de
Nazar��
Roque Jacintho
MARIA
DE
NAZAR��
S��rie "Relatos do Evangelho
Departamento Editorial
LUZ NO LAR
Capa e Ilustra����es: Rodval Matias
Revis��o: Equipe Editorial
ISBN: 978-85-65125-01-7
Diagrama����o: D'Artagnan Propaganda - www.dartagnan.com.br
Impress��o: Van Moorsel, Andrade & Cia Ltda.
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2�� Edi����o - Setembro / 2011
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Aos nossos Jorge e Zenaide,
com toda a gratid��o de nossos
cora����es.
Editora LUZ NO LAR
��NDICE
PARTO DE AMOR. 13
01 -A JOVEM DE NAZAR��. 15
02 - A DIVINA MATERNIDADE. 19
03 - ORDENA����ES SUBLIMES. 25
04 - VISITA �� ISABEL 31
05 - CONFID��NCIAS MATERNAIS. 37
06 - IR A BEL��M. 43
07 - NO RUMO DE BEL��M. 47
08 - EM BEL��M. 53
09 - NASCE O SENHOR. 57
10 - OS PASTORES. 63
11 - CASA EM BEL��M. 71
12 - NA CASA DE L��DIA 77
13 - SACERDOTES DA P��RSIA 81
14 - DESPEDIDAS. 91
15 - EM JERUSAL��M. 95
16 - FUGA 101
17 - NO EGITO. 109
18 - O��SIS. 117
19 - NA FONTE DE NAZAR��. 125
20 - JUNTO AOS SACERDOTES. 131
21 - UNI��O DIVINA 139
22 - NA CASA DE SIM��O PEDRO. 145
23 - M��E E FILHO. 151
24 - NA SINAGOGA 157
25 - EM FAM��LIA 165
26 - MUDAN��A 169
27 - DI��LOGO SUBLIME. 173
28 - REDEN����O. 179
29 - SERVIDORAS DE JESUS. 183
30 - MINHA M��E. 189
31 - PRIS��O DE JESUS. 197
32 - O JULGAMENTO. 203
33- A CAMINHO DO CALV��RIO. 209
34 - RESIGNA����O MATERNAL 215
35 - AO P�� DA CRUZ. 219
36 - INQUIETA����O. 223
37- O VISITANTE. 229
38 - CARTA DE JO��O. 235
39 - VISITANTES. 243
40 - SUBLIME REENCONTRO. 249
41 - INSPIRA����O DIVINA 255
PARTO DE AMOR
Revivemos hoje, Senhor, uma tumultuada Bel��m,
distante dois mil anos da noite da Esperan��a.
Sentimos fome do P��o da Vida.
Mendigos espirituais, a esmolar a c��dea de paz interior,
buscamos em todas as partes as sementes da Vida Nova.
Mergulhados, outra vez, nas sombras do possuir,
desapercebidos das b��n����os do que somos, temos esfriado as
qualidades sublimadas de nossas almas.
Rogamos-lhes, Maria, partejar novamente o Amor,
para que recolhamos, mais uma vez, os pren��ncios de uma
vida inovada na fraternidade e no despertar do esp��rito.
Na palha da manjedoura, Sant��ssima, possamos
reencontrar nossas aspira����es mais sagradas, em seu Filho
Jesus!
Lacrimejamos diante de nossos seculares enganos.
Possam, Maria, os anjos tutelares da evolu����o,
alcan��ar-nos e retirar-nos dos desv��os de nossa amargura e
desencanto, repetindo-nos o c��ntico do Amor Celestial:
��� Gl��ria a Deus nas alturas, paz na Terra e boa
vontade para com todos os homens!
E possamos, ent��o, Maria, neste novo Natal, encontrar
"uma crian��a envolta em faixas e deitada na manjedoura "
de seu augusto cora����o.
Roque Jacintho
13
1
A JOVEM DE NAZAR��
Estamos na Galil��ia.
Ao sop�� do monte do Precip��cio, espraia-se uma
vilazinha, entre a vegeta����o abundante, de nome
Nazar��.
O sol j�� est�� alto.
M��riam irrompe pela casa, trazendo novidades.
��� Ah! Maria! ��� exclama M��riam ��� Boas not��cias
para a nossa parenta Isabel!
A jovem Maria, que preparava massa de p��o,
enxugou a sua fronte, apagando algumas gotas de
suor.
��� De que se trata, M��riam?
M��riam suspirou forte e informou:
��� Dizem que Zacarias, o sacerdote, foi visitado por
um Esp��rito chamado Gabriel que lhe veio anunciar
que Isabel dar�� a luz! E a esse filho eles dever��o
15
dar o nome de Jo��o!
Maria ouvia atenta e quase caiu em l��grimas.
��� Que gra��a divina! ��� ela balbuciou.
��� Sim! E, dizem ainda, que essa crian��a ter�� o
esp��rito e o poder do profeta Elias!
��� Do... profeta Elias?!
Esse mesmo, Maria! N��o acha espantoso?!
��� Se for assim ��� aditou Maria, jubilosa ��� esse
Jo��o vir�� harmonizar os cora����es dos pais com os
filhos e levar�� os rebeldes a adquirirem a sabedoria
dos justos.
��� Talvez sim, Maria!
��� Ent��o... breve teremos o Senhor entre n��s! As
profecias se cumprir��o no nosso tempo, M��riam!
N��o acha isso uma d��diva de Deus, podermos ver
a Luz de um Novo Mundo?!
16
��� Sei l��, Maria! J�� �� quase um fato inusitado
Zacarias e Isabel, t��o idosos, poderem ter um filho!
Maria sorriu.
��� N��o se esque��a, M��riam, de que o nome Isabel,
significa: templo de Deus! Assim, se o ventre de
Isabel �� aben��oado pelo Senhor, a maternidade
lhe ser�� um encargo divino.
��� ��... mas houve uma desgra��a!
��� Que desgra��a, M��riam?
��� Zacarias, dizem, por ter duvidado de que
pudesse tornar-se pai, ficou mudo e mudo ficar��
at�� que nas��a o filho!
A jovem Maria refletiu, e falou:
��� Isabel e Zacarias s��o justos diante de Deus. Eles
sempre se revelaram d��ceis e plenos de virtudes,
observando todos os sagrados mandamentos,
M��riam! Se, contudo, Zacarias hesitou em sua f��,
deve ter sido chamado ao sil��ncio para reajustar-
se! N��o vejo, pois, a�� nenhuma desgra��a.
��� Mas... ficar mudo n��o �� um castigo divino,
Maria?!
��� �� um tempo de medita����o, M��riam.
��� Ah! N��o gosto muito de falar-lhe estas coisas,
porque em tudo voc�� acha que est�� a miseric��rdia
de Deus!
Maria sorriu graciosa.
��� Veja, M��riam, que pequenas e suport��veis
17
afli����es s��o, quase sempre, um convite
sublime para que nos reexaminemos, a fim de
acrescentarmos orvalhos de luz em nossas almas.
E, mostrando a massa de p��o, Maria complementou:
��� Veja o trigo, M��riam! N��o suportou ele a afli����o
da m��, para tornar-se farinha e servir �� mesa das
fam��lias?
M��riam sentiu-se contrariada.
��� N��o poder��amos n��s ��� prosseguiu Maria ���
sermos gr��os de trigo de Deus, para saciar os que
tenham fome do Amparo Divino?
E, ap��s ligeira pausa, informou:
��� Zacarias crescer��, ainda mais, em esp��rito, se
foi chamado a repensar a f��, no sil��ncio da palavra
falada, M��riam.
18
2
A DIVINA MATERNIDADE
Ca��ra a noite na cidade de Nazar��.
A jovem Maria, ap��s os cuidados com o lar,
recolheu-se a seu leito, para o necess��rio repouso
e o indispens��vel refazimento de todas as suas
energias.
Recostou a cabe��a no travesseiro e, entrando
em estado de ora����o, sentia-se imensamente
agraciada pela b��n����o da vida e pela harmonia do
lar.
Adormeceu, asserenada, ao lado de Jos��.
S��bito, estremeceu agradavelmente, cora����o aos
saltos, e quis abrir os olhos, pressentindo alguma
coisa inusitada.
Inspirou fundo e ouviu:
��� Nada tema, Maria!
Ela, de pronto, abriu os olhos espantada.
19
Aos p��s de seu leito, via um Esp��rito a envolv��-la
num clima de profunda ternura.
��� Sou Gabriel, Maria. E venho trazer-lhe, da parte
de Deus, uma not��cia imensamente feliz.
��� A... mim?! Da parte de... Deus?!
��� Alegre-se, Maria! O nosso Senhor e Mestre
estar�� com voc��. Por isso, pode considerar-se a
bendita entre todas as mulheres.
Maria sentia-se perplexa.
20
Comovida, diante da sauda����o do Esp��rito de
Gabriel, ficou a refletir sobre o que desejava aquele
ser de aspecto profundamente amoroso.
Ele lhe sorriu com ternura.
��� N��o tenha receio, Maria! Deus confia em seu
cora����o amigo e, por isso, mandou-me avis��-la de
que voc�� vai ficar gr��vida e, depois do tempo certo,
voc�� dar�� a luz.
��� Eu?!
��� Sim, Maria! A esse filho, que nascer�� de seu
ventre, voc�� lhe dar�� o nome de Jesus.
Breve pausa e Gabriel continuou:
��� Jesus ser�� o portador da Luz para este mundo e
trar��, a todos os homens, o que se fa��a necess��rio
para a reden����o espiritual desta Humanidade
terrena.
��� Je... Jesus... ��� balbuciou Maria.
��� Jesus �� o Filho do Alt��ssimo e vir��, em nome
do Pai Celestial, chamar para o seu aprisco as
ovelhas transviadas, para aliment��-las com mais
amor e, pessoalmente, desvendar�� um mundo
novo a todos os menos felizes.
Maria estremeceu.
��� Devo estar delirando ��� afirmou a jovem,
procurando sentir-se e se apalpando para ver se
estava acordada. ��� N��o �� poss��vel que, para
algu��m sem qualidades, o Pai Celestial confiasse
t��o nobre tarefa!
21
Gabriel sorriu.
��� Jesus, pessoalmente ��� aditou Gabriel ���
conhece o fundo de cada alma, Maria. E, ao
escolh��-la para ser a sua m��e e Jos�� o seu pai,
�� porque conhece o tesouro de afeto de seus
cora����es e, tamb��m, a fidelidade de que voc��s s��o
testemunhos �� Lei do Amor que rege as nossas
vidas.
22
Maria levantou-se.
Caiu de joelhos aos p��s do esp��rito de Gabriel e,
deixando extravasar toda a sua fidelidade, afirmou:
��� Serei a serva do Senhor Jesus, Gabriel! Rogo-
lhe, por isso, que se fa��a em mim toda a vontade
daquele que vir�� a ser meu filho e que, al��m de
filho, �� meu Senhor!
Gabriel, inclinando-se, f��-la levantar-se e beijou-
lhe enternecidamente o cora����o.
��� Maria, o Senhor est�� consigo!
E, diante dos olhos da jovem, Gabriel desvaneceu-
se, em meio a uma poeira de estrelas cintilantes,
deixando um rastro de perfumes celestiais.
Maria voltou a deitar-se.
Suas m��os, num gesto natural e de grande ternura,
repousaram sobre seu pr��prio ventre, oferecendo-
se �� divina maternidade.
23
3
ORDENA����ES SUBLIMES
Maria irradiava felicidade.
Sentia que, em seu ventre, carregava a semente
de uma crian��a e, por isso, surpreendia-se a
conversar com Jesus, envolta em clima de amor
infinito.
��� Sou sua serva! ��� afirmava, em seus
pensamentos e transmitia em suas palavras. ���
Assim, sou grata por fazer-me sua m��e!
M��riam achegou-se naquele instante.
��� Fala sozinha, Maria?!
A interpelada sorriu.
��� N��o, M��riam! Falo com meu filho Jesus,
agradecendo-lhe pela b��n����o da maternidade.
��� E... ele a escuta?!
��� Se todos os filhos, em vias de renascer, ouvem
os pensamentos maternos, como que o Senhor
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n��o me ouviria, a mim que sou a sua serva?
E, ap��s breve pausa, complementou:
��� Algumas vezes, M��riam, n��o sei se eu o acolho
com profundo amor ou se �� o amor dele que me
envolve a toda minha alma!
��� Pelo que voc�� me diz, Maria, esse Jesus, mais
que outros filhos, lhe assegurar�� paz e tranquilidade
por todos os seus dias de vida.
Maria, ap��s ligeira hesita����o, afirmou:
��� N��o ser�� a paz e a tranquilidade dos bens da
Terra, M��riam! Registro as advert��ncias, deste meu
futuro filho, de que viverei momentos de lutas e
verterei muitas l��grimas.
��� N��o me diga! S��o press��gios dolorosos!
��� Em verdade, os pensamentos de Jesus me
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convocam para buscar a paz nas obriga����es
fraternais bem vividas, e que deverei procurar a
tranquilidade da consci��ncia que cumpriu com
todos os deveres de amor aos semelhantes.
��� Isso soa a sacrif��cios, Maria!
��� O ��nico sacrif��cio imposto pelo amor �� a quebra
do ego��smo, M��riam! E, bem por isso, sinto-me
ditosa, j�� que sei que este meu filho, acima de tudo,
ser�� a Luz Divina para todos os que aspirarem a
uma vida integral com as leis divinas.
* * * * *
Maria, agora, estava s��.
Sentiu brotar, no fundo de seu cora����o, um desejo
ardente de visitar a sua parenta Isabel.
De pronto, e sem hesita����o, entrou pelo galp��o
onde Jos��, seu marido, estava entregue aos
afazeres da carpintaria.
Jos�� interrompeu o trabalho ao v��-la e sorriu.
��� Que a traz aqui, Maria?
��� Ah! Jos��! Sinto em meu cora����o que deveremos
visitar Isabel, a bem-amada esposa de Zacarias,
que tamb��m espera um filho, assim como n��s.
��� Mas... eles moram t��o longe, Maria!
��� Que importa a dist��ncia, Jos��? O sacrif��cio que
impomos para a visita, nos far�� crescer em amor
27
fraternal!
Jos�� deitou um olhar �� sua volta.
��� E que ser�� de nossa pobre casinha, Maria?
Ela sorriu e respondeu:
��� Ela ficar�� sob a guarda do Pai Celestial, Jos��!
E, al��m disso, tenho, no fundo de minha alma, a
certeza de que seremos convocados para muitas
viagens!
Jos�� suspirou paciente.
��� ��... nosso futuro filho que lhe inspira essa ideia?
��� Sim, Jos��! E, sabendo que al��m de filho, ele ��
nosso Mestre e Senhor, quero seguir as sugest��es
que ele nos transmite.
Jos�� co��ou a cabe��a.
��� Nunca ouvi falar de uma crian��a, ainda no ventre
materno, que estivesse a distribuir ordena����es a
seus pais!
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Maria aproximou-se ainda mais de Jos��, dizendo-
lhe:
��� S��o ordena����es sublimes, meu amado Jos��!
Este filho, que trago no ventre, �� superior aos pais!
E, como servidores agradecidos e submissos,
alegremo-nos em atend��-lo!
29
4
VISITA �� ISABEL
Era manh�� no vilarejo de Nazar��.
Jos�� fechava a casa singela para viajar.
M��riam, amiga de muitas horas, abra��ava-se a
Maria, desejando-lhe uma boa e proveitosa viagem.
��� Cuidarei de suas flores, Maria ��� assegurou a
amiga ��� pode ir tranquila, embora me deixe j��
saudosa de sua doce companhia.
��� Ore por n��s, M��riam ��� rogou singelamente
Maria ��� atrav��s da ora����o, estaremos pr��ximas
pelas vibra����es fraternais.
��� Assim farei... e cuide bem do filho que est�� em
seu ventre!
Maria sorriu e respondeu graciosa:
��� Ele �� quem cuidar�� de mim, M��riam! Sigo em
viagem por inspira����o dele e, por isso, fa��o-lhe a
divina vontade.
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��� Vamos, Maria ��� interrompeu Jos��, em tom
fraterno ��� a viagem daqui at�� Ain Karim �� longa
demais.
* * * * *
Jos�� parou, suarento, debaixo do sol ardente,
olhando a montanha.
��� Veja, Maria! J�� estamos em Jud�� e bastar�� que
subamos esta montanha, para chegarmos �� casa
de Isabel.
Visivelmente exausta, mas jubilosa, Maria apressou
os passos, vencendo a derradeira dist��ncia, sob o
amparo de seu dedicado esposo Jos��.
��� Finalmente! ��� exclamou Jos��.
32
Adiantou-se �� Maria que, tomando f��lego,
contemplava aquela regi��o e fitava, enternecida,
aquele lar que iriam visitar.
Jos�� foi recebido com um abra��o de Zacarias.
O esposo de Isabel, ainda mudo, dirigiu-se �� Maria
e, quebrando-lhe a contempla����o, diante de seu
deslumbramento ante a paisagem nova, tomou-lhe
a m��o e f��-la adentrar ao lar amigo.
Deparou-se com Isabel, gr��vida de seis meses,
que veio ao seu encontro.
��� Salve, Isabel! ��� saudou Maria, beijando-lhe
delicadamente as faces.
Isabel, de s��bito, levou as m��os ao seu pr��prio
ventre, sentindo que seu filho, Jo��o, ali estremecia.
E, no mesmo instante, sentindo-se mediunizada,
pelo seu pr��prio filho, ergueu a voz exclamando:
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��� Maria, bendita �� voc�� entre as mulheres, e
bendito �� o fruto de seu santo ventre!
E o tom de voz de Isabel se tornou mais grave,
masculina, e sob o envolvimento do esp��rito de
Jo��o, que reencarnaria como seu filho, falou:
��� Quem sou eu para que a m��e de meu Senhor
venha me visitar?
E, diante de Jos�� e Zacarias, at��nitos, concluiu:
��� Bem-aventurada �� voc��, Maria, que teve f��
e contribuiu para que venha a instalar-se neste
mundo a Luz do Mais Alto!
Maria, humilde e comovida, baixou os olhos.
Seu cora����o pulsava c��lere, ante o quadro
tocante, para ela inesperado e, ent��o, confessou-
se comovida:
��� Meu cora����o se rende a Jesus pela eternidade.
Ele me buscou e, como humilde e singela serva,
sinto-me aben��oada pelo seu amor.
Ligeira pausa e complementou:
��� Jesus, em nome de Deus, dar�� fartura espiritual
aos que se encontram famintos de luzes. Repletar��
de virtudes aos de boa vontade e ser�� um sol de
miseric��rdia para com todos.
A singela sala foi inundada de perfumes.
As l��grimas, descendo pelas faces de todos os
presentes, eram express��o de infinita gratid��o que
nascia em Maria e Isabel, em Jos�� e Zacarias.
Todos ca��ram de joelhos, rendendo-se ao c��ntico e
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ao clima dos Esp��ritos Superiores que ali se faziam
presentes.
E, Maria e Isabel, abra��aram-se em l��grimas de
sublime j��bilo.
35
5
CONFID��NCIAS MATERNAIS
Era um cair de tarde em Ain Karim.
A brisa leve, anunciando uma noite agrad��vel,
fazia que o jardim de Isabel aromatizasse todo o
seu modesto lar.
Maria e Isabel sentadas na sala modesta.
Tomada de sadia curiosidade, ap��s ligeira
hesita����o, Maria indagou t��mida:
��� Que espera voc�� de seu futuro filho Jo��o?
Isabel entressorriu, amorosa, e suspirando.
��� Sei que Jo��o ��� informou Isabel ��� atendendo
as profecias, vir�� adiante de Jesus, preparando-
Ihe o caminho para os ensinamentos redentores,
Maria.
Maria sorriu.
��� Contudo ��� prosseguiu Isabel ��� de minhas
confid��ncias com Zacarias, temos certeza de que
37
Jo��o �� a reencarna����o do profeta Elias!
��� Oh! Que beleza, Isabel!
Isabel, algo contristada, aditou:
��� Voc�� sabe, Maria, que pelas anota����es sobre a
vida de Elias, naquela sua miss��o, ele foi impetuoso
e, por extremos de zelo, levou muitos sacerdotes ��
morte e fez inimizades com os reis de seu tempo.
��� Sei, sim, Isabel.
��� Por essa raz��o, Maria, sinto-me estremecer em
minha alma, rogando ao Criador para poupar o meu
Jo��o de seus cegos impulsos em vida passada.
��� Voc�� teme que... ele sofra as consequ��ncias de
sua vida anterior, Isabel?!
38
��� Sim! Temo, Maria!
Consoladoramente, Maria informou:
��� Mas, se ele se fizer misericordioso, a miseric��rdia
o sustentar�� e Jo��o ser�� livre, para vir adiante de
Jesus, Isabel.
��� Meu cora����o se angustia ��� confessou Isabel,
com l��grimas de resigna����o a banhar-lhe os olhos
��� mas... e o seu Jesus, que ser�� nosso Mestre e
Senhor?
��� Ele ser�� a Luz do Mundo!
E, ap��s ligeira pausa, complementou Maria:
��� Embora eu saiba que Jesus �� puro e Governador
deste nosso mundo, por vezes estreme��o,
angustiando-me, pressentindo que ele poder��
despertar a ira dos sacerdotes e dos poderosos!
��� Que tolice, Maria! Que sacerdote ou que
homens poderosos se opor��o ao Senhor de todos
n��s? Quem se atrever�� a criar-lhe embara��os ou a
impor-lhe persegui����es?
��� Pressinto... que Jesus ter�� inimigos terr��veis,
Isabel! Voc�� sabe que todos os profetas de
nossa ra��a foram duramente perseguidos e
incompreendidos, pelo nosso pr��prio povo!
E, depois de ligeiro sil��ncio, complementou:
��� Se a mensagem que Jesus trouxer for a de
renova����o de costumes, antevejo os que se
lhe opor��o, por terem seus interesses pessoais
contrariados.
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Lacrimosa, inteirou Maria:
��� Jesus ser�� a Luz do Mundo, sim! Mas a luz,
por sua natureza, espancar�� as trevas da m�� f�� e
da ignor��ncia, assim como ocorre quando se limpa
um campo, extinguindo os ninhos das serpentes.
��� Somos ditosas... e temerosas! ��� advertiu
Isabel. ��� A maternidade, embora prenuncie o
nascimento de duas almas valorosas, retalha os
nossos cora����es!
Maria levantou-se.
Fitava demoradamente a paisagem l�� fora.
Suspirou, l��grimas nos olhos.
��� Deveremos estar preparadas ��� confidenciou
Maria ��� para n��o interferir nos atos de nossos
futuros filhos! Eles n��o v��m a este mundo para
40
submeterem-se �� vontade de nossos cora����es
e nem se subordinarem �� vontade de nossos
sacerdotes.
E, num momento de divina inspira����o, Maria
complementou:
��� Jo��o e Jesus s��o benfeitores desta Humanidade,
Isabel. Far��o os infelizes se repletarem de
esperan��as... mas despertar��o, com isso, a ira dos
poderosos!
Isabel, sabiamente, ponderou:
��� N��o deveremos interferir nos planos redentores
de nossos filhos, Maria. Fa��am eles o que fizerem,
agindo diferente dos filhos comuns, deveremos
respeitar-lhes a vontade, desde seu nascimento.
Maria enxugou l��grimas indiscretas.
��� Amemo-los ��� complementou Maria ��� antes
como suas servidoras, a advinhar-lhes a Divina
Miss��o, sem ��nsias de subordin��-los �� nossa
vontade, j�� que lhes cabe fazer a vontade de nosso
Pai Celestial.
E, da porta da modesta casinha, viam o esplendor
do poente.
41
6
IR A BEL��M
Maria despertou, da longa noite de sono, em sua
casinha pobre, no vilarejo de Nazar��.
Lembrava-se de que, �� noite se desprendera do
corpo f��sico e fora ter com um jovem de belos
tra��os, cabelos longos, olhos t��o verde-azuis
quanto os seus.
��� Voc��... �� Jesus?! ��� indagara.
Ele confirmou, num gesto silencioso, beijando-
Ihe enternecidamente as m��os e, em seguida,
tomou-a consigo e levou-a a um jardim de flores
que cintilavam quais as estrelas do firmamento.
Sentia-se deslumbrada e profundamente t��mida.
��� O que me d�� direito de vir ter a este para��so?!
��� indagava-se.
��� Maria ��� disse-lhe Jesus ��� devo cumprir as Leis
Divinas e, por isso, busco o seu ventre para ter um
corpo humano, a fim de que possa manifestar-me
43
entre os homens.
��� N��o posso dar-lhe o conforto necess��rio, filho!
Sou pobre e minha casa �� singelo abrigo, sem o
esplendor a que voc�� faz jus!
��� Sei disso, Maria! Na Terra, por certo, n��o terei
uma s�� pedra onde repousar minha cabe��a! E n��o
busco, nesta minha imers��o no corpo f��sico, outra
coisa que n��o seja o fazer a vontade de nosso Pai
Celestial.
��� Mas... voc�� �� o Governador da Terra!
O Senhor lhe sorriu, esclarecendo, a seguir:
��� N��o disputo as gl��rias humanas, transit��rias e
44
passageiras, minha m��e! Irei ao encontro dos que
aspiram a crescer espiritualmente e oferecerei
ao povo de Israel a minha gratid��o, por serem os
propagadores da mensagem do Deus ��nico.
E, tomando as m��os de Maria, qual se fosse um
terno pai, diante de uma filha perplexa, Jesus
aditou:
��� Voc�� sofrer�� com meus sofrimentos. Contudo,
jamais se rebele com o que os homens confundidos
me impor��o de sacrif��cios. Em tempo algum, n��o
deixe de perdo��-los e compreend��-los ao infinito
e, nas m��os que se voltarem contra mim, beije-as
espiritualmente.
E tudo se confundiu em brumas.
* * * * *
Maria distanciou sua mem��ria da cena
emocionante, ao ouvir um burburinho vindo das
vielas de Nazar�� e, logo mais, Jos�� irrompeu pelo
dormit��rio, visivelmente transtornado.
A jovem levantou-se.
��� Que houve, Jos��?!
��� Ah! Os romanos trazem, para a nossa vila,
a not��cia de um tal de recenseamento, Maria,
ordenado pelo Imperador Romano!
Maria ouvia, sem compreender inteiramente.
��� Isso quer dizer, Maria, que deveremos voltar
45
�� terra de nossos pais, para cumprir a ordem do
Imperador.
��� Deveremos... ir a Bel��m?!
Jos�� confirmou com um gesto mudo de cabe��a.
��� �� o que seremos obrigados a fazer e... justo
nestas ��ltimas semanas de sua gravidez, Maria!
Ela sorriu conformada.
��� Teremos uma boa viagem, Jos��. Se o Imperador
assim ordena, �� por ter suas raz��es. E a n��s, cabe
obedec��-lo, sem reclama����es!
