sábado, 6 de junho de 2020

{clube-do-e-livro} LANÇAMENTO : PARA COMPREENDER SAUSSURE - CASTELAR DE CARVALHO - FORMATOS :PDF, EPUB E TXT

PARA COMPREENDER SAUSSURE

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MOS EM DOMIC��LIO E PELO CORREIO.





COLE����O PARA COMPREENDER A LING����STICA

��� Para compreender Saussure

Castelar de Carvalho

- Para compreender Labov

Jos�� Lemos Monteiro

- Para compreender Mattoso C��mara

Albertina Cunha e Maria Alice Altgott

Dados Internacionais de Cataloga����o na Publica����o (CIP)

(C��mara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Carvalho, Castelar de

Para compreender Saussure: fundamentos e vis��o cr��tica /

Castelar de Carvalho. - 16. ed. Petr��polis, RJ: Vozes, 2008.

ISBN 978-85-326-1784-2

1. Estruturalismo 2. Ling����stica 3. Saussure, Ferdinand de,

1857-1913 I. T��tulo.

CDD-410.92 00-0744

��ndices para cat��logo sistem��tico:

1. Ling����stica: Teorias de Saussure 410.92

2. Saussure: Teorias: Ling����stica 410.92



Castelar de Carvalho

Para compreender

S A U S S U R E

Fundamentos e vis��o cr��tica

Petr��polis

SUM��RIO

Apresenta����o, 9

Pref��cio da 1a edi����o, 13

Pref��cio da 12a edi����o, 15

I - A ling����stica pr��-saussuriana, 17

II - A ling����stica saussuriana, 23

A teoria do signo ling����stico, 29

L��ngua/fala, norma, 57

Sincronia/diacronia, 81

Rela����es sintagm��ticas e paradigm��ticas, 101

A no����o de valor, 121

III - Repercuss��es das id��ias de Saussure, 131

Ap��ndice: a glossem��tica, 145

Louis Hjelmslev (1899/1965), 165

Bibliografia, 167

��ndice, 171

APRESENTA����O

Os estudos saussurianos continuam na ordem do dia. Pode-se at��

dizer que o livro p��stumo de 1916, o t��o famoso Cours de linguistique

g��n��rale, com o correr do tempo, renova a sua atualidade. O surto do

movimento estruturalista data, por exemplo, da d��cada de 1930 - retar-

dado, sen��o interrompido pelo desencadear-se da Segunda Grande

G u e r r a - e , n o e n t a n t o , a s suas b a s e s te��ricas j �� e s t a v a m s o l i d a m e n -

te fincadas com os ensinamentos do mestre genebrino. Do Cours de-

ver-se-�� falar como de uma "obra aberta", tais as perspectivas que ofe-

rece a quem costuma rel��-lo com vis��o reflexiva. Facilmente ent��o se

imagina que outros caminhos iriam surgir e que se poderiam aprofundar

os antigos, depois que ��s p��ginas l��cida e escrupulosamente redigidas

por Bally e Sechehaye foram acrescentados novos materiais da lavra do

pr��prio Saussure.

Tal o que se deu em 1957, quando Godel publicou as Sources ma-

nuscrites du cours de linguistique g��n��rale. N��o creio que se possa afir-

mar que se tenha iniciado ent��o um processo revisionista da doutrina

delineada no Cours; mas, sem d��vida, os manuscritos contribu��ram

para aclarar certos aspectos do pensamento ling����stico de Saussure, in-

suficientemente ou obscuramente expostos nesse grande livro. Tam-

b��m os Cahiers Ferdinand de Saussure t��m trazido novos elementos

para melhor compreens��o da ling����stica saussuriana, como se deu com

as "Notas in��ditas", publicadas pelo mesmo Godel, ou com as cartas de

Saussure a Meillet, tornadas conhecidas por interven����o de Benveniste.

Em 1967, aparece em Bari a tradu����o italiana do Cours, comentada

por Tullio De Mauro: Corso di linguistica generale (h�� uma 3a edi����o

revista de 1970). Esse livro - uma an��lise clarividente da obra de Saus-

sure - tornou-se indispens��vel. Tanto na Introdu����o como nos Comen-

t��rios, Tullio De Mauro procura atingir a coer��ncia profunda da doutri-

na exposta no Cours, reflexo, infelizmente, de um pensamento que n��o

chegou ao seu termo. E f��-lo com mestria, intelig��ncia e lucidez.

PREF��CIO DA 1a EDI����O

Este trabalho pretende ser um manual de consulta permanente, es-

crito em linguagem simples, did��tica e pr��tica, por��m sem empobreci-

mento da objetividade cient��fica inerente a uma obra dessa natureza.

Especialmente preocupado em aclarar as d��vidas e responder ��s inter-

roga����es de quantos se iniciam nos estudos ling����sticos em nossas Fa-

culdades de Letras, proporciona-lhes, ao mesmo tempo, uma vis��o cr��-

tica sobre os pontos fundamentais da nossa ci��ncia.

Nosso livrinho n��o inova em nada, nem se arroga tal finalidade. Sua

originalidade (se alguma existe) consiste, a nosso ver, no tratamento sis-

tematizante e eminentemente pedag��gico que dispensamos a assuntos

t��o fugidios a alunos ainda n��o iniciados nas lides da ci��ncia ling����stica.

A experi��ncia da sala de aula (esse insubstitu��vel laborat��rio de di-

d��tica), em muitos anos de contato direto com as turmas, fez-nos sentir

a falta de uma obra que elucidasse a teoria revolucion��ria exposta no

Curso (onde nem sempre ela se apresenta suficientemente clara) e a re-

unisse em um comp��ndio ��nico, sintetizador. �� que a doutrina de Saus-

sure teve repercuss��es extraordin��rias, imprevis��veis na ��poca da pri-

meira edi����o do Curso de ling����stica geral (1916), carreando para seu

autor a consagra����o p��stuma e o reconhecimento do meio universit��rio,

que hoje o considera, sem favor, o fundador da Ling����stica cient��fica.

Por essa raz��o, rica e d��spar �� a bibliografia sobre o assunto. Rica e ge-

ralmente complexa, nem sempre especificamente voltada para aquele

aluno rec��m-sa��do do vestibular, que jamais ouvira falar de Saussure e,

o mais grave, n��o familiarizado com uma linguagem de natureza t��cni-

co-cient��fica.

�� nesse sentido que pretendemos estar oferecendo uma modesta

contribui����o aos alunos de Letras, aos estudiosos em geral, e m e s m o

aos j�� iniciados e experientes colegas de magist��rio. Destes espera-





13


mos que nos honrem com sua leitura e nos enrique��am o saber com

suas cr��ticas.

Desde j��, nossos agradecimentos, em especial ao Professor S��lvio

Elia, incentivador e mestre, cujas li����es tivemos o privil��gio de haurir.

Rio de Janeiro, fevereiro de 1976

Castelar de Carvalho





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PREF��CIO DA 12A EDI����O

A presente edi����o conserva o esp��rito e o conte��do das anteriores,

em respeito ao p��blico leitor, que nos tem honrado com sua aten����o nos

27 anos de sucessivas reedi����es deste livro sobre o genial Saussure,

cuja doutrina iluminada, com o passar do tempo, s�� tem feito renovar

sua atualidade e reafirmar sua import��ncia.

Nesta oportunidade, fizemos diversos acr��scimos nos cap��tulos "Teo-

ria do signo", "L��ngua/fala, norma", "Sincronia/diacronia", "Rela����es sintagm��ticas/paradigm��ticas" e "No����o de valor". Atualizamos bibliografia e informa����es em geral. Alteramos tamb��m consideravelmente a

parte de exerc��cios, privilegiando quest��es de natureza discursiva, sobre-

tudo as que exigem um posicionamento cr��tico do estudante. Procuramos

igualmente, sempre que poss��vel, aproximar a Ling����stica saussuriana de

quest��es relativas �� l��ngua portuguesa. Trata-se, portanto, de uma edi����o

realmente nova, inteiramente revista e bastante ampliada.

Agradecemos mais uma vez aos alunos e professores pela acolhida

carinhosa que t��m dispensado ao nosso trabalho.

Um agradecimento especial a Pedro e Mariza, pela inestim��vel aju-

da prestada no preparo desta edi����o.

Rio de Janeiro, julho de 2003.

Castelar de Carvalho





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I

A LINGU��STICA

PR��-SAUSSURIANA

Vis��o geral da ling����stica antes de Saussure

A Ling����stica, definida hoje como o estudo cient��fico da linguagem

humana, ��, como diz Mounin (1972: 25), "um saber muito antigo e uma

ci��ncia muito jovem". O Prof. Mattoso Camara Jr., em seu Dicion��rio

de lingu��stica e gram��tica, a define como "o estudo cient��fico e desin-

teressado dos fen��menos ling����sticos". Mas nem sempre um estudo ci-

ent��fico e muito menos desinteressado caracterizou sua trajet��ria secu-

lar. Na verdade, a Lingu��stica s�� foi adquirir status de ci��ncia a partir do

s��culo XIX. At�� ent��o, o que havia era o estudo assistem��tico e irregu-

lar dos fatos da linguagem, de car��ter puramente normativo ou prescri-

tivo, ou ainda, retrocedendo �� Antig��idade grega, especula����es filos��-

ficas sobre a origem da linguagem mescladas com estudos de Filologia.

At�� chegar a delimitar-se e definir-se a si pr��pria, a Ling����stica passou

por tr��s fases sucessivas.

1�� fase: filos��fica

Os gregos foram os precursores, com suas profundas reflex��es em

torno da origem da linguagem. Seus estudos, calcados na Filosofia, abran-

geram a Etimologia, a Sem��ntica, a Ret��rica, a Morfologia, a Fon��tica,

a Filologia e a Sintaxe. Baseavam-se na L��gica (analogistas) ou no uso

corrente (anomalistas). Tinham de in��cio finalidades eminentemente

pr��ticas: era uma Gram��tica voltada para a pr��xis, para o uso. Dion��sio

da Tr��cia (s��culo II a.C.) a chamou de T��khn�� Grammatik��, express��o

traduzida mais tarde pelos romanos como Ars Grammatica.

Desse modo, a Gram��tica surgiu no Ocidente como arte de ler e es-

crever, como disciplina normativa, desprovida de uma vis��o cient��fica e

desinteressada da l��ngua em si mesma, devido ao seu comprometimento

filos��fico. Dominada doutrinariamente pela corrente dos analogistas

(aristot��lica) ou pela dos anomalistas (est��icos), a Gram��tica grega ser��





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reproduzida pelos romanos, que, numa tentativa de conciliar aquelas duas

posi����es, fazem nascer a Gram��tica "das regras e das exce����es".

A influ��ncia grega se fez sentir durante muitos s��culos. Marcando

toda a Idade M��dia, chegou a motivar na Fran��a, em 1660, a elabora����o

de uma gram��tica geral, a famosa Grammaire de Port-Royal, de base

puramente l��gica, coincidindo com a fase do Racionalismo. O m��rito

dos estudiosos gregos �� imenso, nesse sentido, pelo seu car��ter precur-

sor. Na verdade, as ra��zes do pensamento ling����stico ocidental mergu-

lham profundamente na Gr��cia Antiga.

2a fase: filol��gica

A Filologia se constitui numa segunda fase dos estudos ling����sti-

cos. Surgida em Alexandria por volta do s��culo II a.C., batia-se pela au-

tonomia dos referidos estudos. Os alexandrinos queriam-nos mais filo-

l��gicos e menos filos��ficos. Definindo-se historicamente como o estu-

do da elucida����o de textos, a Filologia dos alexandrinos, de p r e o c u -

p a �� �� o m a r c a d a m e n t e gramatical, dedicou-se �� Morfologia, �� Sintaxe

e �� Fon��tica.

Tendo influenciado bastante a Idade M��dia, os estudos filol��gicos

encontraram, mais tarde, em Friedrich August Wolf um de seus m a i o -

res divulgadores. A partir do final do s��culo XVIII, a escola alem�� de

Wolf veio estendendo consideravelmente o campo e o ��mbito da Filologia.

Al��m de estabelecer e comentar os textos, a Filologia procura tamb��m

estudar os costumes, as institui����es e a hist��ria liter��ria de um povo. Entre-

tanto, seu ponto de vista cr��tico torna-se limitado, pelo fato de ela ater-se

demasiadamente �� l��ngua escrita, deixando de lado a l��ngua falada. Contu-

do, �� for��oso reconhecer que as pesquisas filol��gicas serviram de base para

o surgimento e a consolida����o da Ling����stica hist��rico-comparatista.

3a fase: hist��rico-comparatista

A terceira fase da hist��ria da Ling����stica come��a com a descoberta

do s��nscrito, entre 1786 e 1816, revelando as rela����es de parentesco ge-

n��tico do latim, do grego, das l��nguas germ��nicas, eslavas e c��lticas

com aquela antiga l��ngua da ��ndia. A preocupa����o diacr��nica em saber

como as l��nguas evoluem, e n��o como funcionam �� que vai marcar toda

essa fase.

Franz Bopp (1791-1867), o que melhor aproveitou o conhecimento

do s��nscrito, �� considerado o fundador da Ling����stica Comparatista.





20


Seu livro Sobre o sistema de conjuga����o do s��nscrito, de 1816, abriu

ent��o novas perspectivas ling����sticas. Para Bopp, a fonte c o m u m das

flex��es verbais do latim, do grego, do persa e do germ��nico era o s��ns-

crito. Para ele, o s��nscrito era o idioma que mais se aproximava, por sua

estrutura morfol��gica, de uma esp��cie de protol��ngua indo-europ��ia.

Apesar de n��o ter sido o descobridor do s��nscrito, �� para Bopp que con-

verge o m��rito de haver sido o primeiro a realizar o estudo sistem��tico

de l��nguas afins como mat��ria de uma ci��ncia aut��noma.

Ao lado do nome de Bopp, citam-se tamb��m como pioneiros da Lin-

g����stica hist��rico-cient��fica o dinamarqu��s Rasmus Rask (1787-1832) e

o alem��o Jacob Grimm (1785-1863). Rasmus Rask escreveu um trabalho

sobre a origem do velho n��rdico (1818). Rask mostra a�� os pontos de con-

tato entre as principais l��nguas indo-europ��ias e as l��nguas n��rdicas. Ja-

cob Grimm foi o primeiro a escrever uma gram��tica comparada das l��n-

guas germ��nicas: a Deutsche Grammatik, publicada em 1819. Grimm ��

considerado o pai do que mais tarde se chamariam "leis fon��ticas". Os

termos metafonia (Umlaut) e apofon��a (Ablaut) s��o cria����es de Grimm.

A metafonia diz respeito �� mudan��a de timbre de uma vogal t��nica

por influ��ncia de outra, geralmente -i- ou -u: debita > d��vida, f��cu >

fogo (acentuamos). A apofon��a �� a mudan��a de timbre de uma vogal por

influ��ncia de um prefixo: *im+barba > imberbe; *sub+jactu > subjectu

> sujeito. A apofon��a �� um metaplasmo que remonta ao latim.

Com o desenvolvimento da Filologia Comparada, a Ling����stica

indo-europ��ia experimentou extraordin��rio impulso.

A tend��ncia dessa fase inicial da Ling����stica Comparatista era iden-

tificar-se com as ci��ncias da natureza, consoante o esp��rito da segunda

metade do s��culo XIX. Essa tend��ncia deu ��s primeiras id��ias ling����sti-

cas desse s��culo um enfoque naturalista, a princ��pio de base biol��gica

(o biologismo ling����stico: as l��nguas nascem, crescem e morrem, como

os organismos biol��gicos), e a seguir de base f��sica (leis da Ling����stica

se aproximam das leis f��sicas: leis fon��ticas). Neste caso, salientou-se o

papel dos neogram��ticos pelo excessivo esquematismo que deram ��s

suas postula����es.

A Ling����stica Hist��rica ainda se prolonga por mais algumas d��ca-

das, desdobrando-se, em um segundo momento, numa rea����o aos neo-

gram��ticos caracterizada como "fase culturalista" (1890-1930). O cul-

turalismo ling����stico combatia o naturalismo ent��o reinante: era a opo-

si����o cultura/natura. Os estudiosos dessa fase afirmavam n��o haver

correspond��ncia entre as chamadas leis fon��ticas e as leis da natureza.

As leis fon��ticas s��o cronol��gicas e circunstanciais, t��m validade ape-





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nas para um determinado per��odo hist��rico, sofrem limita����o espacial e

s�� se manifestam em condi����es particulares. As leis naturais, ao contr��-

rio, s��o atemporais e, o mais importante, universais. Ora, se as leis fon��-

ticas fossem de fato leis naturais, argumentavam os culturalistas, o la-

tim teria resultado numa ��nica l��ngua na Fran��a, na It��lia, na Espanha,

em Portugal e nos demais dom��nios do Imp��rio Romano. Portanto, para

o culturalismo ling����stico n��o existem leis fon��ticas no sentido f��sica-

lista. H��, isto sim, tend��ncias hist��rico-culturais que condicionam as al-

tera����es fon��ticas. Segundo o pensamento culturalista, as l��nguas n��o

existem por si mesmas. S��o instrumentos culturais condicionados por

fatores sociais, hist��ricos, geogr��ficos, psicol��gicos e, por isso mesmo,

de previsibilidade relativa e comportamento inconstante, justamente o

oposto do que acontece no campo das ci��ncias naturais.

Em s��ntese, podemos esquematizar o quadro dos estudos ling����sti-

cos no s��culo XIX (e parte do s��culo XX) da seguinte maneira:

a) fase naturalista (1810-1890)

- preocupa����o com a hist��ria interna da l��ngua

b) fase culturalista (1890-1930)

- preocupa����o com fatores externos, condicionadores da

l��ngua (= hist��rico-culturais)

A hist��ria interna trata da evolu����o estrutural (fonol��gica e morfos-

sint��tica) da l��ngua. No caso do latim vulgar da Pen��nsula Ib��rica, serve

de exemplo o estudo da redu����o dos casos, dos quais restou apenas um:

o acusativo, conhecido como caso lexicog��nico, ou seja, gerador do l��-

xico da l��ngua portuguesa. Duas boas obras se ocupam da hist��ria in-

terna do portugu��s: Pontos de gram��tica hist��rica, de Ismael de Lima

Coutinho (Ao Livro T��cnico), e Hist��ria e estrutura da l��ngua portu-

guesa, de Mattoso Camara Jr. (Ed. Padr��o).

A hist��ria externa tem por objeto de estudo as rela����es existentes

entre os fatores socioculturais e a evolu����o ling����stica. Pioneiro desses

estudos entre n��s, Serafim da Silva Neto (1976: 14) esclarece: "A mat��-

ria de hist��ria da l��ngua portuguesa no Brasil h�� de investigar-se na etno-

grafia e na evolu����o hist��rico-social do povo brasileiro". Em coer��ncia

com seu ponto de vista, Serafim divide a hist��ria externa do portugu��s

do Brasil em tr��s fases, segundo um crit��rio etnoling����stico em que se

estudam as influ��ncias exercidas em nossa l��ngua pelas tr��s ra��as for-

madoras do povo brasileiro: o ��ndio, o negro e o branco.





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II

A LINGU��STICA

SAUSSURIANA

Ferdinand de Saussure (1857/1913): forma����o e obras

Durante a ��poca em que Saussure recebeu sua forma����o acad��mica,

o Comparativismo indo-europeu dominava os estudos ling����sticos.

Fase decisiva e cujos ��xitos marcantes sobre pontos importantes e es-

senciais da nossa ci��ncia constitu��ram o principal legado do s��culo XIX

ao s��culo X X . Saussure n��o poderia ficar imune a essa atmosfera cient��-

fica e dela participou brilhantemente. Tendo vivido em Leipzig e Ber-

lim de 1876 a 1878, a�� manteve contato c o m os expoentes da Ling����s-

tica C o m p a r a t i s t a de e n t �� o , dos quais r e c e b e u s��lido e m b a s a m e n t o e decisiva influ��ncia. Assim �� que mais tarde, durante os onze anos

(1880/1891) em que foi diretor da ��cole Pratique des Hautes ��tudes,

em Paris, passaram pelas suas m��os os mais importantes comparatistas

franceses, que dele receberam forma����o, influ��ncia e continuidade.

�� de 1879 a publica����o da M��moire sur le primitif syst��me des

voyelles dans les langues indo-europ��enes. Apesar da orienta����o ato-

m��stica pr��pria da corrente neogram��tica, Saussure inova em sua M��-

moire colocando o problema da reconstitui����o fon��tica do indo-euro-

peu sob uma perspectiva sistem��tica. Sua tese de doutoramento, um ano

mais tarde, intitulava-se De l 'emploi du g��nitif absolu en sanskrit. Al��m

de artigos de gram��tica comparada, infelizmente nada mais nos legou

em vida o genial mestre genebrino. Seu Cours de linguistique gen��rale

(CLG), como sabemos, resultou da compila����o por dois disc��pulos seus

dos tr��s cursos de Ling����stica Geral que ministrara entre 1906 e 1911 na

Universidade de Genebra, onde era titular desde 1896. Esses dois alu-

nos foram Charles Bally e Albert Sechehaye, c o m a colabora����o de

outro disc��pulo, Albert Riedlinger. Trata-se, portanto, de obra p��stu-

ma e inacabada, calcada em anota����es colhidas em aula por seus alunos

e, como tal, explicam-se as poss��veis obscuridades e contradi����es das

id��ias de Saussure. No CLG, reconhecem-se f��rmulas de aspecto por





25


vezes paradoxal, onde salta aos olhos o estilo de ensino oral. Apesar

desse fato, as id��ias motrizes de sua obra p��stuma, por oposi����o ao m��-

todo hist��rico-comparatista dominante at�� ent��o, vieram revolucionar

completamente o pensamento ling����stico ocidental. Na verdade, Saus-

sure foi um esp��rito mais projetado para o s��culo XX do que voltado

para o s �� c u l o X I X , c o m o c o s t u m a v a a c o n t e c e r c o m os i n t e l e c t u a i s de seu tempo.

Hoje, mais de meio s��culo depois de seu desaparecimento, Saussu-

re �� estudado com o respeito, o cuidado e a aten����o que merecem os g��-

nios. Todos quantos se aprofundam na pesquisa de suas postula����es ad-

quirem consci��ncia da import��ncia do Cours para a Ling����stica moder-

na e passam a compreender por que Saussure �� considerado um divisor

de ��guas no estudo cient��fico da linguagem.





A doutrina de Saussure


O grande m��rito de Saussure est��, antes de tudo, no seu car��ter m e -

todol��gico, um prolongamento da sua personalidade perfeccionista.

Era preciso, em primeiro lugar, p��r ordem nos estudos ling����sticos.

Para poder criar e postular suas teorias com perfei����o cient��fica, impu-

nha-se-lhe, antes, um trabalho metodol��gico preliminar. Os ling��istas

at�� ent��o tratavam de coisas diferentes com nomes iguais e vice-versa.

A aus��ncia de uma terminologia adequada, precisa, objetiva, de alcance

universal (e sabemos, desde os gregos, que s�� h�� ci��ncia do universal),

instrumento de trabalho imprescind��vel a qualquer ci��ncia digna do

nome, tolhia-lhes a express��o das id��ias. Por exemplo, o termo l��ngua

tinha para alguns ling��istas um determinado sentido; para outros, j��

adquiria conota����o totalmente diversa. A Ling����stica ressentia-se de

uma linguagem equ��voca, verdadeira colcha de retalhos terminol��gi-

ca, e Saussure necessitava de uma linguagem un��voca, de um padr��o

ling����stico, de uma metalinguagem, isto ��, de uma nova linguagem para

expressar suas elucubra����es. Sua primeira tarefa, portanto, foi "limpar

o terreno" para poder depois trabalhar.

A Ling����stica, escreveu ele, "jamais se preocupou em determinar a

natureza do seu objeto de estudo. Ora, sem essa opera����o elementar, uma

ci��ncia �� incapaz de estabelecer um m��todo para si pr��pria" (CLG, 10).

O esquema abaixo d�� a id��ia exata do que, segundo Saussure, �� "a

forma racional que deve assumir o estudo ling����stico" (p. 115):





26





rela����es associativas

sincronia

(= paradigm��ticas)

l��ngua

rela����es sintagm��ticas

Linguagem

diacronia

fala

Al��m disso, inova tamb��m com sua famosa e pol��mica Teoria do

Signo Ling����stico:

significante

Signo

significado

arbitrariedade

Princ��pios do signo

linearidade





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A TEORIA DO SIGNO LINGU��STICO

O signo ling����stico une n��o uma coisa e uma palavra,

m a s um conceito e u m a imagem ac��stica. (CLG, 80)

significado

Signo

significante

Introdu����o: tipos de sinais

Saussure considera a l��ngua como um sistema de signos formados

pela "uni��o do sentido e da imagem ac��stica". Tentemos agora apro-

fundar essa no����o formulada pelo mestre genebrino.

Comecemos antes esclarecendo sinteticamente alguns pontos b��si-

cos, vestibulares �� teoria do signo. A Semiologia (ou Semi��tica)' distin-

gue dois tipos de sinais: os naturais e os convencionais. O sinal natural manifesta-se em forma de ind��cio (f��sico), c o m o a fuma��a, a trovoa-da, n u v e n s negras, rastros, o som, o cheiro, a luz, e t c ; ou em forma

de sintoma (fisiol��gico): a pulsa����o, a contra����o, a dor, a febre, a fome,

o suor, o espasmo, etc. O sinal convencional envolve maior complexi-,

dade e pressup��e a exist��ncia de uma cultura (antropol��gicamente fa-'

lando) j�� estabelecida, da qual ele �� resultado e express��o, produto e

instrumento a um s�� tempo. Pode apresentar-se em forma de ��cone, s��m-

bolo ou signo. O ��cone (do grego eik��n = imagem) �� imag��stico, por

exemplo, uma foto, uma estatueta, um desenho de algu��m ou de algum

lugar, e caracteriza-se tamb��m por ser n��o-arbitr��rio (v. princ��pio da ar-

1. A Semiologia (ou Semi��tica) difere da Ling����stica por sua maior abrang��ncia: enquanto a Ling����stica c o estudo cient��fico da linguagem humana, a Semiologia preocupa-sc n��o apenas com a linguagem humana c verbal, mas tamb��m com a linguagem dos animais e de todo c qualquer sistema de comunica-

����o, seja ele natural ou convencional. Desse modo, a Ling����stica insere-se como uma parte da Semiologia. Semiologia e Semi��tica s��o termos permut��veis. A primeira surgiu na Europa, com Saussure, c a segunda, nos Estados Unidos, c o m o fil��sofo Charles Sanders Peircc. Para Roland Barthcs (1972: 12), a Semiologia �� parte da Ling����stica, porque "qualquer sistema semiol��gico repassa-se de linguagem".





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bitrariedade); o signo, totalmente arbitr��rio, �� a pr��pria palavra2, en-

quanto que o s��mbolo, semi-arbitr��rio, �� um tipo intermedi��rio entre o

��cone e o signo; por exemplo, a balan��a �� o s��mbolo da Justi��a, a espada,

s��mbolo do Ex��rcito, a cruz simboliza o Cristianismo (uma vez que seu

fundador nela morreu), etc.

Por que signo e n��o s��mbolo

Voltando ao CLG (p. 82), conv��m lembrar, antes de mais nada, por

que Saussure preferiu adotar o termo signe (signo):

Utilizou-se a palavra s��mbolo para designar o signo

ling����stico ou, mais exatamente, o que chamamos de

significante. H�� inconveniente em admiti-lo, justa-

mente por causa do nosso primeiro princ��pio [o da

arbitrariedade do signo]. O s��mbolo tem como carac-

ter��stica n��o ser jamais completamente arbitr��rio;

ele n��o est�� vazio, existe um rudimento de v��nculo

natural entre o significante e o significado. O s��mbo-

lo da justi��a, a balan��a, n��o poderia ser substitu��do

por um objeto qualquer, um carro, por exemplo.





A natureza do signo


Retomando a defini����o inicial do signo como a "uni��o do sentido e

da imagem ac��stica", verificamos que o que Saussure chama de "senti-

d o " �� a mesma coisa que conceito ou id��ia, isto ��, a representa����o men-

tal de um objeto ou da realidade social em que nos situamos, representa-

����o essa condicionada, plasmada pela forma����o sociocultural que nos

cerca desde o ber��o. Em outras palavras, para Saussure, conceito �� sin��-

nimo de significado, algo como o lado espiritual da palavra, sua contra-

parte intelig��vel, em oposi����o ao significante, que �� sua parte sens��vel.

Por outro lado, a i m a g e m ac��stica " n �� o �� o som material, coisa

p u r a m e n t e f��sica, mas a impress��o ps��quica desse s o m " {CLG, 8 0 ) 3 .

2. Alem da concep����o ling����stica saussuriana (signo = palavra) com que �� empregado neste trabalho, o termo signo comporta um sentido mais amplo, semiol��gico. Neste caso, os signos seriam n��o s�� as palavras, mas tamb��m os gestos, as imagens, os sons n��o estritamente ling����sticos, como o apito de um trem, o repicar de um sino, as batidas do telegrafo, o tilintar de uma campainha, ou os sinais de tr��nsito, os logotipos, as cores, etc. Compreende-se assim a defini����o de Pcircc (1975: 94): "O signo, ou seu re-presentamem, �� algo que, sob certo aspecto ou de algum modo, representa alguma coisa para algu��m".

3. Mais tarde, Jakobson c a Escola Fonol��gica de Praga ir��o estabelecer definitivamente a distin����o entre som material c imagem ac��stica. Ao primeiro designaram de fone, objeto de estudo da Fon��tica. A imagem ac��stica denominaram de fonema, conceito amplamente aceito c consagrado hoje na Fonologia.





30





Melhor dizendo, a imagem ac��stica �� o significante. Com isso, te-

mos que o signo ling����stico �� " u m a entidade ps��quica de duas faces"

(CLG, 80), semelhante a uma moeda, e que Saussure representou pela

seguinte figura:

Os dois elementos - significante e significado - que constituem o

signo "est��o intimamente unidos e um reclama o outro" (CLG, 80).

S��o interdependentes e insepar��veis, pois sem significante n��o h�� sig-

nificado e sem significado n��o existe significante. Exemplificando,

dir��amos que quando um falante de portugu��s recebe a impress��o ps��-

quica que lhe �� transmitida pela imagem ac��stica ou significante /kaza/,

gra��as �� qual se manifesta f��nicamente o signo casa, essa imagem

ac��stica, de imediato, evoca-lhe psiquicamente a id��ia de abrigo, de

lugar para viver, estudar, fazer suas refei����es, descansar, etc. Figurati-

vamente, dir��amos que o falante associa o significante /kaza/ ao signi-

ficado domus (tomando-se o termo latino como ponto de refer��ncia

para o conceito).

Fazendo uso da figura de Saussure, ter��amos neste caso:

casa

Podemos designar, portanto, o significante (plano da express��o) como

a parte percept��vel do signo e o significado (plano do conte��do) como sua





31




contraparte intelig��vel4. �� importante advertir, a essa altura, que o s i g n o

u n e s e m p r e um significante a um c o n c e i t o , a u m a id��ia, a u m a evo-

ca����o ps��quica, e n��o a u m a coisa, pois lembra R. Barthes (1972: 46), "o

significado n��o �� uma coisa, mas uma representa����o ps��quica da coisa".

O pr��prio Saussure teve o cuidado de chamar a aten����o para o equ��voco

de se supor que o signo une um objeto a um nome, a um r��tulo. O lin-

g��ista deve ter sempre em mente que "os termos implicados no signo

ling����stico s��o ambos ps��quicos e est��o unidos, em nosso c��rebro, por

um v��nculo de associa����o" (CLG, 79).

Desse modo, o signo ling����stico resulta ser o produto concreto da

uni��o significante + significado e, nesse sentido, Emile Benveniste

(1971: 142) sintetiza com feliz propriedade o pensamento de Saussure:

El significante y el significado, la representaci��n men-

tal y la imagen ac��stica son, por lo tanto, las dos ca-

ras de una misma noci��n y se integran a t��tulo de in-

corporante e incorporado. El significante es la traduc-

ci��n f��nica de un concepto; el significado, el correla-

to mental del significante. Esta consustancialidad

del significante y el significado asegura la unidad es-

tructural del signo ling����stico.

Ao incluir o significado na formula����o do signo ling����stico, Saus-

sure demonstrou ter consci��ncia plena de que n��o podem existir concei-

tos ou representa����es sem a respectiva denomina����o correspondente e,

com isso, lan��ou as bases da Sem��ntica moderna, parte insepar��vel da

Ling����stica estruturalista.

Uma cr��tica �� teoria do signo

Do mesmo modo que outras postula����es saussurianas, tamb��m esta

tem sido alvo da cr��tica de alguns ling��istas contempor��neos.

A mais importante delas refere-se ao fato de Saussure, em virtude de

encarar o signo como uma entidade bifacial, n��o haver inclu��do um ter-

ceiro termo - a coisa significada - na sua teoria. No caso, seu esquema

4. Confronte-se, a prop��sito, com o ponto de vista dos Est��icos (os que mais aprofundaram os estudos ling����sticos na Gr��cia Antiga), segundo os quais o s��meion (signo) era constitu��do pela rela����o existente entre o s��mainon (significante) c o s��mainomenon (significado). A posi����o de Saussure �� uma salutar retomada de uma concep����o e de uma terminologia que j�� eram boas no s��culo II a . C , o que vem corroborar o que afirmamos no inicio deste trabalho: as ra��zes do pensamento ling����stico ocidental mergulham profundamente na Gr��cia Antiga.





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seria "corrigido" ou "completado", segundo seus contraditares, se se ado-

tasse em substitui����o o famoso tri��ngulo de Ogden e Richards, que v��em

o signo constitu��do por uma rela����o tri��dica, da seguinte maneira:

pensamento ou refer��ncia

s��mbolo

referente ou coisa

Como podemos verificar, o tri��ngulo inclui o referente ou coisa sig-

nificada, embora ressalvando (por meio da linha pontilhada da base)

que n��o existe nenhum v��nculo direto entre a coisa e o s��mbolo, o que o

leva, por outro caminho, �� rela����o bipolar e de natureza ps��quica formu-

lada por Saussure.

N u m a adapta����o ao esquema saussuriano, ter��amos o seguinte:

De qualquer forma, a cr��tica �� pertinente, pois o tri��ngulo de Ogden

e Richards reintroduz a coisa significada, melhor dizendo, a realidade

sociocultural, a qual, quer seja considerada extraling��isticamente ou

n��o, n��o pode ser deixada de lado pela Sem��ntica.

arbitrariedade

Princ��pios do Signo

linearidade





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A arbitrariedade do s i g n o ling����stico

C o m o a soma do significante mais significado resulta num total de-

nominado signo, temos que "o signo ling����stico �� arbitr��rio" (CLG, 81 ).

Mas o que quer dizer Saussure com arbitr��rio"?

Para ele, arbitr��rio

n��o deve dar a id��ia de que o significado dependa da

livre escolha do que fala, [porque] n��o est�� ao alcan-

ce do indiv��duo trocar coisa alguma num signo, uma

vez esteja ele estabelecido num grupo ling����stico;

queremos dizer que o significante �� imotivado, isto

��, arbitr��rio em rela����o ao significado, com o qual

n��o tem nenhum la��o natural na realidade (CLG, 83,

grifo nosso).

Desse modo, compreendemos por que Saussure afirma que a id��ia

(ou conceito ou significado) de mar n��o tem nenhuma rela����o necess��-

ria e "interior" com a seq����ncia de sons, ou imagem ac��stica ou signifi-

cante /mar/. Em outras palavras, o significado mar poderia ser repre-

sentado perfeitamente por qualquer outro significante. E Saussure argu-

menta, para provar seu ponto de vista, com as diferen��as entre as l��n-

guas. Tanto assim que a id��ia de mar �� representada em ingl��s pelo sig-

nificante " s e a " / s i . / e , em franc��s, por " m e r " / m �� r / . Nesse sentido, alega o autor do CLG (p. 82) que

o significado da palavra francesa b��uf ("boi") tem

por significante b-o-f de um lado da fronteira fran-

co-germ��nica e o-k-s (Ochs) do outro.

Um exemplo bastante representativo da aus��ncia de v��nculo natural

entre o significante e o significado �� o dos verbos depoentes latinos.

