-
lher penetrou na sala e ficou parada junto
ao div��. S�� se sentou quando Tom disse-lhe
que o fizesse.
��� Quer beber alguma coisa? ��� inda-
gou ele.
��� N��o, n��o, Tom. N��o quero incomo-
dar mais do que j�� estou incomodando.
��� Bobagem ��� replicou o homem, en-
caminhando-se no barzinho da sala e pre-
parando a bebida para a visitante.
114���
Tentava manter-se calmo, com o intui-
to de saber o que ela desejava consigo, o
que Betty Ruger viera fazer naquele apar-
tamento, quase ��s onze horas da noite.
Preparada a bebida, entregou o copo ��
mulher e sentou-se numa poltrona. Acen-
deu um cigarro, levantando os olhos para
Betty.
��� Estou �� sua inteira disposi����o ��� fa-
lou. ��� O que deseja falar comigo?
Ela abaixou os olhos, tomando um gole
do u��sque. Com lentid��o, disse:
��� Eu, eu menti para voc��, Tom, quan-
to a ter um namorado chamada Joe.
��� Sei disso. Inclusive, foi o que lhe
falei na dcasi��o em que me contou essa
hist��ria.
��� Voc�� estava certo. Ou melhor: est��
erto. Menti para v o c �� . . .
��� Posso saber por que o fez?
Betty levantou os olhos para ele. Eles
brilhavam, mas de uma maneira triste.
��� Eu, eu ��� gaguejou. ��� Eu n��o que-
ria que tudo se repetisse. . .
Tom enrugou a testa:
��� Tudo se repetisse? Tudo o qu��, Bet-
ty?
��� B e m . . . O que aconteceu entre mim
e W a l t h e r . . .
��� Espere um instante. N��o estou en-
tendendo nada. Quem �� Walther e o que
aconteceu com ele que voc�� n��o deseja que
se repita comigo?
Betty engoliu em seco, falando pausa-
damente :
��� Walther era meu marido, at�� oito
meses atr��s.
���- Seu marido? Mas me disse que n��o
era casada!
Ela interrompeu-o logo:
��� Pare de fazer tantas perguntas,
Tom! Sei que n��o est�� entendendo nada,
mas se ficar me cortando a todo momento,
n��o poderei dizer-lhe nada.
��� Est�� certo. Desculpe-me.
Betty passou por cima do que o homem
disse. Acalmou-se e iniciou sua narrativa:
��� Casei-me com Walther h�� dez anos.
Eu o amava e tinha absoluta certeza de que
ele me amava. E dava provas disso, esfor-
��ando-se por me dar tudo, por me fazer a
116���
mais feliz das mulheres. Walther conse-
guiu seu objetivo: fui feliz, Tom, como pou-
cas pessoas lograram s��-lo. Fui feliz com
meu lar, com minha vida, com o homem a.
quem amava de corpo e alma. E essa felici-
dade durou dez anos. Dez anos inteiros,
sem brigas, sem discuss��es, sem problemas.
Os ��nicos que haviam eram os comuns a
uma vida a dois, nada al��m disso.
��� E o que houve?
Betty engoliu em seco novamente. Tom
notou com clareza que os olhos dela en-
chiam-se de l��grimas e que ela estava dan-
do tudo de si para continuar a falar.
��� O que houve? ��� ela inquiriu, qua-
se ir��nica. ��� O que houve foi que esta feli-
cidade toda acabou. H�� pouco menos de
um ano, Walther confessou-me que estava
apaixonado por outra mulher. Uma outra
mulher com quem ia para cama havia
quase dois anos.
Tom estremeceu. Betty parecia sincera
demais em sofrimento para estar mentindo
novamente. E por isso ele podia imaginar
o,quanto tudo aquilo a torturara e ainda
a torturava agora, mesmo depois de um
ano transcorrido.