��� Mas... voc�� est�� gr��vida!
��� Eu estou bem, Jos��! Afinal, gravidez n��o ��
doen��a! E, al��m disso, levaremos este nosso filho
a outras regi��es desta nossa aben��oada terra, j��
que estamos a servi��o do Senhor!
Jos�� inspirou fundo e sorriu:
��� Minha doce e resignada Maria!
46
7
NO RUMO DE BEL��M
Amanhecera em Nazar��.
Jos�� resmungando, com alguma sombra de
contrariedade em sua alma, cerrava as portas de
sua pobre casinha.
��� ��... vamos �� Bel��m! ��� disse a Maria, sem
esconder a sua inconforma����o ��� O Imperador
C��sar Augusto quer este nosso sacrif��cio!
Maria sorriu, amorosa.
��� Meu querido Jos��! Lembremo-nos de que o
Imperador Romano tamb��m �� Inspirado por Deus,
como qualquer um de n��s. Cabe-nos, pois, atender-
lhe as ordena����es, sem rebeldia.
E, mais confortadora, ponderou:
��� Lembre-se, Jos��, que com esta viagem que nos
�� imposta, voltaremos �� terra de seus pais e, antes
de l�� chegar, ainda poderemos visitar a cidade de
Jerusal��m!
47
O carpinteiro, ent��o, sorriu.
��� Daqui at�� Bel��m, s��o mais de cem quil��metros,
Maria! �� caminho que n��o acaba mais!
��� Se dermos, contudo, os primeiros passos ���
contrap��s Maria ��� a dist��ncia ficar�� mais curta.
E, al��m disso, a cada momento estaremos vivendo
em paisagem nova, Jos��!
��� Voc�� �� sempre otimista, Maria! E muito resignada
aos acontecimentos!
Maria o envolveu num olhar de do��ura.
��� Sabe, Jos��... meu cora����o diz que Bel��m ser�� o
ber��o de nosso filho e que o Pai Celestial quer que
assim seja.
E, ap��s ligeira pausa, inteirou:
��� Se o nome Bel��m significa "de onde vem o p��o",
ser�� que n��o estamos indo para l��, para cumprir
alguma profecia e, tamb��m, a fim de que todos
saibam que de Bel��m vem o P��o da Vida, nosso
filho Jesus?
* * * * *
Jerusal��m abria-se aos olhos de Maria.
��� Vamos procurar uma pousada para descansar,
Maria ��� sugeriu Jos��, fitando a terna esposa.
��� Descansemos, antes, em Deus, procurando a
paz no templo de nossa f��, Jos��.
48
��� Se essa �� a sua vontade!
E ambos, quais visitantes atentos e curiosos,
penetraram pelas ruas estreitas e agitadas daquela
cidade, dirigindo-se ao templo de Jerusal��m.
�� porta do templo, Maria suspirou.
��� Jos�� ��� confidenciou Maria ��� tenho em meu
cora����o de que o nosso filho andar�� por aqui,
trazendo mensagens de ��nimo e de f�� do Pai
Celestial.
��� Voc��... acha que ele ser�� um sacerdote?!
Maria contemplou os doentes e infelizes que ali
estavam.
��� N��o, tolinho! O nosso filho dever�� revelar
um novo mundo de esperan��as a todos estes
49
sofredores que temos debaixo de nossos olhos!
E, cumprindo a Vontade Celestial, Jesus ser�� a
porta para todas estas ovelhas abandonadas e
confundidas!
��� Voc�� acredita que ele... ser�� um rei ou, ent��o, o
principal entre os sacerdotes do Templo?
��� N��o creio nisso, Jos��! Ele n��o vir��, entre os
homens, para possuir um trono, �� semelhan��a dos
pr��ncipes de nosso tempo. N��o dever�� impor-se
pela pol��tica religiosa ou humana, trazendo morte,
suor e l��grimas, qual temos visto ao longo de
nossos dias.
E, depois de longa pausa, Maria afirmou:
��� Jesus ser�� o Pr��ncipe da Paz! Vir�� para salvar-
nos do ego��smo e do orgulho e nos abrir�� a
porta do aprisco, convocando-nos aos servi��os
regeneradores.
Jos�� se calara, admirado.
��� Voc��... n��o espera muito de nosso filho?!
��� Espero tudo, Jos��... tudo o que representa amor
e miseric��rdia, esperan��a e vida nova aos que
sofrem e choram.
Um mendigo aproximou-se do casal.
Num impulso, tomou a m��o direita de Maria e a
beijou em l��grimas.
��� Ouvi ��� disse comovido o mendigo ��� todas as
suas palavras de esperan��a, Senhora! E, se tudo
assim se fizer, bendito seja o fruto de seu ventre!
50
Maria, comovida, retribuiu-lhe com um beijo na
face sulcada de sofrimento, reacordando, naquela
alma sofrida, as luzes de novas esperan��as.
Jos�� sentiu-se embargado de emo����es profundas.
51
8
EM BEL��M
Jos�� parou e suspirou fundo.
��� Bel��m, a cidade de David! ��� anunciou, cora����o
aos saltos.
O casal, visivelmente exausto, com Maria arfando,
mas se sentindo feliz, contemplava o casario baixo
e as ruas irregulares daquele vilarejo.
Um vento frio os a��oitava, dentro do anoitecer.
Desceram, pelas ruelas fervilhantes de forasteiros e
de outros peregrinos que ali aportavam atendendo
�� convoca����o do Imperador Romano, na realiza����o
do censo.
O carpinteiro, sol��cito, amparava Maria.
��� Vamos buscar um lugar onde ficar, Maria.
Ela concordou em sil��ncio.
Empreenderam, ent��o, uma busca quase in��til,
batendo de porta em porta para serem acolhidos.
53
E tantos eram os forasteiros que nenhuma fam��lia
os recebeu.
��� Estamos sem vagas! ��� alegavam.
Finalmente, pararam �� porta de uma estalagem
modesta e ali penetraram, acotovelando-se em
meio �� pequena multid��o, procurando acercar-se
do dono da estalagem.
��� O que voc��s querem? ��� perguntou-lhes o
estalajadeiro.
��� Queremos um abrigo em sua estalagem ���
respondeu Jos��.
��� Abrigo?! Aqui na estalagem?! Hoje?!
��� Sim, meu senhor ��� informou Jos��, esclarecendo.
��� a minha mulher est�� gr��vida e necessitamos de
um lugar para o repouso e para o parto.
��� Desculpem... mas...
54
��� Veja, senhor ��� insistiu Jos�� ��� se fosse s�� por
mim e se n��o fosse a gravidez de minha mulher, o
c��u me seria um teto.
��� Mas, o que voc�� quer que eu fa��a, homem?
Estes todos ��� e o estalajadeiro apontou-lhes a
pequena multid��o que ali estava ���, todos eles
tamb��m est��o em busca de um abrigo!
��� Suplico-lhe, pelo amor de Deus! ��� insistiu o
carpinteiro.
O estalajadeiro suspirou, contrariado.
Demorou-se, por��m, a examinar Maria e, por
raz��es que ele desconhecia, comoveu-se diante
da insist��ncia de Jos�� e informou:
��� Infelizmente, s�� disponho da estrebaria, que fica
nos fundos de minha estalagem! Se servir...
��� Aceitamos! ��� confirmou Jos��, fitando Maria.
��� Sigam-me, ent��o!
Jos�� e Maria seguiram-no.
Mais alguns passos, eis que o estalajadeiro lhes
apresentou o pouso dos animais, repleto de palhas
e de sujeiras.
��� Infelizmente... �� o que me resta! ��� desculpou-
se o homem ��� Se quiserem, podem instalar-se
aqui!
Jos�� olhou �� volta, arrepiado.
��� Ah! Bom senhor! ��� manifestou-se de pronto
Maria, profundamente grata ��� Este recanto nos
serve, sim!
55
��� A senhora �� quem sabe!
��� Somos-lhe profundamente agradecidos ���
confirmou Maria ��� j�� que estes animais nos
aquecer��o, libertando-nos do frio, e estas palhas
ser��o o nosso dadivoso leito.
O estalajadeiro afastou-se.
��� Maria ��� come��ou Jos��, quase timidamente ���
voc�� viu bem onde estamos?
��� Claro que sim, Jos��!
��� Estamos entre animais, Maria! E, no seu ventre,
nesta hora, est�� o nosso Senhor e Mestre! Ser��
isto que poderemos ou deveremos ofertar-lhe?!
��� Querido! Estes animais s��o, tamb��m, criados
pelo Pai Celestial! Est��o, assim, sob o amparo
do carinho divino! E, se eles podem pernoitar na
estrebaria, por que n��o poderemos n��s aceitar o
que eles tamb��m aceitam?
56
9
NASCE O SENHOR
Era noite.
Jos�� demorou-se a ver no c��u a lua cheia,
transbordando em raios de prata, como a beijar
toda a paisagem da Terra em sublime serenidade.
Entrou novamente na estrebaria e revelava-se
intranquilo.
��� Acalme-se, querido ��� convidou Maria, num
sorriso de ternura ��� estamos abrigados no amor
de Deus.
O carpinteiro ajeitava palhas no ch��o.
E, num convite amoroso e irrecus��vel, a jovem o
convidou �� ora����o.
��� Antes que nos perturbemos, Jos��, conv��m que
nos dirijamos ao Pai Celestial, por estarmos sob a
b��n����o deste est��bulo.
Ele suspirou e aconchegou-se a Maria.
57
��� Oh! Pai! ��� rogou Maria, num tom de sublime
submiss��o ��� Rogamos-lhe, Senhor do Universo,
aben��oar o cora����o de nosso estalajadeiro que nos
acolheu nesta hora, confiando-nos �� companhia
destas suas outras criaturas, t��o d��ceis e t��o
graciosas.
Os animais, como que se asserenaram ainda mais,
revelando-se tranquilos, olhares serenos.
Maria, de s��bito, levou a m��o ao seu ventre e
sorriu.
��� �� chegada a hora, Jos��!
��� Deus meu! S�� temos um ch��o de palhas! E nem
um leito para quem vai nascer! Como poder�� o
Filho de Deus nascer entre n��s... nesta estrebaria?
Maria sorriu, sentindo o parto.
58
��� Jos��, a luz do Sol pode visitar o p��ntano e,
mesmo aquecendo os vermes que l�� estejam,
continua sempre sendo luz!
��� Mas... aqui?!
��� Quem chega... nesta hora... n��o rejeita a mis��ria
e nem teme a pobreza, Jos��! E n��o escolheu um
pal��cio para vir a este mundo em miss��o de amor
e miseric��rdia.
Maria, l��grimas em j��bilo a banhar-lhe as faces,
sentia-se integrada com as Esferas Mais Altas
do Universo e, num dado momento, a sua alma
amorosa exalava perfumes e radia����es t��o
sublimes, que a pr��pria natureza como se aquietou,
naquele instante augusto.
De seu ventre, vinha Jesus!
E, entre o suor maternal, com gotas de orvalho a
descer-lhe pelo aveludado semblante, descerrou
as cortinas deste mundo para o Cristo de Deus.
Jesus nascera!
A singela estrebaria, naquele momento, repletou-
se de luzes do Mais Alto e, no ��ntimo de sua alma,
Maria ouvia os c��nticos de louvor das Almas
Purificadas, a emoldurarem a li����o de humildade,
de ren��ncia e de amor do Filho de Deus.
Jos��, em sil��ncio, trouxe-lhe alva t��nica.
Maria-m��e, naquele instante, envolve Jesus na
t��nica e, beijando-lhe a crian��a na fronte, ergue-se
e toma a dire����o da manjedoura.
Jos�� estremece e diz:
59
��� Voc�� vai usar a manjedoura como leito... onde
comem os animais?!
Maria deposita ali Jesus.
��� Agora ��� diz ela a Jos�� ��� n��o s��o apenas os
animais que se alimentam aqui, Jos��! Jesus, nosso
filho, se oferece como um p��o espiritual do mundo!
Aqui est�� para nutrir, com humildade, a todos os
que tenham fome de amor e de miseric��rdia.
As m��os carinhosas de Maria-m��e, afagam o filho
muito amado.
Passando a m��o direita sobre o rosto de Jesus,
confessa:
60
��� Sou sua m��e e serva!
Jos�� contempla aquele quadro que jamais
esquecer��.
E o carpinteiro prorrompe em l��grimas,
contemplando Jesus e, enternecido, murmura,
inteiramente integrado ao acontecimento:
��� Este �� o sol de uma nova aurora, revelando
novos caminhos aos que andavam em trevas.
O carpinteiro abra��a-se a Maria.
E ambos, ternamente enla��ados, erguem preces
de gratid��o!
61
10
OS PASTORES
Bel��m �� uma cidade da Judeia.
Regi��o de pastoreio, a pastagem recobre o seu
solo e �� t��o abundante que favorece a cria����o de
grandes rebanhos.
Nesta hora da noite, reuniam-se os pastores de
ovelhas diante de uma pequena fogueira, contando
e recontando as suas venturas e desventuras, de
cora����o sempre muito aberto e respeitoso aos
princ��pios divinos.
N��o havia amargor entre eles.
Repentinamente, contudo, fez-se um grande
sil��ncio.
O pr��prio rebanho se aquietara tamb��m.
No fundo das almas desses pastores, por serem
homens simples e extremamente integrados ��
natureza, sentiam-se amparados pela Miseric��rdia
63
Divina.
��� Se dormimos ��� anunciou um deles, quebrando
o s��bito sil��ncio ��� Deus vela por n��s e n��s somos
gratos ao Criador!
��� Falta-nos, no entanto ��� lembrou um outro ��� um
pastor divino que se desdobre por n��s, como nos
desdobramos pelas ovelhas e que seja um pastor
que nos tanja e nos alimente de esperan��as.
Um outro, ent��o, concluiu:
��� Falta-nos, mesmo, um tal pastor, j�� que o
templo de nossa f�� s�� nos imp��em encargos. Os
sacerdotes criam exig��ncias mil, sem que as suas
palavras nos sirvam de alimento d'alma!
��� Esse Pastor Celeste, um dia vir��, conforme
anunciaram os Profetas. ��� confirmou um de mais
idade entre eles ��� Sei, no fundo de meu cora����o,
que um Pastor Divino nos socorrer��!
O mais jovem, entre eles, levantou-se e revolveu
a fogueira, acordando labaredas nas brasas
recobertas de cinzas.
��� Curioso! ��� disse outro deles ��� Sinto-me t��o
em paz, dentro de minha alma, qual se houvesse j��
uma nova esperan��a, nestes campos do Senhor!
��� Eu tamb��m ��� assegurou outro deles ��� �� como
se a porta do C��u se estivesse descerrado para
todos n��s.
��� Eu sinto que a gra��a divina nos envolve a todos.
O mais idoso, entre eles, levantou-se e, fitando um
a um de seus companheiros, disse-lhes:
64
��� Sinto... que devemos orar!
De pronto, um dos mais jovens ergueu-se e,
olhando a lua cheia, ergueu a voz, repassada de
um tom amoroso:
��� Oh! Deus! D��-nos a sua b��n����o, transformando
as nossas esperan��as em realidades! N��o nos
deixe entregues ��s sombras. Revista-nos com
a sua luz, assim como o seu amor envolve estes
campos com alimentos e claridades.
S��bito, todos estremeceram, sentindo algo
envolvente!
Um Esp��rito Superior materializou-se diante deles,
envolvendo-os em brandas luzes.
Os pastores, assustados, sentiram um grande
temor.
65
��� Nada temam! ��� assegurou-lhes o Esp��rito,
procurando acalm��-los ��� Venho anunciar-lhes a
grande not��cia de que voc��s cogitaram, nesta hora!
Os pastores se entreolharam espantados.
��� Hoje ��� anunciou o Esp��rito ��� nasceu para
voc��s o Salvador, o Cristo e nosso Senhor!
��� Nasceu... onde?! ��� atreveu-se o mais jovem,
que orara em voz alta ��� Onde nasceu o nosso
Salvador?
��� Aqui! Em Bel��m! ��� respondeu o Mensageiro
Celeste.
��� E... �� a n��s que isso se anuncia?! Somos
simples pastores de ovelhas! N��o temos virtudes
e nada somos!
��� Aquele que �� o Salvador ��� esclareceu o Esp��rito
��� veio a este mundo para ser o pastor dos pobres
de esp��rito, veio para os mais humildes, j�� que os
mais destacados da Terra deixam que as portas
de seus cora����es sejam guardadas por ardentes
paix��es e, com isso, tais criaturas n��o est��o
amadurecidas para receber o notici��rio divino.
O jovem avan��ou interessado.
��� E... como saber quem �� Ele?! E... onde estar��?!
O Mensageiro Celestial informou:
��� Procurem numa estalagem de Bel��m, uma
modesta estrebaria, e nos fundos dela, l�� voc��s
encontrar��o, deitado numa manjedoura singela,
um menino envolto em panos.
66
��� Ele... ��� gaguejou o jovem, sem prosseguir.
��� Esse menino �� o Salvador ��� assegurou o
Esp��rito.
E, antes que levantassem novas indaga����es,
materializaram-se outros esp��ritos que agradeciam
a Deus pelo nascimento do Cristo na Terra.
E, para abrir as portas de esperan��as,
demonstrando-se em miss��o de paz e reconforto,
todos eles agradeciam a Deus, dizendo:
��� Gl��ria a Deus nas Alturas, paz na Terra e boa
vontade para com todos os homens!
Os seres angelicais se desvaneceram.
Os pastores se entreolharam, lacrimosos
e espantados, deslumbrados diante dos
acontecimentos da hora, quando o mais jovem os
convidou:
��� Vamos a Bel��m! Percorramos todas as
estalagens e estrebarias, at�� que encontremos
o nosso Salvador, j�� que Ele ser�� luz em nossas
vidas e em nosso mundo.
* * * * *
Os pastores chegaram �� estrebaria.
Observados por alguns curiosos, aproximaram-
se da manjedoura, encontrando-se com o menino
envolto em panos.
67
��� Assim... como os esp��ritos anunciaram ���
murmuravam alguns deles, diante de Maria e de
Jos��.
E, em se acercando respeitosos, ainda mais, os
pastores sentiram que daquela crian��a lhes vinha
uma radia����o de profunda ternura e que, daqueles
olhos sublimes, lhes vinham b��n����os.
��� Sendo este o Salvador ��� come��ou um dos
mais velhos a falar a Maria ��� por que este ber��o
t��o estranho?
Maria sorriu compassiva.
��� Por ser este o Senhor ��� esclareceu a doce-
m��e ��� cabia-lhe dar-nos o exemplo de ren��ncia e
de humildade leg��timas. E, por fazer-se o alimento
espiritual dos que choram e sofrem, est�� neste
tabuleiro singelo para convidar-nos ao banquete
divino das bem-aventuran��as!
68
Todos se sentiam tocados pelo amor daqueles
olhos infantis.
Os pastores, ent��o, voltaram ��s suas tarefas,
agradecendo a Deus por tudo o que tinham visto e
ouvido naquela estrebaria de Bel��m.
E, assim, Maria guardava em seu cora����o tudo
o que via e ouvia, vindo daqueles cora����es
despojados de preconceitos e que, por isso mesmo,
reconheciam no menino-Jesus a presen��a da Luz
na Terra.
69
11
CASA EM BEL��M
Silas, o mais jovem dos pastores, voltou �� sua casa
em Bel��m, chegando com ar pensativo.
��� O que tem voc��, filho? N��o est�� bem?!
O jovem, de olhar distante, suspirou sem oferecer
resposta �� indaga����o de sua m��e, L��dia.
Ela aproximou-se carinhosa.
��� Alguma coisa voc�� est�� escondendo, Silas.
Vamos, fale, filho! Porventura n��o posso participar
de seus pensamentos?
��� Pode, m��e! ��... que... ��� e calou-se.
��� Aconteceu alguma coisa com as ovelhas
entregues aos seus cuidados?
��� Oh! N��o, m��e! Quanto a isso, fique tranquila. Sei
bem cumprir com as minhas obriga����es de pastor.
��� Ent��o... filho?!
71
Silas suspirou novamente, ainda em sil��ncio.
Envolvendo a m��e, num olhar de imenso carinho,
Silas falou:
��� M��e! Se quando nasci, se a senhora estivesse
n��o em casa, mas numa estrebaria... e por leito
tivesse apenas a me dar uma manjedoura, onde
comem os animais... a senhora ficaria grata se
algu��m lhe oferecesse uma casa para abrig��-la...
mesmo que essa casa fosse pobre e modesta
quanto esta?
��� Ora, filho! Voc�� n��o nasceu numa estrebaria e
nem seu ber��o foi uma manjedoura!
��� Eu sei, minha m��e!
L��dia fitou demoradamente Silas.
��� Voc��, Silas, quer me dizer que algu��m se
encontra nessa situa����o dolorosa?
Ele confirmou com um gesto de cabe��a.
��� Deus meu! ��� espantou-se a m��e. ��� Se
algu��m vive esse pesadelo, deveremos prestar-lhe
assist��ncia!
Silas levantou-se sorrindo e beijou as faces de sua
m��e.
��� Ent��o, mam��e! Acompanhe-me at�� a estalagem
de Jac��! E vamos trazer, para este nosso singelo
lar, um casal e... o seu filhinho!
* * * * *
72
L��dia, seguindo Silas, entrou t��mida e quase
incr��dula.
Viu Maria amamentar a crian��a.
��� Meu Deus! ��� exclamou, profundamente
condo��da.
Jos��, que reconhecera de pronto Silas, que
l�� estivera, na noite que passara, com outros
pastores, foi receber o jovem com alegria e com
profunda resigna����o.
Ap��s o abra��o do carpinteiro, Silas se voltou para
L��dia.
��� A�� est��, mam��e! E esta crian��a, debaixo de
nossos olhos, �� o nosso Salvador!
��� Nosso... Salvador?!
E Silas, com sua natural jovialidade, narrou-lhe
a apari����o do Esp��rito, na noite que findara, e
detalhou tudo o que ouvira do Divino Mensageiro,
junto aos demais pastores.
L��dia aproximou-se ainda mais de Maria.
��� Voc��... teve esta crian��a aqui? ��� indagou.
A m��e de Jesus apenas sorriu comovida.
��� Oh! Deus! ��� prorrompeu a m��e de Silas,
comovida ��� Tamb��m sou m��e... e quero oferecer-
lhes o meu singelo lar!
Maria lacrimejou, agradecida.
Silas, de pronto, ajudava o carpinteiro a arrumar
73
seus pertences e, num instante, anunciou euf��rico:
��� Vamos!
Maria ergueu-se, com Jesus em seus bra��os.
Olhou a seu derredor, comovida, guardando em
seu cora����o aquele cen��rio r��stico, onde se dera o
seu divino parto.
��� Ah! S�� lhes pe��o que, antes de sair deste
est��bulo que me comove, em toda a sua singeleza
��� rogou Maria, num tom de verdadeira humildade
e gratid��o ���, s�� lhes rogo que deixemos a
express��o de nosso carinho a tudo que nos rodeia.
E, pondo-se de joelhos sobre as palhas,
acompanhada neste ato por todos os que ali
estavam, trazia o Jesus-menino em seus bra��os,
levanta seus olhos para o Mais Alto e roga:
��� Oh! Deus! Aben��oe mais uma vez este pouso
74
singelo, onde foi de sua vontade tivesse eu este
seu Filho! Aben��oe, tamb��m, a estes d��ceis
animais que nos deram o seu calor, em noite de
inverno, e que nos cederam tamb��m, a sua singela
manjedoura, para que o verdadeiro alimento do
mundo se fizesse entre n��s!
Profunda e sublime serenidade no ar.
Ouviu-se, ao longe, um toque de flauta de um
pastor de ovelhas, a chamar seu rebanho.
E todos caminharam, em sil��ncio, tangidos por
ora����o interior, pelas vielas de Bel��m, na dire����o
do lar de L��dia e de Silas.
75
12
NA CASA DE L��DIA
Amanhecera em Bel��m.
Silas, ap��s a longa vig��lia nos campos do pastoreio,
zelando pelas ovelhas, voltou transpassado de
sono, naquelas primeiras horas de um novo dia.
Antes de adentrar em seu lar, o jovem lavou o
rosto com ��gua fria de uma tina nos fundos da
casa, e sacudiu a cabe��a, espantando os sinais de
cansa��o.
Entrou, refeito, e encontrou-se com L��dia, sua m��e.
Beijando as faces maternas, viu que Maria deixava
seu modesto quartinho e, de pronto, ap��s beijar-
lhe as m��os, indagou:
��� Como est�� o menino?
��� Em paz, Silas! ��� respondeu Maria, tocada
profundamente pela ternura com que o jovem se
referia a Jesus ��� Em paz...
77
��� Posso... v��-lo? ��� indagou t��mido.
��� Claro que sim, meu querido!
Silas, voltando-se para L��dia, tomou-lhe uma das
m��os, e os tr��s adentraram ao c��modo singelo,
onde repousava o menino-Jesus.
A crian��a estava acordada.
Silas, extasiado, atra��do pelo magnetismo que
emanava da crian��a, fitava-lhe os olhos azuis-
esverdeados e acariciava seus cabelinhos loiros
que reluziam no lusco-fusco daquela manh�� fria.
Ajoelhou-se Silas ao p�� do leito.
L��dia, comovida, enxugava algumas l��grimas de
serena alegria e, voltando-se a Maria, afirmou:
��� Oh! Maria! Quando me aproximo deste seu Filho,
nestes olhos infantis reencontro serenidade em
78
meu cora����o! Ele parece... uma luz nova, dentro
deste nosso mundo conturbado!
��� Ele ��... o Salvador! ��� asseverou Silas,
absolutamente convicto ��� �� s�� senti-Lo, para
sabermos que estamos diante do Filho de Deus!
L��dia, voltando-se para Maria, assegurou:
��� Deus lhe confiou um tesouro, Maria!
A m��e de Jesus suspirou.
��� �� um tesouro divino, sim! ��� ela ponderou, num
tom grave ��� E, dentro das profecias correntes
em nosso povo, Jesus "se erguer�� como um
arbusto verde, vivendo na ingratid��o das almas
confundidas e carregar�� o fardo pesado de nossas
culpas e sofrimentos, tomando sobre si todas as
dores, a fim de redimir-nos".
��� Ele parece t��o humilde! ��� confidenciou L��dia
��� Mas, em sua presen��a, como que nascem os
sinais de novas esperan��as para todos!
Maria, ent��o, confidenciou:
��� Queridos! Este meu Filho, de quem sou mera
servidora, marcar�� na Terra o in��cio de novas
esperan��as. Ele ser�� o tesouro de amor e f�� para
todos os infortunados e ser�� vida nova para todos
os desvalidos.
E, ap��s ligeira pausa, Maria completou:
��� Sinto que, no futuro, ser��o os cora����es humildes
e aflitos que lhe guardar��o os divinos ensinamentos,
como um c��ntico de bem-aventuran��as!