Nestes, a forma �� passiva, entretanto, o sentido �� ativo: sequor "sigo" (e

n��o "sou seguido"), utor " u s o " (e n��o "sou usado"). Nestes signos, o grau de arbitrariedade �� extremo, n��o havendo sequer coer��ncia mor-fossem��ntica entre o significante e o significado.

O que pretendia Saussure �� que, digamos assim, n��o existe o "signi-

ficante verdadeiro". Qualquer um �� v��lido. No entanto, apesar de se tra-

tar do ��bvio (que a rela����o entre os dois constituintes do signo seja arbi-

tr��ria), esta tem sido a mais discutida e criticada postula����o saussuria-

na, reacendendo a famosa e milenar pol��mica existente entre os antigos

fil��sofos gregos, os quais se preocupavam em saber se o la��o entre sig-





34




nif��cante e significado era natural ou produto da conven����o humana: a

c��lebre discuss��o em torno da th��sei (rela����o convencional) e physei

(rela����o natural).

Cr��ticas ao princ��pio da arbitrariedade

Alguns dos cr��ticos de Saussure objetaram, entre outras coisas, que

o signo, na sua totalidade, n��o �� t��o arbitr��rio como pretendia o mestre,

porque uma das suas duas faces (o significante) n��o poderia combinar-se

arbitrariamente com a sua segunda face (o significado) correspondente

em outra l��ngua. Por exemplo, o ingl��s /'ti:t/e:/ "teacher" n��o poderia ja-

mais tornar-se o significante do significado portugu��s "professor" (se

�� que �� poss��vel representar-se visualmente um significado), porque

/'ti:t/e:/ �� parte insepar��vel e necess��ria (assim pensam esses cr��ticos) de

um signo cujo significado n��o ��, em todos os sentidos e nuances, igual ��

id��ia que n��s, falantes de portugu��s, fazemos de "professor"5.

Um outro cr��tico, Emile Benveniste (1971: 141), chega inclusive a

"corrigir" o mestre, ao pretender que

el nexo que une a ambos (ste e sdo) no es arbitr��rio;

es necesario. El concepto ["significado"] "buey" es

por fuerza id��ntico en mi conciencia al conjunto f��-

nico ["significante"] bw��i. Como iba a ser de otra

manera? Uno y otro, juntos, se han impreso en mi

mente, y juntos se evocan en toda circunstancia.

Ora, somos levados a crer que os cr��ticos do mestre de Genebra de-

monstram n��o terem apreendido o pensamento saussuriano em toda a

sua profundidade e coer��ncia. Saussure postulava, isto sim, que o signo

como um todo s�� tem valor situado dentro de um determinado sistema

ling����stico, do qual �� parte integrante. E como que prevendo a posteri-

dade cr��tica, adverte (CLG, 132) que

�� uma grande ilus��o considerar um termo simples-

mente como a uni��o de certo som com um certo con-

ceito. Defini-lo [o valor ling����stico do signo] assim

seria isol��-lo do sistema do qual faz parte.

5. Em nossa l��ngua, tanto o indiv��duo que ensina a fazer bolos (sem desfazer dos mestres-cucas) como o que leciona em um col��gio ou cm uma Universidade do mais elevado gabarito c conhecido como professor; em ingl��s, teacher c reservado apenas para o professor de 1" c 2o graus, enquanto que professor distingue o professor universit��rio.





35


E, comprovando sua argumenta����o, exemplifica (p. 134):

O portugu��s "carneiro" [na adapta����o da tradu����o

brasileira] ou o franc��s " m o u t o n " podem ter a mes-

ma significa����o que o ingl��s "sheep", mas n��o o

m e s m o valor, isso por v��rias raz��es, em particular,

porque, ao falar de uma por����o de carne preparada e

servida �� mesa, o ingl��s diz "mutton" e n��o "sheep".

A diferen��a de valor entre " s h e e p " e " m o u t o n " ou

"carneiro" se deve a que o primeiro tem a seu lado

um segundo termo, o que n��o ocorre com a palavra

portuguesa ou francesa. [Cf. com nosso ex. ingl. tea-

cher/professor e port. professor.}

Al��m do que foi exposto acima, �� muito importante lembrar que,

para Saussure, a arbitrariedade do signo, e nisso insistimos, repousa

no fato de que o falante n��o pode mudar aquilo que o seu grupo ling����s-

tico j�� consagrou. N e n h u m de n��s poderia jamais chamar mesa de livro

e vice-versa ("Ele sentou-se ao livro para jantar"; "Ele est�� lendo uma

mesa") sem correr o risco de passarmos por insano. Nesse particular,

ali��s, a coer��ncia da argumenta����o saussuriana torna-se m e s m o inco-

m u m (CLG, 87/88):

U m a l��ngua constitui um sistema. Se [...] esse �� o

lado pelo qual a l��ngua n��o �� completamente arbitr��-

ria e onde impera uma raz��o relativa, �� tamb��m o

ponto onde avulta a incompet��ncia da massa para

transform��-la. [...] Dizemos " h o m e m " e "cachorro",

porque antes de n��s se disse " h o m e m " e "cachorro".

E concluindo (p. 88):

Justamente porque o signo �� arbitr��rio, n��o conhece

outra lei sen��o a da tradi����o, e �� por basear-se na tra-

di����o que pode ser arbitr��rio.

Na verdade, h�� dois sentidos para arbitr��rio:

a) o significante em rela����o ao significado:

livro, book, livre, Buch, liber, biblion, etc. (significantes diferentes

para um mesmo significado);

b) o significado como parcela sem��ntica (em oposi����o �� totalidade de

um campo sem��ntico):





36


ingl. teacher/professor port. professor

ingl. sheep/mutton port. carneiro

Conclui-se da��, como t��o bem assinala o Prof. S��lvio Elia, que

A argumenta����o saussuriana de fato n��o foi bem en-

tendida por v��rios de seus cr��ticos. No sentido A, por

exemplo, arbitr��rio significa simplesmente n��o-mo-

tivado. E aqui Saussure tem plena raz��o. No sentido

B (que n��o est�� expl��cito no CLG), o genebrino tam-

b��m �� quem est�� com a raz��o. O exemplo teacher/

professor mostra simplesmente que o corte sem��nti-

co �� arbitr��rio, ao contr��rio do que pensam acontecer

os seus contraditores. (Coment��rio em monografia

do autor deste livro.)

A quest��o das onomatop��ias e interjei����es

O contraditor poderia se apoiar nas onomatop��ias para dizer

que a escolha do significante nem sempre �� arbitr��ria ( CLG, 83).

Esta �� outra obje����o freq��ente da cr��tica ao p r i n c �� p i o da arbitra-

r i e d a d e do signo ling����stico, m a s o pr��prio Saussure j�� a anulara por

antecipa����o.

O problema �� que os "contraditores" consideram as onomatop��ias

palavras motivadas (ao contr��rio dos outros signos, que s��o imotivados

por n��o guardarem nenhuma rela����o natural e l��gica entre significante

e significado), porque elas sugerem, pela forma f��nica, uma realidade.

Por exemplo, dizemos que o gato mia, mas n��o podemos dizer que o

gato muge: a voz do gato n��o faz lembrar em nada a do boi; muge n��o

poderia ser aplicado para descrever o som emitido pelo gato, ao passo

que mia se aproxima de algum modo do "miau" de um bichano. Por��m,

alerta Saussure, tais casos n��o chegam a constituir "elementos org��ni-

cos de um sistema ling����stico" {CLG, 83), pois ocorrem em n��mero

mais reduzido do que se sup��e e s�� em rar��ssimos casos se encontra

uma liga����o ��ntima entre significante e significado. Do m e s m o modo,

as onomatop��ias aut��nticas (aquelas do tipo "glu-

glu", "tic-tac", etc.) n��o apenas s��o pouco numero-

sas, mas sua escolha �� j��, em certa medida, arbitr��ria,

pois n��o passam de imita����o aproximativa e j�� meio





37


convencional de certos ru��dos (compare-se o franc��s

"ouaoua" e o alem��o "wauwau"). Al��m disso, uma

vez introduzidas na l��ngua, elas se engrenam mais ou

menos na evolu����o fon��tica, morfol��gica, e t c , que

sofrem as outras palavras (cf. "pigeon" do latim vul-

gar "pipio", derivado tamb��m de outra onomato-

p��ia): prova evidente de que perderam algo de seu

car��ter primeiro para adquirir o do signo lingu��stico

em geral, que �� imotivado (CLG, 83).

De fato, o prot��tipo natural que motivou o surgimento desta ou da-

quela onomatop��ia parece sugerir a exist��ncia de um motivo, de um ru-

dimento de v��nculo natural entre esta e seu modelo original, dando a im-

press��o de que o significante �� motivado em rela����o ao significado (isto

��, n��o-arbitr��rio). Mas tal impress��o �� ilus��ria. Ru��dos e sons naturais,

ao entrarem para um sistema ling����stico, atrav��s da reprodu����o aproxi-

mada sugerida pelas onomatop��ias, amoldam-se ao material f��nico da

l��ngua e transformam-se numa imita����o convencional, por isso variam

de l��ngua para l��ngua. O grasnar de um pato, por exemplo, dificil-

mente ser�� reproduzido da mesma maneira em duas l��nguas diferen-

tes: em portugu��s, qu��-qu��!; em franc��s, couin-couin; em dinamarqu��s, rap-rap; em alem��o, gack-gack; em romeno, mac-mac; em italia-no, qua-qua; em russo, kriak; em ingl��s, quack; em catal��o, mechmech (v. Serafim S. Neto, 1938: 82).

Este �� tamb��m o pensamento do Prof. Mattoso Camara Jr. (2002:

182), que endossa o que j�� vimos em Saussurc. Para ele, as onomato-

p��ias s��o constitu��das

com os fonemas da l��ngua, que pelo efeito ac��stico

d��o melhor reimpress��o desse ru��do. N��o se trata,

portanto, de imita����o fiel e direta do ru��do, mas da

sua interpreta����o aproximada com os meios que a

l��ngua fornece.

Quanto ��s interjei����es, como tal, j�� fazem parte do sistema ling����s-

tico, j�� est��o estruturadas convencionalmente dentro de cada l��ngua, va-

riando enormemente de uma para outra: ai! em portugu��s; aie! cm franc��s; au! em alem��o; ouch! em ingl��s, etc. Como diz Saussure (p. 83),

"para a maior parte delas, pode-se negar que haja um v��nculo necess��rio

entre o significado e o significante". E para corroborar estas palavras de

Saussure, lembremos o exemplo da nossa interjei����o ��il (esp��cie de

cumprimento, de sauda����o), que aos ouvidos dos falantes de espanhol

soa como o adv��rbio hoy "hoje".





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Conclu��mos, portanto, que a quest��o levantada em torno das ono-

matop��ias e interjei����es n��o abala de m o d o algum o princ��pio da arbi-

trariedade do signo ling����stico6, uma vez que estas "s��o de import��ncia

secund��ria, e sua origem simb��lica �� em parte contest��vel" ( CLG, 84).

Arbitr��rio absoluto/arbitr��rio relativo

Apesar de haver postulado que o signo ling����stico ��, em sua ori-

gem, arbitr��rio, Saussure n��o deixa de reconhecer a possibilidade de

exist��ncia de certos graus de motiva����o entre significante e significa-

do ( CLG, 152):

O princ��pio fundamental da arbitrariedade do signo

n��o impede distinguir, em cada l��ngua, o que �� radi-

calmente arbitr��rio, vale dizer, imotivado, daquilo

que s�� o �� relativamente. Apenas uma parte dos sig-

nos �� absolutamente arbitr��ria; em outras, interv��m

um fen��meno que permite reconhecer graus no arbi-

tr��rio sem suprimi-lo: o signo pode ser relativamen-

te motivado (grifo no original).

Em coer��ncia com seu ponto de vista dicot��mico, Saussure prop��e

a exist��ncia de um "arbitr��rio absoluto" e de um "arbitr��rio relativo".

Como exemplo de arbitr��rio absoluto, o mestre de Genebra cita os n��-

meros dez e nove, tomados individualmente, e nos quais a rela����o entre

o significante e o significado seria totalmente arbitr��ria, isto ��, essa re-

la����o n��o �� necess��ria, �� imotivada. J�� na combina����o de dez com nove

para formar um terceiro signo, a dezena dezenove, Saussure acha que a

arbitrariedade absoluta original dos dois numerais se apresenta relativa-

mente atenuada, dando lugar ��quilo que ele classificou como arbitrarie-

dade relativa, pois do conhecimento da significa����o das partes pode-se

chegar �� significa����o do todo.

6. Parece-nos que a ��nica poss��vel exce����o ao princ��pio geral da arbitrariedade dar-sc-ia quando o signo ling����stico c usado literariamente com inten����o est��tica. A nosso ver, neste caso, o signo liter��rio, enquanto tal, n��o deve ser considerado como imotivado, ao contr��rio, ele �� totalmente motivado. Fazer literatura implica uma sele����o cst��tico-vocabular, havendo, portanto, motivo da parte do escritor para preferir tais e tais signos e rejeitar outros. Se alguma arbitrariedade existe, no caso, ela reside na pr��pria escolha do escritor, mas n��o �� a esse tipo de arbitrariedade que nos referimos, c sim �� do significante cm rela����o ao significado. Os signos que forem de fato empregados com inten����o est��tica (c unicamente estes) ao longo de uma obra de arte, seja prosa ou poesia, ter��o um motivo para estarem ali impressos, isto ��, eles s��o motivados (as chamadas figuras de estilo). Mas, alertamos: referimo-nos ao signo liter��-

rio, o que n��o contradiz dc forma alguma nossa posi����o com rela����o �� arbitrariedade do signo ling����stico cm geral.





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O mesmo acontece no par p��ra/pereira, em que p��ra, enquanto pala-

vra primitiva, serviria como exemplo de arbitr��rio absoluto (signo ��moti-

vado). Por sua vez, pereira, forma derivada de p��ra, seria um caso de ar-

bitr��rio relativo (signo motivado), devido �� rela����o sintagm��tica p��ra

(morfema lexical) + -eira (morfema sufixai, com a no����o de "��rvore") e ��

rela����o paradigm��tica estabelecida a partir da associa����o de pereira a la-

ranjeira, bananeira, etc., uma vez que �� conhecida a significa����o dos ele-

mentos formadores. Como esclarece Saussure (CLG, 153),

a no����o do relativamente motivado implica: 1o, a

an��lise do termo dado, portanto uma rela����o sintag-

m��tica; 2 o , a evoca����o de um ou v��rios termos, por-

tanto uma rela����o associativa.

Mais adiante, Saussure (p. 154) esclarece que "as l��nguas em que a

imotiva����o atinge o m �� x i m o s��o mais lexicol��gicas, e aquelas em que

se reduz ao m��nimo, mais gramaticais" (grifos no original).

L��nguas lexicol��gicas, formadas por u m a maioria de signos i m o -

tivados, seriam o ingl��s e o chin��s, segundo Saussure. Por outro lado,

como exemplos de l��nguas gramaticais, cita o mestre o caso do latim, do

s��nscrito e do alem��o, idiomas em que predominam os signos mais ou

menos motivados, isto ��, palavras formadas pelo relacionamento morfos-

sint��tico entre os seus constituintes imediatos (lexicais + gramaticais).

A natureza mais lexical do ingl��s transaparece em palavras do tipo

orange-tree "laranjeira", formada por dois morfemas lexicais, os subs-

tantivos orange "laranja" e tree "��rvore". Nesses casos, recorre o portugu��s a um morfema gramatical, o sufixo -eira, adicionando-o ao radical

da palavra. De acordo com o pensamento de Saussure, o grau de moti-

va����o �� maior na palavra portuguesa laranjeira do que na equivalente

inglesa orange-tree.

Podemos citar ainda o exemplo de certas formas verbais. Enquan-

to a nossa l��ngua, mais "gramatical", rica em sufixos e desin��ncias,

emprega signos relativamente arbitr��rios, c o m o fal��vamos ou bebe-

ras (-va- e -ra- = desin. modo-temporal; -mos e -s = desin. n��me-

ro-pessoais), o ingl��s, l��ngua mais "lexicol��gica", m e n o s dotada de

recursos gramaticais, utiliza, nesses casos, lexemas espec��ficos para

indicar as categorias de m o d o - t e m p o e n �� m e r o - p e s s o a : we spoke,

you had drunk (por isso n��o h�� sujeito el��ptico nos verbos ingleses:

falta-lhes a desin��ncia n��mero-pessoal). Em outras palavras, recorre

a signos individuais, nos quais a arbitrariedade �� absoluta. Caso se-

melhante ocorre em certas formas de plural ditas irregulares: footlfeet





40


"p��/p��s", mouselmice "rato/ratos". Em portugu��s, a categoria de n��me-ro �� indicada sistematicamente por um processo flexivo, ou seja, gra-

matical (a desin. -s), formando assim signos relativamente motivados,

ao contr��rio do que ocorre, nesses casos, c o m seus equivalentes in-

gleses (cf. p�� + s com feet).

A respeito da dicotomia arbitr��rio absoluto/arbitr��rio relativo,

Saussure ilustra seu ponto de vista com o seguinte exemplo (CLG, 152):

O plural ingl��s ships, "barcos", lembra, por sua for-

ma����o, toda a s��rie flags, birds, books, e t c , ao passo

que men, "homens", sheep, "carneiros", n��o lem-

bram nada.

Os exemplos apresentados por Saussure sugerem implicitamente

que o conceito de arbitr��rio relativo se estende tamb��m aos casos de fle-

x��o nominal e verbal, ao contr��rio do ponto de vista de Pierre Guiraud,

que limita a motiva����o interna do signo �� deriva����o e �� composi����o,

como veremos a seguir.

Motiva����o e arbitrariedade

Partindo da dicotomia arbitr��rio absoluto/arbitr��rio relativo, a Lin-

g����stica p��s-saussuriana deu conseq����ncia ao pensamento infelizmente

inacabado do mestre de Genebra. Pierre Guiraud, por exemplo, prop��e

a exist��ncia de dois tipos de motiva����o: a interna e a externa.

A motiva����o interna ocorre dentro do pr��prio sistema ling����stico, a

partir das possibilidades de relacionamento existentes entre palavras ou

entre unidades da l��ngua. Trata-se, portanto, das rela����es internas (sin-

tagm��ticas e paradigm��ticas) do sistema, respons��veis pelo funciona-

mento desse mesmo sistema.

Diz Guiraud (1972: 31):

A motiva����o �� interna quando tem a sua fonte no in-

terior do sistema ling����stico. A rela����o motivante

n��o est�� mais aqui entre a coisa significada e a forma

significante, mas entre a palavra e outras palavras

que j�� existem na l��ngua.

A motiva����o interna (ou intraling����stica) �� de natureza morfol��gica

e compreende a deriva����o e a composi����o. Corresponde �� arbitrarieda-

de relativa de Saussure.





41


A deriva����o, como instrumento de cria����o de palavras motivadas,

pode ser:

a) prefixai: in + feliz

b) sufixai: per + eira

c) prefixai e sufixai: in + feliz + mente

d) parassint��tica: en + tard + ec + e + r

e) regressiva ou deverbal: atraso < atrasar

A composi����o pode ocorrer por:

a) justaposi����o: televis��o, ediflcio-garagem, minissaia

b) aglutina����o: planalto (plano + alto), aguardente (��gua + ardente)

Al��m da deriva����o e da composi����o, acrescentar��amos outros pro-

cessos motivadores, de natureza morfol��gica, t��picos das l��nguas m o -

dernas, a saber:

a) abrevia����o: foto < fotografia

b) siglas: ONU, MEC, IBOPE

As siglas, expediente pr��tico cada vez mais generalizado nas l��n-

guas modernas (j�� existe at�� dicion��rio de siglas), tiveram extraordin��-

ria expans��o no s��culo XX, o s��culo da pressa. A necessidade de comu-

nica����o social, t��cnica e administrativa cada vez mais direta e concisa

fez com que se expandissem as siglas, as quais, uma vez criadas (cria-

����o motivada pelas letras ou s��labas iniciais das palavras que as com-

p��em) e socializadas linguisticamente, passam a ser sentidas pela mas-

sa falante como verdadeiras palavras novas, capazes inclusive de gerar

derivados. Por exemplo, a sigla C L T (Consolida����o das Leis do Traba-

lho) motivou o curioso neologismo "celetista", j�� difundido pela im-

prensa: " 5 1 % dos funcion��rios da Uni��o s��o regidos pela C L T , sendo,

por isso, conhecidos como celetistas" (Revista Isto ��, n. 2 4 1 , 5/8/81, p.

66). Ali��s, trata-se de termo de uso corrente, j�� dicionarizado (v. Aur��-

lio), por isso, a rigor, nem cabe mais trat��-lo como neologismo.

Com rela����o �� motiva����o externa (ou extraling����stica), esclarece

Guiraud (1972: 30): "a motiva����o �� externa quando ela repousa sobre

uma rela����o entre a coisa significada e a forma significante, fora do sis-

tema ling����stico".





42


A motiva����o externa pode ser fon��tica ou metass��mica. Motiva����o

fon��tica �� o caso das onomatop��ias, palavras etimologicamente motiva-

das, na opini��o de Guiraud. Embora tendam a se desmotivar com o uso

(e, em conseq����ncia, a cair no arbitr��rio), as onomatop��ias desempe-

nham importante papel na renova����o do l��xico e na valoriza����o do

texto po��tico, como ocorre, por exemplo, no p o e m a Os sinos, de Ma-

nuel Bandeira:

Sino de Bel��m, pelos que inda v��m!

Sino de Bel��m, bate bem-bem-bem.

Sino da Paix��o, pelos que l�� v��o!

Sino da Paix��o, bate b��o-b��o-b��o.

A motiva����o metass��mica engloba os casos de transfer��ncias sem��n-

ticas (meta = transforma����o + sema = significado). Como exemplos t��pi-

cos de metassemia, p o d e m o s citar as met��foras ("O aluno encontrou

a chave do problema"), as meton��mias ("Gosto de 1er Machado de

Assis"), as catacreses ("pernas da mesa") e os casos de convers��o de palavras ou mudan��a de classe gramatical ("Terr��vel palavra �� um n��o").

Confrontando os dois tipos de motiva����o do signo, conclu��mos que

a motiva����o interna, por suas caracter��sticas espec��ficas, torna-se mais

importante para o funcionamento da l��ngua do que a motiva����o externa.

A motiva����o externa �� mais fortuita, mais limitada, realizando-se de

fora para dentro do sistema lingu��stico. A motiva����o interna, mais ge-

ral, atua de dentro para fora do sistema, oferecendo possibilidades teo-

ricamente ilimitadas de renova����o do l��xico.

Para concluir, acrescentar��amos o seguinte: para Saussure, o princ��-

pio da arbitrariedade do signo �� um fen��meno geral, resulta historica-

mente de uma conven����o (arbitr��rio = convencional) social e �� ele que

assegura o funcionamento a-hist��rico do sistema ling����stico. Para Saus-

sure, o signo �� imotivado a priori, isto ��, em suas origens, ressalva feita

unicamente para os casos que ele situou como "arbitrariedade relativa",

estes surgidos a posteriori.

Pierre Guiraud, entretanto, considera que o signo nasce sempre moti-

vado para se desmotivar posteriormente, a partir do momento em que ele

se socializa atrav��s do uso pela massa falante. Afirma Guiraud ( 1972:29):

Toda palavra �� sempre motivada em sua origem e ela

conserva tal m o t i v a �� �� o , por maior ou m e n o r tem-

po, segundo os casos, at�� o m o m e n t o em que acaba

por cair no arbitr��rio, quando a motiva����o deixa

de ser percebida.





43


Guiraud reconhece, portanto, o car��ter arbitr��rio do signo lingu��sti-

co, mas o v�� instaurar-se, ao contr��rio de Saussure, a posteriori e n��o a

priori. Tentemos ilustrar o ponto de vista do ling��ista franc��s com um

exemplo em nossa l��ngua: o substantivo romaria resultou da rela����o

sintagm��tica entre Roma e o sufixo - ��ria, porque significava historica-

mente "peregrina����o a Roma para ver o Papa". Um caso, portanto, de

motiva����o a priori, diria Guiraud. O uso, entretanto, desgastou-lhe o

sentido original, e romaria, hoje, significa "qualquer tipo de peregrina-

����o ou de prociss��o religiosa". Quando o falante ouve o signo romaria,

n��o passa pela sua cabe��a, em momento algum, a id��ia de "peregrina-

����o a Roma", a menos que venha explicitado: "romaria ao Vaticano".

Por exemplo, entre n��s, s��o muito freq��entes as romarias a Aparecida

do Norte, em S��o Paulo. O voc��bulo romaria, a seguir-se o racioc��nio

de Guiraud, teria, portanto, se desmotivado a posteriori, assumindo, em

conseq����ncia, o car��ter arbitr��rio dos signos ling����sticos em geral.





A linearidade do significante


Esta segunda caracter��stica do signo �� t��o importante quanto a pri-

meira, conforme teremos oportunidade de constatar no cap��tulo "Rela-

����es sintagm��ticas". Aqui ampliaremos a no����o deste segundo princ��-

pio do signo ling����stico, a partir daquilo que a Ling����stica moderna tem

chamado de unidades discretas.

O princ��pio da discre����o (neologismo referente ��s "unidades dis-

cretas"; cf. discri����o = qualidade de ser discreto, reservado) baseia-se

no fato de que "toda unidade ling����stica tem valor ��nico sem matizes in-

termedi��rios", como diz Borba (1971: 58). Em outras palavras, os ele-

mentos de um enunciado ling����stico s��o diferentes entre si, limitados,

independentes, sem varia����es. Ou pronunciamos "faca" ou "vaca".

N��o existe um meio-termo entre /f/ e /v/, que s��o, desse modo, unida-

des discretas, isto ��, separ��veis, descont��nuas. �� o princ��pio do tudo ou

nada, d i g a m o s a s s i m , que caracteriza, em s��ntese, as u n i d a d e s d i s -

cretas. Martinet (1971-a: 20) nos esclarece de vez com os exemplos de

"bata" e "pata":

Se um locutor articular mal, se houver barulho no

ambiente, se a situa����o n��o me facilitar o papel de

ouvinte, poderei hesitar em interpretar o que ouvi

como "�� uma linda bata" ou como "�� uma linda

pata"; mas sou obrigado a escolher uma ou outra das

duas interpreta����es e n��o h��, evidentemente, possi-

bilidade de admitir uma mensagem intermedi��ria.





44


Com isso, conclu��mos que as unidades discretas t��m de ser emiti-

das sucessivamente. Elas n��o s��o coexistentes, n��o s��o simult��neas. Ao

contr��rio, s��o sucessivas e, por isso, s�� podemos emitir um fonema de

cada vez, em linha, ou melhor, linearmente. Muito menos podemos

emitir duas palavras ao mesmo tempo. A l��ngua, em seu funcionamen-

to, pode ser descrita, portanto, como uma sucess��o de unidades discre-

tas, tanto no eixo paradigm��tico como no sintagm��tico.

Mas �� necess��rio lembrar que a linearidade �� do significante e n��o

do significado. Nesse sentido, adverte Saussure (CLG, 84):

O significante, sendo de natureza auditiva, desenvol-

ve-se no tempo, unicamente, e tem as caracter��sticas

que toma do tempo:

a) representa uma extens��o, e

b) essa extens��o �� mensur��vel numa s�� dimens��o:

�� uma linha.

Do enunciado saussuriano depreendemos que somente a parte ma-

terial do signo - o significante - �� linear e que o pensamento, em si mes-

mo, n��o tem partes, n��o �� sucessivo, s�� o sendo quando se concretiza

atrav��s das formas f��nicas lineares do significante. Aqui caberia com-

pararmos o pensamento a uma tela, em que todos os elementos apare-

cem simultaneamente, formando um todo. Tal fato (a simultaneidade)

j�� n��o �� poss��vel numa poesia, por exemplo, seja ela declamada ou lida

silenciosamente. Ali��s, esse exemplo fundamenta com bastante clareza

o princ��pio da linearidade do significante e torna oportuno citar o pensa-

mento do pr��prio Saussure (CLG, 84):

[...] os significantes ac��sticos disp��em apenas da li-

nha do tempo; seus elementos se apresentam um

ap��s outro; formam uma cadeia. Esse car��ter apare-

ce imediatamente quando os representamos pela es-

crita e substitu��mos a sucess��o do tempo pela linha

espacial dos signos gr��ficos.

Poder��amos tamb��m caracterizar o significado como um bloco,

como um todo, como uma unidade que s�� se decomp��e quando falamos

ou escrevemos, quando materializamos nosso pensamento em ordem li-

near, ordem essa que tamb��m �� arbitr��ria de l��ngua para l��ngua, uma vez

que n��o existe ordem no pensamento e sim na l��ngua. Atente-se, a pro-

p��sito, para as palavras bastante esclarecedoras do ling��ista dinamar-

qu��s Louis Hjelmslev (1968: 43-44):





45


Al mirar un texto impreso o escrito vemos que se

compone de signos, y que ��stos se componen a su

vez de elementos que se desarrollan en una direcci��n

determinada (cuando se utiliza el alfabeto latino, se

extienden de izquierda a derecha; cuando se utiliza

el alfabeto hebreo, se extienden de derecha a izquier-

da; cuando se utiliza el alfabeto mongol, se extien-

den de arriba abajo; pero se desarrollan siempre en

una direcci��n determinada); y cuando o��mos un tex-

to hablado, se compone para nosotros de signos, y

estos signos se componen a su vez de elementos que

se desarrollan en el tiempo: unos vienen antes, otros

despu��s. Los signos forman una cadena [cadeia], y

los elementos de cada signo forman asimismo [tam-

b��m] una cadena.

O pensamento funciona, desse modo, com uma "for��a estruturante"

da l��ngua, segundo o Prof. S��lvio Elia, o qual, ao mesmo tempo, se inda-

ga se a estrutura profunda (de Chomsky) n��o ser��, na verdade, o pr��prio

pensamento. Se ��, ent��o o pensamento n��o �� uma estrutura, ao contr��-

rio, ele �� uma "for��a estruturante". Nesse caso, segundo o referido mes-

tre, n��o cabe falar em estrutura profunda e sim em "estrutura subjacen-

te". (Opini��o expressa em conversa com o autor deste livro.)

Uma cr��tica ao princ��pio da linearidade

O linguista Roman Jakobson contestou o princ��pio da linearidade

do significante, argumentando que, num fonema qualquer, por exem-

plo, /b/, h�� um feixe de tra��os f��nicos simult��neos (bilabial, oral, oclu-

sivo e sonoro) e n��o-sucessivos, n��o-lineares. Mas, para Saussure, es-

ses tra��os f��nicos n��o passam de elementos do significante, que j�� se

encontra formado na l��ngua como um todo.

Eis a resposta do pr��prio autor do CLG (p. 84):

Em certos casos, isso [o princ��pio da linearidade]

n��o aparece com destaque. Se, por exemplo, acentuo

uma s��laba, parece que acumulo num s�� ponto ele-

mentos significativos diferentes. Mas trata-se de uma

ilus��o: a s��laba e seu acento constituem apenas um

ato fonat��rio; n��o existe dualidade no interior desse

ato, mas somente oposi����es diferentes com o que se

acha a seu lado [ver cap��tulo "Rela����es sintagm��ti-

cas e paradigm��ticas"].





46





De fato, uma palavra como cavalo tamb��m apresenta v��rios tra��os

s��micos (ser vivo, irracional, quadr��pede, animal, macho), todos conti-

dos ao mesmo tempo, mas isso em nada abala o princ��pio da linearidade

do significante, porquanto cavalo, enquanto unidade discreta j�� forma-

da, j�� "pronta" na l��ngua, s�� se materializa fonicamente de forma linear.

Por fim, cabe citar aqui a advert��ncia do pr��prio Saussure (CLG, 84)

sobre a relev��ncia dessa segunda caracter��stica do signo ling����stico para

uma teoria estruturalista (enquanto categoria formal) da linguagem:

Esse princ��pio �� evidente, mas parece que sempre se

negligenciou enunci��-lo, sem d��vida porque foi con-

siderado demasiadamente simples; todavia, ele �� fun-

damental e suas conseq����ncias s��o incalcul��veis [de

fato, na ��poca, o eram]; sua import��ncia �� igual �� da

primeira lei [a da arbitrariedade do signo]. Todo o

mecanismo da l��ngua depende dele.

Em resumo:

ind��cio (f��sico): fuma��a, rastros

Natural

sintoma (fisiol��gico): pulsa����o, febre

Tipos de Sinal

��cone (motivado): estatueta, foto

Convencional

s��mbolo (intermedi��rio): balan��a = justi��a

signo (imotivado): a palavra





47





S I G N O

SIGNIFICANTE*

/ SIGNIFICADO*

imagem ac��stica

conceito

percept��vel

intelig��vel

psicof��sico

ps��quico

impress��o ps��quica

evoca����o ps��quica provocada

do som

pelo som

representante

representado

tradu����o f��nica de um conceito

correlato mental do significante

presen��a f��sica

presen��a mental

som

pensamento

mat��ria

id��ia

incorporante

incorporado

sensorial

conceituai

s��mainon

s��mainomenon

signans

signatum**

Arbitrariedade (do ste em rela����o ao sdo)

Caracter��sticas

Linearidade (do ste)

Para Saussure:

absoluto

Arbitr��rio

relativo

* Ambos de natureza ps��quica.

** Na terminologia de Santo Agostinho.





48




Para Guiraud:

deriva����o

interna -> morfol��gica J

composi����o

Motiva����o

fon��tica

externa

metass��mica





49


EXERC��CIOS

O signo ling����stico

1. A diferen��a entre Semiologia e Ling����stica ��:

a) A Semiologia difere da Ling����stica por sua maior abrang��ncia.

A Ling����stica �� o estudo cient��fico da linguagem humana. J�� a Semio-

logia estuda todo e qualquer tipo de c��digo de comunica����o.

b) A Semiologia difere da Ling����stica por ser arbitr��ria e a Ling����s-

tica, semi-arbitr��ria.

c) Semiologia e Ling����stica s��o termos permut��veis.

2 . Saussure preferiu o termo Signo, e n��o S��mbolo, porque

a) o s��mbolo �� totalmente arbitr��rio, e o signo �� semi-arbitr��rio;

b) ambos, o s��mbolo e o signo, s��o semi-arbitr��rios;

c) o s��mbolo �� semi-arbitr��rio, e o signo �� totalmente arbitr��rio.

3. Relacione as colunas:

1 - Signo ( ) Imagem ps��quica, conceito ou represen-

ta����o mental que a imagem ac��stica

evoca no falante.

2 - Significante ( ) �� semi-arbitr��rio.

3

S��mbolo

( ) Imagem ac��stica, representa����o sonora

(de natureza psicof��sica) do voc��bulo.

4

Significado

( |) Combina����o arbitr��ria (ou imotivada) de

um ste com um sdo.

4. Numere a segunda coluna de acordo com a primeira:

1 - L��ngua ( ) Ci��ncia que estuda as

significa����es.

2 - Sem��ntica ( ) Produto e instrumento

de uma cultura.





50


3 - Semiologia

( ) Ind��cios de chuva, de

fogo, etc.

4 - Ling����stica

( ) Febre, suor, dor, fome, etc.

5 - Sinal convencional

( ) E a imagem ac��stica ou

visual. E a express��o da

imagem mental.

6 - Sinal natural (f��sico)

( ) Rastros, nuvens negras,

luz, som, etc.

7 - Sinal natural (fisiol��gico) ( ) �� o conceito, a id��ia que

fazemos de um objeto ou

da realidade.

8 - Significado

( ) Signo ling����stico.

9 - Significante

( ) Teoria geral dos signos.

1 0 - Uni��o do sdo + ste

( ) Sistema de signos vocais.

( ) Ci��ncia que estuda os c��di-

gos e sinais de comunica����o.

( ) Estudo cient��fico da lingua-

gem humana.

5. "Dezenove �� associativamente solid��rio de dezoito, dezessete,

etc. e sintagm��ticamente de seus elementos dez e nove" (CZ.G, 153).

Estas palavras de Saussure dizem respeito �� arbitrariedade:

a) relativa b) absoluta

6. Sobre as onomatop��ias, assinale a resposta certa:

a) Imita����es convencionais de sons e ru��dos naturais, variam de

l��ngua para l��ngua e n��o alteram o princ��pio da arbitrariedade do sig-

no ling����stico.

b) Imita����o fiel e direta de um ru��do ou som natural; signos moti-

vados, por isso n��o s��o arbitr��rios.