���117
Ignorando os pensamentos dele, ela
prosseguiu:
��� Walther confessou-me isso e disse
que queria o div��rcio. Queria ir viver com
a amante. O que houvera entre n��s dois
fora maravilhoso, espetacular, mas j�� ti-
nha acabado. Ao menos para ele. Estava
cansado de fingir para m m , de ser obriga-
do a viver duas vidas praticamente. A ver-
dadeira, que significava o amor que nutria
pela outra mulher, e a mentirosa, junto a
mim, fazendo-me feliz, dando-me tudo.
��� Na hora, n��o tive nenhuma rea����o.
Apenas chorei, chorei muito. Hav��amos aca-
bado de fazer amor e toda a gratificante
sensa����o que eu t nha por t��-lo amado,
por ter sido sua mais uma vez, foi destru��-
da por sua confiss��o. Desnorteado, Walther
vestiu-se e saiu de casa. Fiquei sozinha,
tudo aquilo era um pesadelo. Era apenas
uma brincadeira ou qualquer outra coisa.
Ela parou de falar, virando de uma s��
vez o restante de seu u��sque.
��� S�� que era tudo verdade ��� conti-
nuou. ��� Tudo verdade. Alguns meses de-
pois, eu era uma mulher divorciada, sem
118���
filhos, vivendo num. apartamento grande,
confort��vel. Uma mulher sozinha, cujo ma-
rido trocou-a por outra. Quando penso na-
queles tempos, n��o sei como resisti a eles.
Como n��o acabei com tudo de uma vez.
Talvez a resposta seja meu irm��o, John.
Se John n��o tivesse me dado seu apoio,
suas palavras de incentivo, consolo, eu te-
ria me matado.
��� John levou-me para seu apartamen-
to e passamos a morar juntos. Aconselhou-
me a procurar um emprego, para preen-
cher meu tempo, distrair-me. Segui seu con-
selho e empreguei-me na La Belle Boutique.
Ela deu um sorriso meio sarc��stico:
��� O que a vida faz, hem? Eu, com
trinta e dois anos, trabalhando como uma
simples balconista, emprego que est�� mais
compat��vel com jovens de vinte e poucos
anos. Mas deixe para l��. O emprego na
boutique ajudou-me muito e, acima de tu-
do, John fez-me seguir um novo rumo na
vida. Hoje, estou bem mais refeita do que
houve entre mim e Walther. Tenho um
emprego agrad��vel, moro com meu irm��o,
que apesar dos trinta e seis anos �� um ver-
���119
dadeiro garoto grande, e n��o tenho preo-
cupa����es. Ou antes: n��o tinha preocupa-
����es. Quando comecei a esquecer Walter,
comecei tamb��m a sentir falta de amor, de
algu��m para me amar, para me dar pra-
zer. Esse problema poderia ser facilmente
resolvido, pois tenho muitos amigos e John
tamb��m. S�� que eu me sentiria muito mal
se fosse para a cama com um desses su-
jeitos. Estaria me sentindo como uma qual-
quer. E o que eles poderiam pensar, apavo-
rava-me.
Tom resolveu falar, talvez para poup��-
de uma narrativa mais longa:
��� Por isso, foi ao Greco.. L��, poderia
arrumar companhia masculina. Algu��m
completamente estranho, que desapareceria
de sua vida t��o r��pido quanto entrou. Es-
tou certo?
��� Sim.
��� E esse algu��m fui eu?
��� Acertou de novo. Conheci voc��, vie-
mos para c��, nos amamos, senti prazer de-
mais com voc�� e depois nos separamos. E
eu estava decidida a nunca mais rev��-lo.
N��o queria me prender a mais ningu��m de-
120���
pois de Walther. N��o queria sofrer nova-
mente o que sofri com ele. S�� que foi im-
poss��vel. Algum tempo depois, senti neces-
sidade de ser amada de novo, de ir outra
vez para a cama com um homem.
��� Resolveu procurar-me, ent��o?
_Exato, Tom. Encontramo-nos a se-
gunda vez e eu me senti mais que realiza-
da com voc��. Senti-me mulher realmente.
Senti-me feliz e satisfeita. Acho que come-
cei a am��-lo, embora pouco ou nada conhe-
c��ssemos um do outro. Fui embora e, no
d:a seguinte, l�� estava voc�� me esperando
na boutique. Tentei livrar-me de voc�� e con-
segui. Por��m, achei que deveria dar-lhe
uma explica����o sobre o que a c o n t e c i a . . .