79
Silas suspirou, tocado pelas palavras de Maria,
aditando:
��� Sinto que Ele �� o pastor e n��s somos ovelhas
desgarradas de seu rebanho! Seu amor, contudo,
ir�� buscar-nos nos vales da dor e do desencanto,
tangendo-nos para o seu divino aprisco!
��� Voc�� fala a linguagem dos pastores, filho ���
advertiu L��dia ���, e n��o creio ser justa essa sua
compara����o!
Criou-se um sil��ncio inesperado.
Uma luz resplendeu naquele quarto singelo,
causando algum espanto, e, do meio dela, uma
voz branda, qual se fosse o cicio de uma brisa,
anunciou:
��� Filhos, o nosso jovem Silas foi o porta-voz do
Mundo Superior! Jesus ��, realmente, o Divino Pastor
e buscar�� as ovelhas desgarradas de seu rebanho,
chamando-as uma a uma, para retornarem a seu
aprisco. E todas as que forem de seu rebanho, lhe
reconhecer��o a voz, e a Ele se voltar��o.
O leito de Jesus se iluminou.
80
13
SACERDOTES DA P��RSIA
A cidade de Jerusal��m era calma.
Seu grande Templo, orgulho da ra��a, reconstru��do
por Herodes, nomeado Rei da Jud��ia pelo
Imperador Romano ��� esse Templo se fazia,
tamb��m, um centro de boatos que rompiam com a
tranquilidade local.
Nesta hora a cidade fervilhava.
�� que alguns sacerdotes da P��rsia haviam
chegado �� capital do juda��smo e, buscando o p��tio
do Templo, indagavam:
��� Onde est�� o menino que nasceu para vir a ser o
Rei dos Judeus?
��� O que voc��s dizem? ��� perguntou o capit��o da
guarda ��� Um novo Rei dos Judeus?!
��� Sim! �� isso mesmo ��� respondeu educadamente
um daqueles sacerdotes ��� estamos chegando do
Oriente, onde vimos as Luzes que anunciavam o
81
nascimento d'Ele!
��� Voc��s est��o enganados! N��o h�� nenhum outro
rei, a n��o ser Herodes.
��� N��o havia! ��� assegurou outro daqueles
sacerdotes ��� Mas agora h��, e viemos ador��-Lo!
* * * * *
O Rei Herodes espumava de rancor.
Fechando o punho, bateu estrondosamente sobre
o tampo de uma mesa, vociferando:
��� Quero saber! Quero saber!
Os grandes sacerdotes do Templo e os escribas,
convocados ��s pressas para aquela reuni��o no
Pal��cio Real, estremeceram diante da c��lera do
Rei Herodes, por sab��-lo muito cruel, quando
contrariado.
��� Vamos, seus palermas! ��� gritava irado ��� Que
hist��ria �� essa do nascimento de um outro rei, em
minhas terras?
Sil��ncio pesado sobrepairava no sal��o.
��� Onde esse tal de Cristo haveria de nascer? ���
gritou o Rei, examinando a rea����o de cada um
daqueles servidores do Templo ��� Onde? Digam-
me!
O principal deles adiantou-se:
��� Rei Herodes! Segundo a profecia, o Cristo
82
haveria de nascer na cidade de Jud��, no vilarejo
de Bel��m!
��� Que maldita profecia �� essa? ��� prorrompeu o
irado Herodes, dando socos no ar ��� Que profecia
�� essa, sacerdote?
O sacerdote, temente, esclareceu:
��� O an��ncio prof��tico, Majestade, diz: "Voc��,
Bel��m, terra de Jud��, j�� n��o �� de modo algum a
menor entre as cidades de Jud��, porque de voc��
sair�� um guia que h�� de apascentar o meu povo
de Israel."
Herodes avan��ou contra o sacerdote, espumando
de rancor e, tomando-o pelo pesco��o, ordenou:
��� Tragam-me esse falso profeta aqui! Vou mat��-
lo com minhas pr��prias m��os, para que n��o mais
lance perturba����o em meu reino!
��� N��o posso traz��-lo, Majestade!
��� Voc�� me desafia?
��� N��o, meu Rei! N��o o desafio! �� que quem fez
essa profecia foi Miqu��ias, um profeta j�� morto h��
muitos s��culos!
* * * * *
O capit��o da guarda, instru��do por Herodes, foi com
alguns soldados, nas horas da noite, �� estalagem,
onde sabiam estarem hospedados os sacerdotes
do Oriente.
83
��� Onde est��o os persas? ��� indagou do
estalajadeiro, com voz calma, pac��fico.
��� Vieram... prend��-los?!
O capit��o sorriu.
��� N��o! N��o viemos prend��-los, j�� que s��o
estrangeiros bem-vindos ao pal��cio de nosso Rei
Herodes.
Assim, dentro da noite serena, escoltando os
m��diuns da P��rsia, os guardas os conduziram ��
presen��a de Herodes.
��� Ah! ��� exclamou sereno Herodes, ao v��-los em
seu sal��o real ��� Dispense a guarda e deixem-nos
a s��s.
O capit��o atendeu e todos se retiraram.
Herodes aproximou-se do grupo �� sua frente.
��� Os senhores... vieram do Oriente! Quem s��o,
afinal, para que possamos dar-lhes o trato fidalgo
que merecem?
O principal deles respondeu:
��� Somos sacerdotes da religi��o de Zaratustra que,
alguns, conhecem por Zoroastro!
��� Ent��o... s��o homens de... Deus?!
��� Homens a servi��o de Deus! ��� retificou o
sacerdote.
��� E... o que os trouxe at�� este meu reino?
��� �� que, em nosso Templo, na P��rsia, vimos a Luz
do Mais Alto, que nos anunciava o nascimento do
84
Cristo de Deus! E, por sab��-la verdadeira, viemos a
segui-la, atrav��s de nossa clarivid��ncia e... viemos
adorar Aquele que nasceu para liderar o povo de
Israel.
Herodes, a custo, conteve seu impulso agressivo
e, transpirando nervosamente, ensaiou p��lido
��� Eu, tamb��m, quero... ador��-lo! ��� falou Herodes
��� E, por isso, quero que voc��s se dirijam at�� ��
cidade de Bel��m e, informando-se alegremente
sobre esse menino e onde se encontra, voltem
para c��, trazendo-me not��cias dele, para que eu
tamb��m v�� ador��-lo, uma vez que ele ser��... o meu
rei!
��� Deus seja louvado! ��� saudou o m��dium persa
��� Tudo faremos, como Vossa Majestade nos
ordena!
��� Oh! N��o! N��o lhes ordeno, caros sacerdotes!
Suplico-lhes... Pe��o-lhes... j�� que ficarei jubiloso
85
em dele ter not��cias seguras!
* * * * *
Aqueles m��diuns partiram felizes.
T��o logo se puseram em caminhada, rumo �� Jud��,
voltaram a ver a Luz Espiritual do Mais Alto, que os
havia guiado at�� ali.
Acercaram-se de Bel��m.
Um deles, levantando o bra��o, fez que todos
parassem, logo �� entrada do vilarejo.
��� A Luz, pairou sobre aquela casa!
��� L�� deve estar o Senhor! ��� exclamou outro
deles.
Cautelosos e confiantes, avan��aram na dire����o da
Luz.
Bateram �� porta, cora����es envoltos por profundas
emo����es, pressentindo que veriam o Senhor.
Silas abriu-lhes a porta.
��� Aqui... est�� o Salvador? ��� indagou um deles,
esclarecendo a seguir ��� Viemos do Oriente para
ador��-Lo!
Abrindo inteiramente a porta, Silas correu avisar
Maria da visita inesperada.
Maria veio receb��-los.
��� Voc��... �� a m��e? �� a m��e d'Aquele que reger��
86
o povo de Israel?
Maria os fitou, enternecida.
��� Sou a serva do Senhor! E Jesus, meu filho,
naturalmente se far�� servidor de todos os povos,
doando seu cora����o para a causa da Harmonia e
do Bem!
O m��dium ajoelhou-se, aos p��s de Maria, beijando-
Ihe as m��os, em l��grimas de verdadeira felicidade.
��� Ah! Finalmente o Cristo!
��� Levante-se, bom homem ��� rogou Maria ��� j��
que n��o ser�� a meus p��s que se far�� a Luz do
Mundo.
E, abrindo a porta do quarto, Maria disse-lhes:
��� Aqui est�� o Senhor!
87
Os m��diuns do Oriente, movimentando-
se mansamente, um a um adentraram ao
compartimento singelo e, diante do menino, que
os acolhia com luz em seu olhar, ajoelharam-se
comovidos e O adoraram, orando.
* * * * *
Horas mais tarde, com a noite j�� presente, num c��u
salpicado de estrelas, hospedaram-se os m��diuns
na estalagem de Jac��.
Foram visitar o est��bulo, na companhia de Silas.
Ouviram, dos l��bios do jovem pastor, as narrativas
sobre o an��ncio do nascimento de Jesus, quando
se encontrava com seus demais companheiros no
campo das ovelhas.
��� Levaremos a Boa Nova ao Rei Herodes! ���
assegurou um deles ��� Esta not��cia deve percorrer
todo este nosso mundo, com destaque aos apelos
dos Esp��ritos Superiores de que tenhamos "boa
vontade para com todos os homens".
E, dali, foram repousar.
Durante a noite, contudo, quando j�� se confiavam
ao sono reparador, o mesmo Esp��rito que os guiara
at�� ali, materializou-se diante deles.
��� Oh! Deus! ��� agradeceu um dos sacerdotes ���
Que fizemos para merecer t��o alta gra��a?!
��� Amigos ��� disse-lhes o Esp��rito Benfeitor ��� n��o
88
retornem ao pal��cio de Herodes! J�� que voc��s
viram o Cristo de Deus, afastem-se de Jerusal��m
e voltem ao Templo de sua f��, anunciando a todo
o Oriente que a Miseric��rdia Divina se faz entre
todos!
E, assim, esses sacerdotes voltaram �� P��rsia, sem
passarem pela cidade de Jerusal��m!
89
14
DESPEDIDAS
Silas n��o dormira bem aquela noite.
Assim �� que, mal o sol despontara, aos clar��es
de um novo dia, iluminando o casario singelo de
Bel��m, o jovem colocou-se ao lado do leito em que
se encontrava o menino Jesus.
Jos�� aprontava o alforje, com as poucas coisas
que possu��am.
Maria, entrando e saindo do pequeno quarto
acolhedor, onde recebera in��meros visitantes e
curiosos e at�� a comiss��o de m��diuns da P��rsia,
aprestava-se para a viagem, endere��ando ternos
olhares a Silas.
��� Eu... queria estar com Ele! ��� confessou Silas,
num tom j�� de imensa saudade ��� Sinto-me, Maria,
ao lado de seu filho, qual uma ovelha que se abriga
no amor de seu pastor!
L��dia, com carinho, ponderou:
91
��� Embora quis��ssemos reter este Menino-Luz,
junto de nossas almas, Silas, aceitemos o alvitre
da Provid��ncia Divina, dando-nos por felizes por
t��-Lo abrigado em nosso singelo lar.
Maria sorriu docemente, lembrando:
��� Se a lei divina da maternidade foi o caminho
escolhido pelo nosso Salvador, isso significa que
Ele quer que se cumpram todas as leis, Silas!
Ligeira pausa e Maria complementou graciosa:
��� Se na lei de nosso povo est�� escrito que "todo
primog��nito de sexo masculino ser�� consagrado
a Deus", iremos at�� o Templo de Jerusal��m para
ofertar Jesus ao Pai Celestial.
��� Mas... Ele �� o Filho de Deus! ��� contrap��s Silas,
demorando-se a contemplar o menino no leito.
��� �� mais uma raz��o, Silas ��� ponderou Maria ���
para que fa��amos tudo como nos �� imposto!
��� Eu... ��� ia discordar Silas.
Maria, colocando delicadamente os seus dedos
sobre os l��bios do jovem, considerou:
��� Se Jesus, que �� o Salvador, n��o mandou os
esp��ritos que O auxiliam a alertar-nos sobre outros
rumos a lhe serem dados, guarde a certeza, Silas,
de que temos de nos inclinar diante do que foi
prescrito por Mois��s!
Silas suspirou.
Maria, reclinando-se sobre o leito, tomou o
menino-Jesus em seus bra��os, enquanto Jos��
92
se aproximava ap��s ter ultimado os derradeiros
preparativos para a viagem.
��� Vamos a Jerusal��m! ��� afirmou Jos��, num tom
de pesar e gratid��o.
L��dia abra��ou-se ardentemente a Maria e, com
ternura, derramou doces l��grimas sobre a crian��a
que estava junto ao cora����o maternal.
J�� na porta, Silas beijou a fronte do menino-Jesus.
��� Silas ��� disse-lhe Maria, comovida ��� voc��
estar�� sempre em meu cora����o e, com isso, reparto
com a nossa L��dia a sua maternidade, tomando um
peda��o de sua alma, como se fosse parte de minha
pr��pria vida!
93
O jovem sentiu-se confortado e feliz.
��� M��e de meu Salvador ��� sussurrou Silas,
resignado ��� jamais hei de esquec��-la e... um
dia... espero em Deus, voltaremos a nos ver, sob
as b��n����os deste seu filho, Jesus!
Maria e Jos�� tomaram o rumo de Jerusal��m,
enquanto L��dia e Silas os viam distanciar-se
debaixo de uma t��nue cortina de l��grimas de amor
fraternal.
O casal, j�� distante, antes de uma curva que os
colocaria fora do alcance das vistas de Silas, parou
e voltaram-se ambos �� dire����o do lar que lhes
servira de abrigo.
Maria, olhando seus amorosos hospedeiros,
embora �� dist��ncia, ergueu Jesus na dire����o do
sol e uma luz serena, como que partia do cora����o
do menino em dire����o a L��dia e Silas.
O jovem pastor solu��ou, caindo de joelhos ao ch��o!
94
15
EM JERUSAL��M
Sime��o sentia-se enfermo.
Entregava-se, por inteiro, ao socorro de criaturas
infelizes que viviam em casebres mis��rrimos, no
arrabalde de Jerusal��m,
Caminhando com alguma dificuldade, aquele
homem que amava os desvalidos, alcan��ou as
ru��nas daquela que j�� fora formosa casa, por ela
penetrando destemeroso, apesar das sombras.
��� Jac��! Jac��! ��� murmurava Sime��o, entre as
sombras �� sua volta que lhe dificultava a vis��o de
quem ali estivesse ��� A q u i estou, Jac��! Sou o seu
amigo Sime��o.
E, naquele instante, arrastava-se um pobre
mendigo, recoberto por panos envelhecidos e
rotos, e que vinha atender ao chamado fraternal.
��� Oh! Sime��o! ��� falou o infeliz, em voz cavernosa.
Sime��o, homem justo e piedoso, sentou-se ao lado
95
de Jac��, o pobre leproso, trazendo-lhe a cabe��a
sofrida a seu colo.
��� Tenho sede! ��� murmurou Jac�� ��� Tenho fome!
��� Trouxe-lhe tudo o que voc�� precisa, Jac��! E se
mais n��o lhe posso dar, dou-lhe o meu cora����o e
o meu carinho!
E, entressorrindo, Sime��o completou:
��� Tamb��m me sinto doente, Jac��!
��� Oh! Pelo amor de Deus, Sime��o! N��o diga tal
coisa! Se voc�� n��o me visitar, morrerei �� m��ngua!
��� N��o, Jac��! Embora os homens lhe evitem, sob
o falso argumento de que voc�� �� impuro, por ser
um leproso, voc�� tem em Deus a pureza d'alma!
E, mesmo que eu lhe venha a faltar, Deus n��o lhe
faltar��.
��� Ser��?! De onde lhe vem essa certeza, Sime��o?
��� �� que eu sei que, em breve, o Salvador estar��
entre n��s.
E, baixando a voz, quase em confiss��o amorosa,
Sime��o destacou:
��� Um Esp��rito do Senhor, em me visitando esta
noite, Jac��, assegurou-me de que eu n��o morreria
sem primeiro ver o Cristo de Deus!
��� Ver... o Cristo de Deus?!
��� Sim, Jac��! O Cristo de Deus, nosso Pastor e
Guia, que trar�� luzes e consola����o aos que sofrem,
j�� deve estar a caminho de Jerusal��m e, por isso,
sei que vou v��-Lo no Templo de nossa f��.
96
Sime��o, benevolente, deu ��gua e alimento a
Jac��, aconchegando-o a seu peito, qual se aquele
farrapo humano, abandonado por todos, fosse um
filho de seu cora����o.
* * * * *
Ana, filha de Fanuel, vi��va de seus oitenta e quatro
anos, m��dium de grandes virtudes, chegava
novamente ao Templo de Jerusal��m, onde
permanecia orando, aguardando a hora do Senhor.
Consolava mendigos e aflitos.
��� Ah! ��� dirigiu-se ao pobre Jairo ��� Sente-se mais
animado hoje?
��� Um... pouco ��� respondeu o interpelado ���
fiz ora����es, aqui mesmo neste p��tio, j�� que n��o
me admitem dentro do Templo, �� vista de minha
mis��ria.
��� E... como se sentiu?
��� Senti-me como um menino... repleto de
esperan��as, Ana! Como algu��m que espera
muito... e sabe que n��o tem direitos de reclamar!
Ana sorriu, confortadora.
��� Em verdade, Jairo, nenhum de n��s tem
merecimento, por muitos serem os nossos desvios
do Bem, no curso de nossas vidas! Contudo, a
miseric��rdia de Deus nos suporta e nos socorre!
E Jairo, ent��o, queixou-se amargurado:
��� Os guardas do Templo nos enxotam, Ana! N��o
nos querem aqui o tempo todo, dizendo que a
97
nossa presen��a traz tristeza aos que vem orar na
casa do Poderoso!
��� O Cristo vir�� ��� anunciou Ana convicta, diante
dos demais desvalidos ��� e, quando o Senhor
chegar, haver�� de dar-nos o P��tio do Amor, para
que nos levantemos na dire����o do Mais Alto.
* * * * *
Sime��o e Ana estavam no Templo.
Eis, ent��o, que Maria e Jos�� entraram, t��midos,
deslumbrados com a riqueza das edifica����es e das
solenidades religiosas, trazendo o menino-Jesus
para consagr��-Lo a servi��o do Criador.
98
Sime��o, num ��mpeto, avan��ou na dire����o do casal,
seguido de perto por Ana.
��� Senhora! ��� disse Sime��o, respeitoso, com olhar
fixo no menino que Maria carregava com carinho e
ternura ��� Deixe-me tomar o Salvador em meus
bra��os.
Maria, confiante, entregou-lhe o menino.
Sime��o, caindo de joelhos diante do perplexo
sacerdote do Templo, sentiu-se envolto por Esp��ritos
de Luz e, sob essa influencia����o do Mundo Maior,
clamou:
��� Oh! Senhor! Deixe que este seu servo, agora,
v�� em paz deste mundo, segundo a sua promessa,
j�� que em meus bra��os est�� o Salvador do mundo!
Sei que este menino, nosso Salvador, como uma
luz ��nica e inconfund��vel, iluminar�� todas as na����es
99
e ser�� a gl��ria do povo de Israel!
Levantando-se Sime��o aben��oou a Jos�� e a Maria
e, dirigindo-se mais particularmente �� divina M��e,
anunciou-lhe:
��� Este menino �� o nosso Salvador! Ele ser�� a
causa da queda dos duros de cora����o e, por outro
lado, levantar-se-�� como a esperan��a de reden����o
de muitos.
E, ap��s verter l��grimas, Sime��o complementou:
��� Maria, este seu filho, Luz em nossas trevas de
sentimentos, revolver�� os cora����es humanos e,
por isso, muitos ser��o os que se opor��o ao seu
divino minist��rio. Mas, muitos outros ser��o os que,
por Ele, ser��o libertados das dores e das trevas.
Ana secundava-lhe o j��bilo.
��� Oh! Deus! ��� exclamou a profetisa Ana ��� Este
Jesus �� a porta das ovelhas! Ele, o Cristo de Deus,
nos libertar�� dos pesados fardos que os sacerdotes
nos imp��em e enxugar��, como Pastor Divino, as
l��grimas das ovelhas que ouvirem a sua voz!
Jos�� sentiu-se apreensivo.
Maria, contudo, com Jesus novamente em seus
bra��os, sentia-se a mais ditosa de todas as m��es,
embora soubesse que Jesus seria um renovador
de costumes e que, por isso, sofreria sarcasmos,
oposi����o e persegui����o de muitos.
Maria beijou Sime��o e Ana, comovida, deixando-
os em l��grimas.
100
16
FUGA
A manifesta����o de Sime��o, no instante que Maria e
Jos�� ofereciam seu menino a servi��o de Deus, e as
not��cias propaladas pelo cora����o justo e generoso
da profetisa Ana, rapidamente se espalharam pelas
cercanias do Templo de Jerusal��m.
Maria e Jos��, at��nitos, embora profundamente
tocados no fundo d'alma com o carinho com que se
recobrira seu filho, Jesus ��� j�� ganhavam dist��ncia,
indo na dire����o dos afastados bairros do centro da
cidade de Jerusal��m.
Jos�� guardava alguma preocupa����o.
��� Que esperam de nosso filho, Maria? Parece-
lhes que um anjo chegou do Mais Alto, para ficar a
disposi����o de todos.
Maria sorriu.
��� �� o nosso anjo de Deus! ��� temperou a jovem
m��e, demorando seu olhar sobre o filho que lhe ia
101
no colo ��� E se os justos, que servem ao Pai no
Templo, guardam a certeza da miss��o redentora
que cabe a Jesus, �� porque eles s��o os espelhos
da Miseric��rdia Divina!
E, assim, seguiam adiante, permutando doces
esperan��as.
* * * * *
O Rei Herodes, procurado em particular por seus
colaboradores diretos, recebeu a informa����o sobre
o que ocorrera no Templo.
��� Inferno! ��� vociferou ��� Ser�� que esse tal de
Salvador me esteve quase sob minhas m��os!
Irado, amea��ava:
��� Vou mandar cortar a l��ngua de todos voc��s que
s�� me trazem m��s not��cias! E que n��o servem,
num s�� momento, para levar-me a colocaras m��os
sobre o pequeno embusteiro!
Os seus auxiliares estremeceram.
��� Como chegar a ele?! ��� gritou, em quase crise
de medo ��� Se deixar escap��-lo, mesmo que ele
n��o se fa��a um l��der diante de Israel, a lenda de
sua exist��ncia e a sombra dele levar�� muitos a me
desobedecerem.
��� N��o sabemos onde eles se hospedam. Deve
ser a casa de algum nobre... se efetivamente esse
menino for a semente de um Rei! ��� fala um deles.
102
Herodes estremeceu.
Entrando em sil��ncio, ao consultar a si mesmo, eis
que reabre os olhos, em chispas de ��dio.
��� Tragam-me Sime��o e Ana! Esses dois devem
ser comparsas e, assim, atrav��s deles chegaremos
ao tal do menino.
E, nesse cair da noite, os soldados de Herodes
vasculharam por todas as vielas, em busca de
Sime��o e da profetisa Ana.
* * * * *
Jos�� buscava o leito.
Deitou-se, sentindo-se temeroso, diante de todo
alarde decorrido do cumprimento da Lei de seus
profetas.
103
��� Maria... ��� ele ensaiou, quase a falar-lhe no
ouvido, bem junto de si ��� estou... em ang��stia!
��� Por que Jos��?
Ap��s ligeira hesita����o, o seu esposo continuou:
��� N��o sei a raz��o, Maria! A fala de Sime��o e a
alegria de Ana parecem ter deixado o sacerdote do
Templo em estado de contrariedade...
��� Durma tranquilo, Jos��! Se o que �� humano pode
perturbar a ordem divina por alguns momentos,
lembremo-nos de que tudo se recompor��, no
tempo de Deus!
Maria acariciou os cabelos de Jos��, qual m��e a
desvelar-se pelo filho.
Candeia apagada, sombras no humilde
compartimento, o menino em seu tosco leito... e
dormiram.
* * * * *
Sime��o e Ana foram levados ao pal��cio de Herodes.
O Rei, a passadas largas e calculadas, olhar que
chispava fagulhas de ��dio contido, aproximou-se
amea��ador de Sime��o.
Olho no olho.
��� Voc�� ��� disse Herodes ��� acolheu uma crian��a
no Templo, consagrando-a como o Salvador?
��� Eu a aguardava h�� anos, senhor! Esperei-O at��
104
agora, para que eu pudesse desencarnar, ap��s v��-
Lo!
��� E... onde est�� essa crian��a?
Sime��o fitou-o sereno.
��� O senhor, que �� Rei, n��o sabe onde encontr��-
la? E quer encontr��-la... por qu��?
��� Responda-me: onde est�� essa crian��a?
Sime��o suspirou e asseverou:
��� Sendo aquele menino o Filho de Deus, sugiro-
lhe dirigir-se ao Divino... e a Ele endere��ar essa
pergunta!
��� Mas... n��o �� voc�� um m��dium? N��o foi voc��
que secundou a consagra����o desse menino?
E, quase sufocando Sime��o, Herodes gritou:
��� Responda-me: onde ele est��?
* * * * *
Jos�� agitou-se no leito.
Sentou-se de pronto, com bagas de suor a
derramar-se por todo o seu corpo.
�� sua frente, um Esp��rito.
��� Jos�� ��� diz-lhe o Emiss��rio Celestial ��� conv��m
que voc�� desperte Maria e, todos os tr��s, devem ir
ao Egito!
105
��� Como? Por qu��?
��� As sombras espirituais sitiaram o cora����o de
Herodes e, por isso, levantem-se, como lhes
ordeno, e tomem o destino do Egito.
Maria despertou tamb��m.
Aceitando que estavam recebendo uma visita do
Mais Alto, t��o logo foi informada da urg��ncia de se
retirarem para o Egito, concordou com o aviso.
Ainda noite, furtivamente, juntaram seus poucos
pertences e, com o Esp��rito �� sua frente, tomaram
a dire����o indicada, seguindo ap��s os passos do
Emiss��rio Celestial.
J�� estavam distantes de Jerusal��m.
106
O Esp��rito ia despedir-se, deixando-os a s��s,
quando Jos�� indagou, algo aflito:
��� E... por que ir ao Egito?
��� �� que Herodes quer matar o menino e, tamb��m, ��
porque assim se cumprir�� a profecia que anunciou:
"Do Egito chamarei meu Filho."
Eram as despedidas.
��� At�� quando ficaremos l��, amigo? ��� indagou
Jos��, antes que o Esp��rito desvanecesse diante de
seus olhos ��� At�� quando ficaremos l��?
��� No tempo justo, Jos��, irei avis��-los e, at�� que eu
os avise, permane��am no Egito.