7. Marque V (verdadeiro) ou F (falso):

( ) Os enunciados vocais decorrem no tempo e s��o captados

pelo ouvido como sucess��es.





51


( ) O car��ter linear dos enunciados explica a sucessividade dos

morfemas e fonemas.

( ) Somente a parte material do signo, o significante, �� linear.

8. Relacione as duas colunas:

1 - Arbitrariedade absoluta

( ) dezoito

2 - Arbitrariedade relativa

( )dez

( ) oito

( ) laranja

( ) laranjeira

9. Numere a 1- coluna de acordo com a 2-\

(

) Semiologia

1 - Representa����o mental de

um objeto.

(

) ��cone

2 - �� semi-arbitr��rio.

(

) Significad

)

o

Significad

3 - Estudo cient��fico de todo e

qualquer sistema de comunica����o.

(

) Significante

4 - N��o �� som material, e sim a

impress��o ps��quica desse som.

(

) S��mbolo

5 - Sinal motivado.

1 0 . (QC, 152): "Apenas uma parte dos signos �� absolutamente arbi-

tr��ria; em outras, interv��m um fen��meno que permite reconhe-

cer graus no arbitr��rio sem suprimi-lo: o signo pode ser relativa-

mente motivado", como, por exemplo, em desleal e cerejeira. Jus-

tifique esta afirmativa.

1 1 . Vale-transporte e passatempo s��o exemplos de motiva����o

, formados por

12. "No interior de uma mesma l��ngua, todo o movimento da evolu-

����o pode ser assinalado por uma passagem cont��nua do motivado

ao arbitr��rio e do arbitr��rio ao motivado" (QC, 154). Isto se aplica,

respectivamente, aos exemplos de:

a) dezoito, romaria b) romana, dezoito





52


1 3 . O Brasil, por seus contrastes socioecon��micos, tem sido consi-

derado uma esp��cie de Bel��ndia (B��lgica + India). O neologismo

Bel��ndia �� um exemplo de motiva����o , forma-

do por

1 4 . "Enxugar o texto" (torn��-lo mais sucinto) e "enxugar a m��qui-

na administrativa" (reduzir despesas) s��o exemplos de motiva����o

, do tipo

1 5 . "Uma l��ngua �� radicalmente incapaz de se defender dos fatores

que deslocam, de minuto a minuto, a rela����o entre o significado e o

significante. �� uma das conseq����ncias da do

signo" (CLG, 90).

a) arbitrariedade b) linearidade

1 6 . Para Cuiraud, a motiva����o interna �� de natureza ,

e seus processos s��o a e a

a) fon��tica - met��fora - metonimia

b) metass��mica - composi����o - abrevia����o

c) morfol��gica - deriva����o - composi����o

17. O que Saussure chama de arbitr��rio , Guiraud

denomina de

a) absoluto - motiva����o externa

b) relativo - motiva����o interna

1 8 . "Um signo �� uma coisa que, al��m da esp��cie ingerida pelos sen-

tidos, faz vir ao pensamento, por si mesma, qualquer outra coisa."

Esta defini����o de Santo Agostinho ( Apud Barthes, R., 1972: 39) ante-

cipa, de certo modo, a concep����o saussuriana, por incluir os dois in-

tegrantes do signo: o e o

1 9 . "O tempo �� um tecido invis��vel em que se pode bordar tudo"

(Machado de Assis, Esa�� e Jac��, XXII). Para definir o tempo, Macha-

do lan��a m��o de uma met��fora altamente criativa. Trata-se de um

exemplo de motiva����o , do tipo





53


2 0 . Saussure afirma que "n��o existe motivo algum para preferir

soeur a sister, ou a irm��, Ochs a boeuf ou boi" (CLG, 87). Tal fato se deve ��:

a) linearidade do significante;

b) arbitrariedade do signo.

2 1 . A fruta que os cariocas chamam de tangerina recebe a denomi-

na����o de bergamota no Rio Grande do Sul e mexerica em Minas Ge-

rais e S��o Paulo. Justifique este fato �� luz da teoria saussuriana do sig-

no ling����stico.

2 2 . "Os significantes ac��sticos disp��em apenas da linha do tempo;

seus elementos se apresentam um ap��s outro; formam uma cadeia"

(QLC, 84). Estas palavras de Saussure referem-se ao:

a) car��ter linear do significante;

b) princ��pio da arbitrariedade do signo.

2 3 . "A espada vence, mas n��o convence." "Espada" = "for��a" �� um caso de metonimia (o objeto pela coisa significada). Trata-se de uma

metassemia, um exemplo de:

a) motiva����o interna;

b) motiva����o externa.

2 4 . Ap��s receber um buqu�� de flores de sua amada, disse o poeta: -

N��o quero a rosa que me d��s. Quero a rosa que tu ��s.

Na fala do poeta, a palavra rosa aparece duas vezes: numa, a re-

la����o sdo/ste �� ��motivada (arbitr��ria); noutra, �� motivada (n��o-arbi-

tr��ria). Identifique e explique essa diferen��a.

2 5 . Nos verbos depoentes latinos miror "admiro" e vereor "respei-

to", a forma �� passiva e o sentido �� ativo. Eis um bom exemplo da

do signo ling����stico.





54


GABARITO

O signo lingu��stico

1)A

2) C

3 ) 4 - 3 - 2 - 1

4 ) 2 - 5 - 6 - 7 - 9 - 6 - 8 - 1 0 - 3 - 1 - 3 - 4

5) A

6) A

7) V - V - V

8) 2 - 1 - 1 - 1 - 2

9 ) 3 - 5 - 1 - 4 - 2

10) Est�� correta. Trata-se de exemplos da arbitrariedade relativa do

signo ling����stico (motiva����o interna para Guiraud): desleal = deriv.

prefixai; cerejeira = deriv. sufixai.

11) interna - justaposi����o

12) B

13) interna - aglutina����o

14) externa - metass��mica (met��fora)

15) A

16) C

17) B

18) significante - significado

19) externa - metass��mica

20) B

21) Tal diversidade de stes para um mesmo sdo explica-se pelo prin-

c��pio da arbitrariedade do signo ling����stico.

22) A

23) B

24) No primeiro caso, rosa apresenta sentido pr��prio, denotativo,

rela����o sdo/ste ��motivada; no segundo, �� uma met��fora (motiva����o

externa), sentido conotativo.

25) arbitrariedade

55

L��NGUA/FALA, NORMA

O estudo da linguagem comporta duas partes:

uma, essencial, tem por objeto a l��ngua, que �� social em sua ess��ncia;

outra, secund��ria, tem por objeto a parte individual da linguagem,

vale dizer, a fala (CLG, 27).





As dicotomias saussurianas


A doutrina de Saussure baseia-se numa s��rie de pares de distin����es,

atribu��das por Georges Mounin (1973: 54) �� sua "mania dicot��mica".

Citando o pr��prio Saussure ("A linguagem �� redut��vel a cinco ou seis

dualidades ou pares de coisas."), Mounin nos revela que o mestre de

Genebra estava bem consciente de sua perspectiva dicot��mica, o que,

ali��s, �� confirmado logo nas primeiras p��ginas do Curso de ling����stica

geral. Afirma Saussure {CLG, 15): "[...] o fen��meno ling����stico apre-

senta perpetuamente duas faces que se correspondem e das quais uma

n��o vale sen��o pela outra".

Comecemos pela oposi����o fundamental: l��ngua/fala.

L��NGUA/FALA

Esta �� sua dicotomia b��sica e, juntamente com o par sincronia/dia-

cronia, constitui uma das mais fecundas. Fundamentada na oposi����o

social/individual, revelou-se com o tempo extremamente prof��cua. O

que �� fato da l��ngua (langue) est�� no campo social; o que �� fato da fala

ou discurso (parole) situa-se na esfera do individual. Repousando sua

dicotomia na Sociologia, ci��ncia nascente e j�� de grande prest��gio en-

t��o, Saussure (p. 16) afirma e adverte ao mesmo tempo: "A linguagem

tem um lado individual e um lado social, sendo imposs��vel conceber um

sem o outro". Vale lembrar que, para Saussure, a linguagem �� a faculda-

de natural de usar uma l��ngua^J^ag passo q u e a l �� n g u a constitui ��lg��

adquirido e convencional" (CLG, 17).





57


A l��ngua

Do exame exaustivo do Curso, depreendemos tr��s concep����es para

l��ngua: acervo ling����stico, institui����o social e realidade sistem��tica e

funcional. Analisemo-las �� luz do CLG.

A l��ngua como acervo lingu��stico

A l��ngua �� uma realidade ps��quica formada de significados e ima-

gens ac��sticas; "constitui-se num sistema de signos, onde, de essencial,

s�� existe a uni��o do sentido e da imagem ac��stica, onde as duas partes

do signo s��o igualmente ps��quicas" (p. 23); �� "um tesouro depositado

pela pr��tica da fala em todos os indiv��duos pertencentes �� mesma comu-

nidade, um sistema gramatical que existe virtualmente em cada c��rebro

ou, mais exatamente, nos c��rebros dum conjunto de indiv��duos" (p. 21);

a l��ngua �� "uma soma de sinais depositados em cada c��rebro, mais ou

menos como um dicion��rio cujos exemplares, todos id��nticos, fossem

repartidos entre os indiv��duos" (p. 27). E, com todo o respeito a Saussu-

re, acrescentar��amos: um dicion��rio e uma gram��tica, cuja extens��o

ser�� proporcional ao conhecimento e �� percep����o ling����stica do falante.

A l��ngua, como acervo lingu��stico, �� "o conjunto dos h��bitos lin-

g����sticos que permitem a uma pessoa compreender e fazer-se compre-

ender" (p. 92) e "as associa����es ratificadas pelo consentimento coletivo

e cujo conjunto constitui a l��ngua s��o realidades que t��m sua sede no c��-

rebro" (p. 23).

A l��ngua, enquanto acervo, guarda consigo toda a experi��ncia hist��-

rica acumulada por um povo durante a sua exist��ncia. Disso nos d�� tes-

temunho o latim, s��mbolo permanente da cultura e das institui����es do

povo romano. Tamb��m o portugu��s, nos seus oito s��culos de exist��n-

cia, acumulou um rico e not��vel acervo ling����stico e liter��rio. Impor-

tante l��ngua de cultura, constitui tesouro c o m u m dos povos irmanados

pela lusofonia.

A l��ngua como institui����o social

Saussure considera (da mesma forma que Whitney) que a l��ngua

"n��o est�� completa em nenhum [indiv��duo], e s�� na massa ela existe de

modo completo" (p. 21), por isso, ela ��, simultaneamente, realidade ps��-

quica e institui����o social. Para Saussure, a l��ngua "��, ao mesmo tempo,

um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de conven-

����es necess��rias, adotadas pelo corpo social para permitir o exerc��cio

dessa faculdade nos indiv��duos" (p. 17); �� "a parte social da linguagem,





58


exterior ao indiv��duo, que, por si s��, n��o pode nem cri��-la nem modifi-

c��-la; ela n��o existe sen��o em virtude de uma esp��cie de contrato esta-

belecido entre os membros da comunidade" (p. 22).

Trata-se da mais coercitiva de todas as institui����es sociais. A socie-

dade pode abolir qualquer uma de suas institui����es, exceto a l��ngua.

Lembremos o exemplo da Revolu����o Francesa (1789), que conseguiu

derrubar a monarquia (o ancien regime), mas a l��ngua francesa perma-

neceu, mais forte e mais rica do que antes.

A l��ngua como realidade sistem��tica e funcional

Este �� o conte��do mais importante do conceito saussuriano a res-

peito da l��ngua. Para o mestre de Genebra, a l��ngua ��, antes de tudo, "um

sistema de signos distintos correspondentes a id��ias distintas" (p. 18); ��

um c��digo, um sistema onde, "de essencial, s�� existe a uni��o do sentido

e da imagem ac��stica" (p. 23). Saussure v�� a l��ngua como um objeto de

"natureza homog��nea" (p. 23) e que, portanto, se enquadra perfeita-

mente na sua defini����o basilar: "a l��ngua �� um sistema de signos que ex-

primem id��ias" (p. 24).

A fala, ao contr��rio da l��ngua, Saussure a apresenta multifacetada e

heterog��nea. Diz o mestre que "a fala �� um ato individual de vontade e in-

telig��ncia, no qual conv��m distinguir: 1o) as combina����es pelas quais o

falante realiza o c��digo da l��ngua no prop��sito de exprimir seu pensa-

mento pessoal; 2o) o mecanismo psicof��sico que lhe permite exteriorizar

essas combina����es" (p. 22). Saussure classifica a fala como o "lado exe-

cutivo" da linguagem, cuja "execu����o jamais �� feita pela massa; �� sempre

individual e dela o indiv��duo �� sempre senhor; n��s a chamaremos fala"

(p. 21). E complementar��amos: fala em oposi����o a l��ngua. A fala �� a pr��-

pria l��ngua em a����o, en��rgeia (atividade) e n��o ��rgon (produto).

Aprofundando a base te��rica dessa dicotomia fundamental para a

compreens��o da obra de Saussure, somos levados a reconhecer a influ��n-

cia incontest��vel e decisiva que o debate entre os dois expoentes da So-

ciologia de ent��o, Durkheim e Tarde, exerceu sobre ele. Sua dicotomia

parece ter sido uma tentativa de concilia����o entre as duas posi����es socio-

l��gicas vigentes. Da id��ia de fait social (fato social), de Durkheim, pro-

cede a postula����o da l��ngua, segundo Lepschy ( 1 9 7 1 : 30):

Porque ambas [tanto a id��ia de l��ngua, como a de

fato social] se referem a fatos psicossociais, externos

ao indiv��duo, sobre o qual exercem uma contrainte

(coer����o), e existentes na consci��ncia coletiva do

grupo social.





59


Por outro lado, o reconhecimento do elemento individual, a fala, es-

taria em conson��ncia com as id��ias de Gabriel Tarde. �� oportuno lem-

brar tamb��m a concep����o durkheimiana, segundo a qual a sociedade

prima sobre o indiv��duo, pois, como afirma Giani (s/d: 57), "o controle

social existe em fun����o da manuten����o da organiza����o social". O ho-

m e m n��o passa de uma parcela do pensamento coletivo, ainda segundo

Giani (p. 44): "o indiv��duo ��, em grande parte, aquilo que a sociedade

espera que ele seja. Cada grupo social incute em seus membros um con-

junto de maneiras de pensar, sentir e agir". Diante disso, compreen-

de-se por que raz��o Saussure atribuiu papel destacado ao estudo da l��n-

gua e minimizou a fala.

Para Saussure ( CLG, 25), sendo a l��ngua uma institui����o social, so-

cialmente �� que devem ser estudados os seus signos, uma vez que "o

signo �� social por natureza". Considera ele que a l��ngua, como represen-

ta����o coletiva, se imp��e ao indiv��duo inapelavelmente. N e n h u m indiv��-

duo tem a faculdade de criar a l��ngua, nem de modific��-la consciente-

mente. Ela �� como uma armadura dentro da qual nos movimentamos no

dia-a-dia da intera����o humana. Como qualquer outra institui����o social,

a l��ngua se imp��e ao indiv��duo coercitivamente. Por isso, ela constitui

um elemento de coes��o e organiza����o social.





A fala


A fala, ao contr��rio da l��ngua, por se constituir de atos individuais,

torna-se m��ltipla, imprevis��vel, irredut��vel a uma pauta sistem��tica.

Os atos ling����sticos individuais s��o ilimitados, n��o formam um siste-

ma. Os fatos ling����sticos sociais, b e m diferentemente, formam um sis-

tema, pela sua pr��pria natureza homog��nea. Ora, a Ling����stica como

ci��ncia s�� pode estudar aquilo que �� recorrente, constante, sistem��ti-

co. Os elementos da l��ngua podem ser, quando muito, vari��veis, mas

jamais apresentam a inconst��ncia, a irrever��ncia, a heterogeneidade

caracter��sticas da fala, a qual, por isso m e s m o , n��o se presta a um estu-

do sistem��tico.

Diz-nos o mestre su����o �� p. 18 do CLG:

Para atribuir �� l��ngua o primeiro lugar no estudo da

linguagem, pode-se, enfim, fazer valer o argumento

de que a faculdade - natural ou n��o - [e, para Saussu-

re, o ser natural ou n��o �� irrelevante: preocupa-se

unicamente com a l��ngua em si mesma] de articular

palavras n��o se exerce sen��o com a ajuda de instru-





60


mento criado e fornecido pela coletividade; n��o ��,

ent��o, ilus��rio dizer que �� a l��ngua que faz a unidade

da linguagem.

E, sustentando a autonomia dos estudos da l��ngua, afirma �� p. 22:

"a l��ngua �� uma coisa de tal m o d o distinta que um h o m e m privado do

uso da fala conserva a l��ngua, contanto que compreenda os signos vo-

cais que ouve". �� o que acontece, por exemplo, em certos tipos de aci-

dente cerebral, em que o indiv��duo pode ter a fala afetada, mas conser-

var a l��ngua.

N �� o obstante, Saussure (p. 27) insiste sempre na interdepend��n-

cia dos dois constituintes da linguagem:

[...] esses dois objetos est��o estreitamente ligados e

se implicam mutuamente: a l��ngua �� necess��ria para

que a fala seja intelig��vel e produza todos os seus

efeitos; mas esta �� necess��ria para que a l��ngua se es-

tabele��a.

E adverte (p. 27): "historicamente o fato da fala vem sempre antes".

�� importante, a prop��sito, registrar a concess��o feita por Saussure (p. 27)

ao elemento individual, com toda a certeza inspirada em Gabriel Tar-

de: "�� a fala que faz evoluir a l��ngua: s��o impress��es recebidas ao ou-

vir os outros que modificam nossos h��bitos ling����sticos".

�� tal a interdepend��ncia entre a l��ngua e a fala que Saussure consi-

dera a l��ngua, ao m e s m o tempo, instrumento e produto da fala. O pr��-

prio mecanismo de funcionamento da linguagem repousa nessa interde-

pend��ncia, como ressalta Saussure (p. 27):

C o m o se imaginaria associar uma id��ia a uma ima-

gem verbal, se n��o se surpreendesse de in��cio esta

associa����o num ato de fala? Por outro lado, �� ouvin-

do os outros que aprendemos a l��ngua materna; ela se

deposita em nosso c��rebro somente ap��s in��meras

experi��ncias.

Depreende-se do arrazoado saussuriano que tanto o funcionamento

quanto a explora����o da faculdade da linguagem est��o intimamente liga-

dos ��s implica����es m��tuas existentes entre os elementos l��ngua (virtua-

lidade) e fala (realidade). A respeito da interdepend��ncia l��ngua-fala ad-

verte R. Barthes (1972: 19): "N��o h�� l��ngua sem fala e n��o h�� fala fora

da l��ngua".





61


A feliz dicotomia l��ngua/fala �� o ponto de partida para Saussure

postular urna Ling����stica da l��ngua e urna Ling����stica da fala (embora

Mounin (1973: 69) levante d��vida a respeito da autenticidade dessa

postula����o por parte do mestre. Mounin prefere atribu��-la a Bally e Se-

chehaye), mas, na verdade, para o mestre genebrino, a Ling����stica pro-

priamente dita �� aquela cujo ��nico objeto �� a l��ngua: "Unicamente desta

��ltima �� que cuidaremos" (CLG, 28), ressalva Saussure.

Desse modo, vemos que Saussure realmente tinha plena consci��n-

cia da natureza opositiva dos fen��menos ling����sticos. Eis suas pr��prias

palavras (p. 28): "Essa �� a primeira bifurca����o que se encontra quando

se procura estabelecer a teoria da linguagem".

Sistema/n��o-sistema

A raz��o de Saussure ter preferido tomar o caminho da l��ngua quando

se viu diante de sua famosa bifurca����o encontra-se em outra oposi����o con-

seq��ente: sistema/n��o-sistema, isto ��, sistema: l��ngua:: n��o-sistema: fala.

Sendo o sistema superior ao indiv��duo (supra-individual), todo ele-

mento ling����stico deve ser estudado a partir de suas rela����es com os ou-

tros elementos do sistema e segundo sua fun����o ("a l��ngua �� um sistema

do qual todas as partes podem e devem ser consideradas em sua solida-

riedade sincr��nica". CLG, 102), e n��o por suas caracter��sticas extralin-

gu��sticas: f��sicas, psicol��gicas, etc. O conhecido exemplo do jogo de xa-

drez esclarece cabalmente o pensamento saussuriano nesse particular.

As pe��as de um j o g o de xadrez s��o definidas unicamente segundo

suas fun����es e de acordo com as regras do j o g o . A forma, a dimens��o e

a mat��ria de cada pe��a constituem propriedades puramente f��sicas e aci-

dentais, que podem variar extremamente sem comprometer a identida-

de da pe��a. Essas caracter��sticas f��sicas s��o irrelevantes para o funcio-

namento do sistema (= o jogo de xadrez). Uma pe��a at�� pode ser substi-

tu��da por outra, desde que a substituta venha a ser utilizada conforme as

regras do j o g o . Levando para o sistema ling����stico o exemplo de Saus-

sure, temos que todo elemento ling����stico - uma vogal, uma consoante,

um acento, um fonema, um morfema, etc. - deve ser definido linguisti-

camente apenas de acordo com suas rela����es (sintagm��ticas e paradig-

m��ticas) com os outros elementos ou por sua fun����o no sistema, e n��o

levando-se em conta suas acidentais propriedades: modo de forma����o,

estrutura ac��stica, variantes morfofon��micas, etc. Aqui torna-se perti-

nente introduzir outra postula����o saussuriana, segundo a qual

A l��ngua �� uma forma e n��o uma subst��ncia (CLG, 141).





62


Forma, para Saussure, �� usada no sentido filos��fico, isto ��, como

ess��ncia, e n��o no sentido est��tico, como apar��ncia. A teia de rela����es

entre os elementos ling����sticos �� que constitui a forma. Os elementos da

rede constituem a subst��ncia. Voltando ao exemplo do jogo de xadrez,

dir��amos que as regras do jogo (a teia de rela����es entre as pe��as) est��o

para forma, assim como as pe��as do j o g o est��o para subst��ncia. Uma

frase como "V�� compra dois p �� o " apresenta altera����o apenas na subs-

t��ncia. Sua estrutura, apesar do fator extraling����stico "erro" (desvio em

rela����o �� norma culta), continua a ser a de uma frase da l��ngua portu-

guesa. Ela conserva toda a gramaticalidade sint��tica do sistema ling����s-

tico portugu��s e toda a coer��ncia interna inerente aos elementos desse

sistema: (sujeito) + verbo auxiliar + verbo principal + objeto (determi-

nante + determinado). Portanto, sua forma, o que �� de fato relevante

para o funcionamento do sistema, n��o sofreu em nada com a m u d a n -

��a acidental das propriedades f��sicas de sua subst��ncia. Dito de outro

modo: forma : l��ngua :: subst��ncia : fala.

M e s m o tendo dado tanta ��nfase ao estudo da l��ngua, Saussure n��o

deixou de tratar tamb��m da subst��ncia (fala), reconhecendo que a sua

fun����o �� fazer a liga����o com a forma, que ��, em ��ltima an��lise, para ele,

a verdade total. Reportando-nos ao pensamento ling����stico da Gr��cia

Antiga, dir��amos que Saussure admitiu tacitamente que a l��ngua n��o ��

s�� analogia, ela tem tamb��m as suas s��lidas e saud��veis anomalias.

Cabe-nos, entretanto, chamar a aten����o para o fato de que, a nosso

ver, o conceito de forma (estrutura) n��o exclui o componente sem��nti-

co. Ao contr��rio, o componente sem��ntico �� que d�� sentido �� no����o de

forma, sem o qu��, forma corre o risco de tornar-se letra morta, concep-

����o sem serventia para a ci��ncia ling����stica, principalmente para a Lin-

g����stica dita estrutural. Como adverte o Prof. S��lvio Elia (1978: 120),

"linguagem �� significa����o".

Desse modo, concebemos forma como coer��ncia sint��tica + coe-

r��ncia sem��ntica. Coer��ncia sint��tica (esp��cie de sintaxe mental ou es-

trutura����o do pensamento) existe, por exemplo, tanto em "O menino

chutou a bola" como em "A bola chutou o menino". Em ambas as ora-

����es, �� ineg��vel a realiza����o sintaticamente coerente de um dos padr��es

frasais b��sicos da l��ngua portuguesa, isto ��, sujeito + verbo + objeto di-

reto. S�� a primeira frase, entretanto, encontra correspond��ncia concei-

tuai (f eedback) ou repercuss��o ling����stica no esp��rito do falante, justa-

mente por ser a ��nica que cont��m uma verdade sem��ntica confi��vel,

uma coer��ncia significativa, que constitui, juntamente com a coer��ncia





63


sint��tica da frase, um todo individualizador e pertinente do ponto de

vista da intercomunica����o ling����stica.

�� oportuno reiterar a import��ncia dessa concep����o da l��ngua como

sistema funcional, cujos elementos e rela����es d e v e m ser estudados

sincronicamente. Essa vis��o �� a base da Ling����stica estruturalista

p��s-saussuriana, embora o pr��prio Saussure j a m a i s tenha usado o ter-

mo estrutura, e sim sistema (consta que o termo sistema aparece 138

vezes no CLG).

A norma: uma cr��tica �� l��ngua/fala

N��o se pense que a dicotomia saussuriana tenha ficado ao abrigo de

cr��ticas nesse seu mais de meio s��culo de exist��ncia. A principal delas

partiu do ling��ista romeno Eug��nio Coseriu (1973: 70), que prop��s

uma divis��o tripartida segundo o modelo abaixo, por achar insuficiente

a biparti����o saussuriana:

fala

norma

l��ngua

(uso individual

(uso coletivo

(sistema

da norma)

da l��ngua)

funcional)

A divis��o de Coseriu (1973: 97) vai do mais concreto (fala) ao mais

abstrato (l��ngua), passando por um grau intermedi��rio: a norma. Segun-

do ele, o sistema funcional (l��ngua)

es un conjunto de oposiciones funcionales; la norma

es la realizaci��n "colectiva" del sistema, que contie-

ne el sistema mismo y, adem��s, los elementos fun-

cionalmente "no-pertinentes", pero normales en el

hablar de una comunidad.

A fala, por sua vez, na concep����o coseriana (1973: 98),

es la realizaci��n individual-concreta de la norma,

que contiene la norma misma y adem��s, la originali-

dad expresiva de los individuos hablantes.





64


Francisco da Silva Borba (1998: 49) define a norma como

um conjunto de realiza����es constantes e repetidas,

de car��ter sociocultural e dependente de v��rios fato-

res operantes na comunidade idiom��tica.

Em outras palavras, h�� realiza����es consagradas pelo uso e que,

portanto, s��o normais em determinadas circunst��ncias ling����sticas,

circunst��ncias estas previstas pelo sistema funcional. �� �� norma que

nos prendemos de forma imediata, conforme o grupo social de que fa-

zemos parte e a regi��o onde vivemos. A norma seria assim um primei-

ro grau de abstra����o da fala. Considerando-se a l��ngua (o sistema) um

conjunto de possibilidades abstratas, a norma seria ent��o um conjunto

de realiza����es concretas e de car��ter coletivo da l��ngua. Segundo Co-

seriu (1973: 90), a n o r m a �� o " c o m o se diz", e n��o o " c o m o se deve dizer", por isso, "los conceptos que, con respecto a ella, se oponen son

normal y anormal, y no correcto e incorrecto". Em r e s u m o , em termos

coserianos, a fala �� o real individual, a norma �� o real coletivo, e a l��n-

gua �� o virtual coletivo, n e m sempre usual, embora poss��vel e dispon��-

vel. Vejamos alguns exemplos da oposi����o norma/sistema no portu-

gu��s do Brasil.

O conhecido [s], chiante p��s-voc��lica, variante de [s], �� norma no

Rio de Janeiro em todas as classes sociais: g��s [gas], m��s [mes], basta

[basta]. J�� no Sul, a pron��ncia sancionada pelo uso (ou norma) �� mar-

cadamente alveolar: [basta], [m��s], [g��s]. No c a m p o da Morfologia, o

sistema disp��e dos sufixos -ada e -edo, ambos com o sentido de cole-

����o. Enquanto, para designar grande quantidade de bichos, a norma

culta prefere o primeiro ( bicharada), a norma geral no falar ga��cho

consagrou o segundo: bicharedo. O m e s m o acontece c o m os sufixos

diminutivos -inho e -ito, ambos dispon��veis no sistema funcional: a

norma fora do Rio Grande do Sul �� dizer-se salaminho; j�� em terras

ga��chas o uso sancionou salamito. No plano sint��tico, a l��ngua (siste-

ma) portuguesa disp��e dos adv��rbios j�� e mais que, quando usados

numa frase negativa, indicam a cessa����o de um fato ou de uma a����o. A

norma brasileira preferiu o segundo: "Eu n��o vou mais'''; " N �� o chove

mais". A portuguesa optou pelo primeiro: "Eu j�� n��o vou"; "J�� n��o chove". O portugu��s do Brasil prefere descrever um fato em progres-s��o dizendo: "Estou estudando''' (aux. + ger��ndio); j�� em Portugal, a

norma �� usar-se aux. + infinitivo: "Estou a estudar". A i n d a c o m r e -

la����o �� norma brasileira, n��o podemos deixar de mencionar o uso j��





65


consagrad��ssimo do verbo ter no lugar de haver, com o sentido de

"existir", uso inclusive j�� referendado por v��rios autores brasileiros

de peso, como Carlos D r u m m o n d de Andrade ("No meio do caminho

tinha uma pedra") e Manuel Bandeira ("Em Pas��rgada tem tudo"),

dentre outros.

C o m o diz Santos (1979: 19), norma �� "o conjunto das realiza����es

ling����sticas constantes do sistema. �� ela que revela como o sistema

funciona numa coletividade". Por exemplo, a l��ngua portuguesa dis-

p��e de dois prefixos com valor negativo: in- e des-. A m b o s fazem par-

te (al��m de outros) do nosso sistema ling����stico e se encontram �� dis-

posi����o dos falantes de l��ngua portuguesa, isto ��, existem em poten-

cial. O uso de um ou de outro vai depender da comunidade ling����stica,

esta �� quem estabelece o que �� normal (o que se diz) ou anormal (o que

se poderia dizer). Assim sendo, a tradi����o da norma coletiva consa-

grou infeliz, e n��o *desfeliz (asterisco �� esquerda = forma inaceit��vel

ou agramatical). Inversamente, preferiu descontente e rejeitou *in-

contente. Ao falante, como parcela do pensamento coletivo, s�� cabe

aceitar inapelavelmente o que o seu grupo lingu��stico consagrou (v., a

prop��sito, a arbitrariedade do signo ling����stico), pois na l��ngua n��o

existe propriedade privada, tudo �� socializado.

Nesse sentido, cabe ressaltar que certos deslocamentos da norma,

constantes e repetidos, podem, c o m o tempo, fazer evoluir (mudar) a

l��ngua. �� o que vem ocorrendo, por exemplo, com a pron��ncia do ad-

jetivo "ruim". A norma gramatical em vigor recomenda pronunci��-lo

como hiato: ruim. Entretanto, a norma geral no portugu��s do Brasil �� a

sua realiza����o como ditongo: ruim, malgrado os esfor��os da escola. ��

poss��vel que no futuro seja esta a ��nica pron��ncia em vigor, tanto no

sistema (l��ngua) quanto na norma (uso).

Do exposto, conclu��mos que a norma �� a realiza����o da l��ngua, e a

fala, por sua vez, a realiza����o da norma, como o demonstra figurada-

mente o modelo coseriano (1973: 95) a seguir:





66




A B C D = fala (realiza����o individual do subc��digo)

abcd = norma (subc��digo)

a ' b ' c ' d ' = l��ngua (c��digo)





Tipos de norma


As variantes coletivas (ou subc��digos) dentro de um mesmo dom��-

nio ling����stico dividem-se em dois tipos principais:

diat��picas - variantes regionais ou normas regionais

diastr��ticas - variantes culturais ou registros

As variantes diat��picas caracterizam as diversas normas regionais

existentes dentro de um mesmo pa��s e at�� dentro de um mesmo estado,

como o falar ga��cho, o falar mineiro, etc. Por exemplo, "cair um tom-

bo", no RS; "levar um tombo", no RJ.

As variantes diastr��ticas, intimamente ligadas �� estratifica����o so-

cial, evidenciam a variedade de diferen��as culturais dentro de uma co-

munidade e podem subdividir-se em norma culta padr��o (ou nacional),

norma coloquial (tensa ou distensa) e norma popular (tamb��m chamada

de vulgar).





67


A norma culta �� a modalidade escrita empregada na escola, nos tex-

tos oficiais, cient��ficos e liter��rios. Baseada na tradi����o gramatical, �� a

variante de maior prest��gio sociocultural. Ex.: H�� muito tempo n��o o

vejo. Vendem-se carros. Havia dez alunos em sala.

A norma coloquial �� aquela empregada oralmente pelas classes m �� -

dias escolarizadas. Viva e espont��nea, seu grau de desvio em rela����o ��

norma culta pode variar conforme as circunst��ncias de uso. Ex.: Tem

muito tempo que n��o lhe vejo/n��o vejo ele. Vende-se carros. Tinha dez

alunos em sala.

A norma popular caracteriza a fala das classes populares semi-esco-

larizadas ou n��o-escolarizadas. Nessa modalidade, o desvio em rela����o

�� norma gramatical �� maior, caracterizando o chamado "erro". Ex.: A

gente fomos na praia. Dois cachorro-quente custa tr��s real.

H�� tamb��m as variantes diaf��sicas, que dizem respeito aos diversos

tipos de modalidade expressiva (familiar, estil��stica, de faixa et��ria, e t c ) .

No plano estil��stico, esse tipo de variante implica os conceitos de

desvio e escolha. Por exemplo, Machado de Assis preferiu o desvio

em rela����o �� n o r m a culta, para poder reproduzir com fidelidade a

fala do escravo Prud��ncio em Mem��rias p��stumas de Br��s Cubas

(LXVIII): "�� um vadio e um b��bado muito grande. Ainda hoje deixei

ele (e n��o deixei-o) na quitanda, enquanto eu ia l�� embaixo na (e n��o ��) cidade". Outro exemplo de desvio e escolha estil��stica pode ser visto

neste passo, em que Vieira, com o intuito de valorizar cada n��cleo do

sujeito composto, preferiu deixar o verbo no singular: "Mas nem a li-

sonja, nem a raz��o, nem o exemplo, n e m a esperan��a, bastava a lhe

moderar as ��nsias".

Al��m das variantes citadas, existem ainda as chamadas l��nguas es-

peciais. �� o caso das g��rias, dos jarg��es profissionais, das l��nguas t��c-

nicas, das l��nguas religiosas e da l��ngua liter��ria. Esta, pela sua especi-

ficidade de discurso eminentemente est��tico, admite e revaloriza to-

das as demais variantes do sistema, realizando-se assim como uma es-

p��cie de supranorma.

Constatamos assim a pertin��ncia da divis��o tripartida de Coseriu.

Todos os exemplos acima, quer caracterizando o falar de uma regi��o,

quer identificando o pr��prio portugu��s do Brasil, mostram a proprieda-

de e a conveni��ncia do fator intermedi��rio norma entre a fala (indivi-

dual) e a l��ngua (social), fator este que tem por princ��pio realizar e dina-

mizar o sistema funcional (l��ngua). Ressalve-se, contudo, que a concep-





68


����o saussuriana de l��ngua como institui����o social se aproxima, de certo

modo, da teoria da norma de Coseriu.

Invertendo o ponto de vista de Saussure, que prioriza uma Ling����s-

tica da l��ngua (produto, ��rgon), Coseriu (1973: 285), por sua vez, privi-

legia uma Ling����stica da fala ou discurso (produ����o, atividade, en��r-

geia). Ao priorizar a atividade ling����stica (hablar), o ling��ista r o m e -

no lan��a os fundamentos da Ling����stica Textual, o que o aproxima das

concep����es humboldtiana e vossleriana da linguagem, com suas ine-

rentes implica����es de ordem estil��stica. Ou��amos os argumentos de Co-

seriu (p. 287):

En primer t��rmino, parece necesario un cambio radi-

cal de punto de vista: no hay que explicar el hablar

desde el punto de vista de la lengua, sino viceversa.