Mesmo que essa explica����o fosse uma men-
tira. Pensei que lhe dizendo ter um na-
morado forte e violento o impedisse de
procurar-me novamente.
��� Entendo.
��� Mas o que aconteceu foi o contr��rio.
Eu acabei vindo procur��-lo agora, para lhe
dizer toda a verdade.
Tom deu um meio sorriso, tentando rea-
nim��-la :
���121
��� Est�� enganada, Betty. Eu a procurei
primeiro.
��� Procurou-me primeiro? N��o entendi.
��� Estive hoje esperando por voc�� em
frente �� boutique.
��� Hoje?
��� Sim. N��o a abordei, pois a vi en-
trando no carro de um sujeito.
��� Ora, Tom. Aquele era John, meu ir-
m��o.
��� Seu irm��o?
��� Sim. Ele foi buscar-me no trabalho
e fomos para casa. Conversamos muito so-
bre voc��.
Tom intrigou-se:
��� Sobre mim? Seu irm��o sabe o que
houve entre n��s?
��� Sabe de tudo, pois tornei-o meu ��ni-
co confidente desde o div��rcio com Walther.
Foi John quem me aconselhou a vir pro-
curar voc��. Disse que eu estava sendo uma
tola em ter medo do amor. S�� porque a pri-
meira vez, com Walther, n��o deu certo n��o
significa que a segunda, com voc��, tam-
b��m fracasse. Eu devia tentar, tentar e ten-
tar.
122���
Tom sorriu, agradecendo de cora����o
��quele sujeito alto e dono de um carro
convers��vel. John fizera Betty voltar. Vol-
tar talvez para sempre.
Levantou-se e aproximou-se dela. Segu-
rou-lhe as m��os, fazendo-a levantar-se tam-
b��m.
��� N��o posso afirmar nada, Betty ���
disse-lhe, olhando-a nos olhos. ��� No en-
tanto, acho que a amo tamb��m. Assim co-
mo voc��, sou um homem desiludido com
o amor, com o casamento. Por isso, acho
que devemos seguir o conselho de John:
tentar. Tentar, tentar e tentar. �� o ��nico
jeito de sabermos se a segunda vez dar��
certo.
Uma l��grima escorreu pelo rosto da mu-
lher. Com delicadeza, Tom secou-a com os
l��bios e depois apertou Betty de encontro
a si.
Buscou-lhe a boca ��mida, quente, en-
treaberta, beijando-a longamente.
Ao final do beijo, ambos respirando com
dificuldade, indagou, num fio de voz:
��� Vamos para a cama, Betty? Estou
louco de s a u d a d e s . . .
123
Ela sorriu, dando-lhe um beijo r��pido
nos l��bios e afastando-se. Com ligeireza,
despiu-se toda, oferecendo-se nua e bela aos
olhos ansiosos do homem.
Tom imitou-a: desnudou-se logo e acer-
cou-se dela. Nus, envolveram-se num abra��o
apertado, forte, e entregaram-se a um bei-
jo s��frego.
Um beijo que os fez esquecer de tudo:
Betty, de seu querido irm��o John. Tom, de
uma jovem bonita e provocante chamada
Rose.
A ��nica coisa que conseguiam lembrar-
se naquele momento era que estavam nus
e que queriam se amar totalmente.
Estavam dando uma segunda chance a
eles mesmos. FIM
De: Bons Amigos lançamentos
Tom Byrnes é um homem divorciado que vai a uma boate curtir sua nova
.
Lançamento :
a)https://groups.google.com/forum/?hl=pt-BR#!forum/solivroscomsinopses
b)http://groups.google.com.br/group/bons_amigos?hl=pt-br
Este e-book representa uma contribuição do grupo Bons Amigos para aqueles que necessitam de obras digitais como é o caso dos deficientes visuais e como forma de acesso e divulgação para todos.
Lembre-se de valorizar e reconhecer o trabalho do autor adquirindo suas obras
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