E Maria, silenciosa, guardava estas coisas em seu
cora����o.
107
17
NO EGITO
Jos��, alguns passos �� frente de Maria, parou e,
depois de enxugar do rosto as bagas de suor,
apontou um vilarejo.
��� Eis Matarieh, Maria! ��� disse o carpinteiro,
trazendo a esposa num abra��o, junto a seu peito
��� �� onde ficaremos!
��� Gra��as ao Criador, estamos a salvo com nosso
filho, Jos��! ��� exclamou Maria, aconchegando o
menino-Jesus em seu colo.
E avan��aram na dire����o da cidadezinha eg��pcia,
algo sobressaltados por estarem penetrando por
terras estranhas.
Contornaram o pequeno lago que, ao fundo,
emoldurava a pir��mide de Giz��, com algumas
palmeiras e seus arbustos.
Sentaram-se, exaustos, na areia!
Aproximou-se deles uma senhora.
109
�� pequena dist��ncia, a estranha os examinava e,
num ��mpeto, acercou-se ainda mais.
��� Voc��s s��o... judeus? ��� ela indagou ��� Vejo
pelas suas roupas e modos, que voc��s s��o parte
de nosso povo!
��� Sim! ��� confirmou Jos�� ��� Somos judeus, em
busca de um lar.
Sara, ent��o, achegou-se �� fam��lia e, em vendo o
menino abrigado no colo materno, comoveu-se.
��� Formamos, n��s, os judeus, uma pequena
comunidade nesta regi��o, de onde sa��ram os
nossos condutores espirituais ��� informou Sara ���
e, como voc��s s��o rec��m-chegados, venham ao
meu lar.
* * * * *
110
Maria estava refeita da longa peregrina����o atrav��s das estradas desertas e poeirentas e, aceita confiar
o filho a um leito acolhedor, na casa de Sara.
Jos��, sentado �� sala, assegurou:
��� N��o queremos ser pesados ao seu lar, Sara.
��� E n��o ser��o! Sou vi��va, sem filhos e quase sem
parentes diretos e... voc��s trazem alegria ao meu
solit��rio cora����o, meu bom amigo!
��� Sou carpinteiro, Sara! E, como existem outros
judeus nessa regi��o, poderei retirar o nosso
sustento, servindo aos que necessitam de meus
pr��stimos.
Sara sorriu.
E Maria, delicada, afirmou:
��� Ficaremos apenas o tempo necess��rio, Sara!
N��o queremos ser um peso ao seu lar e nem
queremos alterar o seu sistema de vida!
��� Ora, Maria! Voc��s s��o a fam��lia que me faltava
e, por isso, quero-os aqui, n��o s�� em minha casa,
mas tamb��m em meu cora����o!
Maria beijou as m��os calosas de Sara.
* * * * *
A noite chegava serena.
Sara, saindo do quarto onde estava o menino-
Jesus, sentou-se defronte a Maria.
111
��� Este seu filho, Maria, irradia uma ternura
celestial! E, mais que uma simples crian��a, parece-
me algu��m descido a este mundo com alguma
miss��o sobre-humana!
Maria sorriu t��mida.
Sara, ap��s fit��-la longamente, disse-lhe:
��� Aqui, no Egito ��� esclareceu a benfeitora ���
recolhemos muito da cultura do nobre povo eg��pcio
e, entre outras de nossas conquistas, alguns de
n��s aprendemos a desenvolver a mediunidade!
��� Ah! Voc��s se familiarizaram com os Esp��ritos do
Senhor! ��� exclamou a m��e de Jesus ��� E, como
n��s, voc��s recebem a orienta����o amorosa deles?!
��� Exatamente isso, Maria!
E, ap��s breve pausa, Sara complementou:
��� Assim como Mois��s, um grande m��dium a
servi��o do Senhor, medianeiro dos Mandamentos
Divinos, trazendo-nos as t��buas da Lei, tamb��m
n��s, na intimidade do lar, acolhemos revela����es do
Mais Alto.
* * * * *
Os meses flu��ram c��leres.
Jesus, na casa de Sara, parecia ter duas m��es,
tais eram os cuidados de que se via cercado e com
a ternura com que Sara e Maria se desvelavam por
Ele.
112
E, ao cair de cada noite, quando a natureza se
asserenava, reuniam-se todos, junto ao menino, em
ora����es tocantes, t��o profundamente emotivas que
a casa era toda invadida por orvalho perfumado.
* * * * *
Jos��, ap��s um dia de atividades exaustivas,
recolheu-se ao leito, buscando o refazimento de
suas energias.
Maria, ao seu lado, sentia-se, naquela noite,
singularmente saudosa das paisagens da Jud��ia.
Ela adormeceu serena, com algumas gotas
de l��grimas a lhe perolizarem as faces r��seas,
guardando infinita gratid��o por tudo o que recolhia
naquela regi��o t��o distante de seu lar.
S��bito, Jos�� estremeceu.
Abriu os olhos e, �� sua volta, sentia que mais
algu��m chegava ��quele dormit��rio singelo.
Sentou-se no leito, atento.
Um Esp��rito materializou-se �� sua frente e,
ap��s uma sauda����o de paz, o Emiss��rio Divino
assegurou-lhe:
��� Jos��, j�� est��o mortos aqueles que intentavam
contra a vida de seu filho, Jesus!
��� O Rei Herodes... morreu?! ��� Jos�� gaguejou.
��� Sim! Morreram o Rei Herodes e seus comparsas!
�� hora, portanto, de voc�� levantar-se e tomar o
113
menino e a sua m��e, Maria, e retornarem �� terra
de Israel.
Jos�� estava confuso e Maria acordou.
O Esp��rito voltou-se, ent��o, para Maria e disse-lhe:
��� Senhora! Cumpre-se, agora, a profecia de
Os��ias: "Do Egito chamarei meu Filho."
* * * * *
O dia clareara.
Maria, chegando-se a Sara, junto ao fog��o daquele
lar, buscava em seu interior algumas palavras
fraternais, para comunicar-lhe de que voltariam a
Israel.
A jovem, por��m, sentia-se constrangida.
Sara, contudo, ao notar-lhe o embara��o, abriu-se
num sorriso fraternal, dizendo-lhe:
��� Eu sei, Maria! Os Esp��ritos do Senhor nos
visitaram esta noite e, por disposi����o divina, voc��s
dever��o retornar a Israel!
��� Mas... deixo meu cora����o com voc��, Sara!
Jamais esquecerei este tempo em que o seu lar se
transfigurou em meu lar e em que o seu cora����o se
tornou meu cora����o!
* * * * *
114
�� porta da rua, pr��ximas ao vilarejo bem-amado,
beijaram-se em l��grimas de amor fraternal.
��� Estarei orando por voc��s, Maria! E, quando
este menino crescer, diga-lhe que, daqui do Egito,
algu��m o ama profundamente!
E, subordinados aos des��gnios divinos, Maria e
Jos��, junto com Jesus-menino, foram distanciando-
se lentamente, acenando a Sara que, em doces
l��grimas, dizia de si para si mesma:
��� O Cristo de Deus, em meu lar!
115
18
O��SIS
O solo era ��spero e arenoso.
Um vento forte, soprando na dire����o sul, obrigava
Maria a desvelar-se pelo menino em seus bra��os,
recobrindo-lhe a cabecinha.
Jos�� protegia-se tamb��m.
E, ap��s caminharem um tanto mais, avan��ando
contra o vento e poeira forte, o carpinteiro ergueu o
bra��o, apontando para o norte e, voz semiabafada
em sua t��nica, anunciou:
��� Veja, Maria! Um o��sis!
Redobrando esfor��os e revitalizados pela
esperan��a, com o vendaval a espanc��-los pelas
costas, alcan��aram aquele lugar que era um pouso
de caravanas.
S��bito, uma quietude!
Deram mais alguns passos, entre as palmeiras
apascentadas, aproximando-se de pequeno e
117
tranquilo lago, marulhado por refrescante brisa.
Jos�� limpava-se do p��.
��� Deus meu! ��� exclamava o carpinteiro ��� Somos
provados pela pen��ria e pela dor!
Maria, colocando o menino-Jesus sobre o manto
que estendera no solo arenoso, tinha os olhos e
o cora����o voltados inteiramente para seu filho e,
diante do ligeiro mal-estar do carpinteiro, advertiu-o:
��� Somos servidores, Jos��! Alegremo-nos, diante
das dificuldades m��nimas, afim determos condi����es
de equil��brio para suportaras dificuldades maiores...
sem lamenta����es!
E, fitando o menino, acrescentou:
��� Debaixo do olhar deste nosso filho, Jos��, veja
que somos ditosos!
��� Ditosos... Maria?!
��� Sim, querido companheiro! Cada hora nossa,
cada momento de nossa vida, tem sido marcado
pela manifesta����o dos Esp��ritos do Senhor! E
se esta nossa crian��a, precioso fardo que o Pai
Celestial nos confiou, a tudo se submete com
resigna����o e brandura, que direito teremos de
lamentar-nos, n��s que somos meros servos?
Jos�� sentou-se junto dela.
Ouviram, ent��o, gritos e ru��dos de uma caravana,
com dromed��rios chegando debaixo das vozes de
comando de caravaneiros.
Um daqueles camelos de pesco��o curto e de uma
118
s�� corcova aproximou-se d��cil, embora exausto, e
acomodou-se perto de Maria, como se estivesse a
proteg��-la.
O menino-Jesus, olhos cintilantes, afagou o animal.
Samuel, acompanhado de seus auxiliares, ao ver
a cena e aos que ali estavam, acercou-se sol��cito:
��� Est��o... perdidos? ��� indagou Samuel.
��� N��o, meu bom senhor ��� informou Maria ���
estamos nos refazendo de uma longa, mas doce
caminhada.
��� De onde voc��s vem?
��� Do Egito ��� informou Jos��.
119
��� E... caminham a s��s?! ��� espantou-se o chefe
dos caravaneiros ��� E, al��m de s��s, ainda trazem
uma crian��a?!
Maria sorriu e respondeu:
��� Ningu��m caminha s��, Samuel! Se estamos em
Deus, o nosso Criador �� nosso guia e sublime
protetor!
Samuel, tocado por aquelas palavras, indagou:
��� A senhora... cr�� assim?
��� E por que n��o demonstrar essa confian��a,
Samuel, se todos somos filhos do Criador?
Samuel, perplexo, chamou a seus auxiliares.
��� Vamos! Vamos! ��� apressava-os ��� Tragam
t��maras e alimentos, para estes filhos do Alt��ssimo!
* * * * *
O c��u estava salpicado de estrelas.
O filho de Maria, Jesus, estava cercado pelos
caravaneiros, homens r��sticos de vida dif��cil, que
se sentiam atra��dos pelo doce magnetismo que
emanava do menino.
Fogueira acesa.
��� Para onde voc��s se destinam, Jos��? ��� indagou
Samuel, como algu��m que se prontificava a ofertar-
lhes prote����o.
120
Ap��s ligeira hesita����o, o carpinteiro informou:
��� Vamos �� Jud��ia!
��� O reino de Arquelau! ��� mastigou essas palavras
Samuel ��� Que m�� hora voc��s escolheram para
retornar �� Jud��ia!
��� Quem �� Arquelau? ��� perguntou temeroso Jos��,
impressionado pelo tom de voz do caravaneiro ���
Voc�� fala dele... como se fosse um mau homem!
��� E ��, Jos��! Depois da morte do pai Herodes,
Arquelau, seu filho, assumiu o trono do pai! E,
desde ent��o, Arquelau tem escandalizado os seus
s��ditos, com uma vida desregrada, al��m de todas
as persegui����es e injusti��as que pratica.
Jos�� estremeceu.
��� Ele tem, debaixo de seus p��s, os poderes da
fun����o de Etnarca da Jud��ia, de Samaria e da
Idum��ia ��� e, baixando a voz, como se fosse revelar
um segredo, aditou: ��� Al��m disso... Arquelau tem
nomeado como sumo sacerdotes, homens que tem
vida desregrada!
��� Deus meu! ��� externou seu espanto o carpinteiro.
Maria, que tudo ouvira, sentiu o cora����o opresso.
* * * * *
Sil��ncio no o��sis e nas tendas armadas para o
121
repouso noturno.
O pequeno lago, onde todos se dessedentavam,
abranda a can��cula da noite e, por isso, todos
adormeceram serenos.
Jos��, inseguro, ruminava temores.
Um Esp��rito amigo, naquela hora, corporificou-
se dentro da tenda, surgindo-lhe diante da vis��o,
colocando-se Jos�� em alerta.
��� N��o v�� para as regi��es da Judeia, Jos��! Voc��
bem ouviu de Samuel, os relatos verdadeiros!
��� E... para onde iremos, ent��o?!
��� V�� para a Galileia, Jos��! Recolha-se na pac��fica
vila de Nazar��, j�� que se deve cumprir a profecia:
"Meu Filho ser�� chamado Nazareno."
* * * * *
Meses depois, Maria e Jos��, levando Jesus que
lhes tomara as m��os amigas, penetravam pelas
vielas de Nazar��, revendo cenas e pessoas
amigas com quem j�� haviam partilhado sonhos e
esperan��as.
��� Nosso primeiro lar! ��� exultava Maria,
profundamente emocionada.
��� Aqui... come��aram nossos sonhos, Maria ���
122
confessou-lhe Jos��.
��� E ser�� daqui ��� enunciou Maria ��� que sair��
o Nazareno, para levar Luz e Amor a todos os
desvalidos do mundo!
E o sol, j�� a pino, iluminava o vilarejo singelo!
123
19
NA FONTE DE NAZAR��
Jos�� estava entregue a seu servi��o de carpintaria
e, suarento naquela manh�� de sol forte, enxugou
gotas de suor do rosto.
Voltou-se e, vendo Jesus, sorriu-lhe amoroso.
��� Ah! Meu filho, voc�� estava a��? Via o meu trabalho
dif��cil!
O menino, em seus dez anos, sorriu tamb��m.
��� Todo trabalho, feito com amor, �� b��n����o do Pai
Celestial ��� considerou o menino ��� e quero, por
isso, aprender o seu engenho e arte.
��� N��o creio... seja este o seu servi��o! ��� advertiu
Jos�� ��� Desde seu nascimento, sei de sua
predestina����o.
��� No entanto, Jos��, se voc�� me deixar ajud��-
lo, educarei minhas m��os em obras edificantes e
necess��rias.
125
O carpinteiro voltou a sorrir e afagou os cabelos de Jesus, num gesto de muita ternura.
��� Entre n��s, os judeus, meu filho, temos por h��bito
iniciar os filhos em servi��os que lhes ocupem
as m��os, a fim de que as cabecinhas n��o vivam
apenas povoadas de ideias!
Jesus sorriu, compreensivo, dizendo:
��� Bem por isso, meu pai, quero aprender seu of��cio
e, longe de s�� ter ideias que falem do Mais Alto,
quero alimentar-me de atos que exemplifiquem o
Amor.
O carpinteiro franziu a testa, meio confundido.
��� Isso... n��o �� cedo demais, menino?! Em sua
idade, os meninos brincam em Nazar��!
Jesus tornou a sorrir docemente.
Nisso, ouviram Maria cham��-lo da frente de sua
casa e Jos�� recomendou:
��� V��... que sua m��e lhe chama, menino!
O menino, fitando o pai, assegurou-lhe:
��� Vou atend��-la, meu pai! Mas insisto em aprender
a sua profiss��o, at�� que chegue a minha hora!
E Jos��, apanhando a enx��, ficou pensativo, vendo
seu filho ir em dire����o a Maria, sempre submisso e
com gestos de ternura.
* * * * *
126
��� Filho ��� disse Maria a Jesus, t��o logo ele chegou
�� cozinha ���, v�� at�� a fonte, buscar ��gua!
E Jesus atendeu sua m��e.
Chegando �� fonte, apanhava ��gua numa tina.
Aproximou-se dele, naquele instante, um jovem
de uns vinte anos e, de olhos e gestos inquietos,
disse-lhe:
��� D��-me de beber!
Jesus tomou de uma jarra e deu-lhe ��gua,
demorando-se a examin��-lo e o jovem, ap��s
alguns goles d'��gua, sentindo-se estranhamente
penetrado por aquele olhar, indagou:
��� O que v�� em mim, menino?!
127
��� Voc�� �� Barrab��s?
��� Sim! ��� respondeu o jovem, olhando a seu
derredor, algo temeroso ��� Voc�� me conhece?
O menino confirmou com um gesto.
��� Vejo em seu cora����o, Barrab��s, que voc��
est�� atormentado por sombras espirituais. N��o
se apercebe, por isso, de que somente o amor ��
liberdade e luz em nossas vidas.
��� Voc��... �� uma crian��a estranha!
Jesus tomou-lhe a m��o direita.
��� Venha ao lar de minha m��e, Barrab��s! E
comendo do mesmo p��o que comemos, aperceba-
se da b��n����o de Deus de termos um lar e n��o
vivermos como as raposas que tomam o que n��o
fizeram por merecer!
E Barrab��s, docemente constrangido, se deixou
conduzir.
* * * * *
Maria, quando Barrab��s estava em sua mesa, na
sala, chamou a Jesus em particular.
��� Por que voc�� trouxe Barrab��s �� nossa mesa,
filho? Sabe-se, em toda parte, que ele n��o �� um
homem justo e temente a Deus!
Jesus sorriu e considerou:
��� Minha m��e, por n��o ser ele um homem justo
128
ainda, e que n��o ama o nosso Pai Celestial,
confundindo-se com os valores perec��veis deste
mundo, eu o trouxe bem pr��ximo de seu cora����o!
Se fosse ele um justo e algu��m que tivesse o c��u
no cora����o, por certo de que n��o necessitaria
deste seu lar!
Maria sorriu, envergonhada.
��� Voc��, filho, est�� em busca dos que se transviaram!
Leio em sua alma, que seu cora����o carrega tanto
amor que se torna um v��u divino a recobrir todos
os erros dos cora����es humanos!
E, ap��s isso, Barrab��s foi servido.
Maria, sob insist��ncia de Jesus, cedeu a Barrab��s
um leito para que repousasse naquele lar.
No dia seguinte, Barrab��s beijava as m��os de
Maria, agradecendo-lhe a hospedagem e, voltando-
se ao jovem Jesus, disse-lhe:
��� Menino! Sou-lhe grato! Agrade��o-lhe, mas creio
que jamais voltaremos a nos ver, j�� que ando por
caminhos furtivos... e voc�� anda em luz!
Jesus olhou-o com amizade.
��� Ainda um dia, Barrab��s, estaremos lado a lado,
submetendo-nos �� prefer��ncia de uma multid��o
aflita e de cora����o endurecido!
Barrab��s sorriu pensativo e retomou seu caminho.
Maria voltou-se a Jesus.
E, j�� habituada a atender os estranhos que o
menino lhe levava ao seu lar, sentia-se ditosa
129
diante daquele cora����ozinho repleto de carinho
pelos infelizes do mundo.
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20
JUNTO AOS SACERDOTES
A cidadezinha de Nazar�� acordara.
Mal o sol despontara e as fam��lias se entregavam
a aprontar-se para uma peregrina����o �� cidade
de Jerusal��m, distante uns cem quil��metros, por
caminhos poeirentos, daquelas ruas pacatas.
M��riam adentrou �� casa de Maria.
Chegou num clima de franca alegria e
deslumbramento.
��� Vamos a Jerusal��m! ��� exclamou, logo na
entrada ��� Vamos ao Templo, adorar a Deus, na
comemora����o da P��scoa!
A m��e de Jesus lhe sorriu.
��� Devemos vivenciar o amor ao Criador, M��riam,
em todas as horas de nossa vida e onde quer que
nos encontremos.
��� Por��m... em Jerusal��m, ainda mais!
131
Maria, conselheiral e prudente, aditou:
��� Com todo o meu respeito pela sua alegria,
M��riam, conv��m lembrar que devemos fazer, de
nosso pr��prio cora����o, o templo do Pai Celestial!
E nossas ora����es, de devo����o e carinho, devem
exprimir-se por atos de amor ao pr��ximo.
��� Mas... na capital do juda��smo, Maria,
participaremos da P��scoa, a festa m��xima de
nossas almas, em que comemoraremos a liberta����o
de nosso povo da escravid��o no Egito!
Maria sorriu e considerou:
��� Voc�� est�� esfuziante, M��riam, �� diante das
dan��as e cantos de nossa gente. Isso, contudo,
n��o basta!
Jos�� entrou pelos fundos da casa.
��� Tudo pronto, Maria! J�� podemos nos incorporar
aos peregrinos que v��o daqui a Jerusal��m.
��� Vamos! ��� bradou M��riam.
* * * * *
Jerusal��m estava fervilhante.
A cada momento, novas caravanas aportavam
�� cidade, acrescentando-lhe aos seus naturais
habitantes que, fraternalmente, acolhiam em seus
lares os que ali chegavam para a comemora����o da
P��scoa.
132
M��riam se deslumbrava.
Jesus, em seus doze anos, a tudo contemplava,
mantendo-se discreto e pensativo diante
das explos��es de ruidosos cumprimentos e
espalhafatosos abra��os.
No arrabalde, abrigaram-se na casa de Maria de
Marcos, que os acolheu com ares de profunda
ternura.
A hospedeira, acariciando os cabelos do jovem
Jesus, encantava-se diante de seus olhos serenos,
em cujas cores parecia espelhar o Infinito.
��� S��o os mesmos olhos seus, Maria! ��� concluiu
Maria de Marcos ��� Contudo, parecem olhos que
veem al��m do que alcan��a a nossa vis��o!
* * * * *
Transcorridos os sete dias da festa da P��scoa,
todas as fam��lias que haviam buscado Jerusal��m,
se despediam de seus hospedeiros, num festival
de abra��os.
O tom era j�� de saudade.
��� Onde est�� Jesus? ��� indagou Maria.
��� Ah! Nosso menino deve ter seguido com
outros de sua idade, Maria! ��� considerou Jos��,
despreocupado ��� Logo mais o alcan��aremos ou,
ent��o, ele vir�� at�� n��s!
133
E, assim, fizeram o caminho de um dia.
Maria, m��e desvelada, sentiu crescer a sua
preocupa����o pela aus��ncia do filho e, por isso,
discretamente passou, com Jos��, a procur��-lo
entre seus parentes e seus amigos de Nazar��.
��� N��o! N��o vi seu filho!
��� Ser�� que n��o se adiantou, junto de outras
crian��as? ��� algu��m sugeriu.
��� N��o! ��� respondeu Maria, convicta ��� Ele n��o
nos deixaria... sem avisar-nos!
E, diante da m��e aflita, Jos�� sugeriu:
��� Regressemos a Jerusal��m!
E, assim, fizeram o caminho de retorno �� capital,
dirigindo-se diretamente �� casa de Maria de
Marcos.
Bateram �� porta da casa.
Maria de Marcos veio atend��-los.
��� Voc��s?! J�� de regresso a Jerusal��m!
��� Nosso filho... est��, n��o sabemos onde! J�� o
procuramos por toda parte e... nada!
��� N��o se aflija! ��� aconselhou Maria de Marcos
sorrindo e, tamb��m, j�� apreensiva ��� Seu filho
sabe o que tem a fazer, Maria!
E, subitamente envolvida por um Esp��rito amigo,
Maria de Marcos, em tom grave, assegurou:
��� O menino-Jesus est�� entre os sacerdotes do
Templo de Jerusal��m! L�� voc��s o encontrar��o,
discutindo coisas de Nosso Criador!
E todos foram ao Templo.
134
L�� chegando, encontraram o jovem Jesus sentado
entre os sacerdotes que se postavam a ouvi-lo e
com ele a discutir.
��� Como pode uma crian��a querer falar de coisas
divinas? ��� dizia asperamente um dos sacerdotes,
dirigindo-se aos demais.
��� As coisas do Pai Celestial ��� respondeu-lhe
diretamente Jesus ��� podem chegar ao cora����o de
um sacerdote pela inoc��ncia de uma crian��a.
E, quase para esc��ndalo deles, o jovem Jesus
complementou:
��� O cora����o do homem, por vezes, se deixa sitiar
por preconceitos e por falsos princ��pios e, assim,
a criatura n��o se subordina a seu Criador, mas
quer que o Criador se sujeite a seus caprichos e
interesses pessoais.
135
Outro dos sacerdotes assegurou:
��� Mas... o templo de nossa f�� �� o ��nico lugar que
se adora a Deus, meu garoto!
��� O Pai ��� respondeu Jesus ��� est�� por toda parte!
Para servi-Lo, n��o se faz necess��rio criar um lugar
especial, j�� que todos os lugares s��o santificados
pela b��n����o celestial! E, para honr��-Lo com nosso
amor, n��o basta sacrificar aves e animais no altar,
sem o esfor��o de sacrificarmos os nossos pr��prios
erros!
��� E... quem lhe disse que temos erros? Somos
sacerdotes e doutores da Lei!
��� Pois os que sabem, deveriam amar e servir aos
que n��o sabem, sem impor-lhes sacrif��cios v��os!
E, se n��o servimos a todos, atrav��s do amor, j��
estaremos carregados de muitos enganos!
Explodiram diverg��ncias entre os sacerdotes.
E, nisso, chegaram Maria e Jos��, seguidos de
Maria de Marcos e de M��riam.
A m��e adiantou-se.
��� Filho, por que voc�� fez assim comigo e com seu
pai? N��s lhe procuramos de cora����es aflitos!
Jesus fitou a eles todos.
��� Por que voc��s me procuravam? N��o sabem,
ainda, que devo ocupar-me das coisas de meu
Pai?
Maria ruborizou-se, confusa.
��� Mas... filho! Voc�� ��, ainda, uma crian��a... E se
coloca a discutir com os doutores e sacerdotes de
136
Jerusal��m?!
��� M��e ��� responde-lhe docemente o jovem Jesus
��� discuto as coisas de meu Pai com aqueles
que dizem represent��-Lo diante do mundo! E,
querendo endireitar o caminho de seus cora����es,
t��o somente estou a coloc��-los no rumo das
interpreta����es corretas da Vontade Divina!
Jesus, contudo, levantou-se de entre os sacerdotes
e, evidenciando que era submisso a seus pais,
desceu com eles a Nazar��.
E Jesus, em Nazar��, crescendo em idade, revelava-
se pleno de sabedoria e bondade, diante de Deus
e de todos os homens, e Maria, profundamente
tocada pela ternura de seu filho, sentia-se envolta
pelo seu cora����o.
137
21
UNI��O DIVINA
Estamos em Cafarnaum.
A vegeta����o rasteira, vendo-se daqui, estende-se
qual tapete ��ureo, na dire����o do lago de Genesar��,
onde as brumas da madrugada se dispersaram de
sobre as ��guas serenas.
Vento brando ondula a superf��cie do lago, sem
quebrar-lhe a doce serenidade.
Jesus completara trinta anos.