Ello porque el lenguaje es concretamente hablar, ac-

tividad, y porque el hablar es m��s amplio que la len-

gua: mientras que la lengua se halla toda contenida

en el hablar, el hablar no se halla todo contenido en

la lengua.

Por conceber o exerc��cio da linguagem como a integra����o de tr��s

aspectos - o universal, o hist��rico e o individual -, ressalta Coseriu (p.

285) que "el lenguaje se da concretamente como actividad, o sea, como

hablar". Em coer��ncia com seu ponto de vista, o linguista romeno pro-

p��e um lugar de destaque para a Ling����stica do discurso ou do texto, ar-

gumentando o seguinte (p. 289):

Existe, asimismo, una lingu��stica del texto, o sea, del

hablar en el nivel particular (que es tambi��n estudio

del "discurso" y del respectivo "saber"). La llamada

"estil��stica del habla" es, justamente, una ling����stica

del texto.

De qualquer forma, �� reconhecidamente incontest��vel o valor da fa-

mosa distin����o saussuriana entre l��ngua e fala para a Ling����stica con-

tempor��nea. Sua primeira dicotomia, investida de verdadeiro valor epis-

temol��gico, �� e ser�� sempre um fundamento da ci��ncia ling����stica.

Concluindo o exame da dicotomia l��ngua/fala, apresentamos abai-

xo um quadro comparativo, o mais exaustivo poss��vel, de suas caracte-

r��sticas principais:

69

LINGUA

FALA

social

individual

homog��nea

heterog��nea

sistem��tica

assistem��tica

abstrata

concreta

constante

vari��vel

duradoura

moment��nea

conservadora

inovadora

virtual

real

permanente

ocasional

supra-individual

individual

essencial

acidental

ps��quica

psicof��sica

institui����o

pr��xis(a����o)

ess��ncia

exist��ncia

potencialidade

realidade

fato social

ato individual

unidade

diversidade

forma

subst��ncia

produto

produ����o

indiv��duo subordinado

indiv��duo "senhor"

instrumento e produto da fala

l��ngua em a����o

sistema

n��o-sistema

adotada pela comunidade

surge no indiv��duo

potencialidade ativa de produzir a fala

faz funcionar a l��ngua

necess��ria para a inteligibilidade

necess��ria para que a l��n-

e execu����o da fala

gua se estabele��a e evolua

1 + 1 ' + 1"...= I

1 + 1' + 1" +

compet��ncia

desempenho

FORMA

/ SUBSTNCIA

ess��ncia

apar��ncia

ps��quica

psicof��sica

estrutura

conjuntura

constante

circunstancial

l��ngua

fala





70





NORMAS

diat��picas -> falares regionais

culta padr��o

Normas ou

tensa

variantes

diastr��ticas

coloquial

distensa

popular

diaf��sicas modalidades expressivas

LINGUISTICAS

a) da l��ngua -> funcional

b) da fala -> textual





71


EXERC��CIOS

L��ngua/fala, norma

1. Numere a 1�� coluna de acordo com a 2-:

( ) Estudo cient��fico da linguagem humana. 1. Signo

( ) �� um conjunto de estruturas ling����sticas 2. Linguagem

que tornam poss��vel ao emissor traduzir a id��ia

que deseja expressar em um sinal manifesto,

e que capacita o receptor a reconstituir a id��ia

a partir desse sinal.

( ) Uni��o do sentido mais a imagem ac��stica. 3. Fala

( ) Conjunto de realiza����es constantes e repe- 4. Ling����stica

tidas de car��ter sociocultural. Uso concreto da

l��ngua sancionado pela comunidade.

( ) Sua aquisi����o n��o depende de maneira 5. L��ngua

decisiva da express��o verbal.

( ) Execu����o pelo indiv��duo das potencialida- 6. Norma

des da l��ngua. Dinamiza a l��ngua.

( ) Faculdade de usar uma l��ngua. Engloba

aspectos f��sicos, fisiol��gicos e ps��quicos.

2. Assinale as letras cujo enunciado voc�� considera incorreto:

a) As crian��as incapazes de usar seus ��rg��os da fona����o para

produzir sons vocais podem, no entanto, aprender uma l��ngua sem

dificuldades especiais.

b) Uma crian��a pode inventar uma l��ngua a partir do nada.

c) Estar exposto ao uso de uma l��ngua �� o requisito m��nimo para

p��r em funcionamento o mecanismo da linguagem.

d) N��o existe uma interdepend��ncia da l��ngua e da fala, pois n��o

�� ouvindo os outros que aprendemos a l��ngua materna.





72


3. Completar com um dos itens entre par��nteses:

a) "A fala �� um ato de vontade e de intelig��n-

cia." (individual / social)

b) "A l��ngua �� Constitui-se de um sistema de

signos." (heterog��nea / homog��nea)

c) "N��o �� a linguagem que �� natural ao homem, mas a faculdade

de constituir uma Vale dizer: um sistema de signos

distintos correspondentes a id��ias distintas." (l��ngua / fala)

d) "A localiza-se no circuito onde uma imagem

ac��stica associa-se a um conceito." (fala / l��ngua)

4. Com as palavras l��ngua e fala, complete os espa��os em branco:

a) A �� necess��ria para que a

seja intelig��vel.

b) A �� necess��ria para que a se

estabele��a.

c) A vem sempre antes da l��ngua.

d) A �� o instrumento e o produto da

e) A �� que faz evoluir a

5. Encontram-se nos textos de Guimar��es Rosa forma����es vocabula-

res curiosas como esper��ncelo (esperan��a+anseio), adormorrer (ador-

mecer��-morrer), desexistir (desistir+existir), desfeliz, desdoidar, den-

tre outras. Com base na tricotom��a l��ngua-norma-fala, justifique esse

procedimento do autor.

6. Do ponto de vista da norma gramatical, comente o emprego do

adjetivo grifado, nos exemplos abaixo:

a) Por estudar em excesso, o rapaz ficou esgotad��ssimo.

b) Por ser muito procurado, o livro est�� esgotad��ssimo.

7. Eis-me prostrado a vossos peses

Que sendo tantos todo plural �� pouco.

(Carlos Drummond de Andrade,

Ao Deus Kom Unik Ass��o)





73


No poema acima, CDA apresenta como plural de p�� a forma pe-

ses. A esse respeito, assinale o coment��rio inadequado:

a) O autor cometeu um desvio estil��stico em rela����o �� norma

culta, com finalidade expressiva.

b) O autor ignora as regras de forma����o do plural em portugu��s,

por isso n��o seguiu a norma gramatical em vigor.

c) Para enfatizar a import��ncia do deus Kom Unik Ass��o, o autor

n��o hesitou em transgredir a norma gramatical a respeito da forma-

����o dos plurais.

8. Do ponto de vista da , os sufixos -deiro e -dor

t��m o mesmo sentido: indicam o agente que pratica a a����o. Na pr��-

tica, contudo, podem apresentar nuances distintivas, como nos no-

mes femininos lavadeira, mulher que lava roupa, e lavadora, m��-

quina de lavar roupa. Essa especializa����o de sentido ocorre devi-

do �� a����o da , preocupada em desfazer a colis��o

no uso dos dois sufixos.

a) norma - l��ngua - paron��mica

b) l��ngua - fala - sem��ntica

c) l��ngua - norma - homon��mica

9. Preencha as lacunas:

Saussure n��o atentou para um fator muito importante, que se si-

tua entre a l��ngua e a fala, como o criticou o ling��ista romeno Eug��-

nio Coseriu. Este fator chama-se , que, por defini-

����o, �� de natureza

1 0 . No que diz respeito �� norma, relacionar as colunas:

1. Eu vi ele ontem. ( ) Culta

2. Eu o vi ontem. ( ) Coloquial

3. V�� compra dois p��o. ( ) Popular





74


1 1 . QUADRILHA

(Carlos Drummond de Andrade)

Jo��o amava Teresa que amava Raimundo

que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

que n��o amava ningu��m.

Jo��o foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,

Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,

Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes

que n��o tinha entrado na hist��ria.

Com rela����o ao emprego ou omiss��o da v��rgula no poema aci-

ma, assinale o coment��rio n��o-pertinente:

a) Tanto num caso como no outro, trata-se de uma escolha esti-

l��stica do autor, escolha essa que visa a um efeito expressivo.

b) No ��ltimo verso, a omiss��o da v��rgula real��a um acontecimen-

to fortuito, um fecho inesperado para a quadrilha.

c) Nos tr��s primeiros versos, a omiss��o da v��rgula sugere o ritmo

e o movimento pr��prios da quadrilha.

d) Revela que o autor preferiu n��o seguir as regras do Modernis-

mo na elabora����o do seu poema, por isso hesitou em transgredir as

normas de pontua����o em vigor.

e) Nos demais versos, o emprego da v��rgula enfatiza fatos inde-

pendentes entre si, representativos do desencontro e dos destinos

individuais de cada parceiro da quadrilha.

1 2 . Sabendo-se que em portugu��s a posi����o do adjetivo pode ter

implica����es de ordem estil��stica e gramatical, assinale o coment��rio

n��o-pertinente a respeito da c��lebre frase de Machado de Assis: "Eu

n��o sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor"

(Mem��rias p��stumas de Br��s Cubas, I).

a) Em "autor defunto", autor �� substantivo e defunto �� adjetivo.

J�� em "defunto autor", invertem-se os pap��is: defunto �� substantivo

e autor, adjetivo.

b) Em "autor defunto", autor �� adjetivo e defunto �� substantivo.

Em "defunto autor", ocorre o contr��rio: defunto �� adjetivo e autor

�� substantivo.





75


c) Trata-se de um jogo de palavras, explorando estilisticamente a

permutabilidade substantivo/adjetivo, decorrente da sintaxe de co-

loca����o. Um artif��cio do humor machadiano.

d) Ao negar ser um "autor defunto", o personagem quer dizer

que n��o era escritor em vida.

e) Ao afirmar ser um "defunto autor", o personagem enfatiza

que se tornou escritor depois de morto.

1 3 . Complete a frase abaixo:

As pe��as do jogo de xadrez equivalem na l��ngua

a) aos verbos, aos substantivos, aos fonemas;

b) ao sujeito, ao predicado, aos adjuntos;

c) ��s fun����es sint��ticas.

1 4 . Complete as lacunas:

a) A l��ngua �� a soma de sinais depositados em cada

(dicion��rio) - (gram��tica) - (c��rebro)

b) A l��ngua n��o est�� completa em nenhum indiv��duo, e s�� na

ela existe de modo completo.

(massa) - (literatura) - (ling����stica)

c) A l��ngua �� um sistema de signos que exprimem

(sons) - (uni��o) - (id��ias)

1 5 . Complete as lacunas:

L��ngua est�� para forma, assim como fala est�� para

Forma �� coer��ncia sint��tica + coer��ncia

1 6 . A gram��tica portuguesa prescreve tr��s alternativas para a forma-

����o do plural dos nomes terminados em -��o: irm��o/irm��os, capi-

t��o/capit��es, cora����o/cora����es. Em alguns casos, uma mesma pala-

vra, como anci��o, pode admitir tr��s plurais: anci��os, anci��es e an-

ci��es, embora a prefer��ncia seja pela forma mais comum, em -��es.

Explique este fato da morfologia portuguesa �� luz da tricotom��a l��n-

gua-norma-fala.





76


17. Dizemos que o feminino de elefante �� elefanta e o de governante �� governanta, mas n��o podemos dizer que o feminino de estudante

�� estudanta, nem o de amante �� amanta. Explique por qu��.

1 8 . Marque a resposta certa:

Quais as tr��s concep����es para a l��ngua depreendidas do CLG,

de Saussure?

a) Acervo ling����stico, cria����o individual, realidade sistem��tica e

n��o-funcional;

b) Acervo ling����stico, institui����o social e realidade sistem��tica e

funcional;

c) Institui����o social, assistem��tica, psicof��sica.

1 9 . a) Saussure priorizou a l��ngua em detrimento da , por

ser ela e

b) Ao conceber a l��ngua como , Saussure aproxima-se

indiretamente da teoria da norma de Coseriu.

2 0 . "D��-me uma ajuda financeira./Me d�� um dinheirinho a��". "Adoro

comer jab�� com jerimum./ Adoro comer carne-seca com ab��bora".

Do ponto de vista da norma, os pares acima evidenciam, respec-

tivamente, diferen��as e

a) diaf��sicas - diastr��ticas

b) diat��picas - diastr��ticas

c) diastr��ticas - diat��picas

2 1 . Assinale V ou F:

( ) Todo elemento ling����stico deve ser estudado a partir de sua

rela����o com os outros elementos do sistema e segundo sua fun����o.

( ) Relevante �� a subst��ncia, com seus fatores extraling����sticos:

f��sicos e psicol��gicos.

( ) A prioridade da l��ngua sobre a fala vem do fato de que �� atra-

v��s da l��ngua que se torna poss��vel a comunica����o, o entendimento

m��tuo, por meio de uma esp��cie de contrato semiol��gico entre pes-

soas de uma mesma comunidade.





77


( ) A l��ngua �� ess��ncia (forma), e n��o apar��ncia (subst��ncia).

"Falar portugu��s n��o �� dif��cil" - me diz um franc��s meu amigo,

que j�� fala nosso idioma como eu jamais chegarei a falar o seu: "O

diabo �� que t��o logo consigo aprender, a l��ngua portuguesa j�� ficou

diferente. Est�� sempre mudando..."

E como! No Brasil as palavras envelhecem e caem como folhas

secas. Ainda bem a gente n��o conseguiu aprender a ser legal e j��

vem o pessoal com outras chinfras. Chocante!

Ainda h�� pouco tempo, durante a Copa do Mundo, tentei imagi-

nar o que seria um lance de jogo descrito pelo locutor na g��ria de

nosso tempo.

- Isso a��, bicho: Riva com ela. Entrega pra Dirceu. Entrega����o to-

tal. Batista transa com Zico. Zico vai curtindo. Toda a patota do Bra-

sil num tremendo barato. Gil na dele, n��o d�� bandeira. Saca essa?

Roberto deixa cair. Tem grilo n��o, bicho. Cerezo na melhor, chute

j��ia. Dirceu bota pra quebrar. Bode na defesa advers��ria: o goleiro

dan��ou, p��! Falou! �� gol! Desbunde total. Podes crer, amizade! (Fer-

nando Sabino)

2 2 . Releia o primeiro par��grafo com aten����o. Agora, com base no

que voc�� aprendeu no livro, responda:

A afirmativa do franc��s, amigo do autor, �� pertinente do ponto

de vista da ci��ncia ling����stica? Seja qual for sua resposta, justifique-a

adequadamente. Para tanto, use a variante culta da l��ngua.

2 3 . Retire do texto exemplo(s) do uso culto da l��ngua.

2 4 . Identifique a(s) variante(s) ling����stica(s) existente(s) no texto:

1" par��grafo

2�� par��grafo

3 par��grafo

4�� par��grafo

2 5 . Reescreva o ��ltimo par��grafo do texto, usando seus pr��prios re-

cursos ling����sticos. Prefere-se o emprego da norma ou variante culta

da l��ngua. Tolera-se o uso da variante coloquial tensa.





78


GABARITO

L��ngua/fala, norma

1 ) 4 - 5 - 1 - 6 5 - 3 - 2

2) B - D

3) a) individual

b) homog��nea

c) l��ngua

d) l��ngua

4) a) l��ngua - fala

b) fala - l��ngua

c) fala

d) l��ngua - fala

e) fala - l��ngua

5) A l��ngua, conjunto de alternativas virtuais, fornece os recursos

para a forma����o desses neologismos pelo escritor (fala). Entretanto,

n��o fazem parte da norma, por n��o serem sancionados pelo uso co-

letivo. Limitam-se ao ��mbito do texto liter��rio.

6) Nos dois casos, o adj. encontra-se no grau superlativo. No 1��, tem

sentido pr��prio, referencial e significa "muito cansado", "exausto".

No 2��, significando "livro raro", o adj. n��o admite varia����o de grau,

segundo a norma gramatical. Seu emprego no superlativo obedece a

motiva����es de natureza estil��stica.

7) B

8) C

9) norma - coletiva

10) 2 - 1 - 3

11) D

12) B

13) As tr��s op����es est��o certas.

14) c��rebro - massa - id��ias

15) subst��ncia - sem��ntica

16) L��ngua, virtualidade, conjunto de alternativas. Norma, realida-

de, uso coletivo de uma ou mais alternativas. Fala, uso individual da

norma.

17) Os termos estudanta e amanta existem virtualmente na l��ngua

(sistema); concretamente, entretanto, ainda n��o foram referenda-

dos pela norma (uso), por isso n��o devemos utiliz��-los.





79


18) B

19) a) fala - social - homog��nea

b) institui����o social

20) C

21) V - F - V - V

22) N��o, porque o que "est�� sempre mudando" �� a variante colo-

quial, a modalidade de l��ngua oral, e n��o a l��ngua portuguesa (o

sistema).

23 a 25) Respostas pessoais.





80


SINCRONIA/DIACRONIA

Assim, a Lingu��stica se acha aqui ante sua segunda

bifurca����o. Foi necess��rio, primeiro, escolher entre a

l��ngua e a fala; agora, estamos na encruzilhada dos

caminhos que conduzem, um �� diacronia,

outro �� sincronia {CLG, 114).

Esta �� a segunda dicotomia saussuriana, acolhida amplamente pela

Ling����stica moderna, principalmente pelos ling��istas norte-america-

nos, preocupados em n��o introduzir considera����es hist��ricas na descri-

����o de um estado de l��ngua.

Rompendo radicalmente com a tradi����o dos neogram��ticos, Saus-

sure confere prioridade �� pesquisa descritiva (sincr��nica), em detrimen-

to da pesquisa hist��rica (diacr��nica). At�� ent��o, todos os ling��istas da

escola comparativista faziam apenas diacronia, com exagero c at�� muti-

la����o, porque manipulavam-na como um fim em si mesma, "ignoran-

d o " os estudos sincr��nicos. Contra tal estado de coisas Saussure (p. 94)

se insurgiu frontal e veementemente:

Poucos ling��istas percebem que a interfer��ncia do

fator tempo �� de molde a criar, para a Lingu��stica, di-

ficuldades particulares, e que ela lhes coloca a ci��n-

cia frente a duas rotas absolutamente divergentes.

Eixo das simultaneidades e das sucessividades

O mestre genebrino acha indispens��vel que, em Ling����stica, como

em todas as demais ci��ncias, se distingam os fen��menos de duas manei-

ras: 1o) do ponto de vista de sua configura����o sobre o eixo AB das si-

multaneidades ("rela����es entre coisas coexistentes"), excluindo-se

qualquer considera����o de tempo; 2o) de acordo com a posi����o do fen��-

meno sobre o eixo CD das sucessividades, no qual cada coisa deve ser

considerada por si mesma, sem esquecer, contudo, que todos os fatos do

primeiro eixo a�� se situam com suas respectivas transforma����es. A figu-

ra seguinte aparece na p��gina 95 do CLG. Saussure a emprega para es-

clarecer seu pensamento.





81





AB = sincronia

CD = diacronia





B


D


Saussure acha que, no eixo AB das simultaneidades, o linguista

deve estudar as rela����es entre os fen��menos existentes ao m e s m o tem-

po num determinado momento do sistema ling����stico, que pode ser tan-

to no presente como no passado. Por outro lado, situando-se no eixo CD

das sucessividades, o ling��ista tem como objeto de estudo a rela����o en-

tre um dado fen��meno e outros fen��menos anteriores ou posteriores,

que o precederam ou lhe sucederam. E Saussure (p. 101) adverte que

tais fen��menos (diacr��nicos) "n��o t��m rela����o alguma com os sistemas,

apesar de os condicionarem". Em outras palavras, o funcionamento sin-

cr��nico da l��ngua pode conviver harmoniosamente c o m seus condicio-

namentos diacr��nicos.

Saussure (p. 97) reviveu l��cida e oportunamente a salutar primazia

dos estudos descritivos existentes antes do s��culo XIX, ao afirmar:

[...] seu [dos gram��ticos do passado] programa �� estri-

tamente sincr��nico. Assim, a gram��tica de Port-Royal

tenta descrever o estado da l��ngua francesa no tempo

de Lu��s XIV e determinar-lhe os valores.

E, alijando de vez a preocupa����o diacr��nica da descri����o ling����sti-

ca, conclui (p. 97): "N��o tem ela [a gram��tica de Port-Royal], por isso,

necessidade da l��ngua medieval; segue fielmente o eixo horizontal".

Distinguindo fatos sincr��nicos da l��ngua de fatos diacr��nicos, Saussu-

re (p. 96) estabelece com nitidez onde come��am uns e terminam outros:

�� sincr��nico tudo quanto se relacione com o aspecto

est��tico da nossa ci��ncia; diacr��nico tudo o que diz

respeito ��s evolu����es.

Para Saussure, sincronia est�� para "um estado de l��ngua", assim

como diacronia para "uma fase de evolu����o" (CLG, 96). Optando pela pri-





82


meira, e rejeitando igualmente a s��ntese pancr��nica, invoca que "a mul-

tiplicidade dos signos da l��ngua nos impede absolutamente de estudar-lhe,

ao mesmo tempo, as rela����es no tempo e no sistema" (CLG, 96).

A prioridade dos estudos sincr��nicos

O fato de haver outorgado papel preponderante ao estudo sincr��ni-

co repousa na sua conceitua����o fundamental da l��ngua como sistema de

valores, conforme examinamos no cap��tulo "L��ngua/Fala, Norma". Se-

gundo Saussure (p. 95), o ling��ista s�� pode realizar a abordagem desse

sistema, estudando, analisando e avaliando suas rela����es internas (sin-

tagm��ticas e paradigm��ticas), isto ��, sua estrutura, sincronicamente,

porque "a l��ngua constitui um sistema de valores puros que nada deter-

mina fora do estado moment��neo de seus termos".

Nesse ponto, sua argumenta����o se faz s��lida e irrefut��vel (o que, in-

felizmente, n��o pode ser considerado uma constante no CLG, pelas pr��-

prias circunst��ncias de que se revestiu como obra p��stuma e inacaba-

da). O mestre argumenta lucidamente que o falante nativo n��o tem cons-

ci��ncia da sucess��o dos fatos da l��ngua no tempo. Para o indiv��duo que

usa a l��ngua como ve��culo de comunica����o e intera����o social, essa su-

cess��o n��o existe. A ��nica e verdadeira realidade tang��vel que se lhe

apresenta de forma imediata �� a do estado sincr��nico de l��ngua. Por

isso, para Saussure (p. 97), "tamb��m o ling��ista que queira compreen-

der esse estado deve fazer tabula rasa de tudo quanto produziu [a l��n-

gua] e ignorar a diacronia".

No Brasil, Said Ali foi pioneiro no estudo descritivo da l��ngua. Lin-

g��ista avant la lettre, adotou em sua Gram��tica secund��ria, de 1921,

uma perspectiva sincr��nica na abordagem das quest��es gramaticais do

portugu��s do Brasil, atitude inovadora em sua ��poca.

O jogo de xadrez e a sincronia

A essa altura, torna-se oportuno voltar �� compara����o estabelecida

entre o j o g o de xadrez e o "jogo da l��ngua". Tanto na partida de xadrez

como no "jogo da l��ngua", diz o mestre (p. 104), "estamos em presen��a

de um sistema de valores e assistimos ��s suas modifica����es".

Saussure afirma que cada posi����o de jogo corresponde a um estado

de l��ngua. O valor de cada pe��a depende da posi����o que ela ocupa no ta-

buleiro. Igualmente na l��ngua, cada elemento tem seu valor determina-

do pela oposi����o (rei. paradigm��ticas) e pelo contraste (rei. sintagm��ti-

cas) com os outros elementos. Al��m disso, o sistema tem valor apenas





83


moment��neo, uma vez que ele "varia de uma posi����o a outra" (CLG,

104). E, o mais importante, o deslocamento de uma pe��a n��o ocasiona

mudan��a geral no sistema, faz apenas com que ele passe "de um equil��-

brio a outro, ou de uma sincronia a outra" (CLG, 104). Na verdade,

como afirma Saussure (p. 104-105),

o deslocamento de uma pe��a �� um fato absolutamen-

te distinto do equil��brio precedente e do equil��brio

subseq��ente. N u m a partida de xadrez, qualquer p o -

si����o dada tem como caracter��stica singular estar li-

bertada de seus antecedentes; �� totalmente indiferen-

te que se tenha chegado a ela por um caminho ou ou-

tro; o que acompanhou toda a partida n��o tem a m e -

nor vantagem sobre o curioso que vem espiar o esta-

do do jogo no momento cr��tico; para descrever a po-

si����o, �� perfeitamente in��til recordar o que ocorreu

dez segundos antes. Tudo isso se aplica igualmente ��

l��ngua e consagra a distin����o radical do diacr��nico e

do sincr��nico.

Uma ��nica falha existe na compara����o, e o mestre, numa autocr��ti-

ca, a reconhece: �� que, enquanto o jogador tem o poder de deslocar pe-

��as conscientemente e, dessa forma, agir intencionalmente sobre o sis-

tema (jogo de xadrez), o falante nada premedita, n��o lhe �� dado logicar,

pois na l��ngua "�� espont��nea e fortuitamente que suas pe��as se deslo-

cam, ou melhor, se modificam" (CLG, 105). Fora essa falha, seu objeti-

vo, ao lan��ar m �� o da compara����o, foi plenamente atingido.

Temos, portanto, que o fen��meno ling����stico sincr��nico, em princ��-

pio, nada tem em comum com o diacr��nico, em termos de funcionamen-

to da l��ngua. S��o coisas bem diferentes. �� bastante v��lido o exemplo

que Saussure nos apresenta nesse sentido: a part��cula negativa pas

("n��o"), do franc��s, identifica-se historicamente com o substantivo pas

("passo"), uma vez que, numa determinada fase da evolu����o da l��ngua,

significavam a mesma coisa. No entanto, no estado atual do franc��s,

n��o existe o menor tra��o dessa identidade remota que possa interferir no

funcionamento sincr��nico dessa palavra, que possui atualmente valores

distintos e �� empregada em contextos sint��ticos bem definidos: mau-

vais pas "mau passo"; com ne: je ne veux pas "eu n��o quero". Em portugu��s, Mattoso Camara, em seu Dicion��rio de linguistica e gram��tica,

nos apresenta o exemplo do verbo comer. Diacronicamente, com- �� um

prefixo latino (em comedere), por��m sincronicamente perdeu essa identi-

dade primeira e �� tratado como uma raiz semelhante a am- em amar. Po-





84


der��amos tamb��m citar o exemplo do substantivo romaria, que signifi-

cava originalmente "peregrina����o a R o m a para ver o Papa". Hoje, no

entanto, �� usado unicamente para designar "peregrina����o religiosa em

geral". C o m o diz Saussure (p. 107), "tais verifica����es bastariam para

fazer-nos compreender a necessidade de n��o confundir os dois pontos

de vista".

Diante disso, compreende-se por que Saussure (p. 117) considera a

gram��tica de uma l��ngua como a sua descri����o sincr��nica:

�� sincronia pertence tudo o que se chama "gram��ti-

ca geral", pois �� somente pelos estados de l��ngua que

se estabelecem as diferentes rela����es que incumbem

�� gram��tica.

Apesar de haver afirmado que a diacronia leva a tudo, contanto que

se saia dela (numa cr��tica mordaz aos neogram��ticos), Saussure (p. 106)

reconhece o seu valor, mas apenas como um meio, n��o um fim: "A dia-

cronia n��o tem seu fim em si mesma". E explicita o mestre (p. 115):

[...] tudo quanto seja diacr��nico na l��ngua, n��o o �� se-

n��o pela fala. �� na fala que se acha o germe de todas

as modifica����es: cada uma delas c lan��ada, a princ��-

pio, por um certo n��mero de indiv��duos, antes de en-

trar em uso. [Por��m], elas s�� entram em nosso campo

de observa����o no momento em que a coletividade [a

norma, diria Coseriu] as acolhe (grifos no original).

Essas palavras de Saussure nos fazem lembrar do neologismo

imex��vel. Legitimado pela coletividade (norma ou uso), poder�� even-

tualmente atingir a l��ngua e ser dicionarizado, �� semelhan��a de ileg��-

vel ou imperd��vel.





Sincronia e arbitrariedade do signo


Outra raz��o para Saussure justificar a prioridade da sincronia sobre

a diacronia situa-se na sua no����o de arbitrariedade do signo ling����stico.

A rela����o entre o significante e o significado, justamente por ser arbi-

tr��ria, estar�� continuamente sendo afetada pelo tempo, pelas contin-

g��ncias do fluir temporal, conforme demonstramos com o exemplo do

substantivo romaria, h�� pouco citado. Fosse essa rela����o natural e l��gi-

ca, e o signo ling����stico teria condi����es de resistir �� a����o transformado-

ra do tempo, mantendo-se imut��veis os seus dois constituintes. Como

argumenta Saussure (p. 90),





85


Uma l��ngua �� radicalmente incapaz de se defender

dos fatores que deslocam, de minuto a minuto, a re-

la����o entre o significado e o significante. �� uma das

conseq����ncias da arbitrariedade do signo.

Portanto, �� exatamente por ser uma entidade eminentemente hist��-

rica que a l��ngua exige, prioritariamente, uma an��lise a-hist��rica, isto ��,

sincr��nica. Desse modo, entende-se por que Saussure postula que a l��n-

gua precisa ser estudada em um determinado estado (sincr��nico) de sua

exist��ncia: �� para que o ling��ista possa definir com seguran��a os ele-

mentos existentes nas suas rela����es internas, assim como a pr��pria na-

tureza dessas rela����es.

Nesse sentido, fa��amos nossas as palavras de Jonathan Culler (1979:29):

Porque �� arbitr��rio, o signo est�� totalmente sujeito ��

Hist��ria, e a combina����o, num determinado momento,

de um significante e um significado tamb��m determi-

nados �� resultado contingente do processo hist��rico.

Advirta-se, contudo, o seguinte: Saussure postula a prioridade da

sincronia e, conv��m lembrar, prioridade n��o significa exclusividade.

Mas voltaremos a esse ponto mais adiante, quando tratarmos das rela-

����es entre o estudo sincr��nico e o diacr��nico.

M��todo sincr��nico

Sobre os m��todos de abordagem, temos que a sincronia opera a par-

tir de uma ��nica perspectiva: a dos falantes, consistindo o seu m��todo

em "recolher-lhes o testemunho" (CLG, 106). Martinet (1971-a: 28) es-

clarece que o objeto da sincronia �� observar e descrever o funcionamen-

to do sistema ling����stico "num lapso de tempo suficientemente curto

para, na pr��tica, se poder considerar um ponto no eixo do tempo".

No caso do portugu��s do Brasil, j�� existem bons estudos descriti-

vos. Destacar��amos, dentre outros: Nova gram��tica do portugu��s con-

tempor��neo, de Celso Cunha & Lindley Cintra (Ed. Nova Fronteira); as

obras de Mattoso Camara Jr.: Para o estudo da fon��mica portuguesa

(Ed. Padr��o), Problemas de ling����stica descritiva e Estrutura da l��ngua

portuguesa (ambos da Ed. Vozes); Morfologia portuguesa, de Jos�� Le-

mos Monteiro (Ed. Pontes). Recentemente, saiu pela Ed. Unesp: Gra-

m��tica de usos do portugu��s, de Maria Helena de Moura Neves, obra de

refer��ncia na ��rea da sintaxe descritiva. No campo do l��xico, foi publi-

86

cado pela Ed. ��tica, em 2002: Dicion��rio de usos do portugu��s do Bra-

sil, de Francisco da Silva Borba.

M��todo diacr��nico

As t��cnicas da Ling����stica diacr��nica distinguem duas perspecti-

vas, segundo o car��ter dos dados com que opera ( CLG, 106): "uma

prospectiva, que acompanhe o curso do tempo, e outra retrospectiva,

que fa��a o mesmo em sentido contr��rio".

O m��todo prospectivo estuda e compara dois ou mais estados da

mesma l��ngua, cada um antepassado ou descendente do outro; �� o m��to-

do usado principalmente em Ling����stica Hist��rica. O m��todo retrospec-

tivo (mais conhecido como comparativo) estuda estados de l��ngua que

tenham parentesco entre si. Atrav��s da indu����o e da dedu����o, chega-se

(at�� onde seja poss��vel) ao estado do ��ltimo antepassado c o m u m a to-

dos os estados conhecidos. Na pr��tica, ambos os m��todos s��o aplica-

dos conjuntamente.

O estudo diacr��nico de uma l��ngua compreende a hist��ria interna

(evolu����o estrutural) e a hist��ria externa (evolu����o sociolingu��stica).

Tratamos desse assunto no cap��tulo I deste livro.

Os campos de estudo sincr��nico e diacr��nico

Perfeitamente consciente de suas postula����es dicot��micas, Saussu-

re (p. 114) lembra que "foi necess��rio, primeiro, escolher entre a l��ngua

e a fala", e que "a Lingu��stica se acha aqui ante sua segunda bifurca-

����o", cujos caminhos conduzem, "um �� diacronia, outro �� sincronia". E,

metod��logo por excel��ncia, delimita essas duas partes da nossa ci��ncia

de forma definitiva (p. 116):

A Ling����stica sincr��nica se ocupar�� das rela����es l��-

gicas e psicol��gicas que unem os termos coexisten-

tes e que formam sistema, tais como s��o percebidos

pela consci��ncia coletiva. A Lingu��stica diacr��nica

estudar��, ao contr��rio, as rela����es que unem termos

sucessivos n��o percebidos por uma mesma cons-

ci��ncia coletiva e que se substituem uns aos outros

sem formar sistema entre si.

Deixando de se preocupar com o processo pelo qual as l��nguas se

modificam, para tentar saber o modo como elas funcionam, Saussure

deu, coerentemente, primazia ao ponto de vista sincr��nico, inegavel-





87


mente o ponto de partida para a Ling����stica Geral e para o Estruturalis-

mo Ling����stico (sobre este ��ltimo, ver o cap��tulo "Repercuss��es das

id��ias de Saussure").

De nossa parte, entendemos a distin����o sincronia/diacronia unica-

mente como procedimentos metodol��gicos de an��lise ling����stica. Aos

que prop��em o absoluto sincr��nico, seria o caso de se questionar: qual o

limite de uma sincronia? O ano passado, o m��s passado ou o dia de on-

tem? Neste assunto, como em outros igualmente pol��micos para a ci��n-

cia ling����stica, parece-nos s e m p r e necess��rio e oportuno n��o p e r d e r

de vista as p o n d e r a �� �� e s , at�� certo ponto premonit��rias, do p r �� p r i o

Saussure (p. 86):

As modifica����es da l��ngua n��o est��o ligadas �� suces-

s��o de gera����es que, longe de se sobrepor umas ��s

outras, como as gavetas de um m��vel, se mesclam e

interpenetram e cont��m cada uma indiv��duos de to-

das as idades.

E, cauteloso, adverte Saussure em outra passagem (CLG, 16):

A cada instante, a linguagem implica ao mesmo tem-

po um sistema estabelecido e uma evolu����o: a cada

instante, ela �� uma institui����o atual e um produto do

passado.

Sobre a interpenetra����o sincronia/diacronia, �� igualmente valiosa a

interven����o do saudoso ling��ista S��lvio Elia (1978: 138):

Conv��m ainda observar que um estado de l��ngua n��o

�� necessariamente sincr��nico (ou seja, est��tico). N u m

estado de l��ngua coexistem formas atuais (sincr��ni-

cas), formas que v��o caindo em desuso e formas em

estado nascente.

A l��ngua, portanto, ser�� sempre sincronia E diacronia em qualquer

momento de sua exist��ncia. O ponto de vista da ci��ncia ling����stica �� que

poder�� ser OU sincr��nico OU diacr��nico, dependendo do fim que se

pretende atingir. E h�� determinados casos, por exemplo, em que a des-

cri����o sincr��nica p o d e perfeitamente ser conjugada c o m a explica-

����o diacr��nica, e n r i q u e c e n d o - s e , desse m o d o , a an��lise feita pelo

ling��ista. Por exemplo, p o d e m o s descrever o verbo p��r c o m o perten-

cente �� segunda conjuga����o, apelando para as formas sincr��nicas

atuais p��es,p��e, e t c , al��m dos adjetivos poente e poedeira, nos quais o 88

-e- a�� existente (ou remanescente) funciona estruturalmente como vo-

gal tem��tica. Ao mesmo tempo, podemos enriquecer a descri����o sin-

cr��nica, complementando-a com a explica����o diacr��nica: o atual verbo

p��r j�� foi representado pelo infinitivo arcaico poer, que, por sua vez, se

deriva do latim vulgar poner��.

A oposi����o singular/plural, com altern��ncia voc��lica, poderia rece-

ber o m e s m o tratamento. Descri����o sincr��nica: ��ssol��ssos, n��voln��vos

(acentuamos). Explica����o diacr��nica: ��ssu > osso, n��vu > novo (meta-

fonia no singular); ossos > ossos, novos > novos (plural sem metafo-

nia). Desse modo, compreendemos a causa da altern��ncia de timbre (fe-

chado/aberto) existente nesses casos, caracterizadora de uma oposi����o

sing./plur. redundante, conhecida como distin����o submorf��mica.

O plural dos nomes terminados em -��o �� outro caso em que a descri-

����o sincr��nica pura e simples parece-nos insuficiente, n��o satisfaz.

Alguns nomes, como anci��o, chegam a admitir at�� tr��s plurais - an-

ci��os; anci��es e anci��es - e s�� a explica����o diacr��nica d�� conta dessas

aparentes "irregularidades".

Vistos sob essa perspectiva, os pontos de vista sincr��nico e diacr��-

nico n��o s��o excludentes, ao contr��rio, s��o complementares. Os exem-

plos aqui apresentados, al��m de in��meros outros, servem como prova

evidente de que, como diz Coseriu (1979: 27):

A descri����o e a hist��ria n��o s��o excludentes do pon-

to de vista do objeto; s��o excludentes como opera-

����es, isto ��, s��o opera����es distintas (grifos do autor).

A vista do exposto, pensamos que o fato de conferir uma prioridade

absoluta ao ponto de vista estritamente sincr��nico resulta em um la-

ment��vel equ��voco de certas correntes estruturalistas mais extremadas,

al��m de se constituir em uma distor����o do pensamento original de Saus-

sure, pois, como escreveu Eugenio Coseriu (1979: 27):

Saussure n��o fez ontologia, mas metodologia; pro-

curou distinguir a Ling����stica sincr��nica e a diacr��-

nica, ou melhor, o ponto de vista sincr��nico e o dia-

cr��nico na Ling����stica. Por isso, a distin����o entre

sincronia e diacronia n��o pertence �� teoria da lin-

guagem (ou da l��ngua); mas �� teoria da Ling����stica

(grifos do autor).

Concluindo este cap��tulo, fazemos nossas as palavras da ling��ista

neozelandesa Barbara Weedwood, que, em publica����o recente, apre-





89


senta ponto de vista semelhante ao nosso a respeito da conveni��ncia da

integra����o sincronia-diacronia. Diz Barbara (2002: 11):

Hoje em dia, no entanto, essas duas abordagens est��o

cada vez mais em converg��ncia, e muitos estudiosos

at�� consideram imposs��vel separar o sincr��nico do di-

acr��nico.

Eis, em resumo, os tra��os caracter��sticos desta segunda dicotomia

saussuriana:

SINCRONIA I DIACRONIA

syn (simultaneidade) +

di�� (movimento atrav��s de)

khr��nos (tempo)

+ khr��nos (tempo)

est��tica

evolutiva

descritiva

prospectiva e retrospectiva

gram��tica geral

gram��tica hist��rica

interessa-se pelo sistema

interessa-se pelas evolu����es e suas causas

faz descri����es sincr��nicas

ap��ia-se em descri����es sincr��nicas

descreve estados de l��ngua

descreve fen��menos evolutivos

e suas rela����es

individuais

abstrai o tempo

leva em conta o tempo

trata de fatos simult��neos

trata de fatos sucessivos

estuda fatos que formam

estuda fatos que n��o formam sistema

sistema entre si

entre si

estuda o m o d o como a

estuda o processo de evolu����o da

l��ngua funciona

l��ngua

preocupa-se com funcio-

preocupa-se com

namento

evolu����o

descreve um determinado es- confronta estados diferentes de

tado de uma mesma l��ngua

uma mesma l��ngua

estruturalismo

atomismo

parte

todo

rela����o

fato

descri����o

explica����o

funcionamento

evolu����o





90


EXERC��CIOS

Sincronia/diacronia

1. Relacione as colunas:

1) Hist��ria interna ( ) Estuda as rela����es existen-

tes entre os fatores sociocultu-

rais e a evolu����o ling����stica.

2) Hist��ria externa ( ) Trata da evolu����o estrutu-

ral (fonol��gica, morfossint��tica)

da l��ngua.

( ) O portugu��s do Brasil est�� im-

pregnado de palavras ind��genas

(Guanabara, jacar��, jurema) e afri-

canas (Iemanj��, samba, vatap��).

( ) As tr��s conjuga����es verbais

portuguesas t��m sua origem no

latim vulgar: amare > amar, de-

bere > dever, vendere > ven-

der, punire > punir.

2. Assinale a afirma����o incorreta:

a) Os sons, as formas gramaticais, a sintaxe e o vocabul��rio s��o

suscet��veis de considera����es diacr��nicas.

b) �� diacr��nico tudo o que diz respeito ��s evolu����es.

c) O estudo sincr��nico n��o �� poss��vel sem um paralelo estudo dia-

cr��nico que lhe sirva de apoio.

3. Por que Saussure conferiu prioridade �� sincronia, em detrimento

da diacronia? Explique com suas palavras.

4. Assinale a defini����o correta:

a) Metaplasmos s��o modifica����es fon��ticas que sofrem as pala-

vras na sua evolu����o.

b) Metaplasmos s��o modifica����es morfol��gicas que os voc��bu-

los sofrem durante sua evolu����o.

c) Metaplasmos s��o voc��bulos latinos que n��o sofreram modifi-

ca����es diacr��nicas.





91


5. Relacione as colunas:

a) Metaplasmos por aumento:

1 - Pr��tese ( ) bratta > barata

2 - Ep��ntese ( ) ante > antes

3 - Suarab��cti ( ) scutu > escudo

4 - Paragoge ( ) area > areia

( ) acutu > agudo

b) Metaplasmos por subtra����o:

1 - Af��rese ( ) amare > amar

2 - S��ncope ( ) de + aquele > daquele

3 - Haplologia ( ) attonitu > tonto

4-Ap��cope ( ) malu > mau

5 - Crase ( ) leer > ler

6 - Elis��o ( ) idololatria > idolatria

6. Preencha as lacunas:

a) Tudo o que se relaciona com o aspecto "est��tico" ou funcio-

nal da l��ngua, ou seja, o seu estado num dado momento, chama-se

b) ��s evolu����es da l��ngua, acompanhando o curso do tempo e sub-

metidas a compara����es com outros idiomas que tenham entre si um

v��nculo hist��rico, chama-se

c) Rela����es no tempo =

Rela����es no sistema =

d) Quando se estudam os fatos da l��ngua em seu funcionamento, o

que �� importante para o indiv��duo falante �� o

7. O objeto da Ling����stica sincr��nica geral �� estabelecer os princ��-

pios fundamentais de todo o sistema funcional, os fatores constitu-

tivos de um estado de l��ngua. Justifique esta afirmativa.





92


8. "Na realidade, inexiste sincronia pura: no interior de qualquer sistema coexistem est��gios de sistemas mais antigos e esbo��am-se,

como subsistemas, est��gios posteriores" (Lopes, 1995: 76). Comen-

te esta afirmativa do autor.

9. Um estado de l��ngua ou uma sincronia vem a ser:

a) a aus��ncia de transforma����o durante um espa��o de tempo;

b) o espa��o de tempo em que a l��ngua sofre transforma����es con-

sider��veis;

c) o espa��o de tempo em que as transforma����es ocorridas s��o

m��nimas e quase que impercept��veis aos falantes.

10. Marque V ou F:

( ) O caso lexicog��nico (gerador do l��xico) do portugu��s �� o

acusativo latino.

( ) Em f��cu > fogo, houve sonoriza����o da consoante surda in-

tervoc��lica e metafonia da vogal t��nica por influ��ncia do -u final

(-��- > -��-).

( ) O artigo definido portugu��s tem sua origem no pronome de-

monstrativo latino: ��llu > elo > lo > o; illa > ela > la > a.

1 1 . Em portugu��s, que fun����es sint��ticas correspondem aos casos

latinos? Relacione-os e compare os dois sistemas sint��ticos.

1 2 . Marque V ou F:

( ) M��todo retrospectivo �� o ��nico m��todo usado em Ling����s-

tica Hist��rica.

( ) Os estudos sincr��nicos n��o t��m a preocupa����o com o pro-

cesso pelo qual as l��nguas se modificam, e sim tentam saber o modo

como elas funcionam.

( ) Sincronia descreve os fatos de uma l��ngua num momento

dado de sua hist��ria. Ocupa-se de rela����es e valores coexistentes

( ) A diacronia da l��ngua portuguesa parte do latim vulgar, passa

pelo portugu��s arcaico e chega at�� os nossos dias.

( ) A diacronia �� uma sucess��o de sincron��as.





93


1 3 . Palavras como corp��sculo, febr��cula, gl��bulo, got��cula, n��dulo,

op��sculo, part��cula, pel��cula, questi��ncula, vers��culo, usadas na l��n-

gua culta ou na terminologia cient��fica, representam "forma����es

modeladas no latim" (Cunha & Cintra, 2001: 94), em que aparecem os

sufixos diminutivos -u/o, -culo e suas variantes. Levando em conta a

distin����o sincronia/diacronia, comente a presen��a dessas palavras

no est��gio atual da l��ngua portuguesa.

1 4 . "A tarefa b��sica da lingu��stica diacr��nica ou hist��rica �� explicar

estados anteriores, n��o simplesmente para apreender ou recolher

informa����es de ordem cultural, mas principalmente para melhor

compreender as rela����es, ou seja, a estrutura����o do sistema atual"

(Borba, 1998: 70). Estas palavras est��o em coer��ncia com a seguinte

afirmativa de Saussure no CLG:

a) "A ling����stica diacr��nica estudar�� as rela����es que unem ter-

mos sucessivos" (p. 116).

b) "A diacronia n��o tem seu fim em si mesma" (p. 106).

c) "De modo geral, �� muito mais dif��cil fazer a Ling����stica est��tica

que a hist��rica" (p. 117).

1 5 . "H�� nos nomes os temas em -a (rosa, poeta, planeta), os temas

em -o /u/ ��tono final (livro, tribo, cataclismo) e os temas em -e /i/ ��to-

no final (dente, ponte, an��lise)" (Camara Jr., 2000: 86). Esta cita����o ��

um bom exemplo de da portuguesa.

a) explica����o diacr��nica - morfologia

b) estudo sincr��nico - sintaxe

c) descri����o sincr��nica - morfologia

16. Marque V ou F:

( ) Somente a sincronia diz respeito ao estudo dos fatos lin-

g����sticos.

( ) A diacronia estuda os fatos em suas transforma����es atrav��s

dos tempos.

( ) O aspecto sincr��nico prevalece sobre o diacr��nico, pois,

para a massa falante, ele constitui a verdadeira e ��nica realidade.

( ) O estudo do infinitivo, do seu emprego numa ��poca "X", ��

um estudo sincr��nico.





94


17. Assinale apenas as afirmativas corretas:

a) Todos os elementos gramaticais da l��ngua pertencem �� sincronia.

b) Sincronia designa um estado de l��ngua, e diacronia, uma fase

de evolu����o.

c) Os fatos diacr��nicos est��o diretamente ligados ��s modifica-

����es da fala.

d) A sintaxe de uma l��ngua n��o �� pass��vel de considera����es dia-

cr��nicas.

e) Para a massa falante, a ��nica realidade da l��ngua �� o seu as-

pecto sincr��nico.

f) Os termos considerados pela Ling����stica diacr��nica pertencem

sempre �� mesma l��ngua.

1 8 . Coloque D nas explica����es diacr��nicas e S nas descri����es sin-

cr��nicas.

( ) P��r �� um verbo da 2a conjuga����o, porque no portugu��s ar-

caico o infinitivo era poer.

( ) P��r �� da 2a conjuga����o porque sua vogal tem��tica �� -e-,

como comprovam as formas atuais pudesse, puser, p��e, etc.

( ) Forma-se o plural de not��vel pela troca do -/ por -is: not��-

vel/not��veis.

( ) O plural am��veis prov��m da forma latina amabiles: amabiles

> amavies > amavees > am��veis.

( ) O plural de lobo prov��m do acusativo plural latino: l��pos >

lopos > lobos.

( ) O plural de lobo forma-se pelo acr��scimo de -s ao singular.

1 9 . Complete corretamente as lacunas com os voc��bulos sincr��ni-

co(a) ou diacr��nico(a):

a) "A l��ngua �� um sistema do qual todas as partes podem e de-

vem ser consideradas em sua solidariedade ".

b) "Os fatos , quaisquer que sejam, apre-

sentam uma certa regularidade, mas n��o t��m nenhum car��ter impe-

rativo; os fatos , ao contr��rio, se imp��em ��

l��ngua, mas nada mais t��m de geral".





95


c) "Na perspectiva , ocupamo-nos com fe-

n��menos que n��o t��m rela����o alguma com os sistemas, apesar de os

condicionarem".

d) De acordo com o fator tempo, podemos distinguir duas Lin-

g����sticas:

- Ling����stica evolutiva ou

- Ling����stica descritiva ou

2 0 . Marque V ou F:

( ) Os fen��menos diacr��nicos t��m absoluta rela����o com o sis-

tema.

( ) Todos os elementos gramaticais da l��ngua pertencem �� sin-

cronia.

( ) Sincronia estuda os fatos em suas transforma����es atrav��s do

tempo.

( ) Podemos dizer que a diacronia est�� no eixo das simulta-

neidades.

( ) O m��todo retrospectivo estuda estados de l��ngua que te-

nham parentesco entre si.

( ) Deixando de se preocupar com o processo pelo qual as

l��nguas se modificam, para tentar saber o modo como elas funcio-

nam, Saussure deu primazia ao ponto de vista estritamente sin-

cr��nico.

2 1 . Relacione as colunas:

S - Sincronia

( ) Gram��tica geral.

( ) Trata de fatos sucessivos.

D - Diacronia

( ) Explica as aparentes irregula-

ridades da l��ngua.

( ) Trata de fatos simult��neos.

( ) Hist��ria interna e externa da

l��ngua.

( ) Interessa-se pelo sistema e

seu funcionamento.

( ) Gram��tica hist��rica.





96


( ) Interessa-se pela evolu����o e

suas causas.

( ) Descreve um determinado

estado de uma mesma l��ngua,

seja no presente ou no passado.

2 2 . Coloque D nas explica����es diacr��nicas e S nas descri����es sin-

cr��nicas:

( ) O plural dos nomes terminados em -��o apresenta tr��s possi-

bilidades: gr��o/gr��os, p��o/p��es, le��o/le��es.

( ) Cra(n)os > gr��os, pa(n)es > p��es, leo(n)es > le��es.

( ) Nos nomes portugueses, as vogais ��tonas finais -a, -o, -e de-

sempenham o papel de vogal tem��tica nominal: rosa, lobo, vale.

( ) Rosa > rosa, lupu > lobo, valle > vale.

( ) A categoria de g��nero apresenta tr��s processos em portu-

gu��s: flexivo (lobo/loba), lexical (touro/vaca) e sint��tico (o/a colega, o

livro, a mesa).

( ) L��pu > lobo, lupa > loba; tauru > touro, vacca > vaca; col-

lega > colega, libru > livro, mensa > mesa (em latim n��o havia arti-

go)-

2 3 . Marque V ou F:

( ) A Gram��tica Hist��rica �� diacr��nica por excel��ncia.

( ) A comunidade lingu��stica tem que se valer de uma gram��tica

diacr��nica.

( ) A Lingu��stica sincr��nica acompanha as mudan��as que

se operam na passagem de um estado a outro de uma l��ngua.

( ) A sincronia n��o leva em conta o tempo.

( ) Os pontos de vista sincr��nico e diacr��nico n��o se excluem,

antes se completam.

2 4 . Marque sincronia S ou diacronia D:

( ) Hoje, o pronome v��s �� usado, quase que exclusivamente, na

l��ngua religiosa.

( ) No portugu��s do Brasil nos s��culos XIX e XX houve altera����o

no uso do pronome v��s.





97


( ) Sistema de acentua����o gr��fica na d��cada de 1940 compara-

do com o existente a partir de 1971 (aboli����o dos acentos secund��-

rios e dos diferenciais de timbre).

( ) Os verbos portugueses distribuem-se por tr��s conjuga����es:

amar, vender, partir.

2 5 . O estudo diacr��nico pressup��e o sincr��nico, mas o sincr��nico

n��o pressup��e o diacr��nico.

A afirmativa acima �� falsa ou verdadeira? Justifique sua resposta.





98


GABARITO

Sincronia/diacronia

1 ) 2 - 1 - 2 - 1

2) C

3) Por tr��s raz��es: a) sua vis��o da l��ngua como sistema; b) a arbitrari-

edade do signo ling����stico; c) o falante s�� tem consci��ncia do estado

sincr��nico da l��ngua.

4) A

5) a) 3 - 4 - 1 - 2 (em acutu > agudo, houve sonoriza����o: /W > / g/,

M > /d/)

b ) 4 - 6 - 1 - 2 - 5 - 3

6) a) sincronia

b) diacronia

c) diacronia/sincronia

d) estado da l��ngua naquele momento

7) �� atrav��s da descri����o sincr��nica que o ling��ista pode perceber o

funcionamento morfofon��mico e sint��tico da l��ngua, com suas rela-

����es internas de oposi����o (paradigm��ticas) e contraste (sintagm��ti-

cas). �� tamb��m a sincronia que detecta o comportamento do l��xico.

8) O autor enfatiza que a l��ngua ��, ao mesmo tempo, sincronia e dia-

cronia. Embora usem m��todos distintos, os dois pontos de vista n��o

s��o excludentes, s��o complementares.

9) C

10) V - V - V

11) Nominativo = sujeito, predicativo do suj.; vocativo = vocativo;

acusativo = obj. direto, adj. adverbial (de lugar, causa, tempo); geniti-

vo = adj. adnominal e complemento nominal; dativo = obj. indireto,

compl. nom.; ablativo = adj. adverbiais, ag. da passiva. Enquanto o

latim cl��ssico usava os casos para marcar as fun����es sint��ticas, o por-

tugu��s e as demais l��nguas rom��nicas empregam a posi����o e a prepo-

si����o como marcadores sint��ticos, uma heran��a do latim vulgar.

12) F - V - V - V - V

13) Constituem uma evid��ncia bastante representativa de que a l��n-

gua �� sincronia e diacronia em qualquer momento de sua exist��n-

cia. O passado e o presente podem conviver harmoniosamente para

assegurar o funcionamento acr��nico da l��ngua.





99


14) B

15) C

1 6 ) F - V - V - V

1 7 J A - B - C - E

18) D - S - S - D - D - S

19) a) sincr��nica

b) sincr��nicos - diacr��nicos

c) diacr��nica

d) diacr��nica - sincr��nica

2 0 ) F - V - F - F - V - V

2 1 ) S - D - D - S - D - S - D - D - S

2 2 ) S - D - S - D - S - D

2 3 ) V - F - F - V - V

24) S - D - D - S

25) Verdadeira. O funcionamento da l��ngua s�� pode ser percebido e

descrito sincronicamente. Desse modo, a diacronia �� uma sucess��o

de sincron��as.

100

RELA����ES SINTAGM��TICAS

E PARADIGM��TICAS

Tudo o que comp��e um estado de l��ngua pode ser

reduzido a uma teoria dos sintagmas e a uma teoria

das associa����es. [...] Seria necess��rio poder reduzir

dessa maneira cada fato �� sua ordem, sintagm��tica ou

associativa, e coordenar toda a mat��ria da Gram��tica

sobre esses dois eixos naturais (CLG, 158-159).

Eixo sintagm��tico e paradigm��tico

Para Saussure, tudo na sincronia se prende a dois eixos: o eixo asso-

ciativo (= paradigm��tico) e o sintagm��tico, conforme esquema no cap��-

tulo "A ling����stica saussuriana".

As rela����es sintagm��ticas baseiam-se no car��ter linear do signo lin-

g����stico, "que exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao

mesmo tempo" (CLG, 142). A l��ngua �� formada de elementos que se su-

cedem um ap��s outro linearmente, isto ��, "na cadeia da fala" (CLG, 142).

A rela����o entre esses elementos Saussure (p. 142) chama de sintagma:

O sintagma se comp��e sempre de duas ou mais unida-

des consecutivas: re-ler, contra todos, a vida huma-

na, Deus �� bom, se fizer bom tempo, sairemos, etc.

Colocado na cadeia sintagm��tica, um termo passa a ter valor em

virtude do contraste que estabelece com aquele que o precede ou lhe su-

cede, "ou a ambos", visto que um termo n��o pode aparecer ao m e s m o

tempo que outro, devido ao seu car��ter linear. Em "Hoje fez calor", por

exemplo, n��o podemos pronunciar a s��laba je antes da s��laba ho, nem ho

ao m e s m o tempo que je; lor antes de ca, ou ca simultaneamente com

lor �� imposs��vel. �� essa cadeia f��nica que faz com que se estabele��am

rela����es sintagm��ticas entre os elementos que a comp��em. C o m o a re-

la����o sintagm��tica se estabelece em fun����o da presen��a dos termos pre-

cedente e subseq��ente no discurso, Saussure (p. 143) a chama tamb��m

de rela����o in pressentia.

101





Por outro lado, fora do discurso, isto ��, fora do plano sintagm��tico,

se, em "Hoje fez calor", dizemos hoje pensando op��-lo a outro adv��r-

bio, ontem, por exemplo, ou fez em oposi����o a faz, e calor a frio, estabe-lecemos uma rela����o associativa ou in absentia {CLG, 143), porque os

termos ontem, faz e frio n��o est��o presentes no discurso. S��o elementos

que se encontram na nossa mem��ria de falante "numa s��rie mnem��nica

virtual", conforme esclarece Saussure �� p. 143 do CLG:

As p a l a v r a s que o f e r e c e m algo de c o m u m se a s s o -

c i a m na m e m �� r i a e assim se formam grupos den-

tro dos quais imperam rela����es muito diversas [das

sintagm��ticas, rela����es essas que Saussure batizou

de associativas].





O paradigma para Hjelmslev


Mais tarde, Hjelmslev rebatizou as rela����es associativas de para-

digm��ticas, pois o ling��ista dinamarqu��s achava que todo elemento lin-

g����stico pode ser integrado num paradigma, termo considerado aqui numa

acep����o mais ampla que a da gram��tica tradicional.

Vejamos, a prop��sito, as pr��prias palavras de Hjelmslev (1968: 44)

a respeito da defini����o de paradigma:

Si tomamos un signo ingl��s como la palabra "pit"

(pozo), podemos formar a partir de ��l otros signos

reemplazando cada elemento por otro. [...] podemos,

pues, sustituir todos y cada uno de los elementos de

expresi��n de que consta el signo "pit" y de esta ma-

nera formar nuevos signos: pit, sit, f��t, lit; pit, put,

pot, pat; pit, pin, pig. Podemos representar el signo

"pit" como una cadena horizontal, que se desenvuel-

ve de izquierda a derecha, y despu��s, bajo cada ele-

mento de que consta, colocar en una columna verti-

cal otros elementos que podr��an sustituirle:

pit

sal

fun

Llamaremos paradigmas a las columnas verticales,

que hemos levantado aqu��; un paradigma de elemen-

tos es, por consiguiente, una clase de elementos que

102





pueden colocarse en un mismo lugar de una cadena:

"pit" es una cadena, P, S, F es un paradigma.

A defini����o encontrada no Pequeno vocabul��rio de ling����stica mo-

derna (1971), de Francisco S. Borba, bastante did��tica, esclarece qual-

quer d��vida porventura ainda existente, ao definir paradigma como uma

esp��cie de "banco de reservas" da l��ngua: "Paradigma �� o conjunto de

unidades suscet��veis de aparecer num mesmo contexto". E complemen-

tando a defini����o saussuriana: "As unidades do paradigma op��em-se,

pois uma exclui a outra: se uma est�� presente, as outras est��o ausentes".

C o m o vimos, a defini����o de paradigma suscita a id��ia de rela����o

entre unidades alternativas. �� uma esp��cie de reserva virtual da l��ngua.

Sobre os elementos de confronto de mais essa dicotomia, ningu��m

melhor do que o pr��prio autor do CLG para nos ampliar e consolidar a

apreens��o conceituai. E Saussure (p. 143) o faz lan��ando m��o de uma

de suas famosas compara����es:

Desse duplo ponto de vista, uma unidade ling����stica

�� compar��vel a uma parte determinada de um edif��-

cio, uma coluna, por exemplo; a coluna se acha, de

um lado, numa certa rela����o com a arquitrave que a

sust��m; essa disposi����o de duas unidades igualmen-

te presentes no espa��o faz pensar na rela����o sintag-

m��tica; de outro lado, se a coluna �� de ordem d��rica,

ela evoca a compara����o mental com outras ordens

(j��nica, corintia, etc.), que s��o elementos n��o pre-

sentes no espa��o: a rela����o �� associativa.

Oposi����o distintiva e oposi����o contrastiva

Podemos esquematizar figurativamente os dois eixos, paradigm��ti-

co e sintagm��tico, da seguinte maneira:

oposi����o contrastiva

103

Temos, portanto, que o eixo horizontal �� o da realiza����o concreta, o

das rela����es in prcesentia (sintagm��ticas). O vertical �� o do material dis-

pon��vel na mente do falante (da�� o pontilhado) para escolha e cujas rela-

����es entre os elementos se realizam in absentia (paradigm��ticas).





Sintagma


Segundo o ponto de vista do pr��prio Saussure (CLG, 143),

a no����o de sintagma se aplica n��o s�� ��s palavras,

mas aos grupos de palavras, ��s unidades complexas

de toda dimens��o e de toda esp��cie (palavras com-

postas, derivadas, membros de frase, frases inteiras).

Em seu Dicion��rio de lingu��stica e gram��tica (2002), Mattoso Ca-

mara define o sintagma como "a combina����o de formas m��nimas numa

unidade ling����stica superior". Trata-se, portanto, de rela����es (rela����o =

depend��ncia, fun����o) onde o que existe, em ess��ncia, �� a reciprocidade,

a coexist��ncia ou solidariedade entre os elementos presentes na cadeia

da fala. Essas rela����es sintagm��ticas ou de reciprocidade existem, a

nosso ver, em todos os planos da l��ngua: f��nico, m��rfico e sint��tico, ao

contr��rio do que deixa entrever a defini����o do pr��prio Saussure, que

nos induz a conceber o sintagma apenas nos planos m��rfico e sint��tico.

Sendo assim, o sintagma, em sentido lato, �� toda e qualquer combina-

����o de unidades ling����sticas na seq����ncia de sons da fala, a servi��o da

forma (rede de rela����es + componente sem��ntico) da l��ngua.

As rela����es sintagm��ticas, ao contr��rio das paradigm��ticas, sofrem

a limita����o imposta pelo significado (ou conte��do sem��ntico) da men-

sagem. Tomemos as seguintes possibilidades de relacionamento sintag-

m��tico (limitamo-nos �� ordem das palavras): "O Brasil planta soja",

"Planta o Brasil soja", "Soja o Brasil planta", "O Brasil soja planta",

"Soja planta o Brasil", "Planta soja o Brasil".

Como vimos, pudemos combinar ou relacionar sintagmaticamente

os diversos elementos constituintes da ora����o de seis maneiras diferen-

tes, conservando-se, contudo, o m e s m o conte��do sem��ntico. Entretan-

to, uma combina����o do tipo * O soja planta Brasil torna-se imposs��vel,

uma vez que n��o encontra correspond��ncia conceituai ( feedback se-

m��ntico) no esp��rito do falante. O exemplo serve, de forma oportuna,

para lembrar que o valor ling����stico �� sempre um valor sem��ntico, um

valor significativo, e que esse valor resulta sempre e necessariamente

de uma rela����o (vide "No����o de valor").

104





Rela����es sintagm��ticas na l��ngua portuguesa

Como vimos, �� o princ��pio da linearidade do significante que possi-

bilita a realiza����o do sintagma, a partir da combina����o de elementos

que contrastam entre si na cadeia da fala. Esse contraste ocorre entre

unidades do mesmo n��vel, isto ��, um fonema contrasta com outros fone-

mas, um morfema contrasta com outros morfemas, e um termo da ora-

����o, com outro termo da ora����o, formando-se, desse modo, o chamado

contexto ling����stico.

Essas combina����es contrastivas n��o se d��o aleatoriamente. Tra-

ta-se de rela����es distribucionais espec��ficas, previstas pelo sistema fun-

cional e reconhecidas como pertinentes pelo usu��rio, de cujo dom��nio e

manejo este disp��e, em virtude da compet��ncia (v. "A l��ngua como

acervo ling����stico") a ele inerente como falante nativo.

Vejamos as possibilidades de rela����es sintagm��ticas da l��ngua

portuguesa:

1 - Sintagma f��nico

Estabelece-se a partir da rela����o entre fonemas e pode ser fon��mico

ou pros��dico.

a) fon��mico

- grupo voc��lico

ex.: ditongos: ai layl, ei leyl, etc.

tritongos: uai /way/, uau /waw/, etc.

- grupo consonantal

ex.: pr (prato), br (bravo), etc.

- s��laba -> consoante + vogal, vogal + consoante, c o n s o a n t e +

vogal + consoante, e t c ; em portugu��s, n��o existe s��laba

sem vogal.

ex.: bo-la ar ver-da-de

c+v

v+c

C + V + C

105

b) pros��dico

- grupo acentual -> t��nico / ��tono

ex.: A rela����o contrastiva entre s��labas t��nicas e ��tonas na cadeia

sintagm��tica �� que possibilita distin����es do tipo: "A secret��ria

secretaria a reuni��o".

exclama����o

- grupo mel��dico

afirma����o

interroga����o

ex.: No plano da l��ngua oral, a diferen��a entre a frase afirmativa

"Ele chegou" e a interrogativa "Ele chegou?" s�� �� percept��vel

pela melodia da voz ou entona����o, tamb��m chamada de en-

tonema, isto ��, unidade distintiva de entona����o. Sintagma-

maticamente, o entonema tem valor determinante.

2 ��� Sintagma m��rfico

Estabelece-se a partir da rela����o entre morfemas e pode ser lexical

ou locucional.

a) lexical -> a pr��pria palavra, primitiva ou derivada.

ex.: am + a + va

menin + o

menin + a

feliz + mente

des + fazer

re + fazer

edif��cio-garagem

planalto (plano + alto), etc.

b) locucional -> intermedi��rio entre o sintagma lexical e o sint��tico.

ex.: de m o d o que, ��s pressas, para c o m , tinha estudado, dia de

sol, etc.

106





3 - Sintagma sint��tico

Estabelece-se a partir da rela����o entre sintagmas dentro da ora����o:

sintagma nominal (SN), sintagma verbal (SV), sintagma preposicional

(SP), sintagma adjetival (SA). O sintagma sint��tico p o d e ser subora-

cional, oracional e supra-oracional.

a) suboracional

Estabelece-se a partir das rela����es de subordina����o entre os dife-

rentes sintagmas dentro da ora����o.

ex.: rela����o verbo (SV) -> objeto indireto (SP)

Pedro gosta de Lingu��stica.

rela����o verbo (SV) -> objeto direto (SN)

S��rgio comprou um livro.

rela����o nome (SN) -> determinante preposicionado (SP)

Mariza comprou um livro de latim.

b) oracional

Caracteriza o per��odo simples (SN + SV).

ex.: Pedro estudou a li����o.

107



c) supra-oracional

Estabelece-se a partir da subordina����o entre duas ora����es7,

ex.: O professor avisou / que as notas foram boas.

Do exposto, depreende-se que a frase �� o prot��tipo do sintagma, e

como a frase pertence ao ��mbito da fala, Saussure levanta a seguinte

quest��o: o sintagma deveria ser estudado na Lingu��stica da fala ou na

da l��ngua? O pr��prio mestre responde, esclarecendo que todos os tipos

de sintagma pertencem �� l��ngua, e n��o �� fala, e que a "liberdade" de

que g o z a m �� a p a r e n t e , u m a vez que se trata de u m a l i b e r d a d e vigia-

da (a dos s i n t a g m a s na fala).

Em primeiro lugar, porque existem sintagmas que "s��o frases fei-

tas", j�� cristalizadas, verdadeiros clich��s, "nas quais o uso pro��be qual-

quer modifica����o" (CLG, 144). Em portugu��s, servem como exemplo

de frases feitas express��es do tipo "ora essa!", "ora bolas!", "n��o

diga!", "pois ��!", "veja s��!", "e agora?", "dar com os burros n ' �� g u a " ,

"�� isso a��", etc.

Eis o que diz Saussure a respeito de tais frases: "Esses torneios n��o

podem ser improvisados; s��o fornecidos pela tradi����o" (CLG, 144).





Analogia e neologismos


Em segundo lugar, porque os sintagmas na fala s��o constru��dos a

partir de formas regulares e que pertencem, por essa raz��o, �� l��ngua

(ou sistema), pois, como adverte Saussure (p. 145), "cumpre atribuir ��

l��ngua e n��o �� fala todos os tipos de sintagmas constru��dos sobre for-

mas regulares". Quer isto dizer que se uma palavra c o m o imex��vel

chegar a surgir na fala e atingir a l��ngua, passando pela norma, isto ��,

se for consagrada pelo uso, esse fato n��o veio do nada, muito menos

de uma suposta originalidade individual dos falantes ou de um deter-

minado grupo social. Tal neologismo ocorre, isto sim, calcado em ou-

tros modelos ou paradigmas j�� existentes no sistema, como ileg��vel,

7. O per��odo composto por coordena����o n��o deve ser considerado como supra-oracional, reservan-

do-se tal classifica����o unicamente para o per��odo composto por subordina����o. Esclarece-nos o Prof.

Mattoso Camara (2002: 233): "Quando a combina����o cria uma mera coordena����o entre os elementos, tem-se, ao contr��rio, uma seq����ncia".

108



imperd��vel, irremov��vel, etc. Em outras palavras, a pr��pria potenciali-

dade da l��ngua possibilita sua cria����o atrav��s do que Saussure (p. 194)

chama de analogia, uma vez que tais forma����es s�� se tornam poss��veis,

como diz o mestre (p. 145), "pela lembran��a de um n��mero suficiente

de palavras semelhantes pertencentes �� l��ngua". Nesse sentido, a origi-

nalidade da cria����o neol��gica �� relativa e previs��vel do ponto de vista

do sistema.





O sintagma e a fala


Por fim, Saussure (p. 145) chama a aten����o para a estreita rela����o

existente entre o sintagma e a fala, porque

no dom��nio do sintagma n��o h�� limite categ��rico en-

tre o fato de l��ngua, testemunho de uso coletivo, e o

fato de fala, que depende da liberdade individual.

Desse modo, para Saussure (p. 145), na maioria dos casos, tor-

na-se dif��cil classificar u m a combina����o de unidades (sintagma) como

pertencente �� fala ou �� l��ngua, "porque ambos os fatores [social e in-

dividual] c o n c o r r e r a m p a r a p r o d u z i - l a e em propor����es imposs��veis

de determinar".

Um bom exemplo da estreita rela����o existente entre o sintagma e a

fala s��o os cruzamentos sint��ticos do tipo "Comprei um livro para

m i m . " + "Comprei um livro para ler." = "Comprei um livro para mim

ler.", constru����o condenada pela norma gramatical (o correto �� " C o m -

prei um livro para eu ler."), mas de uso corrente em todas as classes so-

ciais no portugu��s do Brasil. Ressalte-se que desses deslocamentos da

norma podem resultar, com o tempo, altera����es no sistema, ou seja, a

chamada evolu����o ling����stica.