Jo��o, filho de Zebedeu, o jovem que se fez um de
seus primeiros disc��pulos, adentra o lar singelo,
onde Maria, m��e de Jesus, alongava seu olhar,
reconfortando-se com a paisagem calma.
��� Senhora ��� chama-a Jo��o, em voz mansa.
Ela se volta, contemplando-lhe o semblante juvenil,
sentindo no olhar de Jo��o a submiss��o de quase
um filho bem-amado.
139
��� Que quer, Jo��o?
��� �� certo que hoje iremos a uma festa de noivado,
juntamente com o nosso Mestre e Senhor?!
Maria sorriu.
��� Sim! Iremos acompanh��-Lo, Jo��o!
E, ap��s ligeira e intencional pausa, Maria informou:
��� Quero apresentar o meu filho ao mundo, Jo��o!
Jesus me convidou a acompanh��-Lo e, como m��e,
sinto que essa festa �� um pren��ncio de uni��o entre
a Boa Nova que nos traz Jesus e o Plano Espiritual
Superior!
��� Ent��o... n��o �� uma simples festa!
Maria, algo pensativa, confirmou:
��� O que Jesus faz, por amor, �� sempre um s��mbolo
para guardar no cora����o, pela eternidade ou,
ent��o, tem algum sentido que transcende as coisas
de nosso mundo, Jo��o! E, por bem t��-Lo no fundo
de minha alma, sei que essa festa de noivado tem
algo que nos convidar�� ao crescimento espiritual!
* * * * *
Estamos em Can��, da Galileia, vilarejo que fica ao
norte de Nazar��.
A m��e de Jesus faz-se presente.
Os disc��pulos, que se ajustavam ao programa do
Mestre, entremeavam-se entre os demais convivas,
140
exalando a alegria daquele encontro.
Era a festa da Uni��o Divina.
Maria, que tudo observava e guardava em seu
cora����o, num dado instante deparou-se com tr��s
servidores daquela casa.
��� Senhora ��� disse um deles ��� o vinho, princ��pio
de Vida, que serv��amos aos convivas desta uni��o,
acabou!
��� E... agora?! ��� indagou outro servidor.
A m��e de Jesus, incontinenti, buscou seu filho,
entre os convidados da festa, dizendo-lhe:
��� Filho, os que servem n��o mais tem o vinho da
Vida!
Jesus, fitou-a com enlevo, dizendo-lhe, a seguir:
��� M��e! Ainda n��o �� chegada a minha hora de
atend��-los.
Maria, comovida diante da tristeza de todos,
chamou aos servidores e lhes determinou:
��� Fa��am tudo o que Jesus lhes disser! Sei que
meu filho �� portador das Esperan��as do Mais Alto
e, assim, se voc��s seguirem as suas ordena����es,
Jesus lhes alimentar�� com a Vida abundante que
n��o se encontra nos templos de pedra.
Jesus, pr��ximo, acedendo �� insist��ncia maternal,
aconselhou:
��� Se esgotamos o vinho da esperan��a e desejamos
a verdadeira uni��o com o Mais Alto, ajuste este
plano de vida com as ideias que renovam todos os
141
caminhos, coloquem a ��gua da vida nas jarras de
seus cora����es.
��� Teremos, assim, Vida Nova? ��� indagou um dos
servidores ��� E, se for assim, com ela poderemos
servir a todos e nossos cora����es se fundir��o com
os C��us!
E Maria, singela, anunciou:
��� Queridos! At�� ontem, qualquer princ��pio de
vida lhes servia! A partir de agora, contudo, todos
poderemos participar da verdadeira Vida. Esta
142
festa de noivado, preludiando o casamento da
Terra com o Mundo Maior, numa Uni��o Divina, ��
quanto nos basta!
E os convidados para a uni��o celestial, em ouvindo
a seguir a palavra do Senhor, que os conclamava
ao crescimento espiritual, sentiam-se convocados
a servir mais e mais.
Um da casa, ent��o, falou:
��� Oh! Senhor! Por que nos foi servido antes o
falso vinho da vida e s�� agora o Senhor nos serve
a boa doutrina?
Sil��ncio geral.
��� Eu lhes mandei, antes, os profetas e os
reveladores. Eles, no entanto, muitas vezes
adulteraram o vinho celestial, ensinando-lhes
mandamentos que nasciam dos homens. Agora,
contudo, trago-lhes a Boa Nova, colhida na
fonte divina, para que voc��s aprendam a servir
com alegria, mesmo quando j�� deixaram que as
sombras lhes assaltassem o ��nimo!
Maria, em l��grimas, beijou as m��os de seu filho,
Jesus.
��� Oh! Mulher! ��� proclamou o Mestre ��� Deixei-a
apresentar-me ao mundo, porque sei que todos os
homens, quando se sentem abatidos no ��nimo ou
confundidos pela tristeza, buscar��o chorando os
cora����es maternais para s�� ent��o, lembrando a
sua terna figura, Maria, eles se recomponham para
a uni��o celestial.
143
O sol buscava o poente, repintando os c��us de
Can��!
144
22
NA CASA DE SIM��O PEDRO
Maria, m��e de Jesus, contemplou o lago de
Genesar��, encantando-se com a docilidade
daquela imensid��o de ��guas que refletiam o azul
do c��u.
Os arbustos... as ��rvores... a vegeta����o rasteira...
o marulhar das ondas, repletas de mansuetude,
num dia esplendoroso e claro, com nuvens alvas,
num firmamento anilado.
Avan��ou, logo ap��s, na dire����o de Cafarnaum.
E, ao cair da tarde, alcan��ou o lar de Sim��o Pedro,
encontrando-se com Jo��o, o filho de Zebedeu, ��
porta da entrada.
O jovem disc��pulo, beijou-lhe as m��os, carinhoso.
��� Bem-vinda, Senhora! M��e de meu Mestre e
Salvador!
Maria sorriu, maternalmente, pois sentia Jo��o, de
145
h�� muito, qual se ele fosse um outro filho de sua
alma.
��� Onde est�� Jesus? ��� ela indagou.
Mateus adiantou-se, informando:
��� O Senhor saiu, na companhia de Sim��o Pedro,
a fim de prestar socorro �� vi��va Eunice que se
encontra enferma.
��� E... voc��s n��o os acompanharam?!
��� N��o, Senhora! ��� informou Mateus ��� Nosso
Mestre nos deixou aqui, afirmando que, com a
colabora����o de Pedro... tudo seria resolvido,
esclarecendo-nos que, em determinadas
circunst��ncias, �� com o pouco que se faz o muito!
Maria, sob as aten����es de L��dia, acomodou-se
146
perto dos demais disc��pulos de Jesus.
O jovem Jo��o rompeu o sil��ncio.
��� Maria, como voc�� sentiu aquele encontro em
Can��? Pareceu-me que o prop��sito da Uni��o Divina,
ventilado por Jesus, n��o foi bem compreendido
naquela casa!
��� Senti o mesmo que voc��, Jo��o ��� respondeu
Maria.
Tiago, filho de Alfeu, quase num tom de censura,
objetou:
��� Jesus n��o �� muito polido no trato com a cren��a
sustentada pelos fariseus. Os fariseus, no entanto,
s��o muito poderosos e, uma alian��a com eles,
abreviaria a instala����o do Novo Reino.
A controv��rsia instalou-se.
��� A Luz ��� assegurou Tiago, irm��o de Jo��o ��� n��o
pode ter parte com as trevas!
Maria, num gesto de concilia����o, ponderou:
��� N��o se deixem possuir por diverg��ncias, em
raz��o de interpreta����es discordantes em torno da
a����o de meu filho! A disc��rdia gera ressentimento
e com isso, voc��s perder��o tempo e trabalho,
comprometendo a tarefa que lhes �� confiada.
E ap��s o s��bito sil��ncio, ela completou:
��� Se andarmos na Luz, na claridade implantada
pelo Mestre, todos seremos participantes das
mesmas esperan��as. E valer�� lembrar, neste
momento, que Jesus reafirma sempre que Ele
147
n��o faz a sua pr��pria vontade, mas faz, isto sim, a vontade do Pai Celestial.
Breve pausa e Maria aditou:
��� Se n��o nos unirmos, entre n��s mesmos, e nos
subordinarmos �� Boa Nova, como poderemos
aspirar a Uni��o Divina, pretendida por Jesus, a
favor de toda a Humanidade?
O jovem Jo��o, querendo acalmar os ��nimos,
aditou:
��� Se o Mestre faz a vontade do Pai, como nos
iluminarmos e desempenharmos a parte que nos
compete, se estivermos a criar interpreta����es
pessoais?
E, tomando o f��lego, o jovem completou:
��� Quem de n��s sabe a vontade do Pai, a n��o ser
o Mestre?
Maria, confortadora, ponderou:
��� N��o nos escravizemos ao nosso ponto de vista
pessoal, j�� que deveremos empenhar-nos em
assimilar os sagrados princ��pios do Mais Alto, para
termos em n��s a alavanca da caridade.
Maria levantou-se e, adentrando ao quarto da sogra
de Sim��o Pedro, foi colocar-se �� sua cabeceira
e consol��-la de suas dores moment��neas e, ao
enxugar-lhe o suor abundante, refletia: "Quando
o amor h�� de prevalecer sobre todas as opini��es
transit��rias, criando um reino de paz em todos os
cora����es?!"
E suas l��grimas, express��o de amor maternal,
148
desciam-lhe pelas faces acetinadas, como a
preludiar as dificuldades e os grandes embates a
que se entregaria o Mestre, diante da Vontade do
Pai Celestial.
149
23
M��E E FILHO
Estamos pr��ximos de Nazar��.
Espalha-se o casario por entre oliveiras, tendo ao
fundo a fechar-lhe a paisagem, um monte alto que
se confunde com a ab��bada celeste.
Maria, discretamente �� dist��ncia, v�� que um leproso,
esgueirando-se entre a multid��o, aproxima-se de
Jesus.
Este homem, exausto, cai aos p��s do Senhor.
Muitos, dentre aqueles que tamb��m buscavam
o Senhor, afastam-se ligeiramente, como que
tomados de medo e de repulsa do cont��gio
e, tamb��m, da propalada impureza espiritual,
anunciada pelos sacerdotes.
Jesus, chega-se a ele, penetrando com seu olhar
a alma do infeliz.
Os fariseus, ali presentes, quais fiscais a examinar
cada um dos atos do Mestre, encolhem-se
151
temerosos diante do enfermo.
��� Se voc�� quiser ��� clama o leproso, dirigindo-se
s��plice ao Senhor ��� voc�� pode me curar!
��� Estupidez popular! ��� resmunga admirado
um daqueles sacerdotes ��� Como redimir este
pecador da maldi����o divina, j�� que a lepra �� o sinal
da condena����o que Deus lhe imp��e?!
O leproso, prostrado de joelhos diante de Jesus,
insiste:
��� Se voc�� quiser, voc�� me cura!
Maria sentia-se comovida.
Seu cora����o maternal, longe de escandalizar-se
diante da s��plica do leproso, como que envolvia
aquela infeliz criatura, numa onda de profunda
ternura.
Jesus fitou amorosamente a Maria e, compadecido
daquele que se prostrara aos seus p��s, estendeu
a sua m��o direita sobre a cabe��a do leproso e,
tocando-a com o infinito de seu amor, disse-lhe:
��� Eu quero, filho! Por isso ordeno: fique limpo da
lepra!
Os sacerdotes ensaiaram risos de ironia.
Mas, naquele justo instante, e �� vista de todos, o
corpo chagado do leproso come��ou a recompor-se
e os sinais da lepra desapareceram!
��� Estou... limpo! ��� clamava e chorava o ex-
leproso ��� Estou limpo!
O espanto se instalou na multid��o.
152
��� V�� agora ��� disse-lhe Jesus ��� aos sacerdotes
e ofere��a-lhes, pela sua purifica����o, aquilo que
Mois��s prescreveu, a fim de que eles comprovem
e atestem a sua cura.
��� Irei, Senhor! ��� afirmou o homem em l��grimas
comoventes de gratid��o ��� Irei at�� aos sacerdotes!
E o homem, purificado, ergueu-se em transe de
indescrit��vel alegria, mostrando-se a todas as
pessoas, ap��s rasgar as pr��prias roupas:
��� Vejam! O Nazareno me libertou! Estou limpo!
Vejam!
Os sacerdotes, contudo, acercaram-se de Jesus e
153
buscavam repreend��-lo:
��� Ningu��m pode fazer isso, Nazareno! Voc��
��, por certo, um bruxo que arrasta as multid��es,
ap��s seus passos, t��o somente por lan��ar m��o de
sortil��gios! Voc�� confunde as pessoas e nos quer
confundir tamb��m!
��� Do que voc��s me condenam? ��� responde-lhes
o Mestre, num tom humilde e sereno.
��� Voc�� tem parte com os dem��nios! ��� gritou um
deles, gesticulando amea��adoramente ��� S�� os
dem��nios fazem com que o povo se confunda!
Maria estremeceu, sentindo o clima de hostilidade
por parte daqueles sacerdotes que censuravam o
seu Filho.
Jesus, contudo, estava sereno.
Maria notou, quando o vozerio amainou, que os
olhos de seu Filho foram tomados de tristeza.
Algumas l��grimas lhe desciam pelas faces e ela
sentiu o seu cora����o transpassado de dor.
* * * * *
O sol estava se pondo.
A multid��o, diante do adiantado da hora, ap��s j�� ter
ouvido de Jesus a palavra mansa e confortadora,
repleta de esperan��as e reerguida na f��, se
dispersava.
Maria, ent��o, foi ao encontro do Filho.
154
��� Meu filho... voc�� chorou!
Jesus aceitou-lhe o cora����o.
��� M��e ��� respondeu compassivo o Senhor ���
as minhas l��grimas s��o de compaix��o diante
daqueles sacerdotes que deveriam representar
a Miseric��rdia Divina, diante do povo que sofre e
chora!
Maria ouvia em sil��ncio.
��� No entanto, Maria, aqueles que se dizem
embaixadores de nosso Pai Celestial, desconhecem
as maravilhas do amor que redime a todos os erros
humanos e que abre sempre novas portas para a
reden����o!
E, ap��s ligeira pausa, enquanto caminhavam
juntos, Jesus completou:
��� N��o choro por mim, Senhora! Choro, antes, pelos
que sofrem! E minhas l��grimas s��o um lamento
diante da dureza de cora����o dos sacerdotes de
todos os templos. �� que, com o orgulho que os
corr��i, eles alargar��o a noite nos cora����es humanos
e retardar��o o Reino dos C��us, nas almas dos que
padecem.
E Maria, abra��ada a Jesus, chorou tamb��m por
todos n��s!
155
24
NA SINAGOGA
O s��bado amanhecera calmo.
Vindo de Cafarnaum, com alguns poucos de seus
disc��pulos, Jesus penetrou pelas ruas estreitas do
vilarejo de Nazar��, onde havia crescido.
Revia, assim, a fonte onde ia buscar ��gua, a
mando de sua m��e Maria. E, erguendo seus olhos,
deteve-se a examinar a sinagoga que frequentara,
em sua adolesc��ncia, ao lado de seus pais.
Aproximou-se da r��stica edifica����o e entrou.
Seus disc��pulos ficaram pr��ximos da porta.
O pequeno sal��o, destinado ao culto religioso aos
s��bados, estava tomado pelos judeus daquela
agreste regi��o.
E Maria, acompanhando os irm��os de Jesus, entre
os quais estava um deles, chamado Tiago*, ensaiou
(*) N.A. - Sobre os irm��os de Jesus, Marcos no capitulo seis, vers��culo tr��s, refere textualmente a: "Tiago, Jos��, Judas, Sim��o e suas irm��s".
157
erguer-se e ir ter com seu Filho, quando Jesus
surpreendeu um gesto de contrariedade de Tiago
e, num olhar amoroso, dirigido a Maria, o Senhor
rogou-lhe, para conservar-se sentada.
Ela atendeu, embora a sua alma abra��asse a seu
amado Filho.
Ela apascentou-se, em ora����o.
N��o sabia o motivo, mas estava algo angustiada.
��� Vamos �� leitura! ��� anunciou o ministro daquela
casa de ora����es ��� Quem a far��?
Jesus levantou-se para ler.
O ministro, ent��o, ao v��-lo �� sua frente, entregou
ao Nazareno o livro do profeta Isa��as, tendo-o,
antes, aberto ao acaso.
Jesus inspirou, erguendo uma ora����o ao Pai
Celestial, por aquele instante de sua vida e, ante a
expectativa geral, leu a passagem do livro que lhe
fora entregue:
��� "O esp��rito de Deus est�� sobre mim e mandou-
me levar a Boa Nova aos humildes e, tamb��m, a
anunci��-la aos que ca��ram nos abismos do erro,
como a oportunidade de sua liberta����o espiritual,
abandonando a cegueira volunt��ria a que se hajam
confiado".
Jesus, ent��o, devolveu o livro ao ministro da
sinagoga e sentou-se junto aos demais presentes.
Todos o olhavam espantados.
O Senhor, ent��o, disse-lhes:
158
��� Hoje, cumpre-se em mim o que Isa��as anunciou
ao descrever a miss��o do Messias.
Um dos presentes, ressentido, cochichou:
��� Esse mo��o... n��o �� o filho de Jos��, o carpinteiro?
��� Sim, ��! ��� confirmou um outro ��� �� o tal que,
noutras terras, dizem que faz curas espantosas e
que anuncia o Reino de Deus!
��� E... aqueles ali... s��o seus disc��pulos!
��� Como pode cometer a blasf��mia de apresentar-
se como o Messias?!
Um outro, mais atrevido, abalou o cora����o de Maria,
ao gritar e rasgar as pr��prias roupas, num gesto
teatral caracter��stico daqueles judeus, desafiando:
��� Se voc�� fez maravilhas em Cafarnaum, seu
159
embusteiro, por que n��o faz o mesmo nesta sua
cidade e diante de nossos olhos?
��� �� isso mesmo! Fa��a um milagre, Jesus! ��� gritou
um mais idoso.
Jesus, levantando-se, disse-lhes:
��� Digo-lhes que nenhum mission��rio �� bem
acolhido em sua pr��pria terra!
��� Falso! Embusteiro! ��� agrediam por palavras.
Maria chorava em sil��ncio.
��� Lembrem-se... ��� disse-lhes Jesus compassivo,
procurando arranc��-los das sugest��es sombrias do
ci��me ��� lembrem-se de que o profeta Elias estava
desassistido em sua pr��pria terra e, necessitando
de hospedagem, n��o foi convidado por nenhum
dos seus, mas terminou acolhido por uma vi��va
sem religi��o e, em troca de ter sido agasalhado
com amor, socorreu-a quando a mis��ria se instalou
em meio a todos os israelitas!
O ministro da sinagoga, querendo abrandar a
revolta, aditou:
��� Isso que Jesus est�� falando �� uma verdade!
Voc��s a encontrar��o no Livro dos Reis e, realmente,
somente uma pag�� se beneficiou da Miseric��rdia
Divina!
E Jesus, ent��o, ainda refor��ou:
��� Havia leprosos em Israel, no tempo do profeta
Eliseu, mas nenhum deles se viu limpo da lepra,
a n��o ser o s��rio pag��o chamado Naaman, que
acolheu o profeta!
160
A f��ria cresceu na sinagoga.
��� Fora com o embusteiro! ��� estimulou um fan��tico
jovem, ao lado de Tiago, o irm��o de Jesus.
E, ent��o, a maioria se levantou e arrastando Jesus
pelas ruelas de Nazar��, expulsaram-no para fora
da cidade, amea��ando apedrej��-los, a Ele e a seus
disc��pulos.
Os irm��os de Jesus cruzavam os bra��os,
envergonhados.
Maria, contudo, colocou-se ao lado de Jesus e o
acompanhava, cora����o ferido de ang��stia.
��� M��e ��� disse-lhe Jesus, j�� fora de Nazar��
e quando o ulular da multid��o se acalmara ���
compreendamos a estes que n��o nos toleram,
161
porque tamb��m a eles deverei dar-lhes um lugar
em meu cora����o.
��� Voc�� sofre por amar, Filho! ��� respondeu-lhe
Maria, ao envolv��-Lo em sua ternura ��� Talvez...
eles n��o mere��am que voc�� lhes indique o caminho
da salva����o!
O Senhor suspirou enternecido.
��� Para esses, indicar-lhes o caminho do Mais
Alto j�� n��o basta! Deverei, por isso, tang��-los
quais ovelhas intranquilas e, ao tomar-lhes a alma,
diante deles me caber�� inclin��-los �� Boa Nova com
exemplos de amor.
162
Maria o abra��ou maternalmente.
��� Volte, minha m��e, aos outros de seus filhos
carentes, at�� a hora em que possamos unir-nos ao
Pai Celestial.
Despediram-se com troca de carinho.
E Maria, qual serva que atende a seu Senhor,
permaneceu na sa��da de Nazar��, enquanto Jesus,
cercado por alguns de seus disc��pulos, caminhava
na dire����o do sol poente.
�� dist��ncia, Jesus voltou-se e acenou a Maria.
Ela, comprimindo com as m��os o pr��prio peito, O
envolvia nas radia����es sublimes de seu cora����o.
163
25
EM FAM��LIA
Maria, ap��s ver Jesus confundir-se com o horizonte,
voltou ao seu lar em Nazar��.
��� Ah! Maria! ��� explodiu Sim��o, um de seus filhos,
assim que ela adentrou �� casa ��� Voc�� s�� tem
olhos para Jesus... quase nos ignorando!
��� A n��s ��� reclamou Tiago, um outro de seus
filhos ��� voc�� s�� reserva repreens��es, exigindo-
nos disciplina, atrav��s de trabalhos ��speros!
Maria os examinava contristada.
��� A Jesus ��� falou ela ��� olho como serva! Embora
tenha ele sido algu��m que veio de meu ventre, ele
�� meu Senhor e Mestre! Que poderia eu oferecer ��
Fonte da Vida?!
Ligeira pausa e complementou:
��� Se nada tenho para oferecer ��quele que ��
meu educador, com voc��s eu tenho que exercitar
o amor maternal, para faz��-los despertar para a
165
verdadeira Vida.
��� No entanto ��� contraditou Judas, um outro de
seus filhos ��� o seu protegido Jesus foi expulso
da sinagoga de nossa cidade, por blasf��mias
proferidas diante de todos os nossos irm��os de
ra��a!
��� E ser expulso da sinagoga ��� alertou outro deles,
escandalizado ��� �� ser posto fora da comunidade
judaica! Essa �� uma vergonha que a todos n��s
atingir��! E vamos sofrer esc��rnio... pelas loucuras
e fantasias de Jesus! Se, ao menos, ele houvesse
feito alguma cura!
Maria sentia-se, aturdida.
Ela aspirou, repletando-se de resigna����o e,
l��grimas a perolar-lhe os olhos, confessou:
166
��� Jesus �� Luz do Mundo! Se n��s, seus parentes
pelo la��o de sangue, n��o pudermos dar-lhe suporte
em miss��o t��o ampla, quanto espinhosa, que n��o
se esperar daqueles que se elegeram a serem seus
inimigos, t��o somente por terem seus interesses
pessoais contrariados?
Sil��ncio constrangedor.
��� Assim, almas queridas de minha alma, quero
convidar a todos, a que nos entreguemos a uma
ora����o reconfortadora.
E Maria, cora����o aberto para a Espiritualidade
Superior, caindo de joelhos, em meio aos que a
censuravam, murmurou:
��� Pai Celestial! Abra-nos o entendimento para que
saibamos refletir a sua Augusta Vontade. E, se n��o
pudermos ouvi-Lo, no templo de nossos cora����es,
por estarmos temporariamente imersos nas
sombras da apreens��o, aben��oe-nos e perdoe-
nos, agora e sempre!
Cerrando as p��lpebras cansadas, a doce M��e de
Jesus O reviu, no sil��ncio de seu cora����o: "Guarde-
se em paz, Mulher, diante da tempestade, que o
Pai Celestial surgir�� no horizonte de sua vida!"
E Maria, ainda em transe de amor, viu a m��o de
Jesus aben��o��-la.
167
26
MUDAN��A
M��riam chegou nervosa e apreensiva.
Aproximou-se de Maria, a m��e de Jesus, e, meio
constrangida, indagou, esfregando nervosamente
as m��os.
��� �� verdade o que dizem, Maria?
A interpelada a fitou carinhosa.
��� E o que dizem, M��riam?
��� Que... voc�� vai de mudan��a para Cafarnaum!
Eu n��o acredito... mas...
Maria, levando-a ao quarto ��ntimo, f��-la sentar-se
na cama e procurou acalm��-la, envolvendo-a em
seu colo maternal e, a seguir, confirmou:
��� Sim, M��riam! Vou para Cafarnaum.
��� Mas... toda a sua fam��lia est�� aqui em Nazar��! Vai
deix��-los e deixar a mim tamb��m, em desamparo!
169
Maria tomou a m��o de sua amiga.
��� Os meus parentes, daqui de Nazar��, M��riam,
j�� alcan��aram a idade de ganhar experi��ncias
pr��prias neste mundo, sem a minha interfer��ncia!
S��o adultos e devem aprender a cuidar de si, com
liberdade para acertar ou errar.
E, voz embargada, completou:
��� Entre todos, sei que meu Filho Jesus, chamado
a servir a este mundo, est�� pr��ximo de grandes
sofrimentos morais, parecendo-me um anjo que.
vindo dos c��us, n��o tem sequer uma pedra para
repousar a cabe��a.
��� Mas... voc�� me orientava na educa����o de
minhas duas crian��as, Maria! E voc�� sabe que o
mais novo, o Josu��, sofre de ataques e de del��rios!
E M��riam, com l��grimas nos olhos, completou:
��� Vou me sentir ��rf��! ��rf�� de seu cora����o... e
entregue a mim mesma, Maria!
Maria sorriu, confortadora.
��� N��o lhe deixo ��rf��, M��riam, pois temos em Deus
o nosso Pai comum. E, sob a prote����o divina, voc��
encontrar�� os caminhos da maturidade maternal!
��� E... o meu Josu��? ��� insistiu M��riam, como
querendo dissuadir Maria de transferir-se para
Cafarnaum.
��� O seu Josu��, M��riam, antes de tudo �� filho do
Criador. E o Todo Misericordioso, melhor que eu,
h�� de recobri-lo de miseric��rdia.
170
E, para dar mais seguran��a a M��riam, aditou:
��� Pedirei a Jesus que interceda por Josu��, j�� que
o seu outro filho, Jairo, tem boa sa��de e excelentes
qualidades de cora����o.
* * * * *
Algumas semanas, mais tarde, a cidade de
Cafarnaum recebia uma alma sublimada,
engalanando-se espiritualmente com a chegada
de Maria, naquela aldeia de pescadores.
Jo��o, o jovem disc��pulo, veio receb��-la e, exultante,
levou-a primeiramente �� casa de seu pai, Zebedeu.