As rela����es associativas (= paradigm��ticas)

Como exemplo de que cada elemento ling����stico evoca no falante

ou no ouvinte a imagem de outros elementos, Saussure apresenta a pala-

8. Note-se, a prop��sito, a fertilidade do neologismo aeromo��a, que deu margem a outras cria����es curiosas como ferromo��a e rodomo��a. Carlos Drummond de Andrade (v. Jornal do Brasil de 12/2/76) su-geriu que as telefonistas da Telerj (Telef��nica do Rio de Janeiro, hoje extinta) passassem a chamar-se telerjis��as e que telerjema e assinerjista substitu��ssem os substantivos telefonema e assinante. A partir de passeata, surgiram carreata e taxiata. Hip��dromo serviu de modelo a samb��dromo.

109

vra enseignement "ensino", que desperta associa����es com enseigner

"ensinar", enseignons " e n s i n a m o s " e outros termos da m e s m a ��rea sem��ntica (��ducation "educa����o", apprentissage "aprendizagem").

Saussure (p. 146) aproveita para fazer a seguinte advert��ncia:

Enquanto um sintagma suscita em seguida a id��ia de

uma ordem de sucess��o e de um n��mero determina-

do de elementos, os termos de uma fam��lia associati-

va [paradigm��tica] n��o se apresentam nem em n��-

mero definido n e m numa ordem determinada. Se

associarmos desej-oso, calor-oso, medr-oso, etc, ser-nos-��

imposs��vel dizer antecipadamente qual ser�� o n��mero

de palavras sugeridas pela mem��ria ou a ordem em

que aparecer��o.

Achamos oportuno, a essa altura, introduzir o ponto de vista bastan-

te esclarecedor do Professor S��lvio Elia, segundo o qual, as rela����es as-

sociativas podem estabelecer-se tanto entre os significantes como entre

os significados.

Segundo o referido mestre, as rela����es associativas no plano do sig-

nificante d��o origem aos diversos sistemas fonol��gicos que distinguem

uma l��ngua da outra.

Por outro lado, as rela����es associativas estabelecidas no plano do

significado s��o de natureza gramatical (invent��rio fechado): declina-

����es, conjuga����es, afixos, desin��ncias, vogais tem��ticas, incluindo-se

t a m b �� m as chamadas palavras gramaticais: artigos, pronomes, adv��r-

bios, preposi����es e conjun����es. As rela����es associativas entre signifi-

cados lexicais constituem os chamados campos sem��nticos, base da

Sem��ntica Estrutural, e estabelecem-se a partir das significa����es lexe-

m��ticas, formando uma s��rie aberta (nomes e verbos), embora limita-

da. Figuradamente, ter��amos o seguinte quadro:

110





plano da express��o (ste) -> oposi����es fonol��gicas

declina����es

conjuga����es

afixos

desin��ncias

Rela����es

vogais tem��ticas

paradigm��ticas

gramaticais

artigos

preposi����es

pronomes

plano do conte��do

adv��rbios

(sdo)

conjun����es

lexicais -> nomes e verbos

-> campos sem��nticos

Uma vis��o estil��stica

No plano da express��o, as rela����es paradigm��ticas operam com

base na similaridade de sons. �� o caso das rimas ("Mas que dizer do

poeta/numa prova escolar?/Que ele �� meio pateta/e n��o sabe r i m a r ? " ,

Carlos Drummond de Andrade), alitera����es ("Fozes veladas, veludosas

vozes", Cruz e Sousa), asson��ncias ("Tibios flautins fin��ssimos grita-

vam", Olavo Bilac), homoteleutos ("Rita n��o tem cultura, mas tem fi-

nura", Machado de Assis).

No plano do conte��do, as rela����es paradigm��ticas baseiam-se na si-

milaridade de sentido, na associa����o entre o termo presente na frase e a

simbologia que ele desperta em nossa mente. �� o caso da met��fora: "O

pav��o �� um arco-��ris de plumas" (Rubem Braga), ou seja, arco-��ris =

semic��rculo ou arco multicor. Embora presente no texto em prosa, a m e -

t��fora �� mais usual na poesia.

J�� a metonimia, mais comum na prosa, por basear-se numa rela����o

de contiguidade de sentido, atua no eixo sintagm��tico. Ex.: O autor pela

obra: "Gosto de ler Machado de Assis"; a parte pelo todo: "Os desabri-

gados ficaram sem teto" (= casa); o continente pelo conte��do: "Tomei

um copo de vinho" (o vinho contido no copo), etc.

Terminologia subsidi��ria

Por fim, c o m o terminologia subsidi��ria, o que Saussure c h a m a

de rela����es sintagm��ticas, Hjelmslev rotulou de rela����es, Jakobson, de





1 1 1





contiguidade, e Martinet, de contrastes. As rela����es associativas s��o

correla����es para Hjelmslev, similaridade para Jakobson e oposi����es

para Martinet.

Apresentamos a seguir um quadro comparativo dos tra��os mais re-

presentativos dos componentes dessa terceira dicotomia saussuriana.

R E L A �� �� E S

SINTAGM��TICAS / PARADIGM��TICAS

base: sintagma

base: paradigma

na frase

no sistema

realidade

potencialidade

contraste

oposi����o

oposi����o contrastiva

oposi����o distintiva

in pr��sentia

in absentia

valor por contraste com os

valor por oposi����o a termos

termos presentes

ausentes

baseiam-se na linearidade

situam-se na mem��ria

do significante

do falante

combina����o

sele����o

metonimia

met��fora

contiguidade

similaridade

grupo voc��lico

fon��mico

grupo consonantal

s��laba

f��nico

grupo acentuai: t��nico / ��tono

pros��dico

grupo mel��dico: exclama����o, interroga����o, afirma����o

m��rfico

lexical

Iocucional

suboracional

sint��tico oracional

supra-oracional

112



EXERC��CIOS

Rela����es sintagm��ticas e paradigm��ticas

1. O sintagma �� formado por elementos que se sucedem

na cadeia da fala.

2. As rela����es sintagm��ticas estabelecem oposi����o

, e as paradigm��ticas estabelecem oposi����o

3. O eixo horizontal �� o da realiza����o concreta, o das rela����es

(sintagm��ticas). O vertical �� o das rela����es efe-

tuadas na mem��ria do falante, o das rela����es

(paradigm��ticas).

4. Segundo Saussure, as unidades do paradigma op��em-se, pois

uma exclui a outra: se uma est�� , as outras est��o

5. Coloque V ou F.

( ) A frase �� o prot��tipo do sintagma, logo, segundo Saussure,

este deve ser estudado na Ling����stica da fala.

( ) As frases feitas s��o exemplos de sintagmas que n��o podem

ser livremente modificados.

( ) H�� um limite bem estabelecido para determinar o sintagma

da fala e o sintagma da l��ngua.

( ) A potencialidade da l��ngua possibilita a cria����o de novos sin-

tagmas, atrav��s do que Saussure chama de analogia.

( ) Num estado de l��ngua (sincr��nico), tudo se baseia em rela-

����es que os termos estabelecem entre si no discurso (sintagma) ou

na mem��ria do falante (paradigma).

6. A constru����o "Comprei um livro para mim ler" �� tida como

errada pela norma gramatical. Devemos dizer corretamente:

"Comprei um livro para eu ler". Explique esse fato com base na

norma gramatical:

113





a) Somente um pronome reto, como eu, pode desempenhar

a fun����o de sujeito.

b) Um pronome obl��quo, como m/m, s�� pode funcionar como

objeto.

c) As respostas acima se completam.

7. "Em latim, em dominus, domini, domino, etc, temos certamente

um grupo associativo formado por um elemento comum, o tema no-

minal domin-" (CLG, 147). Estas palavras de Saussure referem-se ao:

a) sintagma; b) paradigma.

8. A l��ngua portuguesa disp��e de v��rios sufixos para formar substan-

tivos abstratos a partir de verbos: vingar > vingan��a, navegar > nave-

ga����o, descrer > descren��a, casar > casamento. Pergunta-se:

a) Que tipo de rela����o existe entre esses sufixos?

b) Que tipo de rela����o existe entre o verbo e o sufixo?

c) O que determina a escolha de um ou de outro sufixo em

cada caso?

9. A s��rie associativa (paradigm��tica) apresenta duas caracter��sti-

cas: ordem indeterminada e n��mero indefinido. A primeira pode

faltar, por��m a segunda se verifica sempre. Esta afirmativa est�� cer-

ta ou errada?

1 0 . Justificar a linha horizontal cheia e a vertical pontilhada na figu-

ra abaixo:

sintagma (combina����o)

114

1 1 . Podemos afirmar que o sintagma opera com base na extens��o,

em decorr��ncia do princ��pio da linearidade do significante.

a) A afirma����o est�� totalmente correta.

b) A afirma����o est�� parcialmente correta, pois o princ��pio da

linearidade �� do significado e n��o do significante.

c) A afirma����o est�� errada.

1 2 . A melhor defini����o de sintagma ��:

a) A combina����o de elementos bin��rios dentro de um discurso,

estando, portanto, os elementos presentes numa s��rie efetiva.

b) Uma associa����o presente na mem��ria, existindo como possi-

bilidade.

c) As duas afirma����es acima se completam.

1 3 . Paradigma ��:

a) Uma rela����o ordenada a partir do discurso.

b) Uma rela����o que repousaria em dois ou mais termos presen-

tes em uma s��rie efetiva.

c) Uma rela����o associativa (que se apresenta como eixo de pos-

sibilidades) de termos situados na mem��ria.

1 4 . Quando queremos dizer que "um cachorro mordeu um meni-

no", podemos, dependendo do contexto ou da situa����o, afirmar

que: "um c��o mordeu um menino" ou "o can��deo mordeu o meni-

no" ou, ainda, "o tot�� mordeu o garoto".

O que nos oferece estas diversas possibilidades ��:

a) o eixo sintagm��tico;

b) o eixo paradigm��tico;

c) o desvio de significados.

1 5 . Se pud��ssemos esquematizar um quadro do funcionamento sin-

cr��nico da l��ngua, ter��amos:

a) O falante vai, primeiramente, ao paradigma (eixo das possibi-

lidades) e depois constr��i a mensagem.

115





b) Primeiro, o falante vai ao sintagma, para depois estruturar a

frase no paradigma.

c) Os dois processos acima est��o incorretos.

16. Quando pronunciamos a palavra "conjunto", imediatamente as-

sociamos a "grupo", "equipe", "coletividade", etc. A natureza dessa

rela����o paradigm��tica ocorre devido:

a) �� comunidade de imagens ac��sticas;

b) �� analogia de significados, base dos chamados campos se-

m��nticos;

c) ao desvio de significados com o mesmo significante.

17. A can����o de Maria (Manuel Bandeira)

Que �� de ti, melancolia?...

Onde estais, cuidados meus?...

Sabei que a minha alegria

�� toda vinda de Deus...

As rimas presentes na poesia acima s��o poss��veis devido ��

um tipo de rela����o

a) sele����o vocabular - sintagm��tica

b) afinidade das imagens ac��sticas - paradigm��tica

c) coincid��ncia de sons - sintagm��tica

1 8 . Coloque P para os casos de oposi����o estrutural (paradigm��tica) e

S para os casos de oposi����o funcional (sintagm��tica):

( ) gato/gata ( ) sonoridade/n��o-sonoridade:

pula/bula

( ) verbo + objeto

( ) radical + afixos: des+leal+

dade

( ) lexema + morfema ( ) vogal aberta/vogal fechada:

pode/p��de

( ) n��cleo + adjunto

( ) radical + vogal tem��tica =

tema: livr+o, am+a

116





( ) eu/tu

) or. princ. + or. subord.: Ele

passar�� se estudar.

( ) estudava/estudara ( ) vogal tem��tica -a- / v. tem��-

tica -e-: vendar/vender

( ) fazer/fizer

) compos, por aglutina����o: pla-

no+alto=planalto

( ) vogal + semivogal

d ��tongo

) deriv. parassint��tica: en+tard+

ecer = entardecer

19. Coloque V ou F:

( ) Carr��ala �� um exemplo de neologismo sintagm��tico, a

partir da rela����o paradigm��tica com passeata.

( ) Em "anel de ouro", temos um sintagma locucional (de ouro).

( ) A possibilidade de trocar o /p/ de pato pelo fonema /g/ de

gato �� da natureza do paradigma.

( ) O paradigma �� virtual, enquanto o sintagma �� real.

2 0 . Dezenove �� associativamente solid��rio a dezoito e, sintagm��ti-

camente, a seus elementos dez e nove.

a) A afirma����o est�� correta.

b) A afirma����o est�� errada.

c) Estaria certa se fosse invertida a ordem das propostas.

2 1 . Pode-se afirmar que, em uma rela����o sintagm��tica, os conjuntos

s��o necessariamente bin��rios, e seus elementos criam um elo de su-

bordina����o entre si.

a) N��o se aplica a nenhuma rela����o sintagm��tica.

b) Aplica-se apenas em certos casos bastante espec��ficos.

c) A afirma����o est�� correta para qualquer n��vel de rela����o sin-

tagm��tica.

2 2 . O radical livr- n��o �� aut��nomo, �� uma forma presa que s�� ad-

quire sentido pela sua combina����o com um afixo

117





(outra forma presa), como, por exemplo, -inho, donde resulta a for

ma livre livrinho.

a) sintagm��tica

b) paradigm��tica

2 3 . O todo vale pelas suas partes, as partes valem tamb��m em virtu

de de seu lugar no todo. Eis por que a rela����o da par

te com o todo �� t��o importante quanto a das partes entre si.

a) paradigm��tica b) sintagm��tica

2 4 . Identifique as figuras de estilo nas frases abaixo usando o seguin

te c��digo: MP (met��fora-paradigma); MS (metonimia-sintagma):

) O rosto �� o espelho da alma.

) Na ��ltima guerra, os avi��es semeavam a morte.

) Voc�� �� o sol da minha vida.

) Traduzir Shakespeare para o portugu��s n��o �� f��cil.

) Maria completou vinte primaveras.

) Toda profiss��o tem seus espinhos.

2 5 . Relacionar as colunas:

1) De modo que (

) sintagma f��nico pros��dico

(grupo mel��dico)

2) Ditongo: eu /ew/

) sintagma oracional

3) C��u azul

) sintagma locucional

4) Irei �� praia se tiver tempo.

) sintagma locucional

5) Tritongo: uai /way/

) sintagma f��nico fon��mico

(grupo voc��lico)

6) Sujeito + predicado:

) sintagma lexical

Eu estudo.

7) b + r em bravo

) sintagma supra-oracional

8) Mar, l��pis, pires

) voc��bulo-morfema

9) S��l. t��nica + s��l. ��tona:

) sintagma f��nico pros��dico

s��bia/sabia

(grupo acentual)

118

10) Associa����es (determinan-

( ) sintagma f��nico fon��mico

te + determinado) eventuais

(grupo consonantal)

no n��vel sint��tico: belo rosto

11) Associa����es fossilizadas de ( ) morfemas gramaticais

prep. + subst, funcionando

como determinante de um

substantivo: noite de lua

12) Adv��rbios, conjun����es, ( ) morfemas lexicais

preposi����es, afixos, desin��n-

cias, artigos, pronomes.

13) Entonema = unidade

distintiva de entona����o

(afirmativa, interrogativa ou

exclamativa) no n��vel da frase:

Ele chegou. Ele chegou?

Ele chegou!

14) Alun + o, menin + a,

menin + ice

15) Nomes (subst., adj.)

e verbos.

119

GABARITO

Rela����es sintagm��ticas/paradigm��ticas

1) linearmente

2) contrastiva - distintiva

3) in praesentia - in absentia

4) presente - ausentes

5 ) F - V - F - V - V

6) C

7) B

8) a) Paradigm��tica b) Sintagm��tica c) A norma (ou uso) e a natu-

reza arbitr��ria do signo

ling����stico.

9) Errada. Ambas est��o sempre presentes na rela����o paradigm��tica.

10) A rela����o sintagm��tica �� concreta, in praasentia, da�� a linha cheia;

a paradigm��tica �� virtual, in absentia, por isso a linha �� pontilhada.

11) A

12) A

13) C

14) B

15) A

16) B

17) B

1 8 ) P - S - S - S - P - S - P - S - P - P - P - S - S - P - S - S

19) V - V - V - V

20) A

21) C

22) A

23) B

24) MP (espelho = reflexo) - MS (morte = bombas; o efeito pela

causa) - MP (sol = luz, alegria) - MS (Shakespeare = o autor pela

obra) - MS (primaveras = anos; a parte pelo todo) - MP (espinhos =

coisa inc��moda, que fere)

25) 1 3 - 6 - 3 / 1 0 - 1 / 1 1 - 2 / 5 - 1 4 - 4 - 8 - 9 - 7 - 1 2 - 1 5

120

A NO����O DE VALOR

Na l��ngua s�� existem diferen��as (CLG, 139).

A no����o de valor no CLG est�� intimamente ligada �� id��ia de forma.

Como ficou demonstrado, a l��ngua, para Saussure, �� forma e n��o subs-

t��ncia. Tentemos agora ampliar nosso entendimento.

Id��ias + sons = l��ngua

A l��ngua n��o est�� na subst��ncia f��nica, n e m na subst��ncia gr��fi-

ca, t a m p o u c o existe unicamente nas id��ias, nos conceitos. Saussure

(p. 131) a compara a uma folha de papel:

O pensamento �� o anverso e o som o verso; n��o se

pode cortar um, sem cortar, ao mesmo tempo, o ou-

tro; assim tampouco, na l��ngua, se poderia isolar o

som do pensamento, ou o pensamento do som; s�� se

chegaria a isso por uma abstra����o, cujo resultado se-

ria fazer Psicologia pura ou Fonologia pura.

Para representar o fato ling����stico em seu conjunto, Saussure (p. 130)

prop��e o esquema abaixo, no qual a l��ngua aparece como

uma s��rie de subdivis��es cont��nuas marcadas simul-

taneamente sobre o plano indefinido das id��ias con-

fusas (A) e sobre o plano n��o menos indeterminado

dos sons (B).

121





Eis o esquema saussuriano apresentado na p��gina 131 do CLG:

A

subst��ncia ps��quica = id��ias

subst��ncia f��nica = sons

B

Um corte na subst��ncia A (id��ias) se articula com outro corte na

subst��ncia B (sons), e o papel da l��ngua �� justamente articular e associar

as duas subst��ncias ou os dois planos, conforme procuramos mostrar na

figura abaixo, usando o pr��prio esquema saussuriano e tomando como

ponto de refer��ncia para o significado os termos latinos manus " m �� o "

e arbor "��rvore".

Depois de observarmos atentamente o esquema acima, estaremos

em condi����es de compreender inteiramente o que Saussure (p. 131) ti-

nha em mente ao afirmar que

o papel caracter��stico da l��ngua frente ao pensamen-

to n��o �� criar um meio f��nico material para a expres-

s��o das id��ias, mas servir de intermedi��rio entre o

pensamento e o som.

Dessa combina����o entre os elementos das duas ordens (id��ia +

som) resulta uma forma e n��o uma subst��ncia. Al��m disso, articulando

122

o plano f��nico com o plano ps��quico, a l��ngua estabelece uma rela����o

entre os dois planos e, como j�� vimos, toda rela����o constitui u m a forma

e n��o uma subst��ncia.

A dupla articula����o da linguagem

Com isso, Saussure lan��ou os fundamentos do que hoje �� conhecido

em Ling����stica como "princ��pio da dupla articula����o da linguagem",

consagrado pelo tratamento que lhe deu o ling��ista franc��s Andr�� Mar-

tinet. Diz o mestre genebrino (p. 131):

Poder-se-ia chamar �� l��ngua o dom��nio das articula-

����es [...]: cada termo ling����stico �� um pequeno mem-

bro, um "articulus", em que uma id��ia se fixa num

som e em que um som se torna o signo de uma id��ia.

[Nosso esquema anterior d�� a id��ia exata dessas pa-

lavras de Saussure.]

Martinet (1971 -a: 10), por seu lado, nos esclarece que a primeira ar-

ticula����o se constitui "nas experi��ncias a transmitir, nas necessidades

que se pretende revelar a outrem".

Ainda segundo Martinet (p. 10), a segunda articula����o ��

a forma vocal analis��vel numa sucess��o de unidades

[discretas], que contribuem todas para distinguir "ca-

be��a" de outras unidades, como "caba��a" e "cabe��o".

Em outras palavras, a primeira articula����o est�� para id��ias, assim

como a segunda articula����o est�� para sons.

P o d e m o s agora retomar a discuss��o em torno da no����o de valor,

como esta aparece no CLG. P r i m e i r a m e n t e , Saussure c h a m a a nossa

aten����o para o p e r i g o de se confundir significa����o c o m valor. Na

concep����o saussuriana, valor n��o se apresenta c o m conota����o esti-

mativa, n �� o t e m q u a l q u e r i d �� i a v a l o r a t i v a . O v a l o r q u e S a u s s u r e (p. 134) p o s t u l a para os termos ling����sticos resulta de u m a c o m p a r a -

����o: " u m a palavra [...] p o d e ser c o m p a r a d a c o m algo da m e s m a na-

tureza: uma outra palavra".

Al��m de provir de uma compara����o, o valor resulta tamb��m de opo-

si����es funcionais entre os termos do sistema ling����stico, como esclare-

ce o mestre (p. 134): "falta ainda compar��-la [uma palavra] com os va-

lores semelhantes, com as palavras que se lhe podem opor".

123

E, mais adiante, explicitando seu ponto de vista, afirma Saussure

(p. 135):

O valor de qualquer termo que seja est�� determinado

por aquilo que o rodeia; n e m sequer da palavra que

significa "sol" se pode fixar imediatamente o valor

sem levar em conta o que lhe existe em redor; l��n-

guas h�� em que �� imposs��vel dizer "sentar-se ao sol".

E reiterando a quest��o central em torno do valor enquanto resultan-

te da rede de oposi����es que as unidades ling����sticas mant��m entre si no

sistema (na l��ngua), Saussure exemplifica seu ponto de vista didatica-

mente, apelando, mais uma vez, para a sua compara����o favorita: a do

"jogo da l��ngua" (seu funcionamento) com o j o g o de xadrez. Eis suas

palavras (p. 128):

T o m e m o s um cavalo; ser�� por si s�� um elemento do

j o g o ? Certamente que n��o, pois, na sua materialida-

de pura, fora de sua casa e das outras condi����es do

j o g o , n��o representa nada para o jogador e n��o se tor-

na elemento real e concreto sen��o quando revestido

de seu valor e fazendo corpo com ele.

Por outro lado, Saussure (p. 136) distingue o que ele entende por

significa����o quando afirma: "um conceito 'julgar' est�� unido �� imagem

ac��stica /julgar/; numa palavra, simboliza a significa����o".

E, aproveitando para advertir sobre a interdepend��ncia entre valor

e significa����o, Saussure (p. 136) demonstra que o valor �� que dinami-

za a significa����o:

[...] mas, b e m entendido, esse conceito nada tem de

inicial, n��o �� sen��o um valor determinado por suas

rela����es com outros valores semelhantes, e sem eles

a significa����o n��o existiria.





Valor e forma


O valor, portanto, �� fixado a partir da "situa����o rec��proca das pe��as

da l��ngua" ou do "equil��brio de termos complexos que se condicionam

reciprocamente" (CLG, 141). Por exemplo, em ingl��s, "mutton" s�� ad-

quire valor pr��prio a partir da coexist��ncia com "sheep", assim como

"teacher" com "professor"; da rela����o que se estabelece entre os dois

signos de cada par resulta o valor de cada um deles, assim como a signi-

fica����o individual. Como a rede de rela����es entre os elementos ling����s-

124

ticos constitui uma forma e n��o uma subst��ncia, compreendemos ago-

ra por que a no����o de valor est�� intimamente ligada �� id��ia de forma

para Saussure.

Com isso, chegamos �� conclus��o de que:

a) o valor resulta sempre e necessariamente de uma rela����o;

b) o valor ling����stico �� sempre um valor sem��ntico, um valor sig-

nificativo.

C o m o diz Robert Godel (1971: 49), "el significado no es primordi-

almente un concepto, sino um valor". Isto quer dizer que s�� tem valor

na l��ngua a rela����o que est�� a servi��o de uma significa����o.

Tomemos como exemplo as unidades discretas. Essas unidades s��

t��m valor porque n��o se confundem umas com as outras em sua fun����o

comunicante, pois as rela����es entre elas se estabelecem atrav��s de opo-

si����es funcionais ou de rela����es distintivas. N��o nos esque��amos de

que, para Saussure, a l��ngua �� um sistema de valores que se op��em uns

aos outros, como explica Leroy ( 1 9 7 1 : 80):

Os elementos da linguagem s�� adquirem valor en-

quanto se op��em a outros, enquanto n��o se confun-

dem com outros; n��o ��, portanto, sua qualidade pr��-

pria e positiva que os caracteriza, mas, antes, sua

qualidade opositiva e seu valor diferencial.

L��ngua = rede de pares opositivos

Ora, sendo a l��ngua uma rede de pares opositivos, compreende-se

agora por que Saussure afirmou que "na l��ngua s�� existem diferen��as".

Vejamos ent��o alguns desses pares opositivos em portugu��s:

- vogais orais / nasais: l�� I l��

- vogais abertas / fechadas: pode Ip��de

- consoantes velares / alveolares: carro I caro

- consoantes bilabiais orais / nasais: bala I mala

- consoantes bilabiais surdas / sonoras: pala I bala

- I a conj. / 2a conj.: vendar I vender

- fut. do presente / fut. do pret��rito: vender�� I venderia

- presente / passado: estudae I estudava

125

- 1a pes. do sing. / 2a pes. sing.: tinhao/ tinhas

- 1 a pes. d o sing. / 1 a pes. plural: tinhao/ t��nhamos

- singular / plural: meninoo I meninos

- masculino / feminino: menino I menina

- positivo / diminutivo: livro I livrinho

- acentos t��nico / ��tono: p��ra (v.) / p a r a (prep.)

C o m o vimos, nesta lista sum��ria e em ordem ca��tica, um par nega o

outro, o que um ��, o outro n��o ��: o que �� vogal aberta n��o �� vogal fecha-

da, o que �� oral n��o �� nasal, e assim por diante. S��o essas algumas das

oposi����es funcionais que constituem a forma (e n��o a subst��ncia) da

l��ngua portuguesa. Com efeito, o princ��pio das oposi����es funcionais

constitui a pr��pria base do axioma estruturalista, segundo o qual cada

forma ling����stica s�� adquire seu valor a partir da oposi����o (substitui-

����o) e do contraste (combina����o) com as outras formas pertencentes ao

mesmo n��vel ling����stico.

Do ponto de vista morfofon��mico, h�� tr��s tipos de oposi����o na es-

trutura da l��ngua portuguesa: a privativa ou bin��ria (aus��ncia/presen��a

de marca): aluno/alunos (0 no sing./-s no plur.), pato/bato (aus��n-

cia/presen��a de sonoridade); a eq��ipolente ou polar (marcas equivalen-

tes): saberei/saberemos (-i e -mos = desin. n��mero-pessoais), pato/tato

(/p/, /t/, ambas oclusivas e sem o binarismo marcado/n��o-marcado);

graduais (grada����o de um determinado tra��o): pode/p��de (timbre aber-

to/fechado). Foi a Fonologia que introduziu o conceito de marca 0 ou

aus��ncia significativa, partindo, sem d��vida, da antecipa����o saussuria-

na. J�� no CLG, p. 102, ensinava o mestre de Genebra: "a l��ngua pode

contentar-se com a oposi����o de alguma coisa com nada".

A conclus��o geral a que chegamos �� que o valor tanto existe no pla-

no do significante {/mala/ x /bala/) como no do significado {meninoo I

meninos), isto ��, um significante s�� vale em rela����o a outro significante,

e um significado, diante de outro significado. Na pr��tica, vale dizer, na

l��ngua em seu funcionamento, um fonema delimita o valor de outro fo-

nema, assim como um significado circunscreve o valor de outro signifi-

cado, da��, inclusive, os chamados campos sem��nticos: lar, casa, resi-

d��ncia, moradia, domic��lio, e t c , formam o campo sem��ntico de abrigo,

em que cada signo funciona como uma parcela sem��ntica inserida na

totalidade desse campo. Sendo parcela, cada signo tem seu valor pr��-

prio e, ao m e s m o tempo, delimita o valor dos outros signos. Como afir-

ma Malmberg (1971: 68),

126

Um sistema ling����stico, diz ele [Saussure], �� uma s��-

rie de "diferen��as de s o n s " c o m b i n a d a c o m uma

s��rie de "diferen��as de id��ias". Mas esta combina-

����o de um certo n��mero de unidades ac��sticas com

iguais "recortes" na "massa de pensamento" cria "um

sistema de valores". "O t��pico da institui����o ling����s-

tica" �� precisamente manter o paralelismo entre es-

tas duas esp��cies de diferen��as.

Conclus��o

O valor resulta sempre de combina����es no discurso (rela����es sin-

tagm��ticas) e de oposi����es funcionais (rela����es paradigm��ticas) entre

termos do m e s m o n��vel no sistema ling����stico, em um determinado es-

tado (sincr��nico) da l��ngua.

127

EXERC��CIOS

A no����o de valor

1. Por que a no����o de valor representa um aspecto primordial para a

Lingu��stica saussuriana? Justifique.

2. A l��ngua n��o pode ser sen��o um sistema de valores puros, bastan-

do considerar estes dois elementos fundamentais:

a) As unidades e os valores.

b) As id��ias e os sons.

c) Os sons e os objetos.

3. O papel da l��ngua �� articular as id��ias (1 - articula����o) com os sons

(2�� articula����o).

( ) Certo ( ) Errado

4. O que �� necess��rio para estabelecer os valores cuja ��nica raz��o

de ser est�� no uso e no consenso geral?

a) A l��ngua

b) As id��ias

c) A coletividade

5. A l��ngua �� um sistema em que todos os termos s��o solid��rios, e o

valor de um resulta de suas rela����es com os outros termos do siste-

ma. Desse modo, sin��nimos como recear, temer, ter medo s�� t��m

valor pela oposi����o que mant��m entre si.

( ) Certo ( ) Errado

6. O que confere identidade e valor a uma palavra:

a) �� o som em si, em oposi����o ��s letras que comp��em a palavra;

b) �� o signo gr��fico, reprodu����o fiel do signo f��nico;

c) s��o as diferen��as fonol��gicas que permitem distinguir essa pa-

lavra de todas as outras;

128





7. Quer se considere o significado, quer o significante, a l��ngua n��o

comporta nem id��ias nem sons preexistentes ao sistema ling����stico,

mas somente diferen��as conceituais e diferen��as f��nicas resultantes

desse sistema.

( ) Certo

( ) Errado

8. Relacionar as colunas, tendo em vista o tipo de oposi����o:

1. Privativa

) s��ca/s��ca (acentuamos)

2. Equipolente

) vender��/venderia

3. Gradual

) pula/bula

) livr��o/livr/nbo

) meninoo/meninos

) menino/menina

) bala/tala

) pode/p��de

9. Marque V ou F:

( ) A articula����o existente entre o pensamento e o som leva a

uma forma e n��o a uma subst��ncia.

( ) O valor ling����stico �� sempre um valor sem��ntico, um valor

significativo.

( ) A no����o de valor est�� intimamente ligada �� frase de Saus-

sure: "Na l��ngua s�� existem diferen��as".

( ) O valor n��o depende das rela����es sintagm��ticas e paradig-

m��ticas.

1 0 . Coloque C (certo) ou E (errado):

( ) O valor de qualquer termo que seja n��o est�� determinado

por aquilo que o rodeia.

( ) Os elementos ling����sticos s�� adquirem valor no eixo das

oposi����es funcionais (paradigm��ticas) e nos das oposi����es contras-

tivas (sintagm��ticas).

( ) A forma livros n��o tem valor de plural por si mesma. Ela s��

adquire esse valor devido �� oposi����o Iivro0/livros.

129

GABARITO

A no����o de valor

1) Porque �� o valor que dinamiza a significa����o.

2) B

3) Certo

4)C

5) Certo

6) C

7) Certo

8 ) 3 - 2 - 1 - 2 - 1 - 1 - 2 - 3

9 ) V - V - V - F

10) E - C - C

130

III

REPERCUSS��ES DAS ID��IAS

DE SAUSSURE

Hjelmslev e a No����o de Estrutura

Provavelmente Saussure n��o previu o alcance e a fecundidade de

suas elucubra����es. Pouco a pouco, seus herdeiros foram aprofundan-

do-as, difundindo-as, irradiando-as para o ��mbito de outras ci��ncias.

Partindo da oposi����o fundamental sistema /n��o-sistema, o ling��ista di-

namarqu��s Louis Hjelmslev deu-lhe o enfoque que, a partir dos anos

30, come��ou a generalizar-se com o nome de Estruturalismo. �� impor-

tante assinalar que o pr��prio Saussure jamais usou o termo estrutura, e

sim sistema, que, ali��s, j�� aparece na sua M��moire. Para o mestre su��-

��o, a l��ngua �� um sistema de rela����es, cujos elementos devem ser estu-

dados sincronicamente.

O disc��pulo de Copenhague, levando ��s ��ltimas conseq����ncias a

formula����o do mestre ("a l��ngua �� forma e n��o subst��ncia"), e n u m e -

rou essas rela����es e criou a sua teoria, conhecida c o m o Glossem��tica

(v. Ap��ndice).

Partindo do ponto de vista segundo o qual uma estrutura �� uma rede

de rela����es, e desenvolvendo a formula����o b��sica de Saussure, Hjelmslev

postula que estrutura �� " u m a entidade aut��noma de depend��ncias in-

ternas" e que, portanto, a l��ngua est�� para dentro de si m e s m a (iman��n-

cia) e n��o para fora (transcend��ncia). Diz Hjelmslev ( Apud Benveniste,

1976: 103):

Compreende-se por Ling����stica Estrutural um con-

junto de pesquisas que se apoiam numa hip��tese se-

gundo a qual �� cientificamente leg��timo descrever a

linguagem como sendo essencialmente uma entida-

de aut��noma de depend��ncias internas ou, numa pa-

lavra, uma estrutura.

Quanto �� an��lise da l��ngua sob o ponto de vista estrutural, ensi-

na-nos Hjelmslev (Ap. Benveniste, 1976: 103):

133



A an��lise dessa entidade permite destacar constante-

mente partes que se condicionam reciprocamente,

cada uma das quais depende de determinadas outras

e n��o seria conceb��vel nem def��n��vel sem essas ou-

tras partes. Ela reduz o seu objeto a uma rede de de-

pend��ncias, considerando-se os fatos ling����sticos co-

mo existindo em raz��o um do outro.

Compreende-se assim por que as id��ias de Saussure extrapolaram os

limites a que se destinavam e se irradiaram para outras ci��ncias. Claude

L��vi-Strauss, por exemplo, usou a metodologia saussuriana, aplicando-a

�� Etnologia, reconhecendo a validade das formula����es do mestre de Ge-

nebra. �� o pr��prio L��vi-Strauss (1973: 67) quem nos esclarece:

[...] uma estrutura oferece um car��ter de sistema. Ela

consiste em elementos tais que uma modifica����o qual-

quer de um deles acarreta uma modifica����o de to-

dos os outros.

A cr��tica que se p o d e fazer ao Estruturalismo1 diz respeito a uma

pretensa posi����o como categoria ontol��gica e gnosiol��gica, isto ��,

como Filosofia. Fora isto, �� ineg��vel o seu m��rito como categoria for-

mal de interpreta����o da linguagem, com seus m��todos pr��prios, no-

meadamente, a Ling����stica Estrutural. C o m o diz o professor Walm��-

rio Macedo (1976: 15), "O Estruturalismo ��, na verdade, mais uma

tend��ncia, um esp��rito metodol��gico do que uma escola c o m sua dog-

m��tica estabelecida".

Raz��o tem Claude L��vi-Strauss (Ap. Macedo, 1976: 22) quando

afirma definitivamente: "Em mat��ria de estruturalismos, reconhe��o t��o-so-

mente o dos ling��istas e dos etn��logos".