O velho pescador, assim que viu Maria, entrou em
pranto convulsivo, pleno de felicidade e caiu aos
p��s da M��e de Jesus.
171
��� Bendita seja, Senhora! ��� falou entre solu��os
e l��grimas ��� Jamais se apagar�� de meu cora����o
esta visita dos C��us!
��� Levante-se, Zebedeu! ��� ordenou docemente
Maria, tomando-o pelas m��os ��� Se quisermos
servir com o Senhor, n��o fa��amos calos nos
joelhos! Antes, calejemos nossas m��os nas obras
do Eterno Bem, aceitando que esses s��o os
leg��timos sinais de nossa uni��o com Jesus!
Jo��o, emotivo, estremecia no fundo d'alma.
172
27
DI��LOGO SUBLIME
Ca��ra a noite em Cafarnaum.
Pescadores, na praia, aprestavam seus barcos
para a pesca noturna, no lago de Genesar��,
enquanto que em muitas casinhas singelas as
candeias eram acesas.
Jesus adentrou o lar de Maria.
��� Oh! Filho! ��� abra��ou-O enternecidamente
aquela doce mulher ��� Estava a aguardar a sua
presen��a!
Jo��o, o jovem disc��pulo, tamb��m entrou, beijando
as m��os da m��e de seu Mestre.
Sentaram-se em torno de tosca mesa de madeira.
��� Diga-me, m��e, o que se passa em seu cora����o!
Vejo-a particularmente curiosa e aflita ao mesmo
tempo.
173
Maria suspirou.
��� Este nosso Jo��o ��� come��ou Maria ��� contou-
me que, em certa noite, o sacerdote Nicodemos
lhe buscou para esclarecer-se. E voc�� lhe disse
que, para estar com o Reino de Deus no cora����o,
todos precisam renascer de novo!
Jesus sorriu levemente.
��� Nicodemos, Maria, �� um grande e amoroso
cora����o. Contudo, por ficar escravizado ��s letras
das Leis Divinas, n��o se apercebera ainda que
todos os esp��ritos que o Pai me confiou, neste
mundo, est��o inscritos na Lei da Reencarna����o.
Ligeira pausa e voltou-se a seu disc��pulo, ali atento.
��� Nosso jovem Jo��o, que aqui est��, sabe, tamb��m,
que reencontrei o profeta Elias no monte Tabor. E
sabe que esse mesmo Elias, que viria adiante de
174
mim, para ajustar os cora����es humanos para a
mensagem da Boa Nova, nascera de Isabel, sua
parenta, minha m��e.
��� Jo��o... o precursor! ��� murmurou a m��e de Jesus
e, pensando em voz alta, ponderou ��� Estamos,
ent��o, hoje pagando nossos enganos de ontem!
Jesus a fitou, amoroso.
��� Por muitos s��culos, ainda, minha m��e, a
linguagem humana, t��o pobre de esp��rito, falar��
em pagamento e resgate, quando cogitar dos
fen��menos reencarnat��rios. Um dia, contudo,
despertar�� para o Sol do Amor Divino, entendendo
que o Pai Celestial n��o �� um credor e que, por isso,
nem cobra e nem pede resgates a ningu��m.
Jo��o estava encantado em participar daquele
banquete de luzes, quando Maria indagou:
��� Ent��o, Josu��, o filho de nossa querida M��riam,
n��o tem crises impostas pelo Pai Divino?!
Jesus sorriu, carinhoso.
��� Josu��, o filho de M��riam, nas crises epil��pticas
t��o somente revela que renasceu e trouxe do
passado distante os seus companheiros espirituais
que lhe partilhavam as quedas. E, juntos, crescer��o
para se tornarem livres de suas faltas de educa����o
espiritual.
E, depois de ligeira pausa, complementou Jesus:
��� Eles, no entanto, n��o est��o pagando ao Pai
Celestial as moedas de sofrimento, minha m��e!
Est��o, isto sim, num longo processo de reajuste e
175
de liberta����o, para se desligarem dos cad��veres
de suas vidas pret��ritas.
Maria estava at��nita.
��� Ent��o... n��o h�� cobran��as... n��o h�� iras divinas...
n��o h�� castigos impostos... n��o h�� pagamentos...
n��o h�� o que pagar ao nosso Pai Celestial?!
��� Cada um, minha m��e, cobra-se de si mesmo um
clima mental que o leve a abrir o cora����o para ali
instalar o Reino dos C��us.
��� E M��riam... que tanto sofre?!
Jesus, passando as m��os sobre os cabelos
sedosos de sua m��e, respondeu-lhe:
��� M��riam, como todas as mulheres, foi chamada
por Deus para colaborar na obra divina da
espiritualiza����o, a fim de aprender a executar a Lei
do Amor!
E, ap��s alguns segundos, Jesus ponderou:
��� Veja que M��riam, minha m��e, recebe do filho
Jairo o refor��o de ��nimo, enquanto que o filho
Josu�� lhe busca, no cora����o, a seu pr��prio modo,
a fonte de energias sublimadas para despertar no
campo do Bem!
��� Ent��o... se ela permanecer fiel �� sua miss��o
maternal, ela crescer�� em esp��rito... e ver�� seus
filhos tamb��m crescerem na dire����o do Pai
Celestial!
��� Essa �� a Lei do Amor! ��� confirmou Jesus, mais
uma vez ��� O amor, Maria, �� o manto celestial que
nos recobre as chagas da alma e nos amadurece
176
para que nos transfiguremos em agentes de Deus,
onde quer que estejamos.
Caiu o sil��ncio entre eles, abrindo as portas da
medita����o.
O jovem Jo��o, profundamente tocado pelo di��logo
sublime, s�� sabia abrir a pr��pria alma e elevar-se
ao Pai Celestial, em prece silenciosa, repassada
de l��grimas emotivas.
177
28
REDEN����O
A noite descera em toda a Galil��ia.
Maria, ap��s extasiar-se diante do c��u salpicado
de estrelas, naqueles momentos de serenidade,
buscou o leito para o repouso necess��rio, j�� que
estivera partilhando das prega����es de seu Filho,
Jesus, nas cercanias de Cafarnaum.
Recostou-se ao travesseiro.
E, enquanto elevava seus pensamentos de gratid��o
ao Mais Alto, como que ouvia s��plicas de M��riam,
endere��adas ao seu cora����o.
Relutou, algo apreensiva, mas o sono a venceu.
* * * * *
179
M��riam, aflita, banhava-se em l��grimas, diante
de seu filho Josu�� que estertorava no ch��o, boca
espumando, rilhando os dentes, olhos inquietos.
��� Oh! Deus! ��� chorava M��riam, em Nazar�� ���
Ampare-me, para que saiam desta casa e do
corpo de meu Josu��, os esp��ritos perversos que
perseguem o meu filho!
E, sentindo-se impotente, evocou:
��� Oh! Maria! Onde voc�� estiver, ou��a-me e ajude-
me!
Uma neblina t��nue, subitamente como que
atravessou a madeira da porta daquele lar e, em
se condensando em massa brilhante, esplendia
em fa��scas douradas e prateadas.
E, diante da at��nita M��riam, na neblina forma-se
um cora����o que, em seguida, se transfigura na
M��e de Jesus.
��� Maria! ��� sussurrou M��riam, prostrando-se ao
ch��o ��� Voc�� em meu lar!
Maria, com naturalidade, aproximou-se da amiga.
��� Miriam! ��� rogou-lhe a sublime m��e ��� Sinta-se
ditosa, porque o Pai Celestial, em conhecendo o
tesouro de amor de seu cora����o, confiou-lhe um
de seus filhos, a fim de que voc�� o reerga, sem
desespero, nos quadros da Vida!
180
��� Oh! Maria! Ajude-me, ent��o, a afastar de Josu��
estes esp��ritos que o atormentam e que o fazem
entrar em convuls��o!
A M��e de Jesus, num tom de ternura, assegurou:
��� N��o rejeite os antigos comparsas de Josu��,
porque estamos diante de um quadro de muitas
dores reunidas. E, se Josu�� �� carente de amor,
seus credores de afeto o s��o tamb��m.
��� Que fa��o, Maria?!
��� Jesus recomenda-lhe, M��riam, que voc�� ame
intensamente o seu filho enfermo. Mas recubra, com
o mesmo amor, a todos aqueles que se associam
ao rebento de seu cora����o, nas empreitadas das
Sombras.
181
M��riam j�� se acalmara.
��� Estenda as suas m��os sobre Josu��, M��riam,
lembrando-se de que as b��n����os divinas
derramadas sobre ele, dever��o igualmente
envolver os que coabitam a intimidade de seu filho!
M��riam, subordinando-se ao conselho maternal de
Maria, fechou os olhos e, postando as suas m��os
sobre a cabe��a de Josu��, rogou ao Senhor da
Miseric��rdia, socorro para todos e, aos poucos,
sentiu-se, ent��o, banhada em fluidos sublimes.
Quando abriu os olhos, buscou Maria �� sua volta e
n��o a encontrou mais. Sentiu, contudo, uma onda
envolvente de perfume de rosas e seu corpo todo
estava mergulhado naquela ess��ncia sublime.
��� Bendita seja voc��, Maria!
E Josu��, adormecido e sereno, em seus bra��os
maternais, parecia-lhe uma porta aberta ao Infinito.
* * * * *
Em Cafarnaum, Maria despertou com a doce
sensa����o de que revira M��riam e com ela se
enla��ara, num momento de reden����o de muitas
almas agrilhoadas �� dor.
E voltou seus olhos em agradecimento aos
Benfeitores Celestiais.
182
29
SERVIDORAS DE JESUS
A multid��o veio ao encontro de Jesus, naquela
manh�� de sol ameno, na vila de Tiber��ades. Eram
criaturas ansiosas, sedentas de consola����o e
desejosas de mais not��cias sobre o Reino dos
C��us.
Cercavam-no e pediam amparo e socorro ��s suas
dores.
Maria, M��e de Jesus, ap��s ouvi-Lo e v��-Lo repleto
de aten����es aos mais carentes e desvalidos, tomou
o rumo de uma das ruas da vila pacata.
Entrou em singela casa.
��� Ent��o? ��� indagou Suzana, jovem amor��vel. ���
A multid��o segue o nosso Mestre?
��� E por que n��o, Suzana, se Jesus �� um rastro
de luz e fonte do amor eterno?! ��� prorrompeu
183
Maria Madalena, que se encontrava ��s voltas com
a limpeza da casa, onde albergavam o Senhor.
A m��e de Jesus sorriu, ponderando:
��� Jesus, acima de tudo, �� amor e vida! E, talvez
por tantos cuidados com as coisas do Pai Celestial,
esquece-se de si mesmo, avan��ando no tempo,
curando leprosos, amparando vi��vas, acolhendo
crian��as ao encontro de seu cora����o!
��� N��s temos... que d'Ele cuidar, j�� que Ele se
esquece de si mesmo! ��� aditou Madalena.
Joana de Cuza suspirou.
��� Quem sabe um dia ��� sonhava Joana ��� meu
marido se distancie um tanto mais do pal��cio de
Herodes e, tamb��m, venha a servir comigo ��quele
184
que traz a palavra da Vida Eterna!
A m��e de Jesus, que bem conhecia os sacrif��cios
de Joana, por ela se ter inclinado a servir a seu Filho
Jesus, contrariando o esposo que era procurador
do Rei Herodes, procurou confort��-la:
��� Seu companheiro, Joana, ainda est�� confundido
com os valores deste mundo. Equivocado,
temporariamente, ele disputa as posi����es de
sali��ncia no pal��cio de Herodes e, por isso, talvez
enceguecido pela ambi����o de mando, faz-se
escravo do Rei!
Joana sorriu, contristada.
��� Ele... n��o aceita Jesus! ��� exclamou Joana. ���
Chega at�� a tem��-Lo e, por vezes, me censura
asperamente, dizendo que eu comprometo o seu
bom nome como procurador do Rei Herodes,
dentro do pal��cio!
A m��e de Jesus procurou confort��-la:
��� Sejamos pacientes, Joana! �� dif��cil, a quem
serve a Herodes, aceitar de servir algu��m que
nasceu numa estrebaria e que teve por primeiro
leito uma manjedoura. Sei, no entanto, que o seu
esposo, em algum momento de sua agitada vida,
tamb��m se aliar�� a n��s, colocando-se a servi��o da
Boa Nova!
��� Tenho, tamb��m contra mim, meu pequeno filho,
Maria!
185
Maria Madalena, humilde, ponderou:
��� Veja-me, Joana! Levei uma exist��ncia
conden��vel, entregue ��s paix��es avassaladoras,
por encontrar-me em batalha contra as sombras
que me assaltavam os sentimentos! E, quando
tudo me parecia ser apenas descida para as trevas,
eis que o Senhor me resgatou dos torvelinhos das
paix��es!
Joana baixou os olhos ��midos de l��grimas.
��� nimo, Joana! ��� confortou-a Madalena. ��� Se
estamos a servi��o do Mestre, n��o esque��amos
que, no tempo justo, a m��o do Senhor retirar��
seu esposo do vale dos valores passageiros deste
mundo!
Suzana colocou a m��o sobre os ombros de Joana,
querendo retemperar-lhe o esp��rito:
��� Vamos, Joana! Sorria, com a paz em seu
cora����o! O pr��prio Jesus nos tem repetido, quase
todos os dias, que cada cora����o tem o seu pr��prio
dia para abrir-se ao sol de uma nova aurora!
A m��e de Jesus ponderou:
��� N��o h�� noite espiritual que se eternize nos
cora����es, Joana! Podemos, todos n��s, sentir-nos
ditosos por estarmos servindo antecipadamente
a Jesus! E devemos, por isso, suportar as
contrariedades de nossa escolha e alimentar-nos
da certeza de que cada cora����o vir��, a seu tempo
186
justo, unir-se ao cora����o benevolente do Filho do Pai Alt��ssimo!
Madalena, tocada de amor, complementou:
��� N��o se esque��a, Joana, que a nossa Maria,
m��e de nosso Mestre, tem, em outros parentes
dela, que ela acolhe como filhos de seu cora����o,
espinhos envenenados por ci��mes.
Maria sorriu, suspirando.
��� Filhas, mesmo entre l��grimas, prossigamos
servindo, para que o Reino dos C��us se instale em
nossas almas, j�� que a Boa Nova �� a mensagem
definitiva em nossas vidas e Jesus �� o nosso
Sublime Pastor, descido do Mais Alto, para chamar-
nos ao sacerd��cio da ternura.
E aquelas mulheres, e muitas outras, eram
servidoras do Senhor!
187
30
MINHA M��E
Eram as primeiras horas do dia.
As ruas de Cafarnaum, de s��bito, foram tomadas
por uma multid��o de criaturas vindas de todas as
partes da Galil��ia, com olhos reluzindo e plenos de
esperan��as.
Tomavam o rumo do grande galp��o que Josu��, o
comerciante, cedera gratuitamente aos disc��pulos
de Jesus, para que ali o Mestre distribu��sse as
palavras da Vida Eterna.
O Senhor chegou com seus disc��pulos.
Abriram-lhe passagem e, entre os que ali se
postavam esperan��osos, muitos lhe tocavam na
t��nica, enquanto outros lhe endere��avam pedidos
de amparo e consola����o.
Sim��o Pedro e os demais disc��pulos do Mestre
189
desdobravam-se em ordenar a aglomera����o,
cuidando para que todos fossem ouvidos e
amparados, como desejava o Senhor.
Jesus colocou-se no centro do galp��o.
E, quando o Mestre ergueu os olhos, na dire����o
do Mais Alto, suplicando ao Pai Celestial a favor
de todos, estabeleceu-se um grande e sereno
sil��ncio, entrecortado por alguns solu��os dos que
sentiam fome de esperan��a.
* * * * *
Na casa de Maria chegaram os parentes de Jesus,
irm��os e irm��s, vindos de Nazar��.
A Senhora admirou-se.
��� Quem buscam aqui em Cafarnaum? ��� ela
indagou, algo apreensiva ao v��-los de fisionomias
sombrias. ��� Visitam-me?
��� N��o, Maria! ��� respondeu quase agressivo
Tiago, um de seus filhos. ��� Estamos em busca de
seu filho, Jesus!
Judas, outro dos seus filhos, completou:
��� Sabemos, pelo que ouvimos em Nazar�� e pelo
que se diz em Jerusal��m e por toda parte, que seu
filho, Jesus, est�� louco!
190
��� Queremos prend��-lo! ��� aditou uma das irm��s.
��� Queremos prend��-lo, para que n��o sejamos
mais molestados pelos sacerdotes do Templo, t��o
s�� por um louco pregar contra as coisas de nossa
ra��a!
Maria estremeceu, temerosa.
��� Jesus �� a express��o do amor divino, queridos!
��� contrap��s Maria. ��� E Jesus, por onde vai e onde
est��, �� toda a ��ltima esperan��a dos desvalidos da
sorte e de muitos dos doentes!
��� Isso �� o que voc�� pensa, Maria! Seu cora����o
est�� perturbado, t��o s�� porque Jesus �� seguido
por pessoas cr��dulas e tolas, que o tomam por um
profeta!
��� Se voc�� ama a seu filho ��� exclamou outro
191
deles ��� venha conosco, antes que os agentes
do Sin��drio lhe botem as m��os, fazendo descer a
desgra��a em todas as nossas casas!
A Senhora sentiu o cora����o aos saltos.
Sabia estar diante dos filhos que rejeitavam Jesus
como o Cristo e n��o lhe entendiam a miss��o
redentora e que, por isso, se faziam porta-vozes
das Sombras Espirituais.
Ela, ent��o, cerrou as p��lpebras, orando em sil��ncio
e, no fundo de sua alma, ouviu a voz do Senhor
que lhe repetia:
"Maria, amemos aos que se confundem, tornando-
se inimigos da Luz. �� indispens��vel que se fa��a o
Bem aos que nos querem Mal. Bendigamos, pois,
aos que nos maldizem e oremos por todos os que
nos perseguem e caluniam."
A Senhora rendeu-se de joelhos, diante de seus
espantados filhos e, ainda no sil��ncio de seu
cora����o, prosseguiu ouvindo Jesus:
"Se s�� amarmos os que nos amam, Maria, que
valor ter�� esse amor ego��stico? E se fizermos o
Bem s�� aos que nos fazem o Bem, onde estar�� a
nossa virtude?"
E Maria, erguendo-se diante de sua parentela, em
voz mansa e doce, assegurou:
��� Irei, com voc��s, at�� onde est�� Jesus!
192
* * * * *
Maria e seus parentes chegaram ao galp��o de
Josu��, parando do lado de fora, diante da multid��o
que tomava todos os espa��os.
��� Chamem Jesus! ��� ordenou um dos familiares
de Maria. ��� E digam-Lhe que aqui fora est�� a m��e
dele e seus irm��os, e que viemos busc��-Lo!
Houve um burburinho.
O pedido, passado de boca em boca, chegou
at�� Jesus, que se encontrava no centro daquela
multid��o.
��� Sua m��e e seus irm��os O procuram, Senhor!
Jesus, sereno, derramou o seu compassivo olhar
aos que O cercavam naquela hora e, erguendo a
voz, indagou:
��� Quem �� minha m��e e quem s��o meus irm��os?
Sim��o Pedro estremeceu.
Jo��o, pr��ximo de Jesus, fitou enternecido a Maria.
E Jesus, repassando o seu olhar sobre todos os
que ali se acotovelavam, assegurou:
��� Eis que em voc��s tenho a minha m��e e os meus
irm��os! Saibam que somente aqueles que fazem a
vontade de Deus, ter��o comigo parte, porque esse
�� meu irm��o, minha irm�� e minha m��e!
E, ap��s ligeira pausa, completou:
193
��� Os la��os de sangue criam a parentela do corpo.
Mas, esses la��os ser��o bem fr��geis se, ao mesmo
tempo, n��o criarem a fam��lia espiritual.
E, ap��s ligeira pausa, prosseguiu:
��� O ter nascido, no mesmo lar, n��o nos faz irm��os
em esp��rito! E, na verdade, somente os la��os
do amor nos unem, formando a parentela pela
afinidade da alma!
Voltando-se para Maria, que se destacava na
multid��o, faces banhadas em l��grimas, asseverou:
��� Voc��, Maria, �� meu anjo tutelar!
Uma mulher, no meio do povo, profundamente
tocada no cora����o, levantou-se e, em tom decisivo
e forte, disse a Jesus:
��� Bem-aventurado �� o ventre que lhe carregou,
Senhor! E bem-aventurados s��o os seios que lhe
amamentaram!
Jesus, contudo, apercebendo-se do veneno que se
cont��m no elogio pessoal, que poderia transformar-
se em perigoso corrosivo nas obras santificadas,
respondeu firme:
��� Digamos, isto sim, que bem-aventurados s��o
os que ouvem a palavra de Deus e a colocam em
pr��tica, no dia a dia, j�� que somente assim haver��
o dom divino, na humildade de seus cora����es.
Os parentes de Jesus se retiraram, amuados.
194
Maria quis cham��-los de retorno, quando a m��o
do jovem Jo��o, disc��pulo bem amado do Mestre,
repousou sobre o ombro esquerdo da Senhora,
como a acalentar-lhe o cora����o.
��� Voltemos para a sua casa, Senhora!
E Maria, jubilosa e em sil��ncio, deixou-se conduzir
por Jo��o.
Ap��s alguns passos, humilde e branda, assegurou:
��� Tamb��m estes, que hoje queriam sufocar o
Senhor, um dia vir��o a ter momentos de Luz, sob
as b��n����os do Pai Celestial e, como Jesus, ser��o
filhos de meu cora����o!
195
31
PRIS��O DE JESUS
�� madrugada em Jerusal��m.
Jo��o, o jovem disc��pulo de Jesus, esgueirava-se
pelas ruas da cidade, buscando confundir-se com
as sombras, evitando pessoas e, principalmente,
os guardas do Templo.
Alcan��ou o arrabalde e, ap��s observar que estava
s��, bateu de leve na porta da casa de Maria de
Marcos e, quase em seguida, foi acolhido.
��� Que surpresa �� esta, Jo��o?! ��� indagou Maria
de Marcos ��� Aconteceu alguma coisa?
Jo��o baixou a cabe��a, indagando:
��� A... m��e de Jesus est��?
��� Sim, Jo��o! Est��vamos orando na sala dos
fundos, j�� que ela se sentia apreensiva... sem
saber por qu��!
197
��� Vamos at�� ela! ��� suplicou Jo��o.
E, juntos, adentraram ao compartimento onde a
m��e de Jesus, com a m��o direita sobre o pr��prio
peito, parecia recolher sinais de seu cora����o.
Ela ficou p��lida, diante de Jo��o.
��� A senhora sabe... ��� balbuciou Jo��o. ��� Ao v��-
la... sei que a Senhora j�� sabe! Venho, pois, dizer-
lhe que seu filho Jesus, meu Mestre, foi preso no
Jardim de Gets��mani, pelos guardas do Templo!
Maria sufocou doloroso solu��o.
��� Perdoe-me, Senhora, por eu ser o portador de
t��o dolorosa not��cia ��� rogou Jo��o, pondo-se aos
p��s de Maria.
��� Voc�� estava l��, Jo��o? ��� indagou Maria de
Marcos. ��� E conseguiu escapar da guarda?!
Jo��o suspirou, humilde.
��� Ocorre, minha amiga, que assim que foi
manietado pelos guardas, Jesus lhes disse que
era a Ele que buscavam, que deixassem ir os seus
disc��pulos!
Ligeira pausa e complementou:
��� O pr��prio Mestre, tendo autoridade sobre n��s, os
seus disc��pulos, e parecendo ter autoridade sobre
os pr��prios guardas, nos despediu, afirmando que
a profecia anunciava que nenhum de n��s, os seus
disc��pulos, se perderiam!
198
A m��e de Jesus suspirou:
��� Isso �� bem d'Ele, Jo��o! O dom��nio das situa����es
e o conhecimento dos cora����es de todas as
pessoas... e subordina����o �� vontade do Pai
Celestial.
Maria de Marcos procurou consol��-la:
��� Quem sabe, Maria, desfeito o equ��voco, j�� que
Jesus n��o �� nenhum delinquente, soltem o nosso
amado Nazareno!
Jo��o sacudiu negativamente a cabe��a.
��� Pouco tempo antes, Maria ��� esclareceu Jo��o ���
Jesus nos havia dito que a hora de seu sacrif��cio era
chegada e que cada um de n��s, seus servidores,
deveria deix��-Lo... ser��amos dispersados... e cada
um deveria voltar-se para a sua casa interior, j�� que
Ele n��o estava s��, porque o Pai Celestial estava
com Ele!
Jo��o chorava sobre o colo da M��e de Jesus e ela,
num gesto de excelso amor e submiss��o, acariciou
os cabelos dele.
��� Acalme-se, Jo��o! Sei que, a partir deste
instante, meu cora����o estar�� chorando por Jesus!
Contudo, sei que Ele quer de mim, demonstra����es
do leg��timo amor maternal, sem que eu me interne
na desespera����o desequilibrante.
��� E ... n��o poderia ser eu... ou um outro dos
seguidores, a ser preso?! ��� protestou Jo��o, num
199
arroubo.
��� E por que, Jo��o? ��� interrompeu a M��e de
Jesus. ��� Porventura, uma outra m��e n��o sofreria
tamb��m?
��� Ele... foi aprisionado, sem ter culpa! ��� exclamou
Maria de Marcos. ��� Que fez Ele, a n��o ser oferecer
amparo e consolo aos aflitos e a indicar-nos, a
todos, o caminho que nos eleva espiritualmente?
��� E j�� que n��o cometeu crime algum ��� ponderou
a M��e de Jesus. ��� �� um inocente que se oferece,
como ovelha mansa e pac��fica, ao altar do sacrif��cio,
200
sem ter do que se condenar!
A M��e de Jesus levantou-se.
��� Traga-me todas as not��cias, Jo��o! Aqui ficarei...
orando!
��� Orarei, tamb��m, por Jesus! ��� ofereceu-se
Maria de Marcos.
A M��e de Jesus fitou-a, enternecida.
��� N��o, minha amiga! ��� assegurou a m��e de
Jesus. ��� Oremos, antes, pelos algozes de meu
Filho, j�� que eles est��o de cora����o mergulhado
nas Sombras e s��o mais necessitados de nossas
preces, enquanto que Jesus se glorifica em sua
miss��o consoladora!
Jo��o, levantando-se, beijou as m��os da m��e
de Jesus e, olhando triste a Maria de Marcos,
assegurou:
��� Permane��am aqui! Vou trazer-lhes not��cias
sobre a dor que nos aflige!
201
32
O J U L G A M E N T O
Jo��o, o disc��pulo muito amado, acompanhado de
Maria de Marcos, traz a m��e de Jesus para junto
da multid��o.