As escolas estruturalistas


Embora os prim��rdios da concep����o estrutural da linguagem se en-

contrem na teoria da forma ling����stica de Wilhelm von Humboldt

(1767-1857), que encara a l��ngua como uma totalidade coerente e de as-

pecto din��mico, a primeira posi����o estruturalista, de car��ter rigoroso

e consciente, �� a de Saussure. A partir da publica����o do CLG, forma-

1. N��o nos cabe aqui aprofundar a discuss��o cm torno dos m��ritos ou dem��ritos do Estruturalismo, por isso recomendamos ao leitor duas obras importantes sobre o assunto: Elementos para uma estrutura da l��ngua portuguesa (vis��o do Estruturalismo como tend��ncia metodol��gica), de Walm��rio Macedo, e O

Estruturalismo e a mis��ria da raz��o (vis��o cr��tica do Estruturalismo como "filosofia"), de Carlos Nelson Coutinho.

134

ram-se v��rias correntes lingu��sticas, todas elas calcadas no pensamento

estruturalista do mestre su����o, a saber:

a) Escola de Genebra: Bally, Sechehaye, Frei.

b) Escola Fonol��gica de Praga: Jakobson, Trubetzkoy, Karcevsky.

c) Escola Funcionalista de Paris: Martinet, Benveniste.

d) Escola de Copenhague (estruturalista propriamente dita): Hjelmslev,

Uldall, Brondal, Togeby.





Escola de Genebra


Dos tr��s n o m e s a c i m a c i t a d o s , C h a r l e s B a l l y �� o m a i s i m p o r -

t a n t e . D e t e n h a m o - n o s , p o i s , na sua valiosa c o n t r i b u i �� �� o �� L i n g �� �� s -

tica saussuriana.

O brilhante disc��pulo de Saussure e um dos dedicados compilado-

res do CLG tem o m��rito da cria����o da Estil��stica Estrutural, com seu

livro Trait�� de Stylistique Fran��aise, de 1912. Tendo c o m o fonte ins-

piradora as id��ias motrizes do seu mestre, Bally dedicou-se a estudar

os recursos afetivos da l��ngua. Para ele, a afetividade intencional, op-

����o consciente feita pelo escritor (emissor) para despertar emo����es

est��ticas no leitor (receptor), �� irrelevante. Bally interessa-se, isto

sim, pela afetividade em potencial existente na l��ngua e �� disposi����o

dos indiv��duos falantes.

Desse modo, sua concep����o de Estil��stica difere do estudo tradicio-

nal do estilo, este de natureza totalmente individual. A Estil��stica de

Bally ��, antes de tudo, de natureza social, em coer��ncia com o seu em-

basamento saussuriano. Para ele, a Estil��stica tem como objeto o uso es-

pont��neo pelos indiv��duos falantes (da�� sua preocupa����o com o discur-

so oral) dos recursos art��stico-afetivos da l��ngua, e n��o o ato em si da

cria����o est��tica individual. Em outras palavras, a Estil��stica deve anali-

sar os elementos ling����sticos expressivos de que disp��e uma comunida-

de, e que se manifestam espontaneamente na fala dos indiv��duos dessa

mesma comunidade. Veja-se, a prop��sito, a sugestiva distin����o existen-

te entre os sufixos -ista e -eiro, ambos pertencentes ao acervo morfol��-

gico da l��ngua portuguesa e, portanto, �� disposi����o da massa falante,

que deles sabem se utilizar com mordaz e sutil ironia quando querem

distinguir o verdadeiro sambista de um arrivista sambeiro. Ou ainda,

o curioso neologismo Bel��ndia, aglutina����o de B��lgica + ��ndia, en-

gendrado para referir-se ao Brasil c o m o um pa��s de gritantes c o n -

trastes socioecon��micos.

135

Desse modo, Bally passa a ver no significado (um dos constituintes

do signo) n��o s�� a parte conceituai, mas principalmente o lado afetivo,

como que complementando a obra de seu mestre. Segundo seu ponto de

vista, cabe �� Ling����stica estudar os elementos l��gicos, conceituais da

l��ngua, enquanto que �� Estil��stica compete a abordagem dos elementos

psicol��gicos e afetivos dos signos, vale dizer da l��ngua, uma vez que

esta �� um sistema de signos.

Sendo assim, a par da divis��o tradicional em Fon��tica, Morfologia

e Sintaxe, de interesse marcadamente gramatical, Bally prop��e tamb��m

o estudo da Estil��stica f��nica, m��rfica, sint��tica, lexical e sem��ntica, es-

tudo esse de interesse especificamente afetivo.

C o m o diz o Professor S��lvio Elia (1968: 54), em s��ntese bastante fe-

liz, "Bally s�� se interessa pelos que fazem Estil��stica sem o saberem".

Escola Fonol��gica de Praga

As teorias da Escola Fonol��gica de Praga t��m c o m o pontos de

partida a dicotomia saussuriana l��ngua/fala e a distin����o significan-

te/significado.

Em 1928, no 1o Congresso Internacional de Ling����stica, em Haia,

Roman Jakobson, juntamente com Trubetzkoy e Karcevsky (os tr��s

russos), apresentou uma tese de sua autoria e que ficou conhecida como

Proposi����o 22. Nela, Jakobson prop��e a cria����o de uma nova discipli-

na, a Fonologia, estabelecendo cientificamente as diferen��as entre essa

disciplina e a Fon��tica.

Baseando-se em Saussure, o ling��ista russo postula que o estudo do

som enquanto tal, como entidade de natureza puramente f��sica e articu-

latoria, deve ser objeto da Fon��tica. Quer dizer, a Fon��tica deve estudar

o som real, aquele que �� efetivamente pronunciado pelo falante, despi-

do, portanto, de qualquer valor distintivo. C o m o define Trubetzkoy

(Ap. Leroy, 1971: 92), a Fon��tica �� "a ci��ncia da face material dos sons

da linguagem humana".

Pela defini����o de Trubetzkoy, conclui-se que a Fon��tica vai se pre-

ocupar com o som da fala, denominado a partir de ent��o de fone.

Por outro lado, para Trubetzkoy (Ap. Leroy, 1971: 92), a Fonologia tem

como objeto o som que "preenche uma determinada fun����o na l��ngua".

Essa fun����o �� a de distinguir significa����es, e o som que desempe-

nha esse papel �� chamado de fonema. Concebido sob o ponto de vista

funcional, o fonema torna-se ent��o o som ideal, abstrato, acima das di-

136

feren��as individuais de pron��ncia, aquele que os falantes julgam pro-

nunciar ou ouvir. Por se tratar de um som supra-individual, diz-se que o

fonema �� o som da l��ngua, do sistema, e compreende-se assim sua defi-

ni����o cl��ssica: menor unidade (�� indivis��vel) sonora distintiva.

A essa altura, torna-se oportuno lembrar outra postula����o saussuri-

ana: "na l��ngua s�� existem diferen��as". Partindo desse ponto de vista,

Jakobson demonstrou que um som ling����stico, para ser classificado

como fonema, depende de certos tra��os distintivos, cuja presen��a ou

aus��ncia �� que ir�� determinar, por oposi����o paradigm��tica, o seu valor

em rela����o aos demais fonemas da l��ngua. Em outras palavras, a an��lise

do fonema s�� pode ser feita segundo o crit��rio da presen��a (+) ou aus��n-

cia (-) de um tra��o distintivo, isto ��, segundo o crit��rio das oposi����es

funcionais, tamb��m chamadas de distintivas ou pertinentes. Alguns pa-

res opositivos em portugu��s seriam, por exemplo:

- sonoridade (+) / sonoridade (-)

ex.:/bula/ /pula/

- oclus��o (+) / oclus��o (-)

ex.: /bala/ /vala/

- oralidade (+) / oralidade (-)

ex.: /l��/ /l��/

C o m p r e e n d e - s e , desse m o d o , a coer��ncia da defini����o j a k o b s o -

niana ( 1 9 7 1 : 29) para fonema: " A s significa����es ling����sticas s��o di-

ferenciais no m e s m o sentido em que os fonemas s��o unidades f��ni-

cas diferenciais".

V��-se, portanto, que a solu����o encontrada pela Fonologia foi des-

crever o fonema pelo que ele n��o ��, ou melhor, por aquilo com que ele

n��o se confunde. Solu����o, de resto, j�� esbo��ada por Saussure (p. 138):

"Os fonemas s��o, antes de tudo, entidades opositivas, relativas e negati-

vas". Em outras palavras, o fonema n��o tem significado, mas distingue

significa����es.

Vale lembrar, contudo, que, para Saussure, Fon��tica �� o estudo da

evolu����o dos sons, "�� uma ci��ncia hist��rica" (CLG, 43), enquanto a Fo-

nologia, na vis��o saussuriana, deve se ocupar da "fisiologia dos sons"

(CLG, 42).

A contribui����o de Jakobson, o nome mais importante da Escola Fo-

nol��gica de Praga, abrange quase todos os campos da Ling����stica, des-

de a Fon��tica at�� a Teoria da Informa����o (cf. suas Fun����es da Lingua-

137

gem), e reflete-se, sobretudo, no pensamento ling����stico do dinamar-

qu��s Louis Hjelmslev, que dele recebeu influ��ncia decisiva para a ela-

bora����o de sua teoria glossem��tica, de vital import��ncia para uma com-

preens��o global do Estruturalismo saussuriano.





Escola Funcionalista de Paris


A Escola de Praga, com suas teorias sobre a no����o de fun����o em

Ling����stica, deu origem ��s chamadas correntes funcionalistas, uma das

quais - a Escola Funcionalista de Paris - tem como te��rico maior

Andr�� Martinet, ling��ista franc��s, participante do famoso C��rculo Lin-

g����stico de Praga, ao lado de R o m a n Jakobson, outro expoente da

Ling����stica Funcional.

Empregando os m��todos da Escola de Praga, Martinet dedicou sua

aten����o a tr��s pontos fundamentais, todos ligados entre si: a Fonologia

Geral (ou Descritiva), a Fonologia Diacr��nica e a Ling����stica Geral.

A contribui����o mais importante de Martinet �� a teoria da Dupla Ar-

ticula����o da Linguagem. Partindo da concep����o saussuriana, que v�� a

l��ngua constitu��da de dois planos interdependentes (o das id��ias e o dos

sons), o ling��ista franc��s postula que ao plano das id��ias ou do signifi-

cado corresponde a 1a articula����o da linguagem, cujas unidades m��ni-

mas seriam os m o n e m a s . Desse modo, toda vez em que ao falante

ocorresse a id��ia de "estudar em g r u p o " ou, melhor dizendo, a neces-

sidade de descrever o ato de estudar praticado, al��m do falante, por

outras pessoas, este iria expressar (plano da express��o) seu pensamen-

to (plano do conte��do) atrav��s de tr��s m o n e m a s : estud-, -a- e -mos,

que, enunciados linearmente na cadeia da fala, formariam ent��o o sin-

tagma lexical estudamos.

Temos, portanto, que o monema �� o menor segmento do discurso ao

qual se pode atribuir um sentido. Al��m disso, constatamos que o estudo

dos monemas compete �� Morfologia: no caso, estud- �� o lexema da pa-

lavra, -a- funciona como vogal tem��tica, indicando a 1a conjuga����o ver-

bal, e -mos, desin��ncia n��mero-pessoal, demonstra que a a����o foi prati-

cada coletivamente e que nela se inclui o falante.

Por outro lado, o plano dos sons ou do significante, Martinet chama

de 2a articula����o. Nesta, as unidades m��nimas s��o os fonemas, identifi-

cados como a menor unidade fonol��gica capaz de estabelecer diferen��a

de significado entre dois signos (v. "A Escola Fonol��gica de Praga"). A

2a articula����o diz respeito, portanto, �� Fonologia. No exemplo citado,

ter��amos, desse modo, nove fonemas: /e/ /s/ /t /u/ /d/ /��/ /m/ /u/ /S

138





Neste ponto, torna-se da maior relev��ncia chamar a aten����o para o

fato de que a primeira articula����o em monemas envolve simultaneamen-

te o plano da express��o e o plano do conte��do, ao passo que a segunda ar-

ticula����o em fonemas diz respeito unicamente ao plano da express��o.

Tentemos agora esquematizar figuradamente o funcionamento da

dupla articula����o da linguagem:

1a articula���� o

2a articula����o -> plano da express��o -> /e/ /s//t/ /u/ /d//��/ /m/ /u//s/

Este outro quadro resume d i d a t i c a m e n t e as unidades de cada ar-

ticula����o:

lexemas

invariantes -> monemas

I a articula����o

morfemas

variantes -> alomorfes

invariantes -> fonemas

2a articula����o

variantes -> alofones

A teoria da dupla articula����o �� a contribui����o mais brilhante de

Martinet e nos conduz a uma conclus��o fundamental: o princ��pio da

economia ling����stica. Com um n��mero limitado de fonemas, o falante

consegue formar um n��mero ilimitado de monemas. O portugu��s, por

exemplo, com apenas 28 fonemas (19 consonantais, 7 voc��licos sil��bi-

cos e 2 voc��licos assil��bicos: as semivogais), nos possibilita produzir

um n��mero teoricamente imprevis��vel de enunciados ou monemas.

Tais fonemas se relacionam entre si na mem��ria do falante (rela����es pa-

radigm��ticas) e no discurso (rela����es sintagm��ticas).

139

A vis��o funcionalista tamb��m se aplica �� Sintaxe. Nesta, Martinet

distingue os monemas funcionais das modalidades ou modificadores.

Os monemas funcionais s��o as preposi����es e as desin��ncias casuais,

tamb��m chamados de conectivos centr��fugos, pois t��m a fun����o de rela-

cionar um elemento a outro dentro do enunciado.

J�� as modalidades, elementos centr��petos, n��o s��o conectivos e n��o

servem para marcar a fun����o. Indicam apenas o valor da unidade �� qual

se referem. �� o caso do n��mero (singular ou plural) e do artigo (definido

ou indefinido).

Andr�� Martinet v�� o estudo da fun����o como tarefa priorit��ria para o

ling��ista. No seu entender, a an��lise da fun����o da l��ngua (a principal �� a

comunica����o) e das fun����es dos elementos ling����sticos �� pr��-requisito

para a abordagem da estrutura. Sua vis��o funcionalista o leva a encarar

a estrutura como complemento l��gico da fun����o. Antes de ser um estru-

turalista, Martinet ��, na verdade, um funcionalista.

C o m o terminologia subsidi��ria, o que Martinet classificou de m o -

nema a Ling����stica norte-americana chama de morfema, subdividido

em lexical e gramatical, termos consagrados entre n��s, principalmente

a partir da obra de Mattoso Camara.

Os morfemas lexicais (ou lexemas) t��m significa����o externa, dizem

respeito ao mundo extragramatical e constituem uma s��rie aberta repre-

sentada pelos nomes (substantivos, adjetivos e numerais) e verbos.

Os morfemas gramaticais (ou gramemas) apresentam significa����o

interna, constituem invent��rio fechado e d��o conta das rela����es e cate-

gorias pr��prias da gram��tica. S��o eles: artigos, preposi����es, conjun-

����es, pronomes, adv��rbios, desin��ncias, afixos e vogais tem��ticas.

140

EXERC��CIOS

A dupla articula����o da linguagem

1. "Constar�� [o voc��bulo formal], portanto, de uma forma livre in-

divis��vel (ex.: luz), de duas ou mais formas presas (ex.: im+pre+

vis+��vel) ou de uma forma livre e uma ou mais formas presas (ex.:

in+feliz)" (Camara Jr., 2000: 70). Esta descri����o refere-se ao plano da:

a) primeira articula����o;

b) segunda articula����o.

2. Al��m das formas livres e das presas, Mattoso Camara (2000: 70)

introduziu o conceito de formas , que s��o "o artigo,

as preposi����es, a part��cula que e outras mais", como as conjun����es e

os pronomes pessoais obl��quos.

a) independentes

b) aut��nomas

c) dependentes

3. "Partindo, portanto, da posi����o intervoc��lica, obtemos 19 fone-

mas consonanticos portugueses, assinalados por numerosas s��ries

opositivas" (Camara Jr., 2000: 48). Esta descri����o diz respeito ao pla-

no da:

a) primeira articula����o;

b) segunda articula����o.

4. Numere a 2- coluna de acordo com a 1��:

1 - 1�� articula����o ( ) Morfemas

2 - 2 - articula����o ( ) Id��ias

3 - Dupla articula����o ( ) Fonemas

( )Sons

( ) Fonologia e Morfologia

141

5. Relacione as colunas:

1 - Fonema (

) Varia����es de pron��ncia que

n��o acarretam mudan��a de

significado: assovio, assobio.

2 - Morfema gramatical ( ) Possui significa����o externa,

faz parte do l��xico: nomes e

verbos.

3 - Alofone

( ) Apresenta significa����o inter-

na, faz parte da gram��tica: art.,

pron., conj., prep., adv.,

desin., afix., vog. tem��tica.

4 - Alofone livre

( ) Unidade m��nima sonora

distintiva.

5 - Alofone posicionado ( ) Articula����o individual de

cada falante.

6 - Morfema lexical

( ) Depende da posi����o do

fonema na enuncia����o: sete

/seti/ ou /set'i/.

7 - Morfema

( ) Unidade significativa m��nima.

6. Tendo em vista os conceitos da 1�� e 2- articula����o, complete:

a) A articula����o �� formada por uma s��rie de

unidades, cada uma possuidora de uma forma vocal e de um senti-

do (morfemas).

b) A articula����o �� formada por elementos

m��nimos da l��ngua, cujo grau de significa����o �� zero (fonemas).

c) Na articula����o, os elementos constitutivos

s��o os monemas ou morfemas.

d) Na articula����o, os elementos constitutivos

s��o os fonemas.

e) Para Martinet, os monemas se distinguem em

, monemas situados no l��xico, e ,

monemas localizados na gram��tica.

f) Morfema �� um termo geral, dividido em lexicais ou

e gramaticais ou

142





7. Relacione convenientemente:

1

Diferen��a fonol��gica

) fecha (��) - fecha (��)

) mala - bala

2

Diferen��a fon��tica

) gosto (��) - gosto (��)

) gato - gado

) p��de - pode

8. Marque V ou F:

( ) As vogais s��o fonemas surdos, que n��o encontram na boca

obst��culo �� sua passagem.

( ) A Fon��tica �� um estudo que n��o se op��e e muito menos se

contrap��e �� Fonologia. Esta se serve de suas informa����es para esta-

belecer os tra��os pertinentes ou distintivos.

( ) O morfema que constitui o n��cleo �� chamado lexema ou

morfema lexical, e o que constitui a periferia �� chamado morfema

gramatical ou gramema.

( ) Fon��tica descritiva �� igual a Fon��tica geral: preocupa-se

com sua generalidade e com o som em si. Divide-se em ac��stica e

articulatoria.

( ) Morfemas de forma presa t��m autonomia de forma, mas

n��o s��o usados isoladamente.

9. Explicitar os tipos de morfema:

Os morfemas lexicais s��o os ; os gramaticais

sao os

1 0 . Identificar os morfemas lexicais (ML) e os gramaticais (MG) no

texto abaixo. Identificar tamb��m as formas livres (FL), presas (FP) e

dependentes (FD), dois exemplos de cada:

[Tio Cosme] era gordo e pesado, tinha a respira����o curta e os

olhos dorminhocos. Uma das minhas recorda����es mais antigas era

v��-lo montar todas as manh��s a besta que minha m��e lhe deu e que

o levava ao escrit��rio (Machado de Assis, Dom Casmurro, VI).

143

GABARITO

A dupla articula����o da linguagem





D A


2) C

3) B

4) 1 - 1 - 2 - 2 - 3

5 ) 3 - 6 - 2 - 1 - 4 - 5 - 7

6) 1�� - 2�� - 1�� - 2�� - lexemas, morfemas; lexemas, gramemas

7) 2 - 1 - 1 - 1 - 1

8 ) F - V - V - V - F

9) Nomes e verbos; artigos, pronomes, preposi����es, conjun����es, ad-

v��rbios, afixos, desin��ncias e vogais tem��ticas.

10) ML: era, gordo, pesado, tinha, respira����o, curta, olhos, dormi-

nhocos, recorda����es, antigas, era, v��-, montar, manh��s, besta, m��e,

deu, levava, escrit��rio.

MG: e, a, e, os, uma, das, minhas, mas, -lo, todas, as, a, que, minha,

lhe, e, que, o, ao.

FL: olhos (subst), tinha (vb.); FP: em respira����o, -����o = sufixo, em

antigas, -a- = desin. de g��nero, -s = desin. de n��mero; FD: art. def.

as, pron. relat. que.

144



AP��NDICE

A GLOSSEM��TICA

No livro Proleg��menos, de 1943, Hjelmslev rejeita qualquer inter-

fer��ncia de outras ci��ncias no estudo das l��nguas. Assim como Saussu-

re, que precisou primeiro "limpar o terreno" para poder depois formu-

lar com imparcialidade e lucidez estritamente ling����sticas suas teorias,

Hjelmslev afirma que a l��ngua, praticamente em quase todas as formas

de estudo da Ling����stica, fora at�� ent��o um meio e n��o um fim. Em ou-

tras palavras, a Ling����stica s�� tinha validade quando considerada como

uma forma de ampliar conhecimentos sobre fatos e circunst��ncias es-

tranhos �� l��ngua. Por exemplo, a descri����o l��gica e psicol��gica dos sig-

nos ling����sticos levou a uma l��gica e a uma psicologia puras, isto ��, a

fen��menos que, �� certo, interessam �� Ling����stica, mas que de fato n��o

s��o Ling����stica, na vis��o de Hjelmslev.

Desse modo, a Ling����stica n��o passava de um meio, de um caminho

para se atingir o conhecimento de fatos exteriores �� l��ngua, tais como os

hist��ricos, pol��ticos, sociais, liter��rios, filos��ficos ou psicol��gicos. �� o

caso da compara����o gen��tica das l��nguas, m��todo criado no s��culo XIX,

que n��o tinha, segundo Hjelmslev2, como finalidade descobrir a ess��n-

cia das l��nguas, e sim, antes de tudo, explicar as condi����es de vida so-

cial e os contatos entre os povos antigos. Para o ling��ista dinamarqu��s,

�� uma ilus��o supor que tais pesquisas se preocupam com a l��ngua em si

mesma. Como seguidor radical de Saussure, Hjelmslev demonstra com

2. Ao contr��rio de Hjelmslev, cremos que o m��todo hist��rico-comparativo pode ser encarado como um m��todo ling����stico. A descri����o evolutiva dos sistemas lingu��sticos (diacronia) tamb��m pertence �� Lingu��stica.

145



isso extrema coer��ncia, o que confere originalidade hist��rica ineg��vel

�� sua teoria.

As pesquisas dos comparatistas do s��culo XIX, segundo ele, n��o

passam de produtos f��sicos e fisiol��gicos, psicol��gicos e l��gicos, so-

ciais e hist��ricos da l��ngua. Eis as palavras de Hjelmslev (1966: 24):

No s��culo XIX nasceu a ci��ncia particular que se in-

titulou fonologia ou fon��tica; ela se interessou pela

l��ngua do ponto de vista fisiol��gico e f��sico. [...] No

s��culo XIX apareceu tamb��m uma psicologia da lin-

guagem que encarava a l��ngua como um momento

da "vida ps��quica". [...] Mais pr��ximo de n��s, o estu-

do ling����stico tem sido colocado sob um ponto de

vista sociol��gico, que considera a l��ngua como uma

institui����o social3. Mas nenhum desses pontos de

vista forneceu as bases de uma ci��ncia aut��noma da

l��ngua: a l��ngua tornou-se objeto tanto da l��gica

como da hist��ria, da fisiologia, da f��sica, da psicolo-

gia e da sociologia. Apesar da variedade de aborda-

gens, um ponto de vista sobre a l��ngua foi negligen-

ciado: o ponto de vista ling����stico.

Conforme vimos, Hjelmslev advoga a autonomia total dos estudos

ling����sticos. Para ele, a l��ngua n��o pode ser encarada como um conglo-

merado de fen��menos extralingu��sticos; ao contr��rio, deve ser estudada

como uma unidade pr��pria, encerrada em si mesma, como uma estrutu-

ra ��nica e singular. Passemos a palavra a Hjelmslev (1971: 114) ainda

uma vez:

Desde sus primeros pasos la presente teoria ling����s-

tica se ha inspirado en este concepto, e intenta pro-

ducir precisamente tal ��lgebra inmanente del len-

guaje. Para subrayar su diferencia con otros tipos

precedentes de ling����stica y su independ��ncia b��sica

de una sust��ncia definida no linguisticamente, ��e he-

mos dado un nombre especial, que se viene usando

en trabajos preparat��rios desde 1936: la llamamos

Glosem��tica (de glosa = lengua) y usamos la voz

glosemas para significar las formas m��nimas que la

3. Aqui, uma clara refer��ncia aos postulados saussurianos, fortemente influenciados pela Sociologia nascente, designadamente, por Tarde e Durkheim.

146

teor��a nos lleva a establecer como bases de explica-

ci��n, las invariantes irreducibles.

E, mais adiante, afirma, incisivo (p. 114):

Tal designaci��n especial no habr��a sido necesaria si

no hubiese hecho tan frecuente mal uso del t��rmino

ling����stica para designar un desafortunado estudio

del lenguaje con base en puntos de vista transcen-

dentes y no pertinentes.

Urna teor��a ling����stica verdadeiramente cient��fica deve, portanto,

fixar-se unicamente naquilo que �� caracter��stico e comum a todas as l��n-

guas humanas, deve buscar na l��ngua uma constante que s�� pode existir

na pr��pria l��ngua e n��o numa outra realidade estranha a ela. Este, o ob-

jetivo m��ximo da Glossem��tica de Hjelmslev.

O m��todo glossem��tico

Depois de estabelecer o objetivo de sua teoria ling����stica, Hjelmslev

(1966: 29) prop��e o que ele chama "uma descri����o lingu��stica exata":

Poderemos, portanto, descrever um determinado ob-

jeto de duas maneiras: 1) dividindo-o em partes que

t��m uma fun����o rec��proca, isto ��, analisando-se o

objeto; 2) incorporando-o numa totalidade cujas par-

tes exercem uma fun����o rec��proca, quer dizer, sin-

tetizando-se o objeto. No primeiro caso, o objeto ��

concebido como uma totalidade funcional; no se-

gundo caso, como parte de uma totalidade funcional

mais ampla.

Em outras palavras, sua tese era de que a todo processo (hierarquia

funcional), cuja realiza����o se concretiza no texto ou no discurso (cf.

fala), corresponde um sistema (cf. l��ngua), e �� atrav��s desse sistema que

o processo deve ser analisado e descrito (como Saussure, preferiu estu-

dar a l��ngua).

Para Hjelmslev, todo processo �� constitu��do de um n��mero limitado

de elementos do paradigma, que reaparecem (elementos recorrentes,

base do princ��pio da recorr��ncia) constantemente nas mais variadas e

ilimitadas combina����es (sintagmas). Esses elementos do processo de-

vem ser ordenados em classes, para que se torne poss��vel enumerar to-

das as suas combina����es admiss��veis.

147

Princ��pio do empirismo

A teoria glossem��tica pretende atingir resultados que sejam coeren-

tes com os dados da experi��ncia. Para tanto, Hjelmslev prop��e o princ��-

pio do empirismo, segundo o qual toda descri����o ling����stica realmente

cient��fica deve ser:

1) sem contradi����es,

2) exaustiva e

3) o mais simples poss��vel.

Eis o que pensa o mestre de Copenhague ( 1 9 7 1 : 22):

La descripci��n habr�� de estar libre de contradicci��n

(ser autoconsecuente), ser exhaustiva y tan simple

cuanto sea posible. La exigencia de falta de contra-

dicci��n tiene preferencia sobre la de exhaustividad.

La exigencia de exhaustividad tiene preferencia so-

bre la de simplicidad. Sugerimos llamar a ese princi-

pio principio emp��rico.

Para comprovar a efici��ncia do principio do empirismo, Hjelmslev

critica o m��todo da Ling����stica pr��-glossem��tica, por ele chamado de

indutivo (a descri����o vai do particular para o geral, �� sint��tica e genera-

lizante), propondo em seu lugar uma abordagem da l��ngua segundo um

m��todo dedutivo (do geral para o particular).

M��todo dedutivo

�� um m��todo geral que se pode aplicar a todas as l��nguas existentes,

por ser anal��tico e especificante. Segundo Hjelmslev, o m��todo induti-

vo leva o ling��ista a conceitos que n��o s��o gerais e, por isso, perdem o

seu valor quando aplicados fora de um sistema ling����stico espec��fico.

Hjelmslev exemplifica a inconveni��ncia do m��todo indutivo com o fato

de a nossa terminolog��a gramatical, herdada da fase filos��fica da Lin-

g����stica, n��o se prestar a uma defini����o geral. Um conceito como "im-

perfeito" tem um sentido bem diferente em sueco daquele apresentado

em portugu��s, no qual se op��e ao "pret��rito perfeito", inexistente em

sueco. Os conceitos "ativo" e "passivo" significam coisas bem diferen-

tes em latim e grego, l��nguas que possuem uma terceira categoria fun-

damental, que �� o "m��dio". Para Hjelmslev, esse m��todo indutivo tradi-

148

cional s�� consegue partir das flutua����es (particular) para atingir a cons-

tante (geral) em casos isolados. Portanto, vai de encontro ao seu princ��-

pio do e m p i r i s m o , que se baseia na n��o-contradi����o e na simplicida-

de da descri����o.

O m��todo dedutivo, ao contr��rio, parte do que ele chama de texto,

considerado aqui em seu sentido mais amplo, isto ��, um enunciado

qualquer, oral ou escrito, longo ou curto, antigo ou recente. Nas pala-

vras de Hjelmslev (1966: 131): "chamamos de texto a totalidade de uma

cadeia lingu��stica que pode ser submetida a an��lise".

Seu m��todo dedutivo, t a m b �� m chamado de anal��tico, deve deter-

minar as rela����es existentes entre as partes de um texto, que �� analisa-

do como uma classe que se divide em g��neros, e cada g��nero, por sua

vez, �� considerado " c o m o u m a classe, que, de novo, se divide em g��-

neros, at�� o esgotamento das possibilidades de divis��o" (Ap. M a l m -

berg, 1976: 178).

Afirma Hjelmslev ( 1 9 7 1 : 25), c o m bastante clareza:

El ��nico camino posible a seguir, si queremos orde-

nar un sistema que permita el proceso de ese texto, es

realizar un an��lisis en el que se considere el texto

como clase dividida en componentes, despu��s estos

componentes como clases divididas en componen-

tes, y as�� sucesivamente hasta agotar el an��lisis.

E, mais adiante, explicitando seu m��todo, esclarece Hjelmslev (1971:26):

Tal procedimiento, seg��n lo visto, puede definirse

brevemente como una progresi��n de la clase al com-

ponente, no dei componente a la clase, como an��lisis

y especificaci��n, no como s��ntesis y generalizaci��n,

en oposici��n al m��todo inductivo en el sentido en

que lo emplea la ling����stica. [...] se ha designado ese

modo de proceder o la aproximaci��n al mismo por la

palabra deducci��n.

Conclu��mos, desse modo, que o m��todo dedutivo deve servir para

todos os textos existentes ou que venham a existir, independentemente

da l��ngua a que perten��am.

Esquematizando:

149





princ��pio do

o mais simples poss��vel

empirismo

sem contradi����es

exaustivo

Glossem��tica

do geral para o particular

m��todo dedutivo

anal��tico

especificante

Princ��pio da iman��ncia

Levando ��s ��ltimas conseq����ncias a tese lapidar de Saussure, se-

gundo o qual "a l��ngua �� forma e n��o subst��ncia", Hjelmslev postula

que o mais importante na an��lise de uma l��ngua �� determinar as rela����es

existentes entre as suas partes. Reportando-nos a Saussure, lembremos

que �� a teia de rela����es existentes entre os elementos ling����sticos que

constitui uma forma. Os elementos da rede formam a subst��ncia. Uma

frase como "V�� compra dois p �� o " apresenta altera����o apenas na subs-

t��ncia. Sua estrutura, apesar do fator extralingu��stico "erro", continua a

ser a de uma frase da l��ngua portuguesa. Ela conserva toda a gramatica-

lidade do sistema lingu��stico portugu��s e toda a coer��ncia entre os ele-

mentos desse sistema: (sujeito) + verbo auxiliar + verbo principal + ob-

jeto (determinante + nome). Portanto, sua forma, aquilo que �� de fato

vital para o funcionamento do sistema, n��o sofreu em nada com a mu-

dan��a acidental das propriedades f��sicas de sua subst��ncia. Voltando ao

c��lebre exemplo do jogo de xadrez, usado por Saussure, dir��amos que

as regras do jogo (teia de rela����es entre as pe��as) est��o para a forma, as-

sim como as pe��as do jogo est��o para a subst��ncia.

Hjelmslev radicaliza a tese de Saussure, porque, para ele, �� preci-

samente nas rela����es, na coer��ncia entre os diversos elementos da l��n-

gua (fatores internos, imanentes) e n��o em suas propriedades f��sicas,

psicol��gicas, l��gicas ou outras (fatores externos, transcendentes) que

deve ser encontrada a constante, este algo essencial e caracterizador

que Hjelmslev procura e que, segundo ele, existe na linguagem huma-

na, independente da variedade de formas atrav��s das quais ela se ma-

nifesta e quaisquer que sejam as diferen��as existentes entre as l��nguas.

Os tra��os da subst��ncia - sons, grafia, etc. - s��o acidentais, exteriores,

transcendem a l��ngua e, portanto, n��o devem entrar numa defini����o

geral. Para o ponto de vista da Glossem��tica, a tarefa maior da Lin-

150





g����stica �� definir e descrever unicamente as rela����es que unem os ele-

mentos da l��ngua, �� estud��-la de dentro, "em si mesma", adotando uma

abordagem imanente.

A Lingu��stica tradicional, para Hjelmslev, calcada em preocupa-

����es exteriores �� l��ngua - l��gicas e normativas na Lingu��stica mais an-

tiga, hist��ricas no s��culo XIX, psicol��gicas e sociol��gicas nas tend��n-

cias mais recentes -, nunca poderia descrever a l��ngua em si mesma. A

categoria gramatical de g��nero, para tomarmos um exemplo, deveria

ser desvinculada de qualquer id��ia de sexo, da qual lan��ava m��o a Lin-

g����stica transcendente. A Glossem��tica rejeita o artif��cio de se associar

masculino a h o m e m e feminino a mulher. Em vez disso, postula le-

var-se em conta somente os caracteres formais da pr��pria l��ngua, usa-

dos para definir g��nero. Assim �� que, em portugu��s, ter��amos que toda

palavra que pudesse ser precedida do artigo "o " seria do g��nero m a s -

culino; as que aceitassem o artigo "a " seriam do feminino. Assim pro-

cedendo, al��m de estar sendo coerente, faz o ling��ista um estudo m e -

ramente formal (��nfase �� forma), sem precisar sair da l��ngua para ex-

plic��-la, apelando para o sexo, uma categoria biol��gica, situada fora

da l��ngua.

Em substitui����o �� Ling����stica transcendente praticada at�� ent��o,

Hjelmslev prop��e uma Ling����stica imanente. A estrutura imanente

transforma-se, desse modo, no objeto de estudo da Ling����stica e, com

isso, Hjelmslev introduz na nossa disciplina dois princ��pios caracteri-

zadores da ci��ncia do s��culo XX, c o m o salienta Malmberg ( 1 9 7 1 :

180): "o princ��pio da totalidade ou da estrutura e o princ��pio da ima-

n��ncia ou da independ��ncia". Este foi o ponto de partida do Estrutura-

lismo ling����stico, que examinaremos melhor mais adiante.