��� Voc�� sofrer�� ainda mais! ��� advertiu-a Jo��o,
querendo poup��-la de outras l��grimas. ��� Estamos
diante de pessoas que s�� t��m olhos para os seus
pr��prios interesses pessoais!
A m��e de Jesus olhou �� sua volta.
��� Onde est��o os que se beneficiaram com o
amparo que lhes ofereceu meu Filho?! S�� muito de
longe vejo alguns, calados, a assistir ao julgamento
injusto!
A multid��o, intranquila e inconsequente, ululava.
Pilatos fez trazer Jesus, diante do povo agitado
pelos sacerdotes do Templo e, ao mesmo tempo,
203
mandou trazerem o preso chamado Barrab��s.
Maria espantou-se, ao ver Barrab��s.
Sentiu, contudo, �� dist��ncia, o olhar sereno de
Jesus a penetrar-lhe o fundo d'alma, balsamizando-
Ihe a dor naquele momento decisivo.
V�� que seu Filho est�� maltratado!
Pilatos, p��lido e temente, recordando-se que a
sua mulher o advertira de que ele nada tinha a ver
com aquele Justo, mas que sofrera muito, em suas
vis��es, por causa de Jesus, ergueu a voz, tr��mula,
nervosa:
��� Neste dia solene, como Governador que sou,
liberto para voc��s o encarcerado que voc��s
queiram!
E Pilatos mandou vir Barrab��s.
��� Eis um dos presos! ��� apontou Pilatos. ��� �� um
perigoso desordeiro!
Mandou, ent��o, Pilatos que se colocasse Barrab��s,
lado a lado com Jesus.
Maria estremeceu.
Vendo aquele homem, lembrou-se de que, um dia,
Barrab��s fora conduzido a seu lar pelas m��os de
Jesus.
Barrab��s, por sua vez, reconheceu Jesus.
Baixou a cabe��a, comovido, j�� que em toda a sua
204
exist��ncia tumultuada, guardava em seu cora����o
a lembran��a do jovem de Nazar��, que lhe dera
abrigo.
Pilatos, naquele momento, solenemente perguntou
ao povo:
��� A quem voc��s querem que eu solte: a Barrab��s,
um malfeitor conhecido, ou a Jesus, chamado o
Cristo?
Houve, ent��o, um segundo de sil��ncio.
Os sacerdotes, diante da hesita����o, passaram a
envenenar a multid��o assegurando-lhes que Jesus
seria a perdi����o de Israel.
Bastou isso e a multid��o desajustada, bradou:
��� Solte Barrab��s! Solte Barrab��s!
Pilatos empalideceu ainda mais.
Maria, agoniada, a tudo acompanhava em
sil��ncio... um sil��ncio banhado de l��grimas e de
dores maternais!
E libertaram Barrab��s...
O famoso preso, de pronto, atravessou entre a
multid��o, aplaudido pela leviandade de muitos que
ali se postavam e, acercando-se de Maria, toma-
lhe as m��os e as beija:
��� Perdoe-me, Senhora!
205
Barrab��s retirou-se, por entre os que o aplaudiam,
lembrando-se de que o jovem Nazareno um dia lhe
dissera que seriam submetidos ao julgamento do
povo e o pr��prio povo escolheria entre as sombras
e as luzes.
A multid��o voltou-se, outra vez, �� cena do
julgamento.
��� Que farei de Jesus, que se chama Cristo? ���
indagou Pilatos �� multid��o intranquila. ��� Que farei
com este, em quem n��o encontrei erro algum?!
��� Que seja crucificado! ��� foi o grito un��nime,
comandado pelos sacerdotes. ��� Que seja
crucificado!
206
Pilatos, suando frio, ainda perguntou:
��� Mas... que mal fez este Jesus?!
A multid��o, por��m, gritava ainda mais:
��� Que seja crucificado!
Pilatos, assaltado pelos seus pr��prios
temores, receando as tramas palacianas e o
poder de influ��ncia dos judeus junto a C��sar,
despreocupando-se de seus deveres e de sua
pr��pria responsabilidade de Governador, entregou
Jesus para ser crucificado.
Jo��o, o disc��pulo, lendo nos olhos de seu Mestre
a mensagem de prud��ncia, tomou Maria em seus
bra��os, afastando-a da multid��o enlouquecida.
207
33
A C A M I N H O D O C A L V �� R I O
Jesus atravessou as cercanias de Jerusal��m, na
dire����o do Calv��rio.
Ap��s Ele, vinham Madalena, Joana de Cuza,
Suzana e outras mulheres em l��grimas silenciosas,
ladeando Maria de Nazar��.
Jo��o, o ap��stolo, apoiava a m��e de Jesus que,
em solu��os contidos, se mantinha em estado de
profunda ora����o, erguendo seus olhos marejados
ao Infinito.
Um outro grupo de mulheres, destacando-se da
multid��o atribulada e enlouquecida, traziam seus
filhinhos e os mostravam ao Mestre, caindo em
prantos e lamenta����es.
O Senhor, cabe��a coroada por espinhos, derramou
seu sereno olhar a todas as que choravam e se
lamentavam, dizendo-lhes:
209
��� Filhas de Jerusal��m! N��o chorem por mim, que
fa��o a vontade de meu Pai, trazendo-lhes novas
luzes para este mundo. Antes, chorem por voc��s
mesmas e por seus filhos, ante o porvir de dores
redentoras!
E, ap��s uma pausa, o Senhor olhando a Jo��o e ��s
mulheres que o seguiam, disse-lhes:
��� Se com o lenho verde, os homens fazem o que
est��o fazendo, o que n��o far��o esses mesmos
homens com o lenho seco da videira da Vida?
Suzana estremeceu no fundo d'alma.
E, pr��xima da M��e de Jesus, indagou:
210
��� Maria... que fala nosso Mestre e Senhor?
A Senhora, cora����o trespassado de dor, voltou-se
�� sua companheira de tarefas redentoras, junto de
Jesus, dizendo-lhe:
��� Suzana, voc�� sabe que todas n��s que servimos
a Jesus, sabemos que Ele �� a videira eterna e que
nos trouxe a seiva divina do amor. No entanto,
em retribui����o ao seu amor, o mundo oferece-lhe
apenas a cruz do sacrif��cio.
Suzana, muito sens��vel, solu��ou.
��� Vendo-nos ��� prosseguiu a m��e de Jesus ���
como galhos secos na ��rvore da Vida, Ele nos alerta
de que necessitamos de repara����es e corrigendas,
para ajustar-nos ao caminho do Amor.
Jo��o, atento, adicionou, ap��s a pausa de Maria:
��� Irm��s, tamb��m teremos as nossas cruzes!
Deveremos prosseguir servindo ao mundo, sem
exigir que nos aceitem e nos compreendam!
Maria, sofrida, mas resignada, destacou:
��� Carregaremos, como faz meu Filho, as nossas
cruzes! Ele, contudo, carrega a d'Ele, para dar-nos
seu exemplo imorredouro. E n��s carregaremos as
nossas, buscando a nossa pr��pria reden����o.
Madalena, olhos injetados pelo pranto discreto e
contido �� custa de muito esfor��o, ponderou:
��� Somos convocadas aos processos de educa����o
211
de nossos sentimentos, Suzana!
E a m��e de Jesus fez um sinal afirmativo,
detalhando:
��� N��o temamos o amanh��, queridas amigas de
meu cora����o. Sei que todas estaremos sob o
resguardo da Lei do Amor, que nos convoca, com
sabedoria e compaix��o, ao nosso crescimento
espiritual.
Joana de Cuza aditou:
��� Toda m��e far�� o caminho de seu pr��prio Calv��rio,
oferecendo-se em testemunho e sacrif��cio aos
filhos extraviados dos caminhos do mundo!
Maria baixou os olhos, ferida no fundo de seu
cora����o, ao ver os soldados crucificarem seu Filho
e levantarem a cruz contra o azul do C��u.
212
��� Entre... a Terra e os C��us! ��� exclamou Jo��o,
num solu��o de compaix��o ��� expulsam-nO da
Terra, mas o Pai Celestial h�� de devolv��-lo a n��s,
que temos sede e fome de seu amor divino!
Maria contemplou Jesus, entre a cortina de suas
l��grimas de amor e resigna����o.
213
34
R E S I G N A �� �� O M A T E R N A L
No Calv��rio, aos p��s da cruz em que Jesus como
que abria os bra��os na dire����o dos C��us, Maria
apercebeu-se que, com seus olhos plenos de
compaix��o, Jesus olhou a seus algozes e clamou:
��� Pai, perdoa-lhes, porque estes que aqui est��o
n��o sabem o que fazem a si pr��prios, nesta hora!
Se soubessem das consequ��ncias de seus atos,
sei que n��o fariam o que fazem!
Maria, neste instante, ouviu gemidos de dor.
Olhou �� sua volta, vendo aproximar-se dos p��s da
Cruz de seu Filho, um jovem de olhos esbugalhados,
desvairado em si mesmo.
O jovem fitou Maria.
Ap��s, num impulso s��bito, o estranho visitante,
entre grunhidos e solu��os, atirou-se aos p��s da
215
cruz, abra��ando-se ao madeiro seco.
��� Salve-me, Senhor! ��� bradava, espumando pela
boca.
E, caindo ao ch��o, em crise epil��ptica, estertorava
e lacrimejava, dizendo:
��� Voc��, Divino Crucificado... era minha ��ltima
esperan��a!
Maria, incontinenti, avan��ou na dire����o do jovem e,
tendo Jo��o a seu lado, recolheu a cabe��a do infeliz
em seu colo, num gesto de infinito amor maternal.
��� Ajude-me! ��� clamava o jovem maltrapilho, sujo
e angustiado. ��� Retire-me das Sombras Espirituais
que me enlouquecem!
216
E, de uma das m��os cravejadas de Jesus,
desprenderam-se duas gotas de sangue que ca��ram
sobre a fronte do lun��tico, que se encontrava nos
bra��os de Maria.
��� Oh! Senhora! ��� chorou o jovem, no colo de
Maria. ��� Seu augusto Filho se apiedou de mim!
E, Maria comovida, sentiu que o lun��tico se
recompunha e se erguia, liberto das trevas
dolorosas em que estivera mergulhado.
��� Filho! ��� disse Maria ao jovem que se punha
em p��. ��� S�� posso repetir-lhe, nesta hora, o que
Jesus sempre nos dizia, ap��s nos trazer �� Luz de
um novo estado d'alma: "V�� e n��o erres mais!"
Jo��o estava comovido.
O ex-lun��tico, olhando a Jesus, na cruz, voltou-se
a Maria, grato e temente:
��� Acaba... aqui, o Cristo?!
Maria, segura, esclareceu-o:
��� N��o, meu caro! Aqui, neste Calv��rio, somos
herdeiros de Jesus... e em nome do Bem,
deveremos soerguer-nos com a legenda do amor
em nossos atos, a beneficio da obra que meu Filho
instalou na Terra e no cora����o de todos os homens
de boa vontade e de ��nimo inquebrant��vel!
Os verde-azuis olhos de Maria recobriram-se de
l��grimas de resigna����o e de profundo amor.
217
35
AO P�� DA CRUZ
Os soldados sentaram-se, n��o muito distantes da
Cruz em que Jesus se encontrava agonizante, e
montaram guarda.
Maria tinha o cora����o assaltado pela dor pungente.
A seu lado as outras mulheres e, tamb��m, Jo��o
que lhe fazia companhia, relembrando os seus
amigos de discipulado que haviam desertado
covardemente e, tendo pr��ximo de si o ex-lun��tico.
Um grupo de homens debochados aproximou-se
da cruz, dizendo:
��� Ei... voc��! ��� gritou um deles, impiedoso. ��� Se
voc�� destr��i o Templo e torna a levant��-lo em tr��s
dias, salve agora a voc�� mesmo! ��� terminou em
impiedosa gargalhada.
O companheiro, frio e mordaz, inteirou:
219
��� Se voc�� �� realmente o Filho de Deus, des��a
dessa cruz e saia andando entre n��s.
Aquelas ofensas torturavam o cora����o de Maria.
��� N��o se importe, Senhora, ��� diz-lhe o ex-lun��tico
��� esses, que gritam blasf��mias a seu Filho, s��o
mais loucos do que eu era!
E, mal terminou de anunciar tal pensamento, eis
que um grupo de sacerdotes se aproximou da Cruz.
��� Voc�� diz que salvou os outros! ��� gritou ir��nico o
sacerdote. ��� Ent��o, salve-se a si mesmo.
Um outro deles, trovejou:
��� Se voc�� �� o Rei de Israel, des��a dessa cruz
e acreditaremos em voc��! ��� terminou, em
gargalhadas.
E um novo insulto saiu pelos ares:
��� Se voc�� confiou em Deus, onde est�� Ele que
n��o O liberta agora, Nazareno? Ou ser�� que o seu
Deus n��o lhe quer bem?
Maria tapava os ouvidos com as m��os e, mesmo
assim, cada blasf��mia proferida, diante de seu Filho
agonizante, lancetava-lhe o cora����o maternal.
��� Loucos! Loucos ��� saiu gritando o ex-lun��tico,
avan��ando contra os sarc��sticos sacerdotes. ���
N��o sabem, acaso, que ferem esta m��e que me
amparou?
Jo��o o conteve.
220
Maria, receando pela vida do jovem que tinha sido curado com as gotas de sangue de seu Filho,
procurou tranquiliz��-lo:
��� Os insultos atirados contra meu Filho, n��o me
ferem ��� falou ao ex-lun��tico. ��� Acalme-se e
aprenda, desde j��, a suportar as investidas das
Sombras que querem o nosso desequil��brio!
��� Mas... Senhora!
��� Rogo-lhe, meu jovem, que busque compreender
que devemos perdoar os que nos ofendem e
devemos orar em favor dos que n��o nos querem
bem! Al��m disso, esses que hoje blasfemam contra
o Pr��ncipe da Paz, amanh�� se render��o ��s luzes
do amor, tal qual lhe ocorreu aos p��s da Cruz!
Sobreveio grande calmaria.
Maria e Jo��o, seguidos das outras servidoras do
Mestre, que ali permaneciam fi��is e destemerosas,
acercaram-se mais ainda aos p��s da Cruz.
Jesus, ao ver a sua m��e, e perto dela Jo��o, o
disc��pulo a quem Ele amava, disse:
��� M��e, eis a�� seu filho!
E, voltando Jesus seus olhos para Jo��o, declara-
lhe:
��� Jo��o, eis a�� a sua m��e!
Jesus inspirou profundamente e, olhando na
dire����o do Mais Alto, balbuciou:
221
��� Pai... em suas m��os me entrego!
Maria solu��ou, agoniada, chorando nos bra��os
de Jo��o que passava, a partir daquele instante
doloroso, a ser o filho de seu cora����o.
222
36
I N Q U I E T A �� �� O
Maria buscou o repouso da noite.
Algo inquieta, relembrava os ensinamentos de
Jesus, onde a brandura, a fraternidade, a humildade
eram o tempero da caridade leg��tima, fermentos
espirituais do crescimento da alma.
Suspirou dolorosamente.
Os disc��pulos de seu Filho, ap��s o ressurgimento
do Senhor, deixando o t��mulo vazio, j�� se haviam
espalhados pelo mundo, mas deles recebia not��cias
de lutas intensas, de conflitos dolorosos, de crises!
��� Oh! Filho! ��� remo��a em seus pensamentos,
temperados de algumas desilus��es. ��� Mal voc��
cerrou os olhos a este mundo, e vejo, neste meu
abrigo, a minha parentela se digladiar... cada um
buscando mais sali��ncia que os demais!
223
L��grimas desciam-lhe pelas faces.
��� Onde teremos deixado o amor, uns pelos outros,
que Voc�� tanto nos ensinou?! Quem, entre estes
de meu sangue, aceitariam cingir-se com a toalha
do servidor e lavar os p��s uns dos outros?!
E Maria adormeceu solu��ando.
* * * * *
O sol do novo dia destacou-se no nascente, com
raios p��lidos e reconfortantes.
A irm�� de Maria adentrou-lhe o dormit��rio.
��� Maria, voc�� tem uma visita!
Maria, sentando-se ao leito, recomp��s-se e, embora
com as marcas de inquieta����o de sua fisionomia,
colocou-se em p��.
Na sala, defrontou-se com Jo��o.
O ap��stolo, muito amado por Jesus, envolveu-a
num quente abra��o fraternal, chorando ambos, um
no ombro do outro, a trocar doces recorda����es.
Sentaram-se, lado a lado.
��� Vejo-a p��lida, minha Senhora! ��� confidenciou
Jo��o, a baixa voz. ��� Alguma coisa lhe traz inquieta
e apreensiva!
E Maria, para n��o fermentar o clima de desconforto
224
de sua parentela, tomou a m��o de Jo��o e, juntos, sa��ram pela ruas, em passeio silencioso.
��� Voc�� voltou, filho de meu cora����o! ��� explodiu
Maria, sem conter suas l��grimas de saudade.
��� Vim busc��-la! ��� afirmou Jo��o.
��� Buscar-me?!
Jo��o, parando diante do cen��rio singelo da regi��o,
fitou-a t��o profundamente que Maria se sentiu
examinada por dentro de sua intimidade e, assim
baixou a cabe��a, num gesto de humilde ternura.
��� Avalio, Senhora, seu sofrimento, junto de sua
parentela! Querem guardar-lhe para eles, qual se
voc�� lhes representasse a seguran��a de uma nova
aristocracia espiritual que pretendem erguer, em
raz��o de voc�� ter sido a m��e de Nosso Senhor!
A doce m��e de Jesus estremeceu.
��� Tenho sobrevivido de lembran��as, Jo��o. ��� ela
confessou e complementou. ��� De lembran��as de
Jesus e de profundas inquieta����es pelo rumo dos
acontecimentos que envolvem a heran��a da Boa
Nova.
��� Vim lhe buscar, Maria! ��� reafirmou Jo��o.
Ela estremeceu, reacordando esperan��as em alma
sens��vel.
��� Em ��feso, Maria ��� esclareceu Jo��o ��� temos
uma singela casinha, onde voc�� poder�� sentir a
225
paz da consci��ncia, na realiza����o de seus deveres de fidelidade �� Boa Nova!
* * * * *
Semanas depois, Jo��o conduzindo Maria de
Nazar��, na posi����o de um filho que ampara a
pr��pria m��e, chegaram a um cabo formado de
rochas elevadas.
Estavam em ��feso!
No alto, casinha modesta.
Abaixo, o mar a lavar, com suas ondas, a praia e as
pedras, num som harmonioso e envolvente.
Subiram as escarpas.
E Maria, parando �� porta da singela vivenda,
repletou-se de natural alegria, como se estivesse
reencontrado a raz��o de viver!
��� Eis seu novo lar, Senhora! ��� disse-lhe Jo��o.
��� E, aqui, voc�� ter�� seu ninho, n��o s�� de
recorda����es, mas tamb��m distante dos embates
v��os e perniciosos, daqueles que querem se servir
de Jesus.
Ap��s ligeira pausa, Jo��o inteirou:
��� Esta ser�� a sua oficina de amor!
��� Ficaremos juntos? ��� indagou Maria, num
226
sorriso feliz.
��� N��o, Maria! Ficaremos unidos, mas n��o juntos,
j�� que a Boa Nova me requer a presen��a na Gr��cia,
num agrupamento florescente do Cristianismo!
Beijaram-se, m��e e filho.
E, poucos dias depois, j�� instalada na casinha
humilde, Maria, �� porta da vivenda, erguia a m��o,
numa despedida a Jo��o.
��� Jesus lhe ampare! ��� ela sussurrou amorosa. ���
Jesus lhe inspire! E Jo��o, descendo o promont��rio,
despedia-se da m��e de seu cora����o.
227
37
O VISITANTE
Eram as primeiras horas da noite.
Arfando, ao subir pela escarpada trilha, aquele
homem de cabelos desgrenhados, sobrancelhas
espessas e pele curtida pelo sol, apertava a t��nica
contra o corpo querendo proteger-se do vento frio
e ��mido que nele se esbatia, vindo do Mar Egeu.
Deu mais alguns passos, tr��pego.
Sentou-se sobre uma pedra do caminho e recobriu-
se ainda mais, medindo com os olhos a dist��ncia
a vencer.
��� �� a Casa da Sant��ssima! ��� resmungou em
baixa voz.
Levantou-se aturdido quase como um ��brio prestes
a estatelar-se sobre a trilha ��ngreme e, arfando,
prosseguiu na penosa caminhada, num supremo
229
esfor��o de passo a passo.
Parou diante da casa singela.
De punho cerrado, bateu firme na porta e, deixando-
se escorregar pela parede, sentou-se no ch��o.
Maria, dentro do abrigo, ouvindo as pancadas,
seguidas de gemidos dolorosos, abriu a porta,
recebendo o vento frio no seu rosto.
��� Meu Deus! ��� condoeu-se e abaixou-se para
abrigar o infeliz que ali estava. ��� Venha, meu bom
homem!
* * * * *
Cabe��a baixa, barba salpicada de fios brancos,
entrou.
Acomodado, em torno da mesa tosca no centro
da sala, assim como quem sofre com o inverno
da idade, recompunha-se com a sopa quente que
Maria lhe servira.
��� Voc��... �� a Sant��ssima! A m��e de Jesus! ���
murmurava, mastigando as palavras, sempre de
cabe��a baixa.
��� Sou Maria, sim! E quem �� voc��, meu bom
senhor?!
Ele manteve um longo sil��ncio, cabe��a mergulhada
no prato de sopa e, finalmente, informou:
230
��� Sou... um perigoso assaltante, Senhora! Sou
um homem sem lei e sem piedade... Algu��m que
j�� buscou fazer-se amigo dos injusti��ados e...
ao mesmo tempo, sou um temido assaltante de
estradas desertas!
Maria, sem temor, queria identific��-lo.
J�� o vira e ouvira, mas... onde?! Em que lugar de
sua mem��ria se guardavam as lembran��as que
n��o se definiam?!
��� Todos me temem, Senhora!
Maria apiedou-se daquele farrapo humano,
sentindo-lhe o cora����o feito de ang��stia e solid��o.
Serena, ela sentou-se diante dele.
231
��� Jesus, um dia, contou a hist��ria de um homem
que descia de Jerusal��m para Jeric�� e que, a meio
do caminho, foi v��tima de um assalto ��� come��ou
Maria, revolvendo suas doces recorda����es do
Messias. ��� E, dentro da noite, um samaritano
solit��rio prestou-lhe socorro e pensou-lhe as
feridas. Em seguida, levou-o a uma hospedaria e
deu-lhe a assist��ncia necess��ria.
Houve uma longa pausa.
��� E... o assaltante, Senhora? Que lhe aconteceu?
Ela suspirou docemente.
��� Conta-se que Jesus, ap��s ter acompanhado as
provid��ncias do socorro misericordioso, voltou-se
atento, observando as pegadas do assaltante que
ficaram na areia e, pacientemente, p��s a segui-las,
at�� deparar-se com o infeliz agressor!
��� E... ent��o, Senhora? Ele levou o assaltante aos
ju��zes da regi��o?
Maria entressorriu.
��� N��o, filho! Sabendo que todo assaltante �� um
infeliz doente que se violenta a si mesmo, o Senhor
o recolheu em seus bra��os de miseric��rdia, dando-
lhe amparo e carinho, prote����o e ternura, para
traz��-lo, um dia, �� luz do equil��brio espiritual!
O grosseiro homem lacrimejou.
��� Senhora ��� disse ele, entre solu��os. ��� N��o sou
um assaltante comum! Talvez a Senhora venha a
232
odiar-se, por ter me dado abrigo.
��� E... odiar-me... por qu��?
O homem hesitou e, com voz arrastada, mastigando
palavra por palavra, confessou ��quele cora����o
maternal:
��� �� que um dia, Senhora... deixei que seu amado
Filho tomasse o caminho do Calv��rio, levando
uma cruz infamante, enquanto eu... obtinha, na
condena����o dele... a minha liberdade, diante de
Pilatos!
��� Barrab��s! ��� reconheceu-o Maria, num murm��rio
em tom de piedade. ��� ��... voc��, Barrab��s?!
233
��� Sim, Maria! Sou aquele que um dia o seu Filho
me levou a seu lar e... num dia, que �� hoje ... atrevi
a rev��-la... j�� entregue ��s minhas derradeiras
for��as f��sicas!
Ele baixou ainda mais a cabe��a.
Maria o abra��ou, enternecida.
��� Voc��... n��o me odeia?! ��� ele indagou
tristemente.
��� N��o, Barrab��s! N��o lhe odeio e nem temo,
porque sei que Jesus foi quem lhe trouxe �� porta
deste nosso lar!
E, a partir do dia seguinte, Barrab��s tornou-se um
servidor dos infelizes que buscavam socorro na
Casa da M��e Sant��ssima.
234
38
C A R T A D E J O �� O
Maria, com algumas madeixas de cabelos brancos,
que lhe completavam o tom de nobre Senhora,
ao contemplar a paisagem singela de ��feso, via
aproximar-se de sua casa um homem de seus
quarenta anos.
Ele parou e lhe sorriu, �� pequena dist��ncia.
Ap��s, correndo entre as veredas ��ngremes e
pedregosas, chegou at�� Maria arfando e sorrindo
jubiloso.
��� Silas! ��� exclamou a m��e de Jesus. ��� Voc��
est�� um homem feito!
E Silas, agitado pela emo����o do reencontro, arroja-
se aos p��s de Maria e, tomando-lhe as m��os j��
enrugadas, beija-as sofregamente.
235
Maria ajoelha-se, tamb��m, e ambos se abra��am
em solu��os de santificada alegria.
* * * * *
Adentram na casa, onde Silas encontra com alguns
parentes de Maria.
A Senhora, como quem deseja desfrutar de
recatada intimidade, conduz-lhe a seu singelo
dormit��rio.
��� Voc��... deixou Bel��m, Silas?
��� Sim, minha Senhora! Deixei Bel��m, por��m,
magnetizado pelo amor de seu filho, Jesus,
incorporei-me ao trabalho do Cristianismo e,
assim, realizo todos os meus ideais de amor ao
semelhante, j�� que sempre fui pastor de ovelhas!
E, ap��s a breve pausa, Maria indagou:
��� E L��dia, sua m��e e minha benfeitora?
Silas baixou os olhos.
��� Mam��e... desencarnou, Senhora! E foi s�� ap��s
ela ter voltado ao reino eterno dos esp��ritos, que
busquei Jo��o, o ap��stolo, entre as gentes da
Gr��cia!
��� Voc�� tem servido a Jesus, juntamente com
aquele que Jesus me deu por filho do cora����o,
236
Silas?
��� Sim, minha Senhora! E, por sinal, aqui estou a
mando dele.
E Silas, retirando de seu alforje alguns pergaminhos,
informou sol��cito:
��� Trago-lhe carta de Jo��o.
Maria estava com os olhos marejados.
��� Se voc�� �� portador da extens��o da alma de
Jo��o, no formato de uma carta, leia-a... que
estarei a ouvi-lo, Silas, como se Jo��o me falasse
pessoalmente atrav��s de seus l��bios.
Silas, incontinenti e cuidadoso, abriu os
pergaminhos.
��� "Senhora eleita, e tamb��m aos seus filhos a
quem eu amo na verdade e que conosco estar��o
para sempre, eu lhes desejo a miseric��rdia e a paz
em Jesus Cristo."
Maria solu��ou, comovida, vendo Jo��o na tela de
sua mem��ria.
Silas prosseguiu na leitura.
��� "Fiquei sobremodo alegre em ter encontrado,
entre os seus filhos, aqueles que andam na
verdade e pe��o-lhes, por isso, que nos amemos
uns aos outros, tal qual seu filho Jesus nos amou,
j�� que a caridade principia no andarmos segundo
os mandamentos celestiais."
237
Maria, sensibilizada, comentou:
��� A caridade �� a fonte das b��n����os do Senhor,
Silas! Por isso, al��m de dar rem��dios aos doentes, o
p��o aos famintos, �� indispens��vel que acendamos
a luz do Evangelho nos cora����es dos que ignoram
as Leis Divinas.
Silas sorriu, tocado pela convic����o de Maria e, qual
aprendiz atento inquiriu:
��� E qual ser�� o meu dever, Senhora?
��� Voc�� sabe, Silas, que se nos fazemos servidores
do Bem, �� indispens��vel que nos alimentemos
com a Boa Nova, a fim de adquirir o esp��rito da
238
boa-vontade, j�� que todo aquele que ainda n��o
aprendeu a repartir a Luz Espiritual, ainda n��o
aprendeu amar a todos, sem distin����o, e, por isso,
n��o ter�� a seguran��a necess��ria na Seara do Amor
Divino.
Silas extasiava-se, quando ela completou:
��� Para que a caridade viva em n��s, �� indispens��vel
que pensemos, ajamos e sintamos os ensinamentos
de Jesus, para que n��o estejamos vazios nos
instantes do testemunho de nossa f��!
E Silas, ainda mais compenetrado, seguiu na
leitura:
��� "Acautele-se, Senhora, diante dos muitos
enganadores que tem sa��do a pregar, pelo mundo
afora. Muitos deles, n��o inteirados da excel��ncia
da Doutrina de Jesus, atropelam-se querendo
ser mestre entre os mestres e tripudiam sobre a
verdadeira doutrina."
Nova pausa e Silas completou:
��� "Se algu��m for ter com voc��, Senhora, e n��o
leva a doutrina de Jesus em suas almas e em seus
atos, n��o o receba na casa de seu cora����o e, pelo
contr��rio, evite at�� de dar-lhe as boas vindas, para
que voc�� n��o seja vista como c��mplice dele, nas
suas m��s obras e nos seus maus exemplos."
Silas suspirou, p��lido.
��� Dura esta advert��ncia de Jo��o, Senhora!
239
Ela sorriu esclarecendo:
��� Jo��o est�� a lembrar-nos, Silas, que o cora����o
�� a casa sagrada que n��o se deve contagiar com
ideias in��teis e, por isso, ele nos recomenda a n��o
abrigar, dentro de nossas almas, os que se dizem
crist��os, num movimento de l��bios, mas que n��o
trazem, em seus atos, os sinais da doutrina do
amor.
Silas enrolava os pergaminhos.
��� Silas, meu filho, n��o se constranja! Jo��o nos
recomenda, com sabedoria, que diante daqueles
que apenas falam da Boa Nova, sem vivenciar-
Ihes os princ��pios, deveremos convoc��-los para
que reflitam mais seriamente no que fazem,
sem contudo, feri-los e sem escandaliz��-los. O
essencial, para acolhermos os que nos buscam, ��
saber se eles j�� possuem alguma coisa do Cristo,
para dar aos que caminham em sombras.
Maria, de s��bito, cerrou as p��lpebras, recolhendo-
se em si mesma.
Silas, por sua vez, sentiu um abra��o generoso e,
chorando num instante de grande saudade, ouviu
Maria dizer-lhe, na voz de L��dia:
��� Filho, estou junto de seu cora����o! Sirvamos,
eternamente, o Senhor da Vida, quais doces
ovelhas de seu rebanho celestial!
240
E todos, numa ora����o silenciosa, uniam-se a Jesus!
241
39
V I S I T A N T E S
Um sol p��lido, nesta manh�� de ��feso.
Barrab��s, soprando sobre as suas m��os para
aquec��-las, mergulhou a vasilha na tina d'��gua
para abastecer a Casa da Sant��ssima.
Olhou distraidamente abaixo do promont��rio, por
entre a n��voa que recobria o Mar Egeu e, num
gesto seu caracter��stico, apertou as p��lpebras,
para ver mais longe.
N��o conteve um calafrio, na espinha!
Precipitadamente abandonou os vasilhames e
correu para dentro daquele pouso de caridade,
onde se alojavam viandantes sofridos, procurando
Maria e fechando, atr��s de si, e estrondosamente,
a porta da singela habita����o:
��� Senhora! ��� arfava Barrab��s, cora����o a pulsar
243
desordenadamente. ��� Vem l�� de baixo uns
guardas romanos, escoltando dois homens!
��� Acalme-se, meu filho! ��� ela procurou tranquiliz��-
lo. ��� Talvez nem estejam para vir aqui!
��� Eles... v��m vindo, sim! E, creio que trazem dois
perigosos criminosos... e poder��o prender-me
tamb��m!
Maria sorriu para tranquiliz��-lo.
Soaram, quase de imediato, batidas na porta.
��� Eu... n��o disse, Senhora! ��� estremeceu
Barrab��s ��� Eu... n��o lhe disse!
Enquanto Barrab��s buscava esconder-se, Maria
atravessou os modestos c��modos daquela vivenda
e, serena, abriu a porta.
��� Paulo! ��� prorrompeu Maria, jubilosa ��� Paulo
de Tarso!
O ap��stolo dos gentios, tendo a seu lado Lucas,
o m��dico grego que se incorporara ao movimento
do Cristianismo, prostrou-se de joelhos aos p��s de
Maria.
��� M��e Sant��ssima! ��� lacrimejava Paulo, beijando-
Ihe os p��s, numa atitude de total submiss��o. ��� A
Santa e doce m��e de nosso Mestre Jesus.
Os guardas estavam admirados.
Lucas, tocado no fundo d'alma, diante daquele
encontro, mudamente fitava os cabelos brancos
244
e sedosos daquela nobre Senhora, apercebendo-
se que os seus tra��os eram delicados e de uma
beleza incomum.
Observou, ent��o, que Maria tomava Paulo pelas
m��os e, num gesto silencioso, f��-lo levantar-se
e, em seguida, acolheu a todos na casa de seu
cora����o.
��� Voc��, Paulo, �� o vaso escolhido de meu filho
Jesus! O Cristianismo, por certo, agora repousa
em seus ombros e, com lutas e sacrif��cios
inimagin��veis, voc�� perpetuar�� para todas as
gera����es futuras, as li����es da Boa Nova.
Lucas espantou-se diante da afirmativa prof��tica.
245
* * * * *
Acomodaram-se, os rec��m-chegados, na sala.
Barrab��s, por insist��ncia de Maria, servia aos
visitantes e aos guardas, dando-lhes algum
conforto.
��� Estamos a caminho de Roma ��� asseverou
Paulo. ��� E, ouvindo a voz de meu cora����o,
supliquei ao oficial romano, que generosamente
nos conduz que me permitisse rev��-la... pois talvez
seja este o nosso derradeiro reencontro, nesta
vida, Senhora!
Maria estremeceu.
��� H�� tanto o que fazer, na distribui����o da
Mensagem da Esperan��a ��� asseverou Maria ��� e
voc�� me fala... em tom de adeus!
Lucas sorriu, buscando a descontra����o de todos.
��� Sant��ssima! ��� ponderou Lucas. ��� O nosso
Paulo reviu seu Filho, num destes dias e, de seu
sublime cora����o, Paulo disse-me que Jesus lhe
falou da Via ��pia, em Roma, como derradeira
etapa de seus imensos sacrif��cios.
Maria apiedou-se.
Paulo, contudo, quebrando o clima de pesar e de
constrangimento, falou:
246
��� Quero rogar-lhe, Sant��ssima, que receba Lucas, meu m��dico car��ssimo, no interior de sua alma!
E, ap��s uma pausa, �� frente do gesto amoroso de
Maria, completou:
��� Recomendo-lhe tamb��m, Maria, que depois
que eu der meu testemunho de fidelidade �� Boa
Nova, receba Lucas e lhe narre tudo o que voc��
testemunhou em rela����o a seu filho Jesus, a fim de
que este nosso irm��o e amigo possa narrar para
todas as gera����es futuras que nos suceder��o, as
not��cias do Evangelho, segundo o seu cora����o
maternal.
Os olhos de Maria reluziram.
Revia-se na estrebaria de Bel��m, contemplando
a doce crian��a confiada �� manjedoura, visitada
por pastores t��midos e por seres angelicais que
suplicavam por paz na Terra e boa vontade para
com todos os homens.
Maria, num doce enlevo, abra��ou maternalmente
Paulo.
O Ap��stolo dos Gentios, estremecendo em seu
cora����o marcado por lutas e conflitos dolorosos na
sustenta����o da Boa Nova, derramou l��grimas de
gratid��o, saudoso, tamb��m, de sua pr��pria m��e na
cidadela de Tarso.
Ele, ent��o, beijou as m��os e as faces de Maria.
��� M��e Sant��ssima! ��� disse ele, quase sufocado
247
de sublime emo����o e novamente dobrado aos
p��s da Senhora. ��� Aben��oe-me, renovando-me o
��nimo para que eu permane��a fiel ao nosso Mestre
e Senhor!
E, logo depois, Maria, �� porta de sua modesta
casinha, em l��grimas acenava a Paulo e a Lucas,
em despedida.
Maria os via distanciarem-se, sob a sua cortina de
l��grimas, e a confundirem-se dentro da neblina
daquele dia de sol p��lido.
248
40
S U B L I M E R E E N C O N T R O
Maria, enferma, sofria sobressaltos, condoendo-se
dos infelizes que lhe buscavam o amparo, sem que
ela pudesse prestar-lhes o socorro habitual.
Amigas de ��feso, contudo, passaram a desdobrar-
se, atendendo a quantos que buscavam a Casa da
Sant��ssima, socorrendo-lhes as necessidades e, a
quase todos os segundos, deixavam-se inundar de
pranto j�� saudoso.
��� Nossa M��e est�� doente, Senhor Jesus!
Ficaremos ��rf��s, sem a sua solicitude amorosa e
seu desvelo em ouvir-nos e consolar-nos!
Barrab��s, exausto, dormia aos p��s do leito da
Sant��ssima, levantando-se de pronto a cada leve e
discreto gemido que ecoava dos l��bios descoloridos
de sua Senhora ou aos assaltos de febre que a
levavam a delirar, chamando por Jesus.
249
Acendendo a candeia, o servi��al trazia alguma luz ��quele quarto ��ntimo e, ao mesmo tempo, evitava
que muitos, invadissem o c��modo, quebrando o
repouso dela.
Agora, noite avan��ada, Barrab��s dormia no ch��o,
ao p�� do leito.
Uma estranha brisa, adentrando aquele dormit��rio,
sacudiu levemente a candeia e, apagando a
chama bruxuleante, fez o aposento mergulhar na
escurid��o.
Maria sentou-se no leito.
De faces subitamente enrubescidas, abriu os olhos,
fixando-se numa n��voa luminosa, semelhante a
um aglomerado de estrelas, que dava ao aposento
um toque de esplendor.
A Sant��ssima abriu os bra��os e sorriu, saudando,
algo combalida:
��� Salve, Madalena! Voc�� vem me visitar? Que
felicidade em rev��-la, serva de meu Filho... que
felicidade!
Acolheu-a, junto de seu cora����o.
��� Ah! A minha Maria Madalena, rediviva, sem as
manchas e as deforma����es da lepra, voc�� agora
me visita!
Madalena acariciava-lhes os cabelos brancos.
��� Sant��ssima! ��� exclamou Madalena, abra��ando-a
250
com intimidade e com profundo amor. ��� Devo-lhe,
a voc�� e a Jesus, a minha reden����o!
��� Voc��... voltou do t��mulo, Madalena! E eu, nesta
hora, sinto-me �� porta dele!
��� A morte, Sant��ssima, �� mera ilus��o de nossos
recursos f��sicos! Temos, com seu filho Jesus,
novos poderes com a desencarna����o e, por isso
os t��mulos sempre estar��o vazios, j�� que fazemos
a viagem de retorno ao Plano Espiritual!
Maria, enfraquecida, indagou-lhe:
��� Voc�� veio... visitar-me? Ou veio buscar-me...
para o Reino do Pai, de onde meu Filho nos
sustenta em sua Seara de Amor?
251
Madalena negou, num gesto de cabe��a.
��� N��o vim buscar-lhe, Sant��ssima! Aqui estou, t��o
s��, para ampar��-la, assim como um dia a Senhora
me amparou nos ��ltimos minutos da minha
transi����o desta exist��ncia, para a Vida Maior!
Maria, combalida, estremeceu novamente.
Afebre atingira o ponto da ard��ncia e a enfermidade,
ao minar-lhe a resist��ncia org��nica, prenunciava-
lhe o final dessa romagem.
Madalena afastou-se ligeiramente.
��� E Jesus, Madalena? Onde est�� meu amado
Filho?
A porta se abriu e, entrando por ela um sol ardente,
uma intensa luz ofuscava a todos, e, do centro
dessa luz se destacavam dois bra��os generosos,
na dire����o de Maria.
252
��� Quem... me busca? ��� entregemeu Maria,
querendo ver e se sentindo ofuscada. ��� Quem me
busca, nesta hora?!
Duas m��os de luzes tomaram a dire����o da
Sant��ssima e, em seguida, corporificou-se Jesus.
��� M��e! M��e Sant��ssima! Vim busc��-la!
Madalena ajudou Maria a soerguer-se do leito,
desligando-se do casulo da carne e, t��o logo
ensaiou os primeiros passos, entregou-se aos
bra��os de Jesus.
��� Volte, Sant��ssima ��� diz-lhe Jesus ��� ao Reino
de Nosso Pai!
Maria, em l��grimas, sorriu dadivosa.
E, logo ap��s, dobrou-se de joelhos diante do corpo
inerte na cama e, erguendo os olhos na dire����o do
Infinito, orou:
��� Oh! Pai de miseric��rdia extrema! Sou-lhe grata
pela oportunidade da vida, nesta escola espiritual
aben��oada! E lhe agrade��o, tamb��m, �� Pai, por
ter-me permitido a oportunidade de guardar em
meus bra��os o seu Filho Amant��ssimo!
Grande sil��ncio.
O compartimento daquele sublime reencontro
estava em quietude.
Maria, entre Madalena e Jesus, afastam-se, em
j��bilo.
253
E, entre as m��os do corpo inerte, no seu leito de desencarna����o, estava uma rosa rubra como a
revelar o sublime aroma de vida, na Boa Nova a
que a Sant��ssima servira e, tamb��m, os espinhos
cravados em seu cora����o maternal.
254
41
I N S P I R A �� �� O D I V I N A
Maria abra��ava-se a Madalena, na sua retomada
do mundo espiritual, com Jesus acolhendo-a
estreitamente em seu cora����o feito de ternura e
gratid��o.
S��bito, a Sant��ssima parou.
��� Ou��o ��� disse Maria ��� Joana de Cuza a chamar-
me!
��� �� de Roma, Sant��ssima ��� advertiu Madalena.
��� No circo romano, os homens enceguecidos pela
dureza de seus cora����es, erguem piras de fogo,
sacrificando aqueles que seguem a Jesus!
Maria estremeceu apiedada.
��� Vamos atender as s��plicas que me alcan��am,
Madalena, j�� que n��o me sentirei em paz,
distanciando-me daqueles que compartilham
255
comigo as aspira����es de um mundo feito de amor!
* * * * *
O espet��culo na arena era terr��vel.
Joana de Cuza, ap��s ter-se recusado a rejeitar
o Cristianismo, ouvindo ainda os apelos
desesperados de seu filho, que se encontrava
sobre o lenho seco, em fogo ardente, recorria em
preces �� M��e Sant��ssima.
Ladeada por Jesus e Madalena, junto de Suzana
e outras servidoras j�� martirizadas, a Sant��ssima
aproximou-se de sua amiga.
Ao v��-la, pelos olhos do esp��rito, Joana bradou,
entre as labaredas que lhe crestavam as vestes e
o corpo:
��� Ampare a meu filho, Sant��ssima! N��o posso
poup��-lo da morte... em troca da ren��ncia de minha
fidelidade a seu filho, Jesus!
Maria, incontinenti, acercou-se da pira ardente,
onde gemia e estertorava o filho de Joana e,
envolvendo-o em sua ternura, f��-lo perder os
sentidos e, antes mesmo de v��-lo enlouquecer
sob as chamas vivas que lhe consumiam o corpo
jovem, retirou-lhe o esp��rito da carne torturada.
Jesus, seguido de Madalena, aproximou-se de
256
Joana de Cuza e, recobrindo-a com a b��n����o de
ternura, recolheram-na em seus bra��os de luz e de
amor.
No piso da arena, invis��veis aos olhos daquela
multid��o enlouquecida pela sede de sangue vivo
e que, impiedosa, ululava e aplaudia o sacrif��cio
indiscriminado, trouxeram o filho de Joana aos
bra��os maternais.
Maria estava at��nita.
��� Quanta dor, meu Filho! ��� disse Maria a Jesus,
com l��grimas lhe perolando os olhos. ��� Por que
tanto ��dio, onde sempre houve tanto amor?!
* * * * *
Maria, naquele instante, ouvia gemidos de jovens
e de criaturas em idade avan��ada que, entre as
grades das pris��es, aguardavam, em preces, o seu
instante de mart��rio.
Solu��os eram sufocados!
Os guardas, passando pelos corredores sombrios,
frios e ir��nicos, fermentavam ainda mais o temor:
��� Est�� chegando a hora de voc��s, imbecis! Ou
renunciam, diante de todos, ao maldito Nazareno...
ou morrem no circo de Nero, o nosso C��sar e ��nico
Imperador!
257
��� Somos servas de Jesus! ��� exclamou uma
das jovens, de cora����o aos saltos. ��� Servimos
somente ao nosso Mestre de amor!
Maria ergueu-se, plena de piedade.
De seu cora����o, uma ampla e doce luz azulada,
espraiou-se por todas as celas imundas e infectas,
onde a dor e a perplexidade faziam morada.
Os m��rtires, vencendo ent��o seus temores,
ergueram-se em doce c��ntico de esperan��a,
clamando pelo cora����o da Sant��ssima e, sentindo-
se aconchegados ��s suas radia����es maternais,
deixavam-se conduzir, quais ovelhas.d��ceis, ao
campo do mart��rio.
* * * * *
Quando a noite desceu e a arena do circo romano
ainda guardava corpos carbonizados em cruzes
sacrificiais, uma estrada de luz subia da Terra ao
Mais Alto, com os m��rtires a percorr��-la, em busca
de um pouso de amor.
Jesus, na arena, aproximou-se de Maria.
��� Para onde voc�� escolhe ir, Sant��ssima?
Ela, condo��da, olhou �� sua volta.
��� Filho, se em nome do Pai Celestial, voc�� me d��
o direito de escolha, deixe-me a mim e ��s minhas
258
companheiras, no campo onde a dor faz a sua
sementeira.
E, ap��s ligeira pausa, completou:
��� Diante destas que se deixam martirizar, por
causa de sua doutrina de amor, quero estar sempre,
meu Filho, at�� que um novo dia de compreens��o e
fraternidade se fa��a na escola da Terra!
��� Seja feita a sua vontade, Sant��ssima! ���
concordou Jesus.
* * * * *
Madalena, Suzana, Joana de Cuza e tantos outros
cora����es femininos que serviam a Jesus, ajustaram-
se ao cora����o maternal da Sant��ssima e, at�� agora,
no escoar dos mil��nios sem fim, atendem a todas
as s��plicas de amparo de todos os cora����es que
se deixam martirizar, no calv��rio da maternidade e
nos embates das Sombras contra as Luzes!
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EDITORA
LUZ NO LAR
LIVROS INFANTIS
A GUARDADORA DE GANSOS
Uma hist��ria onde uma princesa foi trocada por uma criada, e
destinada a ser uma guardadora de gansos.
A criada querendo se passar por ela, para casar com o pr��ncipe �� descoberta, e a�� vemos onde a gan��ncia e a ambi����o podem levar
a criatura.
A PRECE E AMIZADES
Este livro cont��m duas hist��rias que ensinam as crian��as o valor da prece e da amizade.
ANTES DO TEMPO & A FAM��LIA DE CINDERELA
Este livro conta duas hist��rias: "Antes do Tempo", a hist��ria de Z�� Cabrito, que morre antes do tempo em um acidente na Lagoa e
em "A Fam��lia de Cinderela", a hist��ria da fam��lia da Cinderela no dia do casamento com o pr��ncipe.
O CORA����O DA BONECA
Este livro conta a hist��ria da boneca de pano Nequinha, que pede a ajuda de Zito e do coelho Chim para ter um cora����o de verdade.
AS ARTES DO EGO��SMO
Um dia o Ego��smo se disfar��ou de gente e saiu para buscar
pessoas para prender na sua Ilha da Solid��o e encontrou a
menina Gracinha.
A MEM��RIA ENFERRUJADA
Este livro conta a hist��ria do encontro do menino Zito e do Coelho Chim com a Dona Mem��ria.
��� EDITORA
LUZ NO LAR
LIVROS INFANTIS
AS CINCO MOEDAS
Este livro conta a hist��ria do av�� que em seu leito de morte chama os netos para a divis��o de suas moedas.
O SOLDADINHO DE CHUMBO E O HOMEM FELIZ
Neste livro cont��m duas hist��rias envolventes: "O Soldadinho de Chumbo", que se encontra com um boneco mau, e "O Homem Feliz", um homem que vivia feliz e o Rei mandou busc��-lo para saber qual seria o segredo da felicidade.
O REI SETE PALMOS
A boneca de pano Nequinha some um dia, e Zito e o coelho Chim
v��o procur��-la no Reino Sete Palmos, o reino do disse-que-disse.
AMPARO ESPIRITUAL
Dois irm��os passam por apuros enquanto seus pais saem para
trabalhar e encontram o amparo de An��lia Franco.
OS TR��S IRM��OS
Este livro conta a hist��ria dos irm��os Lino, Nico e Tino em uma
conversa com sua m��e �� beira da morte.
OS DOIS IRM��OS
A hist��ria de Juca, um benfeitor espirita que tem dois filhos,
Nequinho e Caco, �� contada neste livro onde os mesmos
aprendem o Evangelho no Lar vivenciado pelos seus pais.
LIVROS INFANTIS
LUTAS NO CORA����O
Este livro conta a hist��ria de Juquinha, menino bom, que de uma
hora para outra se toma sozinho e irritado. Seus pais chamam o
menino Zito e o Coelho Chim para ajud��-lo.
AS TR��S LINGUAGENS
Esta �� a hist��ria de um pequeno pr��ncipe que �� expulso do Reino
por seu pr��prio pai, porque s�� conhecia a linguagem dos c��es,
dos p��ssaros e das r��s.
SIMPL��RIO
Os dois filhos mais velhos do rei Jos��, cansados do Reino, partem em busca de aventuras, e sua m��e chama o filho mais novo,
Simpl��rio para ir atr��s deles e os trazer de volta.
Z�� BENTO
Este livro conta a hist��ria de Z�� Bento, um menino muito pobre
que vivia com sua m��e doente, em um barraco, constru��do de
madeiras velhas, no alto de um morro. De cora����o bom, trouxe
para casa um cachorrinho e um senhor que estava �� beira do
caminho.
HIST��RIAS QUE VOV�� CONTAVA...
Este livro cont��m quatro hist��rias envolventes do tempo das
vov��s: Botinha Furada; Le��o e o Mico; A Gota D'��gua e Leleco.
Um livro para crian��as e adultos se envolverem e aprenderem
como viver bem uns com os outros.
EDITORA
LUZ NO LAR
ROMANCE JUVENIL
O CAPIT��O ��RLUZ
Esta obra nos relata a hist��ria de dois rapazes que se encontram perdidos na selva, e em uma noite presenciam um acidente de
avi��o. Ap��s prestarem socorro, se deparam com Capit��o ��rluz, e
se veem ��s voltas com suas reencarna����es passadas.
S��RIE "EVANGELHO E JUVENTUDE
BBB O PEIXINHO VERMELHO
I Nesta hist��ria se conta a lenda eg��pcia do peixinho vermelho que CONVERS��O DE PAULO DE TARSO
Este livro conta a hist��ria Paulo de Tarso e sua convers��o para o Evangelho de Jesus, ap��s o encontro com o Cristo ��s portas de
Damasco.
SIM��O CIRINEU
Nesta obra iremos ver como Sim��o Cirlneu encontrou a melhor
forma de cuidar de seus filhos pregui��osos, �� luz do Evangelho do Cristo.
JAS��O, O CEGO
Conta a hist��ria de Jas��o, que sa��a todos os dias para pedir
esmolas. Num dia ele se depara com Mestre Jesus, e este explica
aos ap��stolos, o porque do mesmo ter nascido cego.
r
��� EDITORA
LUZ NO LAR
S��RIE "EVANGELHO E JUVENTUDE"
PAULO DE TARSO E O NAUFR��GIO
Este livro conta a passagem de Paulo de Tarso como prisioneiro,
tendo que enfrentar um naufr��gio numa viagem �� Roma, para o
seu julgamento.
O CAPIT��O DE M��O MIRRADA
Um Capit��o que tem uma das m��os mirradas e que por isso se
torna intolerante, at�� encontrar a luz do Mestre Jesus.
FILIPE, O SUBJUGADO
Este livro conta a hist��ria de Filipe, um rapaz que vivia atormentado,-
por esp��ritos em um cemit��rio.
DORCAS, O ANJO DA CARIDADE
Este livro conta a hist��ria de Irm�� Dorcas, que tomada pelos
ensinamentos de caridade de Jesus, passou a doar alimentos
e ajudar aos pobres.
O GAST��O E O EGO��STA
Este livro conta a hist��ria de Silas, filho de Lino e irm��o de
Tim��teo, quando ele pede para seu pai dividir a heran��a, a fim
de que ele possa sair em busca dos prazeres da vida.
L��ZARO E O HOMEM RICO
Este livro conta a hist��ria de L��zaro, mendigo e doente, que ao
pedir comida em uma casa rica, sofre todo tipo de humilha����o e �� jogado em um monte de lixo.
De: Reginaldo Regis
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Abraços fraternos!
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