Esquematizando:

a l��ngua em si mesma

Princ��pio da iman��ncia

independ��ncia da Ling����stica

no����o de estrutura

a l��ngua �� forma e n��o subst��ncia'

151





Fun����o

Segundo Hjelmslev, uma unidade ling����stica contrai rela����es com

outras unidades tanto no processo ou texto (rela����es sintagm��ticas)

como no sistema (rela����es paradigm��ticas). Essas rela����es, que Hjelmslev

(1966: 56) chama de fun����es ("Chamamos rela����o a fun����o - depen-

d��ncia, liga����o - que existe entre os signos ou entre os elementos no in-

terior de u m a m e s m a cadeia: os signos ou os elementos est��o relacio-

nados entre si na cadeia"), podem ser de tr��s tipos:

a pressup��e b, e b pressup��e a

1) Interdepend��ncia

fun����o entre duas constantes

a) no processo solidariedade entre os dois elementos (a e b) pre-

sentes no texto. O sujeito pressup��e o predicado e vice-versa (mesmo em

ora����es do tipo "choveu ontem", ditas sem sujeito, haveria um sujeito na

estrutura profunda, subjacente, para usarmos a terminologia chomskya-

na: a n��s se nos afigura algo como "[a chuva] choveu ontem").

b) no sistema complementaridade. Um termo complementa ou-

tro: em portugu��s, o fonema oral se op��e, no sistema, ao fonema nasal e

vice-versa; a consoante surda tem como contraparte a sonora, sendo ra-

ros os casos de "casa vazia".

a pressup��e b, mas b n��o pressup��e a

2) Determina����o

fun����o entre uma constante e

uma vari��vel4

rela����o de subordina����o

a) no processo -> sele����o. A preposi����o de rege o verbo gostar,

logo gostar precisa de de, mas de n��o necessita de gostar. Melhor dizendo, gostar pressup��e de, mas de n��o pressup��e gostar; uma ora����o subordinada pressup��e uma principal, mas uma principal n��o pressup��e necessariamente uma subordinada. A semivogal pressup��e a vogal,

mas a vogal n��o pressup��e a semivogal.

4. constante = functivo (os dois termos de uma fun����o) cuja presen��a �� condi����o necess��ria para o

functivo com o qual se relaciona; vari��vel = functivo cuja presen��a n��o �� exigida pelo outro.

152





b) no sistema -> especifica����o. Se existe futuro, deve haver presen-

te, mas podem existir l��nguas em que o presente n��o pressup��e a exis-

t��ncia do futuro; a exist��ncia de um plural n��o pressup��e necessaria-

mente o singular: em ingl��s, scissors (tesoura) n��o tem a forma singular

correspondente ( * scissor), e diz-se: where are my scissors? "onde est��

minha tesoura?" Em portugu��s, acontece o contr��rio com as palavras

l��pis e cais: o morfema de plural �� 0: o(s) l��pis, o(s) cais.

nem a pressup��e b, nem b pressup��e a

3) Constela����o

fun����o entre duas vari��veis

a) no processo -> combina����o. Em "Mariza chegou ontem", nem o

verbo precisa do adjunto, nem o adjunto precisa do verbo. A comunica-

����o estaria completa sem o ontem, mas, j�� que est��o presentes no pro-

cesso, os dois functivos se combinam; num sintagma nominal como

"lindo dia", os dois termos se combinam livremente: nem lindo pressu-

p��e dia, nem dia pressup��e lindo.

b) no sistema -> autonomia. Ocorre entre os elementos do sistema,

cada termo existindo independentemente do outro; em "lindo dia", �� da

livre escolha do falante substituir lindo por belo, pois ambos conserva-

riam sua autonomia dentro do sistema: nem lindo pressup��e belo, nem

belo pressup��e lindo.

Segundo Hjelmslev, esses tr��s tipos de rela����o se aplicam a qual-

quer l��ngua, em coer��ncia com o seu m��todo dedutivo, que, por sua vez,

fundamenta-se no empirismo, na n��o-contradi����o, na descri����o exaus-

tiva e t��o simples quanto poss��vel.

Esquematizando:

no processo solidariedade

interdepend��ncia

no sistema -> complementaridade

no processo -> sele����o

Fun����es determina����o

no sistema -> especifica����o

no processo -> combina����o

constela����o

no sistema autonomia

153



Fun����o "e-e", fun����o "ou-ou"

Hjelmslev atribui import��ncia fundamental �� distin����o existente

entre o que ele chama fun����o " e - e " (conjun����o, coexist��ncia) e fun����o

"ou-ou" (disjun����o, altern��ncia). Essa distin����o tem por base a diferen-

��a entre processo ou texto (cf. fala) e sistema (cf. l��ngua).

Segundo Hjelmslev, no processo h�� uma rela����o "e-e", enquanto

que no sistema existe uma rela����o "ou-ou". Os functivos de um proces-

so contraem entre si uma rela����o " e - e " porque aparecem ao mesmo

tempo, linearmente, na cadeia do texto ling����stico. Por exemplo, em

"fale", h�� conjun����o ou coexist��ncia entre fa e le, depois entre f e a ou entre / e e. Estamos, portanto, diante de um caso de rela����o "e-e". Os

termos dessa cadeia (ou sintagma lexical) apresentam-se linearmente

diante de n��s, um ap��s o outro, um e outro, lado a lado, melhor dir��a-

mos, descambando para a redund��ncia, sintagmaticamente lado a lado.

V��-se logo que estamos diante das "rela����es sintagm��ticas" do mestre

genebrino, rebatizadas por Hjelmslev de fun����o "e-e".

Por outro lado, se comutarmos f por p e l por r, obtendo "pare", em

vez de "fale", haver�� disjun����o, altern��ncia entre f ep, entre / e r. A re-la����o que se estabelece entre esses termos passa a ser ou f ou p, ou l ou r.

Recorrendo a Saussure, mais uma vez, dir��amos que f e p,l e r fazem

parte de um paradigma que, por sua vez, se insere no sistema ling����stico

(l��ngua), e �� esse mesmo sistema que nos possibilita escolher ou um ou

outro, por isso �� que a fun����o "ou-ou" s�� pode existir no sistema, jamais

no processo. Em outras palavras, fun����o "ou-ou" �� a mesma coisa que

"rela����es paradigm��ticas".

Esquematizando:

e-e no processo (rei. sintagm��ticas)

Fun����es

ou-ou -> no sistema (rei. paradigm��ticas)

Plano do conte��do e plano da express��o

Saussure definiu o signo ling����stico como "uma entidade ps��quica

de duas faces": significante e significado. Hjelmslev (1971: 73), igual-

mente, postula dois planos para a l��ngua: o plano do conte��do e o da ex-

press��o. Diz ele: "El signo es una entidad generada por la conexi��n en-

tre una expresi��n y un contenido".

154





Hjelmslev prop��e ainda uma subdivis��o desses dois planos, atribu-

indo a cada um deles uma forma e uma subst��ncia, cabendo �� l��ngua o

papel de articular o plano do conte��do (PC) ao plano da express��o (PE).

Figuradamente, ter��amos o seguinte:

subst��ncia

Plano do conte��do

forma

l��ngua

forma

Plano da express��o

subst��ncia

Plano do conte��do

A forma do conte��do diz respeito ��s rela����es entre as unidades s��-

micas, �� a pr��pria estrutura����o das id��ias. Forma, tanto para Hjelmslev

como para Saussure, tem o sentido de rela����o, por isso est�� intimamente

ligada �� no����o de valor. N u m signo como gata, por exemplo, a forma

do conte��do �� representada pela rela����o " g a t o " + g��nero "ela". A for-

ma do conte��do �� encarada por Hjelmslev como o modo pelo qual uma

determinada l��ngua estrutura a comunica����o lingu��stica: o valor de g a t o

�� determinado pela sua rela����o (forma) com gato.

A subst��ncia do conte��do, por sua vez, �� o pensamento amorfo, ain-

da n��o estruturado, �� a pr��pria realidade sem��ntica. Em outras palavras,

a subst��ncia do conte��do �� a proje����o mental da realidade extralingu��s-

tica. No exemplo dado, a subst��ncia do conte��do de gata �� a no����o ou

id��ia (ou ainda, conceito) que os falantes t��m desse animal como f��mea

da esp��cie felina "gato" (mundo real).

Plano da express��o

A subst��ncia da express��o s��o os pr��prios sons (fones) ou as letras

(grafemas), enquanto massa f��nica ou gr��fica ainda n��o estruturada na

l��ngua. �� a massa sonora ou visual, desprovida de valor funcional ou

ling����stico, cujas unidades s��o analisadas unicamente do ponto de vista

de sua individualidade material. �� o caso dos fones, elementos sonoros

sem valor distintivo, objeto de estudo da Fon��tica, a ci��ncia dos sons da





155





fala. No signo g a t o temos quatro fones, a saber: [g], [a], [t], [a]. As va-

ria����es de um fone (os alofones) tamb��m devem ser encaradas como

elementos da subst��ncia da express��o: [b], [v] em assobio, assovio.

Quanto �� forma da express��o, esta diz respeito ��s rela����es estrutu-

rais entre os sons. A forma da express��o representa o valor funcional

dos fones dentro da l��ngua, os quais passam a funcionar no sistema com

o nome de fonemas ou menor unidade sonora distintiva, objeto de estu-

do da Fonologia. No exemplo dado, temos quatro fonemas: /gata/.

No plano do conte��do, a distin����o entre forma e subst��ncia �� bas-

tante sutil, como pudemos verificar. No plano da express��o, por��m,

constatamos de imediato a c��lebre oposi����o Fon��tica (subst��ncia) / Fo-

nologia (forma).

Concluindo, fazemos nossas as palavras do pr��prio Hjelmslev (1971:

85), em passagem bastante did��tica:

Y en virtud de la forma del contenido y de la forma

de la expresi��n, y s��lo en virtud de ellas, existen res-

pectivamente la sustancia del contenido y la sustan-

cia de la expresi��n, que se manifestan por la proyec-

ci��n de la forma sobre el sentido, de igual modo que

una red abierta proyecta su sombra sobre una super-

ficie sin dividir.

Em resumo:

subst��ncia -> f��mea do gato

PC forma gato + "ela"

Gata

forma -> /gata/

PE subst��ncia -> [gata]





Cenemas


C o m rela����o ��s diversas manifesta����es concretas das diferentes

unidades de que se comp��e o plano da express��o, as mais usuais s��o os

sons e as letras. As unidades m��nimas a que nos leva a an��lise do plano

da express��o, Hjelmslev chama figuras de express��o, mais ou menos

equivalente ao termo fonema dos fonologistas de Praga. Hjelmslev,

contudo, rejeita este ��ltimo, porque, se o que interessa �� Glossem��tica

s��o as rela����es entre as unidades ling����sticas, isto ��, a forma e n��o a subs-

156





t��ncia, o termo fonema, lembrando quase sempre algo composto de

sons, entraria em contradi����o com sua teoria, t��o zelosa de sua coer��n-

cia. Preferiu Hjelmslev, ent��o, classificar essas unidades m��nimas como

cenemas, isto ��, unidades vazias, sem correspondente no plano do con-

te��do. Em outras palavras, o cenema, como diz Borba ( 1 9 7 1 : 42), "�� a

unidade de articula����o do significante, da qual se exclui toda refer��ncia

�� subst��ncia f��nica". Os cenemas podem se manifestar de modo con-

creto sob diversas maneiras: sons, letras, escrita Braille, e s��o depreen-

didos pelo teste da comuta����o.

Comuta����o

Substitui����o de uma unidade por outra no paradigma, entre invarian-

tes, com a finalidade de se obter uma nova unidade lingu��stica. Se, da tro-

ca de uma forma m��nima por outra, resultar um novo voc��bulo, ou, em

termos saussurianos, se, mudando o significante, altera-se o significado,

estamos diante de um fonema, ou cenema para a Glossem��tica. Ex.: em

/bala/ e /vala/, Pol se op��e a NI, logo s��o dois cenemas. J�� num caso como

/vaka/, que �� a norma geral, e /baka/, pron��ncia corrente em certas re-

gi��es de Portugal, n��o estamos diante de dois cenemas (ou fonemas) dis-

tintos, mas, antes, temos, no segundo caso, apenas uma variante fon��tica

da norma /vaka/, sem resultar da�� qualquer altera����o no plano do conte��-

do. Caso semelhante �� o de assobio, variante de assovio, termos registra-

dos pelo dicion��rio Aur��lio. Essa interdepend��ncia entre o plano da ex-

press��o e o do conte��do, Hjelmslev classifica de isomorfismo.





Isomorfismo


Hjelmslev v�� semelhan��a, organiza����o id��ntica, isto ��, os mesmos

tra��os nas estruturas dos dois planos da l��ngua e a essa semelhan��a de-

nominou de isomorfismo. Desse modo, tanto o significante (express��o)

como o significado (conte��do) comportam uma dupla articula����o cada

um. As unidades m��nimas de significa����o devem ser depreendidas pelo

recorte do pr��prio signo e n��o pela an��lise formal da corrente de sons da

fala. Exemplifiquemos com o enunciado cadela:

subst��ncia f��mea do c��o

PC forma -> c��o + "ela"

Cadela

forma -> /kad��la/

PE subst��ncia -> [kadsla]

157





Muta����o

Possibilidade de substitui����o de um elemento por outro, quer no pa-

radigma (comuta����o: "rua/lua"), quer no sintagma (permuta����o: "Pe-

dro brinca com S��rgio/S��rgio brinca com Pedro"). �� aus��ncia de muta-

����o entre as unidades de um paradigma, Hjelmslev classifica de substi-

tui����o. Em outras palavras, ocorre comuta����o entre invariantes, e subs-

titui����o entre variantes. Por exemplo, em nossa l��ngua, Irl e IV s��o co-

mut��veis: rua / lua. J�� o r anterior e o r posterior podem ser substitu��dos:

/ratu/ e / Fatu/; no primeiro caso, o r tem uma realiza����o alveolar; no se-

gundo, �� uma consoante velar. A segunda pron��ncia �� uma variante da

primeira e vice-versa, logo estamos diante de um caso de substitui����o.

Por outro lado, Hjelmslev adverte que entre certas unidades n��o

ocorre nem comuta����o, nem substitui����o. E o que acontece quando as

duas unidades pertencem a paradigmas diferentes: uma vogal e uma

consoante. A prop��sito, esclarece-nos Malmberg ( 1 9 7 1 : 187):

Assim �� poss��vel, segundo Hjelmslev, definir duas

unidades c o m o invariantes, somente pelo fato de

elas pertencerem a duas classes diferentes. A ques-

t��o, muito debatida entre os fonologistas, de saber

se os sons Ihl e / / do ingl��s devem ser vistos como

variantes de um m e s m o fonema, pois n��o s��o co-

m u t �� v e i s - pois o Ihl s�� se encontra na posi����o em

que / / falta - ��, pois, resolvida por Hjelmslev

c o m o segue: ele atribui-lhes p a r a d i g m a s diferen-

tes e, por este motivo, define-as c o m o invariantes.

Sum��rio:

Cenema = unidade m��nima do signo no plano da express��o (fone-

ma, para os fonologistas de Praga).

Isomorfismo = identidade de estrutura entre os planos do conte��do

e da express��o.

comuta����o -> no paradigma

Muta����o

permuta����o -> no sintagma

Substitui����o = aus��ncia de muta����o





158


Pleremas

Da mesma forma que o plano da express��o �� analis��vel em um n��-

mero limitado de figuras de express��o - fonemas ou cenemas -, tam-

b��m o plano do conte��do pode ser dividido em um n��mero limitado e

relativamente pequeno de figuras de conte��do.

Concretamente, ter��amos que, assim como em vaca podemos sepa-

rar as figuras de express��o em /v//a//k//a/, igualmente �� poss��vel depre-

ender as unidades de conte��do boi + "ela". Em ingl��s, a stallion corres-

ponderia no plano do conte��do os seguintes elementos: horse + " h e " ; a

mare corresponderia horse + "she". �� a esses elementos do plano do

conte��do que Hjelmslev chama pleremas (unidades plenas, cheias), em

oposi����o aos cenemas (unidades vazias). Al��m disso, Malmberg ( 1 9 7 1 :

184) acrescenta que "as unidades do conte��do s��o geralmente chama-

das plerematemas e divididas em expoentes ou morfemas (elementos

de flex��o) e componentes ou pleremas (radicais ou ra��zes)".

Para depreender os pleremas, Hjelmslev sugere ainda aqui o recur-

so da comuta����o: as invariantes s��o determinadas pela substitui����o de

uma unidade em um dos dois planos. Se essa substitui����o provoca uma

mudan��a no plano da express��o, quer isto dizer que as unidades s��o co-

mut��veis, portanto, invariantes. Se for trocado o elemento do conte��do

"cavalo-ele" pelo elemento do conte��do "cavalo-ela", a express��o sofre

altera����o, passando a ser cavalo e ��gua, respectivamente. �� relevante

observar mais uma vez que a an��lise das unidades de conte��do, tal

como �� postulada por Hjelmslev, n��o envolve absolutamente a id��ia de

sexo (no����o extralingu��stica, transcendente �� l��ngua). A defini����o des-

sas unidades �� calcada em um ponto de vista puramente estrutural (a l��n-

gua �� forma e n��o subst��ncia: princ��pio da iman��ncia).

Nesse ponto, particularmente, faz-se sentir a coer��ncia da teoria

hjelmsleviana. Enquanto que, na descri����o ling����stica anterior �� Glos-

sem��tica, n��o era levada em conta a correspond��ncia entre os dois pla-

nos da l��ngua (conte��do e express��o), Hjelmslev nunca separa signifi-

cante de significado. Segundo ele, n��o se pode determinar categoria

gramatical tendo em vista apenas um dos dois planos. A interdepend��n-

cia entre o conte��do e a express��o confere �� concep����o saussuriana do

signo ling����stico uma defini����o l��gica c conseq��ente, de conformidade

com a vis��o "alg��brica" da Glossem��tica.

Conforme diz Malmberg ( 1 9 7 1 : 186), Hjelmslev v�� o signo ling����s-

tico como "uma solidariedade entre uma forma de express��o e uma for-

ma de conte��do, que se manifestam por uma subst��ncia de express��o e

uma subst��ncia de conte��do". �� ainda Malmberg (p. 186) quem nos es-

159





clarece sobre a diverg��ncia de ponto de vista a respeito do signo, exis-

tente entre o mestre su����o e o linguista dinamarqu��s:

A diferen��a decisiva entre Saussure e a Glossem��ti-

ca prov��m do fato de que o primeiro considerou o

signo com suas duas metades como fazendo parte do

"ps��quico", enquanto a Glossem��tica, com seu m �� -

todo imanente, procura evitar as interpreta����es psi-

col��gicas e prefere analisar o signo unicamente com

aux��lio das fun����es internas que o constituem e das

fun����es externas que ele mant��m com as outras uni-

dades ling����sticas.

Aqui, torna-se pertinente ainda registrar o que Hjelmslev chama

de defini����o.

Defini����o

Possibilidade de an��lise do signo no plano do conte��do (��gua = ca-

valo + "ela") e no plano da express��o (/vaka/ = / v I la/ Ikl la /).

Esquematizando:

morfemas -> elementos de flex��o

Unidades de

conte��do ou

plerematemas

pleremas -> radicais

conte��do -> vaca = boi + "ela"

Defini����o

express��o ->/vaka/ = / v I la / l\k la/

A an��lise glossem��tica do texto

Como, para Hjelmslev, a an��lise lingu��stica deve ser exaustiva,

todo o texto �� vasculhado, partindo-se das unidades maiores, dissecan-

do-se cada etapa, at�� chegar-se ��s unidades m��nimas, n��o podendo ser

omitido nenhum ponto. Assim, diz Hjelmslev, chegamos a

160





um conceito de totalidade, o qual dificilmente pode

ser imaginado como mais absoluto; n��o encontra-

mos nenhum objeto que n��o possa ser esclarecido

atrav��s da posi����o-chave da teoria ling����stica (Pro-

legomena, Ap. Lepschy, 1971: 72).

Concretamente, temos que, ap��s a primeira divis��o em conte��do e

express��o, �� suscitada uma segunda divis��o: a do conte��do em g��neros

liter��rios, autores, obras, cap��tulos e par��grafos. Em outras palavras,

como afirma Malmberg (1971: 187), "a Glossem��tica anexa a si n��o so-

mente a literatura, mas todo conhecimento que toma a forma da l��ngua".

Ao se chegar ��s unidades m��nimas, estas s��o classificadas e definidas

segundo sua posi����o no sistema e no processo (neste caso, j�� estamos no

sintagma). A�� j�� n��o cabe mais falar na sintaxe tradicional ou em qual-

quer outra classifica����o das palavras. A sintaxe passa a integrar o estudo

das variantes condicionadas (variedades). Desse modo, conceitos como

sujeito, objeto, predicado, transformam-se, freq��entemente, em variantes.

A prop��sito de variantes, vale a pena abrir um par��ntese e dar a pa-

lavra a Bertil Malmberg (1971: 185) mais uma vez:

Numa l��ngua - como o sueco ou o portugu��s - que

n��o conhece a diferen��a morfol��gica entre o nomi-

nativo e o acusativo dos substantivos (O homem

vem, vejo o homem, o sujeito e o objeto s��o varian-

tes; nas l��nguas com flex��o casual, pelo contr��rio

(alem��o: Der Mann kommt, ich sehe den Maim), s��o

invariantes, pois a substitui����o de um dos elementos

pelo outro acarreta mudan��a na express��o.

Essas variantes referidas no par��grafo acima, por sua vez, podem

ser ligadas (variedades), isto ��, condicionadas pelo contexto e, portanto,

t��o numerosas quanto as liga����es que a unidade em quest��o pode ter no

processo; ou livres (varia����es), sendo estas em n��mero ilimitado.

Em resumo:

An��lise glossem��tica

conte��do

g��neros liter��rios, autores,

do texto

obras, cap��tulos e par��grafos

express��o

ligadas (variedades)

Variantes

livres (varia����es)

161

O conceito de estrutura e a glossem��tica

Saussure formulou que a l��ngua �� forma e n��o subst��ncia, provavel-

mente sem chegar a ter consci��ncia da profundidade e do alcance de

suas postula����es. Pouco a pouco, seus herdeiros foram aprofundan-

do-as, difundindo-as, irradiando-as at�� para o ��mbito de outras ci��ncias

(cf. a Antropologia de L��vy-Strauss).

Hjelmslev, partindo da concep����o saussuriana, deu-lhe o enfoque

que a partir dos anos 30 come��ou a se generalizar com o nome de Estru-

turalismo. �� importante observar que o pr��prio Saussure jamais usou o

termo estrutura, e sim sistema. Lembremos que, para o mestre de Gene-

bra, a l��ngua �� um sistema de rela����es cujos elementos devem ser estu-

dados sincronicamente. Partindo do ponto de vista segundo o qual uma

estrutura �� uma rede de rela����es, e desenvolvendo a formula����o b��sica

de Saussure, Hjelmslev introduziu na ci��ncia ling����stica a sua no����o de

estrutura: "uma entidade aut��noma de depend��ncias internas" e que,

por isso, a l��ngua est�� para dentro de si mesma (iman��ncia), e n��o para

fora (transcend��ncia).

Foi levando ��s ��ltimas conseq����ncias as formula����es do mestre su����o

que o disc��pulo de Copenhague enumerou as rela����es dos elementos estru-

turais da l��ngua e criou sua teoria Glossem��tica, em 1936. A prop��sito,

examinemos com aten����o as palavras de Maria Luiza Miazzi (1972: 114):

Exclusivamente sincr��nica, a Glossem��tica analisa

os fatos de uma l��ngua num dado momento, estabele-

cendo os sistemas existentes c, dentro de cada um

deles, ressalta as fun����es dos v��rios elementos. Apli-

ca-se a todas as partes da l��ngua, at�� mesmo �� sem��n-

tica, embora a morfologia e a sintaxe tenham sido

mais exploradas.

Considerando a l��ngua como um aspecto especial de um sistema mais

amplo, a Semi��tica, esclarece-nos o pr��prio Hjelmslev (1971: 113):

Tal lingu��stica, a diferencia de la ling����stica convencio-

nal, no tendr�� como ciencia de la expresi��n una fon��ti-

ca y como ciencia del contenido una sem��ntica. Tal

ciencia ser�� un ��lgebra del lenguaje (grifo nosso).

Justamente para ressaltar a diferen��a de principios existente entre a

Ling����stica tradicional e a sua teoria �� que Hjelmslev e seus colabora-

dores, principalmente Hans J. Uldall, resolveram batiz��-la de Glosse-

m��tica. O pensamento b��sico de Hjelmslev, j�� esbo��ado desde o final

162





da terceira d��cada - o termo Glossem��tica surgiu apenas em 1936 -, foi

exposto nas Acta Linguistica e nos Travaux du Cercle Linguistique de

Copenhagen, em artigos de autoria exclusiva ou em parceria com seu

disc��pulo Uldall, chamando de glossema ��s formas m��nimas que a an��-

lise pode depreender, isto ��, as invariantes irredut��veis, tanto no plano

do conte��do (significado) como no da express��o (significante).

Torna-se pertinente, a essa altura, apresentarmos um esquema geral

dos pontos essenciais de sua concep����o estruturalista, b e m como dos

princ��pios da Glossem��tica, conforme o que foi proposto pelo pr��prio

Hjelmslev nos principais trabalhos seus:

uma l��ngua se comp��e de um conte��do e de uma express��o;

uma l��ngua se comp��e de um processo e de um sistema;

conte��do e express��o ligam-se um ao outro por meio

da comuta����o;

L��ngua como

h�� rela����es determinadas no processo e no sistema;

estrutura

n��o h�� correspond��ncia direta (one-to-one correspondence)

entre conte��do e express��o, mas os signos s��o divis��veis em

componentes menores: por exemplo, os fonemas a que falta

conte��do (ou cenemas), mas que podem construir unidades

portadoras de conte��do, ou seja, as palavras.

empirismo

m��todo dedutivo

Glossem��tica

��nfase �� forma

(princ��pios)

iman��ncia

l��ngua -> parte de um sistema semi��tico

Conclus��o

Embora a Glossem��tica se constitua, como afirma Malmbcrg (1971:

189), numa "contribui����o verdadeiramente nova em seu princ��pio mes-

mo: ela rompe com as tradi����es anteriores da Ling����stica", n��o conse-

guiu ficar ao abrigo da cr��tica nesse mais de meio s��culo de exist��ncia.

Os cr��ticos t��m-na acusado de excessiva complexidade e exagera-

da abstra����o em face da realidade. Georges Mounin (1973: 138) atri-

bui-lhe "uma tend��ncia infatig��vel para a cria����o neol��gica". E, mais

adiante, insiste Mounin (p. 142), taxativo:

163

Os Proleg��menos continuam a ser [...] uma leitura

necess��ria; mas, depois de mais de um quarto de s��-

culo, pode-se afirmar que esta doutrina n��o demons-

trou ser produtiva, n��o tendo renovado nem melho-

rado a Ling����stica descritiva.

A recusa de Hjelmslev em levar em considera����o a subst��ncia f��ni-

ca foi, inclusive, objeto de um artigo cr��tico de Andr�� Martinet, em

1946. A rela����o institu��da entre conte��do e express��o foi igualmente

atacada por seus cr��ticos (Jorgensen, Martinet, Fritz Hintze e Paul L.

Garvin, entre outros).

O imanentismo radical da Glossem��tica, ignorando os aspectos so-

cioculturais e hist��ricos, no seio dos quais as l��nguas se formam e fun-

cionam, tem sido igualmente objeto de cr��ticas. Nesse sentido, adverte

Calvet (1977: 52):

Tudo isso, que ningu��m ignora e n��o ousaria hoje

negar, �� radicalmente rejeitado pelo estruturalismo

tal como este se manifesta em Hjelmslev: a l��ngua

n��o tem sociedade, vive no ar, no espa��o, longe das

conting��ncias do tempo.

Por outro lado, a coer��ncia e a simplicidade estrutural da teoria

hjelmsleviana (vide Mattoso Camara, in: Tempo Brasileiro 15/16) cons-

tituem o seu lado positivo, o "reverso da medalha", como diz com pro-

priedade o Prof. Mattoso Camara no referido artigo.

Muito feliz foi Jorgensen (Ap. Malmberg, 1971: 195), que sinteti-

zou de forma definitiva qual deve ser a atitude do ling��ista diante da

teoria glossem��tica:

Podemos aceitar o livro de Hjelmslev (Omkring)

com entusiasmo ou tentar provar que �� completa-

mente falso, ou discuti-lo com um misto de admira-

����o e ceticismo, mas n��o podemos ignor��-lo.

164

Louis HJELMSLEV (1899/1965)

- dinamarqu��s;

- disc��pulo de Meillet (1926/1927);

- ocupa a cadeira de Ling����stica Comparada na Universidade de Cope-

nhague (1937);

- cria o C��rculo Lingu��stico de Copenhague (1931), juntamente com

seu compatriota Viggo Br��ndal;

- em colabora����o com Br��ndal, funda a revista Acta Linguistica (1938),

cujo subt��tulo, Revista Internacional de Ling����stica Estrutural, intro-

duz oficialmente o Estruturalismo como tend��ncia cient��fica;

- a partir de 1933, passa a colaborar com seu colega dinamarqu��s H.J.

Uldall;

- em 1936, no III Congresso Internacional de Lingu��stica (Copenha-

gue), juntamente com Uldall, lan��a a Glossem��tica, atrav��s de um texto

divulgado entre os membros do Congresso: Synopsis of an Outline of

Glossematics;

- em 1943, publica Omkring Sprogteoriens Grundlaeggelse (Funda-

mentos da Teoria da Lingua);

- em 1963, Omkring �� traduzido para o ingl��s com o t��tulo Prolegome-

na to a Theory of Language;

- 1968: edi����o francesa de Omkring: Prol��gom��nes �� une Th��orie du

Language;

- 1971: Omkring em espanhol: Proleg��menos a una Teor��a del Lenguaje.

Obras mais importantes:

- Principes de Grammaire Gen��rale (1928).

165

-Ensaios Ling����sticos (T.C.L.C., col. XII, 1959): reuni��o de seus arti-

gos mais representativos.

- Existir��o Categorias Comuns �� Universalidade das L��nguas Huma-

nas? (VI C.I.L., Paris, 1948).

-A Estrutura����o do L��xico �� Poss��vel? (VIII C.I.L., Oslo, 1957).

- Coment��rio sobre a Vida e Obra de Rasmus Rask (Instituto de Lin-

g����stica de Paris, 1951).

166

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Paulo, Par��bola [trad. de Marcos Bagno].

169

r





INDICE


Sum��rio, 7

Apresenta����o, 9

Pref��cio da 1 a e d i �� �� o , 13

Pref��cio da 12a edi����o, 15

I - A LINGU��STICA P R �� - S A U S S U R I A N A

Vis��o geral da lingu��stica antes de Saussure, 19

1a fase: filos��fica, 19

2a fase: filol��gica, 20

3a fase: hist��rico-comparatista, 20

II - A LING����STICA S A U S S U R I A N A

Ferdinand de Saussure (1857/1913): forma����o e obras, 25

A doutrina de Saussure, 26

A TEORIA DO SIGNO LING����STICO

Introdu����o: tipos de sinais, 29

Por que signo e n��o s��mbolo, 30

A natureza do signo, 30

Uma cr��tica �� teoria do signo, 32

A arbitrariedade do signo ling����stico, 34

Cr��ticas ao princ��pio da arbitrariedade, 35

171

A quest��o das onomatop��ias e interjei����es, 37

Arbitr��rio absoluto/arbitr��rio relativo, 39

Motiva����o e arbitrariedade, 41

A linearidade do significante, 44

Uma cr��tica ao princ��pio da linearidade, 46

Quadro resumitivo, 47

Exerc��cios, 50

Gabarito, 55

L��NGUA/FALA, NORMA

As dicotomias saussurianas, 57

A l��ngua, 58

A l��ngua como acervo ling����stico, 58

A l��ngua como institui����o social, 58

A l��ngua como realidade sistem��tica e funcional, 59

A fala, 60

Sistema/n��o-sistema, 62

A l��ngua �� uma forma e n��o uma subst��ncia, 62

A norma: uma cr��tica �� l��ngua/fala, 64

Tipos de norma, 67

Quadro resumitivo, 70

Exerc��cios, 72

Gabarito, 79

SINCRONIA/DIACRONIA

Eixo das simultaneidades e das sucessividades, 81

A prioridade dos estudos sincr��nicos, 83

O jogo de xadrez e a sincronia, 83

Sincronia e arbitrariedade do signo, 85

M��todo sincr��nico, 86

172

M��todo diacr��nico, 87

Os campos de estudo sincr��nico e diacr��nico, 87

Quadro resumitivo, 90

Exerc��cios, 91

Gabarito, 99

RELA����ES SINTAGM��TICAS E PARADIGM��TICAS

Eixo sintagm��tico e paradigm��tico, 101

O paradigma para Hjelmslev, 102

Oposi����o distintiva/contrastiva, 103

Sintagma, 104

Rela����es sintagm��ticas na l��ngua portuguesa, 105

Analogia e neologismos, 108

O sintagma e a fala, 109

As rela����es associativas (= paradigm��ticas), 109

Quadro das rela����es paradigm��ticas, 111

Uma vis��o estil��stica, 111

Terminologia subsidi��ria, 111

Quadro resumitivo, 112

Exerc��cios, 113

Gabarito, 120

A NO����O DE VALOR

Id��ias + sons = l��ngua, 121

A dupla articula����o da linguagem, 123

Valor e forma, 124

L��ngua = rede de pares opositivos, 125

Conclus��o, 127

Exerc��cios, 128

Gabarito, 130

173

III - R E P E R C U S S �� E S D A S ID��IAS DE SAUSSURE

Hjelmslev e a no����o de estrutura, 133

As escolas estruturalistas, 134

Escola de Genebra, 135

Escola Fonol��gica de Praga, 136

Escola Funcionalista de Paris, 138

Exerc��cios, 141

Gabarito, 144

Ap��ndice: A Glossem��tica, 145

O m��todo glossem��tico, 147

Princ��pio do empirismo, 148

M��todo dedutivo, 148

Princ��pio da iman��ncia, 150

Fun����o, 152

Fun����o "e-e", fun����o "ou-ou", 154

Plano do conte��do e plano da express��o, 154

Plano do conte��do, 155

Plano da express��o, 155

Cenemas, 156

Comuta����o, 157

Isomorfismo, 157

Muta����o, 158

Pleremas, 159

A an��lise glossem��tica do texto, 160

O conceito de estrutura e a glossem��tica, 162

Conclus��o, 163

Louis Hjelmslev (1899/1965), 165

Bibliografia, 167

174



E D I T O R A V O Z E S LTDA.

Rua Frei Lu��s, 100 - Centro - Cep 25.689-900 Petr��polis, RJ - Tel.: (24) 2233-9000 - Fax: (24) 2231-4676 - E-mail: vendas@vozes.com.br

U N I D A D E S NO BRASIL: Aparecida, SP - Belo Horizonte, MG - Boa Vista, RR - Bras��lia, DF - Campinas, SP -

Campos dos Goytacazes, RJ - Cuiab��, MT - Curitiba, PR - Florian��polis, SC - Fortaleza, CE - Goi��nia, GO - Juiz de Fora, MG -

Londrina, PR - Manaus, AM - Natal, RN - Petr��polis, RJ - Porto Alegre, RS - Recife, PE - Rio de Janeiro, RJ -

Salvador, BA - S��o Lu��s, MA - S��o Paulo, SP

U N I D A D E NO EXTERIOR: Lisboa - Portugal

Castelar de Carvalho ��

professor universit��rio de

l��ngua p o r t u g u e s a , t e n d o

m i n i s t r a d o c u r s o s d e g r a d u a �� �� o ,

p �� s - g r a d u a �� �� o e extens��o.

C o o r d e n o u o projeto de

p e s q u i s a L��ngua Portuguesa e

M��sica Popular Brasileira,

d e s e n v o l v i d o n a F a c u l d a d e d e

L e t r a s da UFRJ. M e m b r o da

A c a d e m i a Brasileira de

Filologia, estudioso da

Estil��stica da E x p r e s s �� o , �� autor

de artigos e ensaios, dentre os

quais se d e s t a c a m , a l �� m deste

Para compreender Saussure, os

livros: Ensaios gracilianos e

Noel Rosa, l��ngua e estilo, este

lan��ado em 1999, em co-autoria

c o m o Prof. Dr. A n t o n i o

Martins de Araujo. P e s q u i s a d o r

de sintaxe e de hist��ria da

l��ngua p o r t u g u e s a , t e m e m

p r e p a r o , para p u b l i c a �� �� o , sua

tese de d o u t o r a d o , intitulada O

pronome Se, uma palavra

obl��qua e dissimulada.






De: Bons Amigos Rel. Públicas 


o Grupo Só Livros com sinopses tem o prazer de lançar hoje mais uma obra digital  para atender aos deficientes visuais. 
  
PARA COMPREENDER SAUSSURE - CASTELAR DE CARVALHO

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e como forma de acesso e divulgação para todos. 
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